O esbater de fronteiras na obra pictórica de Barry
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O esbater de fronteiras na obra pictórica de Barry
O esbater de fronteiras na obra pictórica de Barry Reigate Conceição Cordeiro1 Um tempo num espaço com Barry Reigate Encontrámo-nos com o artista Barry Reigate (n. 1971, Londres), em Outubro de 2012, num complexo industrial denominado por Biscuit Factory, em Clements Road, na margem sul do rio Tamisa, Londres. A par de um conjunto de empresas aí sediadas, um dos blocos é destinado a ateliers V22 Studios, Artist’s and Artisan’s worshops - onde se podem encontrar cerca de duzentos artistas e artesãos, ocupando os espaços construídos nas antigas instalações fabris, constituindo longos corredores, onde a segurança impera. Como formação académica Barry Reigate obteve um BA Graphic Design and Fine Art pelo Camberwell College of Arts, em 1993, com um plano de estudos experimental, cruzando Design Gráfico e Belas-Artes, que se por um lado suscitou alguma controvérsia, revelou-se crucial como base/fonte/alicerces para o seu trabalho, vindo a encontrar-se este diálogo no percurso da sua obra. No Goldsmiths College, University of London concluiu o mestrado em Belas-Artes (MA Fine Art), em 1997, direcionando o seu trabalho na exploração do espaço pictórico assumindo, no entanto, o Design Gráfico como elemento permanente. Barry Reigate, em 2012, é representado pela Paradise Row Gallery, 74 Newman Street, onde, em 2008 realizou a exposição Happiness e em 2011 Equation. B. Reigate pertence ao número de artistas selecionados para representar a arte britânica atual e integrou, entre outras, as seguintes exposições coletivas: 2012 - 20/12 London Art Now at National Trust Property Lodge Park, Gloucestershire, Inglaterra. London Twelve/Contemporary British Art, City Gallery Prague, República Checa Nature Vs Nuture, FAMA Gallery, Verona, Itália. 2011 - British Art Now, Saatchi Gallery in Adelaide, Austrália. 2010 - Newspeak: British Art Now at Saatchi Gallery, Londres. 2009 - Natural wonders: New Art From London, Baibakov Art Projects, Moscovo. Newspeak: British Art Now, State Hermitage Museum, S. Petersburgo, Rússia. 1 Instituto Politécnico de Portalegre. 1 Individualmente realizou as seguintes exposições: 2011 - Equation, Paradise Row, Londres. 2009 – Almost, Nang Gallery, Londres. 2008 – Happiness, Paradise Row Gallery, Londres. 2006 – The end of Comunism, Trolley Gallery, Londres. 2004 – UnHolyVoid, private warehouse space, Londres. Para a exposição Newspeak2: British Art Now na The Saatchi Gallery, Londres em 2010, na webpage da The Saatchi Gallery o seu trabalho é acompanhado da seguinte análise: Reigates revives the primitivism 20th c. artistic inspiration and the gueto-ised atitudes of cultural hierarchy as a zombie-esque parody, creating his own numina3, monsters, and totems from the seedy 4 juju5 of contemporary schmaltz6. Esta linguagem, muito particular, assinada por Patricia Ellis, curadora da exposição e autora do texto abaixo apresentado que integra o catálogo e é acompanhado de um dicionário de termos e expressões denominado por 2010: A Complete Grammatology of Panic. Patricia Ellis retrata deste modo o Reino Unido, espelhado na exposição de arte britânica, com uma seleção de artistas em ascensão, resultante da visão do colecionador Charles Saatchi: The UK today is less a place than an image, a collective neurosis projected onto an island. Its strange brew of glocalisation and parochial nostalgia played out through incessant media frenzy, reinventing itself by the minute. Hitting the nerve of what it is to be British now, this collection of 65 artists forges a sublimely contemporary vision, laser-sharp in its mirror reflection. More than a decade after Sensation and the 2 Newspeak referência à linguagem da Oceânia por George Orwell na obra 1984, no sentido de eliminar as palavras pouco ortodoxas, reduzindo assim a capacidade de expressão.http://www.newspeakdictionary.com/ns-dict.html (2015-04-10) 3 Divindades http://www.thefreedictionary.com/numina (2015-04-09) 4 Anything that is disgusting or despicable http://www.urbandictionary.com/define.php? (2015-04-09) 5 Gypsie word for luck. More commonly used as "bad juju”http://www.urbandictionary.com/define.php? (2015-04-09) 6 a work of art that is excessively sentimental, sappy or cheesy. http://www.urbandictionary.com/define.php?term=schmaltz (2015-04-09) 2 advent of Blair’s Opportunity Society, their work reflects a new social order. Defined by trepidation, acquiescence, and analyses: of class homogenisation, consumerist gentrification, the phenomenon of instant success culture. The unnerving tingle of evaporating history haunts each and every one of these works. Thought inextricably determined by semiotic parameters, theirs is a language recycled, appended, suavely overwriting the past. Through sculpture and painting, photography and installation they present a fractured and restless worldview. Articulated as doublespeak, they hand-make the virtual, cite history in fugue fervour, and find the poetic and enduring in the cacophony of pop cultural din. They create grounding and logic from this state of confusion; the contradictory meanings all true. Delivered with the wry wit of distinctly British vernacular – the interface between idea and experience – its playfully convoluted slang, so irreverent, so now and so hip. So revealing of its underlying anxiety. This isn’t just newspeak, this is British Now Newspeak. The sign at Terminal 5 says NOW OPEN. Retomando a entrevista, no seu estúdio, iniciámos a abordagem à sua obra. Barry Reigate fala-nos sobre os trabalhos de 2005 confirmando as referências (sempre subjacentes em qualquer obra segundo B.R.), a autores como Philipe Guston (1913-1980), George Condo (n.1957) e Sean Landers (n.1962), autores americanos cujo espaço pictórico remete para o grotesco afirmando a ausência de pura originalidade. No processo criativo de B.R. as temáticas surgem por impulsão do quotidiano, numa tentativa de resolução de problemas formais, na criação de regras e de estruturas que vão desde figuras da banda desenhada até a elementos mais minimalistas. A aplicação de óleo e de acrílico nas obras de 2005 é substituída em 2009 por um leque alargado de materiais que mantendo o acrílico e o óleo, acrescentam cera, carvão, colagem e aerógrafo, considerando este processo uma sólida construção matérica. Em 2008 as formas escultóricas surgem em conjunto com as pinturas, como podemos verificar em autores como Condo e Landers, as duas propostas funcionam a par, e sobre as quais B. R. manifesta uma crítica ao mercado da arte e à falta de intervenção social e política, sendo os títulos das suas obras um insurgimento contra essa atitude. A sua posição, algo pessimista, dá lugar à apatia e a um mundo constituído por mortos-vivos (zombies) que observam escancarados outros mortos-vivos que os entretêm, dando indicação do seu desencanto com o meio artístico, mas com a necessidade e a energia de continuar, criando obras de pintura e de escultura. A consciência política acompanha-o vendo no capitalismo uma falta de ideais e de ideologias, restando apenas a apatia, contra a qual reage construindo, fazendo obra. Considera as obras de pintura e de escultura como funcionando em sincronia, complementam-se numa relação entre materiais e objetos. Relativamente às pinturas de 2009 elas apresentam uma sobreposição de camadas de matéria, de formas, de desenhos com utilização de aerógrafo, assentes numa estrutura de elementos paralelos, constituída por desenhos retirados da banda desenhada. Um dos livros que se encontrava na mesa de trabalho intitulava-se Memphis, design italiano dos anos 80 e sobre o qual B. Reigate foi questionado; ele estabelece uma relação entre esta 3 conceção de design e os desenhos/marcas/sinais representados nos seus quadros, realçando o aspeto agradável e divertido deste tipo de design próximo da escultura, com cores fortes e de elevada ornamentação. Na continuação da entrevista surgem as obras de 2009 apresentadas na exposição Newspeak: British Art Now, com as designações de