FITNESS, Saúde e Qualidade de Vida
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FITNESS, Saúde e Qualidade de Vida
Capítulo 10 Fitness, Saúde e Qualidade de Vida DANTAS, Estélio H. M.; BEZERRA, Jani Cléria P.; MELLO, Danielli B. Fitness Saúde e Qualidade de Vida. In: VIANNA, Jeferson; NOVAES, Jefferson. Personal Training & Condicionamento Físico em Academia. 3 Ed. Rio de Janeiro: Shape, pp.297- 335, 2009. Estélio H. M. Dantas - Cref. 0001-G-RJ - Pós-Graduação Lato Sensu em nível de Especialização em Ciência do Treinamento Desportivo – Universidade Gama Filho (1979). - Pós-Graduação Lato Sensu em nível de Especialização em Administração Desportiva – Universidade Gama Filho (1980). - Pós-Graduação Lato Sensu em nível de Especialização em Educação – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1980). - Mestrado em Educação (área de concentração Administração Universitária) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1985). - Mestrado em Educação Física (área de concentração Bases Biomédicas da Educação Física) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). - Doutor Livre Docente em Treinamento Desportivo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1988), tendo concluído seus estudos de Pós-doutoramento em Psicofisiologia na Universidade Gama Filho (1998) e em Fisiologia na Universidade Católica San Antonio de Murcia (Espanha). Jani Cleria Pereira Bezerra - Cref. 005948-G/RJ - Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). - Mestre em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco (UCB). - Doutoranda em Medicina do Esporte pela Universidad Nuestra Señora de la Assunción. - Professora Universidade do Grande Rio – UNIGRANRIO. - Coordenadora do Curso lato senso em Educação Física Hospitalar – COBRASE. - Professora do curso de Pós-graduação Lato senso em Motricidade Oral com ênfase em Fonoaudiologia Hospitalar e Fisioterapia Hospitalar. - Autora dos capítulos “Fitness, Saúde, Wellness e Qualidade de Vida”; “A Composição Corporal na Senescência” e “Treinamento da RML na Autonomia e Qualidade de Vida do Idoso”; “Atividade física e qualidade de vida: Panorama e perspectivas”; “Condicionamento físico do geronte”. - Membro do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para Maturidade (GDLAM); da Sociedade Brasileira de Educação Física Gerontológica (SBEFG). danielle b. mello - Cref. 2181-G/RJ - Doutora em Saúde Pública (ENSP, FIOCRUZ) - Mestre em Ciência da Motricidade Humana especialista na linha de pesquisa de “Efeitos Fisiomorfológicos da Atividade Física com Adultos Não-Atletas” do PROCIMH UCB/RJ. - Professora do Curso de Pós Graduação em Fisiologia do Exercício e Medidas e Avaliação e Nutrição Esportiva na Universidade Estácio de Sá. - Professora dos cursos de Pós graduação Stricto Sensu da Rede Euroamericana de Motricidade Humana. - Experiência em Coordenação de cursos de graduação e pós graduação (Universidade Estácio de Sá e UNIGRANRIO). - Consultora do site internacional www.gracieseminars.com. - Autora de diversos trabalhos científicos em congressos nacionais e internacionais. - Autora do livro “Ciclismo Indoor”, Sprint/RJ. - Capítulo 10 - fitness, Saúde e Qualidade de Vida Estélio H. M. Dantas Jani Cleria Pereira Bezerra Danielli B. Mello Fitness - A ecologia do corpo O primeiro registro, cuja linha de raciocínio se identifica com a do presente trabalho, deve ter sido feito na Grécia, berço do pensamento ocidental, quando Epicuro (341-270 a.C.) enunciou: Teu compromisso é com a tua felicidade. A antítese a esta ideia fortalecia-se do lado oposto do Mediterrâneo através dos ensinamentos de um povo semita, nos quais se embasariam as formulações da ética judaico-cristã. Como bem se sabe, esta nova cosmovisão viria a se tornar a mais importante influência na elaboração da escala de valores do mundo ocidental. O advento do cristianismo revolucionou o posicionamento e a atitude com que o homem no Ocidente enfrentava a vida, ao determinar-lhe comportamentos rígidos e ascéticos e ao relegar o corpo a um plano secundário. Tais tendências e práticas, predominantes durante séculos, só foram contestadas pela Reforma Protestante, embora parcialmente, esta que deslocou a conquista do prazer de um plano metafísico para a rigidez do comportamento adequado e do trabalho árduo ao longo da vida terrena, em particular no calvinismo e no puritanismo. Em consequência, até os dias de hoje, a relação do homem com o prazer caracteriza-se, de um modo geral, pela ambiguidade e pela dicotomia acentuadas. Enquanto alguns enfatizam a legitimidade da busca e posse imediata do prazeroso, outros o transferem para a dimensão postmortem a ser alcançado graças aos méritos terrenos e à correção de atitudes acumuladas durante a existência. Cabe aqui uma pergunta: qual a relação da atividade física com o prazer? Esta é a proposta deste capítulo que pretende provar que a atividade física desempenha papel fundamental numa existência que se queira prazerosa e digna do ser humano. Definitivamente, grande parte das pessoas não aprecia o american way of life, inclusive por considerá-lo perdulário, superficial, vazio e prepotente; mas deve-se reconhecer que os norte-americanos são fantásticos para atribuir nomes que, em pouco tempo, tornam-se de uso corrente, até mesmo em nosso país. Fitness é um desses termos. Ao se consultar o dicionário Webster’s (HOUAISS, 1982, p. 293) encontra-se fitness com o significado de “aptidão, competência, adequação, conveniência...!” 302 fitness, Saúde e Qualidade de Vida E o mesmo autor continua explicando a etimologia do termo: Fit significa ajustamento, adaptação e Ness é um sufixo formador de substantivos abstratos de estado ou condição. Ou seja, fitness é o estado ou condição de se estar ajustado ou adaptado às suas necessidades individuais. É, portanto, diferente de aptidão ou condicionamento físico, normalmente, entre nós, expressões utilizadas em substituição ao fitness. Aptidão física: nível de potencialidades motoras e de performance física que uma pessoa possui em função do seu genótipo. Condicionamento físico: estado de desenvolvimento físico, apresentado por uma pessoa, dos hábitos higiênicos que possui e do nível de treinamento realizado. O ritmo acelerado da vida moderna, impedindo uma reflexão mais profunda, geralmente leva o homem a se apegar mais ao que está pronto para o consumo, fazendo-o desprezar o que necessita de elaboração para ser apreendido. É muito mais fácil entender fitness como apenas uma aula de aeróbica, porém ele está ligado intrinsecamente à evolução do ser humano. Não basta levar a cabeça ao analista e o corpo à academia para se obter fitness. O homem é muito mais rico e complexo do que o sugerido por esta tradicional visão bipolarizada, por mais confortável que pareça. Já vai longe o tempo do mens sana in corpore sano de Juvenal, principalmente porque o reducionismo dualista que esta frase sugere é absolutamente contrário à moderna perspectiva holística de se abordar o homem. Não é científico nem ideologicamente aceitável conceber uma mens sana, se não estiver necessariamente integrada a um corpore sano e a uma psyche sana. O desequilíbrio em qualquer um dos campos de existência do homem aumentará sua entropia, aproximando-o da matéria inorgânica que o constitui. Fitness, no seu sentido mais amplo, é semelhante à homeostase. É absoluta: ou existe, ou não existe! Para o homem total é indispensável o fitness total. A consciência da estrutura integrada do homem permite encará-lo não como uma mera síntese de corpo/mente/emoção, numa totalidade organizada, mas entender a possibilidade sinérgica da amalgamação do cognitivo, do afetivo e do psicomotor numa unidade gestalticamente diferente de suas partes constituintes. Ver o homem sob essa ótica é uma tendência a sintetizar unidades em totalidades organizadas, ou seja, utilizar uma perspectiva holística para sua compreensão. Utilizar uma linha de raciocínio holístico para abordar o homem vai nos conduzir, necessariamente, ao conceito de ecologia, segundo Ferreira (2003): “Parte da biologia que estuda as relações dos seres vivos e o meio ambiente em que vivem, bem como suas recíprocas influências”, que comporta duas dimensões: a macroecologia ou ecologia do ambiente, e a microecologia ou ecologia do corpo. Existe, obviamente, uma mesma raiz de interesses culturais que faz as pessoas se preocuparem tanto com a preservação do planeta (macroecologia) como com seus próprios corpos (microecologia). No entanto, a ênfase e a seriedade com que ambas são abordadas diferem muito. A imprensa e os governos já se ocupam seriamente da macroecologia e, pelo menos ostensivamente, todos são preservacionistas, embora não deixar crescer uma árvore que 303 atrapalharia a visão de seu ponto comercial, talvez não revolte tanto o nouveau écologiste quanto o corte de uma árvore da floresta tropical. É interessante a intransigência dos nouveaux écologistes para algumas coisas e incoerente sua tolerância para outras. Como harmonizar a preservação da camada de ozônio e a diminuição dos índices de poluição atmosférica com a aceitação do tabagismo? O meio gasoso deve ser preservado tanto em nível macro como em nível microecológico. Não se consegue, também, ver lógica numa pessoa que luta pela despoluição dos rios e entope suas artérias com as gorduras saturadas que absorve em sua alimentação à base de frituras, carnes vermelhas, manteiga etc., ou naqueles que lutam pela preservação das espécies animais, mas não relutam em se alimentar de cadáveres de mamíferos, às vezes, em verdadeiros festins gastronômicos, nos quais consomem diversas partes de um mesmo animal ou de diversos animais. Coerência é o mínimo que se pode cobrar. Encarar a macroecologia como ciência e a microecologia como atividade alternativa ou underground, própria para iniciados ou exóticos, é no mínimo um insulto à inteligência humana. Contribuir para a união entre a ciência e a microecologia, daqui a alguns anos, certamente, será um objetivo vulgarizado, mas hoje ele é de fundamental importância. A ecologia do corpo é a pedra fundamental da criação de uma consciência ecológica consistente. A partir da preservação do próprio corpo, cada ser humano perceberá, de forma muito mais clara, a necessidade de preservar o meio ambiente. É importante não confundir fitness com forma física. A preocupação básica não se deve concentrar apenas na aparência do físico, com as adiposidades localizadas, com a hipertrofia muscular, mas sim com o grau de aptidão, adequação, conveniência do organismo, enfim, com a harmônica integração entre físico, mente e emoção. A praxes da ecologia do corpo só é possível quando se adotam hábitos saudáveis de alimentação, cuidados com a higiene corporal, a suspensão do uso do tabaco e a limitação da ingestão de álcool, práticas de relaxamento e meditação e a execução de exercícios físicos adequados, na dosagem certa, orientados para uma melhor qualidade de vida, além de atenções específicas para os aspectos emocionais, intelectuais e sociais. A materialização da preocupação com a ecologia do corpo é a ação do fitness que agora pode ser entendido em sua plenitude. Segundo Barbanti (1994), fitness é um termo bem amplo que denota o estado dinâmico que permite à pessoa satisfazer suas próprias necessidades, tais como a estabilidade mental e a emocional, a consciência e a adaptação social, a fibra moral e a espiritual, e a saúde orgânica consistente com a sua hereditariedade. É muito mais fácil entender fitness como o que se faz na academia de ginástica, porém não se pode entendê-lo de forma tão simplista. Baseado nestes conceitos, Dantas (2003) define fitness: “como o nível ótimo de homeostase observado nos campos cognitivo, afetivo e psicomotor, obtido através de um processo harmônico de desenvolvimento das diversas estruturas constituintes do ser humano”. 