N - Arautos em Portugal
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N - Arautos em Portugal
Número 77 Outubro 2009 “Cheia de Graça” A (JOÃO XXIII, Discurso de 2 de outubro de 1960) “Anjo da Guarda” - Paróquia de Almenno San Salvatore, Bérgamo (Itália) Hugo Grados ssim como nesta existência terrena, preocupam-se os pais em colocar junto aos seus filhos alguém que os proteja e ajude nas adversidades, quando eles precisam empreender uma viagem cheia de ciladas e obstáculos; do mesmo modo, o Pai dos céus encarregou os Santos Anjos de solicitamente nos ajudar e proteger durante nossa viagem rumo à Pátria celestial, para cada um de nós poder evitar os ardis, dominar as paixões e, guiados por eles, nunca abandonar a via reta e segura que conduz ao Paraíso. SumáriO Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XI nº 77 - Outubro 2009 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Contemplando Aquela que é “cheia de graça” (Editorial) . . . . . . . . . . . A voz do Papa – Um santo voltado para a formação do clero 4 5 6 Comentário ao Evangelho – O décimo terceiro Apóstolo? ...................... www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] ...................... 10 As Sociedades de Vida Apostólica Arautos do Evangelho ...................... Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Tiragem: 40.000 exemplares 34 38 Aconteceu na Igreja e no mundo 40 De plenitude em plenitude de graça Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. ...................... ...................... 18 Assinatura anual: 24 euros Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) ...................... É o sacerdote que nos dá o Pão Eucarístico ........................ Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 A “secretária” da Divina Misericórdia História para crianças... Só para Te ver... ...................... 24 Os santos de cada dia Arautos no mundo ...................... ...................... 26 Em meio às dificuldades, anunciar o Amor ...................... 46 32 48 As solenes pompas da natureza ...................... 50 E screvem os leitores Distinção conferida pelo Papa A força triunfante da Igreja Após concluir a leitura da matéria A força triunfante da Igreja (Comentário ao Evangelho de junho de 2008) senti que teria peso de consciência se não escrevesse uma palavra de agradecimento ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias, por ter proporcionado uma visualização tão maravilhosa da Palavra de Deus. A afirmação “não há obstáculo que impeça a força triunfante da Igreja, pois ela se identifica com o próprio Reino de Deus e por isso deverá em certo momento conquistar o mundo inteiro” me fez meditar e “acordar” para uma verdade na qual eu nunca tinha prestado atenção, ou melhor, nunca tinha aprendido. Por isso, uno-me aos leitores que vêm testemunhando o papel desta revista para fortalecer a fé dos católicos, ajudando-nos a repetir com a Bíblia: “Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé”. Que a mão poderosa de Jesus e Maria de Nazaré ajude aos arautos que trabalham na revista, e mais ainda ao Mons. João. Juvenal Andrada e Souza Sorocaba – SP Método simples e eficaz de evangelização Felicitações pelo excelente nível desta revista, de agradável apresentação, e pelo material e métodos empregados, de qualidade indiscutível. Eis um método simples e eficaz de evangelização, se permanecerem fiéis às atuais características que esta revista católica se propõe. Encontrome agradavelmente surpreso com o desenvolvimento rápido da Associação. Frére Michel-Marie Abadia Notre Dame de Fontgombault L’Indre – França 4 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Tomamos conhecimento da distinção conferida pelo Santo Padre Bento XVI — a Cruz Pro Ecclesia et Pontifice — ao fundador dos Arautos do Evangelho, o Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, entregue no dia 15 de agosto passado, pelo seu emissário o Emmo. Sr. Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Como colaboradores desta Instituição, sentimo-nos muito felizes e honrados com a notícia, pois tal condecoração, como está dito no texto, foi instituída para distinguir sacerdotes por suas qualidades, virtudes ou méritos, especialmente por seu amor à Santa Igreja e ao Romano Pontífice. Benedito e Anna Rita ia e.mail – Brasilia O que me atrai é tudo! Como expressar o que mais me atrai na revista, se é tudo? Desde o desejo de ver qual será a capa da próxima edição, até a contracapa. Nesta revista lemos e nos nutrimos do Evangelho, explicado por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, nos informamos das notícias da Igreja, das atividades dos Arautos em todo o mundo, e tem até as História para crianças e adultos cheios de fé, que me encantam, e as utilizo para fazer apostolado com meus sobrinhos pequenos. Obrigada, pelo trabalho maravilhoso, a todos os que têm algo a ver com esta revista. Rosanna Ochipinti Assunção – Paraguai “Manjar vindo do Céu” Em minha casa, a revista Arautos do Evangelho é como um “manjar vindo do Céu”. É nela que encontro forças para atravessar o “mar vermelho” do dia-a-dia. O comentário ao Evangelho, feito pelo Mons. João Scognamiglio Clá Dias, é extraordinário! Que homem iluminado! Acho que se São Tomás de Aquino ainda estivesse vivo quereria procurar o Mons. João para também aprender com ele. Todos os meses aguardo ansiosa por esta belíssima obra. Que a Virgem de Fátima, tão divulgada pelos Arautos, nos dê a todos os católicos esta fidelidade sem mácula à Santa Igreja Católica Apostólica Romana que se reflete na revista. Angela Maria da Silva Arapiraca – AL Dedicação incondicional na propagação da Fé Não há dúvida que esta revista Arautos do Evangelho está dedicada incondicionalmente a propagar nossa Fé Católica, a verdade e as últimas notícias e acontecimentos de nossa Igreja. Obrigado a todos os que a preparam. Que a Santíssima Virgem os proteja sempre. René Xavier García Miami – Estados Unidos Ressurgir da inocência primaveril da infância Sempre espero com alegria a chegada da revista. Ela é o meio para estarmos a par do que acontece dentro da Igreja Católica e para nos aprofundarmos nos acontecimentos desta, de tal maneira que nos aproxima mais de Jesus e de Sua Mãe Santíssima. Para mim, os artigos de especial interesse são os que tratam da vida dos santos, já que eles são exemplos a seguir; e as Histórias para crianças..., pois elas fazem ressurgir a inocência primaveril da infância, até mesmo nos adultos. Considero que, em geral, a diversidade dos artigos publicados na revista é um grande tesouro que satisfaz a profundidade dos diferentes gostos e interesses dos leitores. María del Carmen Sierra México D.F. – México Editorial Contemplando Aquela que é “cheia de graça” N 77 Número 2009 Outubro “Cheia de ra G ça” Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Seminário dos Arautos (Foto: César Díez) enhum símbolo mariano possui a força e a expressividade do Rosário. A mais valiosa das imagens, o mais artístico dos afrescos ou o mais afamado dos santuários não chega a atingir a universalidade que possui este singelo objeto de piedade. Onde houver um devoto de Nossa Senhora, junto dele certamente encontraremos o terço, fiel representação de sua união com Maria. A explicação de tal êxito não poderá ser dada, porém, por nenhuma razão meramente humana, mas pela graça divina que se tem mostrado indissociável desta devoção, desde o dia em que a Santíssima Virgem desceu do Céu para revelála a São Domingos de Gusmão, até o presente momento. De fato, ensina o Servo de Deus João Paulo II: “Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor” (Rosarium Virginis Mariæ, n. 1). Além dos benefícios atinentes à salvação eterna e a toda espécie de bens temporais distribuídos àqueles que o recitam, esta devoção nos torna partícipes, já na vida presente, das graças que transbordam de Sua alma. “O Rosário — continua o mesmo Papa — quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã” (Idem, n. 3). E, ao levar-nos a considerar os mistérios da vida do Salvador na perspectiva de Maria Santíssima, nos obtêm méritos muito superiores aos que alcançaríamos a partir da contemplação dos mesmos mistérios, desvinculados dessa oração. Ora, todas essas maravilhas se explicam porque é o Rosário dedicado a uma excelsa criatura que participa de modo admirável da vida divina, e foi por Deus cumulada de dons celestiais. A Mãe de Deus e da Igreja possui a plenitude da graça e o auge da caridade, utilizando-Se de Suas altíssimas prerrogativas para santificar o gênero humano e interceder em seu favor, a fim de que cada um progrida, a Seu exemplo, de graça em graça rumo à perfeição. Embora o mundo convide, por sua agitação e constantes dissipações, a nos afastar desta oração, nada poderá superar os minutos de refrigério e paz que experimentamos ao rezar o terço. Pois quando o recitamos “Maria oferece-nos o Seu coração e o Seu olhar para contemplarmos a vida do Seu Filho, Jesus Cristo” (Bento XVI, Homilia em Lourdes, 13/9/2008). Haverá atrativo terreno comparável a esta recompensa? Neste mês dedicado ao Rosário, a nós cabe uma resposta de fidelidade ao pedido por Maria realizado em Fátima: “Fazei penitência e rezai o Rosário”. Aprofundemos nossa devoção, considerando Aquela que, já desde o início, recebeu a plenitude de graça e progrediu de plenitude em plenitude ao longo de Sua vida, maravilhando o próprio Céu. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 5 A voz do Papa Um santo voltado para a formação do clero Como no tempo de São João Eudes, também hoje se sente a necessidade de que os presbíteros deem testemunho da misericórdia infinita de Deus com uma vida inteiramente “conquistada” por Cristo. C elebra-se hoje a memória litúrgica de São João Eudes, apóstolo incansável da devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, que viveu na França no século XVII, um século caracterizado por fenômenos religiosos contrapostos e também por graves problemas políticos. É o tempo da Guerra dos Trinta Anos, que devastou não apenas uma grande parte da Europa Central, mas arrasou também as almas. A crise da Reforma fora condicionada por uma insuficiente formação dos sacerdotes Enquanto se ia difundindo o desprezo pela Fé cristã por parte de algumas correntes de pensamento então predominantes, o Espírito Santo suscitava uma fervorosa renovação espiritual, com personalidades de elevado relevo, como Bérulle, São Vicente de Paulo, São Luís Maria Grignion de Montfort e São João Eudes. Esta grande “escola francesa” de santidade teve entre os seus frutos também São João Maria Vianney. Por um miste6 Flashes de Fátima · Outubro 2009 rioso desígnio da Providência, no dia 31 de maio de 1925, o meu venerado predecessor Pio XI proclamou santos João Eudes juntamente com o Cura d’Ars, oferecendo à Igreja e ao mundo inteiro dois extraordinários exemplos de santidade sacerdotal. No contexto do Ano Sacerdotal, é-me grato deter-me para ressaltar o zelo apostólico de São João Eudes, particularmente voltado para a formação do clero diocesano. Os santos são a verdadeira interpretação da Sagrada Escritura. Na experiência da vida, os santos verificaram a verdade do Evangelho; assim, eles introduzem-nos no conhecimento e na compreensão do Evangelho. O Concílio de Trento, em 1563, tinha emanado normas para a ereção dos seminários diocesanos e para a formação dos presbíteros, enquanto o Concílio estava consciente de que toda a crise da Reforma fora também condicionada por uma insuficiente formação dos sacerdotes, que não estavam preparados para o sacerdócio de modo justo, intelectual e espiritualmente, no coração e na alma. Isto em 1563; no entanto, dado que a apli- cação e a realização das normas tardavam tanto na Alemanha como na França, São João Eudes viu as consequências desta falta. Impelido pela consciência lúcida da grave necessidade de ajuda espiritual, em que se encontravam as almas inclusive por causa da inadequação de uma boa parte do clero, o santo — que era um pároco — instituiu uma Congregação dedicada de maneira específica à formação dos sacerdotes. Cada presbítero deve ser apóstolo do Coração de Cristo e de Maria Na cidade universitária de Caen, fundou o seu primeiro seminário, experiência mais apreciada do que nunca, que depressa se difundiu a outras dioceses. O caminho de santidade, por ele percorrido e proposto aos seus discípulos, tinha como fundamento uma sólida confiança no amor que Deus revelou à humanidade, no Coração sacerdotal de Cristo e no Coração materno de Maria. Naquela época de crueldade, de perda de interioridade, ele dirigiuse ao coração, para dizer ao coração uma palavra dos Salmos, muito bem L’Osservatore Romano Gustavo Kralj “São João Eudes” Nave principal da Basílica de São Pedro Audiência geral do dia 19 de agosto pp., em Castelgandolfo, onde o Papa Bento XVI comentou, no contexto do Ano Sacerdotal, a festa de São João Eudes. interpretada por Santo Agostinho. Queria chamar as pessoas, os homens e sobretudo os futuros sacerdotes ao coração, mostrando o Coração sacerdotal de Cristo e o Coração materno de Maria. Deste amor do Coração de Cristo e de Maria, cada presbítero tem o dever de ser testemunha e apóstolo. E aqui, chegamos à nossa época. Também hoje se sente a necessidade de que os presbíteros deem testemunho da misericórdia infinita de Deus com uma vida inteiramente “conquistada” por Cristo, e aprendam isto nos anos da sua preparação nos seminários. Ponto de partida para uma autêntica reforma de vida Depois do Sínodo de 1990, o Papa João Paulo II emanou a Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, na qual retoma e atualiza as normas do Concílio de Trento e ressalta, sobretudo, a necessária continuidade entre o momento inicial e o permanente da formação; isto para ele, para nós, é um verdadeiro ponto de partida para uma autêntica reforma da vida e do apostolado dos sacerdotes, e é também o ponto fulcral a fim de que a “nova evangelização” não seja simplesmente apenas um slogan atraente, mas se traduza em realidade. Os fundamentos postos na formação seminarística constituem aquele insubstituível “húmus espiritual” onde “aprender Cristo”, deixandose progressivamente configurar com Ele, único Sumo Sacerdote e Bom Pastor. Por conseguinte, o tempo do Seminário deve ser visto como a atualização do momento em que o Senhor Jesus, depois de ter chamado os Apóstolos e antes de os enviar para pregar, lhes pede para permanecerem com Ele (cf. Mc 3, 14). Quando São Marcos narra a vocação dos doze Apóstolos, diz-nos que Jesus tinha uma finalidade dupla: a primeira era que permanecessem com Ele; a segunda, que fossem enviados para pregar. Mas permanecendo sempre com Ele, realmente anunciam Cristo e levam a realidade do Evangelho ao mundo. Estimados irmãos e irmãs, durante este Ano Sacerdotal convido-vos a rezar pelos presbíteros e por quantos se preparam para receber o dom extraordinário do Sacerdócio ministerial. Dirijo a todos, e assim concluo, a exortação de São João Eudes, que diz aos sacerdotes: “Entregai-vos a Cristo, para entrardes na imensidade do Seu grande Coração, que contém o Coração da Sua Santa Mãe e de todos os Santos, e para vos perderdes neste abismo de amor, caridade, misericórdia, humildade, pureza, paciência, submissão e santidade” (Cœur admirable, III, 2). Neste sentido, agora cantemos juntos o Pai-Nosso em latim. (Audiência Geral em Castelgandolfo, 19/8/2009) Outubro 2009 · Flashes de Fátima 7 L’Osservatore Romano A criação está confiada à responsabilidade do homem Para poder transmitir às novas gerações uma terra em que habitem de maneira digna, é indispensável desenvolver aquela aliança entre ser humano e ambiente, que deve ser espelho do amor criador de Deus. O s diferentes fenômenos de degradação ambiental e as calamidades naturais que infelizmente, não raro, a crônica registra, evocam-nos a urgência do respeito devido à natureza, recuperando e valorizando, na vida de todos os dias, uma relação correta com o meio ambiente. No que se refere a estes temas, que suscitam a justa preocupação das autoridades e da opinião pública, vai-se desenvolvendo uma nova sensibilidade, que se exprime na multiplicação de encontros, também no plano internacional. O mau uso da Criação começa onde Deus é marginalizado ou se nega Sua existência A Terra é um dom precioso do Criador, que delineou os ordenamentos intrínsecos, indicando-nos assim os sinais orientativos que devemos respeitar como administradores da Sua criação. É precisamente a partir desta consciência que a Igreja considera as questões ligadas ao meio ambiente e à sua salvaguarda intimamente vinculadas ao tema do desenvolvimento humano integral. Referi-me várias vezes a estas questões na minha última Encíclica, Caritas in veritate, evocando a “urgente necessidade 8 Flashes de Fátima · Outubro 2009 moral de uma renovada solidariedade” (n. 49), não apenas nas relações entre os países, mas também entre os homens individualmente, porque o ambiente natural é oferecido por Deus a todos, e o seu uso comporta uma nossa responsabilidade pessoal por toda a humanidade, de modo particular pelos pobres e as gerações futuras (cf. ibidem, n. 48). Sentindo a comum responsabilidade pela criação (cf. ibidem, n. 51), a Igreja não apenas está comprometida em promover a defesa da terra, da água e do ar, oferecidos pelo Criador a todos, mas sobretudo compromete-se em proteger o homem contra a destruição de si mesmo. Com efeito, “quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental” (Ibidem). Não é porventura verdade que o uso desconsiderado da criação começa lá onde Deus é marginalizado ou onde se chega a negar até a Sua existência? Se vier a faltar a relação da criatura humana com o Criador, a matéria fica reduzida a uma posse egoísta, o homem torna-se “a última instância”, e a finalidade da existência reduz-se a ser uma corrida ofegante para possuir quanto mais possível. O homem é chamado a conservar, fazer frutificar e cultivar a natureza Portanto, a criação, matéria estruturada de modo inteligente por Deus, está confiada à responsabilidade do homem, que é capaz de a interpretar e de a voltar a modelar ativamente, sem se considerar seu senhor absoluto. Ao contrário, o homem é chamado a exercer um governo responsável para a conservar, fazer frutificar e cultivar, encontrando os recursos necessários para uma existência digna de todos. Com a ajuda da própria natureza e com o empenho do seu trabalho e da sua inventiva, a humanidade é verdadeiramente capaz de cumprir o grave dever de transmitir às novas gerações uma terra que, também elas por sua vez, poderão habitar de maneira digna e cultivar ulteriormente (cf. Caritas in veritate, n. 50). Para que isto se realize, é indispensável o desenvolvimento “daquela aliança entre ser humano e ambiente, que deve ser espelho do amor criador de Deus” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz - 2008, n. 7), reconhecendo que todos nós derivamos de Deus e rumo a Ele estamos todos a caminho. A salvaguarda do meio ambiente exige ação conjunta Então, como é importante que a comunidade internacional e os governos individualmente saibam oferecer os sinais justos aos próprios cidadãos, para contrastar de modo eficaz as modalidades de utilização do meio ambiente que lhe sejam prejudiciais! Os custos econômicos e sociais, derivados do uso dos recursos ambientais comuns, reconhecidos de maneira transparente, devem ser assumidos por aqueles que os usufruem, e não por outras populações, nem pelas gerações futuras. A salvaguarda do meio ambiente, a tutela dos recursos e do cli- ma exigem que os responsáveis internacionais ajam de forma conjunta, no respeito pela lei e pela solidariedade, principalmente em relação às regiões mais débeis da terra (cf. Caritas in veritate, n. 50). Em conjunto, podemos construir um desenvolvimento humano integral, em benefício dos povos, presentes e futuros, um desenvolvimento inspirado nos valores da caridade na verdade. A fim de que isto se verifique, é indispensável transformar o atual modelo de desenvolvimento global numa tomada de responsabilidade, maior e mais compartilhada em relação à criação: exigem-no não só as emergências ambientais, mas inclusive o escândalo da fome e da miséria. Estimados irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor e façamos nossas as palavras de São Francisco, no Cântico das criaturas: “Senhor altíssimo, onipotente e bom, Teus são os louvores, a glória, a honra e todas as bênçãos... Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as Tuas criaturas”. Assim rezava São Francisco. Também nós queremos orar e viver no espírito destas palavras. (Audiência Geral em Castelgandolfo, 26/8/2009) A Eucaristia e o “sim” de Maria Deus assumiu de Maria o corpo humano para entrar na nossa condição mortal. Por sua vez, no final da existência terrena, o corpo da Virgem foi assumido no Céu por Deus. N o evangelho deste domingo, Jesus apresenta-se como o “Pão Vivo”, isto é, o alimento que contém a própria vida de Deus e é capaz de a comunicar a quem come d’Ele, o verdadeiro alimento que dá a vida, alimenta realmente em profundidade. Jesus diz: “Se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que Eu hei de dar é a minha carne pela vida do mundo” (Jo 6, 51). Pois bem, de quem assumiu o Filho de Deus esta sua “carne”, a sua humanidade concreta e terrena? Assumiu-a da Virgem Maria. Deus assumiu dela o corpo humano para entrar na nossa condição mortal. Por sua vez, no final da existên- cia terrena, o corpo da Virgem foi assumido no Céu por Deus e feito entrar na condição celeste. É uma espécie de intercâmbio, na qual Deus tem sempre a iniciativa plena mas, como vimos noutras ocasiões, num certo sentido, tem também necessidade de Maria, do “sim” da criatura, da sua carne, da sua existência concreta, para preparar a matéria do seu sacrifício: o corpo e o sangue, para oferecer na Cruz como instrumento de vida eterna e, no Sacramento da Eucaristia, como alimento e bebida espirituais. Queridos irmãos e irmãs, o que aconteceu em Maria, é realmente válido, de outros modos, também para cada homem e mulher, porque a ca- da um de nós Deus pede para o acolher, para pôr à sua disposição o nosso coração e o nosso corpo, toda a nossa existência, a nossa carne — diz a Bíblia — para que Ele possa habitar no mundo. Chama-nos a unirnos a Ele no Sacramento da Eucaristia, Pão partido para a vida do mundo, para formarmos juntos a Igreja, o Seu Corpo histórico. E se dizemos sim, como Maria, aliás, na mesma medida deste nosso “sim”, realiza-se também para nós e em nós este maravilhoso intercâmbio: somos assumidos na divindade d’Aquele que assumiu a nossa humanidade. (Excerto das palavras após o “Angelus”, em Castelgandolfo, 16/8/2009) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Outubro 2009 · Flashes de Fátima 9 Comentário ao Evangelho - XXVIII Domingo do Tempo Comum O décimo terceiro Apóstolo? Aquele que chegara correndo e se ajoelhara sôfrego diante de Nosso Senhor, retirou-se triste e abatido de Sua presença. Preferiu conservar os seus bens terrenos, desprezando — fato inédito no Evangelho — o “tesouro no Céu” oferecido pelo próprio Deus. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – Fomos criados com uma vocação Desde toda a eternidade, esteve prevista na mente divina a criação, no tempo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem,1 e de Sua Mãe, Maria Santíssima.2 Mas Deus não concebeu ambos isoladamente. Queria Ele que, à maneira de uma corte, houvesse quem os servisse. Todos nós estávamos incluídos nesse ato de pensamento e fomos amados por Ele como foi revelado a Jeremias: “Eu amo-te com eterno amor, e por isso a ti estendi o meu favor” (Jr 31, 3). Nosso Senhor é o modelo tomado por Deus para a nossa criação, é Ele a nossa causa exemplar. Havendo de tornar possível, por Seus méritos, a nossa existência enquanto filhos de Deus, pois “todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça” (Jo 1, 16), constitui-Se em nossa causa eficiente. E, por termos sido criados para servi-Lo e adorá-Lo, é também a nossa causa final. Fomos, em suma, concebidos em, por e para Jesus, pois “nEle foram criadas todas as coisas nos Céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1, 16). Isto configura um chamado feito a nós desde todo o sempre, tal como afirma o Apóstolo: “Deus nos salvou e 10 Flashes de Fátima · Outubro 2009 chamou para a santidade, não em atenção às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio, da graça que desde a eternidade nos destinou em Cristo Jesus” (II Tm 1, 9). Deus nos convida a fazer parte da Santa Igreja, e nos chama à santidade. Mas, junto com esse apelo genérico, somos chamados a exercer uma função específica dentro do Corpo Místico de Cristo. É uma missão que cada um tem particularmente e não será dada a mais ninguém. O Novo Testamento nos apresenta inúmeros exemplos no chamado feito pelo próprio Jesus aos escolhidos para serem Seus Apóstolos: vê Mateus na coletoria de impostos e lhe diz: “Segue-Me” (Mt 9, 9); no caminho de Damasco, São Paulo é lançado por terra e, ao ouvir a voz que o interpelava, responde: “Senhor, que quereis que eu faça?” (At 9, 6); cheio de pasmo após a pesca milagrosa, Pedro se prosterna diante do Mestre, exclamando: “Retira-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”, e escuta a divina promessa: “Doravante, serás pescador de homens” (cf. Lc 5, 8-10). Tal como Mateus, Paulo ou Pedro, que tudo abandonaram imediatamente para seguir o Mestre, precisamos responder com prontidão, generosidade e alegria ao chamado que Jesus faz a cada um de nós. a Evangelho A “Tendo Ele saído para Se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dEle, suplicou-Lhe: ‘Bom Mestre, que farei para alcançar a vida eterna?’. 18 Jesus disse-lhe: ‘Por que Me chamas bom? Só Deus é bom. 19 Conheces os Mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’. 20 Ele respondeu-Lhe: ‘Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade’. 21 Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: ‘Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me’. 22 Ele entristeceuse com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens. 23 E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: ‘Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!’. 24 Os discípulos ficaram 17 assombrados com Suas palavras. Mas Jesus replicou: ‘Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 25 É mais fácil passar o camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus’. 26 Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: ‘Quem pode então salvarse?’. 27 Olhando Jesus para eles, disse: ‘Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível’. 28 Pedro começou a dizer-Lhe: ‘Eis que deixamos tudo e Te seguimos’. 29 Respondeu-lhe Jesus. ‘Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de Mim e por causa do Evangelho 30 que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna’” (Mc 10, 17-30). Pórtico do Mosteiro de Montserrat, Barcelona (Espanha) Gustavo Kralj Desde toda a eternidade, esteve prevista na mente divina a criação, no tempo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem, e de sua Mãe, Maria Santíssima “Nossa Senhora com o Menino Jesus”, por Maestro della Pradella Museu Amadeo Lia, La Spezia (Itália) Pelo fato de vir “correndo” ao encontro de Nosso Senhor, podemos supor o quanto esse “alguém” estava sôfrego de obter aquilo que ia pedir Este é o ensinamento contido no Evangelho do 28º Domingo do Tempo Comum, como veremos a seguir. II – O episódio do jovem rico São Marcos, tão sintético em outras passagens, mostra-se minucioso ao narrar o episódio do jovem rico. Já o primeiro versículo contém interessantes pormenores dignos de especial atenção. “Tendo Ele saído para Se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dEle, suplicou-Lhe: ‘Bom Mestre, que farei para alcançar a vida eterna?’”. 17 Procura sôfrega do caminho da salvação Pelo fato de vir “correndo” ao encontro de Nosso Senhor, podemos supor o quanto esse “alguém” estava sôfrego de obter aquilo que ia pedir. Certamente ouvira a pregação de Jesus e, sob o impulso de uma graça sensível, deixou-se arrebatar por Seus divinos ensinamentos. Almejando, de um lado, alcançar a vida eterna e, de outro, não tendo a certeza de merecê-la, sentiu no fundo da alma ser Jesus capaz de mostrar-lhe com segurança o caminho da salvação. A própria pergunta feita por ele ao Salvador, fala neste sentido, pois, como aponta Didon, ela “revelava uma natureza superior e uma alma sincera. As doutrinas da escola sobre o mérito das obras legais, sobre a santidade pela virtude dos ritos, não satisfaziam sua consciência; certamente ouviu o Mestre falar da vida eterna com uma acentuação que o tinha penetrado”.3 12 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Daí o fato de ele correr até Jesus, ajoelhar-se e chamá-Lo de “Bom Mestre”, um qualificativo alheio aos costumes e gentilezas correntes na época. “Não se conhece exemplo de que alguém tenha chamado assim um rabino”, comenta Lagrange, acrescentando que essa saudação “ultrapassava os hábitos de cortesia então vigentes”.4 É também interessante destacar o teor da pergunta, tão diferente dos temas sobre os quais se conversa hoje em dia. Naquela época, as pessoas se preocupavam em saber como ganhar o Reino dos Céus. E nos dias de hoje?... Sobre a pressa do jovem, observa Fillion: “Corria para não perder aquela ocasião de fazer ao Salvador uma pergunta que muito o preocupava”.5 Duquesne elogia essa atitude e a propõe como exemplo: “É com este fervor de espírito e esta rapidez de corpo, esta presteza e esta alegria espiritual que se deve ir a Jesus”.6 Jesus o ama e faz-lhe um convite: “Vem e segue-Me” “Jesus disse-lhe: ‘Por que Me chamas bom? Só Deus é bom’”. 18 Esta resposta causa perplexidade à primeira vista, mas logo se compreendem as divinas razões que levaram Nosso Senhor a dá-la. Não visava o Messias repreendê-lo, mas sim chamar sua atenção para esta realidade: só Deus é a Bondade e, portanto, bondade absoluta só há em Deus. Santo Efrém ensina a este respeito que Cristo “recusa o título de ‘bom’, dado por um homem, para indicar que Ele tinha essa bondade adquirida do Pai, por natureza e geração, que não a tinha simplesmente de nome”.7 Ao chamá-Lo de “Bom Mestre”, o jovem rico mostrava ver principalmente o lado humano do Messias: sua inteligência, capacidade e sabedoria naturais. Ora, Jesus quer que ele O considere não só como homem, mas sobretudo como Deus. E por isso o interpela: “Por que Me chamas bom?”. Com essa pergunta, o convida a dar um passo a mais, como quem diz: “Estás vendo só o meu lado humano, contempla também o divino. No fundo, sem te dar conta, estás Me atribuindo uma divindade que de fato tenho, porque sou Deus. Mas toma consciência disto, compreende esta realidade com clareza e, compreendendo, ama-a ainda mais”. Este convite é suave e altamente didático, como afirma o padre Duquesne: “Jesus apenas insinua-lhe que ele não tem a Seu respeito a noção inteira que deveria ter; e, dizendo-lhe que tal título convém somente a Deus, leva-o a entender que deveria considerar como Filho de Deus Aquele a quem ele o dá, e não como um mestre simplesmente humano”.8 “‘Conheces os Mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’. 20 Ele respondeu-lhe: ‘Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade’”. 19 Nova mostra da divindade de Jesus nos dá este versículo. Ele não pergunta ao jovem se conhece os Mandamentos, mas o afirma com certeza. A quem agora via com Seus olhos humanos, já conhecia, enquanto Deus, desde toda a eternidade. E sabia que ele praticava a virtude, observando a Lei. “Ele entristeceu-se com estas palavras e foise todo abatido, porque possuía muitos bens” “O moço rico” - Litografia de Caspar Luiken publicada em “Historiæ celebriores Veteris Testamenti iconibus representatæ” (1712) da uma recompensa infinita: “terás um tesouro no Céu”. Cabia-lhe responder a esse chamado com inteira alegria e prontidão, como haviam feito Simão, Levi e tantos outros. “Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disselhe: ‘Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me’”. A causa mais profunda da recusa Cristo olhou-o com amor e fez-lhe o mesmo convite que fizera aos Apóstolos: “Vem e segueMe”. Comenta Fillion: “Portanto, estava Jesus disposto a admitir esse jovem entre os Seus discípulos íntimos, com os quais, seguindo-O por toda parte e em companhia do melhor e mais santo dos mestres, poderia adquirir sem tardança a perfeição pela qual conseguiria facilmente o Céu”.9 E Maldonado corrobora essa opinião: “Que entende Cristo por ‘vem e segue-Me’? A palavra ‘vem’ parece exprimir, mais do que a simples imitação, o seguimento material: convida-o a fazer parte de seus Apóstolos e familiares”.10 Àquele homem, que praticava os Mandamentos, havia Deus reservado desde toda a eternidade a altíssima vocação de seguir Jesus. Para cumpri-la, era-lhe pedida uma renúncia: “Vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres”; e ofereci- Entretanto, o mesmo que chegara correndo e se ajoelhara sôfrego diante de Nosso Senhor, retirou-se triste e “abatido”, porque “possuía muitos bens” e preferiu conservá-los a seguir sua vocação, desprezando o “tesouro no Céu” que o próprio Messias lhe oferecera. Fato inédito, pois os Evangelistas não narram recusa semelhante a esta. Não pensemos, entretanto, ter sido o apego às riquezas a principal causa de sua defecção. O jovem rico praticara os Mandamentos desde sua infância, mas não na perfeição. Negligenciara, sobretudo, o primeiro e mais fundamental: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5). Como bem observa o conhecido biblista M. J. Lagrange, os preceitos mencionados a ele por Nosso Senhor “bem podem ser observados sem heroísmo. Se Jesus 21 “Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens”. 22 Outubro 2009 · Flashes Jesus quer que ele O considere não só como homem, mas sobretudo como Deus, e por isso o interpela de Fátima 13 III – Só os pobres de Espírito entrarão no Reino dos Céus ça nos bens terrenos, antepondo-os aos bens superiores. Sobre este particular, esclarece Fillion: “Não se trata aqui dos ricos enquanto tais, pois a posse dos bens temporais não é, de si, um estado de pecado nem causa de condenação, embora ofereça sérios perigos. Jesus não exclui de Seu Reino senão aqueles ricos que se apegam às suas riquezas e nelas põem — digamos assim — sua finalidade e todo o seu afeto”.13 Como valer-se da riqueza para alcançar a vida eterna A finalidade última do homem está no Céu. O dinheiro e as riquezas podem ser apenas meios — efêmeros, instáveis e dispensáveis — para alcançar esse supremo fim. Assim, é legítimo acumular bens e deles usufruir, desde que sejam adquiridos de forma lícita e seu uso esteja subordinado à glória de Deus. Nesta linha se insere o comentário feito por São Clemente de Alexandria a esta passagem do “E, olhando Jesus em derredor, disse a Seus discípulos: ‘Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!’. 24 Os discípulos ficaram assombrados com Suas palavras. Mas Jesus replicou: ‘Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 25 É mais fácil passar o camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus’”. 23 Neste último versículo, Nosso Senhor Se serve de um provérbio utilizado pelos judeus para expressar algo extremamente difícil e quase impossível. Recorre propositalmente a essa comparação na aparência exagerada — “é mais fácil passar o camelo pelo buraco de uma agulha...” — para mostrar a gravidade da “desordem própria dessa paixão, consistente em apegar o coração à terra, endurecê-lo no que diz respeito a Deus e ao próximo, torná-lo insensível às coisas do Céu”.12 Para bem analisar essas palavras de Jesus, é preciso começar por evitar a interpretação errada, segundo a qual todo rico estaria condenado e todo pobre, ao contrário, estaria no caminho certo para a salvação. Pois o Mestre não se refere aqui à riqueza material, mas sim ao desvio que leva o homem a depositar sua confian- 14 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Gustavo Kralj É preciso evitar a interpretação errada segundo a qual todo rico estaria condenado e todo pobre no caminho certo para a salvação lhe tivesse perguntado se amava a Deus de todo o coração, teria ficado bem mais incomodado”.11 O grande pecado desse homem não foi, portanto, de avareza, mas sim de orgulho. Ao ser convidado a seguir Nosso Senhor e sentir em si a própria debilidade e insuficiência, deveria ter dito: “Senhor, não tenho forças para seguir-vos. Tenho apego a minhas riquezas e, sobretudo, faltame amor exclusivo por Vós”. Perante esse ato de humildade, Jesus lhe teria dado graças superabundantes para corresponder ao chamado. E bem poderíamos ter hoje no Calendário Romano uma festa dedicada ao jovem rico, que se tornou pobre para adquirir uma riqueza muito maior: o décimo terceiro Apóstolo! Entretanto, faltou-lhe reconhecer que, se praticava os Mandamentos, não era por suas próprias forças, mas pela graça divina. E que, portanto, sem o auxílio da graça, não conseguiria desprezar as riquezas e seguir Jesus. Homens e mulheres houve na História que possuíram muitos bens e agora gozam da bem-aventurança eterna “São Luís, Rei de França” - Igreja de Santo Eustáquio, Paris Evangelho: “A parábola ensina aos ricos que não devem descuidar-se de sua salvação eterna, como se de antemão dela se desesperassem, não que seja preciso jogar ao mar a riqueza, nem condená-la como insidiosa e inimiga da vida eterna. O que importa é saber qual a maneira de valer-se dela para possuir a vida eterna”.14 Com efeito, quantos reis, príncipes ou simples pessoas abastadas que, administrando o que tinham com inteiro desprendimento, encontramse hoje no Céu como atesta o catálogo dos santos? Por outro lado, quantos pobres há que se recusam a praticar a virtude! Bem fariam estes em ouvir a conclamação de São Cesário de Arles: “Ricos e pobres, escutai o que diz Cristo. Falo ao povo de Deus. Em vossa maioria, sois pobres ou deveis aprender a sê-lo. No entanto, escutai, pois podemos inclusive nos vangloriarmos de ser pobres; tende cuidado com a soberba, não aconteça que os ricos humildes vos superem; acautelai-vos contra a impiedade, não aconteça que os ricos piedosos vos deixem para trás”.15 O problema não está, portanto, na quantidade de bens materiais possuídos por alguém, mas no uso que deles se faz. Para poder entrar no Reino dos Céus, é preciso não ter apego algum a eles. A pobreza de espírito consiste em nos compenetrarmos que somos criaturas contingentes, que dependem de Deus. Pode-se lutar para se ter recursos, mas com vistas a espalhar o Reino de Deus, e fazer com que Ele reine de fato em todos os corações. Por nosso simples esforço, jamais conquistaremos o Céu “Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: ‘Quem pode então salvar-se?’