Guia Específico Alemão - TGG

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SIMULAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO – X EDIÇÃO
SiEM - Edição X
1-
Contexto da Alemão no Período da Primeira
Grande Guerra
1.1 Contexto alemão antes da Guerra
Sob a tutela de Otto von Bismarck e a liderança do Reino da
Prússia, vários estados alemães se uniram em 1870 sob uma
bandeira comum contra Napoleão III da França. Em 1871 a Guerra
Franco-Prussiana havia acabado, e o Império Alemão já se
mostrava estável, com a dinastia Hohenzollern da Prússia coroada
como mandante do Segundo Reich alemão. A unificação da Alemanha
dependeu de três guerras; contra a Dinamarca, onde a Prússia
anexou
Schleswig-Holstein;
contra
a
Áustria,
onde
uma
dependência de facto e uma aliança fora estabelecido com o
derrotado império austríaco; e a guerra já mencionada contra a
França, na qual foi anexada a região da Alsácia-Lorena.
O sistema legislativo alemão, apesar de reconhecer sufrágio
universal masculino para eleições parlamentares, concedia
poderes semi-absolutos tanto para o Kaiser (chefe de Estado
Prussiano)
quanto
para
o
chanceler
do
país.
Após
desentendimentos entre Wilhelm II (monarca, Kaizer) e Bismarck
(militar, unificador prussiano), o poder absoluto sobre o país
efetivamente caiu sobre o imperador e um grupo de conselheiros.
Uma vibrante cultura política floresceu ainda assim na nação,
que combinada com uma história rica e orgulhosa e com um
desenvolvimento econômico assustadoramente rápido - se em 1840
largas porções do que seria a Alemanha ainda se encontravam em
um estado feudal e precário, por meio de uniões tarifárias
(Zollverein) e uma aliança entre donos de terras (Junkers) e
capitalistas da região do Rheinland, em menos de 30 anos de
industrialização o país estava muito desenvolvido - a tornou por
1890 era uma nação enormemente poderosa no cenário econômico,
militar e político global. Com a adição de 18 milhões de
habitantes, um crescimento de 100% na população urbana nos 23
anos entre 1890 e 1913 e um PIB per capita que só ficava atrás
do americano e britânico, a Alemanha era considerada uma
competidora forte contra o Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Como dizia o Bismarck, “a Alemanha precisava de menos manteiga e
mais ferro”.
Por 1914, a Alemanha também se tornara a capital acadêmica
do mundo ocidental: Berlim era o centro do conhecimento e da
cultura, e planos de firmar uma Europa liderada pelo povo alemão
eram populares não só por germânicos, como visto pelas vendas do
livro Mitteleuropa, de Friedrich Naumann, no mundo todo. As
pretensões ultramarinas políticas alemãs, já claras com o
Congresso de Berlim, são feitas ainda mais claras com o seguinte
pronunciamento de Bernhand von Bulöw, ministro do Exterior
alemão de 1897 até 1900:
“Os dias em que os alemães concediam a terra a um vizinho,
a outro o mar e reservaram para o si o céu [...] chegaram ao
fim. [...] Ficamos felizes de respeitar os interesses de outras
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potências na China, desde que tenhamos a certeza que nossos
interesses também receberão o reconhecimento que merecem. Em
suma, não queremos fazer sombra a ninguém, mas também exigimos
nosso lugar ao sol.”
Conflitos ideológicos entre o Deutsches Sozialdemokratische
Partei (Partido Socialdemocrata Alemão), que tinha grande base
eleitoral dentre os operários que formavam a maior população
socialista da Europa, e os líderes conservadores do gabinete
imperial de Wilhelm II trouxe à Alemanha um nível de tensão
interna enorme, que ressonava inevitavelmente em sua política
externa. Isso levou os líderes conservadores do país a
perceberem que se uma guerra fosse lutada, teria de ser lutada
agora, antes que os pacíficos sociais democratas tivessem
maioria definitiva no Parlamento.
O
pragmatismo
que
fora
arma
fundamental
para
o
fortalecimento da Alemanha fora deixado de lado, e uma série de
erros diplomáticos e obsessões pessoais levaram a nação alemã a
eliminar qualquer tipo de aliança com a Inglaterra devido ao seu
papel jingoísta tanto na Primeira Crise do Marrocos quanto no
direcionamento de um terço da verba de defesa para o
desenvolvimento de uma marinha de guerra de acordo com o plano
Tirpitz de expansão naval. As relações já fragilizadas com a
França após 1871 se tornaram ainda piores com esses episódios, e
retóricas inflamadas surgiam em ambos os países, ao ponto que
“em um ato de defesa premeditada” o Reichstag instituiu, em
1913, o exército alemão em períodos de paz como sendo de 890 mil
homens, uma quantidade verdadeiramente monstruosa para a época.
A Rússia, que anteriormente tinha relações próximas com o
vizinho germânico, também passou a temer a retórica belicosa e
agressiva alemã (os alemães estavam tão obcecados com a guerra
que ao declarar hostilidades com a Rússia, o serviço diplomático
enviou duas cartas, uma dizendo que a falta de resposta ao
ultimato era inaceitável, e a outra dizendo que a resposta russa
era imperdoável), e se aliou com a França.
Outro ponto de interesse significante é Wilhelm II em si. O
ponto que ele pode ser considerado um instigador da guerra é
discutível, com suas anotações pessoais e correspondência com o
czar Nicholas II afirmando um desejo de paz e a disposição firme
de apoio à Áustria-Hungria e sua insistência em perseguir o
fortalecimento das forças armadas alemãs contra o desejo da
maior parte da sua população afirmam um anseio por dominância. O
Alto Comando alemão em geral não possuía nenhum tipo de
ressonância com sua população; havia um grande grau de respeito
e admiração mútua entre os alemães e os britânicos, e as
numerosas
populações
do
leste
alemão
tinham
proximidade
histórica
com
os
russos,
apesar
do
desejo
claro
dos
conservadores e militares alemães de atacar esses países. Essa
falta de união entre os desejos da população civil e os do
comando militar faria com que muitos alemães fugissem para a
Suíça a fim de escapar da conscrição militar.
