Relatório Final
Transcrição
Relatório Final
Universidade Federal de Pelotas Centro de Pesquisas Epidemiológicas Faculdade de Medicina - Departamento de Medicina Social Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia– Departamento de Enfermagem CAA – DAB – SAS – MINISTÉRIO DA SAÚDE Monitoramento e Avaliação do Projeto de Expansão e Consolidação da Saúde da Família (PROESF) Relatório Final Estudo de Linha de Base Lote 2 Sul Luiz Augusto Facchini Roberto Xavier Piccini Elaine Tomasi Elaine Thumé Denise Silva da Silveira Setembro de 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Reitor: Antônio Cesar Gonçalves Borges Vice-Reitor: Telmo Pagana Xavier Pró-Reitor de Graduação: Luiz Fernando Minello Pró- Reitor de Extensão e Cultura: Vitor Hugo Manzke Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Alci Enimar Loeck Pró-Reitor Administrativo: Francisco Carlos Luzzardi Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Elio Paulo Zonta Diretor da Faculdade de Medicina: Farid Iunan Butros Nader Diretor da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia: Emília Nalva Ferreira da Silva Chefe do Departamento de Medicina Social: Anaclaudia Gastal Fassa Chefe do Departamento de Enfermagem: Afra Suelene de Souza Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia: Aluisio Dornellas de Barros Coordenador do Centro de Pesquisas Epidemiológicas: Cesar Gomes Victora Presidente da Fundação Delfim Mendes Silveira: Antonio Costa de Oliveira Monitoramento e Avaliação do Projeto de Expansão e Consolidação da Saúde da Família (PROESF) : Relatório Final do Estudo de Linha de Base do Lote Sul / Luiz Augusto Facchini ... [et al.]. – Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2006. 316 p. : il. 1. Saúde Pública – Brasil – Administração 2. Programa de Saúde da Família 3. Atenção Básica - Avaliação. I. Facchini, Luiz Augusto. II. Piccini, Roberto Xavier. III. Tomasi, Elaine. IV. Thumé, Elaine. V. Silveira, Denise Silva da. CDD 362.109 Maria de Fátima S. Maia CRB 10/134 EQUIPE TÉCNICA DO PROJETO Coordenação Geral Luiz Augusto Facchini Roberto Piccini Elaine Tomasi Elaine Thumé Organização do Relatório Luiz Augusto Facchini Roberto Piccini Elaine Tomasi Elaine Thumé Denise Silva da Silveira Maria de Fátima dos Santos Maia Alitéia Santiago Dilélio Vanessa Andina Teixeira Coordenação de Trabalho de Campo Fernando Vinholes Siqueira Coordenação de Processamento de Dados Denise Silva da Silveira Elaine Tomasi Coordenação Executiva Maria de Fátima dos Santos Maia Alessander Osório Mercedes Lucas Coordenação do Estudo Qualitativo Luciane Prado Kantorski Rita Heck Vanda Maria da Rosa Jardim Equipe Técnica do Estudo Qualitativo Luciane Prado Kantorski Vanda Maria da Rosa Jardim Emília Nalva Ferreira da Silva Valéria Christello Coimbra Michele Mandagará Oliveira Equipe de Apoio do Estudo Qualitativo Fernanda Barreto Mielke Sidnei Teixeira Junior Ana Paula Giacomelli Tavares Gimene Cardozo Braga Rebeca Castilhos Gabriel Pereira Apoio de Informática Alessander Osório Filipe da Silva Ribeiro Codificação de Dados Augusto Duarte Faria Desirée Fripp Luciane Scherer Pahim Maria Aparecida Rodrigues Turene Bastos Suelen dos Santos Saraiva Vanessa Teixeira Suele Silva Danton Duro Filho Alitéia Santiago Dilélio Digitação Alisson Moraes Ari Moraes Carla da Cruz Teles Daniel de Souza Pereira Emanuele Braga Fabiana de Souza Pereira Thiago Garcia Martins Controle de qualidade Vera Vieira Helena Souza van der laan Susete Aschidamini Ferreira Supervisores do Trabalho de Campo Alitéia Santiago Dilélio Arilson da Rosa Catiúscia Souza Cleonice Valadão Danton Duro Filho Janaína dos Santos João Luis Rosado Michele Padilha Rodrigues Maria Márcia Ambrósio Patrícia Mendonça Raquel Barboza Sandra de Souza Silvia da Costa Suele Silva Vanessa Teixeira Professores Colaboradores José Justino Faleiros Anaclaudia Gastal Fassa Fábio Lima Gabriela Lobata Alunos voluntários e bolsistas de Iniciação Científica dos Cursos de Medicina e Enfermagem da UFPel e de Psicologia da UCPel Clarissa de Souza Cardoso Emanuela Maria Dalvit Helena Souza van der Laan Inês Soria Alvaro Jeanine Porto Brondani Lourielle Soares Wachs Mariangela Uhlmann Soares Escrever é sempre ocultar algo de modo que possa ser descoberto. Ítalo Calvino AGRADECIMENTOS Este projeto é o resultado de um esforço coletivo de professores, técnicos e alunos vinculados ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina, ao Departamento de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia, ao Centro de Pesquisas Epidemiológicas e ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. A equipe destaca o reconhecimento a esta parceria, fundamental para o êxito do Projeto. Igualmente se externa a gratidão ao apoio e estímulo recebidos de um grande número de pessoas que, em diferentes âmbitos, institucionais, administrativos e acadêmicos, viabilizaram o desenvolvimento do Projeto. Agradecimentos especiais e em particular são destinados a: Antônio Cesar Borges, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), André Luiz Haack, ex-reitor da UFPel, Francisco Luzzardi, pró-reitor de administração e sua equipe de trabalho, Antonio Costa de Oliveira, presidente, José Carlos Fernandes Filho e Sérgio Luis Ribeiro dos Santos, colegas do setor de administração da Fundação Delfim Mendes da Silveira, Anaclaudia Fassa, chefe, e colegas do Departamento de Medicina Social, Emília Nalva Ferreira, diretora, e colegas da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia, Afra Suelene de Souza, chefe, e colegas do Departamento de Enfermagem, Renato Moreira, Dalvina Bueno de Almeida, Luis Cleber Wilke, Jorge Augusto Rollo Cardozo, Fabiane dos Santos Luiz, Odete Almeida, Vera Lucia Govea da Silveira e demais funcionários da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia, Cesar Victora, diretor, e colegas do Centro de Pesquisas Epidemiológicas, Aluísio Barros, coordenador, e colegas do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Eronildo Felisberto, coordenador, e equipe da Coordenadoria de Avaliação e Acompanhamento do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Maria do Carmo Leal, coordenadora, e colegas do Grupo de Acompanhamento do Estudo de Linha de Base do PROESF, junto ao Ministério da Saúde. É digna de especial registro a gratidão à professora Emília Nalva Ferreira, diretora da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia e aos colegas do Departamento de Enfermagem pelo acolhimento na área física que a equipe deste Projeto ocupa hoje nesta Unidade de Ensino. A iniciativa da professora Emília e colegas oportunizou a participação de sua unidade no cotidiano das inúmeras atividades técnicas e administrativas de um Projeto de grande porte. Externa-se ainda entusiásticos agradecimentos a gestores e coordenadores de atenção básica e de saúde da família dos Estados e Municípios do Lote 2 Sul, representantes do controle social, trabalhadores das unidades básicas de saúde, agentes comunitários de saúde, população entrevistada e todos aqueles que participaram do Projeto fornecendo informações, contribuindo para a realização do trabalho de campo e abrilhantando as Oficinas de Capacitação. 8 SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS...............................................................................................................13 LISTA DE QUADROS..........................................................................................................15 LISTA DE FIGURAS............................................................................................................17 LISTA DE TABELAS...........................................................................................................19 LISTA DE FOTOGRAFIAS ................................................................................................21 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................23 RESUMO................................................................................................................................25 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................27 1.1 Objetivos..........................................................................................................................28 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA......................................................31 2.1 Pesquisa Acadêmica e Prática Social ..............................................................................32 2.2 Avaliação de Políticas e Programas de Saúde .................................................................33 2.3 Avaliação de adequação e plausibilidade dos modelos de atenção básica à saúde .........34 2.4 Modelo Teórico ...............................................................................................................36 3 CAPACITAÇÃO..................................................................................................................39 3.1 Oficina Macrorregional ...................................................................................................40 3.1.1 Introdução ...................................................................................................................40 3.1.2 Metodologia ................................................................................................................41 3.1.3 Resultados...................................................................................................................42 3.1.4 Discussão ....................................................................................................................44 3.2 Oficina Regional 1...........................................................................................................45 3.2.1 Introdução ...................................................................................................................45 3.2.2 Metodologia ................................................................................................................46 3.2.3 Resultados...................................................................................................................50 3.2.4 Discussão ....................................................................................................................51 3.3 Oficina Regional 2...........................................................................................................52 3.3.1 Introdução ...................................................................................................................52 3.3.2 Metodologia ................................................................................................................53 3.3.3 Resultados...................................................................................................................56 3.3.4 Discussão ....................................................................................................................59 3.4 Avaliação da Capacitação................................................................................................60 4 ESTUDO DE LINHA DE BASE .........................................................................................63 4.1 Introdução ........................................................................................................................63 4.2 Metodologia.....................................................................................................................63 4.2.1 Delineamento do Estudo de Linha de Base (ELB) .....................................................63 4.2.2 Amostra e Amostragem do ELB.................................................................................65 4.2.2.1 Amostra de UBS ....................................................................................................66 4.2.2.2 Amostra de profissionais de saúde.........................................................................66 4.2.2.3 Amostra de usuários: demanda atendida nas UBS ................................................66 4.2.2.4 Amostra de população da área de abrangência das UBS.......................................67 4.2.3 Trabalho de Campo nos Municípios: Logística e Instrumentos de Fonte Primária ...68 4.2.4 Levantamento de Dados em Fontes Secundárias........................................................73 4.2.5 Processamento dos Dados...........................................................................................74 4.2.5.1 Recepção e classificação dos instrumentos............................................................75 4.2.5.2 Identificação e constituição dos lotes ....................................................................75 4.2.5.3 Bancos de Dados Estruturados ................................................................................76 4.2.6 Controle de Qualidade ................................................................................................77 4.2.6.1 Avaliação da concordância intra-observador.........................................................78 4.2.7 Análise dos Dados ......................................................................................................79 4.2.8 Aspectos éticos ...........................................................................................................82 4.3 Resultados........................................................................................................................83 4.3.1 Contexto......................................................................................................................83 4.3.1.1 Amostra de Municípios..........................................................................................83 4.3.1.1.1 Distribuição dos Municípios por Estado, Porte Populacional e Região Metropolitana ...................................................................................................................83 4.3.1.1.2 Situação Demográfica e Socioeconômica dos Municípios ...............................83 4.3.1.2 Amostra de Gestores, Coordenadores de Atenção Básica e PSF e Presidentes de Conselho Municipal de Saúde.......................................................................................85 4.3.1.3 Amostra de Unidades Básicas de Saúde ................................................................85 4.3.1.4 Amostra de Profissionais de Saúde........................................................................86 4.3.1.4.1 Distribuição dos Profissionais por Estado, Porte Populacional, Região e Tipo de Unidades Básicas de Saúde ................................................................................87 4.3.1.4.2 Situação Demográfica e Socioeconômica dos Profissionais ............................87 4.3.1.5 Amostra da Demanda Atendida nas Unidades Básicas de Saúde..........................89 4.3.1.5.1 Distribuição da Demanda por Estado, Porte Populacional, Região e Unidade Básica de Saúde.................................................................................................89 4.3.1.6 Amostra Populacional da Área de Abrangência das Unidades Básicas de Saúde..................................................................................................................................89 4.3.1.6.1 Distribuição da População por Estado, Porte Populacional, Região e UBS .....89 4.3.1.6.2 Situação Demográfica e Socioeconômica da População da área de Abrangência das UBS ......................................................................................................90 4.3.2 Dimensão Político-Institucional .................................................................................95 4.3.2.1 Projeto de Governo ................................................................................................95 4.3.2.1.1 Tipo de Gestão Municipal, Índice de Aprendizado Institucional e Cobertura do Programa de Saúde da Família ..................................................................95 4.3.2.1.2 Adequação Setorial e dos Modelos de Atenção para o Funcionamento do Sistema Municipal de Saúde ..........................................................................................100 4.3.2.1.3 Critérios na definição de áreas de abrangência das UBS e na implantação do Programa de Saúde da Família .................................................................................101 4.3.2.1.4 Características do emprego e da remuneração dos trabalhadores da Atenção Básica...............................................................................................................102 4.3.2.2 Capacidade de governo ........................................................................................104 4.3.2.2.1 Perfil do Secretário Municipal de Saúde.........................................................104 4.3.2.2.2 Perfil do Coordenador de Atenção Básica e / ou do Programa de Saúde da Família ...........................................................................................................................105 4.3.2.2.3 Perfil do Presidente do Conselho Municipal de Saúde ...................................106 4.3.2.2.4 Perfil dos Trabalhadores das Unidades Básicas de Saúde ..............................106 4.3.2.3 Governabilidade...................................................................................................110 4.3.2.3.1 Despesas per capita com saúde ......................................................................110 4.3.2.3.2 Financiamento da Atenção Básica nos Municípios ........................................111 4.3.2.3.3 Apoio a Projetos de Atenção Básica à Saúde e de Saúde da Família .............112 4.3.2.3.4 Características do Conselho Municipal de Saúde ...........................................113 4.3.3 Dimensão Organizacional da Atenção......................................................................114 4.3.3.1 Práticas de gestão da ABS ...................................................................................114 4.3.3.1.1 Mecanismos de supervisão, monitoramento e avaliação da atenção básica à saúde............................................................................................................................114 10 4.3.3.1.2 Estratégias de controle e regulação da demanda.............................................116 4.3.3.1.3 Capacitação de recursos humanos para gestão ...............................................117 4.3.3.1.4 Informação e Informatização na Rede Básica Municipal ...............................118 4.3.3.1.5 Sistemas de Informação em Saúde .................................................................119 4.3.3.2 Práticas de Oferta de Serviços no Município.......................................................120 4.3.3.2.1 Estrutura da rede básica de saúde ...................................................................121 4.3.3.2.2 Disponibilidade de Profissionais do PSF........................................................124 4.3.3.2.3 Acesso aos serviços básicos de saúde .............................................................125 4.3.3.2.4 Acesso aos serviços especializados ................................................................126 4.3.3.2.5 Adstrição da demanda.....................................................................................129 4.3.3.2.6 Vínculo com instituições de ensino ................................................................130 4.3.3.2.7 Assistência farmacêutica.................................................................................131 4.3.3.3 Experiências inovadoras em atenção básica à saúde ...........................................132 4.3.4 Dimensão do Cuidado Integral .................................................................................133 4.3.4.1 Estratégias de indução da integralidade...............................................................133 4.3.4.1.1 Atividades realizadas na UBS para o cuidado integral ...................................134 4.3.4.1.2 Acesso direto a exames complementares........................................................136 4.3.4.1.3 Disponibilidade de medicamentos ..................................................................136 4.3.4.1.4 Utilização de protocolos .................................................................................137 4.3.4.1.5 Utilização de computador pelos profissionais ................................................138 4.3.4.1.6 Qualidade dos serviços prestados ...................................................................138 4.3.4.1.7 Acesso à publicações ......................................................................................138 4.3.4.2 Processo de trabalho em atenção básica à saúde .................................................139 4.3.4.2.1 Introdução ao processo de trabalho em ABS ..................................................139 4.3.4.2.2 A categoria processo de trabalho ....................................................................140 4.3.4.2.3 Etapas do processo de trabalho em atenção básica à saúde ............................142 4.3.4.2.4 Dificuldades na execução do trabalho em atenção básica à saúde .................149 4.3.4.2.5 Sugestões para a superação das dificuldades no trabalho em atenção básica à saúde.................................................................................................................150 4.3.4.2.6 Satisfação dos trabalhadores com as condições de trabalho ...........................150 4.3.4.2.7 Considerações sobre o processo de trabalho em ABS ....................................152 4.3.5 Dimensão Desempenho do Sistema de Saúde ..........................................................154 4.3.5.1 Desempenho de Estados e Municípios do Lote ...................................................154 4.3.5.1.1 Indicadores do Pacto da Atenção Básica à Saúde nos Estados.......................154 4.3.5.1.2 Indicadores Selecionados e Pacto da Atenção Básica à Saúde nos Municípios .....................................................................................................................156 4.3.5.2 Desempenho dos Modelos de Atenção Básica à Saúde.......................................162 4.3.5.2.1 Perfil da Demanda Atendida nas UBS............................................................162 4.3.5.2.2 Situação de Saúde e Utilização de Serviços na População de Abrangência da UBS ...........................................................................................................................166 4.3.5.2.2.1 Crianças......................................................................................................166 4.3.5.2.2.2 Mulheres.....................................................................................................173 4.3.5.2.2.3 Adultos .......................................................................................................175 4.3.5.2.2.4 Idosos .........................................................................................................180 5 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DA ABS E DO PSF: ADEQUAÇÃO E PLAUSIBILIDADE ..............................................................................................................187 6 ESTUDO QUALITATIVO ................................................................................................193 6.1 Introdução ......................................................................................................................193 6.2 Metodologia...................................................................................................................195 6.2.1 Referencial Teórico-Metodológico...........................................................................195 11 6.2.2 Aspectos Operacionais da Pesquisa..........................................................................197 6.3 O Estudo de caso – Chapecó. SC. USF Seminário........................................................208 6.4 Apresentação dos Resultados ........................................................................................217 6.4.1 Entrada no Campo: ...................................................................................................217 6.4.2 O Planejamento e a Integralidade a Partir da Perspectiva da Análise Documental - estrutura dos serviços da rede básica, equipe, referência e avaliação .............................220 6.4.3 O Planejamento e a Integralidade na Perspectiva do Gestor e Coordenadores ........230 6.4.4 O Bairro Seminário...................................................................................................241 6.4.5 A Estrutura Disponível na USF Seminário...............................................................244 6.4.6 Práticas de Saúde na USF do Seminário...................................................................248 6.5 A Integralidade na Atenção à Saúde na Perspectiva dos Usuários................................277 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................313 ANEXOS......................................................................................disponível no volume 2 Anexo 1- Oficina Macro-regional Anexo 2 – Oficina Regional 1 Anexo 3 – Oficina Regional 2 Anexo 4 – Estudo de Linha de Base 12 LISTA DE SIGLAS AB – Atenção Básica ABS – Atenção Básica à Saúde ACD – Auxiliar de Consultório Dentário ACS – Agente Comunitário de Saúde CID-10 – Classificação Internacional de Doenças - 10ª. Revisão CMS – Conselho Municipal de Saúde CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde DEGES / SEGETS – Departamento de Gestão da Educação em Saúde / Secretaria de Gestão da Educação e Trabalho em Saúde ELB – Estudo de Linha de Base ESF – Equipes de Saúde da Família GLAS – Grupo Local de Avaliação em Saúde IDH – Índice de Desenvolvimento Humano MS – Ministério da Saúde PROESF – Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família PSF – Programa de Saúde da Família RH – Recursos Humanos RM – Região Metropolitana SF – Saúde da Família SM – Salário Mínimo SIAB – Sistema de Informações da Atenção Básica SIA – Sistema de Informações Ambulatoriais SMS – Secretaria Municipal de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde TC – Trabalho de Campo THB – Técnico de Higiene Bucal UBS – Unidade Básica de Saúde UERGS – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul UFPEL – Universidade Federal de Pelotas 13 14 LISTA DE QUADROS Quadro 3.1 Quadro 3.2 Quadro 3.3 Quadro 3.4 Quadro 4.1 Quadro 6.1 Quadro 6.2 Quadro 6.3 Quadro 6.4 Quadro 6.5 Quadro 6.6 Quadro 6.7 Quadro 6.8 Quadro 6.9 Quadro 6.10 Quadro 6.11 Quadro 6.12 Quadro 6.13 Quadro 6.14 Quadro 6.15 Quadro 6.16 Quadro 6.17 Quadro 6.18 Quadro 6.19 Quadro 6.20 Quadro 6.21 Quadro 6.22 Quadro 6.23 Síntese das experiências, problemas e prioridades em avaliação. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Síntese das experiências, problemas e prioridades em capacitação. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Síntese das vantagens dos modelos de atenção. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Síntese das limitações dos modelos de atenção. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Cronograma do Trabalho de Campo. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Critérios para definição do local de estudo. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Indicadores Municipais Selecionados. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Composição e Funcionamento do Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Perfil da Presidência do Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Estrutura dos Serviços da Rede Básica. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Equipe. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Referência. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Avaliação. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Chapecó – Oficinas de Capacitação. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Perfil. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Posicionamento do Gestor Municipal. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Perfil dos profissionais de saúde da USF Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Cronograma de atividades da USF Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Demonstrativo de parte de um turno aleatório de atendimento médico na USF Seminário (1:25min), Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Informante-Chave. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Perfil do Usuário – Unidade de Saúde da Família Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Ações Programáticas - Hipertensão e Diabetes. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Ações Programáticas – Saúde da Criança. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Ações Programáticas – Saúde da Mulher. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Saúde da Mulher. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Referências da Unidade de Saúde da Família para Serviços da Rede de Atenção à Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Usuários da Saúde Mental Entrevistados. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 42 pág. 42 pág. 43 pág. 43 pág. 69 pág. 204 pág. 210 pág. 219 pág. 219 pág. 223 pág. 223 pág. 227 pág. 228 pág. 229 pág. 232 pág. 239 pág. 249 pág. 270 pág. 271 pág. 277 pág. 280 pág. 281 pág. 283 pág. 283 pág. 283 pág. 301 pág. 303 pág. 305 15 16 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Modelo Teórico do Estudo de Linha de Base. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 37 Figura 4.1 Trajeto por municípios do RS e SC no Trabalho de Campo.Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 70 Figura 4.2 Modelo de Análise do Estudo de Linha de Base. PROESF-UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 80 Figura 4.3 Distribuição da Amostra de Unidades Básicas de Saúde no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 86 Figura 4.4 Crescimento no Número de Equipes de Saúde da Família de 2001 a 2004 nos municípios do Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 98 Figura 4.5 Crescimento das Equipes de Saúde da Família por Porte do Município. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 99 Figura 4.6 Evolução da implantação de equipes de PSF por município, 2001 a 2004. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 100 Figura 4.7 Distribuição das áreas de ensino com campo de estágio em Unidades Básicas de Saúde, por tipo de serviço. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 131 Figura 4.8 Distribuição (%) da demanda atendida de acordo com os subgrupos etários Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 162 Figura 4.9 Distribuição (%) dos profissionais que prestaram os atendimentos de acordo com o modelo de atenção. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005.. pág. 164 Figura 4.10 Distribuição (%) dos procedimentos realizados de acordo com o modelo de atenção. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 165 Figura 6.1 Mapa do Estado de Santa Catarina. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, 2005. Estudo Qualitativo, pág. 208 Figura 6.2 Foto da Cidade de Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 209 Figura 6.3 Mapa da cidade de Chapecó, com as unidades de saúde e a área de abrangência. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 218 Figura 6.4 Organograma da SMS. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 231 Figura 6.5 Mapa do bairro Seminário com identificação de aspectos geográficos, serviço de saúde e escola. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 242 Figura 6.6 Desenho Livre Representativo da Unidade de Saúde da Família Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 247 Figura 6.7 Divisão de Usuários por Microárea. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 280 Figura 6.8 Fluxograma Analisador: a Perspectiva do Usuário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 307 17 18 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 Resultado final do controle de qualidade em 21 municípios. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 78 Tabela 4.2 Variáveis adotadas e as médias alcançadas em relação à satisfação com as mesmas em uma escala de 0 a 10. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 151 Tabela 4.3 Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 156 Tabela 4.4 Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde para os municípios do Lote 2 Sul de acordo com o porte do município. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 157 Tabela 4.5 Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde para os municípios do Lote 2 Sul de acordo com a localização do munícipio. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 158 Tabela 4.6 Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos à saúde da criança de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 159 Tabela 4.7 Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos à saúde da mulher de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 160 Tabela 4.8 Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos a doenças crônicas de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 161 Tabela 4.9 Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos a saúde bucal de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 162 Tabela 4.10 Orientações sobre aleitamento fornecidas no pré-natal realizado na Unidade Básica de Saúde da área de abrangência por modelo de atenção no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 167 Tabela 4.11 Prevalência de diarréia no último mês e característica do problema das crianças estudadas no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 171 Tabela 4.12 Prevalência de pneumonia nos últimos 6 meses e características das consultas pelo problema das crianças estudadas no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 172 Tabela 6.1 Caracterização demográfica do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 243 Tabela 6.2 Condições de saúde e acesso a plano de saúde do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. pág. 243 Tabela 6.3 Condições de saneamento e condição de moradia do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 244 19 20 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 3.1 Abertura da Oficina Regional 1. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, 2005 pág. 47 Fotografia 3.2 Trabalho em Grupo para Identificar a Viabilidade da Formação do GLAS nos municípios. Oficina Regional 1, PROESF – UFPel - 2005. pág. 48 Fotografia 3.3 Oficina de Simulação do uso do PACOTAPS e da Logística do Trabalho de Campo. Oficina Regional 1, PROESF – UFPel - 2005. pág. 49 Fotografia 3.4 Oficina de Simulação do uso do PACOTAPS e da Logística do Trabalho de Campo. Oficina Regional 1, PROESF – UFPel - 2005. pág. 49 Fotografia 3.5 Abertura da Oficina Regional 2. Estudo de Linha de Base, PROESF UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 54 Fotografia 3.6 Abertura da Oficina Regional 2.Estudo de Linha de Base, PROESF UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 54 Fotografia 3.7 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 Fotografia 3.8 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 Fotografia 3.9 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 Fotografia 3.10 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 Fotografia 3.11 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 Fotografia 3.12 Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2. PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 pág. 58 21 22 APRESENTAÇÃO O relatório apresenta os resultados do Estudo de Monitoramento e Avaliação do Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (PROESF) nos 21 municípios de mais de 100 mil habitantes dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, incluídos no Lote 2 Sul, coordenado e financiado nacionalmente pelo Ministério da Saúde. O relatório registra as atividades de Capacitação e Pesquisa do Estudo, iniciadas em fevereiro de 2005 e desenvolvidas em um período de aproximadamente 10 meses. Inicialmente, é feita uma introdução ao Estudo, revisando seus antecedentes, objetivos, fundamentos teóricos e metodológicos. Em continuação são descritas as atividades de Capacitação, desenvolvidas em oficinas que prepararam as atividades de Pesquisa e discutiram os aspectos metodológicos e seus resultados preliminares. A apresentação da Pesquisa está sub-dividida em duas partes. O Estudo de Linha de Base (ELB) e o Estudo Qualitativo, que detalham aspectos teórico-metodológicos, coleta, processamento e análise dos dados. O ELB, através de uma abordagem epidemiológica, avaliou a atenção básica à saúde em suas dimensões políticoinstitucional, organizacional da atenção, cuidado integral e desempenho do sistema na totalidade dos municípios. O Estudo Qualitativo avaliou em profundidade a Unidade de Saúde da Família do bairro Seminário no município de Chapecó, SC. A discussão enfatiza os recortes utilizados no ELB e os achados sobre a adequação da atenção básica e do PSF foram confrontados às prescrições legais e técnicas do modelo. Também foi avaliada a plausibilidade do PSF ser um modelo com melhor desempenho no atendimento das necessidades de saúde da população, principalmente dos grupos socialmente menos favorecidos. São feitas algumas recomendações para o enfrentamento dos principais problemas da ABS e do PSF no Lote 2 Sul. O relatório apresenta em seus Anexos, numerados seguindo o mesmo ordenamento dos capítulos, informações que detalham os aspectos referidos na parte principal do texto. 23 RESUMO O Estudo de Monitoramento e Avaliação do PROESF no Lote 2 Sul, sob responsabilidade da Universidade Federal de Pelotas, foi iniciado em fevereiro de 2005, incluindo 21 municípios de mais de 1 2 100 mil habitantes dos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina . Em um período de seis meses ocorreram três Oficinas de Capacitação com cerca de 200 representantes dos 21 municípios. Em duas oportunidades – Oficinas Regionais 1 e 2 - houve a participação de profissionais de saúde de 120 unidades básicas de saúde selecionadas para a avaliação da atenção básica. Uma página na Internet - http://www.epidemio-ufpel.org.br/proesf/index.htm - e a participação no trabalho de campo desenvolvido nos municípios complementaram as atividades de capacitação. O Estudo de Linha de Base utilizou um delineamento transversal e incluiu a coleta de dados primários nos municípios. Realizado em sessenta e cinco dias, o trabalho de campo totalizou 100% (21) das entrevistas com os Presidentes de Conselhos Municipais de Saúde, 71% (15) das entrevistas com Secretários Municipais de Saúde e Coordenadores de Atenção Básica/ PSF e 81% (17) da coleta de dados documentais. Em relação aos instrumentos do âmbito da UBS, a caracterização da estrutura e do processo de trabalho alcançou 98% (117) dos serviços. Também foram coletadas informações de 1730 profissionais de saúde, o que corresponde a uma média de 14 profissionais por UBS. O somatório da avaliação da demanda de um dia típico de trabalho das UBS estudadas, totalizou 13.612 atendimentos, o que corresponde a uma média de 113 atendimentos por dia por UBS. Na amostra populacional, foram entrevistadas 1949 crianças (93% do estimado); 1823 mulheres (87% do estimado); 1940 adultos (92% do esperado) e 1891 idosos (90% do esperado). Na média foram aplicados cerca de 16 questionários em cada estrato da amostra populacional de cada UBS. O processamento e análise dos dados foi concluído em dezembro de 2005. O controle de qualidade foi realizado, por telefone, mediante aplicação de questionários reduzidos alcançando cerca de 5% dos domicílios selecionados para a amostra populacional. Os achados do estudo indicam um desempenho da ABS ainda distante das prescrições do SUS. Menos da metade da demanda potencial utiliza a UBS de sua área de abrangência e metade dos que não utilizam justificam esta rejeição por um juízo negativo sobre o serviço. As ações de saúde são muitas vezes negligenciadas, devido à sobrecarga de trabalho para atender a demanda sentida, ao descontrole do fluxo de invasão e evasão das pessoas da área de adstrição da UBS, à desorganização do processo de trabalho, à falta de supervisão do trabalho e de educação permanente, à carência de equipamentos e insumos, ao desconforto e à insegurança nos locais de trabalho. Nas áreas de PSF, a utilização dos serviços foi mais adequada do que naquelas de UBS Tradicionais. Na avaliação da demanda atendida no PSF, o contato por ações programáticas e preventivas foi significativamente maior do que nas UBS Tradicionais. O desempenho do PSF pode ser significativamente maior do que o observado, considerando que a população de sua área de abrangência era sistematicamente mais pobre, menos escolarizada, vivia em domicílios mais inadequados e ocupados por uma maior número de pessoas. Além disso, a situação de saúde da população coberta pelo PSF também era pior do que a da população servida por UBS Tradicionais. O estudo qualitativo mostrou que o sentido da integralidade para a gestão e trabalhadores é a de ver o usuário no contexto social, psicológico e de acesso aos cuidados. Para os usuários se refere às possibilidades de acesso à USF e a serviços especializados. A complexidade do Projeto e sua abrangência não impediu o cumprimento adequado do cronograma previsto. A qualidade da equipe técnica envolvida nas diversas atividades do estudo e a participação dos representantes dos municípios deve ser destacada como razões fundamentais para o bom andamento do Projeto. Este resultado também se deveu ao apoio recebido do Ministério da Saúde, com especial destaque para a Coordenação de Acompanhamento e Avaliação do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção à Saúde e o Grupo de Acompanhamento dos Estudos de Linha de Base. 1 Municípios do Rio Grande do Sul: Alvorada, Bagé, Cachoeirinha, Canoas, Caxias do Sul, Gravataí, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Uruguaiana e Viamão. 2 Municípios de Santa Catarina: Chapecó, Criciúma, Florianópolis e Lages. 1 INTRODUÇÃO O Projeto Integrado de Capacitação e Pesquisa em Avaliação da Atenção Básica à Saúde, sob responsabilidade do Departamento de Medicina Social, do Departamento de Enfermagem e do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), está vinculado ao Componente 3 (Monitoramento e Avaliação) do Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (PROESF) do Ministério da Saúde (MS), incluindo a totalidade dos 21 municípios dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul do Lote 2 Sul, contando com a participação de gestores e de trabalhadores de saúde. A capacitação apoiou os municípios na implementação de estruturas institucionais, metodologias e instrumentos para o acompanhamento e a avaliação sistemática da atenção básica, observando aspectos estruturais, de processo e de desempenho dos serviços de saúde. Também foi um espaço para troca de experiências entre os participantes sobre modernização administrativa, adequação da rede de serviços, fortalecimento dos sistemas de avaliação, de informação e desenvolvimento de recursos humanos. A pesquisa através do Estudo de Linha de Base (ELB) incluiu quatro dimensões orientadoras da avaliação da atenção básica: político-institucional, organizacional da atenção, cuidado integral e desempenho do sistema de saúde (Ministério da Saúde, 2004). Através de abordagem epidemiológica se avaliou o quanto as exposições ao PROESF e ao PSF afetam a variabilidade dos indicadores de cobertura, desempenho do sistema de saúde e situação de saúde da população, estabelecendo uma referência para avaliações e acompanhamentos futuros. O Estudo Qualitativo avaliou em profundidade a Unidade de Saúde da Família do bairro Seminário no município de Chapecó, SC, com ênfase na integralidade do cuidado do ponto de vista de gestores, profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). 27 Os municípios estudados estão recebendo apoio à Conversão do Modelo de Atenção Básica à Saúde, buscando estruturar a Estratégia Saúde da Família como porta de entrada do SUS e viabilizar o acesso a outros níveis de complexidade, para assegurar assistência integral aos usuários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Este processo foi analisado como uma intervenção, cujos efeitos no presente podem ser observados em municípios e população estratificados por estado da federação, porte populacional, região metropolitana e modelo de atenção básica à saúde. Os efeitos históricos da intervenção poderão ser observados em um segundo tempo, através da repetição do estudo. 1.1 Objetivos Geral • Desenvolver um Projeto Integrado de Capacitação e Pesquisa em Avaliação da Atenção Básica à Saúde na totalidade dos municípios do Lote 2 da Região Sul, apoiando a autonomia institucional para a avaliação dos modelos de atenção à saúde e a utilização de seus resultados na melhoria do desempenho dos sistemas locais de saúde e na redução de iniqüidades em saúde. Especifícos • Desenvolver Estudo de Linha de Base para o monitoramento do PROESF e da estratégia do PSF, analisando o impacto desta intervenção em indicadores de desempenho do sistema de saúde e de situação de saúde da população. • Desenvolver através da pesquisa um processo de Capacitação de profissionais de saúde dos estados e municípios sob estudo, apoiando a institucionalização da educação permanente e da avaliação em saúde. • Realizar estudo de caso, de abordagem qualitativa, em uma unidade de saúde da família de um município do Lote. • Estimular a organização de Grupos Locais de Avaliação em Saúde, que incluam a participação de membros dos Pólos de Educação Permanente e das equipes das unidades básicas de saúde. 28 • Fortalecer os nexos da Universidade Federal de Pelotas com os municípios do estudo, através de supervisão e transferência tecnológica para a avaliação e desenvolvimento da atenção básica à saúde. 29 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA O desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente em função da descentralização, acarretou aos municípios importantes demandas no âmbito da gestão (SUS, 8080). Estas demandas incluem a necessidade de compor e gerir equipes de trabalho, dispor de estrutura física e tecnológica, organizar os insumos e as estratégias para operar o sistema de saúde, além de produzir e disponibilizar conhecimento para o conjunto da população de modo a promover eqüidade. Neste contexto, freqüentemente se esbarra em carências humanas e materiais e na novidade do tema da gestão no âmbito do SUS (DECIT, 2006 pdf 27). Para os municípios de grande porte as demandas da descentralização são ainda mais significativas, devido à responsabilidade não apenas de prestar serviços a numerosos contingentes populacionais, mas também de executar ações de saúde de diferentes graus de complexidade. A organização e o fortalecimento da atenção básica à saúde é uma das características mais marcantes do SUS, tendo a responsabilidade de servir de porta de entrada principal no sistema e estratégia organizadora do cuidado integral em saúde. Entretanto, a história da atenção básica à saúde é marcada por problemas de gestão e estrutura física dos serviços, suficiência e perfil dos profissionais de saúde, acesso oportuno aos recursos e efetividade de políticas e ações de saúde9, 10, 11, 12, 13. (ARTIGO 1) Em um esforço de superação dos problemas históricos, o PSF, implantado há cerca de 10 anos no país, foi definido como o modelo de reorientação da atenção básica à saúde, induzindo mudanças significativas não apenas na gestão do trabalho e da educação, mas também na comunicação e informação em saúde (MS, 2006 – Portaria 648, 28 março de 2006). Conhecer a contribuição de políticas e programas no controle de problemas de saúde pública é uma demanda acadêmica essencial para o direcionamento de esforços em busca de uma sociedade mais saudável e menos desigual. Como desdobramento, os pesquisadores têm sido desafiados a responder como os serviços de saúde, em seus 31 arranjos locais e com todas as suas peculiaridades, executam as políticas de saúde e se estas acabam beneficiando a população (HARTZ , 2005). O enfrentamento destes desafios tem produzido uma acumulação de conhecimentos e levado a novos desafios, que requerem uma fundamentação com base em conhecimentos acumulados. Nesse contexto, o delineamento do Projeto PROESFUFPel foi antecedido de questionamentos a respeito da finalidade da pesquisa acadêmica, de suas relações e contribuições com o SUS, das principais questões teóricometodológicas que desafiam a avaliação de políticas e programas de saúde, das estratégias analíticas mais adequadas à avaliação da ABS e de sua representação esquemática em um modelo teórico hierárquico, capaz de sintetizar a complexa articulação entre as variáveis em estudo. Este marco teórico sistematiza algumas respostas a estes questionamentos, antecipando a base conceitual através da qual foi abordado o processo de reorientação do modelo de atenção básica à saúde e de seu impacto no desempenho das UBS e na situação de saúde da população. 2.1 Pesquisa Acadêmica e Prática Social Em termos de sua concepção mais geral, o Projeto foi delineado como uma pesquisa-ação (DICK,2000), combinando esforços dirigidos à mudança nas atividades de capacitação e avaliação de serviços básicos de saúde nos municípios do Lote, com esforços de produção de conhecimento científico que permitam entender os desafios e as perspectivas da ação proposta. A ação oportunizou uma certa flexibilidade frente às diferentes realidades municipais e a participação dos atores sociais implicados, contribuindo para a melhoria na qualidade dos dados coletados e para uma maior acurácia em sua interpretação. A pesquisa-ação possibilitou ambos os propósitos, alternando um ciclo entre ação e reflexão crítica. Este processo fundamentou-se em uma intensa participação da equipe técnica do projeto e de representantes de estados e municípios. Embora o Projeto tenha forte base epidemiológica, observável na organização e desenvolvimento do Estudo de Linha de Base, teve também uma intensa motivação qualitativa, seja na forma de desenvolver as atividades de capacitação, seja na coleta de informações abertas em 32 instrumentos estruturados, ou ainda no estudo de caso de uma unidade de saúde da família (DICK, 2000). O ciclo da pesquisa-ação, delineado no cronograma do Projeto, oportunizou primeiro o planejamento da ação (Oficina 1), logo a observação (trabalho de campo) e então a reflexão (Oficina 2, análise de dados, relatórios). Em síntese, a ação bem apoiada pelo conhecimento pôde ser mais efetiva, enquanto o conhecimento pôde ser mais facilmente obtido através de uma ação bem coordenada e informada (DICK, 2000). Considerando que, tanto o PROESF quanto o PSF estão em plena implementação, o Projeto também pode ser inscrito no âmbito da avaliação formativa, efetuada com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de ambos os processos institucionais (HARTZ, 2005). Ao captar informação sobre atividades, características e resultados da ABS e do PSF para estabelecer um juízo e subsidiar a tomada de decisão, o Projeto também pode ser considerado como uma avaliação em saúde focada na utilização (HARTZ, 2005; PATTON, 1997). 2.2 Avaliação de Políticas e Programas de Saúde A avaliação de políticas e programas é função essencial da saúde pública, contribuindo para evitar o desperdício de recursos com a implementação de programas ineficazes, ou, talvez ainda pior, a continuidade de práticas que podem fazer mais mal do que bem. A literatura especializada oferece exemplos de programas bem intencionados, mas que foram continuados, em alguns casos, durante décadas, até avaliações rigorosas revelarem que seus resultados não eram os esperados (VAUGHAN, 2004). A avaliação da efetividade de políticas e programas de saúde engloba múltiplas abordagens e bases teóricas, interesses e atores diversos, que podem ser complementares, ou refletir contrastes de recorte e formulação do objeto de estudo. Nesta diversidade, o ponto em comum é o requisito de avaliar o cumprimento de objetivos, metas e funções estabelecidas nas ações institucionais (BARROS, 1998; CONTANDRIOPOULOS, 2000; HABITCH, 1999; HARTZ, 2005; VIACAVA, 2004). O efeito da política de saúde no desempenho do sistema de saúde e na situação de saúde da população é resultante de um sinergismo entre determinantes vinculados à 33 própria política de saúde, aos serviços de saúde (estruturas, recursos humanos e processos) e ao estado de saúde das populações. Este último, por sua vez, tem forte dependência da posição social, de processos sociais e de iniqüidades, que modulam as possibilidades e expectativas de vida de indivíduos e populações (SHAW, 2003; STAFFORD, 2003; VIACAVA, 2004; VICTORA, 2004). Neste caso, os perfis de morbidade e mortalidade precisam orientar a avaliação direcionada ao desempenho dos sistemas e serviços de saúde, dada sua capacidade de expressar as necessidades de saúde da população e as eventuais iniqüidades sociais (BARROS, 1998; HABITCH, 1999; HARTZ, 2005; VIACAVA, 2004; CONTANDRIOPOULOS, 2000). Entretanto, a efetivação das políticas de saúde depende de fatores teóricos e operacionais, que influenciam sua reprodutibilidade e sua implantação, desde o âmbito nacional até o local. Logo, a avaliação de efetividade de uma política ou programa nos serviços de saúde requer a abordagem teórico-metodológica adequada destes aspectos (HARTZ, 2005). Em termos de recorte teórico-metodológico, a opção pela epidemiologia levou em conta sua especialização na medida das desigualdades em saúde (ROTHMAN, 1998). Em termos mais específicos, suas contribuições têm sido marcantes na avaliação de iniqüidades na situação de saúde da população, no acesso aos serviços de saúde e mais recentemente na avaliação da efetividade de políticas e programas de saúde (BARROS, 1998; FACCHINI, 1993; HABITCH, 1999; LAURELL, 1983, VAUGHAN, 2001; VICTORA, 2004; TEIXEIRA, 1999). 2.3 Avaliação de adequação e plausibilidade dos modelos de atenção básica à saúde O planejamento do ELB através da abordagem epidemiológica estimulou o delineamento do Projeto como uma avaliação de desempenho, que documenta o desempenho atual da ABS e do PSF no Lote 2 Sul, mas que também antecipa a avaliação de impacto do PROESF e PSF, a ser estabelecida em um segundo tempo. Tendo em vista essa perspectiva, o Projeto combinou um estudo para avaliar a adequação do desempenho da ABS e do PSF frente a critérios previamente definidos de oferta, utilização e cobertura dos serviços, com um estudo para avaliar a plausibilidade 34 de o desempenho da ABS haver melhorado em função do PSF (HABICHT, 1999; VAUGHAN, 2004; VICTORA, 2004). Do ponto de vista da avaliação de adequação do desempenho, o delineamento epidemiológico transversal é suficiente, especialmente porque se estabeleceu a comparação das UBS do PSF com UBS do modelo Tradicional. Mas esta estratégia metodológica também permite avaliar a adequação do impacto dos dois modelos na melhoria da situação de saúde da população da área de abrangência dos serviços. Avaliações de adequação são fundamentais para evidenciar se os objetivos pretendidos pela política de ABS estão sendo alcançados e se PSF deve ser mantido como estratégia de reorientação da ABS (HABICHT, 1999; VAUGHAN, 2004; VICTORA, 2004). Do ponto de vista da avaliação de plausibilidade do desempenho da ABS haver melhorado em função do PSF, a comparação dos achados do PSF com aqueles verificados em UBS Tradicionais (grupo de controle externo) permite controlar fatores de confusão importantes. Da mesma forma, a subdivisão do grupo de intervenção do PSF em função do período de implantação da estratégia, antes e depois do PROESF, fortalece a avaliação de plausibilidade a partir de achados de estudo transversal, facilitando a comparação histórica entre os três grupos de UBS e a análise tipo doseresposta do efeito da intervenção. A avaliação de plausibilidade do impacto do PSF na melhoria da situação de saúde da população pôde ser preliminarmente examinada com o delineamento proposto, mas é essencialmente uma tarefa de um futuro estudo (HABICHT, 1999; VAUGHAN, 2004; VICTORA, 2004). A inclusão de informações provenientes do contexto político, social e econômico, que traduz a história e conformação do SUS e da ABS no Lote 2 Sul e de grupos populacionais residentes na área de abrangência das UBS, também qualificou o alcance do Projeto. Na avaliação da eqüidade, a opção governamental em favor do PSF é abordada a partir de sua capacidade de contemplar os grupos socialmente mais vulneráveis, mas também de fortalecer o controle social e as estratégias de obtenção de informações e de tomada de decisão (BAMBAS, 2001). Os problemas de saúde da população, caracterizados em termos de morbidade, atividade física e qualidade de vida, permitem conhecer sua magnitude e expressão nas áreas de abrangência das UBS de diferentes regiões, estados e municípios, mas também estabelecem os parâmetros para a comparação do efeito da intervenção em um segundo tempo do estudo. Por exemplo, viver em uma área de grande privação ou 35 vulnerabilidade social afeta mais negativamente a saúde dos mais pobres, que possivelmente são mais dependentes dos recursos coletivos da comunidade. Nas áreas mais ricas há mais recursos coletivos que são essenciais para a melhoria da saúde pública, como por exemplo, serviços de saúde, escolas, empregos e suporte social, quando comparadas às áreas mais pobres. Portanto, fatores socioeconômicos individuais e territoriais podem interagir para influenciar a situação de saúde da população e os possíveis efeitos das intervenções de políticas e programas de saúde (SHAW, 2003; STAFFORD, 2003). 2.4 Modelo Teórico A complexidade da avaliação proposta, decorrente do grande número de variáveis com diferentes níveis hierárquicos, que interferem com o desfecho, foi esquematizada em um Modelo Teórico (Figura 2.1). Este modelo sintetiza a articulação hierárquica dos processos (condições ou características) capazes de determinar mudanças no desempenho dos sistemas de saúde e na situação de saúde da população. Assim, o Modelo Teórico deve ser considerado uma metáfora, um recurso heurístico para abordar de modo simplificado uma cadeia causal complexa e estabelecer as inferências epidemiológicas (BAMBAS, 2001; FACCHINI, 1994; TOMASI, 2003). O Modelo Teórico apresentado procura refletir a seqüência cronológica, as mediações e os mecanismos que conectam os determinantes dos diferentes níveis hierárquicos ao efeito, construindo um enredo significativo e ordenado para o caos de fragmentos e dispersões das variáveis isoladas. O Modelo Teórico destaca as principais categorias utilizadas na agregação dos municípios e, assim, da informação captada em cada localidade, para a análise estratificada do desempenho dos modelos de atenção básica à saúde e do impacto do PSF e do PROESF. Estas categorias delimitam a abrangência geopolítica dos municípios, agregados segundo o Estado da federação, o porte populacional do município e a inserção na região metropolitana de Porto Alegre. Do ponto de vista da análise de efeito, a categoria analítica utilizada foi o modelo de atenção da UBS, contrapondo o PSF ao modelo Tradicional. 36 37 3 CAPACITAÇÃO As atividades de Capacitação se desenvolveram através das seguintes estratégias: oficinas de trabalho, página na Internet e trabalho de campo nos municípios. A metodologia utilizada nas atividades de capacitação está detalhada na descrição de cada uma das Oficinas e em seus anexos, incluindo as atividades desenvolvidas presencialmente com representantes de estados, municípios e unidades básicas de saúde do Lote 2 Sul. A página na Internet - http://www.epidemio-ufpel.org.br/proesf/index.htm - tem sido um recurso valioso para divulgar o Estudo. Estão disponíveis informações e insumos para as atividades de dispersão da Capacitação relativas à: • Proposta Técnica do Estudo; • Equipe responsável por sua condução e contato com seus membros; • Relação de estados e municípios participantes; • Oficinas de capacitação, incluindo apresentações e dinâmicas de grupo; • Andamento do estudo, com destaque para o trabalho de campo nos municípios; • Processamento dos dados; • Instrumentos utilizados no Estudo; • CD denominado “Cadernos do GLAS – Grupo Local de Avaliação em Saúde”; • Relatórios parciais do estudo; • Fotografias retratando a sede do estudo na UFPel, as oficinas de capacitação e o trabalho de campo; • Software livre; • Bibliografia sobre avaliação de serviços básicos de saúde; • Link para páginas de interesse. 39 A participação de representantes dos municípios e unidades de saúde nas atividades do trabalho de campo constituiu outra oportunidade de capacitação. As atividades do trabalho de campo foram todas conduzidas pela equipe técnica do Projeto, incluindo auxiliares de pesquisa (supervisores) para a coleta de dados nos municípios. As atividades desenvolvidas na Oficina Macrorregional, na Oficina 1 e na Oficina 2 estão descritas a seguir e incluem a programação, as apresentações, as atividades em grupo e os produtos de cada encontro. 3.1 Oficina Macrorregional 3.1.1 Introdução A oficina macrorregional Sul ocorreu em Porto Alegre, de 17 a 18 de fevereiro de 2005, sob coordenação do Ministério da Saúde. Estiveram presentes ou representados o grupo de técnicos e consultores do Ministério da Saúde responsáveis pelo acompanhamento do trabalho, CONASEMS, gestores estaduais e municipais dos estados de Rio Grande do Sul (exceto Uruguaiana), Santa Catarina e Paraná, além de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas UFPel e da Universidade Estadual de Maringá – UEM, responsáveis pelo Estudo de Linha de Base do Lote 1 e Lote 2 da Região Sul. Esta oficina proporcionou a primeira aproximação do Ministério da Saúde e das Instituições de Pesquisa com os gestores estaduais e municipais para apresentar a proposta do Estudo de Linha de Base do PROESF e a política de institucionalização da avaliação. A organização didático-pedagógica da oficina permitiu que, inicialmente, o gestor federal apresentasse o incentivo à conversão do modelo assistencial e à política de avaliação do PROESF. A seguir, o grupo foi dividido por lote de municípios e os trabalhos ficaram a cargo das instituições responsáveis pelo estudo nos respectivos lotes. A seguir são apresentadas as atividades programadas pela equipe da UFPel através de seus objetivos, da metodologia, dos instrumentos utilizados e do produto desta oficina. Os objetivos da UFPel nesta oficina foram: 40 • Apresentar a Proposta Técnica de capacitação e avaliação da instituição; • Sensibilizar os gestores para a institucionalização da avaliação; • Identificar experiências, problemas e prioridades em capacitação e avaliação; • Estimular a formação de um Grupo Local de Avaliação em Saúde; • Registrar as vantagens e limitações dos diferentes modelos de atenção identificadas pelos municípios e estados; • Selecionar as UBS para compor a amostra a ser estudada em cada município; • Construir uma agenda compartilhada com estados e municípios para a operacionalização do Projeto. 3.1.2 Metodologia O referencial teórico adotado foi o da construção participativa, onde a proposta metodológica é apresentada pelos pesquisadores e, através de uma mediação dialógica neste espaço, os atores sociais são incluídos, partilhando objetivos e responsabilidades nas ações necessárias para alcançá-los. Ao dar início às atividades foi realizada a apresentação da Equipe Técnica e solicitada a apresentação dos participantes. Na seqüência, foi apresentado o programa da oficina (Anexo 1.1) e a Proposta Técnica do estudo (Anexo 1.2), com esclarecimentos de dúvidas. Com o intuito de identificar as experiências locais, problemas e prioridades em capacitação e avaliação foram formados grupos de trabalho por município, promovendo o consenso sobre as categorias de análise e as variáveis abordadas, utilizando matriz operacional para orientar os debates e sistematizar seus resultados (Anexo 1.3). O resultado da discussão nos grupos foi registrado em tarjetas, e à medida em que o relator escolhido em cada grupo apresentava os resultados, estes eram fixados em um painel, de acordo com a temática abordada. Solicitou-se também que estes grupos registrassem as vantagens e limitações identificadas em cada um dos modelos de atenção, valorizando a percepção dos participantes. A partir de solicitação prévia, os representantes trouxeram a lista de Unidades Básicas de Saúde dos seus municípios, utilizada para a seleção da amostra. 41 O processo de seleção da amostra foi realizado através de um trabalho em grupos por município, onde acontecia o preenchimento de uma planilha com as UBS urbanas identificadas por tipo de modelo e número de médicos (Anexo 1.3). Após esta etapa, as UBS foram numeradas seqüencialmente, por modelo de atenção e realizado o sorteio aleatório cujo resultado encontra-se no Anexo 1.4. 3.1.3 Resultados Os resultados apresentados nos quadros abaixo (Quadros 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4) incluem a síntese das experiências, problemas e prioridades em avaliação e capacitação e de vantagens e limitações dos modelos de UBS, produzidos por participantes de 20 Municípios de dois Estados da Federação. Quadro 3.1 - Síntese das Experiências, Problemas e Prioridades em Avaliação. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. • • • • • • Avaliação Experiências Predominam as experiências em avaliações normativas Problemas Carência de avaliações sistemáticas Resultados não retornam para quem gera os dados executando ações de saúde Falta de RH qualificados com experiência e conhecimentos em métodos de avaliação Prioridades Capacitar/ desenvolver grupos/ sistemas, voltados para avaliação Promover o retorno das informações para as equipes Quadro 3.2 - Síntese das Experiências, Problemas e Prioridades em Capacitação. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Capacitação • • • • • Experiências Capacitações dirigidas para ações específicas Predomínio do módulo introdutório do PSF Problemas Carência de capacitadores Distanciamento das instituições formadoras Prioridades Promoção de programas de educação permanente 42 Quadro 3.3 - Síntese das Vantagens dos Modelos de Atenção. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Vantagens UBS PSF UBS Tradicional Vínculo com a comunidade Promoção da saúde e prevenção de doenças Demanda mais universal Livre escolha Atendimento especializado nas áreas básicas UBS Mista Demanda espontânea UBS PSF pós PROESF Estrutura física Capacitação das equipes Quadro 3.4 - Síntese das Limitações dos Modelos de Atenção. Oficina de Capacitação Macrorregional, PROESF – UFPel, 2005. Limitações UBS PSF Custo elevado Rotatividade dos profissionais Vínculo contratual dos profissionais UBS Tradicional Pouca vinculação dos profissionais UBS Mista Dificuldade de organizar o funcionamento Conflitos entre profissionais dos dois modelos UBS PSF pós PROESF As mesmas de UBS – PSF Para finalizar as atividades da UFPel com os participantes do Lote Sul 2, foram distribuídos os instrumentos de coleta de dados referentes ao gestor, à gestão e ao coordenador municipal de atenção básica ou PSF. Também foi construída em plenário uma agenda compartilhada, com ampla participação dos presentes, resultando em um conjunto de ações e responsabilidades necessárias para agilizar o início do trabalho de campo e o encaminhamento das demandas para as oficinas de capacitação. Como demandas para a Oficina Regional 1 solicitou-se a devolução dos questionários distribuídos, a indicação de dois representantes do nível central da Secretaria de Saúde e de um funcionário de cada uma das UBS selecionadas para o estudo e o mapa do município com a localização das UBS. Foi organizada uma lista dos participantes da Oficina e de endereços de secretários e pessoas de contato na SMS para envio de correspondência. Para agilizar o trabalho de campo nos municípios e com o intuito de integrar os participantes nas atividades de pesquisa foi solicitado que se organizasse uma agenda de 43 trabalho com os supervisores e o Grupo Local de Avaliação em Saúde - GLAS, prevendo apoio para localização das UBS, transporte, alimentação, hospedagem e agendamento de entrevista com o presidente do CMS. Aos supervisores ficaram delegadas as seguintes atividades no município: apoio na instalação e utilização de um software; supervisão do questionário coletivo da UBS e individual dos membros da equipe de saúde; apoio na coleta de dados da demanda; aplicação dos questionários populacionais; reunião diária para avaliação do andamento do trabalho de campo; arquivamento, catalogação de instrumentos e conclusão com o encaminhamento dos materiais para a coordenação do estudo. 3.1.4 Discussão Durante a Oficina Macrorregional os participantes demonstraram interesse e compromisso com o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde, particularmente com o aprimoramento das estratégias de atenção básica. O reconhecimento de importantes limitações e dificuldades na gestão do SUS parece não esmorecer as expectativas positivas e os esforços dos gestores com a melhoria da atenção básica à saúde. Houve consenso entre os gestores da escassa experiência em avaliação e do predomínio de capacitações para finalidades pontuais, em especial o módulo introdutório do PSF. Entre os problemas centrais para que estas iniciativas sejam implementadas se destacou a carência de profissionais com experiência em avaliação e capacitação, o distanciamento das Instituições Universitárias, o financiamento escasso e a inconstância nas políticas adotadas. No quadro de prioridades houve destaque para a formação de Grupos Locais de Avaliação em Saúde, necessidade de investimento em educação permanente de profissionais das UBS e do nível central das SMS, com o respectivo apoio financeiro. Houve a demanda para que os resultados das avaliações seja conseqüente, retorne aos profissionais de saúde, contribua para o aprimoramento dos cuidados da saúde e de gestão deste cuidado. A dinâmica sobre vantagens e limitações dos modelos de organização das Unidades Básicas de Saúde identificou o vínculo com a comunidade como um aspecto positivo do PSF e revelou a dificuldade para fixar profissionais e a precarização do trabalho como problemas centrais para a gestão do cuidado em ABS. 44 A seleção das UBS para a amostra do ELB oportunizou a participação de representantes dos municípios neste importante passo da pesquisa. Esta atividade esteve em absoluta consonância com a concepção de aprender fazendo. 3.2 Oficina Regional 1 3.2.1 Introdução A Oficina Regional 1 ocorreu no período de 07 a 11 de março de 2005, em Porto Alegre e reuniu pesquisadores da UFPel, representantes da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, gestores e trabalhadores dos municípios com mais de 100.000 habitantes dos estados do RS e SC e representantes do controle social. Esta oficina de capacitação se destacou como parte do processo de ampliação da autonomia de gestores municipais e trabalhadores das UBS para avaliar a atenção básica. Seu diferencial em relação à oficina macrorregional foi a participação de trabalhadores das UBS dos municípios do Lote. A inclusão dos profissionais de saúde buscou estimular a institucionalização da avaliação em articulação com a prática cotidiana do cuidado. Na oficina discutiu-se a formação de um Grupo Local de Avaliação em Saúde nos municípios, com o objetivo de oportunizar a capacitação para a avaliação vinculada às atividades de pesquisa. A perspectiva de um movimento social de institucionalização da avaliação nos serviços foi um objetivo explicitamente colocado em todos os momentos de interação dialógica entre pesquisadores, gestores e trabalhadores da saúde envolvidos. Neste relatório apresenta-se o programa da Oficina Regional 1 (Anexo 2.1), as bases metodológicas adotadas, os resultados parciais e preliminares das atividades realizadas e os comentários sobre as perspectivas que esta ação, em conjunto com as demais propostas neste Projeto de Pesquisa, são capazes de desencadear e/ ou estimular. 45 3.2.2 Metodologia A organização didático-pedagógica adotou uma seqüência de atividades e recursos pedagógicos buscando realizar a transferência de tecnologia e a construção coletiva de conhecimento com o propósito de operar ações de avaliação da ABS. Os recursos didáticos utilizados proporcionaram aos participantes exposições dialogadas, plenárias participativas, grupos de trabalho e construção de agenda compartilhada. Além disto, foram transferidos a todos os participantes das oficinas os instrumentos adotados no Estudo de Linha de Base para a avaliação da Atenção Básica, que estão disponíveis na página do Projeto na Internet. Este fato representou uma primeira ampliação na autonomia dos sujeitos sociais no sentido de estimular o movimento de capacitação em seus respectivos municípios. Os instrumentos apresentados e utilizados na oficina de capacitação se revestiram de duas naturezas distintas: • Função pedagógica para a realização da própria oficina. • Instrumento de pesquisa na captação de dados para o Projeto de Monitoramento e Avaliação de Linha de Base do PROESF. A atividade inicial desta oficina de capacitação foi a abertura oficial do evento com a composição de uma mesa com os gestores presentes ou representados, seguida da apresentação do Projeto de Pesquisa (Anexo 1.2), devido à presença de um novo e grande contingente de participantes representado pelos trabalhadores das UBS selecionadas para o estudo. 46 Fotografia 3.1 – Abertura Oficial da Oficina Regional 1. Estudo de Linha de Base, PROESF - UFPel, Lote 2 Sul, 2005. No segundo momento pedagógico desta capacitação foram realizadas exposições dialogadas (Anexo 2.2) iniciando com a apresentação da sistematização do trabalho dos grupos realizado na oficina macrorregional (Anexo 2.2.1) sobre: • Experiências, problemas e prioridades em capacitação e avaliação na ABS. • Vantagens e limitações dos modelos de UBS identificados. Este resultado revelou o esforço realizado por gestores estaduais e municipais, sobretudo estes últimos, em uma primeira aproximação ao objeto de estudo desta pesquisa. Na seqüência fez-se o monitoramento das ações pactuadas com os representantes dos municípios durante a oficina macrorregional (Anexo 2.3), dentre as quais a devolução dos questionários entregues aos gestores. A orientação sobre as características e perspectivas de constituição do GLAS foi realizada através de exposição dialogada seguida de trabalho em grupos por município, com utilização de uma planilha identificando as necessidades, operações, responsáveis e cronograma (Anexo 2.4). A Fotografia 3.2 ilustra o trabalho de grupo sobre esta temática. 47 Fotografia 3.2 - Trabalho em grupo para identificar a viabilidade da formação do GLAS nos municípios. Oficina Regional 1, PROESF – UFPel - 2005. Nesta oficina se exercitou a logística do trabalho de campo (Anexo 2.2.4) para o estudo populacional e também a logística para realizar estudos de demanda através da utilização de um software – chamado PACOTAPS - prático e relativamente simples de instalar e operar, que torna mais viável a realização de estudos neste nível de atenção à saúde. Os estudos de demanda foram destacados como um importante recurso para identificar as características sociodemográficas e o perfil dos atendimentos realizados. A metodologia utilizada para esta atividade foi a exposição dialogada, seguida de trabalho (Anexo 2.2.2, 2.2.3 e 2.2.5) em grupo por município, disponibilizando uma infra-estrutura de informática, possibilitando que fosse realizada a simulação de instalação do software PACOTAPS, digitação e emissão de relatório. Os documentos utilizados como insumos para estas oficinas encontram-se em anexo (Anexos 2.5, 2.6 e 2.7) e as Fotografias 3.3 e 3.4 dispostas a seguir demonstram as atividades realizadas nos grupos de trabalho. 48 Fotografias 3.3 e 3.4 – Oficina de simulação do uso do PACOTAPS e da logística do trabalho de campo. Oficina Regional 1, PROESF – UFPel – 2005 A aproximação sobre o processo de trabalho em atenção básica construída com os trabalhadores constituiu-se em um primeiro recorte sobre esta variável, que parece desempenhar um papel central na caracterização da maneira como o cuidado se organiza. O assunto abordado inicialmente através de exposição dialogada foi objeto de discussão em atividade de grupos com o intuito de identificar atividades desenvolvidas, carga horária dedicada, pessoas envolvidas com a atividade, dificuldades e sugestões (Anexo 2.8). Foram disponibilizadas informações estratégicas aos municípios, tais como: fontes de financiamento federal, endereços eletrônicos para consultas bibliográficas e interlocutores governamentais nos diversos níveis da Federação, estimulando, desta forma, a possibilidade de ampliar a presença de participantes nestes espaços, contribuindo para a institucionalização de uma cultura avaliativa de fato. Ao final do encontro realizou-se uma plenária para validação da Matriz de Acreditação do Grupo Local de Avaliação em Saúde (Anexo 2.9); avaliação das atividades desenvolvidas na oficina e construção de agenda compartilhada para as atividades de trabalho de campo. Esta agenda representa pactos sucessivos de responsabilidades divididas, de acordo com a capacidade de governo e governabilidade, para que se realizem os objetivos e metas compartilhados entre pesquisadores, gestores municipais, estaduais, federais e trabalhadores da Atenção Básica. 49 3.2.3 Resultados O principal resultado desta oficina foi a oportunidade da reflexão teórica sobre as etapas da capacitação e pesquisa em avaliação da Atenção Básica. Através das exposições dialogadas e grupos de trabalho propiciou-se o debate sobre o referencial teórico adotado, o modelo de análise, o delineamento, os instrumentos, a logística, a produção de resultados e valores de uso dos mesmos. A revisão dos pactos estabelecidos na Oficina Macrorregional permitiu identificar a participação e as responsabilidades dos sujeitos implicados em cada etapa da capacitação e da pesquisa, possibilitando aos trabalhadores dos estados e municípios acompanhar o trabalho de campo desta pesquisa, realizado por técnicos contratados (supervisores) especificamente para desempenhar esta função. A atualização da agenda compartilhada revelou tarefas assumidas e não concluídas, necessitando novos encaminhamentos. A reconstrução singularizada da logística do Projeto de Avaliação do PROESF/ UFPel permitiu identificar as etapas do estudo, sua organização no tempo e no espaço, a provisão de recursos para que as ações possam ocorrer no tempo previsto, a um custo previamente determinado e com o controle de qualidade padronizado. Foi disponibilizado suporte continuado do grupo de pesquisa através de meios eletrônicos, representando a possibilidade concreta da aumentar a capacidade de governo neste campo específico de ação. A transferência de tecnologia leve-dura com o objetivo de proporcionar a capacitação para realizar estudos de demanda, utilizou e disponibilizou o software PACOTAPS, permitindo a realização do estudo de maneira prática e rápida. A utilização deste tipo de estudo para a organização do cuidado lhe conferiu valor de uso como um importante instrumento de gestão. A construção coletiva do processo de trabalho em Atenção Básica permitiu aperfeiçoar o instrumento para a coleta desta informação junto às equipes de saúde. A Matriz de Acreditação dos GLAS foi adotada como um instrumento, ainda em desenvolvimento, para captar o estágio em que se encontrava a implantação do GLAS em cada um dos municípios. Ao se realizar a avaliação da oficina de forma participativa, foi possível aos participantes estabelecer suas críticas e sugestões, que no caso desta oficina em 50 específico, se restringiram a demandas por menor densidade de conteúdos e mais tempo para os trabalhos em grupo. 