Mensuração de Nível de Maturidade Tecnológica
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Mensuração de Nível de Maturidade Tecnológica
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA DIVISÃO DE ENSINO SENSORES INERCIAIS FOTÔNICOS PARA APLICAÇÕES AEROESPACIAIS: NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA Título do Trabalho 1202RP01 Código do Trabalho CCEM 2008 Curso e Ano MONOGRAFIA SENSORES INERCIAIS FOTÔNICOS PARA APLICAÇÕES AEROESPACIAIS: NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA Título do Trabalho VILSON ROSA DE ALMEIDA Ten Cel Av NOME 05 set. 2008 DATA FRANCISCO CARLOS MELO PANTOJA Cel Eng ORIENTADOR CCEM 2008 CURSO Este documento é resultado do trabalho de oficial-aluno do CCEM da ECEMAR. Seu conteúdo, quando não for citada a fonte da matéria, reflete a opinião do autor, não representando, necessariamente, o pensamento da ECEMAR ou da Aeronáutica. RESUMO A mensuração do nível de maturidade tecnológica é uma importante ferramenta métrica para o gerenciamento de risco tecnológico das atividades e projetos voltados para aplicações aeroespaciais de interesse do Comando da Aeronáutica (COMAER). Este trabalho monográfico objetiva realizar a mensuração do nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos nacionais, como acelerômetros e girômetros, por meio do uso de metodologia de pesquisa do tipo exploratória, bem como de levantamento de dados com enfoque documental e bibliográfico de caráter ostensivo. Descrevem-se, inicialmente, os diversos aspectos históricos e tecnológicos relacionados com os sensores inerciais, com ênfase na vertente fotônica, cujas características gerais são analisadas. Identificam-se as atividades de pesquisa e desenvolvimento de sensores inerciais fotônicos existentes no país, que contribuem para o domínio científico e tecnológico nacional de interesse para as aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER. No contexto dos sensores inerciais fotônicos nacionais, observa-se que os acelerômetros abordam a linha tecnológica optomecânica utilizando grades de Bragg em fibras ópticas, enquanto que os girômetros, tanto de aplicação tática como estratégica, abordam a vertente tecnológica de Giroscópios a Fibra Óptica (GFO). Investigam-se metodologias, processos e ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica aplicáveis à tecnologia de sensores inerciais fotônicos; observa-se que o referencial teórico encontra-se predominantemente disperso, em virtude de o conceito de mensuração do nível de maturidade tecnológica ser de concepção relativamente recente, com teorias de base em fase embrionária. Adota-se o Technology Reasiness Level (TRL), denominado de Indicador TRL e criado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) em 1995, como metodologia de mensuração do nível de maturidade tecnológica. A adoção crescente do Indicador TRL por instituições nacionais e internacionais, pertencentes predominantemente à área de Defesa e ao setor aeroespacial, ratifica a relevância desse indicador em áreas de interesse do COMAER. Em seguida, apresenta-se o software TRL Calculator como ferramenta computacional de orientação e facilitação do processo de mensuração do nível de maturidade tecnológica. Realiza-se, então, a mensuração dos níveis do Indicador TRL associados a sensores inerciais fotônicos nacionais, e observa-se que os acelerômetros fotônicos encontram-se no nível de maturidade tecnológica TRL-4, enquanto que os girômetros fotônicos, de aplicação tática e estratégica, encontram-se, respectivamente, nos níveis de maturidade tecnológica TRL-6 e TRL-7. Conclui-se, então, que os estudos apresentados e os resultados obtidos permitem compreender e mensurar o nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos; vislumbra-se que este trabalho monográfico sirva de referência para balizar futuros trabalhos científicos similares. Palavras-chave: Sensores inerciais. Girômetros. Acelerômetros. Maturidade tecnológica. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFRL Air Force Research Laboratory dos Estados Unidos da América CNES Centre National d’Etudes Spatiales COMAER Comando da Aeronáutica CTA Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial DoD Department of Defense dos Estados Unidos da América DOE Department of Energy dos Estados Unidos da América DT&E Developmental Test and Evaluation DTG Dynamically Tuned Gyroscope ou Dry Tuned Gyroscope EFO Divisão de Fotônica do IEAv ESA European Space Agency EUA Estados Unidos da América FAA Federal Aviation Administration dos Estados Unidos da América FAB Força Aérea Brasileira FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FOG Fiber Optic Gyroscope GAO Government Accountability Office dos Estados Unidos da América (definido previamente, até 2004, como General Accounting Office) GFO Giroscópio a Fibra Óptica GIROMAR Projeto “Bloco Girométrico Miniaturizado a Fibra Óptica para Utilização no Míssil MAR-1” GNSS Global Navigation Satellite System GPS Global Positioning System IAE Instituto de Aeronáutica e Espaço do CTA IEAv Instituto de Estudos Avançados do CTA IFOG Interferometric Fiber Optic Gyroscope (Giroscópio Interferométrico a Fibra Óptica) IMU Inertial Measurement Unit INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPT Integrated Product Team IRL Integration Readiness Levels M&S Modeling and Simulation MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MDA Missile Defense Agency dos Estados Unidos da América MRL Manufacturing Readiness Level MTCR Missile Technology Control Regime NASA National Aeronautics and Space Administration dos Estados Unidos da América NATO North Atlantic Treaty Organisation OT&E Operational Test and Evaluation OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte P&D Pesquisa e Desenvolvimento PRL Programmatic Readiness Levels RLG Ring Laser Gyro SIA Projeto “Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial” SoS System of Systems SRL System Readiness Levels TMC Technology Maturity Conference TPMM Technology Program Management Model TRA Technology Readiness Assessment TRL Technology Readiness Level UK MoD United Kingdom Ministry of Defense LISTA DE FIGURAS Figura 1: Maturidade das diversas tecnologias de sensores inerciais. ......................22 Figura 2: Futuras aplicações para as diversas tecnologias de sensores inerciais.....23 Figura 3: Tecnologias e aplicações atuais de acelerômetros, em função dos parâmetros de precisão................................................................................25 Figura 4: Tecnologias de acelerômetros no curto prazo, em função dos parâmetros de precisão. ..................................................................................................25 Figura 5: Tecnologias de acelerômetros no longo prazo, em função dos parâmetros de precisão. ..................................................................................................26 Figura 6: Vista esquemática de um acelerômetro fotônico triaxial baseado em grades de Bragg em fibra óptica. .............................................................................29 Figura 7: Vista esquemática de um acelerômetro fotônico de seis graus de liberdade, baseado em grades de Bragg em fibra óptica. ............................................30 Figura 8: Tecnologias e aplicações atuais de girômetros, em função dos parâmetros de precisão. ..................................................................................................32 Figura 9: Tecnologias de girômetros no curto prazo, em função dos parâmetros de precisão. .......................................................................................................32 Figura 10: Tecnologias de girômetros no longo prazo, em função dos parâmetros de precisão. ....................................................................................................33 Figura 11: Diagrama esquemático da estrutura de um GFO do tipo recíproco. ........35 Figura 12: Imagem ilustrativa do SDV e de seus elementos constituintes, incluindo um GFO. ....................................................................................................37 Figura 13: Imagem do bloco girométrico miniaturizado referente ao projeto GIROMAR, durante a realização de ensaios de vibração em laboratório do IAE. .......................................................................................................39 Figura 14: Ilustração esquemática sucinta dos níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL. ...........................................................................................45 Figura 15: Apresentação esquemática genérica de uma carta de ciclo de vida tecnológico do tipo Whale Chart, mapeada ao Indicador TRL e aos marcos de estágio tecnológico do DoD e da NASA..................................46 Figura 16: Ilustração esquemática, genérica e truncada, do software TRL Calculator, mostrando os itens descritivos associados apenas até o nível de maturidade TRL-1......................................................................................50 Figura 17: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos acelerômetros fotônicos nacionais. ...................................................................................55 Figura 18: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática. ...................................................................57 Figura 19: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica. ..........................................................58 Figura 20: Histograma das estimativas de nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos nacionais, obtidas por meio do uso do TRL Calculator...................................................................................................59 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................8 2 METODOLOGIA .................................................................................................13 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .........................................................................15 3.1 PANORAMA HISTÓRICO E TECNOLÓGICO ...................................................15 3.2 SENSORES INERCIAIS .....................................................................................20 3.3 NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA .......................................................40 4 NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA DE SENSORES INERCIAIS FOTÔNICOS NACIONAIS..................................................................................53 4.1 ACELERÔMETROS FOTÔNICOS .....................................................................55 4.2 GIRÔMETROS FOTÔNICOS .............................................................................55 5 CONCLUSÃO .....................................................................................................60 REFERÊNCIAS ..................................................................................................63 GLOSSÁRIO.......................................................................................................69 APÊNDICE A – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de acelerômetros fotônicos nacionais usando o TRL Calculator ....................70 APÊNDICE B – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática usando o TRL Calculator...........................................................................................................74 APÊNDICE C – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica usando o TRL Calculator...........................................................................................................77 ANEXO A – Indicador TRL definido pela NASA.............................................80 ANEXO B – Indicador TRL definido pelo DoD para Hardware .....................83 ANEXO C – Indicador TRL definido pelo DoD para Software ......................84 ANEXO D – Comparação entre as definições do Indicador TRL e os termos em uso pela ESA e CNES .................................................................................85 8 1 INTRODUÇÃO A Navegação Inercial pode ser definida como o processo autônomo (ou seja, independente de informações externas) de direcionamento e controle dos movimentos de um corpo móvel (veículo ou sistema) para guiá-lo através de um caminho desejado; esse processo depende da obtenção de informações da posição inicial, velocidade, direção e/ou atitude (posição relativa dos eixos do corpo em relação a um sistema de referência) desse corpo móvel com relação a um referencial inercial. Tais informações são obtidas, direta ou indiretamente, por intermédio de sensores inerciais (LAWRENCE, 1998, p. 4-11; MALYSHEV et al., 1996; TITTERTON; WESTON, 2005). Analogamente, a Estabilização Inercial pode ser definida como o processo autônomo de direcionamento e controle de um corpo, visando manter sua atitude e/ou posição em relação a um referencial inercial. Os Sistemas de Navegação/Estabilização Inercial – também conhecidos sob a denominação genérica de Sistemas Inerciais – são capazes de prover informações de atitude e/ou posição de veículos em geral, bem como de sistemas de aplicação na área de Defesa ou de uso em ambientes aeroespaciais, como foguetes e satélites; essas informações devem ser independentes de quaisquer sinais externos e, ainda, suficientemente confiáveis e precisas, mesmo quando esses veículos/sistemas se encontram atuando sob condições operacionais e/ou ambientais adversas. Dessa forma, os Sistemas Inerciais fornecem os dados demandados pelos sistemas de controle e de atuação desses veículos/sistemas, viabilizando a almejada navegação autônoma ou a manutenção de posicionamento e/ou atitude. Os dispositivos essenciais de um Sistema Inercial são os sensores inerciais denominados girômetros e acelerômetros, que provêem as informações fundamentais de rotação e aceleração, respectivamente. Cabe destacar que o Comando da Aeronáutica (COMAER) considera que a área de Fotônica,1 como um todo, é de alta prioridade tanto para empreendimentos de pesquisa como de desenvolvimento; o mesmo ocorre para a área de Navegação Automática de Precisão, a qual abarca os sensores inerciais, de um modo geral, 1 A Fotônica é o ramo da ciência que estuda os fótons (unidades elementares da radiação eletromagnética na faixa espectral visível ao olho humano, e nas faixas espectrais adjacentes). 