304 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Apenas o cuidado com a motricidade e o psicomotor seria absolutamente inócuo para promover uma melhoria no desenvolvimento harmônico do ser, porque deixaria de lado os campos afetivo-social e cognitivo. O termo fitness vulgarizou-se tanto que se tornou grosseiro, simplista e incompleto, para Morrow et al. (1985), pois enfoca exclusivamente a sua dimensão física. Com isso, sentiu-se a necessidade de uma melhor compreensão por outros autores, que classificaram o fitness em áreas. Morrow et al. (1997), Sharkey (1997), Howley et al. (1997) classificaram o fitness em três grandes áreas: fitness social, fitness psicológico (englobando a dimensão emocional e a social) e fitness físico. Também Dantas (2003) e Morrow et al. (1997) citam um sistema de classificação baseado nos domínios de aprendizagem propostos por Bloom (1973): domínio afetivo – fitness social e fitness emocional; domínio cognitivo – fitness intelectual, e domínio psicomotor – fitness físico. Figura 1 - Dimensões do fitness e os campos da aprendizagem. Bloom (1973) fez sua classificação dos campos da aprendizagem, no contexto da educação. Se educação é modificar comportamentos e agregar novos valores, fitness é também educação. Para uma melhor compreensão da Figura 1, é necessário criticar melhor os tipos de fitness. Alguns autores (MORROW, 1997; SHARKEY, 1997; HOWLEY et al., 1997) admitem a possibilidade de algum tipo de classificação, sendo que a maioria concorda que o fitness pode ser classificado em três grandes áreas, expressas na Figura 2. 305 Figura 2 - Os tipos de fitness. Já Armbruster e Gladwim (2001) preferem, ao invés de tipos de fitness, subdividi-lo em dimensões, apresentadas na Figura 3, decisivamente influenciadas pelo combate e pelas circunstâncias de vida do ser humano. Figura 3 - Dimensões do fitness Ambiente Hábitos saudáveis contribuem para Dimensão física Dimensão intelectual Circunstâncias Dimensão social Dimensão emocional Melhorando a... saúde É claro que sob o ponto de vista do profissional de saúde a dimensão física do fitness é a melhor “porta de entrada” para o fitness. Para se compreender melhor a Figura 3, deve-se conhecer o significado de cada dimensão do fitness. As definições a seguir são propostas por Dantas (2003). 306 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Dimensão social O homem é um animal social e não pode sobreviver sem estar integrado a um grupo. Esta integração fundamenta-se na maturidade social e se reflete na satisfação de algumas necessidades básicas de afeto, realização e integração. O grau de harmonização de uma pessoa com os códigos de valores, cultura, costumes e hábitos do grupo social a que pertence, indica o fitness social. De acordo com Armbruster e Gladwin (2001), isso concerne em se manter e se alimentar relacionamentos saudáveis e harmoniosos com seu grupo familiar e demais grupos com os quais se convive, considerando que a harmonia familiar é fundamental para a dimensão social do fitness. Com este fim, são necessários programas educacionais para promover a saúde, facilitar o acesso ao fitness, envolver a comunidade com as associações e fundações ligadas à saúde e disponibilizar profissionais especializados para o atendimento à população. Para se alcançar esta dimensão, faz-se necessária a satisfação de necessidades básicas: Afeto: aceitação e aprovação por indivíduos. Realização: aprovação e aceitação recebidas do grupo. Integração: mutualidade, cooperação e lealdade grupal (MELOGRANO & KLIZING, 1982). Os benefícios sociais podem estar relacionados à participação em vários tipos de atividade física, já que as experiências em jogos, esportes ou competições atendem às necessidades sociais, podendo contribuir para o desenvolvimento e a manutenção da dimensão social do fitness (MELOGRANO & KLIZING, 1982). Dimensão emocional Enfatiza o equilíbrio emocional e a aceitação dos sentimentos e emoções do próximo. É o nível de adequação de nossas respostas comportamentais e íntimas aos estímulos do meio ambiente: liberdade de tensão e ansiedade, sentimento de autosatisfação, habilidade de lidar com a realidade e capacidade de direcionar sentimentos de hostilidade para canais construtivos. Um bom nível de fitness emocional possibilita autorrealização, autoentendimento, autodisciplina e responsabilidade, autoaprovação, autossuficiência e melhor determinação na tomada de decisão (HUMPHREY & INGRAM, 1969; ARMBUSTER & GLADWIN, 2001). De acordo com o Stanford University’s Patient Education Resource Center, mais de 50% dos idosos e das pessoas que possuem doenças crônicas, assim como diabetes, mal de Parkinson, artrites e cardiopatias, são obrigados a lidar com o impacto destas enfermidades sobre suas vidas e suas emoções. Para conscientizar e facilitar a aceitação destes sentimentos e emoções, foi criado The Chronic Disease Self-Management Workshop com o objetivo de ajudar os participantes a administrar sua saúde e manter suas vidas ativas e realizadas (LORIG et al., 1999). 307 Dimensão intelectual Consiste basicamente em três fatores: capacidade de aprendizagem, inteligência e cultura pessoal (MORROW, 1997). O cérebro passa por uma série de mudanças morfológicas e bioquímicas com o passar dos anos, mas, independente de seu envelhecimento, continua possuindo uma capacidade extraordinária de se adaptar a novos estímulos e novas condições. As necessidades intelectuais de cada indivíduo estão relacionadas a desafios que dependem do nível intelectual de cada um, experiências satisfatórias e sucesso intelectual, oportunidades de solucionar problemas e de participar de experiências intelectuais criativas (MELOGRANO & KLIZING, 1982). A dimensão intelectual do fitness encoraja o indivíduo a usar sua inteligência, a aumentar o seu conhecimento e sua criatividade, obter o autoconhecimento e a entender e apreciar melhor o seu próximo. Atividades como leituras, artes e artesanato, viagens, atividades físicas sociabilizantes e reuniões sociais, abordando temas como literatura, história/política, finanças/matemática e estudos gerais oferecem oportunidades amplas de crescimento mental, físico, emocional, espiritual e vocacional. Dimensão física Este termo surge da união dos conceitos de condicionamento físico e de aptidão física. É constituído por um conjunto de fatores capaz de promover saúde, bem-estar físico e qualidade de vida nas pessoas. Segundo Morrow et al. (1999), existe uma grande influência do fitness físico sobre o fitness social, emocional e intelectual, devido ao impacto psicológico da atividade física sobre o estresse, a depressão e a ansiedade. Melhorando a saúde mental, melhoramos a autoestima e o sono, devido às adaptações biológicas causadas pela atividade física, que diminuem a depressão e a ansiedade. A dimensão física do fitness pode ser definida como sendo “focada na manutenção da autonomia física e da saúde através da participação em atividades físicas, alimentação saudável e escolhas de estilo de vida positivos” (ARMBRUSTER & GLADWIN, 2001). Como o profissional de educação física atuará no momento do fitness das pessoas, a partir da dimensão física, faz-se mister conhecer em detalhes o que ele deve incentivar, ensinar e propiciar, além de sua atividade meio – o trabalho físico – e de sua função nas demais dimensões: basicamente, a educação para a saúde e, em especial, o desencadeamento de modificações do comportamento que conduzam a um estilo de vida saudável. 308 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Figura 4 - Estilo de vida saudável Adaptado de Nahas, et al. 2000. Na Figura 4, explicitam-se os fatores que conduzem a este estilo de vida. A atividade física regular, moderada e prazerosa, definida como fitness físico, será o ponto fulcral deste modus vivendi. Incentivar uma nutrição com abundância de frutas, legumes, hortaliças e cereais, com pouca ou nenhuma ingestão de carnes vermelhas, gorduras animais, sacarose, alimentos com substâncias artificiais, feita de forma regular, com quatro refeições equilibradas por dia e sem excessos, é dever de todo o profissional de saúde. Obviamente não se está preconizando que o profissional de educação física faça prescrição nutricional, prerrogativa dos nutricionistas, mas sim a educação para uma alimentação frugal, regular, natural e equilibrada. Na busca do lazer ativo, procura-se evitar o nefasto costume de despender as horas de ócio diante de uma televisão, quase sempre assistindo programas de baixíssimo nível cultural que, cada vez mais, irão embotando e mediocrizando a pessoa. Possuir um hobby que a motive a sair de casa, encontrar-se com pessoas que possuam os mesmos interesses, modificar o seu ambiente cotidiano, ser obrigada a colocar sua atenção em outra atividade que não seja a profissional ou a doméstica será um excelente fator de higiene mental. Se em meio a tudo isso ainda puder associar qualquer atividade física, obterá vantagem dobrada. A ausência de vícios é outro fator decisivo para a criação de um estilo de vida saudável. Talvez apenas com exceção das doenças serão os vícios os maiores incrementadores da prova de vida saudável. Não só aqueles que levam à intoxicação química do organismo, e por isso mesmo reconhecidos como nefastos, mas também os que distorcem a capacidade de julgamento e o equilíbrio de horas de trabalho, ócio, sono, cuidados pessoais etc. 309 Por fim, o controle do estresse que, na vida urbana do mundo moderno, passa a ser uma obrigação vital e continuada, devido à sucessão cumulativa de fatores estressantes, influencia diretamente na qualidade do sono do indivíduo. Um sono reparador e em quantidade suficiente possibilitará o indispensável repouso após um dia de atividades intensas. Com base nos já explanados aspectos da dimensão física do fitness, deve-se objetivar o trabalho físico, a partir do fitness físico. O American College of Sports Medicine (1995) afirma que o fitness físico refere-se à obtenção ou manutenção dos componentes do condicionamento físico, correlacionados com uma boa ou elevada saúde, sendo necessários para realização de tarefas diárias e no confronto com os desafios esperados e inesperados. Devido à grande quantidade de pessoas envolvidas em programas de condicionamento físico, o American College of Sports Medicine criou um guia de prescrição de atividade física para adultos saudáveis, em 1998, com recomendações da quantidade e qualidade do treinamento para desenvolvimento e manutenção do fitness físico. Originalmente, o fitness físico constitui-se dos seguintes itens: composição corporal e fitness cardiorrespiratório, conforme apresentados nas Figuras 5 e 6. Figura 5 - Composição corporal Percentual de gordura