Guia Específico Alemão - TGG
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Guia Específico Alemão - TGG SIMULAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO – X EDIÇÃO SiEM - Edição X 1- Contexto da Alemão no Período da Primeira Grande Guerra 1.1 Contexto alemão antes da Guerra Sob a tutela de Otto von Bismarck e a liderança do Reino da Prússia, vários estados alemães se uniram em 1870 sob uma bandeira comum contra Napoleão III da França. Em 1871 a Guerra Franco-Prussiana havia acabado, e o Império Alemão já se mostrava estável, com a dinastia Hohenzollern da Prússia coroada como mandante do Segundo Reich alemão. A unificação da Alemanha dependeu de três guerras; contra a Dinamarca, onde a Prússia anexou Schleswig-Holstein; contra a Áustria, onde uma dependência de facto e uma aliança fora estabelecido com o derrotado império austríaco; e a guerra já mencionada contra a França, na qual foi anexada a região da Alsácia-Lorena. O sistema legislativo alemão, apesar de reconhecer sufrágio universal masculino para eleições parlamentares, concedia poderes semi-absolutos tanto para o Kaiser (chefe de Estado Prussiano) quanto para o chanceler do país. Após desentendimentos entre Wilhelm II (monarca, Kaizer) e Bismarck (militar, unificador prussiano), o poder absoluto sobre o país efetivamente caiu sobre o imperador e um grupo de conselheiros. Uma vibrante cultura política floresceu ainda assim na nação, que combinada com uma história rica e orgulhosa e com um desenvolvimento econômico assustadoramente rápido - se em 1840 largas porções do que seria a Alemanha ainda se encontravam em um estado feudal e precário, por meio de uniões tarifárias (Zollverein) e uma aliança entre donos de terras (Junkers) e capitalistas da região do Rheinland, em menos de 30 anos de industrialização o país estava muito desenvolvido - a tornou por 1890 era uma nação enormemente poderosa no cenário econômico, militar e político global. Com a adição de 18 milhões de habitantes, um crescimento de 100% na população urbana nos 23 anos entre 1890 e 1913 e um PIB per capita que só ficava atrás do americano e britânico, a Alemanha era considerada uma competidora forte contra o Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Como dizia o Bismarck, “a Alemanha precisava de menos manteiga e mais ferro”. Por 1914, a Alemanha também se tornara a capital acadêmica do mundo ocidental: Berlim era o centro do conhecimento e da cultura, e planos de firmar uma Europa liderada pelo povo alemão eram populares não só por germânicos, como visto pelas vendas do livro Mitteleuropa, de Friedrich Naumann, no mundo todo. As pretensões ultramarinas políticas alemãs, já claras com o Congresso de Berlim, são feitas ainda mais claras com o seguinte pronunciamento de Bernhand von Bulöw, ministro do Exterior alemão de 1897 até 1900: “Os dias em que os alemães concediam a terra a um vizinho, a outro o mar e reservaram para o si o céu [...] chegaram ao fim. [...] Ficamos felizes de respeitar os interesses de outras Guia Específico Alemão – TGG 1 SiEM 2016 – Edição X potências na China, desde que tenhamos a certeza que nossos interesses também receberão o reconhecimento que merecem. Em suma, não queremos fazer sombra a ninguém, mas também exigimos nosso lugar ao sol.” Conflitos ideológicos entre o Deutsches Sozialdemokratische Partei (Partido Socialdemocrata Alemão), que tinha grande base eleitoral dentre os operários que formavam a maior população socialista da Europa, e os líderes conservadores do gabinete imperial de Wilhelm II trouxe à Alemanha um nível de tensão interna enorme, que ressonava inevitavelmente em sua política externa. Isso levou os líderes conservadores do país a perceberem que se uma guerra fosse lutada, teria de ser lutada agora, antes que os pacíficos sociais democratas tivessem maioria definitiva no Parlamento. O pragmatismo que fora arma fundamental para o fortalecimento da Alemanha fora deixado de lado, e uma série de erros diplomáticos e obsessões pessoais levaram a nação alemã a eliminar qualquer tipo de aliança com a Inglaterra devido ao seu papel jingoísta tanto na Primeira Crise do Marrocos quanto no direcionamento de um terço da verba de defesa para o desenvolvimento de uma marinha de guerra de acordo com o plano Tirpitz de expansão naval. As relações já fragilizadas com a França após 1871 se tornaram ainda piores com esses episódios, e retóricas inflamadas surgiam em ambos os países, ao ponto que “em um ato de defesa premeditada” o Reichstag instituiu, em 1913, o exército alemão em períodos de paz como sendo de 890 mil homens, uma quantidade verdadeiramente monstruosa para a época. A Rússia, que anteriormente tinha relações próximas com o vizinho germânico, também passou a temer a retórica belicosa e agressiva alemã (os alemães estavam tão obcecados com a guerra que ao declarar hostilidades com a Rússia, o serviço diplomático enviou duas cartas, uma dizendo que a falta de resposta ao ultimato era inaceitável, e a outra dizendo que a resposta russa era imperdoável), e se aliou com a França. Outro ponto de interesse significante é Wilhelm II em si. O ponto que ele pode ser considerado um instigador da guerra é discutível, com suas anotações pessoais e correspondência com o czar Nicholas II afirmando um desejo de paz e a disposição firme de apoio à Áustria-Hungria e sua insistência em perseguir o fortalecimento das forças armadas alemãs contra o desejo da maior parte da sua população afirmam um anseio por dominância. O Alto Comando alemão em geral não possuía nenhum tipo de ressonância com sua população; havia um grande grau de respeito e admiração mútua entre os alemães e os britânicos, e as numerosas populações do leste alemão tinham proximidade histórica com os russos, apesar do desejo claro dos conservadores e militares alemães de atacar esses países. Essa falta de união entre os desejos da população civil e os do comando militar faria com que muitos alemães fugissem para a Suíça a fim de escapar da conscrição militar. 