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Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências O USO DOS JOGOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS NO PRIMEIRO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL PÚBLICA DE DUQUE DE CAXIAS LEANDRO TRINDADE PINTO Orientador: Prof. Dr. José Celso Torres NILÓPOLIS 2009 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências O USO DOS JOGOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS NO PRIMEIRO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE MUNICIPAL PÚBLICA DE DUQUE DE CAXIAS LEANDRO TRINDADE PINTO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências do Campus Nilópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. Orientador: Prof. Dr. José Celso Torres Nilópolis 2009 2 Trindade, Leandro, 1979 – O uso de jogos didáticos no ensino de ciências no primeiro segmento do ensino fundamental da rede municipal pública de Duque de Caxias - Leandro Trindade – Rio de Janeiro, 2009. XI, 138 p. 29,7 cm. Dissertação (Mestrado) – Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia , 2009. 1. Jogos didáticos. 2. Ensino fundamental. 3. Ensino de Ciências. 3 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências O USO DOS JOGOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS NO PRIMEIRO SEGMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS LEANDRO TRINDADE PINTO Aprovada em ____ de ________ de 20__ Banca Examinadora ____________________________________ Professor Dr. José Celso Torres – (membro interno) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro ____________________________________ Professor Dr. Alexandre Maia do Bonfim- (membro interno) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro ____________________________________ Professor Dr. Wallace Vallory Nunes ( suplente) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro ____________________________________ Professora Dra. Flávia Monteiro de Barros Araújo – (membro externo) Universidade Federal Fluminense Nilópolis 2009 4 Dedico esta dissertação à minha esposa Viviane, que sempre esteve ao meu lado, nos melhores e piores momentos da minha vida. À minha mãe Vera Lúcia, que onde quer que esteja, sempre terá consigo o meu amor e admiração. Aos meus professores Margarete Friedrich e José Celso pelo constante apoio. 5 Educadores são todos que não usam a educação como instrumento político de vantagem pessoal e acreditam que ela é o principal meio de evolução de nossa sociedade. Leandro Trindade 6 RESUMO Esse trabalho apresenta um estudo sobre a prática de ensino de ciências desenvolvido na rede pública de Duque de Caxias/RJ nas primeiras séries do ensino fundamental. Na procura de novas práticas pedagógicas que melhorem o ensino de Ciências, partindo da pesquisa acadêmica sobre jogos didáticos, foi elaborado o Jogo didático Água é Vida. Este jogo que enfoca a preservação ambiental dos recursos hídricos, sendo aplicado com alunos da rede pública de ensino de Duque de Caxias, e sendo desta maneira, analisado e discutido a influência dos jogos didáticos na melhoria do ensino de Ciências. Dentre as discussões levantadas neste trabalho, é apontada a importância de reformulação de vários fatores que influenciam o ensino de Ciências no ensino fundamental, partindo desde a formação dos professores, o currículo e as estratégias de ensino. A metodologia do trabalho abordou principalmente a análise de questionários aplicados antes e depois da aplicação do Jogo Água e Vida, mostrando a percepção dos alunos através deste ensino com jogos didáticos. Através da aplicação do jogo didático, constatou-se maior aprendizado dos alunos sobre o tema meio ambiente, mostrando a importância desta proposta de ensino. Palavras-chave: Jogos didáticos, Ensino fundamental, Ensino de Ciências 7 ABSTRACT This work presents a study about the science learning practice develop in the first series of the fundamental teaching in Duque de Caxias public net. In the search for new pedagogic practices that make the science teaching better, starting from an academic research the didactic games, it was developed didactic named “Water is Life”. This game has the focus on the environmental preservation of the hidric resources, it being applied with Duque de Caxias public net‟s students, and being in this way, analysed and discussed the didactic game‟s influence on the science teaching‟s improvement. Among the discussions raised in this work, it is pointes the importance of reformulation of many factors that have the influence on the science teaching on the fundamental teaching, since the teacher‟s formation, the curriculum and the teaching strategies. The work‟s methodologies presented, mainly, the analisys of questionaries, applied before and after the application of the game “Water is Life”, showing the students‟ point of view throughout this teaching with didactic game. Throughout the application of the didactic game, it was observed a better students‟ learning about the environment theme what shows the importance of this teaching proposal. Keywords: Didactic games, elementary schools , science education. 8 SUMÁRIO DE TABELAS Tabela 1: quais são os recursos didáticos usados normalmente nas aulas de Ciências? 26 Tabela 2: durante a sua formação no nível médio, em qual área de ensino você teve mais 40 dificuldade? Tabela 3: você já visitou, com sua turma, locais que pudessem contribuir para suas aulas 48 de Ciências? Tabela 4: quais são os dois motivos principais que mais dificultam os passeios escolares 49 como apoio as aulas de Ciências: Tabela 5: você sabe de onde vem a água que você bebe? (antes do jogo). 77 Tabela 6: você sabe de onde vem a água que você bebe? (depois do jogo). 78 Tabela 7: por onde a água passou antes de cair da bica? (antes do jogo). 79 Tabela 8: por onde a água passou antes de cair da bica?(depois do jogo). 80 Tabela 9: é importante economizar água? Por quê? (antes do jogo). 80 Tabela 10: é importante economizar água? Por quê? (depois do jogo). 81 Tabela 11: você sabe como é uma estação de tratamento de água? (antes do jogo). 81 Tabela 12: você sabe como é uma estação de tratamento de água?(depois do 82 jogo). Tabela 13: o que você pode fazer para economizar água? (antes do jogo). 82 Tabela 14: o que você pode fazer para economizar água? (depois do jogo). 83 Tabela 15: você sabe de onde vem a água que você bebe em casa? (antes do 85 jogo). Tabela 16: você sabe de onde vem a água que você bebe em casa? (depois do 86 jogo). Tabela 17: o que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para 87 beber?(antes do jogo). Tabela 18: o que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para 87 beber?(depois do jogo). Tabela 19: por que é importante economizar água? (antes do jogo). 88 Tabela 20: por que é importante economizar água? (depois do jogo). 89 Tabela 21: você sabe como é uma estação de tratamento de água? (antes do jogo). 89 9 Tabela 22: você sabe como é uma estação de tratamento de água?(depois do 90 jogo). Tabela 23: para que serve o cloro na água?(antes do jogo). 91 Tabela 24: para que serve o cloro na água? (depois do jogo). 91 SUMÁRIO DE FIGURAS Figura 1: imagem do site 60 Figura 2: imagem do blospot 61 Figura 3: imagem do grupo. 63 Figura 4: cartas perguntas retiradas do site 63 Figura 5: tabuleiro 65 Figura 6: casas do tabuleiro 66 Figura 7: casas do tabuleiro 66 Figura 8: um conjunto de cartas 67 Figura 9: acessório do jogo: fichas dos personagens 67 Figura 10: CD-ROM 68 Figura 11: alunos durante o jogo. 74 Figura 12: alunos durante o jogo. 74 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................13 CAPÍTULO 1 O desafio de ensinar Ciências no ensino fundamental.............................20 2.1 Ensino de Ciências no ensino fundamental no município de Duque de Caxias..........................................................................19 2.2 O currículo de Ciências no Município de Duque de Caxias...22 CAPÍTULO 2 O jogo didático como proposta de ensino...................................................25 3.1 Jogos didáticos.............................................................................25 3.2 Jogos na educação.......................................................................32 3.3 O significado do termo jogo.......................................................35 3.4 Atuação dos professores frente aos desafios de ensinar Ciências........................................................................................36 3.5 Formação dos professores em ciências.....................................39 3.6 Currículo e espaço não formais de ensino................................43 3.7Analisando o uso de espaços não formais numa rede pública de ensino............................................................................................47 3.8 A importância de novas práticas do ensino de ciências nas aulas.............................................................................................50 3.9 A incorporação do computador na realidade escolar..............53 3.10 O uso da internet no jogo Água é vida.....................................56 3.11 O uso do site no jogo Água é Vida............................................59 3.12 Grupos na internet: possibilidades dentro do contexto do jogo......................................................................................................62 CAPÍTULO 3 Jogo Água é Vida: Uma proposta de material didático............................65 4.1 A estrutura do jogo Água é Vida...............................................65 4.2 A regra do jogo............................................................................69 CAPÍTULO 4 Reflexões a partir da aplicação do jogo......................................................73 5.1 Aplicação do jogo no evento Fúria da Leitura.........................73 11 5.2 Aplicação do jogo numa turma de primeiro segmento do ensino fundamental............................................................................83 CAPÍTULO 5 Considerações Finais......................................................................................93 CAPÍTULO 6 Referências......................................................................................................96 7. ANEXOS Anexo I Currículo do ensino de Ciências no município de Duque de Caxias:......102 Anexo II Questionário para os alunos no evento da Fúria da Leitura...................132 . Anexo III Questionário para os alunos no quinto ano de escolaridade....................134 Anexo IV: Tabuleiro parte escrita................................................................................136 12 INTRODUÇÃO A realidade da educação básica brasileira, particularmente, na rede pública de ensino é um dos assuntos mais debatidos dentro da sociedade brasileira. Os problemas da má qualidade de ensino, evasão escolar, problemas políticos de gerencia escolar dentre vários outros das mais diversas causas possíveis. Este é um trabalho que visa a analisar a aplicação do Jogo didático Água é Vida, e discutir a aplicação dos jogos didáticos no ensino de Ciências no ensino fundamental. Sendo escrito por um professor da rede pública, envolvido diariamente na realidade da educação. Em se tratando de centro urbano que abrange a região metropolitana do Rio de Janeiro, com uma série de problemas sociais e políticos entrelaçados é complicado e ao mesmo tempo fundamental restringir o foco da pesquisa acadêmica. Isto tem por fim, de se obter um resultado de pesquisa produtivo. Tal observação é feita, para orientar este trabalho, pois tem a proposta de contribuir para melhoria do ensino, sem esquecerse da realidade do ensino a que ele se propõe. Sendo assim, é importante que este tipo trabalho não seja considerado como fator único para garantir uma prática de ensino melhor. A rede pública da cidade de Duque de Caxias foi escolhida diante da oportunidade de enfoque que pode ser dado ao meio ambiente, devido ao fato do município de Duque de Caxias possuir um grande e importante parque industrial, uma reserva ecológica (parque da Taquara) e possuir uma série de problemas ambientais. Outro fator que contribui para escolha deste município é o fato do autor desse trabalho atuar como professor do município no primeiro segmento do ensino fundamental, conhecendo assim de perto a sua realidade. A população de Duque de Caxias é uma população considerada em sua grande maioria de pessoas de baixo poder aquisitivo e 13 sem acesso adequado aos serviços públicos de saúde e educação. Esses fatores levam a necessidade da discussão e o emprego de práticas pedagógicas sobre as questões ambientais com essa população, para um melhor esclarecimento deste público alvo. Essa população é a mesma que o pesquisador atua como professor, o que possibilita maior percepção das características dessa população. Além disso, o ensino fundamental foi escolhido como objeto de estudo deste trabalho, por ser para muitos alunos o primeiro contato com a escola e por isso mesmo, a base de todo o ensino deste estudante. O primeiro segmento do ensino fundamental apresenta características importantes que devem ser consideradas dentro de um projeto de pesquisa. Dentre uma elas podemos destacar as prioridades dadas ao currículo, à estrutura escolar para o ensino de crianças e os objetivos educacionais dados pelos professores, escolas e secretarias de educação para o primeiro segmento do ensino fundamental. No aspecto do currículo formal aplicado segundo Lorenzetti e Delizoicov (2001), a preocupação que existe na alfabetização científica do aluno no primeiro segmento é indispensável para a formação do aluno e deve ser trabalhada desde as séries iniciais de ensino. Com os constantes avanços tecnológicos nos dias atuais, a formação em Ciências é fundamental principalmente em dois aspectos: Preparar os alunos para melhor compreender o mundo através da Ciência, e através da maior compreensão da Ciência e tecnologia preparar o aluno para o mercado de trabalho, como propõe a Lei de Diretrizes e Bases de1996. A pesquisa no ensino de Ciências no primeiro segmento fundamental parte também da necessidade de buscar novas práticas de ensino para estimular o gosto dos alunos por esta área de conhecimento e incentivar aos professores para darem maior importância ao ensino de Ciências. Este ensino, frente às dificuldades de alfabetização, 14 tem deixado o aprendizado de Ciências em segundo plano. Segundo Rosa e Terrazan (2001), um dos principais problemas neste segmento é a prioridade dada a Língua portuguesa e Matemática, que tem prejudicado as outras áreas de conhecimento. O problema no ensino de Ciências no primeiro segmento vai além do espaço por ele ocupado no currículo. A forma com que ele é ensinado poderá não alcançar o objetivo desejado, como entender a importância da Ciência e Tecnologia na sociedade. Segundo Delizoicov e Angotti, (1990), o ensino de Ciências é colocado como, uma série de conhecimentos a serem memorizados, como regras a serem estabelecidas sem que exista uma reflexão sobre o que é ensinado. Por exemplo, ensina-se que se deve escovar os dentes e lavar as mãos para evitar bactérias sem que os alunos saibam o que seja um micróbio ou o mundo microscópico. Os recursos tecnológicos estão cada vez mais presentes na vida dos alunos. Mesmo em populações de classes de menor poder aquisitivo, é comum na escola os alunos usarem celulares, e discutirem sobre internet e computadores em lan houses. O problema é que esses recursos tão atraentes para os alunos, não fazem parte da realidade da maioria das escolas como instrumento de ensino. Segundo Clesbsch e Mors (2004, p.10): O ensino, de um modo geral, não tem considerado esta expansão dos recursos tecnológicos, que fazem parte da realidade das pessoas. Nas escolas brasileiras, mesmo naquelas que possuem recursos diversos, o ensino continua sendo tecnicamente conservador. As aulas são previsíveis e pouco atrativas. Estimular o uso de novas tecnologias para o ensino tem a vantagem de mostrar que o conhecimento de Ciências esta presente na vida dos alunos (pode explicar como funciona esses recursos tecnológicos) e de tornar o ensino mais atrativo para o aluno do primeiro segmento do ensino do fundamental. E este é o assunto a ser explorado mais 15 profundamente neste trabalho. Particularmente o uso de jogos didáticos como estratégia de ensino. O jogo permite uma maior socialização do grupo escolar, sendo positivo para a aprendizagem. Segundo Moratori (2003), o uso da atividade lúdica pode favorecer ao educador conhecer melhor grupo escolar onde se trabalha o que pode ser fundamental para estimular o aprendizado por parte dos alunos. Mesmo o jogo sendo estimulante para os alunos, ele não pode perder o foco principal que é a aprendizagem. Por isso, para a aplicação do jogo devem existir objetivos bem delineados para a prática pedagógica que se quer aplicar. O jogo procura estimular a criação de jogos didáticos por parte dos professores e dos alunos. Essa coparticipação na concepção do jogo, pode estimular a auto-estima dos alunos por mostrar que ele também é capaz de criar instrumentos para o seu próprio aprendizado. Essa metodologia gera o desenvolvimento não só da auto-estima, como a iniciativa, e confiança do aluno em sua autonomia. O jogo tem que ser desafiador para o aluno, para que não se torne uma atividade monótona e com isto perca seu atrativo pedagógico. Ao fazer com que o aluno participe do processo pedagógico, ele pode constantemente fazer alterações que o estimulem a continuar a usá-lo. Com isso o uso de jogos didáticos em ensino de ciências é uma estratégia de ensino eficaz, pois cria uma atmosfera de motivação que permite ao aluno participar ativamente do processo ensino-apredizagem. Jogar, uma atividade presente nas diferentes sociedades humanas, permite que a criança ordene o mundo a sua volta, assimile experiências e informações e, sobretudo incorpore atitudes e valores. O produto final apresentado neste projeto de pesquisa tem como meta criar uma atividade lúdica de ensino, valorizando o aspecto educacional. O jogo proposto se intitula “Água é Vida” e como o próprio nome sugere, trabalha com a importância da 16 água em nossa sociedade. Diante dos problemas de saneamento básico encontrados na Baixada Fluminense do estado do Rio de Janeiro, particularmente no município de Duque de Caxias, abordar o tema sobre água, vai além de uma questão de currículo, é uma questão de saúde pública. Entender como é o processo do ciclo da água, de como ela é retirada dos seus afluentes, o processo de purificação da água dentro da estação de tratamento e como ela é distribuída para as casas são partes importantes do jogo proposto. Mais importante que entender como a água chega a nossas casas é conhecer a sua importância e a maneira de como usá-la. O jogo possui em seu contexto, reflexões importantes sobre o uso racional da água abordando o assunto do meio ambiente, fugindo do tradicionalismo no ensino de Ciências exposto por Delizoicov e Angotti, (1990), de repostas prontas do tipo: “Deve-se lavar as mãos porque é bom para a saúde”, “não se deve desperdiçar água porque é ruim para o meio ambiente”. Ao não se ensinar ao aluno à importância de um determinado tema, de forma abrangente e associada à realidade, as informações dadas perdem parte de seu sentido e da importância de serem aprendidos pelos alunos. Por isso a proposta do jogo é muito mais reflexiva do que voltada para a memorização. Segundo Moreira e Mansini (1982), a aprendizagem só é efetiva quando possui um significado real para o aluno. Para estimular a significação do aprendizado, este trabalho mostra que atitudes simples podem fazer com que o aluno no seu próprio contexto social, possa contribuir para minimizar a problemática da falta de água. O jogo mostra em seu enredo que “se deve fechar a torneira”, não por ser apenas uma regra de conduta desejável, mas porque a água passou por um longo processo de tratamento, caro e trabalhoso. Isto permite que o aluno ao entender esse processo, mude de comportamento mais facilmente. 17 A apresentação do jogo procura ser simples e ao mesmo tempo atrativa, baseado primeiramente num tabuleiro com um desenho de uma estação de tratamento de água como plano de fundo. Procurando não apresentar um número elevado de informações, como textos, tabelas e números, mas apresentá-lo de forma mais parecida possível com jogos lúdicos tradicionais. O jogo além das informações dadas através das informações do tabuleiro possui um conjunto de perguntas e respostas para serem feitas entre os alunos, através de cartões, com o objetivo de estimular a interação entre os alunos. Essas perguntas são selecionadas antes do jogo, conforme o nível de profundidade do tema que se deseja alcançar e os objetivos educacionais propostos. Além do jogo de tabuleiro, existe um CD-ROM, com imagens, propostas de vídeos, e informações para que os alunos possam visualizar uma estação de tratamento de água e possam ter uma percepção além do que é exigida apenas através dos livros didáticos. Procurando explorar o interesse dos alunos pela internet, foi criado um site com o tema meio ambiente, em que os alunos podem não só pegar informações sobre o jogo, mas também informações sobre temas correlatos. Existem indicações para sites, previamente analisados, para estimular o uso da internet para aquisição de informações através de fontes seguras, e não apenas o uso da internet para acessar sites de relacionamento. O jogo também tem como proposta estimular a criação de novos jogos didáticos pelos alunos e também alterar o jogo aqui proposto. O objetivo deste trabalho foi discutir os problemas do ensino de ciências no primeiro segmento do ensino fundamental da rede de ensino do Município de Duque de Caxias e empregar jogos didáticos no ensino de ciências. 