Ergometria em Medicina Nuclear: Além da FC e do ST
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Ergometria em Medicina Nuclear: Além da FC e do ST
Ergometria em Medicina Nuclear: Além da FC e do ST NÚCLEOS - CENTRO DE MEDICINA NUCLEAR Reunião Científica 16 de julho de 2009 Marco Aurélio R. Nerosky Ergometria em Medicina Nuclear Introdução: Teste Ergométrico • Teste Ergométrico: Avaliação das respostas clínicas, metabólicas, hemodinâmicas e eletrocardiográficas a esforço físico graduado com cargas progressivas de trabalho, levando à modificação da relação oferta/consumo de O2 (do miocárdio). Oferece informações diagnósticas, funcionais e prognósticas. Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Clínicas: - Dor torácica (típica vs atípica); Dispnéia desproporcional (equivalente anginoso); Fadiga desproporcional em MMII (DAP?); Tontura na recuperação; Etc... Obs: Dor torácica não faz diagnóstico de isquemia isoladamente (estudo). Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Clínicas: Dor torácica: - Se angina fosse critério de positividade, a sensibilidade média do teste ergométrico seria ainda menor. Mesmo angina típica ao exercício não tem acurácia suficiente para caracterizar DAC isoladamente. Angina intra-esforço não é considerada evidência de isquemia miocárdica em nenhuma diretriz. Não há grandes estudos ou consensos que definam angina como critério de positividade do TE. Numa meta-análise, o valor preditivo (+) da angina ao esforço foi de 31%. Revista do DERC Nº43 2008 Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Clínicas: Dor torácica (típica vs atípica): Descrever características da dor: localização, irradiação, caráter, duração, intensidade, momento de ocorrência, fatores acompanhantes, de agravamento e melhora. Mais importante que conclusões no laudo, pois oferecem ao médico que avalia o TE os dados para sua avaliação clínica final. Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Hemodinâmicas: - Queda de PAS ao esforço (> 35 mmHg): disfunção grave de VE; isquemia; insuf. mitral transitória isquêmica. - Queda da FC com esforço: alta correlação com coronariopatia; - Cronotropismo exacerbado: - Sedentarismo, ansiedade, suspensão b-bloq, hipertireoidismo, anemia, bom prognóstico. - Incompetência cronotrópica (IC < 80% ou IC< 62% se em uso de β-bloqueadores) *** Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Hemodinâmicas: - Cronotropismo exacerbado: Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Hemodinâmicas: - Cronotropismo exacerbado: Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Hemodinâmicas: - Incompetência cronotrópica (IC < 80% ou IC< 62% se em uso de β-bloqueadores): evidências desde 1996. Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Hemodinâmicas: - Azarbal B et al (2004): – IC < 80% foi melhor preditor de morte cardíaca que incapacidade de atingir 85% FC máx preconizada. Índice Cronotrópico: FC Atingida – FC Repouso FC Máxima – FC repouso Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Eletrocardiográficas: - Arritmias induzidas no esforço (distúrbios do ritmo) vs arritmias na recuperação. - Bloqueios AV ou Fasciculares (distúrbios de condução). - Infradesnivelamento do segmento ST. - Supradesnivelamento do segmento ST. Ergometria em Medicina Nuclear • Alterações Eletrocardiográficas: Supra ST Estudo de 2008: 29.002 pcts consecutivos: CPM em período de 5 anos. 39 pctes desenvolveram supra de ST sem ondas Q prévias: 31 com exercício; 8 com dipiridamol. Importantes áreas de isquemia em: 76% dos pctes do exercício. 