3.2.4 Discussão A primeira oficina regional de capacitação abordou a opção pela utilização do método quantitativo, suas vantagens e limitações para estudar a Atenção Básica em Saúde, assim como os recortes necessários para a identificação da realidade em toda a sua complexidade através de diferentes aproximações deste objeto de estudo. A intensa participação da população-alvo em todas as atividades desenvolvidas na oficina se revelou através das imagens e produtos conseqüentes aos esforços realizados neste trabalho, ou seja, não faltou motivação aos sujeitos implicados frente aos desafios da proposta. A apresentação da logística do Estudo de Linha de Base do PROESF da UFPel teve dois propósitos claros. O primeiro se caracterizou como transferência de tecnologia leve-dura, constituída por metodologia e instrumentos. O segundo foi o estímulo ao acompanhamento do trabalho de campo deste estudo como uma atividade prática, que se revestia de grande relevância na exposição necessária à construção do conhecimento com ampliação de autonomia associada. O resultado do trabalho da primeira oficina regional de capacitação se revelou em parte na participação dos representantes dos municípios no trabalho de campo do ELB e também na formação e estruturação de grupos locais que trabalhassem avaliação em saúde. O material relativo às atividades dos trabalhos em grupo e às plenárias participativas da oficina macrorregional foi processado e analisado. Os produtos preliminares destas análises foram apresentados na primeira oficina regional de capacitação do Lote Sul 2 e estão disponíveis em anexos deste relatório. O contexto da oficina regional permitiu identificar algumas variáveis que poderiam determinar um maior ou menor sucesso nas iniciativas da avaliação em saúde, entre elas, a pequena presença de gestores, a dificuldade de liberação de pessoas para a atividade de capacitação, a precarização do trabalho na rede básica de saúde e suas conseqüências desestimulantes para o trabalhador, a orientação da política de saúde de 51 cada Secretaria Municipal e os diferentes, e nem sempre claros, papéis das equipes das UBS, dos gestores Municipais, Estaduais e da Federação neste movimento técnico e político. A ausência de uma representação significativa dos estados e a ausência política dos gestores municipais nesta oficina sugeriu o espaço que a avaliação da Atenção Básica ocupou em suas respectivas agendas. A alternância da representação entre os participantes na oficina macrorregional e na primeira oficina regional de capacitação revelou a dificuldade na representação dos municípios e na implantação de experiências inovadoras, atividades que exigem equipes capazes de guardar a memória institucional e acumular capacidade de governo para implementar as ações necessárias. A precarização do trabalho identificada neste nível de atenção à saúde e a conseqüente dificuldade de manter as pessoas ao longo do tempo em uma determinada função vinculada a uma proposta de trabalho, conduziu à fragilidade das representações para os objetivos propostos nesta capacitação. As repercussões negativas desta precarização, tanto para a dimensão político-institucional quanto para a organização do cuidado, produz conseqüências na gestão do trabalho em saúde e compromete o resultado destes esforços. O cenário descrito nos parágrafos anteriores revelou baixa capacidade de governo e governabilidade dos participantes da oficina em relação ao objetivo de institucionalizar a avaliação em Atenção Básica à Saúde nos municípios. 3.3 Oficina Regional 2 3.3.1 Introdução A Oficina Regional 2 ocorreu no período de 23 a 25 de maio de 2005, em Porto Alegre e reuniu pesquisadores da UFPel, representantes da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, gestores e trabalhadores dos municípios com mais de 100.000 habitantes dos estados do RS e SC, representantes do controle social e alunos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS. Esta oficina realizou-se após a conclusão da coleta de dados populacionais nos municípios. A equipe técnica sistematizou os desdobramentos operacionais relacionados 52 à capacitação e à avaliação, de modo a disponibilizar resultados parciais dos dados coletados, codificados, digitados e sistematizados neste intervalo de tempo. A Universidade Federal de Pelotas organizou e conduziu as atividades com uma equipe de dez pesquisadores e quinze auxiliares de pesquisa, sendo que este momento foi marcado por um sentimento coletivo de êxito em relação às proposições e compromissos estabelecidos na Oficina Regional 1, ocorrida em março de 2005. Inicialmente foi apresentado o programa da oficina (Anexo 3.1) e os objetivos para este segundo encontro. Esta oficina teve como objetivos: • Revisar a metodologia adotada no estudo e no trabalho de campo; • Avaliar as experiências acumuladas e oportunidades perdidas durante o trabalho de campo; • Validar os resultados dos consensos dos grupos sobre processo de trabalho; • Apresentar os procedimentos adotados para a sistematização dos dados coletados e os resultados preliminares do TC de alguns municípios da amostra; • Identificar experiências bem sucedidas em Saúde da Família nos municípios participantes do estudo; • Estimular a realização de projetos de educação permanente e avaliação em ABS nos municípios. 3.3.2 Metodologia A organização didático-pedagógica da oficina propôs três módulos com objetivos complementares e instrumentos que foram utilizados como recursos para orientar as atividades, as reflexões e a sistematização das discussões. O primeiro módulo constou da avaliação da metodologia do Projeto e do trabalho de campo. O segundo módulo apresentou os resultados preliminares do ELB e as experiências locais em atenção básica. O terceiro módulo englobou o desenvolvimento inicial de propostas municipais para educação permanente em avaliação da atenção básica. Os recursos didáticos utilizados proporcionaram aos participantes exposições dialogadas (Anexos 3.2), plenárias participativas, grupos de trabalho e a construção de agenda compartilhada. Após a abertura oficial do evento com a participação dos pesquisadores e dos representantes dos municípios (Fotografias 3.5 e 3.6), os trabalhos foram iniciados com 53 a primeira exposição dialogada sobre a “Avaliação do trabalho de campo, processamento dos dados e resultados preliminares - efetividade do estudo nos municípios por instrumento” (Anexo 3.2.1) revisando a metodologia adotada e o trabalho de campo realizado. Fotografias 3.5 e 3.6 – Abertura da Oficina Regional 2. Estudo de Linha de Base, PROESF- UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Na seqüência formaram-se grupos de trabalho por representantes dos municípios para discutir e registrar, em uma matriz específica, as “Experiências acumuladas e oportunidades perdidas durante o trabalho de campo nos municípios” (Anexo 3.3). Esta atividade oportunizou a reflexão e o registro da participação dos trabalhadores do nível central e das UBS nas atividades realizadas no município. Durante a permanência dos supervisores nos municípios, os trabalhadores puderam acompanhar, participar e apreender a metodologia, aumentando a autonomia local para atividades de avaliação. A seguir, realizou-se a exposição dos resultados sistematizados sobre processo de trabalho, atividade realizada na Oficina Regional 1 (Anexo 3.2.2). Complementando esta apresentação foi mostrado o resultado preliminar de alguns indicadores referentes à estrutura da UBS e do perfil de gestores e presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde (Anexo 3.2.3 e 3.2.4) A exposição dialogada sobre “Critérios sugeridos para seleção de experiências bem sucedidas em Saúde da Família” (Anexo 3.2.5) antecedeu o trabalho em grupo por municípios, que tratou de identificar as UBS com experiências bem sucedidas em Saúde da Família, através do preenchimento de uma matriz específica (Anexo 3.4). O resultado desta atividade encontra-se no Anexo 3.4.1. 54 O segundo dia de atividades iniciou com a apresentação “Resultados Preliminares do Estudo: Estudo de Demanda nas Unidades Básicas de Saúde – PACOTAPS” (Anexo 3.2.6). Na seqüência ocorreu a apresentação “Resultados Preliminares do Estudo: Perfil da equipe de saúde e potencialidades dos estudos populacionais” (Anexo 3.2.7). Com o intuito de estimular a realização de projetos de educação permanente, formaram-se grupos de trabalho por município e estado, para construção das “Propostas para Avaliação e Educação Permanente em Cuidado Integral”, com ênfase em acolhimento e vínculo da demanda contextualizada e dos grupos identificados como prioritários para o cuidado (Anexos 3.5 e 3.6). O primeiro período da tarde foi reservado para mostrar a síntese do trabalho sobre as experiências municipais em Atenção Básica e / ou Saúde da Família (Anexo 3.7). A segunda parte da tarde versou sobre “Critérios para Análise de Viabilidade de Projetos: Triângulo de Ferro de Matus – Projeto / Capacidade de Governo / Governabilidade”(MATUS, 1997) - (Anexo 3.2.8). Após esta apresentação, os grupos de trabalho por município construíram propostas de educação permanente em avaliação da Atenção Básica para as equipes das UBS, de modo a identificar as atividades/ operações que caracterizam o eixo de desenvolvimento do Projeto do Grupo Local de Avaliação em Saúde – GLAS - no município, estabelecendo para cada uma das operações a capacidade de governo (pessoas com os saberes necessários e disponibilidade potencial), as possíveis redes de apoio (consultorias, assessorias, acordos de cooperação) e a governabilidade (apoio do Prefeito, Secretário, CMS, trabalhadores do SUS). No último dia da oficina ocorreu a apresentação da sistematização das propostas construídas no trabalho de grupo do dia anterior e o projeto de cada município foi apresentado, seguido da análise de viabilidade em plenário, momento em que coube ao grupo de pesquisadores realizar a crítica construtiva e sugerir adequações, de modo a contribuir com a institucionalização dos projetos, via Pólos de Educação Permanente. Para finalizar a Oficina Regional 2, realizou-se os encaminhamentos e a construção da agenda compartilhada entre a instituição de pesquisa e os representantes de municípios e estado, seguida da avaliação e entrega dos Cadernos do GLAS – 2, 55 contendo as apresentações e os produtos do trabalho realizado durante este evento e das camisetas alusivas ao estudo. 3.3.3 Resultados A revisão da metodologia e do trabalho de campo da pesquisa estimulou e possibilitou que trabalhadores e gestores, em atividades de grupo por município, refletissem e registrassem as experiências acumuladas e oportunidades perdidas no TC em cada um dos municípios onde a pesquisa aconteceu. A apresentação dos resultados dos grupos de trabalho da Oficina Regional 1 sobre processo de trabalho permitiu sua validação junto a representantes de estados e municípios. O produto desta atividade identificou a necessidade de investimento na capacitação dos recursos humanos, principalmente no atendimento da demanda, na recepção e no acolhimento; na implantação de educação continuada e na adequação dos recursos das UBS (RH, área física e equipamentos). Houve ênfase na informatização do trabalho, na garantia de insumos e medicamentos para atender necessidades dos usuários, na diminuição da burocracia e no aumento da resolubilidade. Dentre os temas abordados, também se discutiu o trabalho planejado, a avaliação das ações de saúde e a organização da rede municipal de referência e contra-referência. Finalizando o debate, houve sugestão de apoio à reorganização do processo de trabalho, com o intuito de qualificar ações de supervisão, avaliação e cooperação das equipes; ao desenvolvimento de ações intersetoriais e à participação da comunidade – através do controle social e parcerias para novas estratégias de intervenção. As apresentações dos resultados preliminares sobre o perfil dos gestores e presidentes dos CMS e sobre a estrutura das UBS, somadas à apresentação de critérios para identificação de experiências bem sucedidas em PSF, subsidiaram os trabalhos de grupo, no intuito de selecionar as melhores experiências em PSF em cada uma destas realidades, independentemente da experiência em questão estar ou não incluída na amostra de UBS selecionada para este estudo. A ausência de representação que permitisse a constituição de um grupo de trabalho composto por gestores estaduais inviabilizou o trabalho em grupo por Estados. Este grupo poderia contribuir para a identificação das perspectivas da política estadual 56 de saúde para o estímulo / indução de projetos em avaliação e capacitação para a Atenção Básica. Os resultados parciais e preliminares do estudo de demanda, realizado nas Unidades Básicas de Saúde utilizando o software PACOTAPS permitiu a análise e o debate sobre os principais problemas na coleta de dados, limitações e potencialidades deste tipo de estudo. A apresentação sobre o Perfil da Equipe de Saúde e potencialidades dos estudos populacionais serviu de insumo para a construção das propostas de avaliação e educação permanente em cuidado integral da demanda e de grupos prioritários na ABS (Anexo 3.8). Um dos momentos mais destacados da Oficina foi a apresentação realizada por representantes de municípios e UBS de Experiências em Atenção Básica. Durante um turno, foram realizadas nove apresentações de experiências locais sobre saúde bucal, saúde da mulher, integralidade e intersetorialidade, saúde da população indígena e monitoramento de crianças de alto risco de mortalidade infantil. Uma das apresentações abordou questões sobre aleitamento materno e violência contra a mulher através de músicas, ilustrando a criatividade e motivação das equipes de saúde na divulgação de suas atividades (Anexo 3.8). Outra experiência revelou o trabalho desenvolvido em grupos de auto-ajuda para redução de peso, cujo monitoramento e participação coletiva favoreceu o alcance de metas e a motivação de seus integrantes. Esta estratégia valorizou a troca de experiências e as iniciativas locais, destacando talentos pessoais e das equipes de saúde. Ao longo de toda a Oficina também ocorreu apresentação de pôster complementando a divulgação das experiências locais em atenção básica. Alguns destes trabalhos podem ser vistos nas Fotografias 3.7 a 3.12 abaixo: 57 Fotografias 3.7 a 3.12 – Participantes e Exposição de Experiências Municipais. Oficina Regional 2, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 A apresentação do conceito de Triângulo de Ferro proposto por Matus buscou fortalecer o desenvolvimento de projetos de educação permanente para as equipes da rede básica de saúde, considerando a realidade do município, a capacidade de governo e a governabilidade. Os projetos propostos pelos representantes dos municípios foram debatidos em plenária, sendo avaliados através de Matriz de Acreditação (Anexo 3.9), que enfatizava a governabilidade dos participantes para sua implementação e para a viabilização do GLAS. 58 Os representantes dos municípios pactuaram o encaminhamento à equipe técnica da UFPel, até julho de 2005, do esboço do Proposta Municipal de Avaliação da Atenção Básica – problemas prioritários no âmbito de governabilidade dos participantes; o Projeto Estratégico em Educação Permanente da Atenção Básica – problemas prioritários no âmbito de governabilidade dos participantes, além do encaminhamento de fotos e reportagens publicadas em jornais locais sobre o Projeto PROESF (oficinas, locais) e experiências em AB, para ser disponibilizado na página da Internet, compondo a “ memória do projeto”. A agenda da equipe técnica definiu a conclusão do processamento e análise dos dados até outubro de 2005 e o encaminhamento de relatório parcial ao Ministério da Saúde até fins de julho de 2005. 3.3.4 Discussão A organização didático-pedagógica da segunda oficina regional estimulou a reflexão sobre a metodologia adotada e o trabalho de campo realizado nos municípios, deixando bastante evidente como a agenda formal e a inércia de movimento do processo de trabalho cotidiano contribuiu para que muitas oportunidades de aprendizado fossem perdidas por representantes dos municípios neste projeto. Os resultados preliminares do trabalho de campo apresentados priorizaram os dados a respeito da estrutura das UBS, do perfil de gestores e presidentes de Conselhos Municipais de Saúde e do processo de trabalho em Atenção Básica. Um fato marcante nas apresentações foi a dificuldade de trabalhadores e gestores em descrever a organização do processo de trabalho na rede básica. Sendo esta variável bastante central na determinação da organização do cuidado integral, talvez mereça uma investigação mais profunda e particular em uma próxima etapa deste estudo ou em estudos futuros. A tentativa de se construir propostas iniciais para a educação permanente em avaliação da ABS nos municípios, confirmou a baixa capacidade de governo e governabilidade das representações para dar conta do desafio, o que exigiu a construção de uma agenda de trabalho compartilhada entre representantes dos municípios na oficina e pesquisadores para que estes atributos possam ser construídos. 59 O grande interesse dos participantes em dar continuidade ao intercâmbio iniciado sugeriu a formação de consórcios e parcerias entre municípios como uma das formas de viabilizar a aglutinação dos recursos suficientes para o desenvolvimento de atividades de avaliação e educação permanente em atenção básica de saúde. 3.4 Avaliação da Capacitação A Capacitação foi um momento destacado do Projeto, permitindo uma interação muito intensa entre a equipe da UFPel e os representantes de Estados e Municípios estudados. Foi uma etapa essencial para o desenvolvimento do Estudo de Linha de Base (ELB), que mergulhou na intimidade de Secretarias de Saúde, Unidades Básicas de Saúde e Comunidades de todos os Estados e Municípios do Lote. A oportunidade de apresentar aos participantes da Capacitação o desenvolvimento operacional do Projeto em cada localidade, a partir de critérios científicos e estratégias padronizadas, facilitou a infra-estrutura necessária a uma pesquisa desta complexidade, realizada distante da sede e foi fundamental para qualificar o levantamento de informações para o ELB. As três Oficinas de Capacitação ocorreram conforme o cronograma previsto, reunindo, em cada uma, cerca de 200 participantes, entre representantes de Estados, Municípios, unidades básicas de saúde e equipe técnica da UFPel, além de convidados (representantes de Conselhos Municipais de Saúde e alunos da UERGS). Conforme antecipado, os aspectos conceituais e metodológicos da Pesquisa orientaram a capacitação de gestores e profissionais de saúde dos 21 municípios e das 120 unidades básicas de saúde estudadas, com especial destaque para a operacionalização de estudos avaliativos. Esta lógica viabilizou a participação dos representantes dos municípios e estados na condução das estratégias da avaliação de serviços básicos de saúde, com ênfase para os aspectos logísticos e instrumentos de coleta de dados. Os participantes tiveram a oportunidade de desenvolver planos de ação para avaliação das UBS e capacitação de suas equipes. O planejamento pode ser mais efetivo se embasado na experiência e na participação dos sujeitos envolvidos. Portanto, esperase que a Capacitação facilite a experimentação de estratégias de pesquisa utilizadas no Projeto, cujos insumos e materiais foram disponibilizados aos participantes e são de livre acesso de interessados através de página na Internet. 60 Assim, as Oficinas de Capacitação foram momentos de intensa transferência de conhecimentos e tecnologias, permitindo exercitar sucessivas aproximações, qualitativas e quantitativas, sobre o objeto de estudo: a avaliação de serviços básicos de saúde. Os produtos das oficinas se tornaram insumos para os momentos de dispersão – retorno aos municípios – e para as atividades de campo, fomentando a interação e o compartilhamento de responsabilidades entre os trabalhadores de campo do Projeto, gestores dos municípios e profissionais de saúde das UBS selecionadas. A Capacitação incentivou a formação de Grupos Locais de Avaliação em Saúde (GLAS) nos municípios, compostos por trabalhadores de saúde e gestores. Interlocutores privilegiados da equipe técnica do Projeto, os representantes dos municípios na Capacitação, eventuais integrantes do GLAS, apoiaram as atividades da Pesquisa, desenvolvendo habilidades e espírito de equipe para projetar e realizar com crescente grau de autonomia ações de avaliação em atenção básica de saúde, ampliando a capacidade de governo, acumulando governabilidade e construindo uma proposta específica para os municípios (MATUS, 1997). Os participantes identificaram como canais de construção de viabilidade para as propostas de avaliação da atenção básica dos Municípios, o próprio PROESF, os Pólos de Educação Permanente previstos pelo DEGES / SEGETS / MS e o poder público municipal. As oficinas também oportunizaram a construção de relações com representantes dos municípios e das UBS, negociando papéis e responsabilidades, pactuando agenda de compromissos e estabelecendo os consensos necessários para o desenvolvimento do Projeto. A implementação das ações e seu impacto na transformação da realidade local poderão ser avaliadas e monitoradas pelos próprios municípios (DICK, 2000) 61 62 4 ESTUDO DE LINHA DE BASE 4.1 Introdução O ELB corresponde ao primeiro tempo de uma avaliação prospectiva sobre a ABS e o PSF, mas também de uma análise da intervenção do PROESF na reorientação do modelo de ABS A epidemiologia foi o eixo que estruturou a abordagem do ELB, orientando a articulação complexa entre as dimensões sob estudo e os níveis de análise empírica. As dimensões político-institucional, organizacional da atenção, cuidado integral e desempenho do sistema foram tomadas como categorias abstratas da avaliação e hierarquizaram conceitualmente as variáveis estudadas, enquanto os níveis de análise hierarquizaram as variáveis, conforme sua operacionalização nas diversas fontes de informação, primárias e secundárias, quantitativas e qualitativas, individuais e coletivas. Este capítulo apresenta a metodologia e os resultados do ELB. A metodologia detalha as diversas etapas do estudo, desde seu delineamento e o planejamento do trabalho de campo, até o processamento e a análise dos dados. Os resultados, organizados através de análise epidemiológica estratificada, examinam a ABS e o PSF no Lote 2 Sul segundo o Estado, o Porte do Município e a inserção na Região Metropolitana de Porto Alegre. No entanto, também há uma detalhada sistematização da abordagem qualitativa do processo de trabalho nas UBS, com destaques segundo o modelo de atenção. 4.2 Metodologia 4.2.1 Delineamento do Estudo de Linha de Base (ELB) O delineamento é um meio de garantir relações válidas de causa e efeito entre as variáveis em estudo (SUSSER, 1996). Os delineamentos ideais na avaliação de programas ou serviços de saúde dependem da natureza dos programas e da precisão das 63 estimativas a serem obtidas. Estudos transversais são excelentes para avaliações de adequação da cobertura ou qualidade de serviços, mas também podem ser utilizados em avaliações de plausibilidade na comparação de modelos ou programas de saúde (HABICHT, 1999; SANTOS, 2004; VICTORA, 2004). Na área da saúde pública, estudos observacionais que testem a efetividade das intervenções sob condições de rotina são mais adequados do que ensaios randomizados. Para que seus resultados forneçam subsídios para as políticas de saúde, os estudos não randomizados precisam ser alvo de tanta atenção quanto a que tem sido dedicada, nos últimos anos, aos estudos randomizados (SANTOS, 2004; VICTORA, 2004). A declaração TREND é uma iniciativa recente que busca contribuir para esse fim, ao definir uma série de normas para o delineamento e divulgação de estudos observacionais de avaliação de programas e serviços de saúde (DES JARLAIS, 2004). O ELB segue os fundamentos dos estudos transversais, com grupos de comparação, utilizando medidas com múltiplos níveis de agregação, em relação às diferentes dimensões observadas (ROTHMAN, 1998). O estudo também pode ser caracterizado como multicêntrico de efetividade e linha de base para determinar o impacto do PROESF / PSF nos indicadores de desempenho do sistema de saúde e de situação de saúde da população, incluindo todos os 21 municípios. O delineamento do estudo procurou minimizar o viés de seleção incluindo a totalidade dos municípios e amostras proporcionais de unidades básicas de saúde do Lote Sul 2, juntamente com uma complexa estratificação de variáveis independentes para o estabelecimento de comparações (DES JARLAIS, 2004; ROTHMAN, 1998). O delineamento transversal foi qualificado tanto através da estratificação das UBS segundo o modelo de atenção (Tradicionais e PSF), quanto pela possibilidade de controlar o efeito do PSF, estratificando suas UBS conforme o período de implantação, anterior ou posterior à intervenção do PROESF. A obtenção de informação estruturada para o âmbito da gestão, do controle social, das unidades básicas de saúde, dos usuários e da população também enriqueceram o delineamento do estudo, especialmente com a inclusão de questões abertas que qualificaram as questões fechadas que predominam na abordagem epidemiológica. A coleta de dados secundários de bases nacionais também foi outro aspecto do delineamento do estudo que complementou a abordagem transversal do objeto. 64 As variáveis selecionadas para caracterizar as dimensões político-institucional, organizacional da atenção, cuidado integral e desempenho do sistema foram sistematizadas por nível de análise (Estado, Município, UBS e Equipe de Saúde, Demanda e População) e estão apresentadas nos Anexos 4.1, 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5, respectivamente. A dimensão político-institucional examina principalmente os aspectos relativos à gestão do SUS e da ABS. Seu âmbito é fundamentalmente o do agregado, do recorte geopolítico em regiões, estados e municípios, expressando tanto as diferenças sociais, econômicas e demográficas, quanto os contrastes na constituição do SUS e da ABS. Neste âmbito, os modelos de atenção são caracterizados como políticas, ilustradas por diferenças históricas e conjunturais na cobertura populacional. A dimensão organizacional da atenção caracteriza aspectos da gestão da ABS e do PSF, mas aproxima seu olhar da UBS e dos fluxos entre os níveis de atenção do SUS. Neste âmbito, a dicotomia entre os modelos de ABS, Tradicional e PSF, passa a se materializar nas práticas de gestão e á oferta de serviços básicos e especializados. Este é o âmbito do detalhamento e constituição das políticas de saúde e, particularmente, da reorientação do modelo de atenção básica à saúde. A dimensão do cuidado integral focaliza as UBS, suas práticas e recursos na abordagem das necessidades de saúde da população. Examina as estratégias de indução da integralidade e o processo de trabalho na ABS. Por fim, a dimensão desempenho do sistema analisa a utilização dos serviços de ABS e a situação de saúde da população, permitindo observar as diferenças tanto para os agregados geopolíticos, quanto para os modelos de ABS. 4.2.2 Amostra e Amostragem do ELB O universo do estudo é constituído pela totalidade de municípios que compõem o Lote 2 Sul. Neste universo foi realizada uma amostra estratificada por múltiplos estágios para selecionar unidades básicas de saúde, profissionais de saúde, usuários e indivíduos residentes na área de abrangência dos serviços (LEMESHOW, 1990; LEVY, 1980; LWANGA, 1991). 65 4.2.2.1 Amostra de UBS Tomado-se os “Projetos de Adesão ao PROESF” dos 21 municípios estudados, foi identificado um total de 626 unidades básicas de saúde (UBS) no Lote 2 Sul. Destas, foram sorteadas aleatoriamente 40 UBS que se tornaram PSF em decorrência do PROESF, 40 UBS que já eram PSF anteriormente ao PROESF e 40 UBS que utilizavam o modelo Tradicional de atenção básica. Esta amostragem foi proporcional ao tamanho da rede básica de saúde de cada município, buscando uma maior representatividade das UBS selecionadas e dos estágios amostrais a elas vinculados (profissionais, usuários e população). De modo a facilitar a comparação dos achados, as UBS dos três grupos foram pareadas, utilizando-se como critério o tamanho da área física. Desta maneira, obteve-se uma amostra total de aproximadamente 20% das UBS do Lote para avaliar se as mudanças eventualmente observadas no desempenho do sistema de saúde e na situação de saúde da população eram decorrentes da intervenção PROESF / PSF. As UBS sorteadas orientaram a seleção das amostras de profissionais de saúde, usuários e população da área de abrangência dos serviços. 4.2.2.2 Amostra de profissionais de saúde Em cada UBS se procurou entrevistar todos os trabalhadores de saúde em atividade, considerando a grande dificuldade em obter listas confiáveis do pessoal lotado em cada serviço. Foram incluídos tanto os profissionais de saúde de nível superior (médicos, enfermeiros e outros de nível superior, quanto os profissionais de nível médio (auxiliares de enfermagem, recepcionistas, ect) e os ACS. Para se ter uma idéia de sua abrangência, considerando a falta de um denominador confiável, a amostra selecionada foi confrontada com o registro de profissionais lotados na UBS, obtido no instrumento de avaliação da estrutura dos serviços. Estas informações são apresentadas na seção de Resultados do ELB. 4.2.2.3 Amostra de usuários: demanda atendida nas UBS Em relação aos usuários, a estratégia amostral foi registrar todos os atendimentos de um dia de trabalho em cada UBS selecionada, incluindo aqueles 66 realizados por ACS. A base de registro utilizada foi a Ficha de Atendimento Ambulatorial (FAA) do SUS, documento utilizado cotidianamente nas UBS para efeitos gerenciais e contábeis. Utilizou-se um formulário-espelho, que continha todas as informações da FAA e facilitava a digitação eletrônica dos dados. As informações sobre a avaliação da demanda estão mais detalhadas no item de instrumentos do estudo e na seção de Resultados do ELB. 4.2.2.4 Amostra de população da área de abrangência das UBS A amostra populacional foi dividida em quatro grupos: crianças de um a três anos de idade, mulheres que tiveram filhos nos últimos dois anos, adultos entre 30 e 64 anos de idade e idosos a partir dos 65 anos de idade. Estes indivíduos foram localizados na área de abrangência de cada uma das UBS, através de amostragem sistemática por conglomerados. Estimou-se uma amostra de 2100 indivíduos em cada um dos grupos, cujo tamanho era suficiente para examinar diferenças de 25 a 30% entre os modelos de atenção das UBS (PSF x Tradicional), com um poder estatístico de 80%, nível de significância de 95% e prevalências dos desfechos de, no mínimo, 25%. Estes parâmetros permitiram avaliar diferenças na utilização de serviços de saúde, realização de procedimentos preventivos e acompanhamento de atividades programáticas. Esta amostra foi dividida pelo número de UBS selecionadas (120) resultando em um número de 18 entrevistas a serem realizadas para cada grupo populacional da área de abrangência. A amostra populacional foi localizada na área de abrangência da UBS, que foi o ponto inicial para a coleta de dados. Todos os domicílios do percurso seguido a partir da UBS até os limites da área foram visitados em busca dos indivíduos elegíveis de acordo com o grupo populacional. A independência entre as amostras (somente um indivíduo de um subgrupo populacional era selecionado no domicílio) e baixa densidade de indivíduos elegíveis em cada domicílio facilitou a distribuição da amostra por toda a área de abrangência da UBS, determinando um salto natural para seleção dos indivíduos e minimizando as possibilidades de viés de seleção ou efeito de cluster nas amostras (ROTHMAN, 1998). A partir de estimativas do IBGE as crianças de 1 a 3 anos representavam cerca de 6,5% da população total, as mulheres com filhos nascidos nos últimos 2 anos cerca 67 de 4% da população total, os adultos de 30 a 64 anos cerca de 40% da população total e os idosos (>=65 anos) cerca de 7% da população total. Aplicando estas estimativas a um bairro com cerca de 6500 pessoas e aproximadamente 2100 famílias (ou domicílios) encontraríamos uma criança de 1 a 3 anos a cada 5 famílias, uma mulher com filhos nascidos nos últimos 2 anos a cada 8 famílias, um adulto de 30 a 64 anos a cada família e um idoso a cada 4 ou 5 famílias. Caso em um domicílio não residisse o indivíduo com as características requeridas, passava-se ao seguinte, respeitando a orientação do deslocamento pela área de abrangência. Nos domicílios selecionados, somente um indivíduo elegível (crianças, mulheres que tiveram filho nos últimos dois anos, adultos e idosos) foi convidado a participar do estudo, explicando-se a sua finalidade e apresentando termo de consentimento informado. Considerando que a abordagem populacional procurou avaliar a utilização de serviços e o vínculo com a unidade de saúde, nos domicílios em que se encontraram duas crianças ou duas mulheres elegíveis, a mais jovem foi entrevistada, para os adultos e idosos esta regra se inverteu, sendo elegível o mais velho. No caso das crianças, a opção buscou melhorar a qualidade da informação sobre programas e cuidados de saúde desde o nascimento até o primeiro ano de vida. No caso das mulheres, buscou-se valorizar a avaliação de mulheres mais jovens, inclusive adolescentes sobre pré-natal e saúde reprodutiva. No caso dos idosos, a opção buscou valorizar um grupo com presença crescente na população do país, mas ainda não prioritário na atenção básica à saúde. O pressuposto amostral de comparação dos achados por modelo de atenção e não de representatividade da população também minimiza o eventual viés de seleção de residentes mais próximos à UBS estudada. 4.2.3 Trabalho de Campo nos Municípios: Logística e Instrumentos de Fonte Primária O trabalho de campo (TC) nos municípios do Lote 2 Sul foi iniciado em 15 de março e concluído em 19 de maio de 2005. Esta atividade foi realizada por uma equipe de 15 supervisores criteriosamente selecionados e capacitados para o desenvolvimento de cada uma das etapas do trabalho de campo. 68 A pactuação da agenda para o TC durante a Oficina Regional 1 foi uma das estratégias utilizadas para operacionalizar o cronograma estabelecido. A capacitação e a motivação do grupo de supervisores foram extremamente relevantes para o sucesso deste trabalho. A equipe técnica realizou visitas estratégicas aos municípios de Porto Alegre, Sapucaia do Sul, Gravataí, e Passo Fundo (RS), além de Chapecó e Criciúma (SC), com o objetivo de antecipar algumas ações de apoio aos municípios e ao andamento da coleta de dados. Durante 65 dias foram coletados dados primários nos 21 municípios, nas 120 unidades básicas de saúde e na amostra populacional de cerca de 8000 pessoas do Lote 2 Sul. O cronograma do trabalho de campo encontra-se exposto no Quadro 4.1 abaixo. Quadro 4.1 - Cronograma do Trabalho de Campo. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Município Pelotas Bagé Santa Maria Santa Cruz do Sul Uruguaiana Caxias do Sul Alvorada Cachoeirinha Sapucaia Gravataí Viamão Canoas São Leopoldo Porto Alegre Passo Fundo Lages Novo Hamburgo Chapecó Criciúma Florianópolis Rio Grande Período do Trabalho de Campo 15 a 23 de março 21 a 24 de março 21 a 27 de março 28 de março a 03 de abril 28 a 31 de março 01 a 07 de abril 01 a 04 de abril 05 a 07 de abril 08 a 11 de abril 04 a 11 de abril 08 a 13 de abril 11 a 16 de abril 14 a 17 de abril 18 a 26 de abril 24 a 30 de abril 24 a 30 de abril 27 de abril a 07 de maio 01 a 04 de maio 01 a 08 de maio 08 a 14 de maio 18 e 19 de maio O rigoroso cumprimento do cronograma pré-estabelecido para o trabalho de campo nos municípios do Lote 2 Sul foi altamente relevante, dada a abrangência e complexidade do estudo. Também permitiu estimar o compromisso e a responsabilidade da equipe técnica e dos supervisores do TC com esta etapa central da pesquisa. A necessidade de deslocamentos sincronizados dos sub-grupos de supervisores entre os municípios, juntamente com o constante deslocamento intra-municipal, a diversidade de 69 instrumentos adotados, as peculiaridades das equipes das UBS e das comunidades estudadas e as dificuldades climáticas ilustram algumas das características do contexto em que o trabalho de campo se desenvolveu. A Figura 4.1 apresenta o trajeto realizado no Lote 2 Sul durante o trabalho de campo, com início em Pelotas e término em Rio Grande. Figura 4.1 - Trajeto por municípios do RS e SC no Trabalho de Campo. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Apresenta-se a seguir o detalhamento da logística no trabalho de campo para cada um dos instrumentos utilizados na coleta de dados primários. As informações sobre o conteúdo dos instrumentos estão sistematizadas nos Anexos 4.6 ao 4.13. Os instrumentos também estão disponíveis da página do PROESF-UFPEL na Internet e são de livre acesso – http://www.epidemio-ufpel.org.br/proesf/index.htm. a. Gestor e Coordenador de Atenção Básica e PSF Os dados referentes aos gestores e coordenadores foram coletados através de questionário auto-aplicado destinado a registrar informações demográficas, de formação profissional e experiência na gestão, além de caracterizar os aspectos político70 institucionais da ABS e do PSF no município. O instrumento foi distribuído aos representantes dos municípios durante a Oficina Macrorregional. Depois de preenchidos, os instrumentos foram enviados à coordenação do Projeto para revisão, codificação e digitação na sede do estudo na cidade de Pelotas. b. Entrevista com o Presidente do Conselho Municipal de Saúde Para a aplicação deste instrumento foi solicitado ao Grupo Local de Avaliação em Saúde que agendasse previamente um encontro do Presidente do Conselho Municipal de Saúde com um dos supervisores do TC. c. Processo de Trabalho Durante a Oficina Regional 1, os representantes das unidades básicas de saúde foram capacitados para orientar os trabalhadores da sua unidade a responder o instrumento sobre o processo de trabalho na unidade. Este instrumento foi preenchido em reuniões nas unidades básicas amostradas, após a convocação por parte dos coordenadores das UBS. Os trabalhadores presentes no dia da reunião discutiam os aspectos da organização do trabalho, as atividades realizadas, os responsáveis por sua realização, os instrumentos e insumos utilizados, além de identificar os principais problemas do processo de trabalho e sugestões de melhoria. d. Estrutura da UBS O instrumento para captar informações sobre a estrutura da UBS era fundamentalmente fechado e poderia ser preenchido coletivamente em uma reunião de equipe, ou por um responsável pela UBS, com o apoio de pessoas-chave nos diversos setores. A tarefa foi realizada durante o TC na UBS. Enquanto realizavam o levantamento de informações populacionais na área de abrangência, os supervisores apoiaram o responsável na UBS pelo instrumento. e. Equipe de saúde O questionário individual auto-aplicado era dirigido a todos os trabalhadores lotados na UBS, incluindo profissionais de nível superior, médio e ACS. As questões eram todas estruturadas e predominantemente fechadas, mas várias questões abertas foram utilizadas para qualificar a informação quantitativa. O instrumento da equipe de saúde foi distribuído pelos supervisores às UBS, juntamente com os demais 71 questionários. Durante o TC na UBS, os supervisores orientaram o preenchimento e motivaram os trabalhadores a participar do estudo. Depois de preenchidos, os instrumentos foram recolhidos pelos supervisores e enviados para revisão, codificação e digitação na sede do estudo na cidade de Pelotas. f. Demanda da UBS – PACOTAPS Utilizando um formulário baseado na Ficha de Atendimento Ambulatorial (FAA) do SUS, todos os atendimentos de um dia de trabalho na UBS foram registrados, incluindo dos agentes comunitários de saúde. Estes formulários foram digitados no software PACOTAPS (TOMASI, 2003), capaz de identificar a dimensão do acesso da população aos serviços, a qualidade do registro das atividades, além de produzir análises sobre o perfil demográfico e epidemiológico da demanda de unidades básicas de saúde. O software é de fácil utilização por indivíduos sem conhecimentos prévios de informática e epidemiologia e possibilita delinear com maior nitidez o perfil da demanda, avaliar os serviços ao longo do tempo, comparar serviços entre si, em momentos determinados, de acordo com as necessidades do espaço de gestão. Permite ainda, identificar com precisão e atualidade, através de seus relatórios, informações sobre o gênero, os grupos etários, os principais motivos de consulta, os medicamentos mais prescritos, os exames mais solicitados e os encaminhamentos realizados. O software foi distribuído aos municípios durante as Oficinas de Capacitação e os representantes das SMS e das UBS foram capacitados para sua utilização na avaliação dos serviços básicos. Este aplicativo também pode ser obtido na página do Projeto na Internet. g. Amostra Populacional Foram realizadas entrevistas individuais, domiciliares, com questionários estruturados, abordando questões relevantes para o estudo em amostras independentes de crianças, mulheres, adultos e idosos. As questões eram todas estruturadas e predominantemente fechadas, mas também havia questões abertas para qualificar as respostas fechadas. Para a caracterização socioeconômica das amostras, foram utilizadas 72 a renda per capita em salários mínimos e a classificação da ANEP /ABIPEME (RUTTER, 1988), esta última composta de informações sobre a escolaridade do chefe da família, da disponibilidade de empregada mensalista e sobre a posse de bens eletrodomésticos. Para a aferição de alcoolismo (adultos), foi utilizado o teste CAGE (MASUR, 1983; SOINBELMAN, 1992), composto de quatro questões, sendo mais de duas afirmativas um indicador de dependência de bebida alcoólica. Também para a amostra de adultos inclui-se o Self-Report Questionnaire - SRQ20 (MARI et al., 1987), instrumento para estimar a presença de transtornos mentais comuns, como ansiedade e depressão. As entrevistas foram realizadas por supervisores selecionados e capacitados especialmente para estas atividades pela equipe técnica do projeto. 4.2.4 Levantamento de Dados em Fontes Secundárias Integrando o Estudo de Linha de Base do PROESF, foram sistematizados dois conjuntos de informações oriundas de bases nacionais disponíveis (Ministério da Saúde, DATASUS, IBGE, etc.). O primeiro conjunto diz respeito ao Pacto da Atenção Básica. Para cada município e estado do Lote 2 Sul foram coletados os 34 Indicadores do Pacto da Atenção Básica, instrumento de monitoramento e avaliação do desempenho da atenção básica por parte do Ministério da Saúde (2003). No Anexo 4.14 estão detalhadas as informações coletadas. O segundo conjunto de informações está baseado nos Indicadores de Monitoramento da Expansão do PSF em Grandes Centros Urbanos Viana (2002), tendo sido utilizada a informação sobre o aprendizado institucional de cada município incluído no estudo, conforme pactuado no I Seminário Nacional dos Estudos de Linha de Base da Atenção Básica – Construção dos Instrumentos de Acompanhamento dos Estudos de Linha de Base, em Florianópolis, em janeiro de 2005. Do total dos indicadores propostos, para os municípios foi selecionado para análise um conjunto que fornece informações de acordo com três eixos: 1. Perfil epidemiológico e sociodemográfico da população; 73 2. Financiamento da saúde, da atenção básica e do PSF; 3. Organização da assistência, do cuidado e desempenho do sistema. Para cada um dos indicadores foi identificada a fonte e o período de referência disponível nas bases de dados. Este período tem variado de indicador para indicador, mantendo-se dentro da faixa de 1999 a 2005, o que poderá ser utilizado sem prejuízo, considerando-se o delineamento do estudo. Esta sistematização é apresentada no Anexo 4.15. 4.2.5 Processamento dos Dados A complexidade da avaliação da atenção básica no âmbito do PROESF requer que o conhecimento produzido seja baseado em informações as mais fidedignas possíveis. Até traduzir-se em informações, todos os dados coletados durante o trabalho de campo são objeto de um conjunto de atividades, sistemática e rigorosamente encadeadas. Estas atividades vão desde a recepção e classificação dos instrumentos até as análises mais complexas e informativas. Uma das peculiaridades do nosso estudo sobre a atenção básica no Brasil é a extensa e variada gama de abordagens e instrumentos utilizados: dados quantitativos e qualitativos, dados primários e secundários, dados com foco na gestão municipal da saúde, dados com foco nas unidades básicas e dados com foco na população residente na área de abrangência da UBS. Cada uma destas categorias se relaciona com as demais, o que imprime um alto grau de complexidade a todas as tarefas de preparar estes dados para análise. As atividades relacionadas ao processamento dos dados oriundos dos diferentes instrumentos do estudo estão descritas em ordem cronológica e seqüencial. Em seguida, são apresentados os diferentes bancos de dados, agregados por tipos de instrumentos. Estão disponibilizados nos Anexos 4.16 e 4.17, os materiais de apoio ao processamento dos dados, especialmente construídos para o estudo. 74 4.2.5.1 Recepção e classificação dos instrumentos Os instrumentos completados no trabalho de campo entravam no processamento por município, na mesma ordem da realização da coleta de dados. Uma vez “na bancada de trabalho”, os diferentes instrumentos eram separados por tipo para identificação. 4.2.5.2 Identificação e constituição dos lotes Nesta fase, o questionário recebia um identificador numérico único. Para os questionários da população da área de abrangência da UBS e dos profissionais, o identificador possuía sete algarismos: um para o Estado, dois para o município, dois para a UBS e dois para o entrevistado. Para os questionários da estrutura e do processo de trabalho na UBS, o identificador possuía cinco algarismos: um para o Estado, dois para o município e dois para a UBS. Para os questionários do nível municipal, o identificador era de três algarismos: um para o Estado e dois para o município. Para o estudo de demanda, cujo instrumento é a “ficha-espelho” da Ficha de Atendimento Ambulatorial, a identificação era dada pelo código da UBS junto ao Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA – SUS) e de um número de ordem, gerado automaticamente pelo software PACOTAPS para cada registro. Para cada conjunto de instrumentos do mesmo tipo e da mesma UBS era constituído um lote de questionários, obedecendo a uma numeração seqüencial utilizada no formulário “capa de lote” (Anexo 4.16). Neste formulário, eram registrados os números de identificação de cada questionário do lote, além do município, UBS, total de questionários, data e responsável pelo fechamento do lote. Para cada município, foram sistematizados os totais de cada instrumento efetivamente completados no trabalho de campo, excluídas as perdas e recusas. Estes números eram registrados em uma planilha do processamento por município e UBS, denominada “Listagem de Controle de Lote” (Anexo 4.17). Esta rotina dava início ao processamento propriamente dito, com a seguinte seqüência de tarefas para os questionários populacionais e dos profissionais: • codificação de questões fechadas • tabulação de questões abertas • codificação de questões abertas 75 • revisão final • digitação A primeira folha de cada questionário recebia um carimbo com a seqüência de tarefas acima citadas para registro de data e responsável. 4.2.5.3 Bancos de Dados Estruturados a. Questionários populacionais, estrutura de UBS e profissionais de saúde Para os questionários populacionais (crianças, mulheres, adultos e idosos), da estrutura da UBS e dos profissionais foram criados bancos de dados no EPI-INFO, que permite validação da entrada de dados para amplitude e consistência das variáveis. b. Demanda ambulatorial As fichas-espelho do estudo de demanda foram inicialmente contadas e revisadas. Para cada procedimento era identificado um código na Tabela de Procedimentos do SIA-SUS e para cada diagnóstico era identificado um código na Classificação Internacional de Doenças – 10ª. Revisão (CID-10). Para facilitar o trabalho de codificação, foram identificados os códigos de maior utilização (Anexo 4.18), o mesmo acontecendo com os códigos da CID-10 para os diagnósticos (Anexo 4.19). A seguir, as fichas-espelho eram digitadas no aplicativo PACOTAPS, uma ferramenta desenvolvida pela equipe (TOMASI, 2003) para subsidiar o planejamento e a avaliação de serviços básicos de saúde. c. Processo de trabalho, Gestor Municipal, Coordenador da Atenção Básica e Presidente do Conselho Municipal de Saúde Todas as questões abertas destes instrumentos foram digitadas em programa de edição de textos para posterior análise. Para as questões fechadas (pré-codificadas) foram criados bancos de dados no EPI-INFO, a exemplo dos instrumentos populacionais, da estrutura da UBS e dos profissionais de saúde. 76 4.2.6 Controle de Qualidade O controle de qualidade foi realizado, por telefone, mediante aplicação de questionários reduzidos para alcançar, no mínimo, 5% dos domicílios selecionados. Estes questionários eram compostos por perguntas-chave para identificar possíveis erros ou respostas falsas. Para tanto, foi sorteado um questionário relativo a cada grupo populacional investigado (criança, mulher, adulto e idoso) por Unidade Básica de Saúde. Para padronizar e qualificar a coleta dos dados do controle de qualidade, uma pessoa especialmente treinada para este fim realizou o contato telefônico. Não existindo a possibilidade de contato telefônico com a pessoa sorteada, uma busca pelo endereço ou pela respectiva UBS era realizada na tentativa de localizar e coletar os dados do entrevistado, não havendo, portanto, substituição para evitar possíveis viéses. Para checagem imediata da consistência das informações, através de uma planilha, algumas respostas referidas pelo entrevistado no contato feito pelo supervisor eram comparadas com as repostas referidas no momento da aplicação do questionário de controle de qualidade. O Anexo 4.20 reúne as informações coletadas para o controle de qualidade, por instrumento. No Anexo 4.21 encontra-se disponível a planilha utilizada para o controle de qualidade. Esta medida facilitava a detecção precoce de possíveis erros na coleta dos dados e possibilitava a intervenção imediata junto ao supervisor do trabalho de campo. A atividade de controle de qualidade era supervisionada diariamente por um dos membros da equipe. Ao final, foi realizada a checagem da consistência das informações através do índice de concordância de Kappa (LANDIS, 1977). Os resultados do controle de qualidade estão descritos no Anexo 4.22. Nos 21 municípios foram sorteados 480 questionários de um total de 7603, o que corresponde a 6,3% da amostra, sendo efetivamente localizados 419 indivíduos, ou 5,5% da amostra. A Tabela 4.1 abaixo, apresenta o resultado final do controle de qualidade nos 21 municípios do Lote 2 Sul. 77 Tabela 4.1 - Resultado final do controle de qualidade em 21 municípios. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Situação Completados Não atenderam o telefone Número de telefone não conferiu Mudou de endereço Total N 419 27 33 1 % 87,3 5,6 6,9 0,2 480 100 4.2.6.1 Avaliação da concordância intra-observador No exame da consistência dos dados de variáveis dicotômicas, utilizou-se o índice Kappa e para as variáveis quantitativas utilizou-se o coeficiente de correlação intra-classe. Ambos os índices permitem interpretar a consistência dos dados de acordo com os seguintes pontos de corte, tanto positivos como negativos: de zero a 0,350 concordância fraca; de 0,351 a 0,700 concordância razoável; de 0,701 a 1,000 concordância muito boa (LANDIS, 1977). Os índices de concordância para as questões refeitas em relação ao questionário de crianças entre um e três anos de idade foram muito bons para o tipo de parto (0,875), o tempo de aleitamento exclusivo (0,768), a idade materna (0,948) e a escolaridade do chefe da família (0,897). Para as informações sobre freqüência ao pré-natal (0,492), sobre a prevalência de pontada ou pneumonia nos seis meses anteriores à entrevista (0,440) e sobre a realização da maioria das vacinas na unidade de saúde da área de abrangência (0,599), os índices podem ser classificados como razoáveis (Anexo 4.22). Para as mulheres, a maior parte dos itens testados apresentou índices altamente satisfatórios, acima de 0,700. Foi o caso do número de gestações (0,971), da idade materna (0,988) e da criança (0,984), do número de mamografias realizadas na vida (0,907), da ocorrência de anemia (0,728) e de infecção urinária na gestação (0,739) e da escolaridade do chefe da família (0,898). As exceções foram a freqüência ao pré-natal (0,489) e a ocorrência de pressão alta na gestação (0,661), ambos situados nos níveis medianos de concordância (Anexo 4.22). Para os adultos, os melhores índices de concordância foram observados para a idade (0,995), a prevalência de hipertensão (0,905) e diabetes (0,898), além da escolaridade do chefe da família (0,846). Índices razoáveis foram obtidos para a 78 prevalência de problemas de nervos (0,571) e para a ocorrência de algum acidente que impossibilitasse a execução de atividades diárias (0,689). A referência a ter sofrido algum tipo de violência na vida obteve um índice no limiar, mas aquém, do razoável (0,332) - (Anexo 4.22). Para os idosos, índices excelentes foram registrados para a idade (0,956), tabagismo (0,822), a situação de aposentadoria (0,783) e a escolaridade do chefe da família (0,742). Em níveis razoáveis estiveram a necessidade de tomar medicamentos para a hipertensão (0,548) e para diabetes (0,643) e a necessidade de ajuda para percorrer uma quadra caminhando (0,491). O mais baixo índice foi registrado para a necessidade de tomar medicamentos para problemas de nervos (0,386) - (Anexo 4.22). 4.2.7 Análise dos Dados Digitados no programa EPI-INFO 6.04b, os bancos de dados foram exportados através do aplicativo STAT TRANSFER 5.0 para o pacote estatístico SPSS 10.0 para Windows, utilizado para as análises. Inicialmente, procedeu-se às análises descritivas, verificando a distribuição dos casos em cada variável. O passo seguinte incluiu as análises bivariadas e estratificadas, conduzidas a partir do Modelo de Análise apresentado na Figura 4.2. A análise bivariada examinou o comportamento das variáveis agrupadas por dimensão teórica segundo o MODELO DE UBS (Tradicional, pré-PROESF, pós-PROESF). Na análise estratificada do efeito do MODELO DE UBS, os municípios foram agregados segundo a UNIDADE DA FEDERAÇÃO (UF), neste caso o RS e SC; o PORTE populacional DO MUNICÍPIO (de 100.001 a 200.000 habitantes, de 200.001 a 500.000 habitantes e de 500.001 habitantes ou mais) e a inclusão na REGIÃO METROPOLITANA de Porto Alegre (sim ou não). 79 Figura 4.2 - Modelo de Análise do Estudo de Linha de Base. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Para variáveis dependentes do tipo qualitativas, dicotômicas ou politômicas, as associações foram testadas através da comparação entre proporções, utilizando-se o teste do qui-quadrado. No caso de variáveis dependentes do tipo quantitativas, discretas ou contínuas, as associações foram testadas através da comparação entre médias, utilizando-se o teste F (ANOVA). Para ambos os procedimentos, adotou-se o nível de significância de 95%, considerando significativas as diferenças com p-valor inferiores a 0,05. Conforme ilustra a Figura 4.2, as variáveis das quatro dimensões sob estudo (Ministério da Saúde, 2004) foram agrupadas em três níveis de análise. O primeiro nível engloba fundamentalmente as dimensões político-institucional e organizacional da atenção à saúde, agregando os municípios conforme o estado, porte do município e a região metropolitana. O segundo nível ainda aborda a dimensão da organização da atenção, agregando as UBS segundo o modelo de atenção. A análise do efeito decorrente do modelo de UBS foi ajustada através da estratificação para as variáveis do nível anterior. O terceiro nível investiga essencialmente a dimensão do cuidado integral, caracterizando a equipe de saúde e a estrutura da UBS, ajustadas para a estratificação dos níveis anteriores. O processo de trabalho também foi analisado neste nível, mas seu ajuste foi apenas para o modelo de atenção da UBS, considerando que a informação era qualitativa, o que dificulta seu ajuste para as variáveis do primeiro nível. O desempenho do sistema de saúde, relacionado essencialmente aos modelos de UBS, foi analisado 80 tanto na amostra da demanda atendida, quanto na amostra de população residente na área de abrangência da UBS. Na amostra populacional também foi investigada a situação de saúde de crianças, mulheres, adultos e idosos, além de características sociodemográficas fundamentais para a avaliação do impacto do PSF e do PROESF, que será objeto de futura avaliação. A estratificação possibilitou examinar os diferenciais nos resultados por MODELO de UBS em diferentes portes de municípios, regiões e UF. A análise estratificada facilitou ainda o exame das múltiplas variáveis que interferem com o desempenho do sistema de saúde e a situação de saúde da população, em seus múltiplos níveis de agregação, buscando o controle de fatores de confusão e a identificação de modificadores de efeito. Esta estratégia possibilitou o exame da distribuição da nova modalidade de atenção básica à saúde entre municípios, regiões e estados do Lote e de seu efeito na distribuição de insumos e no desempenho das UBS no cuidado à saúde de sua população de referência (DES JARLAIS, 2004; STAFFORD, 2003; SHAW, 2003). A dimensão político-institucional reúne alguns aspectos da conformação do modelo de atenção básica à saúde, com ênfase particular no desenvolvimento da gestão municipal e nas estratégias de descentralização do SUS. Buscando dar historicidade ao recorte temporal do estudo, esta abordagem do processo de constituição da ABS no SUS utilizou as categorias centrais do planejamento estratégico de Matus (MATUS, 1997): projeto de governo, capacidade de governo e governabilidade. Planejar a ação política em uma perspectiva estratégica significa pensar um conjunto de atividades, com metodologia, objetivos e metas definidos. O Projeto de Governo procura caracterizar as bases materiais e históricas do SUS nos municípios do Lote, com especial ênfase para a atenção básica à saúde. Os atributos que qualificam um Projeto de Governo são os recursos disponíveis e passíveis de alcançar, o conhecimento acumulado sobre o tema, o poder necessário para desencadear as ações propostas, as chances de implantação e a possibilidade de sucesso. De modo simplificado, mas ilustrativo, estes atributos estão sintetizados na identificação da “maturidade” da gestão municipal (tipo de gestão, índice de aprendizado institucional, adequação institucional do sistema municipal de saúde, critérios na definição de áreas de abrangência das UBS e na implantação do PSF, características do emprego e da remuneração dos trabalhadores da atenção básica), da capacidade 81 instalada da rede básica e do processo de conversão do modelo da atenção básica através do PSF. A Capacidade de Governo compreende o conhecimento institucional acumulado, o conjunto de saberes e técnicas disponíveis para operar o Projeto de Governo e a política setorial. Nesta categoria se identificam os recursos intelectuais mobilizados para a condução da ABS nos municípios, como por exemplo, o perfil do Secretário, do Coordenador da Atenção Básica ou do PSF, do Presidente do Conselho Municipal de Saúde e dos Profissionais das UBS. A Governabilidade descreve os fundamentos político-financeiros para efetivação das políticas de ABS, ou seja, recursos e margem de manobra política que, articulados à Capacidade de Governo, permitem transformar as intenções de um projeto em gestos ou ações concretas. A Governabilidade reúne mecanismos e instrumentos de poder (político, econômico) capazes de desencadear as decisões e os respectivos movimentos necessários para que os objetivos e as metas sejam alcançados. Neste estudo foram utilizados como indicadores de governabilidade as despesas per capita com saúde, o financiamento da atenção básica nos municípios, o apoio a projetos de atenção básica à saúde e de saúde da família e as características do Conselho Municipal de Saúde. 4.2.8 Aspectos éticos A proposta envolveu exclusivamente a realização de entrevistas e a aplicação de questionários, não incluindo coleta de material biológico, ou experimento com seres humanos. Esta característica torna o estudo de risco ético mínimo, segundo parâmetros definidos pela Organização Mundial da Saúde na publicação “International Ethical Guidelines for Biomedical Research Involving Human Subjects” 11. A participação dos indivíduos no estudo – gestores, profissionais de saúde e população – ocorreu através de consentimento informado. A confidencialidade da informação individual identificada e o direito de recusa em participar foram plenamente garantidos. A proposta de pesquisa está de acordo com os critérios institucionais da Universidade Federal de Pelotas havendo sido aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa de sua Faculdade de Medicina. 82 4.3 Resultados 4.3.1 Contexto 4.3.1.1 Amostra de Municípios 4.3.1.1.1 Distribuição dos Municípios por Estado, Porte Populacional e Região Metropolitana O Lote 2 Sul está composto por 21 municípios, sendo 17 (81%) do Rio Grande do Sul (RS) e quatro (19%) de Santa Catarina (SC). Do total de municípios, nove (43%) estão situados na região metropolitana (RM) de Porto Alegre e oito (38%) localizados no interior do RS. Doze municípios (57%) tinham entre 100.001 e 200.000 habitantes, oito (38%) entre 200.001 e 500.000 habitantes e apenas um (5%) – Porto Alegre – apresentava mais de 500 mil habitantes (Anexo 4.23). Os resultados do presente relatório retratam a atenção básica à saúde na totalidade destes municípios. 4.3.1.1.2 Situação Demográfica e Socioeconômica dos Municípios Os 21 municípios do Lote reuniam uma população de 5.423.673 habitantes, sendo 4.606.289 de residentes no estado do RS e 817.384 em SC. Os nove municípios da RM de Porto Alegre formavam um aglomerado populacional de 2.970.764 habitantes, representando 55% da população do Lote. Os oito municípios do interior do RS totalizavam uma população de 1.635.525 habitantes, representando 30% da população do Lote. Já os quatro municípios de SC representaram 15% da população do Lote. Os doze municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (menor porte) somavam 1.791.236 habitantes, ou 33% da população total, enquanto os oito municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes (médio porte) totalizavam 2.271.847 habitantes, ou 42% da população total (Anexo 4.24). Porto Alegre foi o maior município do Lote, com 1.360.590 habitantes, que representavam 25% da população total. Canoas, Pelotas, Florianópolis e Caxias completaram o grupo dos cinco maiores municípios do Lote e contribuíram com cerca 6% cada um para a população total. De modo geral os indicadores demográficos e socioeconômicos mostraram pequena variabilidade entre os estados, com altas médias de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de expectativa de vida, de alfabetizados e de cobertura de domicílios 83 com água encanada. Entretanto, nos municípios do estado de SC se observava uma melhor situação demográfica e socioeconômica do que nos do RS, com uma menor taxa bruta de natalidade, uma maior expectativa de vida e uma menor proporção de pobres. A cobertura de domicílios com esgoto sanitário foi o ponto negativo em termos socioeconômicos nos municípios estudados, sendo baixa em ambos os estados, mas ainda pior para o RS (Anexo 4.25). Cerca de 16% da população era classificada como pobre. A RM ocupou uma posição intermediária neste aspecto (16%), ficando o interior do RS na pior colocação (19%) e Santa Catarina na melhor situação (15%). Na RM, Porto Alegre era o município com a menor proporção de pobres (11%), enquanto Alvorada e Viamão apresentavam as maiores proporções (21%). No interior do RS, Uruguaiana foi o município com mais pobres (29%), seguido de Bagé (25%), Rio Grande (22%) e Pelotas (22%). Em SC, Lages era o município com mais pobres (22%). Caxias do Sul e Florianópolis destacaram-se por apresentar as menores proporções de pobres (8%) (Anexo 4.24). De modo geral, os indicadores demográficos e socioeconômicos melhoram com o aumento do porte populacional do município, com exceção da expectativa de vida (maior para municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes) e da cobertura de água encanada (menor para estes mesmos municípios). Como o Lote apresenta somente um município com mais de 500.000 habitantes, Porto Alegre, os resultados apresentados não se referem à média e sim ao indicador propriamente dito (Anexo 4.26). O IDH, a taxa bruta de natalidade, a expectativa de vida, a proporção de alfabetizados e a cobertura de domicílios com água encanada foram muito semelhantes entre os municípios da região metropolitana de Porto Alegre e os demais municípios do Lote. Os municípios da região metropolitana apresentaram maior proporção de crianças com até cinco anos de idade, menor proporção de idosos, menor proporção de pobres e menor cobertura de domicílios com esgoto do que os demais municípios (Anexo 4.27). Esta disponível no Anexo 4.28 os indicadores demográficos e socioeconômicos dos municípios do Lote 2 Sul. Neste caso, foi possível observar importante variabilidade nos indicadores segundo o município. De modo geral, os indicadores mostraram melhor desempenho em SC, com exceção de Lages, em Porto Alegre e Caxias do Sul. Os municípios da metade sul do RS apresentaram um pior desempenho quanto a estes indicadores. 84 4.3.1.2 Amostra de Gestores, Coordenadores de Atenção Básica e PSF e Presidentes de Conselho Municipal de Saúde A cobertura alcançada para as informações dos Secretários Municipais de Saúde (gestor municipal) foi de 71% no Rio Grande do Sul (12) e de 75% em Santa Catarina (3). Em relação aos coordenadores de Atenção Básica ou PSF se obteve informações para 71% dos municípios do Rio Grande do Sul (12) e 100% dos municípios de Santa Catarina. Na análise por região e porte do município, houve maior participação de gestores e coordenadores de Atenção Básica ou PSF de municípios de menor porte, fora da RM. Quanto aos Presidentes de Conselho Municipal de Saúde (CMS) as informações foram obtidas para a totalidade dos 21 municípios. 4.3.1.3 Amostra de Unidades Básicas de Saúde Todas as 120 UBS selecionadas nos 21 municípios foram estudadas. Do total, 27 UBS (22%) estavam localizadas em SC e 93 UBS (78%) no RS, sendo 45 (38%) na RM de Porto Alegre e 48 (40%) no interior do estado. Os municípios que contribuíram com o maior número de UBS para a amostra estudada foram Porto Alegre (15 UBS), Pelotas (9) e Santa Maria (9), no RS, e Florianópolis (9) e Criciúma (9), em SC. Em relação ao modelo de atenção, 42% (51) da amostra total eram UBS do modelo Tradicional, incluindo três unidades mistas, e 58% (69) do PSF, sendo 25% (30) do PSF pré-PROESF e 33% (39) do PSF pós-PROESF, como mostra a Figura 4.3 abaixo. Entre as unidades do PSF, 40 (34%) contavam com uma Equipe de Saúde da Família (ESF), 18 unidades (15%) possuíam duas ESF, 8 (7%) apresentavam três ESF e três unidades (3%) dispunham de quatro ESF. 85 Figura 4.3 - Distribuição da Amostra de Unidades Básicas de Saúde no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 25% 42% 33% Pré-PROESF Pós-PROESF Tradicional 4.3.1.4 Amostra de Profissionais de Saúde Durante a avaliação das 120 UBS foram estudados 1730 profissionais de saúde, sendo 266 médicos, 161 enfermeiros, 130 outros profissionais com curso superior, 414 auxiliares e técnicos de enfermagem, 478 agentes comunitários de saúde e 261 outros profissionais com nível médio. Para 20 profissionais a informação sobre atividade profissional estava ignorada. O total de profissionais que preencheu o questionário da equipe foi sempre superior a 80%, chegando a ser superior a 100% do total de profissionais lotados nas UBS segundo informação do instrumento da estrutura (Anexo 4.29). Esta sobrerepresentação pode ser explicada em parte pela forma como a informação foi coletada no instrumento da estrutura. Não havia informação sobre outros profissionais de nível superior – como nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais – e sobre outros profissionais de nível médio ou elementar – como recepcionistas, técnicos de enfermagem, auxiliares de consultório dentário, serventes e seguranças. Além disso, nenhum ACS foi citado na estrutura das UBS Tradicionais, mas 88 responderam o questionário nestes serviços. 86 4.3.1.4.1 Distribuição dos Profissionais por Estado, Porte Populacional, Região e Tipo de Unidades Básicas de Saúde Do total de entrevistados, 1323 (77%) trabalhavam no RS e 407 (24%) em SC. Dos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes eram provenientes 867 trabalhadores (50%), seguidos de 651 trabalhadores (38%) de municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes e de 212 trabalhadores (12%) de Porto Alegre. Os 623 trabalhadores da RM representaram 36% da amostra. Em relação ao modelo de atenção, 639 (37%) profissionais estavam vinculados a UBS Tradicionais e 1091 (63%) a UBS do PSF, sendo 399 (23%) do PSF pré-PROESF e 692 (40%) do PSF pós-PROESF. 4.3.1.4.2 Situação Demográfica e Socioeconômica dos Profissionais A amostra foi formada por 1409 (82%) profissionais do sexo feminino e 309 (18%) do sexo masculino. A proporção de mulheres foi significativamente maior nos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (85%) do que em Porto Alegre (78%) e no PSF (85%) do que na atenção Tradicional (76%). Não se observou diferença significativa de gênero dos profissionais em função do estado e da região (Anexo 4.30). A média de idade foi de 37 anos, sendo significativamente menor no PSF (36 anos) do que na atenção Tradicional (40 anos) e nos municípios menores (36 anos) do que em Porto Alegre (39 anos). Não se observou diferença etária significativa em função do estado e da região (Anexo 4.30). A renda bruta mensal referida pelos profissionais foi relacionada com o emprego na UBS. Para fins de análise, foram classificados em seis grupos, de acordo com a formação ou nível de escolaridade (Anexo 4.30). Os médicos referiram receber, em média, R$ 2.749,66, com diferenças significativas em relação ao estado, porte do município e tipo de UBS. Em SC o salário referido foi em média R$ 3.327,73 e maior do que no RS (R$ 2.654,90). Houve uma relação inversa do salário médico com o porte do município, sendo os maiores salários encontrados nos municípios de 100 a 200.001 habitantes. Nas unidades com PSF o salário era maior do que nas Tradicionais (R$ 3.541,79 e R$ 1.914,67 respectivamente) - (Anexo 4.30). 87 Os enfermeiros referiram receber em média, R$ 2.050,41, sendo significativas as diferenças com relação ao estado, porte do município e tipo de UBS. No RS, a média salarial foi de R$ 2.174,63 e quanto maior o porte do município maior o salário dos enfermeiros. Nas unidades com PSF, o salário dos enfermeiros era melhor do que nas Tradicionais (R$ 2.139,93 e R$ 1.716,55, respectivamente) - (Anexo 4.30). Para os demais profissionais de nível superior a média salarial foi de R$ 2.326,44, com diferenças significativas com relação à região e ao tipo de UBS. Na RM o salário era em média R$ 2.693,83 e no PSF a média foi de R$ 2.506,23 (Anexo 4.30). A média salarial de auxiliares e técnicos de enfermagem foi de R$ 859,76. As diferenças foram significativas com relação ao estado, porte, região e tipo de UBS. No estado do RS a média salarial era maior do que em SC. Nos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes, a média salarial foi de R$ 794,88, passando para R$ 871,84 nos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes, até alcançar a média de R$ 1.112,61, em Porto Alegre. Na RM o salário médio foi de R$ 1.075,45, maior que nos demais municípios (Anexo 4.30). Os demais profissionais de nível médio referiram receber, em média, R$ 534,95, mas as diferenças foram significativas com relação ao porte, região e tipo de UBS. Na RM o salário estava em torno de R$ 616,95 e quanto maior o porte do município, melhor o salário. No PSF a média foi de R$ 537,21 (Anexo 4.30). Os agentes comunitários de saúde recebiam, em média, R$ 381,99. As diferenças foram significativas com relação ao estado, porte, região e tipo de UBS. A média salarial foi maior no RS (R$ 406,07), em Porto Alegre (R$ 479,95), na RM (R$ 423,35) e no PSF (R$ 386,74) - (Anexo 4.30). Para todos os profissionais as médias salariais foram significativamente maiores no PSF pós-PROESF, do que no PSF pré-PROESF e nas UBS Tradicionais.Os médicos das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 3.852,69, no pré-PROESF este valor era de R$ 3.230,89. Os enfermeiros das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 2.417,55, no pré-PROESF este valor era de R$ 1.862,00. Outros profissionais de nível superior das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 2.751,53, no pré-PROESF este valor era de R$ 2.260,94 e nas unidades Tradicionais recebiam em média R$ 1.981,82. Os auxiliares e / ou técnicos de enfermagem das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 996,30, no pré-PROESF este 88 valor era de R$ 818,03 e nas unidades Tradicionais recebiam em média R$ 755,09. Os ACS das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 388,63, no préPROESF este valor era de R$ 384,84 e nas unidades Tradicionais recebiam em média R$ 357,80. Outros profissionais de nível médio das unidades PSF pós-PROESF recebiam em média de R$ 624,64, no pré-PROESF este valor era de R$ 449,78 e nas unidades Tradicionais recebiam em média R$ 525,17 (Anexo 4.30). 4.3.1.5 Amostra da Demanda Atendida nas Unidades Básicas de Saúde 4.3.1.5.1 Distribuição da Demanda por Estado, Porte Populacional, Região e Unidade Básica de Saúde Para o estudo da demanda foram registrados 13.612 atendimentos realizados pelos profissionais das UBS amostradas, em um dia de trabalho. Deste total, 10.842 (80%) referem-se a atendimentos realizados em UBS do estado do RS e 2.770 (20%) em SC. Um total de 6.682 atendimentos (49%) foi proveniente dos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes. A amostra se completou com 5.443 atendimentos (40%) dos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes e 1.487 atendimentos (11%) de Porto Alegre. Na RM foram registrados 4.434 (33%) atendimentos. Em relação ao modelo de atenção, 5.646 (42%) atendimentos foram realizados nas UBS do tipo Tradicional e 7.966 (59%) no tipo PSF, sendo 3.291 (24%) provenientes do PSF pré-PROESF e 4.675 (35%) do PSF pós-PROESF (Anexo 4.31). A distribuição da amostra da demanda atendida foi muito similar à das UBS por modelo de atenção. 4.3.1.6 Amostra Populacional da Área de Abrangência das Unidades Básicas de Saúde 4.3.1.6.1 Distribuição da População por Estado, Porte Populacional, Região e UBS As amostras populacionais selecionadas nas áreas de abrangência das UBS totalizaram 1949 crianças de um a três anos, 1823 mulheres que tiveram filhos nos dois últimos anos, 1940 adultos entre 30 e 64 anos e 1891 idosos com 65 anos e mais. Aproximadamente um quarto dos entrevistados residia no estado de Santa Catarina e pouco mais de um terço pertencia a municípios da RM. Cerca de 50% dos 89 entrevistados residiam em municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes, 38% em municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes e 12% em Porto Alegre. De acordo com o tipo de UBS, as amostras populacionais incluíram 42% de residentes em áreas de abrangência de UBS Tradicionais, 25% em áreas de UBS PSF pré-PROESF e 33% em áreas de UBS PSF pós-PROESF (Anexo 4.32). 4.3.1.6.2 Situação Demográfica e Socioeconômica da População da área de Abrangência das UBS a. Condições de habitação As áreas de abrangência das UBS muitas vezes guardam uma relativa homogeneidade na distribuição de seus indicadores socioeconômicos e demográficos. Em muitos lugares, o bairro, a comunidade, ainda guardam uma forte identidade social e cultural. Ainda assim, sempre é possível captar as nuances e as distorções da média populacional, as vulnerabilidades potenciais. Neste sentido, foram caracterizadas as condições de habitação de crianças, mulheres, adultos e idosos da amostra estudada, destacando eventuais diferenças na qualidade de vida na área de abrangência. A presença de água encanada dentro de casa beneficiava 98% dos domicílios de adultos e idosos e 94% dos domicílios de mulheres e crianças. O acesso à água encanada, para todos os grupos populacionais, foi significativamente maior no estado de SC (98%) do que no RS (95%). A região metropolitana de Porto Alegre apresentou as piores condições de abastecimento de água, alcançando em torno de 92% dos domicílios de crianças, mulheres e adultos e de 96% nas residências dos idosos. Nos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes a disponibilidade de água foi proporcionalmente melhor para as crianças e mulheres (96%). Para os adultos e idosos, a situação foi melhor nos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (98%). Não foi observada diferença no acesso à água encanada com relação ao tipo de UBS. A proporção de banheiro no domicílio foi de 92% para as crianças e mulheres e de 98% para os adultos e idosos. Em média havia um banheiro por domicílio para crianças e mulheres. Para os adultos e os idosos, a média foi de 1,2 banheiros por domicílio. Para todos os grupos populacionais, a disponibilidade de banheiro foi significativamente maior em SC, especialmente no domicílio dos adultos (1,4 – dp 0,7), 90 entre os municípios de médio porte (1,4 – dp 0,7), no interior do RS (1,3 – dp 0,9) e nas áreas das UBS Tradicionais (1,3 - dp 0,6). Praticamente a totalidade dos domicílios de adultos e idosos (99%) e de mulheres e crianças (98%) dispunha de recolhimento do lixo domiciliar por caminhão de serviço municipal, não havendo diferenças significativas por estado, região, porte de município e modelo de UBS. Residências de tijolo com reboco, mistas (madeira e tijolo) e com madeira regular foram consideradas adequadas, enquanto aquelas construídas de madeira irregular e papelão, lata ou lona foram classificadas de inadequadas. A proporção de construção adequada foi maior nas residências de idosos (91%) e adultos (88%) do que nas residências de mulheres e crianças (79%). O estado de SC (88%) e os municípios fora da RM de Porto Alegre ofereciam melhores condições de moradia para todos os grupos populacionais, especialmente para os idosos (93%). Municípios com população entre 100.001 e 200.000 habitantes apresentaram as piores condições de moradia para as crianças (14%) e as mulheres (13%). Para os adultos e os idosos a adequação da construção piorou a medida em que aumentava o porte do município. Em todos os grupos populacionais foi maior a proporção de construções inadequadas nas áreas cobertas pelo PSF. A média de pessoas por domicílio de crianças e de mulheres foi 4,8. No caso dos adultos esta média foi 3,8 e nos idosos 2,8. Nos domicílios dos adultos houve diferenças significativas com relação ao modelo: as médias foram respectivamente 3,7 (dp = 1,5) nas UBS Tradicionais, 4,0 (dp = 1,8) nas do PSF pré-PROESF e 3,8 (dp = 1,7) nas do PSF pós-PROESF. A concentração de sete ou mais pessoas por domicílio foi identificada em 14% da amostra de crianças, 16% de mulheres, 5,6% de adultos e 2,3% de idosos. Foi observado que 6% dos adultos e 20% dos idosos referiram morar sozinhos. b. Perfil de Crianças e Mães Na amostra de 1949 crianças, 53% eram do sexo masculino e a idade média foi de 26,9 meses (dp = 10,2), variando de 12 a 47 meses (Anexo 4.33). A proporção de crianças de cor branca foi de 72% e significativamente menor em Porto Alegre (58%), na RM (69%) e no RS (70%). 