1.2
A Grande Guerra para a Alemanha
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Conforme os bombardeios destruíam Belgrado, Wilhelm II deu
uma última tentativa à ação diplomática, mesmo após ter recusada
a mesa de negociações com os russos e os britânicos poucos dias
antes, ao longo de uma série de telegramas curiosamente amorosos
com seu primo Nicolau II, que respondeu aos telegramas com o
mesmo calor fraternal com os quais eles foram escritos. Há
motivos para acreditar que Wilhelm preferiu contrariar seu Alto
Comando e tentou convencer o governo russo de permitir ação
punitiva austríaca na Sérvia sem o prospecto maior de uma guerra
europeia, mas não obteve sucesso, e reverteu-se para uma
diplomacia belicista. A Rússia, que havia ordenado uma
mobilização parcial de suas tropas antes da declaração de guerra
pela Áustria a seu aliado nos Balcãs, finalmente declarou
mobilização completa, o que fez com que Berlim enviasse
ultimatos para St. Petersburgo solicitando o fim da preparação.
Ao mesmo tempo, o Chefe de Estado maior austríaco foi intimado
pelo Kaiser a concentrar-se no combate à Rússia, que estava
prestes a declarar seu estado de hostilidade, apesar de que 75%
do enorme, porém bagunçado, exército imperial austríaco já
estava indo para a Sérvia. A condição desordenada das ferrovias
austríacas fez com que o exército invadisse a Sérvia e enviasse
suas tropas na direção da Rússia literalmente na velocidade de
uma bicicleta.
No dia 1º de agosto, não tendo recebido resposta do czar, a
Alemanha efetua mobilização geral e declara guerra à Rússia,
preparando-se para invadir Luxemburgo e a Bélgica para entrar na
França. Quando a Bélgica recusou o direito de passagem dos
soldados alemães, a Alemanha preparou-se para a invasão do país,
que aconteceria no dia 4 de agosto, um dia depois da declaração
de guerra contra a França no dia 3. O prospecto de invasão da
Bélgica foi visto como um ultraje pelo até então nãointervencionista Parlamento Britânico. No dia 4 de agosto,
enquanto as primeiras tropas alemãs encontravam resistência
pesada da Bélgica, o Reino Unido declarou guerra à Alemanha.
1.2.2. O Front Ocidental
O Exército belga teve de enfrentar, sozinho, a invasão
alemã. A recusa do pequeno país a dar acesso militar a seus
soldados atrasou significantemente seu avanço, e ações de
guerrilha na Bélgica notavelmente atrapalharam o comando
logístico do exército germânico. Ação demorada em torno de Liége
atrasaram as tropas, e embora duas semanas e meia os alemães já
haviam tomado a grande maioria do território belga, bolsões de
resistência prosseguiram na Antuérpia, perto da fronteira com a
Holanda.
Após os avanços alemães serem atrasados em 2 semanas pelos
belgas, finalmente as forças francesas entrariam em cena em
massa, numa série de batalhas conhecidas como Batalhas das
Fronteiras, com destaque para 4: Lorena, Ardenas, Charleroi e
Mons. O exército francês teve conflitos desastrosos com os
alemães, devido a seu atraso técnico e tecnológico absolutamente
patético, ao longo de uma semana catastrófica, perdendo todas as
batalhas que engajaram, sem nenhuma exceção. No dia 22 de agosto
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de 1914, os franceses perderam 27.000 homens, além dos que foram
feridos, o maior número de mortes registradas por uma só nação
em um só dia durante toda a guerra. No final de agosto de 1914,
os franceses haviam perdido 275.000 homens, entre mortos e
capturados. Enquanto isso, os britânicos mandavam 100.000 de
seus
homens,
todos
soldados
profissionais
com
anos
de
experiência, através do Canal da Mancha. Na última das Batalhas
das Fronteiras, nas proximidades da cidade belga de Mons,
britânicos e alemães se encontraram pela primeira vez na guerra,
onde a superioridade 1 contra 1 do exército inglês foi provada,
e o exército alemão foi pela primeira vez parado, sobre o
comando de Smith-Dorrien. Eventualmente, porém, a superioridade
numérica e a fragilidade francesa fizeram com que os britânicos
se retirassem, antes de, em Le Cateau, em 26 de agosto, uma
parte da Força Expedicionária Britânica segurou o exército
alemão o suficiente para garantir uma retirada segura para os
seus aliados.
Após as derrotas nas Batalhas das Fronteiras, os aliados
continuarem sua retirada até as proximidades de Paris, no rio
Marne, onde começou uma batalha de proporções monstruosas no dia
5 de setembro. O cansado exército alemão perdeu qualquer
tentativa de tomar Paris ao alongar suas linhas de suprimentos,
mas entrou em batalha de qualquer maneira. Levando táxis
parisienses para reforçar suas linhas, os franceses seguraram os
alemães ao leste e oeste, enquanto os britânicos apoiavam ambos
os flancos. Percebendo uma abertura cada vez maior na linha
germânica, a Força Expedicionária Britânica avançou ao centro,
colocando-se entre os dois exércitos. A conquista de um vilarejo
pequeno na noite de 8 de setembro por parte de tropas franceses
no flanco esquerdo começou uma série de derrotas alemãs. Von
Bulöw, general alemão responsável por tal flanco, comunicou-se
com o general alemão responsável pelo outro flanco, Kluck, pela
primeira vez apenas no dia 9 de setembro, ainda assim sem
instruções diretas do Alto Comando liderado por Moltke, chefe do
Estado-maior alemão. Uma tentativa falha de contra-ataque alemão
foi facilmente repelida, e os britânicos avançaram seriamente
como consequência, para além de 30 km das linhas de segurança
alemãs. Temendo um muito provável cercamento9, no dia que era
designado como o dia da tomada de Paris, 9 de setembro, de
codinome M+40, os alemães se retiraram ao longo de todo o front
mais de 100 km até o rio Aisne. Moltke teve um colapso nervoso
após a derrota.
No rio Aisne, foi percebido pela Alemanha que a guerra de
movimento
e
vitórias
fáceis
tinha
acabado.
A
condição
psicológica dos soldados foi brutalmente atacada com uma
batalhas que duravam por semanas a fio, com barragens de
artilharia que duravam horas e horas, com um clima horrendo. O
longo front requeria muitos homens, e uma das mais famosas
campanhas de publicidade da história fez com que 478.000
voluntários se alistassem para lutar pelo Reino Unido pelo dia
12 de setembro. Uma nota importante: nessa campanha de
marketing, pessoas da mesma cidade ou profissão eram prometidos
um lugar conjunto na guerra, o que significava que em uma
batalha, a população masculina de uma cidade inteira podia ser
morta de uma vez só. Em uma adaptação monstruosamente rápida,
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ambos os lados começaram a se mobilizar continuamente para o
leste, a fim de alcançar o mar e atacar o inimigo pelos flancos.
