Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses em
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Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses em
Lima KM, et al • Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses... ARTÍCULO ORIGINAL/ARTIGO ORIGINAL Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses em pacientes HIV-positivos* Clinical and microbiological characteristics of onychomycosis in HIV-positive patients Kedma de Magalhães Lima¹ Rossana Sette de Melo Rêgo² Cláudio Figueiredo de Araújo Pereira3 Célia Maria Machado Barbosa de Castro4 ¹ Biomédica, Especialista em Microbiologia e Mestranda em Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. ² Médica, Especialista em Micologia, NKBPE Medicina Diagnóstica, Recife, PE, Brasil. ³ Médico, Especialista em Patologia Clínica pela Associação Médica Brasileira, Professor Assistente do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal Fluminense/RJ e especialista em Administração em Saúde (MBA). Instituto Biomédico, Niterói, RJ, Brasil. 4 Médica, Professora Associada do Departamento de Medicina Tropical e Responsável pelo Laboratório de Imunopatologia da Universidade Federal de Pernambuco. Laboratório de Imunopatologia – UFPE, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. * Trabalho desenvolvido no Hospital Correia Picanço, Setor de Micologia Médica da NKB Medicina Diagnóstica - PE e Departamento de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Rev Panam Infectol 2009;11(3):7-14 Conflicto de intereses: ninguno Recibido en 23/7/2008. Aceptado para publicación en 12/2/2009. Resumo Onicomicoses afetam 15-40% dos pacientes com HIV. São causadas por leveduras, dermatófitos e fungos filamentosos não-dermatófitos (FFND), apresentando as formas clínicas de onicomicose subungueal distal e lateral (OSDL), branca superficial (OBS), distrófica (OD) e subungueal proximal (OSP). Objetivamos descrever os aspectos clínicos e laboratoriais de onicomicoses em pacientes HIV-positivos. Trata-se de estudo descritivo realizado no Hospital Correia Picanço, Recife - PE. Foram coletadas escamas ungueais de lesões sugestivas de onicomicose em pacientes encaminhados para exame micológico. Os fragmentos ungueais retirados com cureta estéril foram submetidos à pesquisa direta e cultura. Dos 100 pacientes com micoses superficiais, 35 (35%) possuíam suspeita de onicomicose. Destes, 5 (14,5%) apresentavam lesões ungueais em pés e mãos. Das 40 amostras, 22 (55%) pertenciam ao sexo feminino, 18 (45%) ao masculino; 21 (52,5%) eram em unhas das mãos e 19 (47,50%) em unhas dos pés. A idade média foi de 40,7 anos. Dos 21 casos de OSDL, 71,42% eram em pés e dos 15 casos de OD, 93,33% eram nas mãos. Leveduras foram isoladas em 21 (52,5%), FFND em 7 (17.5%), dermatófitos em 4 (10%) e infecções mistas (leveduras+bactérias) em 3 (7,5%). O diagnóstico micológico para as suspeitas de onicomicose foi confirmado nas 40 amostras, entretanto não houve crescimento fúngico em 5 dos cultivos. A OSDL foi a principal forma clínica encontrada nos pés, enquanto OD, em mãos. Em todas as suspeitas de onicomicose houve confirmação por exame direto e/ou cultura micológica. Levedura foi o patógeno predominante, seguido por FFND, passando os dermatófitos a um plano inferior. Palavras-chave: Onicomicoses, HIV, fungos filamentosos, leveduras. Abstract The onychomycosis affect 15-40% of individuals with HIV. They are caused by yeast, dermatophytes and nondermatophytic molds (NDM) that can cause distal and lateral hyperkeratosis, dystrophy, paronychia and leukonychia. Our objective is to describe the clinical and laboratory aspects of onychomycosis in HIV-positive. A descritive study was carried out in Hospital Correia Picanço, Recife, Pernambuco. They were collected material of nail lesions suggestive of onychomycosis in patients assigned to mycological examination. The fragments 