uma década informando aos pernambucanos
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uma década informando aos pernambucanos
R$ 10,00 UMA DÉCADA INFORMANDO aOS PERNAMBUCANOS Nesta edição especial de aniversário da revista, veja as transformações ocorridas no Estado nos últimos dez anos Algomais • Março/2016 1 E M P E R N A M B U CO , O D E S E N VO LV I M E N T O C H E G A D E N AV I O , D E C A R R O E D E AV I ÃO . Operação Hub Azul » 66 voos diários para 24 cidades » Incremento de R$ 2,5 bilhões na economia » Expansão de 12,49% no PIB do turismo Polo Automotivo da Jeep » 1ª fábrica da marca fora dos Estados Unido » Produção de 250 mil veículos/ano Polos de desenvolvimento » Polo de Confecções do Agreste 2º maior polo têxtil do Brasil » Polo Cervejeiro Ambev, Brasil Kirin e Itaipava » Polo Gesseiro do Araripe 95% da produção nacional de gesso » Fruticultura no Vale do São Francisco 98% da exportação nacional de uva Complexo de Suape » 105 empresas em operação » 45 empresas em instalação » Melhor porto público do País 2 Algomais • Março/2016 os o e Pernambuco não para de crescer. Grandes empreendimentos, como o Complexo de Suape, seguem a todo vapor. O Polo Automotivo da Jeep está promovendo uma verdadeira transformação na economia. Novas indústrias, de diversos segmentos, vêm gerando mais oportunidades, do Sertão ao Litoral. E com o Hub Azul, o Estado se tornou o centro de conexões de voos da companhia no Nordeste. Com atração de novos investimentos estamos construindo um futuro cada vez melhor para os pernambucanos. Operação Hub Azul » 66 voos diários para 24 cidades » Incremento de R$ 2,5 bilhões na economia » Expansão de 12,49% no PIB do turismo Polo Automotivo da Jeep » 1ª fábrica da marca fora dos Estados Unidos » Produção de 250 mil veículos/ano Polos de desenvolvimento » Polo de Tecnologia da Informação e Economia Criativa 250 empresas instaladas » Polo Cervejeiro Ambev, Brasil Kirin e Itaipava » Polo Gesseiro do Araripe 95% da produção nacional de gesso » Polo Energético Potencial para geração de 1.000GW de energia eólica Complexo de Suape » 105 empresas em operação » 45 empresas em instalação » Melhor porto público do País Algomais • Março/2016 3 editorial Edição 120 Dez anos de conquistas Aniversário Retrospectiva Temos muito o que comemorar nesta década de existência da Revista Algomais. Em primeiro lugar, fizemos com que caísse por terra a ideia – até então tida como verdade absoluta – de que o mercado editorial pernambucano não comportaria uma revista mensal. O sucesso da publicação, o número de leitores que conquistou e a repercussão de suas reportagens mostram que esses “analistas da comunicação” estavam equivocados. Outro motivo de comemoração é constatar que a linha editorial adotada pela revista foi acertada e deu muitos frutos. Mais do que realizar críticas inférteis, Algomais se propõe a debater os desafios e problemas de Pernambuco e propor as possíveis soluções, a partir de reportagens baseadas em análises de especialistas competentes. Dentro dessa linha surgiram os seminários Pernambuco Desafiado, realizados em parceria com a TGI Consultoria em Gestão. A iniciativa evoluiu e hoje a publicação comemora seus 10 anos instituindo o Conselho Estratégico Revista Algomais – Pernambuco Desafiado. Composto por lideranças empresariais e de movimentos sociais, seu intuito é formar um fórum de discussões para refletir sobre os desafios do Estado e sugerir soluções factíveis para o poder público. Em meio a tantas conquistas obtidas nesta década, trazemos a você, leitor, uma edição de aniversário pra lá de especial e que tem tudo a ver com a revista. São várias matérias mostrando algumas das mudanças ocorridas no Estado nestes 10 anos e o impacto que causaram no comportamento dos seus moradores. Portanto, a estrela deste número da revista é você, pernambucano. Daí porque nossa capa traz vários “conterrâneos”, alguns famosos e outros anônimos. Para atuar na partida desta edição, entrou em campo não apenas o nosso competente time de reportagem. Convidamos também craques em temas como economia, futebol, literatura, entre outros, para fazer uma análise das mudanças ocorridas nessas áreas na última década. Destaque para um verdadeiro “Pelé” da crônica: Joca Souza Leão, que até hoje nossos leitores sentem saudades da sua coluna Pano Rápido. O resultado foi um gol de placa. Confira! @revistaalgomais facebook.com/revistaalgomais Cláudia Santos - Editora Geral [email protected] Saiba o que foi notícia nas páginas de Algomais nestes 10 anos. 16 Mobilidade Congestionados Engarrafamentos e percursos maiores mudam a rotina do pernambucano. 24 tecnologia Internet Nem os idosos resistem à sedução de conectividade das redes sociais. 48 educação A Era do Enem Exame revoluciona a forma de ensinar e de aprender. 74 e mais Entrevista 8 Economia /Jorge Jatobá 90 Baião de Tudo/Geraldo Freire 104 Arruando pelo Recife e Olinda 108 João Alberto 110 Memória Pernambucana 112 Última Página/ Francisco Cunha 114 Edição 120 - Março/2016 - Tiragem 12.000 exemplares Capa: Combogó Comunicação e Estratégia Uma publicação da SMF- TGI EDITORA Diretoria Executiva Sérgio Moury Fernandes [email protected] Ricardo de Almeida [email protected] Diretoria Comercial Luciano Moura [email protected] Conselho Editorial Armando Vasconcelos, Fábio Lucas, Gustavo Costa, João Rego, Luciano Moura, Mariana de Melo, Raymundo de Almeida, Ricardo de Almeida e Sérgio Moury Fernandes. 4 Redação Fone: (81) 3126.8156/Fax: (81) 3126.8154 [email protected] EDITORIA GERAL Cláudia Santos (Editora) Roberto Tavares (Consultor Editorial) Reportagens Cláudia Santos Rafael Dantas Kássia Alcântara Yago Gouveia Editoria de Arte Rivaldo Neto (Editor) Algomais • Março/2016 Av. Domingos Ferreira, 890, sala 805 Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE - Fone: (81) 3126.8181 . www.revistaalgomais.com.br Fotografia Diego Nóbrega Assinatura [email protected] Fone: (81) 3126.8161 [email protected] Publicidade Engenho de Mídia Comunicação Ltda. Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808 Boa Viagem 51110-050 | Recife/PE Fone/Fax: (81) 3126.8181 [email protected] Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista. Auditada por Nossa Missão Prover, com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados. Algomais • Março/2016 5 Escreva para [email protected] cartas ON LINE www.revistaalgomais.com.br @revistaalgomais facebook.com/revistaalgomais para deslocamento via bicicleta pela Zona Oeste do Recife, inclusive desaguando na rua Cosme Viana que ainda tem a via pintada devido à ciclofaixa de turismo e lazer que funciona aos domingos. Por falta de manutenção não há mais sinalização vertical nem pintura no logradouro. Restaram algumas placas de sinalização e semáforos de ciclistas, mas a pista independente foi extinta. Frevo 1 Ferreira A reportagem de capa e páginas 12 a 15, que tratam do Futuro do Frevo, serve de alerta para retomarmos os grandes momentos do nosso Carnaval, com festivais e grandes promoções pelos tradicionais clubes, com excelentes orquestras e apresentando o genuíno frevo pernambucano. A família de Lucilo Maranhão agradece suas citações elogiosas. Entretanto, já que se trata de reportagem sobre "arte", solicito um "retoque" no sobrenome do meu pai. Aproveito a oportunidade para exprimir minha admiração por esta revista, da qual sou leitor. Atenciosamente Foto: Irandi Souza Gilson Sotero Jr. - Recife José Almeida Queiroz – Recife Ricardo Médicis de A. Maranhão – Recife Frevo 2 Jailson Raulino - Recife Caro Ricardo, desculpem-nos pelo erro que cometemos na reportagem sobre Ferreira, na qual afirmamos que o nome do médico que auxiliou o artista plástico chama-se Lucilo Magalhães. Na verdade, o correto é Lucilo Maranhão. Clídio Nigro Ciclofaixa Amei - na Algomais – o merecido destaque dado por Marcelo Alcoforado ao inesquecível Clídio Nigro, imortalizado pelo gosto popular ao criar o “Hino não oficial do Carnaval de Olinda”_ o seu Olinda Nº 1, que todo mundo sabe e/ou aprende, passando pela cidade na época do Carnaval. Em face à matéria veiculada na edição de janeiro/2016 – Bikes ganham espaço na cidade teço meu comentário: Bikes ganham espaço. Lindo título, mas não basta apenas a prefeitura inaugurar novas ciclofaixas ou ciclovias e não conservar as anteriores. A antiga ciclovia permanente que havia no curso da Rua 21 de Abril (que liga os bairros de San Martin, Mustardinha e Afogados) era um modal importante Quero parabenizar a ênfase dada ao frevo na edição de Jan/2016. Marieta Borges - Recife 6 Algomais • Março/2016 Francisco José 1 Belíssima entrevista. Cada vez que o escuto ou leio uma entrevista como esta, passo a admirá-lo mais. Antonia Salviano - Recife cartas Francisco José 2 Um repórter muito profissional e extremamente divertido que tive o prazer de conhecer. Admiro muito seu trabalho! Entrevista muito bacana.Chico é demais! Tania Betim - Recife Francisco José 3 Muito legal essa reportagem, eu já era fã do Chico José, agora que sou mais ainda. Fábio Freire - Olinda Algomais – 10 anos Requeremos à mesa da Câmara Municipal do Recife um voto de aplausos à Revista Algomais, pela comemoração dos seus 10 anos de fundação. Da decisão desta casa legislativa, dê-se conhecimento aos sócios-diretores da Editora SMF-TGI, Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura, aos jornalistas Rafael Dantas e Roberto Tavares, e aos sócios da TGI Consultoria em Gestão Francisco Cunha e Ricardo de Almeida. Trata-se de um Acabei de ler a Algomais de janeiro e quero parabenizálos. Apesar de magra, está forte e resistente como nosso homem do Sertão, que não se rende às crises e às intempéries da vida. João Rego - Recife periódico mensal, antenado com as novas tendências de mercado e com o nosso Recife. A Algomais também é parceira da Revista Olhar Cristã, que aborda temas relacionados ao cristianismo. A Algomais se caracteriza por uma destacada qualidade editorial, cujo conteúdo é de fácil leitura, inclusive para temas complexos, em virtude da forma inovadora de comunicar e da competência dos seus diretores, colunistas e colaboradores. As pautas são analisadas rigorosamente pelo seu conselho editorial e o seu projeto gráfico possui sintonia e qualidade impecáveis. Portanto, é justo que esta casa legislativa parabenize todos os que fazem parte dessa revista, que tem como propostas dar visibilidade aos principais acontecimentos que ocorrem em Pernambuco, especialmente na nossa cidade. A comemoração do aniversário de uma década é motivo dos nossos calorosos aplausos. gra, está forte e resistente como nosso homem do Sertão, que não se rende às crises e às intempéries da vida. João Rego - Recife Francisco Cunha Sensacional! Como leitor de Algomais, parabenizo esta revista pela publicação do artigo Estão voltando as flores (edição 117). É algo mais que nos prova que: “Há esperança ainda!” Walter Ribeiro – Recife Michelen Collins, vereadora - Recife Edição de Janeiro Acabei de ler a Algomais de janeiro e quero parabenizá-los. Apesar de ma- Algomais • Março/2016 7 entrevista ALCEU VALENÇA Artista fala do seu trabalho na música, no cinema e de suas traquinagens da infância “A vida toda serei um adolescente" Irrequieto, eloquente e bem-humorado, Alceu Valença esbanja uma vitalidade que nem parece que fará 70 anos em julho. Nesta conversa com Algomais ele fala do filme que está lançando, inspirado nas conversas sobre Lampião que ouvia na infância, das traquinagens de criança, de como Jean-Paul Bemondo o ajudou a conquistar garotas e da política das gravadoras. Como foi ser menino em São Bento do Una? Muito bom. Eu jogava pião, corria atrás de bezerros na fazenda, via os cavalos com os vaqueiros aboiando, via na feira os emboladores, os cegos que tocavam, os cordelistas cantando seus cordéis, as mentiras que contavam dos cangaceiros, dos circos que passavam, da discussão se Lampião era bandido ou herói. São Bento para mim é um mito em tudo: o mito da música, do Agreste, dos forrós. Isso tudo está no meu filme chamado A Luneta do Tempo, que vai ser passado, finalmente, no dia 24 de março no circuito comercial. Por que fazer cinema? Meu pai morreu, eu fui enterrá-lo e me lembrei muito do papo dele comigo sobre grupos como o de Lam8 Algomais • Março/2016 Diego Nóbrega Entrevista a Cláudia Santos, Rafael Dantas e Wanessa Campos pião. Lembro de vovô que fez o folheto Patativa e Azulão com tio Lucilo. Por isso, talvez eu tenha feito um folheto chamado A Luneta do Tempo, que primeiro era cordel virtual, não um filme. A mitologia segura a gente. Lampião, Corisco são mitos, entre outras dezenas de mitos brasileiros. Meu filme é bem-feito, mas não tem estouros, essa coisa chata da indústria do entretenimento. Não suporto efeitos especiais. Verdade que você começou a cantar aos 4 anos? Foi no Cine Teatro Rex em São Bento do Una. O prêmio era uma caixa de sabonetes. Eu concorri mas perdi a caixa de sabonetes! Um outro menino cantou Granada e ganhou porque cantava melhor do que eu. Mamãe conta que eu não entendia o que era palco o que era plateia e quando o menino vencedor começou a cantar fiquei na frente rebolando, e fazendo o que se chama de bunda canastra (cambalhotas). Aí o público ficou louco por mim naquele momento e eu sem entender muito bem, porque eu queria me amostrar pra mamãe. Como foi o início nos estudos? Tia Bebete foi minha professora. Na primeira aula, achei chato demais, pedi para sair da aula para poder cuspir. Ela deixou e aí corri para casa. Fiquei embaixo de uma cama. De repente, Miau, meu gato, me viu chegou perto de mim e fiquei com ele horas e horas debaixo da cama. Depois fui morar em Garanhuns e estudar no Colégio Diocesano de Padre Adeumar da Mota Valença, que era o diretor do colégio. Depois vim para cá e fui morar na rua dos Palmares, onde eu via passar os frevos, os caboclinhos. Essa rua eu denominei num poema de “carnavalódroma”. O maestro Nelson Ferreira morava ao lado da minha casa e na frente morava o poeta Carlos Pena Filho, que era casado com Tânia Carneiro Leão, mulher muito bonita. Olhava o belo casal passeando na rua e pensei que se fosse poeta também poderia arranjar uma gata para mim. Ao lado esquerdo da minha casa morava Maria Parísio, cantora lírica. Nesse momento eu estudava no Colégio Nóbrega e fui expulso. Por que? Eu precisava de um ponto para poder passar em francês. O professor estava com marcação comigo. Eu tirei 10, 10, 10, mas depois eu não estudei Morei na rua dos Palmares, que denominei de carnavalódroma, era vizinho de Nelson Ferreira, Carlos Pena Filho, Maria Parísio” muito, porque jogava basquete na seleção pernambucana infantil e juvenil e tive que viajar para o Paraná para jogar. Ele botou zero, zero, zero. Acontece que eu tinha sido escolhido para fazer um concurso para ir para França e ainda ia ganhar um dinheirinho. Mas não podia tirar nota baixa. Precisava de um ponto só. Pedi ao professor, bote um, preciso viajar. Ele não quis, aí disse: quer saber de uma coisa? Soque no cu! (risos) Fui expulso. E foi para onde? Para o colégio do professor Rodolfo Aureliano, um desembargador que era colega de meu pai, que era procurador. Nessa época eu ia para os carnavais no Clube Português, chegava perto das moças, mas elas me davam um chute. Comecei a me achar feio. Até que um dia surgem filmes da nouvelle vague e um deles era À bout de souffle (Acossado) , com Jean-Paul Belmondo. Era o novo galã, a nova estética. Eu era parecido com ele, só que mais bonito, porque na época em tinha um nariz direitinho e ele havia levado um murro e tinha um nariz quebrado. Eu ia para o cinema São Luiz e ali aprendi a fumar por causa dele – a pior coisa que fiz na minha vida. Eu fazia assim: (coloca a mão como se estivesse com cigarro entre os dedos e toca os lábios). As meninas diziam: “meu Deus do Céu ele é igual ao artista!”. Aí namorei muito por causa de Belmondo. Nessa época eu era muito botado para fora das salas de aula, de castigo. Mas eu devo muito a Dr. Aureliano porque ele me colocava na sala dele e ficava até duas horas da tarde tendo que ler. Ele me apresentou a livros de Jorge Amado, Graciliano Ramos. Ele mandava bilhetes para papai dizendo que eu tinha sido expulso da classe. Eu levava e falsificava a assinatura de papai e entregava no colégio. Até que um dia ele desconfiou e mandou a caderneta lá pra casa por um cara que trabalhava no colégio. Aí eu corri para casa, botei uns óculos, penteei o cabelo para trás para fingir que eu era meu irmão. Quando ele chegou ficou olhando pra mim e disse: sou do colégio Padre Félix. Perguntei: aconteceu alguma coisa com Alceu? Aí ele disse “é que Algomais • Março/2016 9 ALCEU VALENÇA Dr. Aureliano mandou isso aqui”. Eu assinei e ninguém soube, aliás papai soube algum tempo atrás (risos). Diego Nóbrega entrevista Você se formou? Em direito, mas trabalhava como estagiário em jornalismo. Trabalhei na redação da Bloch e do Jornal do Brasil, onde falei muito bem de São Bento. Mas eu mentia muito. Para eu reescrever uma reportagem do Diario de Pernambuco ou Jornal do Commercio que eles pediam, eu reescrevia e incluía São Bento. Teve uma reportagem sobre jumentos que eram comprados em Alagoas, abatidos e depois iam para o Japão. Em vez de dizer que foi em Alagoas, eu coloquei que foi em São Bento e disse que o povo de São Bento não quis vender o jumento porque como diz aquela música de Luiz Gonzaga, o jumento era nosso irmão. Estava tentando ser jornalista e estudando direito. Mas nesse momento veio a lei que só permitia trabalhar quem tivesse cursado jornalismo. Você que escolheu o direito ou foi a família? Meu pai que queria que eu não fosse artista, porque dois irmãos dele tocavam violão iam pra farra e foram os únicos que não se formaram. Aí papai botou na minha cabeça que eu teria que fazer direito. E ele até me prometeu um carro se eu passasse. Eu passei aí ele pediu para dividir o carro com outros irmãos Risos). Hoje em dia nem de carro eu gosto. Passei na universidade federal. Aí fui fazer um estágio com minha ex-mulher no escritório do pai dela. Minha função foi fazer uma cobrança a um cara, um devedor. Mas ele me explicou porque estava devendo e aí dei razão a ele. Disse que ele não devia pagar não (risos). Aí sai do escritório e nunca mais voltei. E a música como surgiu na sua vida? Meu avô tocava violino, um tio chamado Juventino tocava sanfona, outros tios tocavam violão. Eu ouvia os aboios. Meu outro avô tocava bandolim e tia Canô tocava piano, mas ninguém era profissional. Eu ouvia isso quando pequeno e fica na cabeça da gente. Sou músico porque eu toco, mas eu não aprendi a tocar com ninguém. Eu conhecia toda essa cultura e todas as músicas das rádios. Sei 10 Algomais • Março/2016 imitar todo mundo quer que eu imite? (começou a imitar Cauby Peixoto e Nelson Gonçalves. Veja o vídeo: www.revistalagomias.com.br). Quando passou a cantar em festivais? No Recife. Cantei com Roberto Carlos, que ainda não era conhecido. O show era Roberto Carlos, cantor da rádio Mayrinck Veiga, e Alceu Valença. Foi no Náutico. Ainda estava no Jornal do Brasil quando soube que podia me inscrever para o FIC (Festival Internacional da Canção). Ia ter uma fase Norte-Nordeste que seria realizada aqui. Aí eu passei (nessa etapa), com a música Acalanto para Isabela com arranjo do maestro Duda, regido por Clóvis Pereira. Sem saber de nada fui para o Maracanãzinho, no Rio. Mas você estourou mesmo no Brasil no Festival Abertura, da Rede Globo? Foi, mas antes gravei um disco com Ge- raldo Azevedo que me deu muita força. Belle De Jour é seu maior sucesso? Não, Tropicana. O disco antes de completar um ano vendeu 1,6 milhão de cópias. O outro, Anjo do Avesso, que tinha Anunciação, vendeu mais de 1,5 milhão. Belle De Jour vendeu umas 800 mil cópias. Você e vários artistas romperam com as gravadoras. O que aconteceu? Uma gravadora comprou meu passe e de outros artistas (Chico, Elba, Gal Fagner) só para nos derrubar. A gente vendia mais de um milhão de discos. Eu ganhei até um apartamento de cobertura no Rio de Janeiro para eles me tirarem do catálogo. Era uma maneira de tirar a MPB do Brasil porque a MPB tinha que ter investimento para gravar. Mas, a gravadora trazendo uma música da América do Norte, uma música da Madonna ou de outra qual- Uma gravadora comprou meu passe e de outros artistas só para nos derrubar” casa. Aí eu liguei para o comitê de Joaquim Francisco e fiquei cantando (na campanha dele) num trio elétrico só com violão. Não ganhei um tostão. Eu fui em nome de mim mesmo, sabe? Do meu direito de ser democrático. Não suporto ditadura, nem de direita, nem de esquerda. Nunca me locupletei. E como é ser um artista hoje? Não se vende mais disco, não adianta. Eu tenho 1,3 milhão de pessoas que me seguem na internet. Uma música minha, No meio da rua, deu 8 milhões de acessos. quer, a produção já acabou, já ganhou milhões e milhões, então só era botar no mercado daqui e colocar nas rádios. Você entra com um produto, a custo zero, para não entrar com um outro produto que pode custar R$ 200 mil ou R$ 250 mil. É o neoliberalismo entrando nas gravadoras? O neoliberalismo é uma jogada que interessa sobretudo às grandes marcas. Eu sou uma pessoa que raciocino, não sou contraditório, sou controverso. Eu me lembro uma vez que apoiei Joaquim Francisco, porque eu tinha estado na Alemanha Oriental, onde existia uma ditadura. Sabe por que caiu? Por causa do papel higiênico. Várias vezes passei por lá e numa dessas eu fui no banheiro. O papel higiênico era uma lixa. Eu disse lá aos meus amigos: caiu a Alemanha Oriental. E eles perguntaram, por que? Eu disse: por causa do papel higiênico, não há cu de comunista que aguente uma lixa dessa! Quando voltei para cá, estava numa discussão na casa de Roberto Lessa sobre a direita e a esquerda. Os ânimos se exaltavam. Aí me perguntaram em quem votaria. Disse que meu título era do Rio, mas se eu votasse aqui eu votaria em branco. Aí alguém me perguntou em branco? Eu disse: contra Joaquim não posso votar, porque é meu amigo de classe e de rua. Só isso. No outro dia as pessoas que estavam lá começaram a me telefonar. João de Lima Neto, que morreu, grande amigo meu, rompeu com o PMDB passou para o outro lado. Ele me perguntou: posso dizer que você está com Joaquim? Eu disse não. Eu não estou com ele, eu não estou contra ele. No outro dia já estavam me esculhambando, até que chegou um momento que jogaram uma pedra na minha E você hoje ganha dinheiros dos shows? Dos shows e direitos autorais. Eu não preciso de muito dinheiro para mim. Eu acredito que vai haver uma saída do neoliberalismo para uma outra coisa porque o mundo não vai conseguir mais segurar a ganância. Vai haver uma migração para o campo. Em vez de você comprar um apartamento, vai comprar, a um preço baratinho, uma casa arretada no meio de uma vila de 20 pessoas no campo. Mas nessa volta ao campo tem internet. A função de Delminha, minha irmã, na fazenda é irrigar a plantação. Mas descobri que você vai poder abrir e fechar a torneira pelo celular. Você faz 70 anos este ano e... … Quando você diz isso me dá um susto! Sou uma pessoa muito nova na minha cabeça. A vida toda serei um adolescente. Veja mais conteúdo no site www.revistaalgomais.com.br Algomais • Março/2016 11 aniversário Revista cria fórum para debater PE Ao completar uma década no mercado editorial, publicação constitui com a TGI o Conselho Estratégico Revista Algomais – Pernambuco Desafiado N esses 10 anos levando informação à sociedade pernambucana, a Revista Algomais sempre se pautou por defender os interesses de Pernambuco. Outra característica da publicação tem sido analisar os problemas e desafios enfrentados pelo Estado, sem se fechar na crítica infrutífera, mas, sobretudo, publicando reportagens partindo de um prisma propositivo. Mais do que apontar as dificuldades, o objetivo é buscar soluções, a partir de entrevistas e debates com especialistas. E para comemorar essa década de existência, mantendo-se fiel à linha de fomentar discussões e propostas, a revista inova ao criar o Conselho Estratégico Revista Algomais – Pernambuco Desafiado. “Trata-se de um fórum permanente formado por lideranças que fazem a diferença nas diversas cadeias produtivas de Pernambuco e em movimentos sociais. Esse grupo terá a missão de refletir sobre os desafios do Estado”, esclarece Sérgio Moury Fernandes, diretor da SMF-TGI Editora, que publica a revista. “É importante ressaltar que o conselho tem cunho institucional e visa colaborar para o futuro do Estado. Não tem caráter comercial”, adverte Sérgio Moury. O funcionamento do conselho se dará a partir de reuniões semestrais 12 Algomais • Março/2016 45 anos de pioneirismo desenvolvendo soluções para implantar e administrar estacionamentos. CONTATO: PE (81) 3204-2760 | RN (81) 3204-2758 | SP (13) 3219-3538 - Site:Algomais www.sanpark.com.br • Março/2016 13 ordinárias. A primeira delas será realizada no mês que vem.