dentro dos parâmetros desejáveis em função do sexo e da idade. Percentual relativo de peso corporal representado por gordura e tecido isento de gordura. Figura 6 - Fitness cardiorrespiratório Capacidade pulmonar adequada. Resistência aeróbica Consumo máximo de oxigênio. Predominância aeróbica na execução de atividades. Estes fatores surgidos em resposta ao expressivo número de óbitos, decorrentes das doenças cardiovasculares, foram fatores incluídos, na década de 1970, no conceito de fitness físico. A partir de agora, vamos especificar melhor cada um desses fatores. Composição corporal A composição corporal consiste basicamente em identificar percentagens relativas de tecidos de gordura e sem gordura do corpo. De acordo com Howley et al. (2000), a per310 fitness, Saúde e Qualidade de Vida centagem do peso total, composto de tecido de gordura, é definida como % de gordura, e o peso de tecidos sem gordura e lipídios essenciais para sustentação da vida, como massa corporal magra. Segundo Nieman (1999), a composição corporal divide-se em massa corporal magra, composta predominantemente de músculos e ossos, pele, água e sangue; e em massa gorda, composta de estoques de gordura, incluindo o tecido adiposo. A quantidade de gordura corporal existe em dois locais: gordura essencial e gordura de reserva. A primeira é a gordura acumulada na medula dos ossos e no coração, nos pulmões, fígado, baço, rins, intestinos, músculos e no sistema nervoso central e é necessária para o funcionamento fisiológico normal. A segunda é a gordura de reserva que consiste na gordura acumulada no tecido adiposo (MCARDLLE, 1991). Segundo o American College of Sport Medicine (1998), somente a atividade física sem restrição calórica (dieta) tem um modesto efeito sobre a massa corporal total e massa gorda. Para perda de peso, deve-se associar a atividade física diária a uma alimentação balanceada, já que o exercício físico otimiza o déficit de energia causado pela dieta, conforme afirmam Smith et al. (2000). Já está provado que um estilo de vida sedentário contribui para o excesso de peso e para a obesidade (TREAMBLAY et al., 1999; JEBB & MOORE, 1999; THOMPSON et al., 1999; VOTROBA, HORVITZ & SCHOELER, 2000), mesmo assim, a maior parte das pessoas que está tentando perder peso não adota uma prática regular de atividade física (GORDON et al., 2000). Estudos mostram que pessoas que assistem muito televisão tendem a ser mais gordas do que aquelas que assistem menos (MCCREARY & SADAVA, 1999). A perda de peso induzida pelo aumento da atividade física diária sem restrição calórica reduz substancialmente a obesidade (principalmente na região abdominal), além de prevenir o aumento de peso (BLAIR & BOUCHARD, 1999; TREAMBLAY, 1999; ROSS et al., 2000). A atividade física diária também mantém os estoques de gordura baixos, devido à oxidação gerada pelo exercício (KRIKETOS et al., 2000), além de reduzir a resistência à insulina e melhorar a intolerância à glicose, em pessoas obesas (KELLEY & GOODPASTER, 1999). A valorização da composição corporal para o fitness físico deve-se ao aumento significativo de adultos obesos nos últimos anos. A obesidade é o maior problema de saúde pública neste início do século 21 (Kennedy et al, 1995). Toda semana novos relatos aparecem na literatura científica e na mídia demonstrando que a prevalência de sobrepeso e obesidade vem aumentando em diferentes países, o que deixa a impressão que toda a população está se tornando cada vez mais obesa. A palavra obesidade é derivada de ab (super) e edere (comer), contudo as alterações metabólicas e funcionais associadas à obesidade não estão relacionadas somente aos hábitos alimentares, mas a parâmetros multifatoriais como herança genética, fatores socioculturais e psicológicos e inatividade física (FISBERG, 2004). 311 Segundo Flegal et al (2005), mais de 50% da população americana está com sobrepeso e aproximadamente 20% é obesa. E isto não ocorre somente em países industrializados. No mundo, em média 250 milhões de pessoas são obesas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma estimativa que em 2025, 300 milhões de pessoas serão obesas. A prevalência de obesidade é elevada na maioria dos países da América Latina. No Brasil, 35% da população apresenta sobrepeso ou obesidade (FILOZOF et al., 2001). A obesidade pode ser classificada como uma doença plurimetabólica, por existir contemporaneamente com a hipertensão, hiperlipidemia e diabetes. Porém, a prevalência de obesidade em algumas regiões geográficas está relacionada a um complexo crônico e multifatorial que inclui interações genéticas, fisiológicas, comportamentais, culturais e ambientais que tem um impacto significativo na saúde, bem estar psicosocial, longevidade e qualidade de vida (INELMAN et al., 2003; KOLOTKIN et al., 2001). Fagherazzi (2008) realizou um estudo retrospectivo analítico observacional com 30 indivíduos, fisicamente ativos, portadores de doenças cardiovasculares, e/ou portadores de fatores de risco desencadeantes dessas doenças. Ao final deste estudo foi possível concluir, a associação da dieta com o exercício físico apresentou maiores benefícios sobre os níveis séricos de HDL, LDL, colesterol total e triglicerídeos. Na epidemia das doenças crônico-degenerativas, a atividade física surge como um meio de promoção da saúde. Estudos epidemiológicos demonstram a prática regular de exercícios como fator de proteção à saúde devido ao melhor funcionamento cardiovascular e metabólico, mudança na composição corporal, preservação da massa óssea, melhora neuromuscular e bem-estar psicológico (ACSM, 2003). O exercício físico é extremamente importante na prevenção das doenças associadas a idade como diabetes tipo 2, arteriosclerose, hipertensão e osteoporose; aumenta as habilidades funcionais em idosos pela melhora da função muscular e influencia no sistema imunológico (BRUUNSGAARD; PERSERSEN, 2000; KYLE et al., 2001). Como o conteúdo adiposo de um indivíduo, em geral, é avaliado pelo percentual de gordura corporal, surge a necessidade de um controle efetivo deste componente do fitness físico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica a antropometria como método mais útil para identificar pessoas obesas, pois é mais barato, não invasivo, universalmente aplicável e com boa aceitação pela população. Anthropo (humano) metron (medida). A antropometria é a ciência que estuda e avalia as medidas de tamanho, peso e proporções do corpo humano. Dentro desta ciência encontramos medidas de peso e altura, diâmetros e comprimentos ósseos, espessuras de dobras cutâneas, circunferências e alguns índices que avaliam o risco de desenvolver doenças (MONTEIRO; FERNANDES FILHO, 2002). Dentre estes índices está o índice de massa corporal (IMC), o índice de relação cintura e quadril (IRCQ) e o índice de obesidade (IO). Atualmente o índice mais utilizado para avaliar a “normalidade” do peso corporal de um indivíduo e identificar pessoas obesas é o IMC, calculado dividindo a massa corporal (kg) pela estatura ao quadrado (m2), desenvolvido no século passado pelo matemático belga Lambert Adolphe Jacques Quetelet (ABRANTES et al., 2003). A importância deste índice reside em sua relação curvilínea com a relação de mortalidade devida a todas as causas; à medida que o IMC aumenta através de toda a gama de um peso excessivo, moderado e 312 fitness, Saúde e Qualidade de Vida acentuado, o mesmo ocorre com o aumento do risco para complicações cardiovasculares (incluindo hipertensão e acidente vascular cerebral – AVC), certos cânceres, diabetes, cálculos vesiculares, osteoartrite e doença renal. Com base na associação entre doença e obesidade, a OMS estabelece para avaliação da população adulta o seguinte índice e sua classificação (WHO, 2004). Tabela 1 - Classificação IMC Classificação IMC Magreza grave < 16.0 Magreza moderada 16.0 – 16.9 Magreza leve 17 – 18.4 Adequado 18.5 - 24.9 Sobrepeso 25.0 – 29.9 Obesidade grau I 30.0 – 39.9 Obesidade grau II > 40.0 Em adultos jovens, valores entre 20 e 25 kg/m² são tidos como limites desejáveis para o índice de massa corporal. Contudo, com a idade, esses limites tendem a aumentar discretamente, alcançando valores por volta de 27 kg/m² (FERNANDES FILHO, 1999; GUEDES; GUEDES, 2006). O National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), em 1991, classifica indivíduos obesos do gênero masculino com IMC > 27.8 e indivíduos obesos do gênero feminino com IMC >27.3. Tratando-se dos riscos da saúde global, a distribuição da gordura corporal periférica tornase extremamente relevante. O acúmulo de gordura excessiva na região abdominal, também chamado de formato de maçã, de padrão andróide ou obesidade central, é mais perigosa do que a acumulada na região glúteo-femoral, chamado de padrão ginecóide, obesidade periférica ou formato de pêra. A gordura abdominal excessiva reflete um perfil metabólico alterado e está associada com riscos elevados de doença arterial coronariana, hipertensão e diabetes. Figura 7 - Distribuição da Gordura Corporal O índice da relação cintura e quadril (IRCQ) é rápido, fácil e eficiente em identificar pessoas com riscos de saúde elevados devido à gordura abdominal. O IRCQ é simplesmente a circunferência da cintura dividida pela circunferência do quadril. Deve-se medir a circunferência da cintura na linha do umbigo estando na posição em pé e relaxado e a circunferência do quadril, sobre as nádegas onde a circunferência é maior. O índice superior a 0.94 313 em homens jovens e 0.82 em mulheres jovens apresenta risco à saúde. Para indivíduos com idade entre 60-69 anos, os valores de IRCQ são maiores que 1.03 para homens e 0.90 para mulheres com a mesma classificação de risco (GUEDES; GUEDES, 2006). Também existe uma variação do IRCQ para somente a circunferência de cintura (CC) como indicador da obesidade central, tendo como valores referenciais para homens e mulheres, respectivamente, circunferência superior a 102 e 88 cm (ACMS, 2003). Figura 8 - Índice da relação cintura e quadril (IRCQ) O IO, índice de obesidade, é bastante utilizado e consiste na inter-relação entre o peso e a altura obtidos da população-amostra e aqueles valores referenciais, ou seja, tabelas previstas para peso e altura, calculados por sexo e idade, onde os indivíduos podem ser classificados, por meio dos percentis, como de baixo peso, normal, sobrepeso e obeso (FISBERG, 2004). Quadro 1 - Índice de obesidade IO = Peso atual (kg) / altura atual (cm) = A IO = Peso médio para idade (kg) / altura média para idade (cm) = B IO = A / B x 100 Resultado: 91% e 110% (peso normal) 111% e 120% (sobrepeso) acima de 120% (obesidade) Numa síntese do panorama geral, observa-se uma unanimidade na utilização dos indicadores antropométricos de IMC e IRCQ. Em relação às alterações metabólicas associadas à obesidade em idosos apresentam-se sexo-dependente, com maior prevalência em mulheres idosas. Estas doenças, diagnosticadas num indivíduo idoso, geralmente não admitem cura e, se não forem devidamente tratadas ao longo dos anos, tendem a apresentar complicações e sequelas que comprometem a independência e autonomia do paciente (RAMOS, 2003). A utilização de indicadores antropométricos para avaliação da composição corporal na detecção do sobrepeso e obesidade, e análise das alterações metabólicas associadas à obesidade em idosos, faz-se necessária na perspectiva de envelhecer com melhor qualidade de vida. O que significa pensar a saúde de forma integral, com efetivação de políticas de saúde voltadas para este grupo que busca o envelhecimento com saúde, dignidade, autonomia e independência. A composição corporal é parte fundamental do condicionamento físico de um indivíduo, tornando-se, portanto, um dos componentes mais importantes do fitness físico. A epidemia de obesidade que assola, atualmente, o mundo, faz com que sejam incentivadas sobremodo as pesquisas sobre a melhor forma de combatê-la. Certamente, uma dessas opções consiste em se determinar qual é a intensidade de exercício aeróbico mais adequada para maximizar o emagrecimento. 