O Primado de Pedro - Paróquia do Montijo

Transcrição

O Primado de Pedro - Paróquia do Montijo
Indice
1. Introdução ………………………………………………..
2. S. Pedro
2.1 Pedro, pescador de homens ………..…………….
2.2 Pedro o Pescador
3. O Discípulo
3.1 Ser Discípulo de Jesus, hoje ………………………
4. O Discipulado
4.1 Itinerário do Discipulado …………………………...
5. A Chamada
5.1 Caminhos da Chamada …………………………....
6. O Seguimento
6.1 Seguir Jesus …………………………...……………
6.2 Pedro o Apóstolo …………………………..……….
7. A Amizade
7.1 A Amizade com Jesus ……………………..………
7.2 Seduziste-Me Senhor ………………………………
8. Envio - Missão
8.1 Ide …………………………………………………...
8.2 Os Apóstolos testemunhos e enviados de Cristo
9. A Fé como Experiência
9.1 A Fé como experiência real ………………………
9.2 A Fé como experiência em Pedro ……………….
9.3 A Fé como Experiência em Pedro nos Actos …..
10. Vida de Igreja - Experiência/Caminho Eclesial
10.1 Pentecostes ……………………………………….
10.2 A Pregação em Pedro ……………………………
10.3 A 1ª Comunidade de Actos ………………………
10.4 Milagres …………………………………………….
10.5 Perseguições ………………………………………
11. O Primado de Pedro na Igreja
11.1 O Primado de Pedro ……………………………..
11.2 O Primado de Pedro instituído pelo Senhor …..
12. Cartas
12.1 1ª Carta de S. Pedro …………………………….
12.2 2ª Carta de S. Pedro …………………………….
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NOTA: Este livro foi elaborado para servir como apoio e guia ao estudo do tema
deste Ano Pastoral 2010-2011 da nossa Paróquia, não sendo permitido a sua
utilização para fins comerciais ou outros.
Paróquia do Montijo - 2010 - 2011
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Introdução
Como aconteceu com S. Pedro e os primeiros companheiros de
jornada, também para nós, a existência cristã surge-nos como um
caminho a percorrer, seguindo Alguém, que nos introduzirá nos
segredos da vida nova do Reino de Deus.
Acreditar em Jesus Cristo é aceitar segui-l’O, ao ritmo do Espírito, que transformará as nossas vidas com as exigências da caridade.
Certamente, muitos de nós já fizemos tantas vezes esta pergunta
no nosso coração:
Então, porque é que essa Transformação não acontece em tantos nas nossas comunidades, ou se ela acontece, fica por metade
do caminho na maior parte das vezes?
Como Cristãos, é vital perceber afinal o que precisamos para que
essa TRANSFORMAÇÃO aconteça nas nossas vidas e de
todos os que fazem caminho connosco na mesma Comunidade
que é a nossa Paróquia!
Por isso, neste novo Ano Pastoral desejamos propor a todos,
pessoas, grupos e movimentos como Caminhada e Tema:
“SER DISCÍPULO E FAZER DÍSCIPULOS”
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Este Caminho não é novo, ele já aconteceu com os primeiros
discípulos e é o caminho a percorrer por todos os que já fizeram o ENCONTRO com Jesus. Todos os cristãos são discípulos; os Actos dos Apóstolos dão o título de discípulos a todos
os cristãos, mesmo àqueles que não conheceram Jesus na Sua
vida terrena (Act. 6,1; 9,10-26). A fé em Cristo ressuscitado é
concebida como resposta a um chamamento. A fonte do chamamento continua a ser a mesma: aqueles que o Pai atrai. Mas o
Espírito Santo, aquele que continua a chamar em nome d’Aquele
que O envia, tem agora a iniciativa do chamamento e é a força
que permitirá ao discípulo seguir o seu Mestre através de um
itinerário de vida espiritual.
Itinerário Espiritual com S. Pedro
Para este ano, escolhemos como Itinerário Espiritual, a figura
do Apóstolo S. Pedro. Seguiremos os seus passos de Discípulo
desde o seu primeiro encontro com Cristo até Roma, onde acabará por dar a sua própria vida pelo Mestre.
Proposta - Guia
Como proposta - guia de trabalho, (este livro é apenas um guia
para trabalho em grupo ou individual ) abordaremos neste livro, de
uma forma geral, esse Itinerário Espiritual que assenta em 4 pilares básicos do DISCIPULADO:
1. A CHAMADA.
2. O SEGUIMENTO.
3. A AMIZADE.
4. MISSÃO – ENVIO.
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Pedro , pescador de Homens
Naquela manhã de há dois mil anos algo de extraordinário
aconteceu para que alguns pescadores do lago da Galileia – o
Evangelho de Lucas 5,1-11 destaca os nomes de Pedro, Tiago
e João – tenham abandonado as barcas, as redes, os peixes
acabados de pescar em grande quantidade, enfim, tudo, para
seguir mais de perto Jesus.
Pedro, sempre ele, diz-nos o porquê da revolução operada na
sua vida: «Por causa da tua Palavra, Mestre, lançarei as
redes». Por causa da tua Palavra. Naquela manhã, Jesus ensinava (edídasken) as multidões, sentado (kathísas) na barca de
Pedro, que Jesus tinha pedido a Pedro para afastar um pouco
da praia para a água. Bela forma encontrada por Jesus de obrigar Pedro a ter de escutar todo o seu ensinamento! E ensinava
de forma continuada: assim o indica o imperfeito do verbo grego. Sentado: é a posição do Mestre que ensina na cátedra. É
ainda sentado como Mestre na barca que Jesus ordena agora a
Pedro: «Afasta (a barca) para o mar profundo, e lançai as vossas redes para a pesca!» Pedro mostrou a sua estupefacção de
pescador experimentado: tinham trabalhado toda a noite e nada
tinham pescado! Quanto mais agora, de dia, seria inútil fazê-lo!
Lançou, porém, as redes, e pouco depois caiu de joelhos aos
pés de Jesus, sempre sentado como Mestre na barca, e avançou um pedido: «Distancia-te de mim, Senhor, porque sou um
homem pecador». Mas Jesus diz para Pedro: «Não tenhas
medo! Doravante serás pescador de homens». E o narrador
anota a fechar o episódio que «Tendo conduzido as barcas
para terra, tendo deixado tudo, seguiram-no».
Entenda-se bem que Pedro lançou as redes para a pesca, não
baseado nas suas capacidades de pescador experimentado,
mas por causa da Palavra de Jesus ou sobre a Palavra de
Jesus. Palavra aqui diz-se rhêma, que tem o significado fortíssimo de «Palavra que acontece» ou de «Acontecimento que
fala». Entenda-se também então que a nova missão de pescador de homens que Jesus lhe confia terá de ser também
somente assente nesta Palavra de Jesus. A missão de Pedro e
a nossa!
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Notem-se os sucessivos «afastamentos» que são, na verdade,
«aproximações». Primeiro é Jesus que pede a Pedro que afaste
a sua barca um pouco da terra, para poder, dessa cátedra improvisada, ensinar melhor as multidões. Note-se, todavia, que, com
este recurso Jesus põe Pedro bem junto dele! Quando Jesus
pronuncia, pela segunda vez, o verbo afastar, fá-lo em imperativo
dirigido ainda a Pedro, e é para aquela pesca milagrosa que
aproximará ainda mais Pedro de Jesus! A terceira vez é a vez de
Pedro. E é para fazer uma profissão de fé, reconhecendo em
Jesus o Senhor, isto é, Deus. E decorre deste reconhecimento
que Pedro se reconheça como pecador, que não pode estar na
presença do Deus Santo. Daí, o grito: «Afasta-te de mim,
Senhor… A última palavra é, como tinha de ser, de Jesus, que dá
uma nova identidade a Pedro: «pescador de homens». E o episódio termina com o narrador a vincular radicalmente Pedro e os
companheiros a Jesus com aquele dizer: tendo deixado tudo,
seguiram-no».
Entenda-se ainda bem que este seguimento de Jesus a que
Pedro e nós somos convidados, não se destina a aprender apenas uma doutrina ou uma ideia, mas a seguir de perto uma Pessoa, Jesus de Nazaré, e a sua maneira concreta de viver. É a
adesão a uma Pessoa que está em causa para Pedro e para nós.
De Pedro e dos seus companheiros é dito que deixaram barcas,
redes, peixes, tudo, para seguirem Jesus (5,11), decisão radical
que o Evangelho de Lucas continuará a salientar noutras passagens: «Se alguém quiser seguir-me, diga não a si mesmo, tome a sua
cruz todos os dias, e siga-me» (9,23); «Vendei tudo o que tendes e daio em esmola» (12,33); «Aquele de vós que não renunciar a todos os
seus bens não pode ser meu discípulo» (14,33); «Vende tudo o que
tens e distribui-o aos pobres» (18,21).
É assim que Pedro se faz pescador de homens, lançando as
redes da Palavra criadora de Deus até à sua morte, com o sangue, na cidade de Roma!
António Couto
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Bibliografia: (Mesa de Palavras — excerto)
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Pedro, o Pescador
Catequese de Bento XVI
Amados Irmãos e Irmãs,
Na nova série de catequeses começámos antes de tudo a compreender melhor o que é a Igreja, qual é a ideia do Senhor sobre
esta sua nova família. Depois dissemos que a Igreja existe nas
pessoas. E vimos que o Senhor confiou esta nova realidade, a
Igreja, aos doze Apóstolos. Agora queremos vê-los um por um,
para compreender nas pessoas o que significa viver a Igreja, o
que significa seguir Jesus. Começamos com São Pedro.
Depois de Jesus, Pedro é a personagem mais conhecida e citada
nos escritos neo-testamentários: é mencionado 154 vezes com o
cognome de Pétros, "pedra", "rocha", que é a tradução grega do
nome aramaico que lhe foi dado directamente por Jesus Kefa,
afirmado nove vezes sobretudo nas cartas de Paulo; depois,
deve-se acrescentar o nome frequente Simòn (75 vezes), que é a
forma helenizada do seu original nome hebraico Simeon (2
vezes: Act 15, 14; 2 Pd 1, 1). Filho de João (cf. Jo 1, 42) ou, na
forma aramaica, bar-Jona, filho de Jonas (cf. Mt 16, 17), Simão
era de Betsaida (cf. Jo 1, 44), uma cidadezinha a oriente do mar
da Galileia, da qual provinha também Filipe e naturalmente
André, irmão de Simão. O seu modo de falar traía o sotaque galileu. Também ele, como o irmão, era pescador: com a família de
Zebedeu, pai de Tiago e de João, dirigia uma pequena empresa
de pesca no lago de Genesaré (cf. Lc 5, 10). Por isso devia gozar
de um certo bem-estar económico e era animado por um sincero
interesse religioso, por um desejo de Deus ele queria que Deus
interviesse no mundo um desejo que o estimulou a ir com o irmão
até à Judeia para seguir a pregação de João Baptista (cf. Jo 1,
35-42).
Era um judeu crente e praticante, confiante na presença activa de
Deus na história do seu povo, e sofria por não ver a sua acção
poderosa nas vicissitudes das quais ele era, naquele momento,
testemunha. Era casado e a sogra, curada um dia por Jesus,
vivia na cidade de Cafarnaum, na casa na qual também Simão
vivia quando estava naquela cidade (cf. Mt 8, 14 s; Mc 1, 29 s; Lc
4, 38 s).
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Recentes escavações arqueológicas permitiram trazer à luz, sob
a pavimentação em mosaicos octagonais de uma pequena igreja
bizantina, os vestígios de uma igreja mais antiga existente
naquela casa, como afirmam os grafites com invocações a
Pedro. Os Evangelhos informam-nos que Pedro é um dos primeiros quatro discípulos do Nazareno (cf. Lc 5, 1-11), aos quais se
junta um quinto, segundo o costume de cada Rabino de ter cinco
discípulos (cf. Lc 5, 27: chamada de Levi).
Quando Jesus passa de cinco para doze discípulos (cf. Lc 9, 16), será clara a novidade da sua missão: Ele já não é um entre
tantos rabinos, mas veio para reunir o Israel escatológico, simbolizado pelo número doze, como doze eram as tribos de Israel.
Simão aparece nos Evangelhos com um carácter decidido e
impulsivo; ele está disposto a fazer valer as próprias razões também com a força (pense-se no uso da espada no Horto das Oliveiras: cf. Jo 18, 10 s). Ao mesmo tempo, por vezes é também
ingénuo e medroso, e contudo honesto, até ao arrependimento
mais sincero (cf. Mt 26, 75). Os Evangelhos permitem seguir passo a passo o seu itinerário espiritual. O ponto de partida é a chamada da parte de Jesus. Acontece num dia qualquer, enquanto
Pedro está empenhado no seu trabalho de pescador. Jesus
encontra-se junto do lago de Genesaré e a multidão reúne-se à
sua volta para o ouvir. O número dos ouvintes gera uma certa
confusão. O Mestre vê duas barcas ancoradas à margem; os
pescadores desceram e lavam as redes. Então Ele pede para
entrar na barca, na de Simão, e pede-lhe que se faça ao largo.
Sentado naquela cátedra improvisada, da barca, começa a ensinar à multidão (cf. Lc 5, 1-3). E assim a barca de Pedro torna-se
a cátedra de Jesus. Quando terminou de falar, diz a Simão: "Fazte ao largo e lança as redes para a pesca". Simão responde:
"Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos;
mas, porque tu o dizes, lançarei as redes" (Lc 5, 4-5). Jesus, que
era um carpinteiro, não era perito em pesca: mas Simão, o pescador, confia neste Rabino, que não lhe dá respostas mas o chama a ter confiança. A sua reacção diante da pesca milagrosa é
de admiração e de trepidação: "Afasta-te de mim, Senhor, porque
sou um homem pecador" (Lc 5, 8). Jesus responde convidando-o
a ter confiança e a abrir-se a um projecto que ultrapassa qualquer sua perspectiva: "Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens" (Lc 5, 10). Pedro ainda não podia imaginar que
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um dia teria chegado a Roma e seria nessa cidade "pescador de
homens" para o Senhor. Ele aceita esta chamada surpreendente,
de se deixar envolver nesta grande aventura: é generoso, reconhece os seus limites, mas crê n'Aquele que o chama e segue o
sonho do seu coração. Diz sim um sim corajoso e generoso e
torna-se discípulo de Jesus.
Pedro vive outro momento significativo no seu caminho espiritual
nas proximidades de Cesareia de Filipe, quando Jesus faz aos
discípulos uma pergunta concreta: "Quem dizem os homens que
Eu sou?" (Mc 8, 27). Mas para Jesus não era suficiente a resposta do ter ouvido dizer. Daqueles que aceitaram comprometer-se
pessoalmente com Ele pretende uma tomada de posição pessoal. Por isso insiste: "E vós, quem dizeis que Eu sou?" (Mc 8,
29). Responde Pedro também em nome dos outros: "Tu és o
Messias" (ibid.), isto é, Cristo. Esta resposta de Pedro, que não
veio "da carne e do sangue" dele, mas foi-lhe concedida pelo Pai
que está no céu (cf. Mt 16, 17), tem em si como que em gérmen
a futura confissão de fé da Igreja. Contudo, Pedro ainda não
tinha compreendido o conteúdo profundo da missão messiânica
de Jesus, o novo sentido desta palavra: Messias.
Demonstra-o pouco depois, deixando compreender que o Messias que persegue nos seus sonhos é muito diferente do verdadeiro projecto de Deus. Perante o anúncio da paixão escandaliza
-se e protesta, suscitando uma reacção enérgica de Jesus (cf. Mc
8, 32-33). Pedro quer um Messias "homem divino", que cumpra
as expectativas do povo impondo a todos o seu poder: é também
nosso desejo que o Senhor imponha o seu poder e transforme
imediatamente o mundo; Jesus apresenta-se como o "Deus
humano", o servo de Deus, que altera as expectativas da multidão encaminhando-se por uma via de humildade e de sofrimento.
É a grande alternativa, que também nós devemos aprender sempre de novo: privilegiar as próprias expectativas recusando Jesus
ou acolher Jesus na verdade da sua missão e abandonando as
expectativas demasiado humanas.
Pedro impulsivo como é não hesita em repreender Jesus separadamente. A resposta de Jesus abala todas as suas falsas expectativas, quando o chama à conversão e ao seguimento: "Vai-te da
minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os
de Deus, mas os dos homens" (Mc 8, 33). Não me indiques tu o
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caminho, eu sigo o meu percurso e tu põe-te atrás de mim.
Pedro aprende desta forma o que significa verdadeiramente
seguir Jesus. É a sua segunda chamada, análoga à de Abraão
em Gn 22, depois de Gn 12: "Se alguém quiser vir após mim, negue-
se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser
salvar a sua vida, há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por
causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la" (Mc 8, 34-35). É a lei
exigente do seguimento: é preciso saber renunciar, se for necessário, ao mundo inteiro para salvar os verdadeiros valores, para
salvar a alma, para salvar a presença de Deus no mundo (cf. Mc
8, 36-37). Mesmo com dificuldade, Pedro aceita o convite e prossegue o seu caminho seguindo os passos do Mestre.
