O Primado de Pedro - Paróquia do Montijo
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O Primado de Pedro - Paróquia do Montijo
Indice 1. Introdução ……………………………………………….. 2. S. Pedro 2.1 Pedro, pescador de homens ………..……………. 2.2 Pedro o Pescador 3. O Discípulo 3.1 Ser Discípulo de Jesus, hoje ……………………… 4. O Discipulado 4.1 Itinerário do Discipulado …………………………... 5. A Chamada 5.1 Caminhos da Chamada ………………………….... 6. O Seguimento 6.1 Seguir Jesus …………………………...…………… 6.2 Pedro o Apóstolo …………………………..………. 7. A Amizade 7.1 A Amizade com Jesus ……………………..……… 7.2 Seduziste-Me Senhor ……………………………… 8. Envio - Missão 8.1 Ide …………………………………………………... 8.2 Os Apóstolos testemunhos e enviados de Cristo 9. A Fé como Experiência 9.1 A Fé como experiência real ……………………… 9.2 A Fé como experiência em Pedro ………………. 9.3 A Fé como Experiência em Pedro nos Actos ….. 10. Vida de Igreja - Experiência/Caminho Eclesial 10.1 Pentecostes ………………………………………. 10.2 A Pregação em Pedro …………………………… 10.3 A 1ª Comunidade de Actos ……………………… 10.4 Milagres ……………………………………………. 10.5 Perseguições ……………………………………… 11. O Primado de Pedro na Igreja 11.1 O Primado de Pedro …………………………….. 11.2 O Primado de Pedro instituído pelo Senhor ….. 12. Cartas 12.1 1ª Carta de S. Pedro ……………………………. 12.2 2ª Carta de S. Pedro ……………………………. 2 5 7 9 14 18 20 25 28 33 36 39 42 45 49 54 60 63 66 69 71 74 77 81 90 NOTA: Este livro foi elaborado para servir como apoio e guia ao estudo do tema deste Ano Pastoral 2010-2011 da nossa Paróquia, não sendo permitido a sua utilização para fins comerciais ou outros. Paróquia do Montijo - 2010 - 2011 3 Introdução Como aconteceu com S. Pedro e os primeiros companheiros de jornada, também para nós, a existência cristã surge-nos como um caminho a percorrer, seguindo Alguém, que nos introduzirá nos segredos da vida nova do Reino de Deus. Acreditar em Jesus Cristo é aceitar segui-l’O, ao ritmo do Espírito, que transformará as nossas vidas com as exigências da caridade. Certamente, muitos de nós já fizemos tantas vezes esta pergunta no nosso coração: Então, porque é que essa Transformação não acontece em tantos nas nossas comunidades, ou se ela acontece, fica por metade do caminho na maior parte das vezes? Como Cristãos, é vital perceber afinal o que precisamos para que essa TRANSFORMAÇÃO aconteça nas nossas vidas e de todos os que fazem caminho connosco na mesma Comunidade que é a nossa Paróquia! Por isso, neste novo Ano Pastoral desejamos propor a todos, pessoas, grupos e movimentos como Caminhada e Tema: “SER DISCÍPULO E FAZER DÍSCIPULOS” 4 Este Caminho não é novo, ele já aconteceu com os primeiros discípulos e é o caminho a percorrer por todos os que já fizeram o ENCONTRO com Jesus. Todos os cristãos são discípulos; os Actos dos Apóstolos dão o título de discípulos a todos os cristãos, mesmo àqueles que não conheceram Jesus na Sua vida terrena (Act. 6,1; 9,10-26). A fé em Cristo ressuscitado é concebida como resposta a um chamamento. A fonte do chamamento continua a ser a mesma: aqueles que o Pai atrai. Mas o Espírito Santo, aquele que continua a chamar em nome d’Aquele que O envia, tem agora a iniciativa do chamamento e é a força que permitirá ao discípulo seguir o seu Mestre através de um itinerário de vida espiritual. Itinerário Espiritual com S. Pedro Para este ano, escolhemos como Itinerário Espiritual, a figura do Apóstolo S. Pedro. Seguiremos os seus passos de Discípulo desde o seu primeiro encontro com Cristo até Roma, onde acabará por dar a sua própria vida pelo Mestre. Proposta - Guia Como proposta - guia de trabalho, (este livro é apenas um guia para trabalho em grupo ou individual ) abordaremos neste livro, de uma forma geral, esse Itinerário Espiritual que assenta em 4 pilares básicos do DISCIPULADO: 1. A CHAMADA. 2. O SEGUIMENTO. 3. A AMIZADE. 4. MISSÃO – ENVIO. 5 Pedro , pescador de Homens Naquela manhã de há dois mil anos algo de extraordinário aconteceu para que alguns pescadores do lago da Galileia – o Evangelho de Lucas 5,1-11 destaca os nomes de Pedro, Tiago e João – tenham abandonado as barcas, as redes, os peixes acabados de pescar em grande quantidade, enfim, tudo, para seguir mais de perto Jesus. Pedro, sempre ele, diz-nos o porquê da revolução operada na sua vida: «Por causa da tua Palavra, Mestre, lançarei as redes». Por causa da tua Palavra. Naquela manhã, Jesus ensinava (edídasken) as multidões, sentado (kathísas) na barca de Pedro, que Jesus tinha pedido a Pedro para afastar um pouco da praia para a água. Bela forma encontrada por Jesus de obrigar Pedro a ter de escutar todo o seu ensinamento! E ensinava de forma continuada: assim o indica o imperfeito do verbo grego. Sentado: é a posição do Mestre que ensina na cátedra. É ainda sentado como Mestre na barca que Jesus ordena agora a Pedro: «Afasta (a barca) para o mar profundo, e lançai as vossas redes para a pesca!» Pedro mostrou a sua estupefacção de pescador experimentado: tinham trabalhado toda a noite e nada tinham pescado! Quanto mais agora, de dia, seria inútil fazê-lo! Lançou, porém, as redes, e pouco depois caiu de joelhos aos pés de Jesus, sempre sentado como Mestre na barca, e avançou um pedido: «Distancia-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador». Mas Jesus diz para Pedro: «Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens». E o narrador anota a fechar o episódio que «Tendo conduzido as barcas para terra, tendo deixado tudo, seguiram-no». Entenda-se bem que Pedro lançou as redes para a pesca, não baseado nas suas capacidades de pescador experimentado, mas por causa da Palavra de Jesus ou sobre a Palavra de Jesus. Palavra aqui diz-se rhêma, que tem o significado fortíssimo de «Palavra que acontece» ou de «Acontecimento que fala». Entenda-se também então que a nova missão de pescador de homens que Jesus lhe confia terá de ser também somente assente nesta Palavra de Jesus. A missão de Pedro e a nossa! 6 Notem-se os sucessivos «afastamentos» que são, na verdade, «aproximações». Primeiro é Jesus que pede a Pedro que afaste a sua barca um pouco da terra, para poder, dessa cátedra improvisada, ensinar melhor as multidões. Note-se, todavia, que, com este recurso Jesus põe Pedro bem junto dele! Quando Jesus pronuncia, pela segunda vez, o verbo afastar, fá-lo em imperativo dirigido ainda a Pedro, e é para aquela pesca milagrosa que aproximará ainda mais Pedro de Jesus! A terceira vez é a vez de Pedro. E é para fazer uma profissão de fé, reconhecendo em Jesus o Senhor, isto é, Deus. E decorre deste reconhecimento que Pedro se reconheça como pecador, que não pode estar na presença do Deus Santo. Daí, o grito: «Afasta-te de mim, Senhor… A última palavra é, como tinha de ser, de Jesus, que dá uma nova identidade a Pedro: «pescador de homens». E o episódio termina com o narrador a vincular radicalmente Pedro e os companheiros a Jesus com aquele dizer: tendo deixado tudo, seguiram-no». Entenda-se ainda bem que este seguimento de Jesus a que Pedro e nós somos convidados, não se destina a aprender apenas uma doutrina ou uma ideia, mas a seguir de perto uma Pessoa, Jesus de Nazaré, e a sua maneira concreta de viver. É a adesão a uma Pessoa que está em causa para Pedro e para nós. De Pedro e dos seus companheiros é dito que deixaram barcas, redes, peixes, tudo, para seguirem Jesus (5,11), decisão radical que o Evangelho de Lucas continuará a salientar noutras passagens: «Se alguém quiser seguir-me, diga não a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias, e siga-me» (9,23); «Vendei tudo o que tendes e daio em esmola» (12,33); «Aquele de vós que não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo» (14,33); «Vende tudo o que tens e distribui-o aos pobres» (18,21). É assim que Pedro se faz pescador de homens, lançando as redes da Palavra criadora de Deus até à sua morte, com o sangue, na cidade de Roma! António Couto ____________________________________________________ Bibliografia: (Mesa de Palavras — excerto) 7 Pedro, o Pescador Catequese de Bento XVI Amados Irmãos e Irmãs, Na nova série de catequeses começámos antes de tudo a compreender melhor o que é a Igreja, qual é a ideia do Senhor sobre esta sua nova família. Depois dissemos que a Igreja existe nas pessoas. E vimos que o Senhor confiou esta nova realidade, a Igreja, aos doze Apóstolos. Agora queremos vê-los um por um, para compreender nas pessoas o que significa viver a Igreja, o que significa seguir Jesus. Começamos com São Pedro. Depois de Jesus, Pedro é a personagem mais conhecida e citada nos escritos neo-testamentários: é mencionado 154 vezes com o cognome de Pétros, "pedra", "rocha", que é a tradução grega do nome aramaico que lhe foi dado directamente por Jesus Kefa, afirmado nove vezes sobretudo nas cartas de Paulo; depois, deve-se acrescentar o nome frequente Simòn (75 vezes), que é a forma helenizada do seu original nome hebraico Simeon (2 vezes: Act 15, 14; 2 Pd 1, 1). Filho de João (cf. Jo 1, 42) ou, na forma aramaica, bar-Jona, filho de Jonas (cf. Mt 16, 17), Simão era de Betsaida (cf. Jo 1, 44), uma cidadezinha a oriente do mar da Galileia, da qual provinha também Filipe e naturalmente André, irmão de Simão. O seu modo de falar traía o sotaque galileu. Também ele, como o irmão, era pescador: com a família de Zebedeu, pai de Tiago e de João, dirigia uma pequena empresa de pesca no lago de Genesaré (cf. Lc 5, 10). Por isso devia gozar de um certo bem-estar económico e era animado por um sincero interesse religioso, por um desejo de Deus ele queria que Deus interviesse no mundo um desejo que o estimulou a ir com o irmão até à Judeia para seguir a pregação de João Baptista (cf. Jo 1, 35-42). Era um judeu crente e praticante, confiante na presença activa de Deus na história do seu povo, e sofria por não ver a sua acção poderosa nas vicissitudes das quais ele era, naquele momento, testemunha. Era casado e a sogra, curada um dia por Jesus, vivia na cidade de Cafarnaum, na casa na qual também Simão vivia quando estava naquela cidade (cf. Mt 8, 14 s; Mc 1, 29 s; Lc 4, 38 s). 8 Recentes escavações arqueológicas permitiram trazer à luz, sob a pavimentação em mosaicos octagonais de uma pequena igreja bizantina, os vestígios de uma igreja mais antiga existente naquela casa, como afirmam os grafites com invocações a Pedro. Os Evangelhos informam-nos que Pedro é um dos primeiros quatro discípulos do Nazareno (cf. Lc 5, 1-11), aos quais se junta um quinto, segundo o costume de cada Rabino de ter cinco discípulos (cf. Lc 5, 27: chamada de Levi). Quando Jesus passa de cinco para doze discípulos (cf. Lc 9, 16), será clara a novidade da sua missão: Ele já não é um entre tantos rabinos, mas veio para reunir o Israel escatológico, simbolizado pelo número doze, como doze eram as tribos de Israel. Simão aparece nos Evangelhos com um carácter decidido e impulsivo; ele está disposto a fazer valer as próprias razões também com a força (pense-se no uso da espada no Horto das Oliveiras: cf. Jo 18, 10 s). Ao mesmo tempo, por vezes é também ingénuo e medroso, e contudo honesto, até ao arrependimento mais sincero (cf. Mt 26, 75). Os Evangelhos permitem seguir passo a passo o seu itinerário espiritual. O ponto de partida é a chamada da parte de Jesus. Acontece num dia qualquer, enquanto Pedro está empenhado no seu trabalho de pescador. Jesus encontra-se junto do lago de Genesaré e a multidão reúne-se à sua volta para o ouvir. O número dos ouvintes gera uma certa confusão. O Mestre vê duas barcas ancoradas à margem; os pescadores desceram e lavam as redes. Então Ele pede para entrar na barca, na de Simão, e pede-lhe que se faça ao largo. Sentado naquela cátedra improvisada, da barca, começa a ensinar à multidão (cf. Lc 5, 1-3). E assim a barca de Pedro torna-se a cátedra de Jesus. Quando terminou de falar, diz a Simão: "Fazte ao largo e lança as redes para a pesca". Simão responde: "Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque tu o dizes, lançarei as redes" (Lc 5, 4-5). Jesus, que era um carpinteiro, não era perito em pesca: mas Simão, o pescador, confia neste Rabino, que não lhe dá respostas mas o chama a ter confiança. A sua reacção diante da pesca milagrosa é de admiração e de trepidação: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador" (Lc 5, 8). Jesus responde convidando-o a ter confiança e a abrir-se a um projecto que ultrapassa qualquer sua perspectiva: "Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens" (Lc 5, 10). Pedro ainda não podia imaginar que 9 um dia teria chegado a Roma e seria nessa cidade "pescador de homens" para o Senhor. Ele aceita esta chamada surpreendente, de se deixar envolver nesta grande aventura: é generoso, reconhece os seus limites, mas crê n'Aquele que o chama e segue o sonho do seu coração. Diz sim um sim corajoso e generoso e torna-se discípulo de Jesus. Pedro vive outro momento significativo no seu caminho espiritual nas proximidades de Cesareia de Filipe, quando Jesus faz aos discípulos uma pergunta concreta: "Quem dizem os homens que Eu sou?" (Mc 8, 27). Mas para Jesus não era suficiente a resposta do ter ouvido dizer. Daqueles que aceitaram comprometer-se pessoalmente com Ele pretende uma tomada de posição pessoal. Por isso insiste: "E vós, quem dizeis que Eu sou?" (Mc 8, 29). Responde Pedro também em nome dos outros: "Tu és o Messias" (ibid.), isto é, Cristo. Esta resposta de Pedro, que não veio "da carne e do sangue" dele, mas foi-lhe concedida pelo Pai que está no céu (cf. Mt 16, 17), tem em si como que em gérmen a futura confissão de fé da Igreja. Contudo, Pedro ainda não tinha compreendido o conteúdo profundo da missão messiânica de Jesus, o novo sentido desta palavra: Messias. Demonstra-o pouco depois, deixando compreender que o Messias que persegue nos seus sonhos é muito diferente do verdadeiro projecto de Deus. Perante o anúncio da paixão escandaliza -se e protesta, suscitando uma reacção enérgica de Jesus (cf. Mc 8, 32-33). Pedro quer um Messias "homem divino", que cumpra as expectativas do povo impondo a todos o seu poder: é também nosso desejo que o Senhor imponha o seu poder e transforme imediatamente o mundo; Jesus apresenta-se como o "Deus humano", o servo de Deus, que altera as expectativas da multidão encaminhando-se por uma via de humildade e de sofrimento. É a grande alternativa, que também nós devemos aprender sempre de novo: privilegiar as próprias expectativas recusando Jesus ou acolher Jesus na verdade da sua missão e abandonando as expectativas demasiado humanas. Pedro impulsivo como é não hesita em repreender Jesus separadamente. A resposta de Jesus abala todas as suas falsas expectativas, quando o chama à conversão e ao seguimento: "Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens" (Mc 8, 33). Não me indiques tu o 10 caminho, eu sigo o meu percurso e tu põe-te atrás de mim. Pedro aprende desta forma o que significa verdadeiramente seguir Jesus. É a sua segunda chamada, análoga à de Abraão em Gn 22, depois de Gn 12: "Se alguém quiser vir após mim, negue- se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la" (Mc 8, 34-35). É a lei exigente do seguimento: é preciso saber renunciar, se for necessário, ao mundo inteiro para salvar os verdadeiros valores, para salvar a alma, para salvar a presença de Deus no mundo (cf. Mc 8, 36-37). Mesmo com dificuldade, Pedro aceita o convite e prossegue o seu caminho seguindo os passos do Mestre. Parece-me que estas diversas conversões de São Pedro e toda a sua figura são de grande conforto e um forte ensinamento para nós. Também nós sentimos o desejo de Deus, também nós queremos ser generosos, mas também nós esperamos que Deus seja forte no mundo e transforme imediatamente o mundo segundo as nossas ideias, segundo as necessidades que vemos. Deus escolhe outro caminho. Deus escolhe o caminho da transformação dos corações no sofrimento e na humildade. E nós, como Pedro, devemos converter-nos sempre de novo. Devemos seguir Jesus em vez de o preceder: é Ele quem nos indica o caminho. Assim Pedro diz-nos: Tu pensas que tens a receita e que deves transformar o cristianismo, mas é o Senhor quem conhece o caminho. É o Senhor que diz a mim, diz a ti: segue-me! E devemos ter coragem e humildade para seguir Jesus, porque Ele é o caminho, a Verdade e a Vida. ____________________________________________________ PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL Quarta-feira, 17 de Maio de 2006 11 O DISCÍPULO Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia. (I Pedro 2,9). 