“As reuniões extraordinárias poderão ser convocadas, sempre que necessário, para debater temas específicos”, acrescenta o diretor comercial da editora, Luciano Moura. Os encontros serão coordenados pela TGI Consultoria em Gestão e terão como secretaria executiva a Revista Algomais. A TGI, na verdade, tem uma participação importante na idealização desse conselho, porque a ideia da sua criação surgiu a partir da pesquisa Empresas & Empresários (E&E) executada pela consultoria e pelo INTG – Instituto da Gestão. Realizada desde 1990, a E&E forneceu conteúdo para três livros, sendo o último deles, Pernambuco Desafiado Cenários e Prioridades para a próxima Geração de Pernambucanos no Horizonte 2035, inspirou a criação do Conselho Estratégico. “Publicamos no livro a decisão de promover o seminário permanente Pernambuco Desafiado, de forma articulada entre a Algomais e a TGI, com o objetivo de manter aceso o debate e a mobilização em relação ao futuro do Estado, dando continuidade à proposição original da Pesquisa Empresas & Empresários”, explica Ricardo de Almeida, diretor da SMF-TGI Editora e consultor da TGI. Vários seminários foram realizados até a iniciativa evoluir para a constituição do Conselho Estratégico. Com a promoção desses encontros, a Revista Algomais espera propor iniciativas para que o Estado possa sustentar seu crescimento. Cada encontro terá como resultado proposições reais de enfrentamento dos desafios para o desenvolvimento sustentável de Pernambuco, que serão temas de matérias na revista. A ideia é que as propostas levantadas nos seminários sejam sugeridas ao poder público. “Esses encontros são da maior importância, principalmente neste 14 Algomais • Março/2016 momento de crise. Não se pode parar o debate. E Pernambuco, mais uma vez, é pioneiro com esse projeto”, salienta o consultor da TGI Francisco Cunha. Opinião que é compartilhada pelo presidente do Imip Gilliatt Falbo. “Essa iniciativa já é importante num momento de calmaria, num período de incerteza, como este, é mais importante ainda”, ressalta Falbo. “E como crise é também épo- Ça Va apresenta aravilhas As 4doMM und para o poder público e, juntos, encontrarmos saídas”, espera Queiroz Filho. Essa confiança nos resultados propostos pelo Conselho Estratégico foi um dos motivos que levou Paulo Dantas, diretor comercial da Agrodan, a aceitar o convite para participar do conselho. “Achei uma ótima iniciativa e uma forma de contribuir para o futuro de Pernambuco. Unindo lideranças das diversas cadeias produtivas, esse fórum terá condições de propor iniciativas para o crescimento integrado, e sustentável, de todas as regiões do Estado”, estima Dantas. Com a experiência de atuar no Observatório do Recife – organização que também reúne diferentes segmentos da sociedade em prol da qualidade de vida dos recifenses – Rubén Pecchio não pensou duas vezes em dizer sim ao convite de participar do Conselho Estratégico. “Acredito em formas de colocar a sociedade mais ativa e mais capaz de realizar mudanças”, justifica Pecchio. “O conselho vai trazer uma gama de olhares diferentes, e essa é uma de suas riquezas. Nele podemos discutir com agentes públicos para criar arranjos sociais mais justos, mais sustentáveis e igualitários e construir a sociedade que queremos”, acredita. Expectativa que também é acalentada por Eduardo Lemos Filho, economista e sócio da LMS/TGI (empresa especializada em gestão de empreendimentos e shopping centers). “Tanto o poder público quanto a iniciativa privada estão num período de crise, em que as soluções não são fáceis. Espero que o Conselho Estratégico possa contribuir para que o Estado encontre as saídas. As dificuldades são grandes , mas se a gente se unir a gente sai na frente”, assegura Lemos. Entrada + Prato Principal + Sobremesa + Café Segunda a sexta. Só no almoço 39, Apenas R$ 90 bistrô moderne ca de oportunidade para rever nossos processos e conceitos, o fato de fazer esse exercício de forma coletiva, com representantes de vários segmentos no conselho, terá uma produtividade ainda maior do que isoladamente”, acredita o presidente do Imip. Reunir pessoas de setores econômicos distintos também é uma característica do conselho que foi elogiada por Queiroz Filho, CEO da holding Duca. “É importante estarmos juntos para pensar formas de sair dessa crise”, afirma o publicitário. “Minha expectativa é de que encontremos um caminho porque a coisa não está fácil. Não podemos só ficar esperando o governo fazer a parte dele. Claro que tem aspectos que compete somente ao governo realizar. Mas acho que as lideranças vão conseguir levar propostas Celebração nas casas legislativas O aniversário de 10 anos da Revista Algomais será celebrado em sessões solenes na Câmara dos Vereadores do Recife e na Assembléia Legislativa. Ainda no mês de março, no dia 30, a Casa José Mariano realizará a homenagem, que foi requerida pelo vereador André Regis, que ressaltou a qualidade editorial da publicação e a conexão com o mercado local. Já no Palácio Joaquim Nabuco, a sessão solene foi requerida pela deputada estadual Priscila Krause. “Fico feliz em saber que uma revista de credibilidade, como a Algomais, vai completar 10 anos em 2016”, diz. Também em referência à comemoração, a Algomais recebeu no final de fevereiro um voto de aplauso da Câmara dos Vereadores do Recife, de autoria da vereadora Michele Collins. homenagem. sessões solenes foram requeridas por priscila krause e andré régis Algomais • Março/2016 15 capa Revista registrou uma década intensa em Pernambuco Há dez anos os engarragamentos no Recife não eram tão quilométricos e nas cidades do interior quase não existiam. O Facebook apenas começava a sua escalada para conquistar mais de 1 bilhão de usuários, porque a moda na época era o Orkut. E os celulares? Eram simples telefones que enviavam e recebiam torpedos. Nada parecido com a conectividade viciante dos smartphones. A classe média recifense não se atrevia a andar de bicicleta pelo Recife Antigo, nem abria mão de ter empregada doméstica. De lá para cá, muita coisa mudou e foi nesse período de transições que surgiu a Algomais. Trazemos a seguir reportagens que mostram o impacto dessas mudanças na vida dos pernambucanos. Contamos, ainda, com o auxílio luxuoso de articulistas de peso que analisam as transformações ocorridas na economia, literatura, futebol, tecnologia,educação e no interior. Para começar, saiba como Algomais retratou a década. Kássia Alcântara, especial para Algomais A s páginas da Revista Algomais registraram uma década intensa em Pernambuco. Desde sua primeira capa, em março de 2006, foram mostrados os grandes momentos da economia pulsante e emergente do Estado, que assistiu seu auge entre os anos de 2007 e 2012, aos debates sobre a cidade e a difícil tarefa do Recife em se tornar a metrópole sustentável e amada por seus moradores. São 10 anos de viva transformação no comportamento social, político e econômico do pernambucano, e como a revista de Pernambuco, a Algomais refletiu em suas 120 edições histórias de sucesso, memórias do passado, proposições de como os desafios do presente e do futuro podem ser enfrentados. Por falar em futuro, foi na Algomais de julho de 2012 (edição 76) que foi iniciado o debate sobre o Recife do Futuro, como a capital deverá chegar 16 Algomais • Março/2016 0 ro 201 > dezemb 2> aos 500 anos, no ano de 2037. Um trabalho começado em abril daquele ano, em parceria com o Observatório do Recife, que debateu “O Recife que Precisamos”, a partir do qual leitores, assim como uma parcela mais ampla da sociedade, foram mobilizados na descoberta de alternativas viáveis para o futuro da cidade. O resultado desses debates gerou uma publicação inspiradora que continua dando frutos, como o projeto Recife 500 Anos, tocado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (A.R.I.E.S), uma Organização Social, incubada no Porto Digital, e mantida pela Prefeitura do Recife para, entre outras coisas, construir o plano estratégico de longo prazo para a cidade. O primeiro de toda a sua história. História que trouxe de 1954 a memória da passagem por Pernambuco do padre dominicano Louis-Joseph Lebret, do movimento economia e humanismo. O relatório apresentado nessa visita, realizada a convite da Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Codepe, hoje Instituto de Planejamento de Pernambuco), pode-se dizer que foi o primeiro planejamento de longo prazo realizado no Estado. O Complexo Portuário de Suape, assim como o estaleiro e até uma refinaria de petróleo foram sugeridas naquele material. Algo que se concretizou mais de 50 anos depois. Este resgate a Algomais fez na edição 37, de abril de 2009. Produzida pelo jornalista José Neves Cabral, a reportagem foi finalista no Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo. TECNOLOGIA. A revolução da tecnologia e a importância do Recife como polo de desenvolvimento no setor foi matéria de capa já na edição 20, em novembro de 2007, quando o Porto Digital foi eleito pela primeira vez o melhor parque tecnológico do Brasil. De lá pra cá, o parque foi reconhecido outras duas vezes, 2011 e 2015, e chega ao 15 anos, completados recentemente, como uma promessa sendo cumprida no desenvolvimento dos serviços avançados como um segmento econômico importante para o Estado. O interior de Pernambuco sempre foi pauta na Algomais. Na edição número 2, de abril de 2006, o jorAlgomais • Março/2016 17 PROFETA. matéria sobre Louis-Joseph Lebret, do movimento economia e humanismo, foi finalista do prêmio cristina tavares nalista Eduardo Ferreira trazia como tendência o Polo de Confecções de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama. Caruaru, a capital do Agreste, foi capa da revista já na edição 4, em junho de 2006, onde já se destacava o potencial para o comércio e a cultura da cidade. No ano passado, a edição 111 trouxe uma matéria especial sobre o avanço da interiorização do ensino superior. A reportagem Educação acelera desenvolvimento, assinada pelo jornalista Rafael Dantas, chegou a final do Prêmio Estácio de Jornalismo. CULTURA - Mas não foram só reflexões sobre a economia. “Cultura, por exemplo, sempre foi um ponto forte da publicação. Pernambuco é um Estado riquíssimo culturalmente e nunca deixamos de dar atenção a todos os aspectos deste segmento”, comenta Sérgio Moury Fernandes, diretor executivo da SMF-TGI, editora da Revista Algomais. Já na edição de número 2, em abril de 2006, o crescimento do cinema pernambucano foi tema. Em matéria assinada pelo jornalista Ale18 Algomais • Março/2016 ARTE. PREMIADO CINEMA PERNAMBUCANO TAMBÉM GANHOU DESTAQUE NA REVISTA xandre Figueirôa foi apresentado o mapeamento da cadeia produtiva do cinema em Pernambuco, realizado pelo Sebrae, ainda durante a euforia da exibição do filme Cinemas, Aspirinas e Urubus, dirigido por Marcelo Gomes, no Festival de Cannes, na França. Dez anos depois, neste mês de março, o Festival de Toulouse, também na França, prepara uma mostra exclusiva com curtas-metragens de Pernambuco, além de promover retrospectiva de longas-metragens do cineasta Marcelo Gomes. O frevo, símbolo maior da música pernambucana, foi por diversas vezes tema na Algomais. A capa da edição 11, em Janeiro de 2007, trouxe um verdadeiro especial com registro dos blocos, compositores e espaços dedicados ao ritmo e observava a importância do seu reconhecimento como patrimônio cultural da humanidade. Apenas na edição 81, em dezembro de 2012, foi possível registrar que aos 105 anos o frevo havia, finalmente, sido reconhecido pela Unesco e ganhava seu lugar como patrimônio cultural imemorial da hu- O Frevo, que é um dos maiores símbolos da música pernambucana, ganhou a capa de algumas edições da Revista Algomais manidade. Na edição do mês passado, voltamos a falar do tema com a opinião de músicos e especialistas sobre os caminhos para o ritmo atravessar as fronteiras do calendário de Momo. Durante todos esses anos, a Algomais publicou edições especiais, como o Anuário Socioeconômico de Pernambuco 2010 e 2011, que identificou os cenários geográfico, eco- nômico, cultural e histórico das 12 microrregiões de Pernambuco - incluindo o Arquipélago de Fernando de Noronha. A Algomais Bairros, que em três oportunidades, entre os anos de 2011 e 2014, registrou importantes referências históricas e patrimônios culturais do Recife, contando detalhes do passado e perspectivas para o futuro dos 94 bairros da capital pernambucana, além de dados demográficos sobre cada um deles. “Conhecer o próprio bairro e ter consciência da ligação dele com a história do Recife só contribui para o sentimento de pertencimento à cidade”, comenta Moury sobre a importância do projeto. O primeiro desses projetos foi desenvolvido em parceria com o jornalista Fernando Castilho, publicado em 2010, e contou a história das empresas cinquentenárias de Pernambuco, como Pitú, Armazém Coral e Baterias Moura. No ano de 2012, a Algomais recebeu o III Prêmio Mestre Salustiano do Turismo de Pernambuco, promovido pela Empetur, com Algomais • Março/2016 19 a série de reportagens Algomais Tudo Litoral Sul. As matérias, vencedoras da categoria texto, foram redigidas pela jornalista Karoline Fernandes e publicadas na edição nº 56, em novembro de 2010. Em 2014, em mais um momento de inovação, foi laçado o suplemento Algomais Saúde. Publicação trimestral, encartado na revista, que trata de temas ligados à área de saúde, como nutrição, bem-estar e fitness. O objetivo é oferecer aos leitores uma publicação que ajude as pessoas a cuidarem da saúde, uma prioridade dos homens e mulheres contemporâneos. O encarte tem as seções fixas: “Além do Consultório”, “Fala, Doutor!”, e “Mito ou Verdade”. Durante esses 10 anos a Algomais teve o privilégio de realizar grandes entrevistas como com o artista plástico Abelardo da Hora, o comunicador Geraldo Freire, o ex-presidente Lula, o ex-governador Eduardo Campos, e diversos empresários como João Carlos Paes Mendonça. O resgate da memória também é missão da revista e todos os meses personagens como Dominguinhos, Pelópidas da Silveira, Jerônimo de Albuquerque, entre tantos outros foram apresentados na seção Memória Pernambucana, assinada por Marcelo Alcoforado, além dos textos do historiador Leonardo Dantas, que sempre traz alguma curiosidade ou fato da história de Pernambuco. URBANISMO. As discussões sobre o espaço urbano do Recife e da região metropolitana foram alvo de uma série de coberturas nesses 10 anos. Duas delas foram reconhecidas com premiações. A série "O Recife que Precisamos", da repórter Luiza Assis, levou o prêmio Cristina Tavares 2013, na categoria reportagem de texto estudante. No ano passado, a Algomais levou duas distinções no Prêmio Ademi de Jornalismo. Discutindo uma proposta de revitalização para a Avenida Dantas Barreto, a revista ficou com o primeiro lugar na categoria série de reportagens, com o trabalho do repórter Rafael Dantas. A matéria Ocupação do Estelita também foi destacada, terminando em terceiro lugar na categoria reportagem individual. 20 Algomais • Março/2016 2240 187001 SHOPPING RIOMAR (81) 3032-3168 • SHOPPING RECIFE (81) 3302-3154 • SHOPPING TACARUNA (81) 3301-7496 • PLAZA SHOPPING (81) 3302-1653 e mais 57 lojas no Brasil. www.sergios.com.br @sergiosoficial @sergios_oficial /sergiosformen UM NOVO C AMINHO É POSSÍVEL. Algomais • Março/2016 21 Assim se passaram 10 anos lvanildo Sampaio* H á dez anos, no primeiro trimestre de 2006, o então governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, começava a cuidar da sucessão estadual e cimentar sua candidatura ao Senado Federal. O vice-governador, Mendonça Filho, havia se preparado para assumir o cargo e, depois, disputar um novo mandato. Há 10 anos, o País inteiro acompanhava com interesse o chamado “escândalo do mensalão”, quando começou a se ver que o Partido dos Trabalhadores não era tão puro assim – ainda que estivesse muito longe de uma “Operação Lava Jato”. Há 10 anos, o jovem Ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, deixava Brasília aos finais de semana e vinha para o Recife, de onde saía, religiosamente, para visitas políticas ao interior do Estado, alimentando uma candidatura majoritária na qual só ele mesmo acreditava. Há 10 anos, o escritor norte-americano Don Brown ganhava milhões de dólares com o livro O Código da Vinci, traduzido para vários idiomas, adaptado para o cinema e sucesso de vendas por muito tempo mais. Há 10 anos, havia crise no futebol de Pernambuco e todos os times deviam milhões à Previdência – quadro exatamente igual ao que acontecia em quase todas as unidades da Federação, e que não mudou muito, até hoje. 22 Algomais • Março/2016 Há 10 anos, Pelé ainda era perseguido pelos “paparazzi” do mundo inteiro, que procuravam documentar se o “rei do futebol” tinha nova namorada; Rubens Barrichelo se arrastava pelos autódromos do mundo – a internet começa a ser descoberta pelo cidadão comum. Há 10 anos, Sérgio Moury Fernandes, tendo como parceiros o publicitário Luciano Moura e os consultores Francisco Cunha e Ricardo de Almeida, criou uma revista informativa e ilustrada em Pernam- buco, e lhe deu o nome de Algomais. Fazer uma revista periódica num Estado periférico não é uma tarefa fácil. A começar pela seleção da mão de obra: tem que ter gente talentosa, porém que não se sinta mais talentosa do que é, pois excesso de estrelismo fez mal a Marilyn Monroe. E mais: tem que acreditar no projeto, envolver-se plenamente com ele, até porque está provado que o projeto é bom; tem que perder o complexo do coitadinho, achando que só no Sul e no Sudeste do País são feitas boas revistas; tem que respeitar as regras do mercado, da ética e da convivência harmoniosa, entendendo que governo é governo, imprensa é imprensa, cada um no seu lugar e na sua função. Tem que administrar conflitos, sem cometer injustiças. Sérgio Moury e seus parceiros montaram sua equipe à luz de todos esses entendimentos. Acompanho a trajetória da Algomais desde o seu lançamento. Pelo menos, no seu conteúdo – naquilo que ela publica. Comecei minha vida profissional como repórter de revistas, ao longo de meio século trabalhei para algumas delas; umas foram referências e campeãs de venda; outras nem tanto. Dava-me prazer escrever para elas. Muitas vezes, modificava-se a abertura de um texto para não perder uma foto absolutamente genial, clicada por alguns monstros sagrados do fotojornalismo brasileiro, com os quais tive a felicidade de fazer dupla: Walter Firmo, Sebastião Barbosa, Nelson Santos, Claus Mayer, Juvenil de Souza e tantos mais. É claro que o mundo era outro; é claro que não havia mídia eletrônica; é claro que as revistas ilustradas, que dividiam o número de páginas meio a meio para o texto e as fotos – eram o grande veículo impresso da sociedade brasileira: todos liam Manchete, todos liam O Cruzeiro, antes que o mercado fosse poluído e segmentado, com títulos e conteúdos para os gostos mais diversos. Mas, se Manchete e O Cruzeiro são apenas uma lembrança na * Ivanildo Sampaio é jornalista. história da imprensa brasileira, estão aí, para o bem e para o mal, Veja, Época, Isto É, Carta Capital e outras mais, cujas tiragens, somadas, vão além de 1,5 milhão de exemplares, mostrando que apesar de todas as “internetes” da vida ainda sobra espaço, e muito, para a leitura de bons impressos. Vale dizer: de boas revistas. Creio que uma das razões do sucesso da Algomais foi se manter fiel à proposta inicial, aprimorando o conteúdo a partir de demandas do mercado e dos leitores, focando as coisas de Pernambuco com o melhor do olhar local, sendo crítica quando necessário, mas reconhecendo igualmente iniciativas que merecem ser louvadas. Não tenho dúvida: Sérgio Moury, Luciano Moura, Francisco Cunha e Ricardo de Almeida criaram uma revista que se ligou definitivamente ao melhor da Imprensa de Pernambuco, com o sério compromisso de defender tudo aquilo que é nosso, navegando com serenidade nesse mar de crise que afeta todas as atividades – mas conscientes de que o trabalho e a perseverança ainda são o caminho para levar com tranquilidade a um porto seguro essa nau que lhes foi confiada. Algomais • Março/2016 23 Foto: Juarez Ventura mobilidade Novos caminhos do trânsito Congestionamentos e mudanças nos deslocamentos da RMR mudaram alguns hábitos dos recifenses Rafael Dantas S e há uma mudança perceptível para os moradores do Grande Recife nesta última década foi o aumento dos congestionamentos. Hoje, a frota de veículos da RMR é 88% maior que em 2006, de acordo com números do Detran-PE. A conta é simples, um automóvel para cada três moradores da região. Além de mais carros e motos, as distâncias também aumentaram. Cresceu significativamente o fluxo de pessoas que moram 24 Algomais • Março/2016 em Paulista e trabalham no Recife, por exemplo. Sem falar naqueles que se empregaram em Suape ou Goiana e viajam diariamente para esses polos industriais nos extremos no nosso litoral. Na matemática que contempla os maiores percursos e mais automóveis nas mesmas avenidas, o resultado é mais tempo gasto nos trajetos cotidianos. E desse fenômeno surgiram muitas mudanças no comportamento dos cidadãos, como deixar de almoçar em casa e usar a criatividade para aproveitar o período do dia perdido nos engarrafamentos. Cidadão típico desta realidade, João Victor dos Santos, 21 anos, é analista de cobrança de um escritório de advocacia com sede no Recife. Morador da Zona Norte, ele precisa de dois ônibus para chegar em Boa Viagem, onde está a empresa em que trabalha. Na média enfrenta quase duas horas nos cerca de 20 quilômetros de deslocamentos. Somando ida e volta, são entre três horas e meia e quatro horas apenas nos seus trajetos. Se não dá para encurtar o tempo, a estratégia usada por ele para aproveitar um pouco dessas horas dentro do transporte público é estudar. “No começo gostava de usar meu celular para ouvir músicas no caminho, mas temendo ser assaltado, optei pela leitura dentro dos coletivos”, conta João Victor. “Não tinha muito o hábito de ler. Hoje brinco dizendo que por conta da insegurança fui incentivado a estudar. Como sou músico nas horas vagas, gosto de ler também sobre teoria musical nos trajetos”, acrescenta. O analista chegou a pensar em migrar para as motocicletas. Plano que não virou realidade devido ao receio de ser mais uma vítima das centenas de acidentes anuais com motoqueiros. Esse caminho do transporte público para o individual, aliás, é feito por milhares de pernambucanos anualmente. Na década o número de motos triplicou no Estado e na RMR, segundo dados do Detran-PE. Só na capital pernambucana são acrescidas à frota quase 10 mil novas motos e motonetas (cinquentinhas) por ano. “O que se coloca hoje como possibilidade de amenizar o deslocamento nos grandes centros urbanos é a qualidade, o aprimoramento do serviço de tempo. joão victor aproveita para estudar quando está no transporte público Algomais • Março/2016 25 comportamento com trânsito, recifenses fogem dos deslocamentos quando possível. para atender esse público, o mr. fit investiu na entrega delivery transporte público. Inverter o transporte individual para o coletivo. Mas, em meio aos congestionamentos, a população tem migrado para as cinquentinhas. Isso não é uma solução, mas o agravamento do problema”, comenta o chefe de educação no trânsito da CTTU, Francisco Irineu. Quem se locomove no Recife por meio de automóvel particular também vem mudando seus hábitos. Não era incomum, anos atrás, pessoas saírem do trabalho para almoçar em casa ou se transportarem de carro para algum restaurante nem sempre tão próximo ao local de trabalho. Cláudio Simões, 54 anos, vivenciou de perto quanto o comportamento do motorista recifense vem se modificando. Em 1998, ele fundou um restaurante no Espinheiro que funcionou durante 15 anos, no formato self-service e atraia uma freguesia que trabalhava em outros bairros. “Quando fundamos o restaurante, o deslocamento era fácil na cidade. Mas percebemos a queda no movimento ao longo dos anos”, recorda-se o empresário. Com o aumento do fluxo de carros na avenida Agamenon Magalhães e na avenida Rosa e Silva, duas artérias urbanas que trazem grande impacto para o bairro do Espinheiro, a clientela foi sumindo gradativamente. Simões constatou que as pessoas passaram a se alimentar em estabelecimentos mais próximos aos seus empregos para não perderem tempo no trânsito ou procurando uma vaga para estacionar. “Após perceber uma queda vertiginosa do número de clientes reinventamos todo o negócio, mas mesmo assim tivemos que fechar”, diz. Mau tempo para uns, boa oportunidade para outros. Nessa época também proliferaram na cidade restaurantes que investiram na entrega de refeições em escritórios. Alguns ainda oferecem uma comida mais leve e saudável, já que evitar os quilos a mais na balança também passou a ser uma preocupação dos clientes. Uma das unidades da rede de franquia Mr. Fit, por exemplo, localizada 26 Algomais • Março/2016 próximo a edifícios empresariais, no Pina, inaugurou há poucos meses seu serviço de delivery. Com essas duas alternativas, a empresa do ramo de fast-food saudável está garantindo uma clientela que chega a pé, por trabalhar próximo, como também públicos de pelo menos quatro bairros vizinhos. “Com menos de seis meses do serviço de entrega, o delivery já representa 50% das nossas vendas. Há uma grande demanda devido à comodidade para os clientes que buscam comida saudável, mas que querem evitar os deslocamentos na cidade”, analisa o empresário João Luiz, que toca o negócio ao lado da esposa Fabiana Fraga. Apesar do almoço ser o horário de maior serviço da marca, o estabelecimento dispõe de um cardápio que atende a clientela em qualquer horário do dia. VIA MANGUE. Lembram do Cláudio Assis, do restaurante no Espinheiro? Nem todas as mudanças no trânsito lhe prejudicaram. Hoje ele trabalha como publicitário na Ilha do Leite. Até bem pouco tempo gastava quase uma hora para se deslocar cerca de 10 quilômetros da sua residência, no bairro do Setúbal, até o escritório. Com o advento da Via Mangue, o mesmo percurso é feito em apenas 20 minutos. “Com a abertura dessa via expressa, melhorou bastante meu cotidiano”, avalia. Após morar em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde considera que o transporte público funciona bem melhor que no Recife, Simões avalia que a escolha da moraria passou a ser mais criteriosa. “Antigamente morar perto do trabalho era apenas uma ideia. Hoje, com os congestionamentos urbanos, morar perto do emprego se tornou uma condição de qualidade de vida”, afirma. Infraestrutura aumentou. Extensão do percurso também O aumento do número de veículos não é a única novidade na década. A recém-inaugurada Via Mangue mudou o trânsito na Zona Sul. Mas nesses anos o recifense viu nascer a Linha Sul do metrô, observou o surgimento das faixas exclusivas de transporte coletivo, a ampliação dos Terminais Integrados de Ônibus, a chegada dos primeiros VLTs e de novos trens, além da implantação de alguns corredores de BRT. Nessa década chegaram também à região metropolitana as primeiras vias pedagiadas de Pernambuco. Novidades que mudaram também os modais de deslocamento dos recifenses. Só o Metrorec registrou um aumento de 95% do fluxo de passageiros e mensalmente transporta 9,3 milhões de usuários. A Linha Sul chega a receber por dia 100 mil pessoas. “A população começou a perceber os benefícios sociais decorrentes da utilização dos transportes sobre trilhos. Redução do tempo de viagem, de acidentes no trânsito, do consumo de combustíveis são algumas dessas vantagens”, afirma Mauricio Meirelles Martins, coordenador operacional de Planejamento de Transporte da Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Se a Linha que segue da Estação Recife para Cajueiro Seco foi a novidade da última década, o coordenador fala de intenções da empresa para ampliar o sistema. “Internamente, desejamos expandir o metrô para a área norte da cidade. Entendemos que o metrô deveria chegar a bairros como por exemplo Casa Amarela, diminuindo o fluxo de veículos pela Avenida Norte”, diz Meirelles. A CBTU, que administra o Metrorec, no entanto é uma das operadoras do sistema de transporte público de passageiros da Região Metropolitana do Recife e as expansões dependem da iniciativa do Governo do Estado. As modificações na infraestrutura da cidade foram acompanhadas também pelo crescente número de ciclistas, que reivindicaram e conquistaram espaço na agenda pública recifense (veja matéria seguinte). Outro grupo até então invisível na discussão da mobilidade que ganhou voz é o dos pedestres, que passou a reivindicar melhorias principalmente nas calçadas. Mais que novos investimentos em transporte público e vias urbanas, os moradores da RMR se deslocam muito mais porque as oportunidades de emprego se espalharam por esse território de influência direta da capital. Se antes os postos de trabalho se concentravam no Recife, há alguns anos o polo do Complexo Industrial metrô. ampliação do sistema de transporte sobre trilhos gerou um aumento de fluxo de 95% de passageiros na década Algomais • Março/2016 27 e Portuário de Suape, no Litoral Sul, e o polo automotivo da Fiat, no Litoral Norte, inverteram essa lógica. Além de empregar os moradores locais, evitando seu deslocamento pendular diário, essas grandes indústrias contam com moradores que estão há quilômetros de distância, que chegam ao serviço em muitos casos através de ônibus fretados. “Tivemos a situação de instalação de grandes equipamentos que afetaram os deslocamentos. Suape e tudo o que veio junto; o empreendimento da Reserva do Paiva; a Fiat, que gera um outro movimento; há uma série de indústrias de alimentos que se instalaram em Vitória de Santo Antão e Moreno. Muita gente mora no Recife e se desloca para esses lugares. No Recife mesmo, o crescimento do Polo Médico, do Porto Digital, o surgimento de novos shoppings e de grandes grupos educacionais de ensino superior trouxeram novas dinâmicas para a cidade”, aponta o arquiteto e urbanista João Domingos Azevedo, presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira. Um