9 incluindo os de tecnologia fotônica (BRASIL, 2007a, p. 28-30). Este trabalho científico visa prover uma estimativa do nível de maturidade tecnológica em que se encontram os sensores inerciais fotônicos nacionais, bem como proporcionar uma visão geral da ciência e da tecnologia dos sensores inerciais, analisando a aplicabilidade e relevância desses em áreas de potencial interesse do COMAER. Em virtude da exigüidade de tempo disponível para a execução deste trabalho monográfico, apenas a vertente de sensores inerciais baseados na tecnologia fotônica será investigada com maior profundidade neste trabalho. Sob uma visão bastante ampla, verifica-se que a relevância estratégica que respalda o âmago do estudo realizado neste trabalho monográfico encontra-se pautada no papel da ciência e tecnologia na defesa da soberania nacional, sob seus aspectos filosófico e político-científico; esses aspectos relacionam-se com as teorias da política internacional, notadamente no que diz respeito à ciência política de matriz anglo-saxônica referente à teoria relacional de poder, que tem Robert Dahl como seu principal expoente, seguindo a interpretação dada por Luiz Fernandes (PINTO; ROCHA; SILVA, 2004, p. 234).2 Não obstante, cabe ressaltar o pensamento de Roberto Amaral,3 com relação ao papel da ciência e tecnologia na defesa da soberania nacional, o qual defende a tese de que “[...] ciência e tecnologia desenvolvem-se em casa” (PINTO; ROCHA; SILVA, 2004, p. 175). No contexto geral de Defesa, cabe lembrar que a expressão Científico-Tecnológica corresponde a uma das cinco expressões do Poder Nacional brasileiro (BRASIL, 2007d), conceito esse que, conjuntamente com a expressão Militar, é profusamente ecoado no âmbito do COMAER (BRASIL, 2005a, p.12; BRASIL, 2007a, p. 16). Dessa forma, a busca contínua pela soberania tecnológica nacional torna indubitável a relevância estratégica do conhecimento do nível de maturidade em que se encontra o domínio da tecnologia de sensores inerciais fotônicos; para tal, faz-se necessário obter a essência do conhecimento tanto dos princípios básicos de operação dos sensores inerciais fotônicos, como da metodologia científica de mensuração do nível de maturidade tecnológica. Em virtude da metodologia de pesquisa do tipo exploratória adotada neste trabalho monográfico, que enfoca o 2 Luis Manuel Rebelo Fernandes, cientista político, professor da UFF e da PUC-Rio, Presidente da FINEP e ex-Secretário-Executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia. 3 Roberto Átila Amaral Vieira, cientista político, professor da PUC-Rio e ex-Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia. 10 conceito relativamente recente de mensuração do nível de maturidade tecnológica, cujas teorias ainda se encontram em fase embrionária, observou-se que o referencial teórico encontra-se difuso, predominantemente disperso em diversos documentos emanados por instituições governamentais de alguns países. Dessa forma, consideram-se as teorias associadas ao uso da estimação de maturidade tecnológica como uma ferramenta metodológica de referência métrica para o gerenciamento de riscos tecnológicos, como sendo aquelas que mais adequadamente abarcam o escopo teórico deste trabalho (ECSS, 2000; ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2003, 2005, 2006b; LARGENT, 2003; MOON; SMITH; COOK, 2005; NOLTE; ANDERSON; McCARTY, 2005), pois englobam o campo conceitual das metodologias e processos usados para mensurar o nível de maturidade tecnológica. Por conseguinte, o problema de pesquisa vislumbrado para este trabalho monográfico traduz-se em responder à seguinte pergunta: qual o nível de maturidade tecnológica em que se encontram os sensores inerciais fotônicos nacionais demandados pelas aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER? O objetivo geral deste trabalho consiste, portanto, em mensurar o nível de maturidade tecnológica em que se encontram os sensores inerciais fotônicos nacionais, demandados por Sistemas Inerciais usados em aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER, priorizando o estudo e a análise do processo e das ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica, bem como o levantamento de dados que possam retratar o nível de domínio científico e tecnológico nacional desses sensores. Para que o supracitado objetivo possa ser atingido, definiram-se os seguintes objetivos específicos deste trabalho, listados a seguir: a) investigar as características gerais de sensores inerciais usados em Sistemas Inerciais para aplicações aeroespaciais, de diversas vertentes tecnológicas, com aprofundamento focal naqueles baseados em tecnologia fotônica; b) averiguar as informações pertinentes que sirvam de subsídio para identificar o atual nível de maturidade do domínio científico e tecnológico nacional de sensores inerciais fotônicos usados em aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER; 11 c) identificar e estudar modelos, processos e ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica aplicáveis à tecnologia de sensores inerciais fotônicos; e d) mensurar o nível de maturidade tecnológica em que se encontram os sensores inerciais fotônicos nacionais de interesse para as aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER. No âmbito da Universidade da Força Aérea (UNIFA), observa-se que, no período de 1996 a 2007, foram realizados apenas alguns poucos trabalhos monográficos que se encontram proximamente relacionados com o tema deste trabalho monográfico. Esses trabalhos prévios abordaram brevemente algum sensor inercial específico ou a relevância estratégica de Sistemas Inerciais em aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER (MIRANDA, C. T., 1996; MOURA, C. A. T., 2001; RABELO, R. C., 2003). No entanto, nenhum desses trabalhos buscou mensurar o nível de maturidade tecnológica associado a sensores inerciais específicos, nem tampouco isso foi feito para os Sistemas Inerciais como um todo. Cabe registrar que o autor deste trabalho monográfico atuou na Divisão de Fotônica (EFO) do Instituto de Estudos Avançados (IEAv) do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), no período entre 1997 e 2007, em diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento de sensores inerciais fotônicos, bem como vem acumulando, desde 2001, conhecimento científico, acadêmico e experimental, acerca de sensores inerciais micro-eletro-mecânicos. Este trabalho apresentará, inicialmente, a metodologia empregada e fará uma discussão sobre a fundamentação teórica, tanto dos sensores inerciais como da abordagem de mensuração do nível de maturidade tecnológica, incluindo uma contextualização histórica e tecnológica que busca evidenciar a relevância deste trabalho para o COMAER. Em seguida, aplicar-se-á uma ferramenta de mensuração de nível de maturidade tecnológica ao caso específico dos sensores inerciais fotônicos nacionais. Finalmente, apresentar-se-ão as conclusões dos estudos e das análises realizadas. Dessa forma, vislumbra-se que este trabalho, assim estruturado, possa servir de importante subsídio no auxílio ao gerenciamento de riscos tecnológicos em projetos e atividades científico-tecnológicas de interesse do COMAER, bem como para que venha a ser usado a fim de balizar futuros trabalhos científicos correlatos. 12 Para que os objetivos específicos previamente listados sejam adequadamente explorados e alcançados, segue-se, no próximo capítulo, a descrição da metodologia a ser conduzida. 13 2 METODOLOGIA O trabalho monográfico será carreado utilizando-se, com relação ao objetivo, a metodologia de pesquisa do tipo exploratória; por outro lado, com relação ao procedimento de levantamento de dados, a pesquisa apresenta enfoque documental e bibliográfico de caráter ostensivo (GIL, 2002; LAKATOS; MARCONI, 2001). A pesquisa tem como meta a procura e a análise de ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica aplicáveis a sistemas aeroespaciais, em geral, e a sensores inerciais fotônicos, em particular. Subseqüentemente, essa meta se traduz na busca por informações científico-tecnológicas atuais, relacionadas com sensores inerciais fotônicos nacionais, que se apliquem de forma exclusiva ou dual aos propósitos aeroespaciais de interesse do COMAER, de forma a subsidiar a determinação do nível de maturidade tecnológica desses sensores. Para tanto, essa pesquisa atentará por manter-se sempre sob a égide e à luz dos ensinamentos emanados pelo referencial teórico adotado, buscando encontrar as respostas oportunas e adequadas às questões norteadoras, listadas a seguir: a) Quais são as características gerais de sensores inerciais usados em Sistemas Inerciais para aplicações aeroespaciais, em particular daqueles baseados em tecnologia fotônica? b) Quais são os sensores inerciais fotônicos de interesse para as aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER, e quais as respectivas informações que se relacionam com o domínio científico e tecnológico nacional? c) Quais são os modelos, processos e as ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica que sejam aplicáveis à tecnologia de sensores inerciais fotônicos? d) Qual o nível de maturidade tecnológica atual de cada sensor inercial fotônico nacional de interesse para as aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER? Os dados necessários à mensuração do nível de maturidade tecnológica (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005), referentes aos sensores inerciais fotônicos nacionais serão coletados, preferencialmente, por meio de pesquisa 14 documental de material ostensivo (e.g., relatórios técnicos) nas instituições de pesquisa e desenvolvimento e de empresas que atuam nessa linha tecnológica, e/ou nas instituições governamentais que financiam projetos relacionados ao tema. No âmbito do COMAER, destaca-se notadamente o IEAv-CTA. Para que a aplicação da metodologia adotada seja eficaz, faz-se necessário fundamentar teoricamente os principais conceitos associados ao escopo do estudo deste trabalho, o que é realizado no capítulo seguinte. 15 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nas subseções seguintes, apresenta-se gradualmente a fundamentação teórica que fornece os subsídios necessários ao entendimento dos diversos tópicos listados nos objetivos específicos deste trabalho, bem como permitem responder às respectivas questões norteadoras. 3.1 PANORAMA HISTÓRICO E TECNOLÓGICO A possibilidade de realizar navegação aérea com o auxílio de instrumentos incorporados à própria aeronave tem sido uma aspiração tão antiga quanto a própria aviação. O primeiro princípio adotado foi o da radionavegação, ou seja, a localização direcional por meio de transmissão de ondas de radiofreqüência, como nos sistemas Automatic Direction Finder (ADF) e Very high frequency Omnidirectional Radio range (VOR), dentre outros. Na década de 70, o sistema de radionavegação OMEGA foi o primeiro a proporcionar a capacidade de navegação aérea verdadeiramente global, permitindo que se viajasse a qualquer ponto sobre o globo terrestre; esse sistema foi largamente utilizado até a sua desativação, em 1997, fato este que decorreu principalmente do grande sucesso da geração seguinte de navegação aérea por instrumentos, que tem ainda hoje o Global Positioning System (GPS) como principal representante. No entanto, desde os primórdios da navegação aérea, concomitantemente com o período de florescimento dos diversos sistemas de radionavegação, alguns veículos apresentaram a necessidade precípua de realizar navegação por instrumentos que fosse independente de sinais externos, sendo essa capacidade particularmente importante em aplicações de veículos militares, aeroespaciais e submarinos. Dessa forma, identificou-se a possibilidade de se realizar navegação ou guiamento autônomo inercial, ou seja, por meio das variáveis inerciais (aceleração, velocidade e rotação), medidas por sensores apropriados que se encontrem embarcados no próprio veículo, sem qualquer auxílio externo. Remontando-se ao ano de 1944, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, observa-se que os foguetes-bombas alemães da classe V-2 fizeram uso, 16 pela primeira vez na história, de um sistema de guiamento autônomo inercial. O alcance das V-2 era de cerca de 320 km, e o erro médio do ponto de impacto, em relação ao alvo, era de aproximadamente 1,6 km. Em 1970, o alcance dos mísseis balísticos de longo alcance já atingia 10.000 km e, ainda que utilizassem sistemas de guiamento inercial similares aos das V-2, o erro médio do ponto de impacto para uma navegação em torno de 30 vezes mais longa era de cerca de apenas 2 km (HANG, 1970); na mesma época, o projeto APOLLO utilizava sistema de guiamento inercial para realizar missões espaciais entre a Terra e a Lua. Os sensores usados nos Sistemas Inerciais progrediram desde o nível de dispositivos eletromecânicos rudimentares, que guiavam as V-2, até dispositivos integrados de estado sólido, usados em muitos veículos modernos (NATO, 2004, p. 1.1). Atualmente, diversos Sistemas Inerciais habilitam o guiamento autônomo de uma grande variedade de corpos móveis, havendo uma contínua melhoria nos parâmetros de compacidade, peso, custo e precisão desses sistemas (LAWRENCE, 1998; TITTERTON; WESTON, 2005). Os Sistemas Inerciais apresentam erros de navegação devido à sua precisão intrínseca, em decorrência de imperfeições da tecnologia empregada em sua construção, bem como erros causados por imperfeições no modelo do campo gravitacional da região navegada; esses erros de mensuração tendem a incrementar continuamente o erro de posição da navegação, notavelmente observado nas navegações de longa duração. No intuito solucionar esse inconveniente, os Sistemas Inerciais necessitam ser suficientemente precisos ou, alternativamente, podem ser auxiliados por informações externas provenientes de sistemas externos de auxílio à navegação; como exemplo, citam-se o LORAN-C,4 baseado em um sistema de antenas na superfície terrestre, ou, mais recentemente, em sistemas do gênero Global Navigation Satellite System (GNSS), como o GPS, baseados em constelações de satélites LAWRENCE, 1998, p. orbitais 19-23; (GREWAL; STRUS; WEILL; ANDREWS, KIRKPATRICK; SINKO, 2007; 2008). Adicionalmente, os sensores de estrela podem auxiliar na medição e controle de atitude de satélites artificiais, sendo capazes de identificar as estrelas observadas e de determinar a atitude do satélite, tendo como base essas observações (CGEE, 2006). No entanto, cabe ressaltar que esses sistemas externos de auxílio à 4 O sistema de navegação OMEGA também foi utilizado com essa finalidade, até 1997. 17 navegação não são apropriados para serem utilizados como sistema único de navegação em aplicações militares, aeroespaciais e submarinas, em virtude de diversos fatores; por exemplo, podem-se citar a vulnerabilidade a uma eventual interferência eletrônica e a impossibilidade de esses sistemas externos proverem uma informação rápida e precisa da atitude do veículo/sistema (LAWRENCE, 1998, p. 21-23; NATO, 2004, p. 1.1-1.2; STRUS; KIRKPATRICK; SINKO, 2008, p. 30). Essas características desses sistemas externos ratificam a relevância do uso de sensores inerciais, suficientemente precisos, para as aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER. De modo geral, quanto mais preciso se deseja que um sensor inercial seja, mais complexo e dispendioso se torna o desenvolvimento tecnológico desse. No âmbito do braço armado do COMAER, a Força Aérea Brasileira (FAB), as primeiras aeronaves a incorporar sistemas de navegação inercial foram os C-130 HÉRCULES, ao fim da década de 60; a partir da década seguinte, houve um contínuo acréscimo na introdução desse tipo de equipamento em aeronaves militares. Em 1999, as aeronaves que dispunham de Sistemas de Navegação Inercial eram: C-130 HÉRCULES, A-1 FALCÃO, A-29 SUPER TUCANO, KC-137 BOEING 707-320C, R-35 LEARJET, VC-96 BOEING 737-200, F-5E TIGER II e R-99 GUARDIÃO (FRIGINI JÚNIOR, 1999). As aeronaves F-5E TIGER da FAB são equipadas com a unidade inercial LITTON LN-33, que usa sensores giroscópicos sintonizados dinamicamente (Dynamically Tuned Gyroscope – DTG), de primeira geração; o Sistema de Navegação Inercial LITTON LN-39 da aeronave A-1 FALCÃO usa plataformas com giroscópios DTG de segunda geração (CGEE, 2006, p. 23-24). Atualmente, um número crescente de aeronaves da FAB vem incorporando Sistemas de Navegação Inercial mais modernos, incluindo de tecnologia fotônica. O CTA atua na área de Sistemas Inerciais desde a década de 80, com os projetos NÁUCRATES (baseado em plataforma Cardan-gimbal) e ISIS (baseado em plataforma solidária). No final da década de 80, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) realizou o projeto PAS (Plataforma de Atitude Solidária), ao mesmo tempo em que o IEAv iniciou atividades de pesquisa e desenvolvimento de girômetros a fibra óptica. Na década de 90, o IAE empreendeu o projeto CIN (Central Inercial de Navegação). Houve, então, a primeira tentativa de desenvolvimento em conjunto com a empresa Aeroeletrônica Indústria de Componentes Aviônicos S/A de uma 18 central de navegação para o Veículo Lançador de Satélites (VLS). Desde o começo desse esforço em Engenharia Inercial, sistemas de navegação e de controle de atitude (incorporando sensores importados, e algoritmos, software e hardware desenvolvidos no CTA) foram montados, ensaiados e utilizados em foguetes de sondagem (Sonda III e Sonda IV) e no VLS, com grande êxito em seu funcionamento. O IEAv-CTA vem desenvolvendo, desde a década de 80, projetos e atividades relacionadas com a pesquisa e o desenvolvimento de sensores inerciais fotônicos (BRASIL, 2008b). Essa busca pela soberania científico-tecnológica aeroespacial encontra-se em estrita consonância com os objetivos e doutrinamentos do COMAER (BRASIL, 1998, 2002, 2007, 2008a), e do seu braço armado, a FAB (BRASIL, 2005a, p. 7 e p. 10). Por outro lado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) vem investigando, desde o advento da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), a utilização de sistemas inerciais para o controle e navegação de sistemas espaciais, em especial de satélites. Os projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nesse campo têm como objetivo projetar, desenvolver e testar produtos e procedimentos de sistemas de controle de satélites. Alguns projetos realizados ou em andamento, direta ou indiretamente relacionados com o escopo deste trabalho monográfico, abrangem: sistemas de controle de atitude do telescópio MASCO; controlador de rodas