12 Ser discípulo de Jesus, hoje Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.»Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.» Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse; e acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»Depois, dirigindo-se a todos, disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. “(Lucas 9, 18-24) Tornar-se cristão, hoje como ontem, é em primeiro lugar tornar-se discípulo de Jesus. Um discípulo caminha no seguimento de um Mestre, assume as suas opções e tenta viver, com outros, um estilo de vida inspirado nelas. Na narração de Lucas, encontramos diversos elementos que traçam a imagem do discípulo. Tornar-se discípulo é uma escolha pessoal que conduz ao distanciamento da multidão. Nos nossos meios há diversas maneiras de ver Jesus. A cultura actual, com a acção exercida pela comunicação social, acentua esta pluralidade de olhares mas sempre com a construção de consensos, de visões partilhadas e dominantes que convidam a uma conformação com essas tendências. Ser discípulo é romper com essa resignação, não se ficar pelas ideias que circulam e ousar tomar uma posição. É o que faz Pedro em nome dos discípulos, ao proclamar que Jesus não é apenas mais um profeta, como diz a multidão, mas que ele é o Cristo, o Messias de Deus. Mas ainda não chega. O discípulo é convidado a aprofundar a identidade d’Aquele que segue. E o carácter messiânico de Jesus não se conforma com os modelos correntes. Ele é diferente e desconcertante, revelando-se no mistério pascal, caminho de dom e de serviço, e não de poder e de glória. 13 Seguir este Messias implica por isso comprometer-se em formas de pensar e viver que podem estar contra a corrente da sociedade. A preocupação com os mais pobres, o perdão, a generosidade, a recusa da força e das suas estratégias fazem parte do caminho do seguimento. Nos preceitos que se seguem à profissão de fé de Pedro e às explicações de Jesus, são sublinhados traços particulares do discípulo que se inscrevem directamente no seguimento das escolhas e da identidade de Jesus. Renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz, perder a vida: estes apelos são demasiado perturbadores. Pode-se até perguntar se faz sentido viver assim. Não são eles o contrário da nossa dinâmica natural, do nosso apego a uma vida feliz? Importa antes de mais evitar as interpretações pungentes e estreitamente moralizadoras que circularam com frequência. Na linha da vida de Jesus, onde estes preceitos se inspiram, o primeiro desafio é o do risco e do descentramento de si. No século I, a cruz não é um objecto devocional, uma jóia decorativa ou sinal de pequenos sacrifícios a fazer para agradar a uma divindade bizarra. Ela evoca a rejeição social e o risco de morrer. Ela indica aos discípulos que a sua escolha pode-lhes valer perder a sua boa reputação e conduzi-los a dar a vida pelo Evangelho. O que é visível ainda hoje através de todos os mártires que se atreveram no compromisso pela paz, pela justiça, pelo amor, e que pagaram o preço dessa ousadia, como Jesus. Este compromisso arriscado vive-se a ― cada dia, expressão que encontramos no Pai-nosso, em Lucas, para o pedido do pão. A renúncia de si é consequência deste risco. Na nossa cultura, onde a obsessão de si reclama muito espaço, o mesmo acontecendo com a preocupação pela segurança, este princípio surpreende, convidando a ver a existência de outra forma. O que é que conta numa vida? Encontra-se mais alegria no dar do que no guardar-se, diz-nos Jesus. Uma vida centrada em si mesmo leva à perda do gosto de viver e da alegria que a acompanha. Uma abertura a alguém maior que si, um serviço atento às necessidades dos outros, com os seus imprevistos e inseguranças, estilhaçam os muros e fronteiras que nos fecham na banalidade ou na insignificância e são fontes de uma vida em 14 em abundância. Outro traço do discípulo de Jesus é apresentado desde o início. Lucas mostra-nos Jesus em oração, o que faz com mais frequência do que os outros evangelistas. A cada momento importante da sua vida, Jesus retira-se para rezar, da escolha dos discípulos à agonia no jardim. A oração pauta a vida de Jesus, ele que no entanto é apresentado em Lucas como um homem de acções e de relações, extremamente comprometido com as pessoas. É nesta oração que Jesus encontra o fôlego que mantém vivo o seu amor e o seu dom. Seria surpreendente que nós, os discípulos, agíssemos de outra forma. Daniel Cadrin ____________________________________________________ - In Spiritualité 2000 - © SNPC (trad.) | 20.06.10 15 O DISCIPULADO “E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.” Mateus 1,17. 16 Itinerário do Discipulado O Caminho do Discipulado para cada um de nós como aconteceu com S. Pedro, acontece sempre dentro da realidade própria da nossa vida, da nossa história e no meio onde vivemos e interagimos espiritualmente e humanamente, seja na comunidade eclesial seja noutra realidade! Embora a experiência do Fazer - Caminho nunca seja igual para cada um dos que foi e é chamado a fazê-lo por Cristo, (ela é sempre uma experiência humana única), esse caminho do Discipulado tem para todos a mesma meta e direcção que é Cristo e o mesmo terreno que pisamos que está assente em 4 pilares básicos: 1. A CHAMADA. 2. O SEGUIMENTO. 3. A AMIZADE. 4. O ENVIO - MISSÃO. Propomos então, à medida que vamos fazendo caminho por este Itinerário do Discipulado, abordar cada um destes pilares, a partir do seu enquadramento na história de Jesus e os seus primeiros Discípulos, tendo como referência principal de vida, o Apóstolo S. Pedro, o Discípulo escolhido por Jesus para líder da Igreja. Convidamos pois a todos a caminhar com S. Pedro e os seus companheiros, desde o seu primeiro encontro com Jesus na Galileia, até à cidade de Roma, onde acabará por dar a sua própria vida pelo Mestre. Que Nossa Senhora nos ajude a caminhar também rumo ao verdadeiro Discipulado. Amém. 17 A CHAMADA " Fala Senhor, teu servo escuta" (1Sam 3,10). 18 Caminhos da Chamada Importa agora situarmo-nos concretamente no espaço em que vivia e se movia Pedro para perceber-compreender o seu caminho com Jesus que começa nas margens do Mar da Galileia, onde possuía uma casa em Cafarnaum e onde vivia e trabalhava como Pescador. Certamente que o olhar de Jesus e de Pedro já se tivessem cruzado mais que uma vez desde aquele primeiro encontro em que André depois de encontrar o Mestre no episódio do Baptismo de Jesus, convida também o seu irmão Pedro a conhecê-lo: “No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» - que quer dizer Cristo. E levouo até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» - que significa Pedra.” (Jo 1,3544). Mas naquele dia, nas margens do lago de Tiberíades, acontece o ENCONTRO que agora se dá, não apenas fruto de um desejo de conhecer Jesus que certamente nascera da ESCUTA das palavras d’Este àquelas multidões que ali se reuniam junto às margens do lago de Tiberíades onde Pedro exercia o seu trabalho de pescador, mas sobretudo porque é Cristo que agora interpela Pedro, tomando a INICIATIVA do chamamento: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.» E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, 19 filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no. (Mt 4,18-20). 1º Caminho: A Chamada parte sempre do OLHAR de Jesus sobre aquele que Ele deseja chamar. Ele é quem toma sempre a iniciativa no seu Amor e é Ele quem chama: “Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto…”(João 15:16). 2º Caminho: Para que aconteça a Chamada, tem que existir naquele que é chamado a capacidade de ESCUTA. "Fala Senhor, teu servo escuta" (1Sam 3,10). Esta Escuta é essencial para responder a Deus! Ela acontece em Samuel, ela acontece em Moisés, ela acontece em Maria de Nazaré, ela acontece com Pedro naquela barca e acontece com cada um de nós. Precisamos estar atentos a Deus, pedindo ao Espírito Santo que nos aponte qual será o caminho em que faremos melhor a vontade d’Aquele que nos chamou: 3º Caminho: A Chamada acontece na medida e na forma como RESPONDEMOS a Cristo quando ele nos chama! Podemos ser chamados e não responder. Recordemos o episódio do jovem rico: “Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segueme.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante pesado e retirouse pesaroso, pois tinha muitos bens.” (Mc 10,17-27). 4º Caminho: A chamada só acontece na realidade concreta da vida daquele que é chamado! Maria de Nazaré foi chamada no seu lar, no meio dos afazeres da vida. Pedro é chamado também 20 num momento de trabalho, dentro da sua barca, na pesca, num dia normal e corrente. O Acontecimento da chamada acontece sempre na humanidade e na realidade de cada um de nós, mesmo até nos momentos da vida em que estamos mais afastados de Deus pelos nosso barros. Reparai em Pedro, e olhai para o caminho que ele faz antes e depois de encontrar o Mestre. Jesus não foi ao encontro de um ―santo‖ mas de um homem feito de barro bom e menos bom. Depois sim, no caminho com Cristo, que iremos abordar, acontece nele uma transformação radical. “Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediulhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afastate de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus. “(Lc 5,1-11). RESUMINDO: Todos somos chamados, mas nem todos somos capazes de Responder! Todos ouvimos, mas nem todos somos capazes de Escutar! Todos somos chamados na realidade do que somos e no concreto do quotidiano da vida, no lugar onde vivemos e trabalhamos, mas precisamos primeiro Acolher e deixar entrar na nossa vida Aquele que nos chama! Pedro não só deixou Jesus entrar na sua vida (barca) como obedeceu e colocou a sua barca à disposição do Mestre mantendose ali ao seu lado enquanto escutava também as palavras de 21 Jesus àquela multidão, proporcionando assim à Palavra, o criar raízes no seu coração, como acreditou e agiu, fazendo-se ao largo contra toda a razão humana, testemunhando o milagre de muitos que iriam acontecer na sua vida! __________________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 22 SEGUIMENTO “… Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus. “Lucas 5,10-11) 23 SEGUIR JESUS Todos os cristãos, são discípulos d’ Aquele que é o sentido das suas vidas: Jesus Cristo. Precisamos, então, compreender, quem é Jesus e o que significa, segui-lo como discípulo. Para conhecer quem é Jesus, o mistério da sua pessoa, da sua filiação divina, da sua intimidade com o Pai, da sua dedicação total à causa do Reino, é preciso colocar-se a caminho com ele, ter intimidade com ele. E a melhor forma de o fazer é mergulharmos nas fontes da Palavra que nos descrevem o rosto de Jesus e os seus passos. O olhar, o coração, as práticas e, enfim, toda a vida de Jesus voltava-se para duas grandes dimensões de um mesmo Caminho: O Pai e o Reino. Voltando-se para o seu Pai, Jesus recolhia todas as forças para sua missão no mundo. Também é na intimidade com o seu Pai que Jesus compreende que Deus quer a misericórdia, agindo como o Pai Misericordioso, acolhendo o filho pródigo, e que Deus não desiste nunca de nós (Lc 15,11). Olhando para esse quadro da relação de Jesus com o seu Pai e com o Reino, a entrega total que Ele faz ao projecto de Deus, então já somos capazes de começar a perceber um pouco o que significa ser discípulo de Jesus. O modo de chamar de Jesus: É Jesus quem toma a iniciativa e escolhe os seus discípulos: Na escola de Jesus, não são os discípulos que escolhem o mestre com base em critérios préestabelecidos, mas é Jesus quem toma a iniciativa e, agindo com autoridade profética, escolhe os seus discípulos. Tudo tem início com um encontro e uma palavra autorizada, eficaz e criativa de Jesus: SEGUE-ME. Essa palavra expressa a sua vontade em relação à pessoa chamada. Por meio de Jesus, Deus intervém na vida das pessoas. É Deus quem procura o ser humano nas coordenadas do tempo e da história. Ao chamar para segui-lo, o Mestre não dita normas a serem observadas rigorosamente, não traça antecipadamente projectos a serem realizados, não faz inúmeras e tentadoras promessas a serem cumpridas. Mas, faz questão de deixar muito claro que o seguimento é, acima de tudo, uma relação profunda e pessoal 24 Com Ele, que implica uma ruptura com o passado e o misterioso começo de uma existência radicalmente nova. Seguir Jesus supõe uma dupla relação: de proximidade e de movimento: estar com Jesus (Mc 3,14); manter-se ao seu lado nas provações (Lc 22,28); ter os mesmos sentimentos e atitudes de Jesus (Fl 2,5); tornar-se filho no Filho (Rm 8,29); ter os olhos fixos em Jesus (Hb 12,12). O seguimento é permanente: O seguimento de Jesus não tem um período de tempo limitado, como no caso dos rabinos: até que o discípulo se torne um mestre na interpretação da Lei; não é o início de uma carreira, mas uma entrega total e permanente. Exige uma resposta pessoal dada no tempo, mas que tem uma dimensão de eternidade, da eternidade de Deus. O objectivo do seguimento: O discípulo de Jesus não tem como objectivo tornar-se intérprete da Lei por meio de um estudo sistemático, mas é chamado a deixar-se plasmar por ele, seguindo os seus passos. Participa das preocupações quotidianas do Mestre e usufrui de sua intimidade. Se, de um lado, Jesus ao chamar não propõe um programa de vida, de outro, deixa claro que o seu convite tem uma finalidade precisa. O seguidor deve: assemelhar-se a Jesus de Nazaré, reproduzindo a sua vida histórica, exercendo a missão como ele exerceu: sem levar pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto (Mc 6,8); e participando do seu destino: Vós sois os que permanecestes comigo nas minhas provações (Lc 22,28); assimilando assim a espiritualidade das bemaventuranças (Mt 5,1-12). Jesus chamou seus discípulos para estarem com ele (Mc. 3,14) e para que estando com ele, assimilassem os seus ensinamentos e vivessem como ele viveu: em constante relação e comunhão com o Pai e a serviço do Reino. Encontrar-se com Jesus implica entrar na intimidade com ele, converter-se e comprometer-se com o projecto de vida do Pai, em todas as suas dimensões. Chamados a ser Comunidade: O verdadeiro discípulo sabe que sozinho, isolado, não será capaz de seguir Jesus plenamente. Isso significa que todo o discípulo é chamado a formar COMUNIDADE. O seguimento de Jesus é uma decisão pessoal, mas não individual. Cada um deve dar o seu sim, a sua resposta, mas 25 somos convocados a viver o nosso sim e a nossa resposta juntos, em comunidade. ((Mt 10,1-4; Mc 3,13-19; Jo 1,38-51;Act 1,13). A comunidade depende radicalmente da Graça de Deus, do Espírito de Deus que nela se faz presente. É o próprio Espírito de Cristo que será o construtor da comunidade. “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). E porque é o próprio Espírito Santo que constrói a Comunidade, ela possui características muito próprias como vemos na primeira comunidade modelo de Actos: “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.” (Actos 2,42-47) ____________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. (Mc 1,16-20; Mt 4,18; Lc 1-11; Jo 1, 35-43). Referências: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética) 3ª Semana Brasileira de Catequese /Itaici-SP, 6 a 11 de Outubro de 2009. (Excerto). 