A dança nos Jogos Olímpicos da antiguidade
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A dança nos Jogos Olímpicos da antiguidade
A dança nos Jogos Olímpicos da antiguidade Aline Nogueira Haas 1 | [email protected] Carolina Dias Indara Jubin Leal Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil 0 | Abstract The aim of this study was to identify the development of dance parallel to the Olympic Games of Antiquity. The method used was descriptive with qualitative analyses. The data were collected through content analysis from various documents. These data were interpreted and gave support to a choreographic construction called: “Ancient Greece, where everything had begun: Ritual to the God Dionysius”. Caminada 1 Professora Doutora da Faculdade de Educação Física e Ciências do Deporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e orientadora do trabalho. 2 Acadêmica da Faculdade de Educação Física e Ciências do Deporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 3 Professora de Educação Física formada pela Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul | 736 (1999) says that the ancient Greeks carried out celebrations to honor Dionysius through dances. Other data showed that during the Pythian Games of Antiquity, in which just men could participate, female rituals occurred at Mount Parnassus in the city of Delphos in honor to Dionysius. In these rituals, Greek women got together, dancing and offering banquets in homage to this God. In such case, by the time the Olympic Games took place, these dances to Dionysius also happened, showing a way of female participation in religious rituals characteristic of Ancient Greece. 1 | Onde tudo começou O Grupo de Estudos em Dança do Curso de Educação Física e Ciências do Desporto da PUCRS existe desde o primeiro semestre de 2002 e, desde sua formação, o mesmo vem realizando estudos sobre a temática da Dança paralela aos Jogos Olímpicos. Desde então, vêm-se produzindo pesquisas sobre este tema, buscando-se, cada vez mais, encontrar a relação da dança com os “Rituais e Cerimônias Olímpicas”. Este estudo teve como principal objetivo identificar como a dança ocorria de forma paralela aos Jogos Olímpicos da Antiguidade; e, como objetivos específicos (i) verificar os tipos de dança presentes na cultura grega da Antiguidade e (ii) identificar como as mulheres gregas se manifestavam durante os Jogos Olímpicos da Antiguidade. A metodologia utilizada foi de cunho descritivo e teve análise qualitativa. A coleta de dados ocorreu através da análise 737 | de conteúdos obtidos em documentos bibliográficos. Os dados coletados foram interpretados, dando suporte, após sua análise, para a elaboração de uma coreografia de dança contemporânea denominada “Grécia Antiga, onde tudo começou: Ritual ao Deus Dionísio”. 2 | A Dança paralela aos Jogos Olímpicos da Antiguidade Segundo Caminada (1999), os Gregos na Antiguidade realizavam algumas celebrações em honra ao deus Dionísio, onde danças aconteciam. Dentre estas celebrações estão as Antesterias, festas da colheita; as Grandes Dionisíacas, festas realizadas no verão; as Dionísias Urbanas, com caráter de festival; as Dionísias Campestres; e, as Linéias, festas celebradas durante a primavera e o inverno. O deus Dionísio é acompanhado em sua origem por uma dualidade: de um lado, é considerado o deus da fertilidadefecundidade e, de outro, é o deus do entusiasmo, embriaguez e do transe. As danças dionisíacas, a princípio danças sagradas, danças de loucura mística, alcançam a forma de cerimônia litúrgica, fixa no calendário; posteriormente, passam a ser cerimônia civil, tornando-se arte teatral e dança de diversão (Boucier, 1987). Dados encontrados no vídeo “Grécia: Tempos de Supremacia” (1997) revelam que paralelamente aos Jogos Píticos da Antiguidade, onde somente os homens podiam participar, ocorriam cultos femininos no Monte Parnaso na Cidade Delfos em honra ao deus Dionísio, nos quais as | 738 mulheres gregas se reuniam, lhe rendendo homenagens através da dança e de banquetes. As danças sagradas e guerreiras, originadas entre os dórios, não tardaram a passar para o contexto dramático. Eram executadas ao redor do altar de Dionísio em Atenas. As bailarinas dessas danças