explosão visual - Built with Mammoth
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explosão visual - Built with Mammoth
Fala-sede Arte EXPLOSÃO VISUAL A efervescente mistura A o mesmo tempo em que o mundo caminhava para uma volta ao minimalismo, uma explosão multissensorial começou a se propagar por vários cantos do globo, sob uma sigla misteriosa: avaf. De Nova York (bienal do Whitney, em 2004) a Oslo (no National Museum of Art, Architecture and Design, em 2009), passando por Atenas (na Bienal de 2007) e São Paulo (na de 2008), essas quatro letras têm colorido e alegrado a arte contemporânea nos últimos anos, deixando sua marca também nos salões de grandes colecionadores como a cubana Rosa de la Cruz e o grego Dakkis Joannou. Mas o que é avaf? Quantos são? Por onde passam? Para mapear o alcance desse coletivo artístico que parece um vírus a contagiar quem com ele tem contato, a Rizolli lança agora um catálogo de 300 supercoloridas e multitemáticas páginas. Avaf: Assume Vivid Astro Focus (US$ 60 na Amazon) recupera uma boa parte da rota de performances, instalações, maxiesculturas e eventos que o grupo agitou de 2002 até hoje. Essa profusão de cores, formas e sensações tem origem com um nome: Eli Sudbrack. No Acima, Eli com um patim recolhido na rua e um pé que fez parte de obra montada no Japão, em 2006.Ao lado, o livro da Rizzoli Fotos: Faustulo Machado (still) e Estate of Roy Lichtenstein de imagens do carioca Eli Sudbrack e sua turma é reunida em um livro histórico da Rizzoli e vai chacoalhar a Comme des Garçons em 2011 Por Nô Mello Foto Marcelo Krasilcic VOGUE BRASIL 142 _fala-se_arte_eli_lichtenstein_3.indd 2 20/11/2010 04:57:11 lado b fim da década de 90, o carioca de 42 anos largou a ponte aérea Rio-São Paulo e se mudou para Nova York. Foi a partir daí que o avaf começou a agregar seus muitos e variados colaboradores, que foram dando ao nome novos significados – textual e visualmente. Embora já tenha reunido mais de 20 artistas em torno de um mesmo projeto, o avaf hoje em dia se diz um duo – além de Eli, faz parte dele, desde 2005, o francês Christophe Hamaide-Pierson. Graças a um intenso trânsito de e-mails e muitas idas e vindas pelos aeroportos do planeta, os dois orquestram as várias obras que estão tocando. Só neste ano, expuseram na Galerie Hussenot, em Paris; na La Conservera, em Murcia, na Espanha; e no festival Dissonanze, em Roma. Neste mês também assinam uma instalação no privadíssimo Core Club, em Nova York, e um labirinto na Art Basel, em Miami. “Queremos nublar as noções de identidade; confundir mais que explicar ou entregar uma mensagem pronta”, diz, sem explicar muito, Eli. Os 22 projetos registrados no livro da Rizzoli, assim como as exposições coletivas dos últimos seis anos, seguem a mesma linha. “A ideia é bombardear o espectador com diversas referências e envolvê-lo em um universo infindável e explosivo”, clama o artista. Ainda que o avaf hoje seja um duo, há muito mais gente gravitando a seu redor,uma turma que mescla nomes da moda, das artes e criativos que transitam por múltiplas áreas. Tome como exemplo o braço brasileiro do grupo, que inclui: o estilista Dudu Bertolini, o performer Rick Castro, o ilustrador Fábio Gurjão e a dançarina-diretora-desenhista Renata Abbade, além dos designers Kleber Matheus e Roberta Cardoso,que assinam o projeto gráfico do livro.Em NovaYork,o avaf também une figuras tão díspares como Kenny Scharf, parceiro de longa data de Keith Haring na cena pop nova-iorquina; e o DJ e produtor Gavin Russom, da DFA Records (o selo de James Murphy, do LCD Soundstystem).“Gosto de chamar as pessoas de acordo com o projeto e deixar que elas o contaminem com suas ideias, e se deixem contaminar com as minhas”,diz Eli.Essa“contaminação” vai da obra em si até o nome do coletivo,que pode adquirir um significado diferente de acordo com a ocasião: já são mais de 300, como “axé vatapá alegria feijão”; “a very anxious feeling”; “aimez vous avec ferveur” e “always vigorous alluring fondness”. Embora símbolos e formas sejam constantemente renovados, algumas imagens permanecem: do Carnaval,das revistas pornográficas dos anos 70 e 80,de histórias em quadrinhos e capas de discos.Pairando por esse universo altamente erótico e cheio de imagens sobrepostas, surge em destaque a figura do transexual. “Sou fascinado por esse aparato de transformação que a mulher, seja ela ‘de verdade’ ou não,utiliza para seduzir,para captar a atenção”, justifica Eli.Em 2007,essa fascinação foi representada por um boneco de mais de 10 metros de altura, na instalação montada para a badalada galeria Deitch Projects (recentemente extinta), em Nova York. Rei Kawakubo captou a mensagem e, seguindo a onda do sucesso da linha de bolsas que o avaf fez com a Le Sport Sac e de camisetas e lenços com a United Bamboo, escalou o duo para dar, em 2011, um toque mais colorido à sua Comme des Garçons. O projeto envolve uma linha de camisetas e acessórios e exposições dentro de flagships da marca,como as de Londres e Tóquio. Seja um “encontro com um arco-íris”, como anuncia o texto introdutório, ou uma experiência psicodélica de cores, símbolos e imagens, o trabalho do avaf é um questionamento divertido e cheio de camadas do legado pós-moderno de mensagens do pop, muito bem retratado pelo livro. Um conjunto de 55 desenhos em p&b mostra um Lichtenstein bem diferente do que entrou para a história do pop N a discreta e sisuda Morgan Library, no coração de Midtown Manhattan, se esconde uma oportunidade rara para os seguidores da pop art: a mostra Roy Lichtenstein: The Black-and-White Drawings. É a primeira vez que os 55 desenhos em preto e branco feitos entre 1961 e 1968 são exibidos em conjunto. Eles marcam a transformação pela qual passou o artista ao deixar para trás o expressionismo abstrato e pegar a estrada já aberta por Andy Warhol,Allan Kaprow, George Segal e Claes Oldenburg. Os primeiros trabalhos são os mais básicos: sempre um único objeto (avião, sofá, caneca) centralizado em um background vazio. Depois entram mãos e pés a interagir com eles, como em Hand Loading Gun. Man with Coat e Girl With Accordion merecem atenção especial: diferentemente dos homens e mulheres saídos dos quadrinhos para as pinturas coloridas de Lichtenstein, esses são nitidamente inspirados em desenhos de propagandas populares na época. A partir de 1962, as referências vão ficando mais elaboradas. Keds, um dos destaques, partiu de uma campanha publicitária da loja de departamentos Sears. Retrabalhada muitas vezes, a imagem dá destaque ao padrão geométrico da sola do tênis, técnica que ele passa a usar com frequência depois. O ponto alto da mostra fica atrás do tapume que sustenta o texto introdutório: um quarto todo desenhado com fita adesiva preta e um “Nok! Nok!” gigante escrito na porta, instalação exibida originalmente no Aspen Festival of Contemporary Art de 1967. De Nova York, a mostra segue para Viena, onde fica até meados de maio. NM The Morgan Library & Museum: 225 Madison Avenue, www.themorgan.org. Até 2 de janeiro VOGUE BRASIL 143 _fala-se_arte_eli_lichtenstein_3.indd 3 20/11/2010 04:57:12
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