temas livres - Rumo Aventura

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temas livres - Rumo Aventura
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TEMAS LIVRES
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“SURFE NÃO É SÓ ESPORTE, É ESTILO DE VIDA”: POR UMA
ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS ESPORTIVAS NA NATUREZA
Marília Martins Bandeira
Universidade Federal de São Carlos - São Carlos, São Paulo, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
O objetivo deste trabalho foi compreender como os praticantes de
modalidades esportivas se identificam enquanto membros de uma mesma
coletividade, ou seja, se há uma identidade cultural no esporte, e no que ela
consiste quando se trata de um esporte praticado na natureza, em específico o
surfe. Entretanto, onde se esperava encontrar formulações sobre o esporte e a
prática competitiva do surfe, surge um novo interesse de pesquisa trazido pelo
campo. A idéia de que há esportes que não são só esportes. Estas práticas
que dizem seus praticantes serem mais do que físicas e/ou competitivas, ao
contrário do que diz a sociologia do esporte, são práticas entendidas por eles
não como determinadas por sua classe social ou inseridas num sistema que
articula outras práticas e consumos, mas como determinantes de todas as
práticas e consumos possíveis ou adequadas para um surfista. Concluiu-se,
então, que na formulação dos surfistas, a prática do surfe não é parte de um
estilo de vida antes dado, ela vem primeiro, transforma e determina as
condições para um estilo de vida próprio ao surfe que é aquele que relaciona
natureza, saúde e felicidade.
Palavras chave: surfe, estilo de vida e antropologia
Introdução
O título do presente artigo é uma frase de Jojó de Olivença, surfista
profissional há vinte anos, bicampeão brasileiro e integrante da elite do surfe
mundial por 5 temporadas, que diz ter sustentado a si e à família com o surfe,
desde então, e ter realizado o sonho de um estilo de vida simples, saudável e
próximo à natureza. Esta frase é formulação constante não só entre os
surfistas, mas presente em matérias, filmes, entre outros materiais, que tem o
surfe como tema.
Quando me interessei pelos praticantes de surfe, observando surfistas
amadores que saíam todas as semanas, nos mais diversos horários, em seus
carros cheios de pranchas no teto do estacionamento do departamento no qual
cursava a graduação na Universidade de São Paulo, munida de um projeto de
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iniciação científica1 passei a me juntar a estas rápidas incursões para
compreender como vinha a ser a prática de surfe para um paulistano, como se
davam a construção de identidades, valores e rotinas necessárias para levá-la
a cabo.
Depois de um tempo de pesquisa e com algumas questões por resolver
imaginei que não haveria metodologia mais adequada do que percorrer a
trajetória dos surfistas, ou seja, me transformar numa praticante, para poder
acompanhá-los mar à dentro e, assim, diminuir a influência de um olhar
distanciado, de quem os vê e os estuda a beira da praia. Iniciativa semelhante,
porque inspirada, naquela tomada por Loïc Wacquant (2002) em sua pesquisa
sobre o boxe nos subúrbios de Chicago.
Esta primeira fase da pesquisa trouxe elementos para pensar o contato
com a natureza não só como motivação central de adesão à modalidade, como
também relacionado à idéia de saúde e equilíbrio, e a possibilidade de mantêlos com a adoção de um estilo de vida, que é o que o surfe proporciona.
Naquela época, eu havia estudado surfistas amadores2 e começava a
me perguntar sobre que questões teriam os surfistas profissionais. Então,
depois de aprender a surfar, passei a acompanhar o campeonato nacional de
surfe, o Super Surf3, presencialmente em sua edição de 2005, observando as
rotinas do surfe competitivo e conversando com os competidores.4
1
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo
financiamento desta pesquisa na modalidade Pibic.
2
A primeira fase da pesquisa está apresentada em BANDEIRA, M. M.; Rubio, K. .
PERSPECTIVAS CULTURAIS E SOCIAIS DO SURFE. Revista Brasileira de Educação Física
e Esporte, no prelo.
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Agradeço à comissão organizadora do Super Surf 2005, especialmente a Andrea Cortez e
Evandro Abreu, por me permitirem acesso irrestrito ao evento, incluindo as áreas destinadas
apenas aos atletas.
4
Talvez a compreensão corporal deste tipo de desempenho, o aprimoramento minucioso da
destreza para um nível profissional do surfar e o acompanhamento dos surfistas dentro da
água, como na primeira etapa da pesquisa, trouxesse novos e relevantes dados para esta
discussão, contudo a configuração por baterias, entrada no mar de 2 à 4 surfistas por vez em
áreas isoladas por bóias, nas quais a organização do campeonato não permite a entrada de
não competidores não permitia que eu os acompanhasse no momento da prática a não ser
como todos os espectadores, olhando da areia, às vezes com binóculos e ouvindo o narrador
destacar os acontecimentos tidos como mais importantes e a apreciação dos juízes ao
microfone. Às vezes entre os competidores de baterias anteriores ou posteriores ouvia
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Verificar se é possível pensar um sentido para a prática e uma
identidade cultural no esporte a partir da experiência do surfista era o intuito da
pesquisa. A meu ver, os esportes praticados na natureza passaram a ter cada
vez mais apelo na vida social e divulgação na mídia, mas ainda não estavam
na agenda da antropologia brasileira. Este diferencial na prática esportiva, o
desejo de estar na natureza, configurou-se como interesse principal desta
pesquisa.
Objetivos
O objetivo primeiro deste trabalho foi, então, compreender como os
praticantes de modalidades esportivas se identificam como membros de uma
mesma coletividade, ou seja, se há uma identidade cultural no esporte, e no
que ela consiste quando se trata de um esporte praticado na natureza, em
específico o surfe. Entretanto, ao longo do desenvolvimento do projeto, o
campo apresentava constantemente a noção de estilo de vida ao invés da idéia
de identidade. Apesar do querer “tornar-se surfista” aparecer como algo que se
deseja ser, o “como se quer viver” do surfista passou a ser investigado.
Métodos
Na primeira fase da pesquisa estudei surfistas amadores adultos,
moradores de São Paulo, que surfavam em suas folgas, horários livres ou
finais de semana, mas manifestavam o desejo de um dia viver para e do surfe.
Ou seja, entre outras coisas, morar na praia. Como alternativa alguns deles
passaram a trabalhar nas mais variadas funções em revistas ou sites
especializados em surfe, outros em confecções ou lojas de surfwear5, outros se
arriscaram a abrir pousadas ou restaurantes no litoral, escolinhas de surfe,
tornam-se shapers6, outros ainda, emigraram para Austrália e EUA (Califórnia
comentários e reações a cada manobra e condição de onda e histórias. Os momentos de treino
poderiam ter sido acompanhados mais de perto se eu não tivesse sofrido uma cirurgia de
joelho nesta fase da pesquisa.
5
Moda surfe, indústria das marcas de roupas especializadas para surfe ou para o visual do
surfista. O modo de vestir dos surfistas é muito peculiar, as roupas devem responder a
exigências específicas da prática e do meio, tais como conforto, mobilidade, leveza, resistir ao
sol e à água salgada, secar rapidamente, proteger do frio ou se adequar ao calor excessivo.
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Do inglês to shape, ou dar forma, aquele que confecciona a prancha.
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ou Havaí) para lavar pratos ou trabalhar como pedreiros, mas estarem
próximos as “melhores ondas do planeta”, ou, ao menos, ficando em suas
cidades de origem, passaram a trabalhar em algo não relacionado, mas
viabilizaram mais e melhores viagens de surfe. Mas percebi durante todo o
campo um desejo, um tanto melancólico, de se ter tido talento ou oportunidade
para tornar-se surfista profissional, enquanto era tempo.
A descoberta do surfe aparece, então, como opção deliberada não
apenas por uma prática de lazer, ou de esporte, mas por toda uma maneira de
viver que se libera com a primeira experiência. Como caracteriza esse estilo de
vida que diz ter o surfista profissional? Que maneira de viver tem o surfista que
pôde chegar ao limite de sua intenção de viver para e do surfe? Ou ainda,
como um campo pouco explorado como o surfe pode fazer repensar a teoria
antropológica para o esporte?
Os questionamentos supracitados remetem à dificuldade de estudar o
surfe sem um quadro teórico já delineado. Sendo esta pesquisa e o texto que a
reporta antes um exercício de aproximação e de entendimento do que um
artigo com teses bem definidas7, não encontrei outra maneira, senão realizar
uma etnografia e lançar mão de muitos trechos do caderno de campo e
transcrição de conversas gravadas para dar demonstrar o que se propõe.
Resultados: Você surfa de quê? Uma descrição do campo
Para melhor compreensão da passagem de um objetivo de pesquisa a
outro, apresentaremos o quadro geral do surfe no Brasil. Tentando me situar no
campo percebi que existem distintas maneiras de surfar. O surfe de bodyboard
utiliza a menor prancha ligada ao surfista pelo braço e o impulso de pés de
pato, nesta modalidade se pega a onda deitado. O de longboard é a
modalidade de surfe em pé na qual é usada uma prancha maior, de no mínimo
9 pés, em um estilo lento e elegante de surfar e as manobras são entendidas
como clássicas por remeterem as origens havaianas da prática e às primeiras
manobras desenvolvidas por surfistas americanos quando da adoção da
7
O desdobramento de pesquisa que apresento neste artigo é uma releitura dos dados à luz de
discussões com Daniel Ramos da Fonseca, João Paulo Aprígio de Moreira e Messias Basques,
novos colaboradores a quem devo meus agradecimentos.
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modalidade, pode-se remar deitado ou de joelhos na prancha e a prancha está
ligada à panturrilha do surfista. O stand-up é o surfe em que se rema sempre
em pé na maior das pranchas com auxílio de um remo e assim se pega a onda.
Mais recentemente o tow-in, surfe de ondas gigantes, foi desenvolvido com
auxílio do jet ski que reboca o surfista já em pé, e com os pés fixos na prancha
por alças, para uma onda tão grande que ele não teria velocidade para pegar
“na remada”. O surfe de shortboard ou surfe “de pranchinha” pode ser
considerado o mais popular, aquele do qual temos a imagem mais nítida. Com
uma prancha que tem mais ou menos a sua altura, conectada ao tornozelo, o
surfista rema deitado e desce a onda de pé. Pelo tamanho do equipamento, em
relação ao longboard, ele adquire mais velocidade e mobilidade na parede da
onda e assim maior variabilidade de manobras entendidas como mais radicais.
O windsurf utiliza o vento por meio de uma vela para promover o deslocamento
do surfista que, sempre de pé, a manipula, assim, ele pode ir além das ondas
em mar aberto, velejar. E no kitesurf se utiliza uma pipa para promover o
deslocamento do surfista que, com os pés fixos na prancha, pode realizar
grandes saltos e pequenos vôos acrobáticos. Há quem diga que o elemento
central nas duas últimas modalidades não são as ondas, mas o vento. E que,
portanto, seriam alternativas de prática para dias sem onda, assim como o
skate, o “surfe de asfalto”.
Diante deste grande número de possibilidades do surfar, surgiu
inicialmente a idéia de optar por uma única modalidade para delimitar o campo
de pesquisa. Contudo, notou-se o trânsito de surfistas de uma modalidade à
outra. E o constante interesse dos surfistas por tudo que se assemelhe e se
relacione ao surfe. Outro exemplo não citado acima é o snowboard, que vem
sendo apelidado de surfe de montanha, ou surfe na neve, e cada vez mais
procurado pelos surfistas de mar, principalmente os que vivem uma oposição
rigorosa verão/inverno.
Os surfistas que fizeram parte do campo de pesquisa para este trabalho
foram, então, surfistas profissionais, acompanhados no circuito nacional de
surfe competitivo do ano de 2005. Dos cento e quatro inscritos com quem
convivi, obtive conversas formais registradas por gravador com sete mulheres e
dezessete homens. Embora estes surfistas competissem de pranchinha, vários
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deles relataram praticar outras das suas modalidades, seja por divertimento,
variação para aprimoramento do treinamento, ou para buscar novos e maiores
desafios e prêmios, como é o caso do tow-in. O excerto abaixo ilustra esta
idéia:
Pra mim o surfista completo tem que ter radicalidade, graça, estilo, e
também pegar onda grande. (Fabio Nunes)
O Super Surf, como é chamado, é realizado pela Associação Brasileira
de Surf Profissional (ABRASP). No ano de 2005 o campeonato foi realizado em
cinco etapas das quais a primeira e segunda foram acompanhadas para este
trabalho. A primeira etapa aconteceu na Praia do Rosa, Imbituba (SC) em abril,
a segunda em Maresias, São Sebastião (SP) em junho, a terceira em Itaúna,
Saquarema (RJ) em julho, a quarta na Costa do Sauípe (BA) em setembro e a
quinta e última em Itamambuca, Ubatuba (SP) em outubro. No total de etapas
participaram do campeonato 80 surfistas homens e 24 mulheres. O
campeonato teve transmissão ao vivo pelo canal a cabo Sportv, com patrocínio
da Editora Abril, Volkswagen, TIM e Sandálias Havaianas.
Cada etapa dura em média quatro dias e é agendada de acordo com
boletim meteorológico e previsão de ondas. Entretanto, com a antecedência a
probabilidade de erro é grande e como a competição depende de condições de
ondulação e vento favoráveis a performance dos surfistas, seu início pode ser
adiado em vários dias ou pode ser transferido para outra praia próxima, até que
se julgue satisfatório o quadro para o desempenho dos atletas.
Durante todos os dias da etapa os atletas vêm e vão de seus hotéis e
pousadas de acordo com o horário da sua bateria e se querem assistir a um
amigo ou a um possível adversário. Normalmente em horários de não
competição eles surfam em outros pontos da praia que não o do campeonato
ou saem em busca de outras praias.
A arena do campeonato é composta pelo palanque dos juízes, que
normalmente é bastante alto e imediatamente à frente da área de competição
marcada por bóias, onde o narrador e o dj também se posicionam, sala da
assessoria de imprensa, tenda para os competidores - com massagistas, frutas
e sanduíches naturais, mesas e cadeiras para assistir ao campeonato e local
para descanso -, tendas dos patrocinadores com produtos promocionais e
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materiais de divulgação, banheiros químicos, pódium ou pequeno palco para a
premiação e muito freqüentemente alguma atração temporária como uma pista
de skate, por exemplo, para demonstração de atletas convidados e uso da
população local e espectadores.
Na areia se misturam esportistas, imprensa e público que pode ou não
estar identificado por pulseiras de cores diferentes que determinam seu acesso
a certas partes da arena. Festas normalmente são oferecidas ao final da tarde
na própria arena ou no encerramento do campeonato em um célebre
estabelecimento local. O público disputa ingressos para estes eventos durante
toda a etapa, quando os mesmos são distribuídos.
A música é uma constante. Sempre que não há narração, há música nos
alto falantes. O estímulo sonoro é muito importante para a competição. A
música indica intervalo ou momento da bateria em que não se está pegando
ondas. Um forte apito sinaliza a permissão para entrada no mar, em seguida
um duplo apito indica o início da contagem regressiva dos minutos de duração
da bateria8 e a permissão para pegar a primeira onda, um terceiro apito, duplo,
indica os minutos finais da bateria, e um último apito o término da bateria e a
impossibilidade de se pegar uma onda que contabilize para a pontuação do
surfista. Os surfistas que compõem a bateria, durante a bateria anterior à sua,
retiram com a organização do campeonato lycras9 coloridas, as vestem e se
preparam na areia realizando alongamentos, aquecimentos e/ou observando
as ondas. Eles são identificados pelos juízes pela cor de sua camiseta
(normalmente verde, vermelha, preta, branca, amarela e azul) para a
pontuação.
Discussão: problemas que o surfe coloca às discussões teóricas
Onde se esperava encontrar formulações sobre o esporte e a prática
competitiva do surfe, surge um novo interesse de pesquisa trazido pelo campo.
A idéia de que há esportes que não são só esportes. Estas práticas que dizem
seus praticantes serem mais do que físicas e/ou competitivas, ao contrário do
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Habitualmente dura 20 minutos.
Camiseta justa utilizada para surfar por proteger o tronco do atleta tanto do sol como das
escoriações da parafina.
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que diz a sociologia do esporte, são práticas entendidas por eles não como
determinadas por sua classe social, ou inseridas num sistema que articula
outras práticas e consumos, mas como determinantes de todas essas outras
práticas e consumos, possíveis ou adequadas para um surfista. Ou seja, na
formulação dos surfistas, a prática do surfe não é parte de um estilo de vida
antes dado, ela vem primeiro e determina as condições para um estilo de vida
próprio ao surfe. O surfe transforma.
O surfe na minha vida é como uma dança, fluindo, leveza em cima
das ondas, sensação indescritível. O surfista é uma pessoa muito
zen, por mais que ele possa se mostrar hardcore e tal, aquela coisa
de rock, cheio de corrente, piercing e tatuagem ele tem um lado zen
que só quem tá com a natureza direto que sabe como é gostoso o
esporte que a gente pratica, e como é abençoado. Então, o surfista
tem esse contato com a natureza que o transforma numa pessoa zen.
(Andrea Lopez)
Parece, então, que é o interesse pelos valores que o surfe põe em
circulação, mas mais que isso, o gosto pela experiência corporal do surfe, que
levam à busca por seu estilo de vida. Não seria uma predisposição a estes
valores que encaixa a prática do surfe em um conjunto de outras que com ele
combinam. É o surfe que abre a possibilidade para um estilo de vida totalmente
temático.
Pra mim o surfe é tudo, corre água salgada na minha veia. Tudo na
minha vida gira em torno do surfe, tudo o que eu penso gira em torno
do surfe, é dele que eu tiro o meu sustento, é nele que eu penso em
trabalhar quando eu parar de competir... (Dunga Neto)
O surfe ocupa muito espaço na minha vida, eu tive até que parar de
estudar porque eu viajo demais... O surfe é minha vida, meu trabalho,
meu sustento, é sobre o que eu falo com a minha esposa, é minha
vida praticamente, eu faço tudo em função do surfe, né cara. (Alex
Godoy)
Por exemplo, é o desejo de surfar (e a percepção de um dito talento) que
faz um jovem pobre do sertão de Pernambuco vender uma televisão para
pagar a inscrição de um campeonato ou que o traz para uma república10 à
10
Repúblicas são residências - casas ou apartamentos - em que os moradores, sobretudo
jovens, reúnem-se para diminuir os custos de acomodação, e ao mesmo tempo, constituir um
círculo de afinidade.
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beira-mar no Rio de Janeiro ou uma surfhouse11 no litoral norte de São Paulo e
conseqüentemente o leva a conhecer o mundo. Ou então, é o surfe que faz
com que um herdeiro abdique de dar continuidade aos negócios da família, ou
um diplomado abra mão da carreira para viver modestamente, em algum ponto
de surfe paradisíaco, seja uma cabana no northshore do Havaí na década de
60, ou uma pequena pousada na Bahia ou em Santa Catarina atualmente12.
Nos dois casos o surfe é entendido como operador da felicidade e do que se
quer para si na/da vida.
Como toda pessoa precisa se alimentar eu preciso surfar, sou
administrador de empresas, mas a minha formatura virou um titulo só
pra prestar contas a sociedade. (Dunga Neto)
Eu poderia estar ganhando milhões num escritório, mas eu prefiro
estar ganhando o que eu ganho só pra viver esse momento do surfe
que é muito importante. (Alex Godoy)
Temos, então, que “a própria técnica corporal extrapola suas fronteiras
de uso e vai moldar outros aspectos da vida social de seus praticantes”
(BANDEIRA e RUBIO, no prelo, p. 28). O surfe, então, promove mudança, o
surfista se adéqua às suas exigências, mas também se realiza com o que sua
prática proporciona.
A gente passa muita dificuldade, não tem muito patrocínio, morar fora
de casa, longe da família, mas ao mesmo tempo é um privilégio muito
grande, sensação gostosa, paz, harmonia com deus, porque deus
fala pelas ondas, a voz dele vem pelo mar, a gente tem um grande
prazer e uma grande satisfação que não tem como falar porque você
tem que saber o momento de ler uma onda, de dar uma batida, de
estar dentro de um tubo, a sensação de estar dentro de um tubo,
nenhum milionário, nem nada pagaria. Viver do surfe é isso, saber
lidar com o público e consigo mesmo, amar uma prancha e dar valor
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Casa oferecida pelo patrocinador aos surfistas de sua equipe, similar a um centro de
treinamento, é localizada em praias com boas condições para o surfe ou em locais específicos
onde acontecem temporadas de competição ou peculiares condições para a fabricação de
imagens excepcionais. Isto possibilita o treinamento diário e convívio entre atletas com
diferentes experiências, às vezes acompanhados por equipe técnica, às vezes acompanhados
por equipe de produção responsável pelas fotografias e filmes promocionais em que o atleta
patrocinado exibe seu melhor desempenho utilizando os equipamentos e roupas da(s)
marca(s) que o sustenta.
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A trajetória de Mark Lund, apresentada na segunda parte deste artigo, exemplifica esta
formulação.
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a ela, porque ela vai te trazer coisas que você nem imagina: da volta
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ao mundo ao prazer de dropar uma onda. (Flavio Costa)
Surfe é um esporte muito ingrato porque se lida muito com o fator
sorte, porque você tem vinte minutos pra pegar duas ondas boas que
nem sempre aparecem. Mas eu sou muito feliz mesmo com essa
ingratidão eu só mudaria uma coisa, começar a surfar mais cedo
ainda. (Dunga Neto)
É claro que esta mudança de vida, percepção das dificuldades e
simultânea satisfação pessoal com o esporte não é novidade para atletas de
alto rendimento, o encontramos entre praticantes das mais diversas
modalidades14. Contudo, esta questão aparece com certas peculiaridades na
fala e no cotidiano dos surfistas porque eles mesmos se preocupam em se
diferenciar dos praticantes de outras modalidades esportivas, tidas como
convencionais ou tradicionais.
Surfistas são atletas que se preocupam não só com o bem do
esporte, mas com todo um estilo de vida saudável que é o que eles
tem. O surfe é das coisas mais importantes da minha vida, profissão
e hobbie. (Andrea Lopez)
É freqüente encontrar surfistas que reivindicam para a prática o estatuto
de esporte. Muitos dos que ainda competem trabalharam no projeto de
profissionalização do surfe no Brasil e trazem em suas falas a importância
desta etapa da história da modalidade para sua configuração atual e para
viabilizar uma carreira ao praticante talentoso, isto é, permitir que se viva
exclusivamente de surfe, que é a aspiração de todo surfista. Entretanto,
simultaneamente a este discurso encontramos outro que aproxima o surfe de
uma prática artística, diferente do que se conhece como esporte, ela se
pretende mais livre e mais expressiva.
Aí entra aquela questão de arte e etc. O surfista é uma pessoa
extremamente sensível. Mais sensível do que a média. Mais sensível
do que o jogador de basquete. Quem é o surfista? O surfista é essa
pessoa sensível, na minha opinião, ele é um artista nato que
escolheu o surfe como seu meio, sua maneira de expressão. Ele
poderia ter escolhido tela, fotografia, pintura, música, etc. Por algum
motivo ele é o artista com um elemento físico um pouco mais
carregado, então, ele precisa da expressão artística através do físico.
Talvez, mais ou menos como um bailarino, né? Ele não se satisfaz só
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Do inglês to drop, mesmo que descer, correr, pegar uma onda.
Jogadores de futebol em Rial (2006) e brasileiros na NBA em Palmiéri (2009).
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sentado em frente a um quadro pintando. Apesar, que você pode
pegar muitos dos surfistas, como eu falei, tem hobbies de pintura
essas outras coisas assim, mas a relação dele com a arte é alguma
coisa mais física. Então eu acho que ele é um artista que nasceu
desse jeito, se ele não fosse ser surfista ele seria um pintor ou
músico, ou arquiteto, alguém que iria trabalhar com o lado direito do
cérebro mais que o lado esquerdo. Ah! Por isso que o pessoal tira
sarro que ele não sabe falar. Porque? Porque ele não opera com
esse lado do cérebro! Aliás, eu acho que um grande crime foi feito em
classificar surfista como esportista, porque você põe ele junto com
esse painel de atletas olímpicas com os valores olímpicos, etc; e ele
destoa, ele é o patinho feio da história. Você tira ele, o patinho feio,
daquele cenário, e põe ele junto com o Van Gogh, Matisse, Picasso,
ele se encaixa perfeitamente. Porque? Porque ele não é um atleta,
ele tá do outro lado da cerca. E a injustiça é classificar ele como
atleta. Nisso se dá o engano, classificar ele como atleta. (Mark Lund)
No período desta pesquisa aconteceram as primeiras edições da Mostra
Internacional de Arte e Cultura Surf realizado pela revista Alma Surf em São
Paulo. Mais tarde o evento passou a ser itinerante, e a se chamar Festivalma
em 200915. Participar deste evento, primeiro na Bienal do Ibirapuera, depois no
Museu da Imagem e do Som e anualmente em suas edições subseqüentes até
a Oca e de volta à Bienal me permitiu compreender a dimensão do que queria
dizer Mark Lund com o trecho acima.
Fossem surfistas anônimos ou profissionais com os quais eu já havia
conversado, conheci nestas ocasiões, surfistas-escritores, surfistas-músicos,
surfistas-pintores, surfistas-fotógrafos, surfistas-escultores, surfistas-produtores
de cinema. E digo surfistas-algo porque sua arte é posterior e inspirada no
surfe. Suas obras sempre temáticas configuraram, se não se pode chamar
“escolas”, estilos, correntes, cada um em sua forma de arte, como a
surfmusic16, por exemplo. Isto reforça a idéia que eles têm de que tudo passa a
se dar em torno e por causa do surfe. Surfe é arte. Arte é surfe. E a arte de
surfar e de viver se confundem.
O surfe fez eu ser um cara mais calmo, talvez mais reflexivo, talvez
mais sentimental, vamos dizer assim, né, devido a esse contato
intenso com a natureza. O surfe é tudo pra mim, tudo que eu fiz e
tudo que eu devo fazer por um bom tempo. Talvez a única coisa com
a qual eu pudesse comparar o surfe seria a música. Porque ambos
15
Nesta edição houve um desdobramento em: Festival Osklen de Cinema, Mostra Nixon de
Arte e Cultura, Festival Billabong de Música e Salão Internacional do Surf. Proposta e
programação do evento podem ser acessadas em: <http://www.festivalma.com.br>
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Estilo subdividido em surf rock como dos The Beach Boys e, mais atualmente, Ben Harper; e
surf pop como o de Jack Johnson e Donavon Frankenreiter e no Brasil, Armandinho.
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são formas de expressão onde a gente acaba passando a nossa
verdadeira personalidade, e mesmo que tentasse tampar alguma
coisa não conseguiria. O surfista jamais consegue tampar o estilo que
ele tem. (Teco Padaratz)
Além da considerada “plasticidade” da modalidade e beleza do cenário
natural que inspira obras de arte, outra característica apontada como
diferencial pelos surfistas é a convivência entre ídolos e admiradores, entre
diferentes gerações,
não importa se você surfa a 2 meses ou a 15 anos, o surfe é um
esporte que tem muita magia porque ele une profissionais e
amadores dentro d’água, é muito fácil você treinar do lado do seu
ídolo, isso em outros esportes é difícil acontecer; ele une gerações...
e o cuidado com a prancha; fora a beleza do surfe em geral que é.
(Andréa Lopez)
E o compartilhar de sensações de intensidade semelhante por
praticantes em diferentes fases da trajetória do surfista, que descreve Andrea
Lopez, reaparece freqüentemente em sua fala como um dos diferenciais do
esporte, no excerto abaixo ela está relacionada à busca da onda perfeita que é
outro fator a ser considerado.
A onda perfeita é muita felicidade, satisfação pessoal muito grande
quando tu sai da onda e quebrou, quando tu pegou um tubo irado,
mesmo pra gente que é surfista profissional é muito raro, então é
muita felicidade mesmo, isso é legal do surfe, deve ser a mesma
sensação que um surfista que tá aprendendo. Talvez quando ele
17
consegue botar no corte e dar uma batidinha , a gente vai sentir a
mesma coisa apesar de estar em níveis completamente diferentes de
performance mas a satisfação interna da gente vai ser igual. (Marcelo
Trekinho)
Além do não isolamento e não diferenciação por categorias muito
segmentadas existem outros aspectos que, para os praticantes, diferenciam o
surfe de outras modalidades esportivas:
É um esporte diferente de todos os outros esportes, se você vai pro
futebol, você depende só de você, é uma bola, vai pra um lado, vai
pro outro, no vôlei de praia também, então no surfe, ao meu ver, você
depende do fator sorte. Se você tá ali na bateria e se não entrar onda
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Manobra entendida como de nível primário, normalmente a primeira que se aprende.
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pra ti, não adianta nada tu estar bem posicionado, bem condicionado,
então é um esporte bem distinto de qualquer outro. (Dunga Neto)
Outra característica que diferencia o surfista é o contato com a natureza.
Ela vem articulada a outra constante em campo, a preocupação em legitimar a
prática. O que é visto como vagabundagem e alienação por parte dos não
surfistas, pode ser um modo de viver que, não é apenas avaliado como mais
legal pelos surfistas, mas tem relação com um problema que não só está em
voga, como é uma urgência real para eles, a crise ecológica planetária:
O surfista é aquele que desliza em uma onda, que luta pela
preservação do mar, que tem conscientização de preservar a
natureza e que respeita os outros. (Pedro Muller)
O surfista é um cara que representa a sociedade lá na rebentação, no
mar, ele é o cara que pesquisa, estuda a filosofia das ondas, vamos
dizer assim, como quebram as ondas, como se movimenta o mar e o
poder físico e espiritual que ele tem sobre a gente. O surfista é esse
cara como representante da sociedade. E ele é um cara que quer ser
ouvido e compreendido. A ideologia do surfista é ter que aprender a
ter um respeito à natureza, e é um respeito cúmplice, que poucas
pessoas tem. Ele consegue tirar usufruto da natureza sem causar
dano nenhum. Ele escorrega sobre as ondas. E isso faz ele descobrir
uma maneira em que a natureza traz pra ele explicitamente felicidade
e satisfação. E, talvez, ele seja mal compreendido porque ele não
tenha palavras pra comunicar isso pras pessoas, entendeu? Ele não
consegue arranjar um maneira de explicar o quanto é bom surfar. E
daí ele é tido como um alienado. Talvez as pessoas não consigam
compreender ele justamente por ele não conseguir explicar o quanto
é maneira a vida que a gente leva. Mas, todo mundo no fundo, no
fundo gostaria de saber como é a vida do surfista porque ele tá
sempre sorrindo, sempre sarado, sempre a fim de pegar onda,
sempre tá feliz. O que a gente quer é mostrar pras pessoas que o
surfe não é uma pejoração, o surfe é um esporte muito sério, você
tem que aprender a ter uma convivência muito, muito intensa com a
natureza, e se você não tem isso normalmente você se dá mal, e
talvez falar pras pessoas aprenderem a ter o mesmo respeito pela
natureza que a gente tem, eu sei que é um caminho difícil e tudo
mais, mas é instintivo, é isso o que o surfista sempre quer passar, a
vontade de estar livre no mar pegando onda, e pra isso ele sabe que
ele tem que preservar a praia, preservar as ondas, preservar a
natureza. Até por uma questão espiritual... (Teco Padaratz)
É no contato com a natureza, mas não somente, que consiste o
argumento de que o surfe não é só esporte. Ele é essa fina sintonia com o
oceano, que é promotora de felicidade e que por isso engendra todo um estilo
de vida que a viabilize para que o surfista possa se manter feliz. Competir é
uma necessidade, ou uma preferência, mas não primeira ou única motivação
do surfista.
23
O surfista é aquele cara que ama o que tá fazendo, que ama tá
dentro d’água, sabe? Eu sou surfista profissional, que faz o que
gosta, que ama surfar e que via no surfe uma forma de trabalhar e de
viver e construir minha vida. O surfista é o cara que independente de
tá competindo ou não... não é aquele cara que tá fazendo uma coisa
só pra mostrar que sabe fazer, sabe? É quem gosta de estar ali,
quem gosta de sentir a água, de surfar a onda de sentir essa energia
da onda. Eu acho que um cara que compete e tal, e é só competitivo
e tudo, não deixa de ser surfista, só que pra mim o surfe mesmo é
essa gozação, essa gozação de você querer surfar na onda, andar na
onda, sensação que só quem surfa vai sentir e vai saber. (Pedro
Henrique)
Tem muitos surfistas locais que botam a gente pra fora, e isso pra
mim não é ser surfista, é ser um cara fechado pro mundo. Ser surfista
é você poder fazer amizades, é estar com a galera que você gosta,
esse é o fim do surfe, é isso que faz o cara ser surfista, não o cara
ser campeão mundial, isso não é, mas o que ele tem dentro dele é
mais importante. (Alex Godoy)
A comunhão com a natureza, com a magia das ondas, a preferência por
destinos inóspitos, a simplicidade nas viagens, a felicidade encontrada no tubo,
a saga não só pelo título mundial, mas pela onda perfeita, esta é a diferença,
que o surfista aponta ter para com outros esportistas.
O surfista são dois tipos, o que fala que é surfista e o surfista
profissional que vive de surfe. Em comum eles tem a vontade de
surfar uma onda boa seja numa sessão de free surf ou numa bateria.
(Ricardo pereira)
Apesar de que todos os competidores que você está entrevistando,
etc. É toda uma parte competitiva do surfe que evoluiu também, mas
isso pra viabilizar o surfe. Mas, como a gente tava falando antes,
quem dá, quem autentica o surf, são os loc, não são os competidores,
são os caras meio exóticos, meio fora, não conformistas. Então um
dos meus ídolos, apesar que ele luta com essa coisa da
sobrevivência financeira, é o Tom Curren. Ele pra mim era o soul
surfer mais puro que passou pelo circuito mundial. E não é que ele foi
ser um campeão do mundo, ele e os campeonatos cruzaram
caminhos em uma determinada época e ele acabou sendo campeão
mundial, mas o circuito foi pra lá, ele foi pra cá e... e se separaram.
Então, acho que isso descreve mais ou menos o que é o surfista.
Uma vez perguntaram pra um californiano chamado Mickey Muños,
quem é o melhor surfista e ele deu uma das respostas mais
cultuadas. E essa resposta ajuda a gente a balizar essa questão de
competição e etc. Ele falou: - É aquele que tá se divertindo mais na
água, esse é o melhor surfista! (Mark Lund)
Não há saúde sem contato com a natureza, mas não há contato com a
natureza possível se não se estiver saudável. Não há magia, ou sorte, sem
contato com a natureza e a magia está relacionada à espontaneidade, a se
manter na mesma vibração que a natureza, que a onda. Se não houver magia,
não há possibilidade de vitória, então a primeira motivação do surfe deve ser o
24
exercício mágico de união com o oceano e não o título do campeonato. Mas
vencer um campeonato é oportunidade de viver exclusivamente para o surfe.
Embora, viver o mais intensamente possível o surfe seja ser surfista de alma,
que é aquele que transforma uma habilidade, mágica ou técnica, de estar em
sincronia com a entidade natural onda, em uma expressão artística de si, que
não só no mar, mas na vida.
O surfista é um amante da natureza, ecologista nato, é um cara que
tem um estilo de vida bem diferente, quase como se fosse uma tribo,
tem os seus costumes, os seus hábitos, sua maneira de viver bem
própria, é um cara que geralmente sabe aproveitar a vida, sabe curtir
a vida, e encontrou aí no surfe um estilo de vida, uma filosofia de
vida: desfrutar o máximo da natureza, viver uma vida bem
equilibrada, procurar contornar o stress da vida com a calma a
paciência, procurar viver um estilo de vida o mais natural possível.
(Jojó de Olivença)
A felicidade não é possível para o surfista se não por meio de uma arte
do viver, que é o surfe. E como todo artista o surfista reivindica um estilo. Que,
então, não poderia ser apenas o de surfar, mas o de viver. Natureza, saúde,
magia e arte conjugadas no surfe, através de um conhecimento de si, ganho
pelas provações postas pelo mar; e do mundo, ganho com as viagens, levam o
surfista a ter uma vida feliz.
O surfe tem muito a ver com o que eu sempre quis fazer, que é viajar,
não estar parado num lugar só, mas sempre estar com outras
pessoas, outras culturas, então, o surfe pra mim é uma maneira de
viver, assim é meu estilo de vida, entendeu? Acho que se eu não
tivesse o surfe eu seria hippie ou alguma parada assim. Porque eu
não gosto de ficar parado no mesmo lugar por muito tempo,
entendeu? E o surfe me leva a outro lado, né cara, que é o lado
esportivo, é o lado de você estar sempre se mantendo fisicamente
bem, e a competição pra mim é o desfio, é o desafio de você estar ali
bateria a bateria em disputa, é você superar a si mesmo, né, isso pra
mim é muito importante. Enquanto eu tiver vida eu vou ser surfista,
mesmo que eu estiver velhinho, assim se eu puder carregar a
prancha eu vou querer entrar no mar, por causa dessa superação
diária, né cara, você pegar uma onda diferente da outra a cada dia,
acho que é essa a busca, o surfe nunca é igual todos os dias, né?
Cada onda é diferente da outra, então acho que você superar esse
limite de pegar uma onda diferente a cada dia é o que nos leva a ter
esse feeling de acordar as 5, 6 horas da manhã no frio e falar, não,
hoje o mar tá alucinante eu vou lá, na chuva, mó tempestade, eu
acho que é isso cara... (Alex Godoy)
O surfe é um estilo de vida: ficar viajando, conhecendo novas
pessoas, fazendo novas amizades, a parte chata desse estilo de vida
é ficar sem a família. (Adilton Mariano)
25
O trecho abaixo, nos convida a pensar em mais uma formulação muito
presente na reflexão dos surfistas sobre sua prática, e que por isso, também é
uma peculiaridade da experiência do surfista. A idéia de estilo de vida como
maneira de viver que inclui formas de alimentar-se, relacionar-se, vestir-se e
habitar está clara até agora, mas há também a idéia muito viva da uma
impossibilidade de livrar-se do surfe. Uma vez encantado por ele, não há forma
de viver sem ele.
Quando eu penso em um dia feliz eu me penso surfando, me
alimentando bem, dormindo bem, estando do lado das pessoas que
eu amo. Eu já fiquei várias vezes bons tempos machucada e tive que
me afastar do esporte do contato com a água, e eu descobri que é
tão importante quanto as outras coisas que eu amo, me impedirem de
surfar é como me impedir de respirar. O surfista é um eterno
fissurado... (Andrea Lopez)
Dá vontade de viajar pra pegar onda boa, fissura de pegar onda,
acordar cedo pra pegar a melhor hora do mar, abandonar tudo, fazer
viagens sem nada, só pra pegar onda. Surfe é uma paixão, desde
que eu comecei eu surfo todo dia, o surfe virou parte da minha vida
completamente, eu não acordo e deixo de ver o mar, por exemplo.
Sempre que eu acordo, independente de onde eu tô eu quero saber
como estão as ondas, virou meio que uma obsessão, mas uma
obsessão saudável que me faz dormir cedo, me alimentar bem, virou
um negócio bom pra mim, virou um estilo de vida mesmo, o jeito que
eu gosto de viver é sendo surfista. (Marcelo Trekinho)
Fissura, vício, obsessão, sempre com conotação positiva, são os termos
que vêm explicar a motivação para uma constante busca, que eles verbalizam
como a procura pela onda perfeita e impossibilidade de deixar o surfe. Esta
busca sempre viva é o que confere valor às viagens, ao conhecimento de
novos mares e “culturas”, e a necessidade de manter esse estilo de vida faz
com que eles se descrevam freqüentemente como parte de uma tribo e não só
isso, como nômades. Buscando termos que expliquem seu comportamento
eles nos permitem notar que o encantamento que o surfe exerce sobre o
surfista também instiga a ele próprio.
O surfe é uma parada super saudável, saudável ao extremo. Uma
válvula de escape pra certas pessoas, tipo um médico quando ele
começa a pegar onda, ele não consegue parar, mesmo que ele não
aprenda tudo, só surfar de lado já tá bom, é uma terapia pra certas
pessoas, e mesmo que você começa a pegar onda você é
contaminado por uma coisa que é aquele amor a primeira vista, você
vai levar isso pro resto da sua vida, assim, uma coisa individual, um
dia você tá cabisbaixo e você vai e você pega [a onda], e o surfe te
dá essa alegria, tem uma magia no mar. Tem esse êxtase total
26
máximo do surfe, você faz uma manobra assim e fica contaminado,
contagiado por aquilo ali, extasiado pelo surfe... (Fábio Nunes)
O surfe pra mim é tudo, porque é profissão, lazer e terapia ao mesmo
tempo. Pegar uma onda perfeita talvez seja dos maiores prazeres
que a gente consegue experimentar na vida, conseguir pegar um tubo
é uma sensação indescritível, talvez uma das melhores sensações
que você possa ter na terra. (Pedro Muller)
Da Magia à Fisiologia do surfe
Acompanhando o Super Surf e conversando com atletas, organizadores
e ex-atletas, muitas vezes, nomes de pessoas que poderiam esclarecer algo
que acreditaram não ter podido responder me foram sugeridos. Quando os
surfistas remetiam à história do surfe no Brasil para explicar como algo veio a
ser, freqüentemente aconselhavam-me a procurar os responsáveis pela
Revista Brasil Surf (1975-1979), a primeira do gênero no país. Não é demais
lembrar que sempre que falamos em responsáveis por um veículo de
comunicação ou qualquer outro empreendimento especializado desta época,
falamos em surfistas de fato, e surfistas tidos como importantes para o país,
neste caso, porque pioneiros. Conversei, então, com Fedoca, fotógrafo da
revista, que iluminou diversos pontos sobre o princípio do surfe no Brasil e
principalmente seu desenvolvimento no Rio de Janeiro, o que me permitiu
entender muito da experiência atual do surfe brasileiro, principalmente a
terminologia utilizada pelos surfistas. Outro nome que me foi sugerido foi o de
Mark Lund, como alguém que poderia elaborar uma resposta um pouco mais
longa que inexplicável ou indescritível sobre o que é o surfe.
Mark Lund nasceu nos EUA e chegou ao Brasil com 11 anos em 1965. A
adaptação inicialmente difícil passou à paixão pelo país e suas praias, segundo
ele mesmo, dois anos depois, quando foi convidado a surfar no Guarujá. A
identificação instantânea com a modalidade levou-o a freqüentar a cidade
litorânea todos os finais de semana. Como era menor de idade, ia de carona e
ficava hospedado na casa de amigos de seus pais. Com o tempo pequenas
incursões, em carros de amigos, passaram a acontecer na direção norte do
litoral, até então inexplorado. “The endless Summer18, tocou no ponto
18
Documentário de 1966 do pioneiro no gênero filmes de surfe Bruce Brown.
27
fundamental do surfe que é a busca da onda perfeita e estimulou a exploração
do litoral norte de São Paulo”. Nesta época ainda não haviam estradas e se
viajava pela areia da praia, onde também se dormia acampado. Então, era
preciso revezar quem dormia e quem vigiava por que parte da areia passariam
os ônibus que realizavam o transporte intermunicipal daquela região, para
evitar acidentes. Para Lund, o Guarujá da época era high society e os surfistas
eram, pelo seu jeito de ser, os rebeldes da contracultura. As pranchas pesadas
sem cordinha19 que vez ou outra batiam nos banhistas, os Beatles com os
cabelos compridos influenciando a aparência dos surfistas e o prazer como
motivação primeira do surfista contrastando com a ideologia da necessidade de
trabalho para dignificar o homem, levaram o surfe a ser proibido nas praias da
cidade, o que intensificou a familiarização com o litoral norte, na busca por
ondas perfeitas e praias vazias. Em 1970 Mark Lund chega à Maresias, onde,
em 1996 ele abriria o Legends, lanchonete e museu de surfe, pelo qual é
conhecido. Depois de cursar faculdade nos EUA e ter entrado no mercado
formal de trabalho, aos 33 anos ele acredita ter chegado a hora de arriscar tudo
e apostar na sua saúde e felicidade. Passa então a vender na praia a mousse
que fazia em seu apartamento em São Paulo depois do expediente. Pede
demissão, vende o apartamento e abre a doceria Le Moussier em um galpão
de Boiçucanga. Nove anos depois surge o desejo de “fazer algo compatível
com o espírito surfe da praia” de Maresias, de “construir algo para preservar os
nomes da primeira geração do surfe brasileiro e que serviria como referência
histórica para gerações posteriores”. O Legends se torna, então, um
restaurante, mas museu do surfe que expõe o “o orgulho pelo esporte e pela
arte que é o surfe brasileiro”. Para alimentá-lo Mark Lund passa a fazer
viagens, no mínimo anuais, em busca de artefatos e contatos com grandes
nomes do surfe mundial, sejam eles competidores ou soul surfers20, e como
19
Ou leash, equipamento de segurança que mantém a prancha conectada ao tornozelo do
surfista.
20
Existem diversas classificações possíveis para um surfista. O “cara que pega onda” é o
também conhecido surfista amador; o surfista profissional pode ser de dois tipos: o competidor,
que concorre a premiações de campeonatos, além de seus patrocínios ou o free surfer, que
recebe salário de patrocinadores pelos direitos concedidos de sua imagem realizada em
sessões de surfe chamadas livres, em oposição às baterias, que são as sessões de surfe
competitivo. E existe também o soul surfer, surfista de alma. Este é o surfista que sendo
28
diz, ele passa a estudar e refletir mais detidamente sobre o porque do surfe
exercer tal fascínio sobre seus praticantes.
Que que é o surf? Isso é o que é o amor, é uma coisa muito, muito
ampla. Eu sempre respondi com um termo, que é inefável. Inefável é
o termo utilizado pelos místicos quando eles tentam descrever como
foi o transe que você acabou de ter, o episódio místico que você
acabou de ter, essa revelação. Essa meditação tão profunda. E todos
eles falam que não adianta tentar por em palavras porque é inefável
[...] Agora já analisei, já pensei e acho que é uma série de coisas,
uma delas sendo a imersão na água salgada, você tem o que
chamamos de salmora. Quando você tem um tornozelo torcido,
alguma coisa, você põe um salmora, você tem uma infecção você
põe um salmora. E o que é aquilo? Aquilo é a água salgada. O
surfista passa quatro, cinco horas dentro da água salgada. Que que a
água salgada faz? Que que é o salmora? Salmora é uma
característica de sal que é cloreto de sódio que tem a tendência de
puxar a infecção, essas coisas, quer dizer, um químico ia poder te
explicar melhor, mas ele chupa o mal, vamos supor. Então, você
entrando no mar, você já está num ambiente terapêutico. A própria
água salgada tem essa característica do sal e até acho que é por isso
que na bíblia Jesus fala: - “Vocês são o sal da terra”. Porque a sua
função é perdoar os pecados dos outros, até a doença dele você tem
que puxar pra você. Você vai agir como o sal age. Então se você sai
de São Paulo todo estressado, você entra na água salgada e você
tem todo esse elemento terapêutico que por osmoses vai neutralizar
a tua energia. Se você tem muita energia Yang, você está
desequilibrado energeticamente, você vai entrar num corpo, muito
maior do que o teu, e por osmose ele vai dar uma neutralizada
energética, você vai entrar na sintonia energética do mar. Antes de
pegar qualquer onda ele já se sente bem por ali. Os gregos e os
romanos usavam esse mesmo conceito, você tem, os gregos
chamavam de talassoterapia, talasso significa oceano em grego e os
romanos pegaram dos gregos esse conceito e fizeram em Roma os
famosos banhos romanos que era água salgada trazida do mar
mediterrâneo pra cidade de Roma. Acho que esse é um elemento
fundamental, o mergulhador vai te falar a mesma coisa, o cara que
nada muito no mar vai te falar a mesma coisa, isso não é uma coisa
exclusiva do surf. (Mark Lund)
A água do mar cura o surfista. E mais, a falta da água do mar o faz
adoecer. Mas, a terapêutica das águas não é a única explicação para a
necessidade de manter-se surfando. Há também a terapêutica da alteração na
percepção
espaço-temporal.
Desligar-se,
esquecer
de
tudo,
voltar
à
tranqüilidade, é forma de manter o equilíbrio. De manter-se são e feliz.
profissional ou amador leva ao extremo o estilo de vida surfe e valores tais como
espontaneidade, felicidade e tranqüilidade tanto na prática do surfe quanto em sua existência.
29
O segundo elemento que eu acho que dá o barato para o surfista é o
nervo vestibular, que é o labirinto, a labirintite da pessoa, é questão
de gravidade, nossa relação com a gravidade. E tendo analisado um
pouco o adjetivo sobre o que é surfe, o que é a sensação do surfe,
porque que a gente fica tão fissurado nisso; eu atribuo muito a esse
estímulo que ele nos dá, no sentido gravitacional. Então, você pode
analisar que quando você está na onda, você está indo, você está
indo simultaneamente em três direções ao mesmo tempo. Isso para o
cérebro gera um peripaque, assim, que é prazeroso. Você está indo
com a onda sentido praia, certo? Mas simultaneamente você está
cortando a onda para o lado, então você tá indo nessa direção
sentido praia, mas ao mesmo tempo sentido paralelo a praia. Então,
essas são as duas direções, a terceira direção que dá a terceira
dimensão pra isso é o fato que você, relativamente falando, está em
queda livre o tempo todo. Porque eu digo relativamente? Você pode
estar parada em cima da prancha, você está indo, mas se você está
na parede da onda, a água está subindo. Então, relativamente
falando, você está em queda, entendeu? Então é quase como
bungeejump ou paraquedas. Para o corpo você está em queda, para
a análise do nervo vestibular você está caindo. E o tempo todo você
está caindo. Porque, na verdade não é você que está caindo é a água
que está subindo, mas a sensação que você tem é de queda. Então é
quase como voar. Eu sempre falo que o surfe é a coisa mais próxima
ao voar que o ser humano pode almejar. Então esses três
movimentos acho que dá um tchan na cabeça do surfista. (Mark
Lund)
Sensação, sentimento que em lugar nenhum do mundo você vai ter
fazendo outra coisa. Na onda perfeita é muito estranho porque tu
esquece de tudo, de tudo mesmo, tu não lembra de mais nada, é só
tu e a onda. Isso é manerão do surfe, o cara desliga mermo, fica só
ligado na onda, ele pode sair do mundo e ficar nessa viagem só você
e a onda, você e o tubo, e a onda é tranqüilidade e concentração.
(Pedro Henrique)
Considerações finais: apontamentos para uma etnografia das práticas na
natureza
A teoria21 para a explicação do fascínio, do vício, da fissura que o surfe
provoca está relacionada a sua agência no corpo, mas também na alma. E é
no surfista de alma, e na prática com a alma, além da com o corpo, que
consiste a diferenciação do surfe de outras modalidades esportivas.
Embora os sociólogos da modernidade tendam a dizer que o surfe hoje é
um esporte moderno como qualquer outro, apenas alocado em cenário mais
21
“O que acontece se recusarmos ao discurso do antropólogo sua vantagem estratégica sobre
o discurso nativo?” (Viveiros de Castro, 2002:115)
30
apelativo, a natureza. Os historiadores22 do surfe, principalmente os surfistas
interessados na antiguidade havaiana diriam que o estilo de vida que quer ter o
surfista o levam a praticar surfe como um esporte-arte, e mais, a adotar um
esporte-vida. Ou melhor, sendo o surfe esporte, para seus praticantes
contemporâneos, apenas em alguma medida, ele seria uma arte de viver que
se tornou esporte em algum momento, ele seria mais uma arte-esporte, vidaesporte por necessidade.
Então, se quisermos fazer uma Antropologia do surfe, seria adequado
conferir ao surfe ou a seus praticantes enquanto sujeitos da pesquisa
antropológica o mesmo tratamento teórico que o oferecido aos praticantes de
modalidades convencionais desconsiderando sua experiência e suas próprias
formulações sobre ela? Como dar conta antropologicamente de uma
modalidade esportiva que se diz não esporte?
Por hora, e para iniciar um estudo sistemático dos praticantes de surfe,
admitir que os surfistas operam com a inversão da noção de estilo de vida, a
que estamos acostumados, é o que se propõe. Estilo de vida que é antes
determinado por uma única prática, que determinante de um conjunto delas.
22
Admitimos que a discussão sobre povos com história versus povos sem história estaria um
tanto deslocada aqui. Contudo, é possível pensá-la como ajuda para nossa reflexão, já que os
surfistas explicam sua experiência também por reconstruções históricas que eles mesmos
empreendem. Seja buscando recortes de jornal, fotografias e livros antigos, artefatos de
colecionadores ou conversas com pessoas que viveram o que se deseja conhecer, os
surfistas-escritores e surfistas-documentaristas, muitos deles jornalistas de formação, criam
narrativas e publicam artigos e livros e lançam filmes que circulam com estatuto de verdade
entre eles. Mas, à produção destas pessoas, porque inseridas no contexto mais amplo da
dinâmica ocidental cientificista e porque tão próximas, se não inseridas, em nosso cotidiano
acadêmico e possíveis conhecedoras do conceito rigor é vetada a legitimidade. Tidos como
“frouxos”, excessivamente informais ou descontraídos estes trabalhos não podem ser
considerados, porque espera-se que alguém deste tipo saiba que há uma maneira de se fazer
história tecnicamente válida. O que fazer, então, desse material e dessas citações constantes?
A proposta seria conhecê-lo e acreditar nele, e considerá-lo também palavra do surfista. Dado
etnográfico, ao invés de falácia mercadológica. Entretanto, o produtor do material ficaria
surpreso em ver que foi citado em demonstrações etnográficas, mas não aparece nas
Referências Bibliográficas. É preciso pensar sobre como lidar com esta questão da teoria e da
prática. De uma teoria que se faz no encontro com o registro, mas mesclada com a vivência
corporal daquilo que se procura teorizar. Como bem lembrou Mark Lund:
Para ser um trabalho acadêmico assim que nem o seu, tem que ser alguém meio que
de fora. Porque o surfista mesmo, mesmo que ele seja dedicado, você acha que se
tiver dando onda ele vai ficar coletando entrevista? Ele não, ele vai é surfar mesmo, e
com o cara que ele tava entrevistando. Tudo que não seja o surfe sempre pode
esperar.
31
Nesta relação com o conhecimento, neste jogo discursivo entre
estudante e estudado, com Viveiros de Castro (2002), procurei exercer uma
antropologia que determina os problemas postos por quem se estuda e não
procurar soluções para os nossos problemas. O outro foi tomado como a
expressão de um mundo possível. E o mundo do surfista é aquele no qual o
problema é ecológico, saúde é importante, uma experiência muda sua vida
para sempre, surfar é saber sobre si mesmo, a felicidade está no mar,
liberdade é viagem e estilo de vida é muito mais que esporte.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Marília e RUBIO, Kátia. Perspectivas Sociais e Culturais do Surfe.
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo: no prelo.
PALMIÈRI, Júlio César. Futebol e basquete made in brazil: uma análise
antropológica do fluxo de jogadores para o exterior. In: Visão de jogo:
antropologia das práticas esportivas. Toledo, Luiz Henrique e Costa, Carlos
Eduardo (orgs.), São Paulo: Terceiro Nome, 2009
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo relativo. Mana - Estudos de
Antropologia Social, Rio de Janeiro, volume 8, n. 1. p. 113-148. 2002
RIAL, Carmem. Jogadores brasileiros na Espanha: emigrantes porém... Revista
de Dialectología y Tradiciones Populares, n.2, p. 163-190, jul-dez. 2006
WACQUANT, Loïc. Corpo e Alma: Notas Etnográficas de um aprendiz de boxe.
Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
32
A CARACTERIZAÇÃO DO BALONISMO POR PRATICANTES
BRASILEIROS E JAPONESES
Luana Mari Noda, Giuliano Gomes de Assis Pimentel
GEL- Grupo de estudos do lazer - Universidade Estadual de Maringá
E-mail: [email protected]
Resumo
O balonismo é um esporte aéreo em que o objetivo é decolar, pousar e
arremessar marcas em locais predeterminados, utilizando as chamas para
ascensão e as correntes de ar para deslocamento. No Brasil o primeiro
campeonato ocorreu em 1988. O balonismo é uma prática restrita a poucas
pessoas, especialmente porque os custos para aquisição e manutenção de um
balão são altos e também se requer um apoio logístico com veículos
apropriados. Esse é um dos motivos para não existirem estudos sobre esse
esporte na Educação Física. Portanto identificar os pontos de pensamento
comum entre balonistas japoneses e brasileiros, bem como analisar as
características dos praticantes. A pesquisa foi composta 15 pilotos japoneses,
e 20 pilotos brasileiros. O questionário utilizado “GEL 2008- Definição e
Caracterização dos Esportes de Aventura” adaptado ao balonismo e a língua
japonesa.Uma vez coletados os dados, estes foram tabulados e, depois,
estabelecidas correlações das respostas – por meio de triangulação. Podemos
concluir que os balonistas praticam a modalidade como uma opção de lazer, e
relacionam o esporte a natureza tanto como atividade de aventura na natureza.
As diferenças culturais influenciaram nos resultados, mostrando a importância
de situar o objeto frente às especificidades dos grupos de praticantes e de seu
contexto.
Palavras chaves: balonismo, atividade de aventura, lazer.
Introdução
Há em alguns autores do lazer uma fixação nas atividades, a tal ponto
de buscarem suas características em si mesmas. Tal recorte pode levar a
reificação dessas práticas, consistindo na consideração do abstrato como se
fosse concreto. Se lembrarmos que são os homens e mulheres os produtores
de sua realidade, dialeticamente à medida de sua objetivação, talvez valha
mais identificar uma atividade de aventura pela ação e representação de seus
praticantes do que criar interpretações externas sobre os objetos. É neste
sentido que o presente estudo busca iniciar uma compreensão do balonismo.
O balonismo é uma atividade aérea que desperta a atenção seja pela
grande dimensão do balão colorido que proporciona um espetáculo no céu ou
por gerar curiosidade sobre seu funcionamento. Apesar de ser uma atividade
com uma longa história, há poucos estudos científicos nesta área e não se
33
sabe muito sobre os seus praticantes. Este trabalho busca esclarecer algumas
dimensões que permeiam esta atividade.
Existem relatos que afirmam ter o grego Arquimedes anunciado, em 287
A .C., o princípio da ascensão dos balões. Porém a descoberta dos desenhos
cunhados em um vaso de barro, encontrados no planalto de Nazca, no Peru e
expostos no Museu de Lima, leva a crer que o primeiro balão de ar quente
possa ter sido construído há mais de 2 mil anos, pelos índios Nazca segundo o
site da Confederação Brasileira de Balonismo.
O padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão, em 1709 iniciou pesquisas
sobre o balão a ar quente. O primeiro vôo de balão foi oficialmente registrado
no Brasil em 1885, quando Edouard Heilt subiu por alguns segundos no Saco
dos Alferes-RJ. Alguns anos após, em 1894, o brasileiro Augusto Severo de
Albuquerque pilotou o balão Bartolomeu de Gusmão sobre o Realengo, no Rio
de Janeiro. Em 1902, seu balão Pax chegou a subir 400 metros de altitude
((BITERNCOURT, NAVARRO, KOFF 2005).
Hoje o balão é feito de material anti-inflamável e aquecido por chamas
de gás propano. O balonista maneja as correntes de ar nas diferentes altitudes
à medida que desloca o balão, a altitude é determinada pela força do elemento
ar que provoca o vento, definindo a trajetória, acrescida da energia do
elemento fogo, que sustenta o ar quente podendo voar rente ao solo ou até 16
mil metros de altitude (marca do recorde registrado).
No Brasil o primeiro
campeonato ocorreu em 1988, havendo atualmente cerca de 150 pilotos
credenciados, entretanto no ultimo Campeonato Brasileiro- 2009 somente 24
pilotos participaram, na Copa Brasil de 2009 a média de pilotos nas etapas foi
de 15 pilotos. Em 2010 no 2º Festival de Balonismo de Santa Maria- RS dos 34
pilotos participantes apenas 17 eram brasileiros.
Em Maringá são realizadas provas de balonismo relativas aos seguintes
eventos: Copa Brasil, Sul- brasileiro e Campeonato brasileiro, todos vinculados
a Federação do esporte. Em 2008, em comemoração aos 100 anos de
imigração japonesa no Brasil, foi realizado um evento especial denominado
Campeonato nipo-brasileiro de balonismo, que ocorreu paralelamente a etapa
do 21º. Campeonato Brasileiro. Para tanto, foram recebidos 13 pilotos
japoneses, os quais estão classificados entre os melhores no mundo em
balonismo.
34
O balonismo é uma prática restrita a poucas pessoas, especialmente
porque os custos para aquisição e manutenção de um balão são altos e
também se requer um apoio logístico com veículos apropriados, dificultando à
adesão a prática. Esse é um dos motivos para não existirem estudos sobre
esse esporte na Educação Física.
Dadas essas considerações podemos questionar: para além de pessoas
com recursos, quem são os balonistas? E quais são as percepções que os
praticantes têm em relação ao balonismo?
Objetivo do Estudo
Comparar representações sobre balonismo entre praticantes japoneses
e brasileiros, bem como analisar as características desses balonistas.
Métodos
A pesquisa foi composta 15 pilotos japoneses, sendo 5 do gênero
feminino e 10 do gênero masculino com idades entre 30 e 58 anos e
participantes do 1º Campeonato Nipo- brasileiro de Balonismo realizado em
Maringá- PR nos dias 23 a 28 de junho de 2008 e por 20 pilotos brasileiros,
sendo 3 do gênero feminino participantes da Copa Brasil de Balonismo de 2009
e do segundo Festival de Balonismo de Santa Maria- RS.
O questionário “GEL 2009 - definição e Caracterização dos Esportes de
Aventura” adaptado ao balonismo e a língua japonesa é composto por trinta
questões divididas em dois blocos. O primeiro possui sete questões objetivas e
de múltipla escolha que tem por objetivo a caracterização dos praticantes do
balonismo. O segundo bloco trata do grau de concordância ou discordância dos
praticantes sobre diferentes dimensões da prática do balonismo, abrangendo
as próximas vinte e três questões objetivas com bases de respostas sim ou
não. Na validação para a língua japonesa se percebeu a dificuldade dos
mesmos com alternativas que envolvem parcialidade.
Já a versão brasileira é composto por trinta e duas questões divididas
em dois blocos. O primeiro bloco possui 9 questões objetivas, da primeira a
sétima questões de respostas únicas a oitava e nona questões são de múltipla
escolha. Que buscam estabelecer informações a respeito do sujeito. O
segundo bloco é composto de 23 questões objetivas em que as respostas são
divididas em 5 graus de concordância: 1- Discordo plenamente, 2- Discordo em
35
parte, 3- Não concordo nem discordo ou Não tenho opinião, 4- Concordo
parcialmente e 5 - Concordo plenamente.
Os pilotos foram convidados a participar da pesquisa e voluntariamente
responderam os questionários que foram aplicados durante o campeonato no
período entre provas, individualmente para cada piloto.
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, cujo
objetivo básico é o de sintetizar uma série de valores de mesma natureza.
Permitindo que se tenha uma visão global da variação desses valores, tal
procedimento organiza e descreve os dados de três maneiras: por meio de
tabelas, de gráficos e de medidas descritivas. (GUEDES, 2004).
Os fatores que limitaram o estudo foram a dificuldade na tradução do
instrumento em função das diferenças culturais e número da amostra, embora,
no caso brasileiro ela represente quase metade dos praticantes em
competições.
Resultados
Inicialmente
iremos
apresentar
os
resultados
a
respeito
da
caracterização dos pilotos. Na Figura 1 é apresentada a categoria dos
balonistas:
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Brasileiros
Japoneses
AProfissional,
patrocinado
nas
competições
B- Amador,
nível
recreativo e
competitivo
C- Amador,
nível
recreativo
Figura 1 - Categoria no balonismo
D- Outra
36
A maior parte dos pilotos japoneses se coloca na categoria amador,
nível recreativo e competitivo. Enquanto os brasileiros responderam em sua
maioria profissional. Embora tenhamos esses resultados, os japoneses são
tecnicamente superiores, mas talvez disponham de mais recursos para não
necessitarem de profissionalização no balonismo para manterem sua prática.
Brasileiros
10%
0%
A- Até 20 anos
40%
B- De 21 a 30 anos
C- De 31 a 40 anos
35%
D- De 41 a 60 anos
E- Acima de 60 anos
15%
Figura 2: Faixa etária dos pilotos brasileiros.
Pode-se observar que a faixa etária que apresenta o maior número de
praticantes são as faixas, entre 21 e 30 anos e 41 a 60 anos. Os pilotos
japoneses possuem entre 30 e 58 anos e a média de 45, 6 anos.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Brasileiros
Japoneses
2º grau completo até
Superior incompleto
Figura 3: Grau de instrução.
Superior completo
Mestrado/Doutorado
37
Dentre eles apenas quatro pilotos japoneses e sete brasileiros não
completaram um curso de graduação universitária.
A- Até 4 salários
0%5%
B- Acima de 4 até 5
salários
21%
C- Acima de 5 até 6
salários
D- Acima de 6 até 7
salários
0%
E- Acima de 7 até 8
salários
74%
F- Acima de 8 até 9
salários
G- Acima de 10 salários
Figura 4: Renda familiar do brasileiro.
Nota-se que 74% dos pilotos brasileiros declaram que recebem acima de
10 salários. Esse resultado é parcialmente confiável, visto que, nesse tipo de
instrumento, há tendência em se responder menos que os ganhos reais.
Porém, os dados possuem razoável confiabilidade por serem coerentes com a
renda pressumida à escolaridade da maioria dos praticantes, Ensino Superior
completo. Também é condizente com o alto custo do balão e a necessidade de
forte infra-estrutura terrestre.
12
10
8
Brasileiros
6
Japoneses
4
2
Figura 5: Freqüência com que pratica.
m
en
te
E-
D
ia
ria
en
te
em
an
al
m
en
te
DS
en
sa
lm
CM
m
en
te
-O
ca
sio
na
l
B
A
-R
ar
am
en
te
0
38
Pode-se notar que os pilotos afirmam que não praticam o balonismo com
freqüência, talvez pelo fato do balonismo depender de estrutura complexa e de
condições de tempo propícia.
A- Diversão
18
16
16
B- Amigos/ relações
sociais
14
12
11
10
10
11
C- Enfrentar o medo
10
D- Sensação de
superioridade
8
6
5
4
5
4
2
1
E- Sensação de
adrenalina
F- Contato com a
natureza
0
1
G- Melhoria da qualidade
de vida
Figura 6: Motivos que levam a prática segundo pilotos brasileiros.
Os pilotos brasileiros consideram o contato com a natureza um dos
principais motivos que os levam à pratica enquanto para os pilotos japoneses o
mais citado é a diversão (86%) seguido da adrenalina (13%), a qual pode ser
interpretada como fortes emoções decorrentes do enfrentamento das
incertezas relacionadas às forças da natureza.
Caracterização do Balonismo Pelo Praticante
Os resultados em relação aos graus de concordância foram divididos em
categorias: natureza, preconceitos, lazer, características e conceituação. As
respostas foram divididas em 5 graus de concordância: 1- Discordo
plenamente, 2- Discordo em parte, 3- Não concordo nem discordo ou Não
tenho opinião, 4- Concordo parcialmente e 5 - Concordo plenamente
A seguir serão apresentados os resultados da caracterização da
modalidade pelos praticantes. A primeira categoria apresentada é o balonismo
e natureza na Tabela 1:
39
Brasileiros
Balonismo e natureza
Japoneses
1
2
3
4
5
Sim
Não
O contato com a natureza é
algo que caracteriza o
balonismo
0%
0%
0%
10%
90%
93%
7%
O balonismo é uma atividade
física de aventura na natureza
5%
5%
5%
20%
65%
100%
0%
O balonismo gera impacto na
natureza
75%
0%
5%
15%
5%
7%
93%
Não existem causas sociais ou
de preservação ecológica
relacionadas com o balonismo
50%
10%
15%
20%
5%
87%
13%
Tabela 1 – Nível de concordância na relação balonismo e natureza.
Na tabela 1 podemos verificar que há uma grande relação entre
balonismo e natureza. Para Dias (2007) a relação com a natureza pode ser
vista como um dos elos fundamentais na caracterização das atividades de
aventura.