7 Rev Panam Infectol 2009;11(3):7-14. were removed with sterile curette. We made direct microscopy examination and culture for identification of species. Of the 100 patients assigned to mycological examination, 35(35%) had suspected onychomycosis. Of these, 5(14.5%) had injury toenails and fingernails. Of the 40 samples, 22(55%) belonged to the female, 18(45%) were males, 21(52.5%) were fingernails and 19(47.50%) in toenails. Mean age was 40.7 years. Of the 21 cases of distal and lateral hyperkeratosis, 71.42% were in toenails. Of the 15 patients with dystrophy, 93.33% were fingernails. Yeasts were isolated in 21(52.5%), NDM in 7(17.5%), dermatophytes in 4(10%) and mixed infection (yeast+bacteria) in 3(7.5%). The diagnosis mycological for suspected onychomycosis has been confirmed in 40 suspected, however there has been growth in 5 culture. The distal and lateral hyperkeratosis was the main clinical aspect of the toenails, while dystrophyin fingernails. In all suspected of onychomycosis were confirmed by direct examination and/or culture. Yeast was predominant pathogen, followed in frequency by NDM, passing the dermatophytes the lower level. Key words: Onychomycosis, HIV, molds, yeast. Introdução Em pacientes infectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) ocorrem inúmeras doenças cutâneas e mucocutâneas.(1) Entre as doenças dermatológicas podemos destacar a onicomicose, considerada como um marcador clínico precoce da infecção por HIV. Essa micose ungueal ocorre com frequência quando a contagem de células CD4+ aproxima-se de 450 células/mm3.(2,3) Onicomicose associada à Aids (Acquired Immunodeficiency Syndrome) é caracterizada pela maior frequência de aspectos clínicos incomuns e resistência ao tratamento convencional.(4) Várias espécies fúngicas oportunistas são frequentemente isoladas e podem ser reflexo do estado de imunocomprometimento.(1) Apenas alguns estudos têm demonstrado a etiologia e as alterações clínicas provocadas por fungos nas unhas que ocorrem em associação com infecção pelo HIV.(3,5,6) Os agentes causais de patologias ungueais incluem as leveduras, especialmente pertencentes ao gênero Candida; os dermatófitos, que acometem principalmente as unhas dos pés; e os fungos filamentosos não-dermatófitos (FFND), que fazem parte de um grupo amplo e heterogêneo, que ocorrem em vegetais e solos de todo o mundo.(7) Os FFND são considerados como fungos contaminantes, sapróbios e agentes oportunistas, porém sua frequência como agente etiológico de onicomicose tem aumentado.(8) As diferentes espécies fúngicas podem provocar alterações ungueais caracterizadas por hiperceratose 8 subungueal iniciada pelo bordo livre das unhas na região lateral e/ou distal, descolamento ungueal na proximidade da cutícula, reação inflamatória comprometendo as dobras periungueais e o aparecimento de manchas brancas na superfície das unhas.(9) A melanoníquia longitudinal, manchas escuras na superfície da unha, também é considerada sintoma bem conhecido em associação ou não a tratamento com zidovudina.(10) Sabe-se que infecção fúngica nos pés associada à onicomicose possui maior frequência em pacientes HIV-positivos.(11) Além disso, onicomicoses em imunodeprimidos podem apresentar variações nas formas clínicas e agentes causais.(12) O Trichophyton rubrum tem sido relacionado em vários trabalhos como principal agente causal de onicomicose em HIV-positivos,(11,13) sendo a onicomicose branca superficial a principal característica clínica. Estudos mais recentes têm demonstrado que, em países da América Latina, a realidade das onicomicoses em portadores do HIV é diferente, ocorrendo outros grupos de fungos como principais agentes causais e diferentes formas clínicas de apresentação.