A última chance alemã de circular as tropas anglo-francesas
acabou quando uma ofensiva em larga escala foi parada em Arras,
próxima à fronteira belga. Em 14 de outubro, os ingleses
entraram em Ypres. Reforços gigantescos de ambos os lados na
região de Flandres viram centenas de milhares de homens entrarem
em batalha quando 14 divisões alemães atacaram a cidade, que foi
defendida pelos ingleses com sucesso em uma batalha que durou
até o final de novembro. Enquanto o corpo de combatentes alemães
era composto por crianças do ensino médio, os ingleses usaram a
maior parte possível do seu exército profissional; os relatos
contam que os britânicos atiravam tão rápido com seus rifles que
os germânicos achavam ser atacados por metralhadoras. No final
da Primeira Batalha de Ypres, nos últimos dias de novembro, os
alemães haviam tido 135 mil baixas, contra apenas 58 mil de
ingleses. Franceses e belgas em Flandres em outros setores além
do de Ypres perderam entre si 68.500 homens.
1.2.3 O Front Oriental
A abdicação de Nicolau II culminou no fim do czarismo e um
governo provisório parlamentarista era constituído na Rússia sob
comando do príncipe Georgy Lvov, pouco depois substituído por
uma coalizão liderada pelo socialista moderado Alexander
Kerensky. Ao mesmo tempo, formava-se o Soviete de Petrogrado,
principal conselho operário dos muitos que se formavam no país.
A influência dos bolcheviques, facção revolucionária do Partido
Operário Socialdemocrata Russo, nesses sovietes crescia.
O governo provisório não retirou a Rússia da guerra, e a
situação econômica e social catastrófica no país só piorava.
Vladimir Lênin, líder bolchevique, enxergava possibilidades para
uma nova revolução, agora tomando uma direção marxista e nos
moldes da massiva mobilização popular que havia antes causado a
renúncia do czar.
Na Revolução de Outubro, ainda em 1917, o governo
provisório foi derrubado. Lênin anunciava que o novo regime
retiraria a Rússia da guerra, aboliria a propriedade privada e
estabeleceria o controle operário das fábricas. No mês seguinte,
os bolcheviques assumiam efetivamente o poder na Rússia.
Um cessar-fogo foi declarado em dezembro de 1917; os
bolcheviques buscavam focar seus esforços em forças insurgentes
na recém-iniciada Guerra Civil Russa. Demandas de enormes
concessões pelos alemães e mais hostilidades de guerra causaram,
em fevereiro do ano seguinte, o fracasso das negociações de paz.
Com a queda do czarismo, diversas partes do Império Russo
declararam independência, como a Finlândia (com apoio alemão).
Opositores dos bolcheviques em território russo buscavam ajuda
nas potências ocidentais, que a proveram, vendo a oportunidade
de reestabelecer o Front Oriental e dividir novamente o exército
alemão.
No final de fevereiro de 1918, os Poderes Centrais
estabeleceram novamente termos para a paz com a Rússia. Entre
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eles, o reconhecimento da Ucrânia como independente, cessão da
parte ocidental da Armênia para a Turquia, evacuação de tropas
da Finlândia e Ucrânia e a cessão de Dünaburg, da Livônia e da
Estônia para a Alemanha, com prazo de 48 horas para aceitação,
no chamado Tratado de BrestLitovsk (mais detalhes do mesmo na
seção Revolução 18/19 e República de Weimar). A Rússia também
renunciava às reivindicações territoriais nos países bálticos para os quais os alemães planejavam criar um ducado unificado e na Bielorrússia, retornava o território anexado depois da
Guerra Russo-Turca (1877-1878) para os otomanos, e concordava
com uma indenização de 6 bilhões de marcos aos alemães.
As condições do tratado comprimiram em muito o território
russo e causaram uma expressiva diminuição da população russa e
serviram como um aviso às forças ocidentais adversárias da
Alemanha sobre o que esperar caso perdessem a guerra. Não
obstante, sobretudo pelas condições quase humilhantes do Tratado
de Brest-Litovsk, a vitória alemã no Front Oriental era certa. A
Alemanha transferia suas tropas de lá para o oeste, a fim de
montar uma futura ofensiva na França.
1.2.4 Ofensiva dos Cem Dias
Derrotas militares nas ofensivas de 1916 fez com que
diversas trocas no escalão superior do Estado Maior Geral
ocorressem, culminando na nomeação de Luddendorff como chefe
deste gabinete. Ao longo de vários meses e de várias batalhas em
1916
(descritas
anteriormente
no
documento),
Luddendorff
percebeu problemas com as táticas utilizadas pelos generais
alemães, e foi à linha de frente para tentar adaptar-se. Os
insumos de diversas entrevistas feitas com soldados comuns foram
a construção de novas políticas industriais, para aumentar o
número de recursos utilizados em batalhas, e principalmente a
implementação de novas estratégias de defesa, que incluíram
defesa em profundidade e camuflagem. Poucos soldados alemães
eram
deixados
nas
trincheiras
mais
dianteiras,
mas
as
fortificações ficam cada vez mais densas.
Efetivamente, essas novas estratégias impediram um colapso
do exército alemão no Front Ocidental em 1917, que apesar de
terem novos homens enviados do front oriental devido à vitória
sobre a Rússia, simplesmente não conseguiam impedir perdas
enormes contra os ataques ingleses e franceses.
Uma das grandes criações da nova política estratégica alemã
foi a elaboração da Linha Hindenburg, uma linha estratégica que
tinha uma série de fortificações que, fazendo-se uso do terreno,
dispunha de seis camadas de defesas distribuídas ao longo de
todo o front. Quando em abril de 1918 a Ofensiva da Primavera
alemã falhou em seu objetivo de quebrar a moral de seus
inimigos, as tropas alemãs estavam desmoralizadas, mal supridas
e cansadas. O contra-ataque começou com operações na Batalha de
Soissons, onde tropas franco-americanas efetivamente encerraram
qualquer avanço alemão, e após alguns dias de contra-ataques da
Entente, os germânicos foram forçados a recuar para as posições
prévias à sua última ofensiva.
