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FACULDADE DE CIÊNCIAS, CULTURA E EXTENSÃO DO RN - FACEX Autorizada pelo Decreto nº 85.977 de 5/5/1981, publicado no D.O.U. de 6/5/1981 Mantenedora: Centro Integrado para Formação de Executivos – CIFE Publicação da Coordenação de Pesquisa e Extensão – CPE/FACEX Diretor Presidente José Maria Barreto de Figueiredo Diretora Administrativa Candysse Medeiros de Figueiredo Lira Diretor Financeiro Oswaldo Guedes de Figueiredo Neto Diretor Geral Raymundo Gomes Vieira Diretor Acadêmico Ronald Fábio de Paiva Campos Coordenador de Pesquisa e Extensão Francisco de Assis Maia de Lima Conselho Editorial Francisco de Assis Maia de Lima - Presidente Ana Tânia Lopes Sampaio – FACEX Carla Soraia Soares de Castro – UFPB Daise Lílian Fonseca Dias – UFCG Diva Sueli Silva Tavares - FACEX Jacyene Melo de Oliveira Araújo - UFRN Kátia Brandão Cavalcanti - UFRN Márcia Adelino da Silva Dias – UEPB Rita Diana de Freitas Gurgel - UFERSA Coordenação Editorial Francisco de Assis Maia de Lima Coordenação Técnica Daniele Bezerra dos Santos Daise Lílian Fonseca Dias Lívia Stockler Normalização Bibliográfica Bibliotecária Maria da Saudade G. A. de Souza Produção Gráfica Faça Comunicação e Design www.facarn.com Tiragem 500 exemplares CARPE DIEM Revista Cultural e Científica A Revista Carpe Diem é uma publicação anual da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN – FACEX, do Centro Integrado para Formação de Executivos (CIFE) que tem como finalidade contribuir para o desenvolvimento e divulgação do conhecimento nas áreas de Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Exatas e da Saúde. Destina-se, portanto, à divulgação de trabalhos relativos a estudos de natureza teórica e experimental no campo da pesquisa, resumos e teses ou dissertações, monografias, trabalhos de conclusão de cursos, comunicações e artigos de revisão produzidos pelo corpo docente e discente desta e de outras instituições públicas ou privadas. Os interessados no envio de artigos para publicação (ver Normas para apresentação de trabalhos na Revista) devem entrar em contato com a Coordenação Editorial da mesma, junto à Coordenação de Pesquisa e Extensão da FACEX, no endereço abaixo: ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN – FACEX Coordenação de Pesquisa e Extensão A/C Prof. Francisco de Assis Maia de Lima Rua Orlando Silva, 2897 – Capim Macio 59.080-020 – Natal/RN E-mail: [email protected] “Os trabalhos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Permitida a reprodução, total ou parcial, desde que citada a fonte” Aceita-se permuta We ask for exchange Piédese canje On demande l’échange Si richiede lo scambio 1 Editor da Revista. Mestre (UFRGS) e Doutor (USP) em Genética. Coordenador de Pesquisa e Extensão (FACEX). Coordenador do Curso de Ciências Biológicas (FACEX). Revista Cultural e Científica Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN Natal, Rio Grande do Norte ISSN 1518-5184 FICHA CATALOGRÁFICA Biblioteca Senador Jessé Pinto Freire / FACEX [email protected] C294 Carpe Diem / Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte. - Natal: FACEX, v. 8, n. 8, jan./dez. 2010. Revista Cultural e Científica – Coordenação de Pesquisa e Extensão. ISSN: 1518-5184 Anual 2001 – Disponível em: http://www.facex.com.br/novo/superior/navegacao/revistacientifica 1. Educação Superior – Periódico 2. Ciências Humanas – Periódico 3. Ciências Sociais e Aplicadas – Periódicos 4. Ciências da Saúde – Periódicos I. Título. EDUCAÇÃO REVISTA CULTURAL E CIENTÍFICA DA FACEX FACULDADE DE CIÊNCIAS, CULTURA E EXTENSÃO DO RN v. 8, n. 8, jan./dez. 2010 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA NA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO........................................................ 79 Marcelo Vilela Quirino ENFERMAGEM SUMÁRIO BIOLOGIA RECONHECENDO O TERRITÓRIO DE FORMA HUMANESCENTE: UM ESPAÇO VIVO DA SAÚDE........................................................................................... 99 Ana Tania Lopes Sampaio Claudio José da Costa Custódio Débora Karla Sampaio Alves Custódio Kátia Brandão Cavalcanti TEMPORAL DYNAMICS OF FEEDING AND REPRODUCTION OF THE DAMSEL FISH (Stegastes fuscus).................................................................................. 11 Bhaskara Canan Liliane L. G. Souza LITERATURA Gilson L. Volpato Arrilton Araújo POESIA NA SALA DE AULA: FORMANDO LEITORES...................................... 113 Sathyabama Chellappa Diva Sueli Silva Tavares WOMEN AND VICTORIAN LITERATURE............................................................ 127 ANATOMIA ECOLÓGICA DE Sesuvium Portulacastrum L. (AIZOACEAE) Daise Lílian Fonseca Dias OCORRENTE NA RESERVA BIOLÓGICA DO ATOL DAS ROCAS, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE............................................................................................ 33 Maria das Dores Melo PSICOLOGIA Berta Lange de Morretes REFLEXÕES SOBRE STRESS E TRABALHO EM HOSPITAIS PÚBLICOS DE NATAL-RN..................................................................................................................... 147 Luciana Carla Barbosa de Oliveira LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DO CONJUNTO DOS PROFESSORES, NATAL/ Priscilla Cristhina Bezerra de Araújo RN: UM SUBSÍDIO PARA ARBORIZAÇÃO URBANA............................................ 51 Eulália Maria Chaves Maia Mellinna Carol Dantas Pereira Daniele Bezerra dos Santos Francisco Freitas Filho SERVIÇO SOCIAL Maria das Dores Melo A MODERNIDADE ANALIZADA SOB A ÓTICA DO CONSUMO: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DE ZYGMUNT BAUMAN E ANTHONY GIDDENS............ 159 BIOLOGIA POPULACIONAL DO ROBALO Centropomus undecimalis Adna Rejane de Freitas Rego (OSTEICHTHYES: CENTROPOMIDAE) DO ESTUÁRIO DE RIO POTENGI, NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL........................................................... 63 NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DO TRABALHO.............................................169 Wallace Silva do Nascimento Liliane de Lima Gurgel Kelly Cristina Araújo Pansard Renata Swany Soares Nascimento Hélio de Castro Bezerra Gurgel Sathyabama Chellappa TEMPORAL DYNAMICS OF FEEDING AND REPRODUCTION OF THE DAMSEL FISH (Stegastes fuscus) Bhaskara Canan1; Liliane L. G. Souza2; Gilson L. Volpato3; Arrilton Araújo1; Sathyabama Chellappa2 ABSTRACT: This study reports on the feeding and reproductive dynamics of the damsel fish, Stegastes fuscus (Osteichthyes: Perciformes: Pomacentridae) in the rocky coastal reefs of Búzios, Rio Grande do Norte, Brazil. Water temperatures and rainfall data were registered and fish were captured on a monthly basis during one year. Fish body weights and lengths were measured and the stomachs were removed and classified according to their degree of fullness. The gonads were weighed, examined for sex determination and maturation was determined based on macroscopic inspections. A higher frequency of females (78%) was registered in relation to males (22%). The lowest degree of stomach fullness was observed in August and the highest in January. Only 2.49% of the fish had empty stomachs and the rest 97.51% had mainly macroalgae in their stomachs. The period from February to August was associated to a long phase of gonadal resting in males and females. Two peaks of partial spawning were registered during January and September/October. KEY-WORDS: Feeding. Reproduction. Biological rhythm. Environmental parameters. Pomacentridae. DINAMICA TEMPORAL DE ALIMENTAÇÃO E REPRODUÇÃO DO PEIXE-DONZELA, Stegastes fuscus RESUMO: O presente trabalho relata sobre a dinâmica de alimentação e reprodução do peixe-donzela, Stegastes fuscus (Osteichthyes: Perciformes: Pomacentridae), nos arrecifes rochosos de Búzios, Rio Grande do Norte, Brasil. A temperatura da água e os dados de pluviosidade foram registrados e os peixes foram SENAI. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Salgado Filho, 3000, Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, CEP 59.072-970. E-mail: meioambiente@cetcm. rn.senai.br 2 Programa de Pós-Graduação em Bioecologia Aquática, Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Praia de Mãe Luiza, s/n, Natal/RN, Brasil, CEP 59.014-100. 3 Laboratório de Fisiologia e Comportamento Animal, (RECAW), Departamento de Fisiologia, IB, CAUNESP, UNESP, Botucatu, SP, Brasil. CEP: 18618-000 1 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 11 capturados mensalmente durante o período de um ano. Os peixes foram medidos, pesados, dissecados, as gônadas foram removidas, pesadas e examinadas para identificação do sexo. Foi realizada a avaliação macroscópica dos estádios de maturação gonadal. Os estômagos foram removidos e classificados em relação ao grau de enchimento. Foi registrada uma maior freqüência de fêmeas (78%) em relação aos machos (22%). O menor grau médio de repleção dos estômagos ocorreu no mês de agosto e o maior ocorreu no mês de janeiro. Apenas 2,49% dos peixes apresentaram estômagos vazios enquanto que 97,51% de indivíduos apresentaram estômagos com alimento, principalmente as macroalgas. O período de fevereiro a agosto foi associado a um longo período de repouso gonadal de ambos os sexos. Dois picos de desova foram registrados durante janeiro e setembro/outubro. PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Reprodução. Ritmos biológicos. Parâmetros ambientais. Pomacentridae. 12 1 INTRODUCTION The species that inhabit coral reefs are strongly influenced at low tides by external factors such as temperature, luminosity, and rainfall, among others (Klumpp, Mckinnon and Daniel, 1987; Cleveland and Motgomery, 2003). These effects are due to the low volume of water in these areas, which are usually trapped in tide pools. Thus, it is expected that tropical fish communities living in tide pools are influenced by external factors which vary throughout the year. Fishes show a wide adaptive radiation in their foraging habits and marine fish populations exhibit annual changes in their feeding pattern (Lison De Loma et al. 2000) and reproductive dynamics (Richardson, Harrison and Harriott, 1997; Asoh 2003; Picciulin et al., 2004; Araújo and Chellappa, 2002). Effects of temperature, luminosity and rainfall on annual distribution and population structure have been detected in marine fish (Gibson, Ansell and Robb, 1993; Schwamborn and Ferreira, 2002). However, few studies have dealt with tropical reef fish (Schwamborn and Ferreira, 2002; Osório, Rosa and Cabral, 2006) Fishes in the equatorial regions are more influenced by rainfall and are less subjected to variations in temperature and photoperiod, since they are practically constant all around the year (Volpato and Trajano 2006). Thus, fishes in the equatorial regions are useful for investigating the influence of the dry and rainy periods on fish biology, since other intervening factors are rather reduced. The damselfish, Stegastes fuscus (Cuvier 1830), (Osteichthyes: Perciformes: Pomacentridae), which occurs in tide pools located in the coastal reefs in northeastern Brazil was investigated in the present study. The objective of this study was to investigate the sex ratio, the size structure of males and females, the degree of stomach fullness and gonadal development in a coral reef population of S. fuscus in order to understand the temporal dynamics of feeding and reproduction. An attempt was made to correlate the spawning season of this species with rainfall, one of the environmental factors known to modulate the duration and timing of the spawning period of tropical fish. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 13 2 MATERIAL AND METHODS 2.1 Study area and sample collection The study area is located in the South Atlantic Equatorial Zone. Samples of damselfish S. fuscus were captured from the tide pools located in reef formations (approximately 3 km in extension), in Búzios Beach, Nizia Floresta, Brazil (06º00’40’’S; 35º 06’38’’W) (FIG. 1). In the collection site there were other co-occurring fish species pertaining to Pomacentridae, Serranidae, Lutjanidae, Haemulidae and Scianidae. The benthonic macroalgal flora of this area included Rhodophyta, Chlorophyta and Ochrophyta with dominance of Hypnea musciformis (Rhodophyta), Gracilaria spp (Rhodophyta), Solieria filiformis (Rhodophyta), Gelidium coarctatum (Rhodophyta) and Padina gymnospora (Ochrophyta) (Marinho-Soriano, Carneiro and Soriano, 2009). Fish were captured on a monthly basis during the lowest daytime tides, from September 2004 to August 2005. The observations on fish occurrence were made at low tide periods, which is when they are most influenced by variations over the course of the year. Water temperatures (°C) were recorded monthly in the field when the fish were captured. Rainfall data (mm) was obtained from the FIGURA 1 – Relação teórica desenvolvida 14 Meteorological Station of the Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, Brazil. Fish were captured with a 0.5 cm mesh hand net, 90 min before and 90 min after peak low tide. The collected specimens were placed in plastic bags and packed in ice in a thermal container and were then transported to the Laboratory for immediate inspection. The voucher specimens are deposited in the fish collection of the Museum of the Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brazil. 2.2 Measurements The total body mass (TW) of each fish was registered to the nearest 0.001 g. The fish were then measured to obtain standard (SL) and total (TL) body lengths to the nearest 0.1 cm. The gonads were examined to identify sex. Gonadal development stages were determined macroscopically according to classification of Asoh (2003). Gonadosomatic index (GSI) was calculated as the ratio between gonad mass and total body mass for females (Wootton, Evans and Mills, 1978). 2.3 Estimation of the degree of fullness of stomachs The stomachs were removed and their degree of fullness were classified according to Berg (1979): 0 (empty), 1 (up to 25% full), 2 (between 25% and 75% full) and 3 (between 75% and 100% full). To estimate these percentages, the food contents were accumulated at the bottom of the stomach and then this filled region was estimated in relation to total stomach volume. Stomach contents were identified using identification manuals for macroalgae and Diatomaceae (Werner, 1977; Reviers, 2006; Marinho-Soriano, Carneiro and Soriano, 2009). 2.4 Statistical analyses Monthly analysis of male and female frequencies was performed to obtain the sex proportion. Mean values were compared by ANOVA in order to assess the variations considering month, sex and seasonality (dry and rainy). Tuckey test was used for testing differences between Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 15 particular pairs of means. The repletion index was square root transformed. The Goodman’s test was used to verify the proportions between the numbers of fish (Goodman 1965), while χ2 was used to test for differences in the frequency of males and females along the year and in the dry and rainy seasons. Significance was attributed at 5% level. 3 RESULTS 3.1 Rainfall and water temperature During the study period, northeastern Brazil experienced six months of dry season from September, 2004 to February, 2005. During the dry season the rainfall varied from a maximum of 44.0 mm to a minimum of 2.0 mm, with a mean (±sd) rainfall of 18.33 mm (± 17.39 mm). The rainy season was from March to August, 2005, during this period the rainfall varied from a maximum of 752.0 mm to a minimum of 90.0 mm, with a mean rainfall of 307.83 mm (± 274.52 mm). There was a significant difference between the rainfall levels during the dry and rainy seasons (t = 2.578; p=0.0275). The water temperature varied from a maximum of 36°C in March, 2005 to a minimum of 25°C in July, 2005. During the dry season the mean water temperature was 32.67ºC (± 1.21ºC), with a maximum of 34.5ºC to a minimum of 31ºC. During the rainy season the mean water temperature was 30.58ºC (± 4.65ºC) with a maximum of 37ºC to a minimum of 26ºC. There was no significant difference between the water temperature during the dry and rainy seasons (t = 1.259; p = 0.2366). 3.2 Total body length, body mass and sex proportion The frequency of individuals by standard length classes showed a normal distribution. Males and females ranged from 3.0-4.5 to 10.5-12.0 cm length classes (FIG. 2a). There were significant differences in the number of males and females throughout the study period, except for the months of July and August (FIG. 2b). There was a higher proportion of females (78%) than males (22%) in the total sample (n = 562) (χ2 = 35.75). The length-mass relation was not different for males and females and indicated that mass increment is positively allometric in relation to total length. The length and mass was correlated by an exponential curve (r = 0.9876 for females and r =0.9911 for males). (Fig. 3) 16 FIGURA 2 – Class frequency of occurrence (a) and monthly variation in percentage of occurrence (b) of males and females of Stegastes fuscus in the coastal rocky reefs of Búzios Beach during 2004 to 2005 (Asterisks indicate significant differences). Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 17 The total length of fish was more distinct between the sexes at the beginning of the dry season (FIG. 4a; F = 0.43; p = 0.83). The fish were significantly larger in March and April than in the other months (F = 2.38; p = 0.04) (FIG. 4a). However, standard length of fish varied between the sexes and the months. In the months of July-August and November- December, the females were significantly larger than the males (FIG. 4b; F = 3.24; p = 0.007). The females captured in MarchApril and July-August had higher mean standard length compared to the other months. The males captured in March-April were the largest and those captured in November-December were the smallest. Body mass was equally affected in relation to sex and month (FIG. 4c; F = 2.75; p = 0.02). The females had greater body mass than the males in January-February, whereas the male body mass was the highest in March-April (FIG. 4c). FIGURA 3 – Relation between body length and body mass in males and females of Stegastes fuscus 18 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 19 3.3 The degree of fullness of stomachs Of the 562 specimens examined, a low proportion (14; 2.49%) had empty stomachs, whereas 548 (97.50%) specimens had stomach contents consisting mainly of macroalgae (Gelidium sp., Grasilaria sp. and Padina sp.), benthonic diamatoceae and organic debris. The highest frequencies of empty stomachs occurred from AugustDecember, whereas the highest frequencies of stomachs with food occurred from January to July. The stomach fullness did not change throughout the year. The lowest mean repletion level (1.59) was in August, and the highest (2.29) occurred in January (FIG. 5). FIGURE 5 - Mean monthly values for degree of stomach fullness in Stegastes fuscus (for pooled sex). FIGURE 4 - Size (total length, standard length and body mass) of Stegastes fuscus in relation to sex and seasonal variation during 2004 to 2005. Measurements indicated in similar simple letters were not significantly different among themselves (comparison across the months). The asterisks indicate significant differences between the sex, when compared during the same period 20 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 21 Repletion index of fish varied over the months (FIG. 6). No correlation was observed between fish size (standard length, total length and body mass) and repletion index, regardless of sex and season (r = 0.45, p>0.05, n = 6). Repletion index did not differ between males and females (F = 0.38; p=0.54), despite the variations observed over the months (F = 2.22; p = 0.05) (FIG. 6). FIGURE 6 - Stomach repletion rate in Stegastes fuscus according to sex, season and across months during 2004 to 2005. The grouping of horizontal lines indicate similar indices and simple letters above the lines indicate significant differences (medium with the same letter, however they were not significantly different among themselves). 3.4 Macroscopic aspects of gonads and GSI Five stages of gonadal maturation (immature, developing, mature, spent and resting) were identified: The gonadosomatic index (GSI) of females was high in September, 2004 and in January, 2005. The period between February and August, 2005 was associated to a gonadal inactivity period. Females with developing and resting gonads predominated in the rainy season (FIG. 7a; FIG. 8). The highest mean GSI values coincided with the lowest temperatures (FIG. 7b). 22 FIGURE 7 - Monthly mean values of (a) rainfall and GSI (b) water temperatures and GSI in females of Stegastes fuscus during the period of 2004 to 2005. Though gonadal development did not vary much throughout the year, the gonadal development profiles of males and females were different between one another in both dry and rainy seasons (FIG. 8). The females were predominately with developing gonads, whereas the males, for the most part, were juvenile and with immature gonads. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 23 4 DISCUSSION The dynamics of reproduction of S. fuscus is associated mainly to rainfall, which is expected for fish populations in an equatorial region. Both males and females of this species showed positive allometric growth. Though the classical sex ratio is a balanced one, usually being 50% of males and 50% of females (Nikolsky, 1969), the proportion between males and females was different from 1:1 in the present study and females were predominant during most of the months. This is possibly due to the behavior of these individuals since territoriality is common among pomacentrids during the reproductive phase. Males guard the eggs in territories before and after they hatch, thus keeping off the predators and unwanted female intruders. Male care also includes ventilation of eggs, cleaning of territory and discarding dead eggs, and these activities occupy about 25% of their time (Petersen, 1995). This behaviour, possibly results in potential coasts for the territorial males, which include lack of food availability during parental care (Tabata, 1995; Blazquez, Zanuy and Piferrer, 1998; Gaillard et al., 2004), predation risks from bigger fishes, mortality difference between the sexes and ambient temperature (Hatcher, 1981; Carpenter, 1986; Klumpp and Polunin, 1989). The difference in territorial distribution between S fuscus males and females, as well as for other species, has been reported (Munro, 1976). In this study S fuscus males were distributed predominately along the outer edges of the reefs, which are deeper, while the females were found in shallower areas. Populational stratification could be another factor responsible for the unbalanced sex ratio of this species. The predominance of males of S. diencaeus in Barbados appears to be related to specific exigencies of males and females, resulting from environmental resources, like appropriate sites for breeding territories, proximity to cleaning stations and search for cleaning agents, depending on the parasitic loads (Cheney and Côté, 2003). Thus, a possible populational stratification appears to be a more adequate explanation to justify the difference observed in sex ratio and such intra-specific variation is a common characteristic among reef fishes (Nemtzov, 1997; Sikkel, Herzlieb and Kramer, 2005). Seasonal variation in relation to the body size, food intake and gonadal development of S. fuscus was observed, with variations associated to rainfall. The mass-length equation indicates how much one variable changes in association with the variation of the other. In this context, the relation between body mass and length of S. fuscus showed slightly higher values compared to the value reported by Bohnsack and Harper (1989). This difference may be explained by the fact that smaller fish (from 3 to 8 cm in furcal length) were used, whereas in the present study the size range of fish was larger (2.9 to 11.4 cm). Differences in the mass-length relation between sexes have been reported for several fish species (Le Cren, 1951), and are a consequence of the higher energy expenditure of females during gonadal maturation (Wootten, 1995). Even though the fish in the present study were predominately in the immature and developing gonadal phases, the expected marked effect of sex on the weightlength relation did not occur. One explanation for this finding is 24 Carpe Diem FIGURE 8 - Fish proportion in relation to sex, gonadal status, dry and rainy season in Stegastes fuscus. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 25 that, although female energy expenditure in producing gonads is greater, S. fuscus males spend energy defending their territory and protecting the territory (Itzkowits, Ludlow and Haley, 2000; Sikkel, Herzlieb and Kramer, 2005). Coasts of territorial defense by males may be equivalent to expenditure of energy by female on gonadal development, which could explain the similarity in the mass-length curves of males and females. This study confirms the herbivorous nature of S. fuscus in accordance with Ferreira et al. (1998) and Osório, Rosa and Cabral, (2006). There was no difference between the sexes in stomach repletion rates, though there was a higher rate between January and June. The increased ingestion may be related to the reproductive phase. This association may lead to accumulation of sufficient energy to complete the gonadal development. On the other hand, the higher repletion level may result from greater food availability. That is, reproduction may be associated with the period of greater food supply, which would guarantee not only adult development, but also offspring survival. This profile coincides partially with the higher S. fuscus length patterns found in March-April and July-August. There was a predominance of larger specimens in the rainy season, which seems to be a response more associated to food availability than to reproduction. The food supply is greater in the rainy season and therefore, in the dry period, the larger specimens must search for other feeding sites, which would explain the size variation of the fish collected in this study. Considering the gonadal development phase of S. fuscus, the females were mainly in developing stages and the males in the immature or developing stages. That is, the females were in a more advanced stage of gonadal development than the males. The action of external influences has been considered as important spawning synchronizers, for example, in Chromis dispilus (Tzioumis and Kingsford, 1995). The different gonadal development phases between S. fuscus males and females suggest that there must be some acceleration mechanism for males or a delay mechanism for females that synchronizes the spawning period in this species. However, rainfall had no effect on overall gonadal development. 26 Since temperature and photoperiod duration are relatively constant throughout the year in the study area, other environmental stimuli may have had an influence. In tropical regions the rainy and dry seasons seem to be the most important in regulating fish reproduction (Volpato and Trajano, 2006; Chellappa et al., 2009). This association was not clearly found in this study. The spawning of S. fuscus occurred mainly in the dry season (September and February), whereas the initial gonadal development stages predominated in the rainy season. The spawning season observed in this study is slightly different to those reported for pomacentrids from other geographical regions. Sale (1977) reported a 5-9 month spawning season duration for pomacentrids, with multiple, weekly or monthly frequencies, promoting a wide dispersion. In the northeast Caribbean, Chronis cyanea spawn in April, Microspothodon chrysurus in March, S. fuscus in January, June and September, and S. leucostictus in September (Erdman, 1976) In the Red Sea, the numerous pomacentrid species, with their varied spawning behavior, reproduce from March-April to September (Fischelson, Popper and Aviador, 1974). ACKNOWLEDGEMENTS This study was supported by the National Council for Scientific and Technological Development of Brazil (CNPq) in the form of Research grants (S. Chellappa, A. Araújo and G. L. Volpato) and by the Foundation CAPES/MEC (scholarship awarded to L.L.G. Souza during the study period). REFERENCES ARAÚJO, A. S.; CHELLAPPA, S. Estratégia reprodutiva do peixe voador, Hirundichthyes affinis Gunther (Osteichthyes: Exocoetidae). Revista Brasileira de Zoologia, v. 19, n. 3, p. 691-703, 2002. ASOH, K. Gonadal development and infrequent sex change in a population of the humbug damselfish, Dascyllys aruanus, in continuous coral-cover habitat. Marine Biology, v. 142, n. 1, p. 1207-1218, 2003. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 27 BERG, J. Discussion of methods of investigating the food of fishes, with reference to a preliminary study of the prey of Gobiusculus flavescens (Gobiidae). Marine Biology, v. 50, n. 1, p. 263-273, 1979. BLAZQUEZ, M. S.; ZANUY, M. C.; PIFERRER, F. Structural and functional effects of early exposure to estradiol-17 beta and 17 alphaestradiol on the gonads of gonochoristc teleost Dicentrarchus labrax. 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As folhas de S. portulacastrum, são mais suculentas, o eixo caulinar compreende uma região aérea e subterrânea e as raízes são longas e finas. Quanto à distribuição dos estômatos, as folhas são anfiestomáticas, com estômatos do tipo paracítico. O número de estômatos é maior na epiderme da superfície adaxial; apresentando metabolismo ácido crassuláceo, a presença de um parênquima aqüífero bem desenvolvido revela a adaptação ao ambiente salino. Raiz e caule de S. portulacastrum compreende estrutura primária e secundária e crescimento anômalo. PALAVRAS-CHAVE: Anatomia. Órgãos vegetativos. Halófitas. ECOLOGICAL ANATOMY OF Sesuvium portulacastrum L. (AIZOACEAE) PRESENT IN ATOL DAS ROCAS BIOLOGICAL RESERVATION, IN THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE ABSTRACT: In this study, an analysis was made of the vegetative organs of the Sesuvium portulacastrum L. species that develop in Atol das Rocas Biological Resevation and occupies the nearest area to the sea. The leaves of S. portulacastrum, are more succulent, the stem comprises a shaft and the underground, and the roots are long and thin. As the distributions of stomata, the leaves are only anfiestomtics with paractico stomata type. The numbers of stomata is higher in the epidermis of the adaxial surface, showing a crassulaceo acid metabolism, and the presence of a well developed parenchyma aquiferous reveals the adaptation to the saline environment. The root and the stem of S. portulacastrum includes primary elementary and secondary structure and anomalous growth. KEY-WORDS: Anatomy. Vegetative organ. Halophyte. 1 Professora da FACEX. Rua Francisco Pignataro, 1926 – Capim Macio. CEP 59.082-070, Natal, RN. E-mail: [email protected] 2 Professora. Instituto de Biociências. Departamento de Botânica. Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 33 1 INTRODUÇÃO Sesuvium portulacastrum é uma planta herbácea comumente encontrada desenvolvendo-se na faixa litorânea, próxima as embocaduras de rios. Sua dispersão se dá por todas as regiões marinhas dos trópicos e subtrópicos (FIG. 1A). No Brasil é encontrada em toda zona costeira do País. A raiz axial é bem desenvolvida, crescendo perpendicularmente à superfície do solo, chegando a atingir cerca de 2,20m; esse crescimento se deve a mobilidade do solo. As raízes de maior extensão foram registradas em espécies da faixa costeira. O caule é dividido em aéreo e subterrâneo. O caule aéreo é formado por um eixo do qual partem ramos nitidamente divididos em nós e internós, os quais por sua vez, emitem ramos laterais e raízes adventícias. O caule é suculento e a partir do terceiro nó observa-se uma coloração avermelhada, devido a produção de antocianina. No caule subterrâneo, as raízes adventícias também se originam nos nós e os ramos aéreos fixam-se no solo arenoso. Esse caule apresenta coloração amarela passando a parda nas regiões mais velhas do órgão. As folhas são simples, glabras, lisas, lineares e de ápice agudo e bordo inteiro. A suculência da lâmina foliar aumenta nos indivíduos que se aproximam da região atingida pela maré alta. A filotaxia é opostacruzada; o pecíolo é curto e sua base apresenta uma diminuta bainha. As flores são curtamente pediceladas. O cálice tem a cor verde e a corola apresenta coloração vermelho púrpureo. À medida que as flores envelhecem, a coloração das pétalas se altera, passando gradativamente para róseo claro. Os estames são numerosos e de comprimento igual ao do cálice. Em Atol das Rocas S. portulacastrum se desenvolve na faixa litorânea recebendo borrifos da maré alta. Das espécies que se desenvolvem próximas ao mar, ou que ficam submersas em maré alta, o caule e as folhas produzem uma grande quantidade de antocianina, chegando à mudança de coloração para vermelho intenso, como também são mais suculentas. Em virtude da escassez de estudos sobre a anatomia ecológica de espécies da região costeira, bem como das ilhas oceânicas, o objetivo desta pesquisa é analisar os órgãos vegetativos e seus mecanismos de adaptação de S. portulacastrum L. ocorrente em Atol das Rocas, Estado do Rio Grande do Norte. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 35 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Local de estudo O Atol das Rocas está localizado na costa brasileira a cerca de 144 milhas da cidade do Natal, Rio Grande do Norte e a 80 milhas de Fernando de Noronha, entre as coordenadas 3º05’-3º56’S e 33º37’-33º56’W. A área da Reserva Biológica compreende 360 Km2, incluindo o atol e as águas que o circundam até a isóbata de 1000 metros (SALES 1991). O clima é o da zona equatorial, quente ao sol e suave à sombra. O mês mais quente é agosto, aonde chega a atingir a mínima de 22ºC e a máxima de 38ºC. O período chuvoso é de março a julho, chovendo mais nos meses de abril a maio (KIKUCHI 1994) No que se refere à vegetação insular, observa-se que na face da ilha voltada para o continente, as espécies que ocorrem na ilha e no continente, são as mesmas. As espécies em questão revelam caracteres de plantas halófitas. Strogonov (1959) e Schimper (1935) referem que as plantas que crescem em habitat arenoso, nas proximidades do mar, sujeito à ação da água salgada que se infiltra no solo e dos sais depositados pelo vento sobre a superfície, determinando uma concentração salina relativamente alta. O Atol das Rocas apresenta uma vegetação densa, tipicamente herbácea, resistente a salinidade, excessiva luminosidade e constante ação das marés. As espécies possuem características de plantas halófitas. Plantas como Sesuvium portulacastrum L. (Aizoaceae) apresentam seus ramos orientados para o mar e estruturas resistentes ao soterramento, tais como rizomas e estolões, os quais crescem continuamente, formando um emaranhado. se. Para o estudo anatômico do caule foram seccionados do primeiro ao sétimo internós. A estrutura dos órgãos em questão foi analisada em secções transversais e longitudinais. A fixação se deu em FAA 70 e posteriormente conservado em álcool etílico a 70%. Para confecção de lâminas permanentes, o material foi desidratada em série etílica, infiltrada e incluída em parafina (SASS, 1958). Os cortes foram obtidos em micrótomo Reichert-Jung 2040, variando a espessura de 8 a 15 μm. após a desparafinação e hidratação foram submetidos ao processo de dupla coloração safranina e azul de astra, segundo metodologia descrita por Bukatsch (1872) apud Kraus et al. (1998). A montagem foi feita em bálsamo do Canadá com acetato de butila. Paralelamente, foram feitas secções à mão livre as quais foram coradas com safranina e azul de astra (KRAUS et al., 1998) e, montadas em gelatina glicerinada. 2.2 Metodologia O material botânico utilizado para o estudo morfológico e anatômico foi retirado de exemplares coletados na Reserva Biológica do Atol das Rocas. Foram coletadas plantas adultas destinadas aos estudos anatômicos, onde as folhas investigadas foram extraídas do terceiro e quarto internó, efetuando-se cortes transversal e longitudinal. Os dados morfológicos foram obtidos utilizando-se 25 folhas para cada análi- 3 RESULTADOS Para o estudo da estrutura foliar, foram utilizadas folhas adultas provenientes do terceiro e quarto nós. Em vista frontal (FIG. 1B), as células da epiderme adaxial das folhas dos indivíduos do Atol das Rocas apresentam um formato poligonal e tamanho variado, com paredes anticlinais retas, delgadas, na maioria destas, são observadas estrias epicuticulares e alguns idioblastos epidérmicos, também visíveis em microscopia eletrônica de varredura. A epiderme abaxial, em vista frontal, revela que as células se mostram de formato irregular, porém menos alongadas do que as da epiderme adaxial. Em secção transversal, verifica-se que a epiderme é unisseriada e suas células são de formato retangular, as paredes periclinais externas são espessadas e retas, enquanto que a interna são arredondadas e menos espessas. A cutícula é delgada em toda a extensão do limbo. Os estômatos estão localizados no mesmo nível as demais células da epiderme. A folha é anfiestomática. Os estômatos estão distribuídos de forma aleatória, ocorrendo também em fileiras ao longo das nervuras. Enquadram-se no tipo paracítico, sendo uma das células subsidiárias consideravelmente maior. Em secção transversal, as células guarda 36 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 37 são pequenas e revelam um espessamento nas paredes periclinais externa e interna e, em conseqüência, o lume se torna reduzido. A parede periclinal externa apresenta cristas estomáticas, com uma câmara subestomática relativamente ampla e as células subsidiárias entram em contato com as células paliçádicas do mesofilo. Também foram observados estômatos geminados. Examinando-se o mesofilo (FIG. 1C) de S. portulacastrum em secção transversal da lâmina foliar, a organização da folha é isobilateral. No mesofilo ocorrem três camadas de parênquima paliçádico junto a epiderme adaxial e a epiderme abaxial. Estas células apresentam paredes delgadas sendo providas de numerosos cloroplastídios. As células parenquimáticas se dispõem compactamente. Entre as células paliçádicas das superfícies adaxial e abaxial, situa-se um parênquima cujas células são destituídas de cloroplastídios. A primeira camada em contato com as células paliçádicas é representada por células grandes de formato esférico contendo cristais de oxalato de cálcio do tipo drusa. Algumas dessas células estão em conexão com duas ou mais células do parênquima paliçádico, assemelhando-se a uma célula coletora. A região mediana é ocupada por um parênquima aqüífero, cujas células são grandes, de paredes delgadas, geralmente são isodiamétricas. O formato destas células se altera ao redor da nervura mediana, tornando-se alongadas. As unidades vasculares se localizam neste parênquima numa mesma linha (FIG. 1D). Os feixes vasculares de menor porte, do tipo colateral, estão em contato com a camada de células que contém drusas, tanto na face adaxial quanto na abaxial. O feixe vascular mediano revela a presença de um nítido câmbio vascular que diferencia novos elementos do xilema e do floema. O padrão de venação, de acordo com a classificação de Hickey (1979) é do tipo Camptodromo aproximando-se do subtipo Brochidodromo. Os fatos descritos são válidos para as folhas dos dois ambientes. Numa análise do ápice caulinar, em secção longitudinal, verificase que o mesmo é constituído de túnica e corpo, sendo a primeira formada por duas camadas de células que originam a epiderme e o córtex e a segunda responsável pela formação do sistema vascular e parênquima da medula. As células da primeira camada da túnica dividem-se anticlinalmente para a formação da epiderme. A segunda camada apresenta células com divisões anticlinais e periclinais. O corpo constitui-se de células com divisões segundo vários planos. As células da túnica e do corpo são pequenas apresentando paredes delgadas, citoplasma denso e núcleo grande. A certa distância das camadas iniciais do corpo observa-se um meristema em costela, cujas células são maiores e vacuolizadas. Neste estágio de desenvolvimento, o procâmbio já se encontra instalado, suas células são estreitas e alongadas, apresentando ainda citoplasma denso e pouco vacuolizado. Os estômatos são do tipo paracítico ou anomocítico, dispondo-se em fileiras paralelas ao maior eixo do órgão, nos indivíduos dos dois ambientes. Foram registrados, em caule de ambos os ambientes, estômatos teratológicos geminados, ou seja, entre dois estômatos ocorre apenas uma estreita célula subsidiária. A secção transversal realizada ao nível do primeiro interno (FIG. 1E), dos indivíduos dos dois ambientes, revela que a epiderme é unisseriada. Os estômatos situam-se em uma pequena depressão; as células guarda apresentam paredes periclinais externa e interna espessadas, condicionando um lume celular reduzido. A câmara subestomática é pequena. Algumas células epidérmicas tornamse proeminentes, assumindo aspecto vesiculoso e a cutícula que recobre é espessada. Abaixo da epiderme, um colênquima angular encontra-se em diferenciação. No parênquima cortical ocorrem espaços intercelulares, ora retangulares, ora triangulares de diferentes dimensões. As células parenquimáticas da região cortical apresentam paredes delgadas e vacúolo grande. Idioblastos cristalíferos ocorrem neste parênquima, em diferentes posições, algumas vezes, situam-se junto à epiderme. Geralmente cada idioblasto contém apenas uma drusa, podendo, no entanto, mais raramente ocorrer duas. A camada mais interna do córtex é formada por células menores, nas quais se situam pequenos grãos de amido; esta camada ocupa a posição de uma endoderme. Nas células em questão, não foram registradas estrias de Caspary. Abaixo da camada amilífera, situa-se o periciclo unisseriado. 38 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 39 Nos feixes vasculares, o câmbio fascicular já é ativo, mas, não se registrou um câmbio interfascicular. Os elementos de vaso apresentam disposição geralmente radiada e já possuem paredes bem lignificadas. As células do parênquima da medula apresentam as mesmas características das do parênquima cortical. Para os estudos, foram empregadas raízes adventícias, em virtude da mobilidade do solo, que é constante no Litoral Oriental. Secções transversais realizadas a 0,5mm do ápice radicial dos indivíduos provenientes dos dois ambientes, revelaram a presença de dois estratos de células da coifa; a protoderme, três estratos de meristema fundamental e o procâmbio. Nesta etapa do desenvolvimento já são reconhecíveis os precursores da endoderme e do periciclo. No procâmbio, a maioria das células ainda apresenta paredes delgadas, citoplasma denso e núcleo grande. Na região do meristema fundamental, neste estágio do desenvolvimento já estão presentes espaços intercelulares. Secções transversais realizadas a 1 mm do ápice revelam que a epiderme, o parênquima cortical, endoderme, periciclo e sistema vascular primário, já estão diferenciados. A epiderme é unisseriada e sua cutícula é muito delgada. As células do parênquima cortical são freqüentes vezes volumosas, apresentando paredes delgadas e vacúolo grande. Na região cortical, os espaços intercelulares aumentam de volume e a endoderme apresenta nítidas estrias de Caspary. O periciclo é unisseriado. No cilindro vascular, o xilema e o floema apresentam a disposição diarca ou triarca. A região central da raiz é ocupada pelo metaxilema. Nesta fase do desenvolvimento ocorre a instalação dos arcos cambiais (FIG. 1F). 40 A B C D E F FIGURA 1 – A) Vista geral de Sesuvium portulacastrum L. ocorrente no Atol das Rocas; B) Vista frontal da epiderme adaxial da folha de S. portulacastrum; C) Secção transversal do mesofilo revelando a presença de estômatos; D) Secção transversal do mesofilo mostrando o parênquima aqüífero; E). Secção transversal do caule em estágio primário com epiderme de células altas; F) Secção transversal da raiz em estrutura primária mostrando espaços intercelulares. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 41 4 DISCUSSÃO De acordo com Larcher (1986) os habitats salinos têm, em comum, um conteúdo superior ao normal de sais prontamente solúveis. Os oceanos, os lagos salgados e as lagoas salinas são habitats salinos aquáticos. Em terra, existem solos salinos tanto sob condições climáticas úmidas como áridas. Nas regiões com precipitação pesada, é possível ao solo tornar-se salgado na região de borrifos da zona de maré, sobre as dunas e nos pântanos. A salinidade é conhecida por afetar muitos aspectos do metabolismo das plantas e induzir mudanças na sua morfologia e anatomia. Essas mudanças podem ser consideradas adaptações da planta a fim de suportar o estresse imposto pela salinidade. Segundo PoljakoffMayber (1975) a salinidade influencia no tempo e padrão de germinação, porte das plantas, tamanho de ramos e folhas e em toda sua anatomia. A suculência é um dos aspectos comuns em plantas halófitas. O fato descrito por Poljakoff-Mayber (1975) é confirmado pela análise dos resultados obtidos em Sesuvium portulacastrum crescidos na Reserva Biológicas do Atol das Rocas. Kemp e Cunningam (1981) em seus experimentos verificaram que quanto maior a salinidade, mais espessa se torna as folhas, especialmente quando a temperatura e a intensidade luminosa também sofrem alteração. A salinidade existente em Atol das Rocas é muito alta, fato que explica o maior porte dos indivíduos, ramos e folhas, bem como um alto grau de suculência nas plantas desenvolvidas nesse ambiente. Esau (1965; 1977), Cutter (1986) e Fahn (1990) afirmam que a estrutura das folhas pode variar estando estas variações vinculadas aos diferentes habitats. A epiderme de Sesuvium portulacastrum é unisseriada, recobertas por uma cutícula delgada. Para Cutler, Alvin e Price (1982) a parede periclinal externa das células epidérmicas é revestida por um estrato cuja espessura varia. Este estrato é formado por um depósito de cutina, a cutícula, podendo sob ele ocorrer outros estratos de diferentes composições, tais como: pectatos, hemiceluloses ou compostos graxos. A cutícula, portanto, é representado apenas pelo estrato de cutina, cuja espessura pode variar. Existem cutículas delgadas e outras espessas; sobre a cutícula ocorrem ornamentações, tais como: estrias, verrugas ou bastonetes. Price (1982), Eschrich (1995) e Dickison (2000) afirmam que a proteção contra a evaporação é dada especialmente pela camada de cutina e que, esta proteção resulta do arranjo das partículas estruturais da cutícula. Em conseqüência podem ocorrer cutículas delgadas que protegem melhor do que as espessas. Oliveira (1999) estudando três espécies da caatinga e três do cerrado afirma que as cutículas espessas são mais permeáveis que cutículas delgadas, indicando que a espessura não pode ser considerada como um único fator de controle da permeabilidade. Por sua vez, Price (1982) e Oliveira (1999) esclarecem que a cutícula é a primeira barreira para redução da perda de água, contra os efeitos de herbicidas e poluentes atmosféricos. Segundo os dois autores, o conhecimento de sua permeabilidade constitui um tema de grande importância econômica. A epiderme foliar de Sesuvium portulacastrum é revestida por uma cutícula e seus estratos cuticulares. Em Sesuvium portulacastrum, a folha é isolateral e o desenvolvimento do parênquima paliçádico pluriestratificado, conspícuo e de poucos cloroplastídios. Chrysler (1904) verificou as espécies como Atriplex hastata, Xanthium canadense e Polygonium mostram uma tendência para a forma isolateral aquelas que se desenvolvem na região de pós-praia e bifacial ou quando crescendo no interior do continente. De acordo com Fahn (1974) a folha de Atriplex halimus é isolateral. Segundo esse autor, as epidermes são delgadas e cobertas de tricomas de sal. Roth (1992) afirma que folhas isolaterais podem resultar da posição da folha ou por intensa iluminação especial em plantas de dunas ou da costa. A autora estudou oito espécies de dunas e verificou que todas apresentavam estrutura isolateral. Roth (1992) lembra ainda que a falta d’água, alto teor salino e conseqüente seca fisiológica pode induzir folhas com estrutura isolateral. Sousa (1997) observou que as folhas de Lavoisiera, espécie do cerrado, apresentam características xeromórficas com células epidérmicas com paredes periclinais espessadas, ceras epicuticulares, anfistomia, mesofilo isobilateral, parênquima lacunoso compacto e traqueídes alogandas e curtas nas terminações vasculares. Registrou-se em Sesuvium portulacastrum L. a presença de um parênquima aqüífero abaixo do parênquima paliçádico, de células 42 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 43 isodiamétricas e paredes delgadas. Segundo Hamza (1980), o parênquima aqüífero desenvolve grandes vacúolos em suas células. Metcalf e Chalk (1950) citam a presença de mesofilo suculento, consistindo de um parênquima assimilador e outro aquífero, interligados ou separados em zonas na espécie de P. grandiflora. Ainda Pyykkö (1966) e Shields (1950) destacam a presença de hipoderme, como um parênquima aqüífero, compacto, com forte lignificação da epiderme, presença de fibras como características fortemente xeromórficas, revelando uma adaptação. As folhas de Sesuvium portulacastrum apresentam características de plantas CAM como: morfologicamente a suculência; e estruturalmente hipoderme, parênquima aqüífero e reduzidos feixes vasculares. Estudos realizados por Koch e Kennedy (1980) para folhas e caules de P. oleracea L. com o objetivo de observar a ocorrência do metabolismo ácido crassuláceo (CAM), indicaram que sob certas condições, tais como estresse hídrico e fotoperíodo curto, essa espécie é capaz de desenvolver um metabolismo ácido semelhante ao metabolismo ácido crassuláceo. A maioria dessas plantas vive em ambiente de alta luminosidade e estresse hídrico. Entre as espécies vasculares, as plantas CAM são mais amplamente distribuídas do que as plantas C4. O metabolismo CAM foi relatado em pelo menos 23 famílias de dicotiledôneas, duas monocotiledôneas, uma gimnospermas, uma espécie aquática do gênero Isoetes e algumas pteridófitas. Algumas apresentam alto grau de suculência enquanto outras não, como em bromeliáceas dos gêneros Ananas e Tillandsia. Winter e Lüttge (1976) observaram numa variedade de plantas C3, o fenômeno CAM que pode ser induzido em resposta aos fatores externos. Boyce (1954) lembra que a deficiência de nitrogênio e a exposição de folhas aos borrifos de água do mar condicionam suculência. A epiderme do caule de S. portulacastrum é unisseriada e é recoberta por uma cutícula espessa em flanges. Esses flanges estão relacionados ao fator água, produzindo certa plasticidade na ausência da água. Piza Araújo (1980) observou flanges cuticulares em caules de Philoxerus portulacoides. A periderme da epiderme em questão que se instala no sistema subterrâneo caulinar, se mostra geralmente com poucas camadas, o mesmo acontece no sistema aéreo, normalmente provido de poucas camadas de súber. Essa periderme tem origem a partir de um felogênio subepidérmico. Achutti (1978) observou no caule aéreo de P. rotundifolia, um colênquima do tipo angular. Em Philoxerus portulacoides o colênquima foi registrado disposto em círculo contínuo. Em Sesuvium portulacastrum, sob epiderme, no caule aéreo, verifica-se um colênquima do tipo angular. Alguns pesquisadores afirmam que a função do córtex no sistema subterrâneo pode estar relacionada com o armazenamento, onde essas estruturas, os internós comumente são curtos. Esse crescimento pode está associado a adaptações fisiológicas. Dickison (2000) relata que esses padrões anômalos protegem xilema e floema que se encontrem em estresse intenso, podendo ainda aumentar a formação de conexões para as raízes adventícias. O autor acima citado afirma ainda que os vários tipos de crescimento anômalo secundário são de difícil classificação em grupos distintos, em função de sua diversidade estrutural e sua integração com padrões normais da atividade cambial. Nas espécies Portulaca oleracea e Sesuvium portulacastrum, o caule subterrâneo acumula grande quantidade de amido, levando-se a crer que esse órgão é uma adaptação a mobilidade do solo em função da fixação, como também ao de armazenamento de substâncias. Brandle e Crawford (1987) afirmam que o acúmulo de amido é uma adaptação para hipoxia, garantindo assim, reserva de carbono em situações de emergência. Segundo Esau (1959) as células do córtex, observadas transversalmente, dispõem-se ordenadas em fileiras radiais ou podem alternar entre si nas sucessivas camadas concêntricas. A presença de aerênquima está relacionada às características xeromórficas e é citado por Omer e Mosely (1981) como um caráter xeromórfico comum as plantas de ambientes salinos, salientando não se tratar de uma situação necessariamente de halófitas. Rawitscher (1944) cita a ocorrência de grandes lacunas no córtex das raízes de Panicum spectabile e Echinolaeana inflexa e chama a atenção para isolamento do cilindro central devido á presença de considerável quantidade de ar. Foram observados 44 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 45 nos indivíduos de S. portulacastrum grande lacunas na região cortical, provocadas pela lise das células, que segundo Sculthorpe (1967), esta organização é comum em algumas monocotiledôneas e plantas aquáticas. Sajo (1982) pesquisando raízes adventícias de V. sessifolia e V. psilophylla, realizadas nas regiões distais dos órgãos, verificou uma variação no número de pólos de protoxilema. Thiel (1934) observou em Helianthus annus L. uma raiz diarca, nas proximidades do ápice, tornando-se triarca e tetrarca, em regiões, mais afastadas do mesmo. Melo (1995) em estudos para a espécie Tabebuia aurea ocorrente na Caatinga dos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, verificou uma variação entre quatro a sete pólos de protoxilema. Nos indivíduos de S. portulacastrum ocorreu uma variação na organização dos elementos, de três a quatro pólos de protoxilema. 5 CONCLUSÕES Nas folhas de Sesuvium portulacastrum L a suculência aumenta nos indivíduos que se desenvolvem na região atingida pela maré alta. Quanto à distribuição dos estômatos, a folhas é anfiestomática; do tipo paracítico, sendo uma das células subsidiárias maior. As células guarda são pequenas, revelando um espessamento nas paredes periclinais externa e interna. Quanto à organização do mesofilo, a folha é isobililateral, a região mediana é ocupada por um parênquima aqüífero com a presença de cristais de oxalato de cálcio do tipo drusa. A cutícula que reveste o caule é espessa com a presença de flanges cuticulares. Foram observados ainda, estômatos teratológicos geminados. O colênquima do tipo angular. Na região cortical e medular do caule, observam-se grãos de amido e o periciclo é unisseriado e espesso. Na raiz, a coifa é pouco desenvolvida. REFERÊNCIAS ACHUTTI, M. H. C. Aspectos morfológicos e anatômicos dos sistemas aéreo e subterrâneo e o óleo essencial das folhas de Piptocarpha rotundifolia (Less) Baker (Compositae). São Paulo, 212 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, 1978. 46 BOYCE, S. G. The salt spray community. Ecol. Monogr., Durham, v. 24, n. 1, p. 29-67, 1954. BRANDLE, R. A.; CRAWFORD, R. M. R. Rhizome anoxia tolerance and habitat specialization in wetland plants. In: CRAWFORD, R. M. M. 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Fez-se o levantamento somente para vegetação de porte arbóreo e arbustivo das áreas verdes, ruas, terrenos baldios e praças, totalizando em 402 indivíduos pertencentes a 18 famílias e 37 espécies. A identificação das espécies foi feita através de chaves analíticas, consultas a especialistas e comparação com exsicatas devidamente identificadas. As famílias com maior número de espécies foram Caesalpinaceae (7) e Mimosaceae (5). Baseado nos resultados do levantamento, concluiu-se que é necessário um acréscimo efetivo no quantitativo de espécies arbóreas, para que represente uma melhoria ambiental, na paisagem, estética e na oferta de outros serviços ambientais específicos da arborização. WINTER, K.; LÜTTGE, U. Balance between C3 and CAM patway of photosynthesis. Ecological Studies, v. 19, p. 323-332, 1976. PALAVRAS-CHAVE: Levantamento Florístico. Arborização Urbana. Endemismo. SOUZA, H.C. Estudo comparativo de adaptações anatômicas em órgãos vegetativos de espécies de Lavoisiera DC. (Melastomataceae) da Serra do Cipó, MG. 1997. 121 f. Tese (Doutorado em Botânica) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. STROGONOV, V. P. The water regime of plants on saline soils. Paris: UNESCO, 1959. 16p. FLORISTIC SURVEY OF CONJUNTO DOS PROFESSORES, IN CAPIM MACIO NEIGHBORHOOD, NATAL/RN: AN ALLOWANCE FOR URBAN AFFORESTATION ABSTRACT: This study has as its main objective to do a floristic study of Conjunto dos Professores (Natal / RN). A survey of all vegetation-sized trees and shrubs at the green areas, streets, vacant lots and squares was made, a total of 402 individuals belonging to 18 families and 37 species. The species identification was made through analytical keys, consulting the experts and comparison with Graduando. Concluinte do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Professor Adolfo Ramires, Qd. 14, Bloco A, Apt. 101, Bairro Capim Macio; CEP:59078-460, Natal/ RN; Tel.:(84)9405-9997; e-mail: [email protected]. 2 Mestre em Ecologia. Professora do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Rua Orlando Silva, 2897 Capim Macio; CEP: 59080-020 - Natal/RN; Tel.: (84) 8897-7917; e-mail: [email protected] 3 Mestre. Professor do curso de Ciências Biológicas da FACEX. Rua: Rua Orlando Silva, 2897 Capim Macio; CEP: 59080-020 - Natal/RN; Tel:. (84) 9982-1217; e-mail: [email protected]. 4 Doutora em Botânica. Professora da FACEX. E-mail: [email protected] 1 50 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 51 specimens properly identified in the herbarium of FACEX. The families with the biggest number of species were Caesalpinaceae (7) and Mimosaceae (5). It was also classified as to the origin, and we identified the exotic predominate the group. The distribution of specimens altogether, however, was not uniform, observing several places with no shortage or afforestation. KEY-WORDS: Floristic. Urban afforestation. Endemism. 52 1 INTRODUÇÃO Arborização urbana é toda cobertura vegetal de porte arbóreo existentes na cidade. Sob o ponto de vista sócio, econômico e ambiental, a arborização exerce um papel de vital importância para a qualidade de vida nos centros urbanos, bem como as propriedades ao seu entorno (FARIAS, 2009). Por suas múltiplas funções, as árvores atuam diretamente sobre o clima, a qualidade do ar, propicia sombra, diminui o impacto da chuva, contribui para o balanço hídrico, ameniza os ruídos, é fator paisagístico, constitui refúgio indispensável à fauna remanescente nas cidades, além de ser fator educacional (SEVERINO, 2009). Os benefícios da arborização estão condicionados a qualidade do planejamento. Planejar a arborização é indispensável no desenvolvimento urbano por não trazer prejuízos ao meio ambiente e, para que isso não ocorra, devem ser considerados vários fatores como: condições do ambiente, características da espécie, largura de calçadas e ruas, fiação aérea e subterrânea, afastamentos e diversificação das espécies (PIVETTA e SILVA FILHO 2002). Ainda no tocante do planejamento, a pesquisa e seu desenvolvimento assumem um importante papel para sua evolução, contribuindo para o desenvolvimento científico do presente e futuro da arborização urbana em geral, considerando que a arborização é fator determinante da salubridade ambiental, pois tem uma grande influência sobre o bem estar da população, em virtude dos benefícios que proporciona ao meio (PINHEIRO, 2008). A pouca diversidade da vegetação nos centros urbanos é de grande risco para o equilíbrio ecológico do planeta, devendo ser evitada. A diversidade da vegetação é condição favorável para a sobrevivência da fauna. As cidades que assim encontram-se poderão se transformar em desertos verdes, podendo comprometer o crescimento, adaptabilidade e desenvolvimento das árvores. Para que isso não aconteça seria necessário que cada cidade utilizasse na arborização as espécies nativas da região, que são adaptadas ao local (PINHEIRO 2008). Segundo Souza (1997), a uniformidade quanto ao emprego das espécies é conseqüência generalizada da arborização urbana de cidades brasileiras, que se deve, a uma cidade procurar imitar a arborização da outra. Daí a pouca diversidade, obtendo um número Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 53 reduzido de espécies e causando os mesmos problemas. Para Mello Filho (1985) sob o ponto de vista botânico, a arborização urbana é um campo com possibilidades ilimitadas de pesquisas, dizendo que na flora brasileira existem de cinco a seis mil árvores precisando de estudos e experimentos, mais a cota atualmente introduzida em arborização não chega a cem espécies. Nesse sentido, esta pesquisa objetiva um levantamento florístico no Conjunto dos Professores na cidade do Natal/RN a fim de contribuir para os programas de arborização urbana. 2 MATERIAL E MÉTODOS O Conjunto Residencial dos Professores situa-se na zona sul da cidade do Natal, no bairro de Capim Macio e possui 179.941,20 m² de área, limitando-se ao norte com Lagoa Nova; ao sul, o bairro de Capim Macio; ao leste, o Parque das Dunas; e ao oeste, o bairro de Mirassol (FIG. 1). O conjunto dos Professores é uma área predominantemente residencial, habitado por famílias de classe média. A área estudada contém trechos de ruas, praças e terrenos baldios, onde foram coletadas amostras das espécies de árvores encontradas para herborização e identificação. O conjunto é constituído por 13 ruas, 1 avenida, 1 terreno baldio e 1 praça. Com o auxílio dos mapas dos conjuntos fornecidos pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Urbanismo - SEMURB, delimitouse como área de estudo todos os logradouros (áreas verdes, ruas, praças, travessa e terreno baldio). O levantamento florístico das espécies arbóreas e arbustivas foi realizado por meio de coletas ao longo de caminhadas de forma a percorrer cada rua, do conjunto, em toda sua extensão. O material coletado foi herborizado e identificado no herbário da FACEX. As identificações foram feitas utilizando chaves analíticas e consultas a especialistas e comparações com exemplares devidamente identificados do herbário da FACEX. O sistema de classificação adotado foi o de Cronquist (1988) sendo apresentada em ordem alfabética por famílias, gênero e espécies. A partir da lista das identificações foram classificadas as espécies endêmicas e exóticas, assim com base em dados e informações de 54 FIGURA 1 - Mapa do Conjunto Residencial dos Professores, Natal, RN. Fonte: SEMURB, 2009 especialistas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesta pesquisa foram identificados 402 indivíduos de porte arbóreo, pertencentes a 18 famílias e 37 espécies. A espécie mais abundante foi Cassia siamea Lam com 43 indivíduos, distribuída em todo o conjunto residencial. Das 18 famílias registradas, as com maiores freqüência foram Caesalpinaceae e Mimosaceae (Tab. 1). De acordo com levantamento realizado para o Conjunto Residencial de Mirassol, Natal/RN, Souza (1997) ou, destaca a predominância das leguminosas nas áreas urbanas. Em trabalhos realizados no bairro Centro da cidade de Nova Iguaçu – RJ e na cidade de Campina Grande – PB. Rocha et al. (2004) e Dantas e Souza (2004), afirmaram que a espécie mais frequente na arborização também é a Cassia siamea Lam. Para Rocha et al. (2004), as espécies Cassia siaCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 55 mea, Terminalia catappa, Delonix regia e Clitoria fairchildiana não são adequadas para arborização de vias públicas devido à incompatibilidade com locais urbanos; a primeira espécie é de crescimento rápido e madeira que quebrar com facilidade, causando transtornos; a Castanhola possui folhas grandes que nos meses de julho e agosto se soltam da árvore, sujando as ruas e entupindo esgotos; o Flamboyant não é indicado por apresentar raiz superficial, podendo danificar calçadas e o Sombreiro é uma espécie que apresenta ataques de insetos desfolhadores. De acordo com Rocha et al. (2004), recomenda-se a substituição dessas espécies por outras mais adequadas às condições urbanas. Considerando que a espécie a Cassia siamea Lam. predominou na área de estudo, Leal, Biondi e Rochadelli (2008), afirmam que espécies de crescimento rápido e de pequeno porte possuem um custo menor para arborização, pois esses custos são avaliados quanto à produção de muda e operações de poda. Das 37 espécies encontradas, 47% são de origem nativa e 53% de origem exótica sendo esta última predominante na área em questão. Teixeira (1999) ao analisar a arborização do Conjunto Residencial Tancredo Neves, RS, afirma ter encontrado uma situação semelhante, onde 44% dos indivíduos eram de origem nativa e 56% de origem exótica, também predominante em todo o conjunto. A B C D E F FIGURA 2 – A) Vista de uma rua pouco arborizada; B) Árvores plantadas inadequadamente; C) Rua Prof. José Gurgel; D) Praça existente no conjunto residencial bem arborizada; E) Terreno baldio de pouca cobertura vegetal; F) Raiz da espécie Flamboyant soerguendo a calçada. 56 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 57 e funções bem definidas. Contra a poda não existe defesa, a não ser a tentativa de recompor sua estrutura. Só se admite a poda para as árvores frutíferas, onde realizamos a poda de frutificação visando à maior e melhor produção dos frutos. TABELA 1: Relação das espécies arbóreas do Conjunto Residencial dos Professores, Natal/RN. FIGURA 3 - Representação da quantidade de espécies nativas e exóticas do Conjunto Residencial dos Professores, Natal/RN. Segundo Klein (1985), o sucesso obtido pela introdução das espécies exóticas se deve a fatores tais como: grande facilidade da coleta de sementes, metodologia silvicultural desenvolvida, adequada seleção das espécies, porém as nativas representam as mais adequadas para manter a dinâmica do solo e clima regional. Com relação a podas, observou-se a falta de conhecimento aos responsáveis pelos plantios, quanto ao porte das espécies. Foram constatadas árvores quebrando calçadas e atingindo a rede elétrica, serviços de telefonia, dentre outros. Essas espécies deveriam ser substituídas por espécies de pequeno porte (FIG. 4a e 4b). Dantas e Souza (2004) ressaltam que o principal fator por essa situação é a falta de uma política de educação ambiental por parte do poder público, que resulta num melhor esclarecimento e maior conscientização da população para o plantio, conservação e proteção da arborização. Se planejado de maneira adequada, o resultado será uma melhor distribuição das espécies, adequadas e compatíveis com o ambiente urbano. De acordo com Barnewitz (1997), podar ou mutilar uma árvore é crime, pois é uma agressão a um organismo vivo que possui estruturas 58 FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO 1. Anacardiaceae 2. Araucariaceae 3. Bignoneaceae 4. Bombacaceae 5. Caesalpinaceae 6. Crhysobalanaceae 7. Combretaceae 8. Malpighiaceae 9. Malvaceae 10. Meliaceae 11. Mimosaceae 12. Moraceae 13. Myrtaceae 14. Palmae 15. Fabaceae 16. Punicaceae 17. Rutaceae 18. Verbenaceae Anacardium occidentale L. cajueiro Mangifera indica L. mangueira Araucaria heterophylla Salisb pinheiro Tabebuia aurea Manso ipê amarelo Tabebuia chrysotricha Mart ipê Pachira aquatica Aubl. munguba Bauhinia variegata L. pata de vaca Caesalpinia echinata Lam. pau- Brasil Caesalpinia ferrea Mart. jucá Cassia fistula L. chuva de ouro Cassia siamea Lam. cássia nordestina Delonix regia Raff. flamboyant Erythrina indica Lam. brasileirinho Licania tomentosa Benth oiti Terminalia catappa L. castanhola Byrsonima verbascifolia Rich murici Hibiscus tiliaceus L. algodão da praia Azadirachta indica A. Juss. nim Melia azedarach L. cinamomo Adenanthera pavonina L. tento carolina Calliandra brevipes Benth. esponjinha Leucaena leucocephala Lam. leucena Mimosa hostilis Benth. jurema preta Prosopis juliflora DC algaroba Ficus benjamina L. ficus Psidium guajava L. goiabeira Syzygium jambolanum Lam. azeitona roxa Syzygium malaccensis L. jambo Archantophoenix cunninghamiana Wendl. palmeira hawaii Cocos nucifera L. coqueiro Roystonea oleracea Jacq. palmeira imperial Clitoria fairchildiana Howard sombreiro Indigofera sp. indigofera Punica granatum L. romã Citrus limon L. limão Citrus sinensis L. laranjeira Duranta repens L. pingo de ouro Total 37 18 Carpe Diem v. 8, n. 8 NOME VULGAR 37 jan./dez. 2010 ORIGEM Nº nativa exótica nativa nativa nativa nativa nativa nativa nativa exótica exótica exótica nativa nativa exótica nativa exótica exótica exótica exótica nativa exótica nativa exótica exótica nativa exótica exótica exótica nativa exótica nativa nativa exótica exótica exótica exótica 21 26 1 29 5 4 1 7 1 1 43 2 4 17 21 1 2 27 1 23 1 10 1 8 22 2 5 18 11 21 1 10 3 2 1 2 47 37 402 59 cidade de Campina Grande - PB: Inventário e suas espécies. 