Arquivo 1 – Parte B - Litoral Sustentável
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Arquivo 1 – Parte B - Litoral Sustentável
Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Sumário_______________________________________________________________ 7 – MEIO AMBIENTE E TERRITÓRIO .................................................................................................................. 198 7.1. Unidades de conservação instituídas no Município de Santos ................................................................. 198 7.2. Parque Estadual da Serra do Mar.............................................................................................................. 199 7.3. O Núcleo Itutinga – Pilões do PESM no contexto do Município de Santos............................................... 200 7.4. Área de Proteção Ambiental Santos – Continente.................................................................................... 219 7.5. Jardim Botânico Chico Mendes ................................................................................................................. 237 7.6. Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos .............................................................................. 237 7.7. APA Marinha Litoral Centro (APAMLC) ..................................................................................................... 237 7.8. Parque Estadual Marinho da Laje de Santos ............................................................................................. 256 7.9. Ocupação urbana em Áreas de Preservação Permanente ....................................................................... 269 7.9.1. Aspectos conceituais ....................................................................................................................... 269 7.9.2. Características, condições e pontos críticos nas áreas de preservação permanente ..................... 274 7.10. Áreas naturais tombadas......................................................................................................................... 278 7.10.1. Aspectos conceituais ..................................................................................................................... 278 7.10.2. Áreas Naturais Tombadas (ANT) no Município de Santos ............................................................ 279 7.10.3. Características, condições e pontos críticos das áreas naturais tombadas em Santos ................ 282 7.11. Meio Ambiente e Território na legislação municipal .............................................................................. 282 8. GRANDES PROJETOS DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA ............................................................................. 283 8.1 Introdução .................................................................................................................................................. 283 8.2. Legislação municipal de avaliação de impacto.......................................................................................... 298 9 - MOBILIDADE URBANA E REGIONAL ............................................................................................................. 299 9.1 Princípios e diretrizes norteadoras da política nacional de mobilidade .................................................... 299 9.2 Situação da mobilidade em Santos: polarização e pendularidade ............................................................ 302 9.3 Gargalos e cobertura do sistema de transportes coletivos municipais e intermunicipais ........................ 341 9.4 Cobertura do sistema de transportes cicloviários...................................................................................... 404 9.4.1 Gargalos e sobrecarga nos sistemas viários locais e regionais ........................................................ 410 9.5. A Legislação Municipal e a Mobilidade Urbana e Regional....................................................................... 469 10. HABITAÇÃO E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................................................... 471 10.1 - Assentamentos precários e informais .................................................................................................... 471 10.1.1. IBGE (Aglomerados Subnormais) .................................................................................................. 484 10.2 - Necessidades Habitacionais no Município de Santos ............................................................................ 485 10.2.1 - Dimensionamento da Demanda Prioritária por Novas Moradias no Município de Santos ......... 486 10.2.2 - Dimensionamento das Moradias Precárias Existentes no Município de Santos ......................... 486 10.2.3 - Dimensionamento das Demandas Futuras por Novas Moradias no Município de Santos .......... 489 10.3 – Promoção pública de habitação de interesse social ............................................................................. 489 10.3.1. Promoção pública na produção de novas unidades ..................................................................... 489 10.3.2. Promoção pública na regularização fundiária, urbanização e melhoria habitacional .................. 493 10.4 Pontos críticos no atendimento habitacional .......................................................................................... 494 10.5. A legislação Municipal e a Questão Habitacional.................................................................................... 495 11 - SANEAMENTO AMBIENTAL ........................................................................................................................ 499 11.1 Gargalos na captação, tratamento, armazenamento e distribuição de água potável ............................. 503 11.2 – Sistema de Coleta e Tratamento de Esgotos ........................................................................................ 503 195 11.2.1 – Demandas por Sistemas de Coleta e Tratamento de Esgoto ...................................................... 503 11.2.2 Gargalos na coleta e tratamento de esgoto ................................................................................... 504 11.3. Problemas de drenagem urbana de Santos ............................................................................................ 525 11.4 Resíduos Sólidos ....................................................................................................................................... 551 11.4.1 Situação da geração, coleta, tratamento, destinação de resíduos sólidos domiciliares, da construção civil e saúde e da limpeza urbana ........................................................................................... 552 11.4.2 Geração, coleta, transporte e caracterização dos resíduos sólidos ............................................... 553 11.4.3 Orçamento...................................................................................................................................... 564 11.4.4 Análise do município da perspectiva de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade socioambiental e econômica em diálogo com as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos ........................................................................................................................................ 568 11.5. Saneamento e resíduos sólidos na legislação municipal......................................................................... 569 12. SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR.............................................................................................................. 570 12.1.Segurança Alimentar e Nutricional (SAN ) ............................................................................................... 570 12.1.1. Rede Operacional de Programas - políticas, programas e ações do setor público municipal e sociedade civil segundo os seguintes eixos: acesso à alimentação; produção e abastecimento agroalimentar; educação e cultura alimentar; povos e comunidades tradicionais; alimentação e nutrição no nível da saúde....................................................................................................................................... 570 12.1.2. Sistema de ação política – conselhos, conferências e orgãointersetorial..................................... 579 12.1.3. Considerações Finais ..................................................................................................................... 580 12.2. Saúde ....................................................................................................................................................... 581 12.3.1. Situação de Saúde ......................................................................................................................... 582 12.3.2. Diagnóstico dos Serviços de Saúde e dos atendimentos .............................................................. 584 12.3.3. Princípios e Diretrizes Políticas do SUS em Santos........................................................................ 588 12.3.4. O desempenho do SUS-Santos: o IDSUS ....................................................................................... 596 12.3.5. Os gastos e investimentos em saúde ............................................................................................ 598 12.3.6. Considerações e aspectos relevantes............................................................................................ 599 13 – CULTURA.................................................................................................................................................... 600 13.1.História ..................................................................................................................................................... 600 13.2.CARACTERIZAÇÃO CULTURA .................................................................................................................... 602 13.3. Comunidades Tradicionais e Culturas Populares .................................................................................... 605 13.4. Gestão cultural e politica de cultura ....................................................................................................... 606 13.5. Regulação, Preservação e Uso dos Imóveis de Interesse Histórico e Cultural do Município.................. 609 13.6. Principais desafios para o desenvolvimento cultural .............................................................................. 611 13.6.1. Fortalecimento das vocações da cidade: a identidade local ......................................................... 611 13.6.2. Fortalecimento das culturas populares ......................................................................................... 611 13.6.3 O sistema local de cultura e adesão ao sistema nacional .............................................................. 611 14- SEGURANÇA PÚBLICA.................................................................................................................................. 613 14.1 Introdução ................................................................................................................................................ 613 14.2 Santos e um quadro geral da criminalidade............................................................................................. 614 14.3 Raio X institucional e Marco Legal: primeiros apontamentos ................................................................. 624 14.4 Percepção de outros atores do cenário da Segurança Pública no município .......................................... 625 14.5 Considerações finais ................................................................................................................................. 626 15. FINANÇAS PÚBLICAS.................................................................................................................................... 628 15.1 O Orçamento de Santos - 2010 ................................................................................................................ 628 15.2 Receita Orçamentária............................................................................................................................... 629 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 15.2.1 Receitas Correntes ......................................................................................................................... 630 15.2.2 Receitas de Capital ......................................................................................................................... 632 15.2.3 Receitas Intra Orçamentárias ......................................................................................................... 632 15.2.4 Dedução da Receita Corrente ........................................................................................................ 633 15.3 Transferências de Convênios.................................................................................................................... 633 15.3.1 Convênios com o governo Federal ................................................................................................. 633 16.3.2 Convênios por indicação parlamentar - Estado de São Paulo – 2010 ............................................ 634 15.3.3 Operações de Crédito – Caixa Econômica Federal – CEF ............................................................... 634 15.4 Despesa Orçamentária ............................................................................................................................. 635 15.4.1 Estrutura da Despesa Orçamentária .............................................................................................. 635 15.5. Resumo da situação Financeira/Orçamentária ....................................................................................... 643 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................................... 646 197 7 – MEIO AMBIENTE E TERRITÓRIO 7.1. Unidades de conservação instituídas no Município de Santos O Município de Santos apresenta remanescentes bastante reduzidos de Mata Atlântica e de ecossistemas associados em seu setor insular devido à alta densidade demográfica da Ilha de São Vicente. Entretanto, vale mencionar a existência, no setor norte da Ilha, de remanescentes de manguezais e, nos diversos morros isolados do Maciço de São Vicente, de remanescentes de floresta ombrófila densa. Em contraste com o setor insular, na área continental deste mesmo Município, podem ser encontrados importantes remanescentes de florestas ombrófilas Montana, Submontana e de Terras Baixas, além de ecossistemas de restinga e vastas extensões de manguezais. A tabela 7.1 apresenta as categorias de vegetação de Mata Atlântica existentes no Município de Santos e suas respectivas áreas para o biênio 2004-2005. Tabela - Categorias de vegetação no período 2004-2005 Categorias de Vegetação Hectares Floresta Ombrófila Densa Montana (locais entre 500 e 1.000 metros de altitude) 4.450,4 Floresta Ombrófila Densa Submontana (em encostas das serras entre 50 e 500 metros de altitude) 4.069,6 Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas (altitudes inferiores a 50 metros) 406,4 Formação Arbórea/Arbustiva-herbácea de Terrenos Marinhos Lodosos (mangue) 2.621,7 Formação Arbórea/Arbustiva-herbácea sobre Sedimentos Marinhos Recentes (restinga) 1.538,6 Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Densa Montana (floresta de altitude) 1.814,0 Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Densa Submontana 3.290,6 Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas 812,2 TOTAL (correspondente a 67,62% da área total do Município de Santos) 19.003,4 Fonte: Instituto Florestal (Inventário florestal da vegetação natural do Estado de São Paulo), 2007. Os atributos anteriormente descritos somados a existência de importantes ambientes para a reprodução e preservação da biota marinha acabaram por justificar a criação de quatro unidades de conservação no Município de Santos que são expostas na tabela 7.2 e figura 7.1 Tabela 7.2 - Unidades de conservação existentes no Município de Santos UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ANO ATO DE CRIAÇÃO RESPONSÁVEL ÁREA (ha) Parque Estadual da Serra do Mar 1977 Decreto Estadual nº 10251 de 31/08/1977 Fundação Florestal 12.690,76 (em Santos) APA Santos - Continente 1992 Lei Complementar 54 de 26/06/1992 Secretaria de Meio Ambiente do Município de Santos 23.100 APA Marinha Litoral Centro Setor Itaguaçu 2008 Decreto Estadual 53.526 de 08/10/2008 Fundação Florestal 55.896,546 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Decreto Estadual nº 37.537 de 27/09/1993 Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2011 Parque Estadual Marinho da Laje de Santos 2010 Fundação Florestal 5.000 A seguir, são descritas as principais condições, demandas e pontos críticos que afetam direta e indiretamente os atributos das Unidades de Conservação existentes no Município de Santos. Figura 7.1 – Unidades de conservação existentes no Município de Santos Fonte: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 2011; Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2011´ 7.2. Parque Estadual da Serra do Mar O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) foi criado pelo Decreto nº 10.251, de 31 de agosto de 1977, e é administrado pela Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal). Ele é o maior parque do Estado de São Paulo e, também, a maior unidade de conservação de proteção integral de toda a Mata Atlântica. A área total do PESM abrange 315.390 hectares e engloba 23 municípios, desde Ubatuba, na divisa com o estado do Rio de Janeiro, até Pedro de Toledo no litoral sul, incluindo Caraguatatuba, São Sebastião, Bertioga, Cubatão, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Cunha, São Luiz do Paraitinga, Natividade da Serra, Paraibuna, SalesóPólis, Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Santo André, São Bernardo do Campo, São Paulo e Juquitiba (IF, 2011). Esta Unidade de Conservação é demasiadamente importante porque se configura como um corredor ecológico que possibilita conectar os mais importantes remanescentes de Mata Atlântica do Brasil. O PESM contribui para a conservação de 19% do total de espécies de vertebrados do Brasil e 46% da Mata Atlântica. 199 Garante também a proteção de 53% das espécies de aves, 39% dos anfíbios, 40% dos mamíferos e 23% dos répteis registrados em todo o bioma (SMA, 2007) (Tabela 7.3). Com relação às espécies vegetais, foram catalogadas 1265 espécies de plantas vasculares, sendo 61 ameaçadas de extinção (EKOSBRASIL, 2011). Das espécies vegetais, a palmeira juçara (Euterpe Edulis Martius) é a mais ameaçada em razão de seu alto valor de mercado. Esta vem sendo suprimida de forma clandestina e criminosa pela ação dos chamados “palmiteiros”. O problema é demasiadamente sério em virtude das sementes do palmito juçara servirem de alimento para diversas espécies de aves, roedores e primatas ameaçados de extinção (SMA, 2007). Tabela 7.3 – Números de espécies da fauna catalogadas no PESM FAUNA Espécies Risco de extinção MAMÍFEROS 111 21 AVES 373 42 ANFÍBIOS 144 4 - RÉPTEIS 46 3 - TOTAL 704 70 - Principais espécies ameaçadas de extinção Sagüi-da-serra-escuro, sauá, bugio e muriqui ou mono-carvoeiro. Onça pintada, anta, cateto e queixada. Paca, cotia, tatu-galinha e tamanduá-mirim Macuco, jacutinga, papagaio-da-cara-roxa, papagaio-chauá, sabiácica, pararu, pichochó, cigarra-verdadeira, gavião-pombo-grande e gavião-pomba Fonte: Pacheco & Bauer, 2000; Miretzki, 2005; Haddad & Prado, 2005; Zaher et al., 2007; SMA, 2007. O PESM possui um Plano de Manejo aprovado pela Deliberação 34/2006 do CONSEMA. Os resultados dos levantamentos realizados no Plano de Manejo foram apresentados como Temas de Concentração Estratégica, onde foram definidas as linhas de ação para a pesquisa, conservação do patrimônio natural e cultural, a proteção, o uso público e a interação socioambiental. Foram definidas 11 áreas prioritárias de manejo (principalmente para regularização fundiária e ecoturismo) (SMA/IF, 2006). Tal documento também definiu e regulamentou o seu zoneamento, com destaque para a Zona de Ocupação Temporária (áreas ocupada por terceiros), Zona Histórico-Cultural Antropológica (comunidades caiçaras e quilombolas), Zona de Uso Conflitante / Infra Estrutura de Base (rodovias, ferrovias, dutos, linhas de transmissão, estações de captação e tratamento de água, barragens, antenas de radio, TV e celulares). Além disso, foram delimitadas a zona de amortecimento, as áreas sobrepostas com terras indígenas demarcadas e as áreas intangíveis ou primitivas (áreas onde qualquer atividade humana é proibida). Em face de sua grande extensão, o PESM é gerenciado por meio de uma divisão regional em núcleos administrativos no sentido de facilitar o seu processo de gestão. São três sedes no planalto (Cunha, Santa Virgínia e Curucutu) e cinco na região litorânea (Picinguaba, Caraguatatuba, São Sebastião, Itutinga Pilões e Pedro de Toledo), sendo que para cada núcleo há um conselho gestor consultivo. 7.3. O Núcleo Itutinga – Pilões do PESM no contexto do Município de Santos O Núcleo Itutinga – Pilões (NIP) (também conhecido como Núcleo Cubatão) é um dos oito núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar. Ele possui 116.000 ha e abrange os municípios de Bertioga, Mogi das Cruzes, Santos, Santo André, São Bernardo do Campo, Rio Grande da Serra e Cubatão, onde se localiza o núcleo operacional e administrativo. A vegetação deste Núcleo é composta pela Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (também conhecida como Floresta Alta do Litoral, Floresta de Planície ou Restinga Alta) e pela Floresta Ombrófila Densa Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Submontana e Montana, também denominadas de Floresta da Encosta da Serra do Mar (SMA/IF, anexo 1, p. 09, 2006). Quanto ao seu relevo, este é formado por escarpas festonadas e morros paralelos, conglomerando Floresta Ombrófila Densa Montana e de terras baixas. Solos superficiais com textura argilo-arenosa, solo de alteração na textura variada predominando os solos nilto, arenosos. Os solos de alteração em geral apresentam xistosidade bem preservada, abundância de minerais micáceos e veias de quartzo (SMA/IF, anexo 1, p. 09, 2006). Neste núcleo foram registradas 17 espécies de mamíferos, 54 espécies de anfíbios e 7 de répteis. Existem poucos registros de espécies ameaçadas de extinção ou vulneráveis no interior deste núcleo, como é o caso dos mamíferos gato do mato e cutia e dos anfíbios Hyla cymbalum, Phrynomedusa fimbriata e Paratelmatobius gaigeae (SMA/IF, anexo 1, p. 09, 2006). Outra característica importante do Itutinga - Pilões é o seu riquíssimo patrimônio cultural que inclui a Calçada do Lorena, as Usinas Hidrelétricas do Vale do Quilombo e Itatinga, a Vila da Barragem, a Usina Henry Borden, a Vila de Paranapiacaba, a Vila de Itatinga, a Vila de Itutinga, o Polo Ecoturístico Caminhos do Mar e as artes rupestres (gravura em baixo relevo) (SMA/IF, anexo 1, p. 09, 2006). O Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar considera que o Núcleo Itutinga - Pilões é o setor mais problemático do PESM em virtude dos vetores de pressão sobre a biodiversidade ali existentes. É neste Núcleo que estão localizadas as principais rodovias que ligam o litoral paulista ao planalto (Sistema Anchieta Imigrantes) e, também, uma complexa rede de ferrovias, torres, linhas de alta tensão, dutos, antenas e hidrelétricas. Outro problema importante é a forte concentração demográfica existente em seu entorno, uma vez que ele está situado entre as regiões metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. Como consequência, as invasões, as ocupações irregulares, a caça, o corte seletivo de vegetação (principalmente a palmeira Jussara) e a poluição dos recursos hídricos ocorrem com maior intensidade (SMA/IF, 2006). Especificamente no que tange ao Município de Santos, o Núcleo Itutinga – Pilões abrange 45,16% de sua área total e está localizado nas áreas escarpadas do setor continental desta municipalidade. Tal dimensão e localização fazem com que o PESM cumpra um papel capital tanto na proteção dos mananciais locais, uma vez que o mesmo abarca as principais sub-bacias hidrográficas desta municipalidade (incluindo os rios Quilombo, Jurubatuba, Diana, Sandi e Iriri), quanto na proteção de estações de captação de água para o atendimento das demandas urbana e industrial, em virtude destas infraestruturas estarem localizadas em áreas lindeiras ao PESM ou mesmo dentro de seus limites. Outro aspecto importante inerente a este setor do Núcleo Itutinga - Pilões é que ele engloba áreas de extrema importância para a conservação da biodiversidade, incluindo vegetação, mamíferos, répteis e anfíbios (SMA/IF, 2006). a. Conselho gestor Conforme Resolução SMA 20/2008, o Conselho Gestor do Núcleo Itutinga-Pilões é formado por 24 membros titulares e 24 membros suplentes. Sendo 24 membros representantes da sociedade civil (incluindo comunidade científica, organizações não governamentais, população residente e do entorno, proprietários de imóveis no interior da unidade e setor privado atuantes na região) e 24 representantes de órgãos governamentais (quadros 7.1 e 7.2). A gestão deste Núcleo está sob a responsabilidade do biólogo Lafaiete Alarcon da Silva. Importante observar que existe uma grande demanda para se promover a capacitação e qualificação dos gestores e dos conselhos gestores dos núcleos do PESM em vários aspectos, incluindo questões administrativas, licenciamento, gestão de conflitos, instrumentos de cogestão, concessão e gestão do uso público que não vem sendo atendida (existem 250 demandas técnico-jurídicas anuais relacionadas com 201 licenciamento ambiental, Ministério Público e delegacia de polícia no Núcleo Itutinga – Pilões). Outra demanda é a capacitação para programas de proteção (DRUMOND, 2009). A última oficina de capacitação para conselheiros ocorreu no ano de 2007. O curso foi ministrado pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL), dentro do Programa de Apoio à Gestão Colegiada do PESM. Quadro 7.1 - Relação dos representantes governamentais do Conselho Consultivo do Parque Estadual da Serra do Mar – PESM Entidades Tipo Gabinete do Governador Titular Coord. Ed. Amb.SMA Suplente AGEM Titular CBH/BS Suplente Prefeitura Municipal de Sto André Titular Prefeitura Municipal de SBC Suplente Prefeitura Municipal de Cubatão Titular Prefeitura Municipal de Santos Suplente CPAI6 Titular CPAI6 Suplente Defesa Civil Titular Suplente CETESB Titular Suplente SABESP Titular SABESP Suplente Reserva da Biosfera Titular Suplente Policia Ambiental Titular Policia Ambiental Suplente UNESP SV PESM - Núcleo Itutinga Pilões PGE/Santos Titular Suplente Titular Suplente Fonte: Secretaria do meio ambiente do Estado de São Paulo, 2008. Quadro 7.2 - Relação dos representantes da sociedade civil do Conselho Consultivo do Parque Estadual da Serra do Mar – PESM Entidades Tipo Cota 200 Titular Cota 200 suplente Água Fria Titular Água Fria Suplente AMA – Paranapiacaba Titular ECOVERDE Suplente ECOVIAS Titular CPFL Suplente OAB Titular OAB Suplente Caá-Oby (folha verde) Titular Holos 21 Suplente Kerigma Titular A.P. Corridas Aventura Suplente ECOFUTURO Titular PEABIRU Suplente CIESP Titular CIESP Suplente RPBC Titular Transpetro Suplente Unisantos Titular Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Unimonte Suplente Ass. Sitiantes do PESM/It. Pilões Titular Ass. Sitiantes do PESM/It. Pilões Suplente Fonte: Secretaria do meio ambiente do Estado de São Paulo, 2008. b. Infraestrutura O Núcleo Itutinga – Pilões possui duas bases instaladas nos municípios de Cubatão e São Bernardo do Campo. A base de Cubatão possui centro de visitantes (275 m2), área de plantão (89 m2), além de áreas para atividades de educação ambiental (250 m2), administração (98 m2), fiscalização e refeitório (112 m2), garagem e almoxarifado (160 m2) e alojamento (80 m2) (SMA/IF, 2006). A base São Bernardo do Campo possui três casas funcionários de 64 m2, uma casa de funcionário de 81 m2, escritório: (81 m2) e Galpão (90 m2) (SMA/IF, 2006). A infraestrutura deste Núcleo é uma das mais adequada de todo o PESM. Entretanto, há necessidade de melhorias para o atendimento adequado à fiscalização e uso público em áreas extremas (DRUMOND, 2009). No Município de Santos, por exemplo, não há nenhuma infraestrutura de controle do uso público e fiscalização instalada, o que prejudica sobremaneira os trabalhos voltados para educação ambiental, turismo ecológico, fiscalização e vigilância. c. Recursos humanos Existem 15 funcionários dedicados as diversas atividades inerentes ao Núcleo Itutinga-Pilões, sendo 11 profissionais da Fundação Florestal e 4 do Instituto Florestal. Destes, 3 funcionários estão voltados para a gestão e suporte técnico, 7 para a fiscalização, 1 para o uso público, 2 para o apoio administrativo e 2 para a manutenção. Somam-se aos servidores públicos 4 estagiários, 9 funcionários de Empresa de Proteção Patrimonial e 45 pessoas contratadas para frentes de trabalho (SMA/IF, 2006). A demanda para capacitação dos recursos humanos do PESM também é relevante. Em 2008 ocorreu um curso de capacitação em Arcgis. Também têm sido realizadas capacitações periódicas para vigilantes ministradas nos Núcleos Picinguaba, Santa Virgínia e Cunha e estão previstas capacitações em manutenção de trilhas para todos os núcleos. Entretanto, é importante observar que a demanda é muito maior do que os eventos de capacitação já desenvolvidos, especialmente a capacitação para a implementação do Programa de Proteção da Serra do Mar (DRUMOND, 2009). Quanto ao Município de Santos, não existem monitores e funcionários exclusivamente dedicados a este setor do Núcleo Itutinga – Pilões, apesar de existirem ações sistemáticas de vigilância e fiscalização ali desenvolvidas. 203 d. Zoneamento e uso e ocupação do solo Diferentemente de sua condição em outros municípios, o Núcleo Itutinga - Pilões, no Município de Santos, encontra-se bastante preservado do ponto de vista de suas características originais e, também, não apresenta ocupações irregulares significativas. Contribui de forma significativa para este fato a existência de barreiras físicas naturais que dificultam o acesso entre o Parque e área urbanizada. Destaque para o Estuário de Santos e o Canal de Bertioga (foto 7.1). Foto – Localização do Parque Estadual da Serra do Mar no Município de Santos Núcleo Itutinga – Pilões Parque Estadual da Serra do Mar Estuário de Santos Canal de Bertioga Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2009. A vegetação deste setor do Núcleo Itutinga - Pilões é formada, em grande parte, por floresta ombrófila densa (montana e submontana).1 Devido ao bom nível de preservação desta vegetação, a maior parte da área do PESM no Município de Santos é classificada pelo zoneamento do Plano de Manejo como Zona Intangível - ZI (área com vegetação primitiva ou em estado bastante avançado de regeneração) ou como Zona Primitiva – ZP (vegetação em estágios sucessionais médio ou avançado que circunda e protege a Zona Intangível). Tanto a ZI quanto a ZP representam um importante banco genético para viabilização de projetos de recuperação dos processos ecológicos em outras zonas (SMA/IF, 2006) (figura 7.2). Já, no setor de planalto do Núcleo Itutinga – Pilões, na Serra do Quilombo e na Serra do Morrão existem áreas compostas por ecossistemas parcialmente degradados e que são classificadas como Zona de Recuperação - ZR pelo mesmo zoneamento (figura 7.2). A ZR é constituída por áreas onde devem ser recuperados os ecossistemas de forma a atingir um melhor estado de conservação e, portanto, áreas onde há uma grande demanda para o desenvolvimento de projetos voltados para o plantio de espécies nativas e para o enriquecimento de biodiversidade (SMA/IF, 2006). 1 A Floresta Ombrófila Densa (FOD) é uma mata perenifólia (sempre verde) com dossel (estrato superior das florestas) de até 50 m. Ela possui também densa vegetação arbustiva, composta por samambaias, arborescentes, bromélias, orquídeas, samambaias e palmeiras. A FOD Montana ocorre em locais entre 500 e 1.000 metros de altitude e apresenta dossel uniforme de cerca de 20 metros. A FOD submontana ocorre em locais entre 50 e 500 metros de altitude, em solo mais seco e apresenta dossel de até 30 metros (IBGE, 1992). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Destaque para a extensa área ocupada por reflorestamento de eucaliptos que está localizada no setor rural de planalto (área mais setentrional do Município de Santos). Tal problema é tratado como questão prioritária pelo Plano de Manejo, uma vez que a monocultura extensiva de eucalipto prejudica de forma significativa o fluxo gênico da flora e da fauna local. Assim, o presente documento estabelece como ação prioritária a articulação de planos de manejo florestal com os respectivos ocupantes destas áreas para que seja feita a retirada gradual desta espécie exótica (SMA/FF, 2006). Finalizando, existem alguns vetores de seccionamento da vegetação no interior do setor Santos do Núcleo Itutinga – Pilões que são classificados como Zona de Uso Conflitante pelo zoneamento do PESM (figura 7.2). A Zona de Uso Conflitante é composta por áreas com usos e finalidades de utilidade pública que conflitam com os objetivos de conservação do PESM e influem diretamente nos seus processos ecológicos (SMA/FF, 2006). Estão incluídos na Zona de Uso Conflitante: a BR-101 (Rodovia Rio - Santos), a SP-55 (Rodovia Cônego Domenico Rangoni) e as redes de alta tensão (Usina Itatinga – Porto de Santos) (foto 7.2). Além disso, enquadra-se também como área de uso e finalidade de utilidade pública a Estrada Bela Vista. Esta via provê acesso a diversas antenas repetidoras que estão localizadas no divisor de águas da Serra de Paranapiacaba, entre Santo André e Santos (foto 7.3).2 Apesar de estas intervenções estarem quase sempre associadas a impactos negativos relacionados aos processos ecológicos ou serem caracterizadas, invariavelmente, como vias facilitadoras da urbanização irregular e de ações ilegais de exploradores de recursos naturais, no caso do Município de Santos, as áreas ocupadas pela infraestrutura de base de utilidade pública não oferecem grandes problemas ao PESM. As ações previstas para estas áreas, segundo o Plano de Manejo do PESM, são (SMA/FF, 2006): Elaboração de um cadastro georreferenciado desta infraestrutura contendo a empresa, os responsáveis diretos e o contato para comunicação; Controle e o monitoramento diuturno do acesso a estas áreas a ser efetuado pelas empresas responsáveis pela infraestrutura instalada; Capacitação dos profissionais envolvidos no controle dos acessos e a articulação de ações integradas com a Polícia Ambiental. Figura – Zoneamento do PESM no Município de Santos 2 Importante observar que o PESM, em Santos, faz limite com Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, administrado pela Prefeitura do Município de Santo André. Este Parque conta com dois locais onde é feito o controle de entrada e saída de pessoas: Guarita da Estrada do Taquarussu e Guarita da Estrada da Bela Vista e as visitas só podem ser realizadas com o acompanhamento de monitores cadastrados (PMSA, 2012). 205 Fonte: Adaptado de Instituto Florestal e Instituto Ekosbrasil, 2006 Foto – Trecho da Rodovia SP-55 que cruza o PESM na altura da Serra do Quilombo Fonte: Vinícius S. Vieira, n.d. Foto - Estrada Bela Vista Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: / Ricardo J. Carvalho, n.d. e. Situação fundiária A questão da regularização fundiária é um problema crítico em todo o Parque Estadual da Serra do Mar. Dos 315.390 ha do Parque, 235.595 ha (67%) são áreas pendentes de regularização fundiária (HONORA et al., 2009). Para a solução desta e de outras demandas de regularização fundiária nas unidades de conservação do Estado de São Paulo foi criado, dentro estrutura da Fundação Florestal, em setembro de 2007, um Núcleo de Regularização Fundiária - NRF. O NRF se dedica a três linhas gerais de ação objetivando estabelecer Programas de Regularização Fundiária: Apoio Jurídico e Fundiário à gestão; Apoio Jurídico e Fundiário à elaboração dos Planos de Manejo e Compensação Ambiental. Para dar maior otimização aos procedimentos previstos nestas três linhas de ação e conjugar esforços e cooperação técnica, foi assinado, em dezembro de 2008, um convênio entre a Fundação Florestal e a Procuradoria Geral do Estado (HONORA et al., 2009) (quadro 7.3). Um resultado concreto da ação do Núcleo de Regularização Fundiária – NRF, especificamente para o Parque Estadual da Serra do Mar, foi a elaboração de um Cadastro de Ocupantes e de Ações de Desapropriação Indireta existentes nesta unidade de conservação. Quanto aos recursos financeiros para regularização fundiária, estes são oriundos principalmente de compensação ambiental e são utilizados para: levantamento fundiário (elaboração de cadastros de ocupantes, levantamentos de ações de desapropriação e atualização dos andamentos, dentre outros); análise dominial de propriedades; avaliação de propriedades e benfeitorias; aquisição de propriedades e benfeitorias; assistência técnica em ações judiciais; demarcação, sinalização e georreferenciamento; projetos de reassentamento da população residente no interior de unidade de conservação (HONORA et al., 2009). 3 3 Lei Federal 9985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). “Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei”. 207 No Município de Santos, a totalidade das propriedades inseridas no PESM são áreas em processo de aquisição ou em processo de apuração de eventuais remanescentes devolutos ou, ainda, áreas de empresas públicas. Quadro 7.3 – Linhas de ação no âmbito do Núcleo de Regularização Fundiária - NRF Esta linha de ação está vinculada às atividades de rotina do NRF e da gestão das UC’s, que podem ser exemplificadas pelas seguintes demandas: • Instrução e manifestação em processos administrativos; LINHA DE AÇÃO 1 Apoio Jurídico e Fundiário à gestão • Elaboração de respostas de demandas do Ministério Público, Poder Judiciário e Procuradoria Geral do Estado; • Recebimento de demandas da PGE e encaminhamentos junto aos gestores das UC’s (cumprimento de decisões judiciais de desocupação, congelamento, demolição, imissões na posse, dentre outros); • Apoio às Diretorias Adjuntas, respectivas Gerências e gestores na solução de conflitos fundiários (ocupações, sobreposições com Terras Indígenas e Territórios Quilombolas) e nos processos de redefinição de limites de UC’s. Esta linha de ação está vinculada às atividades de elaboração do capítulo de Caracterização Fundiária (síntese do levantamento fundiário) e do respectivo Programa de Regularização Fundiária que compõem os Planos de Manejo das UC’s estaduais, consistindo, basicamente, em: LINHA DE AÇÃO 2 Apoio Jurídico e Fundiário à elaboração dos Planos de Manejo • Sistematizar e consolidar as informações existentes sobre a situação fundiária da UC; • Providenciar levantamentos complementares, quando necessário, bem como sistematizar os resultados destes; • Definir, em conjunto com os demais Programas de Gestão (proteção, uso público, dentre outros), as prioridades para regularização fundiária; • De acordo com as prioridades, estabelecer as diretrizes e linhas de ação para elaboração do respectivo Programa de Regularização Fundiária. Esta linha de ação está vinculada à solicitação de recursos a Câmara de Compensação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente e atividades necessárias para a execução dos mesmos, a saber: • Elaborar Planos de Trabalho para solicitar recursos à Câmara de Compensação Ambiental; • Elaborar Termos de Referência para contratação de serviços; LINHA DE AÇÃO 3 Compensação Ambiental • Solicitação de orçamentos e acompanhamento dos processos de contratação; • Acompanhar a execução dos recursos; • Prestar contas dos recursos utilizados. Uma definição institucional importante refere-se ao fato de priorizar a destinação de recursos de compensação ambiental (artigo 36 do SNUC) para a elaboração dos Planos de Manejo das UC’s. Desta forma, foi definido que o Plano de Manejo de cada UC será composto por um capítulo de Caracterização Fundiária (síntese do levantamento fundiário) e pelo respectivo Programa de Regularização Fundiária. Esta definição é muito importante para delinear um Programa de Regularização Fundiária discutido em conjunto com os demais Programas de Gestão. Fonte: Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2011 f. Exploração predatória da biota (caça, pesca e corte seletivo de vegetação), monitoramento e fiscalização As ações de caçadores e palmiteiros no Núcleo Itutinga – Pilões são bastante intensas. Anualmente, nas dependências deste Núcleo, são destruídos diversos ranchos de caça e apreendidos diversos petrechos, incluindo facões, dispositivos de disparo de cartuchos, enxadas e cavadeiras, etc. O Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar definiu como prioridade para combater este tipo de problema a implementação de ações de fiscalização integrada com órgãos do SISNAMA (planejamento integrado e operações conjuntas); a ampliação do nível de participação da comunidade por meio de denúncias contra agressões; a criação de uma equipe técnica de capacitação, integrada por técnicos da instituição para treinamento e aprimoramento contínuo dos agentes de fiscalização; o estabelecimento de uma rotina de fiscalização em áreas críticas; a fiscalização das fontes de consumo de recursos naturais com Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 periodicidade para inibir a aquisição dos produtos clandestinos pelo comerciante e o monitoramento contínuo dos vetores de pressão e das ações de fiscalização (SMA/FF, 2006). Para implementar, com maior eficiência, estas e outras ações, o Governo do Estado de São Paulo criou o Plano de Policiamento Ambiental para Proteção das Unidades de Conservação (PROPARQUE). O PROPARQUE estabelece as bases doutrinárias, administrativas e operacionais para se buscar um esforço conjunto de conservação ambiental da Serra do Mar. Para tanto, traz como prioridades o planejamento conjunto de ações (gerência operacional e coordenação regional); o patrulhamento integrado; a intensificação da presença nas UCs; a identificação de áreas críticas e vulneráveis; a educação ambiental e o monitoramento do entorno (CESAR, 2010). Especificamente no caso da área do PESM localizada no Município de Santos, vale salientar que a baixa densidade populacional em seu entorno e a dificuldade de acesso existente devido à ausência de um sistema viário no local que interligue o planalto a planície costeira são importantes limitadores ao desenvolvimento de ações clandestinas, bem como para as ações de fiscalização que, portanto, são realizadas de maneira mais esporádica do que em áreas próximas a sede do NIP. Assim, vale mencionar que a principais vias utilizadas para as atividades ilegais na área do Núcleo Itutinga – Pilões, em Santos, incluindo a Trilha do Rio Quilombo e as diversas trilhas secundárias ali existentes, que interligam o Distrito de Paranapiacaba ao PESM, não apresentam um grau de controle adequado. Plano de Monitoramento da Qualidade Ambiental (PMQA) do PESM A proposta de elaboração do Plano de Monitoramento da Qualidade Ambiental do Parque Estadual da Serra do Mar está inserida no contexto do Programa da Recuperação Sociambental da Serra do Mar e do Sistema de Mosaicos da Mata Atlântica do Governo do Estado de São Paulo e conta, portanto, com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) (PMQA, 2011). O PMQA vem sendo elaborado pela empresa Tamoios Inteligência Geográfica e tem o objetivo de fornecer dados e informações para adoção de medidas preventivas e corretivas em relação à proteção ambiental do PESM. Este também permitirá mensurar o trabalho que está sendo realizado, indicando pontos a serem melhorados. A partir desses dados, será desenvolvido um sistema de monitoramento que terá como base as informações geográficas, sistemas de mapas, GPS e tecnologia da informação (REZENDE, 2011). Com sua construção iniciada em maio de 2011, o PMQA “objetiva estruturar o conceito e a arquitetura de um sistema de monitoramento da qualidade ambiental do parque baseado em um SIG (sistema de informações geográficas), incluindo uma aplicação teste em um dos núcleos do parque de modo a verificar melhorias e possíveis ajustes a serem realizados quando da contratação futura da implantação do sistema” (PMQA, 2011). O termo de referência do PMQA define que este se faz necessário para efetivar ações de manejo, identificando metodologias, indicadores e fontes de verificação mais precisas para o acompanhamento e o monitoramento das unidades de conservação e, também, para a estruturação de uma base de dados e informações. As delimitações inerentes ao desenvolvimento deste plano foram demarcadas em uma série de reuniões realizadas no ano de 2011 e que envolveram os gestores dos núcleos do PESM, a Polícia Ambiental e as equipes técnicas da FF e do IF (PMQA, 2011). A partir das discussões realizadas com os gestores dos núcleos do PESM definiu-se que o PMQA deve ser um instrumento capaz de (PMQA, 2011): Subsidiar estratégias de ação para o cumprimento dos objetivos do Plano de Manejo; Unificar as informações sobre o PESM, padronizando o registro das ações empreendidas pela FF e outras instituições, tornando-as comuns para o acompanhamento da evolução das ações por todo o “colegiado PESM”, assim como o registro histórico destas; 209 Possibilitar uma melhor comunicação institucional, facilitando a interação entre dirigentes da Fundação Florestal/SMA e gestores dos núcleos para orientar a tomada de decisão; Possibilitar a valorização do patrimônio natural e histórico-cultural perante a sociedade; Possibilitar a avaliação e a valorização das ações empreendidas para a conservação; Estimular a participação social na gestão da UC; Possibilitar a projeção de cenários para o planejamento preventivo das ações; Possibilitar a mensuração e divulgação dos serviços ambientais proporcionados pela UC; Identificar pontos críticos de pressão e monitorar os processos de licenciamento de empreendimentos e o cumprimento das respectivas condicionantes ambientais. Ademais, também definiu-se que os principais benefícios esperados com a implementação do PMQA são os seguintes (PMQA, 2011): Compilação de dados que já são gerados por diversos atores no parque (fortalecendo o sistema jurídico, inclusive). Valorizar a UC perante a sociedade. Melhor conhecimento da riqueza da biodiversidade. Tornar as respostas mais ágeis. Melhoria na gestão do território com a integração com prefeituras. Melhor qualidade de informação. Possibilidade de alimentar informações para pesquisa. Possibilidade de participação da comunidade a partir da validação dos gestores. Subsídio da possibilidade de planejamento e ordenamento territorial. Maior controle da recuperação ambiental. Padronização das informações que são geradas. Possibilidade de criação da inteligência de gestão para proteção e fiscalização. Gestão de riscos e catástrofes. Integração de gestão entre os núcleos. Valorizar a atividade do Gestor. Colocar no mesmo espaço “virtual” todas as qualidades / ameaças / pressões / condicionantes. Trazer uma melhor dimensão sobre o potencial de gestão ao Dirigente de alto escalão. Pode ajudar na gestão em função das mudanças climáticas. Possibilidade de gerar dados espacializados para definição de parâmetros de gastos por ha. Já os fatores críticos, ou seja, as questões cruciais a serem consideradas no desenvolvimento do PMQA são (PMQA, 2011): Dificuldade do convencimento das instituições para interação no sistema. Duplicação de bancos / Atores demais gerando dados. Sobrecarga de trabalho / Aumento da responsabilidade dos gestores. Dificuldade de captação de dados no licenciamento. Dificuldade para convencimento do alto escalão da SMA para integração dos dados. Inexistência de técnicos capacitados para produzir dados internamente. O SIGAM já é uma plataforma de integração de dados que não são aproveitados. Dificuldade de validação dos dados. Problemas de capacitação/Carência de recursos humanos. Inexistência de equipamentos adequados. Processo que precisa ser contínuo. É algo que demanda o sentimento de “pertencimento” do gestor para uso cotidiano. Inexistência de cultura de compartilhamento. Os acordos entre os parceiros precisam ser garantidos e redondos. Inexistência de um “SISBIO” em nível estadual. As etapas para a realização dos trabalhos inerentes à construção do PMQA estão detalhadas no quadro 7.4. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Quadro 7.4 – Etapas para a realização dos trabalhos inerentes à construção do PMQA Fonte: Fundação Florestal, 2011. 211 g. Uso público 4, 5 A questão do uso público do PESM no Município de Santos não destoa muito da realidade da maioria das unidades de conservação brasileiras. Não há uma infraestrutura local para atender o visitante, tão pouco uma estrutura administrativa voltada para a visitação e para o controle do uso público. Consequentemente, a maior parte da visitação pública é realizada sem qualquer monitoramento e manejo que objetivem minimizar os impactos ambientais causados por esta atividade. Ademais, vale mencionar que este setor do Núcleo Itutinga–Pilões não é considerado, pelo Plano de Manejo, uma área prioritária para o uso público, apesar do intenso afluxo de visitantes na temporada de verão e dos inúmeros atrativos naturais ali existentes. Consequentemente, as trilhas que dão acesso aos atrativos naturais são mal sinalizadas e não há um trabalho de manutenção periódica das mesmas (foto 7.4). Como exemplo, a trilha do Poço das Moças, no Vale do Quilombo, possui largura excessiva, apresenta solo exposto e problemas de erosão na vertente, devido ao excesso de visitantes (SMA/IF, 2006). 6 A visitação dos atrativos naturais do PESM, em Santos, é realizada, na maioria das vezes, pela oferta de pacotes de turismo de aventura feita por operadoras especializadas e guias independentes com sede na área insular de Santos ou, ainda, através de visitas espontâneas. Os passeios se iniciam na planície costeira ou no planalto e utilizam trilhas e rios para acessar os atrativos do Parque, principalmente as cachoeiras localizadas nas encostas da Serra do Mar (SMA/IF, 2006).7 Dentre os principais atrativos para visitação ali existentes destacam-se (Foto 7.4): 4 O Poço das Moças e as cachoeiras Perdida, do Banquinho e dos Perdidos. Todos localizados nas imediações da Trilha do Rio Quilombo e adjacências (fotos 7.5); Usina do Vale do Rio Quilombo e sua respectiva vila operária; Trilhas e piscina natural do Rio Jurubatuba (foto 7.6). Vide Resolução SMA nº 61/2008 que cria o Conselho Consultivo de Ecoturismo, com o objetivo de auxiliar a implantação das ações para o desenvolvimento do ecoturismo no Est. de São Paulo. 5 Vide Resolução SMA nº 59/2008 que estabelece a normatização de procedimentos administrativos de gestão e fiscalização do uso público nas unidades de conservação de proteção integral do Estado de São Paulo. 6 Atualmente, seu início encontra-se parcialmente controlado pela Associação de Monitores Ambientais de Paranapiacaba. Interditada pelo IF, na descida da Serra do Mar, a trilha foi rebatizada de Trilha do Mirante, correspondendo ao trecho dentro do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba. Do mirante, uma antiga base de antena, semi-demolida degradando severamente o local, avista-se boa parte da baixada santista e do Porto de Santos. È comum encontrar grupos percorrendo toda a trilha desde o município de Cubatão (SMA/IF, 2006, anexo I, p. 12). 7 Importante observar que os guias e operadoras de turismo devem estar obrigatoriamente cadastradas e licenciadas junto a Prefeitura do Município de Santos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Foto – Áreas sujeitas à intensa visitação e principais atrativos Áreas sujeitas à intensa visitação Foto – Poço das Moças 213 Fonte: André Pimentel, n.d. Foto – Cachoeira do Elefante Fonte: Vinícius S. Vieira, n.d. O Plano de Manejo do PESM considera que estes atrativos poderiam ser utilizados de forma mais intensiva através de um Programa de Uso Público. Entretanto, o mesmo Plano pondera que existem várias barreiras a serem transpostas para o pleno desenvolvimento deste tipo de programa, sendo estas: A não priorização desta atividade pelo Poder Público; A pouca adequação da infraestrutura de suporte; A falta de capacitação dos recursos humanos para este tipo de atividade; Atividades de lazer bastante concentradas nas praias e esportes náuticos (problema cultural). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 A transposição destas barreiras para a implementação de um efetivo Programa de Uso Público envolve 6 temas de concentração estratégica (TCE) definidos pelo Plano de Manejo do PESM, conforme exposto no quadro 7.5. Quadro 7.5 – Síntese: temas de concentração estratégica (TCE) Criar um sistema de cobrança de serviços no sentido de aumentar a arrecadação e reverter estes valores para o custeio de parte da gestão do uso público; TCE 1 Possuir um número adequado de funcionários capacitados; Manejo da visitação Criar um banco de dados de visitação para análise e gestão; Avaliar os impactos da visitação de forma sistemática; Promover o aumento da visitação controlada, com consequente diminuição da visitação clandestina; Criar subprogramas de Turismo Sustentável, Interação Socioambiental e Comunicação e Marketing. TCE 2 Criar programas de recreação dirigidos para diversos públicos; Oportunidades para recreação Elaborar materiais diferenciados para alunos, professores, monitores, guias e visitantes. TCE 3 Relacionamento com parceiros institucionais TCE 4 Aperfeiçoar as relações com parceiros institucionais; Definir os atrativos, estruturas e serviços disponíveis e necessários para operação em parceria; Definir atrativos e serviços que poderão ser terceirizados; Promover oportunidades para o empreendedorismo, co-gestão e parcerias com instituições públicas, privadas e não governamentais, sempre de forma integrada às comunidades e ao desenvolvimento local. Obs.: Vide Decreto Estadual Nº 57.401/2011 que Institui o Programa de Parcerias para as Unidades de Conservação instituídas pelo Estado de São Paulo. Este Decreto autoriza a Fundação Florestal a conceder serviços de gestão e ecoturismo em unidades de conservação à iniciativa privada, ONGs, comunidades locais e eventuais consórcios através de editais de licitação. Aumentar a infraestrutura disponível para atividades de uso público; Infraestrutura mínima por núcleo instalada e em boas condições (auditório com datashow, banheiros, etc.). Bases de apoio à visitação operando em todos os núcleos (bases mínimas de preferência instaladas à beira da entrada da trilha, varanda contínua, sala de controle, quarto com um beliche, copa e sanitários, placas de energia solar se não houver eletricidade e sistema de radiocomunicação com a sede do respectivo núcleo); As trilhas devem ser sinalizadas conforme padrão adotado pelo IF e dispor de infraestrutura mínima de segurança para os usuários, como degraus em rampas escorregadias, pontes para a travessia de pequenos riachos, corrimões quando da ocorrência de barrancos ladeando a trilha, bancos rústicos para descanso, lixeiras em pontos estratégicos. A sinalização, além de indicativa, deve facilitar a interpretação do ambiente por meio de folhetos ou painéis informativos. Regulamentar e formalizar relacionamento com monitores; Adequar e melhorar a qualidade dos serviços prestados pelos monitores ambientais; Infraestrutura de apoio à visitação TCE 5 Qualidade da monitoria ambiental TCE 6 Operação dos monitores regulamentada e formalizada com IF; Sustentabilidade econômica das atividades dos monitores ambientais. Apoiar e incentivar as atividades relacionadas ao turismo que possam ser desenvolvidas em parceria com a comunidade local; Relação com a comunidade local Gerar oportunidades de emprego e renda para a população mais próxima para que esta se interesse em manter o ambiente conservado e livre de ameaças. Fonte: SMA/IF, 2006 h. Pesquisa científica O Planejo de Manejo do PESM considera ser de importância estratégica incentivar a produção do conhecimento científico sobre os aspectos biofísicos e sociais do Parque no sentido de utilizar as pesquisas desenvolvidas como suporte a melhoria da gestão e a tomada de decisão (SMA/IF, 2006). Apesar do NIP estar entre os núcleos mais pesquisados do PESM por instituições de ensino e pesquisa, estas pesquisas são desenvolvidas, em sua grande maioria, em áreas próximas a sede do Núcleo, em Cubatão. Importante observar que mesmo nas áreas mais pesquisadas, o conhecimento científico para mamíferos, vegetação e aves ainda é baixo e precisa ser ampliado. Quanto aos anfíbios e répteis, o conhecimento científico pode ser considerado nulo. Além disso, é imprescindível incentivar o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à viabilização dos processos de regeneração dos ecossistemas (SMA/IF, 2006). No que tange ao meio biótico, pode-se elencar as seguintes diretrizes para pesquisa (SMA, 1998, pp 122 123): Realizar o levantamento da fauna e flora nos diversos setores do NIP com o objetivo de espacializar de forma representativa as sua diferentes condições ecológicas e antrópicas; Avaliar o impacto da extração do palmito sobre a fauna (especialmente primatas, aves, roedores e marsupiais) e demais espécies dependentes de dispersores especializados; 215 Pesquisar a dinâmica de regeneração natural ou induzida dos diferentes biomas após distúrbio natural e/ou antrópico; Devido ao grande endemismo e a necessidade de controle da qualidade das águas através de espécies indicadoras devem-se levantar as espécies de peixes para os riachos de cabeceira bem como caracterizar a ictiofauna da região; Realizar uma análise das comunidades de anfíbios da região no sentido de detectar alterações na densidade de várias espécies e comparar os resultados com registros obtidos anteriormente; Realizar o levantamento das espécies de cobras e lagartos da região para quantificar a biodiversidade e viabilizar o posterior estudo de comunidades; Levantar as espécies de aves, principalmente nas regiões florestadas das encostas. Este procedimento visa o estudo da biodiversidade da avifauna, o registro de possíveis extinções locais e o estudo da densidade dos grupos, principalmente aqueles mais susceptíveis (espécies indicadoras); Levantamento das espécies de mamíferos e posteriores estudos de comunidade entre as espécies com o objetivo de detectar alterações na densidade das espécies em qualquer nível; Levantamento e estudo de comunidade dos outros grupos animais não mencionados anteriormente e que não possuem registro amplo para a região, principalmente aquelas susceptíveis às alterações de hábitat a médio e curto prazo; Comparar os estudos de comunidade e inventários faunísticos com dados de literatura para outras áreas de mata atlântica do Estado de São Paulo, considerando aspectos como grau de perturbação antrópica, zoogeografia e endemismo. Uma ação necessária para ampliação da pesquisa científica sobre os aspectos biofísicos e sociais do PESM em Santos é a implantação de uma infraestrutura de apoio à pesquisa própria, independente da estrutura já existente no Município de Cubatão. Esta infraestrutura envolve a construção de um laboratório com pias e bancadas de trabalho e de um alojamento para pesquisadores, além da alocação de recursos humanos para apoio específico às pesquisas a serem desenvolvidas. Conforme exigência do Plano de Manejo deve ser mantida no local uma cópia de todos os trabalhos de pesquisa concluídos e uma listagem atualizada dos projetos em andamento (SMA/IF, 2006). A seguir apresenta-se um quadro síntese da situação atual, demandas, pontos críticos e oportunidades existentes no PESM em Santos conforme as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP (quadro 7.6). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 i. Quadro 7.6 – Quadro síntese: situação atual, demandas e pontos críticos em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP EIXOS SITUAÇÃO ATUAL E PONTOS CRÍTICOS Planejamento, fortalecimento e gestão Conselho gestor paritário, criado e em funcionamento; As ações visando o fortalecimento do papel do PESM como vetor de desenvolvimento regional e local são bastante reduzidas; 100% das terras do PESM em Santos não estão regularizadas do ponto de vista fundiário; Ausência de infraestrutura básica de funcionamento. Eixo governança, participação, equidade e repartição de custos e benefícios Não há políticas públicas específicas para o Município de Santos que visem empreender e apoiar alternativas econômicas de uso sustentável da zona de entorno do PESM; Os trabalhos de inclusão social com o objetivo de contribuir com a redução da pobreza das comunidades locais são de pequena magnitude (vide item 7.4); DEMANDAS E OPORTUNIDADES Empreender o processo de regularização fundiária; Dotar o PESM em Santos de instrumentos de gestão e infraestrutura básica de funcionamento e vigilância; Melhorar a infraestrutura disponível para atividades de uso público (instalação de equipamentos e adequação das trilhas existentes); Produção de materiais educativos e informativos sobre o Parque; Articulação de ações de gestão das áreas protegidas com as políticas públicas das três esferas de governo e com os segmentos da sociedade; Criar e implementar o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (Lei da Mata Atlântica) com o objetivo de angariar recursos do Fundo de Restauração da Mata Atlântica para financiar pesquisa científica e projetos de conservação e restauração do meio ambiente; Apoio à implementação de um sistema de fiscalização e controle efetivo. Implementar práticas de manejo sustentável dos recursos naturais e de ecoturismo na zona de amortecimento do PESM que contribuam com a inclusão social das comunidades locais e com a redução da pobreza. Inclui-se nesta diretiva: Criar um programa de turismo de base comunitária como alternativa para inclusão social; Capacitar moradores locais em situação de vulnerabilidade a atuar como monitores em ecoturismo; Criar programas de manejo de espécies nativas com o intuito de auxiliar na diminuição da demanda pela extração destas espécies no interior do PESM. 217 Capacidade institucional Existem lacunas a serem preenchidas no que tange a capacitação dos gestores, técnicos e comunidades locais. Estas lacunas incluem questões administrativas, licenciamento, gestão de conflitos, programas de proteção, instrumentos de cogestão, concessão e gestão do uso público; Ações de fiscalização baseadas em patrulhamento integrado e esporádico; Nível de conhecimento científico do ecossistema local bastante incipiente, sendo este um fator que dificulta a tomada de decisão. Avaliação e monitoramento Não há um instrumento de avaliação da eficácia e eficiência das ações voltadas para o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Plano de Manejo. Promoção de cursos de capacitação de gestores, técnicos e comunidades locais voltados para questões administrativas, licenciamento, gestão de conflitos, programas de proteção, gestão do uso público e instrumentos de cogestão e concessão com fundamento no Decreto Estadual nº 57.401/2011 que Institui o Programa de Parcerias para as Unidades de Conservação instituídas pelo Estado de São Paulo; Intensificar a estruturação e atuação integrada dos órgãos fiscalizadores; Viabilizar estrutura básica para a administração, a permanência e a segurança dos funcionários dos órgãos ambientais gestores e dotar o PESM em Santos de estrutura técnica e administrativa compatível com as suas necessidades; Estimular o desenvolvimento e utilização de tecnologias para a gestão, monitoramento e fiscalização do PESM e de sua zona de amortecimento; Estimular pesquisas voltadas para o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à proteção, reabilitação e restauração de habitats; Estimular estudos científicos e desenvolvimento de tecnologias, visando a interação de estratégias de conservação in situ e ex situ, para a proteção e reabilitação de espécies ameaçadas de extinção; Estimular o uso de novas tecnologias nos estudos de taxonomia, sistemática, genética, paisagens e relações ecossistêmicas em unidades de conservação. Implementar avaliações da efetividade, eficácia e eficiência da gestão do PESM; Estabelecer e implementar procedimentos de avaliação contínua das tendências para o PESM; Identificar indicadores e estabelecer os protocolos para monitoramento do cumprimento dos objetivos do PESM. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 7.4. Área de Proteção Ambiental Santos – Continente A Área de Proteção Ambiental Santos – Continente (APASC) foi criada pela Lei Complementar Municipal nº 54, de 09 de junho de 1992 e, presentemente, é disciplinada pela Lei Complementar Municipal nº 729, de 11 de julho de 2011. Sua administração está a cargo da Secretaria de Meio Ambiente do Município de Santos. Esta Unidade de Conservação abrange 23.100 hectares (82,2% da área total de Santos) e compõe um corredor biológico integrador dos ambientes costeiro estuarino e da Serra do Mar, abarcando toda a área continental do Município, incluindo o PESM e sua zona de amortecimento. 8 Sua criação constituiu um ato de extrema relevância para garantir a perpetuidade de processos ecológicos e fluxos gênicos em uma área com alta conservação de fisionomias vegetais e que se encontra ameaçada pela mineração e, também, pela expansão da urbanização e das atividades portuárias. Além de englobar em sua área o Parque Estadual da Serra do Mar e, portanto, todas as fitofisionomias vegetais já citadas anteriormente, a APASC também abrange todo o setor de planalto e as planícies de depósitos marinhos e flúvio-lagunares que compreendem ecossistemas associados de mangue e restinga, bem como o Ribeirão das Neves e os rios Quilombo, Jurubatuba (que abastece o Guarujá), Cabuçu, Sandi e Diana.9, 10, 11 No que tange a fauna, vale mencionar que os manguezais localizados entre Santos e Cubatão apresentam uma das maiores concentrações populacionais de fauna do Estado de São Paulo, tanto em número de espécie como de indivíduos. Diversas espécies se reproduzem ali e estes ambientes são, também, um dos mais importantes sítios de pouso e alimentação de aves migratórias (provenientes do Hemisfério Norte e do Cone Sul) da costa sudeste do Brasil (foto 7.7). 8 A Zona de Amortecimento (ZA) do PESM foi delimitada a partir de um raio de 10 km contados do limite da Unidade de Conservação e inclui toda a área continental do Município de Santos. Foram excluídas da ZA a área urbana consolidada e a área de expansão urbana prevista no antigo Plano Diretor do Município. O objetivo geral da Zona de Amortecimento é “proteger e recuperar os mananciais, os remanescentes florestais e a integridade da paisagem na região de entorno do PE Serra do Mar, para garantir a manutenção e recuperação da biodiversidade e dos seus recursos hídricos” (SMA/FF, 2006, p. 296) 9 A APAMSC contribui para a conservação de cerca de 25% dos remanescentes de manguezais da Baixada Santista. 10 Manguezal é a “vegetação com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e Santa Catarina. Nesse ambiente halófito, desenvolve-se uma flora especializada, ora dominada por gramíneas (Spartina) e amarilidáceas (Crinun), que lhe conferem uma fisionomia herbácea, ora dominada por espécies arbóreas dos gêneros Rhizophora, Laguncularia e Avincennia. De acordo com a dominância de cada gênero, o manguezal pode ser classificado em mangue vermelho (Rhizophora), mangue branco (Laguncularia) e mangue siriúba (Avicennia), os dois primeiros colonizando os locais mais baixos e o terceiro os locais mais altos e mais afastados da influência das marés. Quando o mangue penetra em locais arenosos denomina-se mangue seco” (Resolução CONAMA nº. 10/1993). 11 Vegetação de restinga é o “conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência marinha e fluviomarinha. Essas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica, sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima” (Resolução CONAMA 07/1996). “Formações de Restinga existentes na Ecorregião da Serra do Mar: Vegetação de praias e dunas - localizada próxima ao mar, sobre areia seca, onde se encontram ervas pioneiras reptantes escandentes e alguns arbustos. Jundú ou Escrube - seguindo em direção ao continente, nas partes mais altas das ondulações dos cordões arenosos, encontram-se arbustos com ramos retorcidos, bromélias terrícolas e cactáceas. Em áreas mais úmidas, entre cordões arenosos, o solo é sempre encharcado e a vegetação é herbáceoarbustiva, composta por espécies paludais. Floresta baixa de restinga - localiza-se mais para o interior, após os cordões arenosos. A vegetação é mais alta, com arbustos e arvoretas, presença de bromélias, trepadeiras e orquídeas. Brejo de restinga permanentemente inundado, com vegetação herbácea” (RBMA, 2006). 219 Foto – Manguezal do Rio Trindade Sérgio Furtado, 2010 Estes manguezais abrigam a única população de guarás-vermelhos ao sul do Maranhão, sendo esta uma espécie catalogada na lista das espécies criticamente ameaçadas de extinção. Ademais, também abrigam jacarés, lontras e espécies regionalmente raras como o gavião caranguejeiro, a águia asa-de-telha, o socó dorminhoco e as garças azuis (PMS, 2012) (foto 7.8).12 Foto – Guarás-vermelhos, Santos (SP) 12 Especificamente no que tange a região do Rio Quilombo, cumpre destacar que ali está localizado o maior ninhal de guarásvermelhos da região Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Sérgio Furtado, 2010 Outra característica importante da APASC é o seu riquíssimo patrimônio cultural que inclui sítios históricos e arqueológicos. No Vale do Rio Quilombo, por exemplo, existem ruínas de engenhos do século XVI e XVII e antigos quilombos. Já, na região do Sítio das Neves, encontra-se o sítio histórico e arqueológico do Engenho da Madre de Deus e a Igreja de Nossa Senhora das Neves, compreendendo as ruínas do engenho e da casa de Luiz Góes, cuja construção data de fins do século XVI. Além disto, encontram-se os restos arqueológicos da antiga vila de Nossa Senhora das Neves, localizada em frente ao Largo Santa Rita. Além disso, esta é uma área onde há uma vasta quantidade de sambaquis (CAVE, 1999). a. Recursos humanos e infraestrutura A APASC não possuir Conselho Gestor nem Plano de Manejo nos moldes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e, também, não há previsão temporal para criação e implementação dos mesmos.13 Tal situação é bastante preocupante uma vez que o conselho gestor e o plano de manejo são elementos indispensáveis para se atingir os objetivos estabelecidos na criação de uma unidade de conservação. Além disso, não existem servidores municipais dedicados exclusivamente à gestão desta área protegida e nem uma infraestrutura própria de gestão e fiscalização. Entretanto, convém mencionar que a Prefeitura Municipal de Santos possui um Departamento da Administração Regional da Área Continental que trata de assuntos e eventos comunitários; realiza a zeladoria e conservação de prédios e áreas públicas; empreende obras e manutenção urbana e, também, fornece apoio à regularização fundiária e realiza a fiscalização no que tange as ocupações irregulares. b. Zoneamento e uso e ocupação do solo Presentemente, a Lei Complementar Municipal n.º 729, de 11 de julho de 2011, disciplina o ordenamento do uso e ocupação do solo na área Continental de Santos e, também, na APASC (figura 7.5). Para tanto, divide a área continental do Município de Santos em áreas integradas de expansão urbana e de proteção ambiental (compreende a Área de Proteção Ambiental – APA) (art. 3º). Área Integrada de Expansão Urbana A Área Integrada de Expansão Urbana é dividida em cinco zonas, sendo estas: Zona Urbana I – ZU I; Zona Urbana II – ZU II; Zona de Suporte Urbano I – ZSU I; Zona de Suporte Urbano II – ZSU II e Zona Portuária e Retroportuária – ZPR. Zonas urbanas As zonas urbanas I e II têm como finalidade as atividades de desenvolvimento urbano, a ocupação ordenada e a regularização das áreas já consolidadas (art. 9º), sendo que na ZU II pretende-se implantar o Parque Tecnológico de Santos (art. 9º, parágrafo único). Na ZU I são permitidas as seguintes atividades (art. 19 e incisos): a manutenção de comunidades tradicionais; sítios e chácaras de recreio; manejo sustentado de espécies da fauna e flora; agropecuária, aquicultura e maricultura; empreendimentos de lazer e de turismo; assentamento urbano, loteamento e parcelamento do 13 O parágrafo único do art. 5° da Lei Complementar Municipal n.º 729/2011 estabelece que “o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental – APA definirá os corredores ecológicos e as medidas necessárias a fim de promover a proteção dos ecossistemas e o uso sustentável dos recursos naturais, integrado-os, sempre que possível, à vida econômica e social das comunidades tradicionais, observado o Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar”. 221 solo; instalações públicas, institucionais e de infraestrutura urbana; atividades comerciais e de serviços; indústrias potencialmente sem risco, de baixo ou não significativo impacto ambiental, compatíveis com outros usos urbanos; terminais rodoviários e ferroviários de passageiros; pequenas e médias estruturas de apoio náutico; estrutura viária de transposição e torres de retransmissão e a infraestrutura de apoio às instalações das atividades permitidas. Já, na ZU II (art. 20 e incisos), são permitidos todos os usos admitidos na ZU I e os empreendimentos que irão compor o Parque Tecnológico, bem como a infraestrutura de apoio às instalações das atividades permitidas (art. 20 e incisos). No que tange as zonas urbanas, tem ocorrido uma constante expansão destas tipologias sobre áreas de mangue e de restinga com a edição das leis de zoneamento que substituíram a Lei Complementar Municipal n° 54/1992. Porém, até o presente momento, a preocupante urbanização destes locais de grande relevância ambiental não ocorreu em virtude da grande dificuldade de acesso rodoviário entre os setores insular e continental do Município de Santos. Entretanto, cumpre mencionar que o Plano Viário da Área Continental e a construção do segundo núcleo do Parque Tecnológico no bairro do Guarapá devem viabilizar e incentivar o desenvolvimento de empreendimentos imobiliários de várias modalidades para a área continental de Santos, rompendo com a situação de isolamento que protegia este setor do Município da especulação imobiliária. Fundamentalmente, o Plano Viário da Área Continental, que vem sendo elaborado pela Prefeitura Municipal de Santos e que já possui uma minuta do projeto de lei complementar, prevê uma série de investimentos em infraestrutura para este setor do Município de Santos. Incluem-se aí uma ligação seca entre o bairro Saboó e a Ilha dos Bagres, bem como uma ligação viária entre o segundo núcleo do Parque Tecnológico de Santos com as rodovias SP 055 e BR 101. Ademais, vale salientar que na área continental do Município de Santos já existem pequenos bairros com sérios problemas de infraestrutura, saneamento e regularização fundiária que ocupam uma área total de 25 km2 e abrangem uma população de cerca de 4000 pessoas, sendo estes: Ilha Diana, Quilombo, Nossa Senhora das Neves, Barnabé, Guarapá, Caruara, Cabuçu-Caetê, Iriri, e Monte Cabrão (quadro 7.7 e fotos 7.9 a 7.11). Quadro 7.7 - Bairros da área continental do Município de Santos Ilha Diana Localizada na Foz do Rio Diana, na Área Continental de Santos, o bairro Ilha Diana é um povoado caiçara formado por descendentes descende de cinco antigas famílias de pescadores, que ali se estabeleceram após a construção, na década de 40, da Base Aérea de Santos, que ocupou o lugar onde viviam. O bairro possui cerca de 40 famílias, totalizando 250 habitantes. O transporte para se chegar ao local é feito por meio de uma barca da CET, cujo ponto de embarque é ao lado do Terminal República das barcas do Sistema Hidroviário que liga Santos a Vicente de Carvalho. Caruara O início da ocupação do bairro Caruara, que é o mais populoso da Área Continental de Santos com cerca de 3.500 habitantes numa área de 1,371 Km², ocorreu na década de 60, com o loteamento da Fazenda Cabuçu. Monte Cabrão O Monte Cabrão integra a Área Continental de Santos e tem cerca de 600 residentes em uma área de 631, 5 mil metros quadrados. Atualmente a população do bairro é formada por pessoas oriundas do nordeste, cuja principal atividade é a pesca e o comércio voltado para a comunidade local. CabuçuCaetê Localizado próximo a Caruara, Iriri e Trindade, a região de Cabuçu tem como ponto principal a Fazenda Cabuçu, com entrada situada às margens da Rodovia Rio-Santos e que conta com um roteiro de trilha ecológica, com córregos e cachoeiras. Já o Caeté conta com um mirante que situa-se a dois quilômetros da Fazenda Cabuçu. O acesso ao local se dá por uma trilha em aclive, de 1.200 metros, e permite a observação dos ecossistemas da mata pluvial de encosta, manguezais, o canal de Bertioga e a área urbana de Santos. Quilombo O Vale do Quilombo possui cerca de 60 famílias que vivem junto à encosta da Serra do Mar. Neste local existe a previsão de se realizar trabalhar de urbanização, uma vez que estas moradias foram abrangidas pelo Programa Serra do Mar do Governo do Estado de São Paulo. Nossa Senhora das Neves Localiza-se junto à enseada de Santa Rita, na entrada do rio Jurubatuba. Ilha Barnabé A Ilha Barnabé marca a entrada da enseada de Santa Rita, passagem para o rio Jurubatuba. A histórica Ilha Barnabé transformou-se num depósito de inflamáveis e corrosivos da Companhia Docas do Estado de São Paulo, com enormes tanques de petróleo bruto, ali deixados pelos petroleiros e navios-tanque. Guarapá Neste local localiza-se a Estância Diana, onde há culturas agrícolas diferenciadas e a criação de de búfalos da raça Murrah, que substituiu as plantações de banana na fazenda (com o declínio da cultura, a partir da década de 70). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Este bairro é caracterizado pelos sítios de veraneio e fazendas, e localiza-se ao redor do km 73 da Rodovia Cônego Domenico Rangoni. Iriri O início da ocupação do bairro do Iriri, na Área Continental, se deu entre 1850 e 1860, com as primeiras plantações de bananas na região. Em 2.000 o local tinha 23 moradores. A área do bairro é de 1.278.322, 47 metros quadrados. A origem do nome vem de fazendas existentes na região. Os pontos característicos do bairro são a Cachoeira do Iriri, Fazenda Iriri e Sítio Iriri. Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, 2012; Fundação Florestal / CDHU, 2010. Foto - Ilha Diana, Santos, SP Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2009. Foto - Caruara, Santos, SP 223 Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2009. Foto – Monte Cabrão, Santos, SP Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2009. Zonas de suporte urbano As zonas de suporte urbano compreendem as áreas degradadas, nas quais se verifica a ocorrência de atividades extrativistas minerais, sendo que a ZSU I é uma zona cujas características possibilitam a disposição final de resíduos sólidos e a implantação de atividades de interesse para o desenvolvimento portuário do Município (art. 10) e a ZSU II é uma zona cujas características possibilitam a implantação de atividades de interesse para o desenvolvimento turístico do Município (art. 11). Na ZSU I são permitidas a mineração; a disposição de resíduos sólidos; as atividades não poluentes relacionadas com a triagem e reciclagem de materiais; as atividades retroportuárias e de apoio logístico (art. 21) (foto 7.13). Na ZSU II são permitidos a mineração; os empreendimentos de lazer e de turismo; o armazenamento e unidades industriais não poluidoras e as atividades retroportuárias e de apoio logístico (art. 22) (foto 7.12). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fundamentalmente, as ZSU compreendem ou já compreenderam empreendimentos dedicados à mineração de rocha britada localizados nos morros isolados do embasamento cristalino e, também, indicam o uso futuro destes empreendimentos minerários como forma de recuperação da área degradada, sendo esta uma exigência constitucional. 14 Dentre os impactos ambientais causados por esta atividade mineraria pode-se citar a deterioração da paisagem, o desmatamento, a poluição do ar (emissões de partículas e / ou de gases na atmosfera) e, também, ruídos e vibrações decorrentes do funcionamento dos equipamentos e detonações, o que acaba por afugentar espécimes da fauna silvestre. Entretanto, a manutenção das operações destas pedreiras encontra relevância em função de serem estes empreendimentos as principais fontes de abastecimento de rocha britada para o atendimento da construção civil da Baixada Santista, região esta que tem demandado e irá demandar nos próximos anos uma quantidade significativa de agregados minerais (areia e rocha britada) para o atendimento das demandas da construção civil.15 Foto – Frente de Lavra da Pedreira Intervales (ZSU II Barnabé) Fonte: Sérgio Furtado, 2010. 14 Constituição Federal: art. 225 ... § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei (Vide Decreto n° 97.632, de 10 de abril de 1989). 15 Presentemente, operam na área continental do Município de Santos três pedreiras com concessões de lavra pertencentes às empresas PEDREIRA ENGEBRITA LTDA (ZSU II Jurubatuba), INTERVALES MINERIOS LTDA (ZSU II Barnabé) e PEDREIRA SANTA TERESA LTDA (MAX BRITA) (ZSU II Trindade). 225 Foto – Aterro sanitário sítio das neves (antiga pedreira) (ZSU I Nossa Senhora das Neves) Fonte: Imagens Aéreas, n.d. Zona Portuária e Retroportuária A Zona Portuária e Retroportuária – ZPR compreende áreas cujas características demonstram potencial para instalações rodoviárias, ferroviárias, portuárias e retroportuárias, bem como aquelas ligadas às atividades náuticas (art. 12). Na ZPR são permitidas atividades portuárias e retroportuárias; empreendimentos e atividades técnicas e/ou científicas; infraestrutura de apoio aos usos permitidos; pequenas, médias e grandes estruturas de apoio náutico – PEA’s, MEA´s e GEA´s; armazenamento e unidades industriais não poluidoras; terminais rodoviários e ferroviários; estrutura viária de transposição e torres de transmissão (art. 23). Estas zonas que foram criadas para viabilizar, entre outras atividades, estaleiros e bases de apoio às plataformas de petróleo e gás, principalmente no que tange a exploração do pré-sal da Bacia de Santos. 16 Foram delimitadas cinco zonas com potencial para esses empreendimentos, incluindo: ZPR QUILOMBO (a área de restinga lindeira ao terminal da Cosipa no Vale do Quilombo); ZPR PIAÇAGUERA; ZPR ILHA DOS BAGRES; ZPRs NOSSA SENHORA DAS NEVES SUL E NORTE; ZPR ILHA DE BARNABÉ SUL; ZPR BARNABÉ NORDESTE. 16 Importante observar que as ZPR são áreas de grande interesse do Governo do Estado de São Paulo no sentido de se implantar estaleiros na Baixada Santista. Tal proposta é empreendida pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e pela Comissão Especial de Petróleo e Gás Natural do Estado de São Paulo (Cespeg). Fundamentalmente, este setor do Município de Santos é considerado estratégico na concorrência por investidores com outros estados devido à vantagem logística que inclui a infraestrutura proporcionada pelo Porto de Santos e pela indústria de base consolidada no Polo de Cubatão. Nesse sentido, a proposta do Zoneamento Ecológico da Baixada Santista classificou grande parte destas áreas dentro das tipologias da Z5 de forma a viabilizar a instalação de empreendimentos portuários, retroportuários e infraestrutura de apoio. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Dentre os projetos de expansão portuária existentes pode-se mencionar um complexo formado por um estaleiro de reparos navais e terminais multiuso planejado para a Ilha de Bagres (em fase de licenciamento ambiental) e o novo terminal da Embraport na Ilha de Barnabé (em construção). O Complexo Bagres, que será empreendido pela empresa São Paulo Empreendimentos Portuários Ltda (SPE), pretende investir R$ 2 bilhões em um complexo de 1,22 milhão de m2 que pretende ser uma solução integradora entre o Porto e as atividades do pré-sal da Bacia de Santos. Este Complexo engloba seis empreendimentos: um estaleiro de construção e reparo naval; um cluster (espécie de condomínio empresarial) de apoio ao estaleiro e à base offshore; uma base de apoio às atividades offshore, com movimentação de carga geral; áreas de apoio e utilidades; infraestrutura para recepção e tratamento de água de lastro de navios, águas residuais, limpeza de tanques, armazenamento e movimentação de granéis líquidos; e áreas para armazenamento e movimentação de granéis sólidos. Ademais, está prevista ainda a construção de um terminal retroportuário na Área Continental, como complemento às operações na ilha, com 1,5 milhão de metros quadrados e a construção de uma ponte rodoviária que ligará o Complexo a Área Continental de Santos, mais precisamente no limite entre o Sítio Santa Rita e o Morro das Neves (A TRIBUNA DIGITAL, 2011) (figura 7.3). Figura - Projeto do Complexo Bagres Fonte: São Paulo Empreendimentos Portuários Ltda (SPE), 2011. Quanto ao terminal da EMBRAPORT (Empresa Brasileira de Terminais Portuários), este é um terminal portuário privativo de uso misto que vem sendo construído na margem esquerda do Porto de Santos e que será operado pelas empresas Odebrecht TransPort, DP World e Coimex. Este terminal começará suas operações no primeiro trimestre de 2013 com 350 metros de cais e 50 mil m² de retroárea para armazenagem de cargas em geral, a partir da chegada da primeira encomenda de equipamentos para a movimentação de contêineres. Até outubro de 2013, outros 300 metros de cais serão entregues, ampliando a extensão de atracação de navios para 650 metros e a retroárea para 207 mil m², com capacidade de movimentação anual de 1,2 milhão de TEU e 2 bilhões de litros de granéis líquidos. Esta estrutura corresponde à primeira fase de implantação do Terminal Embraport, que prevê investimentos de R$1,8 bilhão. A segunda fase do empreendimento ampliará o cais para o total de 1.100 metros de comprimento e a retroárea para 342 mil m², 227 aumentando a capacidade anual para 2 milhões de TEUs, além dos 2 bilhões de litros de granéis líquidos (EMBRAPORT, 2012) (figura 7.4). Figura - Projeto do terminal portuário da Embraport Fonte: EMBRAPORT - Empresa Brasileira de Terminais Portuários, 2011. Convém mencionar que um problema relacionado não só a estes empreendimentos, mas também a quase totalidade das áreas compreendidas pela ZPR, é a presença nestes locais de uma biodiversidade de grande relevância, incluindo a existência de espécies ameaçadas de extinção. Nestes localidades existem importantes ninhais como no caso do guará-vermelho, águia asa-de-telha, socó dorminhoco e garças azuis. Ademais, estas áreas são berçários para a vida marinha, apresentam grande aptidão para o desenvolvimento do ecoturismo e importantes sítios arqueológicos (foto 7.14). Foto – Guarás vermelhos na Ilha de Bagres Fonte: Griveroc, n.d. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Diante desta problemática estes novos empreendimentos vêm sendo submetidos a uma série de condicionantes ambientais durante o processo de licenciamento ambiental junto ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de forma a conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção ao meio ambiente. Estas condicionantes envolvem programas e iniciativas voltados para a conservação de recursos naturais, incluindo a exigência de um alto percentual de preservação de áreas de mangue e restinga; arqueologia; qualidade ambiental e iniciativas de responsabilidade social que devem ser desenvolvidas junto às comunidades que vivem nas proximidades dos empreendimentos. Ademais, vem sendo exigido também a elaboração de programas de monitoramento dos impactos ambientais sobre o meio físico e a biota. Entretanto, mesmo com as condicionantes impostas pelos órgãos ambientais, esta expansão portuária vem sendo extremamente criticada por grupos ambientalistas do Município de Santos, incluídos aí a ONG Maramar e o Cave (Coletivo Alternativa Verde). Estes grupos entendem que antes de se pensar na expansão da área portuária do Município de Santos em direção ao continente, com consequente aterramento de novas áreas de mangue deve-se, primeiramente, melhorar a gestão da área atual do maior porto da América Latina. Fundamentalmente, considera-se que ainda é possível ampliar em larga escala o volume de carga que transita atualmente pelo Porto de Santos, desde que sejam racionalizados os seus espaços físicos já existentes através de investimentos em tecnologia e gestão portuária (foto 7.15). Foto – Aterro do terminal da Embraport sobre antiga área vegetada Fonte: Imagens Aéreas, n.d. Outra preocupação importante são os impactos negativos sobre as comunidades tradicionais caiçaras que ali vivem. No caso da comunidade da Ilha Diana, por exemplo, os moradores têm dois grandes receios com relação ao terminal da Embraport (CAVE, 2010). 229 O primeiro se refere aos problemas que podem ser causados pela grande área de aterro sobre o manguezal existente entre os rios Sândi e Diana como, por exemplo, uma possível elevação dos níveis da maré de forma a causar inundações em suas residências (CAVE, 2010). O segundo está relacionado ao impacto direto que será sentido na pesca do camarão e outros peixes, uma vez que esta é a principal atividade econômica da comunidade. A principal área de pesca da comunidade esta situada no encontro dos rios citados anteriormente e com o canal de Bertioga. Nesta área há, presentemente, uma grande fartura de pescado em função de bancos de areia que se formam nesse local. Entretanto, o projeto de implantação do terminal prevê a dragagem de uma imensa área lateral do estuário, contígua a essa área de pesca e a construção de atracadouros para navios de grande porte. Assim, existe a preocupação que tais ações desencadeiem uma provável redução do volume de peixes nessa área que é a principal fonte de renda e de alimento destas famílias (CAVE, 2010). Área de Proteção Ambiental A Área de Proteção Ambiental é dividida em quatro zonas, sendo estas: Na Zona de Uso Especial – ZUE; Zona de Preservação – ZP; Zona de Conservação – ZC e Zona de Uso Agropecuário – ZUA. Zona de Uso Especial A Zona de Uso Especial – ZUE compreende a área do PESM e nela são permitidos usos com fins científicos, culturais, educativos e recreativos, de acordo com o que estabelece o Plano de Manejo desta Unidade de Conservação (art. 24). Zona de Preservação A Zona de Preservação – ZP comprende uma faixa de amortecimento que envolve o PESM, bem como manguezais, restingas e áreas de floresta ombrófila densa. Nesta zona são permitidos os seguintes usos e atividades: reservas públicas ou particulares; pesquisa científica e banco genético; recuperação de áreas degradadas; atividades educacionais, culturais e turismo monitorado; manejo autossustentado, aquicultura e maricultura; manutenção de comunidades tradicionais; pequenas estruturas de apoio náutico – PEA´s; estrutura viária de transposição e torres de retransmissão; infraestrutura de apoio às instalações das atividades permitidas (art. 25). Na ZP a taxa de ocupação máxima para infraestrutura dos usos permitidos é de apenas 5% (cinco por cento) da área (art. 33). Zona de Conservação A Zona de Conservação – ZC compreende áreas de restinga nos vales dos rios Jurubatuba, Trindade e Cabuçu. Nesta zona são permitidos todos os usos e atividades previstos para a ZP e, também, o manejo sustentado de espécies da fauna e flora e a instalação de sistemas de captação de água (art. 26). Na ZC a taxa de ocupação máxima para infraestrutura dos usos permitidos é de apenas 5% (cinco por cento) da área (art. 33). Zona de Uso Agropecuário A Zona de Uso Agropecuário – ZUA compreende a área de planalto do Município de Santos e o Vale do Rio Quilombo. Nestas áreas são permitidos todos os usos e atividades previstos para a ZC e, também, agropecuária e silvicultura; sítios e chácaras de recreio; empreendimentos de lazer e de turismo monitorado e empreendimentos comerciais de pequeno porte e não poluidores (Art. 27). Na Zona de Uso Agropecuário – ZUA a taxa de ocupação máxima para infraestrutura dos usos permitidos será de 50% (cinquenta por cento) da área (art. 34). Quanto a ZUA localizada no Planalto do Município de Santos, cumpre mencionar que esta é quase que integralmente ocupada por reflorestamentos de eucalipto que, até mesmo, adentram a área do Parque, sendo que tal fato é bastante prejudicial ao fluxo gênico desta Unidade de Conservação. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Já, no que tange ao Vale do Rio Quilombo, por ser este Tombado pelo CONDEPHAAT e, também, por possuir importantes remanescentes de restinga, este merecia ser enquadrado, pelo menos parcialmente, em uma zona mais restritiva. Figura – Zoneamento da Área Continental do Município de Santos (SP) c. Vetores de seccionamento da vegetação 17 Existem diversos vetores de seccionamento da vegetação que conflitam diretamente com os objetivos de conservação da APASC. Este tipo de intervenção, essencialmente áreas com uso e finalidade de utilidade pública que formam corredores lineares, são, em maior ou menor grau, vias facilitadoras da urbanização irregular e de ações ilegais de exploradores de recursos naturais. Adicionalmente, também influem diretamente nos processos ecológicos de diversas formas, conforme segue: Rodovia BR-101 (Rio - Santos) e SP-55 (Rodovia Cônego Domenico Rangoni) As rodovias BR-101 e SP-55 seccionam a planície costeira da APASC em áreas extremamente sensíveis, incluindo manguezais e restingas. Dentre os impactos causados por estas infraestruturas pode-se citar a divisão da vegetação ocasionando o isolamento de populações da fauna e flora local, além do afastamento de espécies animais do entorno imediato das rodovias devido ao trânsito intenso de veículos em alta velocidade, principalmente na temporada de verão. 17 Construído a partir de Forman, 1995 e 2002 apud Sakamoto, 2008. 231 Outros problemas são os alimentos atirados dos veículos que atraem animais para o entorno da Rodovia, sujeitando-os ao risco de atropelamento e os aterros sobre manguezais. No caso do aterramento, uma possível consequência é a alteração do gradiente de salinidade do manguezal. Oleoduto São Sebastião / Cubatão da Petrobras (OSBAT) Este oleoduto é formado por duas linhas de tubos de 24' que está em operação desde 1968, sendo uma linha entre São Sebastião e Guaratuba com 70,5 km de extensão e outra entre Guaratuba e a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão, com 50,5 km de extensão (CETESB, 2011). Como o traçado do Oleoduto São Sebastião / Cubatão é muito próximo ao traçado das rodovias, replica-se aqui as mesmas ponderações anteriormente efetuadas. Linhas de transmissão de energia elétrica Há uma rede de linhas de transmissão de energia elétrica advinda da Usina Hidrelétrica de Itatinga, em Bertioga, e que secciona a área da APASC. Esta linha de transmissão de energia elétrica, com larguras que variam de 30 a 60 metros, forma corredores lineares compostos de gramíneas que cortam a floresta ombrófila densa e os ambientes de mangue e restinga ensejando os seguintes impactos ambientais: Produção de efeito de borda na vegetação, afugentando espécies de interior e atraindo espécies de borda; Eletrocutamento de aves de grande porte e afugentamento de espécies animais em virtude do ruído produzido pelas linhas eletrificadas; Inibição da travessia de algumas espécies animais e facilitação do trânsito de outras devido à ausência de vegetação de maior porte; Possível interferência da radiação eletromagnética na fauna e flora (ainda existe pouca pesquisa científica acerca da amplitude deste impacto ambiental). Trilhas de acesso a cachoeiras e captações d’água Nos vales dos principais abrangidos pela APASC existem grandes trilhas que se iniciam na planície e que fornecem acesso a cachoeiras e estações de captação de água, sendo que muitos destes atrativos estão localizados dentro do PESM. Dentre os problemas causados por estas trilhas pode-se citar o intenso fluxo descontrolado de turistas, a facilitação da ação ilegal de caçadores e extratores vegetais (principalmente bromélias, orquídeas e palmito) e a divisão da vegetação desde a planície até os limites do PESM, com possíveis impactos negativos ligados a circulação de espécies animais e ao efeito de borda. Ferrovia da margem esquerda do Porto de Santos Dentre os impactos ambientais proporcionados pela ferrovia pode-se citar a produção de efeito de borda na vegetação, com o afugentamento de espécies de interior e atração de espécies de borda e inibição da travessia de algumas espécies animais e facilitação do trânsito de outras devido à ausência de vegetação de maior porte. No caso do aterramento, uma possível consequência é a alteração do gradiente de salinidade do manguezal. Ações gerais de prevenção e controle dos impactos ambientais Para os vetores de seccionamento anteriormente citados, as ações gerais de prevenção e controle dos impactos ambientais são as mesmas explicitadas pelo Plano de Manejo do PESM (SMA/FF, 2006) (vide seção 9.3.4.2 item d). Adicionalmente, é de capital relevância: Pesquisar, mapear e dimensionar os impactos ambientais ligados à divisão das manchas de vegetação e ao desequilíbrio dos gradientes de salinidade no sentido de se propor intervenções; Pesquisar, mapear e dimensionar, especialmente no setor oeste da APASC, onde a densidade de linhas de alta tensão é muito significativa, os impactos ambientais causados pelo eletrocutamento de aves, ruído e interferência da radiação eletromagnética na fauna e flora; Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Realizar campanhas educativas nas rodovias para conscientizar os viajantes e os transeuntes sobre os problemas de se atirar lixo no entorno da via. d. Exploração predatória da biota (caça, pesca e corte seletivo de vegetação), monitoramento e fiscalização Para este item, os problemas de exploração predatória da biota e as ações gerais de monitoramento e fiscalização dos impactos ambientais são as mesmas já explicitadas para o PESM. Ademais, vale mencionar a ausência de um corpo de funcionários específicos e especializados dedicados as atividades de fiscalização e monitoramento da APASC. e. Uso público e trabalhos de inclusão social No que tange ao uso público, também se faz aqui as mesmas considerações já efetuadas para o PESM. Ademais, vale mencionar os trabalhos desenvolvidos pela ONG Parcel, que procura, por meio do PROJETO INTEGRANDO GENTE PRESERVANDO NOSSAS RIQUEZAS AMBIENTAIS, realizar a inclusão social dos moradores da área continental do Município de Santos. Importante observar que este Projeto conta com apoio do Governo Federal, Prefeitura Municipal de Santos, Petrobras e Sabesp. O Projeto INTEGRANDO GENTE PRESERVANDO NOSSAS RIQUEZAS AMBIENTAIS, tem como principal objetivo integrar as comunidades dos cinco bairros principais da Área Continental de Santos, visando preservar e divulgar seus atrativos ambientais. O projeto atua nos bairros Caruara, Iriri, Monte Cabrão, Ilha Diana e Vale do Quilombo e sua grande missão é criar um meio de integrar estas comunidade e inseri-las no contexto social e turístico de Santos de forma a gerar renda através de um plano que envolve (PARCEL, 2012): Desenvolvimento de um calendário de eventos turísticos da área continental de Santos que incorpora eventos a serem realizados pelas comunidades, como festa do caranguejo, festa da jaca, festa da Tainha, Semana Cultural dos Quilombolas e campanhas de preservação aos mananciais; Elaboração de uma linha de ecoprodutos da área continental de Santos (Colar de Escama de Peixe; Patchwork; Calendário; Arandela de fibra de banana; Tapete de fibra de banana; Almofada de fibra de banana; Vela com rosas e laranja; Vela Triângulo; Vela pirâmide algas; Bolsa de pele de peixe); Passeios turísticos em parceria com as comunidades tradicionais através de cinco pacotes (Trilha Histórica das Águas Claras do Quilombo; Passeio ecológico de barco da Ilha Diana até Caruara; City tour em Caruara com degustação do prato típico da Área Continental de Santos; Estudo do Meio do Manguezal de Caruara e Trilha interpretativa da Costa Atlântica - Manancial do poço). f. Pesquisa científica A ampliação do conhecimento científico sobre espécies ameaçadas de extinção existentes na área APASC é muito relevante para fornecer suporte a melhoria da gestão e a tomada de decisão com relação aos projetos desenvolvidos nesta unidade de conservação. Além disso, é imprescindível incentivar o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à viabilização dos processos de regeneração dos ecossistemas de mangue e restinga, não só para a APASC em si, mas também para utilizá-lo como um laboratório para desenvolver metodologias de recuperação deste ecossistema em outras áreas do País. Importante mencionar que, no que tange a população de guarás-vermelhos existente nos manguezais de Cubatão/Santos, estes têm uma importância incalculável por constituírem a última grande população remanescente da área que, no passado, abarcava a distribuição sul da espécie e que ia do sul do Espírito Santo até Santa Catarina. Assim, a importância de sua preservação torna-se maior, primeiramente, porque implica em preservação de um material genético e representa a única fonte disponível de indivíduos que se poderia utilizar para trabalhos de repovoamento (CAVE, 1999). Pesquisar os impactos ambientais provocados pela divisão das manchas de vegetação, pelo desequilíbrio dos gradientes de salinidade devido às obras de infraestrutura e pelas linhas de alta tensão também são ações muito relevantes no sentido de se propor intervenções. 233 Convém mencionar que um apoio importante para a ampliação da pesquisa científica sobre os aspectos biofísicos e sociais da APASC é a implantação de uma infraestrutura de apoio à pesquisa própria e que envolve a construção de um laboratório e de um alojamento para pesquisadores na área continental, além da alocação de recursos humanos para apoio específico às pesquisas a serem desenvolvidas.A seguir apresentase um quadro síntese da situação atual, demandas, pontos críticos e oportunidades existentes na APAMSC em Santos conforme as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP (quadro 7.8). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 g. Quadro 7.8 - Quadro síntese: situação atual, demandas e pontos críticos em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP SITUAÇÃO ATUAL DEMANDAS E PONTOS CRÍTICOS Eixo Planejamento, fortalecimento e gestão As ações visando o fortalecimento do papel da APASC como vetor de desenvolvimento regional e local são bastante incipientes e fragmentadas; Ausência de infraestrutura básica de funcionamento. Elaboração do plano de manejo Criar o conselho gestor; Definir as áreas onde devem ser desenvolvidos trabalhos voltados para a recuperação desta área degradada, incluídos aí o plantio de espécies nativas e o enriquecimento de biodiversidade local; Dotar a APASC de instrumentos de gestão e infraestrutura básica de funcionamento (Implantação de um centro de visitantes, incluindo auditório, equipamentos para exibição de audiovisuais, biblioteca, sanitários, postos de vigilância); Melhorar a infraestrutura disponível para atividades de uso público (instalação de equipamentos e adequação das trilhas existentes); Produção de materiais educativos e informativos sobre a APA; Articulação de ações de gestão das áreas protegidas com as políticas públicas das três esferas de governo e com os segmentos da sociedade; Criar e implementar o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (Lei da Mata Atlântica) com o objetivo de angariar recursos do Fundo de Restauração da Mata Atlântica para financiar pesquisa científica e projetos de conservação e restauração do meio ambiente; Apoio à implementação de um sistema de fiscalização e controle efetivo. Eixo Governança, participação, equidade e repartição de custos e benefícios Não há políticas públicas específicas para o Município de Santos que visem empreender e apoiar alternativas econômicas de uso sustentável da zona de entorno da APASC; As práticas de manejo sustentável dos recursos naturais na área da APASC são bastante restritas; Os projetos que visam contribuir com a redução da pobreza das comunidades locais são restritos a Terra Indígena Ribeirão Silveira. Incluir as comunidades da área continental de Santos em cursos técnicos e programas de formação de mão de obra de forma a inseri-las no amplo mercado de trabalho que será criado com a instalação de empreendimentos portuários. Implementar práticas de manejo sustentável dos recursos naturais e de ecoturismo na APASC que contribuam com a inclusão social das comunidades locais e com a redução da pobreza. Inclui-se nesta diretiva: Fortalecer as práticas de manejo sustentável dos recursos naturais; Desestimular a expansão urbano-imobiliária na área da APASC utilizando; Inclusão dos pescadores e comunidades tradicionais em programas de desenvolvimento sustentável; Incentivar o ecoturismo e criar um programa de turismo de base comunitária como alternativa para inclusão social; Capacitar moradores locais em situação de vulnerabilidade a atuar como monitores em ecoturismo; Implantar e fortalecer sistema de indicadores para monitoramento permanente da biodiversidade, especialmente de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Capacidade institucional Ações de fiscalização baseadas em patrulhamento integrado e esporádico; Melhorar o nível de conhecimento científico sobre os ecossistemas como suporte a tomada de decisão. Avaliação e monitoramento Criar instrumento de avaliação da eficácia e eficiência das ações voltadas para o cumprimento dos Intensificar a estruturação e atuação integrada dos órgãos fiscalizadores; Viabilizar estrutura básica para a administração, a permanência e a segurança dos funcionários dos órgãos ambientais gestores e dotar a APASC de estrutura técnica e administrativa compatível com as suas necessidades; Estimular o desenvolvimento e utilização de tecnologias para a gestão, monitoramento e fiscalização da APSC; Estimular pesquisas voltadas para o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à proteção, reabilitação e restauração de habitats; Estimular pesquisas voltadas para a geração de conhecimento e tecnologias adequadas ao aproveitamento agropecuário sustentável; Estimular pesquisas voltadas para a avaliação dos impactos ambientais provocados pela divisão das manchas de vegetação, pelo desequilíbrio dos gradientes de salinidade devido às obras de infraestrutura e pelas linhas de alta tensão; Estimular estudos científicos e desenvolvimento de tecnologias, visando à interação de estratégias de conservação in situ e ex situ, para a proteção e reabilitação de espécies ameaçadas de extinção; Estimular o uso de novas tecnologias nos estudos de taxonomia, sistemática, genética, paisagens e relações ecossistêmicas do ambiente de restinga. Implementar avaliações da efetividade, eficácia e eficiência da gestão da APASC; Estabelecer e implementar procedimentos de avaliação contínua das tendências para a APASC; Identificar indicadores e estabelecer os protocolos para monitoramento do cumprimento dos objetivos da APASC. 235 objetivos a serem estabelecidos no Plano de Manejo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 7.5. Jardim Botânico Chico Mendes O Jardim Botânico Chico Mendes tem o objetivo de preservar diferentes espécies de plantas e cultivar as mudas que abastecem os jardins da praia e ruas da cidade de Santos. Sua fundação deu-se em 1925, sob a denominação de Horto Municipal, que ficava ao lado da Santa Casa, onde foram plantadas as primeiras mudas. Em 1973, esse cultivo passou a ser feito no terreno atual. Em 1994 o Horto se transformou em Jardim Botânico, passando a acolher programas de conservação das espécies nativas da Mata Atlântica. Reformado em 2001, ganhou um chafariz e deck de madeira, sobre o lago maior, para eventos culturais. Seus 90 mil m² tem um acervo vivo de mais de 300 espécies vegetais, divididas em 20 coleções, com destaque para as espécies da Mata Atlântica, as espécies da Amazônia, o bosque de pau-brasil, árvores de madeira de lei e 65 qualidades de palmeiras, inclusive a imperial, usada na arborização da Av. Ana Costa. A diversidade do Jardim Botânico pode ser apreciada em passeio monitorado pelas alamedas asfaltadas e iluminadas, que facilitam a prática de caminhadas. O parque é equipado com bancos e mesas de madeira, possui três lagos com patos, marrecos, gansos e uma ilha com macacos. Ainda tem um viveiro de animais silvestres, playground e campo de futebol. Lá também está instalada a estufa do Projeto Terra, que vende plantas ornamentais cultivadas por pacientes dos Núcleos de Atendimento Psicossocial (TUDO DE TURISMO, 2012). 7.6. Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos O Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos foi inaugurado em 1945 e conta com mais de 22 mil m² de área que mistura jardins cultivados com espécies naturais da mata atlântica, animais silvestres e uma coleção de orquídeas. Além de estufa que possui uma coleção que conta com centenas de orquídeas, este Parque conta com um lago de 1180 m2 que recebe aves migratórias. Também possui animais silvestres que vivem soltos no Parque. Entre as espécies da fauna ali existentes, cumprem mencionar muitas raras ou ameaçadas de extinção como macacos-aranha, macucos, guarás, jacuguaçus, micos-leões-dourados e sauins (TUDO DE TURISMO, 2012). 7.7. APA Marinha Litoral Centro (APAMLC) A APA Marinha do Litoral Centro (APAMLC) foi criada pelo Decreto Estadual nº 53.526, de 8 de outubro de 2008, e é administrada pela Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal). Ela possui 449.259,70 hectares e é a maior unidade de conservação marinha do País. Em sua área de abrangência estão os municípios de Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012).18 Para efeito de gestão, a APAMLC é subdividida em três setores: Setor Guaíbe - Municípios de Bertioga e Guarujá, englobando as ilhas do Arvoredo, das Cabras e da Moela (Área: 123.123,170 ha); Setor Itaguaçu - Parque Estadual Marinho da Laje de Santos e entorno (Área: 55.896,546 ha); Setor Carijó - planície sedimentar de Praia Grande até Peruíbe, englobando ilhas próximas à costa, como a Laje da Conceição, ou distantes como a Ilha da Queimada Grande (Área: 270.239,988 ha). 19, 20 18 A APAMLC faz parte do Mosaico das Ilhas e Áreas Marinhas Protegidas do Litoral Paulista que engloba as APAS estaduais marinhas dos litorais: Norte, Centro e Sul, a APA Estadual da Ilha Comprida e a APA Municipal de Alcatrazes (São Sebastião); os parques estaduais da Ilha Anchieta, Ilhabela, Laje de Santos, Xixová-Japuí e Ilha do Cardoso; as áreas de relevante interesse ecológico estaduais de São Sebastião e do Guará; as Unidades de Conservação costeiras integrantes do Mosaico Estadual de Unidades de Conservação da Juréia-Itatins e Jacupiranga; as Unidades de Conservação costeiras do Estado São Paulo integrantes do Mosaico Federal da Bocaina e as Unidades de Conservação costeiras do Estado de São Paulo integrantes do Mosaico Federal do Litoral Sul do Estado de São Paulo e Litoral Norte do Estado do Paraná (Artigo 1° e incisos do Decreto Estadual nº 53.528, de 8 de outubro de 2008). 237 Adicionalmente, devido à importância dos manguezais como berçário de espécies e para cadeia alimentar marinha, foram incorporados aos limites da APA Marinha do Litoral Centro os manguezais adjacentes aos rios Itaguaré, Guaratuba, Itapanhaú e Canal de Bertioga, no Município de Bertioga, bem como os manguezais localizados junto ao rio Itanhaém (Município de Itanhaém) e aos rios Preto e Branco (Município de Peruíbe). 21 A criação da APAMLC se produziu pela necessidade de se proteger, ordenar, garantir e disciplinar o uso racional dos recursos ambientais em um setor do litoral paulista composto por ecossistemas litorâneos de altíssima relevância relacionada tanto à sua rica biodiversidade quanto à sua importância socioeconômica (potencial pesqueiro, turístico, esportivo, científico, mineral e energético). Nas últimas décadas, uma série de práticas têm ameaçado estes ecossistemas marinhos, reduzindo os estoques comerciais e colocando muitas espécies da fauna e flora marinha em risco de extinção. Dentre estas práticas, cumpre destacar (SMA, 2008): A perda e comprometimento de habitats devido a aterros, poluição, contaminação e construção de portos, marinas, indústrias e residências em manguezais, praias lodosas, planícies de marés, marismas e restingas; A pesca ilegal com explosivos ou aparelhos de ar comprimido, a sobrepesca, a pesca de cardumes sem o tamanho adequado e o corte indiscriminado de aletas de cações e tubarões; A contaminação do mar e a desertificação do fundo marinho devido ao uso de parelhas de arrasto; A destruição de bancos de algas calcárias e a degradação de ambientes estuarinos e costeiros; A caça submarina e a captura irregular para aquariofilia. Na sequencia, a figura 7.6 traz o Mapa da APA Marinha Litoral Centro e a tabela 7.4 apresenta informações sobre espécies da biota marinha existentes no litoral paulista, incluindo o número de espécies em risco de extinção e observações sobre questões inerentes a estas. 19 Artigo 2º e incisos do Decreto Estadual nº 53.526/2008. Foram excluídas dos perímetros da APA Marinha Litoral Centro as áreas de fundeadouro e de fundeio de carga e descarga; as áreas de inspeção sanitária e de policiamento marítimo; as áreas de despejo, tais como emissários de efluentes sanitários; os canais de acesso e bacias de manobra dos portos e travessias de balsas; as áreas destinadas a plataformas e a navios especiais, a navios de guerra e submarinos, a navios de reparo, a navios em aguardo de atracação e a navios com cargas inflamáveis ou explosivas; as áreas destinadas ao serviço portuário, seus terminais e instalações de apoio e as áreas destinadas à passagem de dutos e outras obras de infraestrutura de interesse nacional (art. 4° e incisos do Decreto Estadual nº 53.526/2008). 21 § 2º do artigo 2º do Decreto Estadual nº 53.526/2008. 20 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Figura – Mapa da APA Marinha Litoral Centro Tabela – Espécies da biota marinha do litoral paulista BIOTA Espécies Identificadas Risco de extinção PEIXES MARINHOS 500 17 Observações Existem 150 espécies de peixes recifais que são pertencentes à 44 famílias. Cerca de 20% das espécies são endêmicas ao Brasil. ALGAS BENTÔNICAS 300 - São muito importantes porque fornecem alimento e refúgio a diversos organismos marinhos e compõem, juntamente com protistas e invertebrados marinhos formadores do plâncton, a base da cadeia alimentar, desde os corais até as baleias. INVERTEBRADOS - - Dentre os invertebrados marinhos ameaçados de extinção estão: Caranguejo-uçá e espécies de anêmona-do-mar, ceriantos, gorgônia, coral-de-fogo, estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, pepino-do-mar, esponja, molusco e poliquetas, entre eles o verme-defogo. CETÁCEOS 24 3 Destes, os com avistagens ou encalhes mais frequentes são baleia-de-bryde, baleiafranca, boto-cinza, bototoninha, golfinho-pintado, golfinho nariz-de-garrafa e golfinhode-dentes-rugosos, todos muitas vezes observados acompanhados de filhotes e jovens, portanto, espécies residentes que utilizam áreas interiores fluviais e lacunares, ou marinhas e o Mar Territorial. A orca é visitante sazonal e muito regular, que se aproxima da costa para se alimentar (fotos 7.16e 7.17). TARTARUGAS 5 5 Tartaruga-verde, a tartaruga-de-pente, a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-de-couro e a tartaruga oliva, sendo que todas estão criticamente ameaçadas. AVES COSTEIRAS E MARINHAS > 200 - Há uma enorme gama de aves migrantes de longo percurso e visitantes sazonais que dependem dos ambientes litorâneos para a alimentação e forrageamento. Nas áreas úmidas costeiras, como manguezais e brejos, podem-se encontrar aves aquáticas costeiras que são extremamente adaptadas e que utilizam estes ambientes para se reproduzir e alimentar. Dentre as aves existentes na APAMLC estão diversas espécies de albatroz e gaivotinha, a fragata, o atobá e o gaivotão (fotos 7.18 e 7.19). Dentre as espécies de aves ameaçadas de extinção pode-se citar algumas espécies de albatroz, a gaivotinha trinta-réis-real, o papagaio da cara roxa e o guará-vermelho. 239 Fonte: SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008; C AMPOS, F. P.; PALUDO, D.; FARIA, P. J.; MARTUSCELLI, P. 2004; Instrução Normativa MMA nº 03, de 27 de maio de 2003 - Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção; Espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes de água doce ameaçados de extinção no Estado de São Paulo, 2008. Foto – Baleia Orca avistada nas proximidades da costa de Bertioga Fonte: Simone RH, n.d. Foto – Golfinhos nas proximidades da costa de Bertioga Fonte: Simone RH, n.d. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Foto – Atobás no Município de Bertioga Fonte: Nilson Kabuki, 2009 Foto – Atobá em voo na costa de Bertioga Fonte: Simone RH, n.d. a. Conselho Gestor Conforme Resolução SMA 90/2008, o Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro é formado por 24 membros titulares e 24 membros suplentes. Sendo 24 membros representantes da sociedade civil (incluindo organizações ambientalistas e organizações dos setores de turismo, esporte náutico, pesca e educação) e 24 representantes de órgãos governamentais (quadros 7.9 e 7.10). A gestão deste Núcleo está sob a responsabilidade do oceanógrafo com especialização em Pesca e Aquicultura Marcos Buher Campolim (foto 7.20). 241 Foto – Reunião do Conselho Gestor da APAMLC em 14/04/2009 Fonte: Guilherme Kodja, 2009 Quadro - Relação dos representantes governamentais do Conselho Consultivo da APA Marinha Litoral Centro Entidades Tipo Prefeitura Municipal de Santos Titular Prefeitura da Estância Balneária de Mongaguá Suplente Prefeitura Municipal de São Vicente Titular Prefeitura Municipal da Praia Grande Suplente Prefeitura Municipal de Guarujá Titular Prefeitura do Município de Bertioga Suplente Prefeitura Municipal de Itanhaém Titular Prefeitura da Estância Balneária de Peruíbe Suplente Fundação Florestal Titular / Suplente Instituto de Pesca da Secretaria da Agricultura e Abastecimento / Agência Ambiental Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Planejamento Ambiental - CPLA Titular / Suplente Titular / Suplente Polícia Militar Ambiental / 17º GP Bombeiros Titular / Suplente Sabesp / Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais – CBRN Titular / Suplente IBAMA Titular ICMBio - Instituto Chico Mendes de Biodiversidade Suplente MARINHA DO BRASIL Titular / Suplente SEAP – Secretaria de Aquicultura e Pesca da Presidência da República Suplente Fonte: RESOLUÇÃO SMA nº 090, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2008. Quadro - Relação dos representantes da sociedade civil do Conselho Consultivo da APA Marinha Litoral Centro Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Entidades - Setor Pesca (6 cadeiras) Tipo Sociedade Amigos do Perequê – SAPE – Guarujá Titular Sociedade Amigos da Prainha Branca – SAPB – Guarujá Suplente Colônia de Pescadores André Rebouças Z- 4, São Vicente Titular Colônia de Pescadores José de Anchieta Z-13, Itanhaém Suplente Colônia de Pescadores Floriano Peixoto Z-3, Guarujá Titular Colônia de Pescadores Z-5 Júlio Conceição, Peruíbe Suplente Colônia de Pescadores José Bonifácio Z-1, Santos Titular Sindicato dos Pescadores e Trabalhadores Assemelhados do Estado de São Paulo Suplente Sindicato da Indústria da Pesca no Estado de São Paulo – SPESP Titular Central de Orientação, Desenvolvimento e Apoio da Pesca Responsável – COPERE Suplente Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado de São Paulo – SAPESP Titular ALPESC - Associação Litorânea da Pesca Extrativista Classista do Estado de S. Paulo Suplente Entidades - Setor Turismo e Esporte Náutico (2 cadeiras) Tipo Associação Vivamar Titular Iate Clube de Santos Suplente Associação Oceano Brasil Titular AOM Suplente Setor Ambientalista (2 cadeiras) Tipo Instituto Laje Viva Titular ------ Suplente Instituto Maramar Titular Associação Tuim – Proteção e Educação Ambiental Suplente Setor Educação (2 cadeiras) Tipo Universidade Católica de Santos – UNISANTOS Titular --- Suplente Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC Titular --- Suplente Fonte: Secretaria do meio ambiente do Estado de São Paulo, 2011. Com o início das atividades do Conselho Gestor da APAMLC, foram levantadas as prioridades para elaboração do termo de referência do Plano de Manejo e para gestão desta UC através de Grupos de Trabalho (GTs). Posteriormente, alguns destes GTs foram transformados em Câmaras Técnicas (CT): CT de Pesca – assuntos prioritários para o ordenamento pesqueiro (Composição: Entidades Governamentais - Prefeitura Municipal do Guarujá, IBAMA, Polícia Ambiental, Marinha do Brasil, Instituto de Pesca, Fundação Florestal, CPLA; Entidades da Sociedade Civil – SAPESP, Copere, colônias de pecadores Z1, zZ e Z13, SIPESP, SAPE, UNISANTA, Associação Vivamar); CT de Educação e Comunicação (Composição: Entidades Governamentais - IBAMA, SABESP, Prefeitura Municipal de São Vicente, Polícia Ambiental, Prefeitura Municipal de Guarujá, Fundação Florestal, SMA / CPLA; Entidades da Sociedade Civil – Associação Vivama, Colônia de Pescadores Z-5 “Júlio Conceição” de Peruíbe, SAPESP, UNISANTOS, Tuim Ambiental, Instituto Albatroz, ALPESC); CT de Planejamento e Pesquisa (Composição: Entidades Governamentais - Instituto de Pesca, Prefeitura Municipal de Santos, Marinha, Prefeitura Municipal de São Vicente, Prefeitura Municipal de Guarujá, SMA / CPLA, Fundação Florestal; Entidades da Sociedade Civil – UNISANTA, SAPESP, UNISANTOS, Colônia de 243 Pescadores Z-4 “André Rebouças” de São Vicente, Instituto Albatroz, Instituto Maramar, SEAP, SIPESP, Associação Vivamar). Além disso, foram criadas as comissões de Proteção e do Canal de Bertioga (vinculada ao CT de Planejamento e Pesquisa). Atualmente, apesar de já ter sido elaborado o termo de referência (TdR) para contratação da elaboração do Plano de Manejo com a participação dos conselheiros, os trabalhos referentes à elaboração do mesmo ainda não foram contratados e estão, portanto, atrasados, conforme o art. 10 do Decreto nº 53.526/2008 que criou a APAMLC. 22 b. Infraestrutura A APA Marinha Litoral Centro possui uma única sede física localizada no Museu da Pesca em Santos. c. Recursos humanos Apesar de contar com o apoio do quadro de funcionários do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo e da Fundação Florestal, bem como com o suporte técnico das CTs, pode-se afirmar que a equipe de trabalho da APAMLC é bastante reduzida em face da ampla extensão desta Unidade de Conservação e de sua grande complexidade socioambiental, que exige um conhecimento multidisciplinar bastante diversificado. d. Pesca A questão da pesca é um tema primordial a ser regulamentado na área da APAMLC em face da alta produção pesqueira e da grande densidade de barcos de pesca artesanais e industriais existentes nos municípios da baixada santista. Entre Bertioga e Peruíbe existem 43 pontos de desembarque de pescado, sendo que a sardinha, a corvina e o camarão-sete-barbas são os recursos mais pescados (BASTOS, 2011) (tabela 7.5 e foto 7.21). Tabela – Estatística pesqueira dos municípios abrangidos pela APAMLC - 2011 GRUPOS (kg) MUNICÍPIO Crustáceos Equinodermas Moluscos Peixe cartilaginoso Peixe ósseo Total SANTOS / GUARUJÁ 1.890.328 - 469.639 316.511 9.583.058 12.259.536 BERTIOGA 196.043 - 244 4.460 28.902 229.649 PERUÍBE 40.938 4 29.158 2.772 71.487 144.358 SÃO VICENTE 3.400 - 229 377 97.896 101.903 CUBATÃO 68.768 - - - 31.611 100.379 PRAIA GRANDE 296 - - 2.996 80.886 84.176 MONGAGUÁ 1.634 - 3 2.230 48.854 52.721 ITANHAÉM 33.804 - 470 470 12.478 47.222 TOTAL 2.235.211 4 499.743 329.816 9.955.172 13.019.944 Fonte: Estatística Pesqueira - Instituto de Pesca do Estado de São Paulo. Foto - Barcos de pesca e turismo no Bairro Santa Cruz dos Navegantes –Município do Guarujá 22 Decreto nº 53.526/2008: “Artigo 10 - O Plano de Manejo da APA Marinha do Litoral Centro deverá ser elaborado e aprovado no prazo de 2 (dois) anos”. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Pablto, 2008. Pesca artesanal Pode-se afirmar que um problema bastante evidente na área da APAMLC é a deterioração das condições de vida dos pescadores artesanais e de suas famílias nas últimas décadas devido tanto à poluição das águas estuarinas e marinhas como à forte concorrência da pesca industrial. Este problema deve ser tratado com questão prioritária no que tange ao planejamento e a implementação de planos de desenvolvimento sustentável para área da APAMLC, uma vez que se estima que há um universo de 10.000 pessoas que vivem direta ou indiretamente da pesca artesanal na região da baixada santista. 