a reação (para o satélite SCD-2); subsistema de controle de atitude para o Satélite SCD-3; Subsistema de Controle de Atitude e Órbita (SCAO) do microsatélite SACI; Dispositivos Micro-EletroMecânicos para Guiagem e Controle (DMGC); giroscópio mecânico (GCG) usando tecnologia de giroscópio DTG, dentre outros (BRASIL, 2005b, 2008c). Ainda no contexto nacional, cabe destacar os trabalhos realizados pelos centros de pesquisa da Marinha, no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e no Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), que buscam, historicamente, obter a capacidade de fabricar o Acelerômetro Pendular Servo Controlado (APSC) e o giro eletromecânico DTG, apesar de essas serem tecnologias em processo de obsolescência (BARBOUR; SCHMIDT, 2001; CGEE, 2006, p. 15 e p. 23-24; NATO, 2004, p. 1.6). O domínio tecnológico de sensores inerciais demanda o conhecimento científico dos princípios físicos relacionados com a operação desses sensores, a fim de que seja possível identificar a solução que melhor atenda a uma determinada 19 necessidade. Em particular, as aplicações aeroespaciais de Sistemas Inerciais apresentam requisitos exigentes, seja em termos de desempenho (e.g., resolução, estabilidade, etc.), seja em termos de robustez (e.g., ambiente atmosférico e/ou eletromagnético hostil, longevidade, etc.), ou mesmo uma combinação dessas duas características (LAWRENCE, 1998, p. 4-11; TITTERTON; WESTON, 2005). No contexto internacional, os sensores inerciais têm sido tratados como dispositivos de acesso restrito, ou seja, têm suas vendas controladas por regulamentações e regimes diversos (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2007; MTCR, 2008, p. 41-45). Dessa forma, o acesso a esses dispositivos tem-se restringido, quase que exclusivamente, aos países que já detêm o respectivo domínio tecnológico, evidenciando um desequilíbrio de poder entre esses países e o Brasil, cenário esse que deve ser revertido com urgência (PINTO; ROCHA; SILVA, 2004, p. 313-315). Cabe ressaltar que não apenas o acesso à aquisição de sensores inerciais, propriamente ditos, tem oficialmente sofrido restrições internacionais, mas também o acesso aos respectivos equipamentos de teste e produção, aos softwares correspondentes e às tecnologias associadas tem sido explicitamente incluído no contexto dessas restrições (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006a; MTCR, 2008, p. 43-46). As restrições impostas ao acesso a essas tecnologias têm implicação no contexto da soberania nacional, por influência do âmbito da política internacional, naquilo que diz respeito à sua componente científico-tecnológica (PINTO; ROCHA; SILVA, 2004). Os embargos tecnológicos internacionais têm sido constantes em áreas sensíveis, como em aplicações bélicas e espaciais (SANTOS, 1999). As restrições comerciais e tecnológicas internacionais impostas aos sensores inerciais justificam os esforços no sentido de que seja gerada uma base sólida de conhecimento científico acerca desse assunto, visando a servir de suporte para eventuais tomadas de decisão pelas autoridades nacionais. Em particular, urge obter-se uma mensuração do nível de maturidade tecnológica atual das diversas vertentes tecnológicas de sensores inerciais, a fim de estabelecer as tecnologias definidas como prioritárias para iniciar linhas de ação de esforços e recursos. Face à importância estratégica da Expressão Científica e Tecnológica do Poder Nacional, capaz de impactar todas as demais expressões (PINTO; ROCHA; SILVA, 2004, p. 211), faz-se mister empreitar na busca por informações cientificamente embasadas, 20 visando à mensuração do respectivo estado tecnológico presente no cenário nacional. A notabilidade de tal esforço de pesquisa justifica-se pelo seu potencial de prover adequado embasamento e ferramentas de processo demandados em gerenciamentos de riscos tecnológicos, contribuindo para o correto direcionamento dos recursos financeiros e humanos nacionais na esfera do complexo científicotecnológico aeroespacial (BRASIL, 1998, p.11), a fim de consolidar a soberania tecnológica nacional em empreendimentos de pesquisa e desenvolvimento de alta prioridade para o COMAER (BRASIL, 2007a, p. 28-30; BRASIL, 2008a). A seguir, apresentam-se conceitos e informações específicos associados a sensores inerciais, bem como dados úteis à mensuração da respectiva maturidade tecnológica nacional. 3.2 SENSORES INERCIAIS Os Sistemas Inerciais incorporam, em geral, uma Unidade de Medição Inercial (Inertial Measurement Unit – IMU) e um computador de bordo (hardware e software embarcado). A IMU é um sistema a parte, ou um subsistema de um Sistema Inercial, que incorpora os sensores inerciais e os circuitos eletrônicos essenciais à transformação dos sinais brutos dos sensores em informações depuradas de posicionamento e/ou atitude de um veículo, para que possam, então, serem utilizadas na navegação e/ou estabilização desse veículo. Os sensores inerciais correspondem, portanto, aos sentidos de um organismo maior, representado pela IMU, e esta, por sua vez, pode ser usada isoladamente ou como um subsistema de um sistema ainda mais complexo – o Sistema de Navegação/Estabilização Inercial. É pertinente, ainda, definir o entendimento mais comum acerca do termo Central Inercial, amplamente utilizado no contexto da navegação inercial; esse termo tem sido empregado tanto com a mesma conotação de Unidade de Medição Inercial (SANTANA et al., 2004; BRASIL, 2005b) como a de Sistema de Navegação Inercial (BRASIL, 2005b; CGEE, 2006; SANTANA, 2005). Por outro lado, o termo Plataforma Inercial tem sido comumente utilizado para representar com ambigüidade tanto as Unidades de Medida Inercial espacialmente estabilizadas como aquelas solidárias ao veículo/sistema (BRASIL, 2005b; FARRELL; BARTH, 1998, p. 1-2; SANTANA et 21 al., 2004), apesar de essa ambivalência aparentar ser dúbia em parte da literatura investigada (LAWRENCE, 1998, p. 8; TITTERTON; WESTON, 2005, p. 1-13). É importante salientar que, neste trabalho monográfico, apesar do fato de que algumas informações relevantes para o entendimento atualizado da tecnologia de sensores inerciais fotônicos nacionais ter sido obtida no documento situacional e prospectivo elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) a partir de levantamento de dados recentes (CGEE, 2006), foram extraídas daquele documento apenas as informações de caráter histórico ou técnico e que se encontram mais proximamente relacionadas com o escopo deste trabalho. Portanto, face à cientificidade deste trabalho monográfico, evitou-se abordar a visão daquele documento acerca de posicionamentos, diretivas e conclusões relacionadas com a definição estratégica da execução e/ou administração dos projetos de pesquisa e desenvolvimento afetos ao tema; nesse contexto, o leitor que deseje obter informações diversificadas, acerca da complexidade das conclusões subjetivas apresentadas pelo referido documento, necessitará realizar uma busca ampla de todos os fatores potencialmente envolvidos nessas considerações conclusivas (INPE..., 2007). Os sensores inerciais podem se basear em princípios físicos provenientes de diversas áreas tecnológicas, tais como: eletrostática, mecânica, fotônica, microeletro-mecânica, etc. Cada uma dessas áreas do conhecimento tecnológico pode viabilizar, ainda, diversas variantes tecnológicas específicas de sensores inerciais (LAWRENCE, 1998; GREWAL; WEILL; ANDREWS, 2007; TITTERTON; WESTON, 2005). Conforme previamente descrito, os sensores inerciais que provêem as informações essenciais de rotação e aceleração são denominados de girômetros e acelerômetros, respectivamente. A North Atlantic Treaty Organisation (NATO),5 em um documento relativamente recente, discorreu sobre os avanços e perspectivas da tecnologia de sensores inerciais usados em navegação inercial (NATO, 2004). Nesse documento, as diversas tecnologias de sensores inerciais são analisadas com relação à aplicabilidade atual e futura, mostrando as tendências de novas abordagens tecnológicas; como exemplo, cita-se o vigoroso florescer das vertentes tecnológicas 5 Ressalta-se ao leitor que, neste trabalho monográfico, optou-se por usar a designação e sigla originais em língua inglesa, em detrimento da designação traduzida para a língua portuguesa, de Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). 22 que, de alguma forma, incorporam a tecnologia fotônica em seus sensores inerciais. As maiores fontes de erro de um Sistema Inercial devem-se às imperfeições nos sensores inerciais, à inicialização incorreta do sistema, e às imperfeições no modelo gravitacional adotado nos cálculos. No entanto, na maioria dos Sistemas Inerciais, os maiores erros são imputados diretamente aos sensores inerciais (NATO, 2004, p. 1.3). A Figura 1 ilustra o grau de maturidade mundial de diversas tecnologias de sensores inerciais, evidenciando que algumas das tecnologias associadas com a área de Fotônica já se encontram em fase de produção, incluindo os girômetros Interferometric Fiber-Optic Gyro (IFOG) e Ring Laser Gyro (RLG); a tendência tecnológica é de que os IFOG passem a ser usados em aplicações onde atualmente os RLG encontram-se estabelecidos. No entanto, os acelerômetros cujas tecnologias estão relacionadas com a área de Fotônica ainda se encontram em estágios iniciais de maturidade tecnológica (Light Force e Optical MEMS) Figura 1: Maturidade das diversas tecnologias de sensores inerciais. Fonte: NATO (2004, p. 2.18). O prognóstico para as futuras tecnologias de sensores inerciais encontrase sintetizado na Figura 2, em função da aplicação a qual se destinam, evidenciando a difusão de tecnologias eletromecânicas avançadas como o Nano/Micro-Electro- 23 Mechanical Systems (NEMS/MEMS) e Hemispherical Resonant Gyro (HRG), mas também de tecnologias fotônicas de girômetros, a exemplo de: IFOG, Photonic Crystal Fiber Fiber-Optic Gyro (PCF FOG) e Integrated Optics Gyro (IOG). Figura 2: Futuras aplicações para as diversas tecnologias de sensores inerciais. Fonte: NATO (2004, p. 2.19). No cenário brasileiro, a tecnologia de MEMS e NEMS encontram-se ainda incipiente (CGEE, 2006, p. 42), apesar de sua aplicação aeroespacial já ter sido identificada como de potencial relevância (BRASIL, 2008c). Na vertente tecnológica fotônica, a EFO-IEAv vem realizando, desde a década de 1980, pesquisa e desenvolvimento sistemáticos de sensores inerciais fotônicos (BRASIL, 2008b), notadamente daqueles baseados na variante tecnológica de fibras ópticas (BURNS, 1993; LEFÈVRE, 1993), por meio de participação em diversas atividades e projetos correlatos. Os Sistemas Inerciais têm sido demandados, no campo militar, por toda a gama de veículos e artefatos bélicos para uso em aplicações táticas (curto alcance) ou estratégicas (longo alcance); por outro lado, no campo das aplicações civis, além da utilização em satélites e aeronaves comerciais, os Sistemas Inerciais tem encontrado grande demanda na navegação terrestre e marítima de veículos de transporte pessoal e de grande porte, em diversos sistemas de suporte à estrutura de exploração petrolífera e, até mesmo, na área de dispositivos eletrônicos de 24 entretenimento, como em controles de videogames. Essa dualidade civil-militar de aplicação dos sensores inerciais favorece o estabelecimento e a manutenção de uma estrutura industrial nacional mínima nessa área tecnológica. A seguir, serão apresentadas informações gerais sobre girômetros e acelerômetros, bem como dados específicos sobre os sensores fotônicos nacionais, visando atingir aos objetivos específicos deste trabalho monográfico. 3.2.1 ACELERÔMETROS Os acelerômetros são sensores inerciais utilizados em Sistemas Inerciais para mensurar a aceleração de um veículo em relação a um determinado eixo espacial. Os acelerômetros podem ser construídos utilizando-se tecnologia totalmente eletromecânica (assim chamada, por suas propriedades elétricas e mecânicas), de estado sólido, ou optomecânica (assim chamada, por suas propriedades ópticas e mecânicas), dentre outras. Os acelerômetros eletromecânicos de alta precisão dependem de uma tecnologia de mecânica sofisticada, que demanda longo tempo e elevados investimentos para ser desenvolvida. A aquisição de acelerômetros é controlada, ou mesmo embargada comercialmente, pelos países que detêm essa tecnologia. Os acelerômetros de estado sólido costumam apresentar baixa precisão e não são, em geral, apropriados para aplicações de navegação de veículos aeroespaciais. As fontes de erro mais relevantes que limitam a precisão de acelerômetros são as que afetam os parâmetros de: estabilidade do ponto de operação (bias stability), normalmente medida em unidade de micro-g (µg), correspondente a um milionésimo da aceleração da gravidade padrão na superfície terrestre ao nível do mar (g); e estabilidade do fator de escala (scale-factor stability), usualmente medida em unidade de “parte por milhão” (ppm) da quantidade inercial (aceleração) sendo mensurada. A Figura 3 mostra uma visão geral das tecnologias e aplicações militares atuais dos acelerômetros, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes. Nesse gráfico expositivo, não é possível observar qualquer acelerômetro de tecnologia fotônica presente. Do ponto de vista militar, as aplicações táticas concentram-se no canto superior direito, enquanto que as aplicações estratégicas 25 localizam-se no canto inferior esquerdo. Figura 3: Tecnologias e aplicações atuais de acelerômetros, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.5). A Figura 4 mostra uma visão prospectiva das tecnologias de acelerômetros num horizonte de curto prazo, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes. Figura 4: Tecnologias de acelerômetros no curto prazo, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.6). 26 A Figura 5 mostra uma visão prospectiva das tecnologias de acelerômetros num horizonte de longo prazo, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes, que prevê o aparecimento de uma tecnologia de acelerômetro (Micro-Opto-Electro-Mechanical Systems – MOEMS), baseada em tecnologia fotônica. Figura 5: Tecnologias de acelerômetros no longo prazo, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.7). Por outro lado, a tecnologia optomecânica apresenta o potencial de habilitar o desenvolvimento de acelerômetros de precisão, tendo sido adotada como uma linha de pesquisa promissora no Brasil (BRASIL, 2008b). No âmbito deste trabalho monográfico, o conceito de acelerômetro optomecânico é classificado como sendo um caso particular de acelerômetro fotônico; isso ocorre em decorrência do fato de a propriedade óptica, nesses sensores, caracterizar o diferencial tecnológico preponderante, em relação às demais propriedades físicas envolvidas; alia-se a isso o fato de que, no contexto científico-tecnológico, a Óptica corresponder a um ramo da Fotônica. Considerando-se essa redefinição, os acelerômetros fotônicos são descritos em detalhes a seguir. 27 3.2.1.1 Acelerômetros Fotônicos Para se alcançar um bom desempenho de um acelerômetro fotônico, deve-se investigar o seu comportamento e suas potencialidades com o máximo de detalhamento, de forma a se obter o conhecimento necessário para o desenvolvimento de acelerômetros para aplicações específicas. No âmbito do IEAv, busca-se adquirir uma total autonomia e domínio dos processos tecnológicos envolvidos em acelerômetros fotônicos. Apesar da existência de diversas abordagens e variantes físicas conhecidas para a tecnologia de acelerômetros fotônicos (CASTRO, F. A. et al., 1992; CAZO et al., 2008; HOLZAPFEL; FINNEMANN, 1993; MORIKAWA, 2004), aqui será detalhada apenas aquela que apresenta a abordagem tecnológica mais promissora, baseada em grades de Bragg em fibras ópticas, e que vem sendo pesquisada em território brasileiro (CAZO et al., 2008; MORIKAWA, 2004). Os acelerômetros fotônicos têm sido objeto de pesquisa no âmbito da EFO-IEAv, visando aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER (BRASIL, 2008b; CAZO et al., 2008). A EFO-IEAv realiza, atualmente, pesquisa científica de modo a adquirir o domínio dos processos tecnológicos envolvidos no acelerômetro optomecânico. Obter esse conhecimento e a competência para desenvolver tal dispositivo é um dos objetivos principais da linha de pesquisa em acelerômetros fotônicos baseados no uso de fibra óptica. A aplicação desse tipo de acelerômetro é fundamental para o setor aeroespacial, pois pode, por exemplo, equipar o sistema de navegação de um míssil anti-radiação e aumentar a sua letalidade. Assim, essa linha de pesquisa visa implementar parte da estratégia de Defesa da Força Aérea Brasileira, qual seja a de alcançar o maior índice possível de nacionalização do equipamento de emprego militar (BRASIL, 2008b). Atualmente, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), financia um projeto de pesquisa executado pela EFO-IEAv, intitulado “Acelerômetro Opto-Mecânico baseado em Grades de Bragg em Fibras Ópticas”.6 Esse projeto tem o objetivo precípuo de pesquisar e desenvolver um protótipo de acelerômetro opto-mecânico baseado em grades de Bragg em fibras 6 Informação disponível em <http://sigcti.mct.gov.br/pub/ctl/ctl.php?act=nav.prj_vis&idp=1625>. Acesso em: 06 ago. 2008. 