1.2 A Grande Guerra para a Alemanha Guia Específico Alemão – TGG 2 SiEM 2016 – Edição X Conforme os bombardeios destruíam Belgrado, Wilhelm II deu uma última tentativa à ação diplomática, mesmo após ter recusada a mesa de negociações com os russos e os britânicos poucos dias antes, ao longo de uma série de telegramas curiosamente amorosos com seu primo Nicolau II, que respondeu aos telegramas com o mesmo calor fraternal com os quais eles foram escritos. Há motivos para acreditar que Wilhelm preferiu contrariar seu Alto Comando e tentou convencer o governo russo de permitir ação punitiva austríaca na Sérvia sem o prospecto maior de uma guerra europeia, mas não obteve sucesso, e reverteu-se para uma diplomacia belicista. A Rússia, que havia ordenado uma mobilização parcial de suas tropas antes da declaração de guerra pela Áustria a seu aliado nos Balcãs, finalmente declarou mobilização completa, o que fez com que Berlim enviasse ultimatos para St. Petersburgo solicitando o fim da preparação. Ao mesmo tempo, o Chefe de Estado maior austríaco foi intimado pelo Kaiser a concentrar-se no combate à Rússia, que estava prestes a declarar seu estado de hostilidade, apesar de que 75% do enorme, porém bagunçado, exército imperial austríaco já estava indo para a Sérvia. A condição desordenada das ferrovias austríacas fez com que o exército invadisse a Sérvia e enviasse suas tropas na direção da Rússia literalmente na velocidade de uma bicicleta. No dia 1º de agosto, não tendo recebido resposta do czar, a Alemanha efetua mobilização geral e declara guerra à Rússia, preparando-se para invadir Luxemburgo e a Bélgica para entrar na França. Quando a Bélgica recusou o direito de passagem dos soldados alemães, a Alemanha preparou-se para a invasão do país, que aconteceria no dia 4 de agosto, um dia depois da declaração de guerra contra a França no dia 3. O prospecto de invasão da Bélgica foi visto como um ultraje pelo até então nãointervencionista Parlamento Britânico. No dia 4 de agosto, enquanto as primeiras tropas alemãs encontravam resistência pesada da Bélgica, o Reino Unido declarou guerra à Alemanha. 1.2.2. O Front Ocidental O Exército belga teve de enfrentar, sozinho, a invasão alemã. A recusa do pequeno país a dar acesso militar a seus soldados atrasou significantemente seu avanço, e ações de guerrilha na Bélgica notavelmente atrapalharam o comando logístico do exército germânico. Ação demorada em torno de Liége atrasaram as tropas, e embora duas semanas e meia os alemães já haviam tomado a grande maioria do território belga, bolsões de resistência prosseguiram na Antuérpia, perto da fronteira com a Holanda. Após os avanços alemães serem atrasados em 2 semanas pelos belgas, finalmente as forças francesas entrariam em cena em massa, numa série de batalhas conhecidas como Batalhas das Fronteiras, com destaque para 4: Lorena, Ardenas, Charleroi e Mons. O exército francês teve conflitos desastrosos com os alemães, devido a seu atraso técnico e tecnológico absolutamente patético, ao longo de uma semana catastrófica, perdendo todas as batalhas que engajaram, sem nenhuma exceção. No dia 22 de agosto Guia Específico Alemão – TGG 3 SiEM 2016 – Edição X de 1914, os franceses perderam 27.000 homens, além dos que foram feridos, o maior número de mortes registradas por uma só nação em um só dia durante toda a guerra. No final de agosto de 1914, os franceses haviam perdido 275.000 homens, entre mortos e capturados. Enquanto isso, os britânicos mandavam 100.000 de seus homens, todos soldados profissionais com anos de experiência, através do Canal da Mancha. Na última das Batalhas das Fronteiras, nas proximidades da cidade belga de Mons, britânicos e alemães se encontraram pela primeira vez na guerra, onde a superioridade 1 contra 1 do exército inglês foi provada, e o exército alemão foi pela primeira vez parado, sobre o comando de Smith-Dorrien. Eventualmente, porém, a superioridade numérica e a fragilidade francesa fizeram com que os britânicos se retirassem, antes de, em Le Cateau, em 26 de agosto, uma parte da Força Expedicionária Britânica segurou o exército alemão o suficiente para garantir uma retirada segura para os seus aliados. Após as derrotas nas Batalhas das Fronteiras, os aliados continuarem sua retirada até as proximidades de Paris, no rio Marne, onde começou uma batalha de proporções monstruosas no dia 5 de setembro. O cansado exército alemão perdeu qualquer tentativa de tomar Paris ao alongar suas linhas de suprimentos, mas entrou em batalha de qualquer maneira. Levando táxis parisienses para reforçar suas linhas, os franceses seguraram os alemães ao leste e oeste, enquanto os britânicos apoiavam ambos os flancos. Percebendo uma abertura cada vez maior na linha germânica, a Força Expedicionária Britânica avançou ao centro, colocando-se entre os dois exércitos. A conquista de um vilarejo pequeno na noite de 8 de setembro por parte de tropas franceses no flanco esquerdo começou uma série de derrotas alemãs. Von Bulöw, general alemão responsável por tal flanco, comunicou-se com o general alemão responsável pelo outro flanco, Kluck, pela primeira vez apenas no dia 9 de setembro, ainda assim sem instruções diretas do Alto Comando liderado por Moltke, chefe do Estado-maior alemão. Uma tentativa falha de contra-ataque alemão foi facilmente repelida, e os britânicos avançaram seriamente como consequência, para além de 30 km das linhas de segurança alemãs. Temendo um muito provável cercamento9, no dia que era designado como o dia da tomada de Paris, 9 de setembro, de codinome M+40, os alemães se retiraram ao longo de todo o front mais de 100 km até o rio Aisne. Moltke teve um colapso nervoso após a derrota. No rio Aisne, foi percebido pela Alemanha que a guerra de movimento e vitórias fáceis tinha acabado. A condição psicológica dos soldados foi brutalmente atacada com uma batalhas que duravam por semanas a fio, com barragens de artilharia que duravam horas e horas, com um clima horrendo. O longo front requeria muitos homens, e uma das mais famosas campanhas de publicidade da história fez com que 478.000 voluntários se alistassem para lutar pelo Reino Unido pelo dia 12 de setembro. Uma nota importante: nessa campanha de marketing, pessoas da mesma cidade ou profissão eram prometidos um lugar conjunto na guerra, o que significava que em uma batalha, a população masculina de uma cidade inteira podia ser morta de uma vez só. Em uma adaptação monstruosamente rápida, Guia Específico Alemão – TGG 4 SiEM 2016 – Edição X ambos os lados começaram a se mobilizar continuamente para o leste, a fim de alcançar o mar e atacar o inimigo pelos flancos. A última chance alemã de circular as tropas anglo-francesas acabou quando uma ofensiva em larga escala foi parada em Arras, próxima à fronteira belga. Em 14 de outubro, os ingleses entraram em Ypres. Reforços gigantescos de ambos os lados na região de Flandres viram centenas de milhares de homens entrarem em batalha quando 14 divisões alemães atacaram a cidade, que foi defendida pelos ingleses com sucesso em uma batalha que durou até o final de novembro. Enquanto o corpo de combatentes alemães era composto por crianças do ensino médio, os ingleses usaram a maior parte possível do seu exército profissional; os relatos contam que os britânicos atiravam tão rápido com seus rifles que os germânicos achavam ser atacados por metralhadoras. No final da Primeira Batalha de Ypres, nos últimos dias de novembro, os alemães haviam tido 135 mil baixas, contra apenas 58 mil de ingleses. Franceses e belgas em Flandres em outros setores além do de Ypres perderam entre si 68.500 homens. 