(5,14) Para pacientes HIV-positivos, existem poucos estudos que correlacionem os aspectos clínicos das onicomicoses e os grupos fúngicos, bem como idade, sexo do paciente, tempo de início da lesão, nível de CD4+ e região anatômica (mãos ou pés). Justifica-se ainda o presente estudo pela variação de doenças dermatológicas verificada entre diferentes países ou regiões, sendo relevante conhecer o espectro das onicomicoses entre pacientes infectados pelo HIV em distintas regiões. Assim, o objetivo do presente estudo é descrever os aspectos clínicos e microbiológicos das onicomicoses em um grupo de pacientes com HIV residentes na região metropolitana do Recife, Pernambuco, Nordeste no Brasil. Pacientes e métodos Seleção dos pacientes: Foram estudadas lesões sugestivas de onicomicose em mãos e/ou pés de todos os pacientes HIV-positivos que foram atendidos no ambulatório de Dermatologia do Hospital Correia Picanço, Recife, Pernambuco, Brasil e encaminhados para pesquisa micológica de lesões diversas no período de janeiro a outubro de 2007. Os pacientes provinham da região metropolitana do Recife. O Hospital Correia Picanço é referência para acompanhamento de pacientes com Aids no Estado de Pernambuco. Todos os pacientes foram inicialmente avaliados por dermatologista. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco. Foram incluídos na pesquisa os pacientes que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e que permitiram o preenchimento Lima KM, et al • Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses... Quadro 1. Coleta de escamas ungueais de acordo com os aspectos clínicos da lesão Forma Clínica Coleta Onicomicose subungueal distal e lateral Realizada com bisturi de ponta fina por baixo da lâmina ungueal, retirando o material existente entre a zona sã e a afetada. Onicomicose branca superficial Obtida da superfície externa da lâmina ungueal mediante raspado intenso da zona afetada. Onicomicose subungueal proximal Material geralmente apresenta dificuldade, inicialmente deve-se fazer um raspado ao nível da lâmina externa da unha e progressivamente abrir um orifício em profundidade para se realizar a coleta da amostra (coleta via transungueal). Onicomicose distrófica As amostras são retiradas da região superficial e subungueal da unha; se houver exsudato, também deve ser coletado. de um formulário contendo dados pessoais, características das lesões, fatores predisponentes, além do uso de antifúngicos e antirretrovirais. Após o diagnóstico, o dermatologista responsável pela suspeita clínica da onicomicose recebeu o laudo micológico com informações do exame direto e cultura. Coleta e processamento das amostras: A coleta foi realizada após antissepsia com álcool a 70%. As amostras foram coletadas de acordo com o quadro 1 visando obtenção de escamas bem finas que foram recolhidas em placas de Petri e em tubos esterilizados contendo solução salina (NaCl 0,9%). Após a coleta do material ungueal, a amostra clínica foi processada para exame micológico direto através da clarificação com hidróxido de potássio (KOH) a 30%. Após 30 minutos, as lâminas foram observadas em microscópio (x400). Para cada amostra foram realizadas duas lâminas. A cultura foi realizada em ágar Sabouraud (SDB; Difco, Detroit, USA) acrescido de cloranfenicol (50 mg/l) e ágar Sabouraud com cicloeximida (Mycosel®) e cloranfenicol. As placas contendo as amostras semeadas foram incubadas à temperatura ambiente (T. A = 28ºC ± 1ºC) por 30 dias. Após o crescimento em cultura, o fungo foi isolado na superfície do meio Sabouraud simples (sem antibiótico), para posterior confecção do microcultivo e identificação das espécies. Para identificação dos fungos filamentosos foi utilizado o microcultivo em lâmina com ágar batata dextrosado (BDA, Merck, Darmstadt, Germany). A presença de estruturas fúngicas em exame direto confirmou a suspeita de onicomicose. Em pacientes com cultura positiva para FFND, além da observação de estruturas fúngicas no exame direto e do crescimento em cultura, uma segunda e terceira