Parece-me que estas diversas conversões de São Pedro e toda a
sua figura são de grande conforto e um forte ensinamento para
nós. Também nós sentimos o desejo de Deus, também nós queremos ser generosos, mas também nós esperamos que Deus
seja forte no mundo e transforme imediatamente o mundo segundo as nossas ideias, segundo as necessidades que vemos. Deus
escolhe outro caminho. Deus escolhe o caminho da transformação dos corações no sofrimento e na humildade. E nós, como
Pedro, devemos converter-nos sempre de novo. Devemos seguir
Jesus em vez de o preceder: é Ele quem nos indica o caminho.
Assim Pedro diz-nos: Tu pensas que tens a receita e que deves
transformar o cristianismo, mas é o Senhor quem conhece o
caminho. É o Senhor que diz a mim, diz a ti: segue-me! E devemos ter coragem e humildade para seguir Jesus, porque Ele é o
caminho, a Verdade e a Vida.
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PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL Quarta-feira, 17 de Maio de 2006
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O DISCÍPULO
Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas
daquele que vos chamou das trevas para a sua luz
admirável; a vós que outrora não éreis um povo,
mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis
alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia. (I Pedro 2,9).
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Ser discípulo de Jesus, hoje
Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os
discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu
sou?» Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros,
um dos antigos profetas ressuscitado.»Disse-lhes Ele: «E vós,
quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu:
«O Messias de Deus.» Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem
fosse a quem fosse; e acrescentou: «O Filho do Homem tem de
sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes
e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»Depois, dirigindo-se a todos, disse: “Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e
siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la;
mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la.
“(Lucas 9, 18-24)
Tornar-se cristão, hoje como ontem, é em primeiro lugar tornar-se
discípulo de Jesus. Um discípulo caminha no seguimento de um
Mestre, assume as suas opções e tenta viver, com outros, um
estilo de vida inspirado nelas.
Na narração de Lucas, encontramos diversos elementos que traçam a imagem do discípulo. Tornar-se discípulo é uma escolha
pessoal que conduz ao distanciamento da multidão. Nos nossos
meios há diversas maneiras de ver Jesus. A cultura actual, com a
acção exercida pela comunicação social, acentua esta pluralidade de olhares mas sempre com a construção de consensos, de
visões partilhadas e dominantes que convidam a uma conformação com essas tendências.
Ser discípulo é romper com essa resignação, não se ficar pelas
ideias que circulam e ousar tomar uma posição. É o que faz
Pedro em nome dos discípulos, ao proclamar que Jesus não é
apenas mais um profeta, como diz a multidão, mas que ele é o
Cristo, o Messias de Deus.
Mas ainda não chega. O discípulo é convidado a aprofundar a
identidade d’Aquele que segue. E o carácter messiânico de
Jesus não se conforma com os modelos correntes. Ele é diferente e desconcertante, revelando-se no mistério pascal, caminho de
dom e de serviço, e não de poder e de glória.
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Seguir este Messias implica por isso comprometer-se em formas
de pensar e viver que podem estar contra a corrente da sociedade. A preocupação com os mais pobres, o perdão, a generosidade, a recusa da força e das suas estratégias fazem parte do
caminho do seguimento.
Nos preceitos que se seguem à profissão de fé de Pedro e às
explicações de Jesus, são sublinhados traços particulares do discípulo que se inscrevem directamente no seguimento das escolhas e da identidade de Jesus.
Renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz, perder a vida: estes
apelos são demasiado perturbadores. Pode-se até perguntar se
faz sentido viver assim. Não são eles o contrário da nossa dinâmica natural, do nosso apego a uma vida feliz?
Importa antes de mais evitar as interpretações pungentes e
estreitamente moralizadoras que circularam com frequência. Na
linha da vida de Jesus, onde estes preceitos se inspiram, o primeiro desafio é o do risco e do descentramento de si.
No século I, a cruz não é um objecto devocional, uma jóia decorativa ou sinal de pequenos sacrifícios a fazer para agradar a
uma divindade bizarra. Ela evoca a rejeição social e o risco de
morrer. Ela indica aos discípulos que a sua escolha pode-lhes
valer perder a sua boa reputação e conduzi-los a dar a vida pelo
Evangelho. O que é visível ainda hoje através de todos os mártires que se atreveram no compromisso pela paz, pela justiça, pelo
amor, e que pagaram o preço dessa ousadia, como Jesus.
Este compromisso arriscado vive-se a ― cada dia, expressão
que encontramos no Pai-nosso, em Lucas, para o pedido do pão.
A renúncia de si é consequência deste risco. Na nossa cultura,
onde a obsessão de si reclama muito espaço, o mesmo acontecendo com a preocupação pela segurança, este princípio surpreende, convidando a ver a existência de outra forma.
O que é que conta numa vida? Encontra-se mais alegria no dar
do que no guardar-se, diz-nos Jesus. Uma vida centrada em si
mesmo leva à perda do gosto de viver e da alegria que a acompanha. Uma abertura a alguém maior que si, um serviço atento
às necessidades dos outros, com os seus imprevistos e inseguranças, estilhaçam os muros e fronteiras que nos fecham na
banalidade ou na insignificância e são fontes de uma vida em
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em abundância.
Outro traço do discípulo de Jesus é apresentado desde o início.
Lucas mostra-nos Jesus em oração, o que faz com mais frequência do que os outros evangelistas. A cada momento importante
da sua vida, Jesus retira-se para rezar, da escolha dos discípulos
à agonia no jardim.
A oração pauta a vida de Jesus, ele que no entanto é apresentado em Lucas como um homem de acções e de relações, extremamente comprometido com as pessoas. É nesta oração que
Jesus encontra o fôlego que mantém vivo o seu amor e o seu
dom. Seria surpreendente que nós, os discípulos, agíssemos de
outra forma.
Daniel Cadrin
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- In Spiritualité 2000 - © SNPC (trad.) | 20.06.10
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O DISCIPULADO
“E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de
vós pescadores de homens.” Mateus 1,17.
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Itinerário do Discipulado
O Caminho do Discipulado para cada um de nós como aconteceu
com S. Pedro, acontece sempre dentro da realidade própria da
nossa vida, da nossa história e no meio onde vivemos e interagimos espiritualmente e humanamente, seja na comunidade eclesial seja noutra realidade!
Embora a experiência do Fazer - Caminho nunca seja igual para
cada um dos que foi e é chamado a fazê-lo por Cristo, (ela é
sempre uma experiência humana única), esse caminho do Discipulado tem para todos a mesma meta e direcção que é Cristo e o
mesmo terreno que pisamos que está assente em 4 pilares básicos:
1. A CHAMADA.
2. O SEGUIMENTO.
3. A AMIZADE.
4. O ENVIO - MISSÃO.
Propomos então, à medida que vamos fazendo caminho por este
Itinerário do Discipulado, abordar cada um destes pilares, a partir
do seu enquadramento na história de Jesus e os seus primeiros
Discípulos, tendo como referência principal de vida, o Apóstolo
S. Pedro, o Discípulo escolhido por Jesus para líder da Igreja.
Convidamos pois a todos a caminhar com S. Pedro e os seus
companheiros, desde o seu primeiro encontro com Jesus na Galileia, até à cidade de Roma, onde acabará por dar a sua própria
vida pelo Mestre.
Que Nossa Senhora nos ajude a caminhar também rumo ao verdadeiro
Discipulado. Amém.
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A CHAMADA
"
Fala Senhor, teu servo escuta" (1Sam 3,10).
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Caminhos da Chamada
Importa agora situarmo-nos concretamente no espaço em que
vivia e se movia Pedro para perceber-compreender o seu caminho com Jesus que começa nas margens do Mar da Galileia,
onde possuía uma casa em Cafarnaum e onde vivia e trabalhava
como Pescador.
Certamente que o olhar de Jesus e de Pedro já se tivessem cruzado mais que uma vez desde aquele primeiro encontro em que
André depois de encontrar o Mestre no episódio do Baptismo de
Jesus, convida também o seu irmão Pedro a conhecê-lo:
“No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus
discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o
Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos
seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer
Mestre - onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram,
pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que
ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão,
e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» - que quer dizer Cristo. E levouo até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho
de João. Hás-de chamar-te Cefas» - que significa Pedra.” (Jo 1,3544).
Mas naquele dia, nas margens do lago de Tiberíades, acontece o
ENCONTRO que agora se dá, não apenas fruto de um desejo de
conhecer Jesus que certamente nascera da ESCUTA das palavras d’Este àquelas multidões que ali se reuniam junto às margens do lago de Tiberíades onde Pedro exercia o seu trabalho de
pescador, mas sobretudo porque é Cristo que agora interpela
Pedro, tomando a INICIATIVA do chamamento:
“Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos:
Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao
mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós
pescadores de homens.» E eles deixaram as redes imediatamente e
seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago,
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filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu,
consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando
no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no. (Mt 4,18-20).
1º Caminho: A Chamada parte sempre do OLHAR de Jesus
sobre aquele que Ele deseja chamar. Ele é quem toma sempre a
iniciativa no seu Amor e é Ele quem chama:
“Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos
destinei a ir e a dar fruto…”(João 15:16).
2º Caminho: Para que aconteça a Chamada, tem que existir
naquele que é chamado a capacidade de ESCUTA.
"Fala Senhor, teu servo escuta" (1Sam 3,10).
Esta Escuta é essencial para responder a Deus! Ela acontece
em Samuel, ela acontece em Moisés, ela acontece em Maria de
Nazaré, ela acontece com Pedro naquela barca e acontece com
cada um de nós. Precisamos estar atentos a Deus, pedindo ao
Espírito Santo que nos aponte qual será o caminho em que faremos melhor a vontade d’Aquele que nos chamou:
3º Caminho: A Chamada acontece na medida e na forma como
RESPONDEMOS a Cristo quando ele nos chama! Podemos ser
chamados e não responder. Recordemos o episódio do jovem
rico:
“Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se,
perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um
só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério,
não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu
pai e tua mãe.» Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por
ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá
o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segueme.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante pesado e retirouse pesaroso, pois tinha muitos bens.” (Mc 10,17-27).
4º Caminho: A chamada só acontece na realidade concreta da
vida daquele que é chamado! Maria de Nazaré foi chamada no
seu lar, no meio dos afazeres da vida. Pedro é chamado também
20
num momento de trabalho, dentro da sua barca, na pesca, num
dia normal e corrente. O Acontecimento da chamada acontece
sempre na humanidade e na realidade de cada um de nós, mesmo até nos momentos da vida em que estamos mais afastados
de Deus pelos nosso barros. Reparai em Pedro, e olhai para o
caminho que ele faz antes e depois de encontrar o Mestre. Jesus
não foi ao encontro de um ―santo‖ mas de um homem feito de
barro bom e menos bom. Depois sim, no caminho com Cristo,
que iremos abordar, acontece nele uma transformação radical.
“Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta
dele a multidão para escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos
que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles
e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediulhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a
ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao
largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» Simão respondeu: «Mestre,
trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu
o dizes, lançarei as redes.» Assim fizeram e apanharam uma grande
quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram
sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem
afundando. Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afastate de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» Ele e todos os
que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que
tinham feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu
e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de
futuro, serás pescador de homens.» E, depois de terem reconduzido os
barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus. “(Lc 5,1-11).
RESUMINDO: Todos somos chamados, mas nem todos somos
capazes de Responder! Todos ouvimos, mas nem todos somos
capazes de Escutar! Todos somos chamados na realidade do
que somos e no concreto do quotidiano da vida, no lugar
onde vivemos e trabalhamos, mas precisamos primeiro Acolher e deixar entrar na nossa vida Aquele que nos chama!
Pedro não só deixou Jesus entrar na sua vida (barca) como obedeceu e colocou a sua barca à disposição do Mestre mantendose ali ao seu lado enquanto escutava também as palavras de
21
Jesus àquela multidão, proporcionando assim à Palavra, o criar
raízes no seu coração, como acreditou e agiu, fazendo-se ao largo contra toda a razão humana, testemunhando o milagre de
muitos que iriam acontecer na sua vida!
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Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
22
SEGUIMENTO
“… Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de
futuro, serás pescador de homens.» E, depois de
terem reconduzido os barcos para terra, deixaram
tudo e seguiram Jesus. “Lucas 5,10-11)
23
SEGUIR JESUS
Todos os cristãos, são discípulos d’ Aquele que é o sentido das
suas vidas: Jesus Cristo. Precisamos, então, compreender, quem
é Jesus e o que significa, segui-lo como discípulo.
Para conhecer quem é Jesus, o mistério da sua pessoa, da sua
filiação divina, da sua intimidade com o Pai, da sua dedicação
total à causa do Reino, é preciso colocar-se a caminho com ele,
ter intimidade com ele.
E a melhor forma de o fazer é mergulharmos nas fontes da Palavra que nos descrevem o rosto de Jesus e os seus passos. O
olhar, o coração, as práticas e, enfim, toda a vida de Jesus voltava-se para duas grandes dimensões de um mesmo Caminho: O
Pai e o Reino. Voltando-se para o seu Pai, Jesus recolhia todas
as forças para sua missão no mundo. Também é na intimidade
com o seu Pai que Jesus compreende que Deus quer a misericórdia, agindo como o Pai Misericordioso, acolhendo o filho pródigo, e que Deus não desiste nunca de nós (Lc 15,11).
Olhando para esse quadro da relação de Jesus com o seu Pai e
com o Reino, a entrega total que Ele faz ao projecto de Deus,
então já somos capazes de começar a perceber um pouco o que
significa ser discípulo de Jesus.
O modo de chamar de Jesus: É Jesus quem toma a iniciativa e
escolhe os seus discípulos: Na escola de Jesus, não são os discípulos que escolhem o mestre com base em critérios préestabelecidos, mas é Jesus quem toma a iniciativa e, agindo com
autoridade profética, escolhe os seus discípulos. Tudo tem início
com um encontro e uma palavra autorizada, eficaz e criativa de
Jesus: SEGUE-ME. Essa palavra expressa a sua vontade em
relação à pessoa chamada. Por meio de Jesus, Deus intervém
na vida das pessoas. É Deus quem procura o ser humano nas
coordenadas do tempo e da história.
Ao chamar para segui-lo, o Mestre não dita normas a serem
observadas rigorosamente, não traça antecipadamente projectos
a serem realizados, não faz inúmeras e tentadoras promessas a
serem cumpridas. Mas, faz questão de deixar muito claro que o
seguimento é, acima de tudo, uma relação profunda e pessoal
24
Com Ele, que implica uma ruptura com o passado e o misterioso
começo de uma existência radicalmente nova.
Seguir Jesus supõe uma dupla relação: de proximidade e de
movimento: estar com Jesus (Mc 3,14); manter-se ao seu lado
nas provações (Lc 22,28); ter os mesmos sentimentos e atitudes
de Jesus (Fl 2,5); tornar-se filho no Filho (Rm 8,29); ter os olhos
fixos em Jesus (Hb 12,12).
O seguimento é permanente: O seguimento de Jesus não tem
um período de tempo limitado, como no caso dos rabinos: até
que o discípulo se torne um mestre na interpretação da Lei; não é
o início de uma carreira, mas uma entrega total e permanente.
Exige uma resposta pessoal dada no tempo, mas que tem uma
dimensão de eternidade, da eternidade de Deus.
O objectivo do seguimento: O discípulo de Jesus não tem
como objectivo tornar-se intérprete da Lei por meio de um estudo
sistemático, mas é chamado a deixar-se plasmar por ele, seguindo os seus passos. Participa das preocupações quotidianas do
Mestre e usufrui de sua intimidade. Se, de um lado, Jesus ao
chamar não propõe um programa de vida, de outro, deixa claro
que o seu convite tem uma finalidade precisa. O seguidor deve:
assemelhar-se a Jesus de Nazaré, reproduzindo a sua vida histórica, exercendo a missão como ele exerceu: sem levar pão, nem
alforge, nem dinheiro no cinto (Mc 6,8); e participando do seu
destino: Vós sois os que permanecestes comigo nas minhas provações (Lc 22,28); assimilando assim a espiritualidade das bemaventuranças (Mt 5,1-12).
Jesus chamou seus discípulos para estarem com ele (Mc. 3,14) e
para que estando com ele, assimilassem os seus ensinamentos e
vivessem como ele viveu: em constante relação e comunhão com
o Pai e a serviço do Reino. Encontrar-se com Jesus implica
entrar na intimidade com ele, converter-se e comprometer-se
com o projecto de vida do Pai, em todas as suas dimensões.
Chamados a ser Comunidade: O verdadeiro discípulo sabe que
sozinho, isolado, não será capaz de seguir Jesus plenamente.
Isso significa que todo o discípulo é chamado a formar COMUNIDADE. O seguimento de Jesus é uma decisão pessoal, mas não
individual. Cada um deve dar o seu sim, a sua resposta, mas
25
somos convocados a viver o nosso sim e a nossa resposta juntos, em comunidade. ((Mt 10,1-4; Mc 3,13-19; Jo 1,38-51;Act
1,13).
A comunidade depende radicalmente da Graça de Deus, do
Espírito de Deus que nela se faz presente. É o próprio Espírito de
Cristo que será o construtor da comunidade.
“Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no
meio deles” (Mt 18,20).
E porque é o próprio Espírito Santo que constrói a Comunidade,
ela possui características muito próprias como vemos na primeira
comunidade modelo de Actos:
“Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do
pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os
crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e
outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as
necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o
alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e
tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os
dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.” (Actos 2,42-47)
____________________________________________________
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
(Mc 1,16-20; Mt 4,18; Lc 1-11; Jo 1, 35-43).