dos municípios mais próximos do Recife e que tem induzido um maior fluxo de deslocamentos para trabalho ou estudo é Paulista. Fora a expansão habitacional, a cidade se destaca pelo aumento do consumo numa média de 14% ao ano, segundo a consultoria McKinsey. De olho nesse mercado consumidor, grandes empreendimentos, como o Shopping Paulista North Way decidiram investir. Mas também pequenos empreendedores estão atentos, como é o caso da universitária Priscila de Souza, 24, moradora do bairro de Areias. Interessada em abrir uma loja no segmento de cosméticos, ela optou por fazer o investimento no bairro de Maranguape 1, que foi aberto recentemente. Se as perspectivas para o novo negócio são animadoras, o desgaste do transporte diário já tem feito Priscila sonhar com um veículo particular. Diariamente anda um pequeno percurso a pé, usa metrô e passa por duas integrações de ônibus. Para chegar no seu destino são cerca de uma hora e meia, mas o retorno, no horário de pico, é feito em no mínimo duas horas. “Esse desconforto é um dos motivos que ninguém deixa o carro em 28 Algomais • Março/2016 casa, mesmo com o combustível nas alturas”, comenta Priscila, que divide o trabalho com uma pós-graduação em psicologia organizacional e um curso técnico em administração. TECNOLOGIA. O uso de novas tecnologias nos smartphones para amenizar a luta diária do trânsito é outro comportamento já identificado pelos especialistas em mobilidade urbana. “As pessoas usam com eficiência vários aplicativos que dão informações em tempo hábil para que os motoristas optem pelas melhores rotas pela cidade. Além disso, usam muito as redes sociais que estão interligadas com as informações do trânsito”, destaca o chefe de educação da CTTU, Francisco Irineu. O universitário João Victor Dias, 21, usa aplicativos diariamente. No seu trajeto de ida e volta entre o bairro das Graças, onde mora, e o estágio na Ilha do Leite, ele usa o Google Maps para pegar os caminhos com menos trânsito e para alternar sua rotina. No horário noturno, as novas tecnologias também o ajudam a chegar na Unicap. “Infelizmente sempre faço os deslocamentos no horário de pico, mas com os apli- cativos faço a opção do lugar com menos congestionamentos, mesmo que seja um pouco mais distante. Também gosto de mudar de percurso sempre”, afirma o estudante, que já usou o Waze, que tem funcionalidades semelhantes. É através da tecnologia também que o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS) está realizando uma pesquisa de origem e destino. A última foi realizada há 18 anos. Como os custos para realização desse estudo de forma tradicional são volumosos, a Prefeitura da Cidade do Recife está fazendo o levantamento de forma virtual. Para coletar os dados dos recifenses e moradores das cidades que compõem a sua região metropolitana, o ICPS disponibilizou um formulário digital, que pode ser preenchido em poucos minutos através do endereço: pesquisademobilidade.recife.pe.gov.br Educação no trânsito, tecnologia e infraestrutura urbana são alguns dos elementos que compõem a tentativa do poder público de melhorar a fluidez dos deslocamentos na cidade. Enquanto esse quebra-cabeças não é resolvido, os recifenses vão mesclando um pouco de paciência e muita organização para rearrumar suas agendas e usar a criatividade para aproveitar melhor o tempo. aplicativo. joão dias usa o google maps para driblar os congestionamentos Um dos mais eficazes tratamentos não cirúrgicos de combate ao câncer A assinatura Desde 1855 será utilizada na versão vertical em peças em que seja necessário expor a data da fundação do Hospital. Ilha do Leite: 81 3416.1122 Boa Viagem: 81 3416.1800 www.rhp.com.br /realhospitalportugues /realhospitalportugues R E A L H O S P I TA L P O R T U G U Ê S | M A N U A L D E I D E N T I D A D E V I S U A L A braquiterapia é uma modalidade de tratamento radioterápico que permite a colocação precisa de fontes de radiação dentro ou próximas ao tumor, permitindo uma M A R C A | M A R C A V E R T I C A L C O M A S S I N AT U R A dosagem reduzida nas áreas não afetadas do corpo. Este é um método que pode ser realizado em regime ambulatorial, de forma isolada ou associada à radioterapia externa, aumentando as chances de cura do paciente, e o melhor é que as sessões têm tempo reduzido quando comparadas às de outros tratamentos. Provedor do Real Hospital Português: Alberto Ferreira da Costa Diretora Técnica/Médica: Dra. Maria do Carmo Lencastre CRM-PE 8325 Algomais • Março/2016 29 NINHO DE PALAVRAS BRUNO MOURY FERNANDES O bom humor [email protected] Advogado V oando entre Natal e o Recife, lendo a revista de bordo, deparei-me com uma reportagem sobre “os barbixas”, grupo de humoristas. Durante o texto o repórter explica que é difícil arrancar alguma resposta séria dos integrantes do grupo. Levam tudo na brincadeira e no bom humor. Nunca escrevi sobre isso, mas agora o faço: acredito no bom humor como estilo de vida. O pacto que fiz com o bom humor é irrevogável e irretratável. Pode acontecer o que for. E olhe que já aconteceu um lote de merda: AVC na minha madrinha (querida Fatinha), choque (e morte) do meu pai, autismo no meu filho, ligamento do joelho rompido, separação de casais queridos, liturgias cansativas dos ritos processuais no dia a dia da vida forense, seca no Sertão, trânsito caótico, contas pra pagar, etc. Nada disso é capaz de me tirar o bom humor, a alegria de viver. Claro que muitas coisas me entristecem, mas logo vejo o lado positivo em tudo e cuido de extrair da situação alguma coisinha engraçada. É o famoso “rir da própria desgraça”. Não, meu senhor, não é um texto de autoelogio. Não, minha senhora, não estou me “amostrando”, nem me exibindo. Muito menos ficando doido. Estou somente a relatar – porque acredito piamente nisso – que o bom humor cura, ameniza, ensina, empurra pra frente, alivia, engrandece. O sorriso é o alimento da alma. É o que nos faz seguir adiante. Nada forçado. Assim, natural mesmo. Tudo bem que em certas ocasiões posso beirar a tabacudice. Mas ser tabacudo tem lá seus encantos. Quando minha mãe iniciou um relacionamento após ficar viúva, bateu uma ciumeira danada. Coisa boba, de filho. Mas logo cuidei de brincar com as pessoas que, tentando tratar o as- 30 Algomais • Março/2016 “Se eu perder a capacidade de rir de tudo é porque, na verdade, já estarei morto.” sunto com seriedade, me diziam “você tem que entender, ela ficou viúva muito cedo”. Minha resposta era sempre ”você diz isso porque não estão comendo sua mãe, tão comendo é a minha”. Pronto! Logo todo mundo caía na risada e o papo sério se transformava em alto astral. Nem por isso deixei de sofrer os problemas que a vida me proporcionou. Mas o bom humor sempre me salvou de tudo e de todos. Lembro que um dia após a morte de painho, estávamos trancados no silêncio profundo do quarto de mãe. Eu, ela e Edmar, meu irmão. Em meio àquelas horas de silêncio fúnebre e no seio daquela tristeza imensa, arrisquei dizer que “dessa vez Deus botou sem cuspe e lambuzado na areia” (perdoem a heresia). E meu irmão emendou com um “tomamos no oiticica”. Assim, caímos na gargalhada, e depois choramos. Choramos muito. Até hoje a gente chora. Mas nunca deixamos de intercalar esses choros com muitas risadas. Doido, eu!? Sou nada! Eu sou é bem humorado. Só isso. Mas peço a Deus que pegue leve porque não sei até onde aguento. Tenho medo de ficar sisudo e amargurado. Se isso um dia ocorrer, peço que me enterrem vivo porque não suportarei ficar por aqui. Aliás, se eu perder a capacidade de rir de tudo é porque, na verdade, já estarei morto. Algomais • Março/2016 31 Pano Rápido Voilà! Joca Souza Leão* Joca Souza Leão escreveu para Algomais de 2008 a 2010. Histórias hilárias sobre personagens, escritores e artistas, na maioria pernambucanos. Em 2011, reuniu mais de 200 dessas histórias e 300 personagens no livro Pano Rápido, editado pela Cepe em parceria com a Algomais. O ano passado, Joca fez uma cirurgiazinha cardíaca e, sabe-se lá por quê, parou de escrever. Mas, eis o cronista aqui de volta, em plena forma, para celebrar a vida. E os 10 anos da Algomais. M orrer. Taí um negocinho qu’eu jamais teria programado para esta altura da vida. Até porque – o que seria meu caso – nunca vi ninguém programar a aposentadoria para morrer. Conheci um camarada que programou a aposentadoria pra trabalhar dobrado e em poucos anos ficar rico. Na noite em que completava um ano de jornada dobrada, morreu com um infarte agudo do miocárdio. Bom, né? Dizem que a viúva pediu ao médico para declarar como causa morte no atestado de óbito: “além de corno, burro.” Um sujeito quiném eu, classe média, recém-entrado nos 60 e saúde pra dar e vender se organiza e se aposenta para viver, isso, sim; fazer as coisas para as quais (da boca pra fora, pelo menos) nunca teve tempo nem grana. No meu caso, mesmo, pretendia morar algum tempo em Portugal. Na volta, então, vestiria o velho calção de banho e teria a vida pra vadiar. Sem remorso. Mas qual o quê? 32 Algomais • Março/2016 Tudo começou com uma faltinha de ar, percebida nas caminhadas. “Coisa besta”, pensava eu. E atribuía à noite mal dormida ou coisa que o valha. Mas o bicho começou a pegar, caro leitor. E eu tava ficando ofegante com qualquer esforço. Médicos e exames, sei lá quantos. Até que a cineangio, que já passou pela artéria coronária deixando um stentzinho, confirmou o diagnóstico: estenose (calcificação) da válvula aórtica. Solução? Faca! Na intimidade cardiológica, o famoso “frango assado”, para trocar a válvula calcificada por uma de boi, novinha em folha. Aliás, era minha intenção dar nome e raça ao boi, mas ninguém soube me dizer. Como se usa em humanos dezenas de órgãos de porco e boi, sugiro que se crie um monumento em homenagem ao boi e ao porco desconhecidos. Nada mais justo. Mas, para que o meu boi não ficasse sem nome, chamei-o de Surubim, que é nome de boi pernambucano, citado em poema de Ascenso Ferreira. Hô – hô – hô – hô – hô, Váá! Meu boi Surubim! Boi! Boiato! Mas, voltemos à vávula. Como nunca fui de reza, acho que nem o Pai Nosso sei mais de cor, fiquei com um sambinha de Paulo Vanzolini me martelando o juízo: “No último dia da vida / Encontrei-me com os meus pecados, / Uns maiores, outros menores, / Mas no geral bem pesados, / Do outro lado somente / A ingratidão que sofri / O anjo pôs na balança / E vestido de branco eu subi.” Medo de morrer? Você quer uma resposta sincera, leitor? Pois a resposta é não. Não um “não” arrogante, impetuoso ou, até, corajoso, desafiador. Mas um “não” de quem não acreditava que seria dessa vez. E que, além disso, tinha uma grande confiança na equipe médica. Se eu morresse, acredite, morreria decepcionado com minha intuição. Quarto do Hospital Português. Eu lá, deitado, vestindo aquele camisolão que deixa a gente com a bunda de fora. Entra um médico da equipe. Como já estava meio grogue, não identifiquei quem. Mas acho que foi Fernando Moraes. “Doutor, o coração para mesmo, completamente?”, perguntei. “Para – disse ele – completamente.” “Por quanto tempo?” – insisti. “Uns 20 minutos... aí a gente dá um choquinho e ele volta a bater.” – E se não voltar? * Joca Souza Leão é cronista MÉTODO ABP: 12 ESTUDANTES POR SALA E AULAS COM CASOS REAIS. SÓ NA FPS. fps.edu.br 81 3035 7777 A FPS é a única faculdade do Estado a trabalhar com o inovador método ABP, que é 90% mais eficaz que o tradicional. 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Vantagens que antes eram usufruídas apenas pela população mais pobre, mas que nos últimos anos ganhou prestígio na classe média, especialmente após a implantação das ciclofaixas móveis pela Prefeitura do Recife. Uma mudança no perfil dos usuários das bikes que aumentou a pressão para a ampliação da infraestrutura para o modal. O servidor público e coordenador da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Cezar Martins, é um dos recifenses que abandonou o carro e passou a usar a bike como seu meio de transporte diário. Ele começou as pedaladas em 2011 e dois anos depois vendeu seu veículo, ao perceber que o carro estava muito tempo parado na garagem. A mudança radical teve motivações urbanas e econômicas. “Essa é a porta de saída que os moradores das grandes cidades estão encontrando para não depender do carro, principalmente numa cidade em 34 Algomais • Março/2016 que o transporte público não funciona bem. Posso dizer que é um ponto de libertação do cidadão”, afirma. Da sua residência no Parnamirim até seu local de trabalho, no Bairro do Recife, ele gasta entre 20 e 25 minutos de pedalada. Um desempenho que seria impossível no carro. Cezar considera que ao descobrir as vantagens do uso das bicicletas, os recifenses estão quebrando alguns mitos que os impediam de usar esse modal e isso tem mudado o status do automóvel. “A população mais pobre há muito tempo se desloca bastante de bicicleta, mesmo sem ciclovias e fazendo percursos maiores. A novidade nos últimos anos foi a descoberta da classe média, que mora na área plana cotidiano "pedalar me fez um bem muito grande. aumentou minha qualidade de vida e melhorou minha disposição", afirma a jornalista e ciclista cristiane sales migração. cezar considera que recifense está descobrindo vantagens das bikes da cidade e em geral não depende de trajetos longos”, informa. Ele considera que a criação da ciclofaixa móvel trouxe os holofotes para as bikes, o que motivou o surgimento de muitos novos ciclistas, mas é urgente a ampliação de ciclovias na cidade. A jornalista Cristiane Sales, 42 anos, há pouco mais de um ano começou a experimentar a bicicleta para lazer. Desejando apenas sair da condição de sedentária, ela acabou encontrando seu novo veículo de transporte diário. “Pedalar me fez um bem muito grande. Aumentou minha qualidade de vida, melhorou minha disposição. Hoje vou para todos os lugares sem precisar de ônibus ou carro”, afirma a ciclista. Sua única restrição é quando precisa chegar a um lugar com roupas mais formais e que não há estrutura para banho. Na sua rotina de bicicleta, ela chega a circular 20 quilômetros na cidade para seus afazeres. O exemplo da jornalista rendeu frutos na família. Após essa sua mudança, os três filhos passaram a usar também as magrelas como seu principal meio de transporte. Como as bicicletas se tornaram mais comuns na cidade, Cristiane acredita que os motoristas passaram a ter mais respeito pela figura do ciclista. “Acredito que as pessoas estão mais atentas para essa população que transita pela cidade de bikes. Procuram dar uma maior distância, não passar tão rápido do nosso lado. Mas, claro, não é um comportamento geral. Além disso, as ruas da cidade, além de muito esburacadas, são bem estreitas. Na maioria das vias não tem espaço para esse 1,5 metro de distância a ser dado ao ciclista”, considera. Para o ciclista e sociólogo Nadilson Silva, 46 anos, o grande entrave para que mais pessoas pedalem da cidade é a segurança. Ele, por exemplo, só usa o carro quando precisa retornar para casa mais tarde. “As pessoas que usam a bike nos finais de semana buscam o lazer e uma melhoria na saúde. Muitos não fazem das bicicletas o meio de transporte do seu dia a dia por causa da insegurança. Hoje eu considero que há uma preocupação maior com os acidentes que com os assaltos. Disputar o espaço com os carros assusta ainda as pessoas”, avalia. Da sua residência em Boa Viagem até a Unicap, onde ele trabalha, Nadilson percorre aproximadamente 15 quilômetros de distância. Além desse percurso, ele ainda pedala em grupos de ciclismo de amigos pelo menos duas vezes por semana e já teve experiências de cicloturismo. Outras práticas de lazer que são cada vez mais comuns na cidade. Algomais • Março/2016 35 trabalho. hadassa roberta passou a usar a bicicleta como quisque para vender a sua linha de produtos de chocolate RENDA. As bicicletas têm gerado oportunidades de geração de renda na cidade. Principalmente após o lançamento das ciclofaixas móveis, se tornou mais comum ver as bikefoods ou mesmo empresas de aluguel e manutenção de bicicletas. Se o serviço de locação do Bike PE, que usa a marca do Itaú, é o mais conhecido, há mais de 10 pequenas empresas que realizam esse trabalho na cidade. Uma dessas é a RentBike Recife, dos sócios e irmãos Daniel e Jonas Santiago. O salto de ciclistas para empreendedores começou um mês antes do primeiro final de semana de operação da ciclofaixa móvel. “No começo, com poucos concorrentes, chegamos a trabalhar com mais de 100 bicicletas em três pontos da cidade. Hoje, como muita gente já comprou a sua, nossa demanda reduziu um pouco e temos 70 bikes, além de 11 triciclos e 5 quadriciclos”, diz Daniel. Além de funcionar nos finais de semana, com pontos de locação na Jaqueira, Recife Antigo e 2º Jardim de Boa Viagem, a RentBike também oferece o serviço em eventos particulares, sob demanda. A clientela da empresa é de 99% de pessoas que locam as magrelas por lazer. “Temos clientes fiéis, que nos procuram semanalmente, pois não querem transportar a bike até os pontos das ciclofaixas, nem se preocupar com a manutenção. Há um fluxo também de turistas que usam o serviço”, diz Santiago. 36 Algomais • Março/2016 locação. rentbike recife é uma das empresas que entraram no filão do aluguel De olho na tendência das foodbikes, a universitária Hadassa Roberta, 23 anos, aproveitou o charme da bicicleta para colocar seus quitutes à venda. Cozinheira de mão cheia, ela criou há um ano uma linha de produtos de chocolate sob a marca Sereníssima Chocolateria. Os lugares favoritos da empreendedora para estacionar sua foodbike são o Parque da Jaqueira e o Shopping Plaza. “Eu fazia faculdade de administração, mas não gostava. Como sempre me interessei em cozinhar migrei para a faculdade de gastronomia. Estou bem no início. Como as pessoas gostavam muito do que eu fazia na cozinha, decidi testar no mercado”, afirma. De uma ciclista aos domingos, Hadassa passou a ter na bike o seu ponto de vendas, que tem a vantagem de poder se deslocar a depender do movimento do dia. No início do mês, os seus cupcakes, tortas, bolos e brigadeiros somem em pouco tempo. Para que os clientes de carteirinha encontrem a sua bike, o percurso diário da Sereníssima Chocolateria também é contado pelas redes sociais, além de atender pedidos também pelo WhatsApp e telefone. Os recifenses começam a experimentar outros serviços como a de entregas e até o uso de publicidade sonora e visual. Mercados iniciantes que ainda estão no início da pedalada. Recife tem potencial para a “magrela” Os recifenses contam com cerca de 43 quilômetros de ciclovias ou ciclofaixas. Para regular a expansão dessa malha viária foi criado em 2014 o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife. O projeto que tinha um orçamento de R$ 354 milhões para ser implantado propunha uma malha metropolitana de 590 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, sendo 244 quilômetros de responsabilidade do Governo do Estado e 346 quilômetros a serem viabilizados pelas prefeituras. O projeto é reconhecido por ser pioneiro no País. A atuação da Ameciclo e dos urbanistas da cidade tem aumentado a reflexão e discussões sobre o lugar das bikes no espaço urbano e produzido pesquisas e artigos que fomentam o agendamento de políticas públicas para incentivar o modal. A Ameciclo, por exemplo, realiza a contagem de ciclistas em pontos estratégicos da cidade, com o objetivo de mapear o potencial cicloviário do Recife. Uma dessas medições foi na Avenida Caxangá, onde a associação estimou uma circulação diária de 3,2 mil pessoas de bikes, sendo um potencial de deslocamento de até 6 mil ciclistas no ponto que se aproxima da BR-101. “O potencial do Recife é muito grande. Em São Paulo, por exemplo, foi instalada uma ciclovia na Avenida Brigadeiro Faria Lima há alguns anos, mas somente hoje é que possui um fluxo de 3 mil ciclistas por dia. A nossa avenida Caxangá já tem mais que isso sem a infraestrutura”, afirma Cezar Martins. Após gerar informações sobre a quantidade de recifenses que usam bikes, a associação mira agora fazer um levantamento da qualidade das ciclovias, como um instrumento de medição da manutenção dessa infraestrutura a cada gestão municipal. Em 2014, por exemplo, a estu- dante do curso de gestão ambiental do IFPE Mariana das Dores realizou a pesquisa Recife Ciclável: Diagnóstico do Sistema Cicloviário da Cidade, que mapeou indicadores como a presença de bicicletários, a proximidade com estações de aluguel de bikes, a existência de sinalização, o sombreamento, entre outros. “Um sistema cicloviário bem projetado, executado e operado é capaz de evitar inúmeros acidentes e de oferecer conforto e segurança aos seus usuários. E para que seja respeitado deve estar visível e ser fiscalizado bem como outros tipos de sistema, pois o ciclista diante do trânsito também possui direitos e deveres”, relata a pesquisa. (R.D.) Se beber não pedale Um comportamento que não é raro entre os ciclistas do Recife pode prejudicar a sua saúde: pedalar depois de tomar alguma dose de bebida alcoólica. Se as campanhas publicitárias destacam que o volante não combina com o álcool, essa premissa também é verdade para o guidão da bicicleta. Os riscos porém são outros. O ciclista que ingere álcool aumenta a frequência cardíaca e o estresse, além de potencializar a desidratação do organismo. “É uma combinação perigosa. Muitas pessoas que bebem e saem de bikes correm o risco de passarem por picos de pressão arterial e cardíaca”, alerta o coordenador do curso de Educação Física da Faculdade Guararapes e da Academia R2, em Casa Forte, Thiago Borges. Ele também recomenda a qualquer pessoa, seja adulta, jovem ou idosa, que está há tempo sem fazer atividade física, a fazer uma consulta com um cardiologista. “Ele poderá ver a história clínica e estratificar os riscos que a pedalada pode oferecer para cada indivíduo”, afirma. Algomais • Março/2016 37 entrevista O que a prefeitura tem feito para garantir mais segurança aos ciclistas? E como tem enfrentado o desafio de conviver com as pressões dos players econômicos e as demandas da população sobre o espaço público? O prefeito Geraldo Julio responde a essas indagações nesta entrevista e explana as ações realizadas na sua gestão para incentivar o recifense a usufruir mais da sua cidade. A Ciclofaixa de Turismo e Lazer incentivou o recifense a usar a bicicleta como meio de transporte? Acredito que sim. Para quem não tinha o hábito de pedalar ou tinha esquecido a bicicleta empoeirada na garagem, a Ciclofaixa de Turismo e Lazer inaugurou uma nova perspectiva de olhar a cidade, de circular pelo Recife. A ciclofaixa, que hoje tem 36,5 quilômetros de extensão e corta 31 bairros da cidade, atraindo mais de 17 mil pessoas a cada dia de projeto, trouxe mais qualidade de vida ao recifense. Tornou-se um convite permanente, reforçado a cada domingo e cada feriado, para que a população aproveite os momentos de folga para praticar exercícios físicos e para que faça isso usufruindo dos espaços públicos, conhecendo e vivendo a cidade de perto. Já ouvimos vários relatos de pessoas que perderam peso e reverteram problemas de saúde por terem conseguido quebrar 38 Algomais • Março/2016 Foto: Andréa Rêgo Barros "Quero que o cidadão se relacione com a cidade" a inércia, levantando do sofá para pedalar. Quando a pessoa associa a prática de atividades físicas a lazer e contemplação das paisagens que a cidade oferece, fica mais fácil incorporar o exercício físico ao cotidiano. Aí, a mudança de hábitos torna-se efetiva. E o cidadão ganha duas vezes: ganha saúde e ganha intimidade com o lugar onde vive. Como a prefeitura tem incentivado o uso da bicicleta no dia a dia? Fizemos a prospecção de 12 rotas cicláveis em consonância com o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana (PDC/RMR), que é coordenado pelo Governo do Estado. Da nossa parte, estamos projetando a Rede Cicloviária Complementar de forma que as novas rotas se conectem com as já existentes e com a Rede Cicloviária Metropolitana. Os projetos priorizam o atendimento aos bairros que abrigam polos de interesse, como parques, praças, mercados públicos e terminais integrados, criando pontos de conectividades entre esses equipamentos. Entre as rotas já implantadas estão a Inácio Monteiro, Antônio Curado, Marquês de Abrantes, Arquiteto Luiz Nunes, Antônio Falcão, Ciclofaixa Jardim Beira Rio e a Zona 30, que transformou boa parte do Bairro do Recife em uma rota compartilhada entre pedestres, bicicletas e veículos. Também entregamos em janeiro a nova ciclovia Via Mangue, que tem cerca de 4 km de extensão e se conecta com as ciclofaixas Antônio Falcão e Jardim Beira Rio, além da ciclovia existente no entorno do anel viário do shopping RioMar, formando uma rota ciclável contínua de mais de sete quilômetros. A próxima ciclofaixa será implantada no bairro de Jardim São Paulo e está prevista para esse primeiro semestre de 2016. Atualmente existem 45,5 kms de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas na cidade e a prefeitura vai continuar trabalhando para ampliar ainda mais a rede. De que forma a gestão municipal tem investido na segurança do ciclista? A segurança do tráfego do Recife tem passado por melhorias desde o início da nossa gestão. A CTTU tem realizado um trabalho intenso para a melhoria da sinalização viária em toda cidade, com foco nos ciclistas, pedestres e motoristas. Nos últimos três anos, cerca de 4 mil faixas de pedestre foram pintadas e 6 mil placas de sinalização foram trocadas ou implantadas, beneficiando mais de 400 vias em todos os bairros da cidade. Além da sinalização, ações como campanhas educativas, o reforço da fiscalização eletrônica contribuíram para a redução de cerca de 25% dos acidentes com vítimas e também para a melhoria da mobilidade. Os orientadores de trânsito, que trouxeram o reforço de cerca de 350 profissionais para os principais corredores viários do Recife, e vem mostrando resultados cada vez mais positivos, também estão diretamente ligados às melhorias registradas. Isso sem falar nas operações de trânsito pontuais, como a colocação de cones em pontos críticos da cidade, disciplinando a circulação e dando mais fluidez e segurança às vias. A Guarda Municipal também está atenta à segurança dos ciclistas. A equipe de monitoramento das câmeras dão todo suporte para que a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros sejam acionados de imediato, assim que identificam uma situação suspeita ou uma ocorrência nas ciclofaixas e ciclovias. O senhor acredita que, com os projetos da prefeitura, o cidadão tem demonstrado mais interesse pelas questões urbanísticas? Essa é uma das prioridades da minha gestão: estimular que o cidadão se relacione com a cidade de perto, conhecendo e usufruindo dos nossos atrativos, dos bairros, de tudo que faz do Recife uma cidade cada vez mais das pessoas. O Recife Antigo é um bom exemplo disso. Revitalizar o bairro e transformá-lo num grande parque a céu aberto foi um dos pri- Muitos problemas parecem complicados se sem solução. Até chegarem a nossas mãos. A Deloitte é referência em consultoria e auditoria no Brasil e no mundo. E isso é resultado do esforço para encontrar as melhores soluções de negócio e de seu comprometimento com o desempenho de seus clientes. Isso é o que faz a Deloitte ser líder. Isso é o que faz a Deloitte ser a Deloitte. Siga-nos ©2013 Deloitte Touche Tohmatsu Novo Endereço: Algomais • Março/2016 39 Rua República do Líbano 251, 28º andar | Rio Mar Trade Center | Torre B | Pina Recife/PE | CEP 51110-160 | PABX: +55 (0)81 3464.8100 40 Algomais • Março/2016 Foto: Andréa Rêgo Barros meiros compromissos de campanha que pusemos em prática. Tanto que foi criada na Secretaria de Turismo e Lazer uma gerência específica para cuidar do Recife Antigo. O primeiro passo para isso foi devolver o Marco Zero ao cidadão. Restringimos a pauta de eventos do espaço, que chegava a passar mais de 260 dias ao ano ocupado com montagem, execução e desmontagem de eventos. Agora, são realizados apenas três grandes eventos representativos para a nossa cultura no espaço: o Carnaval do Recife, a Paixão de Cristo do Recife e o Baile do Menino Deus. Depois estruturamos um conjunto de ações com o intuito de trazer a população de volta para o bairro, como o Olha!Recife, que oferece, todo fim de semana, passeios gratuitos a pé, de bicicleta, de ônibus e de catamarã pelos nossos atrativos e por nossa história, e a Ciclofaixa de Turismo e Lazer, com as três rotas que convergem para o bairro histórico. O Recife Antigo de Coração, realizado uma vez por mês, para um público de mais de 20 mil pessoas, também teve um papel fundamental nisso. O projeto, que disponibiliza no bairro esportes, shows e brincadeiras para a criançada foi muito importante para que o recifense voltasse a procurar os espaços públicos nos momentos de lazer em família. Hoje, o Recife Antigo é o segundo bairro de todo recifense. Está vivo de novo. O movimento gerado pelas atrações atraiu novos empreendimentos comerciais revitalizando também economicamente o bairro. Outras atrações são os novos equipamentos culturais importantíssimos, como o Cais do Sertão e o Paço do Frevo. Sempre soubemos que a missão da administração municipal era trazer as pessoas de volta ao bairro. Com elas, tínhamos certeza, viria toda a transformação. Porque é assim que funciona. Qualquer iniciativa que visa a qualificação do espaço público e de equipamentos de uso público provocam respostas imediatas da população. Outros exemplos dessa reação positiva são as pessoas que mudaram o estilo de vida e ganharam mais saúde a partir das atividades físicas oferecidas pela Academia Recife, encontradas em vários bairros da cidade. Recentemente inauguramos o Skate Park Marcelo Lyra, que faz parte da requalificação da orla de Boa Viagem e já é um sucesso. Tudo isso e tantas outras ações apontam para a necessidade de termos um novo modelo de construção de cidade, que implique de fato na melhoria da qualidade urbana e de vida das pessoas. Uma coisa é certa: quando a população se apropria da cidade, ela quer fazer parte da construção do seu futuro. Trata-se de um movimento importante de construção de cidadania. Como é lidar com as pressões dos players econômicos e dos movimentos sociais sobre o espaço urbano? A retomada do planejamento urbano do Recife passa por esse envolvimento e estamos, sim, atentos às contribuições das pessoas. Com as frentes de diálogos abertas com os diversos setores da sociedade já avançamos na elaboração do Plano Recife 500 Anos, que lança um olhar estruturador para o planejamento da cidade, por exemplo. Também é fruto dessa escuta a construção do Plano de Mobilidade Urbana; o Plano Centro Cidadão, que acontece em convênio com a Universidade Católica; o Projeto Parque Capibaribe; o Plano de Drenagem; o Mapeamento de Áreas Críticas; o Plano Urbanístico do Cais de Santa Rita, Cais de José Estelita e Cabanga; e o próprio Recife Participa, modelo permanente de participação social da gestão. O planejamento da cidade envolve também o cuidado com o nosso passado. Intensificamos esse resgate patrimonial e histórico e em três anos classificamos 104 imóveis como Imóveis Especiais de Preservação, os IEPs. Esse resultado foi fruto do envolvimento das pessoas com o objetivo de preservar nossa história. O Recife tem uma tradição histórica de participação da população na definição de seus rumos. Veja a entrevista na íntegra no site www.revistaalgomais.com.br Algomais • Março/2016 41 urbanismo Preocupação com a cidade é tendência Grupos de recifenses passaram a se apropriar do espaço público e a reivindicar melhorias urbanas 42 Algomais • Março/2016 Conhecer a cidade caminhando por suas ruas e estradas é um passeio estimado por todo turista ao visitar o destino desejado. É uma experiência já louvada na canção Estrada do Canindé, por Luiz Gonzaga: “Ai, ai, que bom / Que bom, que bom que é / Uma estrada e uma cabocla / Cum a gente andando a pé”. Essa vivência mais humana do ambiente urbano, de experimentar o Recife a pé ou de bike, associada ao transtorno cotidiano, elevou o clamor de um grupo de recifenses na última década por um maior cuidado com o espaço pú- blico. Calçadas, ciclovias, altura dos edifícios, preservação dos espaços históricos são alguns dos temas que entraram definitivamente na agenda política da capital. Porém, isso não nasceu aqui. Mas é um movimento global por reocupação ou reapropriação das cidades pela população. Há 10 anos, o consultor Francisco Cunha começou a caminhar sistematicamente pelo Recife. Das suas caminhadas nasceu um novo olhar sobre o espaço da cidade. “Sou graduado em arquitetura e urbanismo pela UFPE, mas a ficha só foi cair mesmo quando passei a andar. Só é possível conhecer uma cidade quando andamos a pé ou de bicicleta, pois olhamos o espaço público numa outra velocidade. Nesses 10 anos percebo que muita coisa mudou. Da voz das ruas a consciência se amplia”, considera. Nesse período surgiram as primeiras ciclovias, faixas azuis para ônibus e houve o interesse do poder pública pela qualificação das calçadas. “Vemos mais pessoas usando as praças, fazendo exercícios físicos nos parques, estão circulando mais no espaço público”, diz. Apesar de mais pessoas nas ruas, o consultor acredita que o principal combustível para aumentar as discussões sobre os espaços públicos é a péssima qualidade da urbanização das cidades brasileiras. “Primeiro temos a herança do urbanismo português que é ruim. Depois tivemos um descuido ao longo do tempo com essa questão que se acentuou no processo de urbanização acelerada que o Brasil viveu. Mudamos rapidamente de um País 20% urbano para ser 80% urbano, com população quintuplicada. O terceiro foi a perda da qualidade téc- Calçadas, ciclovias, altura dos edifícios e preservação dos espaços históricos são temas que entraram definitivamente na agenda de debates políticos da cidade nica por causa da transição política. Na ditadura, investiu-se em planejamento, na transição, jogou-se fora tudo como se fosse obra da ditadura que devia ser exterminada. Extinguiu-se departamentos e áreas onde havia preocupação com planejamento, inclusive urbano”, avalia Cunha. O sociólogo e professor da Unicap Nadilson Silva incorporou a bicicleta no seu cotidiano também há 10 anos. Ele avalia que os cidadãos que fizeram essa opção de abandonar ou reduzir sua dependência dos transportes motorizados transformaram não apenas seu deslocamento, mas sua percepção sobre a qualidade de vida urbana. “Isso muda a visão que a pessoa tem da cidade, já que passa a olhar coisas que no carro não consegue ver. É além do engarrafamento ou do carro da frente. Observa mais a paisagem, a beleza, mas também os buracos das ruas. Esse cidadão passa a ter uma vivência mais próxima da realidade urbana e das pessoas”, afirma. Essa experiência de desfrutar a cidade é exaltada na canção do Velho Lua. Na sabedoria popular, esse pobre que anda a pé - no lugar onde não tem automóvel – é que molha os pés no riacho, contempla o orvalho beijando a flor e vê de perto o galo de campina. Esse convívio mais prazeroso e de maior respeito também com o espaço natural são algumas bandeiras levantadas por uma série de movimentos que passaram a questionar o desenvolvimento do Recife. Se o Direitos Urbanos foi o que agregou mais adeptos nos últimos Algomais • Março/2016 43 olhar. sociólogo nadilson silva afirma que cidadão que se desloca de bike ou a pé contempla a cidade de forma diferente anos, vários outros grupos discutiram o espaço urbano e as propostas de intervenção públicas ou privadas, como no bairro da Tamarineira (que impediu a construção de um shopping). O Observatório do Recife (ODR), por exemplo, reúne diversos representantes da sociedade civil para dialogar e trazer proposições para a cidade. "Trabalhamos para monitorar os indicadores socioeconômicos da cidade. A partir disso, podemos orientar o debate cidadão, para fazer com que as discussões sejam mais produivas", avalia Fernando Holanda, um dos integrantes do núcleo executivo do ODR. Na sua avaliação, os resultados do movimento ainda são de gerar mais engajamento, mobilização e abertura de dialogo, mais que intervenções práticas na cidade. Apesar desses movimentos ocuparem mais espaços na mídia nos últimos anos e terem sido impulsionados principalmente pelas redes sociais, os especialistas têm a compreensão de que eles ainda não alcançaram as massas. O arquiteto Cesar Barros, coordenador do curso de arquitetura da Faculdade Guara44 Algomais • Março/2016 década. francisco cunha avalia que houve mudanças na rotina dos recifenses rapes, considera que o caráter mais elitista desses coletivos é comum no mundo inteiro, envolvendo principalmente a classe média. Para ele, o primeiro desafio desses movimentos é intensificar a comunicação entre os diversos coletivos, o que começou a acontecer no Recife por meio da Escola de Ativismo, que está reunindo mais de 10 desses grupos. E a partir de uma maior conexão poderem chegar numa parcela maior da população “Os movimentos precisam transcender a barreira de um perímetro urbano muito limitado da cidade. É preciso chegar nas periferias, levar as discussões para os moradores das regiões mais populares da cidade”, diz. Apesar disso, ele considera que a atuação da sociedade civil organizada já tem alguns resultados concretos na cidade. “Essa discussão sobre o espaço urbano faz com que uma empresa pense duas vezes antes de lançar um empreendimento, por exemplo. É importante pensarmos que não estamos fazendo projetos sobre uma base zero, mas sobre uma cidade construída, onde já existe um contexto consolidado”, afirma Barros. tamarineira. movimento evitou construção de um novo shopping no bairro Algomais • Março/2016 45 Iniciativas no meio empresarial e no poder público Recife, mas a Região Metropolitana, onde estão instalados os empreendimentos dessas empresas. “Temos objetivo de contribuir para o crescimento planejado da cidade, atendendo as necessidades e desejos da população, que é o nosso cliente”, aponta André Callou, presidente da Ademi-PE. O dirigente da Ademi informou que os temas prioritários do projeto em relação ao desenvolvimento da cidade são segurança, mobilidade, sustentabilidade, segurança jurídica, verticalização, entre outros. “Um dos pontos fortes que discutiremos é a violência. As construções até a década de 80 não eram tão fechadas, nem Foto: Maira Erlich O movimento que passa pela sociedade também tem reflexos no meio empresarial e no poder público. Com essa proposta de pensar a cidade e não apenas o lote construído, a Ademi-PE e o Sinduscon lançaram no final do ano passado o projeto Redeprocidade. Na Prefeitura do Recife, o grande projeto de repensar urbanisticamente a capital do Estado é o Parque Capibaribe, que propõe um projeto de longo prazo para transformar a capital pernambucana numa cidade-parque. O Redeprocidade reúne diversas instituições representativas do setor empresarial da construção tendo a proposta de discutir não apenas o projeto. parque capibaribe propõe revitalização da cidade a partir do rio 46 Algomais • Março/2016 callou. segmento criou redeprocidade tinham guarita ou gradios. Não foi o setor que fechou, mas atendemos os interesses dos próprios moradores. Um dos aspectos para melhorar a cidade é pensar ações junto à segurança pública para que possamos modificar esse cenário e pensar numa forma de urbanização mais amigável”, afirma Callou. PARQUE. Do percurso e das águas do Rio Capibaribe nasceu um dos projetos mais ousados para revitalização da capital pernambucana. Fruto de um convênio de cooperação técnica entre a Prefeitura do Recife, através da Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o projeto Parque Capibaribe propõe uma transformação de grande parte do território da cidade a partir do rio, que corta 35 bairros. Há uma proposta do poder público de envolver a população na idealização dos investimentos a serem realizados pelo projeto. A prefeitura tem desenvolvido espaços de escuta para ouvir a opinião dos moradores sobre o que cada comunidade gostaria de ter no espaço público vizinho à sua casa. Antes de apresentar a proposta do parque para a população houve uma vasta pesquisa técnica sobre a vitalidade do rio e foram apresentados os conceitos macros que orientarão a execução do parque – como a prioridade para o transporte não motorizado e o incentivo à arborização. (R.D.) Algomais • Março/2016 47 inovação Redes sociais mudam o cotidiano Facebook e o WahtsApp revolucionam o trabalho e ajudam na inclusão do idoso na sua comunidade Yago Gouveia D efinitivamente, o advento da internet mudou a forma das pessoas se comunicarem. É um tal de WhatsApp pra cá, de Facebook pra lá... A sensação é de que a tecnologia chegou e dificilmente vai sair do cotidiano. Não é difícil encontrar alguém distraído olhando para a tela de seu smartphone, seja para conversar nas redes sociais, para ler as notícias do dia, saber como será o clima ou escolhendo a playlist da volta para casa depois de um dia cansativo. Mas as principais causadoras das mudanças nas relações interpessoais são as redes sociais. Por definição, elas são estruturas compostas por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações. Na prática, entretanto, elas representam bem mais que um local repleto de pessoas com diferentes objetivos, pensamentos e ambições. "O uso das redes sociais possui um aspecto positivo, é claro, no sentindo de favorecer a expansão da comunicação e da informação", afirma o psicológo Leopoldo Barbosa. Mas ele também salienta como aspecto negativo o fato de as pessoas postarem informações sem se preocuparem com a 48 Algomais • Março/2016 veracidade delas e sem confirmarem a fonte. "Muitos colocam uma opinião sobre um assunto tendo uma fonte que não é verídica. Como as pessoas não são cobradas, elas terminam se expondo diante de uma opinião superficial, sem uma análise aprofundada do tema", adverte o psicológo. O que ninguém pode negar, no entanto, é que a internet possibilitou uma aproximação entre indivíduos, reduzindo as distâncias. "Embora seja comum encontrarmos pessoas bem próximas fisicamente, sem conversar, mas trocando mensagens pelo celular, é notório, contudo, que as redes sociais estão promovendo uma aproximação de pessoas que tempos atrás estavam distantes. Isso era algo impossível há 20 anos", analisa o psicológo do Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL) Miguel Gomes . "As fronteiras geográficas não existem mais. Eu, por exemplo, tenho uma sócia que está morando na França, mas nos falamos todos os dias. Em qualquer lugar do mundo que tenha uma conexão com a internet, ela liga o celular e pode saber de tudo que web. experiência nas redes sociais fez rodolfo migrar para curso de publicidade Nova agência Novo posicionamento Qualidade e solidez nos resultados A Combogó Comunicação e Estratégia chega ao mercado com know-how e portfólio de trabalhos na área da comunicação corporativa construídos ao longo dos mais dez anos de atuação dos seus integrantes no mercado. Desenvolvemos ações e produzimos conteúdos de forma estratégica, integrada, inovadora e de acordo com as necessidades e estratégia do negócio de cada cliente. #CombogóJuntoComVocêeSuaEmpresa #ConheçaaCombogó (81) 3227-5513 c o n tat o @ c o m b o g o c o m u n i c a c a o.c o m . b r w w w.c o m b o g o c o m u n i c a c a o.c o m . b r Algomais • M / carço o m/2016 b o g o c o m49 unicacao está acontecendo aqui. Isso é uma conquista enorme", completa. Na verdade, os avanços no mundo digital provocaram mudanças profundas na forma de trabalhar. E é praticamente impossível existir uma profissão que não tenha sido impactada pela web. A partir desse novo cenário, novas oportunidades surgem. Mas a tecnologia pode mudar a carreira de alguém? No caso do estudante de publicidade e propaganda Rodolfo Assis, de 22 anos, sim. Ele é o criador e dono da página Hipster Recifense, que possui mais de 70 mil curtidas no Facebook. A página aborda, com bom humor e tons recheados de ironia, comportamentos e faz críticas diante das realidades enfrentadas pelos pernambucanos. Ele cursava administração, mas foi convidado a trabalhar em uma agência de publicidade, graças ao sucesso atingido pela página. A partir desse momento, ele percebeu que precisava mudar de área de trabalho. "Eu já tinha vontade de mudar antes. Mas quando comecei a página, fui chamado para positivo. barbosa: "A Entrada dos idosos na internet é algo a ser comemorado" trabalhar em uma agência para a criação de conteúdo para internet. Essa dos idosos é algo a ser comemorado. rismo sendo fomentado na sociedade? experiência que eu tive na publicida- Apesar de ser uma geração anterior a Gomes, entretanto, não vê nenhum de, me deu a certeza que eu não queria esta que já nasce informatizada, o que problema em não ler ou saber como oufazer administração. Esse know-how observo é uma mudança no padrão tras pessoas comentam sobre os aconme ajudou a ver algumas coisas e criar de comportamento dessas pessoas. É tecimentos a partir de determindada outras. Aprendi mais e consegui me- uma forma para voltarem à ativa com visão. Para ele, a principal questão é a lhorar a página através da agência", os familiares. Temos vários grupos da fonte da informação, independente de comemora. família no WhatsApp, por exemplo, e corrente política. "Todo mundo possui Em todas as postagens, Assis costu- é uma forma dos idosos participarem uma posição cultural e política e seguirá ma mesclar elementos cômicos, ironias mais dessa dinâmica", diz Barbosa. aquilo que se identifica. Mas no passado, sempre com ênfase na regionalidade. "Muitas vezes, por causa da não in- quando ainda não havia internet, já era Segundo ele, o último elemento é o que clusão, eles ficavam isolados. Então, a assim. O que acontece com o Facebook, explica o crescimento e o sucesso. "Sem- importância das redes sociais, muitas por exemplo, é apenas a potencialização pre quis essa pegada de humor porque vezes, é unir informações da família", disso", afirma. não podemos nos estressar com esses completa. O psicólogo, porém, é cuidadoso problemas do cotidiano. Temos que rir Uma das pessoas ávidas por esse quanto ao tempo de exposição das crianmesmo. Sempre brinquei com os fatos novo formato de comunicação é a apo- ças na internet. Por ainda estarem em que ocorriam comigo. Tento sempre tra- sentada Vilma Teixeira. Aos 84 anos, ela um processo de crescimento, tanto físico zer as coisas para um lado mais regional, conheceu o WhatsApp para não lar- quanto intelectual, afirma Gomes, os pais que é para o público ter uma identifica- gar mais. "Eu gostei muito e me adap- devem ficar atentos ao período de coneção maior. Quando há essa proximidade, tei bem rápido. Para mim é mais fácil xão dos pequenos. "As crianças precisam o pessoal acaba gostando mais e compra e simples me comunicar via internet. do relacionamento interpessoal, de pesa ideia que eu quis passar", explica. Sempre falo com meus parentes, filhos soas nesse processo. Não podemos deixar A surpresa é que não são apenas e netos. A comunicação ficou bem me- esse contato sempre intermediado por jovens e adolescentes que utilizam as lhor. Falo sobre diversos assuntos com uma tela. É extremamente importante a redes sociais, mas também os idosos todos eles", afirma. convivência com crianças da mesma idaencontraram nelas uma forma de se Uma das grandes polêmicas das re- de para que elas possam viver situações de comunicar. Elas se tornaram um ins- des sociais, é a possibilidade de filtrar dificuldade, se frustrarem com determitrumento de inclusão das pessoas mais páginas e conteúdos que não corres- nada questões para terem a oportunidade velhas na comunidade – familiar ou pondem à posição política ou ideológica de resolverem esses problemas sozinhas", de amigos – em que vivem. "A entrada do internauta. Seria um tipo de secta- orienta o psicólogo. 50 Algomais • Março/2016 Tecnologia em prol da autoestima Que a evolução tecnológica avançou e transformou os rumos comunicacionais da sociedade é inegável. Entretanto, esse processo de desenvolvimento também desencadeou melhorias em torno da autoestima das pessoas. Uma das grandes revoluções aconteceu na odontologia. E um dos recursos que vem ganhando adesão são os implantes dentários, que nada mais são do que raízes artificiais, no qual os dentes são colocados por cima. Eles substituem o uso das peças móveis (dentaduras). "Existem trabalhos hoje em dia que são feitos em apenas 72 horas. Uma pessoa chega no consultório sem nenhum dente e três dias depois ela sai com a arcada dentária completa. Também já existem implantes imediatos, ou seja, a colocação do dente é no mes- sorriso. lacet: não importa a idade, as mulheres se preocupam com a estética mo momento da chegada do paciente, uma técnica chamada de implante de carga imediata. Isso é uma verdadeira revolução na odontologia", explica o dentista da Odontocape Kleber Lacet. Segundo Lacet, as mulheres são as mais preocupadas em eliminar o uso das dentaduras. Elas se sentem constrangidas quando tiram a peça móvel. "Independente da idade são vaidosas", diz. A respeito dos homens, entretanto, o dentista acredita que a procura por peças fixas possui uma outra finalidade. "Os homens mais idosos, que antes colocavam um pijama e iam dormir cedo, hoje em dia querem ficar com uma aparência bacana para namorar. Essa é a verdade", afirma. Algomais • Março/2016 51 tecnologia Brechó agora é na web Vender vestuários e acessórrios usados pela internet tem proporcionado uma renda extra a grupos de recifenses D efinitivamente, a crise econômica que assolou o País afetou muito o poder de compra dos brasileiros. A palavra economia, portanto, começou a fazer parte do vocabulário cotidiano. Na contramão dos problemas gerados pelos tempos bicudos, os brechós - lojas de artigos usados com preços mais baixos - voltaram a ter destaque e entraram, mais uma vez, na moda. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a comercialização de usados cresceu cerca de 210%, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Mas a grande novidade é que alguns brechós tornaram-se virtuais. Muita gente está descobrindo na internet uma forma de se desfazer de roupas e acessórios em bom estado e que não usam mais e, ainda por cima, ganhar um dinheirinho. As vendas são realizadas por meio do Facebook. Em 2015 a servidora pública Con- Desapego. Oportunidades geradas pela crise levaram amigas a criar o Ma ChÉrie ceição Maria Carneiro Vasconcelos decidiu abrir o Ma Chérie Brechó em os quais já não utilizávamos e não específico, mas não teriam condições parceria com mais três amigas. "A cumpriam com o seu objetivo, mas de comprá-los a preços de mercado. ideia surgiu de um insight ao verificar que também não seriam para o caso Enfim, verificamos que tínhamos dique havia propostas similares, pela de mera doação, pois o estado de nheiro parado nos armários. A ideia internet, em brechós de outros Es- novo ou seminovo deles permitia que central também é de desapego, deitados, principalmente no Sudeste do cumprissem com outras funções, ou xar a energia circular e abrir oportuPaís", conta. "Também verificamos seja, gerar uma pequena renda e ain- nidade a quem realmente gostaria de que havia produtos com possibili- da serem adquiridos por pessoas que ter e usar uma peça", justificou. dade de venda em nossos armários, gostariam de uma peça ou acessório Em razão da crise, muitas pes- 52 Algomais • Março/2016 Algomais • Março/2016 53 soas perderam o poder de compra de outrora. Por isso, pagar um preço abaixo de mercado em uma peça usada se torna uma opção bem mais viável. "É econômico aos que precisam ou gostam de garimpar bons produtos, sem problema algum com o fato da peça ser de segunda mão", explica Conceição. Além das peças das sócias, o Ma Chérie comercializa roupas e acessórios usados de pessoas que queiram vendê-los. "Isso garante uma pequena renda ao fornecedor do produto, pois recebemos as peças em consignação e retiramos uma pequena comissão de divulgação e venda, para depois repassarmos o valor líquido a quem fornece a peça", esclarece. Para quem compra a vantagem é adquirir produtos em bom estado (já que o brechó não recebe peças com avarias ou muito desgastadas), por um preço em conta. "Não focamos no lucro em si, mas na circulação dessas mercadorias", diferencia Conceição. Apenas em 2015, o comércio virtual no Brasil faturou cerca de R$ 41,3 bilhões, um crescimento de mais de 15% em relação a 2014, segundo dados do site Profissional de E-commerce, especializado no assunto. Os números mostram a mudança no hábito do brasileiro. A microempresária ainda se mostra receosa com a expansão do e-commerce, mas reconhece a maior facilidade das compras on-line. "A internet é um meio que veio agregar, não creio que substitua por completo o olho no olho, o prazer de sair para bater pernas vendo vitrines. Muitas pessoas ainda são amedrontadas com o e-commerce por falta de prática ou por não se sentirem à vontade, confortáveis com um fornecedor virtual. Também acredito que a criatividade e a publicidade é a grande força motriz para os futuros eventos, principalmente em cenário de crise, deve-se enfrentar os desafios cativando os clientes. As redes sociais dão ideias de perfil de pessoas e de consumo, de interesses em geral, possibilitando o acesso mais rápido e instantâneo aos produtos, daí que manter-se conectado é uma via sem volta para o comércio", afirma Conceição. Além do lucro dado para as proprietárias do brechó virtual, uma parcela é revertida para instituições 54 Algomais • Março/2016 Bazar. Danielle kuhni conseguiu R$ 5 mil para viajar ao Chile com seus amigos de caridade. Além disso, a microempresa se tornou uma espécie de rede, onde as clientes compartilham suas experiências de vida. "Revertemos parte do lucro para auxílio em instituições filantrópicas, dando assistência com materiais variados que adquirimos e entregamos diretamente aos administradores dos locais. Ainda como efeito inesperado, mas nem por isso menor, fizemos uma rede de 'chéries', as nossas clientes, com quem compartilhamos histórias, apoio mútuo, divertimo-nos nos grupos de whatsapp e trocamos informações", completa Conceição. EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL. Mas não são apenas as empresas que descobriram o filão dos usados do Facebook. As pessoas, individualmente, também têm recorrido às redes sociais para fazer uma renda extra naquele vestido ou sapato que está quase novo mas que "enjoaram". Elas organizam um bazar entre os amigos do Facebook. Foi o caso da fisioterapeuta Danielle Kuhni, de 24 anos. Havia muitas roupas que ela já não utilizava, por isso resolveu vendê-las e faturar um dinheiro extra. "Tinha muita peça parada no meu guarda-roupa por diversos motivos. Ganhava de presente e não podia trocar, estava muito frouxa ou muito apertada. Eram roupas para frio, de praia, enfim... coisas que eu poderia usar um dia, mas nunca usava. Já