18 A partir dos problemas levantados (Pinto, 2008), elaborou-se o jogo didático Água é Vida, baseado na questão do meio ambiente, que foi aplicando no primeiro segmento do ensino fundamental com o objetivo de realizar novas práticas pedagógicas para estimular alunos e professores. Durante a elaboração do trabalho foram levantadas as seguintes perguntas: Qual a melhor estratégia para minimizar os problemas do ensino de ciências no primeiro segmento do ensino fundamental, particularmente, na rede pública municipal de Duque de Caxias? O uso de jogos didáticos no ensino de ciências irá estimular a aprendizagem dos alunos? A metodologia empregada nesta dissertação de mestrado foi elaborada a partir a análise do currículo de ensino de Ciências do município de Duque de Caxias, procurando atender as propostas curriculares relacionadas principalmente ao meio ambiente. O jogo foi aplicado em turmas do primeiro segmento do ensino fundamental e a partir dos questionários respondidos pelos alunos antes e depois do jogo, somados a análise do comportamento dos alunos frente a esta atividade, pode-se inferir sobre a contribuição deste trabalho como instrumento pedagógico no ensino de Ciências. CAPÍTULO 1: O DESAFIO DE ENSINAR CIÊNCIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL 2.1 Ensino de Ciências no ensino fundamental no município de Duque de Caxias 19 O município de Duque de Caxias, segundo Amaranti (1994), apresenta socialmente as mesmas características que os demais municípios da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. Dentre os problemas relacionados à realidade escolar está a violência em sala de aula, a falta de participação dos pais no contexto escolar, problemas com infra-estrutura, dentre outros. Por possuir um dos maiores Produto Interno Bruto (PIB) do estado do Rio do Janeiro e por oferecer aos professores salário maior que os demais municípios do estado, Duque de Caxias tem atraído professores mais qualificados, o que aumenta ainda mais seu potencial educacional. O município de Duque de Caxias apresenta as seguintes informações econômicas, conforme o seu portal oficial na internet ( em julho de 2009): Principais atividades econômicas: Indústria e comércio. Há cerca de 700 indústrias e 10 mil estabelecimentos comerciais instalados no município. Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município de Duque de Caxias registra o sexto maior PIB (Produto Interno Bruto 1999 – 2002) de R$ 14,06 bilhões no ranking nacional e o segundo maior no estado do Rio de Janeiro. A cidade ocupa o segundo lugar no ranking de arrecadação de ICMS do estado, perdendo somente para a capital. Em relação ao ensino de Ciências a Secretaria de Educação do Município de Duque de Caxias, segundo seu projeto político pedagógico (2001, p.65), no seu processo de estruturação curricular de ciências físicas, químicas, biológicas e matemáticas, estabelece os seguintes objetivos nessas áreas de ensino: Compreender a evolução do conhecimento científico através do tempo e em diferentes lugares na busca de soluções dos problemas cotidianos; Aplicar conceitos científicos na resolução de situações-problema, visando melhorias na qualidade de vida; 20 Desenvolver o espírito investigador e o pensamento lógico-dedutivo, observando, levantando hipóteses, analisando e compreendendo os fatos; Perceber as questões éticas envolvidas na produção e utilização da Ciência e tecnologia pela humanidade. Quando se consegue efetivamente transformar o conhecimento adquirido na escola em algo realmente significativo em sua vida, o aprendizado torna-se capaz de transformar o indivíduo de forma integral, mudando seus conceitos de como encarar o mundo. Ao se diminuir a importância dada aos cursos de Ciências perde-se não só as informações científicas dessa área, mas também todas as potencialidades adquiridas com a aprendizagem deste, como o melhor entendimento do mundo que está em constante transformação. A diminuição da importância do ensino de Ciências no ensino fundamental se deve principalmente as dificuldades encontradas em ensinar as crianças a leitura escrita e cálculos. A deficiência de leitura, por parte dos alunos, faz com que o professor priorize a “alfabetização lingüística” em detrimento da “alfabetização científica”, segundo Rosa e Terrazzan (2001), o que contribui para que o ensino de ciências fique em segundo plano no primeiro segmento do ensino fundamental. Com tal situação exposta, percebe-se que o ensino de ciências torna-se importante apenas no segundo segmento do ensino fundamental, ou seja, a partir da quinta série. Dessa forma, os chamados “conteúdos de ciências” passam a ser, efetivamente trabalhados, não contemplando as crianças que já saíram da escola, tendo estas uma visão de mundo muito aquém do que se espera de uma alfabetização científica. Nos cursos destinados à formação de professores para o primeiro segmento do ensino fundamental, segundo Pinto (2008), a ênfase encontra-se nas disciplinas relacionadas à didática, principalmente no tocante a relação professor-aluno. A 21 formação dos professores não tem aprofundado o uso de material didático ou áudio visual, Pinto (2008). Como é proposto no currículo de Ciências na prefeitura de Duque de Caxias. 2.2 O currículo de Ciências no Município de Duque de Caxias Diante do volume crescente de informações que o mundo apresenta, escolher que conhecimentos devem ser abordados, de que maneira, sua proposta filosófica, é desafio que requer muita reflexão e preparo do professor e da escola. Quando se trabalha numa escola, seja particular, pública, e em qualquer nível de ensino o professor se depara com um currículo proposto por essa instituição de ensino, com o fim de que todos os alunos deste local tenham uma base comum de conhecimentos. Diante dessa situação o professor deve analisar o currículo detalhadamente, buscando questionar o seu conteúdo e suas propostas, com o fim de melhor aplicá-lo a sua realidade escolar. É também fundamental que a escola e a rede de ensino da qual o professor faz parte, permitam que o professor reflita sobre este currículo, propondo mudanças e ouçam seus questionamentos sobre o mesmo. Por serem os alunos da prefeitura de Duque de Caxias o público alvo deste trabalho, faz-se necessário conhecer o currículo de Ciências da prefeitura de Duque de Caxias (anexo I), para refletirmos sobre o ensino de Ciências no município de Duque de Caxias. Os principais motivos que levam o professor a não analisar o currículo proposto por sua escola ou rede de ensino são às condições de trabalho e a falta de tempo dos professores se reunirem e repensarem o currículo na sua prática pedagógica. Quando a escola não abre um espaço adequado para a análise do currículo ele passará a ser um burocrático e inútil para os docentes. 22 O currículo de ciências no município de Duque de Caxias é bem detalhado é bem embasado teoricamente. Ele é pautado em conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais. Dessa forma os objetivos do currículo ficam mais claros de serem observados, do que a forma tradicional de apenas expor os conteúdos a serem abordados. Um aspecto importante deste currículo é a questão da alfabetização científica. Este termo muito freqüente no ensino de Ciências, ainda é pouco conhecido pelos professores do primeiro segmento do ensino fundamental. E isto é um indicativo que o material produzido na academia em termos de estudo do ensino de Ciências não está presente na vida dos professores do primeiro e segundo segmento de Ciências. Segundo Pinto (2008, p.20), em pesquisa realizada com professores-regente da rede da prefeitura de Duque de Caxias, onde: 44% dos entrevistados responderam a pergunta: “O que é alfabetização científica”. E a maioria dos que responderam, de forma equivocada e, apenas uma pequena parcela (4%), respondeu de acordo com os pressupostos teóricos sobre o tema. O currículo de Ciências na prefeitura de Duque de Caxias destaca-se, dentre outors temas a preparação do alunos para o mercado de trabalho. A relação do homem e o meio ambiente são abordados, mostrando que o bem estar da humanidade está condicionado a preservação da natureza e o seu uso sustentável. Questões envolvendo o saneamento básico e a higiene são relacionadas à qualidade de vida e saúde das pessoas. Este é mais um ponto importante do currículo que esta baseado nos parâmetros curriculares nacionais de Ciências para o ensino fundamental. Existem sugestões de atividades dentro do currículo, para as aulas de ciências, contudo são colocadas de forma bem abrangente e sem detalhes de como serão executadas. 23 O currículo, principalmente no que se refere aos conhecimentos procedimentais, não faz referências significativas aos jogos didáticos. Em se tratando de um currículo de Ciências não há uma recomendação detalhada de experimentos em Ciências e também não existe a mesma recomendação para a criação dos jogos didáticos. CAPÍTULO 2: O JOGO DIDÁTICO COMO PROPOSTA DE ENSINO 3.1 Jogos didáticos A importância da variedade de instrumentos pedagógicos está, dentre outras coisas, em explorar as diferentes características de aprendizagem de cada indivíduo. Esses instrumentos acentuam os conhecimentos gerados durante a interação dos 24 participantes nessas atividades pedagógicas. Em relação a esse ponto, Murcia (2008, p.10) coloca: O ensino deve favorecer uma participação mais ativa por parte da criança no processo educativo. Deve-se estimular as atividades lúdicas como meio pedagógico que, junto com outras atividades, como artísticas e musicais, ajudam a enriquecer a personalidade criadora, necessária para enfrentar os desafios da vida. Par qualquer aprendizagem, tão importante como adquirir, é sentir os conhecimentos. Os jogos didáticos são uma ferramenta pedagógica bem conhecida na área acadêmica, porém pouco compreendida e usada na prática docente. É uma forma bem enriquecedora a ser trabalhada no dia-a-dia, em sala de aula, porque além de possibilitar uma boa alternativa de aprendizado, torna-se também, uma forma lúdica de ensinar. Segundo Arouca (1996, p.2), o jogo é, sim, um instrumento pedagógico viável em uma proposta de ensino: O uso do jogo como instrumento de ensino se caracteriza como outro tipo de instrumento, em que a intenção é trabalhar ou transmitir ao aluno algum conhecimento, concreto ou abstrato. Segundo PINTO (2008, p.23), em pesquisa realizada com professores regentes do primeiro segmento do ensino fundamental, no município de Duque de Caxias, relata que os jogos didáticos se apresentam como apenas 6% dos recursos mais usados nas aulas de Ciências, como demonstra a Tabela abaixo, do trabalho citado anteriormente: Tabela 1: Quais são os recursos didáticos usados normalmente nas aulas de Ciências? Recursos didáticos n (50) Percentual (%) 25 Quadro negro 13 26 Livros 11 22 Revistas e jornais 6 12 Vídeos didáticos 5 10 Experiências 5 10 Revistas especializadas em Ciências 4 8 Jogos didáticos 3 6 Maquetes e modelos 3 6 Outros 0 0 O resultado desta pesquisa mostra, que o potencial do uso do jogo didático, é algo ainda a ser explorado pelos professores. Um indicativo, que tal recurso acaba sendo pouco difundido como prática pedagógica. Tal situação ocorre por motivos que vão desde problemas na formação dos professores às dificuldades na sala de aula. Mas, é importante ressaltar, que a difusão e a prática dos jogos didáticos devem ser encaradas não por um modismo pedagógico, mas por apresentar características particulares 26 principalmente em relação à valorização da interação entre os participantes durante a aplicação do jogo. As relações entre as pessoas presentes, tradicionalmente, no ensino de Ciências são feitas através da relação aluno-professor; é quase sempre conflituosa, devido aos diferentes objetivos dos docentes e dos discentes. Nesse aspecto, os jogos se colocam como uma forma mais harmônica de manter uma relação interpessoal entre os participantes da prática pedagógica, pois o foco se desloca para uma atividade lúdica em comum diferentemente das atividades tradicionais realizadas na sala de aula. É necessário que o jogo não perca, em sua prática, o aspecto educativo em prol apenas do lúdico, mantendo assim, o objetivo central, focado na relação ensinoaprendizagem. Esta tem por fim que os alunos venham a perceber que o conhecimento adquirido foi alcançado através de uma relação direta entre os participantes do jogo. Dessa forma, os discentes tornam-se membros ativos de seu próprio aprendizado, tornando-se agentes diretos da construção do seu saber. Em relação à interação social no trabalho pedagógico, Oliveira (1995, p.61) aborda um dos conceitos primordiais de Vygotsky, muito importante para a educação, explorando a questão da relação inter-pessoal: A importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo e na promoção dos processos inter-psicológicos que serão posteriormente internalizados. A relação entre os alunos durante os jogos tem a vantagem de levá-los a discussões em que ocorra linguagem semelhante entre eles, facilitando a comunicação. Certos aspectos do aprendizado que se queria alcançar não se fazem porque a linguagem professor-aluno não se faz clara para o aluno. Porém, quando os alunos discutem sobre 27 o mesmo tema abordado em sala de aula, certos aspectos do aprendizado podem ser elucidados porque os alunos conversam numa linguagem em comum, aluno-aluno. Segundo Montoya (2006, p.120), ao comentar conceitos de Piaget sobre linguagem infantil: “à linguagem socializada, isto é, à linguagem cujos termos e conceitos são compartilhados por todos os membros do grupo, a qual possui uma estrutura lógica.” Tanto Piaget como Vygotsky apresentam características em comum em suas teorias, valorizando a interação interpessoal. Esses conceitos são utilizados nos jogos didáticos. O jogo didático tem outra vantagem quando é aplicado no ambiente escolar, pois pode complementar o ensino transmitido em sala de aula. Este por si só é o ambiente culturalmente criado para gerar intencionalmente o aprendizado através das relações interpessoais. A relação social produz um incentivo aos alunos na prática pedagógica. Em relação a este tema (Ibid., p.62), coloca: A importância da atuação de outras pessoas no desenvolvimento individual é particularmente evidente em situações em que o aprendizado é um resultado claramente desejável das inter-relações sociais. Na escola, portanto, onde o aprendizado é o próprio objetivo de um processo que pretende conduzir a um determinado tipo de desenvolvimento, a intervenção deliberada é um processo pedagógico privilegiado. Outra vantagem do uso de jogos didáticos reside em seu planejamento; se bem planejado, cada jogo pode gerar um determinado tipo de relação entre os seus participantes, dependendo das características do jogo. Um dos grandes problemas relevantes apresentados em sala de aula, e que também deve ser levado em conta durante uma atividade de aplicação de jogos didáticos, será o aprendizado percebido pelo aluno como algo significativo. Como o mais importante é o aprendizado, é essencial que o jogo, acima de tudo, facilite o entendimento do aluno sobre o tema abordado, e como esse assunto venha a ser 28 relacionado à realidade que o atinge em seu dia a dia. Um exemplo se coloca bem patente, quando se aborda a questão ambiental: quando se destaca temas como efeito estufa, camada de ozônio, Amazônia, dentre outros problemas de ordem global, o problema aparece para o aluno como muito distante e que dificilmente afetaria significativamente a sua realidade ou a sua comunidade. É preciso, antes de tudo, focar o trabalho didático em um exercício de reflexão e conscientização. Quando um tema de grande relevância, como o meio ambiente, não consegue sensibilizar o jovem, seja por uma questão de experiência de vida ou de amadurecimento, esse assunto torna-se sem grande significado em seu dia-a-dia. Isso também pode acontecer com a não correta utilização dos jogos didáticos, que passa a ter apenas um valor lúdico e, não, de construção de conhecimento. Quando a realidade vivida por um determinado grupo de alunos é trazida para a sala de aula, tocando num tema que atinge diretamente a sua vida e a sua comunidade, é criado um significado maior ao que está sendo ensinado. O aprendizado se torna real quando o que foi aprendido traz algum significado para o aluno, e este foi capaz de realizar alguma transformação interna com este conhecimento. Moreira e Masini (1982), discutindo a teoria de Ausubel sobre a aprendizagem significativa, comentam que este é um processo que se relaciona diretamente com um aspecto importante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Quando a atividade do jogo é realizada de forma planejada, mesmo que o aluno tenha conhecimentos prévios sobre o tema abordado, durante o jogo, novos elementos sobre o tema poderão ser adquiridos. Esses elementos poderão ser aprendidos não apenas de forma receptiva, onde o aluno recebe “pronto” o que se ensina, mas também aprender por “descoberta” própria, construindo por si mesmo o novo conhecimento. Sobre isto (Ibid., p.19), comenta: 29 Segundo Ausubel, na aprendizagem por recepção o que deve ser aprendido é apresentado ao aprendiz em sua forma final, enquanto que na aprendizagem por descoberta o conteúdo principal a ser aprendido é descoberto pelo aprendiz. Entretanto, após a descoberta em si, a aprendizagem só é significativa se o conteúdo descoberto relacionar-se a conceitos subsunçores relevantes já existentes na estrutura cognitiva. Como a própria teoria de Ausubel indica o aprendizado se faz pela relação de conceitos relevantes pré-existentes, é fundamental diagnosticar os conhecimentos prévios do grupo sobre o que se quer trabalhar. Aí cabe uma avaliação prévia, não com o intuito de quantificar ou dar valor, mas de realmente diagnosticar os conceitos prévios dos alunos. Por mais que seja atraente a prática pedagógica através de jogos pelos motivos já apresentados, ela dificilmente será produtiva, considerando o ponto de vista cognitivo, se não estiver devidamente planejada no contexto escolar. Essas características do aprendizado do aluno se fazem presentes também nos contextos onde se realizam o ensino de Ciências. Cada dia mais, faz-se necessário o intuito do docente em aliar aulas teóricas expostas nas salas de aula com observações práticas. Concretiza-se, assim, a idéia de propor ao aluno a “redescobrir” o conhecimento, ou seja, fazer com ele trace por si mesmo observações sobre fatos, levantem hipóteses, teste-as, reflita sobre elas e rejeite-as, ou não, se for o caso, trabalhando de forma a construir as suas próprias conclusões. Segundo Bazzo (1998), essa tendência ocorreu, inicialmente, na década de oitenta, com a disseminação da orientação pedagógica do CTS (Ciência, Sociedade e Tecnologia) onde é abordada a importância da concepção da cidadania na educação dos jovens. Sendo assim, o ensino se faz por uma reflexão interna do aluno e não apenas, por uma questão de repetição condicionada de listas de informações e nomes que ainda não fazem parte da sua linguagem significativa. 30 As práticas pedagógicas ainda apresentam, em seu fundamento, uma didática teórica com características marcantes de condicionamento, visando um comportamento esperado pelo aluno. Segundo Gómez e Sacristan (1998), as teorias propostas por Skinner baseiam-se no condicionamento instrumental ou operante. O aluno faz uma série de atividades previamente estabelecidas em um roteiro, supondo que com o volume de informações dadas, elas acabaram por assimilar alguma coisa. O aluno pode até adquirir uma série de informações, mas nada garante que essas informações terão gerado uma transformação interna da visão do aluno sobre um tema. Devem-se levar em conta na prática pedagógica, atividades onde o grupo possa construir também da sua maneira para o conhecimento sobre determinado assunto. O jogo didático bem elaborado não precisa ter um roteiro fixo, para que possibilite diferentes interações entre os participantes e formas distintas de cada um construir o seu significado. 3.2 Jogos na educação Sobre os problemas na educação fundamental brasileira, são comuns os debates sobre a forma e as estratégias de ensino a serem empregadas. A discussão entre o ensino tradicional pautado em materiais, estratégias exclusivamente voltadas para o ambiente escolar e formas mais lúdicas e informais de ensino são antigas. Segundo Kishimoto (1997, p.64): Os sistemas de ensino, na atualidade, dividem-se em propostas propedêuticas, preparatórias para a escolaridade posterior, com ênfase em conteúdos e centradas na figura do professor e nas orientações voltadas para a socialização da criança em desenvolvimento, em que a brincadeira permite a liberdade de ação, expressão e criatividade. 