91 As mães das crianças estudadas tinham idade média de 27,6 anos (dp = 7,1), variando de 15 a 51 anos. Em relação à escolaridade das mães, 56% possuíam o primeiro grau completo. Esta proporção foi significativamente maior em Porto Alegre (60%), na RM (61%) e no RS (58%). A renda média per capita foi de 0,5 salário mínimo (SM), significativamente maior nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (0,6), fora da RM (0,6) e em SC (0,7). A pequena proporção de indivíduos da amostra incluídos nos grupos sociais A e B, exigiram a agregação dos grupos A, B e C, no sentido de se ter um número mínimo nesta categoria de análise. Pouco mais de um terço (39%) destas mães e crianças estavam incluídas nos estratos A,B e C agregados, mostrando proporções maiores nas áreas das UBS Tradicionais (44%), nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (47%) e no estado de SC (45%). c. Perfil das Mulheres Na amostra de 1823 mulheres, 70% eram brancas, com idade média de 26,4 anos (dp = 6,9), variando de 14 a 48 anos. A proporção de menores de 20 anos foi de 17% (Anexo 4.33). Metade destas mulheres (52%) havia completado o primeiro grau, um quarto (26%) possuía o 2º grau incompleto e aproximadamente um quinto (19%) o segundo grau completo e mais. As maiores escolaridades foram detectadas nas áreas de UBS Tradicionais e no estado de SC. A renda mensal média era de meio salário mínimo, sendo significativamente superior para as mulheres das áreas de UBS Tradicionais e do estado de SC, não variando significativamente nos demais estratos. A exemplo da amostra de crianças, os grupos sociais A, B e C foram agregados uma vez que o grupo A incluiu apenas 0,1% e o grupo B 4% das mulheres. Cerca de um terço das mulheres foi classificada em cada um dos grupos D e E, além de 37% nos grupos A, B e C. Esta proporção foi significativamente maior nas UBS Tradicionais (41%) e no estado de SC (42%). d. Perfil dos Adultos 92 Na amostra de 1940 adultos, a idade média era de 46,2 anos (dp = 9,5), variando de 30 a 64 anos. Deste total, 58% eram mulheres, 79% eram de cor branca e 74% eram casados ou viviam com companheiro (Anexo 4.33). A proporção de mulheres foi significativamente maior na população da RM (60%). A cor da pele branca foi significativamente maior na área das UBS Tradicionais (83%), dos municípios com populações entre 100.001 e 200.000 habitantes (81%), fora da RM (81%) e no estado de SC (86%). A quase totalidade dos adultos sabia ler e escrever (91%), sendo a proporção maior na área das unidades Tradicionais (94%). A proporção de adultos sem escolaridade (analfabetos) foi de 9%, sendo significativamente maior na área das UBS do PSF pós-PROESF (11%), não apresentando diferença com relação ao estado, porte e região. A renda média per capita dos adultos foi de R$ 325,60, sendo significativamente maior na área das UBS Tradicionais (R$ 342,90), em Porto Alegre (R$ 391,70), e em SC (R$ 389,70). A distribuição por grupo social identificou 0,5% dos adultos no estrato A, 12% no estrato B, 37% no C, 33% no D e 18% no estrato E, mostrando uma grande concentração de pessoas nos grupos menos privilegiados. Em SC houve proporções mais elevadas da população nos estratos A (1%), B (14%) e C (44%). O estado do RS mostrou proporções maiores de sua amostra nos estratos D (35%) e E (19%). Os municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes revelaram as maiores proporções nos estratos A (1%), B (17%) e C (40%), enquanto nos municípios com população entre 100.001 e 200.000 habitantes as maiores proporções foram nos grupos D (38%) e E (21%). De acordo com o modelo de atenção, as UBS Tradicionais registraram maior representatividade da população nos grupos C (43%) e D (31%); nas UBS de PSF houve predomínio do estrato D: 44% no pré-PROESF e 36% no pós-PROESF. Cerca da metade dos adultos (51%) informou trabalho remunerado no último mês, situação significativamente mais freqüente nos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes (58%). Aproximadamente metade das pessoas que trabalhavam (51%) era empregada e 45% era autônoma. 93 e. Perfil dos Idosos Na amostra de 1891 idosos em termos do perfil demográfico, a idade média foi de 73,5 anos (dp = 6,6), variando de 65 a 104 anos. Deste total, 62% eram mulheres, 83% eram de cor branca, 43% eram casados ou viviam com companheiro e 64% sabiam ler e escrever, mas apenas 45% possuíam no mínimo o primeiro grau completo (Anexo 4.33). Idade, sexo e situação conjugal não variaram significativamente em função do tipo de UBS, porte do município e região metropolitana. Em relação ao estado, a idade e a situação conjugal tampouco variaram, mas a proporção de homens entrevistados no RS (39%) foi significativamente maior do que em SC (34%). A proporção de idosos de cor branca foi significativamente maior nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (85%) e no estado de SC (89%), sendo estatisticamente menor na área das UBS do PSF pré-PROESF. A proporção de idosos alfabetizados foi 64%, sendo significativamente maior em SC (68%) e nas UBS Tradicionais (70%). A maioria dos idosos possuía primeiro grau incompleto (55%) ou nenhuma escolaridade (37%). A proporção de idosos com primeiro grau completo e / ou segundo grau incompleto foi de 5% e, com segundo grau completo ou mais apenas 4%. Os idosos do estado de SC com segundo grau completo ou mais representavam 7% da amostra, enquanto no RS esta proporção foi de apenas 2%. Em SC a proporção de idosos sem nenhuma escolaridade foi igual a 32% e, 58% possuíam primeiro grau incompleto. Para o RS estas proporções foram 39% e 54%, respectivamente. A análise por região não apresentou diferenças significativas. Idosos com primeiro grau completo e / ou segundo grau completo e mais, encontravam-se em maior proporção no município de Porto Alegre (10% e 6%, respectivamente), onde também ocorreu a menor proporção de primeiro grau incompleto (46%), mas também uma proporção alta de nenhuma escolaridade (39%). Nas UBS Tradicionais, os idosos sem nenhuma escolaridade representaram 31% e com primeiro grau incompleto 61%, enquanto no PSF estas proporções foram de 42% e 50%, respectivamente os idosos com primeiro grau completo e com segundo grau completo e mais estavam distribuídos uniformemente nos diferentes tipos de UBS. A renda mensal média dos idosos foi de 1,1 SM, sendo significativamente maior nos municípios do estado de SC (1,2 SM) do que no RS (1,0 SM) e menor nos 94 municípios de menor porte populacional (0,9 SM) do que no município de Porto Alegre (1,3 SM). A distribuição por tipo de UBS mostra um acréscimo de 0,1 SM para os idosos que moravam na área das unidades Tradicionais (1,2 SM), quando comparados com o PSF (1,0 SM), não sendo a diferença estatisticamente significativa. De acordo com a estratificação social, 0,1% dos idosos estavam no grupo A, 4% no B, 24% no C, 38% no D e 34% no E. Os estratos D e E juntos reuniram 72% da amostra de idosos. A proporção de idosos incluídos nas classes A, B e C foi maior na população das UBS Tradicionais (33%) e no estado de SC (37%), sendo menor nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (23%). Dois terços (71%) estavam aposentados, sendo esta proporção maior no RS (74%) do que em SC (65%). A média de idade da aposentadoria foi de 59,2 anos (dp = 9,1) variando de 15 a 83 anos, sendo maior no RS (59,7 anos – dp = 9,1). A grande maioria (93%) dos idosos não estava trabalhando, sendo a proporção maior nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (96%) e menor na RM (92%). 4.3.2 Dimensão Político-Institucional 4.3.2.1 Projeto de Governo 4.3.2.1.1 Tipo de Gestão Municipal, Índice de Aprendizado Institucional e Cobertura do Programa de Saúde da Família A descentralização da gestão é um princípio constitutivo do SUS e deve avançar rumo à gestão plena do sistema municipal de saúde. Entretanto, no ano de 2000, apenas sete (33%) municípios estavam nesta modalidade de gestão, sendo três (75%) de Santa Catarina. A grande maioria dos municípios - 67% (14) - estava em gestão plena da atenção básica, sendo apenas um (25%) em Santa Catarina. A avaliação da gestão municipal, no contexto das Normas Operacionais do SUS, identificou 12 municípios (57%) com aprendizado institucional baixo, todos pertencendo ao estado do Rio Grande do Sul (VIANA, 2002). Cinco municípios (24%) apresentaram aprendizado institucional médio. O aprendizado institucional foi considerado alto em apenas quatro municípios (19%). Nesta categoria havia apenas um município do RS (Porto Alegre), os outros três (75%) pertenciam ao estado de SC. O aprendizado institucional foi avaliado como baixo em 88% dos municípios de porte 95 médio (200.001 a 500 mil habitantes). Aprendizado institucional médio (33%) e alto (25%) foram mais freqüentes nos municípios de menor porte (100.001 a 200.000 habitantes), como pode ser verificado no Anexo 4.34 de acordo com porte e região. Em 2003, os municípios do Lote somavam 1554 unidades ambulatoriais e 626 unidades básicas de saúde. A RM em seu conjunto e Porto Alegre em particular contribuíam com o maior número de unidades ambulatoriais de saúde do Lote, respectivamente, 42% e 24% do total. O interior do RS participava com 27% das unidades ambulatoriais do Lote e SC com 31%. Caxias do Sul (6%) e Santa Cruz do Sul (6%), no interior do RS e Florianópolis (14%), Lages (7%) e Criciúma (6%), em SC, foram os outros municípios com maior participação na rede ambulatorial do Lote 2 Sul. A RM também contribuía com o maior número de UBS (39%), seguida do interior do RS (37%) e do estado de SC (24%). O município de Porto Alegre possuía o maior número de unidades básicas (16%) do Lote, seguido de Criciúma (9%), Florianópolis (8%) em SC e de Pelotas (7%), Santa Maria, Passo Fundo e Caxias (6% cada um), no interior gaúcho. Considerando a data de qualificação dos municípios estudados para a adesão ao PSF, esta estratégia teve início no Lote 2 Sul em janeiro de 1994 em SC, nas cidades de Chapecó e Criciúma. Até 1996 apenas os quatro municípios de SC (19%) haviam implantado alguma equipe de PSF. No período de 1997 a 2000, a implantação de PSF alcançou cinco (24%) municípios do Lote, todos do RS. A maior implantação de PSF ocorreu após o ano 2000, abrangendo 12 (57%) municípios, também todos do RS (de acordo com porte e região no Anexo 4.34). Neste período recente, o PSF foi implantado em 42% dos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes e em 88% dos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes. O crescimento relativo da cobertura de PSF no período de 1999 a 2004 foi de até 16% para 13 (62%) municípios, sendo apenas um município de SC. Nesta faixa mais baixa de cobertura estavam 50% dos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes, 75% dos municípios de porte intermediário (200.001 a 500.000 habitantes) e o município de Porto Alegre. Na faixa de cobertura de 17 a 34% estavam sete (33%) municípios, sendo dois de SC. Nesta faixa de cobertura estavam 42% dos municípios de menor porte e 25% dos municípios de porte intermediário. O maior crescimento de cobertura de PSF (35% ou mais no período) foi observado em apenas um (5%) município, Lages (SC) (de acordo com porte e região no Anexo 4.35). 96 A implantação do PSF é um fenômeno recente para a maioria dos municípios do Lote 2 Sul, mais especificamente para o estado do RS. Ainda assim, o PSF parece estar se configurando em estratégia de conversão do modelo de atenção básica à saúde em boa parte dos municípios da região. Em SC, que iniciou no Lote a transformação do modelo de ABS, o PSF já está em plena implantação (38%), sendo Lages (59%), Criciúma (40%) e Chapecó (33%) os municípios com as maiores coberturas. Mais recentemente, o PSF começa a se constituir em um modelo em implantação (cobertura em 2004 de 16%) no interior gaúcho, com exceção de Uruguaiana (cobertura em 2004 de 1%). De modo contrastante, o PSF ainda não se constitui em estratégia em implantação na RM, com exceção de Alvorada, que teve 23% do PAB vinculado ao PSF e cobertura de 17% da população em 2004. À época, nos demais municípios da RM, como, por exemplo, Cachoeirinha, Sapucaia do Sul, Gravataí, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Viamão, o PSF era muito incipiente. Menos de 6% das transferências do PAB na RM eram relativas ao PACS/ PSF, chegando a 17% no interior gaúcho e a 39% em SC (Anexo 4.35). Em 2001, de um total de 144 ESF instaladas no Lote, 64% (92) estavam nos municípios catarinenses. Em 2004, as ESF de SC passaram a representar 34% do total do Lote, devido a um crescimento de apenas 34% nas ESF do estado neste período e a um crescimento acelerado das ESF no interior do RS. As ESF de SC estavam bastante bem distribuídas entre as quatro cidades estudadas. A aparente motivação para implantar ESF na RM, vislumbrada em 2001, foi minimizada pelo crescimento da estratégia do PSF no interior do RS. Ainda assim, as ESF da RM triplicaram neste período, passando de 25% em 2001 para 34% das ESF do Lote em 2004. Em 2001, o interior do RS tinha 11% das ESF do Lote, passando para 32% em 2004. Em 2004, o número de ESF no interior gaúcho já era 10 vezes maior do que em 2001, conforme ilustra a Figura 4.4 abaixo. 97 Figura 4.4 - Crescimento no Número de Equipes de Saúde da Família de 2001 a 2004 nos municípios do Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 400 358 350 300 250 249 204 200 150 100 144 92 107 121 121 116 109 87 70 50 0 41 11 Equipes de PSF 2001 Total RM POA 53 27 Equipes de PSF 2002 Total Interior Gaúcho Equipes de PSF 2003 Total de SC Equipes de PSF 2004 Total do Lote A Figura 4.5 apresenta o crescimento das ESF por porte do município. Nos municípios de menor porte o crescimento durante o quadriênio esteve concentrado nos anos de 2003 e 2004, havendo duplicação do número de equipes no período. Os municípios de porte médio apresentaram o maior crescimento das ESF no Lote, triplicando seu número no período e crescendo cerca de 80% entre 2003 e 2004. Porto Alegre duplicou o número de ESF no período, mas seu crescimento mais expressivo foi entre 2001 e 2002 (77%). 98 Figura 4.5 - Crescimento das Equipes de Saúde da Família por Porte do Município. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 160 150 140 134 120 112 100 80 60 40 85 70 62 57 39 35 74 63 74 20 0 Equipes de PSF 2001 Equipes de PSF 2002 Mais de 100.000 a 200.000 Equipes de PSF 2003 Mais de 200.000 a 500.000 Equipes de PSF 2004 Mais de 500.000 A Figura 4.6 permite observar o crescimento das Unidades de Saúde da Família em cada um dos municípios, no período de 2001 a 2004. Crescimento expressivo foi observado em Alvorada e Porto Alegre, na região metropolitana; em Bagé, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande e Santa Maria no interior do RS; e em Florianópolis e Lages, em SC. Mais especificamente, com relação às regiões e o porte dos municípios, os maiores avanços na implantação de Unidade de Saúde da Família foram constatados no interior do RS e nas cidades de porte médio. Alvorada (15%) e a capital (61%) representavam cerca de dois terços das ESF da RM de Porto Alegre. Juntas, Caxias do Sul (22%), Pelotas (23%) e Santa Maria (14%) representavam cerca de dois terços das ESF do interior gaúcho. 99 Figura 4.6 - Evolução da implantação de equipes de PSF por município, 2001 a 2004. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 80 70 60 50 40 30 20 10 Al vo ra da Ba gé C Ca a no as ch o Ca eir xia inh a s do Su l G No ra vo va ta Ha í m Pa b ss urg o o Fu nd o Pe lo Po rto tas Al eg Sa Rio re nt G a ra Cr nd uz e d Sã o Su o Le l o Sa pol do Sa nta M pu ar ca ia ia do S Ur ug ul ua ia n Vi a am ão Ch ap e Cr c ó ici Fl or uma ia nó po lis La ge s 0 2001 2002 2003 2004 O número total de UBS no Lote passou de 481 em 2001 para 602 em 2004, revelando um crescimento da rede básica de saúde de 25%, concentrado principalmente no RS, de forma equilibrada entre a região metropolitana de Porto Alegre e interior, e mais expressiva nos municípios de porte médio (28%). Por outro lado, o número de UBS do PSF cresceu de 128 em 2001 para 293 em 2004, mostrando um crescimento das unidades de PSF de 130%. Em suma, nestes municípios, a atenção básica à saúde viveu nos últimos cinco anos um intenso processo de conversão do modelo e muito menos um processo de expansão da rede básica. Esta conversão se dá às expensas da transformação de unidades tradicionais em unidades de saúde da família, boa parte das vezes aproveitando todos os seus recursos materiais e humanos. Este processo ocorreu primeiro em SC, mas ao fim do quadriênio a situação era parelha entre os dois estados e em suas regiões. 4.3.2.1.2 Adequação Setorial e dos Modelos de Atenção para o Funcionamento do Sistema Municipal de Saúde Na percepção dos gestores de ambos os estados, em uma escala de avaliação de 0 a 10, o Setor de Informações em Saúde foi considerado o menos adequado para o funcionamento do sistema municipal de saúde (médias de 4,4 para o RS e 6,0 para SC), ressaltando a defasagem dos municípios do Lote em aspecto central para a gestão 100 estratégica do SUS. A carência é essencialmente de informação interpretada e processada em função das demandas prioritárias, pois os municípios acumulam enormes volumes de dados, em sua grande maioria nunca analisados e divulgados (Anexo 4.36). A segunda área considerada menos adequada pelos gestores foi a de Controle, Avaliação, Auditoria e Regulação no RS (média 4,7) e a de Vigilância Sanitária e Ambiental em SC (média 6,3). De modo geral, a avaliação dos secretários de SC foi melhor do que a de seus colegas do RS para o conjunto dos setores selecionados, sugerindo uma maior adequação da rede catarinense para os propósitos da ABS (Anexo 4.37). Na opinião dos gestores dos dois estados, o modelo Tradicional de atenção básica é menos adequado (média 5,7 – dp = 1,2) do que o PSF (média 7,3 – dp = 2,0) no atendimento das necessidades de saúde do município. Entretanto, a adequação do modelo Tradicional e do PSF foram mais bem avaliadas pelos gestores de SC (médias 6,3 – dp = 1,2 e 8,3 – dp = 1,5, respectivamente) do que do RS (médias 5,6 – dp = 1,3 e 7,0 – dp = 2,1, respectivamente), conforme ilustrado no Anexo 4.37. Ainda assim, os gestores consideraram que as equipes de PSF necessitam de capacitação e de conscientização para melhor prevenir e tratar os usuários de todas as idades. Em relação à rede básica de saúde houve uma percepção quase unânime dos gestores da necessidade de ampliar sua estrutura física e seus recursos humanos em quantidade e qualidade, para torná-la mais adequada às necessidades da população. A adequação de rede básica tem sido realizada de forma gradativa levando em consideração as condições de vulnerabilidade social e econômica. Ainda assim, a rede básica de saúde possui distorções na realização das práticas de saúde e uma elevada rotatividade de profissionais de saúde, especialmente médicos, tornando-a descontínua. Conseqüentemente, há a necessidade de uma reorganização dirigida ao atendimento integral, equânime e resolutivo o mais próximo do cidadão. 4.3.2.1.3 Critérios na definição de áreas de abrangência das UBS e na implantação do Programa de Saúde da Família Na definição de áreas para implantação do PSF, os gestores destacaram como critérios mais relevantes a carência de serviços, o risco epidemiológico, os indicadores 101 socioeconômicos desfavoráveis e a dificuldade de acesso da população a serviços da rede básica. Na opinião dos secretários, as principais razões para a expansão do PSF nos municípios deveriam considerar as evidências de que o PSF melhora a saúde da população, o apoio da população ao programa e a garantia de acesso dos usuários aos demais níveis de atenção à saúde. Nos municípios de SC houve destaque para o interesse político em expandir o PSF e nos municípios do RS, para a suficiência de recursos financeiros destinados à expansão do programa (Anexo 4.38). Os Presidentes dos CMS consideraram em sua maioria que a implantação e / ou expansão do PSF se destacou entre os principais projetos aprovados no período de 2001 a 2004 nos municípios do Lote. A humanização, o acolhimento e o acesso foram os destaques positivos do PSF em relação ao modelo Tradicional. O PSF foi valorizado por sua proposta conceitual, mas os representantes do controle social consideraram sua viabilização prática o maior desafio da ABS, garantindo maior resolubilidade e inclusão dos mais necessitados (Anexo 4.38). 4.3.2.1.4 Características do emprego e da remuneração dos trabalhadores da Atenção Básica O ingresso por concurso público alcançou pouco mais de 40% dos trabalhadores da rede básica, sendo maior no modelo Tradicional (58%) que no PSF (34%), principalmente em UBS localizadas no RS (61%) e mais especificamente em Porto Alegre (68%). A forma de contratação predominante nas UBS Tradicionais foi estatutária (52%) e no PSF foi através da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que abrangeu 43% dos profissionais. Embora a CLT não seja uma forma de trabalho precária, não apresenta as mesmas garantias de estabilidade para o trabalhador em comparação aos estatutários (Anexo 4.39). O vínculo de trabalho tipicamente precário (sem garantias trabalhistas) alcançou 30% dos trabalhadores da atenção básica no Lote, não mostrando diferenças entre os modelos de atenção. Entretanto, o problema foi maior em SC (44%) do que no RS (25%) e nos municípios de menor porte (38%), cujas coberturas de PSF eram maiores, do que em Porto Alegre (19%). Mas o trabalho precário também foi maior na região metropolitana de Porto Alegre (36%), principalmente no PSF pré-PROESF (45%), do 102 que nos demais municípios (26%) do Lote. O trabalho precário geralmente envolve contratos em regime emergencial, através de organizações não governamentais (ONGs), cooperativas e entidades filantrópicas. Apesar de todas as suas desvantagens, vários secretários destacam que esta forma de contrato permite oferecer salários mais atrativos e selecionar profissionais com um perfil mais adequado às atividades da ABS (Anexo 4.39). Referidos por menos de 15% dos profissionais entrevistados, os Planos de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) foram uma raridade no SUS municipal, estando em sua maioria defasados ou vinculados a servidores federais e estaduais municipalizados. Ainda assim, foram significativamente mais referidos por trabalhadores do modelo Tradicional (19%) do que do PSF (11%). A menor referência ao PCCS ocorreu no PSF pré-PROESF de Porto Alegre (4%), dos municípios da RM (7%) e dos municípios de menor porte (9%) - (Anexo 4.39). O pagamento em dia do salário foi proporcionalmente mais referido por profissionais de saúde de SC (98%) do que do RS (90%). Por outro lado, o atraso do pagamento atinge mais os trabalhadores de PSF do que do modelo Tradicional, em municípios menores e médios, não sendo um problema em Porto Alegre e em municípios da RM. No RS, a proporção de profissionais recebendo em dia foi maior no modelo Tradicional (94%) do que no PSF (86%) - (Anexo 4.39). O pagamento de incentivos foi referido por 25% dos trabalhadores, sendo maior em SC (30%), principalmente no PSF pós-PROESF (36%). Nos municípios de menor e médio porte, o incentivo esteve mais associado ao PSF (34%), mas em Porto Alegre foi mais freqüente entre trabalhadores do modelo Tradicional (32%). A menor proporção de incentivos salariais (19%) foi observada no PSF de municípios da RM (Anexo 4.39). Pouco menos de 20% dos entrevistados fizeram referência ao trabalho atual como primeiro emprego, não se observando diferenças significativas entre modelo de atenção, estado, região e porte do município. A maior referência ao primeiro emprego ocorreu em profissionais do PSF do estado de SC (22%) e da RM (22% no PSF préPROESF) - (Anexo 4.39). A proporção de profissionais de saúde com outro emprego foi quase duas vezes mais freqüente no RS (30%) do que em SC (17%). No RS, a proporção de trabalhadores com outro emprego também foi duas vezes maior no modelo Tradicional (30%), do que 103 no PSF (cerca de 15%). A maior referência a outro emprego ocorreu em profissionais de UBS do modelo Tradicional de municípios de porte médio (32%), mostrando diferença fortemente significativa em relação a seus colegas do PSF. A menor proporção de trabalhadores com outro emprego ocorreu no PSF (12 a 13%) de municípios de menor porte (Anexo 4.39). O tempo médio de trabalho na prefeitura local e na UBS atual foi, respectivamente, 57,9 meses (dp = 68,8) e 37,5 meses (dp = 53,2) para os profissionais entrevistados. Para ambas as variáveis, o tempo de trabalho foi cerca de 30% maior em SC (70,8 meses – dp = 77,9 e 46,1 meses – dp = 58,9) do que no RS (53,9 meses – dp = 65,1 e 34,9 meses – dp= 50,9). A maior antiguidade na prefeitura ocorreu em trabalhadores do modelo Tradicional de Porto Alegre (91,6 meses – dp =98,3), que também apresentavam a maior permanência na UBS atual (86,8 meses – dp = 100,6). Os trabalhadores com maior antiguidade na prefeitura e na UBS atual também estavam vinculados a municípios de médio porte, principalmente fora da RM. O menor tempo de trabalho, tanto na prefeitura local (37,5 meses – dp = 52,6) e na UBS atual (24,0 meses – dp = 41,4) foi referido por profissionais do PSF pós-PROESF do RS e de municípios de menor porte populacional (36,9 meses – dp = 47,9 e 21,0 meses – dp = 36,5). Estes achados reforçam que a conversão do modelo Tradicional para o PSF começou em SC e se acelerou mais recentemente no interior do RS (Anexo 4.39). 4.3.2.2 Capacidade de governo 4.3.2.2.1 Perfil do Secretário Municipal de Saúde Os secretários municipais de saúde eram em sua maioria do sexo masculino (71%), médicos (43%) e com idade média de 47 anos (dp = 6,8). O nível de escolaridade foi elevado, com 93% apresentando nível superior completo e 67% destes com pós-graduação. Em relação à formação em saúde pública, 23% haviam realizado aperfeiçoamento, 25% especialização e / ou residência e nenhum possuía mestrado ou doutorado. Quanto à formação em outras áreas, 18% haviam realizado aperfeiçoamento, 50% especialização e / ou residência e dois secretários (15%) haviam concluído doutorado. O tempo médio de permanência no cargo atual foi de 2,3 meses (dp = 0,6), com um máximo de quatro meses e um mínimo de dois meses. 104 Em relação à experiências prévias de gestão, três secretários (20%) já haviam desempenhado a mesma função em administrações anteriores. Cerca de 43% já haviam atuado como assessores técnicos ou dirigentes da SMS e 39% foram dirigentes de saúde do setor privado. Dez secretários do RS e três de SC relataram participar do Conselho Municipal de Saúde. 4.3.2.2.2 Perfil do Coordenador de Atenção Básica e / ou do Programa de Saúde da Família A grande maioria dos coordenadores de Atenção Básica ou PSF eram mulheres (63%), enfermeiras (50%), com idade média de 38 anos (dp = 8,3). Em Santa Catarina a proporção de mulheres era ainda maior (75%) do que a do conjunto do Lote e a média de idade foi de 35 anos. A profissão médica foi a segunda profissão mais freqüente entre os coordenadores (31%), mas em SC esta foi a mais freqüente (75%) dos coordenadores. A totalidade dos entrevistados possuía curso superior completo e mais da metade (56%) possuía pós-graduação. Em relação à formação em saúde pública, 38% haviam realizado aperfeiçoamento, especialização e/ ou residência e nenhum coordenador possuía mestrado ou doutorado. No RS, 50% dos coordenadores haviam realizado especialização e / ou residência em saúde pública. Quanto à formação em outras áreas, 63% haviam realizado aperfeiçoamento e um coordenador do RS possuía mestrado. O tempo médio de permanência no cargo atual foi de 2,8 meses (dp =1,9), com um máximo de cinco meses e um mínimo de um mês. Quanto à experiência prévia na função de coordenação da Atenção Básica e / ou PSF, quatro (25%) entrevistados desempenharam a mesma função em outra gestão, por um período médio de 19 meses (dp =16,4). Entre os coordenadores, oito (50%) referiram experiência prévia como profissional liberal na área de saúde, seis (38%) foram assessores técnicos ou dirigentes de Secretaria Municipal e / ou Estadual de Saúde e cinco (31%) foram diretores de serviços, ambulatórios e / ou hospitais públicos. Menos da metade (44%) participava das reuniões do Conselho Municipal de Saúde, mas em SC 75% (3) dos coordenadores participavam desta atividade. 105 4.3.2.2.3 Perfil do Presidente do Conselho Municipal de Saúde Os presidentes de CMS eram em sua maioria homens (67%), na faixa etária dos 35 aos 75 anos, com idade média de 48 anos (dp =10,1). A escolaridade média foi de 13 anos de estudo, diminuindo linearmente com o porte populacional do município. Quase 30% dos presidentes haviam realizado algum curso de pós-graduação. Cerca de 20% eram funcionários públicos, 11% médicos e a experiência média no cargo foi de 12 meses (dp = 15,6). A maioria dos presidentes (57%) participava como conselheiro desde o ano de 2000, sendo esta situação ainda mais marcante para SC (75%). Quanto às principais entidades ou instituições que representavam no CMS, três (14%) eram gestores, cinco (24%) eram representantes de entidades de usuários (centrais sindicais, entidades de classe e representações comunitárias) e quatro (19%) representavam os trabalhadores de saúde. Aproximadamente 95% dos presidentes de CMS possuíam experiência anterior na coordenação de atividades coletivas. No período de 2001 a 2004, em cerca de 75% dos Conselhos Municipais de Saúde houve pelo menos uma capacitação de conselheiros, não havendo diferenças segundo o estado, o porte do município e a região. Em apenas 20% dos CMS houve a participação da maioria dos conselheiros nas capacitações. Em média, cerca de três conselheiros foram capacitados em cada CMS, mostrando a pequena abrangência da atividade em cada município. Os temas mais abordados nas capacitações foram a estrutura e o funcionamento do SUS, a participação e o controle social, a elaboração de relatórios de gestão e o financiamento em saúde. 4.3.2.2.4 Perfil dos Trabalhadores das Unidades Básicas de Saúde As características de sexo, idade e renda dos 1730 profissionais entrevistados nas 120 UBS do Lote 2 Sul estão apresentadas no item 4.3.1.4.2, que aborda o perfil sociodemográfico da amostra estudada. Na perspectiva da capacidade de governo, estão enfatizados os aspectos relacionados à escolaridade, formação profissional, especialização e capacitação dos profissionais, fundamentais para o enfrentamento dos desafios cotidianos e estratégicos da ABS. Em relação à escolaridade, cerca de 35% dos profissionais de saúde tinham nível superior completo, proporção significativamente maior no RS (37%) do que em SC (29%). No estado do RS, 47% dos trabalhadores das unidades Tradicionais possuíam 106 nível superior completo, proporção significativamente maior do que a encontrada nas UBS do tipo PSF (31%), sem diferença entre os serviços pré e pós-PROESF. Em SC não houve diferença significativa de formação universitária completa entre os tipos de UBS. Apenas 3% (34) dos profissionais possuíam mestrado e 0,2% (3) doutorado, entre os 608 com nível superior completo. A proporção de profissionais com nível superior completo cresceu significativamente com o porte do município, sendo 30% em municípios de 100.001 a 200.000 habitantes; 38% nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes e 46% em Porto Alegre. Nos municípios de menor porte não se observou diferença estatisticamente significativa na proporção de profissionais com nível superior completo entre os modelos de UBS, embora as Tradicionais (32%) apresentassem proporções superiores às encontradas nas do tipo PSF (29%). Nos dois estratos mais densamente povoados, as unidades Tradicionais revelaram proporção de profissionais com nível superior completo significativamente superior (47% e 68% respectivamente) às do tipo PSF (em torno de 30%). As UBS da RM apresentaram proporções maiores de profissionais com nível superior completo (39%) do que as UBS dos demais municípios (33%). Nesta região, as unidades Tradicionais (53%) possuíam significativamente mais profissionais com curso universitário do que as UBS do PSF (31%). Chamou atenção o fato de que 8% de técnicos ou auxiliares de enfermagem, 2% dos ACS e 5% dos outros profissionais que desempenham atividades de nível médio ou elementar tinham escolaridade superior completa. Concluíram o ensino médio 36% dos profissionais. Esta proporção foi significativamente maior em SC (39%), nos municípios de menor porte (42%) e nas UBS pré-PROESF (39%). Possuíam ensino médio incompleto 10% do total, sendo maior em SC (14%), fora da RM (12%), nos municípios de menor porte (12%) e nas UBS pré-PROESF. Os trabalhadores com ensino fundamental completo representaram 6% da amostra e incompleto 5%. Em relação à formação profissional dos entrevistados, 16% eram médicos, 9% enfermeiros, 8% outros profissionais de nível superior, 24% auxiliares e técnicos de enfermagem, 28% ACS e 15% outros profissionais de nível médio. A proporção de médicos em UBS Tradicionais (22%) foi quase o dobro da observada em UBS do PSF (cerca de 12%). A presença de enfermeiros nas UBS do PSF pré-PROESF (11%) foi um 107 pouco maior do que nas UBS do PSF pós-PROESF (9%) e nas Tradicionais (9%). Outros profissionais de nível superior foram mais encontrados em UBS Tradicionais (10%), do que nas UBS do PSF (5% pré-PROESF e 7% pós-PROESF). Em relação aos auxiliares e técnicos de enfermagem a diferença entre os modelos foi pequena, mas as maiores freqüências foram em UBS Tradicionais (28%). Em contraste, a proporção de ACS em UBS Tradicionais (14%) foi entre duas e três vezes menor do que a observada em UBS do PSF (32% pré-PROESF e 39% pós-PROESF). Os outros profissionais de nível médio não mostraram diferenças entre os modelos de UBS. A presença de médicos e de outros profissionais de nível superior nas UBS cresceu linearmente com o porte do município, sendo cerca do dobro em Porto Alegre (21% e 14%) do que nos municípios de menor porte (12% e 5%). Já a disponibilidade de enfermeiros não variou significativamente com o porte do município, mas foi menor em Porto Alegre (7%) do que nos demais municípios (9% nos de menor porte e 10% nos de porte médio). A distribuição de auxiliares e técnicos de enfermagem também não variou com o porte do município, sendo maior nos municípios de menor porte (27%). Por outro lado, a presença de ACS decresceu linearmente com o porte do município, sendo 60% maior nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (35%) do que em Porto Alegre (21%). Médicos (19%) e auxiliares e técnicos de enfermagem (30%) foram mais encontrados na RM do que nos demais municípios (14% e 21%). A distribuição de enfermeiros e de outros profissionais de nível superior e de nível médio não foi diferente em função da região. Os ACS foram mais freqüentemente encontrados em municípios fora da RM de Porto Alegre (32%) do que na própria RM (21%). Em relação ao estado, as diferenças foram significativas apenas para médicos e ACS, sendo os primeiros mais freqüentes no RS (17% e 11%) e os últimos em SC (34% e 26%, respectivamente). Pouco mais de 40% dos profissionais do RS haviam concluído especialização na área de saúde pública, saúde coletiva, ou saúde da família, proporção significativamente maior que a observada em SC (17%). Em ambos os estados, a presença destes especialistas também foi significativamente maior nas UBS PSF pós-PROESF, seguidas das unidades PSF pré-PROESF e por último nas UBS Tradicionais. A proporção de trabalhadores com especialização na área foi maior nas unidades de Porto Alegre (49%), seguida dos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (38%) e por último dos 108 municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (30%). Em Porto Alegre, nas UBS do PSF, cerca de dois terços dos entrevistados tinham especialização na área, enquanto nas UBS Tradicionais esta titulação alcançava pouco mais de um terço dos profissionais. Nos demais portes de municípios os profissionais com especialização na área também eram majoritários no PSF pós-PROESF, sendo a titulação de 54% nos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes e de 45% nos municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes. Na região metropolitana, cerca de 48% dos profissionais eram especializados na área de saúde pública ou similar, proporção significativamente maior do que a encontrada entre os profissionais dos demais municípios do Lote (28%). Em ambos os estratos as unidades do tipo PSF pós-PROESF foram as que apresentaram as maiores proporções de profissionais com especialização na área. Entre os profissionais da atenção básica foi pesquisada a realização dos seguintes cursos de capacitação: Introdutório ao PSF, SIAB, Saúde da Criança, Saúde da Mulher, Saúde do Adulto, AIDPI, Diabetes, Hipertensão, DST/ AIDS, Hanseníase, Tuberculose e Imunizações. A proporção de Treinamento Introdutório ao PSF foi de 52%, sendo significativamente maior na RM (56%) do que nos demais municípios (46%) e nas UBS do PSF pós-PROESF (61%) do que no pré-PROESF (54%) e das Tradicionais (39%). A análise por porte e estado não apresentaram diferenças (Anexo 4.40). O treinamento para o uso do Sistema de Informação da Atenção Básica capacitou cerca de 43% dos profissionais. Foi possível observar diferenças significativas para os profissionais vinculados a UBS do PSF pós-PROESF (52%), em municípios de menor porte (48%) e no estado de SC (52%). Não houve diferença por região (Anexo 4.40). Com cerca de 56% dos profissionais tendo realizado capacitação em Imunizações, a cobertura foi melhor nas UBS do PSF (60%) do que nas Tradicionais (48%) e nos municípios de pequeno porte (62%). A análise por região e por estado não apresentou diferenças significativas (Anexo 4.41). Um pouco mais da metade dos profissionais (52%) referiram ter realizado capacitação em Saúde da Criança, tendo havido diferenças entre o tipo de UBS, melhor nas do PSF (55%), e nos municípios fora da RM (54%). Os demais estratos não 109 apresentaram diferenças. Ainda com relação à saúde da criança foi investigada a realização da capacitação para o manejo das doenças mais prevalentes na infância (AIDPI) e, de modo geral, esta iniciativa foi incipiente nos municípios, alcançando uma proporção de 24% dos profissionais. Estas capacitações ocorreram em maior proporção no estado de SC (38%), em municípios fora da RM (27%), de menor porte (32%) e para profissionais vinculados ao PSF pré-PROESF (34%), conforme demonstra o Anexo 4.41. A proporção de capacitação na área da Saúde da Mulher foi de 54%, sendo de 60% para os profissionais das UBS do PSF e de 43% no modelo Tradicional. Nos municípios fora da RM esta proporção foi de 56% (Anexo 4.42). A realização de capacitação na área de Saúde do Adulto foi referida por 42% dos profissionais e maior nas UBS do PSF pós-PROESF (49%) e em municípios de menor porte (48%). Para as DST / AIDS foram capacitados cerca de 58% dos profissionais e a diferença foi significativa apenas para o tipo de UBS, sendo melhor no PSF préPROESF (65%). Estes resultados estão disponíveis no Anexo 4.42. As proporções de capacitação em Diabetes e Hipertensão foram similares e atingiram cerca de 51% dos profissionais, com diferenças significativas a favor do PSF (56%), em municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (em torno de 57%) e fora da RM (54%). A capacitação em Hipertensão e Diabetes foi significativamente maior em SC (57%) do que no RS (50%) - (Anexo 4.43). A capacitação em Hanseníase (42%) e em Tuberculose (45%) apresentaram proporções semelhantes. As diferenças foram significativas com relação ao tipo de UBS (no PSF ficou em torno de 47%), ao porte (50% nos municípios de menor porte) e ao estado (SC – 52%). Estes resultados encontram-se no Anexo 4.43. Com exceção do Treinamento Introdutório, as proporções de capacitação foram melhores no estado de SC. 4.3.2.3 Governabilidade 4.3.2.3.1 Despesas per capita com saúde Para realizar as atividades do SUS a cada ano, os municípios do Lote tiveram uma despesa média em saúde de R$ 136,30 por habitante, sendo de pouco mais de R$ 110 120,00 por habitante no RS (RM e interior gaúcho) e de R$ 165,40 por habitante nos municípios de SC. Porto Alegre foi o município com a maior despesa anual per capita em saúde (R$ 316,21), seguido de Santa Cruz do Sul (R$ 219,46) e de Criciúma (R$ 212,16). O município com a menor despesa em saúde por habitante foi Viamão (R$ 37,79), seguido de Alvorada (R$ 47,44) e Uruguaiana (R$ 63,73), os dois primeiros localizados na RM de Porto Alegre e o último no interior do RS. 4.3.2.3.2 Financiamento da Atenção Básica nos Municípios Pouco menos de 20% do PAB total dos municípios do Lote estava vinculado às transferências federais do incentivo PACS / PSF. Na RM este valor foi de 9%, o menor do Lote, subindo para 17% nos municípios do interior gaúcho e alcançando o máximo de 39% em SC. Na RM, Alvorada foi o município com maior proporção do PAB vinculado ao PACS / PSF (23%), posição ocupada por Pelotas (23%) no interior do RS e por Lages (45%) em SC. O PAB Fixo dos municípios do RS foi ligeiramente inferior ao dos municípios de SC, que apresentavam uma menor proporção de despesas com recursos humanos em relação às despesas totais em saúde e uma maior proporção de transferências de PACS / PSF sobre o PAB total. Por outro lado, os municípios do RS aplicavam em média uma maior proporção de recursos próprios em saúde do que os de SC, embora todos estivessem bem acima das exigências da EC 29 (Anexo 4.44). Da mesma forma que os demográficos e socioeconômicos, os indicadores de financiamento do sistema também variaram com o tamanho da população. Com o aumento do porte do município, diminuíram as proporções de despesas com recursos humanos e de transferências vinculadas ao PACS / PSF sobre o PAB total. Os municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes registraram os menores valores para o PAB fixo por habitante e as menores proporções de recursos próprios aplicados em saúde (Anexo 4.45). Os indicadores de financiamento do sistema de saúde também apresentaram diferenças de acordo com a localização do município: aqueles localizados na região metropolitana tiveram menores valores de PAB fixo por habitante, maiores despesas com recursos humanos, menores proporções de transferências PACS / PSF sobre o PAB total e mais recursos próprios aplicados em saúde (Anexo 4.46). 111 Nos Anexos 4.47 e 4.48, apresentam os indicadores de financiamento por município. 4.3.2.3.3 Apoio a Projetos de Atenção Básica à Saúde e de Saúde da Família Na opinião dos gestores municipais, em uma escala de valores de zero a dez, o apoio recebido a projetos da ABS e PSF de parlamentares, sociedade civil e CMS foi em média 7,0 para o conjunto do Lote, sendo 8,3 para os municípios do RS e 4,7 para os de SC (Anexo 4.49). A percepção dos gestores de ambos os estados também identificou uma maior adesão dos profissionais de saúde aos projetos de PSF em comparação ao modelo de atenção básica Tradicional. No entanto, a satisfação com o vínculo de trabalho foi maior entre os trabalhadores do modelo Tradicional, principalmente no RS e menor nos trabalhadores do PSF pré-PROESF em ambos os estados, mas principalmente na RM. A adesão dos profissionais a ambos os projetos foi mais bem avaliada pelos gestores de SC (médias 7,3 e 8,0) do que por seus colegas gaúchos (médias 6,6 e 7,4), conforme apresentado no Anexo 4.49. Na percepção de boa parte dos gestores do Lote, os Conselhos Municipais de Saúde tinham participação positiva em todos os âmbitos da gestão em saúde, lutando em defesa da saúde pública com qualidade e acessível à população, apoiando e contribuindo para os projetos e ações de atenção básica à saúde. Os CMS apoiavam fortemente as mudanças para humanização e qualificação do modelo assistencial e foram avaliados como um espaço proveitoso de encontro entre usuários, profissionais e gestores, propiciando as discussões e participação social na tomada de decisões. Apesar disso, alguns gestores identificaram que os CMS tomam muitas iniciativas por demanda imediata, cobrando ações e resultados das SMS, para além das possibilidades institucionais. Para alguns gestores, a atitude crítica de conselheiros é acompanhada de baixa participação cooperativa. 112 4.3.2.3.4 Características do Conselho Municipal de Saúde A maioria dos CMS (55%) foram instituídos entre os anos de 1991 e 1992. Até 1990, 28% dos municípios tinham CMS implantados e 17% dos demais foram criados a partir de 1993. A totalidade possuía regimento interno e em 40% destes, a última atualização regimental ocorreu a partir de 2003. Os municípios de menor porte populacional tiveram atualizações mais recentes do regimento interno, quando comparados aos maiores. O número de entidades que compõem o CMS aumentou linearmente com o porte do município. Os aumentos mais relevantes ocorrem entre entidades que representam os profissionais de saúde e a sociedade civil organizada, cuja presença no CMS de Porto Alegre, foi cerca de quatro vezes maior do que nos municípios de menor porte. Por outro lado, foi entre as entidades que representavam os prestadores de serviços ao SUS que ocorreu o menor incremento em função do porte do município. Os principais temas das reuniões foram o relatório de gestão, a prestação de contas do SUS e o pronto atendimento dos usuários. Em 2004, as principais demandas à Comissão de Fiscalização dos CMS foram sobre falta de medicamentos e problemas no atendimento de usuários em UBS, serviços de urgência e hospitais. Em três municípios (14%) houve referência a tentativas da Secretaria Municipal de Saúde de implantar políticas de saúde sem a aprovação do CMS. No período de 2002 a 2005, todos realizaram Conferências Municipais de Saúde. Os Conselhos Locais de Saúde ainda são formas incipientes de controle social e participação da população na gestão das UBS do Lote, alcançando no máximo metade dos municípios estudados. A maioria dos presidentes identificou um bom relacionamento com a Secretaria Municipal de Saúde, mas houve muitas reclamações quanto aos escassos recursos financeiros do CMS, não permitindo a divulgação do trabalho e a ampliação do controle social. O fornecimento de informações solicitadas pelo CMS à SMS, considerado em muitos casos lento e difícil, também foi referido como fonte de tensão entre as instituições. A ocorrência de conflitos entre os Conselheiros foi pouco freqüente, sendo atribuídas principalmente à divergências na busca de melhorias da saúde no município, 113 disputas políticas predominantemente partidárias e a situações de busca de promoção pessoal. 4.3.3 Dimensão Organizacional da Atenção 4.3.3.1 Práticas de gestão da ABS Ao caracterizar as práticas de gestão nos municípios do Lote foram identificados princípios, normas e funções, procedimentos e recursos cuja finalidade é ordenar a estrutura e o funcionamento da atenção básica à saúde. Muitos destes aspectos se confundem com as práticas de oferta de serviços, pois uma estratégia de gestão estabelecida pode implicar em uma oferta de serviços ao público. 4.3.3.1.1 Mecanismos de supervisão, monitoramento e avaliação da atenção básica à saúde Embora as responsabilidades municipais decorrentes da descentralização do SUS requeiram, os mecanismos de supervisão, monitoramento e avaliação da atenção básica à saúde ainda são pouco regulares e materialmente desestruturados na maioria dos municípios. Dentre as atividades de gestão da ABS referidas pelos gestores destacaram-se reuniões com as equipes de coordenação de distrito, ou das UBS e com Conselhos Locais de Saúde e Conselho Municipal de Saúde, a sistematização de relatórios de gestão e do SIAB, o acompanhamento dos recursos programados por grupo de procedimentos considerando programação, produção e faturamento e a implantação de Ouvidorias do SUS. As carências materiais, tecnológicas e intelectuais debilitavam as potencialidades da gestão local da ABS em efetivar as tarefas de monitoramento e avaliação. Em algumas SMS registrou-se um movimento de estruturação de equipes e definição de rotinas para a avaliação dos serviços de saúde. Em alguns municípios houve contratação ou designação de profissionais e a articulação com os sistemas de informação. Em vários municípios existiam Unidades de Auditoria e Avaliação dos Serviços de Saúde, porém a avaliação não existia na prática e houve uma maior ênfase na implantação de novas rotinas de regulação. Estas foram algumas razões para se haver 114 estimulado a implantação de Grupos Locais de Avaliação em Saúde (GLAS) nas SMS, durante as Oficinas de Capacitação que se ofereceu aos municípios do Lote. A disponibilidade de relatórios periódicos com indicadores selecionados para a tomada de decisão foi pequena no Lote, alcançando pouco mais da metade dos municípios. Os gestores referiram a disponibilidade de muitos dados e uma periodicidade mensal para a produção de muitos indicadores e informações municipais, mas sua utilização foi considerada aquém da expectativa. Os relatórios disponíveis geralmente eram produzidos e divulgados pelas próprias SMS, sem apoio ou parceria institucional, o que reforça o ciclo de baixa utilização deste recurso de gestão, em função da sobrecarga de trabalho das equipes nos municípios e da falta de capacitação para a atividade de monitoramento e avaliação. As atividades de supervisão do trabalho nas UBS foram referidas por no máximo 66% dos trabalhadores de saúde do Lote, sendo 67% para os profissionais do RS e 63% para seus colegas de SC. A supervisão foi significativamente maior na RM (71%), em municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (74%) e em UBS do tipo PSF pós-PROESF (79%), do que em UBS Tradicionais (48%). Apenas 35% dos profissionais entrevistados referiram uma periodicidade semanal da supervisão, enquanto 65% referiram periodicidade indefinida e outra. A periodicidade semanal foi proporcionalmente maior no estado do RS (37%), nas UBS do PSF (37%), especialmente pós-PROESF (40%), e nos municípios de médio porte (44%), do que nas UBS Tradicionais (28%), nos municípios de pequeno porte (29%) e em SC (31%). A supervisão ainda tem um caráter informativo, com vistas a repassar aos profissionais de saúde e coordenadores de UBS, normas e procedimentos burocráticos, geralmente associados ao faturamento do SUS ou a reclamações de usuários e da mídia. A distância das UBS da sede da Secretaria Municipal de Saúde juntamente com as dificuldades operacionais (transporte, pessoal disponível e capacitado, tecnologia da informação) estavam entre os grandes desafios para a supervisão periódica e para descentralizar a gestão na atenção básica. Neste contexto, a comunicação com a rede básica dependia de uma complexa hierarquia para sua difusão, passando por diversos níveis (secretário, equipe de assessores, coordenação da atenção básica e / ou PSF e equipe, gerência distrital e 115 coordenação de UBS, profissionais de saúde e usuários do SUS). Logo, para se efetivar plenamente, a comunicação e a supervisão dependiam da capacidade técnica, da disponibilidade de tempo e do compromisso ideológico de cada um dos envolvidos em cada nível hierárquico. Quando esta interação não é positiva, ou quando ocorrem distorções ou mal-entendidos na difusão da comunicação, pode haver problemas de governabilidade e prejuízos para o desenvolvimento das ações em saúde. O Pacto da Atenção Básica foi estabelecido no SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003) como um dos instrumentos centrais de monitoramento e avaliação da atenção básica à saúde. Entretanto, sua plena utilização ainda esbarra em numerosos problemas, seja em função de falhas no ciclo da informação (planejamento, coleta, processamento, análise e divulgação de cada indicador) e no processo de pactuação, seja devido a dificuldades de acesso aos serviços básicos e especializados. Neste sentido, a qualificação do sistema de monitoramento da ABS, através do Pacto da Atenção Básica, Programação Pactuada Integrada-Vigilância em Saúde (PPI – VS) e Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) é uma necessidade urgente. A disponibilidade de relatórios periódicos com um menor intervalo de tempo (trimestrais ou semestrais) sobre a evolução dos indicadores do Pacto poderá facilitar a qualificação dos instrumentos de avaliação e subsidiar a tomada de decisão de gestores e profissionais de saúde, dando um sentido mais estratégico à supervisão das UBS. 4.3.3.1.2 Estratégias de controle e regulação da demanda O setor de Controle, Avaliação e Regulação não estava constituído na maioria dos municípios do Lote (67%), cuja modalidade de gestão era plena da atenção básica. Nos municípios em gestão plena do sistema (33%), seu grau de desenvolvimento ainda era muito variável. Alguns municípios começavam a organizar as estratégias de controle e regulação, incluindo o acolhimento de reclamações de usuários, as centrais de marcação ou agendamento de procedimentos e a avaliação criteriosa da demanda mediante o uso de protocolos. Neste último aspecto, o modelo predominante de avaliação da demanda nas centrais era a fila única com certa flexibilidade para priorizar as urgências. As principais formas de acolhimento das reclamações dos usuários entre os municípios estudados eram os telefones do Conselho Municipal de Saúde (29%), da 116 Secretaria Municipal de Saúde (12%) e o telefone 0800 especial (6%). Cerca de metade dos municípios relatou não ter forma específica para o atendimento de reclamações da população. Considerando os tipos de centrais implantadas para acolher e ordenar as necessidades de saúde dos usuários, apenas quatro municípios da amostra (19%), Porto Alegre, Pelotas, Sapucaia do Sul e Viamão informaram dispor de central de leitos. Dezesseis municípios (76%) dispunham de central de consultas especializadas, sendo treze no RS e três em SC. Um pouco mais da metade dos municípios de fora da RM e de menor porte dispunham de central de consultas especializadas. Treze municípios (62%) possuíam central de exames, sendo 12 do RS e um de SC (Chapecó). A central de exames também estava disponível em sete municípios de menor porte, distribuídos proporcionalmente entre as regiões. A implantação do SAMU também foi pequena, ocorrendo em apenas quatro municípios (19%): Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas e Novo Hamburgo, todos do RS. Os sistemas oficiais de informação eram escassamente utilizados na avaliação dos serviços básicos de saúde, tendo sido referido em apenas três municípios (14%), sendo que Santa Maria informou utilizar relatórios trimestrais para esta finalidade. Outras estratégias de avaliação dos serviços básicos de saúde nos municípios do Lote incluíram reuniões de equipe de coordenação ou intersetoriais e as demandas do CMS e CLS. Apenas dois municípios (10%), Criciúma e Santa Cruz do Sul, dispunham à época do estudo de grupo ou núcleo para avaliação da atenção básica à saúde e em outros dois municípios (10%), Caxias do Sul (RS) e Lages (SC), o grupo de avaliação estava em processo de implantação. 4.3.3.1.3 Capacitação de recursos humanos para gestão Para avaliar a capacitação de recursos humanos para a gestão foram considerados os seguintes indicadores “proxi”: aperfeiçoamento e / ou especialização em saúde pública, experiência prévia em gestão da ABS / PSF, experiência profissional prévia e a participação no CMS. A capacitação de RH para a gestão foi muito pouco referida nos municípios, principalmente para os de menor porte, tanto dos quadros dirigentes, quanto dos profissionais de saúde das UBS. Cursos especificamente voltados 117 para a gestão do SUS e em particular para a gestão da rede básica, ainda eram raros, principalmente para os municípios de menor porte. Pelo menos 75% dos secretários municipais e 60% dos coordenadores de ABS e PSF não haviam realizado cursos de aperfeiçoamento ou especialização em saúde pública e áreas correlatas. Além disso, cerca de 60% dos secretários e dos coordenadores não tinham experiência prévia em gestão. Para a capacitação em gestão das coordenações técnicas e dos profissionais da UBS os municípios referiram principalmente a participação em seminários promovidos pelo Estado ou Ministério da Saúde. Oficinas de planejamento estratégico e gestão haviam sido desenvolvidas em vários municípios, mas ainda não se constituíam em ferramentas institucionalizadas para a gestão e o acompanhamento da rede básica de saúde. A maioria dos municípios informou não ter atividades específicas neste âmbito, restringido suas iniciativas a reuniões para avaliar e programar ações prioritárias, mas sem periodicidade definida. A maioria dos depoimentos referiu que os serviços e práticas estavam em fase de reorganização. Em boa medida, os municípios aguardavam a provocação das Secretarias Estaduais e do Ministério da Saúde para a qualificação das estratégias de gestão. 4.3.3.1.4 Informação e Informatização na Rede Básica Municipal Do ponto de vista da tecnologia da informação, a situação das UBS era bastante precária, pois 60% delas não dispunham de microcomputador. Nas demais, a disponibilidade também era pequena, sendo de apenas um microcomputador em 24% das UBS, dois microcomputadores em 10% das UBS e três ou mais equipamentos em somente 6% das UBS. A carência de computador foi significativamente maior em UBS Tradicionais (70%), seguidas do PSF pós-PROESF (60%) e do PSF pré-PROESF (45%). As UBS do PSF pré-PROESF eram as mais informatizadas: 38% dispunham de uma máquina e 17% dispunham de duas máquinas. A carência de impressora (70%) e de conexão com a Internet (83%) era ainda maior que de microcomputador e mostrava distribuição semelhante ao deste equipamento. A falta de computador foi significativamente maior no RS (66%) do que em SC (41%). No RS, a escassez de microcomputador foi maior nas UBS Tradicionais (73%), seguida do PSF pós-PROESF (69%) e do PSF pré-PROESF (50%). Em SC, a escassez de microcomputador nas UBS 118 Tradicionais foi de 60%, nas UBS do PSF pré-PROESF de 25% e no pós-PROESF de 33%. Estes achados indicam que a gestão da rede básica de saúde ainda é manual, repetitiva e ineficiente, carecendo de ferramentas essenciais para o seu desenvolvimento. Em 2004 apenas 30% das UBS do Lote eram informatizadas e alimentavam automaticamente o SIA-SUS. Logo, o trabalho cotidiano nas UBS passa longe do mundo da informática, ocupando parte importante do tempo dos profissionais de saúde, em detrimento de suas atividades fins. Em 2004 a situação era idêntica entre os dois estados, embora em 2001 o RS estivesse em destaque, quando 23% das unidades gaúchas eram informatizadas e alimentavam automaticamente o SIA-SUS, o dobro de SC. Na RM a proporção de municípios com UBS informatizadas alimentando o SIASUS ficou estagnada no período, passando de 18% em 2001 para 20% em 2004. Por outro lado, foi nos municípios de menor porte que a alimentação eletrônica do SIA-SUS mais avançou no período, passando de 27% das UBS em 2001 para 43% em 2004. No interior do RS a proporção de UBS informatizadas alimentando o SIA-SUS evoluiu de 30% em 2001 para cerca de 45% em 2004. Em contraste, os municípios de médio porte eram os mais defasados neste aspecto, passando de 3% das UBS em 2001 para 9% em 2004. Os municípios de Novo Hamburgo, Pelotas e Viamão foram os que relataram não possuir UBS informatizadas alimentando o SIA-SUS no ano de 2004. O percentual acumulado de UBS do Lote incluídas no Sistema de Vigilância Epidemiológica em 2004 foi de 93%, com coberturas que variaram de 18 e 100%. A menor proporção de cobertura no referido ano foi a do município de Gravataí. Entre 2001 e 2004, o percentual de UBS vinculadas ao Sistema de Vigilância Epidemiológica de acordo com o estado, região e porte manteve-se praticamente estável: em torno de 93% para o RS, de 92% para SC, de 86% para a RM, de 85% para os municípios de porte médio, e de 100% UBS para os municípios de menor porte e do interior do RS. 4.3.3.1.5 Sistemas de Informação em Saúde Em 2004, os sistemas de informação de base nacional estavam bastante inseridos na rotina dos municípios do Lote, responsáveis por seu gerenciamento e preenchimento regular, nas seguintes proporções: SINASC, 100%; SIM, 82%; SINAN, 94% e SISVAN e SIAB, 88%. 119 De um modo geral, a proporção de óbitos mal definidos era pequena nos municípios do Lote, sugerindo uma qualidade razoável dos dados de mortalidade. Entretanto, alguns municípios se destacaram pelo elevado percentual de óbitos mal definidos, como, por exemplo, Chapecó em SC (cerca de 23% no período) e Pelotas no RS (13% em 2004). No caso de Pelotas, esta situação reflete em boa parte problemas locais na emissão do atestado, principalmente para óbitos sem assistência médica, que, apesar da carência de um serviço municipal de verificação de óbitos, não eram avaliados por serviço de medicina legal do estado do RS. Por outro lado, onze municípios referiram investigar 100% dos óbitos infantis no ano de 2004. Achado supostamente positivo, em função de exigências do próprio SUS, é preciso contextualizá-lo, uma vez que em boa parte dos municípios a investigação é tarefa meramente burocrática, com pouca capacidade de desencadear ações de prevenção dos eventos que levaram ao óbito. No período de 2001 a 2004, observou-se um avanço expressivo da proporção de óbitos infantis investigados no RS, que passou de 38% em 2001 para 95% em 2004, enquanto em SC o índice de investigação manteve-se estabilizado, ao redor de 67%. No mesmo período, os municípios localizados no interior do RS relataram investigar 40% dos óbitos infantis em 2001 e 100% em 2004. Quanto ao porte, destaca-se a maior evolução da cobertura de investigação observada entre os municípios de porte médio, que passou de 34% em 2001 para 86% em 2004. 4.3.3.2 Práticas de Oferta de Serviços no Município Este tópico descreve recursos e estratégias utilizados nos municípios para oferecer os serviços básicos de saúde à população. Há uma ênfase importante na estrutura das UBS e em sua caracterização nos diferentes modelos de atenção básica, estado, região e porte do município. Também é abordada a disponibilidade de profissionais do PSF, na perspectiva de avaliar o acesso da população ao novo modelo de atenção básica. 120 4.3.3.2.1 Estrutura da rede básica de saúde A área física de aproximadamente 90% das UBS contemplava sala de espera, recepção, consultórios e sala de cuidados de enfermagem. Consultório odontológico, sala de vacinas e cozinha foram estruturas existentes em mais de 70% das unidades. A existência de consultórios com banheiro, farmácia, expurgo, sala de reuniões e sala de esterilização foi observada em apenas cerca de metade das UBS estudadas. Somente a existência ou não de sala de reuniões diferiu de forma significante de acordo com os modelos de UBS, a região e o porte dos municípios. Encontrou-se esta estrutura presente em apenas 36% das UBS Tradicionais, em maior proporção nas UBS do PSF pré-PROESF (69%) e em cerca de metade das UBS do PSF pós-PROESF (52%). Entre os serviços de municípios de porte médio observou-se uma proporção de existência de sala de reuniões de 31% nas UBS Tradicionais, de 89% nas do PSF préPROESF e de 78% nas do PSF pós-PROESF. No interior do RS a proporção de existência de sala de reuniões nas UBS Tradicionais foi de 36%, nas do PSF préPROESF de 91% e nas do PSF pós-PROESF de 56%. Observou-se um grande contraste na estrutura das UBS, não apenas entre regiões e municípios, mas também ao interior dos municípios. As UBS ocupavam desde casas precariamente adaptadas até edificações arquitetonicamente planejadas. Em um termo médio, as instalações deixavam a desejar, inclusive por sua insuficiência aos requisitos técnicos e legais de uma UBS relativos às barreiras arquitetônicas. Apenas 40% das UBS foram consideradas adequadas do ponto de vista do acesso de pessoas portadoras de deficiência. Mesmo não havendo diferenças significativas entre os modelos de atenção, a adequação foi maior nas UBS Tradicionais (52%), situação encontrada em apenas 28% das UBS do PSF pré-PROESF e 35% das UBS do PSF pós-PROESF. Em 7% das UBS havia tapetes em sala de espera, consultórios ou outras dependências, item não esperado em serviços de saúde. Por outro lado, cerca de 40% das UBS apresentavam degraus, dificultando o ingresso de deficientes no prédio e 66% das UBS não dispunham de rampas alternativas para facilitar o acesso destas pessoas. Em 64% das UBS, as calçadas existentes não permitiam o deslocamento seguro de deficientes visuais, cadeirantes e idosos. A inexistência de portas de banheiros que possibilitassem o acesso de pessoas usuárias de cadeiras de rodas alcançou 77% das UBS e em 72% o espaço de circulação interna da UBS era insuficiente para manobras de aproximação dos cadeirantes. Cerca de 34% das UBS não possuíam cadeiras de rodas para pacientes com 121 esta necessidade. As cadeiras da sala de espera foram consideradas adequadas para o local do atendimento em aproximadamente 35% dos serviços, sem diferenças significativas por estado, porte, região e modelo de UBS. De modo geral, no máximo 20% das UBS tiveram sua estrutura física referida como adequada pelos profissionais entrevistados, independentemente do modelo de atenção e refletindo a precariedade da rede básica de saúde. A sala de reuniões foi avaliada como adequada em 19% das UBS, em 10% das UBS Tradicionais, em 33% das do PSF pré-PROESF e em 19% das UBS do PSF pós-PROESF. Nos municípios de médio porte, a sala de reuniões foi avaliada como adequada em 8% das UBS Tradicionais, em 57% das do PSF pré-PROESF e em 17% das UBS do PSF pósPROESF. Em relação aos equipamentos de trabalho em condições de uso - balança para adultos e crianças, estetoscópio, foco de luz, lanterna, geladeira exclusiva para vacinas, mesa ginecológica, otoscópio, tensiômetro, nebulizador ou bombinha e termômetro estavam disponíveis em mais de 90% das UBS estudadas, independentemente de modelo, estado, porte e região dos municípios. Espéculos vaginais, sonar e estetoscópio de Pinard foram equipamentos significativamente mais freqüentes nas UBS do tipo PSF, com predomínio nas UBS do PSF pré-PROESF, sendo constantemente mais deficitários nas unidades Tradicionais. Observou-se deficiência significativa de espéculos vaginais e sonar para as UBS Tradicionais dos municípios de menor porte e do interior do RS. A existência de geladeira exclusiva para vacinas, no limiar da significância estatística para os modelos de UBS, foi encontrada em 85% das UBS Tradicionais, 100% das UBS do PSF pré-PROESF e 95% das UBS do PSF pósPROESF. Ao estratificar esta distribuição de acordo com o estado, porte do município e região, encontrou-se maior deficiência nas UBS Tradicionais de SC (60%). Já equipamentos como microscópio, centrífuga, microcomputador, conexão com Internet, impressora para microcomputador, lanterna, negatoscópio e oftalmoscópio estavam disponíveis em menos da metade das UBS. Apesar da não influência do modelo de atenção no abastecimento destes equipamentos, as UBS do PSF pré-PROESF apresentaram sempre as maiores proporções. Equipamentos e instrumentos odontológicos em condições de uso foram encontrados em dois terços das UBS, não havendo diferença estaticamente significativa entre os modelos de atenção. Ainda assim, a deficiência de equipamento odontológico 122 era maior nas UBS Tradicionais e nas do PSF pré-PROESF do que nas do PSF pósPROESF. O abastecimento de materiais e insumos considerando-se agulhas descartáveis, algodão, caixa para desprezar material pérfuro-cortante, seringas para aplicação de vacinas e para aplicação de injeções em geral foi referido como suficiente por 90% das UBS. Relato de suficiência de pelo menos 70% foi encontrado para o fornecimento de esparadrapo, gaze, luvas estéreis, luvas para procedimentos, cartão da criança, cartão da gestante, bloco de receituário, fichas de cadastramento domiciliar e fichas do SIAB ou sistema similar. Destacaram-se as menores proporções de UBS que consideraram suficiente o suprimento de material para retirada de pontos (59%), fio de sutura (56%) e material para pequenas cirurgias (25%). A inexistência e / ou insuficiência de agulhas descartáveis, material para pequenas cirurgias, seringas para aplicação de outras injeções, cartão da criança, cartão da gestante, fichas de cadastramento domiciliar e ficha do SIAB ou sistema similar, diferiu de forma significativa entre os modelos de UBS. Encontrou-se maior proporção de inexistência e / ou insuficiência de agulhas descartáveis e material para pequenas cirurgias nas UBS Tradicionais e no PSF pré-PROESF. Maiores freqüências de inexistência e / ou insuficiência de seringas para aplicação de outras injeções, cartão da criança, cartão da gestante, ficha de cadastramento domiciliar e ficha do SIAB ou sistema similar foram encontradas nas UBS Tradicionais. De acordo com a estratificação das UBS por estado, porte e região, proporções maiores e significativas de falta e / ou insuficiência de fio de sutura foram verificadas nas UBS Tradicionais dos municípios de porte médio (57%) e da RM (65%); de material para pequenas cirurgias nas UBS Tradicionais do interior do RS (95%) e dos municípios de porte pequeno (91%) e médio (96%); de seringas para aplicação de outras injeções no PSF pré-PROESF dos municípios de porte médio (50%), RM (25%) e interior do RS (46%); de cartão da criança nas UBS Tradicionais da RM (40%), especialmente em Porto Alegre (67%); de cartão da gestante nas UBS Tradicionais do RS (23%) e dos municípios de porte pequeno (27%); de fichas de cadastramento domiciliar nas UBS Tradicionais dos municípios de porte pequeno (60%) e médio (42%), RM (57,9%) e do interior do RS (47%); e de fichas do SIAB ou sistema similar nas UBS Tradicionais dos municípios de porte pequeno (53%) e médio (39%), da RM (63%) e do interior do RS (43%). 123 4.3.3.2.2 Disponibilidade de Profissionais do PSF Este item aborda a disponibilidade de recursos humanos para o PSF e sua distribuição entre modelos de UBS, estados, regiões e municípios do Lote. Boa parte das informações que permitem traçar um perfil dos profissionais da ABS no Lote já está feita nos itens 4.3.1.4.2 e 4.3.2.2.4. Nas 118 UBS que responderam ao instrumento sobre a estrutura do serviço, 69 (58%) tinham no mínimo uma Equipe de Saúde da Família (ESF) em atividade. Destas, 30 (44%) eram UBS do PSF pré-PROESF, 38 (55%) eram UBS do PSF pós-PROESF e uma (1%) era UBS do modelo Tradicional. Nestas 69 UBS havia um total de 110 ESF, com médias de 1,6 (dp = 0,94) equipes por UBS no PSF pré-PROESF e de 1,7 (dp = 0,81) equipes por UBS no PSF pós-PROESF. O número médio de médicos (1,5), enfermeiros (1,6), auxiliares ou técnicos de enfermagem (2,7) e ACS (6,7) não diferiu significativamente entre as UBS do PSF pré e pós-PROESF. Por outro lado, considerando o padrão de referência de um odontólogo para cada duas equipes de saúde da família, a média deste profissional foi de 1,4, sendo maior nas UBS do PSF pós-PROESF (1,9) do que no PSF pré-PROESF (0,7). Das 118 UBS, 23% não possuíam dentista, sendo maior a carência no PSF pré-PROESF e nas UBS Tradicionais (41%) e menor no PSF pós-PROESF (19%). Na análise da composição da ESF mínima, tomou-se como referência a disponibilidade de um médico, um enfermeiro, dois auxiliares ou técnicos de enfermagem e quatro agentes comunitários. Nas 47 equipes lotadas em UBS do PSF pré-PROESF, encontrou-se número adequado de médicos, mas uma equipe funcionava sem médico e outra com dois médicos, havendo deficiência de cinco enfermeiros (11%), de 13 auxiliares ou técnicos de enfermagem (15%) e dois ACS (1%). Nas 63 ESF das UBS do PSF pós-PROESF, as deficiências foram de oito médicos (13%), seis enfermeiros (10%), 14 auxiliares ou técnicos de enfermagem (11%) e 11 ACS (4%). Com relação aos odontólogos, considerando-se a necessidade de um para cada duas ESF, o déficit foi de 10 odontólogos (50%) nas UBS do PSF pré-PROESF e de 12 (38%) nas UBS do PSF pós-PROESF. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) é uma realidade em 83 UBS (70%). O programa estava implantado em 38% das UBS Tradicionais, em 93% 124 das UBS do PSF pré-PROESF e em 95% das UBS do PSF pós-PROESF. Destacou-se a maior proporção de UBS Tradicionais com PACS em SC (70%) do que no RS (30%). No RS, para as UBS com PSF, a deficiência de PACS foi observada em 5% das UBS do PSF pré-PROESF e 3% das UBS do PSF pós-PROESF. De forma inversa 11% das UBS do PSF pré-PROESF e 13% das UBS do PSF pós-PROESF não possuíam PACS implantado em SC. O programa também estava ausente em 7% das UBS do PSF préPROESF e em 11% das UBS do PSF pós-PROESF e dos municípios de porte menor. Entre os municípios de porte médio, 10% das UBS do PSF pré - PROESF não possuíam PACS. A cobertura do PACS atingiu 100% nas UBS de PSF dos municípios de porte maior e nas UBS do PSF pós-PROESF dos municípios de porte médio. Em 13% das UBS do PSF da região metropolitana o PACS não estava em funcionamento. Todas as UBS do PSF no interior do RS possuíam PACS. 4.3.3.2.3 Acesso aos serviços básicos de saúde O acesso da população à rede básica de saúde, nestes municípios, se iniciou na década passada, quando a atenção básica começou a se estabelecer de maneira sistemática no país. Apesar da rede ter crescido bastante neste período, suas insuficiências em termos de abrangência e qualidade de estruturas e processos ainda são grandes. Em relação ao tempo de funcionamento, as UBS Tradicionais foram as mais antigas com uma média de 16 anos de existência, seguidas das UBS pré-PROESF com uma média de 12 anos e por último das UBS pós-PROESF com sete anos e meio. Em termos médios, as UBS de SC eram significativamente mais antigas (17,5 anos) do que as do RS (10 anos). As UBS do PSF pós-PROESF do RS, dos municípios de porte médio e do interior do RS estavam em funcionamento há menos tempo do que as demais. A média de população adstrita às UBS do Lote foi de aproximadamente 12 mil pessoas, sendo de 12.228 pessoas (dp = 13.999) no RS e 10.452 (dp = 9.936) pessoas em SC, o que indica a maior disponibilidade média de UBS nesse estado. Especificamente para o RS, essa média foi maior para as UBS do modelo Tradicional (19.291 – dp = 18.363), seguida das UBS do PSF pré-PROESF (9.870 – dp = 14.223) e das do PSF pós-PROESF (7.924 – dp = 4.593). 125 Em relação aos turnos de atendimento, três UBS Tradicionais (3%) funcionavam em apenas um turno, 102 UBS (86%) funcionavam em dois turnos, sem diferença entre os modelos de atenção, e 13 UBS (11%) atendiam em três turnos, sendo a grande maioria do modelo Tradicional. Não houve diferença na distribuição dos turnos por estado, região e porte do município. A carga horária contratada e cumprida por médicos e por enfermeiros foi significativamente maior nas UBS pós-PROESF, seguida das UBS pré-PROESF e por último das UBS Tradicionais. O efeito descrito se manteve independente do estado, da região e do porte do município. A carga horária contratada de outros profissionais de nível superior não mostrou diferenças entre modelos, porte, região metropolitana ou estado. Já a carga horária cumprida por estes profissionais foi significativamente maior nas UBS do tipo pós-PROESF do que nas pré-PROESF e nesta ainda um pouco maior do que nas Tradicionais. A média diária de atendimentos médicos nas UBS do tipo PSF pré e pósPROESF foi semelhante e significativamente maior do que a observada nas UBS do tipo Tradicional, mantendo-se a diferença significativa quando estratificada por porte do município, região metropolitana e estado. A média de atendimentos diminuía à medida que aumentava o porte do município. Na região metropolitana, o número médio de atendimentos foi maior nas UBS Tradicionais. Os médicos apresentavam uma média de atendimentos maior nas UBS do tipo PSF de SC, quando comparadas às do mesmo tipo do RS. Esta diferença não foi observada entre as UBS Tradicionais dos dois estados. Ao contrário dos médicos, não existiram diferenças significativas entre a média diária de atendimento de enfermeiros nos três modelos de UBS, comportamento que se manteve quando o modelo foi estratificado por porte, região e estado. A média diária de atendimentos por outros profissionais de nível superior não foi diferente entre os modelos, independente de porte, região ou estado. 4.3.3.2.4 Acesso aos serviços especializados O acesso da população à rede especializada e de apoio diagnóstico e terapêutico não obedeceu a um único padrão entre os municípios estudados. Os gestores referiram o acesso aos serviços do SUS através de diversas portas de entrada. A totalidade dos gestores entrevistados fez referência à UBS como a porta de 126 entrada preferencial (100%) do SUS, seguido de serviços de pronto atendimento (87%). Entretanto, cerca da metade dos gestores também identificou como portas de entrada os ambulatórios de hospitais, os atendimentos de urgência de hospitais públicos, os ambulatórios distritais de especialidades e os serviços de urgência de hospitais privados. Unidades de Saúde da Família, pronto atendimento e atendimento de urgência de hospitais públicos foram referidos mais freqüentemente como portas de entrada do SUS por secretários municipais de SC, enquanto ambulatórios distritais de especialidades, ambulatórios de hospitais públicos e atendimento de urgência de hospitais privados foram referidos com maior freqüência por gestores do RS. Os gestores dos municípios de porte médio e da RM referiram as UBS como porta de entrada do SUS em menor proporção do que os demais gestores. Por outro lado, os gestores dos municípios de menor porte e da RM apontaram o pronto atendimento como porta de entrada em menor proporção que os demais gestores. As diferenças entre os serviços acessíveis ao primeiro contato do usuário com o SUS parecem vinculadas às características da rede de saúde de cada estrato de municípios, também refletindo carências materiais e cultura local em saúde. O tempo médio de espera para atendimento especializado foi investigado para as seguintes áreas: angiologia, cardiologia, cirurgia geral, fisioterapia, gastroenterologia, ginecologia e obstetrícia, nefrologia, neurologia, nutrição, odontologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, pediatria e psiquiatria. As menores médias de tempo de espera para o atendimento variaram entre sete e quinze dias, sendo relativas às especialidades de pediatria e odontologia. Médias intermediárias, entre 15 e 40 dias, foram referidas para as áreas de ginecologia, nutrição, oftalmologia, otorrinolaringologia e psiquiatria; e os maiores tempos de espera, de 50 a 130 dias, ocorreram nas especialidades de angiologia, cardiologia, cirurgia geral, fisioterapia, gastroenterologia, nefrologia e neurologia. Somente na referência em psiquiatria o tempo médio de espera variou significativamente de acordo com o estado e o porte dos municípios, sendo menor nos municípios do RS (26,7 – dp = 26,1) e naqueles de porte médio (22,1 – dp = 20). O tempo médio de espera para acesso a recursos diagnósticos (exames de análises clínicas, radioimunoensaio, radiológicos, ultra-sonografia, eletrocardiograma, ecocardiografia, tomografia e ressonância magnética) e terapêuticos especializados (hemodinâmica, hemodiálise, quimioterapia e radioterapia) foi investigado. Tempo de espera entre 10 e 21 dias foi relatado para os exames de análises clínicas, 127 radioimunoensaio, e também para as terapêuticas de hemodiálise, quimioterapia e radioterapia. Uma média de tempo de espera mais longa, entre 30 e 60 dias, ocorreu para os exames de eletrocardiografia, radiologia, de ultra-sonografia e hemodinâmica. O maior tempo médio de espera, superior a 60 e até 120 dias, foi registrado para os exames de ecocardiografia, tomografia e ressonância magnética. O tempo médio de espera para a realização dos exames de ressonância magnética foi significativamente maior em SC e de radioimunoensaio nos municípios de porte médio. Considerando recursos terapêuticos especializados, somente o tempo médio para a realização de hemodiálise variou entre os grupos de estratificação, tendo sido maior nos municípios da RM. A disponibilidade satisfatória de consulta médica para a atenção especializada foi investigada através da opinião da equipe de saúde, em instrumento coletivo sobre a UBS e foi em geral percebida como bastante baixa, variando entre 20% e 40% para a referência em cardiologia, dermatologia, nefrologia, neurologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia e psiquiatria. A disponibilidade foi satisfatória em mais de 40% a 60% em fisioterapia e ginecologia. A especialidade com melhor avaliação quanto à disponibilidade satisfatória de consultas foi pediatria (77%). A avaliação dos profissionais de saúde não mostrou diferenças significativas entre os modelos de atenção, indicando que é um problema de âmbito municipal, que extrapola as nuances da rede básica de saúde (Anexo 4.50). A disponibilidade satisfatória de consulta em oftalmologia foi avaliada de modo mais favorável nas UBS do PSF pós-PROESF (60%), do que nas do PSF pré-PROESF (24%) e nas Tradicionais (30%), principalmente se localizadas na RM e em municípios de pequeno e médio porte. Este achado parece indicar algum arranjo local ou regional favorece particularmente as UBS do PSF pós-PROESF, que foram as implantadas mais recentemente (Anexo 4.50). Não mais de 40% das equipes julgaram satisfatório o acesso direto à retaguarda para atendimento em Pronto Socorro. Esta situação não diferiu significativamente de acordo com os modelos de atenção, mas foi maior nas UBS do PSF (27%) do que nas UBS Tradicionais (18%). Também não ocorreram diferenças em função do estado, região e porte do município. Já o juízo satisfatório sobre o acesso direto à retaguarda para internação hospitalar foi ainda menor (20%), sendo um pouco melhor nas UBS do PSF pós-PROESF (30%) e pior nas do PSF pré-PROESF (14%) -(Anexo 4.50). 