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Seguida dessa situação, no dia 8 de agosto de 1918, começou
a Batalha de Amiens. O primeiro dia de combates foi letal para o
Exército Alemão, tenho sido chamado por Luddendorff de “O dia
negro do exército alemão”, devido a altíssimas perdas e
particularmente numa quebra quase completa de moral. Alguns dias
depois, os alemães começaram a recuar para as fortalezas
defensivas da Linha Hindenburg. Uma série de ofensivas
franceses, com apoio americano, foram enfraquecendo o centro da
Linha, que finalmente foi penetrada no dia 17 de outubro de 1918
por tropas australianas. Na Batalha de Cambrai, em 10 outubro de
1918, dois exércitos britânicos já haviam penetrado Hindenburg,
em outro ponto do front. Com essa penetração, o Alto Comando
Alemão aceitou que a guerra estava perdida e que uma paz deveria
ser negociada, mas isso não aconteceria até 11 de novembro de
1918, após outras várias batalhas a retaguarda alemã tentar
proteger o recuo das forças principais germânica até território
alemão. Porém, em Mons, Bélgica, no mesmo lugar onde 4 anos
antes os britânicos e franceses lutaram sua última batalha antes
de recuar para Paris, os alemães assinaram um armistício, e a
guerra tinha sido vencida.
2- Golpe ao Kaizer e a República de Weimar
2.1 Proclamação da república
Em 1918 chega ao fim a Primeira Guerra Mundial com a
derrota evidente do exército alemão. Já nas últimas batalhas
seguiram-se sucessivas perdas das tropas alemãs, gerando uma
situação de insatisfação geral da população com o estado de
guerra, o qual àquela altura já era entendido como nitidamente
sem sentido, visto que o fracasso era iminente. Dessa forma, o
que se apresentou foi um cenário de revolta e greves tanto dos
membros do exército, quanto da população civil, os quais já
estavam conformados com o final próximo e questionavam o
prolongamento exaustivo de tal fim.
Dentro desse contexto acontece a Revolução de Novembro,
culminando com a abdicação do Kaiser Guilherme II. Este, na
realidade, foi abdicado, por assim dizer, através de um
procedimento ilegal comandado pelo chanceler Maximiliano de
Baden, que nomeou Friedrich Ebert como seu sucessor. Seguiu-se,
então, a proclamação da república. Curiosamente, esta foi
proclamada duas vezes no dia 9 de novembro de 1919:
aproximadamente ao meio dia por Philipp Scheidemann, membro do
Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e, horas mais tarde,
por Karl Liebknecht, membro do partido opositor (Partido SocialDemocrata Independente da Alemanha - USPD). Assim, o país
deixava de ser uma monarquia e passava para o regime da
democrático.
2.2 Período entre 1919 e 1923
Os anos seguintes à proclamação da república foram caóticos
politicamente, sendo os conflitos entre partidos constante. De
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maneira geral, apresentavam-se os comunistas de um lado, visando
a construção de um sistema voltado para os trabalhadores e, de
outro, os liberais, os partidos de centro e o SPD, os quais já
eram
ativos
politicamente
no
período
da
monarquia.
Os
vitoriosos, por fim, foram as forças moderadas, formando, assim,
a assembleia constituinte na cidade de Weimar, da qual originouse o nome. Tal assembleia visava três pontos fundamentais, sendo
eles: um tratado de paz, uma constituição e uma nova ordem para
o país.
O Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1919,
oficializou então a paz entre as potências europeias, pondo um
fim definitivo à Guerra. No entanto, ao contrário do proposto
pelos 14 pontos do presidente americano Woodrow Wilson, tal
tratado impunha claramente a culpa pelos danos de guerra à
Alemanha, sendo inacreditavelmente injusto, no sentido de que
era implacável em suas exigências de compensação para o país.
Ele estabeleceu, entre outros pontos, que deveriam ser pagas
reparações absurdas aos países vencedores; que a Alemanha
deveria desfazer-se de seu armamento e reduzir seu exército; que
seriam cedidos 10% dos territórios alemães aos vitoriosos. Tal
tratado
foi
entendido
como
um
ditado
da
vergonha
(Schanddiktakt) pela população alemã, representando uma das
grandes sequelas na formação da República de Weimar.
Já a nova constituição tinha como objetivo a organização da
Alemanha como um todo, assim como a definição do futuro sistema
que seria seguido pelo país. Foi delimitada então uma
constituição amplamente democrática, como ainda não havia sido
vista em território alemão e definiu-se que o modelo a ser
seguido seria o da democracia parlamentar. Os votos seriam
livres, secretos e universais e haveria uma divisão dos poderes.
O símbolo do poder executivo era pertencente ao presidente
(Reichspräsident), já as leis eram elaboradas pelo parlamento
(Reichstag), eleito diretamente pela população, o qual era
responsável pela nomeação do chanceler (Reichskanzler), topo do
poder executivo do país. Havia também um segundo órgão, que era
formado por representantes de cada estado (Reichrat).
Em 6 de junho de 1920 aconteceram as primeiras eleições,
novamente dentro de um cenário impregnado pelo caos. Seguiram-se
diversas tentativas de golpe de extremistas tanto da direita,
quanto da esquerda e esse período foi caracterizado pela
instabilidade política, pobreza, insatisfação popular e desejo
de revolução, Ademais, uma grave crise econômica alastrou-se
pelo país, gerada pela impressão contínua de dinheiro a fim de
cobrir o rombo causado pelo endividamento estatal com as dívidas
externas, o que, em última instância, causou uma situação de
hiperinflação e desvalorização da moeda.
2.3 Esperança dos anos 20
Os chamados anos de ouro (Goldener Zwanziger), foi e
época entre 1923 e 1929, em que se deu uma melhora significativa
na perspectiva da Alemanha nos âmbitos econômico, político,
social e cultural. Ficou, portanto, marcado como os anos
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gloriosos da República de Weimar, quando a população encontravase satisfeita com a vida no país.
Na esfera econômica, houve uma reforma na monetária
(Währungsreform), que consistiu na utilização de uma nova moeda,
resultando na valorização da moeda alemã e consequente melhora
na
economia.
Isso
junto
aos
empréstimos
de
potências
estrangeiras, sobretudo dos Estados Unidos, que viviam ampla
expansão econômica, possibilitou a implementação de medidas
sociais, melhorando a qualidade de vida da população. A isso
soma-se também um extremo desenvolvimento cultural, levando
Berlim ao posto de principal centro cultural da Europa.
Já no campo internacional, o então ministro de relações
exteriores, Gustav Stresemann, deu cabo ao seu plano de
aproximação diplomática com outros países. Isso gerou uma
repercussão
extremamente
positiva
para
o
país,
já
que
possibilitou a reinserção da Alemanha no cenário internacional,
tanto
política
quanto
economicamente.
E,
através
do
fortalecimento de tais relações, logrou que as reparações
exigidas pelo Tratados de Versalhes fossem tornadas mais
brandas, diminuindo a pressão da dívida externa no Estado
alemão. Além disso, no ano de 1926, a Alemanha finalmente passou
a fazer parte da Liga das Nações, que precedeu o que hoje
conhecemos pela ONU (Organização das Nações Unidas).