26 PEDRO O APÓSTOLO PAPA BENTO XVI (Catequese) Pedro, o apóstolo Queridos irmãos e irmãs! Nestas catequeses estamos a meditar sobre a Igreja. Dissemos que a Igreja vive nas pessoas e, por isso, na última catequese, começámos a meditar sobre as figuras de cada um dos Apóstolos, começando por São Pedro. Vimos duas etapas decisivas da sua vida: a chamada junto do Lago da Galileia e, depois, a profissão de fé: "Tu és Cristo, o Messias". Uma confissão, dissemos, ainda insuficiente, inicial e contudo aberta. São Pedro coloca-se num caminho de seguimento. E assim, esta confissão inicial tem em si, como em gérmen, já a futura fé da Igreja. Hoje queremos considerar outros dois acontecimentos importantes na vida de Pedro: a multiplicação dos pães — ouvimos no trecho agora lido a pergunta do Senhor e a resposta de Pedro — e depois o Senhor que chama Pedro para ser pastor da Igreja universal. Comecemos com a vicissitude da multiplicação dos pães. Vós sabeis que o povo tinha ouvido o Senhor durante horas. No fim, Jesus diz: estão cansados, têm fome, devemos dar de comer a este povo. Os Apóstolos perguntam: Mas como? E André, irmão de Pedro, chama a atenção de Jesus para um jovem que levava consigo cinco pães e dois peixes. Mas o que são para tantas pessoas, interrogam-se os Apóstolos. Mas o Senhor faz sentar as pessoas e distribuir estes cinco pães e os dois peixes e todos se saciam. Aliás, o Senhor encarrega os Apóstolos, e entre eles Pedro, que recolham o que sobrou em abundância: doze cestas de pão (cf. Jo 6, 12-13). Sucessivamente o povo, vendo este milagre — que parece ser a renovação, tão esperada de um novo "maná", do dom do pão do céu — deseja fazer dele o seu rei. Mas Jesus não aceita e retira-se para o monte para rezar sozinho. No dia seguinte, Jesus na outra margem do lago, na Sinagoga de Cafarnaum, interpretou o milagre — não no sentido de uma realeza sobre Israel com um poder deste mundo no modo esperado pela multidão, mas no sentido da doação de si: "o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo" (Jo 6, 51). Jesus anuncia a cruz, e com a cruz a verdadeira multiplicação 27 dos pães, o pão eucarístico — o seu modo absolutamente novo de ser rei, um modo totalmente contrário às expectativas do povo. Nós podemos compreender como estas palavras do Mestre — que não deseja cumprir todos os dias uma multiplicação dos pães, que não quer oferecer a Israel um poder deste mundo — pareciam verdadeiramente difíceis, aliás, inaceitáveis para a multidão. "Da sua carne": O que significa? E também para os discípulos é inaceitável o que Jesus diz neste momento. Era e é para o nosso coração, para a nossa mentalidade, um sermão "duro", que provava a fé (cf. Jo 6, 60). Muitos dos discípulos se afastaram. Queriam alguém que renovasse realmente o Estado de Israel, do seu povo, e não um que dizia: "Eu dou a minha carne". Podemos imaginar como as palavras de Jesus eram difíceis também para Pedro, que em Cesareia de Filipe se tinha oposto à profecia da cruz. E contudo quando Jesus perguntou aos doze: "Quereis retirar-vos vós também?", Pedro reagiu com o impulso do seu coração generoso, guiado pelo Espírito Santo. Em nome de todos respondeu com palavras imortais, que são também nossas: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna; nós cremos e conhecemos que tu és o Santo de Deus" (cf. Jo 6, 66-69). Aqui, como em Cesareia, com as suas palavras Pedro começa a profissão da fé cristológica da Igreja e torna-se também o intérprete dos outros Apóstolos e também de nós, crentes de todos os tempos. Isto não significa que já tivesse compreendido o mistério de Cristo em toda a sua profundidade. A sua fé ainda estava no início, uma fé a caminho; teria chegado à verdadeira plenitude apenas mediante a experiência dos acontecimentos pascais. Mas contudo já era fé, aberta à realidade maior — aberta sobretudo porque não era fé em algo, era fé em Alguém: n'Ele, Cristo. Assim, também a nossa fé é sempre uma fé inicial, e devemos percorrer ainda um longo caminho. Mas é fundamental que seja uma fé aberta e que nos deixemos guiar por Jesus, porque Ele não só conhece o Caminho, mas é o Caminho. Mas a generosidade impetuosa de Pedro não o salvaguarda dos riscos relacionados com a debilidade humana. De resto, é o que também nós podemos reconhecer com base na nossa vida. Pedro seguiu Jesus com ímpeto, superou a prova da fé, abando28 nando-se a Ele. Contudo chega o momento no qual também ele cede aos receios e cai: trai o Mestre (cf. Mc 14, 66-72). A escola da fé não é uma marcha triunfal, mas um caminho repleto de sofrimentos e de amor, de provas e de fidelidade a ser renovada todos os dias. Pedro, que já tinha prometido fidelidade absoluta, conhece a amargura e a humilhação da renegação: o atrevido aprende à sua custa a humildade. Também Pedro deve aprender a ser frágil e carente de perdão. Quando finalmente perde a máscara e compreende a verdade do seu coração frágil de pecador crente, cai num libertador choro de arrependimento. Depois deste choro ele já está pronto para a sua missão. Numa manhã de Primavera esta missão ser-lhe-á confiada por Jesus ressuscitado. O encontro será na margem do lago de Tiberíades. O evangelista João narra-nos o diálogo que naquela circunstância se realiza entre Jesus e Pedro. Nele revela-se um jogo de verbos muito significativo. Em grego o verbo "filéo" expressa o amor de amizade, terno mas não totalizante enquanto o verbo "agapáo" significa o amor sem reservas, total e incondicionado. Jesus pergunta a Pedro pela primeira vez: "Simão... tu amas-Me (agapâs-me)" com este amor total e incondicionado ( cf. Jo 21, 15)? Antes da experiência da traição o Apóstolo teria certamente respondido: "Amo-Te (agapô-se) incondicionalmente". Agora, que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama da própria debilidade, diz apenas: "Senhor... tu sabes que sou deveras teu amigo (filô-se), isto é, "amo-te com o meu pobre amor humano". Cristo insiste: "Simão, tu amas-Me com este amor total que Eu quero?". E Pedro repete a resposta do seu humilde amor humano: "Kyrie, filo-se", "Senhor, tu sabes que eu sou deveras teu amigo". Pela terceira vez Jesus pergunta a Simão: "Fileîs-me?", "tu amas-Me?". Simão compreende que para Jesus é suficiente o seu pobre amor, o único de que é capaz, e contudo sente-se entristecido porque o Senhor teve que lhe falar daquele modo. Por isso, responde: "Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo! (filô-se)". Seria para dizer que Jesus se adaptou a Pedro, e não Pedro a Jesus! É precisamente esta adaptação divina que dá esperança ao discípulo, que conheceu o sofrimento da infidelidade. Surge daqui a confiança que o torna capaz do seguimento até ao fim: "E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras acrescentou: "Segue29 -Me"!" (Jo 21, 19). A partir daquele dia Pedro "seguiu" o Mestre com a clara consciência da própria fragilidade; mas esta consciência não o desencorajou. De facto, ele sabia que podia contar com a presença do Ressuscitado. Dos ingénuos entusiasmos da adesão inicial, passando pela experiência dolorosa da negação e pelo choro da conversão, Pedro alcançou a confiança naquele Jesus que se adaptou à sua pobre capacidade de amor. E mostra assim também a nós o caminho, apesar da nossa debilidade. Sabemos que Jesus se adapta a esta nossa debilidade. Nós seguimo-lo com a nossa capacidade de amor e sabemos que Jesus é bom e nos aceita. Para Pedro foi um longo caminho que fez dele uma testemunha de confiança, "pedra" da Igreja, porque constantemente aberto à acção do Espírito de Jesus. O próprio Pedro qualificar-se-á como "testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar" (1 Pd 5, 1). Quando escreveu estas palavras já era idoso, encaminhado para a conclusão da sua vida que selou com o martírio. Então, foi capaz de descrever a alegria verdadeira e de indicar de onde ela pode ser obtida: a fonte é Cristo acreditado e amado com a nossa fé frágil mas sincera, apesar da nossa fragilidade. Por isso escreveu aos cristãos da sua comunidade, e di-lo também a nós: "Sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda, credes nele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas" (1 Pd 1, 8-9). ___________________________________________________________________________________________________________________ PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 24 de Maio de 2006 30 A AMIZADE ―Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. Não vos chamo ser-vos, pois o servo não sabe o que o Senhor faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi. É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros‖ (Jo 15,13-17). 31 A AMIZADE COM JESUS “Assim como o meu Pai Me amou, Eu também vos amei: permanecei no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu guardo os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. O meu mandamento é este: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. Não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que o Senhor faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi. Eu destinei-vos para ir e dar fruto e para que o vosso fruto permaneça. O Pai dar-vos-á tudo o que Lhe pedirdes em meu nome. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”. (João 15, 9-17) Em João, Jesus chama aos seus discípulos de amigos, e mostra em que consiste o fundo dessa Amizade a partir da sua própria vivência com os discípulos partilhando com eles a sua vida e o seu amor, abrindo-lhes o seu coração. O seu Amor é, na verdade, o alicerce dessa Amizade: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos.” (Jo15, 13). Jesus deu a sua vida na cruz e é esse mesmo Amor que flui entre eles e os une apesar de serem tão diferentes uns dos outros! Ao chamar Pedro e os seus companheiros, Jesus convida-os a viver cada dia como um itinerário de santidade, isto é, de fé e de amizade com Ele, continuamente descoberto e redescoberto como Mestre e Senhor, Caminho, Verdade e Vida. Torna-se portanto mais fácil compreender as palavras de Pedro: “Senhor, a quem iremos? Só Tu tens as palavras de vida eterna”. (João 6:68). E torna-se mais fácil porque Pedro percebeu no dia-a-dia com o Mestre que a alegria mais verdadeira está na relação com Ele, encontrado, seguido, conhecido, amado, graças a uma tensão contínua da mente e do coração de quem procurava respostas sempre mais profundas, não se acomodando à rotina que nasce em quem se acomoda porque alcançou o suficiente! 32 Essa busca valeu-lhe o sentir-se afogar nas águas, as lágrimas, as negações, os medos e as precipitações, mas o seu amor pelo Mestre era e foi maior do que todas as suas fragilidades humanas! Pedro percebeu que só a amizade com o Mestre lhe assegurava uma paz profunda e lhe dava a serenidade também nos seus momentos mais escuros e nas suas provações mais árduas. S. João introduz-nos com clareza nessa amizade íntima que une Jesus e os seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.” (Jo 15,1-8). Ele é a videira e os discípulos são os ramos. Nessa comunhão profunda com Jesus, o coração do discípulo enche-se daquilo que enche o coração do seu Senhor e Mestre: a sua grande paixão pela glória do Pai e sua profunda compaixão pelos homens. Esta é a seiva que vai manter verde e vigorosa a árvore da vida pessoal de cada discípulo de Jesus e que dará coesão e consistência à comunidade cristã. Por isso o discípulo não se deixa seduzir por outros interesses e é capaz de construir a sua vida a partir do valor fundamental do amor, tal como lhe indicou o Senhor. "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei". (Jo 13,34). Somente assim a amizade com Jesus enche a vida com essa alegria verdadeira que o Senhor quer compartilhar com os seus discípulos e que nos abre para o horizonte insuspeito de uma feli33 cidade que ninguém pode arrebatar, nem mesmo aqueles que nos podem tirar a vida. Na experiência dos mártires descobrimos a verdade dessas palavras. 34 Seduziste-me Senhor Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7) Todas as chamadas à AMIZADE com Cristo têm algo de parecido com a de Jeremias, pois é sempre o Senhor a seduzir ateando o fogo interior com que queima o coração daquele ou daquela que é chamado. Como o profeta Jeremias, também Pedro foi alvo do olhar do Senhor, da sedução que exerceu sobre ele, atraindo a Si o seu coração, a sua alma, a sua vida. E apesar das resistências, a maior parte delas têm a ver com o nosso olhar sobre o passado, desacreditando o presente e as infinitas possibilidades da misericórdia que redime, aconteceu com Pedro no ― “Afasta-te de mim que sou um homem pecador” (Lc 5,8), e acontece com cada um de nós a cada momento que nos fechamos ao perdão e à esperança, apesar de esse desacreditar em nós, o Senhor vence sempre aquele a quem Ele dirigiu o seu olhar que desarma e seduz. “Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: Tu és deveras meu amigo?„ Mas respondeu -lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» (…) Depois destas palavras, acrescentou: Segue-me”(Jo 21, 15-19) Pedro é imagem das experiências, descobertas e desencontros de Jesus com os discípulos e com cada um de nós. Vê-se como seria uma figura carismática, de liderança entre os discípulos. Mas com uma dimensão absolutamente essencial do ser discípulo: vive a aprender, a crescer, a compreender cada vez melhor quem é afinal Jesus e o que significa segui-lo. A “nascer de 35 Novo ―(Jo 3, 3). Com Pedro descubro que uma Aliança de Amor que faz parte da Amizade com Cristo é sempre um caminho. Jesus Ressuscitado pergunta-lhe, a ele e a nós: amas-me? Amas-me de Amor Ágape, o Amor de Deus, o Amor “que dá a vida pelos amigos” (Jo 15, 13). E Pedro responde: “sou deveras teu amigo‖, quero-te bem, mas apenas isso, numa amizade… É esta sempre a dinâmica do discípulo: nunca poderá corresponder ao Amor do seu Mestre. Fica sempre a caminho. E o Mestre não deixa de dizer: Segue-me, segue-me com as tuas possibilidades, segue-me com as tuas capacidades, segue-me com a tua disponibilidade… Segue-me. A Amizade de Jesus Ressuscitado com os seus discípulos é uma Amizade de confiança, de entrega… de Fé. E Pedro só pode acolher este Amor e esta Missão que não pediu, que não compreende, que não merece. Em Pedro descortinamos em nós a humanidade que mora dentro de cada um de nós. Somos bons e menos bons. Por ser humano, o humano é sujeito a erros. Somos Pedro-Pedra, poder e serviço. Ora um, ora outro. No seguimento de Jesus, Pedro foi sendo gradativamente lapidado até tornar-se a própria personificação da fidelidade a Cristo cimentada através de uma AMIZADE profunda entre os dois. A Amizade com Cristo é um caminho, um caminho de Amor. É decidir e aceitar entrar na dinâmica do Espírito de Amor sempre crescente, sempre novo, sempre mais radical e livre. “Foi para a liberdade que fostes chamados” (Gl 5,13) ____________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 36 ENVIO - MISSÃO «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.” Marcos 16,15. 