128 Independente do estado, região ou porte, todos os municípios estudados referiram dispor de estratégias de articulação das UBS com serviços de maior complexidade ou de apoio diagnóstico, como, por exemplo, o encaminhamento de usuários mediante agendamento. Entre as formas de agendamento, 64% dos municípios do RS, 86% dos municípios fora da RM e todos os de SC disponibilizavam marcação de consultas para essa demanda através das UBS. Um pouco mais da metade (56%) declarou possuir agendamento através de fila única constituída conforme a data de registro da demanda (54% no RS e 67% em SC), sendo esta estratégia mais freqüente nos municípios de menor porte (78%). Em 50% dos municípios do RS e 33% de SC, o próprio usuário agendava a consulta especializada e /ou o exame solicitado pelo médico da UBS, situação que também se destacou em municípios fora da RM (63%) e de menor porte (56%). Cerca de 50% dos municípios agendava consultas e /ou exames através de protocolos organizados para acolhimento das urgências e 20% através de protocolos organizados para o cuidado da demanda mais prevalente. Em cerca de um terço dos municípios o agendamento de consultas especializadas era realizado diretamente por qualquer profissional da equipe de PSF (31% no RS e 33% em SC). Somente um município, Santa Cruz do Sul, informou o agendamento de consultas para os serviços de saúde de maior complexidade feito pelos usuários através de um serviço telefônico. 4.3.3.2.5 Adstrição da demanda Cerca de 78% das UBS do Lote possuíam área geográfica definida e mapa, o qual nem sempre estava atualizado e os limites da área nem sempre fossem precisos. A quase totalidade das UBS do PSF pré-PROESF (97%) e do PSF pós-PROESF (95%) apresentavam área geográfica definida com mapa, enquanto somente cerca de metade das UBS do tipo Tradicional apresentava este atributo. Em SC havia uma maior proporção de UBS com área definida e mapa (89%) do que no RS (74%), não havendo diferença entre os demais estratos. A proporção de UBS Tradicionais sem área geográfica definida e mapa foi maior na RM (59%), no interior do RS (56%) e nos municípios de porte pequeno (65%). O cadastramento da população residente na área geográfica da UBS estava disponível em 58% das UBS estudadas. O cadastro estava concluído em 67% das UBS pré-PROESF e em 55% das pós-PROESF. Entre as unidades Tradicionais, apenas uma 129 unidade referiu ter concluído o cadastramento. Não houve diferenças por estado, região e porte. A participação da equipe em atividades na área de abrangência da UBS nos últimos 12 meses foi maior nas UBS do pós-PROESF (66%), do que nas pré-PROESF e nas UBS Tradicionais. Nestas últimas houve a menor participação da equipe, atingindo valores mínimos de 28% nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes e na RM. As diferenças mencionadas foram estatisticamente significativas e se mantiveram quando estratificadas por porte, região e estado. 4.3.3.2.6 Vínculo com instituições de ensino Pouco mais da metade das UBS da amostra (57%) apresentavam vínculo com instituições de ensino, sendo significativamente maior nas unidades pós-PROESF (71%) e menor nas Tradicionais (48%). As instituições públicas de ensino superior predominaram como entidades vinculadas ao ensino nas UBS (68%), embora sem diferenças significativas entre os modelos de atenção. Em SC, a vinculação com ensino foi proporcionalmente maior nas UBS do PSF pós-PROESF, enquanto nos municípios de menor porte foi maior nas UBS do PSF pré-PROESF. A vinculação das UBS com o ensino médico (38%) foi menor que a média de vínculo com o ensino de modo geral, sendo as unidades pós-PROESF as com maior presença de estudantes de medicina (46%). O ensino de enfermagem ocorreu em 81% das UBS do Lote. A Figura 4.7 resume a distribuição das áreas de ensino de acordo com os modelos de UBS. 130 Figura 4.7 - Distribuição das áreas de ensino com campo de estágio em Unidades Básicas de Saúde, por tipo de serviço. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Odontologia Serviço Social Psicologia Nutrição Medicina Enfermagem 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 % PSF pré-PROESF PSF-Pós-Proesf Tradicional 4.3.3.2.7 Assistência farmacêutica As informações de fonte documental, obtidas de 17 municípios, mostraram que em 88% havia a adoção de uma lista básica de medicamentos para as UBS. Apesar das diferenças não terem sido significantes, a totalidade dos gestores de SC e 92% dos do RS referiram adotar uma lista. Da mesma forma, proporção menor dessa medida foi encontrada para RM (83%) e municípios de pequeno porte (89%). Todos os gestores referiram que o município não fabrica medicamentos, incluindo fitoterápicos, para utilização nas UBS. A estocagem de medicamentos em local centralizado e de farmacêutico administrando este local existia na totalidade dos 17 municípios. Em 13 municípios do RS, com predomínio na RM e na totalidade dos municípios de SC havia área física de dimensões suficientes para o armazenamento de medicamentos. Proporções maiores foram encontradas nos municípios de porte médio. 131 Controle de estoque informatizado existia em todos os municípios de SC, em 77% dos municípios do RS, em 80% dos de pequeno porte, em 86% dos de porte médio, em 71% dos da RM e em 83% no interior do RS. Entre os 17 respondentes, 10 referiram que a temperatura ambiente para conservação dos medicamentos era adequada e 16 relataram que no ambiente existiam condições de armazenamento satisfatórias, como por exemplo, prateleiras e estrados para a acomodação dos medicamentos. As informações oriundas dos projetos de adesão ao PROESF permitiram verificar que, apesar da maioria dos municípios terem uma farmácia central, de modo geral os medicamentos eram dispensados nas UBS e não havia farmacêutico em número suficiente para a supervisão e o controle da dispensação dos medicamentos. 4.3.3.3 Experiências inovadoras em atenção básica à saúde Os gestores tiveram dificuldade em identificar experiências inovadoras implantadas na atenção básica à saúde de seus municípios. Ainda assim, as referências foram praticamente limitadas ao PSF e às suas prescrições, incluindo o trabalho das ESF com cronograma de atividades, visitas domiciliares, atividades de grupos de usuários, reuniões com a comunidade, reuniões de equipe, descentralização da gerência das UBS, isonomia salarial, capacitação das equipes de saúde e integração programática em ABS. O acolhimento foi a inovação mais referida, sendo enfatizado seu papel na organização do acesso aos serviços do PSF. De modo geral, em um escala de 0 a 10, os gestores de SC avaliaram melhor (média de 7,3) as experiências inovadoras do que seus colegas do RS (média de 6,6). No âmbito do acesso às UBS, a implantação do acolhimento melhorou o atendimento aos usuários, reduzindo filas, priorizando os casos de maior risco e agendando a hora marcada para as consultas e procedimentos de rotina. Foi citado o projeto “Portas Abertas”, com unidades de saúde funcionando das 18 às 22h, com um médico atendendo a demanda sem a necessidade de agendamento. Além desta iniciativa, também foi citado o projeto “Saúde em sua casa”, com visitas e realização de procedimentos domiciliares. Em um município, antes da implantação das ESF, os gestores optaram por legalizar o PSF através de lei municipal para garantir a isonomia 132 salarial dos profissionais de nível superior, além de gratificação escalonada conforme a qualificação. Nos projetos de adesão ao PROESF foi destacada a experiência regional pioneira com a formalização de um Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Gravataí. Integram o consórcio, na área de oftalmologia, os municípios de Gravataí, Viamão, Cachoeirinha e Alvorada com a disponibilidade de 2.100 consultas / mês junto ao Hospital Dom João Becker. Gravataí também é referência para cirurgia de próstata, varizes, hemorróidas e hérnias inguinais. No oeste de SC, o município de Chapecó cita a existência do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina-AMOSC. No âmbito da capacitação, a participação de um gineco-obstetra da rede para dar apoio matricial a médicos e enfermeiros do PSF foi referida como experiência bem sucedida em um município. A capacitação permanente de profissionais e equipes, abordando a organização da rede, modelos de atenção básica, humanização e participação popular também foi referida. No âmbito da descentralização da gestão foi destacado o colegiado de coordenadores das UBS, responsáveis pela coordenação e apoio às equipes de saúde. O colegiado contribuía para o processo de planejamento nas próprias unidades e na secretaria como um todo. 4.3.4 Dimensão do Cuidado Integral 4.3.4.1 Estratégias de indução da integralidade O direito universal à saúde da população brasileira define a integralidade como um dos princípios constitucionais do SUS. Entretanto, a integralidade ainda não assumiu a esperada relevância estratégica na organização e desenvolvimento das ações de saúde. Alcançar a integralidade em saúde requer ações planejadas com esta finalidade tanto no âmbito da UBS e em seu vínculo com a comunidade, quanto na referência e contra-referência entre os níveis de atenção à saúde. Além disso, compreende a articulação das práticas não apenas no âmbito setorial, mas também no âmbito intersetorial (PINHEIRO, 2005). Neste estudo, a integralidade foi captada através de alguns “proxis”, como, por exemplo, as práticas realizadas nas UBS, com 133 ênfase em ações programáticas a grupos prioritários, o acesso direto a exames complementares, a disponibilidade de medicamentos, a utilização de protocolos, a utilização de computadores pelos profissionais de saúde, a percepção dos profissionais sobre a qualidade dos serviços prestados e o acesso a publicações do Ministério da Saúde. 4.3.4.1.1 Atividades realizadas na UBS para o cuidado integral Na investigação do conjunto de atividades realizadas na UBS para o cuidado integral houve diferenças significativas em favor do modelo PSF, tanto pré-PROESF, quanto pós-PROESF, quando comparado ao Tradicional em relação a: atendimento odontológico a grupos prioritários, atendimento de pré-natal, cuidado domiciliar, visita domiciliar, diagnóstico e tratamento da hanseníase, manejo de agravos mais prevalentes na infância, planejamento familiar, prevenção do câncer de colo uterino, promoção do aleitamento materno e promoção do crescimento e desenvolvimento infantil (Anexo 4.51). O atendimento odontológico a grupos prioritários foi mais freqüente no PSF pósPROESF, no município Porto Alegre, no RS e na RM, sendo menos ofertado no PSF pré-PROESF de Porto Alegre e na RM. A totalidade das UBS do PSF realizava atendimento pré-natal, enquanto apenas 79% das UBS Tradicionais ofereciam este programa. Menores proporções de atendimento pré-natal foram registradas em UBS Tradicionais do interior do RS e dos municípios de menor porte. O cuidado domiciliar foi uma atividade mais relatada nas UBS do PSF préPROESF de ambos os estados e regiões do Lote e dos municípios de porte pequeno. Entre os municípios de porte médio houve predomínio da execução da atividade nas UBS do PSF pós-PROESF. Cobertura de 100% foi alcançada para a referência de realização de visitas domiciliares nas UBS do PSF e de 60% nas UBS Tradicionais. As menores proporções de cumprimento desta ação entre as UBS Tradicionais foram verificadas na RM, no interior do RS e nos municípios de porte menor. 134 Com relação ao diagnóstico e tratamento da hanseníase, as UBS do PSF pósPROESF destacaram-se no desenvolvimento da atividade, principalmente as situadas no RS, especialmente na RM, e nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes. O diagnóstico e o tratamento da tuberculose era realizado por 40% das UBS. As unidades do PSF pós-PROESF realizavam o diagnóstico e o manejo da tuberculose em maior proporção que as demais UBS, principalmente as do interior do RS e dos municípios de porte pequeno. Entre as UBS do PSF pré-PROESF houve predomínio da atividade nos municípios de porte médio e no interior do RS. As pequenas cirurgias aconteciam em 17% das UBS, não sendo significativa a diferença desta proporção entre os modelos de atenção e as demais variáveis de estratificação. O manejo de agravos mais prevalentes na infância destacou-se entre as UBS do PSF pré e pós-PROESF. Nos municípios de menor porte, em 100% das UBS do PSF esta atividade era realizada, situação muito similar a do interior gaúcho. Entre as UBS do PSF pré-PROESF dos municípios de porte pequeno e do interior do RS encontrou-se as maiores proporções de realização de planejamento familiar. Na RM, a freqüência de realização da atividade foi semelhante entre as UBS do PSF, mas superior a das UBS Tradicionais. A realização da prevenção do câncer de colo uterino foi referida em 100% das UBS do PSF do RS e dos municípios de porte menor. Nas UBS Tradicionais, essa ação foi referida como realizada em 85% das UBS do RS e em 82% das localizadas nos municípios de porte médio. Considerando a promoção do aleitamento materno e a promoção do crescimento e desenvolvimento infantil, observou-se que a totalidade das UBS do PSF pós-PROESF e a grande maioria das pré-PROESF, em todos os portes de municípios e regiões, relatou realizar estas ações. As vacinas incluídas no calendário básico do Programa Nacional de Imunizações eram realizadas rotineiramente por uma proporção entre 70 e 90% das UBS estudadas, não havendo diferença significativa entre os modelos de atenção e as demais variáveis de estratificação. 135 A realização de atividades de grupos foi referida por cerca de 80% das UBS, variando significativamente entre 64% nas UBS Tradicionais, 87% nas UBS do PSF pré-PROESF e 95% nas UBS do PSF pós-PROESF. As atividades de grupo predominaram nas UBS do PSF do RS, especialmente nos municípios do interior do estado. As atividades com grupos específicos foram: grupo de portadores de sofrimento psíquico, de pré-natal, de adolescentes, de idosos, de hipertensos, de diabéticos e de puericultura. Diferenças foram encontradas entre os modelos de UBS apenas na realização de grupos de adolescentes. A proporção de grupo de adolescentes foi maior nas UBS do PSF pós-PROESF (55%) do que nas UBS do PSF pré-PROESF (46%) e Tradicionais (22%), com destaque para a UBS do PSF pós-PROESF dos municípios de porte médio. 4.3.4.1.2 Acesso direto a exames complementares O acesso direto a exames complementares utilizados rotineiramente na atividade clínica peculiar à Atenção Básica à Saúde se mostrou uma realidade para aproximadamente 80% das UBS, sem diferenças significativas entre os modelos de UBS, estado, porte e região. A referência ao acesso foi sempre um pouco melhor no modelo do PSF, tanto em UBS pré-PROESF quanto pós-PROESF, quando comparado ao modelo Tradicional. Curiosamente, o acesso direto à colposcopia, eletrocardiograma, radiografia sem contraste e ultrassonografia obstétrica só acontecia para a metade ou menos das UBS, e embora para estas variáveis não tenha existido diferença entre modelos, o desempenho das UBS pós-PROESF foi um pouco melhor do que o das UBS pré-PROESF e destas melhor do que o das Tradicionais. Não houve diferenças significativas no acesso a exames por estado, região e porte do município. 4.3.4.1.3 Disponibilidade de medicamentos Em relação a analgésico e antitérmico, penicilina benzatina, antibiótico de largo espectro, broncodilatador, inibidor da enzima de conversão, diurético, digitálico, hipoglicemiante, anticoncepcional oral (ACO), creme com corticosteróide e bactericida, a disponibilidade de medicamentos foi julgada satisfatória pela equipe em cerca de 80% das UBS. Em contraste, anticonvulsivante, antiinflamatório não esteroidal e nistatina creme vaginal estavam em falta para cerca de metade dos serviços, sem variação 136 significativa entre os modelos de UBS. Parte da lista básica de medicamentos, composta por ACO, Ampicilina, Captopril, Furosemida, Hidroclorotiazida, Glibenclamida, Metformin, Metronidazol comprimido e Penicilina Benzatina 1.200.000 UI, estava significativamente mais disponível nas UBS do PSF pré-PROESF do que no PSF pósPROESF e nestas mais disponíveis do que nas UBS Tradicionais. A disponibilidade deste subgrupo de medicamentos foi significativamente maior nas UBS de SC (em torno de 90%) do que nas UBS do RS (72%), independente do modelo de atenção (Anexo 4.52). A dispensação das medicações desta lista básica na própria UBS foi referida por 79% dos serviços, sem variação significativa, embora tenha sido um pouco mais freqüente no PSF pré-PROESF (90%) do que no PSF pós-PROESF (80%) e nestas um pouco mais do que nas UBS Tradicionais (72%). A dispensação de medicamentos na UBS foi mais freqüente em SC (92%) e no interior gaúcho (91%) do que na RM (61%). 4.3.4.1.4 Utilização de protocolos Em geral, a existência de protocolos para as ações desenvolvidas foi baixa, sem significância estatística entre os modelos de UBS para 13 dos 14 tipos estudados. Os protocolos com maior proporção de existência nas UBS foram o de imunizações (81%), o de pré-natal (75%) e o de prevenção do câncer de colo uterino (75%). Em cerca de metade a 70% das UBS houve relato de existência de protocolos para os cuidados de enfermagem, para o diagnóstico e o tratamento do diabetes e da hipertensão arterial, a promoção do crescimento e desenvolvimento infantil, o planejamento familiar e a promoção do aleitamento materno. Freqüências menores de 50% foram referidas para os protocolos de cuidado domiciliar (34%), de diagnóstico e tratamento da hanseníase (29%), de diagnóstico e tratamento da tuberculose (43%), do manejo da desnutrição e suplementação alimentar (44%) e do manejo dos agravos mais prevalentes na infância (42%). De um modo geral, as prevalências de existência de protocolos foram maiores nas UBS do PSF pós-PROESF, seguidas das do PSF pré-PROESF. Maior freqüência do protocolo de cuidado domiciliar foi relatada pelas UBS do PSF pós-PROESF (50%), principalmente nas localizadas no RS (57%). No mesmo sentido, constatou-se predomínio da sua existência nas UBS do PSF pós-PROESF dos municípios de mais de 100.001 a 200.000 habitantes (59%) e da RM (69%). 137 Os resultados indicaram que 34% dos profissionais utilizam protocolos em suas atividades profissionais, 38% no RS e 32% em SC. Esta utilização foi significativamente maior nas unidades PSF tanto pré quanto pós-PROESF (39%) do que nas unidades Tradicionais (31%). Quando se observou esta utilização de acordo com o porte do município, Porto Alegre possuía a maior prevalência (48%) e a diferença em relação aos dois outros estratos foi significativa. Não houve diferença significativa na utilização de protocolos entre os municípios da RM e aqueles localizados fora dela. 4.3.4.1.5 Utilização de computador pelos profissionais A utilização de computador pelos profissionais entrevistados em suas atividades foi semelhante em SC e no RS. No estado do RS, um terço dos profissionais das UBS utilizavam computador, independente de modelo de atenção, mas na RM 35% dos profissionais utilizavam computador e nos municípios fora dela a utilização caía para 29%. Em SC, a utilização de computador por profissionais das unidades do PSF pósPROESF era significativamente maior (51%) do que os profissionais de UBS Tradicionais e do PSF pré-PROESF (em torno de 25%). Esta utilização cresceu linearmente com o porte populacional do município. 4.3.4.1.6 Qualidade dos serviços prestados A opinião dos profissionais sobre a qualidade dos serviços prestados na UBS foi boa ou muito boa para aproximadamente 70% a 88% dos profissionais entrevistados nos estados de SC e RS, independentemente do porte do município ou de pertencer ou não à RM. Esta opinião favorável à qualidade dos serviços prestados foi significativamente mais freqüente entre os trabalhadores de UBS do tipo PSF, exceção feita aos municípios de porte populacional entre 100.001 e 200.000 habitantes, onde não existiu diferença entre a opinião de profissionais dos três modelos de UBS. 4.3.4.1.7 Acesso à publicações O estado do RS mostrou um acesso muito pequeno dos profissionais às publicações do Ministério da Saúde, variando de 10% das UBS para a Revista Brasileira de Saúde da Família até aproximadamente um terço das UBS para outras publicações do 138 Ministério da Saúde, embora este acesso tenha sido significativamente diferenciado em relação aos modelos de UBS estudados. A Revista Brasileira de Saúde da Família, os Informes da Atenção Básica, a Avaliação Normativa do PSF no Brasil, o Manual do SIAB e o Manual da Atenção Básica estavam mais acessíveis aos profissionais das equipes de PSF pré-PROESF, seguidos por profissionais de unidades pós-PROESF e por último das unidades Tradicionais, onde este acesso foi marcadamente menor. No estado de SC este comportamento se repetiu, embora em relação aos Informes da Atenção Básica e à Avaliação Normativa do PSF no Brasil esta diferença não tenha apresentado significância estatística entre os modelos de UBS estudados. Quando esta variável foi estratificada por porte de município ou por região metropolitana o comportamento descrito permaneceu mantido. 4.3.4.2 Processo de trabalho em atenção básica à saúde 4.3.4.2.1 Introdução ao processo de trabalho em ABS A análise de adequação do trabalho desenvolvido nas UBS estudadas à prescrição da ABS e da plausibilidade do PSF ser superior ao modelo Tradicional nesta pesquisa adotou o Processo de Trabalho em Atenção Básica à Saúde (PTABS) como uma categoria de análise central e estruturante. O objeto destes comentários foi o Processo de Trabalho em Atenção Básica à Saúde, descrito através de um formulário semi-estruturado, preenchido por 117 equipes de Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Lote 2 Sul. O Anexo 4.53 apresenta a proporção das atividades realizadas de acordo com o tipo de UBS. Uma primeira aproximação foi anteriormente realizada com gestores municipais na Oficina Macrorregional Sul que aconteceu nos primeiros momentos do Estudo de Linha de Base, onde pesquisadores e gestores estabeleceram a base para a responsabilização compartilhada sobre a agenda de trabalho inerente ao delineamento adotado nesta pesquisa com o intuito de recortar este objeto de estudo. A preparação para o preenchimento adequado deste formulário foi realizada na Oficina Regional 1, onde se testou o instrumento e se capacitou representantes da gestão dos municípios e dos trabalhadores de cada UBS, a fim de estimular entre seus pares esta atividade, juntamente com os supervisores contratados e capacitados pela equipe de pesquisadores. Esta iniciativa estimulou a adesão ao preenchimento e qualificou a ação, 139 embora tenha havido a perda de três UBS, duas do modelo Tradicional e uma do PSF pré-PROESF. As doze variáveis abordadas como etapas componentes do Processo de Trabalho em Atenção Básica à Saúde foram: planejamento, gestão e coordenação, recepção, acolhimento, cuidado clínico, cuidado de enfermagem, cuidado odontológico, ações programáticas, ações educativas, cuidados domiciliares, gestão da informação, supervisão e suporte técnico e participação no Conselho Local de Saúde. Os atributos propostos para caracterizar cada uma das variáveis foram: descrição da atividade – o que é feito e como é feito?; responsáveis pela atividade – quem faz?; insumos para a atividade – que recursos são utilizados?; dificuldades para realizar a atividade; sugestões para realizar a atividade; experiências inovadoras. A disposição dos resultados neste segmento do relatório inclui a abordagem do processo de trabalho enquanto categoria de análise, a descrição sintética das atividades estruturantes em cada etapa do processo de trabalho, as dificuldades na execução do trabalho em atenção básica à saúde, as sugestões para a superação destas dificuldades e considerações sobre o processo de trabalho que se identificou neste recorte, relacionado ao que se busca alcançar em um cenário objetivo descrito nas prescrições das políticas públicas. 4.3.4.2.2 A categoria processo de trabalho A universalização do direito à saúde, a descentralização da gestão e a atenção básica à saúde distinguem positivamente o SUS, em comparação a outros sistemas de saúde, incluindo aqueles já experimentados no Brasil (BRASIL, 1990). Apesar disso, possivelmente em função de seu curto tempo de implantação e da escassez de recursos materiais e humanos, o SUS ainda não dispõe de um processo de trabalho em atenção básica à saúde plenamente formulado e operacionalmente efetivo. Neste sentido, a descrição do processo de trabalho nas UBS do Lote pode representar importante contribuição para a melhoria da ABS, especialmente nos municípios estudados. O processo de trabalho, enquanto categoria abstrata, permite compreender a organização e a divisão das tarefas necessárias à transformação de um dado objeto de 140 trabalho em um produto desenvolvido, valorizado socialmente, tanto em seu valor de uso, quanto em seu valor de troca (FACCHINI, 1986). Cada espaço concreto de trabalho, cada unidade produtiva, conforma um processo de trabalho particular, incomparável em suas nuances e características mais singulares. Mas cada processo de trabalho também guarda as características essenciais do modo de produção em que está inserido e, de modo mais objetivo, de seu ramo de produção e da natureza da atividade produtiva predominante (FACCHINI, 1986). O uso da categoria processo de trabalho neste estudo, permitiu a análise individualizada de cada UBS e a busca de regularidades, de semelhanças e de contrastes entre as UBS, agrupadas segundo o modelo de atenção. Nestas análises, além de perceber a dinâmica da organização e divisão do trabalho em cada atividade, buscou-se identificar o objeto de trabalho, os recursos disponíveis para sua realização e os responsáveis por sua realização. Problemas e sugestões para a melhoria das atividades também foram captados. Da mesma forma, houve preocupação em identificar até que ponto o PSF se constitui em um processo de trabalho diferente daquele encontrado na atenção básica Tradicional. Fruto do processo de construção do SUS, o trabalho nas UBS Tradicionais é um simulacro daquele realizado em hospitais e unidades ambulatoriais especializadas, sendo fortemente centrado no médico e nas clínicas básicas, atendendo a demanda espontânea de usuários. No PSF, o processo de trabalho pretende se distanciar do viés hospitalar e da especialização, fortalecendo a participação da equipe de saúde e do médico “geral” no atendimento integral das necessidades de saúde da população. O processo de trabalho em ABS está essencialmente vinculado ao trabalho vivo, à atividade, à qualidade técnico-científica do trabalhador, à sua motivação e compromisso com o resultado de seu trabalho. Nas UBS, a tecnologia disponível tem muita dificuldade em dinamizar o processo de trabalho, orientando a ação do trabalhador. A escassez crônica de equipamentos, instrumentos e os mais variados insumos, mesmo os mais básicos para o funcionamento de uma UBS, dificultam a efetivação do processo de trabalho em ABS com um significado mais amplo que extrapole a prática individual do trabalhador em relação a um usuário do serviço e alcance o resultado do trabalho da equipe em relação à comunidade em que está inserido. 141 4.3.4.2.3 Etapas do processo de trabalho em atenção básica à saúde O processo de trabalho foi caracterizado através de doze atividades identificadas como mais freqüentes e marcantes no cotidiano das Unidades Básicas de Saúde, descritas a seguir. a. Planejamento, gestão e coordenação De um modo geral, o trabalho realizado nas unidades básicas de saúde do Lote carece de planejamento, de gestão e de coordenação. Estas atividades conformaram uma tríade pouco estruturada do ponto de vista de rotinas e instrumentos de trabalho. Não houve referência a um planejamento para longo prazo, com o estabelecimento de metas a serem alcançadas pelos serviços. Na percepção dos entrevistados as reuniões de trabalho eram irregulares e pouco efetivas, mesmo quando a maioria das UBS informou realizar reuniões mensais. A participação da equipe da UBS foi sempre parcial, pois a atividade geralmente era simultânea com o atendimento aos usuários. Em conseqüência, as reuniões de planejamento, gestão e coordenação se limitavam a solucionar problemas no atendimento da demanda. A característica normativa e desestruturada destas ações foi comum aos três tipos de UBS, aparecendo de maneira muito peculiar no material oriundo das UBS pósPROESF, onde foi mencionado que “necessidades locais foram apontadas como um dos maiores entraves para a execução do planejamento e gestão”, o que talvez possa se constituir em um reflexo da pequena consideração que as “necessidades locais” recebem ao se planejar e estabelecer os mecanismos de gestão. b. Gestão da informação A descrição da atividade permitiu identificar a UBS como uma unidade de produção de dados. Os atendimentos realizados e registrados eram fontes que alimentavam vários sistemas de informações, como por exemplo, o SIAB, SISVAN, SIA-SUS e SIS-API. Os profissionais preenchiam documentos específicos à ação executada, incluindo prontuários, requisições, encaminhamentos, procedimentos, mapas de produção, controle de vacinas e notificação. Os documentos e relatórios consolidados eram enviados a SMS, onde eram processados. No entanto, isto não se traduziu em geração de informações para a unidade básica, pois dificilmente o resultado do trabalho era devolvido e discutido em reuniões de equipe. 142 No PSF os profissionais referiram saber da importância dos dados locais para a discussão na equipe, mas alegaram não ser compatível com a pouca orientação recebida e o tempo requerido para esta atividade, reforçando a falta de autonomia da equipe de saúde e a necessidade de capacitações para a superação. O próprio SIAB foi alvo de críticas dos profissionais do PSF. Esta atividade não estava definida e operacionalmente apoiada nas UBS, tampouco estavam capacitados os profissionais responsáveis por sua realização. c. Supervisão e suporte técnico Observou-se grande irregularidade na supervisão e suporte técnico, havendo poucos encontros entre os representantes da SMS e os profissionais. Com o PROESF, várias equipes do PSF foram implantadas sem ter tido apoio técnico ou supervisão. No PSF foi evidente a dificuldade de contato com a coordenação, a falta de apoio e de diretrizes da SMS. O SIAB foi o sistema apontado como instrumento de controle e de supervisão, mas como já foi mencionado anteriormente, alvo de críticas. Foi destacada a supervisão dos auxiliares e técnicos de enfermagem realizada pelos enfermeiros de forma constante no PSF e semanalmente nas UBS tipo Tradicional. As mudanças políticas e administrativas periódicas na gestão da rede básica e nas equipes de saúde contribuíram para promover a descontinuidade do processo de organização do trabalho nas UBS. A descrição das atividades acima permite destacar a falta de definição sobre as responsabilidades dos diferentes profissionais da equipe na organização e gestão do trabalho nas UBS. Este fato, aliado à pequena autonomia dos profissionais no nível local, inviabilizaram a institucionalização da gestão nas UBS e comprometeram todo o processo de trabalho da atenção básica à saúde. d. Recepção A recepção pode ser entendida tanto como a porta de entrada do usuário, quanto como o acolhimento das demandas que são recebidas pela UBS para ações coletivas, institucionais, reivindicadas pela comunidade. Não ficou claramente definido como estas demandas chegam até a unidade, mas o ACS representou um papel articulador entre os serviços e a comunidade. No PSF foi possível identificar a parceria com as escolas do bairro através das demandas por palestras que abordassem cuidados gerais de saúde para crianças e adolescentes, na perspectiva da promoção e prevenção em saúde. 143 A recepção das UBS, enquanto “porta de entrada” do usuário no SUS, se constituiu uma arena institucional onde a população buscava o acesso à solução de suas necessidades. Houve um reconhecimento de que deveria ser realizada durante todo o período em que a UBS estivesse aberta. Os serviços se organizavam de diversas formas para recepcionar a população. A fila única foi a forma mais comum de organização do primeiro contato do usuário com o trabalhador da recepção. A ordem de chegada estabelecia a ordem dos atendimentos, com exceção dos idosos e das urgências. Em algumas unidades eram distribuídas fichas ou senhas para organizar a recepção. A maioria trabalhava com o atendimento à demanda espontânea, principalmente para a enfermagem. A demanda programada ocorreu com maior freqüência no PSF, para usuários vinculados a alguma ação programática. No caso de haver agendamento, primeiro era realizada o preenchimento dos formulários das consultas agendadas. Os não agendados eram encaminhados para avaliação de enfermagem e se necessário, à consulta médica. Portanto, as tarefas da recepção incluíram a escuta do usuário, o preenchimento de papéis para o registro do contato e o encaminhamento para o atendimento. Também foi citado o agendamento, a marcação de exames e a disponibilização de informações sobre o funcionamento da UBS. Nas UBS Tradicionais este trabalho foi realizado por auxiliares administrativos, recepcionistas, auxiliares e técnicos de enfermagem. No PSF, ocorreu a participação dos ACS e da equipe de enfermagem, que realizavam a recepção simultaneamente às ações de saúde sob sua responsabilidade. É importante destacar que na ABS, o “recepcionista” não se configurou como um trabalhador, cuja formação e vínculo funcional estivessem institucionalizados e regulamentados. Assim, qualquer membro da equipe, que estivesse disponível, poderia exercer esta função. Ao encaminhar o usuário para o cuidado na UBS ou mesmo fora dela, este trabalhador realizava uma primeira triagem. Como não havia uma ação estruturada de recepção e encaminhamento da demanda, com a correspondente formação deste profissional, o trabalhador muitas vezes realizava a atividade sem estar devidamente preparado para tomar este tipo de decisão. e. Acolhimento 144 O acolhimento pode ser considerado como uma das “inovações” mais referidas na organização da recepção, ou da porta de entrada das UBS. No entanto, não houve uma conformação bem definida da atividade, nem dos trabalhadores que a realizavam e das condições materiais e técnicas para sua realização. Existiam experiências muito diversificadas, algumas bem sucedidas, geralmente durante uma conjuntura positiva de fatores pessoais e institucionais na UBS. Às vezes era uma triagem clínica simplificada, realizada na sala de recepção, podendo ser atribuída a qualquer membro da equipe, no sentido de qualificar a escuta. Nas UBS Tradicionais houve uma incorporação muito pequena desta inovação. No PSF, o acolhimento envolvia a equipe de modo mais diversificado, mas ainda se revelou centrado nos profissionais de enfermagem. Houve referência ao acolhimento como uma postura ética que não pressupõe um espaço, tempo ou profissional específico, implicando em compartilhar saberes, necessidades, possibilidades e dificuldades em função de parâmetros éticos e de solidariedade. Poderia assim ser realizado durante o trabalho do ACS na comunidade, na chegada do usuário à unidade ou durante o atendimento individual. Para superar a concepção do acolhimento como prerrogativa de um trabalhador ou de um local de trabalho seria necessário conformá-lo como um atributo de todas as etapas e atividades do processo de trabalho, para o qual os trabalhadores estivessem preparados e aparelhados. f. Cuidado Clínico A demanda por consultas médicas pautou o trabalho nas UBS. A oferta de consultas médicas foi menor do que a capacidade instalada para absorver todas as solicitações da comunidade, portanto, as equipes conviveram com a pressão da população para o atendimento e, em algumas situações, no PSF, com a resistência da comunidade para com o médico de família. Observou-se que os médicos, independente do tipo de UBS, estavam sobrecarregados com a demanda espontânea, atendiam entre 15 a 25 pessoas por turno de trabalho. Previsto para ocupar um tempo de quatro horas de trabalho, o cuidado clínico ocupava geralmente um tempo bem variável no cotidiano da UBS, podendo muitas vezes demandar duas horas de atendimento ininterrupto, principalmente nas UBS do tipo Tradicional. Além das consultas médicas distribuídas na recepção existiram as necessidades de atendimento médico geradas após a triagem ou durante o atendimento da 145 enfermagem. O inverso também ocorreu, em algumas situações as consultas médicas demandaram trabalho para a equipe de enfermagem. g. Cuidado de Enfermagem Neste contexto, a enfermagem ocupou um papel articulador das ações da UBS. A descrição dos cuidados de enfermagem retratou principalmente o trabalho dos auxiliares e técnicos de enfermagem e permitiu verificar a participação destes profissionais em atividades administrativas, assistenciais e na organização do local de trabalho. Os procedimentos realizados pela enfermagem no interior das UBS foram semelhantes nos diferentes modelos e incluíram a verificação de sinais vitais, a administração de medicamentos, a realização de nebulização e curativos. Os auxiliares e técnicos além de trabalharem na recepção, atenderem entre 15 a 50 pessoas por turno, foram responsáveis pela limpeza e esterilização do material, pedido de medicamentos e material de consumo, além de produzirem relatórios. As respostas para esta atividade não descreveram qual foi a participação dos enfermeiros no cuidado de enfermagem. h. Cuidado Odontológico Ao contrário do cuidado médico e de enfermagem, que ocorreu na totalidade das UBS, o cuidado odontológico ainda não estava disponível na atenção básica de modo uniforme. A saúde bucal foi uma das atividades de conformação mais recente no SUS, particularmente na rede básica de saúde. Mesmo no PSF houve diferenças: nas unidades do PSF pós-PROESF esta atividade estava mais bem estruturada quando comparada às unidades PSF pré-PROESF, constituindo-se em um problema para o acesso da população aos cuidados de saúde bucal. Os odontólogos atendiam cerca de 10 pessoas por turno de trabalho. A contratação de Auxiliar de Consultório Dentário (ACD) e de Técnico de Higiene Bucal (THB) não foi a regra: estavam mais presentes no PSF, ainda assim em número insuficiente, e provavelmente foram contratados devido à exigência para o credenciamento das equipes de saúde bucal. Os auxiliares e técnicos realizavam o controle e a organização dos prontuários, preparavam o material durante o procedimento odontológico e faziam a limpeza e esterilização dos instrumentais. Na falta destes, o próprio odontólogo era quem realizava estas atividades. i. Ações Programáticas 146 Na consulta médica, nos cuidados de enfermagem e nos cuidados odontológicos, a abordagem principal se deu através de atendimentos individuais realizados por núcleos determinados do campo da saúde, para resolver ou acompanhar necessidades de saúde já instaladas, portanto, com caráter curativo. Diferentes abordagens foram identificadas para aquelas vinculadas às ações programáticas. As ações programáticas articulavam as práticas de saúde dirigidas a grupos de usuários estratificados por idade, gênero ou tipo de problema crônico que era portador. Foram as ações com maior potencial de desenvolver a integralidade na atenção básica, com práticas padronizadas e bem desenvolvidas. Ocuparam um tempo de trabalho menor nas UBS tradicionais (duas horas por mês) do que aquele destinado para estas ações nas UBS do tipo PSF (12 a 18 horas), tanto pré-PROESF quanto pós-PROESF. Além de consultas individualizadas, as UBS utilizaram-se da estratégia de atividade em grupos com ênfase para a promoção da saúde através da educação, articulada com os programas de puericultura, pré-natal, doenças crônicas (hipertensão e diabetes), saúde bucal e de idosos. No PSF, a atividade em grupo foi semanal e, em algumas unidades o trabalho estava organizado de modo a ter dias específicos - até três turnos por semana, para atender ao público-alvo dos programas, com o envolvimento de toda equipe. A realização de grupos foi menor nas UBS Tradicionais, onde a periodicidade era mensal, com destaque para o trabalho da equipe de enfermagem com o apoio de nutricionista e assistente social, quando existente. A participação dos médicos nas atividades em grupo ainda era incipiente, tendo sido o excesso de demanda um dos motivos alegados para inviabilizar sua participação. Ao obter o acesso ao serviço, o usuário podia ter seu problema resolvido e conseqüentemente receber a alta correspondente. Havia também a possibilidade de ser encaminhado para novos atendimentos na própria UBS com o mesmo profissional ou outro membro da equipe, em caráter complementar. O acompanhamento também podia acorrer fora da UBS: no domicílio, em instituições da comunidade, na realização de exames, na realização de consultas especializadas e em atendimentos de urgência. Na perspectiva da integralidade da atenção, os profissionais precisariam estar atentos para a possibilidade de vincular o usuário a alguma ação programática ou para estimular a participação em atividade de grupo. j. Cuidados domiciliares 147 No PSF, o cuidado no domicílio apareceu com destaque, e a solicitação de atendimento podia ser feita por telefone, através do ACS ou diretamente na UBS, por algum familiar. O PSF esteve organizado de modo a disponibilizar turnos / horários de trabalho específicos para a atividade. Foi destacado o estabelecimento de vínculo afetivo entre profissionais e usuários, promovendo a satisfação das famílias atendidas. No modelo Tradicional a solicitação era atendida de acordo com a disponibilidade de profissional. A ida ao domicílio ocupou boa parte do tempo de trabalho, seja para cuidar de usuários acamados ou para avaliar a necessidade de consulta médica domiciliar. As atividades revestiram-se de caráter curativo. A visita domiciliar foi uma estratégia usada no PSF para a busca de faltosos ou visita a recém-nascidos, o que, neste caso, adquiriu um enfoque educativo / preventivo. As visitas domiciliares foram eventuais nas UBS Tradicionais. O envolvimento da equipe foi variável, tendendo a ser uma atividade mais concentrada no pessoal da enfermagem. Em relação à forma de agendamento das visitas domiciliares, houve uma participação importante dos ACS nas unidades onde estes estavam presentes, especialmente naquelas do tipo PSF. l. Ações educativas No PSF, além do trabalho no interior da UBS, percebeu-se uma aproximação com a comunidade através de parcerias com creches e escolas, onde as equipes promoveram atividades educativas com crianças e adolescentes. Esta estratégia permitiu aumentar o número de pessoas expostas à ação. Para os idosos foi destacada a realização de “saraus” e o incentivo a práticas desportivas, principalmente caminhadas. É importante ressaltar que algumas atividades realizadas nos grupos possibilitaram retorno financeiro às famílias, promovendo auxílio financeiro e melhoria da qualidade de vida. A realização de festas com a comunidade, teatros de fantoches, organização de biblioteca na USF foram apontadas como experiências inovadoras no PSF. m. Participação no Conselho Local de Saúde A organização do CLS ainda era incipiente nas UBS do Lote. Sua efetividade foi maior em UBS do PSF, mas mesmo nestas não de forma generalizada. A proposição de ações articuladas entre os serviços de saúde e os usuários, através do controle social, depende da capacitação dos conselheiros locais e dos profissionais de saúde. Esta situação esteve agravada com a não sensibilização dos profissionais e da comunidade 148 para a importância deste espaço na construção da cidadania. As reuniões serviram para registrar queixas e cobranças da comunidade no sentido de aumentar a oferta e a resolubilidade. 4.3.4.2.4 Dificuldades na execução do trabalho em atenção básica à saúde O trabalho realizado na recepção conviveu com o excesso de burocracia, aliado a problemas estruturais de espaço físico e mobiliário. Estes problemas promoveram a demora para localização de prontuários e a conseqüente desorganização dos arquivos. No tipo pós-PROESF foi referida a utilização de estagiários que, devido a grande rotatividade, dificultavam o trabalho pois não chegavam a dominar as rotinas burocráticas e fluxos. Em todos os tipos de unidade houve excesso de demanda e no pós-PROESF se destacou o não respeito à área de abrangência da UBS. O trabalho médico foi realizado com limitações quanto ao acesso à medicação, exames clínicos, retaguarda de especialistas e de internação hospitalar. O ambiente físico da UBS apresentou problemas quanto ao tamanho, temperatura e iluminação. Em geral, o material disponível era de baixa qualidade e havia falta de agilidade na compra de material de consumo. Foi destacada a baixa qualidade dos equipamentos odontológicos e a ergonomia inadequada a que estão expostos os profissionais. A higienização dos equipamentos utilizados para o atendimento odontológico foi apontada como um dos problemas enfrentados nas UBS Tradicionais. Os trabalhadores reivindicaram melhores condições de trabalho como, por exemplo, proteção contra fatores climáticos e transporte para os cuidados domiciliares. O espaço físico das UBS não era adequado para a realização de grupos e os profissionais referiram pouco material didático de apoio e falta de preparo para esta atividade, sugerindo investir na capacitação, na adequação da área física e na parceria com a comunidade e universidades, contando com o apoio institucional da SMS. Os trabalhadores referiram que a desinformação dos usuários sobre o PSF proporcionou situações de “pouca paciência e indelicadeza” por parte dos usuários e foi considerado um dos pontos frágeis do programa. Nas UBS onde houve integração com a população e a estratégia do PSF foi explicada claramente, as respostas foram positivas. 149 Observou-se a preocupação dos profissionais em melhorar a comunicação com os usuários sobre o trabalho da UBS e assegurar a garantia dos encaminhamentos quando necessário. Também foi referido um excesso de famílias por equipe. 4.3.4.2.5 Sugestões para a superação das dificuldades no trabalho em atenção básica à saúde As sugestões incluíram prioritariamente o investimento na contratação de novos profissionais, na capacitação permanente e na adequação da estrutura das UBS. A capacitação foi reivindicada para todas as atividades investigadas e por diferentes profissionais, independente do modelo de atenção. A adequação do espaço físico, mobiliários adequados e ergonômicos, a aquisição de equipamentos e material de consumo de qualidade, foram insumos mencionados como capazes de auxiliar na organização do trabalho. O intercâmbio entre instituições de saúde (referência e contra-referência) integrando a UBS com outros níveis de atenção poderia contribuir potencialmente para aumentar a resolubilidade. Algumas experiências de aproximação com a comunidade de usuários foram avaliadas positivamente: utilização de linguagem compatível e respeitosa, chamar o usuário pelo nome, implantação de senhas, caixa para coletar sugestões e colocação de cartazes com informações sobre atendimentos. No PSF, houve a sugestão de que o SIAB fosse revisado e também que o número de famílias por equipe fosse revisto. Foram mencionadas respostas positivas a partir de investimentos realizados para esclarecer a população sobre a estratégia do PSF. A informatização foi apontada como uma estratégia capaz de facilitar o processo de trabalho das UBS. 4.3.4.2.6 Satisfação dos trabalhadores com as condições de trabalho O estudo adotou uma escala de adequação organizada de 0 a 10, a partir da qual os trabalhadores das UBS da amostra (n=1688) emitiram sua opinião em relação a algumas variáveis componentes das condições de trabalho e do trabalho em equipe. 150 A observação das médias alcançadas em relação à satisfação dos trabalhadores com cada uma das variáveis estudadas permitiu identificar três grandes grupos (Tabela 4.2 abaixo). O primeiro, onde o grau de satisfação foi maior, composto por demanda para atendimento individual na unidade, trabalho em equipe e preenchimento de formulários e relatórios. Um segundo grupo onde a satisfação dos profissionais foi um pouco menor, composto por demanda para atendimento individual a domicílio, reunião de equipe e reunião com a coordenação local das UBS. O terceiro e último grupo, onde a satisfação foi menor, incluiu a estrutura física da unidade e as reuniões com a comunidade com os piores desempenhos entre todas as variáveis estudadas Tabela 4.2 - Variáveis adotadas e as médias alcançadas em relação à satisfação com as mesmas em uma escala de 0 a 10. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Variável Satisfação com: Média Trabalho em equipe 7,3 Demanda para atendimento individual na unidade 6,9 Preenchimento de formulários e relatórios 6,6 Reuniões de equipe 6,5 Demanda para atendimento individual a domicílio 6,4 Reuniões com a coordenação local da unidade 6,2 Estrutura física da unidade 5,4 Reuniões com a comunidade 5,2 Quando o conjunto destas oito variáveis que captaram a satisfação dos trabalhadores foi estratificado por tipo de UBS, as médias dos trabalhadores das UBS do tipo PSF pré-PROESF se revelaram significativamente superiores às atingidas por profissionais das UBS do tipo pós-PROESF e, estas, superiores àquelas das equipes de unidades Tradicionais. A exceção foi a satisfação com a estrutura física da unidade que revelou baixas médias de satisfação independentemente do tipo de UBS. 151 A estratificação por porte de município mostrou em todas as variáveis médias de satisfação significativamente maiores nos municípios com população entre 100.001 e 200.000 habitantes. A análise dos municípios incluídos na RM e dos excluídos desta região revelou que a satisfação com a demanda para atendimento a domicílio, o preenchimento de formulários e relatórios, as reuniões de equipe e as reuniões com a comunidade foram variáveis que apresentaram diferenças significativas e estas diferenças apontaram para um melhor desempenho da região não metropolitana. Quando a análise foi estratificada por Unidade da Federação, quatro variáveis apresentaram diferenças significativas: estrutura física, que mostrou maior satisfação dos trabalhadores de SC, reuniões de equipe, reuniões com a comunidade e reuniões com a coordenação local da UBS, onde a satisfação foi maior entre os profissionais do RS. As outras quatro variáveis mostraram um comportamento sem diferenças significativas entre os dois estados, embora os profissionais do RS tenham informado médias de satisfação discretamente superiores aos de SC. 4.3.4.2.7 Considerações sobre o processo de trabalho em ABS Pode se afirmar que, com diferenças inexistentes ou muito sutis, os três tipos de UBS procuravam operar o processo de trabalho descrito por estas variáveis que caracterizaram o cardápio (ou prescrição) comumente aceito(a) como adequado(a) para a ABS. A recepção por suas atribuições sugeriu a necessidade de conhecimentos, habilidades e atitudes inerentes à área de comunicação, dinâmicas grupais, registros em saúde e organização em arquivos de saúde. O acolhimento se caracterizou como uma postura que transcende os núcleos profissionais e perpassa todo o campo da saúde pública e todas as etapas do processo de trabalho. As atividades de recepção, cuidados clínicos e cuidados de enfermagem foram centrais nos três tipos de UBS estudadas. No PSF foi possível observar algumas estratégias diferenciadas, como por exemplo, o cuidado domiciliar, a implantação das ações programáticas e, nestas, as atividades em grupo. O trabalho da recepção gerou diferentes ações de saúde na UBS. A caracterização destas ações permitiu identificar a organização do trabalho por profissional, as estratégias de abordagem aos usuários (individual e coletiva), a 152 finalidade das ações (promoção, prevenção ou cura) e o local onde as diferentes atividades eram realizadas (UBS, comunidade, domicílio, escolas). Os cuidados médicos, de enfermagem e odontológicos pareceram um pouco melhor definidos em seus respectivos núcleos, embora ainda existam questões polêmicas sobre a inserção das profissões na linha de cuidados de saúde. As ações programáticas, as ações educativas e a participação no espaço de controle social não estão perfeitamente delimitadas enquanto ações de saúde, permitindo o trânsito dos diversos núcleos profissionais do campo da saúde, sem que nenhum deles tenha sido diretamente identificado com atividades específicas de alguma destas ações. Ainda assim, em todas as UBS, os serviços oferecidos ainda se organizavam a partir da oferta de cuidados médicos, ou seja, a implantação do PSF ainda não proporcionou a superação do modelo médico-centrado. A possibilidade da divisão do trabalho com a inserção dos enfermeiros na linha de cuidados, principalmente nas ações programáticas e através de protocolos de cuidados clínicos, enfrentou barreiras institucionais e culturais. Enquanto o atendimento médico foi mantido como atividade central da UBS, houve a necessidade de que os demais profissionais ficassem disponíveis para atender as necessidades geradas nas consultas médicas. Esta organização também inviabilizou a participação do médico nas reuniões de equipe e em ações educativas realizadas nos grupos e nas escolas. No PSF as mudanças ainda eram muito tênues, mas foi possível perceber um movimento no sentido da ampliar a participação do médico em outras estratégias de intervenção que extrapolavam o trabalho solitário realizado no interior dos consultórios. Além das consultas médicas distribuídas na recepção existiam as necessidades de atendimento médico geradas após a triagem ou durante o atendimento da enfermagem. O inverso também ocorreu, em algumas situações as consultas médicas demandaram trabalho para a equipe de enfermagem. Portanto, o cuidado clínico necessitou que o trabalho se estendesse para a equipe, de modo a atender a necessidade de saúde dos usuários de forma complementar. Ficou evidenciado que nenhuma etapa revelou condições adequadas (recursos materiais e humanos) para a execução das atividades previstas no tempo disponível, o 153 que, aliado à insuficiente capacitação dos trabalhadores, comprometeu bastante o processo de trabalho. As experiências inovadoras, quando mencionadas, revelaram atividades que eram “novas” na UBS em questão, mas já pertencentes às prescrições relativas a ABS há longo tempo. A análise deste material permitiu a observação de que em nenhum dos três tipos de unidades básicas de saúde estudadas o processo de trabalho foi plenamente adequado às prescrições da ABS. As unidades de PSF, tanto pré-PROESF quanto pós-PROESF, não revelaram um processo de trabalho marcadamente diferenciado daquele identificado nas unidades Tradicionais. Assim, a conversão do modelo parece não ter acontecido, embora seja plausível que o PSF tenha se revelado um pouco mais estruturado em relação às ações de prevenção e promoção da saúde do que as unidades Tradicionais. A falta de clareza, nos relatos, a respeito da inserção das diferentes categorias profissionais nas etapas do processo de trabalho e nas funções executadas revelou que esta inserção ainda é um objeto de estudo que exigirá esforços profundos e exaustivos. Este desenvolvimento deveria contemplar em suas formulações uma demanda comum dos profissionais que dedicam o seu tempo e energia para a ABS, a valorização dos trabalhadores através de condições físicas e materiais adequadas ao trabalho, remuneração condizente e de uma carreira que inclua os trabalhadores da saúde em atenção básica. 4.3.5 Dimensão Desempenho do Sistema de Saúde 4.3.5.1 Desempenho de Estados e Municípios do Lote 4.3.5.1.1 Indicadores do Pacto da Atenção Básica à Saúde nos Estados Por ter origem em dados secundários, as informações apresentadas abaixo são relativas ao total dos Estados do Lote, incluindo todos os seus municípios e não apenas os selecionados para o Lote 2 Sul. a. Crianças 154 O estado de Santa Catarina registrou, de acordo com os dados do Pacto da Atenção Básica de 2002, menor proporção de crianças nascidas com baixo peso e menor taxa de internação por IRA em crianças abaixo de cinco anos do que o estado do Rio Grande do Sul. Também em SC foi observada maior homogeneidade da cobertura vacinal por tetravalente do que no RS. As taxas de mortalidade infantil e neonatal foram similares para os dois estados, em torno de 15 por 1000 e de 10 por 1000, respectivamente. Entretanto, maior proporção de óbitos infantis por causas mal definidas foi registrada em SC (7%) do que no RS (4%). b. Mulheres Com exceção da proporção de nascidos vivos de mães que realizaram sete ou mais consultas de pré-natal, todos os demais indicadores de saúde da mulher foram mais favoráveis em SC do que no RS: as mulheres gaúchas registram maior taxa de mortalidade materna, por câncer de mama e do colo do útero, e menor razão entre exames citopatológicos em mulheres de 25 a 59 anos e total de mulheres na faixa etária. c. Adultos e Idosos Os indicadores de saúde do adulto e do idoso alternam-se entre mais favoráveis à SC – menor taxa de mortalidade por doenças cerebrovasculares e por tuberculose, menor proporção de internações por diabetes, cetoacidose e coma diabético – e mais favoráveis ao RS – menor taxa de internação por acidente vascular cerebral e por insuficiência cardíaca congestiva. d. Saúde Bucal Todos os indicadores de saúde bucal disponíveis no Pacto da Atenção Básica de 2002 para os estados do Lote são favoráveis ao estado de SC: maior cobertura de primeira consulta odontológica (17% versus 10%), maior razão entre procedimentos coletivos e a população de zero a 14 anos (0,4% versus 0,2%) e menor proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais (8% versus 12%). e. Atenção Básica à Saúde O RS apresentou, em 2002, menor proporção da população coberta pelo PSF (10% versus 42%), menor média anual de consultas nas especialidades básicas por habitante (1,5 versus 1,6) e menor média mensal de visitas domiciliares por família (0,1 versus 0,4) do que SC. 155 4.3.5.1.2 Indicadores Selecionados e Pacto da Atenção Básica à Saúde nos Municípios As informações apresentadas abaixo, quando agregadas, se referem à média dos municípios de cada Estado, selecionados para o Lote 2 Sul. A Tabela 4.3 apresenta alguns indicadores de desempenho do sistema de saúde e revela um equilíbrio entre os estados: para SC foram registradas maiores médias nas proporções de recém-nascidos cujas mães fizeram quatro ou mais consultas de pré-natal, menores proporções de baixo peso ao nascer e maior taxa de consultas médicas básicas; para o RS, menores taxas de mortalidade infantil (total e por causas evitáveis) e menor proporção de partos por cesariana. O Anexo 4.54 apresenta os indicadores de desempenho do sistema para cada um dos municípios do Lote 2 Sul. Tabela 4.3 - Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. RS SC Total Consultas médicas básicas/ hab/ ano 1,34 (0,38) 1,53 (0,44) 1,38 (0,39) % RN com 4 ou + consultas Pré-Natal 86,14 (5,77) 92,19 (2,73) 87,29 (5,80) % de Baixo peso ao nascer 9,99 (0,92) 8,41 (0,78) 9,69 (1,08) Mortalidade Infantil/ 1.000 NV 16,54 (3,53) 17,43 (6,74) 16,71 (4,11) MI Causas evitáveis 10,12 (2,96) 15,43 (5,15) 11,13 (3,94) % Partos por cesariana 41,09 (7,74) 44,80 (3,33) 41,80 (7,20) Para os indicadores selecionados o comportamento varia: quanto maior o tamanho do município, menor a cobertura de quatro ou mais consultas de pré-natal, menor a mortalidade infantil (total e por causas evitáveis) e maiores as proporções de baixo peso ao nascer. O menor número de consultas médicas básicas por habitante ano 156 foi registrado para municípios entre 200.001 e 500.000 habitantes, apresentados na Tabela 4.4 abaixo. Tabela 4.4 - Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde para os municípios do Lote 2 Sul de acordo com o porte do município. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 100.001 a 200.000 Porte (nº de habitantes) 200.001 a 500.000 500.001 e mais Consultas médicas básicas/ hab/ ano 1,45 (0,36) 1,20 (0,39) 1,84 (*) % RN com 4 ou + consultas Pré-Natal 87,98 (6,29) 86,51 (5,65) 85,28 (*) % de Baixo peso ao nascer 9,60 (1,13) 9,75 (1,14) 10,25 (*) Mortalidade Infantil/ 1.000 NV 18,51 (3,72) 14,37 (3,70) 13,97 (*) MI Causas evitáveis 12,70 (4,31) 9,21 (2,26) 7,70 (*) 41,39 (6,49) % Partos por cesariana (*) Desvio-padrão não obtido para n=1. 42,51 (9,04) 41,00 (*) A Tabela 4.5 apresenta outras diferenças nos indicadores de desempenho do sistema de saúde. Os municípios da região metropolitana tiveram menos consultas médicas básicas por habitante e menor cobertura de quatro ou mais consultas de prénatal. Entretanto, tiveram menores taxas de mortalidade infantil (total e por causas evitáveis) e menores proporções de partos por cesariana. As proporções médias de baixo peso ao nascer não foram diferentes. 157 Tabela 4.5 - Médias (desvio-padrão) de indicadores de desempenho do sistema de saúde para os municípios do Lote 2 Sul de acordo com a localização do município. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Consultas médicas básicas/ hab/ ano Região Metropolitana Sim Não Total 1,32 (0,47) 1,42 (0,33) 1,38 (0,39) % RN com 4 ou + consultas Pré-Natal 84,97 (6,10) 89,03 (5,14) 87,29 (5,80) % de Baixo peso ao nascer 9,71 (0,82) 9,67 (1,28) 9,69 (1,08) Mortalidade Infantil/ 1.000 NV 14,75 (2,52) 18,18 (4,55) 16,71 (4,11) MI Causas evitáveis 8,69 (1,44) 12,97 (4,26) 11,13 (3,94) % Partos por cesariana 36,44 (4,32) 45,82 (6,29) 41,80 (7,20) a. Crianças O RS apresentou menor mortalidade infantil, mas maior baixo peso ao nascer. Em SC houve uma maior proporção de óbitos por causas mal definidas e menor taxa de internação por IRA em menores de cinco anos. A cobertura vacinal tetravalente em menores de um ano e a taxa de mortalidade neonatal não mostraram diferenças entre os estados (Tabela 4. 6). Em municípios de menor porte ocorreram mais óbitos infantis por causas mal definidas, maiores taxas de internação por IRA em menores de cinco anos e maior mortalidade neonatal.Em municípios pertencentes à RM houve menores taxas de internação por IRA e menor mortalidade neonatal. 158 Tabela 4.6 - Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos à saúde da criança de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. RS SC Total Número absoluto de óbitos de < de 1 ano 68,06 (58,13) 52,25 (11,87) 65,05 (52,58) % de óbitos em < de 1 ano por causas mal definidas 4,52 (2,36) 9,53 (9,75) 5,14 (3,75) Taxa de internação por IRA em < de 5 anos 39,57 (25,64) 30,30 (20,05) 37,80 (24,50) Cobertura vacinal por tetravalente em < de 1 ano (*) 100,00 (0,0) 100,00 (0,0) 100,00 (0,0) Número absoluto de óbitos neonatais 40,71 (29,48) 34,50 (6,45) 39,52 (26,60) Taxa de mortalidade 10,44 (3,05) 11,59 (4,30) 10,66 (3,23) infantil neonatal (*) Somente disponível para sete municípios do RS e para quatro de SC. b. Mulheres O estado de SC registrou menores taxas específicas de morte por câncer de colo uterino e mama e uma maior cobertura de exames citopatológicos em mulheres de 25 a 59 anos. No RS houve menor taxa de mortalidade materna e maior cobertura de sete ou mais consultas de pré-natal (Tabela 4.7). Em municípios de menor porte, houve maior mortalidade materna e menor mortalidade por câncer de mama. Quanto maior o porte do município maior a proporção de nascidos vivos com sete ou mais consultas de pré-natal. As taxas de morte por câncer de colo uterino e a cobertura de exames citopatológicos não mostraram variabilidade por porte do município. 159 Tabela 4.7 - Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos à saúde da mulher de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. RS SC Total 64,84 (46,39) 95,66 (28,14) 68,95 (44,93) Razão entre exames CP em mulheres de 25 a 59 anos e a população na faixa etária 0,16 (0,05) 0,20 (0,12) 0,17 (0,03) Taxa de mortalidade em mulheres por câncer de colo de útero 7,26 (2,67) 4,06 (1,90) 6,65 (2,81) Taxa de mortalidade em mulheres por câncer de mama 16,39 (6,55) 10,81 (1,79) 15,32 (6,31) % de nascidos vivos com 7 ou mais consultas de prénatal 57,70 (15,81) 44,26 (18,66) 55,14 (16,78) Taxa de mortalidade materna c. Adultos e idosos: doenças crônicas O estado do RS apresentou mais internação por Acidente Vascular Cerebral (AVC) e por cetoacidose / coma diabético, maiores taxas de mortalidade por Doença Cerebrovasculares (DCV) e por Tuberculose (Tabela 4.8). Os municípios de 200.001 a 500.000 habitantes registraram o melhor desempenho médio para este grupo de indicadores, com exceção da proporção de internações por cetoacidose e coma diabético, menor para os municípios de menor porte. Não foram observadas diferenças importantes nos indicadores deste grupo segundo a localização do município, com exceção da taxa de internação por insuficiência cardíaca congestiva (ICC), que foi menor na RM. 160 Tabela 4.8 - Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos a doenças crônicas de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. RS SC Total Taxa de internação por acidente vascular cerebral (AVC) 43,71 (20,28) 39,64 (14,04) 42,93 (19,00) Taxa de mortalidade por doenças cerebrovasculares 158,42 (42,28) 121,06 (44,22) 151,31 (44,15) Taxa de internação por insuficiência cardíaca congestiva ( ICC) 62,78 (30,29) 65,69 (27,93) 63,33 (29,20) % de internação por cetoacidose e coma diabético 23,59 (21,40) 7,20 (3,36) 21,13 (20,57) % de internação por diabetes mellitus 1,62 (0,37) 1,29 (0,67) 1,55 (0,44) Taxa de mortalidade por tuberculose 3,54 (2,07) 0,81 (0,40) 3,02 (2,16) d. Saúde bucal A cobertura de primeira consulta odontológica e a razão entre procedimentos coletivos e a população de zero a 14 anos foram maiores em Santa Catarina do que no Rio Grande do Sul, que apresentou uma maior proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais (Tabela 4.9). Os municípios de menor porte populacional registraram maior cobertura de primeira consulta odontológica e maior razão de procedimentos coletivos para a população de até 14 anos; mas a proporção de exodontias em relação às ações básicas individuais também foi maior. Os indicadores de saúde bucal foram piores para os municípios da RM. 161 Tabela 4.9 - Médias (desvio-padrão) de indicadores do Pacto da Atenção Básica de 2002 relativos a saúde bucal de acordo com a Unidade da Federação. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Cobertura de primeira consulta odontológica Razão entre procedimentos odontológicos coletivos e a população de 0 a 14 anos % de exodontias em relação às ações básicas individuais RS SC Total 9,82 (6,56) 22,34 (6,00) 0,24 (0,47) 0,47 (0,23) 0,28 (0,44) 13,56 (4,90) 8,70 (3,42) 12,63 (4,98) 12,20 (8,07) 4.3.5.2 Desempenho dos Modelos de Atenção Básica à Saúde 4.3.5.2.1 Perfil da Demanda Atendida nas UBS a. Idade, sexo e escolaridade da demanda A demanda estudada era composta predominantemente por mulheres (67%) e pessoas de cor branca (80%). A predominância do gênero feminino na utilização dos serviços se manifestou a partir dos 15 anos de idade. Antes disto, a demanda apresentou um equilíbrio entre os gêneros. Entre os 15 e os 49 anos de idade, o predomínio das mulheres está muito vinculado à vida reprodutiva. Figura 4.8 - Distribuição (%) da demanda atendida de acordo com os subgrupos etários. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 65 anos e mais 15% Menores de 5 anos 13% 5 a 14 anos 10% 50 a 64 anos 20% Homens 15 a 49 anos 10% Mulheres 15 a 49 anos 32% 162 Quase a metade da carga de trabalho diário em saúde infantil está dirigida aos cuidados específicos do primeiro ano de vida, pois as crianças menores de um ano de idade representaram 6% da amostra e as de um a quatro anos, 7%. As crianças de cinco a 14 anos constituíram 10% da amostra. As mulheres de 15 a 49 anos de idade eram 32%, proporcionalmente mais representadas nas UBS do tipo PSF, e os homens nesta faixa etária representaram apenas 10%. A demanda de 50 anos e mais correspondeu a 35%, sendo 20% de 50 a 64 anos, com uma distribuição muito semelhante nos três tipos de UBS, e 15% de 65 anos e mais. Assim, a carga de trabalho com enfoque nos cuidados das necessidades crônicas e degenerativas mais prevalentes na população adulta e idosa foi duas vezes maior do que aquela relacionada às crianças menores de cinco anos de idade (Anexo 4.55). Nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes se identificou a menor proporção de demanda de crianças com até cinco anos de idade (10%) e a maior proporção de idosos (16%). Na medida em que cresceu o porte populacional do município, aumentou a proporção da demanda de crianças e diminuiu a de idosos. Na região metropolitana a demanda de crianças menores de 5 anos (16%) foi significativamente maior e a de idosos (14%) significativamente menor do que nos municípios fora desta região, em que as crianças representaram 11% dos atendimentos e os idosos, 15%. No RS, a proporção de crianças menores de 5 anos foi de 14%, enquanto em SC foi de 10%. Em relação aos idosos a situação se inverteu, sendo atendidos 14% no RS e 19% em SC. Em relação à escolaridade, 11% eram analfabetos, 13% apenas alfabetizados, 41% cursaram o fundamental incompleto e 10% o fundamental completo. As menores proporções tinham escolaridade média incompleta (5%), média completa (7%) e superior (2%). Cerca de 11% da amostra estava fora da idade escolar. b. Participação dos profissionais no atendimento à demanda Em relação ao profissional responsável, os enfermeiros realizaram 10% dos atendimentos, embora as ações de profissionais da enfermagem tenham totalizado 60% dos procedimentos estratificados em grandes grupos, devido ao trabalho dos auxiliares e técnicos. Os médicos atenderam 24% da demanda, os odontólogos 6% e os outros profissionais de nível superior 3%. Os profissionais de nível médio realizaram 41% dos atendimentos e os ACS 15%. 163 Figura 4.9 - Distribuição (%) dos profissionais que prestaram os atendimentos de acordo com o modelo de atenção. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Enfermeiro Médico Odontólogo Tradicional Outro Nível Superior PSF Pré-PROESF Nível Médio ACS PSF Pós-PROESF A distribuição dos profissionais no atendimento à demanda foi muito semelhante entre os modelos de UBS, para enfermeiros, odontólogos, profissionais de nível médio e outros profissionais de nível superior, como mostra a Figura 4.9. Os médicos tiveram uma inserção significativamente maior no atendimento à demanda nas unidades Tradicionais (34%) do que nas unidades do PSF pré-PROESF (15%) e pós-PROESF (20%). Em contraste, os ACS responderam por 4% da demanda nas unidades Tradicionais, por 29% nas UBS do PSF pré-PROESF e por 19% nas do PSF pósPROESF. A maior proporção da demanda atendida por médico ocorreu em municípios de médio porte (31%), ficando em posição intermediária em Porto Alegre (21%) e ocupando a última posição nos municípios de menor porte (17%). A participação dos enfermeiros no atendimento à demanda decresceu linearmente com o aumento do porte do município, sendo 12% nos municípios de menor porte, chegando a 10% nos de médio porte e caindo para 7% em Porto Alegre. Em relação aos ACS, sua participação no atendimento foi quase duas vezes maior nos municípios de menor porte (21%) do que nos de médio (11%) e grande porte (12%). 164 Na região metropolitana houve uma participação significativamente menor do enfermeiro (7%) e do ACS (8%) no atendimento à demanda, em comparação aos demais municípios, respectivamente 12% para os enfermeiros e 19% para os ACS. Não houve diferença na distribuição dos atendimentos por profissional de saúde entre os estados do RS e de SC. c. Procedimentos realizados no atendimento à demanda O atendimento básico de enfermagem representou 39% da demanda de procedimentos, as consultas médicas 24%, as visitas domiciliares 16%, as imunizações 7%, os atendimentos por outros profissionais de nível superior 7% e os procedimentos preventivos em odontologia 7%. As visitas domiciliares foram significativamente mais freqüentes nas unidades do PSF pré-PROESF (30%) e pós-PROESF (20%) do que nas unidades Tradicionais (4%). Também ocorreram em proporção significativamente maior fora da RM (19%), do que nos municípios da RM (9%). As imunizações foram o procedimento com diferenças mais significativas entre os estados, correspondendo a 6% no RS e 11% em SC. Figura 4.10 - Distribuição (%) dos procedimentos realizados de acordo com o modelo de atenção. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Ações de enfermagem Ações médicas básicas Tradicional Ações básicas em odontologia PSF Pré-PROESF Ações de outros profissionais de nível superior Consultas especializadas PSF Pós-PROESF 165 4.3.5.2.2 Situação de Saúde e Utilização de Serviços na População de Abrangência da UBS 4.3.5.2.2.1 Crianças História reprodutiva das mães e pré-natal das crianças Em média, as crianças amostradas no Lote tinham mães com uma história reprodutiva de 2,9 gestações, 2,5 nascimentos e 20% de perdas fetais, não havendo diferenças significativas entre os quatro estratos analisados. A cobertura de pré-natal durante a gestação das crianças estudadas foi de 96% e 80% das mães iniciaram o acompanhamento até a 12ª semana de gestação, proporção que cresceu significativamente na área das UBS Tradicionais (83%) e nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (83%) - (Anexo 4.56). Apenas 37% das mães realizaram o pré-natal na UBS da área de abrangência de seu domicílio. O número médio de seis ou mais consultas de pré-natal foi alcançado por apenas 25% das mães que realizaram pré-natal na UBS de sua área, sendo que proporções maiores foram identificadas nas populações das UBS do tipo pré-PROESF (33%), em Porto Alegre (41%) e na RM (31%). O acompanhamento pelo mesmo médico durante o pré-natal realizado na UBS da área foi de 85%, sendo significativamente maior nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (88%) (Anexo 4.56). As razões para 63% das mães não ter realizado o pré-natal na UBS de sua área de abrangência foram a existência de cobertura por plano de saúde (19%), a dificuldade de acesso à UBS (10%), gestação de alto risco (3%), não estar residindo no bairro ou no município à época (30%) e o juízo insatisfatório em relação à UBS de sua área (39%) (Anexo 4.56). A insatisfação com o pré-natal foi significativamente maior na área das UBS Tradicionais e do PSF pré-PROESF (41%), nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (44%) e no estado de SC (41%). Aleitamento materno O estímulo ao aleitamento materno, o esclarecimento de dúvidas e preocupações a este respeito são objetivos importantes do pré-natal. Estão apresentadas na Tabela 4.10 abaixo as treze questões que descreveram a abordagem desta ação no pré-natal. 166 A importância de amamentar na primeira hora de vida do bebê foi a orientação mais lembrada, sendo referida por 72% das mães. Ter as preocupações sobre amamentação ouvidas, receber orientação sobre dificuldades para amamentar e orientação sobre posições para o aleitamento, dentre outras, foram referidas por cerca de 60% a 70% das mães. Entre os aspectos negativos foi destaque o baixo apoio para amamentar fornecido por grupos durante o pré-natal (34%) e logo após o parto (22%). Este achado reforça as oportunidades perdidas pelos profissionais para apoiar o aleitamento materno nos momentos mais cruciais de sua instalação. Mães residentes em áreas de UBS do PSF pré-PROESF e aquelas residentes em Porto Alegre avaliaram significativamente melhor as orientações recebidas e a oportunidade de esclarecer dúvidas. Tabela 4.10 - Orientações sobre aleitamento fornecidas no pré-natal realizado na Unidade Básica de Saúde da área de abrangência por modelo de atenção no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Modelo de UBS Indicador Importância de amamentar na 1ª hora de vida* Vantagens da amamentação* Hábitos de amamentação* Importância de estimular a criança a sugar* Importância da continuidade da amamentação* Preocupações sobre amamentação ouvidas* Prejuízo da mamadeira* Prejuízo do bico/ chupeta* Orientação sobre dificuldades para amamentar* Orientações sobre posições para o aleitamento* Orientações sobre extração do leite* Apoio para amamentar por grupo prénatal* Apoio para amamentar por grupo após o parto* PSF préPROESF PSF pósPROESF Tradicional 81% 79% 61% 77% 77% 76% 75% 75% 74% 58% 58% 58% 73% 69% 54% 71% 73% 51% 69% 69% 71% 69% 69% 70% 55% 54% 59% 68% 65% 51% 66% 44% 60% 35% 46% 25% 28% 25% 17% * p < 0,05 167 Condições do parto e peso ao nascer O nascimento da maioria absoluta das crianças (99%) ocorreu em ambiente hospitalar. Um terço delas (35%) nasceu através de cesariana. Proporções significativamente maiores de cesariana foram observadas entre as mulheres das áreas de UBS do PSF pós-PROESF (39%), dos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (38%), fora da RM (39%) e no estado de SC (40%). O peso médio dos recém-nascidos foi de 3.133 gramas. Não houve diferença significativa na análise por estado, região e porte. Em SC, o peso médio foi de 3.147 gramas, maior do que no estado do RS (3.128 gramas). Na RM o peso médio foi de 3.167 gramas e superou a média dos demais municípios (3.114 gramas). A proporção de baixo peso ao nascer foi de 11%. Não houve diferença significativa na análise por estado, região e porte. Embora não significativa, pode-se observar que a proporção de baixo peso na região metropolitana (9%) foi menor do que nos demais municípios (12%) e nestes últimos o pior desempenho foi no PSF préPROESF (14%). A menor proporção de baixo peso ocorreu em Porto Alegre (9%), sendo de 11% nos municípios de menor e médio porte. A análise por estados mostrou uma menor proporção de baixo peso no RS (11%) do que em SC (12%). Puericultura No Lote 2 Sul, 83% das crianças possuíam cartão para acompanhamento do peso, sendo esta proporção maior para as crianças das UBS do PSF pré-PROESF (88%), de fora da RM (85%) e do estado de SC (87%). Aproximadamente a metade das crianças (53%) foi pesada e medida na UBS de sua área de abrangência. Entre as crianças das áreas do PSF pré-PROESF (68%), de Porto Alegre (67%) e do estado de SC (62%), o acompanhamento de puericultura na UBS da área foi significativamente maior. Uma proporção de 49% de mães informou que era preciso marcar consulta para realizar a puericultura na UBS e esta condição foi mais freqüente nas crianças das UBS do tipo Tradicional (56%), nos municípios de 200.001 a 500.00 habitantes (71%), na RM (66%) e no estado do RS (55%). 