1.2.3 O Front Oriental A abdicação de Nicolau II culminou no fim do czarismo e um governo provisório parlamentarista era constituído na Rússia sob comando do príncipe Georgy Lvov, pouco depois substituído por uma coalizão liderada pelo socialista moderado Alexander Kerensky. Ao mesmo tempo, formava-se o Soviete de Petrogrado, principal conselho operário dos muitos que se formavam no país. A influência dos bolcheviques, facção revolucionária do Partido Operário Socialdemocrata Russo, nesses sovietes crescia. O governo provisório não retirou a Rússia da guerra, e a situação econômica e social catastrófica no país só piorava. Vladimir Lênin, líder bolchevique, enxergava possibilidades para uma nova revolução, agora tomando uma direção marxista e nos moldes da massiva mobilização popular que havia antes causado a renúncia do czar. Na Revolução de Outubro, ainda em 1917, o governo provisório foi derrubado. Lênin anunciava que o novo regime retiraria a Rússia da guerra, aboliria a propriedade privada e estabeleceria o controle operário das fábricas. No mês seguinte, os bolcheviques assumiam efetivamente o poder na Rússia. Um cessar-fogo foi declarado em dezembro de 1917; os bolcheviques buscavam focar seus esforços em forças insurgentes na recém-iniciada Guerra Civil Russa. Demandas de enormes concessões pelos alemães e mais hostilidades de guerra causaram, em fevereiro do ano seguinte, o fracasso das negociações de paz. Com a queda do czarismo, diversas partes do Império Russo declararam independência, como a Finlândia (com apoio alemão). Opositores dos bolcheviques em território russo buscavam ajuda nas potências ocidentais, que a proveram, vendo a oportunidade de reestabelecer o Front Oriental e dividir novamente o exército alemão. No final de fevereiro de 1918, os Poderes Centrais estabeleceram novamente termos para a paz com a Rússia. Entre Guia Específico Alemão – TGG 5 SiEM 2016 – Edição X eles, o reconhecimento da Ucrânia como independente, cessão da parte ocidental da Armênia para a Turquia, evacuação de tropas da Finlândia e Ucrânia e a cessão de Dünaburg, da Livônia e da Estônia para a Alemanha, com prazo de 48 horas para aceitação, no chamado Tratado de BrestLitovsk (mais detalhes do mesmo na seção Revolução 18/19 e República de Weimar). A Rússia também renunciava às reivindicações territoriais nos países bálticos para os quais os alemães planejavam criar um ducado unificado e na Bielorrússia, retornava o território anexado depois da Guerra Russo-Turca (1877-1878) para os otomanos, e concordava com uma indenização de 6 bilhões de marcos aos alemães. As condições do tratado comprimiram em muito o território russo e causaram uma expressiva diminuição da população russa e serviram como um aviso às forças ocidentais adversárias da Alemanha sobre o que esperar caso perdessem a guerra. Não obstante, sobretudo pelas condições quase humilhantes do Tratado de Brest-Litovsk, a vitória alemã no Front Oriental era certa. A Alemanha transferia suas tropas de lá para o oeste, a fim de montar uma futura ofensiva na França. 1.2.4 Ofensiva dos Cem Dias Derrotas militares nas ofensivas de 1916 fez com que diversas trocas no escalão superior do Estado Maior Geral ocorressem, culminando na nomeação de Luddendorff como chefe deste gabinete. Ao longo de vários meses e de várias batalhas em 1916 (descritas anteriormente no documento), Luddendorff percebeu problemas com as táticas utilizadas pelos generais alemães, e foi à linha de frente para tentar adaptar-se. Os insumos de diversas entrevistas feitas com soldados comuns foram a construção de novas políticas industriais, para aumentar o número de recursos utilizados em batalhas, e principalmente a implementação de novas estratégias de defesa, que incluíram defesa em profundidade e camuflagem. Poucos soldados alemães eram deixados nas trincheiras mais dianteiras, mas as fortificações ficam cada vez mais densas. Efetivamente, essas novas estratégias impediram um colapso do exército alemão no Front Ocidental em 1917, que apesar de terem novos homens enviados do front oriental devido à vitória sobre a Rússia, simplesmente não conseguiam impedir perdas enormes contra os ataques ingleses e franceses. Uma das grandes criações da nova política estratégica alemã foi a elaboração da Linha Hindenburg, uma linha estratégica que tinha uma série de fortificações que, fazendo-se uso do terreno, dispunha de seis camadas de defesas distribuídas ao longo de todo o front. Quando em abril de 1918 a Ofensiva da Primavera alemã falhou em seu objetivo de quebrar a moral de seus inimigos, as tropas alemãs estavam desmoralizadas, mal supridas e cansadas. O contra-ataque começou com operações na Batalha de Soissons, onde tropas franco-americanas efetivamente encerraram qualquer avanço alemão, e após alguns dias de contra-ataques da Entente, os germânicos foram forçados a recuar para as posições prévias à sua última ofensiva. Guia Específico Alemão – TGG 6 SiEM 2016 – Edição X Seguida dessa situação, no dia 8 de agosto de 1918, começou a Batalha de Amiens. O primeiro dia de combates foi letal para o Exército Alemão, tenho sido chamado por Luddendorff de “O dia negro do exército alemão”, devido a altíssimas perdas e particularmente numa quebra quase completa de moral. Alguns dias depois, os alemães começaram a recuar para as fortalezas defensivas da Linha Hindenburg. Uma série de ofensivas franceses, com apoio americano, foram enfraquecendo o centro da Linha, que finalmente foi penetrada no dia 17 de outubro de 1918 por tropas australianas. Na Batalha de Cambrai, em 10 outubro de 1918, dois exércitos britânicos já haviam penetrado Hindenburg, em outro ponto do front. Com essa penetração, o Alto Comando Alemão aceitou que a guerra estava perdida e que uma paz deveria ser negociada, mas isso não aconteceria até 11 de novembro de 1918, após outras várias batalhas a retaguarda alemã tentar proteger o recuo das forças principais germânica até território alemão. Porém, em Mons, Bélgica, no mesmo lugar onde 4 anos antes os britânicos e franceses lutaram sua última batalha antes de recuar para Paris, os alemães assinaram um armistício, e a guerra tinha sido vencida. 