23 Em pesquisa desenvolvida por Gefe et. al (2004), onde foram cadastrados 2731 pescadores distribuídos em 17 comunidades (76% situados nos trechos de São Vicente, Bertioga e Rio do Meio / Santa Cruz dos Navegantes e aproximadamente 22% distribuídos na área interna do estuário de Santos/Cubatão/São Vicente / Guarujá), concluiu-se que a situação dos pescadores artesanais na região da baixada santista é de altíssima miserabilidade em face das seguintes condições: Renda insubsistente (69,7% receberam mensalmente menos de R$ 100,00); Baixa instrução no ensino (87,2% tem somente o curso fundamental - incompleto ou completo e 3,3% são analfabetos); Estrutura econômica familiar, tradicional, de subsistência, e informal, voltada para a atividade primária da pesca, com instrumentos e embarcações rudimentares, pescando peixes, crustáceos e moluscos; Escassez de pescado devido à poluição das águas estuarinas e marinhas; 23 Estimativa feita por Gefe et al. (2004) em pesquisa sobre aspectos socioeconômicos da pesca artesanal na região da Baixada Santista 245 Somente 58% possuem o Registro Geral de Pesca (RGP); 93,8% não recebem ou receberam o salário desemprego na parada do defeso devido à desinformação e ausência de cadastro; 52,2% são obrigados a ter outra profissão para sobreviver; 95% deles nunca haviam realizado nenhum curso na área de pesca; 56,3% vendem direto ao consumidor e 43,7% para intermediários; As moradias verificadas, em sua grande maioria, não recebem água tratada, e, portanto, os moradores são obrigados a consumir a água disponível no entorno; A pesca de subsistência se dá através do consumo de pescado contaminado; Falta de investimento e situação de abandono pelas instituições públicas; Em pior situação estão os pescadores que vivem no interior do estuário. Estes estão sem pescado, totalmente desarticulados e em situação de miséria absoluta. Outra questão bastante relevante e que deve ser considerada quando do planejamento e implementação de políticas públicas é o número não desprezível de mulheres que se dedicam às atividades correlacionadas à pesca artesanal, principalmente ao descasque do camarão. Estas representam 14% da força de trabalho e vivem, em sua grande maioria, no Rio do Meio e em Santa Cruz dos Navegantes - Guarujá (GEFE, et. al, 2004). Pesca de arrasto e pesca com compressor de ar ou outro equipamento de sustentação artificial O artigo 6º do Decreto nº 53.526/2008 determinou a proibição da pesca de arrasto com a utilização de sistema de parelha de barcos de grande porte e a pesca com compressor de ar ou outro equipamento de sustentação artificial, em qualquer modalidade, devido a pressão que estas atividades exercem sobre o estoque pesqueiro. 24 Os parâmetros técnicos que estabelecem estas proibições supracitadas, segundo o parágrafo único do art. 6° do mesmo Decreto, são de competência da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), devendo ser ouvido o Conselho Gestor da APAMLC. Assim, tal questão foi levada ao GT Pesca da APAMLC que realizou uma série análises e discussões. Como resultado, após deliberação do Conselho Gestor, foram encaminhadas as seguintes recomendações à SMA: 25 Definição de embarcação de grande porte em sistema de parelhas como acima de 100 AB; Proibição da pesca de arrasto com a utilização de parelhas em profundidades inferiores a isóbata de 23,6 m; Todas as parelhas para atuarem no interior da APAMLC obrigatoriamente devem integrar o programa PREPS (Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações por Satélites). O equipamento deve ser instalado no prazo de 60 dias a partir da publicação da resolução de regulamentação; Orienta-se à FF/SMA que efetive o controle das áreas de operação das parelhas via rastreamento por satélite (PREPS); Orienta-se o embarque de observadores científicos a bordo para o acompanhamento da atividade, ficando a cargo do Instituto de Pesca especificar a metodologia e as embarcações que serão monitoradas e consolidar os relatórios para apresentação e acompanhamento junto do Conselho Gestor da APAMLC; Orienta-se a realização de um estudo conjunto do Instituto de Pesca com o setor produtivo para determinação de dimensões de redes apropriadas ao objetivo de sustentabilidade ambiental e econômica; 24 “O arrasto de parelha consiste no emprego de uma grande rede de formato cônico arrastada por duas embarcações geralmente idênticas. A boca da rede é mantida aberta pela distância entre as duas embarcações, com o recolhimento e lançamento da rede sendo realizados por uma embarcação. Esta modalidade de arrasto se caracteriza pela maior eficiência em profundidades de até 60 m, além da grande dimensão das redes empregadas. No Sudeste e Sul do Brasil, as redes de parelha chegam atingir 80 metros de tralha superior, resultando em uma abertura horizontal da boca da rede da ordem de 55 metros, enquanto que a abertura vertical chega a 6 metros” (UNIVALI, 2012). 25 ATA da 5ª reunião do Conselho Gestor da APAMLC. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Orienta-se que a FF encaminhe para conhecimento do Ministério da Pesca e Ministério do Meio Ambiente o processo de regulamentação da pesca com parelhas nas APAs Marinhas do Estado de São Paulo; Orienta-se que as propostas de recomendações da APAMLC sejam consideradas para análise junto aos Conselhos Gestores das APAMLS e APAMLN. Munida destas recomendações e de recomendações formuladas pelos conselhos gestores das APAS marinhas dos litorais norte e sul, a SMA editou a Resolução SMA - 69, de 28 de setembro de 2009. Tal Resolução estabeleceu em seu art. 1° que nas Áreas de Proteção Ambiental Marinhas dos litorais Norte, Centro e Sul, a atividade de pesca com compressor de ar ou outro equipamento de sustentação, em qualquer modalidade, independentemente da Arqueação Bruta (AB), está proibida. Já, a atividade de pesca de arrasto com a utilização de sistema de parelhas de embarcações na APAMLC ficou proibida em profundidades inferiores à isóbata de 23,6 m, independentemente das suas Arqueações Brutas (art. 1°, § 2º da Resolução SMA -69/2009) (vide figura 7.6). Além disso, a mesma Resolução obrigou todas as embarcações que praticam o sistema de pesca de arrasto por parelhas no interior da APAMLC, independentemente de sua Arqueação Bruta (AB), a integrar o Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações por Satélite – PREPS. No caso das embarcações que não dispunham do equipamento necessário para integrar o PREPS, deu-se aos seus proprietários o prazo de 60 (sessenta) dias, a partir da publicação da Resolução SMA 69/2009, para que a instalação do equipamento fosse realizada (art. 1°, §§ 3º e 3º da Resolução SMA -69/2009). Regulamentação da pesca do camarão A questão da regulamentação da pesca do camarão é outro tema que vem sendo discutido arduamente pelo Conselho Gestor da APAMLC. Essencialmente, entende-se que há a necessidade de se realizar um ordenamento desta atividade na área da APAMLC com o objetivo de se evitar a sobrepesca (que vem diminuindo sensivelmente os estoques nos últimas décadas) e regulamentar, de forma clara, as modalidades de pesca que serão permitidas com o intuito de se evitar impactos ambientais significativos. Uma preocupação, por exemplo, é a pesca de camarão pela modalidade de arrasto (sistema de porta) que funciona como arado, fazendo sulcos que degradam o fundo marinho. Estima-se que um bote de pesca de camarão-sete-barbas arrastando durante uma hora varre aproximadamente a área correspondente a três campos de futebol, ou seja, 30 mil m2, obtendo em média menos de 10 kg de produção (CASARINI, 2010). Assim, entre os anos de 2010 e 2011, foram realizadas várias reuniões (envolvendo análise e discussão das informações coletadas) no âmbito da Câmara Temática de Pesca da APA Marinha Litoral Centro (APAMLC). Pesquisadores com expertise na pesca do camarão-sete-barbas apresentaram trabalhos sobre a caracterização da frota pesqueira dirigida a esta modalidade existente na região e as modalidades de pesca adotadas. Adicionalmente, foram realizadas reuniões com pescadores de camarão-sete-barbas em todos os Municípios integrantes da APAMLC. Estas reuniões tiveram o apoio das prefeituras e das colônias dos municípios e foram coordenadas pelo gestor da APAMLC. Regulamentação da pesca de redes de praia e rede de espera (emalhe) A regulamentação destes dois tipos de pesca começou a ser discutida 24ª reunião da Câmara Temática de Pesca do Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro (APAMLC), realizada no dia 12 de setembro de 2011, a partir de um parecer apresentado pelo Instituto Oceanográfico sobre a regulamentação desta atividade, em especial sobre rede estaqueada. Esta é uma discussão de suma importância em virtude da pesca de redes ser o principal fator de sobrepesca que resultou na diminuição dos estoques de peixes do litoral paulista. Por esta razão, a organização não governamental ambientalista VIVAMAR, que faz parte do Conselho Gestor, defendia, dentro das discussões sobre esta regulamentação, a proibição total, ou a criação de zona de exclusão de pesca de qualquer tipo de redes no limite mínimo de distância de 1,5 milhas da costa e da desembocaduras de rios e canais, 1 milha no entorno de ilhas e parcéis e dentro de baías e estuários. Sendo que a partir do limite mínimo de 1,5 milhas 247 ocorreria a liberação da prática dessa modalidade de pesca de forma gradativa em função da distância da costa porte de embarcação e tamanho de rede e malha (VIVAMAR, 2011). A proposta supracitada se justifica em função da prática dessas modalidades de pesca, quando efetuadas abaixo do limite inferior a 1,5 milhas de distância da costa, barra de rios/canais estuários e no entorno de ilhas e parceis (áreas com maior incidência de acúmulo de cardumes de várias espécies), resultar na captura de milhares de peixes na desova e na grande mortandade de peixes ainda jovens (VIVAMAR, 2011). Entretanto, a proposta defendida por pescadores se contrapunha a proposta dos ambientalistas ao prever a liberação de redes de lance de praia e a liberação total de colocação de redes de espera (emalhe) sem limite de distância da praia para pescadores artesanais com embarcações de pequeno porte (pesca de micro-escala). Como resultado destas discussões e no intuito de compatibilizar os interesses divergentes supracitados, foi editada a Resolução da Secretaria do Meio Ambiente (SMA) nº 51, de 28 de junho de 2012, que, presentemente, regula o exercício de atividades pesqueiras profissionais realizadas com o uso de redes nas praias inseridas nos limites da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro. São abrangidas por esta resolução as praias voltadas para o mar, desde o município de Peruíbe até Bertioga, com exceção da Baía de Santos/São Vicente, uma vez que esta não é abarcada pela APAMLC. A seguir a tabela 7.5 traz uma síntese da regulamentação estabelecida pela Resolução SMA nº 51/2012. Tabela - Síntese da Resolução SMA nº 51/2012 Especificações dos petrechos de pesca Arrasto de praia (lanço de praia ou arrastão de praia) • Comprimento máximo: 500 m; • Tamanho mínimo de malha: 70 mm (nós opostos); • Utilização de tração humana exclusivamente. Picaré para caceio de praia • Comprimento máximo: 50 m; • Altura máxima: 3,5 m; • Tamanho mínimo de malha: 70 mm (nós opostos); • Panagem simples; Rede Singela (pano simples) para caceio de praia • Comprimento máximo: 50 m; • Altura máxima: 3,0 m; • Tamanho mínimo de malha: 70 mm (nós opostos); • Panagem simples; Rede feiticeira ou tresmalho para caceio de praia Tarrafa • Comprimento máximo: 60 m; • Altura máxima: 5,0 m; • Tamanho mínimo de malha interna: 70 mm (nós opostos); • Tamanho mínimo de malha externa: 140 mm (nós opostos); • Utilização de tração humana exclusivamente. • Tamanho mínimo de malha para peixes: 70 mm (nós opostos); • Tamanho mínimo de malha para camarões: 26 mm (nós opostos). Observações gerais Pescadores profissionais • Todas as pessoas envolvidas na atividade de pesca e que utilizam os petrechos previstos na Resolução SMA nº 51/2012 devem ser, obrigatoriamente, pescadores profissionais. Locais e horários de utilização dos petrechos de pesca • Não poderão ser utilizados nas desembocaduras de rios com áreas distantes até 500 m em direção ao mar e nas áreas adjacentes; • Não deverão ser utilizados entre 9h00 e 19h00 em praias urbanizadas ou com frequência de banhistas, em qualquer período do ano. • De março a novembro, com exceção dos finais de semana e feriados, a pesca com esses petrechos é permitida em qualquer horário, somente nas seguintes praias: • Ruínas (Peruíbe); • Gaivota, Jamaica, Bopiranga, Jardim Suarão, Campos Elíseos e Marrocos (Itanhaém); • Flórida Mirim, Jussara, Itaóca, Jardim Praia Grande, Vila Atlântica e Vera Cruz (Mongaguá); • Perequê e Praia Branca (Guarujá); • Indaiá, Itaguaré, Guaratuba e Boracéia (Bertioga). e. Educação e comunicação O principal programa de educação e comunicação incidente nas APAS marinhas do litoral do Estado de São Paulo é o programa Pesca Sustentável em Áreas Marinhas Protegidas. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Este programa foi elaborado pela Coordenadoria de Educação Ambiental da SMA e contou com a contribuição do Instituto Chico Mendes, IBAMA, Instituto de Pesca, Fundação Florestal, Polícia Ambiental e colônias de pescadores. Os trabalhos de implementação deste projeto ocorreram no ano de 2009 e envolveram: Oficinas de informação para pescadores; Trabalhos de educação ambiental (atividades culturais para crianças); Edição do livro Pesca Sustentável em Áreas Marinhas Protegidas. Oficina de informação para pescadores Evento realizado em conjunto com as prefeituras municipais abrangidas pelas APAS marinhas dos litorais norte, centro e sul e direcionado à comunidade pesqueira. Foram realizados seis cursos para pescadores que abrangeram os municípios de Cananéia, Iguape, Peruíbe, Guarujá, São Sebastião e Caraguatatuba. No total, as oficinas envolveram 212 participantes entre palestrantes, convidados e pescadores (CEA/SMA, 2012). Nestas oficinas de informação foram abordados os seguintes temas: Pesca sustentável, legislação, fiscalização e unidades de conservação; Discussões práticas para os pescadores, enfatizando aspectos ambientais marinhos importantes. Trabalhos de educação ambiental (atividades culturais para crianças) Projeto realizado com a colaboração de diretorias de ensino de escolas dos municípios de Iguape, Cananéia, Iguape, São Sebastião, Ilhabela, Peruíbe e Guarujá. Foram realizadas atividades culturais abordando temas referentes ao meio ambiente marinho e seus problemas ambientais com um total de 348 alunos (CEA/SMA, 2012). Cartilha sobre Pesca Sustentável em Áreas Marinhas Protegidas É uma publicação de 58 páginas editada em 2009 pela Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo. Esta publicação visa disseminar boas práticas pesqueiras em áreas marinhas protegidas do litoral paulista, tendo como objetivo a divulgação de informações sobre (CEA/SMA, 2012): Ecologia marinha; Pesca sustentável e legislação ambiental; A importância das APAS (Áreas de Proteção Ambiental) para a proteção do meio ambiente marinho e a melhoria da qualidade de vida local. Foram impressas e distribuídas 500 cartilhas aos pescadores. Além disso, o material está disponível para download em formato PDF no site da SMA. f. Planejamento e pesquisa Os trabalhos da Câmara Técnica de planejamento e pesquisa têm priorizado as pesquisas em áreas de manguezais em virtude de uma demanda do Ministério Público (GT Canal de Bertioga – Análise do processo erosivo que está afetando os manguezais) e da necessidade de se caracterizar os manguezais inseridos na APAMLC (tal questão é explicitada no item i desta seção). A Secretaria de Estado do Meio Ambiente tem um Programa de Pesquisa Ambiental que conta com a participação de várias instituições do Estado de São Paulo e que possui vários resultados já obtidos no que tange ao ambiente marinho. 249 Neste caso, faz-se necessário sistematizar os resultados já produzidos de forma a gerar subsídios para a gestão das APAS marinhas, bem como direcionar os novos trabalhos científicos e projetos no sentido de atender as demandas voltadas para um bom manejo destas unidades de conservação. Além disso, é cogente integrar as ações, os projetos e as pesquisas já realizadas por instituições federais e por organizações não governamentais que atuam na região, como é o caso dos institutos Laje Viva e Albatroz, assim como o Projeto Tamar. Priorizar pesquisas voltadas para o conhecimento da fauna de invertebrados marinhos é outra ação importante. Segundo Migotto & Tiago (1999, p. 303) “em termos percentuais, a fauna de invertebrados marinhos do estado de São Paulo ainda é pouco conhecida, pois os números de espécies citadas oscilam, no geral, entre 1 e 2% do total de espécies conhecidas para o grupo, sendo comum na literatura a menção ao parco conhecimento acumulado sobre a fauna marinha do Atlântico Sul-Ocidental” . Ainda, devem-se aprofundar as pesquisas de espécies da ictiofauna marinha que vivem em fundos consolidados irregulares, como costões rochosos continentais ou insulares. Segundo Castro & Menezes (1998, p. 8) “a ictiofauna marinha do estado tem sido estudada principalmente através de amostragens obtidas por meio de redes de arrasto de fundo rebocadas por embarcações motorizadas. Este tipo de amostragem só é aplicável eficientemente em fundos planos de substratos não consolidados, o que privilegia a coleta de espécies demersais de plataforma, em detrimento de espécies vivendo em ambientes de fundos consolidados irregulares, como costões rochosos continentais ou insulares (v. Vazzoler, 1993; para sinopse do estudo da ecologia de peixes marinhos no Brasil). Assim, visando a desfazer este desequilíbrio na forma de amostragem, é prioritária a aplicação em maior escala de métodos mais variados, seletivos e capazes de amostrar eficientemente os microambientes de costões e fundos rochosos e praias em geral, tais como, espinhéis com iscas variadas, ictiotóxicos, coletas durante mergulho livre ou autônomo etc”. Uma outra questão relevante para o planejamento da atividade pesqueira refere-se à falta de informações estatístico-pesqueiras fidedignas relativas à frota de pesca artesanal de pequena escala. Para Alves et. al (2009), tal fato contribui negativamente para a elaboração de um adequado ordenamento pesqueiro que é de importância capital face ao elevado contingente de embarcações e de pessoal envolvido nesta atividade e dada à importância ecológica das áreas de atuação dessa frota no Estado de São Paulo. Assim, o desenvolvimento de metodologias para o levantamento de dados estatístico-pesqueiros mais fidedignos deve ser incentivado. Adicionalmente, desenvolver pesquisas sobre a viabilidade e delimitação de locais adequados para a instalação de estruturas de anti-arrasto e atratores (recifes artificiais), como foi proposto pelo Dr. Frederico Brandini da UNESP durante a 4a reunião do Conselho Gestor, são possibilidades interessantes para auxiliar tanto na fiscalização quanto na recuperação da biota marinha. Finalizando, devem-se definir as diretrizes gerais de pesquisa para a APAMLC através do apontamento de temas prioritários no sentido de preencher lacunas cientificas necessárias à elaboração do Plano de Manejo e a boa gestão desta Unidade de Conservação. Para tanto, seria interessante reunir um grupo de pesquisadores de diversas universidades que pudessem colaborar com sugestões para programas, prioridades e estruturas de pesquisa. g. Proteção e fiscalização A fiscalização da APAMLC, que está sob a responsabilidade da Polícia Ambiental e da Fundação Florestal, é realizada de forma integrada com os parques estaduais Xixová-Japuí e Laje de Santos através do Plano de Policiamento Ambiental Marítimo – PROMAR. No âmbito do PROMAR existe uma unidade especial de policiamento ambiental marítimo que é formada por 90 policiais treinados e por seis lanchas destinadas ao patrulhamento das três APAS marinhas do Estado de São Paulo, sendo que esta frota é reforçada por uma embarcação da Secretaria do Meio Ambiente. As ações de fiscalização e monitoramento das APAS marinhas paulistas se concentram no combate à pesca irregular através de uma rotina semanal de fiscalização que conta com o apoio esporádico da Polícia Federal, da Marinha e do Ibama. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Entretanto, o Tenente Elton Paz da Polícia Ambiental, na quinta reunião do Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro, informou que, mesmo com a estrutura atual, não tem sido possível atender a todas as demandas apresentadas na APAMLC devido à falta de efetivo e condições de trabalho. Diante desta informação, os conselheiros debateram, primeiramente, a necessidade de uma melhor integração entre as diversas instituições estaduais e federais de forma a aperfeiçoar as suas ações de fiscalização através de um planejamento integrado. Indicou-se, ainda, a necessidade de se criar uma base de dados georreferenciada compartilhada a partir da base de dados do PROMAR, indicando os setores mais ameaçados, número de infrações, etc. Sugeriu-se também que os municípios criassem guardas ambientais marinhas municipais de forma a ajudar na fiscalização. h. Ecoturismo, mergulho e demais formas de turismo marítimo A temática do turismo marítimo não vem sendo abordada de forma compatível com a sua amplitude no Conselho Gestor da APAMLC. As atividades de turismo marítimo são muito intensas em toda área da APAMLC, fazendo-se necessária uma regulamentação para este de forma a compatibilizá-las com os objetivos de manejo desta Unidade de Conservação. Outra questão fundamental é a geração de emprego e renda neste setor que deve ser mais bem trabalhada de modo a se tornar um instrumento de inclusão social e de melhoria da renda de pescadores e moradores locais em situação de vulnerabilidade Para tanto, seria interessante criar programas de turismo de base comunitária e cursos de capacitação para moradores locais com o intuito de que estes possam trabalhar com o turismo marítimo. A criação de uma câmara técnica de ecoturismo, mergulho e demais formas de turismo marítimo seria uma alternativa interessante no sentido de auxiliar na definição de diretrizes gerais e temas prioritários para uma boa gestão do setor. i. Melhoria das condições de disposição e tratamento de efluentes 26 Um dos principais fatores que vem prejudicando o desenvolvimento da fauna e flora marinha na Baixada Santista e, por conseguinte, a atividade de pesca, é piora sensível da qualidade das águas estuarinas e marinhas nas últimas décadas. Este problema tem diminuído sensivelmente a quantidade de peixes, sendo que os poucos cardumes que permanecem estão se tornando impróprios para o consumo (GEFE et al., 2004). No que tange a temática da melhoria das condições de disposição e tratamento de efluentes, o principal programa desenvolvido na região é o Projeto Onda Limpa para a Baixada Santista do Governo do Estado de São Paulo. Projeto Onda Limpa Essencialmente, o projeto Onda Limpa tem como meta elevar o índice de coleta de esgoto nos nove municípios da Baixada Santista de 53% para 95% até o ano de 2019. Dentro deste programa já foram construídas sete estações de tratamento de esgoto (a oitava será construída no Município de São Vicente), duas estações de pré-condicionamento e dois emissários submarinos. Ainda, 80% das obras lineares (redes coletoras) já estão concluídas. Entretanto, um problema que vem sendo enfrentado é a baixa adesão dos moradores em se articular com a rede instalada de esgoto devido aos custos de instalação e de pagamento pelo esgoto gerado. Além disso, cumpre ressaltar que ainda não há estações de tratamento de esgoto 26 O artigo 7º do Decreto nº 53.526/2008 que criou a Apa Marinha Litoral Centro determina que “serão adotadas pelo Estado de São Paulo as medidas competentes para recuperação de áreas degradadas e para a melhoria das condições de disposição e tratamento de efluentes”. 251 operando na Baixada Santista e sim estações de pré-condicionamento, com gradeamento, peneiramento e decantação, sendo que o tratamento secundário para os emissários deve ocorrer ainda em 2012. 27 O projeto Onda Limpa e as demais questões inerentes ao tratamento de efluentes domésticos estão detalhadas no capítulo sobre saneamento ambiental do presente relatório. Projeto Marinas na Baixada Santista Recentemente, em janeiro de 2012, após solicitação do Conselho Gestor da APAMLC, foi implantado o Projeto Marinas na Baixada Santista. Este projeto foi iniciado no ano de 2005 nos municípios do litoral norte e tem o objetivo principal de controlar as fontes potenciais de poluição causadas pelo segmento náutico através da gestão integrada e participativa entre Estado, municípios e atores envolvidos na atividade náutica (GESP, 2012). 28 São componentes deste projeto (GESP, 2012): Oficinas de educação ambiental e conscientização dos setores de turismo e pesca; Adoção de medidas ecologicamente adequadas de controle as fontes potenciais de poluição causadas pelo segmento náutico (marinas, garagens náuticas, iate clubes e outras instalações de apoio náutico); Sistema de certificação ambiental das empresas que atenderem aos padrões oferecidos pela Secretaria do Meio Ambiente. Como o projeto é recente na Baixada Santista, ainda não foram divulgados o cronograma de ação e resultados preliminares. j. Comissão de Proteção do Canal de Bertioga 29 Esta comissão foi criada pelo Conselho Gestor da APAMLC no sentido de contribuir com o Grupo de Trabalho “Marolas no Mangue – Canal de Bertioga”, criado pelo Ministério Público de Santos e que envolveu as prefeituras de Santos, Guarujá e Bertioga, Marinha do Brasil, Iate Clube de Santos, Marinas Nacionais, Instituo Maramar, Instituto Vivamar e APAMLC (foto 7.22). São objetivos deste grupo: Analisar os processos erosivos que estão ocorrendo no Canal de Bertioga em decorrência das marolas provocadas pelo trânsito de embarcações; Avaliar como esta questão está afetando negativamente os manguezais que, devido à baixa declividade, estão sendo inundados pelas marolas (alteração da composição físico-química); Estabelecimento de normas ambientais visando regular o trânsito de embarcações no Canal de Bertioga; Monitoramento e fiscalização de embarcações que circulam no Canal de Bertioga. Os resultados dos trabalhos demonstraram que: A velocidade, características de peso e forma dos cascos das embarcações associadas ao calado do canal e ao trânsito de embarcações próximas as margens são um dos fatores que influenciam nos processo erosivos e nas marolas que invadem os manguezais; Não é possível afirmar que apenas as embarcações estejam impactando os manguezais, uma vez que existem outros fatores que devem ser considerados como a ocupação urbana e a ausência de saneamento básico; Causam marolas menores e, portanto, menor impacto ambiental, os deslocamentos nas velocidades entre 6 a 10 nós em média, levando em consideração diferentes embarcações, além da navegação em distâncias afastadas das margens dos rios. 27 a Vide ATA da 21 reunião do conselho gestor da APA Marinha Litoral Centro (Informações prestadas pelo engenheiro Luiz Alberto Neves Alário da Sabesp). 28 O Projeto Marinas capacitou mais de 600 pessoas no litoral norte, com diversos cursos sobre biologia e ecologia marinha, poluição marinha, para pescadores, segmentos náuticos, ONGs e sociedade organizada (GESP, 2012). 29 a Vide ATA da 3 reunião (05/06/2009) do conselho gestor da APA Marinha Litoral Centro (Informações prestadas pelo biólogo Mário Wolff Bandeira da Associação Viva Mar). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Foto – Canal de Bertioga Santos Bertioga Guarujá Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2011. l. Zona de exclusão de pesca no Setor Itaguaçu A proibição da pesca no Setor Itaguaçu começou a ser discutida no ano de 2009, na Câmara Temática de Pesca. Posteriormente, esta proposta foi encaminhada ao Conselho Gestor da APAMLC, onde foi aprovada por unanimidade. Após o crivo do CONSEMA, no ano de 2012, esta proibição foi convertida na Resolução SMA nº 21, de 16 de abril de 2012, que estabeleceu uma zona de restrição máxima à atividade pesqueira, onde não é permitida nenhuma modalidade de pesca, no Setor Itaguaçu da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro. Assim, a área de exclusão total de pesca na região passou dos 5.000 hectares que integram o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos para 55.896,546. Segundo Kodja (2012), com a edição da Resolução SMA nº 21/2012 o Setor Itaguaçu da APAMLC passou a ter uma função prática, uma vez que este se transformou em uma zona de amortecimento para o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. Tal disposição encontra grande relevância ao se considerar dois importantes aspectos: A drástica redução dos estoques pesqueiros locais devido à intensa pesca esportiva, artesanal e industrial; A grande relevância do Setor Itaguaçu para a preservação da biota marinha, uma vez que esta localidade se configura como uma área de procriação e desova de animais marinhos, além de ser um local de passagem para espécies em rota migratória. A seguir apresenta-se um quadro síntese da situação atual, demandas, pontos críticos e oportunidades existentes na APALC conforme as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP. Quadro – Quadro síntese: situação atual, demandas e pontos críticos em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP SITUAÇÃO ATUAL DEMANDAS E PONTOS CRÍTICOS 253 Eixo Planejamento, fortalecimento e gestão Eixo Governança, participação, equidade e repartição de custos e benefícios Capacidade institucional Conselho gestor paritário, criado e em funcionamento; O planejamento de ações visando o fortalecimento do papel da APAMLC como vetor de desenvolvimento regional e local é de pequena amplitude; Não há projetos relevantes que visem contribuir com a redução da pobreza das comunidades e pescadores artesanais locais, bem como um apoio substancial ao desenvolvimento de práticas de manejo sustentável para comunidades que, de alguma forma, utilizam a APAMLC para o seu sustento; Não há políticas públicas substanciais que visem empreender e apoiar alternativas econômicas de uso sustentável da APAMLC de modo a torná-la polo de desenvolvimento sustentável. Capacitação dos técnicos e comunidades locais (questões administrativas, licenciamento, gestão de conflitos e programas de proteção); As atividades de turismo marítimo são muito intensas em toda área da APAMLC e há problemas ambientais derivados do trânsito de embarcações no Canal de Bertioga; A sobrepesca, a pesca ilegal e a poluição estão diminuindo os estoques pesqueiros; Número considerável de mulheres ligadas às atividades de pesca artesanal; População de pescadores tradicionais vivendo em situação de miserabilidade e vulnerabilidade socioambiental. Ações de fiscalização baseadas em patrulhamento integrado e em uma rotina semanal de fiscalização; Melhorar o nível de conhecimento científico sobre o ecossistema da APAMLC como suporte a tomada de decisão; Elaboração do plano de manejo; Definir as áreas onde devem ser desenvolvidos trabalhos voltados para a recuperação de área degradada, incluídos aí a instalação de recifes artificiais e o enriquecimento de biodiversidade local; Realizar gestões junto à Marinha do Brasil para inserção, na Carta Náutica 1711, do devido alerta sobre a proibição de pesca e de desembarque no setor Itaguaçu da APAMLC. Articulação das ações das três esferas de governo e segmentos da sociedade; Apoiar à implementação de um sistema de fiscalização e controle efetivo. Implementar práticas de manejo sustentável dos recursos naturais e de ecoturismo que contribuam com a inclusão social das comunidades locais e com a redução da pobreza; Inclusão dos coletores de ostras, mariscos e caranguejos em programas de desenvolvimento sustentável; Criar um programa de turismo de base comunitária como alternativa para inclusão social (apoio técnico e financeiro); Investir na melhoria das condições de trabalho e na educação formal dos pescadores artesanais; Capacitar pescadores artesanais e moradores locais em situação de vulnerabilidade a atuar como monitores em ecoturismo; Capacitação dos membros da comunidade de pescadores artesanais para o exercício de tarefas profissionais assemelhadas e que garantam a subsistência (GEFE, et al., 2004); Trabalhos de educação e capacitação específicos para mulheres ligadas às atividades de pesca artesanal e que visem o seu empoderamento; Implantar e fortalecer sistema de indicadores para monitoramento permanente da biodiversidade, especialmente de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção; Criar cursos permanentes de formação e discussão de práticas e atualidades para os pescadores; Incluir a temática da APAMLC nos trabalhos de educação ambiental das escolas; Ampliar o número de materiais didáticos sobre a problemática que envolve a APAMLC; Regulamentar o turismo náutico de forma a compatibilizá-lo com os objetivos de manejo desta Unidade de Conservação; Criação de uma câmara técnica de ecoturismo, mergulho e demais formas de turismo marítimo; Regular o trânsito de embarcações no Canal de Bertioga; Regulamentar os diversos tipos de pesca de modo que barra de rios/canais, estuários e o entorno de ilhas e parceis sejam preservados (evitar a captura de peixes na desova e ainda jovens). Ampliar o efetivo da Polícia Ambiental e o apoio da Polícia Federal, da Marinha e do Ibama (articular ações); Apoiar a estruturação e atuação integrada dos órgãos fiscalizadores; Criar uma base de dados georreferenciada compartilhada a partir da base de dados do PROMAR e demais base de dados de instituições de fiscalização, indicando os setores mais ameaçados, número de infrações, etc. Promover cursos de capacitação de gestores, técnicos e comunidades Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 locais voltados para questões administrativas, licenciamento, gestão de conflitos, programas de proteção e gestão do uso; Dotar a APAMLC de estrutura técnica e administrativa compatível com as suas necessidades; Adotar a APAMLC como instrumento nas políticas de gestão dos recursos pesqueiros; Estimular o desenvolvimento e utilização de tecnologias para a gestão, monitoramento e fiscalização, garantindo a capacitação para seu uso; Definir as diretrizes gerais de pesquisa para a APAMLC através do apontamento de temas prioritários no sentido de preencher lacunas cientificas necessárias à elaboração do Plano de Manejo e a boa gestão desta Unidade de Conservação; Estimular pesquisas voltadas para o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à proteção, reabilitação e restauração de habitats; Estimular pesquisas e desenvolvimento de tecnologias voltadas para o mapeamento de recursos naturais e o levantamento de possibilidades para o seu uso sustentável; Estimular estudos científicos e desenvolvimento de tecnologias, visando à interação de estratégias de conservação in situ e ex situ, para a proteção e reabilitação de espécies ameaçadas de extinção; Sistematizar as pesquisas já produzidas de forma a gerar subsídios para a gestão das APAS marinhas, bem como direcionar os novos trabalhos científicos e projetos no sentido de atender as demandas voltadas para um bom manejo desta unidade de conservação; Priorizar pesquisas voltadas para o conhecimento da fauna de invertebrados marinhos e de espécies da ictiofauna marinha que vivem em fundos consolidados irregulares, como costões rochosos continentais ou insulares; Produzir informações estatístico-pesqueiras fidedignas relativas à frota de pesca artesanal de pequena escala; Desenvolver pesquisas sobre a viabilidade e delimitação de locais adequados para a instalação de estruturas de anti-arrasto e atratores (recifes artificiais); Monitoramento e fiscalização de embarcações que circulam no Canal de Bertioga; Recrutar uma equipe multidisciplinar permanente que se dedique de forma exclusiva a realizar estudos relativos ao ambiente e a administração do espaço, no tocante ao planejamento, ao desenvolvimento socioeconômico e turístico, atividade cultural e valorização do patrimônio natural. Avaliação e monitoramento Criar instrumento de avaliação da eficácia e eficiência das ações voltadas para o cumprimento dos objetivos a serem estabelecidos no Plano de Manejo. Implementar avaliações da efetividade, eficácia e eficiência da gestão da APAMLC; Estabelecer e implementar procedimentos de avaliação contínua das tendências para a APAMLC; Identificar indicadores e estabelecer os protocolos para monitoramento do cumprimento dos objetivos da APAMLC. 255 7.8. Parque Estadual Marinho da Laje de Santos O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos (PEMLS) foi criado pelo Decreto Estadual nº 37.537, de 27 de setembro de 1993, e é administrado pela Fundação para Conservação e a Produção Florestal do Estado do Estado de São Paulo (Fundação Florestal). Ele é primeiro e único parque marinho dentre as UCs do Estado de São Paulo, sendo composto pela Laje de Santos, pelos parcéis do Bandolim, das Âncoras, Brilhante, do Sul e Novo e, também, pelos rochedos conhecidos como Calhaus (foto 7.23) (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p.1) (foto 7.23). 30, 31 Foto – Calhaus (Rochedos) Fonte: Newton Domineghetti, n.d. Sua área total compreende 5.000 hectares que correspondem a um retângulo de 10.000 por 5.000 m. Ele dista cerca de 25 milhas náuticas (aproximadamente 45 Km) dos principais ancoradouros do Guarujá, da Ponta da Praia, em Santos, e do Mar Pequeno, em São Vicente (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012). No que tange especificamente a Laje de Santos, esta é uma formação geológica de origem vulcânica que tem um formato que lembra uma baleia, com 550 m de comprimento, 33 m de altitude e 185 m de largura. Ademais, esta praticamente não possui vegetação e abriga uma grande quantidade de aves marinhas residentes, que utilizam o local como área de reprodução e descanso, incluindo atobá-marrom, trinta-réis do bico vermelho, gaivotão e petréo-do-cabo (foto 7.24). 30 31 Laje é a definição para um rochedo marinho sem vegetação. Parcéis são estruturas submersas formadas por rochas e corais que desenvolvem um ecossistema marinho. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Foto – Laje de Santos Fonte: Newton Domineghett, n.d. Quanto à conservação da diversidade biológica marinha, esta Unidade de Conservação é demasiadamente importante porque, nas suas proximidades, inexistem formações rochosas ou ilhas. Tal fato acarreta grande concentração de peixes de passagem e recifais em sua área. Deste modo, seus limites integram a rota de várias espécies migratórias, incluindo baleias, golfinhos e aves marinhas, além de ser uma importante área para alimentação de várias espécies, muitas delas protegidas por convenções internacionais, como é o caso das baleias-de-Bryde, as raias-manta, tartarugas marinhas e outras. Também cumpre citar que esta Unidade de Conservação comporta várias espécies que constam na listagem da fauna brasileira ameaçada de extinção (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p.2). 32 A seguir apresentam-se as principais espécies da fauna existentes na área do PEMLS (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012): Peixes (Bodião, badejo amarelo, Garoupa, Baiacu-pinima, Coió, sardinhas, olhetes, Donzela fogo, Garapoá, Maria da Toca, Peixe anjo-real, Peixe cirurgião, Pampo galhudo, Tesourinha de rabo amarelo, Papagaio cinza, Frade corais); Arraias (Jamanta e Prego); Enguia-de-jardim (Heteroconger longissimus), (espécie endêmica de peixe cuja única ocorrência registrada é na Ilha dos Alcatrazes); Cetáceos (golfinho nariz de garrafa e baleias de Bryde, Jubarte e Franca); Esponjas, estrelas do mar, crustáceos, moluscos, caranguejos; Tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) e verde (Chelonia mydas). 32 Os principais ecossistemas representados na área do PEMLS são os de costões rochosos e formações coralíneas (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012). 257 Foto – Peixe Frade na área do PEMLS Fonte: P. Silveira, n.d. Dentre os vetores de pressão sobre a biodiversidade ali existentes, cumpre citar a intensa atividade ilegal das modalidades de pesca industrial, amadora e esportiva. O PEMLS possui apenas um Plano Emergencial de Uso Público, que engloba programas de proteção, pesquisa, visitação pública e administração. Entretanto, o seu Plano de Manejo encontra-se em fase de elaboração. Quanto ao Plano Emergencial de Uso Público, este foi concebido com base em reuniões de planejamento que ocorreram entre a direção do Parque, as operadoras de mergulho, ONGs atuantes, Corpo de Bombeiros, Instituto de Pesca e Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010). a. Conselho gestor O Conselho Consultivo do Parque Estadual Marinho Laje de Santos foi instituído pela Portaria Normativa Fundação Florestal n° 095/2009 e é composto por vinte e duas representações de forma paritária entre o Poder Público e a Sociedade Civil Organizada. São 4 representantes governamentais federais, 5 estaduais e 2 municipais. As cadeiras da sociedade civil são compostas pelo setor pesqueiro, turismo e esportes náuticos, entidades ambientalistas e de educação e pesquisa (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012). Presentemente, a presidência do Conselho Gestor desta Unidade de Conservação está sob a responsabilidade do gestor José Edmilson de Araújo Mello Junior. b. Infraestrutura A sede administrativa do PEMLS está situada na cidade de Santos em um local que foi cedido pelo Instituto de Pesca (Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo) através de um Termo de Cooperação firmado com o Instituto Florestal (Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo). A infraestrutura disponível na área Parque se resume ao sistema de cabos de amarração para barcos das operadoras e para barcos particulares (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p. 8). Quanto aos equipamentos, o PEMLS possui três computadores, um projetor Benq, um fax e quatro linhas telefônicas, além de um veículo leve modelo Parati e duas embarcações (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p.8). c. Fiscalização Fazem-se aqui as mesmas ponderações já efetuadas para a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Ademais, vale mencionar que o PEMLS possui uma lancha Spirit Ferreti 38 pés de nome Sterna, com capacidade de 1400 litros e motorização diesel de 2X 460 HP, para atendimento nas operações de fiscalização em conjunto com a Polícia Ambiental e um Flexboat SR760T de nome Manta, equipado com motor de 300 hp (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p.8). Em que pese os trabalhos de fiscalização conjunta entre a Polícia Ambiental e Fundação Florestal, a ocorrência da pesca industrial, amadora e esportiva dentro dos limites desta Unidade de Conservação ainda é bastante intensa. Entre os anos de 2004 e 2008 foram apreendidas 56 embarcações praticando a pesca ilegal na área do PEMLS. Tal situação é bastante preocupante uma vez que a pesca ilegal ocasiona a perda de biodiversidade e, ainda, gera desmotivação para o uso público desta área protegida devido, principalmente, aos riscos para mergulhadores (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010). Especificamente no que tange a pesca esportiva, as embarcações são muito velozes e adaptadas para fuga da fiscalização. Assim, dificilmente os tripulantes são identificados. A seguir apresenta-se a lista de espécies apreendidas no PEMLS e seu status no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente conforme informações obtidas pelos relatórios de fiscalização do PEMLJ entre 2004 a 2008 (2008) (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010): Centropomus sp (robalo) - Não ameaçado Epinephelus itajara (mero) - Sobreexplotado ou ameaçado de sobreexplotação Epinephelus marginatus (garoupa) - Sobreexplotado ou ameaçado de sobreexplotação Lutjanus purpureus (pargo) - Sobreexplotado ou ameaçado de sobreexplotação Lutjanus analis (cioba ou caranha) - Sobreexplotado ou ameaçado de sobreexplotação Manta birostris (raia manta) - Não ameaçado Pomatomus saltatrix (anchova) - Sobreexplotado ou ameaçado de sobreexplotação Salminus sp (dourado) - Não ameaçado Trichurus sp (peixe-espada) - Não ameaçado Oligoplites sp (guaivira) - Não ameaçado Importante observar que, nos últimos anos, monitores ambientais subaquáticos credenciados junto ao PEMLS e organizações não governamentais, como é o caso do Instituto Laje Viva, tem desempenhado um importante papel de suporte às atividades de fiscalização dos órgãos ambientais através de denuncias. No que tange especificamente ao Instituto Laje Viva, este possui uma equipe de campo que participa ativamente das operações de fiscalização e monitoramento empreendidas pela Diretoria do PEMLS. Tais operações culminam, não raras vezes, na apreensão de equipamentos de pesca, do produto ilegalmente capturado e lacração das próprias embarcações flagradas em atividades ilegais dentro dos limites do PEMLS (INSTITUTO LAJE VIVA, 2012). d. Uso público O PEMLS é aberto para visitação, sendo este um dos principais pontos de mergulho e fotografia submarina do País devido à visibilidade de até 35 m de profundidade que é alcançada nos melhores dias. Portanto, seu modelo de gestão de uso público é voltado para navegação de embarcações turísticas e de operadoras credenciadas de mergulho. Ademais, ele também constitui um local de desenvolvimento de atividades de educação ambiental e pesquisa científica (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012). 259 Prática de mergulho livre e autônomo 33 A atividade de uso público que ocorre de forma mais intensiva na área deste Parque Marinho é a prática de mergulho livre e autônomo. Anualmente, o PEMLS tem recebido a visita de cerca de 4000 turistas para a prática de mergulho com monitoramento das operadoras credenciadas e, também, mais de uma centena de barcos particulares. O perfil do turista que visita este Parque Marinho é principalmente composto de escolas de mergulho (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p. 9). A seguir são apresentados os principais atrativos para mergulho existentes no PEMLS (figura e quadro abaixo). Figura - Esquematização dos pontos de mergulho existentes no PEMLS Fonte: Fundação Florestal, 2010. 33 Os PEMLS engloba o projeto Passaporte Azul para os Roteiros de Mergulho, que tem o objetivo de incentivar e destacar os pontos de mergulho no litoral do Estado de São Paulo, destacando oito roteiros de mergulho em cinco áreas marinhas protegidas no litoral norte e centro do Estado. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Quadro - Principais atrativos para mergulho existentes no PEMLS ATRATIVOS DESCRIÇÃO NÍVEL DE DIFICULDADE A face norte é o local onde ocorrem a maioria dos mergulhos, com profundidade de até 22m, mais abrigado das correntes e fácil orientação. BAIXO Na face norte, próximo à ponta leste, pesqueiro de ferro com 15m de comprimento, estrutura em estado instável desaconselhando penetração, profundidade máxima 22m. BAIXO Na ponta oeste/sudoeste da Laje, ambiente com profundidade que varia de 10 a 35m e requer boa noção de orientação subaquática. MÉDIO Fundo rochoso que se destaca da Laje em direção ao continente, apresenta estrutura complexa, exigindo boa orientação subaquática. Profundidade entre 18 e 42m. Presença de muitas âncoras de pesqueiros que ficaram engatadas no fundo rochoso. Sujeito a correntes. ALTO Encosta rochosa íngreme que desce verticalmente até 42m de profundidade. Mergulhos feitos em "drifting" a favor da corrente. Formação com inclinação negativa entre 12 e 27m de profundidade do centro para leste. MÉDIO Fenda voltada para leste, com cerca de 50m de extensão e profundidade média de 15m. Requer excelentes condições de mar e direção de ondulação adequada para que se possa adentrar. ALTO Paredão levemente acidentado com incidência de correntes e profundidades que podem variar de 8 a 40m. ALTO Paredão levemente acidentado, com características de navegação subaquática semelhantes ao portinho da Laje, com profundidades que podem variar de 8 a 25m, passando a até 35m se houver afastamento das rochas na direção norte (sentido Laje). BAIXO/MÉDIO Passagem em forma de ”U” e um arco central emerso, com grande apelo visual e profundidade máxima de 18m, porém que oscila muito e exige bom equilíbrio hidrostático por parte do mergulhador. Sujeito a boas condições de mar para ser viável. BAIXO Formação submersa localizada a cerca de 1,5 milhas náuticas ao sul da Laje que inicia aos 26m de profundidade e chega aos 45m. Exige mar em excelentes condições e preparo adequado dos mergulhadores. São raros os mergulhos no local, todavia há operação regular sempre que solicitado por grupos específicos com treinamento técnico. ALTO Formação submersa a cerca de 400m a sudoeste da Laje, inicia aos 8m e segue até os 42m. Requer mar em boas condições, mas a formação permite orientação e deslocamento mais simples. MÉDIO PORTINHO COORDENADAS: S24 19 05.1 W46 1100.4 NAUFRÁGIO MORÉIA COORDENADAS: S24 19 01.4 W46 10 55.5 PISCINAS COORDENADAS: S24 19 18.0 W46 11 03.5 PARCEL DAS ÂNCORAS COORDENADAS: S24 19 18.6 W46 1105.9 PAREDÃO DA FACE SUL COORDENADAS: S24 19 13.2 W46 10 48.7 BOCA DA BALEIA COORDENADAS: S24 19 00.4 W46 10 44.7 CALHAUS FACE SUL COORDENADAS: S24 19 41.7 W46 0933.4 CALHAUS FACE NORTE COORDENADAS: S24 19 37.8 W46 09 42.0 CALHAUS TUNEL COORDENADAS: S24 19 40.8 W46 09 38.6 PARCEL NOVO COORDENADAS: S24 20 43.7 W46 10 26.3 PARCEL DE SUDOESTE COORDENADAS: S24 19 36.9 W46 11 01.4 Fonte: Fundação Florestal, 2010. Monitores ambientais subaquáticos É obrigatória a presença de monitor ambiental subaquático credenciado a bordo de qualquer embarcação e durante as operações de mergulho voltadas para a visitação pública que ocorram a nível comercial no PEMLS. As funções dos Monitores Ambientais são (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p. 16): Apresentação abordando a caracterização do PEMLS e APAMLC, Informações sobre posturas ambientais a serem adotadas e condição do Mergulho para todas as embarcações que adentram ao PEMLS; Supervisão dos mergulhadores e notificação de ocorrências (Termo de Orientação de conduta – TOC/advertência); Preenchimento do relatório de visitação em cada mergulho; Tirar fotos de quaisquer embarcações que adentrem os limites do PEMLS; 261 Desembarcar na Laje de modo a atender eventuais emergências. Para ser um monitor ambiental subaquático credenciado a trabalhar na área do PEMLS, o interessado deve passar obrigatoriamente por um curso de capacitação realizado pela Fundação Florestal. Este curso tem como objetivo capacitar os mergulhadores para melhorar as condições de visitação, reduzir os impactos ambientais, alertando aos turistas sobre as restrições do Parque e também reduzir os riscos aos visitantes através das noções de primeiros socorros. O número de monitores formados no primeiro curso em 2002 foi de 23 e, atualmente, somente 7 trabalham 34 ativamente no Parque. Dentre as aulas ministradas nestes cursos estão (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, pp. 10 e 17): Aulas sobre o Parque: histórico, administração, organograma no âmbito da SMA, relação com outras áreas no contexto da APA Marinha. Noções sobre Oceanografia na região: hidrodinâmica (correntes, massas d’água, marés, etc.), dinâmica dos sedimentos, geomorfologia, influências de atividades antrópicas externas ao Parque; Biota do Parque: Plâncton, Bentos (principais organismos da fauna e flora, considerando importância ecológica, fragilidade aos impactos do mergulho, atrativos para o mergulho); Necton: peixes ósseos e cartilaginosos (com ênfase na raia manta, que é atrativo turístico do Parque), cetáceos (golfinhos e baleias), tartarugas marinhas. Relações tróficas; Instrumentos legais existentes no Brasil e convenções internacionais; Aves marinhas; Educação Ambiental aplicada à monitoria; Legislação: aspectos sobre o Ministério Público, procedimentos para encaminhamento de denúncias, competências da Polícia Ambiental, competências da Marinha. Práticas de 1os Socorros (básicos e específicos da atividade de Mergulho); Práticas de mergulho de mínimo impacto: condução do grupo de mergulhadores evitando contato com o substrato, fotografia de mínimo impacto; Práticas no Parque: apresentação, identificação da biota e comunicação com o grupo, práticas de 1os socorros a bordo e situações de emergência; Noções para operações náuticas; Aplicação de orientações (Termo de Orientação de Conduta); Avaliação. Cobrança de ingresso Existe a cobrança de um valor de R$ 6 (seis) por visitante (diário individual) para acesso ao Parque Marinho. Ademais, também existe a possibilidade de aquisição de ingresso anual individual e por embarcação de lazer (cobre todos os passageiros e tripulantes). Tal cobrança é normatizada por meio de portaria da Fundação Florestal. Os ingressos podem ser adquiridos na sede do PEMLS e em locais devidamente autorizados, incluindo marinas e operadoras de mergulho, sendo que esse valor é repassado na íntegra à SMA / Fundação Florestal (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010). Quanto aos pesquisadores que já possuem um processo junto a FF (submissão de projetos no COTEC e prévia autorização junto a Administração do PEMLS), estes são isentos de pagamento de ingresso (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p. 16). Capacidade de suporte Presentemente, a capacidade de suporte da atividade de mergulho é determinada de acordo com o tamanho da embarcação a ser utilizada pela operadora. São seis operadoras credenciadas e cada uma delas transporta em média doze turistas além da tripulação em cada operação. Assim, o número de pessoas para visitação no PEMLS é limitado em 85 mergulhadores / dia, os quais devem estar distribuídos ao longo dos pontos de mergulho de modo a evitar a 34 Importante observar que o 2º curso para monitores ambientais subaquáticos da Fundação Florestal foi ministrado no mês de agosto de 2012 no Aquário de Santos. Este curso teve a finalidade de formar Dive Masters para atuar como monitores ambientais no Parque Estadual Marinho Laje de Santos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 concentração. Exclui-se desse número total a tripulação e monitores ambientais das operadoras (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010). 35 Entretanto, vale mencionar que o Plano de Manejo do PEMLS, em processo de elaboração, irá estabelecer limites temporais e quantitativos com relação as atividades de visitação com base em estudos científicos de capacidade de suporte do meio mais aprofundados para essa atividade (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010). Cadastramento e regras para operadoras Todas as operadoras de mergulho e visitação sem mergulho que atuam que na área do PEMLS devem estar credenciadas junto a Fundação Florestal. Este cadastramento visa assegurar o compromisso de preservação da área com a redução de impactos oriundos da visitação e o oferecimento de serviços com qualidade e segurança (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010).36 Além disso, existe uma série de requisitos para operadoras de mergulho e de turismo náutico que são descritos abaixo (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010): Preenchimento, pelas operadoras, de relatórios de visitação com informações como número de turistas, local onde foi realizado o mergulho, perfil do mergulhador, entre outras para cada saída de mergulho; Atualização anual do cadastro das operadoras; As operadoras devem ser constituídas como pessoa jurídica e seguir as normas referentes à poluição marinha e outros dispositivos legais (as embarcações deverão ter atenção especial para que não eliminem na água nenhum tipo de resíduo poluente enquanto estiverem dentro da área do PEMLS); A embarcação deve possuir a propulsão mínima que garanta a manobrabilidade e navegabilidade de segurança; ser classificada para mar aberto de acordo com as normas da Marinha do Brasil (Normam) e apresentar a documentação de vistoria da Marinha do Brasil; A velocidade das embarcações não deve exceder a 8 nós quando a uma distância mínima de 0,5 MN das partes emersas do PEMLS (Laje e Calhaus); A tripulação deverá estar habilitada de acordo com a classificação da embarcação; As operadoras assumem a total responsabilidade pela segurança dos visitantes dentro do PEMLS, para tanto será formalizado Termo de Responsabilidade; Obedecer às regras de fundeio das embarcações que incluem pontos específicos para fundeio. Ademais, deve-se fundear no máximo 6 embarcações ao mesmo tempo e há a proibição de desembarque na laje e no rochedo; No que tange as operadoras de turismo náutico que realizam a visitação sem mergulho, estas devem, complementarmente, não permitir a entrada dos passageiros visitantes na água dentro dos limites do Parque; não realizar a pernoite no PEMLS sem autorização prévia da Administração da Unidade e permanecer no Parque o máximo de 02 (duas) embarcações de turismo náutico. e. Pesquisa científica A área do PEMLS é um importante laboratório natural para estudos ecológicos. Entretanto, o nível de conhecimento sobre o seu meio biótico, incluindo aves, ictiofauna, cetáceos e bentos ainda é insuficiente para contribuir com a construção do conhecimento para a elaboração do Plano de Manejo. 35 Atualmente existem 6 operadas de turismo voltado para o megulho que são cadastradas junto a Fundação Florestal para atuarem na área do PEMLS, sendo elas: Anekim, Atm Diver, Cachalote, Nautilus Dive, Orion Diver e Pé de Pato. Estas empresas formam a AOM (Assossiação dos Operadores de Mergulho da Laje de Santos). 36 Estas atividades estão amparadas por portarias do Instituto Florestal e da Fundação Florestal que estabelecem procedimentos para credenciamento das operadoras de embarcações utilizadas nos transportes de visitantes e no desenvolvimento de práticas de mergulho contemplativo para fins de recreação, turismo e lazer no PEMLS (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2010, p. 9). 263 Duas lacunas importantes são ausência de estudos específicos sobre o impacto da pesca e da visitação pública na área do Parque Marinho e os poucos estudos existentes sobre a incidência de espécies invasoras na área deste Parque Marinho. Dentre as principais pesquisas desenvolvidas na área do PEMLS que constam na base SIBIUSP (Universidade de São Paulo) e na Biblioteca Digital da Unicamp, pode-se mencionar a existência de trabalhos científicos relacionados à composição e estrutura da comunidade de peixes recifais em relação a variáveis ambientais; valoração econômica ambiental; variação sazonal de propriedades hidrográficas; estudo da circulação através de modelagem e levantamento preliminar biológico e oceanográfico.37, 38 Ademais, vale mencionar trabalhos científicos relacionados à avaliação do risco de espécie associada a outra em risco de extinção; comunidade de peixes recifais (lista de espécies com notas sobre abundância, distribuição, estrutura trófica, associações simbióticas e conservação); ocorrência sazonal de raia-jamanta; predação de tartaruga de pente em zoantídeos; registro de Tartaruga de pente se alimentando-se do cnidário Palythoa caribeorum; registro de espécie de água-viva comum de águas frias do Pacífico e Atlântico Norte na Laje de Santos e ocorrência de Acanthurus monroviae (Peixe Cirurgião Africano) na área do PEMLS (LAJE VIVA, 2012) 39 No sentido de suprir lacunas relacionadas à pesquisa científica na área do PEMLS e, também, fornecer subsídios para a elaboração do Plano de Manejo, a Organização Não Governamental denominada Laje Viva tem empreendido um série de projetos de pesquisa que são de fundamental importância para enriquecer o conhecimento científico sobre esta unidade de conservação. 40 A seguir o quadro traz a descrição destes projetos pesquisa. 37 Vide Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (Portal de Busca Integrada); Vide <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000815120&opt=4>. 39 Vide <http://www.lajeviva.org.br/port/publicacoes/>. 40 O Instituto Laje Viva é uma associação civil com o objetivo de promover a defesa, preservação e conservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e o voluntariado, implementar ações próprias e/ou desenvolver ações de terceiros visando a preservação e proteção dos ecossistemas marinhos, em especial o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, seu entorno e as espécies ali incidentes, executar estudos e pesquisas, promover o desenvolvimento de tecnologias alternativas, produzir e divulgar informações e conhecimentos técnicos e científicos angariados na execução dos demais objetivos sociais da associação, executar estudos e trabalhos de planejamento estratégico de turismo sustentável, elaborar PDITS (Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável) (LAJE VIVA, 2012). 38 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Quadro – Projetos de pesquisa científica empreendidos pelo Instituto Laje Viva PROJETO OBJETIVO Caracterização dos Ambientes Recifais dos Parcéis Submetido e aprovado pela Comissão Técnico-Científica do Instituto Florestal, o projeto visa indentificar as espécies de peixes e invertebrados bentônicos e estabelecer contagem periódica de populações. No bojo desse projeto já foram registradas no PEMLS, 196 espécies de peixes, estando tais registros disponíveis em publicação científica internacional disponível na página de publicações deste site. Projeto de Foto-identificação e sazonalidade da raia manta (Manta birostris) Aprovado e em andamento Projeto de Estudos de Cnidários Aprovado e em andamento Projeto de Estudos de Ceriantos Aprovado e em andamento Projeto de Anilhamento de Tartarugas O projeto já atingiu uma de suas metas: a confirmação do retorno de animal em outras temporadas além daquela em que foi registrado pela primeira vez.Tal fato foi comprovado em 2007 e 2008. Em 2007 o Instituto Laje Viva registrou um animal que havia sido registrado no ano de 1999. Em 2008 uma segunda comprovação foi obtida. Uma fêmea (de n. 027, "Armando") registrada em agosto de 2004 pelo Biólogo e Operador de Mergulho Armando de Luca Júnior foi longamente registrada pela equipe do Instituto Laje Viva em 19 de julho de 2008. Apesar do conhecimento científico da área ainda ser restrito, observações explanatórias já fazem com que esta seja considerada de grande importância e capaz de descobertas únicas para a ciência, como por exemplo, a descoberta de um molusco que foi batizado de Hypselodoris picta lajensis e a primeira observação da espécie de água-viva Stomotoca atra para águas costeiras do Atlântico Sul. A efetivação desse Projeto permitirá a criação de um registro oficial da diversidade local, criando um guia de identificação dos cnidários que ocorrem na PEMLS. Registrar a ocorrência de predação de outros grupos animais sobre os cnidários (ex. tartarugas, peixes e outros) valendo-se da importância trófica destes organismos e também criar um guia de identificação para os cnidários que ocorrem no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos com fotos do próprio local. As novas descobertas científicas realizadas no bojo deste projeto contribuirão para a elaboração de um profundo trabalho de reconhecimento do Parque. Responsável Técnico: Biólogo Sérgio Nascimento Stampar - Mestre em Zoologia. As duas espécies de Cerianthidae bentônicas conhecidas para a costa brasileira estão na lista de animais ameaçados de extinção do MMA (2003). Apesar de a condição ser oficial, não há na literatura estudos sobre a biologia desses organismos. Na ausência de conhecimento básico sobre os aspectos reprodutivos e de desenvolvimento, os esforços voltados à conservação de Cerianthus brasiliensis e Ceriantheomorphe brasiliensis encontram-se fatalmente comprometidos. Portanto, trabalhos que visem elucidar o ciclo de vida e outros pontos concernentes às espécies caracterizadas como ameaçadas são de grande valia e extrema urgência. O presumível comércio ilegal de espécimes de ceriantários brasileiros ressalta a prioridade e veemência do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo instituto Laje Viva e que visa, entre outras finalidades: a) Identificar as espécies de ceriantários que ocorrem na área selecionada para estudo; b) Descrever o ciclo reprodutivo e desenvolvimento primário; c) Verificar a distribuição e abundância das populações no PEMLS durante o período contínuo de dois e meio anos e descrever eventuais associações; d) Acompanhar os hábitos alimentares das espécies; e) Sugerir um plano de ação para a conservação das espécies, através de um plano de manejo sustentável com fins práticos direcionados ao cultivo e acompanhamento na natureza. Responsável Técnico: Biólogo Sérgio Nascimento Stampar - Mestre em Zoologia. Em maio de 2007 o Instituto Laje Viva foi convidado a participar, em conjunto com a Diretoria do PEMLS e com o Projeto TAMAR, do anilhamento de tartarugas 265 Marinhas Projeto Mantas do Brasil: Fotoidentificação e telemetria por satélite para o estudo do comportamento migratório da maior raia do mundo (Manta birostris) Aprovado e em execução, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental Fonte: Instituto Laje Viva, 2012 marinhas no PEMLS, fornecendo equipe de apoio à referida operação. O sucesso dessa operação foi determinante para a escolha do próximo projeto, submetido e aprovado pela COTEC, qual seja, o Projeto de Estudos, FotoIdentificação e Anilhamento das Tartarugas Marinhas. Sob a responsabilidade técnica da Bióloga Ana Bondioli, em parceria com o Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo – USP e com apoio do Projeto TAMAR, o ILV já realizou a primeira operação de anilhamento e treinamento de pessoal. Todos os dados colhidos serão fornecidos ao Projeto TAMAR para integrarem a base nacional de dados de tartarugas marinhas. Após a descoberta da Dra. Andrea Marshall de que sob a denominação Manta birostris havia duas espécies diversas, a comunidade científica se deu conta de que: a) a espécie sobre a qual alguns poucos estudos estão sendo desenvolvidos é a que passou a ser denominada Manta alfredi, de observação mais fácil em razão de se fixarem em um determinado ambiente recifal por todo o ano; b) sobre a Manta birostris muito pouco ou quase nada se sabe, pelo fato de ser migratória, de hábitos sazonais e com poucos pontos de observação ao redor do globo. Tudo indica que a Laje de Santos seja um dos raríssimos pontos de observação da Manta birostris em todo o mundo. Através da marcação dos animais e leitura via telemetia por satélite espera-se identificar as rotas oceânicas desses gigantes e estabelecer se os indivíduos aqui observados coincidem com aqueles observados em outras partes do globo. Além do que, apenas o conhecimento acerca dessas rotas migratórias tornará possível trabalharmos no sentido de proteger tais rotas, no Brasil e no mundo. O Projeto desenvolvido sob a responsabilidade do Biólogo Osmar José Luiz Jr. conta com patrocínio da PETROBRAS AMBIENTAL e com expressivas contrapartidas do ILV, entre elas a parceria estabelecida com a Dra. Andrea Marshall. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 f. Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar (PP-APD) Os PP-APD (Petrechos de Pesca Perdidos, Abandonados ou Descartados) são objetos de pesca perdidos, abandonados ou descartados pelas embarcações e que são responsáveis por graves impactos ambientais negativos para a fauna marinha (SMA, 2012). São exemplos de PP-APD fragmentos de redes, cabos, anzóis, chumbadas e armadilhas que capturam espécies da fauna marinha causando a morte das mesas (CASARINI, 2011). Em função dos malefícios causados por estes objetos foi desenvolvido o Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar, que é uma parceria do Instituto de Pesca com a Fundação Florestal. Este Projeto envolve a adoção do método Blue Line System, que inclui campanhas denominadas Dive Clean, que ocorrem principalmente nas áreas do Parque Estadual Marinho Laje de Santos e do Parque Estadual Xixová Japuí e, também, tem por objetivo avaliar, através de pesquisa científica, a magnitude dos impactos gerados pelo PP-APD ao ambiente marinho e as prováveis origens destes objetos. Segundo Casarini (2011, p. 12), o método Blue Line possui uma fase preventiva e outra mitigadora. A primeira fase incentiva a responsabilidade socioambiental, desde os setores de fabricação e comercialização até os pescadores (consumidores), para se evitar a perda de petrechos de pesca no mar. A segunda fase é mitigadora e percorre o caminho inverso da anterior, ou seja, com o PP-APD no oceano, através do recolhimento, pesquisa científica (para se conhecer as modalidades de pesca empreendidas ilegalmente, os petrechos utilizados pelos pescadores e, também, para ajudar a planejar medidas de mitigação e prevenção) e destinação adequada. Quanto às campanhas denominadas Dive Clean, estas são eventos pontuais onde parceiros e colaboradores se mobilizam com as embarcações em algumas datas do ano para recolher os PP-APD em determinadas áreas submersas das Unidades de Conservação. Esses materiais também são mapeados e coletados durante as atividades de rotina pelos monitores ambientais que acompanham as operadoras de mergulho no PEMLS. Todo material recolhido recebe um lacre e fica depositado temporariamente no local denominado Ecoponto para análise, descaracterização e a seguir destinado à reciclagem, isso garante que os PP-APD recolhidos do ambiente marinho não retornem novamente ao mar (CASARINI, 2011, p. 12). Dentre os participantes e colaboradores da campanha Dive Clean estão:41 Fundação Florestal; Instituto de Pesca; 7º Grupamento de Bombeiros do Guarujá; AOM (Associação das Operadores de Mergulho); Instituto Laje Viva – ILV; Diver’s University; Operadoras de Mergulho: Pé de Pato, Orion Dive, Cachalote, Nautilus e Anekim; Nutecmar; Monitores Ambientais do PEMLS; Oceano Brasil; Revista Mergulho; Estaleiro Arthmarine; Estaleiro Force One; 41 O III Dive Clean foi realizado no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos em 26 de janeiro de 2012. 267 GREMAR; Iate Clube de Santos. Segundo Casarini (2011, p. 12), em pouco mais de um ano de atuação do projeto já foram removidos aproximadamente uma tonelada de PP-APD em 4 campanhas Dive Clean dentro das Unidades de Conservação (UC) de proteção integral, onde a pesca é proibida, sendo duas no Parque Estadual Marinho Laje de Santos (PEMLS), uma no Parque Estadual Xixová-Japuí (PEXJ) e uma na Estação Ecológica Tupinambás (ESEC Tupinambás). A primeira campanha no PEMLS retirou cerca de 350 kg de petrechos de pesca em área que corresponde apenas 0,36% da área do Parque (5.000 ha). Em operações de rotina no PEMLS, onde os monitores ambientais recolhem PP-APD durante as operações de mergulho aos finais de semanas, foram retirados até agora cerca de 200 kg de materiais. A seguir apresenta-se um quadro síntese da situação atual, demandas, pontos críticos e oportunidades existentes no PEMLS conforme as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP (quadro seguinte). Quadro – Quadro síntese: situação atual, demandas e pontos críticos em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela PNB e pelo PNAP Eixo Planejamento, fortalecimento e gestão Eixo Governança, participação, equidade e repartição de custos e benefícios Capacidade institucional Avaliação e monitoramento SITUAÇÃO ATUAL DEMANDAS E PONTOS CRÍTICOS Conselho gestor paritário, criado e em funcionamento. Elaboração do plano de manejo; Articulação das ações das três esferas de governo e segmentos da sociedade; Criar um programa específico para o monitoramento e controle de espécies exóticas; Apoiar à implementação de um sistema de fiscalização e controle efetivo. Capacitação dos técnicos, monitores e operadoras (programas de proteção); A pesca ilegal está diminuindo os estoques pesqueiros. Ações de fiscalização baseadas em patrulhamento integrado e em uma rotina de fiscalização que tem se provado insuficiente para lidar com o problema da pesca ilegal; Melhorar o nível de conhecimento científico sobre o ecossistema do PEMLS como suporte a tomada de decisão. Criar instrumento de avaliação da eficácia e eficiência das ações voltadas para o cumprimento dos objetivos a serem estabelecidos no Plano de Manejo. Implantar e fortalecer sistema de indicadores para monitoramento permanente da biodiversidade, especialmente de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção; Incluir a temática do PEMLS nos trabalhos de educação ambiental das escolas; Incluir a temática do PEMLS em trabalhos informativos e de educação ambiental a serem desenvolvidos junto a marinas e pescadores de modo a possibilitar um maior reconhecimento da importância deste patrimônio ambiental; Ampliar o número de materiais didáticos sobre a problemática que envolve o PEMLS; Compatibilizar o turismo náutico com os objetivos de manejo desta Unidade de Conservação. Ampliar as ações e o efetivo de fiscalização e articular as ações dos diversos órgãos fiscalizadores; Apoiar a estruturação e atuação integrada dos órgãos fiscalizadores; Promover cursos de capacitação voltados para questões administrativas, gestão de conflitos e programas de proteção e gestão do uso público; Estimular o desenvolvimento e utilização de tecnologias para a gestão, monitoramento e fiscalização, garantindo a capacitação para seu uso; Definir as diretrizes gerais de pesquisa para o PEMLS através do apontamento de temas prioritários no sentido de preencher lacunas cientificas para a boa gestão desta Unidade de Conservação; Estimular estudos científicos e desenvolvimento de tecnologias, visando à interação de estratégias de conservação in situ e ex situ, para a proteção e reabilitação de espécies ameaçadas de extinção; Sistematizar as pesquisas já produzidas de forma a gerar subsídios para a gestão do PEMLS, bem como direcionar os novos trabalhos científicos e projetos no sentido de atender as demandas voltadas para um bom manejo desta unidade de conservação; Implementar avaliações da efetividade, eficácia e eficiência da gestão do PEMLS; Estabelecer e implementar procedimentos de avaliação contínua das tendências para o PEMLS; Identificar indicadores e estabelecer os protocolos para monitoramento do cumprimento dos objetivos do PEMLS. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 7.9. Ocupação urbana em Áreas de Preservação Permanente 42 Esta seção tem por finalidade apresentar uma estimativa da ocupação urbana das áreas de preservação permanente definidas nos incisos I, V e VI do artigo 4° do Novo Código Florestal para o Município de Santos. Esta avaliação foi realizada tendo como plataforma de trabalho o software de geoprocessamento Arcgis 10. Foram importados para esta plataforma de trabalho: 43 Mosaico de imagens TOPODATA / SRTM para delimitação das áreas de preservação permanente com declividade superior a 45°; 44 Hidrografia digitalizada a partir de imagens de alta resolução do satélite GEOYE reamostradas para resolução espacial de 15 metros, as quais se aplicaram polígonos com a delimitação das áreas de preservação permanente de margem de rio; Polígonos derivados da delimitação manual de APP de Restinga (faixa de 300 metros contada a partir da linha da areia da praia, definida, para efeitos estimativos de análise, como linha de preamar máxima); Mancha urbana do Município de Caraguatatuba para o ano de 2011 (delimitada a partir de imagens TM do satélite Landsat 5). Após, através de técnicas de geoprocessamento, promoveu-se o cruzamento destes polígonos definidos como áreas de preservação permanente pelo art. 4° do Novo Código Florestal (Lei Federal de 12.651/2012) com o polígono da mancha urbana. O cruzamento destas informações espaciais forneceu um mapeamento estimativo da ocupação urbana das áreas de preservação permanente e uma posterior quantificação dos resultados obtidos por tipo de APP, fornecendo subsídios para uma avaliação desta problemática no Município de Santos. 7.9.1. Aspectos conceituais As Áreas de Preservação Permanente (APP) são conceituadas pelo Novo Código Florestal (Lei Federal 12.651/2012) como área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Art. 3º, inc. II). Para Milaré (2000), a Área de Preservação Permanente consiste em uma faixa de vegetação estabelecida em razão da topografia ou do relevo, geralmente ao longo dos cursos d’água, nascentes, reservatórios e em topos e encostas de morros, destinadas à manutenção da qualidade do solo, das águas e também para funcionar como corredores de fauna. Existem duas espécies de APP definidas pelo Código Florestal: as pré-constituídas (art. 4°) e as declaradas por ato do Chefe do Poder Executivo (art. 6°). São consideradas Áreas de Preservação Permanente do art. 4º do Novo Código Florestal as florestas e demais formas de vegetação delimitadas dentro dos seguintes aspectos geomorfológicos: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 42 A metodologia utilizada para estimar a ocupação urbana de áreas de preservação permanente em Santos é descrita de forma detalhada no anexo metodológico deste relatório. 43 Excetuou-se desta análise as áreas de preservação permanente referentes aos topos de morro e nascentes devido a ausência de ocupações urbanas significativas para esta feições topográficas no Município de Santos. 44 http://www.dsr.inpe.br/topodata/documentos.php 269 c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento, observado o disposto nos §§ 1° e 2°; IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água, qualquer que seja a sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012). V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive; VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII - os manguezais, em toda a sua extensão; VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação; X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação; XI – em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado. § 1o Não se aplica o previsto no inciso III nos casos em que os reservatórios artificiais de água não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água. § 2o No entorno dos reservatórios artificiais situados em áreas rurais com até 20 (vinte) hectares de superfície, a área de preservação permanente terá, no mínimo, 15 (quinze) metros. É importante salientar que o Chefe do Poder Executivo pode, através de um ato declaratório de interesse social, qualificar uma área não prevista no rol do art. 4º do Novo Código Florestal como de preservação permanente quando esta área for importante para (art. 6° do Novo Código Florestal): I - Proteger as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha; II - Proteger as restingas ou veredas; III - Proteger várzeas; IV - Abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; V - Proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico; VI - Formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; VII - Assegurar condições de bem-estar público; Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 VIII - Auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; IX - Proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. 45 Contudo, para os casos previstos no art. 6°, o Poder Público deve indenizar o proprietário que esteja desenvolvendo atividades econômicas na área objeto do ato de criação da APP (indenização sobre o investimento realizado e o lucro cessante). Em regra, não é permitido qualquer tipo de supressão de vegetação ou utilização econômica direta das Áreas de Preservação Permanente. Todavia, o art. 8º do Novo Código Florestal permite a supressão de vegetação ou a intervenção em Áreas de Preservação Permanente nos casos de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental. O quadro a seguir traz as atividades consideradas de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental segundo o Novo Código Florestal. 45 A Constituição do Estado de São Paulo considera de proteção permanente os manguezais; as nascentes, os mananciais e matas ciliares; as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como aquelas que sirvam como local de pouso ou reprodução de migratórios; as áreas estuarinas; as paisagens notáveis; as cavidades naturais subterrâneas (art. 197 e incisos). 271 Quadro – Possibilidades de intervenção em Áreas de Preservação Permanente nos casos de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental ATIVIDADES UTILIDADE PÚBLICA Art. 3º, inciso VIII INTERESSE SOCIAL Art. 3º, inciso IX Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental Art. 3º, inciso X Atividades de segurança nacional e proteção sanitária; Obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; Atividades e obras de defesa civil; Atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais das áreas de preservação permanente. Atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas; A exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área; Implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei; a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; Implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; Atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; Outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal. Abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável; Implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber; Implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo; Construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro; Construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores; Construção e manutenção de cercas na propriedade; Pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável; Coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos; Plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área; Exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área; Outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 RESSALVAS A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública (art. 8°, § 1°). A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI (restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues) e VII (os manguezais, em toda a sua extensão) do caput do art. 4° poderá ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda (art. 8°, § 2º); É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas (art. 8°, § 3º). 273 7.9.2. Características, condições e pontos críticos nas áreas de preservação permanente Os resultados da análise demonstraram que existem 155,1 km2 de áreas de preservação permanente referentes às tipologias avaliadas em Santos (o equivalente a 55,19% da área total do Município). As áreas com declividade superior a 45° correspondem a 45,09% do total das áreas de preservação permanente avaliadas e são as áreas que apresentam a segunda menor taxa de ocupação urbana, 9,79% do total geral (0,93 km2 urbanizados). Este tipo de ocupação, em grande constituída por moradias precárias, representa um problema particularmente grave nos morros isolados da área insular do Município de Santos. Essencialmente, a intensa ocupação urbana destas áreas é um dos principais fatores contribuintes para a ocorrência de movimentos de massa (CANIL, 2010). O Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) do Município de Santos, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e concluído em 2005, identificou 19 áreas de risco nos morros supracitados relacionadas a processos antrópicos e naturais de instabilização de encostas, sendo que os bairros mais afetados por estes riscos são os seguintes: Caneleira, Monte Serrat, Santa Maria / Dr. Chiquinho, Rua 1 da Nova Cintra, Jabaquara, Chico de Paula, Santa Maria, Vila Progresso, Penha, Pacheco, Marapé, Boa Vista, Morro do São Bento, Vila São Bento, Santa Terezinha, José Menino, Saboó, Nova Cintra e Cachoeira (CANIL, 2010). Entretanto, apesar de o PMRR fornecer importantes subsídios para uma política pública municipal de redução e gerenciamento de riscos, até o presente momento, as ações e investimentos que têm sido realizados se consubstanciam em intervenções pontuais, que estão muito distantes de representarem soluções efetivas e definitivas para este problema. Ademais, Carriço (2012) lembra que tem ocorrido a notificação para a desocupação e/ou demolição de imóveis em áreas de risco sem que sejam oferecidas alternativas habitacionais às famílias de baixa renda. Para enfrentar estas e outras questões, a Prefeitura Municipal de Santos criou o Departamento da Administração Regional dos Morros (DEAR-M) que está vinculado a Secretaria de Serviços Públicos. Dentre os trabalhos desenvolvidos pela DEAR-M estão intervenções em áreas de risco que incluem obras de drenagem, asfaltamento, construção de corrimão e muros de arrimo. A seguir a foto -.- apresenta a espacialização das ocupações urbanas em áreas com declividade superior a 45° nos morros do Município de Santos e a tabela -.- traz as obras de infraestrutura que vêm sendo empreendidas pelo DEAR-M no ano de 2012. Foto -.- – Ocupações urbanas em áreas com declividade superior a 45º Ocupações urbanas em declividade superior Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2011. a 45° Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Tabela -.- Obras de infraestrutura que vêm sendo empreendidas pelo Departamento da Administração Regional dos Morros (DEAR-M) no ano de 2012 Localidade Intervenções Morro do Marapé Urbanização da Rua 2 e construção de área para retorno de veículos. Morro do José Menino Recuperação da drenagem na Rua C (construção de muro de arrimo, impermeabilização da rua e instalação de grelhas para captação de água pluvial). Construção de 160 m de muro de alvenaria, 25m de arrimo, serviços de drenagem e asfaltamento. Morro do São Bento Existência de risco de deslizamento agravado pelo tráfego de veículos. Recuperação estrutural feita em caráter emergencial após vistoria da Defesa Civil. Houve a reconstrução da drenagem e a instalação de corrimão e caixa para dissipação de fluxo d’água. Também foi executado um serviço de ancoragem técnica que dá sustentação à rua e evita desabamento. Nova Cintra Obras de drenagem e pavimentação da Rua 14 (construção de uma caixa de captação e alteração do curso da água para o canal da Av. Santista, com nova rede de drenagem). Implantação de grelhas de captação de água fluvial e caixas para condução das águas ao sistema de drenagem na Rua Vila Vitória. Urbanização e revitalização da bica da Rua 4. Execução de drenagem na Av. Santista. Morro Santa Maria No Morro Santa Maria fica o Vale Verde, que após as chuvas de registrou deslizamento. Ali a Defesa Civil solicitou a execução de obras na Rua 13, beneficiando 40 famílias. A prefeitura começa a construir cinco muros de arrimo, sustentação do trecho de talude e drenagem. Morro do Tetéu Obra de caráter emergencial em área de risco solicitada pela Defesa Civil. Foi construído um muro de arrimo de 40 m na Travessa da Juventude. Morro do São Bento A regional trabalha na reurbanização da Rua São Clóvis, no Morro do São Bento. O saldo é de 50 m drenagem, construção de lixeira e duas escadarias, que dão acesso às ruas Santa Elizabete e Santa Margarida, revitalização da bica e instalação de 200 m de corrimão. Em junho, será construída outra escadaria, de 60 m, que levará os moradores a outro ponto da Santa Margarida. Morro da Caneleira Um dos principais acessos ao Morro da Caneleira também está em obras. Trata-se da Rua Caminho Particular São Jorge, onde em dias de chuva as residências mais próximas ficam alagadas. A obra prevê alargamento da via e rede de drenagem. No momento são retiradas as rochas numa das margens da rua para colocação de caixa de dissipação para diminuir a força da água que desce do morro. Morro do Fontana Construção de escadaria na Rua Santa Marina. Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, 2012. Quanto às áreas de preservação permanente de margem de rio, estas representam 35,29% do total das tipologias de APP analisadas e possuem 8,49 km2 ocupados pela urbanização. Isto representa 89,37% do total geral das áreas urbanizadas em APP. Importante salientar que as ocupações em margem de rio ocorrem de forma mais intensiva na Ilha de São Vicente em virtude do intenso processo de urbanização que induziu o aproveitamento máximo das margens de córregos, canais e rios por avenidas, moradias e atividade portuária. Já, no que tange aos manguezais, estes representam 19,62% do total das tipologias analisadas e possuem 0,08 km2 ocupados pela urbanização, o que representa 0,84% do total geral das áreas urbanizadas em APP. A taxa de ocupação urbana bastante reduzida sobre manguezais pode ser explicada por terem sido utilizados, para esta tipologia de APP, os dados georreferenciados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica para o ano de 2008. Sendo assim, só foi possível detectar as ocupações mais recentes implantadas sobre este ecossistema costeiro. Entretanto, convém mencionar que as ocupações dos manguezais no Município de Santos se iniciaram, de forma mais ativa, em 1892, com a implantação do Porto de Santos. Já, ao longo de todo o século XX, ocorreu a intensificação deste tipo de ocupação com a ampliação da infraestrutura portuária, implantação de um sistema logístico-ferroviário, construção de rodovias (SP 055 e BR 101) e de empreendimentos imobiliários e industriais (COSIPA). Ademais, vale mencionar que a expansão da infraestrutura portuária para o setor continental do Município de Santos, que se iniciou na Ilha de Barnabé na década de 1950, apresenta-se como a principal ameaça a integridade deste ambiente litorâneo (foto -.-). 275 A seguir, a tabela 7.6 e as figuras 7.9 e 7.10 trazem, respectivamente, uma síntese da urbanização das APP analisadas, a espacialização das mesmas e um mapa indicador da densidade da ocupação urbana em APP no Município de Santos. Foto -.- Expansão da infraestrutura portuária na área continental do Município de Santos (terminal da Empresa Brasileira de Terminais Portuários - EMBRAPORT) Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2011. Tabela – Síntese das áreas de preservação analisadas TIPO DE APP ÁREA TOTAL DA TIPOLOGIA Km 2 URBANIZAÇÃO DE APP % APP URBANIZADA 2 (Km ) TIPOLOGIA (%) Margem de rio 54,75 35,29 8,49 15,50 Declividade 45° 69,92 45,09 0,93 1,33 Mangue 30,43 19,62 0,08 0,26 TOTAL 155,1 100 9,5 - GERAL (%) 89,37 9,79 0,84 100 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Figura – Espacialização das áreas de preservação permanente Fonte: Declividade – TOPODATA/SRTM; Mancha Urbana – I PÓLIS; APP margem de rio – I PÓLIS; Manguezais FUNDAÇÃO SOS Mata Atlântica. 277 Figura – Ocupação urbana em áreas de preservação permanente 7.10. Áreas naturais tombadas 7.10.1. Aspectos conceituais Para Meirelles (1997, p. 492), o tombamento é “a declaração pelo Poder Público do valor histórico, artístico, paisagístico, turístico, cultural ou científico de coisas ou locais que, por essa razão, devam ser preservados, de acordo com a inscrição em livro próprio". Já Di Pietro (2001, p. 131) conceitua tombamento como uma “modalidade de intervenção do Estado na propriedade privada, que tem por objetivo a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, assim considerado, pela legislação ordinária", neste caso o Decreto-Lei nº 25/1937. O tombamento é um instituto que busca, através de uma intervenção restritiva do uso de uma propriedade, garantir a proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural. Por meio do tombamento o Poder Público vislumbra a possibilidade de fazer com que um bem privado, sob determinadas limitações de uso, se submeta ao interesse público. A Constituição Federal de 1988 incorporou os sítios de valor paisagístico e ecológico no rol do patrimônio cultural brasileiro, e, assim, abriu a possibilidade de acautelamento destes bens através do instituto jurídico do tombamento, conforme segue in verbis: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: ... Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. ... § 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. Desta forma, por atribuição constitucional, o tombamento também é uma importante ferramenta de proteção do meio ambiente, pois possibilita impor limitações ao uso da propriedade em áreas de grande importância ecológica e/ou paisagística (áreas naturais tombadas). A partir da publicação do tombamento, a implementação de qualquer obra ou atividade na área natural tombada está sujeita a uma autorização específica do órgão de tutela e administração do patrimônio cultural competente que irá avaliar, em procedimento administrativo próprio, se tal obra ou atividade não irá degradar os atributos ambientais que ensejaram a proteção desta área. 7.10.2. Áreas Naturais Tombadas (ANT) no Município de Santos No Município de Santos estão incluídas áreas que compõe o tombamento da Serra do Mar e do Vale do Rio Quilombo. ANT das Serras do Mar e Paranapiacaba A Área Natural Tombada (ANT) das Serras do Mar e Paranapiacaba foi efetivada pela Resolução da Secretaria da Cultura n° 40, de 06 de junho de 1985, e está sob a tutela e a administração do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT) (figura 7.11). O Tombamento das Serras do Mar e Paranapiacaba foi criado de forma a funcionar como uma zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar e compreende cerca de 1,3 milhão de hectares, abrangendo 44 municípios paulistas até os limites com os estados do Rio de Janeiro e Paraná (WWF/IEB, 2008). A sua área é delimitada, em vários trechos, pela cota 40 metros, estabelecendo assim uma zona de proteção para o Parque Estadual da Serra do Mar, que tem seu início, grosso modo, a partir da cota 100 metros. Entretanto, é importante ressaltar que este tombamento também abrange, além das encostas da Serra, trechos de planície litorânea, esporões, ilhas e morros isolados (SCIFONI, 2006). No caso do Município de Santos, a ANT da Serra do Mar compreende toda a sua área de planalto, o conjunto serrano da Serra do Mar e, também, a planície costeira na região de Caruara, incluídos aí o bairro de mesmo nome e o manguezal lindeiro ao Canal de Bertioga. 279 Figura – Área Natural Tombada da Serra do Mar no Município de Santos Fonte: Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, 2011-2012; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 2011; Secretaria do Meio Ambiente, 2011. Para Scifoni (2006), o Tombamento da Serra do Mar abrange o maior e o mais complexo patrimônio natural do Estado de São Paulo. Ele foi concebido para proteger um meio físico-biótico de altíssima fragilidade ambiental e, também, para auxiliar no controle do crescimento urbano desordenado devido à expansão do turismo de segunda residência. Para tanto, as normas e diretrizes de tombamento colocaram novas exigências para a aprovação de novos projetos de loteamento, tais como a restrição de gabarito na planície e nas encostas, a necessidade de reserva de vegetação conforme a declividade dos terrenos, o estabelecimento de áreas de preservação permanente, além das definidas pelo Código Florestal e até mesmo o próprio cumprimento desta legislação pouco respeitada até então, que impediu, por exemplo, a continuidade da retificação dos rios existentes. Dentre o conjunto de diretrizes estabelecidas pela Resolução SC n° 40/1985 que são consideradas indispensáveis para garantir um caráter flexível para a preservação múltipla do tombado da Serra do Mar e Paranapiacaba, pode-se citar (Art. 9°): 1 – As instalações e propriedades particulares preexistentes na área, consentidas por comodato ou legalizadas de qualquer forma, serão mantidas na íntegra com suas funções originais, desde que não Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 ampliem seus espaços usuais atuais e nem comprometam a cobertura vegetal remanescente. Os projetos de reforma, demolição, construção e mudança de usos, bem como futuras cessões de áreas em comodato, deverão ser previamente submetidos à aprovação do Condephaat. 2 – As instalações públicas preexistentes na área, como torres de alta tensão, atalhos, estradas, reservatórios, equipamentos, edificações, etc, serão mantidas na íntegra com suas funções originais, sendo que as futuras instalações ou ampliação das existentes na área serão motivo de considerações e apreciações entre o Condephaat e os demais órgãos envolvidos, com o parecer terminal deste Conselho, tendo em vista a necessidade de garantir a preservação dos patrimônios ambientais, bióticos e paisagísticos. 3 – Por este instrumento fica proibida a retirada não autorizada previamente de terra ou rocha, assim como a predação da fauna e flora e a introdução de espécies exóticas, a fim de não modificar o “status” natural do conjunto de seres vivos que se inter-relacionam. 4 – Os projetos especiais de lazer e pesquisa, elaborados com todas as precauções inerentes ao equilíbrio ecológico, compatíveis com padrões corretos de preservação no que diz respeito às propostas de edificações, acessos não lesionantes, reimplantação de massas florestais, etc, poderão ser estudados no interior da área tombada após exame e anuência do Condephaat. As áreas preexistentes destinadas ao sistema de lazer, educação ambiental e pesquisas, estabelecidas no plano de manejo do Instituto Florestal da Coordenadoria de Pesquisas de Recursos Naturais, terão continuidade assegurada em suas funções originais, assim como os programados pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente – Consema e Secretaria Especial do Meio Ambiente – Sema. 5 – O Condephaat celebrará convênios e protocolos de intenções com as entidades competentes e as Prefeituras Municipais objetivando aperfeiçoar os critérios de utilização de uso de espaço, que servirão de base para o acompanhamento da área tombada, e manterá um arquivo atualizado contendo todos os Projetos, Programas, Planos de Manejo, Planos Diretores Municipais, Leis de Zoneamento, elaborados pelos órgãos envolvidos, tais como Instituto Florestal da CPRN da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Consema, Sema, Dersa, Fumest, Sudelpa, Cetesb, SPU, Cirm, Prefeituras Municipais, etc. 6 – As áreas em disputa judicial ou objeto de processos de usucapião, porventura existentes na área, ficarão sob a responsabilidade da Procuradoria do Patrimônio Imobiliário da Procuradoria Geral do Estado, reservando-se ao Condephaat o direito de orientar o processo eventual de reciclagem de tais espaços. 7 – As áreas devolutas, porventura existentes no interior do espaço de tombamento, serão motivo de considerações especiais entre o Condephaat, a Procuradoria do Patrimônio Imobiliário da Procuradoria Geral do Estado e Prefeituras envolvidas. 8 – Não serão toleradas novas instalações de indústrias, mineração ou outras atividades potencialmente poluidoras sem a prévia consulta ao Condephaat, nesta área. 9 – O Condephaat organizará junto ao Serviço Técnico de Conservação e Restauro uma equipe técnica habilitada e em número adequado para atuar na proteção da Serra do Mar e demais trechos incorporados ao seu tombamento. 10 – As áreas e trilhos de perambulação indígenas abrangidas por este tombamento serão oportunamente demarcadas e receberão uma regulamentação especial visando garantir a sua permanência, em consonância com os demais órgãos envolvidos. 11 – As áreas hoje ocupadas por atividades de agricultura de subsistência deverão ser objeto de cuidados especiais no sentido de garantir o exercício dessas atividades dentro dos padrões culturais estabelecidos historicamente. 281 12 – Os sítios arqueológicos existentes na serra serão cadastrados e deverão ser protegidos por medidas específicas. A pesquisa arqueológica somente poderá ser executada com projeto aprovado pelo CONDEPHAAT. ANT do Vale do Rio Quilombo A Área Natural Tombada do Vale do Rio Quilombo foi criada pela Resolução da Secretaria da Cultura n° 60, de 22 de outubro de 1988. Segundo o CONDEPHAAT (2012) o Vale do Rio Quilombo está localizado entre os vales dos rios Mogi e Jurubatuba, sendo a única área ainda recoberta por vegetação nativa na quase totalidade de sua bacia hidrográfica. Tal fato, em grande medida, decorre da barreira natural imposta por seus espigões que o resguarda dos efeitos devastadores da poluição atmosférica e hídrica oriunda do complexo industrial de Cubatão. Esta ANT situa-se abaixo da cota altimétrica de 100 m e se estende até o traçado atual da rodovia. Segundo Scifoni (2006, p. 138), o processo de tombamento do Vale do Rio Quilombo foi realizado sob intensa pressão de interesses privados. Em 1987, após o conselho ter aprovado o tombamento do Vale do Quilombo, um dos principais proprietários da área, a Imobiliária Savoy, interpôs constantes e incisivos recursos contrários ao tombamento - seis no total -, enviados ao governador do estado, além daqueles encaminhados diretamente ao órgão. A Savoy reclamava que o pedido de tombamento fora motivado pelo interesse da sua autora, a Cosipa, pela garantia do uso da água retirada das nascentes do rio, e solicitava a retirada da várzea do limite do tombamento. Em um dos vários recursos enviados ao órgão, constata-se que entre as estratégias de pressão figurava o tom de ameaças, que, no entanto, não surtiram o efeito desejado, já que os recursos foram indeferidos pela presidência do órgão e o Vale do Quilombo foi tombado definitivamente em 1988. 7.10.3. Características, condições e pontos críticos das áreas naturais tombadas em Santos Os limites das ANTs da Serra do Mar e Vale do Rio Quilombo em Santos sobrepõem a maior parte das áreas protegidas existentes no território municipal (figura 7.11). Assim, as condições e pontos críticos desta área são essencialmente os mesmos já explicitados nos capítulos anteriores sobre espaços territoriais especialmente protegidos. Além disso, Scifoni (2006, p. 231) pondera que o tombamento da Serra do Mar concorreu para que algo mudasse na produção do espaço do litoral ao ajudar a reforçar o questionamento do modelo tradicional de loteamento que até então era praticado no litoral. Isso porque as normas e diretrizes de tombamento colocaram novas exigências para a aprovação dos projetos, tais como a restrição de gabarito na planície e nas encostas, a necessidade de reserva de vegetação conforme a declividade dos terrenos, o estabelecimento de áreas de preservação permanente, além das definidas pelo Código Florestal e até mesmo o próprio cumprimento desta legislação pouco respeitada até então, que impediu, por exemplo, a continuidade da retificação dos rios existentes (SCIFONI, 2006). 7.11. Meio Ambiente e Território na legislação municipal A proteção e preservação do meio ambiente são competências previstas ao ente local, especialmente por meio de sua LOM, art. 7º, incisos VI e VIII. Os arts. 154 e seguintes prescrevem uma série de incumbências ao Município no resguardo e controle ambiental. Entre elas, a manutenção de um Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – CONDEMA – (art. 165) e criação de fundo próprio (art. 166). A LOM também estabelece em seu art. 159 proteção especial pelo Município de manguezais, costões, Mata Atlântica, Serra do Mar, margens dos rios, encostas dos morros, região do estuário, o Vale do Quilombo, praias e seus jardins e canais de drenagem. O CONDEMA foi instituído com caráter deliberativo por meio da Lei nº 675/1990, que fixou-lhe suas atribuições de estabelecer diretrizes da política ambiental local e de controle ambiental. O art. 9º do Plano Diretor do Município de Santos estabelece uma área de proteção ambiental correspondente a um zoneamento. Apesar da nomenclatura análoga à modalidade de unidade de Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 conservação, a lei é clara ao defini-la como um zoneamento com a função de preservação de recursos e reservas naturais. A zona, apenas prevista pelo Plano Diretor, é delimitada na LC nº 729/2011, para a porção continental do território, que lhe subdivide, em seu art. 13, nas categorias de Zona de Uso Especial (ZUE), Zona de preservação (ZP) e Zona de Conservação (ZC), Zona de Uso Agropecuário. A primeira corresponde à área santista do Parque Estadual da Serra do Mar, conforme art. 14. A ZP visa à preservação ambiental, permitindo apenas os seguintes usos, nos termos do art. 26: • reservas públicas ou particulares; • pesquisa científica e banco genético; • recuperação de áreas degradadas; • atividades educacionais, culturais e turismo monitorado; • manejo autossustentado, aquicultura e maricultura; • manutenção de comunidades tradicionais; • pequenas estruturas de apoio náutico; • estrutura viária de transposição e torres de retransmissão; • infraestrutura de apoio às instalações das atividades permitidas. A ZC permite todos os usos da ZP, acrescendo-lhe manejo sustentado de espécies da fauna e flora e implantação de sistemas de captação de água, conforme art. 26. Já a ZUA, além das atividades agrícolas e pecuárias, permite usos destinados a lazer e comércio de pequeno porte e não poluidor (art. 27). Portanto, a função preservacionista encontra-se fortemente marcada nas primeiras três categorias de zonas (ZUE, ZP e ZC). Na área insular de Santos, os território de maior relevância ambiental são gravados como Zonas de Preservação Paisagística (ZPP), conforme LC nº 730/2011, art. 10, inciso I. Além dos morros, destaca-se o resguardo desse zoneamento identificado com clara finalidade de preservação ambiental (ainda que também paisagística) para Ilha do Urubuqueçaba (art. 11, parágrafo 1º). É de se destacar o fato do Município trabalhar constantemente com a espacialização de áreas ambientalmente relevantes por meio do zoneamento, não sendo identificadas unidades de conservação criadas pelo Município, mas tão somente a unidade de conservação estadual – Parque Estadual da Serra do Mar. 8. GRANDES PROJETOS DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA 8.1 Introdução A região da baixada santista concentra grandes equipamento e sistemas de infraestrutura como o Porto de Santos, as Rodovias Anchieta e Imigrantes, o complexo industrial em Cubatão, e diversos outros grandes projetos que impactaram e contribuíram para atual conformação do seu território. Com as descobertas de grandes reservas na camada do Pré-Sal, estão previstos novos grandes projetos públicos e privados que afetarão direta ou indiretamente a região. Essas propostas implicam em grandes intervenções nos espaços locais e regionais e juntamente com os equipamentos já existentes, formam um conjunto degrandes infraestruturas e equipamentos logísticos que deverão funcionar de modo interligado. 283 Embora diversos grandes projetos previstos estejam localizados integralmente em somente um município, esse conjunto de intervenções exercerá impactos positivos e negativos no meio ambiente, nos espaços urbanos e nas dinâmicas socioeconômicas municipais e regionais. Essas grandes obrasexercem impacto sobre toda a região. Certamente, a grande dimensão das obras influencia as dinâmicas populacionais, reforçando algumas tendências e propiciando novos cenários de desenvolvimento. Neste trabalho identificamos grandes projetos que estão previstos ou em andamento na região, cuja implementação deve ser considerada nas leituras municipais e regionais. São eles: 1 Ampliação da Rodovia dos Imigrantes – vários municípios 2 Ampliação das Ferrovias Santos-Campinas – vários municípios 3 Avenidas Perimetrais - Santos e Guarujá 4 Estrada de Ferro – transporte de passageiros Santos - São Paulo – vários municípios 5 Aeroporto Civil Metropolitano - Guarujá 6 Ampliação do Porto de Santos– Guarujá 7 Ampliação do Aeroporto- Itanhaém 8 Ligação seca entre Santos e Guarujá (Túnel) - Santos e Guarujá 9 Centro Empresarial Andaraguá - Praia Grande 10 Reforma no estádio municipal do Guarujá - Guarujá 11 Ampliação do Porto de Santos - Santos 12 Mergulhão -Santos 13 Veículo Leve sobre Trilhos – VLT – Santos, Praia Grande e São Vicente Mapa – localização dos grandes projetos na baixada Santista Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Santos é certamente o município mais importante da Baixada Santista e de todo o litoral paulista por causa das suas articulações com outras regiões do Estado de São Paulo e do país e, também, por suas características urbanas, econômicas, logísticas e ambientais. Como visto anteriormente, a cidade de Santos se articula com os polos industriais e petroquímicos de Cubatão e das Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Campinas e possui estreitas conexões com as regiões produtoras de commodities agrícolas localizadas em diferentes partes do Brasil. O Porto de Santos, em que pese seus problemas operacionais e administrativos que prejudicam sua eficiência e eficácia, faz com que esse Município funcione como a base mais importante para a exportação e importação de mercadorias e matérias primas do país. Esse Porto é um grande gerador de empregos diretos e indiretos em diferentes setores econômicos. Isso tem atraído fluxos migratórios de diferentes modalidades envolvendo trabalhadores com diferentes níveis de renda. Esses fluxos migratórios ocorreram em diferentes momentos da história e influenciaram e continuam a influenciar as diferentes etapas dos processos de urbanização de Santos. Muitos bairros se formaram no passado a partir das moradias populares dos trabalhadores ocupados em atividades ligadas direta ou indiretamente ao Porto. Trata-se de bairros populares localizados principalmente nas encostas dos morros e nas porções Noroeste de Santos que se conurbaram com as áreas urbanas de São Vicente onde vive boa parte daqueles trabalhadores. Esse processo de conurbação já envolve os demais municípios da parte Sul da Baixada Santista cujas áreas urbanizadas formam um território mais ou menos contínuo ao longo da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-055). Os bairros populares com as moradias dos trabalhadores de baixa e média renda de Santos convivem com os espaços urbanos mais valorizados, com a maior parte dos empreendimentos imobiliários verticais do município, formados a partir das atividades de veraneio. Trata-se de espaços com oferta relativamente boa de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas e estão localizados principalmente junto às praias do Gonzaga, Boqueirão e Ponta da Praia. Em décadas passadas esses espaços eram ocupados principalmente pelas chamadas “segundas residências” construídas para atender às demandas do “veranismo”, isto é, as demandas colocadas pela afluência de populações flutuantes atraídas pelo lazer em torno das praias durante os períodos de verão, feriados e fins de semana. Com o tempo, as “segundas residências” deixaram de ser predominantes em Santos e os domicílios permanentes com população fixa passaram a ser maioria no parque habitacional do município. Vale dizer que essa população fixa de Santos é caracterizada pela presença marcante de grupos idosos. A existência de um mercado de trabalho e de consumo significativo em Santos provoca a formação de áreas e corredores com empresas, estabelecimentos comerciais e de serviços que se espalham por grande parte da área urbanizada e se concentram, por exemplo, no centro histórico da cidade e ao longo das Avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa. Esses estabelecimentos comerciais e de serviços, somados às instituições públicas e às atividades relacionadas com o Porto, faz com que Santos seja o principal polo de empregos da Baixada Santista, complementado pelas oportunidades existentes em Cubatão, São Vicente, Guarujá e Praia Grande. A posição de destaque de Santos no panorama regional e nacional deverá ser fortalecida pelos grandes projetos previstos e em andamento nesse município central da Baixada Santista. O município conta com diversas intervenções localizadas dentro de seu território, conforme descrição a seguir: A. AMPLIAÇÃO DA RODOVIA DOS IMIGRANTES Está prevista a construção de uma quinta faixa na Rodovia dos Imigrantes no sentido de subida à São Paulo, ocupando o canteiro central no trecho do Km 40 ao 33 e do Km 32 ao 26. Entre o km 33 e o 32, a faixa extra ocupará a lateral direita. Além disso, o DER-SP informa em seu site que lançou licitação pública para a ampliação da pista sul da rodovia, na altura do município de Cubatão. "A rodovia receberá obras de ampliação do km 62, ao km 65,5, incluindo a construção de uma nova ponte sobre o Canal dos Barreiros, com calçada para pedestre, ao lado da ponte já existente. As obras serão realizadas pelo Governo do Estado com investimento de R$ 55,45 milhões. O prazo de execução dos serviços é de 18 meses, após assinatura do contrato." 285 De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento dos Transportes 2000-2020(PDDT Vivo 2000/2020) da Dersa/Secretaria dos Transportes do Governo do Estado, está confirmada a execução das seguintes obras na complementação da Rodovia dos Imigrantes: 1. Pista Descendente da Imigrantes - Trecho Baixada 2. Trevo da Interligação Anchieta-Imigrantes na Baixada 3. Iluminação na Pista Ascendente 4. Viaduto no km 65+600m 5. Viaduto sobre Ramal Ferroviário 6. Construção de Marginais Fonte: relatório executivo, PDDT. B. . AMPLIAÇÃO DAS FERROVIAS SANTOS-CAMPINAS A América Latina Logística, com aporte da Rumo Logística é a responsável por ampliar a antiga Estrada de Ferro Sorocabana, que será duplicada. A nova capacidade da estrada será de 20 composições por dia (hoje esse aporte é de 15 composições diárias). A meta é seguir aumentando o número de composições ao longo do tempo, chegando a 26/dia em 2013. Ainda em 2012, estima-se o aumento de 10% da capacidade atual. Área ocupada pelo empreendimento/obra 200km, de 240km no total (40km já são duplicados) Nova Capacidade 26 composições/dia Inicio/Previsão de Inicio das Obras 2012 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Término/Previsão de Término das Obras 2014 Empresa Gestora Portofer (concesionáriaALL -América Latina Logística) Além disso, está previsto o Transporte ferroviário para passageiros entre Santos e São Paulo. O projeto inclui Sorocaba, Campinas, Jundiaí e São José dos Campos. Estimativa de 15 milhões de passageiros por ano em viagens com duração de 55 minutos. CPTM deverá homologar o consórcio vencedor para o projeto funcional ainda em 2011. A previsão de início das obras é 2013. C. AMPLIAÇÃO DO PORTO DE SANTOS A ampliação do porto de Santos envolve uma grande quantidade de obras e projetos. Segundo o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Santos de 2012 (PDZ-PS2012) os grandes projetos relacionados com a expansão desse Porto que já estão em andamento são a. Brasil Terminal Portuário (BTP) – Alamoa – Margem Direita do Porto b. Ampliação do Tecondi – Saboó – Margem Direita do Porto c. Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport) – Ilha do Barnabé – Margem Esquerda do Porto d. Avenidas Perimetrais O Brasil Terminal Portuário (BTP), localizado na Margem Direita do estuário na altura da Alamoa, é um projeto da iniciativa privada. Segundo o PDZ-PS2012, “o contrato armado entre a CODESP e a BTP, em janeiro de 2007, concede à empresa o direito de implantar e operar durante 20 anos um terminal de múltiplo-uso para movimentação de granéis líquidos e contêineres. A área arrendada é de 342.020 e localiza-se no antigo lixão do Alamoa, na margem direita do Porto. O trabalho de recuperação ambiental da área deverá durar entre três e quatro anos, e somente após seu término poderá ser iniciada a construção do terminal” (PDZPS2012). As intervenções da BTP incluem a recuperação de 680.000 m³ do solo com a “construção de uma área para tancagem e pátios para armazenagem de contêineres, quatro berços de atracação para contêineres e um berço para granéis líquidos, além de escritórios e demais facilidades. Ao todo, o terminal possuirá cerca de 1.420 m de cais contínuo. O terminal terá capacidade de operar 1,2 milhão de contêineres e 1,2 milhão de t de granéis líquidos, por ano, correspondente a cerca de 70% e 10% da movimentação das respectivas cargas no Porto de Santos no ano de 2008. O início das operações está previsto para o primeiro trimestre de 2013” (PDZ-PS2012). 287 Fonte: PDZPS2012, página 449. De acordo com o PDZ-PS2012, a ampliação do Tecondi, também na margem direita do Porto de Santos, na altura do Saboó, envolverá a construção de três portêineres para atracação de navios e seis “RTG´s”, para operação de contêineres no pátio. Com isso o Tecondi passará de uma movimentação atual de 370 mil TEU´s para cerca de 900 mil TEU´s, além de possibilitar atendimento de navios pos-panamax que passarão a escalar o porto nos próximos anos. O investimento foi da ordem de R$ 170 milhões. Ainda segundo o PDZ-PS2012, “o terminal da Tecondi foi ampliado em 35.000m, além de expandir o berço do Valongo para 320m”. Fonte: PDZPS2012, página 451. A Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport) está construindo, desde junho de 2007, um terminal privativo de uso misto na margem esquerda, à jusante da Ilha do Barnabé, entre os rios Diana e Sandi, na margem esquerda do Porto de Santos. De acordo com o PDZ-PS2012, as intervenções “capacitarão o terminal para movimentar anualmente até 1,2 milhões de contêineres e 2,0 milhões de m³ de etanol, que Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 correspondem a cerca de 70% e 55% da movimentação total das respectivas cargas no Porto de Santos em 2008. Com o término das obras, previsto para 2015, o terminal ocupará uma área de 1 milhão de m² e contará com um cais contínuo de 1.100 m exclusivo para contêineres e dois píeres avançados para a movimentação de granéis líquidos. O etanol embarcado acessará o terminal através de um duto que deverá interligar a região do Alto Taquari, no Estado de Mato Grosso, ao Porto de Santos.” 7. Fonte: PDZPS2012, página 449. Estão previstas outras intervenções que deverão incidir diretamente no sistema viário do Porto de Santos como, por exemplo, as Avenidas Perimetrais de acesso ao Porto que irão se localizar nas margens direita (Santos) e esquerda (Guarujá) do canal. A Avenida Perimetral da margem direita em Santos se estenderá do Saboó à Reta da Alemoa e da Bacia do Macuco à Ponta da Praia. Lá, termina na região do Valongo. Já a obra da margem esquerda da via (trecho Guarujá), segundo o site Cais do Porto, "terá um trajeto que vai desde as instalações do Terminal de Contêineres da Santos Brasil até a Dow Química, com a implantação de cinco faixas de rolamento para o trânsito portuário, com dois viadutos visando a eliminar conflitos com as linhas férreas existentes e remodelação da Avenida Santos Dumont, com quatro faixas de rolamento para o trânsito urbano. A ligação entre a Rodovia Cônego Domênico Rangoni e a avenida se dará, provisoriamente, pela Rua Idalino Piñez (Rua do Adubo)". De acordo com o PDZ-PS2012, o primeiro trecho (margem direita) já está concluído. Imagem. Av. Perimetral, trecho Santos. 289 Fonte – PZPS 2012 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Imagem. Av. Perimetral, trecho Santos. Fonte – PZPS 2012 Além destas obras em andamento estão previstas as seguintes intervenções relacionadas à ampliação do porto de Santos: 1. Ponta da Praia e Macuco Reordenamento das Linhas Férreas, projeto que a Codesp desenvolve é o de remodelação rodoferroviária do trecho entre o canal 4 e a Ponta da Praia, prevendo implantação de viaduto para acesso aos terminais do Macuco à Ponta da Praia. 291 Fonte: PDZPS2012 2. Outeirinhos Será realizado retificação do cais na região do Outeirinhos, face nordeste do porto de Santos. A modificação na geometria do perímetro da área será realizada para permitir a atracação de maior número de navios, visando incremento de capacidade para acolhimento de navios turísticos na região, especialmente para a Copa do Mundo de 2014. Segundo o jornal A Tribuna, com o alinhamento, "será possível atracar seis navios nas proximidades do Terminal de Passageiros, da Concais. Atualmente, somente três navios podem parar em frente à instalação." Ainda segundo o periódico, "além de atender os cruzeiros, a obra trará benefícios para a operação de cargas e melhores acomodações para os navios da Marinha". De acordo com o pdz2012, há também a necessidade de construção de uma pêra ferroviária, ou ao menos, um ramal eficiente já que “atualmente as condições dos acessos ferroviários aos terminais são bastante criticadas pelos atuais arrendatários”, uma vez que concentram-se as operações de navios de passageiros no Porto. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: PDZPS2012 3. Paquetá e Valongo / Projeto Porto Valongo Santos De acordo com o PDZPS-2012, “a região, deveria incluir atividades compatíveis com a vida urbana, tais como: terminal de cruzeiros, estações para transporte aquaviário de passageiros, dentre outras.” Proposto pelo poder público local e desenvolvido pelo escritório inglês de engenharia Ove Arup&Partners, o projeto trata de um complexo turístico, empresarial, cultural e náutico. Deverá ter licitações abertas até 2013. Para isso, os estudos de viabilidade técnica, econômica, social e ambiental deverão ficar prontos até outubro de 2102. A realização do projeto está vinculada às obras do chamado mergulhão (ligação por túnel entre o Valongo e Vicente de carvalho, no município do Guarujá), já que este desviará o transito de caminhões da área. De acordo com o secretário de Assuntos Portuários e Marítimos de Santos, Sérgio Aquino, em entrevista ao Estado de São Paulo, "sem mergulhão não há revitalização. Isso porque não temos como fazer a ligação entre o centro histórico e o Valongo sem tirar os caminhões de lá". Conforme enunciado no periódico, "O principal acesso a esse complexo de equipamentos será oferecido pela Praça Barão de Rio Branco. Por ela, o turista terá passagem para o bolsão de estacionamento do novo terminal de cruzeiros, que também servirá à futura marina e à rede de serviços a ser instalada nos armazéns que serão restaurados.". Apesar da associação que a notícia faz entre acesso à área e utilização do carro como meio de transporte, os projetistas dão destaque distinto ao projeto: "Incentivar [o deslocamento] a pé e o uso de transporte público é um dos nossos principais objetivos". De acordo ainda com o jornal Estado de SP, a área receberá o Museu do Pelé, já em obras, além de outras funções: "Segundo a arquiteta da prefeitura Yedda Cristina Moreira Sadocco, os armazéns 1, 2 e 3 devem receber restaurantes, bares, lojas e ateliês de arte. 'Eles serão reformados internamente, mas a casca deve permanecer a mesma, pelo valor histórico', diz.É possível ainda que seja instalado um Museu de Arte Contemporânea na área, para a formação de um corredor cultural no bairro." Ainda fazem parte do programa um terminal para navios cruzeiro, hotéis, e uma marina. Segundo a Tribuna, " União será a responsável pela concorrência para a construção do novo terminal de passageiros e de três 293 novos berços de atracação de navios. O restante deverá ficar sob a responsabilidade da Administração Municipal. O secretário afirma que a Prefeitura ainda está aguardando uma resposta do Governo Federal para a inclusão do projeto Porto Valongo Santos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa do Mundo de 2014." Além disso, a Petrobras terá participação importante na requalificação da área pois está prevista a construção de três torres (cada uma com 17 pavimentos) para a instalação da sede definitiva da Unidade de Negócios da Bacia de Santos (UN-BS), assim como o centro de integração de operações. O gerente geral da UN-BS, José Luiz Marcusso, afirma que as obras estão em andamento e o primeiro edifício deverá ser entregue no dia 15 de março de 2014. Fonte: PDZPS2012 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Desenho voo de pássaro da área projetado do valongo(http://www.arup.com/Home/Projects/Santos_Valongo_waterfront_regeneration.aspx) 4. Saboó Manutenção das operações de contêineres, além do estudo das seguintes propostas de se desenvolver implantação de terminal multi propósito e implantar o trecho da Av. Perimetral da Alamoa ao Valongo. Fonte: PDZPS2012 5. Alamoa e Ilha do Barnabé 295 Conforme o PDZPS2012, “três projetos visam suprir o crescente décit de capacidade de granéis líquidos: as construções de dois novos berços na Alamoa, outros três na Ilha do Barnabé, e o início das operações do BTP. Além disso, a Transpetro tem a proposta de implantação de mais dois berços de atracação, a montante do atual píer da Alamoa, com recursos financeiros a serem definidos. De acordo com o Jornal A Tribuna, a Associação Brasileira de Terminais de Líquidos (ABTL) entregará, até agosto, à Codesp, a administradora do Porto de Santos, um projeto-executivo para construção de um novo pier na Alemoa. Este trabalho, o licenciamento ambiental do empreendimento e seu estudo de viabilidade técnica e econômica custarão cerca de R$4milhoes, pagos com recursos das operadoras portuárias StoltUItracargo, Vopak e Granel Química, que serão doados à Docas. O novo píer aumentará em 50% a capacidade dos terminais da Alemoa para receber navios. Atualmente, há quatro berços para atracagem de navios, número que passará a ser de seis. Fonte: PDZPS2012 Já a Ilha de Barnabé, segundo A Tribuna, fará parte do complexo Barnabé-Bagres. A instalação será da São Paulo Empreendimentos Portuários. O empreendimento engloba seis projetos distintos: estaleiro de construção e reparo naval; base de apoio às atividades offshore com movimentação de carga geral; um condomínio empresarial de apoio ao estaleiro e à base offshore; áreas de apoio e utilidades; infraestrutura para recepção e tratamento de água de lastro de navios , águas residuais, limpeza de tanques; armazenamento e movimentação de granéis líquidos, e áreas para armazenamento e movimentação de granéis sólidos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 D. MERGULHÃO O Mergulhão será uma passagem subterrânea para caminhões na av. Perimetral da margem direita do porto, na área do Valongo. A obra integra o plano de ocupação do Programa de Revitalização Porto Valongo. Segundo o presidente da Codesp, José Roberto Serra, o Ibama condicionou a aprovação do projeto da Perimetral à essa intervenção, que solucionará o principal 'gargalo' do porto santista, eliminando o conflito entre caminhões e trens e possibilitando a integração da área urbana com o cais. A iniciativa incrementa o projeto que vai transformar área de 55 mil m², entre os armazéns 1 e 8, em complexo turístico, cultural, náutico e empresarial. As obras foram incluídas, juntamente com a drenagem do Porto no PAC2. O custo da passagem subterrânea entre os armazéns 1 e 2 é estimado em cerca de R$ 260 milhões. (http://www.webtranspo.com.br/rodoviario/7100-mergulhao-incrementa-revitalizacao-do-valongo-emsantos) 297 Imagem disponível em: http://www.santos.sp.gov.br/nsantos/index.php/noticias/vistoria-da-inicio-a-prospeccao-arqueologica-daarea-do-mergulhao E. LIGAÇÃO SECA ENTRE SANTOS E GUARUJÁ (TÚNEL) O túnel ligará os bairros de Outeirinhos em Santos, e Vicente de Carvalho no Guarujá, e permitirá a passagem de automóveis, caminhões, pedestres e ciclistas. A solução será compatível com o futuro sistema de VLT. Inicio/Previsão de Inicio das Obras 2011/2012 Término/Previsão de Término das Obras 2014/2015 F. VEÍCULO LEVE SOBRE TRILHOS - VLT Veículo Leve Sobre Trilhos para transporte de passageiros. VLT ligará a Esplanada dos Barreiros, em São Vicente, ao Valongo, e Santos. Definição da empresa responsável pela elaboração do projeto executivo em novembro de 2011, quando também será aberta a licitação para compra de 20 trens Área ocupada pelo empreendimento/obra Cerca d e11 quilômetros de extensão Inicio/Previsão de Inicio das Obras 2012 8.2. Legislação municipal de avaliação de impacto Dentre os objetivos estabelecidos para o Plano de Desenvolvimento Urbano adotado pelo Plano Diretor, os impactos urbanos encontram-se discriminados pelo art. 16, inciso V. Orientam a política municipal o estabelecimento de exigências e sanções de controle do impacto para implantação de empreendimentos de excepcional consequência para infraestrutura instalada e o fortalecimento de diretrizes para mitigação desses impactos, em especial, de polos geradores de tráfego. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 A LC nº 729/2011 (área continental) privilegia o tratamento de impactos sob a ótica de seu licenciamento ambiental (arts. 39 e 40), enquanto a LC nº 730/2011 (área insular) não foge à regulamentação incidental do tema por meio de seu zoneamento. Dessa forma, o art. 18, parágrafo único desse diploma legal veda a possibilidade de instalação de indústrias mais impactantes no território municipal46 . O art. 10, inciso V, que define as Zonas de Amortecimento (ZA) também é uma medida mitigadora pelo instrumento do zoneamento para o impacto urbanístico decorrente do conflito de usos portuário (intenso) e residencial. Vale destacar que o estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) é definido pelo art. 65, inciso X como matéria de oportuna regulamentação. Não obstante, o Município possuía regulação própria de seus polos geradores de tráfego, consubstanciada pela Lei nº 528/2005, a qual entende-se, a princípio, com aplicabilidade condicionada à sua adaptação à nova legislação de uso e ocupação do solo de 2011. 9 - MOBILIDADE URBANA E REGIONAL 9.1 Princípios e diretrizes norteadoras da política nacional de mobilidade A política nacional de transportes e mobilidade urbana sustentável é formulada e implementada pela Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (SeMob), instituída no Ministério das Cidades. Esta política é definida como “a reunião das políticas de transporte e de circulação, e integrada com a política de desenvolvimento urbano, com a finalidade de proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizando os modos de transporte coletivo e os não-motorizados, de forma segura, socialmente inclusiva e sustentável”. Segundo a SeMob, as atuais condições de mobilidade e dos serviços de transporte público no Brasil direcionam sua atuação para três eixos estratégicos que agrupam as seguintes questões a serem enfrentadas: Promover a cidadania e a inclusão social por meio da universalização do acesso aos serviços públicos de transporte coletivo e do aumento da mobilidade urbana; Promover o aperfeiçoamento institucional, regulatório e da gestão no setor; e Coordenar ações para a integração das políticas da mobilidade e destas com as demais políticas de desenvolvimento urbano e de proteção ao meio ambiente. Os Programas Estratégicos e as Ações da SeMob, integrados com as demais políticas urbanas, “visam mudar radicalmente a atuação do Governo Federal, aliando-o aos Estados e Municípios para desenvolver e implementar uma Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, centrada no desenvolvimento sustentável das cidades e na priorização dos investimentos federais nos modos coletivos e nos meios não motorizados de transporte”. O marco legal federal específico para mobilidade urbana e transporte é recente. Em 3 de janeiro de 2012, foi sancionada a Lei 12.587, que estabelece as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Esta norma entrará em vigor cem dias após sua publicação. 46 É vedada a instalação das seguintes atividades em território santista: ”indústrias com risco ambiental alto por apresentarem grau médio de periculosidade por provocarem grandes efeitos não minimizáveis, mesmo após a aplicação de métodos adequados de controle e tratamento de efluentes, a exemplo de fabricação de produtos farmoquímicos, fabricação de defensivos agrícolas, metalurgia básica em siderúrgicas integradas, fabricação de aditivos de uso industrial, fabricação de catalisadores; e “indústrias e pólos petroquímicos, carboquímicos e cloroquímicos, usinas nucleares e outras fontes não industriais de grande impacto ou de extrema periculosidade”. 299 Dentre outros pontos, a lei autoriza estados, municípios e União a aplicar, dentre outros recursos, a incidência de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano buscando desestimular seu uso. Portanto, estes tributos podem ser destinados ao financiamento para subsídio do transporte público coletivo. Esta norma busca promover “a integração entre os diferentes modos de transporte e a melhoria da acessibilidade e mobilidade das pessoas e cargas no território”, e segundo seu texto, o objetivo é “contribuir para o acesso universal à cidade, o fomento e a concretização das condições que contribuam para a efetivação dos princípios, objetivos e diretrizes da política de desenvolvimento urbano, por meio do planejamento e da gestão democrática do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana”. Entre outras questões, a política de mobilidade autoriza governos locais a restringir e promover mecanismos de controle de acesso e circulação de veículos a determinados locais e em determinados horários, além de estipular padrões de emissão de poluentes para áreas, horários e dias nos espaços urbanos sob seu controle. Também está previsto na lei, que os governos possam dedicar “espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte público coletivo e modos de transporte não motorizados” e ainda realizar “controle do uso e operação da infraestrutura viária destinada à circulação e operação do transporte de carga, concedendo prioridades ou restrições”. Quanto às tarifas dos serviços de transporte coletivo, os municípios serão obrigados pela lei “a divulgar, de forma sistemática e periódica, os impactos dos benefícios tarifários concedidos no valor das tarifas dos serviços de transporte público coletivo”. Além disso, os usuários dos sistemas também terão de ser obrigatoriamente “informados nos pontos de embarque e desembarque de passageiros, de forma gratuita e acessível, sobre itinerários, horários, tarifas dos serviços e modos de interação com outros modais”. A norma estabelece, ainda, que caberá à União prestar “diretamente ou por delegação ou gestão associada, os serviços de transporte público interestadual de caráter urbano”, podendo o governo federal realizar ações coordenadas com estados e municípios em áreas de aglomerações urbanas e regiões metropolitanas para promover melhorias no transporte público, inclusive nas cidades-gêmeas localizadas nas regiões de fronteira. [grifo meu] No que concerne ao transporte público coletivo urbano, conforme a lei, é de responsabilidade do município, “prestar, direta, indiretamente ou por gestão associada, os serviços que têm caráter essencial”. Em seu artigo 24, a lei estabelece que: O Plano de Mobilidade Urbana é o instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana e deverá contemplar os princípios, os objetivos e as diretrizes desta Lei, bem como: I - os serviços de transporte público coletivo; II - a circulação viária; III - as infraestruturas do sistema de mobilidade urbana; IV - a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade; V - a integração dos modos de transporte público e destes com os privados e os não motorizados; VI - a operação e o disciplinamento do transporte de carga na infraestrutura viária; VII - os polos geradores de viagens; VIII - as áreas de estacionamentos públicos e privados, gratuitos ou onerosos; IX - as áreas e horários de acesso e circulação restrita ou controlada; X - os mecanismos e instrumentos de financiamento do transporte público coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana; e XI - a sistemática de avaliação, revisão e atualização periódica do Plano de Mobilidade Urbana em prazo não superior a 10 (dez) anos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 § 1º Em Municípios acima de 20.000 (vinte mil) habitantes e em todos os demais obrigados, na forma da lei, à elaboração do plano diretor, deverá ser elaborado o Plano de Mobilidade Urbana, integrado e compatível com os respectivos planos diretores ou neles inserido. § 2º Nos Municípios sem sistema de transporte público coletivo ou individual, o Plano de Mobilidade Urbana deverá ter o foco no transporte não motorizado e no planejamento da infraestrutura urbana destinada aos deslocamentos a pé e por bicicleta, de acordo com a legislação vigente. § 3º O Plano de Mobilidade Urbana deverá ser integrado ao plano diretor municipal, existente ou em elaboração, no prazo máximo de 3 (três) anos da vigência desta Lei. § 4º Os Municípios que não tenham elaborado o Plano de Mobilidade Urbana na data de promulgação desta Lei terão o prazo máximo de 3 (três) anos de sua vigência para elaborá-lo. Findo o prazo, ficam impedidos de receber recursos orçamentários federais destinados à mobilidade urbana até que atendam à exigência desta Lei. [grifos meus] Portanto, todos os municípios da RMBS e do Litoral Norte de São Paulo estão sujeitos a estas determinações. Segundo o Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana, elaborado pela SeMob: As cidades brasileiras vivem um momento de crise da mobilidade urbana, que exige uma mudança de paradigma, talvez de forma mais radical do que outras políticas setoriais. Trata-se de reverter o atual modelo de mobilidade, integrando-a aos instrumentos de gestão urbanística, subordinando-se aos princípios da sustentabilidade ambiental e voltando-se decisivamente para a inclusão social. (BRASIL, 2007, p. 1) Portanto, este novo paradigma impõe um novo conceito de mobilidade urbana mais avançado, com relação à maneira tradicional de tratar, isoladamente, o trânsito, o planejamento e a regulação do transporte coletivo, a logística de distribuição das mercadorias, a construção da infraestrutura viária, dos passeios e assim por diante. Assim, a SeMob defende que se deve “adotar uma visão sistêmica sobre toda a movimentação de bens e de pessoas, envolvendo todos os modos e todos os elementos que produzem as necessidades destes deslocamentos”. Sob esta ótica, o órgão definiu os seguintes princípios para o planejamento da mobilidade, com vista à elaboração dos planos de mobilidade: 1. Diminuir a necessidade de viagens motorizadas, posicionando melhor os equipamentos sociais, descentralizando os serviços públicos, ocupando os vazios urbanos, favorecendo a multi-centralidade, como formas de aproximar as oportunidades de trabalho e a oferta de serviços dos locais de moradia. 2. Repensar o desenho urbano, planejando o sistema viário como suporte da política de mobilidade, com prioridade para a segurança e a qualidade de vida dos moradores em detrimento da fluidez do tráfego de veículos. 3. Repensar a circulação de veículos, priorizando os meios não motorizados e de transporte coletivo nos planos e projetos - em lugar da histórica predominância dos automóveis considerando que a maioria das pessoas utiliza estes modos para seus deslocamentos e não o transporte individual. A cidade não pode ser pensada como, se um dia, todas as pessoas fossem ter um automóvel. 4. Desenvolver os meios não motorizados de transporte, passando a valorizar a bicicleta como um meio de transporte importante, integrado-a com os modos de transporte coletivo. 5. Reconhecer a importância do deslocamento dos pedestres, valorizando o caminhar como um modo de transporte para a realização de viagens curtas e incorporando definitivamente a calçada como parte da via pública, com tratamento específico. 6. Reduzir os impactos ambientais da mobilidade urbana, uma vez que toda viagem motorizada que usa combustível, produz poluição sonora, atmosférica e resíduos. 301 7. Propiciar mobilidade às pessoas com deficiência e restrição de mobilidade, permitindo o acesso dessas pessoas à cidade e aos serviços urbanos. 8. Priorizar o transporte público coletivo no sistema viário, racionalizando os sistemas, ampliando sua participação na distribuição das viagens e reduzindo seus custos, bem como desestimular o uso do transporte individual. 9. Promover a integração dos diversos modos de transporte, considerando a demanda, as características da cidade e a redução das externalidades negativas do sistema de mobilidade. 10. Estruturar a gestão local, fortalecendo o papel regulador dos órgãos públicos gestores dos serviços. (BRASIL, 2007, p. 2) Assim, embora os municípios do litoral não estejam sujeitos à obrigatoriedade de elaborar planos de mobilidade, é extremamente desejável que tais princípios sejam atendidos pelas políticas locais e regionais do setor. No município de Santos, compete à Secretaria Municipal de Planejamento a elaboração e implantação de planos e programas referentes ao desenvolvimento e expansão urbana. Contudo, cabe à Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos (CET-Santos) a gestão dos serviços de transporte coletivo de passageiros, realizando seu planejamento operacional, controle, administração, fiscalização e gestão da arrecadação, assim como o estudo e projeto de intervenções viárias, de acordo com as atribuições definidas na Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997, Código de Trânsito Brasileiro. Contudo, a realização de obras viárias está a cargo da Secretaria de Infraestrutura e Edificações. 9.2 Situação da mobilidade em Santos: polarização e pendularidade A área insular do município de Santos, em especial sua área central e a Zona Leste, situada entre o centro e a orla marítima, é o grande pólo regional terciário da Região Metropolitana da Baixada Santista. Esta área polariza as principais instituições públicas e privadas regionais, assim como uma significativa rede de empresas voltadas ao comércio e prestação de serviços, sobretudo nas áreas de transportes, varejo, saúde, educação, esportes e cultura. Neste aspecto, nesta área destaca-se a concentração de instituições como Alfândega do Porto de Santos, Receitas Estadual e Federal, Justiça Federal, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Pesca e Aquicultura, Companhia Docas do Estado de São Paulo, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Delegacia Regional do Trabalho, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, Diretoria de Ensino de Santos, Departamento Regional de Saúde da Baixada Santista, Instituto de Pesca, hospitais regionais, clínicas, sindicatos e associações profissionais, bancos e seguradoras, transportadoras, agências marítimas e de despachos, universidades e centros de ensino superior e tecnológico, clubes esportivos e sociais, teatros, cinemas, museus e galerias de arte. Esta importante rede de instituições e empresas, com importância regional e estadual, faz com que a área insular do município atraia e produza o maior número de viagens com motivo de trabalho, estudo e procura por serviços em geral, da Baixada Santista. Esta condição, aliada a deslocamentos por motivo de turismo48 e ao intenso transporte de cargas de importação e exportação pela margem direita do Porto de Santos, transformaram a cidade de Santos no ponto nodal da Região Metropolitana, em variados modais de transportes. Este processo foi produzido historicamente em função da consolidação de Santos como o maior porto brasileiro, a partir da segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento da economia agroexportadora baseada na produção do café, no interior paulista. Este desenvolvimento lançou as bases para a industrialização de São Paulo e possibilitou que o Porto de Santos continuasse a ter um papel central, 48 Embora Santos, desde a década de 1970, tenha deixado de se constituir em um ponto focal do turismo balneário, em termos de litoral paulista, o município vem se destacando cada vez mais como espaço de atração de outras modalidades turísticas, sobretudo aquelas voltadas aos negócios, congressos e convenções. Esta condição faz com que os deslocamentos por motivo de turismo não sejam sazonais como antes, embora os meses de verão e os feriados de final de ano sigam sendo os que mais produzem e atraem viagens com objetivo de turismo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 durante todo o século XX, quando todo o sudeste brasileiro industrializou-se e com a implantação do pólo siderúrgico e petroquímico em Cubatão. A situação geográfica do porto e a curta distância entre este e a capital paulista, apesar do obstáculo da transposição da Serra do Mar, tornaram Santos o caminho preferencial da produção agrícola e industrial de São Paulo e outros estados, sobretudo os do Centro-Oeste. Conforme Carriço (2006, p.100), a partir do século XIX, a exportação da produção paulista de café, reforçada pela produção no oeste paulista, levou a implantação de uma infraestrutura ferroviária e portuária que resultou em notável crescimento da cidade de Santos, sobretudo na última década deste século. Segundo o autor, a partir de então, Santos passou a representar o prolongamento litorâneo do ponto de convergência das linhas férreas que afunilavam na capital, vindas de várias regiões do interior do estado. Este desenho pode-se analogamente comparar a um delta invertido de um rio, ou a uma “mão espalmada” (SAES, 1981), em que o polegar representa a ligação entre o planalto e o Porto de Santos, conforme mapas abaixo. População e ferrovias paulistas em 1900. Fonte: Carriço (2006) apud Saes (1981: 49). População e ferrovias paulistas em 1940. 303 Fonte: Carriço (2006) apud Saes (1981: 49). De acordo com a mesma fonte (CARRIÇO, 2006, p.101), durante o século XX, com o prolongamento de algumas ferrovias, conforme se observa no mapa seguinte e a implantação de extensa rede rodoviária, segundo mapa posterior, o modelo de “mão espalmada” foi reforçado e alongado, abrangendo hoje uma hinterlândia que atinge, sobretudo Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins. Com o processo de extensão da fronteira agrícola em curso, pelo Centro-Oeste em direção à Amazônia, as fronteiras da hinterlândia do porto de Santos começaram a ultrapassar as nacionais, na década de 1990, atingindo regiões da Bolívia e Paraguai49, conforme se observa nos mapas a seguir. Mapa ferroviário nacional (2002). 49 Santos é o maior porto importador de produtos para o Paraguai e atualmente se discute projeto para transformar o terminal santista, também, em ponto de exportação de produtos deste país. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Carriço (2006) apud Ministério dos Transportes (2002). 305 Mapa rodoviário nacional. Fonte: IBGE (1990), apud Schiffer (1992, p.117). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa das principais ferrovias já construídas e em construção, para possibilitar o escoamento da safra de grãos do centro-oeste, pelo Porto de Santos. Fonte: Pereira (2003) apud Carriço (2006, p.105). Rotas logísticas para os portos de Santos, São Sebastião, Sepetiba e Rio de Janeiro, incluindo-se a hidrovia Tietê-Paraná. Fonte: Agência de Desenvolvimento Tietê Paraná ADTP. Disponível em: http://www.adtp.org.br/visao/v10_inland.htm. Acesso em: 26 nov. 2003, apud Carriço (2006, p.105). Na segunda metade do século passado, a Baixada Santista industrializou-se, com a implantação de um importante complexo siderúrgico e petroquímico, instalado no município de Cubatão. A implantação deste pólo industrial e o advento da indústria automobilística, implantada inicialmente no ABC paulista, demandaram investimentos na ampliação da malha rodoviária estadual. 307 Também devido às transformações ocorridas nesta época, a área central da Baixada Santista passou a polarizar a atividade turística balneária. Isto ocorreu, sobretudo após a segunda guerra mundial, com a abertura da Via Anchieta, em 194750, novo acesso rodoviário entre Santos e a capital, possibilitando a ligação da área central da região com o interior do estado. Desta forma, a partir da década de 1950, o centro da Baixada Santista passou a apresentar grande crescimento do fluxo turístico sazonal, ao mesmo tempo em que sua população fixa ampliava-se. Como já destacado no capítulo sobre abastecimento de água e esgotamento sanitário, a ocupação da área situada entre o Centro de Santos e sua orla marítima ocorreu a partir da implantação do Plano de Saneamento coordenado pelo engenheiro Francisco Saturnino de Brito, iniciado na primeira década do século XX. Desde então, a mancha urbana passou a expandir-se no vetor sul, em direção às praias. Este processo provocou paulatino esvaziamento da área central, já congestionada pelo grande número de empresas que se instalaram nas primeiras décadas do século, em função do crescimento do porto e da praça cafeeira. Sobretudo famílias de classe média abandonaram as localizações mais centrais e passaram a se fixar nos loteamentos que eram implantados devido ao Plano de Saneamento. As famílias de baixa renda procuraram localizações ambientalmente frágeis, como as encostas dos morros mais próximos à área central e loteamentos irregulares em áreas menos valorizadas. Este processo fez surgirem novas centralidades, dentre as quais as mais importantes eram os eixos das avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, que ligam a área central e a orla, no centro da Zona Leste. O ponto focal desta ligação, na área da orla era o bairro do Gonzaga, onde surgiu um novo centro terciário, que a partir da segunda metade do século passou a disputar com a área central em termos de importância comercial. Em menor intensidade, o mesmo veio a ocorrer com o bairro do Boqueirão, e posteriormente com outras áreas. A imagem abaixo apresenta a localização dos dois pontos focais do terciário santista, Centro e Gonzaga, responsáveis pelos mais relevantes movimentos pendulares, a partir de meados do século XX. A mesma imagem apresenta a localização dos principais eixos viários da Zona Leste da cidade, responsáveis por estas viagens pendulares, as avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias. 50 A Via Anchieta começou a ser construída em 1939 e sua pista norte foi concluída em 1949 e a pista sul somente em 1953. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Localização do bairro do Gonzaga, com relação à região central da Cidade de Santos. Elaboração: Instituto Pólis. Contudo, em princípio, a localização do trabalho e dos serviços, permanecia concentrada na área central, onde até hoje se encontram sedes de instituições e órgãos públicos. Esta característica fez surgir um movimento pendular diário, entre centro e orla marítima, provocando intensa circulação de veículos nos horários de pico, nos eixos viários constituídos pelas citadas avenidas e pelas avenidas que ladeiam os canais de drenagem. Este movimento pendular aos pouco foi sendo agravado pelo adensamento dos bairros situados junto à orla, onde o mercado imobiliário passou a produzir um padrão de empreendimentos mais verticalizado. Até a década de 1970, este parque de moradias tinha um foco dirigido Ao turismo balneário, mas a partir desta década, estas moradias passaram a ser ocupadas principalmente por população residente. Até este decênio, o município de Santos cresceu aceleradamente, embora a taxas inferiores às do Brasil e do estado de São Paulo. Contudo, os municípios ao redor de Santos tiveram crescimento mais acentuado, em função da saturação urbana das áreas insulares de Santos e São Vicente e pela migração, em função do crescimento do porto e das indústrias de Cubatão. O resultado deste processo foi a conurbação dos municípios da área central da Baixada Santista, que consolidou seu caráter metropolitano. Se o primeiro processo de crescimento de Santos, com a formação da praça cafeeira, no início do século XX, foi marcado pelo adensamento do centro da cidade, com verticalização em reduzida escala, o segundo surto de crescimento, após a Segunda Guerra Mundial, caracterizou-se pela verticalização e adensamento dos bairros da orla marítima, que já se encontravam quase que inteiramente loteados e passaram a ser os mais populosos de Santos. Mas a Zona Noroeste da cidade e a região dos Morros também se adensaram, embora a ocupação tenha sido horizontal. Neste período, estas áreas consolidaram-se como territórios preferenciais para a população de baixa renda da cidade, em função dos preços dos imóveis serem muito mais acessíveis, do que na já 309 valorizada área da orla, onde os terrenos vazios eram escassos. Quanto ao centro, que já vinha sofrendo processo de estagnação do crescimento demográfico, a partir da implantação do Plano de Saneamento, observa-se seu esvaziamento acelerado a partir da década de 1950. A tabela ___ abaixo, que apresenta a evolução da população, segundo a região da Área Insular do município, entre as décadas de 1950 e 1970, possibilita uma avaliação mais clara deste processo. Área Insular de Santos: evolução da população (1950-1970). Zona Área 1950 Centro 353,50 Pop. 44.401 Dens. 125,6 1960 Pop. 44.130 Dens. 124,8 Pop. 31.942 Dens. 90,3 Leste Noroeste (1) Morros 1.659,40 1.012,50 338,00 134.700 4.194 11.673 81,1 4,1 34,5 177.888 18.095 19.185 107,2 17,8 56,7 242.924 37.867 27.172 146,3 37,3 80,3 77,0 339.905 101,0 (2) Total 3.363,40 194.968 60,0 259.298 Fonte: Censos Demográficos FIBGE. Elaboração: Instituto Pólis. 1970 Nota: Densidade = Habitantes por hectare. (1) Computadas apenas áreas ocupadas e ocupáveis nos Morros. (2) Total da Área Insular (não computada a Área Continental). A tabela apresentada a seguir, revela a aceleração do esvaziamento do centro da cidade, entre 1980 e 2000, quando esta área perdeu 37,6% da população. Neste período, a Zona Leste, a mais populosa da ilha, também teve sua população reduzida, mas em apenas 5,3%, mantendo densidade em torno de 170,90 hab/ha. Os Morros e a Zona Noroeste, as áreas populares da cidade, foram as que mais cresceram demograficamente, demonstrando ter havido ampliação do quadro de segregação socioespacial, neste período que corresponde à crise da economia no Brasil. O crescimento da população dos Morros foi de 18,2%, enquanto na Zona Noroeste o número de moradores aumentou 34,7%. Em ambas as áreas a densidade demográfica acentuouse significativamente, mas mesmo assim ainda se encontravam em níveis bem distantes do alcançado pela Zona Leste. Contudo, nestas áreas a densidade ampliou-se por meio de uma ocupação predominantemente horizontal, ao contrário do que ocorreu nos bairros próximos à orla marítima. As maiores densidades nos Morros e Zona Noroeste podem ser observadas nas favelas que cresceram e surgiram ocupando mangues e encostas. Área Insular de Santos: evolução da ocupação (1980-2000) Zona Centro Leste Área (1) Noroeste (2) Morros Total 1980 Pop. Dens. 1991 Pop. Dens. 2000 Pop. Dens. 267,10 1.715,00 18.566 309.731 69,51 180,60 10.552 308.732 39,50 180,01 6.982 293.088 26,14 170,90 1.071,30 576,10 3.629,50 60.588 28.822 416.681 56,55 50,03 114,80 66.985 29.333 415.602 62,53 50,92 114,50 81.589 34.088 415.747 76,16 59,17 114,54 Fonte: Censos Demográficos FIBGE 1980, 1991 e 2000. Elaboração: Instituto Pólis. (1) Inclui os bairros: Centro, Valongo, Paquetá, Vila Nova e Monte Serrat (excluída área de planície). (2) Para efeito de cálculo de densidade foram computadas as áreas do Censo de 1980, utilizando-se para os Morros apenas suas áreas ocupadas e ocupáveis. A dinâmica demográfica apontada acima promoveu relevantes impactos na circulação viária intraurbana, criando uma rede de pendularidades decorrente da localização residencial da população economicamente ativa e da concentração do terciário no eixo entre a área central e a orla de Santos. Estes deslocamentos passaram a apresentar sinais de esgotamento a partir da última década, quando a frota de veículos Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 particulares cresceu consideravelmente, em Santos e em função das condições insuficientes de oferta de transporte coletivo, como será discutido adiante. Contudo, a saturação urbana de Santos, assim como de São Vicente, vem provocando impactos no âmbito regional. Jakob (2004), com base nos Censos FIBGE de 1991 e 2000, aponta claramente a existência de um vetor de migração intra-regional, na década de 1990, concentrado no fluxo entre Santos e São Vicente, e desta cidade para Praia Grande. O referido trabalho revela que, entre 1995 e 2000, 50% da migração intraregional originaram-se em Santos, ao passo que no sentido inverso, apenas 11% fixaram-se na cidade. Este estudo demonstra, também, que no mesmo período 45% dos migrantes que deixaram a Baixada Santista, com destino a outras regiões de São Paulo, originavam-se de Santos. Por outro lado, dos 80 mil que chegaram à RMBS, vindos de outras regiões do estado, apenas 13% fixaram-se em Santos. Jakob revela, ainda, que em menor grau esta dinâmica ocorre com a área insular de São Vicente, ficando claro que, na última década, a Ilha de São Vicente vem expulsando população, sobretudo para Praia Grande. Este autor apresenta, ainda, um importante painel acerca das condições de moradia e características da população residente na Ilha de São Vicente, na década de 1990, em que se destaca o aumento da participação de domicílios coletivos (cortiços), em Santos, de 0,6% para 1,0%. No mesmo intervalo, a participação de apartamentos nesta cidade cresceu de 59,7% para 62,3%, indicando que o processo de verticalização continuou crescente no decênio passado. O estudo aponta, também, que o município de Santos possui população mais idosa, com maior escolaridade e renda, que o restante da região. No tocante à renda, verifica-se grande concentração nas orlas de Santos e São Vicente, estando os estratos de maior rendimento localizados, sobretudo na Zona Leste da primeira. Como é a população de maior renda a que mais utiliza o transporte motorizado individual, consequentemente esta região da cidade passou a apresentar sérios gargalos de trânsito. Jakob demonstra ainda que, entre 1991 e 2000, houve um processo de polarização da renda em Santos, pois cresceu o estrato de rendimentos com mais de 5 salários mínimos, ao passo que o mesmo ocorreu com a população sem renda. Contudo, a faixa entre 0,5 e 5 s.m. sofreu redução. Este processo é apresentado detalhadamente em Carriço (2006, p. 258). A explicação para estes fenômenos não pode ser creditada somente à notória escassez de terrenos em Santos. Na verdade, em meados da década de 1990, com as mudanças no porto, na indústria de Cubatão e em outras áreas importantes para a economia regional, o poder aquisitivo dos setores médios da população reduziu-se. Os últimos anos da década foram marcados por elevação do desemprego e queda dos rendimentos. Isto aprofundou o fluxo migratório originado em Santos, com destino a outras cidades da região, acentuando a crise em seu mercado imobiliário, requerendo novos ajustes na legislação urbanística, de forma a garantir a reprodução do capital deste setor em níveis “aceitáveis”. Por outro lado, a polarização de renda levou o setor imobiliário a direcionar seus produtos, cada vez mais para as faixas de rendimentos superiores, deixando as novas famílias de classe média sem grandes opções. Este fator vem reforçando a migração da população mais jovem de Santos para outros municípios, apontada em Jakob. Este processo gerou novas pendularidades, entre as localizações residenciais nos municípios vizinhos a Santos e a Zona Leste da cidade, que concentra a maior parte dos empregos e serviços. Conforme o estudo denominado Projeto Prestes Maia (DERSA, 2011, p.25), que apresenta o gráfico ___ abaixo, em 2010, os municípios de Santos e Cubatão estavam acima da média estadual, caracterizando-se como municípios importadores de trabalho, no que concerne ao índice entre emprego e população, constituído pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados do Estado de São Paulo (SEADE), que permite avaliar o potencial importador ou exportador de força de trabalho regional. Segundo a mesma fonte, os demais municípios da RMBS podem ser caracterizados como exportadores de mão-de-obra, sendo que, com exceção de Bertioga, os demais se encontram em posições muito inferiores, segundo a classificação adotada. Ordenamento dos Municípios de SP – Índice Formado pela Razão entre Empregos e População. 311 Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.25) apud Fundação SEADE. Nota: Dados de emprego obtidos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho em Emprego (MTE).. De acordo com o estudo, nestes municípios há grande dificuldade de acesso ao emprego pela população local, exigindo seu deslocamento diário para outras cidades. A maior oferta em Santos e Cubatão, “associada com a carência de trabalho nos demais, determina um forte relacionamento intermunicipal na RMBS, na qual residentes de um município buscam trabalho em outro”. Ainda segundo o referido estudo, as atividades ligadas ao porto, empresas especializadas e serviços de atendimento à população da Baixada Santista são predominantes em Santos que detém quase a metade de todo o emprego disponível na RMBS51. De acordo com este trabalho, Cubatão possuía as maiores médias salariais condicionadas à indústria. Mas embora Cubatão tivesse a melhor média salarial, sua distribuição de renda segue o padrão da RMBS, indicando que empregados com melhores cargos optam por morar em Santos. Assim, Santos, ao concentrar empregos e renda, também polariza os serviços especializados e as instituições de educação e saúde, aumentando a quantidade de viagens que têm origem ou destino em sua região insular. E como destaca o estudo da DERSA, aliada a esses fatores, a barreira geográfica imposta pela Serra do Mar dificulta o desenvolvimento de relações com municípios situados no planalto paulista, fazendo com que grande parte da procura de emprego seja local, especialmente nos casos de Guarujá e São Vicente que estão mais próximos das duas cidades dotadas das maiores concentrações locais de empregos. (DERSA, 2011, p.27) Portanto, além da pendularidade originada pelos deslocamentos diários concentrados em Santos, há um entrelaçamento com os movimentos pendulares entre Orla, Zona Noroeste, Morros e Centro, além do deslocamento diário entre Santos e Cubatão. Esta situação extremamente complexa pode ser observada na 51 Segundo o Censo Demográfico 2000 (FIBGE), Santos detinha 51% dos postos de trabalho da região metropolitana. Este percentual decresceu para 47%, conforme o Censo Demográfico 2010 (FIBGE), mas ainda mantem-se alto. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 tabela abaixo, que apresenta a origem residencial dos trabalhadores de cada município da RMBS, demonstrando a concentração dos locais de trabalho na Ilha de São Vicente e em Cubatão. Origem Residencial dos Trabalhadores de cada Município da RMBS. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.27) apud Pesquisa OD da RMBS. Secretaria dos Transportes Metropolitanos – STM/SP. Segundo esta tabela, observa-se que 64% dos empregos de Santos são preenchidos por habitantes da própria cidade, sendo que 27% do trabalho oferecido são ocupados por residentes em São Vicente e Guarujá. No caso de Cubatão, o tipo de trabalho oferecido capta uma grande quantidade de pessoas residentes em outros municípios da região. Até mesmo residentes de Santos, ocupam as vagas naquele município, em proporções significativas, reforçando a hipótese de que trabalhadores com maiores remunerações não fixam suas residências neste município. No tocante às cidades de Santos e Guarujá, conforme DERSA (2011, p.28), eram realizadas, por via do canal do Estuário, um total de 63 mil viagens hidroviárias por dia, sendo: 35 mil viagens realizadas na balsa da Ponta da Praia, das quais 17 mil de automóveis, 10 mil de bicicletas e 8 mil de motos; 13 mil viagens na barca de Vicente de Carvalho, das quais 11 mil de pedestres e 2 mil de bicicletas; 15 mil viagens nas catraias52. De acordo com a mesma fonte, pela via terrestre, utilizando a Rodovia Cônego Domenico Rangoni (SP-55), são realizadas diariamente 2 mil viagens de caminhões que suprem a demanda regional ligada ao comércio de bens e insumos e a operação portuária, sendo: 1,7 mil viagens ligadas ao abastecimento da RMBS; 300 viagens associadas à operação portuária. 52 O estudo não esclarece quais linhas operadas com catraias são consideradas. Atualmente existem ligações entre a Bacia do Mercado, em Santos, e Vicente de Carvalho, além de ligações entre o bairro da Ponta da Praia, em Santos, e as praias do Góis e de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá. 313 Para uma visualização mais adequada da força de atração de viagens da Zona Leste de Santos, observa-se na figura abaixo, a distribuição setorial bidimensional dos empregos na área central da Baixada Santista, elaborada pelo estudo da DERSA. Exemplificação da Distribuição Setorial Bidimensional - Empregos Totais. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.89). Segundo este trabalho “através do uso de faixas de cores, o referido mapa evidencia os adensamentos dos postos de trabalho, possibilitando determinar o posicionamento das atividades econômicas”. Desta forma pode-se verificar o grande eixo formado entre as áreas central e da orla de Santos, sobretudo entre as avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, que polarizam a maior parte dos empregos da região, resultando em significativo número de deslocamentos intra e interurbanos. A mesma representação foi feita para todos os grupos setoriais permitindo a visualização detalhada de cada atividade econômica nos anos de 2006 e 2008, dentro da região de estudo. Concomitantemente, outro tipo de apresentação, em formato tridimensional, permitiu observar a distribuição e a evolução da disposição locacional das atividades econômicas. A visão tridimensional possibilita avaliar a magnitude da concentração dos postos de trabalho por grupamento setorial. As formas de adensamento dos grupos setoriais em questão são diferentes dentro da área de interesse, como mostram os mapas da figura apresentada a seguir. De acordo com estes mapas, as atividades industriais e da construção civil (cimento e fornecedores) concentram-se em Cubatão, enquanto que as atividades ligadas aos serviços situam-se de forma mais concentrada na área insular de Santos, no mencionado eixo. Quanto ao comércio, sua distribuição acompanha proporcionalmente tanto as áreas com maior atividade econômica como as de maior densidade demográfica, sendo que as áreas próximas à orla marítima concentram a maior parte dos condomínios verticais. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Alocação do Emprego - Visão Tridimensional. 315 Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.90-91) Para melhor avaliar a complexidade dos movimentos pendulares e dos deslocamentos em geral, com relação à área insular de Santos, apresenta-se a seguir os resultados da Pesquisa Origem e Destino da Região Metropolitana da Baixada Santista, que traz um quadro abrangente da situação da mobilidade na região. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Pesquisa Origem-Destino da Região Metropolitana da Baixada Santista Para uma análise mais completa da situação da mobilidade urbana na região, em especial no município de Santos, é fundamental avaliar os resultados da primeira e única Pesquisa Origem-Destino da Região Metropolitana da Baixada Santista (Pesquisa OD-BS)53, , realizada entre agosto de 2007 a abril de 2008. Esta pesquisa objetivou conhecer o padrão de deslocamentos, em razão das características socioeconômicas da população, assim como a localização dos polos de produção e atração de viagens segundo os motivos trabalho, estudos, compras, lazer e outros, e fornecer insumos para formulação de políticas públicas, nas áreas de planejamento urbano, transporte e de outras infraestruturas. Para atingir estes objetivos, realizou-se pesquisa domiciliar com amostra estratificada em 188 zonas de tráfego internas, consideradas urbanisticamente homogêneas, conforme mapa ___ apresentado a seguir. No município de Santos foram identificadas 46 destas zonas, conforme mapa ___. Além destas, foram identificadas mais 26 zonas externas à linha de contorno (cordon line) estabelecida para a pesquisa. Zoneamento de Tráfego da Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.5. 53 Pesquisa realizada pela Vetec Engenharia, para a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, com apoio da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM). 317 Zoneamento do Município de Santos para a aplicação da Pesquisa OD-BS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.17). O método empregado para a elaboração da Pesquisa OD-BS, compreendeu o levantamento das viagens internas da região, por meio da realização de 26.156 entrevistas válidas realizadas em 8.300 domicílios, no período mencionado acima. Para esta finalidade foi feita uma pesquisa de Linha de Contorno54, conforme mapa apresentado a seguir, segundo levantamento em 2006 e aferição em 2007, realizada em cinco locais nas rodovias de acesso à RMBS. Foi estabelecida, também, uma Linha de Travessia55, por meio do levantamento das viagens internas, realizada em 50 locais distribuídos na região. 54 A Linha de Contorno é um perímetro utilizado para identificar as viagens que interferem na região, mesmo sendo a origem e/ou destino exteriores a ela. 55 A definição da Linha de Travessia busca identificar vias importantes do sistema viário regional, para que seja realizada a contagem de veículos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Linha de Contorno da Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.6). A pesquisa da Linha de Contorno resultou na apuração dos percentuais de viagens, segundo a natureza, conforme apresentado no gráfico abaixo. Neste gráfico, viagem interna-interna é o deslocamento realizado com origem e destino dentro da região, viagem externa-externa é realizada com origem e destino fora da região, interna-externa possui origem interna à região e destino externo, e externa-interna é o inverso. Percentual de viagens, segundo a natureza, apurado na pesquisa de Linha de Contorno, da Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. 319 Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.7. Assim, foram contadas 69.494 viagens diárias entre as regiões metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. No sentido inverso, foram contadas 64.055 viagens. Apresenta-se na tabela a seguir, o número de viagens diárias, nos municípios pesquisados. Observa-se que apenas os municípios de Santos e São Vicente eram responsáveis por cerca de 50% das viagens regionais, o que se deve à já mencionada concentração dos empregos e atividades atratoras de viagens localizadas na ilha de São Vicente. Esta concentração, que também ocorre em Cubatão, em função do parque industrial, pode ser observada no mapa apresentado abaixo, com base em levantamento do início da década passada. Viagens diárias nos municípios da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.15. Estoque de emprego formal na Baixada Santista em dezembro de 2003. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Núcleo de Pesquisa e Estudos Socioeconômicos da Universidade Santa Cecília (NESE/UNISANTA). Elaborado a partir de dados do MTE/CAGED. Ainda conforme a mencionada tabela, a maior proporção de viagens pendulares diárias, na região, realizavase entre estes municípios, os mais populosos da Baixada Santista. Conforme Cunha, Jakob e Young (2008, p.414), apoiados em dados do Censo Demográfico 2000, das mais de 134.000 pessoas que se deslocavam para outro município para desenvolver suas atividades, quase 90% residiam em São Vicente, Santos, Cubatão, e Praia Grande, por ordem de importância. Segundo a mesma fonte, 51,9% da mobilidade pendular da População Econômica Ativa, na região, dirigia-se a Santos. A tabela apesentada abaixo contém o detalhamento do número de viagens municipais, conforme o município de destino. Os dados apresentados reforçam a questão abordada acima, acerca do imenso percentual de atração dos municípios situados na ilha de São Vicente, sobretudo de Santos, onde se concentrava a maior parte dos empregos e maior número de instituições e que atraía 38,12% das viagens. No período avaliado, Peruíbe e Bertioga, municípios menos populosos da região, possuíam o menor percentual de atração, correspondendo, respectivamente, a 0,34% e 0,88% das viagens. Este fato certamente se relaciona com a baixa oferta de oportunidades de empregos e de estudos nesses municípios. Portanto, a Pesquisa OD-BS revela o marcante processo de concentração de viagens no congestionado centro regional. Número de viagens intermunicipais, segundo município de destino apuradas pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. 321 Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.25. No tocante às viagens com origem e destino fora da Linha de Contorno, os dados do gráfico abaixo permitem observar que são os municípios do centro da região, exceto Cubatão, que atraem e produzem o maior número de viagens, com destaque para Santos, seguido de Praia Grande. A proporção de viagens não guarda uma relação direta com o número de habitantes, pois São Vicente é mais populoso que Praia Grande e é superado por este, em número de viagens externas. Isto pode indicar que há maior vínculo de trabalho fora da região para a população economicamente ativa de Santos. Contudo, no caso de Praia Grande, há mais viagens atraídas externamente, do que produzidas, o que certamente tem relação com o perfil marcadamente turístico do município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Municípios da RMBS: viagens com origem e destino fora da Linha de Contorno da Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.16). No tocante ao grau de motorização, segundo a OD-BS, o gráfico ___ abaixo apresenta uma visão geral. No período da realização da pesquisa, 1.115.192 viagens diárias realizadas eram motorizadas, correspondendo a 54% das viagens, contra 964.265 viagens não-motorizadas, correspondendo a 46%. Percentual de viagens, segundo a natureza, apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.16. Os gráficos abaixo apresentam a Divisão Modal das viagens diárias, na RMBS, conforme apurado pela Pesquisa OD-BS. Os números obtidos demonstram a prevalência dos deslocamentos a pé, 661.030 diariamente, seguidos pelos 339.767 deslocamentos com ônibus municipais, 330.413 com automóveis particulares e 303.295 com bicicletas, que correspondem, respectivamente a 32%, 16%, 16% e 15% do total. Se por um lado estes números revelam um menor impacto em termos de emissão de gases estufa, pois 47% das viagens não são poluentes, por outro, indicam menor mobilidade, se compararmos à RMSP, onde, no mesmo período, apenas 36% das viagens eram realizadas a pé ou de bicicleta, segundo a mesma fonte, o que pode ter relação com condicionantes climáticas, topográficas, de renda e oferta de transporte motorizado. 323 Se for considerada a soma das viagens em ônibus municipais e intermunicipais, o percentual de uso de transporte coletivo com ônibus representa apenas 24% das viagens, na RMBS. Adicionando-se 8% de viagens com outros modais coletivos, dentre os quais, certamente, há prevalência de transporte hidroviário, este percentual atinge 32%. Ressalta-se que, no computo das viagens com ônibus intermunicipais, não tenha havido distinção entre ônibus que realizam viagens intrametropolitanas, por meio das linhas regulares e as demais. Esta limitação impede uma análise adequada do grau de integração metropolitana do transporte público coletivo. Comparando-se o percentual de 32% das viagens em transporte coletivo, na RMBS, com as 37% realizadas, na RMSP, na mesma modalidade, confirma-se a menor mobilidade na primeira, em comparação com a segunda, o que pode ser explicado palas razões já mencionadas. Divisão modal das viagens apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.22). Divisão modal das viagens diárias da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.19. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Segundo dados da Pesquisa OD 2007 (VETEC, 2008, p.53), o número de automóveis particulares era de 198.904 na RMBS e de 63.825 em Santos, correspondendo a 32,1% do total, sendo a taxa de motorização de 121 automóveis por grupo de mil habitantes na primeira, e de 151 em Santos, a maior da Baixada Santista. Este fator está vinculado à renda familiar da população santista, cuja média é muito superior à dos demais municípios, tornando a aquisição de veículos particulares mais acessível. No que se refere ao grau de motorização em Santos, 55,7% das viagens diárias eram motorizadas, correspondendo a 333.378 viagens, contra 265.068 viagens não motorizadas, segundo os dados apresentados na tabela e no gráfico abaixo. Portanto, neste município a taxa de motorização encontrava-se acima da média da Baixada Santista, em que 54% das viagens eram motorizadas. Dentre as viagens não motorizadas, 37% eram realizadas a pé e 8% de bicicleta, contra 32,0% e 15,0% da RMBS, respectivamente. Portanto, os deslocamentos a pé, certamente em função das distâncias mais curtas, eram mais frequentes em Santos, enquanto o uso de bicicletas era menor, em função de a renda familiar ser maior. Santos: Divisão modal das viagens diárias, conforme apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.121). Santos: Proporção de viagens diárias por modal principal apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. 325 Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.121). Na tabela apresentada a seguir, é detalhada a composição das viagens não-motorizadas, segundo a modalidade, a pé ou de bicicleta, assim como as motorizadas, de acordo com o município. Observa-se que o maior número de viagens motorizadas corresponde aos municípios mais populosos da região, embora Cubatão lidere proporcionalmente, mesmo possuindo a menor taxa de motorização da região, provavelmente em razão da intensa atividade industrial do município que resulta em grande número de viagens motorizadas. No que concerne ao número de viagens realizadas a pé, naturalmente, a liderança também cabia aos municípios mais populosos, embora os percentuais deste tipo de viagem, com referência ao total de viagens não motorizadas, variassem de acordo com as peculiaridades de cada município. No caso de Santos e São Vicente, os municípios mais populosos, este percentual era de 82,6% e 74,7%, respectivamente. No que respeita às viagens com bicicletas, conforme a mesma fonte, a liderança era destacadamente de Guarujá, com 80.022 viagens, equivalentes a 21% das viagens diárias neste município, em que tradicionalmente se utiliza deste modal, seguido dos demais municípios do centro regional, exceto Cubatão, que possui alta taxa de motorização, pela razão acima exposta. Contudo, em termos percentuais, com referência aos totais de viagens diárias de cada município, a liderança é dos municípios situados ao sul da Baixada Santista, Peruíbe e Itanhaém, com 28% e 23%, respectivamente, muito superiores ao já mencionado percentual de Santos, com as 46.134 viagens diárias realizadas neste modal. Viagens diárias motorizadas e não-motorizadas nos municípios da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.22). A tabela a seguir apresenta a frota de bicicletas de cada município, a proporção destes veículos por grupo de mil habitantes e a razão entre habitantes e bicicletas, na época da realização da pesquisa. Os destaques eram Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Guarujá e Mongaguá, respectivamente, os municípios com maior número de bicicletas. Por outro lado, Santos possuía a menor proporção, dentre os municípios da região, provavelmente por ser o município mais rico e com maior taxa de motorização. Conforme estes dados observa-se que Santos, além de ser o município com menor percentual diário de deslocamentos com bicicletas, possui apenas 219 destes veículos para cada grupo de mil habitantes, a menor proporção da região, o que certamente está relacionado com a elevada taxa de motorização do município. 327 Frota de bicicletas e número de bicicletas por grupo de mil habitantes (2007). Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.53). No que concerne aos motivos de viagens, conforme se observa pela tabela e pelo gráfico apresentados abaixo, a maior parte dos deslocamentos regionais realizava-se em decorrência de trabalho e estudo, representando, respectivamente, 49% e 40%. Contudo, esta proporção varia de acordo com o município. Neste aspecto, observa-se que, nos municípios localizados nos extremos da região, Peruíbe e Bertioga, ocorrem mais deslocamentos motivados por estudo, do que em razão de trabalho, como se poderá verificar detalhadamente mais adiante. Portanto, nestes municípios os deslocamentos diários não obedecem a mesma lógica que nos demais. No caso de Santos, como nos demais municípios centrais, as viagens por motivo de trabalho são em maior número, do que as realizadas por motivo de estudo. Principais Motivos de Viagens diárias nos municípios da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.26). Percentual dos motivos de viagens, segundo apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Apresentação. São Paulo, 2008, p.22. Os gráficos apresentados a seguir, permitem uma leitura da proporção dos motivos de viagens Trabalho e Estudo, de acordo com os municípios da RMBS. Observa-se que nos municípios centrais, o motivo Trabalho é o mais importante, com um pouco menos de intensidade em Cubatão, enquanto Santos, Praia Grande, São Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Vicente e Guarujá possuíam proporções muito semelhantes. Este resultado pode ser explicado pela distância e consequentemente maior custo dos deslocamentos em direção à área central da região, que possui maior oferta de trabalho, em um contexto de ampliação da base econômica destes municípios. Por outro lado, no tocante ao motivo Estudo, a maior proporção de deslocamento ocorre nos municípios mais distantes do centro da região. Neste quesito, Santos era o segundo município com menor percentual de viagens para estudo, com cerca de 37,0% das viagens relacionadas a este motivo, superior apenas a Guarujá. Deve-se ressaltar que as viagens para estudo normalmente se referem ao ensino superior, o qual possui marcada concentração na área central da região, sobretudo em Santos, que polariza este tipo de instituição. Proporção do motivo de viagem Trabalho apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista, para os municípios da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.27). 329 Proporção do motivo de viagem Estudo apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista, para os municípios da RMBS. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.28). O gráfico apresentado abaixo, permite observar que dentre os motivos de viagens mais importantes de Santos, estudo e trabalho, havia grande superioridade do primeiro: 49% contra 37%. Esta proporção entre um e outro motivo de viagem é semelhante à média regional, apresentada no gráfico baixo, em que 49% das viagens tinham como motivo trabalho e 40% eram realizadas para estudo. Santos: Proporção de motivos de viagens diárias apuradas pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.120). No tocante ao uso de bicicletas, segundo a Pesquisa OD-BS, 54% das viagens eram realizadas por motivo de trabalho, enquanto 42% eram realizadas por estudo e apenas 4% por lazer e outros motivos. Portanto, a bicicleta era, e certamente ainda é, um dos principais meios de transporte da RMBS. O gráfico ___ apresentado a seguir permite verificar que, em Santos, a bicicleta era utilizada muito mais para motivo de Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 trabalho do que para estudo, 62% contra 33%, acima e abaixo da média regional, respectivamente, enquanto as viagens por lazer e outros motivos, com 5%, eram pouco superiores à média regional. Santos: Proporção de motivos de viagens diárias apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista para deslocamentos com bicicletas. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.120). A tabela apesentada a seguir, com base na razão de número de viagens diárias, por pessoa, aponta o Índice de Mobilidade dos municípios da RMBS, no total e em modais motorizados. Observa-se que Santos, Cubatão, São Vicente e Mongaguá possuem índice total acima da média regional, enquanto, no tocante ao índice de motorização, Santos, Cubatão e São Vicente se encontram acima da média. Com exceção de Cubatão, cujos deslocamentos motorizados devem ter maior influência do uso de veículos de empresas, os índices destes municípios devem estar ligados à maior renda e oferta de transporte coletivo. O município de Santos possui índice de 1,26, o quinto maior da região, ligeiramente abaixo da média. Observa-se, ainda, que nos municípios onde a renda per capita é maior, o índice de mobilidade por modo motorizado é superior, como nos casos dos municípios do centro da região, sobretudo Santos e Cubatão, o que indica maior utilização de transporte motorizado individual, assim como maior oferta de transporte coletivo. O oposto ocorre no caso do uso de bicicletas para deslocamentos. O índice de Santos por modo motorizado era 0,79, o maior da região e bem superior à média, o que se explica em função da renda média familiar, como já mencionado anteriormente. No tocante ao balanço entre mobilidade por modo coletivo e individual, verifica-se que Cubatão era destacadamente o município com o maior índice regional por modo coletivo e o terceiro menor no modo individual, com 0,70 e 0,08, respectivamente. Por sua vez, Santos encontrava-se ligeiramente acima da média regional, no modo coletivo, com 0,44, e era disparadamente o maior no modo individual, com 0,35. No caso deste município, a supremacia do modo individual sobre o coletivo também pode ser explicada pela renda da população e as deficiências no sistema de transporte coletivo, questão que será abordada adiante. O gráfico ___ apresentado a seguir, permite uma análise mais clara desta questão. Em Santos, no período de realização da pesquisa, 55% das viagens motorizadas eram realizadas pelo transporte coletivo, contra 45% pelo modo individual. Portanto, o espaço ocupado pelo transporte individual, no sistema viário de Santos é elevadíssimo e explica grande parte dos pontos críticos que serão abordados neste capítulo. No que concerne aos índices de mobilidade a pé e por bicicleta, Santos também possui índices distintos da média regional, respectivamente 0,52 e 0,11. Este município é o que possui os maiores índices de deslocamentos a pé, em proporção muito superior que os demais, assim como o menor índice de viagens por bicicleta, junto com Cubatão, o que pode ser explicado pelo fato de que ambos os municípios possuem os maiores índices de motorização. 331 Índice de Mobilidade (viagens dia/pessoa) segundo o modo de deslocamento, conforme apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.42). Santos: Proporção de viagens diárias por modos motorizados apurada pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.122). Segundo os dados apresentados no gráfico abaixo, no que concerne ao tempo médio de viagem, que é um indicador de qualidade da mobilidade, conforme a Pesquisa OD-BS, em Santos, o tempo médio de deslocamento no modo coletivo era sensivelmente superior ao dos demais modos, superando os 45 minutos, e também maior do que na Baixada Santista, onde a média de deslocamento neste modo era de 42 minutos. Conforme a mesma fonte, o tempo de deslocamento no modo individual, na média regional, era em torno de 30 minutos, enquanto, em Santos, era de aproximadamente 33 minutos. Assim, observa-se que a concentração de viagens na cidade provocava uma ampliação no tempo de deslocamentos em ambos os modos. Além destes modos, os deslocamentos a pé e de bicicleta eram pouco superiores à média regional. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Santos: Tempo médio de viagens diárias dos modos motorizados e não motorizados, conforme apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.123). RMBS: Tempo médio de viagens diárias dos modos motorizados e não motorizados, conforme apurado pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.37). No que concerne ao zoneamento dos deslocamentos, as trinta principais zonas produtoras e atratoras de viagens, identificadas pelos nomes dos respectivos bairros, conforme a metodologia da pesquisa são apresentadas na tabela abaixo, que relaciona estas zonas aos números de viagens diárias. Observa-se que todas as zonas, que mais atraem viagens estão situadas na área central da região. Nos mapas apresentados em seguida, estas zonas estão identificadas, conforme legenda, de acordo com a faixa de número de viagens nas quais estão inseridas, permitindo uma leitura clara da concentração de 333 viagens no centro da região, fato que tem estreita relação com a já mencionada maior oferta de empregos e de serviços dos municípios centrais da RMBS. Nesta tabela, pode-se observar que o município de Santos possui 13 zonas produtoras e atratoras de viagens classificadas neste grupo das zonas com maior número de viagens e nos mapas apresentados a seguir verifica-se que o Gonzaga e o Centro seguem sendo as áreas com maior poder de produção e atração de viagens, situadas dentre as mais relevantes da região. Principais Zonas Produtoras e Atratoras de Viagens Diárias apuradas pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.23-24). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Principais Zonas Produtoras de viagens diárias identificadas pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Principais Zonas Atratoras de viagens diárias identificadas pela Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. 335 Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.25). No caso específico de Santos, a tabela a seguir apresenta as cinco zonas com maior produção e atração de viagens. E o mapa abaixo, que contém o detalhamento da classificação das zonas conforme a faixa de produção e atração de viagens. Verifica-se que todas as áreas estão situadas entre a área central e a orla marítima da cidade, onde se concentram o maior número de atividades econômicas e instituições, conforme já demonstrado anteriormente. Santos: Principais zonas produtoras e atratoras de viagens, segundo a Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.118). Santos: Áreas Produtoras de viagens segundo a Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.25). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Santos: Áreas Atratoras de viagens segundo a Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.25). Considerando-se estas informações acerca das zonas com maior grau de produção e atração de viagens, pode-se estabelecer um claro vínculo entre estas e a densidade demográfica por zona de tráfego, como se observa no mapa abaixo. 337 Santos: Densidade Demográfica das zonas de Tráfego segundo a Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.124). No que diz respeito à densidade de viagens, o mapa abaixo revela que, em Santos, ocorriam 22,082 viagens diárias por hectare, número muito superior à média regional, que era de 8,763 viagens/há e inferior apenas a São Vicente e Guarujá. Segundo a mesma fonte, no tocante à densidade de viagens, dentro do município, há grande concentração na orla e no centro, além da área dos bairros Rádio Clube, Castelo e Areia Branca, na Zona Noroeste. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Santos: Densidade de Viagens das zonas de Tráfego segundo a Pesquisa Origem e Destino da Baixada Santista. Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2007 – Região Metropolitana da Baixada Santista: Sumário de Dados. Vetec (2008, p.124). As figura abaixo, que contêm, respectivamente, a representação das viagens de automóvel e de caminhão, atraídas por zona de tráfego da Pesquisa OD-BS, podem dar uma visão precisa da concentração de viagens na Zona Leste de Santos e nos eixos viários entre o parque industrial de Cubatão e as duas margens do complexo portuário. No que respeita às viagens de automóvel, observa-se a grande concentração no centro da cidade e em todos os bairros da orla e na Zona Intermediária, entre os eixos das avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias. No que concerne aos deslocamentos de caminhões, verifica-se a maior concentração nos terminais do Saboó, na área do “Retão da Alamoa”56, assim como no corredor de exportação, na Ponta da Praia, onde se localizam os terminais de granéis sólidos e o terminal de contêineres da Libra Terminais. 56 “Retão da Alamoa” é como é conhecida a Avenida Engenheiro Augusto Barata, localizada na área do Porto e que faz a ligação do Centro e demais áreas ao sul do complexo, com o viaduto Doutor Paulo Bonavides, que permite o acesso à Via Anchieta. 339 Viagens de automóvel atraídas por zona de tráfego. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego(DERSA, 2011, p.45). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Viagens de caminhão atraídas por zona de tráfego. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego(DERSA, 2011, p.45). Portanto, a cidade de Santos, juntamente com o parque industrial de Cubatão, polarizam os deslocamentos pendulares da área central da região e grande parte do trânsito entre o parque industrial e o Porto. Este processo, concomitante à pendularidade intraurbana, provoca efetiva saturação do sistema viário, num contexto em que o crescimento econômico verificado nos últimos anos só vem a agravar as condições de mobilidade na área central da região. Neste aspecto, o desempenho do sistema de transportes coletivos municipais e intermunicipais é especialmente crucial. Portanto, na próxima seção será analisado o funcionamento destes sistemas. 9.3 Gargalos e cobertura do sistema de transportes coletivos municipais e intermunicipais A história do transporte público, em Santos, remonta aos períodos colonial e imperial e é marcada pelo uso de diferentes meios de condução de passageiros, como cavalos, mulas, banguês, cadeirinhas, seges e carros de bois, segundo Lichti (1996)57. Segundo a mesma fonte, em 1864, a cidade chegou a contar com um sistema operado por “gôndolas”, como eram conhecidas as diligências, na época. Este sistema, inaugurado em 23 de maio daquele ano, funcionava 57 Em 1937, Francisco Martins do Santos publicou a obra História de Santos, em dois volumes, que é um dos mais importantes estudos sobre a história da cidade de Santos, e também da região. Na década de 1980, seu sobrinho, Fernando Martins Lichti, elaborou o terceiro volume, a Poliantéia Santista, visando atualizar a obra do tio. Este conjunto de obras constitui-se em uma das mais completas referências à história da urbanização de Santos e São Vicente. 341 por meio de uma linha entre o Largo da Coroação (atual Praça Visconde de Mauá), na atual área central e a Barra (atual praia). Esse serviço durou menos de um ano, e foi encerrado em função dos prejuízos verificados. Até 14 de fevereiro de 1866, quando começou a circular um serviço de diligências operado pela Companhia Diligências Guanabara, Santos ficou sem um serviço público de transportes. As diligências também faziam o percurso do centro da cidade até a praia. Na mesma época, operava um serviço de diligências até São Paulo, que foi suspenso quando inaugurada a ferrovia São Paulo Railway (antiga Santos-Jundiaí), em 1867. O transporte coletivo por bondes Também segundo Lichti (1996), em 9 de outubro de 1871 foi inaugurado o serviço de bondes tracionados por muares, um ano antes que em São Paulo58. A Lei Provincial nº 67, de 10 de abril de 1870, concedeu a exploração do serviço, por 50 anos, a Domingos Montinho, de conformidade com a proposta por ele apresentada à Câmara de Santos. A referida proposta foi aceita como a mais vantajosa para a cidade, dentre as diversas que foram apresentadas. Para a prestação deste serviço, que previa o transporte de mercadorias, diversos empresários se uniram e formaram uma sociedade, primeiramente sob a firma de Russel, Benest e Cia., e posteriormente como a Companhia de Melhoramentos da Cidade de Santos, cujos estatutos foram aprovados por Decreto Imperial de nº 4.950, de 4 de maio de 1871. Os bondes eram então conhecidos como tram-road e a primeira linha tinha seu ponto final da praia do Boqueirão, seguindo o caminho da Barra, atual traçado das ruas Constituição, Luiz de Camões e Oswaldo Cruz. Em 7 de julho de 1873 começou a circular o primeiro serviço de bonde ligando Santos a São Vicente, também tracionado por muares e sobre trilhos de ferro. Esta linha operou até 1909, quando passou a funcionar o serviço de bondes elétricos. Este serviço foi decorrente do contrato entre o governo da Província de São Paulo e os empresários Jacob Emmerich e Henrique Ablas. A 24 de outubro de 1875, a empresa Emmerich e Ablas inaugurou uma linha que operava com bitola larga, entre as duas cidades. Em parte do percurso os bondes eram tracionados por burros e posteriormente seguiam engatados em uma máquina a vapor. Também decorrente de contrato com a Câmara, em data controversa, 1º de junho ou 1º de julho de 1887, o empresário Mathias Costa inaugurou uma linha de bondes, com percurso entre o Centro da cidade e o bairro Vila Mathias, loteamento que o mesmo começava a implantar na área pericentral. Em 4 de abril de 1889, inaugurava-se a linha ligando o Centro ao bairro José Menino, na orla, junto à divisa com São Vicente. Esta linha foi inaugurada junto com a Av. Ana Costa, considerada, na época, extremamente larga para o pequeno tráfego de bondes. Na verdade, o desenvolvimento do sistema de bondes, assim como ocorreu em São Paulo, passava a compor um sistema de valorização das terras mais distantes do Centro, cuja ocupação ainda não era inteiramente viável, pois o Plano de Saneamento só iria ser implantado a partir de 1905. Por volta de 1879, a seção de Santos da Companhia Viação Paulista, sob a direção do major João Constantino Janacopolus, comprou os direitos das várias empresas então existentes, passando a monopolizar os transportes em Santos, como já havia feito em São Paulo. Este monopólio compreendia as quatro linhas então existentes, com cerca de 30,0 km de extensão: Centro a São Vicente, pelo traçado das atuais avenidas Nossa Senhora de Fátima e Antônio Emmerich (única linha com tração a vapor); Vila Mathias ao José Menino, através da Avenida Ana Costa e depois seguindo pela praia; Centro à Vila Mathias; e Centro à praia da Barra (no atual bairro da Ponta da Praia), cuja linha seguia mais afastada da praia, no traçado da atual Avenida Epitácio Pessoa. Em 1899, Joaquim Gonçalves dos Santos Silva e João da Silva Matos obtiveram uma concessão para uma linha de bondes que ligaria o Largo da Imperatriz (atual Largo Dona Tereza Cristina) e a praia, no final da Avenida Ana Costa, no atual bairro do Gonzaga. 58 O serviço de bondes de Santos foi o primeiro do Brasil. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Em 10 de junho de 1901, o Dr. João Éboli adquiriu o patrimônio da Companhia Viação Paulista, em função da liquidação dos bens da empresa. Em 7 de agosto do mesmo ano, Éboli organizou a empresa Ferro Carril Santista, que passou a explorar os contratos da Viação Paulista. Nesse mesmo ano a empresa inaugurou o trecho entre os bairros Boqueirão e Ponta da Praia, com trajeto pela praia, em substituição do antigo caminho mais afastado da orla. Em 10 de setembro de 1902 chegava o primeiro carregamento do material de eletrificação dessas linhas, adquirido do exterior. A Ferro Carril Santista havia adquirido, em 1899, máquinas fixas que haviam sido usadas pela Light & Power, em São Paulo. Assim, em meados de 1903, a empresa foi reorganizada, e passou a ser dirigida por Júlio Conceição e James Mitchell. Em 20 de fevereiro de 1904, a The City of Santos Improvements Company Ltda. adquiriu os bens e direitos da Ferro Carril Santista. Em 18 de fevereiro de 1905, foi organizada nova empresa para ligar o José Menino a São Vicente, por meio de bondes. Em 1905, a Municipalidade concedeu a Antônio de Freitas Guimarães, Ewbank da Câmara, Alberto Drummond e Antônio Augusto dos Santos o direito de implantar uma linha de bondes, partindo do Centro de São Vicente até a praia do Itararé, na divisa com Santos, pela empresa denominada Companhia Ferro Carril Vicentina. Esta linha foi inaugurada em 19 de setembro de 1905. Em 6 de maio de 1908, a Ferro Carril Vicentina vendeu todo o seu patrimônio, o qual também foi adquirido à Companhia City. Esta mesma empresa, havia inaugurado em 13 de maio de 1905 a linha que atenderia a Vila Macuco, então um bairro popular e periférico, a meio caminho entre o Centro e a praia da Barra. Pela lei nº 228, de 1º de agosto de 1906, a Prefeitura de Santos foi autorizada a contratar os serviços de bondes elétricos da Companhia City. Contudo, esta empresa não implantou o sistema de imediato. Contudo, em meados de 1907, Edgard de Souza e Clóvis Glicério apresentaram à Municipalidade proposta de implantação de linhas de bondes elétricos, em Santos. No entanto, o coronel Cincinato Costa, intendente municipal, não efetivou o contrato, devido a concessão de 1906, à Companhia City. Assim, a primeira linha de bondes elétricos a circular em Santos, foi a n° 2, inaugurada em 28 de abril de 1909, ligando o centro de Santos a São Vicente, pela praia, passando pela Vila Mathias, descendo a Avenida Ana Costa e seguindo pela praia até São Vicente, onde subia pela Rua Frei Gaspar, com ponto final na atual praça Barão do Rio Branco. A segunda linha a ser inaugurada foi a n° 1, que também ligava o Centro de Santos ao de São Vicente, pelo traçado a oeste do maciço de morros, das atuais avenidas Nossa Senhora de Fátima e Antônio Emmerich. Esta deveria ser a primeira linha a operar, mas suas obras sofreram atrasos. Inicialmente o número de carros para o serviço elétrico era de 18 bondes de passageiros, 3 vagões fechados para bagagens e carga e 6 carros abertos para carga.A eletricidade para tracionar os bondes era, então, gerada por um motor fixo a vapor, movido a carvão e localizado na Vila Mathias, adquirido anos antes, pela Ferro Carril Santista, quando pretendia instalar o sistema de bondes elétricos na cidade. Esse gerador funcionou até 1913, quando a City passou a utilizar energia elétrica fornecida pela usina de Itatinga, da Companhia Docas de Santos. Em 1910, foi inaugurada a linha n° 3, que fazia o mesmo trajeto da linha n° 2, mas não chegava a São Vicente, parando na Rua Santa Catarina, no José Menino, contornando a quadra pelas ruas Newton Prado, Cruzeiro do Sul, Santa Catarina, retornando à Avenida Presidente Wilson, na orla. Nessa época, ainda estavam trafegando as seguintes linhas de bondes de tração animal: Boqueirão, Avenida São Francisco (linha circular que operava no Centro), Paquetá (linha circular), Vila Mathias, Rua Xavier da Silveira (ao sul da Vila Mathias), Mercado, Nova Cintra (morro), Rua Amador Bueno, Estrada de Ferro e Ponta da Praia. Mas em de 1° janeiro 1912, foram inauguradas as linhas elétricas: n° 4 para o Boqueirão, n° 5, para a Vila Macuco, e n° 6 para a Vila Mathias. 343 Em 1912, a Companhia City começou a construir seus próprios bondes em Santos, nas oficinas da Vila Mathias, onde se localiza a atual sede da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET Santos). Neste ano, a City construiu, também, a primeira locomotiva elétrica a ser fabricada no Brasil. Em 1928, a São Paulo Trailway, Light and Power Company Ltd. adquiriu o controle acionário da City of Santos Improvements Co. Ltda. e em 1931, começou a construir carros maiores, com 60 lugares, similares aos importados. Esses bondes, com motores de maior potência, permitiram o aproveitamento dos primitivos carros de tração animal, utilizando-os como reboques engatados aos bondes elétricos, ampliando a capacidade das linhas, nos horários de maior movimento. Os reboques permaneceram em uso, praticamente, até os últimos dias de operação do sistema de bondes, em Santos. Em 1940, a City começou a operar com bondes articulados, aproveitando os antigos e pequenos bondes abertos. Com isso, a empresa conseguia um veículo de maior capacidade de transporte, com um único motorneiro59. Esses veículos possuíam grande frequência. Neste mesmo ano, a City cessa a construção de bondes em sua oficina da Vila Mathias devido à falta de material, provocada pela Segunda Guerra Mundial. A partir de 1944, com a implantação do serviço de ônibus, o movimento de passageiros que utilizavam bondes decresceu e a City passou a desinteressar-se pelo serviço, reduzindo sua intensidade de frequência. Então, linhas passaram a ser desativadas paulatinamente. Em 1950, próximo ao término de seu contrato de concessão, que ocorreria em 14 de janeiro de 1951, a City informou que não possuía interesse em renoválo60. O anúncio gerou grande preocupação, pois os bondes ainda se constituíam em meio de transporte bastante popular, com tarifas mais acessíveis do que as cobradas para uso dos ônibus. Além disso, os bondes atingiam bairros nos quais os ônibus ainda não penetravam, em função da falta de pavimentação. Desta forma, a Prefeitura solicitou à City que não interrompesse o serviço dos bondes, até que a encontrasse uma solução para o impasse. Assim, a empresa concessionária permaneceu com suas linhas de bonde em funcionamento por mais algum tempo. Em 20 de dezembro de 1951 foi sancionada a Lei n° 1.297, que criou o Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC), como autarquia municipal e no dia seguinte, o prefeito de Santos assinou a escritura de compra do patrimônio do serviço de bondes da Companhia City. O SMTC de Santos adquiriu 259 veículos, contudo, apenas 90 estavam em condições de perfeito funcionamento. A autarquia iniciou as atividades em 1º de janeiro de 1952 e em 1954 colocou em circulação o primeiro bonde fechado, apelidado pela população de “camarão”, recuperado e modificado em suas oficinas. Em 1956, já havia 128 bondes em operação. A partir da década de 1960, a frota da SMTC foi sendo reduzida. Em 1965, quando começou a paralisação gradual dos bondes, a autarquia possuía apenas 80 bondes. Nesta mesma época, a empresa possuía, ainda, 17 trólebus e 8 ônibus. A última linha de bondes encerrou suas atividades em 28 de fevereiro de 1971, no ano em que se comemorava o centenário de sua primeira linha de tração animal, após 62 anos ininterruptos de funcionamento dos bondes elétricos, que serviam às populações de Santos e São Vicente. Nos anos que se sucederam, conforme eram realizadas obras de pavimentação, os trilhos de aço passaram a ser retirados e vendidos como sucata. Hoje, ainda existem alguns vestígios deste sistema no Centro de Santos. Em 1984, a Prefeitura determinou a restauração do último bonde fechado que havia permanecido na garagem da companhia municipal de transportes, colocando-o em funcionamento na Avenida Bartolomeu de Gusmão, junto à orla da praia, entre a Basílica de Santo Antônio do Embaré até o Canal 5, apenas para lazer e turismo. Essa linha turística foi desativada em 1985, quando foi substituída pelo ônibus conhecido como "Margaridão", que percorria o trajeto entre Ponta da Praia e José Menino. Esta linha foi desativada em 1989. 59 60 Operador que dirigia o bonde. É importante observar que nesta época a empresa já operava linhas de ônibus. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Em 23 de setembro de 2000, a Prefeitura inaugurou o atual serviço de bondes turísticos que opera no centro de Santos, então percorrendo um trajeto com 1,7 quilômetros. Em 2009 esta linha foi ampliada e atualmente percorre um trajeto de quase 5,0 quilômetros. É importante observar que os bondes constituíram um serviço de caráter integrador, pois além de ligarem Santos e São Vicente, numa época em que a urbanização da área central da Baixada Santista limitava-se praticamente a estas cidades, os bondes atingiam bairros predominantemente ocupados por população de baixa renda e garantiam um padrão de mobilidade importante para a época. O transporte coletivo por ônibus Algumas empresas de ônibus começaram a operar em Santos, a partir de 1926. Eram pequenas empresas de transporte coletivo, cuja duração foi, em princípio, pequena. Em 1928 a Companhia City inaugurou três linhas de ônibus, identificadas por linha "A", "B" e "C". A primeira fazia o trajeto Centro-Ponta da Praia, outra Centro-José Menino e a terceira, Centro-Gonzaga-Boqueirão. Essas linhas operavam com intervalos de cerca de trinta minutos. Nesta época o transporte por bondes era preferido pela população, não apenas pelo custo inferior, mas em função de ser mais arejado, o que era fundamental, no clima quente de Santos. Assim, no início, o sistema de ônibus era relativamente elitizado, e por esta razão não contava com grande frequência, não se constituindo em um negócio rentável. Por esta razão, a City desinteressava-se por suas linhas, as quais foram vendidas à empresa Viação Santista Ltda. A partir de 7 de dezembro de 1936, esta foi efetivamente a primeira empresa a implantar um sistema público de transporte coletivo por ônibus, com diversas linhas, que atendiam bairros mais afastados e São Vicente. Em 1936, a empresa Viação Excelso Ltda. também passou a oferecer o serviço de ônibus. Em 1944, a empresa Expresso Brasileiro Viação Ltda., que operava o transporte intermunicipal, entre Santos e São Paulo e São Paulo-Rio de Janeiro, de propriedade do empresário santista Manoel Diegues, solicitou autorização para operar o serviço de ônibus de Santos e São Vicente. Desta forma, ambas as municipalidades autorizaram a empresa a adquirir o patrimônio da Viação Santista Ltda. que, então, precariamente, mantinha suas linhas. Em 1º de setembro daquele ano, a empresa Expresso Brasileiro iniciou a operação do transporte municipal, com 12 linhas de ônibus. Estes serviços considerados de boa qualidade e oferta satisfatória de linhas e de veículos foram fatores concorrenciais que fizeram o transporte por bondes decrescer, progressivamente, até sua paralisação. Em 1948, com os amplos “coachs” importados dos EUA, com capacidade para 60 passageiros sentados, a Expresso Brasileiro prestava a Santos e São Vicente um dos melhores serviços de ônibus do Brasil. Contudo, em virtude de suas dimensões, esses ônibus não foram aprovados no tráfego, em razão das modestas dimensões das vias santistas e vicentinas, além da péssima qualidade de pavimentação. Desta forma, o alto investimento realizado pela empresa, para aquisição desses veículos, não teve retorno compensatório, fazendo com que esta desistisse do serviço de ônibus urbanos. Em função da desistência da empresa, que operou por onze anos, no dia 5 de outubro de 1955, o SMTC de Santos, assumiu todo o transporte coletivo da cidade. Ao assumir o monopólio do serviço de ônibus urbanos de Santos, o SMTC adquiriu 50 ônibus elétricos, conhecidos como trólebus, 5 estações conversoras de corrente contínua e material para a construção da rede aérea para os trólebus, cujas linhas só vieram a ser inauguradas em 12 de agosto de 1963, com cerca de 17 trólebus em operação. Em 1968 o SMTC adquiriu 70 unidades para suas linhas de ônibus. O empresário paulistano Anselmo Cimatti adquiriu, então, a linha de ônibus intermunicipal entre Santos e São Vicente, cujo serviço foi mantido sem interrupção, e em 1956 por sua iniciativa constituiu a empresa Viação Santos, São Vicente, Litoral S/A, que, com a participação dos sócios José Joaquim Sobral Egídio Prado, 345 Walter Lanza e Raimundo De Lucca Filho, foi ampliada e desdobrada nas subsidiárias Viação Santista Ltda., Viação Cubatão Ltda. e Viação Praia Grande Ltda. Com a paralisação do serviço de bondes, em 1971, a autarquia assumiu o monopólio total do transporte coletivo de Santos. Em 1979 o SMTC foi transformado na Companhia Santista de Transportes Coletivos (CSTC) e a Prefeitura, considerando que a empresa municipal não tinha condições de prestar este serviço de forma adequada, abriu concorrência pública para permitir a operação de algumas linhas de ônibus à exploração por empresas privadas. Esta licitação foi vencida pela Viação Santista Ltda., do Grupo Viação Santos, São Vicente, Litoral S/A, que passou a dividir, com a CSTC, a operação do sistema de ônibus, em Santos. Contudo, as linhas mais rentáveis foram passadas à empresa privada, o que mais tarde gerou sérias dificuldades para a empresa municipal. A Viação Santista introduziu, mais tarde, as linhas de ônibus Seletivos, em menor número e com tarifa maior, cujos veículos eram menores, e nos quais os passageiros só viajam sentados, podendo descer fora dos pontos de parada. Em 1983, duas décadas após seu início, o serviço de trólebus, que apresentava graves problemas técnicos em função das instalações das redes aéreas não seguirem os padrões preconizados pela fábrica italiana, dos veículos, passava por uma fase de revitalização, com um projeto de construção de veículos “híbridos”, desenvolvido em Santos, nas oficinas da CSTC. Na verdade, durante o regime militar, as empresas de transporte coletivo recebiam subsídios de até 75% na energia elétrica, para a operação do sistema de trólebus. Contudo, com a crise econômica da década de 1970, este subsídio foi suspenso e no final do decênio parte da frota santista já se encontrava em processo de sucateamento. Assim, a implantação do sistema “híbrido” foi uma tentativa de modernizar e dar sobrevida ao sistema. Mas, em 1994, o sistema começou a ser desativado, com a retirada de 13 trólebus de circulação. Dois anos após, outros 18 foram retirados, permanecendo apenas a linha n° 20 em operação, fazendo o trajeto entre as Praças Mauá, no Centro, e da Independência, no Gonzaga. O contrato de permissão para prestação do serviço de transportes coletivos, firmado, em 1998, com a Viação Piracicabana estipulava que a concessionária colocaria 35 trólebus em circulação, até 2001. Contudo, esta cláusula jamais foi cumprida. A justificativa da CET, que fiscalizava o contrato, era o alto custo dos veículos elétricos e seu peso, que danificaria o asfalto. Em 2006, quando o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (CONDEPASA) recebeu o pedido de tombamento do sistema de trólebus, só restava esta linha operando no sistema. Por outro lado, no final da década de 1980, os serviços da Viação Santista passaram a ser questionados, pois as tarifas apresentaram grande crescimento num quadro de grave crise inflacionária. Conforme Carriço (2006, p.188), em 1989, a Prefeitura de Santos passou a questionar os valores cobrados pela Viação Santista e determinou detalhada fiscalização nas planilhas de custo da empresa. A permissionária ofereceu grande resistência em abrir a composição dos custos, levando a Municipalidade a expropriar a empresa, fazendo com que a CSTC assumisse todo o seu acervo patrimonial e todas as suas linhas de ônibus, cujo contrato de permissão ainda se encontrava em vigência. Esta atitude teve sérios desdobramentos políticos na região, gerando uma ação judicial de grande repercussão que só veio a ser decidida na década passada, em favor da municipalidade61. Após a intervenção na Viação Santista, a CSTC assumiu o monopólio do transporte coletivo na cidade e a Prefeitura passou a investir na renovação da frota, adquirindo 137 veículos novos, em quatro anos. No mesmo período, o sistema de transportes foi reestruturado, com a inauguração, em 1992, do terminal de ônibus do Valongo, junto ao Centro da cidade, que possibilitou a integração de 17 linhas municipais, com o pagamento de tarifa única, ligando a Zona Noroeste e os Morros, áreas da cidade com maior concentração de população de baixa renda, aos bairros da Zona Leste. 61 A empresa privada alegava que vinha operando no vermelho, o que motivava a majoração da tarifa. Foi justamente esta alegação que contribuiu para a decisão judicial em favor da Prefeitura, pois se a operação do sistema era deficitária, nada havia a indenizar. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Contudo, a crise econômica do final da década de 1980, com o aumento do preço dos combustíveis e o congelamento do valor das tarifas, contribuiu para que a CSTC passasse a enfrentar grandes dificuldades no início da década seguinte. Por esta razão, em 1994, a empresa municipal encontrava-se em séria crise financeira, o que fez com que a Prefeitura decidisse promover licitação para escolher nova permissionária, para operar, desta vez, as linhas menos rentáveis. Desta forma, em 1994 e 1995 a CSTC privatizou 32 de suas linhas, permanecendo com apenas 13 linhas sob sua responsabilidade. Assim, a empresa Executiva Transportes Urbanos Ltda., de propriedade do Grupo Áurea, um dos maiores grupos empresariais do setor de transportes no Brasil, venceu a concorrência e assumiu a operação das linhas privatizadas. O resultado deste processo foi nova elevação das tarifas, com relevante impacto sobre a mobilidade da população. Segundo Martins (1998, p.23), isto fez com que o índice médio de passageiros transportados por quilômetro (IPK) caísse de 5,98 para 3,0, entre 1995 e 1996. Em 1998, concluindo o processo de privatização do transporte coletivo em Santos, a Prefeitura promoveu nova licitação, que resultou na operação das linhas restantes pela Viação Piracicabana, pertencente ao mesmo grupo empresarial que já havia assumido as outras linhas. No mesmo período o grupo Áurea passou a operar o transporte público por ônibus em São Vicente, Cubatão e Praia Grande, atingindo em meados da década passada, um total de 131 linhas, parte das quais de caráter metropolitano. Assim, na década de 1990, o sistema passou a ser operado por um monopólio privado, contribuindo para a manutenção de um nível tarifário elevado e a progressiva transferência de passageiros para outros modais. Na segunda metade deste decênio, o número de passageiros transportados decresceu na maioria dos municípios da RMBS, isto ocorreu, sobretudo naqueles em que o transporte coletivo é mais organizado, como em Santos. Concomitantemente a taxa de motorização cresceu, mas isto não ocorreu em função do maior uso do transporte coletivo. No período, o número de veículos particulares registrados nos municípios da RMBS aumentou significativamente. Portanto, ocorreu efetivo aumento do uso do transporte individual, que refletiu seriamente nas condições de trânsito dos municípios da região. No entanto, segundo dados do DETRAN-SP e da Fundação SEADE, em Santos, o número de passageiros transportados por ônibus, anualmente, caiu de 74.809, em 1995, para 60.482, em 1999. No mesmo intervalo de tempo, o número de funcionários da empresa de ônibus caiu de 1.910, para 1.597, e o número de veículos cadastrados por grupo de mil habitantes saltou de 485 para 519. Portanto, a demanda pelo sistema de ônibus reduziu-se, ao mesmo tempo em que o uso do transporte individual se ampliou, trazendo sérias repercussões para a mobilidade da cidade. Atualmente, as garagens, pátios e oficinas que pertenceram à City of Santos Improvements Co. Ltda. são ocupadas pela CET Santos, que a partir da década passada restaurou o serviço de bondes, restrito à área central, para finalidade turística. Do antigo acervo do serviço municipal de transporte coletivo, apenas a garagem do bairro Jabaquara, situada à Avenida Rangel Pestana n° 475, foi vendida à empresa Executiva Transportes Urbanos Ltda. Por meio do Decreto N° 4785 de 2007, a CSTC foi extinta, após 55 anos de funcionamento. Os 82 funcionários restantes passaram, então, a integrar o quadro permanente da Prefeitura. Na época a empresa acumulava ações trabalhistas e débitos com a Previdência, calculados em R$ 143 milhões. Hoje, em Santos, operam dois sistemas básicos de transporte público coletivo terrestre: Municipal, com uso de ônibus convencionais e seletivos, além de peruas do tipo lotação; Metropolitano, regulamentado, controlado e concedido pelo Estado, por meio da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), com uso de ônibus convencionais. Segundo a pesquisa OD-BS, apresentada acima, o transporte coletivo municipal de Santos era responsável por apenas 20,0% das viagens diárias, na época da pesquisa, enquanto os ônibus intermunicipais eram responsáveis por 5,0%, as peruas e lotações por 2,0% e os microônibus 0,1%. 347 Atualmente o sistema de ônibus municipais convencionais segue sendo operado pela Viação Piracicabana, que conta com 41 linhas, conforme os mapas abaixo e de acordo com a tabela apresentada em seguida. Além deste sistema, a cidade conta com o serviço de ônibus Seletivos, que disponibiliza 7 linhas, e é operado pela empresa Guaiúba Transportes. Desde janeiro de 2012, as tarifas dos ônibus convencionais estão fixadas em R$ 2,90 e as dos veículos seletivos em R$ 3,50. Estes sistemas são complementados por um sistema de peruas de lotação operados por particulares, que atendem os Morros e o bairro Rádio Clube, na Zona Noroeste. Conforme informação da Prefeitura de Santos, até fevereiro de 2012, era previsto que todos os ônibus tivessem recursos de acessibilidade para deficientes, antecipando a meta estipulada em lei federal, que obriga os municípios a adaptarem os veículos convencionais até o final de 2014. Contudo, até o momento, ainda existem veículos circulando sem adaptação. Itinerários da Rede de linhas de ônibus municipais de Santos (Ida). Fonte: Viação Piracicabana. Disponível em: http://geosismo.piracicabana.com.br:88/. Acesso em: 22 jul. 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Itinerários da Rede de linhas de ônibus municipais de Santos (Volta). Fonte: Viação Piracicabana. Disponível em: http://geosismo.piracicabana.com.br:88/. Acesso em: 22 jul. 2012. Elaboração: Instituto Pólis. As 41 linhas de ônibus municipais convencionais são todas circulares, com exceção da linha 080P62, e possuem as seguintes numerações: 004, 005, 007, 008, 010, 013, 017, 019, 020, 023, 025, 029, 030, 037, 040, 042, 052, 053, 054, 061, 073, 077, 080, 080P, 100, 101, 102, 108, 118, 139, 152, 153, 154, 155, 156, 158, 181, 184, 191, 193 e 194. Segundo os mapas acima apresentados, as linhas municipais convencionais concentram-se nos principais eixos viários da cidade. Na área central, o ponto focal é o Terminal de Integração de Passageiros “Rubens Paiva”, no bairro do Valongo63, e as linhas se concentram nas seguintes vias,: Transversais paralelas, no sentido Paquetá-Via Anchieta, Ruas São Leopoldo, João Pessoa e Amador Bueno, além da Avenida São Francisco; Com direção norte-sul, Ruas Senador Feijó, Braz Cubas, Constituição, Conselheiro Nébias e Doutor Cochrane. Na Zona Leste, as principais vias utilizadas são: 62 A linha 080P é denominada Portuária Especial e liga a Praça Jerônimo La Terza, no bairro Rádio Clube, Zona Noroeste, ao porto, na Praça Almirante Gago Coutinho, na Ponta da Praia, junto à estação das balsas. 63 Este terminal, inaugurado em 1992, foi o último grande investimento estruturador do sistema municipal de ônibus. Nele são integradas as seguintes linhas: 29, 42, 80, 100, 101, 102, 108, 118, 139, 152, 153, 154, 155, 156, 181, 184, 191, 193 e 194. 349 Eixos leste oeste, formados pelas Avenidas da orla, eixo do binário formado pelas Avenidas Floriano Peixoto e Epitácio Pessoa, assim como Ruas Guaibê, Conselheiro Ribas, Conselheiro Lafayette, Azevedo Sodré e Euclides da Cunha; eixo das Avenidas General Francisco Glicério e Afonso Pena e eixo das Ruas Joaquim Távora, Xavier Pinheiro, Carvalho de Mendonça, e Avenidas Conselheiro Rodrigues Alves e Pedro Lessa; Eixos Norte Sul, formados pelas avenidas que ladeiam os canais de drenagem e pelas Avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa. Na Zona Noroeste, as principais vias utilizadas são: Marginais da Via Anchieta e Avenida Martins Fontes, que garantem a ligação com o sistema Anchieta Imigrantes e o aceso aos bairros mais isolados, São Manoel e Piratininga; Avenida Nossa Senhora de Fátima, que vai até a divisa com São Vicente, além da Avenida Jovino de Melo, Rua Vereador Álvaro Guimarães e Praça Jerônimo La Terza64, que garante a penetração nos bairros. Nos Morros, as principais vias utilizadas são: Na área do Morro da Nova Cintra, pelo acesso ao norte da Zona Leste (bairro Jabaquara), a Avenida Guilherme Russo; Na área do Morro da Nova Cintra, pelo sul desta zona (bairro Marapé), Prefeito Antônio Manoel de Carvalho; Na área do Morro da Nova Cintra, pelo acesso à Zona Noroeste (bairro Caneleira), a Alameda Prefeito José Gomes; Na área plana do morro, a Avenida Santista; Na área do Morro do São Bento, entre o Morro da Nova Cintra e o Centro, o eixo das Avenidas Brasil, Progresso, das Ruas Um (Vila Progresso), São Roque, Santo Antônio do Valongo, do Largo do São Bento e da Avenida Nossa Senhora do Monte Serrat (acesso ao Centro). 64 Esta praça é o ponto final de várias linhas no bairro Rádio Clube, ponto da Zona Noroeste mais afastado do Centro e que concentra a população socialmente mais vulnerável desta região. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Santos: Principais corredores do sistema municipal de transporte coletivo por ônibus convencionais. 351 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 353 Fonte: Viação Piracicabana. Disponível em: http://www.cetsantos.com.br/transportes/linhas_principais_vias_tabela.htm. Acesso em: 22 jul. 2012. Na Área Continental, o transporte coletivo é estruturado pela Rodovia SP-55, mas o sistema municipal não opera nenhuma linha, as quais integram o sistema de transporte metropolitano, que será apresentado em seguida. As sete linhas do sistema de Seletivos, conforme itinerários apresentados nos mapas abaixo, são: 201 - Ponta da Praia: Ferry Boat - Centro (Via Ana Costa); 202 - Ponta da Praia : Ferry Boat - Centro (Via Conselheiro Nébias); 203 - Centro - Divisa (Via Canal 3); 204 - Ponta da Praia : Ferry Boat - Centro (Via Afonso Pena /Canal 2); 205 - Zona Noroeste: Jovino de Melo - Centro - Gonzaga (Via Ana Costa - Conselheiro Nébias); 205 B - Zona Noroeste : Vila São Jorge - Centro - Gonzaga (Via Cons. Nébias - Ana Costa); 206 - Ponta da Praia : Ferry Boat – Centro (Via Pedro Lessa – Av. Ana Costa). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Itinerários da Rede de linhas de ônibus Seletivos de Santos (Ida). Fonte: Guaiúba Transportes Ltda. Disponível em: http://www.seletivosantos.com.br/noticia.asp?codigo=1111&COD_MENU=324. Acesso em: 25 jul. 2012.Elaboração: Instituto Pólis. 355 Itinerários da Rede de linhas de ônibus Seletivos de Santos (Volta). Fonte: Guaiúba Transportes Ltda. Disponível em: http://www.seletivosantos.com.br/noticia.asp?codigo=1111&COD_MENU=324. Acesso em: 25 jul. 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Pode-se observar que este sistema atende as áreas com maior densidade demográfica e, portanto, mais rentáveis. Desta forma, os Seletivos também não se constituem em opção ao sistema convencional, em termos de cobertura. O sistema de lotações que atende os Morros e o bairro Rádio Clube é complementar ao sistema operado com ônibus convencionais e é constituído por cinco linhas, conforme detalhado a seguir: Morro do São Bento, cujo ponto Inicial é a Praça dos Andradas, no Centro. Esta linha atende o morro já citado e a Vila Progresso, sendo as lotações com Placas Brancas responsáveis pelo percurso de ida e as com Placas Amarelas, pelo percurso de volta; Morro do São Bento via Avenida Bernardino de Campos (Canal 2), com subida pelo citado morro e descida pelo bairro do Marapé; Morro do São Bento via Avenida Bernardino de Campos (Canal 2), com subida pelo bairro do Marapé e descida pelo citado morro; Morro do José Menino, cujo ponto Inicial é a Rua D. Pedro II, no Centro. Esta linha atende o morro já citado, via Avenida Senador Pinheiro Machado (Canal 1), sendo as lotações com Placas Vermelhas responsáveis pelos percursos de ida e volta; Rádio Clube (Zona Noroeste), cujo ponto Inicial é na Praça Jerônimo La Terza, neste bairro, e vai até a Praça José Bonifácio, no Centro, via Avenida Nossa Senhora de Fátima, sendo as lotações com Placas Amarelas responsáveis pelos percursos de ida e volta. Estas linhas são operadas por particulares, com permissão fornecida pela CET Santos, que fiscaliza o sistema. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Pode-se observar que o eixo das Avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, que concentram a maior parte das atividades econômicas e instituições, é estruturador dos itinerários, ora ligando a Ponta da Praia com o Centro, ou esta área com a divisa com São Vicente, na orla, ou com os eixos viários da Zona Noroeste. Portanto, de modo geral é possível afirmar que ambos os sistemas, complementados pelas lotações que atendem os Morros e a Zona Noroeste, realizam uma cobertura satisfatória de todas as áreas produtoras e atratoras de viagens, com exceção de algumas áreas dos Morros, de difícil acesso, cujo atendimento ainda necessita ser equacionado. Contudo, o desestímulo ao uso do transporte coletivo está mais ligado ao tempo de viagem, ao valor da tarifa, a falta de conforto das linhas mais carregadas e a baixa freqüência em algumas linhas. No que tange ao conforto e tempo de deslocamento, as linhas do sistema Seletivo garantem um bom padrão de atendimento, mas este sistema é muito limitado, em termos de cobertura, e sua tarifa é inacessível para grande parte da população. De acordo com informações da CET Santos65, o número de passageiros dos ônibus Seletivos vem aumentando ao longo dos anos, sendo que desses usuários 70% utilizavam veículos individualmente. Mas, conforme a mesma fonte, a demanda de passageiros pelos ônibus convencionais vem diminuindo. É importante destacar que na operação do trânsito de Santos, há uma frágil priorização ao sistema público de ônibus. Em toda a cidade, existem apenas três corredores de ônibus implantados e ainda assim, nenhum deles opera com calha exclusiva. Estes corredores são os das Avenidas Ana Costa, Conselheiro Nébias e Bernardino de Campos (Canal 2). O corredor da Avenida Ana Costa, o primeiro a ser implantado66, em junho de 2009, opera com uma faixa exclusiva para ônibus, junto ao meio-fio, apenas nos horários de pico, entre 6:00 e 9:00 horas e das 17:00 às 20:00 horas. Assim, no período da manhã este corredor funciona no sentido praia-centro e no final da tarde no sentido inverso. Nestes períodos, a utilização da faixa exclusiva por veículos particulares, exceto em caso de conversões à direita, é sujeita a sanções, o que traz bons resultados em termos de redução dos tempos de percurso dos ônibus dos sistemas públicos. O corredor da Avenida Conselheiro Nébias, implantado em abril de 2011, é apenas uma faixa preferencial e só opera no final da tarde, no sentido centro-praia. Portanto, os demais veículos que utilizam esta faixa, neste período, não estão sujeitos a sanções, o que acaba por limitar os resultados desta operação, em termos de redução do tempo de viagem nos ônibus do transporte público, embora a CET informe que inicialmente este corredor tenha reduzido as viagens em cerca de 22,0% do tempo. O corredor da Avenida Bernardino de Campos, por onde circulam 11 linhas municipais67, foi o último a ser implantado, em outubro de 2011, também opera da mesma forma que o da Avenida Conselheiro Nébias, entre 17:00 e 20:00 horas, e possui as mesmas fragilidades. Neste caso, concorre para a dificuldade de implantação de uma faixa exclusiva a estreita caixa da via, que permite acomodar apenas duas faixas no mesmo sentido, mesmo com a proibição de estacionamento durante o período de funcionamento deste corredor. A implantação de outro corredor, nos moldes do que opera na Avenida Ana Costa, está sendo planejado pela CET Santos para a Rua João Pessoa, no Centro, mas depende das obras de urbanização deste logradouro, cujo projeto está sendo revisto. 65 Declaração prestada pelo presidente da CET Santos, Rogério Cranstschaninov, em audiência pública da Comissão Especial de Vereadores (CEV) criada para abordar temas ligados ao trânsito, realizada em 30 de junho de 2009. 66 No início da década de 1990, a Prefeitura implantou um corredor exclusivo e segregado na Avenida Nossa Senhora de Fátima, na Zona Noroeste, mas o mesmo sofreu forte reação dos proprietários de veículos particulares, ensejando, inclusive, medida judicial, que acabou por fazer a Municipalidade desativá-lo. 67 Segundo a CET Santos, cerca de oito mil passageiros são transportados, no período da tarde, nos ônibus coletivos que fazem itinerário por esta via, diante de cerca de 4.800 pessoas que utilizam o transporte individual. 357 O funcionamento de todos os corredores é suspenso na temporada de verão, entre os dias que antecedem o Natal, em dezembro, e meados de janeiro. Programa Transporte Solidário Segundo a CET Santos (2012), a partir de 2010, a empresa implantou o Programa Transporte Solidário, com objetivo de reduzir a frota de carros nos horários de pico e de promover intervenções no âmbito da educação de trânsito e de ampliar a oferta de vagas no transporte coletivo. Para o desenvolvimento deste programa, a empresa elegeu o segmento das escolas particulares como foco principal, em sua fase inicial, pois identificou que boa parte dos problemas de trânsito da cidade está concentrada nos horários de entrada e de saída das escolas. Assim, era previsto que o programa trabalhasse com informações e sensibilização da comunidade escolar, visando obter a migração do carro próprio para modais coletivos. No que respeita à maior oferta de vagas no transporte coletivo, a CET Santos avaliou que sua ampliação, nos sistemas de ônibus convencionais e de Seletivos seria possível “sem necessidade de aportes estruturais e investimentos adicionais”. Sendo este um programa de baixo custo o mesmo não possui características de campanha, com duração limitada, pois o Transporte Solidário foi planejado para ser permanente. As ações do programa, desenvolvidas a partir de janeiro de 2010. previam o monitoramento de seus resultados, para eventuais ajustes necessários, ao longo do processo. Este programa previa a implantação imediata de três subprogramas: Ampliação do uso de veículos escolares, ampliação do uso dos ônibus Seletivos e o desenvolvimento da prática de carona solidária. Segundo a CET Santos, existiam 200 veículos de transporte escolar cadastrados na empresa, mas apenas 171 estavam ativos, com média de 75% de ocupação. Portanto, havia uma margem efetiva para ampliação do uso deste meio de transporte, retirando automóveis particulares das vias, em horários de pico. Assim, a empresa previu uma série de ações visando a otimização deste sistema, incluindo treinamento para motoristas, incentivos fiscais e autorização para circulação de veículos escolares nos corredores de ônibus. Esta medida já foi implantada nas faixas exclusivas de ônibus da Avenida Ana Costa e deveria ser implantada nos demais corredores. Quanto à oferta de vagas nos ônibus Seletivos, visando a adesão da comunidade escolar, previa-se a programação das linhas com horários ajustados com as escolas, em particular no período matutino, além de maior divulgação de horários e itinerários para as famílias e possibilidade de descontos para estudantes, cuja viabilidade estava sendo estudada pela CET. No que respeita à Carona Solidária, prática existente em algumas escolas por iniciativa dos próprios pais, esta poderia ser estimulada e apresentar resultados positivos, sem requerer investimentos ou intervenções mais complexas. Contudo, até o momento, o esquema de divulgação não surtiu o efeito esperado e a adesão ainda é baixa. A CET Santos informou que havia “apoio dos meios de comunicação e das lideranças das escolas particulares da cidade”, que “participaram em grande número do lançamento do programa”, em novembro de 2010. Contudo, embora a empresa previsse a destinação de espaço permanente para divulgação do andamento do Programa, em seu site, na página do programa não existem maiores informações que possibilitem na prática a adesão de pais. Evolução da frota municipal Para uma análise mais precisa do sistema de transporte coletivo de Santos, é importante avaliar as informações contidas na tabela a seguir, segundo as quais, enquanto a frota total de veículos cresceu 67,7%, entre 2002 e 2010, e a proporção entre o número de habitantes e o número total de veículos caiu para 67,9% Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 do que era no início deste período, a frota de ônibus68 cresceu cerca de 60,4%, no mesmo período. Portanto, o crescimento da frota de ônibus não acompanhou o crescimento da frota total, mais foi muito superior ao do crescimento da população, cuja TGCA foi de 0,04% em uma década, conforme o Censo Demográfico 2010, do IBGE. No que concerne ao crescimento da frota de automóveis, reduziu em 20,4% o número de habitantes por automóvel, seguindo uma tendência nacional. Contudo, este fenômeno, decorrente da ampliação da renda e da maior oferta de crédito para o setor, contribui decisivamente para a redução da mobilidade urbana, processo especialmente grave para o caso de Santos, como será detalhado adiante. Santos: Informações municipais sobre transporte. 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Frota Total de Veículos 161.366 167.511 174.074 181.551 191.798 204.162 214.983 226.075 238.345 Número de Habitantes por Total de Veículos 2,60 2,50 2,41 2,31 2,19 2,06 1,95 1,86 1,76 Frota de Automóveis 108.611 110.159 111.986 114.027 118.055 122.796 126.476 131.839 136.599 Número de Habitantes por Automóvel 3,86 3,80 3,74 3,68 3,56 3,42 3,32 3,19 3,07 Frota de Ônibus 424 456 522 610 604 607 684 617 701 Frota de Caminhões 4.693 5.056 5.612 6.091 6.658 7.183 7.849 8.354 9.147 Frota de Motocicletas e Assemelhados 29.500 33.078 36.420 40.293 44.744 50.168 54.366 57.667 61.267 Frota de Microônibus e Camionetas 11.728 12.028 12.450 13.029 13.780 15.003 16.523 18.191 20.461 Fonte: Informações dos Municípios Paulistas (IMP), Fundação Seade (2011). Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (DETRAN-SP), cerca de 46.000 a mais passaram a circular na RMBS, nos últimos doze meses contabilizados. Segundo esta fonte, em maio, o número de veículos automotores passou para 728.510, representando 6,81% a mais do que no mesmo mês de 2011. Segundo este levantamento, Santos é o município que teve o maior aumento nominal neste período, com 10.496 veículos licenciados a mais. Atualmente, Santos possui 287.755 veículos licenciados, o que representa uma ampliação de 3,6%, no mesmo intervalo. Portanto, a frota de Santos cresceu proporcionalmente menos do que a da região como um todo. Na capital do estado, o número de veículos cresceu apenas metade do que na Baixada Santista: 3,02%, enquanto a frota do Estado de São Paulo cresceu 9,4% em igual período. Desta forma, o crescimento da região foi inferior ao do Estado e o de Santos pouco maior do que de 1/3. 68 Deve-se observar que a frota considerada abrange todos os veículos deste tipo, inclusive os de empresas privadas que não fazem parte do sistema público de transportes coletivos. 359 Este processo acompanha a tendência, que é de elevação do índice de automóveis por habitante em todo Brasil, principalmente em cidades mais afastadas dos grandes centros urbanos. Transporte Coletivo Metropolitano A oferta de transporte coletivo entre Santos e o restante da RMBS consiste na operação de 52 linhas de ônibus movidos a diesel, operados pelas empresas: Piracicabana, Breda Serviços, Bertioga, Intersul e Translitoral, sob fiscalização da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), controlada pelo Governo do Estado de São Paulo e vinculada à Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (STM). A empresa que opera a maior parte das linhas é a Piracicabana, do Grupo Áurea. A tabela abaixo apresenta os itinerários dos ônibus metropolitanos que partem de Santos e as respectivas empresas que as operam e as tarifas praticadas. Se for considerada a questão da pendularidade intrametropolitana, que implica o pagamento de passagem na ida e na volta e às vezes exige do passageiro a transferência para outro sistema, no mesmo percurso, as tarifas praticadas nas linhas dos municípios mais próximos a Santos possuem tarifas muito elevadas. Desta forma, este sistema implica numa escolha crucial para os moradores destes municípios que necessitam se deslocar diariamente à Ilha de São Vicente: ou estes arcam com uma despesa fixa elevada no orçamento familiar, ou adotam outros modais para o deslocamento, ou se submetem à clivagem do mercado de trabalho no centro da região, que certamente seleciona os trabalhadores que representam menos custos fixos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Itinerários dos ônibus metropolitanos (EMTU) que partem de Santos (janeiro de 2012). Município origem Município destino Número e nome da Linha Descrição da linha Empresa Tarifa (R$) Santos Bertioga 929 BERTIOGA (RIVIERA DE SAO LOURENCO)/GUARUJA (TERMINAL FERRY BOAT) TRANSLITORAL 7,50 930 GUARUJA (FERRY BOAT)/BERTIOGA (RIVIERA) BERTIOGA 6,50 930EX1 GUARUJA (FERRY BOAT)/BERTIOGA (RIVIERA) BERTIOGA 6,50 930EX2 SANTOS (CARUARA)/BERTIOGA (RIVIEIRA) BERTIOGA 2,85 949DV1 GUARUJA (FERRY BOAT)/SANTOS (CARUARA) TRANSLITORAL 2,80 906 CUBATAO (FABRIL)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 909 GUARUJA (FERRY BOAT)/ CUBATAO (JARDIM CASQUEIRO) BERTIOGA 5,95 911 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (COSIPA) PIRACICABANA 3,60 912 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (CENTRO) PIRACICABANA 3,60 917 CUBATAO (USIMINAS)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 918 CUBATAO (JARDIM CARAGUATA)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 919 CUBATAO (JARDIM NOVA REPUBLICA)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE CUBATAO) BREDA SERVIÇOS 18,40 932 SAO VICENTE (PARQUE DAS BANDEIRAS GLEBA II)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,45 933 SAO VICENTE (HUMAITA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 933BI1 SAO VICENTE (PARQUE CONTINENTAL)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 933DV1 SAO VICENTE (HUMAITA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 936 CUBATAO (COTA 200)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,45 938 CUBATAO (VILA ESPERANCA)/SAO VICENTE (ITARARE) PIRACICABANA 3,45 909 GUARUJA (FERRY BOAT)/ UBATAO (JARDIM CASQUEIRO) BERTIOGA 5,95 Cubatão Guarujá 361 Itanhaém Mongaguá Peruíbe Praia Grande 929 BERTIOGA (RIVIERA DE SAO LOURENCO)/GUARUJA (TERMINAL FERRY BOAT) TRANSLITORAL 7,50 930 GUARUJA (FERRY BOAT)/BERTIOGA (RIVIERA) BERTIOGA R$ 6,50 930EX1 GUARUJA (FERRY BOAT)/BERTIOGA (RIVIERA) BERTIOGA R$ 6,50 949 GUARUJA (FERRY BOAT)/SANTOS (CARUARA) TRANSLITORAL 2,80 949DV1 GUARUJA (FERRY BOAT)/SANTOS (CARUARA) TRANSLITORAL 2,80 951 GUARUJA (CENTRO)/SANTOS (MONTE CABRAO) TRANSLITORAL 2,70 910 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 18,10 921 ITANHAEM (TERMINAL RODOVIARIO DE ITANHAEM)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 12,30 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE CUBATAO) BREDA SERVIÇOS 18,40 926 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (CENTRO) INTERSUL 8,60 910 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 18,10 921 ITANHAEM (TERMINAL RODOVIARIO DE ITANHAEM)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 12,30 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE CUBATAO) BREDA SERVIÇOS 18,40 926 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (CENTRO) INTERSUL 8,60 910 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 18,10 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE CUBATAO) BREDA SERVIÇOS 18,40 926 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (CENTRO) INTERSUL 8,60 904 PRAIA GRANDE (TERMINAL TUDE BASTOS)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 910 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 18,10 911 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (COSIPA) PIRACICABANA 3,60 912 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (CENTRO) PIRACICABANA 3,60 921 ITANHAEM (TERMINAL RODOVIARIO DE ITANHAEM)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 12,30 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE BREDA SERVIÇOS 18,40 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 CUBATAO) São Vicente 926 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (CENTRO) INTERSUL 8,60 927 PRAIA GRANDE (JARDIM SAMAMBAIA)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,60 931 PRAIA GRANDE (JARDIM SAMAMBAIA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,60 934 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 934EX1 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 941 PRAIA GRANDE (JARDIM MELVI)/SANTOS (CONJUNTO ATHIE JORGE CURY) PIRACICABANA 3,60 900 SAO VICENTE (JOQUEI CLUB)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 901 SAO VICENTE (VILA MARGARIDA)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 901BI1 SAO VICENTE (ESPLANADA DOS BARREIROS)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 902 SAO VICENTE (CONJUNTO TANCREDO NEVES)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 903 SAO VICENTE (J APUI)/ SANTOS (PRACA DOS ANDRADAS) PIRACICABANA 3,50 903VP1 SAO VICENTE (JAPUI)/ SANTOS (PRACA DOS ANDRADAS) PIRACICABANA 3,50 904 PRAIA GRANDE (TERMINAL TUDE BASTOS)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 907 SAO VICENTE (CONJUNTO TANCREDO NEVES)/ SANTOS (CENTRO) PIRACICABANA 3,10 908 SAO VICENTE (PARQUE BITARU)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 910 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 18,10 911 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (COSIPA) PIRACICABANA 3,60 912 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/CUBATAO (CENTRO) PIRACICABANA 3,60 915 SAO VICENTE (NAUTICA III)/ SANTOS (CANAL 4) PIRACICABANA 3,45 915EX1 SAO VICENTE (NAUTICA III)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,45 921 ITANHAEM (TERMINAL RODOVIARIO DE ITANHAEM)/SANTOS (TERMINAL RODOVIARIO DE SANTOS) BREDA SERVIÇOS 12,30 922 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/CUBATAO (TERMINAL RODOVIARIO DE CUBATAO) BREDA SERVIÇOS 18,40 363 925 SAO VICENTE (NAUTICA III)/SANTOS (TERMINAL MUNICIPAL DO VALONGO) PIRACICABANA 3,10 926 PERUIBE (TERMINAL RODOVIARIO DE PERUIBE)/SANTOS (CENTRO) INTERSUL 8,60 927 PRAIA GRANDE (JARDIM SAMAMBAIA)/SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,60 931 PRAIA GRANDE (JARDIM SAMAMBAIA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,60 932 SAO VICENTE (PARQUE DAS BANDEIRAS GLEBA II)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,45 933 SAO VICENTE (HUMAITA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 933BI1 SAO VICENTE (PARQUE CONTINENTAL)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 933DV1 SAO VICENTE (HUMAITA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,55 934 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 934EX1 PRAIA GRANDE (TERMINAL RODOVIARIO E URBANO TATICO FRANCISCO GOMES DA SILVA)/SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 938 CUBATAO (VILA ESPERANCA)/SAO VICENTE (ITARARE) PIRACICABANA 3,45 939 SAO VICENTE (PARQUE CONTINENTAL)/ SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 939DV1 SAO VICENTE (PARQUE CONTINENTAL)/ SANTOS (PAQUETA) PIRACICABANA 3,10 940 SAO VICENTE (HUMAITA)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,60 941 PRAIA GRANDE (JARDIM MELVI)/SANTOS (CONJUNTO ATHIE JORGE CURY) PIRACICABANA 3,60 942 SAO VICENTE (HUMAITA)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 942VP1 SAO VICENTE (RIO BRANCO)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 943 SAO VICENTE (PARQUE DAS BANDEIRAS GLEBA II)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 943BI1 SAO VICENTE (VILA EMA)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 944 SANTOS (JARDIM RADIO CLUBE)/ SANTOS (BOQUEIRAO) PIRACICABANA 3,40 947 SAO VICENTE (HUMAITA)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 948 SAO VICENTE (PARQUE DAS BANDEIRAS GLEBA II)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 948DV1 SAO VICENTE (PARQUE DAS BANDEIRAS GLEBA II)/ SANTOS (PONTA DA PRAIA) PIRACICABANA 3,10 Fonte: EMTU (2012). Disponível em: http://www.emtu.sp.gov.br/emtu/itinerarios-e-tarifas/consulte-origem-e-destino/por-regiao-metropolitana.fss. Acesso em: 8 jan. 2012. Nota: Os trajetos Seccionados são: GUARUJA (FERRY BOAT)/SANTOS (CARUARA) - R$ 3,00 e SANTOS (CARUARA)/BERTIOGA (RIVIERA) - R$ 3,00. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Este sistema concentra a maior parte das linhas para ligação com os municípios centrais da Baixada Santista: São Vicente, Cubatão e Praia Grande, com os quais o município é ligado por, 39, 14 e 12 linhas, respectivamente, conforme se observa pelas informações apresentadas na tabela ___ abaixo. Conforme estes dados, a sazonalidade, no caso de Santos, desempenha um papel inverso, em comparação com os municípios dos extremos da região, pois é entre março e novembro que as linhas são mais carregadas, evidenciando o uso predominante deste modal por motivo de trabalho e estudo. Considerando-se apenas os passageiros pagantes, entre Santos e Cubatão, foi registrada uma média mensal de 6.970.802, no total das linhas, de março a novembro de 2011 e 2.190.609 em janeiro, fevereiro e dezembro daquele ano. No que concerne a Praia Grande estes números foram, respectivamente, 10.330.937 de março a novembro e 3.301.881 de janeiro, fevereiro e dezembro. E com relação a São Vicente, 31.150.114 e 9.955.757 respectivamente. Portanto, observa-se as viagens entre Santos e São Vicente são praticamente três vezes mais numerosas do que entre Santos e Praia Grande, e mais do que o quadruplo das viagens entre o pólo regional e Cubatão. Também conforme esta tabela verifica-se que o número de passageiros transportados e o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) é muito mais elevado nas linhas que ligam os municípios mais centrais da região, como São Vicente, Cubatão e Praia Grande, com especial ênfase para São Vicente. A exceção é Guarujá, pois a maior parte das viagens feitas entre Santos e este município utilizam os meios hidroviários, que serão analisados adiante. 