coleta foram realizadas para confirmação do diagnóstico micológico. As leveduras foram identificadas de acordo com métodos propostos por Kurtzman e Fell(15) além do crescimento em CHROMagar Candida® (Probac do Brasil, São Paulo). Desenho do estudo e Análise estatística: Foi conduzido um estudo descritivo, tipo série de casos, de caráter exploratório, tendo as informações sido obtidas prospectivamente pelo preenchimento de um formulário específico para cada paciente incluído na pesquisa. O formulário foi preenchido a partir de entrevista ao paciente, após execução da coleta micológica e algumas informações foram conseguidas por consulta aos prontuários médicos. Os dados foram digitados em dupla entrada no programa EPI-INFO 6.0 e, em seguida, comparados para correção dos erros de digitação. A análise foi feita pela identificação das frequências das variáveis, utilizando tabelas para demonstração dos valores absolutos e suas proporções correlatas. Resultados Dos 100 pacientes HIV positivos, com suspeita de micoses diversas e encaminhadas para exame micológico, 35 (35%) possuíam alterações ungueais compatíveis com onicomicose. Destes, 19 (54,28%) eram do sexo feminino e 16 (45,72%) do sexo masculino. Sendo que 5 pacientes (14,5%), 2 homens e 3 mulheres, apresentavam lesões em unhas dos pés e das mãos. Desta forma, das 40 amostras analisadas, 22 (55%) pertenciam ao sexo feminino, 18 (45%) ao sexo masculino; 21 (52,5%) eram em unhas das mãos e 19 (47,50%) em unhas dos pés. A média da idade foi de 40,7 anos, variando de 22 a 59 anos, e o tempo médio do diagnóstico da infecção viral foi de 5 anos. Quanto aos fatores predisponentes, 42,85% dos pacientes possuíam micose não-ungueal, 14,28% onicomicose de recorrência, 8,57% possuíam história de candidíase oral. Os níveis de CD4+ mais recentes eram conhecidos em todas as amostras e a média foi de 495,9 células/mm3 (± 278,61), variando entre 16 e 1158 células/mm3. Dos 35 pacientes, 51,42% estavam em tratamento com antirretroviral, principalmente associações entre lamivudina, tenofovir, zidovudina, ritonavir e atazanavir, 28,58% utilizavam algum tipo de antifúngico oral ou tópico e 20% estavam em uso de antirretroviral e antifúngico. Em relação ao tempo de início da lesão ungueal, 16 (45,71%) observaram o aparecimento da onicomicose há 6-12 meses (tabela 1). Quanto aos aspectos clínicos das onicomicoses, das 40 amostras ungueais, 21 (52%) apresentavam OSDL, 15 (37%) possuíam OD, em 3 (8%) casos foram observadas OSP, enquanto em 1 (3%) caso houve associação de OBS com OSDL (fig. 1). Os hálux e os polegares formam os principais dedos acometidos pelas onicomicoses. Foram observados 2 casos de me- 9 Rev Panam Infectol 2009;11(3):7-14. Tabela 1. Distribuição dos pacientes HIV-positivos acometidos por onicomicose segundo o sexo, localização, fatores predisponentes, contagem de CD4+ e tempo de início da lesão Variáveis Casos Suspeitos Confirmados Região acometida Mãos Pés Sexo Mulheres Homens Fator predisponente Micose não-ungueal Candidíase oral Onicomicose recorrente Contagem CD4 < 200 251-350 351-500 > 500 Uso de medicação Antirretroviral Antifúngico Antirretroviral e antifúngico Inicio da lesão ungueal < 1 mês 1-6 meses 6-12 meses > 12 meses Desconhecido Onicomicoses N % 40 40 100% 100% 21 19 52,5% 47,5% 19 16 54,28% 45,72% 15 3 5 42,85% 8,57% 14,28% 9 2 14 10 24,71% 5,71% 40% 28,58% 18 10 7 51,42% 28,58% 20% 1 8 16 8 2 2,86% 22,86% 45,71% 22,86% 5,71% lanoníquia associada à OSDL e 8 casos de paroníquia associada à OD. Todas as amostras provenientes das lesões sugestivas de onicomicose apresentaram estruturas fúngicas em exame direto. Para cada amostra, foram montadas duas lâminas. Assim, 40 (100%) amostras apresentaram exame direto positivo, sendo encontrados fungos em ambas as lâminas. Entretanto, das 40 amostras semeadas nos meios específicos, 35 (87,50%) apresentaram crescimento