314 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Já era de conhecimento da fisiologia que o maior percentual de utilização de gordura se situa aproximadamente aos 30% do VO2 máx., porém, nesta intensidade, o consumo calórico é muito baixo, o que acarreta um pequeno consumo de gordura. Buscando resolver o problema de determinar qual o nível ideal dos exercícios aeróbicos para emagrecimento, a ciência chegou ao fatmax, que é a intensidade de exercício na qual é observada a mais alta taxa de oxidação de gordura, e à zona de fatmax, que é a região com margens de 10% acima e abaixo do fatmax (HOWLEY, 2003; JEUKENDRUP & ACHTEN, 2001). Uma visualização do fatmax pode ser feita observando-se o gráfico abaixo. Gráfico 1 - Curva do fatmax. 0.50 Fat oxidation (g min -1) 0.45 Fatmax 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 VO2 (L min1) Recentemente, o fatmax foi determinado por Achten, Gleeson e Jeukendrup (2002) como sendo de 64 ± 4% VO2 máx. ou 74 ± 3% FCmáx. e a zona de fatmax, de 55 ± 3% a 72 ± 4 % VO2máx. Para utilizar o fatmax, devem ser tomadas as seguintes medidas: 1o passo: determinação do VO2máx. Podem ser utilizados diversos protocolos como, por exemplo, o Step Test (MCARDLLE & KATCH, 1991): a) banco de 40,6 cm de altura 24 subidas – descidas/min 22 subidas – descidas/min 315 Step test. Figura 8 - posição inicial b) 3 min exercício aferir segundos x 4 = bpm. subir subir descer descer o pulso após 5 segundos de término do exercício, em 15 VO2 = 111,33 – (0,42 x FC) VO2 = 65,81 – (0,1847 X fc) (em ml, kg-1, min-1). 2o passo: determinação do VO2t Como não existe consumo zero de oxigênio, in vivo, (o mínimo é 1 MET = 3,5 ml. kg-1. min-1), não é correto aplicar diretamente a percentagem desejada sobre o VO2máx. Este tipo de procedimento subestimaria a intensidade do exercício. O correto seria fazer: [% intensidade (no decimais) x 350] + VO2máx. x VO2máx. (em ml, kg-1. min-1). VO2t= 350 3o passo: determinação do tempo de duração do exercício. O tempo é o disponível para treinamento ou, como recomendado, 40 minutos. 4o passo: cálculo da distância a ser percorrida (D), se a prescrição for para corrida ou caminhada. VO2t- 3,5 D (em metros) = xT 0,2 Fitness cardiorrespiratório Para se aquilatar o estado de fitness físico de um indivíduo, é importante verificar principalmente o funcionamento dos sistemas cardiocirculatório e respiratório, pois a capacidade do organismo de levar oxigênio e nutrientes a todos os órgãos, aparelhos e músculos é essencial aos fenômenos biológicos e à manutenção da vida. 316 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Fernandes e Nieman (1999) definem a capacidade cardiorrespiratória como a habilidade de realizar atividades físicas, de caráter dinâmico, que envolvam grande massa muscular com intensidade de moderada a alta, por períodos prolongados de tempo, sendo dependente do estado funcional dos sistemas respiratório, cardiovascular, muscular e suas relações fisiológico-metabólicas, e de um bom sanguíneo periférico. A aptidão cardiorrespiratória de qualquer indivíduo refere-se à capacidade funcional de seu sistema de absorção, transporte, entrega e utilização de oxigênio aos tecidos durante os exercícios físicos, podendo ser aprimorada através de exercícios físicos específicos. Nos esforços contínuos e prolongados, o sistema energético predominante é o aeróbico que, para funcionar adequadamente, necessita de um eficiente sistema cardiovascular, ou seja, depende de uma boa capacidade respiratória celular. Na prática, o condicionamento cardiorrespiratório é observado pelo nível de treinamento obtido pela qualidade física resistência aeróbica. Tubino (1973) define a resistência aeróbica como a capacidade do indivíduo de sustentar um exercício, realizado com intensidade baixa a moderada e longa duração, onde a energia necessária para a realização do exercício provém, principalmente, do metabolismo oxidativo. Dentre as alterações biológicas que acompanham o treinamento da resistência aeróbica, McArdlle (1991) cita algumas adaptações relacionadas ao transporte e à utilização do oxigênio: aumento da capacidade mitocondrial em gerar ATP por fosforilação oxidativa; maior capacidade mitocondrial de captação de oxigênio e aumento no tamanho e número das mitocôndrias; aumento na capacidade do músculo treinado de mobilizar e oxidar gorduras e carboidratos; adaptações metabólicas nos diferentes tipos de fibras musculares e hipertrofia seletiva das diferentes fibras musculares, num treinamento com sobrecarga específica. Quanto às alterações cardiorrespiratórias provocadas pelo treinamento aeróbico, as mais comuns são: hipertrofia cardíaca; redução da frequência cardíaca e pressão arterial; aumento no volume de ejeção; aumento no volume sanguíneo e na concentração total de hemoglobina; maior densidade capilar e hipertrofia dos musculosesqueléticos e acréscimos nos volumes respiratórios que incrementam os aumentos no VO2máximo (FOSS et al., 2000). O treinamento da resistência aeróbica também produz alterações na redução do percentual de gordura e do peso corporal total; redução no colesterol do tipo de lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL), diminuindo, consequentemente, o risco de coronariopatia; aclimatação ao calor mais rápida e fácil; hipertrofia do córtex adrenal, propiciando uma alta na produção e armazenamento de corticóides; aumento na produção de linfócitos, responsáveis pela formação de anticorpos, de acordo com Dantas (2003). As respostas dos sistemas biológicos do treinamento físico aeróbico são influenciadas pelo tipo, intensidade, frequência e duração da atividade, e dependem dos objetivos a serem alcançados com o treinamento, levando em conta as limitações de indivíduos sedentários como disfunções ósseas, neuromusculares e cardiorrespiratórias. Em decorrência da repetição de séries de exercícios durante dias, semanas ou meses, surgem alterações fisiológicas e bioquímicas, o que leva à melhora no desempenho de tarefas específicas. A resposta adaptativa do sistema aeróbico, como em todos os sistemas de transferência de energia, está relacionada diretamente à intensidade e à duração dos exercícios. 317 Baseando-se nestes princípios, o American College of Sport Medicine (2007) determinou a quantidade de exercício necessária para melhorar o fitness cardiorrespiratório: adultos saudáveis devem exercitar-se de três a cinco vezes por semana, numa intensidade de treinamento entre 55% ou 65% a 90% da frequência cardíaca máxima; a duração do treinamento pode ser de 20 a 60 minutos contínuos ou intervalados, através de períodos de 10 minutos acumulados ao longo do dia. Fitness neuromuscular O fitness neuromuscular foi incluído no fitness físico em 1990 pelo American College of Sport Medicine, devido à necessidade da manutenção da harmonia por uma população progressivamente não velha (FEIGENBAUM & POLLOCK, 1999). Figura 9 - Fitness neuromuscular. Força dinâmica Volume muscular fisiologicamente adequado e esteticamente agradável. Capacidade de vencer resistências com uma contração muscular. Resistência muscular localizada Possibilidade de realização de movimentos repetitivos. O fitness neuromuscular representa o nível de desenvolvimento que a pessoa possui em relação à força e à resistência muscular, à flexibilidade, ao destensionamento da musculatura e às habilidades motoras de coordenação, agilidade e equilíbrio; não representa, necessariamente, capacidade atlética ou desportiva, mas, sim, a aptidão do organismo para as atividades normais diárias. Devemos ser capazes de mover o corpo de um lugar para o outro, de empurrar, puxar, pegar, carregar, enfim, de realizar tarefas peculiares relacionadas ao trabalho ou ao ambiente doméstico. Para isso, o American College of Sport Medicine (1998) e todas as associações relacionadas à promoção de saúde e à qualidade de vida, priorizam as qualidades físicas, tais como força, resistência muscular localizada e flexibilidade como principais componentes do fitness neuromuscular. A inclusão do treinamento contrarresistência (força e RML – resistência muscular localizada) em guias e manuais de diversas instituições de saúde, como a American Heart Association (1992) e o Surgeon General, é relativamente recente. Feigenbaum e Polllock (1999) traçam uma retrospectiva da aceitação do treinamento contrarresistência na aquisição do fitness físico e melhoria da qualidade de vida. Segundo estes autores, essa forma de exercício foi primeiramente utilizada por médicos do exército, após a Segunda Guerra Mundial, em programas de reabilitação ortopédica que, devido ao seu sucesso, obtiveram aceitação na comunidade médica. Desta época até os anos 1970, foram realizados vários estudos sobre os trabalhos de força e RML, incluindo-os como parte de programas bem estruturados de aptidão física, juntamente com os exercícios aeróbicos. Porém, com a crescente pesquisa epidemiológica, por volta de 1970, reforçando a importância e a relação entre programas aeróbicos e doenças cardiovasculares, houve um declínio nas investigações sobre treinamento contrarresistência e seus efeitos sobre a saúde. Novos estudos, em meados dos anos 1980, 318 fitness, Saúde e Qualidade de Vida com relação à quantidade e qualidade do treinamento de força e RML, necessárias à melhoria da capacidade funcional, acabaram fazendo com que o American College of Sport Medicine incluísse, a partir de 1990, esta modalidade em seu posicionamento oficial. Pollock e Evans (1999) esclarecem os padrões mínimos a serem seguidos na elaboração de um treinamento contrarresistência: uma série contendo de 8 a 10 exercícios diferentes para os principais grupos musculares, de dois a três dias por semana. Cada exercício deve ser repetido de 8 a 12 vezes, com maior esforço para os indivíduos jovens do que para pessoas idosas ou cardíacas, que devem se exercitar moderadamente com 10 a 15 repetições. A força pode ser definida como a capacidade máxima que o músculo possui de suportar uma sobrecarga, enquanto que a RML é a condição que a musculatura apresenta de reagir a tensões submáximas, durante longo período. Sabe-se atualmente que bons índices de força e RML auxiliam na prevenção de problemas posturais e de lesões musculoarticulares (WARBURTON et al., 2001). Para aprimorar a resistência muscular, é necessário um maior número de repetições com menor sobrecarga, objetivando que a musculatura trabalhe durante mais tempo, sem ocorrência de fadiga (MONTEIRO, 1998, p. 101). O mesmo autor prescreve, para