2.4 O fim da República de Weimar
Com a quebra de bolsa de Nova York em 1929, deu-se inicio a
uma das maiores crises econômicas mundiais, a qual, logicamente,
repercutiu diretamente no cenário alemão, já que o país era
inteiramente dependente dos empréstimos estadunidenses. Desse
modo, bancos e empresas quebraram e a economia mundial entrou em
depressão. O estado de economia desestabilizada foi reinstaurado
no país e o nível de desemprego atingiu índices extraordinários.
A
hiperinflação
(tendo
recordado 1000% ao mês) tornava
a nova moeda virtualmente inútil
É assim que os partidos radicais, sobretudo de direita,
começam a ganhar força e o Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães (NSDAP), liderado por Adolf Hitler, recebe
um número cada vez mais alto de votos.
Devido à situação emergencial, o país passa a ser governado
por gabinetes presidenciais (Präsidiealkabinett), extinguindo
temporariamente
a
atuação
do
parlamento
e
da
câmera.
Posteriormente, o presidente Hindenburg nomeia Hitler como
chanceler e é a partir desse cargo que ele faz uso das brechas
legislativas de uma constituição frágil para instaurar uma
ditadura na Alemanha, inaugurando o Terceiro Reich.
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2.5 Por que a República de Weimar falhou?
Como foi brevemente exposto, a República de Weimar teve fim
com a ascensão de Hitler, dando brecha para o mesmo instaurar a
ditadura nazifascista na Alemanha. Contudo, resta a dúvida do
que exatamente levou o primeiro regime democrático alemão ao
fracasso.
Primeiramente, não havia o apoio das antigas elites, que
viam como mais vantajosa sua posição privilegiada na época do
Kaiser. Também a população em geral não estava preparada para
uma mudança drástica de regime, possuindo pouco conhecimento ou
entendimento do sistema democrático e, inclusive, confortando-se
novamente na figura de um líder (Hitler) num posterior momento
de crise na República. Mais um fator importante foi o Tratado de
Versalhes, o qual por aceitar a declaração de culpa da Alemanha
deslegitimou as escolhas do novo governo em relação à população.
Além disso, vemos a forte existência de oposição, retratada
pelas diversas confrontações entre os comunistas e os liberais,
culminando em repetidas tentativas de golpe. O próprio
parlamento era divido entre um grande número de pequenos
partidos, dificultando e, às vezes, até impossibilitando a
tomada de decisões.
Outro ponto a ser levado em conta é a constituição, a qual
não possuía nenhum mecanismo que garantisse sua soberania. Além
do Artigo 48, que viabilizava, em caso de necessidade, a
sobreposição de uma figura do executivo enquanto toda a
estrutura democrática era deixada de lado. Inclusive a
contestação popular não era um aspecto garantido pelo documento.
Finalmente, houve ainda um erro crucial de gestão, já que
durante os anos prósperos do país, não foi desenvolvido nenhum
plano que pudesse fomentar a independência econômica da Alemanha
em relação a outros países. Isso, em última instância, colaborou
para o descrédito do governo já fragilizado.
4-
Ascenção de Hitler e do Nazismo
4.1. Vida pessoal e Primeira Guerra Mundial
Adolf Hitler, nascido em 1889, na cidade austríaca de
Braunau, na Áustria, era filho de Louis e Klara Hitler. Durante
os primeiros anos de sua juventude, Adolf era conhecido como um
rapaz inteligente e mal-humorado. Na adolescência, foi duas
vezes reprovado no exame de admissão da Escola de Belas Artes de
Linz. Nesse mesmo período começou a formular suas primeiras
ideias de caráter antissemita, sendo fortemente influenciado
pelo professor chamado Leopold Poetsc; ignorando, porém, sua
“linhagem impura”, de um avô e um bisavô judeu.
Com a explosão da Primeira Guerra Mundial, decidiu se
alistar ao exército Austríaco, no qual foi recusado. Tempos
depois, com o agravamento do conflito e já tendo tomado corpo as
ideias xenófobas (acreditando que a nação Autro-Húngara seria
impura, dada a mistura de raças), se alistou no Exército Alemão
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e foi incorporando o 16º Regimento de Infantaria Bávaro. O Cabo
Hitler era mensageiro nas trincheiras dos campos de batalha e
durante sua atuação militar recebeu recomendações de um superior
de origem judaica. Já no final do conlito foi atingido pelo Gás
Pimenta, que o deixou temporariamente cego; quando se recuperou,
ainda no hospital militar, tomou conhecimento da rendição alemã;
fato que julgara como um ato completamente não-prussiano.
4.2. A Formação do Nazismo
Em 1919, começou a trabalhar no 4° Comando das Forças
Armadas, no Departamento de Imprensa e Propaganda com o objetivo
de vigiar as reuniões de um grupo político que se formava, o
Partido Trabalhista Alemão. Participando infiltrado das reuniões
desse grupo, percebeu que não se tratavam de socialistas ou
comunistas, mas sim ultranacionalistas inflamados, assim como
ele; tão logo, filiou-se ao partido. Em meio às mazelas que o
povo alemão enfrentava, discutiam soluções extremas mediante os
problemas da Alemanha; entre outros pontos, pregavam a extinção
dos tratados da Primeira Guerra, a exclusão socioeconômica da
população judaica, melhorias no campo econômico para os arianos
e a igualdade de direitos políticos.
Utilizando seus grandes dotes oratórios, Hitler começou a
angariar a adesão de novos partidários e propôs a mudança do
partido para o nome de Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães. A renovação do nome acompanhou a criação
de uma nova simbologia ao partido (uma bandeira vermelha com uma
cruz gamada) e a incorporação de milícias comprometidas a
defender o ideal do partido. As chamadas Seções de Assalto (SA)
eram incumbidas de perturbar as reuniões de grupos marxistas,
estrangeiros e comunistas. Dois anos depois de integrar o grupo
político, Hitler tornara-se chefe supremo do Partido Nazista.
Agrupado a um pequeno grupo de partidários, ele esboçou um golpe
político que foi contido pelas autoridades alemãs. Assim, no ano
de 1923, foi condenado a cinco anos de prisão, dos quais só
cumpriu apenas oito meses. Na cadeia, escreveu as primeiras
linhas de sua obra (um misto de autobiografia e manifesto
político) chamada “Mein Kampf” (Minha Luta).