365 Tabela ___. Linhas de ônibus metropolitanos fiscalizadas pela EMTU com origem em Santos (janeiro 2011 a janeiro 2012). Município destino Número e nome da Linha Período Km Total Mês Passageiros Média 12 Meses IPK Bertioga 929 BERTIOGA 1.901 116.350 24.196 2,08 11.541 768 47.006 8.532 0,74 75% 583.117 20.539 1.539.910 587.474 3,41 140.677 25% 198.360 6.738 505.181 194.613 1,18 2.507 9.746 70% 12.253 492 34.632 9.517 3,22 Dez/Jan/Fev 1.381 3.976 30% 5.357 235 16.542 3.904 1,13 Mar a Nov 49.968 286.382 73% 336.350 12.891 441.840 337.425 6,86 Dez/Jan/Fev 15.513 105.899 27% 121.412 4.011 137.478 111.202 2,65 Mar a Nov - - 0% - - - - - Dez/Jan/Fev - - 0% - - - - - Mar a Nov 237.177 1.159.248 24% 1.396.425 27.584 758.865 1.371.044 16,62 Dez/Jan/Fev 75.829 368.147 76% 443.976 9.551 262.758 461.256 5,12 Mar a Nov 56.221 209.835 76% 266.056 12.744 713.002 277.795 3,36 Dez/Jan/Fev 18.214 18.214 24% 86.174 4.091 228.883 277.795 1,13 911 PRAIA GRANDE Mar a Nov 180.987 860.874 75% 1.041.861 18.174 764.087 1.034.714 12,79 Dez/Jan/Fev 59.847 291.703 25% 351.550 4.788 201.224 338.174 5,24 912 PRAIA GRANDE Mar a Nov 76.755 285.198 77% 361.953 7.056 249.614 344.540 14,53 Dez/Jan/Fev 22.434 86.569 23% 109.003 1.515 53.573 117.451 6,08 917 CUBATAO Mar a Nov 108.412 568.403 76% 676.815 15.797 499.817 655.419 12,27 Dez/Jan/Fev 33.671 177.088 24% 210.759 5.479 173.355 214.259 3,66 Mar a Nov 114.454 586.729 76% 701.183 9.624 501.378 658.823 12,75 Dez/Jan/Fev 34.645 182.693 24% 217.338 3.175 165.570 219.157 3,94 930 GUARUJA 930EX1 GUARUJA 930EX2 SANTOS 949DV1 GUARUJA Cubatão 906 CUBATAO 909 GUARUJA 918 CUBATAO Passageiros Gratuitos (média mensal) Passageiros Pagantes (média mensal) Gratuitos x Pagantes (%) Passageiros Média Total Mês Viagens Mar a Nov - 26.258 69% 26.258 Dez/Jan/Fev - 11.541 31% Mar a Nov 180.826 402.291 Dez/Jan/Fev 57.683 Mar a Nov Total Mês Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 919 CUBATAO Mar a Nov 80.495 409.359 76% 489.854 8.206 425.559 445.962 10,38 Dez/Jan/Fev 25.040 128.095 24% 153.135 2.558 132.731 148.882 3,46 Mar a Nov 2 23.930 100% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 0% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 72.959 408.294 76% 481.253 13.558 475.790 450.040 9,17 Dez/Jan/Fev 22.999 127.874 24% 150.873 4.356 152.865 149.600 2,96 Mar a Nov 173.659 1.033.584 76% 1.207.243 31.035 865.875 1.108.139 12,57 Dez/Jan/Fev 55.448 330.913 24% 386.361 10.346 288.655 372.247 4,02 933BI1 SAO VICENTE Mar a Nov 6.526 52.357 77% 58.883 1.796 48.781 53.511 10,98 Dez/Jan/Fev 1.819 15.508 23% 17.327 536 14.558 18.022 3,55 933DV1 SAO VICENTE Mar a Nov 1.181 9.103 100% 10.284 297 8.647 14.502 4,19 Dez/Jan/Fev - - 0% - - - 1.143 0,00 936 CUBATAO Mar a Nov 157.678 788.135 76% 945.813 12.549 888.468 912.195 9,69 Dez/Jan/Fev 49.767 253.143 24% 302.910 3.875 274.350 304.009 3,31 Mar a Nov 136.584 575.753 74% 712.337 10.073 590.687 713.873 10,90 Dez/Jan/Fev 44.933 202.156 26% 247.089 3.341 198.163 240.710 3,74 Mar a Nov 56.221 209.835 76% 266.056 12.744 713.002 277.795 3,36 Dez/Jan/Fev 18.214 18.214 24% 86.174 4.091 228.883 277.795 1,13 Mar a Nov - 26.258 31% 26.258 1.901 116.350 24.196 2,08 Dez/Jan/Fev - 11.541 69% 11.541 768 47.006 8.532 0,74 Mar a Nov 180.826 402.291 75% 583.117 20.539 1.539.910 587.474 3,41 Dez/Jan/Fev 57.683 140.677 25% 198.360 6.738 505.181 194.613 1,18 Mar a Nov 2.507 9.746 70% 12.253 492 34.632 9.517 3,22 Dez/Jan/Fev 1.381 3.976 30% 5.357 235 16.542 3.904 1,13 Mar a Nov 88.333 306.054 74% 394.387 13.518 526.780 405.016 6,75 Dez/Jan/Fev 27.742 107.512 26% 135.254 4.395 171.269 132.760 2,37 922 PERUIBE 932 SAO VICENTE 933 SAO VICENTE 938 CUBATAO Guarujá 909 GUARUJA 929 BERTIOGA 930 GUARUJA 930EX1 GUARUJA 949 GUARUJA 367 949DV1 GUARUJA 951 GUARUJA Itanhaém 910 PERUIBE 921 ITANHAEM 922 PERUIBE 926 PERUIBE Mongaguá 910 PERUIBE 921 ITANHAEM 922 PERUIBE 926 PERUIBE Peruíbe 910 PERUIBE 922 PERUIBE 926 PERUIBE Mar a Nov - - 0% - - - - - Dez/Jan/Fev - - 0% - - - - - Mar a Nov 13.040 53.126 82% 66.166 6.713 113.203 43.908 5,28 Dez/Jan/Fev 2.902 11.795 18% 14.697 1.499 25.135 12.942 1,67 Mar a Nov 9 576.916 75% 576.925 21.320 1.967.091 528.619 2,65 Dez/Jan/Fev 5 187.646 25% 187.651 6.470 594.916 167.997 0,94 Mar a Nov - 20.843 75% 20.843 599 36.458 18.985 5,26 Dez/Jan/Fev - 6.981 25% 6.981 264 16.459 6.080 1,45 Mar a Nov 2 23.930 100% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 0% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 141.878 385.404 80% 527.282 13.193 1.210.736 452.179 3,94 Dez/Jan/Fev 32.943 102.358 20% 135.301 3.020 277.143 147.696 1,46 Mar a Nov 9 576.916 75% 576.925 21.320 1.967.091 528.619 2,65 Dez/Jan/Fev 5 187.646 25% 187.651 6.470 594.916 167.997 0,94 Mar a Nov - 20.843 75% 20.843 599 36.458 18.985 5,26 Dez/Jan/Fev - 6.981 25% 6.981 264 16.459 6.080 1,45 Mar a Nov 2 23.930 100% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 0% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 141.878 385.404 80% 527.282 13.193 1.210.736 452.179 3,94 Dez/Jan/Fev 32.943 102.358 20% 135.301 3.020 277.143 147.696 1,46 Mar a Nov 9 576.916 75% 576.925 21.320 1.967.091 528.619 2,65 Dez/Jan/Fev 5 187.646 25% 187.651 6.470 594.916 167.997 0,94 Mar a Nov 2 23.930 100% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 0% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 141.878 385.404 80% 527.282 13.193 1.210.736 452.179 3,94 Dez/Jan/Fev 32.943 102.358 20% 135.301 3.020 277.143 147.696 1,46 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Praia Grande 904 PRAIA GRANDE Mar a Nov 462.324 1.686.307 76% 2.148.631 27.298 907.037 2.080.159 21,58 Dez/Jan/Fev 147.647 544.082 24% 691.729 7.940 262.121 698.018 7,94 910 PERUIBE Mar a Nov 9 576.916 75% 576.925 21.320 1.967.091 528.619 2,65 Dez/Jan/Fev 5 187.646 25% 187.651 6.470 594.916 167.997 0,94 911 PRAIA GRANDE Mar a Nov 180.987 860.874 75% 1.041.861 18.174 764.087 1.034.714 12,79 Dez/Jan/Fev 59.847 291.703 25% 351.550 4.788 201.224 338.174 5,24 912 PRAIA GRANDE Mar a Nov 76.755 285.198 77% 361.953 7.056 249.614 344.540 14,53 Dez/Jan/Fev 22.434 86.569 23% 109.003 1.515 53.573 117.451 6,08 921 ITANHAEM Mar a Nov - 20.843 75% 20.843 599 36.458 18.985 5,26 Dez/Jan/Fev - 6.981 25% 6.981 264 16.459 6.080 1,45 Mar a Nov 2 23.930 74% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 26% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 141.878 385.404 80% 527.282 13.193 1.210.736 452.179 3,94 Dez/Jan/Fev 32.943 102.358 20% 135.301 3.020 277.143 147.696 1,46 927 PRAIA GRANDE Mar a Nov 203.496 763.522 76% 967.018 11.443 926.186 947.289 9,81 Dez/Jan/Fev 66.532 245.571 24% 312.103 2.795 225.888 315.206 4,15 931 PRAIA GRANDE Mar a Nov 588.376 2.249.171 76% 2.837.547 50.721 1.799.176 2.751.230 14,21 Dez/Jan/Fev 182.135 724.267 24% 906.402 15.715 554.952 922.946 4,90 934 PRAIA GRANDE Mar a Nov 313.737 1.549.798 75% 1.863.535 32.810 922.849 1.835.757 18,30 Dez/Jan/Fev 99.540 505.847 25% 605.387 9.602 268.498 613.525 6,78 934EX1 PRAIA GRANDE Mar a Nov 313.326 1.450.225 77% 1.763.551 28.775 826.241 1.626.902 19,49 Dez/Jan/Fev 92.931 442.123 23% 535.054 8.037 228.231 547.553 7,06 941 PRAIA GRANDE Mar a Nov 140.534 478.749 75% 619.283 13.210 528.528 601.600 10,58 Dez/Jan/Fev 45.110 156.228 25% 201.338 4.176 166.907 199.766 3,62 900 SAO VICENTE Mar a Nov 1.206.227 2.760.191 76% 3.966.418 44.679 1.351.317 3.900.030 27,04 Dez/Jan/Fev 378.857 880.367 24% 1.259.224 14.256 431.172 1.298.791 8,80 922 PERUIBE 926 PERUIBE São Vicente 369 901 SAO VICENTE Mar a Nov 764.191 2.033.349 76% 2.797.540 34.132 880.230 2.765.603 28,94 Dez/Jan/Fev 242.329 663.889 24% 906.218 11.120 286.774 919.038 9,53 901BI1 SAO VICENTE Mar a Nov 128.169 336.337 76% 464.506 7.840 254.322 456.613 16,54 Dez/Jan/Fev 40.231 106.790 24% 147.021 2.823 91.575 152.292 4,88 902 SAO VICENTE Mar a Nov 477.458 1.255.192 76% 1.732.650 23.037 695.025 1.678.132 22,63 Dez/Jan/Fev 146.748 389.696 24% 536.444 7.559 228.056 556.505 7,11 Mar a Nov 210.631 407.577 76% 618.208 14.410 469.055 594.320 11,96 Dez/Jan/Fev 64.967 127.714 24% 192.681 4.572 147.702 188.360 3,96 903VP1 SAO VICENTE Mar a Nov 21.861 60.143 76% 82.004 1.855 27.734 85.744 32,00 Dez/Jan/Fev 6.936 18.946 24% 25.882 516 7.714 35.204 9,47 904 PRAIA GRANDE Mar a Nov 462.324 1.686.307 76% 2.148.631 27.298 907.037 2.080.159 21,58 Dez/Jan/Fev 147.647 544.082 24% 691.729 7.940 262.121 698.018 7,94 907 SAO VICENTE Mar a Nov 500.465 1.208.470 76% 1.708.935 22.934 692.263 1.660.965 22,34 Dez/Jan/Fev 159.279 386.140 24% 545.419 7.653 231.007 554.979 7,10 Mar a Nov 614.173 1.783.311 76% 2.397.484 29.937 951.330 2.353.327 23,13 Dez/Jan/Fev 193.156 579.224 24% 772.380 10.447 327.819 781.342 7,14 Mar a Nov 9 576.916 75% 576.925 21.320 1.967.091 528.619 2,65 Dez/Jan/Fev 5 187.646 25% 187.651 6.470 594.916 167.997 0,94 911 PRAIA GRANDE Mar a Nov 180.987 860.874 75% 1.041.861 18.174 764.087 1.034.714 12,79 Dez/Jan/Fev 59.847 291.703 25% 351.550 4.788 201.224 338.174 5,24 912 PRAIA GRANDE Mar a Nov 76.755 285.198 77% 361.953 7.056 249.614 344.540 14,53 Dez/Jan/Fev 22.434 86.569 23% 109.003 1.515 53.573 117.451 6,08 915 SAO VICENTE Mar a Nov 297.292 836.650 76% 1.133.942 18.539 913.770 1.104.882 11,25 Dez/Jan/Fev 95.533 271.381 24% 366.914 5.495 270.841 366.738 4,07 Mar a Nov 74.434 245.685 75% 320.119 6.165 347.987 328.957 8,86 Dez/Jan/Fev 24.484 80.164 25% 104.648 1.768 99.795 108.328 3,15 903 SAO VICENTE 908 SAO VICENTE 910 PERUIBE 915EX1 SAO VICENTE Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 921 ITANHAEM Mar a Nov - 20.843 75% 20.843 599 36.458 18.985 5,26 Dez/Jan/Fev - 6.981 25% 6.981 264 16.459 6.080 1,45 Mar a Nov 2 23.930 74% 23.932 969 103.902 21.531 2,08 Dez/Jan/Fev - 8.506 26% 8.506 320 34.209 6.767 0,74 Mar a Nov 190.021 598.352 76% 788.373 14.720 757.859 751.494 9,39 Dez/Jan/Fev 58.895 189.444 24% 248.339 4.990 263.010 252.046 2,83 Mar a Nov 141.878 385.404 80% 527.282 13.193 1.210.736 452.179 3,94 Dez/Jan/Fev 32.943 102.358 20% 135.301 3.020 277.143 147.696 1,46 927 PRAIA GRANDE Mar a Nov 203.496 763.522 76% 967.018 11.443 926.186 947.289 9,81 Dez/Jan/Fev 66.532 245.571 24% 312.103 2.795 225.888 315.206 4,15 931 PRAIA GRANDE Mar a Nov 588.376 2.249.171 76% 2.837.547 50.721 1.799.176 2.751.230 14,21 Dez/Jan/Fev 182.135 724.267 24% 906.402 15.715 554.952 922.946 4,90 932 SAO VICENTE Mar a Nov 72.959 408.294 76% 481.253 13.558 475.790 450.040 9,17 Dez/Jan/Fev 22.999 127.874 24% 150.873 4.356 152.865 149.600 2,96 Mar a Nov 173.659 1.033.584 76% 1.207.243 31.035 865.875 1.108.139 12,57 Dez/Jan/Fev 55.448 330.913 24% 386.361 10.346 288.655 372.247 4,02 933BI1 SAO VICENTE Mar a Nov 6.526 52.357 77% 58.883 1.796 48.781 53.511 10,98 Dez/Jan/Fev 1.819 15.508 23% 17.327 536 14.558 18.022 3,55 933DV1 SAO VICENTE Mar a Nov 1.181 9.103 100% 10.284 297 8.647 14.502 4,19 Dez/Jan/Fev - - 0% - - - 1.143 0,00 934 PRAIA GRANDE Mar a Nov 313.737 1.549.798 75% 1.863.535 32.810 922.849 1.835.757 18,30 Dez/Jan/Fev 99.540 505.847 25% 605.387 9.602 268.498 613.525 6,78 934EX1 PRAIA GRANDE Mar a Nov 313.326 1.450.225 77% 1.763.551 28.775 826.241 1.626.902 19,49 Dez/Jan/Fev 92.931 442.123 23% 535.054 8.037 228.231 547.553 7,06 938 CUBATAO Mar a Nov 136.584 575.753 74% 712.337 10.073 590.687 713.873 10,90 Dez/Jan/Fev 44.933 202.156 26% 247.089 3.341 198.163 240.710 3,74 922 PERUIBE 925 SAO VICENTE 926 PERUIBE 933 SAO VICENTE 371 939 SAO VICENTE Mar a Nov 208.818 970.757 76% 1.179.575 22.421 752.667 1.138.315 14,20 Dez/Jan/Fev 68.618 312.338 24% 380.956 6.532 218.502 385.484 5,23 939DV1 SAO VICENTE Mar a Nov 86 542 100% 628 12 408 528 3,08 Dez/Jan/Fev - - 0% - - - 39 0,00 940 SAO VICENTE Mar a Nov 216.297 711.783 76% 928.080 19.597 722.483 872.014 11,65 Dez/Jan/Fev 66.998 223.790 24% 290.788 5.770 212.724 288.096 4,10 941 PRAIA GRANDE Mar a Nov 140.534 478.749 75% 619.283 13.210 528.528 601.600 10,58 Dez/Jan/Fev 45.110 156.228 25% 201.338 4.176 166.907 199.766 3,62 942 SAO VICENTE Mar a Nov 352.986 1.858.904 76% 2.211.890 35.056 1.022.233 2.201.865 19,84 Dez/Jan/Fev 112.841 602.303 24% 715.144 11.425 333.154 735.930 6,56 942VP1 SAO VICENTE Mar a Nov 23.234 186.934 73% 210.168 3.298 82.772 199.615 26,36 Dez/Jan/Fev 8.619 69.701 27% 78.320 986 24.746 62.302 10,87 943 SAO VICENTE Mar a Nov 250.712 1.271.231 75% 1.521.943 26.407 798.545 1.508.427 17,31 Dez/Jan/Fev 83.178 424.643 25% 507.821 7.779 235.238 506.703 6,49 943BI1 SAO VICENTE Mar a Nov 76.378 351.958 76% 428.336 8.652 219.831 416.195 17,72 Dez/Jan/Fev 23.827 110.563 24% 134.390 2.746 69.771 139.788 5,78 944 SANTOS Mar a Nov 40.561 107.305 75% 147.866 4.090 132.721 140.394 10,10 Dez/Jan/Fev 13.249 36.700 25% 49.949 1.598 51.855 48.229 2,92 Mar a Nov 238.295 760.834 75% 999.129 17.102 585.459 976.965 15,38 Dez/Jan/Fev 77.168 253.725 25% 330.893 5.616 190.579 323.215 5,23 Mar a Nov 212.908 744.674 75% 957.582 18.852 682.784 935.512 12,64 Dez/Jan/Fev 70.807 249.907 25% 320.714 5.997 216.931 313.021 4,44 947 SAO VICENTE 948 SAO VICENTE Fonte: EMTU (2012) . Nota: Os trajetos Seccionados são: GUARUJA (FERRY BOAT)/SANTOS (CARUARA) - R$ 3,00 e SANTOS (CARUARA)/BERTIOGA (RIVIERA) - R$ 3,00. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 A ligação com os municípios do sul da região é feita através de São Vicente e Praia Grande, que concentram o trajeto das linhas pela divisa da orla, entre Santos e São Vicente. A ligação com o norte da região é realizada pelas áreas insular e continental do município. A ligação de Guarujá com a área insular de Santos é feita via balsa, que possibilita conexão com o transporte coletivo municipal ou metropolitano disponível no bairro Ponta da Praia em Santos, por meio da travessia do canal do Porto, realizada em barcas operadas pela empresa Travessia Santos-Guarujá, sem integração tarifária. A ligação com a área continental de Santos é realizada com o bairro de Caruara, o mais próximo da divisa com Bertioga, acessado pela Rodovia Doutor Manoel Hyppolito Rego, SP-55. Há duas linhas, a 930EX1 e 930EX2, sendo que apenas a primeira prossegue até Guarujá. Como será detalhado adiante, em função dos graves pontos críticos de trânsito existentes nas entradas da cidade, seja ao norte, pelas Avenidas Martins Fontes e Nossa Senhora de Fátima, ou ao sul, pela Avenida Presidente Wilson, na orla, os tempos de percurso dos deslocamentos metropolitanos têm aumentado consideravelmente, colocando em xeque a mobilidade metropolitana, em um quadro de forte pendularidade, conforme apresentado anteriormente. Outro aspecto relevante é a inexistência de integração tarifária entre os modais. Portanto, o passageiro vindo de qualquer município da região e que necessite acessar áreas atratoras de viagens de Santos, por onde não circulam as linhas metropolitanas, pode ser obrigado a caminhar longos percursos ou ter que arcar com o custo de outros deslocamentos, como ônibus municipal, barca ou balsa, que realizam a travessia do canal, no caso das várias ligações com o município Guarujá com a área insular de Santos. Como verificado na apresentação da pesquisa OD-BS, a maior oferta de trabalho na região se encontra na Ilha de São Vicente e no parque industrial de Cubatão. Portanto, a ausência de integração entre os sistemas de transporte municipal e metropolitano provavelmente tem um efeito de seleção da população economicamente ativa que se dirige a Santos, no sentido de limitar sua participação no mercado de trabalho nas áreas mais centrais. Em muitos casos, um trabalhador que reside em outro município e trabalhe em Santos, é obrigado a tomar dois ônibus na ida e no retorno, sendo um metropolitano e outro municipal, desembolsando quantias superiores a R$ 10,00 diariamente. Por outro lado, a grande disponibilidade de linhas metropolitanas entre Santos e São Vicente constitui-se em uma das mais importantes opções de deslocamento da região, em função do vínculo entre a população economicamente ativa de São Vicente e as atividades e instituições localizadas em Santos, conforme já mencionado anteriormente. A utilização destas linhas é fundamental, para milhares de trabalhadores, pois o sistema municipal de São Vicente, baseado em lotações operadas por cooperativas, não possui integração com o sistema municipal de Santos69. Contudo, a exemplo do que ocorre com os trabalhadores provenientes de Cubatão e de Praia Grande, os tempos de deslocamento entre as duas cidades, que ocupam a Ilha de São Vicente, vem sendo cada vez mais ampliado, em função dos gargalos existentes nas duas ligações existentes: divisas na orla (Avenida Presidente Wilson) e na Zona Noroeste (Avenida Nossa Senhora de Fátima). As linhas metropolitanas, em Santos, utilizam importantes vias de ligação, transformando-se, também, em opção ao transporte municipal, em alguns casos, embora o custo da tarifa seja superior. Os eixos viários mais utilizados são o conjunto de avenidas das praias, a Avenida Pinheiro de Machado (Canal 1), a Avenida Bernardino de Campos (canal 2), os eixos das Avenidas Martins Fontes e Getúlio Vargas (entrada da cidade), da Avenida Nossa Senhora de Fátima (Zona Noroeste), das Avenidas General Francisco Glicério e Afonso Pena (ligação leste oeste), e das Ruas São Leopoldo, João Pessoa e São Francisco (no centro). O mapa abaixo apresenta a rede de transporte metropolitano da EMTU, na área central da RMBS, demonstrando a concentração dos itinerários em Santos e São Vicente. No caso de Santos, observa-se que não existe 69 O ponto final das lotações localiza-se na praia do Itararé, junto à divisa com Santos e os passageiros que vêm de diversos bairros de São Vicente, utilizando as lotações, são obrigados a descer e tomar outra condução após atravessar a divisa. 373 cobertura do sistema nos Morros e na Zona Noroeste e região do Macuco (Zona Leste próximo ao cais) esta é limitada. Sendo assim, as viagens neste sistema, nestas áreas, exigem complementação pelo sistema municipal dependendo do local de origem ou destino, o que obriga a população a percursos mais longos a pé ou transferências mais onerosas entre os sistemas, nas áreas da cidade habitadas por população de baixa renda. Rede de Transporte Metropolitano na área central da RMBS (2010). Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU (EMTU, 2010, Anexo 29, p.14). No tocante à aferição da qualidade do transporte metropolitano na Baixada Santista, a EMTU aplica anualmente uma pesquisa, visando obter o Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (IQC), que é parte integrante do Índice de Qualidade do Transporte (IQT). Assim, o IQC é obtido através da avaliação pessoal dos clientes com relação à qualidade percebida dos serviços de transporte metropolitano, sob gerenciamento da empresa, através de aplicação de pesquisas junto a esses serviços. Também está previsto, no cálculo para obtenção do IQC, o Índice de Reclamação da Pesquisa (IRP), obtido através da média das reclamações apuradas nas entrevistas. Desta forma, a seguinte fórmula para obtenção do IQC, na qual NP é a nota média da pesquisa entre 33 atributos avaliados através de escala de zero a dez. IQC = NP – IRP Além da obtenção do IQC, a pesquisa investiga vários aspectos relacionados à qualidade dos serviços, como qualidade da frota, da comunicação social, da tripulação e outros, com vistas a futuros planos de ação localizados. Conforme a última rodada da pesquisa, em 2011 o IQC da Viação Piracicabana (4,30) sofreu queda de 13,1% em relação a 2010 (4,95), segundo o gráfico abaixo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Evolução do IQC da Viação Piracicabana (2008-2011). Fonte: Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (EMTU, 2011). As linhas pesquisadas foram: 900 TRO - São Vicente (Jóquei Club) - Santos (Centro) - (31/05/2011); 901 TRO - São Vicente (V. Margarida) - Santos (Centro) - (31/05/2011); 902 TRO - São Vicente (Cj. Tancredo Neves) - Santos (Centro) - (01/06/2011); 904 TRO - Praia Grande (T. Tude Bastos) - Santos (Centro) - (02/06/2011); 906 TRO - Cubatão (Fabril) - Santos (Ponta Praia) - (06/06/2011); 907 TRO - São Vicente (Cj. Tancredo Neves) - Santos (Centro) via Canal 1 -(01/06/2011); 908 TRO - São Vicente (Pq. Bitaru) - Santos (Ponta Praia) - (31/05/2011); 931 TRO - Praia Grande (Jd. Samambaia) - Santos (Paquetá) - (02/06/2011); 934 TRO - Praia Grande (T. R. U. Tatico Francisco G. Silva) - Santos (Paquetá) - (02/06/2011); 934 EX1 - Praia Grande (T. R. U. Tatico Francisco G. Silva) - Santos (Paquetá) via Praia Grande (T. Tude Bastos) Santos (A. C. Nébias) - (02/06/2011); 942 TRO - São Vicente (Humaitá) - Santos (Ponta Praia) - (01/06/2011); 943 TRO - São Vicente (Pq. Bandeirantes Gleba II) - Santos (Ponta Praia) - (01/06/2011). Quanto à Viação Bertioga, as linhas pesquisadas foram: 909 TRO - Guarujá (Ferry Boat) – Cubatão (Jd. Casqueiro) - (18/05/2011); 930/EX1 - Guarujá (Ferry Boat) – Bertioga (Riviera) - (20/05/2011); 930/EX2 - Santos (Caruara) – Bertioga (Riviera) - (18/05/2011). No que diz respeito à Viação Bertioga, segundo a referida pesquisa, o IQC desta empresa (4,41) obteve uma elevação de 8,4% em relação a 2010 (4,07), segundo o gráfico abaixo. Evolução do IQC da Viação Bertioga (2008-2011). 375 Fonte: Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (EMTU, 2011). De acordo com a mesma fonte, o índice subiu devido a uma redução do IRP (índice de reclamações por pesquisa), que passou de 1,55 (2010) para 1,47 (2011) e ao aumento da nota de pesquisa que passou de 5,62 (2010) para 5,88 (2011). No que diz respeito à Intersul Transportes e Turismo S.A., a linha pesquisada foi a 926 TRO - Peruíbe (T. Rod. Peruíbe) - Santos (T. Rod. Santos) (entre 24 e 25/05/2011). Em 2011 o IQC da Intersul (5,00) obteve uma elevação de 0,8% em relação a 2010 (4,96), segundo o gráfico abaixo. Evolução do IQC da Intersul Transportes (2008-2011). Fonte: Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (EMTU, 2011). Conforme o relatório da pesquisa, o índice subiu devido a uma diminuição de 5,3% no IRP (índice de reclamação por pesquisa) que passou de 1,51 (2010) para 1,43 (2011). Quanto à Translitoral, a linha pesquisada foi a 949TRO - Guarujá (Ferry Boat) - Santos (Caruara), entre 23 e 24/05/2011. O IQC da empresa em 2011 (5,69) subiu 5,0% em relação a 2010 (5,42), mantendo tendência de elevação, segundo o gráfico abaixo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Evolução do IQC da Translitoral (2008-2011). Fonte: Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (EMTU, 2011). O índice subiu devido à elevação de 3,1% na nota média da linha pesquisada e a uma redução de 6,4% do IRP (índice de reclamação por pesquisa) que passou de 1,10 (2010) para 1,03 (2011). No que concerne à Breda, a linha pesquisada foi a 910TRO - Peruíbe (T. Rod. Peruíbe) – Santos (T. Rod. Santos), entre 26 e 27/05/2011. Segundo a pesquisa, em 2011 o IQC da empresa (6,06) se manteve estável com queda de apenas 0,7% em relação a 2010 (6,10), segundo o gráfico ___ abaixo. Evolução do IQC da Breda (2008-2011). Fonte: Índice de Qualidade da Satisfação do Cliente (EMTU, 2011). Segundo a mesma fonte, essa queda ocorreu em virtude da diminuição de 0,5% na nota média da empresa, que passou de 7,29 (2010) para 7,25 (2011) mantendo também estabilidade. O IRP (Índice de Reclamações por Pesquisa) se manteve no mesmo patamar de 2010 com 1,19 reclamações por pesquisa. Portanto, a Viação Piracicabana, responsável pela maioria das linhas e pela pendularidade mais relevante, Santos-São Vicente, é a que possui a pior avaliação, o que reforça as decisões dos trabalhadores, no tocante à adoção de outros modais para deslocamento, inclusive com migração para o modal individual. Transporte Coletivo Intermunicipal 377 Todo o transporte intermunicipal de passageiros operado com ônibus, com exceção do transporte metropolitano avaliado acima, é centralizado na Estação Rodoviária de Santos, inaugurada em 1969, e localizada no Centro, junto ao Terminal de Integração de Passageiros “Rubens Paiva”, que concentra várias linhas do sistema municipal de ônibus. Segundo informação da CET Santos, que administra o equipamento, neste terminal são efetuadas cerca de 300 partidas por dia, nas quais embarcam uma média de 4.500 passageiros. A Estação é dotada de 15 plataformas cobertas e 7 para desembarque. Apesar de problemas de acessibilidade e falta de estrutura e conforto para recepção de passageiros, a localização deste terminal é estratégica, pois além de estar ao lado do Terminal de Integração e próximo a várias instituições públicas e privadas de importância regional, a Estação se encontra junto ao túnel Rubens Ferreira Martins, que garante a ligação viária com a região da orla, e ao lado do elevado Aristides Bastos Machado e da Avenida Getúlio Vargas, que garantem acesso ao Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI). Contudo, esta vantagem também se constitui num problema, pois, com exceção dos acessos a São Vicente pela orla e pela Zona Noroeste, além dos acessos marítimos a Guarujá, o SAI é a única alternativa de acesso a cidade, para Cubatão, para o eixo da SP-55 que liga Santos ao restante do litoral e para o planalto, que liga o município ao restante do país, conforme já discutido anteriormente. Como todas as linhas intermunicipais ingressam na cidade pelo SAI, via Avenidas Martins Fontes e Getúlio Vargas, todo o transporte intermunicipal está sujeito às condições de trânsito deste eixo viário, que é muito suscetível a congestionamentos provocados pelo trânsito de carretas com destino ao Porto de Santos70. A Estação Rodoviária recebe linhas de ônibus intermunicipais de várias regiões do interior do estado e do Brasil. A tabela a seguir apresenta as linhas intermunicipais de ônibus estaduais, com destino ou origem em Santos, conforme informado pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP), que regula este tipo de transporte em nível estadual, contendo, ainda, as respectivas distâncias percorridas, empresas operadoras e a média mensal de veículos alocados em cada linha. Segundo estes dados, pode-se observar que as linhas estaduais fazem ligação com cidades do Litoral Norte, da Região Metropolitana de São Paulo, em especial ABC e região de Mogi das Cruzes, além dos Vales do Ribeira e do Paraíba. Linhas intermunicipais com destino ou origem em Santos: Média mensal de veículos alocados. Autos Nome da Linha Distância total atual Nome da Empresa Itinerário 0994 SAO PAULO - SANTOS (Rodoviária) 75,8 ELUX SS EXPR.LUXO S.PAULO-SANTOS LTDA SAO PAULO - SANTOS 1025 SAO PAULO-SANTOS-SAO VICENTE 75,8 ULTRA S/A TRANSPORTES INTERURBANOS SAO PAULO - SANTOS 1025 SAO PAULO - SANTOS - SAO VICENTE(SERVICO EXECUTIVO) 75,8 ULTRA S/A TRANSPORTES INTERURBANOS SAO PAULO - SAO VICENTE 2767 SÃO CAETANO DO SULSANTOS-SÃO VICENTE-PRAIA GRANDE 82,3 VIACAO COMETA S/A SAO CAETANO DO SUL - SANTO ANDRE - SAO BERNARDO DO CAMPO - SANTOS - SAO VICENTE - PRAIA GRANDE 2767 SÃO CAETANO-SANTOS-SÃO VICENTE-PRAIA GRANDE(São Paulo-S.Mat) 80,5 VIACAO COMETA S/A SAO PAULO - SAO CAETANO DO SUL - SANTO ANDRE - SAO BERNARDO DO CAMPO - SANTOS SAO VICENTE - PRAIA GRANDE 3975 MOGI DAS CRUZES - SANTOS (Operada com veic.da Breda) 35,0 TRANSPORTES E TURISMO EROLES LTDA MOGI DAS CRUZES - SANTOS 70 Esta situação é ainda mais grave quando ocorrem os períodos de safra de soja e de açúcar, ou com chuvas fortes, pois a Avenida Martins Fontes, no Saboó, apresenta sérios problemas de drenagem, como já avaliado anteriormente. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 4311 SAO SEBASTIAO-SAO PAULO(VIA PIAÇAGUERA E RIO-SANTOS) 214,7 LITORANEA TRANSPORTES COLETIVOS LTDA SAO PAULO - BERTIOGA - SAO SEBASTIAO 4311 UBATUBA-SÃO SEBASTIÃOSAO PAULO(VIA PIAÇAGUERA/RIO/SANTOS) 161,0 LITORANEA TRANSPORTES COLETIVOS LTDA SAO PAULO - BERTIOGA - SAO SEBASTIAO 4669 SANTOS - CANANEIA 267,4 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA SANTOS - SAO VICENTE - PRAIA GRANDE MONGAGUA - ITANHAEM - PERUIBE - ITARIRI PEDRO DE TOLEDO - MIRACATU - JUQUIA REGISTRO - PARIQUERA-ACU - CANANEIA 4689 SAO PAULO - SANTOS - SAO VICENTE (TRECHO SAO PAULO - SANTOS) 75,8 VIACAO RAPIDO BRASIL S/A SAO PAULO - SANTOS 4689 SAO PAULO - SANTOS - SAO VICENTE (TRECHO SAO PAULO - SAO VIC 75,8 VIACAO RAPIDO BRASIL S/A SAO PAULO - SAO VICENTE 4689 SAO PAULO-SANTOS-SAO VICENTE(TRECHO SAO PAULOSANTOS(PONTA D 64,8 VIACAO RAPIDO BRASIL S/A SAO PAULO - SANTOS 5389 SANTOS - ELDORADO 248,0 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA SANTOS - SAO VICENTE - PRAIA GRANDE MONGAGUA - ITANHAEM - PERUIBE - ITARIRI PEDRO DE TOLEDO - MIRACATU - JUQUIA REGISTRO - JACUPIRANGA - ELDORADO 5614 ILHA COMPRIDA - SANTOS (VIA BIGUA) 213,0 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA ILHA COMPRIDA - IGUAPE - MIRACATU - PEDRO DE TOLEDO - ITARIRI - PERUIBE - ITANHAEM – MONGAGUA.- PRAIA GRANDE - SAO VICENTE SANTOS 6492 MOGI DAS CRUZES-SANTOSSAO VICENTE 146,7 VIACAO COMETA S/A PRAIA GRANDE - SANTOS - RIBEIRAO – PIRES SUZANO - MOGI DAS CRUZES 6492 MOGI DAS CRUZES-SANTOSS.VICENTE 69,0 VIACAO COMETA S/A SAO BERNARDO DO CAMPO - MOGI DAS CRUZES 6839 SAO PAULO-SANTOS-SAO VICENTE(TRECHO SAO PAULOSANTOS(PONTA D 75,8 VIACAO COMETA S/A SAO PAULO - SANTOS 6839 SAO PAULO-SANTOS-SAO VICENTE(TRECHO SAO PAULOSAO VICENTE(V. 75,8 VIACAO COMETA S/A SAO PAULO - SAO VICENTE 7230 REGISTRO - SANTOS(VIA BIGUÁ) 193,0 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA REGISTRO - JUQUIA - MIRACATU - PEDRO DE TOLEDO - ITARIRI - PERUIBE - ITANHAEM MONGAGUA - MONGAGUA - PRAIA GRANDE SAO VICENTE - SANTOS 7230 REGISTROSANTOS(PROL.DETER.HOR.ATÉ JACUPIRANGA) 224,0 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA SANTOS - SAO VICENTE - PRAIA GRANDE MONGAGUA - ITANHAEM - PERUIBE - ITARIRI PEDRO DE TOLEDO - MIRACATU - JUQUIA REGISTRO - JACUPIRANGA 7230 REGISTRO - SANTOS(VIA SETE BARRAS)(HORARIO COMPLEMENTAR) 227,3 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA REGISTRO - SETE BARRAS - JUQUIA - MIRACATU - PEDRO DE TOLEDO - ITARIRI - PERUIBE ITANHAEM - MONGAGUA - PRAIA GRANDE SAO VICENTE - SANTOS 7230 REGISTRO - SANTOS (Parcial Pedro de Toledo) 124,8 INTERSUL TRANSPORTES E TURISMO LTDA PEDRO DE TOLEDO - ITARIRI - PERUIBE ITANHAEM - MONGAGUA - PRAIA GRANDE SAO VICENTE - SANTOS 379 8302 SANTOS - CARAGUATATUBA 211,7 LITORANEA TRANSPORTES COLETIVOS LTDA SANTOS - GUARUJA - BERTIOGA - SAO SEBASTIAO - CARAGUATATUBA 9009 JUNDIAI - SANTOS - PRAIA GRANDE (CIDADE OCIAN) 166,0 EMPRESA SAO JOAO DE TURISMO LTDA JUNDIAI - SANTOS - SAO VICENTE - PRAIA GRANDE 9117 OSASCO-SANTOS(JOSE MENINO)-SAO VICENTE(VIA ROD.DOS IMIGRANTE 98,7 VIACAO COMETA S/A OSASCO - SAO PAULO - SANTOS - SAO VICENTE 9118 SUZANO - SANTOS(BERTIOGA) (Operada com veic.da Breda) 84,1 TRANSPORTES E TURISMO EROLES LTDA SUZANO - MOGI DAS CRUZES - SANTOS 9118 SUZANO - SANTOS(Operada com veic.da Breda) 32,7 TRANSPORTES E TURISMO EROLES LTDA MOGI DAS CRUZES - SANTOS 9253 RIBEIRAO PRETO-SANTOSS.VICENTE-PRAIA GRANDE 427,4 VIACAO COMETA S/A RIBEIRAO PRETO - SANTOS - SAO VICENTE PRAIA GRANDE 9297 SAO PAULO - SANTOS(PONTA DA PRAIA) 75,8 ULTRA S/A TRANSPORTES INTERURBANOS SAO PAULO - SANTOS 9297 SAO PAULO - SANTOS(PONTA DA PRAIA) (SERVICO EXECUTIVO) 75,8 ULTRA S/A TRANSPORTES INTERURBANOS SAO PAULO - SANTOS 9541 PRAIA GRANDE-SAO VICENTESANTOS-APARECIDA (ABCM.DAS CRUZES) 290,8 VIACAO COMETA S/A PRAIA GRANDE - SAO VICENTE - SAO BERNARDO DO CAMPO - RIBEIRAO PIRES - SUZANO - MOGI DAS CRUZES - GUARAREMA - JACAREI - SAO JOSE DOS CAMPOS - CACAPAVA - TAUBATE APARECIDA Fonte: ARTESP (2012). Elaboração: Instituto Pólis. As tabelas abaixo apresentam, respectivamente, a média mensal de passageiros transportados por trecho, nas linhas intermunicipais com destino ou origem em Santos, entre 1998 e 2011, entre os meses de temporada, dezembro a fevereiro, e nos demais meses. Verifica-se que, o fluxo entre Santos e São Paulo teve expressiva ampliação neste período e que este movimento não é afetado pela temporada, mantendo médias semelhantes em todos os meses. Na verdade, os deslocamentos entre Santos e a capital são ligeiramente superiores fora da temporada, demonstrando que os motivos de trabalho e estudo são efetivos. Também é importante destacar a grande redução da média mensal dos deslocamentos entre Santos e São Sebastião, o que pode significar um decréscimo das viagens por motivos profissionais ou de lazer, pois o fenômeno ocorreu na temporada e fora dela, embora a diferença entre as médias dentro e fora da temporada permaneça em torno de 25%, a favor das médias dos meses de temporada. Assim, observa-se que as viagens por motivo de lazer, para o Litoral Norte, ainda prevalecem, e pode-se considerar a hipótese de que durante este período surgiu alternativa mais interessante para a ligação entre estes municípios, provavelmente pelo planalto. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Média mensal de passageiros transportados por trecho nas linhas intermunicipais com destino ou origem em Santos (1998 a 2011, dezembro a fevereiro*). Trecho Município Inicial Passageiros Transportados Município Final 1998 1998/199 9 1999/200 0 2000/200 1 2001/200 2 2002/200 3 2003/200 4 2004/200 5 2005/200 6 2006/200 7 2007/200 8 2008/200 9 2009/201 0 2010/201 1 jan./fe v. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. dez. a fev. ARUJA SANTOS 150 29 28 14 21 18 - - - - - - - - BERTIOGA SANTOS - 305 888 1.248 1.309 1.211 1.099 943 1.034 1.033 503 1.000 750 503 CARAGUATATU BA SANTOS 2.694 1.502 1.572 1.735 1.675 1.615 1.560 1.372 1.457 1.488 1.538 1.495 1.444 1.247 DIADEMA SANTOS - - - - - - 69 - - - - - - - GUARUJA SANTOS - - - - - - - - - - - - - - GUARULHOS SANTOS 3.380 3.834 3.123 3.692 2.865 2.672 2.201 3.355 3.748 4.135 4.228 4.202 5.115 3.997 ITANHAEM SANTOS 2.040 1.901 678 441 569 1.057 987 952 1.284 748 863 1.326 1.270 1.203 MOGI DAS CRUZES SANTOS 21.775 12.456 14.708 12.025 15.148 15.552 16.206 17.442 22.752 24.413 21.319 22.998 17.662 27.745 MONGAGUA SANTOS 1.191 1.259 703 962 1.306 2.340 2.160 2.074 1.807 1.420 1.424 2.755 2.827 2.238 OSASCO SANTOS 5.889 6.244 5.804 5.593 4.783 7.029 3.117 4.468 3.436 4.461 3.176 4.040 3.679 2.159 PERUIBE SANTOS 2.087 1.450 396 311 417 848 788 774 587 282 352 586 582 465 PRAIA GRANDE SANTOS - - - - - 4 8 3 - - - - - - RIBEIRAO PIRES SANTOS - - - - - - - - 1.209 1.913 693 505 392 1.013 SANTA ISABEL SANTOS 11 - - - - - - - - - - - - - SANTO ANDRE SANTOS 6.916 4.851 3.711 5.602 6.392 6.165 6.392 10.095 9.222 8.631 802 3.819 3.824 4.807 SANTOS SAO BERNARDO 6.142 4.308 3.303 4.976 5.676 5.475 5.750 9.016 8.323 7.838 - 5.061 5.917 7.547 381 DO CAMPO SANTOS SAO CAETANO DO SUL 8.052 5.649 4.311 6.525 7.443 7.179 7.443 11.756 10.738 10.000 17.110 16.453 16.532 4.910 SANTOS SAO PAULO 66.520 71.383 64.335 83.839 91.000 4.305 87.086 107.334 122.988 113.695 113.800 100.344 118.645 110.693 SANTOS SAO SEBASTIAO 31.924 22.616 4.356 5.126 4.892 4.305 3.758 3.507 3.402 3.638 3.264 3.216 2.822 1.935 SANTOS SAO VICENTE - - - - - 2 20 3 - - - - - - SANTOS SUZANO 1.604 1.283 1.701 1.293 1.482 1.488 1.230 1.181 2.064 2.006 929 662 845 997 Fonte: ARTESP (2012). (*) Como não há dados referentes a 1997, é apresentada a média dos meses de janeiro e fevereiro de 1998, no início da série. Elaboração: Instituto Pólis. Média mensal de passageiros transportados por trecho nas linhas intermunicipais com destino ou origem em Santos (1998 a 2011, março a novembro). Trecho Município Inicial ARUJA Passageiros Transportados Município Final SANTOS 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. mar. a nov. 42 30 12 17 29 - - - - - - - - - Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 BERTIOGA SANTOS - 642 536 655 602 472 405 399 424 330 391 327 206 367 CARAGUATATUBA SANTOS 1.476 1.046 1.056 1.019 964 884 795 825 815 893 862 857 915 867 DIADEMA SANTOS - - - - - - - - - - - - - - GUARUJA SANTOS - - - - - - - - - - - - - - GUARULHOS SANTOS 2.904 2.566 2.385 2.092 2.148 1.982 2.243 2.741 2.746 3.338 3.024 3.604 3.835 5.798 ITANHAEM SANTOS 1.353 1.183 305 350 851 916 1.003 1.086 1.270 705 1.073 1.388 1.071 598 MOGI DAS CRUZES SANTOS 8.909 7.332 8.725 8.162 8.695 7.845 8.092 9.243 9.250 11.637 10.013 11.284 11.905 2.519 MONGAGUA SANTOS 793 823 796 790 1.898 2.020 2.180 2.381 1.339 1.694 2.114 3.024 2.178 1.190 383 OSASCO SANTOS 4.326 4.077 3.952 3.682 3.486 3.047 2.950 2.945 2.750 1.827 2.227 2.624 2.190 2.473 PERUIBE SANTOS 1.138 671 209 237 632 730 808 885 280 252 374 567 410 273 PRAIA GRANDE SANTOS - - - - - 2 12 - - - - - - - RIBEIRAO PIRES SANTOS - - - - - - - 423 662 349 245 290 92 1.225 SANTA ISABEL SANTOS 2 - - - - - - - - - - - - - SANTO ANDRE SANTOS 6.169 3.935 4.449 6.477 6.900 7.731 7.878 7.633 6.995 3.461 2.862 3.488 2.958 7.367 SANTOS SAO BERNARDO DO CAMPO 5.706 3.512 4.355 5.755 6.128 6.866 7.001 7.808 6.238 2.995 2.112 4.506 4.921 11.428 SANTOS SAO CAETANO DO SUL 7.469 4.552 5.185 7.538 8.035 9.001 9.173 8.888 8.148 9.936 10.895 12.909 11.038 4.050 SANTOS SAO PAULO 62.053 58.160 69.927 84.428 86.950 100.125 101.481 108.421 125.452 111.586 107.078 102.657 108.129 115.593 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 SANTOS SAO SEBASTIAO 23.352 3.550 3.567 3.240 2.912 2.586 2.200 2.150 2.216 1.941 1.891 1.730 1.587 1.522 SANTOS SAO VICENTE - - - - - 12 19 21 - - - - - - SANTOS SUZANO 774 737 884 729 710 556 528 792 875 736 424 344 299 822 SANTOS UBATUBA - - - - - - - - - - - - - - Fonte: ARTESP (2012). Elaboração: Instituto Pólis. 385 Estruturação do sistema de transportes hidroviários O transporte hidroviário estruturado em Santos liga vários pontos da cidade a locais distintos de Guarujá, fazendo a transferência de passageiros e veículos, conforme o sistema. Os sistemas mais importantes, em termo de carregamento, são o das balsas Santos-Guarujá, situado no bairro Ponta da Praia e sob responsabilidade da empresa estadual Desenvolvimento Rodoviário S/A (DERSA), e o das barcas entre o Centro da cidade e o distrito guarujaense de Vicente de Carvalho, operado pela mesma empresa. A imagem abaixo apresenta as principais travessias existentes e seus respectivos pontos de atracação. Observa-se que as ligações concentram-se entre Santos e Guarujá, com exceção da barca entre a estação da Alfândega e a Ilha Diana, na Área Continental de Santos, operada pela CET Santos. Na verdade, os sistemas de transportes que atendem os movimentos pendulares a oeste e norte de Santos são terrestres e os que atendem os movimentos a leste são hidroviários. Travessias hidroviárias Santos-Guarujá e Santos Insular-Ilha Diana. Fonte: DERSA e Prefeitura de Santos (2012).Elaboração: Instituto Pólis. Travessia com Balsas Santos-Guarujá O principal sistema de transporte hidroviário da Baixada Santista é o sistema de balsas que ligam Santos a Guarujá, respectivamente, entre os bairros Ponta da Praia e Santa Rosa. Este sistema, operado pela DERSA e conhecido como Ferry-Boat, funciona desde a primeira metade do século XX e se constitui em um grande gargalo para deslocamento de pedestres e veículos, em função das dificuldades de operação das balsas, que Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 cruzam o único acesso ao Porto de Santos, responsável por um quarto do comércio exterior brasileiro71. Em sua obra “O Plano Regional de Santos” (MAIA, 1950, p.170-186), o engenheiro Francisco Prestes Maia, que estudou exaustivamente diversas alternativas de ligação seca entre Santos e Guarujá, já apresentava muitas críticas ao sistema de balsas. Além do entrelaçamento entre o tráfego de balsas e de navios, que entram e saem do Porto, ainda há o tráfego de embarcações de pesca e de recreio, pois o acesso do lado de Santos situa-se ao lado do Terminal Pesqueiro Público de Santos (TPPS), e do lado de Guarujá, junto ao Iate Clube de Santos e de várias estruturas de lazer náutico. Agravando ainda mais este gargalo, as condições de acomodação das mangueiras de tráfego, em ambos os lados do sistema são bastante complexas, sobretudo no Guarujá, em que a caixa da Avenida Adhemar de Barros é muito exígua e o entrelaçamento com o trânsito local que acessa os bairros obrigou a Prefeitura a implantar um sistema especial de acesso às balsas72. Outro fator que concorre para prejudicar o funcionamento deste sistema é a ocorrência não muito frequente de neblinas, e que obriga a suspensão das travessias, por razão de segurança. Conforme apresentado na imagem abaixo, este sistema possui dois tipos de atracadouros: o convencional, em que as balsas acostam paralelamente em flutuantes, atracados em ambas as margens do canal, e o de “gaveta”, em que as balsas atracam perpendicularmente em darsenas dotadas de rampas de aço, com mecanismos de elevação, que garantem maior rapidez e segurança no embarque e desembarque de veículos. Atualmente existem duas “gavetas” em funcionamento, em cada lado do canal. Atracadouros do sistema de balsas Santos-Guarujá. Fonte: Google Earth 92012).Elaboração: Instituto Pólis. 71 Em 2009 e 2010, dois graves acidentes envolvendo navios cargueiros provocaram a paralisação do uso de parte dos atracadouros do lado do Guarujá, durante vários meses, em função dos danos provocados pelos abalroamentos sofridos. No segundo acidente, o Atracadouro 3, inaugurado em dezembro de 2009, e que havia custado cerca de R$ 8 milhões foi seriamente danificado. No ano anterior, todo o sistema já havia sido reformado, em razão de um acidente envolvendo um navio, um veleiro, dois barcos de recreio e uma balsa. 72 A bateria de cabines de cobrança das tarifas do sistema situa-se do lado de Guarujá. 387 O sistema de balsas Santos-Guarujá opera basicamente dois tipos de embarcações: balsa para veículos e balsa mista, que também transporta passageiros. Os veículos transportados são bicicletas, motocicletas, automóveis, ônibus que não operam os sistemas públicos, utilitários e caminhões até três eixos. As bicicletas e seus condutores são isentos de pagamento e os passageiros sem veículos pagam tarifa de R$ 2,30, na ida e na volta. Automóveis, motocicletas e caminhões de dois e três eixos pagam, respectivamente, R$ 9,10, R$ 4,60, R$ 32,20 e R$ 73,40, somente na volta, do lado de Guarujá. Segundo dados da DERSA, apresentados nos gráficos abaixo, nas balsas que transportam unicamente veículos, cujo percurso é denominado SGU, houve uma ampliação de 25,2% do número total de veículos transportados, entre 2002 e 2011, enquanto o número de viagens foi reduzido em 27,3%, revelando a expressiva ampliação do número de viagens e o significativo aumento da capacidade do sistema. Observa-se, ainda, que o número de idas ampliou-se mais do que voltas, aumentando a diferença entre ambas. Isto indica que estas balsas do sistema estão sendo utilizadas mais para deslocamentos não pendulares, ou que os usuários adotam outros modais para realizar o retorno, pois o pagamento da tarifa só é realizado na volta, do lado de Guarujá. Travessia SGU: Número total anual de viagens (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Travessia SGU: Número total anual de veículos transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Se forem analisados os dados referentes a cada tipo de veículo transportado, conforme as tabelas apresentadas a seguir, pode-se observar que esta ampliação de viagens não pendulares ou decorrentes de outra opção de retorno foi maior por meio de automóveis, cujo aumento total foi da ordem de 25,2%, entre 2002 e 2011, e de bicicletas apresentou relevante inversão73, sendo que ambos os meios apresentaram oscilações durante o período. No caso do transporte de bicicletas, cujo pagamento é isento, houve um expressivo aumento de viagens entre 2004 e 2006, com oscilação após este ano, até que o número total, em 2011, tenha voltado a praticamente o mesmo valor de 2002. No entanto, houve uma inversão na não pendularidade ou do não retorno, pois nos últimos três anos levantados, o número de voltas foi sempre bem maior, inversamente ao que ocorria até 2007. Como nem ciclistas, nem bicicletas são sujeitos a pagamento da tarifa, esta inversão não pode ser avaliada da mesma forma que os outros tipos de veículos. Além disso, como será verificado adiante, no caso da travessia de bicicletas pelas balsas mistas, a volta foi ligeiramente superior em 70% dos anos pesquisados. Uma hipótese para explicar a oscilação no número de bicicletas transportadas, entre 2007 e 2011 pode estar no desempenho da economia, pois o ano de 2008 marcou uma inflexão na curva acentuada de crescimento, para depois haver uma suave recuperação. Contudo, no caso das balsas mistas este movimento não ocorreu. De qualquer forma, a redução nas balsas não mistas pode ter ocorrido em função de que grande parte dos usuários de bicicletas trabalha na construção civil, que acusa mais rapidamente as crises econômicas. Ainda assim, não há uma explicação muito clara para a inversão da não pendularidade ou do não retorno, em função de mais ciclistas estarem usando o sistema, no sentido Guarujá. No mesmo intervalo de tempo houve uma grande ampliação do número de viagens de motocicletas, da ordem de 44,0% e redução dos outros tipos de veículos transportados. A ampliação das viagens com motocicletas é coerente com a ampliação da frota deste tipo de veículo nas cidades da região. Este aumento deve ter maior influência de Guarujá, pois o número de motocicletas vem aumentando mais em municípios em que a renda média é menor. 73 Segundo a DERSA, o registro de bicicletas ainda não é automatizado e por isso não é inteiramente confiável, pois é feito por meio de roletas, sendo que é possível que os ciclistas acionem duas vezes a roleta, em determinadas circunstâncias. 389 Uma hipótese para a ampliação de viagens sem retorno pela balsa é a maior utilização da rodovia Cônego Domenico Rangoni, SP-55, passando pela Área Continental de Santos e por Cubatão, para acessar a área insular, sem pagar tarifa, pois a mesma só é cobrada do lado de Guarujá. Isto já ocorria com os automóveis, no início do período estudado e passou a ocorrer com as motocicletas a partir de 2008, quando se iniciou a crise econômica. No caso dos automóveis, esta diferença foi ampliada sensivelmente, demonstrando que muitos motoristas têm optado por retornar a Santos via Cubatão, apesar dos gargalos viários existentes neste percurso, ecomizando, assim, o pagamento da tarifa ou evitando as longas filas que costumam se formar do lado de Guarujá, no final da tarde. Travessia SGU: Número anual de bicicletas transportadas (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Travessia SGU: Número anual de motocicletas transportadas (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Travessia SGU: Número anual de automóveis transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. No que concerne ao número de ônibus, caminhões e veículos oficiais, destaca-se que apenas este subsistema transporta estes tipos de veículos. Conforme apresentado pelos gráficos seguintes, houve queda no número de caminhões transportados, no período em análise, e reduziu-se o diferencial entre ida e volta, favoravelmente a primeira. Esta situação indica, também, a utilização da SP-55 como acesso a Santos. No caso dos veículos oficiais, há um grande descompasso entre ida e volta, que se manteve durante todo o período, além de ter havido certa regularidade no número total de veículos transportados, sobretudo nos últimos anos. Travessia SGU: Número anual de ônibus e caminhões transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. 391 Travessia SGU: Número anual de veículos oficiais transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. A travessia cujo percurso é denominado SGUM, é operada por balsas mistas que transportam automóveis, bicicletas e pedestres, realizando o mesmo percurso que a travessia SGU, apresentada anteriormente. Este subsistema diferencia-se, também, pelo tipo de embarcação utilizada. Segundo dados da DERSA, apresentados a seguir nos gráficos observa-se que, ao contrário do trajeto SGU, este apresentou ampliação do número de viagens, embora o número de viagens ampliado tenha sido menor, com relação ao que ocorreu com SGU. Uma explicação para isto pode estar nos acidentes com os atracadouros do sistema SGU, que podem ter obrigado a DERSA a direcionar os veículos ao sistema SGUM, em horários de retorno. Travessia SGUM: Número total anual de viagens (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 De acordo com o gráfico abaixo, verifica-se que este subsistema carrega menos do que a metade de veículos transportados pelo SGU, o que pode ser explicado, em função da agilidade para atracação com o uso das “gavetas”, no caso deste último. Além disso, as oscilações do número de veículos transportados, apresentadas durante o período analisado, são distintas das apresentadas pelo subsistema SGU. Enquanto este cresceu até meados da década para declinar durante a crise de 2008 e 2009, recuperando-se em 2010, o subsistema SGUM manteve-se praticamente estável e foi ampliado justamente nos anos de crise econômica, o que talvez possa ser explicado pelos mencionados acidentes. Travessia SGUM: Número total anual de veículos transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. No que diz respeito ao número de passageiros transportados, verificou-se uma redução significativa, ao longo do período, além a diminuição do diferencial entre idas e voltas. Como não houve ampliação no transporte de bicicletas, as explicações podem estar na ampliação do índice de motorização, especialmente no que concerne ao uso de motocicletas, ou a migração de passageiros para a travessia operada pela empresa Barcas Santos-Guarujá, situada junto às balsas, em ambos os lados do canal. Se a evolução desta opção de viagem for comparada com a travessia de barcas, também operada pela DERSA, que liga o Centro de Santos a Vicente de Carvalho, em Guarujá, como será apresentado adiante, parece que esta redução restringiu-se a esta travessia. No caso desta última, houve estabilidade no número de passageiros transportados, durante todo o intervalo de tempo analisado. Travessia SGUM: Número anual de passageiros transportados (2002-2011). 393 Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. No que concerne às travessias de bicicletas, as balsas mistas carregam praticamente o triplo de veículos, com relação ao subsistema SGU, e as oscilações por este apresentadas, não foram verificadas, embora nos anos de crise econômica estas tenham registrado uma discreta ampliação, ao contrário do que ocorreu com as balsas mistas. Uma hipótese é que esta modalidade de embarcação venha sendo utilizada pela DERSA em sua capacidade máxima, e a modalidade não mista venha sendo utilizada para absorver o excedente, sendo assim sujeita as oscilações. Travessia SGUM: Número anual de bicicletas transportadas (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Quanto à travessia de motocicletas, nas balsas mistas, o número de veículos é quase marginal, se comparado ao transportado pelas outras balsas, mesmo se considerados os anos de 2005, 2008 e 2009, em que ocorreram expressivos aumentos. Cabe ressaltar, no entanto, que o descompasso entre idas e voltas foi surpreendente nestes anos, e pode ter explicação em alguma mudança na operação de ambos os sistemas, por parte da DERSA. Travessia SGUM: Número anual de motocicletas transportadas (2002-2011). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. No que tange aos automóveis transportados, este subsistema é utilizado como complementar ao SGU, com carregamento em torno de 10% daquele. Contudo, a ampliação do número de veículos transportados nos últimos anos ocorreu inversamente ao que sucedeu com a SGU, o que pode significar que o subsistema SGUM é responsável pelos excedentes do outro, o qual trabalha no limite, explicando assim sua regularidade. E os acidentes ocorridos podem ter obrigado a empresa a direcionar este tipo de veículo ainda mais para este subsistema. No entanto, o diferencial entre idas e voltas é semelhante em ambos os tipos de embarcação, o que reforça a hipótese da utilização da SP-55 como opção de retorno a Santos. Travessia SGUM: Número anual de automóveis transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Travessia com Barcas Alfândega de Santos-Vicente de Carvalho A outra travessia operada pela DERSA, cujo percurso é denominado SVI, liga o Centro de Santos ao bairro de Itapema, no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, se acordo com a imagem. Esta travessia é realizada por barcas que transportam passageiros e também bicicletas e seus condutores, que pagam tarifa total de R$ 2,30, ida e volta, ou de R$ 1,15 em cada lado da travessia. Assim, este sistema não é sujeito às oscilações 395 entre ida e volta como os sistemas SGU e SGUM, podendo ser explicado o diferencial entre ambas mais pela ocorrência de viagens não pendulares. Do lado de Santos, o acesso ao atracadouro, situado em frente à Alfândega, na Praça da República, apresenta sérios obstáculos à acessibilidade, como se observa na imagem abaixo. Os passageiros, para chegar ao atracadouro, são obrigados a cruzar a Rua Xavier da Silveira, cujo trânsito rodoviário e ferroviário de carga é intenso, ou submeter-se a utilizar a passarela que não possui qualquer condição de receber portadores de deficiência e pessoas com dificuldade de locomoção. Esta passarela também interfere na visualização do edifício da Alfândega, que compõe o conjunto de imóveis protegidos da área envoltória das Igrejas e Convento do Carmo, assim como da Casa do Trem Bélico, conjuntos tombados pelo IPHAN, CONDEPHAAT e CONDEPASA. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Acesso ao atracadouro das barcas Santos-Vicente de Carvalho, no centro de Santos. Fonte: Instituo Pólis (2011). A imagem abaixo apresenta a embarcação utilizada pela DERSA, para esta travessia, que é do tipo catamarã (com dois cascos). No fundo, vê-se o edifício da Alfândega de Santos. Barca operada pela DERSA atracada na estação das barcas Santos-Vicente de Carvalho. Fonte: Instituo Pólis (2011). 397 Segundo dados da DERSA, apresentados nos gráficos a seguir, o número de viagens manteve-se estável, com pequenas oscilações na segunda metade da década. Mas em 2011 houve uma queda acentuada. Mas como o número de passageiros transportados até apresentou ampliação, neste ano, pode-se considerar que houve significativo aumento de capacidade do sistema, neste último ano. Ressalta-se, ainda, que o número de passageiros transportados na travessia SVI é muito superior ao da travessia SGUM, na Ponta da Praia, a qual representa apenas cerca de 2,0% da primeira, demonstrando a grande importância deste sistema para os moradores de Vicente de Carvalho que se dirigem a Santos. Também é importante destacar que houve uma inversão no saldo entre idas e voltas, sendo que a partir de meados do período o número de idas, que era inferior, ultrapassou o de voltas. Travessia SVI: Número total anual de viagens (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012. Elaboração: Instituto Pólis. Travessia SVI: Número anual de passageiros transportados (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Quanto ao número de bicicletas transportadas pelas barcas do sistema SVI, este representa cerca de 25,0% do número transportado pela soma dos sistemas SGU e SGUM, tendo se verificado uma ligeira queda, nos Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 últimos anos. Este fator pode estar ligado à ampliação do índice de motorização da população. E no que respeita à proporção entre idas e voltas, houve uma inversão entre idas e voltas, de forma semelhante ao que ocorreu com os passageiros, o que é coerente. Travessia SGUM: Número anual de bicicletas transportadas (2002-2011). Fonte: DERSA, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Travessia com Barcas Santos-Guarujá Esta travessia cujo trajeto liga os bairros Ponta da Praia, em Santos, e Santa Rosa, em Guarujá, com estação situada junto ao Shopping Ferry Boat´s Plaza, é apresentado no mapa ___. A referida travessia é operada pela empresa Barcas Santos Guarujá S/C Ltda. Transporte Marítimo Coletivo, segundo a qual, atualmente são utilizadas 7 embarcações, que transportam exclusivamente passageiros, durante 24 horas por dia. Segundo a mesma fonte, atualmente a tarifa do sistema é de R$ 2,30, sendo cobrada apenas do lado do Guarujá. De acordo com a empresa, o número de embarcações e a frequência das viagens variam conforme o horário, conforme apresentado na tabela abaixo. Embora a empresa não informe os dados desagregados em idas e voltas, é possível inferir que o maior movimento do sistema concentra-se nos horários de ida a Santos, no início da manhã, e de volta a Guarujá, no final da tarde e início da noite, atendendo aos deslocamentos pendulares entre ambos os municípios, conforme já mencionado anteriormente. Travessia Barca Santos-Guarujá: Número de embarcações e frequência de viagens Horário Número de embarcações Frequência de viagens 00,00 á 1,00 1 10 em 10 minutos 1,00 as 4,00 1 14 em 14 minutos 4,00 as 5,00 1 10 em 10 minutos 5,00 as 6,00 2 5 em 5 minutos 6,00 as 7,00 3 4 em 4 minutos 7,00 as 9,00 4 3 em 3 minutos 9,00 as 16,00 3 4 em 4 minutos 16,00 as 19,30 4 3 em 3 minutos 19,30 as 21,00 3 4 em 4 minutos 21,00 as 24,00 2 5 em 5 minutos Nota: Podem ocorrer variações na frequência e duração da viagem devido ao fluxo de entrada e saída de navios do Porto ou a fenômenos da natureza. 399 Fonte: Barcas Santos Guarujá S/C Ltda. Transporte Marítimo Coletivo, 2012. Elaboração: Instituto Pólis. Segundo a empresa operadora deste sistema, de acordo com a tabela abaixo, esta travessia transporta cerca de 50% dos passageiros transportados pela travessia por meio das Barcas Alfândega de Santos-Vicente de Carvalho (SVI). De modo semelhante ao da travessia Alfândega-Itapema, o movimento de passageiros cresceu nos últimos anos do período estudado e apresentou redução entre 2004 e 2005. Desta forma, é possível afirmar que a pendularidade entre ambos os municípios apresentou um ritmo de crescimento homogêneo em todas as travessias hidroviárias, nos últimos anos. Travessia Barca Santos-Guarujá: Número de embarcações e frequência de viagens Ano Número de Passageiros Transportados 2002 2.084.780 2003 2.178.480 2004 1.916.740 2005 1.922.943 2006 2.056.370 2007 2.027.810 2008 2.094.012 2009 2.249.445 2010 2.354.170 2011 2.402.220 Fonte: Barcas Santos Guarujá S/C Ltda. Transporte Marítimo Coletivo, 2012.Elaboração: Instituto Pólis. Travessia com Catraias Santos – Vicente de Carvalho A travessia entre a Bacia do Mercado, em Santos, e o bairro do Itapema, em Vicente de Carvalho, cujo percurso é apresentado no mapa, é uma das mais antigas. Este trajeto já foi muito mais importante, em função da dependência da população do distrito com relação ao mercado de trabalho e o setor terciário de Santos. Contudo, a partir da década de 1990 houve uma significativa ampliação da base econômica do distrito guarujaense, o que resultou na formação de um terciário relevante, que foi responsável por reduzir a pendularidade existente. Além disso, deve-se atribuir a redução do número de passageiros transportados à construção da Rodovia Cônego Domenico Rangoni, conhecida como Piaçaguera-Guarujá, no eixo da SP-55, que possibilitou uma alternativa de ligação rodoviária entre as cidades e encurtou a distância com Cubatão, importante fator de atração de mão-de-obra. Antes da implantação desta ligação, os operários residentes em Vicente de Carvalho, que trabalhavam no pólo industrial, atravessavam o canal do porto pelas catraias, até o Mercado, para fazer o transbordo em ônibus fretados. A utilização deste sistema também possui um significativo valor turístico e cultural, sobretudo pela transposição do trecho entre a Bacia e o cais dos Outeirinhos, em Santos, onde as catraias passam sob as lajes do cais. Em condições de maré alta esta travessia apresenta riscos de acidentes, sendo suspensa, quando o nível é muito elevado. Esta travessia é operada por catraieiros vinculados à Associação dos Mestres Regionais Autônomos do Porto de Santos. Segundo a própria entidade, a Associação possui 65 sócios e 80 vagas, divididas em duas turmas com 40 embarcações cada, numeradas de 01 a 40 e 41 a 80. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Assim, um dia operam as catraias da primeira turma e no dia seguinte a outra, 24horas por dia e assim sucessivamente. Conforme a mesma fonte, cada embarcação transporta 17 passageiros por viagem e a tarifa é de R$ 1,15 a ida e R$ 2,30 a volta. De acordo com a Associação, o número anual de passageiros transportados, nos últimos dez anos é de 10.000, com variações para mais ou para menos. A tabela apresentada abaixo contém a evolução do número de passageiros transportados pelo sistema, em 2001. Segundo estes dados, o número de passageiros transportados em janeiro e fevereiro é inferior ao dos demais anos, indicando que o período de férias escolares afeta o movimento do sistema. O mês de julho também apresentou redução, oque reforça esta hipótese, embora esta tenha ocorrido em menor intensidade. O mês de abril foi uma exceção, pois registrou número de passageiros inferior ao de julho. Número mensal de passageiros transportados pelo sistema de catraias Santos-Vicente de Carvalho (2001). Mês JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Número de passageiros 213.367 233.355 294.096 240.787 290.816 270.317 256.515 295.408 282.592 276.591 273.738 276.372 Fonte: Associação dos Mestres Regionais Autônomos do Porto de Santos (2012). Travessia com Catraias Santos Santa Cruz dos Navegantes Conforme apresentado no mapa, o transporte de passageiros entre Santos e Santa Cruz dos Navegantes, comunidade situada em Guarujá, na margem esquerda, da entrada do canal do Porto, ocorre por meio de catraias, que partem da Ponte Edgard Perdigão, no bairro da Ponta da Praia. O trajeto é de cerca de 600,0 metros e leva cerca de 3 minutos para ser percorrido, em condições normais. Esta travessia é operada por catraieiros vinculados à Associação dos Catraieiros da Praia Santa Cruz dos Navegantes. Travessia com Catraias Santos – Praia do Góes A travessia entre Santos e a Praia do Góes, localizada em Guarujá, um pouco mais para fora da entrada do canal do Porto, com relação a Santa Cruz dos Navegantes, de acordo com o mapa ___, também é realizada por catraia, a partir da Ponte Edgar Perdigão, de onde também partem embarcações para a Fortaleza da Barra Grande e atracam embarcações de pesca e de turismo. De acordo com informações da Secretaria de Turismo da Prefeitura de Santos, assim como os moradores de Santa Cruz dos Navegantes, os cerca de 400 habitantes da Praia do Góes possuem vínculos de trabalho ou estudo em Santos, demandando este tipo de travessia. Além de moradores, uma média de 1.000 turistas se utiliza da travessia para a referida praia, diariamente, sobretudo em período de temporada e feriados. Segundo a mesma fonte, este sistema é operado pela empresa Barcos Fortaleza I, com apenas uma embarcação, cuja capacidade é de 25 pessoas, e faz esse trajeto a cada hora, das 5:00 às 23:00 horas, sendo que das 11:00 às 14:00 horas, o número de passageiros transportados é maior, o que obriga a redução do tempo entre as viagens para meia hora. O valor da passagem é R$ 2,30, sendo cobrada apenas do lado do Guarujá. Em condições climáticas adversas, assim como ocorre com a travessia para Santa Cruz dos Navegantes, a operação é suspensa, por motivo de segurança, apesar das melhorias promovidas no atracadouro, pela Prefeitura de Santos. Neste aspecto, é importante ressaltar que, nos últimos anos, as ressacas têm sido mais freqüentes, prejudicando em muito estas travessias. 401 Barca Centro - Ilha Diana A travessia entre o centro de Santos e a Ilha Diana, na Área Continental do município, segundo o mapa ___, é realizada a partir da estação de embarque situada no cais da Alfândega, junto à estação das barcas da DERSA. A embarcação que faz este trajeto é operada pela CET Santos e atende às cerca de 50 famílias que vivem na Ilha, com capacidade para 45 pessoas, além da tripulação. A tarifa atual é de R$ 0,50, sendo este o preço único para o percurso de ida e volta. A viagem leva cerca de 30 minutos e tem uma parada na Base Aérea de Santos, no Guarujá. As viagens iniciam-se diariamente às 6:20 horas e seguem até 22:00 horas. Aos sábados as viagens terminam mais cedo, 18:30 horas, e aos domingos e feriados às 17:30 horas. Estudos de ampliação do transporte hidroviário de passageiros na RMBS No início da década de 1990, a Prefeitura de Santos tentou introduzir uma ligação hidroviária entre o Centro e a Zona Noroeste, sem obter êxito. Alguns anos mais tarde, a Prefeitura de São Vicente também estudou alternativas para ligação hidroviária das áreas Insular e Continental com o bairro Casqueiro, em Cubatão. Estes estudos também não produziram consequências práticas. Em 2004, governo do estado, Assembleia Legislativa, Prefeitura e Câmara Municipal realizam, em Guarujá, o 1º Fórum de Transporte Aquaviário do Litoral Paulista. Do evento participaram os secretários estaduais de Transportes e de Transportes Metropolitanos. O objetivo foi discutir a viabilidade do transporte de passageiros por meio de barcos na Baixada Santista, utilizando as águas do o estuário e os rios que compõem a Bacia Hidrográfica da Baixada Santista. Neste mesmo ano, a DERSA, apresentou os estudos preliminares para implantação de cinco linhas intermunicipais para transporte de passageiros por meio de barcos. As cinco rotas atenderiam Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Bertioga. Porém, para que o serviço fosse implantado, seria necessária articulação com as Prefeituras. Na ocasião, a foi encaminhada ao Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (CONDESB), principal órgão regional. Segundo o estudo, para os usuários, a alternativa representaria uma economia de até 50% no gasto mensal com o transporte intermunicipal porque, na maioria dos casos, a viagem de barco levaria o passageiro direto ao seu destino, evitando que ele tivesse que fazer a transferência para outro modal, para chegar ao destino. Outra vantagem seria a redução do nível de poluição atmosférica, a partir da queda na emissão de monóxido de carbono emitidos pelos ônibus. De acordo com a DERSA, dos cinco projetos em análise, o que atenderia o maior contingente de passageiros seria a ligação por barcos entre Vicente de Carvalho, em Guarujá, e a Ponta da Praia, em Santos. A estimativa é que essa linha transportasse pelo menos três mil passageiros por dia, com possibilidade de crescimento da demanda. Essa rota também seria a de mais fácil implantação porque as estações de embarque e desembarque já estão prontas, tanto em Vicente de Carvalho quanto no atracadouro das balsas, em Santos. Em 2009, as prefeituras de Cubatão e São Vicente chegaram a retomar o assunto, anunciando um estudo para avaliar esta possibilidade. Contudo, não se tem notícia de que tal trabalho tenha sido realizado. Ainda assim permanece a ideia de dar aproveitamento aos muitos corpos d’água da região, para ampliar o sistema de transporte hidroviário, hoje limitado praticamente à ligações entre Santos e Guarujá. Por sua vez, o CONDESB anunciou recentemente que pretende contratar um estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental para ampliação do transporte hidroviário na região. Para esta finalidade foi criada uma Câmara Temática Especial do Sistema Hidroviário Regional. Desta forma, desde 2011 (AGEM, 2011) o CONDESB avalia a elaboração de um Termo de Referência para contratação do estudo mencionado. Contudo, para reduzir o custo deste estudo, avaliado em cerca de R$ 1.500.000,00, a Câmara Temática decidiu utilizar como base os estudos já realizados pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), sobre o tema, cujo foco é o transporte de cargas e realizado em 2010, conforme a imagem apresentado a seguir. Este estudo deverá apontar quais os canais são realmente aproveitáveis para este tipo de transporte, em função de largura, profundidade e da demanda. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Estudo do Complexo Hidroviário da Baixada Santista. Fonte: Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos (CODESP, 2012, p.64). Em 2011, foi realizado um seminário sobre o assunto, com participação de prefeituras, empresas e Ministério Público, e algumas propostas chegaram a ser apresentadas. O município de Santos apresentou duas propostas: ligação do Centro com a Zona Noroeste e Centro com Área Continental. No entanto, as condições de navegabilidade dos corpos d’água da região são muito discutíveis, pois o assoreamento é expressivo em função do transporte de sedimentos da Serra do Mar e também pela existência de interferências como pontes e dutos, que limitam a altura livre das embarcações, em situações de maré alta. Além disso, é necessário prever estruturas de atracação, sistemas de bilhetagem e controle de acesso, integração com outros modais e a alternativa tecnológica mais indicada, para escolha das embarcações. Desta forma, é possível prever que os custos econômicos e ambientais de implantação destes projetos sejam elevados. A figura abaixo apresenta o conjunto de percursos hidroviários que vêm sendo discutidos na região, segundo reportagem sobre o tema, publicada pelo jornal A Tribuna (ESTUDOS, 2012). 403 Percursos hidroviários discutidos na RMBS. Fonte: Jornal A Tribuna, 18 mar. 2012, p. A-4. 9.4 Cobertura do sistema de transportes cicloviários A cidade de Santos possui um sistema cicloviário implantado em vias de sua Área Insular, que possuem grande carregamento, sem ainda alcançar uma cobertura satisfatória. Este sistema, que segundo a Prefeitura possui um total de 30.430 m, começou a ser concebido no início dos anos 1990 e até hoje não foi concluído. Devido à consolidação do sistema viário da cidade e à complexidade da implantação dos projetos, em função das interferências existentes, a implantação do sistema avançou lentamente, nas últimas décadas. A primeira ciclovia a ser implantada, na primeira metade da década de 1980, situava-se sobre a faixa da adutora da SABESP, na Avenida Martins Fontes, na entrada da cidade. Esta ciclovia não possuía sinalização adequada, nem se conectava a outras, sendo absolutamente isolada. Na década passada esta ciclovia foi extinta, e no mesmo trecho construiu-se outra, no centro da via e mais extensa, com 1.680 m e identificada com o número 1, na imagem abaixo, a qual se conecta com a ciclovia recém-implantada na Rua São Leopoldo, entre as Praças Lions e dos Andradas (número 2). No início dos anos 1990, a Prefeitura construiu uma ciclofaixa na atual Avenida Mário Covas Júnior, antiga Avenida dos Portuários, identificada com o número 11, no mapa. Com o total de 3.050 m de extensão, esta via, que liga a Praça Almirante Gago Coutinho, na Ponta da Praia, à Av. Siqueira Campos (Canal 4), no Macuco, passou por obras de adaptação, tendo implantada pista segregada das faixas de rolamento de veículos, construção de calçadas, guias de concreto e asfaltamento da pista de bicicletas. As duas maiores ciclovias de Santos fazem a ligação na direção leste-oeste, respectivamente nos eixos ao longo da praia, entre a divisa com São Vicente até a Avenida Mário Covas Júnior, com 7.874 m e identificada com o número 7, e nas avenidas General Francisco Glicério e Afonso Pena, com 6.250 m, com o número 10. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Estas ciclovias foram implantadas no início e no final da década passada, sendo que a ciclovia número 10 substituiu, parcialmente, uma ciclovia existente ao longo da Avenida Afonso Pena, construída em meados da década de 1990 e que apresentava vários problemas técnicos de implantação. O último trecho da ciclovia da praia a ser implantado, em meados da década passada, situa-se entre a divisa com São Vicente e o Emissário Submarino. Este trecho é o mais carregado, pois absorve todo o trânsito de ciclistas provenientes de São Vicente. Contudo, ao optar pela implantação entre as pistas da Avenida Presidente Wilson, a Prefeitura teve que conceber uma solução inadequada para conexão deste trecho, que possui 600 m, com o restante da ciclovia da orla. Esta solução vem causando sérios problemas de mobilidade, em um dos principais gargalos viários da cidade, a divisa com São Vicente, na orla. Isto ocorre porque a pista da ciclovia cruza a pista sul da Avenida, obrigando a CET a ampliar o tempo semafórico, de forma acomodar o grande contingente de ciclistas nos horários de pico. Em função deste problema, a Prefeitura está revendo o projeto e este trecho deve ser extinto, após a construção de um novo trecho a ser construído junto à praia, atrás da fileira de edifícios situada na divisa. Esta solução eliminará o cruzamento da ciclovia com a avenida, reduzindo o tempo semafórico. Sistema Cicloviário de Santos. Fonte: Prefeitura de Santos, 2012. Elaboração: Instituto Pólis. Na década passada foi implantada a ciclofaixa na Avenida Rangel Pestana, número 9 no mapa, que liga as ciclovias das Avenidas Ana Costa e Senador Pinheiro Machado, à Rua Brás Cubas, na Vila Mathias. Esta via possui um total de 476 m e situa-se no canteiro central, sobre o canal de drenagem coberto na década de 1940. Na segunda metade da década passada foi construída a ciclovia de número 5, que conecta a ciclovia da entrada da cidade ao túnel Rubens Ferreira Martins e ao sistema viário da Zona Leste, passando pela Praça 405 dos Andradas, no Centro e alcançando a Praça Dutra Vaz, em frente à Santa Casa, no Jabaquara. Esta ciclovia possui extensão de 1.600 m. Em 2011 foi concluída a ciclovia número 8, ao longo da Avenida Ana Costa, que conecta o centro e a orla marítima. Esta via possui 3.500 m e possui alguns trechos de difícil execução, em função da necessidade de preservar o conjunto de palmeiras existentes no canteiro central do logradouro, onde foi implantada. Por esta razão, em alguns pontos, esta ciclovia apresenta a pista de circulação de mão dupla muito estreita. Próxima à orla, esta ciclovia possui largura total de 1,65 m, restando espaço útil para acomodação de duas bicicletas em sentidos opostos aquém das normas de segurança74. Além disso, algumas intersecções com faixas de pedestres, no Gonzaga, onde o movimento é mais intenso, apresentam problemas de espaço inadequado para acomodação dos transeuntes. Por este motivo, em alguns pontos de mão dupla foram instalados gradis. Praticamente concluída, a ciclovia de número 6, ao longo da Avenida Senador Pinheiro Machado (Canal 1), também conecta o Centro à orla e possuirá extensão total de 3.000 m, após a conclusão dos 500 m restantes, no trecho entre as ciclovias das Avenidas General Francisco Glicério e da praia. Esta obra teve atraso de execução em função da autorização do CONDEPHAAT, devido ao tombamento do sistema de canais de drenagem da Zona Leste de Santos. Segundo informação da Prefeitura, a próxima ciclovia a ser implantada é a de número 3, com 3.360 m de extensão, na Avenida Nossa Senhora de Fátima, ligando a ciclovia da Avenida Martins Fontes, na entrada da cidade, com a divisa interior com São Vicente. Esta ciclovia, em fase de licitação, será a primeira a ser implantada na Zona Noroeste, região habitada predominantemente por famílias de média e baixa renda. Portanto, este projeto possui grande importância social e será implantado com bastante atraso, pois a população da Zona Noroeste possui menor índice de motorização. Contudo, em função da caixa da via ser limitada e da necessidade de manter as faixas de rolamento em ambas as pistas, esta ciclovia também deve ser mais estreita do que recomenda a norma. Este é um problema que deve ser considerado, pois esta, juntamente com a ciclovia da Avenida Mário Covas Filho, será a ciclovia mais suscetível à convivência com o trânsito de veículos de carga. Em função desta situação, devem ser colocadas grades com 1,2 m de altura para proteção do usuário, solução que possui inconveniente em termos de manutenção. No tocante à cobertura do sistema, observa-se que áreas importantes da cidade ainda não possuem oferta de ciclovias ou ciclofaixas. Neste aspecto pode-se destacar as áreas entre a Avenida Ana Costa e a Ponta da Praia, situada entre as ciclovias da orla e das Avenidas General Francisco Glicério e Afonso Pena; dos bairros Macuco, Vila Nova e Paquetá; dos bairros ao norte da Zona Noroeste, em especial São Manoel, Alemoa e Piratininga; e dos bairros a oeste da Zona Noroeste, Rádio Clube, Bom Retiro e Castelo. Todas as ciclovias de Santos são utilizadas para deslocamentos por motivos de trabalho e estudo, embora a das avenidas da orla também seja usada para lazer. Contudo, em função da ligação entre os sistemas de balsas e barcas da Ponta da Praia, com a divisa de São Vicente, esta ciclovia é a mais suscetível aos deslocamentos pendulares, apresentando intenso carregamento no início e no final do dia, embora em sentidos opostos. De fato, é importante considerar que o sistema cicloviário de Santos é muito mais importante para as viagens pendulares originadas fora do município, do que para outros tipos de viagem. E neste aspecto, é essencial para garantir a mobilidade no centro da região, em um quadro em que o transporte coletivo por ônibus é muito caro e oferece um tempo de percurso muito grande. Conforme o Plano Cicloviário Metropolitano da Baixada Santista (PCM-BS), (AGEM, 2006, p.337), o município de Santos não possuía nenhuma via dentre as que apresentavam maior fluxo de bicicletas. Embora este estudo seja antigo, os dados da Pesquisa OD-BS reafirmam o maior nível de motorização do município e menor utilização da bicicleta como alternativa de transporte. Segundo este estudo (AGEM, p.347), a maior porcentagem de viagens, em Santos, destinava-se ao eixo das Avenidas General Francisco Glicério e Afonso Pena, que já contava com ciclovia implantada, com 46,86%, ao Gonzaga, com 35,44% e à ponta da Praia, cujo 74 Segundo o Manual de Projeto Geométrico de Travessias Urbanas, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2010), os ciclistas necessitam de 1,2 m de espaço operacional. A medida atende apenas à largura que ocupam ao pedalar em linha reta. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 ponto focal é o sistema de balsas, com 7,59%. A área central da cidade só atraia 1,27% das viagens. Portanto, estes dados confirmam a origem das viagens pendulares fora do município. Além disso, o motivo o lazer justificava 66% das viagens internas de ciclistas, em Santos, contra 36% para trabalho (AGEM, p.348). O relatório do PCM-BS apresentou o Plano Cicloviário de cada município caracterizando as ciclofaixas e ciclovias propostas, apresentando a expansão da malha cicloviária, detalhando as etapas de implantação das ciclofaixas e ciclovias, apresentando a expansão do sistema viário principal e detalhando as etapas de construção das vias e obras de arte. O Plano apresentou, também, diretrizes para elaboração de projetos de sinalização horizontal e modelos de suporte para paraciclos e bicicletários. No tocante a Santos, os principais objetivos a serem alcançados com o Plano Cicloviário (AGEM, p.249) eram os seguintes: Garantir acessibilidade, segurança e conforto para os ciclistas nos principais eixos de deslocamento: Nossa Senhora de Fátima - Zona Portuária que incluirá a ciclovia da Av. Martins Fontes e terá como prolongamento a ciclovia da Av. Antônio Emmerich (São Vicente), Francisco Glicério - Afonso Pena que contará com uma derivação pela Av. Siqueira Campos, Pinheiro Machado - Zona Portuária que incluirá a ciclofaixa da Av. Rangel Pestana, e Orla - Zona Portuária que englobará a Ciclovia da Orla e a ciclofaixa da Av. Governador Mário Covas Júnior e terá como prolongamento a ciclovia da Av. Ayrton Senna da Silva (São Vicente); Facilitar o acesso dos usuários de bicicleta dos bairros periféricos de Santos, do Guarujá e de São Vicente, aos inúmeros pólos de interesse, ao Centro Histórico, às praias, aos Atrativos Turísticos e às áreas de lazer; Consolidar 4 conexões com a Malha Cicloviária de São Vicente: ciclovia do Túnel do Maciço Central ciclovia da Linha Azul (ligação entre a Rua Haroldo de Camargo com a Av. Penedo), ciclovia da Av. Nossa Senhora de Fátima - ciclovia da Av. Antônio Emmerich, ciclovia da Av. Jovino de Melo - ciclovia da Linha Vermelha (Av. Minas Gerais), e Ciclovia da Orla - ciclovia da Av. Ayrton Senna da Silva; Diminuir os conflitos provocados pelos ciclistas sobre os fluxos de veículos motorizados em importantes corredores de tráfego e de transporte coletivo. Acerca destes objetivos pode-se observar que a ciclovia da Avenida Nossa Senhora de Fátima ainda está em fase de licitação e que a derivação pela Av. Siqueira Campos (Canal 4) até hoje não foi projetada. As demais já estão concluídas. Contudo, o acesso a bairros periféricos ainda é precário, como demonstrado pela imagem acima e a ciclovia pelo Túnel do Maciço Central depende da execução desta obra, que será objeto de análise mais adiante. Além disso, as conexões com as ciclovias da Av. Minas Gerais e da orla, em São Vicente ainda não foram inteiramente equacionadas. A primeira não foi projetada e a segunda deve ser reformulada, como já mencionado anteriormente. Segundo a mesma fonte (AGEM, p.249), o Plano Cicloviário de Santos recomendava a implantação de 39,20 km de ciclofaixas e ciclovias, o que expandiria a malha cicloviária dos então 15,90 km para 42,25 km até 2011, para 50,35 km até 2016 e para os 55,10 km de extensão total em 2026. Contudo, de acordo com a Prefeitura, a malha atual é cerca de 11,8 Km menor do que o previsto para 2011. Ainda segundo a AGEM, nestes mesmos intervalos de tempo, o sistema viário principal deveria ser ampliado dos atuais 75,84 km para, respectivamente, 96,51 km, 105,66 km e 112,74 km de extensão total, em função da inclusão das vias existentes que servirão de base para a implantação das ciclofaixas e ciclovias, tais como as Ruas Dr. João Paulino e Jorge Schammas, e da Av. Perimetral Portuária e do Túnel do Maciço Central. Contudo, o estudo considerava bastante abrangente o plano da Prefeitura de Santos, englobando todos os eixos urbanos de movimentação dos ciclistas. Assim, dos 39,20 km de ciclofaixas e ciclovias a serem implantados, 38,08 km eram baseados nos planos da Prefeitura Municipal, e apenas 1,12 km do então 407 proposto se referia à conexão da ciclofaixa da Rua Haroldo de Camargo com a ciclovia da Av. Penedo, no bairro Catiapoã, em São Vicente, assim como a ligação da ciclovia da Av. Jovino de Melo à da Av. Minas Gerais, no mesmo município. Desta forma o Plano Cicloviário (AGEM, p.253) estabeleceu a Malha Cicloviária Futura do município de Santos, com 55,10 km de extensão previstos para 2026. Em função de sua larga abrangência, previa-se que esta malha viesse a facilitar, também, as viagens de lazer em direção às praias e aos atrativos turísticos de Santos, de São Vicente e do Guarujá. Para a configuração desta malha o estudo baseou-se nas ciclovias existentes, nos planos de expansão cicloviária da Prefeitura, aos quais foram incluídos pequenos trechos de ciclovias para estabelecimento de conexões com a Malha Cicloviária de São Vicente. Assim, como se citou anteriormente, as propostas do Plano Cicloviário para execução com horizonte de 20 anos, deveriam envolver a construção de 39,20 km das ciclovias relacionadas a seguir: Ciclovia da Av. Almirante Cochrane (Canal 5): localizada entre as Avenidas. Bartolomeu de Gusmão e Afonso Pena, com 1,40 km de extensão, e, juntamente com a Ciclovia da Av. Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6), exerceria a função de ligação cicloviária entre os Eixos Cicloviários Orla - Estuário - Porto e Francisco Glicério - Afonso Pena, e possibilitará aos ciclistas um acesso seguro ao Praiamar Shopping e aos Conjuntos Habitacionais do BNH. Este eixo não foi implantado; Ciclovia da Avenida Ana Costa, já implantada; Eixo Cicloviário Francisco Glicério - Afonso Pena: já implantado; Eixo Cicloviário Jovino de Melo: localizado entre a Av. Brigadeiro Faria Lima, no Rádio Clube, Zona Noroeste, e a divisa de São Vicente, e será formado pelas ciclovias das Avenidas. Hugo Maia, Jovino de Melo, Francisco Pereira Canto e Eleonor Roosevelt. Com 3,47 km de extensão, deve ser implantado onde se encontram importantes bairros residenciais populares tais como Rádio Clube, Bom Retiro, Santa Maria e São Jorge, e representará uma ramificação dos Eixos Cicloviários Nossa Senhora de Fátima - Zona Portuária e Túnel do Maciço Central. Contará, por sua vez, com uma ramificação representada pelo Eixo Cicloviário João Paulino -Jorge Schammas - João Fracarolli que conduzirá os ciclistas até os bairros de Santa Maria e Areia Branca. Este eixo não foi implantado; Eixo Cicloviário João Paulino - Jorge Schammas - João Fracarolli: também localizado na Zona Noroeste, entre as Ruas Haroldo de Camargo e Amadeo Barbielini, ao lado do Jardim Botânico Chico Mendes. Com 1,85 km de extensão, terá importância secundária e exercerá a função de ciclofaixas alimentadoras dos Eixos Cicloviários Túnel do Maciço Central e Jovino de Melo. Este eixo não foi implantado; Eixo Cicloviário Nossa Senhora de Fátima: eixo em licitação; Eixo Cicloviário Orla - Zona Portuária: estará localizado entre a divisa de São Vicente e o setor portuário próximo ao Trevo da Alemoa, e representará um dos importantes eixos cicloviários da Região Metropolitana da Baixada Santista. Terá 17,32 km de extensão dentro do município de Santos e será formado pelas ciclovias das Avenidas Presidente Wilson, Vicente de Carvalho, Bartolomeu de Gusmão, Samuel Augusto Leão de Moura, Almirante Saldanha da Gama, Governador Mário Covas Júnior e Perimetral Portuária. Em termos metropolitanos, este Eixo Cicloviário será um prolongamento da ciclovia da Av. Ayrton Senna da Silva, de São Vicente, e estará conectado ao sistema de balsa que estabelecerá uma ligação aqüacicloviária com a ciclovia da Av. Adhemar de Barros, no Guarujá. Este eixo existe parcialmente, pois não foram construídas as ciclovias na Avenida Perimetral; Eixo Cicloviário Pinheiro Machado - Zona Portuária: estará localizado entre as Avenidas Presidente Wilson e Perimetral Portuária e representará uma rota alternativa de acesso à Área Central e à Zona Portuária. Com 4,80 km de extensão, será formado pelas ciclovias das Avenidas. Senador Pinheiro Machado, Rangel Pestana, Campos Sales e Conselheiro Nébias. Este eixo está parcialmente implantado, restando o trecho final, entre as Avenidas Rangel Pestana e Conselheiro Nébias; Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Eixo Cicloviário Rei Alberto - Epitácio Pessoa - Bancários: estará localizado entre as Avenidas Governador Mário Covas Júnior e Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6) e terá importância secundária, atendendo aos ciclistas que chegarão na Ponta da Praia. Com apenas 1,90 km de extensão, será formada pelas ciclovias das Avs. Rei Alberto, Dr. Epitácio Pessoa e dos Bancários. Este eixo não foi implantado; Eixo Cicloviário Túnel do Maciço Central: estará localizado entre as Avenidas Senador Pinheiro Machado (Canal 1), no José Menino, e Penedo, no bairro Catiapoã, em São Vicente, e terá 4,60 km de extensão. Deve ter grande importância por proporcionar aos ciclistas uma nova rota de viagem entre Santos e São Vicente, mais curta e direta, que evitará o contorno dos morros pelo lado sul (praias) ou norte (Avs. Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes). Este eixo não foi implantado; Ciclovia da Av. Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6): estará localizada entre as Avs. Bartolomeu de Gusmão e Afonso Pena e, com 1,38 km de extensão, estabelecerá uma ligação entre os Eixos Cicloviários da Orla e o Francisco Glicério - Afonso Pena. Esta ciclovia não foi implantada; Ciclofaixa da Rua São Bento: estará localizada entre as Ruas do Comércio e João Pessoa, na Área Central de Santos, e, com apenas 0,20 km, terá importância secundária, estabelecendo uma conexão entre a ciclovia da Av. Perimetral Portuária com o Eixo Cicloviário Nossa Senhora de Fátima - Zona Portuária. Esta ciclofaixa não foi implantada; Ciclovia da Av. Siqueira Campos (Canal 4): estará localizada entre as Avenidas Afonso Pena e Governador Mário Covas Júnior, com 1,01 km de extensão, representará uma ramificação do Eixo Cicloviário Francisco Glicério - Afonso Pena para acesso ao Porto. Esta ciclovia não foi implantada; Ciclovia da Av. Dr. Waldemar Leão: Esta ciclovia já foi implantada. O mapa abaixo apresenta o conjunto de propostas elencadas acima. Considerando-se o que já foi executado ou o que está em processo de licitação, pode-se afirmar que os principais eixos do plano já estão implantados, com exceção das ligações com a malha cicloviária de São Vicente, pela Zona Noroeste, incluindo o Túnel do Maciço, e a Perimetral Portuária. 409 Plano Cicloviário de Santos: Malha Cicloviária Futura (2026). Fonte: Plano Cicloviário Metropolitano da Baixada Santista (AGEM, p.255-256). No que respeita à importância deste plano e levando-se em conta os esforços envidados nas últimas décadas para realizar o que já foi implantado, em Santos, assim como o fato de que o uso da bicicleta é interessante em termos ambientais e proporciona a realização de exercícios indispensáveis para a saúde das pessoas, deve-se considerar as reais condições de mobilidade no centro da região, e suas fragilidades. Neste aspecto, é importante que se privilegie investimentos em meios de transporte coletivos, no sentido de garantir viagens menos demoradas e com um ganho de escala maior, se comparados ao modal bicicleta, que deve ser concebido para garantir complementariedade aos sistemas coletivos e não para substituí-los ou a estes se sobreporem. Por fim, é importante destacar que a instalação de bicicletários ao longo dos eixos cicloviários de Santos ainda é muito precária. Estes equipamentos são importantes para o estímulo ao uso de bicicletas, mas há efetiva falta nos principais pontos de atração de viagem com este modal, em várias áreas da cidade. 9.4.1 Gargalos e sobrecarga nos sistemas viários locais e regionais Santos é a cidade do litoral paulista com maior tradição na área de planejamento viário, o qual remonta, considerando-se apenas o período republicano, ao final do século XIX. Na última década deste século e no início do século XX, duas concepções de planejamento se contrapunham: a da Câmara Municipal, em que predominavam os interesses na exploração dos loteamentos e linhas de bonde, possibilitada pela expansão da cidade no vetor sul, e a da Comissão de Saneamento, dirigida pelo engenheiro Francisco Saturnino de Brito, que apresentou à Câmara, em 1910, uma proposta de plano urbanístico global e integrado com o plano de saneamento, que vinha sendo implantado desde 1905. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Segundo Carriço (no prelo), este plano, denominado a Planta de Santos, era baseado nos princípios de higiene e embelezamento das cidades, que segundo Andrade (1991), apoiava-se no pensamento do urbanista austríaco Camilo Sitte. No entanto, o desenho elaborado por Brito e sua proposta de regulação urbanística, complementar ao plano, contrariavam interesses de promotores imobiliários locais, que a este se opuseram radicalmente, provocando sérias desavenças entre o sanitarista e a municipalidade, resultando em sua demissão da Comissão de Saneamento e na rejeição parcial do projeto. Contudo, ainda que de forma não articulada a um plano global, há anos, a própria Câmara Municipal promovia o prolongamento das duas principais artérias viárias da cidade, as avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa75. A abertura destas vias sinalizava o desejo de expandir a urbanização no vetor sul, até a praia, promovendo a incorporação à área urbana, de uma porção equivalente a mais de seis vezes a dimensão do núcleo central. Em 1896, a Câmara Municipal contratou o engenheiro José Brant de Carvalho, para chefiar o Setor de Obras Públicas e elaborar um plano de expansão para a cidade. Enquanto os estudos e propostas de Fuertes não eram executadas pelo estado, a municipalidade sinalizava claramente que não estava disposta a esperar pelo saneamento para estender a malha urbana. As obras das avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa já estavam avançadas, ao passo que o serviço de bondes, tracionados por animais, constituía-se em grande estímulo aos loteamentos que começavam a ser implantados fora do núcleo central. Não por acaso, proprietários de terrenos e loteadores faziam-se representar na Câmara. Desta forma, havia claro interesse comum entre os concessionários dos serviços de bondes e loteadores. O projeto de Brant estabeleceu traçado de novo arruamento, conforme a imagem __, com desenho típico das cidades dos Estados Unidos da América. Na verdade, este projeto era mais focado na orientação da expansão da cidade, do que propriamente um plano urbanístico. Acerca desta proposta, que consistia num desenho reticulado e monótono, antevia-se a expansão do núcleo central até a orla, sem que fossem respeitadas hidrologia e topografia. Brito (apud Andrade, 1991, p. 62) assim se referiu, acerca da proposta: “o projeto não respeitava nada, tanto ação humana quanto natureza”. No entanto, o desenho apresentado por Brant, previa a construção de praças, mercados, moradias econômicas para os operários e adicionalmente, previa a elaboração de um novo Código de Posturas, efetivamente sancionado um ano mais tarde. 75 A Avenida Conselheiro Nébias, que corta a cidade de norte a sul, ligando o porto à orla, começou a ser construída na década de 1860 e foi concluída em 1902, no mesmo ano que a avenida Ana Costa. As obras dessas avenidas consumiram grande parte do orçamento municipal no final do século XIX. 411 Fac-símile do Plano de José Brant de Carvalho para Expansão da Cidade de Santos. Fonte: A Planta de Santos (Brito, 1915). Em 1897, a Câmara aprovou o plano de Brant, por meio da Lei n° 94, estabelecendo diretrizes viárias para a abertura de ruas dentro e fora do perímetro urbano. Desta forma, o plano atendia aos interesses dos loteadores e empresários de transportes, não sendo necessária sua realização plena. Por outro lado, a implantação das moradias para operários não se tornou realidade, por evidente desinteresse da Câmara Municipal. No entanto, é o Plano de Saneamento de Brito que vai possibilitar o desenvolvimento de Santos, apoiado em um moderno traçado, que respeitava sua topografia e hidrologia, evitando obras desnecessárias e conferindo à cidade, nas décadas que se sucederam uma qualidade de vida incomparavelmente melhor do que aquela do final do século XIX. Neste aspecto, destacam-se os canais de drenagem, conforme apresentado no capítulo sobre saneamento, que configuraram o traçado viário da Santos moderna. Contudo, as obras dos canais contemplavam os interesses de construtores e loteadores. A Companhia City, que já operava o abastecimento de água da cidade, desde 1903, havia adquirido a concessão de todas as linhas de bondes de Santos, com capital estrangeiro eletrificando o serviço, como mencionado anteriormente. Assim, a empresa passou a atuar em consonância com os proprietários de terrenos na área de expansão da cidade. Este binômio entre infraestrutura e loteamento, com apoio na Câmara Municipal, obteve enormes benefícios dos trabalhos empreendidos por Brito, nos primeiros anos de sua atuação na cidade, pois no início suas propostas amalgamavam os interesses desses empresários. Contudo, as propostas de Brito não se limitaram ao plano de saneamento. Com a apresentação da Planta de Santos, conforme imagem, o engenheiro encaminhava um completo plano urbanístico para a cidade. Largas avenidas foram projetadas, com amplas áreas ajardinadas. Vários parques e equipamentos sociais e de lazer foram previstos, de forma a dotar a cidade de uma completa rede de serviços. Se o plano de Brito era um plano de saneamento completo, em igual medida continha elementos dos planos de embelezamento em voga nas maiores cidades ocidentais e adotados parcialmente no Rio de Janeiro de Pereira Passos. A Planta de Santos era um plano completo, superior neste aspecto até mesmo ao de Belo Horizonte, elaborado por Aarão Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Reis, em 1894, muito criticado por Brito (ANDRADE, 1997, p.70), que já havia se ocupado do saneamento daquela cidade, antes de voltar-se ao plano de Santos, pelo fato de não prever o sistema de saneamento. Fac-símile da Planta de Santos. Fonte: A Planta de Santos (Brito, 1915). Porém, as propostas de Brito para Santos não se limitaram ao desenho apresentado (BRITO, 1943), prevendo, também, a instituição de normas urbanísticas, que feriam os interesses dos proprietários de imóveis, ao procurar facilitar a desapropriação dos terrenos necessários ao sistema viário, limitando o aproveitamento dos terrenos. Conforme Andrade (1991, p.62), “quanto à legislação urbanística, Brito propõe diversos instrumentos jurídicos, formulando tanto uma legislação sobre vias particulares, como também disposições legislativas complementares às que regulavam as expropriações [...]”. Este conflito resultou na ruptura de Brito com a Câmara Municipal e com setores da sociedade que defendiam aqueles interesses. Na verdade, os proprietários de terrenos na área localizada entre o antigo centro e a praia, vislumbravam vantajosos negócios imobiliários, que ironicamente se tornaram possíveis com a implantação do plano de saneamento e com a extensão do transporte por bondes, em direção à orla. Nas décadas seguintes, como resultado das tensões entre Brito e a Câmara, a Planta de Santos passou a ser implementada com profundas modificações impostas pela Municipalidade, que descaracterizaram em grande parte o projeto inicial. Contudo, o que foi efetivamente concretizado marcou fortemente a fisionomia da cidade e tornou-se paradigma do urbanismo nacional da virada do século XX. Na década de 1920, a cidade já apresentava uma configuração totalmente distinta da Santos imperial. O sistema viário já se estendia pelos bairros em direção à orla, preenchendo os espaços entre as principais artérias viárias da área pericentral. Neste período o Porto de Santos apresentava sinais de saturação, em 413 função da grande movimentação de café e a Companhia Docas de Santos (CDS) passou a se preocupar com os acessos viários para a região. Datam de então os primeiros estudos do sistema viário de Santos, tendo como objetivo sua expansão em nível regional. Contudo, a crise de 1929 impediu que estas obras fossem realizadas, e somente após a Segunda Guerra Mundial estes foram retomados. Segundo Carriço (2006, p.144), Francisco Prestes Maia na obra O Plano Regional de Santos (1950) observou que todos os planos e obras de expansão do porto, na época sob concessão da CDS, até a década de 1950, foram motivados por sucessivos estrangulamentos ocorridos em função do descompasso entre o movimento de exportação e importação e a infraestrutura disponível, além de falhas operacionais. Maia (1950, p.43-56) refere-se a quatro períodos de graves congestionamentos no cais santista, em que as embarcações permaneciam fundeadas por muitos dias na barra. Destaca-se a crise de 1892, vinculada às epidemias que grassavam em Santos, como também às crises de 1912, 1923 e 1947. O próprio Plano Regional de Santos, elaborado por Maia, baseou-se no Plano Geral do Porto, de 1926, motivado pelo congestionamento de 1923 e não executado em função da crise econômica de 1929. Em 1947, com a inauguração da Via Anchieta e o crescimento do turismo balneário, que transformou os municípios da Ilha de São Vicente, foi marcante a construção de um parque verticalizado de residências de veraneio, nas primeiras quadras da orla marítima. Nos anos 1950, o Plano de Metas de Juscelino Kubitscheck, consolidou o parque industrial de Cubatão e até o final da década de 1970, o país obteve notável crescimento do PIB, acelerando-se o crescimento demográfico da Baixada Santista, que, entre as décadas de 1950 e 1980, apresentou taxas superiores à média brasileira e paulista, tendência que se arrefeceu posteriormente, quando esta passou a apresentar crescimento similar ao nacional e estadual. O crescimento econômico, da mesma forma que já havia ocorrido na década de 1920, provocara o congestionamento do porto, obstaculizando o desenvolvimento econômico em sua área de influência, que já havia ultrapassado as fronteiras do estado. A insuficiência de infraestrutura portuária e a ausência de investimentos no sistema viário regional constituíram-se em barreiras ao desenvolvimento industrial do sudeste. Visando equacionar esta questão, o governo estadual contratou Maia, já então renomado urbanista, para elaborar o Plano Regional de Santos. Este plano foi apresentado em 1948, conforme imagem abaixo, contendo uma série de propostas de intervenções urbanísticas, com ênfase para a questão da circulação viária, que visavam aumentar a eficiência do complexo portuário santista. Além disso, o Plano Regional previa a consolidação de Santos como pólo regional e sua articulação ao porto de São Sebastião, no Litoral Norte do estado, que passaria a desempenhar um papel complementar. Mas a proposta mais importante do plano de Maia, executada anos mais tarde, foi a implantação do porto na margem esquerda do estuário, na ilha de Santo Amaro, no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fac-símile da planta do Plano Regional de Santos. Fonte: O Plano Regional de Santos (1950, p.57). Contudo, a proposta de Maia não se limitava à ampliação do porto neste distrito. O Plano Regional, como se pode observar no referido mapa, previa a transformação da área noroeste de Guarujá em nova fronteira de expansão da urbanização de Santos. Este espaço, denominado por Maia de “Nova Santos”, deveria ser objeto de um plano urbanístico, que não foi inteiramente executado. Na verdade, Vicente de Carvalho tornou-se uma área habitada pela população de baixa renda que não tinha recursos para morar em Santos, mas possuía vínculos de trabalho com a cidade, com características de “cidade dormitório”. Este distrito, após a década de 1950, recebeu grande contingente populacional, especialmente migrantes nordestinos. Acerca do Plano Regional, Nunes (2001, p.18) afirma que este não era “um plano para a cidade, mas para a região em função do porto”. Mas, segundo este autor, “ainda que se tornasse peça fundamental na discussão da cidade”, por ser a primeira tentativa de vê-la inserida na região, “infelizmente não prosperou como plano metropolitano, e sua influência no desenvolvimento da cidade acabou se restringindo ao sistema viário através do Plano Regulador”. Para este autor, o Plano Regional pretendia ser um instrumento de racionalização, orientado pela técnica, com o objetivo de pautar os futuros empreendimentos. A intervenção do Estado se daria pela implementação de mudanças no sistema de transporte, principalmente alterações nas ferrovias e construção de pontes, permitindo que a cidade e a região se desenvolvesse. Contudo, parte destes investimentos até hoje não foram realizados, conforme será verificado adiante. Quanto ao Plano Regulador da Expansão e Desenvolvimento de Santos, Lei n° 1.316, de 27 de dezembro de 1951, conforme a imagem, foi um típico plano do período em que se buscava a eficiência da cidade. Este plano foi elaborado por equipe da Municipalidade, coordenada por Prestes Maia. Este trabalho foi em grande medida uma lei de diretrizes viárias e em menor grau, de embelezamento, como se produziu em São Paulo pelo mesmo urbanista, quase vinte anos antes. 415 O Plano Regulador visava preparar a cidade para o crescimento, com a abertura e alargamento de avenidas, com eixos que interligassem as suas áreas e a própria cidade a outras regiões do estado, em função do porto, buscando-se sua integração com o Plano Regional. Desta forma, pontes e túneis foram projetados para criar novas acessibilidades, e equipamentos turísticos foram concebidos, já considerando a vocação balneária da cidade. Porém, a maioria das propostas não se concretizou e outras foram implantadas com atraso. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fac-símile de reprodução da planta original do Plano Regulador de Expansão e Desenvolvimento de Santos (1951). Fonte: Prefeitura Municipal de Santos (2006) apud (Carriço (2006, p.381). Dentre as grandes obras contidas no Plano, pode-se destacar os projetos de interligação da Zona Leste de Santos com a Zona Noroeste por meio de túnel através do maciço dos Morros, o qual criaria novo aceso á Via Anchieta, favorecendo a acessibilidade entre o planalto e a orla de Santos. Ressalta-se também a ligação das áreas insular e continental de Santos, por meio da ponte Saboó - Ilha Barnabé, unindo o centro da cidade com o continente, passando junto àquela ilha. É importante, também, a ligação entre Santos e Vicente de Carvalho, através de ponte elevadiça, ao sul do cais dos Outeirinhos, no atual bairro do Macuco76. Outro aspecto interessante foi o a previsão de arruamento de áreas de influência destas obras, como no bairro do Jabaquara, entre outras, que foram executadas apenas parcialmente. Embora a maioria dessas propostas não tenha se concretizado, a abertura do túnel Rubens Ferreira Martins, sob o Monte Serrat, que permitiu uma ligação mais direta entre o centro e os bairros da área intermediária da 76 Como será visto adiante, a alternativa escolhida pela DERSA para transposição do canal do Porto, por meio de um túnel submarino, possui localização muito semelhante a desta ponte. 417 zona leste e a própria orla; bem como o alargamento da Rua João Pessoa, principal via de comércio no centro, podem ser destacados como alguns dos principais projetos contidos no plano, efetivamente realizados, ainda que alguns tenham sido implantados com muito atraso. O grande número de obras previsto implicava na desapropriação de áreas consolidadas, com remanejamento de lotes, em alguns casos, em bairros populares. Porém, pelo alto custo, grande parte das propostas não foi implementada, e nos casos em que o plano efetivou-se, as famílias removidas nem sempre puderam fixar-se em áreas já urbanizadas, agravando-se o processo de segregação socioespacial. A última obra prevista pelo Plano Regulador, o prolongamento da Avenida Senador Feijó, no bairro da Encruzilhada, foi executada em 1996. Esta obra era prevista, na verdade, desde o início do século XX, e foi elencada como prioridade no Plano Regulador. Esta avenida, de grande importância para a ligação entre centro e orla, conecta-se à Avenida Washington Luís (Canal 3), na divisa entre Gonzaga e Boqueirão. Porém, esta interligação foi executada anos mais tarde, pois dependia de autorização da extinta Ferrovia Paulista S/A (FEPASA), para o cruzamento em nível de sua linha. O Plano Regulador sofreu várias alterações nos anos que se seguiram, mas a mais profunda foi a Lei Complementar n° 151, de 13 de dezembro de 1994, Plano Viário do Município, que promoveu uma detalhada revisão nas diretrizes viárias do município, com o intuito de eliminar as propostas consideradas excessivamente caras ou tecnicamente questionáveis, em face da necessidade de priorizar o transporte coletivo. Esta lei apresentou algumas soluções alternativas às intervenções previstas pelo Plano de Maia, as quais consideravam menor custo de implantação. Dentre estas, conforme imagem abaixo, pode-se destacar as diretrizes de implantação de binário formado pelas ruas Joaquim Távora/Xavier Pinheiro e Almeida Morais/Lowndes e de alargamento da Rua Brás Cubas, no trecho entre a Avenida Campos Sales e a Rua Júlio de Mesquita, ambas no bairro Vila Mathias. Estas intervenções, de relativo baixo custo se consideradas as demais obras previstas pelo Plano Regulador, poderiam melhorar a mobilidade na Zona Intermediária da Zona Leste da cidade. O alargamento da Rua Brás Cubas é fundamental para garantir a mobilidade no corredor viário sentido orlacentro, utilizado por diversas linhas de ônibus77. Esta obra, de apenas uma quadra, implica na desapropriação de imóveis de baixo custo e alguns dos quais já recuados em relação ao alinhamento proposto, mas até o momento não foi realizada. O mencionado binário garantiria maior rapidez nos deslocamentos na direção Leste-Oeste, na Zona Intermediária, onde a única alternativa existente atualmente é o eixo da Rua Carvalho de Mendonça, que se inicia no Morro do Marapé, mas não alcança o cais, pois termina na Rua Luiz de Camões na Encruzilhada, obrigando os veículos a fazer a conversão a direita, nesta via, para depois cruzarem a Avenida Conselheiro Nébias e alcançarem a Rua Luiz Gama, no Macuco. Esta obra será fundamental no futuro, caso os túneis previstos para transposição do Maciço dos Morros e para ligação Santos-Guarujá sejam executados, pois o binário garantirá a ligação entre ambos, permitindo a implantação de corredor de ônibus entre o Guarujá e São Vicente. Contudo, para que este sistema se complete será necessária a execução de uma obra mais complexa e cara, prevista pelo Plano Regulador e cujo geométrico foi alterado pela Lei Complementar n° 151, de 1994: o prolongamento da Avenida Nilo Peçanha, no bairro Marapé, entre a Rua Carvalho Mendonça e o referido binário. Esta intervenção será avaliada mais adiante, junto com o Túnel do Maciço Central. 77 Esta intervenção é estratégica para as linhas que sobem a Avenida Ana Costa, em direção ao Centro e atualmente são obrigadas e fazer a conversão à direita na Rua Lucas Fortunato e depois à esquerda na Rua Brás Cubas, que possui caixa estreita, para depois acessarem a área central. Estas conversões são necessárias, pois a Avenida Ana Costa inicia-se no sopé do Monte Serrat, o qual impede a ligação direta do Centro a esta importante artéria viária. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Diretrizes de implantação de Binário nas ruas Joaquim Távora/Xavier Pinheiro e Almeida Morais/Lowndes e Alargamento da Rua Brás Cubas. Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, Lei Complementar n° 151, de 13 de dezembro de 1994. Mas se a implantação do Plano de Maia para a cidade foi incompleta, no âmbito regional, algumas obras realizadas pelo estado foram importantes para garantir o acesso à cidade. A aceleração do crescimento da população fixa e flutuante da área central da Baixada Santista, após a Segunda Guerra Mundial, além do desenvolvimento do Porto, provocou a necessidade de novas grandes obras, sobretudo de acesso à região. Em 1967 teve início a construção da Rodovia dos Imigrantes, uma das mais modernas rodovias brasileiras, a cargo do governo estadual. Outras obras rodoviárias também foram importantes para a região, neste período, como a construção das rodovias Cubatão-Pedro Taques, Manoel da Nóbrega, Piaçaguera-Guarujá e RioSantos, configurando o eixo da SP-55 e criando um arco rodoviário ao norte de Santos, que liga os litoral sul e norte paulistas, ao porto e ao interior do estado. O mapa apresenta este sistema rodoviário de acesso a área central da Baixada Santista e sua integração com as principais artérias viárias dos municípios desta área. Neste mapa pode-se observar como o maciço central de morros, na Ilha de São Vicente, é o grande obstáculo natural para a integração viária entre Santos e São Vicente, criando assim poucas alternativas de integração, as quais se constituem hoje nos maiores gargalos viários da área insular e que serão discutidas adiante. 419 Sistema viário central da Região Metropolitana da Baixada Santista. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego(DERSA, 2011, p.40). Conforme o referido mapa, as principais rodovias que formam a malha da área central da Baixada Santista são: SP-150 – Via Anchieta; SP-160 – Rodovia dos Imigrantes; SP-55 Sul- Padre Manoel da Nóbrega; SP–55 Norte - Rod. Cônego Domenico Rangoni (trecho entre os trevos da Rio-Santos e da Via Anchieta) SP-55 Norte - Rodovia Dr. Manoel Hyppólito Rego Jr. SP-248 - Rod. Cônego Domênico Rangoni (trecho conhecido como Piaçaguera-Guarujá, entre Vicente de Carvalho e o trevo da Rio-Santos), Deste conjunto de rodovias, a mais importante é a Rodovia dos Imigrantes, com 58,5 km de extensão, que junto com a Via Anchieta compõe o Sistema Anchieta Imigrantes (SAI)78, privatizado pelo estado em 1998 e concedido à empresa Ecovias por um período de 20 anos. A Imigrantes foi inaugurada em 1976, com o trecho do Planalto duplicado e o trecho de serra composto apenas pela pista ascendente. Assim, durante muitos anos esta pista era revertida para a direção em que o tráfego fosse mais intenso, constituindo-se em um grande gargalo para acesso ao Porto. Somente em 2002 foi inaugurada a segunda pista do trecho de serra79, descendente. Atualmente, ambas as pistas da Imigrantes são reversíveis, normalmente para um único sentido, quando o tráfego é muito intenso, o que ocorre em feriados prolongados. Em seu trecho da Baixada Santista, a Rodovia dos Imigrantes prolonga-se até São Vicente, cortando a área insular do município. Assim, o trecho de interligação da Baixada é responsável pela conexão desta rodovia com a Via Anchieta, que também liga Cubatão a Santos. Portanto é após a interligação, com a contribuição dos dois fluxos que a Via Anchieta normalmente se torna mais carregada. Ao penetrar na Ilha de São Vicente, dividindo os bairros Alemoa e Piratininga ao norte e São Manoel e Chico de Paula ao sul, a Via Anchieta recebe, ainda, a contribuição do trânsito de sua Marginal Sul, que a ela se liga 78 Além destas rodovias compõem o sistema a SP-40, Interligação Planalto, o trecho central da SP-55, integrado pela Padre Manoel da Nóbrega, a SP-248, Cônego Domenico Rangoni e a SP-59, Interligação Baixada. 79 O projeto original foi refeito e a obra foi realizada pela Ecovias. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 no São Manoel. Deste ponto, até o viaduto Doutor Paulo Bonavides, na Alemoa, o trânsito costuma apresentar muita lentidão e durante o período de safras de soja e açúcar, em função do acesso de caminhões ao porto, pelo citado viaduto, são registrados grandes congestionamentos. Esta situação também costuma ocorrer nos finais de tarde, em função do retorno das viagens pendulares de trabalhadores e veículos de carga, no sentido Cubatão-Santos. Mas a configuração do sistema viário de integração da rodovia com a malha viária do porto e da cidade contribui para agravar estes congestionamentos. A imagem abaixo apresenta de forma esquemática os dois principais gargalos existentes neste trecho. No sentido Cubatão Santos, a seta amarela representa o tráfego de veículos que se dirigem a Santos e a vermelha, que à primeira se entrelaça no acesso ao viaduto, representa o trânsito majoritariamente composto por veículos de carga que acessam diretamente o porto, na região conhecida como Alamoa. Este entrelaçamento é responsável por significativa perda de mobilidade, tanto para o sistema portuário, quanto para a pendularidade Cubatão-Santos e para o acesso à cidade, em geral. Principais gargalos viários da Via Anchieta na entrada da cidade de Santos. Fonte: Google Earth (2012). Elaboração: Instituto Pólis. O outro entrelaçamento ocorre na altura do semáforo existente no final da Via Anchieta, no entroncamento com as Avenidas Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes. A seta roxa representa o trânsito proveniente da Avenida Nossa Senhora de Fátima, que recebe contribuição da Zona Noroeste e de São Vicente, com sentido a Cubatão ou à SP-55, ou ao Planalto. A seta verde representa o trânsito proveniente do centro de Santos, no mesmo sentido e azul representa o trânsito no sentido inverso. Este entrelaçamento é ainda mais grave quando ocorrem chuvas fortes, em função dos alagamentos nas duas avenidas. Em face desta situação, a Prefeitura de Santos determinou à CET Santos que elaborasse um projeto de intervenções viárias para eliminar estes entrelaçamentos e ao mesmo tempo melhorar o acesso ao Porto e à Zona Noroeste. Este projeto, conforme imagem abaixo, está sendo analisado pelo Governo do Estado. 421 Projeto do conjunto de intervenções no sistema viário de acesso a Santos. Fonte: Prefeitura de Santos (2012). Assim, a proposta do município é transformar a Marginal Sul da Anchieta e a Avenida dos Bandeirantes (ao norte da rodovia) em duas pistas de apoio à Via Anchieta. Conforme a empresa, as duas faixas da Marginal Sul ficariam com o trânsito direcionado a Santos, e as duas pistas da Avenida dos Bandeirantes teriam o tráfego dirigido para a Via Anchieta, no sentido Cubatão/SP-55/Planalto. Além dessa mudança, seriam construídos novos acessos para melhorar as condições de mobilidade nos bairros São Manoel e Piratininga, além de novo acesso ao Porto. Junto ao São Manoel, uma via permitirá o acesso a uma ponte sobre o Rio São Jorge, interligando o SAI diretamente à Zona Noroeste, por trás do Morro do Ilhéu, no bairro Bom Retiro. Esta ligação reduziria em muito o número de veículos de carga na Avenida Nossa Senhora de Fátima, no bairro Chico de Paula, outro gargalo diário de grandes proporções80. Complementando o projeto, foi prevista a construção de um viaduto, com duas alças ligando a Via Anchieta à Avenida Martins Fontes, eliminando uma fase semafórica, e uma segunda para a Avenida Perimetral do Porto, com possibilidade de extensão a uma futura ligação seca com a Área Continental do município. Porém, se este conjunto de obras for realizado, a velocidade com que o trânsito de veículos acessará as áreas central, do porto e da Zona Noroeste será muito maior. Portanto, a questão que deve ser considerada é se o restante da malha viária estará preparada para absorver este volume maior, numa conjuntura em que o transporte individual e o índice de motorização crescem a taxas elevadas, como apontado anteriormente. Mas estes gargalos não são os únicos a colocar em xeque as operações portuárias e ainda podem ser agravados pela perspectiva de ampliação do movimento do porto, nos próximos anos. Em função da ampliação do comércio exterior brasileiro e das obras de infraestrutura realizadas no complexo portuário, em especial à dragagem de aprofundamento para 15,0 m de calado81, que se encontra em fase final, a Companhia Docas do Estado de São Paulo viu-se obrigada a planejar o crescimento da infraestrutura viária e prever mudanças nos modais que compõem o sistema portuário, visando evitar situações semelhantes às que ocorreram na década de 1920, já mencionadas anteriormente. 80 Este gargalo ocorre porque ao longo dos anos diversas empresas retroportuárias se estabeleceram no Chico de Paula, inclusive em área ao sul do Rio São Jorge, sem acesso direto à Via Anchieta e ao Porto. Concorre para o agravamento deste quadro as más condições de drenagem do trecho inicial da Avenida Nossa Senhora de Fátima; o geométrico da ponte existente na Rua Júlia Ferreira de Camargo, no aceso a esta avenida; e o aumento do trânsito de veículos de carga provenientes de São Vicente, em função da implantação de atividades retroportuárias na região próxima à divisa. 81 A ampliação do calado do canal do porto deve trazer para Santos navios de maior capacidade, ampliando assim a demanda por cargas e, consequentemente, o trânsito de veículos no sistema. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Desta forma a empresa contratou a elaboração do Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos, o qual será apresentado a seguir. Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos Em 2010, a CODESP apresentou os resultados do Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos, realizado pela consultoria The Louis Berger Group Inc., contratada em 2009. Para realização deste trabalho, a consultoria adotou um cenário entre 2009 e 2024, realizando um estudo de demanda, a estimativa de capacidade dos terminais e a proposta de novos terminais, avaliando esta capacidade com relação à demanda. Assim, um dos principais focos deste trabalho foi a acessibilidade ao cais santista. Para esta finalidade, os parâmetros adotados foram as redes de transportes terrestres, a eficiência relativa dos portos e os serviços das linhas marítimas. Segundo CODESP (2012, p.36) a estimativa pessimista formulada pelo estudo foi de que, até 2024, a movimentação de cargas no Porto de Santos aumentasse de 80,34 milhões de t, registrados em 2009, para cerca de 137,42 milhões de t. A perspectiva otimista indicou um crescimento para 229,73 milhões de t, no mesmo ano. Cruzando a demanda projetada nestes cenários com a capacidade instalada e projetada, foi possível prever déficits de 12,45 milhões de t em granéis sólidos, de 20,50 milhões de t, em granéis líquidos e de 2,85 milhões de t, em carga geral. Este estudo levou em conta, ainda, os investimentos realizados na infraestrutura portuária santista, segundo imagem abaixo. Estas obras em andamento consistem na construção das avenidas Perimetrais das margens direita e esquerda do Porto, a dragagem de aprofundamento do canal e o derrocamento de pedras que limitam o tráfego marítimo no canal82. Segundo o estudo (CODESP, 2012, p.39) estes investimentos foram estimados em cerca de R$ 493 milhões. Se forem consideradas outras obras projetadas, esta cifra poderá alcançar R$ 1.552 milhões nos próximos anos. 82 A remoção do produto do derrocamento das Pedras do Teffé e do Itapema está prevista para ser iniciada em agosto de 2012. 423 Investimentos em infraestrutura portuária realizados no Porto de Santos Fonte: Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos (CODESP, 2012, p.38). O estudo considerou, ainda, os investimentos privados em andamento, para instalações de novos terminais, da ordem de R$ 3.185 milhões, que devem resultar em expressiva ampliação da demanda pelos sistemas de transportes e pela estrutura viária do complexo portuário. Se forem considerados outros investimentos privados planejados83, este valor poderá ser acrescido em R$ 3.340 milhões (CODESP, 2012, p.60). Conforme os quadros abaixo, o Estudo de Acessibilidade realizado, identificou os seguintes gargalos, nos sistemas ferroviário e rodoviário do Porto de Santos. Dentre as questões levantadas, destaca-se que atualmente a MRS Logística84 vem realizando grandes investimentos para modernização do sistema de cremalheiras implantado na Serra do Mar, com objetivo de aumentar a produtividade do sistema ferroviário de acesso ao porto. Quanto aos gargalos rodoviários, as prefeituras de Santos e de Cubatão vêm discutindo com o estado propostas para solução dos problemas existentes na Via Anchieta, sobretudo no que diz respeito ao trevo com a SP-55 e o já mencionado conjunto de obras na entrada de Santos. 83 Somente no segmento de contêineres, o terminal da EMBRAPORT, em construção na Área Continental de Santos, apresenta potencial para alcançar 1,85 milhão teu e a BTP, em construção no Saboó, na margem direita do Porto, a 1,79 milhão teu, somados à otimização e expansão dos terminais existentes que projetam estimativas de 1,9 milhão teu para Santos Brasil, 1,35 milhão teu para Libra Terminais, 900 mil teu TECONDI e 800 mil teu para a área do Saboó. 84 MRS Logística é uma concessionária que controla, opera e monitora a Malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal e uma das operadoras do sistema ferroviário de acesso ao Porto de Santos. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Diagnóstico dos gargalos do sistema ferroviário de acesso ao Porto de Santos. Fonte: Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos (CODESP, 2012, p.62). Diagnóstico dos gargalos do sistema rodoviário de acesso ao Porto de Santos. Fonte: Plano de Expansão e Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos (CODESP, 2012). Eixo das Avenidas Perimetral da Margem Direita e Governador Mário Covas Filho No tocante ao sistema viário de Santos, a construção parcial da Avenida Perimetral da Margem Direita, iniciada em 2007, no trecho denominado Paquetá-Outeirinhos, é o projeto mais importante realizado pela CODESP. Este trecho, contendo um viaduto e a pista expressa, eliminou o cruzamento em nível entre os sistemas rodoviário e ferroviário do Porto e foi orçado em R$ 68 milhões. O traçado completo da Avenida Perimetral, compreendendo todo o complexo portuário, deve ter 9,2 km, mas as outras etapas da obra ainda não estão contratadas. O traçado da etapa da avenida, cujas obras foram concluídas em outubro de 2010, possui 1,2 km de extensão, ligando a Rua Xavier da Silveira, entre o edifício José Armando Pereira (Edifício do Tráfego/DIROP), no Paquetá, até a confluência das avenidas Siqueira Campos (Canal 4) e Avenida Governador Mário Covas Filho, no Macuco. A imagem abaixo apresenta um esquema do traçado do trecho já em operação. 425 Traçado da Avenida Perimetral da Margem Direita do Porto de Santos. Fonte: CODESP (2008). Com alça viária em “Y”, segundo imagem apresentada a seguir, a Perimetral dá acesso aos terminais de açúcar, em um segmento e aos terminais de contêiner e de granel vegetal, no outro segmento. Uma das pistas segue pela faixa mais externa do Porto, junto à área urbana, atendendo ao tráfego destinado, principalmente, aos terminais de exportação de granéis vegetais e de contêineres, localizados na Avenida Governador Mário Covas Filho, na Ponta da Praia. A outra pista recebe o fluxo de entrada dos veículos que demandam aos terminais de açúcar, seguindo pela Avenida Eduardo Guinle, escoando esse tráfego através das vias transversais ao cais, direto para os terminais. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Vista aérea da Perimetral da Margem Direita do Porto de Santos. Fonte: CODESP (2009). Disponível em: http://www.flickr.com/photos/pacgov/5975198688/sizes/o/in/photostream/. Acesso em: 01 ago. 2012. Em função do geométrico da via, sobretudo pela curva existente na altura do cais de Outeirinhos, conforme imagem abaixo, e como consequência do derramamento de açúcar na pista85, que em contato com a água da chuva forma uma lama escorregadia, vem sendo registrados muitos acidentes nesta via, com tombamento de carretas e envolvendo veículos de passeio, pois, como antes ocorria com o precário sistema viário interno do porto, a Perimetral é utilizada por estes veículos, para reduzir o tempo de viagem entre o Centro e a Ponta da Praia. 85 Desde 2011, a CODESP vinha discutindo com os responsáveis pelos terminais de açúcar medidas para impedir o derramamento de açúcar na pista. 427 Acesso ao viaduto da Avenida Perimetral da Margem Direita do porto de Santos. Fonte: Banco de Imagens da CODESP. Disponível em: http://www.portodesantos.com.br/imagebank.php?paginacao=31#view10. Acesso em 01 ago. 2012. Este conflito entre trânsito de carga de passeio constitui-se em um dos maiores problemas da Perimetral, pois o sistema viário da cidade não apresenta uma solução mais conveniente para realizar este percurso. Até a instalação de radares no local, pela CET Santos, em abril de 2011, muitos acidentes eram registrados, em função da alta velocidade, inclusive com ocorrência de óbito. Contudo, até hoje ainda são registrados acidentes nesta via. Outro gargalo existente na área do porto, no percurso entre o Centro e a Ponta da Praia é o acesso ao terminal da empresa Libra, nas proximidades da confluência entre as avenidas Governador Mário Covas Filho (antiga Avenida dos Portuários) e Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6). Conforme a imagem ___ abaixo, a conversão a esquerda, no canteiro central da pista Macuco-Ponta da Praia, a qual é realizada por caminhões e demais veículos que acessam o pátio da Libra, costuma provocar muita lentidão e por vezes paralisa o trânsito neste importante eixo viário. O aspecto mais relevante desta questão é a localização na entrada do terminal, da balança utilizada pela empresa para pesar os caminhões86. Em ocasiões não raras em que o afluxo de carretas ao terminal é elevado, forma-se uma mangueira de tráfego na referida pista. E a ocorrência de filas duplas neste trecho é muito comum, dificultando ainda mais as condições de deslocamento entre a área central da cidade e a Ponta da Praia. 86 A questão da localização de balanças na entrada de terminais é um problema recorrente na cidade, pois recentemente a empresa Hipercon Terminais de Carga, localizada na Rua Bóris Kauffmann, no bairro Chico de Paula, Zona Noroeste, instalou balança junto ao portão de acesso do terminal. Caso a operação desta balança não seja ágil, poderão ser formadas filas até a Avenida Nossa Senhora de Fátima, na pista sentido São Vicente, criando assim, mais um gargalo nesta artéria. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Acesso a Libra Terminais, na Avenida Governador Mário Covas Filho. Fonte: Google Earth Os gargalos apontados na Perimetral e na Avenida Governador Mário Covas Filho indicam a necessidade urgente de algumas medidas operacionais de âmbito interno ao setor portuário, mas também no sentido de ampliar o nível de segregação do tráfego portuário do tráfego urbano. Neste aspecto, é importante considerar que parte dos deslocamentos de veículos de passeio poderia ser substituída por viagens em outro modal coletivo, reduzindo o carregamento das vias junto ao complexo portuário. Desta forma, o estudo de alternativa de transporte coletivo entre o centro e a Ponta da Praia merece especial atenção. Neste aspecto, merece menção o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos da Baixada Santista (VLT-BS), que será apresentado a seguir. Sistema Integrado Metropolitano – SIM e do Veículo Leve sobre Trilhos – VLT da Região Metropolitana da Baixada Santista A implantação do sistema de transporte coletivo operado por Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Baixada Santista, nas áreas insulares dos municípios de Santos e São Vicente, vem sendo discutida desde meados da década de 1990, em função da precarização e posterior desativação do sistema de transporte ferroviário de passageiros, que atendia estas áreas dos municípios, além da Área Continental de São Vicente. O ramal ferroviário que ligava Santos a Juquiá, no Vale do Ribeira, construído pela Southern São Paulo Railway, entre 1913 e 1915, foi adquirido pelo governo do estado de São Paulo, em 1927, e entregue à Estrada de Ferro Sorocabana, companhia estatal. O trecho entre Santos e Samaritá, bairro situado na Área Continental de São Vicente, foi incorporado à Estrada de Ferro Mairinque-Santos, que estava em início de construção no trecho da Serra do Mar e, o restante, foi transformado no ramal de Juquiá. Em 1981, o ramal foi prolongado pela FEPASA, estatal responsável pela linha desde 1971, até Cajati, no Vale do Ribeira, para abastecer com insumos as fábricas de fertilizantes de Cubatão. O transporte de passageiros entre Santos e Juquiá foi suspenso em 1997, depois de 84 anos. A linha seguiu ativa para trens de carga que 429 atravessavam quase diariamente a Zona Leste de Santos87, transportando enxofre do porto para Cajati. No início de 2003, quando barreiras caíram sobre a linha, no Vale do Ribeira, os trens deixaram de circular, definitivamente. Assim, o transporte de cargas foi suspenso e a concessionária responsável pelo ramal, naquela época, Ferrovias Bandeirantes S.A. (FERROBAN), desativou-o. Esta mesma linha era utilizada, no início da década de 1990, pelo Trem Intra-Metropolitano (TIM) de passageiros, que foi também desativada em 1999. Desta forma, toda a faixa ferroviária que corta a Ilha de São Vicente, do Canal dos Barreiros, em São Vicente, até o antigo pátio ferroviário do Macuco, em Santos, ficou ociosa, apresentando uma série de problemas no tocante a segurança pública e disposição irregular de resíduos sólidos. O TIM fazia o percurso entre o bairro de Samaritá, em São Vicente e a estação da FEPASA, na Avenida Ana Costa, no bairro Campo Grande, em Santos, ponto nodal e central à área com maior concentração de empregos da RMBS88. Este meio de transporte, tracionado por locomotivas a diesel e que utilizava os antigos vagões de passageiros da FEPASA, foi inaugurado pelo governo do estado, em 1990 e desativado pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em 1999, para reforma da composição89. Contudo, esta nunca mais voltou a rodar. Desde então, o governo estadual planeja a substituição deste sistema pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Após a retirada de circulação do TIM, em função do alto custo da tarifa cobrada pelo transporte metropolitano por ônibus para o deslocamento entre os dois municípios, milhares de trabalhadores passaram a utilizar o transporte por lotações, que cresceu expressivamente na década de 1990 e foi regulamentado pela Prefeitura de São Vicente. No mesmo período, o governo estadual e a prefeitura de Santos promoveram fortes restrições a este modal de transporte90, de maneira que, atualmente, apenas São Vicente possui grande participação das lotações no transporte de passageiros, constituindo-se este no sistema municipal. A partir da desativação do TIM e com a crescente demanda por transporte metropolitano, o governo do estado iniciou estudos para substituição do sistema. Em 1998, o estado vendeu o pátio da FEPASA, situado junto da antiga estação situada na confluência entre as Avenidas Ana Costa e Francisco Glicério, no bairro Campo Grande, por R$ 30 milhões. Na época, o governo estadual havia se comprometido a utilizar estes recursos para a implantação de um sistema operado por VLT. Em 1999, o estado anunciou a implantação de um sistema ligando Praia Grande, desde as proximidades com a divisa com Mongaguá, até o Terminal de Integração de Passageiros de Santos, na área central. Em 2001, a EMTU anunciava que a primeira fase do projeto seria implantada entre a Rodovia dos Imigrantes, em São Vicente e a Avenida Conselheiro Nébias, em Santos, com 9 km de extensão. A segunda etapa seria entre esta avenida e o bairro do Valongo, onde se localiza o Terminal de Integração de Passageiros do sistema municipal de ônibus de Santos. A terceira etapa seria a ligação com a Área Continental de São Vicente e o projeto era estimado em R$ 170 milhões. Mas neste mesmo ano, o então Secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Ribeiro Fernandes questionou a adoção do VLT, por considerar a implantação de um corredor de ônibus, do tipo Veículo Leve sobre Pneus (VLP), mais vantajosa, em função da “baixa demanda”91 em face do alto custo da implantação do sistema. No ano seguinte, a Secretaria apresentaria uma proposta de implantação do sistema VLP, segundo a qual, o custo para aquisição dos veículos custaria cerca de 10% do custo das composições do VLT. 87 Este percurso cortava toda a área insular do município, cruzando todas as vias de ligação entre o centro e a orla e se constituindo em um grande gargalo viário até sua desativação. 88 Diariamente o TIM transportava milhares de moradores das áreas Insular e Continental de São Vicente para o mercado de trabalho santista. Como consequência da desativação do TIM, a única alternativa para estes moradores passou a ser os ônibus operados por empresas privadas, sob fiscalização da EMTU, conforme apresentado anteriormente. 89 Quando retiradas de circulação, o estado de conservação das composições era precaríssimo em função da falta de manutenção. Na verdade, o sistema era deficitário, pois a CPTM não controlava eficazmente o acesso ao TIM e era comum o ingresso de passageiros sem pagamento de tarifa. Em 1996, a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA) apresentou uma proposta de revitalização do TIM, transformando-o em um VLT, segundo a qual isto seria mais vantajoso do que a implantação de um sistema motorizado sobre pneus. 90 O transporte coletivo por meio de lotações traz impactos negativos à malha viária, sobretudo num município como São Vicente, cujo sistema viário é subdimensionado. Estes impactos foram apontados pelos governos estadual e de Santos, como justificativa à restrição do modal. 91 A demanda diária de passageiros era estimada entre 90 a 110 mil, e a capacidade do VLT entre 12 e 15 mil por hora. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Esta posição, posteriormente, foi contestada pela Prefeitura de Santos, pois se considerava que ao longo de 20 anos de operação do sistema, este seria mais econômico, pois o VLP custaria cerca de 30% a mais. Esta avaliação baseou-se em estudo da CET Santos, realizado em 2005, segundo o qual, a implantação do VLP inicialmente seria mais barata, em torno de 63,6% do VLT. Contudo, a quantidade de veículos e de trabalhadores necessários durante duas décadas de operação, daria vantagem ao transporte sobre trilhos. Segundo esta fonte, os 14 carros adquiridos para o funcionamento do VLT durariam as duas décadas, enquanto seria necessário adquiri mais 54 ônibus para reposição da frota. Assim, ao longo dos 20 anos o VLT custaria 29,5% a menos do que o VLP. Em 2010, foi divulgado o estudo Avaliação Comparativa das Modalidades de Transporte Público Urbano, desenvolvido pelo escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados, sob encomenda da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Segundo este trabalho, a implantação de um corredor de ônibus do tipo Bus Rapid Transit (BRT), com alta capacidade, custaria em torno de 70% menos do que o VLT e poderia ficar pronto em metade do tempo. A comparação com o sistema previsto para a Baixada Santista era inevitável, pois nesta época o projeto desenvolvido pelo estado, com 11 km de extensão em sua primeira etapa, conforme imagem abaixo, ligando a Ponte dos Barreiros, em São Vicente, ao Porto de Santos, no Macuco, já era estimado em R$ 688 milhões, diante de uma estimativa máxima de R$ 228,5 milhões para implantação do sistema BRT, com o mesmo percurso92. O mesmo estudo aponta outras duas vantagens para o BRT: a duração das obras, estimada em metade do tempo se comparado ao VLT e a velocidade média dos ônibus rápidos, de 27,5 km/h contra 20 km/h. Etapas de implantação do sistema VLT da RMBS. Fonte: Jornal A Tribuna (2009, p.A-4). Em 2008, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (STM) elaborou e colocou em discussão o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do Sistema Integrado Metropolitano (SIM) e do VLT da 92 Embora os trajetos não tenham sofrido alteração, a cronologia de implantação destas etapas sofreu algumas alterações, as quais serão discutidas adiante. 431 Região Metropolitana da Baixada Santista (SÃO PAULO, 2008), para o processo de licenciamento ambiental da linha tronco do VLT, com 11, 1 km de extensão, entre a Ponte dos Barreiros (em São Vicente) e o pátio de manobras do bairro do Macuco, junto ao Porto de Santos. Segundo o RIMA (SÃO PAULO, 2008, p.12), o custo da implantação da linha tronco, considerando-se as obras civis, implantação dos sistemas e aquisição do material rodante, foi estimado em R$ 321.074.000,00. Segundo o EIA/RIMA, o sistema consistiria, além do tronco, entre a Ponte dos Barreiros e o Porto, de outros três ramais: o primeiro entre a citada Ponte e Samaritá (Área Continental de São Vicente), com 7,4 km; o segundo entre a Avenida Conselheiro Nébias e o Terminal do Valongo, com 4,2 km de extensão; e o terceiro, entre a mesma avenida e o terminal do sistema de balsas (Ferry Boat) situado na Ponta da Praia. Contudo, estas etapas não foram submetidas ao licenciamento ambiental. O mapa ___ anexo ao EIA/RIMA, apresenta, na cor verde, o traçado da linha tronco proposta. Traçado da linha tronco do VLT-BS, entre a Ponte dos Barreiros e o pátio do Macuco, junto ao Porto de Santos. Fonte: EIA/RIMA do SIM/VLT (SÃO PAULO, 2008, RIMA, p.7). Para a implantação do VLT, será necessário alargar o Túnel do Morro do José Menino, localizado na divisa entre Santos e São Vicente e construído pela Southern São Paulo Railway, conforme imagem ___ abaixo. Esta talvez seja a obra mais complexa a ser realizada, em Santos, para implantação do sistema. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Localização e perfis do Túnel do Morro do José Menino. Fonte: EIA/RIMA do SIM/VLT (SÃO PAULO, 2008, RIMA, p.8). Contudo, durante todos os anos em que a implantação do VLT foi discutida, a questão da opção tecnológica para implantação do sistema tronco do transporte metropolitano sempre foi controversa. Um dos poucos subsídios apresentados, no sentido de clarificar esta questão, é o gráfico abaixo, apresentado no RIMA e sem qualquer referência quanto à sua origem ou método de elaboração. No entanto, os dados se referem somente à capacidade de transporte da composição e às vantagens ambientais, não levando em conta todos os custos do sistema ao longo da duração do contrato de concessão. 433 Comparativo da capacidade de transporte das alternativas tecnológicas para implantação do sistema tronco do transporte metropolitano. Fonte: EIA/RIMA do SIM/VLT (SÃO PAULO, 2008, RIMA, p.8). Em outubro de 2008, a EMTU lançou o edital N° 007/08, para consolidação do projeto funcional das quatro etapas do SIM/VLT e elaboração do Projeto Básico para implantação da primeira etapa, denominada Terminal Barreiros – Terminal Porto, baseado no Estudo Técnico e Financeiro de uma Linha de VLT para a RMBS, elaborado pela Ingeróp Conseil & Ingénierie. No ano seguinte a empresa contratou o Consórcio Metrô Leve, vencedor da licitação, que se encarregou de consolidar o projeto funcional, de elaborar o projeto básico para a implantação da primeira etapa e para execução de melhorias no corredor viário formado pelo eixo das avenidas Nossa Senhora de Fátima (Santos) e Antonio Emmerich (São Vicente), por onde é prevista a implantação de um corredor de ônibus do sistema metropolitano, que se articulará com a linha tronco do VLT. Segundo este edital, o traçado do VLT prevê e incentiva a implantação de empreendimentos associados e considera os estudos de desenvolvimento urbano em andamento nos municípios de Santos e São Vicente, onde o eixo estruturador é parte integrante da Concessão do sistema metropolitano de transporte coletivo de passageiros da Baixada Santista, não podendo, em hipótese alguma, ser considerado corredor de transporte isolado e sujeito a regras diferenciadas. (EMTU, 2008, p.1) Assim, as 16 Estações de Transferências foram projetadas para possibilitar o pagamento antes do embarque nos veículos, diminuindo o tempo de embarque e desembarque, garantindo assim, maior velocidade e eficiência operacional. O documento acrescenta que, para gerar maior economia para o usuário de transporte público, o projeto considerou, de forma integrada, os “planos de trânsito e transporte dos municípios da RMBS” e a “adoção de política tarifária que não onere o custo da viagem em relação às já realizadas atualmente, configurando-se como modelo autossuficiente nas questões relativas ao equilíbrio econômico e financeiro da operação” e com gestão e controle exclusivos do estado por meio da EMTU/SP. Os projetos consideraram o aproveitamento da faixa de domínio existente da CPTM, antiga linha da FEPASA e a “Racionalização do Sistema Metropolitano de Transporte Coletivo sobre Pneus” contendo a proposição de novos itinerários, redução da frota, redução de custos operacionais e melhoria de conforto para o usuário. No tocante à faixa da CPTM, em Santos, no trecho entre as ruas Santa Catarina, no José Menino, e Silva Jardim, no Macuco, esta será objeto de permuta, com as faixas de propriedade do Município a qual se tornou Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 legalmente viável após a sanção da Lei Municipal N° 2.714, de 3 de setembro de 2010. Contudo, até o momento esta operação não foi efetivada. Esta permuta foi necessária para possibilitar a implantação de um novo geométrico no trecho da Avenida General Francisco Glicério, entre a Avenida Senador Pinheiro Machado (Canal 1) e a Rua Campos Melo. Desta forma, optou-se por implantar o trajeto do VLT entre as duas pistas de rolamento da mencionada via, conforme imagem abaixo. Esta alternativa não estava prevista no EIA/RIMA, como se observa pela análise do “Mapa do Traçado Básico / Projeto Funcional do VLT” (SÃO PAULO, 2008, CE-SIM/VLT-02, ANEXO B, folhas articuladas 1 e 2), que representa a inserção urbana do VLT e o seu traçado básico, no trecho de 11,1km, situado entre os municípios de São Vicente e Santos. Concepção artística da implantação do VLT e da ciclovia no canteiro central da Avenida Conselheiro Nébias, na confluência da Avenida Ana Costa, em Santos. Fonte: EMTU, 2010. Conforme Relatório Técnico apresentado pela Secretaria de Planejamento, da Prefeitura Municipal de Santos (SÃO PAULO, 2009, p.194-197), deduz-se que esta alternativa escolhida foi solicitada pela Municipalidade, amparada na avaliação de que assim seriam evitados “conflitos com marcos referenciais” e minimizadas “as interferências no traçado do VLT”. Esta avaliação se ampara no estudo comparativo dos estágios semafóricos, nos cruzamentos da Avenida General Francisco Glicério, no mencionado trecho. O referido Relatório é acompanhado de justificativa apresentada pela CET Santos, às (SÃO PAULO, 2009, p.198-205), em que são cotejadas as duas alternativas de locação da faixa do VLT: no canteiro central e na faixa da antiga ferrovia (FEPASA), para o caso do cruzamento com a Avenida Conselheiro Nébias. 435 Analisando-se a argumentação e os dados apresentados, pode-se afirmar que a opção adotada tem a vantagem de possibilitar uma economia significativa de tempo semafórico. Esta argumentação pode ser aplicada a todos os demais cruzamentos da via. Contudo, é preciso destacar que esta opção pelo posicionamento da faixa do VLT e da ciclovia93 no canteiro central, tem o inconveniente de aumentar sensivelmente o custo de implantação do empreendimento, em função das obras civis e mobiliário urbano que serão necessários para reposicionar a pista Boqueirão-José Menino, da Avenida General Francisco Glicério. No entanto, como no EIA/RIMA não se avaliou esta alternativa, e como nos autos inexistem estimativas destes custos, o montante a ser destinado à intervenção proposta é desconhecido. Da mesma forma não se sabe qual esfera de governo com eles arcará. Contudo, segundo matéria publicada no Diário Oficial do Município (VEÍCULO, 2010, p.3), a “participará com R$ 25 milhões” destinados às obras complementares no entorno do VLT”. Porém, a reportagem não fornece mais detalhes, o que impede que se saiba, se este valor se refere com exatidão à urbanização da Avenida Francisco Glicério. Outra consequência da escolha desta alternativa será a ampliação do conjunto das transformações urbanas esperadas para a Área Diretamente Afetada (ADA) do empreendimento, em especial para o setor urbano contíguo ao trecho em questão. O novo traçado geométrico projetado para a Avenida General Francisco Glicério, conforme registrado na mencionada planta e na planta DE-2.10.01.01/4F6-023, contém a faixa do VLT e a ciclovia a serem implantadas entre as faixas de rolamento, nos sentidos José Menino-Boqueirão e Boqueirão-José Menino. Contudo, na confluência desta avenida com a Avenida Ana Costa, a faixa de rolamento, destinada aos veículos motorizados, no sentido José Menino-Boqueirão, descreve uma curva acentuada, atingindo em grande parte o antigo “abrigo de bondes”, bem protegido como Nível I, no âmbito área envoltória fixada pela Resolução n° SC 01/99 de 19 de maio de 1999, do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Santos (CONDEPASA), que trata do Tombamento do Corpo principal do edifício da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, situado à Avenida Ana Costa, n° 34094. Nesta confluência, a faixa destinada ao VLT sofre um alargamento, em função da implantação da “Estação Ana Costa”. Porém, a despeito da necessidade de acomodar esta parada, em função da necessidade mais relevante de preservação do mencionado bem, não se justifica a implantação de uma faixa de rolamento com curva tão acentuada, mesmo considerando a necessidade de acomodar a Praça dos Expedicionários juntamente à faixa do VLT e da ciclovia. Esta situação seria facilmente corrigida se a Praça fosse implantada juntamente à testada da quadra delimitada pela confluência entre as avenidas Ana Costa e General Francisco Glicério e as ruas Bahia e Paraguai, no trecho da referida confluência, prevendo-se a faixa de conversão à direita, da Avenida General Francisco Glicério, para acesso à pista Centro-praia da Avenida Ana Costa. Conforme mencionado em Laudo Técnico integrante do referido Inquérito Civil, esta nova configuração teria duas vantagens: a primeira no que concerne à segurança de tráfego, possibilitando a implantação de um geométrico da pista José Menino-Boqueirão da Avenida Francisco Glicério com curva menos acentuada; a segunda quanto à facilitação do acesso de pedestres à Praça, em função da eliminação da necessidade de realizar a travessia da faixa de rolamento em questão. Acerca dos impactos urbanos decorrentes da implantação do VLT, no trecho entre o Túnel do Morro do José Menino e a Rua Campos Melo, especialmente no que respeita ao setor urbano diretamente afetado pela implantação do sistema entre as duas pistas de rolamento da mencionada Avenida Francisco Glicério, cabe ressaltar que o RIMA (SÃO PAULO, 2008, p. 45) observa que com a implantação e posterior operação do VLT estas transformações devem resultar na alteração do uso do solo na ADA, em função de modificações na sua estrutura econômica. Assim, é possível que haja um incremento no setor terciário, com consequente ocupação de imóveis que hoje não são ocupados ou estão subutilizados, o que seria benéfico, pois a população da ADA poderia usufruir de 93 94 A ciclovia, implantada no início da década de 1990, deverá ser remanejada. Livro Tombo 01, inscrição 30, folha 6, Processo n° 74.066/98-69. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 novas atividades terciárias, como consumidora ou como potencial mão-de-obra. Assim, o EIA avalia este impacto como “positivo, de ocorrência certa, de longo prazo de duração, espacialidade dispersa, causado pelo empreendimento e permanente”, com magnitude média, possuindo “medidas potencializadoras de baixo grau de resolução” e “grau de relevância” médio Contudo, o estudo (SÃO PAULO, 2008, p.45) aponta que o aumento dessas atividades provocará o crescimento “dos fluxos de pessoas, que por sua vez poderão incomodar os moradores dos locais que hoje são ocupados predominantemente por residências”. Estes transtornos provocariam, assim, impacto negativo, “de ocorrência provável, de longo prazo de duração, espacialidade dispersa, causado pelo empreendimento e permanente”, com média magnitude, “medidas mitigadoras de baixo grau de resolução” e “grau de relevância” médio. Na verdade, as consequências das alterações no uso do solo devem ser mais sentidas no setor urbano da ADA contíguo à reurbanização da Avenida General Francisco Glicério, provocando forte pressão para a conversão ao uso terciário dos imóveis residenciais que não forem incorporados para produção de empreendimentos de maior porte, sejam estes destinados ao uso terciário, residencial ou misto. Neste último caso, as transformações não se limitarão ao uso, mas também ao padrão de ocupação, que tenderá a reproduzir o padrão observado majoritariamente ao sul da Área de Influência Direta (AID), privilegiando a fixação de população com maior poder aquisitivo. O RIMA (SÃO PAULO, 2008, p.46) avalia, também, a questão da “Valorização/Especulação Imobiliária”, referindo-se ao “aquecimento atual do mercado imobiliário” observado que em Santos e São Vicente, estaria havendo o “aumento do valor do metro quadrado dos terrenos na região”, e atribuindo este fenômeno, especialmente, a três fatores: “inauguração da nova pista da Rodovia dos Imigrantes, as novas descobertas da Petrobras na região e a modernização do Porto de Santos que dobrará sua capacidade de atendimento em 10 anos”. O mesmo documento avalia que a operação do SIM/VLT pode contribuir para “o crescimento imobiliário atual nas regiões próximas aos locais das paradas no município de Santos, expandindo-se para o município de São Vicente”. Este fenômeno estaria vinculado ao aperfeiçoamento do sistema de transporte público, à valorização urbanística na ADA e, como decorrência, “a valorização imobiliária, ocasionando aumento no preço dos imóveis já existentes e a procura e ocupação pelos terrenos desocupados”. Em seguida, é feita a análise dos efeitos sobre o mercado de locações na ADA, devidos a um provável processo de retenção especulativa de imóveis, decorrente da implantação do sistema. Segundo o estudo, a população residente em imóveis alugados na ADA, ou seja, que não são detentoras (sic) dos imóveis em que vivem (sic), poderão (sic) sofrer com a pressão dessa valorização imobiliária, que estará sendo repassada nos valores dos aluguéis. Os locatários poderão ser “obrigados” a sair dos imóveis por não terem condições de pagarem o aumento dos aluguéis. (SÃO PAULO, 2008, p.46) Concluindo a análise, avalia-se este processo como positivo, em função do “benefício gerado para os proprietários de imóveis onde haja valorização do mesmo”, sendo o mesmo de ocorrência “certa, permanente, de longo prazo de duração, disperso, intensificado pelo empreendimento e de grande magnitude”. Observa-se que este impacto “não possui medida de potencialização” e por isso “deve ser considerado um impacto de alto grau de relevância”. Mas considerando-se “a pressão sobre os locatários de imóveis, cuja valorização e especulação imobiliária se faça valer, este impacto é classificado como negativo”. Desta forma, o RIMA contém a avaliação de que a “ocorrência deste impacto é certa, permanente, de longo prazo de duração, disperso, intensificado pelo empreendimento e de grande magnitude”. Mas, o estudo (SÃO PAULO, 2008, p.46)considera que este impacto “não possui medida de mitigação” e por esta razão “deve ser considerado um impacto de alto grau de relevância”. De fato, o provável processo de expulsão de locatários da área diretamente afetada pelo empreendimento deve ser esperado e possui alto grau de relevância. Mas considerar que não existem instrumentos disponíveis para enfrentar este fenômeno, capazes de mitigar suas consequências sociais deletérias, revela que o estudo 437 não se aprofundou no debate de soluções para os impactos urbanos, como seria desejável. No campo dos instrumentos urbanísticos que podem ser aplicados em nível municipal, sobretudo daqueles dispostos na Lei Federal n° 10.257, de 10 de julho de 2001, Estatuto da Cidade, existem alternativas viáveis, que devem ser aplicadas, como forma de fixar a população de menor rendimento, residente na ADA. Sobretudo se for considerada a alteração do projeto, que resultará no alargamento da Avenida General Francisco Glicério, ampliando sensivelmente o custo de implantação do sistema, não se pode permitir que grande parte do investimento canalizado para o projeto, seja ele público ou privado, venha a ser capturado pelos proprietários e investidores de imóveis na ADA, sem que haja recuperação e redistribuição do mesmo, ainda que parcial, pelo Poder Público. O mais importante nesta questão é que a valorização imobiliária na ADA, advinda da implantação do VLT, poderá agravar o processo da não fixação da população de menores rendimentos nesta área. Portanto, é importante que o Poder Público empreenda uma política urbana que objetive a recuperação e redistribuição destes investimentos. Deve-se destacar que a captura da valorização imobiliária, advinda dos investimentos públicos, pelos proprietários de imóveis e demais agentes do mercado imobiliário, não será a única forma de captura de mais-valia fundiária, na área em estudo. Todo este trecho da ADA deverá sofrer valorização expressiva, com a implantação do VLT. Assim, para impedir esta captura integral existem alternativas, no âmbito da política urbana, que permitem obter a recuperação desta valorização. Contudo, para serem exitosas, estas alternativas devem considerar, não apenas o princípio da recuperação dos investimentos realizados, mas também a redistribuição destes investimentos, de forma a repartir os ônus e bônus da implantação do projeto, com justiça social. Há, também, outra questão vinculada à valorização imobiliária na ADA, que merece especial atenção. É sabido que ao longo dos eixos dos transportes de maior capacidade, como consequência da mudança do uso do solo e desta valorização, costuma ocorrer um processo de redução da densidade demográfica. Este processo é indesejável, pois se o Poder Público investe recursos relevantes na implantação de um sistema de transporte, mas este sistema gera a redução da densidade demográfica, este fenômeno está contribuindo para fixar a população em localizações cada vez mais distantes, o que irá sobrecarregar o sistema no futuro, exigindo seu prolongamento, e provocar ocupação em áreas ambientalmente frágeis, afastadas da área insular. Portanto, trata-se de um processo francamente contraditório e que deve ser equacionado e enfrentado. Mas acerca desta questão, não há qualquer análise no EIA/RIMA do VLT-BS. Assim, por meio da revisão da legislação urbanística incidente na ADA, é necessário estimular a ampliação da densidade, de forma controlada, evitando-se a sobrecarga do sistema a e ocupação desordenada da periferia, no futuro, e potencializando-se o uso do VLT. Este estímulo à produção de maiores densidades pode ser obtido mediante à indução da produção de determinadas tipologias arquitetônicas adequadas às famílias com rendimentos mais baixos, impedindo-se um processo de clivagem socioespacial, como ocorre atualmente. Deve-se destacar, ainda, que desde 2008 a CPTM vem promovendo a desocupação de demolição dos vinte e nove imóveis residenciais de propriedade da empresa, que estavam localizados na faixa prevista para a implantação do VLT, e que eram ocupados por famílias de antigos ferroviários ou seus sucessores. Assim, as edificações construídas nesta faixa já foram desocupadas e demolidas. Mas, independentemente da situação jurídica em que se encontravam as famílias ocupantes, deve-se ressaltar o fato de que não se tem notícia de que o Poder Público, seja na esfera estadual, seja na municipal, tenha oferecido alternativa habitacional, para as famílias de baixa renda que eventualmente ocupavam estes imóveis. Neste aspecto, o RIMA (SÃO PAULO, 2008, p.47) estabeleceu a necessidade de oferta de assistência social às famílias, por meio de um “Programa de Negociação do Processo de Desocupação dos Imóveis da CPTM” que deveria “fornecer atendimento e auxílio aos moradores”, “durante o processo de desocupação dos imóveis, incluindo o transporte da mudança dessas famílias para as novas residências”. O documento propõe, ainda, que este programa tenha “como responsabilidade buscar e apoiar a inserção destes moradores em programas habitacionais governamentais, sempre visando à garantia de um padrão de moradia semelhante, ou melhor, ao existente atualmente”. Segundo a mesma fonte, este apoio deveria ocorrer “por meio da inserção em programas habitacionais governamentais” o que poderia ocorrer através de uma parceria entre a CPTM, Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 EMTU e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), medida que já teria sido implantada com sucesso em outros empreendimentos da CPTM. Em 2009, a EMTU anunciou que o início das obras de implantação da primeira etapa do VLT estava previsto para setembro de 2010. Na ocasião, a empresa informou que o estado investiria cerca de R$ 298 milhões nesta etapa, com a implantação e operação do VLT, além de melhoramentos na sinalização ao longo da faixa. Na época previa-se que o empreendimento ocorresse por meio de Parceria Público Privada (PPP), com contratação de empresa para construir e operar o VLT pelo prazo de 30 anos. Em março de 2010, a STM informou que a iniciativa privada investiria pouco mais de R$ 280 milhões para construção dos trens, renovação da frota de ônibus e para as obras de implantação. A pasta informou, também, que havia intenção de implantar bilhete único integrando o VLT ao sistema metropolitano de ônibus. Contudo, não foi cogitada a integração com os sistema municipais, o que é uma fragilidade relevante do sistema, pois em grande parte da Zona Leste de Santos, onde há maior concentração de atividades atratoras de viagens, o sistema municipal seria estratégico para garantir a mobilidade dos moradores de São Vicente e até de Santos, num parâmetro de despesa com deslocamentos acessível. Em 11 de junho de 2010 foi sancionada a Lei Municipal N° 2.694, segundo a qual, a Prefeitura ficou autorizada a celebrar com a EMTU convênio de cooperação técnica e apoio recíproco para a implantação SIM/VLT. A minuta de convênio anexa à lei faz menção a possível integração com os sistemas municipais, que dependeria de “Programas de Trabalho e Regulamentos específicos a ser elaborados entre as partes”. O mesmo documento prevê, ainda, a elaboração de um “plano integrado de transporte coletivo” que possibilite a “integração física e tarifária entre a rede de transporte local” e o SIM. A mencionada permuta entre as faixas de domínio do Município, com 27.400 m², e da CPTM, no eixo da Avenida General Francisco Glicério também está prevista na minuta. Além disso, o município deverá assumir as obras de urbanização complementares. Acerca da questão do valor da tarifa, em junho de 2010 a EMTU avaliava que o custo seria em torno de R$ 2,50, em valores da época. Conforme esta fonte, a empresa trabalhava com este valor como referência mínima e a contrapartida do estado, com relação à PPP seria da ordem de R$ 40 milhões, sendo que o prazo para exploração do sistema fora reduzido para 25 anos. Neste mesmo ano, a CET Santos informou que se considerava o pagamento da tarifa mencionada, apenas no sistema metropolitano, mas após a transferência para os sistemas municipais, esta deveria ser complementada. Em valores da época, estimava-se em R$ 0,75 esta complementação, somando R$ 3,25 o deslocamento entre a origem e o destino, quando houvesse necessidade de utilizar ambos os sistemas. Este valor era o da tarifa metropolitana predominante nas linhas entre os municípios, mas em situações em que a tarifa fosse menor, o diferencial entre ambas também seria reduzido, de forma a não onerar o passageiro. Desta forma, o sistema não representaria uma redução de custos efetivos, mas com a melhoria nas condições de conforto, esperava-se atrair passageiros e torna-lo sustentável. Em dezembro de 2010, a EMTU publicou o edital de licitação internacional N° 003/2010, para implantação do sistema, cujo traçado, localização das estações e concepção básica das mesmas é apresentado, respectivamente, nas imagens abaixo. Na segunda imagem é possível ver, ainda, em laranja, o traçado do corredor de ônibus planejado para o eixo das avenidas Nossa Senhora de Fátima (Santos) e Antônio Emmerick, em São Vicente. Segundo este edital, a modernização da frota de ônibus estava orçada em R$ 286 milhões, o valor das obras civis seria de R$ 193 milhões, da implantação dos sistemas de R$ 115 milhões e de aquisição do material rodante de R$ 94 milhões, totalizando R$ 402 milhões. Conforme a mesma fonte, as intervenções locais, a cargo dos municípios estavam orçadas em R$ 35 milhões. O valor total do contrato, por 25 anos de operação do sistema seria de R$ 4,7 bilhões, remunerados pela tarifa e acrescidos da contraprestação paga pelo estado, conforme índice de desempenho, e com possibilidade de receitas decorrentes da exploração comercial no 439 âmbito do sistema. Parte da tarifa seria repartida com os municípios, conforme ocorresse a integração, e com o SIM. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Traçado do VLT integrante do edital de licitação de 2010. Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU, 2010, Anexo 29, p.7. Localização das estações da linha tronco do VLT e do corredor de ônibus alimentador do sistema. Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU, Anexo 29, 2010, p.8. Concepção artística da estação do VLT no Canal 1 (Santos). Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU, Anexo 29, 2010, p.6. 441 O Anexo 29 do Edital, apresenta a tabela abaixo, que contém o modelo de integração tarifária do sistema. Segundo o documento, o VLT proporcionará a redução do tempo médio do usuário no modelo atual de 50 minutos para aproximadamente 33 minutos, uma redução de 33% no tempo de viagem. De acordo com a mesma fonte, os usuários do VLT apresentarão 1,69 de índice de transferência sendo que para os usuários da RMBS apresentarão índice de 0,35. Tal incremento no índice de transferência pode ser entendido pelo benefício da integração VLT com o sistema sobre pneus. Além disso, a implantação do sistema proporcionará uma redução da quilometragem diária rodada, para a EMTU, de 31%. Neste sentido, os estudos realizados considerando o crescimento populacional da região e as hipóteses de crescimento de empregos, de renda, e a maior oferta de infraestrutura sobre trilhos ao longo do horizonte de projeto, resultam no provável crescimento da quantidade total de passageiros transportados pelo VLT, cuja demanda de longo prazo, estimada para o ano de 2035, é igual a 2,4 vezes a demanda no momento de implantação do sistema, prevista para 2012. E também, pode-se considerar que o VLT tem potencial de participação crescente para os usuários exclusivos, nas diferentes etapas de implantação, sendo que na primeira etapa seria de 14,3%, e nas demais de aproximadamente 30%. Modelo de Integração e Tarifário (base em R$/2009) DESCRIÇÃO PROJETO DESCRIÇÃO MODELO DE INTEGRAÇÃO E TARIFÁRIO VLT entre Estação terminal Barreiros (São Vicente e Estação terminal Porto (Santos) VLT = R$2,40 VLT + Municipal = R$2,40 EMTU + VLT + Municipal: Tarifa EMTU EMTU + VLT + EMTU = tarifa VLT + acréscimo da tarifa grade EMTU Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU, 2010, Anexo 29, p.11. Segundo a mesma fonte, conforme a tabela abaixo, verifica-se o potencial crescimento de passageiros transportados diariamente, consoante os distintos tipos de integração, que superaria a marca de 100 mil por dia, no final do período da concessão. Passageiros transportados por dia pelo VLT. ANO VLT VLT + EMTU VLT + Municipal TOTAL 2012 6.442 28.311 10.317 45.070 2015 19.568 33.485 17.103 70.156 2020 23.755 41.157 18.896 83.808 2025 28.970 45.739 21.088 95.797 2035 32.166 52.753 23.246 108.165 Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU, 2010, Anexo 29, p.11. LEGENDA VLT – usuários exclusivos do VLT VLT + EMTU – usuários do VLT integrados com a EMTU ou EMTU e Municipal VLT + Municipal – usuários do VLT integrados com os sistemas municipais de Santos e/ou São Vicente O estudo apresentado no edital contém uma proposta de racionalização da rede de transporte metropolitano, da EMTU, na área central da RMBS, em face da implantação do VLT, conforme os mapas ___ e ___ abaixo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Esta proposta já considera a implantação do ramal do VLT na Avenida Conselheiro Nébias, em direção ao Valongo, bem como outro corredor de ônibus na Área Continental de São Vicente. Segundo esta fonte, a redução da frota na primeira etapa seria de 450 veículos para 233, na primeira etapa e alcançaria 176 nas demais, chegando, respectivamente a uma redução de 48% e 72%. Proposta de Racionalização da Rede de Transporte Metropolitano na área central da RMBS – 1ª Etapa (2010). 443 Proposta de Racionalização da Rede de Transporte Metropolitano na área central da RMBS – 1ª Etapa (2010). Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU (EMTU, 2010, Anexo 29, p.16). O projeto funcional prevê, ainda, a integração do sistema com os sistemas cicloviários municipais com a implantação de uma nova ciclovia conforme imagem abaixo. Contudo, no caso de Santos é importante observar que a ciclovia da Avenida General Francisco Glicério, cujo traçado é semelhante à linha vermelha a direita, já existe e deverá ser remanejada para o canteiro central. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 VLT-BS: Interligação entre a ciclovia existe e futura. Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU (EMTU, 2010, Anexo 29, p.17). O edital apresenta, também, a seção típica do VLT, no trecho da Avenida General Francisco Glicério, com a implantação da ciclovia, conforme imagem abaixo. Segundo esta fonte, a geometria das vias permanentes e estações do VLT prevêm utilização de material rodante com 44m de comprimento e, aproximadamente, 3,19m de largura, com trilho embutido em piso gramado ao longo do leito e rígido nas imediações das estações. As vias permanentes devem ter distância de 3,5 m, sem estação, ou 8,0 m com estação, entre seus eixos. A imagem apresentada em seguida, demonstra a Implantação tipo das estações do VLT. Seção típica do VLT, com implantação da ciclovia. 445 Avenida VLT Ciclovia Avenida Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU (EMTU, 2010, Anexo 29, p.19). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Implantação tipo das estações do VLT. Fonte: Projeto Básico Referencial do Edital de Concorrência da EMTU (EMTU, 2010, Anexo 29, p.20). Contudo, esta licitação que deveria permitir a contratação da empresa responsável pela aquisição do material rodante e implantação do sistema foi objeto de questionamento judicial, pela empresa Piracicabana, operadora do sistema metropolitano e municipal na área de implantação do SIM. Após mais um atraso, a licitação foi realizada em fevereiro de 2011, mas fracassou, por falta de interessados. Isto fez com que o projeto sofresse nova reformulação. Este resultado obrigou o estado a alterar o processo, de forma que a ele caberá, com recursos próprios, construir as linhas, as estações, o pátio junto ao Porto de Santos e também comprar as 22 composições previstas. Desta forma, apenas a operação do sistema caberia à iniciativa privada, de maneira integrada às linhas de transportes públicos já existentes. Atualmente o projeto compreende oito estações ao longo do trecho da primeira etapa, em que se prevê o pagamento da mesma tarifa dos ônibus metropolitanos, transportando 45 mil passageiros por dia, percorrendo o trecho Barreiros-Porto de Santos em 30 minutos, com 22 composições, com capacidade de 400 passageiros cada, com intervalo de três minutos e meio. A velocidade máxima dos trens pode chegar a 70 quilômetros por hora, mas a média no trecho deverá ser de até 35 Km/h. Segundo a EMTU, o investimento orçado para todo o VLT, que agora inclui também o segundo trecho, que ligará a Avenida Conselheiro Nébias ao Valongo, é de R$ 850 milhões. A expectativa da EMTU é de iniciar o primeiro trecho em 2012 e o segundo no início de 2013, com previsão de operação de ambos em 2014. Em janeiro de 2012, a EMTU contratou o Consórcio Projetos SIM RMBS para elaboração dos projetos funcionais dos trechos entre Samaritá, na Área Continental de São Vicente) ao Terminal Tatico, em Praia Grande; Conselheiro Nébias ao Terminal de Integração do Valongo e Conselheiro Nébias ao Ferry Boat, ambos em Santos. Este consórcio deverá realizar, ainda, uma pesquisa Origem-Destino da RMBS reduzida, atualizando a realizada em 2007. A entrega dos projetos está prevista para setembro de 2012. A imagem ___ abaixo apresenta os mencionados trajetos. 447 Os quatro trechos do sistema VLT-BS. Fonte: EMTU (2012). Para setembro do mesmo ano está prevista a entrega, pelo Consórcio Projeto VLT, do projeto executivo para o trecho de 11 quilômetros, entre o Terminal Barreiros (São Vicente) e o Porto (Santos). Este consórcio foi contratado em fevereiro. Em junho de 2012, a CET Santos apresentou estudo de alteração do trajeto de implantação do VLT na área central, no trecho Conselheiro Nébias–Valongo, conforme imagem ___ abaixo. Segundo este estudo, a empresa prevê a segregação de importantes eixos viários nesta área, as ruas Amador Bueno e General Câmara, para que o VLT deixe de passar pela Rua João Pessoa, a principal artéria do Centro, cujo trânsito segue no sentido Via Anchieta. Esta via deve passar por uma obra de revitalização, com implantação de ciclovia. Contudo, com a nova opção seria necessário remanejar algumas linhas de ônibus que passam pelas novas vias escolhidas e adotar esquema especial para o abastecimento do comércio da área, em função da via segregada. Alternativa de traçado do VLT no Centro, conforme novo estudo da CET Santos. Fonte: Jornal A Tribuna (22 jun. 2012). Este mesmo problema deve ocorrer na área em que a caixa da Avenida Conselheiro Nébias se estreita, e esta via passa a ser considerada Rua Conselheiro Nébias, no trecho entre a Rua Bittencourt e a Avenida Xavier da Silveira, no Paquetá. Conforme imagem abaixo, pode-se observar que a implantação do VLT, como planejada, retirará a possibilidade de outros veículos transitarem pelo referido trecho, que atualmente é mão única no sentido Porto. Este trecho, embora estreito, é muito utilizado para a ligação centro-orla e possui cruzamento com importantes vias. Portanto, esta implantação deve merecer especial atenção, por parte da EMTU, no sentido de estabelecer uma interlocução com a sociedade, em especial com os comerciantes da área. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Seção transversal da implantação do VLT na Rua Conselheiro Nébias, Santos. Fonte: Jornal Boqueirão News (9 mar. 2012). Disponível em: http://www.boqnews.com/ultimas_texto2.php?cod=11913. Acesso em: 5 ago. 2012. Em 27 de julho de 2012 foi realizada a apresentação de propostas pelas empresas interessadas em vender o material rodante, composto por 22 veículos, com estimativa de investimentos de R$ 284,3 milhões, com previsão de assinatura do contrato em setembro. Neste certame duas empresas estrangeiras apresentaram propostas. No início de agosto deve ser publicado o edital de licitação para o fornecimento de sistemas de energia, sinalização, telecomunicações, bloqueios, controle de tráfego, catracas e guichês. Quanto à construção da primeira etapa do VLT, no início de 2012, a EMTU publicou edital para contratar empresa encarregada esta que a parte mais complexa do projeto. A construção foi dividida em lotes, sendo o Lote 1 correspondente ao trecho Barreiros-Porto. Contudo, após três adiamentos, em março, na abertura da pré-qualificação das empresas participantes da nova concorrência, o Tribunal de Contas do Estado determinou a suspensão do certame, acolhendo representação de uma das participantes. Depois de problemas judiciais e da alegação da falta de estudo de impacto ambiental e urbano, uma vez que o projeto fora alterado, a licitação para as obras foi retomada em abril, com a entrega da documentação técnica para a pré–qualificação das empresas interessadas em realizar as obras. Cinco consórcios foram habilitados e até o momento está em curso a análise de recursos das participantes. Segundo a EMTU, em agosto devem ser publicados dois editais para contratação dos consórcios que devem fazer as obras entre Barreiros (São Vicente) – Porto (Santos), que é o trecho prioritário, e a extensão entre Conselheiro Nébias e Valongo. Assim, a previsão atual de início das obras é entre setembro e outubro deste ano, com conclusão estimada no primeiro semestre de 2014. Portanto, a implantação do VLT parece ser irreversível, embora algumas definições importantes estejam pendentes e careçam de discussão aprofundada com a sociedade. Dentre estas, pode-se citar como as mais importantes o efetivo valor das tarifas, assim como o modelo de integração tarifária com os sistemas metropolitano e municipais. De grande importância, também, são as questões que envolvem a recuperação 449 da mais valia fundiária na ADA, em especial nas proximidades das estações, e a definição do geométrico na área do abrigo de bonde da Avenida Ana Costa e no Centro de Santos. Quanto a esta questão, deve-se ressaltar a importância de garantir um esquema de abastecimento e acesso de veículos de carga para as atividades terciárias situadas nos trechos de vias segregados. Por último, em que pese o estágio em que se encontra a implantação do sistema, merece relevo a questão da definição da alternativa tecnológica adotada para seu funcionamento, a qual ainda carece de maior fundamentação técnica. Por outro lado, outras intervenções de grande importância para a melhoria das condições de mobilidade no centro da RMBS vêm sendo discutidas, nos últimos anos. Dentre as quais as mais significativas são os túneis de transposição do maciço central da Ilha de São Vicente, para ligação entre as zonas Leste e Noroeste de Santos, e de ligação submarina entre Santos e Guarujá. Portanto, estas obras, que poderão consolidar uma ligação regional na direção Leste-Oeste, conectando o distrito de Vicente de Carvalho a São Vicente e ao SAI, serão discutidas a seguir. Túneis de ligação Leste-Noroeste e Santos-Guarujá Nas últimas décadas, a crescente pendularidade da área central da Baixada Santista, cujos pontos focais são o parque industrial de Cubatão e as atividades localizadas na Zona Leste, transformaram os acessos a estas áreas em grandes gargalos viários, que se constituem em obstáculos para o fluxo de cargas e pessoas, provocando deslocamentos cada vez mais demorados e estressantes, além de significativas perdas econômicas. A imagem abaixo apresenta um esquema dos principais gargalos existentes, sobre a base cartográfica da imagem, que contém a representação da concentração de empregos na Ilha de São Vicente e, sobretudo na Zona Leste de Santos. Nesta representação podem-se ver os principais gargalos viários de Santos, provocados pela pendularidade e pelo trânsito portuário. As setas amarelas assinalam os gargalos norte e sul. O gargalo norte, na entrada da cidade, na confluência entre Via Anchieta e avenidas Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes, é provocado pelo trânsito entre o Planalto95, a SP-55, Cubatão, São Vicente, Zona Noroeste e Centro de Santos. O gargalo sul, nas avenidas da orla, na divisa entre Santos e São Vicente, é provocado pelo trânsito entre os municípios do Litoral Sul e, principalmente, São Vicente, Praia Grande e Santos. O gargalo nos Morros, nas vias do Morro da Nova Cintra que ligam os bairros Marapé a Caneleira, representado pelas setas laranjas, corresponde aos deslocamentos entre São Vicente, Zona Noroeste e Zona Leste. Os gargalos em vermelho se referem aos deslocamentos hidroviários entre Santos e Guarujá, inclusive com Vicente de Carvalho. Os gargalos norte e sul são efetivamente os mais importantes e mais críticos, tornando as viagens pendulares nestas vias um transtorno crescente, nos horários de pico. Mas nos últimos anos, a alternativa dos Morros, que surgiu no final da década de 1980, tornou-se crítica, sobretudo no final da tarde, em função da topografia acidentada e da baixa capacidade do sistema viário desta região. Os gargalos hidroviários são motivados pelas fragilidades dos sistemas, as quais já foram descritas. 95 Os deslocamentos diários de trabalhadores santistas que afluem ao mercado de trabalho na capital, por meio de veículos de passeio, ônibus fretados e intermunicipais, também aumentou muito no período. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Principais gargalos viários de Santos provocados pela pendularidade e pelo trânsito portuário. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.89). Elaboração: Instituto Pólis. O conjunto destes deslocamentos transforma a Zona Leste de Santos no grande ponto nodal da Baixada Santista e as deficiências da infraestrutura viária, aliada à opção crescente pelo transporte individual, provocam seu congestionamento, não apenas nos horários de pico, mas durante grande parte do dia. O espraiamento da população, a partir da década de 1950, que fez crescer os municípios vizinhos a Santos, é sem dúvida o grande determinante desta pendularidade, embora não seja o único. Mas como foi ressaltado anteriormente, a fixação da população em localizações ao redor de Santos, e a necessidade de dotar o centro da região de melhor infraestrutura viária já eram previstas em estudos técnicos de meados do século passado, dentre os quais o mais importante é o Plano Regional elaborado por Prestes Maia. Neste aspecto, Maia (1950, p. 165) considerava o acesso à Ilha de Santo Amaro uma das questões mais importantes do Plano Regional. Após detalhado estudo de tecnologias e localizações, o urbanista apresentou duas soluções para esta ligação. A primeira seria uma ligação rodoviária e ferroviária, com construção de uma ponte com ao menos 60,0 m de altura ou com túnel submarino, desde o Saboó, passando sobre a Ilha Barnabé, e acesso ao continente nas proximidades do bairro Monte Cabrão, de onde derivaria para a Ilha de Santo Amaro. Esta solução previa, também, uma ligação de caráter urbano, por meio de uma ponte com altura de apenas 25,0 m e vão central levadiço, na altura da linha de alta tensão de Itatinga, com acesso no bairro do Macuco, em Santos. Esta solução possuía uma alternativa estudada, por meio de um túnel sob o estuário. Neste estudo, Maia descartava a localização dessa ligação na Ponta da Praia, por considera-la um obstáculo ao acesso ao Porto e não ser uma ligação equidistante, com relação ao centro e a orla. A imagem 451 abaixo apresenta um fac-símile da ilustração da obra de Maia, contendo as mencionadas ligações. Na mesma imagem pode-se observar a ligação entre as áreas Insular e Continental de São Vicente, já implantada pela ferrovia São Paulo Railway e posteriormente por meio da ponte rodoviária A Tribuna. Fac-símile de planta dos eixos rodoferroviários do Plano Regional de Santos. Fonte: O Plano Regional de Santos. (Maia, 1950). A segunda solução estudada era semelhante à primeira, e consistia na implantação em duas etapas. Na primeira, a ligação Saboó-Barnabé-Monte Cabrão-Ilha de Santo Amaro seria ferroviária e posteriormente seria aduzida de uma ligação rodoviária. Essa proposta até hoje não foi concretizada e recentemente foi defendida por CODESP, Prefeitura de Santos e Ecovias, como a prioritária, em função de sua importância para a ligação entre as margens direita e esquerda do Porto. Em 2011, proposta neste sentido foi apresentada, conforme imagem abaixo, ao governo do estado, que ficou de analisa-la, mas até o momento não apresentou manifestação conclusiva sobre a questão. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Concepção artística da Ponte Saboó-Ilha Barnabé. Fonte: Jornal A Tribuna (2009, p.C-6). A proposta consistia de uma ponte com 4,58 km de extensão, dotada de mais de 3,00 km de pistas de acesso, totalizando 7,58 km. A altura do tabuleiro seria de 85,00 m, com vão livre para a passagem de navios, considerada, pela CODESP, suficiente para atender os cargueiros que utilizam o complexo portuário. Na década de 1970, a proposta de Maia começava a tornar-se parcialmente realidade, pois foi estabelecida a ligação da Ilha de Santo Amaro ao continente, pelo eixo da SP-55, que liga a Cubatão e à Via Anchieta, com pontes rodoviária e ferroviária sobre o canal de Bertioga. A ponte ferroviária, construída pela Rede Ferroviária Federal96, com o tabuleiro do vão central móvel, conforme imagem abaixo, é uma das mais notáveis obras de engenharia do sistema de acesso ao complexo portuário santista. 96 Atualmente esta ponte faz parte da malha concedida à MRS Logística. 453 Ponte ferroviária sobre o Canal de Bertioga. Fonte: Instituto Pólis (2011). Contudo, nas últimas décadas, com a ampliação das instalações portuárias na margem esquerda do Porto, em Vicente de Carvalho, onde se estabeleceram terminais de contêineres, de granéis sólidos e líquidos, os deslocamentos entre ambas as margens aumentou consideravelmente e esta ligação vem sendo reivindicada pelo setor portuária. Mas em função da pendularidade entre o distrito de Guarujá e a cidade de Santos, esta ligação é também defendida como solução para o gargalo hidroviário. Contudo, setores técnicos e empresariais enxergam nesta alternativa, a possibilidade de expansão urbana da cidade de Santos, sobre sua Área Continental, o que seria extremamente desaconselhável, pois assim se estaria criando mais uma pendularidade e a capacidade de suporte desta região para urbanização é extremamente limitada, em função da ausência de infraestrutura urbana e dos condicionantes ambientais relevantes existentes. No entanto, esta opção pela ligação pela Ilha Barnabé não seria inteiramente satisfatória para eliminar o gargalo hidroviário sul, na área atendida pelo Ferry Boat e pelas barcas Santos-Guarujá, entre os bairros Ponta da Praia de Santa Rosa. Em função da necessidade de garantir esta ligação, o governo estadual vem discutindo alternativas tecnológicas e locacionais há várias décadas. Contudo, nos últimos anos, com o agravamento deste gargalo, o assunto tornou-se objeto de estudos e propostas que merecem um grande nível de aprofundamento, em função das consequências desta ligação, em termos de impactos urbanos, em especial no que tange à mobilidade da Zona Leste de Santos. Como observado anteriormente, em meados do século passado, quando Maia apresentou os planos Regional e Regulador, a conjuntura da ligação entre Santos e Guarujá era muito diversa da atual, pois como relembra o recente estudo da DERSA sobre esta ligação (DERSA, 2011, p.17) a população de Santos representava cerca de 76,0% da população da área que hoje constitui a RMBS, sendo que São Vicente representava cerca de 12,0% e Guarujá e Cubatão aproximadamente 5,0% cada um. Desta forma, pode-se dizer que a economia da região estava extremamente concentrada em Santos. Atualmente, com o crescimento demográfico e da base econômica dos demais municípios, a população de Santos representa cerca de 25,0% da região, como resultado da expansão urbana horizontal, decorrente do aumento do custo da habitação, que provocou intensa migração a partir da década de 1970, dando conformação à mancha urbana hoje existente. O estudo da DERSA avalia que os projetos mais recentes para a ligação Santos-Guarujá “foram marcados por uma concepção quase puramente local, não obstante seus objetivos incluíssem a melhoria da circulação entre as cidades”. Dentre estas propostas, destaca-se a ponte entre Santos e Guarujá, ligando a Ponta da Praia e o Santa Rosa, apresentado em 2009, pelo governo estadual. Conforme imagem abaixo ___ esta proposta, que previa a ligação desaconselhada por Prestes Maia, na entrada do Canal do Porto, possuiria tabuleiro com altura livra de apenas 70,0 m, insuficiente para a passagem de navios cargueiros e transatlânticos de maior Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 porte. Além destas questões, outro inconveniente seriam as enormes rampas necessárias para ganhar a altura do tabuleiro da ponte, cujos impactos urbanos em ambos os lados do estuário seriam significativos. É importante destacar, que nem a CODESP, nem a Marinha, ou mesmo o Conselho de Autoridade Portuária (CAP), não foram consultados acerca da proposta. Assim, esta proposta sofreu imediata e contundente reação da sociedade e posteriormente deixou de ser cogitada. Concepção artística da Ponte Santos-Guarujá apresentada pelo governo estadual. Fonte: Jornal da Orla (2009, p.17). Conforme a DERSA (2011, p.17), com o decorrer dos anos, a expansão urbana, que levou a uma mudança das relações espaciais e funcionais entre o porto e a área urbana contígua, passaram a exigir um enfoque mais global do projeto. Assim, segundo a DERSA, é importante que se considere “aspectos relacionados ao desenvolvimento urbano, à integração de modos de transporte, à questão ambiental e à logística regional”. Tendo em vista essa dinâmica, o projeto da ligação demandou uma nova abordagem, que requereu a compreensão das condicionantes socioeconômicas e logísticas regionais. Segundo esta fonte, a “grandeza dos volumes de deslocamentos de pessoas e bens na região é também muito expressiva”, pois em 2010, foram realizadas cerca de 63 mil viagens diárias de automóveis, motocicletas, bicicletas, a pé e em catraias entre Santos e Guarujá, além de 3 mil viagens de caminhões associadas às atividades urbanas e portuárias. Além desta demanda, os estudos desenvolvidos pela DERSA (2011,p.18) consideraram que a exploração de petróleo irá imprimir novas demandas de viagens entre os municípios, com a perspectiva de criação de cerca de 100 mil novos empregos, na região, até 2020, com ampliação mais expressiva em Guarujá e Cubatão. Portanto, o projeto da travessia desenvolvido pela DERSA utilizou metodologias e técnicas de planejamento que permitiram a avaliação comparativa dos atributos de sete alternativas locacionais para a ligação, de forma detalhada, assim como Maia estudou a questão, no final da década de 1940. Segundo a empresa, a alternativa escolhida, para a qual foi concebido o projeto funcional de engenharia, é a que atende de forma mais completa as funções mencionadas, pois: Atende as demandas atuais e futuras das várias categorias de viagens com diversos modais como pedestres, ciclistas, motociclistas, automóveis, caminhões de todos os portes, ônibus urbanos, incluindo as do VLT; 455 Conecta as zonas de maior geração de viagens em Santos e no Guarujá; Minimiza a produção e os tempos globais de viagens na região; Permite a integração dos sistemas de transportes públicos; Maximiza a acessibilidade aos modos não motorizados e Atende às viagens entre ambas as margens do porto e parte das originadas no planalto para o porto. Assim, de acordo com a DERSA (2011, p.18), a opção escolhida considerou diretrizes de sustentabilidade, segundo as quais a mobilidade urbana constitui um dos maiores desafios, e as funcionalidades logísticas do porto, com seu sistema de acesso. A proposta da nova ligação, denominado Projeto Prestes Maia, considerou, ainda, os dados da Pesquisa ODBS, os quais foram aprofundados. Assim percebeu-se que um dos efeitos associados a uma nova ligação viária é a redistribuição de viagens, devida à alteração nas rotas de uma parcela dos motoristas. Com isso, algumas vias passam a receber acréscimos de tráfego e outras têm reduções. Por esta razão, com o auxílio do modelo de rede foram feitas várias análises para cada uma das 13 alternativas estudadas97 e para os modos automóvel e caminhão a respeito das alterações no carregamento de tráfego previstas no sistema viário principal de Santos e Guarujá. Desta forma, os principais resultados das simulações, do ponto de vista da realocação de viagens, conforme a imagem abaixo, que apresenta o agrupamento das alternativas em sete localizações distintas, foram: As alternativas por Barnabé-Bagres atraem, em relação às demais, maiores volumes de tráfego de automóveis para a entrada de Santos, nos trechos finais da Via Anchieta. Também são as que proporcionam as maiores reduções de tráfego na SP-55, no trecho entre a interseção com a Via Anchieta e a praça de pedágio “Santos” (na rodovia Cônego Domenico Rangoni). Nas alternativas A, B, C, D e E foram projetadas reduções de tráfego de automóveis nas avenidas Bartolomeu Gusmão, Dr. Pedro Lessa, Afonso Pena e Portuários, no trecho entre a Av. Conselheiro Nébias e a Ponta da Praia. Tal redução é explicada pelas viagens que transitavam por esses eixos visando acessar as balsas e que deixam de fazê-lo ao utilizar a nova ligação. O benefício é maior nas alternativas D e E, que captam os maiores volumes da balsa. À exceção da alternativa G, todas implicarão em grande redução de tráfego de automóveis em toda a extensão da R. Dr. Adhemar de Barros, principal eixo de acesso às balsas no lado do Guarujá. As alternativas E e F implicarão em acréscimos de tráfego de caminhões no eixo portuário, entre a região do Outerinhos e o Valongo, sendo que maiores efeitos são projetados para a alternativa E. As alternativas D, E e F que conectam, no lado Guarujá, Vicente de Carvalho acarretariam em pequenos acréscimos de tráfego de automóveis na Av. Santos Dumont. As alternativas C e D trariam acréscimos de volume e circulação de tráfego de automóveis para a região central, contribuindo para aumentar o problema de saturação já existente em diversos pontos do sistema viário da região. Em todas as alternativas preveem-se reduções de tráfego de automóveis e caminhões na SP-55, no trecho entre a interseção com a Via Anchieta e a praça de pedágio “Santos”. Essas reduções têm dois motivos: o realocação das viagens entre o planalto e a região de Guarujá, Bertioga e litoral norte que se utilizavam da SP-55 e passam a usar a nova ligação; 97 As treze alternativas de ligação, em túnel ou ponte, foram agrupadas em sete, de acordo com a localização, pois segundo o estudo de demanda em rede é indiferente a opção tecnológica. Foram consideradas propostas anteriores, dentre as quais a proposta da CODESP, Prefeitura e Ecovias, assim como estudos realizados pela Figueiredo Ferraz. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 o parcela de viagens entre Santos e Guarujá (e outros municípios no lado da margem esquerda do canal realizadas atualmente pela Via Anchieta e SP-55 e que passam a ser realizadas pela nova ligação. A proporção dos volumes realocados devido ao primeiro motivo varia de acordo com a localização da alternativa. Nas alternativas A e B tal efeito é observado com maior intensidade. Alternativas locacionais da ligação Santos-Guarujá. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.147). Metodologicamente, o estudo considerou a demanda atual e futura de viagens, avaliando diversos cenários, sobretudo com a instalação da Petrobras em Santos e Guarujá e a ampliação do Porto. A partir deste esforço, foi montando um modelo de simulação, que possibilitou calibrar a alocação de viagens. A partir da análise de projeções macroeconômicas e setoriais, construiu-se o modelo de geração de viagens a partir do qual, a comparação das alternativas estudadas ficou mais clara. Também foi necessário montar um cenário sem o sistema de balsas, para melhor avaliar o volume de tráfego e potencial geração de receita, com cada alternativa. Com base nestes estudos foi possível montar uma matriz comparativa, a partir de indicadores e pontuação das alternativas, conforme tabela abaixo. 457 Matriz de indicadores e pontuação das alternativas. Fonte: Projeto Prestes Maia: Estudos de Transporte e Tráfego (DERSA, 2011, p.207). Desta forma, as principais conclusões do estudo (DERSA, 2011, p.208-210) podem ser assim sintetizadas: As alternativas ao norte do canal, localizadas em Barnabé-Bagres98, são as que apresentam maior eficiência no atendimento às demandas de caminhões e de movimentação do porto. Isso se explica pela sua proximidade aos maiores polos geradores de viagem no porto, que se situam atualmente na região da Alemoa e Saboó e futuramente na região das ilhas Barnabé e Bagres, onde estão previstos grandes investimentos de expansão. As estimativas indicam que esta alternativa de localização atenderia a uma demanda de caminhões 23,0% maior do que a projetada para a alternativa Vicente de Carvalho e 40,0% maior do que aquela prevista para a Ponta da Praia. Com a futura expansão do porto esta diferença se ampliaria, tendo-se estimado que, no horizonte 2030, a demanda atendida por Barnabé-Bagres seria o dobro daquela potencialmente atendida por Vicente de Carvalho e quatro vezes superior àquela prevista para a alternativa Ponta da Praia. As alternativas ao centro e ao sul do canal, identificadas por Vicente de Carvalho e Ponta da Praia, respectivamente, são as que melhor atenderiam à demanda de ciclistas e pedestres que atualmente se utilizam do sistema de balsas e barcas. Os resultados apresentados neste estudo indicam que a localização em Vicente de Carvalho é a que traria maiores ganhos de acessibilidade aos pedestres, ressaltando-se que esta categoria se refere em grande parte a usuários de transporte público, que chegam de ônibus em um dos lados do canal e, após a travessia pelas balsas e barcas, embarcam em outro ônibus no outro lado do canal para prosseguir viagem. Para essa parcela da demanda de viagens, uma ligação ao centro do canal traria importantes economias em tempos de viagem99. Com relação aos ciclistas as alternativas Ponta da Praia e Vicente de Carvalho trariam benefícios semelhantes em termos de ganhos em acessibilidade, sendo a primeira ligeiramente superior. A alternativa Barnabé-Bagres seria pouco eficiente no atendimento a essas duas demandas. Com relação ao potencial de geração de receitas de pedágio, a alternativa Barnabé-Bagres teve o melhor desempenho dentre os três grupos analisados. Os resultados das estimativas indicam que, em todos os cenários de evolução de demanda analisados, esta alternativa é a que capta as maiores parcelas de tráfego de automóveis e, principalmente, de caminhões. Considerando-se o cenário tendencial, a alternativa Barnabé-Bagres teria um potencial de geração de receita para o período de 30 98 99 Esta alternativa locacional é a defendida por CODESP, Prefeitura e ECOVIAS. Esta conclusão reafirma a conclusão de Prestes Maia, sessenta anos antes. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 anos que seria 38,0% superior àquele projetado para a alternativa Vicente de Carvalho e 47,0% ao da Ponta da Praia. No atendimento ao tráfego urbano de automóveis, ou seja, a demanda de viagens dos municípios de Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá, que necessita cruzar o canal, as alternativas Ponta da Praia e Vicente de Carvalho são as de melhor desempenho. Como demonstrado pelo referido estudo, da demanda atendida pelas alternativas ao norte do canal, entre 48,0% e 54,0% seriam de viagens urbanas. No caso de Vicente de Carvalho, esse total seria em torno de 80,0% a 85,0% e na Ponta da Praia, entre 87,0% e 89,0%. Com relação à atração de tráfego rodoviário, aquele que atualmente se utiliza da SP-55, as alternativas ao norte do canalsão as que captam as maiores parcelas desse tipo de viagem. Estimou-se que esta localização captaria, da SP-55, cerca de 8 mil viagens/dia de automóveis. As alternativas Vicente de Carvalho captariam de 2 mil a 3 mil viagens/dia e as da Ponta da Praia cerca de 2 mil. Com relação a caminhões, as alternativas Barnabé-Bagres atrairiam cerca de 1,4 mil veículos/dia, as em Vicente de Carvalho, entre 800 e 1.300 caminhões/dia, e as na Ponta da Praia, menos de 250 caminhões/dia. Há dois aspectos a serem considerados na atração dessa demanda para a ligação proposta: um efeito positivo, na geração de receitas adicionais de pedágios, e um negativo, dado pela atração de viagens rodoviárias para áreas urbanas. As alternativas localizadas no centro do canal são sensivelmente melhores do que as demais com relação à redução de circulação de automóveis e caminhões. Para automóveis os benefícios totais são próximos; o que as distingue é o tipo de demanda beneficiada: no caso de Barnabé-Bagres, a maior parte dos benefícios é decorrente da redução de distâncias de viagens rodoviárias que passam a usar a nova ligação, enquanto para a alternativa Vicente de Carvalho isso se deve principalmente aos ganhos obtidos nas viagens urbanas que cruzam o canal. Os maiores benefícios observados para caminhões no centro do canal se explicam pelos intercâmbios entre Santos e Guarujá de veículos de pequeno porte e pelas viagens, entre as margens, de caminhões atendendo ao porto, parcela da demanda para a qual a alternativa Vicente de Carvalho resulta em maiores ganhos com redução de distâncias de viagem. Este resultado se altera nos cenários futuros, onde a expansão do porto leva a que a localização em Barnabé-Bagres tenha os maiores benefícios para veículos comerciais. As alternativas localizadas no centro do canal (Vicente de Carvalho) são associadas às maiores economias em tempos de viagem para automóveis. Para caminhões, a localização em Barnabé-Bagres tem benefícios equivalentes à alternativa Vicente de Carvalho; no caso da primeira, os ganhos são decorrentes principalmente de viagens do tipo “planalto-margem esquerda” realocadas da SP-55 para a ligação, enquanto na segunda, são explicados pela demanda de viagens, entre Guarujá e Santos, de caminhões menores e entre as margens do porto, no caso de caminhões de grande porte. A alternativa na Ponta da Praia é que traria os menores benefícios em reduções de tempos de viagem para caminhões. • Com relação à geração de circulação de tráfego de caminhões no eixo perimetral portuário na margem direita, a alternativa Vicente de Carvalho provocaria um impacto de 10,0% a 13,0% de acréscimo médio ao longo desse eixo, enquanto a alternativa Barnabé-Bagres implicaria em aumentos de 2,0% a 3,0% e as alternativas na Ponta da Praia, de 4,0% a 8,0%. Portanto, como conclusão final, o estudo considerou que a definição da alternativa mais adequada para a localização da nova ligação Santos-Guarujá passasse pela decisão de quais demandas seriam prioritariamente atendidas e que tipos de impactos de transporte seriam toleráveis ou mais facilmente mitigáveis. Esses aspectos, juntamente com aqueles relacionados aos custos, viabilidade técnica, restrições, impactos urbanísticos e outros inúmeros fatores também determinantes para a localização da travessia, a serem 459 definidos no projeto de engenharia, devem contribuir para a escolha do local mais adequado para a implantação da futura Ligação Santos-Guarujá. Como consequência destes estudos, em 2011, o governo estadual escolheu a alternativa “E”, OuteirinhosVicente de Carvalho, em localização muito próxima à da ponte estudada por Prestes Maia, cujo acesso, no lado de Santos, seria o eixo das ruas Joaquim Távora e Xavier Pinheiro, no bairro do Macuco, onde a Lei Complementar N° 151, de 1994, estabeleceu a diretriz de implantação de um binário, com as Ruas Almeida Moraes e Lowndes. A escolha do estado privilegiou os ganhos em termos de deslocamentos urbanos entre os municípios100, com relação às melhorias de mobilidade restritas ao complexo portuário. Assim, a proposta consiste na construção de um túnel com cerca de 900,0 m de extensão, com custo estimado de R$ 1,3 bilhão. A imagem abaixo apresenta a localização e o traçado proposto para a ligação, a qual prevê a ligação direta com a Avenida Perimetral Portuária, no lado de Santos. Verifica-se que a integração do acesso do lado de Santos, com o sistema viário utiliza o binário formado pelas ruas João Guerra e Xavier Pinheiro, portanto deslocando em uma quadra, para o sul, com relação ao binário estabelecido pela Lei Complementar N° 151, de 1994. Esta opção revela desconhecimento, por parte do estado, da proposta de binário, sobretudo porque a Rua João Guerra101 não permite uma ligação com o outro extremo da Zona Leste, no bairro do Marapé, como as ruas Xavier Pinheiro e Almeida Moraes. Portanto, esta questão deverá suscitar ajustes com o sistema viário de Santos, pois, do contrário, devem ocorrer prejuízos à circulação no eixo da Avenida Conselheiro Nébias. Traçado proposto do Túnel Santos-Guarujá. 100 101 Segundo a DERSA, pesou na escolha a necessidade de privilegiar os deslocamentos pendulares por motivo de trabalho. Esta via inicia-se na Rua Luiz de Camões, em meio de quadra e impossibilita a ligação na direção Leste-Oeste. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: DERSA, 2011. Segundo a DERSA, a proposta de ponte foi abandonada em função do limitador da altura máxima, pois a proximidade com a Base Aérea impõe respeito ao cone de aproximação, que restringe a altura mínima do tabuleiro, necessária para a passagem de grandes embarcações. Em agosto de 2011, a DERSA anunciou que o túnel seria construído com perfis de concreto armado moldados em uma doca seca, imersos e afundados, evitando-se a escavação do canal. A estrutura deverá ter profundidade mínima de 21,0 m, respeitando as exigências do Porto para a navegação, conforme a imagem abaixo. Concepção artística do corte do túnel Santos-Guarujá. 461 Fonte: DERSA, 2011. Segundo a DERSA, a tecnologia foi escolhida em função dos custos mais baixos de implantação, pois a escavação deveria ser feita em grande profundidade, para garantir a segurança dos trabalhadores e a viabilidade técnica do túnel, que encarece progressivamente as obras. A proposta prevê que os acessos ao túnel sejam executados por meio da cravação de estacas laterais, que servirão como estruturas das paredes da via. A estrutura de cobertura deve ser apoiada nas estacas e, posteriormente, deve ocorrer a escavação, a estruturação do piso e o revestimento das estacas. Ao todo, o túnel deve ter 34,90 m de largura, com três faixas de circulação de veículos em cada sentido e uma via central para pedestres e ciclistas. Não há previsão de implantação de corredor de ônibus, o que indica um estímulo aos deslocamentos com transporte individual e que no futuro poderá trazer graves consequências para o sistema, em termos de carregamento, embora seja mais lucrativo para a sustentabilidade financeira do mesmo, no curto prazo. A mesma fonte informou que a travessia via balsa deve ser mantida, embora com tráfego reduzido. Para a travessia pelo túnel, o pedágio deverá ter a mesma tarifa da balsa, seja para carros, seja para camionetes, ou para motos. Em princípio, os ciclistas e pedestres não pagarão pedágio. Em dezembro do mesmo ano, a DERSA previa a contratação do projeto executivo da obra, pelo valor de R$ 33,7 milhões, sendo que, no contrato estava prevista a preparação do licenciamento ambiental do empreendimento. O prazo estimado para a realização dos trabalhos seria de 18 meses a partir da contratação. Contudo, o processo licitatório que se encerrou em maio de 2012, compreendia a elaboração dos elementos necessários à licitação da obra, com o detalhamento executivo dos serviços de engenharia. O consórcio vencedor é formado pelas empresas Consultor Engevix, Planservi e Themag Túnel Submerso. Assim, a próxima etapa será a contratação do projeto executivo, previsto para 2013. Em julho de 2012, a DERSA publicou edital para contratação de consultoria especializada em tecnologia de túneis imersos, para prestar apoio técnico ao projeto de engenharia do túnel Santos-Guarujá. O valor de referência para a contratação é de R$ 12,5 milhões. A consultoria deverá atuar em conjunto com a equipe da empresa na coordenação, concepção, análise e acompanhamento dos trabalhos de detalhamento da obra. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Apesar da expectativa da melhoria na mobilidade urbana dos municípios diretamente afetados pelo empreendimento, pouco tem sido comentado a impactos urbanos indiretos, que em longo prazo também poderão impactar a travessia. Dentre estes impactos, é necessário considerar a provável alteração do uso do solo e das densidades demográficas em áreas específicas de ambos os municípios. A possibilidade de fixação de população santista em determinadas localizações, em Guarujá, poderá resultar em processos indesejáveis de valorização imobiliária, ampliando tendências de segregação socioespacial. Portanto, a utilização de instrumentos de política urbana para coordenar e impedir processos deletérios precisa ser planejada e articulada entre os municípios. Outro aspecto importante é a posição do governo estadual, no sentido de vedar a circulação de carretas nesta travessia, descartando, assim, sua utilização como ligação entre ambas as margens do complexo portuário. Desta forma, a opção de travessia Saboó-Ilha Barnabé, por meio da ponte já mencionada, que ainda carece de posicionamento, por parte do governo estadual, seria a alternativa para esta ligação. Porém, no outro extremo da Zona Leste de Santos, outra ligação viária de grande importância vem sendo discutida há muito tempo. Ao menos desde o final da década de 1940, quando Prestes Maia realizou os estudos para os planos Regional e Regulador, vem sendo debatida a proposta de ligação entre a entrada da cidade, no bairro Saboó e a Zona Leste de Santos, por meio de um túnel de transposição do maciço de morros. Esta proposta fazia parte do conjunto de grandes intervenções planejadas por Maia, dentre as quais destaca-se o túnel Rubens Ferreira Martins, construído na década de 1950 e que permite a ligação entre o centro e a orla, pelo eixo da Avenida Waldemar Leão, que se ramifica, ao sul, entre as avenidas Senador Pinheiro Machado (Canal 1), Bernardino de Campos (Canal 2) e Ana Costa. A construção deste túnel, conforme imagem abaixo, demandaria a construção de acessos em ambos os lados. Ao norte, no bairro Saboó, seria necessário construir uma ligação com a Avenida Martins Fontes, através da área hoje ocupada pelo Conjunto Habitacional Athiê Jorge Coury e atingindo parcialmente o cemitério da Filosofia. Ao sul, seria necessário implantar uma ligação com a ramificação mencionada acima. O Plano Regulador previa, ainda, o prolongamento desta via, de forma a alcançar a Avenida Ana Costa. Esta obra, a Avenida Engenheiro Luiz La Scala Júnior, foi realizada parcialmente e termina na Rua Prudente de Moraes, via que conduz o trânsito proveniente do túnel, à Avenida Ana Costa. Este é atualmente um dos principais corredores de ligação entre o centro e a orla. 463 Traçado proposto do túnel de transposição do Maciço de Morros segundo o Plano Regulador. Fonte: Plano Regulador da Expansão e Desenvolvimento de Santos (MAIA, 1951). Elaboração: Instituto Pólis. Em 1988, a Prefeitura de Santos solicitou ao governo de São Paulo, que incluísse a construção de um túnel ligando as zonas Leste e Noroeste, no pacote de obras previsto para abertura da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, no trecho de serra. A Prefeitura considerava, então, esta intervenção como prioritária para desafogar o sistema viário, em função dos impactos causados pela nova estrada. Contudo, para isto o traçado do túnel deveria ser revisto, pois o Conjunto Habitacional fora inaugurado em 1984. Contudo, com o atraso na construção da nova pista da rodovia, o assunto foi esquecido por alguns anos. Com a revisão do Plano Regulador, a Lei Complementar N° 151, de 1994 suprimiu a diretriz de abertura do túnel Saboó-Jabaquara, proposto por Prestes Maia, e estabeleceu como novas diretrizes a abertura de túnel ligando os bairros Marapé, na Zona Leste, ao-São Jorge, na Zona Noroeste. Esta obra deveria ser complementada por ajustes importantes no sistema viário de ambos os lados. A nova diretriz, que vigora até hoje, visa ligar o sistema viário da Zona Leste do município diretamente à Rodovia dos Imigrantes, na Área Insular de São Vicente, conforme se verifica no imagem abaixo, que apresenta o traçado em vigor. Portanto, mais do que uma ligação entre Zona Leste e Noroeste, a proposta do túnel visa criar nova opção de acesso para a Zona Leste, tanto para os veículos provenientes da Área Insular de São Vicente, como para aqueles originados do Litoral Sul, ou de Cubatão e do Planalto, pela Rodovia dos Imigrantes. Desta forma, trata-se de uma diretriz que visa desafogar o gargalo norte, na entrada da cidade pela Via Anchieta, e também o gargalo sul, pela divisa dos municípios na orla e o gargalo dos Morros. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Traçado proposto atual do túnel de transposição do Maciço de Morros. Fonte: Plano Regulador da Expansão e Desenvolvimento de Santos (MAIA, 1951). Elaboração: Instituto Pólis. Como se pode observar no mapa acima, do lado oeste será necessário conectar a desembocadura do túnel, no bairro São Jorge, na divisa com São Vicente, com a Rodovia dos Imigrantes, por meio de uma série de obras, dentre as quais se destaca o alargamento e a urbanização da Avenida Haroldo de Camargo, no bairro Areia Branca. Contudo, para efetivar esta diretriz será necessária uma articulação entre ambos os municípios e o governo de São Paulo, pois se trata de uma intervenção em nível regional. Neste aspecto, cabe ressaltar que a Prefeitura de São Vicente não impediu a consolidação de ocupações na desembocadura do túnel, em seu lado da divisa. Portanto, se a obra for realizada, é esperado um conjunto de desapropriações do lado deste município. Além disso, será necessário remover ocupações precárias e construir uma ponte sobre o Rio do Bugre, no prolongamento da Avenida Haroldo de Camargo, para possibilitar sua ligação à Avenida Penedo. Do lado leste, a Lei Complementar N° 151, de 1994 estabeleceu como solução para a ligação da desembocadura do túnel, com a malha viária, o prolongamento da Avenida Nilo Peçanha, no Marapé, que já era previsto pelo Plano Regulador. No entanto, o traçado deste prolongamento foi revisto, de forma a eliminar a necessidade de onerosas desapropriações, nas duas últimas quadras antes da Rua Joaquim Távora, que seria a ligação mais lógica deste sistema, em função do binário projetado e já mencionado acima. Desta forma, o novo traçado prevê a ligação da Avenida com a Avenida Senador Pinheiro Machado (Canal 1), por meio de um pequeno binário nas ruas Professor Delfino Stockler de Lima e Antônio Bento do Amorim. Ao sul do acesso ao túnel, foi prevista uma rotatória, na confluência entre a Avenida Doutor Moura Ribeiro, prolongamento da Avenida Doutor Nilo Peçanha, e o acesso à Rua Carvalho de Mendonça, importante eixo que liga o Marapé com o bairro da Encruzilhada. Desta forma, seria dificultado o acesso direto ao bairro do Marapé, pelo fluxo proveniente da Zona Noroeste, reduzindo os impactos negativos decorrentes da ligação. 465 Contudo, na desembocadura do túnel, no sopé do Morro do Marapé, será necessário remover ocupações, para viabilizar o empreendimento. Em 1997, a então Secretaria de Obras e Serviços Públicos de Santos contratou a empresa Corpo de Engenheiros Consultores S/C Ltda. (ENGECORPS) para elaborar o projeto básico de engenharia do túnel. Contudo, a Prefeitura não deu sequência Às providências necessárias para o detalhamento do projeto. Em novembro de 2000, com a obra da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes em andamento, a Secretaria Estadual de Transportes informou que a proposta de inclusão da construção do túnel não teria sido apresentada ao estado, pelo município. Desta forma, o entendimento oficial era de que a obra era prioridade de médio prazo, ou seja, que poderia ser executada até 2007. Em 2001, a Prefeitura solicitou R$ 600 mil ao governo estadual para a contratação do projeto executivo do túnel e no início de 2002, mesmo ano de inauguração da segunda pista da Imigrantes, a Prefeitura publicou edital para contratação do projeto executivo da obra do túnel, com recursos federais. Entretanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou exigência de elaboração de Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) para liberação destes recursos. No entanto, mais tarde a Prefeitura contratou a elaboração de um Relatório de Avaliação Prévia (RAP) para o licenciamento ambiental da obra. No mesmo ano, a AGEM apresentou o Plano Viário Metropolitano, que apontava a construção do túnel como obra necessária a médio prazo (AGEM, 20202, p.21) para ligar a Avenida Perimetral Portuária com o corredor das avenidas Penedo e Haroldo de Camargo. Portanto, o estudo da AGEM provavelmente considerava a possibilidade de utilização do túnel por veículos de carga, o que sem dúvida traria um impacto negativo relevante para a circulação da Zona Leste de Santos e em grande parte da Zona Noroeste e Área Insular de São Vicente. A própria AGEM estimava, na época, em R$ 54 milhões 300 mil, os recursos necessários para execução dos serviços considerados de curto prazo entre Santos e São Vicente, além das obras de médio e longo prazos. Os valores constavam no Planejamento e Valoração das Intervenções Propostas para a Adequação do Estudo de Impacto da Segunda Pista da Imigrantes sobre o Sistema Viário de Interesse Metropolitano da Baixada Santista, denominado PLANAVALOR. A bancada paulista no Congresso Nacional conseguiu incluir, no Orçamento de 2003, R$ 9,8 milhões para a construção do túnel, mas os recursos não foram utilizados pelo Município, em razão do atraso na execução do projeto. Para o ano seguinte, a bancada conseguiu garantir R$ 5,8 milhões para a mesma obra, que naquela época havia sido orçada em R$ 120 milhões, com prazo de execução em 28 meses. Em 2004, quando a Prefeitura realizou a licitação para contratar o projeto executivo para construção do túnel, o orçamento havia subido para R$ 146,6 milhões. A obra projetada pela Prefeitura de Santos deveria ter 1.350 m, interligando a Rua Dom Duarte Leopoldo Silva, no Marapé, a Avenida Francisco da Costa Pires, no São Jorge, na Zona Noroeste, junto à divisa com São Vicente. O túnel deveria ter duas pistas, cada uma com três faixas para automóveis e uma para ciclovia, garantindo assim a segurança dos ciclistas. Assim como o túnel sob o Canal do Porto, este projeto não previa implantação de corredor de ônibus. Para evitar a desapropriação de ocupações do lado de São Vicente, o projeto do geométrico do túnel previu ligeiro deslocamento de seu eixo, com relação à Avenida Francisco da Costa Pires. No final de 2004, a Prefeitura assinou contrato com a Construtora OAS, vencedora da licitação para a construção do túnel e contratou o levantamento topográfico da obra, que ficou a cargo da empresa L.A. Falcão Bauer Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Ltda. Com os trabalhos de levantamento, a população do sopé do Morro do Marapé iniciou mobilização, em função da necessidade de desapropriações no local. Na época a Prefeitura não havia sinalizado com alternativas habitacionais para a população afetada, que em parte era de baixa renda. Em 2005, em função da falta de maior detalhamento nas informações sobre a obra do túnel, a Secretaria de Estado do Meio-Ambiente indeferiu o pedido de licença prévia para o projeto do túnel. Na época, o processo foi devolvido à Prefeitura, para complementar as informações solicitadas. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Contudo, na época, a maior preocupação da Prefeitura era com os recursos para a obra, pois esta só poderia inicia-la depois de obter verbas pleiteadas junto aos governos federal e estadual. No tocante às verbas solicitadas ao governo estadual, a Prefeitura solicitou ao Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (DADE) R$ 25,5 milhões, referentes a 2004 e 2005, para o órgão. Porém com o indeferimento da licença ambiental, estes recursos foram remanejados para outras obras. Nos últimos anos o projeto do túnel parece ter saído da agenda da Prefeitura, que prefere canalizar recursos para as obras do Programa Santos Novos Tempos. No entanto, com a saturação dos gargalos norte e sul, nos últimos anos, a utilização do acanhado sistema viário do Morro da Nova Cintra, para cortar caminho entre Zona Leste de Santos e Zona Noroeste, São Vicente e a Via Anchieta, tornou-se uma alternativa cada vez mais utilizada e já saturada nos finais de tarde, quando longas filas de automóveis são formadas em ambos os sentidos da via de mão dupla, cujo traçado é apresentado na imagem ___ abaixo. Atualmente, vários tipos de veículos, inclusive ônibus e caminhões, utilizam a subida do Morro do Marapé, pela Avenida Prefeito Doutro Antonio Manoel de Carvalho, prosseguindo pelas ruas Lucinda de Matos, Manoel Pereira e Torquato Dias, até alcançar a descida do Morro da Caneleira, pela Alameda Prefeito José Gomes, em ambos os sentidos. Eixo viário do de ligação entre Marapé e Caneleira pelo Morro da Nova Cintra. Elaboração: Instituto Pólis. Esta opção apresenta evidentes sinais de saturação até mesmo fora dos horários de pico, que tende a ser agravada pela construção de lançamentos imobiliários verticais de grandes proporções na área da Lagoa da Saudade, no Morro da Nova Cintra, e no sopé do Morro do Marapé, na Avenida Doutor Moura Ribeiro. 467 Nos últimos anos, a Prefeitura não priorizou a construção do túnel de ligação entre as zonas Leste e Noroeste. Em algumas ocasiões o Município vem afirmando que é necessário equacionar os problemas de trânsito do eixo da Avenida Nossa Senhora de Fátima e também obter recursos federais e estaduais para realizar a obra. Em outras, até mesmo a revisão do traçado foi cogitada. De qualquer forma, trata-se de uma obra de grande importância, assim como o túnel de ligação entre Santos e Guarujá. No entanto, estas obras só resultarão em benefícios efetivos para a mobilidade urbana regional, sobretudo na área central da Baixada Santista, caso o transporte coletivo seja de fato priorizado. Caso ambos os túneis priorizem o transporte individual, o congestionamento do saturado sistema viário da Zona Leste de Santos deverá se agravar exponencialmente, pois além da convergência das viagens pendulares e não pendulares, esta área também será utilizada para o trânsito de passagem, que tende a ampliar-se, na medida em que a população e base econômica dos municípios vizinhos continuar crescendo. Por fim, é importante acrescentar que medidas efetivas no âmbito da política urbana devem ser adotadas pelo Município, no sentido de promover a fixação da população na Zona Leste e potencializar a infraestrutura instalada nesta área, revertendo assim a tendência de crescimento periférico, que embora tenha se reduzido nas últimas décadas, permanece relevante, conforme os dados do Censo Demográfico 2010 (FIBGE). No que tange a esta política, é fundamental, ainda, criar mecanismos para controlar a oferta de vagas de automóveis particulares em grandes empreendimentos, que provocam a rápida saturação do sistema viário nas áreas de influência dos mesmos. Desta forma, pode-se afirmar que a garantia da melhoria das condições de mobilidade de Santos encontra-se no estímulo ao uso do transporte coletivo, ao desestímulo ao uso do transporte individual e à maior fixação da população nas áreas dotadas de melhor infraestrutura urbana. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 9.5. A Legislação Municipal e a Mobilidade Urbana e Regional. Regulação das infraestruturas de mobilidade urbana e regional na legislação municipal de Santos O Plano Diretor elenca a o uso universal dos espaços urbanos visando a mobilidade entre seus objetivos gerais (art. 4° da Lei n° 731 de 2011), bem como define os seus objetivos na área de mobilidade, quais sejam: “a) priorizar investimentos no sistema viário, com base no “Plano Viário Municipal”, no que tange aos equipamentos de gerenciamento do trânsito, sinalização, operação, fiscalização, acessibilidade, e infraestrutura propriamente dita, visando à estruturação e integração municipal e regional; b) priorizar as obras de organização do sistema viário estrutural, com base no “Plano Viário Municipal”, bem como a correção da geometria, visando à eliminação dos problemas de fluidez e segurança viárias, ou sem mobilidade universal; c) incentivar a iniciativa privada a viabilizar a implantação de dispositivos de sinalização e obras viárias e de mobilidade universal, necessários ao sistema viário, com recursos próprios; d) incentivar a integração intermodal do transporte de cargas e de passageiros; e) ordenar um sistema de circulação de cargas, de forma a minimizar a interferência com o sistema viário intra-urbano, em especial na área central; f) estabelecer um sistema de transporte coletivo de uso universal integrado física, operacional e tarifariamente; g) inserir, no âmbito do procedimento de regularização fundiária e urbanística, obras tendentes a proporcionar o acesso de veículos de transporte coletivo aos assentamentos abrangidos pelo citado procedimento;” (artigo 16, inciso VII do PD) Indica também ações de incentivo a projetos de mobilidade urbana como uma das diretrizes do Plano de Desenvolvimento Turístico previsto no artigo 19 do Plano Diretor. Na legislação complementar, o plano diretor municipal previu expressamente a necessidade de elaboração de uma Lei que disciplina a Mobilidade Urbana para Santos (inciso VI, do artigo 55 do PD), em conformidade com a legislação federal vigente, que prevê a obrigatoriedade da elaboração de Plano de Mobilidade para municípios com população acima de 20 mil habitantes e em todos os demais obrigados, na forma da lei, à elaboração de Plano Diretor (§ 1° do artigo 24 da Lei Federal n. 12.587, de 03 de janeiro de 2012). Logo, este plano de mobilidade deve ser compatível com as novas diretrizes e princípios instituídos pela Política Nacional de Mobilidade (Lei Federal n°. 12.587, de 03 de janeiro de 2012). Embora as infraestruturas de transporte rodoviário (sobretudo direcionadas ao transporte individual de automóveis e ao transporte de cargas) tenha sido tradicionalmente privilegiadas na composição dos orçamentos públicos da maioria das cidades brasileiras, as recentes inovações na legislação federal e estadual reorientaram as diretrizes destes investimentos no espaço urbano. Uma das orientações gerais da normativa federal mais recente é a necessidade de priorizar o modos não motorizados (pedestres e ciclistas) sobre o transporte motorizado, assim como do transporte público coletivo sobre o individual. Esta prioridade deve ser entendida não apenas em relação à execução dos serviços públicos, mas inclusive na redistribuição dos recursos orçamentários para a melhoria das vias de circulação dos diferentes modais de transporte, uma vez que a questão da mobilidade é encarada como crucial para a democratização e acesso às oportunidades oferecidas pelas cidades e regiões metropolitanas. Pelo seu caráter de pólo regional, concentrador de serviços, empregos e equipamentos públicos e privados de variados tipos, e em razão do caráter sistêmico da questão da mobilidade, os projetos de Santos devem sempre dialogar com os demais municípios que compõe a região metropolitana da baixada santista. Logo, 469 torna-se fundamental observar a presença da diretriz de integrar projetos e o Plano de Transporte e Mobilidade Urbana aos respectivos planos dos municípios limítrofes, considerando as demandas metropolitanas, do Porto de Santos e das atividades retroportuárias (inciso I, alínea “d” do Plano Diretor) quando da elaboração do Plano de Desenvolvimento Urbano previsto no PD (artigo 16). Outro aspecto fundamental presente na LUOS Insular é o fato da tipologia da infraestrutura viária ser o parâmetro para organização e disciplina dos usos permitidos das diferentes zonas da cidade. A estrutura viária também é orientadora das áreas de expansão e adensamento. Um exemplo de como se isso ocorre é a definição, na área insular, dos Corredores de Desenvolvimento e Renovação Urbana (inciso VII artigo 23 do art. 84). Nestas áreas, que oferecem avenidas com capacidade para grande circulação viária, a LUOS Insular estabelece índices urbanísticos mais permissivos (coeficiente de aproveitamento 6, nos termos do artigo 61 da LC n° 730 de 2011), buscando adensar e utilizar todo o potencial do viário como indutor do desenvolvimento e crescimento do município. Apesar da alta permissividade dos índices construtivos de Santos, apontados no item “ Ordenamento Territorial”, que na prática acaba por não acarretar em diferenças de adensamentos consideráveis entre as diferentes zonas, contatamos que Santos buscou orientar toda a ocupação do território tendo como fio condutor o sistema viária do município. Lógica que coaduna com os princípios elencados no novo marco legal da Política de Mobilidade Nacional. Apesar disso, o município carece de um instrumento legal do porte de um Plano de Mobilidade. Há referência na LOM de um “Plano Viário Municipal”, no entanto este não foi encontrado, tão pouco existem diretrizes mais detalhadas sobre projeto de viário, implantação de planos de priorização do transporte público coletivo. Já o transporte não-motorizado possui regulamentação que busca incentivar seu uso. A Lei Complementar 346 de 1999, que dispõe sobre a implantação de estacionamentos, ciclovias e ciclofaixas e o fomento do uso de bicicletas no município de Santos, estabelece a obrigatoriedade dos equipamentos públicos culturais, de lazer ou de saúde, além de parques q praças, disporem de estacionamento para bicicletas (art. 1°). Além disso, estabelece que o porto, os parques públicos municipais e o jardim da orla da praia deverão ser interligados através de um sistema de ciclovias e ciclofaixas, bem como todos os estudos e projetos de obras viárias deverão contemplar, obrigatoriamente, espaço destinado à implantação de ciclovias (art. 3°). Apesar de não fazer referência à elaboração de um Plano Cicloviário Municipal, que poderia fazer parte do já obrigatório Plano de Mobilidade, a LC n° 346 de 1999 já se constitui em um importante instrumento para a implantação de infraestrutura cicloviária em Santos. Concretizando um dos princípios elencados na nova Política Nacional de Mobilidade, qual seja, a priorização do transporte não-motorizado frente ao individual, bem como a distribuição equânime do espaço público de circulação, vias e logradouros dentre os diferentes modais (artigos 5°, inciso VIII e 6°, inciso II da Lei 12.587 de 2012). Não é por acaso que Santos possui atualmente uma considerável rede de ciclovias e ciclofaixas espalhadas pelo seu território (aproximadamente 30 km), tornando-se uma das cidades brasileiras que mais se destacam na questão cicloviária. Sistema municipal de transporte e mobilidade A LOM determina que compete ao Município de Santos organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, o serviço de transporte coletivo, nos termos do inciso V do artigo 30, da Constituição Federal. Os objetivos da prestação de serviço de transporte coletivo definidos pela LOM são: • Acessibilidade a todo cidadão; • Valor da tarifa condizente; • Boa qualidade do serviço; • Garantia de rentabilidade do capital empregado (artigo 151 da LOM). A já citada Lei da Política Nacional de Mobilidade, traz inúmeros princípios e diretrizes para a questão da mobilidade antes ignorados pela maioria dos municípios brasileiros. Como a redução das desigualdades e promoção da inclusão social via melhoria das condições de mobilidade (artigo 7°, inciso I) e a integração entre Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 os diferentes modais, motorizados ou não, a fim de integrar o sistema de transporte público (artigo 6°, inciso III). Além disso, o novo marco legal federal, traz a possibilidade de os municípios subsidiarem as tarifas do transporte coletivo, como medida de ampliação e melhoria das condições de mobilidade urbana e de redução dos custos que incidem sobre o usuário. Esta norma federal fundamenta a criação de outros mecanismos institucionais (planos, fundos e conselhos) de custeio dos serviços de transporte coletivo. No formato atual, o pagamento das tarifas pelos usuários são os únicos financiadores diretos da operação das empresas concessionárias e dos das isenções oferecidas a determinadas camadas da população, como idosos e estudantes, onerando sempre o usuário do transporte público e desestimulando sua utilização. 10. HABITAÇÃO E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA A questão habitacional é um dos temas estratégicos na construção do diagnóstico sócio ambiental e deve ser pensada em articulação com as demais políticas urbanas. É fundamental dar atenção especial à questão do acesso à terra urbanizada e à dinâmica urbana como um eixo estratégico para a implementação de propostas voltadas ao incentivo de uma política habitacional que atenda a todas as classes sociais. A questão da habitação é, fundamentalmente, um problema urbano. Além de não ser possível produzir moradias sem uma base fundiária, o uso residencial ocupa a maior parte das cidades, com fortes relações com as políticas de ordenamento territorial, mobilidade e saneamento. Neste sentido, a descrição e análise das problemáticas habitacionais buscam compreender as características da precariedade habitacional, os impactos urbanos e ambientais da sua localização, e associá-las às outras problemáticas urbanas e sociais de forma a construir uma leitura conjunta e intersetorial que contribua para a construção de um programa de ações que efetivamente convirja para a melhoria da qualidade urbana e habitacional na região. Para tanto, abordaremos em um primeiro momento, as diretrizes norteadoras da política nacional de habitação, a partir da qual serão direcionadas nossas análises. Em seguida apresentamos uma caracterização dos assentamentos precários no município de Santos, a partir do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) finalizado em dezembro de 2009, qualificando esses espaços precários no município. No item sobre necessidades habitacionais, apresentamos os números que resumem as carências municipais, que associadas à descrição e análise da atuação do poder público frente à problemática habitacional, resulta no item pontos críticos no atendimento habitacional. Por fim realizamos uma avaliação do arcabouço legal vigente, suas potencialidades e limitações frente às problemáticas apontadas. 10.1 - Assentamentos precários e informais A precariedade habitacional nas cidades brasileiras está diretamente associada ao modelo de produção e ocupação desigual dos espaços urbanos. Os assentamentos precários, que incluem favelas, loteamentos irregulares ou outras formas de ocupação do território de forma precária e irregular são expressão espacial destes processos. O município de Santos, assim como os outros que compõem a Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), apresenta um desequilíbrio social na distribuição da população em seu território, onde sua organização espacial apresenta nítidos contornos e limites socioeconômicos, com a clara divisão da cidade por faixas de renda. Esse desequilíbrio aponta a classe social de média e alta renda habitando áreas valorizadas, privilegiada pela presença satisfatória de infraestrutura urbana, enquanto a classe de baixa renda distribui-se em áreas periféricas, onde a presença de infraestrutura é precária. 471 Os assentamentos precários identificados concentram-se em áreas bem demarcadas no município, notadamente nos morros e na Zona Noroeste da cidade, com ocorrências isoladas em outras áreas da cidade, conforme pode ser observado no mapa a seguir. Mapa. Santos – Distribuição dos Assentamentos Precários, 2012.(esse mapa é de ZEIS que se sobrepõem a praticamente todos os AP, mas há diferenças pois os AP se expandiram e extrapolaram as demarcações de ZEIS que está em processo de revisão na Câmara de Santos) Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, 2012. Foram identificados 34 assentamentos precários no município, abrigando cerca de 17.595 moradias e 78.321 moradores, representando respectivamente 12,12% dos domicílios ocupados e 18,67% da população do município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Tabela. Santos – Assentamentos Precários, 2012. Núcleos Bairro Famílias População Área (m²) Dique Vila Gilda Vila Telma Radio Clube Radio Clube 5.760 111 30.000 444 350.000,00 8.700 Radio Clube Radio Clube 130 572 16.922 5.138 Jardim São Manoel Caminho da União Caminho São Manoel Alemoa São Manoel 428 1883 Chico de Paula 987 4342 57.824 34106 108.258 Caneleira III Santa Maria Caneleira Caneleira 2.200 517 9.680 2.261 105.000 47.408 Chiquinho-Bela Vista Pantanal de Cima Vila Progresso Caneleira Morro da Nova Cintra Vila Progresso 120 478 528 2.103 9.103 133.91 Torquato Dias Nova Cintra I São Bento Morro da Nova Cintra Morro da Nova Cintra Morro São Bento 115 100 2.030 506 440 8.932 49.000 10.000 276.344 Pacheco Lomba da Penha Morro do Pacheco Morro da Nova Cintra 450 112 1980 493 105.67 13000 Monte Serrat Morro do Marapé Marapé Monte Serrat Morro Marapé Marapé 150 399 - 660 1.755 - 61.780 12.933 18.157 Caminho Adelaide Morro do José Menino Marapé José Menino 42 998 185 4.391 16.853 322.058 Vila Santa Casa I Vila Santa Casa II Clovis Galvão Encruzilhada Encruzilhada Estuário 358 200 51 1.575 880 224 13.832 5.272 9.000 Nossa Senhora Aparecida Pantanal Flaminio Levy Estuário Saboó Saboó 15 733 184 66 3.225 809 600.040 59.800 11.250 Vila Sapo Butatã Ponta da Praia Rádio Clube 58 129 232 387 9000 12.624 Vila dos Criadores Nossa Senhora de Fátima Vila César Alemoa Chico de Paula Morro da Nova Cintra 117 61 112 - 52.500 11.700 40.900 Ilha Diana Monte Cabrão Área Continental Área Continental 54 70 - 18.500 56.300 Caruara Área Continental 326 156 157 Fonte: Prefeitura Municipal de Santos 2004/ AGEM, 2005 / COHAB, 2007/ CORREIA, 2005 . 954.300 Em Santos, a grande parte dos assentamentos precários está delimitada como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS I), assim caracterizada na legislação158: 156 AGÊNCIA METROPOLITANA DA BAIXADA SANTISTA – AGEM. Programa Regional de Identificação e Monitoramento de Áreas de Habitação Desconforme – PRIMAD, Santos, 2005. 157 CORREIA, Elza N. C. Complexo Caneleira Santa Maria: Regularização Fundiária em Assentamentos Precários - Santos. Monografia. FAUSANTOS- Universidade Católica de Santos, 2005. 473 I – Zonas Especiais de Interesse Social 1– ZEIS-1 - áreas públicas ou privadas ocupadas espontaneamente, parcelamentos ou loteamentos irregulares e/ou clandestinos, incluindo casos de aluguel de chão, habitados por população de baixa renda familiar, destinadas exclusivamente à regularização jurídica da posse, à legalização do parcelamento do solo e sua integração à estrutura urbana e à legalização das edificações salubres por meio de projeto que preveja obrigatoriamente o atendimento da população registrada no cadastro físico e social da respectiva ZEIS existente no órgão de planejamento ou de habitação da Prefeitura, podendo ocorrer os seguintes casos: a)regularização urbanística de áreas ocupadas por população de baixa renda, sempre que possível com o aproveitamento das edificações existentes; b)novas edificações em áreas parceladas de fato, para a fixação da população de baixa renda, com remanejamento para novas unidades habitacionais preferencialmente na mesma ZEIS-1; c)novas edificações implantadas através de Plano Urbanístico, com parcelamento do solo, para a fixação de população de baixa renda,com remanejamento para novas unidades habitacionais preferencialmente na mesma ZEIS-1. Segundo o PLHIS, as ZEIS contemplam grande parte dos aglomerados precários identificados pelo IBGE e CEM/CEBRAP159 e também outras áreas não identificadas por esses órgãos, principalmente na região dos morros. Cabe aqui ressaltar que a Lei Municipal que define as ZEIS está atualmente em processo de revisão, inclusive para atualização das demarcações de assentamentos precários em ZEIS 1, cujos limites já extrapolaram os limites das demarcações em vigência. As exceções são as áreas conhecidas como a Vila dos Criadores, ao lado do antigo lixão da Alemoa, Butantã na foz do canal da Av. Jovino de Melo no sopé do morro do Ilhéu, Vila Sapo, Nossa Senhora de Fátima, Vila César, Ilha Diana, Monte Cabrão e Caruara, sendo as três últimas localizadas na área continental. A Vila dos Criadores e o Butantã possuem acompanhamento do Ministério Público que não permite a consolidação desses assentamentos por questões ambientais e de risco à saúde. Grande parte dos assentamentos surgiu na década de 1960, bem como, na década de 1980 e 1990, resultantes do aumento das disparidades sociais. Observa-se no gráfico a seguir, que 32% do total de assentamentos precários em Santos, se iniciaram na década de 60 e 28% na década de 80. Gráfico. Santos - Assentamentos precários em relação a seu período de surgimento. Fonte: CORREIA, 2005. 158 159 Lei Complementar n° 53 de 1992 e alterações. Centro de Estudos da Metrópole, ligado ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 É a partir da década de 1960, que o processo de ocupação desordenada e precária, em áreas periféricas e inundáveis da cidade se reproduz, como alternativa de habitação para a população carente e excluída, tendo o seu agravamento nas décadas de se seguiram. Os morros e bairros periféricos ao centro também se constituíram de locais ocupados pela população de baixa renda, sendo também os cortiços, instalados nos antigos casarões do centro, tipologia habitacional bastante difundida na cidade para estas classes. Podemos então, caracterizar as diversas formas de ocupações precárias no município que se consolidaram ao longo dos anos como única alternativa de acesso à moradia da população de baixa renda. Uma delas são as ocupações em palafitas com suas construções em madeira suspensas nas áreas alagadiças. São ocupações encontradas em assentamentos como Dique da Vila Gilda (Incluindo os núcleos Vila Telma e Butantã) que possui 85% de suas ocupações sobre o Rio dos Bugres e Complexo do Dique São Manuel (Incluindo Caminho da União e Caminho São Manoel), ambos localizados na Zona Noroeste. Figura. Santos – Ocupações em Palafitas – Dique da Vila Gilda e Dique São Manoel, 2012. Fonte: Google Earth, 2012. Figura. Santos – Dique da Vila Gilda em suas ocupações em palafitas. Fonte: Instituto Pólis, 2010. Nesse tipo de ocupação a infraestrutura é precária ou quase inexistente e os acessos se dão através de vielas construídas com tábuas de madeira. Os moradores estão sujeitos às intempéries e oscilações das marés, onde 475 muitas vezes são surpreendidos pelas inundações e corrosões das fundações, vivendo de forma precária e acelerando o processo de degradação ambiental local. As famílias convivem ainda com a umidade, a insalubridade e os riscos à saúde, como doenças respiratórias, de pele e as infecções decorrentes das águas contaminadas. Um dos problemas mais graves decorrente deste tipo de ocupação é a ausência de rede coletora de esgoto, que faz com que o mesmo seja lançado in natura no rio, constituindo-se de um grave fator de poluição ambiental. Além disso, o lixo despejado no rio acaba se acumulando por entre as palafitas. Essas situações, além de representar alto nível de degradação ambiental, aprofundam os problemas das péssimas condições de habitabilidade, além do aparecimento de diversas doenças ligadas à falta de saneamento. Figura. Santos – Acumulo de lixo nas palafitas Fonte: FABIANO, 2008 160 /COHAB-ST, 2006. Outro tipo de ocupação predominante no município são as ocupações em morros e encostas identificadas como áreas de risco, sujeitas a escorregamentos. As construções se localizam no topo e no pé dos morros e são construções de alvenaria e de madeira erguidas precariamente. Muitas delas possuem abastecimento de água, pavimentação e energia elétrica, porém registram a falta de esgotamento sanitário. Vale ressaltar que a ocupações dos morros é antiga e com o passar dos anos e a pressão dos ocupantes, o poder público acabou levando infraestrutura a essas áreas e vários morros vieram a ser urbanizados. Porém, as ocupações em áreas sujeitas a escorregamentos são alarmantes e se constituem de um dos principais problemas habitacionais do município. Segundo dados do Plano Municipal de Redução de Riscos elaborado pelo IPT em 2005, foram identificados em Santos 79 setores de risco que abrigam cerca de 1.009 moradias. Segundo o Plano, os morros Santa Maria, Penha, Marapé e Boa Vista são os que apresentam maior número de moradias a serem removidas. Tabela. Santos – Assentamentos em áreas de morros. 160 Núcleos Famílias População Área (m²) ÁREA ZEIS Década Ocupação Intervenções Propriedade de terra Caneleira III 2.200 9.680 105.000 ZEIS 1 1980 Pontuais - Santa Maria 517 2.261 47.408 - 1980 Pontuais - Chiquinho-Bela Vista 120 528 9.103 - 1980 Pontuais Pública Pantanal de Cima - - - ZEIS 1 - - - Vila Progresso 478 2.103 133.910 ZEIS 1 1960 Parc. Urbanizado Particular Torquato Dias 115 506 49.000 ZEIS 1 1960 Parc. Urbanizado Particular Nova Cintra I 100 440 10.000 ZEIS 1 1950 Parc. Urbanizado Particular São Bento 2.030 8.932 276.344 ZEIS 1 1930 Pontuais Particular Pacheco 450 1980 105.670 ZEIS 1 1930 Pontuais Particular Lomba da Penha 112 493 13.000 ZEIS 1 1990 Pontuais Particular Monte Serrat 150 660 61.780 ZEIS 1 1930 Pontuais Particular FABIANO, Caio Manoel de Oliveira. Subsídios ao Plano de regularização fundiária e urbanística da Zona Especial de Interesse Social do núcleo habitacional do Dique Vila Gilda, Santos - SP. Dissertação de Mestrado. Instituto Tecnológico do Estado de São Paulo, 2008. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Morro do Marapé 399 1.755 12.933 ZEIS 1 1940 Pontuais Particular Morro do José Menino 998 4.391 322.058 ZEIS 1 1980 Parc. Urbanizado Pública/Particular Nossa Senhora de Fátima 61 - 11.700 - - - Particular Vila César 112 - 40.900 - - - Pública/Particular Fonte: Prefeitura Municipal de Santos 2004/ AGEM, 2005/CORREIA, 2005. Observa-se, que dos 34 núcleos de assentamentos precários, 15 estão inseridos nas áreas dos morros, somando 7.842 famílias, 33.729 moradores e 1.198.806m² de área ocupada, sendo todos eles delimitados como ZEIS 1, com exceção dos núcleos Santa Maria, Chiquinho-Bela Vista, Nossa Senhora de Fátima e Vila César. Verifica-se também que a maioria dos núcleos já recebeu algum tipo de intervenção por parte do poder público, sendo 04 deles já parcialmente urbanizados. O núcleo Santa Maria ocupa áreas particulares, diferentemente dos núcleos Chiquinho-Bela Vista, Morro do José Menino e Vila César, ocupações em áreas públicas. As primeiras ocupações em morros são registradas nos Morros São Bento, Marapé e Nova Cintra, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, respectivamente. Anos mais tarde surgiram as ocupações da Vila Progresso, José Menino, Caneleira e mais recentemente a ocupação do núcleo Lomba da Penha, na década de 1990. Figura. Santos - Complexo dos Morros: Penha, Pacheco, São Bento e Progresso; e ocupações nas encostas do Morro Santa Maria. Fonte: Google Earth,2012/ IPT, 2005. Figura. Santos – Construções no Morro da Caneleira e no Morro do José Menino. Fonte: AGEM, 2005. 477 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Figura. Santos – Moradias em áreas de risco nos Núcleos Nossa Senhora de Fátima e Morro do Marapé. Fonte: IPT, 2005. Podemos citar ainda, alguns casos isolados de assentamentos precários localizados na Zona Leste da cidade, em áreas providas de toda a infraestrutura e equipamentos públicos próximos, como é o caso da Vila Santa Casa, Núcleo Marapé, Nossa Senhora Aparecida, e Núcleo Clóvis Galvão de Moura Lacerda, localizados no Bairro da Encruzilhada, do Marapé e do Estuário, respectivamente, e também a Vila Sapo, na Ponta da Praia. São construções de alvenaria e madeira e em sua maioria utilizam materiais improvisados, como telhas e latas. A Vila Santa Casa foi resultado de ocupações em áreas ociosas, no período em que o sistema viário do bairro não estava totalmente implantado. Figura. Santos – Vila Santa Casa e suas construções precárias. Fonte: Google Earth, 2012/ AGEM, 2005. Outro modelo de alternativa habitacional que muito se proliferou no município de Santos foram os cortiços, constituindo-se como única possibilidade de acesso à moradia para grande parte das classes de baixa renda, sendo uma tipologia habitacional presente quase que exclusivamente em Santos, comparado aos outros municípios da RMBS. Apenas São Vicente possui alguns poucos casos isolados de cortiços em seu centro. Os cortiços se instalaram ao longo dos anos nos casarões antigos, localizados nas áreas centrais da cidade, como por exemplo, em bairros do Paquetá, Vila Nova e Vila Mathias, conforme observado na figura X a seguir que, apesar de caracterizar o levantamento feito pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU em 2000, é ainda uma representação bastante fiel à realidade. Os porões dos casarões também foram ocupados de forma precária e insalubre, constituindo-se de risco a saúde da população. 479 Figura. Santos - Identificação dos cortiços em Santos, 2000. Fonte: Levantamento da CDHU, 2000. CARRIÇO, 2002. Vale ressaltar ainda, que diferentemente das ocupações precárias e irregulares nas periferias, manguezais e nos morros, os cortiços, em sua grande maioria, estão inseridos na malha urbana da cidade, provida de infraestrutura e equipamentos públicos. Os cortiços começaram a receber atenção por parte do poder público somente em 1992, com a criação das Zonas Especiais e Interesse Social (ZEIS). Atualmente as áreas centrais ocupadas pelos cortiços são demarcadas como ZEIS 3: III – Zonas Especiais de Interesse Social 3 – ZEIS-3 – áreas com concentração de habitação coletiva precária de aluguel (cortiços), nas quais serão desenvolvidos programas e projetos habitacionais destinados obrigatoriamente ao atendimento da população de baixa renda familiar moradora da área conforme cadastro existente no órgão de planejamento ou de habitação da Prefeitura, podendo ocorrer os seguintes casos: a)melhoria de condições de habitabilidade em cortiços existentes; b)remanejamento de moradores para novas unidades habitacionais,na mesma ZEIS-3; c)uso comercial e de serviços compatíveis com o uso residencial. Figura. Santos – Cortiços no centro da cidade. Fonte: Conselho Municipal da Juventude, 2012/ ATRIBUNA, 2010. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 As ocupações na área continental do município também se constituem de alternativa habitacional popular. Podemos citar os núcleos Ilha Diana, Monte Cabrão e Caruara ocupações que se formaram na área continental da cidade e que abrigam um total de 450 famílias numa área de 1.029.100m². Os núcleos apresentam em sua maioria ocupações de madeira, possuem abastecimento de água, energia elétrica, porém não registram coleta de esgotamento sanitário e estão localizados, total ou parcialmente em áreas de APP. Figura. Santos – Construções no núcleo Monte Cabrão, na área continental do município. Fonte: AGEM, 2005. Constata-se, portanto, que as ocupações da população de baixa renda se concentram em áreas periféricas, predominantemente em terrenos invadidos na zona noroeste ou ainda nos morros e nos cortiços da região central da cidade. Alguns indicadores sociais desenvolvidos pelo NESE161, ainda reforçam as áreas da cidade com melhores e piores condições de vida. Observa-se na figura a seguir a distribuição espacial de renda no município, destacando a Zona Noroeste, a Zona dos Morros e os bairros do centro da cidade, enquanto área de concentração predominantemente da população de média e baixa renda. Já nos bairros Gonzaga, Boqueirão, Ponta da Praia, Aparecida e outros bairros mais próximos à orla, observamos a concentração da população com renda mais elevada, confirmando a forte presença da segregação socioespacial no município. Mapa. Santos - Distribuição de renda na área insular de Santos, 2000. 161 Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos, da Universidade Santa Cecília. 481 Fonte: NESE, elaborado a partir de dados do CENSO 2000, do IBGE. Em relação à situação fundiária dos assentamentos, estima-se que 41% do total de assentamentos no município localizam-se em áreas particulares, 31% em áreas mistas (particulares e públicas municipais ou da União) e 28% localizam-se em áreas públicas. Quanto às intervenções já realizadas pelo poder público, observa-se na tabela abaixo que a maioria dos núcleos já recebeu algum tipo de intervenção pontual e pequenas urbanizações, como por exemplo, pavimentações, melhoria nos acessos, pequenas remoções, etc. Núcleos Intervenções Propriedade de terra Dique Vila Gilda Vila Telma Pontuais Urbanização Pública (União) Pública Radio Clube Jardim São Manoel Parcialmente Urbanizado Pontuais Particular Particular Caminho da União Caminho São Manoel Alemoa Remoção Remoção Pontuais Particular/Pública Particular/Pública Particular/Pública Caneleira III Santa Maria Chiquinho-Bela Vista Pontuais Pontuais Pontuais Pública Pantanal de Cima Vila Progresso Parcialmente Urbanizado Particular Torquato Dias Nova Cintra I São Bento Parcialmente Urbanizado Parcialmente Urbanizado Pontuais Particular Particular Particular Pacheco Lomba da Penha Pontuais Pontuais Particular Particular Monte Serrat Pontuais Particular Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Morro do Marapé Pontuais Particular Marapé Caminho Adelaide Pontuais Pública/Particular Particular Morro do José MEnino Vila Santa Casa I Vila Santa Casa II Parcialmente Urbanizado Pontuais Parcialmente Urbanizado Pública/Particular Pública Particular Clovis Galvão Nossa Senhora Aparecida Parcialmente Urbanizado Urbanização Pública/Particular Pública Pantanal Flaminio Levy Vila Sapo Pontuais Parcialmente Urbanizado Pontuais Pública Pública Pública (União) Butatã Vila dos Criadores Nossa Senhora de Fátima - Pública (União) Pública Particular Vila César Em processo de Regularização Fundiária Pública/Particular Ilha Diana - Pública/Particular Monte Cabrão Em processo de Regularização Fundiária Pública/Particular Caruara Em processo de Regularização Fundiária Pública/Particular Fonte: AGEM, 2005. Quanto aos serviços de infraestrutura, observa-se que a maioria dos assentamentos possui abastecimento de água (mesmo que clandestino em alguns pontos), energia elétrica, iluminação pública e pontos de coleta de lixo próximos. Por outro lado, a maioria não possui rede de coleta de esgoto, com exceção de alguns núcleos já urbanizados ou parcialmente urbanizados ou ainda aqueles que se inserem em malha urbana na zona leste da cidade. Verifica-se também que grande parte dos núcleos não possui pavimentação, ou possui pavimentação parcial somente nas vias e vielas principais, decorrentes de intervenções pontuais executadas pelo poder públicos ao longo dos anos. Vale ressaltar que os dados apresentados utilizam referências do ano de 2005, sendo necessária a atualização dos mesmos. Tabela. Santos – Existência de Infraestruturas Urbanas nos Assentamentos Precários, 2005. Núcleos Abastecimento de Água Coleta de Esgoto Energia elétrica Iluminação Pública Coleta de Pavimentação Lixo Dique Vila Gilda SIM Inexistente SIM Parcial Parcial Parcial Vila Telma Radio Clube Jardim São Manoel SIM SIM SIM Parcial SIM Inexistente SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM - SIM SIM Inexistente Caminho da União Caminho São Manoel SIM SIM Inexistente Inexistente SIM SIM Parcial Parcial - Inexistente Inexistente Alemoa Caneleira III Santa Maria SIM SIM SIM Parcial Parcial Inexistente SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM - Parcial Parcial Parcial Chiquinho-Bela Vista Pantanal de Cima SIM - Inexistente - SIM - SIM - - Parcial - Vila Progresso Torquato Dias Nova Cintra I SIM - Parcial - SIM - SIM - SIM - SIM - São Bento SIM Parcial SIM SIM SIM SIM 483 Pacheco Lomba da Penha SIM - Parcial - SIM - SIM - SIM - SIM - Monte Serrat Morro do Marapé SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Parcial SIM Parcial Parcial Marapé Caminho Adelaide Morro do José Menino SIM SIM SIM SIM SIM Parcial SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Parcial Vila Santa Casa I Vila Santa Casa II Clovis Galvão SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Nossa Senhora Aparecida Pantanal SIM SIM SIM Inexistente SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Flaminio Levy Vila Sapo Butatã SIM SIM Inexistente Inexistente SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Parcial Vila dos Criadores Nossa Senhora de Fátima Parcial SIM Inexistente Parcial SIM SIM SIM SIM SIM Inexistente Parcial Vila César Ilha Diana Monte Cabrão SIM SIM SIM Parcial Inexistente Inexistente SIM SIM SIM Parcial SIM SIM SIM Parcial Parcial Parcial Inexistente Inexistente Caruara SIM Inexistente SIM SIM SIM Parcial Fonte: AGEM, 2005. 10.1.1. IBGE (Aglomerados Subnormais) Setores Censitários Classificados como Aglomerados Subnormais O IBGE classifica setores censitários, com no mínimo 51 domicílios, como aglomerados subnormais. Trata-se de uma aproximação, ainda que imprecisa e subdimensionada, do universo de assentamentos precários. São setores censitários com concentração de domicílios sem acesso a serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa (IBGE, 2010). De acordo com dados do Censo 2010, foram identificados 24 setores censitários classificados como aglomerados subnormais em Santos, somando 10.767 domicílios (7,44% do total de domicílios ocupados). Tabela. Santos - Domicílios Particulares Ocupados e População Residente em Aglomerados Subnormais 2010. Domicílios particulares ocupados Município Total Em aglomerados subnormais Santos 144.600 10.767 Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2010. População residente em domicílios particulares ocupados Total Em aglomerados subnormais 417.864 38.159 Número de aglomerados subnormais 24 Mapa. Santos – Assentamentos Precários identificados pela PMS e Aglomerados Subnormais identificados pelo IBGE 2010. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 (inserir) Elaboração: Instituto Pólis, 2012. 