168 Puericultura em um dia específico da semana foi uma realidade informada por 47% das mães, sendo mais freqüente nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (54%) e no estado do RS (50%). A espera na fila para realizar puericultura foi confirmada por 54% das mães, sendo mais freqüente nas áreas das UBS do tipo Tradicional (61%), nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (67%), na RM (62%) e no estado do RS (58%). Quando se questionou sobre haver pesado e medido a criança 12 vezes ou mais, a proporção foi de 20%, mostrando valores significativamente superiores para as áreas do PSF pré-PROESF (26%), de Porto Alegre (33%) e do estado de SC (25%). Este acompanhamento foi realizado em outro local que não a UBS da área de abrangência para 51% das crianças e valores significativamente superiores foram observados em áreas do PSF pós-PROESF (57%), nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (56%) e no estado do RS (53%). Os motivos informados para não realizar a puericultura na UBS de sua área de abrangência foram possuir cobertura por plano de saúde (18%), dificuldade no acesso (3%), não achar necessário o acompanhamento (7%), não morar no bairro (29%) e juízo insatisfatório sobre a UBS (43%). Este último foi mencionado por uma proporção significativamente maior de mães das unidades do tipo PSF pós-PROESF (50%), dos municípios com 100.001 a 200.000 habitantes (48%) e de fora da RM (46%). A opinião sobre a puericultura foi boa, muito boa ou ótima para 76% das mães que vivenciaram esta situação, sendo significativamente mais elevada nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (80%), fora da RM (81%) e no estado de SC (83%). Quando estas mães foram estimuladas a atribuir uma nota de zero a dez para avaliar a UBS de sua área de abrangência, a média alcançada foi 8,1, sendo superior nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (8,4). A média atribuída pelas mães residentes fora da RM foi de 8,4 e este desempenho se mostrou maior em SC (8,6). No momento das entrevistas 26% destas crianças estavam sendo amamentadas, significativamente mais nos municípios localizados fora da RM (28%) e em SC (29%). 169 Imunizações Na avaliação da cobertura vacinal utilizaram-se informações disponíveis no cartão da criança e, na sua ausência, informações fornecidas pela mãe ou responsáveis. Conforme descrito no item anterior sobre puericultura, 17% das crianças não possuíam cartão, ocasionando perda de informações a esse respeito. As perdas também ocorreram quando a mãe não lembrava as vacinas recebidas pela criança. Logo, a análise das imunizações isoladamente mostrou que a vacina contra a poliomielite (94%), o sarampo (91%), a tuberculose (100%), a hepatite B(93%) e a difteria, o tétano e a coqueluche (DPT) + Haemóphilus influenza tipo B + a vacina tetravalente (95%) alcançaram elevadas proporções de cobertura, sem diferenças significativas de acordo com o tipo de UBS. Quando estas diferenças apareceram, se revelaram favoráveis ao município de Porto Alegre, à RM e ao estado de SC (Anexo 4.57). Diarréia A ocorrência de diarréia no último mês foi informada para 23% das crianças. Pouco mais da metade destas crianças consultaram por este motivo (53%) e destas, menos da metade (47%) consultou a maior parte das vezes na UBS da área de abrangência. A utilização do serviço da área foi significativamente maior nos municípios fora da RM (51%). Consultas por diarréia acompanhadas pelo mesmo médico foram referidas para 94% das crianças. O fornecimento de orientações a respeito da prevenção e abordagem inicial da diarréia durante as consultas está detalhado na Tabela 4.11. 170 Tabela 4.11 - Prevalência de diarréia no último mês e características das consultas pelo problema das crianças estudadas no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Modelo de UBS Indicador PSF préPROESF PSF pósPROESF Tradicional Diarréia no último mês 26% 24% 20% Consultou por diarréia 57% 51% 51% Maioria das consultas na UBS da área 49% 47% 45% Consultou com mesmo médico 94% 95% 94% Soro caseiro 93% 86% 94% Prevenir desidratação 83% 92% 86% Reidratação oral 52% 63% 59% Água de arroz 25% 39% 32% Hospitalização por diarréia no último ano 7% 7% 10% Recebeu orientação sobre: Quando questionadas sobre o motivo ou justificativa para a criança não consultar por diarréia na UBS da área, 15% das mães informaram que a UBS estava fechada, 12% que era difícil marcar consulta, 10% que não poderiam esperar pela consulta e 4% que o médico nunca estava. A ocorrência de hospitalização por diarréia no último ano foi informada para 10% das crianças. Pneumonia Para o período dos últimos seis meses a ocorrência de Pneumonia foi referida para 6% das crianças, não havendo diferenças significativas na variação da prevalência em função de estado, região, porte populacional e modelo de UBS. A quase totalidade das crianças (98%) necessitou consultar pela pneumonia, 33% o fizeram na UBS de sua área geográfica e, destas 85% foram atendidas a maior parte das vezes pelo mesmo médico, como observado em Tabela 4.12. 171 Tabela 4.12 - Prevalência de pneumonia nos últimos 6 meses e características das consultas pelo problema das crianças estudadas no Lote 2 Sul. Estudo de Linha de Base, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Modelo de UBS Indicador PSF préPROESF PSF pósPROESF Tradicional Pneumonia nos últimos seis meses 7% 6% 6% Consultou por pneumonia 94% 100% 100% Maioria das consultas na UBS da área 39% 34% 37% Consultou com mesmo médico 85% 100% 69% Hospitalização por pneumonia no último ano 54% 47% 41% Questionadas sobre o motivo ou justificativa para a criança não consultar por pneumonia na UBS da área, 14% das mães referiram que o problema havia ocorrido à noite, quando a UBS estava fechada, 12% informaram que a UBS não resolvia o problema, 10% alegaram a falta de pediatra, 5% mencionaram falta de capacitação dos profissionais e 4% justificaram pela demora na obtenção da consulta. A ocorrência de hospitalização por pneumonia no último ano foi informada para 47% das crianças, sendo significativamente menor (8%) em Porto Alegre do que nos municípios de menor (52%) e médio porte (50%). Consulta por outro motivo Consulta na UBS da área de abrangência por outro motivo, exceto puericultura, diarréia e pneumonia, foi referida para 34% das crianças, sendo significativamente maior nas UBS do PSF pré-PROESF (38%) e no município de Porto Alegre (47%). Cerca de 18% das mães alegaram que as crianças não consultaram por outros motivos na UBS da área devido à avaliação insatisfatória do serviço, sendo este argumento significativamente mais freqüente (21%) nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes. 172 Entre as crianças que consultaram por outros motivos na UBS da área, a grande maioria (90%) foi atendida a maior parte das vezes pelo mesmo médico, sendo esta proporção mais elevada nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (93%), fora da RM (92%) e em SC (95%). 4.3.5.2.2.2 Mulheres Pré-natal A proporção de mulheres que fizeram alguma consulta de pré-natal, na última gravidez, foi de 98%. Para o estado de SC esta proporção foi de 99% e no RS 97%. Não houve diferença entre a RM (98%) e os demais municípios (97%). Nos municípios com população entre 200.001 e 500.000 habitantes, a proporção de consultas foi de 99%, seguido de Porto Alegre (97%) e dos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (97%). O tipo de UBS não apresentou diferenças significativas, no PSF a proporção foi de 98% e nas Tradicionais 97% (Anexo 4.58). De modo geral, as mulheres referiram o início do pré-natal do último filho em torno da 10ª semana de gestação, independente do modelo de UBS, estado ou porte de município. Em menos da metade dos casos (44%) o pré-natal foi feito na UBS da área de abrangência. Dentre as mulheres que fizeram o pré-natal fora da área da UBS (56%), um quarto (26%) referiu como motivo a insatisfação com a UBS da área. O acompanhamento do pré-natal pelo mesmo médico foi uma realidade para 85% das mulheres que utilizaram as UBS do tipo Tradicional e para aproximadamente 75% daquelas atendidas por unidades do PSF (Anexo 4.58). Durante o pré-natal, a vacina contra o tétano deixou de ser aplicada em 30% das mulheres que efetivamente necessitavam, sendo realizada desnecessariamente em 58% das mulheres. A omissão foi maior nos municípios com porte populacional entre 200.001 e 500.000 habitantes (41%) do que em Porto Alegre (33%) e neste, maior do que a ocorrida nos municípios com 100.001 e 200.000 habitantes (23%). A aplicação desnecessária aconteceu com maior freqüência nos municípios com 100.001 a 200.000 habitantes (64%) do que nos outros dois estratos populacionais, onde alcançou aproximadamente a metade das mulheres (Anexo 4.58). Apenas dois terços das entrevistadas que realizaram o pré-natal na UBS da área de abrangência expressaram opinião positiva sobre o programa, padrão que não se 173 modificou significativamente com o modelo de UBS. No estado de SC, a avaliação do pré-natal pelas entrevistadas foi significativamente melhor do que no RS (Anexo 4.58). Aleitamento materno A informação sobre a importância de iniciar a amamentação na 1ª hora de vida da criança alcançou 73% das mulheres. Esta proporção foi significativamente maior nas unidades do tipo PSF, nos municípios incluídos no porte populacional de 100.001 a 200.000 habitantes e no estado de SC. A escuta das preocupações ou problemas com a amamentação e a orientação sobre dificuldades e problemas com a amamentação foi referida por 67% das mulheres. Proporções significativamente mais elevadas foram observadas no estado do RS, nas unidades do tipo PSF pré-PROESF, seguidas das unidades PSF pós-PROESF. As orientações sobre a posição da criança ao mamar, extração do leite, amamentação exclusiva e prejuízo da mamadeira foram significativamente mais referidas nas áreas de UBS do PSF (pré e pós-PROESF), mas não mostraram diferenças significativas entre os estados. As orientações sobre amamentar sempre que a criança quiser e sobre a importância da criança sugar o peito, foram significativamente mais referidas nas áreas de UBS do PSF (pré e pós-PROESF), também sendo maior no estado do RS. Apenas 25% das mulheres mencionaram ter recebido apoio ou suporte para amamentar imediatamente após o parto, através de reuniões ou atividades em grupo. Planejamento familiar A utilização de algum método anticoncepcional foi uma realidade para 86% das mulheres da amostra, revelando proporções significativamente mais elevadas no estado do RS. Metade delas fez uso de anticoncepcional oral (50%), um quinto adotou o preservativo como método (22%), 9% se submeteu à laqueadura tubária e 2% utilizava o DIU. O anticoncepcional oral foi obtido na UBS para 30% das mulheres, sendo que 63% delas o compraram. Atendimento ginecológico 174 Um quarto das mulheres realizou consulta ginecológica no último ano e proporções significativamente maiores foram reveladas no RS. A atenção ginecológica foi prestada pelo mesmo médico para 90% das mulheres que consultaram. A opinião de 80% destas mulheres sobre o atendimento ginecológico na UBS foi positiva (Bom = 52%; Muito bom = 13%; Ótimo = 10%; Bom, mas com dificuldade para agendar = 5%). Ao se questionar sobre uma quantificação para esta avaliação, a resposta atingiu o valor médio de 8,1 em uma escala de 0 a 10. A avaliação do tempo de espera para conseguir uma consulta mostrou que 29% conseguem no mesmo dia, 12% no dia seguinte e 71% em outro dia da mesma semana (Anexo 4.59). Prevenção do câncer ginecológico O conhecimento sobre o exame para prevenção do câncer de colo uterino alcançou 90% das mulheres, sendo que 82% já o realizou alguma vez na vida. O exame de mamografia foi referido por 11% das mulheres. Utilização da UBS da área por outros motivos Um quinto (20%) das mulheres consultou na UBS por outros motivos, diferentes daqueles incluídos nas ações programáticas de saude da mulher e a ginecologia. Dentre as mulheres que não consultaram na UBS da área, 75% referiram não necessitar e 25% buscaram outro serviço. 4.3.5.2.2.3 Adultos Atividade física Dentre os adultos entrevistados, 69% caminharam por mais de 10 minutos na última semana, tendo referido esta atividade, em média, 3,2 dias na semana anterior à entrevista, com diferenças significativas para Porto Alegre (3,5), a RM (3,5) e o RS (3,3). Sem diferenças entre o porte dos municípios e os modelos de atenção. Aproximadamente 43% caminharam por mais de dez minutos quatro ou mais dias na última semana, sendo que esta proporção foi significativamente mais elevada em Porto Alegre (52%), na região metropolitana (49%) e no estado de SC (45%). 175 Além disso, os entrevistados responderam questões sobre atividades de “média intensidade”, aqui consideradas aquelas que o fizeram suar um pouco ou aumentar um pouco sua respiração e seus batimentos do coração, por mais de 10 minutos seguidos, como, por exemplo, pedalar em ritmo médio, nadar, dançar, praticar esportes só por diversão, fazer serviços domésticos leves, em casa ou no pátio, como varrer, aspirar, etc. Aproximadamente 70% da amostra referiu realizar atividades de média intensidade pelo menos um dia por semana, com diferenças significativas somente para a região (72% fora da RM e 68% na RM). A média de dias em que esta atividade se realizou foi 4,0, não havendo variação entre estado, porte dos municípios, região e tipo de UBS. Realizar atividades de média intensidade por quatro ou mais dias por semana foi referido por 55% dos adultos, em maior proporção para os da RM (56%). Os adultos também foram questionados sobre “atividades físicas fortes”, aqui consideradas aquelas que o fizeram suar muito ou aumentar muito sua respiração e seus batimentos do coração, por mais de 10 minutos seguidos, como por exemplo, correr, fazer ginástica, pedalar rápido em bicicleta, fazer serviços domésticos pesados em casa, no pátio ou jardim, transportar objetos pesados, jogar futebol competitivo, etc. Estas atividades foram referidas por 26% da amostra, com menor proporção para os residentes na RM (23%). A média de dias por semana da atividade na última semana foi 1,0, não havendo variação entre os estratos. Esta atividade sendo realizada por quatro dias ou mais foi encontrada em 12% da amostra, sem diferenças entre estado, porte do município, região ou modelo de atenção. Hábitos de vida Aproximadamente um terço dos adultos (33%) eram fumantes, sendo a proporção mais elevada na população das UBS do tipo PSF pré-PROESF (38%) e do estado do RS (34%). O consumo de álcool foi informado por 37% dos adultos, sendo significativamente mais freqüente fora da RM (39%). O abuso na utilização de bebidas alcoólicas (MASUR, 1983; SOINBELMAN 1992) foi evidenciado para 18% das pessoas que utilizavam este tipo de bebida, sendo significativamente maior no estado do RS (19%). Dois terços da amostra de adultos identificou a alimentação saudável evitando gordura animal, os exercícios físicos regulares, evitar bebidas alcoólicas em excesso e 176 consultar o médico regularmente como as medidas mais importantes para manter uma boa saúde. Percepção sobre saúde Um terço dos adultos identificou sua situação de saúde como regular e 8% como ruim, sendo as proporções mais elevadas de auto-avaliação negativa encontradas em Porto Alegre (10%) e na RM (9%). Acidentes e violências A proporção de pessoas que sofreram acidentes incapacitantes para atividades cotidianas foi de 28%, sendo de 5% a ocorrência de violências incapacitantes para atividades cotidianas. As diferenças não foram significativas entre os estratos analisados, sendo exceção a ocorrência significativamente maior de violências incapacitantes no estado do RS (6%). Problemas psíquicos Ao rastrear os problemas psíquicos menores com o SRQ-20 (SPENCER, 1986), a proporção de adultos com resultado positivo foi de 33%, sendo significativamente mais elevada na área do PSF pré-PROESF (39%) e no município de Porto Alegre (35%). “Problema de nervos” foi referido por 28% dos adultos e proporções mais elevadas foram encontradas nos municípios com 100.001 a 200.000 habitantes (31%). A média de duração deste sofrimento foi de 13,2 anos. Apenas 19% dos adultos consultavam na UBS da área por estes problemas. O número de consultas nos últimos seis meses por este motivo foi em média de 2,5 por usuário, sendo significativamente superior na região metropolitana (3,1). O número de consultas nos últimos seis meses na UBS da área para problemas psíquicos foi de 2,2 por usuário, sendo significativamente maior na região metropolitana (2,7) e no estado do RS (2,4) - (Anexo 4.60). A consulta foi agendada em 54% dos casos e o tempo de espera decorrido entre a data da marcação da consulta e a realização da mesma foi em média de 3,1 dias. O 177 tempo decorrido desde a última consulta para problemas psíquicos foi de 54,7 dias. Aproximadamente a metade das pessoas que se consideraram portadoras deste tipo de problema (52%), mencionaram a necessidade de usar medicamento para o tratamento. Outras formas de tratamento, além da orientada pelo médico, foram mencionadas por 40% dos portadores de sofrimento psíquico, sendo as proporções mais elevadas nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (48%) e no estado de SC (51%) - (Anexo 4.60). Apenas 1% da amostra participou de atividades de grupo na UBS para portadores deste tipo de sofrimento. A hospitalização por problemas psíquicos foi informada por 7% dos casos, sem diferenças significativas nos estratos analisados (Anexo 4.60). Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) O diagnóstico de HAS foi informado por 28% dos adultos entrevistados e proporções maiores foram detectadas no estado do RS (29%). A duração conhecida do problema foi em média de 8,5 anos. Mais da metade destas pessoas (60%) não havia consultado na UBS da área nos últimos seis meses por este problema. Entretanto, na área das UBS Tradicionais esta proporção alcançou 69% dos adultos (Anexo 4.61). Em média, cada adulto com HAS realizou três consultas pelo problema na UBS da área nos últimos seis meses. Valores significativamente superiores foram encontrados em Porto Alegre (4,4), na RM (3,9) e no estado do RS (3,3). Consultar regularmente com o mesmo médico foi referido por 97% dos adultos hipertensos, alcançando 100% em Porto Alegre. Em média, cada hipertenso realizou 2,7 consultas com o mesmo médico na UBS da área nos últimos seis meses, sendo significativamente maior em Porto Alegre (3,8), na RM (3,5) e no RS (3,0). A consulta foi agendada para 58% dos hipertensos, 48% deles foram atendidos no mesmo dia e os demais tiveram um tempo médio de espera de 4,7 dias, significativamente maior (10,2 dias) em Porto Alegre. O tempo decorrido desde a última consulta por HAS foi de 47,3 dias (Anexo 4.61). Em termos terapêuticos, 83% dos hipertensos utilizava medicamentos. Um terço dos adultos hipertensos (34%) informou utilizar outras formas de tratamento além daquelas preconizadas pelo médico. A participação em atividades de grupos para 178 hipertensos na UBS da área foi informada por 16%, sendo mais elevada na área do PSF pré-PROESF (24%) e fora da RM (20%). A hospitalização por HAS aconteceu nos últimos dois anos para 12% desta amostra (Anexo 4.61). Diabete Mellitus (DM) O diagnóstico de Diabete foi informado por 7% dos adultos e o tempo médio de conhecimento do diagnóstico foi de 6,6 anos, sem diferenças significativas nos estratos estudados. A proporção de adultos que consultaram por diabete na UBS da área foi de 49%. Esta proporção foi significativamente maior nas unidades do tipo PSF pósPROESF (57%) - (Anexo 4.62). Em média cada diabético realizou 2,7 consultas com o mesmo médico na UBS da área nos últimos seis meses, sendo significativamente maior em Porto Alegre (3,8), na RM (3,5) e no estado do RS (3,0). Cerca de dois terços dos diabéticos (67%) realizaram consulta mediante agendamento prévio e o tempo médio decorrente entre a data da marcação da consulta e o de sua realização foi de 4,9 dias. O tempo decorrente desde a última consulta por diabete na UBS da área foi de, em média, 50,9 dias, sendo significativamente maior em Porto Alegre (75,0 dias) e na região metropolitana (67,1 dias) - (Anexo 4.62). O uso de medicação para o tratamento da doença foi referido por 81% dos diabéticos e a adoção de outras formas de tratamento, além daquelas preconizadas pelo médico, foi informada por 43% dos diabéticos. A participação em atividades de grupo na UBS da área foi informada por 18% dos diabéticos, sendo significativamente maior na área do PSF pré-PROESF (31%). A hospitalização por DM nos últimos dois anos ocorreu para 15% dos indivíduos portadores, sendo significativamente maior na RM (23%) - (Anexo 4.62). Saúde da Mulher Na amostra de adultos, 57% eram mulheres, com idade média de 45,8 anos. Cerca de um quarto das mulheres (25%) havia consultado no último ano e 1,3 consultas 179 por mulher foram com o mesmo médico. O tempo de espera entre a marcação da consulta e sua realização foi de 11,7 dias, sendo significativamente maior na RM (14,3 dias). Nos últimos três meses, 20% das mulheres consultaram na UBS da área por outro motivo, diferente do ginecológico, realizando em média 1,9 consultas por mulher. A proporção de consulta na UBS da área por outro motivo foi significativamente maior na área do PSF pós-PROESF (25%) e em Porto Alegre (24%). A história familiar de câncer de mama em mães e irmãs das mulheres entrevistadas foi de 3%. A proporção de mulheres que tiveram as mamas examinadas na última consulta ginecológica foi de 64%, revelando que aproximadamente um terço delas não foi contemplada com este exame físico considerado obrigatório em um exame ginecológico adequado. As mulheres realizaram em média 1,8 mamografias, tendo sido observadas média maior em Porto Alegre (3,4) e nos municípios da RM (2,3). Do total, 52% das mulheres realizou pelo menos uma mamografia, sendo que entre estas encontrou-se uma idade média de 48,6 anos e cada mulher realizou em média 3,4 mamografias. A quase totalidade das mulheres conhecia o exame para prevenção do câncer de colo uterino (96%) e 93% delas já o haviam realizado alguma vez. As maiores proporções foram encontradas na área do PSF pós-PROESF (95%) e nos municípios com 200.001 a 500.000 habitantes (96%). Ao serem questionadas sobre o local de realização do último citopatológico, 37% das mulheres informara ter realizado o exame na UBS de sua área de abrangência, sendo esta proporção significativamente maior na área do PSF pré-PROESF (50%) e em Porto Alegre. (50%). Opinião sobre o atendimento na UBS Na opinião dos adultos, em uma escala de zero a dez, a qualidade do atendimento foi avaliada em 7,7 e melhor avaliada nos municípios fora da RM (8,0). 4.3.5.2.2.4 Idosos Atividade física 180 Dentre os idosos, 56% caminharam por mais de 10 minutos na última semana, tendo referido esta atividade em média 2,4 dias na semana anterior à entrevista. Sem diferença entre os estados, significativamente mais tempo foi dedicado às caminhadas em residentes na área de abrangência de UBS Tradicionais (2,6 dias), em municípios de maior porte (2,6 dias) e na região metropolitana (2,6 dias). Cerca de um terço dos idosos (30%) referiu esta atividade por quatro dias ou mais, sem diferenças importantes conforme o tipo de UBS e o estado. Residentes em municípios de maior porte e localizados na RM apresentaram significativamente maior proporção de caminhadas por quatro dias ou mais na última semana – 34% e 33%, respectivamente. Além disso, os entrevistados responderam questões sobre atividades de “média intensidade”, aqui consideradas aquelas que o fizeram suar um pouco ou aumentar um pouco sua respiração e seus batimentos do coração, por mais de 10 minutos seguidos, como, por exemplo, pedalar em ritmo médio, nadar, dançar, praticar esportes só por diversão, fazer serviços domésticos leves, em casa ou no pátio, como varrer, aspirar, etc. Responderam positivamente a esta questão 56% dos idosos, sendo maior esta proporção no estado de SC (60%). O tempo de realização destas atividades foi de 95,3 minutos, sendo maior nos municípios de 200.001 a 500.000 habitantes (113,6 minutos). O número médio de dias que os idosos realizaram estas atividades de “média intensidade” foi de 3,2 dias e aqueles que realizaram estas atividades por quatro dias ou mais foi de 44% da amostra, sem diferenças entre os estratos. Os idosos também foram questionados sobre a realização de “atividades físicas fortes”, aqui consideradas aquelas que o fizeram suar muito ou aumentar muito a respiração e os batimentos do coração, por mais de 10 minutos seguidos, como por exemplo, correr, fazer ginástica, pedalar rápido em bicicleta, fazer serviços domésticos pesados em casa, no pátio ou jardim, transportar objetos pesados, jogar futebol competitivo, etc, o que foi referido por 9% da amostra. As atividades físicas fortes foram significativamente mais freqüentes em SC (14%) do que no RS (8%), não tendo sido registradas diferenças importantes de acordo com o tipo de UBS, o porte do município ou a região. Esta atividade sendo realizada por quatro dias ou mais foi encontrada em 3% da amostra, sendo significativamente maior em municípios de maior porte (5%) do que nos de pequeno porte (2%). 181 A recomendação médica para a prática de exercícios físicos em alguma consulta alcançou 36% da amostra, sendo maior em residentes de áreas do PSF pré–PROESF (43%), em Porto Alegre (41%) e no estado de SC (40%). Esta mesma recomendação na última consulta foi referida por apenas 28% dos idosos, sendo maior na área de PSF préPROESF (32%), em Porto Alegre (33%) e no estado de SC (32%). Hábitos de vida Pouco mais da metade dos idosos (52%) já havia fumado em algum momento da vida. A proporção de fumantes em algum momento da vida foi significativamente menor entre os idosos do estado de SC (44%). Alimentação saudável, não fumar, consultas médicas regulares, não tomar bebidas alcoólicas em excesso e fazer exercícios físicos regulares foram mencionadas por dois terços dos entrevistados como as medidas mais importantes para manter uma boa saúde. Percepção sobre saúde A maioria dos idosos percebeu sua situação de saúde como regular (42%) e 18% a avaliaram como ruim. Para 32% dos idosos, a situação de saúde era boa, sendo percebida como muito boa por 4% e excelente por 3%. A proporção de idosos que considerou a sua situação de saúde como ruim foi maior na RM (21%) do que nos demais municípios (16%) e também foi maior no PSF pós-PROESF (21%) do que nas unidades Tradicionais (16%). Não houve diferença significativa com relação ao porte e ao estado. Quedas e fraturas No último ano, 35% dos idosos caiu alguma vez e em 15% das quedas houve fratura, não havendo diferenças significativas em função do modelo de unidade, porte do município, região e estado. Hipertensão Arterial Sistêmica 182 A prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica entre os idosos foi de 62%, sendo significativamente maior em residentes de áreas do PSF pré-PROESF e no estado de SC (66%). O tempo médio que os idosos sabiam de sua hipertensão foi de 12,1 anos, independente de tipo de UBS, porte do município, região metropolitana ou do estado (Anexo 4.63). A consulta por hipertensão aconteceu na UBS para 45% dos idosos, maior nas UBS tipo PSF pré-PROESF (50%) e no estado do RS (47%). Consultar com o mesmo médico foi a realidade para 80% dos idosos hipertensos e proporção significativamente maior foi revelada nas unidades Tradicionais (86%). As consultas por hipertensão na UBS foram agendadas para 65% dos hipertensos sem diferenças nos estratos analisados. O agendamento aconteceu para o mesmo dia em 43% dos casos de idosos portadores desta condição, 41% tiveram sua consulta agendada para a semana em questão e 16% precisaram esperar mais de uma semana para serem atendidos. A proporção de consultas agendadas para o mesmo dia foi maior nas unidades do tipo PSF pré-PROESF e para as consultas na mesma semana esta proporção foi significativamente mais elevada nas unidades tipo PSF pós-PROESF (Anexo 4.63). O tempo médio que decorreu da última consulta até a data da entrevista foi de 44,8 dias, significativamente maior nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (50,2 dias) - (Anexo 4.63). O uso de medicamentos para o controle da pressão arterial era uma realidade para 95% dos hipertensos idosos, com diferença significativa para o estado de SC onde esta proporção foi mais elevada (98%). Outras formas de tratamento além daquelas indicadas pelo médico foram adotadas por 38% das pessoas e esta proporção foi maior nos municípios com 100.001 a 200.000 habitantes e fora da RM (Anexo 4.63). Participar de atividades de grupo dedicadas aos hipertensos na UBS foi uma afirmação de 17% desta amostra, revelando proporções significativamente superiores nas unidades tipo PSF pré-PROESF (23%), nos municípios com 100.001 a 200.000 habitantes (20%) e fora da RM (19%) - (Anexo 4.63). A hospitalização por hipertensão aconteceu em 15% dos idosos hipertensos e mais uma vez esta proporção foi significativamente maior nos municípios de 100.001 a 200.000 habitantes (19%) - (Anexo 4.63). Diabete Mellitus 183 O diagnóstico de diabete foi informado por 20% dos idosos e o tempo médio que tinham conhecimento do diagnóstico foi de 9,5 anos, sem diferenças significativas nos estratos estudados. A proporção de idosos que consultavam por diabete na UBS da área foi de 48% e esta proporção foi significativamente maior nas unidades do tipo PSF pósPROESF (57%). Consultar com o mesmo médico foi uma realidade para 87% destas pessoas. A consulta foi agendada em 71% dos casos indiferentemente do tipo de UBS, estrato populacional, região ou do estado. A consulta foi marcada no mesmo dia em 41% dos casos, 42% esperaram até uma semana e 19% esperaram mais de uma semana, sendo que esta espera de mais de uma semana foi significativamente maior à medida que o porte populacional aumentava e na RM. O tempo médio decorrente desde a última consulta foi de 45,8 dias, significativamente maior fora da RM (51,3 dias) e em SC (59,9 dias) – (Anexo 4.64). A necessidade de usar medicação para a doença foi informada por 84% dos diabéticos e o uso de outras formas para o tratamento além daquelas indicadas pelo médico por 42%, sendo que esta última condição revelou-se significativamente mais freqüente no estado do RS (45%) - (Anexo 4.64). A participação em atividade de grupo dirigida aos diabéticos foi informada por 14% dos idosos, sendo observadas proporções significativamente maiores nas unidades do tipo PSF pré-PROESF (23%) e fora da RM (18%). A hospitalização por diabete nos últimos dois anos aconteceu para uma proporção de 14% dos idosos portadores desta condição (Anexo 4.64). Problemas Psíquicos A proporção de idosos que referiram problemas de nervos foi de 34%, sendo significativamente maior nas cidades de porte populacional entre 100.001 e 200.000 habitantes. O tempo médio que sabiam ter problemas de nervos foi de 21,2 anos e não foi dependente das estratificações realizadas. A consulta por este motivo foi realizada na UBS por 16%, sendo maior esta utilização pela população das UBS do tipo PSF préPROESF (23%). O atendimento foi prestado na UBS por um mesmo médico para 84% destas pessoas e revelou um comportamento semelhante nas quatro categorias de análise adotadas. 184 Para 68% dos casos a consulta foi agendada, sendo marcada no mesmo dia para 37% dos informantes, para a semana em curso para outros 39% e um quarto (24%) dos idosos com este tipo de necessidade esperaram mais de uma semana para obter o acesso à consulta. O tempo decorrente da última consulta em relação à data da entrevista foi de 52,6 dias, sendo significativamente maior em SC (66,9 dias). O uso de medicamentos para problema de nervos foi referido por 60% dos idosos, outras formas de tratamento além da indicada pelo médico foram adotadas por 46% dos informantes e uma reduzida proporção (2%) destas pessoas participou de atividade de grupo para portador de sofrimento psíquico (PSP) na UBS. A hospitalização nos últimos dois anos por este tipo de problema aconteceu para 5% da amostra. O comportamento destas variáveis não apresentou diferenças significativas quando estratificada por tipo de UBS, porte populacional, região ou por estado. Cuidado domiciliar A necessidade de cuidado domiciliar nos últimos três meses foi informada por 9% dos idosos, significativamente maior nas populações das unidades do tipo PSF préPROESF (15%), nos municípios incluídos no estrato de 100.001 a 200.000 habitantes (11%) e fora da RM (10%). Utilizando uma escala de zero a dez, a satisfação média informada foi de 9,4, sem diferenças significativas nas estratificações realizadas (Anexo 4.65). Dos idosos, 15% informaram necessitar de cuidados domiciliares com regularidade e proporções significativamente maiores foram encontradas nas unidades do tipo PSF pré-PROESF (20%) e nos municípios entre 100.001 e 200.000 habitantes (17%) - (Anexo 4.65). 185 5 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DA ABS E DO PSF: ADEQUAÇÃO E PLAUSIBILIDADE O ELB representa um primeiro tempo na avaliação do PROESF, considerando sua efetividade e o impacto do PSF em grandes centros urbanos. Este estudo está, portanto, fundamentalmente orientado à avaliação do desempenho da ABS. O segundo tempo avaliará o impacto do PSF como tendência histórica da ABS no país. Os resultados do ELB foram sistematizados para examinar tanto a adequação da ABS aos princípios e diretrizes do SUS, quanto a plausibilidade de o PSF se constituir em modelo com melhor desempenho frente às necessidades de saúde coletiva. A adequação foi examinada ao comparar os achados relativos às dimensões político-institucional, organizacional da atenção e do cuidado integral com a prescrição para a área, definida em documentos oficiais, que incluem referenciais teóricos altamente relevantes tais como o Relatório Dawson (OPAS, 1964; STARFIELD, 1998), a Declaração de Alma-Ata (Declaration of Alma-Ata, 1978), a Carta de Ottawa sobre a Promoção da Saúde (BRASIL, 1996; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002), a Conferência da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1977), a Constituição do Brasil de 1988 (BRASIL, 2004), a Lei 8.080 (BRASIL, 1990) e o Guia Prático do PSF (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O exame da plausibilidade ocorreu na comparação do desempenho da atenção básica tradicional e do PSF na atenção dos usuários das UBS e da população da área de abrangência dos serviços. A universalidade é dos princípios reitores do SUS, aquele que melhor define o direito do cidadão à saúde. Em dezessete anos, o SUS avançou rapidamente em termos da inclusão social da população brasileira, mas existem grupos desassistidos, devido à diferenças geográficas e sociais na cobertura populacional e à lacunas importantes em serviços e recursos básicos e especializados. Neste sentido, o PSF cumpre um papel importante, beneficiando populações mais vulneráveis e significando uma maior adequação em termos de eqüidade. Os achados do ELB indicaram uma expansão do PSF no Lote 2 Sul no período de 2000 a 2004. No RS, especialmente no interior do estado, esta expansão esteve diretamente vinculada ao PROESF. Portanto, o PSF começa a se consolidar como a estratégia de reorientação e reorganização do modelo de ABS no Lote. Entretanto, permanece a dicotomia com o modelo Tradicional, que está fora da prioridade de governo e que mostrou um desempenho menos adequado frente às prescrições. Logo, a expansão do PSF é um requisito de coerência para a política de ABS no país, de modo a se adequar ao princípio de organização padronizada dos serviços públicos, prevenindo a duplicidade de meios para fins idênticos. O PSF tem contribuído para a adequação da rede básica, melhorando sua infraestrutura e a oferta de serviços. A humanização, o acolhimento e o acesso são os destaques positivos do PSF em relação ao modelo Tradicional, mas sua plena viabilidade ainda é um desafio. Ainda assim, o PSF possui distorções na realização das práticas de saúde e uma elevada rotatividade de profissionais de saúde, especialmente médicos, comprometendo o vínculo entre os profissionais e desses com a população. Conseqüentemente há a necessidade de equacionar a marcante expansão do trabalho precário promovida pelo PSF, que dificulta a solução da carência de profissionais para a ABS. Igualmente, é necessário o efetivo enfrentamento da formação inadequada para o desempenho das funções e da escassez de programas de educação permanente. O ELB encontrou as equipes de PSF significativamente mais capacitadas do que a das UBS tradicionais. Ainda assim, os gestores consideravam que as equipes do PSF necessitavam de mais capacitação e de conscientização para melhor prevenir e tratar os usuários de todas as idades. Essa necessidade foi reiterada na avaliação dos profissionais de saúde quanto à realização de cursos de capacitação e educação permanente, desde que ingressaram na ABS. Pouco mais de 30% dos entrevistados realizaram o Treinamento Introdutório, capacitação inaugural do processo de educação continuada no PSF. Ou seja, pelo menos dois de cada três trabalhadores da ABS não realizaram o treinamento que visa subsidiar o diagnóstico de saúde da comunidade e o planejamento da organização do trabalho e das ações de saúde da UBS. Além disso, o Treinamento Introdutório costuma ser realizado em períodos de no máximo duas semanas, logo, é possível que mesmo aqueles 188 que realizaram o treinamento tenham dificuldade de dominar os conteúdos esperados da equipe de saúde da família. O trabalho realizado na ABS, de um modo geral, carecia de planejamento, gestão e coordenação, não apenas nas UBS e gerências distritais, mas inclusive no nível central. O acompanhamento da ABS ainda é bastante burocratizado em relação às ações propostas. A supervisão restringiu-se a reuniões entre coordenadores e trabalhadores, sem uma periodicidade claramente definida, com a finalidade de encaminhar atividades e preencher relatórios. A realização de diagnóstico de saúde não foi informada por nenhuma das unidades básicas e o cadastramento da população geograficamente adstrita estava concluído em pouco mais da metade das UBS. A área de informação e informática, decisiva para o desenvolvimento da ABS, foi a menos adequada para o funcionamento do sistema municipal de saúde. A carência é essencialmente de informação interpretada e processada em função das demandas prioritárias, pois os municípios acumulam enormes volumes de dados, em sua grande maioria nunca analisados, divulgados ou utilizados para o planejamento. A integralidade, princípio chave para a ABS, pressupõe o acesso do cidadão a um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso. No Lote 2 Sul, a integralidade ainda está bastante distante da adequação prevista. Sua efetivação depende do enfrentamento tanto de problemas diretamente relacionados com a ABS, quanto daqueles de maior complexidade, que abrangem todo o sistema, como, por exemplo, o acesso a especialistas, a exames, medicamentos e outros insumos essenciais para a integralidade em saúde. Esta também é a situação da integração das ações de saúde, meio-ambiente e saneamento básico. A agenda de trabalho da equipe ainda é bastante concentrada no cuidado de uma grande demanda espontânea, que acaba absorvendo principalmente a força de trabalho dos médicos de uma forma quase integral. A sobrecarga de médicos com consultas pareceu ainda maior nas unidades do PSF, muitas vezes em detrimento de sua participação em atividades de prevenção e promoção da saúde. A enfermagem estende suas ações em atividades de cuidado, administração, manutenção da unidade, atividades comunitárias e, não raramente, é também 189 responsável por recepcionar os usuários na UBS. Os ACS parecem absorvidos em visitas obrigatórias e regulares a todas as famílias de sua micro-área, não havendo uma ênfase para a abordagem de risco ou de vulnerabilidade, que destinasse um maior tempo e esforço para indivíduos e famílias com maiores necessidades sociais e de saúde. Os ACS desempenharam ainda um importante papel no cadastramento da população adstrita e possivelmente o seu trabalho explica o cadastramento concluído em metade das unidades do tipo PSF e a ausência praticamente total desta identificação da comunidade nas unidades Tradicionais. A saúde bucal não estava instalada em um quinto das unidades do Lote e naquelas onde acontecia, as ações se acompanhavam de importantes carências em relação a equipamentos e materiais, restringindo-se na imensa maioria das vezes em atendimento odontológico para uma dezena de pessoas por turno de trabalho, configurando-se como um trabalho paralelo dentro da UBS. A educação em saúde de usuários e população da área de abrangência é uma estratégia fundamental em ABS, mas ainda distante da adequação desejada. O cotidiano de atendimento à demanda espontânea se desenvolve em um ritmo muito acelerado, não deixando o tempo necessário para a educação e orientação em saúde dos usuários. As atividades de grupo e outras ações coletivas eram escassas e pouco abrangentes, nem sempre dispondo de meios e técnicas pedagógicas e de comunicação adequadas. A população da área de abrangência das UBS geralmente não dispunha de programas delineados para a promoção da autonomia das pessoas, principalmente no caso de idosos e pessoas com sofrimento psíquico. As unidades do PSF apresentaram-se mais adequadas em relação aos cuidados domiciliares e à participação da equipe em atividades na comunidade. O processo de trabalho em ABS não estava claramente definido, tanto em relação às suas etapas, quanto em relação aos responsáveis por sua execução. A inserção dos profissionais na linha de cuidados da saúde encontrava-se permeada por conflitos corporativos, redundâncias na responsabilidade sobre algumas ações e profundas lacunas em outras. Este fato promoveu a intensificação do trabalho de alguns profissionais e uma inserção insuficiente de outros. O desempenho do sistema na ABS encontra-se bastante distante das prescrições do SUS. Menos da metade da demanda potencial utiliza a UBS de sua área de abrangência e a metade dos que não utilizam, justificam esta rejeição por um juízo 190 negativo a respeito do serviço.As ações de saúde são muitas vezes negligenciadas, devido à sobrecarga de trabalho para atender a demanda sentida das comunidades, ao descontrole do fluxo de invasão e evasão das pessoas em relação à UBS da área de adstrição, à desorganização do processo de trabalho, à falta de supervisão do trabalho e de educação permanente, à carência crônica de equipamentos e insumos, ao desconforto e à insegurança nos locais de trabalho. Entretanto, nas áreas de PSF a utilização dos serviços foi mais adequada do que naquelas servidas por UBS Tradicionais. Por exemplo, na avaliação da demanda atendida no PSF, o contato por ações programáticas e preventivas foi significativamente maior do que nas UBS Tradicionais. O desempenho do PSF pode ser significativamente maior do que o observado, considerando que a população de sua área de abrangência era sistematicamente mais pobre, menos escolarizada, vivia em domicílios mais inadequados e ocupados por um maior número de pessoas. Além disso, a situação de saúde da população coberta pelo PSF também era pior do que a da população servida por UBS Tradicionais. Em síntese, frente às prescrições, o PSF apresentou um desempenho mais adequado do que a atenção básica Tradicional. Além disso, é plausível afirmar que a melhoria do desempenho observada em UBS do PSF foi decorrente do modelo e não de fatores de confundimento. 191 Estudo de Caso: Abordagem Qualitativa Luciane Prado Kantorski Rita Heck Vanda Maria da Rosa Jardim Emília Nalva Ferreira da Silva 6 ESTUDO QUALITATIVO 6.1 Introdução A proposta deste estudo teve como objeto a avaliação das potencialidades e limites da integralidade e da atenção em saúde com relação à organização, gestão e cuidado no PSF. Através de um estudo de caso selecionado do Lote 2 da Região Sul Chapecó (SC)-buscou-se a apreensão da dinâmica da estratégia da saúde da família no território, no serviço, no cotidiano e no modo como os sujeitos se relacionam. Enfatizamos as subjetividades, os interesses, os conflitos e contradições, enfim, o potencial de sínteses e transformações constituídas no movimento em que se concretiza a prática da atenção básica em saúde. O Programa de Saúde da Família propõe uma conversão do modelo de atenção em saúde, tradicionalmente centrado na perspectiva de cura, passando então a assumir como foco a família em seu contexto, a partir de uma perspectiva abrangente do processo saúde-doença. O PROESF é um instrumento de suporte à conversão da atenção básica e expansão do Programa de Saúde da Família. A avaliação qualitativa de como se constitui a integralidade da atenção em saúde em casos específicos no PROESF tem o potencial de explicar e trazer evidências sobre os impasses e rumos que as intervenções adquirem em contextos particulares. A avaliação da atenção básica, tendo como foco o cenário da Estratégia da Saúde da Família, foi concebida a partir da apreensão de uma totalidade concretizada na esfera dos municípios, neste estudo Chapecó, que tem como base um conjunto integrado de medidas, estratégias, necessidades de saúde, práticas de planejamento, gestão e cuidado (MENDES GONÇALVES, 1992). A integralidade enquanto um dos princípios do Sistema único de Saúde assume uma definição legal relacionada à integração dos atos preventivos, curativos, individuais e coletivos, nos diferentes níveis de complexidade situados em cada caso. 193 Entendemos que a integralidade consiste num conceito polissêmico, guardando uma dimensão plural, ética e democrática, que se revela em diferentes saberes e práticas operados no cotidiano de trabalho e vivência dos sujeitos (educadores, trabalhadores de saúde, usuários e gestores) e se expressa de forma particular e própria em diferentes contextos (MATTOS, 2001; PINHEIRO, 2005; SILVA JR, 2004). O conceito de integralidade remete à integração de serviços através de redes assistenciais, reconhecendo a interdependência entre os atores e as organizações, tendo em vista que nenhuma delas dispõe da totalidade de recursos e competências para solucionar os problemas de saúde da população. Os autores afirmam que “Os discursos e as políticas sobre a integração fundamentam-se, assim, em três linguagens: a estrutural (modificação das fronteiras das organizações), a clínica (modificações nas práticas profissionais) e a da cooperação (novos formatos de negociação e de acordos entre atores e organizações)”(HARTZ, 2004). O objeto de estudo da pesquisa qualitativa consiste na integralidade, tendo-se como propósito produzir uma avaliação qualitativa das potencialidades e limites considerando a integralidade com relação à gestão, organização da atenção e cuidado em saúde. Neste estudo tem-se como objetivo: Objetivo Geral: Avaliar qualitativamente a integralidade com relação à gestão, a organização da atenção e o cuidado em saúde, em município com experiência bem sucedida em Saúde da Família. Objetivos Específicos: • Apreender os diferentes sentidos do cuidado atribuídos pelos gestor municipal, presidente do Conselho Municipal de Saúde, lideranças comunitárias, trabalhadores de saúde e usuários do SUS acerca da integralidade no contexto do PSF; • Identificar as potencialidades de comunicação e negociação entre os membros da equipe de Saúde da Família, gestor e usuários; • Reconhecer as características da relação e do vínculo da Equipe de Saúde da Família com os usuários e suas famílias, no espaço do território; • Conhecer no espaço da USF e do território, a organização das práticas de acolhimento ao usuário e suas necessidades de saúde; 194 • Averiguar as formas de acesso dos usuários às práticas de cuidado em saúde individuais e coletivas, em diferentes níveis de complexidade, viabilizadas pela USF enquanto porta de entrada do SUS; • Investigar o fluxo intra e intermunicipal entre unidades básicas, especializadas e hospitalares, retratando possibilidades e limites de integração entre serviços e setores; 6.2 Metodologia 6.2.1 Referencial Teórico-Metodológico A fim de apreender o objeto de estudo propõe-se a utilização do referencial da dialética materialista, apoiando-se principalmente nas concepções de Marx e Gramsci e em algumas contribuições contemporâneas de outros autores, que direcionam o entendimento dos diferentes modos como os atores / sujeitos sociais se colocam, no interior da estratégia do PSF e do PROESF. Deste modo, justifica-se que a escolha metodológica da dialética na realização deste trabalho se deve ao fato de considerar os seguintes aspectos: a preocupação com a totalidade e com as questões infra e superestruturais, a contradição enquanto constitutiva das relações sociais, a recomposição do problema prático sob a luz da interpretação teórica e as mudanças quantitativas e qualitativas desse processo. Portanto, consideramos como primeiro atributo da realidade social a ser investigada a sua historicidade, o que nos leva a avaliar as potencialidades e limites da integralidade do cuidado em saúde em serviços de Atenção Básica à Saúde, que operam com Equipes de Saúde da Família, buscando o entendimento das situações presentes em sua relação processual com um passado que é histórico, no sentido de instituir saberes e práticas sociais em saúde. O segundo atributo a ser considerado consiste no conjunto de elementos (econômicos, sociais, culturais, jurídicos, políticos, ideológicos) que compõem esta realidade entendidos cada um em articulação e numa relação de determinação com os demais. O terceiro atributo é considerar que cada fenômeno social particular faz parte de um todo, que só pode ser entendido e explicado a partir de sua relação neste todo. A síntese que se busca obter através da investigação científica precisa estar alicerçada na visão de conjunto da parcela da realidade social que se pretende explicar (GIOVANI, 1984). 195 A síntese é a visão do conjunto que permite ao homem descobrir a estrutura significativa (ou seja, a totalidade) da realidade com que se defronta, numa dada situação (KONDER, 1981). O autor reforça que há totalidades mais ou menos abrangentes e que para trabalharmos dialeticamente com o conceito de totalidade é necessário sabermos qual o nível de totalização exigido pelo conjunto de problemas com os quais nos defrontamos na investigação. Fazendo uma aproximação com nosso objeto de estudo, podemos dizer que pretendemos avaliar as possibilidades e limites da integralidade do cuidado em contextos específicos da atenção básica e para tanto é necessário compreendê-la como resultante de múltiplas determinações relacionadas ao contexto econômico, social, das políticas de saúde, da gestão, dos padrões culturais, do controle social, do processo de trabalho em saúde e das práticas de saúde enquanto práticas sociais. A categoria analítica proposta para analisar qualitativamente os dados que emergiram do campo empírico é a integralidade, tomando-se como dimensões de análise a gestão, a organização da atenção e o cuidado em saúde, partindo-se de recortes de contexto identificados como o município, a Unidade de Saúde da Família e a população (usuários). Ao abordarmos o caso estudado, o primeiro recorte de contexto adotado foi o município, em que se procurou abstrair dos documentos, relatórios das oficinas de capacitação e dados obtidos de gestores e presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde, informações que permitiram elucidar facetas da integralidade, do ponto de vista mais macro, que se referiam aos modos como a gestão planeja e coloca em prática a política de saúde no município, permitindo analisar a racionalidade técnica e política que sustenta a estratégia do PSF, no contexto das políticas públicas. O segundo recorte de contexto foi o serviço de saúde, ou seja, a Unidade de Saúde da Família - USF, aproximando-se dos dados obtidos no serviço de saúde relacionados à gestão e à organização da atenção em saúde. Procuramos captar diferentes expressões desta integralidade delimitada no universo das práticas de saúde, no interior do processo de trabalho desenvolvido a partir da USF. O terceiro recorte de contexto foram os usuários (população), fazendo-se uma aproximação mais micro com vistas a identificar as concepções, as percepções dos usuários e das lideranças comunitárias (informantes chave), sobre a integralidade e a sua materialização nas práticas de saúde. 196 Deslandes (1997) ao abordar as concepções em pesquisas sociais e as articulações com o campo da avaliação de serviços de saúde, descreve as seguintes fases, a fim de propor uma metodologia qualitativa para avaliação de projetos, serviços, ações e práticas em saúde, segundo a perspectiva dialética. • Conhecimento aprofundado da atuação no serviço, da ação, buscando conhecer os objetivos do programa, dados estatísticos do próprio serviço, estratégias e dinâmica de atendimento, características da população atendida, recursos com ênfase nos antagonismos e contradições existentes; • Correlação entre o projeto institucional do serviço e o contexto das políticas públicas, ou seja, analisar a nível estrutural as racionalidades técnicas e políticas que sustentam o projeto e as contradições que vivencia; • Conhecer o dia-a-dia do serviço. Inclui a observação da ação concreta dos sujeitos envolvidos, dos problemas vivenciados, dos antagonismos e relacionamentos entre os sujeitos implicados; • Compreender valores, opiniões, ideologias, visões de mundo acerca do serviço/prática que se quer avaliar, as possibilidades de sucesso e resistência; • Avaliar problemas empíricos visando propor ações e compartilhar o conhecimento produzido com aqueles sujeitos sociais cujas ações e vivências foram objeto de avaliação. A fim de entender o concreto com base no referencial teórico-metodológico dialético, alguns caminhos foram traçados e um percurso próprio da pesquisa é descrito na seqüência deste texto. 6.2.2 Aspectos Operacionais da Pesquisa Características do Estudo: A presente pesquisa trata-se de um estudo de caso que apresenta características importantes tais como: visam a descoberta, enfatizam a interpretação em contexto, buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, usam uma variedade de fontes de informação, revelam experiências de vida e permitem generalizações naturalísticas, procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social, utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa (LÜDKE, 1986). 197 O estudo de caso é uma investigação empírica que aborda um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão definidos (YIN, 2005). A investigação através do estudo de caso visa apreender uma situação tecnicamente única, baseando-se em várias fontes de evidência, com os dados convergindo num triângulo e beneficiando-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas, que conduz à coleta e análise dos dados. O autor ressalta a importância do estudo de caso na pesquisa avaliativa, evidenciando sua potencialidade em descrever o contexto real em que se dá a intervenção e a sua capacidade em explorar situações específicas, o que não seria possível somente pela análise dos resultados, por identificar na realidade estudada interrelações entre pressupostos e práticas concretas de serviços e programas. Local de Estudo: Na presente investigação realizamos um estudo de caso no município de Chapecó (SC), selecionado no Lote 2 da Região Sul, sendo estudada a integralidade a partir da USF Seminário, definida com base nos critérios e dados obtidos no campo empírico, durante o estudo epidemiológico, que apontaram esta como experiência bem sucedida com relação à integralidade no PSF. Justificativa: Determinantes para o município selecionado • Tempo de implantação do PSF: possibilidade de sedimentação de propostas; • Tempo de PSF: 1995 – primeira equipe; • Tempo de gestão plena do sistema: desde 1998; • Condições de trabalho; • Iniciativas de educação permanente – cursos e seminários / motivação da equipe como agente de mudança e autonomia do usuário; • Adscrição nas UBS Tradicionais; • Coordenação colegiada de UBS; • Indicação dos supervisores de campo como experiência bem sucedida; • Projeto Acolher Chapecó: prêmio David Capistrano – 2004. 198 Sujeitos do Estudo: • 17 Trabalhadores de Saúde que compõe as ESF (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e demais membros da equipe de saúde); • 44 Usuários – usuários da USF da área urbana; • 16 Informantes-Chave da área de abrangência da USF em estudo (identificados pelos Agentes Comunitários de Saúde, membros da equipe e outros informanteschave – ligados ao Conselho Gestor Local, lideranças do bairro e Conselheiro Municipal de Saúde); • 4 representantes da gestão em saúde - Gestor-Secretário Municipal de Saúde (1), Coordenações Locais – Coordenação Médica e Coordenação de Enfermagem (2) e Coordenador Regional do PSF (1). Os sujeitos do estudo foram identificados posteriormente conforme um número estabelecido aleatoriamente para cada entrevista e a letra inicial que caracteriza o grupo de entrevistados a que pertence, por exemplo: P 1 (Profissional 1); U 2 (Usuário 2), C 3 (Coordenador 3), I 4 (Informante-Chave 4). Instrumentos de Coleta de Dados: Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: análise documental, entrevista e observação. Para a análise documental recorremos ao Plano Municipal de Saúde, Relatório de Gestão, fotos cedidas pela Secretaria Municipal de Saúde, enfim, materiais escritos que serviram de fonte de informação acerca do município e do serviço estudado. A observação de campo inicialmente foi mais livre visando a ambientação dos pesquisadores no local de estudo, conhecendo as pessoas e identificando consensos e conflitos presentes no cotidiano da USF. A seguir, os pesquisadores focalizaram o acompanhamento dos usuários desde a sua chegada na USF, a recepção, os atendimentos individuais e grupais, as visitas domiciliares, as reuniões de equipe, enfim, toda e qualquer atividade que se desenvolveu no território, que tivesse alguma relação com o trabalho da USF. 199 A fim de contribuir para a sistematização dos dados da observação e encaminhar a análise dentro dos contornos estabelecidos no referencial materialista e dialético adotamos o fluxograma analisador proposto por Merhy (1997). Entrada Recepção Decisão de ofertas Cardápio Saída O autor refere que ao olhar para um serviço de saúde, de qualquer natureza, para perceber algumas situações características importantes sobre o “fazer saúde” é necessário identificar certos aspectos do serviço como: quem trabalha, como trabalha, para quê, por que e a quem serve. Os símbolos utilizados no fluxograma são universais, a elipse mostra o começo e o fim da cadeia produtiva, que para o serviço de saúde significa a entrada e a saída do usuário. O retângulo mostra os momentos em que se realizam as etapas do trabalho na cadeia produtiva, quando se realizam consumos de recursos e produção de produtos bem definidos, que vão servir para abrir novas etapas na cadeia. O losango representa os momentos em que a cadeia produtiva enfrenta um processo de decisão de caminhos a serem seguidos, são momentos de decisões e de possibilidades de percursos para atingir etapas seguintes e distintas. Este fluxograma nos ajudou a representar o que acontece no processo de trabalho da USF, desde a entrada do usuário até a saída deste do serviço e quais os processos-chave que ocorrem e caracterizam o serviço. A observação foi realizada em Chapecó, totalizando 280 horas. Trabalhamos na coleta de dados de observação, entrevistas e documentos entre quatro pesquisadores altamente qualificados (professores universitários, doutores e doutorandos), com experiência em pesquisa qualitativa no campo da saúde. As observações foram 200 registradas sistematicamente em um diário de campo visando apreender a descrição dos sujeitos, dos locais (serviços), das atividades, dos eventos especiais e a reconstrução dos diálogos. A observação possibilitou um contato pessoal e estreito dos pesquisadores com o campo empírico e uma aproximação da perspectiva dos sujeitos do estudo. A entrevista estruturada realizada com o Presidentes do Conselho Municipal de Saúde permitiu uma aproximação ao objeto de estudo conhecendo as especificidades da organização do controle social sobre as políticas de saúde com vistas à integralidade e os diferentes entendimentos acerca da Estratégia da Saúde da Família. As entrevistas semi-estruturadas e gravadas visaram o aprofundamento de questões relacionadas ao eixo da integralidade e foram realizadas com usuários, informantes-chave, equipe da USF e representantes da gestão em saúde. Os usuários foram entrevistados em domicílio, tendo sido selecionados na recepção da UBS-PSF durante o período de observação e por indicação da equipe. A seleção obedeceu aos seguintes critérios: • Usuários com doença crônica num quadro de maior gravidade (com hipertensão e / ou diabete e com fatores de risco associados: cardiopatia, sedentarismo, fumante, baixa adesão ao tratamento e que não responda à medicação); usuários com doença crônica compensados. • Mulheres grávidas em acompanhamento pré-natal na UBS-PSF; mulheres em idade reprodutiva; mulheres com filho menor de um ano (em acompanhamento na puericultura pela equipe). • Usuários da saúde mental com dependência química; usuários da saúde mental com transtorno psiquiátrico grave e usuários com transtorno psiquiátrico moderado ou leve. • Idosos acamados em cuidado domiciliar. As entrevistas com informantes-chave da área de abrangência da UBS-PSF foram realizadas em domicílio, com exceção de uma representante da unidade no Conselho Local. A identificação / indicação dos informantes foram realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde, equipe e outros informantes-chave, ligados ao Conselho Gestor Local, Associações de Bairro, Líderes Religiosos, ONGs, Clube de Mães, dentre outros. 201 As entrevistas com os profissionais incluíram todos os trabalhadores da unidade Seminário, sendo realizadas no próprio local. As entrevistas com os representantes da gestão foram realizadas na sede das Coordenações Locais. Foi solicitado para a entrevista o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos da pesquisa assim como garantido o anonimato dos mesmos e respeitados todos os preceitos ético-legais que regem a pesquisa com seres humanos, conforme o preconizado pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas. Critérios de Seleção do Caso: Sendo a integralidade o objeto de estudo, a escolha do local incluiu como critério a intensidade da possibilidade dos indicadores se manifestarem. Utilizamos como categoria operacional da integralidade o acolhimento, o fluxo e o cuidado no PSF atribuídos pelos sujeitos ao cuidado integral. Os critérios utilizados para a seleção do caso foi: • O município contar com um movimento político-institucional de organização do sistema de saúde local que incluía em suas prioridades ações estratégicas que viabilizassem a materialização da integralidade. • O serviço ser uma USF pré ou pós PROESF caracterizada como Unidade com organização para o cuidado integral bem sucedida na região urbana do seu município; O enquadramento do município que atende ao perfil definido no estudo como experiência bem sucedida, foi construído através de uma análise dos dados obtidos na pesquisa epidemiológica e nas questões abertas contidas nos instrumentos já aplicados a partir das seguintes fontes: • No questionário auto-aplicado ao gestor, a partir da apreensão do planejamento e do conjunto de estratégias adotadas pela gestão para viabilizar negociações, superação dos obstáculos e reforço das potencialidades, com vistas à integralidade; 202 • No instrumento aplicado aos presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde, a partir da compreensão e das ações desencadeadas pelo controle social, com vistas à integralidade; • Nos questionários sobre a estrutura e processo de trabalho preenchido pela equipe de saúde das USF, que fazem parte do nosso projeto global de avaliação e que nos remetem para articulações e movimentos da equipe de saúde, para viabilizar à integralidade no cotidiano do trabalho; • No instrumento de caracterização da demanda (Software PACOTAPS), que nos permitiu conhecer o perfil desta população e nos indica em que aspectos o PSF apresenta avanços e limitações com vistas à integralidade; • Nos relatórios do trabalho de campo dos supervisores do estudo epidemiológico, os quais relatam as facilidades, as dificuldades, as opiniões e os sentimentos em relação ao campo empírico que envolve a UBS, as equipes e a população; • Na sistematização feita na reunião de conclusão do trabalho de campo dos supervisores; nesta oficina realizada com os supervisores definimos as características que contribuíssem para que, no campo empírico, determinada experiência se apresentasse como bem sucedida em relação à integralidade do cuidado. Como metodologia de trabalho, adotamos a realização de grupo de discussão, aplicação da matriz de identificação de critérios, características das experiências bem sucedidas e solicitação aos supervisores que citassem por ordem de prioridade as USF e os respectivos municípios que se enquadrassem nos critérios e características por eles selecionados como determinantes das experiências. • As experiências não deveriam ser caracterizadas como bem sucedidas a partir de um critério que refletisse exclusivamente arranjos locais, quase pessoais, que não indicavam um comprometimento institucional, devido à fragilidade que tal experiência estaria exposta. 203 Quadro 6.1 - Critérios para definição do local de estudo. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Critérios Gerais Com relação à Equipe Comunidade - Tempo de funcionamento: quanto maior tempo melhor e mais condições de avaliar; - Estrutura: não é fundamental; - Capacitação; - Gestão – apoio do nível central; - Reuniões periódicas das equipes; - Capacidade de negociação articular diferentes níveis. - Conhecer: famílias, população, território; - Atividades fora da UBS; - Perfil – gostar de trabalhar com gente; visita domiciliar; grupo; generalista; - Atenção voltada para prevenção; - Conseguir trabalhar em equipe; - Reuniões periódicas das equipes; - Vínculo; - Liderança na equipe que mobilize; - Participar das decisões; - Processo de trabalho; - Autonomia nas decisões. - Participação da comunidade no processo; - Conhecimento da população sobre o PSF. Estudo Piloto Para o estudo piloto foi selecionada uma USF do Lote 2 Sul entre aquelas que gestores e trabalhadores listaram nas oficinas de capacitação, ordenando empiricamente até cinco USF, com organização para o cuidado integral mais bem sucedida na região urbana de seus municípios. A unidade de saúde da família Simões Lopes, no município de Pelotas/RS foi a unidade selecionada para a realização do estudo Piloto, nos períodos de 28 a 30 de setembro e 03 a 06 de outubro de 2005. A possibilidade de realizar o estudo piloto nos permitiu fazer uma revisão dos instrumentos, do enfoque da observação, assim como redimensionar a logística do trabalho de campo do estudo de caso, que foi realizado na seqüência. Após o estudo piloto tivemos oportunidade de discutir o estudo qualitativo com uma das consultoras do Ministério da Saúde, em dois dias de trabalho que contribuíram significativamente para o encaminhamento do trabalho de campo. Análise dos Dados: Os dados foram analisados conforme as seguintes etapas: ordenação, classificação e análise final. A ordenação dos dados obtidos através dos instrumentos como documentos, questionário auto-aplicado, entrevistas, observações e discussão em grupo ocorreu após sucessivas releituras de todo o material, agrupamentos e organização dos registros a partir da reflexão sobre os objetivos da pesquisa resultando em títulos genéricos. 204 A classificação dos dados iniciou-se a partir de tentativas de determinar o conjunto das informações presentes nos diferentes instrumentos de coleta de dados. Foi elaborada a seguir, uma síntese dos mesmos, conforme o instrumento utilizado e o grupo social em estudo, considerando as convergências e divergências centrais verificadas. A sucessiva releitura dos dados apontou para a apreensão de estruturas de relevância, constituindo-se a partir daí alguns temas e aspectos de análise, só então emergindo as categorias empíricas e analíticas (MINAYO, 1986). Entendemos categoria analítica como “... aquelas que retêm historicamente as relações fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Elas mesmas comportam vários graus de abstração, generalização e de aproximação” (MINAYO, 1994). Propomos como categoria analítica a integralidade, considerando as dimensões da gestão, da organização, da atenção e do cuidado em saúde, partindo de alguns recortes de contexto, a saber: o município, o serviço de saúde – USF e os usuários. As categorias empíricas “... são construídas com finalidade operacional, visando o trabalho de campo (fase empírica) ou a partir do trabalho de campo. Elas têm a propriedade de conseguir apreender as determinações e as especificidades que se expressam na realidade empírica” (MINAYO, 1994). Definimos a priori, visando o trabalho de campo, as seguintes categorias empíricas: o acolhimento, o fluxo e o cuidado no PSF considerando que concepções, compreensões e sentidos distintos emergiram do trabalho de campo e revelaram especificidades, movimentos, contradições da realidade empírica, expressas nas possibilidades e impossibilidades de materialização da integralidade. A etapa seguinte da operacionalização dos dados consistiu na análise final de caráter descritivo e interpretativo. As representações que seguem apontam um esquema de síntese de estudo qualitativo 205 Recortes de Contextos do Estudo Qualitativo 206 Avaliar qualitativamente a integralidade com relação à gestão, a organização da atenção e o cuidado em saúde, em município com experiências bem sucedidas em Saúde da Família. OBJETIVO GERAL: O objeto de estudo da pesquisa qualitativa consiste na integralidade, tendo-se como propósito produzir uma avaliação qualitativa das potencialidades e limites considerando a integralidade com relação à gestão, organização da atenção e cuidado em saúde. OBJETO DE ESTUDO USUÁRIOS USF Seminário MUNICÍPIO Chapecó.SC. RECORTES DE CONTEXOS entrevistados) lideranças comunitárias (16 Informante chave - Usuários (44 entrevistados) (17 entrevistados) UBS Trabalhadores de Saúde da Entrevista SemiEstruturada (gravadas) Gestor - Secretário Municipal de Saúde (1) e Coordenações (3) Observação Entrevista semi-estruturada Observação Entrevistas Semi-Estruturadas (gravadas) Documentos (Plano Municipal de Saúde e Roteiro para elaboração do Projeto PROESF) Entrevista Estruturada Práticas de comunicação e negociação nos diferentes níveis da gestão do SUS e em diferentes setores no âmbito do município e do território Percepção do usuário sobre o cuidado prestado pela ESF Relacionamento das famílias com a equipe de saúde Conhecimento dos membros da família e do meio social em que vivem os usuários Fluxos entre unidades básicas, especializadas e hospitalares (intra/inter municipal) Cuidado no PSF Vínculo Acolhimento Acesso aos diferentes níveis do sistema de saúde Gestão Municipal – características, relação com CMS, planejamento Questionário AutoAplicado Gestor - Secretário Municipal de Saúde (1) Presidente do Conselho Municipal de Saúde (1) ASPECTOS DE ANÁLISE INSTRUMENTOS SUJEITOS DO ESTUDO - Investigar o fluxo intra e intermunicipal entre unidades básicas, especializadas e hospitalares retratando possibilidades e limites de integração entre serviços e setores; - Averiguar as formas de acesso dos usuários as práticas de cuidado em saúde individuais e coletivas, em diferentes níveis de complexidade, viabilizadas pela UBS enquanto porta de entrada do SUS; - Reconhecer as características da relação e do vínculo da equipe de saúde com os usuários e suas famílias no espaço do território; - Conhecer no espaço da UBS e do território a organização das práticas de acolhimento ao usuário e a suas necessidades de saúde; - Identificar as potencialidades de comunicação e negociação entre os membros da equipe de saúde, gestores e usuários; Apreender os diferentes significados atribuídos pelos gestores municipais, presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde, lideranças comunitárias, trabalhadores de saúde, usuários do SUS acerca da integralidade no contexto do PSF ou cuidado; OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Cuidado no PSF - Fluxo - Acolhimento CATEGORIAS EMPÍRICAS 6.3 O Estudo de caso – Chapecó. SC. USF Seminário Chapecó O município de Chapecó foi fundado em 25 de agosto de 1917. Está situado no oeste catarinense e é pólo agroindustrial do sul do Brasil e centro econômico, político e cultural do Estado. Sua colonização foi basicamente italiana, alemã e polonesa. Localiza-se a 630 km de Florianópolis e sua área é de 625,60 km2. O município é a sede das principais empresas brasileiras de suínos, aves e derivados, tendo prestígio internacional pela exportação de produtos alimentícios industrializados de natureza animal. O rápido e constante crescimento da agroindústria ampliaram o mercado de trabalho e transformou-se na base da economia da cidade, juntamente com a agricultura. Mais tarde, o setor metal-mecânico surgiu como alternativa de desenvolvimento e vem se especializando na produção de equipamentos para frigoríficos. Localizada em meio a um entroncamento de rodovias federais e estaduais, com acesso fácil aos países do Mercosul - a Argentina está a 160 km - Chapecó é um ponto estratégico para negócios transfronteiras no sul do Brasil. Figura 6.1 - Mapa do Estado de Santa Catarina. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. O município de Chapecó possui uma população de 169.255 habitantes, destes cerca de 90% na área urbana e 10% na área rural. A cidade possui uma taxa de natalidade alta (19,9%), e apresenta uma expectativa de vida de 76,3 anos. Os menores de cinco anos representam cerca de 10% da população e os idosos são cerca de 6,0% da população. O município possui uma porcentagem de pobres de 19 % que está abaixo da média do país e uma alta taxa de alfabetização (91%) da população. A rede de água chega a 82% dos domicílios, entretanto apenas 7% da população têm rede de esgoto. Figura 6.2 - Foto da Cidade de Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. O município abriga cinco instituições de ensino superior entre as quais, duas Universidades. Possui vários cursos da área da saúde como Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia, dentre outros. O quadro a seguir demonstra os indicadores do município. 209 Quadro 6.2 - Indicadores Municipais Selecionados. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Pop. Nº USF Nº ESF % SF 17 19 33 169 255 Média % /VD/ PN família 0,06 96 Tx. Hosp. Pneum. 15,5 Leit o/ hab Despesa total hab 1,7 194,50 Despesa Municipal hab 64,77 Fonte: Ministério da Saúde, 2005 Chapecó possui sete Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 17 Unidades de Saúde da Família (USF). Das USF, cinco estão na zona rural, nove USF na zona urbana, sendo que duas USF na zona central e sete USF na periferia. A Secretaria de Saúde optou por construir três USF pertencentes a uma mesma equipe, pois o município possui áreas geográficas muito distantes. São UBS: Chico Mendes (11.163 pop.), Sul (6.710 pop.), Oeste (16.026 pop.), Cristo Rei (12.822 pop.), Santa Maria (14.221 pop.), Norte (13.936 pop.), EFAPI (18.297 pop.). Chapecó possui uma territorialização e adstrição de toda clientela da área geográfica do município e está dividido em 21 áreas, que estão de acordo com o principio de territorialização do PSF. A adstrição das famílias às ESF permite estruturar o sistema municipal de saúde regionalizado e hierarquizado, mas deve ser compatibilizado aos fluxos habituais das pessoas nos espaços urbanos (BRASIL, 2002). Os profissionais de cada unidade de saúde ainda estão fazendo o mapeamento das áreas de risco, e não possuem dados específicos sobre as mesmas. Os dados preliminares são de 59 áreas de risco sendo duas localizadas na USF Seminário, duas localizadas USF Leste e duas na UBS Cristo Rei. Este mapeamento visa conhecer a realidade socioeconômica das famílias, identificando os problemas de saúde e as situações de risco a que a população está exposta, ajudar no planejamento das atividades de saúde, olhando a integralidade do cuidado, ajudar no desenvolvimento de atividades educativas, na prevenção de doenças e na promoção da saúde, além de ajudar na avaliação do trabalho e no estabelecimento de metas e prioridades nas ações, estimulando o trabalho multiprofissional e intersetorial, como prevê o Programa Saúde da Família. Anteriormente, o município de Chapecó não possuía PACS. O começo da implantação do PSF no município foi em 1995, com quatro equipes e em 1996 mais 210 equipes foram montadas para cobrir a zona rural. Em 1997, a Secretaria Municipal de Saúde definiu que toda zona rural seria coberta pelo PSF e na zona urbana o PSF seria instalado em áreas especificas da cidade. O PSF foi apresentado como proposta de reorientação do modelo assistencial a partir da Atenção Básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). As equipes de saúde da família (ESF) são constituídas por um médico, um enfermeiro, três ou quatro auxiliares de enfermagem, de 1 a 10 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), um auxiliar de consultório dentário e um odontólogo. O município já está de acordo com as novas diretrizes do PSF, que insere na equipe básica de saúde da família um odontólogo, e o número de agentes de cada equipe varia de acordo com o número de pessoas sob sua responsabilidade, numa proporção média de um ACS para cada 550 pessoas acompanhadas. Das enfermeiras que trabalham no PSF, 28% têm especialização em saúde da família e 43% dos médicos têm especialização em Medicina Geral Comunitária. Dos cirurgiões-dentistas 15% tem especialização em Odontologia em Saúde Pública. Das 17 USF do município apenas uma tem população acima do que o PSF prevê 4500 pessoas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, esta USF está passando por um processo de reestruturação, quando serão implantadas mais duas equipes, além da existente. O município de Chapecó apresenta 31% da população com cobertura de PSF e pretende atingir a meta de mais de 80%. Assim, Chapecó apresenta as seguintes equipes de saúde da família: Jardim América (2 equipes); Eldorado (1 equipe); Quedas do Palmital / Linha Cachoeira / Goio-Ên (1 equipe); Seminário (1 equipe); Santo Antonio (2 equipes); CAIC (2 equipes); Marechal Bormann (1 equipe); Colônia Cella / sede Figueira / Belvedere (1 equipe); Leste (1 equipe); SAIC / Alto da Serra (1 equipe); Aldeia Condá / Toldo Ximbangue (1 equipe). Todas as unidades possuem uma farmácia básica como prevê o PSF. Segundo o gestor é necessário ampliar os espaços físicos das USF e as equipes, devido ao êxodo rural. Chapecó desenvolve educação continuada com os profissionais do PSF a fim de capacitá-los em atividades como: acolhimento, vínculo, vigilância epidemiológica, diabetes, prevenção DST/AIDS, vacinação e saúde da criança. Segundo o questionário auto-aplicado ao Gestor, está sendo elaborado um planejamento objetivando a 211 atualização dos conhecimentos dos profissionais das diversas áreas, para melhorar os indicadores de saúde. A capacitação é percebida pelos gestores como uma das alavancas da proposta de mudança e reorganização do modelo de atenção. Pode ser instrumento de gestão poderoso, ao provocar nos profissionais do PSF o debate dos seus conhecimentos em relação à prática. O mesmo está habilitado em Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde (GPSMS) desde janeiro de 1998 e o gasto em saúde é em torno de 15%. Conforme informações, vem aplicando recursos crescentes em saúde com o compromisso de consolidar o SUS garantindo o acesso e a saúde como direito. O município possui serviços de referência que são: Laboratório Municipal, Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II); Serviço de Atenção Psicossocial à Criança e ao Adolescente (SAPS); Centro de Referência de Especializado (CERES Geral); Centro de Referência Especializado Bucal (CERES Bucal); Centro de Testagem Anônima (CTA); Pronto Atendimento (Clínica Médica e Pediátrica). Os serviços de média e alta complexidade (MC e AC) são complementarmente contratados. Existe o contrato com oito Unidades de Laboratórios Privados (oferece MC e AC em exames), os outros serviços especializados são ofertados através de 24 estabelecimentos contratados. O sistema de saúde do município é referência da macro-região do extremo oeste catarinense para tratamento de Terapia Renal, Quimioterapia, Radioterapia, Litotripsia Extra Corpórea, Tomografia Computadorizada e Hemoterapia. O município possui um hospital privado – Hospital Regional do Oestedesenvolvendo ações de média e alta complexidade com 276 leitos. Este hospital é referência da macro-região para Urgência/Emergência II, Neurocirurgia II, Cirurgia Oncológica e Gestantes de Alto Risco. As demais demandas são encaminhadas para Florianópolis. Isso decorre do fato de não haver uma Central de Regulação no Estado contribuindo para a dificuldade de acesso aos serviços. O agendamento das consultas especializadas de MC dos serviços municipais (CERES) é realizado diretamente pela UBS e USF. Para outros ambulatórios, o agendamento ocorre através do Setor de Agendamento dos próprios serviços. A integração da atenção básica à saúde e os demais níveis de complexidade possibilita a organização da assistência ao usuário pelo PSF. O acesso à atenção 212 especializada depende de encaminhamento da ESF, sendo que a integração é proporcionada pelo estabelecimento de mecanismos de referência e contra-referência. Os principais instrumentos utilizados para o planejamento, gestão do sistema de saúde local, aprovação e expansão do PSF, são os Conselhos Locais de Saúde (CLS) e o Conselho Municipal de Saúde (CMS). Segundo a Presidente do CMS ela não conhece os representantes dos Conselhos Locais de Saúde, mas há uma tentativa de aproximação, pois antes as denúncias eram feitas diretamente à Secretaria Municipal de Saúde e agora se faz no CMS. Os principais projetos aprovados pelo Conselho foram relacionados com a Saúde Bucal, melhoria do acesso e o Projeto Acolher Chapecó. Continuando, relata que o PSF estava organizado até 2004 de acordo com o Projeto Acolher Chapecó, que nas unidades as enfermeiras faziam uma escuta qualificada, garantindo o acesso e que o Projeto acabou, não tendo sido prestadas maiores explicações ao CMS. Este Projeto ganhou em 2004 o Prêmio David Capistrano. Conforme o Gestor, existe um colegiado de coordenadores das UBS, que permite a descentralização da gerência, tendo o coordenador da Unidade o papel de coordenador da equipe de profissionais. Este colegiado contribui para o processo de planejamento nas próprias unidades. O município de Chapecó possui os seguintes programas intersetoriais na saúde: Programa de combate à obesidade (Secretaria de Esporte e Lazer e CAPS II), Programa de Reeducação Postural (Secretaria de Esporte e Lazer e Fisioterapeutas), Programa Fome Zero (Secretaria da Educação, Secretaria de Assistência Social, PSF), Programa de Assistência ao Adolescente (Secretaria de Educação e SAPS), Horto Municipal (Secretaria da Agricultura e Secretaria de Saúde). A Vigilância Epidemiológica é responsável pelos seguintes sistemas de informação e programas: SINAN (Sistema de Agravos de Notificação); SINASC (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos); SIM (Sistema de Informação de Mortalidade); API (Avaliação do Programa de Imunização); SIAIU (Sistema de Avaliação de Imunobiológicos Utilizados); Programa de Hepatite Viral; Setor de Vigilância Epidemiológica no Hospital Regional Oeste e Monitoramento de Doenças Diarréicas Agudas. Esta vigilância faz a supervisão nas Unidades de Saúde. 