37 Ide Naquela sala do Cenáculo, uma transformação profunda acontece nos primeiros discípulos, que receberam o dom do Espírito Santo. Estamos perante os mesmos homens humildes que Jesus tinha escolhido, um por um, dentre a gente do seu povo. E nós conhece-mos as suas dúvidas e os seus temores (Mt. 28, 17; Jo. 20, 19); contudo, eles acreditavam no Mestre e, ao mesmo tempo, tinham plena consciência da própria vocação e da própria missão, nas quais os haveria de confirmar o Espírito Santo, segundo a promessa do mesmo Senhor: “Quando o Espírito Santo tiver descido sobre vós, recebereis vigor e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Galileia e Samaria, e até às extremidades da terra” (Act 1, 8). O Envio – Missão (Ide) “Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,16-20). (Mt 10, 1-15; Mt 28,16-20; Mc 16,15-18; Jo 20,19-23) A primeira missão que os discípulos receberam não foi a de realizar uma tarefa e apresentar os resultados, mas a de caminhar ao encontro do Ressuscitado. A experiência com o Ressuscitado torna-se, assim, o ponto de partida para cada um. A missão que depois vivem e partilham, não será outra coisa senão a comunicação desta experiência de encontro com Jesus Cristo vivo. O horizonte do Discípulo O mundo inteiro passou a ser o horizonte do Discipulado de Pedro e dos seus companheiros, esse mundo como ele é, cheio de dificuldades e contradições, armadilhas e ciladas, engendradas pelas dinâmicas do mal. È neste horizonte que Pedro anuncia, a partir de um conteúdo que toque os corações com a força 38 de sua própria interpelação. Uma interpelação que remova a indiferença, a soberba, o orgulho e presunção que manipulam e aprisionam o coração humano e impedem-no de dar e acolher. Uma interpelação veiculada pela pro-clamação e sustentada pelo testemunho. Um falar destemido que se comprova no jeito de ser do Pedro renovado no Pentecostes, criando convicções, renovando dinâmicas de vida e criando modos de viver que faz da sua vida e de cada discípulo uma página viva desse Evangelho agora anunciado, capaz de libertar, com a novidade do amor de Deus, os corações no comum da vida de cada dia, com a força da redenção, garantida por Cristo, que é o conteúdo vivo deste Evangelho. A dinâmica do Discípulo A vida de Pedro e dos outros discípulos passa a ser habitada e a estar centrada na dinâmica do êxodo. Isto é, fazer-se discípulo e enriquecer o Discipulado ocorrem na medida em que se assume com audácia a atitude de sair, partir, ir. O discípulo é desafiado a sair de si, impedir os riscos de comodidades que lhe possibilitarão dar as costas ao mundo ao qual ele é enviado. Uma saída de si na medida em que se vai ao encontro dos outros, lá onde estão. Ide, pois, não é a indicação de uma simples tarefa a cumprir. É uma dinâmica existencial que, vivida com generosidade e incondicional confiança naquele que envia, dá forma ao coração do verdadeiro discípulo. O acolhimento deste mandato faz desabrochar e amadurecer nele para compreender e fazer da sua própria vida um altar na obra redentora do seu Mestre e Senhor. O sustento do Discípulo O sustento de Pedro e os seus companheiros vem do Senhor. A obra pertence a Deus. Ao discípulo é dada a honra da participação e da colaboração, conformando a própria vida à do Mestre, enquanto enfrenta o desafio de aprender que a vida verdadeira só se conquista pela força da oferta de si. Os percursos do caminho hão-de ser fecundados pela consciência do envio e pelo sustento que advém do amor d’Aquele que envia o discípulo ao coração do mundo para anunciar o Evangelho. E o anúncio, não é uma simples tarefa, é muito mais. É uma autêntica experiência de crer. Crer naquele que envia, depositando nele toda a confian39 confiança, e experimentando os milagres que Ele faz naqueles e por aqueles que, amorosamente, assumem a condição de discípulos. O discípulo, ofertando a sua vida, incondicionalmente, vive a sorte do Mestre, na oferta e na glória. A cultura no itinerário do Discípulo Para o discípulo a cultura não é algo opcional. Ela, como matriz principal da vida humana, com as suas relações vitais, valores, linguagens e comportamentos, possui sementes de Reino ocultas, que o discípulo precisa fazer crescer. Ele expressa-se na própria cultura e na dos seus interlocutores: é o caminho privilegiado para caminhos novos de comunhão e partilha. O Espírito Santo é quem anima o Discípulo O Espírito Santo passa a orientar a vida e missão dos discípulos. Durante a sua missão, Jesus foi conduzido pela força do Espírito Santo (Mt 3,16; Mc 1,12-13; Lc 4,14;18). Do mesmo modo, o discípulo é animado pelo mesmo Espírito (Mt 10,20; 28,19; Jo 14,26; 16,4-15; At 1,5;2,1-11). As condições para ser Discípulo S. Lucas (9, 57-62) indica-nos os primeiros passos exigidos por Jesus para tornar-se Seu discípulo: “Enquanto iam a caminho, dis- se-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.”(Mc 8,34-38; Mt 8,19-22; Mt 10,32-39; Mt 16,24-28; Jo 12,25-26). O Discípulo é enviado a viver o mesmo destino do Senhor, inclusive até a cruz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, carregue a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Estimula-nos o testemunho de tantos missionários e mártires de ontem e de hoje que compartilharam a cruz de Cristo até à entrega da sua própria vida. 40 Os Apóstolos testemunhas e enviados de Cristo Catequese de Bento XVI Queridos irmãos e irmãs! A Carta aos Efésios apresenta-nos a Igreja como uma construção edificada "sobre o alicerce dos Apóstolos e dos profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus" (2, 20). No Apocalipse o papel dos Apóstolos, e mais especificamente dos Doze, é esclarecido na perspectiva escatológica da Jerusalém celeste, apresentada como uma cidade cujos muros "tinham doze alicerces, nos quais estavam gravados doze nomes, os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro" (21, 14). Os Evangelhos concordam em referir que a vocação dos Apóstolos marcou os primeiros passos do ministério de Jesus, depois do baptismo recebido do Baptista nas águas do Jordão. Segundo a narração de Marcos (1, 16-29) e de Mateus (4, 1822), o cenário da vocação dos primeiros Apóstolos é o lago da Galileia. Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o seu olhar se pousou sobre dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João. São pregadores, empenhados no seu trabalho quotidiano. Lançam as redes, consertam-nas. Mas outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles seguemno imediatamente: agora serão "pescadores de homens" (cf. Mc 1, 17; Mt 4, 19). Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz uma narração mais elaborada (5, 1-11). Ele mostra o caminho de fé dos primeiros discípulos, esclarecendo que o convite para o seguimento lhes chega depois de terem ouvido a primeira pregação de Jesus e experimentam os primeiros sinais prodigiosos por ele realizados. Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de homens, que lhes foi confiada. O destino destes "chamados", de agora para o futuro, estará intimamente ligado ao de Jesus. O apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um "perito" em Jesus. Precisamente este é o aspecto realçado pelo evangelista João desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros Apóstolos. Aqui o cenário é diferente. A presença dos futuros discípulos, provenientes também eles, como Jesus, da Galileia para viver a experiência do baptismo administrado por João, esclarece o seu mundo espiritual. Eram homens na expectativa do Reino de 41 Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda estava anunciada como iminente. Para eles, é suficiente a orientação de João Baptista que indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 36), para que surja neles o desejo de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo de Jesus com os primeiros dois futuros Apóstolos são muito expressivas. À pergunta: "Que procurais?", eles respondem com outra pergunta: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?". A resposta de Jesus é um convite: "Vinde e vereis" (cf. Jo 1, 38-39). Vinde para poder ver. A aventura dos Apóstolos começa assim, como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um conhecimento directo do Mestre. Vêem onde mora e começam a conhecê-lo. De facto, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas testemunhas de uma pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão "estar" com Jesus (cf. Mc 3, 14), estabelecendo com ele um relacionamento pessoal. Sobre esta base, a evangelização não será mais do que um anúncio daquilo que foi experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo (cf. 1 Jo 13). A quem serão enviados os Apóstolos? No Evangelho parece que Jesus limita a sua missão unicamente a Israel: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15, 24). De modo análogo parece que ele circunscreve a missão confiada aos Doze: "Jesus enviou estes Doze, depois de lhes ter dado as seguintes instruções: "Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel"" (Mt 10, 5s.). Uma certa crítica moderna de inspiração racionalista tinha visto nestas expressões a falta de uma consciência universalista do Nazareno. Na realidade, elas devem ser compreendidas à luz da sua relação especial com Israel, comunidade da aliança, em continuidade com a história da salvação. Segundo a expectativa messiânica as promessas divinas, imediatamente dirigidas a Israel, ter-se-iam concretizado quando o próprio Deus, através do seu Eleito, reunisse o seu povo, como faz um pastor com o rebanho: "Eu virei em socorro das minhas ovelhas, para que elas não mais sejam saqueadas... Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as apascentará, o meu servo David; será ele que as levará a pastar e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo David será um príncipe no meio delas" (Ez 34, 22-24). 42 Jesus é o pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas da casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e ama (cf. Lc 15, 4-7 e Mt 18, 12-14; cf. ,também a figura do bom pastor em (Jo 10, 11.). Através desta "reunião" o Reino de Deus é anunciado a todas as nações: "Manifestarei a minha glória entre as nações, e todas me verão executar a minha justiça e aplicar a minha mão sobre eles" (Ez 39, 21). E Jesus segue precisamente este caminho profético. O primeiro passo é a "reunião" do povo de Israel, para que assim todas as nações, chamadas a reunirem-se na comunhão com o Senhor, possam ver e crer. Assim os Doze, chamados a participar na mesma missão de Jesus, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo também eles, em primeiro lugar, até às ovelhas perdidas da casa de Israel, isto é, dirigindo-se ao povo da promessa, cuja reunião é o sinal de salvação para todos os povos, o início da universalização da Aliança. Longe de contradizer a abertura universalista da acção messiânica do Nazareno, a inicial limitação a Israel da sua missão e da dos Doze torna-se assim o seu sinal profético mais eficaz. Depois da paixão e da ressurreição de Cristo este sinal será esclarecido: o carácter universal da missão dos Apóstolos tornar-se-á mais explícito. Cristo enviará os Apóstolos "a todo o mundo" (Mc 16, 15), a "todas as nações" (Mt 28, 19); Lc 24, 47), "até aos extremos confins da terra" (At 1, 8). E esta missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor de reunir os povos na unidade do seu amor. Esta é a nossa esperança e este é também o nosso mandato: contribuir para esta universalidade, para esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo. ____________________________________________________ PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 22 de Março de 2006 43 A Fé como Experiência “Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.. Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.” Lucas 5,5. 44 A FÈ COMO EXPERIÊNCIA REAL Seguindo o itinerário de seguimento de Fé de Pedro, vamos ―descobrindo‖ que a sua experiência de Fé com o Senhor foi um processo contínuo, feito de uma relação de confiança, fidelidade e também momentos de menos fidelidade, sustentados sobretudo pelo Amor que tinha pelo Mestre! Tendo ―falhado‖ algumas vezes nesse caminho, ele ―resistiu‖, porque o seu coração viveu num processo de conversão diária. Em Pedro, nos primeiros discípulos e em cada um de nós, a experiência da Fé está sempre ligada à CONVERSÃO, sem conversão não existe a verdadeira experiência da Fé. Quando muito, ela pode ficar-se pelo ―encontro‖, pelo encantamento do ―novo‖, mas facilmente se diluirá pelos caminhos da vida espiritual tão cheios de obstáculos! Embora seja no Pentecostes que Pedro se vai abrir totalmente à Graça de Deus através da força do Espírito Santo, existem dois momentos fortes da sua conversão: uma, precisamente no mesmo espaço físico (à beira do mar), (Jo 21,1-17), onde Jesus o chama a segui-lo (Lc 5,1-11), e o segundo, depois de negar a Cristo, ocasião em que choraria amargamente (Lc.22:62). Nestes encontros, Pedro faz a experiência real da Fé, e fá-lo, não num lugar ―apropriado‖, algo aberto ao ―espiritual‖, mas no concreto da dureza da vida, junto ao mar, o lugar onde trabalhava, nos seus ―ambientes‖, o espaço onde a Fé se movia e actuava. Não é de todo ―inocente‖ a escolha de Jesus para ali se encontrar com as multidões e os Discípulos! Em Pedro, aprendemos que a Fé como experiência não acontece em ―redomas‖ ou espaços ―arejados espiritualmente‖, mas no mundo, no concreto da vida! A Fé é a experiência de um encontro com uma Pessoa e esta experiência é sobretudo pessoal. Deus encontra-se como uma pessoa, rosto a rosto no mais íntimo do coração de uma experiência. Basta estar atento aos imensos testemunhos de conversão que descrevem como o coração experimentou essa presença de Deus. ―Partindo‖ desta dinâmica da Experiência do Encontro, certamente que já existia uma ―Fé‖ em Pedro, como tantos judeus tinham, 45 mas esta, ―talvez‖ ainda cheia de ―rombos‖ nas redes de toda a sua interioridade que ia começando lentamente a ver a ―luz do dia espiritual‖, naqueles dias e tardes de sol e frio à beira do seu meio natural, o lago de Tiberíades… enquanto a Palavra escutada mesmo que indirectamente transportada até aos seus ouvidos pelo vento marítimo daquelas bandas do lugar onde Jesus falava à multidão, ia cavando profundo no seu coração…! Logo, duas coisas certamente aconteceram ali à luz da Palavra: Uma, a ESCUTA, abriu nele caminho para que a Fé começasse ali a ―tomar forma‖ a ―amadurecer‖: “Portanto, a fé surge da prega- ção, e a pregação surge pela palavra de Cristo.” (Rm 10,17). A outra, a PALAVRA nunca volta ao seu lugar sem ―cavar fundo‖ no coração por onde andou a ―passear‖: “Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão.” (Isaías 55,10-11). Pedro vive uma experiência concreta que só a Fé pode proporcionar ao abrir esse espaço interior do homem à descoberta do verdadeiro Amor. Naquelas três perguntas sobre se O amava, (Jo 21 15-18), Jesus ia abrindo “novos” horizontes da Fé a Pedro, reescrevendo no seu coração o verdadeiro Amor: que quem ama o Pastor ama as suas ovelhas e por isso cuida delas. Pedro sente-o pessoalmente, ali, nessa força da Graça do Pai, que em Jesus apenas lhe pergunta sobre o seu Amor e não as suas traições diárias. (1429). Testemunho disto mesmo, é a conversão de Pedro, depois de três vezes ter negado o seu mestre. O olhar infinitamente misericordioso de Jesus provoca-lhe lágrimas de arrependimento (15) e, depois da ressurreição do Senhor, a tríplice afirmação do seu amor para com Ele (16). A segunda conversão tem, também, uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo dirigido pelo Senhor a uma Igreja inteira: «Arrepende-te!» (Ap 2, 5-16). (1) Como resposta a essa Graça de Deus, Pedro coloca-se como instrumento nas Suas mãos, até à derradeira experiência da Cruz em Roma! E este colocar-se introduz Pedro num itinerário de seguimento que o leva a viver a Fé como Experiência concreta e 46 real! Serão várias as experiências da Fé que encontramos no itinerário de Fé de Pedro e dos seus companheiros, mas agora focalizemos apenas duas: A Ressurreição de Jesus e o Pentecostes, que claramente marcam uma viragem na caminhada da Fé destes: Uma, tremendamente marcante na vida de Pedro e dos outros Discípulos, é a experiência da Ressurreição do Senhor, (Jo 20,1-10), que vai tornar-se sem sombras de dúvidas, o “ponto de partida‖ para uma vida em busca da Santidade, onde, novamente pela experiência da Fé, o Espírito de Deus vai actuando no interior e no exterior (acções) destes homens! Quem conheceu Pedro antes do Pentecostes, certamente que não reconhecerá nele este ―novo‖ Pedro agora renovado pela Graça do Espírito Santo: (Act 2,1-41;3,1-26;4,1-31;5,1-42;8,1425;9,31-43;19,9-48;11,1-18;15,7-12). A outra, o Pentecostes, (Act 2,1-13), não será a única experiência do Espírito Santo para Pedro, (Act 4,31;10-44), mas é, podemos assim dizer, a força impulsionadora que fará da Fé destes homens uma experiência contínua da Graça. Como Pedro, cada pessoa faz uma experiência de fé diferente do outro, uns correm, outros caminham, o importante é fazer essa experiência. Foi a experiência do encontro com o Ressuscitado que transformou radicalmente a vida daqueles discípulos. ____________________________________________________ (1). Catecismo da Igreja Católica (site do Vaticano) Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 47 A Fé como Experiência em Pedro A Fé como Experiência em Pedro gera-se essencialmente num caminho de vida que podemos dividir em 7 etapas: a Busca; a Iniciativa Divina; a 1ª Resposta; a Vida com o Senhor; o Processo de purificação e clarificação; a Integração na Comunidade e por ultimo o Compromisso que está bem patente nas suas pregações, na experiência da cadeia e no martírio. Nesta abordagem usaremos um ―esquema‖ de estudo, em que faremos o paralelismo(1) dos Evangelhos em função e direccionado aos acontecimentos em que Pedro está presente e participa directamente ou indirectamente nos acontecimentos com Jesus. As palavras sublinhadas, são apenas “pistas” e “apoio” ao estudo (lectio-divina). O que se pretende é que a partir dessas palavras, se ―DESPERTE‖ e ―PROVOQUE‖ em cada grupo ou elemento, a discusão-estudo que ajudem a conhecer e a compreender melhor o Itinerário de Pedro a partir das suas ―Experiências de Fé‖. Fontes Bíblicas Paralelismo nos Evangelhos Mt 4, 18-22 Mc 1,16-20 Lc 5,1-11 Jo 1,35-51 Mt 8,14-17 Mc 1,29-34 Lc 4,38-41) Lectio Divina As Etapas e os momentos (processos de Fé) na Experiência concreta da vida de Pedro. Tema: Chamada Para meditar: O olhar de Jesus sobre Pedro e os seus companheiros, a iniciativa é de Jesus. A resposta imediata à chamada. Pedro reconhece o seu pecado em face à experiência real do milagre. Pedro recebe o nome de Cefas - Pedra. Tema: A cura da Sogra de Pedro e outros milagres. Para meditar: Jesus entra na intimidade familiar de Pedro. A doença presente na casa de Pedro. A experiência da cura num familiar de Pedro. A casa de Pedro usada como local de cura de outros enfermos. 