A seguir será apresentado na Tabela 2 o nível de concordância dos
praticantes quanto a relação balonismo e preconceito:
Brasileiros
Japoneses
1
2
3
4
5
Sim
Não
Você se enquadra em alguma
"tribo" de praticantes
45%
0%
10%
5%
40%
54%
46%
É utlizado algum tipo de droga
ao se praticar a atividade
100%
0%
0%
0%
0%
7%
93%
Você já sofreu algum tipo de
preconceito por ter escolhido
essa atividade
60%
20%
0%
20%
0%
23%
77%
Você acha importante a sua
pratica ser abordada por
programas de TV, rádio,
artigos de jornais e revistas
0%
0%
5%
10%
85%
87%
13%
80%
10%
10%
0%
0%
100%
0%
Balonismo e o preconceito
No balonismo a mulher é
menos capaz pela sua
fragilidade
Tabela 2 – Nível de concordância na relação balonismo e preconceito
40
Podemos notar que o resultado é bastante diferenciando entre
brasileiros e japoneses na relação mulher e balonismo. Para os brasileiros não
há diferença na capacidade entre gêneros enquanto para os japoneses 100%
afirma haver diferença. Isso pode estar relacionado com as diferenças
culturais.
Para a sociedade japonesa há uma complexa visão da mulher na
sociedade.
“the women explain their marginality by reference to
patriarchal Japanese tradition itself. That is they argue that
precisely because women, under the terms of traditional
patriarchal marriage: because girls are not as indulged as boys
but forced to develop their own “inner resources”;…women
insist, they are inherently marginal compared to men to the
structures of Japanese family and economy and processed of
an inmate “adaptability”. KELSLY, 2001.
Na Tabela 3 está demonstrado o nível de concordância dos praticantes
quanto a relação balonismo e lazer:
Brasileiros
Balonismo e lazer
Japoneses
1
2
3
4
5
Sim
Não
Sua prática pode ser
considerada uma opção de
lazer
0%
0%
16%
21%
63%
100%
0%
Sua prática tem como maior
objetivo a competição
10%
25%
25%
15%
25%
47%
53%
5%
0%
11%
16%
68%
0%
100%
20%
10%
10%
30%
30%
36%
64%
Sua prática é uma forma de
aliviar o estresse do cotidiano
Você é atraído pelo lazer de
risco
Tabela 3 – Nível de concordância na relação balonismo e lazer
41
Analisando a tabela 3 é possível notar que a maior parte concorda com a
afirmação de o balonismo ser uma opção de lazer. Corroborando com isso,
Marinho (2008) salienta que as atividades de aventura estão sendo entendidas
como diversas práticas manifestadas, privilegiadamente nos momentos de
lazer.
É interessante verificar que 100% dos pilotos japoneses não consideram
o balonismo como forma de aliviar o estresse. Talvez pelo fato da concepção
de lazer para os japoneses ser diferenciada.
In Japan Sunday traditionally has been a “day off” from school
and office; the other days of the week have been work days.
Consequently, the “Time Use” surveys distinguish between
leisure activities on Sundays versus those of the other
weekdays. Averaging across the 96 observations, it can be seen
that expected weekday leisure time is 3.4 hours. Far and away,
media activities account for most of the leisure time (2.1 hours
per day, 62.3% of leisure time). Excluding these passive, media
activities (time spent watching television, listening to radio,
reading newspapers or magazines), expected leisure is only 1.3
hours per weekday. The most common “active” pursuits are
hobbies and socializing, with roughly a half-hour per day for
hobbies (0.5 hours) and little more than 20 minutes for
socializing (0.4 hours). “Improving” 4 activities (volunteering
and studying for self-improvement) account for 18 minutes per
day (0.3 hours); the expected time playing sports is not even 10
minutes (0.15 hours). (SCOTT, pág 3, 2006).
Em seguida na Tabela 4 será apresentado o nível de concordância dos
praticantes na caracterização da prática do balonismo:
42
Brasileiros
Caracterização da prática
Japoneses
1
2
3
4
5
Sim
Não
35%
15%
20%
10%
20%
67%
43%
5%
5%
0%
35%
55%
42%
57%
O balonismo é uma atividade
que depende de tecnologia
para ser praticado
22%
22%
11%
17%
28%
87%
13%
O balonismo exige um tipo
corporal como mais adequado
para sua prática
70%
0%
25%
0%
5%
43%
57%
Você se sente um herói ao
praticar essa atividade
45%
20%
20%
10%
5%
47%
53%
3%
3%
1%
2%
11%
36%
64%
O medo é essencial para a
aventura ocorrer na atividade
que você pratica
A aventura é algo que
caracteriza o balonismo
A atividade que você pratica
traz experiências arriscadas
incertas, traduzindo a atração
pela novidade e o desafio
Tabela 4 – Nível de concordância quanto a caracterização da prática
Na Tabela 5 está demonstrado o nível de concordância dos praticantes
quanto a definição do esporte:
Brasileiros
Japoneses
1
2
3
4
5
Sim
Não
O balonismo é um esporte
radical
5%
25%
20%
40%
10%
64%
36%
O balonismo é um esporte de
aventura
0%
0%
10%
35%
55%
47%
53%
27%
26%
16%
26%
5%
20%
80%
5%
5%
5%
20%
65%
100%
0%
Definição do esporte
O balonismo é esporte de
risco
O balonismo é uma atividade
física de aventura na natureza
Tabela 5 – Nível de concordância quanto a definição do esporte
43
Nas questões que correlacionam o balonismo a natureza para os
japoneses, 93% acreditam que o contato com a natureza é algo que caracteriza
o balonismo, os pilotos foram unânimes em considerar o esporte como uma
atividade de aventura na natureza, entretanto quando questionados se o
balonismo é um esporte de aventura há um contra-senso assim como
considerá-lo um esporte radical. E 80% dos entrevistados não consideram o
balonismo como um esporte de risco.
Conclusões
Podemos concluir que o balonismo é uma atividade de aventura com
custos altos que exige a capacitação de seus praticantes. A maior parte de
seus praticantes possui nível superior completo e uma renda maior de 10
salários. Pode-se perceber também que são poucos jovens que o praticam.
Os motivos que levam a pratica são diferenciados entre pilotos
brasileiros e japoneses, para brasileiros o motivo mais assinalado é o contato
com a natureza enquanto para os japoneses. Outra grande diferença entre os
pilotos esta relacionado a posição da mulher no balonismo para 100% dos
japoneses a mulher é menos capaz pela sua fragilidade enquanto 80% dos
brasileiros discordam plenamente com a afirmação. Recomenda-se que estudo
seja replicado com um maior número de praticantes, o que poderia resultar
numa compreensão mais profunda e fidedigna deste fenômeno.
Esta pesquisa faz parte de uma busca do GEL - Grupo de Estudos do
Lazer de verificar a percepção e a caracterização dos esportes de aventura
pelos praticantes. Diante dos resultados obtidos podemos concluir que as
percepções dos praticantes variam de acordo com a modalidade, nacionalidade
e tempo de prática o que destaca a importância do contexto nos resultados.
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e
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44
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Metodologia da Pesquisa em Educação Física. São Paulo. Phorte, 2004
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DIAS, C. A. G. Notas e Definições sobre Esporte, Lazer e Natureza. Revista
Licere, Belo Horizonte, v. 10, n. 3, dez/2007.
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KELSKY, K. Women an the verge japanese women, western dreams. Duke
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SCOTT, M. Jr. Leisure time in Japan: how much an for whom? Discussion
Paper, NO 2002, IZA, Germany, 2006.
45
A MOBILIDADE COMO AVENTURA NA CIDADE: JOGOS BASEADOS EM
GEOLOCALIZAÇÃO (GPS) E APROPRIAÇÃO URBANA
Juliana de Alencar Viana
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Este ensaio pretende retomar algumas reflexões sobre o espaço público
por meio de práticas corporais urbanas que utilizam tecnologias nômades,
advindas dos dispositivos móveis. Para tal, recorro à produção multidisciplinar
e de intersecção entre o campo do lazer e os estudos da comunicação e do
espaço para elaborar algumas idéias sobre a mobilidade como aventura na
cidade. A fim de reconhecer experiências, para além do mero consumo do
discurso ecologicamente correto e/ou a utilidade da atividade física como
promotora de hábitos saudáveis, percorro os jogos urbanos de mobilidade,
como práticas culturais que estabelecem a partilha de experiência como
vetores de subjetivação. A mobilidade produz espacialização e os lugares
devem ser pensados como eventos em um fluxo de práticas sociais, de
processos territorializantes e desterritorializantes, podendo reforçar uma
experiência narrativa do espaço físico, o que fortalece a dimensão da
experiência do contexto, do local, dentro de um fenômeno mundial. Assim, a
mobilidade deve ser vista como produto cultural e oferece uma oportunidade
para usos e apropriações do espaço para diversos fins, entre eles, o lazer. A
esse respeito, algumas práticas corporais urbanas têm se utilizado dispositivos
móveis e desenhado na cidade experiências por meio dos chamados wireless
street games. Tais jogos promovem experiências no espaço urbano e
representam desvios à lógica planejada da cidade. Essa prática crítica,
denominada pelos situacionistas de deriva, leva a reflexão sobre o espaço
público, em diálogo com o ciberespaço. Os jogos urbanos com dispositivos
móveis parecem, portanto, agregar às experiências efêmeras de apreensão do
espaço urbano através da proposta de novos procedimentos e novas práticas,
como a deriva, expressando outra comunicação na cidade, revelando-a. Essa
nova configuração de jogo vai disseminar práticas de nomadismo tecnológico,
ao transformar o espaço público em cenário de jogo, causando profundas
modificações na relação com o espaço, nas formas sociais e nas práticas
culturais, funcionando como estímulo aos novos e velhos rituais sociais: trocas,
informações, cooperação e estimulando mecanismos de confiança, de
reciprocidades, compartilhamento de normas e valores pelas redes. A vivência
desta experiência de jogo coloca em questão as possibilidades lúdicas por
meio destas novas tecnologias, assim como apontam novas formas de
apropriação urbana e a conformação de uma nova cultura urbana e de jogo
através desta aventura.
Palavras-chave: mobilidade, cidade, jogos urbanos.
46
Juliana de Alencar Viana23
Introdução
Sem que se possa aprofundar isto aqui, pode-se dizer que o interesse
culinário, o jogo das aparências, os pequenos momentos festivos, as
perambulações diárias e o lazer não podem ser mais vistos como
elementos sem importância ou frívolos da vida social. (MAFFESOLI,
2005, p. 12)
As cidades modernas foram atravessadas por um urbanismo que elevou
o lazer ao patamar de uma função urbano-social. Tal função carregava um
reforço científico, devido aos saberes em ascensão, como fisiologia, a higiene e
mais tarde, a psicologia social (a partir de 1940), que promulgava ações de
melhoria da saúde pública por meio de procedimentos higiênicos aplicados ao
corpo e à mente dos trabalhadores (NIEMEYER, 2002). Nesse sentido,
especialmente a Higiene Social, atuava na prevenção, correção, controle dos
corpos, aplicados para garantir a normalidade social. É dentro desse contexto
que surgem, por exemplo, os parques infantis, espaço planejado nas cidades e
destinado às crianças, comportando aí o que alguns autores denominam de
pedagogias do corpo (FRAGA, 2006a).
Nesse mesmo período, cabe registrar o surgimento, na literatura
especializada do século XIX, da palavra stress, como uma força adversa e
incontrolável a afetar o citadino, sendo associado frequentemente com a vida
nas sociedades urbanas. A Higiene Social, portanto, integra-se ao urbanismo,
requalificando parques públicos e uma nova ordem urbana como antídoto aos
rigores da urbanização, incentivando práticas de lazer ao ar livre com aspecto
funcional de promoção da saúde e higiene, segundo Niemeyer (2002).
Sobre a atualidade, Maffesoli (2001, p. 22) questiona: “será que o drama
contemporâneo não vem do fato de que o desejo de errância tende a ressurgir
como substituição, ou contra o compromisso de residência que prevaleceu
durante toda a modernidade?” Para o autor, a produção, os costumes, a saúde,
a educação e tudo o mais que se convencionou chamar de “social” foi
23
Mestre em Lazer e membro do Oricolé - Laboratório de Pesquisa sobre Formação e Atuação
Profissional em Lazer/UFMG.
47
domesticado, assentado no trabalho e destinado
à residência, pela
modernidade, pois, domesticar significa(va) fixar e, com isso, a possibilidade de
dominar.
É a partir do desenrolar desse cenário moderno que, hoje, no imaginário
social, as práticas de lazer ao ar livre são cogitadas como mecanismo
duplamente útil: como atividade física, de promoção de uma vida saudável, de
reabilitação dos males da vida urbana e pela ação politicamente correta para
com os recursos naturais, designada especialmente pelos prefixos “eco” e
conceito de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que representa um nicho de
mercado para a indústria cultural, compreendido dentro do denominado “lazer
ativo”. (FRAGA, 2006b)
De outra forma, concordando com Villaverde (2003), a mobilidade,
característica também presente na experiência turística, pode ser pensada pela
teia de relações construídas e não somente pela dimensão do consumo. Por
mais que o ecoturismo seja encarado pela ótica da indústria cultural e pela
atividade saudável, é preciso pensar na construção das subjetividades que tais
experiências propiciam.
Dessa forma, a exacerbação moderna de lugar(es) renovou e atualizou
o desejo por novas errâncias, já que aquilo que se move escapa à câmera
sofisticada do panóptico (BENTHAM, 2008) ou, ao menos, subverte tal lógica e
aponta desvios a partir das próprias ferramentas de domesticação.
Nesse sentido, as tecnologias da informação e comunicação da era
digital, especialmente os dispositivos móveis, permitem a pulverização de
tecnologias nômades, promovendo e partilhando errâncias que testemunham
um enriquecimento cultural ligado à mobilidade e às relações, nos espaços
online e offline.
Aqui, comunicação é mobilidade, significa deslocar-se e
representa modos de estar junto. A errância, por sua vez, seria uma expressão
de uma outra relação com o outro e com o mundo, menos ofensiva, mais
carinhosa, um tanto lúdica (MAFFESOLI, 2001) e se torna mecanismo de
socialização. Segundo este mesmo autor, a mobilidade carrega uma dose de
aventura, já que, para ele, existir é sair de si, é um modo de se abrir ao mundo
e aos outros.
Dessa maneira, mais do que pensar a atividade física na natureza e o
esporte de aventura nesses moldes, interessa a este trabalho trazer ao debate
48
os tipos de relações estabelecidas nestas experiências, a partir da mobilidade,
seja no espaço urbano ou “natural”. Assim, surgiram algumas questões que
nortearão este trabalho: é possível a aventura na cidade por meio das
tecnologias da informação e comunicação? Qual o tipo de aventura elas
proporcionam? De que formas as tecnologias nômades podem contribuir para
uma aventura urbana? São provocações que instigam novos diálogos, dada as
práticas de desvio na relação com a cidade contemporânea.
Este trabalho pretende retomar algumas reflexões sobre o espaço
público por meio de práticas corporais urbanas que utilizam tecnologias
nômades, advindas dos dispositivos móveis. Além disso, busca reconhecer
experiências para além do mero consumo de discursos politicamente corretos
e/ou a utilidade da atividade física como promotora de hábitos saudáveis,
percorrendo práticas culturais que estabelecem a partilha de experiências
como vetores de subjetivação, de relação, portanto, de novas sociabilidades.
Para tal, recorro à produção multidisciplinar e de intersecção do campo do lazer
com os estudos da comunicação e do espaço para elaborar este ensaio.
Poucos estudos têm operado na lógica interdisciplinar entre as referidas áreas.
Com isso, espera-se que este trabalho possa ampliar diálogos entre estas
produções, já que contribuem para compreender fenômenos culturais em toda
a sua complexidade.
Portanto, o compromisso ético-político de descortinar transformações
socioculturais qualitativas e ampliar eventuais demonstrações de
resistências às lógicas e à subjetividade dominantes, inclusive no
contexto da atividade turística, deve, em minha opinião, ser
assumido. Mesmo havendo uma notável incorporação destas práticas
corporais pela lógica mercadológica turística ou esportiva, tal
incorporação nunca é total, assim como nunca é total o
enquadramento da subjetividade pelos poderes vigentes e
dominantes, tal como têm demonstrado Foucault, Deleuze e Guattari,
devendo-se ir em busca de "resistências moleculares", de pequenas
"brechas", de "linhas de fuga", subjacentes a essas experiências
humanas. (VILLAVERDE, 2003, p. 68)
Seguindo esta lógica e interessada pela errância (JACQUES, 2006)
urbana é que corroboro com Villaverde (2003), ao enfatizar que, as noções de
amizade, cortesia, solidariedade, hospitalidade e respeito no espaço público
49
deveriam compor o quadro referencial de qualquer forma de vida e prática
social humana, em especial o lazer e a atividade turística.
Cidades, tecnologias nômades e mobilidade
As profundas mudanças sofridas pelas cidades modernas devido aos
processos de privatização e mercantilização contribuíram, paulatinamente, para
o desaparecimento do ambiente público, o que traz como consequência o
desaparecimento da vida urbana.
A domesticação moderna das culturas se dissolve, as práticas
culturais migram de seus locais habituais, se difundindo no espaço
virtual da mídia. Essa midialização estimula a tendência de privatizar
os eventos culturais originalmente públicos e sua percepção estética.
Com isso reforça ainda mais a erosão progressiva dos ambientes
públicos urbanos. (PRIGGE, 2002, p. 55)
Dialogando com o autor, as tecnologias serviram e servem à
permanência
e
conforto
dos
espaços
privados,
contudo,
desvios
e
(re)apropriações do espaço público também se multiplicam em virtude dessas
mesmas tecnologias. A inserção das tecnologias da informação e comunicação
(TICs) inaugurou também novas formas de viver o urbano e a natureza,
principalmente pelo avanço da cibercultura: o acesso, a conexão e formação de
redes sociais. (ALENCAR VIANA, 2010)
Segundo Lemos (2009, p.28), “os estudos de comunicação têm investido
em análises sobre empresas de comunicação, estudos de recepção, consumo
das mídias, mas muito pouco sobre a relação entre comunicação,
espacialização e mobilidade”. A mobilidade produz espacialização e os lugares
devem ser pensados como eventos em um fluxo de práticas sociais, de
processos territorializantes e desterritorializantes (LEMOS, 2009), o que pode
reforçar uma experiência narrativa do espaço físico, o que fortalece a dimensão
da experiência do contexto, do local, dentro de um fenômeno mundial. Assim, a
mobilidade deve ser vista como produto cultural e oferece uma oportunidade
para usos e apropriações do espaço para diversos fins (lazer, comerciais,
políticos, policiais, artísticos).
50
Para Lemos (2007b) estamos vivendo o avanço da cibercultura em
direção ao “Dispositivo Híbrido Móvel de Conexão Multirredes”, pois, para ele:
o que chamamos de telefone celular é um dispositivo (um artefato, uma
tecnologia de comunicação); híbrido, já que congrega funções de telefone,
computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto,
GPS, entre outras; móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade
funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de conexão; e multirredes, já
que pode empregar diversas redes, como: bluetooth e infravermelho, para
conexões de curto alcance entre outros dispositivos; celular, para as diversas
possibilidades de troca de informações; internet (wi-fi) e redes de satélites para
uso como dispositivo GPS.
Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2009) e o Centro de
Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação no país, a
proporção de domicílios que possuem telefone fixo alcança a porcentagem de
44% e de telefone celular atinge cerca de 82%. Esses números nos indicam
que a comunicação por tais dispositivos está em progressão – seja pela
facilitação ao seu acesso, seu caráter híbrido ou pela mobilidade – e está
superando, inclusive, as tecnologias de comunicação fixas, de menor
funcionalidade e interatividade.
A esse respeito, algumas práticas corporais urbanas têm se utilizado
destes dispositivos e desenhado na cidade os chamados wireless street games
(PEREIRA JUNIOR, 2006). Vale à pena dizer que existem inúmeros jogos
possíveis pelos dispositivos móveis dos quais exige alguma mobilidade para a
sua realização, ou seja, tais jogos promovem experiências no espaço urbano e
representam desvios à lógica planejada da cidade.
De acordo com Santos (2002), o espaço público se transforma em
espaço crítico na medida em que é questionado pelo ciberespaço. Essa prática
crítica, denominada pelos situacionistas de deriva, leva a reflexão sobre o
espaço público, em diálogo com o ambiente virtual, já que tais jogos operam
com territorialização e desterritorialização, transformando num espaço híbrido,
implodindo oposições clássicas. Maffesoli (2005, p. 73), afirma que a estética,
como “cultura dos sentimentos, simbolismo, ou, para empregar uma expressão
mais moderna, como lógica comunicacional, garante a conjunção de elementos
até então separados”.
51
Nesse sentido é que o espaço pode ser uma base de exploração.
Aquilo que em compensação o torna flutuante, nebuloso, quase
imaterial. É isso que, na esteira dos surrealistas, os "situacionistas" dos
anos 60 tinham percebido muito bem praticando o que chamavam de
deriva urbana ou a "psicogeografia". A cidade era, desde então, um
terreno de aventura, em que o lúdico e o onírico tinham um lugar
especial. Aventura que era um modo de viver experiências de toda
ordem, de suscitar encontros, de fazer da existência uma espécie de
obra de arte. (MAFFESOLI, 2001, p. 88)
Para ele, seria um situacionismo geral todo esse interesse pelo
presente, em oposição à regularidade do trabalho e da família, prevalecendo
um tempo de desengajamentos, um tempo de instantes sucessivos, de
sinceridades sucessivas, um tempo em que organizam-se grupos efêmeros,
interessados na qualidade da participação sem a obsessão da continuidade.
Esse apetite comunicacional não resulta unicamente do desenvolvimento
tecnológico, pois seu valor encontra-se na experiência partilha na qual funciona
como vetor de criação.
Os jogos urbanos com dispositivos móveis poderiam, portanto, agregar
às experiências efêmeras de apreensão do espaço urbano através da proposta
de novos procedimentos como a psicogeografia e novas práticas como a
deriva, construindo outra comunicação na cidade por modos que expressam
uma cultura urbana de expressões múltiplas, revelando-a.
Nessa esteira, os situacionistas foram um dos primeiros grupos “a
criticar de forma radical o movimento moderno em arquitetura e urbanismo,
principalmente seus maiores símbolos, o funcionalismo separatista da Carta de
Atenas e a racionalidade cartesiana de seu maior defensor, Le Corbusier”
(JACQUES, 2003, p. 14), ao opor-se à petrificação do espaço urbano e uma
consequente museificação e patrimonialização dos centros históricos. O
caminhar na cidade possibilita(va) criar uma narrativa da exploração das muitas
cidades que existem em uma metrópole e, a partir dela, os situacionistas
construíam mapas que traduziam uma organização afetiva ditada pela
experiência da deriva (FONSECA, 2008), pois, segundo eles:
As grandes cidades são favoráveis à distração que chamamos de
deriva. A deriva é uma técnica de andar sem rumo. Ela se mistura à
52
influência do cenário. [...] A arquitetura deve se tornar apaixonante.
[...] A valorização dos lazeres não é uma brincadeira. Nós insistimos
que é preciso inventar novos jogos. (Debord e Fillon, 1954, apud
JACQUES, 2003, p. 17)
Tal prática surge por oposição a essas cidades-espetáculo que
marcavam uma urbe estática e pouco convidativa à participação e criação.
Para eles, a construção de situações seria a realização contínua de um grande
jogo.
Geocaching: construindo situações com jogos urbanos baseados em
geolocalização (GPS)
Geocaching é um jogo de caça ao tesouro hightech, presente em mais
de 200 países, no qual jogadores equipados de dispositivos móveis com GPS24
buscam recipientes escondidos (geocaches) em espaços públicos por meio de
coordenadas
de
geolocalização
para,
em
seguida,
compartilhar
esta
experiência online. Esta modalidade de jogo surgiu quando, em maio de 2000,
o governo dos EUA liberou o acesso civil ao GPS. Pessoas começaram a
testar a precisão dos receptores GPS. Dave Ulmer (membro de uma lista
usenet sci.geo.satellite-nav) colocou um container em Portland, Oregon, e
registrou suas coordenadas em um site. O recipiente foi encontrado pelos
usuários do site, marcando sua visita tanto no logbook (diário de notas) quanto
no ambiente online. Há mais de 2,7 milhões de jogadores registrados,
crescendo a uma taxa de 2.500 novos registros por dia em 2009 (FARMAN,
2009).
Existem atualmente 850 mil geocaches escondidos em todo o mundo
(incluindo Antártica). Uma vez que os jogadores encontram a cache, assinam
seu nome de jogador no logbook, juntamente com a data da descoberta. Esta
24
O Sistema de Posicionamento Global (do original inglês Global Positioning System ou do
português “Geo-Posicionamento por Satélite"), inclui um conjunto de satélites e é um sistema
de informação eletrônico que fornece via rádio a um aparelho receptor móvel a posição do
mesmo com referencia às coordenadas de latitude e longitude. Saiba mais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_Posicionamento_Global Acesso em: 26 abr 2010.
53
assinatura física é uma exigência do jogo, para provar a sua presença no
cache. Assim começou o geocaching, jogo de caça ao tesouro com GPS, que
coloca em relação o espaço físico com o ciberespaço, evidenciando um espaço
híbrido, uma realidade mista, de presença-ausência. Essa nova configuração
de jogo vai disseminar práticas de nomadismo tecnológico, ao transformar o
espaço público em cenário de jogo, já que o movimento na cidade é condição
para sua existência, remetendo à ideia de deriva ou psicogeografia de Guy
Debord.
Segundo Leão (2004, p. 9) “a psicogeografia, proposta pelos
situacionistas, no final dos anos 50, busca resgatar e redescobrir ligações entre
os conteúdos afetivos e os espaços públicos, como registro da experiência de
deambular, à deriva”. A inserção das novas tecnologias (nômades) causa
profundas modificações na relação com o espaço, nas formas sociais e
práticas culturais. Essas errâncias urbanas representam um tipo específico de
apropriação do espaço público, que não foi pensando nem planejado pelos
urbanistas, segundo Jacques (2006).
Nesse sentido, o geocaching, como prática cultural, originada da
convergência entre jogos populares e as tecnologias móveis, funcionam como
estímulo aos novos e velhos rituais sociais: trocas, informações, cooperação,
reforço da coesão, estimulando um capital social, ou seja, mecanismos de
confiança, de reciprocidades, compartilhamento de normas e valores pelas
redes, dados a convergência entre elementos tradicionais, como o jogo caça ao
tesouro
com
as
novas
tecnologias
de
informação
e
comunicação
contemporâneas (LEMOS, 2007b). Esta prática cultural, portanto, possui
grande capacidade de socialidade e subjetivação, pelas suas próprias
características de deriva, descobertas e partilha de experiência.
Alguns passos para perseguir esta aventura incluem: o aprendizado do
funcionamento do GPS; o registro da conta no site geocaching.com; a seleção
de um cache, a partir das dificuldades de localização e de terreno, segundo o
nível de experiência do grupo; a ação de esconder caches; o registro de suas
coordenadas; a descoberta de uma nova cache, a assinatura no seu logbook, a
ação de levar algo do cache e deixar algo no seu lugar (regra do jogo); o
retorno para casa e compartilhamento desta experiência com os demais
jogadores no site geocaching.com.
54
Segundo o site organizador do jogo25, as variações do geocaching
incluem as diferentes formas dos recipientes: geocache tradicional, multicache,
puzzle, cache-evento ou Cache In Trash Out Event. Quanto ao aspecto da
dificuldade para localização e de acesso ao terreno, os níveis variam de 1 a 5,
crescendo da menor para a maior dificuldade. Há um guia de uso no site no
qual orienta que os geocaches devem ser guardados em lugares seguros;
recomenda-se que não se coloque alimentos, explosivos ou objetos cortantes
nos recipientes.
Como uma prática cultural de aventura, o geocaching não está
alicerçado exclusivamente pelo discurso da busca pela natureza ou pelo
interesse na vida saudável, pois traz na mobilidade urbana a sua maior
motivação, o que leva à deriva, descobertas e uma experiência compartilhada.
No lugar de uma relação enérgica (Coelho dos Santos, 1997), comum
às modalidades do esporte moderno (às quais correspondem noções
como destreza muscular, força, potência, busca de resultados e
performances, recordes, etc.), o que parece evidenciar-se na vivência
das práticas corporais de aventura é uma relação estética com o
corpo e com os elementos da natureza, os quais interagem no plano
das ressonâncias, do estilo, da ludicidade, das composições e
negociações. (VILLAVERDE, 2003, p. 67)
Concordando com Villaverde (2003), opto por designar tal experiência
como prática cultural, por considerar inadequado e por não atender, ao reduzir,
exclusivamente, suas motivações pelo benefício físico ou pela característica
competitiva típica dos esportes modernos.
Considerações finais
A vivência desta experiência de jogo coloca em questão as
possibilidades lúdicas por meio destas novas tecnologias, assim como apontam
novas formas de apropriação urbana e a conformação de uma nova cultura
urbana e de jogo. Compreender essa dinâmica é fundamental para uma visão
25
Confira em: http://www.geocaching.com/, site mantido pela Groundspeak, Inc. A versão em
português está em: http://www.geocachingbrasil.com.br/
55
mais profunda do complexo processo comunicacional contemporâneo. Esperase que este trabalho possa dar visibilidade ao jogo e agregar novos
participantes; estimular novas pesquisas e novas práticas no ambiente urbano,
incentivar a deriva e promover encontros mediados (ou não) por meio desta
aventura.
Por meio de noções, ou metáforas, como orgia, socialidade, tribo,
emoção, estética, pretendo mostrar que o laço social não é mais
unicamente contratual, racional, simplesmente utilitário ou funcional,
mas contém uma boa parte de não-racional, de não lógico, algo que
se exprime na efervescência de todas as formas ritualizadas (esporte,
música, canções, consumo, consumição, revoltas, explosões sociais)
ou, em geral, totalmente espontâneas. (MAFFESOLI, 2005, p. 7)
O que Maffesoli (2005) quer nos indicar com esta passagem é a ideia de
religação, comum em diversas experiências efêmeras das quais promovem
relações, marcam um espaço, favorecem conexões. Assim, os jogos urbanos
dos dispositivos móveis parecem ampliar possibilidades de experimentar
formas renovadas de sociabilidade e subjetividade. Para o autor, em processos
de massificação constante acontecem condensações e organizam-se tribos
mais ou menos efêmeras que comungam valores minúsculos e, num balé sem
fim, chocam-se, atraem-se e repelem-se numa constelação de contornos mal
definidos e totalmente fluidos. (MAFFESOLI, 2005) Essa é a principal
característica das sociedades pós-modernas.
E se o principal antídoto contra o espetáculo das cidades pode estar na
sua apropriação e (re)criação pelos sujeitos, acredito na construção de outra
cultura urbana, repleta de situações (jogos, deambulações, derivas) e desvios,
apoiada pela assertiva de Jacques (2003, p. 13):
O interesse dos situacionistas pelas questões urbanas foi uma
conseqüência da importância dada por estes ao meio urbano como
terreno da ação, de produção de novas formas de intervenção e de
luta contra a monotonia, ou ausência de paixão, da vida cotidiana
moderna. A crítica urbana situacionista permanece assim, em sua
essência, pertinente.
56
Pensar, portanto, a inclusão pela aventura, seja no urbano ou na
natureza, permanece uma questão central, atual, carecendo de novos estudos,
pesquisas e análise sobre onde e como podemos coletar elementos para uma
educação para/pelo lazer na cidade, considerando-o como campo possível de
contra-hegemonia, pois só assim faz sentido pensar nos seus aspectos
educativos e de inclusão.
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abr 2010.
59
ALTERAÇÕES ANTROPOMÉTRICAS DECORRENTES DE UMA VIAGEM
DE CICLOTURISMO
Gisella Alves de Mello, Sergio Omar Ferreira, Rafaela Liberali, Francisco
Navarro
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
O cicloturismo é uma atividade de turismo que utiliza a bicicleta como
principal elemento na realização de um percurso. O presente estudo teve como
objetivo demonstrar as alterações antropométricas em dois ciclistas, de ambos
os sexos, após uma viagem de cicloturismo de 498,2 Km pelas montanhas da
Serra Geral de Santa Catarina, totalizando uma ascenção aproximada de 2.914
metros. Os valores antropométricos foram coletados para a determinação da
composição corporal, da porcentagem de gordura corporal e da massa corporal
magra. Houve uma redução do percentual de gordura corporal de 2,11 % e
3,14 % para os sujeitos do sexo masculino e feminino, corrspondendo a 2,09 e
2,08 Kg, respectivamente. Houve também um ganho de massa corporal magra
de 5,22 Kg para o sujeito do sexo feminino e de 3,2 Kg para o sujeito do
masculino. Os sujeitos da pesquisa atingiram reduções de percentual de
gordura e ganho de massa corporal magra similares a praticantes de exercícios
físicos após dois meses de atividades físicas regulares e de ultra-atletas
submetidos a provas de intensidades altíssimas. Embora limitado a dois
sujeitos, os resultados deste estudo tendem a concluir que o cicloturismo, além
de uma atividade de lazer, pode alterar positivamente o perfil antropométrico de
seus praticantes, reduzindo a gordura corporal e aumentando a massa corporal
magra.
Palavras-chave: Cicloturismo. Antropometria. Composição corporal
Introdução
Uma das melhores formas de explorar novos lugares é pedalando. É
mais rápido que caminhar, não se compara ao estresse causado por dirigir um
automóvel, não causa poluição e integra-se a natureza (SIDEWELLS, 2003).
Não se sabe ao certo quem é o “pai” da bicicleta ou a data de seu
surgimento. Pequini (2000) mostrou de forma minuciosa sua história, de um
protótipo de madeira sem pedais e não dirigível a um dos meios de transporte
mais utilizados no mundo, relatando sua evolução tecnológica e popularidade
ao longo dos séculos. A descoberta do pneu a ar foi em 1887 pelo francês John
Bloyd Dunlop fez a popularidade da bicicleta aumentar de tal forma que já
existiam cinco mil ciclistas na França em 1890, e dez milhões em 1900. A
60
bicicleta também foi utilizada durante a guerra por soldados franceses,
holandeses, belgas e espanhóis. O modelo era dobrável e era carregado nas
costas como uma mochila. No início do século XX os países industrializados a
adotaram como meio de transporte, o que já ocorrera em países da América,
Ásia e África (BUSTO, 1992). Nos anos 80 os americanos revelaram para o
mundo um esporte que pode ser praticado por pessoas de todas as idades: o
mountain bike (bicicleta de montanha em inglês). Pequini (2005) enfatizou que
os movimentos ecológicos muito populares nesta década colaboraram com a
expansão do esporte, já que o mountain bike era basicamente praticado em
descidas dentro de parques florestais americanos.
No final do século passado a bicicleta passou a ser foco de estudos na
área esportiva, fazendo com que as pessoas aumentassem seu interesse em
ter uma bicicleta para praticar esporte, brincar ou locomover-se (PEQUINI,
2005). Atualmente a bicicleta de ciclismo é utilizada em diferentes
modalidades, tais como provas de triatlo, contra relógio e Tour de France; e as
bicicletas tipo mountain bike são utilizadas em provas tipo down hill e cross
cowntry (NUMA, 1997). A bicicleta também é amplamente utilizada como meio
de transporte, a exemplo da China que possui a maior frota de bicicletas do
mundo. Outra maneira de utilizar a bicicleta é através da prática do
cicloturismo, que pode ser definido como uma atividade de turismo que utiliza a
bicicleta como o principal elemento na realização de um percurso turístico
(ABNT, 2007), sendo uma viagem que pode ter a duração de um dia,
caracterizando-se por um passeio a um determinado local; uma semana,
conhecendo outras localidadades; ou uma viagem ao redor do mundo,
utilizando somente a bicicleta como meio de transporte (SIDEWELLS, 2003).
Grande parte dos cicloturistas utilizam bicicletas do tipo mountain bike,
adaptadas para a prática da modalidade, acoplando acessórios indispensáveis
tais com bagageiro e alforje traseiro, pára-lama, bolsas de guidão, bolsa de
selim e cadeado.
61
Figura 1. Mountain bike adaptada para o cicloturismo. Fonte: do autor.
Embora poucos trabalhos científicos tenham investigado o assunto,
Schetino (2004) lembra que o aumento de participantes de cicloturismo é
comprovado com o aumento do número de livros encontrados nas livrarias e de
páginas na internet com relatos de viagens independentes.
O
objetivo
da presente pesquisa
é demonstrar as alterações
antropométricas em dois ciclistas, de ambos os sexos, com idade entre 35 e 40
anos, após uma viagem de cicloturismo pelo Estado de Santa Catarina.
Materiais e Métodos
A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa pré-experimental com
delineamento pré e pós-teste de amostras pareadas. Segundo Liberali (2008),
pesquisa experimental é aquela que manipula as variáveis para verificar a
relação de causa e efeito.
Este estudo contou com a participação de dois cicloturistas, praticantes
da modalidade desde 2002, com viagens pela Europa e América do Sul e
praticantes de mountain bike desde 1990. Antes do início da coleta dos dados
os ciclistas foram esclarecidos sobre os objetivos e a metodologia da pesquisa
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme
62
preconiza a resolução nº 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10 de
Outubro de 1996.
A coleta dos dados foi realizada em dois momentos, antes e após a
viagem, na sala de antropometria do Laboratório de Esforço Físico (LAEF) da
Universidade Federal de Santa Catarina.
As variáveis mensuradas foram: massa corporal, perímetros e dobras
cutâneas.
Para a mensuração da massa corporal e da estatura, foram utilizados os
procedimentos propostos por Alvarez e Pavan (2007). A massa corporal foi
mensurada com uma balança digital com precisão de 100g da marca Filizola,
modelo PL-200, e a estatura foi determinada com o uso de um estadiômetro da
marca Sanny com precisão de 0,1 cm.
A fita antropométrica utilizada para a mensuração dos perímetros
corporais foi da marca Mabbis, modelo Gulick com precisão de 0,1 cm.
As dobras cutâneas foram mensuradas pelo mesmo avaliador, com um
adipômetro da marca Cescorf, com precisão de 10g/mm2. Cada dobra cutânea
foi mensurada três vezes e, seguindo os procediementos de Benedetti, Pinho e
Ramos (2007), a média aritmética de cada medida foi utilizada para estimar a
densidade e o valor de gordura corporal.
A composição corporal foi feita através do cálculo da estimativa da
gordura corporal, a fim de fracionar o corpo em massa de gordura (MG) e
massa corporal magra (MCM) (PETROSKI, 1995).
Para o sujeito do sexo feminino, a equação utilizada para estimar a
densidade corporal utilizada foi a de Jackson e Colaboradores (1980) para
brasileiras com idade entre 18 e 55 anos: D=1,0970 – 0,00046971 (Σ7DC) +
0,00000056 (Σ3DC)2 – 0,00012828 (ID), onde: Σ7DC = somatório das sete
dobras cutâneas (subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, supra-ilíaca
oblíqua, abdominal e coxa média), e ID = idade do sujeito da pesquisa. Para o
sujeito do sexo masculino utilizou-se a equação de regressão de Petroski
(1995) para brasileiros com idade entre 18 e 66 anos: D=1,10726863 –
0,00081201 (X4) + 0,00000212 (X4)2 – 0,00041761 (ID), onde X4 = somatório
das quatro dobras cutâneas (subescapular, tríceps, supra-ilíaca oblíqua e
panturrilha) e ID = idade do sujeito da pesquisa.
63
A equação de Siri (1961) foi utilizada para converter os valores de
densidade corporal em percentual de gordura (%G): % G = 495 / D – 450, onde
D = densidade corporal.
Utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão) e tabelas de
freqüência para analise dos dados.
Considera-se como limitação deste estudo, a inexistência de um registro
diário alimentar para determinação da ingestão calórica.
O percurso escolhido para os praticantes desta viagem de cicloturismo
foi um circuito de 498,2 Km pelas montanhas da Serra Geral de Santa
Catarina. O percurso caracterizou-se pela existência de longas subidas,
totalizando uma ascenção aproximada de 2.914 metros.
Figura 2. Percurso realizado pelos cicloturistas. Fonte: Guia Quatro Rodas
2007.
64
Quadro 1. Percurso, distância, velocidade média, tempo de duração de cada
etapa e altitude final de cada etapa.
Dia
Percurso
Distância
Velocidade média
Tempo
Altitude
1
Rancho Queimado
59,4 Km
13 Km/h
4h33
810 m
2
Santa Rosa de Lima
68,1 Km
12,7 Km/h
5h21
240 m
3
Grão-Pará
45 Km
16,3 Km/h
2h44
93 m
4
Lauro Müller
62 Km
10,9 Km/h
5h39
220 m
5
Cruzeiro
51,8 Km
10 Km/h
5h08
1245 m
6
Urubuci
50,3 Km
14,9 Km/h
3h21
980 m
7
Rancho Queimado
104 Km
14,8 Km/h
4h56
810 m
8
Florianópolis
57,6 Km
19,7 Km/h
2h55
0
Fonte: dados coletados pelo autor.
Apresentação e Discussão dos Resultados
O estudo foi realizado com dois sujeitos de ambos os sexos. Na tabela
1, apresenta-se os valores do perfil antropométrico.
Tabela 1: Valores descritivos do perfil antropométrico dos sujeitos da pesquisa
Variáveis
Antes
Depois
Massa Corporal F
65,7 Kg
65 Kg
Massa Corporal M
98,9 Kg
95,7 Kg
Estatura F
1,70 m
1,70 m
Estatura M
1,86 m
1,86 m
IMC F
22,73 Kg/m2
22,49 Kg/m2
IMC M
28,66 Kg/m2
27,73 Kg/m2
Onde F refere-se a valores para o sujeito do sexo feminino e M para masculino.
65
A Tabela 1 apresenta os dados descritivos relativos ao perfil
antropométrico dos sujeitos da pesquisa. Pode-se perceber que, embora não
houvesse controle na ingestão alimentar, ambos os indivíduos tiveram uma
redução na massa corporal total após o final da viagem de cicloturismo. Esta
redução é mais evidente no sujeito do sexo masculino, correspondendo a 3,2
Kg de perda total de massa corporal, enquanto que o sujeito do sexo feminino
perdeu um total de 700 g de massa corporal total. A perda de peso era
esperada devido ao esforço intenso de diversas horas diárias sobre a bicicleta
ao qual os sujeitos da pesquisa foram submetidos. A estatura dos sujeitos da
pesquisa não foi alterada. Xavier e Colaboradores (2001) lembram que o uso
da bicicleta não sobrecarrega articulações nem a estrutura da coluna vertebral,
portanto não altera a estatura de seus praticantes.
Houve pouca alteração no IMC dos sujeitos da pesquisa. O IMC do
sujeito do sexo feminino foi de 22,73 Kg/m2 no início da viagem, para 22,49
Kg/m2 no término da viagem, totalizando uma redução de 0,24 Kg/m2. Para o
sujeito do sexo masculino, o IMC foi de 28,66 Kg/m2 no início da viagem para
27,73 Kg/m2 ao final da viagem, reduzindo um total de 0,93 Kg/m2. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), o sujeito do sexo feminino encontra-se
dentro da faixa de normalidade esperada de IMC, que varia entre 18.50 Kg/m2
a 24.99 Kg/m2, enquanto que o sujeito do sexo masculino encontra-se na faixa
sobre-peso, de 25 Kg/m2 a 30 Kg/m2. O Centro de Prevenção e Controle de
Doenças, lembra que algumas pessoas podem ter o IMC alterado não somente
pela quantidade de gordura corporal, mas ao alto desenvolvimento muscular,
como no caso de atletas de certas modalidades.
Tabela 2: Valores dos perímetros antes e depois da viagem.
Perímetros
(cm)
Feminino
Antes
Masculino
Depois
Diferença
0
Braço relaxado
25
25
Braço contraído
25,7
26
Cintura
69
69
Abdome
74
72,8
Quadril
99,4
94
+0,3
0
Antes
Depois
Diferença
36,2
35,5
-0,7
39,5
38
92
89
97
94,6
110
108
-1,5
-3
66
Coxa média
53,5
50
Perna
35,5
36
-1,2
-4,4
57
52,7
37,9
38,8
-2,4
-2
-3,5
-4.3
+0,5
+0,9
A tabela 2 mostra os valores dos perímetros corporais de ambos os
sujeitos da pesquisa antes e depois da viagem de cicloturismo. Pode-se
observar que houve uma distribuição entre aumento e redução de valores em
membros superiores, tronco e membros inferiores. Observa-se também, que os
valores de perímetro de braço relaxado e de cintura para o sexo feminino, não
mostrou alterações, enquanto que todos os valores para o sexo masculino
mostraram algum tipo de alteração. A maior alteração de valor da variável no
sujeito do sexo feminino foi o perímetro de quadril, seguido de coxa média e
abdome, enquanto que o sexo masculino teve maior alteração de valores no
perímetro de coxa média, seguido de cintura e abdome. De acordo com
Raymond, Joseph e Gabriel (2004), os principais músculos envolvidos na
pedalada são: gluteo máximo e médio, quadríceps femural, grastrocnêmio e
sóleo na fase descendente, e iliopsoas, isquiotibialis e tibial anterior, na fase
ascendente. Pode-se observar que um maior número de músculos envolvidos
no ciclo da pedalada localizam-se na coxa, onde os valores de perímetro
mostraram alterações para ambos os sujeitos da pesquisa dentre os três
perímetros com maior variação de valores. Segundo Nahas (2006), a força
muscular está diretamente associada à massa muscular envolvida na execução
de determinado movimento.
67
Gráfico 1: Percentual de gordura (%G) antes e após a viagem de cicloturismo.
25
% de Gordura
20
15
Antes
Depois
10
5
0
Feminino
Masculino
O Gráfico 1 mostra a redução do percentual de gordura corporal total (%
G) de ambos os sujeitos da pesquisa. No início da viagem, os valores de
percentual de gordura eram de 20,78 % e 20,28 % para os sujeitos de sexo
feminino e masculino, respectivamente. Para o sujeito do sexo feminino,
observou-se uma redução de 3,14%, o que representa um valor real de 2,09 Kg
de gordura corporal após o término da viagem, resultando em um percentual de
gordura de 17,64 %. Já o sujeito do sexo masculino terminou a viagem com um
percentual de gordura de 18,17 %, reduzindo um total de 2,11%, ou seja, 2,08
Kg da gordura corporal total. Esta perda de gordura pode ser explicada pela
intensidade do cicloturismo como atividade física. Powers (2005) explica que
nos exercícios de baixa intensidade, porém prolongado, grande parte do
consumo energético total provém das gorduras.
Resultados de redução da massa e gordura corporal também foram
encontrados nos sujeitos da pesquisa em dois estudos de Knechtle e
Colaboradores. Em 2008, 17 atletas foram avaliados ao final de uma prova de
Triplo Iron Man Triathlon, realizada na Alemanha em 2006. Os atletas foram
submetidos a um total de 11,6 Km de natação, 540 Km de ciclismo e 126,6 Km
de
corrida.
Em
2009,
os
mesmos
autores
mensuraram
variáveis
antropométricas em 28 ultra-ciclistas amadores do sexo masculino após uma
prova com duração total de 600 Km. Ambos estudos resultaram em uma
68
redução de massa corporal total e de percentual de gordura, sendo que os
autores concluíram que a redução no percentual de gordura foi associado com
a alta intensidade das provas as quais os sujetos da pesquisa foram
submetidos.
Gráfico 2: Massa corporal magra (MCM) antes e após a viagem de
cicloturismo.
90
Massa corporal magra
80
70
60
50
Antes
40
Depois
30
20
10
0
Feminino
Masculino
O Gráfico 2 mostra os valores referentes a massa corporal magra
(MGM) dos sujeitos da pesquisa. Houve um ganho de massa magra para
ambos os sujeitos, sendo que o sujeito de sexo feminino ganhou um total de
5,22 Kg de massa corporal magra e o sujeito do sexo masculino, 3,2 Kg de
massa corporal magra. Um aumento de massa corporal magra significativo foi
encontrado no estudo de Oliveira Filho e Shiromoto (2001). Após dois meses
de exercícios regulares como natação, hidroginástica, ginástica aeróbica, os
sujeitos da pesquisa do sexo feminino apresentaram aumento de 0,7 Kg,
enquanto os sujeitos do sexo masculino apresentaram um ganho de 0,8 Kg de
massa corporal magra, concluindo que o aumento dos valores de massa
corporal magra foram a consequência dos esforços realizados.
Conclusões
O objetivo da presente pesquisa foi demonstrar as alterações
antropométricas em dois ciclistas, de ambos os sexos, com idade entre 35 e 40
69
anos, após uma viagem de cicloturismo pelo Estado de Santa Catarina. Os
sujeitos da pesquisa atingiram reduções de percentual de gordura e ganho de
massa corporal magra similares a praticantes de exercícios físicos após dois
meses de atividades físicas regulares e de ultra-atletas submetidos a provas de
intensidades altíssimas.
Embora limitado a dois sujeitos, os resultados deste estudo tendem a
concluir que o cicloturismo, além de uma atividade de lazer, pode alterar
positivamente o perfil antropométrico de seus praticantes, reduzindo a gordura
corporal e aumentando a massa corporal magra. Entretanto, para comprovar
estatisticamente que os resultados são significativos, é necessário a aplicação
da metodologia em uma amostra.
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72
ATIVIDADES FÍSICAS DE AVENTURA NA NATUREZA NA ESCOLA NA
CIDADE DE BONITO, MS: UM ESTUDO DE CASO
Rogério Zaim-de-Melo, Íris Costa Soares
Faculdades MAGSUL, UNIGRAN, Ponta Porã – Dourados, MS
E-mail: [email protected]; [email protected]
Resumo
As atividades de aventura, realizadas na natureza (AFAN) ou no meio
urbano possui componentes, a incerteza motora (possibilita a ampliação do
repertório motor), a liberação de adrenalina, a co-educação (indivíduo /
ambiente), a não exclusão (os anti-heróis podem fazer parte do grupo) que
deveriam fazer parte do escopo da Educação Física escolar. No estado do
Mato Grosso do Sul essas atividades foram incluídas nas orientações
curriculares para os professores. Mas na prática elas acontecem? O presente
estudo teve o objetivo de verificar se as AFAN estão sendo realizadas em uma
escola publica da cidade de Bonito, MS (capital do ecoturismo do Estado); se
os alunos do Ensino Médio as conhecem e/ou as praticam; e se esses
saberes/práticas são adquiridos/realizados na escola ou de forma empírica.
Para tanto se realizou uma pesquisa de natureza qualitativa do tipo Estudo de
caso, tendo como participantes 44 alunos com idade média de 15 anos e meio,
sendo 23 do gênero masculino e 21 do gênero feminino, regularmente
matriculados no Ensino Médio. Os dados foram obtidos via questionário. A
análise dos resultados encontrados indicou que os alunos pouco conhecem
e/praticaram as atividades de aventura. As aulas de Educação Física
permanecem enraizadas no desporto, sendo necessário uma ruptura de
paradigmas para que as AFAN saiam do papel e sejam realmente implantadas
na escola.
Palavras-chave: atividade de aventura, escola, Educação Física.
1. Introdução
A Educação Física escolar, embora legal, a LDB 9394/96, em seu
artigo 26, parágrafo 3º a garanta na escola (BRASIL, 1996), sofre para alcançar
seu lugar ao sol, pois nesse caso legalidade não é sinônimo de legitimidade. A
comunidade docente não reconhece a importância desse componente
curricular (SOARES, 2007).
Visando essa legitimação várias atitudes vêm sendo tomadas, tendo
como exemplo as ações das Secretarias de Estado de Educação do Estado de
São Paulo e do Mato Grosso do Sul que buscaram sistematizar conteúdos,
estratégias, objetivos para ser aplicada na Educação Física escolar e do
73
Estado do Paraná, que lançou um livro didático público para o ensino médio, de
autoria de professores da rede estadual, incluindo a Educação Física.
Nessa trajetória várias roupagens foram acrescentadas à tradicional
Educação Física escolar, os conteúdos nas aulas ultrapassaram a barreira do
paradigma desportivo, outras esferas do conhecimento ganharam destaque,
várias pesquisas envolvendo a implementação de atividades físicas não
convencionais na escola vem sendo desenvolvidas. Programas foram criados e
avaliados envolvendo: as atividades circenses (ZAIM-DE-MELO, SOARES,
2007; AYALA, 2008), o desporto não tradicional / beisebol (ZAIM-DE-MELO,
2008) e a esgrima (ZAIM-DE-MELO, SOARES, 2009), as danças circulares
(SOUZA, 2009), entre inúmeros outros. O campo da Educação Física na escola
é amplo e deve ser mais bem explorado.
O referencial curricular da educação básica da rede estadual de ensino
do Mato Grosso do Sul para o Ensino Médio no que tange a Educação Física
traz em seu corpo textual referências a atividades alternativas.
Esportes e ou atividades de lazer na natureza (caminhadas,
corrida de orientação, trilhas, noções de acampamento,
mountain bike, entre outras); esportes urbanos e ou radicais
(skate, patins, bicicross, escalada entre outras) (MATO
GROSSO DO SUL, 2007, p. 72)
Diante do exposto o presente trabalho teve o objetivo de verificar se
essas atividades estão sendo realizadas em uma escola publica da cidade de
Bonito, MS; se os alunos do Ensino Médio as conhecem e/ou as praticam; e se
esses saberes/práticas são adquiridos/realizados na escola ou de forma
empírica.
Optou-se pela cidade de cidade de Bonito, pois a mesma é conhecida
nacionalmente pelas suas belezas naturais; celeiro do ecoturismo sul-matogrossense. Tem entre seus atrativos o chamado circuito de aventura no qual os
visitantes podem fazer trilhas interpretativas, descidas de rapel, de bóia cross
pelo Rio Formoso, participar do circuito de arvorismo, e praticar mountain bike
(BONITO, 2010).
74
O Município de Bonito, de acordo com Mariani (2003) apud Lobo e
Moretti (2008) enquadra-se como uma área turística de caráter regional e
nacional, em função do grande número de atrativos, principalmente naturais
por ela oferecidos.
2. As Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN)
As atividades de aventura, no princípio eram destinadas apenas
àqueles que eram dotados de heroísmo e coragem (PEREIRA, ARMBRUST e
RICARDO, 2008) e foram ganhando destaque na mídia em meados da década
de 90 do Século XX (SOTO, 2007). Segundo Munhoz, Gonçalves Jr (2004)
encontra-se na literatura várias nomenclaturas para as atividades de aventura,
ainda não existindo um denominador comum:
São muitas as nomenclaturas designadas a este tipo de
atividade. A mais divulgada pela mídia é Esportes de Aventura,
outros nomes comuns são: Esportes em Integração com a
Natureza, Esportes Radicais, Esportes de Aventura na
Natureza, Esportes Californianos, Esportes em Liberdade,
Esportes Selvagens, Atividades Deslizantes de Aventura e
Sensação na Natureza, Atividades Esportivas de Diversão e
Turísticas de Aventura, Esportes Tecnológicos e Novos
Esportes.
Todas
estas
designações
mostram
alguma
característica relacionada com as atividades desenvolvidas
(p.2).
As atividades de aventura são aquelas que trazem como experiência o
risco (real ou imaginado) e a incerteza, encontradas em diferentes ambientes,
podendo ser numa trilha interpretativa, numa descida de patins num declive
acentuado e/ou em uma escalada indoor, sempre associadas a sensação de
prazer. Existe uma aproximação com a natureza devido a imprevisibilidade do
meio (PIMENTEL, SAITO, 2010). Betrán e Betrán (2006) definem as atividades
de aventura como:
75
... manifestações de caráter recreativo que nascem amparadas
pela pós-modernidade, no tempo do ócio ativo e do turismo e
surgem impregnadas desse espírito de emulação, risco,
aventura e diversão (p.181).
Para
Tahara
e
Schwartz
(2003)
essas
atividades
possuem
características que as levam a ser chamadas de radicais, destacando-se o
risco, a vertigem, a ousadia e a superação de limites internos e externos. Esses
riscos são, na medida do possível, calculados, embora não haja treinamento
extenuante para tanto, como nos desportos tradicionais (MARINHO, 2006),
permitindo assim a participação de pessoas tidas como anti-heróis, as crianças,
os idosos e as mulheres, em função do auxilio de aparatos tecnológicos que
muitas práticas necessitam (BRUHNS apud PIMENTEL, 2006).
As atividades de aventura na natureza são divididas de acordo com os
ambientes físicos em que são praticadas. Nos ambientes: terra, sobre um meio
estável e curso bidimensional (vertical e horizontal) - skateboard, snowboard,
montain bike, esqui acrobático, escalada livre, - água, meio instável e curso
bidimensional - surf, hidrospeed, rafting, cascading – e ar, meio instável e curso
tridimensional - rope swing, queda livre em pára-quedas, asa delta, parapente,
bungee jump (BETRÁN e BETRÁN, 2006). Pereira, Armbrust e Ricardo (2008)
incluem o meio urbano, abarcando assim as atividades feitas nas cidades que
possuem as características semelhantes e/ou iguais as já descritas (exemplo:
skate, patins in line, parkour, etc.)
Betrán e Betrán (2006) afirmam que as atividades de aventura
possuem três frentes de atuação: a turístico-recreativa, a de rendimentocompetição e a educativo-pedagógico.
3. Atividades de aventura: aspectos educacionais
Em países como a Nova Zelândia26 e a Austrália os alunos possuem
em seu currículo uma disciplina nominada outdoor education (educação ao
26
A Nova Zelândia é considera a capital mundial dos desportos de aventura.
76
livre) que visa oferecer aos alunos do ensino secundário o desenvolvimento
pessoal e social com programas de atividades práticas realizadas ao ar livre.
Neill (2001) usa o termo "educação ao ar livre" para todas as atividades
educativas propositadamente concebidas em ambientes naturais ou novos, que
visam o crescimento através da filosofia do desafio.
Para o autor são situações típicas de aprendizagem que incluem a terra
e/ou a água como lócus para sua realização e atividades como caminhadas ao
ar livre, remar em um rio e/ou lago e acampar. O objetivo geral destes
programas é o reforço das competências pessoais dos participantes e o
desenvolvimento social, sendo que alguns programas também buscam
resultados específicos, tais como a gestão de problemas de comportamento ou
o aperfeiçoamento do desempenho acadêmico.
A Outdoor Education (OE) foi incluída nos currículos neozelandeses
(Health and Physical Education in the New Zealand Curriculum), para alunos a
partir do 10º ano da escolarização, em 1999, com a reforma curricular, sendo
uma das sete áreas de ensino/aprendizagem a ser ensinada (COSGRIFF,
2008). Uma das funções da OE que consta nesse novo currículo é a
aprendizagem sobre as tradições, valores e heranças da sua própria cultura e
de outros grupos culturais, incluindo os tangata whenua (povos da terra).
Betrán e Betrán (2006) ponderam que as AFAN podem fazer parte dos
conteúdos preconizados pela Educação Física presente na escola, uma vez
que essas atividades conduzem ao desenvolvimento de padrões motores
novos em contato direto com a natureza, pois esse tipo de ambiente (campos
acidentados, montanhas, rios, etc.) produz certa incerteza motora. Outro fator
apontado pelos autores que deve ser levado em conta relaciona-se com a
educação ambiental27 o contato com o meio ambiente produz ou deveria
produzir no aluno a consciência, a necessidade de preservação. Nesse
contexto, mais um aspecto que não pode ser esquecido é a possibilidade da
co-educação:
27
Um dos temas transversais à serem trabalhados em toda educação básica, propostos pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997).
77
Por ser um conjunto de práticas recente, de indiscutível corte pósmoderno e processo de execução personalizado, mas desenvolvido
em companhia, realizam-se mediante uma autêntica co-educação
sem distinções de sexo, nível motor, interesse competitivo, ou
diferenciação cultural (BETRÁN e BETRÁN, 2006, p.183)
Segundo Le Breton (2006) nas atividades radicais o praticante “penetra
em outra camada da sua existência... se sente apaixonadamente vivo,
experimenta a sensação de aceder ao real pela primeira vez na vida” (p. 105).
Sendo assim as práticas radicais se enquadram na Ilinx28 – a busca pela
vertigem, proposta por Caillois (1990).
Para a Educação Física escolar a utilização de atividades de aventura
se apresenta como um alento uma vez que, ao contrário dos esportes
tradicionais (ainda conteúdo hegemônico das aulas) cujos elementos levam a
práticas excludentes, “o tempo/espaço da prática é comum a todos
independente do seu nível de aptidão física, já que este critério não é um
elemento que orienta essas práticas” (DIAS, 2004, p. 4). Contemplando assim
o princípio da não exclusão proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais
para a Educação Física (BRASIL, 1998).
4. O trilhar metodológico
A tipologia da pesquisa que norteou a execução do presente estudo é
de natureza qualitativa do tipo Estudo de Caso, com orientações em Lüdke e
André (1986), indicando que quando se quer estudar algo singular com valor
em si mesmo deve-se optar por esse desenho metodológico.
4.1 Participantes
Participaram deste estudo 44 alunos com idade média de 15 anos e
meio, sendo 23 do gênero masculino e 21 do gênero feminino, regularmente
matriculados no Ensino Médio, em uma escola da rede estadual de ensino da
28
Nessa categoria se enquadram os jogos realizados sobre muita velocidade, impactos,
quedas, etc.
78
cidade de Bonito, MS. Na referida escola são oferecidas os três anos desta
etapa da educação básica, nos período matutino (1° e 2º ano), vespertino e
noturno (todos os anos), sendo atendidos 388 alunos. Para esta pesquisa
entrevistou-se todos os discentes presentes na escola no período matutino.
4.2 Procedimentos para coleta de dados
Inicialmente entrou-se em contato com a gestora da escola explicandose os motivos da pesquisa e a necessidade da sua realização na referida
Instituição. Após o aceite da direção iniciou-se uma nova etapa: a aplicação de
um questionário com questões abertas e fechadas abordando os interesses
dos alunos pela Educação Física, bem como as Atividades de Aventura29.
O questionário foi aplicado na presença dos pesquisadores, para que
se sanassem as possíveis dúvidas existentes, o que aconteceu somente com o
termo trekking, o qual os alunos conheciam apenas como trilha, que foi
prontamente esclarecida. Aos alunos foi dada a liberdade de não participação
no estudo.
4.3 Procedimentos para análise de dados
Os dados obtidos foram analisados por meio do método de Análise de
Conteúdo, utilizando como referencial teórico os estudos de TRIVIÑOS (1987).
O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações ocultas ou
explícitas.
Segundo TRIVIÑOS (1987), o método de análise de conteúdo deve
seguir três etapas básicas: a pré-análise, a descrição analítica e a interpretação
inferencial. Inicia-se com a pré-análise, etapa em que o material é organizado,
buscando-se o recolhimento de dados e a estruturação das informações para
análise posterior. Na fase seguinte – descrição analítica – visa a aprofundar o
estudo, selecionar as partes essenciais e relevantes para a investigação,
almejando-se sínteses coincidentes e divergentes de idéias, que não estão
29
Na questão referente às Atividades de Aventura, foram colocadas como opção todas aquelas
que são oferecidas na cidade de Bonito, MS e ou são possíveis de acontecer como os
desportos radicais urbanos.
79
especificamente unidas a uma teoria. A interpretação inferencial – último passo
– é caracterizada por reflexões do pesquisador, visando a contemplar as
questões norteadoras do estudo.
Os conteúdos manifestos em cada questionário foram organizados em
categorias, possibilitando o cruzamento das idéias dos sujeitos dentro de um
mesmo tema. Desta forma buscaram-se relações que permitissem o
entendimento do universo coletivo pesquisado
5. Resultados e Discussão
Os
dados
obtidos
foram
categorizados,
organizados
e
serão
apresentados, ora em tabela, ora em gráficos, divididos em duas categorias:
Educação Física no Ensino Médio e Atividades Física de Aventura.
5.1 Educação Física no Ensino Médio
Tabela 1 – Gostar ou não Educação Física
Gostar da
Masculino Feminino
Educação Física
Sim
21
16
Não
2
5
Fonte: dados da pesquisa
Os dados apontam um alto índice de aprovação da Educação Física,
84% dos entrevistados afirmaram gostar das aulas de Educação Física.
Embora falar que o aluno gosta das aulas de Educação Física de certa maneira
é “chover molhado”. A grande questão é reconhecer a sua importância
enquanto componente curricular. Vieira (2007), ao pesquisar como os alunos
do ensino médio, valoram a Educação Física encontrou dados significativos,
pois, embora os alunos apreciassem as aulas, quando solicitados que
classificasse as disciplinas escolares em ordem a importância, tanto discentes
80
do turno matutino quanto do turno noturno, colocaram a Educação Física em
último lugar.
5.2 Atividades Física de Aventura
As tabelas a seguir representam quais são as atividades físicas de
aventura que os alunos conhecem e o local de aquisição desse conhecimento.
Tabela 2 – Atividades conhecidas /vivenciadas
Atividades na Natureza
Conhecidas
Vivenciadas
Rapel
37
02
Bóia Cross
36
17
Canoagem
33
-
Mountain Bike
25
05
Mergulho
18
03
Rafting
17
-
Trekking
10
05
Corrida de Orientação
07
02
Atividades Urbanas
Freqüência
Skate
38
11
Escalada
28
-
Patins in line
12
12
Fonte: dados da pesquisa
Embora a cidade de Bonito seja o celeiro do ecoturismo sul-matogrossense, nem todos os alunos conhecem todos os seus atrativos que são
realizados na natureza (merecem destaque o rapel, a descida no bóia cross, a
canoagem e as trilhas com mountain bike), uma vez que não houve
81
unanimidade nas escolhas nenhuma das atividades apresentadas no
instrumento de pesquisa.
Nas atividades urbanas de aventura, o skate é o mais conhecido pelos
alunos, um dos fatores que podem contribuir com esse resultado é o fato que
esse desporto cresceu aproximadamente 210% em 04 anos e atrai
constantemente a atração da mídia (GALLIANO, MAYER, 2009).
5.2.1 Local de aquisição do conhecimento
Os conhecimentos relacionados à cultura corporal de movimento
deveriam ser adquiridos na educação formal, pois o aluno teve no mínimo 07
anos de Educação Física escolarizada, a escola seria a fonte primaria desses
saberes. A mídia e outras Instituições Sociais corroborariam para essa
formação. Na prática observa-se que isso não ocorre com as atividades de
aventura, pois, nenhum aluno indicou a escola como fonte de obtenção desse
saber.
Tabela 3 – Local de aquisição do conhecimento
Local
Freqüência
Passeios
14
Mídia
26
Projetos sociais
02
Amigos
08
Familiares
03
Trabalho
02
Fonte: dados da pesquisa
Com os desportos tradicionais que embora sejam “teoricamente”
trabalhados na Educação Física, acontece situação semelhante, a escola
pouco contribui com os alunos na aquisição desses saberes. Mundier Jr (2009)
ao verificar o que concluintes do Ensino Médio sabiam sobre os quatro
esportes coletivos mais trabalhados nas aulas de Educação Física (voleibol,
82
basquete, handebol e futebol), com um instrumento de pesquisa com questões
simplificadas sobre os conhecimentos necessários para se praticar cada um
desses desportos, encontrou dados alarmantes, pois o pouco que os alunos
conheciam, era na maioria das vezes relacionado à dimensão procedimental
dos conteúdos, não ultrapassando a barreira do fazer por fazer, o raro
conhecimento relacionado à dimensão conceitual, tinha a mídia como fonte de
aquisição.
5.2.2 Local de vivência das atividades físicas de aventura
Com a relação à vivência das atividades de aventura, quer seja na
natureza ou na cidade, não houve relato da mesma ter sido proporcionada nas
aulas de Educação Física.
Não pratiquei nas aulas de Educação Física porque na escola
não são oferecidas atividades assim (Participante A).
Não pratiquei nada, mal a Educação Física tem futebol (grifo
nosso), imagina esses esportes, às vezes conseguimos
praticar outra coisa como o basquete (Participante C).
Um dos motivos que podem contribuir para que o aluno não tenha
acesso às esses passeios (nome dado as atividades oferecidas em Bonito) é o
alto custo cobrado (ver tabela abaixo), mesmo em baixa temporada, como
afirma um dos participantes do estudo.
Nenhuma, porém tem motivo não tem verba, nem transporte
(Participante B).
Tabela 4 – Preço de alguns passeios de Bonito na baixa temporada
Passeio
valor
Abismo Anhumas - Rapel e Flutuação
360,00
83
Abismo Anhumas
Autônomo
-
Rapel
e
Mergulho 530,00
Arvorismo Cabanas
75,00
Barra do Sucuri - Flutuação
65,00
Boca da Onça - Cicloturismo
102,00
Bóia Cross Cabanas
40,00
Bote Karajá (embarque Ilha Bonita)
50,00
Ceita Corê - Trilha e Cachoeira
74,00
Fonte: http://www.atrativosbonito.com.br/tabela_precos.php?cat=4
Embora a cidade de Bonito tenha o ecoturismo como base da sua
economia, não oferece aos locais a oportunidade de experimentarem suas
belezas. Cobra-se do bonitense o mesmo valor pago por um turista normal.
Não existem políticas públicas voltadas ao atendimento do munícipe.