conhecia uns grupos no Facebook que vendiam produtos, e postei uma foto dizendo que tinha mais de 100 peças para vender com preço a partir de R$ 5. As pessoas começaram a me procurar para ver os produtos e uma delas falou para fazer um bazar. Decidi fazer. Organizei o primeiro em apenas dois dias", afirma. O dinheiro das vendas foi essencial para Danielle realizar um sonho: conhecer o Deserto do Atacama, no Chile. "Foi uma viagem só com amigos. O fato de ser só com amigos já se deduz que não teríamos o conforto de ser bancada pelos pais, ou seja, precisava de dinheiro. Consegui tirar a passagem por pontos, mas todo o resto tive que pagar sozinha pois minha mãe estava sem condições de me ajudar. Foi aí que surgiu a idéia de vender minhas roupas que estavam paradas e deu super certo, pois todo o dinheiro que juntei para a viagem foi do bazar", conta Danielle. Foram três edições em finais de semana diferentes, e como a maioria das peças eram dela, a fisioterapeuta acabou conseguindo cerca de R$ 5 mil. "Deu e sobrou, pois como todos eram estudantes, foi uma viagem com gastos reduzidos", revela a fisioterapeuta. (Y.G.) Algomais • Março/2016 55 Sempre conectados Ivo Dantas* A tualmente, tecnologia e internet fazem parte da vida da maioria das pessoas. Basta pensar um pouco sobre sua rotina diária para perceber que passamos nossos dias conectados, desde o momento em que acordamos até a hora de dormir. Vamos lá. Ao acordar, provavelmente com um alarme, é comum utilizarmos algum tipo de aparelho para ler e-mails, mensagens e conferir a agenda do dia. Ao entrar no carro, podemos checar o trânsito para decidir o melhor trajeto até o local de uma reunião. Isso se o encontro não for realizado por alguma ferramenta de videoconferência. Ao longo de todo o dia estaremos conectados de alguma forma. À noite podemos marcar uma saída com os amigos pelo WhatsApp, chamar o táxi e pagar a conta por um aplicativo. Seja pelo computador, celular, tablet, smartwatch, nossa rotina está vinculada a esses famosos gadgets. A última década concentrou tantas mudanças tecnológicas, que é difícil imaginar a vida livre de aparelhos. Para testar essa nossa dependência, o jornalista americano Paul Miller aceitou o desafio de passar um ano desconectado da internet. A conclusão da jornada surpreendeu até o próprio jornalista. Para ele, ao invés do que muitos o fizeram acreditar, estar fora da internet não o tornou mais sociável. Afinal, as pessoas estavam online, enquanto ele estava completamente desconectado dessa realidade. Não é preciso concordar com a 56 Algomais • Março/2016 conclusão de Miller para perceber que, gostando ou não, a tecnologia já faz parte de nossas vidas como uma extensão. Há 10 anos, o YouTube não passava de um site com alguns milhares de vídeos feitos por amadores e o Facebook iniciava sua trajetória em direção a se tornar uma rede social com mais de 1 bilhão de usuários. No universo dos smartphones, o sistema Android ainda não havia sido lançado, tampouco estávamos preparados para a revolução que a Apple faria nas nossas vidas com o primeiro iPhone, apresentado apenas em 2007. Em 2016, são vistos cerca de 4 bilhões de vídeos todos os dias no YouTube, existem mais de 280 milhões de linhas de celulares no Brasil e mais da metade dos jovens brasileiros possuem smartphones. Essa avalanche não deve parar por aí. A tendência é que as tecnologias invadam ainda mais nossas vidas. Para muitos, os próximos anos serão marcados pelo crescimento dos chamados wearables, produtos tecnológicos que serão vestidos, como óculos, relógios, roupas e calçados inteligentes. Não bastasse isso, o surgimento de impressoras 3D, com preços cada vez mais acessíveis, pode modificar a forma como nos relacionamos com objetos do nosso dia a dia. Made in Pernambuco. Nesse cenário de grandes avanços tecnológicos, Pernambuco tem seguido sua tradição histórica de pioneirismo, recebendo grande destaque no setor de Tecnologia da Informação (T.I.) ao longo dos últimos anos. Não faltam exemplos de iniciativas bem-sucedidas no Estado. Em 2006, o Porto Digital, localizado no Bairro do Recife, possuía 102 entidades participantes do parque tecnológico, empregando cerca de três mil profissionais e disponibilizando uma área recuperada para instalação de empresas de 8 mil metros quadrados. Em uma década, os números cresceram ancorados no desenvolvimento da economia pernambucana e no aumento da importância dada à tecnologia dentro de empresas e administração pública. Hoje, são 259 empresas, organizações de fomento e órgãos do governo instalados em uma área que possui mais de 50 mil metros quadrados de imóveis históricos restaurados, faturando R$ 1,3 bilhão e empregando 8 mil pessoas. O Porto Digital tornou-se reconhecido mundialmente, chegando a sediar uma conferência internacional de parques tecnológicos, que contou com a presença de profissionais de 42 países. A tecnologia desenvolvida em Pernambuco já faz parte do nosso dia a Ivo Dantas é jornalista. dia, mesmo sem percebermos. Empresas locais são responsáveis pela gestão de sistemas hospitalares, automação, serviços bancários, tráfego e segurança. Na educação, alunos da rede pública e privada têm tido cada vez mais acesso a aulas de robótica, estimulando a produção desde cedo. Os resultados não demoraram para vir e os projetos criados por alunos pernambucanos têm tido destaque nas edições da Olimpíada Brasileira de Robótica. Além disso, um grupo de pesquisadores ganhou um prêmio na ONU pelo desenvolvimento de tecnologias inclusivas para deficientes visuais. Não à toa, Recife já foi sede de quatro edições da Campus Party, evento voltado para a troca de experiências sobre tecnologia e internet. Projetos como o carro elétrico compartilhado do Porto Leve, a disponibilização de internet gratuita em áreas públicas, o crescimento de iniciativas que estimulam a criatividade e o surgimento de empresas startups, além dos passos dados para interiorizar o conhecimento, dão uma ideia do que pode ser o futuro do setor de T.I. no Estado. Não faltam desafios, mas em uma área pautada pela inovação, o pioneirismo pernambucano tem dado mostras de que é possível aliar tradição e visão em prol do desenvolvimento. Algomais • Março/2016 57 58 Algomais • Março/2016 Algomais • Março/2016 59 água Uma revolução no convívio com a seca Instalação de mais de 160 mil cisternas em Pernambuco e atuação educativa das ONGs mudou o cenário no Estado Rafael Dantas A imagem do migrante sertanejo abandonando a sua terra em fuga da aridez da seca está sendo dissolvida. O volume das chuvas não aumentou (pelo contrário), nem Sertão não virou mar. A novidade é que houve uma significativa mudança na forma de encarar o clima e a disponibilidade hídrica do Semiárido, além de um volumoso investimento em cisternas. A população começou a aprender a conviver com a seca e a contar com tecnologias que permitiram o acúmulo de água para consumo humano e para a produção agrícola. Moradora do Sítio Felipe, no município de São José do Egito, Fátima Souto viu a qualidade de vida da sua família mudar substancialmente nos 60 Algomais • Março/2016 últimos anos com um acesso mais seguro à água. Antes da chegada das tecnologias de convívio com a seca, ela se deslocava de bicicleta dois quilômetros com baldes para buscar o precioso líquido para beber e cozinhar. Há mais de 10 anos sua casa foi uma das pioneiras a receber uma cisterna de 16 mil litros (voltada para consumo humano). Mais recentemente, cerca de dois anos, a sua residência passou a contar também com um poço de 48 metros de profundidade, furado pela ONG Diaconia. A nova infraestrutura permitiu a família plantar e criar animais. “A gente vive 100% da agricultura. Plantamos verduras, alface, couve, coentro. Vendemos nas feiras locais ainda o que sobra. Ainda criamos galinhas e temos uma produção de ovos”, comemora a agricultora. Uma mudança que impulsionou a família como um todo. Se os pais são do campo, uma filha já trabalha com educação na cidade e o filho estuda direito na Paraíba. Ela lembra que com a chegada de cada nova tecnologia há uma orientação sobre a higiene e o uso adequado da cisterna, bem como do manuseio eficiente da água. Dona Fátima, que integra a associação de agricultores do município afirma que quase toda a população já é abastecida por meio Algomais • Março/2016 61 das cisternas. Nas reuniões mensais, ela é uma das encarregadas de informar o nome dos novos moradores que chegaram à região. Já foram construídas com recursos federais mais de 160 mil cisternas em Pernambuco. Em todo o Semiárido, os números registrados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) contabilizam 1,2 milhões de instalações apenas para o consumo humano. “Com esses reservatórios, as famílias possuem água para cozinhar, beber e para a higiene pessoal. Juntas, o total de tecnologias entregues tem capacidade de armazenar aproximadamente 20 bilhões de litros de água. Além disso, mais de 159 mil tecnologias sociais de água para produção agrícola foram entregues no Semiárido”, afirma Igor da Costa Arsky, coordenador geral de Acesso à Água do MDS. Um dos grandes expoentes da defesa do convívio com a seca no Nordeste é a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que é uma rede que reúne cerca de cinco mil organizações, entre sindicatos, ONGs e cooperativas. Um sistema robusto para reagir aos desafios de atender ao semiárido mais populoso do mundo, segundo o geógrafo francês Jean Dresch. De acordo com informações do Instituto do Semiárido, a população estimada que vive nessa região ultrapassa 23,5 milhões de habitantes (2014), o que equivale a 12% do País. A compreensão de que é preciso conviver com o Semiárido é a primeira grande mudança dos últimos anos, na opinião do coordenador da ASA para Pernambuco, Alexandre Henrique Pires. “Se há tanta gente morando nessa região é porque é possível viver e resistir. Isso nos dá segurança para apostar e acreditar na experiência desses agricultores. Sempre houve uma visão de combater a seca. Ao longo da história da ASA fomos desconstruindo isso, com entendimento que se convive com o clima da região. Evidenciamos o semiárido como território. Lutamos que sejam reconhecidos não pela desgraça da seca e fome, mas pela própria identidade das pessoas, sua biodiversidade, criatividade e resistência”, afirma Pires. A aproximação do conhecimento 62 Algomais • Março/2016 produção. a agricultora fátima souto foi uma das pioneiras a ser beneficiada no nordeste. Igor Arsky contabiliza 1,2 milhões de cisternas em todo semiárido técnico e científico do meio acadêmico com a sabedoria e experiência popular apontaram os caminhos que fundamentaram as mudanças do semiárido. O programa das cisternas da ASA saiu do exercício de experimentar os trabalhos e iniciativas das ONGs, organizações rurais, movimentos sociais e igrejas. “Da experimentação por parte das organizações e movimentos, com base nas experiencias com os agricultores, surgiram as tecnologias de convivência”, disse Pires. No catálogo de soluções que foram testadas estão, por exemplo, as cisternas de 16 mil litros (que capta água do telhado para o consumo humano), as cisternas tipo calça- dão (que são usadas para produção de alimentos e criação de animais), além de algumas variedades de barragens. Dentro do programa do Governo Federal voltado para a construção de cisternas para o consumo humano, a ASA realizou a construção de 82 mil unidades, atendendo 81.573 famílias e 416 escolas. O abastecimento às instituições de ensino é uma das novidades. “Nos debates sobre educação, percebemos que muitas escolas rurais deixavam de ter aulas no período da estiagem. É preciso assegurar água para garantir o processo de educação rural. Estamos em negociação com o MDS para dar continuidade a esse programa”, afirma o coordenador da ASA. Algomais • Março/2016 63 Foto: Ubirajara Machado - MDS Um impulso para a agricultura familiar 64 Algomais • Março/2016 A região Nordeste possui uma média de dois milhões de núcleos de agricultura familiar e, de acordo com a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária (Sara) do Governo de Pernambuco, 90% estão localizados no Semiárido. Só no Estado são 275.920 mil agricultores familiares distribuídos nas diversas regiões de desenvolvimento. Além das cisternas, estão no escopo de ações da secretaria a implantação de barragens, poços e sistemas de abastecimento de água nas comunidades rurais com até 250 famílias. Em dezembro de 2015 foi firmado convênio entre a Sara, o Ministério da Integração e a Compesa, no valor de R$ 97 milhões, para implantação de sistemas de abasteci- Foto: Ubirajara Machado - MDS produtividade cerca de 90% dos agricultores do nordeste vivem no semiárido. novas tecnologias têm evitado migração do campo em tempos de seca mento de água ao longo do projeto de transposição do Rio São Francisco, que vão beneficiar cerca de 150 comunidades. O secretário Nilton Mota destaca duas principais vantagens da chegada das tecnologias no Semiárido para a produção rural. “Por considerar que os agricultores beneficiados estão em sua maioria em comunidades difusas, passam a viver com um potencial de acúmulo de água ao lado da casa, fato que minimiza as distâncias dos açudes. Outra vantagem das cisternas é de ordem técnica, pois a água acumulada permanece protegida da evaporação, otimizando assim um armazenamento para utilização da água apenas nos meses mais secos, sem riscos de perda, diferente do que ocorre nos açudes”, avalia. O Estado, através da Sara, iniciou convênios com o Governo Federal, possibilitando a construção de 17.950 cisternas calçadão de 52 mil litros (para produção de alimentos e dessedentação animal). A ASA construiu em Pernambuco 13.271 cisternas nesse formato. Como algumas dessas instalações atendem comunidades, a quantidade de famílias beneficiadas é maior que o número de tecnologias construídas. Mais que instalar essas infraestruturas de captação e armazenamento de água, as ONGs e o poder público têm um relevante papel de formação desse homem do campo e de fomentar a sua produção e comercialização. Proprietário do Sítio Bom Sucesso da Ingazeira, em Tuparetama, José Ivan Monteiro é um agricultor que, em parceria com a ONG Diaconia, deu uma guinada na sua produção. Possuindo cisterna e poço, ele cultiva 35 tipos de frutas e 15 de hortaliças, além da trabalhar com produção de mel e de poupa de frutas. O trabalho de orientação fez mudar completamente suas práticas Algomais • Março/2016 65 no campo. "Eu trabalhava de forma errada com o solo. Queimava, usava agrotóxico e desmatava. Com a agricultura agroflorestal as condições de vida da minha família melhoraram muito. Quem produz agroecológicos, produz saúde. Depois que recebemos as tecnologias sociais através da Diaconia, a produção aumentou bastante. Agora, nós podemos produzir o alimento que consumimos e as outras famílias consomem", conta. A família conquistou um sistema de irrigação por gotejamento, que reduziu o seu consumo de água na produção, e hoje comercializa seus produtos em feiras nos municípios de Tuparetama, Afogados da Ingazeira e São José do Egito, localizadas no Sertão do Pajeú. Por parte do Governo do Estado, há alguns projetos que estimulam a produção desses agricultores familiares, como o Redes Produtivas. Essa iniciativa tem por proposta conectar sustentável josé ivan monteiro, que produz poupa de frutas, mel e hortaliças, passou a usar um sistema de irrigação por gotejamento, que reduziu uso de água 66 Algomais • Março/2016 NILTON MOTA Consolidação das redes colabora para ampliação da geração de renda e preservação dos recursos naturais" os vários elos das diversas cadeias produtivas para promover estimulo ao intercâmbio e troca de informações e experiências, além da articulação dos grupos. “A consolidação das redes colabora para a ampliação da geração de renda, da preservação da natureza e dos recursos naturais, da disseminação de boas práticas de produção, além da vigilância territorial, da promoção da saúde alimentar e nutricional e da educação rural, entre outras”, afirma Nilton Mota. Uma pactuação entre o Banco Mundial e o Governo do Estado já investiu através do ProRural um total de R$ 35,3 milhões nessas redes. Os intercâmbios de experiências também são uma prática da ação da ASA. A sensibilização e formação das pessoas do campo é algo que chega ao Semiárido antes da vinda dos investimentos. Nesse processo de mobilização social, são articuladas visitas entre famílias de diferentes municípios e Estados. “Esse movimento de troca de informações entre as famílias gera uma consciência coletiva de como é possível conviver no Semiárido com estratégias diferentes”, afirma Alexandre. Médico Responsável: José Rocha de Sá - CRM 1586 Agora, ao realizar os seus exames de Tomografia e Ressonância em uma de nossas clínicas, você tem acesso online aos resultados. O Grupo José Rocha de Sá atua na área de diagnóstico por imagem há mais de 45 anos, sempre investindo nas melhores tecnologias para garantir mais conforto e qualidade para você. Algomais • Março/2016 67 bairros. reserva do paiva abriga residenciais, hotel e empresarial. reserva são lourenço atinge público do programa mcmv habitação RMR atrai novos moradores Fruto da expansão econômica do Estado, investimentos residenciais e empresariais extrapolaram os limites do Recife N os últimos 15 anos, a população da Região Metropolitana do Recife aumentou em quase 600 mil habitantes. Desse crescimento, apenas 32% é da população da capital. Mais que o avanço na quantidade de moradores, municípios vizinhos - como Paulista, São Lourenço, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho – viram embarcar no seu território alguns bilhões de investimentos residenciais, comerciais e industriais. A organização e conexão da nossa metrópole está ainda longe da perfeição, mas esses recentes fe- 68 Algomais • Março/2016 nômenos demográficos e econômicos, associados ao surgimento de novas infraestruturas de mobilidade urbana, mudaram a dinâmica dessas cidades e dos cidadãos metropolitanos. Com todo o investimento industrial e de infraestrutura no Litoral Sul do Estado, municípios como Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca ganharam uma atenção especial dos grandes players do segmento imobiliário. As oportunidades de trabalho e também de moradia que surgiram atraíram a atenção de novos residentes para a região. O administrador de empresa Ricardo Rego é um desses que ao voltar para Pernambuco, após oito anos residindo em Brasília, optou por morar e trabalhar na Reserva do Paiva, no Cabo de Santos Agostinho. “Trabalho no empresarial aqui mesmo no Paiva, a dois quilômetros do nosso apartamento, e minhas filhas estão na primeira turma do colégio Santa Maria”, conta o empresário que diariamente as leva num triciclo para a escola. “Já aproveitamos esse trajeto para fazer nossa atividade física. Neste um ano que estamos aqui, vimos o crescimento do bairro e nossa rotina ficou completa- mente integrada ao local”, afirma. A mulher de Ricardo, que trabalha para a Unesco, a partir de março estará atuando em Suape, que fica a aproximadamente 10 quilômetros de distância. A proposta de cada um dos novos bairros ou centralidades que surgiram na última década é tanto atrair moradores como desenvolver serviços que antes só eram ofertados no Recife. Daí o surgimento dos shoppings, empresariais, centros gastronômicos, hospitalares e educacionais por toda a RMR. Uma expansão que contribui para evitar muitos deslocamentos, mas estimula outros motivados pelas oportunidades de emprego. Na Reserva do Paiva, por exemplo, além dos diversos condomínios residenciais, já funciona um empresarial, um hotel cinco estrelas, o Empório Gourmet (que é um complexo gastronômico, que abarca bares e restaurantes) e, mais recentemente, viu a inauguração da nova unidade do Colégio Santa Maria. O empreendimento que teve seu primeiro lançamento em 2007 viu uma velocidade de vendas acima do que esperava para seus primeiros anos. ROBERTO REGO A Promovalor viu um grande potencial em investir no complexo dentro da Reserva do Paiva" “Entre 2008 e 2011 a procura por produtos comerciais e residenciais fez com que a gente colocasse mais unidades no mercado do que estava previsto inicialmente. A localização privilegiada entre o Recife e Suape fez do nosso empreendimento a primeira opção para o público externo”, declara Carolina Tigre Viriato, diretora comercial e de marketing da Odebrecht Realizações Imobiliárias, que é a empresa responsável pelo desenvolvimento do terreno que pertence aos grupos Ricardo Brennnand e Cornélio Brennand. Apesar do impulso dado pelo Complexo Industrial e Portuário de Suape ao empreendimento, os moradores vindos de outros estados ou países com destino ao "el dourado pernambucano" não representam a maior clientela da Reserva do Paiva. “Nosso público principal não é de fora, mas de gente que está saindo do Recife, querendo integração com natureza e buscando mais infraestrutura de condomínio”, diz. Na única área do Paiva que foi adquirida pelo grupo português Promovalor foram construídos o Empresarial Novo Mundo, o Sheraton Reserva do Algomais • Março/2016 69 Paiva e o residencial Terraço Laguna. O centro empresarial, por exemplo, já tem 80% dos espaços vendidos, sendo uma torre inteira para o Consulado Americano. Outro gigante que desembarcará em breve no Paiva é a Fiat Chrysler Automobiles, que instalará no lugar o seu centro de pesquisa e tecnologia de desenvolvimento de motores. O índice de velocidade de vendas do Novo Mundo no seu lançamento bateu o desempenho de todos os empresariais do Recife na época. O consultor Roberto Rego, que hoje é diretor da Promovalor Brasil Participações, foi o responsável por apresentar o empreendimento para o grupo português que tinha interesse em vir para Pernambuco. “Eles viram um grande potencial na construção desse complexo que envolve um hotel de alto padrão vizinho do empresarial e de uma oferta imobiliária qualificada. A Promovalor tinha uma experiência semelhante em Portugal, no empreendimento Parque das Nações, que consolidou o grupo”, afirma o diretor. A opção por uma bandeira hoteleira de alto padrão veio como proposta do então governador Eduardo Campos. Na ocasião o Estado de preparava para sediar a Copa do Mundo e a Copa das Confederações. “O projeto do hotel era até mais simples, mas nos foi solicitado um equipamento de alta qualidade para motivar o turismo”, diz o diretor. Passado o evento mundial, o destaque ficou por conta da seu Centro de Convenções, com capacidade de receber até 1,6 mil pessoas. Ele afirma que mesmo em meio a crise, os empreendimentos seguem recebendo novos interessados semanalmente e revelou que o próximo investimento dentro do terreno da Promovalor deverá ser um flat com serviços conectados ao hotel. Ainda no litoral Sul, mas no município de Ipojuca, a Pernambuco Construtora lançou a Reserva Ipojuca, atendendo um perfil de público do programa federal Minha Casa, Minha Vida. LITORAL NORTE. Responsável pelo investimento do recém-inaugurado shopping Paulista North Way, o empresário Avelar Loureiro Filho, da ACLF Empreendimentos, comemora as mudanças que aconteceram na cidade da década. A chegada do BRT 70 Algomais • Março/2016 e consolidação do terminal integrado diminuíram as distâncias entre o município, a capital pernambucana e os demais integrantes da RMR. “Apesar do momento do País, estamos indo à festa, que é a consolidação de toda infraestrutura. O casamento da iniciativa pública e privada gerou uma requalificação urbana no município”, afirma. A aposta do empresário na cidade – onde já construiu dois bairros planejados, o shopping e uma faculdade – tem três novos lançamentos, mesmo no período de crise. O grupo empresarial está ofertando 1,8 mil unidades residenciais em três empreendimentos imobiliários (um na praia de Conceição e dois que estão localizados a mil metros do mall). Em maio será lançado o Projeto Nova Paulista, que projeta 50 mil novas habitações em 20 anos. Na zona oeste da RMR, Camaragibe e São Lourenço são dois destinos de grandes empreendimentos. Apesar da Cidade da Copa não ter vingado, os investimentos da duplicação da PE-408 e da construção da Arena Pernambuco atraíram o interesse dos pernambucanos para o município como uma opção de moradia. De olho nesse movimento, a Pernambuco Construtora investiu na Reserva São Lourenço. Já foram entregues 1,3 mil apartamentos. Quando todo o empreendimento estiver concluído serão 2.048 unidades habitacionais. “O crescimento está acontecendo nesses municípios em torno do centro, pois o Recife não tem mais terrenos para construções de grande porte. A proximidade do TIP e a facilidade de acesso para universidades e hospitais são fatores valorizados pelos clientes”, diz Mariana Wanderley, diretora-executiva da Pernambuco Construtora. Ela também é diretora da Terra Norte Urbanismo, que está realizando uma expansão imobiliária de outra cidade dessa RMR expandida: Itapissuma. Com um terreno maior que a área construída da cidade, a empresa está implantando um loteamento de um bairro planejado. Entre indústrias, shoppings, bairros planejados (populares ou sofisticados) a RMR, apesar das dificuldades enfrentadas, contempla o surgimento de novas centralidades a cada ano. Novas estruturas que mudam a dinâmica de várias dessas cidades. (R.D.) em casa. ricardo rego e família alinharam moradia, trabalho e estudos no paiva Fundada há mais de 30 anos, a Exata Engenharia construiu muito mais que prédios. São décadas de tradição, qualidade e sustentabilidade que ganharam destaque no mercado imobiliário por proporcionar bem-estar para seus clientes e para o mundo. Esse é o seu novo estilo de vida. EXPERIMENTE O ESTILO EXATA DE VIVER. Algomais • Março/2016 71 PENSANDO BEM LAÉRCIO QUEIROZ Uma metrópole não metropolitana [email protected] Consultor O que é metrópole? ...o que é ser metropolitano? Duas perguntas que deveriam ter uma resposta clara para a população da Região Metropolitana do Recife. A metrópole é o “carro-chefe”, é quem deve liderar. É quem deve puxar para si a condição solidária de contribuir para o desenvolvimento econômico e social da região metropolitana observadas as idiossincrasias peculiares dos demais municípios metropolitanos. A cultura provinciana e coronelista, centralizadora e introvertida das cidades, certamente, é a principal causa do atraso quando se trata de gestão metropolitana. Os de “cima” não querem “perder” a condição de “conduzir” as implementações das políticas de desenvolvimento, e os de “baixo” não conseguem se livrar do “manto” protecionista que esperam ter dos de “cima”. Nessa celeuma e acomodação no status quo do processo, ninguém “puxa o carro”. Os municípios metropolitanos precisam deixar de se verem como tal. Para tanto se faz necessário que se movimentem, se articulem e se organizem para estimular a participação da metrópole e do Governo de Estado. Os problemas desses municípios são de tal magnitude e amplitude, que, não se resolverão caso não busquem se unir e conjuntamente analisá-los para definição de políticas estratégicas com projetos, capazes de assegurar os recursos necessários para implementação. Independente de termos municípios maiores, menores, mais ricos ou mais pobres, tem que ser valorizado o sentimento regional e solidário. Preconiza o Estatuto das Metrópoles, dentre outras coisas, a prevalência do interesse comum sobre o local e o compartilhamento de responsabilidades para a promoção do desenvolvimento urbano integrado. 