Liberto, resolveu remodelar as diretrizes de seu partido
incorporando as doutrinas do fascismo, noções de disciplina
rígida e a formação de grupos paramilitares. Adotando uma teoria
de cunho racista, Hitler dizia que o povo alemão era descendente
da raça ariana, destinada a empreender a construção de uma nação
forte e próspera. Para isso deveriam vetar a diversidade étnica
em seu território, que perderia suas forças produtivas para
raças descomprometidas com os arianos.
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A obra do Führer,
“Mein Kampf”.
Os alemães viam em Hitler uma salvação para a crise que o
país enfrentava: a devastação causada pela Primeira Grande
Guerra destruiu imensa porção do país, sobretudo suas terras
agriculturáveis e indústrias. Falando o que os alemães queriam
ouvir e personificando nos judeus a culpa das mazelas do seu
povo, Hitler forjou no ódio e na desgraça as bases para sua
ascenção. Agricultores, jovens, soldados, em todas as classes,
tornaram-se adeptos do novo partido.
Rapidamente o partido cresceu. No campo político, o Nazismo
de Hitler era contrário à definição de um regime político
pluripartidário. Ele pregava que a diferença ideológica dos
partidos somente serviu para a desunião de uma nação que deveria
estar engajada em ideais maiores. Dessa forma, as liberdades
democráticas deveriam ser vetadas em favor de um único partido
liderado por uma única autoridade (no caso, ele), que estaria
comprometido com a constituição de uma nação soberana. Entre
outras coisas, Hitler defendia a construção de um “espaço vital”
necessário para a nação ariana cumprir seu destino.
O ideário nazista, prometendo prosperidade e o fim da
miséria do povo alemão, alcançou grande popularidade na miséria
do povo. Os nazistas organizavam grandes manifestações públicas
nas quais os judeus, marxistas, comunistas e democratas eram
sistematicamente criticados. Em pouco tempo, grupos empresariais
passaram a financiar o Partido Nazista.
4.3. Hitler e o Nazismo ganham força
No início da década de 1930, o partido tinha alcançado uma
vitória expressiva que se manifestou na presença predominante de
deputados nazistas, ocupando as cadeiras do Poder Legislativo
alemão. No ano de 1932, Hitler perdeu as eleições presidenciais
para o marechal Hindenburg (figura importantíssima na Primeira
Guerra Mundial e de extremo respeito perante a sociedade
prussiana). No ano seguinte, não suportando as pressões da crise
econômica alemã, o presidente Hindemburg cedeu à pressão do
parlamento e convocou Hilter para ocupar a cadeira de chanceler.
Em pouco tempo, o líder Nazista conseguiu empreender sucessivos
golpes políticos que lhe deram o controle absoluto da Alemanha.
Depois de aniquilar dissidentes no interior do partido, na
chamada Noite dos Cristais, Hitler começou a colocar em prática
o conjunto de medidas defendidas por ele e o partido nazista.
Organizando várias intervenções na economia, com os chamados
Planos Quadrienais, Hitler conseguiu ampliar as frentes de
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trabalho e reaquecer a indústria alemã, grande parte fomentada
pelo setor militar; infringindo o Tratado de Versailles. A
rápida ascensão econômica veio seguida pela ampliação das
matérias primas e dos mercados consumidores. Foi nesse momento
que a teoria do Espaço Vital fora colocada em prática.
Hitler, tornando-se um grande líder carismático e demagogo,
além de exímio estrategista, impôs à Europa as necessidades do
Estado nazista. Depois de exigir o domínio da região dos Sudetos
e assinar acordos de não agressão com os russos, o governo
nazista tinha condições plenas de por em prática seu grande
projeto expansionista. Com o início da Segunda Guerra, Hitler
obteve grandes vitórias que pareciam lhe garantir o controle de
um amplo território, suas profecias pareciam se cumprir.
5- Antissemitismo
5.1 Conceitos Básicos e História Geral
O Antissemitismo é uma corrente de pensamento que coloca
os povos descendentes de Sem, um dos filhos de Noé, como uma
raça inferior, dado o caráter de traidor do mesmo.
Esses povos, chamados de semitas, se espalharam pelo mundo
adquirindo várias etnias, como os hebreus, os fenícios, os
sírios, os arameus, os babilônios, os assírios e os caldeus, mas
o preconceito sempre esteve voltado para os hebreus, que deram
origem aos judeus, também por serem tidos como o povo que matou
seu próprio messias, Jesus.
As políticas antissemitas foram incorporadas às ações de
governos com os pogroms russos, ataques com apoio governamental
aos israelitas com a desculpa de que os judeus utilizavam sangue
de crianças cristãs em seus rituais religiosos.
O embasamento ideológico que permitiu que políticas
antissemitas fossem instauradas na Europas nasceu no século XIX
com o movimento Voelkisch, traduzido para o português como
Movimento Popular, que dizia, em linhas gerais, que o espírito
judeu era inferior ao alemão, levando à concepção de que judeus,
mesmo que nascidos na Alemanha ou descentes de alemães, não eram
alemães.
5.2 O Antissemitismo na Alemanha
Entre os 25 artigos do programa do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou Partido Nazista, de
Adolf Hitler, está declarado o objetivo de segregar os judeus da
sociedade
ariana
pura,
excluindo
além
dos
judeus,
os
homossexuais, ciganos, muçulmanos etc, pelos meios de revogação
de seus direitos civis, políticos e legais.
A perseguição contra os judeus começou quando um decreto
estabeleceu que todos os funcionários públicos “não-confiáveis”,
como os judeus, deveriam ser despedidos. Em seguida, o número de
alunos judeus foi reduzido nas escolas e universidades alemãs
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até que advogados judeus não pudessem mais exercer as suas
funções e médicos judeus não pudessem mais receber dinheiro do
fundo de saúde pública alemã.
Todas as leis, nacionais ou regionais, que segregavam os
judeus, constituíam o chamado “Parágrafo Ariano”, que continha
as instruções e as premissas para a formação de um Estado puro e
ariano.
5.3 A Doutrina Xenofóbica Nazista
Adolf Hitler, em sua obra Mein Kampf, traduzido para
português como Minha Luta, transparece a sua perspectiva de asco
contra os judeus que guiaria, posteriormente, as ações nazistas
na Alemanha:
“Odiava o conglomerado de raças, checos, polacos,
hú
ngaros, rutenos, sé
rvios, croatas, etc. e acima de tudo
aquela excrescência desses cogumelos presentes em toda
parte - judeus e mais judeus. Para mim a cidade gigante
parecia a encarnação do incesto.”