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É preciso conscientizar a população da importância de uma boa relação com as árvores, pois é a falta de participação da comunidade nos programas de arborização o principal fator que gera prejuízos aos plantios de árvores de ruas. Assim, considera-se de suma importância incentivar o uso de espécies nativas, já que a maioria das espécies plantadas no Brasil são invasoras. REFERÊNCIAS BARNEWITZ, Alexandre. Arborização urbana e condução de árvores, Ijuí-RS. Revista de Direito Ambiental, v. 26, p. 185, 1997. DANTAS, Ivan C.; SOUZA, Cinthia M. C. Arborização urbana na 60 MELLO FILHO, L. E. Arborização urbana. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, Porto Alegre, 1985. Anais... Porto Alegre: PMPA/SMMA, 1985. p. 117-127. PINHEIRO, Jairo A. N. Arborização Urbana. Disponível em: <http:// www.webartigos.com/articles/9812/1/arborizacao-urbana/pagina1. html>. 2008. Acesso em: 18 nov. 2009. PIVETTA, K. F. L.; SILVA FILHO, D. F. Arborização urbana. Jaboticabal, SP: UNESP/FCAV/FUNEP, 2002. 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Wallace Silva do Nascimento1, Liliane de Lima Gurgel1, Kelly Cristina Araújo Pansard2, Renata Swany Soares do Nascimento3, Hélio de Castro Bezerra Gurgel4, Sathyabama Chellappa1 RESUMO: O presente estudo teve com objetivo determinar a estrutura da população estabelecendo a proporção sexual, estrutura em comprimento e relação peso-comprimento e a biologia alimentar do Robalo, Centropomus undecimalis. As amostragens mensais foram efetuadas no período de agosto de 2004 a junho de 2005, no Estuário do Potengi, Natal, RN. Para as capturas dos peixes foram utilizadas as tarrafas e os anzóis. Para cada exemplar foi registrado o peso total (gramas), o comprimento total (cm) e o sexo. Foram capturados um total de 189 exemplares de C. undecimalis. A proporção entre sexos demonstrou totalidade de indivíduos machos durante todo o período estudado. A distribuição das freqüências, por classe de comprimento variou de 9,5 a 36 cm, com predomino nas classes de 15-24 cm, indicando uma grande quantidade de jovens na população amostrada. A relação entre peso total e comprimento total foi representada pela equação: Wt = 0,007 Lt 2,9998 com r = 0,9969, indicando uma correlação significativa entre as variáveis e que a espécie apresenta um crescimento do tipo isométrico Os indivíduos jovens foram encontrados principalmente na classe de 15-21 centímetros. Analisando o grau de repleção foi verificado que os estômagos sem alimento foi mais representativo para todo período de estudo (GR 0 = 48%). Os recursos alimentares mais consumidos por C. undecimalis foram os peixes (IAi = 0,91) e seguidos pelos crustáceos (IAi = 0,09). A espécie apresentou-se carnívora com tendência piscívora. A ausência das fêmeas é justiçada pela espécie em estudo sendo uma hermafrodita protândrico. Wallace - UFRN, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Centro de Biociências, Departamento de Oceanografia e Limnologia, Laboratório de Ictiologia. Praia de Mãe Luíza, s/n, 59014-100, Natal, RN, Brasil. 2 UFRN, Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil. 3 UFRN, Centro de Biociências, Departamento de Morfologia, Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil. 4 UFRN, Centro de Biociências, Departamento de Fisiologia, Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal, RN, Brasil. 1 62 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 63 PALAVRAS-CHAVE: Centropomus undecimalis. Estrutura populacional. Hermafrodita protândrico. Conteúdo estomacal. POPULATION BIOLOGY OF COMMOM SNOOK Centropomus undecimalis (OSTEICHTHYES: CENTROPOMIDAE) POTENGI RIVER ESTUARY, NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, BRAZIL ABSTRACT: This study aimed to determine the population structure of Centropomus undecimalis by establishing the sex ratio, length structure, length-weight relationship and feeding biology. Monthly sampling of this species was carried out during August, 2004 and June, 2005 in the Potengi estuary of Natal, RN. The fish were captured by cast nets and hooks. For each specimen the total weight (grams), total length (cm) and sex were registered. A total of 189 specimens were captured. The analysis of the sex ratio showed only the presence of males throughout the study period. The distribution of frequencies, by class length varied from 9.5 to 36 cm, with a predominance in the class of 15-24 cm, indicating presence of juvenile fish in the population. The relationship between weight and length was represented by the equation: Wt = 0.007 Lt2,9998, with r = 0.9969, indicating a significant correlation between the variables and that the species has isometric growth. Juveniles were found mainly in the class of 15-21 cm. The degree of repletion indicated the presence of stomachs without food, which was more representative for the whole study period (GR 0 = 48%). The food resources consumed by C. undecimalis were mostly fish (IAi = 0.91), followed by crustaceans (IAi = 0.09). C. undecimalis is a carnivorous species with a strong preference to fish. Females were absent as the study species is a protandric hermaphrodite. KEY-WORDS: Centropomus undecimalis. Population structure. Protandric hermaphrodite. Stomach contents. 64 1 INTRODUÇÃO Os estudos relacionados á biologia de espécie visa fornecer subsídios para facilitar a implementação de medidas de manejo, principalmente para espécies de grande interesse econômico, como é o caso dos robalos, que altamente requisita- dos pela pesca esportiva, artesanal e industrial. Despertam, também, enorme interesse para a aqüicultura, pois são peixes promissores para as atividades de piscicultura marinha, que é cada vez mais crescentes. Os peixes da família Centropomidae ocorrem em águas tropicais e subtropicais, representada no continente americano pelo gênero Centropomus com doze espécies, sendo seis no oceano atlântico e seis no Pacífico (RIVAS, 1986). A espécie Centropomus undecimalis, conhecida vulgarmente no Brasil como robalo, robalo-flecha, camorim ou camurim e nos países de lingua inglesa, common snook, sendo considerados os maiores do gênero. Distribui-se do Sul dos Estados Unidos a toda costa do Brasil, à exceção do Rio Grande do Sul, ocorrendo em simpatria com C. parallelus. São eurihalinos, podendo ser encontrado tanto no mar como nas águas salobras estuarinas, lagunas e lagoas de água doce (MARSHAL, 1958; VOLPE, 1959). A análise das fontes alimentares utilizadas pelos peixes pode fornecer dados sobre habitat, disponibilidade de alimento no ambiente e mesmo sobre alguns aspectos do comportamento, enquanto que informações acerca da intensidade na tomada de alimento podem ser úteis para a complementação de estudos que visem a detectar interações competitivas entre as espécies ou partição de recursos entre elas, assim, gerando subsídios para um melhor entendimento das relações existentes entre os componentes da ictiofauna e os demais organismos da comunidade aquática. (HAHN et. al., 1997). Tendo em vista os impactos a que estão submetidos os sistemas continentais e marinhos, a carência de informações sobre as nossas espécies de estuários e a captura desordenada do robalo em ambiente natural, o presente trabalho visa analisar aspectos da biologia da população de Centropomus undecimalis do estuário do Potengí, no que tange a estrutura populacional e o habito alimentar, servindo como importante ferramenta para o conhecimento de informações referentes aos seus aspectos biológicos e ecológicos. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 65 2 MATERIAIS E METODOS 2.1 Área de coleta A área de coleta situa-se na região costeira, no estuário do Rio Potengi/RN, (FIG. 1), sob as coordenadas 5º 47’ 47” S e 035º 13’ 67 W”. O Rio Potengi corta o município Natal, nascendo na Serra de Santana região semi-árida, seguindo seu curso percorrendo os relevos convexos e aguçados do Planalto da Borborema e do agreste potiguar, banhando cerca de sete municípios até desembocar em forma de estuário no mar. Possui apenas 30 km navegáveis, no qual desempenha importante papel econômico, social e ecológico. FIGURA 1 - Área de Estudo: Estuário do Potengi, município de Natal/ RN, Brasil (coordenadas 5º 47’ 47” S e 035º 13’ 67 ”W). 2.2 Coleta de dados As coletas foram realizadas, mensalmente, de agosto de 2004 a julho de 2005, empregando-se um e esforço de pesca de 3h por coleta, com a utilização de tarrafas de malhas de 2,0 a 5,0 cm entre nós e anzóis. Os peixes capturados foram transportados para o Laboratório de Ecologia e Fisiologia de Peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os exemplares foram mensurados para a obtenção do comprimento total e padrão, utilizando-se um ictiômetro, pesados 66 com balança de precisão de centésimos de grama e dissecados por meio de uma incisão ventral-mediana para identificação dos sexos. Para a análise do conteúdo estomacal o tratos digestivos foram removidos, pesados, fixados em formol a 4% e preservados em álcool 70%. 2.3 Análise dos dados A proporção entre os sexos foi determinada pelas freqüências relativas de macho e fêmeas para todo período de estudo. A estrutura em comprimento baseou-se na distribuição das freqüências percentuais das classes de comprimento total para todo período de estudo com amplitude de 3 cm. Para a obtenção da relação peso total/comprimento total, procedeuse à distribuição dos pontos empíricos individuais destas variáveis, a fim de estabelecer a expressão matemática que melhor se ajustasse aos dados da relação entre as duas variáveis envolvidas. A tendência dos pontos demonstrou a relação (SANTOS, 1978): Wt = a.Ltb Os valores de “a” e “b” foram estimados pelo método dos mínimos quadrados após transformação logarítmica dos dados empíricos, havendo entre essas duas variáveis transformadas linearidade através da expressão: ln Wt = -ln a + b ln Lt Estimou-se o valor do coeficiente linear de Pearson (r) para demonstrar a aderência dos pontos empíricos à reta calculada. Para cada indivíduo foi verificado o grau de repleção estomacal (GR), o qual foi adotada uma escala de valores de acordo com o volume de alimento presente no estômago (HAHN, 1997). Sendo: Grau 0 = estômago completamente vazio; Grau 1 = estômago com até 25%; Grau 2 = estômago entre 25 e 75% e Grau 3 = estômago acima de 75%. O índice de repleção foi calculado mensalmente com base na expressão: .100 IR= WE WT Para análise do conteúdo gástrico foram utilizados 45 estômagos, sendo a identificação detalhada dos itens alimentares em cada conteCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 67 údo foi feita através de um microscópio óptico com auxilio de bibliografia adequada. Os itens alimentares foram analisados pelos métodos de freqüência de ocorrência e volumétrico (HYNES, 1950) e posteriormente conjugados no índice de importância alimentar (IAi) adaptado para porcentagem (KAWAKAMI e VAZZOLER, 1980), que fornece os itens que mais contribuem para a dieta das espécies, através da expressão: A relação entre peso total e comprimento total foi representada pela equação: Wt = 0,007Lt2,9998 com r = 0,9969, indicando uma forte correlação entre as variáveis e que a espécie apresenta um crescimento do tipo isométrico (FIG. 3a). A linearização, também chamada de curva ajustada, corroborou os resultados da relação peso/ comprimento através da transformação dos pontos empíricos em logaritmos naturais (FIG. 3b). F xV IAi = n i i ∑ (Fi xVi) n=1 O fator de condição corrigido foi calculado mensalmente através da expressão: Ф*= WtФ Lt 3 RESULTADOS Foram capturados 201 exemplares Centropomus undecimalis. A análise macroscópica das gônadas demonstrou uma totalidade de machos para todo período de estudo. A distribuição das freqüências, por classe de comprimento variou de 9,5 a 36 cm, com predomino nas classes de 15-24 cm (FIG. 2), indicando uma elevada quantidade de jovens na população. FIGURA 3 - Relação Peso/Comprimento e curva ajustada de C. undecimalis para todo período de estudo. Analisando o grau de repleção para todo período de estudo, foi verificado que os estômagos sem alimento (GR 0 = 48%) e com pouco alimento (GR 1 = 20 %) foram mais representativos (FIG. 4) FIGURA 2 - Distribuição de freqüências relativas de C. undecimalis por classes de comprimento total para todo período de estudo. FIGURA 4 - Proporção do grau de repleção dos estômagos de C. undecimalis, para todo o ano. 68 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 69 As freqüências relativas dos graus de repleção mensal mostraram que estômagos sem alimentos ou com pouco alimento predominaram nos meses de janeiro a julho (100% de estômagos GR 0). Estômago com grau de repleção II e III foram mais representativos nos meses de agosto (83% de estômagos com alimento) a dezembro (FIG. 5). FIGURA 5 - Distribuição da freqüência do grau de repleção dos estômagos de C. undecimalis, por mês de coleta. FIGURA 6 - Distribuição mensal do Índice de Repleção e do Fator de Condição de C. undecimalis. Os maiores valores para o índice de repleção (IR) ocorrem no trimestre agosto, setembro,outubro, sendo o mês de julho o de menor índice, enquanto que o fator (FC) de condição evidencia que a época em que os exemplares encontram-se em melhores condições alimentares é de agosto a novembro (FIG. 6). A análise do conteúdo gástrico através da freqüência de ocorrência nos 49 estômagos analisados evidenciou basicamente em sua dieta peixes, crustáceos, representado por camarões e caranguejos (FIG. 7). FIGURA 7 - Freqüência de ocorrência do conteúdo gástrico de C. undecimalis para todo o período de estudo. 70 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 71 O índice alimentar, quando aplicado para o total de estômagos analisados (n = 45) observa-se que os peixes, constituem o recurso alimentar mais consumido pela espécie com um IAi = 0,91, seguidos pelos crustáceos com um IAi = 0,09 (FIG. 8). 4 DISCUSSÃO A proporção entre machos e fêmeas é uma informação importante para a caracterização da estrutura de uma espécie ou população, além de constituir subsídio para o estudo de outros aspectos como avaliação do potencial reprodutivo e estimativas do tamanho do estoque, alem de ser um parâmetro capaz de facilitar inferências à respeito do tipo de ambiente no qual determinada população se desenvolveu (VAZZOLER, 1996; NIKOLSKY, 1969). O resultado obtido nesse estudo sobre a proporção entre os sexos mostrou uma predominância de indivíduos machos, diferindo da proporção esperada de 1:1. Esse resultado não muito típico pode ser explicado pela estratégia reprodutiva da espécie, que se apresenta como hermafrodita protândrico, ou seja, o indivíduo se desenvolve macho e em um certo período de seu ciclo de vida seus testículos começam a se degenerar e ao mesmo tempo células germinativas femininas se proliferam. Para C. undecimalis a média de transição é de 50 cm, tamanho mínimo para sua captura no Brasil (IBA- MA, 2006). Estudos realizados anteriormente também relataram um predominância de machos para a espécie, como: Mendonça (2004), estudando C. undecimalis em ambiente hipersalino (19,7:1), Taylor et al. (2000), em estudo realizado na Flórida com peixes menores de 50 cm, e abaixo de 2 anos de idade a proporção (3:1) e Thue et al. (1982) estudando peixes com mais de 80 cm e acima de 8 anos de idade (1:11). A ausência de fêmeas em nosso trabalho pode estar ligada a muitos fatores, dentre eles a seletividade amostral e a dispersão dos peixes no ambiente. Tendo em vista que os peixes de maior comprimento são solitários, habitam regiões mais profundas. A estrutura da população em classe de comprimento reflete as condições ambientais presentes e pregressas as quais a população se desenvolveu. Segundo Odum (1983), as populações podem ser divididas em três categorias: Ascensão, quando existe uma grande proporção de indivíduos de menor tamanho; Estabilidade, quando a proporção é balanceada entre jovens, adultos e velhos; e declínio, caracterizada por apresentar um grande número de indivíduos mais velhos. No entanto não foi possível determinar a categoria da população devido a estratificação existente entre peixes menores e maiores, mostrando a preferência das fêmeas (peixes maiores) por outros ambientes. Foi registrada um variação de 9 cm a 36 cm sendo a classe mais representativa entre 15 a 21 cm, como a espécie pode chegar a mais de 1,25m e que a estuários são utilizados por várias espécies como locais de desova, proteção e alimentação podemos dizer que o C. undecimalis utiliza a área estudada com importante centro de crescimento para revitalização dos estoques. As freqüências elevadas de indivíduos de classe de comprimento menores podem denotar altos níveis de recrutamento (BENEDITO, 1989). Nikolsky (1963), afirma que o dimorfismo sexual que ocorre em relação ao tamanho do corpo, em que as fêmeas alcançam comprimentos maiores que os dos machos, é vantajosos, na medida em que a fecundidade aumenta exponencialmente com o crescimento. A Relação Peso Total/Comprimento permite que sejam feitas inferências a respeito do tipo de crescimento dos peixes. Essa relação tem sido descrita através da formula Wt = a.Ltb , onde a =Ф, constante que indica o estado nutricional do peixe, podendo variar em função 72 Carpe Diem FIGURA 8 - Distribuição mensal do índice de importância alimentar (IAi), de C. undecimalis. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 73 do ambiente e do estádio de desenvolvimento gônadal; b = θ indica o tipo de crescimento (constante de alometria) do peixe e pode variar de 2,5 a 4,0. Segundo Rossi-Wongtschowisk (1977), esse parâmetro pode variar entre peixes de localidades diferentes, de sexos diferentes ou diferentes fases de crescimento, sendo geralmente constante para peixes dentro de cada um destes aspectos. As espécies cujo valor de b seja três,caracterizam-se pelo crescimento “isométrico”, ou seja, a forma do corpo e a gravidade não variam. Se os valores forem maiores ou menores que três o crescimento é tipo “alométrico”, podendo ser denominados positivo ou negativo, respectivamente (RICKER, 1975). Neste estudo foi encontrado para C. undecimalis o valor de θ (b) é igual a 2,9998, ou seja isométrico, significando que a espécie apresenta um crescimento estatisticamente igual. Resultado semelhante foi encontrado por Silva (1976) em estudos com a mesma espécie em viveiros de Pernambuco, com θ = 3,0. Santos (1994) realizou experimentos em tanques com C. undecimalis e encontrou valores para θ que variaram entre 2,842 a 3,229. O conhecimento de o espectro alimentar de uma espécie, importante em pesquisas auto-ecológicas, constitui uma maneira de se obterem dados preciosos sobre a estrutura trófica do ecossistema (GURGEL, 1992). O habito alimentar do peixe é um importante indicador das relações ecológicas entre os organismos, podendo determinar as estratégias de coexistência de espécies afins. O grau de enchimento do estômago é um bom indicador das condições ecológicas interativas entre peixes e meio ambiente (AGUILLAR e MALPICA, 1993). O elevado número de estômagos vazios, durante todo período de estudo, pode ser explicado pela dieta basicamente piscívora. Uma alimentação baseada em peixes tem um grande valor energético, isso reduz a necessidade de ingestão continua de alimento, ou seja, a espécie tende a procurar novas presas quando se encontra faminta. Esse procedimento è normal em animais carnívoros (NIKOLSKY, 1963). Os índices alimentares, devido ao seu caráter quantitativo, definem com mais segurança qual a época que os peixes apresentam as melhores condições alimentares (BARBIERI e MARINS, 2001). O Índice de Repleção para C. undecimalis do Estuário Rio Po- tengi se apresentou baixo, devido ao elevado número de estômagos vazios. Mesmo assim foi verificar um aumento no peso dos estômagos nos meses de julho a novembro, isso pode ter ocorrido pelo aumento da disponibilidade de alimento. Outra forma de analisar alimentação é através do fator de condição é um índice muito utilizado em estudos de biologia pesqueira, pois indica o grau de bem estar do peixe em relação ao ambiente em que vive além de fornecer indicações quando se deseja comparar duas ou mais populações vivendo em determinadas condições de alimentação, densidade, clima; como também para determinar a duração da fase de maturação gonadal e acompanhar o grau de atividade alimentar de uma espécie, verificando se ela está ou não fazendo bom uso da fonte alimentar (BRAGA, 1986). Para C. undecimalis o período encontrado que melhor condição vai de agosto a novembro, mesmo período em que o índice de repleção também se eleva, confirmando assim que o período de agosto a novembro é o de melhor condição da espécie no ambiente, ou seja, é quando a espécies aproveita de maneira satisfatória os recursos disponíveis. Analisando o conteúdo estomacal dos camurins, constatou-se uma preferência por peixe em sua alimentação. Para verificar melhor o resultados utilizamos o IAi (Índice de importância alimentar), afim de se verificar se o conteúdo mais freqüente é o mais importante. Evidenciamos com este método, que alimentação da espécie é a base de peixes apresenta maior importância, sendo sua principal fonte de recurso alimentar, seguido de crustáceos, representados por camarões e caranguejos. Esses resultados foram similares aos relatados por Gilmore et al. (1983), onde registraram que os robalos se alimentam basicamente de peixes seguido de camarão, Fore e Schmidt, (1973) encontraram os peixes na base da alimentação dos robalos, seguido de camarões, caranguejos, insetos e micro crustáceos. Rivas, (1962), Vasconcellos Filho e Galiza, (1980) e Chávez (1963), também relataram a preferência alimentar por peixes, sem seleção de espécies, completando sua dieta com crustáceos, moluscos, ovos de peixes e insetos. Pode-se dizer ainda que sua alimentação esta totalmente ligada à coluna d’água, pois raramente são encontradas presas bentônicas em seus conteúdos estomacais. 74 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 75 5 CONCLUSÃO O ambiente estudado pode ser caracterizado como área de alimentação e crescimento de juvenis da espécie. A espécie em estudo apresenta um crescimento do tipo isométrico. A alimentação da espécie é carnívora com forte tendência piscívora, tendo como complemento alimentar camarões e caranguejos. REFERÊNCIAS AGUILAR, A.T.; MALPICA, Z. C. Biologia pesqueira. Trujilo: Editorial Liberdad, p. 432, 1993. BARBIERI, G.; MARINS, M. A. Avaliação qualitativa da ictiofauna do rio Sorocaba – SP. Rev. de Estud. Univ., v. 27, n. 1, p. 107-132, 2001. BENEDITO, E. Estrutura da população de Hypophthalmus edentatus (Spix. 1829) (Osteichthyes, Hypophtalmidae) no reservatório de Itaipu – PR. Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1989. BRAGA, F. M. S. 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Procedeu-se uma pesquisa bibliográfica sobre estratégia, sua origem e significado, assim como planejamento estratégico e seus instrumentos de elaboração, acompanhamento e avaliação. Realizaram-se as conexões entre planejamento organizacional e projeto político-pedagógico, a partir da definição e elaboração deste último, para finalmente, demonstrar a utilidade dos princípios do planejamento estratégico, na concepção de um PPP. SANTOS, E. P. Dinâmica de populações aplicada à pesca e piscicultura. São Paulo: HUCITEC: EDUSP, 1978. 129p. PALAVRAS-CHAVE: Estratégia. Planejamento estratégico. Projeto políticopedagógico. Educação. ______, L. R. Systematic review of de Genus Centropomus. Copeia, Gainesville, n. 3, p. 579-611, 1986. TAYLOR, R. G.; WHITTING, J. A. ; GRIER, H. J.; CRABTREE, R. E. Age, Growth, maturation and protandric sex reversal in the common snook, Centropomus undecimalis, from South Florida Waters. Fish. Bull, v. 98, n. 3, p. 612-624, 2000. THUE, E. B.; RUTHERFORD, E. 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Number 31. 1959. 78 STRATEGIC PLANNING AS A TOOL IN THE ELABORATION OF A POLITICAL-PEDAGOGIC PROJECT ABSTRACT: This paper deals with the use of Strategic Planning - used by organizations, in general, in the definition of their objectives and goals – as a tool in the elaboration of Political-Pedagogical Project (PPP) for Institutions of Superior Education. A bibliographical research was carried out on strategy, its origin and meaning, as well as strategic planning and its instruments of elaboration, accompaniment and evaluation. The connections between organizational planning and political-pedagogical project were analyzed from the definition and elaboration of this last one, in order to demonstrate the utility of strategic planning principles in the conception of a PPP. KEY-WORDS: Strategy. Strategic planning. Political-pedagogical project. Education. 1 Este artigo é resultado do TCC do Curso de Especialização em Formação Docente da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte sob a orientação da Profª Dr.ª Rita Diana de Freitas Gurgel - Email: [email protected]). 2 Administrador de Empresas. Especialista em Gestão Empresarial (MBA em Gestão Empresarial – FGV). Funcionário de carreira do Banco do Nordeste do Brasil S/A, ocupante da função de Gerente de Negócios. E-mail: [email protected]. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 79 1 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é analisar a eficácia da utilização do planejamento estratégico utilizado pelas Instituições de Ensino Superior (IES) no estabelecimento de sua missão, valores, metas e objetivos, como uma ferramenta na elaboração de um projeto político-pedagógico. O planejamento estratégico é utilizado pelas organizações em geral, como instrumento de formação de sua identidade organizacional, assim como, elemento de análise do alcance dos seus objetivos, reavaliação e correção de rumos. Nessa trajetória, as organizações têm oportunidade não somente de avaliarem, mas também de se reavaliarem, e em muitos casos de, se reinventarem-se, criando novos objetivos e metas. Conforme Montgomery e Porter (1998, p. 5), “Estratégia é a busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa”. Desta forma, se para as organizações, a elaboração de um planejamento estratégico é condição sine qua non para o sucesso, certamente, entendemos nós, que este mesmo instrumento poderá ser utilizado na elaboração de um projeto político-pedagógico de cursos superiores, pois auxiliaria a IES no alcance dos seus objetivos e metas. A construção deste trabalho foi possível mediante uma pesquisa bibliográfica que consistiu basicamente no levantamento de abordagens do problema (convergentes e divergentes), em obras que tratam de planejamento estratégico e projeto político-pedagógico. Inicialmente, estaremos analisando a origem do planejamento estratégico e sua utilização como importante instrumento de apoio empresarial. Abordaremos o planejamento na educação no Brasil, a importância do projeto político-pedagógico e a sua construção, e, finalmente, a eficácia da utilização do planejamento estratégico como ferramenta na elaboração de um PPP. 1. Arte de coordenar a ação das forças militares, políticas, econômicas e morais implicadas na condução de um conflito ou na preparação da defesa de uma nação ou comunidade de nações. 2. Parte da arte militar que trata das operações e dos movimentos de um exército, até chegar em condições vantajosas, à presença do inimigo. 3. Por extensão: arte de aplicar com eficácia os recursos de que se dispõe ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando o alcance de determinados objetivos. No século VI a. C., o general Sun Tzu, escreveu o livro “A Arte da Guerra”, sendo este considerado um clássico no estudo da Estratégia, em seu manual, assim se expressa sobre a guerra (Sun Tzu, 2004, p. 7): “A arte da guerra é de importância vital para o estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína. Assim, em nenhuma circunstância deve ser negligenciada”. No clássico Da Guerra, o general prussiano Carl von Clausewitz apresenta o seu tratado de arte militar, publicado em 1832-1837, após sua morte. Clausewitz (1996, p. 171), assim define estratégia e a sua principal finalidade: A estratégia é a utilização do reencontro para atingir a finalidade da guerra. Ela tem, pois, de fixar uma finalidade para o conjunto do ato de guerra que corresponda ao objetivo da guerra. Quer dizer: estabelece o plano de guerra e determina em função do objetivo em questão uma série de ações que a ele conduzem; elabora portanto os planos das diferentes campanhas e organiza os diferentes encontros destas ações. Dado que todas essas decisões em grande parte só poderão assentar suposições que nem sempre se realizam, e que um grande número de outras suposições mais detalhadas não podem ser tomadas antecipadamente, resulta que a estratégia tem de acompanhar o exército no campo de batalha par que, no próprio local, se tomem as disposições de detalhes necessárias e se proceda as modificações gerais que se impõem incessantemente. De modo que a estratégia não pode em nenhum momento retirar-se do combate. 2 CONCEITUANDO ESTRATÉGIA A palavra strategia, tem a sua origem no grego antigo, e significa a qualidade e a habilidade do general. É a capacidade de o comandante organizar e conduzir as campanhas militares para obterem pleno êxito. Estratégia, em sua origem primeira, expressava as ações relacionadas a situações políticas, guerras, ou jogos. Para Houaiss (2001), estratégia tem as seguintes definições: 80 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 81 Para Peter Ferdinand Drucker, falecido em novembro de 2005, e considerado o pai da administração moderna por revolucionar as estratégias e conceitos de grandes empresas em todo o mundo, a estratégia tem uma importância para as organizações em geral, pois, Toda organização opera sobre uma teoria do negócio, isto é, um conjunto de hipóteses a respeito de qual é seu negócio, quais seus objetivos, como ela define resultados, quem são os seus clientes e a que eles dão valor e pelo que pagam. A estratégia converte essa teoria em desempenho. Sua finalidade é capacitar a organização a atingir os resultados desejados em um ambiente imprevisível, pois a estratégia lhe permite ser intencionalmente oportunista. A estratégia também é o teste da teoria do negócio. A sua incapacidade para produzir resultados esperados é, normalmente, a primeira indicação séria de que a teoria do negócio precisa ser redefinida (DRUCKER, 1999, p. 42). Na opinião de Porter (1996, p. 9), estratégia consiste em: “[...] integrar o conjunto de atividades de uma empresa. O sucesso da estratégia depende de se conseguir fazer muitas coisas bem e saber integrá-las. Se não houver adaptação entre as atividades, não há estratégia distintiva nem sustentabilidade”. Hoje em dia, estratégia é uma ferramenta gerencial imprescindível para as empresas. Os manuais propõem definições variadas: estratégia é planejamento, é o sinônimo mais comum, ao lado de direção, de guia, de modo de ação futura, trajetória para ir de um ponto a outro; estratégia é modelo, é um padrão que mantém a coerência ao longo do tempo. Conforme Júlio (2005, p. 19), [...] pior que uma estratégia rasa é não ter estratégia. Pior que uma estratégia simplificada é não parar para pensar o negócio e discutir seu futuro, sua concorrência, suas possibilidades de novos produtos, clientes e mercados. Pior que uma estratégia que não seja a mais defensável tecnicamente é navegar sem bússola. Afinal, um avião que voa 10 minutos no sentido contrário ao de sua rota está 20 minutos mais longe do destino desejado [...]. 82 No livro “Alice no País das Maravilhas”, um dos maiores clássicos da literatura universal, escrito pelo inglês Lewis Carroll, tem uma passagem em que a personagem principal, Alice, ansiosa por escapar dos domínios da Duquesa, conversa com o Gato de Cheshire: “O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?”, pergunta Alice. “Isso depende muito para onde você quer ir”, responde o Gato. “Não me importa muito para onde [...]”, diz Alice. “Então, se você não sabe para onde quer ir em qualquer caminho você chegará lá”, sentencia o Gato. A transcrição revela o princípio maior da estratégia, saber aonde se quer chegar, e o que fazer para chegar lá. É fundamental, em estratégia, a definição do objetivo e das metas, pois somente desta forma, consegue-se ter êxito na jornada que for traçada, seja ela qual for. 3 CONCEITUANDO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Conforme o Houaiss (2001), a palavra planejar, significa projetar, programar, ter intenção de; já planejamento, tem haver com elaboração de plano, programação, organização prévia. Para Drucker (1998, p. 136), planejamento estratégico: É o processo contínuo de, sistematicamente e com o maior conhecimento possível do futuro contido, tomar decisões atuais que envolvam riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução dessas decisões; e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas. O planejamento começa pelos objetivos da empresa. Em cada área desses objetivos, é preciso formular a pergunta: Que temos que fazer agora para alcançar amanhã os nossos objetivos?(grifos do autor). Conforme Montgomery e Porter (1998, p. 5): [...] é a busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa. Para qualquer empresa, a busca é um processo interativo que começa com o reconhecimento Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 83 de quem somos e do que temos nesse momento. Reafirma-se que é através do planejamento estratégico que as organizações constroem a sua identidade, mas não é só isso. Por meio desta importante ferramenta empresarial se busca saber o que se é, onde se estar, aonde se quer chegar e, finalmente, como fazer para alcançar os objetivos e metas definidas. Entende-se, portanto, que a atividade primeira de qualquer organização, é a elaboração do seu planejamento estratégico, pois é com ele e por meio dele que serão alcançados os objetivos e metas a serem perseguidas. É através do planejamento estratégico que a organização, olha para dentro de si, analisa-se, percebe-se e estabelece os seus princípios, valores e a sua missão, ou seja, constrói a sua identidade, constituindo-se em algo socialmente válido, alcançando os resultados, respeitando os aspectos sócio-ambientais. 