10.2 - Necessidades Habitacionais no Município de Santos No presente trabalho, optou-se por um método de cálculo das demandas prioritárias por novas moradias, com base na somatória dos domicílios improvisados, rústicos e em cômodos (próprios, cedidos, alugados) levantados pelo Censo Demográfico 2010 do IBGE. O atendimento a essas demandas prioritárias implica em reposição de estoque habitacional, no caso dos domicílios rústicos, e de incremento no caso dos domicílios improvisados e em cômodos. É importante ressaltar que essas demandas prioritárias por novas moradias não representam a totalidade desse tipo de necessidade habitacional e não coincide com o cálculo do déficit habitacional básico realizado pela Fundação João Pinheiro com base nos dados dos Censos Demográficos de 2000 e 1991 para os municípios brasileiros. Além das variáveis incluídas no calculo das demandas prioritárias por novas moradias (domicílios improvisados, rústicos e em cômodos próprios, cedidos e alugados), esse déficit habitacional básico da Fundação João Pinheiro inclui ainda as famílias conviventes secundárias e com ônus excessivo com aluguel (mais de 30% da renda comprometida com o pagamento de aluguéis). No quadro ___ abaixo apresentam-se tais variáveis de modo mais claro. Quadro __. Necessidades habitacionais. Demanda por novas moradias Demanda Prioritária por Novas Moradias Domicílios Rústicos Domicílios Improvisados Déficit Habitacional Básico (Fundação João Pinheiro) Domicílios Rústicos Domicílios Improvisados Cômodos (Próprios, Cedidos e Alugados) - Cômodos (Próprios, Cedidos e Alugados) Famílias conviventes secundárias - Domicílios com Ônus Excessivo com Aluguel Vale dizer que o cálculo da demanda prioritária por novas moradias deverá incluir parte das famílias conviventes secundárias caso seja possível extrair esse dado, mesmo que de modo indireto, do Censo Demográfico 2010. Ao contrário dos censos anteriores, este último censo não classificou, num mesmo domicílio, as famílias principais e secundárias. O último Censo identificou um ou mais responsáveis pelo domicílio e suas relações de parentesco e aliança com os demais moradores. É importante lembrar que nos cálculos da Fundação João Pinheiro, as famílias conviventes secundárias constituem a maior parte do déficit habitacional quantitativo. Quanto à não inclusão dos domicílios com ônus excessivo com aluguel no cálculo da demanda prioritária por novas moradias, acredita-se que isso não é muito grave já que soluções para esse problema não exige, necessariamente, a produção de novas moradias. Ademais, no presente trabalho, o cálculo das moradias precárias considerou, também com base nos dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE, os domicílios com adensamento excessivo (3 ou mais pessoas dormindo em cômodo usado regularmente como dormitório), domicílios sem banheiro de uso exclusivo, sem ligação com a rede de abastecimento de água, sem o fornecimento de energia elétrica, e sem a coleta de esgoto e de lixo. No presente trabalho adotou-se o mesmo critério da Fundação João Pinheiro para identificar os domicílios com adensamento excessivo. Para quantificar os domicílios inadequados existente nos municípios brasileiros, aquela instituição considera, além das variáveis mencionadas anteriormente, a inadequação fundiária. Vale dizer esses domicílios não podem ser somados para evitar contagens múltiplas, pois um mesmo domicílio pode ter adensamento excessivo e não contar com os serviços e infraestruturas urbanas consideradas no cálculo. 485 Quadro __. Necessidades habitacionais. Moradias Precárias Moradias Precárias Domicílios com Adensamento Excessivo Inadequações Habitacionais (Fundação João Pinheiro) Domicílios com Adensamento Excessivo Domicílios com Carência de Serviços e Infraestruturas Urbanas (Abastecimento de Água, Fornecimento de Energia Elétrica, Coleta de Esgoto e Lixo) Domicílios sem Banheiro de Uso Exclusivo Domicílios com Carência de Serviços e Infraestruturas Urbanas (Abastecimento de Água, Fornecimento de Energia Elétrica, Coleta de Esgoto e Lixo) Domicílios sem Banheiro de Uso Exclusivo Domicílios com Inadequação Fundiária 10.2.1 - Dimensionamento da Demanda Prioritária por Novas Moradias no Município de Santos Conforme dito acima, a metodologia utilizada para o cálulo da demanda prioritária por novas moradias utiliza a base de dados do IBGE referentes ao Censo de 2010. Esse cálculo engloba domicílios sem condições mínimas de habitabilidade que necessitam de reposição e de acréscimo no estoque. Os componentes considerados nesse cálculo são definidos pelo IBGE nos seguintes termos: Domicílios Rústicos – domicílios cujas paredes não são de alvenaria ou de madeira aparelhada. Essas moradias são consideradas habitações precárias. Foram classificados como rústicos, os domicílios com material de revestimento: taipa revestida, taipa não revestida, madeira aproveitada, palha ou outro material. Domicílios Improvisados – domicílios em locais destinados a fins não-residenciais que sirvam de moradia, o que indica claramente a carência de novas unidades domiciliares. De acordo com o IBGE, domicílio particular improvisado ocupado é “(...) aquele localizado em uma edificação que não tenha dependências destinadas exclusivamente à moradia (por exemplo, dentro de um bar), como também os locais inadequados para habitação e que, na data de referência, estavam ocupados por moradores”162. Famílias em cômodos cedidos ou alugados – famílias residentes em cômodos cedidos ou alugados. Essas famílias foram incluídas no déficit habitacional porque esse tipo de moradia mascara a situação real de coabitação em domicílios formalmente distintos. Segundo a definição do IBGE, os cômodos são “domicílios particulares compostos por um ou mais aposentos localizados em casa de cômodo, cortiço, cabeça-de-porco, etc.”. Assim, a demanda prioritária por novas moradias no Município de Santos, calculado através das variáveis descritas acima com dados do IBGE 2010, foi estimada em 5.016 domicílios, conforme tabela___ a seguir. Tabela. Demanda Prioritária por Novas Moradias – Santos MUNICÍPIO SANTOS total de domicílios 144.715 DOMICÍLIOS IMPROVISADOS (1) CÔMODOS (2) DOMICÍLIOS RÚSTICOS (3) TOTAL absoluto % dos domicilios absoluto % dos domicilios absoluto % dos domicilios absoluto % dos domicilios 115 0,08% 1.692 1,2% 3.209 2,2% 5.016 3,5% (1) Domicílios particulares Improvisados Ocupados: dados da sinopse, censo 2010, IBGE. (2) Domicílios particulares permanentes - tipo de domicílios Habitação em casa de cômodos, cortiço ou cabeça de porco: dados do universo, censo 2010, IBGE. (3) Domicílios Rústicos: Domicílios particulares permanentes com material de parede em taipa revestida, taipa não revestida, madeira aproveitada, palha ou outro. Dados da Amostra, censo 2010, IBGE. 10.2.2 - Dimensionamento das Moradias Precárias Existentes no Município de Santos 162 Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. “Base de informações do Censo Demográfico 2010: resultados da Sinopse por setor censitário”. Documentação do Arquivo Rio de Janeiro, 2011, p.11. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 De acordo com as explicações metodológicas acima, foram consideradas como moradias precárias no presente trabalho aquelas que necessitam de ações de melhorias do ponto de vista urbanístico, sem a necessidade de produção de unidades novas. O dimensionamento dessas moradias precárias também se baseou em dados do Censo Demográfico 2010 do IBGE. As variáveis consideradas são definidas nos seguintes termos por aquela instituição produtora de dados quantitativos: - domicílios com adensamento excessivo - ocorre quando o domicílio apresenta um número médio de moradores superior a três por dormitório. O número de dormitórios corresponde ao total de cômodos que, em caráter permanente, serviam de dormitório para os moradores do domicílio. Incluem-se aí os que assim são utilizados em função de inexistir acomodação adequada a essa finalidade. - domicílios sem banheiro - domicílios sem unidade sanitária domiciliar exclusiva. - domicílios desprovidos de infraestrutura - aqueles que não dispunham de ao menos um dos seguintes serviços básicos: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo; Vale lembrar que essas variáveis não podem ser simplesmente somadas, um mesmo domicílio pode ser precário segundo critérios múltiplos, ou seja, pode ser carente de serviços e infraestruturas urbanas e ter adensamento excessivo. Nem mesmo as precariedades por carência de diferentes tipos de serviços e infraestruturas podem ser somadas, pois um mesmo domicílios pode sofrer com a falta de banheiro exclusivo, de abastecimento de água e de coleta de esgoto e lixo. Sendo assim, deve-se considerar o dimensionamento de cada componente separadamente, como apresentamos nas tabelas___ e ___ a seguir. Tabela. Santos - Moradias com Adensamento Excessivo e Sem Banheiro de Uso Exclusivo MUNICÍPIO SANTOS domicílios urbanos ADENSAMENTO EXCESSIVO (1) absoluto DOMICÍLIO SEM BANHEIRO (2) % dos domic. Urbanos 144.616 absoluto % dos domic. urbanos 42 0,03% (1) Adensamento excessivo: Dados da Amostra, somente com banco de dados ou aguardar tabulação avançada (2) Domicílios urbanos tipo casa, casa de vila e apartamento sem banheiro ou sanitário de uso exclusivo. Dados do Universo, censo 2010 Tabela. Santos – Domicílios com Carências de infraestrutura MUNICÍPIO SANTOS domicílios urbanos 144.616 iluminação elétrica (1) % dos absoluto domic. urbanos 75 0,05% abastecimento de água (2) absoluto 640 % dos domic. urbanos 0,4% esgotamento Sanitário (3) absoluto 5.612 % dos domic. urbanos 3,9% coleta de lixo (4) absoluto 284 % dos domic. urbanos 0,2% (1) - domicílios urbanos de casas, casas de vila e apartamento sem energia elétrica. Censo 2010, dados do Universo, IBGE. (2) - domicílios urbanos de casas, casas de vila e apartamento sem rede de abastecimento de água. Censo 2010, dados do Universo, IBGE. (3) - domicílios urbanos de casas, casas de vila e apartamento sem rede de esgoto ou fossa séptica. Censo 2010, dados do Universo, IBGE. (4) - domicílios urbanos de casas, casas de vila e apartamento sem coleta de lixo por serviço de limpeza ou caçamba por serviço de limpeza . Censo 2010, dados do Universo, IBGE. O Município de Santos no Plano Estadual de Habitação de São Paulo 487 Segundo o Plano Estadual de Habitação de São Paulo163 (PEH), a Região Metropolitana da Baixada Santista, onde se insere o Município de Santos, apresenta um déficit habitacional de 70 mil domicílios e um déficit qualitativo de 95 mil domicílios, representando 14,2% e 19,1% do total de seus domicílios, respectivamente. apresenta déficit habitacional de domicílios, correspondente a 14,2% do total de seus domicílios e déficit qualitativo de moradias correspondente a 19,1% dos domicílios totais164. Os componentes agregados nesses dois conjuntos podem ser vistos no gráfico ___ abaixo. Gráfico. RMBS – Componentes das Necessidades Habitacionais, PEH – 2010 Fonte: Pesquisa de Condições de Vida Fundação SEADE, 2010 - Plano Estadual de Habitação de São Paulo O PEH construiu, ainda, uma tipologia municipal para classificar os municípios do Estado de São Paulo a partir das necessidades habitacionais antes mencionadas e do PIB municipal de 2006. Os municípios foram classificados segundo os tipos A, B, C, D e E, conforme apresentados na tabela ___ abaixo, sendo que os municípios enquadrados como tipologias do tipo A devem receber atenção especial dentro da política habitacional. A tabela a seguir apresenta o número de municípios da Região Metropolitana da Baixa Santista segundo sua classificação dentro de cada um desses tipos. Quadro. Classificação dos Municípios da RMBS Segundo Tipologias Municipais Plano Estadual de Habitação de São Paulo Descrição Nº de Municípios Da RMBS 3 (Guarujá, Cubatão e São Vicente) % da População A.1 precariedade habitacional grave Intensa atividade econômica crescimento populacional A.2 precariedade habitacional grave baixa atividade econômica baixo crescimento populacional boas condições relativas de moradia Intensa atividade econômica crescimento populacional 2 (Bertioga e Mongaguá) 5,6 2 (Santos e Praia Grande) 40,9 pouca precariedade habitacional atividade econômica pouco Intensa 2 (Peruíbe e Itanhaém) 8,8 A.3 B 163 44,6 O Plano Estadual de Habitação ainda está em processo de aprovação, para este relatório utilizamos sua versão preliminar. O plano estadual estimou o déficit e a inadequação por metodologias diferentes daquela utilizada pela Fundação João Pinheiro. Estes dados são disponibilizados somente por regiões. 164 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 C pouca precariedade habitacional Intensa atividade econômica (perfil agropecuário) 0 0,0 D sem precariedade habitacional Intensa atividade econômica (perfil agropecuário) sem precariedade habitacional atividade econômica pouco Intensa 0 0,0 0 0,0 9 100 E Total Fonte: Plano Estadual de Habitação de São Paulo, 2011. O município de Santos encontra-se enquadrado na tipologia A3, com boas condições relativas de moradia, intensa atividade econômica e crescimento populacional, dividindo a colocação com o município de Praia Grande. Vale destacar que a maior parte dos municípios do litoral norte e Baixada Santista estão dentro do Grupo A, com exceção de Itanhaém e Peruíbe, que foram enquadrados no Grupo B. 10.2.3 - Dimensionamento das Demandas Futuras por Novas Moradias no Município de Santos A demanda demográfica futura dimensiona o acréscimo de moradias devido ao crescimento populacional projetado em determinado período no futuro. O cálculo dessa demanda vai depender da taxa de crescimento da população e da média de moradores por domicílio, refletindo o tamanho da família e os arranjos familiares existentes no município. De acordo com Fundação Seade, o município de Santos passará de uma população de 419.388 em 2010 para 441.783 em 2023, o que representa um crescimento de 5,5%. A Fundação SEADE projeta também o crescimento de domicílios ocupados com residentes. Entre 2010 e 2025, segundo estas projeções, deverá haver um acréscimo de 22.903 novas habitações em Santos. O desafio é fazer com que essas novas habitações sejam produzidas adequadamente de modo a não engrossar déficits futuros. Nesse período, o total de habitações de Santos deverá saltar de 144.600 domicílios em 2010 para 167.503 em 2023, um crescimento de 15,80 % novos domicílios em 12 anos. Tabela. Projeção de População Residente e Domicílio Ocupado – Santos - 2010 a 2025 2010 - Censo 2010 2015 2020 2025 População Domicílio Ocupado População Domicílio Domicílio População Ocupado Ocupado População Domicílio Ocupado 419.388 144.600 438.001 158.248 441.783 167.503 440.370 163.234 Fonte: Revisão e atualização do Plano Diretor de Abastecimento de Água da Baixada Santista, 2009. 10.3 – Promoção pública de habitação de interesse social O município concentra grandes bolsões de pobreza e consequentemente de precariedade habitacional grave. A ocupação das áreas dos assentamentos precários é antiga e cresceu sem intervenções do poder público praticamente até o inicio da década de 90 quando as primeiras ações foram realizadas visando à construção de moradias populares para retirada de famílias das palafitas. Mas em um contexto de falta de recursos disponíveis para construção de HIS, essas intervenções praticamente não mudaram o quadro de crescimento dos assentamentos precários, principalmente na Zona Noroeste e nos morros. 10.3.1. Promoção pública na produção de novas unidades 489 A Companhia de Habitação da Baixada Santista (COHAB-ST)165 é o órgão responsável por produzir habitação para famílias de baixa renda desde sua criação em 1965. Desde então foram inúmeros os empreendimentos habitacionais produzidos. A Zona Noroeste de Santos concentrou toda a produção da COHAB-ST até 1992. Nesse período, foram viabilizados os empreendimentos Areia Branca, Jardim Castelo I, C. R. Dale Coutinho, C. R. Valongo, Jardim Castelo II e Jardim Rádio Clube, totalizando 3.147 unidades habitacionais, sendo 1.053 lotes urbanizados produzidos com recursos próprios municipais (Areia Branca) e 2094 com recursos do SFH, sendo que destes, 846 casas, e 1248 apartamentos. Posteriormente, entre 1993 e 2006, a COHAB-ST produziu mais 2121 unidades. Apesar de a maioria da produção ainda ser concentrada na Zona Noroeste, houve construção de moradias nos morros, sendo produzidas 40 casas e 144 lotes urbanizados, e na Zona Leste, com produção de 21 alojamentos e 78 apartamentos. Dessa produção, apenas em três áreas: Dique da Vila Gilda, Morro do Ilhéu Alto e Vila Pantanal Fase I, contaram também com recursos federal ou estadual. Conforme tabela abaixo: Tabela. Santos - Projetos Habitacionais Realizados no Município de Santos pela COHAB-ST entre 1992 e 2006. Fonte: PLHIS, 2009. Figura. Santos – Conjuntos habitacionais no Dique da Vila Gilda. 165 Criada em 01 de fevereiro de 1965, tem como acionistas as Prefeituras de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão. Qualificada como Agente do Sistema Financeiro de Habitação – SFH, suas constituição se deu a partir da necessidade de atendimento à crescente demanda por habitação por parte da população de menor poder aquisitivo mediante a implantação de programa habitacionais, tendo como origem dos recursos o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, disponibilizados através do Banco Nacional de Habitação – BNH. A partir da década de 1990, com a extinção das linhas de crédito destinadas àquela faixa de renda, que se iniciou com o fechamento, em 1986, do principal órgão de fomento de habitação popular no país, o BNH, a COHAB-ST passou a atuar também como Órgão Gestor do Fundo de Incentivo à Construção de Habitação Popular – FINCOHAP, tendo como fonte de recursos o orçamento do município de Santos. Fonte: www.cohabsantista.com.br Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: COHAB-ST, 2003. Após 2006, todas as unidades produzidas pela COHAB-ST foram provenientes de parcerias com os governos estadual e federal. Desde 1995 a Prefeitura de Santos possui parceria com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), e desde então, já produziu 1698 unidades habitacionais e possui prevista ou em andamento a produção de 1781. A CDHU produziu moradias em Santos a partir de diferentes programas, de acordo com o perfil de atendimento. Assim como a COHAB-ST, produziu unidades habitacionais principalmente na Zona Noroeste, mas também produziu em áreas da Zona Leste e nos morros. NA Zona Leste, a produção se concentrou na área central de Santos, em áreas inseridas em ZEIS III. Foram 113 unidades produzidas através do Programa de Atuação em Cortiços – PAC, o qual prevê ainda a construção de mais 100 unidades. A CDHU é parceira na produção de 113 unidades produzidas através do Programa Habitacional Parceria com Associações e Cooperativas, projeto empreendido pelo sistema de autogestão pela Associação Cortiços do Centro – ACC, através do Programa Crédito Solidário, do governo federal. 491 Tabela. Santos – Promoção Habitacional Realizada, em Andamento e Prevista pela CDHU no município de Santos. Fonte: PLHIS, 2009. O município de Santos possui parcerias também com o governo federal, a partir da criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os empreendimentos habitacionais viabilizados a partir desses programas federais visam à erradicação de assentamentos precários do Dique da Vila Gilda, Alemoa, Vila dos Criadores, Jardim São Manoel e Butantã, ambas na Zona Noroeste. No total, serão atendidas através de novas moradias 4.310 famílias com recursos federais, além das ações de consolidação de moradias dentro dos assentamentos. Projeto Novas UH UH a consolidar Recursos PMS (R$) Recursos MCidades (R$) Total investimentos Dique/Pelé II Dique/Caneleira IV 480 320 185 340 12.354.661,86 11.584.439,38 11.944.788,00 8.872.500,00 24.299.449,86 20.456.939,38 Dique/Caneleira Dique/PAC-I Vila dos Criadores, Jd. São Manoel e Butantã Alemoa* 360 1108 309 1111 13.218.436,03 21.019.299,34 9.067.500,00 46.535.200,00 22.285.936,03 67.554.499,34 1144 476 31.287.962,96 39.723.200,00 71.011.162,96 898 135 16.000.000,00 53.300.000,00 TOTAL 4.310 2.546 89.640.489,57 132.825.688,00 259.766.177,57 *Na Alemoa, a contrapartida não é dada pela PMS e sim pela Secretaria de Estado da Habitação de SP (SH-SP) Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 166 Em Santos, a Associação Cortiços do Centro - ACC possui dois convênios com o governo federal através da Caixa Econômica Federal, e está viabilizando a produção de 181 habitações de interesse social para seus associados, através do Programa Crédito Solidário (113 UH) e do Programa Minha Casa Minha Vida – Entidades (68 UH)167, ambos com recursos provenientes do Fundo de Desenvolvimento Social - FDS. Esses dois empreendimentos estão em fase de execução e estão sendo construídos em regime de autogestão e mutirão, em área da Secretaria do Patrimônio da União – SPU, concedida à entidade168. Mapa. Santos – Distribuição dos Conjuntos Habitacionais. (inserir) Elaboração: Instituto Pólis, 2012. 10.3.2. Promoção pública na regularização fundiária, urbanização e melhoria habitacional O município de Santos possui um programa de regularização fundiária cujo objetivo é assegurar a permanência da população nas áreas onde reside população de baixa renda, sejam assentamentos precários, informais ou conjuntos habitacionais produzidos pelo poder público. Segundo o programa, as ações compreendem a regularização jurídica e urbanística da área. A prefeitura de Santos, através da Secretaria de Planejamento – SEPLAN e da COHAB-ST desenvolve ações voltadas à Regularização Fundiária nas seguintes áreas: Localização Área Iriri Caruara* Monte Cabrão* Sub Total Área Continental Jardim São Manoel* Vila Residencial Saboó* Ilhéu Baixo* Conj Habitacional Vila Ayrton Senna* Conj Habitacional Vila Esperança* Zona Noroeste Conj Habitacional Vila Telma Vila Alemoa Vila Pelé Vila Pantanal Dique Vila Gilda* Jardim Rádio Clube* Flamínio Levy* Sub Total Zona Noroeste Área continental 166 Órgão responsável SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB COHAB UHs a serem atendidas Absoluto % -830 -830 10 317 48 498 100 122 106 -311 694 2.975 130 50 5.351 64 A ACC é uma entidade sem fins lucrativos que tem por finalidade a viabilização de moradia digna a seus associados, e abrange os bairros da área central de Santos do Valongo, Centro, Vila Nova, Vila Mathias e Paquetá 167 O Programa Crédito Solidário foi englobado pelo PMCMV-Entidades e tem por objetico a concessão de financiamento habitacional para vilabilizar o acesso à moradia em área urbana, com recursos do FDS às famílias com renda familiar bruta de até 03 salários mínimos, organizadas sob a forma coletiva, representadas por cooerativas, associações e entidades da sociedade civil. Fonte: http://www.concidades.pr.gov.br/arquivos/File/5_Minha_Casa_Minha_Vida_ENTIDADES.pdf 168 Lei Federal n° 11.481, de 31 de maio de 2007 493 Localização Área Morro Bela Vista* Morro do Pacheco* Santa Maria Gleba 1* Santa Maria Gleba 2* Torquato Dias Zona dos Vila Progresso* Morros Morro José Menino - PMS* Morro José Menino - Santa Casa Caneleira III* Conj Habitacional Vila Vitória* Área da Paulinha* Sub Total Zona dos Morros Vila Santa Casa Zona Leste Rua Clóvis G. de M. Lacerda* Caminho Partic.Dna. Adelaide* Sub Total Zona Leste TOTAL PARCIAL DE UNIDADES Órgão responsável SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN SEPLAN COHAB COHAB SEPLAN COHAB SEPLAN SEPLAN UHs a serem atendidas Absoluto % 109 -214 -114 413 300 -757 90 60 1.997 24 80 51 22 153 2 8.331 100 Fonte: SEPLAN/PMS, 2009* Áreas cadastradas no Programa Cidade Legal, do Governo do Estado, para apoio à regularização fundiária em andamento pelo município -- Depende de levantamento As ações voltadas à regularização fundiária dos assentamentos listados acima se baseiam na aplicação de diferentes instrumentos segundo a natureza da propriedade, se pública ou privada e, a propriedade da terra por meio do registro de matrículas individualizadas para cada lote desses loteamentos irregulares e clandestinos. Apesar de existir desde 2001, o programa de regularização fundiária ainda não finalizou nenhum processo de regularização fundiária, não havendo até o presente momento entregue aos moradores atendidos nos assentamentos irregulares ou clandestinos nenhum título individual de propriedade. Em relação à atuação do poder público visando que requalificação dos imóveis utilizados como cortiços, foi aprovada em 2010 a lei que criou o Programa Alegra Centro Habitação169. Esse programa consiste na criação de incentivos tributários atrelados a obrigações a serem assumidas pelos proprietários de imóveis utilizados como cortiços visando garantir sua reforma e a permanência das famílias encortiçadas. O Alegra Centro Habitação se apoia na previsão de que os proprietários dos imóveis requalificados sejam utilizados exclusivamente para fins habitacionais por um período determinado de 5 anos, renováveis por mais 5 anos. Em praticamente 02 anos de existência do programa, no entanto, nenhum imóvel foi requalificado. 10.4 Pontos críticos no atendimento habitacional Como observamos, a produção pública de habitação de interesse social se concentra na Zona Noroeste e nos morros, áreas da cidade onde se identifica a maior necessidade de atendimento de famílias de baixa renda, localizadas nas palafitas da Zona Noroeste e nas áreas de risco dos morros. Podemos afirmar que apesar da constante produção de empreendimentos realizados pelo poder público, estes não atendem as demandas de fora dos assentamentos precários, ou seja, dos movimentos e associações de luta por moradia. A distribuição espacial dos empreendimentos produzidos e em produção pode ser explicada pela dificuldade de se encontrar lotes urbanizados com preços acessíveis nas demais áreas da cidade, fruto da grande especulação imobiliária a que a cidade tem sido vítima nos últimos anos. Isso também é fator de impedimento em oferta de áreas para implantação de empreendimentos habitacionais na região dos cortiços. Outro ponto a ser considerado é o fato de que apesar de toda a produção habitacional voltada ao atendimento às famílias que habitam assentamentos precários, com atenção às áreas como o Dique da Vila Gilda e o Caminho da União, o número de famílias nesses assentamentos tem aumentado, assim como nas áreas de risco dos morros da cidade. O número de famílias do Dique da Vila Gilda duplicou ao longo dos anos, apesar das intervenções realizadas. Isso se deve em grande parte, à falta de fiscalização do poder público municipal, dentro de estratégias de contenção de novas palafitas. A Vila Telma, por exemplo, duplicou seu tamanho desde a conclusão de seu projeto de urbanização, atingindo as águas do rio dos Bugres. Podemos 169 Lei Complementar n° 688 de 29 de julho de 2010 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 citar também, a descontinuidade dos projetos pelas diferentes gestões, e a falta de sustentabilidade socioeconômica dos projetos das novas moradias, que acabam fazendo com que a população comercialize suas unidades, voltando então, a morar nos assentamentos precários. Devemos considerar também um ponto crítico referente à demanda futura identificada anteriormente. Segundo análise dos dados do IBGE, que cruzou a previsão de crescimento populacional para o ano de 2023 com a demanda por moradia segundo diferentes faixas de renda, será necessária a produção de 11.389 novas moradias apenas para atender as famílias residentes fixas nos próximos 12 anos com renda entre 0 e 5 salários mínimos. Tendo em vista que a produção pública de moradias produziu ou tem previsão de produzir, somando-se os diversos programas municipal, estadual e as parcerias com o governo federal, 9.910 moradias, e que essa quantidade visa atender as demandas atuais de falta de moradiando município – déficit quantitativo – podemos concluir que medidas de fomento à construção de moradias devem ser tomadas rapidamente, pois alem de não atender a demanda atual não possui previsão ou políticas de incentivo à produção de moradias voltadas para atendimento da demanda futura por moradia para as populações de menor faixa de renda. Outro ponto crítico é a falta de efetividade do programa de regularização fundiária do município que apesar de onze anos de existência ainda não conseguiu entregar nenhum título de propriedade individual aumentando ainda mais a pressão por soluções que impeçam a ocupação irregular nos morros. Cabe lembrar que muitas dessas ocupações irregulares com previsão de atendimento são conhecidas por serem áreas de “aluguel de chão” processo de irregularidade fundiária em que um grande proprietário de gleba aluga lotes irregulares a famílias de baixa renda, sendo essa a responsável por construir sua moradia. Esse processo gera grande insegurança jurídica da propriedade pois deixa nas mãos do proprietário de gleba a decisão de se despejar famílias que não pagam esse aluguel do solo, sob risco de perda da moradia construída por parte da família de baixa renda. Por outro lado, áreas como parte do Morro Santa Maria, Chiquinho-Bela Vista, Morro do José Menino e Vila César, ocupações em áreas públicas, deveriam ter processos rápidos de concessão de títulos de propriedade, tendo em vista a existência de instrumentos jurídicos do Estatuto da Cidade170 já regulamentados por lei municipal171 Ações de regularização fundiária são fundamentais para diminuição da pressão de famílias de baixa renda sobre áreas ambientalmente impróprias para ocupação, como as áreas de palafitas e ocupações em áreas de risco geológico nos morros. Regularizar esses assentamentos propicia não só a possibilidade de urbanização e acesso à infraestrutura e equipamentos públicos, mas principalmente garante a segurança da propriedade da terra, consolidando a fixação de famílias de baixa renda no território cada vez mais socialmente excludente pelo preço da terra, evitando a não só o aumento dos assentamentos precários existentes, mas também a criação de novos aglomerados subnormais. 10.5. A legislação Municipal e a Questão Habitacional Também no Plano de Desenvolvimento Urbano, prescrito pelo art. 16 do Plano Diretor de Santos (LC nº 731/2011), encontram-se objetivos relacionados à produção de novas moradias de interesse social (função social de imóveis ociosos) e à urbanização e regularização fundiária de assentamentos existentes. A função social de imóveis urbanos é consignada pelo inciso IV, enquanto os objetivos da habitação no município são estabelecidas pelo inciso VI. A garantia de efetivo uso social da terra subutilizada, conforme visto anteriormente, não parece adequadamente disciplinada até o momento pela impossibilidade de adoção de distintos instrumentos urbanísticos facultados pelo Estatuto da Cidade. Por outro lado, os objetivos da política habitacional previstos 170 171 Lei Federal n° 10.257 de 2001. Lei Complementar n° 551 de 2005. 495 no Plano de Desenvolvimento Urbano encontram-se melhor consubstanciados nas formas de normativos já empregados pelo Município, conforme se verá na sequência. Entre os objetivos estão: • otimizar o aproveitamento dos investimentos urbanos e gerar novos recursos, buscando reduzir progressivamente o déficit social representado pela carência de infraestrutura urbana, de serviços e de moradia para a população; • estimular a construção de habitações de interesse social e adequações de edificações existentes para atendimento da população de baixa renda, de acordo com o “plano municipal de habitação”; • adotar instrumentos de política urbana para aumentar a oferta de terra para habitações de interesse social, com base no plano municipal de habitação; • delimitar áreas de atendimento e incentivo à produção de empreendimentos habitacionais para população de baixa e média renda; • dar prioridade de acesso à terra e à moradia para população de baixa renda, mediante o barateamento da produção de novas unidades, desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias e metodologias de produção habitacional, adaptação de construções existentes ao uso habitacional, e a regularização fundiária e urbanística de assentamentos precários, com base no “Plano Municipal de Habitação”; • priorizar a obtenção de recursos financeiros, institucionais, técnicos e administrativos para investimentos em habitações de interesse social, diretamente pelo poder público, ou por meio de parcerias com entidades técnicas e comunitárias sem fins lucrativos, inclusive promovendo sua captação em fontes privadas e governamentais, fora do município, com base no “Plano Municipal de Habitação”; • buscar, para as soluções habitacionais, a adoção de alternativas de menor custo e maior qualidade e conforto, considerando as realidades física, social, econômica e cultural da população a ser beneficiada, com base no Plano Municipal de Habitação; • incentivar a participação da iniciativa privada na produção de habitações de interesse social, com base no “Plano Municipal de Habitação”; • priorizar, por meio de programas de interesse social e de subsídios específicos, a população situada em áreas de risco e favelas, com base no “Plano Municipal de Habitação” e no “Plano Municipal de Redução de Risco”. • estabelecer padrões especiais de uso do solo e de edificações que possibilitem regularização jurídica e urbanística de ocupações irregulares e habitações subnormais, permitindo a fixação da população de baixa renda, com base no “Plano Municipal de Habitação”; e • reforçar ações de planejamento, monitoramento, fiscalização, fomento, e execução de instrumentos de inclusão habitacional das pessoas com deficiência, de forma integrada com as diretrizes habitacionais. A legislação de uso, ocupação e parcelamento do solo para as áreas continental e insular tratam da habitação de interesse social pressupondo a disciplina pormenorizada pela Lei Complementar nº 53/1992 e suas alterações posteriores. De fato, referida norma é aplicada há vinte anos para propiciar a construção de novas moradias populares, urbanização de assentamentos precários e sua regularização patrimonial em nome dos possuidores. O novo zoneamento aplicável à área continental faz alusão a flexibilizações de parâmetros aplicáveis a projetos habitacionais de interesse social, nos termos de sua legislação específica (LC nº 729/2011, art. 30, parágrafo 3º). Mas o zoneamento continental não define um zoneamento especial (ZEIS) para implantação predominante de habitação de interesse social. Contudo, o zoneamento da porção insular manteve as ZEIS delimitadas em seu território pela Lei Complementar nº 53/1992, resguardando também a sua categorização em 1, 2 e 3. A LC nº 730/2011 não traz uma disciplina própria para projetos habitacionais de interesse social, mas é expressa em seu art. 10, inciso VI, para definir a sujeição dessas áreas a regras próprias de parcelamento, uso e ocupação do solo conforme sua legislação específica. Em verdade, o dispositivo repete a orientação do art. 2-A da LC nº 53/1992, que Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 expressamente sobrepõe as condições de implantação e regularização de empreendimentos em ZEIS em razão daquelas previstas ao restante do zoneamento. Passando-se à análise específica da LC nº 53/1992, destaca-se primeiramente o conceito de população de baixa renda, definido pelo art. 1º, paragrafo único, inciso I, a ser atendido pelas ZEIS: “famílias com renda familiar mensal de até 12 salários-mínimos”. Mas o art. 28, ao tratar das ZEIS 2 (em vazios urbanos), reduz a faixa de renda da população atendida a 5 salários-mínimos. Já o art. 2º. Incisos I, II e III traz a definição legal das categorias de ZEIS 1, 2 e 3. São elas as porções delimitadas no território santista que contemplam, respectivamente, áreas ocupadas por assentamentos precários, áreas vazias ou subutilizadas e, por fim, áreas ocupadas por habitações coletivas de aluguel (cortiços). A lei complementar prevê a criação de uma Comissão Municipal das Zonas Especiais de Interesse Social por decreto (art. 5º, parágrafo único), a elaboração de Planos de Urbanização para cada ZEIS atendendo a diretrizes urbanísticas do Executivo municipal (art. 6º) e a necessidade de aprovação pela Câmara da intervenção em ZEIS existente ou criação de novo perímetro (art. 8º, parágrafo único). Na prática, a costumeira edição de decreto para aprovação de Planos de urbanização de adequação do perímetro do zoneamento especial é afastada, para exigir que a alteração de zoneamento se opere por lei somente. A Comissão Municipal das Zonas Especiais de Interesse Social, que não se confunde com a comissão instituída para a regularização de cada assentamento, parece corresponder ao atual Grupo Técnico de Trabalho para Regularização Fundiária e Urbanística, constituído pelo Decreto nº 5.714/2010. Os arts. 15 a 21 da LC nº 53/1992 estabelecem critérios diferenciados para construção e regularização do parcelamento, parâmetros de ocupação e usos permitidos. Deles se destaca acertada maior permissividade concedida às ZEIS 1, cujos parâmetros urbanísticos (tais como lotes mínimos) variam de assentamento a assentamento, de acordo com as características peculiares de cada qual, de acordo com as possibilidades de regularização. Parâmetros construtivos como recurso também são disciplinados. Também são exigidas áreas para doação ao Poder Público Municipal, para implantação de áreas verdes ou institucionais, em percentual total mínimo de 15% da área do empreendimento, conforme art. 20, inciso XII. O conteúdo do plano de urbanização válido para cada assentamento será definido pela Comissão de Urbanização e Legalização (COMUL), cuja composição e competências são definidas pelo art. 22 e seguintes. Também é a COMUL que identifica os usos que podem ser instalados em cada ZEIS (art. O Plano de Urbanização é observado sempre, independentemente da categoria de ZEIS. No entanto, na hipótese da ZEIS 2 (empreendimentos habitacionais novos) ou 3 (cortiços), os arts. 33 e 40, respectivamente, prescrevem a adoção dos Quadros 1 a 4 (anexos II a V da Lei) para os parâmetros urbanísticos e edilícios. Coeficientes de aproveitamento e taxas de ocupação, índices permissivos no Município mesmo fora das ZEIS, não se destacam tanto quanto lotes mínimos de até 40m2 ou a já mencionada exigência de área de doação ao Poder Público municipal para uso institucional ou como área verde. A ZEIS 1 e 3 dizem respeito a áreas com ocupação preexistente, conforme suas definições contidas desde a promulgação da Lei complementar nº 53/1993, art. 2º incisos I e III. As ZEIS 1 operam por força da lei de 1992 com os meios de regularização tradicionalmente adotados nos municípios brasileiros, sendo a cidade de Santos destacada como uma das primeiras a possuir legislação detalhada a respeito. Dessa forma, a regularização das ZEIS, conforme art. 15 da lei municipal, é aprovada pelo Município como urbanização específica, nos termos da Lei federal nº 6.766/1979, sendo cada assentamento regularizado de acordo com suas especificidades (arts. 11 e 16 a 19 da LC nº 53/1992) e algumas regras gerais, estabelecidas pelo art. 20. Outro destaque é o fórum de definição do projeto de parcelamento do solo para regularização fundiária estabelecido pelo art. 22, qual seja, a Comissão de Urbanização e Legalização (COMUL), composta por distintos órgãos públicos e representantes das comunidades beneficiárias, responsável, entre outras 497 atribuições pela acompanhamento do projeto de regularização de contato com as demandas das famílias (art. 23). Com relação à outorga de uso de áreas públicas municipais regularizadas a seus beneficiários (ZEIS 1), o art. 12 estabelece a concessão de direito real de uso como forma a ser adotada, sendo vedada a doação. O mesmo dispositivo legal define que a CDRU é celebrada por 99 anos, prorrogável por igual período, sendo os encargos dos concessionários determinados pelo art. 14. As ZEIS 3 possuem exigências construtivas específicas por não configurarem propriamente parcelamento do solo, mas a constituição de unidades autônomas em edificações (arts. 39 a 45). Todas as categorias de ZEIS encontram-se demarcadas e descritas nos Anexos VI e VII (Mapa de Zoneamento) estabelecidos pela Lei complementar nº 730/2011 (Lei de uso e ocupação do solo da área insular de Santos). Ainda sobre as ZEIS vale ressaltar a incidência de dispositivos trazidos pela Lei federal nº 11.977/2009 por meio da Lei Complementar nº 778/2012, a qual consolida procedimentos administrativos e estabelece vias claras para obtenção da segurança da posse de assentamentos localizados em áreas públicas e privadas. As ZEIS Outro aspecto a ser destacado naquilo que concerne à temática habitacional é o Programa “Alegra Centro – Habitação”, instituído pela Lei Complementar nº 688/2010. Na realidade um “sub-programa” do Programa “Alegra Centro”, existente anteriormente desde a promulgação da Lei Complementar nº 470/2003, o Alegra Centro – Habitação é possibilitado nos bairros Centro, Paquetá, Vila Nova e Vila Mathias; todos centrais em Santos. É importante destacar que tais bairros, excluídos o perímetro da Área de Proteção Cultural 1 (APC1) não se sobrepõem às ZEIS 3 instituídas no zoneamento municipal, gerando mais oportunidades de investimento em moradias populares. Formalmente intitulado de Programa de Reabilitação do Uso Residencial na Região Central Histórica de Santos, o programa direciona investimentos para a recuperação de edificações de acordo com condições mínimas de habitabilidade e segurança (art. 8º da lei). Além disso, estabelece critérios edilícios particulares às tipologias construtivas a serem consideradas reabilitadas. Considerando-se o objetivo principal de recuperação de habitações coletivas insalubres (cortiços), as construções reabilitadas referidas anteriormente distinguem-se em Tipos 1, 2 e 3, das quais somente a terceira tipologia obedece à LC nº 53/1992 (Legislação de ZEIS 3). Os Tipos 1 e 2 de imóveis a serem reabilitados apresentam características próprias, criando uma verdadeira codificação de obras particular à adaptação de imóveis históricos ao uso residencial (art. 9º). O art. 14 informa que, uma vez identificado e publicado o imóvel ocupado precária e coletivamente, o proprietário terá dois anos para iniciar o respectivo processo de reabilitação. Para tanto, o Município fornece apoio técnico e institucional, na forma definida pelo art. 17, sem prejuízo de benefícios fiscais informados pelos arts. 43 e 44. O apoio técnico expressamente faz referência à aplicação local da assistência técnica propugnada pela Lei federal nº 11.888/2008. Ressalta-se também o fato de que tais benefícios ficais, nos casos dos Tipos 2 e 3, circunscreve-se aos casos nos quais os beneficiários da reabilitação são famílias cadastradas. Na realidade, é o único dispositivo que vincula de alguma maneira as unidades habitacionais geradas a uma população demandatária de moradia previamente identificada (cadastrada). Não há outra condição expressa de atendimento a população de baixa renda. O ato administrativo que consubstancia a readequação do imóvel para torna-lo apto ao uso habitacional é a Certidão de Reabilitação de Imóveis, tratada pelos arts. 22 e seguintes. A Lei n 871/1991 substituiu previsão legal anterior, instituindo o Conselho Municipal previsto pelo art. 150 da LOM. Pela norma são previstas competência para aprovar, controlar e alocar recursos do Fundo de Incentivo da Construção de Habitação Popular (FINCOHAP). Também é estabelecida sua composição com representantes da sociedade civil e do Legislativo Municipal. Tal composição foi revista pela Lei nº 2.701/2010 apenas no que diz respeito aos representantes do Executivo Municipal. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Já o FINCOHAP foi instituído pela Lei Municipal nº 810, de 12 de dezembro de 1991 e regulamentado pelo Decreto Municipal nº 1759, de 30 de setembro de 1992. Depreende-se dos elementos ora trazidos à análise que o Município preenche os requisitos prescritos para integrar o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social estabelecidos pela Lei federal nº 11.124/2005. Contudo, após a promulgação da Lei nº 11.977/2009 (e mesmo após a promulgação do Estatuto da Cidade em 2001), entende-se que a legislação municipal acerca da regularização fundiária encontra-se bastante desatualizada. Exemplo disso são: a adoção da concessão de uso especial para fins de moradia sem qualquer operacionalidade pela Lei complementar nº 551, art. 3, inciso X, alínea ‘h’ e a ausência de qualquer disposição na ordem jurídica do Município de instrumentos relevantes como a demarcação urbanística e a legitimação de posse. 11 - SANEAMENTO AMBIENTAL Princípios e diretrizes norteadoras da política nacional de saneamento ambiental e de resíduos sólidos A política nacional de saneamento básico está assentada nas diretrizes insculpidas na Lei n° 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Em seu artigo 2°, a referida norma estabelece que os serviços públicos de saneamento básico sejam prestados com base nos seguintes princípios fundamentais: I - universalização do acesso; II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das ações e resultados; III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente; IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado; V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais; VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante; VII - eficiência e sustentabilidade econômica; VIII - utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas; IX - transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados; X - controle social; XI - segurança, qualidade e regularidade; XII - integração das infra-estruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos. (BRASIL, 2007) Esta mesma lei, em seu artigo 3°, considera saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; 499 b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas; d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas; (BRASIL, 2007) Este artigo define, ainda, a gestão associada, como sendo a “associação voluntária de entes federados, por convênio de cooperação ou consórcio público, conforme disposto no art. 241 da Constituição Federal”; a universalização, como sendo “a ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios ocupados ao saneamento básico”; o controle social, como “conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico”; e a prestação regionalizada, como “aquela em que um único prestador atende a 2 (dois) ou mais titulares”. (BRASIL, 2007) Para o efeito das análises que serão apresentadas a seguir, estes princípios e diretrizes serão levados em conta. Contudo, cabe ressaltar a operação regionalizada dos sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, em todo o litoral paulista, serviço prestado pela Sabesp172, empresa de economia mista que é responsável pela prestação destes mesmos serviços para 364 municípios do Estado de São Paulo. Neste aspecto, ressalta-se que o artigo 14 da citada lei, caracteriza como prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico: I - um único prestador do serviço para vários Municípios, contíguos ou não; II - uniformidade de fiscalização e regulação dos serviços, inclusive de sua remuneração; III - compatibilidade de planejamento. (BRASIL, 2007) Por sua vez, o artigo 15, estabelece que, “na prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento básico, as atividades de regulação e fiscalização poderão ser exercidas”: I - por órgão ou entidade de ente da Federação a que o titular tenha delegado o exercício dessas competências por meio de convênio de cooperação entre entes da Federação, obedecido o disposto no art. 241 da Constituição Federal; II - por consórcio público de direito público integrado pelos titulares dos serviços. Parágrafo único. No exercício das atividades de planejamento dos serviços a que se refere o caput deste artigo, o titular poderá receber cooperação técnica do respectivo Estado e basear-se em estudos fornecidos pelos prestadores. [grifo meu] (BRASIL, 2007) O artigo 19, da lei em tela, estabelece que “a prestação de serviços públicos de saneamento básico observará plano, que poderá ser específico para cada serviço, o qual abrangerá, no mínimo”: I - diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida, utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas; II - objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universalização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais planos setoriais; III - programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com outros planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento; IV - ações para emergências e contingências; V - mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficácia das ações programadas. 172 A Sabesp, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, foi criada em 1973, com a fusão de seis companhias regionais de saneamento, incluindo a Saneamento da Baixada Santista (SBS). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 § 1° Os planos de saneamento básico serão editados pelos titulares, podendo ser elaborados com base em estudos fornecidos pelos prestadores de cada serviço. § 2° A consolidação e compatibilização dos planos específicos de cada serviço serão efetuadas pelos respectivos titulares. § 3° Os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos. § 4° Os planos de saneamento básico serão revistos periodicamente, em prazo não superior a 4 (quatro) anos, anteriormente à elaboração do Plano Plurianual. § 5° Será assegurada ampla divulgação das propostas dos planos de saneamento básico e dos estudos que as fundamentem, inclusive com a realização de audiências ou consultas públicas. § 6° A delegação de serviço de saneamento básico não dispensa o cumprimento pelo prestador do respectivo plano de saneamento básico em vigor à época da delegação. § 7° Quando envolverem serviços regionalizados, os planos de saneamento básico devem ser editados em conformidade com o estabelecido no art. 14 desta Lei. § 8° Exceto quando regional, o plano de saneamento básico deverá englobar integralmente o território do ente da Federação que o elaborou. Art. 20. (VETADO). Parágrafo único. Incumbe à entidade reguladora e fiscalizadora dos serviços a verificação do cumprimento dos planos de saneamento por parte dos prestadores de serviços, na forma das disposições legais, regulamentares e contratuais. [grifos meus] (BRASIL, 2007) A Lei n° 11.445/2007, em seu Capítulo V, também fixa a competência da regulação de serviços públicos de saneamento básico. Segundo esta lei: “a regulação poderá ser delegada pelos titulares a qualquer entidade reguladora constituída dentro dos limites do respectivo Estado, explicitando, no ato de delegação da regulação, a forma de atuação e a abrangência das atividades a serem desempenhadas pelas partes envolvidas”. (BRASIL, 2007) No Estado de São Paulo, foi criada a Agência Reguladora de Saneamento e Energia (ARSESP), autarquia vinculada à Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, por meio da Lei Complementar 1.025, de 7 de dezembro de 2007, regulamentada pelo Decreto n° 52.455/2007, com o objetivo de regular, controlar e fiscalizar, no âmbito do Estado, os serviços de gás canalizado e, preservadas as competências e prerrogativas municipais, de saneamento básico de titularidade estadual. A regulamentação da ARSESP também permite que o órgão atue no âmbito municipal, desde que haja delegação para tal competência. A ARSESP foi criada a partir da Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), autarquia que atuou na regulação e fiscalização dos serviços de energia elétrica e gás canalizado, desde 1998. Portanto, a agência não possui tradição na área de saneamento básico. No que respeita à competência para a elaboração dos planos de saneamento básico, vale ressaltar, que no caso dos municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista e do Litoral Norte, os mencionados planos estão sendo elaborados por consultorias contratadas pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), sob a supervisão de Equipe Técnica estadual e de um Grupo Executivo Local, formado por técnicos das respectivas municipalidades. Até o momento, todos os municípios do Litoral Norte já possuem planos de saneamento em elaboração, em distintas fases, no que concerne à validação pelas respectivas municipalidades. É relevante destacar que a titularidade do serviço de saneamento é uma questão controversa, e até hoje não sanada, na esfera judicial, sobretudo em regiões metropolitanas, em que há serviços de interesse comum a mais de um município. 501 Apesar disso, em função do escopo e do alcance dos referidos planos, os levantamentos apresentados a seguir, assim como as respectivas análises, serão preferencialmente alicerçadas nos conteúdos destes documentos, complementados, eventualmente, por fontes obtidas diretamente das municipalidades, entidades do terceiro setor ou da própria prestadora dos serviços. Outro aspecto de relevo, o que concerne à Política Nacional de Saneamento é o arcabouço institucional, estruturado a partir da criação do Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) A SNSA possui dois eixos estratégicos de atuação: “um voltado ao planejamento, formulação e implementação da política setorial, respeitando o pacto federativo; outro relacionado à identificação de novas fontes de financiamento que assegurem a contínua elevação dos investimentos no setor” A SNSA coordena a elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), junto com o Conselho das Cidades (ConCidades), conforme determina a Lei 11.445/2007 e a Resolução Recomendada nº 33, de 1º de março de 2007, do ConCidades. O Plano Nacional de Saneamento Básico, quando aprovado em sua etapa final, constituirá o eixo central da política federal para o saneamento básico, promovendo a articulação nacional dos entes da federação para a implementação das diretrizes da Lei 11.445/07. Será um instrumento fundamental para a retomada da capacidade orientadora do Estado na condução da política pública de saneamento básico e, consequentemente, da definição das metas e estratégias de governo para o setor no horizonte dos próximos vinte anos, com vistas à universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um direito social, contemplando os componentes de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Esta estrutura reproduz-se nas unidades da Federação, com especificidades marcadas pela história da construção da política de saneamento em cada uma. No caso do Estado de São Paulo, esta organização institucional e legal é bem mais antiga que a criação do próprio Ministério das Cidades. Em São Paulo, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA) foi criada em 1986, visando à promoção, preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, coordenando e integrando atividades ligadas à defesa do meio ambiente. Posteriormente, novas atribuições foram conferidas à pasta, que foi a responsável pela elaboração da Política Estadual de Meio Ambiente e pela sua implantação em 1997, que estabeleceu o Sistema Estadual de Administração da Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos Recursos Naturais (SEAQUA), do qual a SMA é o órgão central. Desde 2008, a SMA também ficou responsável por analisar e acompanhar as políticas públicas setoriais que tenham impacto ao meio ambiente, bem como articular e coordenar os planos e ações relacionados à área ambiental. Dessa maneira, as questões ambientais deixaram de integrar apenas a pasta de Meio Ambiente, para estarem presentes em diferentes órgãos e esferas públicas do Estado de São Paulo, que devem trabalhar de maneira integrada com a SMA. A secretaria também é responsável por executar as atividades relacionadas ao licenciamento e à fiscalização ambiental, além de promover ações de educação ambiental, normatização, controle, regularização, proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais. Para isto, departamentos, coordenadorias e Fundações atuam vinculadas à SMA para exercer as atividades competentes à pasta. Com o objetivo de agilizar a gestão ambiental no Estado, foram criados dez eixos temáticos que trabalham agendas ambientais em diferentes áreas, como água, solo, resíduos sólidos, economia verde e planejamento ambiental, biodiversidade e unidades de conservação, fiscalização ambiental, cuidado animal, ar, licença ambiental. No município de Santos, os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário são prestados pela SABESP e ainda não há contrato de programa firmado entre esta empresa e o Município para a prestação destes serviços. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 11.1 Gargalos na captação, tratamento, armazenamento e distribuição de água potável Onde se vê: Figura ___. Sistema Central: Esquema geral para a ampliação e melhoria, têm-se: 11.2 – Sistema de Coleta e Tratamento de Esgotos 11.2.1 – Demandas por Sistemas de Coleta e Tratamento de Esgoto De acordo com os resultados do Censo Demográfico 2010, o Município de Santos possuía um total de 144.600 domicílios ocupados com residentes fixos185, dentre os quais 93,9% tinham banheiros e estavam conectados à rede coletora de esgoto ou de águas pluviais e 1,9% utilizavam fossas sépticas. Vale ressaltar que, ainda que não possua atendimento de 100% dos domicílios, o município de Santos lidera o ranking de cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto186. Conforme podemos ver no mapa ___ abaixo, a distribuição espacial desses domicílios ocupados ligados às redes coletoras de esgoto cobre quase toda área urbana do município. As exceções são áreas de menor renda, majoritariamente na Zona Noroeste e na Zona de Morros, além de alguns assentamentos na parte continental do município. Dentre essas temos os Morros da Penha, do Pacchdeco e Caneléia, os assentamentos precários do Dique de Santos, Caminho da Capela, Vila Telma e Jardim São Manoel, além dos bairros Chico De Paula, e Vila Haddad. Destaca-se também, que as áreas de maior renda, onde estão localizados a maior parte dos empreendimentos verticais, assim como o condomínio fechado no morro de Santa Terezinha, tem cobertura majoritária superior a 90% de rede de tratamento de esgoto. Dessa forma, 185 Esse conjunto não inclui os domicílios de uso ocasional, comumente utilizados para veraneio durante fins de semana, feriados e férias. 186 De acordo com o Sistema Nacional de Informação sobre Sanamento (SNIS), 2010. 503 parece claro que, ainda que o município tenha uma alta porcentagem de domicílios ligados à rede de esgoto, quando esse não existe, ele não existe nas áreas mais pobres das cidade. Um dado que reforça essa tese é o de que todos os setores sencitários que apresentam atendimento inferior à 25% dos domicílios possuem em todo o perímetro ou em parte dele assentamentos precários. 11.2.2 Gargalos na coleta e tratamento de esgoto Conforme mencionado no item sobre abastecimento de água, o sistema público de saneamento de Santos foi implantado na virada do século XX. Mas foi com o Plano de Saneamento implantado pela Comissão de Saneamento do Estado, chefiada pelo engenheiro Francisco Saturnino de Brito que a cidade pode se expandir em direção à orla marítima, ao sul, ocupando, durante aquele século, a planície marinha existente entre a atual área central e as praias. Em 1895, a Comissão de Saneamento, então chefiada pelo engenheiro José Rebouças, passou ao comando do engenheiro Ignácio Wallace da Gama Cochrane, que a chefiou até 1897. Cochrane, filho do fundador da Companhia City of Santos Improvements187, foi vereador em Santos e tinha sólida formação científica. Em 1896, ele apresentou detalhado relatório sobre os serviços de esgotos em Santos, apontando os principais problemas e as obras necessárias. Apesar da falta de sintonia com o governo republicano, sua posição foi fundamental para o encampamento dos serviços pelo Estado. No mesmo ano, Cochrane esteve em Santos, acompanhado por Rebouças, então chefe da Superintendência de Obras Públicas, visando detalhar as obras necessárias, que seriam iniciadas anos mais tarde por este último. Em seu relatório, Cochrane propunha uma abordagem centrada nas obras de prevenção das epidemias, e foi o primeiro estudioso do assunto a enfatizar a necessidade de implantação de um sistema de separação absoluta, entre águas servidas e pluviais, adotado anos mais tarde por Saturnino de Brito, em seu plano para Santos. 187 A Companhia City tinha a concessão dos serviços de esgotos e adquiriu a Companhia de Melhoramentos, que tinha a concessão do serviço de abastecimento de água.. Esta empresa foi vendida em 1870 a investidores ingleses. Portanto, quando Cochrane assumiu a Comissão de Saneamento, a empresa não era mais de propriedade da família. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Apresentado em 1905, o Plano de Saneamento de Brito permitiu a implantação do sistema de esgotos e de drenagem, apoiado em um plano geral, que possibilitou a expansão da cidade até a orla. A face mais visível dessas redes foram os canais de drenagem, que alteraram a fisionomia da cidade e até hoje marcam sua paisagem. Pela importância que possuem para a história do saneamento de São Paulo, os canais de drenagem são tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat)188. O mapa ___ a seguir apresenta a concepção geral do Plano de Esgotos de Santos, elaborado pela Comissão de Saneamento do Estado sob a coordenação de Saturnino de Brito. Pode-se observar claramente a preocupação com a orientação da expansão da malha urbana, que garantiu a excelência da qualidade urbanística da cidade durante a primeira metade do século XX. No mesmo mapa pode-se verificar uma das maiores contribuições de Brito ao equacionamento do esgotamento sanitário da Zona Leste de Santos, a adoção do sistema de distritos sanitários, que possibilitou o esgotamento das sub-bacias, com a utilização de estações elevatórias. Antes da adoção deste sistema, as tentativas de esgotamento da planície marinha de Santos foram infrutíferas, em função das condições topográficas e do solo, que demandavam altos custos para construção das redes. 188 O sistema de drenagem de Santos, que faz parte do conjunto denominado pelo Conselho “a obra de Saneamento da Baixada Santista de Saturnino de Brito”, foi inaugurado em 25 de abril de 1912, e consiste no conjunto de canais para drenar o solo, direcionando as águas pluviais para o mar, juntamente com um sistema de descarga e tratamento dos esgotos. Estes despejos eram direcionados originalmente para o emissário de Itaipu, por meio da Ponte Pênsil, em São Vicente. O conjunto tombado engloba os canais, os passeios que os ladeiam, os elementos do projeto original para circulação e proteção dos pedestres, as estações elevatórias e o Palácio Saturnino de Brito, atual sede da SABESP, em Santos. O tombamento foi efetivado pela Resolução SC 23 de 16 de junho de 2006. 505 Mapa ___. Distritos de Elevação Auto-Elétrica dos Esgotos de Santos, conforme Plano de Esgotos de Santos elaborado por Saturnino de Brito. Fonte: Inauguração dos Trabalhos de Saneamento de Santos, 1913. Baseado nos conceitos do urbanista austríaco Camilo Sitte, o plano de saneamento articulava-se com um plano urbanístico que previu a ordenação estética da paisagem por meio de um sofisticado desenho viário, com avenidas arborizadas, praças e jardins públicos, marcando de modo decisivo a estrutura urbana de Santos e São Vicente, até hoje. Portanto, os sistemas de esgotos e drenagem, bem como a expansão do sistema viário principal da Zona Leste de Santos foram concebidos juntos e partem do princípio de que as águas servidas devem ser separadas das águas originadas de precipitações e dos quintais, estruturando a ocupação da planície marinha. Ao ser inaugurado, o sistema de esgotos era composto por 66,0 km de coletores, 15,0 km de emissários, 602 poços de visita, 10 estações elevatórias, uma usina terminal e a Ponte Pênsil, projetada para a travessia do emissário da ilha de São Vicente à sua área continental, no bairro do Japuí, seguindo até a ponta do Itaipu, onde o esgoto era lançado no mar, em área onde hoje é o município de Praia Grande. Este sistema funcionou da forma como foi concebido até o princípio da década de 1990, quando a Prefeitura, em conjunto com a SABESP, resolveram implantar uma modificação importante, em função da acentuada queda da balneabilidade das praias nas décadas anteriores. Entre 1950 e 1980, a cidade de Santos sofreu um processo de crescimento demográfico acelerado e de adensamento dos bairros situados junto à orla. A industrialização de Cubatão, o crescimento do Porto e o advento do turismo balneário de massas, possibilitado pela construção da Via Anchieta e pela implantação da indústria automobilística em São Paulo, foram elementos decisivos para este processo. Este adensamento, com verticalização da orla e ocupação de áreas ambientalmente frágeis nos morros e nos mangues provocou evidente sobrecarga no sistema projetado por Brito, planejado para uma população de 150.000 habitantes, ao mesmo tempo em que os investimentos em sua ampliação não acompanharam o Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 crescimento da cidade. O resultado foi queda da qualidade das praias, com reflexos negativos para a atividade turística. Na mesma época o governo do estado promoveu a abertura de rodovias importantes para a integração do litoral, sobretudo o eixo norte e sul da SP-55. Este fator possibilitou a reorientação do fluxo do turismo balneário em direção a cidades mais afastadas do centro regional, nas quais as condições de balneabilidade eram evidentemente melhores. Portanto, os efeitos conjuntos destes fatores provocaram uma grave crise da atividade turística de Santos e São Vicente. Porém, nos anos 1970 o sistema foi ampliado, com a integração do bairro da Ponta da Praia ao sistema que atendia o restante da orla. No entanto, cerca de 110 mil pessoas não contavam com o serviço de coleta de esgotos. Em função deste déficit, e da necessidade de melhorar as condições de balneabilidade das praias, o governo estadual construiu o Emissário Submarino e o Interceptor Oceânico189, o primeiro do litoral paulista, que foi inaugurado em 21 de julho de 1978. Sua construção passou a ser necessária para. Nesta época, o bairro Estuário, situado junto ao Porto, e a Zona Noroeste ainda não eram atendidos pelo sistema de esgotos. O Interceptor construído sob a faixa de areia possui uma extensão de 4,9 km e está instalado numa profundidade que vai de dois a quatro metros. O Emissário tem vazão máxima de 7,0 m³/s de esgoto e localiza-se na praia do José Menino, ao lado da Ilha Urubuqueçaba, e se estendia por cerca de 3,9 km mar adentro, antes das obras de prolongamento, executadas no âmbito do programa Onda Limpa. Este Emissário atravessa a faixa de areia sob uma plataforma de enrocamento com 400,0 m de comprimento, por 100,0 m de largura. O esgoto coletado pela rede principal, através do Interceptor passou a ser encaminhado à Estação de PréCondicionamento (EPC), onde são retirados os materiais sólidos e a parte líquida restante lançada no mar a 4 km da costa, pelo Emissário Submarino. Contudo, a despeito desses investimentos, durante a década de 1980 as condições sanitárias se agravaram, sobretudo porque os assentamentos precários e a maior parte da região dos Morros não eram atendidos pelo sistema público. E no início da década de 1990 a situação era muito grave. Conforme dados da Prefeitura de Santos, em 1993, dentre as doenças transmitidas pela água, relacionadas com a falta de saneamento ambiental, foram notificados pelos serviços municipais 1.539 casos de diarreia, 340 casos suspeitos de cólera, 189 casos de hepatite e 139 casos de barriga d'água, um dos quais infectado em Santos. Neste ano ocorreram cinco óbitos no município causados por parasitoses. No mapa ___ abaixo, apresenta-se a situação da cobertura de esgotos no início da década de 1990, evidenciando-se que as áreas da cidade habitadas pela população de renda mais baixa possuíam nível insatisfatório de atendimento, embora fossem as áreas com taxas de crescimento demográfico mais elevadas. 189 O Emissário, que conduz o esgoto de Santos e São Vicente até o alto-mar, permitiu a desativação do emissário da Ponte Pênsil, começou a ser projetado junto com o Interceptor, pela antiga Superintendência do Saneamento da Baixada Santista (SBS), em 1969. 507 Mapa ___. Cobertura da rede pública de esgotos de Santos no início da década de 1990. Fonte: Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Santos (1993). A alteração na forma de operação do sistema público de esgoto, no início dos anos 1990, visava, então, garantir níveis aceitáveis de balneabilidade e o retorno do turismo balneário à cidade, num quadro de estagnação econômica nacional, em que as atividades portuária e industrial de Cubatão foram duramente afetadas. Esta alteração consistiu no desvio das águas dos canais de drenagem, que desembocam nas praias, para o interceptor oceânico que fora implantado em toda a orla, na década de 1970, por meio de poços implantados no leito dos canais, junto às comportas situadas na faixa da praia. Isto foi possível porque a tubulação do Interceptor passa sob o leito dos canais e conduz os esgotos da região da orla até a EPC, situada junto à Usina Terminal do bairro José Menino, onde estes são tratados, conforme será detalhado adiante. Na figura ___ abaixo se apresenta o desenho original da Usina, projetada pela equipe de Brito. Este edifício foi recentemente restaurado pelo Estado, como parte das comemorações do centenário da implantação do Plano de Saneamento de Santos, comemorado em 2012. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Figura ___. Usina Terminal dos esgotos de Santos. Fonte: Projetos e Relatórios - Saneamento de Santos, Obras Completas de Saturnino de Brito, vol. VII, 1943. Portanto, com a implantação do novo sistema, a separação absoluta implantada por Brito foi alterada após quase 90 anos de operação, embora isto ocorra na parte final do sistema de coleta, na área junto à orla. Esta decisão partiu da constatação de que os canais conduziam para o oceano águas contaminadas por esgotos. E para que este sistema pudesse funcionar, a Prefeitura reformou e automatizou as comportas existentes nas desembocaduras dos canais de drenagem, impedindo que as águas conduzidas por estes alcancem o mar, com exceção de situações em que ocorrem chuvas associadas a marés, cuja cota é inferior ao nível das águas barradas a montante das comportas. Desta forma, estas comportas passaram a ser abertas somente em caso de precipitações pluviométricas. Contudo, em condições normais, as águas que circulam pelos canais são direcionadas para a EPC da Usina Terminal, que passou a receber não apenas a vazão dos esgotos, mas também as águas pluviais conduzidas pelo interceptor. Esta situação possibilita a manutenção de níveis adequados de balneabilidade durante o período em que as comportas estão fechadas. Mas após as chuvas e consequente abertura das mesmas, a qualidade das praias costuma piorar. Portanto, a balneabilidade das praias de Santos está efetivamente associada às precipitações pluviométricas e à operação das comportas, num quadro em que o período mais chuvoso coincide com a temporada de verão e com o maior afluxo às praias. 509 Esta condição revela que o sistema de esgotos possui deficiências, apesar dos investimentos realizados nos últimos anos e que serão abordados a seguir. Contudo, a SABESP considera que a contaminação das águas dos canais de drenagem é decorrente da poluição difusa, provocada pelo descarte inadequado de resíduos e outras fontes, como fezes de animais. É importante ressaltar que a Prefeitura e SABESP desenvolvem conjuntamente um programa de identificação de lançamento irregular de esgotos na rede de drenagem, visando reduzir os impactos negativos do sistema sobre a balneabilidade. Porém, ainda persiste a falta de atendimento de grande parte dos assentamentos precários, excluindo dos serviços parte significativa da população. Além disso, mesmo a região dos Morros, que recebeu grandes investimentos com implantação de rede coletora, na década passada, ainda apresenta deficiências notórias na operação do sistema, com constantes extravasamentos e falta de ligação domiciliar em algumas áreas. A seguir apresenta-se uma caracterização do sistema público de esgotamento sanitário de Santos, com seus principais componentees, avaliando-se seu desempenho, bem como os investimentos realizados e a realizar para sua melhoria. Caracterização do sistema de esgotamento sanitário O sistema de esgotamento sanitário da cidade de Santos é integrado ao sistema de São Vicente, cujos esgotos são conduzidos em comum à EPC, situada no bairro José Menino, em Santos, para posterior disposição oceânica via Emissário Submarino. Conforme a Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos (DAEE, 2010, p.48), o sistema possuía 503 km de rede coletora e 68.259 ligações totais, na época da elaboração do estudo. Conforme a mesma fonte, em função da topografia plana, na maior parte da cidade, o esgotamento se faz com o uso de 25 estações elevatórias de esgotos (EEE), além da elevatória final, situada na EPC do José Menino. O sistema conta com o total de 30,2 km de emissários. O mapa ___ abaixo apresenta a localização do sistema público de esgotos da Ilha de São Vicente, assim como de seus principais componentes, dentre os quais se destaca o Emissário Submarino, a EPC do José Menino, o Interceptor Oceânico, e os conjuntos de emissários terrestres e de estações elevatórias As duas EEE em vermelho foram reformadas pelo programa Onda Limpa. O coletor Rebouças também foi substituído, em função dos investimentos do mesmo programa, que também foi responsável pela instalação dos Interceptores da orla de São Vicente, que permitiram a interligação total do sistema insular. O aterro do Sítio das Neves, também assinalado no mapa, é utilizado para disposição dos resíduos produzidos pela ETC. Observa-se que as áreas continentais de Santos e de São Vicente não são atendidas por este sistema. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa ___. Sistema de Esgotos das áreas insulares de Santos e São Vicente. Fonte: Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, Anexo). Segundo o mencionado estudo, a EPC realiza apenas tratamento primário e sua capacidade anterior ao programa Onda Limpa era de 3,5 m³/s, compreendendo caixas de areia, dez peneiras rotativas, sistema de pré e pós-cloração para desinfecção. Os esgotos sanitários, após o pré-condicionamento, são lançados no oceano, através de emissário submarino. Conforme a Proposta do Plano, a capacidade projetada do emissário, de 7,0 m³/s, foi mantida e os resíduos sólidos gerados na EPC, são encaminhados para o aterro sanitário Sítio das Neves, na área continental do município de Santos. Na época de sua inauguração, estimava-se que o Emissário tinha capacidade para afastar o esgoto précondicionado produzido por uma população de 2 milhões de habitantes. Contudo, a desaceleração do crescimento demográfico na Ilha de São Vicente, muito superior ao da região, demonstra que, assim como o Túnel Reservatório de Santa Terezinha/Voturuá, o Emissário foi dimensionado para um crescimento demográfico bastante superior ao que efetivamente ocorreu. Desta forma, pode-se afirmar que os principais componentes do sistema de saneamento da ilha possuem capacidade bem superior à demanda efetiva. As principais obras realizadas pelo programa Onda Limpa no município, com o objetivo de aperfeiçoar o sistema, foram: Implantação do novo Interceptor Rebouças, com 2,3 km de extensão, no eixo da Avenida General Francisco Glicério; Construção de emissário terrestre com 400 m de extensão; 511 Ampliação da EPC para 5,3 m³/s; Adequação dos difusores do emissário submarino e seu prolongamento em mais 400,0 m, com alteração na geometria da emissão, para que o lançamento seja perpendicular às correntes locais; Reforma de duas estações elevatórias de esgoto. No tocante à cobertura do sistema, conforme aponta o referido estudo (DAEE, 2010, p.49) em Santos ainda existem áreas não atendidas pelo projeto original de coleta de esgotos, como partes dos Morros, cujos sistemas de coleta passaram a ser implantados na década passada, além de áreas junto à entrada da cidade, próximo à zona portuária, como os bairros Alemoa, Chico de Paula e Santa Maria, que estavam com obras a iniciar, na época da elaboração do estudo. Segundo a mesma fonte, também existe previsão para atendimento dos conjuntos habitacionais São Manoel I e II e do Dique Vila Gilda, que serão objeto de intervenções no âmbito do PAC da Habitação, na Zona Noroeste de Santos. No caso dos Morros, é importante destacar que nos últimos anos a rede de coleta foi implantada190, mas ainda persistem situações em que os domicílios não foram ligados à rede, em função dos custos de ligação e da previsão de duplicação da fatura da SABESP, pois na Baixada Santista a empresa cobra pela prestação do serviço de esgotos o mesmo valor cobrado pelo abastecimento de água, embora o volume esgotado não seja igual191. Esta situação desestimula famílias de menor renda a aderir ao sistema. Recentemente a SABESP estimou que, na Baixada Santista, 30 mil domicílios ainda não haviam sido ligados à rede, após as intervenções do programa Onda Limpa. Portanto, é possível que muitos destes estejam na região dos Morros de Santos. Por este motivo o governo estadual implantou, em 2012, o programa “Se liga na rede”, visando subsidiar o custo da ligação domiciliar às famílias de baixa renda. Contudo, este programa não implica na redução do valor da tarifa cobrada e seu alcance deverá ser limitado. De qualquer forma, com as obras do Onda Limpa, o sistema de tratamento primário e de disposição oceânica passou a ter uma capacidade de 5,3 m³/s. Contudo, há exigência da CETESB de instalação de tratamento secundário prévio ao lançamento pelo emissário submarino. Por esta razão, a SABESP já tem um estudo de concepção para adequação do tratamento dos esgotos dos municípios de Santos e São Vicente, onde se prevê a instalação de ETE secundária também para a vazão de 3,98 m³/s. Esta providência é essencial para garantir a qualidade dos efluentes despejados no mar, em atendimento à Resolução Conama N° 357/2005. Contudo, apesar das deficiências apontadas acima, em 2011, Santos ficou em 1º lugar no ranking brasileiro de saneamento, elaborado pelo Instituto Trata Brasil. Certamente neste levantamento alguns dos aspectos não devem ter sido considerados, sobretudo a falta esgotamento em áreas consideradas não atendíveis, como as ocupações em palafitas no complexo de favelas do Dique da Vila Gilda, do Dique e do Caminho da União do São Manoel, e em diversos assentamentos precários nos morros. Sistemas isolados De modo geral, os bairros da Área Continental de Santos não possuem sistema público de esgotamento sanitário e, em muitos casos são utilizadas fossas sépticas ou redes próprias de afastamento com despejo de esgoto in natura nos corpos d’água. Contudo, a partir de 2011, o maior bairro desta região, o Caruara, situado próximo à divisa com o município de Bertioga, passou a contar com sistema de esgotos isolado, implantado e operado pela SABESP. Segundo o Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico (DAEE, 2010, p.55), este sistema possui rede com 10.788,0 m de extensão, cinco EEE , e uma ETE com capacidade de tratar uma vazão de 16 l/s, pelo sistema de lodo ativado. 190 No início da década de 1990, a Prefeitura de Santos passou a implantar redes de afastamento de esgotos alternativas nos Morros, pois a SABESP considerava a maior parte desta região tecnicamente não atendível e se recusava a implantar o sistema de esgotos. Esta providência tornou-se necessária para o enfrentamento das situações de risco geológico, induzidas pela disposição irregular dos esgotos, em encostas. Contudo, apesar do esforço da Prefeitura, a SABESP negou-se a ligar as redes de afastamento à sua rede oficial e durante mais de uma década estas redes despejaram esgoto in natura nos canais de drenagem situados na parte plana da cidade. 191 Deve-se destacar que a tarifa social da SABESP é cobrada pelo consumo e não pela renda familiar. Desta forma, esta forma de tarifação acaba por beneficiar mais os proprietários de imóveis de veraneio, do que as famílias residentes em áreas mais pobres. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Cobertura do sistema público de esgotos de Santos De acordo com a Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos (DAEE, 2010, p.52), a cobertura do sistema público de esgoto, ou seja, a relação entre o número de imóveis em cujos logradouros deve haver rede coletora à disposição e o total de imóveis existentes, foi identificada com base no cadastro da SABESP, e o número de imóveis totais segue metodologia elaborada pela Fundação SEADE. Desta forma, no caso de Santos, foi apurado que a cobertura era praticamente universal, sendo 97% a cobertura até abril de 2010. No tocante à cobertura do sistema, com relação ao Censo Demográfico 2010 (FIBGE), observando-se o mapa ___ abaixo, que apresenta o percentual de domicílios ligados à rede coletora de esgoto ou pluvial segundo o setor censitário, verifica-se que os setores situados na Área Continental estão na faixa inferior192, onde o percentual varia entre 0% e 25% de domicílios ligados à rede. Nesta mesma faixa se encontram setores do complexo de favelas do Dique da Vila Gilda; do Dique e do Caminho da União, no bairro São Manoel; da Vila dos Criadores, no bairro Alemoa; da Vila Alemoa, no bairro Chico de Paula; e na parte inferior das encostas dos morros s Cachoeira, Caneleira (Tetéu) e Santa Maria. Alguns setores situados nos Caminhos São Sebastião e São José, no Dique da Vila Gilda, encontram-se na faixa entre 25% e 50% de domicílios ligados à rede. Na faixa entre 50% e 75%, estão: áreas do bairro Chico de Paula, onde predominam atividades retroportuárias; o topo e parte da encosta do Morro Santa Maria; partes dos Morros do São Bento, Pacheco e Lomba da Penha; além de parte do Centro, entre as Ruas Braz Cubas e Senador Feijó. Na faixa entre 75% e 90%, estão: a Vila Telma, localizada junto ao Dique da Vila Gilda, no bairro Rádio Clube; parte do bairro Caneleira, pequena parte do bairro Santa Maria e todo o bairro Piratininga, na Zona Noroeste; a Vila Pantanal, no bairro Saboó; a parte inferior da encosta do morro do Saboó; partes da Vila Progresso e dos Morros Santa Maria, Pacheco e José Menino; parte do bairro Chinês; parte do bairro Paquetá, junto ao cemitério, próximo à área central; e pequena parte do bairro Vila Mathias, em ambos os lados da Avenida Ana Costa. Os demais setores encontram-se na faixa superior, entre 90% e 100% de cobertura. De modo geral, as áreas com maior densidade demográfica possuem cobertura na faixa superior, com exceção da franja de favelas com palafitas, que circunda a Zona Noroeste, e de parte do bairro do Saboó, onde se situa a Vila Pantanal. Mapa ___. Santos: Percentual de Domicílios ligados à rede coletora de esgoto ou pluvial segundo o setor censitário (2010). Fonte Básica: Censo Demográfico IBGE, 2010. Elaboração: Instituto Pólis. 192 Na época da elaboração do Censo Demográfico 2010 a rede do bairro Caruara, na Área Continental de Santos, ainda não estava implantada. 513 Analisando-se o mapa ___ abaixo, que apresenta o percentual de domicílios com banheiros ligados à rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica segundo o setor censitário, verifica-se que o uso de fossas é disseminado na Área Continental, embora com a exceção do Monte Cabrão, que se encontra na faixa inferior, entre 0% e 25% de domicílios, os demais núcleos são formados por ocupações de baixíssima densidade ou de reduzido número de habitantes. Mapa ___. Santos: Percentual de Domicílios com banheiros ligados à rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica segundo o setor censitário (2010). Fonte Básica: Censo Demográfico IBGE, 2010.Elaboração: Instituto Pólis. Plano de metas e estudo de demanda Segundo a Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos (DAEE, 2010, p.50), na tabela ___ abaixo são apresentadas as metas propostas pelo referido estudo, conforme as quais se verifica que a cobertura do sistema de esgoto deveria sofrer pequena elevação193, muito antes do final do plano, em 2039, atingindo quase que a completa universalização. Contudo, neste levantamento não são consideradas as áreas não atendíveis, embora a maior parte delas deva ser objeto de remoções194, dentro dos projetos habitacionais do PAC da Habitação, em especial as áreas de palafitas. Portanto, o alcance real da universalização, em Santos, vai depender da efetividade destes projetos, bem como da melhoria do atendimento de outras áreas, sobretudo as situadas nos Morros. 193 Esta elevação deve ter sido considerada como decorrente das obras já realizadas no âmbito do programa Onda Limpa. Segundo o projeto do PAC da Habitação da Zona Noroeste, as famílias ocupantes de palafitas devem ser removidas para conjuntos habitacionais, como já ocorreu com o Conjunto Habitacional Vila Pelé II e deverá ocorrer com o Conjunto Habitacional Caneleira IV. Contudo, cerca de 1.100 famílias moradoras de palafitas no Dique da Vila Gilda e em palafitas do São Manoel devem ser removidas para o Conjunto Habitacional Tancredo III, em São Vicente, em empreendimento realizado pela COHAB Santista. Portanto, em função do adensamento previsto, é necessário que a SABESP amplie os sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos desta área, localizada no extremo noroeste da Ilha de São Vicente. 194 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Tabela ___. Santos: Metas de Cobertura mínima do Serviço de Esgotos. Ano 2010 2015 2020 2025 2030 2039 Cobertura (%) > 97,0 > 99,0 > 99,0 > 99,0 > 99,0 > 99,0 Fonte: SABESP apud Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.50). (*) Exclui áreas irregulares e áreas de obrigação de fazer de terceiros No tocante ao percentual do tratamento, o esgoto coletado já é praticamente tratado em sua totalidade, conforme informações da mesma fonte. Investimentos executados No que concerne aos investimentos previstos e os já realizados, a tabela ___ abaixo apresenta os respectivos valores, segundo a Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.55). Tabela ___. Quadro Investimento Esgoto – Santos (R$ dez/2008) Período Tópico Tipo de Investimentos Total (R$) Coletor Tronco 2014 Melhoria Remanejamento coletor tronco - canal 1 (1.500 m - Método Não Destrutivo). 3.000.000,00 2014-2018 Melhoria Remanejamento e/ou duplicação dos coletores-tronco pelo crescente adensamento populacional. 4.784.504,00 2022-2026 Melhoria Remanejamento de coletores-tronco em Santos. 10.000.000,00 Total 17.784.504,00 Interceptor 2010 Ampliação EPC - Interceptor Rebouças - Lote 2 - Santos/ São Vicente. Total 24.306.174,44 24.306.174,44 Estação Elevatória de Esgoto 2010 Ampliação EPC - Adequação das EEE-7 e EEE-12 - Lote 2 -Santos/São Vicente. 5.599.878,56 2010 Ampliação EPC - EEE Principal - Lote 2 - Santos/São Vicente. 7.894.639,38 2015 Melhoria Automação com supervisório à distância todas EEEs. 1.080.000,00 2034 Melhoria Revisão da Automação de Todas EEEs. 500.000,00 2014-2015 Melhoria Reforma EEE da Areia Branca. 60.000,00 2019-2024 Melhoria Readequação e melhoria de estações elevatórias de esgotos em Santos. 3.090.000,00 Total 18.224.517,94 Emissário Submarino 2010 Ampliação EPC - Emissário Terrestre - Lote 2 - Santos/São Vicente. 799.108,75 2010 Ampliação EPC - Recuperação do Emissário Submarino - Lote 2 -Santos/São Vicente. 16.815.434,87 2028-2032 Ampliação Substituição do Emissário Submarino de Santos pelo fim da vida útil, que serve Santos/São Vicente (Diâmetro 1.800 mm, comprimento = 4,50 km) para vazão de 5,3 m³/s. 100.000.000,00 Total 117.614.543,62 515 Tratamento 2010 Ampliação EPC - Canteiro de Obras, EPC Oceânico, EPC Rebouças, Sistema de Desarenação e serviços complementares - Lote 2. 4.400.000,00 2010 Ampliação Admissão dos canais - Lote 2 (interceptor Praia). 578.000,00 2010 Melhoria Implantação de sistema de exaustão, lavagem e depuração de gás cloro para a EPC José Menino. 220.000,00 Total 5.198.000,00 Rede e Ligação (Investimento) 2011 Ampliação Execução das obras de implantação do sistema de esgoto sanitário de Caruara rede (10.788 m), EEE (5 un), ETE (Q = 16 l/s) lodo ativado. 20.000.000,00 2010 - 2011 Ampliação Ampliação de sistemas de esgotos: redes coletoras 12 km, LE 777 un, EEE 4 un, LR nos bairros Chico de Paula e Morros - Contrato n° 31.384/08 10.359.330,00 2010 Ampliação Aquisição de diversos materiais para obras de Chico de Paula e Morros, PVC, FF, etc. 482.650,00 2010 Taxa Pagamento de taxa para autorização de intervenção em áreas de preservação permanente nos bairros Chico de Paula e Morros - DEPRN. 470,00 2010 Taxa Pagamento de taxa para solicitação de Licença Prévia e instalação das EEE Baris, Julia 1, Julia 2 e Saboó no bairro Chico de Paula - CETESB. 6.150,00 2013-2014 Ampliação Implantação do SES no CH Dique Vila Gilda. 1.641.300,00 2013-2014 Ampliação Implantação do SES no CH São Manoel I (RC 4 km e LE 465 un). 1.287.010,00 2010 Ampliação Implantação SES CH São Manoel II (RC 2 km, LE 235 un). 63.600,00 2010 Ampliação Implantação SES CH Vila Alemoa - Santos P (CDHU). 47.910,00 2014 - 2020 Ampliação Remanejamento e/ou duplicação das redes coletoras pelo crescente adensamento populacional. 3.656.885,00 2020 Ampliação Remanejamento de redes coletoras Bairro Gonzaga e Pompéia (11.300 m 200 mm). 2.400.000,00 2022 Ampliação Remanejamento de redes coletoras Bairro Ponta da Praia e Centro (20.000 m - 200 mm). 4.500.000,00 2023 Ampliação Remanejamento de redes coletoras Bairro Boqueirão e Embaré (3.000 m 200 mm). 6.300.000,00 2025 Ampliação Remanejamento de redes coletoras bairros Estuário e Aparecida (32.000 m 200 mm). 6.700.000,00 2025 Ampliação Remanejamento de redes coletoras bairros Macuco e Encruzilhada (20.000 m - 200 mm). 4.200.000,00 2038 Ampliação Remanejamento de redes coletoras Bairros J. Menino e outros (7.000 m - 200 mm). 1.500.000,00 Total 63.145.305,00 Ligações Esgoto (ligações novas + remanejamento de ligação + troca de HM) 2010 -2039 Investimentos em ligações novas de esgoto. Total 8.854.974,00 8.854.974,00 Redes Esgoto (remanejamento de rede + ampliação de rede) 2010 -2039 Remanejamento de rede. 87.941.396,86 Ampliação de rede. 21.401.843,20 Total 109.343.240,06 Total dos Investimentos no Sistema de Esgoto 417.186.598,37 Fonte: SABESP apud Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.55). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Os investimentos elencados no quadro acima, que segundo a fonte citada foram informados pela SABESP, não incluem o valor de implantação do tratamento secundário que deverá preceder o lançamento do emissário submarino, pois ainda estava em discussão a localização e a solução a adotar para este tratamento. Conforme informado pela SABESP, na época da elaboração do estudo, o investimento realizado para atender as exigências da CETESB, no tocante à parcela de Santos, foi estimado em R$ 128.139.440,00. Este é o investimento mais importante a ser realizado no sistema da área insular de Santos e São Vicente. Na mencionada tabela, os investimentos assinalados em vermelho foram efetivamente realizados, representando cerca de 22,0% do valor total a ser despendido até o final do período avaliado, sem considerar o mencionado tratamento secundário. Portanto, verifica-se que nem todos os investimentos previstos para 2010 foram executados, pois os conjuntos habitacionais da CDHU no São Manoel e na Vila Alemoa não foram construídos. Merece menção, ainda, a previsão de remanejamento de redes em função do adensamento populacional em bairros da zona leste, que vêm sendo alvo da produção de empreendimentos imobiliários de alto padrão, com a implantação de um elevado número de unidades habitacionais nos últimos anos. Embora os componentes mais importantes do sistema tenham capacidade de absorver o adensamento produzido por este processo, certamente ajustes devem ser realizados nas redes, pois estas foram projetadas para uma cidade com um nível de adensamento muito inferior. Além disso, atualmente são notórios os episódios de extravasamento de esgotos nestes bairros e é possível que esta situação esteja vinculada à super exploração do potencial construtivo, na Zona Leste de Santos. Mas como o potencial construtivo também é alto em áreas anteriormente desprezadas pelo mercado, como a Zona Noroeste, Vila Mathias, Vila Nona e Morro da Nova Cintra, que atualmente já contam com alguns lançamentos verticais de alta densidade, é possível que o problema venha a se repetir nestas áreas, onde a cobertura do sistema ainda não é tão completa, como verificado anteriormente. Neste aspecto, é possível que o item “remanejamento e/ou duplicação das redes coletoras pelo crescente adensamento populacional”, a ser realizado entre 2014 e 2020, com custo estimado de R$ 3.656.885,00, seja destinado a estas áreas, embora o relatório não esclareça este ponto. Qualidade das praias de Santos Outro importante indicador da qualidade do saneamento básico, no caso de municípios litorâneos, como Santos, é a qualidade das praias, aferidas pelos índices de balneabilidade. Em especial para este município, em função de ter sido um dos municípios em que a atividade do turismo balneário se desenvolveu há mais tempo, o índice de balneabilidade tem um papel muito importante, não apenas em termos sanitários, mas no que respeita à sua repercussão econômica, ainda que esta atividade não tenha mais o peso que teve outrora, como já apontado anteriormente. Segundo os critérios estabelecidos na Resolução Conama nº 274/00, vigente desde janeiro de 2001, as praias são classificadas em ralação à balneabilidade, em duas categorias: Própria e Imprópria, sendo que a primeira reúne três categorias distintas: Excelente, Muito Boa e Satisfatória. Essa classificação é feita de acordo com as densidades de bactérias fecais resultantes de análises feitas em cinco semanas consecutivas. A Legislação prevê o uso de três indicadores microbiológicos de poluição fecal: coliformes termotolerantes (antigamente denominados Coliformes fecais), E. coli e enterococos. A classificação de uma praia como Imprópria indica um comprometimento na qualidade sanitária das águas, implicando em um aumento no risco de contaminação do banhista e tornando desaconselhável a sua utilização para o banho. Segundo a CETESB, mesmo apresentando baixas densidades de bactérias fecais, uma praia pode ser classificada nesta categoria, quando ocorrerem circunstâncias que desaconselhem a recreação de contato primário, tais como; a presença de óleo, provocada por derramamento acidental de petróleo; ocorrência de maré vermelha; floração de algas potencialmente tóxicas ou surtos de doenças de veiculação hídrica. 517 Como mencionado anteriormente, no caso de Santos, estas circunstâncias ocorrem quando as comportas dos canais de drenagem são abertas, após ocorrer precipitações que comprometem a capacidade de reservação dos mesmos, para o quê a altura da maré tem especial importância. Com o intuito de mostrar a tendência da qualidade das praias de modo integrado, baseando-se nos resultados do monitoramento semanal, a CESTEB desenvolveu uma Classificação Anual que se constitui na síntese da distribuição das classificações obtidas pelas praias nas quatro categorias durante as 52 semanas do ano. Baseada nesses critérios, a Classificação Anual expressa a qualidade que a praia apresenta com mais constância naquele ano. Os critérios para cada uma das classes estão descritos na tabela ___ abaixo, integrante do mais recente estudo acerca da balneabilidade das praias paulistas, que é o Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo - 2011 (CETESB, 2012), que além de apresentar a situação de balneabilidade das praias, trata de aspectos de saneamento. Tabela ___. Especificações que determinam a Qualidade Anual para as praias com amostragem semanal. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.30). De modo semelhante foi estabelecida uma qualificação anual para as praias com amostragem mensal, mas em Santos todas as praias têm monitoramento semanal. Segundo CETESB (2012, p.79), no município de Santos são monitorados sete pontos de amostragem localizados em seis praias, sendo dois pontos na praia de José Menino. Em 2011, todas as praias do município tiveram classificação anual Péssima, conforme demonstra o gráfico ___ e a tabela ___ apresentados a seguir. Em média, essas praias ficaram 32% do tempo na condição de Próprias. A Ponta da Praia apresentou o pior resultado, com 77% do tempo Imprópria e a praia do Gonzaga, situada mais ao centro da orla marítima santista, apresentou a melhor situação, com 60% do tempo nessa condição. Comparando-se com o ano anterior, verifica-se queda na qualidade dessas águas, pois, em 2010, 86% das praias foram classificadas como Ruim e a média de praias Próprias durante o ano foi de 56%. Gráfico ___. Santos: Classificação anual das praias. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.79). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Tabela ___. Santos: Porcentagem de ocorrência em cada categoria e Qualificação Anual. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.79). A CETESB também classifica as praias de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica as águas recreacionais em quatro grupos, de acordo com o percentil 95 da concentração de enterococos intestinais. Isto é, se 95% das amostras de um determinado período apresentam concentração de enterococos abaixo desse valor e se isto está associado diretamente com o risco em se contrair gastroenterites e doenças respiratórias febris, baseado em estudos epidemiológicos realizados na Europa. A tabela ___ a seguir apresenta essa classificação. Tabela ___. Critérios de Classificação das praias segundo a OMS e riscos associados. Fonte: Adaptado de WHO (2033) apud Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.31). A OMS considera aceitável um risco inferior a 2% (equivalente a 19 indivíduos contraindo a doença em 1000 banhistas) para doenças respiratórias febris e inferior a 5% (equivalente a 1 indivíduo contraindo a doença em 20 banhistas) para gastroenterites195. A classificação de Santos, no que diz respeito aos critérios da OMS é apresentada no gráfico ___ a seguir, e resultou em 71% das praias como D (Ruim). 195 A diferença existente entre os critérios utilizados pela OMS e pela CETESB deve-se ao valor considerado para efeito de classificação. 519 Gráfico ___. Santos: Classificação OMS. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.79). O quadro ___ apresentado a seguir mostra a classificação semanal de cada praia de Santos, durante todos os meses de 2011. Observa-se que as praias situadas entre a área central da orla e a divisa com São Vicente tiveram um desempenho melhor, com exceção de José Menino 2, sobretudo no segundo semestre. Outro aspecto relevante é a inexistência de correlação da classificação imprópria com os períodos de férias, seja no verão, seja no inverno, o que demonstra que as condições sanitárias são mais afetadas pelas chuvas, que neste ano não se concentraram unicamente no verão, do que com o afluxo de população flutuante. O gráfico ___ abaixo apresenta o percentual de classificação própria ou imprópria para cada paria, durante 2011. Este gráfico permite observar que as praias mais centrais possuem melhor condição de balneabilidade. Esta situação pode estar vinculada, por um lado, a contribuição da carga poluidora transportada pelo estuário, no caso das praias mais próximas ao canal do Porto, e por outro, com o fato de que os canais de drenagem que desembocam nestas praias atendem sub-bacias que não recebem contribuição dos Morros, como é o caso do Canal 1, conforme se observa pela imagem ___ apresentada a seguir, que mostra a distribuição das categorias Própria e Imprópria nos pontos monitorados, em Santos, no ano de 2011. Este aspecto será abordado no item sobre o sistema de drenagem de Santos. Quadro ___. Santos: Classificação semanal das praias (2011). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.80). Gráfico ___. Santos: Porcentagem do tempo Própria o Imprópria por praia (2011). Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.80). 521 Imagem ___. Santos: Distribuição das categorias Própria e Imprópria nos pontos monitorados (2011). Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.82). Conforme CETESB (2011, p.80), o gráfico ___ a seguir apresenta as médias geométricas das concentrações de enterococos para o município de Santos. Segundo esta fonte, observa-se em 2008, 2009 e 2011 concentrações de enterococos mais elevadas para todas as praias do município de modo geral. A Ponta da Praia é o trecho que possui as maiores médias. O referido estudo atribui esta situação aos canais de drenagem, que são responsáveis pelo controle das águas das chuvas, conforme já mencionado. Além da ocorrência de chuvas fortes, que obrigam a abertura das comportas, eventos de ressacas marítimas que têm sido mais frequentes nos últimos anos, levam à abertura destas comportas, carreando para o mar a água que estava parada. Conforme a mesma fonte (CETESB, 2011, p.81), “esses canais também são monitorados pela agência duas vezes por ano e nota-se que estão bastante contaminados”. No ano de 2011, devido à ocorrência de inúmeros eventos de ressacas, as comportas que fecham os canais foram abertas muitas vezes, o que pode ter colaborado para a piora dos resultados em relação ao ano de 2010. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Gráfico ___. Médias geométricas das concentrações de enterococos para o município de Santos. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.81). Segundo o documento da CETESB (2011, p. 22), a qualidade das águas costeiras brasileiras é bastante influenciada pelas condições de saneamento básico existentes nas cidades litorâneas. Muitas das capitais brasileiras estão localizadas à beira-mar e na maioria dos casos não possuem infraestrutura de saneamento suficiente para sua população. Dessa forma, o aporte de esgotos domésticos para as praias se torna um fato rotineiro. No caso de Santos, esta consideração merece alguma ponderação, pois o nível de cobertura do sistema de saneamento da cidade pode ser considerado muito bom. Contudo, a localização das praias, no fundo da Baía de Santos, numa situação que dificulta a dispersão de poluentes, acrescida da contribuição da carga de esgotos que circula pelos estuários de Santos, que desemboca na baía na Ponta da Praia, e de São Vicente, que desemboca no Mar Pequeno, pode indicar que, apesar da boa cobertura, a operação do sistema é falha, bem como a existência de ligações irregulares é significativa, além da existência da já mencionada poluição de origem difusa. Além desses aspectos, em função da mencionada contribuição das águas estuarinas, e da ocorrência das ressacas, é evidente que os canais de drenagem não são os únicos responsáveis pelo transporte da carga poluidora, ainda que sejam a principal fonte. Para se ter uma leitura da intensidade da carga poluidora nas praias de Santos, a tabela ___ abaixo mostra a situação de cada município do litoral paulista, no que se refere a esse aspecto, apresentando as principais informações sobre o saneamento básico destes municípios. Nesta tabela, é possível conferir os percentuais de coleta e tratamento de esgoto para cada município, bem como as cargas orgânicas potencial, removida e remanescente. Outra informação é o Índice de Coleta e Tratabilidade de Esgotos da População Urbana de Municípios – ICTEM, cujo objetivo é obter uma medida entre a efetiva remoção da carga orgânica, em relação àquela, gerada pela população urbana (carga potencial), sem deixar, entretanto, de observar a importância de outros elementos responsáveis pela formação de um sistema de tratamento de esgotos, que leva em consideração, a coleta, o afastamento e o tratamento dos esgotos. O atendimento à legislação quanto à eficiência de remoção (superior a 80% da carga orgânica) e ao respeito aos padrões de qualidade do corpo receptor dos efluentes também são considerados. Segundo esta fonte, Santos possuía o melhor índice de coleta, ainda que inferior ao divulgado pela SABESP196, mas possui o pior índice de tratamento, junto com Praia Grande, pois o tratamento realizado na EPC do José Menino é apenas primário. Desta forma, sua carga poluidora é a maior dentre todos os municípios e possui o segundo menor ICTEM: 1,6, inferior somente ao de Praia Grande. 196 Embora o estudo não revele como é aferido o índice de coleta, é possível que este leve em conta a falta de cobertura das áreas consideradas não atendíveis, pela SABESP, tornando o índice divulgado pela CETESB mais próximo da realidade. 523 Tabela ___. Informações sobre saneamento básico nos municípios do litoral paulista. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.23). De acordo com o relatório (CETESP, 2011, p.83), no tocante aos cursos d’água, em Santos foram amostrados também os oito cursos d’água afluentes às praias. Sete desses cursos d’água são os canais de drenagem controlados por comportas que afluem às praias do município. No ano de 2011, 6% desses cursos d’água ficaram abaixo do padrão legal de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 ml de água. O gráfico ___ abaixo mostra que a faixa de 103 foi a que mais aumentou de 2010 para 2011, com 31% de cursos d’água. Os 6% que aparecem na faixa acima de 106, diz respeito ao Canal 1 (Praia do José Menino) cujo valor foi de 20.000.000 UFC coliformes termotolerantes (Ct) em 100 ml de água, na coleta do primeiro semestre. Gráfico ___. Santos: Faixas de contaminação dos cursos d’água em 2010 e 2011 e atendimento à legislação. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.23). Segundo a mesma fonte, o atendimento à legislação nos últimos dez anos variou de 0% até 20%, em 2005, conforme demonstra a seguir o gráfico ___, com média em torno dos 5%. Nos últimos dez anos, a média de contaminação desses canais ficou acima dos 130.000 UFC Ct/100 ml de água. Os resultados mostram que os canais recebem contribuições de efluentes domésticos, que acrescentado à drenagem pluvial, torna-se a principal fonte de poluição às praias. Portanto, a solução para a drenagem e ocupação da Zona Leste de Santos, projetada e construída por Saturnino de Brito, há um século, passou a ser o principal vetor de contaminação das praias do município com esgotos domésticos. Além disso, parece não ser mais suficiente a solução implantada no início da década de 1990, com a reforma das comportas e reservação das águas dos canais em períodos de estiagem, e que inicialmente demonstrou excelentes resultados em termos de recuperação da balneabilidade das praias. Gráfico ___. Santos: Evolução no atendimento à legislação dos cursos d’água. Fonte: Relatório Qualidade das Praias Litorâneas no Estado de São Paulo – 2011 (CETESB, 2012, p.23). 11.3. Problemas de drenagem urbana de Santos O sistema de drenagem de Santos é reconhecido nacionalmente como uma das obras mais marcantes da engenharia sanitária e do urbanismo do Brasil. Como já mencionado anteriormente, este sistema, composto por um amplo conjunto de canais e galerias de drenagem, foi concebido pelo engenheiro Francisco Saturnino 525 de Brito, que chefiou a Comissão de Saneamento do Estado, e implantou o sistema de separação absoluta entre águas pluviais e servidas. Este sistema, além de possibilitar a ocupação da planície marinha localizada entre a antiga área central e a orla marítima, estruturou o desenho da cidade, por meio da implantação de vias lindeiras aos canais de drenagem, projetados por Brito. Na imagem ____ abaixo, verifica-se o processo de expansão da cidade, na década de 1920, no entorno do Canal 1197, implantado nos eixos das atuais Avenidas Rangel Pestana e Senador Pinheiro Machado, no bairro Vila Mathias. Imagem ____. Foto dos parcelamentos implantados junto ao Canal 1 do sistema de drenagem de Santos, na década de 1920, na confluência das atuais Avenidas Rangel Pestana e Senador Pinheiro Machado, no bairro Vila Mathias. Fonte: Fundação Arquivo e Memória de Santos. Ao todo, nove canais foram projetados e construídos por Brito, com tecnologia inédita, que consistia no revestimento dos leitos com concreto. Deste conjunto, o canal 5 foi o último a ser inaugurado, em 1927, dezessete anos após o engenheiro ter deixado a chefia da Comissão de Saneamento. O traçado dos canais de Brito aproveitou, sempre que possível, o curso natural dos rios existentes na planície. Figura ____. Projeto da seção transversal de um canal de drenagem de Santos, elaborado por Saturnino de Brito. 197 O Canal 1 foi o primeiro canal de drenagem inaugurado por Brito, em 1907. Este canal foi, na verdade, o prolongamento da obra de retificação do Ribeirão dos Soldados, situado na área pericentral, junto ao loteamento de Mathias Costa, hoje bairro Vila Mathias, sendo a primeira fronteira de expansão da cidade. Esta obra já havia sido iniciada pela própria municipalidade, porém Brito adotou o revestimento interno da calha do canal com concreto, solução inovadora para a época e que seria empregada na construção dos demais canais. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Projetos e Relatórios: Saneamento de Santos, Obras Completas, vol. VII. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional/Instituto Nacional do Livro (BRITO, 1943). Quatro destes, os canais 1, 4, 5 e 6, cruzam a ilha, ligando o estuário com o oceano. Ao longo destes percursos foram implantadas as comportas, cujo principal objetivo era garantir a reservação da água, durante a maré cheia, para a descarga das águas na vazante, lavando, assim, o leito dos canais. A cronologia da implantação do sistema de canais de Brito inicia-se em 1907, com a inauguração do primeiro trecho do Canal 1, que aproveitou o curso do Ribeirão dos Soldados, retificado pela Prefeitura. Em 2010, este primeiro canal foi complementado, em direção à orla, ao longo da Avenida Pinheiro Machado. Este canal recebeu contribuição do Canal 2, implantado ao longo da Avenida Bernardino de Campos, o qual, por usa vez, desemboca no oceano, entre os bairros Pompéia e Gonzaga. Em 1911 foram concluídos os canais 4, ao longo da Avenida Siqueira Campos; 7, ao longo da Avenida Francisco Manoel, e 9, junto à Avenida Barão de Penedo, e que atravessa o Orquidário Municipal. Em 1912, foi inaugurado o Canal 8, cujo curso segue ao longo da Avenida Moura Ribeiro, no bairro do Marapé. Em 1917, foi a vez da conclusão do Canal 6, situado ao longo da Avenida Joaquim Montenegro, entre os bairros Aparecida e Ponta da Praia, do lado da orla e atravessando o bairro Estuário do lado do Porto. Em 1923, foi inaugurado o Canal 3, ao longo da Avenida Washington Luiz, entre os bairros Gonzaga e Boqueirão, na orla e atravessando a vila Mathias, na área pericentral. Este canal deságua no Canal 1, no trecho entre as Avenidas Campos Sales e Rangel Pestana. Por fim, em 1927, foi inaugurado o Canal 5, ao longo da Avenida Almirante Cóchrane, entre os bairros Aparecida e Estuário de um lado e Embaré e Macuco de outro. Este sistema articulava-se com um outro de valetas e sarjetas, implantado por Brito, no contorno do maciço dos morros, na vertente leste, junto ao Morro do Marapé, e ao longo da planície. Este sistema foi concebido como tributário das caixas de detenção da areia, de onde partem quatro grandes galerias pluviais, que aproveitaram os tubos de cimento armado, implantados pelo engenheiro José Rebouças, e descarregam nos trechos de embocadura existentes no cais, construídos pela Companhia Docas de Santos. A implantação deste sistema possibilitou enxugar a planície marinha da Área Insular de Santos, que era entremeada por rios com cursos irregulares e apresentavam extensas áreas inundáveis. Assim, este sistema permitiu a implantação de vários loteamentos nesta área, os quais se articularam com o desenho das vias que ladeiam os canais198. 198 Esta questão será retomada no capítulo sobre mobilidade, quando será discutida a proposta de plano urbanístico elaborada por Brito, denominada “Planta de Santos”, a qual foi apresentada à Câmara de Santos, em 1910. 527 Contudo, o sistema projetado por Brito objetivava criar condições para a ocupação somente da Zona Leste da cidade, considerada por ele a grande fronteira de expansão que permitiria desadensar o limitado centro da cidade, cujas condições sanitárias propiciaram o desenvolvimento de vários surtos epidêmicos, até poucos anos antes da apresentação do referido projeto. No início do século XX, a Zona Noroeste era somente uma área rural do município, entremeada por cursos d’água e manguezais, e os morros eram praticamente desocupados, com exceção da vertente norte, junto ao centro, nas áreas do Monte Serrat, São Bento, Fontana e Pacheco. Desta forma, com o crescimento da cidade, após a década de 1950, a Prefeitura passou a complementar a rede de canais, com a implantação do canal conhecido como “sete”199, situado na Ponta da Praia, único bairro da orla não ocupado até esta época, bem como do canal da Avenida Santista, no Morro da Nova Cintra e dos canais da Zona Noroeste. No mapa ____ abaixo se apresenta a rede completa de canais implantados pela Comissão de Saneamento e pela Prefeitura, identificando-se, também, os canais cobertos ao longo dos tempos200. Mapa ____. Sistema de canais de drenagem da Área Insular de Santos. Fonte: Prefeitura de Santos. Elaboração Instituto Pólis (2012). 199 O canal conhecido popularmente como “Sete”, localizado ao longo da Avenida General San Martin, no bairro Ponta da Praia, na verdade foi construído em 1968, pela empresa municipal PRODESAN. Este não é o Canal 7 do plano de Brito, o qual é aquele situado ao longo da Avenida Francisco Manoel, no bairro Jabaquara, junto à Santa Casa de Misericórdia. 200 Vale ressaltar que a relação da população com o sistema de drenagem é historicamente conflitante, pois na medida em que os canais passaram a veicular esgoto, em diferentes épocas a população passou a cobrar da Prefeitura providências no sentido de recobri-los. Em alguns casos obras de cobertura visaram ampliar o sistema viário, uma demanda recorrente, como na obra de construção da ciclovia recentemente implantada sobre o trecho final do canal da Avenida Afonso Pena. No entanto, no início da década passada, a tentativa da Prefeitura de cobrir os trechos finais, junto à orla, dos Canais 4 e 5, resultou em forte movimento em defesa dos canais, que acabou levando o CONDEPHAAT a tombá-los, impedindo a referida intervenção. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Assim, os canais executados pela Comissão de Saneamento do Estado, a cargo de Saturnino de Brito, foram os seguintes: Canal 1 (entregue em 1907) - Av. Pinheiro Machado; Canal 2 (entregue em 1910) - Av. Bernardino de Campos; Canal 3 (entregue em 1923) - Av. Washington Luís; Canal 4 (entregue em 1911) - Av. Siqueira Campos; Canal 5 (entregue em 1927) - Av. almirante Cochrane; Canal 6 (entregue em 1917) - Av. Joaquim Montenegro; Canal 7 (entregue em 1911) - Av. Francisco Manoel (canal ao lado da Santa Casa); Canal 8 (entregue em 1912) - Av. Moura Ribeiro (Marapé); Canal 9 (entregue em 1911) - Av. Barão de Penedo (José Menino). Quanto aos demais canais, foram planejados pela Prefeitura, que construiu a maioria na Zona Noroeste. São estes: Canal 10 (conhecido como “7”) - Av. Gal. San Martin (Ponta da Praia); Canal 11 (entre o Canal 6 e o Porto) - Continuação da Av. Afonso Pena 9coberto recentemente); Canal 12 - Rádio Clube - Av. Hugo Maia (Zona Noroeste); Canal 13 - Santa Maria - Av. Alberto de Carvalho e Av. Roberto de Molina Cintra (Zona Noroeste); Canal 14 - São Jorge - Av. Eleonor Roosevelt (Zona Noroeste); Canal 15 - Jovino de Melo - Av. Jovino de Melo (Zona Noroeste); A seguir, a caracterização do sistema de drenagem urbana do município de Santos, bem como a abordagem dos principais problemas e pontos críticos deste sistema basear-se-á nas informações prestadas pela própria municipalidade e ainda, no conteúdo do já mencionado Relatório da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos (DAEE, 2010). É importante destacar que o sistema projetado por Brito não considerava um processo de urbanização tão intenso, quanto o que veio a ocorrer após a industrialização do sudeste brasileiro, e que resultou em expressivo índice de impermeabilização dos terrenos e em uma ocupação acelerada dos Morros, com significativa remoção de sua cobertura vegetal. Estes fatores, a partir da década de 1950, aliados à falta de manutenção do sistema de drenagem, reduziram substancialmente sua eficiência e repercutindo nas condições de saneamento e de mobilidade urbana. No tocante às condições atuais do sistema, o mapa ____ apresenta uma espacialização dos principais pontos críticos, na área insular do município de Santos, de acordo com o estudo do Plano Integrado de Saneamento. Segundo se pode observar, as situações mais graves se encontram na Zona Noroeste, onde a cota de nível do sistema viário, em grande parte é inferior ao nível máximo da maré, resultando em situações de alagamento dos logradouros, até mesmo quando não ocorrem precipitações. Contudo, em áreas mais consolidadas da cidade, como parte da área central e nos bairros Macuco, Gonzaga e Boqueirão, há pontos relevantes de alagamento, em áreas atendidas pelo sistema projetado por Brito. Estas questões serão abordadas mais detalhadamente a seguir, de acordo com a região do município. 529 Mapa ___. Santos: Condição do sistema de drenagem urbana. Fonte: Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.88). Drenagem da Área Continental A área continental de Santos abrange 82% da área do município, com cerca de 230 km². De acordo com o relatório do Plano Integrado de Saneamento (DAEE, 2010, p.89), nesta região, destaca-se a situação do Caruara, bairro mais populoso e com maior densidade demográfica, que não possui sistema de drenagem adequado, sendo que o escoamento ocorre por valas a céu aberto e em diversos logradouros a água fica estagnada, propiciando a proliferação de doenças de veiculação hídrica. O Projeto Básico de Macrodrenagem desta área, desenvolvido pela DRA Consult, em 2001, também pré-dimensionou soluções de canais e travessias para os bairros Cabuçu e Iriri. Contudo, nas bacias dos ribeirões Cabuçu, Caetés e Iriri ou Mãe Maria, praticamente inexistem habitações, estando o sistema de drenagem mantido em condições predominantemente naturais, exceto nas travessias da rodovia SP-55, onde existem bueiros e dutos para o escoamento das águas. Além do Caruara, as áreas em que há ocupação urbana, como Monte Cabrão e Ilha Diana, possuem baixa densidade e, juntamente com as bacias mencionadas acima e a bacia do Rio Quilombo, na divisa com o Cubatão, não possuem sistemas de drenagem organizados, seguindo o processo de ocupação do espaço territorial de forma desordenada. Para uma visualização adequada das bacias hidrográficas da Área Continental, apresenta-se o mapa ___ abaixo. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa ___. Bacias hidrográficas da Área Continental de Santos. Fonte: Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.88). Drenagem da Zona Noroeste A Zona Noroeste da área insular do município, com cerca de 83.095 habitantes e 25.298 domicílios, segundo o Censo Demográfico 2010 (FIBGE), concentra os maiores problemas de drenagem urbana de Santos. Segundo o mencionado estudo (DAEE, 2010, p.89), “o sistema de drenagem existente apresenta problemas de falta de manutenção, insuficiência de capacidade para condução das águas de escoamento superficial, falta de controle dos níveis dos canais em função da elevação das marés, e ainda construção de habitações em áreas irregulares”. Antes de ser ocupada, o que só ocorreu no final da primeira metade do século XX, a Zona Noroeste possuía grande extensão de terras e manguezais, cortados por pequenos rios. No final do século XIX foi construída uma linha de bondes, ligando Santos e São Vicente, sobre um aterro que contorna as encostas do maciço de morros, dividindo a região em duas, servindo de traçado da atual Avenida Nossa Senhora de Fátima, principal eixo viário da região. Este aterro forma uma barragem artificial, tornando difícil o escoamento da água dos morros para os rios, nos bairros São Jorge e Caneleira. O mencionado aterro é atravessado pelo sistema de macrodrenagem em dois pontos: o canal da Avenida Jovino de Melo e o Rio São Jorge. No mapa ___ abaixo se apresenta em destaque o sistema de drenagem da Zona Noroeste, composto de canais artificiais implantados pela Prefeitura, dos canais de reservação dos diques implantados pelo 531 Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) e dos rios dos Bugres e São Jorge que deságuam no estuário de Santos. Mapa ___. Sistema de drenagem da Zona Noroeste. Fonte: Departamento de Vias Públicas da Prefeitura Municipal de Santos (2006). Disponível em: http://www.santos.sp.gov.br/frame.php?pag=/desaest/desaest.php. Acesso em: 02 jun. 2012. O sistema de diques da Zona Noroeste tem origem controversa, pois alguns autores afirmam que sua construção, na década de 1950, objetivou a drenagem da região, para aproveitamento agrícola, o que explicaria a cota relativamente baixa em que foram implantados. Outras fontes atribuem sua construção como forma de controlar as cheias nos bairros Castelo e Rádio Clube. Neste mesmo decênio, a região começou a ser ocupada por migrantes nordestinos, que vieram trabalhar na região, em função da implantação do Parque Industrial de Cubatão. Nas décadas seguintes, em função da saturação urbana da Zona Leste do município e do encarecimento do custo da habitação nesta região, a Zona Noroeste e os Morros passaram a absorver significativo contingente de moradores provenientes de bairros da Zona Leste. Este fenômeno ocorreu devido à insuficiência da produção habitacional para baixa renda nesta região e da falta de uma política urbana para fixação da população em bairros mais bem dotados de infraestrutura, Assim, a construção de loteamentos nos bairros da Zona Noroeste, cujos lotes foram comercializados sem a infraestrutura completa, foi beneficiada pela implantação do sistema de diques e canais. Este sistema permitiu o aterro dos mangues, apesar da cota de nível do sistema viário e dos terrenos não ter se adequado a situações de marés altas e, principalmente, quando estas ocorrem associadas a fortes precipitações. Para uma visualização destes pontos críticos, o mapa ___ abaixo apresenta a situação das áreas inundáveis da Zona Noroeste, respectivamente, em situações de maré alta e de chuva forte com maré alta. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa ____. Áreas inundáveis da Zona Noroeste em situações de maré alta e de chuva forte com maré alta. Fonte: Prefeitura Municipal de Santos. Disponível em: http://www.santos.sp.gov.br/frame.php?pag=/desaest/desaest.php. Acesso em: 02 jun. 2012. Além do problema de cota mencionado, quando as precipitações são intensas, a Zona Noroeste recebe um volume de água superior à capacidade de escoamento das galerias e canais. O canal da Avenida Eleanor Roosevelt, na Vila São Jorge, absorve grande volume de água, que além da contribuição deste bairro e dos morros, na parte de Santos, recebe contribuição dos bairros e morros de São Vicente. A água deste canal desemboca no canal das Avenidas Francisco Ferreira Canto e Jovino de Melo, seguindo em direção ao estuário e recebendo mais contribuições dos morros e outros bairros da Zona Noroeste de Santos. Além dessa situação, em alguns locais falta canalização, como ao longo da divisa entre os municípios, a jusante da Avenida Nossa Senhora de Fátima, na Avenida Haroldo de Camargo. Com as edificações construídas ao nível da maré, e a falta de manutenção das comportas originais, além do grande acumulo de lixo e lodo, aliadas ao assoreamento dos rios, as enchentes passaram a ser constantes na região. Esta situação vem se agravando com o tempo, em função do aumento da impermeabilização do solo e da remoção da cobertura vegetal dos morros, que contribui para o aumento do assoreamento do sistema de drenagem. Para enfrentar esse problema, em 1996, a Prefeitura de Santos iniciou estudo para rever o conjunto de galerias, canais e diques da Zona Noroeste. Contudo, este projeto, elaborado pela consultoria Queiroz Orsini, e que previa a implantação de um grande reservatório, no sopé do Morro da Caneleira, e um conjunto de galerias, bombas e comportas, não foi implantado. Mais de uma década após, a Prefeitura contratou a elaboração dos Projetos Básicos do Sistema de Drenagem e Consolidação Geotécnica da Zona Noroeste de Santos, executados pela empresa GERENTEC, no âmbito do “Programa de Desenvolvimento Estratégico de Santos e Infraestrutura Urbana e Habitacional das Zonas Noroeste e dos Morros”, conhecido como “Santos Novos Tempos”, concebido pela Secretaria de Desenvolvimento Estratégico (SEDES), baseado, em parte, no projeto de 1996. O novo projeto básico, elaborado em 2009, apontou a necessidade de implantar novas comportas, estações de bombeamento, galerias de escoamento, obras de canalização e um reservatório no mesmo local daquele planejado na década de 1990. Este componente deverá armazenar o volume de água da chuva proveniente dos morros e de São Vicente, por meio de estações de bombeamento. Quando este reservatório estivar cheio, a água será liberada por meio de tubulações até o rio São Jorge, que deságua no estuário. Desta forma está prevista a dragagem deste rio, que deverá ficar mais fundo e mais largo, com maior capacidade para conduzir as águas do reservatório até o estuário. O bairro da Caneleira, que também recebe 533 a água da chuva dos morros, deverá contar com torres de retenção que, quando acionadas, vão liberar a água lentamente para o rio São Jorge. No cruzamento entre os canais das Avenidas Jovino de Melo e Roberto Molina Cintra, deve ser construído um sistema de comportas e estação de bombeamento. Este bombeamento irá desviar parte da água deste local para o rio São Jorge, através de uma rede de dutos junto ao canal da Avenida Roberto Molina Cintra. No final do canal da Avenida Jovino de Melo, próximo ao rio São Jorge, também haverá uma comporta e uma estação de bombeamento, que enviará as águas diretamente para o estuário. O relatório (DAEE, 2010, p.90) destaca, ainda, a interface com o município de São Vicente, uma vez que este compartilha o mesmo canal de drenagem, junto à divisa com Santos, respectivamente nas Avenidas Monteiro Lobato, Minas Gerais, em São Vicente, e Eleanor Roosevelt, em Santos. Portanto, esta situação demanda o planejamento, execução e operação dos sistemas de drenagem de maneira conjunta pelos municípios de Santos e São Vicente. Destaca-se, ainda, as inundações frequentes nas Avenidas Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes, no bairro Saboó, na entrada da cidade. Na primeira, o trecho do bairro Chico de Paula, na bacia do Rio São Jorge, em que se localizam várias empresas retroportuárias, apresenta sérias deficiências de drenagem e costuma alagar rapidamente quando há chuva forte, impedindo o acesso à região e a São Vicente. A construção de um sistema de galerias, nesta bacia, está prevista pelo programa “Santos Novos Tempos”. Na outra área localiza-se a bacia do Rio Lenheiro, que recebe as águas dos Morros do Saboó e da Penha e atravessa a referida via, desaguando no canal do Porto, em área assoreada e com comprometimento das tubulações de drenagem implantadas pela Rede Ferroviária Federal. Esta área é extremamente sensível, pois é o principal acesso ao Sistema Anchieta-Imigrantes e quando alaga, impede o acesso ao porto, a área central e à orla do município. A construção de novas galerias na área da União, onde se situava o antigo pátio de manobras da RFFSA, está prevista pelo no âmbito do programa “Santos Novos Tempos”. O mapa ___ abaixo apresenta a concepção geral dos projetos de drenagem do programa “Santos Novos Tempos”, com seus respectivos componentes projetados, dentre os quais os mais importantes são: treze comportas, quatorze estações elevatórias, dois canais, quatro galerias, um reservatório de retenção situado no sopé do Morro da Caneleira e duas torres de carga. Juntamente com a implantação deste sistema está prevista a obra de desassoreamento dos leitos dois rios. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa ___. Concepção geral dos projetos de drenagem do programa “Santos Novos Tempos”. Fonte: Prefeitura Municipal de Santos. Disponível em: http://www.santos.sp.gov.br/frame.php?pag=/desaest/desaest.php. Acesso em: 02 jun. 2012. Drenagem da Zona de Morros Os Morros de Santos localizam-se no centro da Ilha de São Vicente e são caracterizados por uma ocupação urbana, preponderantemente de baixa renda201, sem controle de ocupação e planejamento adequado, até o início da década de 1990, quando se implantou uma política municipal específica para a região. Esta região é marcada por um histórico de graves acidentes geológicos, que durante o século XX provocaram muitos óbitos e destruição. Em grande parte, estes acidentes estavam associados à ocupação humana, sem planejamento e sem orientação técnica, em um quadro de segregação socioespacial, que caracterizou o processo de urbanização do município, durante este século. De modo geral, em função da forma como foram ocupados, os Morros apresentam carência de acessos e sistema viário, bem como infraestrutura básica de drenagem. Segundo o relatório do plano Integrado de Drenagem (DAEE, 2010, p.90), os programas coordenados pela Prefeitura procuram encaminhar solução para os problemas fundiários e para desenvolvimento de uma consciência ambientalmente correta por parte da população residente nesta área. Dentre estes programas destaca-se o “Santos Nosso Morro” inserido no programa “Santos Nossa Casa”. Os problemas mais comuns identificados pelo estudo, nesta região, foram: • 201 Falta de regularização dos loteamentos, desmembramentos e edificações em situação irregular; Os loteamentos do Morro Santa Terezinha e Parque da Montanha, no Morro da Nova Cintra, são os únicos existentes nos Morros ocupados por população de alta renda. 535 • Existência de edificações em situação de risco de erosão e de deslizamento; • Falta de planejamento adequado para solucionar definitivamente os problemas de carência de equipamentos urbanos e comunitários, do sistema viário e de circulação interna, da infra-estrutura básica, da definição e do controle das áreas de preservação. Contudo, deve-se destacar que a Prefeitura abandonou a descentralização da gestão desta área, a partir de 1997, quando a Administração Regional dos Morros foi transformada em departamento e perdeu sua autonomia orçamentária e operacional202, passando a depender de outras secretarias para execução de obras e ações de controle da ocupação, regularização fundiária e manutenção preventiva dos sistemas. Ainda, segundo a mesma fonte, os problemas de deslizamento geralmente estão associados à carência do sistema de drenagem, cuja implantação em áreas de altas declividades exige medidas especiais de controle e segurança. Embora os Morros contem com o Piano Preventivo de Defesa Civil (PPDC), específico para escorregamentos das encostas, instituído pela Prefeitura, em 1989, com objetivo principal de organizar a população e evitar a ocorrência de óbitos, de modo geral o controle da ocupação ainda carece de aperfeiçoamento, pois algumas áreas da região seguem sendo adensadas, nos últimos anos, provocando novas situações de risco, ou agravando situações existentes. Outro instrumento de gestão da região, o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), elaborado pela primeira vez em 2005, pelo Instituto de Pesquisa Tecnológicas de São Paulo (IPT), realizou o mapeamento das encostas ocupadas, identificando setores de risco, de acordo com uma escala de prioridades de intervenção. Este plano, que está em fase de revisão, também aponta uma série de intervenções, na área de drenagem, visando a eliminação das situações de risco. Contudo, em função do tempo decorrido sem atualização, é necessário aguardar as novas indicações de obras e demais intervenções, apresentadas no novo PMRR. Além das encostas, na planície do Morro da Nova Cintra, existem situações de alagamentos provocadas por deficiências e lacunas no sistema de drenagem, em especial na sub-bacia da Avenida Santista, em ambos os lados da Praça Guadalajara. Esta área, não identificada pelo estudo do Plano Integrado de Saneamento, é a única que possui um canal de drenagem, urbanizado na década passada, e uma galeria, implantada na década de 1990, ambos situados ao longo da Avenida Santista. Ainda assim, existem alguns pontos baixos, em áreas contíguas, sem galerias, onde as inundações são constantes, quando ocorrem chuvas. Dentre estas áreas pode-se destacar a gleba, delimitada como ZEIS, onde foi implantado o conjunto habitacional Cruzeiro do Sul, pela CDHU, que demandará investimentos em drenagem, caso se queira ocupála integralmente, e a quadra situada entre a Avenida Santista e a Rua Torquato Dias, parcialmente delimitada como ZEIS, que também possui um ponto baixo que acumula água em situação de chuva. Drenagem da Zona Central Localizado na porção norte da Ilha de São Vicente, o Centro de Santos apresenta densa ocupação urbana, com predomínio de construções antigas, e infraestrutura em estágio regular de funcionamento. Nesta área predomina o uso comercial e de prestação de serviços e existem poucas residências, sendo a maioria delas cortiços ou moradias de população de baixa renda situadas no sopé dos Morros. O Centro passa por um processo ininterrupto de perda de população desde que o Plano de Saturnino de Brito possibilitou a ocupação das áreas mais próximas à orla marítima. Este processo tomou especial impulso a partir da década de 1980 e segundo o Censo Demográfico de 2010 (FIBGE) a população era de apenas 1.008 habitantes. Contudo esta região polariza vários setores da economia, sobretudo nas áreas portuária e financeira, além de ser sede de diversas instituições e órgãos públicos com influência regional, como a Receita Federal, a Alfândega e as Justiças federal e estadual. Coma decisão da Petrobras de implantar sua sede administrativa no bairro do Valongo, situado nesta região, cujas obras estão em andamento, uma série de lançamentos imobiliários voltados ao setor coorporativos foram realizados e parte da área central deve passar por grande transformação nos próximos anos, com a 202 O mesmo ocorreu com a Zona Noroeste. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 construção de torres de escritórios e maior afluxo de veículos à região, que é passagem para o sistema Anchieta-Imigrantes. Conforme observa o relatório do Plano Integrado de Saneamento (DAEE, 2010, p.91), as águas de chuva provenientes dos Morros Monte Serrat, Fontana e São Bento adquirem velocidades consideráveis, até atingir a área mais plana e impermeabilizada do centro histórico, que apresenta baixa declividade e propensão ao acúmulo e retenção de lâmina d’água e sedimentos. A partir do final da década de 1980, a Prefeitura passou a desenvolver um programa de revitalização do Centro, que a partir da década passada passou a denominar-se oficialmente “Alegra Centro”. Este programa, apoiado em incentivos fiscais, tem apresentado alguns avanços em termos de renovação urbana e revitalização de imóveis protegidos pela legislação municipal de proteção ao patrimônio cultural, revigorando o desenvolvimento do Centro. Além desse programa, o crescimento do setor portuário, nos últimos anos, tem alavancando ações de reforma e da implantação de infraestrutura necessária para receber estes novos investimentos e o incremento do fluxo de pessoal local, bem como de turistas. Contudo, o sistema de drenagem desta região é o mais antigo da cidade, estruturado pelos três rios que cortavam a estreita planície entre os morros e o cais, que são, de oeste para leste: Ribeirão São Bento (antigo Desterro), Riacho dos Jerônimos e Riacho do Itororó (antigo do Carmo). Estes rios foram retificados no final do século XIX, com a construção de galerias com estrutura de alvenaria revestida. Inicialmente, as galerias foram implantadas pela Câmara, ainda sem o sistema de separação absoluta, implantado na década seguinte pela Comissão de Saneamento do Estado. Estas galerias ainda existem atualmente e o sistema de microdrenagem que foi implantado ao longo dos anos é tributário deste sistema. O mapa ___ abaixo apresenta o curso destes rios, em mapa de 1766. Mapa ____. Curso dos rios que cortam a área central de Santos (1766). 537 Fonte: Os Andradas, Vol. I (SOUSA, 1922). Em alguns pontos da área central são antigos os problemas de lançamento de esgoto neste sistema, provocando fortes odores em áreas de grande fluxo de pessoas, como no trecho da Rua XV de Novembro, entre a Rua do Comércio e a Praça dos Andradas. Apesar do programa de detecção de ligações e lançamento irregulares de esgotos no sistema de drenagem, desenvolvido pela SABESP e Prefeitura, alguns pontos da área central permanecem com evidentes problemas. Outro aspecto relevante foi a reforma do sistema viário de parte desta região, na segunda metade da década de 1980. Um conjunto de obras, realizadas pela Prefeitura, no âmbito do Projeto Aglomerados Urbanos (AGLURB), com financiamento das três esferas de governo, promoveu, entre outras intervenções, o alargamento de calçadas, sobretudo entre as Ruas João Pessoa e Amador Bueno. Contudo, os componentes do sistema de drenagem não foram remanejados, provocando desníveis no meio das calçadas, em função da existência de grelhas e canaletas para condução das águas pluviais até as bocas de lobo. Esta situação compromete a acessibilidade nestas vias e provocas alagamentos nas calçadas, em locais em que as canaletas estão com a manutenção comprometida. Além disso, há problemas de nível de soleiras dos estabelecimentos comerciais desta área, provocados, sobretudo pelas alterações no greide das vias, após sucessivas obras de pavimentação. Esta situação provoca o alagamento da parte mais baixa dos passeios e dos estabelecimentos comerciais localizados nestas vias. Este problema começa a ser parcialmente resolvido, com a obra de reurbanização da Rua Amador Bueno, que se encontra em andamento. Segundo informa a Prefeitura, em seguida deverá haver intervenção semelhante na Rua João Pessoa203, quando se espera que esta situação seja definitivamente resolvida. Além das questões apontadas acima, ainda existem vários pontos de alagamento da área central, os quais não foram considerados pelo relatório do Plano Integrado de Saneamento. Estes pontos devem ser objeto de atenção da Prefeitura, sobretudo porque há tendência de dinamização do centro e consequente aumento da circulação viária na região. Drenagem da Zona Leste Conforme já apontado, o sistema de drenagem da Zona Leste foi concebido pelo Plano de Saneamento de Saturnino de Brito, de forma articulada com a implantação do sistema de esgoto. Com exceção do bairro da Ponta da Praia, os demais bairros foram drenados por meio do sistema de canais e de galerias implantado pela Comissão de Saneamento. Este sistema procurou utilizar o sistema de drenagem natural, formado por rios de planície, com cursos irregulares, que foram retificados e canalizados. No mapa ___ abaixo se apresenta a rede de rios anteriormente à implantação do sistema de saneamento. As hachuras indicam diferentes períodos de urbanização e o traçado em vermelho corresponde aos Dois Rios. Em vermelho é representado um dos trechos de montante de um dos braços dos Dois Rios, iniciando no morro do Jabaquara. Em verde claro, é representado o Ribeirão dos Soldados, o primeiro a ser retificado. 203 Esta intervenção será analisada no capítulo sobre mobilidade urbana do município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Mapa ___. Santos: Rios da Zona Leste, antes da implantação do sistema de canais. Fonte: Site Novo Milênio. Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0061a.htm. Acesso em: 2 jun. 2012. Elaborado pelo site Novo Milênio sobre mapa da obra A Baixada Santista: Aspectos Geográficos, V. III. Contudo, após a implantação do Plano de Saneamento, os interstícios entre os canais foram sendo urbanizados, na medida em que os loteamentos eram implantados, e muitos destes não construíram redes de microdrenagem adequadas. Portanto, até hoje algumas áreas da Zona Leste sofrem por carência de galerias, bocas de lobo e outros componentes do sistema. Além disso, as áreas da orla com ocupação mais antiga, como os bairros Boqueirão e Gonzaga, ainda possuem galerias e sistemas de microdrenagem implantados no início do século XX, os quais necessitam estudos e obras visando adequar suas capacidades. Conforme aponta a reportagem reproduzida na imagem ___ abaixo, há necessidade de revisão geral deste sistema, em função da constatação de que o sistema implantado pela Comissão de Saneamento, no início do século XX teria “envelhecido”. Na verdade, este sistema não foi projetado para as condições atuais de urbanização, em especial no que respeita ao elevado índice de impermeabilização dos terrenos e da aceleração do assoreamento dos componentes, provocada pela remoção da cobertura vegetal nas sub-bacias. Outros aspectos que merecem atenção são a recorrência das ressacas, que têm sido mais frequentes nos últimos anos e a necessidade de intensificar a manutenção de galerias e bocas de lobo, devido a deficiências evidentes na gestão dos resíduos de construção civil. 539 Imagem ___. Reportagem do jornal A Tribuna de Santos que aponta o “envelhecimento” do sistema de drenagem. Fonte: Jornal A Tribuna, Santos: 24 abr. 2012. Atualmente, a Zona Leste se caracteriza pela alta concentração de edificações, alta densidade e pela verticalização e forte ocupação urbana dos espaços disponíveis, em um sítio de planície litorânea, e cotas topográficas próximas ao nível do mar. Assim, a velocidade das águas do sistema de drenagem é muito lenta, quando não ocorrem precipitações, favorecendo a sedimentação e conseqüente assoreamento, o que demanda constante manutenção. Assim, esta região está sujeita a inundações devido à baixa capacidade de escoamento superficial associada aos fenômenos da ocorrência de precipitação pluviométrica e oscilação natural da maré, agravado pelas ressacas que passaram a ser mais frequentes nos últimos anos. As principais estruturas que compõem o sistema de drenagem desta região do município seguem sendo os canais de macrodrenagem concebidos por Saturnino de Brito, no início do século passado, e o canal “Sete”, construído pela PRODESAN. Neste aspecto, é importante ressaltar que os cálculos de capacidade de reservação destes componentes não levaram em conta o processo de urbanização intensificado nas últimas décadas e o alto percentual de impermeabilização do solo, associado às ocupações nas encostas na região dos morros, que também trazem conseqüências em termos de assoreamento. Cabe assinalar, ainda, que apenas em 2011, com a sanção da Lei Complementar n 730, que alterou a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo na Área Insular do Município, foi instituída, em seu artigo 43, a taxa de permeabilidade máxima de 15% da área do terreno, para novos empreendimentos, em toda a Área Insular. Contudo, a lei alcança apenas os novos empreendimentos e não garante a manutenção desta taxa após a implantação dos mesmos. Projetos e obras em andamento Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Também conforme o relatório do Plano Integrado de Saneamento (DAEE, 2010, p.92), dentre os estudos concluídos, e já com aprovação da Carta Consulta pela Comissão de Financiamentos Externos (COFIEX), está o mencionado programa “Santos Novos Tempos”, objeto do contrato de financiamento com o Banco Mundial, assinado em fevereiro de 2010. Este programa, além de prever melhorias nas condições de drenagem, prevê a redução do risco geológico, remoção e reassentamento de famílias das áreas alagáveis e palafitas, intervenções no sistema viário e ações de promoção da cidadania e fortalecimento institucional, na Zona Noroeste e nos Morros do município. As principais obras de drenagem propostas pelo referido programa são as seguintes: • Bacia da Avenida Jovino de Melo – implantação de quatro estações elevatórias situadas ao longo do canal principal e uma estação elevatória destinada à drenagem de ponto baixo na área do bairro da Caneleira; • Bacia da galeria da Avenida Brigadeiro Faria Lima (antigo “valão”) - implantação de duas estações elevatórias situadas em pontos estratégicos da galeria principal; • Bacia do Canal da Avenida Hugo Maia - implantação de duas estações elevatórias; • Drenagem do bairro São Manuel - implantação de estação elevatória na saída da drenagem do bairro; • Drenagem do canal da Avenida Haroldo de Camargo - implantação de estação elevatória no exutório; • Bacia do Rio Saboó ou Lenheiros - implantação de estação elevatória no exutório; • Construção de um reservatório de detenção, na Caneleira. Conforme a mesma fonte, a concepção do sistema para solucionar os problemas de inundações da Zona Noroeste prevê a implantação de dispositivos como comportas de acionamento automático, bacias de detenção e unidades de bombeamento, cujo esquema pode ser caracterizado como de “operação plena”, para precipitações estimadas em até 25 anos de recorrência. Gestão do sistema público de drenagem Segundo o relatório do Plano Integrado de Saneamento Básico (DAEE, 2010, p.104), a gestão do manejo de águas pluviais e da drenagem no município de Santos é realizada pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SESERP), que se articula com outras unidades, como a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMAM) e a empresa municipal de economia mista Progresso e Desenvolvimento de Santos (PRODESAN). A SEMAM faz o controle do sistema de comportas e da qualidade das águas nos canais e nas praias, além da fiscalização de lançamentos e de ligações irregulares na rede de drenagem. A PRODESAN apóia as secretarias no desempenho de suas atribuições e tem expertise na operação e manutenção do sistema de drenagem, que outrora já esteve sob sua responsabilidade. No tocante ao compartilhamento de bacias hidrográficas com municípios vizinhos, o município de Santos tem interfaces relevantes com São Vicente, com o qual compartilha sub-bacias na área insular, além de Cubatão e Guarujá, com os quais compartilha o estuário. No caso da interface entre Santos e São Vicente, na área insular, a atuação integrada desses municípios já é recomendada no estudo contratado pelo Banco Mundial para dar suporte à avaliação das propostas para a macrodrenagem formuladas inicialmente no âmbito do programa “Santos Novos Tempos”, elaborado pela Prefeitura de Santos. Conforme aponta o relatório (DAEE, 2010, p.X), há importante conexão entre os sistemas de drenagem dos dois municípios, materializado pelo canal que interliga as Avenidas Monteiro Lobato e Minas Gerais, em São Vicente, e Avenida Eleonor Roosevelt, no bairro São Jorge, na Zona Noroeste de Santos. Esta questão será abordada com maiores detalhes adiante. O estudo ressalta, ainda, que nesta interface estão sendo projetados pelos municípios sistemas de drenagem de complexa operação, cujo gerenciamento eficaz exige tomadas de decisão conjuntas em nível de planejamento, por se tratarem de instituições municipais independentes. Portanto, o relatório propõe, com 541 acerto, a formalização de “um foro supramunicipal”, que realize o planejamento, a regulação e o controle destas interfaces. No tocante ao planejamento do sistema público de drenagem, o município de Santos possui relevante acumulo de projetos e programas, dentre os quais pode-se destacar os seguintes instrumentos: • Projeto dos Canais da Zona Leste de Santos, elaborado pela Comissão de Saneamento sob a coordenação do engenheiro Francisco Saturnino de Brito; • Projeto do Sistema de Drenagem da Zona Noroeste, elaborado pela consultoria Queiroz Orsini, em 1996; • Projeto Básico de Macrodrenagem da Área Continental - Bairro Cabuçu, Iriri e Caruara, elaborado pela empresa DRA CONSULT, em 2001, financiado pelo FEHIDRO - Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista; • Piano de Bacia Hidrográfica da Baixada Santista - Quadriênio 2008-2011 - Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista - Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM), elaborado pela VM Engenharia de Recursos Hídricos, em 2008; • Projeto de Macrodrenagem da Área Insular - Zona Noroeste, Programa Santos Novos Tempos, elaborado pela empresa GERENTEC; • “Programa Canal Limpo” resultante do convênio entre a Secretaria de Estado de Saneamento e Energia (SSE), por meio da SABESP, e a Prefeitura de Santos; • Programa “Santos Nosso Morro”, elaborado pela Prefeitura Municipal de Santos; • Programa “Santos Nossa Casa”, elaborado pela Prefeitura Municipal de Santos; • Projeto Básico de Macrodrenagem da Área Continental, elaborado pela VM Engenharia. No entanto, apesar deste acumulo de instrumentos, o relatório (DAEE, 2010, p.X), ao avaliar o planejamento, a regulação e a fiscalização do sistema de drenagem urbana de Santos apontou as seguintes questões que merecem maior atenção: I Há carência de uniformização dos estudos existentes para as diversas áreas do município de forma a uniformizar e integrar os segmentos e as bacias estudadas, de maneira que se tenha uma terminologia uniforme, um padrão de metodologia e, principalmente, que haja convergência de objetivos, de acordo com os conceitos de manejo sustentável das águas urbanas; II É necessário programar a gestão da interface entre drenagem urbana e resíduos sólidos, no que concerne às ações que envolvem o desassoreamento, limpeza e coleta de resíduos, para otimizar recursos. Desta forma, a sistematização dos dados que caracterizam o serviço deve nortear um programa de educação ambiental, bem como de combate à erosão; III É necessário articular a gestão da interface entre drenagem urbana e esgotos sanitários, sobretudo no tocante aos canais e sistema de drenagem em geral. No município, entre as ações existentes neste âmbito, pode-se citar o programa “Canal Limpo”, resultante de parceria entre a Prefeitura, por meio da SEMAM, e a SABESP, que trata da fiscalização de ligações e lançamentos irregularidades de esgoto na rede de drenagem; IV É necessário promover a gestão integrada dos sistemas de drenagem, resíduos sólidos e esgotamento sanitário, pois a operação do sistema de drenagem, por meio do acionamento das comportas dos canais, em função da ocorrência de precipitação e oscilação do nível das marés, exige uma articulação com a operação dos sistemas de esgotamento sanitário e de gestão dos resíduos sólidos, nas Zonas Leste e Noroeste de Santos204; V Regulamentar a fiscalização e gestão do sistema de drenagem, atualmente a cargo da SESERP, que fiscaliza e executa as obras atinentes ao sistema, e da SEMAM que faz o controle do sistema de comportas e 204 O relatório menciona o trabalho intitulado “Estimativa de Custos de Manutenção e Operação dos Sistemas de Micro e Macrodrenagem do Município de Santos, Implantados na Região Leste e Projetados para a Região Noroeste” (COUTO/2009), que apresenta a possibilidade da Unidade de Negócios Baixada Santista da SABESP assumir parcial ou integralmente os serviços de drenagem urbana do município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 da qualidade das águas nos canais e das praias, além da fiscalização de dejetos impróprios e de ligações na rede de drenagem. Segundo o relatório (DAEE, 2010, p.87), a sobrecarga de tarefas do corpo técnico da Prefeitura “dificulta o controle do desenvolvimento urbano e isso pode justificar a necessidade de criação de setores específicos na administração pública”. Portanto, segundo o documento, “na prática não há regulação da prestação do serviço de drenagem urbana no município de Santos”, pois não existe um instrumento de regulação, nem lei que institua a obrigatoriedade de um Plano Diretor de Drenagem para o município. De acordo com o estudo, a instituição deste sistema de regulação “poderia gerar maior receita a ser aplicada no incremento e qualificação dos recursos humanos e equipamentos para o serviço”. Prestação dos serviços de drenagem No que respeita à prestação dos serviços, a SEMAM realiza a operação do sistema de acionamento eletromecânico remoto das comportas dos canais da área insular da Zona Leste do município, visando a melhoria dos índices de balneabilidade das praias, o controle dos níveis de água e a lavagem hidráulica do sistema de macrodrenagem205. Neste aspecto e com relação ao cadastro do sistema de drenagem, existente na SEMAM, SESERP e SABESP, o relatório (DAEE, 2010, p.88) recomenda a “análise, sistematização e atualização dos dados, com o objetivo de padronização e unificação de uma mesma base cartográfica cadastral”, de forma a possibilitar a adequada gestão do sistema. O estudo não identificou serviços de manutenção e atualização do cadastro do sistema de micro e macrodrenagem, nem tampouco a intenção de aproveitar a estrutura da PRODESAN, onde já existe um Sistema de Informações Geográficas para gestão integrada e sustentável das águas urbanas. Além disso, o relatório considerou que esta atualização não vinha sendo realizada de maneira sistemática206, “provavelmente porque o município não possui estrutura para implementar esta ação, ou por falta de pessoal, uma vez que dispõe de qualificação técnica para fazê-lo”. Os serviços de limpeza das galerias, caixas, poços de visita, bocas-de-lobo eram realizados por empresa contratada para a prestação dos serviços de limpeza urbana, desde 1998, sob fiscalização da SEMAM. Mas desde Janeiro de 2010, a PRODESAN passou a ser a executora desses serviços de limpeza dos canais de drenagem, sob regime de serviços medidos, sendo fiscalizada pela SESERP, pasta criada especialmente para a gestão dos serviços públicos. O Plano de Drenagem Urbana para 2010-2039 De acordo com o relatório do Plano Integrado de Saneamento Básico (DAEE, 2010, p.92), considera-se premissa para o Plano de Drenagem proposto pelo referido estudo, que a bacia hidrográfica seja a unidade de planejamento, articulando as ações dos atores, das instituições públicas e privadas na área de abrangência deste limite geográfico. Segundo a mesma fonte, no âmbito da bacia hidrográfica e suas subdivisões, sugerem-se ações efetivas nos seguintes âmbitos: • Garantia de preservação das condições pré-estabelecidas em termos de vazão de pico, ao longo do sentido natural de escoamento do sistema planejado; • Preservação da qualidade das águas de escoamento nos canais naturais e construídos; • Estabelecimento de valores de vazão de restrição, em pontos estratégicos do sistema como divisas municipais e confluências relevantes; 205 A lavagem hidráulica dos sedimentos dos canais de drenagem foi concebida pelo projeto original de Saturnino de Brito, por meio do manejo das comportas, que na época possuíam sistema manual de acionamento. Posteriormente este sistema deixou de ter manutenção e foi abandonado, sendo retomado apenas na década de 1990, após a adoção do novo sistema de operação das comportas, de forma articulada ao Interceptor Oceânico. 206 O relatório salienta a necessidade de normatizar a atualização do cadastro, com a criação de banco de dados único, padronizado e georreferenciado, aproveitando-se, por exemplo, o sistema SIG, já implantado pela Prefeitura de Santos. 543 • Sistema de monitoramento integrado da qualidade e quantidade das águas de escoamento superficial, com base em Sistema de Informações Geográficas; • Operação e manutenção conjunta dos sistemas de drenagem integrados; • Otimização de custos de implantação, operação e manutenção dos sistemas; • Ações integradas de gestão sustentável das águas urbanas; • Ações de integração intermunicipal e de educação ambiental, visando à conscientização das comunidades pertencentes à mesma bacia de contribuição, transcendendo os limites municipais. Tendo como base estes pressupostos, o mencionado estudo realizou um estudo de demanda futura para o sistema, prevendo-se a evolução da condição urbanística atual “em direção a um cenário esperado, próximo à saturação prevista pelo Piano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana”. Desta forma, apresenta-se a seguir os cenários previstos para as diferentes regiões do município, com base nas condições atuais, pianos e projetos em andamento. Assim, foi considerada a distribuição atual da população no município, adensada na Área Insular e dispersa na área continental, sendo constituída basicamente por domicílios permanentes e não ocasionais (veraneio). Considerando, também, as diretrizes instituídas pelo Piano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana do Município de Santos207, quanto ao uso e ocupação do solo, o estudo identificou um cenário possível, atrelado ao advento da exploração da camada do Pré-Sal, “cuja perspectiva de implementação é real e de proporções significativas, segundo a mesma fonte, mesmo considerando que existem outros municípios na Baixada Santista aptos a receberem investimentos na área de infraestrutura básica e habitacional”. Assim apresenta-se a seguir os resultados deste estudo e suas respectivas propostas, para cada região do município de Santos. A - Área Continental Segundo a mencionada fonte, a Área Continental, poderá receber investimentos maciços, principalmente da área portuária e consequentemente em termos de infraestrutura e habitação. Portanto, este cenário contempla a ocupação planejada da Zona de Expansão Urbana (Zona Urbana, Zona de Suporte Urbano e Zona Portuária e Retroportuária)208. Assim, uma alternativa possível seria atender ao Projeto Básico de Macrodrenagem da Área Continental Bairro Cabuçu, Iriri e Caruara (DRA Consult/2002), que sugere a implantação de canais e travessias. Portanto, sugere-se a atualização do projeto básico existente, prevendo um planejamento conjunto, mesmo que preliminar da proposta urbanística, associada à elaboração de novos estudos hidrológicos e hidráulicos, que contemplem os conceitos apresentados na seqüência209: • Consolidar o princípio da ausência de impactos no sistema de recursos hídricos pelo uso do solo urbano, tanto no aspecto de quantidade como de qualidade; • Realizar a análise global da bacia de drenagem, onde se situa a intervenção urbanística, como unidade de planejamento; • Adotar enfoque orientado para o armazenamento das águas, que por reter lixo e sedimentos, melhora a qualidade da água a jusante, o que se considera adequado para áreas em fase de desenvolvimento urbano; • Alocar espaços e ocupação marginal das canalizações, com base nas seguintes diretrizes: 207 O estudo baseou-se na Lei Complementar Nº 311, de 23 de novembro de 1998, revogada pela Lei Complementar Nº 731, de 11 de julho de 2011. 208 Destaca-se que este zoneamento foi revogado e substituído pela Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo na Área Continental, Lei Complementar Nº 729, de 11 de julho de 2011. 209 Baseados nos Critérios e Diretrizes sobre Drenagem Urbana no Estado de São Paulo da Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH, 2003). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 o Preservação do meio ambiente e condições naturais do córrego, na qual se inclui a preservação das áreas de inundação natural; o Evitar a execução de pistas marginais de fundo de vale que invadam ou limitem a faixa de abrangência das cheias naturais do curso d’água; o Garantir que as áreas destinadas às edificações, tanto quanto possível, estejam fora da faixa de inundação correspondente à cheia de 100 anos de período de retorno; o Garantir espaço para o sistema de drenagem no processo de planejamento; o Preservar as funções primárias dos cursos d'água e de suas faixas de inundação natura, quais sejam, coleta, armazenamento e veiculação das vazões de cheias; o Adotar medidas de controle de poluição, pois é medida essencial para que sejam alcançados os benefícios potenciais que podem oferecer os cursos d'água urbanos e suas áreas de inundação natural. B - Zona dos Morros De acordo com o relatório (DAEE, 2010, p.95), ao contrário da Área Continental a Área Insular sofre com carência de espaços disponíveis para crescimento. Assim, a zona dos Morros apresenta saturação nos espaços onde a urbanização desordenada foi possível. Concomitantemente, circundando as ocupações com deficiência de infraestrutura, identifica-se a presença de Zonas de Preservação Paisagística, conforme zoneamento aprovado em 1998 e alterado em 2011. Porém, o programa “Santos Novos Tempos” também prevê ações para implantação do PMRR. Assim, o cenário desejado para a Zona de Morros prevê as seguintes ações: • Elaboração de planejamento integrado210 para solucionar os problemas de carência de equipamentos urbanos e comunitários, sistema viário e de circulação interna, infraestrutura básica e definição e controle das áreas de preservação; • Priorizar a remoção das edificações em situação de risco de erosão e deslizamento211; • Garantir a contenção de encostas e proteção das áreas sujeitas à erosão; • Implementar a regularização dos loteamentos, desmembramentos e edificações; • Garantir a manutenção das Zonas de Preservação Paisagística. Desta forma, segundo o referido estudo, o cenário proposto prevê a universalização do saneamento nos termos da Lei N° 11.445 de 2007 e sua regulamentação, para as áreas dos Morros identificadas como212: Caneleira/Santa Maria, Vila César, Vila Pantanal/Saboó, Jabaquara/Progresso/São Bento, Pacheco/Boa Vista, Marapé, Caminho Dona Adelaide213 e José Menino, totalizando uma área de 128,0 ha, 17.222 habitantes e 4.675 habitações. C - Região Central Também conforme o referido relatório (DAEE, 2010, p.96), a condição atual de ocupação do centra histórico de Santos tem levado a municipalidade a promover sua valorização e revitalização, por meio do programa 210 Na verdade, a região dos Morros já é objeto de planejamento de sua ocupação desde 1968. Contudo, os primeiros instrumentos urbanísticos a detalharem os critérios para ocupação desta área foram a Lei das Zonas Especiais de Interesse Social, Lei Complementar Nº 53, de 15 de maio de 1992; e a já mencionada Lei Complementar Nº 312, de 23 de novembro de 1998, que disciplinou o Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo na área Insular. No entanto, o controle da ocupação, após a sanção destas leis, não garantiu sua inteira observância. 211 Esta diretriz deve considerar o disposto no novo PMRR em a Carta Geológica dos Morros de Santos e São Vicente (1979). 212 Conforme o Plano Regional de Identificação e Monitoramento de Áreas de Habitação Desconforme na RMBS (PRIMAHD, 2005), contratado pela Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM). 213 Esta área situa-se na planície, no bairro do Marapé e está delimitada como ZEIS. 545 “Alegra Centra". Desta forma, há necessidade de aplicar um conjunto de medidas práticas de recuperação da infraestrutura básica, entre elas a melhoria da drenagem das águas pluviais. Assim, o cenário previsto para a Região Central Histórica tem as seguintes características convergentes com o referido programa: • Preservação e recuperação do meio ambiente construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico e paisagístico; • Viabilização de projetos que proporcionem o desenvolvimento da área central; • Solução de problemas pontuais de alagamentos. Entre as melhorias necessárias previstas para atingir as metas do cenário proposto, salienta-se aquelas apresentadas pelo Programa Regional de Identificação e Monitoramento de Áreas Críticas de Inundações, Erosão e Deslizamentos (PRIMAC), desenvolvido pela AGEM em 2002, que são os principais pontos de alagamento verificados nesta região: • Drenagem da Avenida Martins Fontes (acesso à Zona Noroeste e ao Sistema Anchieta-Imigrantes, pelos bairros Valongo e Saboó); • Drenagem do cruzamento da Avenida Senador Feijó com Rua Amador Bueno; • Drenagem do cruzamento da Av. Conselheiro Nébias com Rua João Pessoa. D - Zona Leste Ainda segundo o mencionado estudo (DAEE, 2010, p.97), o cenário previsto para a Zona Leste do município passa pela resolução dos problemas de contaminação das águas circulantes pelos canais de macrodrenagem, e a manutenção dos serviços existentes, através das reformas e melhorias, respeitando a preservação do patrimônio histórico. De qualquer forma, o relatório considera que a questão referente à drenagem urbana esteja equacionada, mesmo com relação ao crescimento populacional esperado, uma vez que a superfície atual do solo já apresenta uma taxa de ocupação próxima à saturação. Contudo, em situações de maré cheia e chuvas fortes, alguns canais costumam transbordar, o que evidencia que suas capacidades de reservação estão no limite. Somente em 2012, os canais já transbordaram duas vezes, em situações de chuvas fortes, com maré alta e comportas abertas. Esta questão é grave, considerando-se que o número de ressacas vem aumentando nos últimos anos, e as chuvas fortes vêm atingindo a cidade em períodos do ano incomuns. Portanto, pelo menos duas medidas não apontadas pelo relatório necessitam ser avaliadas. A primeira seria a realização de estudos visando avaliar a possibilidade de ampliar a capacidade de reservação dos canais, sem a alteração da largura dos mesmos, em função das limitações dos eixos viários que os ladeiam e do tombamento pelo CONDEPHAAT. Assim, uma possibilidade a ser estudada seria a ampliação da área da seção transversal dos mesmos. Esta providência, no entanto, deverá ser adotada junto com programas efetivos que visem recuperar parte das áreas permeáveis dos lotes desta região, visando, assim, retardar a chegada das águas pluviais nos canais. Outra medida a ser avaliada é a implantação de um programa de defesa civil, que alerte a população em situações de transbordamento dos canais, evitando assim os costumeiros prejuízos, sobretudo no que respeita à circulação viária e à segurança dos edifícios que possuem subsolos ocupados por garagens. Portanto, a afirmação contida no mencionado estudo, de que “o efeito das oscilações das marés pode ser controlado através do acionamento das comportas” e de que “este sistema, em constante manutenção, tem apresentado resultados satisfatórios” deve ser vista com reservas. Outro aspecto importante mencionado pelo mesmo estudo é a prioridade do enfrentamento do problema do lançamento de esgotos domésticos na rede de macrodrenagem, cuja presença tem comprometido a balneabilidade das praias, como demonstrado no item anterior, o que prejudica a atividade turística. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Assim, o relatório propõe a ampliação do programa de detecção de ligações clandestinas de esgotos domésticos, desenvolvido em conjunto pela Prefeitura e pela SABESP, denominado “Canal Limpo”. Neste sentido, é interessante reavaliar este programa, pois o mesmo já vem sendo desenvolvido há muitos anos e os resultados não são satisfatórios. E - Zona Noroeste Também de acordo com o mencionado trabalho (DAEE, 2010, p.97), o cenário futuro para a Zona Noroeste deve considerar o desenvolvimento da região, com a implantação do “Programa de Desenvolvimento Estratégico de Santos e Infraestrutura Urbana e Habitacional das Zonas Noroeste e dos Morros - Programa Santos Novos Tempos”. Segundo esta fonte, o referido programa prevê a solução dos problemas de drenagem urbana, articulada à redução do risco geológico, remoção e reassentamento de famílias, incremento do sistema viário, reforma de parques com plantio de espécimes arbóreos e ações de promoção da cidadania e fortalecimento institucional. Desta forma foram previstas reformas e implantação de canais, estações de bombeamento, reservatórios e comportas, interligadas e automatizadas pelo Centro de Controle Operacional. Contudo, em função da velocidade de implantação deste programa não ser condizente com a grave situação da drenagem, sobretudo em eixos viários importantes, como as Avenidas Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes, devese considerar a possibilidade de implantação de um programa de defesa civil, que alerte a população em situações de alagamentos, evitando assim os costumeiros prejuízos, que no caso da Zona Noroeste possuem características graves, seja com relação à circulação viária, seja com relação à segurança das famílias de baixa renda, em função da cota de nível das palafitas. Alternativas propostas pelo Relatório do Plano Integrado de Saneamento Básico de Santos Conforme o referido relatório (DAEE, 2010, p.98), a formulação de alternativas para prestação dos serviços de drenagem urbana do município de Santos passa pela análise do diagnóstico que aponta suficiência em vários aspectos, sobretudo na área de planejamento, que tem ações em andamento para melhoria e busca da universalização dos serviços. Assim, o documento considera que a Prefeitura vem desempenhando as funções de planejamento, fiscalização, operação e manutenção do sistema de drenagem, através dos órgãos e unidades descritos anteriormente. Segundo a mesma fonte, existe a intenção da PRODESAN de ampliar a atuação na prestação do serviço, através da aquisição de equipamentos como caminhões, bomba a vácuo, hidrojato e ampliação da equipe no sentido de executar efetivamente os serviços de manutenção, uma vez que atualmente estes são terceirizados. Ainda de acordo com este documento, recentemente a SABESP, por conta da interface existente com a operação do Sistema de Esgotamento Sanitário, mostrou interesse em realizar a operação e manutenção dos sistemas de micro e 214 macrodrenagem das regiões Leste e Noroeste . Segundo o estudo, a rede de macrodrenagem da Zona Leste é composta pelos canais 1 a 7 que entrecortam a ilha, e hoje são estruturas tombadas e em plena operação. Na Zona Noroeste, o detalhamento das obras a serem executadas, prevendo a solução para os problemas de drenagem, habitação e acesso, através do programa “Santos Novos Tempos” e a área dos Morros receberá investimentos do mesmo programa, sobretudo na questão da estabilidade geotécnica, e que certamente refletirá no sistema de escoamento das águas superficiais. Como a área Continental, representa um potencial vetor de crescimento, o planejamento e fiscalização devem prever ação intensiva por parte da municipalidade, no sentido de fazer cumprir os preceitos de sustentabilidade associados à necessidade de desenvolvimento. O relatório salienta, ainda, a mencionada interface direta com o município de São Vicente, em função das medidas estruturais e não estruturais em implantação na área que abrange a divisa de municípios, que compartilham a mesma bacia hidrográfica. Desta forma, o arranjo institucional da drenagem urbana de Santos deve levar em conta estas interface. Portanto, segundo esta fonte, o planejamento deve utilizar a ferramenta de Sistema de informações Geográficas (SIG), gerenciado pela Secretaria de Planejamento (SEPLAN), cuja estrutura logística possibilita o acompanhamento em tempo real das condições de operação e do funcionamento dos canais, interligado à previsão de ocorrência pluviométrica e à Defesa Civil. O estudo avalia que a criação de um “Departamento de Drenagem Urbana” possibilitará centralizar as ações de planejamento e gestão do sistema que se apresentam, atualmente, disseminadas por diversas secretarias e PRODESAN. Contudo, esta centralização pode tornar o enfrentamento das situações críticas ainda mais lento e desarticulado. Desta 214 A Lei Complementar N° 707, de 21 de dezembro de 2010 autoriza a Prefeitura a celebrar contratos, convênios e outros ajustes entre a municipalidade, o Estado, a SABESP e a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP). Em 2011 um piloto do que seria a atuação da SABESP em termos de manutenção do sistema de macrodrenagem chegou a ser realizado no Canal 4, que foi inteiramente limpo pela empresa. Contudo, até o momento nenhum convênio entre as partes foi firmado, e novas intervenções nos canais de drenagem não ocorreram. 547 forma, seria interessante que se avaliasse a experiência de descentralização administrativa, ocorrida no início da década de 1990, por meio das administrações regionais, que possuíam orçamentos, equipes e equipamentos próprios, tornando suas ações mais próximas das necessidades das populações das distintas regiões. Neste sentido, cabe salientar que na época os investimentos em obras eram discutidos com a comunidade por meio de fóruns de orçamento participativo, obtendo assim a legitimação dos investimentos em melhorias e manutenção. O relatório da Proposta de Plano Integrado de Saneamento aponta, também, que a Lei n° 11.445, de 2007 estabelece a necessidade de atribuição específica e dissociada das funções de regulação e fiscalização da prestação dos serviços de saneamento, incluindo a drenagem, bem como a definição de entes independentes para estas funções. Assim, a questão da drenagem urbana demanda um ente regulador da prestação dos serviços. Porém, os entendimentos entre Prefeitura e Estado indicam que a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP), criada pela Lei Complementar N° 1.025, de 2007, fará a regulação dos serviços de saneamento, incluindo a drenagem, e energia no Estado. Este arranjo merece, porém, alguma reserva, uma vez que seria a SABESP, uma empresa sob controle estadual, a prestar os serviços regulados pela ARSESP. Conforme a mesma fonte (DAEE, 2010, p.99), as tabelas ___ e ___ “resumem as alternativas propostas do ponto de vista institucional, que envolvem o planejamento, regulação, fiscalização e prestação dos serviços de drenagem urbana, nos seus aspectos estruturais e não estruturais ao longo do horizonte do Plano de Saneamento”. Desta forma, estas tabelas apresentam as respectivas estimativas de investimentos visando à universalização deste sistema, conforme previsto na Lei n° 11.445, de 2007, sintetizando as propostas e considerações apresentadas anteriormente, no âmbito deste estudo. Contudo, os investimentos apresentados a seguir não contemplam os custos de operação, administração e manutenção. Verifica-se que as ações mais imediatas têm um custo mais alto, ainda que perfeitamente gerenciável, se comparado com o orçamento municipal anual, com exceção do último item, que envolve as intervenções de regularização fundiária e urbanística, além de provisão habitacional. Tabela ___. Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos: Proposições não estruturais. Prazo Objetivo Ação proposta Valor (R$) Emergencial Planejar a prestação de serviços de drenagem urbana de forma padronizada e sob a ótica da sustentabilidade Elaboração do Plano Diretor de Drenagem Integrado de Santos contemplando abordagem de manejo sustentável das águas urbanas. 650.000,00 Emergencial Viabilizar a fiscalização e regulação dos serviços no formato da Lei nº 11.447/2007 Definição dos atores institucionais envolvidos na drenagem urbana de Santos 50.000,00 Curto Criar um instrumento de planejamento e regulamentação das normas que possibilitem a gestão da drenagem em forma de Lei Aprovação como Lei do Plano Diretor de Drenagem Integrado de Santos contemplando abordagem de manejo sustentável das águas urbanas. 25.000,00 Curto Viabilizar o planejamento da interface existente com os municípios vizinhos que compartilham a mesma bacia de contribuição Criação de um conselho técnico que defina em conjunto as ações institucionais compartilhadas, bem como a criação de instrumentos legais que contemplem as decisões tomadas em consenso. 1.500.000,00 Curto Centralizar as informações relativas ao sistema de drenagem e atribuições relevantes, para facilitar o gerenciamento Criação de um Departamento de Drenagem Urbana para gestão integrada do sistema, com base em Sistema de Informações Geográficas. 100.000,00 Curto Reduzir o lançamento de resíduos sólidos diretamente na rede de canais Programa de Educação Ambiental 50.000,00 Curto Viabilizar a obtenção de informações atualizadas e em tempo adequado sobre o sistema de drenagem existente Elaboração de um cadastro informatizado do sistema de micro e macrodrenagem com registro dos dados de manutenção, operação e implantação, com programa de atualização permanente. 1.200.000,00 Curto Planejar as ações de manutenção e limpeza dos canais de forma preventiva Análise estatística das intervenções de manutenção e limpeza corretiva dos canais em um ano. 25.000,00 Curto Operar o sistema de alerta de cheias com ação da Defesa Civil Conclusão da instalação das estruturas de monitoramento, interligação no 1.000.000,00 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 SIG da SEPLAN, e conexão à previsão de ocorrência de precipitação e modelagem matemática operacional do sistema, para fins de simulação e definição dos procedimentos emergenciais e sistema de alerta, e simulação da macrodrenagem em tempo real. Médio Resolver problemas pontuais de alagamentos no Centro Histórico Manutenção preventiva e realização de cadastro com avaliação estrutural do sistema existente e elaboração de projeto. 220.000,00 Médio Resolver problemas estruturais e de revestimento dos canais tombados pelo Patrimônio histórico na Zona Leste Programa cadastro das patologias estruturais e de revestimento dos canais históricos e travessias de Santos. Hierarquização de medidas e registro em banco de dados georreferenciado das ações de recuperação e manutenção dos canais. 350.000,00 Médio Elaborar o planejamento da infraestrutura básica, micro e macrodrenagem da Área Continental, tendo como base o controle da drenagem na fonte Nova concepção do projeto prevendo medidas de controle na fonte, parques lineares, delimitação de áreas inundáveis com restrição de uso, atendendo aos quesitos de manejo sustentável das águas urbanas, prevendo as diretrizes da Carta Ambiental do Caruara. 420.000,00 Médio Viabilizar a fiscalização das taxas de ocupação dos imóveis em relação ao zoneamento proposto Criação de ferramenta computacional apropriada para cálculo da taxa de ocupação dos lotes, com apoio de campo e montagem de equipe e treinamento para capacitação técnica. 280.000,00 Médio Aumentar o interesse da população no cumprimento das proposições restritivas quanto a taxa de ocupação do imóvel Implantação de medidas de incentivo às práticas sustentáveis, como redução de impostos, tarifas de limpeza, drenagem, etc. 135.000,00 Médio Planejar o desassoreamento dos canais com sedimentos, areia e lodo nas Zonas Leste e Noroeste. Programa Manutenção Periódica de Limpeza e Desassoreamento dos Canais e de proteção das áreas propensas a erosão. 50.000,00 Longo Dar suporte para regularização dos loteamentos, desmembramentos e edificações em situação irregular nas Zonas Noroeste e Morros Apoio e Continuidade do Programa de prevenção de erosão e proteção das encostas como o Plano Preventivo de Defesa Civil – PPDC, específico para a Serra do Mar no Estado de São Paulo. 45.000.000,00 549 Fonte: Concremat Engenharia e Tecnologia S/A apud Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p. 100-102). Tabela ___. Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos: Proposições não estruturais. Prazo Objetivo Ação proposta Valor (R$) Médio Área Continental - Deficiência de infraestrutura básica, micro e macrodrenagem. Falta de planejamento na interface existente com municípios vizinhos que compartilham a mesma bacia de contribuição. Execução das obras de infraestrutura e drenagem. Implantação do sistema de drenagem integrado com o Município de São Vicente que compartilha da mesma bacia de contribuição. Adequação do Projeto. Execução das obras elencadas pelo Programa de Cadastro das Patologias Estruturais e de Revestimento dos Canais Históricos e travessias de Santos. 45.000.000,00 Médio Longo Zona Leste - Problemas estruturais e de revestimento dos canais tombados pelo Patrimônio histórico. 350.000,00 Somente Manutenção Fonte: Concremat Engenharia e Tecnologia S/A apud Relatório 4 da Proposta do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de Santos, Revisão 5 (DAEE, 2010, p.103). Desta forma, conforme apontado pelo diagnóstico do sistema de drenagem de Santos, no âmbito do relatório do Plano Integrado de Saneamento Básico (DAEE, 2010, p.115), há ocorrências históricas de eventos de inundações e desastres que combinam, nas áreas de cotas próximas ao nível do mar, ocorrências de precipitações intensas com períodos de elevação das marés e, nos Morros, com a ocorrência de enxurradas, provocadas pelo escoamento superficial das chuvas, associadas aos deslizamentos de encostas onde predominam ocupações urbanas irregulares. Assim, no município de Santos as enchentes apresentam-se como problemas que acarretam prejuízos econômicos e sociais à população e o Poder Público tem, por força legal, a atribuição de atender a este tipo de desastre. Entre os fatores naturais que contribuem para a ocorrência das enchentes estão a característica litorânea do sítio, que apresenta susceptibilidade às oscilações da maré, além do relevo de declividades elevadas nas zonas de Morros, combinado com áreas planas, de cotas próximas ao nível do mar nas demais regiões. Com relação aos fatores humanos, o diagnóstico destaca “a ocupação não planejada nas áreas de encostas da cidade, associada ao lançamento de resíduos sólidos na rede de drenagem, em cuja manutenção predominam ações corretivas de desassoreamento e limpeza”215. Assim, “nas áreas já ocupadas pouco pode ser feito em curto prazo, ressaltando-se que os habitantes das áreas de risco integram, em geral, uma parcela da população com nível de renda mais baixo”. Contudo, o estudo aponta que nas áreas ainda não ocupadas (Zonas de Expansão Urbana216), deve ser feito um planejamento do uso do solo, sendo este um importante mecanismo para o controle das enchentes. Portanto, segundo o documento, as ações de prevenção e correção de eventos associados às inundações devem atender ao caráter específico das ocorrências, que dependem de sua natureza e respectivo local, a saber: • 215 Área Continental: enxurradas por escoamento superficial, inundação por elevação da maré e ocorrência de deslizamentos localizados; O argumento da falta de planejamento não considera o acumulo de um século de instrumentos urbanísticos e edilícios implementados ou abandonados, no município de Santos, alguns dos quais contribuíram para a elevação do custo da habitação nas áreas mais aptas à ocupação urbana, induzindo à ocupação das áreas ambientalmente mais frágeis, pela população de baixa renda, em um quadro de controle da ocupação insuficiente ou inexistente, associado á falta de alternativas habitacio0nais em nível adequado à demanda apresentada nos períodos de maior crescimento. 216 Na Área Continental do Município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 • Zona Noroeste: enxurradas por escoamento superficial, inundação por elevação da maré e ocorrência de deslizamentos localizados; • Morros: enxurradas por escoamento superficial e ocorrência de deslizamentos localizados; • Região Central Histórica: enxurradas por escoamento superficial e inundação por elevação da maré; • Zona Leste: enxurradas por escoamento superficial e inundação por elevação da maré. Por fim, cabe ressaltar que a heterogeneidade na qualidade e abrangência dos sistemas de drenagem, entre as distintas áreas do município está vinculada aos interesses mais gerais do Estado, que no caso da Zona Leste e da área central, implantou o Plano de Saneamento, em uma conjuntura econômica que demandava providências imediatas para garantir o desempenho da economia agroexportadora, baseada no cultivo do café. Contudo, após a década de 1950, quando o sudeste brasileiro se industrializou, levando à implantação do parque industrial de Cubatão e da ampliação do Porto de Santos, a aceleração do crescimento demográfico na área central da região não foi antecedida por medidas de planejamento e de obras de infraestrutura adequadas ao processo de urbanização desigual implementado nas décadas seguintes. De fato, o processo de urbanização social e ambientalmente deletério ocorrido em Santos e municípios vizinhos, não representava um risco ao desenvolvimento da economia do estado, como ocorreu no final no século XIX. Assim, o Estado em pouco contribuiu para a universalização do saneamento na região, fato que só começou a ser revertido, e ainda assim em nível insatisfatório, nos últimos anos, com o programa “Onda Limpa”. Contudo, no âmbito da drenagem urbana, o próprio município teve que encontrar meios de reverter o quadro extremamente grave, em especial na Zona Noroeste e nos Morros, áreas habitadas pela população de menores rendimentos da cidade. Desta forma, a não implantação do projeto de drenagem da Quiroz Orsini, a partir de 1996, deve ser vista como uma oportunidade perdida para que estes problemas tivessem sido efetivamente enfrentados. Assim, o programa “Santos Novos Tempos”, no que concerne à drenagem desta região e dos Morros, deve ser priorizado e sua velocidade de implantação precisa ser acelerada, pois embora as taxas de crescimento demográfico destas regiões tenha se desacelerado, o processo de adensamento das mesmas deve prosseguir na próxima década. Além desse aspecto, o mercado imobiliário dirigido para as famílias de rendimentos superiores, nos últimos anos, passou a se interessar por áreas anteriormente desprezadas, como o Morro da Nova Cintra e alguns bairros da Zona Noroeste. Este fator pode resultar na reprodução de processos de impermeabilização do solo verificados na Zona Leste, agravando as condições de drenagem daquelas regiões. Portanto, este aspecto também deve ser considerado, uma vez que o município não dispõe de instrumentos eficazes para controlar este processo, no âmbito do planejamento e gestão do território. 11.4 Resíduos Sólidos Este diagnóstico está estruturado a partir dos seguintes itens: . Situação da geração, coleta, tratamento, destinação de resíduos sólidos domiciliares, da construção civil e saúde e da limpeza urbana; . Análise do município da perspectiva de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade socioambiental e econômica em diálogo com as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos. 551 Os dados e informações utilizados neste relatório foram extraídos do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de Santos (Diagnóstico), de pesquisas sobre o tema, junto ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), das propostas contidas no documento denominado Plano Integrado de Saneamento Básico, parte integrante do “Programa de Fortalecimento dos Instrumentos de Planejamento do Setor de Saneamento” – estudo contratado pelo Governo do Estado de São Paulo, e elaborado pela empresa Concremat, e, por fim, junto ao Tribunal de Contas do Estado (referentes ao orçamento – receitas e despesas relacionadas ao tema). Foram realizadas entrevistas com gestores locais, vinculados às Secretarias de Serviços Públicos (SESERP) e de Meio Ambiente (SEMAM), com a coordenação do Fórum da Cidadania de Santos e com representantes da COMARES – Cooperativa de Materiais Recicláveis de Santos. 11.4.1 Situação da geração, coleta, tratamento, destinação de resíduos sólidos domiciliares, da construção civil e saúde e da limpeza urbana Gestão A gestão de resíduos sólidos em Santos é realizada diretamente pela Prefeitura, através da Secretaria de Serviços Públicos – SESERP, sendo que a prestação dos serviços é terceirizada – realizada pela empresa TERRACOM. Para a fiscalização e o acompanhamento das atividades, o município de Santos mantém contrato com a PRODESAN, empresa pública de direito privado (cujo maior acionista é a Prefeitura), para fiscalizar e gerenciar os serviços relativos à limpeza pública, coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos municipais. Em relação ao planejamento das ações, as atribuições estão vinculadas à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, órgão que coordenou a elaboração do PGIRS. Neste sentido, assim como identificado em outros municípios do litoral paulista, a divisão de tarefas, de competências e de atribuições entre diferentes órgãos gestores locais ainda não se configurou como um desenho político-administrativo que garanta efetividade nos resultados na gestão de resíduos sólidos. Isso porque o planejamento das ações (elaborado por setores como Planejamento ou Meio Ambiente) nem sempre é compreendido e aplicado pelo setor responsável pela execução dos contratos (setores operacionais, geralmente vinculados às pastas de Serviços Urbanos, Serviços Públicos ou Obras), não sendo incorporadas as diretrizes constantes dos Planos. No caso de Santos, os setores envolvidos com o tema Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são217: Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM): compete coordenar o processo de elaboração e implantação de planos, programas, projetos e legislação voltados ao saneamento ambiental, à educação ambiental, à fiscalização e ao controle dos processos produtivos. Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SESERP): compete coordenar o processo de elaboração e implantação de planos, programas, projetos e legislação voltados à gestão de serviços públicos, relacionados ao desenvolvimento urbano (incluindo a implantação do constante do plano viário, a manutenção preventiva e corretiva dos edifícios e logradouros públicos), ao gerenciamento dos serviços de coleta e destinação do lixo, pavimentação, poda de árvores, água, esgoto, energia elétrica e telefonia, entre outros serviços. Progresso e Desenvolvimento de Santos (PRODESAN): empresa de economia mista, com participação pública e privada, cujas funções principais estão relacionadas ao apoio às secretarias municipais. Em relação à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, a PRODESAN está contratada pela Prefeitura de Santos para desenvolver as seguintes ações: 217 Fiscalização dos serviços de coleta de lixo domiciliar, varrição de ruas, limpeza das praças, limpeza do sistema de escoamento de águas pluviais, coleta de resíduos volumosos, limpeza de locais de feiras Competências e atribuições retiradas do sítio eletrônico da Prefeitura de Santos, baseada em legislação municipal específica. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 livres, de túneis, de monumentos, de eventos festivos, outros tipos de limpeza da cidade, transbordo, transporte e disposição final dos resíduos; Operação da unidade de triagem de resíduos sólidos recicláveis; Assessoria e acompanhamento dos serviços de limpeza urbana. Sobre a gestão de resíduos, a visão da sociedade civil é bastante interessante. As organizações e os fóruns da sociedade civil entrevistados demonstraram sua preocupação com os rumos da gestão de resíduos em Santos, em especial com as ações de coleta seletiva. Segundo informações de representantes da coordenação do Forum da Cidadania de Santos, o programa de coleta seletiva de Santos necessita ser resgatado, pois “está em situação precária - já foi melhor”. Segundo estas avaliações, “o programa de coleta seletiva atinge apenas 3% do volume total coletado”. Estes interlocutores ressaltaram que houve, há alguns anos, cadastramento de catadores autônomos, realizado pela Secretaria de Assistência Social, iniciativa que serviu de base para a estruturação do Comitê de Catadores do Litoral Paulista. Informaram, também, que as cooperativas que iniciaram as atividades do programa de coleta seletiva foram formadas a partir do trabalho com pacientes dos programas de Saúde Mental e de Suporte a Portadores de Deficiência, mas “que foram se perdendo ao longo do tempo”. Ainda de acordo com os representantes do Fórum de Cidadania de Santos, houve diversas oportunidades e iniciativas de discussão sobre o tema dos resíduos sólidos, com destaque para um seminário realizado com participação do SESC e do IBAMA, além do Poder Público e outras organizações da Sociedade Civil, onde resultou na formação do Comitê de Catadores do Litoral Paulista. Segundo estes interlocutores, o município iniciou a elaboração de seu PGIRS de forma conjunta com entidades da sociedade civil, contando, inclusive, com comissão específica criada junto ao Conselho de Meio Ambiente, da qual participa o Fórum. Entretanto, não houve sequência nem discussão pública para validação dos resultados. Atualmente, o tema está sendo discutido em Câmara Temática da AGEM (Agência Metropolitana da Baixada Santista), com análise das propostas contidas nos planos de saneamento contratados pelo Governo Estadual. O Fórum de Cidadania chegou a propor duas estratégias à AGEM: Ampliar/incrementar a coleta seletiva nos Municípios da Baixada; Promover o 2º. Seminário sobre Resíduos Sólidos. Tanto os representantes do Fórum de Cidadania como os representantes da cooperativa (COMARES) foram incisivos na observação de que a municipalidade tem visão restrita da gestão, focada na disposição final dos resíduos. 11.4.2 Geração, coleta, transporte e caracterização dos resíduos sólidos Em relação aos dados de geração, coleta, tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos de Santos, cabe introduzir uma abordagem inicial sobre o município e sua população (residente e flutuante). A população santista residente está fixada, a partir de dados do IBGE (Censo 2010), em 419.530 habitantes, na sua quase totalidade urbana (99,4%). Ainda de acordo com dados do IBGE, o número estimado de domicílios é de 134.187 – representando uma taxa de ocupação de 3,19 hab/domicílio (indicador médio dentro dos padrões brasileiros). Este número (total de domicílios) tende a crescer – conforme demonstra o diagnóstico urbano deste projeto. Os estudos desenvolvidos no âmbito deste tema apontam para um crescimento da ordem de 7% das 553 residências fixas na última década, enquanto que, para as residências de uso ocasional, os números alcançados apontaram para uma redução de 0,5%. Considerando os referidos indicadores, somados ao atual momento econômico de Santos - de incremento de empreendimentos imobiliários -, é possível identificar a tendência de aumento da geração de resíduos sólidos, tendo em vista que estes empreendimentos devem receber, em sua maioria, população residente e fixa. Em relação à geração atual de resíduos sólidos, os dados obtidos indicam a geração diária de 560 toneladas de resíduos sólidos domiciliares (resíduos úmidos e secos), o que representa, aproximadamente, 1,3 kg/hab/dia218 em Santos. Informações repassadas pela Prefeitura de Santos, e as constantes do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Santos (PGIRS) indicam que são coletadas um total de 17.000 toneladas por mês. A coleta de resíduos sólidos é oferecida à totalidade da população, realizada, na sua maioria, três vezes por semana. Segundo informações repassadas pelos gestores locais, cerca de 90% da população santista localizase na parte insular do município. Tanto a coleta como os demais serviços de limpeza urbana – como limpeza de praias, limpeza de feiras e de áreas públicas, varrição, capinação e roçada – são terceirizados. A maioria destes serviços, como demonstrado adiante, está sendo realizada pela empresa TERRACOM, vencedora de processo licitatório. Apesar de ser considerado como destino turístico, Santos não sofre com os impactos gerados pela população flutuante na alta temporada. De acordo com informação e dados fornecidos pelos gestores locais, estes impactos não são significativos no município, atingindo índices muito próximos de 5% da massa total indicada anteriormente. Os dados referentes à coleta e à geração de resíduos sólidos urbanos, em Santos, são os apresentados a seguir, compreendidos entre os anos de 2001 a 2011. A Tabela e o Gráfico a seguir apresentam as quantidades anuais coletadas de resíduos sólidos em Santos entre 2001 e 2011. Gráfico - Quantidade de Resíduos Coletados – 2001 a 2011 – toneladas - Município de Santos Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 218 Dados constantes do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) de Santos, baseados nos estudos desenvolvidos para a elaboração do Plano de Saneamento (PLANSAN), indicam a geração per capita de 1,7 kg/hab/dia, considerados, neste valor, os resíduos volumosos e todo o RSS coletado. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Tabela - Quantidade de Resíduos Coletados – período compreendido entre 2001 a 2011 – em toneladas - Município de Santos domiciliar reciclável 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 domiciliar 202.873,46 188.392,36 173.634,74 175.194,82 172.054,46 170.875,88 172.119,19 172.475,25 198.216,44 217.361,60 200.117,70 inerte 62.687,44 70.084,15 33.359,39 39.233,05 31.187,90 33.391,05 34.251,59 15.585,61 volumoso 24.033,80 40.467,55 38.965,50 34.902,10 32.120,23 41.642,60 38.303,36 48.835,64 46.698,46 46.745,39 53.951,92 reciclável 1.452,73 1.713,17 1.320,24 1.804,87 1.203,03 1.467,91 1.775,47 2.420,46 3.366,94 3.859,81 4.423,03 291.047,43 300.657,23 247.279,87 251.134,84 236.565,62 247.377,44 246.449,61 239.316,96 248.281,84 267.966,80 258.492,65 1.600,31 1.675,76 1.679,17 1.610,78 1.652,55 1.739,19 1.757,19 1.867,04 1.906,22 1.971,70 1.739,04 5,07 55,54 21,69 54,75 67,01 subtotal séptico RSS carcaças animais subtotal 1.600,31 1.675,76 1.679,17 1.615,85 1.708,09 1.760,88 1.811,94 1.934,05 1.906,22 1.971,70 1.739,04 totais 292.647,74 302.332,99 248.959,04 252.750,69 238.273,71 249.138,32 248.261,55 241.251,01 250.188,06 269.938,50 260.231,69 população 418.587 418.822 419.037 419.348 419.800 420.032 420.107 420.206 419.996 419.388 419.530 Fonte: PGIRS/Santos – 2012 555 É possível observar, pelos dados analisados, uma redução diminuição na geração de resíduos em dois momentos distintos: uma redução mais drástica no início da década de 2000, e outra, de menor intensidade, em 2008, com recuo para níveis próximos a 240 mil toneladas. As reduções, em especial as relativas a 2008, são explicadas pela mudança na gestão de resíduos da construção civil (RCC), quando a municipalidade passou a exigir que o gerador destinasse corretamente os resíduos gerados nas reformas e construções, contratando diretamente as empresas prestadoras de serviço de coleta de RCC (caçambas). O município deixou, assim, de realizar a coleta destes resíduos, restringindo-se à coleta em pequenos geradores ou em pontos de entrega. Em relação à fração seca de resíduos domiciliares (materiais recicláveis), os dados apontam para um aumento da geração deste tipo de resíduos, o que demonstra o perfil de consumo da população santista, que adquire muito mais produtos industrializados e com embalagens se comparado com os demais municípios do litoral paulista. O gráfico a seguir demonstra a evolução destes dados. Gráfico - Quantidade de Resíduos Recicláveis Coletados – 2001 a 2011 – toneladas Município de Santos Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 Apesar de haver crescimento na geração da fração seca dos resíduos sólidos domiciliares, e, portanto, um cenário mais propício ao trabalho das organizações de catadores de material reciclável (associações e cooperativas), Santos não apresenta resultados positivos em relação à coleta de materiais recicláveis ou ações coordenadas de coleta seletiva destes resíduos, como demonstrado posteriormente neste relatório. De forma complementar a este aspecto, cabe destacar informações relativas à caracterização dos resíduos sólidos domiciliares. Esta caracterização dos resíduos sólidos urbanos foi realizada no âmbito do PLANSAN e inserida no diagnóstico constante do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS), elaborado em 2012, sendo apresentada na Tabela a seguir, acompanhado do Gráfico ilustrativo desta composição. Tabela – Composição Gravimétrica – Resíduos Sólidos Domiciliares Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Município de Santos tipo de resíduo % Matéria orgânica 41,96 Papel/papelão 16,41 Plástico mole 6,86 Plástico duro 5,89 Plásticos PET 0,84 Vidro 4,10 Metal ferroso 3,37 Alumínio 0,61 Tetra pack 1,52 Tecidos/ trapos 4,67 Solo/rochas 2,90 Borracha 1,72 Madeira 1,08 Isopor 0,59 Espuma 0,59 Pilhas e baterias 0,55 Couro 0,48 Perdas na triagem 1,46 Diversos 4,40 Total 100,00 Fonte: PGIRS/Santos – 2012 Gráfico – Composição Gravimétrica de Resíduos Sólidos – Município de Santos Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 É possível, a partir destes dados, destacar alguns destes dados, como a porcentagem relativa à fração úmida (matéria orgânica) da massa de resíduos domiciliares – que atingiu a marca de 42% do total, diferentemente do conjunto de municípios do litoral paulista – cujos resultados identificados ultrapassam os 50%. Estes dados reforçam a análise anterior, em que o perfil de consumo da população santista difere das dos demais municípios, tendo, como uma de suas características, o consumo de produtos industrializados que 557 contêm embalagens. Este resultado poderá ser ratificado com os dados obtidos pela equipe que desenvolveu estudos referentes à Segurança Alimentar e Nutricional. Assim, pelo exposto, Santos possui um perfil de resíduos em que a fração seca representa parcela significativa do conjunto de resíduos a serem tratados adequadamente, conforme as diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em relação aos demais tipos de resíduos e de serviços de manejo, a situação diagnosticada é a seguinte: Resíduos Sólidos Volumosos O município de Santos possui um programa de atendimento de coleta de resíduos volumosos, buscando reduzir os custos referentes às ações meramente corretivas – de limpeza de locais de descarte irregular. Este programa, denominado “Cata Treco”, atende todos os bairros da área insular do município, mediante agendamento. As ações consistem na coleta programada de objetos como restos de móveis, sofás, colchões, geladeiras, fogões e outros objetos de grande volume, incluindo galhos de árvores e resíduos da construção civil, em pequena escala. Os resíduos volumosos coletados são transportados até a Estação de Transbordo, localizada no antigo aterro do Bairro Alemoa, e encaminhados posteriormente ao Aterro Sanitário. No gráfico a seguir está apresentada a evolução das quantidades de resíduos volumosos coletadas no município entre os anos de 2001 e 2011. Gráfico – Evolução da Coleta de Resíduos Volumosos – Município de Santos Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 Resíduos de Limpeza Urbana – Varrição, Capinação e Roçagem, Praias, Drenagem e Canais As ações de limpeza urbana compreendem todos os serviços de varrição, capinação e roçagem, bem como os relacionados à limpeza de praias e dos sistemas de drenagem, incluindo os canais. Os serviços de varrição, capinação e roçagem estão relacionados à limpeza de vias, praças, logradouros e áreas públicas, incluindo locais de eventos, e são realizados em toda a área insular, de forma sistemática e com grande frequência, principalmente em épocas de alta temporada. Com relação à origem os resíduos, há grande quantidade de material vegetal, como folhas, flores, além de excrementos de animais e resíduos descartados pela população (papeis, embalagens plásticas e metalizadas, saquinhos plásticos, etc.). Com relação à limpeza de praias, e de acordo com dados constantes do PGIRS, o município possui uma área total de 218.800m² ao longo da orla da praia, mantida pela empresa contratada. Alia-se a esta limpeza, a manutenção das vias da orla, buscando evitar os impactos decorrentes da presença e do acúmulo de areia. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Quanto aos serviços de limpeza dos dispositivos de drenagem, estes são realizados em canais, valas e bocas de lobo, conforme programação definida pela SESERP. São utilizados caminhões específicos, de sucção e de lavagem, em alguns casos. À época de alta temporada, os serviços são realizados em regime de plantão e com reforço das equipes. Por fim, em relação aos serviços de limpeza de feiras, existem 28 feiras ativas no município. As ações consistem na limpeza das áreas das feiras livres através da varrição, do ajuntamento e da coleta dos resíduos – que são, segundo dados constantes do PGIRS, constituídos, em sua ampla maioria, de cascas de frutas, verduras e frutas, sobras de peixes e demais resíduos. Após o recolhimento dos resíduos, é promovida a lavagem dos locais críticos (barracas de pescados) com uso de caminhão pipa. O gráfico a seguir indica a evolução da coleta em feiras livres, demonstrando uma redução gradual do volume total gerado anualmente, corroborando a conclusão quanto ao perfil de consumo da população santista. Gráfico – Evolução da Limpeza de Feiras Livres – Município de Santos Evolução da Coleta – Limpeza de Feiras Livres período 2001 – 2011 ton/ano Limpeza Feiras Livres Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 Todos os serviços citados são terceirizados, e os resíduos coletados são transportados para a Estação de Transbordo, localizada no Bairro Alemoa, e, posteriormente, encaminhados ao Aterro Sanitário. Resíduos da Construção Civil - RCC Em Santos, o município promove ações de limpeza corretiva dos locais de descarte irregular, através dos serviços de empresa terceirizada – o que gera custos elevados para a municipalidade. Segundo informações contidas no PGIRS, são coletadas, em média, 672 toneladas de RCC por dia. Existem, ainda, empresas que prestam serviço de aluguel de caçambas, a ser contratado pelos munícipes (geradores de resíduos), com destinação a unidade existente em São Vicente. Segundo informações contidas no PGIRS, a geração de RCC não foi objeto de estudo ou de levantamentos no âmbito do Plano, mas cita a existência de documentos gerais referentes ao tema. Entretanto, no conteúdo do próprio PGIRS há referência ao Sinduscon – representação regional do litoral paulista -, em que a referida entidade indica “a inexistência desses dados, bem como a necessidade de um diagnóstico referente à área”. Resíduos dos Serviços de Saúde - RSS Os Resíduos Sólidos originados dos serviços de Saúde possuem coleta segregada dos demais resíduos, com obrigação de implantação de sistema de gerenciamento específico e de tratamento para eliminação do grau de periculosidade, para serem direcionados à disposição final. Em Santos, os resíduos de serviços de saúde são coletados por empresa terceirizada, com utilização de veículos adaptados. Não há cobrança de taxa de coleta, tratamento e destinação final para consultórios de profissionais da área de saúde, farmácias e drogarias, conforme Lei Complementar nº 454/2002. Esta isenção abrange, também, os estabelecimentos que gerem quantidades menores que dois litros de volume por coleta e/ou um quilograma de peso. 559 Após a coleta, os resíduos são encaminhados para tratamento por incineração, no município de Mauá/SP (empresa SILCON), sendo que o gerenciamento do contrato de coleta e destinação é realizado pela SSERP. Gráfico – Evolução da Coleta de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) – Município de Santos Fonte: Instituto Pólis, a partir de dados do PGIRS/Santos – 2012 Resíduos Flutuantes Outro aspecto diferenciado existente no município de Santos é a coleta de material flutuante de várias espécies. Estes resíduos são coletados por embarcações específicas – catamarãs – nos corpos d’água que compreendem as fronteiras com outros municípios da região metropolitana, como Guarujá e São Vicente. Esta ação teve início em 2008, é operacionalizada por empresa terceirizada e gerenciada pela SESERP, onde as embarcações percorrem o canal do estuário e a baía de Santos, com o objetivo de recolher os resíduos flutuantes antes de os mesmos adentrarem a Baía de Santos. Em média, são coletadas 06 toneladas de resíduos flutuantes por mês. Após a fase de coleta, o resíduo é encaminhado a píeres específicos pelas embarcações, dispostos em veículos coletores e transportados para a Estação de Transbordo, e posteriormente encaminhados ao Aterro Sanitário. Resíduos Portuários e de Transporte Os resíduos de portos, aeroportos e de terminais (rodoviários, ferroviários, alfandegários e instalações de passagem de fronteiras) possuem características semelhantes aos resíduos comerciais e domésticos. Entretanto, a legislação brasileira os classifica como resíduos que contêm riscos, semelhantes aos resíduos de serviços de saúde, indicando restrições, orientações e exigências quanto a seu manuseio, por serem originados em locais além das fronteiras nacionais, sem controle sanitário e/ou epidemiológico realizado por autoridade competente. Os dados obtidos são oriundos da Companhia Docas do Estado de São Paulo - CODESP, que informa que, os resíduos gerados na área do porto, são “coletados por empresa terceirizada, que disponibiliza caçambas e realiza a varrição das vias públicas e das áreas internas da administração portuária” (PGIRS - 2012), sendo encaminhados ao aterro sanitário do Sítio das Neves, no próprio município de Santos. Segundo a CODESP, o Porto de Santos gerou pouco mais de 30.000 toneladas de resíduos em 2010 – sendo que, deste total, cerca de 1.700 toneladas são provenientes da CODESP (administração portuária). De acordo com estes dados, foram geradas, no primeiro semestre de 2011, cerca de 12.000 toneladas de resíduos – proporcionalmente, uma quantidade 24% menor ao estimar a geração para o ano de 2011 (24.000 toneladas). A CODESP possui Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – revisado periodicamente e em processo de adequação às diretrizes da PNRS – com dados e indicadores sistematizados. No PGIRS de Santos também há referência aos resíduos gerados na Estação Rodoviária do município. Segundo estas informações, os resíduos gerados na estação de transporte são recolhidos pela coleta urbana Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 regular, com a mesma destinação dos resíduos sólidos domiciliares - direcionados ao transbordo e, em seguida, ao Aterro Sanitário. Disposição Final e Unidade de Transbordo/Transferência O histórico da gestão de resíduos sólidos em Santos indica que o município dispunha seus resíduos em aterro controlado situado no Bairro Alemoa, até 2003 – ano em que o mesmo foi interditado pelo órgão ambiental estadual (CETESB). Com o encerramento das atividades do aterro, o município promoveu a contratação dos serviços de empresa terceirizada, voltados à coleta e à disposição final dos resíduos em aterro sanitário licenciado, localizado na Rodovia Cônego Domênico Rangoni, próximo ao km 254, no Bairro Sítio das Neves. Esta unidade de disposição final recebe, atualmente, resíduos de outros 06 (seis) municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista. Figura – Localização dos aterros sanitários em Santos – Alemoa (desativado) e Sítio das Neves (atual) TransbordoAterro Sanitário Sítio das Neves - Santos Aterro desativado – Alemoa - Santos Fonte: Instituto Pólis a partir de Google – 2012 Para otimizar as viagens dos caminhões coletores, foi instalada Estação de Transbordo, em área contígua ao antigo aterro, no Bairro Alemoa, visando a transferência dos resíduos dos veículos coletores para veículos de maior capacidade, reduzindo o número de viagens até a unidade de disposição final. Este serviço, assim como o controle qualitativo e quantitativo (os resíduos são pesados para quantificação e medição dos serviços prestados pela empresa terceirizada) dos resíduos movimentados na Estação de Transbordo, são realizados pela empresa terceirizada, sob supervisão da SESERP. Segundo informações contidas no diagnóstico do PGIRS, “a área interna da Estação de Transbordo possui um pátio para a transferência de resíduos, cujo acesso a esta área apresenta boas condições de pavimentação, por serem fundamentais para a sua operação. O procedimento de utilização deste pátio de transbordo consiste na deposição do material coletado pelo caminhão coletor diretamente no pátio, em área coberta, para posterior carregamento no conjunto transportador e transporte ao Aterro Sanitário”. Esta não é a melhor técnica para transferência de resíduos em unidades desta natureza, pois os resíduos são dispostos no pátio para posterior carregamento nos veículos de maior capacidade (carretas). 561 Esta disposição no pátio, mesmo que concretado e impermeabilizado, permite que os resíduos gerados pelo início do processo de decomposição da fração orgânica escoem por este piso, demandando limpezas e higienizações constantes. Segundo informações contidas no PGIRS, há sistema de drenagem na unidade de transbordo, sendo que todo este sistema é “constantemente desobstruído e mantido em condições funcionais, de maneira a preservar as vias de acessos e o perfeito escoamento das águas captadas e coleta de líquidos lixiviados”. Figura – Vista da Unidade de Transbordo de Santos - aterro do Bairro Alemoa Fonte: Instituto Pólis a partir de Google – 2012 Passivos Ambientais Em Santos, são consideradas como passivos ambientais duas áreas: o antigo aterro controlado da Alemoa e o depósito de resíduos da CODESP – Companhia Docas do Estado de São Paulo. Aterro da Alemoa Segundo informações constantes do PGIRS de Santos, o antigo aterro está situado no Bairro Alemoa, próximo à zona portuária, e ocupa uma área de, aproximadamente, 310.000 m². Esteve operacional ao longo de um período de 30 anos – desde 1972 -, “sendo que o depósito dos resíduos ocorreu principalmente na porção central da área, gerando um desnível de aproximadamente 30 m (trinta metros) de altura”, correspondente a “mais de 5,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos oriundos da coleta regular (domésticos e comerciais), bem como provenientes da limpeza dos sistemas de drenagem pluvial do município e, possivelmente, alguns resíduos de origem industrial”. Segundo informações, a unidade foi implantada sem os devidos critérios técnicos, sem impermeabilização de fundo ou sistemas de captação de chorume e de gases – que foram instalados posteriormente, em fase de adequação de sua operação como aterro controlado. A área foi desativada em Janeiro de 2003, em razão de ação do Ministério Público do Estado de São Paulo, através da formalização de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), estando, na atualidade, em fase de definição das técnicas de recuperação ambiental da área, após a realização de estudos de avaliação ambiental. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Figura – Vista do antigo aterro do Bairro Alemoa Fonte: Instituto Pólis a partir de Google – 2012 Depósito de Resíduos da CODESP A área da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) situa-se dentro dos limites do chamado “Porto Organizado”, ocupando uma área de, aproximadamente, 290.000 m². Foi desativada em 2.003, a partir da ação do Ministério Público estadual, através de um Termo de Ajustamento de Conduta. Segundo informações do PGIRS de Santos, a área foi utilizada para deposição de resíduos ao longo do período de 50 anos, sendo depositados todos os tipos de resíduos originados no porto, incluindo resíduos contaminados, sem o devido tratamento (resíduos químicos, cargas orgânicas, etc.). O PGIRS cita dados que integram o Relatório de Avaliação da Gestão Ambiental do Porto de Santos, datado de 2006, indicando a realização de estudos pela CODESP para o aproveitamento da área para operação de terminais de granéis líquidos, afirmando que seriam “repassados às empresas interessadas a responsabilidade de promover os estudos, o licenciamento e remediação dos passivos presentes” – proposta inviabilizada pelos órgãos competentes. Ainda segundo informações contidas no PGIRS, citando um sítio eletrônico (Brasil Comex), “a Brasil Terminal Portuário (BTP) iniciaria a recuperação ambiental da área do antigo depósito de resíduos para permitir a instalação de um terminal marítimo multiuso na gleba”. Ainda em conformidade com o referido sítio eletrônico, “a intervenção escolhida é a de remoção e .......... transporte do material contaminado para um aterro em Caieiras, ao invés de segregar e lavar o solo contaminado, permitindo melhor gerenciamento das águas no local e reduzindo riscos de contaminação cruzada”. Segundo informações da CODESP, através de sua assessoria de comunicação em 12 de abril de 2012 (conforme indica o conteúdo do PGIRS), foi anunciada “a conclusão dos trabalhos de recuperação ambiental da área onde está sendo instalado o novo terminal da empresa, com a previsão para início das atividades comerciais do terminal para o primeiro trimestre de 2013”. Estas informações não puderam ser ratificadas, mas, caso correspondam à realidade, esta área deixará de compor o rol de passivos ambientais do município, relacionadas à gestão de resíduos sólidos. 563 11.4.3 Orçamento Em relação aos custos para a gestão dos resíduos sólidos, segundo informações disponibilizadas pelos gestores locais, as despesas correspondem a cerca de 5 a 6% do orçamento municipal – da ordem de R$ 1,6 bilhão, em 2011. Isso representa custos entre R$ 80 e 95 milhões anuais, correspondendo a um custo médio per capita anual de R$ 225,00, ou R$ 18,75 por mês. Buscando promover análise comparativa com o cenário nacional e da região Sudeste, foram levantados dados relativos aos custos de manejo de resíduos sólidos, em especial junto ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) - ano base 2009. De acordo com o SNIS, a despesa total com o manejo dos resíduos sólidos urbanos (por região do país), quando rateada pela população local, resulta em um valor médio anual de R$ 72,25 por habitante, partindo de um patamar inferior de R$ 53,40 por habitante na região Sul, chegando a R$ 85,14 por habitante na região Centro-Oeste, como patamar superior, como demonstra a tabela a seguir. Tabela – Custos per capita com Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – Brasil (Regiões) despesas per capita com manejo de RS Região quantidade de municípios mínimo máximo indicador médio (R$/hab/ano) (R$/hab/ano) (R$/hab/ano) Norte 52 12,59 145,15 58,39 Nordeste 255 12,38 192,61 69,20 Sudeste 463 13,09 202,23 78,46 Sul 446 12,24 211,27 53,40 Centro Oeste 90 13,39 172,20 85,14 1306 72,25 Fonte: SNIS - 2010 Comparativamente aos dados nacionais, os valores obtidos em Santos são compatíveis com o extrato mais alto das despesas per capita identificadas no levantamento nacional (R$ 211,27 para a região Sul e R$ 202,23 para a região Sudeste), conforme ilustra o gráfico a seguir. Gráfico – Custos/Despesas per capita por Região do país e Santos – em Reais Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Instituto Pólis, com base em dados do SNIS Consideradas as médias nacional (Brasil) e regional (Sudeste) – de R$ 72,25/hab/ano e R$ 78,46/hab/ano, respectivamente -, Santos está 213% acima da primeira e 188% acima da média do Sudeste. Estes resultados permitem identificar a origem destes altos custos, relacionados, principalmente, às atividades de transporte e de disposição final (aterramento) dos resíduos sólidos domiciliares coletados. Em Santos, apesar de a unidade de disposição final localizar-se no próprio município, esta é de propriedade e gerenciada pela iniciativa privada, e situa-se quase na divisa com o município de Cubatão, demandando grandes distâncias entre os pontos de coleta, a unidade de transbordo e o aterro sanitário – estimada em 32 quilômetros, em média. Segundo informações dos gestores locais, em 2011 foram realizadas 9 mil viagens, totalizando uma distância percorrida de 536 mil quilômetros. De acordo com estudos técnicos desenvolvidos no âmbito acadêmico e técnico219, a parcela de custos relacionada ao transporte de resíduos (frete) é significativa, somada aos custos relativos à disposição final. A figura a seguir demonstra o caminho percorrido pela maior parte dos veículos utilizados na coleta de resíduos domiciliares, no município de Santos. Figura – Localização das unidades de disposição final e transbordo de resíduos - Santos 219 Estudos do CEFET/MG, UFSCar, UFSC, dentre outros. 565 Aterro Alemoa Aterro Sítio das Neves Setor de coleta Roteiro pós-coleta Fonte: Instituto Pólis, com base em Google - 2012 Coleta seletiva e usina de triagem A coleta seletiva em Santos foi mais intensa e com maiores resultados que atualmente. Segundo histórico levantado junto aos gestores locais e às organizações e fóruns da sociedade civil, a coleta seletiva teve início em 1990, através de ações realizadas pela PRODESAN, com coleta semanal, no modelo porta a porta. Após a coleta, os materiais eram encaminhados para a usina de separação localizada no bairro Alemoa – próxima ao antigo aterro. Segundo os gestores locais, estas ações ainda permanecem, mas em volume menor que nos anos anteriores, em programa desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Este programa buscou a inclusão de portadores de necessidades especiais (em número de 60 – sessenta), os quais recebiam salário e cesta básica, sendo assistidos por médicos, psicólogos e assistentes sociais com supervisão e acompanhamento da Secretaria da Saúde. Para trabalhar na usina, todo o grupo foi organizado numa cooperativa chamada Mista Paratodos. Atualmente, trabalham também 23 ex-catadores do antigo aterro da Alemoa. Nesta mesma área, há um galpão sendo construído com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento – recursos do Governo Federal). Ainda segundo informações dos gestores locais, as atividades desenvolvidas no local incluem a triagem dos materiais recicláveis coletados pela empresa TERRACOM, supervisionada pela PRODESAN, que também controla a comercialização dos materiais, em venda que ocorre a cada quatro meses, por tipo de resíduo reciclável. Segundo informações constantes do PLANSAN, mas não confirmadas pelos gestores locais, “o valor arrecadado é depositado em favor da Prefeitura Municipal que repassa à Cooperativa, como forma de pagamento, valores fixos, ou seja, não variam em função das quantidades efetivamente separadas na esteira”. Também de acordo com dados contidos no diagnóstico do PLANSAN, no ano de 2001 foram coletadas, em média, 121 toneladas de material reciclável por mês, resultando num total anual de 1.452 toneladas. Mas, como demonstrado pelas informações indicadas no item referente à gestão de resíduos sólidos em Santos, a coleta de materiais recicláveis passou por momentos de decréscimo, atingindo níveis abaixo dos alcançados em 2001, passando a ser crescentes a partir de 2006, chegando a quase 4.500 toneladas em 2011. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Apesar deste crescimento (267%, se comparados os dados de 2005 e 2011), a coleta seletiva em Santos ainda não atinge a marca de 2% do total de resíduos sólidos domiciliares coletados, considerando os dados mais atuais - de 2011 (258.500 toneladas). Como forma de alavancar a coleta seletiva no município, em 2008 a SEMAM implantou programa interno de coleta seletiva em todas as secretarias e demais órgãos da prefeitura, incluindo escolas públicas, com a criação de grupos setoriais e colocação de lixeiras específicas. Os resultados ainda não atingiram a participação da totalidade das unidades municipais, mas algumas têm tido desempenho satisfatório. Mas, em relação às ações voltadas à inclusão e à geração de oportunidades de trabalho e renda, ainda há o que avançar. Houve, há cerca de 10 anos, parceria entre a Prefeitura local e uma cooperativa denominada COMARES (Cooperativa de Materiais Recicláveis de Santos). Esta organização de catadores/as de material reciclável foi estruturada e formalizada em 2003, atuando principalmente no Jardim Bom Retiro. Segundo relatos de remanescentes da cooperativa, em 2005, com a mudança administrativa no comando do município, o apoio da Prefeitura foi reduzido. Isso acabou por comprometer a estrutura da cooperativa, restando poucas atividades, restritas ao esforço individual de algumas pessoas, como uma das catadoras ouvidas. Segundo relato dela, ainda “puxa carrinho”, realizando a coleta porta a porta de segunda-feira a sábado, junto a casas e estabelecimentos comerciais parceiros. Ela mesma faz a triagem, comercializando a maior parte dos materiais coletados junto a sucateiros e ferros-velhos, e alguns outros materiais, em condições de uso, na feira do “rolo”. Os catadores remanescentes desta cooperativa firmaram acordo com o município de São Vicente e estão trabalhando naquele município, em área mais próxima à divisa com Santos, utilizando veículo (caminhão) cedido pela Prefeitura de São Vicente. Segundo informações deste grupo, existem outros grupos de catadores, como o denominado “CHOCOLATE” e outro vinculado à ONG Sem Fronteiras. De acordo com manifestação deste grupo remanescente da COMARES, “a coleta seletiva oficial em Santos é feita pela TERRACOM, que encaminha os materiais recicláveis para um galpão improvisado – onde falta estrutura e organização - havendo competição com catadores autônomos”. Apontam falhas na gestão local de resíduos, exemplificando com os descartes irregulares e a situação de falta de limpeza em parte da cidade, como na “Favela da Maré”. Quando perguntados sobre desejos e visão de futuro, responderam de forma direta que desejam a melhoria e a ampliação do programa de coleta seletiva, com melhor estruturação para a coleta, a triagem e a comercialização dos materiais recicláveis. Desejam, também, incremento das ações de educação ambiental, voltadas à conscientização e à ampliação da participação da população, seja ela residente ou visitante, além da ampliação das oportunidades para agregação de valor dos materiais, como por exemplo, a implantação de unidade de fabricação de vassoura a partir de garrafas PET. Indicam, por fim, apoio da municipalidade no sentido de regular o mercado visando ampliar o aproveitamento dos materiais sem valor de mercado (o conhecido “mistão” – resíduos misturados e com perda de condição de pureza ou de características específicas), além de intervir no mercado, exigindo do setor privado a produção de produtos mais amigáveis para a reciclagem, incentivando a cadeia econômica. Segundo eles, o Poder Público teria papel importante no estabelecimento de benefícios fiscais seletivos, sem deixar de apoiar a organização dos catadores, assim como na fiscalização sobre o funcionamento dos ferrosvelhos. 567 11.4.4 Análise do município da perspectiva de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade socioambiental e econômica em diálogo com as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos Pelas entrevistas e pelos documentos acessados – referentes à gestão de resíduos sólidos -, foi possível identificar que o município de Santos possui condições satisfatórias na prestação dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. Entretanto, foi identificada necessidade de melhoria das ações de coleta seletiva, voltadas ao fomento e incremento da reciclagem e do reaproveitamento dos resíduos sólidos gerados. O município possui Plano de Gestão Integrada de Resíduos (PGIRS), elaborado em 2012, que apresenta o conteúdo mínimo exigido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas sem a participação social indicada pela referida política. Santos possui organizações da sociedade civil extremamente atuantes e formadas por representantes de diversos segmentos (técnicos, acadêmicos e sociais), capazes de contribuir na elaboração e na implantação das diretrizes e das ações propostas. O município apresenta aspectos particulares (comparativamente aos demais do litoral paulista, também parte dos estudos elaborados no âmbito do projeto), como os impactos relativamente reduzidos pelo aumento da geração de resíduos causados pelo fluxo de turistas na época de alta temporada (verão) – aumento este estimado em 4 a 5% do total gerado mensalmente. Este resultado indica que a maior parte da população santista é efetivamente residente, com perfil de consumo muito semelhante ao dos visitantes. Outro aspecto diferenciado em Santos é em relação aos resíduos gerados no Porto, cujo gerenciamento é da própria unidade portuária. Entretanto, o fluxo de cargas e de veículos de grande porte acaba gerando problemas de deposição irregular de resíduos nas vias de acesso ao porto, como restos de caixas de madeira, sobras de cargas (como grãos, cascas e outros resíduos similares), cuja limpeza recai sobre a estrutura de limpeza urbana municipal. Um dos aspectos da gestão de resíduos que impacta significativamente nos custos operacionais é a distância entre os pontos de coleta e a unidade de disposição final. Apesar de o aterro sanitário estar localizado no território municipal e haver unidade de transferência de resíduos (Estação de Transbordo), os veículos percorrem grandes distâncias – chegando, segundo relato dos gestores locais, a um total de 09 mil viagens no ano de 2011, correspondendo a uma distância de 536 mil quilômetros. Considerando que o frete é um dos itens de maior custo, é notório que este aspecto impacta significativamente nos custos da gestão e do manejo de resíduos sólidos em Santos, fazendo com que o município se aproxime das médias máximas estimadas para o cenário nacional e para o da região Sudeste. O município atua de forma corretiva no gerenciamento dos resíduos da construção civil, o que também contribui para os altos custos nos itens referentes à limpeza urbana. Segundo levantamentos efetuados nestes estudos, Santos não possui plano específico para tratar destes resíduos, nem previsão para implantação de unidades de apoio, como PEVs ou Ecopontos, para receber os resíduos gerados em pequenas reformas, oferecendo alternativas para a população. Com relação aos passivos ambientais, cabe destacar que a antiga área de disposição final existente no Bairro Alemoa, demanda ações corretivas, voltadas à recuperação ambiental do local. Atualmente, o local abriga a unidade de transbordo, uma área de deposição transitória de outros resíduos (como madeira e volumosos), e outros serviços relacionados à limpeza urbana. Em relação à coleta seletiva, há necessidade de resgate da parceria com as organizações de catadores/as de material reciclável, incrementando as ações por todo o município. Este aspecto é relevante, considerando a importância destas ações na redução do impacto sobre a massa que é destinada ao aterro sanitário, do número de viagens e do volume de resíduos dispostos no local. Como informado ao longo deste relatório, Santos teve iniciativa de coleta seletiva com resultados satisfatórios para a cidade, com atividades de caráter inclusivo, voltadas à geração de trabalho e renda. Entretanto, esta iniciativa acabou por ser desestruturada, sendo muito pouco representativa no cenário local – ilustrado pelo baixo percentual do impacto da coleta seletiva no conjunto de resíduos coletados e dispostos em aterro (menos de 2%). Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Estas informações ilustram alguns aspectos que demandam atenção dos gestores considerando as metas e exigências constantes da PNRS – como a implantação do PGIRS, após discussão e participação do conjunto da sociedade santista sobre o conteúdo proposto. Tal procedimento propiciará, ao município de Santos, melhoria significativa dos indicadores de gestão de resíduos. A implantação do PGIRS poderá orientar os investimentos na implantação de unidades de manejo de resíduos sólidos (PEVs/Ecopontos, Áreas de Triagem e Transbordo de resíduos da construção civil, dentre outras), o estabelecimento de mecanismos de controle das fontes geradoras de resíduos, a ampliação dos mecanismos de monitoramento dos serviços prestados pelas empresas contratadas, assim como no fortalecimento das parcerias com as cooperativas. Se efetivamente implantadas as ações indicadas no PGIRS, poderão impactar positivamente nos custos atuais de manejo de resíduos sólidos, reduzindo-os a patamares aceitáveis para a municipalidade e, consequentemente, para a população local. A gestão associada com outros municípios também pode ser considerada como um objetivo a ser alcançado, considerando as características das cidades da Baixada Santista e as restrições de caráter ambiental existentes, somados à tendência de aumento da população residente. O consorciamento permitirá o compartilhamento de uma série de serviços, ações e atividades, além de instalações, equipamentos e profissionais técnicos, podendo reduzir custos e otimização dos recursos – materiais, financeiros e humanos. De acordo com o exposto, Santos possui amplas condições para reverter o cenário atual, de maneira a que o município possa contribuir para o atingimento das metas nacionais de redução na geração de resíduos sólidos, de reciclagem e reaproveitamento. 11.5. Saneamento e resíduos sólidos na legislação municipal A Lei Orgânica de Santos (1990) prevê algumas diretrizes relacionadas à política de saneamento e resíduos sólidos. Com efeito, dispõe o art. 175 que “[...]as ações de saneamento, executadas em consonância com o Estado, devem prever a utilização racional da água, do solo e do ar, de modo compatível com a preservação e melhoria da qualidade da saúde pública e do meio ambiente”. No que se refere aos empreendimentos no Município, dispõe o art. 176 que: “a lei estabelecerá política de ações, visando a impedir que loteamentos e conjuntos habitacionais sejam construídos e ocupados sem o funcionamento adequado das redes de água potável e dos sistemas coletores de esgotos, com seus respectivos tratamentos e drenagem” Em relação à política de saneamento e resíduos sólidos a legislação municipal reconhece a necessidade de se estabelecer a cooperação entre os entes federativos, por meio de convênios e consórcios (art. 7º parágrafo único e art. 171 da LOM). Vale notar que os convênios com entidades públicas ou particulares e consórcios que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio municipal deverão ser autorizados pela Câmara de Vereadores do Município com a sanção do Prefeito. (art. 20, XX, LOM). Sobre a implementação de políticas públicas de maneira mais geral, cumpre salientar que a prestação de serviços públicos pelo Município é direta ou sob o regime de concessão ou permissão e será regulada por lei complementar (art. 99, LOM) e que é vedada a instituição de fundo de qualquer natureza sem prévia autorização legislativa (art. 117, IX, LOM). Sobre a política de saneamento e de resíduos sólidos, o plano diretor de Santos estabelece como objetivo do Plano de Sustentabilidade a necessidade de se promover a atualização do plano municipal de saneamento (art. 14, inciso III, alínea “g”). Determina também a necessidade de se promover a inserção de 569 associações e cooperativas de catadores na política pública de gestão e de se desenvolver plano municipal de gestão de resíduos (alínea “f”). Com efeito, a atual Política Nacional de Saneamento Ambiental (Lei Federal nº 11.447/07; Decreto Federal nº 7.217/10) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305/10; Decreto Federal nº 7.404/10) determinam que a existência de planos de saneamento e resíduos sólidos é condição para o acesso a recursos da União. No caso do saneamento, a partir de 2014 a existência de plano de saneamento básico será condição para acesso aos recursos federais destinados a saneamento. Para o caso dos resíduos sólidos o prazo é agosto de 2012. Ressalte-se que o processo de elaboração dos planos de saneamento e resíduos deve ser participativo, garantindo-se a gestão democrática das políticas públicas. Por fim, vale notar que a Lei de uso e ocupação do solo da área continental prevê uma zona específica que possibilita a disposição final de resíduos sólidos. É a Zona de Suporte Urbano I (art. 10, Lei complementar municipal nº 729/2011). 12. SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR 12.1.Segurança Alimentar e Nutricional (SAN ) Com exceção da presença de um equipamento público de acesso à alimentação – o restaurante popular, e dos programas básicos de proposição federal, não se observa em Santos outros elementos de composição de um sistema municipal de segurança alimentar e nutricional. Pela realidade dos problemas ou pelo potencial existente, o município tem condições de articular ações em todos os eixos da segurança alimentar e nutricional, principalmente na área do abastecimento, onde não mais se justifica nos tempos de hoje, a existência de um mercado a céu aberto. É preciso aprofundar a difusão do tema junto à gestão e à sociedade civil local, visando a elaboração de estratégias para a estruturação de ações que garantam o direito humano à alimentação. 12.1.1. Rede Operacional de Programas - políticas, programas e ações do setor público municipal e sociedade civil segundo os seguintes eixos: acesso à alimentação; produção e abastecimento agroalimentar; educação e cultura alimentar; povos e comunidades tradicionais; alimentação e nutrição no nível da saúde. De início foi realizada uma busca de informações pela internet para levantamento de programas existentes. Posteriormente, os dados secundários referentes à situação dos programas foram coletados através da realização das entrevistas relacionadas abaixo: ENTREVISTAS REALIZADAS 1 Colônia de Pescadores de Santos: participação dos pescadores artesanais nas políticas de SAN e outras; 2 Mercado Municipal - Departamento da Administração da Região Histórica - Secretaria Municipal de Serviços Públicos 3 Secretaria Municipal de Educação: Diretoria de Alimentação Escolar, Levantamento das políticas públicas federais, estaduais e municipais para alimentação escolar; 4 Secretaria de Assistência Social: Departamento de Proteção Básica: Levantamento das políticas públicas de transferência e geração de renda; 5 Secretaria da Saúde: Levantamento dos dados do Sisvan; 6 Secretaria da Fazenda, Setor de Fiscalização do Comércio: levantamento sobre feiras livres; Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 7 Conselho de Alimentação Escolar: sobre a composição e funcionamento do Conselho quanto ao acompanhamento das políticas públicas voltadas para alimentação escolar/SAN; 8 Conselho Municipal de Assistência Social: sobre a composição e funcionamento do Conselho quanto ao acompanhamento das políticas públicas de SAN; 10 Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Casa da Agricultura de Santos, levantamento das políticas de produção agropecuária, pesca e comercialização; Cabe lembrar que o marco conceitual definido inicialmente pelo projeto, contempla uma visão de segurança alimentar e nutricional que vai além da dimensão emergencial da assistência alimentar, abarcando os eixos da produção e do abastecimento; da cultura e educação; do consumo e da saúde. Entende como fundamental a integração dos programas, com vistas à construção de uma política municipal de segurança alimentar e nutricional, sob a ótica do Direito Humano à Alimentação. A política municipal, construída por meio de uma melhor articulação da rede operacional dos programas e ações, ao lado do sistema de ação política, composto pelo conselho municipal, pela conferência e pelo órgão intersecretarias, configuram os componentes do Sistema Municipal de SAN, articulador desta política pública. Os eixos e setores do Quadro I abaixo, que orientaram a localização dos programas, ações e projetos, foram definidos, com base nas diretrizes e objetivos do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 2012/2015. São eles: Quadro I – Eixos e Setores de Segurança Alimentar e Nutricional 1.1 Transferência de Renda 1. Acesso à alimentação 1.2 Oferta de alimentação escolar adequada e saudável 1.3 Implantação e qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição e distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos; 2.1 Implantação e qualificação de equipamentos e serviços de apoio à produção e ao abastecimento; 2.2 Estímulo à participação dos agricultores familiares, povos tradicionais e pescadores artesanais no abastecimento da rede sócio assistencial e dos mercados institucionais; 2.3Ampliar o acesso e qualificar os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural; 2. Produção e Abastecimento Agroalimentar 2.4 Promoção da inclusão de produtiva de comunidades indígenas e quilombolas; 2.5 Promover a autonomia das mulheres por meio da inclusão na produção e gestão; 2.6 Promover a produção, extração e processamento de alimentos agroecológicos; 2.7 Fomentar e estruturar a produção de pescadores artesanais e aquicultores familiares; 2.8 Garantir a qualidade higiênico-sanitária dos produtos da agroindústria familiar para possibilitar sua comercialização no mercado formal – Sistemas de Inspeção/SUASA; 3. Educação, Formação e Pesquisa 3.1Processos de Educação e Formação em SAN 3.2 Promover ações de SAN e controle social do PNAE no ambiente escolar 3.3 Fomento à sociedade civil organizada e organização de rede social voltada à SAN 4.1 Certificação e Regularização Fundiária de Comunidades Quilombolas e Indígenas 4.SAN dos Povos e 4.2 Desenvolvimento Sustentável, autonomia e SAN dos povos indígenas Comunidades 4.3Etnodesenvolvimento - uso sustentável da biodiversidade e valorização dos produtos da Tradicionais sociobiodiversidade 4.4 Promoção da saúde, alimentação e nutrição dos povos indígenas, quilombolas e demais PCT 571 5.1 Controle e prevenção de agravos e doenças 5. Alimentação e 5.2 Promover o Controle e a regulação de Alimentos Nutrição no nível 5.3 Nutrição na rede de atenção à saúde. da Saúde 5.4 Vigilância alimentar e nutricional Os programas identificados no município de Santos foram classificados no Quadro II, segundo o eixo de atuação e os setores envolvidos. Mais à frente, os programas serão analisados, separadamente, segundo os critérios de institucionalidade; complementaridade, continuidade, etc. e, ao final serão realizados comentários gerais sobre o quadro dos programas e sobre o sistema de ação política. Quadro II - Programas existentes Programa Proponente Unidade Gestora Eixo de SAN Setor Programa Bolsa Família Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) Secretaria Municipal de Assistência Social 1. Acesso à Alimentação 1.1.Transferência de Renda 2 Renda Cidadã Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social Secretaria Municipal de Assistência Social 1. Acesso à Alimentação 1.1. Transferência de Renda 3 Inclusão Cidadã Fênix Prefeitura Municipal de Santos Secretaria Municipal de Assistência Social 1. Acesso à Alimentação 1.1. Transferência de Renda 4 Programa Nacional de Alimentação Escolar Ministério da Educação Secretaria Municipal da Educação 1. Acesso à Alimentação 1.2. Oferta de alimentação escolar adequada e saudável 1. Acesso à Alimentação 1.3. Implantação e qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição e distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos 1 5 6 7 Restaurante Bom Prato Viva Leite Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social Secretaria de Segurança Alimentar e Combate à Fome Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social Departamento da Administração Regional da Zona Noroeste/Secretaria de Serviços Públicos 1. Acesso à Alimentação 1.3. Implantação e qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição e distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos Ministério da Saúde Secretaria da Saúde 5. Alimentação e Nutrição no nível da Saúde 5.4. Vigilância alimentar e nutricional Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 12.2.1.a. Acesso à alimentação O eixo do acesso à alimentação constitui uma das diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN). Na medida em que previne a insegurança alimentar, incluindo a fome, constitui uma das dimensões básicas da SAN. São vários os fatores que comprometem o acesso aos alimentos e nesta medida, os setores contemplados por esse eixo são compostos pelos programas de: transferência de renda; oferta de alimentação escolar adequada e saudável e; Implantação e qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição e distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos. Dentre os programas identificados, seis são relacionados ao eixo do Acesso à Alimentação, a saber: Programa Bolsa Família, Renda Cidadã, Programa Inclusão Cidadã Fênix, Programa Nacional de Alimentação Escolar, Restaurante Bom Prato e Programa Viva Leite. 12.2.1.a.1 Programas de Transferência de Renda Programa Bolsa Família O Programa Bolsa Família é um programa federal de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada e possui três eixos principais: transferência de renda, condicionalidades e programas complementares. A execução é municipal, inclusive do acompanhamento das condicionalidades. O cadastro também é referencia para outros programas, pois muitas famílias não se enquadram no programa, mas em outros benefícios tais como: carteira do idoso, tarifa social ou taxa do INSS e outros. O cadastro dos beneficiários do Bolsa Família é compartilhado com as Secretarias da Saúde e Educação, que respondem pelo acompanhamento das suas condicionalidades. Na Saúde as condicionalidades referentes à vacinação, o crescimento e desenvolvimento das crianças menores de 7 anos, mulheres gestantes ou nutrizes (lactantes)na faixa de 14 a 44 anos também devem fazer o acompanhamento, o pré-natal e o acompanhamento da sua saúde e do bebê. Na Educação as condicionalidades são referentes à frequência escolar mensal das crianças e adolescentes. Em abril/2012 havia 13.334 famílias cadastradas no CadÚnico e em julho de 2012 foram 7.486famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. Programa Renda Cidadã O Programa Renda Cidadã é estadual e, de acordo com o sítio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, é um programa de transferência de renda com condicionalidades e ações complementares. É executado pelo município e existem 229 famílias beneficiárias em Santos. As condicionalidades do Programa Renda Cidadã são as mesmas do Programa Bolsa Família relativas à educação, saúde e participação em programas de geração de renda. Projeto Municipal “Inclusão Cidadã- Fênix” O projeto de inclusão Cidadã-Fênix foi criado pela lei 2.291, de 23 de dezembro de 2004, e regulamentado por meio do decreto 4.378, em 28 de março de 2005. Tem por objetivo promover a inclusão social da população em situação de rua. O programa é oferecido somente a munícipes, já que as pessoas em situação de rua, oriundas de outras cidades, recebem passagens para voltar aos seus locais de origem. Destina-se ao atendimento de pessoas com idade entre 18 e 65 anos, por meio da preparação e colocação profissional no mercado de trabalho. O Programa é executado pela Secretaria de Assistência Social em parceria com diversas 573 Organizações não Governamentais conveniadas onde os beneficiários realizam atividades práticas recebendo uma bolsa auxílio de um salário mínimo, cesta básica e seguro de vida. 12.2.1.a.2. Programas de Oferta de Alimentação Escolar Adequada e Saudável Programa Nacional de Alimentação Escolar O Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, do Ministério da Educação, foi criado pelo Decreto 37.106, de 1955. No nível municipal, é a Secretaria da Educaçãoa responsável pela execução do programa, que tem o objetivo de atender as necessidades nutricionais dos alunos da rede pública municipal, contribuindo para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Em Santos a execução do PNAE é realizada diretamente pelo poder público por meio da Coordenação de Merenda Escolar que possui duas seções: Seção de Nutrição e Seção de Almoxarifado. É responsável pela alimentação escolar de 68.533 alunos em 82 escolas municipais, 24 estaduais e 50 entidades assistenciais (Quadro XX abaixo), totalizando aproximadamente 117 mil refeições por dia. Quadro III – Número de alunos atendidos pelo Unidades Creches EMEI EMEF Mais educação Ensino Médio Educação de Jovens e Adultos Entidades Assistenciais TOTAL Número de 3.015 6.984 32.330 300 16.277 1.990 7.637 68.533 Fonte: Coordenação de Merenda Escolar – Secretaria da Educação do Município de Santos Os recursos destinados à alimentação escolar estão descritos no Quadro IV abaixo. Quadro IV - Origem dos recursos para Alimentação Escolar Origem Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Cota Salário – Educação/FNDE Departamento de Suprimento Escolar/Secretaria da Educação Município estimativa para 2012 Total Valor R$ R$3.821.034,00 R$1.500.000,00 R$1.375.350,00 R$3.500.000,00 R$10.196.384,00 Fonte: Coordenação de Merenda Escolar – Secretaria da Educação do Município de Santos A compra dos alimentos não perecíveis é realizada por licitação com entrega de forma centralizada no depósito da merenda escolar. A preparação dos alimentos é realizada nas escolas. As cozinheiras, que são cerca de 360, são contratadas pela prefeitura. Houve concurso público para substituir as cozinheiras contratadas por servidoras, nessa primeira fase contrataram 189 e continuarão substituindo as contratadas por concursadas. No momento estão em processo de capacitação das novas cozinheiras. Há treinamentos de seis em seis meses. A Coordenação possui 14 nutricionistas que percorrem as escolas do município, dividida em setores. As entidades são visitadas uma vez por mês para verificação das condições de armazenagem, higiene, etc. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 São elaborados quatro tipos de cardápios: Creche, Emei, Emef tempo parcial/integral, estaduais. A própria Coordenação realizou uma avaliação dos cardápios onde se verificou que do ponto de vista de qualidade, estão além do prescrito na Resolução nº 38 do FNDE. Na análise do cardápio Infantil e das creches destaca-se como pontos positivos a presença de todos os grupos de alimentos, a oferta de 8 refeições, sendo que nas creches há frutas todos os dias. Como pontos negativos cita-se a oferta de embutidos e enlatados e a monotonia do café da manhã. Nas EMEI/EMEF a adequação do horário é um ponto de destaque, mas há pouca oferta de fruta e a presença de enlatados e embutidos . Já no cardápio estadual, há a oferta de todos os grupos de alimentos, mas às segundas é servido lanche, no lugar de refeição. As nutricionistas elaboram os cardápios e a relação de produtos para serem licitados pela Seção de Compras. Em relação à Lei 11.947, referente à aquisição de produtos da agricultura familiar, realizaram seis chamadas públicas entre 2011 e 2012. Por meio da Chamada Pública, as entidades executoras publicam a demanda de aquisição de gêneros alimentícios da Agricultura Familiar para Alimentação Escolar, em jornal de circulação local, estadual ou nacional, quando houver, além de divulgar em seu sítio na internet ou na forma de mural em local público de ampla circulação. É um processo de formalização de dispensa de licitação onde a compra se baseia em preços de referencia obtidos, no mercado varejista ou no mercado atacadista, a depender montante repassado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para o município. Os produtos incluídos nas chamadas foram sucos, óleo, ovos e hortícolas, mas as chamadas foram desertas, embora cooperativas cheguem a enviar amostras e se comprometam a participar. Não se adquire peixe dos pescadores locais. Existem oito hortas escolares implantadas em parceria com a Casa da Agricultura da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, para crianças entre 4 e 9 anos. Os professores responsáveis pelas atividades com as hortas escolares recebem um treinamento de um dia sobre preparação de canteiros, compostagem e outros temas que é realizado no Jardim Botânico de Santos. A Secretaria Municipal de Educação adquire as ferramentas e insumos e gratifica os professores com acréscimo de horas aula/mês pelo envolvimento com a atividade extracurricular. Houve uma campanha de educação alimentar com os personagens da turma do Mauricio de Souza onde foram elaboradas três publicações, uma de atividades, uma de histórias e outra de receitas. 