28 ópticas, caracterizar seu funcionamento e avaliar sua aplicabilidade à navegação de mísseis anti-radiação. Portanto, trata-se da pesquisa e desenvolvimento de um acelerômetro fotônico para aplicação tática voltado claramente para aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER. Cabe ressaltar que a empresa brasileira Gavea Sensors Sistemas de Medição LTDA apresenta, em sua lista de produtos, um acelerômetro fotônico baseado em grades de Bragg em fibras ópticas.7 No entanto, esse dispositivo apresenta, conforme informação constante da respectiva folha de dados (Data Sheet), características de desempenho que o habilitam apenas para diversas aplicações de monitoramento de vibração como em: motores, hidro-geradores, transformadores, circuitos de alta voltagem e pás eólicas. Dessa forma, conclui-se que a abordagem tecnológica utilizada pela Gavea Sensors, em seu estágio atual, não seja adequada para aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER que visem à navegação inercial de veículos e, portanto, não será utilizada para a mensuração do nível de maturidade tecnológica de acelerômetros fotônicos nacionais. Essa conclusão encontra-se respaldada em análise relativamente recente da NATO, de que os acelerômetros fotônicos ainda não encontraram um nicho, nem tampouco encontram-se disponíveis comercialmente, para aplicações militares (NATO, 2004, p. 2.6). Portanto, serão utilizados apenas os dados extraídos e inferidos das duas referências remanescentes (CAZO et al., 2008; MORIKAWA, 2004). Morikawa (2004) descreve um acelerômetro fotônico triaxial, ou seja, capaz de mensurar o valor da aceleração linear ao longo de três eixos distintos; a variante tecnológica fotônica adotada usa grades de Bragg em fibra óptica. Foram realizados estudos teóricos e simulações computacionais numéricas; em seguida, foram construídos diversos modelos experimentais (designados de protótipos nessa referência), diferindo entre si pela estrutura mecânica, arranjo e número de sensores de aceleração, tendo sido caracterizados experimentalmente visando determinar as principais características de desempenho em ambiente de laboratório. A Figura 6 mostra uma das abordagens (designada de “Protótipo 1”) de acelerômetro fotônico triaxial adotada nesse trabalho. No entanto, os ensaios experimentais realizados 7 Informação disponível em <http://www.gaveasensors.com/produtos_sensores_vibracao.html>. Acesso em: 08 ago. 2008. 29 focaram em técnicas específicas para uso do acelerômetro como sensor de vibrações mecânicas; isso é enfatizado no próprio resumo dessa referência, que diz textualmente: “Neste trabalho buscou-se desenvolver um transdutor e uma técnica de medição baseada em sensores a rede de Bragg para medição de vibrações mecânicas.” Essa abordagem limita, apesar de não excluir, a potencialidade desse acelerômetro fotônico para aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER no que diz respeito à mensuração do respectivo nível de maturidade tecnológica dentro do contexto enfocado por este presente trabalho monográfico. Figura 6: Vista esquemática de um acelerômetro fotônico triaxial baseado em grades de Bragg em fibra óptica. Fonte: Morikawa (2004, p. 28). Cazo et al. (2008) descrevem os resultados teóricos obtidos por meio de simulações numéricas computacionais de um acelerômetro fotônico de seis graus de liberdade, que deverá permitir mensurar, em três eixos, não apenas a aceleração com alta precisão, mas também a rotação com baixa precisão. Esse trabalho de pesquisa visa atingir aos objetivos do projeto de pesquisa e desenvolvimento executado pela EFO-IEAv, intitulado “Acelerômetro Opto-Mecânico baseado em Grades de Bragg em Fibras Ópticas”. O referido projeto tem abordado algumas variantes estruturais, de modo a atingir da melhor forma possível o seu objetivo; a necessidade de atender a esses objetivos, de interesse do COMAER, tem 30 demandado contínuo esforço de pesquisa dos membros da respectiva equipe de trabalho (BRASIL, 2008b). A Figura 7 mostra uma visão esquemática do acelerômetro fotônico de seis graus de liberdade, onde as linhas em vermelho correspondem às fibras ópticas (duas para cada face do cubo) contendo grades de Bragg incorporadas. Figura 7: Vista esquemática de um acelerômetro fotônico de seis graus de liberdade, baseado em grades de Bragg em fibra óptica. Fonte: Cazo et al. (2008). Após essa descrição dos acelerômetros, serão apresentados os girômetros, com ênfase em girômetros fotônicos nacionais. 3.2.2 GIRÔMETROS O girômetro é um dispositivo capaz de medir a velocidade angular de rotação de um corpo físico em torno de um determinado eixo espacial. Os girômetros são os principais sensores inerciais em Sistemas Inerciais, pois permitem determinar e manter a atitude (orientação) de um veículo em relação a um referencial inercial, independentemente do uso de acelerômetros. Quando usado conjuntamente com acelerômetros, torna-se possível determinar a trajetória de um veículo. Dentre as principais tecnologias de girômetros, destaca-se a do girômetro a 31 fibra óptica, em virtude de sua robustez a variáveis ambientais, faixa dinâmica, baixo custo, e do fato de não possuir partes móveis. O giroscópio é um subsistema inercial que incorpora um dispositivo sensor da velocidade angular de rotação – o girômetro – que, por sua vez, emprega circuitos ópticos e eletrônicos. A dificuldade tecnológica de mensuração da rotação de um corpo físico ou veículo depende diretamente da incerteza máxima permitida (ou seja, do erro do sistema sensor) no resultado da medida; quanto menor for esse erro, mais elevado será o grau de desempenho do giroscópio e, por sua vez, maior será o grau de sofisticação tecnológica demandado. Assim, por exemplo, um giroscópio com resolução acima de 30 graus/hora demanda, em geral, tecnologia mais simples, mecânica ou micromecânica (dispositivos de silício, diapasões de quartzo, etc.) de modo a atender às especificações (BRASIL, 2008b). As fontes de erro mais relevantes que limitam a precisão de girômetros são as que afetam os parâmetros de: estabilidade do ponto de operação (bias stability), normalmente medida em unidade de graus por hora (º/hr); e estabilidade do fator de escala (scale-factor stability), usualmente medida em unidade de “parte por milhão” (ppm) da quantidade inercial (rotação) sendo mensurada. A Figura 8 mostra uma visão geral das tecnologias e aplicações militares atuais dos girômetros, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes. Nesse gráfico expositivo, é possível observar duas tecnologias relacionadas com girômetros fotônicos: RLG e IFOG, já previamente definidos. Similarmente ao caso dos acelerômetros, do ponto de vista militar, as aplicações táticas concentram-se no canto superior direito, enquanto que as aplicações estratégicas localizam-se no canto inferior esquerdo. A Figura 9 mostra uma visão prospectiva das tecnologias de girômetros num horizonte de curto prazo, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes. Observa-se que as duas tecnologias relacionadas com girômetros fotônicos existentes na atualidade (RLG e IFOG) deverão ampliar e melhorar ainda mais suas regiões de aplicação (relacionadas com a precisão geral do girômetro). 32 Figura 8: Tecnologias e aplicações atuais de girômetros, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.3). Figura 9: Tecnologias de girômetros no curto prazo, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.4). A Figura 10 mostra uma visão prospectiva das tecnologias de girômetros 33 num horizonte de longo prazo, em função dos parâmetros de precisão mais relevantes, que prevê o aparecimento de mais uma tecnologia de girômetro, MOEMS, baseada em tecnologia fotônica. Observa-se que, das duas tecnologias relacionadas com girômetros fotônicos presentes na atualidade (RLG e IFOG) apenas o IFOG melhorou seu nível de precisão e suas regiões de aplicação. Prevêse que a tecnologia RLG deverá ser substituída pelas tecnologias IFOG e MEMS/MOEMS. Essa visão prospectiva ratifica a relevância da tecnologia de girômetros fotônicos para aplicações aeroespaciais e/ou militares e, portanto, de interesse do COMAER. Figura 10: Tecnologias de girômetros no longo prazo, em função dos parâmetros de precisão. Fonte: NATO (2004, p. 1.5). No âmbito deste trabalho monográfico, o conceito de girômetro baseado em tecnologia de fibra óptica é classificado, dentro se um sentindo mais amplo, como sendo um caso particular de girômetro fotônico, com argumentação análoga à previamente apresentada para o conceito de acelerômetro fotônico. Cabe ressaltar que para que um sensor de rotação se enquadre sob a classificação de girômetro fotônico, basta que esse utilize a radiação eletromagnética óptica no processo de mensuração dessa rotação angular. Considerando-se essa definição, os girômetros 34 fotônicos são descritos em detalhes a seguir. 3.2.1.2 Girômetro Fotônicos Como principais representantes da tecnologia de sensores de rotação fotônicos, citam-se: o Giroscópio a Laser em Anel (do termo em língua inglesa Ring Laser Gyro – RLG) e o Giroscópio a Fibra Óptica (GFO).8 O elemento sensor usado por um GFO é um girômetro fotônico baseado em um Interferômetro de Sagnac que emprega uma bobina de fibra óptica como meio de propagação e guiamento fotônico (BURNS, 1993; LEFÈVRE, 1993). Segundo o efeito Sagnac, dois feixes de radiação eletromagnética óptica contrapropagantes (que se propagam em direções opostas em relação a um sistema de referência em rotação) experimentam uma diferença de caminho óptico proporcional à rotação absoluta em torno do eixo perpendicular ao plano dos caminhos. Assim, quando dois feixes de radiação eletromagnética percorrem caminhos ópticos fechados geometricamente idênticos, haverá entre esses feixes uma diferença de fase da radiação eletromagnética que é proporcional à rotação angular à qual o girômetro encontra-se submetido; essa diferença de fase óptica pode ser mensurada por intermédio de abordagens interferométricas ópticas, aliadas a sistemas de fotodetecção e processamento eletrônico de sinais. A Figura 11 mostra o diagrama esquemático da estrutura básica de um GFO do tipo recíproco (ALVES, 1998, p. 25); as linhas na cor azul correspondem a conexões elétricas, enquanto que as na cor preta são fibras ópticas. A tecnologia de RLG obteve uma vantagem inicial para sistemas de navegação de precisão devido à sua adoção em frotas de aeronaves civis (aeronaves Boeing 757 e 767 incorporam RLG fabricados pela empresa Honeywell). O GFO, auxiliado por informações provenientes de GPS, por outro lado, obteve vantagem inicial em uma gama de aplicações que envolvem a estabilização de conjuntos mecânicos e sistemas secundários de navegação (CGEE, 2006). 8 O termo GFO é integralmente equivalente ao termo Fiber-Optic Gyro (FOG) que, por sua vez, é geralmente equivalente ao termo IFOG. 35 Figura 11: Diagrama esquemático da estrutura de um GFO do tipo recíproco. Fonte: Adaptado de Alves (1998, p. 25). No Laboratório de Sensores a Fibra Óptica da EFO-IEAv, as pesquisas em giroscópios a fibra óptica visam obter dispositivos aplicáveis à navegação de foguetes e aeronaves (aplicação estratégica) e à navegação e controle de mísseis de curta e média distância (aplicação tática). Essas duas aplicações requerem precisão diferenciada: a aplicação tática geralmente requer uma miniaturização de peso e volume, embora exija apenas uma precisão razoável, enquanto que a aplicação estratégica normalmente implica em precisão acentuada. Em decorrência do longo período de dedicação à pesquisa e ao desenvolvimento de GFOs, houve o estabelecimento de uma empresa nacional de pequeno porte, composta por pesquisadores egressos da EFO-IEAv, que vem atuando tecnicamente de forma muito ativa na área de sensores inerciais fotônicos; essa empresa é a OPTSENSYS Instrumentação Óptica e Eletrônica Ltda.9 O CTA, atento às necessidades do COMAER em desenvolver tecnologia nacional, por intermédio da EFO-EAv, desenvolveu com sucesso um protótipo de giroscópio, baseado em tecnologia fotônica usando fibra óptica, que foi testado em vôo de helicóptero H-50 ESQUILO em 1998 (BRASIL, 2008b; CARVALHO et al., 9 Disponível em: <http://www.optsensys.com.br/>. Acesso em: 11 jul. 2008. 36 1999). O resultado foi comparado à medida realizada por um giroscópio mecânico de aferição instalado na aeronave pela empresa EMBRAER S.A. Os resultados medidos pelos dois sistemas apresentaram desempenho similar, sendo que o GFO se mostrou menos susceptível às vibrações mecânicas do helicóptero. Outro giroscópio foi desenvolvido em seguida, tendo sido lançado com êxito, em março de 1999, em um foguete nacional do tipo VS-30, precursor do veículo lançador de satélites, desenvolvido pelo CTA. Este último protótipo de GFO foi recuperado do mar após o vôo sub-orbital, e ainda se encontra em perfeito funcionamento (BRASIL, 2008b). Mais recentemente, em 2007, uma Unidade de Medida Inercial simplificada, designada de Sistema Dinâmico de Vôo (SDV), realizou um vôo em lançamento real de um foguete de sondagem do tipo VSB-30 (IEAv..., 2007, p. 3); o SDV compunha-se de dois sensores de rotação do tipo GFO, instalados com alinhamento longitudinal (eixo de rolagem do foguete). Cada um dos giroscópios foi desenvolvido para monitorar uma fase específica do vôo do foguete: um para medir as altas rotações que ocorrem durante a subida do foguete, e o outro para medir a rotação residual durante a fase do vôo em ambiente de microgravidade. As instituições responsáveis por esse projeto foram o IEAv e o IAE, sendo esta última a instituição que vem desenvolvendo todos os foguetes brasileiros. Os girômetros fotônicos do SDV foram submetidos a rigorosos ensaios ambientais demandados pelo processo de ensaios de aceitação do VSB-30, incluindo: vibração, temperatura e rotação. Durante esse experimento sub-orbital, observou-se o comportamento dos giroscópios do SDV na presença de acelerações lineares e angulares, somadas a vibrações. As primeiras análises dos dados da telemetria revelaram o funcionamento adequado do SDV durante todo o vôo; a configuração dos girômetros fotônicos usados foi, portanto, validada em vôo de um foguete de sondagem sub-orbital do tipo VSB-30. A Figura 12 mostra uma imagem do SDV, com detalhamento dos elementos constituintes essenciais desse sistema, incluindo a imagem de um dos GFOs. 37 Figura 12: Imagem ilustrativa do SDV e de seus elementos constituintes, mostrando um GFO. Fonte: NOTAER (IEAv..., 2007, p. 3). O experimento realizado com o SDV correspondeu a apenas uma das muitas etapas técnicas prevista para o projeto de pesquisa e desenvolvimento intitulado ”Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial” (SIA), financiado pela FINEP,10 de grande interesse para aplicações estratégicas do COMAER, que envolve o desafio de desenvolver girômetros fotônicos do tipo GFO para guiamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS), bem como para estabilização de satélites nacionais (BRASIL, 2007c). O projeto SIA tem sua conclusão prevista para o ano de 2010. A EFO-IEAv está encarregada da pesquisa e do desenvolvimento dos girômetros fotônicos necessários para atender aos requisitos operacionais demandados por esse projeto. A viabilidade do projeto SIA tem sido corroborada pelos diversos resultados práticos obtidos no decorrer do desenvolvimento desse projeto. Em particular, o experimento com o SDV foi considerado uma etapa bem- 10 Informação disponível em: <http://sigcti.mct.gov.br/pub/ctl/ctl.php?act=nav.prj_vis&idp=590> e <http://sigcti.mct.gov.br/pub/ctl/ctl.php?act=nav.prj_vis&idp=2832>. Acesso em: 06 ago. 2008. 