48 Mt 14,22-33 Mc 6,45-52 Jo 6,16-21 Mt 15,1-20 Mc 7,1-23 Lc 11,37-41 Mt 16,13-20 Mc 8,27-30 Lc 9,18-21 Jo 6,67-71 Mt 16,21-23 Mc 8,31-33 Lc 9,21-22 Mt 17, 1-9 Mc 9,2-10 Lc 9,28-36 2 Pe 1,16-18 Tema: Jesus caminha sobre as águas . Para meditar: Jesus leva (obriga) Pedro e os outros a fazer a experiência da “noite da Fé” sem lhes perguntar se querem. Pedro prova Jesus através de um pedido concreto (caminhar sobre as águas). Pedro sente medo e grita por socorro “o salva-Me” apesar da dúvida. Tema: Jesus e as tradições judaicas. Para meditar: Pedro toma a iniciativa e vai pedir a Jesus que explique o sentido da parábola que não entende. Tema: Confissão messiânica de Pedro. Para meditar: Pedro é o único entre o grupo a tomar a palavra e a revelar quem Jesus é. Esta revelação acontece em Pedro através do Espírito Santo e não na sua carne! Pedro torna-se a Pedra com o qual Jesus edificará a sua Igreja. Jesus entrega a Pedro as chaves do Reino do Céu. Tema: Primeiro anúncio da Paixão . Para meditar: Pedro toma (afasta) Jesus dos companheiros e repreende o próprio Mestre. Jesus afasta Pedro chamando-lhe Satanás. O Pedro que antes era feliz e Pedra, passa a ser agora um instrumento de Satanás. Tema: Transfiguração de Jesus . Para meditar: Pedro faz parte do grupo dos 3 que foram escolhidos por Jesus para testemunharem a Sua glória. Pedro está a cair de sono mas ainda assim vê a glória de Jesus. Pedro apesar de ser testemunha da glória de Jesus ali presente, tem medo. Pedro confirma (testemunho) na sua 2ª carta essa experiência da Glória e a certeza de que só através do Espírito Santo os homens podem falar de Deus, (de certa forma a querer relembrar aqui a sua 1ª experiência da revelação, em que afirmou que Jesus era o filho de Deus )(Mt 16,16). 49 Mt 17,24-27 Mt 18,21-35 Lc 17,3-4 Mt 19,27-30 Mc 10,28-31 Lc 18,28-30 Mt 26,30-35 Mc 14,26-31 Lc 22,31-34 Jo 13,36-38 Tema: O tributo (imposto) do templo . Para meditar: Os cobradores aproximam-se apenas de Pedro e não dos outros Discípulos para o questionar. Jesus antecipa-se a Pedro pedindo-lhe a opinião pessoal. Jesus envia Pedro a fazer parte do milagre (moeda no peixe). Jesus compartilha com Pedro a mesma responsabilidade do pagamento do imposto. Tema: Perdão na Comunidade Para meditar: Pedro aproxima-se de Jesus denotando-se nele ainda alguma incompreensão sobre a dimensão do Perdão e o desejo nele de crescer no Perdão, expresso na pergunta que faz ao Mestre. Tema: Recompensa do desprendimento Para meditar: Novamente Pedro a tomar a iniciativa das perguntas ao Mestre. A pergunta que numa análise menos profunda parece levar nela apenas o objectivo da troca de quem espera recompensa pelo que fez, mas que na resposta de Jesus vem a “provar-se” ter sentido e validade vinda daqueles que deixaram tudo para O seguirem. Tema: Anúncio das negações de Pedro. Para meditar: No Evangelho de Mateus e Marcos vemos que é Pedro quem toma a iniciativa da afirmação que não abandonará o Senhor mesmo que todos o abandonem. Já em Lucas, a experiência da negação em Pedro é diferente, pois ela está inserida num plano divino que tem como propósito, provar a Fé de Pedro, pedido feito por Satanás o qual o Senhor “acolhe” sem contudo abandonar Pedro pois havia rogado por ele! Em João, vemos um Pedro desejoso de saber para onde o Senhor vai, e a questionar Jesus porque é que ele, Pedro, não pode fazê-lo no seu tempo. 50 Mt 26,36-46 Mc 14,32-42 Lc 22,39-46 Jo 18,1-2 Mt 26,57-68 Mc 14,53-65 Jo 18,12-14; 19-24 Mc 3,13-19 Mt 10,1-4 Lc6 12-16;9,1 Jo 1,40-49 Mc 5,35-43 Mt 9,18-26 Lc 8,40-56 Tema: Oração de Jesus no Monte das Oliveiras. Para meditar: Jesus escolhe apenas Pedro e dois Discípulos entre o grupo, (vemos que Pedro é o primeiro nome entre os 3 a ser citado ), para partilharem com ele a experiência da oração do Getsémani. È interessante verificar como Jesus quando vai ter com os 3, dirige a palavra apenas a Pedro embora encontra-se todos a dormir! Só em Lucas é que esta pergunta de Jesus está colocada no plural. Tema: Jesus no tribunal judaico. Para meditar: Pedro segue o Senhor mas de longe. Está presente mas discreto (não quer envolverse), por isso está misturado no meio dos servos do palácio de forma a poder verificar o desfecho da situação, (como quem deseja proteger-se)! Tema: Escolha dos Doze. Para meditar: Jesus chama e escolhe 12 discípulos para irem pregar; curar e expulsar demónios em seu Nome. Nesta chamada Pedro está 1º lugar da lista! Mateus ressalta mesmo este pormenor de uma forma mais intensa: “primeiro, Simão”. Em Lucas, encontramos um pormenor interessante, que se refere ao nome de Apóstolos que Jesus passa a dar aos Discípulos. Até ali, ainda eram discípulos, que significa “alunos”, agora passam a ser Apóstolos, que significa “enviados”. Outro aspecto a reter é o olhar fixo de Jesus sobre Simão Pedro narrado em João. Tema: Ressurreição da filha de Jairo. Para meditar: Novamente, Jesus vai convidar apenas Pedro e os dois companheiros que com ele fizeram a experiência da Transfiguração para fazerem agora uma das maiores experiências da Fé, a ressurreição de uma menina. Também como na Transfiguração, Pedro volta a fazer a experiência do silêncio sobre esses acontecimentos marcantes para a Fé, na experiência da obediência ao pedido de Jesus! 51 Mc 11,12-14 Mt 21,18-20 Mc 13, 1-8 Mt 24,1-2 Lc 21,5-6 Lc 5, 1-11 Mt 4,18-22 Mc 1,16-20 Jo 21,1-11 Tema: A Figueira estéril. Para meditar: Neste episódio da figueira Pedro faz parte de um grupo como anónimo (não é citado directamente aqui o seu nome)! Neste episódio, ressaltam dois verbos muito importantes que compõem o ritmo do Discipulado: VER (Mt 21-20) e OUVIR (Mc 11,14). Pedro e os seus companheiros aprendem aqui sobre a força extraordinária da Fé que move e pode tudo (Mt 21,21). Tema: Discurso Escatológico.(Os fins dos Tempos). Para meditar: Nestes 3 evangelhos, só em Marcos vamos encontrar Pedro dirigindo a palavra ao Senhor, não apenas acompanhado dos companheiros “habituais” dos grandes momentos com Jesus, mas agora está mais um com eles, que é seu irmão André. A pergunta que dirigem a Jesus trata sobre os fins dos tempos. Tema: A Pesca. Para meditar: Neste episódio da Pesca, a “Fé como experiência” em Pedro torna-se profundamente visível e real e ela acontece várias vezes: A Fé de quem confia no Senhor ainda que no absurdo de quem viveu momentos antes a experiência de nada ter pescado, mas ainda assim fazse ao largo novamente apenas apoiado na confiança da palavra do Mestre. A Fé que se torna experiência concreta ao reconhecer que está perante o próprio Deus no seu pecado, buscando esconder a sua “nudez” que lhe veste a sua humanidade pecadora, ainda tão latente e persistente ainda nele. Pedro tem aqui a reacção típica de todos aqueles que erraram, mas um dia sentiram o perdão de tal forma (no Tu amas-Me?) que logo tentam seja a que preço for, “remediar” e “restaurar” o mal feito (reparem como Pedro age (Lc 21,11)…. ao carregar toda a rede sozinho…)! 52 Lc 8,40-48 Mt 9,18-26 Mc 5,21-43 Lc 22,7-13 Mt 26, 17-19 Mc 14,12-16 Jo 6,1-68 Tema: A mulher com fluxo de sangue. Para meditar: Nesta resposta de Pedro e os companheiros (v45), expressa no evangelho de Lucas, damos conta que ainda falta muito caminho a Pedro e aos outros, para conhecer o Mestre e a força do seu poder. Talvez depois, naquele episódio das multidões relatado em (Actos 5,15), Pedro tenha percebido e reconhecido, a “Fé que faz a experiência do Toque”, tão bem expressa neste momento agora vivido na fé desta mulher! Tema: Preparação da Ceia do Senhor. Para meditar: È interessante ver quem são os discípulos enviados neste episódio por Jesus, que marca o início e o ritmo de todo o acontecimento Pascal : um, o discípulo amado de Jesus, João, o outro, o discípulo que amava muito Jesus, Pedro. Neles está também presente a Fé e a obediência no partir a cumprir a missão que lhes é confiada na dependência total da palavra do Mestre. Finalmente, são Pedro e João que vão ter a “honra” de ser os instrumentos escolhidos de Deus para prepararem o grande acontecimento da Ceia do Senhor. Tema: Discurso do Pão do Céu. Para meditar: Aqui, vemos um Pedro já assumindo a responsabilidade de liderança com os Doze. E não só toma como sua, essa certeza da Fé que nasceu da sua experiência de vida com o Mestre, como também assume agora por todos, essa mesma Fé que os faz crer e afirmar que só no Senhor podem ter a certeza da vida eterna. 53 Jo 13,1-20 Mt 20,20-28 Mc 10,35-45 Lc 22,24-27 Jo 22,1-11 Mt 26,20-25 Mc 14,17-21 Lc 22,21-23 Jo 21,15-23 Tema: O Lava-Pés. Para meditar: Pedro no seu “melhor” e no seu “pior” na qualidade do barro que lhe forma ainda a humanidade! Primeiro coloca em causa ser o próprio Mestre a lavar-lhe os pés (já se viu um Deus a lavar os pés a alguém! - talvez tenha pensado..! Depois, o extremo, agora já não quer apenas que Jesus lhe lave os pés mas aceita e pede mesmo um “banho” total..! Intrigante depois a resposta de Jesus (será que expressava assim a imagem do baptismo!). Tema: Traição de Judas. Para meditar: Nota-se aqui uma autoridade e liderança em Pedro na forma como pede a João que “interrogue” o Mestre a fim de que Este revele de quem fala! Também podemos falar aqui de uma amizade-cumplicidade entre Pedro e João tendo no meio Jesus como referência! Tema: Pedro, amas-Me?. Para meditar: O Encontro e a Conversão real de Pedro acontece verdadeiramente neste episódio do “Tu amas-Me?” Até aqui, Pedro ora estava no monte da Transfiguração, ora no vale das suas pequenas e grandes quedas! Só no reconhecer que o Senhor sabia tudo e no Amor que tinha por ele, Pedro se entrega definitivamente! Bom, falta-lhe ainda muito caminho a Pedro! Verificamos isso logo após este diálogo com Jesus, na sua inquietação-questão sobre o destino de João (Como Pedro, quantos de nós ainda vivemos também em função do destino do outro?)! Depois, na sua caminhada de Actos, são inúmeros ainda os barros ainda por moldar em Pedro! ________________________________________________________________________________ (1). Paralelismo: analogia; semelhança; correspondência. (Dicionário Porto Editora) 54 A Fé como Experiência em Pedro em Actos Vimos na abordagem anterior, que a Fé como Experiência em Pedro gerava-se essencialmente num caminho de vida que podíamos dividir em 7 etapas. No livro de Actos, encontramos as duas últimas etapas: Integração na Comunidade e o Compromisso, que iremos aprofundar agora: Fontes Bíblicas Lectio Divina ACTOS As Etapas e os momentos (processos de Fé) na Experiência concreta da vida de Pedro. 1,15-26 2,1-12 Tema: Eleição de Matias. Para meditar: Neste episódio da eleição de Matias, verificamos já uma atitude de liderança(v15) em Pedro muito mais sólida e firme, e apoiada na autoridade do Espírito Santo(16). Outro pormenor interessante é a dimensão da comunhão na liderança partilhada entre todos (V17;24). Verificamos aqui também o conhecimento do AT em Pedro (V20). Tudo isto faz parte de um processo de integração na comunidade que Pedro vai aperfeiçoando no seu caminho. Tema: Pentecostes. Para meditar: Embora Pedro não seja aqui citado directamente, ele está presente no meio deste grupo que recebe o dom do Espírito Santo que lhe vai proporcionar a força necessária para o caminho do anúncio que o espera como vemos já logo a seguir deste episódio no seu 1º discurso. 55 2,14-47 3, 1– 11 Tema: 1ºDiscurso de Pedro à multidão. Para meditar: Neste discurso de Pedro, na forma como se coloca de pé, (a postura) e no erguer a voz, encontramos nestes gestos e palavras a autoridade em Pedro que “ali” está centrada unicamente em Cristo na força recebida antes no acontecimento do Pentecostes. Depois, para reforçar o seu discurso, sobretudo porque ali estariam certamente presentes, muitos judeus, cita-lhes a profecia de Joel, o que revela nele conhecimentos do AT como já dissemos anteriormente. Finalmente, este discurso de Pedro toca de tal forma os ouvintes, gerando neles uma transformação de tal ordem, que muitos se vão converter e baptizar, começando a dar forma à 1ª comunidade, considerada a “comunidade modelo”. Tema: Cura de um coxo. Para meditar: Encontramos aqui Pedro acompanhado de João, (recordem quem preparou a “Ceia do Senhor”). Aqui também verificamos que o seguimento de Cristo não provocou um rompimento total com o templo (v1). Reparem novamente no olhar fixo de Pedro e João( a fazer-nos recordar o olhar fixo de Jesus sobre Pedro Jo 1,42). Depois, a dependência de Pedro em Cristo (v6). Finalmente, o “Toque”(v7). A repetir-se aqui a experiência do toque também já testemunhada por Pedro em Jesus naquela mulher com o fluxo de sangue (Lc 8,23-48). 56 3,12-26 4,1-37 5,1-11 Tema: 2º Discurso de Pedro. Para meditar: Reparem na ousadia e o destemor de Pedro neste episódio, nas palavras que pronuncia perante aqueles que ele próprio agora acusa de serem os autores da morte de Cristo! Pedro testemunhando o poder que lhe era dado e actuava a partir da força de Cristo. Depois também a recordar-lhes a Promessa que estava reservada a eles (v26), a sua descendência e a aliança feita com eles! O apelo ao arrependimento e à conversão (v19). O anúncio da Parusia (v20-21). Novamente as profecias (v18)! Tema: Pedro e João perante o Sinédrio. Para meditar: Vemos aqui um Pedro acompanhado de João, cheios do Espírito Santo a falar sem temor, não só reafirmando a origem dos milagres por eles operados, mas continuando a acusar da morte de Jesus os que agora os interrogavam, afirmando ser Ele a Pedra angular. Outro dado importante em Pedro, a obediência a Deus em primeiro lugar. Novamente o aspecto comunitário, na partilha com todos os companheiros dos acontecimentos e da graça de Jesus operando neles e a partir deles, e a oração comunitária (V23-30). Outro “Pentecostes” acontecendo aqui também (v31). Por fim, a dimensão comunitária reafirmando-se e solidificando-se cada vez mais ( v32-37). Tema: Fraude de Ananias e Safira. Para meditar: Se existia alguma dúvida até agora sobre se o Espírito Santo já habitava realmente em Pedro, neste episódio ela acaba certamente. Afinal, quem é que revela a Pedro todos os passos deste casal? Outro aspecto é a autoridade de Pedro, não só na Palavra mas na força que ele leva em si, de tal forma que vai provocar a morte neles e ainda por cima a partir da palavra de Pedro! 57 Tema: Milagres dos Apóstolos. 