Real Special Very Painting (R.S.V.P.)7 e Voracious Impotent Penis (V.I.P.). As pinturas saturadas de formas, cor e desenhos foram a resposta ao convite para participar na referida exposição e cujos títulos correspondem a dois tipos de convite; um exige resposta R.S.V.P. e o outro destinado às personalidades V.I.P. As pinturas equivalem à reação contra a apatia. Toda a informação recolhida e assimilada é transposta para a tela, com a qual possui uma relação de escala e fisicalidade. As pinturas de 2011 apresentadas na exposição Equation, na Galeria Paradise Row possuem uma estrutura de elementos simétricos – o lobo – sobre os quais são colocados elementos geométricos retirados dos SATS - testes de matemática utilizados no sistema britânico de ensino público. John Platypus, em Setembro de 20118, acerca desta exposição, realça a figura do lobo como pertencente a um anúncio publicitário onde o lobo se apresenta em conjunto com três porcos. Estas figuras correspondiam à situação financeira atual à qual Reigate refere que os porcos são as pessoas e o lobo representa o poder, o capital. Nesta entrevista remete a figura do lobo para uma estrutura formal, simétrica ou paralela, para a construção de padrões e propõe uma leitura apolítica desta representação. Na exposição Equation são apresentados desenhos emoldurados de figurações retiradas dos SAT testes, descontextualizando-os para se aproximaram da fetichização modernista da forma. São obras em si mesmas e não desenhos preparatórios para futuras pinturas. Acerca dos SAT testes que se poderão encontrar na internet como Keystage maths test SATS, Reigate não se pronuncia sobre o sistema de avaliação do conhecimento das crianças e dos adolescentes no Reino Unido (e que correspondem por sua vez à avaliação das escolas) mas apropria-se deles, por acidente, quando a sua filha se encontrava a resolvê-los. Foi atraído por eles por os identificar como critérios e assuntos tratados pelo modernismo, pela estética, onde despontam ornamentos, estatística, mentiras, academia, cultura, jogo e trabalho. Como 7 R.S.V.P. vem do francês: répondez s`il vous plait, que significa "responda, por favor". 8 John Platypus, J. (2011). “Equation” – Barry Reigate exhibition at Paradise Row Gallery: There are three different sorts of artworks in this exhibition. Firstly, canvas with a silver background with the repeated theme of a wolf taken from an advertisement where it was with the three pigs. The images are painted criticisms to the contemporary situation in which people are struggling because of the credit crunch: “The pigs are the people and the wolf is playing the role of Power/ the Other. In other times that might have meant anything with teeth/weapons, hiding in the forest, for us, now, that means, obviously, Capital” Barry Reigate explains. http://londonartreviews.com/2012/01/06/equation-barry-reigate-exhibition-at-paradise-row-gallery/ (2015-04-10). 4 artista foi atraído por essas formas com as quais entrou em diálogo, procurando resolver os problemas formais que delas pudessem surgir. Ainda durante o ano de 2011 na FAMA Gallery em Verona são expostos trabalhos, com uma de estrutura semelhante às obras de 2009, figuras, neste caso, palhaços colocados numa estrutura também ela paralela, por repetição e ocupando a totalidade da tela. As figuras, pintadas a aerógrafo como as anteriores, são posteriormente trabalhadas por sucessivas camadas de matéria e de marcas (termo usado por B. Reigate associado a desenho), onde a cor retoma a sua expressão. Recorrendo aos elementos originários da sua obra pictórica, desenhos retirados da banda desenhada, e à sua ligação com o Design Gráfico apresenta proposta para as campanhas publicitárias de Stella MacCartney Fall’10 e Louis Vuitton Fall’11. Relativamente ao texto de Patricia Ellis 9 no catálogo da exposição Newspeak: British Art Now, na Saatchi Gallery, B. Reigate reage, concordando, mas sem deixar de reconhecer que é um modo de apreciação espetacular. Barry Reigate encontra-se em confronto com a sociedade contemporânea, possuindo uma