solenes iam ao templo de Apolo em Delfos e a outros lugares (Markenissis, 1995). De acordo com Portinari (1989), Dionísio era o deus mais envolvido em dança na Antiguidade grega. Esse envolvimento era remanescente dos rituais de fertilidade do antigo Mediterrâneo. O culto dionisíaco era acompanhado por cantos alegres, hino coral e mímicas, expressando o duplo nascimento de Dionísio. Inicialmente o culto era mais feminino, as mulheres usavam guirlandas de folhas de vinha e cobriam-se com pele de bode em homenagem a Dionísio, dançando até chegar ao transe. Elas despedaçavam animais e comiam a carne crua, para incorporar a força divina, e eram conhecidas como mênades ou “prossessas” (mulheres desfrutadas, libertinas). Os gregos, na Antiguidade, diziam que quando dançavam eram acompanhados por Apolo e Dionísio: o rítmico Dionísio à esquerda e a força de Apolo marcando o compasso à direita. O êxtase Dionisíaco pertence à herança clássica da dança. Dionísio era visto como o excitável, tendo forte ligação com as forças da natureza, era a imagem da existência e da perdição total. Ele é o dançante embriagado que levava alegria, mas por outro lado era o deus sofredor, por não ter nada concreto, instável, algo certo, estava sempre renovando (Woisen, 2000). 739 | O culto a Dionísio era considerado um delírio sagrado feito por mulheres, e após a adaptação do culto a festivais religiosos, permitiu-se a participação de homens, dançando em rivalidade frenética com as bacantes, afirma Bonilla (1964). O mesmo autor coloca que nos antigos vasos gregos é possível identificar a frenética dança das mulheres possuídas pela exaltação dionisíaca. Era chamada de “Ditirambo” (cantos alegres ou sombrios de caráter apaixonado, podendo conter narrativas) a dança em homenagem a Dionísio feita por cinqüenta dançantes acompanhados de guirlandas. Nessa dança um personagem representa Dionísio ao centro, e é ele que irá conduzir a dança de acordo com o mito egípcio de Osíris, representando a vida, a morte e a ressurreição de Dionísio, identificado com a vida terrestre da vegetação. No volume I da Enciclopédia Abril Cultural sobre Mitologia Grega detectou-se que o nome dado às nutrizes de Dionísio era Mênades ou Bacantes (Roma). Posteriormente, foram chamadas assim as jovens que, simulando delírios dionisíacos, celebravam as orgias com gritos e danças desnorteadas. Os gregos representavam-nas com cabelos soltos e véus diáfanos, ora levando jarras nas mãos, ora entregues à dança e tocando flautas ou tamborins. 3 | Considerações Finais Após análise e discussão dos dados, considera-se que paralelamente aos Jogos Olímpicos da Antiguidade ocorriam as Danças Dionisíacas, como uma forma de participação feminina em rituais religiosos, característicos da Grécia Antiga. | 740 É importante ressaltar que a partir desta investigação resulta a coreografia “Grécia Antiga, onde tudo começou: Ritual ao Deus Dionísio”, apresentada em mais de uma oportunidade nos projetos de Educação Olímpica realizados na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Faculdade Cenecista de Osório (FACOS). Destaca-se também que a realização de estudos nessa área é de extrema importância, devido à pouca produção e publicação de pesquisas na mesma. Dessa forma, sugerese que mais estudos sejam realizados na área, para que haja um aprofundamento científico cada vez maior no tema em questão. 4 | Referências BONILLA, L. La Danza en el Mito y en la Historia. Madrid: Biblioteca Nueva, 1964. BOUCIER, P. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Editora Martins Fontes Ltda, 1987. CAMINADA, E. História da Dança: Evolução Cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. MARKESSINIS, A. Historia de la Danza e sus Orígenes. Madrid: Librerías Deportivas Esteban Sanz Martier, S.L., 1995. MARKONI, M. de A. e LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991. PORTINARI, M. História da Dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. 741 | WOSIEN, B. Dança: um caminho para a totalidade. São Paulo: TRIOM, 2000. ENCICLOPÉDIA ABRIL CULTURAL. Mitologia Grega. Volume I. São Paulo, 1973. VÍDEOLAR MULTIMÍDIA. Grécia: Tempos de Supremacia. São Paulo: Vídeolar Multimídia, 1997. 1 videocassete, 48 min., VHS, NTSC, son., color. | 742