213 Chapecó foi reconhecida pelos participantes das oficinas ocorridas no Lote 2 Sul como uma experiência bem sucedida, por apresentar uma avaliação de ações programáticas, a partir dos dados consolidados do SIAB. As unidades que fizeram parte da avaliação quantitativa foram Cristo Rei, Leste e Seminário e haviam sido determinadas através de sorteio. A partir destes resultados, que sintetizam características essenciais dos serviços e dos critérios adotados no projeto pudemos definir que a USF Seminário fosse campo para o estudo qualitativo. USF Seminário Características da demanda: • A maioria dos usuários (65%) são mulheres; • A faixa etária mais atendida são crianças de 5 a 14 anos (26%), seguida de adultos jovens de 20 a 29 anos (48%) e de adultos de 50 a 64 anos (15%), e 30 a 39 anos (11%); • Das faixas etárias mais atendidas a maioria são mulheres (respectivamente 56%, 80%, 70% e 67%); • Os usuários têm o ensino fundamental incompleto (42%) e 16% são analfabetos; • A consulta realizada pelo enfermeiro soma 2% dos atendimentos; a consulta médica 11%; a consulta odontológicas 26% e a consulta dos auxiliares de enfermagem 61%; • Os encaminhamentos para especialistas são de 4%; • Retornos são de 2%; • Exames solicitados 7%; • Ignorado 31%; • Nenhum encaminhamento 55%; • Os motivos de atendimento são variados. Os principais são: exames gerais (29%); exame de rotina de saúde da criança (15%), procedimento odontológico (7%), vacinação (4%) e curativos (4%). Ela tem maior tempo de funcionamento (cinco anos). Possui uma população de baixa renda na área de abrangência e apresenta trabalho mais vinculado às diretrizes do PSF. 214 A USF Seminário através das ações de saúde, de planejamento, de gestão e coordenação, realiza reuniões de equipe, reuniões com os ACS antes das visitas domiciliares (a finalidade desta é discutir a necessidade de cada usuário a ser visitado) e reunião da enfermeira com os ACS. A recepção é feita por duas recepcionistas que encaminham os usuários para outros serviços que foram referenciados ou para agendamento nas ações programáticas. O atendimento é de 16 a 20 fichas clínicas por turno de trabalho. A unidade possui quatro auxiliares de enfermagem que são responsáveis pelos exames laboratoriais, sala de vacina, visita domiciliar, nebulização, acolhimento, recepção, administração de medicamentos e os cuidados de enfermagem são em média de 16 a 30 em cada turno. Os cuidados odontológicos são realizados a partir da distribuição de 12 atendimentos por turno (o consultório odontológico é em um “trailer”). A USF Seminário possui ações programáticas que realiza através de protocolos, com grupo de hipertensos e diabéticos (oito grupos que se reúnem a cada 40 dias) realizados pelos auxiliares de enfermagem, enfermeiro e ACS; grupo de crianças/bolsa alimentação (dois grupos todos os meses) realizados pelos ACS; grupo de adolescentes, idosos e puericultura. Desenvolve várias atividades como pré-natal, diagnóstico e tratamento de tuberculose, planejamento familiar, coleta de citopatológico, promoção do aleitamento materno, dentre outras. Realiza visitas domiciliares com os enfermeiros, o médico, os auxiliares de enfermagem e ACS. As ações educativas em escolas são realizadas pelos ACS, os auxiliares de enfermagem, a enfermeira e o dentista. Os cuidados domiciliares estão organizados para verificar a PA, curativos, visita a acamados, troca de sondas, visitas ao asilo, orientações sobre educação em saúde e uso de medicações. Através do SIAB a equipe sabe o total de famílias cadastradas, os usuários menores de um ano, as gestante menores de 20 anos, os RN de risco. A participação no CLS ocorre a cada dois meses, quando são realizadas reuniões em que todos são convidados, mas poucos da equipe participam. A estrutura física é uma casa alugada e adaptada para ser uma Unidade de PSF que tem algumas limitações, como por exemplo, o acesso de portadores de deficiência. 215 A USF Seminário possui algumas dificuldades nos encaminhamentos para dermatologista, ginecologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, ortopedista e psiquiatra. A aquisição de material permanente da Unidade está adequada às normas do Ministério, não há falta de material básico, como por exemplo, maca ginecológica, balança de adulto e criança, espéculos, termômetro, dentre outros. Apresenta todos os materiais de consumo básicos, como, por exemplo, agulhas, seringas, gaze, luvas, dentre outros. A USF Seminário possui todos os medicamentos da farmácia básica com exceção de aminofilina, carbamazepina, cimetidina, diclofenaco de potássio e fenobarbital. Dos exames complementares a USF Seminário não faz exame citopatológico, colposcopia, eletrocardiograma, pesquisa de BAAR, Rx sem contraste, ultrassonografia obstétrica e urocultura. A USF Seminário faz todas as vacinas do calendário com exceção de BCG. A caracterização dos profissionais da USF Seminário ficou assim: idade média de 31 anos, 86% são mulheres, 21% tem pós-graduação, 21% tem um emprego (todos são ACS); 71% ingressaram através de concurso público, 92% são estatutários, 100% estão satisfeitos com o vínculo empregatício, 93% são contratados por 40 h, 100% refere não receber incentivo do PSF, 57% têm vínculo com o Plano de Carreira, Cargos e Salários; 21% têm outro tipo de vínculo, 33% fizeram treinamento introdutório para o PSF; 73% receberam treinamento SIAB, 71% considera boa a qualidade do serviço e 91% acredita que a capacitação influi na prática profissional. Com relação à satisfação dos profissionais com a estrutura física da Unidade a média final foi 4,3; ao atendimento individual da demanda a média final foi 7; ao atendimento domiciliar a média final foi 7,6; ao trabalho em equipe a média final foi 8,5; ao preenchimento de relatórios a média final foi 6,5; às reuniões em equipe a média final foi 7,7; às reuniões na comunidade a média final foi 6,7; e com relação à coordenação local a média final foi 6,5. 216 6.4 Apresentação dos Resultados Os resultados apresentados a seguir foram obtidos a partir da coleta de dados do trabalho de campo, do estudo qualitativo em Chapecó, que consistem em observações, diálogos entre os sujeitos pesquisadores e trabalhadores de saúde, usuários e ainda, documentos obtidos durante o período em que estivemos no campo empírico. 6.4.1 Entrada no Campo: O trabalho de campo em Chapecó foi realizado nos dias 18 a 27 de outubro de 2005. O primeiro contato das pesquisadoras com o campo foi através de uma profissional que representava a Secretaria Municipal de Saúde, sendo inicialmente priorizado o contato institucional, para apresentação da proposta da etapa de avaliação qualitativa e o consentimento institucional. Telefonei para o nosso contato em Chapecó (uma profissional da SMS) e ela disse que estava mandando um carro nos buscar no hotel. Avisei as colegas do estudo e esperamos na recepção. Chegando o carro nos direcionamos à SMS e fomos recebidas (todas identificadas com camiseta do PROESF) pela profissional da SMS que foi se reunir conosco e depois nos apresentar para as pessoas dos setores. Inicialmente, fiz uma apresentação do nosso grupo e a seguir do estudo qualitativo, como chegamos em Chapecó e na USF do Seminário. O Seminário foi uma surpresa para todos, particularmente para a profissional da SMS que manifestou que a pessoa que fez o contato de nossa equipe havia lhe dito que podiam escolher a USF e pelo visto eles já tinham escolhido e não era a USF Seminário. Ela chamou o enfermeiro que estava assumindo naquele dia, a coordenação do PSF... nos falou de modo geral da organização da rede. Relatou que a Prefeitura está com o Edital aberto para concurso público com 25 vagas para médicos – salário R$ 4.900,00 e 20 vagas para enfermeiros-salário de R$ 2.600,00. Fala que o médico vai ganhar um abono imediato de 20% por estar com salário defasado... Quando pergunto do pagamento dos demais profissionais, responde que não existe um plano de cargos e salários na Prefeitura. Ela faz contato com USF Seminário e nos passa o horário de funcionamento: 7:30 – 11:30 hs e 13 – 17hs. Visitamos o Setor de Enfermagem, Regulação, Gabinete do Secretário, Coordenação de Enfermagem, Vigilância, Farmácia, Centro de Especialidades Médicas e Centro de Especialidades Odontológicas... Observamos que existe bastante medicação e nos relatam que não tem problemas de falta, o psicotrópico só é retirado na farmácia da sede. Segundo o relato o tempo de espera para atendimento odontológico é de até 2 semanas, na parte especializada (cirurgia, endodontia). (OBS). A seguir apresentamos a Figura 6.3 com o mapa de Chapecó com as Unidades de Saúde e a área de abrangência. 217 Figura 6.3 - Mapa da cidade de Chapecó, com as unidades de saúde e a área de abrangência. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Chapecó, 2005. No mesmo dia, no turno da tarde, fizemos nosso primeiro contato com a USF do Seminário, sendo acompanhadas pela profissional da SMS que nos apresenta à equipe. A enfermeira nos recebe, mostra a USF, explica rapidamente o funcionamento, apresenta os funcionários... Inicialmente, apresentamos e explicamos o projeto, os objetivos, reforçamos que precisávamos da disponibilidade e adesão dos mesmos à nossa proposta de avaliação (participam 5 ACS, a enfermeira e nós). Em seguida, nos reunimos com a médica... as auxiliares de enfermagem (1 ausente, com atestado médico), auxiliar de dentista, limpeza e pessoal da recepção. Manifestaram satisfação em nos receber e fala “pelo menos alguém reconhece o nosso trabalho”. (OBS). 218 Conselho Municipal de Saúde O Conselho como instância deliberativa, em que se encontram representados usuários, trabalhadores de saúde, gestor, prestadores de serviços, constitui-se numa arena democrática em que se deve processar o controle social do Sistema Único de Saúde. No quadro a seguir explicitamos informações sobre o Conselho Municipal de Saúde de Chapecó. Quadro 6.3 - Composição e Funcionamento do Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Tem Regimento Interno Ultima atualização do Regimento Sim 2003 Quantas entidades compõem o CMS 28 Entidades representadas Periodicidade das reuniões ordinárias Critério pelo Regimento. p/ quorum Governamental – 05 efetivas, Prestadores Serviços – 05 efetivas; Profissionais Saúde – 04 efetivos; Usuários – 14 efetivos Mensais Metade mais um. O CMS de Chapecó tem uma representação para diferentes seguimentos como gestor, coordenadores, usuários e trabalhadores como um espaço de controle social que funciona. No período de coleta de dados tinha na sua direção um grupo engajado, presidido por uma representante dos usuários. O perfil descrito a seguir mostra que a participação prolongada como Conselheira e as experiências em coordenações de movimentos sociais contribuem para que o CMS tenha um perfil mais posicionado. Quadro 6.4 - Perfil da Presidência do Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Sexo Feminino Idade 42 a Anos Completos de estudo 15 – concluindo Pedagogia Pós-graduação Não Profissão Entidade que representa Auxiliar de Indústria Tempo que é pres. do CMS 4 meses Tempo que participa do CMS 1989 Atividades que já coordenou Coordenadora da Assembléia; Presidente do Conselho de emprego e trabalho de Chapecó; Presidente da força sindical; Presidente de partido político; fiz vários cursos de intermediação também nessa área. Sindicato dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário 219 A condução das políticas de saúde precisa estar sendo continuamente articulada às instâncias de controle social, para que este se constitua de fato num espaço de formação dos sujeitos. Os diferentes interesses que circulam na plenária do CMS de alguma forma refletem as diferentes posições presentes no todo social e estão diretamente relacionados à inserção de cada um no processo produtivo, seja como prestador de serviço de saúde, trabalhador de saúde e usuário. A gestão no interior deste processo como instância executora das políticas de saúde necessita ser acompanhada, fiscalizada e precisa do apoio do CMS para implementar políticas que visem o fortalecimento do SUS. É claro que o gestor representa uma posição política do grupo que administra a Prefeitura Municipal, portanto não pode ser concebida ingenuamente como uma posição neutra, acima dos demais interesses. No entanto, não pode ser reduzido a esta posição, pois compõe o espaço do CMS como uma das forças que devem estar submetidas ao controle social. As ambigüidades que perpassam o processo de participação são assinaladas pelo Informante-Chave 16 revelando, além dos múltiplos interesses presentes, a complexidade da construção do processo participativo. O Conselho tem uma das comissões, que é a Comissão de Visita, o objetivo da Comissão de Visita é conhecer a rede e oferecer propostas também nessa rede, ou seja, oferecer para o Secretário, olha: “Está, não está funcionando, estão bem assim a gente viu desse jeito’’. Faz um relatório, só que dentro da Comissão de Visita, tinha algumas pessoas que têm uma visão totalmente política, sendo que o primeiro relatório que saiu da Comissão de Visita foi parar na Câmara de Vereadores, e aí faltou o quê? Faltou ética dessas pessoas que estão na Comissão de Visitas. (I 16). 6.4.2 O Planejamento e a Integralidade a Partir da Perspectiva da Análise Documental - estrutura dos serviços da rede básica, equipe, referência e avaliação Os documentos analisados no estudo de caso de Chapecó foram: o Plano Municipal de Saúde – 2005-2008 e o Roteiro e Diretrizes para elaboração do Projeto Municipal de Expansão da Saúde da Família. A opção em adotar o referencial conceitual de análise do Planejamento Estratégico Situacional (MATUS, 1993), deve-se ao fato deste ter aderência ao referencial teórico da dialética com fundamentação materialista e permitir operacionalmente uma interpretação dos documentos dentro de uma visão estratégica 220 que, ao mesmo tempo, avalia e aponta fragilidades, potencialidades, pontos de negociação explicitados nos diferentes momentos do planejamento. O enfoque metodológico que Matus (1993) propõe está constituído por quatro momentos básicos: a) Momento Explicativo; b) Momento Normativo; c) Momento Estratégico; d) Momento Tático Operacional. Segundo o autor, esses quatro momentos encadeiam-se em seqüências que se alteram, constituindo-se num processo contínuo. O Momento Explicativo corresponde a explicar a realidade à nossa volta. Na prática, explicar a situação, ou seja, compreender o processo de inter-relação entre os problemas, para ter uma visão global do sistema que os produz. É precisar o valor que esses problemas têm para os distintos atores sociais e a população em geral. O valor de um problema é a importância que ele tem para cada ator. É possível identificar este momento com o desenvolvimento de um diagnóstico, o mais próximo possível da realidade que se deseja mudar, ou seja, a imagem-objetivo que queremos chegar com uma determinada ação. É neste momento, que se deve listar todos os problemas identificados no diagnóstico e priorizar os de maior impacto, na perspectiva dos diferentes atores que participam da elaboração do Planejamento. O Momento Normativo corresponde à definição do conteúdo propositivo do plano e contém ações para se chegar à realidade desejada, para oferecer uma resposta aos problemas priorizados. Ele incide também sobre a estratégia a ser adotada e as decisões em torno da execução do plano. O Momento Estratégico concentra-se no cálculo da articulação entre o deve ser e o pode ser dos planos, incluindo a análise de viabilidade; deve-se identificar as restrições e procurar uma via para aumentar a possibilidade de resolução do problema, concebendo estratégias de cooperação entre os atores. O Momento Tático Operacional é o momento central da mediação entre o conhecimento e a ação; corresponde ao momento da implantação das operações ou ações que se materializam no dia-a-dia, como uma relação dialética entre os dois 221 submomentos do momento tático-operacional: a avaliação da situação e a resolução dos problemas. A ação é sempre o produto final de um cálculo, mas não necessariamente o produto final do plano formalizado. O movimento gera conseqüências e resultados que são permanentemente ponderados e avaliados antes de se fazer outro movimento e essa ação resulta nos dois submomentos: a avaliação da situação na conjuntura, instância do conhecimento e a resolução sobre problemas e operações, que conduz a ação. O Momento Tático Operacional não pode ser analisado somente a partir dos documentos utilizados no estudo, porque ele pressupõe uma espécie de prestação de contas dos compromissos assumidos no plano e sua execução, retomando dificuldades encontradas e permitindo uma reavaliação do que foi proposto e dos recursos para a viabilização, definindo novos passos. Considerando que no caso em estudo não existe um processo de avaliação sistemática incorporado ao planejamento da atenção, nos deparamos com um limite para avançar nesta análise. Mesmo este limite apontado, a partir dos documentos constitui-se num resultado do processo de avaliação da integralidade que remete para a negociação entre a gestão, os trabalhadores de saúde, os usuários e suas instâncias de representação em torno da adoção da avaliação como uma ferramenta para a organização da atenção em saúde no município. A seguir trazemos quatro aspectos para a análise de como está sendo planejada a atenção em saúde no interior da gestão municipal, tendo em vista a integralidade: estrutura dos serviços da rede básica, equipe, referência e avaliação. Os instrumentos utilizados foram os documentos, do Planejamento Estratégico Situacional dos quais extraímos os dados e os sistematizamos a partir dos momentos (explicativo, normativo e estratégico). 222 Quadro 6.5 - Estrutura dos Serviços da Rede Básica. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Aspectos de Análise Momento Explicativo Estrutura dos Serviços da Rede Básica - 18 USF – 19 ESF (composta por médico, enfermeiro, aux. de enfermagem, ACS, odontólogo, ACD); - 6 Policlínicas; - Laboratório Municipal de Análises Clínicas – 9 bioquímicos (340hs/sem. e 6–20hs/sem.); -Farmácia na UBS e Municipal; Problemas: Momento Normativo - Adequação da rede de serviços – reparos; - Aquisição de equipamentos; - Ampliar o atendimento odontológico; - Implantar o laboratório de plantas medicinais e a farmácia popular; Momento Estratégico - Parceria com o governo federal e estadual; - Captar recursos para área física e equipamentos; - Adquirir local para a construção de USF; - Projeto de Expansão do PSF; - Adquirir local para construção das USF; - Estrutura física inadequada; - Falta de prédios próprios da Prefeitura para instalar as USF; - Falta de equipamentos nas Unidades; A estrutura física inadequada, a falta de prédios próprios para instalar serviços públicos essenciais como saúde não é um problema exclusivo do município de Chapecó. Quando se propõe a inversão de um modelo de atenção em saúde que sobrevive atrelado à compra de serviços do setor privado, se tem como desafio consolidar práticas de saúde, ideologias e políticas que ofereçam a concretude necessária para viabilização do novo modelo. A Estratégia da Saúde da Família visa a substituição destas práticas. Quadro 6.6 - Equipe. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Aspectos de Análise Equipe Momento Explicativo - Secretaria Municipal de Saúde – 640 servidores (71 médicos, 51 enfermeiros, 45 odontólogos, 1 fisioterapeuta, 8 psicólogos, 3 fonoaudiólogos, 2 assistentes sociais, 1 nutricionista, 132 ACS, 9 bioquímicos, 3 farmacêuticos, 1 psicopedagogo, 2 terapeutas ocupacionais, 1 engenheiro sanitarista, 134 aux. enf. e 6 técnicos de enf., 30 aux. de consultório dentário e demais serviços de apoio; - Supervisão – 11 profissionais responsáveis; Problemas: Número insuficiente de profissionais; - Vínculo empregatício precário; - Ausência de Plano de Carreira, Cargos e Salários; - Rotatividade dos profissionais (especialmente médicos e ACS); - Necessidade de capacitação para profissionais atuarem no PSF; Momento Normativo - Desenvolver capacitação – Educação Permanente; - Concurso Público – para 12 ESF (1 médico, 1 enfermeiro, 2 aux. de enfermagem, 4 ACS, 1 odontólogo, 1 ACD - para cada 6.000 hab.); para profissionais atuarem na vigilância sanitária; - 19 ESF – meta para 2008 é de 35 ESF – 86% de cobertura, o que implica em ampliação das equipes; - Implantar em parceria com o Departamento de Recursos Humanos o Programa bem estar do Servidor Público Municipal; Momento Estratégico - Encaminhamento do concurso público em 2005; - Lei municipal de criação do cargo de ACS – apresentar a Câmara de Vereadores para votação – articular apoio; - Parceria com outras instituições Secretaria de Saúde do estado, Universidades, SENAC visando oferecer cursos de capacitação aos profissionais – negociação no Pólo de Educação Permanente; - Reforçar a supervisão e o apoio técnico; 223 A rotatividade dos Agentes Comunitários de Saúde foi um problema importante assinalado em diferentes espaços como as oficinas de capacitação, a observação e as entrevistas. Na observação constatamos que alguns ACS (na USF Seminário a minoria) haviam sido contratados há sete meses. Os trabalhadores verbalizavam que a situação do vínculo precário, a exigência de escolaridade mínima e os baixos salários inviabilizavam a continuidade no emprego. A Secretaria Municipal de Saúde fez movimentos para tentar algumas soluções para o problema, uma delas foi o encaminhamento de lei de criação do cargo do ACS. A rotatividade dos ACS constitui-se em um fator que compromete significativamente a Estratégia da Saúde da Família, pois o seu caráter de reversão do modelo aposta justamente na vigilância em saúde, no vínculo com a comunidade e na utilização da visita domiciliar, como um importante instrumento de trabalho. Sabemos que o ACS exerce uma função que é estruturante nesta concepção estratégica. Características como ser da comunidade, constituir-se como liderança, conhecer bem as famílias, comunicar-se bem com as pessoas da comunidade e estabelecer negociações com as famílias que concorram para a promoção, proteção e recuperação da saúde incorporadas pelos ACS (ao menos idealmente) ficam comprometidas com a rotatividade, que no caso deste município chegou a ser anual, nos últimos dois anos. Algumas mudanças ocorreram em função das contradições intrínsecas do processo de democratização da saúde, entre elas a autonomia do município garantida de forma legal, mas, concretamente sendo alvo de práticas eleitoreiras, disputas de interesses privados. Alguns destes agentes, segundo a fala dos coordenadores e alguns profissionais, sequer residiam na comunidade em que atuavam, outros tinham problemas de relacionamento que interferia no cadastramento das famílias e outros serviam a interesses diversos da função que exerciam. Na fala da Presidente do Conselho Municipal de Saúde de Chapecó, quando reitera a importância de se fazer um trabalho de conscientização da comunidade sobre a Estratégia da Saúde da Família, resgata a importância da substituição de alguns ACS. Entre os avanços está a troca de muitas ACS que estavam dando problemas. Ainda falta muito a conscientização da população sobre o Programa, de que o médico acompanha toda a família, por exemplo. Poderia haver um trabalho mais incisivo por parte das ACS e dos próprios médicos na comunidade. Ainda é necessária uma maior aproximação da população, conhecer suas necessidades, etc. É necessária a expansão do PSF em ainda muitas UBS, nós 224 precisamos deste tipo de trabalho... O trabalho das ACS se fosse eficiente poderia diminuir a demanda nos postos. Se isto ainda não acontece é um pouco de quem lidera este grupo – o qual parece estar melhorando agora com a nova coordenadora do PSF; da falta de capacitação das agentes e também de como elas são contratadas. Deveria haver todo um processo de seleção que evitasse problemas como do tipo: “Eu não vou receber a fulana porque eu não gosto dela. Ela é muito isso ou aquilo”. Além disso, deveria ser alguém com um bom nível de instrução. (Pres. CMS). Este argumento, apesar de verbalizado, deve ser relativizado com o contraponto de que nas falas das lideranças algumas pessoas revelaram as diferenças políticas, que no nosso entendimento constituem a arena democrática e em algumas situações interferiram no contexto de saúde local. Enfatizam também a necessidade das pessoas apropriarem-se dos espaços de participação e controle social para trazerem suas críticas, de modo que elas possam desencadear mudanças na realidade. Comigo está bom e eu acho também que eles fazem de tudo. Só que eu acho que tem muita política na área... Se não fosse a política... estava muito melhor. Eu acho que não deviam... perseguir um empregado ou outro. Eles são empregados, então não deviam perseguir. (I 3). Muda a política, muda o atendimento... Nas reuniões de saúde também deveriam as pessoas participar mais. Porque... você tem como pedir... para as pessoas serem avaliadas. Não adianta ir na Unidade de Saúde, sair de lá questionando, falando mal da Unidade... Então essas pessoas deveriam participar... das reuniões de saúde. (I 4). No que se refere à avaliação da integralidade da atenção, a partir das categorias acesso, vínculo, comunicação, a rotatividade dos ACS fragiliza todo esse processo que para ser construído exige uma relação de confiança e uma certa continuidade. Na fala de uma das coordenações que integra a gestão municipal é explicitado que: A rotatividade, ela aumentou depois daquela lei do Ministério da Saúde em dois mil e dois, que estabelece que o agente comunitário de saúde tem que ter o primeiro grau completo... Aquelas pessoas que eram aquelas lideranças lá do bairro, que eram da pastoral da saúde, da pastoral da criança, elas não se engajaram nesse novo processo seletivo e elas continuam trabalhando... E tem pessoas, jovens também, mas estão no bairro há muito tempo, que cresceram naquele bairro, daí não tem rotatividade do bairro, que essas elas se sentem orgulhosas, por ser agentes. Elas vestem a camiseta. E essas no geral têm um bom desempenho. Mas na grande maioria tem a rotatividade. Primeiro porque elas mudam muito de bairro. Mudam o bairro e ai já não trabalham mais porque não está morando no bairro. E outra coisa é essa função... de estar procurando um outro trabalho que remunere melhor. (C 2). 225 A rotatividade dos médicos é atribuída nos discursos predominantemente à remuneração, pois na região municípios menores ofertam salários mais altos, o que provoca o deslocamento de alguns profissionais. Em muitas situações o trabalho no consultório particular torna-se financeiramente mais rentável para este profissional do que a oferta do público. Nas demais categorias a rotatividade é menor, embora os salários também sejam alvo de reclamações e achatamento. Ao falar das políticas de valorização profissional adotadas pela gestão, um entrevistado refere que: Nós estamos... aguardando que o plano de carreira, cargos e salários saia da consulta pública e passe a proposta para os municípios... Para que haja a mínima rotatividade, porque sem haver um conhecimento amplo dos profissionais com relação à clientela, não há resolutividade dos serviços oferecidos. Não há satisfação do usuário, se não há resolutividade. Então, este é o mecanismo, fazer com que os gestores das áreas afins não fiquem mudando os profissionais de uma unidade para outra. Este é um acerto que a gente já fez com os profissionais, que coordenam as áreas. A gente quer com este incremento da gratificação que vai oscilar de 0 a 40%, fazer com que o médico conquiste cada vez maior oportunidade. É óbvio que o médico, para ter essa produtividade precisa conhecer a origem das pessoas com as quais ele convive. Então ele é que também não vai ter interesse em mudar de uma unidade para a outra, porque ele vai perder, ele vai demorar a voltar, a conquistar este domínio de conhecimento da realidade em outra área. A gratificação aos médicos é um incentivo para que permaneçam nesse serviço de saúde em Chapecó, não trocando para outro município. Para tentar se manter ao máximo os nossos profissionais com a gente... (Em relação aos outros profissionais como farmacêutico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, auxiliar, ACS como está sendo pensado...). Então, a gente está aguardando que o Ministério da Saúde mande as diretrizes gerais dos planos de carreiras, cargos e salários. Eu acho que seria um pouco temeroso... se nós mexesse nisso agora. (C 3). A ação que a gestão desencadeou para tentar conter o problema da rotatividade dos profissionais médicos, analisada na perspectiva da integralidade da atenção, apresenta alguns equívocos importantes. A gratificação por produtividade, para o profissional médico, opera numa lógica que pode impedir que se preste um cuidado integral, pois limita a possibilidade de se constituir uma visão mais abrangente da percepção das necessidades do usuário, assim como reduz o aproveitamento do momento de encontro do profissional com o usuário, como espaço para desenvolver práticas de prevenção. A própria centralização do modelo de atenção em saúde na figura do médico, um movimento de recuo que ocorreu em Chapecó, em função de disputas corporativas, reforçada por uma política de gratificação específica a esta categoria, desvinculada de 226 uma proposta mais geral de valorização para os demais trabalhadores, afasta do horizonte da organização institucional, a perspectiva de consolidar práticas de saúde voltadas para a materialização da integralidade. Com relação à referência, os pontos de estrangulamento do sistema apontados nos documentos são reiterados na fala dos profissionais de saúde. É, a maior dificuldade que a gente tem, é essa assim, que eles cobram bastante a gente da demora dos especialistas. Eles assim, eles cobram da gente. Ah, mas eu já faz tempo... Daí sempre acaba vindo igual e ligando e vendo se está lá e dando uma explicação. Mas eles cobram bastante da gente isso aí. (P 4). De vez em quando assim, eles chegam e reclamam devido a demora, de alguma especialidade, que nem eu falei que oftalmo está bem demorado. Então eles vem e reclamam: Mas ainda não consegui. Como que não veio. E às vezes que eles chegam aqui para uma consulta e a médica está com o dia cheio. E eles não conseguem. É a dificuldade maior, eu acho. (P 9). Quadro 6.7 - Referência. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Aspectos de Análise Referência (rede própria) Referência (rede contratada) Problemas: Momento Explicativo - Centro de Referência Especializado Geral – possui 8 consultórios; conta com gastroenterologista, oftalmologista, cardiologista, neurologista, cirurgião geral e ambulatorial, ginecologista, ortopedista, dermatologista, endocrinologista, diabetologista, pneumologista; infectologista, psiquiatria; - Eletroencefalograma, eletrocardiograma; - Centro de Referência Especializado Bucal – possui – 4 consultórios odontológicos e 3 aparelhos de RX; conta com atendimento especializado em radiologia, endodontia, prótese, odontopediatria, cirurgia e clínica do bebê - Centro de Atenção Psicossocial II; - Centro de Atenção Psicossocial Infância e Adolescência; - Laboratório Municipal de Análises Clínicas; - Farmácia Municipal (Central); - Programa de Nutrição; - Programa de Atenção Fisioterápica; - Hospital Dia (DST/HIV/AIDS); - Pronto Atendimento (clínica médica e pediatria); - Tratamento fora de Domicílio; - Especialistas – urologista, nefrologista, endocrinologista, cirurgião pediátrico e geral, otorrinolaringologista, cirurgia vascular, oftalmologista, proctologista, hematologista; - Exames – ultrassonografia, patologia clínica, - Fisioterapia, outros exames e terapias especializadas; - Radiologia, oncologia – Hospital Regional do Oeste. - 276 leitos SUS e Pronto Atendimento no Hospital Regional do Oeste; Momento Normativo - Implantar o Centro de Atenção à Saúde da Mulher; - Ampliar a capacidade instalada de serviços especializados e públicos especialmente nas áreas de estrangulamento como ortopedia-traumatologia, oftalmologia e dermatologia; - Criação do CAPS ad e CAPS III (funcionamento 24 horas e finais de semana e feriados); Momento Estratégico - Captar recursos para ampliar a rede especializada; - Parceria com o governo federal e estadual; Consórcio intermunicipal; - Concluir o Hospital Materno-Infantil – disponibilizar Pronto Atendimento 24hs inclusive na área odontológica; - Implantar o Serviço de Reabilitação Auditiva e o centro de Medicina Física e Reabilitação numa parceria com o governo do estado. - Adquirir equipamento de mamografia; - Áreas críticas para referência nas especialidades (ortopediatraumatologia, oftalmologia e dermatologia), e alguns exames como RX simples e Citopatológico – tempo longo de espera para o atendimento; 227 Avaliação na análise documental reafirma-se enquanto prática institucional que não existe. Percebe-se que esta tem se configurado cada vez mais em uma necessidade para a organização das práticas de saúde. Os documentos retratam iniciativas no sentido de institucionalizar a prática da avaliação em saúde. Quadro 6.8 - Avaliação. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Aspectos de Análise Avaliação Momento Explicativo - Disponibilidade de dados a partir dos Sistemas de Informações (SIAB, indicadores de saúde e outros); - O Sistema de Informação não está estruturado suficientemente para fornecer relatórios que possibilitem a tomada de decisão; Problemas: - Infra-estrutura de área física e de equipamentos insuficiente; - Falta de cursos de capacitação técnica; Momento Normativo - Informatização da rede; Capacitação dos trabalhadores para o uso dos Indicadores a partir do SIAB; Sistematizar o funcionamento de um Grupo Local de Avaliação em Saúde (GLAS); - Reativar o Comitê de Morte Materna e o Comitê de Mortalidade Infantil; Momento Estratégico - Disponibilização de recursos federais através do PROESF; - Parceria com a UFPel – Estudo de Linha de Base; - Articular as instituições de ensino, serviços de saúde implicados, representantes do Conselho Municipal de Saúde e subsidiar o trabalho destes Comitês; A partir das Oficinas de Capacitação foram identificados alguns nós críticos que mereceriam ser aprofundados tornando-se objeto do planejamento. Destacamos dentre eles a dificuldade em planejar a atenção em saúde a partir de indicadores epidemiológicos, utilizando a avaliação como ferramenta na organização das práticas; a dificuldade e necessidade de se investir na capacitação, também mais especificamente a rotatividade dos profissionais médicos e a falta de uma política de recursos humanos no PSF. 228 Quadro 6.9 - Chapecó – Oficinas de Capacitação. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Experiências Avaliação de ações Problemas e Prioridades em programáticas a partir do consolidado do SIAB Avaliação Problemas Interrupção do processo de avaliação Falta de sensibilização dos dados junto aos profissionais Equipe das Unidades desconhece os dados de avaliação da área de abrangência Dificuldade de retirar profissionais do serviço Capacitação Capacitação em serviço Vantagens das USF Vínculo com a comunidade Profissionais mais próximos da comunidade Conta com referência nas Unidades mais próximas Limitações das USF Dificuldade de contratação de profissionais com formação adequada Rotatividade de profissionais médicos Falta de política pública para recursos humanos no PSF; Prioridades Estruturar serviço de avaliação Sensibilizar toda a equipe para a importância de trabalhar com indicadores epidemiológicos Investir em educação permanente/ continuada em todas as áreas Complementando as informações obtidas nas oficinas, as entrevistas com os coordenadores que compõem a equipe que gerencia o SUS contemplam a questão de planejar com base em indicadores. Os resultados do trabalho de campo sugerem que este é um discurso e uma prática primordialmente vinculada à gestão. A utilização pela equipe dos indicadores enquanto instrumento que orienta as práticas daqueles que estão na linha de frente do PSF não é uma prática comum; ao contrário, parece muito distante do cotidiano do serviço e dos trabalhadores. O planejamento esse ano foi feito separadamente com coordenações, cada coordenação fez um planejamento. A gente fez o Plano Municipal de Saúde. Fez PPA, a gente fez os indicadores da PPI, enfim. A gente fez tudo isso, cada um no seu setor. Depois a gente se reuniu para discutir. (C 1). O planejamento de toda a rede... Através de indicadores epidemiológicos, a participação da atenção básica, dos indicadores que a gente tem, em cima do plano municipal, no plano plurianual. Foi visto assim, o que se tem, o que se pretende, e na verdade se pretende que setenta a cem por cento da população seja coberta pelo Programa Saúde da Família. Essa é a estratégia desse governo... Agora no final do ano, a gente está fazendo um estudo mais voltado assim para os indicadores, tentando fazer uma ponte com o hospital regional, que é nossa referência hospitalar. Então nós vimos que cinqüenta e três por cento dos partos são cesários, o nosso indicador de mortalidade infantil está treze, era dezoito no final do ano passado. E a gente está fazendo estudo de óbito por óbito. Eles estão criando, vai ter a primeira reunião do comitê de prevenção de mortalidade materno infantil, na semana que vem. Então, se planeja é nesse sentido, o que vai ser feito. A nossa cobertura de preventivo é pequena... então, a gente se disponibiliza pra fazer o que: vários mutirões de coleta de preventivo, no sábado, para tentar atingir aquela parcela que trabalha durante a semana e que não tem acesso... Uma das ações que foram planejadas em cima da cobertura. (C 2). 229 Consideramos que um dos grandes desafios da gestão em direção à integralidade, pensando além da dimensão da organização das práticas de atenção à saúde e remetendo a discussão para a implantação de políticas governamentais dirigidas a grupos específicos, consiste em desenvolver ações que permitam a apropriação dos indicadores por todos os trabalhadores que operam nos serviços de saúde. 6.4.3 O Planejamento e a Integralidade na Perspectiva do Gestor e Coordenadores No caso de Chapecó estão subordinados hierarquicamente à Secretaria Municipal de Saúde três grandes Diretorias que são: Diretoria Geral; Diretoria de Controle, Avaliação e Auditoria; e diretoria do Hospital Materno-Infantil. A rede básica de saúde está vinculada à Diretoria Geral, como encontra-se disposto no organograma (Figura 6.4). 230 Figura 6.4 – Organograma da Secretaria Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Em Chapecó foram entrevistados quatro sujeitos, que ocupavam cargos ligados à gestão local: o Secretário Municipal de Saúde (gestor municipal), a responsável pela coordenação médica, pela coordenação de enfermagem no município e a responsável pela coordenação regional do PSF (vinculada à Secretaria de Saúde do Estado). Os depoimentos deste grupo de coordenadores possibilitam avaliar o quanto o discurso da gestão, de modo geral, articula-se com as práticas de saúde no PSF, apreender as diferentes concepções de integralidade que permeiam estes discursos e identificar a imagem objetivo da gestão, considerando como planeja e desenvolve ações estratégicas para garantir a implantação de suas proposições. A seguir apresentamos um perfil dos entrevistados. Quadro 6.10 - Perfil. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Coordenação Gestor Municipal Coord. Médica Coord. Enfermagem Coord. Regional PSF Sexo M F F F Idade 49 42 28 26 Profissão Pedagogo Médico Enfermeiro Fisioterapeuta Tempo no Cargo 2 meses e meio 2 semanas 10 meses 2 meses Podemos constatar que apesar da administração municipal ter assumido o governo há 10 meses, apenas um dos coordenadores continua sendo o mesmo. A própria Coordenação Municipal do PSF havia mudado no período de coleta de dados do estudo qualitativo e a pessoa que assumiu manteve-se em torno de 10 dias no cargo, quando solicitou o seu desligamento antes do dia marcado para realizarmos a entrevista. Uma posição importante na estrutura da gestão, que reforça como meta a expansão do PSF ficou acéfala, ao menos no período em que estivemos em campo. Um aspecto questionado aos sujeitos foi com relação ao trabalho específico relacionado à sua função. As falas apontam para um processo de comunicação entre os coordenadores municipais, visando ações estratégicas que apontem para mudanças. No entanto, a Coordenação Regional verbaliza dificuldades em situar-se e definir com gestores estaduais suas atribuições. Não é só a coordenação do trabalho do médico, mas acaba envolvendo todos as pessoas da equipe. Tem que estar vendo os protocolos e organizando as capacitações e mesmos os horários. O cumprimento de horários dos colegas, que isso a população cobra bastante. (Coord. Medicina). Eu coordeno as vinte e seis unidades de saúde. O que a gente se preocupa mesmo é com a conduta, o comportamento de todos os funcionários na área de enfermagem e funcionamento da unidade... Todos os problemas, pedidos de férias, pedidos de atestado, a gente está vendo junto com o RH, é uma coordenação que é interligada junto com vários outros setores. Com o financeiro, com o almoxarifado... Tudo relacionado à enfermagem... passa pela coordenação. (Coord. Enfermagem). Assim, no começo, eu, até hoje sinto bastante dificuldade porque não encontrei uma pessoa para me passasse tudo, o que eu devo fazer em relação ao PSF, ali tem o SIAB, eu que controlo. Recebo de todos os municípios, repasso para o módulo regional e depois para o módulo estadual e fiquei uma semana em Florianópolis na coordenação estadual pra ver mais ou menos o que eu teria que fazer, qual era a minha função... Todos os meses porque eu estou pegando a rotina de que já estava sendo feito antes... a gente tem uma planilha e anota todos os dados de famílias cadastradas, visitas médicas, enfermeiro, as famílias visitadas. A gente vai controlando todo mês para ver se um mês foi muito, se um mês foi muito pouco, aí a gente liga para o município, pergunta o que aconteceu, porque baixou tanto o número de visitas, porque as reuniões, essas coisas. (Coord. Regional do PSF). Quando solicitamos que os entrevistados definissem prioridades do trabalho desenvolvido por eles nas coordenações, os depoimentos se dividem entre a satisfação do cliente, a qualidade do serviço, a saúde preventiva e da família. Esta quebra entre os diferentes discursos que em alguns momentos são aproximados através da figura do usuário, revela contraditoriamente o desejo de um modelo de atenção voltado à resolubilidade, que implica em qualidade da atenção e em satisfação do usuário e sua família. A prioridade no geral é a satisfação do nosso cliente... Acho que o foco principal, que tudo cai no cliente, na satisfação mesmo do cliente, na resolutividade dele. Então, a gente trabalha pra isso. (C1). A prioridade é a qualidade do serviço. A prioridade é assim, a qualidade do serviço não só do serviço prestado, mas assim, de como o profissional se sente. Eu acho que por muito tempo, no passado assim, se teve uma cultura, que é ainda hoje, a cultura da consulta. E a cultura de que o paciente, o usuário, ele sempre tem razão, ele tem todo o direito. E o profissional fica meio sem ser escutado. Então, eu acho que teria que ser tratado um pouco isso, de valorização do profissional e capacitação. estou muito preocupada com essa situação de estar capacitando pras pessoas se sentirem mais seguras, no que estão fazendo, se atualizando. E na qualidade do serviço como um todo, que tem a ver com o profissional eficiente, que ele estar mais seguro, estar mais capacitado, melhor preparado, para dar um serviço de melhor qualidade do público em geral. (C2). É trabalhar a saúde preventiva. A prioridade nossa é a saúde da família. Mas nós não podemos perder de vista o princípio, que eu acho fundamental é para 233 humanização do atendimento... Ter a sensibilidade de perceber o sofrimento do ser humano. (C 3). A compreensão e mesmo a dimensão que cada um atribui ao PSF vão ao encontro do imaginário social, em que o Programa é associado à aproximação da equipe de saúde do usuário, do território, das condições de vida e saúde a que as pessoas são submetidas. Chama a atenção uma compreensão reducionista do PSF, que o resume ao atendimento domiciliar, tendo em vista que os entrevistados ocupam posições de destaque no interior das políticas de saúde. Programa de saúde da família é um programa em que são equipes que vão até o cliente, para ter essa visão do todo desse paciente, desse cliente... o PSF é um programa que vai fazer com que descentralize o atendimento, eu acho que faz a visita, vê a questão social. (C 1). Pra mim o programa saúde da família, significa uma estratégia de reorganização do modelo... É a grande saída dentro do serviço público, tentando, reorganizar as estratégias da saúde publica dentro do SUS. Para mim é a única saída que existe, porque, os procedimentos e aquela idéia, de fragmentação das especialidades e de exames, exames, exames, medicamentos, medicamento, medicamentos, isso é uma coisa bem poderosa e o SUS, o financeiro, ele é finito, ele não é infinito. Então se não houver uma reversão do modelo, no sentido de se estar priorizando mais a prevenção, ou estar buscando formas alternativas, o SUS vai acabar. Não tem como sustentar isso. (C 2). Pra mim, o que eu entendo, é que na faculdade a gente não tem nada na grade curricular. Então, pelo que eu estou lendo aqui, o programa de saúde da família seria o atendimento das pessoas, não diretamente na casa, mas tendo um atendimento mais domiciliar. Quando necessário encaminhar ao posto, fazer um atendimento mais domiciliar. Investigação, atendimento, prevenção. (C 4). Quando são chamados a evidenciar as principais dificuldades com relação ao Programa de Saúde da Família e apontar estratégias de superação são evidenciadas dificuldades micro, que dizem respeito ao aprendizado do trabalho em equipe, à capacitação da equipe, às condições de trabalho na USF e no município e as estratégias para manter os profissionais de saúde no emprego. Também são destacadas as dificuldades macro que se referem à organização político-institucional do sistema de saúde, como o financiamento, à relação da atenção básica e a média e alta complexidade. É interessante que, mesmo as dificuldades mais amplas e que dependem de articulações em outros níveis, são explicitadas e acompanhadas de propostas de 234 superação, o que demonstra a complexidade da gestão da atenção em saúde e o empenho em buscar soluções conjuntas para os desafios que se apresentam. A gente coloca como dificuldade o conhecimento de gerência, do coordenador de enfermagem da unidade. Muitas vezes falta para eles estarem mais próximos ao agente comunitário, para que a ação ocorra. A falta muitas vezes do agente comunitário adquirir mais conhecimento... Mas, não só o enfermeiro, como o médico, poderia estar orientando, informando e educando os agentes comunitários... Então, é falta de um trabalho em conjunto com o agente. (C 1). As dificuldades... Primeiro essa questão do agente, que é básico, que tem, essa rotatividade. Nós estamos com a previsão de um curso de capacitação pelo SENAC, que através de um pólo de educação permanente, que vão ser quatrocentas horas de capacitação, a gente está com um projeto, de estar dando uma gratificação para quem trabalha com a saúde da família, estar atrelando a isso os indicadores de saúde daquele local... Que o agente comunitário também saiba qual é a cobertura do pré-natal, de aleitamento materno... Vai ter concurso agora, vinte e cinco vagas para o PSF, se inscreveram doze pessoas, em função da questão salarial. Então, está bem complicado de segurar os médicos. Essa semana teve duas demissões... É uma dificuldade que percebo, que as pessoas estão nesse sistema da cultura da consulta, do exame... tenho direito a fazer um check´up, e eles não aceitam muito bem essa idéia da prevenção. Acho que ainda tem um árduo caminho de construção e não pode desistir. Tem que estar trabalhando muito isso, porque chega o cara querendo ginecologista. Elas não precisam de ginecologista aqui, que é um centro de saúde básico, com uma equipe de saúde da família. A pessoa está preparada para fazer avaliação do caso, se for necessário vai para clínica da mulher, ou vai para o ginecologista de referência. (C 2). A principal dificuldade é a falta de cotas para os outros níveis... para a média e alta complexidade. Esta é a maior dificuldade, a gente consegue fazer bem na atenção básica, mas não consegue ter referências. Acaba tendo que continuar no desembolso de recursos públicos e você se depara com o orçamento insuficiente. Isso é a maior ansiedade, angústia. A outra questão é a dificuldade aqui no oeste de se conseguir o pessoal médico com o perfil para fazer esse trabalho de saúde da família. Tem na região, essa disputa maluca por profissional e aqueles municípios que pagam o salário maior, melhor, acabam levando o melhor profissional... A Farmácia... a cesta básica que teria de ser de nossa responsabilidade, da assistência básica, que pelos protocolos seria 97 itens que nós deveríamos dispensar. E Chapecó dispensa 240 itens, tem um leque de abrangência de medicamentos que conseguem atender a necessidade das patologias decorrentes da região... Os municípios estão sendo cada vez mais sobrecarregados pelas responsabilidades e não de forma igual protegido e correspondido com o financeiro. Então, esta é uma angústia, uma ansiedade, que vive aqui... mas na saúde não tem como mensurar essa relação de investimentos em farmácia, em atendimento da média e da alta complexidade, que sobra para nós municípios, mas tem como medir o que se faz na atenção básica, com o número de dados do SIAB enfim, do SIAS, eles são oficiais, a partir deste parâmetro acho que o Ministério da Saúde deveria é remunerar melhor os municípios para que possamos ter fluxo e manter e melhorar a nossa atenção básica. Já que é ali que nós conseguimos vislumbrar o sistema público. (C 3). 235 É necessário acrescentar nesta discussão a fala dos profissionais, que não tem sido adequadamente tratada com a comunidade da proposta do Programa e do trabalho da Equipe de Saúde da Família. Se, em larga escala o Programa ampliou o acesso e dessa forma liberou uma demanda contida, parece que não se tem considerado o caráter estratégico de transição e não se tem incluído efetivamente as comunidades nestas discussões e pactuações, quanto à implantação da proposta e seus objetivos, cabendo assim às Equipes a função de em alguma medida simplesmente “segurar a demanda” e conviver com uma situação de conflito diário, agravada quando as equipes referem que não existem bons canais de comunicação e de suporte institucional. Com relação à população o que vejo, o que posso dizer seria que eles reclamam muito da falta de consulta. É o que tem queixa. É sempre isso, às vezes a gente sabe que tem ficha, que tem um número, a doutora nunca negou um atendimento. Ela atende a mais, se é um caso urgente ela vê, se precisa ir à casa ela vai. A gente entra em atrito pela falta de ficha. (P 11). A principal é a demora de encaminhamentos, pouca ficha. Esse negócio de pouca ficha sempre vai ter... Esse esclarecimento que está faltando para a população, saberem como que funciona o sistema. (P 14). As queixas da população é a falta de médico... Aquela ansiedade de consulta... anseio, aquela busca de querer consulta, sempre. Então, abre vinte vagas, vai ter vinte e cinco para consulta. Abres trinta, vai ter trinta e cinco. Não vai suprir nunca essa demanda de consulta. Eles estão se queixando sempre. E fica difícil para trabalhar. (P 16). A pressão vivida cotidianamente pelos profissionais de saúde em relação à demanda é expressa em algumas falas, apontando a necessidade de mais médicos e em tantas outras a indicação que o aumento do número de profissionais não modificaria a situação. Destaca-se também a necessidade de investimento na escuta ou na possibilidade de investir mais em cada momento com o usuário. Colocar outra médica é muito pouco um só. Que a doutora sozinha não consegue. (P 1). Estar conseguindo mais um médico de PSF, para a população. (P 4). Para grande parte dos profissionais a necessidade está em investir em ações de promoção em saúde, atividades em grupo especialmente escuta, espaço de acolhimento do usuário e as suas necessidades. Entretanto, como se percebe logo a seguir, os trabalhadores parecem não se sentirem apoiados institucionalmente para as mudanças necessárias. 236 Então teria que ter um pouquinho mais de tempo para cada profissional, para escuta. (P 8). O pessoal pede muito médico. Acho que deveria trabalhar mais em grupo, de conversa com as pessoas...Tem que trabalhar, conversar, orientar... Diálogo. (P 12). Para melhorar o atendimento. Acho que deveria ter um pouquinho mais de tempo para conversar com o paciente. Porque às vezes falta... Eles gostam de conversar um pouquinho mais, é muito corrido. Se deres muito tempo para um paciente, falta para os outros. Tu atendes bem, mas se tivesses um tempinho mais para conversar, eu acho que seria melhor, seria válido. (P 13). Ter mais tempo para ouvir mais os pacientes. Isso é o principal, depois à medida que você vai ouvindo, tem mais tempo para se dedicar. Você vai conseguir desenvolver um trabalho melhor. (P 17). Em relação ao suporte institucional, novamente as sugestões apontam a distância entre a Unidade e o nível central (Secretaria Municipal de Saúde e seus serviços diretos) e traduzem em alguma medida a função de anteparo que a Unidade realiza frente a determinadas demandas, em destaque os serviços de referência e as necessidades de definição política e institucional, quanto à Estratégia da Saúde da Família, incluindo seus aspectos operacionais e seus pontos de tensão, especialmente quanto à demanda livre e a própria perspectiva de mudança do modelo de atenção em saúde. Acho que um pouco mais de apoio da Secretaria. (P 9). Para melhorar o atendimento, hoje, seria, trazer mais, aproximar mais... o pessoal, dos encaminhamentos na Secretaria de Saúde, com as Unidades... Eles parecem que não tem aquela vontade de ir atrás, procurar, ver como é que está, quanto tempo vai demorar, para marcar. Então... aqui tenta... fazer o maior esforço possível, mas parece que lá não estão com aquele mesmo esforço, de tentar, estar verificando... para agilizar. Então, uma aproximação maior ou um número maior de vagas (P 14). A gente trabalha, faço uma coisa que gosto... Não vejo muita solução, porque não tem um respaldo político. A comunidade, eles querem é o atendimento. Enquanto não for trabalhado essa questão... não vai mudar isso. (P 16). A integralidade da saúde pode assumir diferentes sentidos (MATTOS, 2001): primeiro, relacionado à busca do profissional e do serviço em compreender o conjunto de necessidades de ações e serviços de saúde que um usuário apresenta; segundo, relacionado à organização dos serviços e práticas de saúde, voltado à articulação entre assistência e práticas de saúde pública, tendo na disciplina de epidemiologia o apoio para apreender necessidades de saúde da população; e terceiro, relativo à definição de 237 políticas especiais representando respostas governamentais aos problemas de saúde específicos. Os entrevistados explicitam em suas falas um destes sentidos, que relaciona este conceito à perspectiva de ver o usuário como um todo, extrapolando a queixa concreta que gerou aquele atendimento, no sentido de poder avaliar o contexto social, psicológico, de acesso aos cuidados com vistas a identificar riscos e sofrimentos potenciais. Esta noção fica dimensionada nos atributos que o trabalhador de saúde tem ou adquire no processo de trabalho em saúde, atributos estes que lhe permitem dirigir ao usuário um olhar integral redefinindo sua postura diante do mesmo. Quando inclui-se na fala de um dos sujeitos a relação da atenção básica e a média e alta complexidade, revela-se outra face desta integralidade, voltada à perspectiva de organização da rede de serviços, tendo como eixo estruturante o princípio de integração, privilegiando estratégias que contribuam para a comunicação e o estabelecimento de fluxos seguros. Ter visão do social da questão econômica, psicológica, física, enfim, é ver o todo e conseguir oferecer ao paciente, a resolutividade do todo. Muitas vezes não está na unidade de saúde e sim na assistência social, na secretaria de educação, está em outros setores. Ou numa especialidade ou numa cirurgia, mas que consiga cem por cento de resolutividade daquele paciente. (C 1). Acho que você fala de ação integral. É você procurar ver o ser humano dentro do seu contexto, da sua família, da sua comunidade. Quando você fala em promover integralidade a saúde, não só aquele aspecto de receita um medicamento, mas vê também, se a pessoa tem acesso a esse medicamento, seja bem orientado no uso, que tenha condições de entender, da melhor maneira, integralidade na verdade é o ser humano estar sendo assistido em todos os aspectos, social, psicológico. (C 2). Não me adianta atender consultas médicas, entupir as pessoas de remédio, fazer diagnose, se não tenho a continuidade da ação. Não posso permitir que um sujeito, por exemplo, que tenha uma adenoidectomia passe daqui a 6 anos, 3 anos, 8 anos, é, em função dessa dificuldade, do fator complicador da respiração, desenvolver uma necessidade de uma amigdalectomia, uma deformação da arcada dentária exigindo procedimentos, gastos elevados, como curativos, aparelhos ortodônticos; me parece, um despreparo do gestor, quando ele não tem essa clareza. Hoje, eu resolvo um problema, fazendo uma cirurgia, uma adenoidectomia. Daqui a 5 anos, 3 anos, 4 anos vou ter uma segunda cirurgia, vou despesa com tratamento dentário, e até lá o paciente passou “n” vezes pela rede, pegando várias consultas que poderiam ser melhor utilizadas com uma pessoa que tem uma razão patológica para estar na porta do médico. Atenção básica para nós é o carro chefe. Mas não perdemos de vista o princípio da integralidade da assistência. (C 3). 238 Bom, na minha idéia... cidadão tem direito de ter todo atendimento. Tem o direito de ter o atendimento, mas na verdade não tem como é preconizado, e essa integralidade é o atendimento de todas as áreas, tanto da prevenção, quanto da promoção de saúde, quanto da recuperação. (C 4). Tomando em particular a fala do Secretário Municipal de Saúde podemos apreender já na realização do questionário auto-aplicado (em maio de 2005) um posicionamento da gestão com relação ao Programa de Saúde da Família, com a definição de uma rede de comunicação que lhe viabiliza alguns apoios, como constatamos a seguir: Quadro 6.11 - Posicionamento do Gestor Municipal. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Apoio parlamentar a política Acreditamos ter um grande apoio parlamentar, sendo questão da saúde fundamental para a de saúde (Câmara de população, nossa meta na área de saúde visa à ampliação/ melhoria da qualidade dos Vereadores) serviços melhorando a qualidade de vida, e sobretudo superar o modelo de saúde que trabalha em cima da doença instalada avançando rumo ao modelo de saúde voltado à prevenção. Decisões do Conselho O CMS sempre se posicionou favorável à ampliação do PSF no município. Municipal de Saúde (CMS) relativas ao PSF Adequação da Rede Básica Há necessidade de ampliarmos o espaço físico de várias unidades bem como de de Saúde ampliarmos as equipes do PSF em função do aumento forte populacional (êxodo rural também colabora em função da seca que assola nosso município e outros da região). Fatores relacionados à O PSF será expandido conforme critérios sócio-econômicos e epidemiológicos do expansão do PSF município. Experiências inovadoras em Existe um colegiado de coordenadores das Unidades que permite a descentralização da Atenção Básica e Saúde da gerência, tendo o coordenador das Unidades o papel de coordenar a equipe de profissionais Família de cada Unidade. Esse colegiado contribui para o processo de planejamento nas próprias unidades e na Secretaria como um todo. Apoio Administrativo e Temos muito interesse em avanços neste Programa para ampliação do PSF a fim de Recursos Humanos trazermos inúmeras melhorias nos indicadores de saúde, avançar rumo a um modelo de saúde realmente voltado à prevenção, gastar bem o pouco que se tem, melhorar condições físicas (de espaço), melhora das condições de salário, educação continuada, re-humanizar as relações, despertar os funcionários para a prevenção, o engajamento na mudança do modelo de saúde, envolvimento. Dificuldades: Alguns locais com estrutura física inadequada, perfil de alguns servidores não muito engajados nas mudanças, presentes. Em dez meses de administração municipal ocorreu a mudança do Secretário Municipal de Saúde e duas pessoas já haviam estado no cargo. No entanto, o discurso anterior expresso pelo primeiro Secretário no questionário auto-aplicado apresenta alguma complementaridade no discurso do atual Secretário, especialmente com relação à expansão do PSF. Ambos tratam da expansão com crítica, apontando a perspectiva de melhoria de indicadores de saúde, de estrutura física, de condições de trabalho das ESF, de financiamento, enfim problematizando a expansão. 239 O atual Secretário Municipal de Saúde explicita a proposta da gestão em termos da atenção básica para o município, tendo em vista a integralidade da atenção em saúde. Desde o começo do ano é incrementar e organizar a rede e investir na multidisciplinaridade da assistência fazendo com que todos os profissionais trabalhem na perspectiva da equipe e não em ações individualizadas, fazer muito mais o atendimento da unidade para fora, inclusive internações domiciliares. Mas sempre que possível evitar que a patologia acometa o cidadão, seja através das ações da vigilância sanitária, dos agentes comunitários, da parceria a gente tem com a Fundação de Ação Social, de meio ambiente, com a educação e os cargos numa integração intersetorial para que se busque cada vez mais fazer as ações preventivas. Promoção à saúde para nós ela é uma coisa sagrada, não porque a gente é bonzinho, quer fazer porque nós sabemos das angústias e necessidades das pessoas, nós sentimos que o SUS, se não houver uma ação forte, um comando por parte dos gestores maiores no nível dos Estados e da União de cobrar das redes municipais ações efetivas e intensificar essa atividade na atenção básica nos municípios, eu acredito que o SUS vai se tornar cada dia mais vulnerável. É o custo da média complexidade que está crescendo muito, custos dos medicamentos de última geração, a tecnologia do diagnóstico, enfim, a própria internação hospitalar tem tido um custo elevado... Então, o nosso foco desde janeiro é investir maciçamente em atenção básica, fazendo com que toda a equipe de saúde atue de forma integrada... Dobramos o número de agentes comunitários de saúde em oito meses... Foi criado um projeto de lei, criando o cargo do agente comunitário dentro do município, junto teve um grande processo seletivo, então participaram 182 candidatos, foram selecionados os 10 primeiros. Hoje nós temos trabalhando 249 agentes... eram em dezembro 123 em janeiro, já dobrou a quantidade de agentes que tínhamos para o que temos. E a nossa pretensão é continuar investindo na atenção básica. É aumentar o número de agentes, cadastrando mais famílias, porque o agente para nós é a ponte entre o usuário e a unidade. É o agente que traz para Unidade as situações de vida, de saúde, a questão social de uma família ou de uma comunidade, são os agentes que trazem para a equipe. É difícil a equipe, através do médico, do enfermeiro, técnico conseguir ir de casa em casa. Eles fazem muitas visitas domiciliares pontuais. (Secretário Municipal de Saúde). Reforçamos que o gasto em saúde do município estava no período de coleta de dados em torno de 17% e que a meta de cobertura do PSF verbalizada pelo Secretário foi de 75-80%. Também foi citada pelo gestor a iniciativa de informatizar o sistema municipal de saúde, como uma medida para organizar o fluxo. A forma de organizar esse fluxo vai se dá através da informatização. Por quê? É, nós temos o cadastro, que nos diz a qual unidade pertence o paciente. Quando o paciente se desloca a um serviço, ele é consultado, ele já faz parte do banco de dados. A partir dali, aquela Unidade gerencia paciente, os fluxos. É o que ocorre hoje, por exemplo, sem que haja serviço organizado. Nós mandamos o paciente com a solicitação do médico da rede para referência de cirurgia cardíaca... E o paciente vai ao médico de lá, por não haver controle no sistema, daí já transcende os controles municipais, o médico de lá pra se aproveitar de uma situação, ele faz “n” outros pedidos de exames, que são realizados naquele serviço, porque o serviço é caro, exige um investimento 240 enorme e ele tem que ser pago. Então, é óbvio, a gente sabe que isso ocorre. O médico acaba solicitando exames que muitas vezes não são, nem necessários... Então, com o controle da informatização é fazer com que o médico, quando solicitar o exame, ele mande revisar o exame e o paciente volte para ser acompanhado pelo médico dele, o médico da família. Aí o médico pega o exame, caso consta que algum tipo de anormalidade no exame, aí sim se adota conduta, do encaminhamento, segundo os fluxos para aquele serviço. Mas o paciente continua com vínculo com aquele médico, que é o médico da família, da comunidade. Então, como é que a gente está fazendo isso? Nós estamos adquirindo 60 e poucos mil de equipamentos de informática, para colocar mais equipamentos nas unidades onde tem dificuldades de agilizar o acesso... Todas as unidades vão estar conectadas on line, justamente para acompanhar esse paciente. Nós vamos pegar agora a região norte, que são 4 unidades, vamos percorrer toda demanda reprimida, de exames, diagnose e outros serviços especializados, eles vão fazer todos os exames já apresentar as cotas para cada uma unidade... A pessoa consultou, o usuário, o médico solicitou o exame, já agenda ali com o dia para fazer o exame e o dia do retorno... Quando chegar na última região já não vou ter um fluxo baixo. Mas primeiro tem que ocorrer esse ‘desafogamento’ dessa forma. Imagino que nós teremos isso redondinho, talvez aí por setembro, outubro do ano que vem. (Secretário Municipal de Saúde). Uma característica marcante da organização da atenção em saúde em Chapecó, que vem sendo construída há quase uma década, consiste na perspectiva de integração entre os diferentes níveis de complexidade e de integração do setor saúde com outros setores como habitação, meio ambiente, assistência social, entre outros. 6.4.4 O Bairro Seminário O bairro Seminário se localiza ao sul do município de Chapecó e em sua área estão incluídos três loteamentos urbanos e uma área tipicamente rural, que se destaca pelo grande número de aviários. Segundo dados da Secretaria de Planejamento do município, o Bairro Seminário possui uma área de 98,72 hectares, com 815 lotes e uma densidade populacional de 29,32 habitantes por hectare, perfazendo 2,10% da área total do município. Conforme dados do IBGE, disponibilizados pela mesma secretaria, a renda média do responsável pelo domicílio é de R$ 356,17, configurando a região como uma das áreas de menor renda por habitante do município. 241 Figura 6.5 - Mapa do bairro Seminário com identificação de aspectos geográficos, serviço de saúde e escola. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Legendas Área agrícola Área verde Vazio urbano Açudes / banhados Unidade de saúde Escola Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, Chapecó, 2005. O Bairro Seminário é composto pelos loteamentos denominados Aline, São Francisco e Realeza. Destacamos o loteamento Aline que fica localizado à direita da Avenida Nereu Ramos e, conforme dados da observação, se constitui na área de maior vulnerabilidade social. Os domicílios não contam com rede de esgoto, sendo registrado uma proporção de apenas 0,01%. A porcentagem de domicílios com fossa séptica é de 0,40% e fossa rudimentar é de 0,56%. A média de habitantes por domicílio é de 3,7, com uma distribuição etária que aponta uma concentração maior na faixa entre 5 a 15 anos, perfazendo 29%. Os dados de observação apontam outras características: Vamos ao sul do município e encontramos uma região de “morros”, e quando saímos da avenida principal não há calçamento. Muitas casas de madeiras. A unidade do Seminário fica em uma subida, é uma pequena casa de madeira ao lado de um terreno com uma plantação de mandioca. (OBS). Segundo dados oriundos da equipe de saúde há duas creches na comunidade, se constitui em uma área “pobre” e é servida por transporte urbano. Converso com auxiliares que dizem que ônibus custa R$ 1,70 para o centro. Ha três loteamentos no Seminário: Lot. 1, Lot. 2 e Lot. 3. Dizem também que a maioria da população trabalha em frigoríficos, funcionários públicos, pedreiros, pintor. Muitas mulheres são empregadas domesticas. Também há catadores e muitos desempregados. A equipe também refere que a água da região e a disponível no bairro não é de boa qualidade e que a população utiliza algumas fontes disponíveis na região. A equipe comenta que a água da 242 região não é boa. A empresa é a CASAN (do estado) e que é embarrada. São muito comuns casos de giardíase e que tem pessoas da comunidade que “puxam” água de uma fonte no mato que fica um pouco acima da unidade de saúde. (OBS). Através dos dados disponíveis do SIAB é possível perceber algumas características das condições de vida e de saúde da população residente no bairro Seminário. Na tabela 6.1 mostra-se uma distribuição desigual de famílias e populações entre as micro-áreas, assim como uma alta proporção de crianças entre 7 e 14 anos fora da escola. Tabela 6.1 - Caracterização demográfica do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Àreas Micro-área 1 Micro-área 2 Micro-área 3 Micro-área 4 Micro-área 5 Micro-área 6 Seminário Número de famílias 247 236 272 75 88 46 964 População 967 927 1 062 298 337 205 3 796 Escolares % (7-14anos) Alfabetizados % (15 anos e mais) 58,62 56,70 57,73 98,21 100 93,02 67,16 92,42 90,21 87,87 92,59 90,39 83,22 89,96 Fonte: SIAB/2005. Na tabela 6.2 destaca-se o número de casos de epilepsia e a baixa proporção de hipertensão arterial referida (6,4%). Em relação aos dados de usuários de plano de saúde, os mesmos parecem estar de acordo com as condições econômicas da região e também pode se relacionar à qualidade da atenção pública. Tabela 6.2 - Condições de saúde e acesso a plano de saúde do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Áreas Doença referida Alcoolismo Deficiência Diabetes Epilepsia HAS MA 1 MA 2 MA 3 MA 4 MA 5 MA 6 Total 2 1 3 (0,08) 8 4 12 4 7 3 38 (1) 7 6 3 2 5 23 (0,61) 5 3 4 2 3 17 (0,45) 62 71 67 14 25 5 244 (6,43) Condição Serviço Gestante Plano de saúde 7 7 5 2 2 23 (1,46) 69 118 41 16 11 4 259 (6,82) Fonte: SIAB/2005. 243 Na tabela 6.3 identifica-se uma proporção em torno de 10% de moradores sem acesso à água distribuída em rede pública e uma proporção semelhante (9%) sem acesso à energia elétrica, chegando a atingir na micro-área 6 35% da população. Em relação aos domicílios, aproximadamente 60% das casas são de madeira. Tabela 6.3 - Condições de saneamento e condição de moradia do bairro Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Áreas MA 1 MA 2 MA 3 MA 4 MA 5 MA 6 Total Água (%) Rede Cloração S/ tto pública Habitação (%) Coleta Tijolo Madeira de lixo (%) Dejetos Energia Fossa elétrica (%) (%) 92,3 40,5 45,7 97,6 86,2 89,9 87,3 39 54,2 64,8 25,8 89 96,6 96,2 86,8 42,3 51,1 40,1 48,5 92,3 95,6 90,8 100 92 6,7 80 13,3 98,7 100 94,7 98,9 100 - 34,1 52,3 98,9 98,9 93,2 89,1 63 34,8 41,3 58,7 93,5 97,8 65,2 90,5 (873) 51,1 (493) 44,2 (426) 50,2 (484) 39,8 (384) 94 (906) 94,2 (908) 91,2 (879) 55,5 43,2 Fonte: SIAB/2005. 