. 27 Olhando Jesus para eles, disse: ‘Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível’”. 26 Não é de estranhar o espanto dos discípulos perante a força da comparação usada por Nosso Senhor. Mas essa mesma perplexidade os leva a considerar melhor a própria contingência e a fixar no espírito o duplo ensinamento do Divino Mestre: pelos seus simples esforços, o homem jamais conseguirá conquistar o Céu; mas aquilo que para o homem é impossível, não o é para Deus. Deus é onipotente, ama-nos desde toda a eternidade e está desejoso de abrir-nos as portas do Céu. Para nele entrar, é preciso apenas que sejamos humildes e reconheçamos nossas misérias, pedindo o auxílio divino, sem desanimar. A salvação, como a própria vida, é uma dádiva de Deus. É Sua graça que nos dá forças para praticar os Mandamentos e nos torna dignos de entrar no Seu Reino. Não façamos, pois, como o moço rico, mas confiemos humildemente na Sua bondade, como ensina São Paulo na segunda leitura deste domingo: “Aproximemo-nos confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno” (Hb 4, 16). Ainda sobre estes dois versículos, convém notar, com Maldonado, que a pergunta “quem pode então salvar-se?”, os Apóstolos a fizeram “a si próprios”, isto é, somente eles puderam ouvi-la. Cristo, entretanto, olhou para eles e deu-lhes a resposta, mostrando assim que “lia seus pensamentos e ouvia suas conversas, por mais reservadas que fossem”.16 O cêntuplo já neste mundo “Pedro começou a dizer-Lhe: ‘Eis que deixamos tudo e Te seguimos’. 29 Respondeu-lhe Jesus: ‘Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de Mim e por causa do Evangelho 30 que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna’”. 28 Talvez pelo fato de se sentirem apanhados, São Pedro, impulsivo porta-voz de todas as perplexidades dos Apóstolos, formula uma frase que, no dizer de Lagrange, “resume todo o episódio precedente, do ponto de vista dos discípulos”.17 Segundo Maldonado — o qual segue a opinião de Orígenes, São Jerônimo e São João Crisóstomo — quis Pedro, com sua afirmação, lembrar a Cristo o fato de terem os Apóstolos já cumprido anteriormente aquilo que era agora pedido ao jovem rico.18 No mesmo sentido se pronuncia Lagrange, observando que a afirmação do Príncipe dos Apóstolos foi feita “com uma certa satisfação que parece solicitar uma aprovação”.19 Mas caberia perguntar, com Maldonado: “Por que, então, duvidava? Por que não creu firmemente que também para eles havia um tesouro no Céu?”. Ao que ele próprio responde: “Talvez porque penOutubro 2009 · Flashes “Jesus não exclui de Seu Reino senão aqueles ricos que se apegam às suas riquezas e nelas põem sua finalidade e todo o seu afeto” de Fátima 15 No fundo da afirmação de Pedro havia uma desconfiança e uma objeção 1 sassem que Cristo prometia tão grande recompensa àquele jovem por causa das muitas riquezas que este devia abandonar; ora, como os Apóstolos possuíam apenas coisas de pouco valor, esperavam receber algo, sim, mas não se atreviam a esperar tanto; por isso perguntam como e quanto será”.20 No fundo da afirmação de Pedro havia uma desconfiança e uma objeção. Jesus, entretanto, não os repreende. Sendo a Bondade em essência, Ele os trata com carinho e acrescenta, ao prêmio da vida eterna no Céu, uma recompensa ainda aqui na terra. Comentam certos autores que o Senhor, fazendo essa promessa, quis afirmar que quem por causa dEle deixar os bens desta terra, receberá em troca bens de valor infinito. Ou seja: quem por Ele abandonar aquilo que é “carnal”, receberá em troca o prêmio do bem “espiritual”. Parece-nos, entretanto, que as palavras do versículo 30 — “já neste século” — tornam claro o caráter terreno dessa recompensa, cuja efetivação concreta na era apostólica é assim assinalada por Fillion: “Nos primórdios da Igreja, quando tão amiúde os neófitos precisavam romper os mais estreitos laços de família para se alistarem no serviço de Cristo, encontravam eles na grande comunidade cristã irmãos e irmãs, pais e mães que lhes suavizavam os padecimentos causados por uma violenta separação e enchiam de consolo seus doloridos corações”.21 Sob uma perspectiva mais atemporal, assinala o padre Didon que o Espírito divino “não só traz a todos aqueles que invisivelmente O recebem o antegozo dos bens celestiais, eternos, infinitos, mas, além disso, exalta ainda a vida deste mundo, aumenta seus recursos, harmoniza as AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica. III q. 24, a. 1, resp. “A predestinação propriamente dita é a eterna pré-ordenação divina com relação às coisas que, pela graça de Deus, devem realizar-se no tempo. Ora, pela graça da união, Deus fez com que, no tempo, o homem fosse Deus e Deus fosse homem. E não se pode afirmar que Deus não tenha pré-ordenado desde a eternidade que Ele faria isso no tempo, porque daí se seguiria que algo de novo poderia acontecer para o entendimento divino. Por isso é preciso afirmar que a união das naturezas na pessoa de Cristo entra na predestinação eterna de Deus”. 2 JOÃO PAULO II. Encíclica Redemptoris Mater, n. 8. “No mistério de Cristo, Maria está presente já ‘antes da criação do mundo’, como aquela a quem o Pai ‘escolheu’ para Mãe do seu 16 Flashes de Fátima · Outubro 2009 suas energias, transfigura todos os seus atos. Entre os seres eleitos que este Espírito aproxima, formam-se laços mais íntimos, mais profundos, mais doces que entre aqueles que são parentes do mesmo sangue”.22 E o padre Fernández Truyols, referindo-se especificamente às pessoas que correspondem à vocação religiosa e fazem a entrega completa de si mesmas, comenta: “O sacrifício dos bens terrenos terá sua recompensa já nesta vida. E não só em vantagens exclusivamente espirituais, mas também em bens temporais, embora num plano superior ao puramente material. Quem se despoja de tudo para seguir Cristo Jesus receberá da Divina Providência, quiçá com acréscimo e superabundantemente, o quanto necessitar para sua subsistência. Deixa seu pai e sua mãe, e Deus dá-lhe pais e mães que o adotam como um filho muito querido. Donzelas na flor da juventude renunciam à maternidade, e Deus as faz mães não de alguns, mas de inumeráveis filhos, nos quais derramam todas as ternuras de um coração verdadeiramente maternal”.23 IV – Uma pergunta decisiva para nossa vida espiritual Somos todos “participantes da vocação celestial” (Hb 3, 1). Contudo, enquanto Jesus nos chama a segui-Lo a caminho do Reino de Deus, as nossas tendências desordenadas em consequência do pecado original nos arrastam para aquilo que é inferior. Exemplo paradigmático dessa dicotomia é o episódio do Evangelho que acabamos de comentar. O jovem rico era bom. Praticava os Mandamentos a ponto de Nosso Senhor o fitar com amor. Quando, porém, o Mestre o convi- Filho na Encarnação — e, conjuntamente ao Pai, escolheu-a também o Filho, confiando-a eternamente ao Espírito de santidade. Maria está unida a Cristo, de um modo absolutamente especial e excepcional; e é amada neste ‘Filho muito amado’ desde toda a eternidade, neste Filho consubstancial ao Pai, no qual se concentra toda ‘a magnificência da graça’”. 3 DIDON, OP, Pe. Henri. Jesus Christo. Porto: Chardron, 1895, p. 381. 4 LAGRANGE, OP, Pe. M.J. Évangile selon Saint Marc. Paris: Lecoffre, 1929, p. 264. 5 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Rialp, v. 2, p. 429. 6 DUQUESNE. L’Évangile médité. Paris-Lyon: Perisse Frères, 1849, p. 266. 7 8 9 SAN EFRÉN DE NISIBE, Comentario al Diatessaron, 15, 210 apud ODEN, Thomas C. e HALL, Cristopher A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento 2 San Marcos. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p. 199. DUQUESNE. Op. cit., p. 267. FILLION. Op. cit., p. 431. 10 MALDONADO, SJ, Pe. Juan de. Comentarios a los Sergio Hollmann dou a ser um dos Seus discípulos, afastou-se triste e abatido, pois sempre que alguém recusa um convite da graça, é pervadido pela tristeza e pelo remorso. O padre Duquesne descreve com notável clareza essa lamentável situação de alma: “Ninguém renuncia à sua vocação sem uma dor de coração, sem uma secreta tristeza que increpa sua covardia, tristeza que difunde amargura ao longo de todo o curso da vida e aumenta na hora da morte”.24 A liturgia deste domingo nos coloca, assim, diante de uma pergunta decisiva para nossa vida espiritual: a que distância se encontra nossa alma da atitude do moço rico? Se Cristo nos convidasse hoje a segui-Lo, como Lhe responderíamos? Bradaríamos com alegria, como Samuel: “Præsto sum” (I Sm 3, 16) – “Eis-me aqui”? Ou, tomados pela tristeza, recusaríamos o convite de nosso Salvador? Quando chegar esse chamado — e ele pode vir em hora inesperada —, seremos muito mais capazes de dar resposta afirmativa se nos tivermos preparado previamente. Para isso, é necessário que, em todas as circunstâncias da vida, nosso coração esteja à procura do Divino Mestre, combatendo o apego aos bens terrenos, aumentando sem cessar o fogo do amor a Deus e fazendo a pergunta de São Paulo no caminho de Damasco: “Senhor, que quereis que eu faça?” (At 9, 6). A isto nos incita o Príncipe dos Apóstolos: “Irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição. Procedendo deste modo, não tropeçareis jamais. Assim vos será aberta largamente a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pd 1, 10-11). A que distância se encontra nossa alma da atitude do moço rico? Se Cristo nos convidasse hoje a segui-Lo, como Lhe responderíamos? cuatro evangelios – I Evangelio de San Mateo. Madrid: BAC, 1950, p. 692. "Sagrado Coração de Jesus" Igreja de Nossa Senhora de Loreto, Lisboa 15 CESÁREO DE ARLES, Sermo 153, 156 apud ODEN e HALL. Op. cit., p. 202. 11 LAGRANGE, OP. Op. cit., p. 266. 16 MALDONADO, SJ. Op. cit., p. 695. 12 DUQUESNE. Op. cit., p. 273. 17 LAGRANGE, OP. Op. cit., p. 271. 13 FILLION. Op. cit., p. 431. 18 14 CLEMENTE DE ALEJANDRÍA. Quis dives salvetur? c. XXVII. Cf. MALDONADO, SJ. Op. cit., p. 695. 19 LAGRANGE, OP. Op. cit., p. 271. 20 MALDONADO, SJ. Op. cit., p. 695. 21 FILLION. Op. cit., p. 433. 22 DIDON, OP. Op. cit., p. 385. 23 FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: BAC, 1954, p. 482. 24 DUQUESNE. Op. cit., p. 270-271. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 17 De plenitude em Já no princípio de Sua existência, Nossa Senhora teve uma plenitude de graças que sobrepuja o píncaro atingido pelos maiores santos. Na Anunciação, recebeu um segundo grau de plenitude, para tornar-Se Mãe de Deus. E Sua Assunção ao Céu pode ser vista como o fastígio da graça que se consuma na glória. Irmã Carmela Werner Ferreira, EP S Foi um Anjo de elevadíssima hierarquia o mensageiro escolhido para anunciar a Maria a chegada da plenitude dos tempos Anunciação, do Beato Angélico - Museu de São Marcos - Florença (Itália) 18 Flashes de Fátima · Outubro 2009 anta Teresinha do Menino Jesus, a jovem Doutora da Igreja e glória do Carmelo, ainda nos dias de sua infância deparou-se com uma questão teológica que a deixou intrigada. Movida pelo desejo de compreender os desígnios do “bom Deus”, apresentou à sua irmã Paulina esta perplexidade: “Admirava-me, certa vez, que no Céu Deus não dê uma glória igual a todos os eleitos [...]. Então, Paulina disse-me que fosse buscar o grande copo de papai e o colocasse ao lado do meu dedalzinho, e enchesse ambos de água. Em seguida, perguntou-me qual deles estava mais cheio. Disse-lhe que os dois estavam cheios, e que era impossível pôr mais água, acima de sua capacidade. Minha querida mãe fez-me então compreender que no Céu Deus dará aos seus eleitos tanta glória quanta cada qual poderá receber”.1 Exemplo de sabedoria cristã, esta resposta de Paulina — que depois, no Carmelo de Lisieux, seria a Madre Inês de Jesus — não apenas responde à indagação da santa criança, mas descortina, ao mesmo tempo, um aspecto verdadeiramente admirável da conduta divina para com os homens: a diversidade com que são distribuídas as graças em medidas peculiares, para almas aptas a recebê-las em diferentes graus. A desigualdade dos seres, sinal da bondade de Deus É São Tomás de Aquino quem nos esclarece acerca da razão dessa diversidade nas obras divinas: “Deus produziu as coisas no ser para comunicar sua bondade às criaturas, bondade que elas devem representar. [...] Ele produziu criaturas múltiplas e diversas, a fim de que o que falta a uma para representar a bondade divina seja suprido por outra. Assim, a bondade que está em Deus de modo absoluto e uniforme está nas criaturas de forma múltipla e distinta”.2 plenitude de graça Maravilha na ordem sobrenatural Precisamente por serem dotados de inteligência, vontade e sensibilidade, coube a eles uma parcela excelente dos dons outorgados por Deus, que é a vida da graça. Isso lhes foi concedido porque a natureza humana deve estar impostada “a um fim único, conforme uma ordem única”,5 que é a glória voluntária e consciente prestada ao Criador: o homem “é chamado, por graça [...] a oferecer-Lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar”.6 Nesta perspectiva, e como obraprima de munificência, o Senhor houve por bem realizar uma maravilha na ordem sobrenatural ao eleger para Si próprio uma Mãe, fazendo-A participar de modo admirável da vida divina e cumulando-A, o máximo possível, de dons celestiais. Tão portentosa foi esta predileção divina, que constitui um “mistério da graça, desconheci- do até pelos mais sábios e espirituais dentre os cristãos”.7 Caso Santa Teresinha tivesse interrogado sua irmã acerca da capacidade de receber graças conferida por Deus a Maria, talvez Paulina teria usado mais apropriadamente, não a imagem do copo ou do dedal, mas a do mar. Com efeito, assim reza uma das ladainhas difundidas pelo orbe católico: “Coração de Maria, oceano de bondade”. E as razões teológicas confirmam de sobejo esta tocante invocação. Plenitude de graça desde o primeiro instante do ser No próprio ato da criação de Sua alma, Maria recebeu a graça habitual em tal abundância que já se verificava nela o que o Anjo haveria de dizer na hora da Anunciação: “Ave cheia de Graça”.8 Pois, como afirma São Jerônimo, citado por São Tomás de Aquino: “Aos outros [a graça] lhes é dada em fragmentos, mas a Maria Lhe foi infundida a plenitude da graça por inteiro e de uma vez”.9 Este primeiro grau de plenitude da graça, destinado a ampliar-se de forma contínua até a Assunção, se distingue pelo privilégio da Imaculada Conceição: “É preciso manter, como princípio fundamental, que a Virgem Mãe ocupa, na ordem da restauração do gênero humano, o mesmo lugar que Eva em nossa ruína”.10 Se aquela nos trouxe o pecado, A que nos traria a graça deveria ser concebida sem ele. Para tornar patente essa plenitude inicial, afirma o Beato Pio IX, ao proclamar o dogma da Imaculada Conceição, que Deus “cumulouA admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois Outubro 2009 · Flashes de Fátima 19 Fotos de Fra Angelico: Gustavo Kralj, sob concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana Assim, embora múltiplos e diversos, todos os seres saídos de Suas mãos trazem o selo inequívoco da perfeição divina, desde a menor das formigas ao mais esplendoroso dos Anjos. “É próprio do que é ótimo produzir coisas ótimas”,3 e haveria uma incoerência na ordem do universo caso alguma criatura estivesse dissociada do Ser Supremo, porque elas “provém da intenção do agente primeiro, que é Deus”.4 A análise dessa riqueza de facetas impressa pelo Criador no mundo espiritual e material constitui uma fonte de deleite para os espíritos mais afeitos à metafísica, sobretudo quando o alvo de tais considerações é o conjunto dos homens, seres racionais feitos à imagem e semelhança de Deus. Gustavo Kralj Crescimento da graça inicial Por mais incomensurável que fosse a graça inicial recebida por Maria Santíssima, não era contudo infinita, “a qual é própria e exclusiva de Cristo”.14 Portanto, a graça em Maria “pôde crescer e desenvolver-se indefinidamente”,15 pois, à medida que progride espiritualmente, amplia a alma sua capacidade para receber mais graças. “Assim se explica perfeitamente que Maria estivesse cheia de graça desde o momento de sua imaculada conceição, e, sem embargo, sua graça inicial fosse crescendo e desenvolvendo-se cada vez mais, até alcançar, finalmente, uma plenitude imensa, incompreensível, somente inferior à de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era rigorosamente infinita — como Filho de Deus — e não podia crescer nem cresceu jamais nEle”.16 Esse aumento de graça em Nossa Senhora teve alguns momentos culminantes, e os teólogos “admitem ao menos três: o momento da Encarnação do Verbo em suas entranhas virginais, o de sua dolorosíssima compaixão ao pé da Cruz de seu Filho e o dia de Pentecostes ao descer sobre Ela o Espírito Santo com uma plenitude imensa”.17 ra a separação, e já sentia saudades dAquela Menina adornada de todas as formosuras de alma e de corpo, reconhecendo ser ali o único lugar digno para Ela habitar. Embora não possuíssem exata noção do futuro reservado à