Tabela 5 – Ter as atividades de aventura como conteúdo das aulas de
Educação Física.
AFAN como
conteúdo
Freqüência
A favor
41
Contra
03
Fonte: dados da pesquisa
A inclusão das atividades de aventura como conteúdo nas aulas de
Educação Física é algo que os alunos almejam, dos 44 entrevistados apenas
03 afirmaram não querer dispor dessa prática. Essas atividades, nesse caso,
assumem um duplo papel (são novidade e possuem o risco como
característica) objetivando ativar o sistema de recompensa30 cerebral do
30
O sistema de recompensa é parte integrante do sistema límbico e um dos mais antigos
componentes do Sistema Nervoso Central sendo responsável por criar uma expectativa
positiva ante aos prazeres da vida, quando se pensa em uma comida apetitosa, em uma
84
adolescente, que de certa maneira, encontra-se preguiçoso, fazendo com que
atividades
que
antes
pareciam
prazerosas,
se
tornassem
tediosas
(HERCULANO-HOUZEL, 2005). Para a autora todo o sistema de recompensa
sofre uma grande baixa e por isso não é fácil deixar um cérebro adolescente
satisfeito, sendo assim essa baixa na capacidade de ativação desse sistema
sugere uma mudança nas atividades a serem ofertadas para os jovens.
Se a busca por novidades arriscadas se manifesta, ela pode
ser canalizada para riscos controlados: escalada indoor,
acrobacias aéreas numa escola de circo, corridas de
orientação, ciclismo cross-country e longas caminhadas com
uma barraca dentro da mochila são opções mais seguras do
que bungee jumping [...] ou pegas de carro. O fato é que
adolescentes são por definição seres que correm risco. Se o
risco é inevitável – e, na verdade desejado! -, melhor então
descobrir como usá-lo ao seu favor (HERCULANO-HOZEL,
2005, p.131),
Sendo assim, não adianta o professor se martirizar perguntando o que
mudou? Aquele aluno que adorava sua aula agora não dá mais bola para a
mesma. A solução é buscar na novidade a solução, pelo menos parcial, de
seus problemas. As atividades de aventura cabem perfeitamente nesse
contexto.
6. Considerações Finais
As atividades de aventura, realizadas na natureza ou no meio urbano,
pelos seus componentes: a incerteza motora (possibilita a ampliação do
repertório motor), a liberação de adrenalina, a co-educação (indivíduo /
ambiente), a não exclusão (os anti-heróis podem fazer parte do grupo) por si só
grande quantia de dinheiro, ou no objeto da paixão: a dopamina, uma substância
neurotransmissora, se encarrega da comunicação entre as partes que compõem o sistema de
recompensa (CAMARGOS et all. 2009)
85
deveriam estar nas aulas de Educação Física. No estado do Mato Grosso do
Sul já foi dado um passo para que isso aconteça, as atividades de aventura,
veiculam nas orientações curriculares para os professores.
Mas só a presença em documentos oficiais não é suficiente, os dados
encontrados neste estudo provam que mesmo em cidades que possuem
grande parte da sua receita no ecoturismo como Bonito isso não acontece, a
proximidade com a natureza poderia ser um fator decisivo para a inclusão das
AFAN nas escolas favorecendo a educação ambiental, essencial para que o
município continue usufruindo da natureza. Os alunos pouco conhecem e/ou
vivenciaram as AFAN, suas aulas de Educação Física, mesmo nos conteúdos
tradicionais, ainda permanecem com a política do ”eu finjo que ensino e vocês
fingem que aprende”.
A situação encontrada sugere mudanças, faz-se necessário que haja
uma ruptura de paradigmas, e os professores incorporem as AFAN em sua
prática. O exemplo de países como a Nova Zelândia deveriam ser seguidos, ou
como diria o célebre escritor brasileiro: Oswald de Andrade serem
antropofagizados, trazendo o que é bom para a nossa realidade.
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São Paulo: EEFEUSP Junior, p. 110, Anais... 2007.
88
ESPORTES DE AVENTURA: ENTRE O URBANO E A NATUREZA
Jarbas Pereira Santos - Graduado Educação Física - Faculdades Unidas do
Norte de Minas – Funorte, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
Marilda Teixeira Mendes - Instituto de Ciências Agrárias da Universidade
Federal de Minas Gerais, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
Michela Abreu Francisco Alves - Graduada em Educação Física pelas
Faculdades Unidas do Norte de Minas-FUNORTE, Montes Claros, Minas
Gerais, Brasil
E-mail: [email protected]
RESUMO
Os esportes de aventura têm se tornado cada vez mais comum nos dias
atuais, despertando grande interesse na sociedade brasileira, onde novas
modalidades surgem e concomitantemente aumenta o número de adeptos a
essas práticas. As visitações na natureza, que expressam pelas manifestações
do corpo, possuem influências que permeiam desde a questão ambiental, até
questões pessoais, como a fuga da rotina e descanso. O estudo teve por
objetivo investigar através de pesquisa bibliográfica, os esportes de aventura
com ênfase na natureza como parte integrante da Educação Física e essa
relação entre os seres humanos e o meio ambiente. Com base nos
levantamentos obtidos acerca dos esportes de aventura em específico da
prática na natureza, o indivíduo acaba por pensar coletivamente e
individualmente, mas sendo parte de um todo comum, valorizando a
cooperação e o companheirismo, uma vez que como seres humanos tornam-se
mais sensíveis e autoperceptíveis, onde esses valores e interações na
natureza acabam por serem retomadas na volta ao cotidiano. Os profissionais
da educação física, uma vez interessados na atuação, por sua vez deverão
ater a necessidade de uma formação e capacitação profissional específica para
atuar na área.
Palavras-chave: Esportes de Aventura; Natureza; Educação Física.
Introdução
Os esportes de aventura têm se tornado cada vez mais comum nos
dias atuais, despertando grande interesse na sociedade brasileira, onde novas
modalidades surgem e concomitantemente aumenta o número de adeptos a
essas práticas.
As visitações na natureza, que expressam pelas manifestações do
corpo, possuem influências que permeiam desde a questão ambiental, até
questões pessoais, como a fuga da rotina e descanso.
As experiências íntimas do corpo com a natureza representam uma
forma de comunicação, um diálogo entre o homem e o mundo natural. Diálogo
89
este, crítico ou não, dependendo da relação do homem com sua corporeidade
expressa no movimento humano, os quais sofrem influências diretas de sua
cultura e valores (BRUHNS, 1997b).
Segundo Pimentel (2008) os esportes de aventura são adotados
como opção de ócio ativo no tempo livre, especialmente entre a população
púbere e adulta-jovem das grandes cidades. Para a saúde pública esse tipo de
prática é um objeto contraditório, pois muitas pessoas são vítimas de acidentes
fatais quando não agem com segurança, mas, por outro lado, a aventura é
utilizada como uma forma lúdica de controle do estresse e de outros fatores de
risco para diferentes padecimentos. Assim, praticar esportes de aventura pode
ser um fator de risco e, ao mesmo tempo, uma forma de se adaptar às
ameaças da vida cotidiana. Deve-se antes de tudo informar-se dos
profissionais que atuam na área e de suas referências profissionais,
equipamentos de segurança, treinamentos, entre outros, para que seja uma
atividade de risco controlado e de vivência diferenciada e prazerosa na
natureza.
Diversas experiências humanas foram relatadas e documentadas
sobre o tema que antes era destinado apenas aos seres dotados de heroísmo
e coragem (STEINMANN, 2003; FERRERAS, 2005; HERZOG, 2001). O que
tem se alterado e difundido desde o início da última década é a democratização
dessas atividades, onde elas hoje são praticadas por uma diversidade de
pessoas, em geral com pouco conhecimento sobre os aspectos técnicos e de
segurança que elas exigem, mas que querem viver suas emoções (PEREIRA;
ARMBRUST; RICARDO, 2008).
O estudo teve por objetivo investigar através de pesquisa
bibliográfica, os esportes de aventura com ênfase na natureza como parte
integrante da Educação Física e essa relação entre os seres humanos e o meio
ambiente.
Esportes de Aventura
Elias; Dunning (1992) acreditam ser necessário nos atermos para o
fato de que, ao longo da evolução humana, sempre existiram práticas que
envolvessem desafios e aventuras em que fortes emoções se faziam
90
presentes. Contudo, tais práticas não podem ser chamadas de "esportes de
aventura", pelo fato, é claro, de que não eram atividades esportivas, pelo
menos não no sentido que é atribuído hoje à expressão. E, por fim, estas não
eram dotadas da função que o esporte assumiu mais recentemente em nossa
sociedade (CANTORANI; PILATTI, 2005).
Os esportes de aventura são conhecidos pela busca por sensações
novas, com um caráter prazeroso, plenitude pessoal, evasão divertida e o
contato com a natureza. No início da década de 90, pode-se observar uma
maior esportivização dessas práticas, ou pelo menos, de grande parte desses
“novos esportes”, que tiveram uma crescente procura como forma de lazer na
década de 70 (BETRÁN, 2003).
Cordeiro et. al (2008) exemplifica algumas atividades de esportes de
aventura no ar, terra e água:
As modalidades relativas ao ar: Pára-quedismo, Sky-surf; Base
jump, Asa-delta; Parapente (infla e decola), Balonismo e Ultraleve.
As modalidades relativas a terra: Espeleologia (exploração de
cavernas), Excursionismo (caminhadas, trekking e hiking), Rallies (classe
turismo), Bung jump, Rope swing (pêndulo c/ corda), Cavalgada, Orientação
(caminhada e corrida), Canionismo (rapel e tirolesa), Montanhismo (escalada e
caminhada), Ciclismo, Mountain bike (cicloturismo), Off-road (fora-de-estrada),
Arborismo, Motocross, Sand board (prancha na areia).
As modalidades relativas à água: Caiaque, Surf, Mergulho, Vela,
Acqua-rider, Bóiacross, Rafting, Outrigger (canoa havaiana), Canoa, Windsurf,
Moreybug (body boarding).
Os
características
esportes
de
de
aventura
compromisso,
despertam
superação
de
em
seus
limites,
praticantes
autoconfiança,
companheirismo, tolerância ao sucesso e ao fracasso, e são apontadas como
sinônimo de prazer e bem-estar.
A ação e a aventura são aspectos que encontramos inseridos no
contexto de esportes de aventura, e para tanto devemos compreender os seus
significados.
O significado de ação é: movimento; atitude ou comportamento;
manifestação de força e energia; capacidade de fazer algo (FERREIRA, 1989).
Numa análise simples vemos que o símbolo dessas atividades está num
91
movimento importante a ser executado, um gesto técnico complexo que
traduza a sua emoção, a chamada manobra. A atitude é sinônimo de ação e
está ligada às tribos citadas por Uvinha (2001), pois os grupos que se
relacionam no seio dessas práticas tendem a ter uma forma de linguagem,
vestimenta, e comportamento que os unem.
A palavra aventura do latim adventura quer dizer o que está por vir,
com o sentido de desconhecido, imprevisível (FERREIRA, 1989). Esse sentido
liga-se ao sentimento de buscar algo que não é tangível num primeiro
momento, que é muito comum aos praticantes de modalidades na natureza,
principalmente aquelas onde a distância, o clima, o esforço físico, a privação e
a incerteza estão presentes.
Os esportes de aventura aparecem como uma válvula de escape,
considerando que os mesmos são uma forma de se escapar da pressão
comportamental imposta pela sociedade.
Conforme sucinta Schwartz (2006), esta dinâmica entre homem e
natureza possibilita o confronto do indivíduo com suas próprias limitações e
compreensão de seus comportamentos e escolhas, atingindo uma maior
interação entre os processos de percepção e ação.
Durante as visitações na natureza, os indivíduos deparam-se com
diversas oportunidades de praticar atividades que se apresentam como
espaços de reintegração entre os seres humanos e a natureza (INÁCIO et. al.,
2005a).
Esportes de Aventura e a Educação Física
A Educação Física, sofre com a visão de um pensamento racional
sobre o corpo como frisa Bracht (1999), mesmo tomando como exemplo no
campo dos esportes de aventura a graduação de vias de escalada em rocha
acerca da dificuldade exata para cada caminho escolhido como via de acesso
ao cume das rochas, considerando as variáveis, dificuldade de movimentação,
risco de queda, tempo de duração da escalada, quantidade de força exigida,
qualidade das proteções, nível máximo de dificuldade do lance mais difícil da
via etc, segundo FEMERJ (2007), continua existindo uma subjetividade que se
baseia nos conceitos de cada indivíduo sobre o que é a escalada, uma vez que
se devem levar em consideração alguns fatores como tipo de formação
92
geológica e geográfica, na inclinação natural da rocha, na história da
comunidade escaladora local e até mesmo na vaidade pessoal de cada
escalador que conquista uma via. A criação de regras nos esportes de aventura
deve se basear na complexidade, o que vai de encontro ao pensamento de
Souza (2001), quando adentra ao mundo da escalada para demonstrar uma
forma de manifestação da inteligência humana: a inteligência corporal
cinestésica. Completando esse raciocínio, Bracht (1999) acredita no momento
de transição que a sociedade pós-moderna passa e que por esse motivo o
desafio deve ser não simplificar, mas entender as relações complexas
compreendidas no campo da Educação Física.
A Educação Física também deve focar e não perder de vista uma de
suas funções mais importantes que é o desenvolvimento integral do indivíduo,
oferecendo-o situações novas e imprevisíveis existentes nos esportes
praticados em meio natural.
Hyder (1999), Freire; Schwartz (2005), acreditam inclusive nessas
práticas como possibilidades educacionais e formadoras dos cidadãos. O que
nos remete aos profissionais e educadores que necessitam se apropriar dessa
nova cultura para contextualizar seus conteúdos a nova realidade da Educação
Física.
De acordo com Marinho; Gáspari (2003), considerando as
demandas da sociedade atual, novos olhares têm se voltado ao ofício de
ensinar, às condições e motivos pelos quais se ensina para quê se ensina e ao
perfil do profissional que se pretende formar. Esses novos olhares são capazes
de mudar, inclusive, o foco do que se entende por ensinar, aprender e ter como
profissão.
As pessoas que optaram por esta profissão interdisciplinar, muitas
vezes não dão conta do universo de opções que ela oferece e os esportes de
aventura é um deles.
Os cursos de formação, nesse pressuposto, não podem mais estar
atrelados à concepção de uma educação que se viabiliza apenas nos espaços
formais da instituição, requisitando uma ampliação dos horizontes da ação
educativa
para
além
de
seus
muros
e
para
além
dos
aspectos
predominantemente cognitivos. Faz-se, premente, então, ousar e extrapolar na
organização de estratégias pedagógicas que se utilizem dos espaços informais,
93
de modo complementar, com objetivo de focar o sujeito aprendiz por inteiro, ou
seja, não apenas no cognitivo, mas também nos seus elementos afetivos e
emocionais (MARINHO; GÁSPARI, 2003).
Grezzana (2000) diz que o PCN (Parâmetro Curricular Nacional),
evidencia a possibilidade de desenvolvimento das potencialidades humanas
tendo como característica o risco, o desafio e a aventura.
Sabidamente o desafio que se impõe à educação brasileira, neste
século, passa pela gestão da qualidade, a partir de ações compromissadas,
competentes e criativas, das quais podem emanar mudanças significativas
quanto ao processo formativo dos futuros profissionais do lazer, do turismo, do
ecoturismo e outros (MARINHO; GÁSPARI, 2003). Inclui-se também nessa
temática os esportes de aventura pela necessidade de formação e capacitação
dos profissionais de educação física para atuar na área.
Conforme
relata
Marinho;
Gáspari
(2003),
um
profissional
competente deverá estar sintonizado com outros indicadores de aprendizagem,
de natureza emocional, igualmente importantes no processo de aprender a
aprender.
O RISCO NA AVENTURA
Risco é também parte do pacote dos esportes de aventura que vem
tornando-se cada vez mais populares.
O risco costuma ser um tema complexo quando se fala de esportes
na natureza, já que pressupõem a possibilidade de estar jogando com a própria
vida. A partir do momento em que nascemos e somos apresentados ao mundo,
estamos sujeitos aos problemas e contratempos que a vida oferece, ou seja,
correr riscos é uma condição inerente a qualquer ser vivo (CARVALHO, 2005).
Para Guzzo (2004), pensar o risco é geralmente pensar o
movimento. Movimento caracterizado como ação de qualquer tipo, envolvendo
escolhas que possam gerar conseqüências para o individuo que as faz.
Correr riscos, em todos os sentidos, aparece como forma de ser
contemporânea: coragem, adrenalina, medo, movimento. A aventura passa a
ser envolvida por aparelhos de segurança, equipamentos específicos e
constante monitoramento. O ingresso nesse tipo de modalidade de risco
94
mantém a tradição do fortalecimento do caráter, ou do mito do herói (GUZZO,
2004).
É preciso deixar claro que, as práticas dos esportes na natureza de
maneira geral exigem muita prudência, para que a experimentação do risco
imaginário não se torne real. O perigo está sempre à espreita e exige atenção
permanente (CARVALHO, 2005).
Segundo Bartmann (2006), fisiologicamente quando a dopamina é
liberada, ela excita os seus receptores e em situações de estresse e fadiga nos
esportes que enfrentam essa situação, a mesma deveria diminuir a sua
liberação, mas acontece o contrário, explicando a busca pelo risco.
E na prática dos esportes junto à natureza, no meio selvagem,
chamado de “Esportes de Aventura”, anda casado com a imagem de uma
aventura cheia de valores do âmbito simbólico. Isto se dá pela associação da
aventura lúdico-esportiva na natureza, onde cada objeto que a compõe
(montanha, céu, abismo, nuvem, vento e etc.) assume um valor, fazendo assim
uma conexão com o mundo objetivo subjetivo (BARTMANN, 2006).
Há uma existência de uma dimensão positiva no enfrentamento dos
riscos. Há uma velha conexão entre risco e aventura, valorizada pela ousadia
passível de levar a descobertas e há também uma velha conexão entre risco e
formação de caráter, expressa no valor educativo da aventura (SPINK et al.,
2004). Podemos descrever valores que norteiam esse tipo de educação:
aventura e desafio; compaixão e serviço; aprendizagem por intermédio da
experiência; desenvolvimento pessoal; responsabilidade social e ambiental.
Conforme Spink et al. (2004) os esportes de aventura ajudam
primeiramente
a
conhecer-se
melhor,
depois
o
ensinam
a
abrir-se,
possibilitando ajudar aos outros em sua equipe, onde essa combinação que o
ajuda a ver as coisas com novos olhos e faz do esporte uma experiência
incrível.
Também a competição e a luta pela sobrevivência na sociedade ao
mesmo tempo nos atraem e nos atemorizam, e percebemos que delas não
podemos fugir. Percebemos então que o risco é um companheiro do cotidiano
e que precisamos conhecê-lo, calculá-lo e controlá-lo (COSTA, 2000, p. 90).
95
Confome Cantorani; Pilatti (2005) com o grande desenvolvimento
dos esportes de aventura, tanto em diversificação de modalidades quanto na
organização dessas modalidades e em conseqüência, vem ocorrendo uma
diminuição do nível de riscos envolvidos, pois nos últimos anos passou a
contar, devido à demanda, com empresas especializadas em equipamentos de
segurança, que, por sua vez, se tornam cada vez mais sofisticados.
Na maioria dos esportes que envolvem altura, água e velocidade,
não há espaço para erros e muito menos para desprezar equipamentos de
segurança, já que a “vida” é uma só. Temos convicção de que ninguém busca
os esportes na natureza com a finalidade de extirpar a própria vida.
Acreditamos que a utilização de um termo mais abrangente para estes
esportes, seja imprescindível para o desenvolvimento e difusão das
modalidades e principalmente, para servir de ferramenta de acesso capaz de
criar as condições necessárias a todos (CARVALHO, 2005). Em ambientes
naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam emoções e riscos
controlados, exige-se o uso de técnicas e equipamentos específicos, e a
adoção de procedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros e o
respeito ao patrimônio ambiental e sociocultural.
Esse mesmo risco, evidenciado pelas pessoas, parece afetar
diferentemente a cada um, inibindo-as ou estimulando-as à prática de esportes
de aventura.
Qualidade da Atividade, Segurança e Consciência Ambiental
A qualidade da atividade ou do serviço prestado aos iniciantes ou
praticantes de esportes de aventura é o principal impacto do conceito no
público consumidor será a qualidade no atendimento; a segurança e o conforto;
e a consciência ambiental. É Importante que anexo a tudo isso esteja
fundamentado a qualidade de vida na diferenciação do serviço.
Quanto à garantia da segurança, mesmo sem um conhecimento
profundo sobre as novas tecnologias e os novos equipamentos específicos que
existem no mercado, voltados à prática de tais esportes, o iniciante, ou até
mesmo os mais experientes devem prezar pela manutenção, certificação e
96
qualidade dos equipamentos, assim como pelas orientações específicas de
segurança.
É necessário o máximo de cuidado e formação, necessários para
estas práticas fluírem com a segurança exigida e os sujeitos possam usufruir
do prazer, na busca das emoções por meio do risco imaginário, uma vez que
não garantida à segurança, pode-se acarretar transtornos inevitáveis à vida do
homem.
Conforme Nazari (2007) pode não parecer verdade, mas a grande
maioria dos acidentes que ocorrem, acontece por erro humano, seja por falha
de um equipamento que não foi usado de maneira adequada, ou por não haver
qualquer tipo de manutenção neste equipamento, ou até mesmo por
negligencia do praticante. É preciso que se questione sobre a atividade para
que se tome conhecimento da mesma e dos riscos envolvidos.
É extremamente importante que todos os equipamentos a serem utilizados
tenham algum tipo de certificado de qualidade, pois é o que vai garantir a
segurança do equipamento.
Em qualquer esporte o praticante deve estar em boas condições
físicas e mentais; planejar antecipadamente; possuir o equipamento adequado
(Desde roupas até os equipamentos específicos do esporte); saber como
utilizar o equipamento; levar apenas o necessário; nunca praticar sozinho;
avisar outras pessoas para onde você esta indo; observar as condições
meteorológicas; respeitar seus próprios limites e do companheiro; estudar
antes a região que ira praticar o esporte; estar sempre acompanhado de
alguém que tenha algum tipo de experiência no esporte; estar bem alimentado,
entre outros (NAZARI, 2007).
Na atualidade, os esportes na natureza têm desempenhado um
papel tanto social como educacional e têm proporcionado algumas mudanças
como a ocupação do tempo livre em uma sociedade tecnologicamente
desenvolvida e conseqüentemente cada vez mais estressante; a revitalização
de áreas rurais, antes em completa decadência; o despertar de interesses
políticos e financeiros em todo o mundo, levando à criação de leis que
regulamentam o acesso e utilização dos variados ambientes (CARVALHO,
2005).
97
Carvalho (2005) relata que o “tempo livre” é uma expressão dos
tempos modernos, que reflete claramente o modo de vida das pessoas que
tentam encontrar lacunas em suas vidas em busca de algo que se distancie
das responsabilidades cotidianas. E elas vêm descobrindo nos esportes na
natureza, formas rápidas de sentir novas sensações que aliviam de certo modo
os sintomas do stress físico e mental. A velha expressão “eu tenho a vida
inteira pela frente”, já não serve mais como referência nos dias de hoje. É
preciso gerenciar o tempo.
Outro fator importante dos esportes na natureza está relacionado
com a revitalização de locais como fazendas e pequenas cidades interioranas,
antes em completa decadência. O que antes era desprezado pelos
proprietários como trilhas e cachoeiras, de repente tornou-se a maior fonte de
renda destes locais, fazendo com que o turismo rural ganhasse força e se
expandisse por todos os cantos do país agregando valor ao sustento das
famílias e das propriedades (CARVALHO, 2005).
Todo este novo e promissor movimento, também acabou gerando a
necessidade de se criar uma legislação ambiental nacional que é considerada
uma das mais completas e bem elaboradas do mundo. Infelizmente, também
uma das menos respeitadas e mal aplicadas em função de interesses políticos
(CARVALHO, 2005).
Na formação da consciência ambiental, o corpo é concebido como
receptor e emissor de informações, em uma relação acentuada pela
contemplação, estimulando o aguçamento dos sentidos e filtrando-se em
valores e concepções de estilos de vida (LAVOURA; SCHWARTZ; MACHADO,
2008).
Lavoura; Schwartz; Machado (2008) relata que é neste “jogo das
sensações”, possibilitado pela efetiva relação ser humano-natureza, que surge
o espaço para a discussão da valorização e preservação do meio ambiente,
sensibilizando, tocando e despertando, nestes praticantes, atitudes e condutas
preservacionistas.
Entretanto, há que se concordar com MARINHO (2004), quando a
mesma afirma que a simples visita à natureza pode não ser suficiente para
despertar nos indivíduos a consciência preservacionista.
98
É preciso que se tenha uma atividade de qualidade, onde a
segurança seja primordial para as práticas de esportes de aventura, mas
devemos em contrapartida, trabalhar a consciência ambiental que possibilite a
conservação e preservação da natureza e a prática do desenvolvimento
sustentável das áreas rurais e naturais.
O Turismo Como Aventura
O ecoturismo é um tipo de turismo na natureza que abrange em sua
conceituação a experiência educacional interpretativa, a valorização das
culturas tradicionais locais, a promoção da conservação da natureza e do
desenvolvimento sustentável (KINKER, 2002).
O turismo de aventura define-se, segundo Fennel (2002), como uma
atividade de lazer ao ar livre que ocorre em um local de destino não usual,
exótico, remoto ou de vida selvagem; envolve algum meio de transporte não
convencional, e tende a ser associado a níveis baixos ou elevados de
atividades.
Conforme evidenciado nos estudos de Tahara; Schwartz (2002), os
esportes de aventura oferecem a possibilidade de vivenciar sentimentos de
prazer, em função de suas características que promovem, inclusive, a
ampliação do senso de limite da liberdade e da própria vida.
O turismo de aventura é um dos segmentos que atualmente mais
cresce em todo o mundo e particularmente no Brasil, onde as belezas naturais
e a grandiosidade do país permitem a realização de uma infinidade de
atividades em diversos destinos turísticos. Inicialmente tratado como uma
vertente do turismo de natureza, o turismo de aventura se disseminou pelo
Brasil, desenvolvendo características próprias e resultando no surgimento de
empresas e profissionais especializados (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).
Ainda segundo o Ministério do Turismo, “o turismo de aventura
compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de
aventura de caráter recreativo e não-competitivo”. São as atividades
recreativas que envolvem desafio e riscos avaliados e que proporcionam
sensações diversas e novidade.
Marinho (2001a) ao afirmar que, no turismo de aventura, as
atividades
as
quais
requerem
os
elementos
naturais
para
o
seu
99
desenvolvimento, de formas distintas e específicas, parecem realmente estar
despertando maiores sensibilidades, em diferentes níveis. As intensas
manifestações corporais, nessas práticas, permitem que as experiências na
relação corpo-natureza expressem uma tentativa de reconhecimento do meio
ambiente e dos parceiros envolvidos, expressando, ainda, um reconhecimento
dos seres humanos enquanto parte desse meio.
Por sua vez, o turismo de aventura ao conquistar mais espaços, a
cada dia, enquanto campo de trabalho exige um novo perfil de profissional que,
vencendo os desafios das diversas demandas sociais, reitere a validade desta
proposta como uma estratégia criativa e lúdica, facilitadora do reencontro e da
simbiose dos seres humanos com a natureza. Dessa forma, apontamos para a
necessidade da existência de uma pedagogia capaz de incorporar aspectos
lúdicos, potencializados por meio de uma educação para o lazer e a recreação
(MARINHO; GÁSPARI, 2003).
O Turismo Ecológico ou Ecoturismo surge como uma alternativa de
se contrapor à lógica do turismo de massa (estandardizado e predatório), e
procura cada vez mais defender a proposição de roteiros personalizados,
preocupados com o mínimo impacto e com grande interesse paisagísticoecológico (SERRANO; BRUHNS, 1997). Para tanto devemos direcionar nossas
preocupações em termos de planejamento, gestão e sustentabilidade.
Aventura e Qualidade de Vida
Em tais atividades, o fato de chegar a lugares, por ora inacessíveis
(o cume de uma montanha, o escuro da caverna, a força dos ventos ou das
corredeiras dos rios) permite que tais “aventureiros” experimentem uma gama
de significados, por meio desta troca simbiótica entre corpo e meio, remetendo
os sujeitos a novas sensações, sentidos, sentimentos e emoções (LAVOURA;
SCHWARTZ; MACHADO, 2008). A busca pelos desafios aos limites, pelo
alcance de metas, pela interação homem-natureza-atividade e pelo ingrediente
do risco controlado salvaguardado pela segurança dos equipamentos configura
a aventura.
Qualidade de Vida é um conceito que nos parece próximo e ao
mesmo tempo distante. Próximo por pretender abranger os incontáveis fatores
que influenciam na vida dos seres humanos; distante pelo fato de que ao
100
querer dizer muito pode acabar dizendo nada (ZIMMERMANN, 2006). De
acordo com a autora, qualidade de vida é sentir-se parte do ambiente, agente
de transformação; é fazer o que se gosta, ou "pelo menos ter a possibilidade
de".
Para alguns praticantes de esportes de aventura, por exemplo,
qualidade de vida pode não ser um conceito muito claro, mas está vinculada ao
estresse, e combater o estresse é esquecer os problemas, quando o
pensamento se dá no mesmo momento da prática. Da mesma forma, é
freqüente a idéia de "troca de energias". O praticante não recebe passivamente
novas energias, é preciso ser/estar na natureza, estar na ação. É interessante
que para descansar a mente é preciso levar o corpo para passear,
reconhecendo-se então uma unidade (ZIMMERMANN, 2006).
Para Zimmermann (2006) a atividade física, qualquer que seja, está
vinculada à saúde, e da mesma forma à qualidade de vida, mas não como uma
pílula cujos efeitos podem ser controlados, e sim porque é uma forma de
movimento, e enquanto nos movimentamos estamos vivos. Só é possível falar
em saúde quando nos referimos à vida, pois saúde é uma certa forma de estar
no mundo.
Considerações Finais
Com base nos levantamentos obtidos acerca dos esportes de
aventura em específico da prática na natureza, o indivíduo acaba por pensar
coletivamente e individualmente, mas sendo parte de um todo comum,
valorizando a cooperação e o companheirismo, uma vez que como seres
humanos tornam-se mais sensíveis e autoperceptíveis, onde esses valores e
interações na natureza acabam por serem retomadas na volta ao cotidiano.
Nos esportes de aventura, as sensações densas e excepcionais
proporcionaram bem estar e vitalidade em situações de risco controlado.
A prática de esportes de aventura está ligada à qualidade de vida do
indivíduo, uma vez que o mesmo é levado à melhoria do condicionamento
físico, do movimento, da cooperação e trabalho de equipe, da responsabilidade
consigo e com o próximo, através de uma interação e respeito maior com a
natureza.
101
O risco por sua vez, trabalha como uma ferramenta de atração aos
esportes de aventura, trazendo atrelados aspectos como coragem, adrenalina,
medo, movimento, fortalecimento do caráter, prudência, aventura e desafio,
valor educativo, responsabilidade social e ambiental. Mas também vale
ressaltar que o risco pode ser estimulador ou inibidor da prática, com a
experiência vivenciada como um todo.
O risco adquire um papel significativamente importante no que tange
à satisfação com a experiência, sendo que o desejo de participar pode diminuir
se tais riscos não existirem. Igualmente, o excesso de risco em uma aventura
pode resultar na diminuição da satisfação e, até mesmo, na perda do desejo de
participação.
Os profissionais da educação física, uma vez interessados na
atuação, por sua vez deverão ater a necessidade de uma formação e
capacitação profissional específica para atuar na área.
É recomendada a realização de estudos relacionados os esportes de
aventura acerca da Educação Física, ou da Ciência da Motricidade para que se
possa
conquistar
novos
espaços
e
apresentar
novas
reflexões
e
aprofundamentos acerca dos conteúdos disciplinares e práticos.
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ESPORTES NA NATUREZA: FRAGMENTOS CONTRADITÓRIOS DE UM
OBJETO EM CONSTRUÇÃO
Giuliano Gomes de Assis Pimentel
GEL – Grupo de Estudos do Lazer
Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR
E-mail: [email protected]
Resumo
O objetivo deste texto é analisar o conceito Esportes na natureza. A
discussão conceitual é espinhosa, pois envolve encontrar as orientações
teóricas que possibilitaram ao conceito emergir. Uma questão difícil nessa
problemática é saber encontrar uma base conceitual que englobe o maior
número de experiências dentro da coerência interna e da totalidade dos
fenômenos tradicionalmente estudados no campo. Neste sentido, cada novo
termo proposto para organizar e decifrar as atividades de aventura requer
antes a sua própria elucidação. Para o presente texto, o conceito Esporte na
natureza é discutido nessa perspectiva dialética. Para tanto, as teses sobre
Esportes na natureza são analisadas em sua lógica interna e confrontadas com
sua antítese mais discrepante: a noção de Atividade de aventura. Defende-se
que tal termo apresenta-se mais inclusivo em relação a duas classes de
dinâmicas: as não-esportivizadas e as urbanas. Considerando, características
como risco, imprevisibilidade, aventura, natureza, tecnologias e tendência
histórica, a análise conclui pelo rigor e plasticidade do conceito Esporte na
natureza, ao mesmo tempo em que realça suas aporias. Por fim, o estudo
alerta para os perigos da especialização dos objetos, redundando na
fragmentação do saber.
Palavras-chave: esporte, terminologia, aventura.
Introdução à problemática de análise
Canoagem, voo-livre, parkour, arvorismo
Tirolesa, surf, mergulho, escalada alpina
Rafting, rapel, motocross, pára-quedismo
E no pulso, fluem adrenalina e endorfina.
A contemporaneidade experimenta, em tese, uma diversificação de
atividades de aventura, as quais estão ligadas a sensações de risco e vertigem,
exacerbações controladas das emoções e, em muitos casos, congraçamento
com a natureza e com outras dimensões sensíveis que se encontram em um
momento de revalorização (BRUHNS, 2003).
106
Em geral, são positivas as leituras sobre tal fenômeno, o que parece ser
predominante nos trabalhos difundidos na área. A crítica é, em geral, acerca
dos aspectos que descaracterizam a essência da aventura, como a competição
exacerbada, o uso da natureza apenas como cenário ou o comportamento
imprudente de alguns praticantes.
Também há uma crítica voraz ao viés mercantil, especialmente presente
no dito turismo de aventura, quando este não considera a sustentabilidade
socioambiental. Porém, não seria o caso de tomar a aventura (seja na natureza
ou não) como toda ela um artefato de consumo? Como outras atividades
criadas ou reelaboradas no âmbito do capitalismo, há subsunção das mesmas
à lógica da mercadoria (INÁCIO et. al, 2005).
Assim, coerente com a multiplicação de práticas, há também a tentativa
de criar um mercado consumidor de produtos específicos. Assim, mesmo sem
muita coerência, surgem produtos especializados, condenados rapidamente a
se tornarem obsoletos diante de uma nova tecnologia de aventura. A isto tenho
chamado fetichismo tecnológico: um fascínio pelo uso de novos equipamentos.
Os mesmos são geralmente justificados pela melhoria da segurança,
diminuição da fadiga e aumento da velocidade. Estranhamente, ter um
equipamento mais veloz costuma tornar a prática mais perigosa e aumentar o
estresse em realizá-la (PIMENTEL, 2008).
Todas essas características, mais presentes em contextos urbanizados
e
tecnologicamente
desenvolvidos,
podem
ser
percebidas
na
busca
hedonística por experiências relacionadas à liberação de adrenalina,
especialmente se envolvem o desbravar espaços naturais. É notório que
muitos podem até se satisfazer com ambientes virtuais, mas parece haver um
imaginário relativo ao comportamento heróico – mas sem sacrifício da vida –
alimentando a busca pela aventura seja na forma de turismo seja na forma
esportiva.
A esse respeito, analogamente à apropriação e codificação dos jogos
populares pelos reformadores burgueses no que viria a ser o esporte moderno
(BOURDIEU, 1990), parece haver uma assimilação de manifestações
esportivas convencionais para a formulação dos ditos esportes diferenciados:
parkour, corrida de orientação, escalada, mergulho, rapel, skate, rafting, entre
outros.
107
Esse afloramento da aventura no tempo livre é de tal pujança que não
há contestação válida de que o fenômeno é instigador. Porém, não há clareza
sobre sua identidade e para qual modelo de sociedade sinaliza, havendo tanto
leituras situando-o como reflexo das sensibilidades pós-modernas quanto
críticas sobre sua sujeição à lógica capitalista.
Nesse debate, concorrem diferentes propostas de delimitação do objeto:
AFAN - Atividades Físicas de Aventura na Natureza (BETRAN, 2003), Práticas
corporais de aventura (INÁCIO et. al, 2005), Esportes radicais (UVINHA, 2001),
Esportes na natureza (DIAS, 2007), entre outros. As características listadas
para cada termo nem sempre coincidem, mas é bastante recorrente a
denominação esporte, seguida por algum adjetivo como vertigem, risco ou
aventura.
Segundo Silva et. al. (2002, p. 76), essas atividades são assinaladas
pelos seguintes aspectos: “têm como principal característica o desafio e, em
grande maioria, o contato permanente com a natureza. Seu maior atrativo é a
emoção. Todas as modalidades envolvem riscos [...].” Todavia, é questionável
se esses atributos são adequados para distinguir os esportes de aventura de
outras manifestações não-tidas nessa categoria mas que apresentam
similaridades. Afinal, vejamos:
O
contato
com
o ambiente natural é,
talvez,
o
componente
implicitamente mais evocado para definir o objeto (que, para fins deste artigo,
tomaremos como atividade de aventura, por ser mais ‘genérico’). Faz sentido,
visto que o meio selvagem aumenta a imprevisibilidade (PARLEBAS, 1988).
Porém, se a aventura é evocada pela natureza porque práticas urbanas como o
parkour ou o skate são aventuras? Se o critério maior fosse a vertigem, estaria
explicado. Será esse, portanto, o eixo central?
Caso a vertigem ou as fortes emoções seja o que caracteriza esse
objeto, por exemplo, a emoção ou vertigem presente nessas ‘novas’ práticas
difere daquela produzida no turismo de aventura, parques de diversão e
lazeres não usuais (drogas, rachas...)? Nesse sentido, o voo produzido pela
heroína é bem diferente do voo heróico de asa-delta. Também, vale pensar que
mesmo no campo esportivo, em diálogo com a tipologia de Caillois (2009) para
as atividades lúdicas (mais especificamente o jogo: jeaux) é complicado diferir
a vertigem (Ilinx) do esqui, como exemplificado pelo autor, da competência e da
108
técnica (Agôn) necessárias e desejadas para vencer nesse esporte.
A questão do risco é também problemática. Para ilustrar, o boxe e o
rodeio envolvem menos riscos que o pára-quedismo? Mas por que somente
este é associado como um esporte de risco? A dimensão do risco, como uma
categoria eminentemente moderna (SPINK, 2001), não pode ser lida
dissociada da nova configuração social, nomeada por Beck e Guiddens como
sociedade do risco. Será que essa dimensão seria exclusiva ou realmente
predominante da aventura? De que risco se estaria falando e por que ele está
presente nas atividades de aventura?
Por fim, o aspecto que provoca mais reflexão é a tomada dessas
manifestações corporais como se fossem todas, ou mesmo em sua maioria, de
natureza
esportiva.
Seriam
excluídas
atividades
como
acampamento,
birdwatching ou o arvorismo, por não serem esportes? Diversas práticas
corporais de aventura estão dissociadas da categoria esporte, sendo melhor
entendidas a partir de uma multiplicidade de formas de expressão da cultura
corporal de movimento. Mesmo naquelas que possuem analogia ou
familiaridade a algum esporte é mais fácil encontrar elementos próprios do
turismo do que codificações notadamente esportivas (BRUHNS, 2003).
Diante desses rápidos argumentos, é necessário admitir que os
conceitos e caracterizações disponíveis na área são insuficientes para um
consenso, para cercar o objeto sem criar um campo de exclusão. Se a
atividade de aventura implica riscos, é possível incluir o virtual? Tido como
esporte, o que se dirá da aventura não regulamentada? E se for ‘extremo’ ou
‘radical’, o que acontece quando essas práticas saem da margem e viram
comuns? Poderíamos dizer que são práticas corporais de aventura, mas existe
uma prática de aventura que seja não-corporal? É claro que recorri ao
“exemplo”, que é um estratagema de pouca capacidade abstrativa, mas, que,
empiricamente, alimenta nossa intuição para a insuficiência das categorias
para explicar o fenômeno que se deseja delimitar.
Diante destes e outros entraves ao estabelecimento de um consenso
terminológico, há uma tendência em considerar que a área não evoluiu o
suficiente para possuir consensos terminológicos para delimitar seu objeto.
Esse ‘consenso da falta de consenso’ e especialmente a minimização dos
supostos danos dessa indefinição às pesquisas na área poderiam resolver a
109
questão. Porém, segundo Dias (2007, p. 02), “a ausência de preocupações
dessa ordem permite que sob a idéia de lazer esportivo na natureza proliferem
muitos conceitos. Cada um deles descreve um campo muito amplo e variado
de expressão desse fenômeno cultural.” Enfim, segundo esse autor, a
imprecisão seria algo academicamente prejudicial e sua resolução merece ser
tratada como relevante.
Objetivo e Aspectos metodológicos
O presente texto dialoga com o texto de Dias (2007), no sentido de
questionar/afirmar suas teses, contrapondo-as com a abrangência presente na
noção de atividade de aventura. O objetivo, pois do texto, é apontar limites e
ganhos na definição de “esportes na natureza” evocada por Dias (2007) para
se referir aos esportes desenvolvidos em contato com a natureza. Este ensaio
é limitado ao texto “Notas e definições sobre esporte, lazer e natureza”. Este
não é o único trabalho no qual o autor externa sua preocupação terminológica,
mas representa um esforço de aprimorar e sistematizar os trabalhos anteriores
(DIAS, ALVES JÚNIOR, 2006 e 2007; DIAS, MELO, ALVES JÚNIOR, 2007).
Para o debate, utilizamos a versão imediatamente lançada na revista
Licere, a qual preserva uma nota de rodapé justificando a motivação do autor:
Embora este trabalho seja um esforço de aprimorar e
sistematizar idéias que já haviam sido rascunhadas e mais ou
menos anunciadas em outras oportunidades, a motivação
definitiva para apresentá-lo nesses termos foi impulsionada, em
larga medida, pelas discussões entabuladas nas conferências
e pelas conversas informais estabelecidas nos bastidores do II
Congresso Brasileiro de Atividade de Aventura. Nesse sentido,
especial agradecimento aos amigos Giuliano Pimentel, Ricardo
Uvinha e Alcyane Marinho que, com suas objeções e
discordâncias, contribuíram para tais formulações. Imagino – e
espero que continuamos divergindo de quase tudo que está
colocado aqui. (DIAS, 2007, p. 01).
Para análise e discussão do material utilizou-se a dialética, no seu
sentido clássico, como procedimento filosófico de diálogo entre teses
contrárias. O texto caracteriza-se como ensaio, isto é, uma reflexão descritivodiscursivo, dedicando-se à apresentação compreensiva e à discussão de um
110
determinado tema de interesse científico.
Esportes na natureza: um conceito
Primeiramente, Dias (2007, p. 09) não insere “esportes na natureza”
como uma categoria geral para designar todas as práticas às quais outros
autores tentam agrupar em termos como AFAN, esportes de aventura ou
radicais. Seu alvo é “o esporte como uma prática que estabelece relações
intersubjetivas com a natureza, a fim de extrair prazer dessa interação”. É
justamente isso que o conceito possui de mais decepcionante e, ao mesmo
tempo, mais producente. Não se propõe ao conjunto de práticas, mas àquelas
que possuem a codificação esportiva nítida (mountain bike, voo livre, rafting,
montanhismo entre outros) ou em potência.
Em termos pragmáticos, em sua perspectiva, deve haver uma forma de,
por exemplo, afirmar se descer o rio numa bóia é um esporte na natureza. Dias
(2007), tendo o lazer como referência, foge do tipo ideal de esporte, proposto
por Gutmann (1978) para quem o esporte moderno deve ter regulamentos,
burocracia, profissionalização, secularismo, e recordes. Os critérios para o
esporte na natureza são outros: baixo nível de previsibilidade, menor
estereotipia dos movimentos, disposição ao risco, busca por emoções,
presença de novas tecnologias e, claro, o contato com a natureza. Nesse caso,
é aceitável como esporte na natureza até mesmo aquela experiência feita por
meio de bricolagem de técnicas
esportivas
(bungee jumping,
rapel,
espeleologia, bóia-cross).
Para o autor o critério mais forte seria o fato histórico: a Modernidade
produziu, entre outros fenômenos, a busca pela natureza para a prática
esportiva. Tal dinâmica seria forte para justificar um nexo entre diferentes
esportes, visto que cada um deles “responde a um mesmo conjunto de
demandas colocadas pelas mesmas circunstâncias históricas gerais” (DIAS,
2007, p. 26).
Mas será que antes da modernidade não havia esporte na natureza?
Entre os romanos eram comuns as idas (turísticas) ao campo e ao mar, como
opção de ócio. Entre eles, esportes eram difundidos como diversão competitiva
e dedicados aos deuses (boa parte deles ligados à natureza, como Diana e
111
Netuno). Em decorrência, a caça e natação não estão até hoje persistindo
como esportes na natureza? Então, como Dias se atreve a tratar dos esportes
na natureza como fruto de uma tendência moderna de aliar esporte e
natureza?
Tanto o que consideramos como esporte e natureza na atualidade foi
mudando, até o ponto presente quando esses conceitos são apreendidos a
partir de uma mentalidade moderna. Seguramente, nas sociedades ocidentais
avançadas não é a mitologia ou a religião os filtros axi-teleológicos desse
fenômeno. Portanto, o termo esporte na natureza, ao mesmo tempo em que
pode ser remetido a predecessores arcaicos, diz respeito a algo conhecido e
compreendido na atualidade.
Cleber Dias não inova ao relacionar essas práticas com um mesmo
movimento histórico, visto que outros autores, como Betrán (2003) em relação
às AFAN na pós-modernidade, também situação essas práticas em unidade
com o tempo presente. Porém, seu recorte é mais apurado, mais objetivo e,
consequentemente, formal. Mas será isso suficiente?
Primeiro se questiona a adoção do termo esporte. Recorrendo a estudo
que abordou as pessoas comuns do cotidiano sobre o que entendiam por
atividades de aventura, a maioria associa aos esportes e ao turismo de
aventura, com pequenas citações a lazeres desviantes e a lutas (PIMENTEL,
SAITO, 2010). Logo, a escolha pelo esporte é uma opção teórica por um
fenômeno quase-hegemônico até mesmo entre a população não-praticante.
Segundo, a escolha pelo adjetivo “na natureza” é melhor que o “de
aventura”? Há de se notar que a aventura não é um fator central na análise de
Dias, pois a aventura emerge – direta ou indiretamente – como desafio às
forças naturais. Como se prioriza os esportes praticados em áreas naturais,
poderia ser previsível, neste caso, uma apologia ao ambiente natural. Porém,
com o necessário ceticismo, o autor nos livra da necessidade em colar o rótulo
ecológico ou ambiental, ao esporte na natureza. Com felicidade o termo “na”
situa mais uma localização do que uma identificação com causas ambientais.
Isso rompe, em certa medida, a tradição de estudos a partir dos trabalhos e
orientações de Heloisa Bruhns, os quais investigam aproximações de tais
práticas com uma sensibilidade ecológica. Aliás, é possivelmente graças a tais
estudos, relativamente pioneiros, que o enfoque ‘romântico’ sobre a integração
112
com a natureza sofreu relativizações.
Outro problema relacionado à qualificação desse esporte como sendo na
natureza, é o tom excludente ao universo urbano. Para Dias (2007, p. 09),
mesmo havendo atividades em ambientes artificiais, como o skate, “boa parte
dos seus símbolos foram produzidos originalmente em interface com as
práticas desenvolvidas em ambientes naturais.” Porém, esse argumento
corrobora para uma relação intrínseca entre urbano e natural que talvez fosse
ser unificada por uma outra categoria. O próprio tema do V Congresso
Brasileiro de Atividades de Aventura (CBAA 2010) já é provocativo nesse
sentido: “Entre o urbano e a natureza: a inclusão na aventura”.
Dias não é enfático quanto à diferença entre “esportes de aventura” e
“esportes na natureza”, mas parece compartilhar do entendimento que a
natureza, pela imprevisibilidade e riscos, implicaria a aventura. Logo, se a
aventura é uma categoria nativa, por que não esportes de aventura? Porque, “a
aventura e o risco que se procura, realiza-se no enfrentamento dos desafios
naturais tais como eles se apresentam. [...[ Enfim, a audácia e a aventura são
favorecidas pelo encontro corporal do esportista com os elementos da
natureza” (DIAS, 2007, p. 21).
Um último questionamento é o motivo de um termo mais abrangente
como “atividade” ou “prática” não ser preferido. Parece-me que “esporte”, por
ser uma categoria acadêmica e nativa, além de ser histórica, daria mais força
para aceitação ao invés de uma designação genérica.
Em suma, a proposição de Dias é a de um objeto que, conforme suas
fontes bibliográficas (de acadêmicos e de praticantes), vem para situar um
determinado grupo de práticas: as esportivas e, mais especificamente, aquelas
que acontecem na natureza. Seu conceito não é confuso, embora limitante.
Trata historicamente das práticas ligadas à moderna fruição estética da
natureza em parceria com a esportivização dos divertimentos. Assim,
Grosso modo, ao falarmos do conceito de esportes na natureza
estamos falando então de um conjunto de modalidades cuja
posição dentro do espaço esportivo mais geral corresponde a
um jogo regulamentado realizado na natureza e assentado na
proeza física, em que níveis variáveis de seriedade e
ludicidade, cooperação e competição, amadorismo e
profissionalismo, sensibilidade e insensibilidade ecológica,
113
intervêm simultaneamente, variando de acordo com a
perspectiva da atividade, mas sem nunca escapar a esse
esquema geral. Tal definição diz respeito, portanto, ao
fenômeno mais geral e não se restringe a técnica corporal.
(DIAS, 2007, p. 26-27).
Essa descrição revela uma dificuldade em situar sinteticamente a
categoria. Não por menos. As categorias concorrentes trazem características
muito próximas das postas por Dias. Sua solução diante do impasse foi mostrar
os esportes na natureza diante de algumas polaridades: seriedade e
ludicidade,
cooperação e
competição, amadorismo e
profissionalismo,
sensibilidade e insensibilidade ecológica. Logo, não pode ser essas
características, na qualidade de variáveis, que venham a definir o esporte na
natureza.
Se visto sob esse pondo, esse conceito rascunhado não diz muito sobre
o ser humano e nem sobre a dinâmica produzida na prática. Apenas situa uma
tendência histórica em se praticar esporte na natureza. Extrapolando os
argumentos do autor, isso pode ser ilustrado com o surf, ao qual se poderiam
imprimir inclusões, exclusões e zonas de indefinição a serem resolvidas
conforme a análise do contexto. Não há dúvidas em rotular o surf se ele é
praticado no mar, no rio ou em outro ‘lugar natural’ (entramos na dificuldade,
por vezes em decidir o que é cultural e o que é natural). Independente do
contexto (competição, clube, hotel, escolinha) as variáveis não alteram o
conceito. Todavia, o surf na piscina artificial ou no simulador já seria outra
coisa? É um objeto rumo a autonomia (como o skate) ou mantêm relações com
a prática de origem? Em caso da segunda alternativa, como pensar em dois
objetos similares e complementares, mas que sejam conceitualmente
diferentes só por conta do ambiente onde foram vivenciados?
Portanto, embora olhe para o fenômeno mais geral ao invés do
movimento em si, o autor recorta o esporte na natureza, exaurindo sua
totalidade. Coerentemente, o mesmo, por exemplo, retira as interseções com o
turismo de sua análise. Outras tantas práticas, ou são enquadradas num
conceito mais aberto e inclusivo de esporte ou dirão respeito a um outro
fenômeno. Para ilustrar como o tal do “impulso histórico” pode vir fragmentado
no conceito de esporte na natureza, provocativamente, criei a seguinte
114
narrativa:
PP e BJ são adolescentes cariocas, residentes no Morro da
Formiga, favela ao lado do Parque Nacional da Tijuca. Nessa
floresta, nossos heróis resolveram passar a noite acampando,
tendo utilizado a tarde para fazer piquenique e passear pelas
trilhas de aventura. PP saca uma trouxinha de maconha e junto
com BJ resolvem fazer o consumo recreativo daquela droga.
Estão contemplando as estrelas e o canto noturno dos
pássaros, quando começa a chover, formando corredeiras. BJ
tem a idéia de utilizar um pedaço de tábua para realizar uma
espécie de surf morro abaixo. PP adere à prática, mas sem uso
de material, desce rolando, tendo, inclusive ficado nu. Os dois
são flagrados pela vigilância do Parque e perseguidos pela
mata, tendo de subir em frondosas árvores e se camuflarem
nelas. Passadas algumas horas, retornam furtivamente ao local
do acampamento, tendo capturado um tatu pelo caminho que
lhes servirá de refeição.
Tal experiência não poderia ser tachada dentro de um esporte ou
mesmo de uma nomenclatura específica. Diz respeito à dinâmica social ou à
busca pela concretização de uma multiplicidade de interesses no tempo livre.
De certa forma, experiências como essas abalam o entendimento dominante
que foi construído sobre o conceito de lazer. Elas combinam, ludicamente, o
lazer desviante, a aventura, a juventude, o risco, o contato com a natureza
(seja como cenário ou como parceira; essa moralidade não importa). Por que,
então, se as experiências reais divergem do próprio conceito de lazer, devemos
construir uma barreira conceitual entre essas vivências na natureza e vivências
de outra ordem ou codificação, que também ocorrem na natureza, às quais
chamaríamos de esporte?
Não se trata de miopia do autor. Ele sabe que o que está em jogo são
perspectivas teóricas diferentes, que lutam por um modelo e um paradigma de
padronização conceitual, participando desta disputa inclusive aqueles que
participam do consenso de que não há consenso. Dias (2007, p. 29) concorda
que “as multiplicidades e divergências, tanto entre os praticantes, quanto entre
acadêmicos, remetem as disputas que toda estrutura semântica/linguística está
submetida”. Mas, ainda assim, sua posição é pela busca da “objetividade nas
operações conceituais”. Essa luta pelo conceito se justifica porque não é
possível teorizar sobre algo sem o uso de conceitos. Enfim, como haver um
115
estatuto científico sobre algo que não conseguirmos nomear?
Mas ao criar essa margem de exclusão, para assegurar um objeto mais
ou menos limpo, se corre o risco de comprometer-se numa concepção
racionalista de ciência, pois, faz assepsia das dinâmicas para chegar a um
objeto puro. Tomando emprestadas as palavras de Maffesoli (2001, p. 47): “Ao
nomear, com excessiva precisão, aquilo que se apreende, mata-se aquilo que
é nomeado.” Procedimento este complexo de ser levado nas ciências humanas
e sociais. Ainda segundo o mesmo autor, “nas ciências da natureza, o
racionalismo puro e duro está em perfeita congruência com seu objeto. Este
está imóvel, estável, há pouca ou nenhuma interferência entre ele e o
observador que supostamente o analisa. Por conseguinte pode-se aplicar-lhe,
do exterior, uma série de leis que são, também elas, impassíveis.”
(MAFFESOLI, 2001, p. 48).
Essa ponderação sobre os problemas datados no modo de produção do
conhecimento na modernidade, não diz respeito especificamente à esclerose
dos conceitos rígidos (o que não parece ser o caso de Dias). Até é fecundo ao
conhecimento que os conceitos sejam construídos, mas também pode ocorrer
de serem abandonados e re-significados com as mudanças no fenômeno.
Diante desta premissa, cabe à comunidade acadêmica discutir quais conceitos
são fundamentais para haver densidade teórica na análise das dinâmicas.
Conclusão
No atual estágio conceitual do campo, o movimento brasileiro é de
notório ecletismo, com diversas correntes. Uma delas apresenta uma
orientação crescente para acomodar o objeto como sendo atividade de
aventura. Esse, sem dúvidas, é um outro conceito que poderia gerar debates.
Para ilustrar a capacidade analítica desse termo, especialmente em relação à
categoria espaço, componho a ilustração abaixo:
116
Proposta Eclética - com subdivisões por ambiente
ATIVIDADES DE
AVENTURA
Atividades
na
Exemplo:
Atividades
urbanas
Exemplo:
Esporte na
natureza
O conceito atividades de aventura parece resguardar a reconhecida e
problemática generalidade de experiências que podem estar ocorrendo no
ambiente natural (turismo, educação ambiental, esportes, rituais indígenas) e
no citadino (esportes, jogos, entre outros). Esse “e” está em destaque para
realçar a possibilidade de a mesma manifestação ocorrer em mais de um meio.
Interessa destacar que o termo, a exemplo de esporte na natureza, vai nomear
práticas de lazer. Portanto, a aventura relacionada, por exemplo, às
descobertas científicas, a exploração profissional de terras desconhecidas ou a
tensão das profissões que envolvem risco, embora compartilhem de um
mesmo impulso lúdico, não são objetos preferenciais de estudo. Atividade de
aventura vai tratar da busca deliberada e no tempo livre por experiências as
quais culturalmente apreendemos como sendo aventura (corriqueiramente
associada a sair do cotidiano e entrar no imprevisto).
Mais que um vocábulo ‘guarda-chuva’, atividades de aventura (apesar
das críticas que o termo ‘atividade’ recebe na Educação Física) pode apenas
tratar-se de uma solução provisória para uma comunidade que carece de
discussão acumulada para alçar novos patamares conceituais.
Embora o consenso seja de não haver consenso, não se pode fazer a
apologia desse quadro. A comunidade precisa dar continuidade às buscas já
iniciadas, como no caso da Comissão de esportes de aventura (CEAV)
composta pelo Ministério do Esporte para discutir as políticas nesse segmento
117
e que, como primeira produção, teve de adotar conceitos para operacionalizar
o diálogo entre os 19 integrantes da CEAV (MARINHO, 2007).
O esforço de Dias em combater o ecletismo no campo não se anuncia
como uma imposição semântica ou vaidade acadêmica. Sua justificativa
epistemológica está em determinar, afinal, qual é o objeto a ser estudado: é o
esporte ou algo mais amplo? Se for o esporte, é de qual tipo: aquele que ocorre
na natureza, o relacionado ao não-convencional, o atravessado pelos signos do
risco ou aquele que evoca aventura? Seja qual for a resposta, um será o eixo e
os demais estudados como foco secundário.
Nesse sentido, a preocupação com os conceitos é pertinente, pois
poderá permitir uma identidade e um olhar mais preciso às pesquisas.
Considerando o desenvolvimento teórico desse campo, o debate sobre
terminologia, tipologia e paradigmas é obrigatório para evitar um objeto amplo
destituído de profundidade. Essa não é, contudo, uma tarefa fácil, pois os
termos refletem escolhas teóricas e epistemológicas. Se as categorias, em
certa medida refletem a cristalização do pensamento, é necessário refinar o
debate antes de se fazer as escolhas.
A resposta de Dias foi buscar fontes nas literaturas acadêmica e nativa.
Mas esse diálogo precisa ser aprofundado porque o estado da arte ainda não
foi feito; e pode até não ser viável ainda. Em boa parte, tanto no exterior quanto
no Brasil, os pesquisadores ainda se debruçam sobre a ‘forma’ do fenômeno. A
cada novo movimento, novas definições e organizações do campo surgem.
Isso significa ou que os pesquisadores estão ‘dando voltas’ em torno da
superficialidade do objeto, sem encontrar sua ‘essência’, ou que realmente não
se conhece toda a superfície.
Porém, em um movimento negativo, não seria toda essa discussão
precipitada ou, pior ainda, uma perigosa especialização dos objetos,
redundando na fragmentação do saber? Eis o perigo de criarmos um pseudoobjeto, pura representação como se a força própria de nossas ideias
determinasse a realidade. Como as verdades científicas são provisórias, vale
relembrar a sabedoria dos gregos cuja Filosofia elegera a prudência como
maior das virtudes. Logo, o consenso de não consenso, se não enraizado na
preguiça intelectual, pode ser a medida da razão nestes tempos, necessitando
haver mais explorações e debates antes de fechamentos teóricos mais
118
perenes.
REFERÊNCIAS
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UVINHA, Ricardo R. Juventude, lazer e esportes radicais. Barueri-SP: Manole,
2001.
120
O BRINCAR NA NATUREZA É UMA AVENTURA PARA AS POPULAÇÕES
GUARANI DO PARANÁ?
Nayara Maysa dos Santos, Fábio Alexandre Uema, Giuliano Gomes de Assis
Pimentel, Amauri Aparecido Bassoli de Oliveira
CNPq, Rede CEDES, Universidade Estadual de Maringá (UEM)
E-mail: [email protected]
Resumo
Como é a aventura entre os Guarani do Paraná? Qual é sua forma de
interagir ludicamente com a natureza? Para a realização desta pesquisa e
obtenção de resultados foram visitadas nove terras indígenas. Com a pesquisa
em andamento o trabalho busca diagnosticar as atividades físicas de aventura
na natureza nas comunidades indígenas Guarani do Paraná. Por meio de
pesquisa, entrevista, questionário e análise de documentos o projeto vem se
desenvolvendo. Em algumas realidades, a pesquisa vem mostrando que,
apesar de se possuir espaços físicos adequados para a prática de esportes na
natureza, ela é quase inexistente, dando lugar à vivência de outras atividades e
lazeres. Noutros grupos, o contato com o ambiente natural é corriqueiro desde
a infância, mostrando uma inter-dependência dessa relação com diferentes
esferas da vida.
Palavras-chave: Aventura; natureza; Guarani.
Introdução
As atividades de aventura, ocorram elas em meio natural ou modificado,
ainda expandem suas fronteiras de intervenção e, também, de pesquisa
(embora não seja rigoroso estudar um fenômeno a partir dos rótulos
comerciais, como é comum nas subdivisões dos segmentos do turismo). No
presente texto, será discutida a interação lúdica com o meio natural dos índios
Guarani de duas regiões do Paraná (Litoral e Rio Paraná). Um dos tópicos
dessa análise são as similaridades e diferenças da aventura indígena com as
formas ocidentais mais evidentes: o turismo de aventura e o esporte na
natureza.
A primeiro delas relaciona-se às viagens em busca de emoções e belas
paisagens. O turismo de aventura no Brasil é um mercado quase inesgotável,
devido aos 55.000 km de rios, chapadas, cachoeiras, 3.400 cavernas, 8.000 km
de costa, a maior floresta tropical do planeta e montanhas de até 3.000 metros
de altitude. A demanda em 2003 foi de 20.000 pessoas procurarando por
pacotes de aventura nas quatro maiores empresas especializadas no ramo.
Uma pesquisa feita pela Embratur numa feira anual de aventura – Adventure
121
Sports Fair – que recebeu 82.000 pessoas na última edição, revelou que quase
metade dos visitantes praticava esportes radicais e que 90% sonhava em
praticar. (MARCHI, 2004).
Outra proposição conceitual é a dos “esportes na natureza”. Essa
proposta concentra-se em vivenciar e pesquisar o esporte como uma prática
que estabelece relações intersubjetivas com a natureza, a fim de extrair prazer
dessa interação. E na medida em que a própria natureza é apontada como
uma das suas motivações principais, seus simbolismos são permeados por
uma espécie de mitologia do reencontro com a natureza selvagem. Pode-se
perceber que estamos diante de uma indicação próxima daquela pretendida
pelo conceito de “esportes de deslize” ou “esportes ao ar livre”. Aliás, um tanto
próximo também da conceituação que opera sob o termo “esportes de
aventura”. [...] Daí, o entendimento de que os chamados “esportes de
aventura”, pelas suas origens, estivessem, num primeiro momento, associados
às práticas na natureza, onde seu significado também poderia ser contrastado
com os esportes mais convencionais, ao passo que nessas modalidades
busca-se e valoriza-se a imprevisibilidade, enquanto que “nos outros”, buscase, pelo contrário, reduzir sistematicamente o risco através da domesticação do
espaço. (DIAS, p.9-10. 2007). Ainda se focando na questão do lugar onde
esses esportes se realizam, destaca-se a dimensão imprevisível e pouco
demarcada, que produziria certo caráter inovador e diferencial.
Em ambas as configurações é colocado que a natureza é fator
catalisador porque gera superações frente a riscos imaginados. Como os
praticantes de aventuras residem no meio urbano, esse contato é sempre
cercado de expectativas e surpresas. Poderá, entretanto, a atividade na
natureza constituir-se em aventura para grupos étnicos tradicionais no contato
com a natureza? O que difere seu universo lúdico em relação ao contato com o
meio natural? O presente estudo apresenta algumas descobertas, optando pela
supremacia da descrição do real em confronto às leituras que folclorizam o
índio a uma condição de eterno bom selvagem.
Nos séculos XVI e XVII “Guaranis” era denominado como grupo que se
encontravam desde a costa atlântica até o Paraguai e que obtiam a mesma
língua, com a chegada dos espanhóis e portugueses o território que até então
era ocupado pelos guarani passa a ser disputado. (LADEIRA, 2010).
122
Atualmente os guarani M’bya, Ñandeva (Xiripa) e Kaiowa, ocupam
partes do Brasil, Paraguai, Argentina e do Uruguai. No Brasil os Kaiowa
habitam na região sul do Mato Grosso do Sul, os Ñandeva (Xiripa) vivem em
aldeias situadas no Mato Grosso do Sul, no interior dos estados de São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os M’Bya concentram-se no
interior e no litoral do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo,
Rio de Janeiro e Espírito Santo. A população guarani no Brasil é estimada em
torno de 34 mil pessoas, entre os Kaiowa (18 a 20 mil), Ñandeva (8 a 10 mil) e
M’Bya (5 a 6 mil). (LADEIRA, 2010).
Segundo Arruda e Diegues (2001, p. 32), as concepções de natureza
para os indígenas, ao contrário do pensamento ocidental, compreendem
“interligação orgânica entre o mundo natural, o sobrenatural e a organização
social”.
Indo ao encontro desse pressuposto, é importante para os Guaranis
M’Bya ter um ambiente que apresente em seu conjunto, matas preservadas,
solo para agricultura, nascentes, etc.. Para que possam exercer melhor o seu
modo de ser e da mesma forma suas regras sociais.
O tema abordado tem como justificativa ampliar os conhecimentos
referentes às práticas de aventura dos índios Guarani, de forma a estabelecer
diálogos multiculturais. Este artigo tem como objetivo analisar as atividades na
natureza pelos índios Guarani nas terras indígenas, descrevendo como se
manifestam.
Aspectos metodológicos
O
presente
trabalho
é
financiado
com
recursos
da
Rede
CEDES/Ministério do Esporte e pelo CNPq (Edital Universal e PROBIC). Até
abril de 2010 foram realizadas coletas em nove terras indígenas Guarani, a
saber, Comunidade Laranjinha (Santa Amélia), Pinhalzinho (Tomazina), Ilha da
Cootingá
e
Sambaquis
Guaraguaçu
(Paranaguá),
Kuray
Guata
Porã
(Guaraqueçaba), Araça-í (Piraquara), Ocoy (São Miguel do Iguaçu), Tekohá
Anãtete e Tekohá Itamara (Diamante D’Oeste). Até dezembro de 2010
abrangerá as práticas corporais e as políticas públicas pertinentes aos grupos
indígenas do Paraná, totalizando uma população aproximada de 10 mil
pessoas em 21 comunidades, englobando etnias Guarani, Kaingang e Xetá.
123
O trabalho de campo contou com entrevistas, inventário, registro das
imagens por filmagem e fotografia. No tocante à coleta de dados, esta seguiu o
contato com caciques e autorização dos mesmos para incursão de campo. A
equipe de trabalho realizou inventário sobre as condições estruturais da
comunidade, seus rituais, religião, jogos, lazer, educação escolar e não-formal,
presença de deficientes, dificuldades, além das políticas públicas e projetos
estatais (dos poderes municipal, estadual e federal).
Posteriormente, os líderes eram entrevistados sobre as categorias
supra-mencionadas, bem como a equipe de trabalho realizava contato com
crianças, jovens, idosos e adultos a fim de consultá-los sobre suas práticas. Em
muitos casos, as pessoas compreendiam parcialmente a língua portuguesa
(dos pesquisadores), sendo necessária a intervenção de líderes. Noutras essa
dificuldade era resolvida quando as crianças, na dificuldade em porém suas
práticas em palavras, resolviam o problema mostrando-as. Isso permitiu um
rico material em imagens.