melhoria da força, sobrecargas acima daquelas que o músculo normalmente suporta, com número de repetições entre 6 e 12. Segundo McArdlle (1991), Alter (1999) e Barbanti (1994), força é a capacidade de exercer tensão contra uma resistência que ocorre por meio de diferentes ações musculares. A qualidade física força dinâmica pode ser manifestada através da força absoluta (valor máximo de força realizada num determinado movimento) e da força relativa, quociente entre a força absoluta e o peso corporal de uma pessoa (DANTAS, 2003). A força muscular é influenciada pelo número e tipo de unidades motoras ativadas, pelo tamanho do músculo, pelo comprimento inicial do músculo, quando ativado, e pela velocidade de contração. Segundo Sale et al. (1990), o treinamento da força consiste relativamente em pequenos números de contrações máximas ou próximas da força máxima, aumentando o período de resistência, pequeno (4-6 min) e longo (60-90 min), incrementando a força aeróbica máxima e a atividade enzimática oxidativa. O aumento excessivo da força muscular pode ser explicado de acordo com as modificações fisiológicas provocadas pela hipertrofia muscular (PLOUTZ et al., 1994). Maughan et al. (2000) citam algumas adaptações musculares ao treinamento de força: hipertrofia das fibras musculares; aumento da área transversa do músculo; aumento do conteúdo de fosfocreatina e do glicogênio; aumento da capacidade glicolítica; aumento da capacidade de exercício de força e de alta intensidade; diminuição da densidade mitocondrial e melhoria da capacidade de tamponamento muscular. Alguns estudos demonstram que o treinamento de força também ajuda na modificação dos fatores de riscos cardíacos através da melhora na composição corporal e no tempo de exercício com rotina máxima (BENIAMINI et al., 1999). Vale lembrar que a melhoria na força muscular, pelo menos durante as primeiras semanas de um programa de treinamento de força, é devida à facilitação neural que acarreta ativação completa das unidades motoras e dos grupos musculares, uma vez que os aumentos 319 rápidos da força, observados no início do treinamento, não estão associados a um aumento do tamanho e da área transversa do músculo (STARON et al., 1994). A força de um músculo será proporcional à sua secção transversa, além de influenciada pelo sexo e pela idade. Por cm2 de secção transversa, o homem e a mulher têm aproximadamente a mesma capacidade de gerar força (homens: 6,7,1 kg; mulher: 6,3, 0,9 kg). No entanto, o homem, por possuir maior volume muscular, terá em média 20% a mais de força que a mulher. Isso ocorre devido à ação dos hormônios androgênicos que possuem um importante papel no metabolismo das proteínas, permitindo o aumento das massas musculares (DANTAS, 2003). Ainda relacionando-se à força muscular, a RML é a qualidade física que o músculo possui de realizar um grande número de repetições, sem diminuir a amplitude do movimento, a frequência, a velocidade e a força de execução (DANTAS, 2003; TUBINO, 1973; HOWLEY, 2000). O treinamento da RML é reconhecido como um importante componente da atividade física, principalmente para adultos idosos. Os treinos incluem de 8 a 10 exercícios para os principais grupamentos musculares, executados de forma moderada a intensa, duas a três vezes por semana (PORTER, 2000). Os principais efeitos do treinamento de resistência muscular localizada sobre o musculoesquelético relacionam-se à sua capacidade oxidativa e ao seu suprimento capilar. De acordo com Maughan et al. (2000), o treinamento de sobrecarga de resistência, que envolve exercícios a 50% a 80% do VO2máx., durante períodos longos e repetidos várias vezes por semana, produz adaptações que melhoram significativamente as capacidades funcionais, relacionadas com a liberação, captação e utilização do oxigênio. American College of Sports Medicine (1998) recomenda o treinamento de resistência como parte integral do programa de fitness para adultos, com intensidade suficiente para ganho de força, resistência muscular e manutenção da massa magra. Segundo Sale et al. (1990), algumas formas de treinamento de resistência aumentam a força e o tamanho da fibra muscular. As alterações musculares durante o treinamento de resistência são: hipertrofia seletiva das fibras do tipo I; aumento da quantidade de capilares sanguíneos por fibra muscular; aumento do conteúdo de mioglobina; aumento do fluxo sanguíneo muscular total durante o exercício máximo; redução do fluxo sanguíneo regional para o músculo em atividade durante o exercício submáximo; aumento da extração de oxigênio do sangue que flui através dos músculos em atividade e consequente aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio; maior conteúdo de glicogênio e de triglicerídios e aumento da capacidade de resistência (MAUGHAN et al., 2000). Yates et al. (1987) citam a RML dinâmica como um eficiente instrumento na recuperação da fadiga muscular, em virtude das seguintes respostas fisiológicas: restauração da atividade elétrica normal na junção neuromuscular e central, e no sarcolema ou túbulos transversos, propiciando ressíntese de ATP e CP; remoção dos metabólicos produzidos durante o exercício e restabelecimento interno da homeostase; e normalização da temperatura muscular e da homeostase ácido-base. O treinamento da RML também está relacionado à prevenção da osteoporose, já que vários estudos demonstram que atividades físicas de longa duração, especialmente 320 fitness, Saúde e Qualidade de Vida com pesos, aumentam a densidade mineral óssea (COLLETTI, 1989; MADSEN, 1998; KARLSSON, 1993). No princípio de interdependência volume-intensidade do treinamento desportivo, o número de repetições (volume) é o fator determinante no desenvolvimento da RML. O treinamento da RML é mais bem desenvolvido, utilizando sobrecarga mais leve e maior número de repetições, enquanto no treinamento de força utiliza sobrecarga maior (que requeira tensão máxima ou próxima da tensão máxima desenvolvida) com número menor de repetições. Segundo Morrow et al. (1997), o treinamento de força/RML, além de melhorar a performance física, também previne lesões, aumenta a taxa metabólica de repouso, evita ou reduz a perda da densidade mineral óssea e melhora a autoestima e depressão. Portanto, recomenda-se que pessoas com idade inferior a 50 anos exercitem os grupamentos musculares maiores de duas a três vezes por semana com sobrecarga que permita de 8 a 12 repetições. Indivíduos com idade superior a 50 anos devem realizar exercícios com sobrecarga que permita de 10 a 15 repetições (ACSM, 1998). Por fim, tratar-se-á do último componente do fitness neuromuscular, mas nem por isso menos importante: a qualidade física flexibilidade. A flexibilidade foi incluída no fitness físico pelo American College of Sports Medicine, em 1999, segundo Armiger (2000), devido ao expressivo número de lesões do aparelho locomotor, surgidas em decorrência do desequilíbrio das cadeias musculares, provocadas por um trabalho de musculação realizado sem a perspectiva da globalidade do sistema musculoarticular. A flexibilidade é a característica que o aparelho locomotor tem de realizar amplos arcos de movimento. Ela pode ser definida de diversas formas, mas escolheu-se, entre as várias definições existentes na literatura, as seguintes: A qualidade física flexibilidade é responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão (DANTAS, 2003). Para Chandler (1990), flexibilidade é a habilidade de mover uma articulação através de uma amplitude de movimento normal, sem estresse excessivo para a unidade musculotendinosa. Em termos gerais, existem duas formas básicas para trabalhar a flexibilidade: o alongamento e o flexionamento (DANTAS, 1999). Quando se emprega o alongamento, a forma submáxima de treino da flexibilidade, não se procura um acúmulo do mesmo, mas sim a utilização dos arcos de movimento em sua plenitude com o mínimo de restrição possível, graças à deformação prévia dos componentes elásticos (mitocôndrias, ligamentos, retículo saco plasmático, sistema tubular e discos intravertebrais), por meio de insistências passivas suaves, aproximadas de quatro segundos, combinadas com cerca de quatro discretos forçamentos dinâmicos. Além do método de estiramento, o alongamento pode também ser feito por suspensão e soltura. No entanto, quando o objetivo é a aquisição da flexibilidade, é necessário utilizar a forma máxima de treinamento, o flexionamento. Devido à amplitude articular indispensável para se realizar um estímulo máximo, durante a realização de um flexionamento, este irá, necessariamente, provocar a reação dos proprioceptores musculares. 321 Se o trabalho for estático, será estimulado o órgão tendinoso de Golgi, e se for dinâmico, o fuso muscular. Devido à ação destes proprioceptores, a reação do aparelho locomotor aos estímulos com os estímulos submáximos (alongamento). Magnusson et al. (2000) demonstram que o alongamento estático tem efeito de pequena duração nas propriedades viscoelásticas do músculo. O flexionamento pode ser feito por meio das técnicas balística, estática, passiva e de facilitação neuromuscular proprioceptiva (TAYLOR et al., 1990). O flexionamento balístico caracteriza-se por movimentos de insistência repetitivos que atuam sobre o fuso muscular (DANTAS, 1999). Esta técnica tem pouca eficácia, já que existe grande possibilidade de causar lesão na unidade musculotendinosa, devido ao desequilíbrio provocado no mecanismo de propriocepção (TAYLOR et al., 2000). Já o flexionamento passivo pode ser aplicado através da técnica balística ou estática. Consiste basicamente em chegar devagar ao limite normal do arco articular do atleta, forçar suavemente além deste limite, aguardar cerca de 6 segundos e realizar um novo forçamento, procurando alcançar um arco de movimento maior que deve ser mantido por 10 a 15 segundos (DANTAS, 1999), embora nas literaturas anteriores, Anderson e Anderson (1980), Beaulieu (1980), Peterson e Renstrom (1986), Sady et al. (1982) recomendem seguir tempos de até 60 segundos. Um dos flexionamentos por facilitação neuromuscular proprioceptiva é chamado por Holt (1973) de 3S (Scientific Stretching for Sports) e consiste na mobilização do segmento corporal até o limite da amplitude, realização de uma contração isométrica máxima durante 8 segundos, e forçamento do movimento além do limite original, durante o relaxamento da musculatura, logo após a sua contração. O aumento da flexibilidade está relacionado à amplitude de movimento de uma determinada articulação (BEAULIEU, 1980; CIULLO & ZARINS, 1983; KIRBY et al., 1981), e as unidades musculotendinosas são consideradas estruturas limitantes de grandes amplitudes de movimento (JOHNS & WRIGHT, 1962). Portanto, os exercícios de flexionamento atuam nas propriedades viscoelásticas das unidades musculotendinosas, aumentando seu comprimento e sua amplitude. Roberts e Wilson (1999) demonstram que o flexionamento sustentado durante 15 segundos, em vez de 5 segundos, resulta em grande amplitude de movimento ativo, enquanto na amplitude de movimento passivo, não produz efeito significativo. O método de flexionamento estático e holdrelax também demonstram aumentos significativos na flexibilidade, em seis semanas de treinamento, com exercícios de alongamento 4 