filha, Joaquim e Ana intuíam ter sido Maria feita unicamente para o Senhor, e não para eles próprios. Sim, grandes feitos aguardavamNa, os maiores que a inteligência divina pudera conceber! Ela fora chaSua vocação não tem proporção mada a ser a Casa de Deus! O Beato humana, mas divina Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, exalBem podemos imaginar o gáudio ta a predestinação da Santíssima Virdiscreto e, ao mesmo tempo, intenso gem: “Deus, desde o princípio e anque invadiu a alma de todos quan- tes dos séculos, escolheu e pré-ordetos no Templo de Jerusalém se en- nou para Seu Filho uma Mãe, na Qual contravam quando Nossa Senhora Ele Se encarnaria, e da Qual, depois, foi para lá conduzida por seus pais. na feliz plenitude dos tempos, nasceria; O venerando casal preparava-se pa- e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-La alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nEla com singularíssima benevolência”.18 Conforme assinala o Papa da Imaculada, é do fato de ter sido Maria escolhida para a maternidade divina que decorre todo o conjunto de benefícios a Ela conferidos. A relação da Santíssima Virgem com a vinda de Cristo ao mundo é total, a ponto de os teólogos sustentarem que, a não se efetivar a Encarnação, tampouco a Santíssima Virgem teria razão de existir.19 “Todos os dons, graças e privilégios excepcionais que foram concedidos a Maria pela divina liberalidade, o foram em atenção a este fato colossal e incompreensível: Maria Mãe de Deus”.20 O Doutor Angélico ensina que “Deus dá a graça a cada um de acordo com aquilo paA graça inicial recebida por Maria ra o qual foi eleito”,21 e se nos foi crescendo e se desenvolvendo à medida detivermos por um momenque Ela progredia espiritualmente to considerando a vocação de Nossa Senhora, não podere“Nossa Senhora Menina” por Zurbarán – The State mos deixar de exclamar com o Hermitage Museum, São Petersburgo (Rússia) Cardeal Newman: “Que vesti- da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender”.11 Nossa Senhora sobrepuja deste modo, já em Seus primórdios, o píncaro atingido pelos maiores bemaventurados, porque “uma pessoa recebe tanto mais graças quanto mais for amada por Deus. Ora, Maria, desde o primeiro instante, em Sua qualidade de futura Mãe de Deus, foi mais amada por Ele do que qualquer santo, ainda mesmo no fim de sua vida, e mais do que qualquer Anjo. [...] Ora, a graça final de todos os santos, mesmo tomados em conjunto, não é proporcional à dignidade de Mãe de Deus, a qual é de ordem hipostática”.12 Por isso, é pertinente a comparação feita por São Luís Grignion de Montfort quando diz que Maria Santíssima dava mais glória a Deus trabalhando com a roca ou costurando na casa de Nazaré, do que São Lourenço morrendo queimado na grelha.13 20 Flashes de Fátima · Outubro 2009 A graça se dilata no convívio com Jesus mentas de santidade terão sido as Suas, que plenitude e transbordamento de graça, que superabundância de méritos, se admitimos a hipótese — que encontra uma justificativa nos Padres — de que Seu Criador Se fixou realmente em Seus méritos e os teve em conta quando Se dignou ‘não desprezar o seio da Virgem’!”.22 As palavras do Arcanjo Gabriel Foi um Anjo de elevadíssima hierarquia o mensageiro escolhido para anunciar a Maria a chegada da plenitude dos tempos. É mais uma vez São Jerônimo quem nos ilustra a cena com o brilho de seu pensamento: “É bom que um Anjo seja enviado à Virgem, porque a virgindade sempre esteve aparentada com os Anjos. De fato, viver na carne sem estar a ela submetido não é uma vida terrena, mas celestial”.23 Na humilde casa de Nazaré, a sorte de todos os homens pendeu por um instante dos lábios desta jovem amante da virgindade, que Se turbou perante um elogio do qual não Se considerava digna: “Ave, cheia de graça; o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). Foi um momento decisivo da história universal, cuja grandeza e profundidade foram assim recentemente descritas por Bento XVI: “Quando Deus decidiu fazer-se homem no seu Filho, tinha necessidade do ‘sim’ livre de uma Sua criatura. Deus não age contra a nossa liberdade. E aconteceu algo verdadeiramente extraordinário: Deus faz-se dependente da liberdade, do ‘sim’ de uma sua criatura; espera este ‘sim’. [...] Por conseguinte, o ‘sim’ de Maria é a porta através da qual Deus pôde entrar no mundo, fazer-Se homem. Assim, Maria está real e profundamente comprometida no mistério da Encarnação, da nossa salvação”.24 Os lances comoventes da Paixão, quais benefícios não terão operado na alma de Maria? “Nossa Senhora ao pé da Cruz”, do Beato Angélico - Museu de São Marcos - Florença (Itália) Houve evidentemente uma mudança radical na vida da Santíssima Virgem a partir de Seu assentimento às palavras do Arcanjo, pois passou a engendrar Cristo, ascendeu à ordem hipostática relativa e iniciou o relacionamento inefável de mútuo amor para com Ele. Razões pelas quais “era necessário que se desse em Maria um aumento de plenitude de graça e de caridade, de modo que imediatamente A dignificasse para que Se convertesse em Mãe de Deus”.25 O momento do fiat constitui assim o marco do segundo grau de plenitude por Ela atingido: “O dia da Anunciação assinala um enorme progresso da graça e da caridade na alma de Maria”.26 Tudo o que Ela recebeu desde que fora criada assume a verdadeira razão de ser, cumpre-se a Sua finalidade, pois “Sua fé, Sua confiança e Sua generosidade estiveram à altura do mistério do qual ia participar”.27 À medida que convivia com Seu Filho, a Mãe da Divina Graça não cessou de progredir, avantajando-Se admiravelmente nesta santa familiaridade. Sob os véus da humildade, que constituem o traço comum daqueles que de fato são grandes, ocultavam-se enriquecimentos que apenas parcialmente podemos imaginar. Enquanto o Menino crescia à vista dos homens gozando em infinito grau, e desde o princípio, da graça que Ele mesmo criara, a Mãe pela qual viera ao mundo crescia de plenitude em plenitude, sem maiores sinais exteriores deste maravilhoso progresso. Nossa Senhora, que tudo conferia em Seu coração, mostrou a Criança aos pastores e magos, apresentou-A no Templo e com Ela fugiu para terra estrangeira. Em Nazaré, aparências corriqueiras encobriam atos de adoração de todo perfeitos, e a separação da vida pública não diminuiu o incremento de graça, posto que a união entre ambos superava a ausência física. Os lances comoventes da Paixão, que produziram nos bem-aventurados efeitos de santidade, quais benefícios não terão operado na alma de Maria? A vinda do Paráclito traria para a Esposa do Espírito Santo uma nova plenitude de graça, cujas conse quências bem nos descreve Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, em artigo publicado nesta mesma revista: “Dir-se-ia que [Nossa Senhora] havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons, entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe agora o tornar-Se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal Outubro 2009 · Flashes de Fátima 21 qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La ‘Mãe da Igreja’”.28 Os anos da vida da Santíssima Virgem transcorridos depois de Pentecostes se nos apresentam tão envoltos em sombras quanto fascinantes, pois deles não possuímos descrições além daquelas oferecidas pela tradição ou revelações privadas. Custodiada pelo Apóstolo João, por vários anos ainda permaneceu nesta Terra, até o momento em que subiu ao Céu, realizando as palavras do Salmo: “À vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de Ofir” (Sl 44, 10). “Nossa Senhora morreu de graça” Terá morrido, ou não, a Mãe dAquele que venceu a morte? Esta é uma questão disputadíssima entre eminentes teólogos, havendo ardorosos defensores de uma e outra hipótese. Por mais que, segundo a opinião mais comumente admitida, tivesse Ela sido levada desta vida por uma morte suave, disso ninguém tem absoluta certeza. O padre Antonio Royo Marín, OP, em conversas informais sobre as excelsitudes da Santíssima Virgem, gostava de afirmar: “De que terá morrido Nossa Senhora, posto que não padecia de qualquer enfermidade? Morreu de graça! NEla não cabia mais! Não cabia mais!”. Este comentário espirituoso aponta para uma realidade de toda beleza, descrita por outro insigne teólogo dominicano: Maria precisava deixar esta Terra em “consequência da intensidade de um amor sereno e fortíssimo pelo qual a alma, já madura para subir ao Céu, abandona seu corpo e vai unir-se a Deus numa visão imediata da pátria celestial, do mesmo modo que um rio se precipita no oceano”.29 A entrada da Virgem na Jerusalém Celeste pode ser vista como o fastígio da graça que se consuma na glória, enquanto modelo paradigmático do destino que aguarda cada um de nós, se Lhe seguirmos o exemplo de fidelidade. Maria entra na História com intensidade crescente Assunta ao Céu, a missão desta Rainha junto à Igreja estava ape- nas se iniciando, uma vez que “o Espírito Santo quer que nEla e por Ela se formem os eleitos” chamados a participar de Seus dons.30 Nos primeiros séculos, a figura de Maria é discreta, devido às tendências ainda pagãs dos neófitos, inclinados ao erro grosseiro de considerá-La uma divindade. Aos poucos, de forma orgânica e suave como a ação do Mestre, a presença da Santíssima Virgem se delineia com intensidade crescente na espiritualidade dos fiéis. Imagens, pinturas e cânticos cada vez mais expressivos, milagres progressivamente mais estupendos, novas explicitações doutrinárias sólidas e sábias: tudo na vida da Igreja parece conhecer melhor, de época em época, a plenitude da qual Maria transborda, traduzindo essa experiência única e renovada em frutos de maior perfeição. Nossa Senhora tudo transforma a partir de Cristo; Ela é a verdadeira pedra filosofal, a Quem exaltamos nos Salmos que Lhe são dedicados com estas palavras: “Annuntiaverunt cæli nomen Mariæ, et viderunt omnes populi gloriam ejus — Os Céus anunciaram o nome de Maria e todos viram Sua glória”.31 Timothy Ring Nossa Senhora e o fim dos tempos Dir-se-ia, após a Ascensão, que Maria havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons; entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido “Pentecostes” - St. Mary’s Pro Catedral, Hamilton (Canadá) 22 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Alguém, porventura, se disporia a falar em plenitude de devoção à Virgem Santíssima, sem mencionar São Luís Grignion de Montfort? Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, a espiritualidade mariana parece atingir uma nova aurora, e tão forte e sensível é o fogo do Espírito Santo que o inspirou em cada uma dessas páginas, que o escravo de Nossa Senhora não encontrando termos humanos para plasmar seu enlevo, acaba confessando: “Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida”.32 “‘De Maria nunquam satis’... Não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois ainda mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece”.33 Este desejo inspirado pela graça de penetrar mais a fundo na alma de Nossa Senhora, e em consequência prestar-Lhe maior homenagem, bem reflete o élan da Santa Igreja em ampliar as explicitações que sobre Ela possam ser feitas. Maria Santíssima é sempre a mesma; nós é que podemos conhecê-La melhor e amá-La mais. Os tesouros de graça de que é distribuidora tampouco foram todos concedidos, e isso nos faz almejar que a História da Igreja vá num crescendo de manifestações de misericórdia mariana até a consumação dos séculos. Desejemos que o dia supremo do Juízo Final — no qual o Reino de Deus chegará à sua plenitude — coincida com o momento em que, segundo os desígnios do Altís- 1 SANTA TERESA DE LISIEUX. Œuvres complètes. Paris: Du Cerf, 2004, p. 99. 2 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica, I, q. 47, a. 1, resp. 3 Idem, a. 2, ad sec. 4 Idem, a.1, resp. 5 Idem, a. 3, ad prim. 6 CIC, n. 357. 7 MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge. Québec: Montfortaine, 1946, n.21. 8 Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La plenitude initial de grâces en Marie. In: La vie spirituelle. Paris, Mai.,1941, n. 253. 9 A entrada da Virgem na Jerusalém Celeste pode ser vista como o fastígio da graça que se consuma na glória “Coroação de Nossa Senhora”, do Beato Angélico - Museu de São Marcos - Florença (Itália) AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 27, a. 5, resp. 10 MARMION, OSB, Columba. Apud PHILIPON, OP, Maria Miguel. A doutrina espiritual de D. Marmion. Rio de Janeiro: Agir, 1956, p. 223-224. 19 simo, nada falte aos homens conhecer a respeito dEla. E que os cristãos remidos pelo Sangue do Cordeiro, escolhidos para presenciar ainda em vida “a realização última da unidade do gênero humano”,34 por uma graça de correspondência e fidelidade, atinjam o ápice da devoção à Rainha do Universo. “A formação e a educação dos grandes santos, que aparecerão no fim do mundo, Lhe está reservada”,35 disse São Luís Grignion. Como isso se dará? É difícil vislumbrar. Todavia, sem dúvida, os progressos que aguardam a vida da Igreja no âmbito da mariologia superarão — embora sem qualquer divergência — tudo o que até hoje se conheceu. “Qui vivra, verra!”. Cf. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Santísima Virgen. Madrid: BAC, 1956, p. 65-66. 20 ROYO MARÍN, OP. Op. Cit., p. 91. 21 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 27, a. 5, ad prim. 11 PIO IX, Ineffabili Deus, 8/12/1854, n. 2. 12 GARRIGOU-LAGRANGE, OP. Op. Cit., n. 253. 13 Cf. MONTFORT, Op. cit., n. 222. 14 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen María. 2. ed. Madri: BAC, 1997, p. 252. 24 BENTO XVI, Audiência geral, 12/8/2009. 15 Ibidem. 25 16 Idem, p. 251-252. 17 Idem, p. 265. 18 Ineffabilis Deus, n. 2. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La Madre del Salvador y nuestra vida interior. Madrid: Rialp, 1990, p. 119. 22 NEWMAN, Jonh Henry. María: Páginas selectas. Burgos: Monte Carmelo, 2002, p. 297. 23 Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 30, a. 2, ad tert. 26 Idem, p. 115. 27 Idem, p. 118. 28 CLÁ DIAS, EP. João Scognamiglio. A paz esteja convosco! In: “Arautos do Evangelho”, n. 41, maio 2005. 29 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La Madre del Salvador y nuestra vida interior. Madrid: Rialp, 1990, p. 173. 30 MONTFORT. Op. cit., n. 34. 31 Antífona do salmo 123, 1: Levantei os meus olhos para Vós. 32 MONTFORT, Op. cit., n. 13. 33 Idem, n. 10. 34 Idem, n. 1045. 35 Idem, n. 35. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 23 As Sociedades de Vida Apostólica No que consistem estas agremiações de homens e mulheres que procuram atingir a perfeição da caridade levando vida fraterna em comum? Em que se diferenciam das ordens e congregações religiosas? José Manuel Jiménez Aleixandre D esde os primeiros tempos da Igreja houve homens e mulheres que sentiram um chamado de Deus para trilhar um caminho especial de santificação diferente não só da via comum a todos os fiéis — que constituem família, possuindo bens, etc. —, mas também da dos sacerdotes consagrados ao serviço do altar e dos irmãos. Eram as virgens cristãs, muitas delas mártires gloriosas durante as sangrentas perseguições; ou as viúvas que, renunciando aos bens terrenos, dedicavam-se ao serviço dos pobres na prática da caridade; ou ainda os eremitas que se afastavam do mundo civilizado para imolar sua vida na oração e na contemplação, em penitência por faltas cometidas, ou como proteção de sua própria inocência. Formas de vida em comunidade muito diversificadas Essas vocações individuais tenderam a constituir, com o tempo, comunidades, nas quais as pessoas chamadas por Deus a um mesmo gênero de vida uniam seus esforços e se entreajudavam. Ao longo dos séculos, essas comunidades ou famílias espirituais organizaram-se em diversas formas. Os 24 Flashes de Fátima · Outubro 2009 cenóbios de São Pacômio, as abadias de São Bento, os conventos dominicanos, os eremitérios franciscanos, as casas dos jesuítas são exemplos, entre tantos outros, de instituições de vida em comum, constituídas por pessoas que, praticando a obediência, a castidade e a pobreza, consagravam sua vida à maior glória de Deus. As formas de organização da vida adotadas por essas comunidades ou famílias religiosas foram muito diversificadas, adaptadas às necessidades da Igreja e às inspirações do Espírito Santo para cada fundador. São Francisco de Assis e sua nova forma de vida Quando, na primavera de 1209, o poverello de Assis, acompanhado por seus doze primeiros companheiros, apresentou a Inocêncio III as poucas linhas que constituíam sua primitiva Regra, o Papa e seus conselheiros hesitaram: Tratava-se de um grupo de excêntricos? Ou estavam inspirados pelo Espírito Santo? Com efeito, a nova forma de vida “segundo o santo Evangelho” era muito diferente da dos monges que há séculos perfumavam a Igreja com seus frutos de santidade. Mas o Romano Pontífice, ensina Bento XVI, “soube discernir a iniciativa do Espírito Santo e acolheu, abençoou e encorajou a comunidade nascente”.1 E “do pequeno regato que brotou aos pés do Monte Subasio, formou-se um grande rio, que deu uma contribuição notável à difusão universal do Evangelho”.2 O Oratório de São Filipe Néri No século XVI, São Filipe Néri — verdadeiro apóstolo na Roma neopaganizada da Renascença — reuniu em torno de si numerosos discípulos com os quais organizou uma família religiosa, e pediu ao Papa Gregório XIII que esta não fosse obrigada a assumir nenhuma das formas jurídicas anteriormente estabelecidas, mas pudesse constituir uma instituição diferente. Assim surgiu a Congregação do Oratório, na qual os membros “não deviam estar vinculados por votos ou promessas, mas o único liame deveria ser o amor”.3 O desafio era grande, pois uma instituição canônica desse tipo não entrava na concepção de muitos juristas renascentistas influenciados por um Direito Romano mal-entendido. Entretanto, em 1575 Gregório XIII, pela bula Copiosus in misericor- dia, erigiu e aprovou a “Congregação de presbíteros e clérigos denominada do Oratório” fundada pelo “nosso amado filho Filipe Néri”. O mais curioso é que esta ereção não incluía nenhuma aprovação de estatutos, uma vez que “o único vínculo deveria ser o amor”. Nasceu assim na Igreja uma forma de instituição jurídica que tomou diversos nomes ao longo dos séculos, sendo atualmente denominada “Sociedade de Vida Apostólica”.4 Só quarenta anos depois da aprovação pontifícia, os filhos do santo florentino conseguiram, ajudados por canonistas e estudiosos, redigir as primitivas Regras do “Oratório”, aprovadas pelo Papa Paulo V.5 Evolução através dos séculos Uma das primeiras, e a mais numerosa, é a dos Padres Lazaristas, fundada por São Vicente de Paulo, hoje com quase 4 mil membros. Entre as Sociedades femininas, destaca-se a das Filhas da Caridade, fundada por São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac: conta atualmente com 20 mil irmãs consagradas ao serviço dos necessitados. Desde o último mês de abril, as Sociedades Virgo Flos Carmeli (clerical) e Regina Virginum (feminina), nascidas no seio dos Arautos do Evangelho, fazem parte dessa família de instituições. 