Referências: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Comissão Episcopal
Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética) 3ª Semana Brasileira de Catequese /Itaici-SP, 6 a 11 de Outubro de 2009. (Excerto).
26
PEDRO O APÓSTOLO
PAPA BENTO XVI (Catequese)
Pedro, o apóstolo
Queridos irmãos e irmãs!
Nestas catequeses estamos a meditar sobre a Igreja. Dissemos
que a Igreja vive nas pessoas e, por isso, na última catequese,
começámos a meditar sobre as figuras de cada um dos Apóstolos, começando por São Pedro. Vimos duas etapas decisivas da
sua vida: a chamada junto do Lago da Galileia e, depois, a profissão de fé: "Tu és Cristo, o Messias". Uma confissão, dissemos,
ainda insuficiente, inicial e contudo aberta. São Pedro coloca-se
num caminho de seguimento. E assim, esta confissão inicial tem
em si, como em gérmen, já a futura fé da Igreja. Hoje queremos
considerar outros dois acontecimentos importantes na vida de
Pedro: a multiplicação dos pães — ouvimos no trecho agora lido
a pergunta do Senhor e a resposta de Pedro — e depois o
Senhor que chama Pedro para ser pastor da Igreja universal.
Comecemos com a vicissitude da multiplicação dos pães. Vós
sabeis que o povo tinha ouvido o Senhor durante horas. No fim,
Jesus diz: estão cansados, têm fome, devemos dar de comer a
este povo. Os Apóstolos perguntam: Mas como? E André, irmão
de Pedro, chama a atenção de Jesus para um jovem que levava
consigo cinco pães e dois peixes. Mas o que são para tantas
pessoas, interrogam-se os Apóstolos. Mas o Senhor faz sentar
as pessoas e distribuir estes cinco pães e os dois peixes e todos
se saciam. Aliás, o Senhor encarrega os Apóstolos, e entre eles
Pedro, que recolham o que sobrou em abundância: doze cestas
de pão (cf. Jo 6, 12-13). Sucessivamente o povo, vendo este
milagre — que parece ser a renovação, tão esperada de um novo
"maná", do dom do pão do céu — deseja fazer dele o seu rei.
Mas Jesus não aceita e retira-se para o monte para rezar sozinho. No dia seguinte, Jesus na outra margem do lago, na Sinagoga de Cafarnaum, interpretou o milagre — não no sentido de uma
realeza sobre Israel com um poder deste mundo no modo esperado pela multidão, mas no sentido da doação de si: "o pão que
Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo" (Jo 6, 51).
Jesus anuncia a cruz, e com a cruz a verdadeira multiplicação
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dos pães, o pão eucarístico — o seu modo absolutamente novo
de ser rei, um modo totalmente contrário às expectativas do
povo.
Nós podemos compreender como estas palavras do Mestre —
que não deseja cumprir todos os dias uma multiplicação dos
pães, que não quer oferecer a Israel um poder deste mundo —
pareciam verdadeiramente difíceis, aliás, inaceitáveis para a multidão. "Da sua carne": O que significa? E também para os discípulos é inaceitável o que Jesus diz neste momento. Era e é para
o nosso coração, para a nossa mentalidade, um sermão "duro",
que provava a fé (cf. Jo 6, 60). Muitos dos discípulos se afastaram. Queriam alguém que renovasse realmente o Estado de
Israel, do seu povo, e não um que dizia: "Eu dou a minha carne".
Podemos imaginar como as palavras de Jesus eram difíceis também para Pedro, que em Cesareia de Filipe se tinha oposto à
profecia da cruz. E contudo quando Jesus perguntou aos doze:
"Quereis retirar-vos vós também?", Pedro reagiu com o impulso
do seu coração generoso, guiado pelo Espírito Santo. Em nome
de todos respondeu com palavras imortais, que são também nossas: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna;
nós cremos e conhecemos que tu és o Santo de Deus" (cf. Jo 6,
66-69).
Aqui, como em Cesareia, com as suas palavras Pedro começa a
profissão da fé cristológica da Igreja e torna-se também o intérprete dos outros Apóstolos e também de nós, crentes de todos os
tempos. Isto não significa que já tivesse compreendido o mistério
de Cristo em toda a sua profundidade. A sua fé ainda estava no
início, uma fé a caminho; teria chegado à verdadeira plenitude
apenas mediante a experiência dos acontecimentos pascais. Mas
contudo já era fé, aberta à realidade maior — aberta sobretudo
porque não era fé em algo, era fé em Alguém: n'Ele, Cristo.
Assim, também a nossa fé é sempre uma fé inicial, e devemos
percorrer ainda um longo caminho. Mas é fundamental que seja
uma fé aberta e que nos deixemos guiar por Jesus, porque Ele
não só conhece o Caminho, mas é o Caminho.
Mas a generosidade impetuosa de Pedro não o salvaguarda dos
riscos relacionados com a debilidade humana. De resto, é o que
também nós podemos reconhecer com base na nossa vida.
Pedro seguiu Jesus com ímpeto, superou a prova da fé, abando28
nando-se a Ele. Contudo chega o momento no qual também ele
cede aos receios e cai: trai o Mestre (cf. Mc 14, 66-72). A escola
da fé não é uma marcha triunfal, mas um caminho repleto de
sofrimentos e de amor, de provas e de fidelidade a ser renovada
todos os dias. Pedro, que já tinha prometido fidelidade absoluta,
conhece a amargura e a humilhação da renegação: o atrevido
aprende à sua custa a humildade. Também Pedro deve aprender
a ser frágil e carente de perdão. Quando finalmente perde a máscara e compreende a verdade do seu coração frágil de pecador
crente, cai num libertador choro de arrependimento. Depois deste
choro ele já está pronto para a sua missão.
Numa manhã de Primavera esta missão ser-lhe-á confiada por
Jesus ressuscitado. O encontro será na margem do lago de Tiberíades. O evangelista João narra-nos o diálogo que naquela circunstância se realiza entre Jesus e Pedro. Nele revela-se um
jogo de verbos muito significativo. Em grego o verbo "filéo"
expressa o amor de amizade, terno mas não totalizante enquanto
o verbo "agapáo" significa o amor sem reservas, total e incondicionado. Jesus pergunta a Pedro pela primeira vez: "Simão... tu
amas-Me (agapâs-me)" com este amor total e incondicionado
( cf. Jo 21, 15)? Antes da experiência da traição o Apóstolo teria
certamente respondido: "Amo-Te (agapô-se) incondicionalmente". Agora, que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama da própria debilidade, diz apenas: "Senhor... tu sabes que
sou deveras teu amigo (filô-se), isto é, "amo-te com o meu pobre
amor humano". Cristo insiste: "Simão, tu amas-Me com este
amor total que Eu quero?". E Pedro repete a resposta do seu
humilde amor humano: "Kyrie, filo-se", "Senhor, tu sabes que eu
sou deveras teu amigo". Pela terceira vez Jesus pergunta a
Simão: "Fileîs-me?", "tu amas-Me?". Simão compreende que
para Jesus é suficiente o seu pobre amor, o único de que é
capaz, e contudo sente-se entristecido porque o Senhor teve que
lhe falar daquele modo. Por isso, responde: "Senhor, Tu sabes
tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo! (filô-se)".
Seria para dizer que Jesus se adaptou a Pedro, e não Pedro a
Jesus! É precisamente esta adaptação divina que dá esperança
ao discípulo, que conheceu o sofrimento da infidelidade. Surge
daqui a confiança que o torna capaz do seguimento até ao fim: "E
disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de
dar glória a Deus. Depois destas palavras acrescentou: "Segue29
-Me"!" (Jo 21, 19).
A partir daquele dia Pedro "seguiu" o Mestre com a clara consciência da própria fragilidade; mas esta consciência não o desencorajou. De facto, ele sabia que podia contar com a presença do
Ressuscitado. Dos ingénuos entusiasmos da adesão inicial, passando pela experiência dolorosa da negação e pelo choro da
conversão, Pedro alcançou a confiança naquele Jesus que se
adaptou à sua pobre capacidade de amor. E mostra assim também a nós o caminho, apesar da nossa debilidade. Sabemos que
Jesus se adapta a esta nossa debilidade.
Nós seguimo-lo com a nossa capacidade de amor e sabemos
que Jesus é bom e nos aceita. Para Pedro foi um longo caminho
que fez dele uma testemunha de confiança, "pedra" da Igreja,
porque constantemente aberto à acção do Espírito de Jesus. O
próprio Pedro qualificar-se-á como "testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar" (1 Pd 5, 1). Quando escreveu estas palavras já era idoso,
encaminhado para a conclusão da sua vida que selou com o
martírio.
Então, foi capaz de descrever a alegria verdadeira e de indicar de
onde ela pode ser obtida: a fonte é Cristo acreditado e amado
com a nossa fé frágil mas sincera, apesar da nossa fragilidade.
Por isso escreveu aos cristãos da sua comunidade, e di-lo também a nós: "Sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda,
credes nele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das
almas" (1 Pd 1, 8-9).
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PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 24 de Maio de 2006
30
A AMIZADE
―Não existe amor maior do que dar a vida pelos
amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos
mando. Não vos chamo ser-vos, pois o servo não sabe o
que o Senhor faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que
Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi. É isto o que
vos mando: que vos ameis uns aos outros‖ (Jo 15,13-17).
31
A AMIZADE COM JESUS
“Assim como o meu Pai Me amou, Eu também vos amei: permanecei
no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, permanecereis no
meu amor, assim como Eu guardo os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos isto para que a minha alegria esteja
em vós e a vossa alegria seja completa. O meu mandamento é este:
amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Não existe amor maior do
que dar a vida pelos amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que
vos mando. Não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que o
Senhor faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi
a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos
escolhi. Eu destinei-vos para ir e dar fruto e para que o vosso fruto permaneça. O Pai dar-vos-á tudo o que Lhe pedirdes em meu nome. O
que vos mando é que vos ameis uns aos outros”. (João 15, 9-17)
Em João, Jesus chama aos seus discípulos de amigos, e mostra
em que consiste o fundo dessa Amizade a partir da sua própria
vivência com os discípulos partilhando com eles a sua vida e o
seu amor, abrindo-lhes o seu coração. O seu Amor é, na verdade, o alicerce dessa Amizade: “Não existe amor maior do que dar a
vida pelos amigos.” (Jo15, 13). Jesus deu a sua vida na cruz e é
esse mesmo Amor que flui entre eles e os une apesar de serem
tão diferentes uns dos outros!
Ao chamar Pedro e os seus companheiros, Jesus convida-os a
viver cada dia como um itinerário de santidade, isto é, de fé e de
amizade com Ele, continuamente descoberto e redescoberto
como Mestre e Senhor, Caminho, Verdade e Vida.
Torna-se portanto mais fácil compreender as palavras de Pedro:
“Senhor, a quem iremos? Só Tu tens as palavras de vida eterna”. (João
6:68). E torna-se mais fácil porque Pedro percebeu no dia-a-dia
com o Mestre que a alegria mais verdadeira está na relação com
Ele, encontrado, seguido, conhecido, amado, graças a uma tensão contínua da mente e do coração de quem procurava respostas sempre mais profundas, não se acomodando à rotina que
nasce em quem se acomoda porque alcançou o suficiente!
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Essa busca valeu-lhe o sentir-se afogar nas águas, as lágrimas,
as negações, os medos e as precipitações, mas o seu amor pelo
Mestre era e foi maior do que todas as suas fragilidades humanas! Pedro percebeu que só a amizade com o Mestre lhe assegurava uma paz profunda e lhe dava a serenidade também nos
seus momentos mais escuros e nas suas provações mais
árduas.
S. João introduz-nos com clareza nessa amizade íntima que une
Jesus e os seus discípulos:
“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo
o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê
mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho
anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como
o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na
videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes
em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e
Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se
alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e
seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o
que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do
meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.” (Jo 15,1-8).
Ele é a videira e os discípulos são os ramos. Nessa comunhão
profunda com Jesus, o coração do discípulo enche-se daquilo
que enche o coração do seu Senhor e Mestre: a sua grande paixão pela glória do Pai e sua profunda compaixão pelos homens.
Esta é a seiva que vai manter verde e vigorosa a árvore da vida
pessoal de cada discípulo de Jesus e que dará coesão e consistência à comunidade cristã. Por isso o discípulo não se deixa
seduzir por outros interesses e é capaz de construir a sua vida a
partir do valor fundamental do amor, tal como lhe indicou o
Senhor. "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos
outros como eu vos amei". (Jo 13,34).
Somente assim a amizade com Jesus enche a vida com essa
alegria verdadeira que o Senhor quer compartilhar com os seus
discípulos e que nos abre para o horizonte insuspeito de uma feli33
cidade que ninguém pode arrebatar, nem mesmo aqueles que
nos podem tirar a vida. Na experiência dos mártires descobrimos
a verdade dessas palavras.
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Seduziste-me Senhor
Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7)
Todas as chamadas à AMIZADE com Cristo têm algo de parecido com a de Jeremias, pois é sempre o Senhor a seduzir ateando o fogo interior com que queima o coração daquele ou daquela
que é chamado.
Como o profeta Jeremias, também Pedro foi alvo do olhar do
Senhor, da sedução que exerceu sobre ele, atraindo a Si o seu
coração, a sua alma, a sua vida. E apesar das resistências, a
maior parte delas têm a ver com o nosso olhar sobre o passado,
desacreditando o presente e as infinitas possibilidades da misericórdia que redime, aconteceu com Pedro no ― “Afasta-te de mim
que sou um homem pecador” (Lc 5,8), e acontece com cada um
de nós a cada momento que nos fechamos ao perdão e à esperança, apesar de esse desacreditar em nós, o Senhor vence
sempre aquele a quem Ele dirigiu o seu olhar que desarma e
seduz.
“Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão,
filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim,
Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe:
«Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda
vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor,
Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta
as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho
de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter
perguntado, à terceira vez: Tu és deveras meu amigo?„ Mas respondeu
-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu
amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» (…) Depois
destas palavras, acrescentou: Segue-me”(Jo 21, 15-19)
Pedro é imagem das experiências, descobertas e desencontros
de Jesus com os discípulos e com cada um de nós. Vê-se como
seria uma figura carismática, de liderança entre os discípulos.
Mas com uma dimensão absolutamente essencial do ser discípulo: vive a aprender, a crescer, a compreender cada vez melhor
quem é afinal Jesus e o que significa segui-lo. A “nascer de
35
Novo ―(Jo 3, 3).
Com Pedro descubro que uma Aliança de Amor que faz parte da
Amizade com Cristo é sempre um caminho. Jesus Ressuscitado
pergunta-lhe, a ele e a nós: amas-me? Amas-me de Amor Ágape, o Amor de Deus, o Amor “que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,
13). E Pedro responde: “sou deveras teu amigo‖, quero-te bem,
mas apenas isso, numa amizade… É esta sempre a dinâmica do
discípulo: nunca poderá corresponder ao Amor do seu Mestre.
Fica sempre a caminho.
E o Mestre não deixa de dizer: Segue-me, segue-me com as tuas
possibilidades, segue-me com as tuas capacidades, segue-me
com a tua disponibilidade… Segue-me. A Amizade de Jesus
Ressuscitado com os seus discípulos é uma Amizade de confiança, de entrega… de Fé. E Pedro só pode acolher este Amor e
esta Missão que não pediu, que não compreende, que não merece.
Em Pedro descortinamos em nós a humanidade que mora dentro
de cada um de nós. Somos bons e menos bons. Por ser humano,
o humano é sujeito a erros. Somos Pedro-Pedra, poder e serviço.
Ora um, ora outro. No seguimento de Jesus, Pedro foi sendo gradativamente lapidado até tornar-se a própria personificação da
fidelidade a Cristo cimentada através de uma AMIZADE profunda
entre os dois.
A Amizade com Cristo é um caminho, um caminho de Amor. É
decidir e aceitar entrar na dinâmica do Espírito de Amor sempre
crescente, sempre novo, sempre mais radical e livre.
“Foi para a liberdade que fostes chamados” (Gl 5,13)
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Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
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ENVIO - MISSÃO
«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.” Marcos 16,15.
37
Ide
Naquela sala do Cenáculo, uma transformação profunda acontece nos primeiros discípulos, que receberam o dom do Espírito
Santo. Estamos perante os mesmos homens humildes que Jesus
tinha escolhido, um por um, dentre a gente do seu povo. E nós
conhece-mos as suas dúvidas e os seus temores (Mt. 28, 17; Jo.
20, 19); contudo, eles acreditavam no Mestre e, ao mesmo tempo, tinham plena consciência da própria vocação e da própria
missão, nas quais os haveria de confirmar o Espírito Santo,
segundo a promessa do mesmo Senhor:
“Quando o Espírito Santo tiver descido sobre vós, recebereis vigor e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Galileia e Samaria, e até às extremidades da terra” (Act 1, 8).
O Envio – Missão (Ide)
“Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus
lhes tinha indicado. Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto,
ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado
todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os
povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que
Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,16-20).