vezes por semana (GRIBBLE et al., 1999). No fitness, a flexibilidade promoverá aumento da capacidade de mobilidade articular, além de influenciar em relevantes aspectos: controle ou eliminação da tensão muscular e das substâncias tóxicas, produzidas durante a atividade física, e da rigidez articular; aperfeiçoamento motor; eficiência mecânica; profilaxia de lesões; expressividade; consciência corporal etc. (ARMIGER, 2000). Pela primeira vez, o treinamento de flexibilidade foi incluído no guia do American College of Sports Medicine (1998), devido à sua importância na manutenção da amplitude articular, 322 fitness, Saúde e Qualidade de Vida na funcionalidade articular e na melhora da performance muscular, além de reduzir, significativamente, as lesões musculoesqueléticas. Para isso, recomendam-se exercícios de alongamento de duas a três vezes por semana, para os principais grupamentos musculares. Assim, pode-se resumir a presença da flexibilidade no fitness físico, com o apresentado na figura 9. Figura 10 - Fatores incluídos, em 1999, pelo American College of Sports Medicine (ARMIGER, 2000). Flexibilidade Realização de movimentos amplos sem o risco de lesão. O fitness físico consiste, portanto, nos dias de hoje, em cinco fatores: composição corporal, resistência aeróbica, força dinâmica, resistência muscular localizada e flexibilidade. O condicionamento físico de adultos não atletas deverá, por conseguinte, atender aos citados cinco fatores de fitness físico, de forma harmônica e equilibrada, sob pena de comprometer a saúde do praticante. Havendo disponibilidade de tempo, pode-se incluir ainda no treino físico os fatores complementares apresentados na Figura 10. Figura 11 - Fatores complementares. Coordernação, agilidade e equilíbrio. Motricidade adequada e conveniente. Descontração total e parcial. Distensionamento da musculatura em repouso. O fitness físico é, desse modo, mais do que um condicionamento físico; na sua acepção corrente, é constituído pelo conjunto de fatores capazes de promover a saúde e o bem-estar físico das pessoas: • a prática de exercícios físicos regulares, moderados e prazerosos; • o sono adequado; • a alimentação adequada em refeições regulares; • o controle do peso corporal; • a abstinência de fumo e outras drogas; • o uso moderado ou abstinência de álcool; • o controle do estresse; • a realização de lazer ativo regular; • a inexistência de vício. Conceito de saúde Como pode ser verificado nas páginas precedentes, o objetivo do fitness é aumentar o status de saúde de um indivíduo ou de uma população. Mas como conceituar saúde? Na velha Grécia duas divindades estabeleciam os conceitos de saúde: Hygéia, que simbolizava a saúde com o descobrimento de como viver em perfeita integração com as leis da 323 natureza e do meio ambiente, e Asclepius, que representava a saúde pela intervenção do homem, tentando evitar as doenças. Seria o triunfo do homem sobre a natureza. Hoje em dia, em quase todos os países, o conceito de saúde tem sido associado e medido a partir da incidência de algumas doenças com suas respectivas mortalidades. Neste escopo, de forma geral, tem sido da classe médica a responsabilidade pela determinação dos indicadores de saúde das diversas populações. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1958, p. 459), no entanto, define saúde como “o completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doenças ou enfermidades”. Desta forma, ao tornar-se mais abrangente o conceito de saúde, passa-se a perceber que existem outros fatores a serem considerados além da inexistência de doenças, e que o conceito, na sua nova dimensão, não pode ser analisado exclusivamente pelas estatísticas obtidas a partir da incidência das doenças, mortalidade e morbidade. Ao analisar as estatísticas, deve-se considerar que, no Brasil, a utilização dos dados referentes à incidência de doenças ou aqueles relacionados às mortes violentas, sejam elas acidentais ou decorrentes de atividades criminosas, causam apreensão. Isto se deve, entre outros fatos, à dimensão territorial, à escassez de recursos para este tipo de controle e à falta de identificação e notificação adequadas da ocorrência de doenças e das respectivas causas mortis. Além disso, considera-se que muitos doentes não têm acesso aos serviços de saúde e, portanto, suas patologias não são identificadas e não se somam às estatísticas. De acordo com Spirduso (2005, p. 342), a saúde é uma dimensão multifacetada, podendo ser interpretada de formas diferentes, sendo muito difícil de ser medida e até mesmo de ser relacionada com outras dimensões da vida. Entretanto, observa que a saúde física possui três facetas relacionadas à qualidade de vida: a condição física, o estado funcional e o estado de saúde subjetiva, que estariam relacionadas ao bem-estar físico, ao número de problemas de saúde experimentados pelo indivíduo e ao nível de condição física que o indivíduo possui para ser capaz de executar suas atividades cotidianas, além da avaliação pessoal sobre a própria saúde. Ao considerar a expectativa de vida de um indivíduo, deve-se analisar não só a longevidade, mas também a sobrevida na ausência de doenças. O conceito de expectativa de vida deve ser associado ao conceito de expectativa de vida útil, ativa, produtiva e com bem-estar. O conceito de sobrevida, ou de aumento da expectativa de vida, deve ser ligado ao conceito de plenitude, de bem-estar, de prazer. A Federação Internacional de Educação Física (FIEP) elaborou o “Manifesto Mundial de Educação Física-2000”. Esse manifesto expressa os ideais contemporâneos de valorização da vida ativa, ou seja, ratifica a relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida, e prioriza o combate ao sedentarismo como objetivo da educação física, por meio da educação para saúde e para o lazer ativo, de forma continuada. Considerando o bem-estar como índice imprescindível para a determinação do conceito de saúde, ou vice-versa, passa-se a considerar que os parâmetros atualmente utilizados – a doença e sua mortalidade – não são suficientes para se estabelecer o conceito e que, pela multiplicidade de variáveis que interferem na plenitude, os médicos teriam dificuldade de, sozinhos, estabelecerem os critérios indicativos de saúde de uma população. Desta forma, expande-se o campo de trabalho numa área que, até pouco tempo, era exclusiva de uma única classe profissional. 324 fitness, Saúde e Qualidade de Vida A saúde, dentro desta visão, tem algumas características que ultrapassam e podem, em alguns casos, até não considerar as doenças. O conceito de saúde é individual. Cada indivíduo deve procurar atingir a cada momento, conforme os seus objetivos e possibilidades pessoais, o mais alto nível de plenitude e bem-estar, portanto, de saúde. O atual conceito de saúde deve abranger fatores de ordem genética, cultural, econômica, social e ecológica, além daqueles vinculados às doenças. O conceito de saúde, quando associado ao conceito de qualidade de vida, deve, antes de tudo, respeitar os objetivos de cada indivíduo. Na conceituação atual, as limitações impostas por má formação de caráter genético ou as limitações físicas adquiridas em conseqüência de doenças ou acidentes não são, necessariamente, limitantes da qualidade de vida, embora, dentro do conceito clássico, possam ser limitantes da saúde. A saúde é, antes de qualquer coisa, uma opção pessoal determinada em consonância com as expectativas e possibilidades do indivíduo e, portanto, sujeita a reformulações constantes. Assim não fosse, o que seria, por exemplo, dos deficientes visuais, auditivos, paraplégicos e outros que fogem dos padrões usualmente estabelecidos de normalidade e, ainda assim, podem usufruir um adequado nível de saúde. O ser humano, na sua instintiva luta pela vida, se adapta e se reformula, buscando outros valores a cada limitação que se apresenta. O mais fantástico nesta busca está no fato de que ela é, invariavelmente, bem sucedida e, não raramente, a todos surpreende. A saúde tem, portanto, dinâmica própria e deve ser um parâmetro em que todos devem respeitar a individualidade, evitando padrões herméticos e impositivos. A imposição de modelos ou padrões preestabelecidos pode atender a preceitos sociais, mas, se não atender aos objetivos e expectativas individuais, certamente estará fadada ao fracasso. Não se pretende negar a importância dos programas coletivos direcionados para hábitos de vida saudáveis. Pretende-se, entretanto, reforçar a observação de respeito ao indivíduo na sua capacidade decisória. Os objetivos pessoais determinam, entre outros aspectos, o estilo de vida. O trabalho, o lazer, o repouso compõem, na suas abrangências, a tríade do estilo de vida. O prazer deveria ser o norte determinante dos três, mas as contingências o modificam. A busca por saúde tem sido uma constante na maioria das propostas sociais modernas. O grande desenvolvimento do conhecimento científico e da tecnologia observado nos últimos anos deveria reverter em benefícios para o ser humano. Na realidade, a tecnologia pode, aparentemente, melhorar a qualidade de vida em alguns aspectos, mas pode piorar em outros. Por exemplo, os equipamentos eletroeletrônicos, que tanta satisfação propiciam aos indivíduos (prazer), representam, na realidade, um desvio do tempo útil disponível, desprendido no aprendizado da utilização plena dos seus recursos e, invariavelmente, na incapacidade de dominá-los todos ou ter de reaprendê-los a cada atualização (upgrade). O controle remoto do aparelho de televisão aumenta o conforto e aumenta a hipocinesia. O que isto representa em longo prazo para a saúde? A medicina foi, dentro de todas as atividades profissionais, sem dúvida, uma das grandes beneficiárias do desenvolvimento tecnológico do século passado e deste. Ao mesmo tempo em que as tecnologias aperfeiçoam os equipamentos e incrementam a pesquisa farmacêutica, o médico perdia o poder do diagnóstico para as indústrias e grupos que detêm estes equipamentos. A relação médico/paciente perdeu espaço para a relação equipamento/diagnóstico. Com esta inversão no processo de identificação e diagnóstico das doenças, o médico tornou-se de325 pendente dos equipamentos e dos métodos para diagnósticos complementares, transformando-se de profissional liberal em empregado assalariado, e pacientes e médicos ficaram sujeitos aos custos deste novo padrão de medicina. Em função das características inatas de qualquer indústria, o acesso à medicina moderna tornou-se praticamente inviável para a grande massa da população, e inviável, no Brasil, para oferecimento através dos órgãos públicos, pelo menos no que se refere à manutenção abrangente dos altos padrões existentes. Como doença e não doença estão vinculadas à saúde, tais fatos levaram ao recrudescimento e surgimento de “medicinas” alternativas e práticas outras de cunho pouco científico. Não só a mudança da posição do médico, em função da perda do poder de diagnóstico, contribuiu para o surgimento das práticas alternativas. A medicalização de quase todas as necessidades humanas, entre elas a saúde à qual procurou-se, durante muito tempo, associar a ausência de doenças, fez com que o médico, originalmente mais habilitado tecnicamente a lidar com as doenças, fosse incapaz de gerenciar adequadamente a saúde. A solução foi a ótica holística da saúde e a conclusão pela necessidade da inclusão de vários outros profissionais na sua análise. A medicina social e preventiva deve ser hoje uma meta nos estudos dos profissionais de saúde e a interação com profissionais de outras áreas nos programas de saúde, um imperativo. Se as doenças não são obrigatoriamente determinantes da saúde, em função das adaptações do ser humano, a saúde plena é considerada por todos o objetivo maior. Do que foi exposto até aqui fica claro que doença e saúde são os dois pólos opostos de um mesmo continuum. Do estado de quase absoluta morbidade até a saúde plena, embora exista uma distância expressiva, se observam as manifestações de múltiplas atuações profissionais que podem ser contingenciadas nos diversos itens de atendimento à saúde. Partindo da lógica da performance motora, foco da atuação profissional da educação física, pode-se entender este continuum, conforme apresentado na Figura 10. Convém ressaltar que, na mesma Figura, se faz uma divisão dicotômica entre o campo da performance ótima para o campo da performance máxima, pois ambos representam paradigmas mutuamente excludentes. Figura 12 - Relação de atuação profissional do continuum saúde-doença. 