1 Discurso aos membros da família franciscana, 18/4/2009. 2 Ibidem. 3 SCHWAIGER G., La Vita Religiosa dalle origini ai nostri giorni. Milano: 1997, p. 335. 4 Cf. Código de Direito Canônico, can. 731-746. 5 Christifidelium quorumlibet, 24/2/1612. Victor Toniolo Sergio Miyasaki No decorrer dos séculos, muitos fundadores de famílias religiosas sentiram-se chamados pelo Espírito Santo a enquadrar seu respectivo instituto em alguma das formas jurídicas existentes — ordens contemplativas, ordens mendicantes, congregações dedicadas ao ensino, ao atendimento dos enfermos, etc. —, enquanto outros, como São Francisco de Assis ou São Filipe Néri, igualmente inspirados pela Divina Providência, consideraram que deviam inovar nas formas; e tanto uns quanto outros receberam a aprovação da Igreja de Jesus Cristo. Esta aprovação do Papa era dada, durante séculos, por meio de uma Bula pontifícia. Mas, o crescimento da Igreja ao longo dos séculos impôs a criação de organismos que aliviassem o pesado fardo do sucessor de Pedro: são os Dicastérios Romanos, instituições que auxiliam o Papa nas diversas tarefas da Igreja. Hoje a decisão de aprovar uma nova família religiosa continua sendo responsabilidade do Papa. Mas cabe ao Cardeal-Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica erigir ou aprovar, mediante Decreto, o novo grupo de consagrados que o Espírito Santo suscitou na sua Igreja. Até 31 de dezembro de 2008, havia 44 Sociedades de Vida Apostólica aprovadas: 32 masculinas e 12 femininas. Irmãs de Regina Virginum durante a procissão das oferendas em Missa presidida pelo Cardeal Franc Rodé na Casa-Generalícia da Instituição, em agosto de 2009 Ordenação presbiteral e diaconal de membros de Virgo Flos Carmeli presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, no seminário dos Arautos, em 20 de dezembro de 2008 Outubro 2009 · Flashes de Fátima 25 Regina Virginum Cerimônia de recepção de hábito N o último dia 22 de agosto, nove jovens de Portugal, El Salvador e Brasil foram admitidas como irmãs ou postulantes na Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum, recebendo das mãos de seu fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, o escapulário, o terço e a corrente, símbolos de seu novo estado de vida. A cerimônia realizou-se na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a qual faz parte da nova Casa Generalícia da Instituição, com a participação de 600 membros do setor feminino dos Arautos. Já em 14 de agosto último, suas amplas instalações foram percorridas pelo Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Nesse mesmo dia, o Prelado celebrou Missa 26 Flashes de Fátima · Outubro 2009 e entronizou a bela e piedosa imagem de Nossa Senhora do Carmo que preside o altar principal. Homilia do fundador Durante a homilia, Mons. João lembrou às presentes como o plano primeiro de Deus com a criação foi alterado pelo pecado original, e, em vez de uma sociedade perfeita, temos um mundo onde grassam invejas, guerras e sofrimentos. E convidou suas filhas espirituais a serem, como Maria, fonte de benquerença, harmonia e paz. “Esta festa de Nossa Senhora Rainha — disse Mons. João — traz-nos a esperança de um mundo que, desde que o homem colabore com a graça, se aproxime daquela vida paradisíaca que ele teria se não tivesse pecado. É neste belo dia que nós temos a alegria de receber aqui nove jovens que No início da Celebração Eucarística, as postulantes entram em cortejo na igreja. Após a Liturgia da Palavra, ajoelham-se e rezam, prosternadas, a ladainha de Todos os Santos invocando a proteção celeste para a sublime vocação que ora abraçam. Com grande compenetração, as jovens esperam ansiosas o momento em que o fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, abençoará e lhes imporá o escapulário, o terço e a corrente, símbolo da escravidão mariana propugnada por São Luís Maria Grignion de Montfort. Após receberem o hábito, as novas irmãs são integradas na comunidade. Em 14 de agosto, o Cardeal Franc Rodé visitou as instalações da nova Casa-Generalícia de Regina Virginum. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 27 se consagram a Nossa Senhora de forma toda especial, e recebem o seu manto, o manto da Virgem do Carmo que dá o nome a esta igreja”. A Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum Regina Virginum é uma Sociedade de Vida Apostólica pertencente à família de almas dos Arautos do Evangelho. Erigida como Associação de Direito Diocesano a 25 de dezembro de 2006, pelo então Bispo de Campo Limpo, D. Emílio Pignoli, foi elevada a Sociedade de Vida Apostólica de Direito Pontifício em 26 abril de 2009, festividade da Mãe do Bom Conselho. Nasce ela, segundo afirma o decreto de aprovação do Vaticano, como uma verdadeira nova militia Christi pela disciplina de vida de seus membros, pelo seu espírito de fé, entrega a Jesus e Maria, e submissão ao Papa. Intensa vida de piedade, de estudos e de atividades de evangelização caracterizam a vida das irmãs, que dedicam especial atenção ao trabalho com a juventude. Levar uma palavra de alento aos que padecem nos hospitais ou aliviar alguma necessidade material dos mais pobres já faz parte da rotina dos membros de Regina Virginum, na sua prática da caridade efetiva e afetiva. Mairiporã – À esquerda, irmãs da casa Lumen Cœli conduzindo a imagem de porta em porta em uma das favelas da região. À direita, levando conforto para as detentas da delegacia de Mairiporã. Itália – Irmãs de Regina Virginum visitam em suas residências os doentes da paróquia de San Ferdinando, em Messina. 28 Flashes de Fátima · Outubro 2009 São Paulo – Evangelizando as crianças da creche São Judas Tadeu. Filhos de famílias de baixa renda são lá acolhidos pela paróquia. Aos pés de Jesus Eucarístico E m todas as casas de Regina Virginum reserva-se o horário matutino para a Adoração Eucarística. Pois é na oração e no recolhimento que todo religioso recebe graças superabundantes para sua ação evangelizadora. Estéril será toda tentativa missionária que, procurando levar os outros para Jesus, por meio de Maria, não começar sua ação aos pés do Santíssimo Sacramento. Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, anexa ao seminário dos Arautos, cabe aos membros de Regina Virginum manterem os turnos de adoração vespertinos na capela do Santíssimo Sacramento (foto ao lado). Nessa ocasião rezam elas não apenas pelas necessidades da Igreja, do Papa e da Associação, mas também pelas de todos aqueles que lhes encomendaram orações. Longo processo de formação 1 3 A formação de um membro de Regina Virginum começa muito cedo, pois é preciso um longo processo educativo para tornar as jovens candidatas aptas a desempenhar as atividades próprias da associação. Finalizado o Ensino Médio, ao serem admitidas na Sociedade, as irmãs cursam Filosofia no Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista – IFAT e te- 2 4 ologia no Instituto Teológico São Tomás de Aquino – ITTA, ambos dos Arautos do Evangelho. Após esses cursos superiores, elas prosseguem sua formação permanente no Instituto “Lumen Sapientiæ”, também dos Arautos do Evangelho. Atualmente, quinze irmãs de diversos países se encontram em Medellín (Colômbia), preparando o mestrado em Teologia ou Filosofia na prestigiosa Universidad Pontificia Bolivariana. Fotos 1 e 4: os congressos internacionais do setor feminino dos Arautos são excelentes ocasiões para discenimento vocacional. Foto 2: preparando uma joven para receber a primeira comunhão. Foto 3: alunas do Colégio dos Arautos do Evangelho em Assunção (Paraguai). Outubro 2009 · Flashes de Fátima 29 Festas religiosas em Bragança E ste ano, as festividades de Bragança contaram com a presença da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, vinda para a novena preparatória e para a procissão solene em honra da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Graças. O P. Dr. Alfredo Leite Soare foi o orador desta novena. Os colóquios dos três primeiros dias versaram sobre a maternidade de Maria relativamente a Jesus. Nos restantes seis dias, o P. Dr. Soares discorreu belos comentários sobre cada uma das partes de uma maravilhosa oração: a Salve Rainha. Na vigília da festa, muitas centenas de pessoas percorreram algumas ruas da cidade, recitando o terço em louvor de Nossa Senhora. Mas o ponto culminante das festas foi a celebração da Eucaristia na Catedral, presidida por D. António Moreira Montes, Bispo de Bragança-Miranda. Finda a Eucaristia, iniciou-se a procissão da Catedral para a Igreja de Nossa Senhora das Graças, reunindo autoridades civis, militares e milhares de fiéis e movimentos eclesiais como os Arautos do Evangelho, representados pelo Sector Feminino e pelos terciários. Valongo - Sob a orientação do P. José Alfredo Ferreira da Costa, pároco de Valongo, os Arautos do Evangelho - sector feminino e alguns terciários da região - levaram a Imagem do Imaculado Coração de Maria aos utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia do concelho. Porto - No dia 8 de Agosto de 2009, na igreja de Santo António das Antas, Porto, o Rev. P. Roberto Polimeni, E.P., administrou o Baptismo, a Primeira Comunhão e o Crisma à Soraia Gabriela, uma neo-aspirante aos Arautos do Evangelho. 30 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Encontro dos Oratórios, em Tabuado R ealizou-se em Tabuado, concelho de Marco de Canavezes, "Um dia com Jesus e Maria", promovido pelos coordenadores dos 14 Oratórios e orientado P. Joaquim Pereira da Cunha pastor espiritual desta paróquia há 70 anos. Este evento contou também com a presença do P. Roberto Polimeni, sacerdote dos Arautos do Evangelho. Campo de férias O s centros juvenis têm a finalidade de ocupar os adolescentes com actividades elevadas da arte e da cultura, do pensamento e das ideias. Deste modo, complementa-se a formação que recebem na família e na escola, preservamse dos riscos que correm na adolescência, e cria-se um ambiente onde podem desenvolver os seus dotes e aptidões. Concretamente, durante este Verão realizou-se na sede dos Arautos, na diocese de Setúbal, uma colónia de férias para rapazes, acompanhados por monitores e com apoio espiritual de sacerdotes dos Arautos do Evangelho. Além de conhecerem alguns monumentos de interesse histórico e cultural, os jovens tiveram a oportunidade de receber uma sólida formação católica. Relativamente à vida de piedade, predominou a devoção ao Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora, com a recitação do terço e eucaristia diária. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 31 Entrevista com Dom Luiz Mancilha Vilela SSCC, Arcebispo de Vitória Em meio às dificuldades, anunciar o Amor Irmão de hábito de São Damião de Molokai, Dom Luiz Mancilha Vilela nos fala do carisma da Congregação dos Sagrados Corações: contemplar, viver e anunciar o amor redentor de Jesus Cristo, vivido de maneira exemplar por Maria Santíssima. Pe. Alex Barbosa de Brito, EP Pode dizer-nos como Vossa Excelência sentiu-se chamado ao sacerdócio? Nasci numa fazenda em Pouso Alto (MG), dentro de um ambiente profundamente religioso. Meu pai era homem piedoso, sobretudo mariano. Assim, desde pequeno aprendi a ter grande devoção a Nossa Senhora. Em casa, um queria ser engenheiro, outro médico, mas eu admirava muito o nosso pároco — que não só falava, mas cantava bem — e pensava: “quero ser igual a ele”. Havia na cidade uns missionários da Congregação dos Sagrados Corações que entronizavam nos lares os Sagrados Corações de Jesus e Maria, fazendo um trabalho de evangelização a partir da família. No dia em que foram à minha casa, como eu era tímido, saí correndo. Tinha nove anos. Mas um missionário, sabendo que eu queria ser sacerdote, me procurou e convidou-me a viajar para São Paulo. Algum tempo depois, estava junto com outros 130 32 Flashes de Fátima · Outubro 2009 meninos em Ferraz de Vasconcelos, no Seminário da Congregação. Como se deu o desdobramento de querer ser padre para religioso da Congregação dos Sagrados Corações? Isto se deu aos poucos, enquanto convivia com os religiosos e ia conhecendo sua espiritualidade. O que a Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria propõe sempre me entusiasmou: contemplar, viver e anunciar o amor redentor de Jesus Cristo, do Pai misericordioso, revelado em Jesus Cristo e vivido de maneira exemplar por nossa Mãe querida, Maria Santíssima. Nossa vida deve consistir no anúncio do amor e da misericórdia de Deus. Este tem sido o eixo de toda a minha pregação, e o princípio que tem orientado minha vida de sacerdote e de Bispo. Os dois corações, de Jesus e de Maria, estão unidos e são inseparáveis. O meu coração também precisa estar unido, e inseparável, com Maria em Jesus, por Jesus e com Jesus. Este é o núcleo teológico, místico e espiritual que tenho como ideal. Vossa Excelência fala como quem sentiu experimentalmente esse amor... Não se pode dizer que Deus é bom, sem experimentar Sua bondade. Olhando para minha vida, vejo o quanto tem sido grande e extraordinário o carinho de Deus para comigo. Perdi a mãe quando era criança, mas não senti nenhum tipo de revolta. Na minha adolescência e no seminário fui conduzido por Deus de maneira muito simples, caminhando. Quando cheguei ao terceiro ano de Filosofia, tempo de fazer os votos perpétuos, sofria de hepatite. Todos achavam que eu não tinha cura, mas o padre superior me disse que a Congregação me aceitaria mesmo doente. Quando estava para ser ordenado, em 1968, passei por um período muito difícil. Era um tempo muito ques- Sérgio Miyazaki “Sinto-me aqui, como Arcebispo de Vitória, um filho dos Sagrados Corações. O vínculo afetivo e de vocação permanece” tionador, de profunda crise, com seminários sendo fechados, padres abandonando o sacerdócio, etc. Alguns desses ex-padres insistiram em que não levasse minha vocação para frente. Mas o meu Superior Geral, de origem belga, me deu segurança para lhes responder: “Fiquem tranquilos! Se eu errar, a culpa será minha, não de vocês”. Em todos esses episódios, vejo o carinho de Deus na minha vida. A Congregação dos Sagrados Corações nasceu também em um momento difícil... Sem dúvida. Nossa Congregação surgiu em meio a grandes conflitos. D Nossos fundadores são o Padre Pierre Coudrin e a Madre Henriette Aymer de la Chevalerie. Durante a Revolução Francesa, ele recusou-se a acatar a Constituição Civil do Clero. Foi obrigado a esconder-se, viveu seis meses num galinheiro. Ali ele estudou a história da Igreja. Quando leu a vida de São Caprásio, ficou envergonhado e pensou: “Se São Caprásio deu a vida, por que não posso fazer o mesmo?”. Saiu do esconderijo e começou nova etapa de apostolado. Usando engenhosos disfarces, para não ser pego pela polícia, exercia seu ministério sacerdotal em inúmeros lugares, inclusive nas prisões. Numa destas, encontrou uma senhora que estava encarcerada por ter escondido padres que fugiam da perseguição. Com ela encontrava-se sua filha, Henriette Aymer. Ambas acabaram escapando da guilhotina, sendo postas em liberdade. Henriette e o padre Coudrin — por quem ela sempre teve grande entusiasmo — fundaram uma congregação para reparar os pecados cometidos contra Deus na França. Depois, a pedido do Papa, se espalhou pelo mundo inteiro. Pelo próprio carisma da Congregação, somos muitas vezes chamados a anunciar o amor em meio às tragédias e dificuldades. O amor no meio do ódio torna-se mais forte. Como Vossa Excelência, sendo Bispo, mantém a vinculação com sua Congregação religiosa? Sinto-me aqui, como Arcebispo de Vitória, um filho dos Sagrados Corações. O vínculo afetivo e de vocação om Luiz Mancilha Vilela iniciou sua atividade pastoral como sacerdote de um bairro pobre de Belo Horizonte (MG). Por pouco tempo, pois logo o superior o incumbiu da formação dos religiosos de sua Con- permanece. Porém, sinto também que a Igreja me pede esta missão. E nossa família religiosa não existe para si, mas para a Igreja. Para minha Congregação, sou um “irmão em missão”. Agora a minha missão é esta: ser Arcebispo de Vitória. Neste mês será canonizado o Beato Damião de Molokai. O que mais chama a atenção de Vossa Excelência neste irmão de hábito? A admiração que tenho por este grande missionário provém de que tudo quanto ele fez pela salvação das almas deve-se à Adoração Eucarística. Esta era a fonte do seu dinamismo e do amor que ele cultivava e inspirava aos outros, para serem como ele, também missionários. Outro ponto a destacar foi a plenitude de sua entrega, até chegar à imolação. Em nossa Congregação fala-se muito do espírito de vítima, de ser vítima junto com Cristo. Damião é modelo de vítima que, como Jesus, se imola totalmente a serviço do Reino e dos irmãos. Ele foi um sacerdote profundamente eucarístico e foi esse amor à Eucaristia que o levou a se imolar totalmente, como o Cordeiro Pascal. Ao declará-lo santo, a Igreja nos estimula a sermos santos também. O dia de sua canonização será um momento de muita gratidão a Deus, e uma oportunidade histórica para trabalhar pelas vocações, dar testemunho e assumir com alegria nosso carisma. Mas dar testemunho mesmo, ser santos de verdade! gregação. Nela exerceu importantes cargos de direção, até ser eleito Bispo de Cachoeiro de Itapemirim (ES), em 1985. Em 2002 foi nomeado Arcebispo coadjutor de Vitória, e Arcebispo Metropolitano em 2004. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 33 Santa Maria Faustina Kowalska A “secretária” da Divina Misericórdia Poderá este terceiro milênio, imerso no pragmatismo e no ateísmo prático, compreender um Amor sem limites, desinteressado, que não deseja nada mais que a salvação das almas, sem buscar nada em troca, além da reciprocidade? Irmã Monica Erin MacDonald, EP O terceiro milênio parece ter começado sob o signo da insegurança, das incertezas, das ameaças de guerras, das grandes desilusões. O progresso prometido pelos grandes avanços da técnica, nos séculos precedentes, trouxe conforto e rapidez nas comunicações, entre outras vantagens. Mas não alcançou a tão anelada paz, nem acabou com os sofrimentos de uma humanidade que se sente como um navio à deriva, em busca do rumo que a leve a bom porto. Nessa situação de aflição e incerteza, uma voz se levanta como um farol: “Diz à humanidade sofredora que se aconchegue no Meu misericordioso Coração, e Eu a encherei de paz”.1 E essa mesma voz ainda acrescenta: “Consomem-Me as chamas da misericórdia; desejo derramá-las sobre as almas humanas. Oh! que grande dor Me causam, quando não querem aceitá-las!”