72 Algomais • Março/2016 Como o Recife vai resolver questões como: mobilidade, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos, saúde, promoção e assistência social, segurança pública, infraestrutura, habitação, planejamento urbanístico, trânsito e transporte, meio ambiente, e neste ponto incluam-se os rios Capibaribe, Beberibe, Jordão e o Tejipió além do resto de Mata Atlântica que ainda resiste? municípios metropolitanos. Juntos estabelecerem uma pauta positiva para uma ação cooperada, compartilhada e solidária que possibilite uma gestão colaborativa e abrangente, capaz de resolver a maioria dos “gargalos” históricos que se arrastam pelo tempo. Não há nenhuma dúvida, os problemas do Recife não se resolverão caso não se consiga um pacto onde se defina “Independente de termos municípios maiores, menores, mais ricos ou mais pobres, tem que ser valorizado o sentimento regional e solidário” Não pode o Recife se “fechar em copas” e não observar que a falta de estrutura e de condições, sejam recursos humanos, recursos técnicos e financeiros dos demais municípios metropolitanos, geram problemas nesses municípios que refletem diretamente na metrópole. O Governo do Estado de Pernambuco, que por sua vez, criou a Região Metropolitana do Recife, é seu guardião e tutor, contudo, não tem feito e não faz a tutela responsável ajudando aos municípios metropolitanos a encontrarem as soluções conjuntas para os graves problemas que afloram a cada dia, pois, estamos falando da região mais populosa e desenvolvida do Estado. Os instrumentos legais de gestão e governança existem, falta quem conduza, quem lidere e, enquanto isso, sofre a Região Metropolitana do Recife, e, principalmente, sua população que não se sentem metropolitanas. O Recife para ser uma metrópole metropolitana deve trabalhar junto com o Governo de Pernambuco e liderar os entendimentos com os demais uma gestão política metropolitana com a participação e o comprometimento de todos os municípios metropolitanos através de instrumentos legais, modernos e atuais que consubstancie a vontade e o desejo da população. Na realidade, é preciso trabalhar a construção de um Plano Metropolitano que contemple todas atividades de responsabilidade da gestão pública que interfiram comumente no conjunto das cidades metropolitanas. As tentativas de se estabelecer uma gestão para uma ideia desse porte não têm dado certo pois falta o “pacto”, falta o entendimento e o comprometimento metropolitano, falta visão regional para enfrentar o tamanho dos problemas. O Recife como metrópole, é o grande protagonista para uma nova realidade metropolitana e uma alternativa plausível é a constituição de um Consórcio Público Metropolitano. A Região Metropolitana do Recife precisa que a sua metrópole assuma sua posição de vanguarda, principalmente, por se tratar da mais importante região metropolitana do Nordeste. Algomais • Março/2016 73 educação Escola mudou a rotina após o Enem E os estudantes também. Exame promoveu fim da "decoreba” e até permitiu ao aluno estudar no exterior D esde que passou a ser utilizado como instrumento de seleção para acesso ao ensino superior, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ganhou outro status no sistema educacional brasileiro. Mesmo numa história curta, que ainda se aproxima de 10 anos, a nova funcionalidade dada para essa avaliação vem trazendo modificações tanto nas escolas como nas universidades. Do ponto de vista pedagógico a proposta de interdisciplinariedade e de contextualização das provas do Enem estão promovendo alterações nas instituições de ensino. Já do ponto de vista seletivo, o Enem tem estimulado a mobilidade de estudantes pelo País e até para o exterior. Para o aluno que viveu a transição das tradicionais provas de vestibular - que tinham uma rígida divisão por disciplinas – para o Enem – que avalia o aluno por áreas de conhecimento – provavelmente houve um estranhamento. No entanto, mais que agrupar as notas de matérias distintas, o novo paradigma de avaliação prosposto por esse exame valorizou ainda mais a interdisciplinaridade e a contex- 74 Algomais • Março/2016 Algomais • Março/2016 75 tualização dos conteúdos trabalhados em sala de aula, na opinião do professor Armando Vasconcelos, diretor do Colégio Equipe. “Por trás da organização das provas do Enem existe um paradigma, uma concepção de educação diferente, que é a interdisciplinaridade. A operacionalização desse conceito indica que as escolas trabalhem por áreas de conhecimento, o que altera a prática pedagógica dos professores”, afirma o professor Armando. Ele considera que esse conceito facilita o estudante a fazer conexão entre os conteúdos curriculares e o seu cotidiano. “Todos os conteúdos têm relação com a realidade do aluno. A interdisciplinaridade e a contextualização são eixos indispensáveis para a escola, pois permite ao estudante fazer a relação do conhecimento com a realidade dele”, avalia o docente. No livro Os sete saberes necessários à educação do futuro (2001), o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin já problematizava que a prática de ensino tradicional se confrontava com a educação do futuro. “Existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários”, escreveu. Se havia uma crítica ao antigo modelo de seleção através dos vestibulares, que privilegiava a “decoreba”, o novo formato é elogiado justamente por valorizar práticas que aproximaram a escola do seu contexto. As gincanas escolares, passeios pedagógicos e as propostas de trabalho integrando diversas disciplinas ganharam força. Na opinião dos especialistas, os colégios que passaram a apresentar melhor desempenho no Enem foram justamente aqueles que fizeram a leitura desse novo paradigma e se propuseram a inovar. “A mudança do modelo de prova tem relação com o modelo de sociedade que deseja ser democrática, que valoriza o livre-pensamento, construção criativa das ideias, uso das inteligências em movimento, a competência cognitiva intelectual. 76 Algomais • Março/2016 avanço. professor armando elogia interdisciplinaridade proposta no enem No modelo anterior você poderia repetir fórmulas. Poderia usar uma inteligência de memória, de associação, agora com a abordagem de construção de conhecimento construtivista, o que cabe é essa ideia do estímulo ao pensar. Estímulo a você mobilizar o seu conhecimento”, afirma a professora da UFRPE Irenilda Lima, que é doutora em comunicação e possui vasta experiência na área de educação, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino. A mudança do modelo de prova não significa que a avaliação ficou mais fácil, na opinião da professora. Para Irenilda Lima, o candidato do Enem é muito mais exigido, pois é desafiado a pensar a aplicação do conhecimento que foi adquirido e não apenas reproduzi-lo. Ela considera que essa proposta valoriza uma formação do cidadão que a sociedade contemporânea almeja. “O conhecimento adquirido tem que ter significado de aplicação de prática. É um tipo de inteligência bem-vinda para uma sociedade que deseja ser democrática, da informação e do conhecimento”, considera. Hoje estudante de letras da UFPE, o universitário Lucas Ferreira, 20, enfrentou seu único Enem há quatro anos, logo após encerrar o ensino médio numa escola particular do Recife. Atualmente faz estágio na rede pública de ensino. “Quando estudei ainda era muito modesta essa relação entre as disciplinas. Mas já havia uma experiência nas próprias aulas de português, que eram bastante contextualizadas, e ao longo do ano alguns eventos propunham a mescla de conhecimentos”, diz. Já com o olhar de dentro da academia, ele considera que o Enem é melhor que os ves- Foto: Cristhiane Costa/Divulgação tibulares tradicionais, mas que ainda tem um caminho para avançar. “A prova avalia muito as competências, mas não reconhece a importância de alguns conhecimentos relevantes. Sobre a adaptação das escolas a esse modelo de interdisciplinariedade, há ainda muita dificuldade na maioria delas. Acredito que é um desafio do ensino superior”, diz. Além de mudar algumas práticas da escola, a instituição do Enem enquanto instrumento de seleção para as universidades mudou também um pouco a face dos primeiros colocados. Se antes esse posto era exclusivo dos alunos de medicina, os noticiários passaram a anunciar nos últimos anos alunos de música e jornalismo aparecendo nas primeiras posições. Na seleção 2015, por exemplo, um aluno do curso de matemática despontou na primeira colocação. Outra mudança é a maior mobilidade de estudantes pelo País e até para o exterior. Só de Portugal são 11 instituições de ensino que aceitam alunos brasileiros com a nota do Enem, através do Sisu. O aluno exterior. com nota do enem, joão vitor conseguiu vaga para estudar em portugal Algomais • Março/2016 77 Foto: Juarez Ventura Especialistas alertam que a experiência do exame de avaliar o aluno por áreas de conhecimento não podem ser esquecidas na nova Base Nacional Curricular Comum recifense Vitor Tôrres Potts, 18 anos, foi aprovado recentemente para o curso de psicologia na Universidade de Coimbra. Com a nota de 790,13, ele havia alcançado o terceiro lugar no mesmo curso da UFPE, mas optou por ter a experiência de estudar na Europa. “Minha família sempre viajou bastante e eu tinha interesse em estudar fora. Pensava em fazer a graduação no Reino Unidos, mas enquanto a seleção lá é complicada, consegui o acesso para estudar em Portugal pelo próprio Enem”, afirma o estudante, que tem interesse em seguir estudando para ser professor-pesquisador. CURRÍCULO. Um dos debates mais aquecidos no meio educacional brasileiro é a construção da Base Nacional Comum Curricular (que é o documento que detalha o que precisa ser ensinado em matemática, linguagens e ciências da natureza e humanas nas escolas do País). Essa discussão está sendo coordenada pelo Ministério da Educação que apresentou no ano passado uma proposta preliminar do texto que será referência para reformular um currículo mínimo para os alunos das escolas de educação básica no País. Nesse momento crucial para o ensino brasileiro, a experiência do Enem não pode ser desconsiderada, na análise do professor Armando Vasconcelos. No meio de tantas críticas que os documentos de base 78 Algomais • Março/2016 contraponto. joão batista defende diversidade no acesso ao ensino superior apresentados pelo MEC sofreram, ele destaca o fato de que essa concepção das áreas de conhecimento não está contemplada adequadamente. “Do ponto de vista pedagógico, as mudanças promovidas pelo Enem, que são amplamente positivas, são irreversíveis. Sendo assim, é preciso refletir bem sobre a relação entre a proposta do Enem e a construção da Base Comum Curricular. Ela não pode desconhecer que o currículo do ensino médio está dividido por área de conhecimento. As novas definições não podem fazer referência apenas às disciplinas. Isso seria um retrocesso”, considera o diretor do Colégio Equipe. CRÍTICAS. Um dos especialistas nacionais em educação que questiona severamente o Enem é o professor João Batista Araújo e Oliveira, que é doutor em pesquisa em educação. Em seu livro Repensando a educação brasileira, publicado no ano passado pela editora Salta, ele discorda do fato de o País possuir apenas uma única avaliação de acesso ao ensino superior. “Nenhum País possui um sistema unificado de vestibular em que todos os alunos são obrigados a fazer um mesmo teste como o do Enem. Há países que usam testes padronizados como o ACT/SAT nos Estados Unidos e seu similar no Chile, mas esses são testes não vinculados a currículos específicos. Nos demais predomina a diversificação, e muitos o fazem de forma eficiente”, declara. O especialista acredita que essa unificação prejudica as características locais que cada sistema de ensino pode enfrentar. Ele sugere que haja o estímulo à diversidade, considerando as motivações acadêmicas e profissionais. No livro ele elogia, por exemplo, o caso dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em que há variedade na formação escolar e nas regras de acesso ao ensino superior. "Para o ensino médio, só existe uma solução conhecida: diversificar, oferecendo opções acadêmicas e profissionais, com ampla liberdade e flexibilidade", avalia o professor João Batista. (R.D.) Algomais • Março/2016 79 Educar para a competência global Eduardo Carvalho* A globalização intensificou-se nessa última década com a potencialização do sistema de comunicação através de redes sociais, o acesso mais rápido e abrangente pela internet e o desenvolvimento de plataformas de e-learning. A transnacionalização das empresas foi marcante. As causas ambientais passaram a ser muito mais foco das discussões globais. O sistema de informação global foi aperfeiçoado e possibilitou a comparação do desempenho das nações através de inúmeros indicadores. A circulação de idéias, pessoas, mercadorias e capital ao redor do mundo foi acelerada. Redes internacionais de atividades, conhecimento e poder foram criadas. Compreender a globalização é chave para reconhecer e responder às pressões do mundo dos negócios e da competitividade entre as nações. Esse processo resultou num aumento significativo da competitividade global que é avaliada pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo essa entidade, em 2014 o Brasil estava em 57º lugar numa lista de 144 países. No ano seguinte (2015), caiu para a 75ª posição. Nossa imagem no contexto da competitividade agrava-se ainda mais ao considerar o indicador de qualidade do sistema educacional primário, no qual fomos avaliados entre os piores do mundo (129º lugar). Na avaliação do sistema educacional superior, ficamos em 126º lugar. A análise do sistema educacional (escolas púbicas e privadas) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 80 Algomais • Março/2016 Educacionais (Inep) confirma o resultado internacional. No País, para os anos finais do ensino fundamental, o indicador em 2005 era 3,5 (escala de 0-10), e na última avaliação divulgada, em 2013,foi 4,2. No ensino médio, o indicador patinou de 3,4, em 2005, para 3,7, em 2013. A situação em Pernambuco não é diferente, mas melhorou nos últimos anos do ensino fundamental, com indicadores de 2,7, em 2005, para 3,8, em 2013. No ensino médio, evoluiu de 3,0 para 3,8, no mesmo período. Na última avaliação divulgada do Enem referente a 2014, d as 620 escolas do ensino médio de Pernambuco (públicas e particulares), apenas cinco estão entre as 200 melhores do Brasil. O cenário comprova que educação deve ser o topo das prioridades do País. Entretanto, as ações nesse setor devem compreender simultaneamente a melhoria radical do sistema de ensino básico/superior e a criação de um sistema que prepare o aluno para ser inovador e Globally competent (competente globalmente). Isso significa que o indivíduo deve ter competências e habilidades para compreender e atuar em questões com perspectiva global, interagindo com pessoas e empresas de vários países. Essas pessoas são conscientes, curiosas, sabem fazer perguntas inteligentes e são motivadas a aprender sobre o mundo e como ele funciona. Esse processo de desenvolvimento é denominado de Global Education e tem em seu fundamento as habilidades do século 21: para vida e carreira; de aprendizado e inovação; e para informação e mídia. Desse conjunto, destacamos os 4Cs: a Criatividade, o pensamento Crítico, a Comunicação e a Colaboração. O aluno se prepara para ser Globally competent através de um processo que compreende investigar o mundo; analisar cenários; comunicar ideias para diversas audiências; e agir/atuar transformando as ideias em ações adequadas para melhorar/solucionar o problema definido. Para isso, ele precisa desenvolver as habilidades do século 21 e dominar outros idiomas, fundamentalmente o inglês. Assim, poderá questionar atitudes e buscar as melhores práticas e referência no mundo através da participação em redes globais de conhecimento. O Brasil é um país monolinguístico. Pesquisa do EF-Education First estimou que apenas 2% da população brasileira, cerca de 500 mil pessoas, comunicam-se em inglês fluentemente. Em Pernambuco, o Instituto Harrop confirmou esse indicador. Ou seja, apenas essa pequena parcela de brasileiros teria a competência para atuar profissionalmente em multinacionais e ser admitida em boas universidades de outros países. Numa tentativa de mudar esse cenário, algumas escolas surgiram no mercado e se autodenominam bilíngues, mas o modelo é tão somente instalar um curso de Inglês num ecossistema longe de ser o necessário para preparar o aluno para ser Globally competent. Muitas escolas reconhecem que o processo de educação bilíngue exige um ecossistema exclusivo, e delegam, de modo assertivo, o processo de ensino de idioma estrangeiro para a escola especialista. No contexto dos cursos de inglês, o que se constata é a proliferação de cursos com apenas salas de aula, sem funções fundamentais para preparar o aluno para ser fluente no idioma e muito menos ser Globally competent. Para esse processo ser bem sucedido, o centro educacional precisa estar interconectado com outras instituições no mundo; e estimular os alunos a pensar criativa e criticamente, compreender o mundo e discutir problemas globais. O processo requer uma abordagem com ênfase em aprendizado através de projetos PBL (Aprendizado Baseado em Projeto). A instituição IB-International Baccaulaureate World Schools, com sede na Suíça, inovou com essa metodologia. Hoje, 4.267 escolas em 147 países fazem parte da rede. Em Pernambuco, há apenas uma escola da rede. São instituições bilíngües e verdadeiras escolas globais. Eduardo Carvalho é educador. Na escola tradicional, o currículo é voltado para o Enem. Não sobra tempo nas escolas do ensino médio para outras atividades. Em função desse foco, os alunos param de estudar inglês em cursos especializados no início do ensino médio e a grande maioria não retoma o desenvolvimento linguístico. Ficam, portanto, aquém da fluência exigida para o mercado globalmente competitivo. No contexto universitário, o Brasil não tem nenhuma universidade entre as 200 melhores do mundo. E entre as 500, o país possui apenas três, segundo pesquisa recente da Times Higher Education, do Reino Unido. Participar de programas de intercâmbio, conhecer outros países, visitar museus e participar de conversas em família sobre assuntos globais enriquecem o saber do aprendiz. Uma nação inovadora precisa produzir muitas idéias para resolver diferentes problemas; e precisa criar novos e melhores produtos, processos e serviços que outros países necessitem comprar. O país precisa de escolas-laboratórios onde os alunos aprendem conceitos, habilidades e valores mais do que fatos, tendo um conjunto de disciplinas eletivas. Precisamos preparar nossas crianças e jovens para Think, act and interact beyond the borders (pensar, agir, interagir além das fronteiras), tornando-se Globally competent. Algomais • Março/2016 81 É possível ter educação pública de qualidade? Raul Henry* O Brasil realizou conquistas inquestionáveis na educação básica, nas últimas duas décadas: praticamente universalizou o ensino fundamental, criou sistemas de financiamento e de avaliação, reduziu a distorção idade/série e elevou a escolaridade média da população de 5,2 anos, em 1995, para 7,7 anos, em 2003. No que diz respeito à qualidade da escola pública, porém, o País está quase estagnado ou apresenta tendência de declínio. A série histórica de 1997 a 2013 do Ministério da Educação mostra uma pequena melhora apenas no 1º ciclo do fundamental: o percentual de alunos com proficiência adequada em português sai de 36% para 45% e, em matemática, de 21% para 39%. No 2º ciclo do fundamental, há uma tendência de estagnação: em português cai de 32% para 29% e, em matemática, de 17% para 16%. A situação do ensino médio é a pior, com claro declínio: em português, de 40% para 27% e, em matemática, 18% para 9%. Se esses números, representativos da rede total, são ruins, eles ficam ainda piores quando segmentados entre redes privada e pública. Tome-se como exemplo o desempenho em matemática no 3º ano do ensino médio. Na decomposição dos 9% com proficiência adequada, tem-se, na rede privada, uma média de 34,7% e, na pública, um número escandaloso: 4,9%. 82 Algomais • Março/2016 Algomais • Março/2016 83 Os dados do Pisa confirmam os do MEC. Entre 2006 e 2012, o Brasil caiu da 52ª para a 57ª posição, entre 65 países avaliados. O que fazer diante desse monumental desafio? Um olhar panorâmico pode levar a alguns ensinamentos. 1- A necessidade de um currículo nacional Essa é uma convicção já consolidada nos países mais avançados. Todos os alunos têm o direito de ter acesso ao mesmo conjunto de conhecimentos. Não é justo submetê-los ao repertório local de escolas situadas em comunidades com diferentes níveis culturais e socioeconômicos. E mais: a experiência internacional mostra que os melhores currículos são os mais claros, os mais concisos e com as mais altas expectativas de aprendizagem. O currículo é a “viga-mestra” que vai orientar a política de formação de professores, a produção do material didático, a capacitação em serviço e as avaliações. 2- O recrutamento de pessoas talentosas e comprometidas Talvez esteja aí o maior gargalo estrutural do Brasil. A função docente perdeu a atratividade. Carece de reconhecimento e valorização, e tem uma remuneração média que é a metade da média das outras profissões de nível superior (Pnad 2012). Pesquisa patrocinada pela Unesco (2009) mostra o perfil atual dos alunos das faculdades de pedagogia e licenciatura: aproximadamente 50% têm renda familiar até três salários mínimos, trabalham de dia e estudam à noite; os pais cursaram, no máximo, até a 4ª série; não possuem livros, revistas ou jornais em casa; entraram na faculdade após os 24 anos e estão entre os 30% de pior desempenho no ensino médio. Ou seja: o Brasil está recrutando seus professores nos segmentos mais vulneráveis da sociedade. Enquanto isso, na Coreia e na Finlândia, o vestibular para professor tem maior concorrência que o de medici84 Algomais • Março/2016 na. Nesses países, a carreira docente tem uma remuneração equivalente às outras profissões de nível superior, e é objeto de reconhecimento e valorização social. Com a insolvência de Estados e municípios brasileiros, a possibilidade de melhorar a remuneração docente está na adoção de uma carreira suplementar financiada pelo MEC. 3- Formação docente adequada A formação docente no Brasil hoje coloca em plano secundário dois elementos fundamentais: o que ensinar e como ensinar. O currículo das faculdades de pedagogia e licenciatura enfatiza filosofia da educação, antropologia da educação, sociologia da educação, teoria da educação. Mas a evidência empírica mostra que é preciso embasar a formação docente no currículo a ser trabalhado na escola. Para enfrentar essa realidade, o MEC dispõe de suficientes instrumentos regulatórios. Precisa apenas de coragem para encarar o corporativismo e as trincheiras ideológicas. 4- Sistemas de avaliação permanente Nesse caso, é necessário reconhecer que o Brasil avançou muito. Os sistemas de avaliação são fundamentais para identificação e correção das lacunas de aprendizagem. A devolução dos resultados deve ser feita com o propósito de oferecer meios para resolver os problemas identificados. Para isso, a escola precisa estar capacitada a interpretar os resultados da avaliação. Esse processo repete as etapas do ciclo PDCA: planejar, fazer, avaliar e corrigir as falhas apresentadas. 