326 Fatores social e recreacional Fonte: Spirduso, 1995, p. 29. fitness, Saúde e Qualidade de Vida Performance Ótima e Performance Máxima Os motivos e a evolução dos métodos e objetivos que levam o homem à busca da atividade física vêm de épocas remotas. O conceito de totalidade orgânica tem ganhado adeptos desde a antiga Grécia. Clarke (1976) cita que, no século V antes de Cristo, os atenienses reconheciam a necessidade do equilíbrio mental, físico e social. Os mesmos ideais foram apregoados vários séculos mais tarde por filósofos europeus. Essa perspectiva da Antiguidade clássica não era exclusividade dos gregos, já que Juvenal, no mundo romano do século I, da Era Cristã, apregoava essas necessidades através de mens sana in corpore sano. A preocupação com o desempenho físico, na era contemporânea, teve seu início no período compreendido entre a Guerra Civil Americana e a Primeira Guerra Mundial, época em que os estudiosos do assunto eram médicos e seu objetivo principal resumia-se em apenas um corpo funcional para a batalha. O período que se seguiu à Segunda Grande Guerra, em que a democracia necessitava defender seus ideais perante o desafio imposto pelo nazismo e o fascismo, representou um grande salto no desenvolvimento da educação física. O último período importante de confronto de desempenho físico entre os Estados Unidos e as outras potências teve seu ápice nos estudos comparativos do Dr. Hans Kraus e associados, que compararam o desempenho dos jovens estudantes americanos com o dos estudantes europeus (austríacos, italianos e suíços) da mesma idade. O resultado dessa pesquisa demonstrou um nível de desempenho superior para os europeus, provocando a insatisfação dos dirigentes americanos a tal ponto que, em 1950, foi criado o President’s Council on Physical Fitness and Sports, órgão que tinha como objetivo informar e alertar a população americana sobre o perigo nacional desses resultados e acionar, dinamicamente, um ofensivo programa de longo prazo com o fim de solucionar tal problema. As guerras acabaram, a eminência de confrontos bélicos entre as grandes potências parece remota, a necessidade de hegemonia restringe-se quase que exclusivamente às Olimpíadas e, no entanto, percebemos um interesse crescente voltado para a prática da atividade física. Nos últimos 25 anos, a medicina teve um avanço enorme em relação às outras ciências. No entanto, as doenças ligadas à hipocinesia ainda são as maiores responsáveis pela mortalidade nos Estados Unidos (250.000 óbitos/ano). Este fato, além de consternador, gera um imenso prejuízo para a economia, tanto a doméstica quanto a do país, uma vez que indivíduos produtivos o deixam de ser precocemente. Torna-se claro, nos dias atuais, que o maior motivo e incentivo para a prática física reside em sua relevância, cientificamente comprovada, como coadjuvante na aquisição e manutenção da saúde. Países do Primeiro Mundo, principalmente os da Europa, possuem macro programas de atividade física direcionados à população de todas as faixas etárias, como os trabalhos de circuit training, realizados em áreas públicas, na Suíça, Bélgica, Alemanha, dentre outros. Em nosso país, isso não acontece devido a vários fatores como desigualdade social, cultural, estratificação da economia e, principalmente, o desinteresse com o nível de aptidão da população. Entretanto, a mídia (agora global) não permite, mesmo aos mais desatentos ou desinformados membros de nossa sociedade, desconhecer os efeitos benéficos da atividade física praticada regularmente. 327 Por este motivo, cresce o número de pessoas caminhando/correndo nos parques, praias e locais públicos, pela oferta de diferentes atividades praticadas em clubes e similares e, em nosso caso particular, pelo aumento crescente da população das academias de ginástica. Iniciou-se a era do fitness. A ideia não é competir, mas sim aumentar, de forma saudável e proveitosa, o nível de qualidade e longevidade da vida do cidadão comum. A atividade física, para que produza efeitos benéficos em seus praticantes, necessita ser escolhida, aprendida, apreciada e, principalmente, dosada em intensidade e volume, além de ser adequada para cada tipo de praticante, de grupo e dos objetivos propostos. Quer se dizer com isso que, além dos princípios científicos do treinamento desportivo, outros importantes critérios devem ser empregados e respeitados. Na realidade, não interessa o método utilizado pela academia (aeróbica, localizada, ciclismo indoor, step training, musculação e outros). O que interessa é se os métodos têm verdadeiro fundamento científico e, principalmente, se o profissional tem bom senso no momento da escolha do método de trabalho, no sentido de atender a realidade e a necessidade do grupo objetivado. Não é o método o principal norteador do trabalho, mas sim o seu objetivo, sua utilização e sua eficiência comprovada. Teórica e praticamente, os indivíduos mais habilitados para coordenar a prática de atividades físicas, de qualquer tipo, são os profissionais de educação física, cuja formação é, ou deveria ser, adequada para tal fim. Na impossibilidade de se tornar público o direito à melhora da aptidão ou fitness, pois demanda investimentos e interesse governamental, as academias de ginástica, espalhadas por todos os bairros e cidades do Brasil, assumem importância determinante nessa área. Pode-se afirmar que, hoje em dia, muitas academias representam um centro de condicionamento de alta eficiência, oferecendo e apresentando um trabalho cuidadoso, eficaz e de caráter multidisciplinar, já que muitas delas possuem departamentos de avaliação funcional, médica e de nutrição, que não se restringem às maiores e mais bem equipadas, pois são serviços oferecidos pela maioria das academias com profissionais competentes. O método de treinamento ou condicionamento é um parâmetro importante na escolha da atividade. Entretanto, outros parâmetros e critérios são, tanto ou mais, importantes. O primeiro passo na construção de uma filosofia de trabalho é o estabelecimento de objetivos e normas, ou seja, a verdadeira realização e confirmação do paradigma dominante nessa área desde a década de 1980: atividade física é saúde. Este paradigma, ao substituir o hegemônico da década de 1970: atividade física é performance, inspirou inúmeros artigos, conferências e livros, onde se tentava demonstrar que a finalidade da atividade física seria promover a saúde. Nos anos 1990, graças ao crescimento da economia mundial, apenas perturbado pelo fantasma do desemprego, observou-se um recrudescimento do hedonismo (que desde os fins dos anos 1960 vinha se afirmando), em quase todos os setores socioculturais nos países desenvolvidos, ou nas classes abastadas dos demais países. A “síndrome dos ricos e famosos”, oriunda das camadas mais favorecidas da sociedade, contamina o cotidiano de adolescentes, jovens e adultos (sobretudo os pertencentes às famílias de classe média urbana), síndrome esta em interação com os meios de comunicação de massa. Ao aceitar-se o novo/velho paradigma de que as doenças ligadas à hipocinesia, principalmente a obesidade, são responsáveis pelo imenso índice de óbitos nos países desenvolvidos, tem-se o direito, a necessidade e o dever de estabelecer objetivos, metas, métodos, 328 fitness, Saúde e Qualidade de Vida enfim, um plano de trabalho adequado e eficiente para combater esta situação. O processo de avaliação, juntamente com os seus instrumentos (testes, medidas, normas e outros), torna-se imprescindível em sua capacidade de fornecer subsídios para a formulação de objetivos, metas e métodos a serem desenvolvidos. Pode-se prever, neste terceiro milênio, que o paradigma será: atividade física é a qualidade de vida. Mas, certamente, ver-se-á a convivência simultânea dos paradigmas da “atividade física para a performance máxima” com “atividade física para a performance ótima”, como já se vem observando desde o século anterior. Os dois conceitos não são conflitantes, são excludentes. Embora os princípios científicos do treinamento desportivo e a periodização sejam os mesmos, nos dois casos os objetivos de trabalho são distintos. A busca pela saúde e a tentativa de se alcançar a vitória desportiva se fundamentam em lógicas distintas, o que vai acarretar efeitos distintos, conflitantes sobre o organismo do sujeito do processo. Por exemplo, se a atividade física moderada reduz o nível de radicais livres e este é um dos objetivos da busca da saúde (performance ótima), o nível de esforço necessário ao treinamento de alto rendimento (performance máxima) aumenta a quantidade destes radicais no organismo. Conceito de wellness Wellness é também uma destas palavras que perdem muito quando traduzidas para o português. O Webster’s ensina que ela é formada por dois outros vocábulos: Well (bem) + Ness (sufixo formador de substantivo abstrato de estado ou condição), significando, portanto, em nossa língua, estar bem. Para compreender este conceito (estar bem) sob o ponto de vista holístico, apresentado por Armbruster e Gladwin (2001), é necessário entender o impacto das seis dimensões de bem-estar para indivíduos adultos (Figura 13). Figura 13 - Dimensões do wellness Vocacional Emocional As seis dimensões do bem-estar Espiritual Física Social Intelectual Fonte: Armbruster & Gladwin, 2001. 