2- Golpe ao Kaizer e a República de Weimar 2.1 Proclamação da república Em 1918 chega ao fim a Primeira Guerra Mundial com a derrota evidente do exército alemão. Já nas últimas batalhas seguiram-se sucessivas perdas das tropas alemãs, gerando uma situação de insatisfação geral da população com o estado de guerra, o qual àquela altura já era entendido como nitidamente sem sentido, visto que o fracasso era iminente. Dessa forma, o que se apresentou foi um cenário de revolta e greves tanto dos membros do exército, quanto da população civil, os quais já estavam conformados com o final próximo e questionavam o prolongamento exaustivo de tal fim. Dentro desse contexto acontece a Revolução de Novembro, culminando com a abdicação do Kaiser Guilherme II. Este, na realidade, foi abdicado, por assim dizer, através de um procedimento ilegal comandado pelo chanceler Maximiliano de Baden, que nomeou Friedrich Ebert como seu sucessor. Seguiu-se, então, a proclamação da república. Curiosamente, esta foi proclamada duas vezes no dia 9 de novembro de 1919: aproximadamente ao meio dia por Philipp Scheidemann, membro do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e, horas mais tarde, por Karl Liebknecht, membro do partido opositor (Partido SocialDemocrata Independente da Alemanha - USPD). Assim, o país deixava de ser uma monarquia e passava para o regime da democrático. 2.2 Período entre 1919 e 1923 Os anos seguintes à proclamação da república foram caóticos politicamente, sendo os conflitos entre partidos constante. De Guia Específico Alemão – TGG 7 SiEM 2016 – Edição X maneira geral, apresentavam-se os comunistas de um lado, visando a construção de um sistema voltado para os trabalhadores e, de outro, os liberais, os partidos de centro e o SPD, os quais já eram ativos politicamente no período da monarquia. Os vitoriosos, por fim, foram as forças moderadas, formando, assim, a assembleia constituinte na cidade de Weimar, da qual originouse o nome. Tal assembleia visava três pontos fundamentais, sendo eles: um tratado de paz, uma constituição e uma nova ordem para o país. O Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1919, oficializou então a paz entre as potências europeias, pondo um fim definitivo à Guerra. No entanto, ao contrário do proposto pelos 14 pontos do presidente americano Woodrow Wilson, tal tratado impunha claramente a culpa pelos danos de guerra à Alemanha, sendo inacreditavelmente injusto, no sentido de que era implacável em suas exigências de compensação para o país. Ele estabeleceu, entre outros pontos, que deveriam ser pagas reparações absurdas aos países vencedores; que a Alemanha deveria desfazer-se de seu armamento e reduzir seu exército; que seriam cedidos 10% dos territórios alemães aos vitoriosos. Tal tratado foi entendido como um ditado da vergonha (Schanddiktakt) pela população alemã, representando uma das grandes sequelas na formação da República de Weimar. Já a nova constituição tinha como objetivo a organização da Alemanha como um todo, assim como a definição do futuro sistema que seria seguido pelo país. Foi delimitada então uma constituição amplamente democrática, como ainda não havia sido vista em território alemão e definiu-se que o modelo a ser seguido seria o da democracia parlamentar. Os votos seriam livres, secretos e universais e haveria uma divisão dos poderes. O símbolo do poder executivo era pertencente ao presidente (Reichspräsident), já as leis eram elaboradas pelo parlamento (Reichstag), eleito diretamente pela população, o qual era responsável pela nomeação do chanceler (Reichskanzler), topo do poder executivo do país. Havia também um segundo órgão, que era formado por representantes de cada estado (Reichrat). Em 6 de junho de 1920 aconteceram as primeiras eleições, novamente dentro de um cenário impregnado pelo caos. Seguiram-se diversas tentativas de golpe de extremistas tanto da direita, quanto da esquerda e esse período foi caracterizado pela instabilidade política, pobreza, insatisfação popular e desejo de revolução, Ademais, uma grave crise econômica alastrou-se pelo país, gerada pela impressão contínua de dinheiro a fim de cobrir o rombo causado pelo endividamento estatal com as dívidas externas, o que, em última instância, causou uma situação de hiperinflação e desvalorização da moeda. 2.3 Esperança dos anos 20 Os chamados anos de ouro (Goldener Zwanziger), foi e época entre 1923 e 1929, em que se deu uma melhora significativa na perspectiva da Alemanha nos âmbitos econômico, político, social e cultural. Ficou, portanto, marcado como os anos Guia Específico Alemão – TGG 8 SiEM 2016 – Edição X gloriosos da República de Weimar, quando a população encontravase satisfeita com a vida no país. Na esfera econômica, houve uma reforma na monetária (Währungsreform), que consistiu na utilização de uma nova moeda, resultando na valorização da moeda alemã e consequente melhora na economia. Isso junto aos empréstimos de potências estrangeiras, sobretudo dos Estados Unidos, que viviam ampla expansão econômica, possibilitou a implementação de medidas sociais, melhorando a qualidade de vida da população. A isso soma-se também um extremo desenvolvimento cultural, levando Berlim ao posto de principal centro cultural da Europa. Já no campo internacional, o então ministro de relações exteriores, Gustav Stresemann, deu cabo ao seu plano de aproximação diplomática com outros países. Isso gerou uma repercussão extremamente positiva para o país, já que possibilitou a reinserção da Alemanha no cenário internacional, tanto política quanto economicamente. E, através do fortalecimento de tais relações, logrou que as reparações exigidas pelo Tratados de Versalhes fossem tornadas mais brandas, diminuindo a pressão da dívida externa no Estado alemão. Além disso, no ano de 1926, a Alemanha finalmente passou a fazer parte da Liga das Nações, que precedeu o que hoje conhecemos pela ONU (Organização das Nações Unidas). 