(Mt 10, 1-15; Mt 28,16-20; Mc 16,15-18; Jo 20,19-23)
A primeira missão que os discípulos receberam não foi a de realizar uma tarefa e apresentar os resultados, mas a de caminhar ao
encontro do Ressuscitado. A experiência com o Ressuscitado
torna-se, assim, o ponto de partida para cada um. A missão que
depois vivem e partilham, não será outra coisa senão a comunicação desta experiência de encontro com Jesus Cristo vivo.
O horizonte do Discípulo
O mundo inteiro passou a ser o horizonte do Discipulado de
Pedro e dos seus companheiros, esse mundo como ele é, cheio
de dificuldades e contradições, armadilhas e ciladas, engendradas pelas dinâmicas do mal. È neste horizonte que Pedro anuncia, a partir de um conteúdo que toque os corações com a força
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de sua própria interpelação. Uma interpelação que remova a indiferença, a soberba, o orgulho e presunção que manipulam e aprisionam o coração humano e impedem-no de dar e acolher. Uma
interpelação veiculada pela pro-clamação e sustentada pelo testemunho. Um falar destemido que se comprova no jeito de ser do
Pedro renovado no Pentecostes, criando convicções, renovando
dinâmicas de vida e criando modos de viver que faz da sua vida
e de cada discípulo uma página viva desse Evangelho agora
anunciado, capaz de libertar, com a novidade do amor de Deus,
os corações no comum da vida de cada dia, com a força da
redenção, garantida por Cristo, que é o conteúdo vivo deste
Evangelho.
A dinâmica do Discípulo
A vida de Pedro e dos outros discípulos passa a ser habitada e a
estar centrada na dinâmica do êxodo. Isto é, fazer-se discípulo e
enriquecer o Discipulado ocorrem na medida em que se assume
com audácia a atitude de sair, partir, ir.
O discípulo é desafiado a sair de si, impedir os riscos de comodidades que lhe possibilitarão dar as costas ao mundo ao qual ele
é enviado. Uma saída de si na medida em que se vai ao encontro
dos outros, lá onde estão.
Ide, pois, não é a indicação de uma simples tarefa a cumprir. É
uma dinâmica existencial que, vivida com generosidade e incondicional confiança naquele que envia, dá forma ao coração do
verdadeiro discípulo. O acolhimento deste mandato faz desabrochar e amadurecer nele para compreender e fazer da sua própria
vida um altar na obra redentora do seu Mestre e Senhor.
O sustento do Discípulo
O sustento de Pedro e os seus companheiros vem do Senhor. A
obra pertence a Deus. Ao discípulo é dada a honra da participação e da colaboração, conformando a própria vida à do Mestre,
enquanto enfrenta o desafio de aprender que a vida verdadeira
só se conquista pela força da oferta de si. Os percursos do caminho hão-de ser fecundados pela consciência do envio e pelo sustento que advém do amor d’Aquele que envia o discípulo ao coração do mundo para anunciar o Evangelho. E o anúncio, não é
uma simples tarefa, é muito mais. É uma autêntica experiência
de crer. Crer naquele que envia, depositando nele toda a confian39
confiança, e experimentando os milagres que Ele faz naqueles e
por aqueles que, amorosamente, assumem a condição de discípulos. O discípulo, ofertando a sua vida, incondicionalmente, vive
a sorte do Mestre, na oferta e na glória.
A cultura no itinerário do Discípulo
Para o discípulo a cultura não é algo opcional. Ela, como matriz
principal da vida humana, com as suas relações vitais, valores,
linguagens e comportamentos, possui sementes de Reino ocultas, que o discípulo precisa fazer crescer. Ele expressa-se na
própria cultura e na dos seus interlocutores: é o caminho privilegiado para caminhos novos de comunhão e partilha.
O Espírito Santo é quem anima o Discípulo
O Espírito Santo passa a orientar a vida e missão dos discípulos.
Durante a sua missão, Jesus foi conduzido pela força do Espírito
Santo (Mt 3,16; Mc 1,12-13; Lc 4,14;18). Do mesmo modo, o
discípulo é animado pelo mesmo Espírito (Mt 10,20; 28,19; Jo
14,26; 16,4-15; At 1,5;2,1-11).
As condições para ser Discípulo
S. Lucas (9, 57-62) indica-nos os primeiros passos exigidos por
Jesus para tornar-se Seu discípulo: “Enquanto iam a caminho, dis-
se-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o
Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» E disse a outro:
«Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus
mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» Disse-lhe ainda
outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás,
depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de
Deus.”(Mc 8,34-38; Mt 8,19-22; Mt 10,32-39; Mt 16,24-28; Jo
12,25-26).
O Discípulo é enviado a viver o mesmo destino do Senhor, inclusive até a cruz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo,
carregue a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Estimula-nos o testemunho de tantos missionários e mártires de ontem e de hoje que
compartilharam a cruz de Cristo até à entrega da sua própria
vida.
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Os Apóstolos testemunhas e enviados de Cristo
Catequese de Bento XVI
Queridos irmãos e irmãs!
A Carta aos Efésios apresenta-nos a Igreja como uma construção edificada "sobre o alicerce dos Apóstolos e dos profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus" (2, 20). No Apocalipse o papel dos Apóstolos, e mais especificamente dos Doze, é
esclarecido na perspectiva escatológica da Jerusalém celeste,
apresentada como uma cidade cujos muros "tinham doze alicerces, nos quais estavam gravados doze nomes, os nomes dos
doze Apóstolos do Cordeiro" (21, 14). Os Evangelhos concordam
em referir que a vocação dos Apóstolos marcou os primeiros passos do ministério de Jesus, depois do baptismo recebido do Baptista nas águas do Jordão.
Segundo a narração de Marcos (1, 16-29) e de Mateus (4, 1822), o cenário da vocação dos primeiros Apóstolos é o lago da
Galileia. Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus,
quando o seu olhar se pousou sobre dois pares de irmãos: Simão
e André, Tiago e João. São pregadores, empenhados no seu trabalho quotidiano. Lançam as redes, consertam-nas. Mas outra
pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles seguemno imediatamente: agora serão "pescadores de homens" (cf. Mc
1, 17; Mt 4, 19). Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz
uma narração mais elaborada (5, 1-11). Ele mostra o caminho de
fé dos primeiros discípulos, esclarecendo que o convite para o
seguimento lhes chega depois de terem ouvido a primeira pregação de Jesus e experimentam os primeiros sinais prodigiosos por
ele realizados. Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de
homens, que lhes foi confiada. O destino destes "chamados", de
agora para o futuro, estará intimamente ligado ao de Jesus. O
apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um "perito" em Jesus.
Precisamente este é o aspecto realçado pelo evangelista João
desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros Apóstolos.
Aqui o cenário é diferente. A presença dos futuros discípulos,
provenientes também eles, como Jesus, da Galileia para viver a
experiência do baptismo administrado por João, esclarece o seu
mundo espiritual. Eram homens na expectativa do Reino de
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Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda estava anunciada como iminente. Para eles, é suficiente a orientação de João
Baptista que indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 36),
para que surja neles o desejo de um encontro pessoal com o
Mestre. As frases do diálogo de Jesus com os primeiros dois futuros Apóstolos são muito expressivas. À pergunta: "Que procurais?", eles respondem com outra pergunta: "Rabi (que quer dizer
Mestre), onde moras?". A resposta de Jesus é um convite: "Vinde
e vereis" (cf. Jo 1, 38-39). Vinde para poder ver. A aventura dos
Apóstolos começa assim, como um encontro de pessoas que se
abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um conhecimento directo do Mestre. Vêem onde mora e começam a conhecê-lo. De facto, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia,
mas testemunhas de uma pessoa. Antes de serem enviados a
evangelizar, deverão "estar" com Jesus (cf. Mc 3, 14), estabelecendo com ele um relacionamento pessoal. Sobre esta base, a
evangelização não será mais do que um anúncio daquilo que foi
experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão
com Cristo (cf. 1 Jo 13).
A quem serão enviados os Apóstolos? No Evangelho parece que
Jesus limita a sua missão unicamente a Israel: "Não fui enviado
senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15, 24). De
modo análogo parece que ele circunscreve a missão confiada
aos Doze: "Jesus enviou estes Doze, depois de lhes ter dado as
seguintes instruções: "Não sigais pelo caminho dos gentios, nem
entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel"" (Mt 10, 5s.). Uma certa crítica
moderna de inspiração racionalista tinha visto nestas expressões
a falta de uma consciência universalista do Nazareno. Na realidade, elas devem ser compreendidas à luz da sua relação especial
com Israel, comunidade da aliança, em continuidade com a história da salvação. Segundo a expectativa messiânica as promessas divinas, imediatamente dirigidas a Israel, ter-se-iam concretizado quando o próprio Deus, através do seu Eleito, reunisse o
seu povo, como faz um pastor com o rebanho: "Eu virei em
socorro das minhas ovelhas, para que elas não mais sejam
saqueadas... Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as
apascentará, o meu servo David; será ele que as levará a pastar
e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu
servo David será um príncipe no meio delas" (Ez 34, 22-24).
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Jesus é o pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas da
casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e ama
(cf. Lc 15, 4-7 e Mt 18, 12-14; cf. ,também a figura do bom pastor
em (Jo 10, 11.). Através desta "reunião" o Reino de Deus é anunciado a todas as nações: "Manifestarei a minha glória entre as
nações, e todas me verão executar a minha justiça e aplicar a minha
mão sobre eles" (Ez 39, 21). E Jesus segue precisamente este
caminho profético. O primeiro passo é a "reunião" do povo de
Israel, para que assim todas as nações, chamadas a reunirem-se
na comunhão com o Senhor, possam ver e crer.
Assim os Doze, chamados a participar na mesma missão de
Jesus, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo também
eles, em primeiro lugar, até às ovelhas perdidas da casa de
Israel, isto é, dirigindo-se ao povo da promessa, cuja reunião é o
sinal de salvação para todos os povos, o início da universalização da Aliança. Longe de contradizer a abertura universalista da
acção messiânica do Nazareno, a inicial limitação a Israel da sua
missão e da dos Doze torna-se assim o seu sinal profético mais
eficaz. Depois da paixão e da ressurreição de Cristo este sinal
será esclarecido: o carácter universal da missão dos Apóstolos
tornar-se-á mais explícito. Cristo enviará os Apóstolos "a todo o
mundo" (Mc 16, 15), a "todas as nações" (Mt 28, 19); Lc 24, 47),
"até aos extremos confins da terra" (At 1, 8). E esta missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor de reunir os povos
na unidade do seu amor. Esta é a nossa esperança e este é também o nosso mandato: contribuir para esta universalidade, para
esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão
com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.
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PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 22 de Março de 2006
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A Fé como Experiência
“Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca..
Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda
a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes,
lançarei as redes.” Lucas 5,5.
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A FÈ COMO EXPERIÊNCIA REAL
Seguindo o itinerário de seguimento de Fé de Pedro, vamos
―descobrindo‖ que a sua experiência de Fé com o Senhor foi um
processo contínuo, feito de uma relação de confiança, fidelidade
e também momentos de menos fidelidade, sustentados sobretudo pelo Amor que tinha pelo Mestre! Tendo ―falhado‖ algumas
vezes nesse caminho, ele ―resistiu‖, porque o seu coração viveu
num processo de conversão diária.
Em Pedro, nos primeiros discípulos e em cada um de nós, a
experiência da Fé está sempre ligada à CONVERSÃO, sem conversão não existe a verdadeira experiência da Fé. Quando muito,
ela pode ficar-se pelo ―encontro‖, pelo encantamento do ―novo‖,
mas facilmente se diluirá pelos caminhos da vida espiritual tão
cheios de obstáculos!
Embora seja no Pentecostes que Pedro se vai abrir totalmente à
Graça de Deus através da força do Espírito Santo, existem dois
momentos fortes da sua conversão: uma, precisamente no mesmo espaço físico (à beira do mar), (Jo 21,1-17), onde Jesus o
chama a segui-lo (Lc 5,1-11), e o segundo, depois de negar a
Cristo, ocasião em que choraria amargamente (Lc.22:62).
Nestes encontros, Pedro faz a experiência real da Fé, e fá-lo, não
num lugar ―apropriado‖, algo aberto ao ―espiritual‖, mas no concreto da dureza da vida, junto ao mar, o lugar onde trabalhava,
nos seus ―ambientes‖, o espaço onde a Fé se movia e actuava.
Não é de todo ―inocente‖ a escolha de Jesus para ali se encontrar com as multidões e os Discípulos! Em Pedro, aprendemos
que a Fé como experiência não acontece em ―redomas‖ ou espaços ―arejados espiritualmente‖, mas no mundo, no concreto da
vida!
A Fé é a experiência de um encontro com uma Pessoa e esta
experiência é sobretudo pessoal. Deus encontra-se como uma
pessoa, rosto a rosto no mais íntimo do coração de uma experiência. Basta estar atento aos imensos testemunhos de conversão que descrevem como o coração experimentou essa presença de Deus.
―Partindo‖ desta dinâmica da Experiência do Encontro, certamente que já existia uma ―Fé‖ em Pedro, como tantos judeus tinham,
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mas esta, ―talvez‖ ainda cheia de ―rombos‖ nas redes de toda a
sua interioridade que ia começando lentamente a ver a ―luz do
dia espiritual‖, naqueles dias e tardes de sol e frio à beira do seu
meio natural, o lago de Tiberíades… enquanto a Palavra escutada mesmo que indirectamente transportada até aos seus ouvidos
pelo vento marítimo daquelas bandas do lugar onde Jesus falava
à multidão, ia cavando profundo no seu coração…! Logo, duas
coisas certamente aconteceram ali à luz da Palavra:
Uma, a ESCUTA, abriu nele caminho para que a Fé começasse
ali a ―tomar forma‖ a ―amadurecer‖: “Portanto, a fé surge da prega-
ção, e a pregação surge pela palavra de Cristo.” (Rm 10,17).
A outra, a PALAVRA nunca volta ao seu lugar sem ―cavar fundo‖
no coração por onde andou a ―passear‖: “Assim como a chuva e a
neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de
empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à palavra que sai
da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a
minha vontade e sem cumprir a sua missão.” (Isaías 55,10-11).
Pedro vive uma experiência concreta que só a Fé pode proporcionar ao abrir esse espaço interior do homem à descoberta do
verdadeiro Amor. Naquelas três perguntas sobre se O amava,
(Jo 21 15-18), Jesus ia abrindo “novos” horizontes da Fé a Pedro,
reescrevendo no seu coração o verdadeiro Amor: que quem ama
o Pastor ama as suas ovelhas e por isso cuida delas. Pedro sente-o pessoalmente, ali, nessa força da Graça do Pai, que em
Jesus apenas lhe pergunta sobre o seu Amor e não as suas traições diárias.
(1429). Testemunho disto mesmo, é a conversão de Pedro, depois de três
vezes ter negado o seu mestre. O olhar infinitamente misericordioso de Jesus
provoca-lhe lágrimas de arrependimento (15) e, depois da ressurreição do
Senhor, a tríplice afirmação do seu amor para com Ele (16). A segunda conversão tem, também, uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo dirigido pelo Senhor a uma Igreja inteira: «Arrepende-te!» (Ap 2, 5-16). (1)
Como resposta a essa Graça de Deus, Pedro coloca-se como
instrumento nas Suas mãos, até à derradeira experiência da Cruz
em Roma! E este colocar-se introduz Pedro num itinerário de
seguimento que o leva a viver a Fé como Experiência concreta e
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real!
Serão várias as experiências da Fé que encontramos no itinerário
de Fé de Pedro e dos seus companheiros, mas agora focalizemos apenas duas: A Ressurreição de Jesus e o Pentecostes,
que claramente marcam uma viragem na caminhada da Fé destes:
Uma, tremendamente marcante na vida de Pedro e dos outros
Discípulos, é a experiência da Ressurreição do Senhor, (Jo
20,1-10), que vai tornar-se sem sombras de dúvidas, o “ponto de
partida‖ para uma vida em busca da Santidade, onde, novamente
pela experiência da Fé, o Espírito de Deus vai actuando no interior e no exterior (acções) destes homens!
Quem conheceu Pedro antes do Pentecostes, certamente que
não reconhecerá nele este ―novo‖ Pedro agora renovado pela
Graça do Espírito Santo: (Act 2,1-41;3,1-26;4,1-31;5,1-42;8,1425;9,31-43;19,9-48;11,1-18;15,7-12).
A outra, o Pentecostes, (Act 2,1-13), não será a única experiência do Espírito Santo para Pedro, (Act 4,31;10-44), mas é, podemos assim dizer, a força impulsionadora que fará da Fé destes
homens uma experiência contínua da Graça.
Como Pedro, cada pessoa faz uma experiência de fé diferente do
outro, uns correm, outros caminham, o importante é fazer essa
experiência. Foi a experiência do encontro com o Ressuscitado
que transformou radicalmente a vida daqueles discípulos.
____________________________________________________
(1). Catecismo da Igreja Católica (site do Vaticano)
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
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A Fé como Experiência em Pedro
A Fé como Experiência em Pedro gera-se essencialmente num
caminho de vida que podemos dividir em 7 etapas: a Busca; a
Iniciativa Divina; a 1ª Resposta; a Vida com o Senhor; o Processo de purificação e clarificação; a Integração na Comunidade e por ultimo o Compromisso que está bem patente nas
suas pregações, na experiência da cadeia e no martírio.