O projeto vem sendo desenvolvido desde 2009 com comunidades
indígenas no Estado do Paraná a partir de observação direta e pesquisa-ação.
Significa que, finalizada a fase diagnóstico da coleta de dados, serão
realizadas ações para melhorar a realidade esportiva e de lazer nas
comunidades indígenas, conforme a vontade das lideranças consultadas.
Desenvolvimento
Vale considerar que o leitor necessitará de se despir das imagens
congeladas de índio, como sendo aquela pessoa que vive nua e sobrevive
isolada nas matas. Na atualidade, devido ao tamanho reduzido de suas terras e
aos próprios benefícios do contato com a denominada civilização ocidental, as
populações indígenas fazem uso de tecnologias e aparatos culturais diferentes
dos seus tradicionais. Mas isso não significa que eles estejam deixando de ser
índios.
Também é importante lembrar das diferenças entre as etnias, que são
tidas como grandes entre eles. Um exemplo é o processo de hibridação cultural
dos Guarani que foi diferente dos Kaingang. Ainda que o contato com os
colonizadores tenha sido mais tardio do que o ocorrido com outros grupos
indígenas, na medida em que perderam seus terrirórios tradicionais, foram
124
aldeados em pequenas aldeias, tutelados pelo estado e tiveram que
ressignificar suas tradições. (NASCIMENTO JUNIOR, 2009).
O processo de trabalho produção organizado pelos colonizadores
influenciou o modo de viver dos Kaingang nestes territórios de forma diferente
de como afetou os Guarani, embora ambos os povos tenham sido expropriados
de sua liberdade anterior. Ambos, por exemplo, tiveram reduzidos os locais
para caça, pesca e a busca por sobrevivência. Sem poder exercer essas
funções, com as facilidades que a modernização, a doutrinação cristão e os
auxílios compensatórios que lhes são oferecidos não se sabe se o Guarani
permanece identificado espiritual e ludicamente com a natureza ou mesmo se
ela serve de momento de fuga do estresse, a exemplo de boa parte dos
citadinos em busca de aventura na natureza.
Das terras indígenas visitadas até então, foram observados espaços
apropriados para a prática de aventuras na natureza, lugares que muitas vezes
são alvos de procura dos não-índios para tal prática. É concebido que vivendo
nesses espaços os indígenas não possuem o costume de praticar aventuras na
natureza tal como são feitas pelos não-indígenas. Porém, muitas das formas
tradicionais também não são mais feitas, conforme a preocupação dos mais
velhos.
A atual falta de atividades físicas de aventura na natureza, faz com que
os moradores sintam falta das atividades que antes eram realizadas, conforme
relata um vice-cacique que sente-se orgulhoso ao ter tido uma infância cheia
de aventuras, quando desciam o rio na enchente boiando sobre jangadas feitas
da bananeira, e quando também desciam as ladeiras da comunidade com
carrinho de rolemã improvisado, com pneus maiores para enfrentar os
pedregulhos e freios.
As atividades não são praticadas como eram antes pelos moradores
mais novos da comunidade, principalmente as brincadeiras originárias da
cultura indígena. Em certos contextos isso é referente ao pouco espaço
preservado. Noutros, o espaço é considerado relativamente grande para a
prática de várias atividades, como é relatado por um dos professores da escola
da comunidade:
Antes, quando a gente era crianças entre 7 e 8 anos a gente
brincava de caça, subia nas árvores, fazia jangadinha de bananeira,
125
brincávamos no rio com pinguela. E as mulheres brincava muito de
bonequinha de milho. A nossa preocupação hoje é que às crianças
não brincam mais, só assistem televisão e jogam vídeo-game.
Durante as visitas foi possível constatar que a televisão e o vídeo-game
preocupam os mais velhos. Em contraponto, tais opções não se constituem
predominantes na preferência das crianças, pois em vários momentos se
divertiam com a natureza. Mas na visão dos não-índios, diversões que não são
de aventura na natureza, aquela que envolve o risco, adrenalida e o medo,
envolvendo apenas o lazer.
Para ilustrar, a aventura para duas crianças indígenas de 9 anos, é
passar a tarde no rio pescando de tarrafo e pescando manualmente (enfiando o
braço nos buracos dos barrancos). Para elas, a pesca não tem apenas o fundo
de busca do alimento, e mais o prazer em estar no rio pescando e se
refrescando, correndo o risco de em um desses buracos conter uma cobra. No
final das pescarias esses pequenos índios se divertem ao subir em árvores, e a
quase 4 metros de altura saltam no rio.
A bicicleta que nos grandes centros urbanos é utilizada em maior escala
durante os finais de semana pelos aventureiros, nas aldeias elas servem
apenas como meio de transporte, o que é menos comum nas cidades
urbanizadas. Mesmo dotado de trilhas e locais específicos para a prática de
aventura na natureza com a bicicleta, os índios não a enxergam como objeto
de lazer. Ao contrário dos não-índios aventureiros que usariam esse espaço
para a prática do mountain bike, e possivelmente alguma outra modalidade, no
caso o motrocross.
Sem ser relacionado diretamente à natureza, os Guarani praticam
atividades como: movimentos gímnicos, correr, saltar, parada de mão,
rolamento; peteca; bolinha de gude; sinuca; bugalha; boneca; lutinha com
galhos secos; e o futebol. Dentre essas atividades citadas, o futebol como em
todo o país é o que tem mais adeptos, tanto das crianças e dos adultos,
envolvendo a preferência também das mulheres.
Das terras indígenas visitadas, as únicas que não possuíam campo de
futebol foram aquelas que não tinham espaço físico adequado, morros, e
poucas famílias morando na comunidade. As demais terras indígenas possuem
126
o campo de futebol com balizas e demarcações, não sendo ótimo o espaço,
mas o suficiente para haver a prática do futebol, que é praticado
semanalmente.
O futebol tem grande importância entre os indígenas por permitir a
interação entre índios de aldeias próximas, e também na interação com os nãoíndios moradores de cidades vizinhas. Uma vez que rotineiramente os times de
futebol das comunidades participam de amistosos e campeonatos envolvendo
os times da região.
Por meio da interação que o futebol causa, sendo uma modalidade
adaptada a qualquer biotipo de pessoa, e por ser praticada tanto de uma
maneira não formal, ou seguindo as próprias regras do jogo, faz com que os
índios tenham uma consideração a mais pelo futebol.
A importância que é dedicada aos jogos de futebol indígena, faz com
que haja a prevalência do fair-play, o jogar honestamente, criando respeito
mútuo entre os participantes. No momento de uma falta, a regra é sempre
aplicada, não havendo a ‘lei da vantagem’.
Entretando, com a preferência do futebol os indígenas acabam não
conhecendo outras modalidades, principalmente aquelas que podem ser
praticada na natureza, não por falta de espaço, mas sim por falta de
conhecimento e oportunidade.
Conclusão
Fora o futebol não se presenciou muito a realização de outros jogos e
brincadeiras, até provenientes da cultura indígena. Talvez seja pelo fato da
tecnologia e da aproximação com os povos não-índios. Como acontece com as
crianças não- índias, há sempre a suspeita de uma perda da tradição. Em parte
isso pode ser decorrente das novas tecnologias e do menor tempo que os
familiares dispensam ao contato com os filhos.
Outra hipótese para a falta de lazer visualizados nas comunidades, seria pelo
limite de pouco tempo de permanência em algumas comunidades, quando as
pessoas se sentem constrangidas pela presença de pessoas que não fazem
parte do seu vínculo pessoal.
Visto que os indígenas já vivem em meio a natureza, o conceito de
aventura para eles é diferenciado dos não-índios, uma vez que muitos deles
127
usam da trilha, a escalada de morros como local para se locomoverem, um
atalho, tornando-se uma atividade diária, rotineira. O que para os aventureiros
seria um local para realizar esportes de aventura na natureza é, para eles, um
lugar conhecido para diversas brincadeiras e atividades produtivas.
Em muitos casos, os índios possuem paredes que poderiam ser
utulizadas para escalada, cachoeiras que poderiam ser realizada para rappel,
rios com correntezas para praticar rafting, trilhas para caminhar ou mesmo
praticar mountain bike e motocross, entre outros. Mas esses espaços não são
vistos por eles como local para prática de esportes em ambientes naturais, pela
falta de conhecimento e costume dessas modalidades. Além da falta de
materiais e instrumentos, é uma hipótese que lhes falte necessidade em
consumir tais experiências estranhas ao seu modo de vida. Sua ludicidade é
permeada por elementos da natureza, de forma já habitual. Se esse aspecto
parece não estar perdido, a procura pela natureza é desnecessária. Por não
lhes fazer falta, justamente essa aventura sequer lhes é percebida.
Assim, em conclusão, há algo que escapa ao paradigma do esporte e do
turismo de aventura, pois o Guarani parte de outra sensibilidade, transferindo a
aventura para a totalidade de sua vida. Para muitos grupos não é totalmente
assimilável a fragmentação do tempo, tendo em vista muitos ainda conviverem
com uma marcação natural do tempo. Eis que, pois, para o Homem cuja vida é
na e com a natureza, as atividades de aventura vão ocorrendo desde a infância
e sobre diferentes esferas da vida.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Rinaldo S.V. e DIEGUES, Antônio Carlos (Org). Saberes tradicionais
e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; S. Paulo:
USP, 2001.
DIAS, Cleber Augusto Gonçalves. Notas e definições sobre esporte, lazer e
natureza. Rio de Janeiro. 2007.
LADEIRA,
Maria
Inês.
Guarani
M’bya.
Disponível
em:
Http://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-mbya. Acesso em 10 de abril de
2010.
MARCHI, Kátia Bortolotti. Atividades físicas de aventura na natureza: uma
leitura sociológica a partir dos “jogos mundiais da natureza”. Curitiba. p. 8.
2004.
128
NASCIMENTO JUNIOR, José Roberto Andrade do. Jogos Indígenas: o futebol
como esporte tradicional kaingang. Maringá: UEM. 2009.
129
O ENSINO APRENDIZAGEM DOS FUNDAMENTOS BÁSICOS NAS AULAS
DE SKATE
Matheus Martins Lopes dos Santos
Universidade Estadual De Maringá (UEM) - Maringá-PR - Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
No trabalho O ensino aprendizagem dos fundamentos básicos nas aulas
de skate, o autor coloca a devida importância de se apresentar alguns métodos
de ensino na realização das aulas de skate, tendo como objetivo salientar
dúvidas para futuros planos de aula a serem ministrados nas aulas de skate. A
metodologia utilizada nesse trabalho foi de caráter de revisão de literatura,
buscando na literatura compreender algumas situações encontradas no ensino
aprendizagem. Apontando alguns aspectos metodológicos exercidos nas aulas
de Educação Física relacionando com a parte pedagógica, ressaltando a
carência de trabalhos publicados na questão de ensino aprendizagem voltada
ao skate. Não foi encontrado nenhum tipo de metodologia especifica para a
realização de aula de skate.
Palavras chave: Ensino aprendizagem, Fundamentos básicos e Skate.
Introdução.
Inicialmente o skate quando começou a ser praticado, ele era visto pela
sociedade como uma “brincadeira” entre os adolescentes, na qual essa visão
vinha juntamente com o fato de ser uma atividade realizada por marginais, que
ao longo do passar dos anos, com muita insistência o skate ganhou seu
espaço na mídia e assim começou a ser conhecido mundialmente.
No Brasil o skate deu início na década de 60 com um pessoal que
surfava relata Brito (2007), seu crescimento foi grandioso, levando assim o
surgimento de fábricas de artigos relacionados ao skate.
No seu início o skate era muito praticado nas ruas, surgindo assim uma
das modalidades mais popular entre os skatistas o “street-style” segundo
Figueiredo (2005) o skate de rua, no qual a utilização da paisagem urbana faz
com que a criatividade dos praticantes torne-se um estilo próprio de cada um.
Com o surgimento de jogos de videogames, brinquedos entre outros, o
skate começou a expandir seus horizontes tanto na questão de estilo,
musicalidade e a arte como o “grafite”, esse esporte faz parte de todas essas
dimensões englobando muitos aspectos a serem abordados.
130
Devido essa expansão do skate nos dias atuais, existem escolas
especializadas na prática do esporte, sendo que na maioria deles os instrutores
são ex-skatistas que cursaram ou estão cursando Educação Física, ou mesmo
apenas ex-praticantes, no qual o grande fator a ser colocado na elaboração de
um projeto com aulas direcionadas ao skate é a falta de conteúdos de pesquisa
na literatura, dificultando o trabalho para prescrever algumas atividades e na
elaboração dos mesmos.
No âmbito Científico do Esporte, em iniciação de treinamento desportivo
Greco e Benda (1998), relatam que investigação mais especifica está
direcionada a questão metodológica- didática no processo de ensinoaprendizagem-treinamento. No skate essa é uma das maiores discussões, pois
a prática do esporte inicialmente era realizada com a cara e a coragem dos
praticantes, onde não se havia nenhum método de ensino e muito menos
professores específicos para esse esporte.
Com o passar do tempo e com o surgimento das escolinhas de skate
deu-se a importância de estar relacionando os aspectos metodológicos no
ensino aprendizagem da prática dessa modalidade, sendo que na literatura
encontram-se muito poucas informações com relação a esse foco, sendo o
intuito desse trabalho a discussão de métodos correlacionados ao ensino
aprendizagem nas aulas de skate.
Objetivo.
Através da literatura científica buscar salientar algumas dúvidas na
questão do ensino aprendizagem e averiguação de métodos pedagógicos
específicos para a realização das aulas de skate.
Métodologia.
Esse trabalho apresentado tem como característica revisão teórica por
meio da análise das literaturas publicadas, a realização estrutural de conceitos
para o desenvolvimento da pesquisa, resultando em um levantamento de
análise sobre o ensino aprendizagem nas aulas de skate
A Didática.
O conceito de didática vem da expressão grega Τεχνή διδακτική (techné
didaktiké), sendo sua tradução a arte de ensinar ou técnica, podemos definir
131
como uma ciência que tem como objetivo fundamentar as estratégias de
ensino, relevando as questões de aprendizagem e da parte metodológica
educacional (DIDÁTICA, 2008).
A didática é entendia como uma atividade mediadora, entre a prática e a
teoria educacional, relacionando o aluno e professor, dentro e fora da sala de
aula com o conteúdo e a forma da educação (MELO E URBANETZ, 2008). Em
meados do século XIX, a palavra didática entra no léxico português, que por
sua vez ingressou também na língua europeia (HAMILTON, 2001). Assim
manifesta Ghiraldelli Júnior:
“A didática, a meu ver, é mediadora entre o pólo teórico
(pedagogia) e o pólo prático (educação) da atividade educativa.
O como ensinar, o que ensinar e quando ensinar e o para
quem ensinar, quando ligados à pedagogia, estão impregnados
dos pressupostos e diretrizes de uma determinada concepção
de mundo que, por sua vez nutre tal pedagogia”
O instrumento potencializador da didática é transformação social, a
garantia
da
preocupação
com a
compreensão do processo
ensino-
aprendizagem e a busca de formas de intervenção na prática pedagógica.
Atualmente a didática encontra-se com muitos desafios, segundo Candau
(2005).
O ser humano está em constantes mudanças e conflitos, devido à
sociedade, onde abrange muitas caracterizas que são empregadas em suas
vidas, assim Melo e Urbanetz (2008) explicam que o ponto inicial para se tornar
um verdadeiramente humano é a interação homem sociedade, com isso, a
natureza humana não é apenas algo que é dado e acabado.
Dentro da didática existem alguns fatores a serem comentados, como o
processo de ensino-aprendizagem, que em primordial está relacionado ao
papel exercido do educador na sociedade, que segundo Veiga (2005) ainda
não há clareza a respeito da função do educador.
De acordo com Freire (1978), é necessário que haja uma reflexão
pedagógica buscando questionar os métodos de ensino sendo que em muitos
autores considerarem a educação como um elemento que transforma a
132
sociedade. Colocando o papel do educador como conservadora e reprodutora
do sistema educacional.
A procura de uma metodologia educacional é uma constante, porem
existe classificações argumentadas por alguns autores da área pedagógica,
como descreve LIBÂNEO (1983) que o ensino passou por muitas
transformações e um dos períodos foi denominado como tradicional, no qual
são encontradas muitas tendências como a Liberal Conservadora; Renovada
Progressista e Renovada Não-Progressista.
Métodos de Ensino na Educação Física.
A Educação Física passou a ser reconhecida como uma matéria
relevante na escola a partir do momento que fundamentou-se cientificamente,
relacionando as práticas corporais com os conteúdos tematizados onde
inicialmente
os
exercícios
eram
militaristas,
assim
os
procedimentos
metodológicos utilizados pela maioria dos professores era baseado no
comando, tento o máximo de rendimento e de esforço (MENDES e MAIA,
2003).
As aulas de Educação Física estão co-relacionadas a algumas
propostas, a Tradicional, a Desenvolvimentista, a Construtivista, a CríticoSuperadora e a Crítico-Emancipadora, sendo que cada uma consiste em uma
metodologia própria de ensino, sendo a Tradicionalista uma das primeiras
concepções a serem abordadas no âmbito escolar, através de exercícios
padronizados e recebendo ordens no qual visa apenas o corpo do ser humano
como um objeto capaz de realizar as tarefas e cumpri-lás, contribuindo assim
para eficiência do movimento mecânico (MOREIRA, 1995).
Na educação Física a relação teoria e prática são mais uma das
problemáticas, pois fica evidente o processo de formação dos profissionais da
área da educação no sentido da relação harmoniosa entre a teoria e prática,
pois essa relação não é a única preocupação dos educadores, pois para
ocorrer uma boa aprendizagem é necessário fazer uma reflexão crítica dos
fatores do âmbito escolar (CANDAU, 2005).
A separação dessa relação Teórica e Prática é inevitável, pois a teoria
serve como base na aplicação de atividades na prática, e nessa vivência que
observa-se uma demanda de informações extraídas de diferentes modos, pois
133
uma estrutura de base teórica que lhe de suporte não deixa a prática tornar-se
uma atividade imitativa.
Segundo Candau (2005) a diferença entre os seres vivos e os seres
humanos está direcionada às possibilidades de suas consciências devido a
AÇÃO À REFLEXÃO, pois a atividade exercida será mais ou menos humana
na medida em que vincula ou desvincula.
Mesmo com aspectos metodológicos de caminhos diferentes, o objetivo
é muito similar em todas as propostas, a de apresentar uma disciplina com
muitos conteúdos significativos e de fundamental importância aos participantes
nas aulas de Educação Física, onde uma expressão realizada pelo Prof. KUNZ
(1994:131) que cita:
“é necessário que cada disciplina se torne um verdadeiro
campo de estudos e de pesquisa. Também, para a Educação
Física. Afinal de contas os alunos visitam a escola para estudar
e não se divertir (embora o estudo possa se tornar algo
divertido) ou para praticar esportes e jogos (embora esta
prática também tenha a sua importância”.
Com essas palavras fica imprescindível uma retomada de ações
metodológicas de conteúdos significativos, tendo como principal características
o papel do professor devido à suma importância no âmbito escolar, já os
conteúdos e metodologias são interdependentes, devido à necessidade mutua
e a exigência da responsabilidade dos que estão envolvidos no processo de
ensino aprendizagem (KUNZ, 1991).
Métodos Específicos de Ensino Para dar Aula de Skate.
Os esportes radicais e não tradicionais vem obtendo um grande
crescimento na procura da prática dessas atividades e um aumento popular na
sociedade, pois os esportes radicais estão co-relacionatos a aventura que por
sua vez expressa um trama exterior global da vida na história pessoal. Uma
das características dos esportes radicais é o desejo de aventura onde “Todo
homem carrega em si o desejo de desafiar, desbravar, soltar-se das amarras
da realidade para voar com a liberdade” (SOUZA, 2004, p. 65).
134
Englobado no emaranhado dos esportes radicais encontra-se o skate,
um dos mais populares mundialmente, devido ao seu crescimento e seu
espaço na mídia. Sabe-se que o skate demorou a ser denominado como um
esporte, assim suas práticas com conteúdos pedagógicos não foram discutidas
ainda, sendo que a dificuldade de encontrar algo na literatura é muito grande.
Um aspecto discutido por Figueiredo (2005) é como se deve trabalhar
com skate? As dúvidas colocadas pelos professores com relação ao esporte
são: Como trabalhar com segurança? Como conseguir o material necessário?
Entre outros questionamentos que estão referentes à escola ou lugar de
prática.
Não há uma regra ou até mesmo uma receita especifica para salientar
essas dúvidas, tudo vai de acordo com a realidade que se encontra o
professor, da escola, dos alunos e até da sociedade local. E sim realizar um
direcionamento a fim de ampliar o conhecimento de técnicas e conhecimentos
que forneçam aos professores alguns parâmetros para que o mesmo consiga
diagnosticar a sua realidade e planejar suas atividades de uma melhor forma
nesse esporte.
Não se encontra nenhum tipo método especifico para prática de skate,
mais podemos abordar alguns princípios para a realização de um plano de aula
que possa ser aplicado na aula. Deve-se levar em consideração o objetivo do
seu programa de ensino, especificando algumas atividades que possam ser
utilizadas como base para futuros desafios encontrados, observar que tipo de
metodologia será utilizada na sua turma e quantos alunos terá durante a
realização das atividades.
O ambiente também é um dos fatores a serem destacados no ensino
aprendizagem das aulas de skate devido aos processo de informações que os
indivíduos receberam em relação ao chão, ao espaço, aos obstáculos entre
outros fatores que determinem a aquisição de dados obtidos.
Segundo Figueiredo (2005) o skate ainda é considerado pelos pais e
professores um esporte de risco, por ser considerado um esporte radical ele
deixa alguns vestígios a serem discutidos mesmo havendo os equipamentos de
segurança esse preconceito está direcionado ao esporte. A realização de uma
aula ministrada de uma forma correta faz com que o número de risco na prática
135
do skate seja muito pequeno com relação a outros esportes de contato físico,
movimentos corporais e jogos (FIGUEIREDO, 2005).
Na parte metodologia de ensino a realização de atividades de nível mais
fácil para o nível mais elevado é um dos meios de aprendizagem mais
coerentes em relação á pratica de skate, colocando na vivencia algumas
atividades que possam ser utilizadas futuramente nas mais complexas sempre
levando em consideração a questão da segurança.
Inicialmente é interessante apresentar a funcionalidade do skate para o
indivíduo e fazer com que ele tenha um contado livre deixando o experimentar
algumas situações diferenciadas encontradas, a realização de atividades
diversificadas torna-se um atrativo para a realização da prática, colocando em
situações como sentado, duas pessoas no mesmo skate sentados, deitado
com a barriga sobre o aparelho, a utilização de alguns obstáculos para a
realização de movimentos laterais.
Alguns aspectos encontrados na escolinha de skate da UEM realizada
pelo Grupo de Esportes e Lazer (GEL) colocaram em conta algumas questões,
observando as aulas ministradas, notei que os matérias apresentados tem
variações de estruturais na questão de qualidade, assim é realizado um rodízio
de skate para os alunos tornando a aprendizagem mais diversificada, pois cada
indivíduo tem um contato diferente com o skate pois cada um tem sua maneira
de se locomover, tamanho, espessura das rodas fatores que fazem diferença
na prática das atividades, que por sua vez é uma boa maneira de se estar
adquirindo informações externas com complexidade diferente.
O fator do material como foi citado por Figueiredo(2005) depende de
cada instituição e professor, existem escolinhas de skate especificas que
obtêm materiais de qualidade.
Fundamentos Básicos da Prática de Skate.
No skate encontramos alguns aspectos básicos que podemos abordar,
sendo eles: O equilíbrio sobre o skate, a posição dos pés, a remada, o freio, a
locomoção, “a batida” (movimentos laterais realizados sobre o skate).
O primeiro contato com o skate a dificuldade apresentada é o equilíbrio
sobre o aparelho, ou seja, ficar em pé sobre o mesmo, sendo uma das
primeiras etapas que deve ser colocada em prática. Algumas atividades como
136
colocar uma corda no chão e transpassar sobre ele, podem auxiliar no ensino
aprendizagem de equilíbrio, outra maneira o contato sobre o skate apenas com
o shape (madeira do skate) sem rodas, e assim vai se acrescentando um
pouco de dificuldade nas atividades conforme a evolução apresentada pela
pessoa.
A posição dos pés também é um fator muito importante na
aprendizagem da locomoção do skate, existem dois tipos de posições sendo
definida como regular quando regular, quando se utiliza o pé esquerdo à frente
e goofy quando o pé dianteiro é o direito. O equilíbrio sobre o skate está
relacionado à posição dos pés, pois devido uma má posição sobre o shape a
apresentação de desequilíbrio é maior.
Na remada está direcionada com o a posição dos pés, pois existem
algumas maneiras de se locomover sobre o skate, a remada é a realização do
movimento do indivíduo em relação ao chão colocando um dos pés no skate e
o outro movimentando-se lateralmente ao corpo do individuo, esse é apenas
um exemplo de remada não sendo necessariamente obrigatório a realização
desse movimento para se locomover.
O skate diferente de bicicleta não possui um sistema de freio específico
para retardar a velocidade, obtendo algumas maneiras de frear sendo uma
delas a realização de curvas largas para causar menos velocidade, outra
maneira é a colocação do pé no chão friccionando ao solo, o tipo de freada
está relacionado à decorrência do momento sendo assim, pode-se variar o
estilo de freada.
Conclusão
Através da literatura observou que ha uma carência muito grande de
trabalhos sobre a questão do ensino aprendizagem na prática de skate,
obtendo apenas alguns contextos sobre o ensino aprendizagem empregados
na parte didática e pedagógica. Podendo assim relacionar os tipos de métodos
colocados nas aulas de Educação Física nas aulas de skate.
O skate ainda é um esporte com muito pouca referência bibliográfica no
âmbito escolar, assim a presença de métodos específicos no ensino
aprendizagem de skate é muito relevante, pois com novos tipos de metodologia
empregadas na vivencia do skate fará com que aumente sua demanda não
137
apenas na área escolar mais também em escolinhas particulares, beneficiando
e melhorando os planejamentos de aulas.
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138
O SIGNIFICADO DE MEIO AMBIENTE PARA OS COMPETIDORES DE
ETAPA DO CIRCUITO UESB/CACHORRO DO MATO DE MOUNTAIN BIKE
NA CIDADE DE VITÓRIA DA CONQUISTA - BA
Marcial Cotes1,5, Celeste Dias Amorim2, Marcia Morel3, Cauê Marques
Magalhães4
1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Departamento de Ciências Naturais
Vitória da Conquista / Bahia / Brasil
2
UESB / Pró-Reitoria de Extensão
Vitória da Conquista / Bahia / Brasil
3
Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Ciências da Saúde
Ilhéus / Bahia / Brasil
4
Bolsista do Projeto Ciclismo na UESB,
Graduando do Curso de Comunicação da UESB
Vitória da Conquista / Bahia / Brasil
5
E-mail: [email protected]
Resumo
A investigação procurou fazer uma análise do conteúdo das entrevistas
aplicadas aos participantes de uma das Etapas do Circuito UESB/Cachorro do
Mato de Mountain Bike, na cidade de Vitória da Conquista/BA quanto ao
significado de Meio Ambiente (MA). Esta etapa contou com a presença de 92
competidores de ambos os sexos e faixa etária de 07 a 53 anos. O universo
amostral da pesquisa computou 41 sujeitos entrevistados, sendo dois do sexo
feminino e 39 do masculino. Na análise do conteúdo das entrevistas,
considerando o significado para MA natural e construído, 14,5 % da amostra
tiveram a resposta avaliada como correta, 29,6 % não souberam responder ou
as respostas foram analisadas como erradas e 56,1 % das respostas foram
consideradas incompletas. Os autores sugerem que possivelmente o conceito
de Meio Ambiente está sendo ministrado para os alunos das instituições de
Ensino Fundamental e Médio de forma equivocada, incompleta, ultrapassada
ou ainda não está sendo abordado. Entretanto, para os entrevistados com
Ensino Superior completo foi considerado satisfatório o resultado obtido.
Palavras-Chave: Meio Ambiente, Mountain Bike, AFAN.
Introdução
A nomenclatura sugerida por Bentrán (1995) de Atividades Físicas de
Aventura na Natureza (AFAN), no contexto da Educação Física, utiliza a ideia
dessas práticas semelhante ao conceito de ecoturismo formulado por Serrano
(2000), como uma prática dita “guarda-chuva” devido à diversidade de opções
existentes que abrange uma série de práticas desportivas outdoor entre elas
moutain bike, trekking, rafting, escalada, rapel, arborismo, mergulho, vela, voo
139
livre, estudos do meio, safári fotográfico, observação de fauna e de flora, entre
outros.
Lovisolo (2000) exemplifica em sua leitura antropológica das tribos na
Educação Física a necessidade de divisão da área em institutos. O autor
entende a tribo da potência e modelagem dentro da faculdade de esportes, a
da conservação da saúde na de medicina preventiva ou social, a da Educação
Física escolar na pedagogia ou educação.
E a tribo que usa o meio ambiente natural para suas práticas de
aventura com o imaginário do retorno aos braços da mãe natureza? Poderia
ser considerado outro instituto, denominado, por exemplo, de atividade física
no meio ambiente natural ou educação física e meio ambiente?
Bruhns (2003, p.48) percebe a natureza como mãe e faz uma leitura
interessante em relação às AFAN. A autora entende que a natureza vem
[...] carregando todo um misticismo de abrigo, provimento,
sensibilidade, acolhimento e fragilidade, como também de
hostilidade e revolta (afinal deve haver alguma reação, pois nenhuma
mãe é tão passiva quanto se supõe). E é no espaço da “mãe
natureza” que essas práticas serão efetuadas.
Se levarmos em consideração esta afirmativa de passividade que a
autora aborda, estaríamos em meio ao processo de reação da natureza com as
questões de aquecimento global tão discutida na atualidade.
Lovisolo (2000) não categorizou a tribo que usa o Meio Ambiente natural
para suas práticas, mas é perceptível a necessidade de estudos que venham
analisar as questões referentes em relação às AFAN e o Meio Ambiente onde
são praticadas.
Estudos teóricos na sociologia ambiental apontam a estreita ligação
entre desenvolvimento institucional com as diversas manifestações de
problemas ambientais como: políticas verdes, organização institucional da
sociedade
movimentos
moderna,
desenvolvimento
ambientalistas
histórico,
e manifestações
de
consciência
ambiental,
problemas ambientais
(NELISSEN et al.,1997).
Camps, Carretero e Perich (1995) ao elaborar aspectos normativos que
incidem sobre as atividades físico-desportivas que utilizam o Meio Ambiente
140
natural na Espanha para suas vivências, apontam preocupações com as
normas que regulam as atividades, estruturas de organização – públicas,
associativas, fundações e mercantis –, titulações dos profissionais envolvidos e
as regulamentações que regem as instalações utilizadas. Os autores concluem
que esses espaços e os profissionais estão cada vez mais subordinados a
fortes regulamentações. Eles apontam que tanto o Estado como as
comunidades devem estar atentas as legislações que regulam essas práticas,
com o intuito principal de proteção do Meio Ambiente natural.
Nas AFAN existe uma dicotomia do que se prega e o que se faz. A
mídia e os praticantes tentam representar nas AFAN, uma harmonia entre suas
vivências e o ecossistema onde é praticado, o palco, a mãe natureza, onde o
ser humano realiza o seu mais fugaz desprender dos sentidos obrigacionais da
sociedade de consumo. No seu esperado fim de semana redescobre o seu
poder de domínio sobre o cansaço físico e mental, as intempéries não
previsíveis, os desconfortos e imprevistos que surgem durante as práticas de
aventura no meio natural.
Porém, este fugaz desprender, não passa de mais uma necessidade de
domínio da natureza, da competição contra você e contra o meio ambiente, o
adversário. Um claro processo de esportivização.
Para Rybczynski (2000, p.187) “[...] o fim de semana moderno se
caracteriza não só por uma obrigação de fazer alguma coisa, mas também de
fazer direito”.
Este estudo teve como campo de pesquisa o Projeto de Extensão
“Ciclismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB): uma prática
saudável e ecologicamente sustentável”. O projeto foi concretizado em 2009, e
no ano de 2010 continua ativo. Em 2009 consistiu em dez ações: dois passeios
ciclísticos, quatro palestras e quatro competições de ciclismo – duas de
moutain bike, uma de duatlhon e outra de speed (COTES et al., 2009).
O objeto da investigação foi um recorte dos dados levantados durante a
aplicação da entrevista estruturada, para análise de conteúdo referente ao
significado de Meio Ambiente em atletas do I Circuito UESB/Cachorro do Mato
de Mountain Bike, primeira ação realizada pelo projeto no ano de 2009.
141
Definição de Meio Ambiente
Optamos pela definição de Meio Ambiente sugerida por Dias (2004),
este entende ser suficientemente didática para atingir todas as faixas etárias
dentro do universo amostral da pesquisa.
O autor percebe o Meio Ambiente ou puramente ambiente, não só como
tradicionalmente é definido: flora, fauna, ar, solo e água. Dias (2004) defende
que todas as atividades humanas sobre a “espaçonave terra” causam
influência, ao ponto que a própria cultura das sociedades humanas devem
fazer parte desta definição.
Para tanto, Dias (2004) avalia aspectos políticos, éticos, econômicos,
sociais, ecológicos e culturais que estão em constante interação evolucionária,
influenciando fatores abióticos – água, ar, solo, energia etc –, fatores bióticos –
flora e fauna – e a cultura humana – paradigmas, valores filosóficos, políticos,
morais, científicos, artísticos, sociais, econômicos, religiosos entre outros,
como definição de Meio Ambiente.
Em nossas análises utilizamos este conceito para discutir a percepção
de Meio Ambiente dos participantes do I Circuito UESB/Cachorro do Mato de
Mountain Bike. Corroborando com o conceito, Guattari (2006) sinaliza uma
articulação ético política, que denominou de ecosofia. Na visão do autor, deve
haver uma harmonia entre o Meio Ambiente, as relações sociais e a
subjetividade humana.
MOUNTAIN BIKE
Mountain Bike é o conjunto de bicicleta e atleta para percorrer os mais
heterogêneos terrenos com subidas, descidas e obstáculos naturais em forma
de competições nos estilos: cross-country, downhill, dual slalom, freeride, triptraill, up-hill, entre outras (TUBINO; TUBINO; GARRIDO, 2007).
A origem do desporto data da década de 30 do século XX, nos EUA,
criado
por
Ignaz
Schwinn.
O
registro
das
primeiras
competições
institucionalizadas de mountain bike surgiu em 1985, em Mamute Lake, na
Califórnia. O primeiro campeonato mundial oficial aconteceu no Colorado em
1990, nos EUA. A modalidade tornou-se Olímpica em 1996 nos jogos de
Atlanta (TUBINO; TUBINO; GARRIDO, 2007).
142
O I Circuito UESB/Cachorro do Mato de Mountain Bike foi realizado
dentro do campus da UESB de Vitória da Conquista, em um circuito
heterogêneo, com subidas e descidas, onde os ciclistas percorreram áreas de
mata de cipó, pasto, áreas de experimentos dos cursos de graduação e pósgraduação em agronomia e engenharia florestal, eucaliptos e pinos. É
interessante pontuar que nenhuma trilha foi aberta para fazer o traçado do
circuito, utilizando as pré-existentes.
Procedimentos Metodológicos
No I Circuito UESB/Cachorro do Mato de Mountain Bike, participaram 92
atletas de ambos os gêneros – predomínio do sexo masculino com 90 inscritos
– nas categorias: turismo, juvenil, infanto, junior, máster A, máster B, máster C,
sub 23, sub 30, elite e feminino. Foi aplicada entrevista estruturada com roteiro
de 10 perguntas para 41 sujeitos – 39 do sexo masculino e dois sujeitos do
sexo feminino (DENCKER, 2002; NETO, 1994).
Durante a aplicação da entrevista os sujeitos preencheram um termo de
consentimento livre e esclarecido, onde constavam informações exigidas para
a coleta de dados, além de diretrizes éticas internacionais para pesquisa
biomédica envolvendo seres humanos, segundo o Conselho Nacional de
Estudo e Pesquisa (CONEPE) e o Sistema Nacional de Saúde (SNS).
As perguntas foram gravadas em um MP4 marca Philco modelo PH-305
e posteriormente transcritas na íntegra para um computador. Adotamos a
metodologia de análise de conteúdo de Pêcheux (1973) citado por Franco
(2008, p.11), quando afirma que
O objetivo da lingüística é a língua, quer dizer o aspecto coletivo e
virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a
palavra, isto é, o aspecto individual e atual (em ato) da linguagem.
[...] a análise de conteúdo trabalha a palavra, quer dizer, a prática da
língua realizada por emissores identificáveis.
A partir deste conceito, buscou-se analisar a percepção dos sujeitos
entrevistados quanto ao significado de Meio Ambiente.
143
Resultados
O universo amostral da pesquisa contou com a participação de 44,5 %
do total de competidores. A faixa etária dos participantes ficou entre sete e 53
anos. A tabela 1 apresenta o nível de escolaridade dos participantes, onde
podemos observar que 58,5 % dos sujeitos possuem Ensino Médio completo e
somente 14,6 % concluíram curso superior e/ou ainda tem pós-graduação. É
pertinente dizer, que dentro deste universo, os dois sujeitos do sexo feminino
possuem Ensino Médio completo.
Tabela 1 – Nível de escolaridade dos sujeitos entrevistados em %
ESCOLARIDADE
Ensino fundamental I e II incompleto
% DE SUJEITOS
7,3
Nº DE SUJEITOS
3
Ensino fundamental I e II completo
17,1
7
Ensino Médio incompleto
2,4
1
Ensino Médio completo
58,5
24
3º Grau completo ou Pós-Graduado
Total
14,6
100 %
6
41
Nos participantes quando questionados sobre o conceito de Meio
Ambiente, identificou-se que seis sujeitos, ou 14,6 % dos entrevistados tiveram
como resposta o meio que vivemos, incluindo ambientes naturais e
construídos. Contudo, 23 sujeitos ou 56,1%, consideram como meio ambiente
somente natureza, mato, floresta, ou seja; meio ambiente natural, e 12 sujeitos
ou 29,3% não souberam responder ou não entenderam a pergunta.
Tabela 2 – Conceito de Meio Ambiente dos sujeitos entrevistados
Categorias
Meio em que vivemos incluindo ambientes naturais e construídos
% DE SUJEITOS
14,6%
Nº DE SUJEITOS
6
Natureza, mato, florestas, rios, cachoeiras, meio ambiente natural
56,1%
23
Não souberam responder ou erraram a resposta
29,3%
12
Total
100 %
41
Discussão
O município de Vitória da Conquista tem como população estimada 319
mil moradores – o terceiro maior do estado, – conta com 49.102 alunos
matriculados no Ensino Fundamental, distribuídos em 13.671 escolas públicas
estaduais, 29.370 municipais e 6.061 privadas em 261 instituições, sendo 27
públicas estaduais, 179 municipais e 55 privadas (IBGE, 2008).
144
No Ensino Médio são 13.520 alunos com 12.023 matriculados em
escolas públicas estaduais, 298 em escola pública federal e 1.199 em escolas
privadas. O total de escolas que oferecem o Ensino Médio no município são 29
com 18 escolas públicas estaduais, uma escola pública federal e dez escolas
privadas (IBGE, 2008).
Para o ensino superior o município de Vitória da Conquista conta com
uma instituição estadual e federal e três privadas.
No universo amostral da pesquisa existem dois sujeitos um com sete e
outro com 12 anos que estão regulares no Ensino Fundamental I e II, e um
sujeito de 26 anos que não completou o Ensino Fundamental (Tabela 1).
Os três sujeitos que não tem Ensino Fundamental completo, não
souberam responder o questionamento, ou tiveram a resposta considerada
incompleta, ou equivocada. Como por exemplo, o sujeito 17:
“Um lugar que você deve preservar e cuidar bem porque um dia você vai
precisar dele” (S17).
Para os sete sujeitos ou 17,1 % da amostra que possuem o Ensino
Fundamental completo a resposta para o significado de Meio Ambiente foi
errada ou incompleta, entendendo Meio Ambiente somente como a natureza ou
Meio Ambiente natural. Dentre as respostas consideradas incorretas, podemos
citar os sujeitos sete e 28 que verbalizaram, respectivamente:
“Meio ambiente... meio ambiente é... Rapaz, eu sei é que a gente tem que
preservar o que está ao nosso redor. O que a gente puder preservar em trilhas,
a gente vai estar preservando” (S 7).
“É um lugar que todo mundo disputa. A paisagem, entendeu? Se todo mundo
tivesse a consciência de preservar, não jogar lixo no ambiente, o ar que a
gente respira seria outro” (S 28).
Podemos considerar parcialmente correta a resposta do S 11 quando
afirma que:
“Meio ambiente quer dizer tudo. Quer dizer qualidade de vida, quer dizer
saúde, quer dizer que sem o meio ambiente a gente não vive”.
Na análise das respostas para o significado de Meio Ambiente dos
entrevistados que ainda não concluíram o Ensino Médio, encontramos somente
um sujeito, ou 2,4 % da amostra, e consideramos sua resposta incompleta,
145
pois em seu entendimento o significado de Meio Ambiente é somente
“natureza”.
Os sujeitos que têm o Ensino Médio concluído, constituíram a maior
amostra da pesquisa com 24 entrevistados, ou 58,5 % do universo amostral.
Destes, cinco sujeitos ou 20,8 %, quando questionados do significado de Meio
Ambiente tiveram suas respostas consideradas erradas, ou não souberam
responder. Como por exemplo, os sujeitos oito e 19, respectivamente:
“Meio ambiente para mim me deixa sem resposta” (S 8).
“É a natureza bem cuidada. É o esporte que não polui” (S 19).
Ainda na análise do significado de Meio Ambiente, para o universo que
têm o Ensino Médio completo, identificamos 17 sujeitos como respostas
incompletas, ou 70,8 %. Consideramos o maior percentual dentro deste nível
educacional. Podemos citar como analisada incompleta a resposta do sujeito
15:
“Meio ambiente é você estar preservando a natureza de forma não-agressiva.
O mountain bike não está agredindo a natureza, é um esporte não motorizado,
não é poluente e integra a saúde do ciclista. Assim, você preserva o meio
ambiente” (S 15).
Para as respostas do significado de Meio Ambiente dos sujeitos que
têm o Ensino Médio completo, avaliamos que somente dois sujeitos
entrevistados
responderam
corretamente,
ou
8,3
%
desta
amostra.
Ponderamos como corretas, por exemplo, a resposta do sujeito 37:
“É todo o meio que nós convivemos que nós estamos. Quer seja numa trilha ou
no centro da cidade. É qualquer lugar onde estiver gente. Onde está o ser
vivente. Então, tem que ser preservado” (S 37).
Na análise do universo amostral dos sujeitos entrevistados com 3º Grau
completo quanto ao significado de Meio Ambiente, encontramos seis sujeitos.
Deste universo amostral analisamos como corretas quatro respostas e duas
incompletas. Podemos citar como incompleta a resposta do sujeito 27:
“É o local onde os outros seres humanos interagem. A natureza de forma geral”
(S 27).
Em nossa avaliação das respostas consideradas corretas para o
questionamento do significado de Meio Ambiente dos sujeitos com 3º Grau
completo, podemos mencionar a resposta do sujeito 26:
146
“Meio Ambiente é todo lugar que você desfruta para sua sobrevivência. Pode
ser dentro da sua casa, do apartamento, como pode ser na natureza” (S 26).
Conclusão
Avaliamos que 14,6 % ou seis sujeitos com respostas consideradas
corretas é um percentual muito baixo dentro do universo amostral de 41
sujeitos. O número de respostas apreciadas como incompletas de 56,1 % ou
23 sujeitos pode ser considerado elevado (Tabela 2). Se juntarmos com os 12
sujeitos ou 29,3 % que não souberam responder, ou tiveram a resposta
analisada como errada, o percentual de sujeitos que não tiveram a resposta
considerada correta aumenta para 85,4 % ou 35 sujeitos, o que consideramos
um percentual elevado.
A partir das análises quantitativas sugerimos que o conceito de Meio
Ambiente poderia estar sendo ministrado nas instituições de Ensino
Fundamental e Médio de forma equivocada, incompleta, ultrapassada ou ainda
não está sendo abordado.
Aludimos esse caminho mesmo se considerarmos que o universo
amostral não tem significância, pois não chega a um percentual de 10% de
matriculados no Ensino Fundamental e Médio na cidade de Vitória da
Conquista. Contudo, a variação dos dados quantitativos nos permite sugerir
devido o universo amostral ter a característica de um estudo de caso
constituído de sujeitos que completaram e/ou estão em processo de finalização
do Ensino Fundamental e Médio.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem em suas diretrizes a
importância dos temas transversais na formação educacional dos alunos. No V
Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental (2006) em suas
recomendações é defendido a inclusão da disciplina para formação
universitária em todas as graduações, como ferramenta educacional de
esclarecimento e conscientização.
A análise dos dados nos permite definir que os sujeitos com 3º Grau
completo possuem um conceito satisfatório do significado de Meio Ambiente,
pois dentro do universo amostral, dos seis sujeitos ou 14,6 % com 3º Grau
completo, quatro tiveram as respostas avaliadas como corretas e dois
incompletas. No entanto, quando avaliamos o restante do universo amostral da
147
pesquisa, referente ao Ensino Fundamental e Médio, observamos que dos 35
sujeitos ou 85,4 % da amostra, somente dois sujeitos ou 5,7 % deste total com
Ensino Médio completo, tiveram a resposta considerada correta. Enquanto que
21 sujeitos ou 60 % responderam de forma incompleta e 12 sujeitos ou 34,3 %
não souberam responder ou tiveram suas respostas analisadas como erradas.
Estes dados nos permitem sugerir, mais uma vez, algum tipo de
deficiência,
ou
mesmo
ausência
de
abordagens.
Faz-se
necessário
desenvolver conceitos referentes à relação da sociedade com o Meio
Ambiente, apontando uma necessidade de inclusão da Educação Ambiental
para estes níveis educacionais.
Neste sentido, corroboramos com Casillo, Farjado e Funollet (1995)
quando
sinalizam
a
importância
da
Educação
Ambiental
de
forma
sistematizada, principalmente, para o Ensino Fundamental e Médio. Mas, sem
esquecer que na educação superior a Educação Ambiental deve estar presente
com outros enfoques e questões pertinentes a essa fase educacional.
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149
PERCEPÇÃO DOS SKATISTAS DO ESTILO “STREET” DA CIDADE DE
MARINGÁ-PR EM RELAÇÃO A ESTRUTURA DOS LOCAIS DE PRÁTICA
Guilherme Moraes Balbim, Kleber Nogueira Filho, Edalvo Garcia Junior
Universidade Estadual de Maringá – Maringá – Paraná – Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos skatistas do
estilo “street” da cidade de Maringá-PR em relação a infra-estrutura dos locais
de prática. Utilizando a educação não-formal através do esporte vinculado à
prática da modalidade. O skate é um dos esportes radicais mais conhecidos
atualmente, deixando de ser apenas um esporte para se tornar um estilo de
vida. E, nos locais, onde é praticado o skate, que esta pesquisa pretende
fomentar-se, procurando discutir sobre acerca desta temática, identificando os
pontos positivos e negativos, bem como apontamentos de melhorias, tudo na
ótica dos praticantes. Os instrumentos utilizados foram dois questionários,
sendo que um deles foi elaborado pelos pesquisadores, os quais abrangeram
questões acerca dos locais onde é realizada a prática do skate, especificando
os adjetivos de cada um, bem como o objetivo, intensidade e frequência com
que o sujeito pratica a modalidade.
Palavras-chave: Educação não-formal, Skate, Street, Lazer, Infra-estrutura.
Introdução
A educação não-formal define-se como qualquer tentativa educacional
organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do
sistema formal de ensino. (BIANCONI, 2005). De acordo com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2009), a
educação não-formal, traz diversas conceituações:
1. Atividades ou programas organizados fora do sistema
regular de ensino, com objetivos educacionais bem
definidos. 2. Qualquer atividade educacional organizada e
estruturada que não corresponda exatamente à definição
de "educação formal". 3. Processos de formação que
acontecem fora do sistema de ensino (das escolas às
universidades). 4. Tipo de educação ministrada sem se
ater a uma seqüência gradual, não leva a graus nem
títulos e se realiza fora do sistema de Educação Formal e
em forma complementar. 5. Programa sistemático e
planejado que ocorre durante um período contínuo e
predeterminado de tempo. (p.1)
150
Dentro
dessa
perspectiva,
uma
área
muito
utilizada
para
o
desenvolvimento desta educação não-formal é o lazer, onde se encontra o
skate, que é considerado um esporte.
O esporte pode ser considerado como um sistema ordenado de práticas
com predomínio de componentes físico, motor e intelectual, que envolve
atividades
de
competição
institucionalmente
regulamentada,
que
se
fundamenta na superação de competidores ou de marcas/ resultados
anteriores estabelecidos pelo próprio esportista. (GUEDES, 2004). Já Böhme
(2003), conceitua o esporte como conjunto de denominação dada a todo
movimento, jogo ou forma de competição expressa pelas atividades físicas do
ser humano.
Pode-se encontrar o esporte em três campos distintos, Esporte
Educacional, que abrange o campo da Educação Física; Esporte de
Rendimento, visando o entretenimento e os negócios; e, Esporte de
Participação, que engloba o lazer e a recreação. (GUEDES, 2004). Dentro do
último campo de esporte citado, Camargo (1989), traz o lazer como qualquer
atividade que não seja profissional ou doméstica, enquanto Dumazedier (1976)
define o lazer como:
Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode
entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja
para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para
desenvolver
sua
informação
ou
formação
desinteressada, sua participação social voluntária ou sua
livre
capacidade
criadora
após
livrar-se
ou
desembaraçar-se
das
obrigações
profissionais,
familiares e sociais. (p.333)
Nesta mesma linha de raciocínio de esporte e lazer encontra-se o
esporte radical. A palavra “radical” geralmente encaminha o entendimento para
dois sentidos: extremismo quando se aplicado no campo da política e raiz
quando se busca o entendimento de algo, principalmente no campo da filosofia.
O esporte radical parece ter começado se destacar no Brasil na década de
1980, desde então vem aumentando o número de participantes. O comum
neste esporte é o gosto pelo risco e pelo prazer da aventura, e também com
uma visão ecológica. A cada mês surgem novos tipos de esportes radicais,
151
sendo que a maioria são de origem norte americanas e européias. (UVINHA,
2001).
Ainda com relação ao esporte radical, Pereira (2008) traz a seguinte
classificação:
ESPORTES RADICAIS
MEIO
Aquático
AÇÃO
Surf, windsurf
Aéreo
Base jump, sky surf
Terrestre
Bungee Jump, sandboarding
Misto
Kite surf
Escalada indoor, skate, patins in
line, bike (trial, bmx)
Urbano
AVENTURA
Mergulho
(livre
e
autônomo),
canoagem (rafting, caiaque, aqua
ride, canyonning)
Paraquedismo, balonismo, vôo livre
Montanhismo (escalada em rocha,
escalada em gelo, técnicas verticais,
tirolesa, rapel, arvorismo); mountain
bike (down hill, cross country),
trekking
Corrida de Aventura
Le parkour
Com relação ao skate, é um dos esportes radicais mais conhecidos
atualmente, sendo que nos últimos anos seu crescimento trouxe um grande
número de patrocinadores e os campeonatos são cada vez mais disputados.
Esta modalidade deixou de ser apenas um esporte e, hoje, é um estilo de vida.
Os principais skatistas além de viverem do esporte, ditam moda. O esporte
movimenta milhões de dólares todos os anos e sua indústria é uma das mais
prósperas indústrias do esporte no mundo. O skate firma-se com uma das
práticas mais populares do Brasil. Estimativas do mercado registram um
mínimo de 2,7 milhões de adeptos do skate no Brasil. Este quantitativo originase do Instituto Datafolha (SP) em pesquisa domiciliar em capitais estaduais,
encomendada pela Crail, empresa atuante no segmento de skate, em 2002.
(ATLAS DO ESPORTE, 2005)
Segundo pesquisa realizada em Setembro de 2006 pela Datafolha há
quase 3.200.000 de domicílios brasileiros que possuem pelo menos um
morador que tem um Skate, aproximadamente 6% dos domicílios brasileiros
conforme o IBGE. Deste contingente 8% são do sexo feminino.
Toda essa difusão do skate se deve também pelo fato da facilidade de
praticar a modalidade, exigindo apenas uma área com superfície regular que
152
possibilite o deslocamento do skate, porque os obstáculos encontrados são
utilizados, na maioria das vezes, como recurso para as manobras. Por isso,
muitos skatistas frequentam as ruas das cidades para praticarem seu esporte.
Mas existem também muitos locais especializados, conhecidos como skate
parks, que oferecem pistas especiais e desenvolvidas especificamente para o
esporte.
Em especial, exploramos nesta pesquisa a modalidade street. Esta
especificidade do skate de acordo Reed (2002) apresenta uma grande
variedade de manobras. A maioria delas envolve um salto, ou é o próprio salto.
As manobras podem conter giros do skate e ou do corpo do atleta. Podem ser
realizadas para subir, descer, transpor um obstáculo, ou iniciar uma manobra
de slide. Utiliza-se pistas pré-moldadas (skates parks) ou a área urbana
propriamente dita, usufruindo-se das estruturas contidas na mesma, como por
exemplo, corrimão de escadaria, canteiros, jardins, rampas, etc.
E, é dentro desses locais, onde é praticado o skate, que pretendemos
fomentar nossa pesquisa. Procurando discutir sobre estes, identificando os
formais e informais, onde é encontrado o melhor e o pior lugar, as políticas
para a utilização do local e também identificar os pontos positivos e negativos,
bem como apontamentos de melhorias, tudo na ótica dos praticantes,
construindo um roteiro desta prática, também levando em consideração,
aspectos pessoais dos sujeitos que realizam essa modalidade; situados no
perímetro urbano da cidade de Maringá-PR.
Objetivo do Estudo
O presente estudo tem como objetivo identificar a percepção dos
praticantes de skate estilo “street” da cidade de Maringá-PR em relação a
estrutura dos locais de prática.
Procedimentos Metodológicos
Conforme tipologia atribuída por Barros e Lehfelde (2000), segundo as
formas de estudo do objeto, a pesquisa é classificada como descritiva, sendo
do tipo estudo de campo. De acordo com os autores, na pesquisa descritiva,
não há interferência do pesquisador, isto é, ele descreve o objeto de pesquisa,
procurando descobrir a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua
153
natureza, característica, causas, relações e conexões com outros fenômenos.
Na pesquisa de campo, o investigador torna-se observador e explorador,
coletando diretamente os dados no local (campo) em que se deram ou
surgiram os fenômenos, havendo assim, o contato direto com o fenômeno de
estudo.
A população foi composta por skatistas do sexo masculino situados no
âmbito urbano da cidade de Maringá-PR. Sendo 38 skatistas do sexo
masculino com idade acima de 18 anos, com o tempo mínimo de um ano de
prática de skate no estilo “street”. De acordo com Barros e Lehfeld (2000)
amostragem será não-probabilística tipo intencional onde os elementos são
escolhidos de acordo com uma estratégia adequada e se relacionam
intencionalmente com as características estabelecidas.
Para atingir os objetivos da pesquisa foi utilizado um questionário préestruturado pelos autores e outro questionário já existente elaborado pelo
Grupo de Estudo de Lazer da Universidade Estadual de Maringá (BALBIM,
OLIVEIRA e PIMENTEL, 2009). A coleta foi realizada durante o mês de
Outubro e Novembro do ano de 2009, nos diversos locais identificados, sendo
realizado um levantamento dos horários mais frequentados pelos praticantes,
para que então fossem aplicados os questionários, sendo que todos assinaram
o termo de consentimento livre esclarecido.
Em relação à tabulação dos dados foram submetidos à estatística
descritiva utilizando de frequência absoluta e relativa representados através de
gráficos e tabelas.
Resultados
Aplicados os questionários acima citados, verificamos dois momentos de
resultados, o primeiro faz relações com a identificação do skatista e aspectos
sócio-demográficos, gráficos 1 a 7, já no segundo momento, são identificados
fatores associados a percepção dos praticantes em relação a estrutura dos
locais de prática da modalidade, quadros 1 a 4 e gráfico 8.
No que se refere a faixa etária dos praticantes que participaram do
estudo, construímos a figura 01. Ressalvando que a amostra contou com
indivíduos do sexo masculino e idade superior a 18 anos, no entanto, a esta
idade dos não ultrapassou a faixa dos 30 anos.
154
FAIXA ETÁRIA
39%
18-20 ANOS
21-30 ANOS
61%
Figura 01: Média de idade dos praticantes.
A figura 02 nos mostra a estimativa do tempo de prática de cada um dos
indivíduos da amostra.
TEMPO DE PRÁTICA
8
8
8
8
7
6
5
5
4
4
3
2
2
1
0
1-2 anos
3-4 anos
5-6 anos
7-8 anos
9-10 anos
11-12 anos
Figura 02: Tempo de prática dos praticantes.
Com relação a figura 03, este identifica a categoria em que o praticante
se encaixa.
155
CATEGORIA
8%
8%
32%
52%
Profissional, patrocinado nas
competições
Amador, nível recreativo e
competitivo
Amador, nível recreativo
Outro
Figura 03: Categoria dos praticantes.
Na figura 04, podemos verificar o grau de instrução em que se
encontram os participantes do estudo. Destacamos aqui, a predominância de
indivíduos com ensino médio e a ausência de indivíduos com mestrado ou
doutorado.
GRAU DE INSTRUÇÃO
3% 5%
1°Grau completo
39%
53%
1º Grau completo até 2º grau
incompleto;
2º Grau completo até superior
incompleto:
Superior completo
Figura 04: Grau de instrução dos praticantes.
E no figura 05, verificamos a renda familiar de cada praticante. Referente
a este item, constatou-se que nenhum dos indivíduos enquadraram-se com
renda familiar acima de dez salários mínimos.
156
RENDA FAMILIAR
Até 4 salários mínimos
5%
21%
32%
18%
8%
16%
Acima de 4 salários até 5
salários
Acima de 5 salários até 6
salários;
Acima de 6 salários até 7
salários:
Acima de 7 salários até 8
salários;
Acima de 8 sal. Até 9 sal.
Figura 05: Renda familiar.
No referente a figura 06, identificou-se a freqüência com que o indivíduo
pratica o skate, sendo que ninguém o pratica raramente ou mensalmente.
FREQUÊNCIA
16%
Ocasionalmente
Semanalmente
45%
Diariamente
39%
Figura 06: Freqüência de prática do skate.
A figura 07 expõe os motivos que levam o indivíduo a praticar a
modalidade street do skate.
Figura 07: Motivos que levam os sujeitos da amostra a praticarem a modalidade.
157
diversão
MOTIVOS
amigos;relações sociais
2
8
enfrentar o medo
17
5
sensação de
superioridade
sensação de “adrenalina”
8
8
contato coma natureza
4
10
melhoria da qualidade de
vida
5
7
desenvolvimento pessoal
8
rejuvenescer/estar
Figura 07: Motivos que levam os sujeitos da amostra a praticarem a
modalidade.
Os indivíduos que participaram do estudo relataram os locais que mais
freqüentam para praticar a modalidade de street do skate, dentre estes,
destacaram os melhores e os piores, conforme pode ser visto no quadro
abaixo:
Quadro 01: Locais freqüentados pelos praticantes e suas opiniões
acerca do melhor e pior local.
Nº. DE PARTICIPANTES QUE CITARAM OS LOCAIS:
LOCAL
CITAÇÕES
Vila Olímpica (pista)
COMO PIOR
COMO MELHOR
14
1
Vila Olímpica (área)
17
0
12
Praça de patinação (Banks)
23
5
9
Praça do Bairro Vila Nova
7
2
0
Praça da Prefeitura
19
8
2
Pista de Iguatemi
6
2
3
Country Clube de Maringá
5
0
5
158
Outros
6
6
6
Não responderam
1
1
0
84
38
38
TOTAL
Os quadros 02 e 03 fazem referências as citações aferidas no quadro
01, ou seja, mostram a justificativa das opiniões dos indivíduos acerca do
melhor e do pior local para praticar o skate na modalidade street.
Quadro 02: Justificativas acerca dos melhores locais de prática de skate.
Vila
Olímpica
Praça de
Praça da
Área
Patinação
(Banks)
Condições adequadas
1
3
Espaço amplo
6
Amizade
2
JUSTIFICATIVA
Pista
Local novo
1
1
Clube
Outros
2
2
1
4
1
3
TOTAL
Prefeitura Iguatemi
1
Obstáculos adequados
Não justificou
Pista de Country
12
9
1
1
2
3
3
5
6
Quadro 03: Justificativas acerca dos piores locais de prática de skate.
JUSTIFICATIVA
Vila
Olímpica
(Pista)
Praça de
Praça do
Bairro
Praça da
Patinação (Banks)
Vila Nova
Prefeitura Iguatemi
Planejamento
6
Não justificou
3
1
Não tem espaço
1
2
Regras (difícil aceso)
4
Buracos
Outros/
1
1
Pista de
2
não
opinaram
2
2
6
159
Obstáculos (poucos/precários)
1
1
Vizinhos dos locais reclamam
1
Sociabilização ruim
1
outros
3
TOTAL
14
5
2
8
2
Por fim, os indivíduos puderem dar sugestões para melhoria dos locais
de prática, verificando tais argumentos no gráfico 08, onde traz o n de cada
variável. E, também no quadro 04, expondo as razões de cada variável.
SUGESTÕES PARA MELHORAR OS ESPAÇOS
30
26
25
20
15
7
10
2
5
3
0
Construir/Reformar
Locais
Socialibização
Acabar o preconceito
Outros
Figura 08: Sugestões dos praticantes (em citações) para melhorar os espaços para a
modalidade em Maringá.
Quadro 04: Complementação da figuras 08 são as minutas das sugestões acima
abordadas.
7
160
Construir/Reformar
Acabar o
Locais
Incentivo da prefeitura.
Sociabilização
preconceito
Tornar locais mais
“Fama” dos
acessíveis para prática.
skatistas.
Outros
Liberar uso da pista
da Vila Olímpica.
União entre os
Reformar (praças, obstáculos).
sktatistas e mais eventos.
Materiais mais
baratos.
Construir locais para prática do
skate.
Incentivo para crianças.
Incentivo de
patrocinadores.
Incentivo do esporte para
Construir e reformar locais.
os praticantes.
Mais amizade entre os praticantes.
Acesso a prática da modalidade.
Discussão dos Resultados
A média de idade dos indivíduos que praticam o skate “street” na cidade
de Maringá de acordo com o estudo foi entre 18 e 20 anos e de 21 até 30 anos
de idade, predominando a primeira (Gráfico 01). Quando chegamos aos vinte
anos de existência, podemos notar que estamos no ápice da juventude, sendo
o gosto pelo risco e pelo prazer da aventura através de esportes radicais,
(UVINHA,2001). Fazendo sentido no caráter que molda a personalidade do
jovem de hoje. Após este intermédio da vida, o “tempo” encaminha o indivíduo
para a fase adulta, pois “a juventude vista na sua condição de transitoriedade,
na qual o jovem é um “vir a ser”, tendo no futuro, na passagem para a vida
adulta, o sentido das suas ações no presente”, (SALEM, 1986).
Observa-se que o tempo de prática desta modalidade esteve entre um e
doze anos de vivência, porém predominando o tempo de prática de três a oito
anos como mostra o gráfico 02. Sendo assim fica claro que conforme a média
de idade podemos notar que os indivíduos da amostra começaram cedo sua
participação no lazer não-formal levando em consideração o skate como um
adjunto do esporte. Neste ponto, a média de idade referente ao início da prática
na vida do entrevistado, que foi de 14,47 anos. Destaca-se como menor idade
161
de início aos 9 anos e como maior, 18 anos. E ainda, a idade que mais se
repetiu foi a de 16 anos.
Ao mesmo tempo em que identificamos a média de idade da amostra e o
tempo de prática, podemos fazer relação com a categoria ou qual o nível de
participação deste jovem na modalidade street, podendo ser profissional
patrocinado em competições, amador recreativo e competitivo, amador apenas
a nível recreativo e outros, uma vez que a “prática pelo exercício faz com que o
ser humano possa encaminhar seus movimentos para perfeição”. Sendo assim
observamos que 52% dos entrevistados encontraram-se no nível amador
recreativo e apenas 8% em nível de competição com auxilio de patrocínio como
mostra o gráfico 03. Ao verificarmos essa diferença entre o amador e
profissional, podemos ensejar que sua origem vem principalmente da falta de
incentivo e das dificuldades encontradas pelos praticantes na hora de
utilizarem os locais apropriados para o treino, conforme fica destacado nos
quadros 03 e 04, sendo que o primeiro traz as justificativas dos piores locais de
prática do skate, como mal planejamento, pistas e obstáculos inadequados e
em alguns casos burocracia para andar na pista existente. E, o quadro 04
aborda as sugestões para melhoria dos locais de prática, destacando-se neste
momento, incentivo de órgãos públicos e patrocinadores, bem como a
construção e reforma dos locais.
Nesse sentido, faz-se necessário entender como o fator da condição
sócio-econômico destes indivíduos e as políticas públicas para a utilização
destes locais de prática podem influenciar nestes resultados. Observamos que
em relação ao nível sócio-econômico dos participantes do estudo, 32%
possuem uma renda de até quatro salários mínimos e 5% acima de oito
salários (Gráfico 05), sendo assim vale ressaltar que o skate sendo uma prática
de lazer e até mesmo de caráter profissional não encontra barreira econômica
para sua participação, pois segundo pesquisa realizada em Setembro de 2006
pela Datafolha há quase 3.200.000 domicílios brasileiros que possuem pelo
menos um morador que tem um Skate, aproximadamente 6% dos domicílios
brasileiros conforme o IBGE.
Partindo de princípio de que a renda não é um dos fatores mais
importantes que interferem na grande diferença no percentual do nível
profissional e amador, devemos partir para o vínculo das políticas públicas à
162
possibilidade de utilização da área de prática pelos skatistas. Com base nesse
entendimento, nas sociedades aristocráticas, os homens não precisam unir-se
para agir, porque já estão solidamente mantidos juntos. Nas democracias, pelo
contrário, todos os cidadãos são independentes e ineficazes, quase nada
podem sozinhos e nenhum deles seria capaz de obrigar seus semelhantes a
lhe emprestar sua cooperação. Se não aprendem a se ajudar livremente, caem
todos na impotência. (BOBBIO apud TOCQUEVILLE, 1990)
Bobbio (1990) afirma que a capacidade de organização e ajuda mútua
seria um pilar fundamental ao desenvolvimento da sociedade. Desta forma
cabe a prefeitura do nosso município saber lidar com esta situação dando
incentivo profissional a esse esporte, para que a sociedade fique livre de
preconceito e que possa reconhecer os benefícios desta prática, através da
união do órgão representante e população.
Após o entendimento e o possível esclarecimento a cerca da diferença
entre os níveis de partição dos indivíduos, precisamos analisar também o grau
de instrução destes. Notamos que 53% dos pesquisados possuem segundo
grau completo, porém superior incompleto e 3% possuem superior completo
(Gráfico 04). Mesmo sabendo que a minoria dos entrevistados possui um
diploma é interessante ressaltar pelo fato da população ser maioria jovem de
18 a 20 anos mais de 50% da amostra ainda estão engajados num sistema de
ensino sendo ele privado ou público. Estes dados se tornam importante, pois
podemos notar que há interesse pelos jovens de hoje possuírem um diploma,
nos dando a entender que eles estão cientes das condições e exigências que o
mercado de trabalho impõe sob aquele que almejam um futuro profissional.
De acordo com o gráfico 03, podemos notar que 45% praticam o sktate
diariamente contra 16% dos entrevistados praticando ocasionalmente. Para
podermos compreender estes fatos, analisaremos quais os motivos que levam
os pesquisados a praticar o skate na modalidade street conforme o gráfico 07,
ele nos mostra que a opção “diversão” obteve 17 escolhas contra 4 votos da
opção “enfrentar o medo”, porém existindo votações intermediárias como
amigos/relações sociais, enfrentar o medo, adrenalina, sentimento de
superioridade, etc. A motivação é um fator muito importante para que ocorra
uma rotina de prática, pois segundo Bergamini (2006) a motivação é uma força
163
interior que se modifica a cada momento durante toda a vida, onde direciona e
intensifica os objetivos de um indivíduo.