2.4 O fim da República de Weimar Com a quebra de bolsa de Nova York em 1929, deu-se inicio a uma das maiores crises econômicas mundiais, a qual, logicamente, repercutiu diretamente no cenário alemão, já que o país era inteiramente dependente dos empréstimos estadunidenses. Desse modo, bancos e empresas quebraram e a economia mundial entrou em depressão. O estado de economia desestabilizada foi reinstaurado no país e o nível de desemprego atingiu índices extraordinários. A hiperinflação (tendo recordado 1000% ao mês) tornava a nova moeda virtualmente inútil É assim que os partidos radicais, sobretudo de direita, começam a ganhar força e o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), liderado por Adolf Hitler, recebe um número cada vez mais alto de votos. Devido à situação emergencial, o país passa a ser governado por gabinetes presidenciais (Präsidiealkabinett), extinguindo temporariamente a atuação do parlamento e da câmera. Posteriormente, o presidente Hindenburg nomeia Hitler como chanceler e é a partir desse cargo que ele faz uso das brechas legislativas de uma constituição frágil para instaurar uma ditadura na Alemanha, inaugurando o Terceiro Reich. Guia Específico Alemão – TGG 9 SiEM 2016 – Edição X 2.5 Por que a República de Weimar falhou? Como foi brevemente exposto, a República de Weimar teve fim com a ascensão de Hitler, dando brecha para o mesmo instaurar a ditadura nazifascista na Alemanha. Contudo, resta a dúvida do que exatamente levou o primeiro regime democrático alemão ao fracasso. Primeiramente, não havia o apoio das antigas elites, que viam como mais vantajosa sua posição privilegiada na época do Kaiser. Também a população em geral não estava preparada para uma mudança drástica de regime, possuindo pouco conhecimento ou entendimento do sistema democrático e, inclusive, confortando-se novamente na figura de um líder (Hitler) num posterior momento de crise na República. Mais um fator importante foi o Tratado de Versalhes, o qual por aceitar a declaração de culpa da Alemanha deslegitimou as escolhas do novo governo em relação à população. Além disso, vemos a forte existência de oposição, retratada pelas diversas confrontações entre os comunistas e os liberais, culminando em repetidas tentativas de golpe. O próprio parlamento era divido entre um grande número de pequenos partidos, dificultando e, às vezes, até impossibilitando a tomada de decisões. Outro ponto a ser levado em conta é a constituição, a qual não possuía nenhum mecanismo que garantisse sua soberania. Além do Artigo 48, que viabilizava, em caso de necessidade, a sobreposição de uma figura do executivo enquanto toda a estrutura democrática era deixada de lado. Inclusive a contestação popular não era um aspecto garantido pelo documento. Finalmente, houve ainda um erro crucial de gestão, já que durante os anos prósperos do país, não foi desenvolvido nenhum plano que pudesse fomentar a independência econômica da Alemanha em relação a outros países. Isso, em última instância, colaborou para o descrédito do governo já fragilizado. 4- Ascenção de Hitler e do Nazismo 4.1. Vida pessoal e Primeira Guerra Mundial Adolf Hitler, nascido em 1889, na cidade austríaca de Braunau, na Áustria, era filho de Louis e Klara Hitler. Durante os primeiros anos de sua juventude, Adolf era conhecido como um rapaz inteligente e mal-humorado. Na adolescência, foi duas vezes reprovado no exame de admissão da Escola de Belas Artes de Linz. Nesse mesmo período começou a formular suas primeiras ideias de caráter antissemita, sendo fortemente influenciado pelo professor chamado Leopold Poetsc; ignorando, porém, sua “linhagem impura”, de um avô e um bisavô judeu. Com a explosão da Primeira Guerra Mundial, decidiu se alistar ao exército Austríaco, no qual foi recusado. Tempos depois, com o agravamento do conflito e já tendo tomado corpo as ideias xenófobas (acreditando que a nação Autro-Húngara seria impura, dada a mistura de raças), se alistou no Exército Alemão Guia Específico Alemão – TGG 10 SiEM 2016 – Edição X e foi incorporando o 16º Regimento de Infantaria Bávaro. O Cabo Hitler era mensageiro nas trincheiras dos campos de batalha e durante sua atuação militar recebeu recomendações de um superior de origem judaica. Já no final do conlito foi atingido pelo Gás Pimenta, que o deixou temporariamente cego; quando se recuperou, ainda no hospital militar, tomou conhecimento da rendição alemã; fato que julgara como um ato completamente não-prussiano. 4.2. A Formação do Nazismo Em 1919, começou a trabalhar no 4° Comando das Forças Armadas, no Departamento de Imprensa e Propaganda com o objetivo de vigiar as reuniões de um grupo político que se formava, o Partido Trabalhista Alemão. Participando infiltrado das reuniões desse grupo, percebeu que não se tratavam de socialistas ou comunistas, mas sim ultranacionalistas inflamados, assim como ele; tão logo, filiou-se ao partido. Em meio às mazelas que o povo alemão enfrentava, discutiam soluções extremas mediante os problemas da Alemanha; entre outros pontos, pregavam a extinção dos tratados da Primeira Guerra, a exclusão socioeconômica da população judaica, melhorias no campo econômico para os arianos e a igualdade de direitos políticos. Utilizando seus grandes dotes oratórios, Hitler começou a angariar a adesão de novos partidários e propôs a mudança do partido para o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. A renovação do nome acompanhou a criação de uma nova simbologia ao partido (uma bandeira vermelha com uma cruz gamada) e a incorporação de milícias comprometidas a defender o ideal do partido. As chamadas Seções de Assalto (SA) eram incumbidas de perturbar as reuniões de grupos marxistas, estrangeiros e comunistas. Dois anos depois de integrar o grupo político, Hitler tornara-se chefe supremo do Partido Nazista. Agrupado a um pequeno grupo de partidários, ele esboçou um golpe político que foi contido pelas autoridades alemãs. Assim, no ano de 1923, foi condenado a cinco anos de prisão, dos quais só cumpriu apenas oito meses. Na cadeia, escreveu as primeiras linhas de sua obra (um misto de autobiografia e manifesto político) chamada “Mein Kampf” (Minha Luta). Liberto, resolveu remodelar as diretrizes de seu partido incorporando as doutrinas do fascismo, noções de disciplina rígida e a formação de grupos paramilitares. Adotando uma teoria de cunho racista, Hitler dizia que o povo alemão era descendente da raça ariana, destinada a empreender a construção de uma nação forte e próspera. Para isso deveriam vetar a diversidade étnica em seu território, que