Por montes e vales pirenaicos
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Por montes e vales pirenaicos
POR MONTES E VALES PIRENAICOS - VERÃO 2006 Nestas férias, não quisemos deixar passar a oportunidade de regressar aos cenários de montanha e aos passeios pedestres que, no ano anterior, havíamos experimentado nos Picos de Europa. Desta feita, contemplámos três vales pirenaicos - Aragón, Tena e Ordesa tendo por base o parque de campismo de Gavin, situado a cerca de 2 kms de Biescas, nos Pirenéus Aragoneses. Antes, passámos um dia em Pamplona, em cujo centro histórico se desenrola a largada de touros mais célebre do mundo, durante as festas Sanfermines. Sendo uma cidade relativamente pequena, mistura as avenidas largas da monumentalidade espanhola com a traça esguia, escura e fechada das ruas das povoações serranas, embora disponha também de zonas amplas e ajardinadas modernas. O Planetário de Pamplona, implantado num jardim de arquitectura muito semelhante ao da Gulbenkian em Lisboa. Entrámos também numa edificação militar em recuperação (ao lado), mas detivemo-nos durante mais tempo na zona antiga, privilegiando a catedral e o espaço circunvizinho, entre miradouros sobre a parte baixa da urbe, ruas íngremes e estreitas, casas excelentemente recuperadas ou outras praticamente a cair… A cidade não é muito turística, pelo que os fluxos de trânsito automóvel e pedestre são aceitáveis. O que já Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 1 não é muito agradável é sermos confrontados com obras, sobretudo nas vias principais. Todavia, a situação abrangia muitas localidades por onde passámos. Nesta altura, o cartão de vista das urbes espanholas era o cenário dos guindastes. As moradias e os prédios novos reflorescem, o piso viário está a ser renovado, as zonas industriais estão a crescer imenso e as pessoas parecem menos tensas. Durante a tarde, visitámos o castelo de Olite, uma fortaleza que ainda albergou reis de Aragão, muito bem preservada, que domina a pequena vila do mesmo nome. Foi um deambular por salas e pequenos pátios, entre escadarias e torres, num espaço medieval romântico apesar de árido de mobiliário e decoração. Castelo de Olite No dia seguinte, percorremos as diversas divisões do castelo de Javier, morada dos progenitores do santo Francisco Xavier, cuja história passa também pelas cortes portuguesas. O aproveitamento do interior do castelo, permitiu reunir num espaço agradável uma colecção de obras relacionadas com a vida de Xavier. O exterior está irrepreensivelmente recuperado. Anexo, uma igreja gótica imponente edificada no cimo de um penhasco, dá ainda ao local um cunho medievo. Castelo de Javier Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 2 A introdução ao senderismo pirenaico estava reservada para o vale de Aragón, ao longo do qual alcançámos rapidamente a estação de Inverno de Candanchu, Antes, passamos por Canfranc, onde recuperam a gigantesca estação ferroviária que levava à área termal. Antiga fronteira espano-francesa No Col du Somport,, a 1640 metros de altitude, ultrapassámos o antigo posto fronteiriço, onde se está rodeado por picos pirenaicos que se eriçam para além dos dois mil metros de altitude. Estava fresco, mas a paisagem fazia esquecer os parcos 15 graus que se faziam sentir. Fingimos que passávamos a antiga fronteira à socapa e entrámos em França. Descemos a montanha e parámos numa clareira onde algumas pessoas calçavam botas de montanha. Fizemos o mesmo. Daí a pouco, passámos uma ponte, internámo-nos a na floresta e acompanhámos sobranceiros, um ribeiro - que no Inverno arrasta no leito ramos de alto porte - durante um par de quilómetros. Desistimos, quando o cenário se tornou semelhante ao de “Fim-de-semana Alucinante” ou quando o verde estimulante dos fetos começou a cobrir o solo de modo a tornar o espaço inquietantemente igual. Não fosse necessário, deixámos o caminho semeado de cascas de pistachos, um complemento alimentar catita para estas ocasiões. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 3 Serra baixo, atravessámos o túnel de Somport, itinerário recente, longo, bem iluminado, prático, que nos levou de regresso a Espanha. Agora descíamos. De um e outro lado da estrada, estreita mas com bom piso, as escarpas pirenaicas elevavam-se, ora muito ao estilo daquela espécie de espinhos dos Picos de Europa, ora com topos lisos à imagem das “mesas” americanas. Almoçámos em Jaca, localidade sentinela do vale, cuja catedral gótica estava em reparação. A fortaleza, em estilo Mauban, também não estava acessível. Havia tempo para visitar outro local curioso, o Pirenarium, um complexo lúdico-pegagógico, dotado de uma ampla zona de restauração, auditórios, e uma exposição de diversos monumentos de referência aragoneses em miniatura, além de um modelo enorme com o relevo pirenaico. Assistimos a dois filmes sobre a cordilheira, um deles com imagens digitalizadas e aéreas da zona. O programa fechava, com uma pequena teatralização que contava a lenda amorosa da bela Pirene, razão dramatizada da existência dos Pirenéus. A miniatura de uma escadaria em Teruel (que visitaríamos) decorada com motivos moçarabes. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 4 No dia seguinte, foi a vez de explorar o vale de Tena, aquele onde se encontram situadas as localidades de Gavin e Biescas. De novo em estrada catita, a trepar ao longo de uma pequena albufeira, parámos num miradouro cuja panorâmica nos colocava ao nível de alguns cumes, mas ainda longe dos picos que cresciam até à estância de esqui de Formigal. Alguns dos meios mecânicos utilizados habitualmente no Inverno para levar esquiadores para os cumes, serviam agora para carregar senderistas até percursos localizados no topo. Neste dia, optámos por visitar um parque zoológico em plena montanha, o Lacuniacha. Gamos, veados, cabras montesas, linces, lobos, bisontes, cavalos, vivem em extensos redutos a galgar a montanha, entre vegetação densa e alta. O percurso tem cerca de 4 quilómetros e é acessível a crianças. No ponto mais alto, dispõe de um miradouro, de onde é possível ter panorâmicas semelhantes às das montanhas neozelandesas do “Senhor dos Anéis”. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 5 Aproveitámos ainda para espreitar o que seria o Balneário de Panticosa. Após um estaleiro gigantesco e uma garganta que acolhia um riacho, abria-se um lago de água verde-esmeralda fronteiro a um complexo hoteleiro e termal semelhante aos nossos de Vidago, Caldas do Gerês ou São Pedro do Sul. Rodeámos o lago, mas ainda fomos obrigados a fazer alpinismo, porque um dos lados tinha saída pelos penhascos. Uma descida catita, à volta do lago do Balneário de Panticosa De regresso ao parque de campismo daqueles em que, nas casa de banho, a água das torneiras dos lavatórios sai imediatamente a ferver, dispõe de aquecimento ambiente, as instalações sanitárias são limpas regularmente e há cabinas de duche que incluem lavatório e espelho - pudemos desfrutar de um banho retemperador na piscina com uma panorâmica ímpar sobre as vertentes das montanhas que descem o vale de Tena. Ali, com uma temperatura média exterior de 25 graus, foi um luxo recostarmo-nos dentro de água e vislumbrar aqueles titânicos calhaus que recortam o horizonte a toda a nossa volta. Como diria um amigo meu, “é espectacular acordar de manhã, levantar os olhos e olhar para o Pirenéu”. De noite, choveu. Não muito, mas o suficiente para deixar uma película húmida sobre a tenda e molhar bancos e mesa. Era a vez de irmos a caminho do Parque Nacional de Ordesa, onde percorreríamos um extenso e frondoso vale, alcançável de autocarro desde a vila de Torla. Além da estrada que leva Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 6 ao início do percurso ser muito estreita, julgo que o número elevado de senderistas que ascendem ao lugar motivou o faseamento do acesso. Durante cerca de 9 quilómetros (18, ida e volta) é possível percorrer várias pistas, de um e outro lado de um rio, ora mais acima, ora mais abaixo, com possibilidades de o atravessar através de pontes espaçadas por 2 quilómetros. Nós apenas fizemos o percurso até às primeiras quedas de água - cerca de 8 kms, ida e volta - sendo que o perfil da margem direita é abrupto a partir de certo ponto, em contrate com o da outra margem, por onde regressámos, cuja inclinação é suavemente gradual. A primeira queda de água do percurso, 4 quilómetros após a partida. A vegetação cerrada oferecia alguma frescura ao percurso. O nosso, ao fim de 4 quilómetros, culminou numa queda de água de mais de 50 metros de altura, que enchia um pequeno lago onde um ou outro arriscava o gelo da água e tomava banho. Muita gente, aproveitava o lugar para merendar e especialmente para fotografar. Ouvia-se falar línguas peninsulares, mas também francês, italiano, inglês e até brasileiro. Alguns levavam crianças de colo; outros, traziam ao colo um cansaço terrível, outros, simplesmente, descansavam em cada apeadeiro. Ainda no Parque Nacional de Ordesa Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 7 O tempo ameno favorecia a caminhada. Os trilhos multiplicavam-se e divergiam desde o início, estando os principais bem assinalados. O carrossel de autocarros fazia-se de 15 em 15 minutos. O local de apoio dispunha de restaurante com preços acessíveis, de uma loja de lembranças e de serviços sanitários. Antes, a cerca de 2 ou 3 quilómetros, existia um centro de interpretação, que o autocarro também servia. Mais uma queda de água no Monte Perdido De qualquer que fosse o ângulo de observação, o “Pirenéu” surpreendia pela dimensão - estávamos num vale, embora alto, mas os mais de dois mil metros dos cumes, sobretudo da montanha que rodeávamos, espantava sobretudo pelo volume; abismava também pela diversidade das formas nos cumes, quer bicudos quer completamente direitos; enlevava pela coloração das vertentes - ora avermelhadas, ora cinzentas quase brancas, ora castanhas fortes, ora esverdeadas. Regressámos a Torla, a localidade onde se tomava o autocarro, pequena vila típica serrana, com casas em pedra, madeira e ferro. O regresso a Gavin foi mais rápido do que de manhã. De Biscas a Torla, a estrada nacional é estreita e tem muitas curvas, sobretudo a partir de uma albufeira que domina o vale antes do relevo se encrespar a caminho de Ordesa. A estrada passa a rodear os montes, segue cada vez mais alta, passa um túnel estreito e atravessa pequenas aldeias. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 8 Desmontámos a tenda na manhã seguinte e despedimo-nos dos Pirenéus quando deixámos ao longe Sabinanigo e, de um miradouro próximo pudemos vislumbrar uma parte significativa da vasta cordilheira. Dirigíamo-nos para Huesca. Depois foi Catalayud, Teruel, e Cuenca, onde passámos um dia. Outro foi passado no parque Warner de Madrid. Atravessámos Badajoz com 41 graus de temperatura exterior quando, até ali, nunca havíamos estado sob mais do 30 … Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com ASSUNTO: Por montes e vales pirenaicos - Verão 2006 Autor: Carlos Cordeiro 10-09-06 Pág. 9