Nesta abordagem usaremos um ―esquema‖ de estudo, em que
faremos o paralelismo(1) dos Evangelhos em função e direccionado aos acontecimentos em que Pedro está presente e participa
directamente ou indirectamente nos acontecimentos com Jesus.
As palavras sublinhadas, são apenas “pistas” e “apoio” ao estudo
(lectio-divina). O que se pretende é que a partir dessas palavras,
se ―DESPERTE‖ e ―PROVOQUE‖ em cada grupo ou elemento, a
discusão-estudo que ajudem a conhecer e a compreender
melhor o Itinerário de Pedro a partir das suas ―Experiências de
Fé‖.
Fontes Bíblicas
Paralelismo
nos Evangelhos
Mt 4, 18-22
Mc 1,16-20
Lc 5,1-11
Jo 1,35-51
Mt 8,14-17
Mc 1,29-34
Lc 4,38-41)
Lectio Divina
As Etapas e os momentos (processos de Fé)
na Experiência concreta da vida de Pedro.
Tema: Chamada
Para meditar: O olhar de Jesus sobre Pedro e os
seus companheiros, a iniciativa é de Jesus. A resposta imediata à chamada. Pedro reconhece o seu
pecado em face à experiência real do milagre.
Pedro recebe o nome de Cefas - Pedra.
Tema: A cura da Sogra de Pedro e outros milagres.
Para meditar: Jesus entra na intimidade familiar de
Pedro. A doença presente na casa de Pedro. A
experiência da cura num familiar de Pedro. A casa
de Pedro usada como local de cura de outros
enfermos.
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Mt 14,22-33
Mc 6,45-52
Jo 6,16-21
Mt 15,1-20
Mc 7,1-23
Lc 11,37-41
Mt 16,13-20
Mc 8,27-30
Lc 9,18-21
Jo 6,67-71
Mt 16,21-23
Mc 8,31-33
Lc 9,21-22
Mt 17, 1-9
Mc 9,2-10
Lc 9,28-36
2 Pe 1,16-18
Tema: Jesus caminha sobre as águas .
Para meditar: Jesus leva (obriga) Pedro e os outros
a fazer a experiência da “noite da Fé” sem lhes perguntar se querem. Pedro prova Jesus através de
um pedido concreto (caminhar sobre as águas).
Pedro sente medo e grita por socorro “o salva-Me”
apesar da dúvida.
Tema: Jesus e as tradições judaicas.
Para meditar: Pedro toma a iniciativa e vai pedir a
Jesus que explique o sentido da parábola que não
entende.
Tema: Confissão messiânica de Pedro.
Para meditar: Pedro é o único entre o grupo a
tomar a palavra e a revelar quem Jesus é. Esta
revelação acontece em Pedro através do Espírito
Santo e não na sua carne! Pedro torna-se a Pedra
com o qual Jesus edificará a sua Igreja. Jesus entrega a Pedro as chaves do Reino do Céu.
Tema: Primeiro anúncio da Paixão .
Para meditar: Pedro toma (afasta) Jesus dos companheiros e repreende o próprio Mestre. Jesus
afasta Pedro chamando-lhe Satanás. O Pedro que
antes era feliz e Pedra, passa a ser agora um instrumento de Satanás.
Tema: Transfiguração de Jesus .
Para meditar: Pedro faz parte do grupo dos 3 que
foram escolhidos por Jesus para testemunharem a
Sua glória. Pedro está a cair de sono mas ainda
assim vê a glória de Jesus. Pedro apesar de ser testemunha da glória de Jesus ali presente, tem
medo. Pedro confirma (testemunho) na sua 2ª carta essa experiência da Glória e a certeza de que só
através do Espírito Santo os homens podem falar
de Deus, (de certa forma a querer relembrar aqui a
sua 1ª experiência da revelação, em que afirmou
que Jesus era o filho de Deus )(Mt 16,16).
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Mt 17,24-27
Mt 18,21-35
Lc 17,3-4
Mt 19,27-30
Mc 10,28-31
Lc 18,28-30
Mt 26,30-35
Mc 14,26-31
Lc 22,31-34
Jo 13,36-38
Tema: O tributo (imposto) do templo .
Para meditar: Os cobradores aproximam-se apenas
de Pedro e não dos outros Discípulos para o questionar. Jesus antecipa-se a Pedro pedindo-lhe a
opinião pessoal. Jesus envia Pedro a fazer parte do
milagre (moeda no peixe). Jesus compartilha com
Pedro a mesma responsabilidade do pagamento do
imposto.
Tema: Perdão na Comunidade
Para meditar: Pedro aproxima-se de Jesus denotando-se nele ainda alguma incompreensão sobre
a dimensão do Perdão e o desejo nele de crescer
no Perdão, expresso na pergunta que faz ao Mestre.
Tema: Recompensa do desprendimento
Para meditar: Novamente Pedro a tomar a iniciativa das perguntas ao Mestre. A pergunta que
numa análise menos profunda parece levar nela
apenas o objectivo da troca de quem espera
recompensa pelo que fez, mas que na resposta de
Jesus vem a “provar-se” ter sentido e validade vinda daqueles que deixaram tudo para O seguirem.
Tema: Anúncio das negações de Pedro.
Para meditar: No Evangelho de Mateus e Marcos vemos que é Pedro quem toma a iniciativa da
afirmação que não abandonará o Senhor mesmo
que todos o abandonem. Já em Lucas, a experiência da negação em Pedro é diferente, pois ela está
inserida num plano divino que tem como propósito, provar a Fé de Pedro, pedido feito por Satanás
o qual o Senhor “acolhe” sem contudo abandonar
Pedro pois havia rogado por ele! Em João, vemos
um Pedro desejoso de saber para onde o Senhor
vai, e a questionar Jesus porque é que ele, Pedro,
não pode fazê-lo no seu tempo.
50
Mt 26,36-46
Mc 14,32-42
Lc 22,39-46
Jo 18,1-2
Mt 26,57-68
Mc 14,53-65
Jo 18,12-14;
19-24
Mc 3,13-19
Mt 10,1-4
Lc6 12-16;9,1
Jo 1,40-49
Mc 5,35-43
Mt 9,18-26
Lc 8,40-56
Tema: Oração de Jesus no Monte das Oliveiras.
Para meditar: Jesus escolhe apenas Pedro e dois
Discípulos entre o grupo, (vemos que Pedro é o
primeiro nome entre os 3 a ser citado ), para partilharem com ele a experiência da oração do Getsémani. È interessante verificar como Jesus quando
vai ter com os 3, dirige a palavra apenas a Pedro
embora encontra-se todos a dormir! Só em Lucas é
que esta pergunta de Jesus está colocada no plural.
Tema: Jesus no tribunal judaico.
Para meditar: Pedro segue o Senhor mas de longe. Está presente mas discreto (não quer envolverse), por isso está misturado no meio dos servos do
palácio de forma a poder verificar o desfecho da
situação, (como quem deseja proteger-se)!
Tema: Escolha dos Doze.
Para meditar: Jesus chama e escolhe 12 discípulos para irem pregar; curar e expulsar demónios
em seu Nome. Nesta chamada Pedro está 1º lugar
da lista! Mateus ressalta mesmo este pormenor de
uma forma mais intensa: “primeiro, Simão”. Em
Lucas, encontramos um pormenor interessante,
que se refere ao nome de Apóstolos que Jesus passa a dar aos Discípulos. Até ali, ainda eram discípulos, que significa “alunos”, agora passam a ser
Apóstolos, que significa “enviados”. Outro aspecto
a reter é o olhar fixo de Jesus sobre Simão Pedro
narrado em João.
Tema: Ressurreição da filha de Jairo.
Para meditar: Novamente, Jesus vai convidar
apenas Pedro e os dois companheiros que com ele
fizeram a experiência da Transfiguração para fazerem agora uma das maiores experiências da Fé, a
ressurreição de uma menina. Também como na
Transfiguração, Pedro volta a fazer a experiência
do silêncio sobre esses acontecimentos marcantes
para a Fé, na experiência da obediência ao pedido
de Jesus!
51
Mc 11,12-14
Mt 21,18-20
Mc 13, 1-8
Mt 24,1-2
Lc 21,5-6
Lc 5, 1-11
Mt 4,18-22
Mc 1,16-20
Jo 21,1-11
Tema: A Figueira estéril.
Para meditar: Neste episódio da figueira Pedro
faz parte de um grupo como anónimo (não é citado directamente aqui o seu nome)! Neste episódio, ressaltam dois verbos muito importantes que
compõem o ritmo do Discipulado: VER (Mt 21-20)
e OUVIR (Mc 11,14). Pedro e os seus companheiros aprendem aqui sobre a força extraordinária
da Fé que move e pode tudo (Mt 21,21).
Tema: Discurso Escatológico.(Os fins dos Tempos).
Para meditar: Nestes 3 evangelhos, só em Marcos vamos encontrar Pedro dirigindo a palavra ao
Senhor, não apenas acompanhado dos companheiros “habituais” dos grandes momentos com
Jesus, mas agora está mais um com eles, que é
seu irmão André. A pergunta que dirigem a Jesus
trata sobre os fins dos tempos.
Tema: A Pesca.
Para meditar: Neste episódio da Pesca, a “Fé
como experiência” em Pedro torna-se profundamente visível e real e ela acontece várias vezes:
A Fé de quem confia no Senhor ainda que no
absurdo de quem viveu momentos antes a experiência de nada ter pescado, mas ainda assim fazse ao largo novamente apenas apoiado na confiança da palavra do Mestre. A Fé que se torna
experiência concreta ao reconhecer que está
perante o próprio Deus no seu pecado, buscando
esconder a sua “nudez” que lhe veste a sua
humanidade pecadora, ainda tão latente e persistente ainda nele. Pedro tem aqui a reacção típica
de todos aqueles que erraram, mas um dia sentiram o perdão de tal forma (no Tu amas-Me?) que
logo tentam seja a que preço for, “remediar” e
“restaurar” o mal feito (reparem como Pedro age
(Lc 21,11)…. ao carregar toda a rede sozinho…)!
52
Lc 8,40-48
Mt 9,18-26
Mc 5,21-43
Lc 22,7-13
Mt 26, 17-19
Mc 14,12-16
Jo 6,1-68
Tema: A mulher com fluxo de sangue.
Para meditar: Nesta resposta de Pedro e os companheiros (v45), expressa no evangelho de Lucas,
damos conta que ainda falta muito caminho a
Pedro e aos outros, para conhecer o Mestre e a
força do seu poder. Talvez depois, naquele episódio das multidões relatado em (Actos 5,15), Pedro
tenha percebido e reconhecido, a “Fé que faz a
experiência do Toque”, tão bem expressa neste
momento agora vivido na fé desta mulher!
Tema: Preparação da Ceia do Senhor.
Para meditar: È interessante ver quem são os discípulos enviados neste episódio por Jesus, que marca o início e o ritmo de todo o acontecimento Pascal : um, o discípulo amado de Jesus, João, o
outro, o discípulo que amava muito Jesus, Pedro.
Neles está também presente a Fé e a obediência
no partir a cumprir a missão que lhes é confiada na
dependência total da palavra do Mestre. Finalmente, são Pedro e João que vão ter a “honra” de ser
os instrumentos escolhidos de Deus para prepararem o grande acontecimento da Ceia do Senhor.
Tema: Discurso do Pão do Céu.
Para meditar: Aqui, vemos um Pedro já assumindo
a responsabilidade de liderança com os Doze. E não
só toma como sua, essa certeza da Fé que nasceu
da sua experiência de vida com o Mestre, como
também assume agora por todos, essa mesma Fé
que os faz crer e afirmar que só no Senhor podem
ter a certeza da vida eterna.
53
Jo 13,1-20
Mt 20,20-28
Mc 10,35-45
Lc 22,24-27
Jo 22,1-11
Mt 26,20-25
Mc 14,17-21
Lc 22,21-23
Jo 21,15-23
Tema: O Lava-Pés.
Para meditar: Pedro no seu “melhor” e no seu
“pior” na qualidade do barro que lhe forma ainda a
humanidade! Primeiro coloca em causa ser o próprio Mestre a lavar-lhe os pés (já se viu um Deus a
lavar os pés a alguém! - talvez tenha pensado..!
Depois, o extremo, agora já não quer apenas que
Jesus lhe lave os pés mas aceita e pede mesmo um
“banho” total..! Intrigante depois a resposta de
Jesus (será que expressava assim a imagem do baptismo!).
Tema: Traição de Judas.
Para meditar: Nota-se aqui uma autoridade e liderança em Pedro na forma como pede a João que
“interrogue” o Mestre a fim de que Este revele de
quem fala! Também podemos falar aqui de uma
amizade-cumplicidade entre Pedro e João tendo no
meio Jesus como referência!
Tema: Pedro, amas-Me?.
Para meditar: O Encontro e a Conversão real de
Pedro acontece verdadeiramente neste episódio
do “Tu amas-Me?” Até aqui, Pedro ora estava no
monte da Transfiguração, ora no vale das suas
pequenas e grandes quedas! Só no reconhecer que
o Senhor sabia tudo e no Amor que tinha por ele,
Pedro se entrega definitivamente! Bom, falta-lhe
ainda muito caminho a Pedro! Verificamos isso
logo após este diálogo com Jesus, na sua inquietação-questão sobre o destino de João (Como Pedro,
quantos de nós ainda vivemos também em função
do destino do outro?)! Depois, na sua caminhada
de Actos, são inúmeros ainda os barros ainda por
moldar em Pedro!
________________________________________________________________________________
(1). Paralelismo: analogia; semelhança; correspondência. (Dicionário Porto Editora)
54
A Fé como Experiência em Pedro
em
Actos
Vimos na abordagem anterior, que a Fé como Experiência em
Pedro gerava-se essencialmente num caminho de vida que
podíamos dividir em 7 etapas. No livro de Actos, encontramos as
duas últimas etapas: Integração na Comunidade e o Compromisso, que iremos aprofundar agora:
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
ACTOS
As Etapas e os momentos (processos de Fé)
na Experiência concreta da vida de Pedro.
1,15-26
2,1-12
Tema: Eleição de Matias.
Para meditar: Neste episódio da eleição de
Matias, verificamos já uma atitude de liderança(v15) em Pedro muito mais sólida e firme, e
apoiada na autoridade do Espírito Santo(16).
Outro pormenor interessante é a dimensão da
comunhão na liderança partilhada entre todos
(V17;24). Verificamos aqui também o conhecimento do AT em Pedro (V20). Tudo isto faz
parte de um processo de integração na comunidade que Pedro vai aperfeiçoando no seu
caminho.
Tema: Pentecostes.
Para meditar: Embora Pedro não seja aqui
citado directamente, ele está presente no
meio deste grupo que recebe o dom do Espírito Santo que lhe vai proporcionar a força
necessária para o caminho do anúncio que o
espera como vemos já logo a seguir deste episódio no seu 1º discurso.
55
2,14-47
3, 1– 11
Tema: 1ºDiscurso de Pedro à multidão.
Para meditar: Neste discurso de Pedro, na forma como se coloca de pé, (a postura) e no
erguer a voz, encontramos nestes gestos e
palavras a autoridade em Pedro que “ali” está
centrada unicamente em Cristo na força recebida antes no acontecimento do Pentecostes.
Depois, para reforçar o seu discurso, sobretudo porque ali estariam certamente presentes,
muitos judeus, cita-lhes a profecia de Joel, o
que revela nele conhecimentos do AT como já
dissemos anteriormente. Finalmente, este discurso de Pedro toca de tal forma os ouvintes,
gerando neles uma transformação de tal
ordem, que muitos se vão converter e baptizar, começando a dar forma à 1ª comunidade,
considerada a “comunidade modelo”.
Tema: Cura de um coxo.
Para meditar: Encontramos aqui Pedro acompanhado de João, (recordem quem preparou a
“Ceia do Senhor”). Aqui também verificamos
que o seguimento de Cristo não provocou um
rompimento total com o templo (v1). Reparem
novamente no olhar fixo de Pedro e João( a
fazer-nos recordar o olhar fixo de Jesus sobre
Pedro Jo 1,42). Depois, a dependência de
Pedro em Cristo (v6). Finalmente, o
“Toque”(v7). A repetir-se aqui a experiência do
toque também já testemunhada por Pedro em
Jesus naquela mulher com o fluxo de sangue
(Lc 8,23-48).
56
3,12-26
4,1-37
5,1-11
Tema: 2º Discurso de Pedro.
Para meditar: Reparem na ousadia e o destemor
de Pedro neste episódio, nas palavras que pronuncia perante aqueles que ele próprio agora acusa de
serem os autores da morte de Cristo! Pedro testemunhando o poder que lhe era dado e actuava a
partir da força de Cristo. Depois também a recordar-lhes a Promessa que estava reservada a eles
(v26), a sua descendência e a aliança feita com
eles! O apelo ao arrependimento e à conversão
(v19). O anúncio da Parusia (v20-21). Novamente
as profecias (v18)!
Tema: Pedro e João perante o Sinédrio.
Para meditar: Vemos aqui um Pedro acompanhado
de João, cheios do Espírito Santo a falar sem
temor, não só reafirmando a origem dos milagres
por eles operados, mas continuando a acusar da
morte de Jesus os que agora os interrogavam, afirmando ser Ele a Pedra angular. Outro dado importante em Pedro, a obediência a Deus em primeiro
lugar. Novamente o aspecto comunitário, na partilha com todos os companheiros dos acontecimentos e da graça de Jesus operando neles e a partir
deles, e a oração comunitária (V23-30). Outro
“Pentecostes” acontecendo aqui também (v31).