Dentro das perspectivas que abrangem este artigo, uma delas é
identificar os possíveis locais de prática da cidade de Maringá. Sendo assim
conforme traz o quadro 01, identificamos sete locais mais freqüentados pelos
skatitas, são eles: Vila Olímpica (pista); Vila Olímpica (área); Praça de
patinação (Banks); Praça da Prefeitura; Praça do bairro Vila Nova; Pista de
Iguatemi e Country Clube de Maringá.
Entre estes locais citados, observamos conforme o quadro 01, a Vila
Olímpica (pista) como um dos piores locais para praticar, pois sua estrutura e a
forma como foi construída se faz inadequada de acordo com as medidas entre
um “obstáculo” e outro. E conforme a tabela o melhor lugar citado pelos
pesquisados foi a área da Vila Olímpica, por ser um espaço amplo e de fácil
acesso, possibilitando inúmeras variedades de manobras, consoante com este
aspecto, segundo Reed (2002), o “street” propriamente dito apresenta uma
grande variedade de manobras. A maioria delas envolve um salto, ou é o
próprio salto. As manobras podem conter giros do skate e ou do corpo do
atleta. Podem ser realizadas para subir, descer, transpor um obstáculo, ou
iniciar uma manobra de slide. Utilizam-se pistas pré-moldadas ou a área
urbana propriamente dita, usufruindo-se das estruturas contidas na mesma,
como por exemplo, corrimão de escadaria, canteiros, jardins, rampas, etc.
Devemos levar em consideração e colocar em pauta algumas
manifestações feitas pelos skatistas do município de Maringá em relação às
sugestões para melhorar o espaço de prática, são elas: Construir/ reformar,
sociabilizarão, “acabar” com os preconceitos, entre outros. Podemos destacar o
fator construir/ reformar como mais citado, pois nós pesquisadores que fomos a
campo, notamos que se necessita de reformas e novas construções para
melhor distribuir os praticantes desta modalidade no perímetro urbano da
cidade.
Considerações Finais
164
Diante de todo o exposto, identificamos os locais de prática,
caracterizando o praticante da modalidade de skate street e, compreendendo a
opinião destes com relação as propostas estruturais e sistematizadas para o
uso dos locais da prática, ou seja, tudo na ótica do praticante, analisamos a
percepção dos skatistas do estilo street da cidade de Maringá-PR em relação a
infra-estrutura dos locais.
Desta forma, identificamos que existem locais que comportam os
sktatistas da cidade, porém são defasados no que diz respeito as condições de
prática. Fator este, segundo as informações dos entrevistados, decorrentes da
inatividade e/ou ignorância dos órgãos públicos com relação a esta modalidade
esportiva.
Nesta perspectiva, há que se destacar esta inobservância por parte do
Poder Público, pois com a realização da pesquisa pôde ser constatado esses
fatores, como por exemplo, pista de prática e obstáculos inadequados, e ainda
algumas vezes falta de segurança devido ao mau planejamento dos locais
próprios de prática. Assim, observou-se que os locais próprios da prática do
skate modalidade street não são utilizados e, o contrário é verdadeiro, ou seja,
os skatistas praticam em locais considerados impróprios para a prática.
Contudo, não observamos nenhuma movimentação mais acintosa do
grupo com relação a uma mudança significativa. Não foi identificado nenhum
tipo de organização que reivindique essas melhorias, assim, faz-se necessário
um movimento do tipo para atingir as reivindicações. Os praticantes merecem
locais adequados, mas não podem ficar inertes, esperando que essas
benfeitorias cheguem por meio de iniciativa do Poder Público.
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Manole,2001.
166
PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES DE SURFISTAS DE TOW-IN EM
ONDAS GIGANTES
Ney Felippe de Barros Rodrigues Cocchiarale
UNIGRANRIO, Duque de Caxias, RJ, Brasil
Vera Lucia de Menezes Costa
UGF, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Geovana Alves Coiceiro Cantuaria
UNESA / BENNETTE, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Katia Cristina Montenegro Passos
UVA, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
O presente estudo, de abordagem qualitativa, teve por objetivo investigar
as percepções e representações de surfistas de tow-in em ondas gigantes
através das associações mentais geradas pelo estímulo causado por dez
palavras indutoras presentes no universo imaginário desses esportistas do
extremo. O grupo investigado foi composto por onze surfistas de tow-in com
experiência em ondas com tamanho superior a uma faixa de 25 a 30 pés (8 a
10 metros). Como estratégia metodológica, foi utilizada a técnica projetiva de
associação de ideias que buscou as manifestações livres da subjetividade dos
informantes, expressa nas associações verbais estimuladas pelas palavras
indutoras. As respostas dos informantes possibilitaram a organização do mapa
de associação de ideias que demonstra as relações e frequências dos
pensamentos e imagens interligadas em torno de um estímulo específico
(palavras indutoras). A partir da análise do mapa, organizamos dois grupos
semânticos utilizando o critério de agrupamento por natureza coletiva: o das
associações comuns e o das associações não-comuns. A análise dessas
associações revelou uma relação de ambivalência entre o homem e a
natureza, onde dualidade existente nesse contato com a natureza está
presente na própria vida desses atores, em um jogo de opostos onde eles
transitam entre o existir e a não existência de sentido para suas vidas. Suas
referências de vida apontam para vivência da aventura, explorando lugares
exóticos e desafiadores, em busca da maior onda, da competência para vencer
os desafios e da felicidade.
Palavras-chave: Imaginário; surfe de tow-in; ondas gigantes.
Introdução
Tanto no Brasil quanto no resto do mundo, os esportes de aventura e os
esportes radicais têm arregimentado muitos adeptos, trazendo como
fundamento o gosto pela aventura e pelo risco, que parece estar mais
relacionado a uma busca pela experimentação do que, como pode parecer ao
senso comum, à configuração de uma atividade destrutiva (UVINHA, 2001).
167
A busca do ser humano por essas novas modalidades, seja sob a ótica
do lazer, seja pelo esporte de competição, é motivada pelo desafio, onde,
segundo Costa (1999, 2000), ele vai testando e ampliando seus limites num
jogo com forte valor simbólico, em uma relação com o meio natural que ora
tende para o enfrentamento, ora para a comunhão.
Sobre esse dualismo, Campagna (2006) corrobora com Costa (1999,
2000) ao esclarecer que há situações em que o aventureiro considera a
natureza como extrínseca a ele, restringindo-se meramente a um cenário para
as suas façanhas, onde há uma conotação de competição e enfrentamento
entre homem e natureza, com um sentido de não pertencimento à natureza,
mas de domínio sobre ela. Mas há, no outro extremo, uma natureza que é
intrínseca ao homem, numa relação “Homem-Natureza [que] é concebida como
unidade uníssona, (inter)dependente e complementar, desvelando-se como
verdadeiros ‘parceiros’ nesta aventura” (CAMPAGNA, 2006, p. 215). O mesmo
autor destaca que, nessa concepção, são estabelecidas relações de
cooperação, solidariedade, empatia, cumplicidade e unicidade entre o homem
e a natureza.
Nesse sentido, Schwartz (2006) afirma que a busca ou a necessidade do
homem do re-encontro consigo mesmo, com o outro e com a natureza, que é
propiciada pelas atividades físicas realizadas em ambiente natural, é uma das
formas que está mais em evidência entre as possibilidades do lazer
contemporâneo. Para a autora, esses esportes de aventura, como são
comumente tratados pela mídia, reforçam um apelo que vai além da atividade
em si, de contemplação, da fruição, mas trazem, também, “legendas
subliminares que envolvem, desde o colocar-se em risco para testar a própria
auto-superação, até a perpetuação de padrões e modismos vigentes” (p. 25).
O contato do homem com a natureza, propiciado pela prática de
atividades no ambiente natural, possibilita vivências de emoções e de aventura
que contribuem para uma harmonização do homem com a natureza pelo
reconhecimento do seu espaço na sua relação com o mundo e, assim, com a
possibilidade dele defrontar-se com a sua própria natureza humana e com a
redefinição de valores sociais (COSTA; TUBINO, 1994; BRUHNS, 1997;
COSTA, 1999).
168
Costa (2000) esclarece que a aventura vivenciada nos esportes na
natureza é carregada de sentidos lúdicos já que seus praticantes aceitam
correr riscos calculados cada vez maiores em um jogo de auto-superação.
Uvinha (2001) nos traz essa mesma perspectiva quando diz que os praticantes
desses esportes jogam a todo instante com o risco de ocorrer uma queda, um
afogamento ou qualquer outra situação que possa até custar a sua vida.
Mas esse é um jogo consciente, onde o risco é calculado e as
possibilidades são analisadas segundo as experiências e habilidades do
praticante. Ao se lançarem nessas aventuras, eles o fazem confiantes não só
nas suas capacidades técnicas, mas, também, na sensação de segurança
propiciada pela utilização de equipamentos desenvolvidos pela tecnologia.
Desta forma, podemos considerar que o desenvolvimento tecnológico
promoveu as condições necessárias para a busca de desafios cada vez
maiores, através da criação e aprimoramento constante de equipamentos de
segurança e de sistemas de informação e de pesquisa que permitem uma
melhor previsibilidade, planejamento e cálculo do risco envolvido (COSTA,
1999; COCCHIARALE, 2007, 2010; COCCHIARALE; AZEVEDO; COSTA,
2008,).
Contudo, mesmo dentro de uma ótica do risco calculado, alguns desses
aventureiros extrapolam o limite da segurança quando lidam com situações
extremas em que o preço a pagar pelo fracasso deixa de ser a frustração,
algumas lesões ou um período de recuperação no hospital. Para esses
esportistas do extremo o preço pode ser a própria vida.
O presente artigo apresenta parte de uma Dissertação de Mestrado
(COCCHIARALE, 2010) sobre o imaginário dos surfistas de tow-in em ondas
gigantes, e teve o objetivo de investigar as percepções e representações
desses atores através da manifestação livre de sua subjetividade, gerada pelas
associações mentais ao estímulo causado por dez palavras indutoras,
presentes no universo imaginário desses esportistas do extremo.
Método
O presente estudo utilizou uma abordagem qualitativa. Segundo Thomas
e Nelson (2002), o método qualitativo tem sido usado por muitos anos em
pesquisas nos campos da antropologia, da psicologia e da sociologia, mas a
169
sua utilização na área das atividades físicas é relativamente nova. Para esses
autores, a característica mais significativa da pesquisa qualitativa é o seu
conteúdo interpretativo, de onde ela “busca compreender o significado para os
participantes de uma experiência em um ambiente específico e de que maneira
os componentes combinam-se para formar o todo” (p. 323).
Nesse sentido, Bauer e Gaskell (2002) pontuam que a pesquisa
qualitativa trabalha com interpretações das realidades sociais. Desta forma, o
uso da abordagem qualitativa possibilita a descrição e interpretação dos
fenômenos
sociais,
buscando
uma
compreensão
profunda
de
seus
significados.
Foi elaborada uma lista com dez palavras indutoras presentes no
universo simbólico dos surfistas de tow-in, para serem utilizadas na técnica
projetiva de associação de ideias, visando captar a subjetividade dos atores
relacionada às lembranças espontâneas geradas por elas.
A escolha dos informantes foi intencional, uma vez que são poucos os
esportistas que se aventuram nesse esporte de risco extremo, e foram
selecionados entre surfistas praticantes de tow-in que têm experiência em
ondas gigantes, todos maiores de idade. Para definir o critério de inclusão, este
estudo considerou como ondas gigantes aquelas com tamanho superior a uma
faixa de 25 a 30 pés (8 a 10 metros) de altura. Esse critério levou em
consideração que um dos principais eventos de tow-in que acontece no Havaí
estipula como condição para a sua realização que as ondas atinjam um
tamanho mínimo de 20 pés e, ainda, uma consulta feita ao Presidente da
Associação Brasileira de Surfe Motorizado (ABRASMO), Romeu Bruno, que
considera que as ondas são gigantes a partir de 30 pés. Segundo Romeu
Bruno, essas ondas existem no Chile, Ilha de Páscoa, Havaí, Califórnia, África
do Sul, Austrália, Norte da Europa e em outros lugares nos oceanos que são
alvo de constantes monitoramentos que levam à organização de verdadeiras
expedições para desbravar novos locais para a prática do tow-in.
Os sujeitos foram convidados pelo pesquisador responsável e as
entrevistas aconteceram em suas residências ou em local público que eles
escolheram, não necessitando de autorização por parte de terceiros. Todos
que aceitaram participar receberam esclarecimentos sobre todos os aspectos
relacionados à pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e
170
esclarecido autorizando a divulgação dos resultados encontrados, conforme
Resolução n.º 196/MS/CNS, de 10 de outubro de 1996. A pesquisa que deu
origem a este artigo foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos da Universidade Gama Filho.
Foram entrevistados onze praticantes do sexo masculino, sendo dez
brasileiros e um do Peru. Esse quantitativo é expressivo, considerando que no
Brasil, embora o número de adeptos do tow-in esteja crescendo rapidamente,
existem, no momento desta pesquisa, aproximadamente 30 praticantes com
experiência em ondas gigantes, que aparecem regularmente nas listas de
convidados das competições organizadas pela ABRASMO. O informante
peruano foi o pioneiro do tow-in em seu país e é considerado uma referência
na modalidade por aqueles que buscam as ondas gigantes de Pico Alto, que é
um local onde podem ser encontradas ondas acima de 20 pés no Peru. A idade
dos informantes variou de 25 a 49 anos (M ± DP = 39 ± 7), sendo dois
informantes com idades inferiores a 30 anos, 3 com idades entre 30 e 40 anos
e 6 informantes acima de 40 anos de idade. Este dado revela que o tow-in em
ondas gigantes reúne atletas de maior experiência, podendo ser uma
alternativa para a continuidade competitiva quando a idade se torna um fator
limitador de performance no surfe tradicional.
Todos os informantes são surfistas profissionais, vivendo do esporte, e
contam com patrocinadores que dão condições de realizar as suas viagens,
aquisição e manutenção de equipamentos. Cinco deles também atuam como
empresários, curiosamente os acima de 40 anos de idade, com negócios
ligados ao surfe, como surf shop, fabricação e venda de equipamentos, aulas
de surfe e produção de imagens aquáticas. Isso pode significar uma
necessidade de estabilidade financeira não dependente de patrocínios que com
o avançar da idade acabam se tornando cada vez mais difíceis de conseguir e
podemos inferir, também, uma blindagem de imagem do surfista/marca/surfe
favorecendo os negócios no esporte, uma vez que este, na atualidade, se
apresenta como um grande mobilizador de bens e de consumo.
Sete informantes concluíram o ensino médio, um possuía apenas o
ensino fundamental e três informantes possuíam curso superior completo,
mesmo assim, não atuavam na profissão para a qual se formaram. Esse dado
pode ser explicado pela dedicação ao esporte que todos eles demonstraram,
171
com necessidade de viagens constantes, o que dificultaria a continuidade nos
estudos.
As Associações de Ideias
Os informantes foram instruídos a expressar o primeiro pensamento
produzido a partir de dez palavras indutoras: onda gigante; desafio; risco;
corpo; medo; segurança; jet-ski; parceiro; limite; Jaws.
As respostas dos informantes possibilitaram a organização do mapa de
associação de ideias (Figura 1) que demonstra as relações e frequências dos
pensamentos e imagens interligadas em torno de um estímulo específico
(palavras indutoras).
Figura 1 – Mapa de associação de ideias.
A partir da análise do mapa, organizamos dois grupos semânticos
utilizando o critério de agrupamento por natureza coletiva: o das associações
comuns, construído a partir da reunião dos sentidos semelhantes que os
sujeitos expressaram, relacionados a mais de uma palavra indutora ou da
relação direta em que uma resposta gerada coincidia com outra palavra
indutora; e o das associações não-comuns, cujos sentidos emergiram apenas
de uma palavra indutora. O Quadro 1 apresenta a organização do grupo das
associações comuns em ordem de frequência.
172
Quadro 1
ASSOCIAÇÕES COMUNS
Sentidos
Não existe/inexistente
Presença constante/Sempre
Confiança
Prazer
Minha vida/viver
Excitante/estímulo
Jaws
Superação
Cautela/comedimento
Deus
Onda gigante
Parceiro
Desafio
Segurança
Nº de respostas
13
12
10
08
06
04
04
04
03
03
02
02
01
01
Analisando as associações comuns, podemos verificar a maior
concentração de respostas semelhantes em torno de dois sentidos opostos:
não existe/inexistente e presença constante/sempre. Essa intensidade de
respostas aponta para a percepção de que o prazer para esses surfistas do
extremo caminha por um jogo de opostos – presença/ausência, que também
encontramos
em
outros
elementos
das
associações
comuns:
superação/cautela, desafio/segurança. Surfar ondas gigantes e estar na
natureza é a própria vida, é a razão de ser desses atores, e não estar nesse
ambiente é morrer em uma vida sem sentido, uma dualidade vida/morte que
reflete as características de um ser dividido entre uma vida prazerosa, excitante
e estimulante no mar e a monotonia da vida em terra.
Esse dualismo carrega o simbolismo do mar, da dinâmica da vida, que
tem a propriedade divina de dar e de tirar a vida. O mar é o lugar do
nascimento, das transformações e dos renascimentos, de onde tudo sai e para
onde tudo retorna. O mar é a água em movimento. Ele simboliza um estado
transitório entre as possibilidades, uma situação de ambivalência, que é a da
incerteza, da dúvida, da indecisão, podendo se concluir bem ou mal
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2006). Ao entrarem no mar, os surfistas de towin renascem para a vida que lhes dá prazer, uma aventura cujo resultado é
incerto, mas no qual se lançam com a confiança do sucesso.
173
O elemento confiança aparece como outro destaque nas associações
comuns. Sem a confiança, não seria possível vivenciarem essas aventuras.
Além de estar relacionada com o conhecimento de suas próprias capacidades
e habilidades, essa confiança emana principalmente de seu parceiro e do uso
do jet-ski. Essa combinação homem-máquina atua como o guia ou o auxiliar
mágico que ajuda o herói a enfrentar os seus desafios. A máquina é a
ferramenta que possibilita o prazer de surfar ondas gigantes, é o brinquedo que
permite o jogo com a natureza, um objeto sagrado que é a segurança nos
momentos difíceis, nos quais Deus aparece como um parceiro, uma força a
mais para garantir o retorno das aventuras.
Ainda nas associações comuns, encontramos Jaws, local relacionado à
melhor onda do mundo, a mais poderosa, a mãe de todas as ondas. Surfar as
ondas de Jaws, que já chegaram a 70 – 80 pés, é o sonho que excita, estimula
e desafia esses aventureiros. Onde os medos interiores devem ser superados
com cautela/ comedimento e os desafios devem ser vencidos com segurança.
Não é por acaso que surgiu o sentido de mãe. Segundo Chevalier e
Gheerbrant (2006), o simbolismo da mãe está ligado ao do mar na medida em
que, ambos, são receptáculos e matrizes da vida. A mãe é que dá a vida, nutre
e protege, mas também é a opressora, que sufoca e paralisa o
desenvolvimento do eu através de um prolongamento excessivo da função de
alimentadora e de guia. A atração que a onda de Jaws exerce sobre os atores
do estudo provém de uma fascinação inconsciente, como a do filho que
mantém uma forma de fixação na mãe.
A interpretação da categoria das associações não-comuns possibilitou
identificar os grupos de sentidos que se organizaram em torno de três novas
categorias semânticas, que conduzem ao entendimento do que se oculta no
inconsciente dos respondentes, trazendo respostas às seguintes indagações:
Quais as minhas referências? O que eu busco? Quais os significados do meu
corpo? O Quadro 2 mostra o grupo das associações não-comuns, organizadas
em três novas categorias semânticas.
As referências desses atores apontam para locais paradisíacos onde
Teahupoo, no Taiti, e Ilha de Páscoa emergem como imagens de ondas
desafiadoras e de lugares a serem desbravados, envoltos por mitos e
misticismos que os sacralizam. Teahupoo, que na linguagem local significa
174
crânio quebrado, é um local de ondas extremamente perigosas e perfeitas que
quebram sobre uma bancada de corais pontiagudos, com menos de um metro
de profundidade, e que já fez várias vítimas. Laird Hamilton impressionou o
mundo no ano 2000 ao ser o primeiro a surfar de tow-in uma onda gigante em
Teahupoo. Ele surge como uma referência do verdadeiro homem do mar.
Quadro 2
ASSOCIAÇÕES NÃO-COMUNS
Novas categorias semânticas
Minhas referências...
O que eu busco...
Meu corpo...
Teahupoo
A melhor onda/ a mais poderosa/ sonho
Saudável
Ilha de Páscoa
Emoção/ realização/ perfeição
Um presente
Laird Hamilton
Harmonia
Todo quebrado
4 Tempos / ecologia
Eu
Sempre treinado
Muita velocidade
Morte
Competente
Ser feliz
O contato com a natureza trás para esses atores uma preocupação
ecológica e desenvolve atitudes voltadas para a manutenção das condições
ambientais, como limpeza das praias, destinação adequada do lixo que eles
produzem e o uso de um jet-ski menos poluente (motores 4 tempos). Essas
atitudes, que acompanham a tendência mundial com a preservação do meio
ambiente e de inquietação com o futuro do nosso planeta, visam principalmente
garantir as condições de continuidade da sua atividade, do seu prazer.
A busca é por seus sonhos, pela onda mais poderosa, pela perfeição,
pela emoção da velocidade, da vertigem que imprime à consciência um pânico
voluptuoso (CAILLOIS, 1990). É uma busca pela competência para lograr êxito
no enfrentamento do risco extremo de surfar ondas gigantes. Em uma análise
mais profunda, é buscar a felicidade e estar em harmonia com o Cosmos, em
uma viagem interior ao encontro de si mesmo, do significado de sua própria
existência.
Nessa aventura, o corpo é um presente divino, é o elo que conecta a
consciência ao mundo exterior, que possibilita a interação da razão com a
175
emoção. Como instrumento, o corpo precisa se manter saudável, apto para
desempenhar a sua função de buscar o prazer, e para isso deve estar sempre
treinado para corresponder aos elevados níveis de exigência do encontro com
as ondas gigantes. Mas isso tem um preço: como uma máquina exigida ao
extremo, esse corpo sucumbe ao desgaste. Lesões, dores, degenerações
articulares acabam afastando, temporária ou definitivamente, esses homens do
mar, do significado de suas vidas, e, nesse aspecto, o corpo representa a
morte.
Considerações Finais
O desejo de aventura, o mesmo espírito que impulsionou as grandes
conquistas da humanidade, parece repousar no íntimo do ser humano e se
manifestar no risco espontaneamente assumido nas atividades realizadas na
natureza.
A cumplicidade do sujeito com seu corpo, transformando simbolicamente
a imaginação na experiência corporal lúdica de deslizar sobre as ondas, por
dentro de túneis de águas, sem ser tragado por elas, traz à imaginação e à
vontade os sonhos de galgarem altos limites de sua condição humana, pondo
em evidência a potência do surfista e mostrando que a maior glória é a
conquista obtida com a perspicácia do ator, o equilíbrio do corpo em harmonia
com a prancha, com o parceiro que o conduziu e a velocidade da onda.
Os surfistas de ondas gigantes são então arrebatados por esse
sentimento, sendo o risco deliberadamente assumido, porém menosprezado
pela confiança em suas habilidades técnicas e em todo um aparato de
segurança que vai dar suporte para as suas aventuras. Na busca por seus
sonhos, o corpo precisa estar sempre preparado, treinado, numa busca
também pela competência para surfar as ondas gigantes e garantir o seu
retorno.
Os discursos dos tow surfers constroem imagens de luta heroica, de
expansão e liberdade onde os significados de aventura e risco apontam para a
procura do prazer de encarar seus medos interiores, de se por à prova, de
desbravar os mares do mundo, de enfrentar o desconhecido, com incerteza de
resultado, mas confiante no seu sucesso.
176
O herói personificado por esses atores é aquele que aceita e enfrenta os
desafios, combate monstros de água e reafirma a sua potência sobre os
elementos da natureza. Por outro lado, também é o herói salvador de vidas,
que arrisca a sua segurança para arrancar das garras da morte aqueles que
estão em perigo. Na sua jornada, conhece a sua própria natureza e se
reconhece como fazendo parte daquela. O combate dá lugar à comunhão, o
enfrentamento à harmonia. A onda gigante deixa de ser algo a ser conquistado
e transmuta-se em parceira que brinca com o surfista e se diverte com ele, ora
impedindo a sua passagem, ora premiando-o com profundos túneis de água
que o envolvem como um abraço terno e acolhedor.
A dualidade existente nesse contato com a natureza está presente na
própria vida desses heróis da pós-modernidade: homens com uma forte ligação
com o mar, que para viverem o seu sonho se reconstroem com muita
dedicação e perseverança. Verdadeiros empreendedores, eles não esperam
por facilidades, ao contrário, criam os meios necessários para superarem todos
os obstáculos. Mais do que atores, esses seres de dois mundos, com o corpo
vivendo em terra e o coração e o espírito no mar, escrevem a sua própria
história, uma vida dividida entre o mar e a terra, o sagrado e o profano, a vida e
a morte. O jogo de opostos onde os atores transitam entre o existir e a não
existência de sentido para suas vidas.
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179
PERFIL DE PRATICANTES DE SKATE DE MARINGÁ-PR E REGIÃO
Guilherme Moraes Balbim, Luana Mari Noda, Giuliano Gomes de Assis
Pimentel
GEL- Grupo de estudos do lazer - Universidade Estadual de Maringá
Resumo
As atividades de aventura mais conhecidas são as esportivas, que
podem ser praticadas em ambientes naturais ou urbanos, além dos virtuais.
Entre os esportes de aventura em locais artificiais, o skate se destaca como um
dos mais praticados e tradicionais. O presente estudo analisou representações
de 98 praticantes paranaenses sobre as características de sua prática.
Também foram indagados quanto a características deles, incluindo tópicos
como faixa etária, renda, lesões e modalidade praticada. O instrumento de
coleta, no survey, foi o questionário entregue no local da prática e respondido
diretamente pelo praticante. Os resultados estão demonstrados em estatística
descritiva.
Introdução
O skate é uma prática em crescente desenvolvimento no Brasil.
Segundo o Atlas de Esportes no Brasil o Brasil é a segunda potência mundial
em fabricação de produtos para a prática do esporte, atrás somente dos EUA,
além de constituir o terceiro mercado consumidor do mundo (DA COSTA
2005).
Portanto, dentre as atividades de aventura uma das mais praticados e
conhecidas é o skate, se manifestando como um produto próprio da
Modernidade (velocidade com tecnologia), sendo uma atividade com risco
controlado, praticado predominantemente por jovens e com presença de
tecnologia, mas de baixo custo (PIMENTEL, SAITO, 2010). Apesar deste
visível desenvolvimento do skate, há uma grande deficiência bibliográfica,
poucos estudos científicos nesta área e uma definição polissêmica.
Pretendemos com esse artigo elucidar características a cerca da modalidade e
de seus praticantes.
O skate é uma atividade recreativa e esportiva popular entre os jovens,
que são atraídos pela possibilidade em atingir altas velocidades e produzir
grande variedade de manobras (RETHNAM, YESUPALAN, SINHA; 2008).
Essa prática surgiu em meados dos anos 1960, na América do Norte, quando
180
surfistas californianos cansados de esperar as boas ondas, adaptaram rodas
de patins em madeiras que imitavam pranchas de surfe. No início, era
chamado de sidewalk surf (surfe de calçada), e somente em 1965, quando o
número de praticantes já era grande, ganhou um nome próprio, skateboard
(BITENCOURT, AMORIM; 2005).
Com o grande desenvolvimento e ganho de popularidade do skate
surgiram novas modalidades, dentre elas o skate downhill, que é uma
modalidade em que os praticantes descem ladeiras em um skate de tamanho
maior (a partir de 38,4 polegadas) e com shape (prancha) também diferente,
chamado de longboard.
O grupo de atividades que envolvem aventura, o risco, assim como o
skate se depara com problemáticas de conceituação. Este grupo que agora
chamaremos de atividade de aventura. “O conceito atividades de aventura
parece resguardar a reconhecida e problemática generalidade de experiências
que podem estar ocorrendo no ambiente natural (turismo, educação ambiental,
esportes, rituais indígenas) e no citadino (esportes, jogos, entre outros). Esse
“e” está em destaque para realçar a possibilidade de a mesma manifestação
ocorrer em mais de um meio. Interessa destacar que o termo, a exemplo de
esporte na natureza, vai nomear práticas de lazer. Portanto, a aventura
relacionada, por exemplo, às descobertas científicas, a exploração profissional
de terras desconhecidas ou a tensão das profissões que envolvem risco,
embora compartilhem de um mesmo impulso lúdico, não são objetos
preferenciais de estudo”. “Atividade de aventura vai tratar da busca deliberada
e no tempo livre por experiências as quais culturalmente apreendemos como
sendo aventura (corriqueiramente associada a sair do cotidiano e entrar no
imprevisto).”
Para Pereira, Armsbrust e Ricardo (2008), os esportes radicais, que aqui
denominamos atividades de aventura, podem ser divididos em dois tipos
distintos: ação e aventura. Para esses autores o skate é um esporte radical de
ação, caracterizado pelas manobras que exigem força e velocidade, por ser
praticado em espaços urbanos construídos e o publico alvo que se relacionam
por meio de atitudes, vestimentas, comportamentos e linguagens.
181
Uvinha (1997) diz em seu estudo que pode parecer que as atividades de
aventura são praticadas apenas por jovens, sendo uma atitude “típica da
idade”, mas verificou que existem praticantes de todas as idades, movidas pelo
que o autor chama de “espírito ou sentimento de jovialidade” que estas
atividade podem proporcionar.
Em relação ao perfil dos praticantes de skate Pimentel e Saito (2010) os
colocam com uma característica específica de usar roupas largas, que fogem
dos padrões esportivos.
Outra característica do perfil desse grupo, é ser
culturalmente associado ao universo masculino (FIGUEIRA; GOELLNER,
2009), mas as autoras lembram que a escassez de referências sobre mulheres
no skate não implica afirmar a sua ausência nesta prática.
Face ao exposto, o presente estudo tem como problemática: qual o perfil
dos praticantes de skate da região noroeste do estado do Paraná e qual é sua
caracterização da prática do skate?
Objetivo do Estudo
Identificar características de praticantes de skate da região noroeste do
estado do Paraná e averiguar suas concepções a respeito dessa atividade de
aventura.
Métodos
O método de pesquisa utilizado foi o descritivo-exploratório que tem
como característica registrar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou
fenômenos sem manipulá-los. É um estudo exploratório, tendo a finalidade
familiarizar-se com o fenômeno e obter uma nova percepção a seu respeito,
descobrindo assim, novas idéias em relação ao objeto de estudo (MATTOS,
ROSSETTO, BLECHER, 2004).
A amostra foi composta por 93 skatistas, sendo todos do gênero
masculino, com idades entre 16 e 60 anos. Estes foram selecionados de forma
não-probabilística, pois não houve organização estatística para distribuição da
amostra nas diferentes localidades de coleta, se exigindo apenas que os
respondes deveriam possuir mais de 6 meses de prática A coleta foi realizada
no período de março de 2009 a março de 2010 em locais públicos como pistas
182
abertas de skates, competições regionais e praticantes abordados nas ruas de
cidades do noroeste do Paraná.
O instrumento utilizado foi “Questionário GEL 2009 - Definição e
Caracterização dos Esportes de Aventura”, adaptado ao skate, sendo
composto por trinta e duas questões divididas em dois blocos. O primeiro bloco
possui 9 questões objetivas, da primeira a sétima questões de respostas únicas
a oitava e nona questões são de múltipla escolha. Que buscam estabelecer
informações a respeito do sujeito. O segundo bloco é composto de 23 questões
objetivas em que as respostas são divididas em 5 graus de concordância: 1Discordo plenamente, 2- Discordo em parte, 3- Não concordo nem discordo ou
Não tenho opinião, 4- Concordo parcialmente e 5 - Concordo plenamente.
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, cujo objetivo
básico é o de sintetizar uma série de valores de mesma natureza. Permitindo
que se tenha uma visão global da variação desses valores, tal procedimento
organiza e descreve os dados de três maneiras: por meio de tabelas, de
gráficos e de medidas descritivas. (GUEDES, 2004).
Na tabulação dos resultados o número de sujeitos apresenta variações (por
aquele sinal de + e – e a quantidade que variou), pois ocorreu erro interavaliador permitindo que em alguns o instrumento ficasse incompleto.
Resultados
Caracterização dos Praticantes de Skate
Inicialmente
iremos
apresentar
os
resultados
a
respeito
da
caracterização dos praticantes de skate. Na Figura 1 é apresentada a categoria
dos skatistas:
183
Figura 1 – Categoria em relação ao skate como trabalho/lazer
Obtivemos que o maior número de praticantes (47,37%) da amostra é de
skatistas amadores, de nível recreativo e competitivo. Podemos observar
também que houve uma baixa prevalência de praticantes profissionais que são
patrocinados em competições, o que manteve coerência relativa ao número de
atletas profissionais que existem no Brasil: 211, segundo Bittencourt, Amorim
(2005).
Na Figura 2 apresentamos as faixas etárias dos praticantes abordados:
Figura 2 – Faixa etária do praticantes
Pode-se observar que a faixa etária que apresenta o maior número de
praticantes são as duas primeiras faixas, até 20 anos e entre 21 e 30 anos, o
que demonstra que os praticantes de Maringá e região são em sua grande
maioria adolescentes ou jovens adultos.
Em seguida apresentaremos, na Figura 3, o grau de instrução dos
praticantes:
184
Figura 3 – Grau de instrução
Observa-se que o grau de instrução de grande parte dos praticantes é o
Ensino Médio, sendo que apenas 10 pessoas tem o Ensino Superior completo.
Existe coerência desses resultados com a faixa etária.
A seguir na Figura 4 é demonstrada a renda familiar dos adeptos do
skate:
Figura 4 – Renda familiar
Nota-se que um terço da amostra tem uma renda que não chega a 4
salários mínimos, faixa esta em que se concentra aproximadamente 66,4% das
famílias paranaenses (POF, 2002-2003). Esse resultado é parcialmente
185
confiável, visto que, nesse tipo de instrumento, há tendência em se responder
menos que os ganhos reais. Porém, os dados possuem razoável confiabilidade
por serem coerentes com a renda pressumida à escolaridade da maioria dos
praticantes, inferior ao Ensino Superior completo. Também é um discurso
corrente entre ‘nativos’, que o skate é acessível pelo baixo custo, sendo
praticado por diferentes grupos de renda.
Na Figura 5 é apresentada a frequência com que a amostra pratica
skate:
Figura 5 – Frequência de prática do skate
Podemos
aproximadamente
notar
79%
que
da
a
frequência
amostra
de
pratica
prática
skate
é
alta,
já
que
diariamente
ou
semanalmente, demonstrando que o skate em grande parte dos casos faz
parte do dia-a-dia dos praticantes. Essa facilidade pode estar associada ao uso
do skate como transporte, como afirma Vaz (2007, p. 8) “seus praticantes
(skate) preferem considerá-lo como um estilo de vida, um meio de locomação e
de expressão”. A facilidade em usá-lo em diferentes ambientes e sem muitos
preparativos (quando comparado a outros esportes, que necessitam de alta
tecnologia e viagens) também pode estar associado a isto.
186
Caracterização do Skate Pelo Praticante
Os resultados em relação aos graus de concordância foram divididos em
categorias: natureza, preconceitos, lazer, características e conceituação. As
respostas foram divididas em 5 graus de concordância: 1- Discordo
plenamente, 2- Discordo em parte, 3- Não concordo nem discordo ou Não
tenho opinião, 4- Concordo parcialmente e 5 - Concordo plenamente.
A seguir serão apresentados os resultados da caracterização da
modalidade pelos praticantes. A primeira categoria apresentada é a skate e
natureza na Tabela 01:
Skate e natureza
O contato com a natureza é algo que caracteriza o
skate
O skate é uma atividade física de aventura na
natureza
O skate gera impacto na natureza
Não existem causas sociais ou de preservação
ecológica relacionadas com o skate
1
2
3
4
5
11%
22%
14%
29%
24%
21%
83%
17%
6%
26%
4%
21%
6%
15%
1%
28%
9%
38%
11%
14%
Tabela 01 – Nível de concordância na relação skate e natureza
Analisando a Tabela 6 percebe-se que não existe um consenso entre os
praticantes quanto a relação do skate com a natureza, exceto quando é
colocado a geração de impactos na natureza decorrentes da prática de skate.
Mas vemos o skate como uma modalidade que mesmo sendo urbana depende
de alguns fenômenos naturais como o vento, empuxo e gravidade, elementos
esses que segundo Dias e Alves Junior (2007) servem como propulsores dos
deslocamentos e deslizes envolvidos nas ações esportivas.
A proposta de descrever o esporte como uma prática que estabelece
relações intersubjetivas com a natureza, a fim de extrair prazer dessa interação
vem sendo discutida no meio acadêmico. A relação com a natureza pode ser
vista como um dos elos fundamentais na caracterização das atividades de
aventura (DIAS, 2007). Entretanto podemos observar que a afirmação que a
prática do skate, que se caracteriza como urbana, tem contato com a natureza,
não é de fácil apreensão para o praticante, uma vez que não há um consenso
ao correlacionar o skate com a natureza.
187
A seguir será apresentado na Tabela 02 o nível de concordância dos
praticantes quanto a relação skate e preconceito:
Skate e o preconceito
Você se enquadra em alguma "tribo" de praticantes
É utilizado algum tipo de droga ao se praticar a atividade
Você já sofreu algum tipo de preconceito por ter escolhido
essa atividade
Você acha importante a sua pratica ser abordada por
programas de TV, rádio, artigos de jornais e revistas
No skate a mulher é menos capaz pela sua fragilidade
1
38%
71%
2
15%
10%
3
15%
14%
4
16%
1%
5
16%
4%
13%
9%
11%
18%
49%
3%
63%
4%
10%
10%
12%
13%
9%
70%
6%
Tabela 02 – Nível de concordância na relação skate e preconceito
Em relação ao nível de concordância a respeito da existência de uma
“tribo” de praticantes, nota-se que não há um consenso quanto essa existência,
o que não corrobora com Uvinha (1998) que afirma que as pistas de skate se
mostraram não apenas como um espaço determinado geograficamente, mas
sim um território delimitado socialmente, onde uma teia de relações se
manifestam, ou seja, local onde se concentra um grupo social, que podemos
chamar de “tribo”. Honorato (2005) cita a existência de uma tribo, e a vê como
um processo de individualização tem como componentes as configurações
sociais (pistas de skate, ruas, praças, ‘picos’, escolas etc.), uma rede relacional
de indivíduos (família, amigos, rappers, roqueiros, punks etc.) e um tempo
disponível para exercício da modalidade skate.
Quanto ao uso de droga durante a prática de skate mais de 80% da
amostra discorda que é utilizada. Com base nesses resultados a questão do
uso de drogas por parte dos skatistas pode ser algum tipo de preconceito
devido a uma minoria que utiliza, é o que afirma Pimentel e Saito (2010).
No estudo de Pimentel e Saito (2010) em entrevista a policiais, estes
apontaram que não há uma ordem para abordar grupos de skatistas, mas
devido ao fato de pequenos grupos de vandalismo classificarem-se como
skatistas de rua, os praticantes muitas vezes têm sua imagem relacionada ao
consumo de drogas e de delitos contra o patrimônio. Dessa forma, percebemos
que devido a uma parcela de praticantes que têm atitudes ilegais, todos os
praticantes são rotulados desta maneira, o que pode se caracterizar como um
preconceito, já que há uma generalização dos fatos. Isso é demonstrado em
nossos dados, em que metade da amostra concorda plenamente em já ter
188
sofrido preconceito por andar de skate. Esse fato é demonstrado também em
estudo de Uvinha (1998) praticantes de skate apontaram que a modalidade é
vista como marginalizada e associada à bandidagem e vida na “rua”.
Apesar do fato supracitado, o skate vem ganhando espaço na mídia, é o
que Uvinha (1998, p. 5) afirma: “a modalidade vem recebendo uma atenção
especial da mídia impressa e televisiva, fato que tem empolgado alguns
skatistas e causado um certo desconforto em outros”. Essa empolgação citada
por Uvinha é demonstrada em nosso estudo, em que 83% vêem importância no
fato de o skate estar presente na mídia.
Quanto a questão da mulher ser menos capaz devido sua fragilidade,
73% da amostra discorda dessa afirmação, entretanto nenhuma praticante do
sexo feminino respondeu ao questionário, o que mostra que poucas mulheres
praticam, mesmo que os homens afirmem que as mulheres são capazes. Mas
Figueira e Goellner (2009) afirmam que a escassez de referências acerca da
existência de mulheres praticantes de skate não implica afirmar sua ausência
nessa prática.
Louro (2005) explicita que cada cultura estabelece o que é considerado
o normal, o diferente e o excêntrico, por exemplo no que se refere ao gênero e
à sexualidade. A autora também evidencia que a posição central é considerada
a posição não-problemática, sendo que todas as outras posições de sujeito, de
alguma forma, estão ligadas e subordinadas a ela. A posição central, nesse
caso específico, é ocupada pela identidade masculina.
Quanto à leitura sobre a mulher no esporte, é interessante notar que não
há abertamente uma aceitação da desigualdade. Mas, estranhamente,
nenhuma mulher foi encontrada para a coleta. A resposta foi dada
exclusivamente por homens. Se a mulher, em termos físicos e motores, não é
menos capaz, onde estão elas? Esse é um dado bastante curioso, visto que na
Escola de Iniciação ao Skate que o GEL – Grupo de Estudos do Lazer realiza
como extensão na Universidade Estadual de Maringá, há um número
significativo de meninas e adolescentes aprendizes (35%).
Na Tabela 03 está demonstrado o nível de concordância dos praticantes
quanto a relação skate e lazer:
Skate e lazer
1
2
3
4
5
189
Sua prática pode ser considerada uma opção
de lazer
Sua prática tem como maior objetivo a
competição
Sua prática é uma forma de aliviar o estresse
do cotidiano
Você é atraído pelo lazer de risco
4%
5%
8%
16%
67%
46%
16%
15%
12%
11%
5%
8%
5%
7%
5%
12%
14%
25%
71%
48%
Tabela 03 – Nível de concordância na relação skate e lazer
Podemos notar que mais de 80% da amostra concorda com a afirmação
de o skate ser uma opção de lazer e ser uma forma de aliviar o estresse do
cotidiano, o que geralmente ocorre nos momentos de lazer. Seguindo este
pensamento os praticantes não consideram a competição como o maior
objetivo da prática de skate. Corroborando com isso, Marinho (2008) salienta
que as atividades de aventura estão sendo entendidas como diversas práticas
manifestadas, privilegiadamente nos momentos de lazer. Isso não significa que
a competição descaracterize o lazer. Pelo contrário, é um de seus elementos,
especialmente no lazer esportivo. O que chama atenção no skate é que a
configuração da vivência dele como lazer esportivo se baseia mais na liberação
das tensões e na busca do desafio do que na superação do outro por meio de
regras.
Os resultados também reiteram as três dimensões teleológicas do lazer
(diversão, desenvolvimento e descanso) presentes na percepção da motivação
para esse esporte. Isso aponta para a necessidade de aprofundar o debate
sobre a dimensão do lazer na experiência dos skatistas e a necessidade em
contemplar outros esportes no estudo, de modo a estabelecer comparações.
Constata-se também que mais de 70% dos praticantes concordam que
são atraídos pelo lazer de risco. Em relação ao risco, este quando controlado e
desejado vem sendo estudado como traço de personalidade que reflete a
busca individual de sensações e experiências novas, variadas e complexas, e a
disposição em correr riscos físicos e sociais para a realização dessas
experiências (SPINK; ARAGAKI; ALVES, 2005). Dessa forma, os praticantes
podem ter uma predisposição à procura de atividades que envolvam risco,
dentre elas o skate.
A questão do risco também está embutida no conceito de atividade de
aventura, para Marinho (2008) são atividades cercadas por riscos e perigos, na
medida do possível calculados.
190
Em seguida na Tabela 4 será apresentado o nível de concordância dos
praticantes na caracterização da prática de skate:
Caracterização da prática
O medo é essencial para a aventura ocorrer na atividade que
você pratica
A aventura é algo que caracteriza o skate
O skate é uma atividade que depende de tecnologia para ser
praticado
O skate exige um tipo corporal como mais adequado para sua
prática
Você se sente um herói ao praticar essa atividade
A atividade que você pratica traz experiências arriscadas
incertas, traduzindo a atração pela novidade e o desafio
1
2
3
4
5
19% 14% 12% 24% 31%
5% 10% 5% 29% 51%
31%
8% 12% 23% 26%
37% 20% 12% 21% 10%
63% 9% 8% 12% 8%
3%
6% 13% 23% 55%
Tabela 4 – Nível de concordância quanto a caracterização da prática
Para Dias e Alves Junior (2007) o surgimento de equipamentos de alta
tecnologia, além de tornar as práticas de aventura menos tortuosas e muito
mais seguras, permitiam também o surgimento de novas modalidades que
iriam se somar à criação desse novo comportamento. Marinho (2008) diz que o
surgimento de novas tecnologias criam novas possibilidades de vivências no
lazer, e o skate se encaixa como uma dessas possibilidades, já que foi com a
ajuda de uma nova tecnologia da época, as rodinhas de poliuterano na década
de 1970, que fez com que aumentasse o número de praticantes
(BITTENCOURT; AMORIM, 2005).
Nota-se que quase 80% da amostra concorda que o skate traz
experiências incertas, novidades e desafios. Essas três características são
inatas à definição de atividades de aventura, Marinho (2008) cita que as
atividades de aventura tem características inovadoras e Dias (2007) afirma que
são modalidades dotadas e risco e incertezas, além da valorização do
imprevisível em seus objetivos.
Na Tabela 05 está demonstrado o nível de concordância dos praticantes
quanto a definição do esporte:
Definição do esporte
O skate é um esporte radical
O skate é um esporte de aventura
O skate é esporte de risco
O skate é uma atividade física de aventura na
natureza
1
1%
3%
4%
2
1%
1%
9%
3
4%
14%
4%
4
11%
22%
20%
5
83%
60%
63%
21%
17%
26%
21%
15%
Tabela 05 – Nível de concordância quanto a definição do esporte
191
Evidencia-se o não-consenso dos skatistas sobre um termo para
identificar sua prática, apontando para entendimento polissêmico desse
fenômeno. Noutras palavras, há um hiato entre as terminologias (tanto as
acadêmicas e as comerciais) com as representações dos praticantes
(inelutavelmente afetadas já pelos discursos midiáticos e científicos), gerando
confusão conceitual.
É predominante o entendimento de esporte radical. Os autores que
partem dessa terminologia são Uvinha e Pereira et al. Para Pereira, Armsbrust
e Ricardo (2008), os esportes radicais podem ser divididos em dois tipos
distintos: ação e aventura. Para este autor o skate é um esporte radical de
ação, caracterizado pelas manobras que exigem força e velocidade, por ser
praticado em espaços urbanos construídos e o publico alvo que se relacionam
por meio de atitudes, vestimentas, comportamentos e linguagens.
Entretanto ao caracterizar o skate como esporte radical pode-se
entender que esta nomenclatura seria de uso entre outras atividades de
aventura, mas segundo Dias (2007) há recusa na adoção do conceito de
esporte radical por parte de alguns esportistas, que julgam tal empreendimento
como “uma denominação sensacionalista, criada pela mídia”. No limite, o
conceito representa todo um universo de crenças e valores (competição,
regulamentação, comercialização e etc.) que contraria as convicções
hegemônicas estabelecidas entre a comunidade do montanhismo.
Na Figura 06 está apresentado o nível de concordância quanto ao skate
ser uma prática adequada para ser ensinada na escola
192
Figura 06 – Nível de concordância quanto ao skate enquanto prática
pedagógica na escola
Nota-se que 74% dos praticantes da amostra concorda que o skate é
uma modalidade adequada para ser ensinada na escola. Para Armbrust (2008)
os esportes radicais, de ação e de aventura é um fenômeno reconhecido pelos
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que não se encontram no
âmbito escolar. Para o autor, essas atividades sofrem pré-conceitos negativos
por transgredir o que há de proposto, em que muitas vezes, o praticante não
encara o ambiente como um ser pacato, mas como um ser ativo que interage
com o meio, experimenta, reinventa, dá novo significado e aprende.
Ainda existe uma resistência das escolas em adotar o skate como um
conteúdo da educação física, isso pode ser devido ao fato de muitas
instituições terem dificuldade de adotar práticas que não são interiores à prática
escolar. Sobre isso, Honorato (2005) discute que é um grande desafio
compreender os laços existentes entre a instituição escolar e as pessoas
constituintes de seu sistema, bem como as práticas culturais exteriores a esta
instituição, que também contribuem para a formação da singularidade e
identidade das pessoas. Além disso, Honorato infere que os indivíduos
‘responsáveis’ pela escola, de um lado, reconhecem a existência da tribo
skatista em seu interior; de outro, não se reconhecem na construção da tribo e
denigrem os membros do outro grupo, não por suas qualidades individuais,
mas devido a sua vinculação a uma tribo que eles julgam coletivamente inferior
aos comportamentos do grupo/instituição ao qual pertencem.
193
Na Figura 07 serão apresentadas as lesões mais recorrentes nos
praticantes de skate:
Figura 07 – Lesões ocasionadas pela prática do skate
Podemos observar que a lesão que mais ocorreu foi a abrasão (ralado)
com 57,9% diferentemente do estudo de Forsman e Eriksson (2001) no
Hospital Universitário de Umea, Suécia, em que houveram 147 lesões
registradas, as mais recorrentes foram luxação (44%), fratura (29%), laceração
(9%), contusão (9%), abrasão (6%) e concusão (3%). Como nosso estudo foi
realizado diretamente nos locais de prática, o dano mais recorrente foi a
abrasão, que pode ser considerado leve, em que geralmente não se busca
atendimento hospitalar, ambiente este em que foi realizado o estudo sueco.
Essa afirmação corrobora a afirmação de Rethnam, Yesupalan e Sinha (2008)
sobre pacientes com lesões mais leves não serem registrados no hospital.
Na Figura 8 estão representadas as partes do corpo que mais ocorreram
as lesões:
194
Figura 8 – Partes do corpo em que ocorreram as lesões
Podemos notar que as lesões ocorreram mais na parte inferior do corpo,
esses resultados não corroboram com os estudos encontrados, como o de
Rethnam, Yesupalan e Sinha (2008) e Macdonald et. al (2005), os quais, ,
respectivamente, identificaram que 74% e 60% das lesões foram em membros
superiores. Nos referidos estudos, as lesões mais recorrentes nos membros
superiores foram fraturas, enquanto que em nosso foram as abrasões.
Finalizando, na Figura 9 temos os motivos pelos quais os praticantes
disseram praticar skate:
195
Figura 9 – Motivos que levam a prática do skate
Pode-se observar que o principal motivo que leva a prática do skate é a
busca pelo prazer, atribuindo-lhe uma dimensão hedonista. Os dados
empíricos corroboram com Schwartz (2006) que salienta que a prática dos
esportes de aventura pode estar ligada a diversos motivos, dentre eles a
alteração do significado do tempo, as necessidades de extravasamento de
controle dos níveis de estresse, a procura por novidades fora do cotidiano, o
acompanhamento de estilos preestabelecidos, a vivência de novas emoções,
aprimoramento dos níveis de saúde, entre outros.
A questão do prazer na prática do skate também foi abordada no estudo
de Galliano e Mayer (2009), em que foram comparadas respostas de skatistas
de dois estados (RS e PR) a respeito dos motivos que os levam para a prática,
para 100% dos skatistas do RS o prazer é importante ou decisivo para a
prática, e no PR 96,38%. Percebe-se assim que entre os praticantes do skate o
prazer para a prática é imprescindível.
Neste mesmo estudo as relações pessoais e amizades também são
consideradas questões importantes para motivar a prática, mais de 80% dos
praticantes a citaram como importante ou decisiva. Os autores citam que isso
pode se dar devido ao fato do skate ser um esporte extremamente socializador,
196
apesar de ser um esporte individual, envolve o praticante em um círculo de
amizades.
Conclusões
Diante dos resultados obtidos do GEL- Grupo de Estudos do Lazer na
busca do grupo em verificar a caracterização das atividades de aventura
podemos concluir que as percepções dos praticantes variam de acordo com a
modalidade, nacionalidade e tempo de prática o que destaca a importância do
contexto nos resultados.
Acreditamos
que
os
dados
e
as
discussões
impulsionam
questionamentos sobre diferentes questões. A pouca presença das mulheres
nas ruas e nas praças de skate confrontando com o interesse real delas é algo
digno de estudos. Quem trabalha na perspectiva da inclusão de gênero,
precisa entender quais são as barreiras para o gênero feminino na
aprendizagem e prática sistemática do skate como lazer. Outro aspecto que
merece desdobramentos, a partir dos dados, é a suposta pouca centralidade
da emulação na prática do skate. Se competir não é o principal, o que é?
Outros aprofundamentos podem ser feitos a partir dos dados coletados.
Uma das utilizações possíveis dos survey é justamente dar cenários para
estudos de profundidade. Ainda em relação aos desdobramentos, podem ser
feitos estudos comparativos tanto intra-prática como comparando diferentes
esportes de aventura. Dados preliminares, por exemplo, apontam que o skate
tem diferenças previsíveis em relação ao pára-quedismo. Enquanto o primeiro
tem custo reduzido e prática semanal ou diária, a outra aventura, por ser mais
cara, é praticada mensalmente, por pessoas mais velhas, com maior
escolaridade e renda. Porém ambos, concordam que essas experiências sejam
lazer.
Recomenda-se que estudo seja replicado com um maior número de
praticantes que poderia resultar numa compreensão mais profunda e fidedigna
deste fenômeno.
197
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199
PROBLEMAS RELACIONADOS À RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA NO
PARAQUEDISMO
Valquíria Félix Rocha Moreira, Giuliano Gomes de Assis Pimentel
Grupo de Estudos do Lazer (GEL) - UEM, Maringá, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Introdução: As AFANs (Atividades Físicas de Aventura na Natureza) têm
adquirido muitos adeptos, pois é uma forma de lazer que traz implícita a ele a
necessidade do reencontro do homem consigo mesmo, com o outro e com a
natureza e assim defronta-o com a sua própria natureza humana e com a
redefinição das suas habilidades sociais. O paraquedismo é uma destas
práticas que, por definição, é praticado ao ar livre, destacadamente em
ambiente natural. Mas será a relação com a natureza mais uma contingência
do esporte ou haverá uma relação profunda conforme o conceito de AFAN
propugna? Objetivo do Estudo: O objetivo deste estudo foi verificar algumas
representações relacionadas à prática do paraquedismo e ao perfil de seus
praticantes, além de fomentar a discussão da relação homem-natureza nas
AFANs. Método: A amostra foi composta por nove paraquedistas, oito do sexo
masculino e um do sexo feminino, com faixa etária entre 16 a 60 anos,
reconhecidamente experientes, que se reuniam na pista particular Ninho das
Águias, na região rural de Maringá-PR. A coleta foi realizada em 2009.
Utilizamos o “Questionário GEL 2008 - Definição e Caracterização dos
Esportes de Aventura” adaptado ao paraquedismo, que é composto por 32
questões divididas em dois blocos. Para o presente texto foram utilizadas as
questões 6 (Renda Familiar líquida Mensal) e 7 (Frequência com que pratica o
PQD) do primeiro bloco e 3 (O contato com a natureza é algo que caracteriza o
paraquedismo), 4 (Sua prática pode ser considerada uma opção de lazer) e 6
(O paraquedismo é um esporte de aventura) do segundo bloco. Os
paraquedistas foram convidados a participar da pesquisa e responderam ao
questionário no mesmo dia e local, voluntariamente. Após, os dados foram
tabulados e estabeleceu-se correlação entre eles. Como limite verifica-se o
baixo n e o fato dos entrevistados praticarem somente duas modalidades
diferentes. Resultados: A maioria dos praticantes concorda que o contato com
a natureza é algo que caracteriza o paraquedismo, que sua prática pode ser
considerada uma opção de lazer e que o paraquedismo é um esporte de
aventura. Também em sua maioria, praticam mensalmente a atividade e sua
renda mensal líquida é, nunca inferior a 4 salários mínimos. Conclusão:
Sugere-se que a faixa salarial influi na escolha da atividade. Quando a
possibilidade financeira é pequena se tornam paraquedistas ocasionais,
saltando esporadicamente. Todavia o fator mais determinante é devido à
oportunidade da aventura com risco controlado associado –secundariamente–
ao contato com a natureza. Com isso, o estudo recomenda trabalhos mais
aprofundados sobre a qualidade da relação do homem com a natureza, visto
que as motivações para a vivência do paraquedismo aparentemente
apresentam motivações mais ligadas às emoções de superação individual pela
aventura.
200
Palavras-chave: Paraquedismo, Natureza, AFAN
Introdução:
O paraquedas é um equipamento aerodinâmico que controla a
aceleração e a queda de corpos no ar, após ser aberto (SANDRINI, 2005).
Com estas características o paraquedismo se torna uma atividade que pode
(ou só pode) ser praticada em ambiente natural. Segundo Bitencourt, et al,
(2005), existem versões que atribuem a antiguidade chinesa o uso do
paraquedas por acrobatas, que utilizavam objeto semelhante para saltar a
muralha da china. Já segundo Sandrini, (2005), historicamente, há duas
versões para seu surgimento. Em uma delas Leonardo da Vinci é apontado
como seu idealizador. Na outra, historiadores atribuem a sua invenção ao
mecânico francês Louis Sébastien Lenormand.
O paraquedas embutido em uma mochila e acionado por uma corda
surgiu no início do século XX e cada vez mais vem se aperfeiçoando. Nas 1° e
2° Guerra Mundial o paraquedas foi utilizado para s alvar vidas, enviar
equipamentos e suprimentos em atividades aéreas e em operações táticas
militares. Após as Guerras, os militares começaram a realizar competições
esportivas com as habilidades adquiridas. (BITENCOURT, et al, 2005).
Ainda segundo Bitencourt, et al (2005) foi o norte americano Spencer
Stanley que realizou o primeiro salto de paraquedas no Brasil, na década de
1920 em São Paulo. Mas foi o francês Charles Astor que divulgou a prática nos
pais, promovendo cursos de instrução para formação de paraquedistas civis
em 1931 no Aero Clube de São Paulo.
As AFANs (Atividades Físicas de Aventura na Natureza) vêm ganhando
interesse especial nos últimos tempos, pois é uma forma de lazer
contemporâneo que traz implícita a ele a necessidade do reencontro do homem
consigo mesmo, com o outro e com a natureza. (MARINHO e BRUHNS, 2003).
Como sugere Schwartz (2006), as AFANs contribuem para a harmonização do
homem com a natureza e assim defronta-o com a sua própria natureza humana
e com a redefinição das suas habilidades sociais.
Essas práticas, comumente chamadas de esportes radicais ou de
aventura, trazem outros significados alem da atividade em si, da contemplação,
da fruição, mas também testa a própria auto-superação ou perpetua modismos
201
vigentes entre tantas outras significações inerentes a ele, segundo Schwartz
(2006).
Cleber Augusto Gonçalves Dias, (2007) no ensaio “Notas e definições
sobre esporte, lazer e natureza” traz variados termos que tratam de esportes
em ambientes naturais, que são utilizados por diversos autores no meio
acadêmico, como Guzman e Boyero, (2001), que traz o termo “esporte de
deslize”, que remete ao prazer oriundo a sensação de deslize que estas
práticas promovem, Christian Pociello (1999), que chega a falar de “máquinas
lúdicas” em uma alusão aos equipamentos utilizados nestas práticas, Flávio
Lauro e Marcello Danucalov (2005) trazem o termo “esporte de prancha”, onde
o equipamento utilizado é seu principal definidor, Sydnor; Rinehart, (2003), que
usa o termo “esportes alternativos”, neste caso inciso a gama de possibilidades
de movimentos que estas práticas trazem, Roszak, (1972) com “esportes
californianos”, deixando clara a grande influência americana que estes esportes
tem. Entre tantos outros termos, Dias (2007) relata que a opção por um termo
não é gratuita, mas traz um entendimento teórico em relação ao objeto que se
investiga.
Escolhi, para este estudo, o termo AFAN trazida por Betrán (1995), o
qual afirma que esta terminologia consegue abarcar todas as práticas que
despertem instinto aventureiro e que tem uma profunda ligação com o meio
natural fazendo com que o indivíduo seja um portador de sensações e
emoções vivenciadas, fazendo assim com que o corpo seja um meio e não um
fim, representando uma atividade de diversão em seu tempo livre (BETRÁN,
1995 apud TAHARA & FILHO, 2009). Esta definição me parece englobar tudo
que compreendo por esportes em ambientes naturais. O Paraquedismo é uma
destas práticas, que alem da utilização militar para salvamentos, vem
ganhando adeptos no mundo todo como esporte.
Ao todo se somam em torno de 11 modalidades (SANDRINI, 2005;
GOUVEA e GORDINHO, 2009). São elas:
FQL – Formação em Queda Livre: deve-se fazer o maior número de
formações escolhidas aleatoriamente entre uma relação de figuras, cada figura
recebe uma formação, os times são compostos por 2, 4, 6, 8 ou 16 integrantes
mais o câmera. Esta é a modalidade mais praticada.
202
BIG WAYS: Aqui o objetivo é colocar o maior número possível de
pessoas em um salto. O recorde mundial é 246 pessoas.
FREE FLY: É uma modalidade recente. Aqui o paraquedista pode voar
de diferentes maneiras como de cabeça para baixo (head down), de barriga
para baixo (belly fly), de dorso (Back Track), de pé (standup), sentado (sitfly)
entre varias outras maneiras. As velocidades aqui são altíssimas podendo
variar entre 150 km/h à 400 km/h.
PRECISÃO: É uma das modalidades mais antigas. Aqui o objetivo é
atingir o centro de um alvo determinado.
SALTO DUPLO (TANDEN): Esta é a maneira mais fácil do novato
conhecer o paraquedismo. Aqui ele salto junto com um saltador experiente.
ESTILO: Aqui o paraquedista salta da aeronave e inicia uma série de
manobras no ar, chamada de “série de estilo”. Esta série é gravada e a análise
das imagens permite a pontuação do atleta. O objetivo e terminar a série no
menor tempo possível, o erro nas manobras é convertido em tempo e este se
soma ao tempo total da execução. Esta modalidade, assim como a precisão, é
bem tradicional.
TRABALHO RELATIVO DE VELAME: Aqui o objetivo é reunir a equipe e
formar o maior número de figuras no menor tempo possível. Esta prova é
extremamente bela de se observar devido às diversas formas de figuras que
são construídas no ar.
FREESTYLE: Aqui os saltos são feitos em duplas e é escolhido um tipo
de queda livre. Os giros e posições feitas nesta modalidade lembra muito a
ginástica olímpica com seus saltos ornamentais. Nesta modalidade o
“cameramam” interage com o saltador e a qualidade das imagens também são
julgadas, assim como o desempenho do saltador.
203
SKYSURF: Como o nome sugere aqui o paraquedista surfa no ar. A
prancha da uma possibilidade enorme de manobras e também aumenta a
velocidade. Aqui, como no Freestyle o salto é feito em dupla e o saltador deve
interagir com o “cameramam”.
CROSS COUNTRY: Geralmente feita em dias de vento forte, aqui o
objetivo é cobrir a maior área possível com o paraquedas aberto. Dependendo
do vento é possível percorrer dezenas de quilômetros.
WING FLY: Assim como o Free Fly, esta também é uma modalidade
recente. Aqui o objetivo é percorrer uma grande distancia horizontal e seu
grande atrativo é a alta velocidade. Para isto utilizam-se macacões especiais
com asas que se inflam com o vento que ficam entre os braços e o tronco e
entre as pernas. Os deslocamentos chegam a 160 km/h na horizontal com
baixíssima velocidade vertical, isto faz a queda livre chegar a quase dois
minutos. (SANDRINI, 2005; GOUVEA e GORDINHO, 2009).
Objetivo do Estudo
O objetivo deste estudo foi verificar algumas características relacionadas
à prática do paraquedismo e perfil de seus praticantes, além de fomentar a
discussão da relação homem-natureza nas práticas das AFANs.
Método
A amostra foi composta por nove paraquedistas sendo oito do sexo
masculino e um do sexo feminino. Assinalaram faixas etárias nos dois
extremos de 16 a 60 anos, reconhecidamente experientes, que se reuniam na
pista particular Ninho das Aguias, na região rural de Maringá-PR. A coleta foi
realizada em 2009. Participantes iniciantes, com menos de 6 meses de
experiência, não foram incluídos na amostra. Provavelmente eles possuem
conhecimentos incipientes, não sendo garantido que compartilhem das
representações coletivas da comunidade de paraquedistas, no seu sentido
mais amplo, e da tribo local de praticantes, em sua dimensão mais restrita.
O instrumento utilizado foi “Questionário GEL 2008 - Definição e
Caracterização dos Esportes de Aventura” adaptado ao paraquedismo, que é
204
composto por trinta e duas questões divididas em dois blocos. O primeiro
possui nove questões objetivas e de múltipla escolha que tem por objetivo a
caracterização dos praticantes de paraquedismo. O segundo bloco conta com
23 questões objetivas com resposta em escala Lickert de 5 pontos, sendo
discordo plenamente (1), discordo em parte (2), não concordo nem discordo ou
não tenho opinião (3), concordo parcialmente (4) e concordo plenamente (5), e
trata do grau de concordância ou discordância dos praticantes sobre diferentes
dimensões da prática do paraquedismo (BALBIM et al, 2009).
Para o presente texto foram utilizadas as questões 6 (Renda Familiar
líquida Mensal) e 7 (Frequência com que pratica o PQD) do primeiro bloco e 3
(O contato com a natureza é algo que caracteriza o Paraquedismo), 4 (Sua
pratica pode ser considerada uma opção de lazer) e 6 (O Paraquedismo é um
esporte de aventura) do segundo bloco. Os paraquedistas foram convidados a
participar da pesquisa e responderam ao questionário, voluntariamente, no
mesmo dia e local. Após, os dados foram tabulados e estabeleceram-se
correlações entre eles.
Entre os limites do estudo está o baixo número de pesquisados em
função da estrutura do instrumento, cujos dados são mais críveis com um n
significativo. Também abordou praticantes restritos ao estado do Paraná e
relacionados a Trabalho Relativo de Velame e Free Fly.
Resultados
De acordo com tabulação dos dados podemos verificar que a maioria
dos paraquedistas concorda que o contato com a natureza é algo que
caracteriza o paraquedismo, que sua prática pode ser considerada uma opção
de lazer e que o paraquedismo é um esporte de aventura, como segue abaixo.
205
Gráfico 3 - O paraquedismo quanto esporte de
aventura
Gráfico 1 - O Paraquedismo e o contato com a
natureza
Gráfico 2 - O paraquedismo como opção de
lazer
Caso a quantidade de sujeitos analisados fosse significativa, já
poderíamos inferir que, se a visão dos “nativos” fosse influente, como deseja
Dias (2007), para a seleção dos conceitos, pelo paraquedismo, primeiro viria a
dimensão do lazer, seguida pela aventura e, após, a relação com a natureza
(com um significativo percentual de ambiguidade). Em aparência, ao menos, o
paraquedismo é visto como lazer pelos praticantes, havendo ascendência da
aventura sobre o contato com a natureza.
206
Coerente com a seleção do paraquedismo como opção de lazer, também
verificamos, na tabulação dos dados, que os praticantes entrevistados em sua
maioria praticam mensalmente a atividade e que a renda mensal líquida deles
é nunca inferior a 4 salários mínimos, como segue:
Gráfico 4 - Renda Familiar líquida mensal
Gráfico – 5 Frequência com que Pratica o
paraquedismo
207
Os níveis de concordância, faixa salarial e freqüências de prática do
paraquedismo que não apresentaram respostas (0%) não foram expostos nos
gráficos. Sobre renda é praxe considerar que pesquisas survey não são
eficientes para precisar os ganhos, pois é comum as pessoas afirmarem ter
renda menor ao real. Ainda assim, a maioria afirma fazer parte de lares com
renda superior a quatro salários mínimos. Como esse esporte envolve custos
permanentes altos, mesmo após a compra de equipamento (o querosene
aeronáutico tem custo elevado), sua experimentação freqüente é relacionada à
disponibilidade de recursos.
Segundo Martins (2007) a característica comum entre os praticantes de
atividades de aventura é poder aquisitivo superior além de alta escolaridade,
sexo masculino e idade jovem-adulta e que apenas 15% dos paraquedistas
praticam a atividade frequentemente. Os outros 85% praticam o paraquedismo
esporadicamente realizando apenas 10 saltos durante toda a vida. Os
principais motivos para se tornarem paraquedistas ocasionais é a situação
econômica, alem de falta de tempo, falta de lugares para saltar e perda da
motivação (BREIVIK; ROTH; JORGENS, 1998 apud MARTINS, 2007).