38 sucedida do SIA, em inspeção de acompanhamento do projeto, recentemente realizada pela FINEP (BRASIL, 2008d), que concluiu que o projeto SIA é viável. Os resultados experimentais do vôo sub-orbital do SDV, após a devida depuração e interpretação técnica, mostrou um desempenho equivalente a um Sistema Inercial de procedência estrangeira, usado como sistema de referência, e embarcado no mesmo foguete (CALDAS et al., 2008). No contexto de execução do projeto SIA, cabe ressaltar a participação técnica da empresa OPTSENSYS, em diversas etapas do desenvolvimento dos subsistemas ópticos e eletrônicos.11 Outro projeto de grande interesse do COMAER, porém de aplicação tática, intitulado “Bloco Girométrico Miniaturizado a Fibra Óptica para Utilização no Míssil MAR-1” (GIROMAR), também financiado pela FINEP,12 teve suas atividades técnicas concluídas no mês de junho de 2008, tendo sido bem-sucedido na consecução de seus objetivos técnicos. O projeto GIROMAR contemplou a realização de rigorosos ensaios ambientais em seus girômetros fotônicos, incluindo: vibração, temperatura, rotação e interferência eletromagnética. A EFO-IEAv esteve encarregada da pesquisa e do desenvolvimento dos girômetros fotônicos necessários ao atendimento dos requisitos operacionais demandados por esse projeto. O bloco girométrico constitui-se em sistema tri-ortogonal, composto por girômetros fotônicos associados a cada um dos três eixos ortogonais entre si, de modo a medir a rotação em torno de qualquer eixo de um espaço tridimensional. Cabe ressaltar que o autor do presente trabalho monográfico atuou na função de Coordenador do referido projeto, no período de 2005 até o início de 2008. No contexto de execução do projeto GIROMAR, houve a participação técnica da empresa OPTSENSYS, em diversas etapas de desenvolvimento dos subsistemas ópticos e eletrônicos.13 A Figura 13 mostra uma imagem do bloco girométrico miniaturizado (congregando três girômetros fotônicos ortogonais) referente ao projeto GIROMAR, durante ensaios de vibração realizados em laboratório especializado do IAE. 11 Informação disponível em: <http://www.optsensys.com.br/paginas/projetos/projeto2.html>. Acesso em: 12 ago. 2008. 12 Informação disponível em: <http://sigcti.mct.gov.br/pub/ctl/ctl.php?act=nav.prj_vis&idp=1654>. Acesso em: 06 ago. 2008 13 Disponível em: <http://www.optsensys.com.br/paginas/projetos/projeto1.html>, <http://www.optsensys.com.br/paginas/projetos/projeto3.html> e <http://www.optsensys.com.br/paginas/projetos/projeto4.html>. Acesso em: 12 ago. 2008. 39 Figura 13: Imagem do bloco girométrico miniaturizado referente ao projeto GIROMAR, durante a realização de ensaios de vibração em laboratório do IAE. Fonte: Autor. A indústria nacional apresenta-se em estágio embrionário no que tange a girômetros fotônicos, tendo como representante exclusiva a supracitada empresa OPTSENSYS, que aborda unicamente a vertente tecnológica de GFOs, como conseqüência direta da origem e continuada interação dessa empresa com a EFOIEAv. A OPTSENSYS encontra-se capacitada, com exclusividade, a participar de projetos de desenvolvimento de GFOs táticos e estratégicos, com faixas de parâmetros básicos de desempenho dadas a seguir:14 a) sensitividade: 0,01 °/h a 3.000 °/s; b) faixa de passagem (freqüência de resposta): 1 Hz a 50 Hz; e 14 Disponível em: <http://www.optsensys.com.br/>. Acesso em: 06 ago. 2008. 40 c) faixa de Temperatura: -10 °C a +50 °C. Tendo-se definido os sensores inerciais fotônicos de relevância para aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER, busca-se realizar a mensuração do nível de maturidade tecnológica desses sensores; para tal, apresentam-se, a seguir, as informações pertinentes ao correto entendimento do processo de mensuração do nível de maturidade tecnológica. 3.3 NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA Dentro do conceito geral de mensuração do nível de maturidade tecnológica, há uma grande variedade de trabalhos realizados nos Departamentos de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA), do Reino Unido, do Canadá e da Austrália; por outro lado, na seara aeroespacial, a mensuração do nível de maturidade tecnológica encontrou aplicação obrigatória na agência espacial norteamericana National Aeronautics and Space Administration (NASA), onde teve origem, bem como em outras agências espaciais (CANADA, 2006; ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005; LARGENT, 2003; MOON; SMITH; COOK, 2005). Como resultado desse esforço, alguns diferentes conceitos e sistemas foram criados com a finalidade de mensurar a maturidade sistêmica, funcional ou tecnológica de equipamentos/sistemas, especialmente daqueles desenvolvidos para aplicações militares e espaciais (CANADA, 2006, p. 1-2; ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005). Podem-se citar os seguintes: Technology Readiness Levels (TRL), Interface Maturity Levels (IML), System Readiness Levels (SRL), Integration Readiness Levels (IRL), Design Maturity Levels (DML), Manufacturing Readiness Levels (MRL), Programmatic Readiness Levels (PRL) e Technology Maturity Level (TML), além de processos e ferramentas associadas ao conceito em estudo (CANADA, 2006, p. 1-2; LARGENT, 2003). Existem, ainda, propostas do uso de indicadores do grau de dificuldade que se espera encontrar durante o processo de maturação de projetos de P&D de uma determinada tecnologia (BILBRO; SACKHEIM, 2002; MANKINS, 1998). O Government Accountability Office (GAO) dos EUA considera que a estimação do nível de maturidade tecnológica de sistemas deva ser realizada no início de um programa ou projeto tecnológico, sendo um importante fator 41 determinante de sucesso do mesmo (NOLTE; KENNEDY; DZIEGIEL JUNIOR, 2003a, 2003b). Conforme previamente citado, consideram-se as teorias associadas ao uso da estimação de maturidade tecnológica como uma ferramenta metodológica de referência métrica para o gerenciamento de riscos tecnológicos, como sendo aquelas que mais adequadamente englobam o escopo teórico deste trabalho, pois essas teorias englobam o campo conceitual das metodologias e processos usados para mensurar o nível de maturidade tecnológica. Essa constatação se deve a uma decorrência direta da metodologia de pesquisa do tipo exploratória adotada neste trabalho monográfico, que enfoca o conceito relativamente recente de mensuração do nível de maturidade tecnológica, cujas teorias ainda se encontram em fase embrionária. Observa-se, portanto, que o referencial teórico encontra-se predominantemente disperso em diversos documentos emanados por instituições governamentais internacionais (ECSS, 2000; ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2003, 2005, 2006b; LARGENT, 2003; MOON; SMITH; COOK, 2005; NOLTE; ANDERSON; McCARTY, 2005). Cabe ressaltar que a expressão “risco tecnológico” difere de “risco técnico”, uma vez que a primeira expressão refere-se ao risco de uma determinada tecnologia não amadurecer suficientemente dentro de um período de tempo previsto, enquanto que a segunda expressão manifesta o risco de um determinado sistema tecnológico não atingir as especificações de desempenho desejadas no período e/ou orçamento planejados (MOON; SMITH; COOK, 2005). O indicador de nível de maturidade tecnológica que tem o conceito mais amplamente difundido mundialmente, além de ser o mais adotado para uso institucional, é o Technology Readiness Level, aqui designado de Indicador TRL, que consiste em um indicador da prontidão para uso de uma tecnologia ou, como tem sido mais usado na tradução para a língua portuguesa, um indicador do nível de maturidade tecnológica. Este trabalho monográfico adotou a sigla do termo em inglês, TRL, para referir-se ao indicador de nível de maturidade tecnológica, em virtude de esta ser a opção mais amplamente aceita e adotada na esfera nacional e internacional. O conceito e as aplicações do Indicador TRL são apresentados em detalhes a seguir. 42 3.3.1 INDICADOR TRL O Indicador TRL foi inicialmente proposto em 1989 com sete níveis de maturidade (SADIN, 1989), para atender às necessidades específicas da NASA. Posteriormente, em 1995, a escala de níveis foi aperfeiçoada em sua descrição, e o Indicador TRL passou a apresentar nove níveis (MANKINS, 1995). A United States Air Force adotou o uso do Technology Readiness Levels em 1990. Em 1999, o então chamado United States General Accounting Office (GAO) produziu um artigo de grande influência, o GAO/NSIAD-99-162 (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1999), onde foram examinadas as diferenças entre o Department of Defense (DoD) dos EUA e a indústria privada relativas à implementação de transição de uma determinada tecnologia; esse documento concluiu que o DoD assumia riscos maiores, bem como tentava realizar transições para tecnologias com graus de maturidade menos elevados, em relação ao que a indústria privada realizava. O GAO concluiu que o uso de tecnologias imaturas aumentava o risco geral dos programas e recomendou que o DoD adotasse o uso do Indicador TRL da NASA, como um meio de avaliar a maturidade tecnológica previamente à uma opção por transição tecnológica. Em 2001, o Deputy Under Secretary of Defense for Science and Technology dos EUA emitiu um memorando endossando o uso do TRL em novos programas de grande vulto; a partir disso, algumas diretivas para estimar o nível de maturidade tecnológica foram incorporadas no Defense Acquisition Guidebook dos EUA. Subsequentemente, o DoD desenvolveu diretivas detalhadas para o uso do TRL, que foram incorporadas, em 2003, no seu documento intitulado Technology Readiness Assessment Deskbook (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005; WIKIPEDIA, 2008). Em 2005, um Congressional Authorization Act do Congresso dos EUA requereu à NASA que comprovasse que todas as tecnologias demandadas tivessem sido demonstradas em um ambiente relevante antes de serem escolhidas para integrarem sistemas de grande porte em desenvolvimento (MOORE, 2008). Atualmente, o Indicador TRL encontra-se amplamente difundido, tendo sido aceito ou incorporado pela maioria das instituições diretamente ligadas à área de Defesa e a atividades espaciais, bem como por diversas instituições e empresas ao redor do mundo; por exemplo, citam-se instituições como o Federal Aviation 43 Administration (FAA) e o Department of Energy (DOE) dos EUA (ALEXANDER; HOLTON; SUTTER, 2007). Há, inclusive, uma conferência anual, atualmente designada como Technology Maturity Conference (TMC),15 idealizada para tratar exclusivamente de assuntos relacionados com a maturidade tecnológica, onde as características e aplicações do Indicador TRL despontam dentre os principais tópicos dos trabalhos ali apresentados. A conferência anual TMC é não-classificada, ou seja, de caráter ostensivo, sendo que as informações nessa apresentadas são prontamente disponibilizadas ao público internacional em geral. Existem, atualmente, duas vertentes principais do Indicador TRL amplamente utilizadas, sendo apenas ligeiramente distintas entre si: a primeira foi desenvolvida pela NASA (MANKINS, 1995), e encontra-se resumida em um quadro demonstrativo no ANEXO A; a segunda, mais recente, foi elaborada pelo DoD (ANEXO B), tendo sido essencialmente baseada na primeira. Paralelamente, o DoD preconiza a dicotomia de variantes operacionais do Indicador TRL, em função da natureza do sistema a ser mensurado: uma para hardware (ANEXO B) e outra para software (ANEXO C); essa dicotomia parece ser apenas sutil, mas é necessária para melhor classificar o sistema em estudo (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005; GRAETTINGER et al., 2002). O contexto de hardware aqui utilizado aplica-se a qualquer sistema ou subsistema físico (componente ou equipamento) que é parte ou representativo de uma determinada tecnologia. Há, ainda, propostas de extensão do uso do Indicador TRL para tecnologias baseadas na prática, ou seja, naquilo que refere a: práticas, processos, métodos, abordagens, etc. (GRAETTINGER; GARCIA, 2003; MOON; SMITH; COOK, 2005). Cabe ressaltar que há um esforço em se desenvolver um Indicador TRL de consenso internacional (MOORE, 2008), congregando conceitos usados na NASA, na European Space Agency (ESA) e no Centre National d’Etudes Spatiales (CNES), de forma a obter-se uma equivalência entre os termos atualmente adotados por essas instituições (ANEXO D). O principal propósito de uso do Indicador TRL é auxiliar no gerenciamento de tomada de decisões relacionadas com o processo de desenvolvimento e de transição de tecnologias. Algumas vantagens do uso do Indicador TRL advêm do 15 Disponível em: <http://www.usasymposium.com/tmc/default.htm>. Acesso em: 05 ago. 2008. 44 fato de que o mesmo: provê um entendimento comum do status de uma determinada tecnologia; facilita o gerenciamento de riscos tecnológicos; e pode ser usado na tomada de decisões referentes a financiamento ou transição de uma determinada tecnologia. Analogamente, algumas desvantagens que podem ser levantadas decorrem do fato de que esse indicador: demanda maior volume de documentação; pode necessitar de tempo para influenciar alguns sistemas, visto que é um conceito relativamente novo; e encontra-se ainda em fase de consolidação em diversas áreas, como em engenharia de sistemas (MOON; SMITH; COOK, 2005; WIKIPEDIA, 2008). Nolte, Kennedy e Dziegiel Junior (2003a, 2003b) citam várias razões para se mensurar o nível de maturidade tecnológica de um programa de pesquisa e desenvolvimento ou de aquisição; dentre elas, inclui-se a necessidade de gerenciamento do grau de risco tecnológico associado, e a definição de critérios de saída de uma determinada fase de um programa tecnológico. A Figura 14 mostra uma ilustração esquemática sucinta dos níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL, segundo a representação atual adotada pela NASA, onde se observa, além das definições básicas para cada nível (texto à direita da escala central de níveis), um agrupamento que descreve o trabalho de desenvolvimento em termos gerais (texto à esquerda da escala central de níveis); esse agrupamento descritivo é útil para descrições amplas do tipo de esforço de desenvolvimento ao qual a tecnologia está sendo submetida (LARGENT, 2003, p. 8). Cabe ressaltar que o Indicador TRL mensura a maturidade tecnológica em um único eixo – o eixo da demonstração da capacidade tecnológica – isso fica evidente na representação gráfica representada na Figura 14. Uma mensuração completa da maturidade tecnológica corresponde a uma métrica multidimensional; há referências a doze ou mais dimensões (eixos) relacionadas com a maturidade de tecnologia ou produto (CANADA, 2006). Apesar disso, o Indicador TRL aparenta ser o mais apropriado para o escopo deste trabalho monográfico, pela sua relativa simplicidade, aceitabilidade e utilidade em relação às demais opções atualmente disponíveis. 45 Figura 14: Ilustração esquemática sucinta dos níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL. Fonte: NASA. Disponível em: <http://www.hq.nasa.gov/office/codeq/trl/trlchrt.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2008. Os diversos níveis de maturidade tecnológica possíveis, representado pelo Indicador TRL, estão associados aos estágios iniciais do ciclo de vida tecnológico de um determinado sistema ou produto tecnológico. A Figura 15 mostra esquematicamente essa correlação, por meio de uma carta de ciclo de vida tecnológico genérico do tipo Whale Chart, mapeada aos diversos níveis de maturidade tecnológica, bem como aos várias marcos de estagiamento tecnológico usados pelo DoD e NASA (WAGANER, 2007); nessa figura, o eixo das abscissas, de conotação temporal, representa as várias fases de um ciclo de vida genérico de um sistema ou produto tecnológico, enquanto que o eixo das ordenadas representa a utilidade desse sistema ou produto. A associação do Indicador TRL ao ciclo de vida tecnológico de um sistema ou produto evidencia a importância do papel desse indicador no processo de gerenciamento de risco tecnológico (NOLTE; ANDERSON; McCARTY, 2005). 