Por fim, a dimensão comunitária reafirmando-se e
solidificando-se cada vez mais ( v32-37).
Tema: Fraude de Ananias e Safira.
Para meditar: Se existia alguma dúvida até agora
sobre se o Espírito Santo já habitava realmente em
Pedro, neste episódio ela acaba certamente. Afinal,
quem é que revela a Pedro todos os passos deste
casal? Outro aspecto é a autoridade de Pedro, não
só na Palavra mas na força que ele leva em si, de
tal forma que vai provocar a morte neles e ainda
por cima a partir da palavra de Pedro!
57
Tema: Milagres dos Apóstolos.
5,12-16
Para meditar: Como já havíamos referido, a
“Experiência da Fé” “gera - faz” muitas vezes a
“Experiência do Toque” ou vice-versa. Aconteceu no contacto de Jesus com as pessoas e
acontece agora no contacto de Pedro com as
pessoas enfermas de corpo ou espírito! Pedro
havia sido testemunha disso várias vezes na
companhia de Jesus, ele próprio conhecia o
sabor desse “Toque” que o salvara naquela
noite de tempestade (Mt 14,30-31). Muitas
vezes esse toque não é propriamente físico,
ele acontece interiormente no coração; reparem como bastava a sombra de Pedro para
que o milagre acontecesse!
Tema: Prisão e libertação dos Apóstolos.
5,17-29
Para meditar: Neste 2º episódio da Prisão de
Pedro, que agora está acompanhado também
dos outros discípulos, acontecem nele e nos
seus companheiros as mesmas reacções de
coragem, destemor e denúncia como na 1ª
prisão de Pedro com João (cap.4). Importa
salientar que aqui são presos duas vezes, quase de seguida e a intervenção divina através de
um anjo que os liberta. Vemos também a obediência ao que lhes fora pedido que era o
anúncio da Palavra no Templo.
58
8,14-25
9,31-35
9,36-43
Tema: Pedro e João na Samaria.
Para meditar: Verificamos aqui outra dimensão da comunhão comunitária (v14), no envio
de Pedro e João à comunidade cristã da Samaria onde existiam já samaritanos baptizados
(v16). Também é importante perceber o impor
das mãos de Pedro e João aos samaritanos,
que “sugere” outro “Pentecostes”. No discurso
-diálogo que acontece aqui entre Pedro e
Simão (v18-24) verificamos também muitas
semelhanças-simetrias com o discurso de Paulo com o mago judeu em Chipre (Act 13,6-12).
Tema: Pedro cura um paralítico.
Para meditar: Pedro vai crescendo na sua forma de depender e perceber que é o Senhor
que opera e actua a partir dele (v34). E Pedro
vai amadurecendo e crescendo porque a sua
“Fé” gera-se e actua sempre a partir da experiência com o outro que se cruza nos seus muitos caminhos (v32).
Tema: Ressurreição de Tabitá.
Para meditar: Neste episódio Pedro revive e
faz a mesma experiência de fé que testemunhara com Jesus na ressurreição da filha de
Jairo (Mc 5,35-43), só que agora é Pedro quem
intervém directamente sem a presença física
de Jesus. Alguns pormenores importantes: a
sala de cima (v39) (a recordar-nos o lugar da
última ceia); Pedro que fica só como Jesus,
mandando sair todos (v40); a experiência do
Toque (v41). Reparem nas semelhanças deste
episódio com o que aconteceu com Paulo na
ressurreição do jovem em Tróade (Act 20,712).
59
Tema: Visão de Cornélio em Cesareia .Visão de
Pedro em Jope.
10,1-33
10,34-43
10,44-48
Para meditar: Aqui vemos Pedro ser não só
parte importante expressa do conteúdo no
anúncio do Anjo do Senhor, como também a
ser o instrumento escolhido por Deus para
anunciar a Cornélio e aos outros a sua Palavra
e o seu Amor que não faz acepção de pessoas!
Voltamos ao Pedro ainda muito humano nas
suas resistências e recusas com Deus (v14)
(imaginem depois da experiência do êxtase, a
fazer-nos recordar o Pedro do episódio da
Transfiguração), no contraste da humildade
que nele habitava apesar de tudo (v26). Novamente a autoridade e a força moral em Pedro
que carrega e atrai a escuta confiante de
outros (v29).
Tema: Discurso de Pedro na casa de Cornélio.
Para meditar: Pedro dá um grande passo ao
reconhecer aqui que Deus não faz acepção de
Pessoas; que para ser agradável a Ele basta
viver no temor d’Ele e na Sua justiça. Novamente o anúncio-denúncia sempre presente
nos seus discursos, a partir do seu testemunho
e dos profetas em relação aos factos vividos
quando andava com Jesus .
Tema: Baptismo dos primeiros pagãos.
Para meditar: O Espírito Santo a actuar através
de Pedro. Novo Pentecostes agora com
pagãos. A autoridade que reconhece a misericórdia de Deus, expressa no seu pedido para
que se baptizem os pagãos que foram alvo do
derramamento do Espírito Santo.
60
11,1-18
12,1-19
Tema: Pedro justifica o seu procedimento.
Para meditar: Numa interpretação mais descuidada desta passagem certamente que nos
pareceria ver aqui um Pedro ainda muito preocupado com a opinião dos seus companheiros!
Mas não é isso realmente o que está patente
nas suas palavras. Pedro não justifica mas
expõe (v4), as razões do seu procedimento
anterior com Cornélio e os pagãos. E Pedro
reforça esse seu procedimento baseado sobretudo nas palavras de envio do Espírito Santo
(v12). Interessante a sua a certeza que ninguém se pode opor a Deus, mesmo que o
caminho a trilhar seja o absurdo, um dos caminhos que o discípulo irá sempre encontrar e
trilhar no seguimento de Jesus.
Tema: Execução de Tiago e Prisão de Pedro.
Para meditar: Novamente a prisão de Pedro
como que a anunciar o seu futuro! Novamente
a intervenção divina através de um anjo e o
esclarecer no seu coração, todo o significado
deste acontecimento. Finalmente, a dimensão
da pertença à Comunidade, na oração de toda
a Igreja (v5); no dirigir-se especificamente ao
lugar onde se reunia a Comunidade e na partilha com todos sobre os acontecimentos vividos.
Terminamos este itinerário da ―Fé como Experiência‖ em Pedro,
através do relato do seu companheiro das maiores experiências
com Jesus, o Apóstolo S. João. Nelas, João relata o diálogo
entre Jesus e Pedro, antevendo já, de certa forma, uma das
maiores ―Experiências‖ que Pedro irá experienciar no fim do seu
caminho de Fé que é o Martírio:
61
“Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais
novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas,
quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar
o cinto e levar para onde não queres.» E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a
Deus. Depois destas palavras, acrescentou: «Segue-me!»” (Jo
21, 18-19).
________________________________________________________________
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
62
Vida de Igreja
Experiência - Caminho Eclesial
63
PENTECOSTES
“Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos
no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se
encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo,
que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Ora, residiam em
Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há
debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou
estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são
todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça
falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da
Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia
e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de
Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas
nossas línguas, as maravilhas de Deus!» Estavam todos assombrados
e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: «Que significa isto?»
Outros, por sua vez, diziam, troçando: «Estão cheios de vinho
doce.” (Actos 2,1-13).
Antes de nos debruçarmos sobre o tema do Pentecostes, seria
importante perceber um pouco a estrutura base do Livro de Actos
e qual o objectivo do autor.
1. Quanto à sua estrutura, o livro de Actos acentua algumas
temáticas, tais como: Missão; Vida Comunitária e de Comunhão,
a partir da vivência experimental do Espírito Santo como dom
emergente de Deus.
2. O objectivo principal do autor era acentuar que o novo tempo,
um novo céu e uma nova terra deveriam ser inaugurados na
Comunidade-Igreja com as suas dificuldades reais, não mais
centralizadas na Parusia, mas sobretudo, na prática cristã no
meio do mundo, procurando desta forma, resgatar essas temáticas, ensinando os receptores do texto de Actos a viverem agora
a longo prazo.
64
Outro dado importante a reter é que no livro de Actos o autor fala
não só de um Pentecostes mas de vários:
1. O do Movimento de Jesus, em Jerusalém (At 2,1-13).
2. Outro Pentecostes em Act 4,31.
3. Em Act 8,17 relata o Pentecostes dos Samaritanos.
4. Em Act 10,44-45 Lucas relata o Pentecostes dos pagãos.
5.Estes recebem o Espírito ao ouvir a Palavra do apóstolo Pedro,
antes de serem baptizados; O Espírito vai sempre vai na frente; permeia toda a realidade, está em tudo, inunda e contagia
tudo e todos.
5. Em Paulo (19,4-6).
No NT, Lucas é o único que narra sobre o Pentecostes. Paulo
tinha consciência do dom do Espírito Santo (Gl 3,2), mas não fala
do Pentecostes. Já João, fala do sopro do Espírito Santo (Jo
20,22), mas também não fala do Pentecostes.
A descida do Espírito Santo no Pentecostes
Vemos neste episódio do Pentecostes, dois momentos distintos.
No primeiro momento, (Act 2,1-4) a descida do Espírito Santo
como dom prometido por Jesus (At. 1, 8; Lc 24, 29; Jo 15, 26; 16,
7. 13). E, no segundo momento, o fenómeno das línguas como a
linguagem do Espírito, onde todos podem compreender-se e, por
isso, maravilhar-se das experiências com o Sagrado e da experiência e convivência com o outro, a partir da experiência da linguagem do amor.
Lucas inspira-se nos relatos do Sinai, para descrever os sinais,
―hierofania” (1) que aconteceram no Pentecostes… percebe-se,
uma forte ligação com a narração de Ex. 19, 2,8; 20,2. Segundo
o autor, no Pentecostes, a presença do Espírito, penetra visível e
sentimentalmente a Igreja. Esta presença é marcada por um
―som‖, como de um vento impetuoso, relacionado com ―Pneuma‖
em hebreu ―Ruah‖, (2) e o fogo que recordam os relâmpagos, trovões e o fogo do Sinai (Ex 19, 16-19; Dt 5, 4s; Hb 12, 18s)‖.
A simbologia das ―línguas‖ é muito evidente nessa narrativa. Para
Lucas o fogo tem forma de línguas e repousa sobre cada um presente no Cenáculo. Essas línguas representam a universalidade
da Igreja e a sua capacidade de comunicar com o mundo. O
fogo, ―símbolo da vitalidade e do esplendor de Deus‖ representa
o baptismo anunciado no primeiro livro de Lucas: “Ele há-de bapti65
zar-vos no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16).
Importa sublinhar que Deus é sempre o destinatário da oração
em línguas, trata-se de uma atitude de alguém em diálogo directo
com Deus. Já com a Comunidade, a relação é diferente, esta
passa a ser o destinatário quando alguém fala em línguas.
O objectivo do primeiro relato do Pentecostes, é chamar a atenção para o factor carismático e apocalíptico do Pentecostes.
Lucas em (Act 1,1-4.12-13) descreve o Pentecostes como um
"falar noutras línguas", o que significa Glossolalia (falar em línguas)(2) ou a Xenolalia (falar em línguas estrangeiras). Já no
segundo relato (Act 1,5-11) ele é mais profético e missionário;
aqui a beleza do Pentecostes está em que "cada um fala a sua
própria língua" (esta expressão repete-se 3 vezes (At 2,6.8.11) e
todos entendiam. Quer dizer, a riqueza do Pentecostes é a comunicação que se cria entre pessoas e grupos diferentes, onde
cada um mantém a sua própria "língua - cultura". O diferente é
acolhido para enriquecimento; o outro não é visto como uma
ameaça e a unidade faz-se na pluralidade e na diversidade.
Finalizando: um acontecimento constante que acontece no seio
da comunidade, e que a impulsiona em direcção ao mundo,
criando uma experiência que não fica restrita às paredes do lugar
onde ela se reúne e nem aos limites que os homens estabelecem: todo o homem e mulher escuta, na sua própria língua, o
Amor do Pai.
_______________________________________________________________________
(1). A manifestação de algo «de ordem diferente» — de uma realidade que
não pertence ao nosso mundo — (ex: o Sagrado) em objectos que fazem parte
integrante do nosso mundo «natural», «profano».
(2). Glossa (grego) significa língua; lalia (grego) significa o acto de falar línguas.
Glos-so+lalia: palavra formada dos dois termos gregos que se refere ao dom
de línguas que é um milagre divino que o Espírito Santo concede a alguns, o
poder de falarem em idiomas, os quais não aprenderam pelos processos naturais, a fim de testemunharem de Jesus Cristo.
Dicionário de Filosofia - (António Rodrigues Gomes )
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
66
A Pregação em Pedro
Apesar de serem cinco os discursos que encontramos no livro
dos Actos dos Apóstolos, iremos fazer apenas a abordagem dos
três discursos que me parecem os mais ―significativos‖. São eles:
o 1º discurso após o Pentecostes, o 2º discurso à Porta Formosa
após a cura de um homem coxo e por último, o discurso na casa
de Cornélio.
1º Discurso: (Actos 2,14-41).
De todas as pregações de Pedro, a primeira é sem dúvidas,
aquela que marca definitivamente os primeiros dias da Igreja que
começava a tomar ―forma‖!
Certamente que o acontecimento do Pentecostes é o momento
central e crucial, mas que corria o risco de deixar em todos os
que o presenciaram, um caminho que se situaria apenas num
contexto do fenómeno pleno de sinais incompreensíveis, tanto no
conteúdo como na mensagem que deles partia, ―abrindo‖ assim
espaço à confusão, como verificamos pela reacção de muitos
que o presenciaram (Act 2, 12-13).
È precisamente o discurso de Pedro que vai criar um impacto
profundo naquelas pessoas, e ele acontece de tal forma, que
leva à conversão de três mil pessoas (Act 2,41).
Neste 1º discurso, que é essencialmente cristocêntrico, verificamos isso em todos os seus discursos: (Act 2,22-36; 3.12-26; 4.812; 5.29-32; 10.34-43; 11.5-17; 15.7-11), Pedro apresenta os elementos básicos e fundamentais na Fé que tomam vida, sobretudo nos Evangelhos:
Ministério (2,22), Morte (2,23), e Ressurreição de Jesus (2,24).
O cumprimento das Profecias (2,25), que é a citação do Salmo 16,8-11.
O apelo ao Arrependimento e Conversão seguidos do Baptismo. (2,38-41).
Outro elemento importante nos discursos de Pedro é a sua preocupação em desviar a atenção dos ouvintes dos milagres que
iam acontecendo e que tinham o efeito contrário ao que este pretendia, focalizando a atenção destes apenas na Palavra, eliminando assim o efeito do deslumbramento e o consequente perigo
67
da idolatria, pois as pessoas tomavam Pedro como alguém que
apenas realizava milagres! Recordemos por exemplo o episódio
da cura do homem coxo na Porta Formosa (3,1-26).
2º Discurso: (Actos 3,12-26).
Neste 2º discurso, encontramos duas partes distintas: a primeira
parte tem um carácter mais Apologético,(1) onde Pedro procura
mostrar que aquele milagre era de origem divina, vinha de Jesus
o mesmo que os Judeus haviam crucificado, mas a quem Deus
havia ressuscitado, e a outra parte, tem um carácter mais Exortativo,(2) de forma a animar os que ali estavam presentes ao arrependimento e à Fé em Jesus Cristo.
Quanto ao tema, no discurso do Pentecostes e neste 2º discurso
são iguais: a culpabilidade e a fidelidade de Deus à promessa de
salvação feita aos judeus apesar de estes terem rejeitado o
Senhor, promessa que seria actualizada em Jerusalém, e que só
estava condicionada pelo acolhimento neles do arrependimento e
à conversão. È interessante como o apelo à conversão no 2º discurso ocupa maior espaço, enquanto no discurso do Pentecostes
a preocupação maior de Pedro tem a ver com o tema do Cristocentrismo.
A afirmação fundamental deste discurso encontramo-la na 1º parte, quando Pedro afirma que só a partir da Fé em Jesus Cristo é
que aquele milagre foi possível e não por mérito próprio ou nas
suas forças naturais (3,11-18).
Já a 2ª parte do discurso, volta a ser como o primeiro, com exortações ao arrependimento e à fé no Messias, que foi destinado
primeiramente aos judeus e a quem o autor volta a chamar de ―
Servo de Deus‖ (3,19-26). O tema da Parusia volta a aparecer
também neste discurso, mas de uma forma indirecta.
Discurso de Pedro na casa de Cornélio: (10,34-43).
È o primeiro discurso de Pedro ante um auditório não judeu.
Nele, Pedro começa por reconhecer que não existe em Deus
nenhuma acepção de pessoas, e isso está bem patente na Sua
acção no meio dos homens, e o que o que conta para Ele é o
interior do homem e não o seu exterior. Neste discurso acentuase claramente a ―universalidade‖ da salvação que é oferecida por
Deus não só ao povo judeu mas também aos gentios, promessa
68
que é já fortemente expressa no Pentecostes. Também aqui
Pedro apela à memória dos presentes, reavivando na mente destes o testemunho dos profetas.