4 A ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A formulação do planejamento estratégico de uma organização deve ser realizada a partir da tomada de consciência por parte dos seus líderes, e aqui, entende-se por líderes as lideranças formais (dirigentes) e nãoformais, sobre a importância e de que há necessidade de se verter um olhar sobre o objetivo da entidade, estabelecendo a visão, sua missão, enquanto algo socialmente válido, e os valores cultivados pela mesma. O planejamento estratégico decorre do raciocínio estratégico, este por sua vez, relaciona-se com a visão e a missão, com a elaboração dos objetivos e das principais orientações estratégicas da organização. Embora seja amplamente utilizado na gestão empresarial, Sanyal (1993 apud PARENTE, 2003, p. 37) considera que: O planejamento estratégico como a melhor e mais apropriada abordagem para ajudar as instituições de ensino superior a enfrentarem os desafios atuais referentes à autonomia e auto-sustentação financeira, a diversificação de programas para atender às demandas socioeconômicas, a introdução de novas tecnologias, as necessidades de estratégicas de longo prazo para a pesquisa em época de revolução científica e tecnológica e a criação de uma imagem pública numa era de competição por fundos e estudantes. 84 Devemos ainda acrescentar que o atual cenário econômico mundial, permeado por uma crise econômica que trouxe aumento no nível de desemprego, diminuição do consumo e da oferta de crédito, demanda que as empresas, independente da área, estejam atentam a essas mudanças para que não amarguem prejuízos ou cheguem a fechar suas portas. Considerando que o ensino superior e suas instituições são marcados pela complexidade e diversidade, esse cenário deve ser considerado, vez que nem mesmo os analistas econômicos chegam a um consenso se essa crise é de curto, médio ou longo prazo. Todavia, cremos que todas as instituições de ensino superior podem ser afetadas, seja ela pública ou privada. A pública, por exemplo, pelos cortes nos investimentos em pesquisa, e isso já foi feito para o orçamento do ano em curso. E as instituições privadas, pela queda da demanda em face do aumento do desemprego, diminuição da oferta de crédito e a evasão. Embora as instituições privadas sejam em maior número e tenham também mais alunos, não é verdade que a maioria esteja terminando os cursos. Dados do Senso da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelam que em 2007 as universidades federais tiveram a maior taxa de conclusão, cerca de 72,6%, já as instituições privadas apresentaram 55,4% (INEP, 2009). Esses dados reforçam a necessidade de estratégias que captem novos alunos, que façam com que permaneçam na instituição e que concluam seus cursos. Todavia, a implementação da estratégia, as orientações estratégicas devem redundar em ações concretas para alcançar os objetivos elaborados. A função do planejamento estratégico é apoiar e complementar o raciocínio estratégico. Na elaboração do planejamento estratégico, os envolvidos, que devem estar representando o corpo diretivo e não-diretivo, formulam as seguintes bases do olhar estratégico sobre a organização: a) Visão: consiste da percepção não só das necessidades do mercado mas de como a organização vai poder atendê-las. A visão deve ser coerente e criar uma imagem clara do futuro. O planejamento estratégico é será usado com a finalidade de concretizar a visão. Ao elaborar a visão, elabora-se também a chamada “visão do futuro”, a qual Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 85 estabelece onde e como a organização quer estar num futuro previamente estabelecido. Conforme Serra, Torres e Pavan (2004, p. 45), na formulação da visão corporativa, devem ser respondidas as seguintes perguntas: Qual é o nosso objetivo? Qual é a força que nos impulsiona? Quais são os nossos valores básicos? O que fazemos melhor? O que desejamos realizar? O que gostaríamos de mudar? b) Missão: é uma declaração formal da organização, firmando o seu compromisso sobre as suas intenções e aspiração. É a razão da existência de qualquer entidade, e é de longo prazo. c) Valores: dizem respeito aos princípios cultivados pela organização, são intrínsecos e estão relacionados à conduta adotada por todos que a compõem. Podemos citar como exemplo, ética, transparência, responsabilidade social, entre outros. d) Análise Externa ou do Macro-Ambiente: é a verificação e análise do ambiente onde atua a organização. Tem a ver com o ambiente político, econômico, social, tecnológico, enfim, todo e qualquer fator que influencia ou pode vir a influenciar o desempenho da entidade como um todo. Esta análise capacita à organização obter êxito em um ambiente de competição. Conforme Sun Tzu (2004, p. 28), Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas. podem afetar os cenários e refletem influências? Devemos corrigir nosso rumo para que possamos alcançar nossos propósitos ou é preferível simplesmente nos adaptar? Cenário não é previsão, nem objetivo ou visão, e não garante a certeza. Construir cenários é imaginar possíveis futuros, modelos do que pode vir a acontecer. A formatação de cenários, calcado na análise do macro-ambiente, permite a organização traçar as suas estratégias de atuação, e, por conseguinte, formular o seu planejamento estratégico, se não com a certeza do futuro que virá, mas independentemente deste, preparada para o mesmo. f) Análise Setorial Método das Cinco Forças Competitivas: leva a organização se preocupar em identificar os principais atores, no segmento de negócio ou atuação em que a mesma está inserida. O chamado modelo das cinco forças da concorrência foi desenvolvido na década de 1970 pelo economista, consultor e professor de Harvard, Michael E. Porter, um dos mais renomados gurus do planejamento estratégico da atualidade. As cinco forças competitivas são: 1) O grau de rivalidade entre as empresas; 2) A ameaça dos novos entrantes potenciais; 3) A ameaça dos produtos substitutos; 4) O poder de barganha dos consumidores/clientes e 5) O poder de barganha dos fornecedores. Conforme Porter (1986, p. 22-24): A essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia em seu meio ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais como econômicas, o aspecto principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as indústrias em que ela compete. A estrutura industrial tem uma forte influência na determinação das regras competitivas do jogo, assim como das estratégias potencialmente para a empresa [...] A meta da estratégia competitiva para uma unidade empresarial em uma indústria é encontrar uma posição dentro dela em que a companhia possa melhor se defender contra estas forças competitivas ou influenciá-las em seu favor [...]. O e) Elaboração de Cenários: é realizada a partir da leitura dos fatores externos, a organização busca criar cenários onde estará inserida no curto, médio e longo prazo. Para Serra, Torres e Pavan (2004, p. 61), a construção de cenários, É uma possibilidade abrangente do futuro, elaborada segundo uma configuração predeterminada do ambiente, para auxiliar as organizações na tomada de decisões estratégicas. A criação de cenários é a resposta para: Onde estamos agora? Onde gostaríamos de estar daqui a 15 anos? Quais direcionadores 86 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 87 conhecimento destas fontes subjacentes da pressão competitiva põe em destaque os pontos fortes e os pontos fracos críticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e põe em destaque as áreas em que as tendências da indústria são da maior importância, quer como oportunidade, quer como ameaça [...]. As cinco forças competitivas – entrada, ameaça de substituição, poder de negociação dos compradores, poder de negociação dos fornecedores e rivalidade entre os atuais concorrentes – refletem o fato de que a concorrência em uma indústria não está limitada aos participantes estabelecidos. Clientes, fornecedores, substitutos e os entrantes potenciais são todos “concorrentes” para as empresas na indústria, podendo ter maior ou menor importância, dependendo das circunstâncias particulares. g) Fatores Críticos de Sucesso (FCS): na elaboração do seu planejamento estratégico, a organização analisa quais são as atividadeschave do negócio, que precisam ser muito bem executadas para que os seus objetivos sejam alcançados. Identificado os mesmos, faz-se necessário concentrar esforços, para que estes FCS se transformem em pontos fortes. São exemplos de FCS, tecnologia, fabricação, distribuição, comercialização e capacidade organizacional. Na visão de Serra, Torres e Pavan (2004, p. 80), os fatores críticos de sucesso podem ser determinados pelas respostas a três questões: “Quais são os critérios dos clientes para a escolha dos produtos? Quais são os recursos e capacidades competitivas necessárias para se ter sucesso? O que é necessário para obter vantagem competitiva?”. h) A Análise de SWOT: o nome SWOT é um acrônimo que tem origem em quatro palavras do idioma inglês: Strenght = Força; Weakness = Fraqueza; Opportunities = Oportunidades; Threats = Ameaças. Trata-se de uma das principais ferramentas utilizadas, na formulação do planejamento estratégico. Desenvolvida pelo economista americano Keneeth Andrews, nos anos 1960, busca encontrar o equilíbrio entre as forças (strenght), fraquezas (weakness), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) da organização, em relação ao ambiente interno e externo. 88 FORÇAS (Strenght) FRAQUEZAS (Weakness) OPORTUNIDADES (Opportunities) AMEAÇAS (Threats) FIGURA 1 - Representação gráfica, clássica, da análise de SWOT. Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 87) Ainda para esses autores “a função primordial da análise SWOT é possibilitar a escolha de uma estratégia adequada – para que se alcancem determinados objetivos – a partir de uma avaliação crítica dos ambientes interno e externo” (SERRA; TORRES; PAVAN, 2004, p. 86). Após a análise de SWOT, identificadas as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, em relação ao ambiente interno e externo da organização, procede-se a inter-relação entre estes fatores, buscando eliminar as fraquezas e otimizar as oportunidades. FORÇAS Proteção por patentes Instalações modernas Vantagem de custo Recursos financeiros Vulnerabilidade OPORTUNIDADES Novos mercados Alianças estratégicas Acesso a novas tecnologias Novos produtos e serviços Problemas AMEAÇAS Regulação governamental Novos concorrentes Mudança no gosto dos consumidores Alavancagem FRAQUEZAS Distribuição falha Altos custos de produção Gerenciamento inadequado Limitações financeiras Limitações FIGURA 2 - Exemplo de uma análise de SWOT. Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 87) Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 89 i) Balanced ScoreCard (BSC): é um instrumento de planejamento e gestão de empresas, originalmente desenvolvido na década de 1990 por Robert Kaplan e David Norton, professores da renomada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Atualmente já é adotado pela maioria das empresas de porte mundial, além de milhares de organizações de porte médio, líderes em seus mercados no Brasil e em todo o globo terrestre. Outro fator que alavancou seu rápido sucesso foi o fato de ser aplicável não apenas a empresas, mas a qualquer tipo de organismo social. A sua forma única de estruturar objetivos e medir performances fizeram-no ser adotado por várias Cidades, Estados e Ministérios em vários países, como EUA, Suécia, Austrália, Áustria, Dinamarca, Nova Zelândia, Inglaterra, Canadá, França, etc. Também é cada vez mais utilizado por outras organizações, sem fins lucrativos, mas que precisam igualmente ter uma administração eficiente e transparente, como universidades, escolas, hospitais e ONG´s. O Balanced Scorecard baseia-se na representação equilibrada de indicadores financeiros e operacionais segundo quatro perspectivas: financeira, dos clientes externos, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Na opinião de Kaplan e Norton (2004, p. 8-9) o Balanced Scorecard deve ser pensado como: Conforme demonstram os mesmos autores, a estrutura do BSC é formada por quatro perspectivas: a financeira, clientes, aprendizado e crescimento, e processos internos. O BSC sugere que a empresa seja vista a partir dessas perspectivas e para desenvolver medidas, colete dados e os analise sobre o foco de cada perspectiva. Os instrumentos e mostradores de cabine de comando de um avião. Para as tarefas complexas de navegação e sustentação do avião, os pilotos necessitam de informações detalhadas sobre muitos aspectos do vôo. Precisam de dados sobre combustível, velocidade, altitude, direção, destino e outros indicadores que resumem o ambiente efetivo e previsto. A confiança em apenas um instrumento pode ser fatal. Do mesmo modo, a complexidade do gerenciamento das organizações de hoje exige que os gerentes tenham condições de visualizar o desempenho da empresa sob quatro importantes perspectivas e fornece respostas a quatro questões básicas: 1. Como os clientes nos vêem? (perspectiva do cliente) 2. Em que devemos ser excelentes? (perspectiva interna) 3. Seremos capazes de continuar melhorando e criando valor? (perspectiva de inovação e aprendizado) 4. Como parecemos para os acionistas? (perspectiva financeira) No quadro a seguir veremos uma demonstração de objetivos, indicadores, metas e ações a serem adotadas segundo cada uma das perspectivas do balanced scorecard. Os indicadores, segundo as perspectivas, estão relacionados conforme a ligação de causa e efeito apresentada, fazendo com que aquelas ações que não causem impactos positivos, sejam abandonadas. O BSC oferece para os administradores da organização, os instrumentos que necessitam para alcançar o sucesso no futuro. Visto que, mede o desempenho organizacional sobre as quatro perspectivas equilibradas, revelando claramente os vetores de valor para um desempenho financeiro e competitivo superior e a longo prazo. Os administradores precisam reconhecer esses vetores do sucesso a longo prazo, cujos objetivos e medidas utilizadas no BSC não se limitam a um conjunto de desempenho financeiro e não-financeiro, mas derivam 90 FIGURA 3 - BSC, Perspectivas e Metas. Fonte: Kaplan; Norton (2004, p. 10) Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 91 de um processo hierárquico norteado pela missão e estratégia traduzida em objetivos e medidas tangíveis. As medidas representam o equilíbrio entre indicadores externos, voltados para acionistas e clientes, e as medidas internas dos processos críticos de negócios, inovação, aprendizado e crescimento. Há um equilíbrio entre as medidas de resultado passado e futuro. Desde a sua criação, a metodologia BSC tem sido utilizado por milhares de organizações do setor privado, setor público e ONG’s de todo o mundo. Chegou mesmo a ser escolhido, pela famosa revista Harvard Business Review como uma das práticas de gestão mais importantes e revolucionárias dos últimos 75 anos. QUADRO 1 - Relação de causa e efeito entre os indicadores do BSC Perspectiva Relação de Causa e Efeito Finanças Lucratividade Aumento da Receitas Clientes Qualidade do Produto Objetivos Indicadores Metas Crescimento Receita operacional 20% de aumento rentável do negócio Vendas X ano anterior 12% de aumento Qualidade Taxa de retorno do produto Iniciativas Programas “como” Reduzir em Programa de 50% cada ano gerenciamento de um associado da qualidade qualificado Programa de Experiência Compras Lealdade do cliente 2,4 unidades lealdade do cliente Melhorar o Percentual de 70% até o Programa de Internos desempenho mercadorias terceiro ano desenvolvimento da fábrica de fábricas corporativo “classe A” da fábrica Plano em linha Itens em estoque de gerenciamento X planejado Processos Fábrica “classe A” 60% e 85% Aprendizado e Habilidades de Treinar e equipar Percentual de crescimento a força de trabalho habilidades habilidades estratégicas Ano 3 = 75% disponíveis estratégicas “Mesa” dos relacionamento Ano 1 = 50% Habilidades de compra/planejamento Plano de 5 A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NO ENSINO SUPERIOR No que se refere à importância do uso das ferramentas utilizadas pelo planejamento estratégico, na elaboração de um Projeto PolíticoPedagógico, continuamos a nossa reflexão a partir dos dados do Senso da Educação Superior no Brasil, no que concerne a evasão de alunos. A análise do senso permite constatar que a taxa de conclusão mais alta é das universidades federais, com 72,6%. O cálculo levou em consideração o número de alunos que ingressaram quatro anos antes e o total de concluinte dos cursos s em 2007. A média nacional obtida ficou em 58,1%, com predominância nas universidades públicas (63,8% nas estaduais e 62,4% nas municipais). O indicador dá-nos uma idéia do tamanho da evasão dos alunos do ensino superior. A partir do ano em curso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), pretende adotar um novo modelo de coleta de dados que listará o nome dos universitários e sua trajetória acadêmica, a exemplo do que já ocorre no ensino básico. Na opinião do presidente do INEP, Reynaldo Fernandes, a evasão universitária está ligada, de um lado, à troca de cursos no início da faculdade e, de outro, as dificuldades para pagar as mensalidades nas instituições privadas. No ano de 2007, o censo revela que o país tinha 4.880.381 universitários, o que representa um crescimento de 4,4% em relação ao ano anterior. Desse total, o setor privado respondia por 3.639.413 matrículas, cerca de 74,57% do total, ante 615.542 nas federais, com 12,61%, 482.814 nas estaduais, com 9,9% e 142.612 matrículas nas municipais, cerca de 2,92% (INEP, 2009). É mister indagar, o que ocorreu com as IES na elaboração dos seus Projetos Político-Pedagógico, que não previram uma situação acima descrita? Quê cenário foi trabalhado? Quê visão, missão e valores foram definidos? Foram definidos os fatores críticos de sucesso? Quais as ações deveriam ser implementadas com vistas ao alcance dos objetivos? Inicialmente, precisamos definir o que é um Projeto Político-Pedagógico. Para Veiga e Fonseca (2007, p. 12-14) [...] o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado as autori- comerciantes Ano 5 = 90% Fonte: Serra; Torres; Pavan (2004, p. 129) 92 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 93 dades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. [...] Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social imediato, procurando preservar a visão de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto político pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade. Após definido os principais participantes, escolhidos entre o Corpo Diretivo, Corpo Docente e Discente, de forma tal que o PPP represente o sentimento de todos os que influenciam ou são influenciados pela aplicação desse Projeto, os chamados grupos de interesse (stakeholders), este Grupo tratará da elaboração, buscando dar respostas coerentes às seguintes indagações: 6 UTILIZANDO AS FERRAMENTAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Apresentamos a seguir uma dinâmica para a elaboração de um Projeto Político-Pedagógico, voltado para uma Instituição de Ensino Superior – IES, mais especificamente, para o curso de Administração. a) Visão – Qual é a real necessidade da implementação do Curso? Qual é a atual dinâmica econômica e social em que o Curso está inserido, seja como influenciado ou influenciador? Qual é a visão do futuro que se pode ter do Curso? b) Missão – Qual é a Missão do Curso? Quais profissionais o Curso pretende formar? A Missão é formar meros administradores ou administradores-cidadãos, conscientes do seu papel transformador da sociedade? c) Valores – Quê valores a IES cultiva? Quais os valores estarão permeando o Projeto Político-Pedagógico? Estes valores estão em consonância com os valores da IES, são eles transformadores? d) Análise Externa ou Macro-Ambiente – Em que contexto político, econômico, social e tecnológico o Curso se encontra? O PPP propicia a formação dos alunos para atuarem nesse contexto? Qual é a importância do contexto atual para a elaboração do PPP, ou o inverso? e) Elaboração de Cenários – As situações descritas na análise do macro-ambiente são permanentes ou transitórias? Qual é o cenário que podemos vislumbrar num horizonte de cinco anos ou dez anos? As premissas do PPP estão compatíveis com uma mudança de cenário ou tem flexibilidade suficiente para mudar? f) Fatores Críticos de Sucesso (FCS) – É preciso identificar quais princípios ou práticas, o PPP deve ter, sob pena de não obter o sucesso deseja, ou não fazer cumprir o desejado. É necessário identificar os princípios-chave que o Projeto Político-Pedagógico deve ter. g) Análise de SWOT (Strenght = Forças; Weakness = Fraqueza; Opportunities = Oportunidades; Threats = Ameaças) – Faz-se necessário, identificar quais são as principais forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, que o Projeto Político-Pedagógico tem, e promover ações que visem fortalecer os pontos positivos, e neutralizar os fatores 94 Carpe Diem Ainda acrescentamos o que pensa Vasconcelos (2007, p. 169): O Projeto Político-Pedagógico (ou Projeto Educativo) é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da instituição neste processo de transformação. Neste contexto, compreendemos que o Projeto Político-Pedagógico por se assemelhar com o Planejamento Estratégico, uma vez que busca responder as perguntas, onde queremos está no futuro? Qual é a nossa missão? Quais são os nossos valores? É perfeitamente possível a utilização das premissas do Planejamento Estratégico, na elaboração e formatação de um PPP. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 95 negativos. Como pode ser observado nas Figuras 1 e 2. h) Balanced ScoreCard (BSC) – Analisa a organização segundo quatro perspectivas: financeira, dos clientes externos, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Ao se adaptar esta ferramenta ao Projeto Político-Pedagógico se fomentaria as seguintes indagações: Financeira – Em que medida o PPP torna o Curso viável e auto-sustentavel? Clientes (Alunos) – Em que medida o PPP leva a uma formação cidadã? Aprendizagem e Crescimento – Em que medida o PPP promove e incentiva uma educação continuada, por parte do Corpo Docente? Processos Internos – O quão o PPP torna o Curso atualizado e possível de atualização, quais são os pontos críticos que merecem maior atenção? Ainda sobre a elaboração do Projeto Político-Pedagógico, assim se manifestam Vieira e Albuquerque (2001 apud Parente, 2003, p. 112): A construção do Projeto Pedagógico demanda uma atitude de reflexão coletiva permanente do corpo da escola em direção às intenções e à consecução desses intentos por parte daqueles que são responsáveis pela condução desse projeto. Requer do corpo da escola conhecimentos e saberes específicos, bem como ousadia coletiva que vai se traduzindo na prática cotidiana a ser feita e refeita dentro e forma da escola. As possibilidades de aplicação das ferramentas do Planejamento Estratégico, na elaboração de um Projeto Político-Pedagógico são amplas, conforme ficou demonstrado. Para tal, cabe ao Corpo Diretivo da IES de forma democrática e aberta, permitir que seja formado o grupo de interesse, dando ao mesmo os poderes e a liberdade de ação que precisam, além de promover uma ampla discussão no âmbito da Instituição, e não temer a quebra de paradigmas, por saber que, se o novo assusta, mas que sem ousadia e inovação, não é possível sobreviver. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo, demonstramos o que é Planejamento Estratégico tem sua importância para as organizações e que apresenta possibilidade 96 de utilização na elaboração de um Projeto Político-Pedagógico. Mas, e em nossa vida pessoal, é possível aplicar estas mesmas ferramentas? Chegaremos fatalmente à conclusão que sim. Assim como as organizações, todos nós temos a nossa visão do futuro, missão, valores, pontos fortes e pontos fracos (análise de SWOT), fatores críticos de sucesso, etc. Então, todos nós planejamos, mal ou bem, mas planejamos, e assim como as organizações, dependendo de como fizermos o nosso planejamento pessoal, alcançaremos ou não os nossos objetivos, pois, se não planejarmos, forçosamente iremos escutar a sentença do Gato de Cheshire, extraída do clássico “Alice no País das Maravilhas”: “Então, se você não sabe para onde quer ir em qualquer caminho você chegará lá”. Diante da complexidade da formação humana e das incertezas do mundo do trabalho, devemos ter clareza dos objetivos educacionais e persegui-los para que não tenhamos egressos no ensino superior alheios àquilo que foi planejado e ao que sociedade almeja da educação superior. REFERÊNCIAS CLAUSEWITZ, Carl von. Da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996. DRUCKER, Peter F. Introdução à Administração. 3. ed. 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RECONHECENDO O TERRITÓRIO DE FORMA HUMANESCENTE: UM ESPAÇO VIVO DA SAÚDE Ana Tania Lopes Sampaio1; Claudio José da Costa Custódio2; Débora Karla Sampaio Alves Custódio3; Kátia Brandão Cavalcanti4 RESUMO: A construção do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da Reforma Sanitária iniciada em 1988, tem trazido importantes mudanças para a sociedade brasileira. Uma delas está vinculada ao modelo de atenção norteado pelo conceito ampliado de saúde que adota a prática de vigilância a saúde, a qual tem no princípio de territorialidade sua principal premissa. Formar profissionais sensíveis a essa nova concepção de saúde exige um novo olhar sobre a concepção de território. O artigo pretende relatar a experiência transdisciplinar vivenciada entre os cursos de especialização em gestão ambiental, graduação em enfermagem e o curso de psicologia da Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte, ao adotarem a Pedagogia Vivencial na aprendizagem significativa da concepção de território no contexto da atenção à saúde. O estudo é do tipo analítico descritivo, no qual utilizamos os fundamentos da fenomenologia para fazer uma micro-descrição etnográfica da experiência vivenciada. Os resultados obtidos nos mostram a possibilidade da vivenciar o conhecimento do território de saúde através de metodologias ativas no âmbito da Pedagogia Vivencial, como prática acadêmica que supera o modelo da causalidade determinista trazendo para formação em saúde um novo enfoque político, epistemológico e metodológico do território. PALAVRAS-CHAVE: Território. Vigilância à saúde. Formação humanescente. 1 Enfermeira Sanitarista. Mestra em Enfermagem. Doutora em Educação pela UFRN. Professora e Consultora do curso de Enfermagem da FACEX. E-mail:anatsampaio@ hotmail.com 2 Geógrafo pela UFRN. Especialista em Gestão Ambiental pela FACEX. Professor substituto do CEFET. Professor do Centro de Educação Integrada - CEI e do Overdose Colégio e Curso. E-mail: [email protected] 3 Psicóloga. Mestra em Psicologia pela UFRN. Professora da FACEX. E-mail: [email protected] 4 Doutora em Filosofia. Coordenadora da Base de Pesquisa “Corporeidade e Educação” do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. E-mail: katiabrandão@terra. com.br 98 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 99 KEY-WORDS: Territory. Health Inspection. Humanizing Education. 1 TERRITÓRIO COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM NO SUS A inserção do tema território nos currículos da formação em saúde é hoje uma realidade necessária às Universidades brasileiras, considerando a constituição de 1988, a reforma sanitária iniciada na década de 90, a Lei 8.080/90 e o modelo de atenção adotado no Brasil que tem a prática de vigilância à saúde com norteadora da organização da assistência no sistema Único de Saúde. A reforma sanitária brasileira vivenciada no Brasil com a instalação do Sistema Único de Saúde – SUS assume um novo paradigma assistencial, considerando que este modelo de atenção representa uma ousada inovação na busca de conquistas quanto à garantia dos direitos sociais, legitimando a cidadania como princípio básico para integrar as ações relativas à saúde. Neste contexto, a universalidade, integralidade e equidade são princípios doutrinários deste novo modelo de atenção. A universalidade se baseia no acesso de todos os brasileiros aos serviços de saúde, a equidade promove a atenção desigual aos desiguais, ou seja, o processo da inclusão social da saúde, e a integralidade na organização dos serviços e das práticas que refletem na identificação dos problemas de saúde a serem enfrentados pelos profissionais da saúde a partir do território da população atendida. Esta perspectiva está norteada pela prática da vigilância à saúde, com o qual o SUS se propõe a atuar. Sustentado em três pilares básicos: o território-processo, os problemas de saúde e a intersetorialidade (Mendes, 1996), o princípio da vigilância da saúde contribui para a reorientação do modelo assistencial à medida que orienta uma intervenção integral sobre momentos distintos do processo saúdedoença (PAIM, 2003). A Vigilância à Saúde se apresenta como uma prática pautada no conceito ampliado de saúde. Na lógica organizativa, define a operacionalização de ferramentas de informação, de planejamento e de acompanhamento das ações de saúde tendo como referência o espaço local e a identificação de como se expressa os problemas relacionados com o processo saúde doença de grupos populacionais espacialmente localizados em microáreas (de risco). 100 Carpe Diem RECOGNIZING THE TERRITORY IN A HUMANIZING WAY: A HEALTH LIVE SPACE ABSTRACT: The development of the Unified Health System (SUS), from the Health Reform started in 1988, has brought important changes to the Brazilian society. One of them is the caring model guided by a broad sanitary concept that adopts the practice of sanitary inspection, which has the principle of territoriality as its main premise. To train professionals sensitive to this new idea of health system requires a new look at the concept of territory. The article aims to describe the experience lived between disciplinary specialization courses in environmental management, degree in nursing, and psychology degree from the Faculty of Culture and Extension of Rio Grande do Norte by adopting the Experiential Education in the meaningful learning of the concept of territory in context of health care. The study is an analytical and a descriptive one in which the foundations of phenomenology were used to make a microethnographic description of the experience. The results show the possibility of experiencing the knowledge of the area of health through active methodologies within the Experiential Education as academic practice that goes beyond the model of deterministic causality bringing health education to a new political focus, epistemology and methodology of the territory. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 101 Esta é uma preocupação que nos envolve, uma vez que apesar dos referenciais teóricos se referirem a inclusão do território solo, do econômico, do político, do ideológico, do cultural e do epidemiológico, é o perfil epidemiológico que tem se destacado nos diagnósticos, planejamento e formação em saúde. Os números, gráficos e mapas se destacam nos referenciais dos riscos. Se resgatarmos o conceito de Distrito Sanitário apontado pelos autores vinculados a esta abordagem, teremos “O Distrito Sanitário compreendido, num territóriopopulação, como processo social de mudança das práticas sanitárias, de modo a adequá-las a uma lógica de organização informada pela epidemiologia” (UNGLERT, 2004, p. 35). Preocupa-nos a limitação de algumas concepções que se reproduzem na prática sanitária. A implantação do conjunto de técnicas que orientam o processo de territorialização, entre elas os sistemas de informações de base geográfica e os métodos de estimativa rápida (Villarosa, Tasca e Grego, 1995), operam de modo a não ir além de descrições plotadas sobre mapas, quantitativas, na maioria das vezes. A implantação do SUS já provocou profundas mudanças nas práticas de saúde, mas ainda não é o bastante. Para que novas mudanças ocorram, é preciso haver também profundas transformações nas práticas educativas. Isso significa que só conseguiremos mudar realmente a forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde dos brasileiros se conseguirmos mudar também os modos de compreender a saúde, ensinar e aprender. Neste sentido, a Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte – FACEX lança uma proposta ousada para o ensino de graduação em enfermagem. Um curso com currículo integrado, organizado a partir de oito Eixos Temáticos, inspirado no pensamento complexo, que tem a Pedagogia Vivencial Humanescente como práxis pedagógica e a integralidade como princípio maior da formação para o cuidado. Um projeto pedagógico com a responsabilidade de criar espaços de aprendizagens que possibilitem a interação entre ser e conhecer, pensar e fazer, intervir e cuidar, considerando os aspectos da subjetividade e da ludicidade, do pensamento críticoreflexivo e das habilidades técnicas, políticas e humanas. 2 A PEDAGOGIA VIVENCIAL HUMANESCENTE No contexto acadêmico da FACEX ousamos, de forma transdisciplinar, envolvendo os cursos de enfermagem, Especialização em Educação ambiental e psicologia, discutir e vivenciar o processo de territorialização, utilizando a Pedagogia Vivencial Humanescente (CAVALCANTI, 2005). Sair do imaginário para o real é o itinerário onde está se dando as experiências vivenciais de um novo fazer pedagógico o qual envolve o ser em sua totalidade, e, portanto, seu território de vida para corporalização desse pensamento, partimos do pressuposto teórico da humanescência, que conforme Cavalcanti (2006, p. 3): “é o processo de expansão da essência humana que irradia luminosidade, beneficiando outros seres, a natureza, a sociedade e o planeta”. assim, a saúde como um campo vivencial para humanescência, necessita de uma educação humanescente. acrescenta a autora: Introduzir a noção de corporalização nos estudos que envolvem a vida humana, particularmente a educação, significa reconhecer a implicabilidade dos sentimentos e emoções que fazem brilhar a presença do Ser no mundo. A maior ou menor intensidade desse brilho depende da força interior que impulsiona o Ser para o autodesenvolvimento através da autotranscendência. O fenômeno da corporalização referese à manifestação corpórea da essência do Ser, de sua subjetividade, abrangendo toda expressividade humana que se concretiza pela via corporal. Corporalizar significa, portanto, tornar corpóreo, subjetivar corporalmente uma idéia, um sentimento, uma emoção, intencionalmente ou não (CAVALCANTI, 2006, p. 3). Cientes de todas essas possibilidades e coerentes com a proposta pedagógica do curso de enfermagem que ora coordenamos, ousamos a partir da herança primordial de Paulo Freire, incorporar os pressupostos da formação humana apontados por Maturana, à visão eco-sistêmico do humano e a moderna cosmologia, a uma Pedagogia Vivencial a qual passou a chamar-se: Pedagogia Vivencial Humanescente (CAVALCANTI, 2006). Nela, os aprendentes assumem os sentimentos, as sensações, as paixões. Uma aprendizagem que encara um jeito novo e diferente, através 102 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 103 do potencial auto-organizativo da Corporeidade no processo de aprender a aprender. São essas Paixões construtivas que reencantam a vida e a educação (ASSMANN, 2003). A nossa prática pedagógica vivencial tem nos possibilitado avanços consideráveis em busca do re-encantamento da educação visando uma aprendizagem significativa. Destarte adotamos os seguintes pressupostos: 1. Educação como campo energético que possibilite o resgate da subjetividade, da espiritualidade como estado do ser e da aprendizagem como resultados de conexões significativas entre aprendentes (educadores e educandos). 