. 34 Flashes de Fátima · Outubro 2009 São estas algumas das revelações que, para demonstrar seu incomensurável amor por uma humanidade que parece tê-Lo esquecido, fez Nosso Senhor a uma alma simples e despretensiosa chamada a ser arauto de sua Divina Misercórdia: Santa Maria Faustina Kowalska. Religiosa da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, nascida no início do século XX, viveu ela profundamente unida a Deus, praticando, no dia-a-dia, no silêncio e no sofrimento, as virtudes heroicas que a elevaram à honra dos altares. Como afirmou o Servo de Deus João Paulo II ao canonizá-la, foi ela “um dom de Deus ao nosso tempo”.2 Chamada por Deus desde a infância Helena Kowalska veio ao mundo em 25 de agosto de 1905, na aldeia de Glogowiec, na Polônia, em uma pobre família de camponeses, sendo a terceira de dez filhos. Já nos primeiros anos de sua vida, num ambiente familiar intensamente marcado pelo catolicismo, Helena sentiu o desejo de se entregar plenamente a Deus. Ela mesma narra que, aos sete anos de idade, recebeu um “definitivo chamado de Deus para a vida religiosa”. Essa vocação a acompanhou em sua juventude, mesmo quando teve que trabalhar como empregada doméstica, para ajudar a sustentar a numerosa e humilde família. Mas foi só aos 18 anos que ela pediu insistentemente autorização aos pais para entrar num convento. Estes, apesar dos ardentes desejos da filha, recusaramlhe firmemente o pedido. Helena procurou, então, abafar a voz da vocação, que a perseguia sem O convite decisivo Um dia, estando com uma de suas irmãs num baile, na cidade de Lodz, Helena tentava em vão se divertir como outras moças de sua idade, porém sentia a alma pesada e infeliz. No meio de uma dança, de repente, ela viu a seu lado Nosso Senhor Jesus Cristo, coberto de chagas, e ouviu estas palavras: “Até quando hei de ter paciência contigo e até quando tu Me desiludirás?”. Muito comovida, saiu disfarçadamente do baile, entrou numa igreja próxima e caiu prosternada diante do Santíssimo Sacramento, pedindo-Lhe com ardor que desse rumo à sua vida. E ouviu esta resposta: “Vai imediatamente a Varsóvia, e lá entrarás no convento”. Helena se levantou e partiu sem demora para a capital. Levava apenas um vestido, mas possuía o maior tesouro: a inteira confiança e o abandono nas mãos da Providência. Início da vida religiosa Deus prova a quem ama. Assim, em Varsóvia, foi recusada em diversos mosteiros. Não desistiu, e afinal foi aceita — no dia 1º de agosto de 1925 — na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, que se dedicava à reabilitação de mulheres de má vida e à educação de jovens em situação de risco. Durante seu postulantado, Helena passou por dúvidas tremendas a respeito da vocação. Mas afinal, vencendo todas as provas, recebeu o hábito de noviça, em 30 de abril de 1926, com o nome de Irmã Maria Faustina do Santíssimo Sacramento. O noviciado foi para ela uma oportunidade para pôr em prática, pondeu com uma clara voz interior que, daquele dia em diante, encontraria forças para executar a tarefa sem esforço. Naquela mesma noite, Irmã Faustina conseguiu derramar com facilidade a água da panela. Mas qual não foi sua surpresa quando viu, ao destampá-la, em vez de batatas, rosas vermelhas indescritivelmente lindas! E ouviu estas palavras de Nosso Senhor: “Transformei o teu trabalho tão pesado em buquês das mais belas flores, e o seu perfume eleva-se até o Meu Trono”. Mais tarde, a Santa assim se exprimiria: “Vós me dais a conhecer e compreender em que consiste a grandeza da alma: não em grandes ações, mas em um grande amor. O amor tem valor e “Secretária do Meu mais profundo dá grandeza aos nossos atos. Emmistério”, foi o título dado por Jesus à bora as nossas ações sejam baSanta Maria Faustina Kowalska nais e vulgares por si mesmas, pelo amor tornam-se importantes e poderosas diante de Deus”. Esse com todo empenho, seus desejos de amor a Deus era a luz que a guiava perfeição e união com Deus. Ciente sempre, tanto nos pequenos quanto de sua própria fraqueza e pequenez, nos grandes encargos. ela se lançou sem reservas nos braços Missão de “apóstolo” da de Nosso Senhor, seguindo as vias da Divina Misericórdia infância espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus. Em 1º de maio de 1933, Irmã Faustina fez os votos perpétuos. Sua misEm vez de batatas... rosas! são de “apóstolo” da Divina MiseriUm incidente dessa época de- córdia já tinha se tornado explícita monstra o quanto a jovem noviça com as contínuas revelações e mensase apoiava inteiramente em Deus, gens de Jesus: “No Antigo Testamento, até nas coisas de aparências insig- Eu enviava profetas ao Meu povo com nificantes. Designada pela superio- ameaças. Hoje estou enviando-te a toda ra para trabalhar na cozinha, tinha a humanidade com a Minha misericórgrande dificuldade em manusear as dia. Não quero castigar a sofrida humaenormes panelas. Era-lhe especial- nidade, mas desejo curá-la, estreitandomente difícil escoar a água das bata- a ao Meu misericordioso Coração”. A fervorosa Irmã se entregou, tas sem deixar cair fora uma grande quantidade destas. Intimidada por com todo o empenho de sua alma, sua debilidade, Irmã Faustina ten- a essa importante missão, apesar de tara se esquivar dessa função, con- sentir em si tanta incerteza e incapaseguindo apenas escandalizar as ou- cidade. “Secretária do Meu mais profundo mistério”, foi o título dado por tras irmãs. Sem o menor receio, a noviça pe- Jesus à sua “apóstolo” da Misericórdiu, então, ajuda a Jesus e Ele res- dia Divina. © Santiebeati.it cessar, distraindo-se com o que ela chamava de “vaidades da vida”. Entretanto, tinha o Senhor reservado para ela uma grande missão e, apesar de todos os obstáculos, a vontade de Jesus venceria. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 35 As mensagens e revelações que ela recebia foram anotadas num Diário, escrito por expressa determinação do Divino Redentor: “Tua tarefa é escrever tudo que te dou a conhecer sobre a Minha misericórdia para o proveito das almas que, lendo esses escritos, experimentarão consolo e terão coragem de se aproximar de Mim”. As páginas do Diário estão repletas de recordações das visões e íntimas conversas com Nosso Senhor e Nossa Senhora, das comunicações com Anjos, santos, e almas do purgatório, além de até mesmo uma visita ao Inferno e ao Purgatório. Simples, mas ao mesmo tempo de surpreendente profundidade teológica, o Diário é um tesouro de ensinamentos sobre a Divina Misericórdia. Dar a conhecer os desejos do Salvador jesus-misericordioso.com Muitas das revelações tratavam de modo especial sobre a devoção à Misericórdia Divina, dada por Jesus especialmente para os dias nos quais vivemos: “A humanidade não encontrará paz enquanto não se voltar com confiança para a Misericórdia Divina”. Nelas, Jesus manifesta enorme desejo de que as almas se voltem para Ele, com humildade, reconhecendo suas culpas, para que Ele faça valer Sua misericórdia: “Que toda alma glorifique a Minha bondade. Desejo a confiança das Minhas criaturas; exorta as almas a uma grande confiança na Minha inconcebível misericórdia. Que a alma fraca, pecadora, não tenha medo de se aproximar de Mim, pois, mesmo que os seus pecados fossem mais numerosos que os grãos de areia da Terra, ainda assim seriam submersos no abismo da minha misericórdia”. Para que o mundo pudesse se beneficiar de tanta bondade, era necessário promover e divulgar essa devoção, conforme pedira o próprio Jesus: “Desejo que os sacerdotes anunciem essa Minha grande misericórdia para com as almas pecadoras. Que o pecador não tenha medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas”. Esta grande missão acarretou à Santa inumeráveis sofrimentos, pois nem sempre fora compreendida pelos que a cercavam. Até que Nosso Senhor lhe concedeu, em 1933, um confessor sábio e prudente, o padre Miguel Sopocko. Ele a aconselhou e ajudou durante anos, guiando-a nas suas dúvidas e dificuldades. Jesus manda pintar um quadro Em 22 de fevereiro de 1931, Santa Faustina recebeu uma das mais impressionantes revelações de seu Divino Mestre. Ela O viu vestido de branco, com a mão direita levantada em atitude de bênção; de Seu peito saíam dois raios, um branco e outro vermelho. Ouviu também Sua divina voz, ordenando-lhe mandar pintar um quadro segundo o modelo que estava vendo, com a inscrição: “Jesus, eu confio em Vós”. “Prometo — acrescentou Jesus — que a alma que venerar esta Imagem não perecerá. Eu mesmo a defenderei como Minha própria glória”. Numa revelação posterior, Ele explicou o significado dos dois raios: “O raio branco significa a Água, que justifica as almas; o raio vermelho significa o Sangue, que é a vida das almas”. Depois de vários obstáculos, o quadro foi pintado por Eugeniusz Kazimirowski. A santa queixou-se ao Divino Mestre de que não era nem de longe tão bonito quanto a visão, mas Ele a acalmou, dizendo que não importava, pois o valor da imagem não estava em sua beleza artística, mas na graça dada por Ele. Nosso Senhor pediu-lhe que o quadro fosse bento solenemente no domingo seguinte à Páscoa, que Ele instituiu como a Festa da Misericórdia: “O primeiro domingo depois da Páscoa deve ser a Festa da Misericórdia. Nesse dia, os sacerdotes devem falar às almas desta Minha grande e insondável misericórdia”. Devoções para pedir a Divina Misericórdia No dia 4 de abril de 1937 a imagem de Nosso Senhor Misericordioso foi exposta pela primeira vez na igreja de São Miguel em Vilna, Lituânia 36 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Em outra visão, foi-lhe revelada uma oração para aplacar a justa ira de Deus contra o mundo: o “terço da misericórdia”. Nosso Senhor mesmo ensinou-lhe a rezá-lo, da forma seguinte: jesus-misericordioso.com “Primeiro dirás o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo. Depois, nas contas de Pai Nosso, dirás as seguintes palavras: ‘Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro’. Nas contas de Ave Maria rezarás as seguintes palavras: ‘Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro’. No fim, rezarás três vezes estas palavras: ‘Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro’”. Instituiu Ele também a “Hora da Misericórdia”, três da tarde, para que todos venerassem Sua Paixão. Esse momento do dia é a “Hora de grande misericórdia para o Mundo inteiro”, na qual “a misericórdia venceu a justiça”. Ele ainda revelou à Santa que não nega nada a quem pede em nome de Sua Paixão, nessa hora, especialmente pelos pobres pecadores. Sua caridade se estendia também às numerosas jovens da casa, às quais ela dispensava paciente e inesgotável dedicação. Vivia ela profundamente o sentido destas palavras de Nosso Senhor: “Minha filha, não vivas para ti, mas para as almas”. Graças que excedem os nossos pedidos Depois de várias estadas em hospitais, para tratamento de sua dolorosa enfermidade, Irmã Faustina retornou ao convento, onde entregou sua heroica alma a Deus, no dia 5 de outubro de 1938, com apenas 33 anos de idade. Canonizada pelo Servo de Deus João Paulo II, em 30 de abril de 2000 — Domingo da Divina Misericórdia —, Santa Faustina ilumina o nosso século com sua missão e vida. A devoção e o conhecimento da Misericórdia, assim como o testemunho de sua insigne virtude, se espalham hoje pelo mundo inteiro, convidandonos ao abandono sem temor nas mãos dAquele que sempre acolhe “Não vivas para ti, com bondade e nunca decepciona. mas para as almas” Pois, como Ele próprio disO quadro original de Jesus se a Santa Faustina: “CausamApesar de todos os dons extraMisericordioso, pintado sob orientação me prazer as almas que recorrem ordinários que recebera — include Santa Faustina, é hoje venerado no à Minha misericórdia. A estas alsive os estigmas ocultos, profecia, Santuário da Divina Misericórdia, em Vilna, mas concedo graças que excedem discernimento dos espíritos, esLituânia os seus pedidos. Não posso castiponsais místicos —, Santa Faustigar, mesmo o maior dos pecadona tinha bem em vista que a santidade consiste em cumprir a vontade la comunidade e, por esse motivo, al- res, se ele recorre à Minha compaixão, de Deus, ainda que isto a levasse a se gumas irmãs a acusavam de capricho mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia”. oferecer como vítima. Daí ela ter escri- e preguiça. Também as revelações e dons exto: “Sei que o grão de trigo, para se tornar alimento, precisa ser esmagado e tri- traordinários a fizeram objeto de susturado entre as mós; assim também eu, peitas. Mas seu inalterável bom hu- 1 Salvo indicação em contrário, todas para ser útil à Igreja e às almas, tenho de mor e sua bondade para com todos, as citações entre aspas foram retiradas de KOWALSKA, Maria Faustiser destruída, embora exteriormente nin- sem exceção, sobretudo com uma irna. Diário. Edição Brasileira. Conmã que a tratava particularmente guém perceba o meu sacrifício”. gregação dos Padres Marianos: Sofrendo a deterioração física mal, foram tão heroicos que levaram Curitiba, 1995. causada pela tuberculose e pelo pe- uma das religiosas a exclamar: “A Ir2 Rito de Canonização de Maria Fausso da grande responsabilidade de sua mã Faustina ou é boba ou santa, portina Kowalska, Homilia do Papa missão, Irmã Faustina pôde realizar o que realmente uma pessoa normal não João Paulo II na Concelebração Euholocausto tão desejado. Sua doença toleraria que alguém sempre a tratasse carística, 30/4/2000. n º 8. não foi entendida imediatamente pe- tão acintosamente!”. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 37 A Palavra dos Pastores É o sacerdote que nos dá o Pão Eucarístico Como parte das celebrações do Ano Sacerdotal, o Cardeal Cláudio Hummes, esteve em Fátima para participar no VI Congresso para o Clero, intitulado: “Renova nos seus corações o espírito de Santidade”. Dom Cláudio Hummes, OFM Prefeito da Congregação para o Clero N o ano sacerdotal que estamos a celebrar, a Igreja dirige os seus olhos aos presbíteros do mundo inteiro com alegria e com gratidão. A Igreja caminha com os pés dos presbíteros. Quando eles param, a Igreja tem dificuldade em avançar. Quando eles se mexem a Igreja move-se. O presbítero congrega a comunidade para discutir, planear e executar planos de pastoral e de missão. Ele conduz a comunidade a assumir a solidariedade, a caridade para com os pobres, a promover a justiça social, os direitos humanos, a dignidade igual de todos, a liberdade e a paz na sociedade. Poder-se-ia continuar a enumerar e especificar o gigantesco trabalho exercido pelos presbíteros para fazer a Igreja ser luz e fermento na sociedade. Na verdade, eles exercem um ministério estratégico e essencial para a vida concreta e quotidiana da Igreja no mundo. Mas os presbíteros são importantes para a Igreja e para a sociedade não 38 Flashes de Fátima · Outubro 2009 só pelo que fazem mas também pelo que são, ou seja, pelo seu exemplo de vida de fé, de vida evangélica, apostólica, missionária. Exemplo de vida de comunhão eclesial, de vida espiritual, de oração, de amor a Deus e aos irmãos, em especial os pobres. Vida de despojamento, de humildade; vida eucarística, totalmente entregue ao serviço de Deus e do povo na esperança do reino futuro e definitivo de Deus. Na verdade, a Igreja deve muitíssimo aos padres, e por isso deve amálos, apoiá-los sempre, reconhecer o seu serviço e dedicação, encorajá-los quando estiverem cansados, doentes, desanimados ou com outras dificuldades. E alegrar-se com eles quando o seu ministério floresce, frutifica. E oferecer-lhe sempre, na medida do possível, as condições necessárias para viver digna e eficazmente a sua vocação de missão. (…) Cristo bate à nossa porta Encontrar a Cristo é um dom de Deus e não um simples resultado do nosso esforço humano. Devemos pedi-lo e acolhê-lo humildemente. Na verdade é o próprio Deus quem primeiro nos procura e nos oferece esse dom. Porquê? Porque nos ama e não quer perder-nos. Só por Cristo chegaremos ao Pai. É necessário encontrar a Cristo. Cristo bate à nossa porta, mas somos nós que devemos abrir-la e acolhê-Lo livremente. Devemo-nos deixar alcançar por Jesus Cristo. O lugar privilegiado para o Encontro ou para o Reencontro com Ele é, como ensina João Paulo II, a escuta da Palavra de Deus. Ali podemos encontrar Jesus, hoje. Seja ouvindo o querigma fundamental, pois como diz S. Paulo, “A Fé nasce da pregação”, seja lendo a palavra de Deus. No caso da leitura, o Papa recomenda a “Lectio Divina”: a leitura orante, à luz da tradição, dos santos padres e do magistério aprofundada através da meditação e da oração. Essa “Lectio Divina”, como sabemos trata-se de uma leitura em vários passos, que recordo. 1º Ler devagar e com atenção, como se fosse a primeira vez para entender o que quis dizer o texto quando foi escrito, naquela época. 