Associado a estes fatores acrescenta-se que o indivíduo praticante dos
esportes de aventura e risco tem o desejo de experimentar o novo, superar
limites pessoais, buscar autoconhecimento e estreitar a relação homemnatureza. Assim sensações fortes obtidas por meio da própria exposição a
situações limites, marcadas pelo medo e excitação, deixam de ser situações
em que o individuo foge; pelo contrário torna-se uma situação desejada por ele
(MARTINS et al, 2008).
Com estes dados entendemos que, se a prática do Paraquedismo é
mensal, sua vivência está associada ao lazer, já que a maioria dos
entrevistados não trabalha com esta atividade. Fato este que também pode ser
verificado no gráfico 2 – o paraquedismo como opção de lazer. Um estudo
interessante, não captado pelo presente, seria inventariar e compreender as
demais experiências no tempo livre desses sujeitos.
Como a maioria dos entrevistados concorda que o contato com a
natureza é algo que caracteriza o Paraquedismo entendemos também que eles
possuem um apreço por ela. A qualidade e importância dessa relação podem
ser postas em dúvida, mas se deve considerar sua existência. Segundo Tahara
208
e Schwartz (2003), a busca pela aventura, longe dos grandes centros urbanos
tem sido freqüente, pois, nota-se um aumento de vivências naturais, nas
atividades físicas de aventura que tem um contato direto com a natureza, na
busca de produzir uma melhora na qualidade de vida.
E ainda, dentre as diversas maneiras de se vivenciar o lazer atualmente,
este novo campo de estudo e investigações vem recebendo a atenção de
diversos pesquisadores, entre eles Betrán (2003), Swarbrooke et al. (2003),
Cater (2006) e Marinho e Bruhns (2006) que tratam da relação do lazer e da
participação humana no meio natural, com o objetivo de experimentar
diferentes práticas de aventura (TAHARA & FILHO, 2009).
Um único indivíduo relatou não concordar que o contato com a natureza
é algo que caracteriza o Paraquedismo, este também declara que o
paraquedismo não é uma atividade física de aventura na natureza e que esta
atividade não gera impactos nestes ambientes. Logo se percebe que algumas
pessoas ficam tão focadas no risco e na adrenalina que suas representações
negligenciam a natureza. De fato, nos esportes aéreos o mundo é a paisagem,
sendo tudo visto de cima em composição: urbano, rural e natural. Onde,
portanto, está a natureza no paraquedismo, se tudo se funde e se confunde na
velocidade vertiginosa da queda? Essa discussão é sobremaneira profunda e
costumeiramente cai em metafísica.
Mas, para apontar uma solução, é importante realçar que os esportes
aéreos tiram a pessoa de um estado físico mais sólido e de um elemento da
natureza (a terra) para introduzir o ser humano no etéreo, no elemento ar
(PIMENTEL, 2008). Ora, não se precisa do céu para a prática do
paraquedismo? E não seria o céu, o vento, o ar, as nuvens elementos
naturais? Como então fazer tais declarações com tanta propriedade? O ar tem
mais relações com o sensível por ser um elemento “invisível”. No dia-a-dia, ele
está despercebido e na prática das aventuras aéreas sua apreensão pode se
dar mais como cenário de fortes emoções do que um parceiro com quem se
brinca o desafio.
Tal insensibilidade pode também ser lida como o reflexo da
negação/negligência que muitos tem em relação a estes ambientes por
valorizarem outros elementos, como aumento das áreas urbanas, a aquisição
de cada vez mais bens de consumo, o crescimento da indústria, turismo entre
209
vários outros fatores, como analisam Tahara, Dias & Schwartz, (2006). Os
autores dizem também que mesmo com o consumo da natureza é necessário
que haja uma conscientização popular ao relacionar-se com estes ambientes
para que aconteçam reflexos positivos vindos de tal interação, pois o ambiente
natural tem vital importância na vida do ser humano ao longo de toda a história
da humanidade (TAHARA, DIAS & SCHWARTZ, 2006).
Estariam, pois os praticantes das aventuras no meio aéreo, condenados
a viver relações superficiais com o meio? Pimentel (2010), investigando a
percepção dos riscos, condicionamento corporal e interações sociais no vôo
livre, verificou –por meio da observação, entrevista e registros de imagens de
pilotos de asa-delta– que um dos aspectos importantes sobre o corpo no vôo
livre é a comunicação constante com a natureza. Com isso é inegável o fato de
que o paraquedismo, assim como o vôo livre – pois apresentam interações
semelhantes com o meio – são atividades físicas de aventura na natureza e
que é necessário o diálogo com ela para a realização desta atividade. Esse
fator não garante uma conscientização ambiental, pois se é necessário criar
uma preparação para se interar com o ambiente, a mesma pode ser somente
do ponto de vista instrumental. Quando se vê as forças da natureza como algo
a ser dominado, o treinamento se dá no sentido das técnicas de segurança e
do aproveitamento das correntes de ar. Mas, conforme ponderam Tahara, Dias
& Schwartz (2006) interagir conscientemente com a natureza é de vital
importância humana, e possibilidades se abrem diante da crescente adesão a
práticas que tem contato direto com o meio natural no campo do lazer.
Já em relação à concordância de que o paraquedismo é caracterizado
pela aventura e este fator relacionado à escolha desta prática, concordamos
com Schwartz, (2006) sobre a necessidade de extravasamento de controle dos
níveis de estresse, da procura por novidades fora do cotidiano, de vivências de
novas emoções, de aprimoramento de níveis de saúde entre tantos. As
atividades que promovem aventura com risco controlado e emoções dentro do
lazer permitem um confronto do homem com suas limitações individuais e o
entendimento dos seus comportamentos e escolhas, como afirma Little, (2002)
apud Schwartz, (2006). E com isso, estas atividades permitem uma integração
que vai além da contemplação, percepção e ação. Esta (re)aproximação do
homem ao ambiente mais natural permite contato consigo próprio, com o outro
210
com a natureza, promovendo uma formação ética no conhecimento no respeito
e no redescobrimento (SILVA, 2004).
Em função dessa leitura, como sugere Grezzana (2003), a Educação
Física deve estar envolvida nessas questões atuais, abrigar em seu currículo o
constante surgimento de atividades de aventura, entre as quais se incluem
conteúdos dos esportes na natureza. Não se trata apenas de inchar o currículo,
mas de possibilitar ao indivíduo o aprofundamento em relação ao meio
ambiente e às atividades físicas que se desenvolvem e remetem estes seres
humanos na busca do afeto, emoção e prazer de viver sem alienação com o
meio natural.
Conclusão
Primeiro é fundamental nunca se esquecer dos fatores limitadores, visto
estarmos numa sociedade de classes. Segundo Tahara e Schwartz (2003), se
teria o alto preço dos equipamentos, a dificuldade em deslocar-se aos
melhores centros de prática, entre outros. Parece que mesmo assim o
paraquedismo, assim como tantos outras AFANs, vem despertando interesse
devido à oportunidade da aventura com risco controlado associado ao contato
com a natureza. Sobre a AFAN o fascínio pela vertigem em atividades que
promovem alto risco parece ser a “isca” que atrai tantos indivíduos que gostam
de viver perigosamente em situações que provocam grandes desafios ao ser
humano (TAHARA & FILHO, 2009). E ainda de acordo com Betrán (1995) apud
Tahara e Filho (2009) as AFANs são uma mistura de prazer, diversão, emoção
e aventura e estas práticas podem ser ilustradas por sensações que trazem
bem-estar e prazer aos praticantes de aventura, sendo o contato com a
natureza um importante catalisador neste sentido.
O Paraquedismo traz consigo todos estes traços como característicos,
da auto-superação, a busca pela adrenalina procurada por indivíduos que
gostam de viver perigosamente, o prazer no lazer, o fascínio pela vertigem, o
espírito aventureiro, tudo isso vivenciado em um ambiente natural. Logo,
acreditamos que o paraquedismo se enquadra como uma AFAN e ele deve ser
estudado dentro do âmbito das lógicas das AFANs. Esse parece ser o caminho
mais aberto para elucidar os motivos/ensejos que levam o indivíduo buscar
211
esta prática, podendo determinar estratégias sociais, mercadológicas entre
outras, que levaram a resoluções de problemas em relação a esta atividade.
Ainda falando sobre paraquedismo, podemos sintetizar que a faixa
salarial influi, mas que não é um fator determinante, pois verificamos que para
a prática desta atividade a pessoa deve ter um desejo pelo risco e pela
aventura. Dentro deste desejo, se a possibilidade financeira for pequena existe
a
perspectiva
de
se
tornarem
paraquedistas
ocasionais,
saltando
esporadicamente. Esta questão influi no fato desta vivência se tornar uma
prática de lazer crivada de desigualdades. Já sobre a relação com a natureza,
desconsiderando o aspecto qualitativo, os dados e autores corroboram que o
paraquedismo pode ser caracterizado pelo contato com a natureza.
Então o indivíduo voa para reencontrar a natureza ou para superação
dos seus limites, para o seu auto-encontro? Segundo Betrán (1995) apud
Pimentel & Saito (2010), o homem das sociedades pós-indústriais se alimenta
do retorno hedonista ao ambiente natural, sobretudo na juventude.
Para
Martins (2008) o indíviduo que busca praticar esportes de aventura, entre
outros fatores, quer superar seus limites e buscar autoconhecimento. Com isso
acreditamos que não dá para separar completamente um fator do outro. Eles
são vivenciados como um mix. Alguns indivíduos podem apresentar um deles
mais marcante do que o outro, como saltar pelo contato com o “ar”, vento, se
esvaziar da sociedade urbana e outros podem saltar para experimentar o
medo, o risco e assim superá-los. O reencontro com a natureza e o autoencontro associado a superação de limites nesta atividade não tem início e fim
claramente identificáveis. Cada indivíduo exprimirá a sua necessidade, que no
paraquedismo, sem dúvida, vai além da pratica esportiva.
Repetimos: este estudo apresentou um baixo número de pesquisados.
Com um n maior os dados poderiam ser presumidos com maior propriedade.
Também foram abordados praticantes restritos ao estado do Paraná e a duas
modalidades. As conclusões ora apresentadas são apenas indicativas. Para
tanto consideramos relevante investir em estudos para elucidar os significativos
e a amplitude do retorno ao meio natural. Ao desvendar a natureza pelo estudo
do ser humano, em seu contexto social, político e econômico, poderemos
avançar em formas mais pertinentes de ação/intervenção com AFANs no
212
âmbito das diferentes esferas sociais (trabalho, saúde, educação, lazer, meio
ambiente).
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TAHARA, A. K.; SCHWARTZ, G. M. Atividades de Aventura na Natureza:
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Buenos
Aires,
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8,
n.
58,
mar.
2003.
Disponível
em:
<<http://www.efdeportes.com>>. Acesso em 17 de abr. 2010.
214
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO CBAA
Dimitri Wuo Pereira
Universidade Nove de Julho – São Paulo – SP – Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
As atividades de aventura desenvolveram-se bastante no Brasil, tal qual
ocorreu no resto do mundo no fim do século XX e início do século XXI, tendo
como suporte as áreas de atuação profissional da Educação Física e do
Turismo. Mesmo assim ainda é incipiente a produção científica para atender a
demanda do público que procura esse tipo de atividade. Uma das mostras de
como essa produção pode ser realizada e disseminada foi a criação do
Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. Esse estudo pretendeu
mostrar quais os resultados desse tipo de iniciativa. O método de pesquisa
documental foi o escolhido para atingirmos o resultado esperado. Entre os 224
trabalhos apresentados nos quatro encontros anuais (2006 – 2009) verificamos
que a área escolar tem um quarto deles, mostrando um interesse nesse tipo de
prática acontecendo no futuro nas escolas por se acreditar no caráter formador
do ser humano da aventura. Outro dado importante é a presença de grande
número de pesquisas sobre áreas naturais, com poucos estudos falando do
meio urbano, o que gera uma dicotomia. A competição e o rendimento são
menos pesquisadas do que o lazer ou a educação, isso acarreta maior número
de pesquisas qualitativas que por um lado mostram o caráter humano das
atividades, mas cria um viés nessa área que deve ser refletido, para não
fragmentar o conhecimento separando a natureza da perspectiva mais
quantitativa, que também é necessária à pesquisa. Conclui-se esse trabalho
reconhecendo suas limitações de abrangência, mas despertando o interesse
em reconhecer o valor da produção científica em aventura no Brasil.
Palavras chave: aventura, produção acadêmica, CBAA
Introdução
As atividades de aventura desde o final do século XX se tornaram
populares e caíram no gosto principalmente de jovens e adultos como lazer,
sendo inúmeras as formas em que acontecem em nossa sociedade. Cada vez
mais vemos a ligação dos campos da Educação Física e do Turismo como
agentes desse tipo de prática (PEREIRA e GARCIA, 2006) oferecendo seus
conhecimentos e habilidades no desenvolvimento de práticas que envolvem o
risco calculado quer seja na dimensão do lazer, do rendimento ou da educação
(COSTA e TUBINO, 1999).
215
Com certeza em nosso país, ainda é incipiente a profissionalização
dessas áreas, ocorrendo muitas vezes, a condução desse tipo de atividade por
pessoas com conhecimentos vivenciais, porém sem formação específica ou
acadêmica suficiente para atender a demanda dos novos consumidores da
aventura (COSTA, 2004). Academicamente, ainda é difícil criticar o avanço
mercadológico das atividades de aventura, pois pouco se conhece das
relações entre marketing, aventura, esporte, educação física e turismo, para
estabelecer uma análise aprofundada (STIGLIANO e CÉSAR, 2002)
Um dos problemas acarretados por essa baixa qualificação
profissional é o aumento no número de acidentes entre os praticantes, com a
mídia explorando de forma bombástica esses acontecimentos, levando muitas
pessoas a crer na impossibilidade de conhecer as atividades de aventura pelo
risco potencial de morte que elas podem ocasionar. Muitas vezes, o alarde feito
pela imprensa não contém informações relevantes sobre o assunto e nem
profundidade científica para questionar a validade e o processo de segurança
adotado. Em outras situações não se sabe nem quais os riscos da atividade
nem os motivos que levam determinadas pessoas a escolherem pelo
enfrentamento dos mesmos (PEREIRA, 2009).
Por outro lado, há uma deficiência na formação acadêmica e
profissional que não acompanhou a evolução e o crescimento do número de
praticantes e de interessados. Somente nos últimos anos pudemos observar a
criação de cursos de graduação e pós graduação nessas áreas. Essa situação
começou a mudar no início desse século e um dos bons sinais dessa mudança
foi a criação do CBAA, Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura, pelo
LEL, Laboratório de Estudos do Lazer da UNESP de Rio Claro – SP.
Organizado pelas doutoras Gisele Maria Schwartz e Alcyane
Marinho, esse grupo idealizou em 2006 o primeiro encontro na cidade de
Balneário Camboriú – SC, com o objetivo de incentivar e difundir os estudos e
pesquisas na área da aventura no Brasil. Desde então mais três encontros
foram realizados nas cidades de Governador Valadares - MG, Santa Tereza –
ES e Mucugê – BA. Esse impulso inicial proporcionou discussões e trocas de
informações importantes para a área, com o encontro de pesquisadores de
todo o país se reunindo para avançar na busca de soluções para as questões
que se apresentam à sociedade no campo da aventura.
216
A produção em aventura está muito ligada ao estudo do lazer, talvez
porque esses estudiosos tenham percebido a forte relação entre as práticas de
aventura e seus interesses acadêmicos e científicos. Inácio (2006) retrata um
pouco das publicações sobre o tema citando o ENAREL, as teses e
dissertações sobre aventura, os grupos de estudo e os periódicos nacionais. E
conclui que precisamos:
Identificar as matrizes epistemológicas dos estudos desenvolvidos nesta temática; a inserção desta temática nas grades
curriculares dos cursos de formação; o cruzamento entre
teorias e autores; as representações da relação ser humano natureza nos meios de comunicação; a inserção das PA’s no
âmbito da Educação Física Escolar, entre outras (INÁCIO,
2006 p. 60).
Objetivo
Dessa forma, esse estudo dirige-se aos principais resultados
encontrados nos quatro Congressos Brasileiros de Atividades de Aventura
tentando elucidar alguns pontos relevantes já obtidos do ponto de vista
científico nesses encontros, para que possamos compreender melhor os
caminhos para a pesquisa na área de aventura no Brasil.
Especificamente visa-se com essa pesquisa verificar:
A quantidade de trabalhos apresentados;
A abrangência pelo Brasil das pesquisas;
A dimensão educacional de tais pesquisas;
A dimensão social a partir da definição de Tubino (2002) para
o esporte;
Os campos de estudo por áreas de concentração;
Método
Essa pesquisa do tipo documental analisou os Anais do Congresso
Brasileiro de Atividades de Aventura para delinear as atividades de aventura
217
dos quatro encontros já realizados nos anos de 2006 a 2009. Foram analisados
descritivamente os artigos e resumos.
Resultados
Número de trabalhos apresentados e a área escolar nos quatro
últimos eventos:
Encontros
Trabalhos
Área Escolar
Área Não escolar
1 CBAA – SC
61
14
47
2 CBAA – MG
56
13
43
3 CBAA – ES
57
16
41
4 CBAA – BA
54
13
41
Total
224
56
168
Fonte: Anais CBAA I, II, III e IV
A média de trabalhos por evento ficou em 56, número significativo para
uma área pouco conhecida e com divulgação realizada sem grandes incentivos
de órgãos de fomento da pesquisa no país.
A observação entre a área escolar e não escolar (lazer, esporte
competitivo, outros) nos faz crer que há interesse no estudo da aplicação das
atividades de aventura nas escolas em mais de 25% das pesquisas. Esses
dados significativos nos fazem crer que como ferramenta educacional as
atividades de aventura se encontram como possibilidade de formação de
pessoas nos seus mais diversos aspectos (sociais, afetivos, cognitivos,
motores).
A distribuição pelo país em relação aos estados:
Estado
1 CBAA SC
2 CBAA MG
3 CBAA ES
4 CBAA BA
SP
39
14*
9
17*
RJ
2
16
16
8
218
MG
4
9
18
4*
ES
6
5
5
8*
2
2
5
3*
PR
SC
5
1*
RS
1
9
BA
PE
1
2
1
3
AL
1
PB
AM
5*
1
1
PA
1
TO
1
MS
3
DF
1*
Fonte: Anais do CBAA I, II, III e IV
* Algumas pesquisas foram realizadas em conjunto entre dois estados
Como era de se esperar a maior parte das pesquisas foi realizada na
região Sudeste, local onde há maior número de Universidades e Faculdades.
Além disso, com as dimensões continentais do Brasil, não é fácil participar de
um evento científico quando se vive a mais de 1.000 km de distância do local
do evento.
No CBAA, 15 estados e o distrito federal já apresentaram trabalhos,
o que representa uma tentativa de se comunicar os interesses sobre aventura
em quase todo o país. As pesquisas realizadas entre instituições de estados
diferentes também mostra uma possibilidade de relacionar lugares com maior
potencial com os de menor potencial auxiliando no processo de difusão do
conhecimento através de intercâmbios.
A diferenciação dos espaços de prática, o meio natural e o urbano.
Encontro
Natureza
Meio Urbano
Ambos ou sem
219
definição
1 CBAA
53
4
4
2 CBAA
46
3
7
3 CBAA
43
5
9
4 CBAA
46
2
6
Total
187
14
26
Fonte: Anais do CBAA I, II, III e IV
Essas informações nos levam a crer que as atividades de aventura são
consideradas principalmente pelo seu aspecto de envolvimento com o meio
ambiente mais natural, isto é, mais ligado a situações fora das grandes cidades
e das conurbações urbanas. A atenção dos pesquisadores à natureza, por
vezes leva a crer numa dicotomia entre meio urbano e natural como se ambos
não estivessem ligados.
Isso não significa desconsiderar o outro meio, mais entendê-lo como não
ligado, isto é, separado. Inácio (2006) discute esse assunto afirmando que a
natureza é vista como externa ao humano: água, terra, flora e fauna,
corroborando essa separação.
Atividades de aventura acontecem nos dias de hoje nos meios urbanos
simulando as atividades em seus ambientes originais. Isso dificulta ainda mais
qualquer pensamento disjuntivo, como podemos ver em paredes de escalada
que imitam as rochas, em parques com ondas para a prática do surf, nas
modalidades de ciclismo que se originaram nas montanhas e são praticadas
em pistas confeccionadas pelo ser humano, em pistas artificiais para descida
de esqui e snowboard, entre outras.
O skate e o parkour, por exemplo, duas práticas muito conhecidas e
difundidas em todo o Brasil são alvo de apenas 6,5% das pesquisas. Houve
alguma desconsideração dos pesquisadores sobre essas atividades apesar de
sua expressividade social, o que choca com os dados relacionados a boa
procura dos pesquisadores pela área escolar, afinal essas atividades talvez
tenham grande possibilidade de se desenvolverem nas escolas.
A aventura e o esporte segundo as dimensões sociais do esporte de
Tubino (2002):
220
Esporte
Encontro
Lazer
Rendimento
Educação
Não definido
1 CBAA
16
22
22
2
2 CBAA
30
9
17
1
3 CBAA
16
6
27
8
4 CBAA
16
4
25
9
Total
77
41
91
20
Fonte: Anais do CBAA I, II, III e IV
Quando analisamos a partir da proposta de Tubino, encontramos alguns
pontos importantes. A educação é a dimensão mais apresentada, pois muitos
trabalhos não referem-se a escola, porém apontam para o processo educativo
de práticas de lazer, ou então se referem ao próprio processo de produção de
conhecimento ou de formação acadêmica. Como a maioria dos participantes é
da área da educação física torna-se mais fácil de entender esse tipo de
interesse.
Houve nesse período uma diminuição dos trabalhos relacionados ao
rendimento e a competição, isso pode ter ocorrido, pelo interesse desses
pesquisadores pelas publicações indexadas que agregam mais ao currículo do
que o CBAA que ainda não tem esse porte. Outra possibilidade é a observação
de grande número de pesquisas sobe rendimento no primeiro evento, e
analisando profundamente percebemos que nove entre as 22 pesquisas sobre
esporte rendimento são de um único grupo e envolvendo uma mesma prática.
Esses trabalhos desenvolvidos de forma conjunta e apresentados de forma
separada aumentam significativamente os números, mas não representam
necessariamente que houve um desinteresse momentâneo por esse tipo de
pesquisa no evento, pelo contrário é uma mostra de que se mantém baixo o
interesse dos pesquisadores pelas práticas competitivas de aventura no CBAA
em relação às outras dimensões do esporte. Isso aponta para um modo
diferente de se encarar o esporte como algo não competitivo ou
metacompetitivo.
Finalizando as pesquisas que enfocam a participação e o lazer tem uma
continuidade nesse evento, talvez explicada pela origem do mesmo, em um
grupo que estuda o lazer. Algumas pesquisas são difíceis de serem encaixadas
221
em uma única dimensão, apontando para uma abertura de outras formas de se
classificar essas atividades além das propostas por Tubino.
Áreas de concentração dos estudos apresentados.
Área
1 CBAA
2 CBAA
3 CBAA
4 CBAA
Total
Pedagogia
16
18
25
17
76
Psicologia e Sociologia
17
11
9
8
45
Meio ambiente e
Turismo
5
9
5
8
27
História, Filosofia e
Legislação
7
4
5
9
25
Treinamento e
Antropometria
12
4
4
2
22
Comunicação e
marketing
3
2
6
3
14
Produção Cientifica
0
0
0
3
3
Fonte: Anais do CBAA I, II, III e IV
Percebe-se uma necessidade de legitimar as atividades de aventura no
campo pedagógico. Os estudos psicológicos e sociológicos envolvem questões
de gênero, deficiência e do idoso na prática de aventura. Esses dados talvez
sejam uma forma de mostrar a importância social na formação das pessoas,
educando-as para a aventura e desmistificando essas práticas como atividades
de loucos pelo perigo.
Há uma minoria de pesquisas na área de treinamento. Esses utilizam
dados quantitativos sobre desempenho na aventura, contrariando a maior parte
dos estudos que se debruça sobre o caráter qualitativo dessas práticas de risco
calculado. Corre-se o risco de encaramos a prática de aventura por um único
prisma e com isso estreitar as possibilidades do conhecimento acreditando-o
222
como qualitativo e perdendo de vista suas quantidades, tão importantes para
uma análise multidimensional do problema.
Os dados apresentados começam a mostrar um panorama de como o
CBAA contribuiu para a pesquisa e produção de conhecimento na área de
aventura no Brasil. Porém a construção da informação não se baseia apenas
em números, ela deve também tratar a informação como produção humana,
portanto subjetiva (GONZALEZ REY, 2005).
No último encontro na Bahia, três pesquisas trataram da produção na
aventura em publicações do CBAA e de outros eventos e instituições. Dias et
al. (2008a) concluíram ser muito baixa a produção científica nessa área, nos
programas de Pós Graduação da USP, UNESP e UNICAMP, entre 2003 e
2008. Apenas 13 trabalhos é pouco para auxiliar no processo de organização,
preparação profissional e preservação do meio ambiente, segundo os autores.
Já em outro estudo, Dias et al. (2008b) pesquisando os três primeiros
CBAA
apontam
ligeira
predominância
de
pesquisas
relacionadas
a
biomecânica e fisiologia, mas quando se somados os dados de outras áreas
(sociologia, psicologia, política, educação) encontra-se maior número de
pesquisas na somatória. Esses dados concordam com o que expusemos
numericamente, pois no primeiro evento tivemos diversos trabalhos da área
biodinâmica, mas esse número decresceu nos eventos seguintes. As autoras
também apontam poucos estudos referindo-se a questão do risco, que é um
tema central da aventura.
Campagna et al. (2008) concordam com uma predominância de estudos
ligados a área pedagógica como já foi exposto anteriormente. É apontada uma
grande diversidade de interesses dentro da temática da aventura. Confirma-se
a idéia já apresentada de que o desenvolvimento humano está muito presente
nos interesses dos pesquisadores, quando se percebe que as áreas da
educação e da psicologia são muito valorizadas nas pesquisas.
Conclusão
Concluímos
esse
trabalho
apenas
apontando
que
os
dados
apresentados contêm limitações em sua abrangência, pois não representam
todas as pesquisas na área de aventura, mas que dão indicações sobre como
essas pesquisas tem se desenvolvido no Brasil. Outro limite conhecido é o fato
223
de muitas dessas pesquisas apresentadas como resumo se tratarem de
estudos em andamento, não conclusivos e, portanto abertos a variações em
suas conclusões finais.
A informação que se pôde produzir a partir dos dados levantados mostra
que o tema da aventura começa a se consolidar cientificamente, mesmo que
de forma tímida. Os interesses pela formação das pessoas através da aventura
dão um sinal claro de uma preocupação humana com os rumos das pesquisas.
Basta apenas não deixar de lado as contradições próprias da ciência para
continuar produzindo ciência, reconhecendo a importância das diferentes áreas
na compreensão do valor da aventura para os praticantes e juntando esforços
para cumprir o papel social da pesquisa científica que é contribuir com
conhecimento para um mundo melhor. Isso se faz de forma complexa, isto é,
tecendo o conhecimento que outrora estava desligado.
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aventura. In: IV Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. FTC. Mucugê
– BA. Anais ... 01 – 04 jul. 2009.
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Nov. 1999.
COSTA, C. S. C. Formação profissional no esporte escalada. Dissertação
(Mestrado) Curso de Educação Física, UGF - RJ, 2004.
DIAS, V. K. et al. Atividades de aventura e a produção do conhecimento em
programas de pós graduação. In: IV Congresso Brasileiro de Atividades de
Aventura. FTC. Mucugê – BA. Anais ... 01 – 04 jul. 2009 (a).
DIAS, V. K. et al. Produção científica sobre atividades de aventura em anais de
eventos. In: IV Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. FTC. Mucugê –
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PEREIRA, D. W. A complexidade da avaliação dos riscos na escalada em
rocha. In: IV Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. FTC. Mucugê –
BA. Anais... 01 – 04 jul 2009.
PEREIRA, D. W. e GARCIA, A. B. O esporte de aventura e a regulamentação
da educação física. In: I Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura,
Balneário Camboriú – SC. Anais ... jul. de 2006.
224
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significado através da análise qualitativa de praticantes. Turismo – Visão e
Ação. Ano 5, n,11, p. 41 – 50, abr./set. 2002.
TUBINO, M. J. G. Dimensões Sociais do Esporte. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2002. v. 11.
225
RESPONSABILIDADES AMBIENTAIS DE TRILHEIROS DO PARQUE
NATURAL MUNICIPAL DE NOVA IGUAÇU - RJ
Eduardo Rodrigues da Silva, Ulisses Vitorino dos Santos, Maria Regina de
Menezes Costa, Nilda Teves Ferreira, Vera Lucia de Menezes Costa
Universidade Gama Filho, Rio De Janeiro - Rj, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Este estudo tem por foco de investigação a responsabilidade ambiental
entre os trilheiros, praticantes de trekking como lazer, do Parque Natural
Municipal de Nova Iguaçu - RJ (PNMNI). O meio ambiente resultante do
convívio do homem com a natureza, sofreu e ainda sofre transformações
devido à ação humana. Em alguns locais essa realidade vem mudando e o
Parque vive a transformação, da terra, da água e do ar, ou seja, foi criado para
o homem conviver com o meio ambiente, responsabilizar-se por ele e preserválo para a própria sobrevivência. Os objetivos do estudo foram mapear as
opções de esporte-aventura presentes (praticadas) no Parque Natural
Municipal de Nova Iguaçu / RJ e caracterizar as responsabilidades com o meio
ambiente (percepções, hábitos e ações/procedimentos de respeito e
preservação) dos trilheiros do Parque. A metodologia utilizada foi desenvolvida
a partir de uma investigação exploratória, com abordagem quanti-qualitativa,
onde há aspectos relacionados ao meio ambiente, vivenciados no universo dos
praticantes de trekking. As estratégias metodológicas foram: (a) Mapear os
locais disponíveis e as práticas de esportes de aventura do PNMNI; (b)
Construir um histórico do PNMNI; (c) Construir e validar um roteiro de
entrevista; (d) Aplicar a entrevista aos trilheiros do PNMNI; (e) Análisar e
interpretar as informações coletadas; (f) Os dados quantitativos foram
analisados por estatísticas descritivas (frequência absoluta e relativa) e os
dados qualitativos por Análise de Conteúdo (BARDIN, 2000). Concluiu-se que
os trilheiros do PNMNI utilizam as trilhas do Parque como articulação entre
esporte, turismo e lazer, demandando o que Guattari (1990) chamou de
ecosofia, uma articulação entre o meio ambiente, as relações sociais e a
subjetividade humana. Manifestaram indícios de responsabilidade ambiental,
de uma ética prática e especulativa e de potencial para o ordenamento
territorial e ambiental do Parque, enquanto unidade de conservação.
Palavras Chave – Meio Ambiente – Trekking – Lazer.
Introdução
Este estudo tem por foco de investigação a responsabilidade ambiental
entre os trilheiros, praticantes de trekking, do Parque Natural Municipal de
Nova Iguaçu (PNMNI), isto é, dentre aqueles que escolhem caminhar por lazer
pelas trilhas do Parque.
O Parque faz parte da unidade de conservação do APA do GericinóMendanha, de domínio estadual, uma área de preservação ambiental
226
municipal, que procura estabelecer um tipo de interação com seus
freqüentadores na qual explicita regras para utilização do espaço, placas de
sinalização com esclarecimentos e localização, sempre visando uma melhor
utilização por parte dos usuários que escolhem aquele lugar para desfrutar de
suas opções recreativas e esportivas tais como banhos de cachoeiras, trilhas
para caminhadas, opções de rappel, um vulcão extinto e rampa de saltos de
voo livre, em meio a uma natureza exuberante.
Sob a gestão da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente da
Prefeitura da cidade de Nova Iguaçu, a preocupação com o meio ambiente,
preservação da rica biodiversidade e das belezas naturais se fazem notar no
projeto, oficializado pelo DECRETO Nº. 7.428 DE 02 DE JUNHO DE 2006 que
institui o programa de reflorestamento de proteção de áreas de interesse
ambiental visando: (a) promover o reflorestamento; (b) proteger, desenvolver e
acelerar a regeneração das florestas; (c) delimitar fisicamente as áreas de
domínio público ou privado necessárias; (d) deter a ocupação irregular; (e)
apoiar as iniciativas da sociedade; e (f) a geração de trabalho e renda e das
populações vizinhas.
O Parque se localiza na região de fronteira dos municípios de Nova
Iguaçu, Mesquita e Rio de Janeiro, os primeiros localizados na Baixada
Fluminense. Em se tratando da proximidade das cidades de Nova Iguaçu e
Mesquita, a primeira, Nova Iguaçu, é uma cidade, que segundo Barbosa
(2008), desfruta de uma atual situação de desigualdade e deterioração
socioambiental cuja origem se deu em uma longa história de exploração de
seus bens naturais e sociais, uma história-síntese da Baixada Fluminense,
local de boa parte das “cidades-dormitórios” e das “zonas de sacrifício” do
Estado do Rio de Janeiro. Para a autora isso é resultado de um histórico
processo político-econômico que privilegiou uma minoria (que veio a se tornar
também a elite política da região) e vitimou a imensa maioria de uma
população que, aos poucos, foi perdendo sua auto-estima, mostrando-se
aparentemente resignada com a condição de vida que lhe foi imposta. Esses
mesmos grupos elegeram o Parque como uma instância privilegiada de lazer
ecoturístico tornando-o significativo para seus moradores e visitantes.
O Parque abriga valores históricos e culturais como a sede da Fazenda
Dona Eugênia, conhecida atualmente como Casarão, construído no final do
227
século XIX; as ruínas do clube Dom Felipe, que funcionou até meados da
década de 1960, que já indicava a vocação para lazer na natureza da área; e o
Quilombo, área de ocupação quilombola perto da pedra da Contenda (ZEN,
2008). Esse patrimônio histórico-cultural da região possui um grande potencial
natural, mas, as políticas públicas, segundo Barbosa (2008), provocaram o
surgimento de graves problemas socioambientais, conduzindo a cidade a um
baixo
índice
de
desenvolvimento
humano
(http://www.cmni.rj.gov.br/nossa_historia/apresentacao/)
e
(IDH-M=0,762)
a
uma
não
identificação da questão ambiental como relevante por considerável parcela da
população.
O meio ambiente resulta do convívio do homem com a natureza, o
ambiente sofreu e ainda sofre transformações devido à ação humana. Em
alguns locais essa realidade vem mudando e o Parque vive a transformação,
da terra, da água e do ar, ou seja, foi criado para o homem conviver com o
meio ambiente, responsabilizar-se por ele e preservá-lo para a própria
sobrevivência. O Parque retoma o interesse dos frequentadores pelo contato
com a natureza, fazendo com que seus frequentadores, entre eles os trilheiros,
encontrem no meio ambiente natural do local de suas caminhadas, o prazer de
desfrutar do lazer, da aventura, de desafios e das emoções, conduzindo-os à
experiências de bem estar e qualidade de vida. (PINHEIRO, 2008).
Para conhecer a realidade e iniciar o estudo, dirigi-me para o PNMNI
por vários finais-de-semana para mergulhar nos caminhos de quem por lá se
exercita. Ao deparar com o fato de que o trekking acontece com menor adesão
dos frequentadores no Parque do que os passeios para cachoeiras e para
busca de atividade física prazerosa junto à natureza, a minha intenção
enquanto pesquisador foi perceber o modo autônomo e independente com que
vários desses caminhantes que se dirigem às trilhas na montanha, praticando
um dos tipos de trekking ali encontrados, se ordenam nesse local, pois, muitos
deles, ao invés de adentrar ao Parque pela via principal e dar ciência aos
administradores responsáveis pela segurança, pela manutenção do espaço e
por aqueles que o freqüentam, partem para ações à revelia da ordem existente.
Estes escolhem vias alternativas que se constituem sem o devido controle. Tais
procedimentos chamam a atenção em função desses comportamentos
poderem denotar um espírito de aventura e risco ou, quem sabe,
228
procedimentos de transgressão à ordem estabelecida o que pode trazer
malefícios ao meio ambiente e à própria segurança do praticante e daqueles
que freqüentam o Parque, caso venha a lhes acontecer algo ou provocar danos
ao meio ambiente, que podem se transformar em danos coletivos como as
queimadas, por exemplo.
Um novo olhar, então, sobre as observações no campo me levou ao
diálogo com outras áreas do conhecimento e formular os questionamentos
sobre as mobilizações das ações dos trilheiros em relação à aventura e à
imaginação. Mas o que conduz essas pessoas a embrenhar-se pelo Parque?
Sob que sentidos de aventura partilham com a natureza seus momentos
naquele local? Afinal, diante de um ambiente privilegiado, da busca humana
pelo lazer próximo à natureza e de conscientização da sociedade para com o
valor das causas ambientais, busco investigar, quais os sentidos de aventura e
de responsabilidade com o meio ambiente estão presentes no imaginário dos
mais variados grupos de trilheiros que freqüentam o Parque Natural Municipal
de Nova Iguaçu. Dentro de cada um dos grupos, dos que passeiam pelo
Parque rumo às cachoeiras e dos que se dirigem às trilhas na montanha, além
dos interesses individuais, é possível que haja também interesses coletivos e
ambientais e que tais interesses estejam mobilizados por um imaginário próprio
da pós-modernidade no qual o nomadismo, a errância, as tribos, e o poder dos
altares da atualidade, no caso, a natureza, entram no debate contemporâneo
do espaço, do território, da urbanidade e do localismo (Maffesoli, 2000, 2001,
2001, 2004).
Com
isso,
este
estudo
se
apresenta
como
continuidade
e
aprofundamento das teses Caminhando nas trilhas do reencantamento da
natureza – uma ecologia do corpo sagrado e errante (PASSOS, 2004) e de Os
sentidos da aventura no lazer de caminhantes – peregrinos do Caminho do Sol
(CARDOZO, 2006) desenvolvidas no grupo de pesquisas Lires-LEL.
Passos (2004), falou sobre aproximação do homem com a natureza, a
procura de identidades próprias, esportes de aventura na natureza, entre os
quais se inclui a caminhada, o renascimento da vivência de aventura com força
na sociedade pós-moderna, do valor simbólico e do novo sentido de espírito
aventureiro substanciado na vida espiritual. O texto afirma que a natureza
surgiu nos discursos sob diferentes atitudes perante ela, que deslizaram do
229
utilitarismo, em que a natureza fica reduzida a cenário da atividade física,
passando pelo humanismo, pela mística e, por último, pela atitude naturalista,
que entende o homem enquanto uma das muitas espécies do Cosmo na qual
todas são merecedoras de igual respeito, apoiando-se ora em concepções
antropocêntricas, ora em ecocêntricas. Na primeira concepção cabia à
natureza servir ao caminhante como cenário, como energia para a vida. Na
concepção ecocêntrica, ela é sentida como parceira, merecedora de respeito e
de conservação, pois a sobrevivência do próprio homem, que também se
percebe como natureza, depende de sua harmonia com ela. Para a autora há
um desafio a ser vencido: o da construção de uma ética ambiental baseada na
razão sensível, na compreensão do homem neste Cosmo. A necessidade de
um pensamento policêntrico, que compreenda a interdependência entre
indivíduo, sociedade e espécie, compreendendo a um só tempo a unidade e a
diversidade do progresso planetário, suas complementaridades ao mesmo
tempo em que seus antagonismos.
Cardozo (2006) mostra que a caminhada de peregrinação de seus
entrevistados supera a simples caminhada, tendo os sentidos deste tipo de
caminhada estão voltados para o lazer/aventura/natureza/bem-estar espiritual.
Estes atores vivenciam o sofrimento físico e também espiritual, uma dor que
conduz ao resgate da sensibilidade dentro de si. São remetidos ao
reencantamento do mundo, arrebatados pela magia e energia da natureza.
Sentiram a solidão e novos sentimentos brotaram, a percepção de sua
limitação física, sofreram, amaram, aprenderam a cuidar da natureza.
Atualmente, a necessidade dos habitantes da região da Baixada
Fluminense, zona urbana e metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, é a de
alteração de rotina buscando no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu
práticas de lazer, como passeios em trilhas, banhos em cachoeiras, vôo livre,
escaladas, passeio à boca do Vulcão, chegada ao topo do monte. Buscam no
Parque, opções de lazer junto à natureza, afastando-se dos centros urbanos.
Afinal de contas, diferente daquela reserva, as ruas da Baixada Fluminense
não apresentam praças nem ambientes naturais satisfatórios que possam
resgatar as energias dispendidas nas rotinas do cotidiano. O Parque Natural
Municipal de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro faz parte da Área de Preservação
Ambiental do Gericinó-Mendanha, uma área de 10.500 hectares considerada
230
Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1996. A freqüência ao PNMNI é de tal
ordem que cerca de 1200 usuários/dia segundo Mello (2008) podem estar
presentes em dias muito quentes.
Mas o que leva esses trilheiros a buscarem este Parque? O que os
motiva a caminhar por trilhas, a buscarem as cachoeiras ou a apreciar as
belezas das paisagens de um Parque que surgiu há mais de 10 anos? Que
impactos ambientais podem trazer os praticantes do trekking no Parque?
Segundo Passos (2004, p. 11):
Há uma mística no ato de sair caminhando para e pelas
montanhas e florestas que introduzem o praticante no trekking. Este
esporte é carregado de um certo ar de magia. À medida que o
praticante penetra no mundo da floresta, algo lhe acontece. Tudo se
transforma. Sons, cheiros, temperatura, animais, insetos, folhagens,
um mundo de seres vivos vêm fazer-lhe companhia em sua jornada.
[...] “Entretanto, o caminhar no trekking não é uma simples repetição
de passos automatizados preso a caminhos constantes e iguais. O
caminhar, nos esportes de aventura, adquire os sentidos de passear,
viajar, explorar, desbravar e, às vezes, competir”.
Os grupos de trilheiros no Parque compartilham a emoção do “pé na
estrada”, o sentimento de contemplar a natureza e ou também se aproveitar
ludicamente de seus atrativos como cachoeiras, trilhas a locais históricos,
paisagens naturais e paisagens modificadas, vivenciar novas experiências,
fugir de um cotidiano. O “prazer parece estar no contato íntimo com a natureza¨
(PASSOS, 2004, p. 13).
O homem então começa a aproveitar esses lugares, vivenciar a
liberdade de guiar seus caminhos pela natureza e desfrutar de um estado de
tranqüilidade, dando emoção aos seus sentimentos.
A opção gratuita de lazer, o fato de atingir um ponto alto que favorece
uma vista privilegiada da cidade, a possibilidade de alcançar a chaminé de um
vulcão extinto, a temperatura agradável, a sensação de liberdade junto à
natureza, as opções de esportes de aventura, as peregrinações religiosas e o
banhar-se em cachoeiras limpas na região podem ser algumas das motivações
para a adesão ao Parque e o tornar-se prioridade para os moradores da região
e de outras ao deslocar-se para lá.
Beneficiados por uma gama de experiências vivenciadas no Parque, os
praticantes do trekking, os trilheiros, possuem hoje todo um aparato que facilita
231
sua identificação tais como: vestimenta, calçado e cajado. Esses trilheiros,
utilizando ou não equipamentos de navegação, mas sempre amparado pelas
tecnologias que envolvem a confecção dos materiais mais utilizados no
trekking: tênis ou botas, roupas especiais, mochilas, cordas, barracas,
agasalhos, sacos de dormir e outros (PASSOS. 2004, p. 13).
A tecnologia para os trilheiros aparece principalmente no trekking
competitivo com os seguintes equipamentos: cartas de navegação, contador
eletrônico ou manual de passos, notebooks, palm top, bússolas e GPS, mas
não é dispensada por aqueles que penetram no Parque, dirigindo-se em
especial aos lugares mais afastados da entrada principal, de maior risco e de
menor procura.
As responsabilidades ambientais decorrentes das práticas esportivas na
natureza são importantes para a adoção de medidas que venham a prevenir,
minimizar e eliminar possíveis danos.
Utilizaremos a expressão “trilheiros” toda vez que nos referirmos a
modalidade trekking dentro dos seus diferentes tipos, categorizados por alguns
especialistas e citados por Passos (2004) como: trekking de regularidade ou
enduro a pé; trekking de velocidade ou corrida de aventura; travessias ou
trekking de longa distância (dias); trekking de um dia ou hiking; e peregrinações
(caminhadas com fins religiosos). Os dois primeiros são caracterizados por
uma atividade de competição, e dois últimos mais por uma atividade de
expedição, contemplação, encontro e descoberta.
Diante da desrotinização que pessoas, moradores em área urbana,
vivenciam ao caminhar junto à natureza em programas de lazer se submetendo
aos desafios das trilhas do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu /RJ,
reconhecendo o valor deste Parque para a comunidade do entorno, sejam
trilheiros, peregrinos religiosos, desbravadores das trilhas ou praticantes de
modalidades esportivas de aventura no Parque, confiantes em suas
habilidades e nos recursos tecnológicos, buscamos saber, que sentidos da
relação homem-natureza, de aventura e de responsabilidade para com o meio
ambiente são socializados nos discursos dos trilheiros do Parque.
Sabe-se que, segundo Vieira (2004, p.04):
232
O contato com a natureza através do esporte apresenta um
viés positivo e outro negativo. Por um lado pode, por exemplo,
aumentar a consciência ecológica dos envolvidos com a prática
esportiva, pode inibir a ação predatória em seus locais de prática e
contribuir para a melhoria da qualidade de vida. Por outro, essas
mesmas práticas esportivas podem interferir negativamente nos
fatores ambientais, podendo ocasionar danos aos ambientes onde
são praticados. O surgimento constante de novas modalidades
esportivas da natureza, manifestadas como lazer ou competição,
com o conseqüente aumento do número de praticantes,
espectadores e infra-estrutura podem agravar o quadro de
degradação ambiental.
Desse
modo
parece
conveniente
explorar
os
sentidos
de
responsabilidade ambiental que demandam aos praticantes das trilhas,
freqüentadores do PNMNI, suas percepções, hábitos e ações/procedimentos
de respeito e preservação do meio ambiente em relação as normas de conduta
em unidade de conservação, para que se possa prever possíveis desvios de
interferência na qualidade de vida dessa simbiose homem/natureza e orientar
no sentido de proteção e conservação do meio ambiente como necessidade de
auto-preservação.
Este estudo teve dois objetivos: (a) mapear as opções de esporteaventura presentes (praticadas) no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu /
RJ; e (b) caracterizar as responsabilidades com o meio ambiente (percepções,
hábitos e ações/procedimentos de respeito e preservação) dos trilheiros do
Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu /RJ.
No que tange à metodologia o estudo se desenvolveu a partir de uma
investigação exploratória, com abordagem quanti-qualitativa, onde há aspectos
relacionados ao meio ambiente, vivenciados no universo dos praticantes de
trekking.
As estratégias utilizadas foram: (a) mapear os locais disponíveis e as
práticas de esportes de aventura do PNMNI; (b) construir um histórico do
PNMNI; (c) construir e validar um roteiro de entrevista; (d) aplicar a entrevista
aos trilheiros do PNMNI; (e) analisar e interpretar as informações coletadas; (f)
os dados quantitativos foram analisados por estatísticas descritivas (frequência
absoluta e relativa) e os dados qualitativos por Análise de Conteúdo (BARDIN,
2000).
233
O instrumento utilizado no estudo foi um roteiro de entrevista. Buscamos
nos estudos de Vieira (2004) e de Pinheiro (2008) os fundamentos para a
elaboração e validação do roteiro de entrevista estruturado que utilizamos
nesse estudo. A amostra, do tipo intencional, contou com 10 participantes.
Utilizou-se como critério de inclusão a maioridade, o tempo de prática do
trekking superior a 3 anos e a utilização das trilhas do Parque Natural Municipal
de Nova Iguaçu - RJ.
Os dados quantitativos foram analisados por estatísticas descritivas
(frequência absoluta e relativa) e os dados qualitativos analisados por Análise
de Conteúdos (BARDIN).
A PESQUISA:
A – Uma História do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu
O Parque faz parte do ecossistema da Mata Atlântica, é uma unidade de
conservação criada através do Decreto Municipal 6001 de 05 de Junho de
1998. Para ter acesso à área do Parque pode ser feito pelo Bairro Kaonze
através da Estrada do Encanamento ou pelo do centro do Município de
Mesquita, percorrendo-se aproximadamente 4500 metros entre uma via local
por nome Avenida Brasil e a Estrada da Cachoeira. Outra referência importante
é a existência de uma Represa Epaminondas Ramos, construída em 1948,
junto à qual a Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu construiu uma guarita de
controle e fiscalização daqueles que adentram o Parque por sua entrada
principal. No interior a principal via de circulação continua a Estrada da
Cachoeira que se estende da guarita do Portão de Entrada até as antigas
instalações do Clube Dom Felipe, num total aproximado de 5500 metros
(SANTOS, 2005).
Na porção sul do município de Nova Iguaçu, localiza-se a área de
proteção ambiental (APA) do Gericinó-Mendanha, unidade de uso sustentável
administrada pelo Governo Estadual. Dentro dessa APA, encontra-se o Parque
Natural Municipal de Nova Iguaçu, unidade de proteção integral instituída pelo
Poder Público Municipal.
Este geoparque é uma área protegida com limites definidos que abrigam
lugares de interesse geológico e de importância científica, singularidade ou
beleza, representativos na história geológica da região, segundo a UNESCO
234
1996. A conservação desse patrimônio geológico é de importância educativa
para o futuro das ciências da Terra (BRILHA, 2009).
Segundo Mello (2008) a parceria com da Prefeitura da Cidade de Nova
Iguaçu e universidades presentes no estado do Rio de Janeiro, o DRM-RJ
iniciou, em 2004, a implantação do primeiro Geoparque do Estado na área do
Parque Municipal de Nova Iguaçu. O patrimônio geológico a ser preservado
são as rochas e estruturas relacionadas ao Vulcão de Nova Iguaçu, que foi
descrito por Klein e Vieira (1980), inclui parte remanescente da suposta cratera.
Na área da sede o PNMNI oferece os seguintes serviços oficiais: (a)
Identificação, logo na entrada com apresentação das normas, verificação e
contagem daqueles que adentram o local; (b) Segurança e Fiscalização; (c)
Guias para atender as visitas programadas; (d) Manutenção; (e) Gestão.
Na entrada principal do PNMNI é permitida a entrada mediante a
apresentação de documento de identificação com foto e menores de 18 anos
só entram com o responsável ou termo de responsabilidade por pelo menos um
desses, assinado. Ocorre também verificação de mochilas, sacolas e bolsas,
devido ser proibida a entrada de posse de objetos cortantes, bebidas
alcoólicas, bronzeadores, cremes e água oxigenada e outros produtos
químicos, além de instrumentos musicais.
Na sede, a sinalização, com seus mapas de localização, é
presente e os informes das restrições aos visitantes estão sempre disponíveis.
As restrições do parque estão presentes nas placas: caçar e pescar, apanhar
ou maltratar animais, apanhar plantas de qualquer espécie, entrar com animais
domésticos ou qualquer outro, deixar lixo fora dos coletores, entrar nas trilhas
sem autorização, montar acampamentos de qualquer espécie, depositar
oferendas
religiosas, danificar patrimônio
natural ou
construído.
Tais
procedimentos visam orientar a visitação ao parque e estão vinculados ao
controle da insustentabilidade de nossos estilos de vida (LEIS, 1999), tentando
reorientar interesses incompatíveis com a sustentabilidade ambiental, instaurar
nova subjetividade capaz de reorientar valores individuais, sociais e para com a
natureza.
O Grupo Aventureiros de Nova Iguaçu descreve quatro das trilhas do
parque no site http://www.aventureirosni.tur.br/proximoevento.
A primeira,
chamada trilha do Pau Pereira, possui aproximadamente 610 metros de
235
comprimento, descrevendo um arco à direita da Estrada da Cachoeira,
passando por trás do Poço das Cobras. A trilha se localiza um pouco à frente
da Parede das Brechas e Lavas Vulcânicas. Possui um mirante situado a 240
metros de altitude, de onde se avista a Cachoeira Véu da Noiva. O Mirante é
pequeno, dando para 5 pessoas por vez e dá para ver o Véu da Noiva e o
Casarão. Ao final dessa trilha todos os trilheiros descansam, contemplando ou
banhando-se na cachoeira do Casarão.
Na Trilha da Varginha o acesso tem início ao lado da entrada da
Pedreira desativada. Seu inicio é um pouco íngreme e deve-se tomar cuidado
com escorregões, principalmente na área do bambuzal logo no inicio. A trilha
nos levará para o que seria a borda da "cratera" do vulcão de Nova Iguaçu, um
maciço, de origem vulcânica, que apresenta crateras, chaminés e vestígios
diversos de muitas erupções que, segundo os pesquisadores Victor Klein e
André Calixto, tiveram intensa atividade entre 73 e 48 milhões de anos atrás.
Naquela época, o maciço era uma ilha, seccionada pelo curso do Rio Guandu,
que
desemboca
na
Baía
de
Sepetiba
(http://www.baixadafacil.com.br/cidades/iguacu.php).
A Trilha do Mata fome é de nível fácil a médio por conta da extensão e
topografia. Possui este nome por cruzar o vale e riacho do Mata-Fome. Seu
inicio se dá em uma entrada à direita, uns 75 metros antes do Mirante do Alto.
É uma trilha muito bonita, apesar de ter poucos mirantes. Próximo ao Matafome havia uma casa de taipa onde há algumas bananeiras, jaqueiras e outras
espécies da Mata Atlântica. Esta trilha possui com aproximadamente 2500
metros.
A Trilha para o Antigo Cassino é considerada a trilha mais difícil de todo
o Parque. Com uma extensão de quase 7000 metros, realizados, em torno, de
3 horas de duração. A caminhada passa por pontos com atrativos consolidados
de Nova Iguaçu, tais como: Poço das Cobras, Cachoeira do Véu da Noiva,
Poço da Natureza (antigo Poço da Morte), até chegar ao Antigo Cassino. Este
percurso fez parte do caminho percorrido na época do segundo império, século
XIX.
Abaixo segue um roteiro do PNMNI retirado do texto de Mello (2008):
236
O Parque, com tais sugestões, pode estar próximo de controlar os
limiares críticos para os sistemas ambientais. A verificação histórica das
formações e processos no ambiente são indicadores de deterioração.
Reencontrar novos estados de equilíbrio parace fazer parte da preservação. É
comum, segundo Mello (2008, p. 74),
ao se abrir novas trilhas ou recuperar traçados, se encontrar
vestígios de antigos caminhos como faixas de solos compactados,
acidentes erosivos, espécies vegetais pioneiras e sinais de sub-
237
bosque recente. Se estabelecermos que o limiar de referência seja
as características do solo e vegetação no traçado proposto, temos
assim os sinais de limiares antigos ultrapassados (as marcas de
sobreuso do solo e alterações na vegetação).
Assim, a unidade de conservação PNMNI, ao associar ecologia, turismo
e esporte como lazer, torna-se um irradiador de melhores práticas em visitação
e conservação em áreas naturais para a região da Baixada Fluminense.
B
–
O
MAPEAMENTO
DAS
MODALIDADES
DE
ESPORTE
AVENTURA PRATICADAS NO PNMNI
A área do PNMNI favorece aos praticantes de esporte aventura
desfrutarem da energia da beleza de suas paisagens enquanto se exercitam.
Essa beleza, Schiller (1997) entende como um relaxamento para o
indivíduo favorecendo-o com paz, harmonia e equilíbrio. Para os praticantes,
segundo Corrêa e Rosenthal (1998) a paisagem não se apresenta como um
cenário, mas enquanto uma individualidade portadora de significados, uma
inter-relação entre homem e sítio florestal. Desse modo encontramos no
PNMNI as seguintes práticas:
PRATICAS ESPORTIVAS DE LAZER
Modalidade
Preferência dos
Entrevistados
Trekking
100%
Caminhada (acesso a
80%
cachoeiras)
Rappel
60%
Bicicross
40%
Vôo Livre
20%
C – RESPONSABILIDADES DOS TRILHEIROS COM O MEIO
AMBIENTE
C 1- CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES
238
Dos trilheiros praticantes no parque entrevistamos 10 atores, 07 homens
e 03 mulheres. Desconsiderando as questões relacionadas ao gênero, desses,
60% responderam que sua atividade no parque não causa impacto ambiental e
40% responderam que sim, sua atividade causa impactos ambientais, tais
como, erosão, poluição, alteração ao ambiente local e carga na trilha.
C 2- INSERÇÃO NO PARQUE
Perguntamos aos entrevistados como foi o começo de sua prática
do trekking no parque e nos discursos desses praticantes estiveram presentes
a busca por cachoeiras, divulgação de grupos de praticantes, convite de
familiares, divulgação na TV, colegas de academia e amigos. Sobre as trilhas
realizadas os atores demonstraram ser diversificada sendo citadas todas as
estabelecidas e/ou conhecidas do PNMNI, com destaque para Trilha do
Vulcão. 80% dos trilheiros respondentes (08/10) demonstraram em seus
discursos também procurarem o parque durante o ano todo, com algumas
restrições ao horário na primavera e no verão, devido a altas temperaturas e
sol em locais de baixa vegetação.
C 3 – PLANEJAMENTO
Dos entrevistados a pesquisa nos revela 50% dos atores
procuram
a administração do parque para obter informações
sobre
regulamentos e restrições do parque. Sobre as condições climáticas 70% dos
atores informaram consultar as condições climáticas no local de sua prática.
Com relação à prática acompanhada obtivemos um percentual equilibrado com
50% dos atores o fazem com menos de 5 pessoas e os outros 50% com
grupos com mais de 5 pessoas. Não encontramos nesse segmento uma
relação próxima entre os praticantes que procuram os lugares mais populares
durantes as férias ou feriados prolongados, 70% responderam não fazerem.
Um hábito “civilizado” dos praticantes foi à demonstração de que 100% dos
atores tem o hábito de acondicionar seu lixo durante a prática. Ainda
demonstram os atores serem suas escolhas das trilhas de acordo com seu
condicionamento físico segundo 100% dos entrevistados.
C 4 - RESPONSABILIDADE E SEGURANÇA
Essa parte do questionário destina verificar o grau de imprudência
durante as atividades, onde 50% dos atores revelaram já terem vivenciado
algum tipo de risco em sua prática. 70% calcula o tempo de prática de sua
239
trilha, 60% não avisam o roteiro das trilhas a amigos ou familiares e 40% o
fazem às vezes,
avisando à administração do Parque sobre seu roteiro,
experiência nas trilhas e número de pessoas do seu grupo. 100% possuem
equipamentos para sua prática, 30% improvisam e outros 30% às vezes
improvisam equipamentos nas trilhas. 80% verificam a validade de seus
equipamentos.
Dentre
os
equipamentos
essenciais
para
consideraram:
ALIMENTO
100%
ÁGUA
100%
CHAPÉU
90%
PROTETOR
80%
REPELENTE
80%
CELULAR
80%
RÁDIO COMUNICADOR
70%
LANTERNA
60%
AGASALHO
60%
BASTÃO (CAJADO)
50%
CANIVETE
50%
CAPA DE CHUVA
50%
BÚSSOLA
50%
OUTROS (ÓCULOS, BINÓCULO, ...)
50%
ESTOJO PRIMEIROS SOCORROS
40%
MAPA
30%
CORDA
30%
GPS
10%
FOGAREIRO
10%
o
trekking,
240
C 5 - CUIDADO COM AS ÁREAS DE PRÁTICA
De acordo com os atores respondentes 50% utilizam de atalhos nas
trilhas, sendo ainda uma taxa muito alta de esportistas que prezam pela
melhora de seu tempo, sendo 40% aqueles que saem das trilhas e outros 40%
que às vezes saem por ela estar escorregadia, molhada ou lamacenta, na
relação com o acampamento foi oferecida a opção de não acampar, pois o
Parque apresenta a maioria de suas trilhas por questões de horas, assim 80%
dos respondentes confirmaram acampar, sendo que 70% não acampam
respeitando os 60 metros de distância da água. Uma prática muito utilizada em
acampamentos é a remoção ou utilização de vegetação como base ou apoio.
30% usam e outros 20% às vezes usam ou removem vegetação na sua prática.
Com relação a cavarem valetas 20% admitem realizar e 10 % afirmam
trazerem lembranças representativas do ambiente do parque, o que apresenta
de forma positiva a preservação com relação a trazer lembranças.
C 6 – LIXO
A totalidade dos entrevistados revelou o retorno do lixo produzido pela
prática do trilheiro (100%). Em relação a queimar ou enterrar o lixo, 90% não
queimam e em relação a
enterrar dejetos fora da área de 60 metros de
distância da água, 70% não cumprem. Para a questão trazer o papel higiênico
junto com o lixo, 70% assim o fazem, e quanto a utilizar sabão, sabonete,
detergente ou xampu para limpeza de utensílios e higiene pessoal em fontes
de água, 10% revelam que, às vezes, realizam.
Pode-se dizer que, em relação à preocupação com o lixo, há indícios,
neste grupo de responsabilidade ambiental.
C 7 – FOGUEIRAS
Segundo Pinheiro (2008, p. 144) “mesmo sendo proibidas, as fogueiras
ainda são utilizadas durantes às atividades esportivas no meio natural.”
Em nosso estudo, 10% dizem utilizar fogueiras e outros 20%, às vezes
utilizam para cozinhar, iluminar ou se divertir durante sua prática no parque,
enquanto 50% não conhecem as normas para confeccionar uma fogueira. Os
dados indiciam ainda desconhecimento por parte da totalidade do grupo em
atender à proibição legal de provocação de queimadas, seja de modo
intencional ou casual e de suas conseqüências como o aquecimento global e a
241
grande perda de seres vivos da fauna e da flora, promovendo um profundo
desequilíbrio ambiental.
C 8 – FAUNA E FLORA
As respostas a esse tema revelaram que 70% dos praticantes evitam se
aproximar de animais silvestres, porém quando acontece, 80% tiram fotos e
apenas 10% dizem apreendê-los. A conservação da biodiversidade e o
respectivo equilíbrio ecológico, exigem uma nova consciência em direção ao
desenvolvimento sustentável da região. Preservar os ecossistemas adquirem
importância relevante para a sobrevivência do planeta.
C 9 – EDUCAÇÃO COM A POPULAÇÃO LOCAL
Com relação a este item o praticante do trekking no parque mostra o
percentual de 90% no que tange à valorização do “som da natureza”, não
utilizando aparelhos sonoros na prática; 100% não realiza a prática com
animais domésticos.
60% utiliza roupas ou utensílios de cores fortes,
justificados pela segurança, enquanto outros 20%, às vezes usam. Essa
preocupação com a segurança desconsidera o desequilíbrio junto à fauna.
C 10 – REPRESENTAÇÕES
O grupo representou o Parque e as trilhas como cuidado e preservação
(07/10). Dentre as falas encontramos:
Me respeite;
Preserve e volte sempre;
Isto é feito para todos nós;
Preserve-me e volte sempre;
Encontrou-se também alguns que valorizam a apreciação da beleza e da
paisagem:
Vá devagar, aprecie o entorno.
Leis (1999) lembra que novas subjetividades se fazem necessárias para
que possamos revitalizar o ethos do ambientalismo, uma postura éticaamorosa para com a natureza. Pode-se depreender desse estudo que há uma
tendência a preocuparem-se com a responsabilidade ambiental sobre o
Parque.
CONCLUSÃO:
Pode-se concluir que os trilheiros do PNMNI utilizam as trilhas do
Parque como articulação entre esporte, turismo e lazer, demandando o que
242
Guattari (1990) chamou de ecosofia, uma articulação entre o meio ambiente, as
relações sociais e a subjetividade humana. Manifestaram indícios de
responsabilidade ambiental, de uma ética prática e especulativa e de potencial
para o ordenamento territorial e ambiental do Parque, enquanto unidade de
conservação.
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em: 03 nov. 2008.
http://www.aventureirosni.tur.br/proximoevento/ acesso em 14 de outubro de
2009.
http://www.baixadafacil.com.br/cidades/iguacu.php acesso em 18 de Abril de
2010.
244
TURISMO DE AVENTURA NO RIO GRANDE DO SUL:
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SUA ESTRUTURAÇÃO E
NORMATIZAÇÃO
Leandro Bazotti
Centro Universitário Metodista IPA - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Este artigo trata do segmento turístico chamado de Turismo de
Aventura. Primeiramente foi realizado um breve histórico da atividade no Brasil
e no mundo e a seguir uma análise sobre o Turismo de Aventura baseado em
pesquisas bibliográficas e de campo. Para tanto, foi realizado um profundo
mergulho no mercado do Turismo de Aventura, retratando a realidade deste
segmento turístico que na visão de alguns autores, representa o surgimento do
novo turismo. O artigo salienta os diversos momentos de organização,
registrando a criação do trade de Turismo de Aventura do Brasil, em especial
do Estado do Rio Grande do Sul, que com o trabalho orientado pela Secretaria
de Turismo, Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul conseguiu atingir o status
de ser o primeiro Estado no Brasil a possuir uma legislação que regulamente
este segmento. Além disto, está entre os 14 pólos de Turismo de Aventura
identificados pelo Ministério do Turismo como locais promissores para o
desenvolvimento desta atividade.
Palavras-chave: Turismo de natureza; turismo de aventura; normatização.
Introdução
As atividades e viagens ligadas ao ambiente natural, sempre fizeram
parte da vida do ser humano.
Desde a época da pré-história, quando o homem ainda era nômade ele
já realizava grandes peregrinações sobre a terra. Posteriormente, quando
dominou a agricultura, suas viagens estavam ligadas ao comércio, onde o
deslocamento era realizado para a troca de produtos; posteriormente, nas
expedições exploratórias.
A partir da evolução destas práticas, iniciou-se os deslocamentos em
busca de lazer, ocorrendo assim o surgimento da atividade turística, que está
ligado diretamente ao processo civilizatório da humanidade.
A este processo também está ligado o surgimento do Ecoturismo e deste
o Turismo de Aventura.
Hoje chamamos de “aventura” as práticas que, no passado, muitas
vezes garantiam a própria sobrevivência da raça humana. Afinal, no inicio de
245
sua trajetória na terra o homem, perambulava em busca de alimentos e abrigo,
e a sobrevivência era a grande aventura a ser empreendida.
A concepção de aventura não é física e palpável, mas é algo que,
passando por um conjunto de sensações interligadas pela motivação e
destreza, temperadas pelo obstáculo inesperado, chega ao prazer da
conquista. O desfecho incerto e a proximidade do perigo, por menor que seja,
diante da expectativa criada, formulam quadros de superação que, uma vez
vencidos, tornam o homem mais confiante em si próprio (FONSECA, 2008).
Diversas atividades com o meio natural, portanto, consideradas de
aventura para o homem urbano, como remar um rio bravo, descer corredeiras,
percorrer quilômetros dentro da mata, cruzar montanhas, ausentar-se por
longos períodos em busca de caça para a tribo, entre outras ações, são parte
natural das necessidades da nossa sobrevivência.
Ao dominar a natureza com técnicas e equipamentos e a buscar o
conforto, o homem de certa forma passou a se distanciar dela.
À medida que as pessoas retomam o contato com estes ambientes, elas
exigem roteiros mais autênticos, natureza pouco alterada e novos locais. As
agências se profissionalizam e, aos poucos, a imagem do mochileiro cede lugar
a famílias em busca de conhecer o Brasil, grupos de jovens que querem ver o
que os livros apenas lhes apresentam rapidamente.
Ao longo deste trabalho, o leitor poderá entender melhor o espectro do
Turismo de Aventura e compreender vários de seus conceitos, características e
peculiaridades, além de ter a oportunidade de familiarizar-se com uma
atividade nova e diferente da rotina urbana, onde o homem se encontra com a
natureza e consigo mesmo, através da superação de seus medos e limites,
podendo lhe proporcionar assim muitos benefícios, tanto individuais como
coletivos.
No lastro teórico serão abordados uma série de conceitos que buscam
contemplar a complexidade do mercado de Turismo de Aventura e o que ele
representa, no país e também no mundo. Os autores que colaboram nesta
fundamentação foram escolhidos pelo fato de transmitirem de forma clara e
sucinta
o
contexto
das
atividades
realizadas
em
ambiente
natural,
caracterizando assim o perfil deste segmento e configurando este mercado.
246
Para a realização deste artigo, foi usado como base principal o
documento resultante de uma pesquisa cientifica realizada no Rio Grande do
Sul e também diversas consultas a fontes literárias
com a finalidade de
agregar informações e conhecimentos a esta obra.