2. Prática educativa como espaço vivencial de convivência a qual permite e facilita o crescimento dos educandos como seres humanos que respeitam a si próprios e os outros com consciência social e ecológica de modo que possa atuar com responsabilidade, liberdade no contexto pessoal e profissional a qual pertence; 3. Educadores que aceitam os educandos como um ser legítimo em sua totalidade, ou seja, em suas dimensões individual, social, espiritual, planetária e cósmica. 4. A aprendizagem considerada, não apenas como conhecimentos adquiridos, mas também como habilidades e atitudes incorporadas de forma significativa no cotidiano. 5. Ambientes de aprendizagem que mobilizem sentidos, sentimentos, emoções, afetos e se tornem significativos para os educandos. 6. Práticas pedagógicas que partam das situações e/ou realidades apresentadas pelos educandos (experiências prévias, dos seus imaginários ou de situações vividas) possibilitando à criatividade, a ludicidade, a sensibilidade e a reflexividade histórica/vivencial. Apresentaremos a seguir um esquema de nossa autoria, pelo qual tentamos expor, de forma sistemática, as conexões processuais do percurso pedagógico da prática vivencial humanescente. 104 Educação Humanescente FIGURA 1 - Esquema Vivencial Fonte: Sampaio (2009) Defendemos uma educação de dentro para fora (do ser aprendente) e não de fora para dentro (transmissão de conhecimentos). Associamos-nos aos conceitos de aprendizagem como um ato autopoiético (MATURANA e VARELA, 2001) e de percepção considerada fenômeno de duas vias, de fora para dentro e de dentro para fora e não somente de fora para dentro, caracterizando a dualidade transmissor/ receptor (ASSMANN, 1995). Como diz Cavalcanti (2006, p. 4): o vivencial, o vivido, a vida da Pedagogia Vivencial não pode se distanciar do humano, da humanidade, da humanescência. Aprendizagem corporalizada significa a modificação do comportamento como resultado na transformação da experiência, a qual considera a interação da vivência (experiências, sensações e sentimentos) e o contexto-meio social e cultural (conceitos, experiências dos outros). Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 105 Para isso, nos deparamos com algumas fases experienciais as quais visam uma aprendizagem significativa: a) Imaginar ou resgatar Experiências prévias: Inicialmente o educando é levado a pensar, imaginar ou recordar algo relacionado aquela temática, ou seja, trazer para o momento os saberes ou experiências prévias sobre o assunto. b) Expressar o imaginário através de uma atividade simbólica: Em seguida o educador estimula o educando a representar através de técnicas expressivas (desenho, pintura, música, teatro, poesia, histórias de vida) simbolicamente seu pensamento e imaginação.é o momento da unir o objetivo e o subjetivo, consciente e inconsciente, indivíduo e sociedade, interno e externo e , por conseguinte, também mente e corpo, imaginação e conduta. c) Promover dissonância cognitiva: A dissonância cognitiva é uma das etapas da Pedagogia Vivencial a qual possibilita as discordâncias ou conflitos cognitivos entre os participantes da atividade, as quais representam as diferenças e, a partir dos quais, mediante atividades, o educando consegue discernir, superando a discordância e ressignificando o conhecimento. d) Relacionar o imaginário com o real: É uma etapa vivencial onde o educando deverá interagir com o contexto, conhecendo situações reais relacionados à temática em discussão e comparando com as concepções teóricas ou imaginárias do grupo. É o momento da Refletividade Histórica e/ou Vivencial. e) Ressignificar conceitos e práticas: A partir das experiencialidade vivida é o momento da possibilitar a expansão da consciência, de estimular os dois hemisférios cerebrais. Associar o cognitivo com o sensitivo. Trazer as sensibilidades para o campo da racionalidade. E o momento da reforma do pensamento. Consequentemente da corporalização de novas práticas. f) Possibilitar mudanças través de um novo fazer: A mudança de pensamentos gera novos sentimentos e conseqüentemente novas atitudes. O amor amplia a inteligência, a criatividade e a sensibilidade (MATURANA e REZEPKA, 2003). Seres mais plenos agem de forma mais humanescente. 106 Esse processo pedagógico possibilita a incorporação da sensação ou da experiência gerando novos conhecimentos. As informações são assimiladas conforme a significação dada a elas. Ao final, ocorre à formulação ou a reformulação da experiência. Cada pessoa, por meio da interpretação da sua experiência, estrutura seu processo de construção do conhecimento. A gestão desse processo como coordenadora do curso, nos leva a pensar e corporalizar, em movimento, as relações complexas que fluem da identidade do curso, da unidade acadêmica, do Ser educador, da aprendizagem, da estrutura e da sociedade, ou seja, do sistemaorganização. É o desafio de assumir um currículo como práxis transdiciplinar. Como diz Macedo (2004, p. 24): Na medida em que o currículo como práxis interativa passa a ser visto como um sistema aberto e relacional, extremamente sensível às recursividades, à dialogicidade, à contradição, aos paradoxos cotidianos, a indexalidade das práticas, como instituição eminentimente moderna, precisa de uma urgente ressignificação de sua emergência tradicionalmente “dura” e excludente, o pensamento complexo e multirreferencial aparece como mobilizador contemporâneo potente, de uma outra visão, de uma outra prática no campo das concepções e implementações curriculares. Concordamos plenamente com o autor, a realidade vivenciada no decorrer da implantação dos oito Eixos Temáticos desse currículo, nos leva constantemente a incertezas e inacabamentos, a construções e reconstruções no âmbito do micro e macro-contexto enquanto um sistema comunicante que envolve seres auto-organizadores e eco-organizados. Os caminhos estão sendo construídos no caminhar e junto com os caminhantes, ou seja, os atores e autores do processo. 3 COMPREENDENDO O TERRITÓRIO DE SAÚDE DE FORMA HUMANESCENTE Iniciaremos nosso relato concordando com Alves (2005) quando Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 107 afirma que são duas, apenas duas, as tarefas da educação... O corpo educativo carrega duas caixas. O educador na mão direita, mão da destreza e do trabalho, leva uma caixa de ferramentas. E na mão esquerda, mão do coração, ele leva uma caixa de brinquedos. Merhy (2007), ao analisar a produção do cuidado, nos apresenta a imagem do médico com valises tecnológicas: uma valise das mãos com estetoscópio, ecógrafo, endoscópio etc. (tecnologias duras); outra na cabeça com saberes da clínica e epidemiologia (tecnologias leve-duras) e, finalmente, outra que carrega a materialidade em ato, presente no espaço relacional trabalhador-usuário (Tecnologias leves). Concordando com as metáforas, acrescentamos aos pensamentos dos autores as ferramentas necessárias aos educadores e profissionais de saúde formados para o SUS: nas mãos os instrumentos que permitem a aplicação dos saberes relacionados às “tecnologia duras”; na cabeça os saberes que possibilitam uso da clínica e epidemiologia, ou seja, as tecnologias leve-duras e, finalmente, no coração os saberes humanescentes1 que definem a qualidade das relações interpessoais às “tecnologias leves”. No decorrer da apropriação dessas ferramentas o inusitado está acontecendo, a junção do que tradicionalmente sempre foi separado. Está sendo possível encontrar e encantar o fazer pedagógico unindo nossos sentimentos e emoções ao nosso raciocínio e intelecção. A experiência visou proporcionar aos discentes do curso de enfermagem uma vivencia pedagógica do imaginar-conhecer-sentir-pensar-fazer na busca da mudança atitudinal frente à dimensão social, afetiva e cultural do território na formação em saúde. Na organização dos conteúdos de ensino, em lugar de esquematizá-los previamente, a proposta é trabalhar com uma lógica do imaginário e das significações, respeitando os conhecimentos prévios, as diferentes maneiras e os ritmos de cada discente na construção do conhecimento, permitindo o desenvolvimento da capacidade crítica reflexiva, de investigação, criação e de intervenção. 1º Momento: É organizado a partir de trabalhos em grupos. Um Saberes que emergem de dentro do Ser, de suas habilidades humanas, da sua subjetividade, da sua corporeidade (CAVALCANTI , 2006, p. 5). 1 108 momento de construção simbólica através do imaginário coletivo. O grupo expressa no “instrumento 1“ (de nossa autoria) as significações e percepções prévias a respeito do que seria um “território” e uma “comunidade” a partir da técnica de colagem; 2º Momento: Há uma reaproximação com os cenários simbolicamente construídos pelos grupos no “Instrumento 1” e a partir deles, o grupo é orientado a iniciar uma discussão sobre suas características e a descrevê-la detalhadamente. É a possibilidade dos participantes compreenderem a importância da caracterização de um território e dos tipos de informações possíveis – objetivas e subjetivas “Instrumento 2”. Neste encontro, no momento da dissonância cognitiva, são abordados as concepções de “território vivo” e “Território morto” (MERHY, 2007) da Natureza do Espaço: Técnica e Tempo; Razão e Emoção (SANTOS, 1999); 3º Momento: É feita uma exposição dialogada com a apresentação das diferentes ferramentas possíveis de serem utilizadas para um reconhecimento territorial na lógica do conceito ampliado de saúde e com suporte teórico da visão complexa do território enquanto espaço vivo de histórias e contextos sociais, econômicos, geográficos e culturais; 4º Momento: É o trabalho de campo onde os alunos visitam a comunidade para registro de informações e observações da realidade identificadas naquele território de saúde, através da utilização das ferramentas aprendidas nos encontros presenciais e a partir da Pedagogia Vivencial Humanescente; 5º Momento: os grupos apresentam os cenários do reconhecimento territorial por eles realizados, utilizando os princípios da sensibilidade, ludicidade, criatividade e reflexividade vivencial e histórica. É feito um amplo debate sobre o sentido e vivido na experiência e de sua importância no atual modelo de atenção do SUS. 4 CONSIDERAÇÕES A metodologia utilizada no estudo do território como espaço produtor de saúde, possibilitou, tanto aos educandos como aos educadores, a vivência de sujeitos cognoscentes estando naturalmente implicados pelas relações com seus contextos de vida, ou seja, com a realidade social, afetiva, cultural, econômica, política etc. Esta implicação tornou-se possível pela capacidade de identificar e situar essas relações na ordem simbólica, dotada de uma intencioCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 109 nalidade explicitada coletivamente e motivada por um projeto de desenvolvimentos pessoal e comunitário. E de fundamental importância a ressignificação do território enquanto espaço da saúde, várias são os recortes feitos pelo SUS, microárea, área, distrito, microrregião, região, enfim, divisões que definem territórios delimitados e que servem de suporte para o planejamento em saúde. No entanto, se faz necessário pensar estas divisões num olhar integralizado que não fragmenta e nem separa a objetividade da subjetividade, os lugares das pessoas, a razão da emoção, os números das histórias de vida, enfim, a saúde da doença. Conclui-se que é possível juntar o objetivo do subjetivo no processo de construção do conhecimento. A aprendizagem como função complexa do cérebro e do corpo no todo, propicia ao sujeito cognoscente uma reflexão a partir de seu imaginário e do mundo real, visando uma interpretação pessoal e uma intervenção social. O processo vivenciado na aprendizagem da terrritorialização em saúde como processo vivo, foi rico de criatividade, sensibilidade, ludicidade e reflexividade. O cenário ensino-serviço-comunidade oportunizou o pensar e o sentir em busca de um novo fazer no âmbito do território de saúde como espaço do cuidado em enfermagem. Pode-se afirmar que o processo contemplou uma aprendizagem significativa. REFERÊNCIAS ASSMANN, Hugo. Paradigmas educacionais e corporeidade. 3. ed. Piracicaba: UNIMEP, 1995. ______. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. e Prática de Ensino, Recife, abr. 2006. MACÊDO, Roberto Sidnei. A etnopesquisa crítica e multireferrencial: nas ciências humanos e na educação. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2004. MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. MATURANA, Humberto R.; REZEPKA, Sima N. Formação humana e capacitação. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. MENDES, Eugênio V. Um novo paradigma sanitário: a produção social da saúde. In: ______. Uma agenda para a saúde. 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Apresentamos alternativas para se trabalhar adequadamente a leitura do texto poético, a partir de novas concepções de leitura de literatura bem mais producentes, como as que promovem o encontro entre o leitor e o texto. Tratamos do conceito de poesia e apresentamos possibilidades didáticas de aplicação da poeticidade no universo cultural de nossos jovens. Os aportes teóricos que deram apoio a este estudo foram as reflexões promovidas pela estética da recepção e da cooperação interpretativa, conforme a formulam Jauss, (2002a), Iser, (1996) e Eco (2002); concepção de leitor e processo de leitura, de acordo com Smith (1989) e na leitura por andaime (scaffolding), Graves e Graves (1995). Nossas análises permitem-nos afirmar que, na perspectiva interacionista, o papel do aluno é atuante e pensante no processo de leitura, permitindo-se, em sala de aula, outras leituras que não sejam a do professor, ou até mesmo a do livro didático, tido por esse professor como portadores da verdade. Os resultados a que chegamos apontam para a necessidade de os professores assumirem papéis mais ativos no trabalho educativo como um todo e, especificamente, na produção do saber escolar, inclusive da poesia por se considerar que esse gênero contribui de maneira singular para a formação lingüística, cognitiva, afetiva e psicológica dos alunos. Essas reflexões e as possibilidades de formar o aluno em leitor, especificamente no que se refere à recepção do poema, foram fatores essenciais de motivação da pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de literatura. Poesia. Ensino Médio. POETRY IN THE CLASSROOM: FORMING READERS ABSTRACT: The objective of this paper is to discuss the teaching of poetry in the classroom through a semi-experimental research carried out in a public High School in Natal/RN. We introduce alternatives for an appropriate way of teaching the poetic text through new conceptions of reading concerning the literary text. We deal with the concept of poetry and introduce didactic alternatives as tools for dealing with the poetic element in the cultural universe of our youth. The theoretical approaches that support this paper are the theory of reception and interpretative cooperation, according to Jauss (2002a), Iser (1996) and Eco (2002); 1 Doutora em Educação. Professora de Português Instrumental da FACEX. E-mail: [email protected] 112 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 113 reader conception and reading process, according to Smith (1989), and scaffolding reading, according to Graves and Graves (1995). Our analysis gives us support to say that, in the interactionist perspective, the role of the reader is an active and a reflexive one, and that stimulate in the classroom other kinds of readings that may differ from the textbook’s and the teacher’s, and this is important because usually the textbook’s and the teacher’s readings are considered the true ones. The results show that the teachers need to be more active in their educational work, but specifically in the production of knowledge in the school, and that includes working with poetry once this genre contributes to the linguistic, cognitive, affective and psychological formation of the students. These considerations and the possibilities of forming readers, mainly concerning poetry, were key factors that motivated us to develop this research. KEY-WORDS: Teaching reading. Poetry. High School. 114 Este artigo é um recorte da tese Da leitura da poesia à poesia da leitura: a contribuição da poesia para o Ensino Médio. Na investigação feita nessa pesquisa sobre o contexto da literatura no ensino médio e mais especificamente o de poesia, constatamos que as atividades de leitura de poesia, não têm atraído os estudantes. Tampouco têm se mostrado produtivas, e alcançado alguns de seus objetivos: despertar nos jovens o gosto pela literatura e desenvolver neles a capacidade da leitura crítica e reflexiva. Neste contexto de leitura de poesia se insere o ensino de literatura, como uma evidência da leitura. Se a leitura de literatura é de certa forma um problema nas instituições de ensino, o de literatura é ainda mais complexo, visto que este ensino é, em sua essência, ensino de leitura. A leitura é um ato de percepção e atribuição de significados, através de uma conjunção de fatores pessoais como o momento, o lugar e as circunstâncias, ou seja, é uma interpretação sob as influências de um determinado contexto. Nesse processo o indivíduo é levado a uma compreensão particular e social da realidade. Trata-se de um conceito de ordem cognitivo-sociológica, pelo qual a leitura é concebida como um processo de compreensão mais abrangente. Essa dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, além dos culturais, econômicos e políticos. O que confirma a posição de Martins (1988, p. 30) quando afirma que o ato de ler “é um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem”. Entretanto, grande parte de nossas nossas escolas, ainda concebe a leitura vinculada a uma decodificação de signos lingüísticos através do aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta, ou seja, a aprendizagem ocorre pela transmissão e pela memorização através de uma série de exercício para treinamento e memorização. Essa concepção de ensino, calcada na verbalização, em que o aluno assume uma postura de ouvinte, desconhece a profundidade da experiência do contato do indivíduo que, ao atuar sobre o objeto de conhecimento, e, pela atividade cognitiva, estabelece relações de análise e de generalizações. Nesse sentido, “o ensino tem sua função social redefinida: ele passa a contribuir para o desenvolvimento dos indivíduos, possibilitando-lhes vivenciar modos de Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 115 construir conhecimento por si mesmo, modos de aprender pensando.” (FONTANA, 1997, p. 110) No que diz respeito ao ensino, a sociedade contemporânea vê como finalidade da educação, organizar a experiência do indivíduo na vida cotidiana, desenvolver-lhe personalidade e garantir-lhe sobrevivência. Além disso, está direcionada com as técnicas aplicadas, com as normas vigentes e com os valores compartilhados pelos indivíduos. Neste contexto, o ensino de literatura nas escolas é questionável. O texto literário é constituído por uma simbologia utilizada na construção de textos que não possui um sentido produtivo na vida prática, isto é, não tem utilidade do ponto de vista da sociedade capitalista, visto que não gera capital por meio do trabalho. Por outro lado, o trabalho intelectual proporcionado pela leitura de literatura é dialetizado na sua função estética, pois gera aprendizagem à medida que proporciona prazer não só pelo entretenimento, mas também pela realização do leitor ao descobrir os enigmas do texto e preencher os vazios que o texto traz. Além do mais, a literatura é, em princípio, comunicação. Ela possui uma estrutura de apelo, uma comunicabilidade com o leitor que, articulada com suas experiências, constrói significação. Iser (1996, p. 13-14) acredita que: A interpretação da literatura, orientada pela estética da recepção, visa à comunicação, por meio da qual os textos transmitem experiências que, apesar de não familiares, são, contudo compreensíveis. [...] através desses textos, acontecem intervenções no mundo, nas estruturas sociais dominantes e na literatura existente. Considerando que o ensino de literatura não tem uma finalidade específica, um uso social pragmático, as sociedades mais tecnologizadas tendem a encarar o saber científico ou prático como o objetivo do ensino, e menosprezam o pensamento, a linguagem e as artes, relegando-os a acessórios instrumentais e de apropriação natural. Nesse caso, dispensa-se o ensino. Essa abordagem não se coaduna com o pensamento de (BORDINI, 1991, p. 14). Para essa autora: ... essa é uma atitude falsificadora da realidade, pois 116 separa, hierarquiza e confunde modalidades correlativas e imbricadas do saber. Discrimina disciplinas como Filosofia, Línguas, Artes e Psicologia e promove outras como Matemática, Física, Química, Biologia na formação escolar... A sociedade precisa compreender o ensino de literatura como o meio mais eficaz para o desenvolvimento cognitivo, pois abre possibilidades de leitura e faz com que o leitor reflita, dialogue com o próprio texto e com outros leitores. O texto literário é plurissignificativo, permite diversas leituras justamente por ter seus aspectos em aberto, fornecendo ao leitor uma gama muito maior de informações. A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre com outros textos. Daí provém o prazer da leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensamente a consciência do leitor, desobrigando-o a manter-se nas amarras do cotidiano. No tocante ao ensino de poesia, objeto dessa pesquisa, vários estudos como os de Averbuck (1982), Lajolo (1993), Amarilha (1997), Maia (2001), Pinheiro (2002) entre outros verificaram a forma equivocada com a qual se tem trabalhado esse gênero no ensino médio, e por, conseguinte, a pouca vivência de leitura do texto poético em sala de aula. O trabalho desenvolvido nas salas de aula, geralmente, utiliza-se dos textos extraídos de manuais didáticos, muitas vezes fragmentados e elaborados com intuito mercantilista, apenas fornecem dados que os organizadores / elaboradores consideram relevantes para as séries a que são destinados. Por ter acesso apenas fragmentos de textos, os alunos não vivenciam o prazer estético apresentado a eles no ato de leitura. O que se constata na realidade, é que hoje os jovens encontram outros meios, outras formas para substituir o prazer que anteriormente era encontrado na leitura. Diante dessas constatações é possível vislumbrar na sala de aula um ensino de literatura, mais especificamente, de poesia, tema escolhido para nossas reflexões. Esta pesquisa é do tipo quase experimental e se realizou numa sala de aula de uma escola pública do município de Natal, Rio Grande do Norte. Selecionou-se o contexto da escola pública, tendo em vista que essas escolas enfrentam alguns problemas de ordem ecoCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 117 nômica e estrutural, o que poderia de alguma forma “justificar” a exclusão da poesia no seu cotidiano. A Escola Estadual Professor Edgar Barbosa (selecionada para este estudo) localiza-se na Avenida Miguel Castro, sem número, Lagoa Nova, Natal – RN. A seleção dessa escola se deu por vários fatores. Um deles é o fato de o público ser heterogêneo, oriundo de diversas camadas sociais, proveniente de bairros diferentes e ainda a descoberta da inexistência em sua biblioteca de um acervo literário que pudesse despertar o gosto dos alunos por literatura e conseqüentemente, por poesia. Tivemos como atores (sujeitos) alunos do primeiro ano do ensino médio. A escolha desse nível de ensino se deu pelo fato de que nessa fase da vida, dos 15 aos 17 anos, um mundo de novidades se abre para esses adolescentes. A descoberta da modificação corporal, essência da puberdade, e o desenvolvimento dos órgãos sexuais e da capacidade de reprodução são vividos pelos adolescentes como irrupção de um novo papel, que modifica sua posição frente ao mundo e que também compromete em todos os planos da convivência. A adolescência é uma transformação substancial do corpo do jovem, que adquire as funções e os atributos do corpo adulto. Em outras palavras, como afirma Calligaris (2000, p. 19) “é uma manifestação de mudanças hormonais, um processo natural”. Nesse processo, os adolescentes sofrem crises de susceptibilidade, eles amam, odeiam, estudam, brigam, batalham. Batalham com seus corpos que se esticam e se transformam. Lidam ainda com as dificuldades de crescer no seio de uma sociedade e de uma família moderna. Sua inserção no mundo social do adulto vai definindo sua personalidade, pois seu novo plano de vida lhe exige estabelecer o problema dos valores éticos, intelectuais e afetivos, isso implica no nascimento de novos ideais e a aquisição da capacidade de luta para consegui-lo. Este processo supõe um desprendimento, isto é, abandonar a solução do como se do jogo e da aprendizagem, para enfrentar o se e o não irreversíveis da realidade ativa que tem em suas mãos. Isso implica, ainda, um distanciamento do presente e, juntamente, da fantasia de projetar-se no futuro. Elegemos para este estudo a metodologia do tipo de pesquisaação, visto que estivemos envolvidos nas diferentes partes da pes- quisa, desde a definição do problema, até a implementação de uma ação que resultou em uma melhoria para o grupo de participantes em estudo. Houve, nesse caso, um sentido político claro nessa concepção, qual seja, partir de um problema definido, usar instrumentos e técnicas para conhecer esse problema e delinear um plano de ação que trouxesse benefício para o grupo (ANDRÉ, 1986, p. 33). Os instrumentos que utilizamos na coleta de dados foram, primeiramente, a entrevista, do tipo semi-estruturada, a que apresenta um único respondente. A entrevista (GASKEL, 2004) proporciona ao pesquisador o esclarecimento e acréscimos em pontos importantes com sondagens apropriadas e questionamentos específicos. Para esse autor: 118 Carpe Diem Toda pesquisa com entrevista é um processo social, uma interação ou um empreendimento cooperativo em que as palavras são o meio principal de troca. Não é apenas um processo de informação de mão única, passando de um (o entrevistado) para outro (o entrevistador). Ao contrário, ela é uma interação, uma troca de idéias e de significados em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas tanto o entrevistado quanto o entrevistador estão, de maneira diferentes, envolvidos na produção de conhecimento. (GASKEL, 2004, p. 73) Como procedimentos utilizados nessa pesquisa, a entrevista teve um caráter exploratório, serviu para tomarmos conhecimento do processo de ensino de literatura nessa escola. Primeiramente, entrevistamos a professora que ministra a disciplina Língua Portuguesa e Literatura. Em seguida, selecionamos um pequeno grupo (uma amostra de 15% da turma) para nos acercarmos do universo dos alunos a fim de tomarmos conhecimento de suas preferências de leitura e podermos estruturar o experimento. No final, aplicamos um questionário em que os sujeitos participantes (alunos) deveriam responder perguntas para que pudéssemos mensurar o nível de aprendizagem. Para registro dos dados obtidos, usamos o diário de sala de aula. Nele registramos todos os acontecimentos que ocorreram ao longo do experimento. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 119 Nosso estudo sobre o ensino de poesia, na sala de aula, teve início com o seguinte questionamento: por que os jovens costumam afirmar que não gostam de ler poesia? Essa questão nos inquietava e desconfortava, e a realidade se apresentou quando numa das entrevistas iniciais com os jovens que participaram do experimento, obtivemos a seguinte posição de um dos alunos: Pesquisadora – Você gosta de poesia? João – Não. Pesquisadora – Gostaria de vivenciar um trabalho com poesia? João – Não. Essa informação contribuiu para viabilizar ainda mais a importância um trabalho mais voltado para a poesia. Por isso, era preciso saber: o aluno não gosta do gênero porque não gosta ou porque nunca teve contato, nunca a vivenciou nos moldes como acreditamos que deva ser vivenciada em sala de aula. Para nós, ler poesia é descobrir com os alunos a sutileza da comunicação através da palavra, uma vez que o homem é “um ser de palavras” e “ a palavra é o próprio homem” (PAZ, 1982, p. 36). Após estudos e pesquisas, descobrimos que a presença da poesia na sala de aula torna-se, pois, necessária para queremos desenvolver nos alunos uma formação de leitor, uma vez que ela desperta para o prazer que essa leitura proporciona. Esse prazer advém do texto literário ao trazer na sua constituição e interação com o leitor, característica do jogo e, de acordo com sua estrutura e organização, nunca prescrever o modo como deve ser jogado. O resultado pode ser vivenciado de diversas maneiras. A experiência do leitor é que possibilitará um resultado mais consistente na descoberta de significado do texto. Assim, o ensino desse gênero não pode ser excluído do cotidiano dos alunos. As atividades lúdicas relativas ao processo de desenvolvimento não deve ser substituídas pelas atividades consideradas mais “sérias” e úteis, deixando o jogo e a brincadeira para momentos de recreação. Essa abordagem não considera o jogo ou a brincadeira como atividade universal e inerente aos animais e seres humanos. Geralmente, crianças e adultos encontram prazer no jogo. Assim, a importância do jogo deve ser reconhecido, porque ele ajuda a explorar o mundo por intermédio da fantasia. Como se verifica na afirmação de (HUIZINGA, 2001, p. 134) É um jogo e como tal, cabe ao leitor desafiado, descobrir os paradigmas e na luta vencer os obstáculos da linguagem figurada, cifrada, enigmática. A vitória “é a do sentido, e o prazer é o da conquista, da compreensão do texto” (AMARILHA, 1997, p. 33). É na exploração das várias possibilidades geradas a poesia e na abertura de espaços para que os alunos discutam suas idéias que reside o papel de mediação do professor, um leitor mais experiente que colabora na construção do sentido do texto. Nessa atitude de colaboração Graves e Graves (1995) denominada de scaffolding (leitura por andaime), o professor proporciona a seus alunos a construção conjunta dos significados presentes no texto lido. A técnica de andaime consiste no apoio de um leitor experiente que conduz o processo de leitura, resolve os problemas e desafios identificados no texto, permitindo aos leitores em processo de aprendizagem uma assistência direcionada. Essa técnica foi de suma importância para a apresentação de poesias para os alunos, pois colaborou para o despertar da sensibilidade, para o jogo e para as emoções que esse gênero suscita, além disso, revelou que esse gênero textual não está tão distanciado de seu mundo como alguns acreditam. 