micológico, possibilitando a identificação da espécie. Não foi possível isolar o fungo em 5 cultivos. Em todos os casos os pacientes utilizaram tratamento com antifúngico para candidíase oral ou onicomicose de recorrência. Das 35 culturas positivas, leveduras foram isoladas em 21 (52,50%), sendo que em 2 amostras observouse infecção por duas espécies distintas de Candida, FFND em 7 (17,50%), dermatófitos em 4 (10%) e infecções mistas (leveduras + bactérias) em 3 (7,50%). Dos 21 casos de OSDL, 13 (61,90%) foram em 10 A B C D Figura 1. Aspectos clínicos das onicomicoses em pacientes HIV-positivos. A - onicomicose subungueal distal e lateral, B - onicomicose distrófica, C - onicomicose subungueal proximal, D - onicomicose superficial distal e lateral associada a onicomicose branca superficial. unhas dos pés, 14 (66,66%) em amostras ungueais femininas e 52,38% causadas por leveduras. Para as OD, dos 15 casos, 12 (80%) foram em unhas das mãos, 8 (53,3%) em amostras ungueais femininas e 10 (66,6%) causadas por leveduras. A tabela 2 demonstra a correlação dos grupos fúngicos isolados em relação ao sexo dos pacientes, localização e aspectos clínicos das onicomicoses em HIV-positivos. Dos 5 pacientes que apresentaram simultaneamente lesão em unhas das mãos e dos pés, 4 possuíam os mesmos agentes em ambas as regiões e 1 apresentou levedura em unhas das mãos e FFND em unhas dos pés. Das 23 espécies de leveduras puras isoladas, 11 (48%) foram identificadas como C. albicans, 6 (26%) C. parapsilosis, 2 (8,5%) C. tropicalis, 2 (8,5%) C. glabrata, 1 (4,3%) C. guilliermondii e 1 (4,3%) C. famata. Os exames diretos destas amostras apresentavam células de leveduras arredondadas e/ ou ovaladas, blastosporadas, hialinas, isoladas ou agrupadas, pseudo-hifas e na maioria, filamentos verdadeiros. Dentre as 7 culturas positivas para FFND, foram identificadas as espécies Scytalidium hyalinum (1 caso), Sytalidium dimidiatum (1 caso), Phialophora reptans (1 caso), Aspergillus niger (1 caso), Cylindrocarpon destructans (1 caso) e Fusarium solani (2 casos). Os exames diretos apresentavam fragmentos e filamentos micelianos, irregulares, ramificados, de- Lima KM, et al • Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses... Tabela 2. Distribuição dos microrganismos isolados em relação ao sexo dos pacientes, localização e aspectos clínicos das onicomicoses em HIV-positivos Mãos Cultura Micológica n % Leveduras FFND Dermatófitos Bactérias + Leveduras Negativo Amostras totais 21 7 4 3 5 40 52.50% 17.50% 10% 7.50% 12.5% 100% mácios ou hialinos. Os FFND isolados não foram confirmados geneticamente para garantir a clonalidade. Dos 4 dermatófitos isolados em cultura, 3 foram Trichophyton rubrum e 1 Trichophyton mentagrophytes. Os exames diretos apresentavam filamentos micelianos, septados, hialinos, regulares, ramificados, alguns artroconidiados. Foram observados 3 casos de associação de Candida albicans com Pseudomonas aeruginosa, 1 em OD e 2 em OSDL associada a melanoníquia. Os exames diretos apresentavam numerosas bactérias e numerosas células de leveduras. O resumo dos casos de onicomicose com os respectivos sexos, idade, contagem de CD4+, região anatômica, aspectos clínicos da lesão e espécies isoladas pode ser observado no quadro 3. Discussão A literatura relata que a prevalência de onicomicoses em portadores de HIV varia entre 15-40%. (16,17) Estudo comparando onicomicoses em HIV-positivos do Canadá e do Brasil demonstrou prevalência de 24% (96/400) e 20% (20/100), respectivamente.