31 Antes mesmo da criação da escola fundamental, o ensino através de atividades lúdicas já era discutido. Segundo Kishimoto (1990), Platão se opunha a educação baseada na força e na opressão, e que era importante também aprender brincando. A autora coloca ainda que Aristóteles recomendava na educação de crianças, o uso de jogos que imitassem a atividade de adultos, no intuito de prepará-los no crescimento. Os jogos e brincadeiras aparecem muitas vezes, como uma criação infantil, dissociado da vida prática adulta. Porém a História demonstra que muitos jogos e brinquedos no mundo atual, tiveram uma atividade prática no “mundo adulto”, antes de se tornar instrumento lúdico para as crianças. Um exemplo clássico é o que descreve Bernades (1991, p. 542), sobre o uso da pipa: A pipa ou papagaio é um brinquedo sazonal de origem oriental e foi trazido para a América Portuguesa no século XVI. Segundo a enciclopédia chinesa khé-Tchi-King-Youen, a pipa foi inventada pelo general chinês Hau-sin, no ano de 206 a.C.. Este comandante do exército utilizou uma pipa para calcular a distância que o separava do palácio Wai-Yang, para conquistá-lo por meio de um túnel. Somente mais tarde, a pipa se tornou um brinquedo para as crianças. Hoje no Brasil a pipa é um dos brinquedos mais populares, ironicamente, sua função lúdica é também usada nos morros cariocas para avisar a chegada da polícia, relembrando o uso do seu inventor general, o chinês Hau-sin, no ano de 206 a.C. Segundo Kishimoto (1990), no ocidente durante a Idade Média a educação rígida e disciplinadora cristã não davam espaço para os jogos e brincadeiras, sobretudo dentro de instituições de ensino. Só foi possível uma nova visão sobre os jogos no Renascimento. Essa visão negativa dos jogos e brincadeiras ainda se encontra presente na pedagogia tradicional no século XX no Brasil. Segundo Ortiz (2005, p.11), analisando o jogo na educação: 32 O jogo serviu de vínculo entre povos, é um facilitador da comunicação entre os seres humanos. Entretanto, ele não era bem– visto pela pedagogia tradicional; a educação e o jogo não eram considerados bons aliados. Apesar disso, as crianças aprenderam jogando, já que fazem da própria vida um jogo constante. Felizmente, a posição da pedagogia atual converteu “o princípio do jogo ao trabalho” (Marin 1982) em máxima da didática infantil. No Brasil, os jogos e brincadeiras tiveram origens de diversos povos, principalmente, a partir do descobrimento. Durante o período do século XX, foi bastante diversa a visão pedagógica sobre os jogos. Segundo Friedmann (1996), no início do século XX, era percebida a importância de se “preservar os jogos”, por serem característica universal a todos os povos, e por apresentarem características específicas de cada povo. A partir da década de 50, como os estudos de Piaget (1979), demonstram as relações dos jogos com a aprendizagem, sendo excelente gerador de habilidades cognitivas. Esses estudos permitiram uma base teórica para os estudos dos jogos para fins didáticos, nas décadas posteriores. A implementação cada vez mais presente de atividades lúdicas no currículo escolar, esta baseada na necessidade de buscar um ensino capaz de lidar com as constantes mudanças globais. Esse fato se observou também no Japão durante a reforma curricular na década de 90. Segundo Kishimoto (1997, p.64): O novo plano curricular do Jardim, implementado em 1990, estabeleceu uma educação pelo ambiente, priorizando atividades segundo as características de desenvolvimento da criança, tendo o brincar como um de seus eixos. Segundo Krasilchik (2000), na década de 60, com a reformulação do ensino de Ciências estimulados pela Guerra Fria, os Estados Unidos e a Inglaterra encabeçam uma série de reformulações no Ensino de Ciências com o objetivo político de aumentar o conhecimento científico destas potências. Para isto foi investido pesadamente no ensino 33 de Ciências, desde as séries iniciais com o intuito de formar uma corpo científico para as próximas décadas. Com forte influências do Estado, foram criados vários grupos de estudo em educação do ensino de Ciências, onde as pesquisas por novas estratégias de ensino se tornaram presentes. A busca de atividades lúdicas, com fins educacionais em espaços formais e não formais de ensino teve um grande crescimento nessa época. Anos depois, os países periféricos dessas potências receberam influência desta tendência pedagógica, dentre esses países o Brasil. O Brasil recebeu vários materiais adaptados desses grupos de pesquisas estrangeiros para o ensino de Ciências no Brasil. Um exemplo de aplicação de atividades lúdicas com sucesso, foi o destinado a crianças com deficiências mentais, na década de 60 no Brasil, onde aparece mais fortemente o trabalho de Montessori , Fèdagogia científica em 1965, com materiais lúdicos voltados a esse público alvo. Mas na década de oitenta é que o uso dos jogos didáticos se torna mais presente no Brasil, como descreve Kishimoto (1990): Esse processo de valorização do jogo, mais recente, chega ao Brasil na década de oitenta, com o advento das brinquedotecas, a criação de associações de brinquedotecas, a multiplicação de congressos, o aumento da produção científica sobre o tema e o interesse crescente dos empresários em aumentar seu faturamento, investindo em novos produtos. No campo educacional, os jogos didáticos como outras formas lúdicas de ensino, ainda apresentam um campo muito vasto de pesquisa. Como mostra a própria História, os jogos fazem parte da história das civilizações e excluí-lo do processo educacional, é abrir mão de interessante instrumento pedagógico. 3.3 O significado do termo jogo O termo jogo pode ser entendido de diferentes formas, dependendo do local, época e sociedade a que se refere. Dentro do contexto escolar, ele se torna ainda mais 34 complexo, pois os diferentes indivíduos do mesmo espaço possuem diferentes visões sobre o tema. A visão do termo jogo, para um aluno possivelmente será diferente do professor. Mas em termos educacionais, o educador pode estender o entendimento convencional sobre o que pode ser um jogo, sobretudo a sua utilidade em seu trabalho. O termo jogo, exposto no dicionário de língua portuguesa, segundo Ferreira (1985): “atividade física ou mental fundada num sistema de regras que definem perda ou ganho”. Contudo, muitas vezes no ambiente escolar, o jogo é visto muito mais como algo que atrapalha a prática pedagógica por dispersar os alunos do que algo produtivo. Segundo Murcia, (2005, p.17) o jogo é visto por alguns professores: Sua gratuidade foi classificada como prova de que é pouco importante, complementar, não-séria, improdutiva, muitas vezes associada à perda de tempo, em outras, ao vício ou ao pecado, e sempre visto como algo insignificante. Dentre as várias formas de se entender o jogo e a brincadeira, a que mais se encaixa como instrumento de ensino, segundo o autor (Ibid., p.62), seria: A magia da brincadeira se converteria, por um lado, em um elemento ideal para reconciliar, na escola, a mente e o coração da criança e, por outro lado, em um modo de expressão com que se atua, explora, comunica, pesquisa, vive-se em meio a um processo de aprendizagem global, participativo e significativo: processo que se amplia ao longo da vida. Sendo assim, adequar o jogo a atividade pedagógica explora algo vital no desenvolvimento da criança: a brincadeira. Todavia, tornar algo lúdico e ao mesmo tempo educativo, no que se refere ao contexto escolar é o grande desafio. 3.4 Atuação dos professores frente aos desafios de ensinar Ciências 35 Estabelecer um sentido para o ensino além de repassar apenas o que propõe o curriculo escolar é um desafio significativo para o educador. Quando se percebe a escola desmotivante para os alunos, por mais variados que sejam os motivos, a reflexão do educador de como ele pode contribuir para mudar essa realidade se faz presente. Nesse tocante, o professor se remete quase sempre a questionar seu principal objetivo de trabalho: o saber. Dentre as principais indagações pode-se citar: o que ensino é útil? Ensino só porque está no currículo? Será que ensino de forma correta? A meta principal do ensino de Ciências é demonstrar que as Ciências fazem parte do mundo real do aluno. Quando este entende o funcionamento do ensino de Ciências no trabalho, na História das sociedades e como ela hoje influência fortemente o comportamento humano, cria-se para o aluno um estimulante significativo para o aprendizado. Isso gera ainda outro desafio: é possível ensinar Ciências sem associá-las a outras áreas de conhecimento? Estabelecer previamente, sem reflexão adequada, que o ensino de Ciências tem que estar ou não associado às outras áreas de conhecimento, tende muito mais a empobrecer o ensino de que melhorá-lo. Sobre este tema Nunes (2003, p. 22), coloca: O desafio no ensino das ciências parece ser menos o de modernizar os conteúdos específicos e mais o de levar os estudantes à compreensão de como as ciências funcionam, dos seus processos de trabalho, das suas questões epistemológicas sociais. Essa nova direção dada ao Ensino de Biologia, da Física, da Química e Ciências afins precisa da contribuição das ciências Humanas e sociais. Por esse motivo, conhecer a história do campo disciplinar é uma necessidade para o professor que quer mostrar que a ciência à qual ele se dedica está viva e que é possível construir uma ponte entre saberes particulares e conhecimento global. Paralelo a isso Chassot (1993) coloca que a utilidade do que se ensina, sobretudo nas áreas de Ciências, não é só um problema da escola e sim do país. Se o ensino de 36 Ciências não faz sentido para os estudantes, como teremos uma geração de novos cientistas? Como conseguiremos num mundo globalizado competir com as outras potências, tecnologicamente e economicamente se desde a base da educação estamos equivocados. Retomando a questão do saber na prática do professor. Se ele apenas “cumpre o programa”, numa tarefa mecânica de apenas “de realizar o trabalho” ele abre mão do aspecto importante da profissão: seu papel político na sociedade, pois dentre outras coisas ele é gerador do conhecimento, demonstrando a importância do seu significado. Mas se o professor trabalha de forma “mecanizada”, devem existir fatores externos que o influenciam atuar de tal maneira. Se a própria escola visa apenas cumprir o seu papel legal de lá estar, sem possibilitar a melhoria do seu papel na sociedade, o trabalhado docente ficará também prejudicado. Se a escola não tem como principal objetivo político e ideológico promover o saber, todos que estão nela terão dificuldade em ensinar. “Quebrar esse círculo vicioso” e uma das principais dificuldades do ensino do Brasil. Mas antes de tudo se o professor não tiver essa visão política sobre sua prática, e a sociedade não contribuir para a sua atuação, poucas mudanças poderão ocorrer no ensino. Essa discussão da reflexão do que se ensina particularmente no ensino de ciências no ensino fundamental é discutida há décadas. Berutti e Nardelli (1965, p.18), coloca: Visto sob estes aspectos, o ensino de Ciências representa contribuição inestimável na educação de nossas crianças. Não pode, pois, ser considerada matéria de menor importância entre as outras do currículo escolar. Isto porque não vai proporcionar, apenas, a aprendizagem de simples fatos científicos, mas, sim procurar tornar a criança uma pessoa bem informada sobre o mundo que o cerca, capaz de compreender os problemas e de procurar solucioná-los da maneira mais eficiente. 37 A importância do espaço escolar é fundamental neste processo por orientar o conhecimento. A criança tem contato com fenômenos naturais o tempo todo, como a gravidade, calor, transformações físicas e químicas, eletricidade, luz, etc. Porém, quase sempre trás conhecimentos errôneos sobre esses conceitos. Todavia, apesar destes conceitos, carrega consigo algo fundamental para a escola: a curiosidade. Esse sentimento de querer explorar o mundo e de compreendê-lo faz com o ensino de Ciências se torne motivador e esclarecedor. Nesse aspecto Chassot (1993), comenta um exemplo clássico da problemática do ensino de Ciências: que um aluno do ensino fundamental, sabia o que era isótonos (referente ao estudo do átomo na Química), mas não sabia porque o sabão faz espuma e nem porque o leite derrama ao ferver e a água não. Esse pequeno exemplo mostra que transmitir informação não é o mesmo que ensinar. Quando o aluno nas séries iniciais chega à escola repleto de curiosidades, e percebe ao passar dos anos, que muito daquilo que aprende não explica o mundo a sua volta ele perde, com isso, o interesse pelo saber escolar. Muitos conhecimentos novos transmitidos na escola não são assimilados, porque o aluno já julgou previamente que o novo conhecimento terá pouca importância na sua vida. 3.5 Formação dos professores em ciências Para se entender a prática pedagógica no ensino de Ciências, particularmente nas séries iniciais de ensino, é necessário compreender os agentes dessa prática. Quando se analisa a formação dos professores, se faz com o intuído de entender a formação desse profissional, para compreensão da prática pedagógica. Mesmo sabendo que a formação 38 dos professores não é o fator absoluto para identificar os problemas da educação, a sua importância não pode ser ignorada. O município de Duque de Caxias, área escolhida para análise deste trabalho, mostra que o problema do ensino de Ciências começa na formação do professor. Particularmente na formação profissional em nível médio, o antigo curso Normal. Segundo PINTO (2008, p. 17), pesquisando junto aos professores da rede municipal de Duque de Caxias mostra essa realidade. Sendo que “Ciências” é a área de conhecimento onde os professores têm mais dificuldade (45%) do total dos professores: Tabela 2: Durante a sua formação no nível médio, em qual área de ensino você teve mais dificuldade? Área com mais dificuldade n (50) Percentual (%) Ciências 22 45 Matemática 20 40 História e Geografia 5 10 Língua Portuguesa / Literatura 3 5 Esse é um importante indicativo que desde a formação do professor do primeiro segmento do ensino fundamental, o ensino de Ciências deve ser reformulado. O que se observou durante a prática pedagógica deste autor, no município de Duque de Caxias e no município do Rio de janeiro, como professor do primeiro segmento, é a dificuldade em ensinar Ciências. Parte dessa dificuldade passa pela formação do professor. A 39 discussão sobre a formação continuada é um tema que precisa ser discutido amplamente no ensino de Ciências. A formação continuada reflete outro problema importante no ensino, particularmente no ensino de ciências. São inúmeros os trabalhos na área de pesquisa em educação em ciências, mas ao mesmo tempo esses trabalhos não chegam onde deveriam que são os professores que atuam com os alunos na rede pública. O distanciamento entre a pesquisa e a prática pedagógico é um entrave significativo para a melhoria do ensino. Segundo Nunes (2003, p. 20) esse problema precisa ser mais debatido: Com a divisão social doa trabalho intelectual opera a cisão entre professores pesquisadores, geralmente ligados às universidades, e professores que permanecem no ensino fundamental e médio, o trabalho de formação, nesses níveis de ensino, acaba sendo desqualificado, mesmo quando os docentes aí reunidos desenvolvem trabalhos de pesquisa sobre temas nas disciplinas que ensinam. Embora desempenhem função fundamental do ponto de vista social e político, os professores que se dedicam à tarefa de ensinar crianças e adolescentes acabam sendo vistos apenas como instrumentos de transmissão de saberes produzidos pelos outros. Quando o professor é visto exclusivamente como: “aquele que ensina” ou “aquele que é pago para dar aulas em determinado período”, a prática docente torna-se “mecanizada”, distante do seu papel reflexivo e crítico. A importância da formação continuada deve procurar não apenas aperfeiçoar o professor, mas servir com momento de reflexão sobre o seu trabalho, justamente para permitir uma visão mais crítica sobre o mesmo. Quando no horário do professor, ou no seu planejamento anual não há espaço para a “formação continuada” o investimento do professor nos seus conhecimentos fica prejudicado. Justamente pelo pouco tempo dado ao professor para o seu aperfeiçoamento, que poucos professores participam dos grupos de pesquisa em ensino. 40 Com isso a perspectiva de evolução da formação do professor fica ainda mais comprometida. Pesquisar e estudar são atividades inseparáveis da prática docente. Um profissional que tem como umas das suas principais funções, estimular e mostrar a importância do estudo, tem que ser estimulado para fazer o mesmo. Essa formação não é aquela voltada apenas para a sua área de conhecimento, mas sim de forma interdisciplinar. O conhecimento não pode ser colocado em “blocos de área de saber” ou em “blocos de períodos de ensino”. O que impede, por exemplo, uma criança ter noções de Química, Física e Biologia antes mesmo do segundo segmento do ensino fundamental? A formação do professor precisa também ter um caráter interdisciplinar, para que este possa fazer adequadamente a transmissão dos conhecimentos. Segundo Chassot (1993, p.63): Tenho defendido, para a área de Ciências uma formação interdisciplinar do professor, onde ele deve ser ter também o conhecimento químico, não para ser um professor de Química mas para melhor ensinar Ciências. Pouca coisa mudou desde 1993, quando Chassot fez essa afirmação. Um dos fatores que contribui com a dificuldade do professor trabalhar de forma interdisciplinar o ensino de Ciências é o fato do professor apenas reproduzir o conhecimento ao invés de contribuir para a sua geração. Se o professor teve na sua formação um ensino de Ciências segmentado entre as áreas de conhecimento, dificilmente ele conseguirá lecionar de forma diferente. As novas tendências na formação dos professores buscam justamente a formação do professor voltado para a pesquisa. O ideal não é apenas um professor que leciona bem e sim um professor que também seja pesquisador. Segundo Santos (2006, p.2): 41 A relevância do papel do professor na pesquisa, situando-o como sujeito – real concreto – de um fazer docente, no que este guarda de complexidade, importância social e especificidade, inclui dar-lhe a voz que precisa ter na produção de conhecimento sobre sua prática. Ampliam-se, nessa perspectiva, as possibilidades de rompimento do tradicional modelo dos cursos de formação de professores rumo à inserção na realidade escolar. Selles (2002) aborda que o processo de formação do professor não se encera no curso de formação de professores ou em alguns cursos de formação continuada e sim que é um processo constante de formação. Como a prática docente é marcada pela sua diversidade e multiplicidade é impossível determinar num curso de formação todos os conhecimentos necessários para o seu trabalho. Quando uma das perspectivas dadas à educação se baseia na preparação dos alunos para um mundo em constante transformação, o seu fazer pedagógico tem que dispor continuamente de um espaço adequado de formação e reflexão do seu trabalho. 3.6 Currículo e espaço não formais de ensino Os jogos didáticos dentro de um contexto educacional, têm como características a possibilidade de ser usado dentro e fora do espaço escolar. Os espaços não formais, são locais onde o aprendizado é feito sem o formalismo escolar, onde o aprendizado ocorre conforme exposto por Gohn (2006, p. 26): Há na educação não-formal uma intencionalidade na ação, no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar saberes. A informal opera em ambientes espontâneos, onde as relações sociais se desenvolvem segundo gostos, preferências, ou pertencimentos herdados. Podendo, assim o jogo, ser utilizado em espaços não formais de ensino, como por exemplo, o uso deste jogo proposto após uma visita a uma estação de tratamento de 42 água. Pode ser usado até mesmo na casa do aluno e em vários outros lugares. O aprendizado feito através dos jogos, sofre influência direta do local onde é utilizado, se está influenciará positivamente ou não o seu aprendizado. Então entender o aprendizado através de espaços não formais de ensino, inclusive através de jogos, é importante fator no componente curricular. O currículo entendido como aquilo que se propõe ensinar, deve ter dentro da sua proposta, os meios de como viabilizar o aprendizado. Caso isso não ocorra, o currículo deixa de ser uma proposta pedagógica para se tornar mais um processo burocrático. Este ficará encerrado dentro de dezenas de folhas de planejamentos pedagógicos feitos mecanicamente nas escolas. O que ensinar, por que ensinar, e como ensinar, são questionamentos inseparáveis numa proposta curricular efetiva. Segundo Apple (1982, p.1): É preciso levar muito a sério as questões acerca da tradição seletiva, como as seguintes: Aquém pertence o conhecimento? Quem o selecionou? Por que é organizado e transmitido dessa forma? E para este grupo determinado? No ensino de Ciências, não pode se restringir apenas ao espaço escolar. O aprendizado segundo Vieira, e colaboradores (2005), é desenvolvido durante a existência do indivíduo em múltiplos espaços e momentos. A educação informal, adquirida na família, amigos, vizinhança, trabalho, o espaço formal de ensino (escola) e os espaços não formais de ensino, como museus, centros de ciência e cultura. Este último tem significado especial no currículo por criar a possibilidade do aluno de transcender os objetivos propostos nas aulas convencionas na escola, que muitas vezes possuem apenas o quadro negro e o livro didático como únicos instrumentos didáticos a disposição no espaço escolar. 