120 Carpe Diem A poesia está para além da seriedade. [...] Em sua função original da fatos das culturas primitivas a poesia nasceu durante o jogo e enquanto jogo – jogo sagrado sem dúvida mas sempre, mesmo em caráter sacro nos limites da extravagância, da alegria e do divertimento. A estrutura é estabelecida, como num jogo, por regras de versificação, que encontra no espaço da representação do verso, do ritmo e da ordem, a harmonia veiculada por uma linguagem metafórica. Ampliando esse conhecimento, HUIZINGA (id. Ibid) continua: A ordenação rítmica ou simétrica da linguagem, a acentuação eficaz pela rima ou pela assonância, o disfarce deliberado de sentido, a construção sutil e artificial das frases, tudo isto poderia constituir-se em manifestações do espírito lúdico (HUIZINGA, 2001, p. 134). v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 121 Dessa forma, a presença de uma mediadora, a pesquisadora, leitora mais experiente, na dinâmica da leitura e discussão desse gênero de texto contribuiu para que os jovens se interessassem e aprendessem a ler e a gostar de poesia, pois observamos alteração no comportamento dos alunos depois que esse gênero lhes foi apresentado sob uma perspectiva que não era a que estavam acostumados, como a leitura pragmática em que a compreensão dos significados é apresentada unicamente pelo texto. Essa concepção de leitura que os alunos vivenciavam não leva em consideração o leitor como construtor de significados, nem sua história. Não compreende que na leitura o leitor é produtor, participa, percebe, identifica-se, mobiliza-se e transformase, como se percebe na fala da aluna – Hoje eu sei o que é poesia. Eu sinto a poesia. Eu me vejo dentro dela. Aprendi a respeitar os gostos musicais dos outros. Um outro aluno assim posicionou a respeito do experimento: A participação da gente foi interessantíssima, pois através das aulas aprendemos a aguçar mais nossas mentes para um aprendizado melhor, através de textos que nos ensinavam bastante e ao mesmo tempo intrigavam, mas essa intriga logo se transformava em aprendizado, pois tudo era discutido, tudo era esclarecido. Percebemos, lamentavelmente, a permanência de uma visão institucionalizada de que a leitura em sala de aula deve servir para obtenção de nota. A fala de um aluno, no questionário feito no final do experimento, confirma nossa posição. Quando perguntamos que sugestões ele daria caso houvesse continuidade nos encontros, ele assim se posicionou: – Que quando for fazer essas atividades de novo, poder contar pontos. Essa resposta se contrapõe ao que sabemos da literatura, que é fascinante e essencial para o desenvolvimento da cognição e da afetividade, e o quanto o universo letrado nos faz crescer e apreender aspectos fundamentais do ser humano. Por isso, compreendemos que a leitura de literatura, de poesia em particular, como parte constitutiva do mundo social, deve, não apenas constar nos currículos escolares, mas também ser vivenciada, pois colabora na formação do leitor, visto que expressa as visões de mundo que circulam no social. Visões essas que são informadas pelas experiências históricas concretas de grupos sociais que as formulam, mas também elas mesmas construtoras dessas experiências. Essas visões compõem a prática social material desses indivíduos e dos grupos aos quais pertencem ou com os quais se relacionam, favorecendo o engajamento emocional e o estabelecimento de uma relação texto vida. Assim sendo, perde-se o ponto de vista dos que acreditam que a literatura é apenas o espelho da realidade, para percebê-la também como parte constitutiva do mundo social. Por isso, o ensino de literatura não pode ter a mesma perspectiva que o de história, geografia, por exemplo, em que se estuda o fenômeno. Na literatura, ela é o próprio fenômeno. Deve ser lida não como algo a ser contado, ilustrado, mas vivenciado, pois possui um discurso carregado de vivência íntima e profunda que suscita no leitor o desejo, não só de prolongar essas vivências, mas também de renová-las, porque se constitui como um elo entre o homem e o mundo, supre suas fantasias, desencadeia emoções, ativa o intelecto e produz conhecimento. É preciso, pois, estudá-la, compreendendo-a nos seus fatores constituintes, visto que, como criação, adensa irrealidade com a realidade, tornando os leitores observadores deles mesmos. Assim, o aluno compreenderá que ler um texto literário significa entre outras coisas, entrar em novas relações, sofrer um processo de transformação que o torna capaz de ler e compreender o mundo que o cerca. Porquanto prática social, a literatura pode ser vista como atividade humana em intenção transformadora do mundo, que expressa não só o peculiar da relação do homem com o mundo, mas também os modos de ser do homem no mundo, e nisso, a poesia é singular. O experimento consistiu em trazer poesias para sala de aula. Em cada encontro, 12 ao todo, líamos e abríamos espaço para discussões do poema selecionado para o dia. Começamos com pequenos textos conhecidos por eles na sua vida cotidiana, até uns mais complexos que exigiam uma elaboração maior por parte desses leitores. Para desenvolvermos esse trabalho com poesia, mais envolvente e significativo, enveredamos pelo universo desses alunos, procuramos descobrir seus gostos e desejos para que de posse desse conhecimento trouxéssemos para o contexto da sala de aula poesias que se aproximassem do mundo dos adolescentes. Isto teve por fim o envolvimento de todos os alunos na leitura significativa, como algo para ser sentido e vivido. E que devido ao encantamento, aos sonhos e emoções que ela suscita, esses adolescentes pudessem mostrar ao 122 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 123 mundo o que estão sentindo, a certeza e a incerteza, a voz que grita e cala, a tristeza e a alegria, sentimentos que se contradizem, mas que se completam nessa fase da vida em que um mundo de novidades se apresenta para eles. Essa foi uma das formas que utilizamos para convidá-los a tomar gosto pela leitura desse gênero de texto, aproximando os jovens da literatura de modo significativo, divertido e diferente daquela maneira que as escolas costumam vivenciar. Como depõe um aluno – Eu gostei dos encontros porque foram muito divertidos e aprendi a gostar mais ainda de poesia. Porque a poesia está presente em tudo que vemos, ouvimos, tocamos, falamos... E a poesia está presente em nosso dia-a-dia. Dessa forma, eles redescobriram o desejo pela palavra, perdido ao longo das séries, além de saborear a palavra, a vontade de expressar, compreender, inventar e reinventar o mundo das letras. Podemos demonstrar isso através da posição de um aluno: – Eu aprendi com você a ver mundo das palavras de outro jeito. Usar a imaginação e voar com as palavras. Esse posicionamento, demosntrou que esse estudo contribuiu não só para a formação lingüística, cognitiva, afetiva e psicológica dos alunos, acrescentando experiências, mas também para sua formação de leitor. REFERÊNCIAS AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas?: Literatura infantil e prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes. Natal: EDUFRN. 1997. ANDRÉ, Marli E. D. A etnografia da prática escolar. 3. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1986. (Série Práticas Pedagógicas). AVERBUCK, L. M. “A poesia e a escola”. In: ZILBERMAN, Regina et al (Org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. BARROS, Manuel de. Matéria de poesia. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. 6. ed.Tradução Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. FONTANA, Roseli; CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. GASKEL, George. 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AS MULHERES E A LITERATURA VITORIANA RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar, sob uma perspectiva feminista, a importância da mulher na literatura vitoriana, tanto no que se refere à questões ligadas à produção literária de autoria feminina quanto à representação da mulher na ficção. A discussão também abordará o duplo padrão de crítica literária da tradição hegemônica e masculina à obras e autoras da tradição que ora se formava. PALAVRAS-CHAVE: Mulher. Literatura. Era Vitoriana.Tradição. Professor of English and Literatures in English at UFCG (Universidade Federal de Campina Grande). E-mail: [email protected] 1 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 127 The importance of English women for the Victorian Literature is deeply linked to the development of the novel. The genre novel in the modern sense of the word has been defended by scholars, like Freedman (1978), for example, as having been first written in England by Samuel Richardson with his Pamela (1740). For critics such as Said (1994), Robinson Crusoe (1719) by Daniel Defoe can be considered the first novel in English, while some others believe Robinson Crusoé to be travel writing literature, a popular genre at the time it was written. Allen (1991) suggests that Bunyan’s Pilgrim’s Progress (1678) is the first novel written in English fiction. Bakhtin (2002) believes the genre novel to have been created by the Greeks, and as an example, he mentions Satiricon, by Petronius. For scholars like Zéraffa (1971) and Lukács (2000), it isgenerally accepted that the novel began with the rise of the bourgeois society, and it became the dominant form also due to that new social class for several aspects – but it is a consensus that the novel as it is known today is prior to the Victorian Age. It is important to mention that writing novels was seen by the English society, for example, as different from writing poetry, mainly because the figure of the poet had a different status in society, which was that of a lesser god since Aristotle, as Gilbert and Gubar (1984) state, specially because writing poetry was linked to formal education, that is, knowledge, historically linked to the powerful aristocratic, patriarchal tradition that controlled society. The poor people and women were historically denied access to formal education, which prevented them, in general, from writing professionally, and in the case of women, having a profession out of what was linked to the domestic sphere was also a male privilege. So, as the bourgeois society was made by the new social class that emerged from the common people, and once they theoretically did not have that much knowledge - which was common for the aristocracy - they were also considered a simple-minded audience, and therefore, the new genre novel was appropriate for them, mainly because it was considered a simple form which was about simple subjects, written by simple people, for a simple-minded audience. As Showalter (1977) puts it, that point of view judged the new genre quite appropriate for being written by women, then. Due to its biographical nature and a generally accepted feature of female writing, the novel is about the life of the problematic individual, in lukacian terms, in search of himself/herself, that is, self-knowledge. These aspects are appropriate for the condition of the new individual - and the new rising social class - whether male or female, that came out of the social transformation of the 17th century, but female in special, once they were in a period of transition, and had begun to look for autonomy and assertion of an identity of their own, not only the identity they had been forced to accept by society – that of passive, submissive beings, who lived to serve men and their own families Women were in search for a broader understanding of their relations either internal or external concerning their own selves, men, and society. According to Lukács (2000), the hero (or anti-hero) of the novel is disappointed about life, and that led him not only to a dramatic loneliness, but also to a psychological one, for the author believes that this new kind of hero suffers from an incompatibility concerning the external world, which is hostile to him, and that would lead him to self-destruction. Obviously, this condition was that of the human being in general, but besides anything, it was the historical condition of women. Writing novels in the 18th and 19th centuries was not an easy task neither for men nor for women, mainly because the genre was in its full force already by the beginning of the 19th century, and writing it meant joining a “competition” – not only in the bloomian sense – with the masters of that form, for the novel had gained credibility in England. Some of those masters were Daniel Defoe who wrote Moll Flanders (1722), a first-person narrative written around 20 years before Pamela, about the life of a female thief. In 1749, Fielding published Tom Jones; his masterpiece is a Bildungsroman, and it is about the life, loves and developments of the protagonist. The other great name of the 18th century novel is the Irish writer Laurence Stern with his (anti)novel Tristan Shandy (1760-1767), as Freedam (1978) puts it. The gothic novel also developed during the second half of this 128 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 129 century; its creator was Horace Walpole in 1764 with his The Castle of Otranto. However, the new century brought some other controversies for the genre, and the main one was a profound and systematic interest of women not only in reading novels, but in writing them. One example is the first great female master of the genre, Jane Austen. Ousby (1998, p. 46) informs that she began her literary career at the age of 15 with Love and Friendship, a burlesque of Richardson; other pieces belonging to the 1790s caricature, the sentimentality or excessive ‘sensibility’ of much late 18th-century literature. Her eye for the ridiculous in contemporary taste also inspired Northanger Abbey (published posthumously in 1818 but probably her earliest extended work of fiction), which satirizes her heroine’s penchant for gothic fiction, and Sense and Sensibility (begun in 1797 but not published until 1811). Austen also wrote Pride and Prejudice, begun in 1796 or 1797, but published only in 1813; this novel marks out her territory, as well as the subject and the mode of her following works. Austen mastered the genre novel with her Mansfield Park (1814), Emma and Persuasion (both published posthumously in 1816 and 1818 respectively). Pride and Prejudice and Mansfield Park were quite popular in Austen’s days, and she was admired by the great writer of historical novels, the Scottish Walter Scott, as well as by the Prince Regent. According to Ousby (1998, p. 46), In these works Jane Austen chose deliberately to portray small groups of people in a limited, perhaps confining, environment and to mould the apparently trivial incidents of their lives into a poised comedy of manners. Her characters are middle-class and provincial; their most urgent preoccupation is with courtship and their largest ambition is marriage. The task she set herself required careful shaping of her material, delicate economy and precise deployment of irony to point the underlying moral commentary. She developed not by obvious enlargement of her 130 powers but by the deepening subtly and seriousness with which she worked inside the formal boundaries she has established. Gilbert and Gubar (1996, p. 329) says that Austen comically criticized the overvaluation “of love, the miseducation of women, the subterfuges of the marriage market, the rivalry among women for male approval, the female cult of weakness and dependency, the discrepancies between women’s private sphere and public (male) history.” Freedman (1978) affirms that Austen seemed indifferent to the Romantic, the French and the American Revolutions; he says that she preferred to remain faithful to the principles and values of the 18th century. He notices that two of Austen’s brothers were in the British Navy during the Napoleonic Wars, however, England is always in peace in her novels. Despite the criticism from the public (Austen was accused of writing the same novel) and from female writers decades later (the Brontë sisters felt uncomfortable about the nature of her works concerning the docility of her heroines and their main preoccupation being marriage) she is considered the first great female writer of the English novel. Austen is recognized by her perfect technique, and profound view of social life, but mainly for delineating the restricted life of a provincial lady. Allen (1991, p. 115) says that “the attainment of self-knowledge on the part of the heroine is always part of Miss Austen’s themes.” Austen did not live to be part of the Victorian Age - generally accepted to have began in 1837 with the rise of Queen Victoria to the English throne; the monarch died in 1901 – but she will be a reference for the female writers of the future generations, as well as Mary Shelly with her Frankestein (1818), although in a much lesser degree. Daughter of the rationalist philosopher William Godwin, and the feminist theoretician Mary Wolstonecraft, who in 1792 wrote the classic feminist pamphlet A vindication of the rights of women, and married to one of the most important Romantic poets, Pierce B. Shelly, Mary Shelly had a privileged life in terms of intellectual experience; one of her friends was the great poet Byron, who suggested them to write a ghost-story each; the result was her masterpiece. Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 131 Frankenstein is considered by Gilbert and Gubar (1996, p. 353) “perhaps the most memorable and influential science fiction fantasy ever published in English.” Shelley’s gothic narrative follows the features of the genre and it is free of the conventions and restrictions of texts considered more realists in that Age of Reason. Frankestein shows the power of feeling and imagination against the tyranny of reason; imagination is seen as process of transgression in relation to the complicate reality of XIX century with its social transformation. The novel exploits the forbidden boundaries of human science, and brought a new sophistication to literary terror; in doing so, Shelly made the Gothic novel over into what today is called science fiction. According to Ousby (1998), “none of her [Mary Shelly’s] later novels matched the power, originality, and mythical sweep of her legendary first work – both Lodore (1835) and Faulkner (1837) are little more than romantic pot-boilers.” Mary Shelley gave up writing long fictions when the interest of the general public moved from the Byronic heroes to the realism of Dickens. However she also wrote Mathilde, an unfinished novel begun in 1819, but published only in 1959. Valperga (1832), the story is set in the 14th-century Italy, and portrays the lovelessness “and destructiveness of personal political ambition. The last man (1826), a political disillusioned and conservative vision of the end of human civilization, set in the 21st century” (OUSBY, 1998, p. 845), and Perkin Warbeck (1830). According to the Ousby, she wrote short stories for periodicals like The Keepsake, and produced some volumes of “Lives for Lardener’s Cabinet Cyclopedia, and the first authoritative edition of Shelley’s poems, with a preface and valuable notes.” Her travelogue, Rambles in Germany and Italy, in 1840, 1842 and 1843 (1844), was well received. As it can be seen, these two great female names represent the beginning of a tendency, that is, women writing fiction in a systematic way, and not only fiction, but high quality fiction. They later would be seen as some of the pioneers of a female writing tradition, for they dared to cross the mine field of the literary male tradition, and launched the steps of a new one, a female tradition. However, the issue of female appropriation of a form considered male – of course all literary genres appeared in the male tradition - did not happen without problems for women. According to Gilbert and Gubar (1984), that can be seen as an irreconcilable contradiction which involves literary genre and gender. The point is, women will at first follow the male patterns, but later, they will look for promoting a revision of the literary genres, as an attempt to use them according to their own needs and to denounce their social condition, mainly because the female writers of the 18th and 19th centuries were stuck in a social structure created for and by men, even though, they tried to subvert aspects of the male tradition either in form or in content – mostly in relation to the last one. The fact that women brought some changes to the genres of the male tradition is a belief that is possible from a feminist perspective of today, because in general, because of the accepted belief concerning works written by women, as it is stated by Showalter (1977), and seen in the first paragraphs, there was a generalized skepticism in relation to the quality of their work, from the public in general, but also from many women. However, it is important to highlight some examples of women who took the novel form to a further step: Emily and Charlotte Brontë. The Brontë sisters appeared in the literary market in the 1840s, the decade of the novel, the decade when the profession of novelist became recognized in England, according to Cuddon (1998). They belong to the early Victorian generation of great novelist, along with Scott, Thackeray, Dickens, Trollope, and Elizabeth Gaskell. According to Allen (1991, p. 139), these early Victorian “were at one with their public to a quite remarkable degree; they were conditioned by it, as of course any novelist must be […]. They identified themselves with their age and were its spokesmen.” Differently, the writers of the late Victorian period, George Eliot, Thomas Hardy, and Joseph Conrad, for example, “were writing in some sense against their age; they were critical, even hostile, to its dominant assumption. Their relation with the reading public was nearer to that of the twentiethcentury novelist than to the early Victorians.” In order to better understand the importance of the Brontë sisters for the Victorian Age and for the English fiction, it is necessary to consider with Freedman (1978, p. 28; my translation) that when the 132 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 133 Romantic Movement hit England by the end of the XVIII century, it first grew stronger in poetry – the most representative names were Blake, Wordsworth, Coleridge, Keats, Shelly and Byron – so it was not fertile in novels. However, after the first romantic wave, “the Brontë sisters produced at least two masterpieces of fiction which deserve to be equaled to the best poetry of Keats and Shelley.” In Jane Eyre and Wuthering Heights they highlighted most of the common Victorian themes: sickness, death, and the pathetic, for example, from a powerful female perspective, although they did not want to be linked to the category of female writers, since the term was still seen as negative. They published under androgynous pseudonyms, a recurrent strategy for female writers to avoid the double standard of criticism towards novels written by women, as Showalter (1977) shows. Emily Brontë introduced in the English fiction the use of multiples narrators, and a gypsy protagonist in her only novel, Wuthering Heights (1847). Her sister Charlotte provoked a revolution in the representation of female and male identities as well as their roles in gender relations with her Jane Eyre (1847). Charlotte, and Anne Brontë – who wrote Agnes Grey (1947) and The tenet of Wildfell Hall (1948) - chocked critics and readers of the Victorian Age because of elements considered unfeminine in their novels. However, even more different from what was expected for a female standard of content – the 1840s saw the emergence of many female novelists, although, this work will deal only with some of the greater names, those responsible for forming a tradition – was Emily’s masterpiece. In a well known study of her novel, Cecil (1958, p. 138) defends that Emily is ahead of any tradition, mainly because Wuthering Heights does not follow the conventions of the Victorian, canonic and male novel: She writes about different subjects in a different manner and from a different point of view. She stands outside the main current of nineteenth-century fiction as markedly as Blake stands out the main current of eighteenth-century poetry. 134 Actually, Emily Brontë is considered by many scholars to be the first modern writer, in the English tradition. Cecil highlights that she did not write to please an audience - like Dickens did – so that she was not limited by issues related to the reception of her work. In her novel, she surprised readers by bringing up a controversial issue: the metaphorical link between oppressed groups and their union by identification – women and foreigners united against the patriarchal tyranny and the British imperialism. Charlotte and Anne still shared the traditional ways of thinking concerning marriage as the typical female and Romantic ideal although Charlotte in Jane Eyre brought a more assertive behavior concerning gender relations as it can be seen in her heroine. Differently, Emily Brontë killed the married women of her novel; the married women die at giving birth - the exceptions are the old Mrs. Earnshaw and Linton. The only women who survived in the end are childless: the narrator Nelly Dean and Catherine’s daughter; the latter one has the cultural power as a tool for controlling the male figure of her future husband, Hereton. Wuthering Heights is considered a dramatic and romantic poem, and many critics compare it to Shakespare’s King Lear (1605), and Emily Brontë to Shakespare himself (ALLOT, 1979). Although Wuthering Heights portray some of the issues of its age, at the same time it seems out of the Victorian traditional novel. According to Freedman (1978), it is about a metaphysical search of the human being and its place in the universe; it is a question and a statement of the Romantic ideals; a criticism to the Romantic egoism. Emily Brontë’s sister Charlotte Brontë was more explicit in her dealings with what became known as “feminist” issues. It is obvious that each writer, whether male or female, usually writes about the experiences that he/she had, therefore, his/her production will deal with themes that are part of his/her own concerns. The relevance and the greatness of the production of Jane Austen, for example, can not be questioned, once they are fundamental for the development of a female literary tradition. However, the Brontë sisters seemed to have misunderstood the irony of Austen’s work concerning women’s behavior towards men and other issues, so they felt uncomfortable Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 135 about the nature of Austen’s heroines, and also about some of their contemporary female writers. From one hand, historically, the representation of women by male writers showed portrayals of ideal women (angels, passive, submissive, childlike), and feared women (prostitutes, witches, Evas, Lilliths). Heroines created by men seemed to follow prescribed roles for women; they seemed to keep imprisoning women in images that were imposed on them, and even female writers like Jane Austen – as the Brontë sisters felt – seemed to somehow reproduce that male model of women, instead of proposing changes in a more explicit way. Eagleton (2005) says that the Brontë sisters lived in a world of transition, and because of that, they felt the need for a different female attitude, a more assertive behavior towards life, marriage, career, religion, moral values, and their own selves. Due to that, the nature of Charlotte’s writings was more volcanic; her world was romantic, spontaneous, sexual and supernatural, as it can be seen in Jane Eyre. This novel changed the route of the female literary tradition that was in its beginning, for Charlotte creates a heroine with a mind of her own, of independent spirit, and in search for economic, professional and emotional satisfaction, and a hero that treats women the way they would like to be treated, that is, as equals. Jane Eyre became a symbol of what meant to be a young, single girl growing up, developing herself and getting mature as an individual, as a professional and as a woman in the Victorian Age, mainly because “the typical individual of the new social order, as Charlotte’s heroines again reveal, was self-seeking and hard-headed, yet fragile and desperately exposed” (EAGLETON, 2005, p. xiii). However, the Victorian public was not ready to see these features in a heroine, specially in a novel written by a woman, and mainly a heroine that when called “angel” by her beloved Mr. Rochester says that she would rather be a thing than an angel. In Jane Eyre, Charlotte Brontë portrayed the attempts of a woman to express herself freely - out of what was expected for her sex - and her search for her own identity. The writer seems to have done this unconsciously through the several resources of her narrative, such as dreams, hallucinations, and visions that represent the psychological development of her heroine’s inner life. Charlotte Brontë wrote a novel that denounces the terrible limitations imposed on the women of the Victorian Age, mainly those of low social class. She wrote about their hard working conditions as governesses, teachers, and artists; about the emptiness of the lives of young women awaiting marriage, and about the appropriation of women’s proprieties by their husbands that can result in madness. Jane Eyre was responsible for the rising of a new kind of heroine that was a professional and that represented a kind of model for future generations. Jane was a fictional ideal that matched strength and intelligence with female tenderness, witty and domestic skills in order to live in a time of profound economic changes, due to the Industrial Revolution, as Showalter (1977) shows. And this heroine had above all, a mind of her own, as Jane herself tells Mr. Rochester. Showalter (1977, p. 28) defends that Charlotte Brontë subverts the female gothic, and “the mad wife locked in the attic symbolizes the passionate and sexual side of Jane’s personality, an alter ego that her upbringing, her religion, and her society have commanded her to incarcerate.” The Brontë sisters were not affected by a new way of production that appeared in England around 1940s, which changed the nature of the English novel: the system of publication in series, that is, a novel would appear in parts in newspapers or magazines. Each issue would publish from three to four chapters of a novel, and after the end of the series, the reader would have the whole book in parts, or could buy it in three volumes, as Freedmam (1978) puts it. This transformation had a tremendous impact for the Victorian novel, because the novelist would create the story according to the interest of the public, and Dickens mastered this technique with his A Christmas Carol (1843), David Copperfield (1850), Great Expectations (1860-1), and became the great name of his day, different from Jane Austen, Mary Shelley, and the Brontë sisters, who – except Charlotte Brontë – had their value only posthumously recognized. The presentation of Dicken’s work in series and the freshness of his humor helped his acceptance from the public, specially because he was a 136 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 137 man of little education writing for an audience that was very much similar to himself. The thematic of Dickens world, as those of important male novelists of his days, like Thackeray with his Vanity Fair (1847-48), for example, was about earthly issues related to an increasing materialistic male world of ambition, during the transformations brought by the Industrial Revolution. He was responsible for discovering an important writer of the Victorian fiction, Elizabeth Gaskell, who contributed to his magazine, Household Words, and later wrote the biography of Charlotte Brontë, shortly after her death. Mrs. Gaskell first novel was published in 1848, Mary Barton, subtitled “A tale of Manchester life,” as a distraction from grief - a common start for many women - for she had lost a son; her attitude exemplifies a tendency that turned out to be recurrent in women that became writers in the nineteenth century, as Showalter (1977) observes. Ousby (1998, p. 360) says that “it is a tale of industrial strife and unrest, touched by the melodramatic, and growing out of the Chartist movement of the 1840s;” she was charged of class prejudice, for many believed she preferred the workers to the employers. Ousby reminds that one of her most successful novels, Cranford, appeared at irregular intervals in Dicken’s magazine from December 1851 until May 1853, a book that discusses the verities and decencies of the human condition. In this novel, she caught the quiet and humorous atmosphere and the equally quiet disasters of the lives of middle-class women who lived in a small town. Allen (1991, p. 183) says that “The society delineated is almost entirely feminine, and the work is a little triumph of literary tact;” this novel is probably an Amazon utopia, an important aspect of female writing, which is using the male form for female purposes. Mrs. Gaskell published Ruth in 1853, a novel dealing with the concealment of an unmarried working-class mother’s problem, and North and South (1855), another industrial story, among other novels and short-stories. It is a tale that compares “the industrialized north of England to the more agrarian south – Mrs. Gaskell continued to undertake fictional studies of what nineteenth-century called the ‘condition of England’ question” (GILBERT and GUBAR, 1996, p. 421). It is important to consider that 138 In a century rich in women writers Mrs Gaskell stands to the forefront in her sympathy for the deprived, her evocations of nature, her gentle humor and her narrative pace. Of note is her exceptionally direct development as novelist form loosely structured melodramatic writing to the urbanity and balance form of her later work, particularly Wives and Daughters (OUSBY, 1998, p. 361). Elizabeth Ckeghorn Stevenson – Mrs.Gaskell - is also known for being an admirable woman in harmony with the society of her time. Allen (1991, p. 183) reminds that her serenity existed side by side with a vigorous and courageous social conscience, of which these novels are the fine expression. They are flawed, as so many Victorian novels are, because of the author’s obligation to fill up three volumes irrespective of whether her talent could sustain them. Gilbert and Gubar (1996, p. 421) says that Mrs. Gaskell had a special ability to deal in her fiction with sensitivity and sympathy about circumstances that were particularly different from her own, and that would indicate the range of her literary talents, so that “some critics have considered those talents as distinctively ‘womanly’ because of their delineation of ‘woman’s oddities’ in a work like Cranford.” Critics such as Cecil (1958, p. 183) highlight some interesting points about Mrs. Gaskell, and one of them is exactly about her choice of pen name. He says that other female writers such as Charlotte Brontë or George Eliot were eagles concerning their need for independence, while Mrs. Gaskell chose to be known by the public through her affiliation with her husband’s last name. He suggests that although these female writers he mentions are feminine, Mrs. Gaskell “was all a woman was expected to be: gentle, domestic, tactiful, unintellectual, prone to tears, easily shocked.” Although these adjectives are too strong, she was the typical Victorian woman, and that would be reflected in her work. It seems that Cecil – who makes a fair judgment of the other Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 139 female novelists in his book – wants to highlight the differences in attitude within the female tradition. That difference of attitude could be seen as it follows: Emily and Charlotte Brontë, and George Eliot, did not want their names to be linked to any kind of association with the female tradition that they helped to form, mainly because that would mean to be disrespected, and have their work misjudged, so they decided to use male or androgynous pseudonym. However, it seems that Mrs. Gaskell – considered one of the few married (and happy) female writers of the period - was not that much worried about the problems of reception, and decided to write in a feminine way, about feminine issues from a feminine perspective. Cecil reproduces a standard of criticism for her that echoed that of the 19th century. He says that her work “was wholly lacking in the virile qualities. Her genius is so purely feminine that it excludes from her achievements not only specifically masculine themes, but all the more masculine qualities of thought and feeling” (p. 185). His attitude shows that double standard that male critics used since the 19th century to judge a text written by a woman, as Showalter (1977) discusses. It also shows that virility, which is obviously associated to man, should be a present quality in a woman’s