329 As quatro dimensões do fitness são: Física: focaliza a manutenção física independente e qualidade de vida por meio da participação regular em atividade física, alimentação saudável e estilo de vida positivo. Emocional: enfatiza a percepção e aceitação dos próprios sentimentos e emoções. Intelectual: encoraja a utilização da mente para adquirir conhecimento, aumentar a criatividade e obter melhor compreensão e apreciação para si e para os outros. Social: mantém e nutre relacionamentos saudáveis e harmonia entre familiares e com os outros. Há mais duas, estas específicas do wellness: Espiritual: procura objetivo e significado na vida, reavaliando os valores e a ética. Vocacional: estabelece e realiza interesses pessoais e progride por meio do encontro de um significado maior em atividades voluntárias com a comunidade. Segundo Armbruster e Gladwin (2001), esta dimensão se caracteriza pelo estabelecimento e alcance dos interesses pessoais e o autoaperfeiçoamento através de ações significativas para o desenvolvimento comunitário. Pode-se, portanto, afirmar que o wellness representa a transcendência do homem para além de sua plenitude, buscando o entendimento da sua realidade de vida, a harmonia com o ambiente que o cerca, e a busca da evolução. O wellness visa à qualidade de vida, assim como o fitness visa à saúde, conforme pode ser visualizado na Figura 14. Figura 14 - Encadeamento dos conceitos Qualidade de Vida A expressão qualidade de vida foi empregada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, ao declarar que “os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas.” O interesse em conceitos como “padrão de vida” e “qualidade de vida” foi inicialmente partilhado por cientistas sociais, filósofos e políticos. O crescente desenvolvimento tecnológico da medicina e ciências afins trouxe como uma consequência negativa a sua progressiva desumanização (OMS-WHOQOL, 1998). Assim, a preocupação com o conceito de qualidade de vida refere-se ao movimento dentro das ciências humanas e biológicas, no sentido de valorizar parâmetros mais 330 fitness, Saúde e Qualidade de Vida amplos que o controle de sintomas. A diminuição ou o aumento da expectativa de vida significa mais pessoas vivendo até idades mais avançadas, experimentando, em princípio, a plenitude de seu potencial biológico. Entretanto, tem-se constatado que é mais fácil evitar a ocorrência de doenças crônicas e o desenvolvimento de incapacidades, já que boa parte da população de idosos tem chance de ter uma qualidade de vida muito ruim (RAMOS, 2002). O termo qualidade de vida é mais amplo, incluindo uma variedade potencial maior de condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus sentimentos e comportamentos relacionados com o seu funcionamento diário. Assim, incluindo, mas não se limitando à sua condição de saúde e às intervenções médicas. Na literatura médica o termo qualidade de vida não parece ter um único significado: “condições de saúde”, ”funcionamento social” e “qualidade de vida” têm sido usados como sinônimos, e a própria definição de qualidade de vida não consta na maioria dos artigos que utilizam ou propõe instrumentos para sua avaliação (PASCHOAL, 2002). Qualidade de vida relacionada com a saúde e estado subjetivo de saúde são conceitos afins, centrados na avaliação subjetiva do paciente, e necessariamente ligados ao impacto do estado de saúde sobre a capacidade do indivíduo viver plenamente (NERI, 1998). Muitas são as definições acerca do termo “qualidade de vida”, e a falta de um consenso em torno de sua definição vem fazendo muitos autores empregar o termo “qualidade de vida” de forma indiscriminada. Geralmente citado apenas ao conceito de saúde, sendo dito como ausência de doenças e bem estar físico (DANTAS et al., 2003). A quantidade de vida só tem valor quando é suportável e o objetivo de estender a vida só é viável se uma razoável qualidade de vida puder ser mantida através dos anos (SPIRDUSO, 1995). A avaliação da qualidade de vida tem valor comprovado no nível de saúde do idoso quanto ao seu enfraquecimento funcional, morbidade e incapacidade. Tal avaliação também pode ser utilizada para refletir o estado de saúde de grupos jovens, mesmo quando os estados de morbidade, incapacidade e enfraquecimento funcional são raros. Esta avaliação é feita baseada no nível de atividade física desempenhada pelo indivíduo, que está relacionada diretamente ao estado de saúde (BOUCHARD et al., 1993). Segundo Nahas (1997), “qualidade de vida (QV) é um conceito complexo, multideterminado e que deve ser interpretado num contínuo, não como uma dicotomia (ter ou não ter QV)”. Mais adiante, o mesmo autor cita ser a qualidade de vida resultante da inter-relação de fatores que modelam e diferenciam o dia-a-dia dos indivíduos, sob os pontos das percepções, relacionamentos e situações vivenciadas. Ainda citando, ele próprio define “qualidade de vida pode ser considerada como resultante de um conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais que caracterizam as condições em que vive o ser humano, uma comunidade ou uma nação”. Sob o ponto de vista holístico, ele considera qualidade de vida como sendo “a condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano” (NAHAS, 2001, p. 5). Barbotte et al. (2001) determinaram fatores, como o enfraquecimento, a incapacidade e a deficiência, que teriam uma correlação significativa com o nível de qualidade de vida de um indivíduo. 331 Lacaz (2000) afirma que a qualidade de vida representa uma tentativa de nomear algumas características da experiência humana, sendo o fator central a sensação subjetiva de bem-estar. Para Minayo et al. (2000), qualidade de vida é uma noção eminentemente humana que se aproxima do grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental. Pressupõe uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera como seu padrão de conforto e bem-estar. Há algum tempo muitos autores citam a relação que a atividade física tem na qualidade de vida. Sustentando essa afirmação, temos a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2006) que, em posicionamento oficial, relata que a saúde e qualidade de vida podem ser preservadas e aprimoradas pela prática regular de atividade física. Nesse contexto, temos o American College of Sports Medicine (ACSM, 2003) relatando que a atividade física não é somente benéfica para os sistemas (cardiorrespiratório, locomotor), uma vez que se relaciona, também, aos ganhos no âmbito psicossocial, tais como; redução da ansiedade e depressão, melhora na sensação de bem estar e melhora na percepção da auto-imagem. ACSM (2003), ao distinguir a qualidade de vida em sentido geral (aplicada ao indivíduo saudável) da qualidade de vida relacionada à saúde (aplicada ao indivíduo sabidamente doente), vincula à prática de atividade física à obtenção e preservação da qualidade de vida. A atividade física regular torna-se uma estratégia simples, eficaz e de baixo custo para melhorar a qualidade de vida, manter ou melhorar os níveis dos componentes da aptidão funcional até a terceira idade, indispensáveis à independência e à autonomia (DANTAS; OLIVEIRA, 2003). Dantas (1997) conceitua qualidade de vida como “função das carências que a pessoa apresenta. Pode-se, portanto, definir o nível de qualidade de vida como o grau de atendimento das necessidades existentes”. Assim, como ele próprio diz, “só se busca a satisfação de uma necessidade superior quando a anterior já tiver sido atendida”. A Figura 15 apresenta as necessidades do homem. Figura 15 - Hierarquização das necessidades do homem. Necessidades Espécies 1 - Fisiológicas 2 - De segurança 3 - De afeição 4 - De autoestima 5 - De auto-realização – básica – Meta-necessidade Secundária Fonte: Dantas, 1997. Ainda segundo Dantas (1997), somente tendo garantidas as condições de subsistência e segurança, é que um indivíduo constituirá a atividade física como fator de melhoria de qua332 fitness, Saúde e Qualidade de Vida lidade de vida, pois esta, pelo caráter motivacional, proporciona prazer. Assim, com poucas horas semanais de atividade física, uma pessoa poderá ter seu otimismo potencializado e o seu nível de estresse diminuído, melhorando a qualidade de vida. Pode-se acrescentar que o uso e o desenvolvimento adequado das capacidades físicas, mentais e sociais poderão engrandecer as probabilidades de crescimento e segurança, influenciando decisivamente nos estágios de satisfação pessoal e nas relações intra e interpessoais. A capacidade e a qualidade de lazer permitem manter um estreito paralelo entre as atividades sociais, comunitárias e cívicas, e estas, consequentemente, sofrerão influência e influenciarão, de maneira positiva ou negativa, as possibilidades de integração social mediante uma atividade física. Ainda para Novaes (1997), pode-se ainda enumerar outros indicativos de qualidade de vida, como a qualidade da habitação, a partir da estrutura de saneamento básico, do sistema de esgoto e de água potável. Ainda sob seu ponto de vista: No Brasil, a qualidade de vida do povo depende em primeiro lugar da Educação, pois ela ajuda a evitar as doenças. Em segundo lugar, da Educação, pois ela é determinante do estilo e dos hábitos de vida. E, em terceiro lugar, da Educação, pois ela representa o melhor caminho para a ascensão social de novas perspectivas e novas oportunidades. Para Nahas (2001, p. 6), existem parâmetros individuais e socioambientais que poderiam influenciar a qualidade de vida do indivíduo ou mesmo de grupos populacionais (Figura 16). Figura 16 - Parâmetros de qualidade de vida Parâmetros socioambientais Moradia, transporte, segurança Assistência médica Condições de trabalho e remuneração Educação Opções de lazer Meio-ambiente Etc. Parâmetros individuais Hereditariedade Estilo de vida Hábitos alimentares Controle de estresse Atividade física habitual Relacionamentos Comportamento preventivo Fonte: Nahas, 2001. Seguindo a linha de raciocínio, classificar qualidade de vida como boa ou ruim, relacionando-a diretamente ao entendimento do “sentido de vida” de um indivíduo, no instante em que se adota o efeito do exercício como fator indispensável para a melhoria da qualidade de vida, parte-se da premissa de que um indivíduo inativo e sedentário não possui qualidade de vida, sem oferecer importância aos outros fatores, que proporcionam a qualidade de vida desejada, quer sejam sociais, culturais ou afetivos. Fleck et al (2008) representam na figura abaixo a relação entre a qualidade de vida e os conceitos de saúde. 333 Figura 17 - Relação entre qualidade de vida e conceitos de saúde. Porém, deve-se ressaltar que o conceito de qualidade de vida é subjetivo e multidimencional. No que concerne a subjetividade, trata-se de considerar a percepção da pessoa sobre o seu estado de saúde, suas “crenças”, e sobre os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. Ou seja, a qualidade de vida só pode ser avaliada pela própria pessoa (SEIDL; ZANNON, 2004). 334 fitness, Saúde e Qualidade de Vida Referências ABRANTES, M. M. et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade nas regiões nordeste e sudeste do Brasil. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo. v. 49, n. 2, p. 162-166, abr./jun./2003. ACHTEN, J.; GLEENSON, M.; jeukendrup, A. E. Determination of the exercise intensity that elicit maximal fat oxidation in. Medicine and Science in Sport and Exercise, v. 34, n. 1, p. 92-97, 2002. ALTER, M. J. Ciência da Flexibilidade. 2. ed. Londrina: Artmed, 1999. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. ACSM. Guidelines for graded exercise testing and prescription. 7. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 2006. ______. Manual de Pesquisa das diretrizes do ACMS para os testes de esforço e sua prescrição, 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. ______. Guidelines for graded exercise testing and prescription. Philadelphia: Lea & Febiger, 1995. ______. 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