6.4.5 A Estrutura Disponível na USF Seminário A Unidade de Saúde da Família do Seminário foi desmembrada da unidade de saúde Universitário há aproximadamente seis anos, tendo sido instalada em uma casa alugada, que precisou de adequações em sua área física, realizadas pelo proprietário do local, o que segundo informações no período de observação do campo, ocorreu porque a secretaria municipal de saúde não pretendia realizar modificações no imóvel. Assim, o proprietário se dispôs a construir um anexo, ao fundo, para instalação de uma sala de vacinas, uma sala de coleta e uma sala de atendimento. A sala de atendimento em razão de problemas estruturais, que incluem vazamentos e goteiras passou a ser utilizada com o almoxarifado. A USF é uma construção mista de madeira e tijolo. A unidade durante todo o período de observação esteve bastante limpa, incluindo banheiros e entorno. Os banheiros estruturalmente são ruins e não havia disponibilidade de material de limpeza adequado. Converso com auxiliar de serviços gerais que diz que comprou kboa (clorofina) pois a secretaria teve um problema com a licitação e não está vindo 244 para a unidade. E que a limpeza da unidade está sendo também feita com álcool 990 GL. (OBS). A sala dos agentes de saúde tem uma escrivaninha e um arquivo, em uma área física muito pequena. Existem dois consultórios. O consultório médico é de madeira e tem problemas em relação à privacidade dos usuários. Entretanto, destaca-se uma confortável poltrona para o usuário. Volto para o consultório que tem uma mesa tipo escrivaninha de madeira na frente da porta, uma cadeira simples estofada que é usada pela médica. Na frente da mesa uma poltrona amarela – aparentemente confortável. Atrás desta poltrona uma mesa de exame, no fundo da sala ao lado da escrivaninha um arquivo (com quadros de figuras anatômicas em cima) e uma mesa ginecológica sob a janela. Ao lado da mesa de exames e nos pés da mesa ginecológica uma mesa com material ginecológico, incluindo um sonar. No canto, nos pés da mesa de exames uma pia. Fixado na parede um porta papel toalha e sobre ele o otoscópio e um vidro de “nescafé” com espéculos auditivos. Na mesa um estetoscópio, uma prancheta com folhas para preenchimento dos atendimentos, blocos de pedidos de exames, receituários e fichas individuais de pacientes. Também vejo um calendário, um porta canetas e um enfeite – vaso pequeno. A janela dá para frente do posto e durante o atendimento a medica fica fechando e abrindo, em função do calor e da necessidade de privacidade dos usuários – especificamente privacidade física. (OBS). O Consultório de enfermagem também fica na área de madeira do imóvel, sem pia ou lavatório e as cadeiras são “tipo escritório”. A outra poltrona disponível na unidade está na farmácia e é utilizada pela funcionária que atende neste setor. A sala tem uma escrivaninha, uma mesa ginecológica, uma mesa auxiliar e uma estante de latão, na qual se encontra material educativo relacionado a crianças e mulheres (banheira infantil, boneco, modelo de mama, entre outros...). Antes de chamar a paciente ... a enfermeira diz que vai lavar as mãos – não há pia em sua sala de atendimento. Dirige-se para a área da cozinha (que inclui o banheiro dos funcionários e a sala de procedimentos) e depois de algum tempo volta... (OBS). Ao se observar o fluxo interno da unidade e as atividades realizadas, percebe-se que a sala de espera se constitui em um banco na parte externa e dois bancos junto à recepção acompanhando a parede junto à porta de entrada. Na sala de procedimentos (garagem original) são realizados curativos, nebulizações, medicações, pesagens de crianças, preparo de material, além de servir como sala de observação. Uma cortina 245 separa esta área da cozinha. As roupas da unidade são lavadas em uma pequena área de serviço contígua à cozinha. Auxiliar de enfermagem fala sobre a necessidade de outra balança pediátrica e a enfermeira diz que é possível incluir na lista de pedidos entretanto, as crianças da bolsa alimentação não deverão ser pesadas na sala de vacina. (OBS). As reuniões de equipe são realizadas em uma varanda aberta, no fundo da unidade, local que serve de sala de espera para os atendimentos odontológicos, sala de vacinas e coleta de material de laboratório. Não existe outra área na unidade que possa reunir todos os trabalhadores da unidade. A reunião que acompanhamos foi interrompida quando iniciou a chuva. As salas de coleta de material de laboratório e de verificação de sinais vitais não têm pia. O lixo da unidade é separado em contaminado e lixo comum e fica armazenado em um pequeno galpão, utilizado pelo trailer odontológico. No momento da coleta de dados, a Secretaria Municipal de Saúde havia alugado uma área em uma escola no bairro para transferir a USF, o que ocorreu nos últimos dias de coleta. Existe uma previsão de construção de uma USF. Entretanto, não existe área definida e segundo informações da equipe, um vereador da região está fazendo um levantamento de terrenos da prefeitura disponíveis na área de abrangência. A área alugada é uma construção mais recente, de tijolo, com estrutura melhor. Entretanto, os problemas de fluxo continuarão incluindo áreas únicas para coleta de material laboratorial, sala de procedimentos (curativos, medicação) e pesagem de crianças. As dificuldades de adequação, mesmo frente a uma área física maior ocorrem em razão da não autorização dos proprietários, para alterações estruturais (mudança de locais de aberturas). Acompanhamos vários movimentos da equipe para garantir a mudança através de telefonemas e relatos de conversa com a Secretaria Municipal, contato com outras Secretarias para dar suporte, especialmente veículos e também observamos parcialmente a mudança da USF que foi realizada pela equipe com suporte do coordenador de odontologia e funcionários da Prefeitura. A mudança da unidade esta ocorrendo desde ontem, quando a unidade conseguiu um carro. Hoje o coordenador do serviço de odontologia esta aqui e apesar da chuva, a auxiliar de consultório odontológico, a funcionária de 246 serviços gerais e algumas agentes comunitárias de saúde lavam o trailer na rua. Muitos membros da equipe estão incomodados com o senhor que plantou mandioca no terreno ao lado da unidade. A saída do trailer vai estragar alguns pés e ele quer cobrar. Acaba negociando com o coordenador da odontologia que ficara com as madeiras do galpão onde estava o trailer... Coordenador da odontologia comenta ... disposição da equipe. (OBS). Em relação à materiais, a unidade conta com materiais básicos, já identificados no estudo epidemiológico. A unidade tem um bebedor e copos descartáveis na recepção e conta com um computador para registro dos atendimentos realizados na unidade. Os atendimentos acompanhados indicaram presença da maioria de materiais básicos para atendimento nos diferentes grupos de atenção em saúde. Não há negatoscópio e oftalmoscópio. Figura 6.6 - Desenho Livre Representativo da Unidade de Saúde da Família Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 247 6.4.6 Práticas de Saúde na USF do Seminário A equipe de saúde da USF do Seminário é constituída de seis agentes comunitários de saúde, quatro auxiliares de enfermagem, um técnico de enfermagem, uma médica, uma enfermeira, dois recepcionistas, um auxiliar de serviços gerais, um auxiliar de consultório odontológico e um dentista. O dentista da equipe, atualmente, desenvolve uma atividade junto à coordenação de odontologia (levantamento epidemiológico de CPOD em escolas) e está sendo substituído parcialmente por outro profissional, que atende em regiões indígenas do município, vindo à unidade Seminário em três turnos semanais. Os demais profissionais desenvolvem suas atividades integralmente na USF, em 40 horas semanais. Dentre os agentes de saúde, apenas uma está há três anos na unidade. As demais estão entre quatro e seis meses. A contratação dos ACS ocorreu após criação do cargo, através de lei municipal. Após uma seleção que incluiu entrevista com profissionais da psicologia, entrevista com membros da coordenação em atenção básica, currículo e uma prova escrita com questões sobre funções do ACS e SIAB, os selecionados estabeleceram um vínculo através de um contrato de um ano renovável, com um salário de R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais). ... e ela (enfermeira) diz que no ano passado tinha 3 agentes – a ......(ACS que permanece na unidade) e outras duas que não moravam na região e que conheciam muito os usuários e a área. Neste ano a administração rompeu o contrato com a APACO, em razão da precariedade do contrato e estabeleceu como critério morar próximo à área. Segundo ela, a coordenação explicou a mudança em razão dos critérios do Ministério da Saúde e que todas as mudanças desmotivaram os antigos agentes a fazer a seleção. Foi necessário que o próprio prefeito chamasse uma reunião com os ACS antigos. Ela diz ainda que com as várias mudanças os agentes perderam algumas vantagens trabalhistas anteriores e receberam outras. Alguns não se inscreveram para a seleção. ...Diz também que o secretario reuniu os ACS selecionados e explicou as características do contrato e a necessidade de redefinição de áreas e manteve a autonomia de troca de agentes, se necessário. Pergunto se a quarta regional acompanhou em algum momento a implantação ou execução do programa de saúde da família. Ela diz que não, que nem sabe quem é. (OBS). Destaca-se o grande número de auxiliares e técnicos de enfermagem, o que parece ocorrer em todas as unidades do município. 248 Sobre o número de auxiliares de enfermagem ela diz que no inicio era 1 auxiliar e que os enfermeiros começaram um movimento para contratação de mais auxiliares, o que fez a administração colocar em média 3 auxiliares e que na administração anterior... foi possível pressionar e no final da administração vieram mais duas auxiliares. (OBS) A seguir temos um Quadro 6.12 de caracterização dos profissionais da USF Seminário. Quadro 6.12 - Perfil dos profissionais de saúde da USF Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Idade 20 Escolaridade 2º. grau Tempo de trabalho 7 meses 33 Cursando o terceiro grau 2º. grau completo Formação Cursando Técnico em Enfermagem Curso de Auxiliar Administrativo e de Computação. Magistério e Especialização em Educação Infantil NI 20 2º. grau completo 25 37 2° grau incompleto NI 3 meses 26 2° grau completo Auxiliar Técnico Contábil 3 meses 35 Segundo grau Técnico de Enfermagem 42 Técnico de enfermagem, segundo grau completo Segundo grau completo Superior, terceiro grau Técnico de Laboratório Mais ou menos 6 meses Desde abril, corresponde a sete anos Três anos e meio 33 33 Auxiliar de Enfermagem. Atendimento ao público Enfermeira 7 meses NI NI 3 anos Cargo Agente comunitário de saúde Agente comunitário de saúde Agente comunitário de saúde Agente comunitário de saúde Agente comunitário de saúde Agente comunitário de saúde Auxiliar de enfermagem Técnica de enfermagem Auxiliar de enfermagem Enfermeira /Coordenadora da USF Estagiária 17 Concluindo o segundo grau Recepcionista 10 meses NI NI Auxiliar de Enfermagem 3 meses 33 Concluindo o segundo grau Não concluiu o segundo grau. Segundo grau completo e mais magistério. Superior NI 10 meses NI 1 ano. Magistério. 3 anos Auxiliar de serviços internos. Medicina. Residência em Medicina Geral Comunitária. Especialização em Homeopatia Odontólogo Um ano e meio. Médica. 10 meses Cirurgião dentista Auxiliar de Enfermagem 6 anos. Auxiliar de enfermagem. 40 25 34 36 50 Superior com Especialização NI * NI = Não Informou Auxiliar de enfermagem Atendente de consultório dentário. Auxiliar administrativo. 249 A enfermeira da unidade também é coordenadora da equipe, situação que parece se repetir em toda a rede municipal. Os servidores municipais têm um plano de assistência (FAZ), que inclui assistência à saúde, com cobertura de 80% do valor do procedimento, internação ou exames. A adesão ao FAZ para estatutários é obrigatória e o valor mensal é de 4% do salário. Segundo dados da observação, os trabalhadores municipais utilizam o plano especialmente para a realização de exames, quando o tempo para a realização na rede é muito prolongado. Falam também sobre o FAZ – plano de assistência aos servidores municipais. Que a adesão ao plano, para estatutários é obrigatória e o valor mensal é de 4% do salário e cobre 80% do valor do procedimento. As auxiliares dizem que usam para exames, especialmente RX. (OBS). O processo de trabalho, enquanto uma das categorias de fundação das práticas sociais em saúde, é determinado estruturalmente e ao mesmo tempo se constitui em um espaço de reprodução social. Assim, inicialmente a partir da perspectiva dos trabalhadores de Saúde do Programa de Saúde da Família identificam-se diferentes dimensões e discursos. Entre os profissionais de saúde percebe-se aspectos como o discurso “da prevenção/orientação”; o domicílio como espaço de intervenção e a vigilância (vacinação, exame citopatológico e mamas). É claro também a identificação como uma função mediadora entre necessidades da população e possibilidades estabelecidas/oferecidas pelo serviço de saúde. A saúde preventiva que a gente leva de casa em casa para as pessoas, orientando o funcionamento do posto, como funciona lá na Secretaria, porque a demora às vezes de alguns exames, a gente explica, orienta, a saúde preventiva, carteira de vacinação, criança que está com carteira atrasada, vacina atrasada, a importância de estar em dia com a carteira de vacinação, com o preventivo, fazer o toque de câncer, das mamas, para ver se tem algum nódulo. (P 3). A partir de um ideário humanitário e da identificação de sua especificidade relacionada ao conhecimento do contexto – a comunidade, o trabalhador de saúde considera o seu espaço de trabalho como espaço de escuta e de diálogo. 250 Para mim é ser uma pessoa disposta a ajudar todo mundo. Sem receio, sem medo, com vontade, com ânimo, que é ótimo que é o que eu adoro. (P 5). É ajudar as pessoas da comunidade, conhecer a realidade do bairro, tentar ajudar as pessoas. Porque, elas só querem um diálogo, um médico, uma orientação. Então esse é o trabalho. (P 6). Discurso semelhante se reproduz em um outro grupo de trabalhadores, nos aspectos do discurso humanitário, da vigilância, somando-se questões operacionais curativas (medicação, curativo) que passam a ocupar um espaço maior que a ação, fora da estrutura dos serviços de saúde. Na fala do Informante 16 é apresentada uma crítica, ao que a Estratégia da Saúde da Família se propõe e o que de fato consiste em aspectos desafiadores na materialização deste processo. As contradições intrínsecas a este processo de conversão do modelo de atenção em saúde são partes constitutivas da essência do fenômeno da transformação. Na verdade acho que o PSF até o ano passado era muito faz de conta... O PSF é muito de papel não funciona como deveria não como está. Tem muita coisa escrita e muito pouco realizada daquilo idealizado. Acho que tinha muitos PSF que a gente não sabia que às vezes no Conselho a gente cobrava, o ano passado, porque existia muitos PSF que não eram PSF, se recebiam verbas, o município acaba, colocando 20 horas do médico aqui, que só atende consulta, outro médico que teoricamente faria só em um lugar, fazia em dois e a equipe quem acabava fazendo era a enfermeira e o agente de saúde. Então, acho que, hoje, o que tenho acompanhado, a gente observa que essa são as mudanças que tem observado neste ano tentando realmente efetivá-las. Essa rede em todas as unidades que tem o PSF realmente tem o perfil do PSF... Claro, tinha alguma que com certeza funcionava, eu sabia de muitas Unidades que só tinham realmente o nome e que na verdade não faziam trabalho de visita. (I 16). Novamente, a escuta/diálogo surge como um elemento diferenciador das práticas e instrumento mediador de ações que devem ser orientadas pela perspectiva igualitária dos usuários. Acho que é estar buscando ajudar o paciente, não só aqui, visitando na casa quando precisam, mesmo quando não solicitam, deve ir, porque tem alguns que mesmo não estando mal, eles não pedem para a gente ir lá, a gente tem que entrar em contato através da agente de saúde, e ir até eles. No caso de verificar a pressão, auxiliar com uma visita do médico? Medicação. (P 7). Para mim é uma gratificação total. Adoro ajudar as pessoas, sinto bem. É uma profissão gratificante quando você pode faze um curativo, tu conseguiu salva alguém, teve uma queimadura, não fico seqüela nenhuma, fez direitinho, com amor. Eu acho bem gratificante. (P 8). 251 É um pouco diferente. Antes trabalhava, no posto, na policlínica, não era PSF... Tem a questão de palestras, que na outra unidade não realizava... Também grupo de hipertenso... colégios. Não tinha contato com a prevenção nos colégios, com pessoas... Acho que sai mais da unidade (P 13). Atende de igual para igual a todos. Independe do idoso, do adulto, a mãe, puérpera, criança. Todos na mesma forma, dando sempre mais atenção aos pacientes mais delicados, no caso vêm se tentando fazer de forma mais igualitária a todos. (P 9). Chego na Unidade, verifico sinais. Vou ali na frente. Se precisar converso com as pessoas. Pergunto quem está ruim, que está precisando de atendimento antes. A gente conversa com a doutora, passa na frente. Crianças com febre, vê a temperatura... Ás vezes é feita compressa, na sala dos curativos, para baixar a temperatura... Eu gosto muito do que faço. (P 12). Entre um grupo de técnicos percebe-se mais claramente o discurso do Programa Saúde da Família centrado na idéia de vínculo, de estar junto à população, conhecer as pessoas no contexto das famílias e desenvolver uma atenção em saúde integral. Aqui, a idéia de integralidade parece ter como referência o universo da família. É poder estar atuando... junto à população, como é uma Unidade diferenciada das demais Unidades, das Policlínicas, então é ter um vínculo, conhecer bem a população, conhecer todos os membros da família dar uma assistência integral, a todos os membros, não um só especifico. É o que diferencia uma Unidade, de um Ambulatório. (P 10). Na fala a seguir é possível identificar, ainda que de forma incipiente, uma relação multiprofissional/interdisciplinar como estratégia para as ações de promoção em saúde. Você participar, interagir com outros profissionais, médicos, enfermeiros, para promover a saúde. (P 17). Ao identificar as propostas do Programa Saúde da Família, os trabalhadores explicitam contradições vivenciadas frente às dificuldades no sentido de ações de vigilância em saúde efetivas construídas a partir da especificidade da realidade / comunidade em que trabalha e o desafio de romper com um modelo centrado na atenção individual e curativa, via consulta médica. Esse Programa da Saúde da Família é uma estratégia muito boa... Os profissionais estão... descontentes... com o atendimento exagerado... o salário, é claro que influencia bastante... Mas não é só isso. Tu tem que se sentir bem com o que está fazendo, e, da forma como está é difícil algum profissional estar contente com o que está fazendo... Tu trabalha, trabalha, semana após 252 semana, para que não seja a mesma coisa e não vê muito retorno nesse trabalho. Quando na verdade deveriam modificar muitas coisas, modificar os indicadores de saúde, mas, a gente só está no atendimento... Naquele modelo antigo de atender o usuário, não trabalhar muito a prevenção. A gente tenta fazer alguma coisa, no tempo que consegue. Dentro da consulta, da visita domiciliar, mas é muito pouco o que consegue. (P 16). O desgaste apontado pelo trabalhador de saúde expõe, além das condições específicas, uma contradição própria do momento/período de implantação, na medida em que a proposta do programa é exatamente se constituir em uma estratégia de mudança do modelo de atenção em saúde. Aqui, parece estar localizado um dos nós críticos do modelo e o grande desafio colocado aos trabalhadores de saúde. Neste universo destaca-se também a identificação de uma relação diferenciada entre os trabalhadores, aparentemente mediada pela necessidade de articulação de diferentes fazeres ou própria de algumas características dos sujeitos que fazem escolhas pessoais/profissionais relacionadas a este universo. Gosto muito de trabalhar aqui... Fui cobrir férias e vi que a coisa não é como funciona aqui, não sei por quê? Mas, as pessoas são tratadas de forma diferente... Nós funcionários, somos tratados com indiferença nas outras Unidades. (P 15). Experiência bem sucedida A identificação de experiências denominadas como bem sucedidas originou o estudo de caso, a partir de critérios estabelecidos e dados oriundos do estudo epidemiológico de monitoramento e avaliação e permitiu à equipe escolhida para o estudo uma reflexão acerca de seu universo de trabalho. A escolha do caso foi questionada junto aos profissionais da unidade identificada para o estudo e suas respostas indicaram como aspecto fundamental as características do grupo de trabalhadores como marcadores fundamentais na “experiência bem sucedida”. Esta avaliação parece se relacionar com a perspectiva local/micro dos trabalhadores, no sentido de comparação entre unidades do mesmo município e, ao mesmo tempo denota a distância entre a unidade básica de saúde e as demais instâncias do sistema local. Pela união de todo mundo, um ajuda o outro. (P 1). 253 O ponto básico é a comunicação... Um bom entendimento da equipe. (P 10). Acho que depende de cada pessoa que trabalha aqui dentro. Isso é o mais importante. Diálogo, harmonia e transmitir, confiança para as pessoas que chegam ali. Isso que acho mais importante. (P 12). É a integração da equipe. Todo mundo trabalha junto e tenta se ajudar. Tem um problema as pessoas discutem, chamam para conversar... essa abertura da equipe para o trabalho, para a conversa. (P 16). Percebe-se um sentido de responsabilização, no sentido de buscar resolver os problemas identificados na comunidade e também ações de vigilância em saúde. A união de todos... Todos conhecem os problemas e tentam achar uma solução. (P 6). Porque a equipe se uniu, foi a rua... bateu de frente com os problemas. Tentou resolver, conseguiu resolver a maioria. Tem coisas que tem que ser mudadas para... ser considerado um PSF de verdade... Acredito que estamos indo no caminho certo. (P 4). Acho que é o trabalho em equipe. A primeira coisa... a procura dos problemas dos usuários, tentar solucionar. Acho que é a partir dali. (P 9). É uma população... de risco, porque tem as favelas, os alcoólatras, os pontos de drogas, mesmo assim a gente tem entendimento, nunca teve esse atrito com a população, eles vem, são bem atendidos, saem respeitando, existe esse respeito entre a população e a Unidade de Saúde. (P 10). Para a equipe de saúde um diferencial na atuação e no trabalho da Unidade é a presença e o trabalho desenvolvido pelas agentes comunitárias de saúde como elementos que possibilitam a identificação de “problemas” e estes devem ser trabalhados pela equipe de saúde. É a união da equipe, o trabalho em equipe, a competência dos profissionais... As agentes elas vão para a rua. (P 11). Acho que é a união de todos. A vontade de trabalhar e de “arregaçar as manga”, como a gente diz, e não esperar eles virem até nós e ir até eles, ver se precisa de ajuda, a equipe é muito de procurar, principalmente os agentes de saúde, trazem pra gente os problemas e a gente procura resolver. (P 7). O trabalho realizado e seus aspectos relacionados à comunidade Os trabalhadores de saúde referem algumas características de seu trabalho destacando o vínculo com a comunidade, como um aspecto construído a partir dos agentes comunitários de saúde. 254 As falas anteriores também referem o trabalho dos agentes de saúde e apontam os aspectos como vínculo e conhecimento da realidade. Isto também se destaca na fala dos profissionais de saúde. A possibilidade de conhecer as condições de vida e as particularidades de cada família parece permitir o estabelecimento de uma relação próxima. Compreender os problemas e dificuldades, assim como identificar os limites estruturais impostos à condição de vida da população permite aos trabalhadores construir um vínculo efetivo e parece contribuir para uma prática em saúde solidária. A gente tem um vinculo com a comunidade muito bonito. Porque conhece cada família, o que eles estão passando. Se tem desempregado. Se tem um doente. ... a gente entra na casa deles... sofre com eles. Dá risada com eles. Muitas vezes vai pra casa, assim, triste, porque não consegue resolve o problema deles. Que geralmente, é o desemprego, é a fome. (P 4). É a convivência... É o conhecimento nós conhecemos e eles nós conhecem. Confiam na gente... a gente sabe onde é que mora, ou quanto que o marido ganha. As dificuldades. Então a gente entende a parte deles. Tem certas coisas que eles não podem melhora, se não tem esgoto. (P 8 ). Que o pessoal conhece as famílias? Conhecem onde mora, quem reside, quais os membros da família, dá esse auxílio, eles vem e questionam, pedem, o que precisar nós sempre estamos disposto a ir correr atrás, acho que isso auxilia bastante esse vínculo com a comunidade, tu conhecer a comunidade, já é um ponto favorável. (P 10). Outro aspecto que se destaca na fala dos trabalhadores relaciona o conhecimento da comunidade e o vínculo estabelecido, a partir da condição do trabalhador de saúde morar na comunidade e na região. Os funcionários... se identificaram com os moradores e ter aquele vínculo com os moradores, a maioria conhece, se amigo, se vizinho. A maioria mora no mesmo local e já conhece toda a população, isso ajuda bastante... fala como funcionário da unidade e morador do bairro. Quanto maior a aproximação do morador com o funcionário da unidade, acaba dando mais certo... faz parte da tua comunidade... quanto mais esforço, quanto mais a gente tenta resolve na unidade, está ajudando a comunidade da gente mesmo. (P 14 ). A perspectiva de intervenção sobre o contexto familiar é descrita como um diferencial na experiência estudada, novamente relacionada à capacidade da equipe dar respostas aos problemas identificados. 255 A união, o diálogo, a autoestima. Conseguir dar conta de receber as pessoas e tratar a família ao todo? Porque se o problema, não é só comigo, se tenho alguma coisa, o problema está na família, e acho que a equipe procura resolver a saúde da família, a valorização pela família. (P 5). A Coordenação da Unidade também é referida como uma das razões para a forma de trabalho da equipe e o impacto do trabalho na comunidade, tendo havido referência de que o tipo de liderança exercido pela coordenação local favoreça a articulação da equipe e o envolvimento dos profissionais no trabalho. Como chefe da unidade, sempre está disposta, pronta pra ajudar, ela é muito... ela vai a pé, de carro até o paciente. Se o paciente não pode vir, ela sempre está a disposição. (P 6 ). Apóia bastante, então a gente também, olha isso... às vezes, tinha uma reunião lá as oito horas da noite. Não poderia ir, mas eu não posso dizer que não. Pego e vou. Quando eu trabalhava no outro posto, sinceramente, não ia, porque não tinha apoio. Quando precisava eu tinha apoio da chefia... Aqui, vou... se tiver um reunião as dez horas da noite, vou. Por quê? Porque ela passa essa coisa boa para a gente, ela é uma pessoa bem. Então, todo mundo anda junto, sabe. (P 13). O planejamento e a organização do trabalho O planejamento em saúde se constitui em uma ferramenta importante construída a partir do conhecimento das características da região de atuação, da identificação de prioridades e do estabelecimento de ações estratégicas. Na unidade de saúde do Seminário percebe-se que a equipe de saúde conhece a comunidade e identifica os problemas de saúde de maior impacto. Entretanto, não existe uma sistematização das informações, assim como o instrumento mapa de risco não é utilizado. Existem apenas mapas por micro-região, com ruas e casas. Tem o mapa das agentes. A gente sabe aonde que é os locais de risco, pelo mapa. Porque já conhece toda a área aqui, então sabe identificar os locais de risco... Que é bastante, tem gato, tem cachorro, têm pessoas, drogaditos, alcoólatras. ( P 3). No (Loteamento X), ali é área de risco, por quê? Porque é área irregular. Falta esgoto... Tem droga, fumo e prostituição... É uma área de risco. Bastante população pobre. Bem carente mesmo. Uma pessoa que precisa da gente estar ali assim, toda a semana estar ali orientando, falando, fazendo. (P 4). Nesse mapa sim. Na (Rua 1). é uma área de risco, aqui nesse final da (Rua 2). No finalzinho da (Rua 3), (Rua 3 e Rua 4) seria... No mapa não está 256 especificado, a gente sabe por que foi passado e conhece. Sempre morou no bairro. (P 5). Que mostre só situação de risco, não. Nós temos o mapa geral das microáreas, e cada um dos agentes sabe onde tem o maior risco, onde tem as diarréias, os maiores índices de diarréia, de hipertenso é meio difícil, porque tão todo meio que “pipocado” na população, mas os riscos de diarréia, desnutrição, aqueles vícios de drogas, alcoolismo a gente identifica, mas não que tenha um mapa indicando. Tem um mapa geral, e cada um tem a noção onde encontra... mas não tem designado, aqui é os alcoólatras, aqui é os hipertensos, não tem por cores. Como deveria ter, só temos o geralzão. Mas a gente consegue se localizar. (P 10). O planejamento geral é identificado como uma prerrogativa da Secretaria Municipal e a Chefia da Unidade repassa as definições do nível central e realiza um planejamento operacional frente às demandas indicadas. Quem planeja as ações no caso é a secretária que assim passo pra coordenadora local, a coordenadora... passa para nós, na reunião, e é assim que a gente continua seguindo. Discutimos também quando... eles dizem que tem que fazer assim. A gente acha que não tem que não é bem assim, que é para conhecer o paciente. A gente sabe que tem que ser assim, que se tiver alguma coisa a ser mudada, a equipe entra num acordo, toda a equipe. É discutido, daí é levantado a questão. A coordenadora se comunica com a secretaria, pedindo, dizendo, ó: A gente acha melhor assim, assim, assim. E eles acabam dando a opinião deles e dizendo: não, está correto. Pode continuar. Mas sempre que tiver alguma mudança é discutido em equipe e a coordenadora sempre comunica a Secretária. (P 4). Na fala anterior também é possível perceber a reunião de equipe como um espaço de discussão e inclusive de elaboração de propostas a partir dos interesses do grupo de trabalhadores da unidade e do conhecimento que estes têm da comunidade. Entretanto, em várias falas é possível perceber a inexistência de espaços de planejamento e de seus instrumentos fundamentais, entre elas: Como faz pouco tempo que estou aqui, já tinha sido planejado. Quando nós chegamos, a enfermeira passou pra gente o que tinha sido planejado, como é feito. Como é feito, já deviam ter feito. Não tenho como te passar essa informação agora... Só que quando nós chegamos, ela passou como devia ser o nosso trabalho. (P 5). É, todas nós juntas, sempre a enfermeira com as auxiliares. A gente no caso, como agente de saúde... tenta ajudar da maneira como pode. Mas é sempre em conjunto. A coordenadora, ela escuta opiniões, sugestões. É sempre a equipe toda. É no dia a dia. (P 6). Acho que... é, de momento. O paciente chega... Conforme o que vem procurar, a gente faz e tem os grupos. Mas dependendo do paciente ou ir na casa, depende do que ele precisa, para ser atendido. (P 9). 257 Neste contexto, as reuniões de equipe realizadas a cada semana, em um período de duas horas, assumem um caráter fundamentalmente informativo. Apenas questões mais operacionais são discutidas, ao que se refere à divisão de tarefas. De reunião de equipe, daí é organizado. A Chefe da Unidade, ela organiza, de quem vai trabalhar. (P 2). Inclusive nesse dia, tem que estar todos os funcionários. Para não ficar nada pendente. (P 7). Nós temos uma vez por semana a reunião de equipe... Onde a enfermeira passa, os acontecimentos da semana. O que tem alguma mudança. Se tem algum trabalho a mais para fazer, fora o nosso serviço dos agentes comunitários, às vezes tem algumas coisa que a secretaria pede. A gente se agenda assim. Com as visitas. A gente chega na Unidade, se organiza para ir visitar. (P 4). Essas reuniões semanais são para colocar tudo que ocorreu na semana... A Coordenadora, ela participa bastante de... reuniões lá, de grupos. Então, coloca para o pessoal tudo que vem da Secretaria, algumas mudanças, esses memorandos que mandam semanal. Chega sexta-feira, ela coloca para o pessoal tudo que veio o que não veio, o que aconteceu. É, dificuldade que uns tem, outros não tem. Então, tudo isso é colocado na reunião. (P 14). Na verdade não tem um horário específico para planejamento de atividades. Tudo na reunião de equipe. Por isso que tem uma certa dificuldade com relação a tempo. Tem muitas atividades, tem que estar resolvendo alguma coisa. Sobra tudo para a reunião de equipe. Quando tem alguma atividade nova, é tudo planejado, nessa reunião. Não tem outro espaço. (P 16). Geralmente a gente planeja nas reuniões semanais que tem. Procura sempre algumas ações desenvolver junto. Em conjunto, sempre é passado o que tem para fazer, questões de visita, de grupos, de reuniões com os grupos, de palestras com os grupos... Ações que a gente vai desenvolver na comunidade com algum dia, tipo, preventivo, alguma campanha de vacinação, é tudo trabalhado nas reuniões de equipe. (P 17). Entretanto, os profissionais indicam as prioridades de atenção em saúde como elementos que orientam o seu trabalho e a organização do serviço desenvolvido na unidade. Tem algumas prioridades desses atendimentos fora de urgência, que é puericultura, menores de um ano, nesse caso, são agendados com antecedência. Se não está vindo a agente de saúde vai visitar. A gente procura a gestante o mais precoce possível para o pré-natal. Se tem alguém que não está vindo aqui no posto, que descobre com visita, que está com uma provável gravidez, já encaminha pra Unidade. Se não é para consulta, é com a enfermeira. Ou com a consulta médica, para realizar o exame para ver se 258 realmente é para pré-natal, se tenta encaixar o mais rápido possível para o prénatal... as prioridades seriam essas. Idosos também. Só que aqui a população de idosos, ela não é, um idoso, que não consegue vir para Unidade. Acamados, a gente faz visitas... Os outros, normalmente, vem para a Unidade, esperam o atendimento sem problema nenhum. (P 16). Prioridade pra nós é dor. Primeiro lugar a dor, alívio da dor. Depois, o tratamento complementar. Dentro do tratamento complementar a gente abrange o quê? Os grupos: gestantes tem prioridade, a porta de entrada deles é diferente dos outros pacientes; idosos, pacientes com doenças crônicas, degenerativas, têm porta diferente, entrada. E, os tratamentos completados. É um agendamento que faz. (P 17). Prioridade pra mim é, vê criança baixo peso. Pessoas hipertensas, diabéticas. Grávidas, as vezes, de risco, gestante. A saúde mental das pessoas. Outras coisas, que deveria melhorar mais é o encaminhamento básico..., saúde pública. (P 12). Nas reuniões semanais os assuntos mais freqüentes, conforme os profissionais da equipe, são: É, sobre como atender o pessoal, as normas, o serviço de cada uma, dá uns avisos, na reunião que ela tem para repassar tudo para nós, e se tivesse que fazer alguma coisa, sempre se organizam pra trabalhar. (P 1). Discute sobre como a gente deve trabalha dentro da unidade. Como deve dividir as tarefas, o que a secretaria de saúde passa, para a enfermeira, a enfermeira passa para nós. A gente conversa. Sobre a unidade, se organizar dentro da unidade, como trabalhar. Capacitação e, reuniões, o que falta. (P 12). O atendimento durante a reunião é mantido para alguns casos. São realizadas todas as sextas-feiras de manhã, das dez e meia às onze e meia, mas o posto fica entre aberto, pra atender os casos de urgência de emergência. Alguma criança que esteja com febre, vacina. Está sempre aberto para vacina, mesmo estando em reunião. Sempre disponibiliza o pessoal para atender. O pessoal vêm de longe, ele quer ser atendido. Nem que esteja em reunião. (P 3). As reuniões também se constituem em espaços de discussão de problemas de trabalho da equipe e reclamações da comunidade, em um espaço referido como aberto, no qual a coordenação (chefia local) pode realizar cobranças, mas também elogios. Assuntos gerais. A enfermeira tem uma capacitação. Ela, passa pra nós o que foi discutido, o que foi falado. Se tem alguma mudança da secretaria em relação a funcionário. É colocado, se a gente tem alguma coisa, nós temos algum assunto para vê da comunidade, para estar discutindo em equipe, conversando pra vê qual é a melhor solução. Se tem alguma reclamação, é 259 discutido em equipe. Se tem algum elogio. A enfermeira. Se tiver alguma cobrança, ela cobra. (P 4). A gente fala no grupo porque tem liberdade, para falar e saber ouvir, tem um vínculo, que você ouve e fala, você tem que saber ouvir e falar. (P 5). Não existe discussão sistematizada de casos clínicos, algumas situações específicas são discutidas, em muitas situações no sentido de articular ações de diferentes profissionais. Casos clínicos. O que compete a nós. Se é um paciente, que tem que tomar uma medicação com ajuda, nós temos que ir lá, vê direitinho se ele está tomando, porque ele precisa realmente daquela medicação. A gente senta, conversa e acho que não tem reclamações. (P 8). Casos clínicos. Alguma coisa mas daí é menos porque entra muito no prontuário do paciente. (P 9). Aquele estudo de caso clínico do paciente foi se tentando fazer, pegar um paciente de risco, que tu considera risco, tentado fazer um estudo de caso, mas a gente procura fazer durante a semana, as gurias vão para visita, o agente de saúde vai para a visita e tem um problema na comunidade, ele trás, já comunica, e tenta resolver antes da reunião da equipe... Dificuldade no atendimento, até esses últimos 2 meses a gente discutiu bastante. Porque vai o exame para a secretaria às vezes demora, e eles brigam aonde? Brigam na recepção, com o enfermeiro, com o auxiliar, então gera aquele tumulto, na reunião de equipe a gente trás para tenta solucionar. (P 10). Quando tem algum caso a gente leva e discute. Tanto, ou as agentes, quando precisam fala de algum caso, ou a gente leva. (P 16). Capacitação A capacitação enquanto instrumento de qualificação das ações e mais especificamente do trabalho realizado nas Unidades de Saúde da Família, é descrita em muitas falas como adequada e capaz de produzir impacto no cotidiano de trabalho da equipe. Estava ótimo, porque vacina sempre tem capacitação. Agora fui para o laboratório sem capacitação nenhuma. Aliás, estou para ser chamada para fazer a capacitação... Mas é bem interessante você ter essa capacitação, para você fazer com mais segurança, não só o que você está lendo aí. Acho bom, porque nós já tivemos esses cursos... hanseníase, diabetes. Está indo bem... de seis em seis meses, quatro em quatro meses. (P 8). Tem, porque o que eles falam lá, é a realidade daqui, principalmente vejo por mim eles falaram lá dos pacientes. É a realidade que a gente sentia aqui, eles falaram muito que também não é só pensar, no paciente, paciente, tem que ver 260 como fica depois do serviço, ou falar muito do usuário, então, é a nossa realidade mesmo. ...Na reunião. Sempre, sempre a gente repassa o que aprendeu lá. ( P11). Uma rotina quinzenal. Duas horas. De uma as três da tarde, para capacitação. Mas ultimamente, não sei se por ter mudado a direção técnica, tinha parado. Agora, acho que fazia quase um mês que não tinha nenhuma. Hoje teve uma. Vem um roteiro, com os dias, os temas que vão se trabalhado. Agora com a mudança da direção a gente recebeu, um pedido solicitando temas para capacitação Porque a capacitação hoje deixou muito a desejar. Normalmente ajuda bastante. (P16). Uma das áreas de fragilidades apontadas pelas entrevistas parece ser o processo de capacitação dirigida aos agentes comunitários de saúde. Os ACS receberam um treinamento de aproximadamente quatro turnos e desde então não tiveram outras capacitações. O treinamento é descrito como adequado quanto ao conteúdo, com destaque para a área de odontologia. Situação semelhante é identificada em outras áreas. Teve a capacitação quando entrou. É um cursinho básico. A gente teria que fazer. 4 dias inteiro, manhã e tarde, direto, só com intervalo de meio-dia... (P1). Quando entrei recebi 3 dias de capacitação, manuseio de lixo contaminado, coisas que não tinha noção de que era, e agora faz um mês, que tiveram de novo, cada coisa que a gente tem é um reforço que tu aprendeu lá no começo. (P15). É boa, só que acho que nós como agente precisaria um pouquinho mais... saber ouvir eles ensinaram, que você tem que ter bastante olhos e ouvidos atentos. Atento ao trabalho e saber como chegar nas casas, fazer a visita ensinaram isso, a pensar, falar, o jeito deles, porque cada um tem um jeito de falar, uns mais simples, outros mais e saber como agir. (P5). Foi pouca explicações, mas foram bem claras. O que eles falaram bem mesmo a linguagem popular, a gente entendeu e conseguiu passa para população. Saúde Bucal, eles ensinaram tri bem. Tem que estar trabalhando com a mãezinhas. Os cuidados com os dentinhos, desde o nascimento. A criança quando nasce, os cuidados que a mãe tem que ter. Amamentação. ...eu acredito que a maioria das coisas que a gente pego bem, conseguiu passar para eles (P4). As necessidades de formação acabam se constituindo em uma demanda a ser incorporada diariamente pela enfermeira da unidade e pela busca individual dos ACS nos manuais disponíveis na unidade e junto aos demais trabalhadores da unidade. A enfermeira orienta se tem alguém que está com uma tosse muito prolongada ou mancha na pele, que não sente, a pessoa está vindo na unidade. A gente orienta essas coisas. (P1). 261 Sim, tem o nosso manual, da gente e tem um outro de tuberculose. Sim, sobre a capacitação até s auxiliar sempre têm capacitação... Fora daqui, elas trazem para nós. (P1). As falas apontam a existência de um projeto de capacitação de caráter mais sistemático dirigida aos agentes comunitários. Começaram uma capacitação agora para os auxiliares. Os agentes, não estão tendo no caso muitas capacitação. Está para sair, segundo informações... a coordenadora dos agente, que vai sair um curso para nós, no SENAC, de agente comunitário de saúde. Teve aquelas capacitaçãozinha de dois ou três dias. (P4). Nós como agente de saúde, nós só tivemos a capacitação quando entrou. Eram 3 dias, dias inteiros. Desde que estou aqui, percebi que a... (auxiliar de serviços gerais) já teve reunião e as meninas da enfermagem, têm as capacitações delas. A capacitação a da vacina, agora vão ter a da coleta. Então sempre tem, elas tem mais capacitações do que a gente... é para nós termos agora em janeiro, começar um curso de 400 horas. Para agentes de saúde. De Chapecó, eles vão, eu acho, até pagar o transporte para todas nós fazer. (P6). Identifica-se também um padrão segmentado nas capacitações que são organizadas, a partir dos diferentes profissionais que compõem a equipe e também da necessidade de continuidade no processo de capacitação. Acho que tinha que melhorar. Tem que ter mais capacitações, está tendo bastante, mas pode ser melhorado, ter mais capacitações. A cada 30, uma vez por mês se reúne, duas horas por mês para fazer capacitações. A gente escolhe um tema, e esse é abordado durante duas horas. É feita essa capacitação por profissionais da rede, isso já são praticamente todo esse ano, todo mês teve capacitações. (P17). A secretaria de saúde eles não tem uma escala para fazer as capacitações... Esse ano nós tivemos o quê? Da saúde da mulher, do hipertenso, do diabético e teríamos com os bombeiros, mas não teve... geralmente, a coordenadora de enfermagem procura chamar o enfermeiro num dia e os auxiliares no dia seguinte... Os médicos, até o ano passado não tinham capacitação periódica, era de vez em quando, passavam um ano inteiro sem capacitação, então eles estão procurando fazer a cada 15 dias. Faz uns 3 meses que fizeram um cronograma, a cada 15 dias tem capacitação, duas vezes no mês. (P10). Um aspecto a ser destacado no universo investigado é a cultura de repassar temas abordados nas capacitações para todos os membros da equipe. As reuniões e em algumas situações do cotidiano da unidade se constituem em espaços de socialização, dos temas abordados nas capacitações. Sempre tem, as capacitações, inclusive a enfermeira vai nas capacitações... todas as capacitações ela vai... tudo que tem de informação passa para nós. 262 Todas as capacitações que faz, coloca o porque ou o que muda. O auxiliar, ou qualquer... outro que está aqui, tem capacitação... Daí chega na sexta-feira é feita a reunião, aquele profissional vêm passa para os outros. (P9). ... Cardiologista a última que teve..., foi muito boa... sempre tem capacitação. Sobre o preventivo, muito bom. A gente aprende muito. Explica como se vê direitinho a pressão. A pessoa tem que se cuidar, no máximo é a alimentação. (P12). Esse ano teve bastante. Seis encontros já teve esse ano. Sobre PSF, cirurgia, odontopediatria. Eu sei que teve umas quantas esse ano. Foi numa lá na secretaria... (P13). Supervisão Os trabalhadores identificam supervisão com controle administrativo realizado pela enfermeira e coordenadora do serviço. A enfermeira faz controle. Nós temos o cartão ponto.Quando sai e quando volta. (P1). O horário, a enfermeira. A diretora da unidade. Ela supervisiona. Depois dela tem minha outra coordenadora. Então qualquer coisa que aconteça, a enfermeira repassa para a coordenadora. (P13). A relação com a coordenação é descrita pela maioria dos trabalhadores como elemento de supervisão e caracterizada como centralizada e apresentando espaços de negociação ou de conversa. Me sinto muito bem, porque a coordenadora local é uma pessoa muito competente. Muito exigente. Ela cobra. Mas ela se tiver que dá elogio dá, se tiver que fazer uma brincadeira com você, ela faz. Então me sinto muito bem. Ela deixa a gente bem. É bem exigente no trabalho. Cobra da gente, quando ela tem que ensinar as coisa pra gente... (P4). Nossa diretora é ótima. Consegue dominar bem. Fazer uma administração sem dizer que puxo para essa, que puxo para aquela. Se coloca bem, se alguém tem algum problema, consegue chega nela. Ela é bem aberta para conversa. Qualquer dúvida, ela consegue administra muito bem. (P9). Ela está sempre ali, se ver que precisa chamar a atenção chama, se vê que eu fiz errado corrige, no começo sempre ficava por ali, “ó é assim, é assim sabe”, para mim é muito boa, é muito competente, porque se fiz alguma coisa de errado, se vê que estou fazendo, sempre me chama a atenção, ela me dá elogios, e isso estimula a pessoa. (P11). A enfermeira relata que ao chegar na unidade observa todas as salas, checa a presença dos profissionais, suas atividades, dificuldades, articula trabalhadores para 263 atividades de maior complexidade ou com maior demanda. Em relação às dificuldades refere que a equipe tenta resolver assim que identificado. Em relação à supervisão do nível central, a grande maioria dos trabalhadores refere não existir. As falas sugerem que já aconteceram propostas e experiências iniciais neste sentido, mas nenhuma experiência se consolidou ou institucionalizou. Quanto à supervisão da secretaria não tem. Até se tentou fazer aquela supervisão de rede. Sugeriu pro enfermeiros passar nas unidades, levantando quais os problemas que tem, como podemos solucionar, mas não foi feito. Até.... a coordenadora de enfermagem, sempre está acessível, tem uma dificuldade, liga para ela tentar solucionar, tanto férias, falta de material ou compra de material que precisa, mas não que eles venham nas unidades saber como está, saber se está melhorando, coletando sugestões, dando elogios, isso nós não temos. (P10). A equipe em geral, independente da área de atuação, refere que a coordenação de enfermagem da secretaria parece estar mais próxima das unidades. A coordenação de enfermagem, aonde é chamado, muitas vezes a enfermeira participa de palestras, reuniões e traz novidades. Agora tipo, no sentido vamos dizer de estar supervisionando o trabalho, estar vendo, isso aí, não. (P14). É só as reuniões de equipe dos enfermeiros na secretaria, aí sim, tem, é cada primeira Segunda do mês. Se faz, estamos discutindo vários assuntos, mas quanto à capacitação não tem um cronograma certo para seguir. (P10). Relação com a Secretaria A relação entre a unidade de saúde da família e a Secretaria Municipal de Saúde, enquanto elemento indicador da articulação política e institucional, com vistas ao desenvolvimento da proposta de atenção em saúde, é descrita em seus aspectos contraditórios, a partir da fala dos trabalhadores de saúde. Para um pequeno grupo de profissionais ela é descrita como acessível. Aqui com a secretaria? Eu acho acessível. (P1). É boa. (P12). Entretanto, a maioria das entrevistas revelou as dificuldades vivenciadas a partir da perspectiva dos profissionais, especialmente em relação à inexistência de visitas periódicas e ou de questionamentos acerca das necessidades sentidas pelos 264 profissionais. É freqüente um discurso de que as críticas ao trabalho são freqüentes e que nas situações em que a equipe consegue resultados positivos, estes parecem não serem considerados. Olha. A Secretaria, ela não é muito chegada aqui não. Quando a gente quer alguma coisa, precisa de alguma coisa, ou a gente vai lá, ou liga, ou pede auxílio. É bem atendido quando pede... mais é a gente que busca informação, auxílio, material que precisa. Se precisar liga, pede, é bem atendido. (P3). Mais ou menos. ...não sei porque, se somos mais do interior, nós ganhemos, esse treiler em primeiro lugar, ninguém deu os parabéns. Mas vamos continuar fazendo o nosso trabalho. A coordenadora geral de enfermagem é uma ótima coordenadora. Tem pessoas que não te reconhece, não te dão um incentivo, um aperto de mão. As vezes tu precisa alguma coisa e demora um pouquinho mais. (P8). Sinto que eles deixam um pouquinho a desejar... As dificuldades que a gente tem de conversar, as vezes, com algumas pessoas. De chegar e conversar. E muita crítica, porque? Os usuários, da unidade, tem alguns que não estão satisfeitos... E, invés de dizer, vir até nós, perguntar o que está acontecendo, eles simplesmente dão razão para o usuário e não vêm nos procurar para vê o porque que aconteceu isso. Então, acho que isso é uma falha, talvez nossa também. (P9). Um exemplo gritante da distância e dos problemas de comunicação entre unidade e nível central é descrito a seguir: Teve reclamações da população um mês e meio, dois atrás. Uma paciente nossa ligou na Secretaria de Saúde, em uma Quarta feira a tarde dizendo que a doutora não tinha vindo, que a unidade estava cheia, e ele queria atendimento. A Secretaria não ligou para nós. Mandou um médico, querendo como é que a unidade estava vazia... Então, a falta de consideração até comunicação, podia ter ligado, perguntado, questionado, esse é um exemplo. (P10). Foi uma tarde de visita domiciliar... uma usuária, telefonou para a Secretaria de Saúde, denunciando que no posto de saúde não estava tendo atendimento médico, e que estava cheio de paciente aqui, naquele horário. Aí, a Secretaria encaminhou urgentemente o médico, por sinal, que é o médico autorizador, que não está no atendimento agora, para atender os pacientes. Ou seja, não nos ligaram, não nos perguntaram o que estava acontecendo na unidade. O médico chegou aqui não tinha ninguém para ser atendido. Então não tem esse respaldo. Eles podiam te ligado pra cá. Saber o que estava acontecendo na unidade... a gente se sentiu realmente ofendida com isso... Que não tem muito respaldo da Secretaria. (P16). A situação descrita explicita a inexistência de relação e, em alguma medida, as dificuldades administrativas do sistema de saúde local. As visitas realizadas pela médica da unidade ocorrem em um turno único, em que a Secretaria fornece semanalmente um 265 carro, o que pressupõe a existência de um cronograma de deslocamento e a unidade conta com um telefone. Parece também que existe uma situação de conflito estabelecida fora do contexto da racionalidade institucional, que acaba por produzir crises e ações totalmente desarticuladas.Identifica-se a distância maximizada. Os profissionais de saúde indicam algumas alternativas para os problemas de comunicação e de relacionamento identificados, entre eles uma aproximação maior, mediada por uma disponibilidade de escuta e diálogo com os trabalhadores. Não tenho muito conhecimento, mas acho que dá para classificar boa, ótima não, e regular também não. Acho que podia ser melhor. Acho que talvez mais reuniões, entre Secretaria e mais conversa, falta um pouco de diálogo da parte deles com o PSF, porque nós aqui, a equipe, está sempre disposta a ouvir, talvez nesse sentido podia melhorar um pouco, mas no geral é bom. Eles passam informações. A enfermeira passa para nós... (P5). É, regular, vamos dizer. É regular porque, tem coisas que a gente... queria que eles trabalhassem em pouquinho diferente... Eu, até, muitas vezes, vou ter, aquela vontade de ajudar o paciente. Só que estou sendo barrado. (P14). A partir da perspectiva das relações pessoais como marcadores da qualidade de comunicação entre diferentes instâncias do sistema de saúde municipal, algumas falas nos apontam os atritos e conflitos vivenciados. Novamente, parece que a equipe de saúde acaba por ocupar um lugar entre as necessidades da população de atenção em saúde e a necessidade institucional de dar uma resposta política a estas demandas. Como que eles falaram assim na reunião, eu quero saber porque que vocês, de dedo. Porque tão boicotando a população? Na frente de todos que tavam lá, sendo que quem estava lá era os denunciantes. Eles pediram para fazer os convites para os denunciantes e para os conselheiros, só que os que denunciaram não foram... Mas a população ainda não tem essa noção e eu não sei se a secretaria até tem mas não está priorizando ainda o PSF, eles querem que tu atenda a demanda, tudo que vem, para que eles não saiam reclamando. Então tu não consegue fazer o trabalho de saúde da família. (P10). Mais ou menos. ...quando precisa de encaminhamento vejo eles correndo atrás, ligam e tal. Lá no RH, a coordenadora geral de enfermagem é uma pessoa muito querida, mas tem uma... ela é contra o funcionário, ela xinga... é bem estúpida, na minha opinião... porque ela ofende a gente, dá de dedo, xinga... ela foi grossa com todos nós. Todo mundo tem um ressentimento muito grande por causa disso, porque ela é muito estúpida. (P15). A relação entre diferentes momentos do sistema local se saúde parece apresentar inúmeros ruídos e, para a maioria dos profissionais de saúde, é descrita como crítica. 266 Entretanto, foi freqüente a referência de que em situações concretas e operacionais a Secretaria Municipal de Saúde oferece um suporte importante para o trabalho da unidade. Mas quando precisa mesmo que é caso sério, eles estão sempre ajudando. Não vai dizer que não há esse ligamento de nós com a secretaria, mas a gente não pode dizer que é 100%. Dá para se dizer que é 70% de ligamento com nós e a Secretaria... tem mais crítica do que elogio. (P11). Na área da odontologia acho que é uma relação boa. Pelo menos, tudo que a gente precisa, aconteceu um imprevisto, alguma coisa com o paciente, que você precisa, um raio x, de urgência, você liga e geralmente você consegue. (P13). Eu acho que é boa, muito boa. Não tem maiores problemas, não tem barreiras. Sempre a gente solicita, consegue na maioria das vezes... Eu não vejo, ao menos. (P17). As Práticas de Saúde e a Integralidade na Perspectiva dos Profissionais Recepção/escuta A escuta tem uma referência inicial e marcante, a recepção e os profissionais referem que a recepção é adequada, mesmo frente aos limites impostos por uma infraestrutura inadequada. Ali o pessoal faz o possível para atender todas as pessoas de maneira educada, coerente com a prática, porque é difícil. O espaço físico daqui é pequeno. Mas eles fazem o possível, sempre que chega o pessoal para ser atendido, é bom. (P 3). Acho que ele é bem recepcionado, sempre tem gente que reclama. Quando eu era cliente daqui, era muito bem recebida, quando estava grávida, quando fiz meu pré-natal. (P 1). A preocupação como uma perspectiva igualitária na recepção dos usuários, o acesso às informações no sentido de viabilizar o acesso dos usuários aos demais níveis do sistema local de saúde são indicados como condições que favorecem a recepção e acolhida dos usuários. Nunca você diferencia ninguém. Você atende todo mundo, seja o mais simples, o mais humilde... Do jeito que chega, tem que se fazer o mesmo atendimento... atendendo todo mundo sem descriminação... Então, chegue quem chegar, o atendimento é o mesmo, sem privilégio para ninguém. (P 14). 267 Eles explicam para os pacientes os exames, as vezes vem pegar. Eles explicam, o que é, o local, o que fazer. (P 4). Os trabalhadores de saúde identificam os limites da escuta exercida na unidade e indicam que a recepção é boa mediadora para um exercício de diálogo. Destacam a relação de confiança estabelecida entre os profissionais e a comunidade, referindo que esta condição se reflete também nas atividades, como visitas domiciliares. Acho que a gente tem um bom relacionamento com o paciente. Paciente funcionário, funcionário-paciente. Eles chegam e conversam conosco, a gente dá atenção para ele. Tem algumas coisas para conversar com eles, eles também... Tu conversa bem, bem aberta. (P 9). Nada é ótimo neste mundo, porque ninguém contenta todo mundo. Mas eu acho muito boa. O pessoal daqui recebe bem os pacientes... são bem recebidos e dispostos a falar o que estão sentindo, o que querem. (P 8). O paciente. Ele é bem recebido... A gente percebe que ele vem. Que ele procura. Tem confiança em vir procurar. E até andando nas visitas, também. A gente é bem recebido por eles. (P 4). O número de atendimentos se constitui em uma pressão constante e as situações de excedentes (demanda) são incorporadas, mesmo que parcialmente aos atendimentos. Percebe-se, uma necessidade de dar resposta às necessidades do usuário, identifica-se falas que apontam para o número de atendimentos por turno e alguns critérios para atendimentos extras, assim como a necessidade de chegar cedo na unidade para garantir atendimento mesmo naquelas situações de agendamento. 16 (atendimentos)... mais as receitas que já faz as emergências que vêm, a doutora atende. E com criança consegue. (P 1). Tentam acolher da melhor maneira possível. Sempre tenta resolver o problema. Eles vêm pedindo qualquer coisa, desde um exame, uma consulta, a gente sempre tenta orientar e ajudar. (P 6). A gente chega aqui sete e trinta... o pessoal já está ali organizado, por ordem de chegada... Eles já sabem do sistema... Vai atendendo normal até na medida de que a quantidade de vaga que tem no dia... Já vão embora. Não, alguns até tentam, ficam, porque a gente, usa um sistema de que eles sabem, de por exemplo: as pessoas que estão agendadas no dia, a gente dá até um determinado horário para chegarem. Se não chegam aproveita essas vagas para as pessoas que estão aguardando. Tipo assim, de manhã, até as nove da manhã é horário limite para chegar esses que estão agendados. Caso eles não cheguem a gente aproveita para alguns que ficam aguardando, vê se falta alguém para poder ser encaixado. E a tarde, até as três horas, se não vêm, a gente passa. (P 14). 268 A partir da fala anterior e das que se segue é possível identificar que a equipe realiza algumas ações de acolhimento ainda centradas na equipe de enfermagem e na enfermeira em particular. Todas às vezes ele é escutado. Às vezes passa para a enfermeira Chefe da Unidade. Ela escuta, ouve a reclamação dele, ou a necessidade que tem e tenta ajudar. (P 3). A primeira escuta do paciente, na verdade, é a recepção... Recebe o paciente, ouve, vê o que está acontecendo, o que está precisando. Se for necessária uma consulta... Passa direto o paciente... Se não vai passar para a enfermeira. A enfermeira avalia o caso, vê o que está acontecendo e se precisa conversar (com o médico). Se por um acaso a enfermeira não está ou está em visita, é com o pessoal da enfermagem, os auxiliares. (P 16). Essa escuta é feita individual, em uma sala separada para não estar expondo o paciente na recepção. (P 10). Referem a existência de reclamações por parte da população centradas especialmente no número de fichas e sugerem ampliação de possibilidades de escuta realizada pelo serviço. Acho que poderia ser melhor. Ele dá atenção para o paciente, não só de ter mais gente para poder receber... Mais fluxo para o paciente chegar e não ficar 15 minutos, 20 minutos para chegar até o balcão para ser atendido. Tem uma pessoa que recebe ele antes, que já pode solucionar algum problema antes de chegar no balcão (P 17). Em relação aos agendamentos que atendem retornos e prioritariamente estão dirigidos para grupos de ação programática, em alguns momentos frente a pressão da demanda diária são reduzidos e direcionados para os atendimentos por ficha... Até agora nós reduzimos de 6 agendados para 3, para não mandar o paciente embora, para eles saírem com atendimento. Então depois que nós trocamos, se vem tipo 9 horas da manhã, não tem mais ficha, mas os que vêm cedinho tipo 7:30hs... Então ficam aquelas 10-12 fichas do dia, mas é difícil, vai 1-2 no máximo por dia, por turno de atendimento. Mas os graves sempre a gente conversa com a doutora e ela atende. (P 10). A gente reduziu o número de pessoas agendadas para aumentar o número de vagas disponíveis no dia para a fila... A nossa agenda já está lá na metade de novembro, nós nem terminamos o mês de outubro. (P 14). A Atenção em Saúde – Atendimento e Promoção A atenção em saúde realizada pela unidade de saúde da família Seminário está centrada no atendimento da demanda. As atividades realizadas se estruturam parcialmente a partir do cronograma abaixo. 269 Quadro 6.13 - Cronograma de atividades da USF Seminário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Manhã Tarde Segunda Terça CP agendado para enfermeira Quarta VD médica, auxiliar de enfermagem e agente comunitária de saúde* Quinta Sexta CP agendado para enfermeira Sábado Mutirão CP; campanha de vacinação * VD quinzenal com carro da Secretaria que tem um cronograma de utilização de carros para VD – 1 turno semanal. No caso da USF as capacitações quinzenais são intercaladas com as visitas. Em relação às visitas domiciliares médicas, efetivamente elas se dão quinzenalmente, em razão das capacitações dos médicos iniciadas este ano. A realização de visitas domiciliares produz algumas tensões no serviço. Após as visitas, a médica retorna à Unidade e atende usuários no final da tarde. A seguir apresentamos uma descrição de parte de um turno de trabalho médico, pois entendemos que este quadro permite avaliar a sobrecarga do profissional e o modo como ele fica subsumido ao atendimento no interior do processo de trabalho e da forma em que está organizado. 270 7 mulher Médica pergunta se madrinha da criança não veio; ausculta NI NI Já realizados – gastropediatra e hematologista motivo: anemia e diarréia desde os 6 meses e agora um broncoespasmo Medicação para dor NI “Xarope” + colírio + questiona sobre necessidade de atestado Especialista pede a mãe levar criança ao hospital amanha quando estará de plantão; - hematologista agendado p/ dezembro Atendimento conjunto; médica fala alto; orienta buscar medicação do pai na farmácia da unidade; Atendimento conjunto; NI NI Gotas nasais Gripe + febre criança Questiona Feminino, 3 amamentação; meses, parda, examina e brinca filha da usuária com a criança 5 Auxiliar de enfermagem entra na sala referindo não estar bem - rinite. A médica orienta medicação e pede que ela avise auxiliar de serviços gerais da necessidade de trocar lençol. Logo auxiliar chega com lençol e sai novamente para buscar outro lençol, dizendo que o que trouxe não é adequado. Limpa a mesa com álcool e coloca o lençol. Dor de cabeça + dor nas “costas” + pede medicação que seu usa Exames indicados por gastropediatra NI 6 Encaminhamento deve ser solicitado na recepção – no caso entre 6 a 12 meses de espera Parece querer conversar. Médica diz que recepção ajudará para encontrar serviço de fisioterapia NI Feminino, 30 anos, parda, déficit cognitivo? criança NI Diz que exames estão bem + medicação para dor Colírio (comprar) + medicação para tosse (USF) Observação 5 Retorno de gastropediatra + lista de exames indicados pela especialista que deverão ser solicitados pela USF Investiga outros casos de conjuntivite na família + questionamento sobre criança pós varicela + ausculta, exame de olhos Pergunta a mãe o que a especialista falou NI oftalmologista Prescrição / conduta Masculino, 1 ano e 6 meses, negro criança NI NI Encaminhamento 4 Conjuntivite - Creche não aceitou ficar com a criança ontem – depois refere tosse Avalia exames + ausculta ausculta; exame olhos Exames Feminino, 4 anos, mãe jovem, branca idoso idoso Ação médica 3 Retorno de exames + dor no braço (fratura recente em clavícula e braço?) + diz não saber onde é o serviço de fisioterapia. Ao final refere tosse “está correndo “muita água dos olhos e tosse contínua Grupo Feminino, 68 anos, parda 9:00 Masculino, 72 anos, branco, usando óculos de sombra Queixas do usuário 2 1 Usuário Quadro 6.14 - Demonstrativo de parte de um turno aleatório de atendimento médico na USF Seminário (1:25min), Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 12 11 10 *NI= Não informou Avaliação hormonal + BetaHCG Avaliação hormonal – tireóide; betaHCG Exames NI encaminhamento Prescrição / conduta NI 272 Orienta necessidade de uso de preservativo Médica comenta atraso do retorno; orienta novo retorno e pede que usuária traga sua filha para atendimento Observação NI Mantém Retorno de exames solicitados em agosto antibiótico + metrorragia, amenorreia (2 meses); filha, 12 anos, também tem metrorragia + angustia + cefaléia há 4 dias, coriza, diz fazer regime sem orientação, sobe e desce escadas – coração dispara, gosta muito de “torresmo”. Diz ter ido ao cemitério (mãe morreu 3 anos – câncer) o que a fez sentirse melhor, resolveu parar uso de amitriptilina. Pergunta se vai morrer de câncer. NI Orienta uso da NI Solicita exames, NI Feminino, 29 CP na rede feminina, não confia no serviço. mulher medicação – hemograma, anos, branca Nunca engravidou, esta preocupada e quer antibiótico e orienta EQU, avaliação fazer uma “revisão geral”. menstruação retorno hormonal, parece uma “terra preta enfarinhada”. colesterol, Corrimento constante com prurido. Refere creatinina. ciclo irregular e uso de ACO há 10 anos (uso irregular). DUM: 17/10. Esta fazendo tratamento de canal e uso de antibiótico. Pede nova prescrição para antibiótico. NI NI NI idoso NI Exames de Masculino, 66 Refere “ferroadas” na região da próstata avaliação anos, pardo (cirurgia há 4 anos), estufamento, consumo hepática, urina, diário de cachaça e cerveja, trabalhou muio próstata, tempo com veneno (agrícola). Quer hemograma e encaminhamento para avaliação de colesterol colesterol e próstata. As 10:25 técnica de enfermagem entra na sala para falar sobre usuária acompanhada no pré-natal da unidade que teve aborto e que médica havia solicita US- não autorizada. Diz que usuária está muito triste e nervosa. Médica diz que vai atender. Auxiliar diz que verificará sinais vitais. Feminino, 42 anos, branca adolesce confirma atividade nte sexual, questiona menarca (março) mulher Comenta resultado de exame (verminose) e necessidade de repetir avaliação tireóide Ação médica 9 Amenorréia + teste de gravidez realizado há uma semana negativo Grupo Feminino, 13 anos, negra Queixas do usuário 8 Usuário Quadro 6.14 – Demonstrativo de parte de um turno aleatório de atendimento médico na USF Seminário (1:25min) – Chapecó / SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005 (continuação). Sobre o fluxo Um primeiro acesso ao serviço de saúde é identificado em grande escala pelas atividades realizadas na comunidade, especialmente no trabalho desenvolvido pelos agentes comunitários de saúde. Sempre alguém vai lá fazer visita para ela. Vê a pressão, como é que está... Se alguém precisava especialista a doutora encaminhava. Ele não é demorado. Não vou dizer que de hoje para amanhã, mas não é demorado. (P 1). As demandas para as visitas domiciliares são identificadas nas visitas realizadas pelos agentes comunitários de saúde, que a partir das necessidades identificadas acionam a enfermeira e a médica e elaboram uma agenda de atendimentos. As visitas realizadas pela enfermeira são diariamente mediadas pelas necessidades referidas por ACS, familiares, usuários e demais profissionais, neste caso especialmente, para acompanhamento. As visitas realizadas pela médica são dirigidas a grupos específicos, especialmente usuários com problemas de locomoção e puérperas, sendo realizadas em um turno semanal. Os ACS utilizam os mesmos critérios utilizados para as visitas domiciliares realizadas pela médica e também para os usuários de ações programáticas, destacando-se hipertensos, diabéticos, gestantes, crianças, especialmente de baixo peso e portadores de necessidades especiais. Avisa a médica e ela faz visitas nas casas. Para os acamados, os deficientes, as pessoas que não podem se locomover. Porque tem uns que são deficientes físicos ou mentais. Não tem transporte para vir. A doutora vai na casa, daí, consulta. A gente passa na casa. (P 3). A gente faz, para os acamados, os deficientes, para os hipertensos, os diabéticos e as gestantes, a gente dá mais prioridade. Vai mais vezes. As outras pessoas que não tem tantos problemas, que são pessoas normais, vai uma vez por mês. Os mecanismos de acesso específico para atendimentos realizados por consultas médicas ocorre através de dez a treze fichas por turno, além de três a seis agendamentos. A partir da avaliação realizada na USF, os usuários são referenciados preferencialmente para o CERES (Centro de Especialidades) e para os demais serviços contratados. Ele vem, faz a consulta médica e ela encaminha para o especialista. Daí a Secretaria de Saúde tem que autorizar o exame ou a consulta. Vai lá e autoriza. Quando estão autorizados eles mandam pelo malote, ou avisam por telefone. O oftalmologista é o que mais demora. O meu demorou quinze dias para ser autorizado. Era consulta com o urologista. Faz toda a avaliação que o especialista fez, traz para a nossa médica, aqui do Posto, para ela ver. Ela te orienta, dá a medicação ou o que precisa fazer. (P 3). O acesso aos serviços especializados se dá através de diferentes fluxos, considerando o tipo de especialidade, o tipo de relação entre Secretaria Municipal e serviço e / ou especialista. Ela vem consultar com a doutora. A doutora pede uma avaliação com o especialista é encaminhado para a Secretaria da Saúde para autorizar. As vezes dependendo do exame demora mais... quando vem, agendado ou não, vai atrás da pessoa. Comunica que tem, ou liga, para não perder tempo. (P 6). Fica aqui na frente com a recepção, eles mandam, ligam. Marcam o dia, e a gente vai avisar o paciente para vir aqui, até a Unidade, que tem uma consulta marcada, agendada, e eles vem procurar, se a gente for autorizado a levar, leva em mãos para a pessoa. Com autorização leva. (P 5). As solicitações de avaliação especializada são encaminhadas para a Secretaria Municipal autorizar e liberar, a partir de cotas por unidade, retornando-a para que o serviço avise o usuário da autorização. A recepção avisa o usuário, nos casos em que este tem telefone e número disponível na unidade. Nos demais casos os agentes comunitários de saúde avisam o usuário. O município conta com uma estrutura de serviços especializados construída ao longo de vários anos, entretanto, em algumas áreas existem significativos problemas de fluxo. O paciente vem até a Unidade. Tem que passar pela doutora. A doutora faz o encaminhamento depende o especialista. Oftalmo, é bem demorado, ainda estão marcando do ano passado. Claro que sempre tem exceção. Assim, tem um caso muito grave, urgente... A enfermeira liga para a Secretaria... a Secretaria acaba vendo um jeitinho ou outro ou encaminhando. Tem uns que são mais rápidos. O que é mais demorado é o oftalmo. (P 4). Eles vêm, consultam com o clínico geral, Se precisa um dermatologista, a clínica dá o encaminhamento. Esse encaminhamento a gente tira telefone, endereço, vai para a Secretaria, é autorizado, volta para nós, e nós repassamos para as agentes levar nas casas. O oftalmologista geralmente é mais demorado. Mamografia ou casos mais urgentes a gente conversa com o pessoal da Secretaria. Eles fazem uma exceção, pegam uma vaguinha de outro, em quarenta dias é resolvido. Tem outros casos dermatologista é resolvido logo, e tem uns que demoram mais porque a quantidade é muito grande, tipo oftalmo são quarenta vagas por mês, para toda a cidade. (P 8). 274 Para Unidade é mais fácil, se bem que a agenda agora já é para o início do mês que vem... A fisioterapia que eles estão pedindo para segurar na Unidade, encaminhar só no final de mês, aquela cota que tem por mês. Mas o restante vai tudo... O ortopedista não, o oftalmo que nós temos uma cota de 12/mês, então no dia 19 de cada mês a gente encaminha esses 12, e eles agendam e retornam para nós. Os demais ficam esperando aqui. (P 10). Primeiro ele precisa passar pela Unidade, para encaminhar para o especialista. Os mais rápidos são dentro de um mês, o oftalmo é um que tem mais problema, porque é o mais demorado. Tem gente esperando há um ano e pouco para conseguir uma consulta com o oftalmo. O raio X é um exame que é muito demorado, tem gente que espera até mais de um ano, bem mais de um ano para conseguir. Os outros cardio, endócrino, dermatologista, pequenas cirurgias, não tem problema, porque, ganha vaga sempre todo dia, final de cada mês. Do final de cada mês, a gente envia, manda para lá via malote, eles marcam todos dentro daquele mês, devolvem, o que pode demorar é isso, em torno de mês. (P 11). Uma condição diferenciada estabelecida na USF é o acesso dos usuários aos prontuários, que podem acompanhar o usuário ao serviço de referência e subsidiam as avaliações realizadas. Existe também um formulário estabelecido de referência e contrareferência que apresenta utilização e qualidade variada de registros entre as diferentes áreas de especialidades. Entretanto, durante o período de observação foi possível perceber que em geral ele é utilizado e que em algumas situações se constitui em um qualificado instrumento de comunicação entre os diferentes níveis do sistema de saúde. Levam o prontuário quando é consulta com especialista, no caso de agendada. No caso de urgência... não levam o prontuário. (P 16). Ele pega o resultado, tem que vim aqui agendar a consulta para estar mostrando para o médico. (P 4) Os exames seguem um fluxo semelhante à solicitação de avaliação especializada. Entretanto, vários exames são agendados e colhidos automaticamente na unidade, sendo encaminhados por um serviço diário de coleta de material do laboratório. Exames eles vão pelo malote. Eles vêm autorizados, tipo, mamografia, ultrassom, pequenas cirurgias, exames de hormônio. Os exames, que precisa de um laboratório privado. Lá eles autorizam, na Secretaria de Saúde. Volta para nós, vê, determinada pessoa, o endereço. A gente comunica. Eles vem buscar. Ele se direciona ao laboratório para fazer ou as clinicas para fazer o exame. (P 12). 275 Não existe uma articulação institucional formal ou ainda informal entre a Unidade de Saúde da Família e os serviços de urgência/emergência. Os atendimentos são realizados no Hospital Regional e os usuários devem procurar o serviço. Em algumas situações os profissionais referem enviar um encaminhamento no sentido de sensibilizar o serviço. Se o paciente vem até a Unidade, que está com uma febre muito alta, caiu, se machucou, tem que ir para o Pronto Socorro, só quem pode chamar o carro da Secretaria é a enfermeira e os (funcionários da recepção). É um deles. ... agente ou auxiliar não pode estar ligando para Secretaria. Tem uns casos de deficiência... tem os carros especiais que já é um compromisso da Secretaria com o usuário, de estar vindo pegar, levar. (P 4). A gente chama o carro da Secretaria de Saúde. Dependendo do caso, comunica a família, ou vai até a casa da família, vê se tem familiar. O familiar acompanha e, se não tem ninguém da família, a gente vai até o Hospital junto. Depois entra em contato com a família. (P 12). Entretanto, a USF pode acionar um transporte através da Secretaria Municipal de Saúde. O sistema de transporte dá suporte aos usuários portadores de necessidades especiais para os serviços especializados. Na área de odontologia, a USF parece contar com um serviço qualificado que inclui atividades curativas e preventivas e o município conta com uma estrutura de referência, através do Centro de Especialidades Odontológicas. Entretanto, em algumas áreas identificam-se problemas de fluxo. A espera de tempo é normal da nossa agenda do Centro de Referência. Depende da especialidade que tu quer encaminhar, para prótese em média um ano. Para endo fechou as portas pela demanda. Tem muita procura, alguma cirurgia menor é 30 dias, às vezes nem isso. Radiologia é de um dia para o outro. Clínica do bebê, pediatria é de acordo com a agenda do Centro de Referência. O mínimo é 30 dias. (P 17). A gente encaminha para o CEO. Lá tem o serviço de cirurgia, raio x, endodontia, odontopediatria, clínica do bebê, peridontia e prótese. Sete especialidades. A gente faz o encaminhamento, eles passam no balcão, o (funcionário da recepção) liga, e já agenda o dia e o horário para a pessoa ir. Então, ele fica agendado. Já sai agendado daqui. Volta com o mesmo encaminhamento que o dentista manda, lá o outro dentista vai dar o parecer, anotar o que fez, e esse paciente vai trazer de volta o encaminhamento. Uma cirurgia, para retirada de pontos. Se for uma endodontia, para restaurar o dente aqui, lá só tratar e a restauração são feitos aqui. Ele vem restaurar. Se é raio X, traz para o dentista ver, vem aqui. Ele volta com o mesmo encaminhamento, ele traz de volta. (P 13). 276 Outro aspecto que aparece nas falas dos profissionais se refere às dificuldades econômicas da população, que em algumas situações impede os usuários de chegar até os serviços indicados. Muitas vezes a gente encaminha tratamento de canal... Você procura não faltar... Mesmo que não tenha o dinheiro para o ônibus. Mas aqui não é longe do Centro. Aqui dá para ir a pé... Faz uma caminhadinha, faz uma ginástica. Mas a dificuldade é a falta. (P 13). 6.5 A Integralidade na Atenção à Saúde na Perspectiva dos Usuários Encontram-se agrupadas neste espaço, as falas de (16) lideranças comunitárias denominadas como Informante-Chave. Consideramos que os informantes são também usuários do sistema de saúde, no entanto, partimos do pressuposto que estes poderiam contribuir com uma informação que tivesse um olhar para as questões do coletivo desta comunidade. Em alguns momentos pontuais este pressuposto se confirmou, mas de um modo geral os informantes se expressam a partir de um olhar particular, muito estruturado em experiências individuais. Quadro 6.15 - Informante-Chave. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Idade Escolaridade Liderança 73 anos 1º Grau Completo 34 anos 34 anos 77 anos 50 anos 29 anos 35 anos 1º Grau Incompleto 2º Grau Completo 1º Grau Incompleto 2 Grua Completo Superior Completo Superior Completo 42 anos 2º Grau Completo 58 anos 50 anos 72 anos 54 anos 56 anos Superior Completo NI Não estudou NI 2º Grau Incompleto NI Superior Completo Ministra da eucaristia e CLS Grupo de idoso + CLS CLS CLS CLS CLS + Igreja Católica CLS + Gestora pedagógica Prefeitura Municipal Presidente Associação moradores + CLS Escola Municipal Realeza Associação moradores CLS + Pastoral da Criança APP Escola São Francisco Associação moradores + CLS Grupo psicólogos Chapecó Tempo que reside no Bairro 28 anos 9 anos NI 6 anos 9 anos 15 anos Não reside no bairro 9 anos 8 anos 7 anos 9 anos 54 anos 8 anos NI * NI = Não Informou. Das dezesseis entrevistas de informante, um não informou os dados de identificação. A Informante-Chave 4 foi quem mencionou mais claramente a importância da participação em espaços como o Conselho Gestor, o Orçamento Participativo e as 277 conquistas que advém desta participação. Mostra que a cidadania passa pela adesão a um determinado projeto, no caso, melhoria do acesso às ações de saúde e pela desalienação. Vamos falar um pouquinho de política... Na época eu fazia parte do orçamento participativo e a comunidade como um todo votava... Eu vim morar aqui há sete anos atrás... Eles me colocaram, eu e mais algumas pessoas... do bairro, para mim ir atrás do que era bom... Então, na época tinha... o orçamento participativo, aonde pessoas da comunidade iam e buscavam o que queriam para a comunidade. Então na época, buscamos a saúde em primeiro lugar... Imagina, você grávida, de cinco, seis meses, se deslocando daqui até o universitário. É longe... É uma caminhada e tanto. Muitas pessoas não têm dinheiro para o vale transporte... mas tinha que ir. Uma criança no colo da mãe, a pé, daqui até lá... O que a gente fez através do orçamento participativo... Eu fui convidada a fazer parte do Conselho de Saúde... O que aconteceu... Ganhamos...Vamos agora arrumar local para onde vão por o posto. Apareceu essa casa em que atual é o posto. Fui correndo atrás das informações, de onde é que mora o dono da casa... morava no interior. Eu fui atrás e consegui... o telefone... O senhor entrou em contato com a Secretaria assim que eles estão querendo alugar a sua casa. Foi avaliado, conseguimos a Unidade de Saúde agora ali. (I 4). SADER (1988), ao discutir as novas configurações assumidas pelos trabalhadores e movimentos sociais da Grande São Paulo na década de 70, apresenta uma definição de sujeito social à qual nos filiamos. Na sua pesquisa, associa a noção de sujeito à existência de um projeto e à idéia de autonomia. Afirma que um traço comum no emprego do conceito de sujeito encontrado nos interior dos novos movimentos sociais é: O fato de a noção de sujeito vir associada a um projeto, a partir de uma realidade cujos contornos não estão plenamente dados e em cujo devir o próprio analista projeta suas perspectivas e faz suas apostas. E outro traço comum, vinculado a este, é a conotação com a idéia de autonomia, como elaboração da própria identidade e de projetos coletivos de mudança social, a partir das próprias experiências (SADER, 1988: 53). Enfatiza que se, de um lado, a pluralidade dos movimentos conspira contra um sujeito histórico, o proletariado da tradição marxista, enquanto centro estruturante da transformação, por outro, conspira contra a idéia da sedimentação de identidades coletivas, pela própria mutabilidade dos movimentos e diversas formas de manifestação. O autor chama a atenção para a ambigüidade que carrega a noção de sujeito, alertando que nas concepções sociológicas sistêmicas a noção de ator social aparece relacionada a papéis definidos a serem representados dentro de uma dada estrutura social. No entanto, 278 os termos foram com o tempo reconotados, tornando-se fundamental definir a partir de que sentido se está falando. SADER (1988: 55) complementa: Quando uso a noção de sujeito coletivo é no sentido de uma coletividade onde se elabora uma identidade e se organizam práticas através das quais seus membros pretendem defender seus interesses e expressar suas vontades, constituindo-se nestas lutas. A princípio, a constituição de um coletivo enquanto sujeito não implica em exercício de autonomia. No entanto, a autonomia é impensável sem os sujeitos coletivos, para pensar a noção de autonomia e sua relação com a noção de sujeito social. Autonomia implica em contrapor-se a alienação, a partir da máxima da psicanálise proposta por Freud, a saber: “Onde era o Id será o Ego”, tomando o ego numa primeira aproximação com o consciente e o id como as pulsões, os instintos. O fato de o ego tomar o lugar do id não significa a supressão das pulsões, das demandas e nem a eliminação do inconsciente, o que muda é a instância de decisão. A autonomia seria o domínio do consciente sobre as demandas inconscientes. Se para Lacan, “o inconsciente é o discurso do Outro”, a autonomia seria o local onde o nosso discurso passa a ser a instância de decisão, tomando o lugar de um discurso estranho a nós que nos domina. Assim, o nosso discurso não quer dizer a eliminação do discurso do outro. O sujeito autônomo não é nem um sujeito enquanto atividade-pura, ou seja, como compreendem muitos filósofos subjetivistas, livre de determinações externas, mas é aquele capaz de reelaborar o discurso do Outro em função de suas vontades. O sujeito autônomo é também atividade, intencionalidade, é também o corpo no mundo, antes de qualquer pensamento que possa ser refletido. A autonomia está no centro dos objetivos do projeto de transformação e, portanto, tem de ser pensada para todos os homens, sua concretização requerendo um trabalho coletivo (CASTORIADIS, 1991). No instrumento aplicado ao Presidente do Conselho Municipal de Saúde do município (em maio de 2005) a entrevistada enfatiza que: O nosso papel é fundamental. Nós devemos fiscalizar e cuidar se a comunidade está se beneficiando. (Pres. CMS). A seguir apresentamos um quadro com resultados obtidos junto ao Conselho Municipal de Saúde em que através de uma escala de 1 a 10 foi atribuída uma nota aos 279 encaminhamentos das deliberações do Conselho Municipal de Saúde, apoio aos projetos e participação de usuários e familiares. Quadro 6.16 - Conselho Municipal de Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Grau encaminhamento das deliberações CMS 4 Apoio do CMS ao Projeto do PSF Apoio CMS ao Projeto Atenção Básica Partic. Profissionais Saúde CMS Partic. Usuários CMS 10 10 5 9 Constatamos que a relação entre o apoio do CMS à implementação e expansão do PSF é inversa ao grau de encaminhamento da Secretaria Municipal de Saúde às deliberações aprovadas na plenária do Conselho. Ainda que a participação dos profissionais é tímida comparando-se à participação dos usuários. Durante o trabalho de campo foram realizadas 44 entrevistas semi-estruturadas em domicílio, com usuários da área de abrangência da USF Seminário. A escolha dos usuários a serem entrevistados foi intencional. Durante a primeira semana em campo procedemos a uma busca selecionada de usuários que atendessem aos critérios definidos a priori neste estudo. Somente no decorrer da segunda semana fizemos entrevistas aleatórias, elegendo como único critério nos dirigirmos às micro-áreas de maior vulnerabilidade econômica e social e entrevistar usuários moradores destes locais. A distribuição dos usuários por condição de saúde e micro-áreas encontra-se representada no gráfico (Figura 6.7) a seguir. 