A escolha do tema foi motivada pelo fato do pesquisador ser membro do
trade do Turismo de Aventura do Rio Grande do Sul e ter percebido ao longo
dos anos, que o conhecimento técnico cientifico sobre este segmento não é de
apropriação do restante da cadeia produtiva do turismo e também de seus
consumidores.
Por este motivo é proposta do presente estudo colocar os principais
conceitos e conhecimentos sobre este segmento a disposição da comunidade
acadêmica, científica, gestora e consumidora para que possam refletir sobre
eles, ampliando e disseminando assim o saber comum sobre estas atividades e
as atribuições que as englobam.
Objeto de Estudo
Para melhor compreender a estruturação e normatização do Turismo de
Aventura no Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul, onde foi realizado
um estudo sobre o processo pioneiro no país, se faz necessário a
apresentação de outro segmento turístico que serviu de base para o Turismo
de Aventura: o Ecoturismo.
Na década de 1980, Lascuràin Ceballos, foi um dos primeiros estudiosos
a definir a atividade de Ecoturismo como sendo basicamente o retorno do ser
humano as suas origens, ou o reencontro do homem com a natureza em seu
estado primitivo (COSTA, 2002).
Ou seja, a industrialização está estreitamente envolvida com a fuga do
homem para o ambiente natural. As pessoas que vivem nos países mais
industrializados, são as que mais necessitam desta fuga.
No caso do Brasil, onde a cidade de São Paulo surge como a maior
metrópole do país e conseqüentemente a que apresenta os maiores níveis de
estresse, poluição e caos urbano, a realidade não é diferente, pois também é a
maior geradora de demanda de fluxo de turistas, tanto para viagens internas
quanto para viagens externas.
247
Prova disto é a criação da primeira operadora de Ecoturismo do Brasil, a
Free Way, com base na cidade de São Paulo no ano de 1983, oferecendo a
seu público uma série de atividades em ambientes naturais.
Para confirmar tal raciocínio, Mckercher (2002), fala ainda sobre a
demanda do turismo de natureza, que nos mercados estrangeiros variam muito
de acordo com o grau de industrialização da sociedade, onde a sociedade que
sofreu maior impacto com ela busca mais as atividades desenvolvidas na
natureza.
Para que a sociedade ou visitante aproveite de forma agradável sua
experiência nesta atividade, os agentes de viagens e as operadoras de turismo
são elementos-chave na ligação entre o local de destino e o turista, tendo
assim uma enorme influência e responsabilidade sobre as escolhas realizadas
e os tipos de experiências vivenciados pelas pessoas na viagem (FENNELL,
2002).
Se o agente de viagens não souber passar as informações corretas para
os seus clientes, bem como aconselhá-lo a buscar um destino que esteja
realmente dentro de sua realidade, ele pode além de causar grandes prejuízos
financeiros, criar inclusive danos físicos e psicológicos a estas pessoas, bem
como colocar em risco inclusive o seu próprio negócio.
Este fato é agravado quando os destinos buscados envolvem locais ou
situações mais complexas, como afirma Higgins, quando diz: “As operadoras
de excursões na natureza mais remota, tem o papel mais importante na
conexão dos clientes com os outros negócios e locais de destino ao redor do
mundo, em particular em países não industrializados” (FENNELL, 2002, p.190).
Uma recente evolução do segmento de turismo de natureza nos
apresenta mais um importante ponto a ser observado; a figura do fornecedor
de equipagem.
Como diz Tims (1996 apud FENNEL, 2002):
A equipagem remonta aos primeiros exploradores que empregavam
as pessoas para um determinado serviço, em geral colocando o ser
humano contra a natureza. Mais recentemente, a equipagem
progrediu a ponto de assumir um status profissional no American
Outdoors e no Instituto de Guias profissionais (PGI) [...] com a missão
de identificar, melhorar e disseminar os conhecimentos de monitoria e
248
educacionais da indústria da equipagem, para que fornecedores de
equipamentos e de guias possam oferecer serviços da mais alta
qualidade para o público (TIMS apud FENNELL, 2002, p.186).
Desta maneira, podemos dizer que inicia uma divisão no turismo de
natureza ou do ecoturismo, dando o surgimento ao Turismo de Aventura, pois
aqui, aparece a questão de colocar o homem contra os limites impostos pela
natureza e utilizando-se para isto de equipamentos e técnicas específicas.
Operacionalmente,
a
empresa
deve
ter
uma
quantidade
de
equipamentos e de estoque de produtos em geral para uso por parte dos
clientes. “Além disto, deve ter manutenção adequada das instalações e
equipamentos, a fim de produzir um padrão de qualidade aceitável, para que
assim os clientes possam utilizar com segurança” por este motivo comentam
ainda que “Os funcionários que manipulam os equipamentos devem conhecer
como eles funcionam e se necessário saber como utilizá-los” (MCKERCHER,
2002, p 256).
O que podemos identificar com o surgimento deste novo conceito na
terminologia é que surge assim um novo campo de atuação que necessita de
pessoas especialmente habilitadas para lidar com estes equipamentos. Desta
maneira:
Os tipos de experiência que interessam aqueles turistas que procuram
os recursos naturais (p. ex. turistas de aventura e ecoturistas) tem exigido a
inclusão de empresas preparadas para fornecer equipamentos e outros
serviços especializados no turismo (FENNELL, 2002, p. 295).
A operadora de viagens desempenha com isto o papel de facilitador,
mentor e ponto de referência para os clientes. “Esse modesto nível de apoio
reduziu o risco e a estranheza da aventura a um grau satisfatório para seus
clientes” (MCKERCHER, 2002, p 236).
Em outras palavras, as pessoas querem experimentar mudanças, mas
com a segurança de sua própria bolha ambiental. Esta bolha ambiental é a
manta de segurança pessoal que permite que elas experimentem a emoção da
estranheza sem terem medo de serem dominadas por isto.
249
Assim, a comoditização do produto turístico possibilita que os clientes
apreciem a novidade de uma área ou segmento, com pouco desconforto físico
e emocional.
Este fato faz com que um maior número de pessoas passem a consumir
estes produtos e também os divulguem para que seus conhecidos também
possam vivenciar esta experiência.
Uma característica de suma importância do Turismo de Aventura é que
as operações legais e organizacionais das empresas de turismo na natureza
são regidas por várias leis, convenções e regulamentações governamentais
determinadas pelo município e pelo Estado (MCKERCHER, 2002)
De acordo com Metelka (1990), a regulamentação é o produto dos
esforços de uma agência (governamental, internacional ou de negócios)
autorizada a regulamentar os negócios em sua jurisdição. Historicamente, isso
significa que o governo foi considerado apto a ditar as ações do setor – por
exemplo, da aviação – em termos de políticas apropriadas relacionadas com a
segurança (FENNELL, 2002, p. 245).
Para ilustrar esta afirmação, podemos
dar um exemplo prático e
próximo de nossa realidade, que é na verdade o tema proposto neste projeto
de pesquisa. A regulamentação Estadual do Turismo de Aventura no Rio
Grande do Sul.
Esta regulamentação foi criada no dia cinco de janeiro de 2005, quando
o então governador do Estado (Germano Rigoto) assinou a lei de número
12.1228/05.
Art.1º - O Turismo de Aventura no Estado do Rio Grande do Sul será
realizado em observância às normas e diretrizes estabelecidas nesta
lei, com a finalidade de ordenar a atividade, preservar os espaços
naturais, garantir a segurança dos usuários e qualificar o pessoal
envolvido na operação. Assim o Estado passou a ser o primeiro a ter
regulamentação
própria
do
Turismo
de
Aventura.
(www.turismo.rs.gov.br/portal/index.secretaria).
O intuito desta lei, conforme Machado (2008), foi justamente organizar o
segmento de Turismo de Aventura no Estado, com a finalidade de proporcionar
250
qualidade e segurança para os turistas que freqüentassem o Rio Grande do Sul
e estabilidade aos seus operadores.
Ainda, conforme declaração de Machado (2008), este processo de
regulamentação foi realizado através de um trabalho conjunto entre a
Secretaria de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul e os seus operadores,
ao longo de quase oito anos de atividades, desde que foi realizado o primeiro
encontro no município de Osório no segundo semestre de 2001. Várias outras
reuniões, encontros e oficinas foram realizadas desde então, sempre contando
com a efetiva participação dos operadores atuantes no processo.
Consequentemente poucas agências de turismo tem políticas e sistemas
de gestão formais e “a menos que seja previsto em lei, essas empresas só
adotarão uma prática correta quando houver uma vantagem comercial
indiscutível” (FENNELL, 2002; p.146).
“O setor do turismo terá de se conciliar com a idéia do profissionalismo (sob qualquer
forma) por causa do enorme interesse nesta área atualmente” (FENNELL, 2002, p.156).
Desta forma as pessoas envolvidas com esta atividade, terão de estar
realmente aptas para atuar neste segmento. Esta aptidão poderá ocorrer de
diversas formas, com a finalidade de creditar a competência deste profissional,
oferecendo assim maior qualidade e segurança nos serviços prestados.
Para entender como o Turismo de Aventura é visto atualmente, Pires
(2002) coloca que o Turismo de Aventura representa uma nova fronteira no
turismo sob vários aspectos.
O autor faz referência a uma nova fronteira por acreditar que nos últimos
anos ocorreram várias inovações que parecem explicar e corroborar a idéia de
que estamos diante da transição do velho turismo para o novo turismo (PIRES,
2002).
Um exemplo para isto é apresentado por Swarbrooke (2003) quando
afirma que, “estamos vivendo em uma época em que a clássica viagem de
aventura em locais selvagens está sendo complementada por aventuras em
ambientes artificiais criados pelo homem, frequentemente em áreas urbanas”
(SWARBROOKE, 2003, prefácio), como por exemplo, em um shopping center,
quando podemos nos deparar com um circuito de arvorismo, a disposição de
jovens e adultos que queiram se aventurar nas alturas e tentar vencer os
obstáculos suspensos oferecidos ao longo de cada etapa.
251
Assim, não se faz necessário ter de se deslocar até algum local afastado
ou parque temático para ter acesso a esta atividade, pois com o auxílio das
novas técnicas desenvolvidas pelo aperfeiçoamento do conhecimento e das
experiências vividas é possível realizar uma situação de simulacro em
praticamente qualquer ambiente.
Parece claro que a aventura não é um conceito absoluto com o mesmo
significado para todos. Trata-se na verdade de um conceito altamente pessoal,
assumindo diferentes significados para diferentes pessoas. Uma atividade tida
como corriqueira ou normal para uma pessoa pode representar uma aventura
incomum para outra, dependendo de sua experiência ou personalidade de
cada indivíduo (SWARBROOKE, 2003).
Neste sentido diz o Ministério do Turismo: “Turismo de Aventura
compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de
aventura de caráter recreativo e não competitivo” (MTur, 2006, p.2).
Porém, o conceito apresentado é muito vago e abrangente para os
profissionais do segmento, por esse motivo os envolvidos diretamente com o
setor, tentam mudá-lo para:
Mercado turístico que promove a prática de atividades de aventura em ambientes
naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam riscos controlados e
assumidos, equipamentos específicos, adoção de procedimentos para garantir a
segurança pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e sóciocultural” (Regulamentação, normalização e certificação em Turismo de Aventura;
Relatório diagnóstico, p.10 Mtur. Brasília, 2006).
Com esta definição, percebemos que ficam contempladas importantes
características que compõem este segmento, dando assim uma clara visão de
como seus profissionais identificam o segmento com que trabalham.
Metodologia
Para efetuar este estudo, foram utilizadas algumas técnicas de pesquisa,
como por exemplo: experiência de vida, observação participante e entrevistas
semi-estruturadas com o grupo focal identificado, pois de acordo com Gaskell
(2002), estas metodologias permitem ao pesquisador ver com os olhos dos
252
entrevistados, possibilitando assim uma maior proximidade com a proposta do
tema.
Este tipo de técnica permite ao pesquisador explorar o espectro de
atitudes, opiniões e comportamentos além de observar os processos de
consenso e divergência, instigando assim o debate de assuntos de interesse
público ou de preocupação comum.
Desta forma a opção por uma pesquisa de caráter qualitativo foi pautada
na crença de que esta modalidade se enquadra na busca dos objetivos
almejados; pois de acordo com Triviños (1987), a pesquisa qualitativa tem
fundamentos que apontam para o levantamento de dados históricos, baseados
no campo da antropologia.
A escolha pela entrevista semi-estruturada deu-se porque ao analisar as
formas de levantamento de dados disponíveis, foi identificado ser esta técnica
a que melhor se enquadra com a pesquisa qualitativa e também por
oportunizar aos entrevistados dar maior número de informações pertinentes ao
pesquisador.
Por fim a técnica de grupo focal elegeu-se pelo fato de nos permitir a
absorção de um maior número de dados e informações de relevância dos
entrevistados, pois assim, quaisquer dúvidas que surgissem ao longo das
entrevistas poderiam ser prontamente esclarecidas com seus envolvidos e
também porque desta maneira, eles mesmos se instigam com novas
informações, ressurgindo fatos esquecidos ou desconhecidos por alguns
participantes.
Conforme elucida Gaskell, o grupo focal é:
Um debate aberto e acessível a todos: os assuntos em
questão são de interesse comum, [...] e o debate se fundamenta em
uma discussão racional. [...] O debate é uma troca de pontos de
vista, idéias e experiências, embora expressas emocionalmente e
sem lógica, mas sem privilegiar indivíduos particulares ou posições.
(GASKELL, 2002, p.79)
No grupo focal, questionou-se primeiramente sobre o surgimento das
empresas de TA no RS. Logo em seguida debateu-se sobre os assuntos
referentes a característica e ao contexto deste seguimento. Depois fez-se uma
253
analise dos fatos ocorridos e posteriormente uma síntese dos períodos pela
qual o RS passou.
A escolha dos procedimentos metodológicos ocorreu em função dos
atributos de cada procedimento de pesquisa, que atendem às necessidades
dos objetivos propostos.
Resultados
Ao longo do estudo identificou-se que existe uma média de 30 empresas
atuantes no mercado e foi percebido que o Turismo de Aventura é dividido em
três segmentos: ar, terra e água; onde em cada um destes ambientes são
realizadas uma série de modalidades, que utilizam técnicas e equipamentos
específicos para minimizar os riscos inerentes a este segmento.
Verificou-se também que o desenvolvimento do Turismo de Aventura no
RS passou por quatro fases distintas: no princípio como um esporte de
“gurizada louca” que praticava atividade radical, posteriormente passou a ser
chamado de Ecoturismo e logo em seguida como aventura até ser definida
como o então Turismo de Aventura.
Nos anos 1980, mais precisamente em meados de 1985 difundia-se uma
série de atividades esportivas praticadas em ambiente natural no Estado do Rio
Grande do Sul, como por exemplo, caminhadas de longo curso, travessias,
escaladas, cavalgadas, vôos e canoagem.
As caminhadas e travessias eram praticadas principalmente na região
dos Aparados da Serra e Serra Geral, local onde atualmente se encontram os
dois principais Parques Nacionais do Estado e um dos mais importantes
atrativos do Brasil. Ali, jovens aventuravam-se nas encostas dos perais31, para
cruzarem de ponta a ponta os maiores cânions do Brasil.
As escaladas, que já ocorriam desde 1950, agora tinham em seus
adeptos um núcleo conciso de praticantes que realizavam diversas atividades
por vários cantos do RS, de norte a sul, conquistando rotas de escaladas e
aprimorando suas técnicas.
31
Perais é um termo utilizado no Estado para designar um grande abismo, como por
exemplo, os cânions.
254
Na cavalgada o Estado tem no sangue esta tradição, mas que agora
tomava outros caminhos realizando travessias e expedições pelos Campos de
Cima da Serra, cruzando rios, vales e montanhas, hospedando-se nas próprias
sedes das fazendas por onde passavam.
Na água através da canoagem, a cidade de Três Coroas se despontava,
criando inclusive competidores olímpicos; que seriam poucos anos depois os
futuros proprietários das primeiras operadoras de TA do RS.
Mas somente por volta do ano de 1998, após o campeonato mundial de
canoagem realizado no Estado, onde a mídia local, nacional e mundial estava
presente, que esta atividade começou a ter respeito e ser reconhecida, tanto
pelo público consumidor, como para os órgãos governamentais.
Outro ponto observado, é que a maioria dos atores, pelo fato de terem
iniciado nesta atividade muito jovens, nunca desempenharam outra atividade
profissional e que suas características de empreendedorismo vieram aflorando
com o passar dos anos, conforme iam crescendo, se especializando e
percebendo as características e tendências de seu campo de atuação.
Em relação a composição sexual do trade, percebesse que 98% dos
atores são homens. Destes 50% são solteiros e os que são casados, suas
esposas não possuem envolvimento nenhum com a atividade.
Analisando a questão referente ao desenvolvimento e aperfeiçoamento
que levaram o Estado a ser reconhecido pela sua competência, identificamos
quatro momentos no contexto histórico do mercado de Turismo de Aventura no
RS, que são eles:
- Primeiro Momento: Surgimento – entre os anos de 1993 a 1997:
Governador Antonio Britto do PMDB. Secretário de Turismo Roberto Oliveira e
Günter Staub ambos do PMDM.
O TA era visto de forma geral como uma atividade oferecida por jovens
“loucos”, sem amparo nenhum dos órgãos governamentais. Onde não
usufruíam de ofertas de equipamentos, nem de capacitações específicas, onde
tudo era realizado empiricamente. No meio turístico as agências eram fechadas
para eles, mas a mídia lhes dava uma grande atenção – o que fomentava a
procura destas atividades por pessoas que queriam experimentar novos
desafios. As dificuldades encontradas eram a aquisição de equipamentos;
padrões de treinamento, capacitação e captação de público.
255
- Segundo Momento: Desenvolvimento – entre os anos de 1998 a 2001:
Governador Olívio Dutra do PT. Secretário de Turismo Milton Zuanazi do PDT
e depois PT.
O segmento começava a apresentar um diálogo com a instituição
governamental, mas seguia sem possuir abertura do meio turístico. Em
compensação começava a ter uma certa oferta de equipamentos e acesso a
informações referentes a capacitação além de passar a ser visto como algo
não tão radical. Por outro lado a mídia começava a se fechar.
- Terceiro Momento:
Estruturação – entre os anos de 2001 a 2005:
Governador Germano Rigotto do PMDB. Secretário de Turismo Luiz Augusto
Lara do PTB.
O trade começa a se organizar, é reconhecido oficialmente pelo Estado,
mas passa por um grande abre e fecha de empresas; as agências de turismo
começam a se abrir, mas a mídia segue se fechando.
Neste momento o diálogo entre as próprias empresas começa a se
aprofundar, inclusive pela convivência crescente
através dos eventos que
vinham participando.
- Quarto Momento: Consolidação – entre os anos de 2005 a 2008:
Governadora Yeda Crusius do PSDB. Secretário Luiz Augusto Lara e Heitor
Gularte, ambos do PTB.
O público está bem mais familiarizado com estas atividades, as
empresas e proprietários já não são mais vistos como “loucos” e sim como
profissionais, com grande acesso a equipamentos e capacitação, e as agências
começam a se especializar e uma série de medidas são tomadas para a
consolidação deste segmento.
Ou seja, podemos dizer que o surgimento do Turismo de Aventura no
RS, ocorreu no momento que foi aberta a Raft Adventure em 1993 na cidade
de Três Coroas.
O seu desenvolvimento se deu com a ocorrência dos campeonatos de
canoagem realizados em 1996 e 1997, também na cidade de Três Coroas.
A sua estruturação foi a partir da realização da I Oficina Estadual de
Turismo de Aventura em 2001 na Cidade de Osório.
256
E por fim a sua consolidação se deu através da assinatura da lei
12.228/05 em 2005, quando o segmento passou de fato a ser reconhecido
pelos órgãos competentes.
Ao analisar o contexto do TA no RS, percebemos que os segmentos AR,
TERRA e ÁGUA, possuem algumas atividades paralelas bem definidas em
cada grupo, vejamos:
AR: As pessoas que trabalham com a atividade de vôo, atuam
também como professores de vôo.
TERRA: As pessoas que trabalham com terra, atuam também
com Alpinismo Industrial – alguns como professores de escalada, mas são a
minoria.
ÁGUA: As pessoas que trabalham com água, atuam, também, em
uma série de atividades, relacionadas a vários âmbitos, que vão desde escola
de canoagem, realização de campeonatos e eventos esportivos, empresas de
turismo, e, também, em segmentos que nada tem a ver com o esporte.
Outra observação realizada ao longo dos anos é que são todos muito
profissionais e competentes, mas também são muito “loucos”; em vários
sentidos, mas não no de irresponsabilidade.
Talvez isto seja referente ao alto grau de responsabilidades que tem em
suas mãos durante o “horário comercial”, pois estão a todo momento com a
vida de pessoas em suas mãos, e que quando acaba o horário de trabalho,
necessitam extravasar a tenção contida ao longo do dia.
Referente a isto o pesquisador notou que existem alguns estereótipos
bem definidos ligados ao que cada um dos grupos possuem, dependendo das
atividades que realizam – mas que não serão lincadas aqui – pois existem
aquele grupo que é o mais quieto, o outro que é o mais festeiro, também
aquele que é o mais beberrão, dentre outros ainda existentes, criando assim
uma interessante área de estudo para o campo da psicologia.
Algumas das ações desenvolvidas pelos atores do Turismo de Aventura
do Rio Grande do Sul merecem destaque:
- I Oficina de Turismo de Aventura do Rio Grande do Sul em 2001.
- Entrega de carta de intenções ao Secretário de Turismo em 2003.
- Comitê Técnico de Turismo de Aventura de realizado em 2004.
- Assinatura da lei Estadual em 2005.
257
- Cursos de Instrutores de Turismo de Aventura em 2005.
- II Oficina de Turismo de Aventura em 2006.
- Cursos de Condutores de Turismo de Aventura em 2008.
Para uma comparação desta cronologia vivenciada no Estado, foi
copiado abaixo, uma linha do tempo do Turismo de Aventura no Brasil, extraída
do documento digital do Ministério do Turismo, apresentado em uma reunião
juntamente com o trade, onde passa uma rápida idéia desta atividade no Brasil:
- 1990: Crise no Setor devido ao Governo Collor.
- 1992: Acontece a ECO 92 e sociedade volta-se ao meio ambiente.
- 1993: Cresce o número de prestadores de serviços.
- 1994: Boom no segmento, multiplicação das empresas de TA.
- 1995: Início da ocorrência mais freqüente de acidentes envolvendo
praticantes do Turismo de Aventura.
- 1996: Criação do primeiro grupo voluntário de busca e salvamento.
- 1998: Formalização das empresas de TA.
- 1999: Realização da primeira Adventure Sport Fair em SP.
- 2000: Declínio na demanda por serviços de TA nos pólos.
- 2001: Realização da Oficina Nacional em Caeté.
- 2003: Criação do GETA – Grupo de Empresários de Turismo de
Aventura começa a definição do marco regulatório para o setor de Turismo de
Aventura pelo Ministério do Turismo.
- 2004: Criação da ABETA – Associação Brasileira de Empresas de
Turismo de Aventura.
- 2006: Processo de normatização em curso, elaboração de normas
transversais e relativas a algumas das atividades de aventura.
- 2007: Início Programa Aventura Segura.
Podemos perceber que esta cronologia da realidade nacional do
Turismo de Aventura, de maneira geral e salvo algumas exceções, aplica-se
completamente a realidade do Rio Grande do Sul e também aos períodos que
o ele passou durante todos estes anos.
Conclusão
Como podemos perceber, o Turismo de Aventura é um segmento novo,
técnico e de múltiplas áreas envolvidas; ou seja, é necessário que as pessoas
258
envolvidas nesta atividade, tenham uma série de conhecimentos específicos,
além dos tradicionais do turismo.
Notasse que apesar de ser recente, ao comparar com outros segmentos,
já possui um elevado grau de organização e profissionalização de seu trade,
principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, que já possui um grande
caminho percorrido com esta preocupação.
Ao analisar a pesquisa realizada no Rio Grande do Sul sobre o Turismo
de Aventura, percebesse o quão interessante seria se outros Estados
tomassem
esta
iniciativa
e
realizassem
um
estudo
semelhante.
O
conhecimento sobre este segmento em sua região seria ampliado, trazendo
dados muito pertinentes, auxiliando assim na prospecção futura sobre o
mercado e seus comportamentos, podendo identificar suas vocações e
necessidades, auxiliando assim para que se estruturarem adequadamente para
o atendimento organizado e seguro de pessoas em suas regiões.
Somente assim, estudando, identificando e analisando as características
e princípios de cada segmento poderemos ter um maior conhecimento das
atividades que estão surgindo e fazendo parte da cadeia turística.
Desta maneira, serão beneficiando os empreendedores que terão
maiores condições de investir em um empreendimento tendo o conhecimento
sobre ele; para seus colaboradores que poderão indicar e auxiliar de forma
correta os consumidores na hora de realizar suas compras, bem como os
clientes que estarão mais informados sobre as características e peculiaridades
de cada segmento, tendo assim a clareza e certeza de estarem adquirindo um
produto que realmente satisfaça suas necessidades e concretize seus sonhos.
REFERÊNCIAS
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e som – Um Manual Prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis,
RJ:Vozes, 2002.
BERVAN, Pedro Alcino; CERVO, Amado Luiz. Metodologia Cientifica. 5 ed.
São Paulo: Prentice Hall, 2002.
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BRASIL Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade, Diretoria
de Áreas Protegidas. Diretrizes para visitação em unidades de conservação.
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261
ATIVIDADES FÍSICAS DE AVENTURA NA NATUREZA E SAÚDE:
REPRESENTAÇÕES DE ACADÊMICOS INGRESSANTES EM UM CURSO
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Michel Binda Beccalli
Escola Superior São Francisco de Assis – ESFA/NUAr
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/PPGEF
Bolsista CAPES
E-mail: [email protected]
Resumo
O presente estudo objetivou identificar e refletir sobre as representações
acerca da saúde e das AFAN, bem como a relação entre ambas, através da
utilização de questionário com questões abertas, aplicados aos acadêmicos
ingressantes no curso de Educação Física da Escola Superior São Francisco
de Assis, demonstrando que tais representações encontram-se fortemente
permeadas por um caráter biológico, embora haja indícios de que esse quadro
tem se modificado timidamente, apontando para a carência de
discussões/reflexões acerca da temática proposta, tanto no âmbito acadêmico
quanto para além deste.
Palavras-chave: AFAN, saúde, representações.
Uma breve aproximação com a temática
A saúde tem sido amplamente debatida no atual contexto, independente
da concepção que se tenha acerca desta. Devido a tais discussões, ações
preventivas tem ganhado expressividade no âmbito da dita Saúde Pública.
Contudo, deve-se levar em consideração que o entendimento que se tem
acerca da saúde carece de atenção e, portanto, de ser (re)pensado, uma vez
que a compreensão que se tem acerca desta se embasa no conceito de
doença, ou seja, a compreensão da saúde só é possível, teoricamente, se
vinculado ao conceito de doença, sendo antagônico a esta.
Embora a Organização Mundial de Saúde tenha dado um importante
passo no sentido de assumir que a saúde transcende a doença, foi na I
Conferência Internacional Sobre Promoção de Saúde que mudanças
significativas acerca da compreensão de tal conceito começaram a se
manifestar, embora timidamente disseminadas. A partir desse encontro, foi
produzido um documento conhecido como Carta de Ottawa (WHO, 1986) que
aponta para paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema
saudável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade enquanto pré-
262
requisitos básicos para a saúde, a qual deve ser entendida enquanto instância
independente e não-antagônica a doença.
Nesse contexto, cabe ressaltar que, embora a discussão acerca da
saúde se apresente longitudinalmente, a disseminação de tais concepções é
dificultada, visto que vivemos em uma sociedade com moldes capitalistas,
baseada no consumismo exacerbado, os quais transformam o setor dito de
saúde – sendo essa a máscara assumida pelo que se poderia compreender por
“setor doença”, conforme apontado por Lefévre e Lefévre (2007) – e a própria
saúde – compreendida de maneira reducionista – em mercadoria, através da
aquisição de produtos e serviços. Um dos meios para sustentar e potencializar
esse nicho de mercado é a mídia, através da publicidade que, de acordo com
Moreno (2008, p.8)
[...] capta os desejos do público e desenvolve campanhas que
captam a atenção, sensibilizam, emocionam. Os cidadãos e
cidadãs, reduzidos à dimensão de consumidores, introjetam
esses elementos e os transformam em aspiração.
Ainda segundo a autora, tais estratégias constroem o que seria um ideal
de beleza, o qual
[...] cria um desejo de perfeição, introjetado e imperativo.
Ansiedade, inadequação e baixa auto-estima são os primeiros
efeitos colaterais desse mecanismo. Os mais complexos
podem ser a bulimia e a anorexia, além de grande parte do
orçamento familiar gasto em produtos e serviços ligados à
estética. Moreno (2008, p. 13)
Para além do exposto, é necessário destacar que a mercantilização da
saúde é acompanhada por um processo de culpabilização do indivíduo por
seus próprios hábitos e, portanto, por sua saúde, ou seja, o indivíduo se torna
responsável por sua saúde através de seus hábitos de vida, sendo
desconsiderada a influência social e ambiental presente na construção de tais
hábitos, as quais são caracterizadas por um discurso (neo)liberal que encontra
maneiras silenciosas de vigilância constante dos indivíduos, bem como de
263
indução de comportamentos a partir de um discurso normativo silencioso e que
se torna “invisível” pelo excesso.
Frente e tal realidade, nota-se uma necessidade de se (re)pensar o
conceito de saúde em todos os âmbitos, inclusive no tangente ao ambiente
escolar e, consequentemente, a Educação Física Escolar. Nesse momento,
deve-se voltar as atenções para as Atividades Físicas de Aventura na Natureza
(AFAN) enquanto uma possibilidade, no ambiente escolar, de desenvolvimento
de
reflexão
crítica,
objetivando
fomentar
um
ambiente
propício
ao
reconhecimento e desenvolvimento de saberes necessários à construção de
uma autonomia, no sentido de reflexão crítica, voltada para a promoção de
saúde ao invés de prevenção de doenças. Cabe, ainda, ressaltar que o
conceito de Promoção de Saúde tratado nesse estudo se embasa nas idéias
de Lefévre e Lefévre (2007) e Lefévre (1999) ao considerarem-na como uma
proposta de um novo olhar sobre a realidade e os meios de produção de nossa
sociedade, sugerindo um aprofundamento na compreensão das relações entre
sociedade, saúde e doença. É necessário, ainda, destacar que o processo de
ensino-aprendizagem é compreendido a luz de Freire (2009) e Morin (2000)
como um espaço dotado de influências múltiplas e, portanto, complexo, e a
relação entre Educação Física e Saúde é compreendida de acordo com
considerações de Carvalho (2004) e, principalmente, Gomes (2009) ao tratar
de tal relação a partir da análise da influência dos conselheiros modernos para
a educação do indivíduo saudável, analisados a partir da vertente acadêmica e
da vertente midiática.
Assim sendo, a formação docente em Educação Física carece de
estudos mais aprofundados, no sentido de verificar as inter-relações entre as
representações acerca da saúde e das relações destas com as AFAN, visando
(re)pesá-la e (re)significá-la através da sensibilização dos acadêmicos em
formação inicial para as questões apresentadas até então.
Objetivos
O presente estudo tem como objetivo geral identificar e refletir sobre as
representações acerca da saúde e das AFAN, bem como a relação entre
ambas.
264
A partir do objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram
estabelecidos:
•
Identificar as representações dos acadêmicos ingressantes no
curso de Educação Física da Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA),
referente ao semestre letivo 2010/1, acerca da saúde e das AFAN, bem como
as inter-relações entre estas;
•
Analisar as representações supracitadas, estabelecendo inter-
relações entre estas, bem como tecendo considerações e reflexões acerca
destas;
•
Tecer considerações e reflexões acerca da formação docente no
âmbito da saúde, com ênfase nas possibilidades apresentadas pelas AFAN.
Metodologia
Caracterização metodológica
Em relação a abordagem esse estudo se caracteriza como qualitativo,
pois
[...] trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.(MINAYO, 2002)
Em relação aos objetivos, esse estudo é exploratório e explicativo, uma
vez que proporciona maior familiaridade com o material com vistas a torná-lo
explícito ou construir conceitos e novas abordagens de utilização. Em relação
aos procedimentos técnicos esse estudo se constitui enquanto pesquisa de
campo.
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário
composto por questões abertas.
O público-alvo deste estudo é composto por acadêmicos ingressantes
no curso de Educação Física, modalidade Licenciatura, da Escola Superior São
Francisco de Assis (ESFA) cursando a disciplina de Práxis dos Esportes de
Aventura.
Foram identificadas e analisadas as representações acerca da saúde e
das AFAN, bem como a relação entre ambas, através do uso de questionário,
aplicado ao público-alvo do estudo, no início do semestre letivo referente a
265
2010/1, entre os dias 22 e 25 de fevereiro de 2010, com vistas a estabelecer
relações entre as representações e tecer considerações e reflexões acerca da
formação docente.
Para a análise de dados foi contemplada a análise de conteúdo proposta
por Minayo (2002)
Apresentação e Discussão dos dados
A categorização dos dados se deu a partir do agrupamento em eixos
temáticos que permeiam as discussões a serem apresentadas, a saber:
representações no campo da saúde; representações no campo da Educação
Física; representações acerca das AFAN; e
A opção por esse tipo de agrupamento se deu a partir das categorias
obtidas através dos questionários, bem como de temas recorrentes durante a
análise de dados que pudessem proporcionar maiores esclarecimentos acerca
da problemática proposta pelo estudo.
Representações no campo da Educação Física
Embora não seja objetivo
desse estudo
realizar uma análise
aprofundada acerca das representações no campo da Educação Física, tal eixo
foi elencado a partir da compreensão das influências que tais representações
possam desempenhar nas demais, portanto, foi realizada apenas uma breve
caracterização da temática.
Na década de 1980 instituiu-se uma espécie de crise de identidade na
Educação Física, abordada por Bracht (2003), a qual nos remete a um
(re)pensar constante de nossa prática profissional. Contudo, se focarmos a
imagem presente no imaginário social acerca da Educação Física, percebemos
que esta tem sido vista de maneira precária e reducionista, no sentido de ser
compreendida como estudo do movimento humano em diversos contextos,
principalmente no esportivo. Tais elementos são explicitados em falas como
“Educação Física é o estudo do corpo humano, prática de esporte, lazer”;
“[Educação Física] é o estudo sobre esportes em geral”.
A partir de tal caracterização, pode-se perceber alguns indícios de
alguns elementos que podem permear as temáticas analisadas na seqüência
como, por exemplo a visão esportivista e regulamentadora da Educação Física,
no sentido de legitimar ou negar determinadas práticas corporais.
266
Representações no campo da saúde
As representações apresentadas pelos acadêmicos ingressantes no
curso de Educação Física demonstram que a saúde é vista de maneira restrita,
com ênfase ao caráter eminentemente biológico do ser humano, apontando
para a prática de atividade física, principalmente em seus moldes esportivistas,
para que se obtenha saúde, demosntrando o atrelamento da atividade física à
saúde para o qual Yara Carvalho (2004) faz um alerta, no sentido de
buscarmos perceber as influências que nos levam a realizar tal vinculação,
bem como a possibilidade de tal vinculação nem sempre se constituir,
efetivamente, enquanto válida.
É fundamental destacar que a idéia de se obter saúde está atrelada a
uma mercadorização desta, transformando-a em um bem, o qual se tem ou não
se tem, conforme nos alerta Lefévre (1999).
Embora tal representação tenha sido expressiva (representando cerca
de 92% do público-alvo), sendo recorrentes falas como, por exemplo, “saúde é
estar bem com seu corpo, bem com seu peso e forma física, comendo de tudo
de forma moderada e se exercitando regularmente” faz-se necessário citar que
8% dos entrevistados deixam indícios de uma “compreensão ampliada” no que
diz respeito à saúde. Tal fato pode ser observado na fala que segue: “Saúde é
estar bem com o seu corpo, com seu organismo sem mal estar, sem dores e
principalmente sem tristeza; saúde é estar feliz”
Nota-se que os indícios apontam para a eliminação de angústias, as
quais são características de nosso modelo social, bem como de nosso tempo,
através da intervenção dos chamados “conselheiros modernos”, tratados por
Gomes (2009), os quais atrelam um determinado padrão estético e de estilo de
vida a um ideal de felicidade.
Ainda na perspectiva de Gomes (2009) pode-se inferir que a eliminação
das angústias pode estar atrelada a um excesso de escolhas com as quais os
indivíduos se defrontam no cotidiano. São muito presentes (72% dos
entrevistados) falas que deixam transparecer o papel central do indivíduo em
relação a suas escolhas e condutas frente a sua saúde, como, por exemplo,
“saúde é cuidar de si mesmo, estar de bem com os outros e consigo mesmo. É
levar uma vida correta [...]”; e “[...] não basta você ter saúde e não saber cuidar
[...]”.
267
Tal realidade não distoa das constatações feitas por Beccalli e Silva
(2009), em estudo realizado com turmas de Ensino Médio, no sentido da
dificuldade de se transcender o discurso normativo acerca da saúde presente
no imaginário social, apontando para as AFAN como uma possibilidade, nesse
sentido. Porém, o estudo supracitado demonstrou que é possível modificar as
representações acerca da saúde a partir de intervenções que utilizem as AFAN
como meio, embora não devamos desconsiderar que deve haver cautela na
utilização das destas atividades, no ambiente educacional, enquanto meio,
para que não haja restrição destas a um caráter predominantemente utilitarista.
Representações acerca das AFAN
As AFAN foram caracterizadas majoritariamente (64%) como atividades
com dispêndio energético praticadas em ambientes naturais. Talvez esse fato
se deva a uma análise semântica do termo ou a uma recorrência ao conceito
que circula no imaginário social, podendo ser observado em falas como “[as
AFAN] São atividades físicas praticadas em ambientes naturais”; “[...] são
atividades realizadas, como o próprio nome já diz, na natureza, com a
finalidade de diversão [...]”. Na última fala destacada, pode-se perceber a
relação estabelecida entre as AFAN e a informalidade inerente a sua prática,
por não assumir caráter performático e/ou competitivo.
Cabe ressaltar, ainda, que as AFAN foram citadas pelos 36% restantes
da pesquisa como uma maneira de fugir do estresse presente na vida
cotidiana,
inerente
à
modernidade.
Cabe
ressaltar
que
o
contato
eminentemente acadêmico do público-alvo deste estudo com as AFAN está em
fase inicial de construção, o que talvez contribua para a presença fortemente
marcada por traços do imaginário social.
Inter-relações AFAN e saúde
A partir desse eixo temático, foi possível perceber a forte presença de
contribuições das AFAN no campo da saúde a partir de benefícios
eminentemente bio-fisiológicos, embora 16% dos pesquisados tenham
apontado para benefícios na esfera psicológica através de falas como “[as
AFAN] ajudam a fugir do estresse do dia-a-dia. Você sente um bem-estar muito
grande quando pratica essas atividades”.
Embora nosso meio nos conduza a uma restrição de compreensão
acerca da saúde a moldes biológicos, a transcendência desse cerceamento é
268
fundamental para que se compreenda o meio social no qual vivemos. Estudos
como o de Beccalli e Silva (2009) tem apontado para as AFAN como um meio
para que ser humano e ambiente se (re)aproximem, através da (re)criação de
laços de identificação e sensibilização dos indivíduos para as questões
levantadas; e para que a saúde seja tratada de maneira holística nesse
contexto. Contudo, deve-se ponderar que, embora fundamental, a discussão
acerca das AFAN e suas influências no âmbito da saúde não devem restringirse ao meio acadêmico, havendo necessidade de transcendência para os mais
diversos meios, inclusive, o ambiente escolar.
Talvez a restrição das relações das AFAN no âmbito da saúde tenham
se apresentado de tal maneira por uma restrição presente na compreensão
acerca da saúde, conforme apresentado anteriormente. Contudo, é necessário
ressaltar que a formação acadêmica do público-alvo deste estudo ainda se
encontra em fase embrionária e, portanto, fortemente marcada pelas
construções realizadas a partir da Educação Básica, a qual precisa ser
repensada, principalmente no tangente à Educação Física.
Considerações finais
Ainda são raros estudos que busquem compreender as relações entre
as AFAN e a saúde e acreditamos ser necessário que se compreenda como as
representações aqui evidenciadas se desconstroem e se (re)constroem através
da formação inicial, bem como a concretização de tais concepções no
ambiente da práxis educativa, no espaço escolar e para além deste.
As discussões acerca da saúde ainda carecem de atenção no ambiente
acadêmico, bem como contextualizações desse tipo de discussão nos mais
diversos
âmbitos,
inclusive
no
tangente
à
Educação
Física
e,
conseqüentemente, às AFAN.
As representações acerca da saúde, bem como das AFAN é fortemente
marcada pelo discurso presente no imaginário social e que talvez possa ser
atribuído a uma discussão/reflexão deficitária das AFAN no ambiente escolar e
para além deste. A formação inicial pode representar um obstáculo em relação
a esse ponto destacado, visto que a inclusão das AFAN na matriz curricular
dos cursos de Educação Física no estado do Espírito Santo ainda se
manifestam de maneira embrionária. Cabe ressaltar, também, o papel
269
fundamental do professor de Educação Física, o qual não deve limitar-se ao
espaço e aos materiais que possui disponíveis para sua intervenção no espaço
escolar, camuflando-se através da máscara da falta de apoio e materiais
enfrentada no ambiente escolar. Contudo, não se quer transferir a
responsabilidade única e exclusivamente ao professor, visto que esse
necessita de apoio da comunidade escolar e dos órgãos governamentais para
potencializar sua prática. Ou seja, o professor deve exigir condições mínimas
para que possa atuar no ambiente escolar, porém, não deve cercear sua
atuação pelos limites que lhe são impostos.
Embora este estudo se limite a verificar as representações em voga em
acadêmicos
ingressantes
no
curso
de
Educação
Física,
carece
de
continuidade, no sentido de verificar as influências sofridas por estas – caso
haja alguma – durante o processo de formação inicial. Portanto, as reflexões
apresentadas não visam limita-se ao já alcançado, mas transcendê-las para
que se tenha uma compreensão mais aprofundada da temática, ou seja,
representa um primeiro passo de um logo caminho a ser trilhado.
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Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Ministério da Saúde/IEC, Brasília.
271
OS ESPORTES DE AVENTURA DA ESCOLA: O SLACKLINE
Eliete Maria Silva Cardozo
Universidade Estácio de Sá – RJ – Brasil
Julio Vicente da Costa Neto
Universidade Estácio de Sá – RJ – Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
A partir do cenário esportivo da atualidade observamos que os esportes
de aventura circulam na cultura brasileira fazendo parte do imaginário das
crianças, jovens e adolescentes que frequentam as escolas e,
consequentemente, podem estar inseridos no grupo de esportes desenvolvidas
nas aulas de Educação Física escolar. Dentre os esportes de aventura
optamos por estudar o slackline, um esporte que se realiza em suspensão,
tendo como objetivo que o praticante se desloque em equilíbrio sobre uma fita
esticada na horizontal, ancorada em dois pontos diferentes, distante do solo.
Os objetivos da pesquisa estão relacionados a conhecer os sentidos da prática
do slackline nas aulas de Educação Física escolar e relacionar a prática do
slackline com os conteúdos da Educação Física escolar. O estudo tem o perfil
de pesquisa descritiva e de abordagem qualitativa e a amostra do estudo é
formada por um grupo de 40 alunos, do primeiro ao quinto ano, lotados em
duas escolas do Ensino Fundamental, da rede pública e privada, localizadas na
Zona Oeste e Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. A primeira etapa da
coleta de dados está relacionada à prática do slackline com os conteúdos
sugeridos para este período do Ensino Fundamental. A segunda etapa, ainda
em andamento, consta do registro de expressões que os alunos utilizam para
representar os seus sentimentos no momento da prática. Para relacionarmos a
prática do slackline com os conteúdos sugeridos para este período do Ensino
Fundamental utilizamos como referência as habilidades motoras, sociais,
afetivas, intelectuais, perceptivas e simbólicas, apresentadas na Reorientação
Curricular de Educação Física (2006). No que diz respeito aos aspectos
motores identificamos que a prática do slackline inclui as habilidades motoras
de deslocamento e de estabilização. Os aspectos sociais marcaram a sua
presença com a cooperação entre os participantes. Nos momentos iniciais
discutimos temas como a agressividade e violência, posteriormente passamos
a identificar traços de fraternidade e confiança. Os aspectos intelectuais se
sobressaíram ao criarem táticas e recorrerem aos diálogos. As noções de
tempo, espaço e do próprio corpo trouxeram a presença das habilidades
perceptivas e, conforme amadureciam, a imaginação começou fluir. O slackline
desenvolvido nas aulas de Educação Física escolar contribui para estimular o
desenvolvimento das habilidades motoras, sociais, afetivas, intelectuais,
perceptivas e simbólicas, atende aos interesses, desejos e necessidades dos
alunos, em consonância com os conteúdos específicos das séries
pesquisadas. É papel do professor identificar as atividades que circulam entre
os diferentes grupos culturais, avaliá-las, relacioná-las com a realidade escolar,
discutir com seus alunos e experimentar aquelas que forem consideradas
adequadas para o momento. Nesse sentido, percebemos que o slackline é um
272
esporte relaltivamente novo, começa a fazer parte da cultura do carioca, os
alunos demonstram interesse em praticá-los durante as aulas de Educação
Física.
Palavras-Chave: Slackline, Educação Física escolar, Esportes de Aventura da
Escola.
Introdução
A transformação social ocorrida com o progresso científico e tecnológico
mostra que há uma mobilidade que conduz as pessoas a viajarem,
aproveitando-se de todas as oportunidades que surgem para fugir do cotidiano.
Curtas ou longas escapadas em fins de semana, feriados ou férias, acontecem
como se obedecessem a um chamado, seja da indústria cultural do lazer ou de
um desejo de errância32, como sede do infinito (MAFFESOLI, 2001).
Essas viagens de lazer parecem acontecer no dias atuais como uma
tendência de aproximar o homem da natureza, como pode ser visto em Da
Costa (1997), quando nos diz que “o retorno à ordem universal da natureza,
antes postulada por Rousseau como um reencontro do homem consigo
mesmo, tem se revigorado nas últimas décadas no interior do próprio
conhecimento científico” (p. 62).
Assim, a idéia de sair da rotina do estudo ou do trabalho sugere que os
sujeitos busquem diferentes caminhos para atenderem a esse chamado. O
homem contemporâneo demonstra ter experimentado uma vida que não
permitiu a fruição de seus desejos e prazeres, limitando a sua capacidade
sensível. O prazer de consumir, que passou a ocupar parte da vida do homem,
parece não lhe satisfazer tanto; por isso, emerge o desejo de romper com a
sociedade moderna, que organizou a sua vida racional e mecanicamente, e
buscar o imaterial em diferentes caminhos (CARDOZO, 2006).
Atualmente, surgem pistas de que o sentido de ocupar o tempo livre se
desloca parcialmente para o esporte de aventura, repleto de sentidos lúdicos,
que passa a ser uma tendência de vários grupos de diferentes lugares do
planeta. Esses aventureiros transgridem os limites possíveis, confiando na sua
32
Para Maffesoli (2001), errância é a expressão de uma outra relação com o outro e com o
mundo, menos ofensiva, mais carinhosa, um tanto lúdica, e seguramente trágica, repousando
sobre a intuição da impermanência das coisas, dos seres e de seus relacionamentos.
273
capacidade de fazer e, por fim, resplandecer de excitação e prazer na sua
realização (COSTA, 2000).
A partir do cenário esportivo da atualidade observamos que os esportes
de aventura circulam na cultura brasileira, fazendo parte do imaginário das
crianças,
jovens
e
adolescentes
que
frequentam
as
escolas
e,
consequentemente, podem estar inseridos no grupo de esportes desenvolvidas
nas aulas de Educação Física escolar. Alguns documentos indicam pistas que
respaldam esta inserção, como a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997, 1998), a Multieducação: O ensino de Educação Física (SME / RJ, 2008),
entre outros.
Nesse sentido passa a ser importante nos aproximaremos dos conceitos
de esportes de aventura, esportes radicais e esportes na natureza, com a
intenção de construirmos o cenário dos esportes de aventura no espaço da
escola.
Segundo Manuel Gomes Tubino, Fábio Mazeron Tubino e Fernando
Antonio Cardoso Garrido, no Dicionário Tubino do Esporte, publicado no ano
de 2007, mostram que os esportes de aventura, na natureza e radicais são
entendidos como:
Esportes de Aventura - são modalidades esportivas que se
caracterizam pelo controle de grandes desafios relacionados a
perigos, que são impostos aos praticantes por causa das
incertezas pertinentes ao desenvolvimento das mesmas. O risco
é uma das características marcantes dos esportes de aventura,
são praticados na terra, água, ar, gelo/neve. Em todos os locais
de suas práticas necessita-se de material adequado para a
segurança e o desenvolvimento do mesmo (p.44).
Esportes na Natureza - é um conjunto de modalidades esportivas
praticadas na natureza, na perspectiva do lazer e do
desempenho, com o compromisso de não prejudicá-la. Pode ser
desenvolvido na terra, montanha, areia, ar, água, neve/gelo. Os
esportes ecológicos, que conduzem os seus praticantes a uma
convivência saudável, de respeito, preservação, para que se crie
um vínculo entre ser humano e a natureza conscientizando aos
seus usuários a importância da mesma para a vida humana
(p.45).
274
Esportes Radicais - são esportes que se caracterizam pela ação
arriscada e manobras arrojadas (radicais). São desenvolvidos
individualmente, embora existam trabalhos em equipe. São
desenvolvidos na terra, ar, água, neve e gelo (p.45)
.
Esses autores fazem a distinção entre Esportes de Aventura e Esportes
na Natureza, mas por outro lado encontramos a Resolução n. 18 de 9 de abril
de 2007, do Conselho Nacional de Esportes, não fazendo essa distinção pelo
fato de considerarem os Esportes de Aventura realizados em ambientes
naturais conforme pode ser observado a seguir:
Esporte de Aventura - conjunto de práticas esportivas formais e
não formais, vivenciadas em interação com a natureza, a partir de
sensações e de emoções, sob condições de incerteza em relação
ao meio e de risco calculado. Realizadas em ambientes naturais
(ar, água, neve, gelo e terra), como exploração das possibilidades
da condição humana, em resposta aos desafios desses
ambientes, quer seja em manifestações educacionais, de lazer e
de rendimento, sob controle das condições de uso dos
equipamentos, da formação de recursos humanos e
comprometidas com a sustentabilidade sócio-ambiental.
Esporte Radical - conjunto de práticas esportivas formais e não
formais, vivenciadas a partir de sensações e de emoções, sob
condições de risco calculado. Realizadas em manobras arrojadas
e controladas, como superação de habilidades de desafio
extremo. Desenvolvidas em ambientes controlados, podendo ser
artificiais, quer seja em manifestações educacionais, de lazer e de
rendimento, sob controle das condições de uso dos
equipamentos, da formação de recursos humanos e
comprometidas com a sustentabilidade sócio-ambiental.
Em relação aos Esportes de Aventura desenvolvidos nas aulas de
Educação Física Escolar utilizaremos os termos Esporte de Aventura na Escola
Indoor, Esporte de Aventura na Escola Outdoor e Esporte de Aventura da
Escola (EADE).
O Esporte de Aventura na Escola Indoor acontece no contexto escolar
com a intenção de atender aos conteúdos das aulas de Educação Física,
mantendo a maior aproximação com as suas características e regras oficiais.
275
Por sua vez, o Esporte de Aventura da Escola Outdoor, é
desenvolvido fora do contexto escolar, no seu ambiente natural, com a intenção
de atender aos conteúdos das aulas de Educação Física.
Por fim, o Esporte de Aventura da Escola (EADE) é transformado e
adequado para o contexto das aulas de Educação Física, de acordo com a
cultura local, procurando atender aos interesses, desejos e necessidades do
educando e do contexto escolar, com a intenção de estar de acordo com os
conteúdos das aulas de Educação Física.
A prática dos esportes de aventura começa a se configurar como uma
das oportunidades que os homens possuem de se afastarem, mesmo que
temporariamente, das pressões do cotidiano. A vida moderna é cercada por
normas e regras rígidas, que mantém os acontecimentos rigorosamente
planejados e os compromissos do dia-a-dia aumentam cada vez mais. Todos
têm muitos compromissos e parece que cumprem de forma automática, se
afastando do prazer, do hábito de lidar com as coisas imprevisíveis e usar a
imaginação para solucionar esse imprevisto. Assim, a inclusão desses esportes
nas aulas de Educação Física escolar vai contribuir para que o aluno se afaste
da rotina da escola, que nas últimas décadas não atende muito as suas
necessidades.
Para Le Breton (1996) a aventura “desperta a infância: sonhos
imemoráveis de partida, explorações impensáveis, explorações inusitadas
contrapostas a batalhas imaginárias; desejo de se livrar de si para ascender à
plenitude, à incandescência de existir” (p.10).
No mesmo caminho, o conceito de aventura defendido por Simmel
(1988) está relacionado a uma misteriosa necessidade de o sujeito viver algo
isolado ou acidental, que produz um sentido significativo para si, vinculando-se
à sua essência e transcendendo aos encantamentos racionais da vida. Alerta
ainda o autor que, para essa vivência, é preciso que o sujeito entre em jogo
com o objeto da aventura, que se configura de forma acidental.
O desejo de ser capturado pela aventura que invade as massas e os
indivíduos demonstra ter a intenção de preencher o espaço dos desejos e dos
prazeres reprimidos. Essa aventura rompe com a rotina do sujeito, levando-o a
se emocionar e a se espantar com a história da sua própria vida, com os
276
acontecimentos que o cercam e com os sentidos que passam a fluir no ato da
aventura, com a imaginação criadora (COSTA, 2000).
Podemos perceber que na prática dos Esportes de Aventura o praticante
é despertado por um desejo misterioso de livrar-se de si mesmo, entrando num
espaço desconhecido onde o sujeito e o objeto jogam um com o outro,
arrancando a sorte exterior de sua necessidade interna, um jogo que parece
incitá-lo à busca de si mesmo junto à energia da natureza que envolve o
ambiente natural em que o Esporte de Aventura é desenvolvido.
Esses esportes podem ser praticados em diferentes ambientes naturais,
como ar, a água, a neve, o gelo, a areia e a terra, que se subdividem em
esportes de deslize, imersão, de verticalidade, de suspensão, de exploração e
de vôo.
O nosso estudo apresenta o slackline caracterizado como um esporte
que se realiza em suspensão, tendo como objetivo que o praticante se
desloque em equilíbrio sobre uma fita esticada na horizontal, ancorada em dois
pontos diferentes, distante do solo.
O slackline é um esporte relativamente novo e a partir de conversas com
escaladores, entrevistas apresentadas na Rede Globo de Televisão, na Rede
Sport TV, consultas a sites especializados em slackline, como o Multinauta, o
Slackline.com, Slackline Brasil, Da o Beta, entre outros, identificamos que o
surgimento do slackline ainda encontra-se em pesquisa, mas vale conhecer as
informações constantes no site Multinauta mostrando a existência de indícios
de que:
O Slackline surgiu no ínicio de 1980 com o escalador Adam
Grosowsky, na Califórnia, que, em 1983, acompanhado de Jeff
Ellington, decidiu ancorar uma "fita" de escalada de seu
equipamento em dois pontos distantes na posição horizontal no
"Lost Arrow Spire" a 3000 metros de altura, no entanto não se
arriscaram a executar a travessia. Em 1985, Scott Balcom
realizou a travessia da, já famosa, linha de Slackline.
Contudo, não podemos esquecer as informações que circulam entre os
escaladores. Dizem que o slackline surgiu nos anos 80, na California, em um
momento que não existia condição para a prática da escalada e um grupo de
escaladores esticou suas fitas, fixadas em pontos distintos, utilizando as
277
técnicas de ancoragem e começaram a se equilibrar sobre essas fitas,
descobrindo que estavam treinando para um melhor desempenho no momento
da prática da escala.
O slackline também aparece relacionado à atividade circense conhecida
como “corda bamba”. Mas não importa, seja no picadeiro, entre duas estruturas
de material processado, entre montanhas, sobre um cânion, entre árvores,
sobre o mar, próximo ao solo ou muito distante, o importante é que essa
atividade está conquistando adeptos em todo o mundo.
O material utilizado inicialmente para a sua prática era o mesmo da
escalada, as fitas, os mosquetões, as polias e os blocantes mecânicos para a
execução do sistema para esticar a fita. Com a evolução do esporte foi preciso
maior tensão para a fita e recorreu-se ao aço inoxidável no lugar do alumínio.
Nos dias atuais o kit é formado por duas fitas de fixação reguláveis com fivelas
de inox, uma com a fita tubular de 25 mm / 50 mm com 20 m e a outra com
uma catraca para esticar a fita. Mesmo com toda a evolução do esporte, para
iniciar a prática é possível recorrer aos equipamentos da escalada.
O esporte slackline encontra-se organizado em modalidades e observase uma grande variedade, entre elas selecionamos o trickline, o waterline, o
highline, o yoga slackline, longline e o jumpline.
O trickline é a modalidade que prioriza as acrobacias realizadas sobre
a fita, incluindo diferentes tipos de saltos e é também conhecido por ser o estilo
livre do slackline, o freestyle slacklining. O waterline é realizado com a fita
estendida sobre a água dos rios, lagos ou mares. Por sua vez, o highline, como
o próprio nome sugere, acontece em local muito alto, proporcionando um
risco visível e uma visão panorâmica deslumbrante. Na modalidade yoga
slackline o praticante utiliza sobre a fita as técnicas de meditação e
relaxamento usadas no yoga. O longline se caracteriza por ser realizada numa
fita muito longa. E, por fim, o jumpline, ele utiliza uma corda elástica bem
tensionada, onde o praticante pode executar diferentes tipos de saltos,
inclusive os mortais e lembra as acrobacias realizadas em uma cama elástica.
A movimentação corporal desenvolvida sobre a fita também começa a
ganhar denominação e podemos citar o drop sentado, o jump e o yoga. No
drop sentado o praticante parte da posição sentado na fita para a posição em
pé, e em seguida inicia o seu deslocamento sobre a fita. O jump se caracteriza
278
pela execução de um salto e o retorno ao mesmo ponto de partida. O yoga está
relacionado a executar algumas técnicas do yoga sobre a fita, entre outras
denominações que começam a ganhar espaço.
Apesar de toda a evolução das táticas, das técnicas e dos
equipamentos, característica da velocidade com que as informações circulam
no mundo tecnológico, vivenciar o slackline não é difícil, basta duas árvores no
quintal, o espaço entre elas próximo a cinco metros, cruzar uma fita bem
ancorada, aproximadamente a cinquenta centímetros do solo e em uma tarde é
possível cruzar esse percurso.
Outro ponto que vale ser destacado está relacionado aos sentidos
produzidos a partir da prática do slackline, tanto para os iniciantes quanto para
os veteranos do highline, todos são unânimes em relacionar esse novo esporte
ao desenvolvimento da concentração, do equilíbrio estático e dinâmico, das
técnicas de respiração, da capacidade de se distanciarem dos fatos do
cotidiano, da paz de espírito e tudo isso tendo início com o desafio do
deslocamento sobre a fita.
Face ao exposto, observamos que o slackline passa a fazer parte da
cultura esportiva do brasileiro e surge a necessidade de conhecermos os
sentidos dessa prática esportiva no cotidiano escolar e as possíveis
contribuições para o desenvolvimento dos conteúdos da Educação Física
escolar.
Objetivo
•
Conhecer os sentidos da prática do slackline nas aulas de
Educação Física escolar.
•
Relacionar a prática do slackline com os conteúdos da Educação
Física escolar
Método
O estudo tem o perfil de pesquisa descritiva e de abordagem qualitativa
que, segundo Bauer e Gaskell (2002), “lida com interpretações das realidades
sociais” (p.23). A pesquisa qualitativa busca compreender os significados e as
características das situações apresentadas pelo estudo, apreendendo a
dinâmica e a complexidade dos fenômenos sociais em seu contexto natural
279
(LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Tal procedimento, de acordo com Peña e Echeverry
(2000), possibilita a compreensão do conhecimento cultural, percebendo-o
como uma dimensão ecológica do social, considerando a visão do interior da
trama social e como esta à afeta. O estudo de natureza descritiva visa à busca
do conhecimento de inúmeras situações e relações que ocorrem na vida
sociopolítica-econômica e nos demais aspectos do comportamento humano,
como
de
grupos
e
comunidades,
descrevendo
suas
características,
propriedades e relações existentes.
A amostra do estudo é formada por um grupo de 40 alunos, do primeiro
ao quinto ano do Ensino Fundamental, que freqüentam duas escolas, uma
pública e outra privada, localizadas na Zona Oeste e Zona Sul da Cidade do
Rio de Janeiro.
As atividades tiveram início no mês de abril, uma vez por semana,
intercaladas com as aulas que constavam no planejamento das turmas. A
prática do slackline foi planejada a partir dos princípios do EADE (Esportes de
Aventura da Escola), que segundo Cardozo e Costa Neto (2009) são
entendidos como esportes de aventura reinventados para o contexto das aulas
de Educação Física, de acordo com a cultura local, procurando atender aos
interesses, desejos e necessidades do educando e do contexto escolar, com a
intenção de estar de acordo com os conteúdos das aulas de Educação Física.
O planejamento das atividades de aventura segue as cinco etapas
sugeridas por Cardozo e Costa Neto (2009): a reflexão sobre o meio ambiente,
os equipamentos utilizados, a movimentação básica, a análise do risco e a
prática da atividade.
Na primeira etapa refletimos sobre o meio ambiente, o local em que
iríamos fazer fixação do slackline. As árvores foram protegidas com papelões,
as demais estruturas foram analisadas para não causarmos danos e foram
protegidas de acordo com a necessidade.
Em seguida apresentamos o slackline, uma fita em nylon, de
aproximadamente cinco centímetros de largura e a catraca que faz a tensão da
fita. O equipamento foi manuseado e experimentado por todos os alunos.
Passamos alguns filmes para que conhecessem a história do slackline e
também tivessem a oportunidade de ver alguns praticantes experientes e
280
iniciantes executando a atividade, já que os professores envolvidos na
pesquisa estavam experimentando juntamente com os alunos.
Na terceira etapa iniciamos a progressão pedagógica. Simulamos
situações de equilíbrio estático e dinâmico, explorando o espaço da escola.
Nesse momento utilizamos caminhos de paralelepípedo, bancos, cordas,
pernas de três simulando pontes estreitas e muito mais que a imaginação
permitiu.
A partir dessas experiências começamos a pensar nos riscos que
envolvem a prática do slackline e logo foi identificada a necessidade de forrar
com colchonetes para amortecer as possíveis quedas.
A prática da atividade aconteceu inicialmente com a fita a 50 centímetros
do solo e estamos seguindo a seguinte sequência: experimentar o equilíbrio
sentado com os pés no chão, sentado sem os pés no chão, em pé sobre a fita
apoiando em um colega, em pé sobre a fita recebendo o auxílio para o
equilíbrio, em pé sobre a fita com deslocamento sem auxílio.
A coleta de dados está acontecendo em duas etapas. A primeira etapa
aconteceu durante as duas primeiras semanas de prática, os dois professores
de Educação Física, regentes das turmas, relacionaram a prática do slackline
com os conteúdos sugeridos para este período do Ensino Fundamental. A
segunda etapa, ainda em andamento, é o período em que estão sendo
registradas, em fichas criadas para cada turma, as expressões verbais que os
alunos utilizam para representar os seus sentimentos no momento da prática.
Para relacionarmos a prática do slackline com os conteúdos sugeridos
para este período do Ensino Fundamental utilizamos as habilidades
organizadas em motoras, sociais, afetivas, intelectuais, perceptivas e
simbólicas, conforme consta na Reorientação Curricular de Educação Física
(2006) quando apresenta:
MOTORES - Motores de deslocamento – andar, correr, saltar,
desviar, rolar, girar, abaixar, levantar, contornar, subir, descer e
escorregar. Motores de manipulação – segurar, lançar, chutar,
bater, rebater, equilibrar, apertar, afrouxar e tocar. Motores de
estabilização – equilibrar-se, ficar em pé, ficar deitado, ficar
agachado, apoiar-se e imobilizar-se. Motores desportivos –
desarmar, driblar, fintar, cabecear, passar, finalizar, conduzir,
antecipar e controlar.
281
SOCIAIS - Cooperar, solidarizar-se, organizar grupos, discutir
temas, competir e construir regras.
AFETIVOS - Amor, altruísmo, agressividade, violência,
fraternidade e confiança.
INTELECTUAIS - Táticas, diálogos, teorias, textos, tomada de
consciência da prática, imitações e criações.
PERCEPTIVOS - Sensibilidade, noção de tempo, noção de
espaço e noção do próprio corpo.
SIMBÓLICOS – Imaginação (p. 190).
Os dados da segunda etapa, registro das expressões verbais que os
alunos utilizam para representar os seus sentimentos no momento da prática,
serão analisados seguindo a técnica da Análise do Discurso. Recorremos ao
método de Análise do Discurso (AD) proposto por Orlandi (2001), procurando
conhecer os nossos alunos como sujeitos que possuem uma linguagem própria
e uma história que tem início nos primórdios de nossos ancestrais.
O discurso é entendido por Orlandi (2001), de forma etimológica, como
tendo em si “a idéia de curso, de percurso, de correr por e de movimento. O
discurso é, assim, palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo
do discurso escuta-se o homem falando” (p.15). Portanto, o aluno para
discursar utiliza-se de um sistema de signos e regras formais, organizando sua
comunicação verbal através da linguagem, fazendo a mediação entre ele
mesmo e a realidade natural e social. Por sua vez, a AD vai compreender a
linguagem como produtora de múltiplos sentidos, carregada de significado (sua
parte invisível, indizível), levando em conta o homem e sua história.
Resultados
Parte da coleta de dados está em andamento e apresentaremos apenas
os resultados da primeira etapa, a relação da prática do slackline com os
conteúdos sugeridos para este período do Ensino Fundamental.
No que diz respeito aos aspectos motores identificamos que a prática do
slackline inclui as habilidades motoras de deslocamento e de estabilização. As
habilidades motoras de deslocamento que mais se aproximaram da atividade
estão relacionadas ao andar, saltar, girar, abaixar, levantar, contornar, subir e
descer. Por sua vez, equilibrar-se, ficar em pé, e ficar agachado foram
destacados nas habilidades de estabilização.
282
Os aspectos sociais marcaram a sua presença a partir do momento em
que surgiu a necessidade de um aluno ajudar o outro para iniciar o equilíbrio
sobre a fita, ficando evidente que sem a cooperação dos participantes a
atividade não aconteceria. Em seguida foram construídas regras para que a
atividade fluísse em harmonia e todos pudessem usufruir dos benefícios.
Nos momentos iniciais discutimos temas como a agressividade e
violência de alguns alunos, mas as dificuldades para executar de forma
adequada a passagem sobre a fita, que surgiam a cada tentativa, contribuíram
para que as atenções ficassem voltadas para a atividade e passamos a
identificar traços de fraternidade e confiança.
Os aspectos intelectuais se sobressaíram com a tomada de consciência
das dificuldades encontradas para atravessar a fita, criaram táticas, recorreram
aos diálogos, imitaram uns aos outros e criação começou a fluir.
As noções de tempo, espaço e do próprio corpo trouxeram a presença
das habilidades perceptivas e, conforme amadureciam, a imaginação começou
fluir e chegaram a imaginar que estavam atravessando de uma grande
montanha a outra.
Conclusão
O slackline desenvolvido nas aulas de Educação Física Escolar contribui
para estimular o desenvolvimento das habilidades motoras, sociais, afetivas,
intelectuais, perceptivas e simbólicas, atende aos interesses, desejos e
necessidades dos alunos, em consonância com os conteúdos específicos das
séries pesquisadas, de acordo com a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997, 1998) e a Multieducação: O ensino da Educação Física (SME / RJ,
2008).
É papel do professor identificar as atividades que circulam entre os
diferentes grupos culturais, avaliá-las, relacioná-las com a realidade escolar,
discutir com seus alunos e experimentar aquelas que forem consideradas
adequadas para o momento. Nesse sentido, percebemos que o slackline é um
esporte relaltivamente novo, começa a fazer parte da cultura do carioca e os
alunos demonstram interesse em praticá-los durante as aulas de Educação
Física.
283
REFERÊNCIAS
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Acesso em: 12 de abril, 2010, 22:00 horas.
SLACKLINE.COM. Disponível em: <http://www.slackline.com/>. Acesso em: 05
de abril, 2010, 08:00 horas.