43 O espaço não formal, como por exemplo, uma indústria ou um museu, apresentará em sua estrutura física, materiais que podem ser utilizados como recursos didáticos para o aprendizado dos alunos que provavelmente a escola não possui. Dependendo da percepção do aluno, ele pode analisar informações relevantes num espaço não formal de ensino. Enquanto na escola um determinado tema abordado relacionado a esse espaço informal, não foi adequado transmitido ou não teve a intenção de ser transmitido em profundidade. No espaço não formal de ensino é mais difícil o controle do “currículo oculto 1”, porque quase sempre esse espaço não foi concebido pela instituição escolar do aluno ou pelo professor. Sendo assim, os alunos podem ter aprendizados que não foram planejados no componente curricular. A necessidade da criação de espaços não formais de ensino para a importância na consolidação do currículo de ciências foi observada fortemente durante a Guerra Fria. Segundo Krasilchik (2000): Um episódio muito significativo ocorreu durante a “guerra fria”, nos anos 60, quando os Estados Unidos, para vencer a batalha espacial, fizeram investimentos de recursos humanos e financeiros sem paralelo na história da educação, para produzir os hoje chamados projetos de1ª geração do ensino de Física, Química, Biologia e Matemática para o ensino médio. A justificativa desse empreendimento baseava-se na idéia de que a formação de uma elite que garantisse a hegemonia norte-americana na conquista do espaço dependia, em boa parte, de uma escola secundária em que os cursos das Ciências identificassem e incentivassem jovens talentos a seguir carreiras científicas. A reforma curricular neste caso passou pela adoção de uma série de medidas públicas, dentre elas a criação de centro de pesquisa em ensino de ciências, reforma de escolas, criação de materiais didáticos e o incentivo de espaços não formais de ensino. 1 Definição de Aplle (1982): “conjunto de normas e valores que são implícita, mas eficazmente, ensinados nas instituições escolares, dos quais em geral não se costuma falar quando da enunciação das finalidades e dos objetivos dos professores”. 44 A reforma curricular brasileira tem orientações para que o ensino de Ciências seja mais abrangente na formação do indivíduo na sociedade e para a sua utilização dos conhecimentos científicos durante a sua vida. Segundo Abreu (2001), sobre o PCNEM (os Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio), na área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Biologia, Física, Química e Matemática) apesar da importância da abordagem desses conhecimentos voltados para o mundo do trabalho, o ensino de Ciência não pode ter apenas esse enfoque. Dependendo da profundidade do aprendizado concebida pelos alunos e de como a prática pedagógica foi orientada, os alunos poderão estabelecer uma relação de significado do conhecimento escolar para o seu cotidiano. Preceito esse fundamental para a apropriação do conhecimento expresso por Moreira (1982): O aprendizado se torna real quando o que foi aprendido traz algum significado para o aluno, e este foi capaz de realizar alguma transformação interna deste conhecimento. Outro fator importante dos espaços não formais no currículo de Ciências é a oportunidade de observar os conteúdos de forma mais desfragmentada, invés de um currículo baseado exclusivamente em diferentes áreas como Física, Química, Biologia e Matemática, dando um caráter mais multidisciplinar ao ensino. O trabalho exposto por Pivelli (2006), em locais como jardins botânicos, museus, aquários dentre outros locais, mostrou-se possível o aprendizado em um contexto singular, devido à troca de conhecimento sócio-cultural entre as pessoas e o meio, servindo de motivação para o aprendizado. Cabe salientar que o planejamento prévio é tão importante numa atividade num espaço não formal como num espaço formal. Quando a ida a um espaço formal é encarada apenas como “visita”, no sentido mais vulgar do termo, o aprendizado além de não ser significativo, pode ao contrário, aumentar concepções equivocadas sobre “o que 45 se espera ensinar”. Neste caso aprendizagem significativa será muito mais por causa da percepção cognitiva de cada aluno, do que o mérito de uma atividade pedagógica. 3.7 Analisando o uso de espaços não formais numa rede pública de ensino Ao analisar a qualidade do ensino de Ciências de uma rede pública, é necessário também conhecer além da infra-estrutura das escolas, as relações das escolas públicas com os espaços não formais e os centros de pesquisa. Como já exposto por Vieira e colaboradores (2005), o ensino vai além do muro da escola. Um planejamento público de “ensino”, também depende de um planejamento público “cultural”. A oferta de espaços “culturais”, desde teatros a centros culturais não podem ser privilégio de um determinado grupo social apenas, por se tratar de uma forma acentuada de exclusão social. Sobre o uso dos espaços não formais usados pelas escolas, houve uma pesquisa realizada com cinqüenta professores da rede pública de Duque de Caxias mostrou o uso deste recurso pelos professores. Segundo Pinto (2008, p.23), mas de oitenta por cento dos professores, realizam atividades extra-classe. E analisando aqueles que realizaram a atividade extra-classe, observou uma pequena variedade de locais onde os alunos foram (apenas 4 espaços distintos): Tabela 3: Você já visitou, com sua turma, locais que pudessem contribuir para suas aulas de Ciências? Realizou visitas extra classes Não N (50) Percentual (%) 40 80 46 Sim 10 20 Em caso positivo, qual foi o local? Planetário 2 20 Feira de Ciências 2 20 Área de preservação ecológica da Taquara 4 40 2 20 (Duque de Caxias) Zoológico O uso dos espaços não formais de ensino não são amplamente explorados como mostra a Tabela acima. Segundo Lopes (2004, p.111): As políticas curriculares não se resumem apenas aos documentos escritos, mas incluem os processos de planejamento, vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplos sujeitos no corpo social da educação. Sendo assim para tornar o currículo teórico em um currículo real, é fundamental a multiplicidade de espaços para auxiliar na geração do conhecimento. A escola não poderá sozinha alcançar os objetivos propostos no PCNs. Sendo estes calcados em parâmetros dos conhecimentos interdisciplinares. Como o currículo escolar, orientado pelo PCNs, propõe preparar para o “mundo” do trabalho da cidadania, como é possível preparar os alunos, sem sair do “mundo” da escola cercado por muros? Os espaços não formais de ensino ainda são pouco utilizados. Em comparação as políticas públicas de ensino na década de sessenta nos Estados Unidos e na Inglaterra, em relação aos espaços não formais de ensino, com as redes públicas de ensino no 47 século 21 no Brasil, como a de Duque de Caxias vemos como ainda são distantes as propostas político/pedagógicas. Na rede pública brasileira, além da falta de criação de espaços não formais de ensino, exista a falta de incentivo e estrutura para o aproveitamento destes espaços. Um exemplo deste problema é observado no município de Duque de Caxias, onde algo tão simples como transporte escolar, impede a saída das crianças da escola. Como mostra Pinto (2008, p.25): Tabela 4: Quais são os dois motivos principais que mais dificultam os passeios escolares como apoio as aulas de Ciências: Problemas para saída escolar n (50) Percentual (%) Falta de transporte escolar 26 52 A não necessidade ou valorização de passeios escolares. 9 18 7 14 Falta de tempo no planejamento prévio 4 8 A questão disciplinar (comportamental) dos alunos de 1ª a 4ª 3 6 1 2 Problemas nas escolas que impedem a saída dos alunos de 1ª a 4ª séries (como falta de tempo, autorização da direção escolar, impedimento dos pais, dentre outros). séries. Falta de lugares que aceitem as visitas dos alunos de 1ª a 4ª séries A falta de apoio e respaldo da prefeitura (66%) é muito maior que a escolha do professor de não reconhecer a importância dos espaços não formais (18%). O que indica 48 que o currículo de Ciências é prejudicado em sua prática neste aspecto mais pelos órgãos governamentais, do que uma questão apenas pedagógica. Ao se analisar o currículo e suas implicações sócio-políticas e educacionais é importante não só analisar os aspectos de fundamentação teórica ou conteudísta mas, sobretudo como ele realmente norteará a formação desejada no processo educacional. Contudo, ao se discutir o currículo, eventualmente, é omitido as oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar. Não sendo a escola detentora do poder absoluto do saber, mas um questionador e gerador deste. Esta deveria ainda, exercer o papel de estimular a busca de conhecimento fora de seu contexto. 3.8 A importância de novas práticas do ensino de ciências nas aulas O projeto do jogo “Água é vida” procura associar a questão do entretenimento dos jogos à demanda de novas formas de ensino. Não se trata, pois, de um modismo pedagógico, mas sim, de uma questão baseada na busca de respostas para diminuir as deficiências comuns encontradas nas aulas de Ciências em geral. Falar sobre a importância do ensino do meio ambiente e da preservação dos recursos hídricos é certamente um tema já bastante discutido no meio acadêmico e nas escolas. A problemática ambiental em relação à crise mundial é sem dúvida um assunto de grande repercussão na mídia, como um todo. Entretanto, conhecer um problema é bem diferente de entendê-lo. Quando é abordada, na escola, a questão do uso da água, em relação à forma em que é aplicada, parece apenas mais um tópico escolar dentre os outros. Se o aluno tem a percepção que a escola é o local em que se ensinam coisas 49 dissociadas de suas preocupações e seus problemas, por que as matérias relacionadas à questão ambiental da água seriam diferentes? Principalmente para um aluno de classe média, onde normalmente não ocorre falta de água ou escassez de saneamento básico, “a falta de água”, poderá ser para ele, um problema sem importância em seu cotidiano. Assim, se o aluno conhece efetivamente todo o “trajeto” da água até a sua casa, percebendo o quanto é complexo seu tratamento, a possibilidade de reflexão sobre o tema será maior. Porém, aplicar novas pedagogias ao ensino de Ciências, conhecendo os inúmeros problemas na educação brasileira, particularmente na parte que atinge às disciplinas da área do ensino de Ciências, é sem dúvida um grande desafio. Segundo Azevedo (1999, p. 56), a poluição é algo amplamente debatido, porém pouco compreendido. É importante na conscientização ambiental que a diminuição da poluição dos recursos naturais não se dá somente em despoluir, mas também em conscientizar sobre o problema. O autor comenta: O controle da poluição tem seguido atualmente duas abordagens. A abordagem tradicional (a única a existir até alguns anos atrás) tente “concertar o mal feito”, ou seja, trata os efluentes gerados pelos esgotos domésticos, pela agricultura e pelas indústrias, de modo a reduzir a níveis apropriados a concentração dos poluentes. “A segunda abordagem visa a „evitar o mal”, atacando o problema em dois flancos: a educação e a sociedade, buscando a conscientização das pessoas para a necessidade da diminuição do volume de lixo gerado, e a alteração de projetos e processos industriais com vistas à minimização dos rejeitos. Muito além de uma questão ambiental, a conscientização sobre o meio ambiente é uma demanda de saúde pública. Algumas doenças que assolam principalmente as classes populares são devidas a problemas com a água utilizada por essas populações. O tratamento de água abordado neste jogo didático é acima de tudo uma necessidade 50 fundamental para uma qualidade de vida. Nour e Guimarães (2001, p.74) comentam sobre o problema dos recursos hídricos: Segundo dados do BNDS (1998), 65 % das internações hospitalares de crianças menores de 10anos estão associadas à falta de saneamento básico. Nos países em desenvolvimento, onde se enquadra o Brasil, estima-se que 80% das doenças e mais um terço das mortes estão associadas à utilização e consumo de águas contaminadas (Galal- Gorchev, 1996). A hepatite infecciosa, o cólera, a disenteria, e a febre tifóide são exemplos de doenças de veiculação hídrica, ou seja, um problema de saúde pública. Este trabalho visa também servir de suporte em projetos relacionados à saúde pública, tendo a abordagem educacional baseada na estratégia de jogos didáticos. Vale mais uma vez ressaltar que a importância do jogo didático vai além de uma mera proposta “de diversão” para os alunos. O jogar é uma atividade encontrada em todas as culturas, através dos tempos, sendo praticada por crianças e adultos nas mais variadas forma de complexidade. Pelo fato do jogo ser associado apenas como forma de entretenimento, ele ainda se encontra pouco presente no ensino formal. Afinal o senso comum diz que escola é apenas o local para estudar e não, para brincar. Todavia a história mostra que através dos jogos as sociedades têm transmitido não só conhecimentos, mas, acima de tudo, valores. 3.9 A incorporação do computador na realidade escolar Num mundo em constantes mudanças como o que vivemos atualmente, onde novas tecnologias surgem a cada instante, influenciando diretamente no comportamento de nossas sociedades. O computador e a internet, talvez no aspecto de relações sociais, 51 são tecnologias emergentes que mais influenciaram o comportamento humano nas últimas décadas. A capacidade de troca de informações e comunicações criou uma revolução na forma de relacionamento entre as pessoas, mesmo com todos os entraves que seu uso pode vir a ocasionar. Assim, como aconteceu com outras tecnologias, como o rádio, telefone, televisão, etc., a internet não resolverá o problema de comunicação e informação entre as pessoas. Da mesma maneira que em outros campos de atuação humana, a educação busca novas formas de resolver seus antigos problemas. Quando uma nova metodologia, teoria, ou tecnologia aparece dentro do campo da educação, quase sempre ela é vista como solução para todos os problemas. Isso demonstra que para analisar o problema da educação, sobretudo a brasileira, é necessário olhar os diferentes motivos dos seus problemas, visto a complexidade da nossa realidade educacional. Sendo assim, é impossível achar que uma nova metodologia sozinha resolverá problemas tão complexos. Segundo Eichler e Pino (2000), logo no início da década de oitenta, ocorreu o primeiro ciclo de informatização das escolas brasileiras, onde o uso do computador começou a ser incentivado pelo governo. Segundo ainda os autores, a grande problemática na época, que persiste até hoje, é o uso do computador dentro do espaço escolar. Se a formação do professor não contemplou o uso dessa tecnologia, se a formação continua a não auxiliar o professor nessa “nova” ferramenta, a sua prática pedagógica ficará prejudicada. Quando existe a disponibilidade da tecnologia do computador e da internet, no espaço escolar, ela enfrenta outro problema: como usar essa tecnologia dentro do planejamento pedagógico? Quando por questões políticas o uso do computador é imposto à escola, sem que um planejamento pedagógico para utilizá-lo no seu contexto 52 escolar, o seu uso passa a ser mais prejudicial que benéfico, para o aprendizado dos alunos. Segundo Moran (1997, p.7), comenta a cerca do uso da internet na escola: Ensinar na e com a Internet atinge resultados significativos quando se está integrado em um contexto estrutural de mudança do processo de ensino-aprendizagem, no qual professores e alunos vivenciam formas de comunicação abertas, de participação interpessoal e grupal efetivas. Caso contrário, a Internet será uma tecnologia a mais, que reforçará as formas tradicionais de ensino. A Internet não modifica, sozinha, o processo de ensinar e aprender, mas a atitude básica pessoal e institucional diante da vida, do mundo, de si mesmo e do outro. O autor coloca claramente que o uso da internet deve estar subordinado ao aspecto pedagógico e não este subordinado ao instrumento de ensino como no caso a internet. O uso deste instrumento pedagógico precisa de um critério minucioso, como qualquer outro instrumento de ensino, mesmo diante de suas enormes potencialidades. Um exemplo desta problemática é quando um governo resolve de forma popular anunciar que vai implantar computadores na escola. Sem conhecimento da realidade escolar, sem formação continuada do professor e, sobretudo discussão por parte dos professores em seu contexto pedagógico, essa “implementação” acaba perdendo boa parte da sua potencialidade. A formação de professores entra como papel fundamental na implementação de novas tecnologias de informação. Esse é um componente a mais a ser discutido na já problemática formação dos professores. Ou seja, implementar o uso do computador da escola não começa na informatização da escola, mas na presença da “informatização” na formação dos professores. Outro aspecto importante é a elaboração de material didático voltado para a informática. Segundo Eichler e Pino (2000), além do debate do uso da informática 53 existe a necessidade da análise criteriosa dos softwares com fins didáticos. Sobre este ponto o autor comenta (op. cit., p. 835): Se, por um lado, as avaliações de softwares educacionais para o ensino de ciências em nível básico têm revelado a baixa qualidade desses, já que produzir softwares de qualidade é um desafio, por outro lado, a maioria das avaliações não tem levado em conta a integração dos softwares educacionais nem com outras atividades escolares, nem com as práticas docentes. Alguns trabalhos têm proposto que a avaliação do software educacional seja feita em contextos definidos, em que se considere, além de aspectos puramente técnicos, se eles são pertinentes ao currículo, se são acessíveis a professores e alunos e, finalmente, se contemplam as questões de aprendizagem. Dessa forma, diante da questão das novas tecnologias de informação dentro do contexto escolar, existe a necessidade crescente da valorização do tempo de planejamento das aulas. A assimilação de novas tecnologias aumenta a necessidade do professor em dedicar-se na produção de diferentes elementos para as suas aulas. Assim como os outros métodos tradicionais de ensino, a informática exige conhecimentos específicos que demandam tempo e preparação. Com a necessidade do professor de estar mais tempo fora de aula, preparando o seu material pedagógico, é necessário que o governo invista num maior número de professores para suprir esta lacuna gerada no horário. Se o professor já possui um tempo curto para preparação de aulas, para aperfeiçoamento, correção de provas, etc., será que ele se sentirá motivado a implementar o componente da informática na sua realidade escolar? Sem resolução de “velhos” problemas estruturais na escola, o “acréscimo” do computador na escola será um “novo” projeto educacional a dar errado. 3.10 O uso da internet como estratégia de ensino 54 A realidade educacional brasileira tem como um dos seus principais problemas a questão da alfabetização lingüística. Com os elevado índices de analfabetismo e principalmente de analfabetos funcionais, Zagury (2006), demonstra que a capacidade dos alunos na leitura e interpretação é deficiente. Nesse aspecto, basicamente relacionado principalmente com a leitura de livros, pequenos textos, ou seja, a escrita impressa. Mas quando é analisado o uso da internet dentro e fora da escola, à problemática da leitura ganha novos componentes: Como melhorar, incentivar a leitura por partes dos alunos, dentro da realidade da internet? Como usar a internet para o incentivo da leitura? Enquanto a realidade brasileira ainda se encontra no embate do desafio de incentivar o uso dos livros, aparece a questão da internet. Gabini (2005, p.37), aponta questões importantes em relação à leitura na internet: Navegar na internet exige um comportamento do leitor bastante diferente do comportamento que ele tem diante de um livro. Para começar o texto na tela circula no sentido vertical... A organização que temos na página de um livro é muito diferente da que temos na tela de um computador, que está cheia de distrações – é quase como entrar em um shopping ou supermercado. Há luzes, bonequinhos que brincam, e quem não sabe exatamente o que está procurando fica perdido nesse mundo. A escola pode incentivar a valorização da leitura com o uso da internet. A internet, positivamente, mostra uma nova possibilidade de leitura, diferente da tradicional mostrada pelos livros e revistas. O aluno passa a ter disponibilidade de obter informações do seu interesse, que antes ficavam encerradas dentro de livros. Com os elevados custos dos livros no Brasil, frente à realidade econômica da maioria da população brasileira, a internet abre um novo campo de acesso ao conhecimento. Entretanto, a internet, sob o aspecto do binômio leitura e educação, possui vários problemas peculiares. Dentre eles, a questão da fidelidade da informação, que exige do leitor um bom conhecimento escolar, para ajudar no critério de julgamento da fidelidade da informação acessada. Outro ponto, que a internet, pode prejudicar os alunos, quanto 55 ao desenvolvimento do aprendizado de regras básicas da língua portuguesa, como por exemplo, ortografia e sintaxe. Também o acesso indiscriminado de informações não adequadas à faixa etária de certos alunos, assim como no caso da televisão, pode prejudicar a formação da personalidade dos mesmos. A internet, como está sendo cada vez mais presente na realidade dos alunos, e como conhecer a realidade dos deles é ponto fundamental no planejamento escolar Freire (1975), o seu uso não pode ser ignorado na escola. A orientação do uso da internet se mostra cada vez mais importante como componente do currículo escolar. O uso da internet, quando bem orientado, pode transcender em termos do conhecimento, em relação ao que é proposto no componente escolar. Ao aluno possibilita novos parâmetros para a sua formação. Quando um currículo escolar se volta quase que exclusivamente para a formação de mão de obra qualificada, restringindo o papel da educação para a prática da liberdade de pensar Freire (1974), o uso da internet pode dar novas perspectivas na formação do aluno. Segundo Santos (2004), a internet pode ajudar a diminuir esse modelo de ensino: Primeiramente, há a necessidade de rompimento com a dinâmica da escola da sociedade industrial, na qual os alunos têm de abordar os mesmos conteúdos, ao mesmo tempo, da mesma forma e em busca dos mesmos resultados, a fim de serem submetidos à mesma avaliação. Em seguida, há a necessidade de rompimento com materiais didáticos fechados, estáticos, que permitem o controle da cognição e da construção de conhecimentos, como se isso fosse possível. Segundo Moran (1997, p.9), são inúmeras as possibilidades do uso da internet. Ela amplia o espaço escolar, mostrando um horizonte de conhecimentos que vão mais além. Dentre as sugestões ele explicita: 56 Na Internet, encontramos vários tipos de aplicações educacionais: de divulgação, de pesquisa, de apoio ao ensino e de comunicação. A divulgação pode ser institucional – a escola mostra o que faz – ou particular – grupos, professores ou alunos criam suas home pages pessoais, com o que produzem de mais significativo. A pesquisa pode ser feita individualmente ou em grupo, ao vivo – durante a aula – ou fora da aula, pode ser uma atividade obrigatória ou livre. Nas atividades de apoio ao ensino, podemos conseguir textos, imagens, sons do tema específico do programa, utilizando-os como um elemento a mais, junto com livros, revistas e vídeos. Essa forma abrangente que possibilita a internet frente ao currículo foi o fator mais importante para a sua utilização dentro do jogo Água é Vida. A internet nesse caso pode ampliar a discussão não só sobre o processo de tratamento de água, mas sobre temas relacionados a este. A internet, dentro de um planejamento pedagógico adequado, amplia o potencial dos materiais didáticos produzidos, pois aumenta o potencial de conhecimento deste. O papel do professor neste caso evidencia cada vez mais a importância de não ser centralizador do conhecimento. Motivar o aluno, incentivar o seu senso crítico diante dessa nova realidade se faz cada vez mais necessário. 