46 Figura 15: Apresentação esquemática genérica de uma carta de ciclo de vida tecnológico do tipo Whale Chart, mapeada ao Indicador TRL e aos marcos de estágio tecnológico do DoD e da NASA. Fonte: Waganer (2007). O Indicador TRL tem sido usado primordialmente para aperfeiçoar o tempo de transição ou inserção de uma determinada tecnologia, podendo abranger desde a fase de demonstração até a fase de desenvolvimento do produto (GRAETTINGER et al., 2002). O Indicador TRL tem servido como uma ferramenta metodológica métrica de base para diversos conceitos e processos, bem como para metodologias mais abrangentes, associadas ao gerenciamento de riscos em projetos e programas científico-tecnológicos, como, por exemplo: a) Technology Program Management Model (TPMM): é um modelo de processo de decisão por estágios, baseado no Indicador TRL, que contém critérios especificamente elaborados para qualquer programa de desenvolvimento tecnológico (TPMM, 2008). Esse ferramental de gerenciamento, avaliação, e transição tecnológica, foi desenvolvido ao longo de quatro anos, no Army Space and Missile Defense Command (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008a). Trata-se de um modelo de gerenciamento que foca no conjunto completo de atividades que pode ser usado por um gerente de programa ou projeto tecnológico para administrar eficientemente visando a uma transição para um produto tecnológico; b) System Readiness Levels (SRL): inicialmente definido pelo United 47 Kingdom Ministry of Defense (UK MoD) como uma métrica unidimensional para mensuração do nível de maturidade de sistemas em geral (MOON; SMITH; COOK, 2005). Posteriormente, esse conceito foi expandido para o campo bidimensional, por meio de uma combinação matricial dos indicadores unidimensionais TRL e IRL, de modo a compor o indicador SRL (SAUSER et al., 2008); c) Technology Readiness Assessment (TRA): é um processo sistemático, baseado na métrica provida pelo Indicador TRL, que avalia o nível de maturidade tecnológica dos elementos de tecnologia crítica (Critical Technology Elements - CTE) em sistemas de Defesa, sendo usado pelo DoD dos EUA nos processos de aquisição desses sistemas (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005); e d) System of Systems Technology Readiness Assessment (SoS TRA): é uma proposta de extensão do conceito de TRA para tecnologias avançadas que dão suporte a sistemas centrados em rede, visando identificar as tecnologias críticas que provêem a função de interoperabilidade e interdependência requeridas para o sucesso do desenvolvimento e da operação de sistemas com capacidade de guerra centrada em rede (MAJUMDAR, 2007). O nível de maturidade tecnológica que se pretende alcançar depende da aplicação e dos objetivos que motivaram a necessidade de mensuração do Indicador TRL. Em geral, para se iniciar programas de aquisição de sistemas ou produtos tecnológicos, a prática tem demonstrado que se deve obter, no mínimo, o nível TRL7 para que se possa incorporar com segurança uma determinada tecnologia como parte integrante do respectivo sistema ou produto (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008b; MOON; SMITH; COOK, 2005). Por outro lado, no âmbito do Air Force Research Laboratory (AFRL), o objetivo de um programa de desenvolvimento é o de amadurecer uma determinada tecnologia até o nível TRL-6, após o que as atividades devem ser encerradas (NOLTE; KENNEDY; DZIEGIEL JUNIOR, 2003a). Portanto, o Indicador TRL apresenta uma faixa de níveis de maturidade variados, que podem ser adequados às necessidades específicas de cada caso, auxiliando no processo decisório de gerenciamento de modo a permitir uma decisão segura de início, continuação ou término de um determinado programa ou projeto. 48 Dentro do contexto científico-tecnológico brasileiro, no que diz respeito à área espacial, o INPE já adota o Indicador TRL nas avaliações de suas atividades atuais de P&D, bem como pretende adotá-lo também para o gerenciamento e mensuração da evolução do próprio processo de P&D (BRASIL, 2008c, p. 70). O processo adotado para a realização da mensuração do Indicador TRL em cada projeto não foi explicitado nesse documento. Adicionalmente, no setor aeronáutico brasileiro, existem evidências de que a empresa EMBRAER também utiliza o Indicador TRL no processo de prospecção de seus projetos.16 No âmbito do COMAER, a concepção de níveis de maturidade tecnológica enquadra-se perfeitamente na descrição das fases iniciais do ciclo de vida de sistemas e materiais aeronáuticos, quais sejam: concepção, viabilidade, definição e desenvolvimento/aquisição (BRASIL, 2007b, p. 24-25). Dessa forma, torna-se flagrante a relevância que o uso do Indicador TRL potencialmente apresenta para o COMAER nos campos logístico e tecnológico. Ademais, a adoção e aceitação crescentes do Indicador TRL por instituições nacionais e internacionais associadas à área de Defesa (DoD, UK MoD, etc.) e ao setor aeroespacial (NASA, ESA, ECSS, INPE, etc.) ratificam a relevância desse indicador para as atividades científico-tecnológicas de interesse do COMAER; dentro desse contexto, enquadram-se também as atividades relacionadas com sensores inerciais fotônicos. Cabe ressaltar que a própria discussão descritiva (Descriptive Discussion) do Indicador TRL da NASA (ANEXO A), no contexto do nível TRL-4, cita textualmente a tecnologia de fiber-optic gyro, a título de exemplo aplicável a esse indicador. Essa menção enfatiza a congruência da aplicabilidade do uso do Indicador TRL na esfera dos sensores inerciais fotônicos. Faz-se necessário salientar que um ponto negativo do Indicador TRL que tem sido freqüentemente enfatizado é a subjetividade de sua escala de níveis; no entanto, isso é de fato necessário, uma vez que é difícil quantificar o desenvolvimento de uma tecnologia em termos absolutos (LARGENT, 2003, p. 9). No entanto, existe uma ferramenta eficiente para auxiliar no cálculo do nível de maturidade tecnológica, a qual será apresentada e discutida na subseção seguinte. 16 Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/seminario/CapitaisIntangiveis_15b.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2008. 49 3.3.2 TRL CALCULATOR Existe uma variedade de métodos usados pelo DoD e outras instituições para auxiliar no processo de quantificação do Indicador TRL. Duas abordagens merecem destaque: o checklist (lista de verificações) de níveis de TRL, criado pelo Missile Defense Agency (MDA) dos EUA, e o TRL Calculator, criado pelo AFRL dos EUA (MAJUMDAR, 2007). Neste trabalho monográfico, optou-se por detalhar e utilizar apenas o TRL Calculator, em decorrência de esse apresentar maior acessibilidade, facilidade de uso, flexibilidade e funcionalidade, em relação à outra opção. O software TRL Calculator é uma ferramenta computacional amigável ao usuário, criada para ser usada na quantificação do Indicador TRL associado a projetos de desenvolvimento tecnológico (NOLTE, 2004; NOLTE; KENNEDY; DZIEGIEL JUNIOR, 2003a, 2003b); consiste de uma planilha eletrônica, baseada no programa Microsoft Excel®, que permite ao usuário selecionar, dentre os muitos itens descritivos (questões) relacionados aos diversos níveis do Indicador TRL, aqueles que melhor representam o estágio atual de maturidade da tecnologia sendo avaliada. Assim que os itens descritivos aplicáveis ao estágio evolutivo do projeto tecnológico em análise sejam selecionados (respondidos), o TRL Calculator apresenta o nível do Indicador TRL global mais apropriado. Uma vez que o mesmo conjunto de opções é apresentado a cada vez que se utiliza o TRL Calculator, essa ferramenta provê um processo repetível e padronizado para avaliar a maturidade de qualquer tecnologia de hardware ou software em desenvolvimento e, portanto, essa ferramenta representa um grande auxílio para o gerenciamento de risco tecnológico. Cita-se, a título de exemplo de uso recente do TRL Calculator, a aplicação desse pelo Department of Energy dos EUA para a avaliação de maturidade tecnológica de uma unidade de processamento de dejetos de grandes proporções (ALEXANDER; HOLTON; SUTTER, 2007). A Figura 16 mostra uma visão esquemática parcial do TRL Calculator, em sua versão mais atual (v. 2.2). A pertinência das sentenças dos itens descritivos a serem analisados, aliada à possibilidade de se designar um valor parcial (de 0 a 100%) para cada item descritivo, permite ao gerente de um projeto tecnológico 50 acompanhar continuamente o andamento, a evolução e o cumprimento de etapas relevantes, além de obter uma contínua estimativa do respectivo nível de maturidade tecnológica. Figura 16: Ilustração esquemática, genérica e truncada, do software TRL Calculator, mostrando os itens descritivos associados apenas até o nível de maturidade TRL-1. Fonte: Nolte (2004). Em sua versão atual, o TRL Calculator permite a imediata inclusão de itens descritivos associados aos indicadores MRL e PRL, referentes à maturidade de manufatura e de gerenciamento de programas, respectivamente. Portanto, é possível realizar uma avaliação intrínseca apenas do Indicador TRL, ou de uma combinação de questões associadas a um dos, ou a ambos os, indicadores MRL e PRL, resultando em um nível de TRL composto; essa possibilidade aumenta 51 sobremaneira a versatilidade e utilidade desse software. Adicionalmente, pode-se selecionar um conjunto de itens descritivos associados a um sistema de hardware ou software, ou mesmo a ambos conjuntamente. Finalmente, o TRL Calculator é fornecido gratuitamente no formato de planilha eletrônica, permitindo ao usuário modificá-lo convenientemente de forma a melhor adequá-lo às especificidades da tecnologia sendo avaliada; dessa forma, tanto a metodologia como o processo de mensuração que foram definidos para o TRL Calculator podem ser rapidamente transladados e/ou adaptados para outras aplicações. O resultado final calculado para o nível de maturidade é mostrado por meio de um sistema de convenção de cores (verde, amarelo e vermelho, assim definidos em ordem decrescente de completeza de consecução dos itens descritivos) para cada nível existente, ao invés da designação de um único nível para a maturidade tecnológica (TRL-1 a TRL-9); no entanto, a cor verde indica o nível mais acreditado, devendo ser usado como o resultado principal do processo de mensuração. Essa escala de cores está associada ao grau de realização de cada item descritivo (0 a 100%), à uma visão de alto nível (Top Level View) do ambiente de demonstração da tecnologia, e à proporção de itens descritivos selecionados para cada nível do Indicador TRL. O critério de atribuição de uma determinada cor a um nível do Indicador TRL utiliza um algoritmo decisório específico, a fim de proporcionar um significado amplo, gradual e representativo para o nível de maturidade tecnológica. Considerando-se os parâmetros originais do TRL Calculator, a cor verde corresponde a 100% dos itens descritivos selecionados na íntegra; similarmente, a cor amarela corresponde a um percentual entre 67% e 99%, e a cor vermelha a um percentual não-nulo inferior a 67%; esses valores podem ser editados pelo usuário, dentro de certas faixas de valores. A seleção de visão de alto nível do TRL Calculator tem como objetivo proporcionar um teste de consistência do nível de maturidade estimado. O leitor pode encontrar maiores detalhes sobre as regras, algoritmos e potencialidades do TRL Calculator nas instruções de uso desse software (NOLTE, 2004), bem como nos comentários de Nolte, Kennedy e Dziegiel Junior (2003a, 2003b), notando-se que estas últimas referências reportam-se a uma versão anterior desse software. Para que o TRL Calculator seja de real valor para a seara científicotecnológica, esse ainda necessita de ser submetido a uma rigorosa verificação e 52 validação com bases estatísticas formais. Uma metodologia de realização de verificação estatística válida seria pelo uso do processo de mensuração, que é uma área central ao campo da Psicometria. A mensuração em Psicometria envolve a construção de instrumentos que associam construções qualitativas com unidades métricas quantitativas (NOLTE; KENNEDY; DZIEGIEL JUNIOR, 2003a, 2003b). Apesar disso, o TRL Calculator constitui-se em uma importante ferramenta para o processo subjetivo de associação das informações disponíveis, sobre o sistema tecnológico sendo analisado, aos conceitos definidos nos vários níveis do Indicador TRL, de forma a atribuir a esse sistema um nível de maturidade tecnológica representativo e acurado. Tendo sido apresentadas as informações essenciais acerca dos sensores inerciais fotônicos nacionais, bem como os conceitos e aplicações associados ao Indicador TRL, incluindo o TRL Calculator como software de mensuração do nível maturidade tecnológica, têm-se, portanto, todos os elementos necessários para estimar o nível de maturidade tecnológica de cada um dos sensores inerciais fotônicos, o que é realizado a seguir. 53 4 NÍVEL DE MATURIDADE TECNOLÓGICA DE SENSORES INERCIAIS FOTÔNICOS NACIONAIS Inicialmente, reitera-se que, no âmbito aeroespacial nacional, o INPE já adota o Indicador TRL nas avaliações de suas atividades atuais de P&D (BRASIL, 2008c, p. 70). Em particular, considerando-se apenas os projetos de sensores inerciais nacionais, o INPE reporta as seguintes informações associadas com o Indicador TRL: DMGC: Dispositivos Micro-EletroMecânicos para Guiagem e Controle. O objetivo deste projeto é desenvolver micro-giroscópios para uso em aplicações que não exijam apontamento fino, embora este possa ser obtido com um conjunto DMGC e um receptor GPS. Desde a sua proposição (em 2004) pouco foi feito, estando o projeto em TRL2. Estima-se que seriam necessários recursos da ordem de R$ 500.000,00 para chegar em TRL8, mas no momento, mesmo que estes fossem disponibilizados, não há recursos humanos disponíveis no INPE para serem alocados no programa. GCG: Projeto de um giroscópio mecânico. Existem peças prontas para parte de um protótipo. É semelhante aos giros usados no CBERS. Encontra-se em TRL3, podendo chegar, havendo disponibilidade de recursos, em TRL6 (com testes no LIT) em 1 ano. Estima-se em R$ 500.000,00 para chegar em TRL6 e R$ 1.700.000,00 para chegar em TRL8 (BRASIL, 2008c, p.179180). No entanto, cabe ressaltar que nenhum desses projetos de sensores inerciais do INPE utiliza tecnologia fotônica, permanecendo a lacuna de uma análise dessa natureza, a ser preenchida pelo presente trabalho monográfico. Ademais, com relação às atividades e projetos desenvolvidos no âmbito da Comando da Marinha do Brasil, este trabalho monográfico não identificou documentos ostensivos que permitam mensurar o nível de maturidade tecnológica dos respectivos sensores inerciais. Enfatiza-se que grande parte das informações demandadas pelos níveis iniciais do Indicador TRL (TRL-1 a TRL-3), usualmente associadas a estudos e procedimentos teóricos relativos a sensores inerciais fotônicos, conforme demandado durante o preenchimento dos diversos itens descritivos mostrados no TRL Calculator, encontram-se na literatura técnica internacional e em documentos e artigos de análise situacional tecnológica (BURNS, 1993; CGEE, 2006; LAWRENCE, 1998, p. 4-11; LEFÈVRE, 1993; MALYSHEV et al., 1996; NATO, 2004, p. 2.6; TITTERTON; WESTON, 2005). Portanto, essas informações são de domínio público, necessitando apenas da existência de grupos de pesquisadores nacionais atuantes 54 na área de sensores inerciais fotônicos, para que se caracterize o domínio tecnológico nacional correspondente. Em particular, a EFO-IEAv tem mantido grupos de pesquisadores bem preparados e atuantes na área de sensores inerciais fotônicos desde a década de 80 (BRASIL, 2008b). Faz-se relevante enfatizar que este trabalho monográfico buscou usar dados técnicos ostensivos disponíveis na literatura técnica, e em relatórios e documentos institucionais, a fim de tornar o acesso aos resultados aqui obtidos acessíveis ao público em geral. Ratifica-se, ainda, que o objetivo precípuo deste trabalho volta-se primordialmente para o uso do Indicador TRL no processo de mensuração do nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos nacionais, consolidando as bases para que um levantamento completo e aprofundado das informações referentes ao estágio de desenvolvimento em que esses se encontram possa ser realizado em trabalhos futuros. Durante o preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator, optouse por realizar uma avaliação intrínseca apenas do Indicador TRL. Portanto, foram desativados os itens descritivos relacionados com o MRL e o PRL; ao se fazer isso, a definição de Integrated Product Team (IPT) fica mascarada na apresentação da planilha eletrônica do TRL Calculator, e por isso está sendo aqui ratificada. Existem duas siglas definidas apenas na documentação eletrônica do TRL Calculator, quais sejam: Developmental Test and Evaluation (DT&E) e Operational Test and Evaluation (OT&E). Há, ainda, uma sigla usada no TRL Calculator, mas que não se encontra explicitamente definida na versão adotada, por advir de versões anteriores – trata-se da abreviação de Modeling and Simulation (M&S). Em virtude da natureza física dos sensores inerciais fotônicos, optou-se por selecionar a opção Only Hardware. Os demais parâmetros e variáveis usadas pelo TRL Calculator foram mantidos em suas formas e valores originais, encontrados na versão aqui utilizada (v. 2.2). Em caso de necessidade de eliminação de ambigüidade de definição do Indicador TRL mais apropriado à tecnologia de um determinado sensor inercial fotônico, estimado por meio do uso do TRL Calculator, convencionou-se optar pela interpretação do texto completo constante da definição integral dada pela NASA para cada nível do Indicador TRL (ANEXO A). Dessa forma, tomando-se como base as informações específicas contidas 55 nas seções anteriores, apresentam-se a seguir os resultados da mensuração dos níveis de maturidade tecnológica dos sensores inerciais fotônicos nacionais. 