(3) Da mesma forma, Surjushe et al.,(6) em estudo realizado na Índia, relataram prevalência de 24% (60/250). A prevalência em nosso estudo foi 35% (35/100), o que concorda com os estudos acima. Na presente pesquisa, a idade média dos pacientes afetados foi de 40,7 anos. Este resultado é similar M 5 3 1 0 1 10 Pés F 9 0 0 2 0 11 M 4 0 3 1 0 8 F 3 4 0 0 4 11 OSDL 11 3 2 2 3 21 Aspectos clínicos OD OSP 10 0 2 1 0 2 1 0 2 0 15 3 OSDL/OBS 0 1 0 0 0 1 Quadro 2. Apanhado dos casos de onicomicose com os respectivos sexos, idade, contagem de CD4, região anatômica, aspectos clínicos da lesão e espécies isoladas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Sexo M M F F F F M F F F M F F M M M F F M F M M M M Idade 54 25 41 41 27 48 51 49 46 34 29 51 36 45 31 22 29 55 53 49 46 55 34 40 CD4 753 387 88 84 483 442 697 19 686 644 445 1158 382 16 764 16 400 614 461 44 725 453 394 347 Região anatômica MÃOS PÉS MÃOS e PÉS MAOS PÉS PÉS PÉS PÉS PÉS MÃOS PÉS MÃOS MÃOS PÉS MÃOS MÃOS e PÉS PÉS MÃOS MÃOS MÃOS MÃOS MÃOS e PÉS MÃOS MÃOS 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 F F M M F F M F F M F 40 59 43 39 40 29 32 36 33 49 34 607 931 458 275 585 165 36 109 314 454 470 MÃOS e PÉS PÉS PÉS PÉS MÃOS e PÉS PÉS MÃOS PÉS MÃOS MÃOS MÃOS Aspecto OD OSDL OD (ambas) OSDL OSDL OSDL OD OSDL OSDL OD OSDL OSDL OD OSDL/OBS OSDL OSP (ambas) OSDL OD OD OSDL OD OSDL (ambas) OD OD Etiologia Aspergillus niger C. albicans + P. aeruginosa C. albicans + C. tropicalis e NEG C. albicans + P. aeruginosa Scytalidium hyalinum Scytalidium dimidiatum C. parapsilosis NEG NEG C. glabrata C. guilliermondi C. albicans C. albicans Fusarium solani C. famata Trichophyton rubrum (ambas) C. albicans C. albicans + P. aeruginosa C. albicans C. albicans Phialophora reptans C. parapsilosis (ambas) C. albicans + C. tropicalis C. albicans C. parapsilosis e Cylindrocarpon OSDL e OSP destructans OSDL C. glabrata OSDL Trichophyton rubrum OSDL Trichophyton mentagrophytes OSDL (ambas) C. parapsilosis (ambas) OD NEG OSDL NEG OSDL Fusarium solani OD C. albicans OD C. albicans OD C. albicans 11 Rev Panam Infectol 2009;11(3):7-14. aos estudos de Cribier et al.(13) (idade média de 36,5 ± 8,0 anos) e Salim, Runco,(5) onde o maior número de casos pertenceu ao grupo entre 31 e 40 anos. Deduzse que a observação destas patologias em indivíduos adultos provavelmente está relacionada com o aumento da exposição ocupacional ao traumatismo e aos fungos patogênicos com a idade. Em nosso estudo, 19 pacientes eram do sexo feminino e 16 do sexo masculino. Foi observada predominância de envolvimento feminino, dado em desacordo com estudos de Surjushe et al.(6) (sexo proporção h/m de 2:1) e Ravnborg et al.(18) (sexo proporção h/m 2:1). Este fato não se deve ao tamanho da amostragem, pois Herranz et al.(19) observaram mais casos de onicomicoses em homens em estudo de 21 pacientes (sexo proporção 9.5:1). Um dos fatores que podem facilitar o envolvimento ungueal, favorecendo a invasão por fungos em mulheres, é o contato constante com água em serviços domésticos, ocupações que são mais propensas a traumas ungueais.(20) Dos pacientes com onicomicoses, 37,14% possuíam associação de onicomicose com algum tipo de micose não-ungueal, principalmente tinea pedis. Dos 21 pacientes HIV-positivos e onicomicose estudados por Herranz et al.,(19) 7 possuíam micose não-ungueal, a maioria tinea pedis (5/21). Dos 22 doentes estudados por Ravnborg et al.,(18) 21 apresentavam envolvimento em unhas dos pés e 19 em unhas das mãos. Em estudos de Cribier et al.(13) com 47 pacientes, 42 possuíam onicomicose em unhas dos pés, 3 em unhas das mãos e 2 em unhas das mãos e dos pés. Em nosso estudo, em 35 pacientes, 16 possuíam lesão em unhas das mãos, 14 em unhas dos pés e 5 possuíam onicomicose em ambas as regiões. Assim, as unhas das mãos foram mais comumente afetadas. Este achado discorda de vários estudos realizados anteriormente. Deduz-se que o envolvimento predominante da unha da mão pode ser devido a uma maior sensibilidade da unha ao trauma por trabalhos manuais com posterior invasão pelo fungo. Foi observada uma distribuição heterogênea quanto à presença de onicomicose e sua relação com a contagem de células CD4, sendo o maior número de pacientes observados no intervalo de 351-500 células/mm3. Segundo Michelim et al.,(1) as doenças dermatológicas são prevalentes entre os pacientes infectados pelo HIV, sendo que a frequência e o número dessas manifestações correlacionam-se com o status imunológico e com a progressão da doença. Entretanto, os dados observados no presente estudo concordam com pesquisas que revelam a existência de correlação negativa entre contagem de linfócitos CD4+ e doenças dermatológicas.