3.11 O uso da internet no jogo Água é Vida A internet tem a possibilidade de ampliar os conhecimentos da escola. E a escola tem a possibilidade de orientar o melhor uso da internet. Essa relação pode ser favorável ao conhecimento do aluno dentro e fora do espaço escolar. Entretanto, essa relação deve estar dentro do planejamento escolar, respeitando critérios didáticos estabelecidos pelos professores. Resumidamente, a internet deve servir ao planejamento do professor, e não esse se adaptar a internet. No caso do jogo Água é Vida, o uso da internet não é obrigatório. Ele deverá ser utilizado, caso sirva para o planejamento do professor. Basicamente a internet é usada no ambiente escolar para trabalhos de pesquisa. Onde o aluno fora do ambiente escolar 57 realiza buscas a partir de temas propostos pelo professor. Advém daí um problema importante: a qualidade das fontes dos trabalhos de pesquisa. Mesmo que eventualmente, o aluno tenha acesso a um bom acervo de livros, dificilmente a internet deixará de ser uma fonte significativa, devido a sua facilidade e atrativos característicos a ela. Então o jogo traz uma proposta simples de orientação do uso da internet: Site do professor Leandro, http://br.geocities.com/leandrotrindadep/classic_tan.html, com link no jogo Água é vida. Figura 1: Imagem do site. Este é um site simples, feito gratuitamente na internet. Qualquer pessoa pode criar um site na internet, existindo algumas empresas que não cobram por manter o site na internet. Essa facilidade permite que os sites sejam feitos e desfeitos pelos seus criadores, não só pelo professor, mas também pelos alunos, quando estes criarem o site. A grande diferença da internet usada livremente pelos alunos e a orientada pelo professor, é a análise prévia deste, do conteúdo a ser utilizado na internet. Neste caso, o site foi criado com temas relacionados a temas envolvendo o meio ambiente. Como o 58 tema gerador do jogo é tratamento de água, ele pode ser usado como ponto de partida para o estudo de outras áreas de conhecimento. Nesta situação, o uso do site pode ser feito independente do jogo. Este material didático possui partes de perguntas e repostas entre os alunos, quantos mais eles tiverem informações sobre o meio ambiente, mais facilidade os alunos terão em ganhar o jogo. O site possui links para outros sites previamente analisados, onde possuem informações coerentes e significativas sobre: Química, Biologia e Ecologia. Temas extremamente relevantes ao se tratar do tema deste jogo. Além disso o site possui links para imagens de Biologia e Química que podem ser usadas como exemplos nessas disciplinas. Existem também links, para um grupo e um blogspot, relacionados ao jogo, que possuem outras características complementares ao uso de sites na internet. O blogspot funciona como um “diário eletrônico”, onde é possível todos os dias acessar e adicionar novas informações. Como mostra na imagem acima retirada do blogspot do jogo, ele é usado neste caso para dar informações adicionais sobre temas relacionados ao meio ambiente como o site. O blogspot pode ser usado para publicar a matéria dada na semana na escola, o planejamento do curso, mostrar temas para pesquisas, etc. É recomendado seu uso também para alunos, onde é possível debater questionamentos sobre a matéria, discutir sobre criação de feiras de Ciências, etc. Ou seja, cria um canal rápido de comunicação entre os alunos e professores, onde os temas transcendem o ambiente escolar. Assim como o site, possui links para sites com temas de meio ambiente, possui um carregador de arquivos, onde podem ser adicionados provas, trabalhos, ou sugestões de arquivos sugeridos pelos alunos. O blogspot abaixo pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://leandrotrindadepinto.blogspot.com/ Figura 2: Imagem do blospot. 59 3.12 Grupos na internet: Possibilidades dentro do contexto do jogo O recurso do grupo na internet possui a vantagem em relação ao blogspot e ao site, devido à possibilidade de ter um acesso restrito a um determinado grupo de pessoas. Ele possui maior facilidade de carregamento de dados e possui a ferramenta de enquetes, onde facilmente se pode criar uma pesquisa entre os membros do grupo sobre determinado tema. Esse grupo pode ser gerenciado pelo professor, ou por um aluno, onde ele poderá convidar os outros alunos para participarem. Dentro do jogo Água é Vida, ele tem a função principal de arquivar novos dados para o jogo. Na parte do jogo de perguntas e respostas, onde os alunos perguntam através de cartas, uns para os outros, a necessidade de novas cartas se faz presente. Isso porque em jogos de tabuleiro onde existem cartas de perguntas e respostas, chega uma hora que as perguntas “se esgotam” e isso faz com que o jogo perca parte do interesse. Para resolver esse problema, no grupo da internet, são adicionadas frequentemente novas cartas com perguntas diferentes. O que impede o esgotamento do jogo. As cartas novas são fáceis de serem feitas, usando programas como o Photoshop, (possui versões gratuitas na internet), mudando apenas a parte do texto, que pode ser feita por qualquer pessoa que tenha acesso ao grupo. 60 Este grupo tem o endereço eletrônico: http://br.groups.yahoo.com/group/cienciascomoprofessorleandro/ Figura 3: Imagem do grupo. Um exemplo de cartas que foram adicionadas ao grupo: Figura 4: Cartas perguntas retiradas do grupo. 61 Desta forma existirá a motivação de não só criar novas cartas, mais também à pesquisa e o estudo de temas relacionados ao jogo. Como tanto o site, o blospost e o grupo possuem informações interessantes aos alunos, um dos objetivos é justamente orientar o uso da internet como instrumento de ensino. Mostrar também para alunos e professores, que a internet para os jovens vai além de sites de relacionamentos e como instrumento cômodo para a realização de trabalhos escolares. CAPÍTULO 3: 62 JOGO ÁGUA É VIDA: UMA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO. 4.1 A Estrutura do jogo Água é Vida O jogo tem como objetivo possibilitar reflexões sobre o problema dos recursos hídricos, bem como assimilar informações sobre o processo de tratamento da água dentro de uma estação de tratamento. O jogo possui os seguintes itens principais: um tabuleiro, cartas, CD_ROM, poliedros, e figuras dos personagens. O tabuleiro é a parte principal do jogo, e através do qual o aluno interage com o jogo. E traz vários conceitos que abordam, hábitos que no dia a dia vão contribuir para a preservação do meio ambiente. Por exemplo em uma das casas do tabuleiro, aborda o desperdício de água feito pelas pessoas em sua comunidade. Figura 5: Tabuleiro O tabuleiro mostra perguntas para serem feitas entre os jogadores (alunos). Assim, caso o aluno passe por uma dessas casas ele perguntará entre seus colegas perguntas relacionadas ao meio ambiente, e para isso utiliza os cartões que receberam no início do jogo. Essa parte do jogo, (figura 7), tem como principais objetivos gerar o 63 questionamento entre os alunos sobre o tema do jogo e aumentar o interesse sobre a jogabilidade do material didático. Figura 6: Casas do tabuleiro Figura 6:“ Você gasta muita água lavando a calçada. Volte 2 casas e perca a vez!”.Esta é uma forma lúdica de abordar um comportamento comum onde ocorre o desperdício de água. A diagramação do jogo foi voltada para os alunos do ensino fundamental, com o objetivo de ser atrativa. Como desenho de fundo tabuleiro foi usado o esquema de uma estação de tratamento de água. O conteúdo das casas expostas no tabuleiro, está expressa no anexo IV. Figura 7: Casas do Tabuleiro Figura 7: Exemplo na parte do jogo onde é feito às perguntas: Chamada de “desafio”. Um conjunto de cartas com perguntas e respostas sobre o tema do jogo: Figura 8: Um conjunto de cartas: 64 Figura 9: Acessórios do jogo como: fichas dos personagens: Os personagens podem também ser criados pelos próprios alunos, criando uma valorização da própria identidade. O CD-ROM possui uma apresentação para professores e alunos sobre o problema da água no Brasil e no mundo. Ele também apresenta links para sites de biologia e sugestões de vídeos didáticos. Também apresenta um link para o site de um dos autores deste trabalho, que além de novos suplementos para serem usados, traz dicas para o ensino de Biologia e Química. 65 O CD-ROM do jogo também procura ter um visual que desperte a atenção de alunos e professores: Figura 10: CD-ROM. O jogo possui um conjunto de regras com os principais objetivos: a) Organizar o jogo; b) Promover maior interação entre os alunos; c) Criar momentos de reflexão e troca de conhecimento; d) Possibilitar maior jogabilidade e entretenimento. Regras do jogo: Para vencer este desafio é importante terminar todo o circuito o mais rápido possível, ganhando o máximo de cartas bônus possíveis e é claro mostrando todo o seu conhecimento sobre a fonte indispensável para a vida que é a água e seu tratamento. Quem terminar com o maior valor de bônus das cartas, Vence! 1. Preparação do jogo: 66 Participantes: de dois a seis jogadores (o valor máximo é apenas o recomendado). Cada participante começa com: a) Um personagem a sua escolha. b) Duas cartas de pergunta (não revele sua carta a ninguém!). 2. Início do jogo: a) Escolha o dado de 6 lados ( para velocidade do jogo normal) ou de 12 lados ( se quiser que o jogo vá mais rápido). b) Escolhido que dado será usado no jogo, cada jogador lançará o dado, quem tiver o maior resultado jogará primeiro. O segundo a jogar será aquele que tirar o segundo maior número e assim por diante. Em caso de empate jogue novamente até desempatar. c) Todos deverão posicionar-se na gota onde está escrito “início” e lançar os dados cada um na sua vez. 3. Durante o jogo: O trajeto do tabuleiro é repleto de gotas “casas”, aonde os jogadores vão passando. Existem três tipos de casas. Gotas vazias: nada acontece ao cair nestas casas. Caindo nela você jogará normalmente. Gotas preenchidas: você deve obedecer ao que está escrito na gota. Exemplo: voltar duas casas, ganhar uma carta bônus, avançar duas casas, etc. 67 Gotas desafio: Ao cair nas gotas desafio você sorteará um dos jogadores que estão nesta aventura com você (caso tenha mais de 2 jogadores).É feito da seguinte maneira: Colocará o rosto de um dos personagens em cima de um dos números da ficha do sorteio (ficha com 6 números para o dado de 6 lados ou ficha de 12 números para o dado de 12 lados. Depois você joga o dado até cair no número de um companheiro de jogo. Esse jogador sorteado deverá responder uma de suas perguntas das “cartas perguntas”. Você fará a pergunta na frente de todos, após resposta certa ou errada do jogador você falará a resposta a todos e colocará a carta pergunta no final da pilha das cartas perguntas. Caso o outro jogador acerte você perde uma rodada e o adversário ganha uma carta bônus. Caso o outro jogador erre, você ganha 1 carta bônus e avança três casas. Se as suas cartas perguntas acabarem pegue outra carta pergunta em cima da pilha. Final do jogo O primeiro que alcançar a chegada ganha duas cartas bônus. O vencedor será aquele que tiver maior quantidade de bônus nas cartas. Em casos de empate, vence aquele que chegou ao final do jogo primeiro. Parte na internet: 68 Para pegar mais cartas bônus visite o site de um do autor do jogo no endereço eletrônico2; http://br.geocities.com/leandrotrindadep/classic_tan.html ,no site professor Leandro, em meus links favoritos, yahoo fotos em cartas do tabuleiro. Lá estará sempre cartas atualizadas para o jogo. Neste endereço eletrônico terá informações sobre meio ambiente e ecologia, que estão diretamente relacionadas ao problema da água no mundo. É importante notar que o jogo não busca criar uma competitividade nociva entre os participantes. Ganhar não é a prioridade do jogo. O jogo é ganho principalmente através dos conhecimentos sobre os recursos hídricos. Esses fatores combinados podem fazer com que qualquer participante ganhe o jogo. Como o jogo se constitui da ação dos jogadores atravessarem o tabuleiro respondendo perguntas sobre a preservação da água e interagindo com questões de meio ambiente, todos, ao final do jogo, ganham, pois o mais importante é o conhecimento construído sobre o tema. 2 O site ficou ativo até vinte de outubro de 2009, devido à reformulação da empresa Yahoo. Outro site está em construção, com previsão de início de operação em 2010. 69 CAPÍTULO 4: REFLEXÕES A PARTIR DA APLICAÇÃO DO JOGO 5.1 Aplicação do jogo durante o evento Fúria da Leitura Aplicação do jogo no evento Fúria da Leitura, com a abordagem através do jogo didático, teve o tema “água potável” trabalhado com turmas do primeiro segmento do ensino fundamental.Uma análise da aplicabilidade do jogo foi feita num evento organizado pela prefeitura de Duque de Caxias. Esse evento é conhecido como “Fúria da Leitura”, inspirado no evento francês “La fureur de Lire” e tem como objetivo principal, tornar a leitura algo mais agradável para os alunos. Esse evento foi realizado nas escolas da rede municipal de Duque de Caxias. O jogo foi aplicado na edição de 2008 da Fúria da leitura. Paralelos a isso, são realizadas mostras de música, teatro, 70 danças, palestras interdisciplinares, dentre outras atividades. Aproveitando a proximidade da semana de Ciência e Tecnologia foi organizada pelo autor deste trabalho a “sala de experimentos”, onde eram abordados o uso da Ciência e a tecnologia na sociedade. O tema principal desses experimentos foram relacionados a propriedades físico-químicas da água. O tema central escolhido para o jogo foi o tratamento de água, porque a comunidade onde a escola foi inserida sofre com problemas sérios de abastecimento de água e saneamento básico e, conseqüentemente, de doenças relacionadas a fontes de água. Foi analisado, então, como o jogo foi recebido pelos alunos e qual conhecimento foi gerado pela atividade. O público alvo foram alunos de uma escola do segundo distrito do município de Duque de Caxias, do primeiro segmento do ensino fundamental. A atividade teve a participação de alunos de cinco turmas, do segundo ao quinto ano de escolaridade. A atividade teve a participação de aproximadamente trinta alunos. A atividade começou com os alunos dispostos na sala de aula em grupos de seis alunos. Como mostram as fotos a seguir, durante a atividade às crianças puderam interagir com o jogo: Figura 11: Alunos durante o jogo. Figura 12: Alunos durante o jogo. 71 Metodologia Após a formatação dos grupos foi distribuído um questionário aos alunos, para analisar o que os alunos conhecem sobre tratamento de água. Na elaboração do questionário foi levada em consideração a formulação de perguntas que contemplassem os objetivos da pesquisa, e possuísse uma linguagem mais próxima do cotidiano dos alunos. A aplicação do questionário seguiu o seguinte roteiro: 1º) Responder o questionário antes da atividade envolvendo o jogo; 2º) Aplicação da atividade com o jogo; 3º) Responder o mesmo questionário após o jogo. Depois do primeiro questionário da atividade, ao participarem do jogo e analisar o seu conteúdo, os alunos responderam novamente o mesmo questionário que antes. O objetivo foi analisar o conteúdo assimilado com o jogo. Durante a distribuição e resposta dos questionários por parte dos alunos, houve a participação de um professor convidado da escola, sendo este o professor o responsável pela aplicação do questionário. Segundo Lakatos (1991), o questionário deve ser um instrumento de coleta dados e deve estar organizado por uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Com o objetivo de analisar a contribuição do jogo didático para o aprendizado dos alunos, foram feitas as seguintes perguntas no começo da atividade, na sala de aula intitulada: “sala de experimentos”: 1) Você sabe de onde vem a água que você bebe? 72 2) Por onde a água passou antes de cair da bica? 3) É importante economizar água? Por quê? 4) Você sabe como é uma estação de tratamento de água? 5) O que você pode fazer para economizar água? Teve-se o cuidado de fazer essas perguntas logo no início da atividade, com objetivo de não influenciar nas respostas. As perguntas foram colocas para os alunos como uma “pesquisa” e não como uma atividade formal de ensino do cotidiano da sala de aula. Vários alunos ao receberem o papel com o questionário, perguntaram se era um “dever” ou se estava “valendo ponto”. Foi prontamente esclarecido que se tratava apenas de uma pesquisa, parecida com as pesquisas de opinião respondidas pelos pais na rua, tendo os mais variados temas questionados. O fato de começar a atividade com perguntas, teve como um dos objetivos, mostrar que a opinião e o conhecimento deles sobre determinado assunto era importante. Alguns alunos chegaram a comentar que era a primeira vez que participaram de “uma pesquisa de opinião, como seus pais”. A atividade também tem como objetivo estabelecer o aprendizado através da interação social dos participantes. Segundo Oliveira (1995), abordando os conceitos de Vygotsky, o aprendizado é muito mais efetivo quando ocorre a relação social em torno do conhecimento. A troca de conceitos entre os indivíduos, que podem trocar pontos de vista e experiências sobre um determinado assunto, aumenta a produtividade do conhecimento. Foi observada durante a atividade a troca de informação entre os alunos sobre o tema “água”. Os alunos comentaram entre si como era o sistema de abastecimento em casa, se era encanamento, poço, ou caminhão pipa. Acabaram discutindo entre si se economizaram água, se ferviam a água do poço, dentre outros comentários. 73 O tema abordado se tornou significativo entre os alunos. Segundo Moeira e Mansini (1982), o conhecimento só é efetivo quando tem um significado para os alunos, ainda mais quando percebem que é um assunto de interesse comum. Segundo Moratori (2003), o conhecimento é muito mais receptivo quando é transmitido de forma lúdica, sem a formalidade comum da escola. Esse é um dos principais objetivos do ensino através dos jogos didáticos. Além do jogo do tabuleiro, foi exibido parte do conteúdo do CD-ROM do jogo. Dentre esses conteúdos, foram exibidos pequenos vídeos sugeridos sobre tratamento de água, e imagens sobre o processo de tratamento. Quando se procura estabelecer diferentes materiais lúdicos de ensino para os alunos, seguem-se as recomendações de Clebsch (2004) da necessidade de divulgar os diferentes instrumentos pedagógicos para os alunos. A grande variedade de material pedagógico, dentre eles os jogos didáticos, jogos de computador, vídeos didáticos dentre outros, não são divulgados na rede pública de ensino como deveria. A proposta do jogo procura divulgar o uso desses recursos, não só para os alunos assim como para os professores. A seguir são apresentados os resultados dos questionários antes e depois da atividade feita na “fúria da leitura”. No questionário antes da atividade, como mostra na tabela a seguir, apenas trinta por cento dos alunos sabiam que a água vem das estações de tratamento de água e outra parcela de trinta por cento sequer respondeu. Tabela 5: Você sabe de onde vem a água que você bebe? (antes do jogo). Respostas Estação de tratamento n (30) 9 Percentual (%) 30 74 Não responderam 9 30 Rua 6 20 Fonte mineral 3 10 Outros 3 10 Ocorreu uma diversidade de respostas, mostrando diferentes conhecimentos a respeito do tema. A pergunta foi aberta para simplificar a linguagem para as crianças. No questionário após o jogo, onde os alunos tiveram contato com o jogo, eles se mostraram mais motivados em responder os questionários, pois se mostraram mais confiantes em respondê-lo. Por mais que seja uma pergunta pouca específica, os alunos mostraram após o jogo dois conceitos importantes: O ciclo da água que ocorre com a chuva e o processo de tratamento de água. A resposta “estação de tratamento” passou de trinta por cento para cinqüenta por cento, como mostra na tabela abaixo: Tabela 6. Você sabe de onde vem a água que você bebe? (depois do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) Da estação de tratamento 15 50 Da chuva 9 30 Não responderam 6 20 Outros 0 0 75 Em relação à Tabela 5 (antes do jogo), também diminuiu o número de alunos que não responderam. Esse número caiu de trinta para vinte por cento. Na Tabela 7, os alunos mostraram que não conhecem adequadamente o processo de captação, tratamento e distribuição das águas. A maioria das crianças ainda coloca como origem da água um percurso próximo e ao alcance dos seus olhos, não delineando uma origem mais completa. Tabela 7: Por onde a água passou antes de cair da bica? (antes do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) Nos canos 9 30 Pela cisterna 6 20 Não responderam 6 20 Estação de tratamento 3 10 Do chão 3 10 Do mar 3 10 Nas repostas, observou-se que a parte da distribuição das águas, longe das casas ainda era algo abstrato ou não conhecido para os alunos. Na Tabela 8, os alunos demonstraram maior conhecimento do percurso da água potável até as suas casas. Neste caso, a primeira e segunda resposta, que demonstram um certo entendimento sobre o processo de tratamento, correspondem a setenta por cento das respostas. Tabela 8: Por onde a água passou antes de cair da bica?