perderia suas forças produtivas para raças descomprometidas com os arianos. Guia Específico Alemão – TGG 11 SiEM 2016 – Edição X A obra do Führer, “Mein Kampf”. Os alemães viam em Hitler uma salvação para a crise que o país enfrentava: a devastação causada pela Primeira Grande Guerra destruiu imensa porção do país, sobretudo suas terras agriculturáveis e indústrias. Falando o que os alemães queriam ouvir e personificando nos judeus a culpa das mazelas do seu povo, Hitler forjou no ódio e na desgraça as bases para sua ascenção. Agricultores, jovens, soldados, em todas as classes, tornaram-se adeptos do novo partido. Rapidamente o partido cresceu. No campo político, o Nazismo de Hitler era contrário à definição de um regime político pluripartidário. Ele pregava que a diferença ideológica dos partidos somente serviu para a desunião de uma nação que deveria estar engajada em ideais maiores. Dessa forma, as liberdades democráticas deveriam ser vetadas em favor de um único partido liderado por uma única autoridade (no caso, ele), que estaria comprometido com a constituição de uma nação soberana. Entre outras coisas, Hitler defendia a construção de um “espaço vital” necessário para a nação ariana cumprir seu destino. O ideário nazista, prometendo prosperidade e o fim da miséria do povo alemão, alcançou grande popularidade na miséria do povo. Os nazistas organizavam grandes manifestações públicas nas quais os judeus, marxistas, comunistas e democratas eram sistematicamente criticados. Em pouco tempo, grupos empresariais passaram a financiar o Partido Nazista. 4.3. Hitler e o Nazismo ganham força No início da década de 1930, o partido tinha alcançado uma vitória expressiva que se manifestou na presença predominante de deputados nazistas, ocupando as cadeiras do Poder Legislativo alemão. No ano de 1932, Hitler perdeu as eleições presidenciais para o marechal Hindenburg (figura importantíssima na Primeira Guerra Mundial e de extremo respeito perante a sociedade prussiana). No ano seguinte, não suportando as pressões da crise econômica alemã, o presidente Hindemburg cedeu à pressão do parlamento e convocou Hilter para ocupar a cadeira de chanceler. Em pouco tempo, o líder Nazista conseguiu empreender sucessivos golpes políticos que lhe deram o controle absoluto da Alemanha. Depois de aniquilar dissidentes no interior do partido, na chamada Noite dos Cristais, Hitler começou a colocar em prática o conjunto de medidas defendidas por ele e o partido nazista. Organizando várias intervenções na economia, com os chamados Planos Quadrienais, Hitler conseguiu ampliar as frentes de Guia Específico Alemão – TGG 12 SiEM 2016 – Edição X trabalho e reaquecer a indústria alemã, grande parte fomentada pelo setor militar; infringindo o Tratado de Versailles. A rápida ascensão econômica veio seguida pela ampliação das matérias primas e dos mercados consumidores. Foi nesse momento que a teoria do Espaço Vital fora colocada em prática. Hitler, tornando-se um grande líder carismático e demagogo, além de exímio estrategista, impôs à Europa as necessidades do Estado nazista. Depois de exigir o domínio da região dos Sudetos e assinar acordos de não agressão com os russos, o governo nazista tinha condições plenas de por em prática seu grande projeto expansionista. Com o início da Segunda Guerra, Hitler obteve grandes vitórias que pareciam lhe garantir o controle de um amplo território, suas profecias pareciam se cumprir. 5- Antissemitismo 5.1 Conceitos Básicos e História Geral O Antissemitismo é uma corrente de pensamento que coloca os povos descendentes de Sem, um dos filhos de Noé, como uma raça inferior, dado o caráter de traidor do mesmo. Esses povos, chamados de semitas, se espalharam pelo mundo adquirindo várias etnias, como os hebreus, os fenícios, os sírios, os arameus, os babilônios, os assírios e os caldeus, mas o preconceito sempre esteve voltado para os hebreus, que deram origem aos judeus, também por serem tidos como o povo que matou seu próprio messias, Jesus. As políticas antissemitas foram incorporadas às ações de governos com os pogroms russos, ataques com apoio governamental aos israelitas com a desculpa de que os judeus utilizavam sangue de crianças cristãs em seus rituais religiosos. O embasamento ideológico que permitiu que políticas antissemitas fossem instauradas na Europas nasceu no século XIX com o movimento Voelkisch, traduzido para o português como Movimento Popular, que dizia, em linhas gerais, que o espírito judeu era inferior ao alemão, levando à concepção de que judeus, mesmo que nascidos na Alemanha ou descentes de alemães, não eram alemães. 5.2 O Antissemitismo na Alemanha Entre os 25 artigos do programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou Partido Nazista, de Adolf Hitler, está declarado o objetivo de segregar os judeus da sociedade ariana pura, excluindo além dos judeus, os homossexuais, ciganos, muçulmanos etc, pelos meios de revogação de seus direitos civis, políticos e legais. A perseguição contra os judeus começou quando um decreto estabeleceu que todos os funcionários públicos “não-confiáveis”, como os judeus, deveriam ser despedidos. Em seguida, o número de alunos judeus foi reduzido nas escolas e universidades alemãs Guia Específico Alemão – TGG 13 SiEM 2016 – Edição X até que advogados judeus não pudessem mais exercer as suas funções e médicos judeus não pudessem mais receber dinheiro do fundo de saúde pública alemã. Todas as leis, nacionais ou regionais, que segregavam os judeus, constituíam o chamado “Parágrafo Ariano”, que continha as instruções e as premissas para a formação de um Estado puro e ariano. 5.3 A Doutrina Xenofóbica Nazista Adolf Hitler, em sua obra Mein Kampf, traduzido para português como Minha Luta, transparece a sua perspectiva de asco contra os judeus que guiaria, posteriormente, as ações nazistas na Alemanha: “Odiava o conglomerado de raças, checos, polacos, hú ngaros, rutenos, sé rvios, croatas, etc. e acima de tudo aquela excrescência desses cogumelos presentes em toda parte - judeus e mais judeus. Para mim a cidade gigante parecia a encarnação do incesto.” “De mais a mais, essa pureza moral ou de qualquer outra natureza era uma questão discutí vel. Que eles não eram amantes de banhos podia-se assegurar pela simples aparência. Infelizmente não raro se chegava a essa conclusão até de olhos fechados, Muitas vezes, posteriormente, senti ná useas ante o odor desses indiví duos vestidos de caftan. A isso se acrescentem as roupas sujas e a aparência acovardada e tem-se o retrato fiel da raça.” O Holocausto, foi baseado nesses supostos ideais de impureza física e moral dos judeus, mas que se mostrou com o tempo ser também uma manobra política, pois setores básicos da sociedade alemã, como os bancos e a imprensa, eram controlados por judeus. Com a expropriação dos bens dos judeus e a própria tentativa de extinção da raça, o poder nazista de estabeleceu cada vez mais e adentrou todos os setores da sociedade, fazendo assim com que o controle da sociedade alemã fosse puramente ariano. 