text, since virility was associated with the power of the patriarchal authority. Cecil did not consider that other patterns of themes, and point of view were already in progress in his own century through a different tradition – the female one. He also did not consider that women wanted to be free to write from their own experiences, and not to have the male experience as the basis for their own, basically because they were different. Besides, understanding and/or portraying virility was not the goal of female writing, mostly because they were writing against that element, which represented the male authority that had been responsible for excluding them from the literary tradition, to say the least. It was through fiction, mainly through the novel, that women, specially the pioneers of the 19th century, used this genre to question and defy the male attitude of writing about women from a perspective that contradict women’s interests and misrepresented them in male fiction and in history, and denied them a voice of their own to speak about themselves. The historical behavior of the patriarchal society led women to promote a gradual fight in the private and public spheres in order to offer a counter-point to what silenced them as individuals and as women capable of forming an opinion and express it through any media, including the public and professional writing activity, no matter what genre was chosen. Another leading figure of this period and tradition was Mary Ann Evans, best known for her pseudonym, George Eliot (181980). Allen (1991), among other scholars, says that this writer promoted a change in the English novel that would be decisive for the development of the novel in England. Considered by Cecil (1958) as the first modern novelist, she led the novel to its second and mature phase. Freedman (1978) reminds that Virginia Woolf considered Eliot’s Middlemarch (1871-2) one of the few novels in English written for adults, mostly because there was no fiction for children in that country until the 19th century, so novels were seen as entertainment for children, teenagers and adults. However, Freedman defends that Middlemarch is a new genre in the sense seen by Woolf. He believes that one of the unique features of Middlemarch as a Victorian novel is the way the condition of matrimony is analyzed – for Eliot applies one of the most subtle analytical view of all English fiction to the marriages in that novel. George Eliot either in her life (she lived with George Henry Lewes, a married man, for decades, and despised Charlotte Brontë’s morality in Jane Eyre) or in her work defied several of the standards of the Victorian society. Actually, the fact that she adopted a male pseudonym shows that as a clear historical sign of a literary consciousness marked by gender. She is one of the most influential of all English novelists, and is admired as much for her acute powers of observations and in-depth characterization as for her novels. According to Ousby (1998), George Eliot was a novelist, critic, poet, - editor of the radical Westminter Review but for a while got no salary for that -, and journalist. She translated from the German and published anonymously, The life of Jesus, critically examined by Dr. David Strauss (1846), and Essence of Christianity (1854); later, she would go through a typically Victorian crisis of faith in 140 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 141 Christianity. Following the current practice of her days, her debut as a fully fledged writer of narrative did not come until the serial publication in Blackwood’s Edinburg Magazine in 1857 of “The Sad Fortunes of the Reverend Amos Barton,” “Mr. Gilfil’s Love-Story”, and “Janet’s Repentance.” The next year they were published and well received as Scenes of clerical life, which was followed by Adam Bede (1859), The mill of the floss (1860), and Silas Marner (1861). She also serially published Romola (1862-3). Then, Felix Holt the radical (1866), Middlemarch: a study of provincial life in independent parts from 1871-2, and from 1874-6 she published Daniel Deronda; her last work was a series of essays The impressions of Theophrastus Such (1879). She also wrote some novellas and poetry, including The Spanish Gypsy (1868), and The legend of Jubal and other poems (1874). Commenting on the reception of Eliot’s work, Gilbert and Gubar (1996, p. 801-2) reminds that Lewes once said that “’people would have sniffed’ at Eliot’s first novel, Adam Bede (1859), ‘if they had known the writer to be a woman,’ and its instant success did place George Eliot in the ranks of major novelists such as Dickens and Thackeray.” They also mention that Silas Marner. was so popular that her publisher, Blackwood, had to double the original edition of four thousand copies within a month after publication. By that time Eliot had become a careful business woman who negotiated herself for the 7,000 [pounds] she received for Romola (1863). The writers also say that the recurrent subject of Eliot’s mature novels – Felix Holt, Middlemarch, Daniel Deronda – was about the relations between the private lives of men and women and the public issues of culture and society. Considered by many critics such as Cecil (1958) and Allen (1991) as an intellectual, and praised for her skills in dealing with subjects in a deep way, Eliot “lived in a much larger world of ideas, ideas which conditioned her views of fiction, the shape her novel took, and the very imagery of her prose” (ALLEN, 1991, p. 219-20). He highlights that she changed the nature 142 of the English novel, and the plot in the old sense of something external to character and often working unknowns to it, is irrelevant and unnecessary. Character, in fact, itself becomes plot; though in her greatest novel character itself is discovered to be conditioned by environment, or rather, its capacity for growth and scope to be limited, almost to the point of tragedy, by the world around it (ALLEN, 1991, p. 221). Cecil (1958, p. 263) says that George Eliot “does not break with the tradition she had inherited, she develops it, and develops it in a direction which entails alteration for its fundamental character.” She used the old formulas, but for a new purpose, for he believes other typical Victorian novelists like Dickens, Mrs. Gaskell, and Charlotte Brontë to be instinctive novelists, different from Eliot who was an intellectual writer, and because of that, her books are constructed around a central ideal. However, what makes her different from them is that she was an innovator, “not only because her approach to her subject is intellectual, but also because her intellect took in a great deal of new country” (CECIL, 1958, p. 266). Cecil defends that she broke with those “fundamental conventions both of form and matter within which the English novel up till then had been constructed.” (p. 266). It is important to mention that George Eliot became a critic of some kinds of novels written by women. She wrote an article titled “Silly Novels by Lady Novelists,” in which she denounced the covert victories of feminine values; she considered many of them inauthentic and charged them of copying male style. She was against those novels which were focused on love fantasies, for she was one of those women who could imagine fantasies of power for women out of the love sphere. Considering the work of these female writers of the 19th century, shortly mentioned here, one can agree with Showalter (1977, p. 29), when she says that despite its restrictions, the novel written by women from Jane Austen to George Eliot moved “in the direction of an all-inclusive female realism, a broad, socially informed Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 143 exploration of the daily lives and values of women within the family and community.” The author reminds that both Charlotte Brontë and George Eliot “increasingly came to dominate their period and to represent the models against which other women novelists were measured, they too became the objects of both feminine adulation and resentment” (p. 104). They were the two main figures, and it was for them that women writers looked up as their main model and source of inspiration, as their predecessors looked to Jane Austen. This work showed the importance of women in the Victorian literature highlighting different aspects related to each writer, but each one in fact shows a picture of the situation of women writers and their fiction in a society going through a period of deep transition in several areas, so that the reader could have an idea about the difficulties of being a woman and a woman writer in the 19th century. It could be seen how the themes and interests of these women varied, and how the pioneers’ point of view helped to pave the way for the new generations, even though the new writers saw the rise of different needs as well as accomplishments that promoted the development of a literary tradition written by women. The female writers mentioned here also took to a further step the perspectives of the pioneers in a sense that they not always agreed with them, but in disagreeing, they promoted changes that helped to promote other changes in the form and in the content of the English novel, and in the condition of women as writers and as women. Had they not decided to break the silence and take chances, the world would not have benefited from the powerful imagination and literary work of great women who dared to defy the prescribed roles for women in that century. The second half of the Victorian Age saw an increase in women in active roles in society, but the women writers discussed here were responsible for forming a tradition that guided the new generations into the mine field which is that of the literary world. BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. 5. ed. São Paulo: HUCITEC, 2002. CECIL, David. 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New York: Penguin, 1991. 144 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 145 REFLEXÕES SOBRE STRESS E TRABALHO EM HOSPITAIS PÚBLICOS DE NATAL-RN Luciana Carla Barbosa de Oliveira1; Priscilla Cristhina Bezerra de Araújo2; Eulália Maria Chaves Maia3 RESUMO: O estudo avalia a presença ou não de stress e os diversos níveis sintomatológicos apresentados junto a 126 profissionais de saúde atuantes nas enfermarias de 06 hospitais públicos de referência na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Como instrumento conta-se com um questionário semi-estruturado e o um Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP (ISSL). A sobrecarga de trabalho é expressa através da extensa carga horária, cujos profissionais contam com múltiplos vínculos (61,9%), estes necessários à complementação da renda destes trabalhadores. Apesar dos indivíduos com stress não se enquadrarem em uma fase crítica (57,9%), há uma incidência de risco ocupacional (42,1%), possibilitando estabelecer reflexões sobre a influência das condições de trabalho sobre o stress. Cabe o alerta para investimentos em ações objetivando um efeito minimizador do stress, assim, prevenindo e tratando da saúde psíquica deste trabalhador. PALAVRAS-CHAVE: Stress. Profissionais de Saúde. Trabalho. Enfermarias. ANALYSIS ON STRESS AND WORK IN PUBLIC HOSPITALS OF NATAL-RN ABSTRACT: Working as a source of stress can have a number of negative effects on the physical and emotional health of the individual. It can be considered that the hospital context is also a source of stress for health professionals. This paper evaluated the level of stress in health professionals in infirmaries of 6 public hospitals in the city of Natal, Rio Grande do Norte, Brazil. A transversal descriptive study with 126 health professionals (proportional stratified sample) Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Especialista em Psicologia da Saúde: Desenvolvimento e Hospitalização pela UFRN. Graduada em Psicologia pela UFRN. Docente do Curso de Psicologia da Facex. Psicóloga do Hospital de Pediatria Prof. Heriberto Bezerra/UFRN. Endereço para correspondência. Rua Irmã Rosaly, 3505, Candelária. Natal - RN/Brasil; e-mail: [email protected]. 2 Psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestranda do curso de pós-graduação em Psicologia da UFRN. 3 Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Coordenadora do Curso de Especialização em Psicologia da Saúde: Desenvolvimento e Hospitalização pela UFRN. 1 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 147 was carried on. The Lipp Stress Symptoms Inventory (ISSL) for adults was used as well as a questionnaire on personal and professional data. Work overload is evident, owing to the excessive hourly load resulting from the multiple jobs, so that 61,9% needed to supplement income. Although the subjects under stress were not in the critical stage (57,9%), there is an occupational risk of 42,1%, requiring a reassessment of the influence of working conditions on the development of stress. The results point to the need for investing in actions aimed at minimizing the effects of stress, in order to protect and treat the psychic health of these professionals. KEY-WORDS: Stress. Health Professionals. Work. Hospitals. 1 INTRODUÇÃO A profissão exercida no contexto da saúde é marcada por inúmeros aspectos que influenciam a capacidade laboral destes funcionários, sendo um ambiente de trabalho circunscrito e com dificuldades que perpassam desde a ausência de materiais, passando pela inadequação na ambiência até a insuficiência de pessoal qualificado para atender a demanda solicitada (Queiroz e Araújo, 2007). Ocorrendo ainda, exigências institucionais que transcorrem desde a produtividade, disponibilidade, eficiência à agilidade (Bermúdez, 1998; OMS, 2007). O trabalho, dessa forma, pode ser entendido como uma fonte de stress, e assim sendo, pode trazer vários reflexos negativos à saúde física e emocional ao indivíduo (OPAS, 2001; Guido, 2003; Costa, 2007). Nesse sentido, o nível de stress pode variar de acordo com a intensidade da pressão exercida sobre eles, conforme retratado pela OMS: Aunque el estrés puede producirse en situaciones laborales muy diversas, a menudo se agrava cuando el empleado siente que no recibe suficiente apoyo de sus supervisores y colegas, y cuando tiene un control limitado sobre su trabajo o la forma en que puede hacer frente a las exigencias y presiones laborales” (OMS, 2007, p. 3). Sintomas como ansiedade, angústia, depressão, stress e distúrbios psicossomáticos já foram detectados em pesquisas (OPAS, 2001; Guido, 2003; Costa, 2007). Romero complementa tal concepção, afirmando que: Los trabajadores y trabajadoras de los hospitales, particularmente el personal de enfermería, están expuestos a una serie de riesgos, tales como: la exposición a agentes infecciosos, posturas inadecuadas, levantamiento de cargos durante la manipulación de los pacientes, desplazamientos múltiples, (...). El contacto con la enfermedad, el sufrimiento y la muerte, constituyen una carga mental para este grupo de trabajadores (ROMERO, 1998, p. 113). Apesar de nos últimos tempos haverem estudos que abordam com freqüência questões relacionadas à saúde dos profissionais que tra148 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 149 balham no âmbito da saúde, as pesquisas ainda são escassas e as Políticas abrangendo a saúde laboral são restritas e de pouco alcance (Brasil, 2001; Guido, 2003; Albaladejo, 2004; OMS, 2006). Ao longo dos anos, muitos estudos vêm investigando os conceitos de stress e suas influências (Guido, 2003; Lipp, 2004; Gil-Monte, Nuñez-Román e Selva-Santoyo, 2006; Costa, 2007). Dentre os diversos conceitos e modelos de stress, Selye (1976) ainda é um dos mais citados. Ele identificou fases em que o stress pode se apresentar ao indivíduo, a saber, as fases de alerta, resistência e exaustão. A pesquisadora Marilda Lipp, também fundamentada na proposta de Selye, acrescentou uma nova fase (cuja resistência está agravada em processo de exaustão) e a denominou de quase-exaustão, assim sendo: 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal, cuja população esteve constituída em uma amostragem aleatória proporcional, com um “n” de 126 trabalhadores (31,7% de enfermeiros, 28,6% de médicos, 19% de nutricionistas, 16,7% de assistentes sociais, e 4% de psicólogos) possibilitando uma margem de confiança de 95%. Quanto à variação percentual existente entre as profissões, considerou-se a peculiaridade do quadro de profissionais distribuídos por área nas instituições, em que o médico e o enfermeiro compõem geralmente a maioria do quadro funcional. Para aos critérios de inclusão da amostra foram ponderados: a vinculação funcional (servidor público) concursado no hospital por no mínimo de dois anos; estar em exercício profissional em cargo de nível superior sem desvio de função; desempenhar suas atribuições junto ao setor de enfermaria; e, estar em exercício durante o plantão diurno, por predominar uma dinâmica de funcionamento setorial mais ativa. Os sujeitos que não contemplassem todos estes aspectos - estivesse de licença, afastados por motivo de doença, férias, participação no pré-teste, ser a pesquisadora, ter respondido de forma incompleta os instrumentos ou se recusassem a participar do estudo - foram excluídos da amostra. Vale salientar que para acesso e levantamento dos dados referente aos sujeitos, o referido estudo contou com o apoio de profissionais responsáveis pelos Setores de Recursos Humanos de cada instituição. Foram fornecidos nomes, dias e horários de plantão, cargo e função e tempo de vinculação funcional. Neste sentido, diante da obtenção da população, foi então possível realizar o cálculo amostral necessário. Como instrumento utilizou-se um questionário semi-aberto (constando dados sócio-demográficos, informações pessoais e profissionais), e o “Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp” (ISSL). Este inventário foi selecionado a partir da perspectiva em que existe a possibilidade em mensurar a variedade (grau) de tensão vivenciada pelo indivíduo, principalmente em momentos de persistência da resistência. Tal instrumento foi estruturado segundo o conceito de Seyle e Marilda Lipp, cuja última autora acrescentou a fase de quase-exaustão (Selye, 1976; Lipp, 2004). A estrutura do caderno de aplicação é composta por 37 itens/questões de natureza somática e 19 de psicológica, cujo objetivo principal está em identificar e avaliar: o sintoma significativo de stress, a fase do stress em que a pessoa se encontra (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão) e a predominância de sintomatologia somática (física) ou psicológica. Considera-se a importância da referência do instrumen- 150 Carpe Diem “Quando a tensão excede o limite do gerenciável, a resistência física e emocional começa a se quebrar (...). Há muita ansiedade nesta fase. (...) O cortisol é produzido em maior quantidade e começa a ter o efeito negativo de destruir defesas imunológicas. Doenças começam a surgir (Lipp, 2004). Conforme os aspectos supracitados pode-se considerar que o contexto hospitalar é uma fonte de stress para os profissionais de saúde e que esse contexto pode contribuir tanto para o desencadeamento de problemas físicos quanto emocionais. Neste sentido, tornam-se proeminentes estudos que visem identificar, avaliar e analisar elementos estressores que podem acometer estes indivíduos, para que, a partir dos resultados obtidos, se possam orientar as instituições acerca de propostas para ações preventivas e minimizadoras de tal problemática. Diante dessa conjuntura citada, o presente trabalho tem como objetivo diagnosticar a presença de stress e os diversos níveis apresentados junto aos profissionais de saúde atuantes nas enfermarias de hospitais públicos de referência na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 151 to (ISSL), pela sua validação e referência via Conselho Federal de Psicologia – Brasil (Lipp, 1998). Todos os instrumentos foram aplicados em um único encontro, no local de trabalho, ao intervalo das atividades do profissional. Os dados foram coletados entre Junho de 2006 a Dezembro de 2007. È importante salientar que a referida pesquisa, durante o processo de coleta de dados, passou por duas greves (uma em nível federal e outra em nível estadual), sendo necessário interromper a atividade momentaneamente. Esta pesquisa foi aprovada pelo Conselho de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em cumprimento à Resolução No. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Brasil. Em sua análise dos dados utilizou-se, além dos manuais específicos de correção do ISSL, o programa SPSS, versão 12.0, seguido de formatação, armazenamento de informações e tratamento. Para tanto, optou-se pelo teste estatístico do qui-quadrado (x2) para avaliar possíveis relações entre stress e as demais variáveis. 3 RESULTADOS 3.1 Caracterização da amostra Considerando os dados demográficos, constatou-se que: os profissionais são em sua maioria mulheres (84,9%), casadas (54,8%), apresentando idades de 46 a 55 anos (40,5%), cujo tempo de serviço na instituição permeia entre acima de 20 anos (22,2%) e 16 a 20 anos (20,6%) respectivamente. Dentre os profissionais 69% cursaram algum tipo de especialização. Tais sujeitos possuem uma renda salarial mensal de 04 a 06 salários mínimos (50,8%). Os trabalhadores têm uma multiplicidade de vínculos (61,9%) como uma alternativa para complementar a renda salarial. Dentre estes com outros vínculos, 52,2% trabalham em mais uma instituição, além da investigada, encontrando também aqueles que estão vinculados a mais duas (25,6%). Quanto à carga horária que dispõe para exercer suas atividades no hospital varia de 30 a 40 horas-semanais (71,4%). Ao indagar as condições de trabalho necessárias para atender a demanda, 61,9% relataram ser insuficientes. Quanto a programas institucionais voltados a qualidade de vida no 152 trabalho, 32,5% responderam não existir e 28,6% desconhecer. 3.2 Dados sobre o stress O fato de muitos trabalhadores estarem submetidos às escalas em turnos geralmente irregulares pode ter uma influência decisiva no estado de saúde desses profissionais, que, a partir dos resultados obtidos, demonstra estar um tanto fragilizada, com uma incidência significativa de stress em 42,1% dos profissionais. É importante colocar que o quantitativo entre os que não apresentam stress (57,9%) comparado aos que foram diagnosticados a sintomatologia, não se constatou grandes diferenças, não descartando assim, a preocupação com a incidência de stress (ver Tab. 1). Pode-se perceber também que entre os profissionais com stress, predominaram os enfermeiros (41,5%), variando de modo equilibrado entre os demais (exceto psicólogos). TABELA 1 - As fases do stress de acordo com as categorias profissionaisa Fase do Stressb Profissionais com Stressc Alerta ResistênciaQuase-ExaustãoExaustão No. % No. % No. % Médico 10 18,8 -- -- Enfermeiro 22 41,5 01 1,8 15,1 07 Assist. Social 10 18,8 -- -- 12 01 Nutricionista 11 20,7 -- -- 22,6 03 08 No. -- Psicólogo 00 0,0 -- -- 09 16,9 08 15,1 --- -- TOTAL 11 53 100 01 1,8 37 69,7 % No. % 02 3,8 13,2 02 3,8 1,8 -- -- -- -- -- -- -- 5,6 -- 20,6 04 7,6 Valor e análise segundo padrões estabelecidos pelo Manual do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP – ISSL; b P = 0, 995; c Amostra total = 126 profissionais. a Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 153 O ISSL também permite avaliar dentre os que apresentam stress a predominância de sintomatologias em nível psicológico ou físico (TAB. 2). Apesar do quantitativo não apresentar grande disparidade em seus valores, a sintomatologia psicológica predomina (58,5%), demonstrando uma maior probabilidade dos profissionais desenvolverem sintomas depressivos e ansiogênicos. Quanto aos que prevalecem à sintomatologia física (41,5%), as dores musculares, sudorese, insônia, distúrbios gastrintestinais e fadiga podem estar presentes. 4 DISCUSSÃO A partir da análise dos dados apresentados, percebe-se uma incidência de stress preocupante entre os profissionais de saúde. A sintomatologia expressa exprime cuidados e medidas preventivas por parte das instituições. Vários aspectos devem ser considerados, visto a multiplicidade de características setoriais existentes em um mesmo contexto: o hospital. O ambiente da enfermaria pode ser caracterizado por muitos como um local composto por corredores de aspecto frio, com queixas constantes por parte de pacientes, com péssimas condições laborais. A pressão do trabalho passa a ter um reflexo não somente na saúde, mas também em atitudes despersonalizadas por parte dos profissionais em relação aos pacientes. Acrescido a tantas dificuldades, a saúde pública atualmente vem passando por um processo de intenso agravo quanto às condições oferecidas. A demanda assistida é enorme, o número de profissionais é insuficiente, os salários são precários, o que muitas vezes contribui para que eles (os profissionais) acabam por “despir-se” de seus conceitos e concepções éticas, cedendo espaço à atuação estritamente técnica. Percebe-se com os dados a presença de uma jornada intensa, visto que além da vida pessoal (com casa, filhos, e demais necessidades) os profissionais aqui abordados estão também submetidos vários vínculos trabalhistas. A carga laboral é um fator de grande relevância, principalmente ao se considerar que são poucos os profissionais que exercem suas atividades em uma única instituição. A sobrecarga de trabalho em que esses profissionais estão expostos é evidente, pois a carga horária é extensa (principalmente ao se considerar a multiplicidade de vínculos necessários à complementação da renda dos profissionais). Neste sentido, considera-se que além do hospital pesquisado se tem uma carga horária também exigida nos outros locais de trabalho. De fato, lidar com o sofrimento humano não é fácil. Presencia-se a dor, desespero, angústia, ansiedade e tensão, nesta relação doençahospitalização. É possível perceber que há um misto de pressão, influenciando o indivíduo tanto psicologicamente quanto fisicamente. O ambiente sob pressão torna-se uma ameaça ao indivíduo ocasio- 154 Carpe Diem Aos que apresentam stress, a fase de resistência (69,7%) é a mais freqüente. Nesta fase o organismo está tentando impedir o desgaste total de energia. Aqui há uma queda na produtividade, permitindo que o indivíduo fique mais vulnerável a vírus e bactérias. Contudo, caso o elemento estressor seja abolido, o indivíduo reencontra aos poucos recursos para a sua recuperação. Também 20,6% encontram-se na fase de quase-exaustão. Nesta fase há o predomínio em sua sintomatologia de forte crise de ansiedade, surgimento de doenças e aumento da tensão física e emocional. Caso contrário, o indivíduo ficará sujeito ao agravamento de doenças, principalmente as de caráter psicossomático, assim como, o risco de depressões e outras sintomatologias de ordem psicológica (Lipp, 1998; Costa, 2007). TABELA 2 - Predominância da sintomatologia de stress de acordo com as categorias profissionaisa Sintomatologia Prevalecente do Stressb Profissionais com stresscFísico N 53 Psicológico % N % N% 100 22 41,5 3158,5 Valor e análise segundo padrões estabelecidos pelo Manual do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP (ISSL); b P = 0, 995; c Amostra total = 126 profissionais. a v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 155 nando reflexos tanto em sua vida pessoal quanto no exercício de suas funções no trabalho. Apesar dos sintomas não expressarem estados gravíssimos de stress, há uma incidência de risco ocupacional, possibilitando estabelecer reflexões sobre a influência das condições de trabalho sobre o stress ocupacional. Mesmo que a sintomatologia prevalecente (resistência) não indicasse uma maior gravidade, cabe colocar um alerta aos gestores institucionais a necessidade de um “olhar” clínico a saúde destes trabalhadores, ao se considerar as características do ofício neste campo (Bermúdez, 1998; Romero, 1998; Costa e Martinez, 2000; Albaladejo, 2004). Geralmente o profissional de saúde não se encontra inserido como alvo para investimentos das instituições. Acredita-se que a exposição crônica de indivíduos suscetíveis a condições de trabalho estressantes traz como suas conseqüências desde a dificuldade de atuação, insatisfação profissional, stress até a péssima qualidade de vida, refletindo assim, tanto no seu desempenho ocupacional quanto na sua vida pessoal. Programas direcionados à avaliação, acompanhamento e orientações são bastante eficientes. Ações preventivas que busquem a melhoria da saúde e qualidade de vida podem estar inseridas. Lazer, atividades educativas e físicas são essenciais. Investimentos em ergonomia e recursos humanos também são primordiais. Enfim percebe-se a necessidade de maiores pesquisas que viabilizem propostas eficazes em prol de melhorias ambientais, assistenciais e cuidados preventivos aos profissionais de saúde, de modo qualificado e adequado à realidade apresentada. Estudos como este, podem ser realizados em outros hospitais brasileiros, inserindo outros níveis de profissionais na área da saúde, sob os mais diversos vínculos, permitindo uma possível corroboração ou quem sabe refutação relacionada aos dados então discutidos. Abre-se aqui o espaço para estudos epidemiológicos, assim como inserir profissionais de outras especialidades, outros vínculos (terceirizados e prestadores de serviços) e outros hospitais. Pode-se inserir também um estudo dividido em fases, aplicando os instrumentos antes e depois do plantão. Estas sugestões possibilitariam uma maior abrangência do dimensionamento do tema em questão. Agradecimentos Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e ao Grupo de Estudos: Psicologia e Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Aos colaboradores José Helder Franco Aquino, Tabita Aija Silva Moreira, Daniela Pousa Farias e Camomila Lira Ferreira. Aos hospitais e aos profissionais integrantes do estudo. 156 Carpe Diem REFERÊNCIAS ALBALADEJO, Romana et al. Síndrome de Burnout en el personal de enfermería de un hospital de Madrid. Rev. Española de Salud Pública, v. 78, n. 4, p. 505-516, 2004. BERMÚDEZ P B, BURILLO J M T, MARTINEZ N T, RENTERO B D, VIGUER Z. Accidentes de Trabajo en un hospital de agudos. Revista Española de Salud Publica, v. 72, n. 2, p. 127-136, 1998. COSTA, E. S.; MARTINEZ, M. A. R. Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre saúde e a vida social em funcionários da enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, v. 16, n. 2, p. 553-555, 2000. COSTA, M. 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Para tanto, procura-se estabelecer uma relação dialógica sobre a temática em questão, prioritariamente, a partir das contribuições teóricas de grandes analistas do assunto como Zygmunt Bauman e Anthony Giddens. Nesse estudo, pontuam-se algumas considerações sobre a sociedade de consumo líquido moderna, caracterizada como uma sociedade instável, fluida onde os indivíduos independentes de sua condição social e econômica se tornam ávidos consumidores de uma gama de bens, serviços e artefatos. Aborda-se também as implicações ecológicas e de saúde que se encontra submetido a sociedade e os indivíduos nesse cenário. PALAVRAS-CHAVE: Sociedade de consumo. Implicações ecológicas. Artefatos. MODERNITY DETECTED FROM THE PERSPECTIVE OF CONSUMPTION: SOME CONTRIBUTIONS ZYGMUNT BAUMAN AND ANTHONY GIDDENS ROMERO, Aismara B. Personal de Enfermería: condiciones de trabajo de alto riesgo. Salud de los Trabajadores, v. 6, n. 2, p. 113-119, 1998. SELYE, H. Stress in Health and Disease. 