(depois do jogo). 76 Respostas n (30) Percentual (%) 12 40 Estação de tratamento 9 30 Do rio 3 10 Não responderam 6 20 Nos canos e na estação de tratamento Na Tabela 9, cinqüenta por cento dos alunos não souberam responder, porque deveriam economizar água. Apenas vinte por cento associaram o uso indiscriminado da água com a escassez dos recursos hídricos. Tabela 9: É importante economizar água? Por quê? (antes do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) Não responderam 15 50 Para não pagar mais água 6 20 Para a água não acabar 6 20 Outros 3 10 Na Tabela 10, mostra uma preocupação maior com a questão ambiental e a preservação dos recursos hídricos. Cinqüenta por cento dos alunos se mostraram preocupados com a escassez dos recursos hídricos, diferente dos vinte por cento da tabela nove. Tabela 10. É importante economizar água? Por quê? (depois do jogo). 77 Respostas n (30) Percentual (%) Para não ficar sem água 15 50 Para não pagar mais 3 10 Não responderam 12 40 Agora um elemento importante foi apresentado: A percepção de que a água potável não é um recurso ilimitado como se costuma divulgar quando se explica o ciclo da água. O conceito de preservação ambiental ficou mais evidenciado que um conceito econômico. Na Tabela 11, mostra claramente que a maioria dos alunos desconhece a estrutura de uma estação de tratamento de água e consequentemente seu processo de tratamento (oitenta por cento). Tabela 11: Você sabe como é uma estação de tratamento de água? (antes do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) Não responderam 24 80 Eles cuidam da água 6 10 Outros 3 10 Possivelmente ao se conhecer o processo de tratamento de água, existisse uma reflexão maior sobre o desperdício dos recursos hídricos. Na Tabela 12, setenta por cento dos alunos responderam elementos presentes numa estação de tratamento de água. Em comparação a Tabela 11, onde oitenta por cento dos alunos nem sequer responderam à pergunta. Tabela 12: Você sabe como é uma estação de tratamento de água?(depois do jogo). 78 Respostas n (30) Percentual (%) Tem cano 15 50 Tem tanque 6 20 Não responderam 9 30 Na Tabela 13, podemos observar que a maioria dos alunos (oitenta por cento), não responderam como poderiam fazer para economizar água. Tabela 13. O que você pode fazer para economizar água? (antes do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) Não responderam 18 60 Não gastar água 9 30 Outros 3 10 Por mais que sejam variadas as formas de se economizar água no dia-a-dia, os alunos não evidenciaram que atos do seu dia-a-dia, poderiam fazer para melhorar a economia de água. Na Tabela 14, oitenta por cento das respostas tinham relação com a economia de água no dia a dia. Em comparação a Tabela 13, apenas trinta por cento das respostas tinham essa relação com o gasto da água. Tabela 14. O que você pode fazer para economizar água? (depois do jogo). Respostas n (30) Percentual (%) 79 Não deixar bica aberta 15 50 Não lavar calçada 6 20 Não usar água por muito tempo 3 10 Não responderam 9 20 Agora já apareceram de forma mais especificada, atitudes que mostram como os alunos podem economizar água, não apenas respondendo “usando menos”. Especificando pequenas atitudes do dia a dia, é mais fácil para o aluno criar para si uma rotina para economia de água. 5.2 Aplicação do jogo numa turma de primeiro segmento do ensino fundamental Com o objetivo de fazer comparações pontuais com os resultados obtidos na aplicação do jogo na Fúria da Leitura com outra realidade pedagógica, foi realizado aplicação do jogo em outra escola. Nessa nova análise, invés de uma turma multiseriada, procurou se analisar numa turma do quinto ano de escolaridade (como mostra na Figura 13 e 14). Esse perfil de turma foi escolhido devido ao fato de ser o quinto ano de escolaridade ser o último ano do primeiro segmento do ensino fundamental, onde se espera que todos os conteúdos de Ciências nesta fase de ensino tenham sido contemplados. Figura 13: Alunos durante o jogo. Figura 14: Alunos durante o jogo. 80 Metodologia Assim como foi feito no evento anterior, foram respondidos questionários sobre a questão da água potável, antes da aplicação do jogo e outros questionários após a aplicação do jogo. Essa análise que tem um aspecto qualitativo foi feita com uma turma de 25 alunos. Numa escola do segundo distrito de Duque de Caxias, no segundo semestre de 2009. Os alunos tiveram acesso a todo jogo e ao conteúdo do CD-ROM deste. As perguntas dos questionários foram as seguintes: 1) Você sabe de onde vem a água que você bebe em casa? 2) O que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para beber? 3) Por que é importante economizar água? 4) Você sabe como é uma estação de tratamento de água? 5) Para que serve o cloro na água? Seguindo os mesmos critérios estabelecidos na metodologia, no evento da Fúria da leitura (pág.66), obtiveram-se os seguintes resultados nos questionários respondidos antes da atividade com o jogo: Como mostra na Tabela abaixo, mais da metade dos alunos não souberam dizer a origem da água que consomem. Sendo que apenas oito por cento, responderam “CEDAE” que de alguma forma, pode remeter ao conceito da estação de tratamento. Este resultado com a turma do quinto ano de escolaridade, foi inferior ao da turma multiseriada, (Tabela 5, pág.64), onde apenas trinta por cento não responderam. 81 Tabela 15: Você sabe de onde vem a água que você bebe em casa? (antes do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Não responderam 14 56 Oceano 2 8 Represa 2 8 CEDAE 2 8 Outros 5 20 Na Tabela 16, ao contrário da Tabela 15, onde a maioria dos alunos não respondeu as questões (cinqüenta e seis por cento), após o jogo apenas (dezesseis por cento) não responderam. Agora, mais da metade demonstrou saber que a origem da água é de uma estação de tratamento, mostrando que os alunos perceberam que a água precisa de um tratamento antes de ser consumida. Tabela 16: Você sabe de onde vem a água que você bebe em casa? (depois do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Da estação de tratamento 13 52 Não respondeu 4 16 Da caixa 2 8 Represa 2 8 82 Rio 2 8 Lençol freático 1 4 outros 1 4 Na Tabela 17, os alunos novamente em sua maioria, não responderam as questões, deixando de enfocar um importante aspecto do tratamento de água, que é o uso de cloro como desinfetante. Tabela 17: O que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para beber? (antes do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Não responderam 13 52 Filtrar 3 12 Deixar nas caixas de água 3 12 Outros 6 24 Ao contrário da Tabela 17, surgiu a preocupação dos alunos com a questão da falta de água. Como mostra na Tabela 18, apenas dezesseis por cento dos alunos não responderam. Na Tabela 17, ao contrário da Tabela 18, houve uma variedade muito maior de elementos que remetem ao tratamento da água. Outro ponto importante que agora, apenas dezesseis por cento dos alunos não responderam, ao invés dos cinqüenta e 83 dois por cento toda Tabela 18. O conhecimento sobre elementos importantes para o tratamento de água foi ampliado. Tabela 18: O que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para beber? (depois do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Vir primeiro da estação de tratamento 10 40 Botar cloro 4 16 Não respondeu 4 16 Ferver 2 8 Limpar 2 8 Filtrar 2 8 Outros 1 2 Na Tabela 19, apenas 32 por cento dos alunos, segundo e terceiro item da Tabela, os alunos enfatizaram a questão do esgotamento dos recursos hídricos. Isso mostra que muitos alunos ainda não se atem ao fato que a água é recurso esgotável. Tabela 19: Por que é importante economizar água? (antes do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) 84 Não responderam 17 68 Para a água não acabar 5 20 Porque precisamos dela 3 12 Ao contrário da Tabela 19, onde sessenta e oito alunos não responderam sobre a importância de se economizar água, na Tabela 20 apenas dezesseis por cento não responderam. Tabela 20: Por que é importante economizar água? (depois do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) 15 60 Não responderam 4 16 Para não morremos 4 16 Para deixar para as próximas gerações 2 8 Para não ficar sem água Na Tabela 21, oitenta e oito por cento não souberam responder o que é uma estação de tratamento de água, e doze por cento responderam “usina” no sentido de um local específico onde à água tem que passar antes. Tabela 21: Você sabe como é uma estação de tratamento de água? (antes do jogo). Respostas Não responderam Usina n (25) Percentual (%) 22 88 3 12 85 Na Tabela 21 após a aplicação do jogo, apenas oito por cento dos alunos não responderam sobre coisas que não aparecem numa estação de tratamento de água. Todas as outras respostas mostraram conhecimento de elementos presentes em uma estação de tratamento de água. Demonstrando que os alunos já demonstram uma noção sobre o tema. Tabela 22:Você sabe como é uma estação de tratamento de água?(depois do jogo). Respostas Tem canos e filtros n (25) 8 Percentual (%) 32 Tem tanque, filtros, botam cloro 6 24 È um lugar que botam cloro e sulfato 4 16 Tem bomba 4 16 Não responderam 2 8 Outros 1 4 Na tabela 23, apenas vinte por cento dos alunos enfocaram o termo “descontaminar e limpar” em referencia ao cloro. Mas a grande maioria dos alunos ainda desconhece a função do cloro para o tratamento da água. 86 Tabela 23: Para que serve o cloro na água?(antes do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Não responderam 20 80 Para não beber água contaminada 3 12 Para limpar 2 8 Na Tabela 24, a maioria dos alunos já demonstram ter umas noção da importância do cloro no tratamento da água. Antes do jogo a maioria dos alunos nem responderam essa questão, como mostra na Tabela 23. Isso tem um valor positivo, porque indica que os alunos passaram a ter a noção que existem elementos nocivos a saúde da água, mesmo que não possam ser vistos. Tabela 24: Para que serve o cloro na água? (depois do jogo). Respostas n (25) Percentual (%) Descontaminar a água 10 40 Não respondeu 6 24 Matar as bactérias 5 20 Limpar 4 16 Mesmo sendo uma turma do quinto ano de escolaridade, muitos alunos demonstravam não ter conhecimento da importância do tratamento da água, muito menos do seu processo. O jogo de forma lúdica e informal, conseguiu na maioria dos 87 alunos, gerarem um conhecimento sobre esse tema, sendo feita de forma agradável para os estes. Isso mostra que formas alternativas de ensino, sendo feitas em salas de aula, ou em eventos culturais como a Fúria da Leitura o aprendizado lúdico se fez e forma positiva. Comparando as repostas das turmas mutiserial a turma do quinto ano da escolaridade, percebeu-se que as turmas de quinto ano de escolaridade em sua maioria não responderam as perguntas em maior proporção à turma multiserial. Todavia a turma do quinto ano de escolaridade depois do jogo obteve respostas mais diversificadas que a turma multiseriada. Observa-se que nas duas turmas apresentavam pouco conhecimento em relação ao tratamento de água e depois do jogo obtiveram uma percepção melhor sobre o tema. CAPÍTULO 6: CONSIDERAÇÕES FINAIS 88 Um trabalho pedagógico feito de forma isolada e pontual, não será o suficiente para gerar uma consciência ecológica para toda a vida do aluno. É necessário todo um trabalho dentro e fora da escola para que o aluno interiorize a importância das suas atitudes para a preservação do meio ambiente. Sem a busca de novos métodos de ensino não só dentro da escola, mas também em espaços não formais de ensino, a busca por uma consciência coletiva da população por questões ambientais ficará mais difícil. A escola deve incentivar a criação de diferentes formas de ensinar. Para isto ocorrer de forma efetiva é importante que a escola estimule a formação continuada do professor. Consequentemente, a pesquisa se mostra fundamental para a prática docente. Principalmente através de cursos de pós-graduação os professores podem trocar idéias sobre novas práticas de ensino. Mas para que os conhecimentos gerados nos cursos de pós-graduação cheguem nas escolas a parceria entre as secretarias de educação e os centros de pesquisa, é fundamental. Mas, devida à experiência docente do autor deste trabalho, o que é observado que praticamente não existe essa parceria. O que resulta em p o u c o s p r o f e s s o r e s c o m u m a f o r m a ç ã o fundamentada nos novos conceitos de pesquisa em educação. A transformação do ensino fica na dependência de poucos professores que possuem uma formação diferenciada. E ainda assim, muitos destes não são estimulados a exercerem as práticas e teorias que aprenderam, pois quase não existe tempo para a troca de idéias entre os professores e a escola. Isso ainda reside do fato da idéias préconcebida que o professor só está trabalhando quando está em sala de aula. O tempo de pesquisa e de troca de idéias entre os seus colegas e a escola não é visto por muitos como trabalho. Esse é um dos pontos principais que impedem uma “revolução” pedagógica na escola. Sem que isso mude, a pesquisa na educação ficará muito distante das escolas públicas, (principalmente as estaduais e municipais quase sempre 89 preenchidas por alunos das classes de menor poder aquisitivo). Como a pesquisa em educação crescendo, da forma que está ocorrendo hoje, existirá cada vez mais um abismo entre as escolas das classes populares e das escolas onde a pesquisa é valorizada (a maioria não destinada às classes populares). Fundamental também que questões crônicas, como baixos salários, desrespeito ao professores durante a sua prática pedagógica, excesso de carga horária, etc. atrapalham significativamente a pesquisa e o aprimoramento das práticas pedagógicas. Esses temas são de extrema importância, mas como são extremamente complexos, fogem do foco deste trabalho e somente por isso não foram devidamente abordados. Mas é necessário ressaltar que a solução destes problemas não podem ser ignorados, quando se procura melhorar a prática pedagógica dentro da escola. A aplicação de jogos didáticos não só pela prática realizada, mas como de vários autores citados neste trabalho, mostra que essa estratégia de ensino já há algum tempo se mostra bem fundamentada e eficiente dentro do processo ensino aprendizagem. O jogo consegue cativar à curiosidade dos alunos, mostrando que o tema abordado é comum a realidade de todos. Neste trabalho a parte lúdica conseguiu ser alcançada, sem prejuízo a parte pedagógica. A reflexão dos alunos durante a atividade, foi positiva, pois criou a possibilidade de reflexão entre eles. No final da atividade, enquanto eles respondiam o questionário novamente, eles perceberam que adquiriam um conhecimento mais abrangente sobre o tema. Eles ficaram surpresos em aprender, “sem ter que fazer trabalho de escola”, resumindo assim alguns comentários de alguns alunos após a atividade. O jogo, como se propõe em ser uma atividade diferente, para que os alunos levem a experiência do jogo para casa, trocando a experiência com seus familiares. Sendo assim será gerado um conhecimento atitudinal, mudando o comportamento das 90 pessoas diante os problemas da vida. Alterando o comportamento em determinada situação, através dos conhecimentos adquiridos na escola, trazendo um sentido mais amplo e ideal ao conhecimento escolar. As atividades de pesquisa que foram feitas nas escolas foram percebidas por muitos como “algo incomum” e até por alguns como “estranho”. Isso demonstra que o espaço escolar continua sendo um local destinado apenas para transmitir o conhecimento. A “geração” do conhecimento ainda é algo pouco comum na escola. As atividades de pesquisa, por exemplo, onde se procura gerar novos conhecimentos são vistos ainda como atividades completamente alheias a realidade escolar. Sendo assim este trabalho procurou não só motivar o uso de jogos didáticos, internet, dentro outros métodos. E, acima de tudo, incentivar a pesquisas de novos caminhos pedagógicos, para que seja mais um fator, na mudança da realidade da educação brasileira. REFERÊNCIAS ABREU, R.G. A concepção de currículo integrado e o ensino de química no "novo ensino médio". In: REUNIAO ANUAL DA ANPED, 24., 2001, Caxambu. Anais. Caxambu, 2001b. AMARANTE, C.M.C.. et al . Mortalidade por violências: aplicação de técnicas de análise exploratória em área metropolitana da região. Sudeste do Brasil, 19791987.Revista de Saúde Pública, 28(3): 178-86, 1994. 91 APPLE, M. Ideologia e currículo.São Paulo: Brasiliense, 1982. AROUCA, M. C. Papel dos jogos e simuladores como instrumento educacional. Banco de artigos da Casa da Ciência/UFRJ. Projeto educação em bytes. Rio de Janeiro, 1996. AZEVEDO, E. B. Poluição vs. Tratamento de água: Duas fases da mesma moeda. Química Nova na Escola. 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As sociedades contemporâneas encontram-se indissoluvelmente ligadas ao desenvolvimento científicotecnológico. As sociedades de maior poder econômico são as mais desenvolvidas do ponto de vista científico ou, numa perspectiva inversa, por estarem mais avançadas científica e tecnologicamente, são as que apresentam maior desenvolvimento econômico. Esta relação entre a evolução da sociedade, a da própria Ciência e da Tecnologia tem se acentuado desde o nascimento da Ciência Moderna, no século XVII, a tal ponto de se poder afirmar ser a atividade científica uma das principais características que distingue a era atual das anteriores (Rutherford e Ahlgren, 1990). A Ciência e a Tecnologia são parte da nossa cultura: há uma teia de relações múltiplas e complexas entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. O desenvolvimento científicotecnológico não é linear, nem é independente dos valores sociais e éticos dominantes em cada momento. O desenvolvimento científico influencia a sociedade e sofre, necessariamente, influências desta. A demanda pelo conhecimento científico envolve não somente o corpo de saberes, mas também a Ciência como instituição social. De fato, a todo o momento, há discussões relacionadas a questões científicas com implicações sociais e, por conta disso, a alfabetização científica configura-se como uma importante ferramenta para o exercício pleno da cidadania. De acordo com Arons 98 (1983), a melhora da qualidade da alfabetização científica da sociedade está condicionada à qualidade de educação para as ciências em todas as fases do ensino, da escola básica à universidade e, por sua vez, a qualidade do ensino está relacionada ao currículo e à maneira como os professores apresentam a Ciência. Mas o que seria uma sociedade cientificamente alfabetizada? O conceito do que seja alfabetização científica vem sendo foco de discussões há alguns anos (Cazelli, 1992). Etimologicamente, ser alfabetizado significa ser capaz de ler e escrever. Ao ampliar a expressão para alfabetização científica, esta passa a ser entendida como a capacidade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de caráter científico. De acordo com Miller (1983), a alfabetização científica está relacionada ao entendimento de normas e métodos da ciência. A estrutura básica dessa conceituação apresenta três aspectos: o entendimento dos processos da investigação científica, a compreensão sobre a construção dos conceitos científicos e a consciência do impacto da Ciência e Tecnologia na sociedade por parte do público leigo. Assim sendo, a pouca clareza em torno da definição dessa expressão pode estar relacionada à ausência da distinção entre os diversos aspectos relacionados ao seu significado. Longe de assumir a visão científica de mundo como a única ou a mais nobre, não se pode negar, no entanto, a grande importância em se apropriar de conceitos científicos básicos e construir uma compreensão pública de Ciência. Não basta saber utilizar os novos produtos tecnológicos, faz-se necessário entender o novo saber (Meis, 2002). Na prática, identificamos muitas dificuldades no desenvolvimento de uma aprendizagem efetiva de Ciências na escola atual. O volume de informações é muito grande e, a cada dia, estas se tornam indispensáveis para a vida em sociedade. A escola precisa veicular na sua prática esse corpo de conhecimentos socialmente válidos, proporcionar alguma compreensão do processo científico e da natureza da Ciência e favorecer o 99 desenvolvimento de uma atitude