2º Meditar o texto, para descobrir o que ele me quer dizer a mim e ao mundo, hoje. 3º A partir do que compreendi do texto, colocar-me em oração e deixar o Espírito Santo falar em mim. É o momento de encontro com Cristo. Ele farnos-á experimentar o amor com que Deus nos ama e nos amou primeiro. Finalmente, o 4º e último: contemplar o mistério de Deus, que é Amor, e deixar-se envolver pessoalmente com Deus por Jesus Cristo no Espírito Santo. Neste 4º momento não são necessárias muitas palavras, senão sentir-se diante de Deus e em Deus como filhos muito amados. Outro lugar onde podemos encontrar Jesus Cristo é na liturgia, principalmente na Eucaristia. A forma mais real, mais incisiva da Sua presença entre nós neste mundo é na Eucaristia, no Pão e Vinho consagrados. Este Pão e este Vinho são o próprio Corpo e Sangue de Cristo, imolado na Cruz e ressuscitado dentre os mortos. Ainda que em forma sacramental, Ele está presente realmente com a sua Divindade e sua humanidade imolada e ressuscitada. Outro lugar que nos pode proporcionar o encontro buscado é certamente a oração, seja pessoal seja comunitária. Por exemplo: o cântico de Laudes pode ser um momento forte, de encontro com Deus. Também o Encontro com os pobres pode tornar-se um encontro com Cristo pois Ele mesmo quis ser identificado neles. Consciência missionária (...) Convém deter-nos sobre o carácter missionário do ministério presbiteral cuja renovação iria ao encontro da nova urgência missionária da Igreja. Com efeito, os últimos papas não se cansaram de insistir neste tema. Assim, está-se a fortalecer uma nova de glória, é antes uma obrigação. Ai de mim se eu não evangelizar.” (…) Trata-se de ir e pregar Sua Eminência D. Cláudio durante a conferência consciência missionária. Ela nasce como uma resposta ao desenvolvimento e à difusão adveniente da cultura pósmoderna que transforma a sociedade actual com uma força avassaladora e descristianiza-a velozmente. Acrescente-se também, ao que nos leva ser missionários, o fenómeno dos católicos afastados, que sempre existiram mas hoje se tornam presa fácil de outras doutrinas e práticas, como o relativismo e a indiferença religiosa. A nova consciência missionária está a crescer há algum tempo. Podemos recordar o Concílio Vaticano II que destacou a natureza missionária de toda a Igreja. Depois, Paulo VI publicou o “Evangelii Nunciandi” sobre a evangelização do mundo actual. João Paulo II publicou a significativa encíclica “Redemptoris Missio” sobre a missão. Ao mesmo tempo, convocou a Igreja inteira para uma nova evangelização nas regiões onde a Igreja já está estabelecida, e diz que deve ter um novo ardor missionário, novos métodos e novas expressões. O nosso amado Papa Bento XVI conduz a Barca de Pedro na mesma direcção. Para nós, diz ele, são válidas as palavras do apóstolo “Se eu anuncio o evangelho não é para mim um motivo (...) A Igreja com toda a sua vida e actividade, é uma constante proclamação missionária de Jesus Cristo e do seu reino. Mas aqui, trata-se da actividade missionária estrita, trata-se de ir e pregar. Trata-se de sair da casa canónica e não apenas de lançar as sementes pela janela para ver até onde chegam. Trata-se de ir em busca das pessoas onde elas vivem e trabalham. Não nos podemos limitar a atender e a evangelizar as pessoas que nos procuram na Igreja e na casa canónica. Aproximar-se de pessoas concretas. Ouvir as suas vidas, os seus sofrimentos, as suas alegrias e as suas aspirações para então anunciar-lhes Jesus Cristo, morto e ressuscitado em seu reino e conduzi-la ao encontro concreto pessoal e depois comunitário com o Senhor vivo para se tornarem seus discípulos. Celibato: carisma do Espírito Santo Reencontrar a estrada do discipulado e da missão concreta no meio do povo restaura a espiritualidade do presbítero e ilumina o sentido profundo do seu ministério. Desta renovação, o sacerdote recebe também luz mais intensa para entender e viver o carisma do celibato. É uma lei canónica positiva sim, mas, na sua íntima natureza, o celibato é um carisma dado pelo Espírito Santo. Quem não tiver recebido de Deus esse carisma, por mais que tenha outras boas qualidades, não deve ser ordenado. (…) São Francisco teria dito: se pela manhã encontrasse pelo caminho um sacerdote e um anjo, mesmo se o sacerdote fosse um grande pecador, saudaria primeiro o sacerdote e depois o anjo. Porquê? Porque é o sacerdote que nos dá o Pão Eucarístico. (Excertos da conferência proferida no dia 4 de Setembro, no Auditório Paulo VI, em Fátima) Outubro 2009 · Flashes de Fátima 39 Dez voluntários leigos do Grupo Missionário João Paulo II, da diocese portuguesa de Coimbra, desenvolveram durante o mês de agosto um trabalho de evangelização no município maranhense de Chapadinha, no Nordeste brasileiro. Os jovens missionários visitaram diariamente as famílias, escolas e lojas, “num trabalho de relação humana e de evangelização muito simples, mas muito gratificante”, segundo declaração prestada à agência Ecclesia. Na noite do dia 22, realizou-se uma procissão de velas com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima trazida pelo Grupo Missionário e doada à comunidade do mais populoso bairro da cidade. Esta experiência missionária insere-se na continuidade do projeto do Grupo Missionário João Paulo II em colaboração com o trabalho desenvolvido em Chapadinha há mais de 30 anos pelos padres missionários da Boa Nova. Presidente do Peru visita o Episcopado peruano Rádio Vaticano – O presidente do Peru, Alan García, visitou em 19 de agosto a sede da Conferência Episcopal Peruana, em Lima. “Acredito que a Igreja Católica no Peru seja um dos fundamentos essenciais para a espiritualidade e a história do país” — afirmou García, no encontro com os Bispos reunidos na 94ª Assembleia Plenária. 40 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Victor Toniolo Diocese de Coimbra envia missionários ao Maranhão O presidente estava acompanhado por uma delegação do Governo. García frisou que o encontro com os Bispos foi um “diálogo fraterno”, útil para abordar temas relacionados com o desenvolvimento espiritual e econômico do país. O Arcebispo de Trujillo, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, presidente da Conferência Episcopal Peruana, agradeceu a Alan García pela visita, e sublinhou que tal encontro possibilitou a troca de ideias sobre questões inerentes ao futuro do país e do povo peruano. Os católicos na diocese são atualmente cerca de 240 mil, a maioria pertencente à tribo Garo. Peregrinos australianos terão centro de acolhimento em Roma O Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, anunciou o começo das obras de reforma em um edifício do século XIX que servirá de hospedaria para peregrinos australianos em visita à Cidade Eterna. Batizado com o nome de Domus Australis, o prédio localiza-se próximo à estação ferroviária de Termini, terá uma capela e acomodações para noventa hóspedes. “Criar um centro para os peregrinos australianos em Roma é um sonho acalentado por nós há anos”, declarou o Cardeal George Pell. Está prevista a celebração de Missa diariamente, em inglês. Reeleito o Superior Geral dos Claretianos São Pio de Pietrelcina, instrumento de evangelização “Os indígenas da tribo Garo, do nordeste da Índia, acolhem com benevolência cada vez maior a mensagem do Evangelho e convertem-se ao Cristianismo”, declarou à agência Fides, Dom George Mamalessery, Bispo emérito de Tura. E acrescentou: “Isso acontece também devido à mensagem e ao carisma de Pe. Pio de Pietrelcina, que é para a nossa comunidade um grande instrumento de evangelização”. Durante o governo de Dom Mamalessery a diocese construiu, na cidade de Thakimagre, um centro polivalente batizado em homenagem ao Pe. Pio de Pietrelcina, o qual inclui uma escola, um poliambulatório, uma capela, espaços para acolher a infância abandonada e a pastoral juvenil. O Capítulo Geral dos Missionários Claretianos reelegeu seu atual Superior Geral, Pe. José María Abella Batlle, por um período de seis anos (2009 – 2015). Em mensagem aos seus irmãos de vocação, o Superior reeleito agradece a confiança nele depositada e conclama: “Somos filhos do Coração de Maria. A seu amor de Mãe confio o meu novo ministério. Que Ela sempre nos inspire a todos a figura de nosso Santo Fundador”. Nascido em Lérida (Espanha) em 1949 e ordenado sacerdote em 1975, o Pe. Abella conta com uma larga folha de serviços prestados a essa Congregação missionária. Antes de sua primeira eleição ao cargo de Superior Geral, em 2003, exerceu diversas funções de governo, entre as quais a de Consultor Geral e a de Prefeito Geral de Apostolado. A Congregação dos Missionários Claretianos — fundada em 1807 por Santo Antônio Maria Claret — conta atualmente com mais de 3100 missionários atuantes em 63 países. Em “Viver a Eucaristia na Ásia” Realizou-se de 10 a 16 de agosto, em Manila (Filipinas), a IX Assembleia Plenária da Federação das Conferências Asiáticas. Viver a Eucaristia na Ásia foi o tema do grande encontro que contou com a participação de Bispos e delegações de toda a Ásia. A Assembleia encerrou-se com uma celebração eucarística presidida pelo enviado papal, o Cardeal Francis Arinze. Na mensagem final, os 117 participantes assinalaram que só o amor aperfeiçoado no sacrifício oferecido por Jesus, e renovado na Eucaristia, “pode trazer verdadeira harmonia e paz”. Nuno Moura seus 90 centros educacionais estudam mais de 77 mil alunos, a cargo de 3650 docentes. Ordenação episcopal de D. Manuel Linda No dia 20 de Setembro, celebrouse, na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Real, a Ordenação Episcopal de D. Manuel da Sil- va Rodrigues Linda, como Bispo Auxiliar de Braga, antigo Reitor do Seminário de Vila Real. Foi Bispo Ordenante D. Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real, e foram Co-ordenantes D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga, e D. Rino Passigato, Núncio Apostólico em Portugal. D. Manuel Linda é natural de Resende, Diocese de Lamego, tem 53 anos de idade e é o mais velho de uma família de três irmãos. Foi ordenado Presbítero no ano de 1981. Além da Licenciatura em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa - Porto, tem ainda a Licenciatura em Humanidades (UCP - Braga), estudos eclesiásticos de segundo grau, em Roma, e o doutoramento em Teologia Moral na Universidad Comillas de Madrid, Espanha. Simpósio para o Clero, em Fátima M ra a Educação Católica e do Conselho Pontifício para os Leigos, apresentou uma conferência sobre o tema “Crescer como pessoas para servir como pastores”. Segundo D. Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero, que pronunciou a conferência de encerramento, a vida do sacerdote tem que ser fortalecida a cada dia através da palavra de Deus, da vida de oração autêntica — que engloba a liturgia das horas e a devoção mariana — confissão frequente, união com o Papa e a celebração eucarística diária como centro da vida ministerial. Fotos: Nuno Moura ais de 20 bispos e 800 sacerdotes de todo o país reuniram-se em Fátima para o VI Simpósio do Clero, organizado pela Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios. A iniciativa, que decorre a cada três anos, tem desta feita um significado especial por coincidir com o Ano Sacerdotal convocado por Bento XVI. O Simpósio teve como tema “Reaviva o dom que há em ti” e abordou a formação contínua e permanente do clero. Esta edição foi aberta por D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. O Cardeal D. José da Cruz Policarpo, membro da Congregação pa- O Simpósio para o Clero terminou com uma missa solene na Igreja da Santíssima Trindade, presidida pelo Cardeal Cláudio Hummes, concelebrada por 11 bispos e por centenas de sacerdotes. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 41 Nuno Moura Jornadas das Comunicações Sociais, em Fátima “G abinetes de Imprensa: luxo ou necessidade?“ foi o tema das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, que decorreram, em Fátima. Este ano, o director da sala de imprensa da Santa Sé, P. Federico Lombardi, inaugurou estas Jornadas, promovidas pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, e destinadas a todos os profissionais de comunicação, quer ligados a meios de inspiração cristã, quer a outros que abordem notícias e questões relacionadas com a Igreja. O porta-voz do Vaticano discorreu sobre o lugar dos Gabinetes de imprensa nas estruturas da Igreja, a partir da sua experiência ao serviço de Bento XVI. Inexplicável cura após peregrinação a Lourdes “Segundo os elementos científicos que disponho, não há nenhuma explicação possível do que ocorreu”, declarou ao jornal italiano La Reppublica o Prof. Adriano Chiò, neurologista do Hospital Molinette, de Turim, ao comentar a inexplicável cura de Antonietta Raco, 50 anos, de Francavilla in Sini (Potenza). Desde 2005, estava ela confinada à cadeira de rodas por uma esclero42 Flashes de Fátima · Outubro 2009 “Devemos aproximar a instituição, ou a pessoa, que representamos do mundo da comunicação social, ajudá-las a exprimir-se de modo adequado, a fazer passar as suas mensagens através dos instrumentos apropriadas. E fazer tudo isto sem nunca darmos prioridade ao nosso pensamento pessoal, mas sim ao pensamento de quem servimos, porque é esta a finalidade da nossa tarefa. E devemos fazer isso com alegria, amando a comunidade da Igreja e considerando que é uma honra servi-la, e que geralmente é mais útil transmitir aos outros o que lhes diz o Papa ou o Bispo do que aquilo que qualquer um de nós pode inventar pessoalmente.” se lateral amiotrófica “de evolução lenta e sem qualquer possibilidade de cura”, explica o Prof. Chiò. Em inícios de agosto, Antonieta viajou em peregrinação a Lourdes e, conforme ela mesma declarou ao jornal Avvenire, ao ser posta na água miraculosa sentiu “uma forte dor nas pernas, seguida de um alívio”, e ouviu “uma voz feminina belíssima” que lhe dizia: “Não tenhas medo!”. Voltou à casa em cadeira de rodas, mas na tarde de 5 de agosto sentiu-se subitamente curada, pôs-se de pé e começou a caminhar. 500 mil fiéis em peregrinação no Sri Lanka Após o término da guerra civil que devastou o Sri Lanka nos últimos 30 anos e custou a vida de 70 mil pessoas, cerca de 500 mil peregrinos acorreram ao Santuário de Nossa Senhora de Madhu, na festa da Assunção da Santíssima Virgem. Fotos: meetingrimini.org Meeting de Rimini 2009: mais de 700 mil partipantes M ais de 700 mil pessoas, provenientes de todas as partes do mundo, participaram do 30º Meeting de Rimini, realizado nessa cidade italiana, de 24 a 30 de agosto. Através do Secretário de Estado da Santa Sé, Cardeal Tarcisio Bertone, o Papa Bento XVI enviou uma mensagem na qual, a propósito do tema do Encontro deste ano — O conhecimento é sempre um acontecimento —, o Santo Padre alertou contra o “dogma” positivista da pura objetividade, pois esta acaba resultando na “abstração pura, expressão de uma gnosiologia inadequada e irreal”. O Meeting de Rimini 2009 contou com a colaboração de 3 mil voluntários e 299 expositores. Entre nu- Segundo informe da agência Fides, neste ano a peregrinação foi centralizada sobre o tema da paz e da reconciliação nacional. Na sua homilia, o Arcebispo de Colombo, Dom Malcolm Ranjith, fez um apelo para que todos os fiéis removam o ódio dos corações e deixem Nosso Senhor Jesus Cristo preencher com paz e perdão o interior de cada um. A imagem de Nossa Senhora de Madhu é venerada há mais de 400 merosas outras personalidades de projeção internacional, nele se destacou a presença de: Padre Julián Carrón, presidente de Comunhão e Libertação; Cardeal Rouco Varela, Arcebispo de Madri; Dom Filippo Santoro, Bispo de Petrópolis; Mary Ann Glendon, presidente da Academia Pontifícia de Ciências Sociais; Carl Anderson, Cavaleiro Supremo dos Cavaleiros de Colombo; e Tony Blair, ex-Primeiro Ministro britânico. O Meeting de Rimini é um evento promovido todos os anos, desde 1980, pelo Movimento Comunhão e Libertação. É o festival de verão — de encontros, exposições, música e espetáculo — mais frequentado do mundo. anos no Sri Lanka, não só pelos Católicos, mas também por protestantes, budistas e hinduístas. Antes da eclosão da guerra civil, chegava a quase um milhão o afluxo de peregrinos na festa da Assunção da Virgem Maria. Freiras anglicanas abraçam a Fé Católica Após sete anos de orações e estudos, uma comunidade de dez freiras anglicanas de Catonsville (EUA), abraçou a Fé Católica. Durante uma Missa celebrada em 3 de setembro, o Arcebispo de Baltimore, Dom Edwin F. O’Brien, administrou-lhes o Sacramento da Confirmação e as recebeu como filhas da Igreja, juntamente com o seu capelão, Rvdo. Warren Tanghe, que considera a possibilidade de tornar-se sacerdote católico. A Arquidiocese de Baltimore mantém agora tratativas com a Santa Sé para obter um reconhecimento canônico da Sociedade de Todos os Outubro 2009 · Flashes de Fátima 43 Santos das Irmãs dos Pobres, da qual fazem parte as freiras recém-convertidas, como um instituto religioso sob a autoridade do Arcebispo. Paróquia de São Josemaría na capital mexicana A convite do Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo da Cidade do México, Dom Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei, presidiu a cerimônia de dedicação da Paróquia São Josemaría Escrivá, na capital mexicana. Em sua homilia, Dom Javier recordou a mensagem do fundador do Opus Dei: todas as pessoas, de todos os países e de todos os ambientes, estão chamadas a procurar a santidade. Participaram da Eucaristia também Dom Carlos Briseño Arch, Bispo auxiliar da Arquidiocese do Mé- xico, e Dom Carlos Berlié Belaunzarán, Arcebispo de Yucatán. Estudantes londrinos colaboram com projeto social em Aquila Doze formandos do Westpark Study Centre, núcleo de formação vinculado à Obra, dedicaram parte de suas férias de verão a colaborar com um projeto de assistência social na região italiana de Aquila, atingida no mês de abril por um terremoto que matou 300 pessoas e deixou milhares de desabrigados. Os voluntários se integraram na escola de verão organizada pela fundação ELIS, de Roma, como parte do processo de reconstrução, para atender crianças de entre 6 e 13 anos em algumas das aldeias mais afetadas pelo terremoto. “É muito triste ver as imagens de devastação divulgadas pela TV, mas somente estando aqui se torna claro o quanto as pessoas foram afetadas pela destruição, pela perda de seus familiares e de seus pertences”, declarou Jack Valero, líder do grupo, a Independent Catholic News. Programa Pastoral do Patriarcado de Lisboa para 2009-2012 Com o Programa Diocesano de Pastoral 2009-2012, D. José Policarpo espera continuar a acentuar o papel da Palavra de Deus na edificação da Igreja. O desejo foi expresso na introdução do calendário do novo ano pastoral, que terá como tema inspirador ”Assumir a Palavra de Deus como luz para a vida: alimento da oração, forma da comunidade e sustento da missão”. D. José Policarpo não esquece também os sacramentos. “Temos de Dicastério romano dá as boas-vindas à agência “Gaudium Press” D urante a viagem do Papa Bento XVI ao continente africano, em março deste ano, estreou oficialmente Gaudium Press, agência noticiosa estabelecida no Brasil e voltada para o público católico do mundo inteiro. O Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais — em missiva de 11 de agosto, assinada pelo seu secretário, Mons. Paul Tighe, em nome do presidente, Dom Claudio María Celli — ressalta que “um trabalho como o de Gaudium Press, a serviço de uma difusão mais ampla da vitalidade eclesial, incluindo fotografias, pode dar um importante contributo para o enriquecimento dos meios de comunicação, católicos ou não”. 