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Professora da Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte - FACEX e da Universidade Potiguar do RN. 1 158 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 159 A expressão sociedade de consumo encontra-se relacionada a exacerbação de uma quantidade e variedade de bens, serviços e artefatos que o consumidor na sociedade capitalista tem a sua disposição. A premissa básica de uma sociedade de consumo é satisfazer os desejos humanos de maneira tal que nenhuma sociedade do passado teve a capacidade de realizar tamanho empreendimento. Apropriando-se dessa discussão de forma mais profunda, grande estudioso do assunto Bauman (2008) chama atenção para dois tipos de sociedade presentes no contexto societal e que são determinantes para que se possa compreender a verdadeira dimensão do que se denomina sociedade líquido-moderna, quais sejam: a sociedade sólido moderna dos produtores e a sociedade de consumidores. A sociedade de produtores, concebida como principal modelo societário da fase sólida da modernidade teve como eixo principal a orientação para a segurança, pautada em um ambiente confiável, ordenado, regular, transparente, duradouro, seguro e resistente ao tempo. Afirma o citado autor que tratou-se de uma era caracterizada pela presença de fábricas e exércitos de massas, de regras obrigatórias em conformidade às mesmas, “assim como de estratégias burocráticas e panópticas de dominação que, em seu esforço para evocar disciplina e subordinação basearamse na padronização e rotinização do comportamento individual”. (BAUMAN, 2008, p.42) Sendo assim, no contexto em que predominou a sociedade sólido moderna de produtores que por sua vez, tinha como principal propósito a questão da “segurança”, os bens que eram adquiridos não se destinavam ao consumo imediato, devendo ser protegidos da depreciação, dispersão para que assim pudesse permanecer de forma intacta. Ou seja, a satisfação encontrava-se sustentabilidade na promessa de segurança em um longo prazo. Em contrapartida, na sociedade de consumidores, criadora da “síndrome do consumismo”, vê-se a todo o momento, a degradação da duração e a promoção da transitoriedade. Nesse sentido, o que está em referência não é valor da permanência como uma das características presente na sociedade sólido moderna, mas o valor da novidade que é materializada numa gama de artefatos que são Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 161 colocados a total disposição dos consumidores. Nesse contexto, os bens e os prazeres não são duradouros, são voláteis e transitórios, o que torna possível a acessibilidade de outros bens e prazeres que chega ao consumidor numa velocidade estonteante, numa incitação do desejo por outros desejos, sempre se renovando. A esse respeito argumenta Bauman (2008, p. 45): A instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, assim como a resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, dos seus objetos harmonizam-se bem como a nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e tendem a ser conduzidas no futuro previsível. Um ambiente líquido-moderno é inóspito ao planejamento, investimento e armazenamento de longo prazo. Nesse sentido, a promessa de satisfação dos infinitos desejos humanos só permanecerá sedutora nesse tipo de sociedade enquanto o desejo continuar irrealizado e também enquanto houver uma suspeita de que os desejos não foram plenamente satisfeitos. Por outro lado, Giddens (1997) uma grande referência nas discussões que envolvem “modernidade”, chama atenção para as ações que são empreendidas pelos indivíduos nesse novo contexto societal. Argumenta que as ações cotidianas de um indivíduo produzem aquilo que se denomina “consequências globais”. Alerta que a decisão de se comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um tipo específico de alimento, tem muitas implicações globais, quais sejam: afeta a sobrevivência de alguém que vive do outro lado do mundo, mas de outra forma pode contribuir para um processo de deteriorização ecológica com sérias consequências potenciais para toda a humanidade. Com relação à deteriorização ecológica na sociedade moderna pode-se considerar em grande medida a existência do lixo sólido. Um dos problemas mais sérios que a sociedade contemporânea apresenta, principalmente, nas grandes aglomerações urbano-industriais. As cidades processam uma expressiva quantidade de matéria e energia, além de toneladas de dejetos que não são processados por ela. 162 Nesse processo, os excedentes vão se acumulando em grande medida. Por outro lado, com a elevação da população, sobretudo com o estímulo do consumismo, o problema só tende a se agravar. Segundo informações concedidas pelo Jornal Perspectiva (2002), no Brasil cada pessoa produz em média 800 gramas a 1 k de lixo por dia, ou 4 a 6 litros. Isso significa, por exemplo, que em São Paulo, são geradas aproximadamente 15.000 toneladas de lixo por dia ou 75.000 000 de litros por dia. Isso equivale a aproximadamente a 3.750 caminhões baú por dia. Em fila, esses caminhões cobririam por ano a distância entre São Paulo e Nova Yorque no percurso ida e volta. Informa ainda que acerca de 40 anos, a quantidade de resíduos ou lixo era bem inferior a que é produzida atualmente. Para Giddens (1997), queiramos ou não, estamos todos presos em uma grande experiência, que está ocorrendo no momento da nossa ação enquanto agentes humanos que se apresenta de forma imponderável. Ressalta que não se trata de uma experiência laboratorial, uma vez que “não controlamos os resultados dentro de parâmetros fixados – é mais parecida com uma aventura perigosa, em que cada um de nós, querendo ou não tem de participar” (1997, p. 25) Nesse contexto, a tecnologia desempenha um papel principal, tanto no que diz respeito à tecnologia material quanto da especializada “expertise social”. O potencial da sociedade de consumo está na sua capacidade permanente de tornar a insatisfação um estado contínuo, inacabado e infinito. E uma das formas de causar esse efeito segundo Bauman (2007) é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem chegado ao universo dos desejos do consumidor. Outra forma mencionada é o método de satisfazer todas as necessidades, desejos e vontades de uma maneira que provoque a existência de outras necessidades, desejos e vontades. O indivíduo inserido nesse tipo de sociedade se torna insaciável, convivendo com uma ânsia inesgotável de ver infinito e múltiplos desejos satisfeitos, mas que na realidade nunca conseguem atingir um estado de satisfação plena. O que se pode perceber são posturas compulsivas que invadem as ações humanas no seu cotidiano. Para Giddens (1997), essa compulsão que nitidamente se visualiza nas Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 163 práticas humanas transformou-se no outro lado da “revolução cognitiva da modernidade”, que por sua vez traz a tona algumas implicações. Ressalta-se que: Embora as conexões necessitem ser expressas com maiores detalhes, assim como em relação a Freud estamos nos referindo aqui a uma inclinação emocional para a repetição, que é em grande parte inconsciente ou pouco compreendida pelo indivíduo em questão. (GIDDENS, 1997, p. 42) Na sociedade vigente, o corpo enquanto potencialidade assume um novo caráter. Os cuidados com este, nesse processo de exacerbação do consumo, passa a ser uma fonte de lucratividade. Basta lembrar-se da proliferação de academias de ginásticas, lipoaspirações, cirurgias plásticas, clínicas de estéticas entre tantas outras estratégias que são criadas. A luta pela estética, pela boa forma, passa a ser a palavra de ordem, muitas vezes ocasionando ações compulsivas, gerando vícios e consequentemente trazendo danos a saúde do indivíduo. A anorexia enquanto uma das patologias mais evidenciadas nesse cenário representa um grave problema de saúde concentrando-se sobremaneira entre as mulheres. Segundo dados publicados pela Folha de São Paulo (2009) ainda que a maior freqüência seja por volta dos 15 anos, crianças e adolescentes nas faixas etárias de 9 a 10 anos tem sido acometido por essa patologia, chegando aos consultórios com perda exagerada de peso achando-se “gordas”. De acordo com a pesquisa, não há estatísticas sobre a incidência da anorexia no Brasil, contudo dados internacionais revelam que ela pode afetar até 20% das adolescentes pertencentes a todas as classes sociais. Apesar da causa da doença ainda ser desconhecida, uma das hipóteses mais aceita é que trata-se de um distúrbio psiquiátrico causado por alterações neuroquímicas cerebrais. Refletindo sobre a problemática da anorexia entendida como um dos vícios do mundo atual, Giddens (1997) é emblemático ao enfatizar que o progresso do vício é uma das características significantes do universo social pós-moderno. 164 De início parece estranho considerar a anorexia um vício, porque ela aparece mais uma forma de autonegação que uma dependência de substância que proporcionam prazer. Em um mundo em que se pode ser viciado em qualquer coisa (drogas, álcool, café, mas também em trabalho, exercícios, esporte, cinema, sexo ou amor) à anorexia é entre outros vícios relacionados à alimentação. (GIDDENS, 1997, p. 43) Por outro lado, as cirurgias com finalidades estéticas têm aumentado consideravelmente. Em nível de Brasil, segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – SBCP, divulgada pela Folha de São Paulo em 13 de fevereiro de 2009, o número de cirurgias estéticas de mama, seja de aumento ou redução, ultrapassou o de lipoaspiração. De um total de 629 mil procedimentos de médio e de grande porte feitos em 2008, 151 mil foram de mama ao passo que os outros 91 mil foram de lipoaspiração. Segundo ainda a pesquisa, uma das explicações para a queda da lipo reside no fato de que muitas cirurgias passaram a serem realizadas por médicos e não por cirurgiões plásticos. Nesse sentido, a não especialização tem sido apontada como um dos fatores determinantes para o surgimento de complicações nas cirurgias. De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, dos 289 médicos processados na área estética de 2001 a 2008, 283 não eram especialistas em cirurgia plástica. Na realidade, o próprio indivíduo se torna uma mercadoria A esse respeito acrescenta Bauman (2008, p. 53): [...] O que anunciam com mais avidez e vendem com maiores lucros é o serviço de excisão remoção e descarte: de gordura corporal, rugas faciais, acne, odores corporais, depressão, pós isso ou pós aquilo, dos montes de fluídos misteriosos ainda sem nome ou então de restos indigestos de antigos banquetes que se estabelecem dentro do corpo de forma ilegítima e não sairão ao menos que extraído a força. O apelo ao consumo é trabalhado de forma contundente. As técniCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 165 cas de publicidade e marketing ocupam um lugar de destaque nesse processo, trabalhando na perspectiva de publicização e divulgação de informações que passam a contribuir de forma decisiva no escoamento da produção. Assim, independente de sexo, etnia, faixa etária, condição geográfica ou poder aquisitivo, todos os cidadãos passam a serem cidadãos consumidores. O consumo passa a ser um direito e um dever de caráter universal, pois todos passam a ser absorvidos sem exceção pela cultura do consumo. Sendo assim, consumismo e abundância terminam se configurando no ideário de bem-estar social no interior do qual a sociedade de consumo vem absorvendo de forma crescente e paulatinamente uma quantidade desenfreada de adeptos. Seus produtos inundam o mercado e milhares de produtos similares fazem concorrência na aquisição de novos consumidores. Nesse contexto, mercadorias em muito pouco tempo de uso terminam se enquadrando no leque de artefatos obsoletos e ultrapassados, momento oportuno para a substituição de outras mercadorias com outros formatos, exercendo novos atrativos e atraindo novos compradores. Sendo assim: [...] bombardeados de todos os lados por sugestões de que precisam se equipar com um ou outro produto fornecidos pelas lojas se quiserem ter a capacidade de alcançar e manter a posição social que desejam, desempenhar suas obrigações sociais e proteger a auto-estima – assim como serem vistos e reconhecidos por fazerem tudo isso -, consumidores de ambos os sexos, todas as idades e posições sociais irão sentir-se inadequados, deficientes e abaixo do padrão a não ser que respondam com prontidão a esses apelos. (BAUMAN, 2008, p. 7) Com relação ao poder aquisitivo, e considerando as camadas vulneráveis economicamente, Bauman (2007] chama atenção para os indivíduos das periferias que mesmo distantes e empobrecidos se vêem forçados a uma situação na qual tem de gastar o pouco dinheiro ou os poucos recursos que dispõe para a aquisição de objetos de consumo supérfluos, não condizente com suas reais necessidades básicas e elementares. 166 Nesse sentido, as formas tradicionais de identidades baseadas na aquisição de bens duráveis, tão cara a sociedade sólido moderna encontram-se fragilizadas. Na sociedade de consumo, aberta e ao mesmo tempo anômica, as pessoas se identificam com aquilo que possui ou ostentam. Tal realidade pode ser assimilada de forma mais clara nos estudos de Boudrillard (1995), quando chama atenção para a existência da estigmatização de grupos sociais que se apresentam a partir da quantidade de bens que manipulam e ostentam. Um consumo ostentatório que povoa as relações sociais estabelecidas. Vale salientar que toda essa realidade é permeada por aquilo que Simmel (2005) denomina de “espírito contábil”. A cidade grande moderna alimenta-se, preponderantemente, da produção para o mercado, para fregueses completamente desconhecidos, que nunca se encontrarão cara a cara com os produtores. Para o autor, essa relação de interesse é permeada por uma objetividade impiedosa, pois: Seus egoísmos econômicos, que calculam com o entendimento, não tem a temer nenhuma dispersão devido aos imponderáveis das relações pessoais. E isso está evidente, em uma interação tão estreita com a economia monetária – que domina nas grandes cidades e desaloja os últimos restos da produção própria e da troca imediata de mercadorias... (SIMMEL, 2005, p. 580) Ainda seguindo a perspectiva analítica do autor, o espírito moderno tornou-se sobremaneira um espírito contábil. Isso porque, a idéia de ciência natural de transformar o mundo em um exemplo de cálculo e de fixar uma de suas partes em fórmulas matemáticas corresponde a exatidão contábil da vida prática trazida pela economia monetária. Enfatiza que somente “a economia monetária preencheu o dia de tantos seres humanos com comparações, cálculo, determinações numéricas, redução de valores qualitativos a valores quantitativos”. (SIMMEL, 2005, p. 580) Como se pode perceber, o consumo tornou-se a palavra de ordem na sociedade pós-moderna. Consome-se além do necessário, o que possibilita a expansão do consumismo que mesmo prejudicando a saúde do indivíduo ou que possa provocar danos ao meio ambienCarpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 167 te (como por exemplo, uma enorme concentração de lixo) gerando dependência e fragilidade no tecido social, a sociedade de consumo vem ganhando força e expressividade encontrando a cada dia mais adeptos a um mundo líquido-moderno. REFERÊNCIAS BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995. (Coleção Arte & Comunicação). BAUMAN, Zigmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. ______. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. GIDDENS, Anthony. A vida em uma sociedade pós-tradicional. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. Reciclagem do lixo urbano. Jornal Perspectiva, São Paulo, ed. 113, out. 2002. SBCP. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Coluna Saúde. Folha de São Paulo, São Paulo, 13 fev. 2009. SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 577-591, 2005. NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 1 LINHA EDITORIAL A Revista Cultural e Científica Carpe Diem (ISSN 1518-5184) é uma publicação interdisciplinar editada pela Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão (FACEX), instituição de ensino superior mantida pelo Centro Integrado para Formação de Executivos (CIFE), destinada à divulgação anual de produções científicas e acadêmicas inéditas nos seguintes formatos: artigo original de trabalhos relativos a estudos de natureza teórica e experimental no campo da pesquisa, artigo de revisão/ atualização, relato de experiência ou de técnica, resenhas e/ou resumos de teses, dissertações, monografias, trabalhos de conclusão de cursos, comunicações produzidos pelos professores, pesquisadores, alunos e demais profissionais desta e de outras instituições. 2 ORIENTAÇÕES GERAIS 2.1 Todas as contribuições para publicação na revista, redigidas em português, espanhol ou inglês, rigorosamente corrigidas e revisadas lingüísticamente, deverão ser enviadas por professores, pesquisadores, alunos e profissionais da FACEX ou de outras instituições, seja do Brasil ou do exterior; 2.2 Os conceitos e opiniões expressos nas contribuições são de total responsabilidade do(s) autor(es) que deverão providenciar permissão, por escrito, para uso de qualquer tipo de ilustração publicada em outras fontes; 2.3 O trabalho original, enviado pelo(s) autor(es), poderá ser retirado segundo seus critérios de conveniência, a qualquer momento antes de ter sido selecionado pelo Conselho Editorial da revista; 2.4 O(s) original(ais) aprovado(s) poderá(ão) sofrer possíveis alterações, tanto de ordem normativa como de natureza ortográfica e/ou lingüística, a serem executadas pela equipe de revisores da revista, com o objetivo de manter o padrão culto do idioma e a adequação às normas para apresentação de trabalhos, sendo respeitado, porém, o estilo do(s) autore(s); 2.5 O(s) trabalho(s) recusado(s) ficará(ão) à disposição do autor responsável pelo contato com o editor da revista Carpe Diem, pelo prazo de 3 meses, a contar da data de comunicação do resultado da avaliação efetuada pelo Conselho Editorial; após esse prazo, o(s) trabalho(s) será(ão) eliminado(s), inclusive o suporte (cópias impressas, CD-ROM, DVD); 2.6 Os colaboradores só poderão publicar, no máximo, 2 (dois) trabalhos 168 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 169 em um mesmo número da Revista por vez; 2.7 Só serão aceitos textos que obedecerem aos quesitos de conteúdo e formatação aqui estabelecidos; 2.8 O(s) trabalho(s) enviado(s) deverá(ão) se enquadrar em uma das seguintes seções: • Editorial: refere-se a assuntos selecionados em cada número da revista pela sua importância para a comunidade científica. Geralmente, são redigidos pelo Editor ou encomendados a especialistas de destaque na área de interesse. • Artigos científicos originais: relatos inéditos e completos de estudos e pesquisas científicas, com autoria declarada, que apresenta e discute idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento. Extensão máxima: 20 laudas. • Artigos de revisão/Atualização: estudos que fornecem visão sistematizada e crítica de avanços do conhecimento em determinadas áreas/temáticas, a partir de informações já publicadas, devendo conter: Título (português e inglês), autor, instituição, resumo, abstract (inglês), Introdução que justifique a revisão incluindo o método quanto à estratégia de busca utilizada (base de dados, referências de outros artigos, etc), e detalhamento sobre critério de seleção da literatura pesquisada; Revisão da Literatura comentada com discussão; Comentários Finais e Referências. Extensão máxima: 20 laudas; • Relatos de experiência ou de técnica: descrições criteriosas de práticas de intervenções e vivências profissionais que possam interessar à atuação de outros profissionais. Extensão máxima: 10 laudas. • Resenhas: revisões críticas de livros, artigos, dissertações o teses, com opiniões que possam orientar) interesse para leitura ou não da publicação na íntegra. Mínimo de 3 e máximo de 5 laudas. • Resumos: descrições sucintas e de caráter informativo do conteúdo de dissertações, teses ou monografias de graduação ou de pós-graduação, devendo conter: título (português e inglês), autor, orientador, instituição, programa, área, local, ano da defesa, resumo e abstract. Extensão máxima: 1 lauda. 3 ESTRUTURA DOS MANUSCRITOS Os trabalhos encaminhados para publicação deverão obedecer às seguintes normas: 170 3.1 Forma e apresentação gráfica 3.1.1 Os originais devem ser submetidos ao Conselho Editorial, em português, inglês ou espanhol, com estilo de redação claro e coerente na exposição das idéias, devendo ser digitado em extensão *.doc “Word for Windows versão Office 97 ou superior”, arquivo gravado de preferência em CD-ROM (na etiqueta do CD-ROM deverão constar o título do trabalho, autores e versão do software), acompanhado de 2 (duas) cópias impressas em uma só face e em uma coluna, papel A4 (210 x 297 mm), e com os seguintes atributos: 3.1.1.1 - espaço simples entre linhas e espaço duplo entre parágrafos; espaço duplo entre partes e entre texto e exemplos, tabelas, figuras ou ilustrações (gráficos, fotos, gravuras, esquemas) e citações; 3.1.1.2 – digitação em fonte “Times New Roman”, tamanho 16, para títulos (na língua empregada no artigo); 14 para subtítulos; 12 para nome(s) do(s) autor(es), 10 para resumo, palavras-chave, tradução do título, abstract, keywords; 12 para corpo do texto; 11 para ilustrações (figuras, tabelas, quadros, etc); 10 para epígrafes e citações longas; 9 para notas de rodapé; 3.1.1.3 - margens (superior e esquerda) de 3 cm e (inferior e direita) de 2 cm. 3.1.1.4 - adentramento de 1,25 cm; 3.1.1.5 - alinhamento justificado, entre linhas: 1,5 linha. 3.1.1.6 – numeração das páginas: embaixo, à direita. 3.2 Estruturação do artigo original 3.2.1 Quando se tratar de artigo original, deve conter, na primeira lauda a seguinte estrutura: Título O título, em português, (inglês ou espanhol, quando for o caso), letras maiúsculas, negrito e centralizado no alto da primeira folha; deve ser conciso e informativo, evitando termos supérfluos e abreviaturas, com até 40 caracteres (incluindo os espaços). Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 171 Nome(s) do(s) autor(es) O(s) nome(s) do(s) autor(es), em negrito, deve(m) ser mencionado(s) por extenso, centrado(s) em letra minúscula, duas linhas abaixo do título e numerado, (exemplo.: José Francisco de Oliveira1), separados por ponto e vírgula (;), no caso de mais de um autor. Ainda na primeira página, em nota de rodapé, deve(m) ser mencionado(s) os seguintes dados sobre o(s) autor(es): profissão, cargo, afiliação acadêmica ou institucional, maior titulação acadêmica, endereço, telefone e correio eletrônico, (quando for o caso). Ex.: Economista. Professor do Curso de Administração da FACEX. Especialista em Administração de Empresas (UFRN). Av. 21 de Outubro, 25 – Centro; CEP 59.075-840 – Natal, RN; Tel.: (84)3225-2222; e-mail: [email protected]. Resumo A palavra Resumo, em negrito, seguida de dois pontos (:) deve estar duas linhas abaixo do(s) nome(s) do(s) autor(es), sem adentramento e, na mesma linha, o início do texto digitado em português, explicitando objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões, mesmo que parciais, devendo ser redigido com o verbo na voz ativa e terceira pessoa do singular, não ultrapassando 250 palavras de acordo com a NBR-6028/2003 Palavras-chave A expressão “Palavras-chave”, em negrito, seguida de dois pontos (:), deve estar duas linhas abaixo do final do Resumo, sem adentramento, separadas entre si por ponto e finalizadas também por ponto, devendo conter, de 3 a 5 termos. Observação: Os subtítulos do texto, sem adentramento, devem estar em negrito e em letras minúsculas, sendo apenas a primeira letra de cada subtítulo em maiúscula. O corpo do texto do trabalho deve obedecer ao sistema de numeração progressiva de acordo com a NBR6024/2003. 3.2.1 Quando se tratar de artigo original deve conter, na segunda lauda, (não sendo necessário inserir novamente o título do trabalho), os seguintes subtítulos: 3.2.1.1 Introdução A introdução deve apresentar a delimitação do assunto tratado, o(s) objetivo(s) do trabalho (claramente expostos no último parágrafo), a sua relação com outros da mesma área de pesquisa e as razões que levaram o(s) autor(es) realizar(em) o trabalho. 3.2.1.2 Metodologia A metodologia ou material e métodos deve conter informações disponíveis na revisão de literatura que permitam o desenvolvimento do trabalho. Devem estar claramente descritos de forma a possibilitar réplica do trabalho ou total compreensão do que e como foi realizado 3.2.1.3 Resultados O Abstract, em negrito, seguido de dois pontos (:), deve estar duas linhas abaixo do final das Palavras-chave, sem adentramento, podendo ser a versão para o inglês do Resumo; Os resultados devem ser apresentados de forma clara e sucinta, podendo ser utilizadas TABELAS (numeradas com algarismos arábicos - Ex.: TAB. 1) ou ilustrações (gravuras, fotografias, mapas, organogramas, fluxogramas, esquemas, desenhos, fórmulas, modelos gráficos, fotos, gravuras, esquemas) denominadas FIGURAS, numeradas no texto com algarismos arábicos, de forma abreviada, entre parênteses ou não, de acordo com a seguinte redação: (FIG. 1), FIG. 2, que permitam uma melhor compreensão dos dados obtidos. As tabelas e as figuras devem trazer abaixo um título ou legenda digitada, com indicação da fonte, se for o caso. Keywords 3.2.1.4 Discussão A expressão “Keywords”, em negrito, seguida de dois pontos (:), deve A discussão deve analisar os resultados, tentando relacioná-los com Tradução do título Apresentação do título em inglês. Abstract 172 estar duas linhas abaixo do final do Abstract, podendo ser a versão para o inglês das palavras-chave; Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 173 dados existentes na literatura. Deve sempre ter como base os resultados apresentados, com comentários a respeito dos resultados obtidos. 3.2.1.5 Conclusão A conclusão deve ser breve, exata e acompanhar a sequência proposta nos objetivos. Deve responder exclusivamente o(s) objetivo(s), diretamente ligada aos resultados obtidos. Podem ser positivas ou negativas, de forma impessoal. 3.2.1.5 Referências A expressão “Referências”, sem adentramento, deve ser colocada duas linhas antes dos autores, relacionados em ordem alfabética, sem numeração, espaço simples entre as linhas. As referências, na lista, devem ser separadas entre si por espaço duplo. O formato das referências deve seguir as últimas normas da ABNT (NBR-6023/2002): EXEMPLOS Obs.: Quando o autor da obra for o mesmo da parte, substitui-se o nome por um traço equivalente a 6 (seis) espaços, seguido de ponto ( ______. ). Para ARTIGOS EM PERIÓDICOS: 1) AUTOR. Título do artigo. Título do periódico em negrito, local da publicação, número do volume; número do fascículo; página inicial e final; mês e ano. Ex.: SANTOS, Daniele Bezerra, SEIXAS, Ana Anita A., NELSON, Margarida de Lourdes de Melo. Avaliação preliminar da biodiversidade de macroalgas da praia de Búzios, Rio Grande do Norte, Brasil. Carpe Diem, Natal, v. 5, n. 5, p. 79-93, jan./dez. 2007. Para TRABALHOS EM EVENTOS 1) Para LIVROS 1) Formato convencional AUTOR. Título da obra em negrito. número da edição (se não for primeira); local da publicação: nome da editora; data de publicação. Ex.: GIL, A. C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2006. Formato convencional Formato convencional AUTOR. Título: subtítulo. In: NOME DO EVENTO, número, ano, local de realização. Título da publicação... subtítulo. Local de publicação (cidade): Editora, data. Páginas inicial-final do trabalho. ALOISE, D. A., MAIA-LIMA, F. A., MOLINA, W. F. Análise citogenética de Litopenaeus vannamei(Crustacea, Penaeidae. In: ENCONTRO DE GENÉTICA DO NORDESTE, 16., 2002, São Luís. Resumos... São Luís: SBG, 2002. p. 36. Para CAPÍTULOS DE LIVRO OU PARTES DE COLETÂNEA 3.2.2.7 Notas de rodapé 1) As notas de rodapé devem ser resumidas ao máximo e colocadas na parte inferior da página, ordenadas por números arábicos que no texto serão colocados logo após a frase a que diz respeito e elevadas. São separadas do texto por um traço contínuo de 3 cm e digitadas em espaço simples e com caractere menor do que o usado no texto e sem espaço entre elas, devendo ser alinhadas à esquerda pela primeira palavra, deixando a chamada numérica em evidência. Não é permitido o uso de notas de rodapé de referências. Formato convencional AUTOR. Título do capítulo. In: ______. Título da obra em negrito. número da edição (se não for primeira); local da publicação: nome da editora; data de publicação. Ex: MASETTO, M. T. Processo de avaliação e processo de aprendizagem. In: ______. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003. 174 Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 175 3.2.2.8 Citações Nas citações diretas devem ser observados os seguintes critérios de estrutura: a) Citações textuais pequenas (com até três linhas) deverão vir entre aspas duplas, ao longo do texto. b) Citações textuais longas (com mais de três linhas) devem ser apresentadas em parágrafos independentes, utilizando-se margem própria, recuada 4 cm à esquerda, (fonte tamanho 10), sem as aspas, tendo como limite a margem direita do documento .e ter espaçamento simples. As citações devem incluir a indicação da fonte (sobrenome do autor, ano e página), de acordo com a NBR 10520/2002. Ex.: (Lima, 1994, p. 45). 3.2.2.9 Ilustrações As ilustrações (figuras, tabelas, quadros, gráficos, gravuras, fotografias, mapas, organogramas, fluxogramas, esquemas, desenhos, fórmulas, modelos e outros) servem para elucidar, explicar e simplificar o entendimento de um texto. Devem ser utilizadas no máximo 10 (dez) ilustrações que sejam importantes para o entendimento do texto. As fotos, mapas, gráficos ou tabelas devem ser digitalizadas em boa resolução (no mínimo de 3000 dpi). Devem ser apresentadas na forma JPG, separadas do texto, mas sua indicação deve aparecer no texto contendo a legenda e a fonte. As imagens enviadas para publicação deverão, obrigatoriamente, vir acompanhadas de um termo de responsabilidade (autorização do detentor da imagem) por parte do(s) autor(es), sobretudo, se as imagens não pertencerem ao acervo do autor. Exceto as tabelas, quadros e gráficos, todas as demais ilustrações deverão ser mencionadas no texto como figuras. • Figuras: Sua indicação pode fazer parte do texto, ou estar localizada entre parênteses no final da frase. Exemplos: a) A FIG 2 apresenta ....... b) Durante os primeiros trinta dias..........as diferentes durações de HV (FIG. 5). Recomendações: 176 a) Quando se fizer referência a mais de uma figura, a abreviatura FIG. deve ser usada somente no singular. b) As figuras (inclusive as demais ilustrações) deverão ser numeradas no decorrer do texto com algarismos arábicos; c) O título deve ser digitado abaixo da figura e na mesma margem desta, escrito em letras minúsculas, exceto a inicial da frase e dos nomes próprios, após a palavra FIGURA, e dela separada por hífen: Ex.: FIGURA 6 – d) A legenda (texto explicativo que acompanha a figura) deve ser colocada logo após o título, usando-se a mesma pontuação de uma frase comum. Ex.: FIGURA 6 – Eletroforese em gel de amido....... e) Caso a figura (inclusive outros tipos de ilustração) já tenha sido publicada anteriormente, deve-se colocar, abaixo da legenda, dados referentes à fonte (autor, data e página) de onde foi extraída, conforme a lei que regulamenta os direitos autorais (Lei nº 9.610 de 19/02/1998, cap. I, art. 7º), não esquecendo de citar ao final do trabalho a referência completa na listagem das referências]. f) As figuras, inclusive as demais ilustrações, dever ser centradas na página e impressas em local o mais próximo possível do trecho onde são mencionadas no texto, podendo ser agrupadas no final do trabalho, como anexos, quando forem em grande número e/ou em tamanho normal. • Gráficos Devem ser numerados com algarismos arábicos, o título precedido da palavra GRÁFICO em letras maiúsculas e a citação no texto será pela indicação GRAF., acompanhada do número de ordem a que se refere. • Tabelas e quadros As tabelas e os quadros devem estar inseridas no texto em seu devido lugar, com um título claro e conciso, sem abreviações, numerados sequencialmente em todo o trabalho, com algarismos arábicos, localizado acima sobre as mesmas, (Ex.: TABELA 1) de acordo com a norma de apresentação tabular do IBGE (1993). • Anexos Quando houver, devem ser indicados no corpo do texto e apresentá-los Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 177 no final, após as Referências, identificados por letras maiúsculas (A, B, C, D, e assim por diante). • Notas As notas inseridas no corpo do texto devem ser indicadas por números arábicos elevados imediatamente depois da frase a que diz respeito, e restritas ao mínimo indispensável, devendo constar no rodapé da mesma página em que são inseridas. • Agradecimentos Agradecimentos e auxílios recebidos de instituições de financiamento deverão aparecer no final do texto e antes das Referências. 4 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DOS ARTIGOS POR PARES (PEER REVIEW) Todos os trabalhos submetidos à revista, que atenderem às “Normas para apresentação de trabalhos” assim como ao objetivo e política editorial, serão avaliados, sendo garantido o anonimato durante todo o processo de julgamento; • Serão levados em consideração os seguintes critérios de avaliação: a) fundamentação teórica e conceitual; b) relevância, pertinência e atualidade do assunto; c) consistência metodológica; d) formulação em linguagem correta, clara e concisa. • Cada trabalho deverá ser avaliado por dois revisores, especialistas que trabalham em áreas relacionadas com o tema do manuscrito, membros do corpo editorial da revista, • Os revisores receberão o manuscrito, sem nenhuma identificação do(s) autor(es), além de um documento com instruções acerca do processo de revisão e um formulário de avaliação, para manifestar seus comentários e recomendações sobre a aceitação, rejeição ou correção do manuscrito; • Em nenhuma etapa do processo, os revisores conhecerão a identidade do(s) autor(es), assim como, o(s) autor(es) não saberão a identidade dos revisores • Excepcionalmente, dado a especificidade do assunto do manuscrito, o Editor poderá solicitar a colaboração de consultores ad hoc; • Somente serão encaminhados aos revisores os trabalhos que estejam rigorosamente de acordo com as normas acima descritas; 178 • Os revisores farão comentários gerais, devendo incluir em seus pareceres, sugestões cabíveis visando à melhoria de conteúdo e forma do trabalho e decidirão se o mesmo deve ser: a) aprovado; b) recusado; c) aprovado com correções. O artigo com as correções deverá passar por novo processo de avaliação a fim de que possa garantir a publicação. • Os revisores enviam seus comentários e recomendações ao Editor, o qual, preservando o anonimato dos revisores, encaminhará resposta ao autor responsável pelo trabalho, via correio eletrônico; • Os trabalhos aceitos com reformulações serão devolvidos com os devidos pareceres para serem efetuadas as modificações. A aceitação com alterações implicará em que o(s) autor(es) se responsabilize(em) pelas reformulações as quais serão novamente submetidas a outro revisor. • Trabalhos recusados pelos revisores, não serão devolvidos, porém o autor responsável receberá os pareceres com o referido julgamento; • O Editor, de posse dos comentários dos revisores, tomará a decisão final. Caso haja discrepâncias entre os revisores, poderá ser solicitada uma nova opinião para melhor julgamento; • Após a aprovação do trabalho, o autor receberá uma carta de aceite do editor, via e-mail, indicando a data provável e o número da revista prevista para a publicação do artigo. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES a) Ao enviar o material para publicação, o(s) autor(es) está(ão) automaticamente abrindo mão de seus direitos autorais, concordando com as diretrizes editoriais e, além disso, assumindo que o texto foi devidamente revisado; b) Quando o manuscrito for submetido, o autor deve necessariamente apresentar o resumo em inglês (abstract); c) O trabalho deve ser inédito e não ter sido enviado para quaisquer outros órgãos editoriais ou anais de congresso para publicação; Carpe Diem v. 8, n. 8 jan./dez. 2010 179 d) O Conselho Editorial não se responsabiliza pelos conceitos ou afirmações expressos nos trabalhos assinados, que são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). e) A partir de 2011 a Revista Carpe Diem estará disponível apenas no suporte digital on line. Desta maneira os autores não mais receberão os 2 (dois) exemplares do fascículo impresso (até a edição de 2007). Sugere-se ao(s) autore(s_ imprimir(em) a versão em PDF que disponibiliza o formato original da revista. f) O tamanho padrão de impressão da revista é de 260 x 360 mm (aberto). 5 DO ENCAMINHAMENTO DO MANUSCRITO • Cada manuscrito deve indicar o nome de um autor responsável pela correspondência da revista, e seu respectivo endereço, telefone e endereço eletrônico de contato. • O trabalho deve ser enviado ao Editor da revista Carpe Diem, Prof. Francisco de Assis Maia Lima, acompanhado da Carta de Submissão e Declaração de Responsabilidade e Termo de Transferência de Direitos Autorais, para o seguinte endereço: Revista Carpe Diem A/C Prof. Francisco de Assis Maia Lima Rua Orlando Silva, 2897 – Capim Macio CEP 59.080-020 – Natal, RN Tel.: (84) 3235-1421 – E-mail: [email protected] 180 182