científica. E, a partir dessa aquisição, permitir que todos se apropriem de tal conhecimento para tomar decisões individuais e sociais; discutam as vantagens e as limitações da Ciência e da Tecnologia e façam uso de saberes (conceitos, atitudes e valores) que lhes permitam adaptar-se às mudanças constantes do seu mundo. Como Bazzo (1998) afirma, as novas exigências do mundo contemporâneo estão estampadas no cotidiano, na utilização das criações da ciência e da tecnologia e repercutem cada vez mais na vida de todos os cidadãos. A CONSTRUÇÃO DE UM CURRÍCULO EM CIÊNCIAS A importância do ensino das Ciências na sociedade atual é plenamente reconhecida. Assim, uma proposta de currículo para o ensino básico deve contribuir para o desenvolvimento da compreensão do processo científico, da natureza da Ciência e promover o gosto por sua aprendizagem. É necessário o estabelecimento de propostas específicas que contemplem as características especiais das diferentes faixas etárias, construindo, dentro da diversidade de casos, a abordagem metodológica que melhor se adapte ao aluno, em função de sua idade, de seus interesses e de sua realidade cultural. Importa que os alunos tomem consciência dos impactos e da riqueza dos envolvimentos que as Ciências têm na vida cotidiana. Por sua vez, cabe ao ensino de Ciências procurar desenvolver nos alunos a capacidade de observação, análise, raciocínio, comunicação, abstração e elaboração do pensamento. Para Nieda (1997), a definição do que se deseja ensinar requer um desenho curricular específico que cumpra dois requisitos básicos: preparar os alunos para abordar com segurança e gosto os conhecimentos científicos e contribuir para a formação científica dos futuros cidadãos. É de grande importância enfatizar temas de relevância local e social e incluir nos programas tópicos acerca do 100 impacto das ciências na vida cotidiana: uso do solo, qualidade do ar e da atmosfera, recursos naturais e energéticos, saúde e doenças humanas, questões de higiene etc. A elaboração do conjunto de conhecimentos a ser trabalhado na área de Ciências representa um esforço considerável e constitui uma tarefa extremamente complexa. O ato de ensinar implicará sempre um repensar de nossa prática em sala de aula. As mudanças significativas acontecem quando há uma efetiva articulação entre escola, professores e comunidade. Para a construção do currículo de Ciências do Município de Duque de Caxias foi levada em conta uma série de considerações que norteou a seleção dos conhecimentos mais adequados ao Ensino Fundamental. Como resultado da análise dos educadores da Rede, o conhecimento em Ciências deve cumprir certos requisitos: 1. proporcionar sólida base para promover a educação científica e permitir o desenvolvimento de procedimentos e atitudes científicas de caráter geral; 2. estar mais próximo da realidade dos alunos e considerar as experiências trazidas por eles; 3. ajudar na compreensão do mundo que os rodeia, através de investigação e interação com objetos e fatos do cotidiano. O objetivo geral do ensino de Ciências é compreender e estudar o fenômeno vida em sua complexidade e inter-relações. O importante é que o aprendizado seja pertinente ao exercício de intervenções e julgamentos práticos. Segundo Bizzo (2002), a instrução efetiva passa pela aproximação entre o conhecimento pessoal e o conhecimento científico a partir de aproximações crescentemente complexas daquilo que os cientistas reconhecem como válido cientificamente. 101 LINGUAGEM, ÉTICA E PLURALIDADE CULTURAL NOS OBJETIVOS GERAIS DA ÁREA CURRICULAR DE CIÊNCIAS FÍSICAS, MATEMÁTICAS, QUÍMICAS E BIOLÓGICAS Os objetivos gerais para a Área de Ciências Físicas, Matemáticas, Químicas e Biológicas assinalam o desenvolvimento considerado essencial aos alunos da Rede Municipal de Educação de Duque de Caxias durante o Ensino Fundamental. São eles: compreender a evolução do conhecimento científico através do tempo e em diferentes lugares na busca de soluções dos problemas cotidianos. Ao analisarmos o objetivo acima, verificamos que ele dá ênfase ao papel social da ciência e das influências sociais das descobertas científicas e tecnológicas. Para haver tal compreensão é necessário que o aluno entenda a ciência como um processo de construção social e sujeito às demandas sociais de cada momento, estando, assim, sujeita a uma revisão contínua. Essa visão contextualizada contrasta com as concepções de uma ciência objetiva, totalmente verdadeira e neutra que não sofre influência da realidade social (Cañas, 2004). aplicar conceitos científicos na resolução de situações-problema, visando a melhorias na qualidade de vida. Esse objetivo destaca a importância do desenvolvimento científico para melhorar as condições de vida de toda a humanidade. Para aplicar os conceitos aprendidos, o aluno precisa reconhecer e valorizar as contribuições da ciência e apreciar a importância da sua formação científica. Só assim passará a utilizar valores e atitudes próprios do pensamento científico nas suas atividades cotidianas, reforçando a pertinência de suas reivindicações, uma vez que fará uso do sentido crítico para a análise e emissão de juízo. Daí a impossibilidade de desenvolver conteúdos desvinculados da realidade local 102 e da diversidade sócio-cultural do público-alvo. Há a necessidade de contextualizar e gerir o currículo em termos da sua adequação aos alunos. Nesse sentido, todas as orientações políticas e teóricas atuais apontam para o reforço da autonomia das escolas como gestoras de modificações face às necessidades particulares de cada contexto educativo. desenvolver o espírito investigador e o pensamento lógico-dedutivo ao observar, levantar hipóteses, analisar e compreender os fatos. O objetivo especifica vários conhecimentos procedimentais inerentes ao trabalho científico que se iniciam em um problema, passam pelas tentativas de resolvê-lo e culminam na comunicação dos resultados. Não se trata de formar cientistas, mas de possibilitar a maior compreensão e interpretação de diferentes questões científicas. Para tal, se busca desenvolver a habilidade de obter e selecionar informações a partir de diversas fontes para a construção do conhecimento. A compreensão dos fatos centra-se na capacidade de utilização de formas de expressão das mensagens científicas que incluam elaboração, interpretação e manejo de gráficos, tabelas, esquemas e desenhos; uso de expressões matemáticas para exprimir leis e reconhecimento de diversos tipos de textos, além de sua utilização em diferentes contextos. Tais capacidades se traduzem na produção das mais variadas linguagens que expressam o conhecimento científico adquirido pelos alunos. perceber as questões éticas envolvidas na produção e utilização da ciência e da tecnologia pela humanidade Esse objetivo está fortemente associado ao primeiro e enfatiza a elaboração de critérios pessoais fundamentados em diversas questões científicas presentes em nossa época. Ele destaca a necessidade de contrastar informações, identificar possíveis contradições e intuir a relação entre as informações existentes e as bases ideológicas que as sustentam. 103 A adoção de uma atitude crítica diante dos sérios problemas que a humanidade enfrenta é reforçada pela conscientização de que aquilo que o futuro lhe reserva depende do grau de sensatez com que se faz uso da Ciência e da Tecnologia (Dolz, 2004). As pessoas precisam sentir que têm algum controle sobre a seleção e a manutenção da tecnologia que utilizam em suas vidas. Entender as diferenças, lidar com o desconhecido e construir uma visão mais ampla e multicultural aumenta a possibilidade de reconhecer e valorizar as suas características e as de outros povos. Em nível das atividades escolares, tal comportamento se traduz na participação ativa, construtiva, responsável e solidária que valoriza a contribuição de cada elemento em função dos objetivos traçados. Os eixos estruturadores possibilitam compartilhar um trabalho de relevância social com professores de todas as áreas: Linguagem, Ética e Pluralidade Cultural são elementos imprescindíveis para trabalhar com o aluno para que este se torne cidadão, consciente da sua realidade e da capacidade de intervir positivamente em seu ambiente. Entender a pluralidade cultural envolve o reconhecimento de uma diversidade de normas de convivência e a busca pelo respeito e pela valorização de outros povos e outras culturas, repudiando qualquer tipo de discriminação. É interessante que o professor trabalhe a linguagem, a ética e a pluralidade cultural e incentive a participação de atividades em grupo para que o aluno desenvolva a argumentação adequada na defesa dos seus pontos de vista e a adoção de um comportamento responsável e solidário. 104 OS CONHECIMENTOS CONCEITUAIS, PROCEDIMENTAIS E ATITUDINAIS DO ENSINO DE CIÊNCIAS Os fatos, conceitos e princípios que, em conjunto, constituem os conhecimentos conceituais do ensino de Ciências estão aqui apresentados como a linha mestra do trabalho e estão acompanhados pelos conhecimentos procedimentais que indicam as seqüências de ações que os alunos devem executar e pelos conhecimentos atitudinais que possibilitam o amadurecimento do aluno. Os conhecimentos conceituais são requisitos fundamentais para o desenvolvimento dos conhecimentos procedimentais e atitudinais. Para apresentar aos professores informações didáticas relacionadas aos conhecimentos a serem trabalhados, com os quais possam contar para a importante tarefa de planejar os programas de Ciências do Ciclo a oitava série do Ensino Fundamental, sugerimos a organização dos conhecimentos conceituais em quatro Núcleos Temáticos: A Vida na Terra, Qualidade de Vida, Recursos e Tecnologias e Do Universo a Terra (a partir do segundo segmento). Longe de se constituírem unidades fechadas ou de representarem individualmente as séries do Ensino Fundamental, os núcleos têm a função de ajudar no encadeamento dos conhecimentos conceituais das diversas ciências, procurando estabelecer conexões que tornam o ensino mais globalizador e a aprendizagem mais efetiva. A ordem de apresentação dos conhecimentos não sugere uma seqüência a ser seguida. Tal ordenação deverá ser desenvolvida para cada série a partir da seleção dos conhecimentos conceituais dos quatro núcleos temáticos. Assim sendo, diferentes itens desses núcleos seriam utilizados em todas as séries em diferentes momentos, na tentativa de facilitar o 105 estabelecimento de inter-relações dos conhecimentos em Biologia, Química, Física, Geologia e Astronomia. As possíveis repetições de determinados itens e as diferentes formas de abordagem enfatizam que nenhum dos conhecimentos se esgota numa única série. Os Conhecimentos Atitudinais do Ciclo a 8ª Série do Ensino Fundamental Os conhecimentos atitudinais do Ciclo a oitava série envolvem um conjunto de posturas e valores em consonância com as relações entre o conhecimento, os seres humanos e o ambiente. Atitudes como saber ouvir, respeitar as opiniões dos outros e dialogar; saber colaborar durante a realização de tarefas, ter curiosidade para buscar e investigar, questionar as informações recebidas e refletir sobre o que aprendeu são atitudes fundamentais no ensino de Ciências. Eis os conhecimentos atitudinais: valorização da investigação científica como meio de aquisição do conhecimento com ênfase no caráter não-dogmático e provisório da Ciência; percepção da importância da observação como meio de descobrir as regularidades da natureza; aproximação de uma atitude de busca pelo rigor, mas também pela imaginação na construção de uma hipótese; busca pela objetividade e pelo desenvolvimento do espírito crítico diante de informações procedentes de diversas fontes; valorização da importância da utilização de modelos e teorias na construção do conhecimento; 106 observação da construção de modelos, aprimoramento destes ou substituição por outros mais adequados; insatisfação diante de explicações insuficientes a partir de questionamentos e proposição de soluções; interesse na realização correta de experiências, coleta de dados e confecção de informes científicos; cuidado com instrumentos do laboratório e com todo o material da escola; responsabilidade e cooperação nas fases dos trabalhos em grupo; valorização da boa apresentação dos trabalhos individuais e em grupo; consciência da inter-relação de todas as ciências e delas com a tecnologia e a sociedade; consciência da importância das ciências na vida diária; atitude receptiva diante dos pontos de vista dos companheiros, viabilizando o diálogo; respeito às normas de convivência; conscientização com relação à produção e processamento do lixo. Os Conhecimentos Procedimentais do Ciclo a 4ª. Série do Ensino Fundamental Os conhecimentos procedimentais no ensino de Ciências deverão ser abordados de maneira conjunta. São eles: elaboração de perguntas sobre diferentes ambientes e modos de vida dos seres vivos; busca de informações em diferentes fontes: observação de campo, entrevistas, experimentos, leitura de diferentes tipos de material -livros, revistas, enciclopédias, jornais, filmes etc.; análise de desenhos, tabelas e listas; 107 registro oral e/ou escrito das informações coletadas, através de textos individuais ou coletivos. Os Conhecimentos Conceituais no Ciclo Os conhecimentos conceituais serão apresentados por temas, possibilitando diferentes organizações e perspectivas de abordagem. Na escolha de temas ligados à Biologia, Química, Física, Astronomia e às Geociências, é necessário ter em mente que o ensino de Ciências deve proporcionar a construção de uma visão de mundo na qual todos os elementos se relacionem, entre eles, o ser humano como agente de mudança. Além disso, devem estar relacionados à sociedade e à cultura em que as crianças vivem para que possam entender as relações entre o homem, a natureza e a tecnologia. Essa forma de organizar um currículo tem por objetivo explorar mais o aspecto multidisciplinar das Ciências Naturais. Os temas propostos não estão fechados em si próprios, podendo ser adequados a qualquer grupo social sem esquecer o conhecimento científico que norteia todo o trabalho pedagógico. Passamos a enumerar os temas sugeridos e os conhecimentos conceituais a serem desenvolvidos ao longo do ciclo: Ambiente ou a vida na Terra 1. estudo e comparação de diferentes ambientes naturais e construídos e seus elementos constituintes, ressaltando a perspectiva de sua conservação. Ser humano e saúde ou Qualidade de vida 2. estudo e comparação dos seres vivos em seus ambientes: alimentação, sustentação, locomoção e reprodução; 108 3. comparação do desenvolvimento e da reprodução dos diversos seres vivos nos ambientes para entender o ciclo vital como uma característica comum a todos os seres vivos; 4. comparação do corpo humano -homem e mulher nas diferentes fases da vida para compreender as transformações e respeitar as diferenças; 5. identificação das condições para o desenvolvimento e preservação da saúde; 6. comparação do corpo e dos comportamentos do ser humano com outros animais; 7. estudo e comparação dos diferentes hábitos posturais, valorizando as atividades físicas. Recursos tecnológicos 8. Identificação da origem e características de alguns materiais e diferentes formas de energia utilizadas em suas transformações. Os conhecimentos conceituais na 3ª. e na 4ª. Séries Nessas séries, as noções trabalhadas no Ciclo podem ser ampliadas, pois as crianças já têm um pensamento mais elaborado, organizam-se melhor, buscam informações mais específicas, são capazes de estabelecer mais relações de causa e efeito. É importante que tenham um contato maior com várias informações, pois assim poderão realizar algumas generalizações e chegar a modelos apresentados pelas Ciências. Passamos a enumerar os temas sugeridos e os conhecimentos conceituais a serem desenvolvidos ao longo do ciclo. Ambiente ou A vida na Terra 1. Identificação das mudanças dos estados físicos da água e a relação com troca de calor; 2. análise dos diversos recursos naturais, identificando suas utilidades e suas transformações; sejam elas naturais ou provocadas pela ação do homem; 109 3. comparação de diferentes solos; 4. identificação das relações de dependência entre os seres vivos em diversos ambientes; evidenciando a responsabilidade do ser humano em restabelecer e conservar o equilíbrio nessas relações, necessário à sobrevivência do planeta; 5. identificação dos hábitos e comportamentos dos seres vivos; 6. ampliar o estudo e comparação de diferentes ambientes naturais e construídos e seus elementos constituintes; 7. Biodiversidade Ser humano e saúde ou Qualidade de vida 8. Identificação do corpo como um todo integrado - estabelecimento de relações entre os diferentes aparelhos e sistemas que realizam as funções vitais; 9. preservação da saúde em seus aspectos biológicos, afetivos, sociais, culturais, socioeconômicos e educacionais; 10. reconhecimento do alimento como fonte de energia; 11. sexualidade - estabelecimento de relações entre os aspectos biológicos, culturais e afetivos, análise de tabus e preconceitos que permeiam este tema. Recursos tecnológicos 12. Comparação dos diferentes tipos de solo, da água, do ar e dos seres vivos em diferentes ambientes; 13. identificação de técnicas de uso do solo, nos ambientes urbano e rural; 14. identificação de técnicas de uso sustentável dos recursos naturais como água, ar e solo, nos ambientes urbanos e rurais; 15. identificação das diversas formas de poluição, suas causas e conseqüências; 16. reconhecimento de materiais recicláveis e os diferentes processos de reciclagem do lixo; 110 17. reconhecimento da importância da redução e reutilização dos diferentes materiais da natureza; 18. comparação e classificação de equipamentos e ferramentas; 19. estabelecimento de relação entre o funcionamento dos equipamentos e das ferramentas com o uso da energia; 20. identificação das fontes de energia utilizadas por equipamentos ou que são resultado de suas transformações. Os Conhecimentos Procedimentais a partir da 5ª série Além dos conhecimentos conceituais, também devem ser considerados com igual importância, o reconhecimento e a utilização de algumas estratégias habituais da atividade científica, que compõem os conhecimentos procedimentais. Muitos deles são pertinentes ao desenvolvimento de vários conhecimentos conceituais e, por isso, utilizados ao longo do trabalho em todas as séries. Os conhecimentos procedimentais poderão se somar a outros mais específicos, relacionados diretamente a determinados itens dos temas a serem desenvolvidos ao longo da escolarização. Consulta de fontes de informação escrita (livros, revistas, artigos de divulgação etc.) e audiovisual; construção e realização de experiências simples com controle de fatores e determinação de variáveis; técnicas de trabalho de campo: coleta de dados e de amostras, orientação, medições etc; elaboração de informes sobre trabalhos realizados; confecção e utilização de representações e modelos científicos/biológicos; coleta de dados, elaboração e interpretação de tabelas, gráficos e esquemas para obtenção de conclusões; técnicas de utilização de instrumental e aparelhos utilizados em aulas práticas; 111 seleção, observação e descrição de fenômenos observáveis com elaboração de informes e estabelecimento de hipóteses explicativas. Conhecimentos Conceituais Os conhecimentos conceituais apresentados a seguir, estão agrupados e separados nos quatro núcleos temáticos já apresentados. Vinculados a eles estão algumas sugestões de conhecimentos procedimentais e atitudinais mais específicos. Núcleo Temático I - A Vida na Terra Os conhecimentos desta área estão articulados para permitir a compreensão de que o ser vivo interage com o ambiente, transformando-se no decorrer do tempo. Tal processo, conduzido pela grande capacidade de adaptação dos seres vivos aos diferentes meios, culmina na biodiversidade existente no planeta que pode, assim, manter-se em equilíbrio. Na diversidade dos seres vivos desenvolve-se o estudo dos grandes grupos taxonômicos, promovendo a classificação, mas também se buscam as características que definem todos como seres vivos do planeta Terra. Há um crescente aprofundamento da idéia de unidade de estrutura e função, compreendendo a teoria celular na organização da matéria viva que se apresenta em múltiplas formas e características, relacionando-as com os diferentes aspectos físico-químicos do meio ambiente. Conhecimentos Conceituais 1. Biodiversidade na Terra 2. A diversidade da vida microscópica 3. A célula como elemento estrutural básico 112 4. Organismos procariontes e eucariontes 5. A estrutura dos seres vivos – modelos de organização em vegetais e animais 6. Formas e sistemas de nutrição heterótrofa e autótrofa – a fotossíntese e a respiração 7. A reprodução – formas e modelos representativos em vegetais e animais – a variabilidade dos descendentes – a herança genética 8. Conceito de evolução – adaptação dos seres vivos ao meio ambiente - extinção 9. Distribuição dos seres vivos e as propriedades do meio ambiente 10. As relações dos seres vivos – intercâmbio de matéria e energia – populações – comunidades biológicas – o ecossistema. Conhecimentos Procedimentais 1. Uso de guias, manuais e material gráfico para identificação de seres vivos e suas estruturas 2. Técnicas de classificação e uso de chaves dicotômicas simples 3. Correta utilização de instrumentos de observação de seres vivos e tecidos 4. Observação dos seres vivos no seu meio natural 5. Utilização de material alternativo e demonstração das estratégias de sobrevivência dos seres vivos – hábitos, fuga, camuflagem e mimetismo. Conhecimentos Atitudinais 1. Valorização de todas as formas de vida e de sua interdependência entre si e com o meio ambiente 2. Interesse pela observação dos seres vivos e dos fenômenos naturais relacionados 3. Respeito pelos animais e plantas objetos do estudo 113 4. Valorização e ponderação da atuação do ser humano sobre os demais seres vivos e o ambiente 5. Sensibilização diante dos seres vivos e da natureza e percepção de suas constantes modificações ao longo do tempo, em decorrência, também, da ação do homem. Núcleo Temático II - Qualidade de Vida Desenvolve-se o estudo do ser humano e das relações entre órgão e função, apresentando o estilo de vida saudável com especial atenção à higiene, saúde, sexualidade, a drogas como álcool e entorpecentes. A sexualidade é um tema de grande relevância na vida das pessoas e deve ser considerada fundamental na educação, tanto no âmbito familiar como na escola. Pretende-se que os alunos disponham de informações precisas sobre os aspectos biológicos da sexualidade e da sua relação com a reprodução, com a prevenção de problemas como as infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez não planejada e, também, a importância da afetividade como manifestação da sexualidade. Com relação à dependência química, o desenvolvimento de estudos sobre o tema procura contribuir para a disseminação entre os jovens de informações claras sobre a natureza e as conseqüências do consumo de drogas. No desenvolvimento de todos os conhecimentos, busca-se dar ênfase à educação para a saúde e o bem-estar com a construção de uma visão ampla de sanidade e de como ela é importante para todos. Deve-se promover um maior entendimento de que a saúde pessoal e a coletiva dependem da forma de viver e atuar e, numa visão mais ampla, estão intimamente ligadas à saúde da biosfera – nossa casa e nossa despensa. A saúde da biosfera, por sua vez, depende fundamentalmente do respeito pelo seu funcionamento e pelo uso correto que a humanidade faz dos recursos que ela nos oferece. 