44 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Após assinalar que existem várias áreas nas quais “é de particular importância a colaboração das realidades informativas católicas”, Mons. Tighe conclui sua carta agradecendo pela disponibilidade expressa por Gaudium Press ao Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. O nome Gaudium Press inspirase na constituição pastoral Gaudium et Spes pois é com alegria e esperança que a agência visa comunicar a todos o acontecer da realidade viva, ao mesmo tempo humana e divina, que é a Igreja de Deus. Gaudium Press mantêm atualmente acordos de colaboração com Reuters e Catholic.net, entre outros órgãos de imprensa. pois assumiu outros compromissos e ampliou de tal forma suas atividades que se tornou conhecido como “o padre da TV”. Recebeu em 1965 o Prêmio Nacional da Televisão Espanhola. Fundou em 1963 a revista Mundo Cristiano, da qual foi diretor durante mais de 30 anos. Além de numerosos artigos, é autor de livros de espiritualidade, todos com muitas reedições, e vários deles traduzidos para o francês, italiano, inglês, polonês, português e chinês. europapress.es dar prioridade à lógica da graça e à natureza sobrenatural da vida cristã, para que a Igreja possa ser, no mundo de hoje, um sinal do Reino de Deus, interpelante e motivador de esperança”, refere. Exposição “Milagres Eucarísticos no Mundo”, no Santuário de Fátima O Santuário de Fátima acolhe, até final de Setembro, a exposição “Milagres Eucarísticos no Mundo”. Esta mostra já esteve patente em diferentes cidades de vários países e é composta por mais de uma centena de referências a Milagres Eucarísticos dos cinco continentes e de diversas cronologias (desde a Idade Média à contemporaneidade). Na organização do material a expor no Santuário de Fátima, destacaram-se, num primeiro sector, os milagres eucarísticos relacionados com Portugal (Fátima, Santarém, Balazar), sendo os restantes distribuídos por ordem alfabética de países e, dentro destes, por ordem cronológica. As comunhões extraordinárias, os milagres eucarísticos relacionados com aparições marianas e as informações relativas à instituição da solenidade do Corpus Christi foram também núcleos reunidos em secções próprias. Semana de Estudos Gregorianos em Viseu Falece o fundador da revista “Mundo Cristão” Faleceu em Madri no dia 30 de agosto o Pe. Jesús Urteaga Lloidi, sacerdote da Prelatura do Opus Dei, escritor e jornalista de renome internacional. Nascido em 1921, recebeu a ordenação sacerdotal aos 26 anos e concentrou seu esforço evangelizador em quatro campos: trabalho pastoral, imprensa, televisão e literatura. Sua atuação no campo das comunicações iniciou-se em setembro de 1960, quando aceitou um convite da TVE para apresentar semanalmente um programa religioso. De- Apostolado Maria Rainha Integrada nas comemorações dos 900 anos do nascimento de D. Afonso Henriques, teve lugar em Viseu a 58ª Semana de Estudos Gregorianos. Promovido pelo Centro Ward de Lisboa, pretende-se que este curso conduza a um conhecimento mais profundo do cântico gregoriano e da sua importância na liturgia. A técnica vocal é necessária para valorizar a voz humana enquanto instrumento natural de interpretação e expressão do canto litúrgico. Esta semana terminou com uma missa na Catedral de Viseu, cantada em gregoriano por todos os participantes. do Oratório dos Corações Receba o oratório do Imaculado Coração de Maria em sua casa, um dia por mês. Seja também um coordenador deste apostolado e organize a sua peregrinação pelas casas da sua vizinhança. É muito fácil. Entre em contacto connosco por: Tel.: 212 389 596 - Fax.: 212 362 299 Rua Dr. António Cándido, 16 - 1050-076 - Lisboa E-mail: [email protected] Outubro 2009 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de Fé? Só para Te ver... O ostensório começou a girar nas mãos do sacerdote, sem que este fizesse algum movimento, ficando de frente para Zita. E de dentro da Sagrada Hóstia se fez ouvir uma celestial voz... Adelina Maria Ribeiro Matos N a pequena cidade de São José de Monte Verde, vivia um homem muito rico chamado Joaquim. Fazendeiro, possuía muitas terras, centenas de bois e uma bela casa na cidade. Mas tinha um grave defeito: era bastante mesquinho e não gostava de nada que se referisse à religião. Na casa de Joaquim vivia uma criança muito piedosa e engraçadinha, chamada Zita. Era filha de Sara, a fiel governanta, cuja mãe, por sua vez, já tinha servido à família na fazenda. A menina, muito esperta e diligente, sabia de cor todo o serviço que deveria fazer para ajudar à mãe. Sara era muito religiosa e ensinara Zita a rezar desde pequenina. Nas horas de folga, levava-a à matriz de Nossa Senhora do Perdão e ali passavam horas rezando, venerando as imagens e admirando as pinturas das paredes e do teto da bela igrejinha colonial. Mas o que gostavam mesmo era de estar com o Santíssimo Sacramento quando estava exposto. Sara en46 Flashes de Fátima · Outubro 2009 sinara à filha que naquela delicada Hóstia estava Jesus inteirinho, com Seu corpo, sangue alma e divindade. À menina custava-lhe imaginar como fazia Ele para entrar num ostensório tão pequeno... E sua mãe lhe explicava que era um grandíssimo milagre, porque Jesus subiu ao Céu, mas não quis deixar a humanidade abandonada, permanecendo entre os homens no Santíssimo Sacramento. Zita foi crescendo e logo pediu para receber a Primeira Comunhão, porque não só desejava visitar Jesus, mas queria que Ele também frequentasse seu pequeno coração. Todos os domingos ia à Missa com sua mãe e recebia a Jesus em sua alma. E durante a semana, sempre que podia, dava uma “escapadinha” só para visitar o Senhor, exposto na matriz. O tempo passava e a menina crescia na devoção ao Santíssimo Sacramento a cada dia. Porém, o senhor Joaquim, profundamente antipatizado com a devoção da menina, começou a impedir que ela fosse à igreja. Muitas vezes man- dava que ela fosse à venda comprar alguma coisa, mas marcava os minutos, para não dar-lhe tempo de parar para rezar. Zita, então, só tinha tempo de entrar na matriz e fazer uma rápida genuflexão, dizendo: — Senhor, vim aqui só para Te ver um pouquinho! E voltava correndo! O patrão a esperava com o relógio na mão. Nem aos domingos podia mais sair, pois o malvado decidiu mudar o dia de folga de sua mãe. A menina sofria com saudades de seu Jesus Sacramentado. Mas sempre que podia, corria à igreja e fazia a breve genuflexão, repetindo: — Senhor, vim aqui só para Te ver... um pouquinho! Muitas e muitas vezes se repetiu essa encantadora cena. Chegou o mês de junho. Toda a paróquia se engalanou para celebrar a festa de Corpus Christi. As ruas foram decoradas com tapetes de flores e serragem colorida. Bandeiras e velas adornavam todo o trajeto por on- da janela, tinha os olhos fitos em seu saudoso Jesus. O ostensório começou a girar nas mãos do sacerdote, sem que este fizesse algum movimento, ficando de frente para Zita. E de dentro da Sagrada Hóstia se fez ouvir uma celestial voz que dizia: — Zita, parei aqui só para te ver um pouquinho! O senhor Joaquim, que havia escutado o ruído, acabava de entrar na sala, disposto a zangar-se com a menina e a fechar a janela bruscamente. Presenciando tal prodígio, lembrouse de quando ainda rezava, ia à Missa e também da sua Primeira Comunhão. Sentiu em sua alma as alegrias daquele dia e as lágrimas começaram a correr de sua face, pois nunca mais fora visitar o Senhor, nem para vê-Lo só um pouquinho... Terminada a milagrosa cena, o ostensório tomou sua posição anterior, os pés do vigário se soltaram do solo e a procissão continuou normalmen- te. Os presentes mal podiam acreditar no que acabavam de ver... Ao notar que seu patrão estava de joelhos e chorando, a menina tomou-o pela mão e saiu com ele para acompanhar a procissão. Zita cantava os hinos eucarísticos com gosto. E qual não foi sua surpresa, quando começou a escutar uma voz forte e viril acompanhando as estrofes. Isso sim, que era um verdadeiro milagre! Chegando à igreja, depois de toda a cerimônia, o senhor Joaquim pediu ao vigário para confessar-se e assim se reconciliou com Aquele que por tanto tempo abandonara. Aos pés de Nossa Senhora do Perdão, rezou devotamente, pedindo à Mãe de Deus que o protegesse a o ajudasse a mudar de vida. Agora, sempre que tem um tempinho, passa ele pela matriz e reza. Mas antes de tudo, diz ao Senhor: — Senhor, vim aqui só para Te ver! Ajuda-me a nunca mais Te abandonar! Edith Petitclerc de passaria a procissão. O belo pálio foi preparado para proteger o Senhor Sacramentado que percorreria a cidade, nas mãos do senhor vigário. Zita ardia de desejo de participar, mas o senhor Joaquim lhe negara rotundamente! Ela suplicava no fundo de seu inocente coração que ao menos pudesse ver o Senhor de relance. Terminada a Missa, saiu a procissão, entre os toques dos sinos e os hinos em louvor a Jesus Hóstia. A banda tocava eximiamente. Haviam ensaiado novas melodias especialmente para esta festa. A menina escutava os acordes e rezava em segredo. De repente, percebeu que a música se aproximava mais e mais. A procissão ia passar em frente da casa! Tomada de fervor, perdeu todo o medo do seu patrão e abriu a janela da sala principal, justo no momento em que o pálio passava. Repentinamente, o vigário sentiu que seus pés se colaram no chão e não podiam mover-se. A menina, Tomada de fervor, perdeu todo o medo do seu patrão e abriu a janela da sala principal, justo no momento em que o pálio passava Outubro 2009 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia Santa Maria Soledade Torres Acosta, virgem (†1887). Fundou, em Madri, a Congregação das Servas de Maria Ministras dos Enfermos, que se destacam pela sua abnegada assistência aos doentes e necessitados. 1. Santa Teresinha do Menino Jesus, virgem e doutora da Igreja (†1897). Beato Luís Maria Monti, religioso (†1900). Leigo nascido em Bovisio, Itália, fundador da Congregação dos Filhos da Imaculada Conceição, dedicada a prestar assistência aos enfermos e órfãos, e dar formação aos jovens. 2. Santos Anjos da Guarda. São Saturio, eremita (†606). Viveu em contemplação e penitência numa ermida localizada nas montanhas próximas ao Rio Duero. É o padroeiro da cidade de Sória, Espanha. 3. Bem-Aventurados André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, presbíteros, e companheiros, mártires (†1645). São Geraldo de Brogne, abade (†959). Implantou com êxito a regra beneditina na abadia de Saint-Ghislain, Bélgica. Reformou muitos mosteiros de Flandres e depois se fez eremita. 4. XXVII Domingo do Tempo Comum. São Francisco de Assis, religioso (†1226). Beato Alfredo Pellicer Muñoz, religioso e mártir (†1936). Durante a Guerra Civil espanhola, milicianos levaram-no preso do convento franciscano de Onteniente e o fuzilaram. 5. São Benedito, o Negro, religioso (†1589). São Plácido, monge (†séc. VI). Discípulo de São Bento desde a infância. Padroeiro dos noviços beneditinos. 6. São Bruno, presbítero (†1101). Santo Artaldo, Bispo (†1206). Monge cartuxo, fundador do mosteiro de Arvières, França. Era já nonagenário quando foi eleito Bispo de Belley. Após dois anos neste cargo, 48 Flashes de Fátima · Outubro 2009 Santa Teresinha do Menino Jesus pediu autorização ao Papa para retornar à vida monacal. 7. Nossa Senhora do Rosário. Santa Justina, virgem e mártir (†séc. III/IV). Executada em Pádua, Itália, durante a perseguição de Diocleciano. 8. Santa Ragenfrida, abadessa (†séc. VIII). Com seus próprios bens, erigiu o mosteiro de Denain, França, do qual foi a primeira abadessa. 9. São Dionísio, Bispo, e companheiros, mártires (†séc. III). São João Leonardi, presbítero (†1609). Santo Abraão, patriarca. Atendendo ao chamado do Senhor, abandonou a cidade de Ur dos Caldeus e partiu em busca da terra que Ele prometeu lhe dar. Inteiramente submisso à vontade divina, aceitou resignadamente duras provações. 12. Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Beato Romão Sitko, presbítero e mártir (†1942). Reitor do seminário de Tarnów, Polônia, preso e brutalmente torturado no campo de extermínio de Auschwitz. 13. Santa Quelidonia, virgem (†1152). Durante 52 anos, viveu como eremita nos montes de Simbruini, Itália, em regime de extrema austeridade. 14. São Calixto I, Papa e mártir (†222). Beato Tiago Laigneau de Langellerie, presbítero e mártir (†1794). Capelão das Carmelitas de Angers, França. Preso durante a Revolução Francesa quando levava os Sacramentos a um enfermo, foi guilhotinado. 15. Santa Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja (†1582). São Severo, Bispo (†séc. V). Prelado de Tréveris, discípulo de São Lupo de Troyes e companheiro de São Germano de Auxerre no combate à heresia pelagiana na Inglaterra. 10. São João, presbítero (†1379). Prior do mosteiro dos cônegos regulares de Santo Agostinho em Bridlington, Inglaterra, ao qual deu grande florescimento. 16. Santa Edviges, religiosa (†1243). Santa Margarida Maria Alacoque, virgem (†1690). São Galo, monge e presbítero (†645). Educado por São Columbano no mosteiro de Bencor, Irlanda, propagou dedicadamente o Evangelho nessa região. 11. XXVIII Domingo do Tempo Comum. 17. Santo Inácio de Antioquia, Bispo e mártir (†107). ____________________ Outubro Santo Oseias. Profeta do Antigo Testamento. Com suas palavras e exemplo de vida, demonstrou ao povo de Israel o incomensurável amor de Deus. 25. XXX Domingo do Tempo Comum. Beato Tadeu Machar, Bispo (†1492). Nobre irlandês, educado pelos franciscanos de Kilcrea. Eleito Bispo de Cork e Cloyne, não conseguiu tomar posse de sua diocese, devido aos distúrbios causados pelas lutas partidárias na Irlanda. 18. XXIX Domingo do Tempo Comum. São Lucas Evangelista. Santo Asclepíades, Bispo (†218). Em Antioquia, insigne confessor da Fé nos tempos das perseguições. 26. São Rogaciano, presbítero (†séc. III). Durante a perseguição de Décio, São Cipriano confiou-lhe a administração da Igreja de Cartago. Junto com São Felicíssimo, padeceu tribulações por amor ao nome de Cristo. 19. Santos João de Brébeuf, Isaac Jogues, presbíteros, e companheiros, mártires (†1649). São Paulo da Cruz, presbítero (†1775). Santa Fridesvida, virgem (†735). Abandonando a vida de corte, fundou em Oxford, Inglaterra, dois mosteiros dos quais foi abadessa. 27. São Gaudioso, Bispo (†séc. V/ VI). Bispo de Abitina, na Tunísia atual, fugiu da perseguição dos vândalos, indo para Nápoles onde fundou o mosteiro no qual morreu. 20. Beato Jacó de Strepa, Bispo (†1409). Nobre polonês, prior do convento franciscano de Lviv, Ucrânia. Nomeado Bispo de Halicz, estimulou a vida religiosa, a devoção a Jesus Eucarístico e à Virgem Santíssima. 21. São Pedro Yu Tae-ch’ol, mártir (†1839). Jovem de 13 anos que, tendo sido encarcerado durante as perseguições na Coreia, exortava seus companheiros a suportar os suplícios. Foi morto por estrangulamento, após ser cruelmente flagelado. 22. São Lupêncio, abade (†684). Abade de Saint-Privat-de-Javols, em Châlons. Após sofrer inúmeras injúrias e calúnias por parte de Inocêncio, conde desta cidade, morreu decapitado. 23. São João de Capistrano, presbítero (†1456). Santo Inácio, Bispo (†877). Patriarca de Constantinopla, persegui- 28. São Simão e São Judas Tadeu, Apóstolos. São Rodrigo Aguilar, presbítero e mártir (†1927). Chegada a revolução no México, exerceu seu ministério às escondidas. Foi delatado por um falso amigo, capturado e enforcado na praça de Ejutla. “São Benedito”, o Negro - Igreja de Santa Efigênia, Ouro Preto, MG do e exilado por reprovar a má conduta moral do imperador Bardas. Sofreu ainda muitas calúnias antes de retornar à sua Sé. 24. Santo Antônio Maria Claret, Bispo (†1870). Beato José Baldo, presbítero (†1915). Fundador da Congregação das Pequenas Filhas de São José. Haurindo forças em sua profunda devoção eucarística, dedicou-se às obras sociais e à catequese. 29. São Dodone, abade (†séc. VIII). Abade de Wallers, França, que sentindo-se chamado à vida ascética, fez-se eremita nas proximidades deste mosteiro. 30. Beato Terence Albert O’Brien, Bispo e mártir (†1651). Religioso dominicano eleito Bispo de Emly, na Irlanda, conduzido ao patíbulo durante o regime de Oliver Cromwell. 31. Santo Antonino, Bispo (†661). No curto período em que governou a igreja de Milão, empenhou-se em combater a heresia ariana. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 49 As solenes pompas da natureza A alma humana é aquilo que admira. Será pela contemplação enlevada dos diversos cerimoniais da natureza que algo da grandeza divina do Criador penetrará em nossos corações. Lucas Garcia Pinto Tito Alarcón Q uem parar um pouco para observar os fenômenos climáticos ou geológicos, com facilidade notará que nada do que se passa na natureza apresenta traços de intemperança, agitação ou precipitação. Nada sugere ao espectador frenesi ou abalo de temperamento. Pelo contrário, Deus pôs na ordem da criação tal sobriedade, tal majestade, tal solenidade, que se poderia dizer haver nesses fenômenos um cerimonial do universo, renovado a cada dia. Ainda em se tratando de algo violento, como um vulcão em erupção, ou uma tempestade em alto-mar, o cenário é de pompa e nobreza. Aquela coluna de fumaça do vulcão, que parece subir ao Céu como o incenso oferecido a Deus pela natureza, é sucedida pelo magma ígneo 50 Flashes de Fátima · Outubro 2009 que escorre, encosta abaixo, solene, avassalador e... terrível. Na tempestade, nuvens escuras toldam o firmamento, enquanto relâmpagos coruscam pelo horizonte, e trovões ameaçadores compõem o fundo musical deste grandioso espetáculo de cólera. De uma cólera majestosa e imponente. Em resposta ao céu, o mar lança ao alto suas ondas, como que desafiando o firmamento. O rugido das vagas responde ao estrondo dos trovões. E o mar descarrega sua fúria sobre as rochas e penhascos, que lhe fazem resistência, defrontando com altivez a força das águas revoltas. Magníficos reflexos da justiça divina! Já nos pores-do-sol, é a bondade indizível do Criador que se mani- festa com particular brilho e riqueza. Bem se entende o motivo pelo qual certos povos com veio contemplativo mais acentuado — como o indiano, por exemplo — se extasiam cada dia diante dos magníficos entardeceres. Com tanta exuberância se apresenta este fenômeno nas praias da misteriosa e atraente Índia, que famílias inteiras cobrem as areias para, quiçá, ouvir intuitivamente a mensagem que Deus quer lhes transmitir através das multicolores vestimentas do céu. Diz-se que o homem é aquilo que come. Com mais propriedade, podese dizer que a alma humana é aquilo que admira. Será pela contemplação enlevada desses diversos cerimoniais da natureza que algo da grandeza divina do Criador penetrará em nossos corações. Outubro 2009 · Flashes de Fátima 51 Luis Alberto Blanco Hamilton Naville Getty Images V ós cresceis como aurora rutilante, que nos traz as alegrias da salvação. De Vós nasceu Cristo, Nosso Deus, o Sol de Justiça, de Vós que sois a porta radiante de luz. Gustavo Kralj Do cântico gregoriano Tota Pulchra Es “Nossa Senhora de Paris” - Imagem em madeira policromada venerada na capela privada do Palácio Cardinalício do Seminário dos Arautos do Evangelho