consciência política que o leva a ter uma atitude pessimista quanto às situações diárias. O desenvolvimento da sua obra é feito a partir de aspetos do quotidiano que o atraem e que pretende resolver como se de problemas se tratassem: uma das suas exposições (2011) tem por título Equations; a descontextualização de formas para as colocar em tela, utilizando materiais de diferente plasticidade, elegendo o aerógrafo, a pintura em tela, em linho. Escolhe a Pintura e a Escultura como processos criativos, não sentindo necessidade de utilizar o multimédia. B. Reigate considera: Everything is an excess, excess, excess, more info, more info, this thing, that thing, more than what we need. As obras de 2009, Real Special Very Painting (R.S.V.P.) e Voracious Impotent Penis (V.I.P.) e o conceito de montage de Didi-Huberman [A. G.] “Era uma obra de arte, a montagem era um processo artístico típico das vanguardas do séc. XX… [D.-H.] Mas era também uma tomada de posição”.10 9 Reigates revives the primitivism 20th c. artistic inspiration and the gueto-ised atitudes of cultural hierarchy as a zombie-esque parody, creating his own numina, monsters, and totems from the seedy juju of contemporary schmaltz. http://www.saatchigallery.com/artists/barry_reigate.htm?section_name=new_britannia (201503-20) 10 Sentir o tempo e ver a história nas imagens, entrevista a Georges Didi-Huberman por António Guerreiro, Público, Ípsilon, 11 de Abril, 2014, pp. 12-14, p. 14. 5 “Hoje é muito importante fazer o elogio da migração, saber que as imagens são feitas para atravessar fronteiras.”11 A apropriação da noção de montagem de Didi-Huberman é feita no sentido de a aplicarmos à constituição/construção de obras pictóricas, onde encontramos uma seleção consciente de elementos de diferentes origens, de diferentes culturas ou de uma mesma cultura, como é o caso de B. Reigate, que são colocadas em diálogo e deste modo provocar uma nova picturalidade. Os elementos/formas em questão incluem figuras/cabeças animalescas disneysadas a aerógrafo, com narizes apalhaçados em cor, alternando o azul com o vermelho, botas alongadas; estas figuras constituem uma estrutura paralela diagonal (R.S.U.P.); Elementos eróticos identificam o sexo das personagens. À técnica de aerógrafo associam-se linhas, garatujas, drippings, círculos de várias cores e dimensões criando vários planos, várias camadas, criando perspetiva. Acerca dos pontos ou dots de sintoma minimalista, repetitivos, vamos comparar com a obra de Shahzia Sikander, Perilous Order (1977) a aplicação de dots como um véu colocado sobre o plano anterior, causando uma paragem no tempo, conduzindo-nos a uma acumulação de perda.12 As camadas, a falta de precisão, a falta de clareza, a confusão, o excesso, a perfusão de figuras, formas, sinais, marcas de diferentes origens remetem-nos para vários mundos/fontes, onírico, jocoso, irreverente, uma acumulação de informação que queremos descodificar. É neste conflito de formas, nas suas diferentes marcas, em choque, em confrontação e em conflito que “le montage: on ne montre qu’a démembrer, on ne dispose qu’à «dysposer» d’abord. On ne monte qu’à montrer les bénaces qui agitent chaque sujet en face de tous les autres”13. Se o processo criativo da colagem/montagem, utilizado pelos dadaístas e surrealistas, resulta das sequelas/experiências traumáticas da I guerra mundial, ele afirma o repúdio pela hierarquização da ordem de grandeza, colocando as formas num mesmo plano de proximidade; 11 Idem, p. 13. 12 Shahzia Sikander, p. 58: A third manifestation of time is the actual removal of previous work. The application of a dot, or a grid composed of dots, obliterates underlying information. This process suggests the trapping of time and repeated removal of marks or layering leads to an accumulation of loss. This process is visible in several works including Perilous Order.http://www.shahziasikander.com/ARCHIVE/PDF/DAAD_Ikon_Interview_SS.pdf (2014-04-20) http://www.art21.org/images/shahzia-sikander/perilous-order-1994-1997 (2014-04-20). 