Resumindo: podemos dizer que a finalidade deste discurso é
sobretudo alargar o coração destes homens a uma compreensão
mais profunda, a partir da luz da actuação de Deus, e ao que
aconteceu com eles, que antes eram pagãos.
____________________________________________________
(1). Argumentação em defesa de uma teoria ou doutrina.
Apolegética: Disciplina filosófico -religiosa da Teologia que expõe e defende os fundamentos da religião católica (Dicionário Porto Editora).
(2). Persuadir, mediante palavras ou discursos, a fazer alguma coisa; procurar convencer; incitar; incutir coragem em… 2. Advertir. 3. Admoestar
(Do lat. cl. exhortári, pelo lat. vulg. *exhortáre, «exortar») (Dicionário Porto Editora).
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
69
A 1ª Comunidade de Actos
“Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do
pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os
crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e
outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as
necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o
alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e
tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os
dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.” (Act
2,42-47). (Actos 4,32-37).
O surgimento da 1ª comunidade de cristãos nasce e forma-se
precisamente a partir de todos aqueles que haviam escutado o 1º
discurso de Pedro, que vinha reforçado pelo acontecimento do
Pentecostes e agora, se convertem e se baptizam não só em resposta ao apelo de Pedro. (2,1-41), mas sobretudo porque começavam a fazer a mesma experiência que Pedro havia vivido, que
era a misericórdia do Senhor.
E torna-se claro, que aqui há uma espontaneidade e um nascer
de uma necessidade de comunhão que foge a qualquer programa que o homem possa estabelecer! È Jesus quem cria o desejo
de comunhão e é Ele quem chama à comunhão a partir de corações convertidos e apaixonados pelo seu ideal de Comunidade
que assenta sobretudo em quatro pilares básicos:
1. O Ensino dos Apóstolos.
2. A Comunhão.
3. O Partir do Pão.
4. A Oração e o Louvor a Deus.
De forma resumida, abordemos então estes 4 pilares básicos que
―fazem‖ Comunidade:
1. O Ensino dos Apóstolos: todo o ensino de Pedro e dos seus
companheiros, passa a ter como referência na interpretação da
vida sempre a partir da Ressurreição. Isto pressupõe dos ouvin70
ouvintes uma ruptura com o ensinamento dos doutores da lei,
seguindo agora Pedro e os companheiros, no paradoxo da sua
―iliteracia‖ (Act 4,13). Surge então um novo conceito da Palavra a
partir do testemunho dos Apóstolos que lhes chegava sobretudo
dos sinais de Deus que se iam realizando na Comunidade (Act
2,43; 4,33; 5,12.15-16).
O ensinamento dos Apóstolos passa a ser a nova interpretação
da vida e da Bíblia agora a partir da experiência da Ressurreição.
Isso implicou e exigiu neles a coragem de romper com o ensinamento dos doutores da época, e seguir agora o testemunho dos
Apóstolos, considerados pessoas sem instrução (At 4,13), porque
começam a ―considerar‖ a palavra dos apóstolos como Palavra
de Deus (1Tes 2,13), ampliando assim o conceito de Palavra de
Deus! Por outro lado, esta confiança depositada na palavra dos
Apóstolos traz também implícita nela, para os Apóstolos, o assumir e acolher as questões que a comunidade passa também a
colocar-lhes (Gl 2,11-14;At 11,3) assim como a prestarem contas
dos seus passos (Act 11,4-18), numa relação recíproca de confiança e autoridade partilhada, que são duas dimensões genuínas da verdadeira comunidade cristã!
2. A Comunhão: neste pilar, encontramos o ideal da comunhão
na Comunidade, que passa por um novo conceito da partilha!
Agora, nessa partilha, já não estão implícitos apenas os bens,
mas toda uma experiência nova de vida que os faz tornarem-se
numa só alma e num só coração (Act 4,32; 1,14; 2,46), ultrapassando e derrubando qualquer muro que pudesse ali estar presente, seja ao nível da raça, dos povos ou mesmo religioso (Gl 3,2628; Cl 3,11; 1Cor 12,13).
3. O Partir do Pão: neste gesto, a comunidade recordava também o gesto de Jesus no partir do Pão com os pobres (Jo 6,11),
e com os Discípulos quando lhes abre o olhar para a sua Presença real (Lc 24,30-35); a Páscoa do Senhor (1Cor 11,23-27);
actualizando no tempo presente que viviam agora como comunidade, a morte e ressurreição do Senhor (1Cor 11,26).
Importa sublinhar que este ―Partir do Pão‖ era feito nas casas
(Act 2,46;20,7) o que apesar da sua beleza de comunhão, carrega também riscos, refiro-me sobretudo àqueles abusos que Paulo vai criticar na sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 11,1822.29-34).
71
4. A Oração e o Louvor a Deus: é precisamente através da oração e o louvor de quem se sabe agraciado por Deus, que a
comunidade permanece unida entre si e com Deus, fortalecendose nos momentos da perseguição! Ao rezarem os salmos e lendo
o AT, a comunidade acaba por provocar um novo Pentecostes
(Act 4,27-31). Importa sublinhar que aqui não acontece um romper total com os costumes religiosos do povo, pois continuavam a
frequentar o Templo (Act 2,46).
Finalizando, uma comunidade cuja vida está alicerçada nestes
quatro pilares, é o melhor canal de comunicação do Evangelho.
Quem assim vive o Evangelho, não só atraí a simpatia do povo
como faz crescer a própria comunidade (At 2,47).
Embora esta 1ª comunidade seja um modelo para as comunidades de hoje, é importante perceber e estarmos conscientes que
isso não ―exige‖ que sigamos à ―letra‖ a sua forma de proceder!
Sabemos que os tempos e as situações de hoje são completamente diferentes, e que se desenvolvem num processo contínuo,
o que de certa forma é positivo, porque ―obriga‖ a desinstalarmonos! O importante é que na fidelidade ao Senhor, saibamos
adaptarmo-nos sem perder de vista as referências essenciais
que estão contidas nestes 4 pilares.
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Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
72
MILAGRES
Os caminhos na história da Igreja, desde o grande milagre da
Criação até aos milagres dos nossos dias, estão profundamente
marcados pelos milagres que ficaram registados nas Escrituras
Sagradas.
Quem faz a experiência da Fé experimenta a certeza de Cristo
vivo no seu coração. E uma das consequências de estar e viver
com Jesus é-nos apresentada no Evangelho de Jo 14,12: “Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as
obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu
vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo
que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.” (Jo 14,12-14).
O milagre é a confirmação destas palavras. Se cremos na Palavra de Jesus, ela torna-se realidade em nós e por nós com o
mesmo poder que foi dado aos Apóstolos: “Curai os enfermos, res-
suscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios…” (Mt
10,8).
O livro dos Actos dos Apóstolos é a prova incontestável que os
milagres acompanhavam a pregação dos primeiros cristãos:
“Entretanto, pela intervenção dos Apóstolos, faziam-se muitos milagres
e prodígios no meio do povo.” Act 5,12.
1151. Sinais assumidos por Cristo. Na sua pregação, o Senhor Jesus
serve-se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus (21). Realiza as suas curas ou sublinha a sua
pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos (22). Dá um sentido
novo aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa (23), porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais. (1)
Ao logo das escrituras, torna-se claro que um dos objectivos dos
milagres no ministério de Jesus era dar autenticidade e confirmar
assim a sua mensagem. (Jo 3,2); (Heb 2,4). Através dos milagres, Jesus também anunciava a vinda do Reino de Deus ( Actos
8,4-13).
Os milagres em Actos têm duas intervenções claras de Deus:
73
Na primeira, Deus intervém directamente através de milagres: no
Pentecostes no milagre das línguas (2,4); os Apóstolos tirados da
prisão (5,19); A cegueira de Saulo (9,3) Pedro libertado da prisão
(12,6); a mordidela da víbora em Paulo (28,5).
Na segunda, Deus intervém através dos Apóstolos ou através de
outros homens como aconteceu com Ananias:
Pedro: a cura de um coxo. (3,1-10); a morte de Ananias e Safira.
(5,5-11); a cura de vários enfermos (5,16); a cura de Eneias
(9,34); a ressurreição de Tabita (9.40);
Estêvão: vários milagres (Act 6,8).
Felipe. Cura de possessos, numerosos paralíticos e coxos (8. 47).
Paulo: cura da cegueira de Elimas (13.11); cura do aleijado de
Listra (14.8-10); uma jovem é liberta de um espírito adivinhador
(16.16-18); vários milagre (19.11); ressuscita Eutico ressuscita
(20,7-12); a cura do pai de Públio e outros enfermos ( 28,8-9).
Ananias: restaura a vista de Saulo (Act 9,17)
Finalizando, através dos milagres, a Glória de Deus torna-se claramente manifesta (Jo 9,1-5).
____________________________________________________
(1). Catecismo da Igreja Católica (site do Vaticano)
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
74
Perseguições
“Tende cuidado com os homens: hão-de entregar-vos aos tribunais e
açoitar-vos nas suas sinagogas; sereis levados perante governadores e
reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e dos pagãos.
Mas, quando vos entregarem, não vos preocupeis nem como haveis de
falar nem com o que haveis de dizer; nessa altura, vos será inspirado o
que tiverdes de dizer. Não sereis vós a falar, mas o Espírito do vosso
Pai é que falará por vós. O irmão entregará o seu irmão à morte, e o
pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os pais e hão-de causar-lhes a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do meu
nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo.” (Mt
10,17-22).
A primeira referência importante que devemos ter em conta ao
abordar as perseguições no livro de Actos, sobretudo as de
Pedro, assim como as primeiras perseguições dos cristãos, é que
elas nascem num ambiente judaico vindo a crescer por todas as
partes do mundo ao longo dos tempos.
Estas perseguições surgem e têm origem, a maior parte das
vezes por razões políticas e de inveja, e não directamente por
razões religiosas (Act 5,12-19) ao contrário do que se possa pensar! No caso especifico de Pedro, que partilha dessa mesma
experiência da perseguição e cárcere com João, essas razões
ainda mais se acentuam, sobretudo a partir dos ataques vindos
dos líderes religiosos do tempo oriundos do partido dos saduceus.
No entanto, estas perseguições e prisões têm exactamente o
efeito contrário que esperavam aqueles que os perseguiam, pois
em vez de enfraquecer, ainda aumentava mais a coragem nos
perseguidos, que não vão desistir de anunciar a Boa Nova, mesmo com risco da própria vida, provocando assim o aumento e a
disseminação dos seus seguidores, sobretudo a partir da força
do testemunho.
Resumindo, as perseguições do Apóstolo Pedro acontecem em 3
ocasiões:
A 1ª perseguição (4,1-22).
75
A 2ª prisão com a intervenção de Gamaliel (5,17-42)
A prisão em que é libertado por anjos (12,1-18).
A partir da narração dos acontecimentos destas 3 perseguições,
podemos assumir que as razões principais que levaram às várias
prisões de Pedro eram sobretudo: o ensino sobre Cristo que
havia sido proibido e continuava a ser desfiado pelos Apóstolos,
(Act 4,18) e ainda mais, porque nele vinha expressa a acusação
dos Apóstolos aos Judeus pela morte de Jesus (Act 5,28).
Pedro sabe do risco que corre, mas o que mais importava no seu
coração era obedecer ao Mestre, por isso, não cessa nunca de
falar sobre Cristo (5,29 - 42).
È interessante para nós perceber também o papel de Gamaliel
na história de Pedro e da Igreja! Em Gamaliel, nas suas palavras,
está expresso o caminho que prova a solidez e a verdade genuína de toda a obra de Deus nos homens: “Se o seu empreendimen-
to é dos homens, esta obra acabará por si própria; mas, se vem de
Deus, não conseguireis destruí-los, sem correrdes o risco de entrardes
em guerra contra Deus.”(Act 5,38-39).
Termino com a grande exortação de Pedro na sua primeira carta.
São palavras profundamente carregadas de compaixão e certeza
da esperança. São palavras que só podem sair de um coração
que já experimentou e conhece o sabor da perseguição por causa do seu amor a Cristo:
“Porque os olhos do Senhor fixam-se nos justos e os ouvidos do Senhor
estão atentos às suas súplicas; mas o seu rosto volta-se contra os que
fazem o mal. Os que sofrem injustamente. E quem vos poderá fazer
mal, se fordes zelosos em praticar o bem? Mas, se tiverdes de padecer
por causa da justiça, felizes de vós! Não temais as suas ameaças, nem
vos deixeis perturbar; mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo
como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a
todo aquele que vo-la peça”(1Pedro 3,12-16).
____________________________________________________
Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
76
O Primado de Pedro na Igreja
“Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta
Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra
ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na
terra será desligado no Céu. “ Mateus 16,18-19.
77
O Primado de Pedro
PAPA BENTO XVI (Catequese)
Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja
Queridos irmãos e irmãs!
Retomamos as catequeses semanais que iniciámos nesta primavera. Na última, de há quinze dias, falei de Pedro como o primeiro dos Apóstolos; hoje, queremos voltar mais uma vez sobre esta
grande e importante figura da Igreja. O evangelista João, narrando o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André,
regista um acontecimento singular: Jesus, "fixando nele o olhar...
disse: "Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas
que significa Pedra"" (Jo 1, 42). Jesus não costumava mudar o
nome aos seus discípulos. Se excluirmos o apelativo de "filhos do
trovão", dirigido numa circunstância precisa aos filhos de Zebedeu (cf. Mc 3, 17) que não voltou a usar sucessivamente, Ele
nunca atribuiu um novo nome a um discípulo seu. Mas fê-lo com
Simão, chamado Cefas, nome que depois foi traduzido em grego
Petros, em latim Petrus. E foi traduzido precisamente porque não
era só um nome; era um "mandato" que Pedro recebia daquele
modo do Senhor. O novo nome Petrus voltará várias vezes nos
Evangelhos e terminará por substituir o nome originário, Simão.
O facto adquire relevo particular se se considera que, no Antigo
Testamento, a mudança do nome anunciava em geral a designação de uma missão (cf. Gn 17, 5; 32, 28ss, etc.). De facto, a vontade de Cristo de atribuir a Pedro um papel especial no âmbito do
Colégio apostólico resulta de numerosos indícios: em Cafarnaum
o Mestre é hospedado em casa de Pedro (Mc 1, 29); quando a
multidão se comprime nas margens do lago de Genesaré, entre
as duas barcas ali ancoradas, Jesus escolhe a de Simão (Lc 5,
3); quando em circunstâncias particulares Jesus se faz acompanhar só por três discípulos, Pedro é sempre recordado como primeiro do grupo: assim na ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 9,
2; Mt 17, 1; Lc 9, 28), e por fim durante a agonia no Horto do Getsémani (cf. Mc 14, 33; Mt 16, 37). E ainda: dirigem-se a Pedro os
cobradores do imposto para o Templo e o Mestre paga para si e
somente para ele (cf. Mt 17, 24-27); a quem lava primeiro os pés
é a Pedro (cf. Jo 13, 6) e reza unicamente por ele para que não
lhe venha a faltar a fé e possa depois confirmar nela os outros
78
discípulos (cf. Lc 22, 30-31).
De resto, o próprio Pedro tem consciência desta sua posição particular: com frequência é ele que, em nome também dos outros,
toma a palavra para pedir a explicação de uma parábola difícil
(Mt 15, 15), ou o sentido exacto de um preceito (Mt 18, 21) ou a
promessa formal de uma recompensa (Mt 19, 27). Em particular,
é ele quem resolve o embaraço de determinadas situações intervindo em nome de todos. E também quando Jesus, desanimado
pela incompreensão da multidão depois do discurso sobre o "pão
de vida", pergunta: "Também vós quereis ir embora?", a resposta
de Pedro é peremptória: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna" (cf. Jo 6, 67-69). Igualmente decidida é a
profissão de fé que, ainda em nome dos Doze, ele faz perto de
Cesareia de Filipe. A Jesus que pergunta: "Vós quem dizeis que
Eu sou?", Pedro responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo" (Mt 16, 15-16). Em resposta Jesus pronuncia então a declaração solene que define, de uma vez para sempre, o papel de
Pedro na Igreja: "Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja... Dar-te-ei as chaves do Reino do
Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que
desligares na terra será desligado no Céu" (Mt 16. 18-19). As três
metáforas às quais Jesus recorre são em si muito claras: Pedro
será o fundamento rochoso sobre o qual apoiará o edifício da
Igreja; ele terá as chaves do Reino dos céus para abrir ou fechar
a quem melhor julgar; por fim, ele poderá ligar ou desligar no
sentido que poderá estabelecer ou proibir o que considerar
necessário para a vida da Igreja, que é e permanece Cristo. É
sempre Igreja de Cristo e não de Pedro. Deste modo, é descrito
com imagens de plástica evidência o que a reflexão sucessiva
qualificará com a palavra de "primazia de jurisdição".
Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro
verifica-se também depois da ressurreição: Jesus encarrega as
mulheres de ir anunciar a Pedro, distintamente dos outros Apóstolos (cf. Mc 16, 7); Madalena vai ter com ele e com João para os
informar que a pedra tinha sido afastada da entrada do sepulcro
(cf. Jo 20, 2) e João dá-lhe a precedência quando chegam diante
do túmulo vazio (cf. Jo 20, 4-6); será depois Pedro, entre os
Apóstolos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (cf. Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu papel, realçado com
decisão (cf. Jo 20, 3-10), marca a continuidade entre a preemi79
nência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos pascais, como afirma o Livro dos Actos (cf. 1, 15-26; 2, 14-40;
3, 12-26; 4, 8-12; 5, 1-11.29; 8, 14-17; 10; etc.). O seu comportamento é considerado tão decisivo, que está no centro de observações e também de críticas (cf. Act 11, 1-18; Gl 2, 11-14). Ao
chamado Concílio de Jerusalém Pedro desempenha uma função
directiva (cf. Act 15 3; Gl 2, 1-10), e precisamente por este seu
ser como testemunha da fé autêntica o próprio Paulo reconhecerá nele uma certa qualidade de "primeiro" (cf. 1 Cor 15, 5; Gl 1,
18; 2, 7s.; etc.). Depois, o facto de que vários textos-chave relativos a Pedro possam ser relacionados com o contexto da Última
Ceia, na qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os
irmãos (cf. Lc 22, 31s.), mostra como a Igreja que nasce do
memorial pascal celebrado na Eucaristia tenha no ministério confiado a Pedro um dos seus elementos constitutivos.
Esta contextualização da Primazia de Pedro na Última Ceia, no
momento institutivo da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último desta Primazia: Pedro deve ser, para todos
os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve guiar à
comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se
rompa e assim possa perdurar a comunhão universal. Só juntos
podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é garantir assim a comunhão com Cristo com a
caridade de Cristo, conduzindo à realização desta caridade na
vida de todos os dias. Reze-mos para que a Primazia de Pedro,
confiada a pobres pessoas humanas, possa ser sempre exercida
neste sentido originário querido pelo Senhor e, assim, possa ser
cada vez mais reconhecida no seu verdadeiro significado pelos
irmãos que ainda não estão em plena comunhão connosco.
__________________________________________________________
Referências: Site do Vaticano
PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 7 de Junho de 2006
80
O Primado de Pedro instituído pelo Senhor
«Primeiro Simão, também chamado Pedro. Com estas significativas palavras, São Mateus inicia a sua lista dos Doze Apóstolos.
De igual modo o fazem outros dois Evangelhos sinópticos, e a
lista que aparece nos Actos dos Apóstolos. Com grande força
testemunhal, o Evangelho vai nos transmitindo uma verdade relativa a Pedro e ao seu papel no grupo dos Doze, verdade que vem
do próprio Cristo. Esta verdade se fará mais explícita quando, em
Cesareia de Filipe, Pedro faz a sua profissão de fé e o Senhor
pronuncia aquelas palavras que a tradição conservou como um
tesouro precioso: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
minha Igreja».
A Igreja universal traduz o sentido dessas palavras institucionais
com a forma latina: ―Tu es Petrus‖. Com estas palavras o Senhor
confia solenemente a Pedro o ofício do primado, que se transmitirá também aos seus sucessores. Elas vieram a significar todo um
compromisso com a fé da Igreja, toda uma atitude frente à sua
vida e à sua missão, um sinal que manifesta a aceitação do Plano de Deus em quem a ele adere.
São João, o discípulo amado, nos legará também um relato de
riquíssimo conteúdo teológico quando, depois da Ressurreição, o
Senhor confirma Pedro na sua missão particular, inclusive apesar
de suas fragilidades. O termo utilizado ―apascenta [poimaine em
grego] as minhas ovelhas‖ indica que essa tarefa não consiste
unicamente em alimentar, mas também em governar. Trata-se de
uma missão que Cristo confia exclusivamente a Pedro, e que
compete tão-somente a ele de entre a comunidade dos Apóstolos.
Pedro, Bispo de Roma
Pedro, primeiro Papa, bispo de Roma
Por isso, já nas primeiras comunidades cristãs, como mais tarde
em toda a Igreja, a imagem de Pedro é aquela do Apóstolo que,
apesar de sua debilidade humana, foi constituído expressamente
por Cristo em primeiro lugar entre os Doze e chamado a desenvolver na Igreja uma própria e específica função. Porém, não há
dúvida que desde o início do peregrinar da Igreja se viveu a pri81
mazia do Bispo de Roma. Como tantas outras verdades entesouradas pela Igreja, o Espírito Santo iria iluminando a fé da Igreja
para aprofundar na compreensão desta realidade.
Da presença de São Pedro em Roma temos múltiplas evidências
históricas, tanto arqueológicas como literárias. Ainda que não se
mencione expressamente no Novo Testamento, é muito possível
que a sua primeira carta fosse escrita de Roma, pois ali lê-se:
«Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em
Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho. Saudai-vos uns aos
outros com um ósculo de irmãos que se amam. Paz a todos vós,
que estais em Cristo», sendo ―Babilónia‖ um nome utilizado na
antiga literatura cristã para referir-se a Roma. Assim mesmo, antigos escritores eclesiásticos, como Papías de Hierápolis (século
II) e Clemente de Alexandria (século I) fazem menção da estada
de Pedro em Roma. De igual modo, São Clemente Romano
(século I), terceiro sucessor de São Pedro, recorda seu martírio
na Cidade Eterna.
A isso se somam numerosos argumentos arqueológicos. Dão
testemunho da permanência em Roma, e particularmente de sua
morte, a investigação realizada em torno da tumba do Apóstolo,
em especial após os descobrimentos realizados no século XX
sob a Basílica de São Pedro. O que a Tradição havia conservado
e transmitido com fidelidade durante vinte séculos foi confirmado
pelas escavações iniciadas sob o Pontificado do Papa Pio XII,
que levaram a descobrir, justamente debaixo do Altar-mor da
Basílica, uma tumba e inscrições que indicam, com grande probabilidade, de que se trata da tumba do Príncipe dos Apóstolos.
Uma verdade transmitida pela Tradição
A Tradição – coincidindo com os dados bíblicos – transmitiu a
verdade sobre o primado de Pedro ao longo dos séculos. A história dá testemunho de que desde os primeiros tempos a sede
romana, fiel às palavras de Cristo, sempre reclamou para si o primado, e que esse primado foi sempre e livremente reconhecido
pela Igreja universal. Os testemunhos mais antigos que possuímos são do Papa Clemente, por volta do ano 90, quando envia
uma carta à comunidade de Corinto para dirimir uma questão
então discutida. Anos depois, outro grande santo, Inácio de
Antioquia, referia-se à Igreja de Roma como a que «está posta à
cabeça da caridade». A palavra em grego para «caridade» é ága82
pe, e ao utilizar esta palavra, Inácio referia-se a toda a Igreja.
Portanto, já no tempo de Santo Inácio, início do século II, era claro que a Igreja de Roma se encontrava à cabeça de toda a comunidade Cristã.
Vanderlúcio Souza
(corrigido)
____________________________________________________
Fontes Bíblicas:
. O Primado de Pedro instituído pelo Senhor: Mt 16,17-19.
. O primeiro entre os apóstolos: Mt 10,12; Mc 3,16; Lc 6,14; At 1,13; Jo 21,15-17.
Pedro Bispo de Roma: 1Pe 5,13.
Bíblia Sagrada - Difusora Bíblica – Capuchinhos.
83
84
1ª Carta de Pedro
Ao abordarmos as duas cartas de S. Pedro, seria importante que
tivéssemos sempre em conta a sua relação directa a partir da
Experiência de Fé em Pedro e a forma como elas falam e
expressam na realidade a vida de Pedro!
Ao meditar e estudar estas cartas, podemos encontrar algumas
pistas e caminhos da Fé que nos possibilitem ser mais genuínos como discípulos do Senhor à imagem de Pedro e de tantos
outros que seguiram o Mestre até aos nossos dias.
Esquema de estudo: Faremos a abordagem de cada capitulo de
uma forma sintética, resumindo os conteúdos do capítulo a partir
das necessidades concretas do caminho do Discipulado.
1ª Carta de Pedro
1º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
1, 1-25
Saudação Inicial
Durante a saudação inicial, Pedro “reescreve”
quase todos os conteúdos dos seus discursos
em Actos: a misericórdia de Deus e o nascer
de novo através da ressurreição de Cristo(v3);
a esperança viva(v3); a Parusia(v5); a Fé que
crê mesmo sem ver(v8); um dos “objectivos”
do discipulado que é fazer discípulos(v9); as
provações que Pedro passou e todos nós passamos(v6); a herança deixada através do testemunho dos profetas(v10); a chamada à santidade(v15); o amor a todos(v22); enfim,
vivendo sempre como peregrinos (a vida do
cristão não é mais que uma peregrinação na
Terra), para receber a herança que nos está
destinada(v4). Sublinho aqui também o gesto
da paz(v2), de Pedro, como que a recordar
também o mesmo gesto de Jesus na sua aparição aos Discípulos depois da sua ressurreição (Lc 24,36).
85
1ª Carta de Pedro
2º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
2,1-25
Como crianças
recém-nascidas .
Cristo,
pedra angular.
OS CRISTÃOS
PERANTE O
MUNDO
Exortação inicial
Obediência às
autoridades
Obediência dos
escravos
O Bom Pastor
Pedro recorda aqui a necessidade do Discípulo ser(v2) como crianças(Mc 10,13-16), que
anseiam (implica aqui um desejo), pelo leite
espiritual, sem adulterações (a manipulação
humana), que faça desenvolver-fortalecer
aquele que é ou deseja ser Discípulo, aquele
que já experimentou o sabor de Deus através
do perdão e do amor(v3). Pedro não só pede
que se tenha o espírito de uma criança, como
também a força e a consistência de uma
pedra(v5) que faz parte da construção de um
edifício (Igreja), que também se sustenta pela
herança deixada pelos profetas(v6). Fantástica toda a passagem sobre o tema da linhagem
dos escolhidos por Deus(v9-10). A 2ª parte
deste capítulo, faz-nos regressar à condição
de cada um de nós neste mundo, estrangeiros
e peregrinos nesta terra(v11). Pedro viveu e
sentiu bem essa condição, sabendo que só
pelo testemunho podia aproximar os outros
desse Cristo de quem ele também se
“apaixonara” até ao limite da cruz em Jerusalém, na sua submissão(13) plenamente humanizada, mas livre, sabendo que aquele que
sofre por amor(v20) do Senhor, obedece à
chamada(v21) que é seguir Cristo mesmo na
cruz(21). Pedro termina este 2º capítulo com
a figura do Bom Pastor(v25, (porque ele sabia
e experimentara que aquele que ama o Pastor, ama também as ovelhas que por Ele lhe
foram e estão entregues): “Pedro amas-me?
Apascenta as minhas ovelhas”. (Jo 21,15-18).
86
1ª Carta de Pedro
3º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
3,1-25
Deveres dos esposos
O amor fraterno
OS CRISTÃOS
PERANTE O
SOFRIMENTO
Os que sofrem
injustamente
Sofrimento e glória
de Cristo
Todos os que seguiram Pedro, foram conquistados pelo força do seu testemunho mais do
que as palavras(v1). No olhar fixo de Jesus,
Pedro sentiu e compreendeu que Ele sondava
o seu interior e isso é que importava, por isso
o transmite agora com confiança e certeza de
quem foi amado porque amou mesmo na sua
fragilidade(v4). A filiação que acontece
naquele que vive e actua pelo bem que deseja
apenas amar, e que obedece não por medo
mas em temor(6). Novamente a herança para
todos sem excepção que gera a paz interior
que abre portas à oração(v7). O amor fraterno a relembrar a 1ª comunidade com tudo
em comum(v8). O fixar dos olhos naqueles
que vivem pela verdade mesmo sabendo dos
seus barros como Pedro sentiu no “toque” do
olhar de Jesus(v10). Padecer pelo amor, as
perseguições e as injustiças que tantas vezes
também ele sentiu e viveu(v13), nada temendo, confessando Cristo(15) na razão da Esperança que sabe e crê em Quem a sustenta,
por isso Pedro fala na autoridade de quem
viveu a cruz até ao martírio. As prisões e as
orações de graças por esses acontecimentos
em Pedro (v17), que recorda aqui esses
momentos da noite com João e os seus companheiros de cárcere. A promessa e a Ressurreição aqui revividas e anunciadas também
(v19).
87
1ª Carta de Pedro
4º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
4,1-19
Luta contra
o
pecado
Alegria
na
perseguição
Como Pedro entendeu tão bem aquilo
que agora escreve nesta carta! Que o
Discipulado é um caminho de luta(v1),
não contra o homem mas contra o
mal. O recordar outra vez do seu passado(v3), e as reacções de tantos que
o conheceram e depois testemunharam a sua transformação(v4)! O apelo
à oração(V7) que mantém alerta e
sóbrio o coração do discípulo nas
experiencias de todos os ―hortos da
sua caminhada na terra ‖(Mt 26,4041). A hospitalidade(v9) bem expressa
na 1ªComunidade! Os dons, na experiência do Pentecostes que actuam
naqueles que foram escolhidos por
Deus para anunciar a Palavra(v11).
Ser imagem e semelhança dos padecimentos de Cristo(v13) na alegria do
Senhor. Finalmente o glorificar o
Senhor pelos padecimentos de quem
mais tarde se vai julgar indigno até de
morrer na mesma cruz
como o
Senhor(16).
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1ª Carta de Pedro
5º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
5,1-14
Exortação aos fiéis
Conclusão
Pedro pode testemunhar os padecimentos da cruz(v1), não fora o amor
do Senhor e onde estaria Pedro agora quando aquele galo cantou! O
cuidado do rebanho a quem Deus
confiou(2), novamente aqui o
“Apascenta as minhas ovelhas”. A
humildade proposta por quem também conhece o seu orgulho nas tentativas de impedir o caminho do
Mestre para a Cruz (Mt 4,10), e a
resposta do Amor que o mantinha
sempre disposto a estar debaixo da
mão poderosa de Deus(v6). O sede
sóbrios e vigiai(v8), a recordar novamente o horto, e a dimensão da
Comunhão na Comunidade(v9) e
(v13-14), tanto nos padecimentos
como no amor de Deus.
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Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
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2ª Carta de Pedro
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
1,1-21
EXORTAÇÃO
À
PERSEVERANÇA
NA FÉ
Dons recebidos
de Deus
Garantias
do testemunho
apostólico
Pedro descreve desde o v.5 ao v.7,
toda a sua caminhada de Fé na
Experiência, que viveu. Neles está
toda a sua caminhada de Discipulado, nas suas diversas etapas, desde
o Pedro pescador impulsivo e arrogante, até ao Pedro que pacifica os
companheiros já no Concilio em
Jerusalém! E fala da cegueira porque percebeu como andava cego
percebendo o quanto lhe faltava por
fazer na experiência da conversão
(v9). Certamente que já havia
entendido a cruz que o esperava
nessa tenda (corpo-vida) que experimentou a misericórdia e pisava o
chão da realidade humana (v13),
por isso deixa em forma de aviso
esse alerta. A Transfiguração fortemente presente nas suas palavras
(v16-18). O apelo às profecias a
selar as suas palavras testemunhando o poder do Espírito Santo que dá
aos que O receberam a autoridade
da Palavra(v20).
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2ª Carta de Pedro
2º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
2,1-22
Os falsos mestres
Um castigo
inevitável
A moral
dos falsos mestres
Gravidade da
apostasia
Referências(v11-19) dirigidas aos falsos mestres e aos que os seguem e a
justiça divina que os espera. Pedro
desperta mais uma vez, o tema da
Parusia enquanto vai descrevendo a
história divina, desde a queda dos
anjos, seguindo o itinerário de alguns
homens que se perderam e se salvaram nas descrições que faz do AT até
ao juízo final(v4-10). Novamente referências (v11-19) dirigidas aos sacerdotes que haviam sido denunciados pelo
Senhor, os mesmos que Pedro enfrentou nas suas prisões. Pedro sabe pela
sua própria experiência humana, (nas
negações que viveu), o que significa
voltar atrás no caminho do Senhor
(v20). De certa forma podemos também entender aqui um testemunho
indirecto sobre Judas.:Ambos traíram
o Senhor, mas a resposta nos dois, que
são companheiros de caminhada, é
completamente diferente. Pedro reconhece o seu erro e volta atrás, confiando na misericórdia, enquanto Judas
não só não volta atrás, como nega a
misericórdia matando-se.
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2ª Carta de Pedro
3º Capítulo
Fontes Bíblicas
Lectio Divina
Para meditar e desenvolver:
3,1-18
A SEGUNDA
VINDA DO
SENHOR
A doutrina da Fé
Erros escatológicos
Urgência de estar
preparados
Conclusão
Basicamente, este 3º e último capítulo da 2ª carta anda à volta do
tema da Parusia, e Pedro fá-lo aqui
de uma forma mais intensa do que
as outras vezes em que aborda este
tema. È sobretudo um aviso de
Pedro ao que está para vir, apelando
aos que o escutam, para que estejam preparados na Promessa de um
novo céu e uma nova terra. Pedro
cita aqui pela primeira vez Paulo e
as suas cartas o que denota nele já
conhecimento do caminho de Paulo
e do conteúdo que este pregava,
sobretudo o 5º capítulo da carta aos
Romanos. Reparem nas palavras
“paciência” e “esperança” tão presentes em Pedro, a recordar-nos
certamente dois dos caminhos mais
exigentes e fortes, pelos quais terá
que passar sempre aquele que
deseja seguir o Mestre.
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Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos.
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