(21,22) Neste contexto, Gupta 12 et al.(3) observaram que a maior prevalência de doenças ungueais era em portadores do HIV com contagem de CD4+ aproximadamente de 370 células/mm3, história de onicomicose na família, tinea pedis e caminhadas descalço em volta da piscina. No grupo de pacientes analisados foi observada predominância de OSDL, seguido pela OD. Estes dados concordam com Herranz et al.(19) e Gupta et al.(3) que observaram a OSDL como aspecto predominante, e discordam com estudos anteriores em que OSP constituiu mais frequente aspecto clínico.(11,13) No estudo conduzido por Surjushe et al.(6) na Índia, das 32 culturas positivas, dermatófitos foram isolados em 21,66%, leveduras em 20% e FFND em 11,66%. Salim, Runco(5) observaram em 68 cultivos crescimento de leveduras em 57,3%, dermatófitos em 25,6% e FFND em 17,1%. Em nosso estudo, das 35 culturas positivas, leveduras foram isoladas em 52,50%, FFND em 17,50%, dermatófitos em 10% e infecções mistas (leveduras + bactérias) em 7,50% amostras. Variações da etiologia podem ser devidas a distintos grupos geográficos estudados e respectivas diferenças climáticas, tipo de coleta de amostra realizada, amostragens com variações de outros parâmetros (idade, hábitos de vida e sexo). Estes fatores podem gerar resultados divergentes sobre a amplitude de espécies envolvidas na etiologia das onicomicoses.(23) Entre as leveduras, a Candida albicans foi a espécie mais isolada, seguida pela C. parapsilosis, acometendo principalmente as unhas das mãos e causando OSDL e OD. A predominância de onicomicoses causadas por espécies de leveduras pode está relacionada às constantes exposições à umidade. Além disso, em dois casos observamos duas espécies distintas de Candida como agente de onicomicose. Nos pacientes positivos para onicomicoses causadas por FFND, Fusarium solani foi isolado em 2 casos, ambos em unhas dos pés e com aspecto clínico de OSDL, sendo que 1 deles apresentou associação com OBS. A associação de dois aspectos clínicos de onicomicose em um mesmo paciente também foi observada por Gupta et al.(3) O isolamento do Fusarium solani em unhas dos primeiros pododáctilos concordam com estudos realizados por Baran, Tosti, Piraccini.(25) De forma similar, Godoy et al.(26) relataram oito casos de onicomicoses por Fusarium solani e Fusarium oxysporum, esses achados foram confirmados por cortes histológicos. No presente estudo não foi detectada onicomicose por fungos filamentosos associada à doença sistêmica, mas existem vários relatos na literatura em que o paciente com Aids foi a óbito devido à infecção sistêmica por Fusarium que provavelmente originou-se Lima KM, et al • Características clínicas e microbiológicas de onicomicoses... de unha infectada. Com o aumento da frequência de onicomicose por Fusarium é necessária uma atenção redobrada no diagnóstico laboratorial, devido ao potencial invasivo deste fungo.(27,28) Foram detectadas também espécies do gênero Scytalidium em unhas dos pés de dois pacientes. Embora Lacaz et al.