“De mais a mais, essa pureza moral ou de qualquer
outra natureza era uma questão discutí
vel. Que eles não
eram amantes de banhos podia-se assegurar pela simples
aparência. Infelizmente não raro se chegava a essa
conclusão
até de
olhos
fechados,
Muitas
vezes,
posteriormente,
senti
ná
useas
ante
o
odor
desses
indiví
duos vestidos de caftan. A isso se acrescentem as
roupas sujas e a aparência acovardada e tem-se o retrato
fiel da raça.”
O Holocausto, foi baseado nesses supostos ideais de
impureza física e moral dos judeus, mas que se mostrou com o
tempo ser também uma manobra política, pois setores básicos da
sociedade alemã, como os bancos e a imprensa, eram controlados
por judeus. Com a expropriação dos bens dos judeus e a própria
tentativa de extinção da raça, o poder nazista de estabeleceu
cada vez mais e adentrou todos os setores da sociedade, fazendo
assim com que o controle da sociedade alemã fosse puramente
ariano.
6- Expansão Militar Alemã
6.1 A Remilitarização
As aspirações expansionistas da Alemanha começaram logo
após o seu processo de unificação, em 1871. Uma vez constituída,
a nação alemã promoveu-se como um dos principais expoentes em
tecnologia naval e militar no século XIX, surpreendendo as
grandes potências da época. O seu rápido crescimento econômico e
forte desenvolvimento enquanto potência geopolítica trouxe a
Alemanha para a corrida imperialista e pouco tempo depois para
a Primeira Grande Guerra, onde foi derrotada junto a sua
colisão(formada pelo Império Austro-Húngaro e Itália), a chamada
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Tríplice Aliança
Entente).
(Dreibund),
pela
Tríplice
Entente
(Triple
A resolução final do maior conflito bélico vivido até então
pela humanidade se deu em 1919, na Conferência de Paz de Paris.
Alí, os países vencedores discutiram a distribuição dos
espólios,
a
redefinição
de
fronteiras
na
Europa
e,
principalmente, as sanções e punições aos países perdedores,
principalmente à Alemanha. O documento que sumarizou boa parte
dessas deliberações foi o Tratado de Versalhes, que decretava
entre tantas outras coisas o desarmamento total do Estado
Alemão, mantendo apenas o direito de possuir um Exército
profissional de 100 mil homens, além de determinar pagamentos de
reparação de guerra e a nova fronteira do país.
As reparações de guerra foram formalmente suspensas em 1932
através da Conferência de Lausanne, situada na cidade Lausanne,
na Suíça. Em janeiro do ano seguinte, com a nomeação de Adolf
Hitler como chanceler da Alemanha, os pagamentos já tinham sido
revisados e suspensos completamente. Era um primeiro indício do
caminho a ser seguido pelo líder nazista, que almejava a
revogação das concessões territoriais e a remilitarização formal
do Estado. As forças armadas nazistas foram organizadas e
estruturadas antes mesmo da tomada do poder por parte do
partido. Isso é, uma remilitarização “clandestina” tomava forma
no país, acompanhada de uma massiva expansão da produção de
armas e do rearmamento em si.
Em 1935 a conscrição militar foi reintroduzida a Alemanha,
violando abertamente o Tratado de Versalhes. Iniciava-se com
esse gesto a campanha militar nazista, agora formalmente
concebida. Posteriores violações a tratados internacionais se
seguiram, mais notoriamente a remilitarização da região da
Renânia (Reinhald). Nome este dado a uma região no oeste alemão,
que circunda as margens do baixo e médio rio Reno. Dada a sua
posição estratégica na geografia europeia, foi tópico principal
do
Tratado
de
Locarno
(1925),
que
especificava
sua
desmilitarização. Assim, a decisão do Führer de ocupar a região
com
suas
forças
militares
(Wehrmacht)
foi
extremamente
emblemática em termos de política externa, e apesar de
desagradar profundamente nações como a Grã-Bretanha e a França
(que passava a ter suas fronteiras ainda mais ameaçadas), não
gerou intervenções por parte das mesmas. Tornou-se símbolo do
que viria a ser a campanha expansionista alemã: ríspida e
massiva.
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Civis alemães saudando o
exército nazista durante a
remilitarização de Reinhald,
7 de Março de 1936.
Após a plena militarização interna da Alemanha, teve início
o processo de incorporação da Áustria. Ele se deu inicialmente
através de uma persistente e poderosa campanha dentro do país,
propaganda que valorizava as origens germânicas compartilhadas e
a “glória” merecida de seu povo. Após a ocupação por parte do
exército nazista em 12 de Março de 1938, foi executado um
plebiscito que questionava o povo austríaco acerca da união
(Anschluss) própriamente dita. Nesse ponto a propaganda massiva
e segregação imposta no voto, não permitido para Judeus e Roma
(ciganos), foram cruciais para assegurar a larga vitória (dita
na ordem dos 99% pelo governo nazista) a favor da incorporação
e da constituição da “Grande Alemanha” (Großdeutschland).
Propaganda nazista da “Grande
Alemanha” na Áustria, “Sim!”.
A próxima anexação alemã se deu na região fronteiriça da
Sudetolândia, pertencente oficialmente à Tchecoslováquia desde
1919. A região, além de ter sua população composta por uma
maioria germânica (65%), era de extremo interesse para a
Alemanha por representar o principal ponto de defesa da
Tchecoslováquia. Após exercer grande pressão externa, a Alemanha
deixou iminente para o resto da Europa seu ímpeto de guerra. Sob
esse contexto os líderes da Inglaterra (Chamberlin), da França
(Daladier) e da Itália (Mussolini) se encontraram com Adolf
Hitler em Munique em setembro de 1938 para discutir o futuro dos
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Sudetos. Após uma conferência de dois dias, o Acordo de Munique
determinou a conivência das demais potências europeias para com
a incorporação da Sudetolândia à Alemanha nazista, em troca de
uma suposta promessa de paz.
Em março do ano seguinte, o Acordo de Munique foi violado
pela Alemanha, que expandiu suas investidas militares para o
Estado Tchecoslováco, causando sua dissolução. As províncias da
Boêmia e da Moravia foram proclamadas protetorados alemães e
ocupados militarmente, enquanto a Slováquia tornou-se uma nação
independente (e muito próxima da Alemanha nazista).
Menos de uma semana após essa última violação, em março de
1939, as tropas alemãs rapidamente tomaram o território de Memel
(Lituânia). Ainda nesse ano, Adolf Hitler estabeleceu diversas
demandas para tomar controle do chamado “corredor polonês”. Além
disso, demandou a anexação imediata da cidade livre de Danzig.