4.1 ACELERÔMETROS FOTÔNICOS Em virtude do fato de este trabalho monográfico ter restringido a gama de acelerômetros fotônicos representativos aos projetos e trabalhos de potencial emprego em aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER (CAZO et al., 2008; MORIKAWA, 2004), buscou-se realizar o preenchimento dos diversos itens descritivos do TRL Calculator utilizando-se os dados específicos provenientes da capacidade combinada dessas duas referências. O detalhamento do preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator é mostrado no APÊNDICE A, concluindo-se que os acelerômetros fotônicos nacionais apresentam, segundo as definições do Indicador TRL, um nível de maturidade tecnológica TRL-4 (cor verde), com os níveis inferiores também completos (cor verde) e alguns poucos itens descritivos completos nos níveis TRL-5 e TRL-6 (ambos na cor vermelha). Os níveis TRL-7 a TRL-9 não apresentaram qualquer item descritivo preenchido. A Figura 17 mostra um resumo condensado do resultado da mensuração do nível de maturidade tecnológica dos acelerômetros fotônicos nacionais, considerando-se os dados de preenchimento do TRL Calculator mostrados no APÊNDICE A. Figura 17: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos acelerômetros fotônicos nacionais. Fonte: Autor. 4.2 GIRÔMETROS FOTÔNICOS A fim de subsidiar adequadamente a mensuração de nível de maturidade 56 tecnológica de girômetros fotônicos, optou-se por abordar duas classes distintas de aplicações desses, segundo o tipo de aplicação de interesse do COMAER: tática ou estratégica. Ademais, apenas a vertente tecnológica de GFO será analisada, uma vez que essa é a única vertente tecnológica de girômetros fotônicos pesquisada e desenvolvida no Brasil. Cabe lembrar que, em virtude da abordagem deste trabalho monográfico ser de caráter ostensivo, apenas as informações dessa natureza foram apresentadas ou referenciadas neste trabalho monográfico, servindo de subsídio para a determinação do respectivo nível de maturidade tecnológica; em particular, serão utilizadas as informações referentes a dois projetos específicos, GIROMAR e SIA, que contemplam atividades tecnológicas em GFOs de aplicação tática e estratégica, respectivamente. Tendo-se exposto essas observações gerais, apresenta-se separadamente a seguir os resultados da estimação do Indicador TRL de girômetros de aplicação tática e estratégica. 4.2.1 GIRÔMETRO FOTÔNICO DE APLICAÇÃO TÁTICA O preenchimento dos diversos itens descritivos do TRL Calculator para os girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática foi realizado utilizando-se os dados específicos, diretos e indiretos, provenientes do projeto GIROMAR. As fontes de dados selecionadas são apenas as de caráter ostensivo, em virtude da natureza sigilosa dos resultados técnicos completos. Além das fontes de dados descritas na subseção 3.2.1.2 e no corpo principal da subseção 4.2, destacam-se os dados constantes dos relatórios técnicos reportados à FINEP, via Fundação Casimiro Montenegro Filho (FCMF).17 O detalhamento do preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator é mostrado no APÊNDICE B, concluindo-se que o girômetro fotônico nacional de aplicação tática apresenta, segundo as definições do Indicador TRL, um nível de maturidade tecnológica TRL-6 (cor verde), com os níveis inferiores também completos (cor verde) e alguns poucos itens descritivos preenchidos nos níveis TRL7 e TRL-8 (ambos na cor vermelha). O nível TRL-9 não apresentou qualquer item 17 Disponível em: <http://fcmf.com.br/sitenovo/desen_tecno.php>. Acesso em: 08 ago. 2008. 57 descritivo preenchido. Cabe ressaltar que os girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática não realizaram vôos em mísseis anti-radiação (durante lançamentos ou ainda que apenas solidários a uma aeronave), em virtude do fato de o projeto de desenvolvimento do míssil anti-radiação ter sofrido atrasos. No entanto, considerouse que os rigorosos ensaios ambientais a que esses sensores foram submetidos sejam representativos de um ambiente relevante, conforme interpretação do texto descritivo geral atribuído para o TRL-6 (ANEXO A). A Figura 18 mostra um resumo condensado do resultado da mensuração do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática, considerando-se os dados de preenchimento do TRL Calculator mostrados no APÊNDICE B. Figura 18: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática. Fonte: Autor. Em seguida, similarmente ao que foi realizado para os girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática, determina-se a seguir o nível de maturidade tecnológica associados aos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica para os interesses do COMAER. 4.2.2 GIRÔMETRO FOTÔNICO DE APLICAÇÃO ESTRATÉGICA O preenchimento dos diversos itens descritivos do TRL Calculator para os girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica foi realizado utilizando-se os dados específicos, diretos e indiretos, provenientes do projeto SIA. As fontes de dados selecionadas são apenas as de caráter ostensivo, em virtude da natureza sigilosa dos resultados técnicos completos. Além das fontes de dados descritas na subseção 3.2.1.2 e no corpo principal da subseção 4.2, destacam-se os dados 58 constantes dos relatórios técnicos reportados à FINEP, via Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP).18 O detalhamento do preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator é mostrado no APÊNDICE C, concluindo-se que o girômetro fotônico nacional de aplicação estratégica apresenta, segundo as definições do Indicador TRL, um nível de maturidade tecnológica TRL-7 (cor verde), com os níveis inferiores também completos (cor verde) e alguns poucos itens descritivos completos nos níveis TRL-8 (cor vermelha). O nível TRL-9 não apresentou qualquer item descritivo preenchido. A Figura 19 mostra um resumo condensado do resultado da mensuração do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica, considerando-se os dados de preenchimento do TRL Calculator mostrados no APÊNDICE C. Figura 19: Ilustração esquemática do resumo condensado do TRL Calculator para a estimativa do nível de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica. Fonte: Autor. Os resultados acima apresentados mostraram os níveis de maturidade tecnológica dos sensores inerciais fotônicos nacionais. A Figura 20 mostra um histograma que retrata o resumo da mensuração do nível de maturidade tecnológica dos diversos sensores inerciais fotônicos nacionais analisados neste trabalho, por meio do uso do TRL Calculator. As barras na cor verde indicam o nível de maturidade tecnológica acreditado, enquanto que as barras adicionais, em vermelho, fornecem uma informação gradual do potencial de evolução da maturação dessas tecnologias, segundo convenção adotada pelo TRL Calculator. Nota-se que não foram observados quaisquer níveis de maturidade associados à cor amarela convencionada no TRL Calculator. 18 Disponível em: <http://www.fundep.br>. Acesso em: 08 ago. 2008. 59 Nível de maturidade tecnológica 8 6 4 2 0 Acelerômetro Fotônico Girômetro Fotônico (Tático) Girômetro Fotônico (Estratégico) Figura 20: Histograma das estimativas de nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos nacionais, obtidas por meio do uso do TRL Calculator. Fonte: Autor. A seguir, serão apresentadas as conclusões apreendidas durante a realização deste trabalho monográfico. 60 5 CONCLUSÃO A mensuração do nível de maturidade tecnológica é uma importante ferramenta métrica para o gerenciamento de risco tecnológico e, por essa razão, de grande relevância para o correto direcionamento dos limitados recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis para alocação nas atividades e projetos voltados para as aplicações aeroespaciais de interesse do COMAER. Este trabalho monográfico buscou realizar a mensuração do nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos nacionais – acelerômetros e girômetros de aplicações tática e estratégica – por meio de metodologia de pesquisa do tipo exploratória, com levantamento de dados com enfoque documental e bibliográfico de caráter ostensivo. Seguindo-se à apresentação da metodologia empregada, procedeu-se à descrição dos diversos aspectos históricos e tecnológicos relacionados com os sensores inerciais, com ênfase na vertente fotônica. Analisaram-se as características gerais de sensores inerciais usados em Sistemas Inerciais para aplicações aeroespaciais, de diversas vertentes tecnológicas, com foco específico naqueles baseados em tecnologia fotônica. No âmbito nacional, foram identificadas atividades de pesquisa e desenvolvimento de sensores inerciais fotônicos existentes, que contribuem para o domínio científico e tecnológico nacional de interesse para as aplicações aeroespaciais no âmbito do COMAER, em algumas instituições e empresas, com destaque para os projetos carreados pelos pesquisadores do EFO-IEAv. Nesse contexto, identificou-se que os acelerômetros abordam a linha tecnológica optomecânica utilizando grades de Bragg em fibras ópticas, enquanto que os girômetros, tanto os de aplicação tática como estratégica, abordam a vertente tecnológica de GFOs. Foram apresentados e referenciados os dados de caráter ostensivo relacionados com os resultados tecnológicos alcançados pelos projetos e estudos associados a esses sensores inerciais, de forma a subsidiar a respectiva mensuração do nível de maturidade tecnológica. Foram, então, identificadas e analisadas metodologias, processos e ferramentas de mensuração do nível de maturidade tecnológica aplicáveis à tecnologia de sensores inerciais fotônicos. Observou-se, no entanto, que o 61 referencial teórico encontra-se predominantemente disperso em diversos documentos emanados por instituições governamentais internacionais, em virtude de o conceito de mensuração do nível de maturidade tecnológica ser relativamente recente, com teorias ainda em fase embrionária. Consideraram-se, portanto, as teorias associadas ao uso da estimação de maturidade tecnológica como uma ferramenta metodológica de referência métrica para o gerenciamento de riscos tecnológicos, como sendo as mais adequadas para o escopo teórico deste trabalho. Optou-se, então, pelo uso do Indicador TRL, por suas características gerais e pela sua aceitabilidade internacional, como metodologia de mensuração do nível de maturidade tecnológica de sensores inerciais fotônicos de interesse nas aplicações aeroespaciais existentes no âmbito do COMAER; essa escolha foi ratificada pela constatação da adoção e aceitação crescentes do Indicador TRL por instituições nacionais e internacionais associadas à área de Defesa (DoD, UK MoD, etc.) e ao setor aeroespacial (NASA, ESA, ECSS, INPE, etc.), que corroboram a relevância desse indicador para as atividades científico-tecnológicas de interesse para o COMAER. De modo a sistematizar o processo de mensuração, optou-se pelo uso do software TRL Calculator como ferramenta computacional de orientação e facilitação do processo de mensuração do nível de maturidade tecnológica dos sensores inerciais fotônicos pesquisados e/ou desenvolvidos no Brasil. Na medida em que a metodologia, o processo e a ferramenta de mensuração do nível de maturidade tecnológica foram compreendidos, e os dados relevantes dos sensores inerciais fotônicos nacionais foram levantados, procedeu-se então à realização da mensuração objetivada por este trabalho monográfico. Concluiu-se, por meio da mensuração realizada, que os acelerômetros fotônicos nacionais encontram-se no nível de maturidade tecnológica TRL-4, enquanto que os girômetros fotônicos nacionais, de aplicação tática e estratégica, encontram-se, respectivamente, nos níveis de maturidade tecnológica TRL-6 e TRL-7. Conclui-se, portanto, que os estudos apresentados e os resultados obtidos atenderam plenamente às expectativas definidas pelo objetivo geral deste trabalho monográfico, detalhado pelos objetivos específicos e respectivas questões norteadoras, e definido como sendo o de mensurar o nível de maturidade tecnológica em que se encontram os sensores inerciais fotônicos nacionais, demandados por Sistemas Inerciais usados em aplicações aeroespaciais de 62 interesse do COMAER. Dessa forma, vislumbra-se que este trabalho monográfico possa servir de referência para balizar futuros desdobramentos e trabalhos científicos, especialmente para aqueles voltados às diversas áreas científico-tecnológicas e de gerenciamento de riscos tecnológicos, potencialmente versando sobre os tópicos listados a seguir, dentre muitos possíveis: a) acompanhamento contínuo da evolução do nível de maturidade dos sensores inerciais fotônicos nacionais aqui abordados; b) extensão da aplicação do conceito de mensuração do nível de maturidade tecnológica para outras tecnologias associadas a sensores inerciais de interesse do COMAER; c) atualização do referencial teórico associado ao uso da mensuração do nível de maturidade tecnológica no gerenciamento de riscos tecológicos, durante o desenvolvimento ou aquisição de novas tecnologias, visando a identificar uma teoria de base estabelecida para essa área; d) abordagem de metodologias direta ou indiretamente relacionadas com o gerenciamento de risco tecnológico, como o TRA e o TPMM; e) análise focal de ferramentas metodológicas métricas relacionadas com o gerenciamento de risco tecnológico, como o IRL, MRL e SRL; e f) adaptação do TRL Calculator de modo a adequar os itens descritivos às necessidades científico-tecnológicas específicas em áreas de interesse do COMAER. Finalmente, enfatiza-se uma vez mais a alta relevância do uso de metodologias de mensuração do nível de maturidade tecnológica, exemplificado neste trabalho monográfico pelo Indicador TRL, para as atividades e objetivos do COMAER, conforme evidenciada ao longo do discorrer deste trabalho científico, que, por sua vez, almeja servir de ponto de partida para futuros estudos e trabalhos correlatos. 63 REFERÊNCIAS ALEXANDER, D.; HOLTON, L.; SUTTER, H. Technology Readiness Assessment of a Large DOE Waste Processing Facility. In: 2007 Technology Maturity Conference (TMC), 2007, Virginia Beach. Anais eletrônicos... Virginia Beach: AFRL, 2007. Disponível em <http://www.usasymposium.com/tmc/07tmc/agenda.htm>. Acesso em: 06 ago. 2008. ALVES, F. D. P., Demodulação de Sinal de Giroscópio a Fibra Óptica Utilizando Técnica de Cruzamentos de Zero. Tese de Mestrado. Divisão de Engenharia Eletrônica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, 1998. BARBOUR, N.; SCHMIDT, G. 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FOTÔNICA – ramo da ciência que estuda a natureza, geração, controle e detecção de fótons (unidades elementares da radiação eletromagnética na faixa espectral visível ao olho humano e nas faixas espectrais adjacentes (infravermelha e ultravioleta). GIRÔMETRO – dispositivo sensor capaz de medir rotação. GUIAMENTO – conjunto de operações para encaminhar um veículo de um ponto inicial a um determinado objetivo. HARDWARE – qualquer sistema ou subsistema físico (componente ou equipamento) que é parte ou representativo de uma determinada tecnologia ou engenharia. NAVEGAÇÃO INERCIAL – modalidade de navegação aérea que utiliza equipamento capaz de, automaticamente, determinar a posição da aeronave através de uma ampla integração dos sinais emitidos por acelerômetros e introduzidos em um computador. A navegação inercial necessita de um pré-alinhamento dos eixos giroscópicos em relação a um referencial inercial, da informação da posição inicial, e do conhecimento dos dados da rota tridimensional a ser percorrida. PSICOMETRIA – é uma área da Psicologia que faz a ponte entre as ciências exatas, principalmente a Matemática Aplicada (Estatística) e a Psicologia. Sua definição consiste no conjunto de técnicas utilizadas para mensurar, de forma adequada e comprovada experimentalmente, um conjunto ou uma gama de comportamentos que se deseja conhecer melhor. SENSOR INERCIAL – dispositivo sensor capaz de medir aceleração e/ou rotação. SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO INERCIAL – sistema tecnológico autônomo (que dispõe apenas de informações internas ao sistema) capaz de manter o direcionamento e controle de um corpo físico, visando manter a atitude e/ou posição desse com relação a um referencial inercial. SISTEMA DE NAVEGAÇÃO INERCIAL – sistema tecnológico autônomo capaz de manter o direcionamento e controle dos movimentos de um corpo físico móvel (veículo ou sistema), visando guiá-lo através de um caminho desejado. SISTEMA INERCIAL - Sistema de Navegação ou de Estabilização Inercial. 