5- Gestão meritocrática Os sistemas de avaliação também devem ser utilizados para implantação de políticas meritocráticas de gestão. Os sistemas de incentivo, quando bem formulados, podem ser um poderoso fator motivacional. A remuneração adicional pelo melhoramento do desempenho da escola é uma experiência vitoriosa em alguns sistemas *Raul Henry é vice-governador de Pernambuco educacionais, inclusive no Brasil. Mas, necessariamente, esses sistemas devem vir acompanhados de ferramentas que possibilitem uma melhoria de desempenho do corpo docente. O fenômeno do teach for test (ensinar para a prova), apontado por muitos como impeditivo de sucesso, pode ser contornado com a elaboração de testes que exijam raciocínio lógico, capacidade de interpretação de textos e resolução de problemas. Outros mecanismos podem ser incluídos na avaliação da equipe, entre os quais: pontualidade, frequência, domínio do conteúdo das disciplinas pelos professores, supervisão das aulas. Outra consequência natural da avaliação como instrumento de gestão é a responsabilização: pessoas descomprometidas com o bom andamento da vida escolar devem ser afastadas. Os pontos elencados acima estão fartamente evidenciados na literatura que analisa os sistemas educacionais que mais avançaram. Mas há um problema: segundo o professor Michael Fulham, “boas ideias são apenas 25% de uma política educacional, os outros 75% são o esforço para implementá-las”. No Brasil, é preciso vencer a ideologização do debate para avançar na qualidade da educação. Algomais • Março/2016 85 cultura Memória-conhecimento da cultura judaica em PE Para a antropóloga conhecer a cultura do “outro” é fundamental para combater a discriminação e o preconceito Tânia Neumann Kaufman A Assembleia Geral das Nações Unidas instituiu o dia de 27 de Janeiro como o Dia Mundial da Lembrança do Holocausto. A data é uma homenagem aos seis milhões de judeus, vítimas dos programas de extermínio. Foi em 1945 que as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polonia. Superação. Todavia, nessa data devemos incluir em nossas lembranças outras vítimas do holocausto, além de judeus. Também, negros, ciganos, homossexuais, e todos os que não cabiam nas medidas da pretendida “eugenia racial ou religiosa” defendida e executada pelo nazismo e pela Inquisição na Espanha e em Portugal. Não é fácil expres86 Algomais • Março/2016 sar sentimentos e falar sobre aqueles tempos de “estranhos deuses” que justificavam a intolerância a todas as etnias e grupos sociais apenas por serem “diferentes”. Visão de Futuro. Sobre esse assunto venho refletindo bastante sobre um conceito que está intimamente ligado às questões de intolerância. É o conceito de ressentimento e suas relações com a história e com a memória. E qual a relação entre eles? Pensando bem, ressentimento envolve pensamentos de rancores, desejos de vinganças, fantasmas de morte. Os fatos causadores estão situados nas partes sombrias e tristes da história e se instalam nas memórias e nas lembranças das pessoas. Normalmente são provocados por conflitos nas esferas políticas e Algomais • Março/2016 87 religiosas. E aí estão as relações entre ressentimento, história e memória. Será que podemos imaginar como fica a memória e a lembrança dos descendentes dos seis milhões de judeus e outras centenas de grupos que perderam suas vidas apenas por serem “diferentes”? E os ressentimentos dos que constataram que suas raízes familiares estão no passado não tão distante dos temíveis tempos da Inquisição no Brasil e buscam o retorno a sua cultura anterior? O resultado das minhas reflexões sobre esse assunto me estimulou a desenvolver ações favoráveis à transformação de ressentimentos em “atitudes afirmativas” através do conhecimento. Não defendo a tolerância, pois ela sugere uma hierarquia na qual os “melhores” toleram os “outros”. Pressupõe uma situação de desigualdade. Ou seja, alguém se coloca como modelo, pois se julga mais civilizado, de uma cultura superior e toma alguma atitude de benevolência em relação a outro julgado menor. Alio-me aos que oferecem a memória-conhecimento como suporte documental para as narrativas históricas. Através do conhecimento sobre este “outro”, provavelmente as fronteiras marcadas pela discriminação e intolerância perdem seus limites. As diferenças entre os grupos étnicos e sociais tornam-se permeáveis à ideia da convivência possível entre culturas. Por fim, na preponderância da diversidade da cultura brasileira está o caminho para a construção de pontes entre homens e entre mundos distantes no tempo e no espaço. No Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco de 1992 até 2015, entreguei-me ao desafio de oferecer conhecimento sobre acontecimentos ligados à cultura judaica que permitisse a construção de pontes entre as diversas culturas. Agora, é preciso compartilhar a memória-história da cultura judaica em Pernambuco com a memória das demais culturas que trazem para os pernambucanos uma singularidade, justamente pelo mosaico étnico, social, religioso e cultural. * Tânia Neumann Kaufman é mestre em antropologia e doutora em história (UFPE) 88 Algomais • Março/2016 Algomais • Março/2016 89 O ciclo da economia de Pernambuco: 2005-2015 Jorge Jatobá* A o longo dos dez anos de circulação da Revista Algomais, a economia de Pernambuco passou por mudanças na base produtiva e infraestrutura. Nos dois governos de Jarbas Vasconcelos (1999-2006) foram criadas as pré-condições políticas, os programas de desenvolvimento e as primeiras negociações que conduziram a um período de forte crescimento econômico durante o Governo Eduardo Campos (2007-2014) que ampliou e consolidou um ambiente de negócios que trouxe para Pernambuco um bloco de investimentos da ordem de R$ 105 bilhões, dois terços dos quais foram alocados ao setor industrial e endereçados, em grande parte, para Suape. Os governos do PSB ousaram politicamente para atrair esses investimentos, inovaram na gestão pública e assumiram para si e em parceria com o setor privado importantes investimentos em infraestrutura econômica, especialmente rodovias. Na segunda metade da década passada houve a feliz convergência de um bom desempenho das economias internacional e nacional, estabilidade macroeconômica e a chegada à maturidade dos investimentos realizados em Suape, fruto do esforço de sucessivos governos desde 1974. Durante o período 2005-2015, as taxas de crescimento anual do PIB de Pernambuco – à exceção do ano de 2007– situaram-se sempre acima das taxas brasileiras. Com isso o PIB por habitante cresceu 7,0%, em termos reais, entre 2010 e 2013. Mudanças na estrutura econômica do Estado ocorreram durante esse período. A construção civil avançou 90 Algomais • Março/2016 substancialmente pois a ela coube o papel de edificar e de instalar os novos equipamentos produtivos e de construir a nova infraestrutura. Assim, a participação da construção civil no PIB aumentou de 5,6%, em 2005, para 9,4%, em 2013, constituindo-se, nessa fase, no principal motor da economia pernambucana. Estavam sendo implantadas novas cadeias produtivas na economia do Estado e outras estavam se modernizando, gestando uma nova conformação do aparelho produtivo com a presença das indústrias naval, petróleo e gás, offshore e automotiva. As indústrias de alimentos e bebidas se modernizaram e se interiorizaram. Evidentemente que, concluídos esses investimentos e iniciadas as operações desses empreendimentos, estão sendo observadas mudanças graduais na estrutura econômica do Estado, fenômeno que foi desacelerado mais recentemente por causa da crise econômica. Esse dinamismo econômico se manifestou claramente nos indicadores do mercado de trabalho. A ocupação total, segundo a PNAD, cresceu 1,2% ao ano entre 2005 e 2014, liderado pelo pujante crescimento do emprego na construção civil que se expandiu no mesmo período à taxa de 7,1% anuais, seguido dos setores transporte, armazenagem e comunicação (6,1%) e de alojamento e alimentação (5,1%), que se beneficiaram da expansão dos investimentos puxada pela construção civil. Esses setores aumentaram sua importância relativa no conjunto da ocupação durante esse período: a construção civil elevou sua participação de 5,5%, em 2005, para 9,0% em 2014 enquanto os setores de transporte, armazenagem e comunicações e o de alojamento e alimentação subiram, respectivamente, de 4,3% para 6,4% e de 3,6% para 5,5%. Com a demanda por mão de obra em ascensão, especialmente nas ocupações de baixa e média qualificação da construção civil, o rendimento médio real de todos os trabalhos da população ocupada com 10 anos ou mais elevou-se ao ritmo de 5,4% ao ano, bem superior à apresentada para o País como um todo (4,1%), durante o período 2005-2014. Com isso taxa de desemprego caiu de 11,0%, em 2005, para 8,7% em 2014. O emprego formal também cresceu expressivamente durante esse período contribuindo para reduzir a taxa de informalidade no mercado de trabalho, uma característica estrutural da economia pernambucana. O estoque de emprego formal segundo a RAIS cresceu 4,4% ao ano entre 2005 e 2015, sendo que a construção civil se expandiu ao ritmo de 7,5% e os serviços e o comércio às taxas, respectivamente, de 6,3% e de 5,9% anuais. Esses crescimentos teriam sido bem mais expressivos durante o período não fosse o efeito da crise econômica que queimou 9,6 mil e 89,8 mil empregos com carteira, respectivamente, em 2014 e 2015. Isso significa que a crise extinguiu parte, mas ainda deixou intactos significativa parcela dos empregos gerados durante aquele período. Se houve um ciclo virtuoso de fatores que propiciaram um robusto crescimento da economia de Pernambuco no início do período que estamos analisando, ocorreu o inverso no seu final, ou seja, nos anos de 2014 e de 2015 quando a crise começou a manifestar seus primeiros impactos sobre o Estado. No rastro da economia mundial, ainda em recuperação da crise de 2008, a economia nacional, devido aos sucessivos equívocos e voluntarismo da política econômica do Governo Dilma, entrou em forte recessão. Pernambuco ficou exposto e absorveu os efeitos da retração no nível de atividade da economia brasileira. Além disso, a crise atingiu o Estado no momento em que o mercado de trabalho estava fragilizado pela grande desmobilização – previsível e inevitável – de mão de obra ocorrida em decorrência da conclusão da fase de implantação dos investimentos produtivos e em infraestrutura, especialmente em Suape. O mercado de trabalho foi pego, portanto, na fase de transição da implantação para a de funcionamento de vários empreendimentos produtivos e de infraestrutura. E finalmente, a economia estadual sofreu as consequências econômicas das investigações no âmbito da Operação Lava Jato. O envolvimento da Sete * Jorge Jatobá é economista. Brasil que, para produzir sondas que seriam alugadas a Petrobras, tinha feito várias encomendas ao Estaleiro Atlântico Sul, viu-se obrigada a cancelar contratos que desencadearam efeitos em cadeia que atingiram severamente a recém-instalada indústria naval e o setor metalmecânico da economia estadual. A Refinaria Abreu e Lima, por outro lado, ficou inconclusa. Os números são inequívocos: a economia estadual retrocedeu 2,2% entre janeiro e setembro de 2015 comparada com o mesmo período de 2014, o Estado perdeu quase 90 mil empregos em 2015, a taxa de desemprego voltou aos 11% no final de ano passado e o rendimento médio real do trabalho caiu quase 1% em termos reais, corroendo parte dos ganhos observados nos anos anteriores. Todavia, quando forem restabelecidas as condições políticas e econômicas para a retomada do crescimento, Pernambuco poderá se recuperar com mais rapidez devido ao grande bloco de investimentos feitos anteriormente, embora continuem a pairar incertezas sobre a economia em função da crise da Petrobras e dos questionamentos sobre a continuidade da política de conteúdo nacional no qual está assentada a nossa indústria naval. Temos que olhar para a frente e alimentar esperanças de dias melhores. Algomais • Março/2016 91 GESTÃO MAIS TGI CONSULTORIA EM GESTÃO Gestão para jovens empreendedores www.tgi.com.br M uitos jovens hoje querem empreender, seja um negócio ou uma atividade, de modo individual (como freelancer, por exemplo). Nesse contexto, decerto, irão se deparar com situações desafiadoras e complexas que exigirão conhecimentos para além do que se estuda na faculdade, como administrar conflitos, formar ou fazer parte de uma equipe eficaz, ter foco simultâneo no curto e longo prazos e formular uma estratégia para seu negócio ou carreira. Por isso, uma boa formação técnica, embora seja um fator de competitividade, não é suficiente para ter êxito empreendedor. Para empreender é essencial ter vontade, mas falta a outra metade, que é o investimento no conhecimento do mercado, no planejamento e na organização do empreendimento. Podemos traduzir a “vontade empreendedora” em quatro pontos: 1. coragem, encarada como reconhecimento e controle sobre os receios e a insegurança, necessário para tomar decisões qualificadas; 2. paixão, afinal, o empreendedor que tem esse investimento emocional no negócio terá mais disposição para cuidar, estudar e dedicar tempo à empreitada; 3. cultura estratégica, traduzida nas capacidades de antecipação (de problemas, oportunidades, consequências de decisões), mobilização (de recursos e de pessoas) e realização (organização e disciplina para execução); e 4. liderança, para desenvolver equipes e fazer a gestão acontecer na organização. 92 Algomais • Março/2016 “Quem tem a vontade, já tem a metade.” Dão Silveira, empresário paraibano. Já a “outra metade” que, pode-se dizer, corresponde ao investimento em gestão, compreende também quatro pontos: 1. conhecer o mercado para entender como conseguir quem compre o que gosta e sabe fazer bem; 2. aprender a avaliar como (ou se é possível) responder às exigências do mercado e, a partir daí, definir os diferenciais, pensando “por que é que o cliente vai escolher o meu produto ou serviço?”; 3. planejar a implantação da empresa a partir da construção de um projeto empresarial, de um planejamento estratégico (com foco duplo no médio e curto prazos) e de um orçamento que permita mapear os custos para operacionalização, dando visibilidade às exigências de caixa e à viabilidade da estratégia; e 4. cuidar do dia a dia, trabalhando com profissionalismo e qualidade e monitorando sistematicamente o planejamento, o orçamento e o dia a dia das operações da empresa ou da atividade. Essa quantidade de pontos de atenção não deve paralisar o empreendedor e sim ajudá-lo a criar melhores condições para o sucesso do empreendimento. Afinal, como escreveu Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” Algomais • Março/2016 93 Os melhores de Pernambuco são do Ceará Raimundo Carrero* A literatura pernambucana, hoje, é marcada por um dado curioso e surpreendente: Os principais escritores do Estado são cearenses: Ronaldo Correia Brito, Sidney Rocha, Everardo Norões, e Xico Sá, sem esquecer os irmãos Telma Brilhante e Heitor Bezerra, todos oriundos do núcleo intelectual do Crato e Juazeiro. Não nasci em terras alencarinas, mas meus pais – Raimundo e Maria Gomes de Sá nasceram e viveram em Porteiras, cidade também encravada no Cariri cearense. Meus pais foram morar em Salgueiro, Pernambuco, onde nasci, embora estivessem destinados ao Crato. Meu pai manteve uma loja – era comerciante de tecidos e chapéus – na cidade de Baixio do Couro, mais tarde Getúlio Vargas, na área em que divisam os dois Estados. Ronaldo Correia de Brito, Sidney Rocha e Everardo Norões conquistaram recentemente grandes prêmios nacionais – pela ordem, prêmios São Paulo de Literatura, prêmio Jabuti e prêmio Portugal-Telecom – enquanto Xico tem optado pela celebridade, integrando grandes programas de sucesso nacional. Mesmo assim 94 Algomais • Março/2016 ele escreve um artigo semanal para o jornal El País, da Argentina, e sua novela Big Jato - espécie de Lazarilho de Thormes, novela de autor anônimo espanhol – tem sido resenhada pelos principais jornais brasileiros, com ampla repercussão em todo País, e foi adaptada para o cinema pelo competente Cláudio Assis. Telma e Heitor publicam com regularidade, quase sempre em antologias, com algumas novelas autorais. Isso não quer dizer que também não temos nossos valores contemporâneos e definitivos: basta lembrar os nomes da pernambucaníssima de Garanhuns Luzilá Gonçalves Ferreira, romancista cuja obra tem sido muito estudada – assunto de mestrado e de reflexões acadêmicas, além de artigos e resenhas – ao lado de Débora Ferraz – prêmio São Paulo, na categoria estreante, Micheliny Verunski – prêmio São Paulo, na categoria veteranos – Adrienny Mirtes, Lucila Nogueira, poeta de altíssima qualidade - do também pernambucaníssimo Lourival Holanda – mestre de todos nós, com participação crescente na vida literária nacional –, dos sertanejos Cícero Belmar – com sua prosa cada vez mais instigante – Pedro Américo e Cida Pedrosa – poetas de longo curso; de Paulo Caldas – muito forte no texto e na oficina literária – dos estudiosos e críticos Schneider Carpeggiani, editor e crítico do Suplemento Pernambuco, Eduardo César Maia – responsável pelas melhores análises sobre Álvaro Lins e Mário Vargas Llosa –, Anco Márcio, Renato Lima, Thiago Correa e todo o grupo Café Colombo. Além de estudiosos que atuam em sites e blogs, a exemplo de Ney Anderson. Além de jornalistas e críticos literários como Marcelo Pereira, Diogo Guedes, Felipe Torres e Hugo Vianna. Atenção sempre especial para Marcelino Freire, o Grande, e Jommard Muniz de Brito. Alguns nomes novos se impõem: Nivaldo Tenório, Mário Rodrigues,Hélder, Gerusa Leal e Izabella Domingues. E A INTERNET, COMO FICA? No nosso mundo contemporâneo é inevitável a pergunta: E como anda a literatura pernambucana na internet? Destaco, sobretudo, a atuação do grupo Café Colombo, criado e realizado por jovens mestres e doutores no rádio e no impresso, sobretudo, mas com atuação destacada também na internet, através de um site. É claro que existe também O Grito, um site cultural amplo com participação em Raimundo Carrero é escritor vários campos. Vacatussa, Domingo com Poesia, Interpoética – vale mais do que um jornal – livros que você precisa ler, Recife Assombrado – especializado em fantasmas, enriquece o imaginário recifense, com Andre Balaio e Roberto Beltrão. Fernando Farias Contos, Estante Literária – de Paulo Cantarelli – Leitor Cabuloso, Leitura, Literatura e Entretenimento.... E muitos, muitos outros sites e blogs. O suplemento Pernambuco, da Cepe, é leitura obrigatória. Lembrando, ainda, a revista Continente. Aliás, o mundo da internet coloca em xeque a questão da literatura no impresso, em que se alega que há poucos leitores para a especialidade literatura. Já se sabe, curiosamente, que os jornais europeus e norte-americanos que mais perderam assinantes são aqueles que cortaram os suplementos literários e noticiários sobre escritores. O que, aliás, me parece óbvio. Quem compra ou assina jornal são aquelas pessoas que leem compulsivamente. Se são afastados do jornal, então não procuram mais o impresso e migram imediatamente para a internet. Ingenuidade, pura ingenuidade. Ou falta de profissionalismo. Algomais • Março/2016 95 trabalho Ter uma doméstica agora é luxo Sem condições de atender a lei que regulamenta a profissão, muitos patrões demitiram suas trabalhadoras E m abril de 2013, a Emenda Constitucional 72 foi aprovada. Com isso, os trabalhadores domésticos ficaram mais perto de obter os direitos comuns de qualquer outra profissão. A emenda, contudo, dependia de diversos pontos para ser finalmente aprovada. Em junho do ano passado, o projeto de lei complementar foi outorgado e, enfim, o passo para que esses trabalhadores tenham regulamentados seus direitos foi dado. Entre os pontos regulamentados, estão, por exemplo, a obrigatoriedade do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) por parte do empregador e os direitos a adicional noturno e indenização em caso de demissão sem justa causa, além do direito a férias de 30 dias por ano. Na prática, os trabalhadores domésticos tiveram um aumento de responsabilidade em relação à sua produtividade enquanto empregado. A partir da nova regulamentação, eles são vistos como qualquer outro profissional. Antes, contudo, eles eram considerados como "parte da família" isentado os patrões de obrigações legais. "A alteração foi total. Em síntese, as domésticas passaram a ser equiparadas aos demais trabalhadores urbanos. A mudança atingiu também o empregador doméstico, porque todas as residências, sem exceção, passaram a ser consideradas como uma 96 Algomais • Março/2016 adaptação. depois de ser demitida, aparecida virou diarista e vende cosméticos empresa. Antes, os empregadores domésticos eram considerados famílias, empregadores especiais, que não geravam lucros e, por tal razão, não poderiam ser compelidos a arcar com todas as obrigações trabalhistas e previdenciárias, da mesma forma dos empregadores comuns", afirma o advogado Marcos Alencar. Segundo ele, o empregador doméstico passou a ter maior obrigação com relação ao controle de jornada de trabalho do seu empregado doméstico. Mesmo tendo apenas um empregado, ele é obrigado a manter registro de ponto. Patrões e empregados tentam se adaptar à nova lei. Maria Apareida Moreira da Silva, de 48 anos, está na profissão desde criança, mas não encontra mais oportuniddades na profissão. "Trabalhei como doméstica minha vida toda. Comecei aos 10 anos e só parei há pouco tempo. Depois que essa lei começou, fui dispensa- da de dois locais onde trabalhava. Eles disseram que não estavam conseguindo mais pagar", afirma. "Acredito que (a promulgação da lei) ficou bem mais difícil. Várias pessoas não me chamam porque não podem pagar o que está determinado", completa. Essa é a situação em que se encontra a aposentada Leni Barbosa, de 71 anos. Há quase dez anos ela mantinha uma profissional do ramo. As novas normas, entretanto, a impediram de continuar. "Tinha uma funcionária que me ajudava em praticamente tudo. Infelizmente, a regulamentação da lei dificultou muito a manuntenção dela", revela. "A regulamentação, apesar de necessária para as profissionais, me deixou sem a possibilidade desse auxílio porque fiquei completamente sem condições de pagar todos os direitos conquistados pela categoria", completa. Sem a renda de outros tempos, Aparecida tenta completar o faturamento mensal através de bicos. Ela, inclusive, continua realizando trabalhos domésticos. Agora, entretanto, sem qualquer vínculo empregatício. MARCOS ALENCAR Todas as residências, sem exceção, passaram a ser consideradas como uma empresa" "Eu sobrevivo vendendo cosméticos, produtos de beleza, vendo roupas que outras pessoas me pedem para vender...Nessas vendas, ganho 15% a 20% e assim vou levando. Também faço faxina. Ganho bem menos que antes. Antigamente, eu recebia um valor certinho todo mês", lamenta. Vínculo empregatício, aliás, é um conceito que sempre dá dor de cabeça. De acordo com Alencar, aquele indíviduo que trabalha apenas dois dias em residência é diarista. Portanto, não possui os mesmos direitos. Apesar de todas as dificuldades, Aparecida afirma que as conquistas da categoria são necessárias. "Muitos patrões estão demitindo porque não querem pagar os direitos que conquistamos. Mesmo assim, eu achei que isso precisava acontecer. Temos que nos adequar à lei. A gente tem que viver como pode", declara. Quem sabe, Pernambuco e o Brasil vivam uma fase de transição e, em breve, sejam como nos países desenvolvidos onde raras são as famílias de classe média que possuem um empregado doméstico. (Y.G.) Algomais • Março/2016 97 Mudanças sentidas no Futebol pernambucano José Neves Cabral* U ma década é tempo ínfimo. Menos de um décimo de segundo na história da humanidade. Mas suficiente para a história ganhar novos contornos. Atitudes, movimentos, geram novos conceitos. É tempo de uma geração sair de cena para dar lugar a outra, mais arejada. Ou não. Como os demais segmentos sociais, o esporte também sofre mudanças num período como esse. Vamos a 2006. Janeiro. O Santa Cruz havia conquistado o título estadual do ano anterior e, no embalo, uma vaga na elite do futebol nacional. Sport e Náutico debatiam-se na Segunda Divisão, o segundo ainda amargava uma aguda ressaca pela derrota para o Grêmio na fatídica “Batalha dos Aflitos”. Em dezembro daquele ano, como é bem da dinâmica do futebol, o time tricolor estava rebaixado à Série B, enquanto os seus arquirrivais classificados à elite. Posições invertidas num breve espaço de 12 meses. E a alternância na Série A marcou a trajetória de alvirrubros e rubro-negros de 2006 para cá. Paralelamente a essa irregularidade técnica provocada por fatores diversos, mas com uma raiz comum – administrações equivocadas e deficiência financeira em relação aos grandes clubes do eixo Sul-Sudeste. Eles como protagonistas beneficiados por contratos de imagem mais vantajosos em relação aos locais, condenados ao papel de coadjuvantes por receberem menos na divisão do 98 Algomais • Março/2016 bolo das cotas de tevê. Mas eis que nos últimos cinco anos algumas luzes começaram a surgir no fim do túnel para os grandes clubes recifenses. O Santa Cruz saiu de uma grave crise administrativa que o jogou na Série D, recuperou prestígio em âmbito local, ganhando quatro dos últimos cinco estaduais e recuperou seu lugar na Série A. A reação veio talhada por uma combinação de renovação e estabilidade política e nova organização administrativa bem representada por Antonio Luiz Neto, que presidiu o clube de 2011 a 2014, e o advogado Alírio Moraes, que assumiu a presidência no ano passado. E é exatamente o segundo que bem representa essa renovação, por não ter o perfil de um “cartola” tradicional. Seu foco é a reorganização do clube como instituição. No futebol, a forma como o clube contrata reflete muito esse nova ordem. A única “estrela” trazida a peso de ouro foi o atacante Grafite, uma espécie de cartão de visitas da equipe. Os demais jogadores que aportaram no Arruda são atletas emergentes, que podem alavancar a carreira escorados na tradicional camisa tricolor, como o talentoso João Paulo. A renovação política também alcançou rubro-negros e alvirrubros. Há dez anos, quem apostaria que o advogado Humberto Martorelli seria o presidente do Sport em 2016? Depois de mais de uma década em que dois grupos políticos se revezavam no comando, surge Martorelli com o aval de um desses grupos, mas, ao mesmo tempo, fazendo uma gestão de rompimento com práticas políticas que pareciam consolidadas na agremiação. Um de seus diferenciais é o pragmatismo em busca de um trabalho a longo prazo, exemplo claro na manutenção de Eduardo Baptista por mais de um ano à frente do time de futebol, apesar dos resultados irregulares. Fora das quatro linhas, uma posição firme: o afastamento das torcidas organizadas da sede do clube e a proibição da entrada das uniformizadas na Ilha do Retiro. Nessa década, é impossível não destacar a atitude do presidente do Sport como o início de uma nova fase no futebol: o enfrentamento pelos próprios clubes das facções criminosas que se apossaram de suas cores para faturar e também impor o medo aos cidadãos que desejam apenas ir e vir em paz às nossas praças esportivas. No Náutico, a renovação política começou em 2001 com a chegada de André Campos à presidência. Hábil, ele conseguiu rapidamente unir um clube dividido politicamente para formar um time e evitar o hexa do Sport. Mas o processo sofreu interrupções nos últimos dez anos em que o time de futebol alternou bons e maus momentos nas duas primeiras divisões do futebol brasileiro. Recentemente, o clube deu mais um passo nessa era de renovação com a eleição de Marcos Freitas à presidência executiva. Empresário bem-sucedido, alvirrubro comprometido, ele já deu alguns bons passos neste início de gestão para levar a nau alvirrubra no bom caminho. Pagou débitos atrasados com os jogadores e, com bom senso, manteve o técnico Gilmar dal Pozzo no comando da equipe. Bom senso porque o treinador trabalhou exatamente para a gestão anterior, derrotada por Freitas no processo eleitoral. A atitude mostra que, apesar das ressalvas aos adversários políticos, ele foi capaz de enxergar algo positivo. Ao manter Dal Pozzo, sinalizou que não há ranço ou preconceito de sua parte quando se trata de definir o que é melhor para a agremiação. Em relação aos nossos três principais representantes no futebol, podemos dizer que há algo em comum no olhar de seus dirigentes para o futuro. Náutico e Sport já construíram centro José Neves Cabral é jornalista. de treinamento, investindo em instalações mais confortáveis. O Santa já adquiriu o seu e trabalha para equipá-lo a contento. A preocupação em formar talentos tornou-se algo urgente em razão da supervalorização dos jogadores no mercado. Temos como grande novidade agora a entrada dos chineses no mercado da bola, contratando jogadores a peso de ouro. A saída de talentos em velocidade impressionante tem enfraquecido as competições nacionais, o que obriga os clubes a reagir, investindo cada vez mais na formação de atletas. E basta dar uma olhadinha sem saudades na história dos nossos clubes para constatar a importância da revelação de jogadores da base. Quando o fizeram, os três colheram ótimos resultados. Por fim, não poderia encerrar esse texto sem registrar a ascensão do Salgueiro como quarta força do futebol pernambucano, uma proeza para um time formado lá no Sertão Central, numa cidade a 525 km do Recife. Devemos exaltar a consolidação desse clubes nos últimos dez anos de futebol pernambucano. Ao oferecer resistência aos grandes da capital, surpreendendo-os em algumas oportunidades, o Carcará apenas enriquece as disputas do Estadual. Que sirva de exemplo para os demais intermediários. Algomais • Março/2016 99 Interior conectado, sim senhor! Wanessa Campos* H á dez anos, ninguém poderia imaginar que, um crime acontecido em Limoeiro (Agreste), por exemplo, chegasse ao conhecimento dos moradores de Petrolina (Sertão do São Francisco), minutos depois. E olhe que a distância é de 668 km. Parece ficção, mas é o dia a dia no interior do Estado. Essa notícia foi enviada por WhatsApp, um dos avanços da tecnologia que aterrissou nas 185 cidades pernambucanas. E tem mais: o Twitter, Facebook e até selfies existem do Litoral ao Sertão, sim senhor. 