(29) tenham observado onicomicose OD causada por S. dimidiatum em dois pacientes HIV-positivo, os dois casos de espécies de Scytalidium observados nesse estudo possuíam aspecto de OSDL. Espécies de Scytalidium e de Fusarium possuem capacidade de metabolizar queratina das unhas, no entanto com intensidade menor que os dermatófitos. Do ponto de vista clínico, Maraki, Tselentis(23) consideram como fungo agente de onicomicose aquele que, uma vez removido do organismo com terapia antifúngica, permite a cura clínica da unha. No presente estudo, não foi possível acompanhar a terapêutica das onicomicoses, pois o tratamento requer período mínimo de três a seis meses,(19) e nem todos os pacientes têm a medicação específica disponível. Além do Fusarium e Scytalidium, observamos onicomicose por Aspergillus niger (1 caso), Phialophora reptans (1 caso) e Cylindrocarpon destructans (1 caso). Aspergillus e Phialophora causaram OD; enquanto o Cylindrocarpum causou OSP, forma clínica ainda não relatada para FFND. Nos casos em que foram isolados dermatófitos, Trichophyton rubrum foi isolado em 3 amostras com aspecto de OBS, sendo 2 provenientes do mesmo paciente (unhas dos pés e das mãos); Trichophyton mentagrophytes foi isolado em 1 amostra com aspecto de OSDL. Dois destes pacientes eram portadores de tinea pedis, o que pode facilitar, associada à imunodepressão, a dermatofitose ungueal; e 1 paciente possuía dermatofitose disseminada por T. rubrum. Vários autores demonstraram que dermatófitos podem causar lesões disseminadas na pele de pacientes com imunodepressão, estas lesões se apresentam de forma atípica e agressiva em pacientes imunodeprimidos, dificultando o tratamento.(24) Das 40 amostras estudadas, três apresentaram exame direto com presença de células de leveduras em associação com bactérias, dois casos em unhas das mãos. Na cultura em ágar Sabouraud, houve predominância de bactérias identificadas como Pseudomonas aeruginosa, e crescimento reduzido de leveduras do gênero Candida. Neste caso, a Pseudomonas aeruginosa apresentou resistência ao cloranfenicol adicionado ao ágar Sabouraud. A levedura foi identificada presuntivamente como Candida albicans com a utilização de meio cromogênico (cor verde). A associação com as bactérias impossibilitou o isola- mento da Candida, impedindo que esta demonstrasse suas características fenotípicas nos testes convencionais. Em associação com as leveduras, as bactérias impediram a formação dos arranjos no microcultivo, que possibilitam, junto aos testes bioquímicos, a sua identificação. É importante salientar que em todos os casos de interação fungo-bactéria, o paciente apresentava unhas escurecidas e haviam passado por internação em enfermaria hospitalar. Alguns estudos têm demonstrado que a P. aeruginosa forma biofilme denso nos filamentos da C. albicans, provocando a morte do fungo, evitando, desta forma, o crescimento no meio de cultura. (30) Outros fatores de virulência importantes em doenças causadas por Pseudomonas também estão envolvidos na inviabilidade de estruturas somáticas da C. albicans.(31) Em nenhum estudo anteriormente descrito relatou-se caso de infecção mista por fungos e bactérias em unhas de HIV-positivos. Onicomicoses em pacientes infectados pelo HIV demonstram muita diversidade, em comparação com pacientes HIV-negativos. Não apenas pelas diferenças na clínica, mas também agentes etiológicos. Isto pode ser devido à imunossupressão nos doentes infectados com HIV, o que predispõe esta população a infecções pouco frequentes. O presente estudo demonstrou que leveduras, FFND e infecções mistas foram causas comuns de onicomicose, sendo estes agentes responsáveis por variações nos aspectos clínicos das lesões. Apesar de todas as suspeitas de onicomicose terem sido confirmadas, observamos que os diversos agentes podem provocar diferentes aspectos clínicos. Desta forma, o exame micológico possibilita o direcionamento do tratamento. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Michelim L, Atti JL, Panarotto D, Lovatto L, Boniatti MM. Dermatological disease among HIV-infected patients with CD4lymphocyte count. Rev Saúde Pública 2004;38(6):758-763. Gregory N. Special patient populations: Onychomycosis in the HIV-positive patient. J Am Acad Dermatol 1996;35:13-16. 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