6- Expansão Militar Alemã 6.1 A Remilitarização As aspirações expansionistas da Alemanha começaram logo após o seu processo de unificação, em 1871. Uma vez constituída, a nação alemã promoveu-se como um dos principais expoentes em tecnologia naval e militar no século XIX, surpreendendo as grandes potências da época. O seu rápido crescimento econômico e forte desenvolvimento enquanto potência geopolítica trouxe a Alemanha para a corrida imperialista e pouco tempo depois para a Primeira Grande Guerra, onde foi derrotada junto a sua colisão(formada pelo Império Austro-Húngaro e Itália), a chamada Guia Específico Alemão – TGG 14 SiEM 2016 – Edição X Tríplice Aliança Entente). (Dreibund), pela Tríplice Entente (Triple A resolução final do maior conflito bélico vivido até então pela humanidade se deu em 1919, na Conferência de Paz de Paris. Alí, os países vencedores discutiram a distribuição dos espólios, a redefinição de fronteiras na Europa e, principalmente, as sanções e punições aos países perdedores, principalmente à Alemanha. O documento que sumarizou boa parte dessas deliberações foi o Tratado de Versalhes, que decretava entre tantas outras coisas o desarmamento total do Estado Alemão, mantendo apenas o direito de possuir um Exército profissional de 100 mil homens, além de determinar pagamentos de reparação de guerra e a nova fronteira do país. As reparações de guerra foram formalmente suspensas em 1932 através da Conferência de Lausanne, situada na cidade Lausanne, na Suíça. Em janeiro do ano seguinte, com a nomeação de Adolf Hitler como chanceler da Alemanha, os pagamentos já tinham sido revisados e suspensos completamente. Era um primeiro indício do caminho a ser seguido pelo líder nazista, que almejava a revogação das concessões territoriais e a remilitarização formal do Estado. As forças armadas nazistas foram organizadas e estruturadas antes mesmo da tomada do poder por parte do partido. Isso é, uma remilitarização “clandestina” tomava forma no país, acompanhada de uma massiva expansão da produção de armas e do rearmamento em si. Em 1935 a conscrição militar foi reintroduzida a Alemanha, violando abertamente o Tratado de Versalhes. Iniciava-se com esse gesto a campanha militar nazista, agora formalmente concebida. Posteriores violações a tratados internacionais se seguiram, mais notoriamente a remilitarização da região da Renânia (Reinhald). Nome este dado a uma região no oeste alemão, que circunda as margens do baixo e médio rio Reno. Dada a sua posição estratégica na geografia europeia, foi tópico principal do Tratado de Locarno (1925), que especificava sua desmilitarização. Assim, a decisão do Führer de ocupar a região com suas forças militares (Wehrmacht) foi extremamente emblemática em termos de política externa, e apesar de desagradar profundamente nações como a Grã-Bretanha e a França (que passava a ter suas fronteiras ainda mais ameaçadas), não gerou intervenções por parte das mesmas. Tornou-se símbolo do que viria a ser a campanha expansionista alemã: ríspida e massiva. Guia Específico Alemão – TGG 15 SiEM 2016 – Edição X Civis alemães saudando o exército nazista durante a remilitarização de Reinhald, 7 de Março de 1936. Após a plena militarização interna da Alemanha, teve início o processo de incorporação da Áustria. Ele se deu inicialmente através de uma persistente e poderosa campanha dentro do país, propaganda que valorizava as origens germânicas compartilhadas e a “glória” merecida de seu povo. Após a ocupação por parte do exército nazista em 12 de Março de 1938, foi executado um plebiscito que questionava o povo austríaco acerca da união (Anschluss) própriamente dita. Nesse ponto a propaganda massiva e segregação imposta no voto, não permitido para Judeus e Roma (ciganos), foram cruciais para assegurar a larga vitória (dita na ordem dos 99% pelo governo nazista) a favor da incorporação e da constituição da “Grande Alemanha” (Großdeutschland). Propaganda nazista da “Grande Alemanha” na Áustria, “Sim!”. A próxima anexação alemã se deu na região fronteiriça da Sudetolândia, pertencente oficialmente à Tchecoslováquia desde 1919. A região, além de ter sua população composta por uma maioria germânica (65%), era de extremo interesse para a Alemanha por representar o principal ponto de defesa da Tchecoslováquia. Após exercer grande pressão externa, a Alemanha deixou iminente para o resto da Europa seu ímpeto de guerra. Sob esse contexto os líderes da Inglaterra (Chamberlin), da França (Daladier) e da Itália (Mussolini) se encontraram com Adolf Hitler em Munique em setembro de 1938 para discutir o futuro dos Guia Específico Alemão – TGG 16 SiEM 2016 – Edição X Sudetos. Após uma conferência de dois dias, o Acordo de Munique determinou a conivência das demais potências europeias para com a incorporação da Sudetolândia à Alemanha nazista, em troca de uma suposta promessa de paz. Em março do ano seguinte, o Acordo de Munique foi violado pela Alemanha, que expandiu suas investidas militares para o Estado Tchecoslováco, causando sua dissolução. As províncias da Boêmia e da Moravia foram proclamadas protetorados alemães e ocupados militarmente, enquanto a Slováquia tornou-se uma nação independente (e muito próxima da Alemanha nazista). Menos de uma semana após essa última violação, em março de 1939, as tropas alemãs rapidamente tomaram o território de Memel (Lituânia). Ainda nesse ano, Adolf Hitler estabeleceu diversas demandas para tomar controle do chamado “corredor polonês”. Além disso, demandou a anexação imediata da cidade livre de Danzig. Diante de tal cenário as demais potências europeias se posicionaram fortemente em prol da integridade do Estado Polonês, e contrárias às aspirações de Adolf Hitler. Ignorando (novamente) as repressões da França e da Inglaterra, a Alemanha invadiu a Polônia na primavera de 1939, dando início à guerra que tomaria conta de toda a Europa (e de diversas outras partes do globo) durante os cinco anos seguintes. 