100 Algomais • Março/2016 As redes sociais, que viraram febre de 40º, permitindo que a juventude principalmente, esteja conectada. E o que provocou tudo isso? E quando essa mudança aconteceu? O nosso interior vive intensamente a Era Digital. Os últimos cinco anos foram determinantes graças à internet. Antes de 2006, só a TV era o canal comunicador e as emissoras de rádios levavam informações e formavam opiniões. Nos últimos 10 anos, Pernambuco sofreu mudanças bruscas que hoje refletem no modo de vida das cidades e no comportamento das pessoas. A vinda das faculdades, escolas técnicas, indústrias contribuíram. O vocabulário, as gírias, é o mesmo que se ouve nas novelas da TV. Traduzindo em miúdos, as operadoras de telefonia foram as grandes responsáveis pela transformação. O boom aconteceu nos últimos dois anos quando o celular passou a ser a maior ferramenta de comunicação, inclusive na zona rural. É comum avistar antenas parabólicas nos sítios. A informação chega em toda parte. Além disso, a invasão de blogs de turismo, amenidades, políti- Algomais • Março/2016 101 ca, está transformando radialistas e curiosos em repórteres amadores. No plano comportamental ficou comum ver casais homossexuais em atitudes explícitas nos espaços públicos. Sinal dos tempos. Os estudantes estão mais críticos com os governos e reivindicam uma política mais participativa. A teoria de Marshall MacLuhan, o Pai da Comunicação, prova que “o meio é a mensagem”. Ele profetizou nos anos 60 que os eletrônicos encurtariam distâncias e haveria uma aldeia global. Uma comunicação interligada. E ela já está entre nós. E as consequências? Muitas. Além do comportamento social, observa-se o crescimento das igrejas evangélicas, antes uma raridade. Mudanças profundas se veem na cultura, na economia de Petrolina, Serra Talhada, Garanhuns, Araripina, Arcoverde, Salgueiro, só para exemplificar. A presença das faculdades de medicina, engenharia, administração etc teve um percentual significativo nessa transformação, assim como as escolas técnicas e profissionalizantes. O segmento imobiliário, por sua vez, ganha uma força visível com novos prédios, condomínios, inclusive populares para as classes menos favorecidas. Nossas principais cidades já sofrem com o trânsito engarrafado e estacionamentos lotados. As motos multiplicaram-se contribuindo para o caos. As novas estradas proporcionaram uma “inflação” de motos para toda e qualquer finalidade (até para crimes) e uma profissão surgiu: mototaxista. Outra novidade: academias em praça pública ou particulares, ciclovias, todos querem mais saúde e boa forma física. Encontram-se facilmente clínicas médicas em bairros periféricos. Chama atenção o comércio de aparelhos eletroeletrônicos nas feiras livres e o fechamento das videolocadoras e lan houses que já foram manias. Ficaram supérfluas... E diante de todo esse progresso, as mazelas das grandes cidades também foram transportadas: violência, assaltos em bancos e ruas, sequestros, crimes de 102 Algomais • Março/2016 todas as modalidades. Drogas. E a impunidade também. Por que não? Na verdade, o perfil econômico de Pernambuco mudou na última década. Mas vamos por partes, como fazia Jack, o estripador: Mata Sul, com o Porto de Suape, transformou a cara da região. O crescimento explodiu indo da especulação imobiliária ao turismo, passando pelo emprego informal e prestação de serviços. A Mata Norte enfrenta uma revolução. De tradicional cultura da cana-de-açúcar, a região recebeu investimentos de indústrias automobilísticas, farmacoquímica, bebidas etc. Goiana está inserida na indústria automotiva com o Polo Jeep, a primeira do Brasil e até 2020 responderá por 6,5% do PIB estadual. O Agreste, com as confecções nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama, Caruaru, exporta moda para o País, especialmente jeans, e ocupa o segundo lugar na produção têxtil do Brasil. São 11 cidades que produzem mais de 800 milhões de peças/ano, 18 mil fábricas e 30 mil pontos de venda. Belo Jardim, com indústrias de grande porte, soma a consolidação da economia. O cartão de crédito facilita a vida de todos. O Sertão surpreende. A distância com o Recife não impediu a conexão global. As vidas severinas só existem nas obras de João Cabral de Melo, não *Wanessa Campos é jornalista por causa do Programa Bolsa-Família, mas, graças à tecnologia que chegou pra ficar e ganhou musculatura. A exportação de frutas, flores tropicais e a produção de gesso crescem. O turismo vem gerando emprego e renda. Entretanto, o forró (leia-se Luiz Gonzaga) permanece firme e forte, junto com o Cordel. Ainda bem. Tudo junto e misturado na Era Digital. Quem sentir saudades daquele interior de antigamente, das ruas calmas, das cadeiras nas calçadas, das crianças brincando de pega, das conversas nas portas das casas e da violência zero, assista às novelas de época na TV. em baixa. Se antes eram uma febre, hoje as lan houses tornaram-se supérfluas Algomais • Março/2016 103 baião de tudo Geraldo Freire O GANDHI DESCONHECIDO Esta verdade nova vem por conta da jornalista e escritora Caitlin Moran. Ela lista um rosário de maus costumes de Gandhi, garantindo que pesquisou e conheceu o lado escuro do Mahatma, que na vida íntima familiar era fissurado por sexo e até capaz de gestos de crueldade. Nos quase 20 anos que viveu na África, praticou vários atos de racismo. Teria até afirmado que a população branca da África do Sul deveria predominar no país, fazendo dos negros minoria social. Quando foi preso, ficou revoltado por ter ficado na mesma prisão dos negros, e não para onde eram levados os brancos em reclusão. Ainda afirmam que o grande pacificador da Índia pouco se preocupava em ajudar aos que precisavam. E mais: Gandhi acreditava que a mulher era responsável por despertar e liberar a libido sexual do homem e dizia que o impulso sexual masculino era involuntário e incontrolável, cabendo ao sexo feminino preservar a sua sexualidade. Para tentar domar a sua libido, usou diversas meninas menores de idade, levando para a cama e dormindo nu até com uma sobrinha-neta. Foi publicado no livro Great Soul, de Joseph Lelyveld, que Gandhi teve experiências homossexuais, inclusive com o arquiteto judeu Hermann Kallenbach, por quem teria se apaixonado loucamente. A morte trágica e a propaganda pessoal teriam feito dele uma figura capaz de superar todos os erros e falhas. 104 Algomais • Março/2016 [email protected] A MÍDIA Pesquisa com 33 mil pessoas de 28 países, feita pela consultora Edelman, mostra que a mídia está bem na fita: globalmente subiu de 45% para 47% e, separadamente, no Brasil, de 51% para 54%. MACONHA NA ECONOMIA O jornalista e ex-deputado Gabeira disse certa vez que a maconha ainda salvaria o Brasil. Até agora, aqui, ninguém deu essa oportunidade à “erva maldita”, mas nos Estados Unidos acabam de divulgar que a comercialização legal da maconha rendeu, em 2015, a quantia de US$ 54 bilhões. INCENTIVO À CULTURA O rico empresário Roberto Medina jogou R$ 6 milhões a mais no “pé do cipa”, convencendo o governo federal de que o superlucrativo Rock in Rio precisava de uma ajudazinha da Lei Rouanet. Quem precisa não recebe, mas quem tem a chave da porta do poder faz a água correr para o mar. DRAMÁTICA HISTÓRIA DE CHIFRE Vai sair um livro de Anna Sharp, neta de Ana Ribeiro, mulher de Euclides da Cunha. Como todos sabem, o autor de Os Sertões foi assassinado por Dilermando de Assis, que comia a mulher dele. Cunha descobriu o romance entre sua mulher e o garanhão que era oficial do Exército e campeão de tiro. Quando o escritor tentou a vingança, ele reagiu matando-o. Foi uma legítima defesa, no dia 15 de agosto de 1909. Alguns anos depois, o filho de Euclides da Cunha tentou vingar o pai, mas foi também assassinado pelo oficial Dilermando, macho da mãe dele. Agora a nova escritora vem contando que Euclides tratava a esposa, avó dela, muito mal desde o dia do casamento. Ela casou com 15 anos e, quando ele teve tuberculose, tentou obrigá-la a beber o seu sangue. Algomais • Março/2016 105 Aprenda Pernambuco Por Carlos André Moura e Mário Ribeiro Cidade localizada no Agreste pernambucano, a 84 km do Recife e 447 metros de altitude, com um forte polo moveleiro, com baixas temperaturas em vários períodos do ano. (a) Caruaru (b) Garanhuns (c) Gravatá Instituição pernambucana que reúne intelectuais, artistas e literatos, com contribuição para as letras e a cultura. (a) Academia Pernambucana de Letras (b) Centro de Cultura de Pernambuco (c) Fundação Pernambucana de Cultura Conjunto de escarpas assimétricas, localizada a 80 km do litoral de Pernambuco, na divisa dos municípios de Pombos, Gravatá e Chã Grande. Centro de pesquisa e ensino, localizado entre as cidades do Recife e Olinda, no espaço conhecido como Memorial Arcoverde. (a) Chapada Diamantina (b) Serra das Russas (c) Pico da Neblina (a) Espaço Ciências (b) Centro de Convenções de Olinda (c) Chevrolet Hall Rodovia Federal, com extensão de 552 Km, que segue do Recife ao município de Parnamirim, como um dos principais acessos ao interior pernambucano. Fundado em 1862, instituição que reúne pesquisadores sobre a História de Pernambuco, tem a função de conservar documentações de vários períodos históricos e possui um museu para os visitantes. Localizado na Rua do Hospício. (a) BR – 101 (b) BR – 408 (c) BR – 232 (a) Arquivo Público Estadual (b) Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (c) Instituto Ricardo Brennand Museu localizado as margens da BR – 232, no município de Bezerros, com elementos da cultura pernambucana. (a) Museu do Centro de Artesanato de Pernambuco (b) Museu Paço do Frevo (c) Museu Cais do Sertão Memorial e museu, localizada na cidade de Bezerros, que apresenta as principais obras do artista J. Borges. 106 Algomais • Março/2016 Respostas: 1.(C) Gravatá • 2.(B) Serra das Russas • 3.(C) BR – 232 • 4.(A) Museu do Centro de Artesanato de Pernambuco • 5.(A) Museu da Xilogravura • 6.(A) Academia Pernambucana de Letras • 7.(A) Espaço Ciências • 8.(A) Arquivo Público Estadual (a) Museu da Xilogravura (b) Museu do Sertão (c) Museu do Agreste EXCLUSIVIDADE COM MORDOMIA. CASAS DE ALTO PADRÃO PORTAL DE GRAVATÁ S 245 M², 5 SUÍTES S SALA DE ESTAR E JANTAR R PISCINA AQUECIDA PRIVATIVA TERRAÇO PANORÂMICO COM COZINHA GOURMET T DEPENDÊNCIA COMPLETA PARA MOTORISTA/BABÁ APENAS 2 UNIDADES PARA PRONTA ENTREGA Algomais • Março/2016 107 arruando pelo Recife e por Olinda A esquecida Rua do Imperador Nela morou Maurício de Nassau, a família imperial desfilou no seu calçamento e também frei Caneca antes da morte Leonardo Dantas Silva D entre as ruas que marcaram o centro do Recife, destaca-se a Rua do Imperador D. Pedro II, a primeira surgida na ilha entre os anos de 1606 e 1613, quando os frades franciscanos nela fizeram erguer o convento e uma igreja dedicada a Santo Antônio. Por ocasião da invasão holandesa, em 1630, foi o Convento de Santo Antônio cercado por muralhas e transformado no Forte Ernestus, uma fortificação retangular com quatro baluartes, dispondo de 19 canhões de diversos calibres. Nesta rua fixou residência o Conde João Maurício de Nassau-Siegen, que aqui chegou como governador do Brasil Holandês em 1637, ocupando uma casa então localizada na atual esquina da Rua Primeiro de Março. Nela o sábio Georg Marcgrave (1610-1648) instalou o primeiro observatório astronômico em terras das Américas e iniciou seus estudos sobre a fauna, flora e tipos humanos da região. Naquele local ele ergueu uma torre de observação em madeira, onde instalou o seu telescópio com o qual fez observações sobre o nosso céu e documentou o primeiro eclipse solar, ocorrido em 13 de novembro de 1640. No extremo norte da ilha, o Conde de Nassau fez erguer o Palácio das Torres (Friburgo) em 1642, rodeado por 108 Algomais • Março/2016 auge. com bares e escritórios, rua já foi uma das mais movimentadas da cidade jardins, árvores frutíferas e dois grandes viveiros para criação de peixes, construindo assim um Jardim Zoobotânico destinado às experiências e estudos dos membros de sua comitiva de cientistas. O trajeto do caminho do palácio, margeado pelo Capibaribe, veio a ser aplainado e transformado em pista de esportes equestres (cavalhadas, corridas, etc.), sendo no seu extremo construído o templo religioso dos calvinistas franceses (1642). No final do século 17 foi criada a Ordem Terceira de São Francisco que iniciou a construção da monumental Capela Dourada dos Irmãos Noviços, construída entre 1695 e 1697, junto ao Convento Franciscano. Os Irmãos Terceiros de São Francisco, irmandade constituída pelos mais ricos comerciantes da então Vila de Santo Antônio do Recife (1709), logo iniciaram a construção do seu templo cujas obras se estenderam de 1702 a 1828. Em 1731 a primitiva Rua de São Francisco recebeu o prédio da Cadeia Pública (hoje ocupado pelo Arquivo Público Estadual) e, por conta dele, a denominação de Rua da Cadeia Nova, pois a primitiva prisão continuaria no bairro do Recife. O primitivo templo dos calvinistas passou a ser ocupado pelo Colégio dos Jesuítas (1686). Com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus do Brasil (1757), o conjunto de prédios veio a ser ocupado pelo Palácio dos Governadores da Capitania, seguindo-se do Tribunal da Relação de Pernambuco e pela igreja do Divino Espírito Santo, esta a partir de 1855. No ano de 1859 o Recife recebe com grandes festas a Família Imperial Brasileira, que desfila em grande cortejo na então Rua do Colégio, naquele 22 de novembro. É nesta ocasião que o D. Pedro II, emocionado com a calorosa recepção quando do seu desembarque, haveria exclamado: “Pernambuco é um céu aberto...” A partir da visita da Família Imperial, a antiga Rua da Cadeia mudou seu nome para Rua do Imperador D. Pedro II. Com o centro religioso de devoção, com o Convento de Santo Antônio a receber, todas as terças-feiras, centenas de devotos, durante todo ano... Com suas calçadas largas a permi- tir a formação a um só tempo de dezenas de conglomerados de homens a falar de política, futebol, vida alheia, negócios e tanta coisa mais... Com os diversos centros administrativos no seu entorno, como o Palácio da Justiça, Fóruns Cível e Criminal, Secretaria da Fazenda, a secção regional da Ordem dos Advogados do Brasil, cartórios, repartições, redações de grandes jornais (Jornal do Commercio, 1919), instituições culturais (Gabinete Português de Leitura, 1850; Arquivo Público Estadual, 1945), bancos, escritórios de advocacia, casas comerciais, bares... Até recentemente, era a Rua do Imperador uma das mais movimentadas da cidade do Recife. A sua história, porém, se confunde com a própria história do Recife... As pedras do seu calçamento testemunharam o caminhar para a forca mártires das revoluções liberais, a exemplo de Agostinho Bezerra Cavalcanti e Frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1825)... Foi da sacada de um dos seus sobrados que o então estudante da Faculdade de Direito do Recife (que funcionava no prédio do antigo Colégio dos Jesuítas), Antônio de Castro Alves (1847-1871), conclamava a Mocidade Acadêmica naquele seu Improviso, quando da questão Ambrósio Portugal (1867): Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos! Moços! O crime nos cobriu de sangue! Vós os luzeiros do país, erguei-vos! Perante a infâmia ninguém fica exangue Protesto santo se levanta agora, De mim, de vós, da multidão, do povo; Somos da classe da justiça e brio, Não há mais classe ante esse crime novo! Sim! mesmo em face, da nação, da pátria, Nós nos erguemos com soberba fé! A lei sustenta o popular direito, Nós sustentamos o direito em pé! Algomais • Março/2016 109 João Alberto [email protected] Lulu Pinheiro Vendas Pesquisa do Portal Administradores, com cinco mil entrevista, revela que 70% das pessoas se incomodam muito ao serem recebidos numa loja com o tradicional "Olá, posso ajudar?", sempre acompanhado de um insistente sorriso meigo. Som ruim Cada vez mais comum encontrar aviões com serviço de som interno deficiente, não se conseguindo ouvir com clareza o que o comandante fala. Aprendizado Pouco a pouco os recifenses vão entendendo que é fundamental fazer a reserva de mesas nos restaurantes badalados, especialmente nas sextas e sábados. Muita gente ainda acaba voltando da porta por falta de lugar. Problema Os prefeitos das principais cidades do País estão com um problema comum: a alta geométrica do desemprego tem obrigado muita gente a abandonar planos de saúde e escola particulares dos filhos. Isto acarreta forte aumento nos custos da saúde pública e nas escolas municipais. Brilho feminino Silvana Aguiar Arruda herdou do pai, Severiano Aguiar o gosto pelo trabalho no turismo; da mãe, Glorinha Aguiar, a elegância, o dinamismo. Casada com Sérgio Arruda, forma um dos casais mais queridos da nossa sociedade. Depois da aposentadoria do pai, assumiu o comando da Sevagtur, uma das maiores agências de viagens do Estado, onde faz um trabalho dos mais competentes, com destaque para os grandes grupos que leva, todos os anos, para férias na Disney e excursões exclusivas no Carnaval. Faz parte de um grupo que constantemente realiza excursões de bicicleta, por roteiros charmosos na Europa. E é também, excelente anfitriã, especialmente em festas que faz na sua casa de Toquinho. Sucesso de Miriam Depois de atuar na assessoria do pai, Julião Konrad, Miriam Konrad Viezze partiu para carreira solo e faz sucesso com a filial do The Black Angus que comanda no Shopping Recife, com espaço do restaurante e da loja de vinhos. E tem outros grandes projetos para este ano. Eudes Santana/Divulgação SILVANA AGUIAR ARRUDA Pernambucanidade Dois pernambucanos que atuaram na Ambev de Pernambuco ocupam postos chaves na empresa atualmente. Ricardo Melo, depois de trabalhar no Canadá e Estados Unidos é o novo vice-presidente nacional e Marcelo Freitas assumiu a diretoria Nordeste, que tem sede em Salvador. 110 Algomais • Março/2016 Miriam Konrad Viezze Roberto Ramos O que se comenta... Bacharéis Funcionam atualmente no Brasil mais de mil cursos de direito autorizados pelo Ministério da Educação. Só em São Paulo são 250. Em Pernambuco, 32, mas só três receberam o selo de qualidade da OAB: Damas, UFPE e Unicap. THIAGO NORÕES Moto Nova sede de Suape O técnico do Santa Cruz, Marcelo Martelotti, costuma ir para os treinos da equipe a bordo de sua poderosa moto, que usa também nos seus passeios na cidade. Garante que pilota com toda precaução no trânsito. O secretário Thiago Norões acompanha as obras de conclusão da nova sede de Suape, no seu complexo industrial e portuário. O prédio tem uma bela arquitetura e até um heliponto, que vai facilitar a visita de empresários que pretendam investir no espaço. ... por aí QUE a Sierra, uma das mais tradicionais lojas de móveis do Recife, encerrou suas atividades. QUE apesar da fiscalização, muitas motos cinquentinhas continuam circulado sem placas. QUE o grupo Carvalheira ocupou espaço de destaque no segmento de promoção de eventos no Recife. QUE Jarbas Vasconcelos Filho desistiu de se candidatar a vereador do Recife em outubro QUE não foi para frente o projeto da prefeitura de incentivar a construção de edifícios garagem no centro da cidade. LASER FOTONA A MAIS EFICIENTE TECNOLOGIA PARA REJUVENESCIMENTO, DEPILAÇÃO DEFINITIVA, TRATAMENTO DE VASOS, ESTRIAS E CICATRIZES. COOLSCULPTING APARELHO MAIS POTENTE E SEGURO PARA TRATAMENTO DE GORDURA LOCALIZADA EXILIS MELHORES RESULTADOS PARA O TRATAMENTO DA FLACIDEZ FACIAL E CORPORAL PLATAFORMA ETHEREA - LASER E LUZ INTENSA PULSADA PARA TRATAMENTO DE MANCHAS E REJUVENESCIMENTO TRICOSCOPIA DIGITAL ESTUDO DO COURO CABELUDO PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA CALVÍCIE PREENCHIMENTO FACIAL TERAPIA FOTODINÂMICA TRATAMENTO DE LESÕES MALIGNAS E PRÉ MALIGNAS TOXINA BOTULÍNICA TRATAMENTO DE RUGAS, ASSIMETRIA E PARALISIA FACIAL E HIPERIDROSE (SUOR EXCESSIVO) MICROAGULHAMENTO TRATAMENTO DE CICATRIZES, REJUVENESCIMENTO E QUEDA DE CABELO Av. República do Líbano, 251, Sala 2105, Empresarial Rio Mar - Torre C Pina, Recife-PE, 51110-160 Algomais • Março/2016 111 F: 81. 99192.4530 / 99294.6055 / 3423.7919 memória pernambucana O mais pernambucano dos alagoanos ou o mais alagoano dos pernambucanos? Marcelo Alcoforado P ara ambas as questões a resposta é afirmativa. Aldemar Paiva é honra e glória de Alagoas e Pernambuco, protagonista de um inesquecível caso de dupla naturalidade. Caso começado cedo, diga-se, quando ele, militar, foi transferido de Maceió para o Recife. Aqui, dia a dia, se foram distanciando os sons das ordens-unidas, dando lugar aos que vinham da Rádio Clube de Pernambuco. Foi naquela emissora que ele deu os seus primeiros passos como radialista e, para começar, enfrentou a árdua missão de substituir ninguém menos que Chico Anysio. Deu conta do recado, e com perfeição. Tanta, diga-se, que de lá para cá só conheceu o sucesso, tornando-se um dos mais disputados profissionais do mercado, inclusive fora do meio radiofônico. Afora haver sido produtor, apresentador e diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, ele teve igual sucesso nas rádios Tamandaré e Jornal do Commercio, na TV Rádio Clube, onde foi diretor de teleteatro, e na TV Jornal do Commercio, onde foi apresentador. Registre-se, igualmente, que ele manteve coluna no jornal Fatorama, de Brasília, e 112 Algomais • Março/2016 foi redator da Golden Publicidade, na época a mais importante agência de propaganda do Estado. Fora do meio de comunicação, presidiu a Empresa Metropolitana de Turismo, planejou e instalou a Empresa Cearense de Turismo, atuou como ator e diretor do Teatro de Amadores de Pernambuco e dirigiu o Museu Murillo La Greca. Um homem de valor, não é mesmo? – mas ele foi, essencialmente, um homem de profunda sensibilidade. Assinou mais de 70 composições musicais, em meio a elas Saudade e Me abufelei, frevos-canção. Fez também Pajuçara, homenagem à bela praia maceioense, onde, dizia a letra, havia mais encanto, mais luz. Em parceria com o maestro Nelson Ferreira, compôs Frevo da saudade e Sopa no mel – frevos, Brasil campeão do mundo – hino, Elegia a Calheiros – canção, Se me viste chorar – bolero, entre outras. Notou a versatilidade dos gêneros musicais? No rádio, ele reinou. Basta dizer que, no horário, foi líder de audiência durante 25 anos ininterruptos, com o programa diário Pernambuco, você é meu. E não foi seu único sucesso. Credite-se-lhe igualmente Dona Pinoia e seus brotinhos, Festa no varandão, O céu é o limite, Campeonato das cidades... Aldemar Paiva também escreveu livros e publicou seis: O caso eu conto, Monólogos e outros poemas, A chegada de Nelson Ferreira ao céu, Gilberto Freyre descobridor do Brasil e A saga do 44 espada d’água. Com muita razão, pois, ele foi membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, sócio honorário da Academia Maceioense de Letras, e foi homenageado com os títulos de Cidadão do Recife, Cidadão de Pernambuco, Memória Viva da Cidade do Recife, e o Troféu Cipriano Jucá, da Academia Maceioense de Letras. Peças teatrais? Também escreveu, bastando registrar Auto do Batizado, um especial da Rede Globo sobre a Inconfidência Mineira. Que tal conhecer agora o Aldemar Paiva poeta? Para falar dele, nada melhor do que sua própria poesia. Como este monólogo: Eu não gosto de você Papai Noel! | Também não gosto desse seu papel de vender ilusão pra burguesia. | Se os meninos pobres da cidade soubessem o desprezo que você tem pelos humildes; pela humildade, eu acho que eles jogavam pedra em sua fantasia. I Talvez você não se lembre mais, eu cresci me tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que passou… | Eu lhe escrevi um bilhete pedindo o meu presente… a noite inteira eu esperei contente…| Chegou o sol, mas você não chegou. | Dias depois meu pobre pai cansado me trouxe um trenzinho velho, enferrujado, pôs na minha mão e falou: Tome filho, é pra você. Foi Papai Noel que mandou! | E vi quando ele disfarçou umas lágrimas com a mão. | Eu inocente e alegre nesse caso, pensei que meu bilhete, embora com atraso, tinha chegado em suas mãos no fim do mês. | Limpei ele bem limpado, dei corda, o trenzinho partiu, deu muitas voltas… O meu pai então se riu e me abraçou pela última vez. | O resto eu só pude compreender depois que cresci e via coisas com a realidade. | Um dia meu pai chegou assim pra mim como quem tá com medo e falou: -Filho, me dá aqui seu brinquedo, eu vou trocar por outro na cidade. | Então eu entreguei o meu trenzinho quase a soluçar, como quem não quer abandonar um mimo, um mimo que lhe deu quem lhe quer bem | Eu supliquei… Pai! Eu não quero outro brinquedo, eu quero meu trenzinho… Não vai levar meu trem pai…! | Meu pai calou-se e de seu rosto desceu uma lágrima que até hoje creio tão pura e santa assim só Deus chorou, ele saiu correndo, bateu a porta assim, como um doido varrido. | A minha mãe gritou: -José! José! José… Ele nem deu ouvido, foi-se embora e nunca mais voltou…| Você! Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou… | Sem pai e sem brinquedo, Afinal, dos meus presentes não há um que sobre da riqueza de um menino pobre, que sonha o ano inteiro com a noite de Natal! | Meu pobre pai, malvestido, pra não me ver naquele dia desiludido, pagou bem caro a minha ilusão… | Num gesto nobre, humano e decisivo, ele foi longe demais pra me trazer aquele lenitivo; tinha roubado aquele trenzinho do filho do patrão! | Quando ele sumiu, eu pensei que ele tinha viajado, só depois de eu grande minha mãe em prantos me contou… que ele foi preso, coitado! E transformado em réu. | Ninguém pra absolver meu pai se atrevia. Ele foi definhando na cadeia até que um dia, Nosso Senhor… Deus nosso Pai…Jesus entrou em sua cela e libertou ele pro céu. Aldemar Buarque de Paiva, justo orgulho de alagoanos e pernambucanos, nasceu em Maceió, em 20 de julho de 1925 e repousa eternamente no Recife, desde 4 de novembro de 2014. Poeta, cordelista, radialista, jornalista, compositor, produtor artístico e publicitário, foi um homem de múltiplos talentos e incontáveis admiradores. Algomais • Março/2016 113 última página frAncisco cunha A vitória do acaso [email protected] P or formação, desde pelo menos o primeiro dia de faculdade, e também por dever de ofício da consultoria, tenho lidado a cada dia com planejamento há mais de 40 anos, seja de projetos, seja de clientes e parceiros, seja da TGI e, como não poderia deixar de ser, seja de minha própria trajetória pessoal e profissional. Ao longo desse tempo, muitas coisas aconteceram como resultado do planejado, outras não aconteceram e algumas mais aconteceram mesmo sem terem sido planejadas. Dentre essas últimas, do ponto de vista pessoal, nunca me passou pela cabeça, como algo planejado com antecedência, nem fazer exposição nem publicar um livro de fotografias, bem como nunca me passou pela cabeça participar do projeto de uma revista, menos ainda de um projeto vitorioso que hoje completa 10 anos como o da Algomais. Da emergência das coisas não planejadas mas bem sucedidas, tirei o ensinamento que passei a adotar no meu dia a dia de planejamento e pode ser enunciado do seguinte modo: “planeje o mais que puder, mas deixe sempre a porta aberta para o acaso”. Em não poucas situações ele se impõe de forma avassaladora. No que diz respeito à Algomais, foi um acaso e tanto que terminou se transformando num projeto de absoluto sucesso. Uma revista que, desde o seu número zero, se pauta pela defesa do nosso Estado e que, de fato, pratica a missão que definiu para si: “Prover com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos SF 010 14 af_an_rodapé.pdf 114 Algomais • Março/2016 1 06/10/14 e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.” Além dessa fidelidade absoluta à missão, outro fator distingue a Algomais no meio jornalístico pernambucano: o funcionamento ininterrupto, desde o seu primeiro número em 2006, do No que diz respeito à Algomais, foi um acaso e tanto que terminou se transformando num projeto de absoluto sucesso Conselho Editorial que, de fato, pautou, avaliou e qualificou, com suas reuniões mensais, cada uma das 120 edições que hoje se completam. Na condição de colunista mais antigo da revista (desde o número zero), nesta mesma Última Página, presidente licenciado do Conselho Editorial e sócio da SMF/TGI, editora da Algomais, só tenho que me congratular orgulhosamente com o acaso. Não fora ele, eu não estaria participando desta experiência fantástica. 06:49 PM Consultor e arquiteto Algomais • Março/2016 115 116 Algomais • Março/2016