5,12-16 Para meditar: Como já havíamos referido, a “Experiência da Fé” “gera - faz” muitas vezes a “Experiência do Toque” ou vice-versa. Aconteceu no contacto de Jesus com as pessoas e acontece agora no contacto de Pedro com as pessoas enfermas de corpo ou espírito! Pedro havia sido testemunha disso várias vezes na companhia de Jesus, ele próprio conhecia o sabor desse “Toque” que o salvara naquela noite de tempestade (Mt 14,30-31). Muitas vezes esse toque não é propriamente físico, ele acontece interiormente no coração; reparem como bastava a sombra de Pedro para que o milagre acontecesse! Tema: Prisão e libertação dos Apóstolos. 5,17-29 Para meditar: Neste 2º episódio da Prisão de Pedro, que agora está acompanhado também dos outros discípulos, acontecem nele e nos seus companheiros as mesmas reacções de coragem, destemor e denúncia como na 1ª prisão de Pedro com João (cap.4). Importa salientar que aqui são presos duas vezes, quase de seguida e a intervenção divina através de um anjo que os liberta. Vemos também a obediência ao que lhes fora pedido que era o anúncio da Palavra no Templo. 58 8,14-25 9,31-35 9,36-43 Tema: Pedro e João na Samaria. Para meditar: Verificamos aqui outra dimensão da comunhão comunitária (v14), no envio de Pedro e João à comunidade cristã da Samaria onde existiam já samaritanos baptizados (v16). Também é importante perceber o impor das mãos de Pedro e João aos samaritanos, que “sugere” outro “Pentecostes”. No discurso -diálogo que acontece aqui entre Pedro e Simão (v18-24) verificamos também muitas semelhanças-simetrias com o discurso de Paulo com o mago judeu em Chipre (Act 13,6-12). Tema: Pedro cura um paralítico. Para meditar: Pedro vai crescendo na sua forma de depender e perceber que é o Senhor que opera e actua a partir dele (v34). E Pedro vai amadurecendo e crescendo porque a sua “Fé” gera-se e actua sempre a partir da experiência com o outro que se cruza nos seus muitos caminhos (v32). Tema: Ressurreição de Tabitá. Para meditar: Neste episódio Pedro revive e faz a mesma experiência de fé que testemunhara com Jesus na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,35-43), só que agora é Pedro quem intervém directamente sem a presença física de Jesus. Alguns pormenores importantes: a sala de cima (v39) (a recordar-nos o lugar da última ceia); Pedro que fica só como Jesus, mandando sair todos (v40); a experiência do Toque (v41). Reparem nas semelhanças deste episódio com o que aconteceu com Paulo na ressurreição do jovem em Tróade (Act 20,712). 59 Tema: Visão de Cornélio em Cesareia .Visão de Pedro em Jope. 10,1-33 10,34-43 10,44-48 Para meditar: Aqui vemos Pedro ser não só parte importante expressa do conteúdo no anúncio do Anjo do Senhor, como também a ser o instrumento escolhido por Deus para anunciar a Cornélio e aos outros a sua Palavra e o seu Amor que não faz acepção de pessoas! Voltamos ao Pedro ainda muito humano nas suas resistências e recusas com Deus (v14) (imaginem depois da experiência do êxtase, a fazer-nos recordar o Pedro do episódio da Transfiguração), no contraste da humildade que nele habitava apesar de tudo (v26). Novamente a autoridade e a força moral em Pedro que carrega e atrai a escuta confiante de outros (v29). Tema: Discurso de Pedro na casa de Cornélio. Para meditar: Pedro dá um grande passo ao reconhecer aqui que Deus não faz acepção de Pessoas; que para ser agradável a Ele basta viver no temor d’Ele e na Sua justiça. Novamente o anúncio-denúncia sempre presente nos seus discursos, a partir do seu testemunho e dos profetas em relação aos factos vividos quando andava com Jesus . Tema: Baptismo dos primeiros pagãos. Para meditar: O Espírito Santo a actuar através de Pedro. Novo Pentecostes agora com pagãos. A autoridade que reconhece a misericórdia de Deus, expressa no seu pedido para que se baptizem os pagãos que foram alvo do derramamento do Espírito Santo. 60 11,1-18 12,1-19 Tema: Pedro justifica o seu procedimento. Para meditar: Numa interpretação mais descuidada desta passagem certamente que nos pareceria ver aqui um Pedro ainda muito preocupado com a opinião dos seus companheiros! Mas não é isso realmente o que está patente nas suas palavras. Pedro não justifica mas expõe (v4), as razões do seu procedimento anterior com Cornélio e os pagãos. E Pedro reforça esse seu procedimento baseado sobretudo nas palavras de envio do Espírito Santo (v12). Interessante a sua a certeza que ninguém se pode opor a Deus, mesmo que o caminho a trilhar seja o absurdo, um dos caminhos que o discípulo irá sempre encontrar e trilhar no seguimento de Jesus. Tema: Execução de Tiago e Prisão de Pedro. Para meditar: Novamente a prisão de Pedro como que a anunciar o seu futuro! Novamente a intervenção divina através de um anjo e o esclarecer no seu coração, todo o significado deste acontecimento. Finalmente, a dimensão da pertença à Comunidade, na oração de toda a Igreja (v5); no dirigir-se especificamente ao lugar onde se reunia a Comunidade e na partilha com todos sobre os acontecimentos vividos. Terminamos este itinerário da ―Fé como Experiência‖ em Pedro, através do relato do seu companheiro das maiores experiências com Jesus, o Apóstolo S. João. Nelas, João relata o diálogo entre Jesus e Pedro, antevendo já, de certa forma, uma das maiores ―Experiências‖ que Pedro irá experienciar no fim do seu caminho de Fé que é o Martírio: 61 “Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.» E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras, acrescentou: «Segue-me!»” (Jo 21, 18-19). ________________________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 62 Vida de Igreja Experiência - Caminho Eclesial 63 PENTECOSTES “Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: «Que significa isto?» Outros, por sua vez, diziam, troçando: «Estão cheios de vinho doce.” (Actos 2,1-13). Antes de nos debruçarmos sobre o tema do Pentecostes, seria importante perceber um pouco a estrutura base do Livro de Actos e qual o objectivo do autor. 1. Quanto à sua estrutura, o livro de Actos acentua algumas temáticas, tais como: Missão; Vida Comunitária e de Comunhão, a partir da vivência experimental do Espírito Santo como dom emergente de Deus. 2. O objectivo principal do autor era acentuar que o novo tempo, um novo céu e uma nova terra deveriam ser inaugurados na Comunidade-Igreja com as suas dificuldades reais, não mais centralizadas na Parusia, mas sobretudo, na prática cristã no meio do mundo, procurando desta forma, resgatar essas temáticas, ensinando os receptores do texto de Actos a viverem agora a longo prazo. 64 Outro dado importante a reter é que no livro de Actos o autor fala não só de um Pentecostes mas de vários: 1. O do Movimento de Jesus, em Jerusalém (At 2,1-13). 2. Outro Pentecostes em Act 4,31. 3. Em Act 8,17 relata o Pentecostes dos Samaritanos. 4. Em Act 10,44-45 Lucas relata o Pentecostes dos pagãos. 5.Estes recebem o Espírito ao ouvir a Palavra do apóstolo Pedro, antes de serem baptizados; O Espírito vai sempre vai na frente; permeia toda a realidade, está em tudo, inunda e contagia tudo e todos. 5. Em Paulo (19,4-6). No NT, Lucas é o único que narra sobre o Pentecostes. Paulo tinha consciência do dom do Espírito Santo (Gl 3,2), mas não fala do Pentecostes. Já João, fala do sopro do Espírito Santo (Jo 20,22), mas também não fala do Pentecostes. A descida do Espírito Santo no Pentecostes Vemos neste episódio do Pentecostes, dois momentos distintos. No primeiro momento, (Act 2,1-4) a descida do Espírito Santo como dom prometido por Jesus (At. 1, 8; Lc 24, 29; Jo 15, 26; 16, 7. 13). E, no segundo momento, o fenómeno das línguas como a linguagem do Espírito, onde todos podem compreender-se e, por isso, maravilhar-se das experiências com o Sagrado e da experiência e convivência com o outro, a partir da experiência da linguagem do amor. Lucas inspira-se nos relatos do Sinai, para descrever os sinais, ―hierofania” (1) que aconteceram no Pentecostes… percebe-se, uma forte ligação com a narração de Ex. 19, 2,8; 20,2. Segundo o autor, no Pentecostes, a presença do Espírito, penetra visível e sentimentalmente a Igreja. Esta presença é marcada por um ―som‖, como de um vento impetuoso, relacionado com ―Pneuma‖ em hebreu ―Ruah‖, (2) e o fogo que recordam os relâmpagos, trovões e o fogo do Sinai (Ex 19, 16-19; Dt 5, 4s; Hb 12, 18s)‖. A simbologia das ―línguas‖ é muito evidente nessa narrativa. Para Lucas o fogo tem forma de línguas e repousa sobre cada um presente no Cenáculo. Essas línguas representam a universalidade da Igreja e a sua capacidade de comunicar com o mundo. O fogo, ―símbolo da vitalidade e do esplendor de Deus‖ representa o baptismo anunciado no primeiro livro de Lucas: “Ele há-de bapti65 zar-vos no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16). Importa sublinhar que Deus é sempre o destinatário da oração em línguas, trata-se de uma atitude de alguém em diálogo directo com Deus. Já com a Comunidade, a relação é diferente, esta passa a ser o destinatário quando alguém fala em línguas. O objectivo do primeiro relato do Pentecostes, é chamar a atenção para o factor carismático e apocalíptico do Pentecostes. Lucas em (Act 1,1-4.12-13) descreve o Pentecostes como um "falar noutras línguas", o que significa Glossolalia (falar em línguas)(2) ou a Xenolalia (falar em línguas estrangeiras). Já no segundo relato (Act 1,5-11) ele é mais profético e missionário; aqui a beleza do Pentecostes está em que "cada um fala a sua própria língua" (esta expressão repete-se 3 vezes (At 2,6.8.11) e todos entendiam. Quer dizer, a riqueza do Pentecostes é a comunicação que se cria entre pessoas e grupos diferentes, onde cada um mantém a sua própria "língua - cultura". O diferente é acolhido para enriquecimento; o outro não é visto como uma ameaça e a unidade faz-se na pluralidade e na diversidade. Finalizando: um acontecimento constante que acontece no seio da comunidade, e que a impulsiona em direcção ao mundo, criando uma experiência que não fica restrita às paredes do lugar onde ela se reúne e nem aos limites que os homens estabelecem: todo o homem e mulher escuta, na sua própria língua, o Amor do Pai. _______________________________________________________________________ (1). A manifestação de algo «de ordem diferente» — de uma realidade que não pertence ao nosso mundo — (ex: o Sagrado) em objectos que fazem parte integrante do nosso mundo «natural», «profano». (2). Glossa (grego) significa língua; lalia (grego) significa o acto de falar línguas. Glos-so+lalia: palavra formada dos dois termos gregos que se refere ao dom de línguas que é um milagre divino que o Espírito Santo concede a alguns, o poder de falarem em idiomas, os quais não aprenderam pelos processos naturais, a fim de testemunharem de Jesus Cristo. Dicionário de Filosofia - (António Rodrigues Gomes ) Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 66 A Pregação em Pedro Apesar de serem cinco os discursos que encontramos no livro dos Actos dos Apóstolos, iremos fazer apenas a abordagem dos três discursos que me parecem os mais ―significativos‖. São eles: o 1º discurso após o Pentecostes, o 2º discurso à Porta Formosa após a cura de um homem coxo e por último, o discurso na casa de Cornélio. 1º Discurso: (Actos 2,14-41). De todas as pregações de Pedro, a primeira é sem dúvidas, aquela que marca definitivamente os primeiros dias da Igreja que começava a tomar ―forma‖! Certamente que o acontecimento do Pentecostes é o momento central e crucial, mas que corria o risco de deixar em todos os que o presenciaram, um caminho que se situaria apenas num contexto do fenómeno pleno de sinais incompreensíveis, tanto no conteúdo como na mensagem que deles partia, ―abrindo‖ assim espaço à confusão, como verificamos pela reacção de muitos que o presenciaram (Act 2, 12-13). È precisamente o discurso de Pedro que vai criar um impacto profundo naquelas pessoas, e ele acontece de tal forma, que leva à conversão de três mil pessoas (Act 2,41). Neste 1º discurso, que é essencialmente cristocêntrico, verificamos isso em todos os seus discursos: (Act 2,22-36; 3.12-26; 4.812; 5.29-32; 10.34-43; 11.5-17; 15.7-11), Pedro apresenta os elementos básicos e fundamentais na Fé que tomam vida, sobretudo nos Evangelhos: Ministério (2,22), Morte (2,23), e Ressurreição de Jesus (2,24). O cumprimento das Profecias (2,25), que é a citação do Salmo 16,8-11. O apelo ao Arrependimento e Conversão seguidos do Baptismo. (2,38-41). Outro elemento importante nos discursos de Pedro é a sua preocupação em desviar a atenção dos ouvintes dos milagres que iam acontecendo e que tinham o efeito contrário ao que este pretendia, focalizando a atenção destes apenas na Palavra, eliminando assim o efeito do deslumbramento e o consequente perigo 67 da idolatria, pois as pessoas tomavam Pedro como alguém que apenas realizava milagres! Recordemos por exemplo o episódio da cura do homem coxo na Porta Formosa (3,1-26). 2º Discurso: (Actos 3,12-26). Neste 2º discurso, encontramos duas partes distintas: a primeira parte tem um carácter mais Apologético,(1) onde Pedro procura mostrar que aquele milagre era de origem divina, vinha de Jesus o mesmo que os Judeus haviam crucificado, mas a quem Deus havia ressuscitado, e a outra parte, tem um carácter mais Exortativo,(2) de forma a animar os que ali estavam presentes ao arrependimento e à Fé em Jesus Cristo. Quanto ao tema, no discurso do Pentecostes e neste 2º discurso são iguais: a culpabilidade e a fidelidade de Deus à promessa de salvação feita aos judeus apesar de estes terem rejeitado o Senhor, promessa que seria actualizada em Jerusalém, e que só estava condicionada pelo acolhimento neles do arrependimento e à conversão. È interessante como o apelo à conversão no 2º discurso ocupa maior espaço, enquanto no discurso do Pentecostes a preocupação maior de Pedro tem a ver com o tema do Cristocentrismo. A afirmação fundamental deste discurso encontramo-la na 1º parte, quando Pedro afirma que só a partir da Fé em Jesus Cristo é que aquele milagre foi possível e não por mérito próprio ou nas suas forças naturais (3,11-18). Já a 2ª parte do discurso, volta a ser como o primeiro, com exortações ao arrependimento e à fé no Messias, que foi destinado primeiramente aos judeus e a quem o autor volta a chamar de ― Servo de Deus‖ (3,19-26). O tema da Parusia volta a aparecer também neste discurso, mas de uma forma indirecta. Discurso de Pedro na casa de Cornélio: (10,34-43). È o primeiro discurso de Pedro ante um auditório não judeu. Nele, Pedro começa por reconhecer que não existe em Deus nenhuma acepção de pessoas, e isso está bem patente na Sua acção no meio dos homens, e o que o que conta para Ele é o interior do homem e não o seu exterior. Neste discurso acentuase claramente a ―universalidade‖ da salvação que é oferecida por Deus não só ao povo judeu mas também aos gentios, promessa 68 que é já fortemente expressa no Pentecostes. Também aqui Pedro apela à memória dos presentes, reavivando na mente destes o testemunho dos profetas. Resumindo: podemos dizer que a finalidade deste discurso é sobretudo alargar o coração destes homens a uma compreensão mais profunda, a partir da luz da actuação de Deus, e ao que aconteceu com eles, que antes eram pagãos. ____________________________________________________ (1). Argumentação em defesa de uma teoria ou doutrina. Apolegética: Disciplina filosófico -religiosa da Teologia que expõe e defende os fundamentos da religião católica (Dicionário Porto Editora). (2). Persuadir, mediante palavras ou discursos, a fazer alguma coisa; procurar convencer; incitar; incutir coragem em… 2. Advertir. 3. Admoestar (Do lat. cl. exhortári, pelo lat. vulg. *exhortáre, «exortar») (Dicionário Porto Editora). Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 69 A 1ª Comunidade de Actos “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.” (Act 2,42-47). (Actos 4,32-37). O surgimento da 1ª comunidade de cristãos nasce e forma-se precisamente a partir de todos aqueles que haviam escutado o 1º discurso de Pedro, que vinha reforçado pelo acontecimento do Pentecostes e agora, se convertem e se baptizam não só em resposta ao apelo de Pedro. (2,1-41), mas sobretudo porque começavam a fazer a mesma experiência que Pedro havia vivido, que era a misericórdia do Senhor. E torna-se claro, que aqui há uma espontaneidade e um nascer de uma necessidade de comunhão que foge a qualquer programa que o homem possa estabelecer! È Jesus quem cria o desejo de comunhão e é Ele quem chama à comunhão a partir de corações convertidos e apaixonados pelo seu ideal de Comunidade que assenta sobretudo em quatro pilares básicos: 1. O Ensino dos Apóstolos. 2. A Comunhão. 3. O Partir do Pão. 4. A Oração e o Louvor a Deus. De forma resumida, abordemos então estes 4 pilares básicos que ―fazem‖ Comunidade: 1. O Ensino dos Apóstolos: todo o ensino de Pedro e dos seus companheiros, passa a ter como referência na interpretação da vida sempre a partir da Ressurreição. Isto pressupõe dos ouvin70 ouvintes uma ruptura com o ensinamento dos doutores da lei, seguindo agora Pedro e os companheiros, no paradoxo da sua ―iliteracia‖ (Act 4,13). Surge então um novo conceito da Palavra a partir do testemunho dos Apóstolos que lhes chegava sobretudo dos sinais de Deus que se iam realizando na Comunidade (Act 2,43; 4,33; 5,12.15-16). O ensinamento dos Apóstolos passa a ser a nova interpretação da vida e da Bíblia agora a partir da experiência da Ressurreição. Isso implicou e exigiu neles a coragem de romper com o ensinamento dos doutores da época, e seguir agora o testemunho dos Apóstolos, considerados pessoas sem instrução (At 4,13), porque começam a ―considerar‖ a palavra dos apóstolos como Palavra de Deus (1Tes 2,13), ampliando assim o conceito de Palavra de Deus! Por outro lado, esta confiança depositada na palavra dos Apóstolos traz também implícita nela, para os Apóstolos, o assumir e acolher as questões que a comunidade passa também a colocar-lhes (Gl 2,11-14;At 11,3) assim como a prestarem contas dos seus passos (Act 11,4-18), numa relação recíproca de confiança e autoridade partilhada, que são duas dimensões genuínas da verdadeira comunidade cristã! 2. A Comunhão: neste pilar, encontramos o ideal da comunhão na Comunidade, que passa por um novo conceito da partilha! Agora, nessa partilha, já não estão implícitos apenas os bens, mas toda uma experiência nova de vida que os faz tornarem-se numa só alma e num só coração (Act 4,32; 1,14; 2,46), ultrapassando e derrubando qualquer muro que pudesse ali estar presente, seja ao nível da raça, dos povos ou mesmo religioso (Gl 3,2628; Cl 3,11; 1Cor 12,13). 3. O Partir do Pão: neste gesto, a comunidade recordava também o gesto de Jesus no partir do Pão com os pobres (Jo 6,11), e com os Discípulos quando lhes abre o olhar para a sua Presença real (Lc 24,30-35); a Páscoa do Senhor (1Cor 11,23-27); actualizando no tempo presente que viviam agora como comunidade, a morte e ressurreição do Senhor (1Cor 11,26). Importa sublinhar que este ―Partir do Pão‖ era feito nas casas (Act 2,46;20,7) o que apesar da sua beleza de comunhão, carrega também riscos, refiro-me sobretudo àqueles abusos que Paulo vai criticar na sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 11,1822.29-34). 71 4. A Oração e o Louvor a Deus: é precisamente através da oração e o louvor de quem se sabe agraciado por Deus, que a comunidade permanece unida entre si e com Deus, fortalecendose nos momentos da perseguição! Ao rezarem os salmos e lendo o AT, a comunidade acaba por provocar um novo Pentecostes (Act 4,27-31). Importa sublinhar que aqui não acontece um romper total com os costumes religiosos do povo, pois continuavam a frequentar o Templo (Act 2,46). Finalizando, uma comunidade cuja vida está alicerçada nestes quatro pilares, é o melhor canal de comunicação do Evangelho. Quem assim vive o Evangelho, não só atraí a simpatia do povo como faz crescer a própria comunidade (At 2,47). Embora esta 1ª comunidade seja um modelo para as comunidades de hoje, é importante perceber e estarmos conscientes que isso não ―exige‖ que sigamos à ―letra‖ a sua forma de proceder! Sabemos que os tempos e as situações de hoje são completamente diferentes, e que se desenvolvem num processo contínuo, o que de certa forma é positivo, porque ―obriga‖ a desinstalarmonos! O importante é que na fidelidade ao Senhor, saibamos adaptarmo-nos sem perder de vista as referências essenciais que estão contidas nestes 4 pilares. ————————————————————————————— Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 72 MILAGRES Os caminhos na história da Igreja, desde o grande milagre da Criação até aos milagres dos nossos dias, estão profundamente marcados pelos milagres que ficaram registados nas Escrituras Sagradas. Quem faz a experiência da Fé experimenta a certeza de Cristo vivo no seu coração. E uma das consequências de estar e viver com Jesus é-nos apresentada no Evangelho de Jo 14,12: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.” (Jo 14,12-14). O milagre é a confirmação destas palavras. Se cremos na Palavra de Jesus, ela torna-se realidade em nós e por nós com o mesmo poder que foi dado aos Apóstolos: “Curai os enfermos, res- suscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios…” (Mt 10,8). O livro dos Actos dos Apóstolos é a prova incontestável que os milagres acompanhavam a pregação dos primeiros cristãos: “Entretanto, pela intervenção dos Apóstolos, faziam-se muitos milagres e prodígios no meio do povo.” Act 5,12. 1151. Sinais assumidos por Cristo. Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus (21). Realiza as suas curas ou sublinha a sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos (22). Dá um sentido novo aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa (23), porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais. (1) Ao logo das escrituras, torna-se claro que um dos objectivos dos milagres no ministério de Jesus era dar autenticidade e confirmar assim a sua mensagem. (Jo 3,2); (Heb 2,4). Através dos milagres, Jesus também anunciava a vinda do Reino de Deus ( Actos 8,4-13). Os milagres em Actos têm duas intervenções claras de Deus: 73 Na primeira, Deus intervém directamente através de milagres: no Pentecostes no milagre das línguas (2,4); os Apóstolos tirados da prisão (5,19); A cegueira de Saulo (9,3) Pedro libertado da prisão (12,6); a mordidela da víbora em Paulo (28,5). Na segunda, Deus intervém através dos Apóstolos ou através de outros homens como aconteceu com Ananias: Pedro: a cura de um coxo. (3,1-10); a morte de Ananias e Safira. (5,5-11); a cura de vários enfermos (5,16); a cura de Eneias (9,34); a ressurreição de Tabita (9.40); Estêvão: vários milagres (Act 6,8). Felipe. Cura de possessos, numerosos paralíticos e coxos (8. 47). Paulo: cura da cegueira de Elimas (13.11); cura do aleijado de Listra (14.8-10); uma jovem é liberta de um espírito adivinhador (16.16-18); vários milagre (19.11); ressuscita Eutico ressuscita (20,7-12); a cura do pai de Públio e outros enfermos ( 28,8-9). Ananias: restaura a vista de Saulo (Act 9,17) Finalizando, através dos milagres, a Glória de Deus torna-se claramente manifesta (Jo 9,1-5). ____________________________________________________ (1). Catecismo da Igreja Católica (site do Vaticano) Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 74 Perseguições “Tende cuidado com os homens: hão-de entregar-vos aos tribunais e açoitar-vos nas suas sinagogas; sereis levados perante governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e dos pagãos. Mas, quando vos entregarem, não vos preocupeis nem como haveis de falar nem com o que haveis de dizer; nessa altura, vos será inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis vós a falar, mas o Espírito do vosso Pai é que falará por vós. O irmão entregará o seu irmão à morte, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os pais e hão-de causar-lhes a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo.” (Mt 10,17-22). A primeira referência importante que devemos ter em conta ao abordar as perseguições no livro de Actos, sobretudo as de Pedro, assim como as primeiras perseguições dos cristãos, é que elas nascem num ambiente judaico vindo a crescer por todas as partes do mundo ao longo dos tempos. Estas perseguições surgem e têm origem, a maior parte das vezes por razões políticas e de inveja, e não directamente por razões religiosas (Act 5,12-19) ao contrário do que se possa pensar! No caso especifico de Pedro, que partilha dessa mesma experiência da perseguição e cárcere com João, essas razões ainda mais se acentuam, sobretudo a partir dos ataques vindos dos líderes religiosos do tempo oriundos do partido dos saduceus. No entanto, estas perseguições e prisões têm exactamente o efeito contrário que esperavam aqueles que os perseguiam, pois em vez de enfraquecer, ainda aumentava mais a coragem nos perseguidos, que não vão desistir de anunciar a Boa Nova, mesmo com risco da própria vida, provocando assim o aumento e a disseminação dos seus seguidores, sobretudo a partir da força do testemunho. Resumindo, as perseguições do Apóstolo Pedro acontecem em 3 ocasiões: A 1ª perseguição (4,1-22). 75 A 2ª prisão com a intervenção de Gamaliel (5,17-42) A prisão em que é libertado por anjos (12,1-18). A partir da narração dos acontecimentos destas 3 perseguições, podemos assumir que as razões principais que levaram às várias prisões de Pedro eram sobretudo: o ensino sobre Cristo que havia sido proibido e continuava a ser desfiado pelos Apóstolos, (Act 4,18) e ainda mais, porque nele vinha expressa a acusação dos Apóstolos aos Judeus pela morte de Jesus (Act 5,28). Pedro sabe do risco que corre, mas o que mais importava no seu coração era obedecer ao Mestre, por isso, não cessa nunca de falar sobre Cristo (5,29 - 42). È interessante para nós perceber também o papel de Gamaliel na história de Pedro e da Igreja! Em Gamaliel, nas suas palavras, está expresso o caminho que prova a solidez e a verdade genuína de toda a obra de Deus nos homens: “Se o seu empreendimen- to é dos homens, esta obra acabará por si própria; mas, se vem de Deus, não conseguireis destruí-los, sem correrdes o risco de entrardes em guerra contra Deus.”(Act 5,38-39). Termino com a grande exortação de Pedro na sua primeira carta. São palavras profundamente carregadas de compaixão e certeza da esperança. São palavras que só podem sair de um coração que já experimentou e conhece o sabor da perseguição por causa do seu amor a Cristo: “Porque os olhos do Senhor fixam-se nos justos e os ouvidos do Senhor estão atentos às suas súplicas; mas o seu rosto volta-se contra os que fazem o mal. Os que sofrem injustamente. E quem vos poderá fazer mal, se fordes zelosos em praticar o bem? Mas, se tiverdes de padecer por causa da justiça, felizes de vós! Não temais as suas ameaças, nem vos deixeis perturbar; mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça”(1Pedro 3,12-16). ____________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 76 O Primado de Pedro na Igreja “Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu. “ Mateus 16,18-19. 77 O Primado de Pedro PAPA BENTO XVI (Catequese) Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja Queridos irmãos e irmãs! Retomamos as catequeses semanais que iniciámos nesta primavera. Na última, de há quinze dias, falei de Pedro como o primeiro dos Apóstolos; hoje, queremos voltar mais uma vez sobre esta grande e importante figura da Igreja. O evangelista João, narrando o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André, regista um acontecimento singular: Jesus, "fixando nele o olhar... disse: "Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas que significa Pedra"" (Jo 1, 42). Jesus não costumava mudar o nome aos seus discípulos. Se excluirmos o apelativo de "filhos do trovão", dirigido numa circunstância precisa aos filhos de Zebedeu (cf. Mc 3, 17) que não voltou a usar sucessivamente, Ele nunca atribuiu um novo nome a um discípulo seu. Mas fê-lo com Simão, chamado Cefas, nome que depois foi traduzido em grego Petros, em latim Petrus. E foi traduzido precisamente porque não era só um nome; era um "mandato" que Pedro recebia daquele modo do Senhor. O novo nome Petrus voltará várias vezes nos Evangelhos e terminará por substituir o nome originário, Simão. O facto adquire relevo particular se se considera que, no Antigo Testamento, a mudança do nome anunciava em geral a designação de uma missão (cf. Gn 17, 5; 32, 28ss, etc.). De facto, a vontade de Cristo de atribuir a Pedro um papel especial no âmbito do Colégio apostólico resulta de numerosos indícios: em Cafarnaum o Mestre é hospedado em casa de Pedro (Mc 1, 29); quando a multidão se comprime nas margens do lago de Genesaré, entre as duas barcas ali ancoradas, Jesus escolhe a de Simão (Lc 5, 3); quando em circunstâncias particulares Jesus se faz acompanhar só por três discípulos, Pedro é sempre recordado como primeiro do grupo: assim na ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 9, 2; Mt 17, 1; Lc 9, 28), e por fim durante a agonia no Horto do Getsémani (cf. Mc 14, 33; Mt 16, 37). E ainda: dirigem-se a Pedro os cobradores do imposto para o Templo e o Mestre paga para si e somente para ele (cf. Mt 17, 24-27); a quem lava primeiro os pés é a Pedro (cf. Jo 13, 6) e reza unicamente por ele para que não lhe venha a faltar a fé e possa depois confirmar nela os outros 78 discípulos (cf. Lc 22, 30-31). De resto, o próprio Pedro tem consciência desta sua posição particular: com frequência é ele que, em nome também dos outros, toma a palavra para pedir a explicação de uma parábola difícil (Mt 15, 15), ou o sentido exacto de um preceito (Mt 18, 21) ou a promessa formal de uma recompensa (Mt 19, 27). Em particular, é ele quem resolve o embaraço de determinadas situações intervindo em nome de todos. E também quando Jesus, desanimado pela incompreensão da multidão depois do discurso sobre o "pão de vida", pergunta: "Também vós quereis ir embora?", a resposta de Pedro é peremptória: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna" (cf. Jo 6, 67-69). Igualmente decidida é a profissão de fé que, ainda em nome dos Doze, ele faz perto de Cesareia de Filipe. A Jesus que pergunta: "Vós quem dizeis que Eu sou?", Pedro responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16, 15-16). Em resposta Jesus pronuncia então a declaração solene que define, de uma vez para sempre, o papel de Pedro na Igreja: "Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu" (Mt 16. 18-19). As três metáforas às quais Jesus recorre são em si muito claras: Pedro será o fundamento rochoso sobre o qual apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do Reino dos céus para abrir ou fechar a quem melhor julgar; por fim, ele poderá ligar ou desligar no sentido que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja, que é e permanece Cristo. É sempre Igreja de Cristo e não de Pedro. Deste modo, é descrito com imagens de plástica evidência o que a reflexão sucessiva qualificará com a palavra de "primazia de jurisdição". Esta posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro verifica-se também depois da ressurreição: Jesus encarrega as mulheres de ir anunciar a Pedro, distintamente dos outros Apóstolos (cf. Mc 16, 7); Madalena vai ter com ele e com João para os informar que a pedra tinha sido afastada da entrada do sepulcro (cf. Jo 20, 2) e João dá-lhe a precedência quando chegam diante do túmulo vazio (cf. Jo 20, 4-6); será depois Pedro, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de uma aparição do Ressuscitado (cf. Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu papel, realçado com decisão (cf. Jo 20, 3-10), marca a continuidade entre a preemi79 nência obtida no grupo apostólico e a preeminência que continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos pascais, como afirma o Livro dos Actos (cf. 1, 15-26; 2, 14-40; 3, 12-26; 4, 8-12; 5, 1-11.29; 8, 14-17; 10; etc.). O seu comportamento é considerado tão decisivo, que está no centro de observações e também de críticas (cf. Act 11, 1-18; Gl 2, 11-14). Ao chamado Concílio de Jerusalém Pedro desempenha uma função directiva (cf. Act 15 3; Gl 2, 1-10), e precisamente por este seu ser como testemunha da fé autêntica o próprio Paulo reconhecerá nele uma certa qualidade de "primeiro" (cf. 1 Cor 15, 5; Gl 1, 18; 2, 7s.; etc.). Depois, o facto de que vários textos-chave relativos a Pedro possam ser relacionados com o contexto da Última Ceia, na qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 31s.), mostra como a Igreja que nasce do memorial pascal celebrado na Eucaristia tenha no ministério confiado a Pedro um dos seus elementos constitutivos. Esta contextualização da Primazia de Pedro na Última Ceia, no momento institutivo da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último desta Primazia: Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve guiar à comunhão com Cristo; deve preocupar-se por que a rede não se rompa e assim possa perdurar a comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é garantir assim a comunhão com Cristo com a caridade de Cristo, conduzindo à realização desta caridade na vida de todos os dias. Reze-mos para que a Primazia de Pedro, confiada a pobres pessoas humanas, possa ser sempre exercida neste sentido originário querido pelo Senhor e, assim, possa ser cada vez mais reconhecida no seu verdadeiro significado pelos irmãos que ainda não estão em plena comunhão connosco. __________________________________________________________ Referências: Site do Vaticano PAPA BENTO XVI - AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira, 7 de Junho de 2006 80 O Primado de Pedro instituído pelo Senhor «Primeiro Simão, também chamado Pedro. Com estas significativas palavras, São Mateus inicia a sua lista dos Doze Apóstolos. De igual modo o fazem outros dois Evangelhos sinópticos, e a lista que aparece nos Actos dos Apóstolos. Com grande força testemunhal, o Evangelho vai nos transmitindo uma verdade relativa a Pedro e ao seu papel no grupo dos Doze, verdade que vem do próprio Cristo. Esta verdade se fará mais explícita quando, em Cesareia de Filipe, Pedro faz a sua profissão de fé e o Senhor pronuncia aquelas palavras que a tradição conservou como um tesouro precioso: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja». A Igreja universal traduz o sentido dessas palavras institucionais com a forma latina: ―Tu es Petrus‖. Com estas palavras o Senhor confia solenemente a Pedro o ofício do primado, que se transmitirá também aos seus sucessores. Elas vieram a significar todo um compromisso com a fé da Igreja, toda uma atitude frente à sua vida e à sua missão, um sinal que manifesta a aceitação do Plano de Deus em quem a ele adere. São João, o discípulo amado, nos legará também um relato de riquíssimo conteúdo teológico quando, depois da Ressurreição, o Senhor confirma Pedro na sua missão particular, inclusive apesar de suas fragilidades. O termo utilizado ―apascenta [poimaine em grego] as minhas ovelhas‖ indica que essa tarefa não consiste unicamente em alimentar, mas também em governar. Trata-se de uma missão que Cristo confia exclusivamente a Pedro, e que compete tão-somente a ele de entre a comunidade dos Apóstolos. Pedro, Bispo de Roma Pedro, primeiro Papa, bispo de Roma Por isso, já nas primeiras comunidades cristãs, como mais tarde em toda a Igreja, a imagem de Pedro é aquela do Apóstolo que, apesar de sua debilidade humana, foi constituído expressamente por Cristo em primeiro lugar entre os Doze e chamado a desenvolver na Igreja uma própria e específica função. Porém, não há dúvida que desde o início do peregrinar da Igreja se viveu a pri81 mazia do Bispo de Roma. Como tantas outras verdades entesouradas pela Igreja, o Espírito Santo iria iluminando a fé da Igreja para aprofundar na compreensão desta realidade. Da presença de São Pedro em Roma temos múltiplas evidências históricas, tanto arqueológicas como literárias. Ainda que não se mencione expressamente no Novo Testamento, é muito possível que a sua primeira carta fosse escrita de Roma, pois ali lê-se: «Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho. Saudai-vos uns aos outros com um ósculo de irmãos que se amam. Paz a todos vós, que estais em Cristo», sendo ―Babilónia‖ um nome utilizado na antiga literatura cristã para referir-se a Roma. Assim mesmo, antigos escritores eclesiásticos, como Papías de Hierápolis (século II) e Clemente de Alexandria (século I) fazem menção da estada de Pedro em Roma. De igual modo, São Clemente Romano (século I), terceiro sucessor de São Pedro, recorda seu martírio na Cidade Eterna. A isso se somam numerosos argumentos arqueológicos. Dão testemunho da permanência em Roma, e particularmente de sua morte, a investigação realizada em torno da tumba do Apóstolo, em especial após os descobrimentos realizados no século XX sob a Basílica de São Pedro. O que a Tradição havia conservado e transmitido com fidelidade durante vinte séculos foi confirmado pelas escavações iniciadas sob o Pontificado do Papa Pio XII, que levaram a descobrir, justamente debaixo do Altar-mor da Basílica, uma tumba e inscrições que indicam, com grande probabilidade, de que se trata da tumba do Príncipe dos Apóstolos. Uma verdade transmitida pela Tradição A Tradição – coincidindo com os dados bíblicos – transmitiu a verdade sobre o primado de Pedro ao longo dos séculos. A história dá testemunho de que desde os primeiros tempos a sede romana, fiel às palavras de Cristo, sempre reclamou para si o primado, e que esse primado foi sempre e livremente reconhecido pela Igreja universal. Os testemunhos mais antigos que possuímos são do Papa Clemente, por volta do ano 90, quando envia uma carta à comunidade de Corinto para dirimir uma questão então discutida. Anos depois, outro grande santo, Inácio de Antioquia, referia-se à Igreja de Roma como a que «está posta à cabeça da caridade». A palavra em grego para «caridade» é ága82 pe, e ao utilizar esta palavra, Inácio referia-se a toda a Igreja. Portanto, já no tempo de Santo Inácio, início do século II, era claro que a Igreja de Roma se encontrava à cabeça de toda a comunidade Cristã. Vanderlúcio Souza (corrigido) ____________________________________________________ Fontes Bíblicas: . O Primado de Pedro instituído pelo Senhor: Mt 16,17-19. . O primeiro entre os apóstolos: Mt 10,12; Mc 3,16; Lc 6,14; At 1,13; Jo 21,15-17. Pedro Bispo de Roma: 1Pe 5,13. Bíblia Sagrada - Difusora Bíblica – Capuchinhos. 83 84 1ª Carta de Pedro Ao abordarmos as duas cartas de S. Pedro, seria importante que tivéssemos sempre em conta a sua relação directa a partir da Experiência de Fé em Pedro e a forma como elas falam e expressam na realidade a vida de Pedro! Ao meditar e estudar estas cartas, podemos encontrar algumas pistas e caminhos da Fé que nos possibilitem ser mais genuínos como discípulos do Senhor à imagem de Pedro e de tantos outros que seguiram o Mestre até aos nossos dias. Esquema de estudo: Faremos a abordagem de cada capitulo de uma forma sintética, resumindo os conteúdos do capítulo a partir das necessidades concretas do caminho do Discipulado. 1ª Carta de Pedro 1º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 1, 1-25 Saudação Inicial Durante a saudação inicial, Pedro “reescreve” quase todos os conteúdos dos seus discursos em Actos: a misericórdia de Deus e o nascer de novo através da ressurreição de Cristo(v3); a esperança viva(v3); a Parusia(v5); a Fé que crê mesmo sem ver(v8); um dos “objectivos” do discipulado que é fazer discípulos(v9); as provações que Pedro passou e todos nós passamos(v6); a herança deixada através do testemunho dos profetas(v10); a chamada à santidade(v15); o amor a todos(v22); enfim, vivendo sempre como peregrinos (a vida do cristão não é mais que uma peregrinação na Terra), para receber a herança que nos está destinada(v4). Sublinho aqui também o gesto da paz(v2), de Pedro, como que a recordar também o mesmo gesto de Jesus na sua aparição aos Discípulos depois da sua ressurreição (Lc 24,36). 85 1ª Carta de Pedro 2º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 2,1-25 Como crianças recém-nascidas . Cristo, pedra angular. OS CRISTÃOS PERANTE O MUNDO Exortação inicial Obediência às autoridades Obediência dos escravos O Bom Pastor Pedro recorda aqui a necessidade do Discípulo ser(v2) como crianças(Mc 10,13-16), que anseiam (implica aqui um desejo), pelo leite espiritual, sem adulterações (a manipulação humana), que faça desenvolver-fortalecer aquele que é ou deseja ser Discípulo, aquele que já experimentou o sabor de Deus através do perdão e do amor(v3). Pedro não só pede que se tenha o espírito de uma criança, como também a força e a consistência de uma pedra(v5) que faz parte da construção de um edifício (Igreja), que também se sustenta pela herança deixada pelos profetas(v6). Fantástica toda a passagem sobre o tema da linhagem dos escolhidos por Deus(v9-10). A 2ª parte deste capítulo, faz-nos regressar à condição de cada um de nós neste mundo, estrangeiros e peregrinos nesta terra(v11). Pedro viveu e sentiu bem essa condição, sabendo que só pelo testemunho podia aproximar os outros desse Cristo de quem ele também se “apaixonara” até ao limite da cruz em Jerusalém, na sua submissão(13) plenamente humanizada, mas livre, sabendo que aquele que sofre por amor(v20) do Senhor, obedece à chamada(v21) que é seguir Cristo mesmo na cruz(21). Pedro termina este 2º capítulo com a figura do Bom Pastor(v25, (porque ele sabia e experimentara que aquele que ama o Pastor, ama também as ovelhas que por Ele lhe foram e estão entregues): “Pedro amas-me? Apascenta as minhas ovelhas”. (Jo 21,15-18). 86 1ª Carta de Pedro 3º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 3,1-25 Deveres dos esposos O amor fraterno OS CRISTÃOS PERANTE O SOFRIMENTO Os que sofrem injustamente Sofrimento e glória de Cristo Todos os que seguiram Pedro, foram conquistados pelo força do seu testemunho mais do que as palavras(v1). No olhar fixo de Jesus, Pedro sentiu e compreendeu que Ele sondava o seu interior e isso é que importava, por isso o transmite agora com confiança e certeza de quem foi amado porque amou mesmo na sua fragilidade(v4). A filiação que acontece naquele que vive e actua pelo bem que deseja apenas amar, e que obedece não por medo mas em temor(6). Novamente a herança para todos sem excepção que gera a paz interior que abre portas à oração(v7). O amor fraterno a relembrar a 1ª comunidade com tudo em comum(v8). O fixar dos olhos naqueles que vivem pela verdade mesmo sabendo dos seus barros como Pedro sentiu no “toque” do olhar de Jesus(v10). Padecer pelo amor, as perseguições e as injustiças que tantas vezes também ele sentiu e viveu(v13), nada temendo, confessando Cristo(15) na razão da Esperança que sabe e crê em Quem a sustenta, por isso Pedro fala na autoridade de quem viveu a cruz até ao martírio. As prisões e as orações de graças por esses acontecimentos em Pedro (v17), que recorda aqui esses momentos da noite com João e os seus companheiros de cárcere. A promessa e a Ressurreição aqui revividas e anunciadas também (v19). 87 1ª Carta de Pedro 4º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 4,1-19 Luta contra o pecado Alegria na perseguição Como Pedro entendeu tão bem aquilo que agora escreve nesta carta! Que o Discipulado é um caminho de luta(v1), não contra o homem mas contra o mal. O recordar outra vez do seu passado(v3), e as reacções de tantos que o conheceram e depois testemunharam a sua transformação(v4)! O apelo à oração(V7) que mantém alerta e sóbrio o coração do discípulo nas experiencias de todos os ―hortos da sua caminhada na terra ‖(Mt 26,4041). A hospitalidade(v9) bem expressa na 1ªComunidade! Os dons, na experiência do Pentecostes que actuam naqueles que foram escolhidos por Deus para anunciar a Palavra(v11). Ser imagem e semelhança dos padecimentos de Cristo(v13) na alegria do Senhor. Finalmente o glorificar o Senhor pelos padecimentos de quem mais tarde se vai julgar indigno até de morrer na mesma cruz como o Senhor(16). 88 1ª Carta de Pedro 5º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 5,1-14 Exortação aos fiéis Conclusão Pedro pode testemunhar os padecimentos da cruz(v1), não fora o amor do Senhor e onde estaria Pedro agora quando aquele galo cantou! O cuidado do rebanho a quem Deus confiou(2), novamente aqui o “Apascenta as minhas ovelhas”. A humildade proposta por quem também conhece o seu orgulho nas tentativas de impedir o caminho do Mestre para a Cruz (Mt 4,10), e a resposta do Amor que o mantinha sempre disposto a estar debaixo da mão poderosa de Deus(v6). O sede sóbrios e vigiai(v8), a recordar novamente o horto, e a dimensão da Comunhão na Comunidade(v9) e (v13-14), tanto nos padecimentos como no amor de Deus. ____________________________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 89 90 2ª Carta de Pedro Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 1,1-21 EXORTAÇÃO À PERSEVERANÇA NA FÉ Dons recebidos de Deus Garantias do testemunho apostólico Pedro descreve desde o v.5 ao v.7, toda a sua caminhada de Fé na Experiência, que viveu. Neles está toda a sua caminhada de Discipulado, nas suas diversas etapas, desde o Pedro pescador impulsivo e arrogante, até ao Pedro que pacifica os companheiros já no Concilio em Jerusalém! E fala da cegueira porque percebeu como andava cego percebendo o quanto lhe faltava por fazer na experiência da conversão (v9). Certamente que já havia entendido a cruz que o esperava nessa tenda (corpo-vida) que experimentou a misericórdia e pisava o chão da realidade humana (v13), por isso deixa em forma de aviso esse alerta. A Transfiguração fortemente presente nas suas palavras (v16-18). O apelo às profecias a selar as suas palavras testemunhando o poder do Espírito Santo que dá aos que O receberam a autoridade da Palavra(v20). 91 2ª Carta de Pedro 2º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 2,1-22 Os falsos mestres Um castigo inevitável A moral dos falsos mestres Gravidade da apostasia Referências(v11-19) dirigidas aos falsos mestres e aos que os seguem e a justiça divina que os espera. Pedro desperta mais uma vez, o tema da Parusia enquanto vai descrevendo a história divina, desde a queda dos anjos, seguindo o itinerário de alguns homens que se perderam e se salvaram nas descrições que faz do AT até ao juízo final(v4-10). Novamente referências (v11-19) dirigidas aos sacerdotes que haviam sido denunciados pelo Senhor, os mesmos que Pedro enfrentou nas suas prisões. Pedro sabe pela sua própria experiência humana, (nas negações que viveu), o que significa voltar atrás no caminho do Senhor (v20). De certa forma podemos também entender aqui um testemunho indirecto sobre Judas.:Ambos traíram o Senhor, mas a resposta nos dois, que são companheiros de caminhada, é completamente diferente. Pedro reconhece o seu erro e volta atrás, confiando na misericórdia, enquanto Judas não só não volta atrás, como nega a misericórdia matando-se. 92 2ª Carta de Pedro 3º Capítulo Fontes Bíblicas Lectio Divina Para meditar e desenvolver: 3,1-18 A SEGUNDA VINDA DO SENHOR A doutrina da Fé Erros escatológicos Urgência de estar preparados Conclusão Basicamente, este 3º e último capítulo da 2ª carta anda à volta do tema da Parusia, e Pedro fá-lo aqui de uma forma mais intensa do que as outras vezes em que aborda este tema. È sobretudo um aviso de Pedro ao que está para vir, apelando aos que o escutam, para que estejam preparados na Promessa de um novo céu e uma nova terra. Pedro cita aqui pela primeira vez Paulo e as suas cartas o que denota nele já conhecimento do caminho de Paulo e do conteúdo que este pregava, sobretudo o 5º capítulo da carta aos Romanos. Reparem nas palavras “paciência” e “esperança” tão presentes em Pedro, a recordar-nos certamente dois dos caminhos mais exigentes e fortes, pelos quais terá que passar sempre aquele que deseja seguir o Mestre. ____________________________________________________________________ Fontes bíblicas: Difusora Bíblica – Capuchinhos. 93 94
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