6 se o processo da montagem/fotomontagem é transversal às práticas criativas no início do séc. XX, este não está dissociado de toda uma prática/pesquisa da psicanálise desenvolvida nessa época e cujos procedimentos conclusivos resultavam do estabelecimento de ligações/associações como se verificava na montagem. Numa entrevista, em 2007, Didi-Huberman fornece-nos um conceito que vai de encontro ao nosso propósito, o de conhecimento por montagem14, referindo-se ao trabalho de artistas e pensadores que vêm a história en términos de estallido y reconstrucción15, numa Europa contemporânea/atual. Retoma a ideia de Walter Benjamin de montagem interpretativa da história e ao processo de montagens interpretativas da psicanálise. 16 No mesmo texto destacamos a sua afirmação: (…) para hacer un montage tiene que haber un choque entre dos imagenes e generalmente, de este choque surge una tercera.17 A ideia de imagens que entram em choque e produzem uma terceira vai de encontro à fundamentação que pretendemos para a análise pictórica da obra de Barry Reigate onde as diferentes origens das marcas sobre o suporte tela seguem um discurso de confronto, esbatendo as fronteiras entre tudo o que é diferente. Defendemos o processo criativo da montagem onde os elementos pictóricos se encontram em diálogo. 13Didi-Huberman, G (2009).Quand les images prennet position. L´Óeil de l´Histoire1. Paris: Minuit, pp. 86-90: Montage – Disposer les differences en dys-posant les choses. Esthétiques du montage aprés la Primiére Guerre mondiale. Ernst Bloch et la modernité du montage: jeu subversif, method archéologique, dialectique des forms, p. 86. 14 http://www.revistaminerva.com/articulo.php?id=141 (2015-04-02), p. 19. Os pensadores a que se refere podem ser encontrados em Didi-Huberman, G. (2008). Images in Spite of all. Chicago: The University of Chicago, p.120-121: “Warburg and his Mnemosyne atlas, Walter Benjamin and his Arcades Project, or Georges Bataille and his journal Documents, among other examples, have shown the fertility of knowledge through montage: a delicate knowledge – like everything concerning images – at the same time bristling with traps and laced with treasures. Knowledge of this kind demands perpetual tact.” 15 Ibedem. http://www.revistaminerva.com/articulo.php?id=141 (2015-04-02). 16Ibedem: Es lo que ocurre, por exemplo, en un psicoanálises: se hacen montajes interpretativos y en la reunión de dos cosas muy distintas surge una tercera que es el indicio de lo que buscamos. http://www.revistaminerva.com/articulo.php?id=141 (201504-02). 17 Idem, p. 20. 7 Outra noção a reter é de que o processo de montagem é um processo que deixa em aberto, que promove a multiplicidade: “Montage is valuable only when it doesn’t hasten to conclude or to close: it is valuable when it opens up our apprehension of history and makes it more complex, not when it falsely schematizes: when it gives us access to the singularities of time and hence to its essential multiplicity”18. Se a montage em Didi-Huberman, segundo Albera, aparece como a colocação de imagens sobre uma superfície onde elas se confrontam, se releem, onde repousam e convidam o espectador a circular entre elas, nos seus intervalos 19, nas suas brechas, nas suas fendas, vamos ao encontro do conceito de Homi Bhabha de terceiro espaço, do movimento entre culturas, nos seus interstícios, em movimento referido por Alfredo Jaar 20 ou ainda dos interstícios onde as linguagens flutuantes, as obras informes, os temas não ligados que Foucault21 nos fala. A reafirmar esta ideia podemos ainda apontar o vídeo de Shahzia Sikander Interstitial: 24 Faces and the 25th Frame, Daadgalerie (2008): Here images of two novices merge and separate in a time frame I call interstitial – the gap between two positions22. 18Didi-Huberman, G. (2008). Images in Spite of all. Chicago: The University of Chicago, p.121. 