12.2.1.a.3 Programas de Implantação e qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição e distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos Neste setor encontramos dois programas estaduais, o de restaurantes populares “Bom Prato” e o de distribuição de alimentos Vivaleite. Houve articulação para implantar o Banco de Alimentos - BA, mas não aconteceu. Equipamentos de SAN Entre as iniciativas de SAN encontradas nos levantamentos de dados sobre o município de Santos encontramos os restaurantes populares. Restaurante popular 575 Desde 2005, Santos conta com uma unidade do restaurante “Bom Prato” na Praça Iguatemi Martins, s/nº, ao lado do Mercado Municipal foi instalado em 2005 e fornece atualmente cerca de 1.200 refeições diárias, de segunda a sexta-feira. O equipamento é gerenciado pela Associação de Promoção e Assistência Social Estrela do Mar, em um convênio com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e a Prefeitura. A segunda unidade do “Bom Prato” foi instalada em maio de 2012 na Zona Noroeste – Av. Nossa Senhora de Fátima, 517. Essa região do município que possui mais de 100 mil habitantes, e esta unidade será uma das primeiras no Estado a disponibilizar 300 cafés da manhã pelo valor de R$0,50 aos usuários. Para viabilizar a unidade, a Prefeitura firmou parceria com o Governo do Estado e a Organização NãoGovernamental Associação Estrela do Mar. O Município investiu R$ 400 mil na reforma do prédio e está arcando com a despesa mensal de R$ 45.666,00, referente a aluguel, água, luz e repasse para a entidade responsável pelo funcionamento do restaurante. O Estado aplicou R$ 240 mil nos equipamentos, utensílios e mobiliário, e investirá cerca de R$ 40.800,00 por mês. Programa Viva Leite O Viva Leite é um programa estadual de distribuição gratuita de leite fluído, pasteurizado e enriquecido, para crianças de 6 meses a 6 anos e 11 meses de idade pertencentes a famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Sua coordenação é da Secretaria de Estadual de Desenvolvimento Social e a execução é realizada pelo município. Em Santos é gerenciado pelo Departamento da Administração Regional da Zona Noroeste -DearZNO ligado à Secretaria de Serviços Públicos. As inscrições de, no máximo, dois filhos por família, podem ser feitas nas regionais da Zona Noroeste (Av. Nossa Senhora de Fátima, 456, Chico de Paula), dos morros (Av. Santista s/nº, Nova Cintra), da área continental (Praça das Palmeiras s/nº, Caruara) e no Mercado Municipal (Praça Iguatemi Martins s/nº, Centro Histórico). A distribuição do leite acontece às segundas, quartas e sextas-feiras, em 22 pontos da cidade, mediante a apresentação da carteirinha que comprova o cadastramento da criança. Segundo o sitio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social existem 2.094 crianças beneficiadas no município. A condicionalidade estabelecida é a retirada do leite pelas mães nos dias marcados, a participação em palestras e a manutenção da vacinação em dia e do cadastro atualizado. O limite de tempo é dado pela idade da criança. Rede de apoio da Assistência Social A Seção de Nutrição da Secretaria Municipal de Assistência Social atende 26 entidades, aproximadamente 1.600 pessoas por dia, com refeições e/ou lanches em centros de convivência de idosos, de crianças, centros da juventude, abrigos, casa de passagem, abrigo de mulheres vitimizadas, etc. Em sete unidades são servidas em torno de 300 refeições preparadas na cozinha piloto da Seção onde conta com oito funcionários, sendo pelo menos quatro cozinheiras concursadas. 12.2.1.b. Produção e Abastecimento Alimentar O eixo da produção e abastecimento alimentar constitui outra diretriz da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN). Ele engloba os setores de: Implantação e qualificação de equipamentos e serviços de apoio à produção e ao abastecimento; Estímulo à participação dos agricultores familiares, povos tradicionais e pescadores artesanais no abastecimento da rede sócio assistencial e dos mercados institucionais; Ampliar o acesso e qualificar os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural; Promoção da inclusão produtiva de comunidades indígenas e quilombolas; Promover a autonomia das mulheres por meio da inclusão na produção e gestão; Promover a produção, extração e processamento de alimentos agroecológicos; Fomentar e estruturar a produção de pescadores artesanais e aquicultores familiares; Garantir a qualidade higiênico-sanitária dos produtos da agroindústria familiar para facilitar a comercialização no mercado formal – Sistemas de Inspeção/SUASA. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 12.2.1.b.1. Implantação e qualificação de equipamentos e serviços de apoio à produção e ao abastecimento Neste setor pretende-se explorar as condições de organização de circuitos locais e regionais de produção, abastecimento e consumo para a garantia do acesso a alimentos de qualidade, promotores de saúde e referenciados culturalmente. O Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária – LUPA de 2007, para o município de Santos, apontava somente 19 unidades agropecuárias ocupando apenas 2.721,1 hectares dos quais 2.167,4 hectares estavam ocupados com vegetação natural e 427,6 hectares com pastagens. A cultura da banana ocupava 72 hectares, distribuída por 15 unidades, portanto não encontramos agricultura familiar no município com potencial para abastecimento dos programas institucionais. Apesar de possuir cerca de 420 mil habitantes e ser a sede da região metropolitana de Santos, a cidade não possui estrutura de comercialização de hortifrutigranjeiros. Como estrutura de abastecimento da cidade e da região metropolitana, é realizado um “encontro de fornecedores” que ocorre na Praça do Mercado Municipal, entre as 24:00 e as 5:00 da manhã, onde são comercializados produtos que saem dos caminhões que vem da capital, da região de Mogi das Cruzes ou mesmo do Vale do Ribeira e são passados para caminhões ou peruas que vem das cidades da Baixada Santista para abastecer supermercados, quitandas, feirantes, hotéis, restaurantes e até padarias. 12.2.1.b.2. Estímulo à participação dos agricultores familiares, povos tradicionais e pescadores artesanais no abastecimento dos mercados com ênfase nos mercados institucionais; Entre os mercados institucionais a que se refere o setor 2.2 do eixo de produção e abastecimento existem atualmente o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, do Ministério de Desenvolvimento Social instituído pelo Artigo 19 da Lei 10.696 de 02/07/2003 e, a aquisição de produtos oriundos da agricultura familiar para fornecimento da alimentação escolar prevista no Artigo 14 da Lei 11.947. O PAA “propicia a aquisição de alimentos de agricultores familiares, com isenção de licitação, a preços compatíveis aos praticados nos mercados regionais. Os produtos são destinados a ações de alimentação empreendidas por entidades da rede socioassistencial; Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição como Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias e Bancos de Alimentos e para famílias em situação de vulnerabilidade social”. O Artigo 14 da Lei 11.497 determina que “Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do Programa Nacional da Alimentação Escolar- PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas”. Não há esse programa público no município. 12.2.1.b.3. Ampliar o acesso e qualificar os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER); Não há atividade agropecuária no munícipio que justifique a presença de estruturas oficiais de ATER. 12.2.1.b.4. Fomentar e estruturar a produção de pescadores artesanais e aquicultores familiares Santos possui a Colônia de Pescadores Z – 01 fundada em 1921, mas que atualmente não representa pescadores de Santos porque segundo seu presidente e presidente da Federação dos Pescadores do Estado de São Paulo, Sr. Tsuneo Okida já não existem pescadores artesanais no município. Devido à expansão imobiliária, a Ponta da Praia que era um bairro de pescadores hoje é um bairro nobre. Eles foram para a periferia, uma grande parte está em Guarujá na Praia de Santa Cruz, no Perequê, ou em Bertioga e em São Vicente. Em Cubatão há uma capatazia na Vila dos Pescadores. 577 Não existem políticas e nem estímulo à pesca artesanal, tanto no nível municipal como estadual. O Estado criou uma Câmara Setorial de Pescado na Secretaria da Agricultura, composta de vários membros da sociedade civil e poder público. Criada a mais de um ano e só se reuniu uma vez. “O único balcão onde a gente pode falar, não é reivindicar, é reclamar do que governo nos atrapalha, é o conselho da APA Marinha é lá que a gente vai reclamar dos problemas que são criados pelo governo”. Quanto ao apoio da Petrobras aos pescadores não tem havido nenhum direcionamento para o setor. Há apoio à cultura, aos esportes, à proteção do meio ambiente, educação, etc, porém para os pescadores que se consideram os mais afetados não há projeto. O presidente vê como grande potencialidade a aquicultura na área continental de Santos, assim como no canal de Bertioga, e outros 40 pontos no Guarujá mapeados pelo Instituto de Pesca. O beneficiamento da produção seria realizado em estrutura a ser construída na área do Terminal de Pesca. A área federal onde se encontra o Terminal Pesqueiro de Santos, após sofrer a dilapidação do patrimônio público por um arrendamento pernicioso, hoje pertence ao Ministério da Pesca, foi recuperado e conta com uma fábrica de gelo. Aguarda-se a complementação com uma extensão do cais, futuramente tenha um pequeno estaleiro. Como proposta, o presidente da federação acredita que ali deveria ter uma estrutura para o beneficiamento do pescado como uma experiência existente em Santa Catarina. Segundo ele, outra grande reivindicação é a escola de pesca para qualificar os pescadores artesanais para sair para as áreas oceânicas aonde nós existem embarcações nacionais operando, tudo o que tem é estrangeiro com arrendamentos feitos por empresas. Uma escola profissionalizante onde o pescador possa aprender a manipular os aparelhos eletrônicos, mexer com radar, sondas, GPS, etc. Deixaria de ser artesanal, mas a primeira dificuldade é de que infelizmente a categoria tem pelo menos, na Baixada Santista, 75% de semianalfabetos. 12.2.1.b.5. Garantir a qualidade higiênico-sanitária dos produtos da agroindústria familiar para facilitar a comercialização no mercado formal – Sistemas de Inspeção/SUASA. Não há demanda por formalização de empreendimentos de transformação de produtos da agropecuária ou da pesca artesanal neste momento. 12.2.1.c. Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos e Comunidades Tradicionais Não há esse público no município. 12.2.1.d.Alimentação e Nutrição no nível da Saúde O eixo da Alimentação e Nutrição no nível da Saúde constitui outra diretriz da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), abrangendo os setores de: Controle e prevenção de agravos e doenças; Nutrição na rede de atenção à saúde; Vigilância alimentar e nutricional. No Eixo Alimentação e Nutrição no nível da Saúde encontramos o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional que “é um instrumento para obtenção de dados de monitoramento do Estado Nutricional e do Consumo Alimentar das pessoas que frequentam as Unidades Básicas do SUS”. SISVAN - sistema de informações que tem como objetivo principal promover informação contínua sobre as condições nutricionais da população e os fatores que as influenciam. Esta informação irá fornecer uma base para decisões a serem tomadas pelos responsáveis por políticas, planejamento e gerenciamento de programas relacionados com a melhoria dos padrões de consumo alimentar e do estado nutricional. Em Santos encontramos o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional sendo executado pela Secretaria Municipal de Saúde. Os dados de crianças de 0 a 5 anos, coletados por pesagem e medição, são inseridos nas Unidades Básicas de Saúde - UBS. Em 2010 foram acompanhadas 2.510 crianças, representando , em relação aos dados demográficos daquele ano, 10,08% do total de 25.702 crianças de 0 a 5 anos existentes no município. Apenas os dados das crianças Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 do programa Bolsa Família são inseridos no sistema. Em 2011 foram acompanhadas 2.210 crianças de 0 a 5 anos. Levantamos informações sobre o estado nutricional de crianças acompanhadas pelo Sisvan em 2011, de 2.210 crianças acompanhadas, 88 estavam com peso que representa risco ou mesmo desnutrição, mas apenas 47 destas crianças tinha o peso muito abaixo do esperado – indicativo de uma desnutrição severa. Lembra-se que entre elas estão as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família seriam aquelas com as piores condições socioeconômicas. Portanto, este dado sugere que mesmo nestas famílias a desnutrição não se configura como um problema importante. Por outro lado, 204 crianças estariam com obesidade e outras 188 com sobrepeso – cerca de 17,74% das crianças acompanhadas, o que nesta faixa etária é uma condição preocupante. 12.1.2. Sistema de ação política – conselhos, conferências e orgãointersetorial Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Foi criado pela Lei nº 2.248 de7de Julho de 2004, teve sua composição alterada pela Lei nº 2.564 de 04 de setembro de 2008 e seu regimento interno aprovado pelo Decreto nº 5.168 de 18 de setembro de 2008, porém encontra-se desativado. Conselho Municipal de Alimentação Escolar O Conselho de Alimentação Escolar de Santos foi criado pela Lei Municipal nº 1.595 de 26 de maio de 1997, reinstalado pela Lei nº 1.895 de 05 de setembro de 2000 e teve a alteração de sua composição pela Lei nº 2.673 de 23 de dezembro de 2009 tendo atualmene as seguintes atribuições e composição: Art. 2.º São atribuições do Conselho Municipal de Alimentação Escolar: I – fiscalizar e controlar a aplicação dos recursos federais e municipais destinados a alimentação escolar no Município; II – zelar pela qualidade dos produtos, em todos os níveis, desde a aquisição até a distribuição, observando sempre as boas práticas higiênicas e sanitárias; III – receber, analisar e remeter ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, com parecer conclusivo, as prestações de contas do PNAE; IV – opinar sobre o plano municipal de ação sobre a gestão do PNAE no exercício letivo; V – comunicar ao Poder Executivo local qualquer irregularidade no serviço de alimentação escolar de que venha tomar conhecimento, para a apuração pela autoridade competente; VI – elaborar e aprovar o seu Regimento Interno, com voto da maioria simples de seus membros. O artigo 3.º da Lei n.º 1.595, de 26 de maio de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 3.º O Conselho Municipal de Alimentação Escolar - CMAE será constituído por 07(sete) membros, com a seguinte composição: I – 01 (um) representante indicado pelo Poder Executivo; II – 02 (dois) representantes dentre as entidades de docentes, discentes ou trabalhadores na área de educação, indicados pelo respectivo órgão de classe, a serem escolhidos por meio de assembléia específica, registrada em ata, sendo que um deles deverá ser representado pelos docentes e, ainda, os discentes só poderão ser indicados e eleitos quando forem maiores de 18 (dezoito) anos ou emancipados; III – 02 (dois) representantes de pais de alunos, indicados pelos Conselhos Escolares,Associações de Pais e Mestres ou entidades similares, escolhidos por meio de assembleia específica, registrada em ata; e IV - 02 (dois) representantes indicados por entidades civis organizadas, escolhidos em assembleia específica, registrada em ata. 579 § 1.º Cada membro titular do Conselho Municipal de Alimentação Escolar – CMAE terá um suplente do mesmo segmento representado, exceção feita aos membros titularesreferidos no inciso II, cujos suplentes poderão pertencer a quaisquer dos segmentoscitados no referido inciso. § 2.º Na hipótese de inexistir órgão de classe, conforme estabelecido no inciso II,deverão os docentes, discentes ou trabalhadores na área da educação realizarreunião para a escolha dos membros, mediante convocação específica, devidamenteregistrada em ata “. (NR) Art. 2.º O artigo 4.º da Lei nº 1.595, de 26 de maio de 1997, passa a vigorar com aseguinte redação: “Art. 4.º Os membros terão mandato de 04 (quatro) anos, podendo ser reconduzidosde acordo com a indicação dos seus respectivos segmentos“. (NR) O calendário de reuniões é organizado para o ano todo e a periodicidade é mensal. A frequência é regular sendo o segmento da sociedade civil que tem faltado um pouco mais. Priorizam a análise das prestações de contas e as visitas, onde a prefeitura colabora com o transporte. Existe uma parceria entre o CAE e a Diretoria de Alimentação Escolar e as propostas encaminhadas geralmente são debatidas e sempre que informações adicionais são solicitadas há disposição para fornecimento de dados. O CAE não chegou a entrar no mérito de elaboração de orçamento, fiscaliza a aplicação dos recursos e aprova a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar. O conselho não chegou a elaborar uma proposta específica para SAN, a relação com outros conselhos se dá pela presença de membros do CAE em outros Conselhos. 12.1.3. Considerações Finais A partir dos dados levantados e da análise documental realizada é possível tecer algumas considerações com vistas a qualificar o debate sobre as possibilidades e dificuldades à implantação de um sistema municipal de SAN. Entende-se que a implantação de sistemas municipais / regionais de segurança alimentar e nutricional (SISAN) colabora na melhoria das condições sociais da população, gerando impactos positivos no acesso à alimentação adequada e saudável e constitui uma estratégia capaz de fazer frente aos desafios colocados para a região do litoral de São Paulo nos próximos anos. Do ponto de vista dos programas, um primeiro aspecto que se destaca é o pequeno número de programas, de proposição municipal, associados à segurança alimentar e nutricional, sinalizando a pouca incorporação da temática pela atual gestão. Dentre os programas existentes não se verificou uma efetiva complementaridade e nem integração entre eles, deixando de se aproveitar os resultados sinérgicos propiciados por um maior diálogo e colaboração. Em relação ao Programa de Alimentação Escolar, associado ao eixo de Acesso à Alimentação, a coordenação do programa, apesar das tentativas teve dificuldades de realizar a aquisição de alimentos produzidos pela agricultura familiar mesmo que de outras regiões. Porém, nesses casos, a lei prevê a realização de novas chamadas publicas e aquisição de organizações da região, do estado ou de outros estados. Ainda no eixo de acesso à alimentação, há que se mencionar a presença de dois restaurantes populares do programa estadual “Bom Prato” e a paralisação da implantação do Banco de Alimentos. No eixo da produção e abastecimento, destaca-se a ausência de estrutura de comercialização e abastecimento regional com a improvisação de um mercado aberto na Praça do Mercado Municipal da cidade. Embora previsto na Lei Complementar nº 731/2011 que institui o Plano Diretor de Desenvolvimento e Expansão Urbana do Município de Santos e dá outras providências, a formulação do Plano de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura, não se registram ações de apoio à pesca. Não estão presentes Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 ações de estruturação da cadeia da pesca artesanal, nem para o possível processamento da produção da região visando a participação no mercado institucional de alimentos, como por exemplo, o da alimentação escolar, deixando de se fomentar a produção local por meio da construção de circuitos mais curtos de produção e comercialização de alimentos. Importa destacar a existência de proposta da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo para estruturação de equipamentos de recepção, beneficiamento e comercialização do pescado em área do Terminal Pesqueiro de Santos. Em relação ao eixo da saúde e nutrição, encontramos no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional apenas o acompanhamento dos beneficiários do programa Bolsa Família e a ausência de acompanhamento dos dados de peso e estatura dos munícipes que utilizam os serviços das UBS o que denota o baixo interesse do poder publico municipal em utilizar um instrumento simples de monitoramento do estado nutricional da população. A ausência desses dados compromete o monitoramento do estado nutricional. Ainda no campo da saúde, é preciso lembrar que a conquista de melhores indicadores de saúde no que se refere ao combate à fome e à desnutrição veio acompanhada de outros problemas de saúde pública, como o aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade, caracterizando o fenômeno da transição nutricional, nas últimas décadas. A ausência de indicadores municipais não permite precisar a ocorrência do sobrepeso e da obesidade no nível local, porém, o excesso de peso nos adultos é uma realidade para metade dos brasileiros e o crescimento da obesidade é maior nas populações mais vulneráveis. Os fatores determinantes do sobrepeso e da obesidade associam-se, em diferentes níveis, ao modo de vida moderna, com aumento significativo do consumo de produtos industrializados, ricos em açúcares, gorduras e sódio, somados ao consumo de frutas, verduras e legumes, bem abaixo dos níveis recomendados pela OMS e à reduzida atividade física. Diante da perspectiva de crescimento do mercado fastfood nos próximos anos, ao nível regional, é preciso extrair as consequências da adoção de tal padrão de consumo para o campo da saúde e também para o meio ambiente, em específico para a área dos resíduos sólidos. Tais mudanças devem vir acompanhadas de programas de educação alimentar na ótica da segurança alimentar e nutricional para o alcance de uma visão mais cidadã dos alimentos e da alimentação, que assegure não só o direito de comer, como o direito de se informar e de se educar, numa perspectiva de empoderamento, condição essencial para intervir e realizar escolhas positivas, saudáveis e conscientes. Em relação às estruturas de participação, observa-se certa fragilidade na capacidade de organização e representação dos conselhos, comprometendo a sua função de monitoramento e controle social. A reconstrução da política de segurança alimentar passará, sem dúvida, pela reorganização do Conselho Municipal de Segurança Alimentar, regido pelo Decreto nº5.168 de 18 de setembro de 2008 e que atualmente encontra-se desativado. A conformação de uma política pública constitui um desafio e ao mesmo tempo uma oportunidade. Há que se aprofundar o debate junto à gestão e à sociedade civil organizada, na sequência deste projeto, sobre a disponibilidade em se construir a base institucional para a implantação de uma política municipal de SAN, que pressupõe o estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas que articulem os programas existentes e a participação social. 12.2. Saúde Segundo o Valor Econômico de 12/julho/2012, a saúde será um dos temas de destaque no próximo processo eleitoral em Santos, onde “42% dos moradores apontam que a saúde deve ser prioridade do próximo prefeito”. O Relatório Anual de Gestão (RAG) é a principal ferramenta de acompanhamento da gestão da saúde nos municípios. Além de comprovar a aplicação de recursos do SUS, o RAG apresenta os resultados alcançados 581 pela Secretaria Municipal com a execução da Programação Anual de Saúde, que detalha o Plano Municipal de Saúde formulado para quatro anos. A partir do ano de 2012, de acordo com o pactuado na Comissão Intergestores Tripartite – CIT -, todos os Relatórios de Gestão devem obrigatoriamente utilizar o SARGSUS – Sistema de Apoio ao Relatório de Gestão do Ministério da Saúde, para facilitar o seu acesso a todos os cidadãos brasileiros, e portanto o controle social. O Relatório Anual deve ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde antes de ser disponibilizado ao público. Na página do SARGSUS consta a informação de que Santos teve seu RAG-2011 aprovado pelo Conselho Municipal em 16 de maio de 2012. A Secretaria Municipal disponibilizou 18 documentos, mas o arquivo que tem o título “RAG-2011” na verdade é apenas o parecer sucinto da Comissão de Políticas de Saúde do Conselho Municipal, informando que “as metas propostas pelo Plano de Gestão de 2011 da SMS, a sua maioria foi alcançada”. Além disso, “algumas propostas foram expostas pelo Conselho Municipal de Saúde de Santos à Secretaria de Saúde e nos foi informado que as mesmas serão contempladas em 2012, o que será fiscalizado pelo Conselho”. Os demais documentos serão aproveitados e comentados nos trechos adequados deste relatório. Santos teve o seu Plano Municipal de Saúde para o período 2010-2013 aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde em julho de 2010, mas não tivemos acesso a ele. 12.3.1. Situação de Saúde O perfil etário de Santos reflete uma população mais envelhecida do que o Estado de SP como um todo: apenas 16,8% da sua população tem menos de 15 anos, contra 21,5% no Estado. Já a população com mais de 60 anos é de 19,2%, para 11,5% no Estado. As taxas de natalidade e de fecundidade geral são menores do que no Estado. A proporção de mães adolescentes (com menos de 18 anos) foi de 4,8% em 2010, para a média estadual de 7,0%. E a proporção de crianças nascidas com baixo peso (abaixo de 2,5 kg) também foi menor – 8,5%, para 9,1% no Estado. Planos e seguros privados: Observa-se que a população de Santos tem alta cobertura por planos e seguros privados de saúde – em 2011, 64,3% tinham algum tipo de plano, para a média no Estado de São Paulo de 43,9%. Além disso, outros 20% têm algum plano exclusivamente odontológico. Um aspecto relevante quanto aos tipos de planos de saúde é que 25,1% do total são planos individuais ou familiares, isto é, pagos diretamente pelo usuário. No Estado de São Paulo, estes planos representam 19,3% do total. Isto provavelmente se deve ao maior número de idosos com planos: em Santos, 14,2% dos planos ainda são anteriores à lei 9.656 de 1998 que regulamentou o mercado de planos, para 12,8% destes “planos antigos” no Estado. Ressalta-se que pela diversidade de planos privados e os tipos de cobertura oferecidos, dependendo dos valores pagos, parte significativa da população que tem planos também recorre ao atendimento público pelo SUS. Observa-se também que ao contrário do que ocorreu no Estado de São Paulo como um todo, a cobertura da população por planos privados em Santos teve um leve declínio desde 2007, quando atingiu a taxa máxima de 66,8%. Os dados da ANS referentes a março de 2012 continuam indicando a redução de pessoas com planos em Santos. Entre setembro de 2011 e março de 2012, ocorreu a redução de quase 5 mil planos oferecidos pelas empresas empregadoras, além de outros mil planos individuais. Por outro lado, ocorreu um aumento de 3 mil planos coletivos por adesão, o que pode ser devido a tentativa de parte das pessoas que tinham planos empresariais de continuarem tendo alguma cobertura. Mas, o saldo geral nestes 6 meses foi a redução de 3,5 mil pessoas com planos. Em março, 266,2 mil santistas tinham algum plano privado, e a cobertura baixou para 63,5%. Destaca-se que pelos dados da ANS, as três maiores operadoras de planos são específicas da Baixada Santista: a Unimed de Santos, a Santa Casa de Misericórdia de Santos e o Plano de Saúde Ana Costa dominam 45% do mercado de planos e seguros de saúde da Baixada. A ANS não disponibilizou dados de operadoras por município, mas certamente a maior parte da clientela destas três operadoras locais mora em Santos. Mortalidade por causas Apresenta-se a seguir informações sobre mortalidade referente ao ano de 2008, consolidadas no Caderno de Informações de Saúde, sistema desenvolvido pelo Datasus. A tabela mostra os grandes grupos de causas de morte por faixa etária. Um dos documentos anexados mostra os dados de mortalidade de 2011 pelos grupos de causas e sexo, mas não serão aproveitados por serem ainda provisórios e incompletos. Mortalidade Proporcional (%) por Faixa Etária Segundo Grupo de Causas - CID10 – Ano: 2008 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Grupo de Causas Menor 1 I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 4,6 II. Neoplasias (tumores) IX. Doenças do aparelho circulatório X. Doenças do aparelho respiratório 10,8 XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 61,5 XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 4,6 Demais causas definidas 18,5 Total 100,0 1a4 23,1 7,7 7,7 15,4 46,2 100,0 5a9 25,0 62,5 12,5 100,0 10 a 14 22,2 11,1 11,1 22,2 33,3 100,0 15 a 19 11,4 2,9 2,9 57,1 25,7 100,0 20 a 49 17,4 17,0 22,1 4,9 20,4 18,2 100,0 50 a 64 65 e mais 8,2 2,1 27,2 22,2 33,7 37,8 9,0 16,6 4,4 2,4 17,6 18,8 100,0 100,0 Total 5,0 21,9 34,2 13,7 1,1 5,4 18,7 100,0 Fonte: SIM. Situação da base de dados nacional em 14/12/2009. Em 2008, ocorreram 3.883 óbitos em Santos. Em 2010 os óbitos aumentaram para 4.308, o que representou neste ano uma Taxa de Mortalidade Geral de 10,3 mortes por mil habitantes. Esta taxa é bem maior do que a do Estado de São Paulo, que foi de 6,4 óbitos por mil habitantes em 2010. Isto ocorre devido ao alto percentual de pessoas idosas do município. Quase a metade das mortes de 2010 foram de pessoas com mais de 75 anos de idade, e outros 20% ocorreram em pessoas entre 65 e 74 anos. É por este motivo que as três principais causas de morte na faixa etária de 65 anos e mais – as doenças do aparelho circulatório, os cânceres e as doenças do aparelho respiratório quase coincidem com os percentuais destas três causas de morte por todas as idades, como se observa na tabela acima. E a mortalidade proporcional em 2010 praticamente foi a mesma de 2008, exceto pela queda das mortes por neoplasias, de 21,9 para 18,8% do total. O percentual de óbitos por causas mal definidas caiu acentuadamente no município, de 13,2% em 2006 para 1,4% em 2010. As doenças cerebrovasculares (“derrames”) e o infarto agudo do miocárdio são as duas causas mais importantes, seguidas pelo diabetes, mas com um coeficiente bem menor. Vale ressaltar que ainda é possível reduzir as mortes por estas causas, com um bom acompanhamento pelas unidades básicas, controle de problemas como a hipertensão, a obesidade e o tabagismo, e estímulo a atividades físicas. Evolução recente da mortalidade infantil: a tabela abaixo mostra as taxas de mortalidade infantil dos últimos dez anos. Taxa de Mortalidade Infantil segundo municípios de residência. Estado de São Paulo, 2002 a 2011. - por mil nascidos vivos Estado Santos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 15,0 18,0 14,8 14,8 14,3 15,5 13,4 14,5 13,3 15,8 13,1 15,9 12,6 12,5 12,5 15,2 11,9 13,9 11,6 13,0 Fonte: Base de dados Unificada de Óbitos - SESSP/FSEADE; Datasus – SISPACTO A série histórica mostra que apenas nos anos de 2003 e 2008 o município conseguiu atingir a taxa média estadual. Apesar de as taxas nos demais anos não serem exageradamente altas, pode-se dizer que são discrepantes para o município sede da metrópole. Um levantamento dos óbitos infantis de 2011 mostra que 60% poderiam ser evitados por uma boa atenção pré-natal, assistência adequada à mulher no parto e ao recém-nascido, e também pelo adequado acompanhamento da criança em seu primeiro ano de vida. Pelo alto percentual de cobertura da população por planos privados, seria muito importante avaliar a qualidade destes itens na assistência privada, mas infelizmente não temos a informação sobre os óbitos infantis que ocorrem no SUS e no setor privado. De toda forma, ressalta-se que em 2011 foram notificados 22 casos de sífilis congênita no município, indicando uma grave falha no pré-natal. O relatório epidemiológico do município não analisa a mortalidade infantil e a sífilis congênita. Outra informação importante seria a identificação dos bairros e setores de maior vulnerabilidade social e que concentram o maior número de óbitos infantis. Apesar da recente disponibilização de um Sistema de 583 Gerenciamento da Informação sobre a mortalidade infantil para todos os municípios da Baixada Santista220, não temos a informação sobre sua utilização por nenhuma secretaria de saúde. O georreferenciamento dos óbitos infantis forneceria um conjunto bastante relevante de informações, que poderia subsidiar as ações de saúde, em conjunto com outras áreas de promoção e proteção social. Por exemplo, em julho de 2012 o município tinha cerca de 7.500 famílias com Bolsa Família, número que pode ser considerado pequeno pelo seu porte populacional. Estas podem ser consideradas as mais vulneráveis, e deveriam ser prioritárias para a saúde. No entanto, de acordo com os dados de dezembro de 2011, quase um quarto delas não estavam sendo acompanhadas nas condicionalidades de saúde - mais da metade (13,5%) pelo fato de não terem sido sequer localizadas. O IPRS de Santos e a dimensão Longevidade De acordo com o Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS produzido pela Fundação SEADE, desde a primeira edição (ano-base 2000) até a penúltima (ano base 2006), Santos foi classificado no Grupo 2 de municípios que, embora com níveis de riqueza elevados, não exibem bons indicadores sociais. Na última edição, com ano-base 2008, o município finalmente passou para o Grupo 1 pela melhora na dimensão de saúde/longevidade, que aumentou para 72 pontos, ficando um ponto abaixo da média estadual. A dimensão longevidade é calculada pela composição de quatro dados de mortalidade: Taxa de mortalidade infantil (por mil nascidos vivos); Taxa de mortalidade perinatal (por mil nascidos); Taxa de mortalidade de pessoas de 15 a 39 anos (por mil pessoas); e Taxa de mortalidade de pessoas de 60 anos e mais (por mil pessoas). Já na dimensão riqueza Santos é o sétimo município do Estado, com 71 pontos, para a média estadual de 58. Na dimensão escolaridade, já tinha 76 pontos em 2006 e continuou em 2008, superando a média estadual - 68. 12.3.2. Diagnóstico dos Serviços de Saúde e dos atendimentos De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, em julho de 2012 o município contava com 1.599 unidades, das quais 93% são privadas. Destas, 1.283 (86%) são consultórios isolados, e cerca de 110 clínicas especializadas. A rede SUS tinha 87 estabelecimentos, sendo 33 unidades básicas municipais. De acordo com o Ministério da Saúde, esta rede oferece cobertura para 33% da população do município221. Oito são Unidades de Saúde da Família, contando com 13 equipes, atendendo 10,7% da população. Existem 25 ambulatórios de especialidades: 19 municipais; dois estaduais, entre os quais o AME – ambulatório médico estadual, de abrangência regional; e quatro privados. Além disso, o município mantém sete Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. O município tem ainda três pronto-socorros gerais e um hospital-dia. O município tem 5 hospitais para o atendimento público, sendo um estadual – o Hospital Guilherme Álvaro, que é referência regional, dois municipais e dois filantrópicos, destacando-se a Santa Casa. Existem mais cinco hospitais privados. A tabela abaixo apresenta o total de leitos hospitalares existentes e o número de leitos por mil habitantes no município. Santos - Total de leitos por especialidades 220 Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde v.20 n.3 Brasília set. 2011, por pesquisadores da UNIFESP e Universidade Católica de Santos. 221 Sala de Apoio à Gestão Estratégica – SAGE/MS. Em http://189.28.128.178/sage/ Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Esta dua l Especialidade Munic ipa l P riva da Tota l S US Existe nte S US Existe nte S US Existe nte S US Existe nte ESPEC - CIRURGICO 78 78 14 14 218 604 310 696 ESPEC - CLINICO 56 56 68 68 74 373 198 497 COMPLEMENTAR 45 45 10 16 62 213 117 274 OBSTETRICO 30 35 23 23 30 98 83 156 PEDIATRICO 23 23 19 19 50 124 92 166 OUTRAS ESPECIALIDADES 34 34 1 1 0 32 35 67 HOSPITAL DIA 0 0 10 10 2 49 12 59 Tota l 266 271 14 5 15 1 436 1. 4 9 3 847 1. 9 15 Le itos (por 10 0 0 ha b. ) 0,63 0,65 0,35 0,36 1,04 3,56 2,02 4,57 Fonte: CNES - DATASUS/MS (julho/2012) Observa-se que Santos dispõe de 1.915 leitos, o que representa 4,57 leitos para cada mil habitantes; mas os leitos disponíveis para o SUS são 847, o que significam 2 leitos SUS para cada mil habitantes. Lembra-se também que o Hospital Guilherme Álvaro atende pacientes dos demais municípios da Baixada, tendo as vagas controladas pela Central de Regulação. De acordo com o CNES, os hospitalares privados atendem a população que tem planos privados de saúde, e três atendem a portadores de planos públicos. Lembra-se que a Santa Casa de Santos tem um plano de saúde próprio e atende também pelo SUS, além de portadores de outros planos privados, e também interna pessoas sem planos, mediante pagamento direto. Ainda de acordo com o CNES, com dados de julho de 2012, havia 3.314 vínculos de médicos no município, 518 de cirurgiões dentistas e 580 de enfermeira(o)s. O CNES adverte que um profissional pode ter mais de um vínculo. O número de quase 8 médicos para cada mil habitantes é bastante alto, típico de um centro metropolitano que concentra também um amplo conjunto de universidades que formam profissionais no setor saúde, entre os quais dois cursos de medicina222. Não temos os dados sobre o número de servidores públicos, mas por informações do CNES de 2010 pode-se afirmar que cerca de 60% dos médicos (lembrando mais uma vez que são vínculos) atuam no SUS, enquanto no caso dos cirurgiões dentistas o trabalho no SUS é menor, de 44% dos vínculos. Já no caso do(a)s enfermeiro(a)s, 96% trabalham no SUS, mostrando que a rede privada praticamente não emprega este(a) profissional essencial. Dados informados pela Secretaria Municipal de Saúde - SMS: A SMS de Santos anexou três arquivos com os dados de produção ambulatorial e hospitalar de 2011, tanto de seus serviços próprios quanto dos estaduais e privados (inclusive os filantrópicos). A tabela de atendimentos ambulatoriais tem o título de “Faturamento”, e relaciona 67 unidades municipais, quatro estaduais – inclusive o Hospital Guilherme Álvaro – e cinco particulares, inclusive a Santa Casa e a AFIP (realiza exames laboratoriais). A tabela contém as colunas “quantidade apresentada” e o “valor apresentado”, que seria a fatura apresentada ao Ministério da Saúde. Ressalta-se que a tabela não é adequada para análise, já que a “quantidade” não discrimina as consultas médicas, os atendimentos de enfermagem, os procedimentos odontológicos, as visitas domiciliares, o fornecimento de medicamentos, a coleta de exames e os exames laboratoriais. Além disso, as quantidades de cada unidade são bastante díspares. Por exemplo, enquanto os três pronto-socorros municipais (do Centro e das Zonas Leste e Noroeste) teriam realizado cerca de 1.020 mil procedimentos, ou quase 20% da quantidade total das 67 unidades municipais, com faturamento de quase R$ 4,7 milhões, uma única UBS registrou 500 mil procedimentos – 10% do total, mas com o valor de R$ 780. Se os registros são corretos, tratam-se de procedimentos bem distintos e não comparáveis. Por outro lado, uma única unidade estadual, “NGA-57”, que entendemos ser a atual AME, registrou 9,5 milhões de procedimentos – quase o dobro de todas as 67 unidades municipais, e faturamento de R$ 19,5 milhões, bastante acima dos R$ 13,1 milhões de toda a rede municipal. Enquanto isso, a Santa Casa registra 222 De acordo com o CNES, o Estado de São Paulo conta com 6 médicos por mil habitantes (lembrando novamente que se tratam de vínculos), que se concentram nos grandes centros urbanos. 585 561 mil procedimentos ou 10% de toda a rede municipal, mas com o faturamento de R$ 15,5 milhões – superior a toda a rede municipal. Por estas discrepâncias, preferimos utilizar os dados do Datasus sobre a atenção básica. Atenção básica no SUS - A tabela abaixo mostra a evolução da oferta de consultas nas especialidades básicas da rede municipal. Observa-se a oferta foi sempre bastante inferior à média de todo o Estado. Média Anual de Consultas nas Especialidades Básicas por habitante. Estado SP Santos 2006 1,64 1,15 2007 1,62 1,13 2008 1,84 1,02 2009 1,84 1,06 2010 1,76 1,19 Fonte: Sistema de Informações Ambulatoriais - SIA/SUS - Base atualizada em 31/08/2011. A quantidade insuficiente de unidades básicas assinaladas anteriormente, e a consequente baixa cobertura da população para a atenção básica de qualidade, pode se refletir na evolução desfavorável de um indicador relevante, a taxa de internações por condições sensíveis à atenção básica – ICSAB, apresentada na tabela seguinte. Percentual de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Básica segundo municípios de residência. 2.005 2.006 2.007 2.008 2.009 2.010 Estado SP 18,4 18,1 17,4 15,9 16,1 16,1 Santos 19,5 20,6 20,3 17,3 18,0 20,0 Fonte: Sistema de Informações Hospitalares - SIH/SUS - Base atualizada até 31/08/2011. Observa-se que em todos os anos o município teve taxas superiores à média estadual, apresentando nos últimos dois anos a maior taxa entre os municípios da Baixada. A AME de Santos – foi passada para a Organização Social Cruzada Bandeirante São Camilo, sediada em Cotia, mediante contrato de gestão no valor de R$ 14,1 milhões em 2011. Neste ano, a AME realizou cerca de 81 mil consultas médicas e mais de 10 mil consultas não médicas, além de pouco mais 5500 cirurgias, ultrapassando os números previstos no contrato. No entanto, os 34 mil atendimentos em serviço auxiliar de diagnóstico e terapia (SADT) não foram atingidos, tendo ficado em pouco mais de 31,6 mil. Outros itens avaliados no contrato são: acompanhamento de litotripsia (tratamento de cálculos – “pedras”), fornecimento de órteses e atendimentos em fisioterapia e terapia ocupacional. Estes últimos, com quase 4 mil atendimentos, ultrapassaram mais de 100% o contratado. A avaliação dos usuários, tanto nas primeiras consultas quanto nos retornos, foram de mais de 91% de Muito Bom e Bom, para menos de 3% de Ruim e Muito Ruim. Internações hospitalares Apresenta-se a seguir o total de internações SUS realizadas em Santos em 2011. O hospital Guilherme Álvaro está destacado por ser estadual, e os demais hospitais – inclusive a Santa Casa e o Hospital Santo Antonio, que são filantrópicos, estarem sob gestão municipal – e portanto, o Ministério da Saúde transfere os recursos para a Secretaria, que fiscaliza e remunera estes hospitais. Santos - Internações SUS e valores faturados por hospital - 2011 Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Fonte: Anexo do Relatório Anual de Gestão – Secretaria Municipal de Saúde de Santos Observa-se que as quatro unidades municipais realizaram cerca de 8 mil internações, sendo superados pelo hospital estadual e a Santa Casa. Os valores médios das internações dos hospitais municipais foram de cerca de R$ 400, bastante abaixo da média do hospital Santo Antonio que foi de cerca de R$ 900 e do Estadual Guilherme Álvaro, que foi de R$ 1.170. A Santa Casa teve o maior valor médio por internação, que ficou próximo de R$ 2 mil. A tabela abaixo apresenta os dados do Datasus para os anos 2010 e 2011. Internações Hospitalares do SUS - por local de internação - São Paulo 2010 Período: Município 2011 Valor médio Média Internações intern R$ perman Total E.S.Paulo 2.351.919 30.986 Santos 1.160 1.206 6,8 6,4 Internações Valor médio intern R$ 2.362.731 30.553 1.223 1.278 Média perman 6,8 6,4 Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) Observa-se que em 2011 ocorreu uma pequena redução no total de internações pelo SUS em Santos; a média de permanência foi a mesma nos dois anos, pouco menor do que a do Estado todo. E o valor médio das internações ficou um pouco acima da média estadual. Mas, pode-se afirmar que a rede municipal realiza em geral internações de curta permanência e de baixa complexidade, enquanto as internações de maior complexidade ocorrem no hospital estadual e principalmente na Santa Casa. Os dados da tabela seguinte mostram as internações pelo SUS de moradores de Santos, ocorridas tanto em Santos quanto em outros municípios do Estado. Procedimentos hospitalares do SUS - por local de residência - São Paulo Internações por Município e Natureza Período: Município Total Estado SP Santos 2010 Total 2.334.227 18.886 2011 Federal 29.689 47 Estadual Municipal Filantrópico 698.246 3.692 421.647 7.173 1.175.657 7.972 Total 2.343.855 18.261 Federal 9.254 15 Estadual Municipal Filantrópico Contratado 711.517 3.586 441.403 6.871 1.173.134 7.786 8.547 3 Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) Em 2011 ocorreram cerca de 4,4 internações de santistas por cem habitantes. Esta taxa ficou abaixo da média estadual, de 5,6 internações, pelo fato de Santos ter mais segurados de planos privados do que o Estado. Não temos dados sobre o total de internações “não-SUS”. O cruzamento dos dados das duas tabelas 587 acima mostra que pelo menos 40% das internações SUS realizadas em Santos são de moradores de outros municípios, confirmando a condição de município de referência regional, principalmente para os demais municípios da Baixada Santista, mas que atende também moradores do Vale da Ribeira e Litoral Norte. É preciso lembrar também que uma fração das internações em Santos são de turistas. Mas é importante destacar que a rede municipal interna muito poucos moradores de outros municípios – menos de 15%, enquanto o hospital Guilherme Álvaro internou em 2011 cerca de 60%, cumprindo sua função de hospital regional. E os hospitais filantrópicos atenderam cerca de 40% de não-santistas, o que também seria a função da Santa Casa. Assim, na medida em que pelo menos parte das internações de santistas acontecem em outros municípios (por exemplo as internações em hospital federal, em São Paulo), não se justificam as queixas de moradores quanto à ocupação de internações e mesmo a assistência ambulatorial em serviços localizados em Santos, mas que são destinadas para toda a região. Cabe também uma observação em relação à Santa Casa, que realiza o maior número de internações SUS. De acordo com os dados disponibilizados em sua página, no ano de 2010 a Santa Casa realizou cerca de 25 mil internações. Isto significa que as internações “não-SUS” – principalmente de pacientes que têm o plano de saúde da própria Santa Casa, mas também portadores de outros planos – equivale às internações pelo SUS. A Santa Casa tinha 687 leitos em julho de 2012, destinando 365 leitos para o SUS, ou 53%. Mas, de acordo com o informado ao CNES, os “profissionais SUS” seriam 1141 médicos e 2556 outros profissionais, para 859 profissionais “não-SUS”; este número não daria conta das internações, cirurgias, partos e demais procedimentos “não-SUS”, precisando contar também com o apoio dos “profissionais SUS”. A Santa Casa teria realizado 224 mil consultas médicas em 2010, de acordo com a sua página na internet, mas os dados não identificam os atendimentos SUS. Entre os vários procedimentos de alta complexidade, realizou de 2 a 3 mil sessões mensais de hemodiálise. A “taxa de satisfação do cliente” oscilou entre 86 a 88%. Em 2012, a Santa Casa foi contemplada com um Acelerador Linear de Alta Energia, equipamento utilizado em radioterapia, por uma emenda parlamentar ao orçamento do Ministério da Saúde. Esta emenda foi aprovada pela Comissão Intergestores Bipartite de São Paulo, depois de parecer favorável do Grupo Técnico (também bipartite) que avalia a estruturação a Rede de Oncologia em todo o Estado, tendo em vista a existência de demanda reprimida pelo tratamento. 12.3.3. Princípios e Diretrizes Políticas do SUS em Santos Este tópico exigiria a análise de documentos da secretaria de saúde, como o Plano Municipal de Saúde, que não obtivemos. O Relatório Anual de Gestão, como relatado anteriormente, não apresenta uma análise do gestor municipal. Sabe-se que o município aderiu ao Pacto pela Saúde, celebrado em 2006 pelas três esferas de governo e formalizou esta adesão através dos Termos de Compromisso de Gestão, elaborado no primeiro ano da gestão e atualizado anualmente, e atua através das ações programadas e devidamente aprovadas pelo Conselho Municipal; através do SISPACTO, aplicativo disponibilizado pelo Ministério da Saúde, pode-se acessar os indicadores prioritários dos componentes “pela Vida” e “de Gestão” do Pacto, que serão apresentados e comentados. a) Os compromissos assumidos pelo gestor do SUS de Santos – TCG 2011 Apresenta-se a seguir os Termos de Compromisso de Gestão, que são assumidos pelo município, aprovados pelo Conselho Municipal e referendados pela Comissão Intergestores Bipartite no âmbito estadual do SUS. PLANILHA DE PACTUAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES – TCG Data da Validação: 29/03/2011 Data da Homologação: 31/03/2011 RESPONSABILIDADES GERAIS DA GESTAO DO SUS – Realiza todas as responsabilidades REGIONALIZACAO – Realiza todas as responsabilidades PLANEJAMENTO E PROGRAMACAO – Realiza todas as responsabilidades REGULACAO, CONTROLE, AVALIACAO E AUDITORIA – Realiza todas as responsabilidades GESTAO DO TRABALHO – Realiza todas as responsabilidades EDUCACAO NA SAUDE – Realiza todas as responsabilidades Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 PARTICIPACAO E CONTROLE SOCIAL – Realiza todas as responsabilidades Observa-se que a Secretaria de Saúde de Santos informou que todos os compromissos foram realizados. Reitera-se mais uma vez que o Conselho Municipal de Saúde aprovou a informação da secretaria. b) Indicadores do SISPACTO – obtidos em: http://portalweb04.saude.gov.br/sispacto/ Estes indicadores são considerados de monitoramento e avaliação do Pacto pela Saúde, definidos como prioridades em âmbito nacional que impactam nas condições de saúde da população, sendo uma referência para todos os gestores municipais. As metas e os resultados referem-se aos dois últimos anos. Algumas metas são supramunicipais, e não se aplicam para o município. PACTO PELA VIDA PRIORIDADE: I - ATENCAO A SAUDE DO IDOSO. OBJETIVO: Promover a formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa. Nº 1 Indic a dor TAXA DE INTERNACAO HOSPITALAR DE PESSOAS IDOSAS POR FRATURA DE FEMUR Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de 12 1,87 11,8 2,74 / 10 . 0 0 0 Comentário: foram definidas metas apenas para os Estados, capitais e municípios com mais de 100 mil habitantes. Esta é uma meta de redução, e observa-se que pelo resultado de 2010, a meta de 2011 poderia ser bem menor. O resultado de 2011, apesar de superior ao de 2010, é plenamente satisfatório. Cabe lembrar que o município pode ter planejado ações formativas na área de saúde do idoso dirigidas aos seus funcionários, mas não temos informações a respeito. PRIORIDADE: II - CONTROLE DO CANCER DE COLO DE UTERO E DE MAMA. OBJETIVO: AMPLIAR A OFERTA DO EXAME PREVENTIVO DO CANCER DO COLO DO UTERO VISANDO ALCANCAR UMA COBERTURA DE 80% DA POPULACAO ALVO. Nº 2 Indic a dor RAZAO ENTRE EXAMES CITOPATOLOGICOS DO COLO DO UTERO NA FAIXA ETARIA DE 25 A 59 ANOS E A POPULACAO ALVO, EM DETERMINADO LOCAL E ANO. Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de 0,18 0,06 0,18 0,08 ra za o Observa-se que o município apresentou um resultado melhor em 2011, mas ainda bastante abaixo da meta. OBJETIVO: TRATAR/SEGUIR AS LESOES PRECURSORAS DO CANCER DO COLO DO ÚTERO NO NIVEL AMBULATORIAL Nº 3 Indic a dor PERCENTUAL DE SEGUIMENTO/TRATAMENTO INFORMADO DE MULHERES COM DIAGNOSTICO DE LESOES INTRAEPITELIAIS DE ALTO GRAU DO COLO DO UTERO. Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de 100 - 80 - % Espera-se que todas as mulheres que apresentam alterações importantes no exame sejam devidamente tratadas e acompanhadas. Santos não apresentou resultados nos dois anos. OBJETIVO: AMPLIAR A OFERTA DE MAMOGRAFIA VISANDO ALCANCAR UMA COBERTURA DE 60% DA POPULACAO ALVO. Nº 4 Indic a dor RAZAO ENTRE MAMOGRAFIAS REALIZADAS NAS MULHERES DE 50 A 69 ANOS E A POPULACAO FEMININA NESTA FAIXA ETARIA, EM DETERMINADO LOCAL E ANO. Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de 0,14 0,11 0,14 0,12 ra za o O resultado registrado para 2011 foi um pouco melhor do que em 2010, mas ainda abaixo da meta. PRIORIDADE: III - REDUCAO DA MORTALIDADE INFANTIL E MATERNA. OBJETIVO: REDUZIR A MORTALIDADE INFANTIL. 589 Nº 12,8 Re sulta do 12,97 Unida de 13,1 Re sulta do 13,65 Me ta 2 0 11 TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 5.a TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL NEONATAL. 9,02 ... 8,83 7,3 / 10 0 0 5.b TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL POS- NEONATAL. 4,09 5,5 4 5,68 / 10 0 0 5 Indic a dor Me ta 2 0 10 / 10 0 0 A evolução da mortalidade infantil já foi apresentada e comentada anteriormente; apesar da redução em 2011, os resultados nos dois anos ficaram um pouco acima da meta. OBJETIVO: REDUZIR A MORTALIDADE MATERNA. Nº 6 7 Indicador PROPORCAO DE OBITOS DE MULHERES EM IDADE FERTIL E MATERNOS INVESTIGADOS. INCIDENCIA DE SIFILIS CONGENITA. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 87 90,3 88 100 10 1 13 22 Unidade % % N.Absoluto N.Absoluto Observa-se que em 2011, Santos investigou 100% dos óbitos de mulheres em idade fértil, superando a meta. A explosão do número de casos de sífilis congênita já foi comentada anteriormente, revelando uma gravíssima deficiência na qualidade do pré-natal. PRIORIDADE: IV - FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE DE RESPOSTAS AS DOENCAS EMERGENTES E ENDEMIAS, COM ENFASE NA DENGUE, HANSENIASE, TUBERCULOSE, MALARIA, INFLUENZA, HEPATITE, AIDS. OBJETIVO: REDUZIR A LETALIDADE DOS CASOS GRAVES DE DENGUE. Nº 8 Indicador TAXA DE LETALIDADE DAS FORMAS GRAVES DE DENGUE (FEBRE HEMORRAGICA DA DENGUE - FHD /SINDROME DO CHOQUE DA DENGUE SCD /DENGUE COM COMPLICACOES - DCC) Meta 2010 Resultado Meta 2011 2 6,58 2 Resultado Unidade % - % Um dos anexos ao RAG-2011 é o “Relatório Epidemiológico”, que apresenta a ocorrência das doenças de notificação compulsória e comenta mais detidamente a evolução da tuberculose, dengue e Aids em Santos. Sobre a dengue, o relatório assinala: “A dengue, presente no município desde 1997, teve em 2011 um ano não epidêmico, com o coeficiente de incidência de 29,5 por 100 mil habitantes (124 casos), muito abaixo do resultado de 2010 que foi de 1.913 por 100 mil habitantes. (Gráfico). Observamos que nestes 10 anos, a Dengue tem se apresentado em forma de surtos epidêmicos em alguns anos (1999, 2001, 2002, 2006 e 2010). Santos desde 1997 concentra seus esforços na prevenção e combate a dengue, com ações de educação da população, mutirões de combate aos focos do mosquito Aedes aegypit, vigilância epidemiológica e entomológica e ações de assistência à saúde. Lembramos também que a Baixada Santista é densamente povoada e que as barreiras geográficas são inexistentes para o mosquito transmissor da dengue, e que para serem efetivas é necessário que estas ações de prevenção sejam constantes em toda região”. O Relatório também comenta os diagnósticos de esquistossomose: “Aumento na incidência nos casos de esquistossomose (31 casos), todos importados, conseqüência da migração para o município devido a atração de mão de obra para trabalhar no setor da construção civil e de exploração de petróleo”. OBJETIVO: AUMENTAR O PERCENTUAL DE CURA NAS COORTES DE CASOS NOVOS DE HANSENIASE A CADA ANO PARA ATINGIR 90% DE CURA EM 2011 Nº 9 Indicador PROPORCAO DE CURA DOS CASOS NOVOS DE HANSENIASE DIAGNOSTICADOS NOS ANOS DAS COORTES Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 88 100 88 100 Unidade % % Observa-se que nos dois anos foram atingidas as metas, com 100% de cura. Em 2011 foram notificados 15 novos casos no município. OBJETIVO: AMPLIAR A CURA DE CASOS NOVOS DE TUBERCULOSE PULMONAR BACILIFERA DIAGNOSTICADOS A CADA ANO. Nº 10 Indicador PROPORCAO DE CURA DE CASOS NOVOS DE TUBERCULOSE PULMONAR BACILIFERA Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 78 74,21 80 20,9 Unidade % % Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 O Relatório Epidemiológico ressalta que “apresentamos os números relativos ao ano de 2010, pois o ano epidemiológico finaliza apenas em outubro/2012”. Com isto, a equipe de vigilância alerta que os resultados parciais de 2011 não devem ser valorizados. “A Tuberculose vem apresentando significativa queda nos últimos anos no município de Santos, devido principalmente a intensificação da busca ativa de sintomáticos respiratórios e do tratamento supervisionado tem influenciado positivamente nesta queda”. QUADRO DE INDICADORES – TUBERCULOSE - 2005 A 2010 Situação dos Indicadores 2005 2006 2007 2008 2009 2010 N. de Casos novos 394 358 328 335 306 326 Coef. Incidência/100 mil hab. 94 86 78 80 73,36 77,7 Abandono – n. de casos 40 43 41 30 39 40 Transferência 06 01 02 03 3 02 N. de óbitos por TB 9 5 5 8 7 06 Coef. Mortalidade 2,2 1,2 1,2 1,9 2,28 1,39 69,4 75 78,76 74,5 76,8 Taxa de cura de casos novos de TB Fonte: SEVIEP – Santos; 2010 – o ano epidemiológico para os casos de tuberculose encerram-se somente em outubro. OBJETIVO: AUMENTAR A PROPORCAO DE COLETA DE AMOSTRAS CLINICAS PARA O DIAGNOSTICO DO VIRUS INFLUENZA DE ACORDO COM O PRECONIZADO. Nº 12 Indicador PROPORCAO DE AMOSTRAS CLINICAS COLETADAS DO VIRUS INFLUENZA EM RELACAO AO PRECONIZADO Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 70 71,15 80 78,46 Unidade % % O indicador relacionado a este objetivo só se aplica em oito municípios de grande porte do Estado de São Paulo – entre eles Santos - e outros 32 municípios do país, principalmente capitais. Observa-se em Santos um resultado melhor em 2011, ainda que um pouco abaixo da meta. OBJETIVO: FORTALECER A VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA DA DOENÇA PARA AMPLIAR A DETECÇAO DE CASOS DE HEPATITE B, E A QUALIDADE DO ENCERRAMENTO DOS CASOS POR CRITERIO LABORATORIAL. Nº 13 Indicador PROPORCAO DE CASOS DE HEPATITE B CONFIRMADOS POR SOROLOGIA. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 95 98,15 95 100 Unidade % % As metas foram atingidas nos dois anos, com resultado de 100% em 2011. Pelo Relatório da secretaria, foram diagnosticados 48 casos de hepatite B, o que dá um coeficiente de incidência de 11,4 por cem mil habitantes. OBJETIVO: REDUZIR A TRANSMISSAO VERTICAL DO HIV. Nº 14 Indicador TAXA DE INCIDENCIA DE AIDS EM MENORES DE 5 ANOS DE IDADE Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 1 - 1 - /100.000 /100.000 Santos não teve registro de ocorrência de casos de AIDS em crianças menores de 5 anos de idade. De acordo com o Relatório Epidemiológico, “o coeficiente de incidência de AIDS foi de 27,6/ 100 mil hab em 2011 (Fonte: SEVIEP – SMS). Observamos que essa taxa vem decrescendo nos últimos anos em conseqüência do avanço das ações de prevenção executadas. Importante, também, são as ações que estimulam o diagnóstico precoce, como as realizadas nas Campanhas “Fique Sabendo”, de 2008, 2009 e 2010, assim possibilitando melhor controle da carga viral protelando o surgimento de doenças oportunistas. Gráfico – Incidência de AIDS em residentes em Santos 1990-2011 591 Fonte: SEVIEP – 2011. Obs: 116 casos em 2011, dados consolidados até julho de 2012, ainda são parciais. PRIORIDADE: V - PROMOCAO DA SAUDE OBJETIVO: REDUZIR OS NIVEIS DE SEDENTARISMO NA POPULACAO. Nº 15 Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado - - - - Unidade % PREVALENCIA DE ATIVIDADE FISICA SUFICIENTE NO TEMPO LIVRE EM ADULTOS. % Este dado é produzido pela VIGITEL – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – desde o ano 2006, mas apenas para as capitais dos estados e o Distrito federal. Mesmo não tendo mensuração de resultados, os municípios devem priorizar este objetivo, desenvolvendo ações educativas e de estímulo a práticas esportivas e de atividades físicas em geral, desde caminhadas a exercícios que dispensam equipamentos, como o Liangong e o Tai-chi. OBJETIVO: REDUZIR A PREVALENCIA DO TABAGISMO NO PAIS. Nº 16 Indicador PREVALENCIA DETABAGISMO EM ADULTOS. Meta 2010 - Resultado - Meta 2011 - Resultado - Unidade % % Este indicador também é produzido pela Vigitel apenas para as capitais. Mas como o tabagismo é considerado um dos principais fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis – DANT, todos os municípios devem priorizar este objetivo, através de informação, educação, medidas restritivas e o tratamento específico para os fumantes. PRIORIDADE: VI - FORTALECIMENTO DA ATENCAO BASICA Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 OBJETIVO: AMPLIAR A COBERTURA POPULACIONAL DA ATENCAO BASICA POR MEIO DA ESTRATEGIA SAUDE DA FAMILIA. Nº 17 Indic a dor PROPORCAO DA POPULACAO CADASTRADA PELA ESTRATEGIA SAUDE DA FAMILIA. Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de 9,1 9,25 10 9,07 % Já comentado anteriormente. O resultado mais recente aponta cobertura bastante baixa, de 9,1%. Nº 18 Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado 86 86,09 87 83,19 Unidade % PROPORCAO DE NASCIDOS VIVOS DE MAES COM 7 OU MAIS CONSULTAS DE PRE- NATAL % OBJETI VO: A MPLIA RO ACESS O A CONSULTA PRE-NATAL. O resultado em 2011 ficou abaixo do alcançado em 2010, e abaixo da meta. Ressalta-se também que não se está medindo a qualidade do pré-natal, como a ocorrência de casos de sífilis congênita. OBJETIVO: REDUZIR A INTERNACAO HOSPITALAR POR DIABETES MELLITUS NO AMBITO DO SUS. Nº 19 Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 2,5 2,14 2,5 2,09 /10.000 /10.000 TAXA DE INTERNACOES POR DIABETES MELLITUS E SUAS COMPLICACOES. Os resultados dos dois anos mostram que as metas foram alcançadas. OBJETIVO: REDUZIR A INTERNACAO HOSPITALAR POR ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) NO AMBITO DO SUS. Nº 20 Meta 2010 Indicador 4,9 TAXA DE INTERNACOES POR ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) Meta 2011 Resultado 7,28 Unidade Resultado 5,5 /10.000 /10.000 7,9 Os resultados nos dois anos ficaram acima da meta, estabelecida como teto. OBJETIVO: REDUZIR E MONITORAR A PREVALENCIA DE BAIXO PESO EM CRIANCAS MENORES DE 5 ANOS. Nº Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Unidade Resultado 21 PERCENTUAL DE CRIANCAS MENORES DE CINCO ANOS COM BAIXO PESO PARA IDADE 3,1 3,07 2 2,78 22 PERCENTUAL DE FAMILIAS COM PERFIL SAUDE BENEFICIARIAS DO PROGRAMA BOLSA FAMILIA ACOMPANHADAS PELA ATENCAO BASICA 76 73,41 78 75,26 % % % % O resultado de 2011 para o primeiro indicador, apesar de ter ficado acima da meta, mostra uma baixa prevalência de desnutrição entre as crianças acompanhadas; o percentual de famílias acompanhadas foi de 75,3%, indicando melhora em relação a 2010 mas com meta não atingida. OBJETIVO: AMPLIAR O NUMERO DE EQUIPES DE SAUDE BUCAL (ESB) DA ESTRATEGIA SAUDE DA FAMILIA (ESF) Nº Indic a dor 41 COBERTURA POPULACIONAL ESTIMADA DAS EQUIPES DE SAUDE BUCAL DA ESTRATEGIA DE SAUDE DA FAMILIA Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de - Não pactuado 2,46 2,47 % O resultado de 2011 mostra que a meta foi atingida, mas a meta era extremamente modesta. OBJETIVO: AUMENTAR A PREVENCAO DAS PRINCIPAIS DOENCAS BUCAIS: A CARIE DENTARIA E A DOENCA PERIODONTAL. Nº 42 Indic a dor Me ta 2 0 10 Re sulta do Me ta 2 0 11 Re sulta do Unida de - Não pactuado 3,6 2,97 % MEDIA DA ACAO COLETIVA DE ESCOVACAO DENTAL SUPERVISIONADA O resultado ficou abaixo da meta, que já era bastante limitada. PRIORIDADE: VII - SAUDE DO TRABALHADOR OBJETIVO: AUMENTAR A IDENTIFICACAO E A NOTIFICACAO DOS AGRAVOS A SAUDE DO TRABALHADOR A PARTIR DA REDE DE SERVICOS SENTINELA EM SAUDE DO TRABALHADOR, BUSCANDO ATINGIR TODA A REDE DE SERVICOS DO SUS. Nº Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 23 NUMERO DE NOTIFICACOES DOS AGRAVOS A SAUDE DO TRABALHADOR CONSTANTES DA PORTARIA GM/MS Nº.777/04. 115 133 150 389 N.Absoluto 593 O dado de 2011 mostra que a meta foi amplamente ultrapassada. PRIORIDADE: VIII - SAUDE MENTAL. OBJETIVO: AMPLIAR O ACESSO AO TRATAMENTO AMBULATORIAL EM SAUDE MENTAL. Nº Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 24 TAXA DE COBERTURA DE CENTROS DE ATENCAO PSICOSSOCIAL (CAPS) /100.000 HABITANTES. 2,28 3,46 2,28 2,03 /100.000 O resultado de 2011 está muito discrepante do ano anterior, sugerindo que teria ocorrido fechamento de CAPS, mas é mais provável que o resultado de 2010 esteja errado. PRIORIDADE: IX - FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE DE RESPOSTA DO SISTEMA DE SAUDE AS PESSOAS COM DEFICIENCIA. OBJETIVO: AMPLIAR AS REDES ESTADUAIS DE SERVICOS DE REABILITACAO PARA PESSOAS COM DEFICIENCIA. Nº 25 Indicador NUMERO DE SERVICOS DE REABILITACAO VISUAL HABILITADOS PELO MINISTERIO DA SAUDE. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - - N.Absoluto O indicador referente a este objetivo não se aplica aos municípios isolados. PRIORIDADE: X - ATENCAO INTEGRAL AS PESSOAS EM SITUACAO OU RISCO DE VIOLENCIA OBJETIVO: AMPLIAR A REDE DE PREVENCAO DE VIOLENCIA E PROMOCAO A SAUDE NOS ESTADOS E MUNICIPIOS. Nº 26 Indicador PROPORCAO DE MUNICIPIOS PRIORITARIOS DO ESTADO COM REDE DE PREVENCAO DAS VIOLENCIAS E PROMOCAO DA SAUDE IMPLANTADAS. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - 100 % O indicador adotado para este objetivo, “proporção de municípios prioritários do Estado com rede de prevenção das violências e promoção da saúde implantadas”, é válido para os Estados. Foram definidos 148 municípios no país, dentre os quais 33 no Estado de São Paulo. OBJETIVO: AMPLIAR A COBERTURA DA FICHA DE NOTIFICACAO / INVESTIGACAO DE VIOLENCIA DOMESTICA, SEXUAL E/OU OUTRAS VIOLENCIAS. Nº 27 Indicador PROPORCAO DE MUNICIPIOS PRIORITARIOS DO ESTADO COM NOTIFICACAO DE VIOLENCIA DOMESTICA, SEXUAL E/OUTRAS VIOLENCIAS IMPLANTADAS. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - 100 % O indicador definido também aplica-se para os Estados: “Proporção de municípios prioritários do estado com notificação de violência doméstica, sexual e/outras violências implantadas”. No entanto, Santos está atendendo e informando sobre as vítimas de violência doméstica. Em 2011, foram notificados ao SINAN 577 vítimas, com dois terços das ocorrências na residência. A maioria era do sexo feminino – 55%; um terço das vítimas eram crianças até 10 anos, distribuídos igualmente entre meninos e meninas. OBJETIVO: INSERIR ESTRATEGIAS E ACOES VOLTADAS PARA A SAUDE DO HOMEM NOS PLANOS DE SAUDE ESTADUAIS E MUNICIPAIS Nº 28 Indicador NUMERO DE ESTADOS E MUNICIPIOS SELECIONADOS COM ESTRATEGIAS E ACOES VOLTADAS PARA A SAUDE DO HOMEM INSERIDAS NOS PLANOS DE SAUDE ESTADUAIS E MUNICIPAIS Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - - N.Absoluto O indicador que se refere a este objetivo não se aplica para os municípios. OBJETIVO: AMPLIAR O ACESSO A CIRURGIAS DE PATOLOGIAS E CANCERES DO TRATO GENITAL MASCULINO. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Nº 29 Indicador NUMERO DE CIRURGIAS PROSTATECTOMIA SUPRAPUBICA POR LOCAL DE RESIDENCIA. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 13 12 15 12 N.Absoluto Nos dois anos foram realizadas 12 cirurgias de prostatectomia suprapúbica no município. PACTO DE GESTAO 1 - RESPONSABILIDADES GERAIS DA GESTAO DO SUS OBJETIVO: ENCERRAR OPORTUNAMENTE AS INVESTIGACOES DAS NOTIFICACOES DE AGRAVOS COMPULSORIOS REGISTRADAS NO SINAN. Nº Indicador Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 30 PROPORCAO DE CASOS DE DOENCAS DE NOTIFICACAO COMPULSORIA (DNC) ENCERRADOS OPORTUNAMENTE APOS NOTIFICACAO 95 95,27 95 96,39 % Observou-se atingimento das metas nos dois anos, mostrando que a vigilância epidemiológica está bem estruturada. OBJETIVO: AMPLIAR A CLASSIFICACAO DA CAUSA BASICA DE OBITO NAO FETAL. Nº 31 Indicador PROPORCAO DE OBITOS NAO FETAIS INFORMADOS AO SIM COM CAUSA BASICA DEFINIDA. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 96 98,58 96 98,87 % As metas foram atingidas nos dois anos, com resultados bastante altos. OBJETIVO: MANTER A COBERTURA VACINAL ADEQUADA NOS SERVICOS DE IMUNIZACOES NOS MUNICIPIOS E ESTADOS. Nº 32 Indicador COBERTURA VACINAL COM A VACINA TETRAVALENTE (DTP+HIB) EM CRIANCAS MENORES DE UM ANO. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 95 94,61 95 84,2 % A cobertura vacinal de 84,2% ficou abaixo da meta, e foi a mais baixa cobertura da Baixada Santista. OBJETIVO: REDUZIR OS RISCOS A SAUDE HUMANA DECORRENTE DO CONSUMO DE AGUA COM QUALIDADE MICROBIOLOGICA FORA DO PADRAO DE POTABILIDADE. Nº 33 Indicador PERCENTUAL DE REALIZACAO DAS ANALISES DE VIGILANCIA DA QUALIDADE DA AGUA, REFERENTE AO PARAMETRO COLIFORMES Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 100 117,08 100 66,04 % O resultado alcançado em 2011 ficou muito abaixo do ano anterior, abaixo da meta. OBJETIVO: CONSOLIDAR E AMPLIAR A DESCENTRALIZACAO DAS ACOES DE VIGILANCIA SANITARIA. Nº 34 Indicador PERCENTUAL DE MUNICIPIOS COM PACTUACAO DE ACOES ESTRATEGICAS DE VIGILANCIA SANITARIA. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - 100 % O indicador para este objetivo não se aplica para os municípios. O documento “Plano de Ação em Vigilância Sanitária de 2012” (PAVISA) anexado ao RAG-2011, foi produzido em acordo entre as áreas de vigilância sanitária estadual (GVS XXV-Santos) e municipal, delimitando as responsabilidades de cada esfera e ações conjuntas: “O GVS-XXV resolve, de forma pactuada com os gestores municipais de Vigilância em Saúde/ Sanitária de Santos, elaborar o PAVISA 2012, previsto no âmbito da Programação Anual de Saúde, priorizando as ações não executadas em 2011 e as planejadas para 2012 (Anexos I, II, III e IV), mantendo-se as ações elencadas no Pacto pela Saúde, as questões sanitárias relevantes para a Região Metropolitana da Baixada Santista, e a coerência com as ações sanitárias pactuadas no SISPACTO e com o Plano Estadual de Saúde 2012-2015”. Os quatro anexos são: I. Programas Estaduais, Regionais e Municipais de Vigilância Sanitária; II. Inspeções Sanitárias em estabelecimentos regulados pela Portaria CVS nº 4/2011 - CVS é o Centro de Vigilância Sanitária, instância central do Estado; III. Capacitações e outros eventos educativos propostos pelo GVS-XXV e VISA Municipal; e IV. PROÁGUA - Pacto de realinhamento 2012. De acordo com o PAVISA, por exemplo, “6. Cabe a VISA municipal atender 100% dos programas estaduais e federais que constam do Anexo I – Programa Paulista de Alimentos; Programa de monitoramento da qualidade de água dos serviços de terapia renal substitutiva –TRS; Programa de Vigilância da Água para 595 consumo humano - PROAGUA; ILPI - Instituições de Longa Permanência para Idosos e SAD-Serviços de Atendimento Domiciliar – com envio de planilhas com indicadores, semestralmente”. Mas o Anexo I contém também vários programas municipais. Todos os programas descrevem os objetivos, as ações previstas e as metas para o ano. 2 - REGIONALIZACAO OBJETIVO: CONSTITUIR COLEGIADOS DE GESTAO REGIONAL (CGR). Nº 35 Indicador PERCENTUAL DE COLEGIADOS DE GESTAO REGIONAL (CGR) CONSTITUIDOS EM CADA ESTADO E INFORMADOS A CIT. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - - % O indicador não se aplica aos municípios. Mas o Colegiado de Gestão Regional da Baixada Santista está ativo há muitos anos. 3 - PLANEJAMENTO E PROGRAMACAO OBJETIVO: ASSEGURAR QUE 100% DE ESTADOS E MUNICIPIOS TENHAM O RELATORIO ANUAL DE GESTAO (RAG) APROVADOS PELOS RESPECTIVOS CONSELHOS DE SAUDE. Nº 36 Indicador PROPORCAO DE ESTADOS E MUNICIPIOS COM RELATORIOS ANUAIS DE GESTAO APROVADOS NOS CONSELHOS ESTADUAIS DE SAUDE E CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAUDE. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - 100 % A meta para este objetivo também só se aplica aos estados. Mas Santos teve seu Relatório Anual de Gestão de 2011 aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. 4 - REGULACAO, CONTROLE, AVALIACAO E AUDITORIA OBJETIVO: FORTALECER O CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAUDE (CNES) COM DADOS ATUALIZADOS SISTEMATICAMENTE, VISANDO MELHORAR A QUALIDADE DA INFORMACAO. Nº 37 Indicador INDICE DE ALIMENTACAO REGULAR DA BASE DE DADOS DO CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAUDE (CNES). Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 100 100 100 100 % Santos atingiu a meta em 2011, informando e atualizando regularmente o CNES. 6 - EDUCACAO NA SAUDE OBJETIVO: AMPLIAR O PERCENTUAL DE CIES EM FUNCIONAMENTO, PARA QUE ESSAS POSSAM CONTRIBUIR PARA O PLANEJAMENTO REGIONAL DE ACOES EDUCATIVAS DE ACORDO COM AS NECESSIDADES E REALIDADES LOCAIS. Este objetivo não tem indicadores para os municípios. 7 - PARTICIPACAO E CONTROLE SOCIAL OBJETIVO: IMPLANTAR OUVIDORIA EM ESTADOS E MUNICIPIOS COM VISTAS AO FORTALECIMENTO DA GESTAO ESTRATEGICA DO SUS. Nº 38 Nº 39 Indicador PERCENTUAL DE COMISSOES DE INTEGRACAO ENSINO- SERVICO (CIES) EM FUNCIONAMENTO POR ESTADO. Indicador IMPLANTACAO DE OUVIDORIAS DO SUS NOS ESTADOS E CAPITAIS. Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - - % Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade - - - - N.Absoluto Meta 2010 Resultado Meta 2011 Resultado Unidade 100 ... 50 ... % OBJETIVO: FORTALECER O CONTROLE SOCIAL NO SUS. Nº 40 Indicador CAPACITACAO DE CONSELHEIROS ESTADUAIS E MUNICIPAIS DOS MUNICIPIOS PRIORITARIOS, DEFINIDOS EM 2009. Os indicadores propostos para estes dois objetivos não se aplicam aos municípios. 12.3.4. O desempenho do SUS-Santos: o IDSUS O Índice de Desempenho do SUS - IDSUS-2012 – foi apresentado pelo Ministro da Saúde em março de 2012 como uma “ferramenta que avalia o acesso e a qualidade dos serviços de saúde no país”. O índice avalia, com Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 dados dos anos 2008 a 2010 e pontuação que varia de 0 a 10, os diferentes níveis de atenção - básica, especializada ambulatorial e hospitalar e de urgência e emergência -, verificando como está a infraestrutura de saúde para atender as pessoas (acesso) e se os serviços ofertados têm capacidade de dar as melhores respostas aos problemas de saúde da população (efetividade, se estão atingindo os resultados esperados). O IDSUS deverá ser atualizado a cada 3 anos. O IDSUS 2012 resulta portanto do cruzamento de 24 indicadores, sendo 14 que avaliam o acesso e outros 10 que procuram medir a efetividade dos serviços. No quesito acesso, é avaliada a capacidade do sistema de saúde em garantir o cuidado necessário à população em tempo oportuno e com recursos adequados. Entre esses indicadores estão a cobertura estimada de equipes de saúde; a proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas pré-natal; e a realização de exames preventivos de cânceres de mama, em mulheres entre 50 e 69 anos, e de colo do útero, na faixa de 25 a 59 anos. Já na avaliação de efetividade, ou seja, se o serviço foi prestado adequadamente, encontram-se itens como a cura de casos novos de tuberculose e hanseníase; a proporção de partos normais; o número de óbitos em menores de 15 anos que foram internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI); e o número de óbitos durante internações por infarto agudo do miocárdio. Os municípios foram divididos em seis grupos homogêneos pelo cruzamento de outros três índices: o de Desenvolvimento Socioeconômico (IDSE), de Condições de Saúde (ICS) e de Estrutura do Sistema de Saúde do Município (IESSM). Basicamente, os grupos 1 e 2 são formados por municípios que apresentam melhor infraestrutura e condições de atendimento à população; os grupos 3 e 4 têm pouca estrutura de média e alta complexidade, enquanto os grupos 5 e 6 não têm estrutura para atendimentos especializados. A proposta é que apenas sejam comparados os municípios com características similares, isto é, dentro do mesmo grupo. Apenas 29 municípios de todo o país foram classificados no Grupo 1, entre os quais Santos, a capital paulista e outros 4 municípios de São Paulo: Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba. Nem todas as capitais estaduais ficaram neste grupo, o que faz ressaltar a condição bastante especial de Santos como um pólo altamente especializado em saúde. Apresenta-se a seguir a tabela do IDSUS referente a Santos; optou-se por não apresentar os dados referentes aos 24 indicadores, já que apenas foram disponibilizados os índices, e não os valores de cada indicador. Avaliação do SUS - Índice de Desempenho do SUS Grupo homogêneo Avaliação de acesso do SUS Avaliação de efetividade do SUS Avaliação de acesso a atenção básica Avaliação de acesso ambulatorial e hospitalar de média complexidade 1 4,94 7,05 6,72 3,5 Avaliação de acesso ambulatorial e hospitalar de alta complexidade IDSUS Indice sócio econômico Indice da condição de saúde Indice de estrutura 5,2 5,46 0,97 0,57 Avaliação da efetividade da atenção básica Avaliação da efetividade da amb. e hosp. média e alta complexidade Avaliação da atenção básica Avaliação da média e alta complexidade 8,99 6,54 6,42 4,41 Observa-se que Santos, de acordo com este levantamento, ficou com nota 5,46 – tendo como destaques negativos o acesso ambulatorial e hospitalar de média e de alta complexidades. Ressalta-se que esta avaliação não se restringe aos serviços municipais, apesar de seu importante papel na atenção básica. 597 12.3.5. Os gastos e investimentos em saúde Santos teve em 2011 uma receita de R$ 1.566 milhões, o que significa cerca de R$ 3.700 por habitante/ano. Os gastos em saúde foram de R$ 280,6 milhões (liquidado), ou R$ 669 por habitante. A tabela abaixo apresenta a evolução dos gastos per capita do município nos últimos 6 anos. Indicadores do SIOPS – Sistema de Informação sobre Orçamento Público de Saúde Dados e Indicadores Despesa total com saúde por habitante (R$) Despesa com recursos próprios por habitante Transferências SUS por habitante 2006 371 244 132 2007 435 272 166 2008 511 314 203 2009 574 352 219 2010 627 407 223 2011 669 448 223 % % % % % 16,8 35,6 53,5 1,8 37,7 17,7 38,1 55,9 0,7 32,7 17,3 39,7 56,8 2,7 31,5 17,8 38,2 57,2 1,9 29,8 18,5 35,6 56,2 0,7 30,1 18,2 33,3 56,5 0,8 29,7 de recursos próprios aplicados em saúde (EC 29) transferências SUS/despesa total com saúde despesa com pessoal/despesa total despesa com investimentos/despesa total despesa com serv. terceiros - pessoa jurídica /despesa total Fonte: MS – SIOPS Pode-se perceber que o município tem cumprido o mínimo exigido pela Emenda Constitucional 29, destinando mais de 15% de seus recursos próprios em saúde. O percentual foi aumentando, de 16,8% em 2006 até 18,5% em 2010, tendo um leve recuo em 2011. Constata-se que as transferências sofreram uma relativa estagnação nos últimos três anos. Assim, a participação das transferências no gasto total do município chegaram a quase 40% em 2008, mas foram declinando nos anos seguintes até os 33,3% em 2011. Do total de R$ 93,4 milhões de transferências, a Secretaria Estadual respondeu por apenas R$ 1,1 milhões. Cabe uma ressalva quanto aos valores informados pela Secretaria Municipal de Saúde no documento Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 anexado ao RAG-2011: o valor total faturado pela produção ambulatorial e hospitalar em 2011 teria sido de R$ 67,9 milhões, cabendo R$ 51,3 milhões aos prestadores de serviços (como a Santa Casa). No entanto, os valores informados ao SIOPS foram: total transferido pela União = R$ 92,3 milhões, sendo que R$ 74,4 milhões pela atenção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidades, e R$ 10,9 milhões pela atenção básica. Como o anexo do RAG não contém qualquer explicação, não é possível esclarecer o motivo da discrepância dos valores informados pelo gestor nos dois documentos. Os gastos com pessoal superaram a metade do gasto total em todos os anos, enquanto os recursos destinados aos investimentos foram bastante limitados; apenas em 2008 o investimento atingiu 2,7% do gasto total, ficando abaixo de 1% nos últimos dois anos. Este nível de investimento não permite qualquer expansão de serviços; destaca-se que ao contrário de Cubatão, Guarujá e São Vicente, o município não buscou recursos para construção de novas unidades básicas junto ao Ministério. Os gastos com assistência farmacêutica mereceram uma atenção especial da Secretaria em 2011. Seguindo uma orientação do COSEMS-SP, anexou seis documentos ao RAG, sobre a movimentação de recursos específicos de cada esfera de governo na compra de medicamentos para a atenção básica (AFAB), em que são anotados os valores depositados, os pagamentos realizados e o saldo mensal. A assistência farmacêutica foi um dos 6 blocos definidos para as transferências de recursos, que a partir do Pacto pela Saúde procurou simplificar os repasses. Antes, os repasses do gestor federal eram feitos em várias dezenas de contas, onde cada conta só podia ser movimentada para uma determinada finalidade, dificultando sobremaneira a sua utilização e a prestação de contas. Mas depois da redução para 6 blocos, vários municípios passaram a acumular superávits na conta da assistência farmacêutica básica, que só podiam ser utilizadas na compra de um elenco limitado de medicamentos. Assim, apesar da existência de saldo nestas contas, os municípios precisavam utilizar outros recursos próprios para a compra de medicamentos fora da lista oficial. Em 2011, Santos recebeu para a AFAB R$ 2,3 milhões do gestor federal, R$ 580 mil do estadual e depositou R$ 830 mil de recursos próprios (contrapartida). O total gasto no ano não chegou a R$ 2,7 milhões, com superávit no ano de cerca de R$ 1 milhão. Somando com os juros do saldo pré-existente, no final do ano o município aumentou seu saldo para mais de R$ 8,8 milhões. Finalmente, em agosto de 2011, uma portaria do Ministério autorizou o remanejamento destes saldos para outros blocos – e também para a compra de outros medicamentos – mediante plano de aplicação incluído na Programação Anual de Saúde e aprovado pelo seu Conselho de Saúde. Em 2012, os municípios de Santos e São Bernardo do Campo apresentaram tais planos de aplicação, tendo sido aprovados pela CIB – Comissão Intergestores Bipartite. 12.3.6. Considerações e aspectos relevantes A saúde, a segurança alimentar e a qualidade de vida são bens bastante valorizados pela sociedade. A valorização se traduz na preocupação pelo acesso igualitário aos serviços de saúde, sem demora e com qualidade – algo que ainda está longe do que a população deseja, como revela a pesquisa qualitativa realizada com os moradores e as entrevistas realizadas com lideranças. E já no início deste relatório uma reportagem dizia que a saúde deveria ser priorizada pelo próximo governo municipal. O IDSUS – medida calculada em todos os municípios do país, procurando avaliar o acesso e a efetividade do SUS, mostra que Santos, mesmo sendo um dos poucos municípios brasileiros classificados no Grupo 1, ainda tem muito a melhorar, principalmente no acesso a serviços de média e alta complexidades. E a análise dos indicadores do Pacto pela Vida e o Pacto de Gestão mostra várias deficiências, inclusive na atenção básica. Sediando o Departamento Regional de Saúde da Baixada Santista, órgão estadual, e unidades de referência regional como a AME, o Hospital Guilherme Álvaro e a Santa Casa, ele tem um papel determinante nas negociações com os outros municípios da Baixada Santista e do Vale da Ribeira para a efetivação das Redes Regionais de Atenção à Saúde – RRAS. As propostas da Rede de Urgência/Emergência e da Rede Cegonha já foram aprovadas pela CIB. O sucesso deste processo deverá se traduzir na melhora do atendimento em toda a região, com garantia do atendimento e maior agilidade. Mas, além do investimento conjunto dos municípios para a estruturação das RRAS, chama-se a atenção para a importância das ações intersetoriais no município voltadas para a promoção e a prevenção, cabendo ao 599 setor saúde encaminhar propostas e iniciativas para as demais secretarias e para toda a sociedade. Apesar da redução da mortalidade infantil obtida nos últimos anos, ela ainda está acima da média estadual. Retoma-se a informação sobre a mortalidade por faixa etária de 2010. Das 4308 mortes de residentes em 2010, 69,3% ocorreram em pessoas com mais de 65 anos. O dado para o Estado de São Paulo é de 57,5%. Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Santos tem um dos maiores valores. Mesmo assim, ainda ocorrem muitas mortes precoces envolvendo jovens por acidentes e violências, e adultos principalmente a partir dos 30 anos, e que podem ser reduzidos. Estas mortes precoces não podem ser aceitas como “naturais” – recorda-se que a esperança de vida ao nascer no Estado de São Paulo em 2009 é de 74,9 anos: 71,3 para o sexo masculino e 78,5 anos para o sexo feminino. As mais importantes causas destas mortes precoces e evitáveis são devidas as “doenças da modernidade”, chamadas doenças e agravos não transmissíveis - DANT. As mortes por doenças do aparelho circulatório, como os enfartes cardíacos e os derrames, seguidas pelos vários tipos de cânceres – podem ser evitadas e reduzidas. Além disso, poderiam ser reduzidas as internações e a demanda por assistência especializada provocadas por estes agravos. Este é o maior desafio dos serviços de saúde da atualidade, e que não é exclusivo de Santos: como enfrentar os problemas decorrentes da (des)organização do trabalho e do tempo livre das pessoas, da desigualdade social e do estilo de vida, que se traduzem em obesidade, hipertensão, diabetes, agravos devidos a violência e/ou insegurança, depressão, stress, alcoolismo e drogas, uso abusivo de medicamentos, entre outros. O enfrentamento adequado dessas questões depende principalmente de ações intersetoriais, envolvendo além da saúde as áreas de educação, cultura, trabalho, segurança alimentar, esportes e lazer, inclusão social, habitação, meio ambiente, segurança, entre outros. Estas ações devem se preocupar com a melhora das condições de vida em geral. Mas, a área da saúde tem um papel essencial na adequada articulação das demais áreas! O setor saúde precisa assumir ativamente este papel, propondo ações integradas. Esta é a essência da necessária mudança do chamado modelo assistencial, que precisa evoluir do atendimento das chamadas “condições agudas” para uma intervenção que contemple com a mesma importância as de promoção da saúde, de prevenção, de cura e as reabilitação. Fala-se de uma concepção de rede de atenção à saúde – a rede de cuidados - que se estruture a partir da atenção básica, com uma assistência continuada às condições crônicas, humanizada e acolhedora das necessidades de cada usuário - que para tanto precisa ser territorializada, com cada unidade assumindo a responsabilidade pela saúde da população de sua área. Em Santos, onde a maioria da população tem algum plano de saúde privado, destaca-se a importância de o gestor público interagir com o setor privado, para que este passe a contribuir na melhora da atenção à saúde, e dos vários indicadores de saúde. Em qualquer cidade, esta é a principal função do sistema municipal de saúde. E só se consegue avançar nesta função implementando uma gestão participativa, que extrapola a visão reducionista da participação apenas como controle e fiscalização dos serviços de saúde: exige-se uma nova relação com o conjunto dos trabalhadores da saúde, para que estes mudem sua forma de se relacionar com o público, deixando de vê-lo apenas como demandante de cuidados, e sim como o principal agente da sua própria saúde e condições melhores de vida. Este é o objetivo principal da chamada educação popular para a saúde: a transformação do “paciente” em sujeito, ativo, responsável pela sua saúde – em síntese, um cidadão. E uma iniciativa neste sentido precisa começar por uma nova relação do gestor com o Conselho Municipal de Saúde, além dos conselhos gestores das unidades de saúde e as entidades e os movimentos sociais. Afinal, é a população que financia o SUS, e que merece viver melhor, viver mais tempo, morrer mais tarde – mas que para isso precisa contar com uma atenção à sua saúde que estimule o autocuidado, a autonomia e o desenvolvimento pleno da cidadania. 13 – CULTURA 13.1.História Santos é uma cidade com múltiplas dinâmicas culturais, diversificadas e intensas. A gênese de sua força cultural é dada pela história, que se confunde com a própria história do Brasil. A região foi vista pela primeira Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 vez por Américo Vespúcio; depois Martim Afonso de Souza distribuiu sesmarias, uma delas a Bráz Cubas, que fundou a cidade em 1543, ao criar uma casa de saúde na região. Integrou-se na economia brasileira pelos ciclos de ouro, cana, café e pelas atividades comerciais e portuárias. Bandeiras partiam de seu território atrás de pedras preciosas; a cana trouxe desenvolvimento ao comércio e indústria e escravos da gleba. O café trouxe imigrantes, tornou Santos uma cidade cosmopolita, referência do produto em todo o país. Seu porto chegou a ser porta de entrada de produtos, valores e cultura. Em meados do século XVI chegam os jesuítas. No século XVII a capitania de São Vicente entra em decadência e a Vila de Santos acompanha esta tendência. Somente volta a crescer com várias melhorias no porto, na infraestrutura e com a vinda da família real para o Brasil e a abertura dos portos. Outros acontecimentos da história estiveram diretamente relacionados com a região: a passagem de Pedro I antes do grito da independência, a vida amorosa do imperador, a proclamação da independência com a presença dos irmãos Andrada, dois filhos da região. Em 26 de janeiro de 1839 a Vila de Santos é elevada a condição de cidade. O que alavancou definitivamente a cidade foi o ciclo cafeeiro: a criação da ferrovia São Paulo Railwail, que ligava a cidade a região cafeeira de Jundiaí, foi a grande motivadora do crescimento. Culturalmente também a cidade destilava energia: com a cultura escravista também vem a cultura abolicionista e de resistência a escravidão. Ali notabiliza-se Quintino de Lacerda, líder do Quilombo de Jabaquara. O Teatro Guarani, inaugurado em 1888, reúne ideiais abolicionistas que contaminam o país . Depois da emancipação dos escravos, através do porto, chegam os italianos - ali é uma importante porta de entrada paras imigrantes de vários países, entre eles italianos, espanhóis e japoneses. Chega o Século XX e a cidade evidencia outros atributos: o turismo com suas praias e patrimônio cultural e histórico de grande reconhecimento. Seus personagens históricos são destacados em todos os campos, conforme afirmamos: bandeirantes, abolicionistas, quilombos resistentes, notáveis da proclamação da independência; poetas conhecidos nacionalmente, como Vicente de Carvalho e Martins Fontes fazem parte da história literária do país; músicos eruditos como Gilberto Mendes também extrapolaram as fronteiras. A linguagem teatral se destacou através de festival existente desde meados do século passado, estimulado por Pagu, a “musa do modernismo” brasileiro e no cinema o Curta Santos, festival de cinema com presença há mais de 10 anos. Segundo entrevistados, a dança é ainda mais forte, não apenas como movimento, também como linguagem de criação. A paisagem urbana da cidade foi traçada pela praia, os edifícios modernos, mas também pelo patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. Os vários espaços e monumentos – teatros, bolsa do café, igrejas e outras construções do centro histórico sintetizam os vários estilos presentes na história da arte: colonial, neocolonial, barroco, eclético etc. Vários imóveis do município são patrimônio tombado pelo Condephaat, mas nem todos em condições ideais de preservação, necessitando de maiores investimentos e políticas por parte do poder público. Os santistas orgulham-se de seus teatros históricos e espaços de cinema, inclusive um deles cinema de rua. Mas a cidade se destaca também por sua presença na história mais recente; no inicio do século a Santos “Barcelona”, berço de movimentos anarquistas levados por grupos de imigrantes italianos; depois a cidade “vermelha” imagem ganha a partir da greve dos trabalhadores do porto de Santos, em 1917, e das sucessivas greves dos estivadores conduzidas pelo Partido Comunista, entre 1940/50. Um dos livros de Jorge Amado, Agonia na Noite, da trilogia Subterrâneos da Liberdade, constrói-se a partir do cenário grevista. Com a ditadura militar Santos sofre intervenção e constitui-se como área de segurança nacional por ser uma cidade portuária; teve intervenção e eleições indiretas até 1983. Mais recentemente estas denominações que caracterizam a cidade dão lugar a referências a uma cidade moderna, dinâmica, integrada a mercados imobiliários e ao turismo. “Não somos nem Barcelona, nem Vermelha, quem sabe uma Miami”, diz com ironia um jornalista entrevistado. “Agora com o pré-sal”, continua, “o impacto já foi sentido na valorização dos imóveis, nos preços dos produtos, no imaginário da cidade, no deslocamento de trabalhadores para municípios vizinhos”. 601 Essa modernidade e progresso do litoral paulista já vêm, há muitos anos, degradando culturas tradicionais como a caiçara e as indígenas, principalmente a partir da presença de rodovias interligando a outras cidades próximas e a São Paulo e Rio, que trouxeram mais fluxos, conturbações, mobilidade, presença massiva de turistas. As populações indígenas estão mais presentes em São Vicente; caiçaras estão presentes difusos pelos modos de vida da população e em famílias remanescentes da Ilha Diana. A cultura negra está também presente em várias manifestações, especialmente da capoeira, forte movimento apoiado por Pontos de Cultura, no samba, na cultura Hip hop. O Movimento dos Pontos de Cultura também tem presença em Santos através de trabalhos de criação e difusão, debates, articulação com redes locais e nacionais. Deve-se destacar a presença na história de Santos do teatro amador. O festival santista de teatro - Festa, está na sua 54ª edição. Patrícia Galvão, personagem destacada na história da cidade, coordenou e idealizou o I Festival de Teatro Amador de Santos e Litoral, no ano de 1958. Em 1991, realiza-se a Bienal de Artes Plásticas de Santos. O investimento em turismo, a revitalização do Centro Histórico, a restauração de prédios depredados, as programações culturais e artísticas, como a reativação do histórico Teatro Coliseu levaram Santos, não apenas a ser uma cidade que atrai turistas nacionais e estrangeiros, mas também cidade com forte desenvolvimento cultural. 13.2.CARACTERIZAÇÃO CULTURA A cidade de Santos tem uma dinâmica cultural, em menor volume, parecida com as grandes metrópoles. Expressões artísticas, manifestações culturais, redes socioculturais de toda natureza, gestão cultural com estrutura e recursos, estrutura de comunicação, economia da cultura etc. A cidade tem uma tradição de cinema, de curtas metragens e acolhe festivais. Com vários diretores reconhecidos nacionalmente foi sede de filmes e minisséries da TV, filmes estrangeiros etc. A cidade também recebe tradicionalmente muitas produções cinematográficas em suas salas com lançamentos de filmes e teve o primeiro Clube de Cinema do país. No campo da literatura tem uma tradição de poesia. Martins Fontes e Vicente de Carvalho são nomes reconhecidos nacionalmente. É uma cidade com uma grande quantidade de importantes museus: Museu do Café Brasileiro ( onde funcionava a Bolsa do Café) , Museu de Arte Sacra de Santos, Museu da Pesca, Museu de Vaney, Museu Oceanográfico, Museu do Mar, Museu do Porto, entre outros. E um patrimônio histórico considerável: igreja barroca como a de Nossa Senhora do Monte Serrat, instalada em 1605, o Convento Franciscano de Santo Antônio (1691); o Mosteiro de São Bento, começado a construir em 1650; Igreja conventual da Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo e Igreja da Ordem Terceira; casarões do Largo Marquês de Monte Alegre e a Casa de Frontaria Azulejada; os Teatros - Teatro Coliseu, Teatro Guarany, Teatro Municipal; Estação de Estrada de Ferro Sorocabana e muitos outros. Trata-se de um inventário de estilos do colonial, barroco ao neoclássico e eclético. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Equipamento cultural/ meios de comunicação Biblioteca pública Sim Museu Sim Município Santos Teatro ou salas de espetáculo Centro Cultural Sim Sim Cinema Sim Videolocadoras Sim Estádios ou ginásios poliesportivos Provedor de internet Sim Sim Unidades de Ensino Superior Sim Shopping Center Sim Livraria Sim Rádio AM Sim Rádio FM Sim Rádio comunitário AM ou FM Geradora de TV Clubes e Associações Recreativas Manifestação Tradicional Popular Cineclube Banda / Coral Orquestra Associação Literária Capoeira Circo Dança Musical Bloco Carnavalesco Artesanato Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - 2009 O Teatro tem uma história cultural forte na cidade; pode-se afirmar que é a cidade do interior paulista e uma das maiores do país com estrutura e movimentos de teatro, embora mais frágil do que em alguns momentos áureos de sua história, quando se deu inicio ao Festival, nos anos 50. Somam-se aos já citados teatros da cidade o Teatro do SESC e do SESI. Tem o festival mais antigo do Brasil. Em 2011 recebeu apresentações de todo o país. Recebeu do Ministério da Cultura a Ordem do Mérito Cultural como destacada contribuição a 603 cultura brasileira. Plínio Marcos e Carlos Alberto Sofredini, dois autores importantes da moderna dramaturgia brasileira, entre outros autores e atores de importância no teatro brasileiro, são santistas. Ainda existem muitos outros festivais na região além da Festa, o maior e mais tradicional: Olho da Rua, organizado pelo movimento de teatro de rua, acontece em janeiro/fevereiro; o Teatro a Bordo, em maio, com apresentações em containers e comunidades carentes; Fescete, organizado por estudantes da Escola de Teatro TESCOM, com cenas teatrais, junho; Agosto, organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santos; Mirada, setembro, Festival Iberoamericano; Festes, outubro, organizado pela prefeitura. Todos os festivais têm a participação da prefeitura. Há também um novo evento cultural na cidade que é o Tarrafa Literária, que traz muitos escritores de fora e dialoga pouco com a produção local e já está na quarta edição. "Temos também um dos melhores corpos estáveis de Ballet Clássico. E temos também trabalho com dança de rua", afirma gestor entrevistado. O SESC realizou pesquisa que indicou que 90% dos participantes de festivais são artistas o que se deduz que seria necessário fortalecer a comunicação e a formação de público da cidade nestes festivais. Há um público que assiste grandes espetáculos nos teatros famosos como o Coliseu, que acolhe muitos atores globais, mas não participa de espetáculos experimentais em espaços alternativos. “O movimento de teatro quer levar peças para a periferia, mas esta não se sente apta a participar de espetáculos.” revela um organizador de festivais. Aulas de teatro são ofertadas nas escolas municipais no programa “Escola Total”, que oferece atividades extracurriculares. Também há a Escola Livre de Teatro, que formou 300 pessoas nos dois últimos anos. Mas o Teatro "não é nem sombra do que já foi na época em que éramos vanguarda cultural." Nas periferias funcionam Centros da Juventude que também trabalham com esta linguagem. Nove bibliotecas distribuídas entre os bairros e praia, sendo nove localizadas no centro vitalizam a dinâmica cultural da cidade. Na cidade há ainda o Centro Cultural Patrícia Galvão com muitas linguagens de arte e cultura.; um movimento de dança de rua, o break é forte em Santos; e dezenas de escolas particulares de música. Também identificamos vários festivais de música. Na dança o SESC realiza a sua Bienal Nacional em Santos, com a presença de uma dúzia de países e dezenas de grupos e atrai importantes nomes da dança internacional. O SESC em Santos desenvolve um papel muito ativo no apoio a várias linguagens, uma verdadeira “ama seca da cultura”, diz um artista entrevistado, para manifestar a sua opinião sobre o apoio desta instituição a eventos de natureza cultural. É de se destacar também o Mirada - Festival Iberoamericano de Teatro levado pelo SESC, “verdadeira referência cultural que muitas vezes substitui a omissão do Minc” A indústria audiovisual ocupa lugar importante. O Curta Santos destaca-se como dos maiores festivais do país, com reconhecimento no exterior. Além de oferecer ao público uma produção significativa no formato de curta metragem, cria reflexão e espaços de discussão sobre conteúdos das obras e desafios para a sua produção e difusão. É o evento considerado mais importante do calendário cultural da baixada santista e já integra a cultura da localidade. Nas artes plásticas permanece a presença do pintor Benedicto Calixto, - no centro da cidade estão os painéis do Salão dos Pregões da Bolsa Oficial do Café, de 1922. Na música, Gilberto Mendes ainda é referência para a criação e a memória. O Santos Jazz Festival, ação com apelo turístico-cultural, trouxe vários jazzista da cidade e do país e fez shows e oficinas de jazz nos bairros. A Arte Sacra está presente em igrejas coloniais, barrocas, neogóticas e no Mosteiro de São Bento. Nas fachadas da cidade, principalmente do Centro Histórico vemos estilos do colonial ao barroco, da diversidade neoclássica a estilos ecléticos. O Carnaval formou tradição desde o inicio do século XX. Em 1960, registram-se vários blocos organizados e também, em 1967, o I Campeonato e Estadual de Escolas de Samba. No segundo campeonato, em 1968, já atraia escolas de todo o interior, inclusive de São Paulo. No entanto, com o crescimento do carnaval paulistano a partir de 2000 perde força iniciando-se uma aglutinação maior do carnaval regional. O patrimônio histórico de Santos foi se consolidando em sua trajetória deixando muitas igrejas, casarões, museus. A cultura em Santos está expressa nos seus movimentos e dinâmicas, nos monumentos, museus, criação artísticas, espaços culturais, movimentos da tradição. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 Os movimentos culturais também se destacam: movimentos de cultura negra, movimentos de culturas populares . Estes movimentos têm uma grande expressão na articulação dos Pontos de Cultura da cidade, que buscam fortalecer redes e as diversidades culturais da localidade, principalmente de bairros mais vulneráveis. Também podemos destacar a presença do Samba, com a roda de Samba mais antiga da cidade que se reúne no Cine Ouro Verde, próximo ao sopé do Morro do Marapé; mas também é importante o Rocck (Aliado 13, Charlie Brown Jr)e também a música erudita que tem em Gilberto Mendes a sua mais destacada expressão. Também é necessários lembrar que a cidade de Santos é uma cidade universitária, com 3 jornais diários, 4 emissoras de TV comerciais e 10 emissoras de rádio. Segundo gestor entrevistado já se sente o impacto do pré-sal na cultura, o que pode alterar a identidade cultural da cidade, porque há um fluxo grande de pessoas e uma relação mais orgânica com São Paulo, mais próxima. As pessoas, os artistas, os turistas, novos moradores vão chegando pelo que a cidade oferece mas também pelo impacto econômico que já se observa no munícipio. É necessário também citar a importância do Condepasa, ligado a Secretaria de Cultura que tem como missão cuidar do Patrimônio Histórico e da formação de restauradores no município. 13.3. Comunidades Tradicionais e Culturas Populares A tradição, ainda que insipiente, ainda se manifesta: a comunidade da Ilha Diana conta com o único grupo com raízes caiçara mais preservada na região, porém fragilizada. Esta comunidade ainda pratica a pesca e a economia de subsistência, mantém valores e manifestações culturais típicas desta tradição, como o artesanato e confecção de objetos utilizados na produção e na vida doméstica. A partir dos anos 50, com o forte desenvolvimento, criação de estradas, turismo, especulação imobiliária, o turismo de massa e o desenvolvimento industrial da pesca, a transformação de parte considerável do território como área de preservação, estas comunidades, como em todo litoral, vão perdendo sua força, território e identidade. No caso da Ilha Diana soma-se a presença da Embraport, que atrai os caiçaras para empregos e geração de renda. As sua identidade cultural presente no artesanato, na musica e dança, na culinária, na medicina natural, na linguagem e mitos, vai se perdendo com o crescimento avassalador do progresso que passa por cima da tradição sem estabelecer parâmetros de desenvolvimento humano. Tradições são muitas vezes apoiadas por projetos locais, inventários, leis de patrimônio imaterial ou projetos do governo do estado levados por organizações sociais como é o caso do Revelando São Paulo, em várias cidades do litoral e ONGs como São Sebastião tem Alma, no município de São Sebastião. O caso da ilha Diana, ligada ao continente, próximo da área urbana e do porto, sua população é reconhecida na Lei de Uso e Ocupação do Solo na área Continental, de 1999, como Zona de Preservação. A manutenção das comunidades tradicionais está entre os usos permitidos. O acesso a Ilha Diana é realizado apenas de barco da prefeitura de Santos. Hoje são cerca de 200 pessoas que moram no local, quase todos parentes, oriundos de cinco famílias, somam-se a outros que se agregam em virtude de relações de parentesco. A atividade econômica mais importante é a pesca, mas muitas pessoas vivem de trabalho em Santos ou em cidades próximas. Contam com habitações de madeira ou alvenaria. Existe Centro Comunitário, Posto de Saúde, Escola Municipal e precária rede de energia elétrica; também precária infraestrutura para emergências médicas que são levadas para a base aérea de Santos. A Petrobras chegou a apoiar um curso para formação de agentes ambientais para marinheiros da ilha. Como se identifica a presença de cultura tradicional na Ilha Diana? : pesca tradicional, artefatos utilizados na pesca e na vida cotidiana feitos de bambu e madeira. A festa do padroeiro Bom Jesus da Ilha Diana, pratos típicos da culinária caiçara como o lambe-lambe, danças típicas. As festas atraem milhares de pessoas anualmente a ilha. A Ilha Diana é dos locais que mais se modificaram em Santos – embora com alguns costumes caiçaras, muitos dos seus habitantes passam a trabalhar na Embraport, empresa de transporte marítimo. “Antes pescador, agora funcionário”, diz um dos entrevistados. 605 Além da Ilha Diana pode ser observados traços desta cultura também em municípios próximos de Santos ou mesmo em Santos, em Monte Cabrão, divisa de Santos com Guarujá, em braços de mangue estabelecem-se colônia de pescadores; também caiçaras se estabelecem misturados com a população urbana, sem formar colônias. Há também população quilombola dispersa na área continental de Santos, já misturada com a população, sem qualquer auto reconhecimento. Alguns entrevistados reconhecem a cultura caiçara modificada em todo o município, presente nos hábitos e costumes, na culinária, na produção cultural. Hoje há um grupo de Música Caiçara Contemporânea que busca atualizar as tradições e a identidade caiçara. Inclusive nos últimos anos há uma presença da palavra “caiçara” na imprensa - observa um dos nossos entrevistados. “Na ilha Diana tem uma procissão marítima na festa da padroeira, é um líder comunitário articulado com o prefeito, não é algo da comunidade”, diz um dos entrevistados. Outro agente cultural confirma: “Existiu aqui um grupo que se chamava Ventos Caiçaras. Mas em Santos se perdeu muito esta cultura. A Ilha Diana, que fica na parte continental da cidade, ainda tem um pouco, mas só um pouco”. O fato é que a cultura caiçara, como ainda existe em alguns rincões do litoral norte, não se apresenta na cidade de Santos, que já nasce urbanizada e consolidada, ao longo de sua história. Santos também apresenta muitas dinâmicas culturais dinamizadas pelos pontos de cultura (quatro pontos) que trabalham com vários temas de interesse da cidade. O Ponto de Cultura do Fórum e Estação da Cidadania de Santos, criado para unir a cidade em torno do enfrentamento dos seus problemas urbanos, tem participado de várias atividades como campanhas (Ficha Limpa) cursos de formação em várias atividades artísticas, teatro, vídeo, curso sobre a América Latina. O Ponto de Cultura Arte no Dique, agora Espaço mais Cultura, “está inaugurando espaço integrado com cinema, cultura digital, teatro, sala de dança completa, um estúdio onde criaremos um selo etc. Temos também um espaço aberto para 1500/2000 pessoas.” “Esse espaço é um coroamento e pode potencializar a comunicação com a cidade e com outros lugares, com o mundo afora. Aqui na cidade não existem espaços similares, apenas os mais formais como Teatro Guarany, Coliseu e Teatro Municipal”. O Ponto de Cultura Vozes da Senzala catalogou a história da capoeira na região de Santos, que irá transformar num portal eletrônico, um memorial do berimbau e museu da capoeira. Tem atuação no campo da formação e atividades educativas e agrega vários bairros em sua ação, destacando-se as crianças. Apóiam também um trabalho de Hip Hop e vários outros grupos culturais. Em Santos também existem outras manifestações culturais como o rock, MPB, cinema urbano, samba, chorinho, jazz etc. “Aqui o samba é forte. Eu identifico o Samba como expressão cultural de Santos. Aqui tem o Ouro Verde que é super expressivo, botecos. Aqui é uma cidade de botecos. Tem samba de botecos, nas barracas de praia, nos morros. Também o chorinho é a cara de Santos. Temos na cidade o Clube do Choro.” 13.4. Gestão cultural e politica de cultura Em pesquisa encomendada pelo Minc ao IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, sobre gestão municipal, Santos obteve o 2 lugar, apenas atrás de Caxias do Sul, superando Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. A pesquisa utilizou dados do IBGE sobre municípios em 5562 cidades brasileiras. Todos os agentes culturais entrevistados respeitam a secretaria de cultura pelo apoio recebido a suas manifestações, mas alguns questionam a política participativa e a hegemonia da gestão no conselho local. E afirmam que “os artistas estão sempre além da gestão, propondo, inovando, solicitando apoio; as gestões estão sempre atrasadas na sua visão dos movimentos e linguagens”. Uma depoente conclui: “Aqui a cultura ainda é baronesca, falta transparência, prestação de contas. Aqui é um polo fomentador de outras regiões: maior porto do hemisfério sul, ao lado do maior parque industrial da América Latina, costa da Mata Atlântica. É de se esperar mais, ainda estamos muito desarticulados”. No entanto, a Secretaria Municipal de Cultura demonstra estrutura e ação. Além de contar com 2.3 % do orçamento municipal e 300 funcionários, sem incluir os oficineiros, está presente nas principais dinâmicas da localidade através de seus três departamentos: de formação cultural, o de eventos e o de gestão dos teatros e manutenção dos equipamentos. Assim, participa da gestão dos equipamentos e seus eventos, formação, Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 festas locais, festivais, apoio a dinâmicas populares locais. E debates sobre políticas públicas, como é o caso do Seminário Regional de Politicas Públicas para o Livro e Leitura, a ser realizado em novembro de 2012.Além de sediar Fóruns de Cultura da região. Além de suas ofertas culturais apoia eventos e manifestações da cidade como a Tarrafa Literária, em parceria com a livraria Realejo; Pontos de Cultura, Festivais de Cenas Teatrais, organizado pelo Tescom – Escola de Teatro e Agência de Artistas e Técnicos; Festa da Nossa Senhora de Monte Serrat, padroeira da cidade, com a Mitra Diocesana de Santos; Chorinho no Aquário e outros. A Secretaria também está organizando a adesão ao Sistema Nacional de Cultura. Conta com um conselho paritário, Fundo de Cultura, que já está em seu 4º edital. E, segundo informações de gestores locais, já está em curso a construção e aprovação da Política Municipal de Cultura. Está criando o Centro Cultural na Zona Noroeste, região de menor IDH da cidade, lugar com dinâmicas culturais e onde acontece o desfile das escolas de samba. A intenção é descentralizar os equipamentos culturais. “Olhar não apenas para a cidade de classe média, a cidade nacionalmente mais vertical, mas aqueles que moram nos bairros em regiões vulneráveis, nas palafitas e habitações precárias”, diz um gestor entrevistado. O foco da política pública nos últimos oito anos tem sido reformar e adequar os equipamentos culturais, fortalecer a programação cultural da cidade, além de recuperar o carnaval que havia se enfraquecido muito, que ainda mobiliza pouca geração de renda e ,onde participam cerca de 10000 pessoas da própria cidade. Também o munícipio tem focado na oferta de oficinas culturais nas várias linguagens. Iniciou obras de recuperação e restauro no Centro Cultural Patrícia Galvão, nos principais teatros, em bibliotecas e em monumentos e edifícios do patrimônio e outras novas obras. Além da ação cultural nos equipamentos já mencionados é de se destacar a atuação da secretaria de cultura no Cine Arte Posto quatro, localizado na orla da praia do Gonzaga, que recebe público de aproximadamente 3000 pessoas mensalmente. O espaço foi reformado e adequado para receber público da cidade, de outros estados e de outros países interessado em filmes sem apelo comercial, a preços populares. Pode-se destacar também o seu sistema de bibliotecas, com 11 unidades, três no centro da cidade e o restante nos bairros. Em 2010 Santos ocupava o 11º lugar no ranking dos munícipios, de acordo com pesquisa do Minc, superando capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Entre os munícipios de São Paulo Santos está em quarto lugar. São 84.600 exemplares, além de Gibiteca e Hemeroteca. Estes são também espaços culturais onde são oferecidos cursos, palestras, oficinas, atividades de estimulo a leitura, como o projeto itinerante “Leia Santos”. Em 2011 a biblioteca Plinio Marcos, localizada na área continental de Santos, em Caruara, foi modernizada e reinaugurada, com novas obras, áudios, computadores e outras tecnologias. Em 2011 a Secretaria de Cultura desenvolveu o Projeto Fábrica Cultural com novas ações pedagógicas nos níveis de Iniciação, Básico e Avançado em várias modalidades: Artes Integradas, Núcleos de Artes Visuais, Arte Musica e Artes Cênicas – Dança e Teatro. Nos Projetos Especiais estão o Grupo de Gravura “Mariana Quito”, os Corpos de Baile, o Balé da Cidade de Santos e as Companhias de Dança. Os cursos oferecidos vão de iniciação musical em várias linguagens, artes visuais, dança de salão, dança de rua, jazz ao teatro. Em relação ao Carnaval a secretaria tem buscado a sua recuperação, pois chegou a ser uma referencia regional. Agora o carnaval não está mais na área turística mas na zona noroeste, com a participação do moradores locais. Além disso tem apoiado o Carnabonde, que acontece uma semana antes do Carnaval; já tem oito anos, são 15 mil pessoas tocando marchinhas em homenagem a antigos carnavais. 607 Alguns números evidenciam as ofertas culturais em Santos: Teatro 2006 2007 56.568 57.693 Público dos teatros 2008 2009 2010 2011 42.208 20000* 40.588 Ja nei ro de 2006 a dezembro de 2008, públ i co es ti ma do em ma i s de 150 mi l pes s oa s . 64.973 67.262 157.900 440.135 Inauguração em dezembro de 2008 15.400 19.200 21.700 56.300 93.862 Total 310.919 Municipal Braz Cubas Coliseu Guarany *Por conta da reforma, só abrigou o VI Festival Cidade de Santos – Dançar a Vida. Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Santos, 2012. Posto 4 – Cine Arte (2006-2011) 300 filmes exibidos Total público: 178.842 pessoas Cursos: 32.395 alunos atendidos Capacidade em Teatros Teatro Municipal: 600 lugares Teatro Coliseu: 1200 lugares Teatro Guarani: 350 pessoas Coordenadoria de Música - 2006 a 2011 Orquestra Sinfônica Municipal de Santos (2006 a *2010) 114 concertos Quarteto de Cordas Martins Fontes 143 concertos Camerata Heitor Vila Lobos 84 concertos Coral Municipal 50 concertos Fonte das Tabelas: Secretaria Municipal de Cultura de Santos, 2012. O orçamento da cultura para este conjunto de ações vem desde 2005 numa escala entre 1.5 % e 2.5 %, atingindo o seu ponto mais alto em 2008, com 2,42 %. Em 2011 a cultura obteve 2.3 % do orçamento, se forem consideradas as suplementações. Nos eventos culturais existe uma parceria com governo do estado para circular a produção, com o Proac; também participam da Virada Cultural, que já acontece em 26 cidades e também com oficinas de curta duração, com estrutura paga pelo governo do estado. Isso amplia ainda mais os potenciais de recursos culturais do munícipio. . Regulação, Preservação e Uso dos Imóveis de Interesse Histórico e Cultural do Município. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 13.5. Regulação, Preservação e Uso dos Imóveis de Interesse Histórico e Cultural do Município. A LOM de Santos assegura “especial atenção ao patrimônio histórico e cultural, aos sítios arqueológicos, à criação de subzonas de preservação ambiental e à proteção de referenciais urbanísticos característicos da memória cultural da cidade”, nos termos de seu art. 137, inciso VI, o que se encontra adequadamente operacionalizado pela competência conferida ao Município pelo art. 6º, inciso IX. Nessa linha, o Plano Diretor (LC nº 731/2011) estabelece objetivos de preservação e recuperação do patrimônio cultural, artístico, histórico e estético; bem como fortalecimento do Município como polo de atratividade cultural, conforme se extrai da leitura de quatro de seus Planos de Ação Integrada, prescritos e discriminados nos arts. 13 e seguintes. A relevância do tema na ordem jurídica municipal pode também ser aferida a partir da organização administrativa criada para atendimento dessa demanda e do zoneamento e controle da ocupação fortemente marcados pela diretriz de preservação do patrimônio histórico. Quando se refere à organização administrativa, deve-se registrar a existência de duas frentes de atuação: uma para política de proteção ao patrimônio cultural e outra para as demais ações culturais. Para tanto, existem dois conselhos em Santos a responderem por tais atribuições: o Conselho de defesa do Patrimônio Cultural de Santos (CONDEPASA) e o Conselho Municipal de Cultura (CONCULT). Ambos são criados por normativos próprios, quais sejam, as Leis nº 753/1991 e nº 1.367/1994, respectivamente. Ao CONDEPASA é atribuída a definição da política de preservação do patrimônio cultural do Município, sendo sua a deliberação e outros procedimentos quanto ao tombamento de bens. Além disso, cabe-lhe opinar sobre planos ou projetos de intervenção e recuperação de bens culturais e a realização de inventário do patrimônio cultural (art. 2º da Lei nº 753/1991). A mesma Lei nº 753/1991 discrimina as providências para o tombamento municipal de bens de relevância cultural. Distintamente, compete ao CONCULT, em síntese do disposto no art. 6º da Lei nº 1.367/1994, contribuir para o desenvolvimento cultural do Município e propor atividades culturais por meio de programas ou projetos. Não é expressa por lei sua competência para definir diretrizes da política cultural do Município, mas facultada sua contribuição. A disciplina legal de ambos os conselhos municipais foi alterada apenas para contemplar modificações em sua composição, sobretudo, dos representantes nomeados pelo Executivo municipal. Passando-se à análise da outra linha de atuação do Município na preservação de bens de patrimônio cultural, encontramos as regras de delimitação de zoneamentos especiais e o Programa “Alegra Centro”, que regula as condições construtivas de imóveis identificados dentro de um perímetro determinado. Iniciando-se a análise do zoneamento, a faz-se a leitura da LC nº 729/2011 para se chegar a conclusão que a área continental de Santos permite expressamente atividades de caráter cultural na ZUE e ZP (arts. 24 e 25). Mas é nas ZP que o art. 33, parágrafo único remete à disciplina própria (legislação de tombamento, sobretudo) o resguardo de áreas onde se verifiquem “existência de vestígios arqueológicos e/ ou arquitetônicos”. Na área insular, a LC nº 730/2011 é mais específica para delimitar zoneamentos especiais definidos como Áreas de Proteção Cultural (APCs), definidas pelo art. 10, inciso II; e vias restritas a tráfego de determinados tipos de veículos denominados Corredores de Proteção Cultural (CPCs), definidas pelo art. 23, VIII. Por expressa definição contida no próprio art. 10, inciso II, a preservação do patrimônio histórico seria em princípio incentivada pela possibilidade de adoção do instrumento da transferência do Direito de construir. Novamente se registra que os coeficientes de aproveitamento no território insular santista são significativamente permissivos, de onde se conclui a possível baixa atratividade para empreendedores privados usarem o instrumento. Apesar disso, a transferência do direito de construir é novamente prevista no art. 59. 609 Dentro das APC, além das diretrizes da Zonas Centrais I e II, nas quais as APC estão insertas, os imóveis são classificados e diferenciados, de acordo com grau de preservação a incidir, conforme reza o art. 57: • I - Nível de Proteção 1 (NP 1), corresponde à proteção total e atinge imóveis a serem preservados integralmente, incluindo toda a edificação, os seus elementos construtivos e decorativos, interna e externamente; • II - Nível de proteção 2 (NP 2), corresponde à proteção parcial e atinge os imóveis a serem preservados parcialmente, incluindo apenas as fachadas, a volumetria e o telhado; • III - Nível de Proteção 3a (NP3a), corresponde à livre opção de projeto, mantendo-se, porém, o gabarito predominante dos imóveis NP1 e NP2 existentes na testada da quadra em que estiver inserido e quando da inexistência destes na mesma quadra, nas testadas das quadras contíguas e alinhadas a esta; • IV - Nível de Proteção 3b (NP3b), corresponde à livre opção de projeto para os edifícios, porém respeitando-se o gabarito máximo de 35,00 m (trinta e cinco metros) de altura contados a partir da calçada fronteiriça ao imóvel. Os lotes identificados com este nível de proteção deverão estar localizados próximos de imóveis verticalizados situados na mesma testada de quadra onde estão inseridos ou em testadas fronteiriças ou nas testadas de quadras laterais adjacentes. O critério para a implantação no lote e para identificação do referido nível de proteção deverá atender as diretrizes estabelecidas pelo CONDEPASA; • V - Nível de proteção 4 (NP 4), corresponde à livre opção de projeto, respeitando os índices urbanísticos da zona em que se situar o imóvel gravado. Obras, sejam construções, ampliações, reformas, demolições ou instalações dar-se-ão nas APCs ou nos CPCs sem a anuência prévia do CONDEPASA, nos termos dos arts. 55 e 56. É também de competência desse colegiado a definição do grau de proteção (art. 57, parágrafo 1º). O art. 58 da LC nº 730/2011 prevê a possibilidade de isenção de tributos classificados como NP 1 e 2, condicionada à reconstituição da situação incialmente projetada da edificação. Conforme tratado no tópico referente ao tema habitacional, o Programa “Alegra Centro” foi instituído pela Lei nº 470/2003, sendo-lhe derivado o Programa “Alegra Centro – Habitação”, nos termos da Lei Complementar nº 688/2010. O art. 3º da LC nº 470/2003 estabelece a abrangência do programa para áreas definidas como APCs dentro das Zonas Centrais I e II, e Zona Portuária. São estabelecidos incentivos aos empreendedores, mas, diferentemente do previsto à sua derivação para reabilitação de uso habitacional, a lei municipal não fixa irrestritamente prazos para o proprietário submeter seu projeto ao Município. Somente são notificados os proprietários de imóveis deteriorados classificados nos níveis de proteção 1 e 2 (NPs 1 e 2), conforme arts. 31 a 33. Além disso, a lei é bastante detalhada nos parâmetros edilícios e paisagísticos admitidos para quaisquer intervenções. Equipamentos de ar condicionado, letreiros, toldos, anúncios provisórios, pinturas de fachadas e outros elementos construtivos são merecedores de seções inteiras de disciplina urbanística (limitações administrativas). Suas dimensões e formas de instalação são estritamente regulamentadas. Convênio Petrobras Instituto Pólis | Relatório nº 6 Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Santos março de 2013 13.6. Principais desafios para o desenvolvimento cultural 13.6.1. Fortalecimento das vocações da cidade: a identidade local Santos construiu ao longo da história um conjunto de vocações. Cidade histórica, com presença na construção cultural do país, onde se destaca a sua memória de resistência. Presença no mundo das artes e dos movimentos culturais. O Patrimônio Histórico Material - formado principalmente por edifícios do centro da cidade, agrega vários momentos da história da arte; também a sua arquitetura das casas merece destaque. O patrimônio poderá ser um forte atrativo para o fortalecimento da identidade local e também para a efetivação de um turismo com base cultural, pois “temos muitos espaços, temos leis, o centro histórico é ermo, faltam profissionais”. Aqui destacamos a memória histórica mais antiga e recente (período da ditadura) , os seus saberes nas várias áreas das culturas eruditas e populares. Destacamos também a importância do fortalecimento do Curta Santos, de trajetória já comentada e do Festival de Teatro. Ampliar também o festival de curtas para longas metragens e consolidar novos projetos como o Jazz etc Estes festivais poderão construir possibilidades de uma economia da cultura, também formação de público e acesso a cultura da cidade. O estimulo ao Samba, “rosto cultural da cidade” também deve merecer políticas e incentivo, para que possa contribuir ainda mais para o desenvolvimento cultural e um turismo com base sociocultural. A dança e a música também se destacam como linguagens relevantes para cidadania cultural local. O Fórum de Cidadania completa este quadro, pois tem se destacado como impulsionador do debate público e também participante do debate cultural. As convergências identitárias passam, sem dúvida por esta articulação urbana. 13.6.2. Fortalecimento das culturas populares A cidade é mesclada de culturas eruditas e populares, de migrantes e imigrantes, estrangeiros e nativos. Neste sentido, espalham-se culturas populares pela cidade, envolvendo a cultura negra, caiçara, manifestações culturais de todo o tipo, do samba à capoeira, do chorinho ao hip hop; e culturas “caiçaras contemporâneas”. Aqui podemos indicar o grande mérito dos Pontos de Cultura que fortalecem, com poucos recursos, a cultura local, construindo debates públicos sobre a cidade e sua identidade, ampliando a criação e o acesso e difundindo as culturas populares entre as populações vulneráveis da cidade. O Programa Cultura Viva, que agrega os pontos merece ser visto com olhos do protagonismo do jovem e dos segmentos populares, além de estar conectado com novas tecnologias e dimensões nacionais que atuam em rede. Ao mesmo tempo a capoeira tem destaque na cidade, com vários grupos e também manifestações culturais do samba e do chorinho, que atualmente marcam as dinâmicas culturais santistas. Segundo informações da prefeitura há uma relação muito positiva com estes grupos, como é o caso do Ponto de Cultura Arte no Dique, que tem a simpatia e o apoio da Secretaria de Cultura. Também podemos indicar a importância de realizar mapeamentos das comunidades tradicionais no município, principalmente caiçaras e alguns remanescentes quilombolas ainda dispersos, mas existentes, e das culturas populares da cidade. Os Pontos de Cultura tem se constituído com uma forte presença no fortalecimento das politicas de cultura e ações voltadas para as culturas populares e com presença grande na periferia. Por sua força, mobilidade cultural local-regional-estadual e nacional, baixo custo e postura ética, têm sido fortes construtores da diversidade cultural dos países. Neste momento estes programas voltados para o ter