7- Ataque à Polônia e início da Segunda Grande Guerra 7.1 A preparação do Ataque Com as anexações dos Sudetos, Tchecoslováquia e Áustria por parte da Alemanha Nazista, sem disparar um tiro nem ser desafiada pelas outras potencias europeias, Hitler percebeu que não existia vontade política por parte da potencias europeias, ou corarem como foi demonstrado na conferência que Hitler teve com o primeiro-ministro inglês Arthur Neville Chamberlain após o incidente nos Sudetos, fazendo Hitler ter certeza que outras aventuras militares não seriam contestadas por parte das potencias europeias. A invasão da Polônia começou a ser elaborada em abril de 1939. Tendo sido designados pelo alto comando alemão dois grupos de exército totalizando 1,5 milhões de homens, 62 divisões e 1300 aeronaves, para tomar o que fora outrora parte do Império Alemão. O ataque consistiria de duas frentes pelos dois lados do “Corredor Polonês” que separava as duas partes do território alemão, com o Grupo de Exercito Norte sob o General Fedor Von Bock sendo responsável por tomar o território do “Corredor Polonês” e em seguida com suas forças blindadas avançar pelos flancos das forças polonesas, enquanto o ataque frontal era realizado pelo Grupo de Exercito Sul sob Gerd Von Rundstedt. Contendo três exércitos, este iria penetrar as defesas polonesas na direção de Varsóvia. Para a sorte dos alemães, as forças Guia Específico Alemão – TGG 17 SiEM 2016 – Edição X polonesas não sabiam onde o ataque aconteceria, e decidiriam espalhar suas forças pela fronteira de maneira espaçada. 7.2 Blitzkrieg, uma nova forma de guerra Esta invasão foi o primeiro grande teste das novas táticas desenvolvidas no entre guerras. A mais famosa sendo a Blitzkrieg, ou Guerra Relâmpago, doutrina desenvolvida pelo General Heinz Guderian em sua obra “Achtung Panzers!” (Atenção Panzers!), onde o mesmo descreve um novo tipo de guerra baseado em mobilidade, fugindo do padrão europeu de guerra estática que muito se parecia com tempo napoleônicos. Mobilidade baseada em tropas mecanizadas, tanques (Panzers) e infantaria mecanizada (Panzergranadiers) com caminhões e half-tracks, apoio aéreo aproximado e artilharia. Guderian propõe uma inversão de valores quanto ao uso de tropas, ao invés de ter os tanques como apoio para infantaria, a infantaria serve de apoio aos tanques. Desta maneira temos a mobilidade e poder de fogo dos tanques sendo usada de maneira irrestrita, sem a necessidade de conter a velocidade do seu avanço a das tropas terrestres e tendo a infantaria responsável pela ocupação do território atrás das forças blindadas*. Outra grande mudança proposta por Guderian foi a simplificação da cadeia de comando, deixando os Generais do alto comando encarregados de decisões macro, relegando decisões do campo de batalha para os oficiais presentes, dando mais liberdade operacional para tenentes e capitães. Divisão mecanizada “Panzer” do exército alemão. Guia Específico Alemão – TGG 18 SiEM 2016 – Edição X É importante notar, no entanto, que mesmo a Blitzkrieg se baseando em forças mecanizadas, elas eram as de menor número quando se trata em movimentação de tropas. Caminhões e veículos blindados estavam em falta, cerca de 40% das peças de artilharia eram puxadas por cavalos, cada divisão Panzer contava com cerca de 4.000 cavalos para todo tipo de tarefa. Logo a lenda que as divisões alemãs eram totalmente mecanizadas não passa disso. 7.3 A Invasão Quando a Blitzkrieg foi posta em prática na invasão da Polônia, com uma ação rápida, massiva e sem declaração de guerra, ela se mostrou extremamente eficaz, com as tropas inimigas em choque com a velocidade do avanço alemão. A velocidade dos tanques aliada as decisões no campo de batalha, muito mais rápidas e eficazes do que aguardar ordens do alto comando para todas as decisões, causava pânico nas tropas inimigas que não tinham tempo de montar uma defesa efetiva nem de montar contra-ataques eficazes. Em uma questão de dias as divisões Panzer instauraram caos nas linhas polonesas e avançavam livremente, ainda mais quando alguns dias depois do ataque alemão forças soviéticas invadiram a Polônia criando ainda mais pressão em cima dos soldados polacos, com a capital Varsóvia sendo tomada em menos de três semanas pelas forças nazistas. Mesmo com o pacto germano-soviético ainda em prática, era interessante para ambos os lados dividir a Polônia, criando desta forma um espaço tampão entre as duas nações. A luta na Polônia mostrou as virtudes do exército alemão, tendo infligido 70.000 mortes, 133.000 feridos e 700.000 capturados nas forças polonesas enquanto que as forças nazistas tiveram 11.000 mortos e 30.000 feridos. Na superfície o confronto na Polônia pareceu um sucesso. No entanto a invasão da Polônia foi mais do que as potencias europeia conseguiam ignorar e declararam guerra à Alemanha Nazista, bloqueios navais foram colocados em prática, tropas na França mobilizadas assim como uma força tarefa britânica foi deslocada para a fronteira francesa. Por outro lado, mesmo a Wermacht tendo mostrado toda sua capacidade, tendo tomado o país em menos de um mês, os generais enxergaram diversas falhas, que só poderiam ser corrigidas por um treinamento intensivo não estando prontos para um novo engajamento na França como era a vontade de Hitler. Somado as reduzidas reservas de petróleo graças aos bloqueios navais, que estavam ameaçando a economia e o exército, Hitler portanto era favorável a um confronto imediato com a França enquanto seus estoques não se exaurissem. Começou então uma corrida para levar tropas e suprimentos (movimentar mais de 60 divisões nunca foi e nunca será um desafio trivial de logística) do coração da Polônia ocupada para a fronteira francesa, onde forças francesas e inglesas aguardavam o próximo passo da Alemanha de Hitler. Informationsquelle BALDERSTON, Theo. The Origins and Course of the German Economic Crisis: November 1923 to May 1932. Haude + Spenersche, 1993 CLAUSEWITZ, Claus von. A Guerra (Von Kriege). Ferdinand Dümmler. Berlim, 1832. HANTKE, Max. The imposed gift of Versailles: the fiscal effects of restricting the size of Germany’s armed forces, 1924–1929. Economic History Review Press, 2010. HEWITSON, Mark. Germany and the Causes of the First World War. Berg, 2004. HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. JORDAN, W. M. 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