19 Albera, F. (2009). Georges Didi-Huberman, Quand les images prennent position. L’œil de l’histoire, 1: C’est là ce qui intéresse Didi-Huberman, cette pratique du montage, la disposition des images sur une surface où elles se confrontent, se relient ou se repoussent, qui convie le spectateur-lecteur à circuler entre elles, dans leurs intervalles. Le modèle tabulaire introduit en histoire de l’art par Aby Warburg (son Bilder atlas) – auquel l’auteur a consacré plusieurs textes (l’Image survivante, 2002) – fait ici office de « modèle ». Ce qui compte, manifestement, c’est que le montage ne soit pas pris dans une succession où une image « chasse » la suivante (fusion), mais que toutes deux soient co-présentes, que leurs relations soient in praesentia. Un arrêt sur images. Déjà dans la Ressemblance informe, Eisenstein était abordé par un biais : le collage d’une série de plans-cadres de la Ligne générale pour la revue Documents, une exposition du film. http://1895.revues.org/4028 (2015-03-20). 20 Canclini, N. G. (2002). Ultimos câmbios en el mapa del multiculturalismo. Revista Lápiz, nº 187/188. (Nov./Dez. 2002), p. 112: (…) su lugar no está dentro de ninguna cultura en particular, sino en los interstícios entre ellas, en el transito. 21 Foucault, M. (2008). Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p. 155:(…) a história das idéias se dirige a todo esse insidioso pensamento, a todo esse jogo de representações que correm anonimamente entre os homens; no interstício dos grandes monumentos discursivos, faz aparecer o solo friável sobre o qual repousam. Trata-se da disciplina das linguagens flutuantes, das obras informes, dos temas não ligados. Análise das opiniões mais que do saber, dos erros mais que da verdade; não das formas do pensamento, mas dos tipos de mentalidade. 8 É sobre este movimento, é sobre estes interstícios, este diálogo entre as diferentes formas, de origens e tempos diferentes que pretendemos fazer nota acerca da obra pictórica de Barry Reigate. Bibliografia Albera, F. (2009). Georges Didi-Huberman, Quand les images prennent position. L’œil de l’histoire, 1. http://1895.revues.org/4028 (2015-03-20). Canclini, N. G. (2002). Ultimos câmbios en el mapa del multiculturalismo in Revista Lápiz, nº 187/188. (Nov./Dez. 2002). 22 S. Sikander p. 58: Ambivalence as an open-ended attitude, as an impetus towards opposite directions, can be conceived of as a third space too. Another way to highlight this is through a split, a division, which creates the interim, the interstice, the pause, the interval, the separation between two points. An example is a new video work titled Interstitial (2008). Here images of two novices merge and separate in a time frame I call interstitial – the gap between two positions. http://www.shahziasikander.com/ARCHIVE/PDF/DAAD_Ikon_Interview_SS.pdf (2014-04-20).Ver imagens de Interstitial (2008) em http://www.nuktaartmag.com/Nukta/GeneralContent/View/126 (2014-04-20). 9 Didi-Huberman, G. (2008). Images in Spite of all. Chicago: The University of Chicago Didi-Huberman, G. (2009).Quand les images prennet position. L´Óeil de l´Histoire1. Paris: Minuit Ellis, P. (2010). 2010: A Complete Grammatology of Panic in NEWSPEAK- British Art Now. London: Booth-Clibborn Edition, The Saatchi Gallery. Foucault, M. (2008). Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária Guerreiro, A. (2014). Sentir o tempo e ver a história nas imagens, entrevista a Georges DidiHuberman por António Guerreiro, Público, ÍPSILON, 11 de Abril, 2014, pp. 12-14. Romero, P. (2007). Un Conocimiento por el montaje, entrevista a Georges Didi-Huberman por Pedro Romero, p.17-22, http://www.revistaminerva.com/articulo.php?id=141 (2015-04-07). Barry Reigate Webgrafia www.barryreigate.com/ (2015-03-20) www.saatchigallery.com/artists/barry_reigate.htm (2015-03-20) reflexamsterdam.com/artists/barry-reigate/ (2015-03-20) www.contemporarysix.co.uk/?page_id=1441 (2015-03-20) https://www.artsy.net/artist/barry-reigate (2015-03-20) www.opus-art.com/the-artists/artist/barry-reigate (2015-03-20) https://uk.linkedin.com/pub/barry-reigate/55/79a/56 (2015-03-20) www.dazeddigital.com/artsandculture/article/.../ barry-reigates-equation (2015-03-20) http://nathaliewallsart.blogspot.pt/2010/11/child-and-reigate.html (2015-03-20) 10 11