70 APÊNDICE A – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de acelerômetros fotônicos nacionais usando o TRL Calculator Mostra-se a seguir (Figura 21 a Figura 28) as ilustrações esquemáticas referentes ao preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator com os dados referentes aos acelerômetros fotônicos nacionais; a seqüência de figuras a seguir é mostrada na ordem normal em que as diversas seções de tela são apresentadas nessa planilha eletrônica. As ilustrações referentes aos níveis TRL-7 ao TRL-9 foram suprimidas, por não acrescentarem qualquer informação útil para o contexto dos acelerômetros fotônicos nacionais, em virtude de essa tecnologia encontrar-se em um estágio inicial de maturidade tecnológica. Figura 21: Ilustração esquemática da visão de alto nível do ambiente de demonstração da tecnologia – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 22: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-1 – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. 71 Figura 23: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-2 – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 24: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-3 – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 25: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-4 – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. 72 Figura 26: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-5 – acelerômetro fotônico. Fonte: Autor. Figura 27: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-6 – acelerômetro fotônico – TRL Calculator. Fonte: Autor. 73 Figura 28: Ilustração esquemática do resumo estendido da avaliação de maturidade tecnológica dos acelerômetros fotônicos nacionais, utilizando o TRL Calculator. Fonte: Autor. 74 APÊNDICE B – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática usando o TRL Calculator Mostra-se a seguir (Figura 29 a Figura 34) as ilustrações esquemáticas referentes ao preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator com os dados referentes aos girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática; a seqüência de figuras a seguir é mostrada na ordem normal em que as diversas seções de tela são apresentadas nessa planilha eletrônica. As ilustrações referentes aos níveis TRL-1 a TRL-4 foram suprimidas, por serem idênticas ao do caso dos acelerômetros fotônicos nacionais (Figura 22 a Figura 25). A ilustração referente ao nível TRL-9 foi suprimida, por não apresentar qualquer item descritivo preenchido. Isso ocorre devido ao fato de a tecnologia de girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática encontrar-se em um estágio intermediário de maturidade tecnológica. Figura 29: Ilustração esquemática da visão de alto nível do ambiente de demonstração da tecnologia – girômetro fotônico de aplicação tática – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 30: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-5 – girômetro fotônico de aplicação tática – TRL Calculator. Fonte: Autor. 75 Figura 31: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-6 – girômetro fotônico de aplicação tática – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 32: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-7 – girômetro fotônico de aplicação tática – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 33: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-8 – girômetro fotônico de aplicação tática – TRL Calculator. Fonte: Autor. 76 Figura 34: Ilustração esquemática do resumo estendido da avaliação de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação tática, utilizando o TRL Calculator. Fonte: Autor. 77 APÊNDICE C – Estimativa do Nível de Maturidade Tecnológica de girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica usando o TRL Calculator Mostra-se a seguir (Figura 35 a Figura 39) as ilustrações esquemáticas referentes ao preenchimento dos itens descritivos do TRL Calculator com os dados referentes aos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica; a seqüência de figuras a seguir é mostrada na ordem normal em que as diversas seções de tela são apresentadas nessa planilha eletrônica. As ilustrações referentes aos níveis TRL-1 a TRL-6 foram suprimidas, por serem idênticas ao do caso dos girômetros fotônicos nacionais para aplicação tática (Figura 22 a Figura 25, bem como a Figura 30 e Figura 31). A ilustração referente ao nível TRL-9, apesar de não apresentar qualquer item descritivo preenchido, é apresentada para expor os itens descritivos referentes a esse nível. A tecnologia de girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica encontra-se em um estágio intermediário, mas já próximo a avançado, de maturidade tecnológica. Figura 35: Ilustração esquemática da visão de alto nível do ambiente de demonstração da tecnologia – girômetro fotônico de aplicação estratégica – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 36: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-7 – girômetro fotônico de aplicação estratégica – TRL Calculator. 78 Fonte: Autor. Figura 37: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-8 – girômetro fotônico de aplicação estratégica – TRL Calculator. Fonte: Autor. Figura 38: Ilustração esquemática dos itens descritivos do TRL-9 – girômetro fotônico de aplicação estratégica – TRL Calculator. Fonte: Autor. 79 Figura 39: Ilustração esquemática do resumo estendido da avaliação de maturidade tecnológica dos girômetros fotônicos nacionais de aplicação estratégica, utilizando o TRL Calculator. Fonte: Autor. 80 ANEXO A – Indicador TRL definido pela NASA Quadro descritivo dos níveis de maturidade tecnológica preconizados pela NASA (MANKINS, 1995). O texto das diversas definições foi mantido na língua inglesa, a fim de se evitar alterações de significado em uma eventual tradução. TRL 1 Description Basic principles observed and reported 2 Technology concept and/or application formulated 3 Analytical and experimental critical function and/or characteristic proofof-concept 4 Component and/or breadboard validation in laboratory environment Descriptive Discussion Cost to Achieve This is the lowest “level” of technology maturation. At this level, scientific research begins to be translated into applied research and development. Examples might include studies of basic properties of materials (e.g., tensile strength as a function of temperature for a new fiber). Very Low ‘Unique’ Cost (investment cost is borne by scientific research programs) Once basic physical principles are observed, then at the next level of maturation, practical applications of those characteristics can be ‘invented’ or identified. For example, following the observation of high critical temperature (Htc) superconductivity, potential applications of the new material for thin film devices (e.g., SIS mixers) and in instrument systems (e.g., telescope sensors) can be defined. At this level, the application is still speculative: there is not experimental proof or detailed analysis to support the conjecture. At this step in the maturation process, active research and development (R&D) is initiated. This must include both analytical studies to set the technology into an appropriate context and laboratory-based studies to physically validate that the analytical predictions are correct. These studies and experiments should constitute “proof-of-concept” validation of the applications/concepts formulated at TRL 2. For example, a concept for High Energy Density Matter (HEDM) propulsion might depend on slush or super-cooled hydrogen as a propellant: TRL 3 might be attained when the concept-enabling phase/temperature/pressure for the fluid was achieved in a laboratory. Following successful “proof-of-concept” work, basic technological elements must be integrated to establish that the “pieces” will work together to achieve concept-enabling levels of performance for a component and/or breadboard. This validation must devised to support the concept that was formulated earlier, and should also be consistent with the requirements of potential system applications. The validation is relatively “low-fidelity” compared to the eventual system: it could be composed of ad hoc discrete components in a laboratory. For example, a TRL 4 demonstration of a new ‘fuzzy logic’ approach to avionics might consist of testing the algorithms in a partially computer-based, partially bench-top component (e.g., fiber optic gyros) demonstration in a controls lab using simulated vehicle inputs. Very Low ‘Unique’ Cost (investment cost is borne by scientific research programs) Cost to Achieve: Low ‘Unique’ Cost (technology specific) Low-to-moderate ‘Unique’ Cost (investment will be technology specific, but probably several factors greater than investment required for TRL 3) 81 TRL Description 5 Component and/or breadboard validation in relevant environment 6 System/subsystem model or prototype demonstration in a relevant environment (ground or space) 7 System prototype demonstration in a space environment Descriptive Discussion At this, the fidelity of the component and/or breadboard being tested has to increase significantly. The basic technological elements must be integrated with reasonably realistic supporting elements so that the total applications (component-level, sub-system level, or system-level) can be tested in a ‘simulated’ or somewhat realistic environment. From one-toseveral new technologies might be involved in the demonstration. For example, a new type of solar photovoltaic material promising higher efficiencies would at this level be used in an actual fabricated solar array ‘blanket’ that would be integrated with power supplies, supporting structure, etc., and tested in a thermal vacuum chamber with solar simulation capability. A major step in the level of fidelity of the technology demonstration follows the completion of TRL 5. At TRL 6, a representative model or prototype system or system – which would go well beyond ad hoc, ‘patch-cord’ or discrete component level breadboarding – would be tested in a relevant environment. At this level, if the only ‘relevant environment’ is the environment of space, then the model/prototype must be demonstrated in space. Of course, the demonstration should be successful to represent a true TRL 6. Not all technologies will undergo a TRL 6 demonstration: at this point the maturation step is driven more by assuring management confidence than by R&D requirements. The demonstration might represent an actual system application, or it might only be similar to the planned application, but using the same technologies. At this level, several-to-many new technologies might be integrated into the demonstration. For example, a innovative approach to high temperature/low mass radiators, involving liquid droplets and composite materials, would be demonstrated to TRL 6 by actually flying a working, sub-scale (but scaleable) model of the system on a Space Shuttle or International Space Station ‘pallet’. In this example, the reason space is the ‘relevant’ environment is that microgravity plus vacuum plus thermal environment effects will dictate the success/failure of the system – and the only way to validate the technology is in space. TRL 7 is a significant step beyond TRL 6, requiring an actual system prototype demonstration in a space environment. It has not always been implemented in the past. In this case, the prototype should be near or at the scale of the planned operational system and the demonstration must take place in space. The driving purposes for achieving this level of maturity are to assure system engineering and development management confidence (more than for purposes of technology R&D). Therefore, the demonstration must be of a prototype of that application. Not all technologies in all systems will go to this level. TRL 7 would normally only be performed in cases where the technology and/or subsystem application is mission critical and relatively high risk. Example: the Mars Pathfinder Rover is a TRL 7 technology demonstration for future Mars micro-rovers based on that system design. Example: X-vehicles are TRL 7, as are the demonstration projects planned in the New Millennium spacecraft program. Cost to Achieve Moderate ‘Unique’ Cost (investment cost will be technology dependent, but likely to be several factors greater that cost to achieve TRL 4) Technology and demonstration specific; a fraction of TRL 7 if on ground; nearly the same if space is required Technology and demonstration specific, but a significant fraction of the cost of TRL 8 (investment = “Phase C/D to TFU” for demonstration system) 82 TRL Description 8 Actual system completed and “flight qualified” through test and demonstration (ground or space) 9 Actual system “flight proven” through successful mission operations Descriptive Discussion Cost to Achieve By definition, all technologies being applied in actual systems go through TRL 8. In almost all cases, this level is the end of true ‘system development’ for most technology elements. Example: this would include DDT&E through Theoretical First Unit (TFU) for a new reusable launch vehicle. This might include integration of new technology into an existing system. Example: loading and testing successfully a new control algorithm into the onboard computer on Hubble Space Telescope while in orbit. By definition, all technologies being applied in actual systems go through TRL 9. In almost all cases, the end of last ‘bug fixing’ aspects of true ‘system development’. For example, small fixes/changes to address problems found following launch (through ‘30 days’ or some related date). This might include integration of new technology into an existing system (such operating a new artificial intelligence tool into operational mission control at JSC). This TRL does not include planned product improvement of ongoing or reusable systems. For example, a new engine for an existing RLV would not start at TRL 9: such ‘technology’ upgrades would start over at the appropriate level in the TRL system. Mission specific; typically highest unique cost for a new technology (investment = “Phase C/D to TFU” for actual system) Quadro 1: Technology Readiness Levels definidos pela NASA. Fonte: Mankins (1995). Mission Specific; less than cost of TRL 8 (e.g., cost of launch plus 30 days of mission operations) 83 ANEXO B – Indicador TRL definido pelo DoD para Hardware A Figura 40 mostra os níveis de maturidade tecnológica para hardware preconizados pelo DoD. Figura 40: Descrição dos níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL do DoD para hardware. Fonte: Department of Defense dos EUA (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005, Apêndice J). 84 ANEXO C – Indicador TRL definido pelo DoD para Software A Figura 41 mostra os níveis de maturidade tecnológica para software preconizados pelo DoD. Figura 41: Descrição dos níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL do DoD para software. Fonte: Department of Defense dos EUA (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2005, Apêndice J). 85 ANEXO D – Comparação entre as definições do Indicador TRL e os termos em uso pela ESA e CNES A Figura 42 mostra uma proposta preliminar de equivalência entre os níveis de maturidade tecnológica do Indicador TRL adotados pela NASA e os termos em uso na ESA e na CNES. Figura 42: Quadro comparativo da equivalência entre o Indicador TRL da NASA e os termos em uso na ESA e na CNES. Fonte: Moore (2008).