SLACKLINEBRASIL. Disponível em: <http://slacklinebrasil.blogspot.com/>
Acesso em: 02 de abril, 2010, 18:00 horas.
285
EDUCAÇÃO PELA AVENTURA? EM CENA A OPINIÃO DOS EDUCADORES
PARTICIPANTES DO PROGRAMA DE EXTENSÃO ESFA PORTAS
ABERTAS
Andréia Silva, Graciele C. Kippert, Jéssica A Merlo
Escola Superior São Francisco de Assis, Santa Teresa – ES/Brasil
E-mail: [email protected]
O objetivo do presente artigo foi refletir sobre a opinião dos educadores
participantes do programa ESFA Portas Abertas quanto as possibilidades
pedagógicas das Práticas Corporais de Aventura na Natureza, além de discutir
sobre as possíveis limitações e contradições presentes nessa inserção no
contexto escolar. Através do referido programa analisamos essas opiniões, por
meio de uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratória e explicativa, com
procedimento de pesquisa de campo. Como instrumentos de investigação
utilizamos a análise documental, entrevista e observação participante. Através
dos dados obtidos podemos considerar que o programa possui amplas
possibilidades pedagógicas segundo a opinião dos educadores que, no entanto
não são perpetuadas no dia a dia escolar. Fatores como discursos
ecologicamente pedagógicos, perpetuações de modismos, formação
profissional, infra-estrutura escolar, falta de equipamentos e o entendimento
restrito sobre a área da Educação Física escolar são questões que merecem
uma análise mais aprofundada para que possamos realmente falar de uma
educação pela aventura através dessas práticas corporais, umas vez que, tais
fatores influenciam em seu desenvolvimento. Atentamos ainda que, o programa
ESFA Portas Abertas embora possibilite elementos pedagógicos, poderá
tornar-se uma opção meramente recreacional para seus participantes se não
levar em consideração a continuidade de suas ações para o cotidiano escolar
em parcerias com essas escolas. Entende-se nesse processo que a educação
para e pela aventura deva ser perpetuada no espaço escolar através de seus
docentes.
Palavras Chave: Práticas Corporais de Aventura na Natureza, Educação,
Educação Física
Introdução
O presente artigo teve sua origem nos estudos realizados através do
Programa de Iniciação Científica fomentado pela Escola Superior São
Francisco de Assis/ESFA no ano de 2009, intitulado “A inserção das Práticas
Corporais de Aventura na Natureza nas aulas de Educação Física Escolar:
contribuições do Programa ESFA Portas Abertas.” Dentre a gama de
resultados e debates obtidos nessa oportunidade, visamos polemizar a opinião
dos educadores participantes do referido Programa, quanto as possibilidades e
286
limitações pedagógicas das práticas corporais de aventura na natureza PCAN’s.
O Programa ESFA Portas Abertas possui 05 anos de existência e é
desenvolvido atualmente pelo curso de Educação Física e Laboratórios da
ESFA, atendendo anualmente cerca de 2.000 a 2.500 participantes, dentre
eles, escolares de todos os níveis de ensino, empresas, ongs, dentre outros.
Seu objetivo principal é proporcionar aos alunos da rede pública e privada da
região
centro-serrana
do
Espírito
Santo,
vivências
nas
PCAN’s
e
visitações/aulas nos laboratórios de química, anatomia humana, microbiologia,
ecologia e fisiologia da Instituição, com o intuito de possibilitar atividades que
venham a melhorar o processo educativo dessas escolas e o autoconhecimento desses alunos.
O Programa destaca que o oferecimento das PCAN’s para as escolas
tem como respaldo a necessidade de repensar o processo ensinoaprendizagem, não apenas como uma ação isolada e centrada no professor,
mas como um processo de parceria onde docente, discente, comunidade e
entidades, atuem em prol da melhoria qualitativa e quantitativa do ensino
(SILVA e MILLI, 2005).
Por se tratar de um Programa de extensão compreendemos que possui
vários avanços, limitações e contradições. Diante disso ponderamos segundo
contribuições de Freire (1992), que um programa de extensão não deve
mostrar apenas a presença dos conteúdos estendidos, pois dessa forma não
servirá para aqueles que o captam, uma vez que eles apenas os vêem, não
praticam, portanto não podem utilizá-los. Dessa forma, o Programa visa,
conforme explanado em seus objetivos proporcionar a vivência a todos os
participantes, buscando estimular sensações, emoções, que podem iniciar um
processo de sensibilização não só em relação a reflexão de valores, mas
igualmente para novas relações com o meio ambiente.
Pondera-se ainda que, muitas vezes o conteúdo apresentado, no caso
as PCAN’s, não refletem a realidade de quem os assistem. Nesse sentido, é
necessário possuir conforme relata o autor, uma percepção cultural sobre o
público atendido, suas aspirações, histórias e, principalmente, da realidade
escolar em que estão inseridos.
287
Através dessa compreensão e da construção de uma ação metodológica
que a contemple é que poderemos realmente ultrapassar o discurso das
possibilidades
pedagógicas
teorizadas
das
PCAN’s
e,
confrontar
as
experiências reais com as opiniões de quem vive, no caso dessa pesquisa, o
dia a dia do espaço escolar: o professor. Acreditamos que a partir de tal
confronto, será possível a construção de novas propostas, iniciativas e a
quebra de paradigmas e discursos “ecologicamente pedagógicos”.
Importante salientar que, enquanto educadores e pesquisadores da área
do lazer de aventura acreditamos nas possibilidades pedagógicas das PCAN’s,
as quais conforme afirma Marinho (2003), constituem-se em práticas
promissoras no espaço educacional, podendo assumir um caráter inter e
transdisciplinar, que contribui na construção do conhecimento mais amplo e
assimilável, criando laços mais estreitos entre o ser humano e natureza.
Poderamos, no entanto, que para atingir tais possibilidades dentro do
espaço escolar, em específico nas aulas de Educação Física, torna-se
necessário pensá-las, adequá-las e desenvolvê-las levando em consideração a
realidade do espaço, do público, dos equipamentos disponíveis dentre outros.
Deve-se igualmente, refletir sobre a formação dos professores, seu
entendimento sobre as PCAN’s e ainda, o papel da Educação Física enquanto
disciplina curricular potencial fomentadora dessas práticas.
Nesse contexto, Uvinha (2004) nos diz que essas práticas possuem um
importante papel na Educação Física Escolar, pois desenvolve dentro da
disciplina, a participação ativa dos alunos nas atividades, atua colaborando
com o fim das limitações e o desenvolvimento dos alunos; como: superação de
barreiras, medos, adrenalina, desenvolvimento da motricidade, interação entre
os alunos, conscientização a preservação do meio ambiente, entre outros.
Acreditamos que tais possibilidades são verídicas, mas será que no dia
a dia escolar tais intenções são realmente concretizadas? Será que o programa
ESFA Portas Abertas está conseguindo criar novos espaços, visões e
intenções pedagógicas quanto a essas práticas? Será que as PCAN’s
poderiam ser consideradas as “salvadoras da pátria” no que tange a formação
de novos valores e de indivíduos que possuem relações ecologicamente
corretas com o meio ambiente?
288
As considerações apresentadas acima possuem sua vericidade na
observação de que nas Escolas o que se verifica ainda é o desenvolvimento
dos esportes tradicionais e, se as PCAN’s são conteúdos promissores,
novamente nos questionamos o motivo de sua tímida apropriação.
Nesse sentido, podem ser vários os fatores que dificultam essa
apropriação, como por exemplo, falta de conhecimento do professor sobre esse
conteúdo, falta de equipamentos específicos para a prática, a questão do risco
implícita a elas, dentre outros. É necessário ressaltar ainda, conforme estudos
realizados por Silva e Fernandes (2006) que as escolas tanto influenciam, quanto
sofrem a influência dos contextos históricos em que estão inseridas, assim como
possuem uma lógica própria, que as diferenciam uma das outras por meio das
normas, códigos e valores que as identificam.
Diante de tais indagações focamos nossos olhares aos docentes
participantes do programa, e para tal construímos a seguinte problemática
norteadora do artigo: Qual o opinião dos educadores participantes do Programa
ESFA Portas Abertas referente as possibilidades pedagógicas das PCAN’s?
Para tanto, estabelecemos como objetivo geral analisar e refletir sobre a
opinião dos educadores participantes do Programa ESFA Portas Abertas no
que se refere as possibilidades pedagógicas das PCAN’s. E, como objetivos
específicos verificar o entendimento educadores sobre as PCAN’s; refletir e
analisar a opinião dos educadores sobre as possíveis contribuições
pedagógicas das PCAN’s na formação de seus alunos; ponderar sobre os
possíveis avanços, limitações e contradições encontrados no programa em
paralelo com a realidade escolar; repensar propostas pedagógicas para a
inserção e o desenvolvimento de tais práticas dentro do espaço escolar.
Metodologia
Quanto à natureza nossa pesquisa se caracterizou como qualitativa,
uma vez que foram pesquisados as ações e relações humanas, através de seu
comportamento relacionado as vivências das PCAN’s, onde exploram a
realidade para especificar atributos e qualidades do objeto de investigação
dificilmente quantificáveis. (MINAYO, 2002, p. 22).
Quanto aos objetivos foi caracterizada como exploratória, pois visou
proporcionar maior familiaridade com o problema, considerando os mais
289
variados aspectos relativos as PCAN’s e suas possibilidades pedagógicas (GIL,
2007, p. 41).
Possuiu também um caráter explicativo, pois buscou o aprofundamento
do problema e o conhecimento da realidade (GIL, 2007, p. 42), nos
possibilitando identificar os fatores relevantes que estivessem explicando as
possibilidades e limitações sobre das possibilidades pedagógicas das PCAN’s
e sua relação com o espaço da Educação Física Escolar.
Quanto aos procedimentos caracterizou-se como pesquisa de campo,
pois nossa coleta de dados foi realizada com envolvimento dos pesquisadores
no
desenvolvimento
das
atividades
do
Programa
estudado
e
seus
participantes, onde se tornou possível levantar dados e informações para
captar explicações e interpretações do que ocorrem com o programa e os
grupos objetos de estudo da pesquisa (GIL, 2007, p. 53).
Utilizamos ainda, a pesquisa como documental. Segundo Mazzotti;
Gewandsznajderb, (2001, p. 169) define documento, como qualquer registro
escrito que possa ser usado como fonte de informação e fonte de dados.
Assim, utilizamos documentos e relatórios do programa Portas Abertas, como
objeto de estudos.
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram a observação participante
e a entrevista. Segundo Ludke; André, (1986, p. 26) a observação participante
possibilita um contato direto com as escolas que participaram da pesquisa,
onde foi permitido acompanhar de perto algumas experiências vivenciadas
pelos sujeitos da pesquisa, e para não interpretar o método de observação com
uma observação pessoal ou distorcida, também foram utilizadas anotações
detalhadas e organizadas para fazer validar as nossas observações.
A entrevista semi-estruturada foi utilizada, segundo as contribuições de
Ludke; André, (1986, p. 37) por permitir maior liberdade de respostas para os
nossos entrevistados, realizada com total autorização dos mesmos, por meio
de gravação direta utilizando um MP4 e um computador para as transcrições.
Os sujeitos entrevistados de nossa pesquisa foram 06 escolas
participantes do Programa, enfatizando os meses de Setembro e Outubro de
2009. A princípio a amostra era composta por 13 escolas que já haviam
realizado o agendamento no Programa nesse período, porém, devido a alguns
problemas referentes ao transporte desses escolares, bem como, o tempo
290
chuvoso, os quais provocaram cancelamentos, só foi possível acompanhar e
entrevistar essa quantidade supracitada.
As entrevistas foram realizadas de 02 de Setembro a 28 de Outubro de
2009 junto aos professores/responsáveis pelas escolas, obedecendo a todos
os critérios éticos de concessão de direito pelas entrevistas concedidas. As
falas foram destacadas em itálico ao longo do texto para sua melhor
identificação.
A análise de dados utilizada foi a Análise de Conteúdo – Modalidade
Temática. Proposta por Minayo (1994), esta modalidade de análise e
tratamento de dados qualitativos busca a compreensão de sentido que se dá
na comunicação, e para tanto leva em extrema consideração o contexto
histórico social no qual o indivíduo e os fenômenos estudados se inserem,
buscando uma junção interpretativa entre as ciências sociais e a filosofia como
forma de aprofundamento e entendimento das forças que movem o homem em
suas relações com o meio. Posteriormente, foi realizada a articulação dos
dados obtidos com o referencial bibliográfico do trabalho.
Apresentação e Análise Parcial dos Resultados
Em um primeiro momento realizamos observações relacionadas ao
espaço, equipamentos e sistemática de desenvolvimento do programa.
Buscamos a partir de tal instrumento compreender como o espaço está
organizado e a influência de tal organização para os participantes e quais as
relações estabelecidas entre participantes e monitores com esse espaço.
Buscamos
também,
verificar
a
influência
dos
equipamentos
para
o
encaminhamento da atividade e suas relações com o risco imaginário e real.
Por fim, almejamos observar a dinâmica do desenvolvimento do programa e
suas metodologias utilizadas.
Importante ressaltar que, tais pontos vêm com o intuito de fornecer
bases verídicas sobre o cotidiano do programa para confrontar com a opinião
dos professores/educadores das escolas participantes.
O Espaço
Nessas observações verificamos que o Programa dispõe de espaço
próprio, chamado área de aventura. Essa área está localizada em um local
291
arborizado preservado dentro da própria instituição basicamente constituída por
árvores de grande e médio porte. O espaço é submetido a limpeza e retirada
das folhas secas diariamente, no entanto, não possui lixeiras para o descarte
de resíduos gerados para a visitação. O descarte é realizado nas lixeiras do
pátio. No entanto, observa-se que, embora se trate de uma área natural
modificada pelo homem, todas as escolas observadas não jogaram lixo no
espaço, fazendo o condicionamento dos mesmos para descartá-los em local
propício dentro da Instituição.
Nesse espaço, além de três lances de arvorismo e uma parede de
escalada artificial encontramos bancos confeccionados de tocos de madeira
para que os visitantes possam sentar-se, colocar seus pertences e observar as
atividades.
As árvores presentes no local são utilizadas na adaptação de pistas de
cordas para as escolas de educação infantil atendidas, bem como, servir de
apoio para o oferecimento de outras atividades de lazer, como cama de gato,
desafio da teia, dentre outros.
Interessante
notar
que
a
constituição
do
espaço
favorece
o
desenvolvimento das atividades propostas, uma vez que as mesmas, embora
sejam desenvolvidas em estruturas artificiais, preservam a conotação da área
natural, o que auxilia na perpetuação da idéia de aventura e risco concedido a
essas práticas.
Tal comentário faz-se pertinente uma vez que a rampa de rapel artificial
não está localizada nesse espaço, mas em uma área próxima, sem, no
entanto, ser cerceada de árvores, sendo essa totalmente aberta e localizada
próximo ao campo de futebol da instituição. Tal localização, no entanto, não
retira a percepção de aventura e risco, mas são freqüentes as comparações de
como seria interessantes fazer o rapel agora em uma pedra que seria o local
“de verdade” para a vivência. Por não ser uma rampa de grande altura
observou-se que participantes do ensino médio relatam ser “moleza” a
experiência e reforçam que o desafio maior seria ou realizá-lo em um uma
altura maior ou em ambiente natural. Ponderamos aqui que a faixa etária, nível
de vivência motora e prévio conhecimento da atividade podem influenciar
nessa percepção apresentada por parte desses escolares.
292
Encerrando nossas observações referentes ao espaço, destacamos que
as corridas de orientação e trekkings desenvolvidos pelo Programa utilizam
toda a área externa da Instituição, a qual possui um espaço de pequenas
trilhas, pomares e plantações que tornam o trajeto interessante e desafiador. A
dimensão do espaço atrelada ao desconhecimento do local auxiliam na
realização dessas propostas.
Equipamentos
O Programa dispõe de um vasto acervo de equipamentos de
montanhismo compreendidos por cadeirinhas, capacetes, mosquetões, freios,
ATCs, costuras, cordas dinâmicas e estáticas, roldanas, dentre outros. Com
exceção das cordas K2, todo o material possui certificação da União
Internacional da Associação dos Alpinistas (UIAA) e Comunidade Européia
(CE). Além desses materiais, bússolas, GPs, mapas topográficos, picotadores
e prismas são utilizados para o desenvolvimento de trekkings e corridas de
orientação.
A utilização desses equipamentos atrelados a qualificação técnica dos
monitores envolvidos deve ser levada em consideração, uma vez que, sem os
mesmos vários escolares não conseguiriam vivenciar as práticas propostas.
Essa possibilidade oferecida e facilitada pelos equipamentos oportuniza,
segundo Silva et. Al (2004) o desenvolvimento de questões pedagógicas, uma
vez que possibilitam aos participantes a vivência de situações e a visitação de
locais que seriam dificultados pelos mesmos, como por exemplo a copa das
árvores.
Dinâmica e Metodologias Utilizadas
A equipe de monitores é composta por acadêmicos do 1º ao 8º períodos
do curso os quais buscam o Programa por identificação com a área, para
obterem horas destinadas as atividades acadêmico-científico culturais e por ter
que se submeterem as avaliações previstas no Programa da disciplina práxis
dos Esportes de Aventura.
Todos possuem, independente se seus objetivos, experiência em
estagiar com tais práticas, o que é obtido, segundo seus relatos, através da
disciplina supracitada ministrada no 1º período, bem como, estágios
293
permanentes propiciados pelo Programa Portas Abertas, Programa ESFA na
minha Escola, Festival da Cultura Corporal, Responsabilidade Social do Ensino
Superior, aulões integrados junto as outras faculdades, cursos de extensão e
estágios junto a campings pousadas e hotéis.
O grupo de monitores para uma escola de 40 alunos é composto de 12 a
15 acadêmicos, os quais são distribuídos nas estações a serem desenvolvidas
no dia da visitação. Antes de iniciar o atendimento a coordenadora do Projeto
passa algumas instruções para os monitores, acompanhada pelos monitores
de disciplina que complementam suas cargas horárias obrigatórias com esse
Programa.
A dinâmica do projeto desde sua marcação até realização é a seguinte:
as escolas agendam junto à Coordenação de Educação Física ou
Coordenação de Laboratórios da ESFA o dia de visitação, mediante ao
agendamento, a escola informa o tempo de permanência da mesma na
visitação e, também, as atividades que deseja vivenciar, para que a
programação e a quantidade das atividades sejam organizadas de acordo com
o tempo disponibilizado pela escola.
Ao chegar, a escola deve se apresentar à recepção da ESFA, onde será
acompanhada pelos monitores das atividades selecionadas. Os monitores,
caso necessário, farão a divisão das turmas para melhor encaminhamento das
atividades.
São oferecidas atualmente as seguintes atividades: a escola dividida em
grupos realiza visitações aos laboratórios, com a supervisão de um funcionário
da ESFA capacitado, sendo que, juntamente ao grupo é indispensável à
presença dos responsáveis pela escola visitante. Em seguida o grupo segue
para a área de aventura onde são desenvolvidas as seguintes práticas: rapel,
pistas de cordas e escalada. O programa possibilita também, atividades no
ginásio poli-esportivo, campo de futebol e piscina.
Dentre todas essas atividades oferecidas e citadas acima, os monitores
do Programa tem o cuidado de direcionar as atividades às faixas etárias dos
alunos visitantes, bem como, caso seja solicitado, ao tema, escolhido pela
Escola.
Em relação as relações estabelecidas entre visitantes e monitores foi
observada em grande parte das visitações um tratamento afetuoso e cortês.
294
Destaca-se a facilidade dos monitores em atuar junto aos mais diversos
públicos com simpatia e competência, o que ocasiona demonstrações de afeto
e uma relação de segurança/confiança para as escolas visitantes.
Não foram observadas avaliações sistematizadas junto as visitações
observadas. Após o término da visitação é realizado apenas um agradecimento
por ambas as partes e uma conversa informal sobre a opinião dos visitantes
sobre a experiência.
Não foram observadas o desenvolvimento de metodologias de Educação
Ambiental no decorrer do Programa. Em nossa opinião tal possibilidade seria
pertinente uma vez que, tais práticas são propícias a repensar a questão
ambiental e a reaproximação homem natureza, o que pode ser concretizado
também através dessas metodologias.
Entrevistas
Foram aplicados 06 entrevistas aos professores/responsáveis pelas
escolas visitantes ao programa. Dos 06 entrevistados 05 são formados em
Educação Física na modalidade de Licenciatura, com tempo médio de
formação de 02 anos, atuando na rede particular e pública de ensino do Estado
do Espírito Santo. O único entrevistado que não possui formação na área tem
nível de Ensino Médio completo e atua no serviço público, através da
Secretaria de Assistência Social.
O questionário foi composto por 14 questões abertas que buscavam
compreender o entendimento dos esportes de aventura, compreensão de suas
possibilidades pedagógicas, influência do programa para a continuidade de tais
atividades no espaço escolar, dentre outros.
Iniciando nossa entrevista perguntamos aos entrevistados a respeito do
conhecimento sobre os esportes de aventura. As respostas obtidas foram as
seguintes:
“Bom, na minha formação acadêmica tive o privilégio de praticar
praticamente todos, inclusive tenho curso na área de aventura.”
(Respondente 01)
“Instruções básicas sobre acampamentos, rapel, pistas de cordas, etc”
(Respondente 02)
“Tive a matéria na faculdade, sei um pouco da prática e alguma
vivência.” (Respondente 03)
295
“Relativamente bom, visto que tive esse conteúdo como disciplina
integrante do meu currículo de formação acadêmica.” (Respondente
04)
“Participei da disciplina na graduação e de uma pós-graduação de
atividades de lazer e aventura ao ar livre. Tive a oportunidade de
participar de estágios em escolas e hotéis voltados a essas práticas. E
ainda, realizei artigos sobre o tema e participei de congresso na área.”
(Respondente 05)
A maioria dos respondentes aponta a formação universitária como
espaço para o conhecimento e espaço de vivência para tais práticas. Em
estudos realizados por Fernandes e Silva (2006) foi apontado que um
profissional que tenha em sua formação superior o contato com tais práticas,
poderá ter maior possibilidade de ampliar ou aprofundar seu campo de
conhecimento, uma vez que esse tipo de ensino vale-se de saberes específicos
e técnicos para desenvolver uma determinada prática, como de saberes que
darão base para a formação humana, social, cultural, intelectual deste
individuo. Nesse sentido, cursos de Educação Física e áreas afins que
possuem em sua matriz curricular conteúdos ou disciplinas que contemplem
tais práticas poderão formar profissionais que tenham conhecimentos
fundamentais para o seu desenvolvimento e de suas possibilidades
pedagógicas. Obviamente a qualidade dessa formação, confrontada ainda com
a realidade escolar pode facilitar e/ou dificultar o saber teoricamente
disponibilizado na formação.
Em seguida questionamos se caso já tivessem tido tais conhecimentos
se os mesmos foram suficientes no sentido de se sentirem seguros para
ministrar aulas deste conteúdo. Das respostas obtidas 05 respondentes
afirmaram que sim e 01 que não, uma vez que, nunca possuiu uma
capacitação para esse conteúdo, apenas vivências de lazer aos finais de
semana. Destacamos a seguir as respostas:
“Tenho sim conhecimento para ministrar, só não tenho espaço e
material suficiente.” (Respondente 01)
“Algumas lições podem ser aplicadas para a Educação Física escolar
do município de Santa Teresa, mas a escassez de equipamento é
muito grande.” (Respondente 02)
“Porque tivemos a pratica e a vivencia de forma didática e sempre
observando como adaptar para a escola e como fazer dela um
conteúdo atrativo para as aulas.” (Respondente 03)
296
“Pois além dos conteúdos ministrados em sala de aula, houve a
participação em estágios e vivencias de algumas modalidades.
Lembrando que, para ministrar determinadas práticas torna-se
necessário a participação em cursos técnicos.” (Respondente 05)
Em relação a falta de estrutura e equipamentos Coli et al. (2008)
ponderaram que a mesma consiste em uma dificuldade enfrentada por grande
parte das escolas, muitas das quais, não possuem minimamente uma quadra
para seu desenvolvimento. Essa limitação atrelada a falta de materiais e o
interesse/ou capacitação do professor para lecionar determinados conteúdos
agrava a adoção dos mesmos.
Cardoso e Felipe (2005) debatem essas dificuldades salientando que no
contexto escolar a falta de apoio do próprio ambiente influencia negativamente
na adoção de novos conteúdos ou metodologias de aulas. Atrelado a isso,
ressaltam também, o desconhecimento do professor sobre as alternativas
educativas para o desenvolvimento desse conteúdo, a formação deficitária,
dentre outros.
Apesar de tais dificuldades, vários profissionais e escolas buscam
atualmente modificar esse quadro, sendo uma dessas ações a iniciativa em
promover um Programa que disponibilize tais vivências, estruturas e
equipamentos, como é o caso do Programa Portas Abertas, bem como, o
interesse do professor em buscá-los através de parcerias.
Nesse sentido, a própria iniciativa de conhecer o Programa constitui-se
em um primeiro passo para a adoção desse novo conteúdo. Esse primeiro
contato pode desmistificar uma possível dificuldade da adoção das PCAN’s:
espaços e conhecimentos.
Diante disso, concordamos com Libâneo (1994), que é preciso uma
formação continuada por parte dos docentes e um planejamento adequado.
Tais ações podem potencializar novas abordagens as PCAN’s e a adequação
de suas vivências aos espaços específicos da escola e, também fora dela.
Uvinha (2004) destaca nesse contexto, que para o desenvolvimento
desse conteúdo, os materiais para sua vivência poderiam ser adquiridos
através da solicitação do professor aos próprios alunos, à direção da escola e,
em alguns casos, até mesmo a partir da contribuição da comunidade local.
Sugere
ainda,
a
parceria
com
empresas
que
subvencionem
os
297
materiais/equipamentos em troca do aparecimento da logomarca no interior da
escola.
A próxima pergunta inquiriu se no decorrer do trabalho docente já
haviam ministrados sozinhos ou em parceria com outros docentes/profissionais
aulas de esportes de aventura para os alunos. AS respostas obtidas foram as
seguintes:
“Sim. Basicamente Corridas de orientação e treekking. “ (Respondente
01)
“Sim. Tive a experiência no meu estágio, trabalhamos com português e
biologia em uma atividade interdisciplinar” (Respondente 03)
“Sim. Apresentei o conteúdo de forma teórica para os alunos, e após
essa apresentação os levei em um local apropriado para a prática,
como o trekkings que são mais simples pois consistem basicamente no
caminhar.” (Respondente 04).
“Não. Não realizei devido a faixa etária dos alunos e a estrutura da
escola, o que impossibilitam a realização destes conteúdos,
principalmente para o professor sozinho. Por isso a escolha do
programa da ESFA para os alunos vivenciar tais atividades.”
(Respondente 05)
As respostas obtidas apontam desde o oferecimento de uma PCAN
teoricamente “natural” ao movimento, como no caso os trekkings e as corridas
de orientação. Interessante observar que o oferecimento de tais modalidades
foram pesquisadas por Silveira et al. (2005) os quais se propuseram a verificar
in locu as possibilidades pedagógicas de tais esportes e contextualizá-los
através de sua historicidade. Com base em suas experiências os autores
apontam que é preciso romper com as pedagogias tradicionais para construção
de uma nova estrutura social. Não se pode escolher o trekking como conteúdo,
somente porque é uma prática física que tem regras, técnicas, contagem de
pontos ou porque existem campeonatos estaduais.
As dificuldades de classificar o trekking como conteúdo e de avaliar a
prática do mesmo pode ser superada a partir do momento, em que se
compreende que é um elemento da cultura corporal. De acordo com os autores
cabe ao educador compreender quais as conseqüências que levavam a
esportivização dessa atividade, estabelecendo relações com a prática social e
refletindo criticamente sobre as regras e técnicas. A inserção desse conteúdo
segundo s mesmos só terá relevância social se o educando ler a realidade,
298
interpretar compreender, explicar e pensar sobre o seu fazer. A reflexão leva o
indivíduo a pensar, superar e revolucionar seus conceitos.
Apontamos ainda a adequação do oferecimento de tais práticas aos
níveis de ensino, no caso a educação infantil, área essa que em nossa
percepção carece de estudos mais aprofundados e relatos de experiências
reais que culminem em novos debates, apontamentos e ações que
desmistifiquem a apropriação de tais práticas apenas para essa determinada
faixa-etária.
Por se tratar da educação infantil, um público muitas vezes tratado de
forma “romântica” pelos educadores, trazemos os estudos realizados por Lima
Junior (et al (2007) onde o grupo buscou adequar as PCAN’s a um grupo de
terceira idade, visando desmistificar a condição de que essas atividades seriam
destinadas apenas a um público jovem e aventureiro, o que em nossa opinião é
passível de parâmetro para a educação infantil. Em suas considerações os
pesquisadores ponderam que:
“[...] é possível desenvolvermos essa atividades para tal faixa-etária
sem a preocupação de performance que trazemos dos esportes
tradicionais. Através de nossas intervenção focamos o trabalho
coletivo, demonstrado através da cooperação entre os participantes,
do companheirismo, da união entre os mesmos, da ajuda mútua, do
incentivo uns para com os outros. Foi possível trabalharmos o
desenvolvimento pessoal, através da auto-estima, da alegria, do
entusiasmo, da superação dos desafios manifestada pelos
participantes. Trabalhamos o desenvolvimento cognitivo, através da
autonomia na tomada de decisões diante dos objetivos a serem
cumpridos, da oportunidade de criar e construir durante a atividade.
E trabalhamos também o desenvolvimento físico, estimulando as
habilidades motoras dos participantes, ao caminharem com os olhos
vendados, ao atravessarem a Falsa Baiana andando por uma corda,
ao prepararem os alimentos e etc.”
Diante desse relato, os autores afirmam que o profissional da Educação
Física deve buscar em sua intervenção resguardar a integridade física,
proporcionar a realização pessoal, e respeitar à condição sócio-histórica de
cada indivíduo.
Inquirimos se as escolas que trabalham possuem infra-estrutura e
equipamentos que potencializam o desenvolvimento dessas práticas e, em
caso afirmativo, quais:
299
Buscamos a partir dessas primeiras colocações questionar se os
entrevistados verificavam alguma possibilidade pedagógica nessas práticas. As
respostas foram as seguintes:
“Sim. O básico, respeitar a natureza, coorperar com os alunos, se
superar.” (Respondente 01)
“Sim. As sensações provocadas por eles.” (Respondente 02)
“Sim. Trabalho em equipe, preservação do meio ambiente, vencer
obstáculos, união em grupos, e tantos outros.” (Respondente 03)
“Sim. Trabalho em grupo, confiança no outro (colega),
desenvolvimento de concentração, e de tomada de decisão, contato
com a natureza.” (Respondente 04)
“Sim. Pois trata-se de um conteúdo da educação física, e que
dependendo como será abordada pelo professor poderá auxiliar na
formação integral dos alunos.” (Respondente 05)
A fala ainda destaca as contribuições pedagógicas das PCAN’s e seus
possíveis objetivos a serem alcançados. Nessa perspectiva Marinho (2004),
apud Marinho, (2007, p. 63) enfatiza que:
“A Educação Física no trato das PCAN’s deve potencializar
estratégias de ação para desenvolver, nos alunos, habilidades
motoras, capacidades físicas e, até mesmo, fundamentos esportivos
específicos. Tais atividades podem ser utilizadas para atingir uma
variedade de objetivos educacionais, oportunizando diferentes níveis
de desenvolvimento: coletivo (habilidades cooperativas e de
comunicação), pessoal (auto-estima), cognitivo (tomadas de decisão
e resolução de problemas), físico (aptidão e desenvolvimento de
habilidades motoras).”
Freire (2006) ressalta ainda que, as PCAN’s facilitam o processo de
assimilar o conhecimento e novos valores alcançados pela vivência lúdica da
aventura, o que colabora para o desenvolvimento da inteligência e a
apropriação valores sócio-culturais e éticos, atendendo as necessidades da
nossa atual realidade e relações no mundo do trabalho. Como destacamos na
seguinte fala:
[...] “então essas atividade ajudam muito no que você quiser focar se
você quiser trabalhar com eles a importância de trabalho em grupo
exercer liderança, o que você quiser direcionar essas atividades tem
condições de oferecer” (Respondente 5).
300
Essas possibilidades educacionais possuem também como pano de
fundo as constantes transformações na organização social, as quais segundo
Coimbra (2006) necessitam e buscam uma educação atualizada que atenda as
necessidades do mercado de trabalho. Nesse sentido, a autora destaca ainda
que:
Atualmente, o mercado de trabalho cobra dos profissionais
determinadas características, como saber trabalhar em grupo, manter
boas relações sociais, ter um bom desenvolvimento nos níveis
intelectual e físico, demonstrar velocidade de raciocínio e
desenvoltura na resolução de problemas, entre outras (COIMBRA,
2006, p. 160).
Essa perspectiva mercadológica da educação quando refletida no
contexto da PCAN’s, não pode ser negada, mas sim, refletida pelo docente. Tal
reflexão segundo Uvinha (2004) é baseada na necessidade de não nos
limitarmos apenas a esse caráter utilitarista, mas também compreender que tal
conteúdo pode não contribuir diretamente para a aquisição de habilidades
necessárias para ser um engenheiro, por exemplo, mas potencializa questões
de cooperação, confiança, liderança, dentre outras, que influenciam na
formação integral do educando.
Para além dessa perspectiva mercadológica, concordamos também com
Marinho (2006), que diz que as PCAN’s apresentam elementos conceituais que
acompanham e enriquecem esse universo de práticas que conduzem a uma
educação, e constitui sólidas razões para integrar este conjunto de práticas na
grade curricular da Educação Física.
No entender de Bétran e Bétran (2006), as PCAN’s no âmbito da
Educação Física Escolar, subsidiam novos padrões motores desenvolvidos em
contato com a natureza, possibilitando diversos contextos ambientais, bem
como proporcionam um entorno com altos níveis de incerteza motora,
oportunizando a manifestação de diferentes situações emocionais em inúmeras
circunstâncias. Os autores ainda enfatizam que tais atividades favorecem a
conscientização e a sensibilização do aluno para com o meio ambiente e seus
problemas, promovendo uma educação ambiental
Coimbra (2006), destaca que as PCAN’s atreladas e essa educação
ambiental constituí-se em uma nova forma de adquirir conhecimentos
relacionados ao meio ambiente, através das informações corporais, que
301
possibilitam uma rica experiência de sensação e valores, além da construção
de uma ética baseada no respeito e no redescobrimento.
Partes dessas possibilidades pedagógicas foram constatadas no
decorrer das observações feitas junto ao Programa Portas Abertas. Foram
observadas situações de superação, cooperação, colaboração, além de
aproximações ao meio ambiente.
Indagamos se a vivência dos esportes de aventura no projeto ESFA –
Portas Abertas iria auxiliar seus alunos em sua formação integral e o porquê:
“Acho que vivenciar uma só vez não é o suficiente para auxiliar na
formação integral do aluno, mas essa prática vivenciada
constantemente com certeza pode auxiliar no processo de formação
do indivíduo por meio das sensações vividas, e do desenvolvimento da
responsabilidade, autonomia ,coorpeação decorrente da prática
desses esportes.” (Respondente 04)
“Sim pois durante o desenvolvimento das atividades aspectos para a
formação integral são abordados: coorperação, coordenação,
lateralidade,interação com o meio e com o outro, equilíbrio, emoções e
sensações entre outros.” (Respondente 05)
Debatendo um pouco mais sobre tais benefícios Uvinha (2004) contribui
ressaltando, que aspectos como liderança, espírito de equipe vão surgindo no
contexto das PCAN’s, o que pode resultar em uma mudança de atitude e
comportamento. Como é apresentada na fala seguinte
[...] “uma surpresa pra gente, que no final do projeto nós vimos que a
turma que mais brigava, na hora de fazer o rapel ali na rampa, em ao
invés deles quererem ganhar dos outros grupos, não, tinha sempre
um menino que não queria descer de jeito nenhum, ficaram falando
desce, vai, incentivaram até que no final ele quis fazer o rapel por
incentivo deles, e o grupo não estava interessado se iam ganhar
ponto ou não iam ganhar ponto, nada disso foi mais o interesse de
fazer mesmo” (Respondente 4).
Outros benefícios apontados pelos participantes do Programa também
são destacados na fala a seguir:
“[...] “as próprias atividades elaboradas exigem a questão da regra,
comportamento dos alunos, além de estarem se divertindo ta
interagindo um com o outro e o espaço diferente já é uma
oportunidade [...] as atividades em si geram o espírito de equipe,
302
limites, regras, trabalho de grupo, eu acho tudo importante nessa fase
que eles estão, é interessante, além do futebol” (Respondente 2).
Essas mudanças constituem-se em uma rica possibilidade no que tange
o caráter atitudinal, o qual é debatido por Schwartz (2006), que alerta para a
importância de se refletir sobre essa formação de atitudes de forma séria
adequadamente, buscando suas possibilidades de transformação.
Beccalli e Silva (2008) em estudos realizados com o Programa Portas
Abertas destacam a criação de laços mais estreitos indivíduo-indivíduo,
podendo gerar relações de amizade pelo processo de identificação com o
outro. Tal constatação vai ao encontro das considerações de Campagna (2006,
apud BECCALLI e SILVA, 2008), o qual elucida que o que está em jogo,
diferentemente das competições acirradas do dia-a-dia, não é outra coisa,
senão, a satisfação única e intransferível de sentir-se em “sintonia fina” consigo
mesmo e com o outro que, como “parceiro” na aventura, igualmente, busca,
nestas atividades, sensações, expectativas, sentimentos de alegria e prazer
similares à sua”.
Segundo os estudos dos mesmos autores as PCAN’s desenvolvidas
nesse Programa possibilitam um aspecto motriz amplo, o qual é solicitado nas
atividades de rapel, escalada e pistas de cordas, possibilitando ao praticante
um acervo de padrões motores amplos e enriquecedores.
Esse padrão motor segundo Coimbra (2006) exige um apuramento das
capacidades físicas e das habilidades motoras para sua realização, o que
promove um desenvolvimento global.
Finalizando questionamos se a vivencia dos esportes de aventura no
projeto ESFA – Portas Abertas iria auxiliar a ministrar/perpetuar esse conteúdo
em suas aulas de educação física.
“Sim, na questão metodológica das brincadeiras como na corrida de
orientação, a cama de gato a ponte de pneu e na lembrança da
prática. Para mim é uma forma de reciclagem também e uma forma de
quebrar o mito de ser perigoso esses esportes na escola junto a minha
diretora e demais professores. ” (Respondente 01)
“Sempre ajudou, pois percebi que algumas coisas podem ser
adaptadas para a escola e, ainda, assuntos relacionados a meio
ambiente podem ser debatidos com os alunos, então, eu posso não
trabalhar os esportes de aventura na íntegra, mas outras coisas que
303
vem de sua prática podem e devem ter continuidade na escola”
(Respondente 03)
“Talvez na questão de superação de desafios nas atividades
desenvolvida em aula. Isso sim pode ser perpetuado nas minhas
aulas.” (Respondente 04)
“Sim, em aspectos como equilíbrio, lateralidade, interação com o meio
e com o aluno, emoções, sensações, coordenação motora global.
Muitas idéias e aulas são possíveis depois que eu vi o projeto para
essa faixa etária e pretendo colocar em minhas aulas no próximo ano”.
(Respondente 05)
Sim, mas vai depender do professor de Educação Física que não pode
estar presente hoje [...] mas para mim aqui, o que deve continuar é o
trabalho em equipe essa integração que é muito necessária para esses
jovens” (Respondente 06)
Diante das respostas obtidas apontamos que a apresentação de novas
atividades constitui-se no principal fator a ser perpetuado nas aulas de
Educação Física Escolar, atreladas a suas possibilidades pedagógicas. No
entanto, tais intenções não se apresentam articuladas dentro de um
planejamento mais amplo, que busque seu desenvolvimento nas dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais. São intenções pontuais de aulas
pontuais que a uma primeira análise parecem desconsiderar a historicidade
dessa práticas, além de perpetuar discursos “ecologicamente pedagogizados”.
De qualquer forma, o fato de conhecer já é um primeiro passo para quem
busca inovar não apenas por modismo, mas por compromisso. Concordamos
nesse contexto com Gadotti (1998), apud Uvinha, (2004), para o qual deve-se
incentivar a experimentação pedagógica pelo novo, em um esforço contínuo,
solidário e paciente. Sendo as PCAN’s um meio de efetivamente simbolizar
essa busca por novas atividades, colaborando para docência de um conteúdo
recheado de experimentações e inovações.
Considerações Parciais
A
partir
das
questões
levantadas
e
discutidas
nesse
estudo,
compreendemos que as PCAN’s são um conteúdo com uma gama de
possibilidades pedagógicas assim como os esportes ditos tradicionais. O que
irá
determinar,
no
entanto,
a
potencialização
dessas
possibilidades
pedagógicas será o planejamento das mesmas, seu estudo e a constituição de
uma proposta comprometida com a inovação dentro do espaço escolar.
304
Fatores como a formação profissional, espaço e equipamentos
apropriados
também
são
questões
que
sempre
permearão
seu
desenvolvimento em maior ou menor escala. Essa constatação faz-se
necessário uma vez que, caso minha escola não possua tal espaço e
equipamentos, a mesma poderá se servir de empresas, programas e outras
iniciativas para propiciar ao seu alunado essa experiência. A formação do
professor por suas vez, pode ser conseguida através de cursos, palestras,
enfim, através da formação continuada, da qual todo o profissional tem direito,
ou deveria ter.
A experiência advinda do programa deve ultrapassar a idéia de
modismo, “aula diferente” e se concretizar através de sua historicidade dentro
da cultura corporal. Essa consideração respalda-se na constatação de que a
Educação Física como uma disciplina curricular, é uma área que congrega
vários saberes, os quais podem ser potencializados através das PCAN’s.
Porém, essas possibilidades somente serão realmente aproveitadas através de
uma sistematização comprometida com a transformação e a promoção da
autonomia do aluno.
Em relação especificamente ao Programa pode-se afirmar que a
descontinuidade das visitações, ou o grande espaço de tempo de retorno das
escolas participantes dificultam suas propostas, o que não invalida seu objetivo
maior. Ponderamos que se as escolas pudessem dar continuidade a essas
vivências dentro de seus bimestres escolares o Programa poderia avançar em
suas metodologias uma vez que atuaria com um público já educado para e
pelas PCAN’s. Assim, a falta de continuidade de ensino dessas práticas
corporais na escola, devidamente discutidas e refletidas pelos professores e
pelos alunos e também a visão de um risco imaginário que são relacionadas as
atividades são outros fatores que podem a longo prazo estagnar o Programa
em apenas uma opção de recreação as escolas.
Atrela-se ainda, a falta de apoio do poder municipal, estadual e federal
que muitas vezes limita-se a uma política paternalista e compensatória, o que
determina a perpetuação de uma educação adestradora e focada para o
mercado. E ainda, a estagnação de vários teóricos da área da Educação Física
que acreditam que falar das PCAN’s no espaço escolar não seja possível, uma
305
vez que elas não podem ser categorizadas dentro do universo da cultura
corporal e logo, não devem ser tratadas pelo professor de Educação Física.
Nesse sentido, como falar de Educação pela aventura se a aventura
muitas vezes se concretiza no desafio de quebrar paradigmas e o medo do
novo? Em um sentido mais amplo, como falar de educação pela aventura se a
aventura maior é ter o direito a educação preservado? Se o direito muitas
vezes é subjugado pela falta de compromisso, pela violência ou pela
banalização de valores?
Diante disso tudo, e com 05 anos atuando em um programa que acredita
nas possibilidades educativas dessas práticas, temos que ponderar que
estamos dentro de um sistema muito mais complexo que determina e é
determinado por diversos fatores. Não queremos dizer que devemos deixar de
atuar, ou acreditar, mas nos conscientizar que falar de possibilidades
pedagógicas das PCAN’s ou de qualquer outro conteúdo que busquemos
trabalhar, não pode ser considerado como um fator isolado e desconectado de
nossa realidade.
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308
ESCALADA E QUALIDADE DE VIDA OU ESTILO DE VIDA?
Felipe Catelan Martins, Igor Armbrust
FEFISA – Faculdades Integradas de Santo André, Santo André, SP, Brasil
E-mail: [email protected]
Resumo
Sabe-se que ultimamente profissionais da saúde tem utilizado a
prescrição de exercícios como estratégia para combater os malefícios impostos
pela sociedade moderna. Por outro lado há um aumento considerável à procura
por outras atividades que fujam do cotidiano, como é o caso dos esportes
radicais e dentre as modalidades dos esportes radicais podemos destacar a
escalada no qual é abordada por esta pesquisa cujo objetivo foi contribuir para
este novo segmento dando embasamento teórico para profissionais e
praticantes com o intuito de verificar até que ponto a escalada pode contribuir
para a qualidade de vida das pessoas na sociedade moderna. O tipo de
pesquisa utilizada neste estudo foi bibliográfica. A partir dos levantamentos
obtidos, verificou-se que a modalidade pode contribuir para os profissionais de
educação física fornecendo informações científicas para os praticantes,
apontando benefícios sociais, físicos, psicológicos, transferindo as melhoras
para o seu dia-a-dia, podendo aumentar a auto-estima, a confiança e até
mesmo a superação de medos e limites. Os resultados apresentam que a
escalada poderia colaborar com o aumento da expectativa de vida e
desenvolver alguns benefícios, sendo eles: motor, cognitivos e/ou sociais.
Palavras chave: Esportes Radicais, Escalada, Qualidade de Vida.
Introdução
A escalada é uma modalidade que está inserida nos esportes de
aventura, que vem crescendo a cada dia, concomitantemente cresce também
os fatores que a sociedade moderna traz, entre eles: a inatividade física, dietas
muito calóricas e o desenvolvimento de algumas patologias diminuindo a
qualidade de vida das pessoas.
O interesse por esse assunto surgiu durante os anos da graduação em
virtude de algumas vivências prazerosas que tive com esportes radicais e
alguns questionamentos que surgiram durante a pesquisa na graduação em
licenciatura em Educação Física. O presente estudo tem por objetivo verificar
as possíveis contribuições para este “novo” segmento, dando embasamento
teórico para profissionais e praticantes com o intuito de verificar até que ponto
a escalada pode contribuir na qualidade de vida das pessoas da sociedade
moderna.
309
O desenvolvimento do trabalho para que pudesse alcançar o objetivo da
pesquisa, aconteceu através de uma pesquisa bibliográfica onde foram
levantados alguns conceitos de esportes radicais, histórico da escalada,
malefícios da sociedade moderna e as possíveis contribuições da modalidade
sobre estas causas.
O presente estudo tem como objetivo verificar a influencia dos possíveis
benefícios da escalada enquanto atividade física na qualidade de vida dos
praticantes para que profissionais e praticantes tenham informações científicas
dentro da modalidade. Além disso, procurou-se pesquisar sobre a sociedade
moderna e os benefícios físicos, cognitivos e sociais da escalada.
Método
Os esportes de aventura ainda é um assunto muito novo no meio
acadêmico e principalmente quando se relaciona à qualidade de vida que é um
conceito difícil de ser abordado. Portanto, a pesquisa irá ser realizada em
apenas uma etapa. Sendo que para isso houve um levantamento bibliográfico,
pois segundo Cervo e Bervian (1996, p. 48) “é feito com intuito de recolher
informações e conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se
procura resposta ou acerca de uma hipótese que se quer experimentar” e para
Gil (2001, p. 65) “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos, a partir da técnica de análise de
conteúdo”.
Hoje em dia pouco tem se falado sobre a escalada esportiva como um
estilo de vida ativo por falta de referências, deste modo esta pesquisa visa
contribuir para futuras pesquisas sobre o assunto e para ajudar os profissionais
da área a ter mais conhecimento. Esta pesquisa utiliza a metodologia de
pesquisa bibliográfica que segundo a autora Andrade (2001), “a revisão
bibliográfica deve começar pelas obras de caráter geral: enciclopédias,
anuários, catálogos, resenhas abstracts, que indicarão fontes de consulta mais
especifica”. Segundo o autor Gil (1991), “deve ser procurada a partir de
material já elaborado procede-se á pesquisa bibliográfica”, que ambos mostram
o mesmo sentido em frases diferentes.
Esportes Radicais
310
Segundo Pereira; Armbrust; Ricardo (2008), a prática dos esportes
radicais existe há muito tempo, mas foi no início do século XXI que este
fenômeno passou a tomar proporções consideráveis no âmbito acadêmico
sendo discutido no segmento da educação física, porém até os dias de hoje,
ainda geram muitas discussões em saber quais são os reais conceitos,
classificações e características destes tipos de esportes.
De acordo com Romanini e Umeda (2002), poucas coisas associam tão
bem o útil ao agradável quanto os esportes de aventura. Praticar esportes faz
bem à saúde, ajuda a combater o estresse e deixa o corpo em forma. A
aventura na natureza, então, é uma benção para o espírito. Explorar a
natureza, caminhar por trilhas no meio da floresta, entrar em contato com a
riqueza da vida selvagem são prazeres que não tem preço.
Não é qualquer esporte que consegue ser aceito pelo
público, ele deve possuir aquele “algo mais”. Esse “algo
mais” faz dos Esportes Radicais um atrativo para pessoas
que buscam uma experiência diferenciada no esporte, e
que querem sentir ou ter emoção acima de tudo e até correr
um risco (calculado e com segurança), sentir o contato com
a natureza e a adrenalina (QUINTIERI, 2002).
Romanini e Umeda (2002) define que genericamente, pode-se dizer que
a expressão “esportes de aventura” engloba toda modalidade esportiva
praticada na natureza, que envolva treinamento prévio e equipamentos
específicos. Nela estão incluídos desde caminhadas até esportes que
empregam tecnologia de ponta e exigem uma técnica apurada do praticante,
entre os objetivos dos esportes de aventura estão o contato com paisagens
naturais, o bem-estar proporcionado pela atividade física e a superação dos
limites físicos e psicológicos.
Qualidade De Vida
Em eventos científicos nacionais e internacionais realizados nos últimos
anos observa um crescimento significativo no que diz respeito à prática de
atividades físicas relacionadas à qualidade de vida, e muitas são as
declarações documentadas neste sentido.
311
Sendo assim, nada mais justo conceituar o termo qualidade de vida. Mas
seria tão simples o quanto parece?
Por si só o termo “qualidade de vida” já traz uma imensa complexidade
de entendimento.
“Definir qualidade de vida não é tarefa simples, dada a complexidade da
abrangência dessa expressão” (GÁSPARI, 2001, p. 109).
Segundo Fleck e et al (1999), existe uma preocupação com o conceito
“qualidade de vida” que tem como definição um movimento dentro das ciências
humanas e biológicas no sentido de valorizar os parâmetros mais amplos que o
controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa
de vida.
O termo qualidade de vida aplicado na literatura parece não ter um único
significado, já que a maioria dos artigos que utilizam ou propõe instrumentos
para sua avaliação não tem uma própria definição para qualidade de vida.
A Sociedade Moderna
Sabe-se que o desenvolvimento industrial e a tecnologia trouxeram
inúmeros benefícios para a sociedade moderna, no entanto, contribuiu também
para a mudança de comportamentos tornando o ser humano cada vez mais
sedentário (OLIVEIRA, 1996).
Rosa e Vaz (2000) defende que a atividade física está sendo prescrita
por muitos profissionais da saúde como instrumento para combater os
malefícios da sociedade moderna, entre eles: colesterol elevado, asma,
desvios da coluna, estresse, ansiedade, depressão e o principal que é o
sedentarismo.
Pimenta e Palma (2001), reforça que a escolha de um estilo de vida
mais sedentário possa estar colaborando para o aumento da obesidade infantil,
tudo isso em virtude da ausência da atividade física associada a dieta
inadequada tais como: fast food’s, televisão, vídeo-game, computador, entre
outros. O autor ainda destaca que normalmente, quando se assiste à televisão
existe uma correlação com a vontade de comer, e ressalta que os alimentos
ingeridos são de alto teor calórico (pipoca, batata frita, biscoitos, chocolates,
doces, etc).
312
Estes hábitos estão diretamente relacionados com algumas patologias
como: hipertensão arterial, diabetes mellitus, apnéia obstrutiva do sono e
inúmeros tipos de câncer (OLIVEIRA, 1996).
Ferreira, Matsudo e Matsudo e Braggion (2005) ressaltam que a vida
moderna tende a ser pouco saudável, uma vez que provoca stress,
alimentação inadequada e a não regularidade na prática de exercícios físicos, e
que com todos esses fatores mencionados, a qualidade de vida da população
fica bastante abalada, tanto em nível físico quanto psicológico.
Esta problemática adquiriu tamanha dimensão fazendo com que
autoridades médicas e governamentais criassem programas de educação para
a saúde, que estimulem a prática da atividade física regular como fator de
prevenção de doenças relacionadas à obesidade (OLIVEIRA, 1996).
Associa-se então que o tempo destinado à prática de alguma atividade
física muito provavelmente foi substituído pelos hábitos sedentários. Cabe
então aos pais e profissionais da saúde intervir e orientar as crianças e
adolescentes, no que diz respeito aos benefícios da atividade física, sabendo
inclusive que hábitos ensinados nestas fases podem persistir até a fase adulta.
Portanto, acredita-se que a educação física seria um meio promotor de hábitos
físicos e/ou esportivos mais saudáveis e desta forma, contribuiria no processo
de prevenção da obesidade (ZANELLA, 1998).
Oliveira (1996), ainda acrescenta que: a saúde e a qualidade de vida do
homem podem ser preservadas e aprimoradas através da prática regular da
atividade física, e somente com a mudança de hábitos, sendo a introdução de
uma vida fisicamente ativa associada à uma dieta adequada será possível lutar
contra a verdadeira epidemia que se expande rapidamente pelo mundo
chamada obesidade. E ainda reforça que é dever do profissional da saúde,
independente de sua especialidade estimular a prática da atividade física como
instrumento de promoção da saúde.
Influência do Sedentarismo na Obesidade
A redução da ingestão de alimentos preparados em casa, em detrimento
de alimentos industrializados, o aumento do consumo de refrigerantes e de
bebidas alcoólicas, a redução de atividade física, incluindo o gasto de energia
313
no trabalho e o uso crescente do automóvel tem aumentado a prevalência de
obesidade nas populações urbanas do ocidente (CARVALHO, 2006).
Rosa e Vaz (2000), diz que, se por um lado ainda é difícil resolver a
problemática sobre o real papel do sedentarismo no desenvolvimento da
obesidade, por outro lado existem poucas dúvidas sobre a relevância do
exercício físico regular para o controle da obesidade e dos outros fatores de
risco de doenças cardiovasculares associados a ela.
Exercício Físico Regular e Obesidade
De acordo com Zanella (1998), o excesso de tecido adiposo, que
caracteriza a obesidade, ocorre pelo balanço energético positivo de forma
crônica, isto é, uma ingestão calórica que ultrapassa o gasto calórico. Embora
os mecanismos que determinam a obesidade não sejam totalmente
conhecidos, sabe-se que a interação de alguns fatores acaba caracterizando a
obesidade como uma doença multifatorial.
Dentre os fatores ambientais, a abundância de alimentos saborosos de
baixo custo é sem dúvida uma das causas que mais contribui para a
obesidade. Outro consenso sobre a causa do aumento da obesidade no mundo
industrializado está no consumo de grande proporção de calorias derivadas da
gordura e no estilo de vida sedentário afirma Bray (1998).
Segundo Carvalho (2006), ficou evidenciado que a maioria dos estudos
prospectivos tem demonstrado uma relação significativa e inversa entre o nível
habitual de atividade física e o ganho de peso ao longo dos anos de vida. A
redução do gasto energético pela diminuição de atividade física habitual,
associada à rotina da vida diária e ao aumento do tempo gasto em hábitos
sedentários que já foram citados anteriormente (televisão, trabalhar no
computador, jogar videogames, entre outros) tem levado as pessoas a se
tornarem cada vez mais obesas.
Bray (1998), diz que, aparentemente a estratégia para se reverter esse
quadro seria muito simples, isto é, bastaria ter refeições regulares e saudáveis,
evitando-se lanches com alta densidade calórica, beber água em vez de
refrigerantes calóricos, diminuir o número de horas gastas na frente da
televisão, andar mais e participar mais de atividades esportivas. Entretanto,
essas condutas, em geral, contrariam as mudanças impostas pelo progresso
da modernidade.
314
Para Negrão, Trambetta, Tinucci e Forjaz (2000), o assunto que merece
ênfase, diz respeito ao efeito benéfico do exercício físico na manutenção, em
médio prazo, do peso corporal. Se por um lado, o exercício físico provoca
perda de peso corporal mais discreta e gradual que a dieta hipocalórica, por
outro lado, ele evita o reganho de peso corporal em obesos, o que
normalmente não ocorre com a dieta hipocalórica.
Ainda Negrão, Trambetta, Tinucci e Forjaz (2000) em resumo, apesar da
falta de estudos prospectivos definitivos que mostrem que um nível baixo de
atividade física é um risco para o desenvolvimento da obesidade, e que, ao
contrário, um alto nível de atividade física protege contra obesidade, o princípio
que norteia o balanço energético, isto é, a relação entre a ingestão calórica e o
gasto energético permite a suposição de que quanto menor o gasto energético
maior o ganho de peso e vice-versa. Pode-se dizer ainda que o exercício físico
regular ofereça um benefício independente nas várias comorbidades da
obesidade, portanto, um estilo de vida ativa, com conseqüente aumento da
capacidade física, pode atenuar o risco de morbidade e mortalidade em
indivíduos com sobrepeso ou obesos.
Estilo de Vida Ativa
O estilo de vida fisicamente ativa inclui hábitos e comportamentos
autodeterminados, adquiridos social ou culturalmente de modo individual ou em
grupos.
O próprio indivíduo tem controle sobre hábitos e atitudes prejudiciais a
saúde, cabendo a ele ter consciência de buscar o incentivo e orientação
necessária para a mudança dos maus-hábitos (ROUQUAYROL, 1999).
Nessa ótica de reflexão, as academias de atividades físicas são espaços
representativos desse novo olhar sobre a prática de exercícios, oferecendo,
inclusive, para a população urbana, a possibilidade da prática regular, o que
tem um papel decisivo no contexto na melhoria do bem-estar geral (SABA,
2001).
O número de academias era pequeno no Rio de Janeiro entre a década
de 30 e final da década de 50. Entretanto, as academias proliferaram nas
principais cidades brasileiras na década de 60, tendo o auge de surgimento no
início dos anos 70 (NOVAES, 1991).
315
Mas, foi a partir da década de 70, que aconteceu a expansão das
academias, sendo tal fato considerado como um dos maiores fenômenos
sociais ocorridos recentemente. A crescente aderência às atividades oferecidas
nas academias tem motivos e fatores variados, conforme ressalta Marinho;
Guglielmo (1997).
Fato
este
que
abriu
oportunidade
para
que
academias
se
especializassem em modalidades diferenciadas estando a escalada entre elas.
Os indivíduos procuram as academias de ginástica com objetivos
diversificados, da estética corporal à compensação ou correção de problemas
físicos (MARINHO; GUGLIELMO, 1997).
De forma semelhante, Okuma (1994) enfoca que obter benefícios para a
saúde, como sentir-se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o
stress, são os principais fatores que fazem com que determinado indivíduo
adira a um programa de exercícios físicos regulares.
As influências sociais da família e amigos são, também, de extrema
importância à manutenção da atividade física, pois este suporte social incentiva
o praticante a manter o interesse em continuar fisicamente ativo (DISHMAN,
1998).
De acordo com Guarnieri (1997), a população está cada vez mais se
preocupando com a melhoria da qualidade de vida através de um estilo de vida
fisicamente ativa e também da conscientização, a respeito da importância do
exercício físico.
Atividade Física e Saúde
Nesta linha, Matsudo e Matsudo (2000), afirmam que os principais
benefícios à saúde, advindos da prática de atividade física referem-se aos
aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Os
efeitos metabólicos apontados pelos autores são o aumento do volume
sistólico; o aumento da potência aeróbica; o aumento da ventilação pulmonar; a
melhora do perfil lipídico; a diminuição da pressão arterial; a melhora da
sensibilidade à insulina e a diminuição da freqüência cardíaca em repouso e no
trabalho
submáximo.
Com
relação
aos
efeitos
antropométricos
e
neuromusculares ocorre, segundo os autores, a diminuição da gordura
316
corporal, o incremento da força e da massa muscular, da densidade óssea e da
flexibilidade.
E, na dimensão psicológica, afirmam que a atividade física atua na
melhoria da auto-estima, das funções cognitivas e de socialização, na
diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de
medicamentos (NOVAES, 1991).
Guedes e Guedes (1995), por sua vez, afirmam que a prática de
exercícios físicos habituais, além de promover a saúde, influencia na
reabilitação de determinadas patologias associadas ao aumento dos índices de
morbidade e da mortalidade. Defendem a inter-relação entre a atividade física,
aptidão física e saúde, as quais se influenciam reciprocamente.
Estudos experimentais sugerem que a prática de atividades de
intensidade moderada atua na redução de taxas de mortalidade e de risco de
desenvolvimento
de
cardiovasculares,
doenças
degenerativas
hipertensão,
osteoporose,
como
as
diabetes,
enfermidades
enfermidades
respiratórias, dentre outras. São relatados, ainda, efeitos positivos da atividade
física no processo de envelhecimento, no aumento da longevidade, no controle
da
obesidade
e
em
alguns
tipos
de
câncer
(POWELL,1985;
GONÇALVES,1996; MATSUDO E MATSUDO,2000).
Com base nas informações anteriores acredita-se que indivíduos que
optam por um estilo de vida ativa pode ter uma melhor condição em sua
qualidade
de
vida
quando
comparados
a
indivíduos
sedentários
(POWELL,1985).
Um exemplo marcante esta na escalada pois este esporte é uma prática
que exige o máximo de força e concentração do atleta. Além disso, é
necessário muita técnica, coragem e adrenalina para ter um bom desempenho
no esporte. Mas, para isso a pessoa deve fazer um treinamento adequado e ter
uma excelente alimentação. E as pessoas que querem praticar o esporte, mas
não encontram muito tempo disponível, podem praticar nas paredes de
escalada disponíveis em algumas academias. Isso irá ajudar muito a livrar a
tensão e o estresse do dia-a-dia (PEREIRA, 2007).
É importante para os praticantes de escalada suprir as necessidades do
corpo com os nutrientes necessários para melhorar o rendimento físico, a
forma física e aumentar a massa muscular, para ter força suficiente para
317
escalar melhor as paredes ou montanhas. Para isso, é importante ter uma boa
alimentação (NOVAES, 1991).
Estilo de Vida Ativa e a Escalada
Seja jogando futebol ou vôlei, correndo, nadando ou pedalando,
caminhando, andando de skate ou surfando, mergulhando ou escalando
montanhas, um número cada vez maior de pessoas, de todas as idades, tem
buscado no lazer ativo a realização pessoal e a compensação para o estilo de
vida – predominantemente estressante e sedentário - das sociedades
modernas. Mas uma parcela significativa da sociedade continua muito menos
ativa do que o recomendável para a promoção da saúde, sendo em torno de
60% da população de trabalhadores da indústria no Brasil (DISHMAN, 1998).
Pimenta e Palma (2001), afirma, sozinho ou em grupo com adversários
ou desafiando a natureza, buscamos a superação, a vitória, o companheirismo,
o relaxamento da tensão diária, a boa forma física e a saúde. Nem sempre
nossas metas são atingidas, mas não há dúvidas de que o saldo, na relação
atividade física – qualidade de vida é altamente positivo. Mesmo na forma de
prática esportiva, muitas vezes referida como um risco para a saúde, mais
amizades são construídas do que são desfeitas; muito mais alegria é derivada
dessa prática do que tristeza; mais companheirismo que conflitos, mais
formação que desvios, mais saúde e bem-estar do que lesões. Com boa
orientação, os riscos são infinitamente menores que os benefícios da prática
esportiva ou de qualquer outra forma de atividade física. Sendo assim, pode-se
enquadrar a escalada como uma modalidade que traria benefícios a indivíduos
já que é uma modalidade em que tem características que foram citadas
anteriormente.
Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que para uma política para o esporte
no Brasil deve ter por meta criar condições para motivar as pessoas para a
prática esportiva e criar oportunidades para que esta motivação se torne em
aplicação. Mais que uma ocupação do tempo livre, trata-se de um direito de
todo cidadão brasileiro.
De acordo com Pereira (2007), uma prática esportiva que exige o
máximo de força e concentração do atleta é a escalada. Além disso, é
necessário muita técnica, coragem e adrenalina para ter um bom desempenho
318
no esporte. Mas, para isso deve existir a pratica. E as pessoas que querem
praticar o esporte, mas não encontram muito tempo disponível, podem praticar
nas paredes de escalada disponíveis em algumas academias. Isso irá ajudar
muito a livrar a tensão e o estresse do dia-a-dia.
Um estilo de vida saudável representa um modo de viver que incorpora
hábitos promotores do bem-estar e da qualidade de vida, e que tem por base a
busca pelo equilíbrio pessoal e a harmonia com o ambiente. Trata-se, portanto,
de um “processo” e não um “produto”; uma viagem e não um porto de chegada.
Neste contexto, a prática de atividades físicas – seja no deslocamento diário,
no lar, no trabalho e, principalmente no lazer – tem ganhado destaque no meio
acadêmico e na mídia popular, passando a ser tema relevante de políticas
públicas (PEREIRA, 2007).
A elaboração de estratégias, os desafios encarados e o controle do
medo e da ansiedade durante as escaladas ajudam a combater o estresse do
dia-a-dia.
O autor ainda cita que este esporte ainda traz alguns benefícios, entre
eles: trabalha todos os músculos melhorando a coordenação motora e
desenvolvendo a agilidade, regulariza o sistema nervoso, desenvolve a
capacidade de concentração podendo ser transferida para atividades do
cotidiano, como por exemplo: enfrentar desafios, desenvolver a disciplina, força
de vontade, autoconfiança, coragem, memória, além de fazer bem para o
sistema respiratório e ativar a circulação.
A prática de atividades físicas tem sido altamente valorizada nos dias
atuais. O stress das grandes cidades, questões ligadas ao sedentarismo, má
alimentação, entre tantos outros fatores que já foram citados anteriormente,
são elementos significativos que impulsionam as pessoas a procurarem
“válvulas de escape”, capazes de minimizar esses efeitos deteriorantes da
qualidade de vida. Este interesse humano na busca por qualidade de vida tem
impulsionado muitas pessoas a usufruírem da potencialidade dos exercícios
físicos, sejam eles realizados em instalações esportivas convencionais ou
mesmo aqueles realizados em contato direto com o ambiente natural (como no
caso da maioria modalidades de escalada).
Considerações Finais
319
A partir das informações levantadas no decorrer dos capítulos
anteriores, verificou-se que a sociedade moderna aumenta os seus malefícios
a cada dia, tudo isso em virtude da tecnologia que a cada dia que passa está
mais desenvolvida. Tecnologia esta, que torna os indivíduos cada vez mais
sedentários e consumistas de dietas hipercalóricas, prejudicando diretamente
na qualidade de vida das pessoas que consequentemente desenvolvem
algumas doenças.
Qualidade de vida, que por sua vez diverge opiniões de inúmeros
autores, não tendo um conceito específico e coerente entre eles, porém,
entendemos que para a obtenção de uma boa qualidade de vida, os indivíduos
não dependem exclusivamente de um único fator, mas para que ela seja
alcançada é necessário acontecer à soma de inúmeros fatores e não apenas
levar em consideração a prática de atividade física. Por este motivo buscamos
então o entendimento de estilo de vida ativa, relacionando com a escalada
sendo ela um tipo de atividade física e se assim ela poderia colaborar nestas
problemáticas.
A adoção do estilo de vida ativa auxilia na melhoria do sistema
imunológico, redução na pressão sanguínea, redução na quantidade da
gordura corporal e é evidente os efeitos benéficos da atividade física sobre
doenças como obesidade, osteoporose e diabetes, sendo a escalada uma
opção de atividade física podendo favorecer o indivíduo a tais efeitos.
Com os resultados levantados durante este estudo, acredita-se então
que a escalada é uma opção diferenciada de modalidade esportiva e que o
treinamento físico desta modalidade poderia colaborar com a diminuição de
doenças, aumentar a expectativa de vida e desenvolver alguns benefícios,
sendo eles: motor, cognitivos ou sociais. Por outro lado, sugerimos novas
pesquisas, pois este estudo não suficiente para dar embasamento total,
propondo novas pesquisas para abrir novos horizontes já que existem muitas
limitações e poucos estudos que relacionam os dois temas.
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