87,5% dos pctes do dipiridamol. CAT: TODOS TINHAM lesões significativas; Estenoses ≥ 90%: 87%; DAC multiarterial: 59%. Seguimento: 95% foram indicados para RVM. Conclusão: Supra ST (s/ Q prévias): Associado à DAC muito grave. Ergometria em Medicina Nuclear Ergometria em Medicina Nuclear • Capacidade Funcional (VO2 ou METs). Estudo de 2008: 15.660 homens T.E. em período de 23 anos. Diminuição do risco de mortalidade de 13% para cada MET de incremento alcançado. Nos que superaram 7 METs houve um risco 50 a 70% menor do que os que não alcançaram 5 METs. Ergometria em Medicina Nuclear • Capacidade Funcional (VO2 / METs). Outro estudo de 2008: 9.191 indivíduos. T.E. por algum sintoma. Acompanhados por média de 2,7 anos. Quem não atingiu 85% da capacidade funcional prevista: aumento significativo de risco de SCA e morte por todas as causas. Ergometria em Medicina Nuclear • Capacidade Funcional (VO2 / METs). Estudo retrospectivo de 2008: 3.098 pcts ECG basal normal e atingiram 85% da FC prevista: Eco de Estresse. Baseados no TE c/ Bruce, divididos em dois grupos: Grupo 1: ≥ 6 minutos / Grupo 2: < 6 minutos 100 pacientes: TE (-) e ECO (+): 41% pro CAT. 1.786 do grupo 1 com TE (-): 0,3% de DAC significativa. 464 do grupo 2 com TE (-): 1,5% de DAC significativa. Avaliação da capacidade funcional, mesmo quando não há alteração do segmento ST, tem valor prognóstico. Ergometria em Medicina Nuclear Capacidade Funcional Ergometria em Medicina Nuclear A Fase de Recuperação - Valorizar alterações do segmento ST na recuperação (são diagnósticas e não são falsopositivas) - Recuperação Ativa vs Passiva. - Dados prognósticos na recuperação. Ergometria em Medicina Nuclear A Fase de Recuperação Recuperação Passiva: Lei de Laplace e Mec. Frank-Starling Aumento do retorno venoso » Aumento do Volume Diastólico Final » Aumento da Pré-carga do VE » Maior estiramento dos sarcômeros e aumento do raio do VE » Maior estresse de parede do VE » Aumento de consumo de O2 miocárdico » Aumento das anormalidades do segmento ST » Aumento de arritmias ventriculares isquêmicas » AUMENTO DA SENSIBILIDADE DO EXAME. Ergometria em Medicina Nuclear A Fase de Recuperação Dilema: Vale a pena fazer recuperação passiva?? Ergometria em Medicina Nuclear Importância da Recuperação Prolongada Ergometria em Medicina Nuclear Informações Prognósticas na Recuperação Redução da FC no 1º min. pós-esforço (VN > 12 bpm) Georgoulias et al (2003) Rec 1 min < 12 parece correlacionar-se com a gravidade da isquemia no MIBI Vivekananthan et al (2003) Rec 1 min < 12 foi variável independente da gravidade da DAC para mortalidade Gera et al. Usefulness of abnormal heart rate recovery on exercise stress testing to predict high-risk findings on single-photon emission computed tomography myocardial perfusion imaging in men. Am J Cardiol 2009;103:611–4. Gera n, Taillon la and Ward rP. Usefulness of abnormal heart rate recovery on exercise stress testing to predict high-risk findings on single-photon emission computed tomography myocardial perfusion imaging in men. Am J Cardiol 2009;103:611–4. - Método: 509 homens; Cintilografia de Perfusão Miocárdica (CPM); TE protocolo Bruce, recuperação ativa a 1,6 km/h e 0% inclinação. - Objetivo: Correlacionar a Queda da FC (QFC) no 1° minuto da recuperação (FCR), cujo VN é >12bpm, com dados da CPM. Gera n, Taillon la and Ward rP. Usefulness of abnormal heart rate recovery on exercise stress testing to predict high-risk findings on single-photon emission computed tomography myocardial perfusion imaging in men. Am J Cardiol 2009;103:611–4. - Resultados: 11% dos pacientes: queda anormal da FC. QFC anormal foi associada a menor FC de pico, uso de betabloqueadores e menor número de MeTs alcançados (p<0,001). Diferenças (p<0,001) entre pacientes com FCR anormal vs normal: FeVe <50% = 25% vs 6%; FeVe < 40% = 11% vs 3%; SSS≥4 = 49% vs 27%; SSS>8 = 36% vs 7%. QFC anormal da FC: associada a alta prevalência de DAC, disfunção ventricular e achados de alto risco à CPM (p<0,001) . - Conclusão: A presença isolada de QFC anormal é um importante marcador de risco para DAC moderada a severa, mesmo quando não acompanhadas de alterações eletrocardiográficas significativas. Ergometria em Medicina Nuclear Informações Prognósticas na Recuperação Arritmias na Recuperação: Ergometria em Medicina Nuclear Informações Prognósticas na Recuperação Arritmias na Recuperação: Estudo de 2008: 1.847 indivíduos assintomáticos submetidos a TE. 46%: EVs frequentes no exercício 33,6%: EVs frequentes na recuperação. Seguimento de 5,4 anos: 8,7% de óbitos (33,6% CV) EVs freqüentes na recuperação, mas não no esforço, foram associadas a maior risco de mortalidade (71% a 96%maior) do que EVs infrequentes na recuperação. Hazard Ratio: 1.96 / Intervalo de Confiança de 95%: 1.31-2.91 Ergometria em Medicina Nuclear Escores Diamond-Forrester: Avaliação pré-teste de DAC. Escore de Hubbard: Avaliação pré-teste de DAC grave. Escore prognóstico simplificado de Storti: Estratificação de risco de DAC multiarterial. Escore de Atenas: Avaliação pós-teste diagnóstica de DAC. Escala de isquemia miocárdica de Uchida: Graduação da isquemia no TE. Escore de Duke: Estratificação de risco e avaliação da probabilidade de DAC grave. Escore de Morise Pré-teste, Morise Pós-teste (West Virginia) e Raxwal: Avaliar da probabilidade de DAC. Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Morise/Raxwal • Informações clínicas (idade, sexo, hábitos, fatores de risco, sintomas): Probabilidade Pré-teste • Probabilidade Pré-teste + Informações do T.E.: Probabilidade Pós-teste • Pode influenciar na interpretação dos resultados cintilográficos, podendo resultar, em condutas clínicas completamente diferentes para um mesmo achado. Vitola JV et al. al. Exercise supplementation to dipyridamole prevents hypotension, improves electrocardiogram sensitivity, and increases heartheart-to liver activity ratio on TcTc-99m sestamibi imaging. J Nucl Cardiol 2001;8 Ergometria em Medicina Nuclear Escores: Morise/Raxwal Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Morise/Raxwal Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Morise Ergometria em Medicina Nuclear Escores: Morise Curva de Kaplan-Meier: Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Morise/Raxwal Característica FC máxima atingida Pontuação ♂ ♀ < 100 bpm 30 20 100 – 129 bpm 24 18 16 12 12 6 8 4 15 25 6 10 0 0 130 – 159 bpm 160 – 189 bpm 190 – 220 bpm 1 – 2 mm Depressão ST > 2 mm Pontos Escore Raxwal/Morise 0 Pontuação ♂ ♀ > 55a > 65a 20 25 40-55 a 50-65 a 12 15 Típica 5 10 Atípica 3 1 6 2 0 Dislipidemia Diabetes 5 0 0 5 10 0 Tabagismo 0 10 0 Idade Angina Não- cardíaca 0 Baixa ♂: < 40 ♀: < 37 Moderada ♂: 40 – 60 ♀: 37 – 57 Homem: 0 Estado estrog 0 Positivo: - 5 Negativo: + 5 TE – Indução de angina Não-limitante Limitante 3 5 9 15 0 Alta ♂: > 60 ♀: > 57 Ergometria em Medicina Nuclear Escores Escore de Duke: -Apenas 3 variáveis do teste ergométrico para o seu cálculo: - Magnitude do desnível do segmento ST - Capacidade funcional. - Angina (somente típica) durante o esforço. Cálculo: METS - 5 x (Infra ST) – 4 x (Escore de Angina): < -11 : Alto Risco >-11 e < + 5: Moderado Risco > + 5: Baixo Risco Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Duke Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Duke Ergometria em Medicina Nuclear Escore de Duke Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado Estudo de 2001: 189 pctes sem BRE, MP ou FA: CPM com dipi divididos em dois grupos: Protocolo combinado (n=90) e Infusão isolada de dipiridamol (n=99). ! ! ! ! ! ! A média da duração máxima de exercício tolerado foi de 4.2 ± 1.3 minutos, sendo que 88% completaram estágio I (Bruce). Resultados (significativos): Hipotensão sintomática: 0% (Combinado) vs 6%(Dipi “Puro”). Adição de exercício ao dipiridamol aumentou sensibilidade das alterações ECGs de 6% para 34% (p=0.003). Redução significativa da concentração do traçador em fígado e pulmão no protocolo combinado, analisando 2.268 regiões. Maior relação da atividade coração/fígado no protocolo combinado. Melhor qualidade das imagens do exame cintilográfico. Redução de artefatos na parede inferior do VE. Vitola JV et al. Exercise supplementation to dipyridamole prevents hypotension, improves electrocardiogram sensitivity, and increases heart-to liver activity ratio on Tc-99m sestamibi imaging. J Nucl Cardiol 2001;8 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Diretriz SBC 2006 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: ASNC 2008 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Diretriz ASNC 2009 Protocolo Combinado: Quando Usar? Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Indicações ASNC 2008 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado - Redução significativa dos efeitos adversos do dipi. - Aumento da sensibilidade do ECG. - Melhor qualidade de imagens cardíacas. - Menor incidência de artefatos na parede inferior. - Redução de risco de falso-negativo em DAC isquêmica difusa com coronariopatia balanceada. Vitola JV et al. Exercise supplementation to dipyridamole prevents hypotension, improves electrocardiogram sensitivity, and increases heart-to liver activity ratio on Tc-99m sestamibi imaging. J Nucl Cardiol 2001;8 Stein L et al. Symptom-limited arm exercise increases detection of ischemia during dipyridamole tomographic thallium stress testing in patients with coronary artery disease. Am. J. Cardiol 1995, 75:568-72 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Metodologia ASNC 2008 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Metodologia Diretriz ASNC 2009 Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Metodologia • 1ª Fase (“Dipi sentado”): - Infusão de Dipiridamol por 3 minutos com paciente sentado. • 2ª Fase (“Esforço+Dipi”). - Completar a infusão de Dipi (+ 1 minuto). - Continuar esforço após término do Dipiridamol. 1ª Fase Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado: Metodologia • 3ª Fase (“Esforço Puro”): - Esforço em baixa carga. - Injeção do Traçador entre 3 a 5 minutos após término do Dipiridamol. - Manter esforço por mais 1 minuto após injeção do Traçador. • 4ª Fase (“Recuperação”): - Recuperação normal pósesforço. - Avaliar necessidade de Aminofilina. 3ª Fase Ergometria em Medicina Nuclear Protocolo Combinado Por quê não usar? Algumas considerações gerais sobre Ergometria em Medicina Nuclear - Objetivar a injeção do Sestamibi com FC > 90% se possível (no mínimo 85%). - Aguardar pelo menos 30 segundos com FC > 90% após a injeção (se possível 1 minuto): Botão: LIMITAÇÃO. - Atenção no laudo (arritmias, comportamento da PA, etc). - No laudo, oferecer ao Médico Nuclear informações objetivas e relevantes. - Evitar dados desnecessários ou causadores de confusão no laudo. Algumas considerações gerais sobre Ergometria em Medicina Nuclear - Avaliar a correlação dos testes “alterados” com imagens alteradas e vice-versa (seguimento): troca de informações entre Cardiologistas e Médicos Nucleares. - Padrão no mínimo igual ao do exame prévio que motivou a solicitação da CPM (de preferência melhor!). - Primar pela excelência do exame (“Tropa de Elite” da Ergometria). “Trocar pequenos erros por pequenos acertos conduz inevitavelmente a onda da prosperidade.” Jim Rohn