Diante de tal cenário as demais potências europeias se
posicionaram fortemente em prol da integridade do Estado
Polonês, e contrárias às aspirações de Adolf Hitler. Ignorando
(novamente) as repressões da França e da Inglaterra, a Alemanha
invadiu a Polônia na primavera de 1939, dando início à guerra
que tomaria conta de toda a Europa (e de diversas outras partes
do globo) durante os cinco anos seguintes.
7- Ataque à Polônia e início da Segunda Grande
Guerra
7.1 A preparação do Ataque
Com as anexações dos Sudetos, Tchecoslováquia e Áustria por
parte da Alemanha Nazista, sem disparar um tiro nem ser
desafiada pelas outras potencias europeias, Hitler percebeu que
não existia vontade política por parte da potencias europeias,
ou corarem como foi demonstrado na conferência que Hitler teve
com o primeiro-ministro inglês Arthur Neville Chamberlain após o
incidente nos Sudetos, fazendo Hitler ter certeza que outras
aventuras militares não seriam contestadas por parte das
potencias europeias.
A invasão da Polônia começou a ser elaborada em abril de
1939. Tendo sido designados pelo alto comando alemão dois grupos
de exército totalizando 1,5 milhões de homens, 62 divisões e
1300 aeronaves, para tomar o que fora outrora parte do Império
Alemão. O ataque consistiria de duas frentes pelos dois lados do
“Corredor Polonês” que separava as duas partes do território
alemão, com o Grupo de Exercito Norte sob o General Fedor Von
Bock sendo responsável por tomar o território do “Corredor
Polonês” e em seguida com suas forças blindadas avançar pelos
flancos das forças polonesas, enquanto o ataque frontal era
realizado pelo Grupo de Exercito Sul sob Gerd Von Rundstedt.
Contendo três exércitos, este iria penetrar as defesas polonesas
na direção de Varsóvia. Para a sorte dos alemães, as forças
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polonesas não sabiam onde o ataque aconteceria, e decidiriam
espalhar suas forças pela fronteira de maneira espaçada.
7.2 Blitzkrieg, uma nova forma de guerra
Esta invasão foi o primeiro grande teste das novas táticas
desenvolvidas no entre guerras. A mais famosa sendo a
Blitzkrieg, ou Guerra Relâmpago, doutrina desenvolvida pelo
General Heinz Guderian em sua obra “Achtung Panzers!” (Atenção
Panzers!), onde o mesmo descreve um novo tipo de guerra baseado
em mobilidade, fugindo do padrão europeu de guerra estática que
muito se parecia com tempo napoleônicos. Mobilidade baseada em
tropas mecanizadas, tanques (Panzers) e infantaria mecanizada
(Panzergranadiers) com caminhões e half-tracks, apoio aéreo
aproximado e artilharia. Guderian propõe uma inversão de valores
quanto ao uso de tropas, ao invés de ter os tanques como apoio
para infantaria, a infantaria serve de apoio aos tanques. Desta
maneira temos a mobilidade e poder de fogo dos tanques sendo
usada de maneira irrestrita, sem a necessidade de conter a
velocidade do seu avanço a das tropas terrestres e tendo a
infantaria responsável pela ocupação do território atrás das
forças blindadas*. Outra grande mudança proposta por Guderian
foi a simplificação da cadeia de comando, deixando os Generais
do alto comando encarregados de decisões macro, relegando
decisões do campo de batalha para os oficiais presentes, dando
mais
liberdade
operacional
para
tenentes
e
capitães.
Divisão mecanizada
“Panzer” do exército alemão.
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É importante notar, no entanto, que mesmo a Blitzkrieg se
baseando em forças mecanizadas, elas eram as de menor número
quando se trata em movimentação de tropas. Caminhões e veículos
blindados estavam em falta, cerca de 40% das peças de artilharia
eram puxadas por cavalos, cada divisão Panzer contava com cerca
de 4.000 cavalos para todo tipo de tarefa. Logo a lenda que as
divisões alemãs eram totalmente mecanizadas não passa disso.
7.3 A Invasão
Quando a Blitzkrieg foi posta em prática na invasão da
Polônia, com uma ação rápida, massiva e sem declaração de
guerra, ela se mostrou extremamente eficaz, com as tropas
inimigas em choque com a velocidade do avanço alemão. A
velocidade dos tanques aliada as decisões no campo de batalha,
muito mais rápidas e eficazes do que aguardar ordens do alto
comando para todas as decisões, causava pânico nas tropas
inimigas que não tinham tempo de montar uma defesa efetiva nem
de montar contra-ataques eficazes. Em uma questão de dias as
divisões Panzer instauraram caos nas linhas polonesas e
avançavam livremente, ainda mais quando alguns dias depois do
ataque alemão forças soviéticas invadiram a Polônia criando
ainda mais pressão em cima dos soldados polacos, com a capital
Varsóvia sendo tomada em menos de três semanas pelas forças
nazistas. Mesmo com o pacto germano-soviético ainda em prática,
era interessante para ambos os lados dividir a Polônia, criando
desta forma um espaço tampão entre as duas nações.
A luta na Polônia mostrou as virtudes do exército alemão,
tendo infligido 70.000 mortes, 133.000 feridos e 700.000
capturados nas forças polonesas enquanto que as forças nazistas
tiveram 11.000 mortos e 30.000 feridos. Na superfície o
confronto na Polônia pareceu um sucesso. No entanto a invasão da
Polônia foi mais do que as potencias europeia conseguiam ignorar
e declararam guerra à Alemanha Nazista, bloqueios navais foram
colocados em prática, tropas na França mobilizadas assim como
uma força tarefa britânica foi deslocada para a fronteira
francesa. Por outro lado, mesmo a Wermacht tendo mostrado toda
sua capacidade, tendo tomado o país em menos de um mês, os
generais enxergaram diversas falhas, que só poderiam ser
corrigidas por um treinamento intensivo não estando prontos para
um novo engajamento na França como era a vontade de Hitler.
Somado as reduzidas reservas de petróleo graças aos bloqueios
navais, que estavam ameaçando a economia e o exército, Hitler
portanto era favorável a um confronto imediato com a França
enquanto seus estoques não se exaurissem.
Começou então uma corrida para levar tropas e suprimentos
(movimentar mais de 60 divisões nunca foi e nunca será um
desafio trivial de logística) do coração da Polônia ocupada para
a fronteira francesa, onde forças francesas e inglesas
aguardavam o próximo passo da Alemanha de Hitler.
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