114 Conhecimentos Conceituais 1. Sistemas e órgãos que sustentam a atividade vital do ser humano 2. Funcionamento do organismo no seu conjunto e dos seus componentes 3. A saúde e doença – fatores biológicos e sociais 4. Alimentação e nutrição – perspectiva biológica e social 5. Dieta e higiene 6. Processos de reprodução humana – sexualidade e técnicas reprodutivas e contraceptivas 7. Alterações no equilíbrio das funções vitais provocadas por microorganismos, determinados hábitos e agentes tóxicos – a dependência às drogas. 8. Atitudinais O bem-estar e o ambiente – poluição – ar, água e solo – o lixo – produção, formas alternativas de gerenciamento Conhecimentos Procedimentais 1. Identificação das distintas partes do corpo humano através da observação de modelos anatômicos e esquemas impressos 2. Construção e realização de investigações sobre hábitos alimentares 3. Análise das diferentes classes de recursos nutricionais 4. Utilização de tabelas simplificadas da composição dos alimentos e seu valor nutricional 5. Análise da relação entre recursos naturais, econômicos e hábitos alimentares. 6. Apresentação de exemplos que ilustram a influência da publicidade nos hábitos de consumo 7. Análise comparativa das diferentes técnicas contraceptivas 8. Identificação de condutas de risco em relação às drogas lícitas e ilícitas, como também em relação às DST‟s 115 9. Debate planificado sobre alguns problemas sociais que levam pessoas ao consumo de drogas 10. Coleta, organização e crítica de fatos, fotos e reportagens que ilustram as transformações ocorridas no ambiente ocasionadas pela atividade humana Conhecimentos 1. Valorização dos hábitos de comportamento humano e a sua repercussão na saúde individual e coletiva 2. Interesse pelos hábitos de higiene corporal e prevenção das doenças 3. Atitude responsável e crítica ante ao consumo de drogas ou qualquer atividade que atente contra a saúde pessoal e/ou coletiva. 4. Compreensão de que o ser humano não está à parte da dinâmica do planeta e, sim, submetido, assim como os demais seres vivos, às conseqüências do desequilíbrio 5. Rejeição a participação em atos de destruição do meio ambiente 6. Valorização dos hábitos alimentares guiados por critérios de saúde e equilíbrio 7. Atitude crítica ante o fenômeno do consumismo na alimentação, a manipulação publicitária sobre produtos e sobre dietas de emagrecimento 8. Sensibilidade e solidariedade em relação ao problema da fome 9. Atitude de respeito com relação a outros hábitos alimentares pessoais e culturais diferentes 10. Respeito as diferentes vivências de sexualidade, ressaltando as atitudes responsáveis diante do início da vida sexual 11. Rejeição dos comportamentos sexistas e de todo tipo de exploração sexual 12. Apreciação pela cooperação, pela afetividade e pelo diálogo como aspectos fundamentais das relações sexuais 116 13. Atitude responsável no uso de medicamentos, evitando automedicação e dependência química 14. Rejeição ao uso de drogas e consciência de que o consumo não resolve problemas 15. Entendimento que a droga é um problema tanto individual quanto da família e de toda coletividade 16. Entendimento de como a intervenção humana na Terra é fundamental à vida, mas pode afetar a qualidade da água, do solo e do ar, com implicações para a vida das pessoas, objetivando a conscientização para o desenvolvimento sustentável Núcleo Temático III - Do Universo a Terra No desenvolvimento dos conhecimentos propostos neste núcleo temático, buscase construir a idéia de um universo dinâmico em que existe uma infinidade de astros separados por enormes distâncias e submetidos a um constante processo de transformação. Os planetas do Sistema Solar, por exemplo, ainda que com particularidades específicas, fazem parte de um conjunto submetido às mesmas leis, onde a Terra é um planeta a mais entre todos eles. Por outro lado, o nosso planeta apresenta diversos fatores que, em conjunto, permitiram a existência da vida. É um planeta que tem passado por profundas modificações através de agentes externos e também pelas atividades internas. Para entender a regularidade e, também, as transformações do planeta, os processos relacionados com a origem do universo e do Sistema Solar são abordados, buscando relacionar os movimentos dos astros e sua regularidade. São estudados os diferentes fenômenos naturais que podem ilustrar a permanente evolução em que o planeta Terra se encontra. As características de cada camada da Terra, com especial atenção à biosfera, são apresentadas para que o aluno entenda melhor os processos de formação do planeta e de fenômenos atmosféricos, o 117 papel da água e seu ciclo e problemas decorrentes das modificações na paisagem natural do planeta. Alguns conhecimentos incluídos neste núcleo temático podem se concomitantes aos estudados na Área de Ciências Sociais. Como exemplos, temos as noções de como o planeta se formou e como se comporta hoje, os movimentos terrestres e suas conseqüências. O importante é que haja um intercâmbio de idéias entre os professores para planejarem ações que visem a tirar proveito dessa interface, ajudando os alunos a relacionarem os itens estudados. Conhecimentos Conceituais 1. O Universo – componentes e características - Estrelas e Galáxias 2. O Sistema Solar - O Sol - Os Planetas – movimento dos astros – as horas 3. A Terra – a crosta terrestre – placas tectônicas – vulcões e terremotos 4. Terra e seus movimentos e conseqüências – Queda livre – Gravitação 5. Massa e peso – equilíbrio, centro de massa e força no cotidiano 6. Força em ação – movimento – conceito de velocidade e força 7. Magnetismo – pólos Norte e Sul magnéticos 8. O Ar – composição e estrutura da atmosfera 9. A água – composição e propriedades - ciclo da água – tratamento saneamento básico 10. O Solo – estrutura e tipos – a erosão e perda de material orgânico 11. Fósseis – registros da história do planeta. Conhecimentos Procedimentais 1. Utilização de modelos experimentais e modelos de estruturas geológicas 118 2. Conhecimento de técnicas de trabalho de campo: obter amostras e mapear posição e medições 3. Utilização de instrumentos de observação 4. Construção de um relógio de sol e verificar as variações da sombra durante o dia e ao longo do ano 5. Manejo de materiais caseiros a fim de realizar demonstrações de que o ar ocupa espaço, oferece resistência aos movimentos, tem peso e exerce pressão 6. Experimentação e conclusão de que um dos componentes do ar é essencial à combustão 7. Demonstração da formação da chuva utilizando materiais alternativos 8. Coleta de informações sobre a origem e o tratamento da água para uso doméstico. 9. Simulação da formação de fósseis utilizando modelos de massa e gesso. Conhecimentos Atitudinais 1. Percepção da importância das condições do planeta para a existência de vida nele 2. Valorizar o conhecimento das antigas civilizações sobre fenômenos celestes 3. Respeito pelo meio ambiente e os elementos de estudo analisados 4. Valorização da utilização dos recursos naturais 5. Valorização e ponderação da atuação do ser humano sobre o meio e sensibilização diante das agressões que causa ao meio ambiente Núcleo Temático IV - Recursos e Tecnologia Grandes recursos naturais de nosso planeta são discutidos no estudo da litosfera a partir do conhecimento dos diferentes tipos de rochas e minerais, relacionando suas propriedades com as inúmeras possibilidades de utilização desse recurso desde a 119 antiguidade pelo homem. Dá-se ênfase à diversidade da matéria e suas propriedades, preparando para a compreensão da estrutura atômica. Aborda-se também a diversidade de substâncias e suas transformações, destacando o conceito de homogêneo e heterogêneo, mistura e substância pura. É a partir das vivências do aluno em vários processos e seu uso no dia-a-dia que se desenvolve a compreensão do conceito de energia e suas diferentes formas, caracterizando as fontes de energia do planeta, seu uso e o esgotamento dos recursos não-renováveis. A grande ênfase no eixo – o que há no planeta/o que se utiliza, desenvolvendo os conceitos de recursos, consumo, reservas e tecnologia, busca destacar as alterações provocadas pelo consumo desnecessário e não sustentável e pela aplicação, por vezes inadequada e inconseqüente, de tecnologia no funcionamento da biosfera. A sensibilização é fundamental para desenvolver atitudes de responsabilidade e cooperação na minimização dos problemas do meio ambiente. E essa consciência vem da compreensão pública e integrada das condições do meio e suas múltiplas e complexas relações envolvendo aspectos físicos, químicos, biológicos, sem deixar de destacar os aspectos políticos, econômicos, culturais e éticos. Considerações: A Química tem como ponto de partida a observação da realidade, particularmente das propriedades das substâncias e das transformações que elas sofrem (Canto, 1998). A abordagem do conceito microscópico do átomo e de moléculas será realizada mais tarde ao longo do programa ao relacionarmos a importância do estudo das reações químicas para a elaboração do modelo atômico. O mais importante é o aluno entender que muitos fenômenos podem ser explicados pelas diferentes combinações entre as unidades que formam a matéria. O binômio matéria/energia será desenvolvido, também dentro da área curricular de Ciências, através do estudo do fluxo de energia das cadeias alimentares e das estratégias de obtenção de alimento. 120 As diferentes formas de energia, as propriedades das substâncias e suas transformações devem ser abordadas sempre partindo do reconhecimento de como vem sendo feito o aproveitamento tecnológico de tais recursos pela humanidade e, portanto, mais próximo das vivências dos alunos. Conhecimentos Conceituais 1. Conceito de recurso natural – ciclo de matéria – desenvolvimento sustentável 2. Recursos e consumo - recursos renováveis, não-renováveis e potencialmente renováveis - reciclagem 3. Processos de obtenção e transformação de recursos naturais em produtos 4. Fontes de energia e o sistema de produção 5. Minerais como recursos naturais não-renováveis 6. Poluição e contaminação – efeitos sobre o meio e a saúde – legislação ambiental 7. Substâncias químicas e suas propriedades - ponto de fusão e de ebulição – densidade e flutuação 8. Misturas homogêneas e misturas heterogêneas - conceito de solução e separação de misturas 9. Reações químicas - transformação química - reagentes e produtos 10. Universalidade na composição da matéria - o modelo atômico 11. Elementos químicos e seus símbolos 12. Substâncias químicas e suas fórmulas 13. Ligações químicas - substâncias químicas de importância cotidiana 14. Substâncias iônicas - substâncias moleculares - substâncias metálicas e suas propriedades 15. Os ácidos e as bases – soluções presentes no cotidiano 121 16. Processos químicos – transformação de recursos naturais – petróleo, carvão mineral, ar, água do mar e minérios no sistema produtivo 17. O comportamento do ar quando aquecido ou resfriado - formação dos ventos 18. Temperatura – escalas termométricas – calor e transferência de calor – efeito estufa e aquecimento global 19. O tato - quente e frio - sensação térmica, temperatura e calor 20. Odores e sabores – os aromatizantes naturais e artificiais. 21. Formas de geração da corrente elétrica – circuitos elétricos – energia elétrica e os eletrodomésticos – os choques elétricos 22. O som e as ondas sonoras – freqüências dos sons, ouvido humano e rádios 23. A luz – cores – reflexão e refração – espelhos – formação de imagens e correção da visão 24. O conceito de lente – máquinas fotográficas, aparelhos de microscopia e telescópios 25. As máquinas facilitando o trabalho – máquinas simples e ferramentas - máquinas transformadoras de força. Conhecimentos Procedimentais 1. Elaboração de uma lista com materiais de origem mineral, presentes no dia-a-dia do aluno 2. Pesquisa e divulgação de medidas que contribuam para a sustentabilidade na Terra. 3. Experimentos sobre as diferentes técnicas de separação de misturas homogêneas e de misturas heterogêneas 4. Utilização de materiais alternativos para elaborar modelos moleculares que representem reações químicas 122 5. Pesquisa e obtenção de um indicador ácido-base, utilizando-o para testar algumas soluções, visando a classificá-las como acidas ou básicas 6. Confecção de balões para a observação da contração do ar quando resfriado, e de sua expansão, quando aquecido 7. Construção de termômetros e realização de medidas de temperatura em diversas situações 8. Investigação experimental sobre as diferentes formas de propagação de calor em vários materiais 9. Utilização de circuitos elétricos simples comparando com a rede elétrica de casa 10. Listagem de vários equipamentos domésticos com posterior análise do seu consumo de energia e princípios de funcionamento 11. Pesquisa das aplicações da tecnologia na música, nas telecomunicações, na produção de novos materiais e no diagnóstico médico, sempre com uma postura ética diante da mesma. Conhecimentos Atitudinais 1. Consciência de que a natureza não está a serviço do ser humano e de que ele é apenas um dos componentes dos ecossistemas 2. Valorização das medidas de proteção ambiental como promotoras da qualidade de vida 3. Repúdio do desperdício de recursos, percepção e crítica das diversas formas de desperdício. 4. Percepção de que muito do conforto da vida moderna se deve à utilização de progressos da Química 5. Valorização das medidas de proteção ambiental como promotoras da qualidade de vida 123 6. Valorização das normas nacionais de trânsito como um indicativo para a proteção da vida 7. Sensibilidade sobre os cuidados básicos com a manipulação de fios e demais itens ligados à rede de energia elétrica 8. Preocupação com os efeitos prejudiciais dos sons excessivamente altos e valorização do silêncio para o repouso do corpo 9. Consciência da importância dos exames periódicos de vista 10. Percepção de que a utilização dos recursos existentes na Terra traz conseqüências para os indivíduos, á sociedade e o ambiente. 11. Repúdio a exploração não-sustentável geradora de desequilíbrios que podem levar ao esgotamento dos recursos, à extinção de espécies e a destruição do ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARONS, A. B. Achieving Wider Scientific Literacy. Daedalus. N.122, p.92-93, 1983. BAZZO, W. A. Ciência, tecnologia e sociedade: o contexto da educação tecnológica. Santa Catarina: UFSC Editora, 1998. BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Editora Ática, 2ª ed., 2002. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997. CAÑAS, A., MARTÍN-DIAS, M. J. e NIEDA, J. As Ciências Naturais no Desenvolvimento das Capacidades dos Alunos. In: COLL, C. e Cols. Aprender Conteúdos & Desenvolver Capacidades. Porto Alegre: Artmed., 2004. CANTO, E.L. Coleção Ciências Naturais: aprendendo com o cotidiano. São Paulo: Moderna, 1999. CAZELLI, S. Alfabetização Científica e Processos Educativos. Perspicillum. MAST-Rio de Janeiro, v.6 n.1, p.75-104, 1992. COLL, C. e Cols. Os Conteúdos na Reforma: ensino, aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2ª ed., 2000. _____. Aprender Conteúdos & Desenvolver Capacidades. Porto Alegre: Artmed., 2004. 124 CHALMERS, Alan. O que é ciência. afinal? Trad. Raul Fiker. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. DOLZ, D. e MARTÍN-DIAS, M.J. Ciência, Tecnologia e Sociedade no Desenvolvimento das Capacidades dos Alunos. In: COLL, C. e Cols. Aprender Conteúdos & Desenvolver Capacidades. Porto Alegre: Artmed., 2004. MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências Naturais. 5ª a 8ª séries. Brasília, 1998. MEIS, L. Ciência, educação e o conflito humano tecnológico. São Paulo: SENAC Editora, 2002. MELO, M. R. Ensino de Ciências: uma participação ativa e cotidiana. Disponível em <http://www.rosamelo .hpg.ig.com.br. Acesso em : 9 de dezembro de 2002. MILLER, J. D. 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Este questionário é parte integrante do Projeto de Pesquisa desenvolvido, no curso de pós graduação na área de educação do IFRJ, pelo aluno Leandro Trindade, orientado pela professor Dr. José Celso, tendo como proposta principal a investigação e compreensão das abordagens utilizadas no ensino no primeiro segmento de ensino fundamental, assim como as diferentes estratégias didáticas adotadas. Agradecemos sua colaboração no preenchimento das questões que se seguem. A equipe 1) Você sabe de onde vem a água que você bebe? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 126 ________________________________________________________________ __________________ 2) Por onde a água passou antes de cair da bica? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ __________________ 3) É importante economizar água? Por quê? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ 4) Você sabe como é uma estação de tratamento de água? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ 5) O que você pode fazer para economizar água? 127 ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ _____________________ Anexo III: Questionário diagnóstico para alunos do primeiro segmento do ensino fundamental na turma do primeiro segmento do ensino fundamental Estimado(a) aluno(a). Este questionário é parte integrante do Projeto de Pesquisa desenvolvido, no curso de pós graduação na área de educação do IFRJ, pelo aluno Leandro Trindade, orientado pela professor Dr. José Celso, tendo como proposta principal a investigação e compreensão das abordagens utilizadas no ensino no primeiro segmento de ensino fundamental, assim como as diferentes estratégias didáticas adotadas. Agradecemos sua colaboração no preenchimento das questões que se seguem. A equipe 1)Você sabe de onde vem a água que você bebe? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 128 ________________________________________________________________ ____________________________________________________________ 2) O que deve ser feito na água para ela ser considerada boa para beber? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ 3) Por que é importante economizar água? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ 4) Você sabe como é uma estação de tratamento de água? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ 129 6) Para que serve o cloro na água? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________ Anexo IV: Tabuleiro Parte escrita (Casas): Início. G Você deixou a bica aberta.Volte ao início. G Você participou da campanha de coleta seletiva. Avance 3 casas. G Ganhe 1carta bônus ! G Você demorou muito tempo no chuveiro. Volte 3 casas. 130 G Desafio! Faça uma pergunta para um outro jogador. G Você denunciou um vazamento de água na rua. Avance 3 casas. G Jogou lixo no chão e entupiu o esgoto na rua.Volte 3 casas. G Fez excelente trabalho escolar sobre a água. Avance 3casas. G Jogou óleo de cozinha na pia.Volte 1 casa. G Desafio! Faça uma pergunta para um outro jogador. G Participou de campanha para tratamento de água. Avance 3casas. G Ganhe uma carta bônus! G Trocou a descarga por uma mais econômica. Avance 1 casa. G Não limpou adequadamente a caixa de água.Volte 1 casa. G Participou de campanha para tratamento de água.Avance 3 casas. G Fez manutenção da rede hidráulica de casa.Avance 1 casa. G 131 Desafio! Faça uma pergunta a outro jogador. G Fez campanha para consumo racional da água. Avance 3 casas. G Você esqueceu de filtrar a água. Volte 1 casa. G Participou da campanha não jogue lixo no rio.Avance 3 casas. G Desafio!Faça uma pergunta para um outro jogador. G Você deu várias descargas sem necessidade. Volte 1 casa. G Ganhe uma carta bônus. G Grande desafio. Chegada! Ganhe cartas conforme a sua colocação! 132