7 6 5 N.Usuários 4 3 2 1 0 Micro área 1 Micro área 2 Micro área 2 Micro área 5 Micro áreas Micro área 6 Micro área 5 HAS Diabéticos Depressão Aleatório Mulher em idade fértil Gestante Mulher com filho< 1 ano Mulher com filho Usuário de drogas Idosa com dificuldades 280 O quadro apresentado a seguir foi elaborado a partir de informações sobre os usuários entrevistados, coletadas nos prontuários de família disponibilizados pela USF Seminário, durante o trabalho de campo. Observamos na leitura dos prontuários que diferentes profissionais de modo sumário fazem o registro e enfatizamos que o prontuário unificado consiste num movimento para romper com a fragmentação destes sujeitos, o que corrobora num dos sentidos de organizar processo de trabalho, a partir do princípio da integralidade. Também o fato de se trabalhar com prontuários de família indica um movimento de iniciativa em romper com a fragmentação na organização dos processos de trabalho, desenhando-os de modo que permitam uma abordagem integral deste sujeito. Neste caso, romper com uma fragmentação que assume a polaridade entre o individual e o coletivo e passa a considerar, no concreto da produção de cuidados em saúde esta família, como um primeiro coletivo em relação com este usuário que está sendo assistido pela ESF. Destacamos estas ações como movimentos, pois o processo de trabalho em sua organização vive o tensionamento entre práticas cristalizadas de fragmentação e movimentos de ruptura. Quadro 6.17 - Perfil do Usuário – Unidade de Saúde da Família Seminário, Chapecó, SC. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 281 Conforme os entrevistados, os usuários procuram a USF principalmente para consulta médica, quando sentem dor e / ou estão doentes e para buscar medicamentos. A procura para acompanhamento através das ações programáticas também parece ter sido incorporada na cultura deste grupo. Quando me sinto ruim, vou lá medir a pressão, fazer o teste da diabetes, pegar remédio. Sempre que necessito, eu corro lá. Quando é meio grave aí vou pro pronto-socorro. Que aqui ás vezes demora a consulta. (U 3). Fazer exame de rotina. (U 8). Meu filho esse dali... teve uma época ali que ele estava com diarréia eu fui ali... fazer as vacinas, o acompanhamento do nenê... do meu filho que teve com diarréia e agora ele está indo no dentista também... (U 10). Quase todos os meses... por causa do nenê... ir fazer as vacinas... consultar... esse mês tem uma consulta minha também. (U 15). Uma vez por mês... pra fazer o pré-natal. (U 28). A procura regular, sistemática a USF aparece como uma necessidade nas entrevistas. Porque ela tem esse problema... mielomeningocele... precisa do médico freqüentemente... todo mês tem que estar lá. (U 43). Tenho problema de toxoplasmose... tenho que ter acompanhamento direto. (U 44). As situações de saúde citadas pelos usuários entrevistados como aquelas que requerem a sua procura à USF Seminário mais freqüentes são: hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e depressão. De modo mais esporádico, aparecem situações como gripe, gastrite, problemas na cabeça, na coluna, nos rins, de colesterol alto, reumatismo, dor e enjôo. Também relatam procura para atendimento odontológico e retirada de medicamentos. Com relação às ações programáticas, além do acompanhamento a doenças crônicas como hipertensão e diabetes, os usuários dão ênfase à procura da USF para acompanhamento a saúde da mulher e da criança. Agora no pré-natal. (U 10). No Pré-natal. (U 19). 282 Quando estava grávida... fazia o pré-natal... tem vários exames também pra fazer... as crianças também... qualquer dor. (U 22). Consultas de pré-natal somente. (U 28). Pra pegar comprimido contra a gravidez ou pra fazer exames. (U 30). Fiz o pré-natal dos guris. (U 37). Vou mais por causa da nenê, pesar, vacinar. (U 44). A seguir apresentamos uma síntese de informações coletadas nos prontuários dos usuários entrevistados. Quadro 6.18 - Ações Programáticas – Hipertensão e Diabetes. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Condição de saúde N HAS/ Diabetes OBS: Participação em grupo 17 Atendimento individual 8 Faltas 16 Não – 2 Sim – 3 Controle de exames Sim – 9 HAS/ Diabetes: Participação em grupo: Não comparece, comparecimento irregular – 5 Não consta, sem indicação, sem referência – 4 HAS/ diabetes: Faltas: Eventual – 4 Não consta e em alguns grupos – 7 HAS/ Diabetes: Controle de exames: Sem registro, sem referência – 5 Irregular – 3 Tipos de exames: CP: 1 e HGT: 1 Quadro 6.19 - Ações Programáticas – Saúde da Criança. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Condição de saúde N Mulher com filho menor de 1 ano Sim – 3 Controle de Peso Sim – 3 Vacina Sim – 3 Cresc./ Desenv. Sim – 1 Não respondeu – 2 Amamentação Sim - 3 Quadro 6.20 - Ações Programáticas – Saúde da Mulher. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Condição de saúde N Gestante 3 Mulher Idade Fértil 5 Fez prénatal Sim – 3 No. Consulta Gesta Para Método Contraceptivo Orientação Regular CP De 3 a 6 – 3 Sim – 2 Sim –2 NR – 4 Não -1 0–1 I–1 III – 1 NSA Oral – 2 NSA I–1 II – 1 III – 1 NSA Preservativo – 1 ACO – 1 Não consta – 3 283 As formas de acesso ao serviço são diversificadas, por demanda espontânea e por agendamento prévio, sendo priorizadas as ações programáticas (saúde da mulher pré-natal - saúde da criança e os usuários vinculados aos grupos de hipertensos e diabéticos). Assim, todos os dias são disponibilizados um número mínimo de consultas, para atender a livre demanda e situações de urgência. No livro de registro de consultas médicas consta o máximo de 16 consultas por turno (16 - manhã e 16 - tarde). No entanto, a médica atende 1, 2, 3 pessoas a mais conforme a urgência, priorizando gestantes e crianças, como pudemos observar no trabalho de campo. “A recepcionista entra na sala de atendimento médico estamos eu (observadora), a auxiliar de enfermagem e a médica fazendo anotações das visitas domiciliares realizadas. Ela diz que tem uma criança com assadura e já foi usado neomicina e não resolveu, 1 gestante agendada, 1 lavagem de ouvido, 1 outra consulta (?). Médica pede para transferir para sexta pela manhã os 2 últimos e diz que vai atender a gestante e a criança. (OBS). Os usuários reclamam que é necessário ir muito cedo para a fila, a fim de conseguir a consulta médica, reclamam que é necessário ir muito cedo para a unidade e mesmo assim, algumas vezes ficam sem o atendimento. A dificuldade de acesso é um dos mais sérios impedimentos da integralidade. Apesar de se partir da compreensão de que a principal porta de entrada do sistema de saúde deve ser a atenção básica, é importante considerar outras vias de acesso, outros serviços que viabilizem a entrada do usuário no sistema, no caso de Chapecó: o Pronto Atendimento do Hospital Regional e a Policlínica Sul. No entanto, as barreiras para a entrada na USF, materializadas na fila e no retorno dos usuários sem atendimento, reflete uma demanda maior do que a oferta, que por sua vez repercute na limitação de resolubilidade do serviço. Considerando os parâmetros da OMS de 2-3 consultas médicas/habitante/ano e o número de 0,75 consulta médica em Atenção Básica/habitante/ano, em relação à população que pertence a área de abrangência da USF do Seminário, diríamos que aproximadamente 18 consultas médicas em Atenção Básica por turno seriam suficientes, cálculo que não se afasta radicalmente da oferta do serviço. No entanto, precisamos considerar ao menos dois fatores implicados: primeiro, o fato de que no cronograma de atividades do profissional temos os horários de atendimento domiciliar, de reuniões de equipe, de capacitações. Isto implica, no caso da USF Seminário na 284 diminuição do número de consultas, pois tem apenas uma ESF; segundo, destaca-se o fato de na USF Seminário estas consultas estarem sendo concentradas todas em um único profissional médico, o que lhe impõe um processo de trabalho exaustivo, desgastante e aprisionador de um saber qualificado, que fica reduzido ao ato de atender. Enfatizamos que se estes fatores não forem contextualizados eles perdem seu potencial de orientação para a organização da atenção em saúde. A gente vai cedo, vai bem cedo então pega a ficha. (U 1). Fui lá no posto por causa duma dor que tenho no braço aqui, fui consultar. Faz quase 70 dias que pedi uma radiografia pra tirar do braço, e até hoje não tive solução, não veio, o problema para a autorização para fazer radiografia. Então até agora estou com o dedo amortecido. Cheguei com dor. A médica que me atendeu, me medicou, até estou tomando o remédio que ela me medicou. (U 3). Às vez marco de um dia pra outro, porque nunca acho ficha. De manhã cedo, 6 horas tem que está lá, mais cedo ainda, senão não pega ficha, e eu já não agüento está levantando da cama e sai assim, não sustenta. Então sempre vou 2 horas, marco ficha pro outro dia ou dali a uma semana. (U 5). Chego lá e se precisar da consulta, é só marcar. Esses dias também precisei porque tinha bastante dor de cabeça, tinha uma gripe, não agüentava mais. Fui lá, me consultaram na hora. (U 9). Agora a gente chega lá, tem que pegar ficha de manhã, para consultar de tarde ou, de tarde para consultar no outro dia... sempre fui bem atendida ali. (U 10). Algumas consultas são marcadas... consultas básicas, em torno de 10 a 12 fichas. O meio período, então 24 fichas distribuídas por ordem de chegada. Tem que procurar ir cedo. (U 11). As consultas agendadas são das ações programáticas, o médico é quem faz prénatal e acompanhamento da criança; a enfermeira faz o exame citopatológico e mamas. São agendadas também as situações dos usuários que participam dos grupos de hipertensos e diabéticos. Dos 16 atendimentos do turno, 6 são em geral agendados. No pré-natal que fiz mesmo que foi quando consultei ali, era sempre agendada as minhas consultas, sempre com dia certo para voltar... ia e já estava marcado. Não precisava enfrentar fila, não precisava nada. (U 10). Estava agendado. Foi só chegar e dali a uma hora já fui atendida... examina a nenê, examina a boquinha. (U 15). Agendei a consulta... pra mim fazer o teste de gravidez ....falei com a enfermeira... ela marcou o exame pra mim fazer, fiz o exame, deu positivo... eu consultava e já ficava agendada a outra consulta pro outro mês ... ali nos 7 285 meses já foi a cada 15 dias, por último vim toda semana ia consultar ... pegar o remédio pra pressão. (U 21). Ele saiu do hospital já foi agendada a consulta pra ele... acho que 19 dias... levo ele sempre nas vacinas. Porque daí eu acompanho o peso dele também. (U 22). É agendado todo mês... saio da consulta... passo na recepção... agenda um dia pra mim... a doutora examina... pede se está tudo bem comigo... ela escuta o coração dele... desconfiei e fiz o exame, já estava com o ultrassom... ela só olhou o ultrassom, estava tudo bem. (U 28). Perdi esse filho... fui socorrida, encaminhada para o NAPS. Tive que ir no horário determinado, para conseguir segurar a vaga... Não tive dificuldade, isto aconteceu dentro de oito dias... eu saí do hospital... procurei o posto fui atendida... encaminhada para o NAPS, marcaram a consulta, não levou oito dias. (U 29). Agora estou consultando fazendo meu pré-natal. Fiz todos os exames, o ultrassom. E amanhã eu vou consultar de novo. Tinha que ir buscar lá meiodia, eu ficava até uma hora, agora ela começou a marcar pra mim. (U 34). A primeira vez fui pegar ficha para fazer os exames. De primeira tive que pegar a ficha. Agora eles estão agendando... todo mês. Fui às 6 - 5:35 hs da manhã, lá no posto. (U 35). A agente de saúde, elas vieram, resolveram marcar uma consulta... depois elas telefonaram para o meu filho, e foram lá e disseram pra ele vim me buscar, pra me levar. (U 36). A gente vai lá uma vez por mês e pesa... ele está ganhando aquele leite da assistente social... não precisa pegar ficha, nada, nem marcar... É só pesado, medido, se ele continua baixo peso, me dão encaminhamento para continuar pegando o leite. (U 37). Durante a observação de campo, os usuários de modo geral problematizavam a questão do atendimento médico. Assim, pela demanda de consulta médica ser grande, há rotineiramente mais pessoas que o número de atendimentos disponível. Também, pelo fato de aos olhos do usuário, se disponibilizar poucas fichas para atendimento de demanda livre e urgências. Apesar do sistema de distribuição de atendimentos ter sido decidido em reunião com a comunidade, isto não responde às necessidades da mesma. Pudemos observar que existe uma demanda reprimida, que quando não consegue ser atendida, conforme a gravidade, busca atendimento junto ao Pronto Atendimento do Hospital Regional ou numa Policlínica, próxima à USF do Seminário. Constatamos que o aglomeramento de pessoas na USF se dá no primeiro horário da manhã e da tarde, esvaziando-se na metade do turno, pois aqueles que chegam no serviço e constatam que “acabaram as fichas” e que não serão atendidos, retornam para 286 suas casas ou vão buscar este atendimento em outro local. A ausência da fila ocorre em determinados períodos do dia, o que não significa que não haja demanda reprimida. No que se refere à integralidade, como princípio organizador das práticas em saúde, destacamos o movimento da USF Seminário em produzir um arranjo institucional que viabilize contemplar a demanda das ações programáticas e a demanda espontânea. Consideramos que este movimento no sentido de abrir espaço para a captação de diferentes necessidades da população contribui para a integralidade da atenção. Ao mesmo tempo em que o serviço funciona a partir de uma organização que define suas prioridades via ações programáticas, contempla espaço no interior desta mesma organização de apreender para velhas e novas necessidades, ampliando sua capacidade de superar um modelo de serviço que se limite a dar resposta às doenças dos usuários. Entendemos que os serviços de saúde devem sim oferecer respostas às doenças da população, mas devem também considerar a possibilidade de haver outras motivações que determinam a procura do usuário ao serviço. Necessidade de saúde pode ser entendida a partir de uma taxonomia organizada, em quatro grandes conjuntos (CECÍLIO, 2001): o primeiro se refere a se ter “boas condições de vida”, ou seja, perceber que o modo como se vive se reflete em diferentes necessidades de saúde (a sociedade, o meio em que vivemos e nossa inserção no processo produtivo determina estas necessidades); o segundo diz respeito a se ter acesso e poder consumir toda tecnologia de saúde, capaz de melhorar e prolongar a vida (admitindo-se que a hierarquia deste consumo é estabelecida também pelos usuários); o terceiro se refere à criação de vínculos “(a) efetivos” entre o usuário e o profissional, vínculo como referência e confiança que extrapola as noções de adscrição ao serviço ou inscrição ao programa, vínculo que implica em uma relação de continuidade e pessoal (“encontro de subjetividades”); o quarto estabelece crescentes graus de autonomia do sujeito no seu “modo de levar a vida”. O bom vínculo com a equipe de saúde é demonstrado pelos usuários, que em sua maioria considera que a equipe é “muito boa”. Os usuários demonstram em suas falas terem uma relação de confiança com os membros da ESF, dado confirmado na observação de campo. Um fator que chama a atenção é o fato de alguns funcionários (além dos ACS) residirem no bairro. Também o fato da equipe trabalhar 40 horas/semanais fortalece a possibilidade de vínculo e conhecimento das famílias. No acompanhamento às visitas domiciliares observamos que este contato sistemático tem 287 contribuído para o fortalecimento do vínculo do profissional com o usuário. Através do prontuário verificamos a continuidade do cuidado, pois a maior parte dos usuários entrevistados tem como referência a ESF da USF Seminário, em diferentes momentos ao longo do tempo e em situações diversas. Avaliamos que os fatores mencionados contribuem para a integralidade da atenção, pois o processo de trabalho no interior da Estratégia da Saúde da Família e nesta USF está sendo organizado de modo que se possa garantir continuidade do cuidado (na USF, pela mesma equipe, no domicílio – espaço micro), relação de confiança, conhecimento das famílias, conferindo alguma concretude à aproximação da integralidade. Quando os usuários foram questionados sobre críticas e sugestões para melhorar o atendimento na USF, a principal solicitação girou em torno de ter mais médico na USF Seminário e de rever a distribuição das consultas. Vamos supor tem 10, 15 consultas, eles agendam no balcão na hora que a pessoa precisa. Não precisa fazer fila lá e ficar esperando. A única, minha reclamação é essa só. (U 3). Disponibilizar um pouco mais de fichas... não precisar ir tão cedo lá pra pegar. Não tem médico ali suficiente. (U 12). Esse negócio de esperar a ficha... vai lá cedo, aí tem que ficar até às 2 horas... pra depois do meio dia.... Esses tempos eles estavam fazendo assim, conforme chegavam, eles atendiam... Quando não tinha mais ficha, não tinha mais ficha... Agora tem que ir falar com eles e daí ficar lá. (U 24). A única coisa que vejo que precisaria melhorar é o número de médico... Como só existe um médico para atender, fica difícil. Se for uma emergência, alguma coisa muito séria, eles sempre dão um jeitinho de ajudar. (U 29). Que é ruim é o negócio das fichas... Aumentar o número de fichas. (U 37). As fichas... não precisava ser assim ... única falha que estou achando é esse negócio de ficha... Precisava ter uma regra das consultas marcadas... devia ter um horário... marcou a consulta, as pessoa iam em tal horário... a pessoa não ficava lá as vezes o meio dia inteiro. (U 40). Tinha que ter uma médica que atendesse... quando a pessoa precisasse... As vezes a gente vai lá, não tem ficha. Tem que marcar e esperar. (U 42). No que se refere aos atendimentos de urgência na observação vimos que existe uma flexibilidade por parte da ESF em acolher estas situações e prestar o atendimento. Ocorre em determinadas situações que a complexidade do caso extrapola os limites do contexto da Atenção Básica, sendo o usuário encaminhado ao Hospital Regional. 288 Alguns usuários relatam que habitualmente, nestas situações de urgência, são atendidos. Outros usuários, no entanto, optam por ir direto ao Hospital, sob o argumento de que em situações anteriores não conseguiram ficha. A gente chega lá, tem a ficha para os idosos, sempre tem 3 fichas. Se outras pessoas precisam... E é atendida, a mesma coisa. Nem que não tem ficha, elas atendem a mesma coisa. (U 1). O meu filho estava com febre, fui lá, a gente conversou com a enfermeira, a enfermeira, como não tinha mais vaga ali para consulta, ela me encaminhou para o Posto do Universitário. Fui, consultei meu filho, tudo normal. Peguei o remédio e tudo pra febre. (U 10). É atendido no mesmo dia. (U 16). É atendido no outro dia... dali um dia, 2 dias, depende... Agora se eu chegar lá... e disser o (...) preciso hoje duma consulta, que, ele não está bem, eles me atendem na hora. E se não tiver como atender, eles me encaminham, já chamam um carro e me levam pro Hospital. (U 26). Me levaram no Hospital... pediram um exame de emergência... a médica já tinha me encaminhado... bateram um raio-x rápido... Descobriram que eu tinha esse tumor. (U 27). Fui direto no Posto... tive que esperar um pouco... mas fui atendida... no mesmo dia. (U 28). Meu Deus, quantas vezes... vai lá eles tão com febre... tem fichas sobrando eles dão... se não tem... volta pra casa... ou tu leva no Pronto Atendimento. (U 34). Estava bem ruim... tive que ir no Regional... porque aqui... não consegui ficha... Outra minha filha... Foi lá pra pegar ficha e não conseguiu... fui pro Regional. (U 41). Vou reto no Pronto-Socorro... vai ali não tem ficha... até que marque... a gente procura o Pronto-Socorro. (U 42). Os usuários relatam que o acesso ao dentista é dificílimo, tendo que acordar muito cedo para conseguir ficha e demora a entrar no atendimento odontológico. Apesar da demora do acesso a situação revela limites na organização do sistema local de saúde dificultando a perspectiva de integralidade e avaliamos que duas características deste PSF contribuem para a mesma. Primeiro, o fato do dentista ter sido incorporado às equipes a partir de 1997, sendo uma iniciativa do município a ampliação da equipe de saúde da atenção básica anterior a qualquer normatização. Quando foram se formando as Equipes de Saúde da Família foi sendo incorporado a elas a saúde bucal (cirurgiãodentista e atendente de consultório dentário). Quando ocorreu a inclusão formal da 289 saúde bucal as equipes do PSF pelo Ministério da Saúde através da Portaria 1.444 de 28 de dezembro de 2001 e Portaria GM/MS 267 de 6 de março de 2001, o município de Chapecó já estava adequado. Consideramos que se revela nesta situação uma concepção mais ampliada de saúde, com perspectiva integral. Segundo o usuário, quando ingressa no atendimento odontológico, o mesmo tem o direito de completar o seu tratamento, característica que revela a continuidade do cuidado, que por sua vez se traduz em um fator decisivo da integralidade. Também evidenciamos como fator que contribui neste processo a priorização no atendimento odontológico as crianças e gestantes. Agora o dentista eu não consegui ainda. Já falei umas quantas vezes, mas não tem jeito. Que ali só no 5º dia do mês... para pegar uma ficha é uma briga. Não conseguir. A mulher conseguiu por intermédio dessa mocinha ai, que tava junto contigo ai. Mas eu não consegui ainda. Fui esses dias, foi eu e o meu rapaz lá, eram 5 da manhã, acho que tinha umas 40, 50 pessoas. Voltei, porque já estava sobrando gente. (U 9). Dentista precisei de ficha. Acho que fui umas... acho que cinco e meia, 6 horas da manhã para conseguir ficha e para consultar também. (U 13). Ficha para o dentista... duas e pouco da madrugada... Para ali quase um mês depois, marcar. (U 18). Os agendamentos para o dentista são mensais: 20 pacientes por mês; 12 pacientes por período, fora as urgências (1ª a ser atendida), 1 destes é livre demanda, os demais agendados a cada meia hora. Atualmente tem dentista na USF 3 vezes por semana – segunda, quarta e sexta. No 5° dia útil do mês – 7:30h manhã são distribuídas as fichas para as pessoas. A recepcionista chega e distribui cartão (com n°, senha). O dentista faz educação em saúde na sala de espera (higiene, escovação, tártaro, uso fio dental, cárie e estágios diferentes). Em seguida inicia o agendamento (ACS que faz, com nome, endereço e telefone – em caderno de registro próprio) sempre colocando observações as vezes uns estudam de manhã e só podem a tarde, facilitando a vida dos usuários (existe uma preocupação com a linguagem e com as necessidades dos pacientes). Depois que o usuário inicia o acompanhamento e o ACS avisa a data e horário ou em casa ou por telefone para ele, as faltas sem justificativa não são aceitas e a pessoa não é reagendada, devendo ir para a fila novamente. Se segue o tratamento sem faltar (ou justificando) ele tem cobertura até o final do tratamento. Segundo as informações coletadas no trabalho de campo, não esperam na fila idosos, gestantes, crianças que freqüentam APAE. Os procedimentos realizados na USF são limpeza, restauração, aplicação de flúor, raspagem (RAP)... Nos casos de urgência, quando o paciente chega com dor, ele é encaminhado ao dentista que avalia se dá uma medicação, se faz um curativo, se está com o rosto edemaciado, ou o que fazer... Tem flexibilidade para atender urgência. Referem que nunca falta material, sendo o pedido realizado a cada 2 meses. (OBS). 290 Uma outra forma de acesso consiste naqueles casos em que o ACS identifica durante as visitas domiciliares uma necessidade do usuário ser atendido em domicílio, por limites que os mesmos apresentam em deslocar-se até a USF. Trazia o aparelho para medir a pressão... o médico vinha também, eles traziam o remédio da pressão. O médico vinha me consultar aqui porque andava tonta, não podia quase caminhar... porque a depressão... era vontade só de chorar... dali para cá (o marido faleceu) sempre, nunca ando boa. (U 11). Não tem problema... a gente vai lá, marca a consulta... a médica vem aqui consulta e atende em casa. (U 26). Fui duas vezes lá e não consegui... vazou o ouvido dele, eu passo remédio de mato. Se precisa a gente vai lá. Eu tive que chamar a médica aqui, daí ela veio. (U 31). Com relação às visitas domiciliares, os usuários são claros na sua manifestação, revelando que recebem sistematicamente visita das ACS. Na observação na USF Seminário e em domicílio pudemos perceber que os usuários conhecem as ACS e elas os conhecem, sendo demonstrado um vínculo entre os mesmos. A partir das entrevistas dos usuários constatamos que as VD das ACS são caracterizadas pela vigilância a saúde, pois são feitas primeiramente aos hipertensos, diabéticos, gestantes, mulheres com filhos menores de um ano, idosos e faltosos na imunização. As VD do profissional médico e de enfermagem são caracterizadas por atendimentos domiciliares, como realização de consulta, curativos, aplicação de medicamentos e acompanhamento à criança no primeiro ano de vida. A agente de saúde... sempre vem aqui toda semana. (U 3). Das agentes de saúde, uma vez por mês vêm. Elas perguntam se a gente está bem... precisa de alguma coisa... informam... em relação a função do posto. (U 11). Volta e meia eles vem aí... vem ver se a pessoa está melhor, se falta alguma coisa e, alerta se é preciso. (U 24). A (ACS) já esteve aqui. Acho legal, a gente conversa, ela leva as propostas para o posto. (U 35). Já, até do médico. Quando meu falecido marido saiu de casa... entrei em depressão, eles vinham aqui me consultar, os do postinho vinham aqui. Vieram e elas vinham, a enfermeira lá do posto, as gurias de lá vinham seguido me visitar. As vezes duas vez por semana. (U 12). Sim. Quase todos os meses... a doutora veio também quando eu ganhei a nenê, ela veio, sempre... veio perguntar... das injeção como é que estava a 291 carterinha.... Tudo bem organizado. A médica veio ver quando ganhei ela, a pequeninha. Não deu três dias, ela veio visitar, ver como é que estava tudo. Trouxe os remédios pra fazer curativo. (U 15). As gurias de lá vem... A médica, a enfermeira vieram aqui, consultar... Vinha fazer o curativo. (U 21). A médica também vem... A enfermeira. Elas chegam, perguntam como é que está o paciente... Olham o paciente... perguntam se está precisando de alguma coisa... Elas vão anotando... a médica examina, coloca os aparelhos ... faz a receita e a gente vai lá e a receita e pega o remédio... se tem ali, tem, se não tem a gente pega na farmácia na Secretaria... Eles fazem bem feito as visitas deles. Quando ela fez a cirurgia... Estourou uns dois pontos... Liguei, falei com a enfermeira, veio a médica aqui. Então, a enfermeira mesmo ligou pra ele (o médico que fez a cirurgia), ele não estava aqui em Chapecó... ela deixou o número do telefone ele... Ele já ligou aqui e já me passou o remédio. Liguei na farmácia e já veio o remédio para mim. Elas vinham fazer o curativo, tudo aqui. É bem, bem atendido mesmo. (U 26). A Presidente do Conselho Municipal de Saúde resgata o momento da visita domiciliar como uma das diferenças da Estratégia da Saúde da Família, num sentido instrumental de vigilância a saúde, de melhoria do acesso ao serviço e às informações. Uma das diferenças que notei em algumas das visitas que fizemos foi, por exemplo, conseguir conscientizar a comunidade de que não precisava chegar tão cedo no posto antes de a unidade abrir. Este trabalho aconteceu através do trabalho das ACS que conversavam com as pessoas do bairro. Acho que outras vantagens poderiam acontecer como esta. Se houvesse persistência nas visitas domiciliares, em conscientizar pacientes crônicos como os diabéticos, por exemplo, a se alimentar adequadamente, com certeza diminuiria a freqüência destas pessoas na unidade e conseqüentes custos. (Pres. CMS). Sobre a participação dos usuários nos grupos, eles mencionam freqüentar o grupo de idosos, grupos de crônicos como hipertensos e diabéticos. Também relatam a participação no grupo feito pela fisioterapeuta da Secretaria, que investe na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida. Tem escola dos idosos. Aqui é três vezes por semana. Porque tem física, tem terapia, tem tudo aqui. (U 6). Do grupo dos idosos. É muito bom... não posso ir todos os meses, porque é longe para mim descer lá... quando estou boa, vou todos os meses. É muito bom. Gostei muito. Eles conversam, jogam baralho, tem jogo de bingo e tem o almoço, tem um dia que tem um almoço muito bom. (U 25). Participo do grupo de idosos... conversamos com alguém, damos risada. (U 32). 292 Eles fazem os pacotinhos... no dia marcado... eles chamam a pessoa... a gente leva o cartãozinho... medem a pressão, pesam... ensinam o que é para gente comer, o que é bom para saúde. (U 23). Eles marcam... levam os remédios lá numa Igreja... dão o medicamento... ficam falando... aconselhando. (U 24). Ali as agentes de saúde dão muita palestra... como é que a gente tem que comer, quem tem diabete ou colesterol, se cuidar muito na gordura, no sal. (U 36). Eles pesam, medem a pressão... perguntam pra gente como é que passou aquele mês, se passou bem ... o sintoma que sentiu ... a gente conta ... alcancei o papel para as gurias e de certo levaram para médica... Sei que veio o papel dizendo que era para mim participar dos grupos (fisioterapia). Grupo de fisioterapia... fazem dez voltas de caminhação... em roda. (U 12). Conforme demonstram as falas, os grupos, especialmente de crônicos são mais caracterizados por uma distribuição coletiva das receitas e do próprio medicamento, do que uma ferramenta que pode contribuir para a promoção da saúde. Neste momento em que os trabalhadores poderiam utilizar a potencialidade do grupo em problematizar a condição de saúde dos usuários, seu modo de vida, as situações de risco de agravos, eles subutiliza este espaço reduzindo-o à oferta de algumas orientações prescritivas, verificação de peso, PA e entrega de medicamentos. Com relação à qualidade do atendimento ao usuário, podemos apreender no relato da observação de campo algumas dificuldades. No entanto, as entrevistas revelam que eles fazem uma distinção destacando que o atendimento é bom, no que se refere ao relacionamento da equipe com os usuários e na identificação e atendimento de suas necessidades. Eu acho que é bom... porque elas me atende bem. (U 1). Pelo posto de saúde, para mim me atenderam bem sempre. (U 4). Essa médica examina. É meia hora lá dentro. Ela pergunta dos pés a cabeça. E vê tudo, diariamente tudo o que ele passou... Ela é ótima. E fiz exame de tudo. Repetia, fazia exame, exame, exame. E já fiz exame de tudo. Do coração fiz, já fiz de tudo e, não tenho nada. Ela disse: Você está com infecção intestinal. Pelos sintomas. Fiz o exame e deu infecção intestinal e agora está me atacando os nervos. (U 6). São uma benção aquelas meninas, eles lá... pra mim, é ótimo. Que cada vez que vou, eu sou atendida. (U 7). Eles me dão todo os remédios... Eles atendem bem. (U 9). 293 Foi bem. Foi super bem. Fiz primeiro os exames. Tinha gravidez de risco... Pegava medicação... Não tenho do que reclamar... Sempre fui bem atendida. (U 22). Eles tem me ajudado... sido a minha “casa de salvação”. Sinto que tenho apoio. Tenho com quem conversar, tenho alguém que me ajude para expor... sou muito bem atendida ali, não posso reclamar. (U 29). Chama a atenção, além das limitações do acesso, relacionadas às dificuldades para a obtenção da ficha para consulta, o tempo de espera para o próprio atendimento. As pessoas esperam na USF Seminário até quatro horas para serem atendidas, mesmo após ter obtido a ficha. Em consulta à comunidade ficou estabelecido a forma de distribuição dos atendimentos na USF, estipulando-se que a pessoa que consegue a ficha ou está agendada, tem de ficar na recepção aguardando ser chamada. Caso ela se retire daquele espaço e neste intervalo seja feita a conferência de quem aguarda para a consulta, ela perde o direito ao atendimento. Apesar desta ter sido uma opção feita em reunião da comunidade, existem muitas queixas sobre esta situação. Chegamos na USF às 8:30h, guardei minhas coisas e fui para a recepção (parte externa). 15 pessoas aguardavam atendimento. Sentei ao lado de uma mulher, 23 anos, bebê 3 meses, estava amamentando, acompanhada da comadre. Falei com ela, perguntei se mora a tempo no bairro, respondeu que não, mais ou menos 9 anos. Ela ouve pouco ou tem dificuldade de me entender (?) pergunta para a comadre o que falo. Ela diz ter chegado às 6 horas e ainda espera pela consulta (que ocorreu às 10 horas da manhã). Pergunto se está amamentando só no peito, responde que sim. Pergunto se foi parto normal, ela também responde que sim. Peço para pegar a criança, ela me entrega no colo e como a menina sorri para mim e balbucia, ela também sorri e me diz que outro dia uma mulher tentou pegá-la no colo e ela chorou muito (parece contente pelo fato da menina gostar de vir no meu colo). (OBS). Apesar da discussão ter sido realizada de forma participativa e de se justificar este tipo de imposição pela possibilidade das pessoas não comparecerem ao atendimento e perder a oportunidade de reaproveitar a consulta, esta decisão constitui-se em um concreto mau trato ao próprio usuário, que se submete à arbitrariedade de uma espera de horas, para dizer que realmente precisa do atendimento. Outro fato que chama a atenção consiste em que, apesar da gestão atual ter acabado com o Projeto Acolher Chapecó, implantado na gestão anterior, sem consulta à comunidade e sem a aprovação no Conselho Municipal de Saúde, as auxiliares de enfermagem fazem na recepção um diálogo com as pessoas, identificam prioridades de 294 atendimento, negociam com a enfermeira e com a médica a eventual antecipação de atendimento ao usuário. Os procedimentos de PA e o peso são verificados em todos que aguardam a consulta, sendo este um momento em que as auxiliares e técnicas de enfermagem indagam sobre o estado geral do usuário, fazem uma escuta e procuram acolher a pessoa no serviço. Um fato que contribui para este acolher, enquanto rede de conversação, é o tempo que estes trabalhadores tem de USF (a maioria mais de cinco anos) e também porque uma auxiliar de enfermagem e um funcionário da recepção são moradores do bairro há vários anos. Na recepção tem cartazes de aviso, um sobre documentos necessários para fazer o cartão SUS, outro sobre o dia, horário e documentos para agendamento do dentista (5° dia útil do mês, 7:30 horas); um cartaz sobre o número de procedimentos realizados na USF Seminário no mês (setembro); outro com Art.331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Pena – Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. Também “Chapecó – A gente faz acontecer” (na porta da frente – slogan de campanha do Prefeito atual). Atrás do bebedouro ( e dos copos descartáveis) encontra-se o diploma do Prêmio Humaniza SUS do Acolher Chapecó (2004). Na entrada da USF, em cima do arquivo tem uma caixinha para sugestões e papéis ao lado (em branco). (OBS). Quando estamos retornando a USF pergunto sobre (a um profissional da ESF) como funcionava o projeto Acolher, o que mudou no seu trabalho e como vê esta mudança. Diz que no tempo do Acolher a administração resolveu o problema das reclamações dos usuários, porque todos eram bem atendidos, mas na sua opinião era pouco resolutivo e centrado no atendimento individual. As auxiliares e a enfermeira quase não tinham tempo para fazer grupos, visitas domiciliares, educação em saúde. (OBS). Não querem mais Acolher, coloquem Recolher... Dêem chance para o povo, se está doente... Mais gente... mais ficha, médico... local grande e bom. (U 20). Acho que devia voltar o Acolher... A enfermeira mesmo te olhava... tu não ia no postinho sem ser consultado. (U 44). Em 1997 em Chapecó (FRANCO 2004) havia uma rede básica composta por quatro unidades setoriais, oito UBS menores na zona urbana e quatro na zona rural, um Posto de Assistência Médica (PAM) municipalizado, um Laboratório Municipal, um Setor de Vigilância epidemiológica, um Departamento de Vigilância Sanitária; cinco Equipes de Saúde da Família na zona rural e quatro na zona urbana. Nos anos de 1997 a 2004 houve um investimento significativo na expansão da rede com um aumento de 258 para 664 trabalhadores de saúde (perfazendo um aumento de 157%); ampliação da assistência farmacêutica (definindo lista de medicamentos básicos e implantando 295 dispensário de medicamentos nas UBS); criação de serviços territoriais de saúde mental; implantação do tratamento completado em saúde bucal; instalação do pronto Atendimento Municipal junto ao Hospital Municipal Materno-Infantil; adoção de duas modalidades de serviços na rede básica: as 18 Unidades de Saúde da Família (USF) e as 6 Policlínicas. O Acolher Chapecó fez parte deste contexto de mudanças, representando uma proposta de reorganização do processo de trabalho a partir do trabalho em equipe, da discussão do projeto terapêutico de cada usuário, da priorização da necessidade do usuário como eixo da organização do modelo assistencial. A implantação do Acolher Chapecó privilegiou garantir a escuta individual, sigilosa e qualificada do usuário realizada por enfermeira, auxiliar de enfermagem e médico. Na USF Seminário, conforme os relatos no trabalho de campo, o acolhimento ficava por conta da enfermeira e das auxiliares de enfermagem, situação que se repetia em outras USF. O Informante-Chave 4 relata sua percepção com relação ao Projeto Acolher Chapecó: Então é o seguinte existia outro plano de saúde que seria a família... Aquela enfermeira consultava, avaliava e dava a medicação. Isso não acontece mais... As filas aumentaram. As consultas em que a enfermeira atendia vinte pessoas por dia, o médico tem que atender quarenta. Não existe consulta para quarenta... A comunidade questiona em cima e fala mal da Unidade de Saúde... Muitas pessoas, em vez de irem procurar o posto de saúde, o que eles fazem, por causa dessa demora, por causa da falta médico, pouca consulta? Eles vão... direto para o Pronto Socorro. Coisa que eu acho errado. (I 4). O Projeto Acolher Chapecó foi discutido na IV Conferência Municipal de Saúde e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde em setembro de 2002, recebendo em seguida o Prêmio David Capistrano do Ministério da Saúde. Em 2005, quando mudou a administração municipal foi desativado o projeto, como é explicitado no depoimento do Conselheiro de Saúde a seguir: Teve o Projeto Acolher onde as enfermeiras conversavam com os pacientes antes da consulta com o médico – tipo uma triagem. Depois até acabaram com o projeto sem nem nos explicar por quê. (Pres. CMS). Diz que no tempo do Acolher a administração resolveu o problema das reclamações dos usuários, porque todos eram bem atendidos, mas na sua opinião era pouco resolutivo e centrado no atendimento individual. (O pessoal de enfermagem) quase não tinha tempo para grupos, visitas domiciliares, educação em saúde. (OBS). 296 O problema de escassez de tempo está somente em parte relacionado com a forma que é organizada a atenção em saúde e pela observação se pode constatar que terminar com o Acolher Chapecó não determinou que o trabalho com grupos e educação em saúde fosse intensificado, não no sentido que este fosse um eixo para organização do serviço. A questão ideológica, cultural, política, as disputas de interesses compõem o cenário de contradições que são intrínsecas ao processo de mudança. Neste cenário, diferentes argumentações são válidas, pois retratam as posições sociais que os diferentes sujeitos assumem, no interior da produção de cuidados em saúde. Com o Acolher que durou 3 anos aqui em Chapecó, 2 anos e meio, 3. Então o enfermeiro podia solicitar alguns exames, tinha o protocolo de saúde da criança, podia medicar contra vermes, dar o paracetamol, o mebendazol, o sulfato ferroso , estar solicitando exames. Então a população vinha e de alguma forma saia satisfeita, ou saiam com o exame na mão, ou saiam com a medicação. Além de fazer toda aquela conversa, a triagem que era feita um por um, eles saiam com alguma coisa. E agora não, vem, conversa, explica, mas tem que agendar para o médico... Então as queixas aumentaram em relação à isso. A população não foi preparada para dizer: “Oh, terminou o Acolher”. Foi uma decisão da Secretaria, solicitação até perante o Juiz. Que solicitou parar com o Acolher, então não teve essa resposta para população. O que eles mandaram? Só um oficiozinho... A partir de hoje o técnico e o auxiliar não fazem mais consulta de enfermagem, não examinam garganta, o enfermeiro não pede mais nada. Chegam aqui, é o enfermeiro que não quer dar. É o auxiliar que não quer atender. Porque não me atendeu, não me deu remédio, não solicitou exames... A população vê o Acolher como um ponto positivo. Porque eles saiam, não havia aquela resolutividade, tu atendia o paciente, na semana anterior ele estava ali. Ele voltava muitas vezes com freqüência. Mas a população gostava porque saia com alguma coisa de benefício. Estava com febre? Tinha a autorização de dar o paracetamol? Meu Deus, para eles era uma coisa maravilhosa. (P 10). O término do Acolher sem discussão com a comunidade e com o Conselho Municipal de Saúde revela diferentes interesses implicados num processo de mudança cheio de contradições. Desde 1997, quando iniciou o processo de expansão da rede básica, o município tinha como preocupação a articulação entre os diferentes níveis de complexidade na atenção à saúde, investindo na ampliação do acesso à média e alta complexidade e na comunicação entre elas. Destacamos no caso de Chapecó que a referência e contrareferência são práticas que funcionam para a maioria das ações constituindo-se num diferencial deste município. Outra especificidade que merece destaque é o fato de que quando um usuário é encaminhado para um especialista, por exemplo, ele tem dia, hora e local agendados previamente e quando ele sai da USF leva consigo todo o seu 297 prontuário. Quando o atendimento na especialidade (ou hospitalização) é completado, o usuário retorna a USF com seu prontuário, acrescido dos registros que relatam as ações de saúde desenvolvidas no período. Esta especificidade do município de Chapecó é um dos grandes diferenciais da organização da atenção à saúde, sendo de fato institucionalizado um sistema de referência e contra-referência, em que o prontuário é do usuário e não do serviço ou dos profissionais, caracterizando-se um movimento de conversão rumo à integralidade. Nesta conversão está impressa uma mudança que é operacional, mas que é também e principalmente contra-ideológica (CHAUÍ, 1991), no sentido de organizar o serviço de saúde tendo como eixo as necessidades de saúde do usuário. Considerando que o conceito de integralidade também está relacionado à capacidade de integração entre os serviços da rede de saúde, tendo como eixo para sua avaliação a questão da referência e contra-referência, passamos a apresentar o relato dos usuários acerca do seu acesso a exames laboratoriais e de imagem, especialidades médicas e hospitalização. Com relação aos exames laboratoriais, no caso estudado a organização do sistema de saúde descentralizou desde 1997 a coleta e entrega dos resultados, sendo estes realizados na própria USF. Este fato atende a um dos requisitos de avaliação da integração, ampliando o acesso, agilizando tanto o agendamento do exame como o seu resultado, conferindo maior poder de negociação aos profissionais da USF, por estabelecer uma relação mais direta com o laboratório municipal, antecipando algumas solicitações quando necessário, ampliando a comunicação e negociação entre os serviços submetidos à gestão pública. É agendado. Pra conseguir você telefona... eles arrumam, já agendam e a gente vai lá. (U 1). Fizeram um exame, aqui no postinho... de sangue... sofro de diabete. (U 2). Quando precisa de exame, fazem aqui. O que eles não fazem aqui mandam fazer na cidade. Aquele é ligeiro. Ah! Para verem o exame, esse que é um problema que tem... Eles marcam, por exemplo, vai lá hoje com o papel do exame que está pronto... então eles marcam, muitas às vezes é para semana que vem ou para outra. (U 9). Os de sangue que são mais fáceis... são feitos aqui no posto mesmo e com uma certa agilidade... os mais caros... demoram um pouquinho... a gente aguarda a autorização da secretaria, eles são um pouco mais demorados. (U 11). 298 Fiz exame de sangue, é de sangue. Consultei primeiro, depois fiz o exame de sangue. Foi no outro dia de manhã cedo que fui fazer o exame. Mas fui pegar o exame. Tem que ir apresentar os exames.e pegar outra ficha. (U 13). Fiz exame de sangue... quando veio o resultado eu mostrei para a médica... aquela doença no sangue... colesterol. Ela disse que não era para mim comer comida com gordura, que era para mim se cuidar. (U 38). Quanto aos exames... Aqui na nossa Unidade estou contente... Os exames... a coleta de secreções, sangue... que é o padrão que o clínico precisa, está sendo bem colocado... É rápido. (I 4). O Funcionário da Recepção faz esclarecimentos sobre o registro que estava olhando. Exames: são 9 coletas de exames laboratoriais por dia – começa 7:30hs – hoje é quarta e já estamos agendando para segunda (a cota vai aumentar para 12). Vai para o laboratório municipal (um funcionário da SMS vem buscar de moto táxi o material coletado na USF e leva para o laboratório) e os resultados retornam através do malote da Prefeitura. (OBS). Exames de imagem como ultrassonografia, mamografia e outros necessitam de autorização da SMS, o que gera um maior tempo de espera, mais deslocamento do usuário para obter sua solicitação. Embora este possa ser considerado um fluxo seguro, no sentido de que existe uma normatização que o orienta, está bem sedimentado e incorporado às práticas dos profissionais envolvidos, a mediação da relação estabelecida pela autorização da SMS, que introduz uma tentativa de controlar as solicitações. Leva 7 dias, 6 dias... Dali 7 dias vamos ver o resultado lá. Consultei num dia, no outro dia tirei o sangue e dali 7 dias veio o resultado. Fiz na gravidez foi tudo bom... de urina... peguei no postinho... levou uns 15 dias para autorizar na Secretaria dali uns 4, 5 dias... demora mais é quando manda pra lá. (U 15). A doutora pediu já foi marcado... marcou pra mim fazer os exames no outro dia... Foi rápido, foi bem rápido. Quando ficou pronto... foi marcado de volta para mim mostrar para doutora. Não precisei ficar na fila. E para o exame já foi agendado ali, acho que não deu uma semana. O ultrassom... trouxe o encaminhamento e eles mesmo já marcaram... Fui no posto pegar a autorização. (U 22). Fiz, todos. No posto... exame também de urina... Ela me dá o encaminhamento, agenda um dia, vai às 7 e meia da manhã e faz os exames lá na sala de coleta, pode ir embora. Uma semana para mostrar de novo, tem que agendar para a médica ver os exames... Me deu um encaminhamento... porque tem que autorizar... a ultrassonografia do nenê daí fiz dos rins também... cerca de 1 mês (esperou). (U 28). 299 Quanto ao exame citopatológico, este é agendado e coletado na USF pela enfermeira, os resultados retornando após cerca de 30 dias. São feitos em um laboratório contratado pela Prefeitura. Na observação de campo pudemos verificar que a coleta de CP é agendada na terça e quinta-feira pela manhã (quatro agendamentos), segunda e sexta-feira a tarde (quatro agendamentos). Durante o período de observação foram acompanhados todos os tipos de atendimentos realizados pela equipe do PSF, dentre eles a realização do Exame Citopatológico e de Mamas. A situação relatada a seguir oferece informações interessantes acerca da integralidade, com relação às práticas profissionais. Podemos identificar que a enfermeira faz uma abordagem em linguagem simples, mas não superficial com a usuária; orienta-a sobre o auto-exame, aproveitando o momento do atendimento individual para fazer educação em saúde; articula as ações de saúde quando reforça a necessidade da usuária vir no grupo de hipertensos; extrapola o olhar do indivíduo até o grupo familiar quando diz para a usuária trazer a neta no serviço. A Sra. de 60 anos, teve 10 abortos, mais um natimorto, um filho (que foi assassinado há mais ou menos 7 anos), ela tinha 16-17 anos quando engravidou. Paciente cardiopata e hipertensa, freqüenta grupo. Está na menopausa, enfermeira com linguagem apropriada, boa comunicação. Utiliza “Mama Amiga” e demonstra como é quando está normal ou quando tem nódulo móvel, ou nódulo duro e fixo. Enfatiza que caso de nódulo precisa vir na USF. Fala para ela trazer a neta (que ela cria desde que o filho morreu, para trazer o preventivo, e que é deficiente mental ). A Enfermeira tranca a porta, procede com a coleta de CP (divide a lâmina em 3). Depois examina a mama, a axila, orienta sobre o exame. Reforça sobre a necessidade de participação no grupo de hipertensos. Paciente diz: E se eu não puder ir como faço? Enfermeira diz que sempre na segunda e sexta as pessoas vem para pegar a medicação, verificar a PA, quando não podem comparecer ao grupo. Paciente pergunta quando trazer a neta para fazer o Exame. Ela sugere no sábado próximo que vai haver mutirão do CP. Então a enfermeira pergunta se foi feita a carteira de identidade da neta, ela responde que sim. (OBS). Na consulta aos registros existentes no prontuário, verificamos a seguinte anotação: 20.10.05 – mamas: S/P CP: leucorréia clara em pequena quantidade OBS: relata ter tido sangramento no mês anterior, pouco. (assinatura enfermeira) Nome, idade, matrícula, menopausa, n° de gestações (12), n° de abortos (10), n° de cesáreas (01), n° de partos (01), data último parto (37a). 300 Consta ainda no prontuário um cartão de Saúde da Mulher com os seguintes dados: registro, nome, data de nascimento, n° do preventivo. Quadro 6.21 - Saúde da Mulher. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Data Preventivo Exame de mamas Contraceptivo Outros A enfermeira, após o atendimento à usuária, mostra à Observadora um livro com registro dos CP, com nome do paciente, data CP, resultado, n° prontuário. Quando questionada se ela sabe quem fez e quem falta fazer, ela diz que a fonte para obter esta informação é o prontuário e o livro de registros. Refere que há uma aproximação quantitativa das usuárias que necessitam realizar o exame e ainda não o fizeram pelo número de mulheres em idade produtiva e n° CP realizados, mas não há busca e nem um registro que permita fazê-lo. Apesar deste fato refletir dificuldades na vigilância em saúde a partir da USF, fomos informadas durante o trabalho de campo que uma iniciativa de vigilância pautada na intersetorialidade foi articulada no caso em estudo. A Secretaria de Saúde e a Secretaria de Ação Social, tem como norma que todas as mulheres para matricularem seus filhos nas creches públicas tem de estar com o CP em dia, o que amplia a capacidade de cobertura. Com relação às situações em que o resultado apresenta-se alterado, a enfermeira diz que o laboratório envia o resultado antes do prazo de 20 dias e elas entram em contato com o gineco-cirurgião do Hospital Regional e é agendado naquela semana para coneização, quando necessário (reforça que não precisa ir da USF do Seminário para o ginecologista e depois para o Hospital). A médica da USF faz o encaminhamento e já vai direto para o hospital, ou seja, a usuária vai com encaminhamento de referência da USF para o Hospital Regional. A enfermeira relata que a contra-referência vem para a USF registrada no formulário enviado, em que consta o resultado do exame e a prescrição médica. Nos depoimentos, as usuárias demonstram-se satisfeitas com o atendimento aos exames preventivos de câncer de colo de útero e mamas, como constatamos a seguir. 301 Preventivo... eu fiz. Inclusive o resultado não tinha vindo... Fui, marquei, um dia marquei todos os exames... foi coletado material, foi feito exame nas mamas. Então acho que foi um trabalho bem feito. (U 29). Fiz todos os exames. O ultrassom... Eles marcaram ali. ...fui lá na Secretaria de Saúde, eles autorizaram para ir fazer o ultrassom. E o preventivo. Foi ali através do posto mesmo. Eu marquei, fui fazer, dali quatro meses parece que fui fazer o preventivo (esta era uma usuária que fez pré-natal na USF). (U 30) Preventivo... Fiz. ... Marquei pra dali um mês veio. Fui lá e fiz... Foi ligeiro. (U 42). O principal nó crítico em relação aos exames consiste na realização de raio-X. Apesar da Prefeitura contar com um aparelho de raio-X, este consiste em uma das maiores reclamações dos usuários, pelo acesso dificultado, pela demora para marcação e para a obtenção do resultado. Faz mais ou menos 70 dias que... está esperando um raio-x para fazer. (U 3). Fiz exame. Através do posto... topei de fazer raio-x... lá no Xaxim... porque aqui não tinha... Foi o posto... às vez demora ... às vez demora até um mês. (U 23). Uma radiografia... fui fazer lá no Regional. ... Demorou, demorou mais ou menos 2 meses. (U 24). Os exames a gente tem que é mais difícil... tem que ir lá marcar... tem que esperar... um raio-x tem que levar ele no hospital bater um raio-x... fiz o pedido ali, eles iam marcar, quando vem me avisam para mim levar o piá fazer o raio-x. (U 25). Minha irmã agora tem que fazer, um raio-x do nariz para vê se tem de novo... bastante demorado isso... Ela está esperando já faz 2 meses... É o tempo, muito demorado. (U 35). O raio-x que precisei fazer no hospital eles ligaram e veio uma ambulância e buscou. (U 36). Eles marcaram o raio-x... ficou 8 meses, acho .. pra fazer esse raio-x. (U 40). Nós queremos descentralizar alguns serviços. Principalmente os de raio-x e de entrega de medicamentos psicotrópicos porque muitos pacientes vêm de Unidades distantes até o centro para conseguir estes recursos. Além disso, a gente gostaria também de ampliar as opções em fisioterapia que acaba gerando um grande custo ao município que por vezes gasta em combustível (pois também não pode dar vales-transportes), e também em consultas, pois quem faz a avaliação da necessidade de mais ou menos sessões é o médico, quando o próprio fisioterapeuta poderia fazer isso. (Pres. CMS). No caso estudado, o município conta com um Centro de Referência Especializado (CERES), em que médicos especialistas contratados pela Prefeitura 302 atendem a demanda encaminhada da atenção básica. De modo geral, a referência é ótima na maior parte das especialidades médicas, com tempo de espera baixo (1 a 2 semanas). O agendamento é feito por telefone na própria USF, que comunica data e horário ao usuário por intermédio do ACS. A seguir apresentamos um quadro elaborado a partir dos prontuários dos usuários entrevistados, em que listamos as referências para serviços especializados realizadas a partir da USF Seminário. Quadro 6.22 - Referências da Unidade Saúde da Família para Serviços da Rede de Atenção à Saúde. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Condição de saúde HAS/ diabetes 17 N Sim – 11 Referência Criança 3 Sim – 3 Gestante Mulher idade fértil 3 8 Não – 3 Sim – 5 Saúde mental 9 Sim – 9 Tipo e Número de Encaminhamentos Oftalmologista – 8 Ginecologista – 2 Cardiologista – 4 Otorrinolaringologista – 2 Neurologista – 2 Ortopedista – 1 Dermatologista – 1 Psiquiatra – 2 Fisioterapeuta – 1 Cirurgião vascular – 1 Proctologista – 1 Neurocirurgião – 1 NAPS – 2 Ficha hospitalar – 1 Ginecologista/ obstetra – 2 Cirurgião – 2 Ginecologista – 2 Pronto-socorro – 1 Dermatologista – 2 Cardiologista – 3 CAPS – 4 Otorrinolaringologista – 2 Oftalmologista – 3 Neurologista – 2 Ortopedista – 2 Fisioterapeuta – 2 Psiquiatra – 2 Ginecologista – 2 Endocrinologista – 1 Urologista - 1 Os usuários identificam dificuldades particularmente em obter consulta com o oftalmologista. Quanto às outras especialidades médicas relatam na sua maioria estarem satisfeitos. Os dados da observação nos permitiram identificar que em Chapecó um processo histórico foi ao longo dos anos construindo uma prática de comunicação entre a rede básica e as especialidades, que se reflete na organização dos serviços e nas 303 práticas profissionais. Compõe-se um cenário ímpar em que o gestor está comprometido a estabelecer negociações com prestadores privados reguladas pelo público, estabelecendo-se no concreto das práticas de referência e de contra-referência. Para conseguir telefona para eles que arrumam, agendam e a gente vai lá. (U 1). Especialista dos olhos. Demorou uns diarada sabe. Mas... eu não enxergava quase nada mesmo. Agora ainda enxergo um pouco. (U 2). Demora um pouquinho, mas, quando vê está marcada. (U 10). O oftalmo demorou em torno de um ano e dois meses. (U 11). Acho que é mais demorado é o oculista... marquei já faz acho que uns 7 meses ... diz que demora 2 anos parece. (U 34). Consulta com especialista demora até um ano. Com o oculista... um ano demora para marcar. Vai consultar, faz um pedido, até que marca demora um ano com oftalmo. (U 37). Oculista... já fui no posto, estou esperando a chamada... estou na espera pra consulta agora... Não, não faz muito. Acho que uns 2 meses, 3, acho. (U 41). Reumatologista já consultei. Pelo posto. Bem rapidinho. Qualquer tipo de especialista que eu preciso é bem rapidinho... O mais demorado é o oftalmologista... é só uns 3 que consultam pelo posto... tinha consulta marcada... no dia da consulta fiquei doente. (U 44). Pra mim, Deus me livre, fui bem atendido. Está certo que às vezes demora. É isso que o pessoal não entende. Porque tem que ser marcado para depois... o médico, oculista, que vai atender, que tem que saber a vaga que tem... E tem gente que acha que é duma hora para outra. (I 1). Oftalmo é uma tristeza... Oftalmo é de um ano para o outro. Aí o que acontece. Quando eles marcam... o que acontece com vários paciente, tu espera tanto tempo que quando chega o teu dia você nem lembra mais... Faz dois anos, faz um ano... Como que você vai lembrar? (I 4). Caso marque para um médico especialista a gente tem que marcar e esperar... Um ortopedista a gente precisa é marcar e leva um ano e pouco... Uma consulta para o olho, passa de um ano, dois... É muito difícil... a gente não tem para pagar tem que esperar... Para tudo isso tem que passar no posto de saúde. (I 13). Na área de saúde mental a rede dispõe da especialidade médica do psiquiatra, do neurologista, do neurocirurgião, de leitos psiquiátricos em hospital geral, de um CAPS II e de um CAPS i (infância). Os usuários relatam como foi sua experiência quando precisaram ser referenciados a serviços de saúde mental da rede. 304 Fui encaminhada através do Posto... fiz uma consulta com o psiquiatra e fui encaminhada para um psicólogo... levei um papel ali do posto para lá.Olha, não é muito fácil de conseguir. O meu caso foi mais fácil porque fui encaminhada pelo posto. (U 29). (O pessoal do) CAPS veio me buscar... Eu três vezes. Segunda, quarta e sexta, fico o dia inteiro. ...a gente faz um monte de coisa... crochê... tricô... cestinha... quadro de jornal... fazendo um monte de coisa a gente passa o dia bem... problema que sempre estou tomando banho... trocando de roupa... penso que estou suja... Sempre penso.... que as pessoa estão me olhando... tenho muito medo de pessoas brabas... com psicólogo tenho consulta a cada semana... me faz muito bem. (U 40). A seguir apresentamos um quadro elaborado a partir dos dados dos prontuários dos usuários da saúde mental, em que verificamos aspectos particulares de sua condição de saúde. Quadro 6.23 - Usuários da Saúde Mental Entrevistados. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. Condição de saúde N Freqüenta CAPS Saúde mental 9 Sim – 5 Tiveram Internação Psiquiátrica Sim – 3 Local da Internação Medicação Sintomas Situação de risco Hospital psiquiátrico – 1 Hospital geral – 1 Amitriptilina-2 Diazepan – 2 Haloperidol-2 Biperideno – 1 Clonazepam-1 Fluoxetina – 1 Clorpromazina – 1 Imipramina-2 Prometazina-1 Fenobarbital-1 Poliqueixosa – 1 Tremores – 1 Isolamento – 1 Ansiedade – 1 Não – 2 Quando os usuários foram questionados sobre críticas e sugestões para melhorar o atendimento na USF, uma reivindicação presente refere-se aos encaminhamentos. Acho que do jeito que está, está bom... O que está um pouco demorado é esses encaminhamentos especiais... acredito que nem seja da vontade deles... (U 11). Aumentar... número de vagas... ultrassom... Outros tipos de exames. (U 28). No sentido, de especialista... as vezes é complicado para gente conseguir... Mais daí não é o posto aqui, é em si a Secretaria de Saúde... É pouco especialista e é muita população... (U 22). Quanto aos encaminhamentos para hospitalização, os usuários relatam que acabam conseguindo ser referenciado para o Hospital e no entanto lá são novamente submetidos à avaliação do plantonista que pode fazê-los retornar para casa. O hospital 305 segue uma organização particular que não se submete à lógica do público, sendo mínimas as possibilidades de comunicação e negociação com os profissionais da USF. Tinha uma cirurgia... da vesícula... estava encaminhado do postinho... não deu pra mim ficar esperando... me atacou, porque minha vesícula era inflamada... ela inchou... foi me levado um dia... ali no postinho... eles mandaram que levassem para o médico que eu estava bem mal... fizeram medicamento... No outro dia não podia mais nem caminhar... fui e fiquei internada. Fui direto... fiquei 12, 13 dias internada... sentindo aquele nervosismo... aquela tontura... dor de cabeça... me doía tudo, me doía a nuca... eles encaminharam... passou para a... psicóloga... mais de seis mês eu consultando lá. (com a psicóloga). (U 12). Através do posto. Eles me encaminharam... para outra médica, a ginecologista... fiz todos os exames... eles encaminharam tudo... fiz essa cirurgia tranqüila... vieram aqui, me trocaram os curativos... faço fisioterapia... preciso... diariamente as requisição... Os encaminhamentos também tudo pros exames... para as consultas... dependo tudo dali do posto. (U 26). No que se refere à obtenção de medicamentos, observamos que existe na USF uma listagem dos medicamentos padronizados e distribuídos pela Secretaria Municipal de Saúde. No período de trabalho de campo não ocorreu falta de medicação. Ao contrário, havia uma boa disponibilidade de medicamentos em geral, bem como anticoncepcional oral, preservativos e material para curativo em domicílio. Do ponto de vista da integralidade da atenção à saúde, a sistemática existente e distribuição de medicamentos é um critério fundamental para se avaliar a continuidade do cuidado. No caso de Chapecó, este critério é amplamente atendido. Na observação de campo, em visita à Secretaria observamos que a medicação controlada tem sua distribuição centralizada na Farmácia da Secretaria Municipal de Saúde, local em que verificamos a existência de estoques dos medicamentos que fazem parte da listagem padronizada, de vários psicofármacos, inclusive antipsicóticos atípicos. As falas da maioria dos usuários reforçam os dados obtidos na observação de campo. Diabetes... Agora recebi pra três meses. (U 6). Eles marcam o dia, que é uma vez por mês a gente vai pegar o remédio. Daí então vou lá, me entregam meu remédio, me vêem a pressão, fazem o teste de diabete e pesam tudo bem direitinho... Agora nos últimos anos aqui sempre tem os medicamentos, todos eles. (U 9). 306 Só esses de gravidez... O anticoncepcional... a cada dois meses pego... peguei duas cartelas... só chego lá e peço para a Enfermeira... ela marca lá e me dá... Aí quando termina vou buscar de novo. (U 15). De mês em mês, é marcado, é de mês em mês. Posso pegar lá no Posto. Eles sempre tão dando, atende bem lá. (U 23). Ali no postinho... um dia que fui consultar... E foi quando comecei a pegar a pílula lá... Pego para dois meses, quando falta três dias para terminar vou lá e pego de novo. (U 30). Para pressão. Chega lá, consulta, tem que consultar. Ele pega para uns quantos dias... para 3 meses o remédio. (U 32). Eu pego para 2 meses, cada vez que vou, pego duas cartelinhas... Eles pesam, vêem a pressão da gente. Já peguei... ele tinha aquela anemia... sulfato ferroso... remédio para os vermes. Sempre tem. (U 33). Através dos depoimentos pudemos constatar que o fluxo partindo da identificação de sua necessidade tem especificidades interessantes com relação ao domicílio, à USF, à realização de exames e de consultas nas especialidades médicas como podemos visualizar a seguir: Figura 6.8 - Fluxograma Analisador: a Perspectiva do Usuário. Estudo Qualitativo, PROESF – UFPel, Lote 2 Sul, 2005. 307 Na fala das lideranças comunitárias, o que é verbalizado é um reforço ao que os usuários trazem com relação ao fato de serem bem atendidos por esta equipe. Além disso, (I 3) aponta para os ganhos históricos (conquistas da sociedade civil organizada) na ampliação do acesso às ações de saúde. Até pode ter algumas falhas... Tudo tem alguma falha... Se não tem para mim, tem para outro azedinho... Sempre sou bem atendido... Os outros que se queixam... para mim, não tenho queixa. Desde as enfermeiras que trabalham aqui, não tenho queixa nenhuma. (I 1). Na minha comunidade é muito bom. A gente tem visita, as quartas-feiras, por exemplo, a médica visita os doentes... E quando for solicitado as enfermeiras também fazem visitas em casa. O atendimento é bom. (I 2). Acho boa... Uma vez não tinha nada... Agora até já tem bastante coisa... Então acho muito boa... Não sei como é que os outros acham... A gente vai, é bem atendido. Ganha os remédios... Uma vez ia ao médico e tinha que pagar tudo. Não tinha nenhuma vantagem. Agora a gente tem vantagem. Eles tratam bem. (I 3). Quando os usuários foram questionados sobre críticas e sugestões para melhorar o atendimento na USF, além da solicitação de aumentar o número de médicos na USF Seminário, de rever a distribuição de consultas médicas, de ampliar a oferta de exames e consultas em especialidades médicas, os relatos enfatizaram as limitações do espaço físico da USF e reafirmaram a importância de ter o serviço no território. Acho bom o posto, para mim é bom. Tem muita gente que fala do posto, mas isso é bobagem. Para mim está bom porque, se não tivesse o posto, nós tinha que correr lá no Universitário... E agora daqui só para o cemitério, para outro lugar não. (U 1). Primeira coisa que nós precisava aqui é melhorar a nossa policlínica que está feia ali, não tem espaço. Mas vai 10, 12 pessoas não tem lugar de sentar, tu tem que ficar em pé lá fora. Dia que chove é uma calamidade, frio, não tem onde se agasalhar. Nós precisava de uma policlínica mais grande aqui no bairro. (U 3). Ali precisa de mais espaço naquele posto... uma sala maior... aqueles que vão fazer exame... eles vão na mesma fila... que aqueles que vão pegar consulta... Tinha que ser diferente... quem é para exame vai para um bloco... para consulta outro. (U 23). Pra mim acho que está bom... porque a hora que preciso de um médico, sou atendida... preciso de uma receita, de um exame, sou atendida. (U 26). 308 Na percepção dos profissionais de saúde a pressão da demanda e de uma cultura centrada no atendimento, se percebe de forma clara nas dificuldades identificadas na relação com a comunidade e oferece um contraponto ao olhar dos usuários. Ficha, então acaba sempre na rotina. Se ela está por ali, sempre dá um jeito de “enfiar” a pessoa. (P 1). Para mim... eles queriam mais médico. Assim... é médico que digo mais um médico da família. (P 4). Acho que a resistência que alguns pacientes, não todos, tem querer médico, médico, consulta... e até falam “bah, teria que ter mais um médico aqui porque um só não dá conta”, então é essa a reclamação maior. (P 7). A população reclama bastante da falta de médico. É isso que a gente ouve bastante. Eles acham que precisa mais médico. E que é, demorar na fila. Particularmente, até acho que não. (P. 13). Falta de médico, eles querem médico, querem médico e querem médico. Não tem ficha, não tem ficha. (P. 15) Um Informante-Chave (I 16) acrescenta na discussão os limites objetivos relacionados à formação dos profissionais de saúde, que trabalham no PSF e a importância deste aspecto para a conversão do modelo de saúde. Que a gente possa ter profissionais que realmente tenham perfil de trabalhar... com SUS que é um perfil, um público diferente... acho que a gente tem que desligar de algumas coisas, se vier com o modelo médico, modelo de consultório de qualquer área que for, seja da fono, fisio, acho que não funciona tão bem assim... Ter um modelo diferenciado, que possa chegar, trabalhar com grupos, que possa desenvolver outras coisas que não sejam apenas: “se vocês vierem eu atendo”. Tem que poder enxergar a população, tem que poder enxergar aquela comunidade, aonde está inserido, que coisas acontecem ali, então tem que estar no contexto. E nem todos conseguem ter, não vai resolver, de repente vir trabalhar na visita domiciliar, vou em uma casa e a pessoa vai ficar se sentindo mal com a minha presença, porque são pequenas coisas? São! Mas as pessoas, tudo vai repercutir no bem estar daquele indivíduo que vai me receber. Se despir dessa coisa de “lá vem o doutor”. Acho que lá vem o indivíduo que se formou e que vem me ver, tentar me ajudar, sem essa coisa de ser mais ou menos. (I 16). A seguir apresentamos algumas fotos que podem elucidar as afirmações dos usuários, mostrando as dificuldades em função do espaço físico da USF, que funciona numa estrutura de casa, alugada pela Prefeitura, com várias adaptações para adequar-se à oferta de atendimentos que dispõe. Também apresentamos fotos da área de abrangência da USF Seminário, para constatarmos que dentro de uma mesma área, as micro-áreas se diferenciam acentuadamente em termos de condições de vida, o que 309 implica em necessidades específicas e maior complexidade na organização da atenção à saúde. Conclusão Neste estudo de caso apresenta-se uma descrição de uma avaliação qualitativa da categoria integralidade, considerando a gestão, a organização da atenção e o cuidado em saúde no contexto da Estratégia da Saúde da Família. Procurou-se apreender os diferentes sentidos atribuídos pela gestão, presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde, lideranças comunitárias, trabalhadores de saúde e usuários do SUS à integralidade da atenção em saúde. A observação e as entrevistas mostraram que um dos sentidos que a realidade assume para a gestão e o trabalhador se relaciona à possibilidade de ver o usuário como um todo, extrapolando a queixa e considerando o contexto social, psicológico, de acesso aos cuidados, buscando-se identificar riscos e sofrimentos potenciais. 310 Para os usuários a integralidade tem seu sentido relacionado às possibilidades de acesso à USF e aos serviços especializados. A dificuldade de acesso é um dos mais sérios impedimentos da integralidade e é avaliada a partir da observação e relato acerca das barreiras para a entrada na USF, materializadas na fila e no retorno dos usuários sem atendimento, no difícil acesso ao atendimento odontológico, a exames como RX, a especialistas como oftalmologista. Apesar destes limites avaliamos que a referência e a contra-referência é uma característica importante no caso de Chapecó, pois funciona bem, na maioria das situações. O acesso aos medicamentos também é uma peculiaridade que se diferencia no caso, pois ele tem sido plenamente garantido. Na relação da atenção básica com a média e alta complexidade, revela-se um sentido da integralidade que se relaciona à organização da rede de serviços a partir do princípio de integração, privilegiando-se estratégias de comunicação e de estabelecimento de fluxos seguros. Contribui para a busca da integralidade o fato da USF ter várias possibilidades de captar a demanda tais como a visita domiciliar, as fichas destinadas à demanda espontânea, os agendamentos referentes às ações programáticas e a disponibilização de um número (ainda que pequeno) de atendimentos para situações de urgência. No que se refere à integralidade, como princípio organizador das práticas em saúde, destacamos a importância do movimento da USF Seminário em produzir um arranjo institucional que viabilize contemplar a demanda das ações programáticas e a demanda espontânea, abrindo espaço para a captação de diferentes necessidades da população. A rotatividade dos Agentes Comunitários de Saúde foi um problema importante assinalado em diferentes instrumentos utilizados no estudo. A Secretaria Municipal de Saúde fez movimentos para tentar viabilizar algumas soluções para o problema, uma delas foi o encaminhamento de lei de criação do cargo do ACS. A rotatividade dos ACS constitui-se em um fator que compromete significativamente a Estratégia da Saúde da Família, pois o seu caráter de conversão do modelo aposta justamente na vigilância em saúde, no vínculo com a comunidade e na utilização da visita domiciliar, como um importante instrumento de trabalho. Sabemos que o ACS exerce uma função que é estruturante, nesta concepção estratégica. No que consiste a avaliação da integralidade da atenção, a partir das categorias acesso, vínculo, comunicação, a rotatividade dos ACS fragiliza todo esse processo que para ser construído exige uma relação de confiança e continuidade. 311 Evidenciou-se neste espaço aspectos avaliados com relação à integralidade que concorrem ou limitam a sua materialização nas práticas de saúde. A realidade de Chapecó mostrou-se rica de sentidos, de contradições, de arranjos e de especificidades com relação à integralidade. 312 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bambas A, Casas JA. Assessing equity in health: conceptual criteria. In: Pan American Health Organization, editor. Equity and health: views from Pan American Sanitary Bureau. Washington: PAHO; 2001. p. 12-21. Barros FC, Victora CG. Epidemiologia da saúde infantil. 3 ed. São Paulo: HUCITEC; 1998. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990: dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências. Brasília: Congresso Nacional; 1990. Brasil. Promoção da saúde: Cartas de Otawa, Declaração de Adelaide, Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Brasília: MS; 1996. Contandriopoulos AP, Champagne F, Denis J, Avargues M. L' evaluation dans le domaine de la santé: concepts et méthodes. Revue Epidemiologie et Santé Publique 2000;48:517-39. Des Jarlais DC, Lyles C, Crepaz N. Improving the reporting quality of nonrandomized evaluations of behavioral and public health interventions: the TREND statement. American Journal of Public Health 2004;94(3):361-6. Deslandes SF. Concepções em pesquisa social: articulações com o campo de avaliação em serviços de saúde. Cadernos de Saúde Pública 1997;13(1):103-07. Dick B. The change process and action research: action research and evaluation on line. In: Session 2 of Areol - action research and evaluation on line: http://www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/areol/areol-session02.html; 2000. Facchini LA. Proceso de trabajo, cambio tecnologico y desgaste obrero: el caso del ingenio de azucar "Adolfo Lopez Mateos" [Dissertação]: Universidad Autonoma Metropolitana del Mexico; 1986. Facchini LA. Por que a doença? A inferência causal e os marcos teóricos de análise. In: Buschinelli JTP, Rocha LE, Rigotto RM (Orgs). Isto é trabalho de gente? Vida doença e trabalho no Brasil. São Paulo: Vozes; 1993. p. 33-55. Facchini LA. Trabalho materno e ganho de peso infantil: características e relações em dois bairros operários, Pelotas - RS [Tese]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1994. 313 Giovanni G. O método dialético. In: Anais do 3º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem; 1984; Florianópolis; 1984. p. 160-71. Habicht JP, Victora CG, Vaughan JP. Evaluation designs for adequacy, plausibility and probability of public health programme performance and impact. International Journal of Epidemiology 1999;28(1):10-8. Hartz ZMA, Contandriopoulos AP. Integralidade da atenção e integração de serviços de saúde: desafios para avaliar a implantação de um sistema sem muros. Cadernos de Saúde Pública 2004;20(Supl. 2):331-36. Hartz ZMA, Vieira da Silva LM (Orgs). Avaliação em saúde: dos modelos teóricos à prática na avaliação de programas e sistemas de saúde. Salvador: EDUFBA; 2005. Konder L. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense; 1981. Landis JR, Koch GG. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics 1977;33(1):159-74. Laurell AC. A saúde-doença como processo social. In: Nunes ED, editor. Medicina social aspectos históricos e teóricos. São Paulo: Global; 1983. p.133-58. Lemeshow S, Hosmer D. Adequacy of sample size in health studies. Chichester: John Wiley; 1990. Levy P, Lemeshow S. Sampling for health professionals. Belmont: LLP; 1980. Lüdke M, André MEDA. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU; 1986. Lwanga S, Lemeshow S. Sample size determination in health studies: a practical manual. Geneva: World Health Organization; 1991. Mari JJ, Iacoponi E, Williams P, et al. Distúrbios psiquiátricos e assistência primária à saúde no Brasil. Rev. Saúde Pública, dez. 1987, vol.21, no.6, p.501-507. Masur J, Monteiro M. Validation of the "CAGE" alcoholism screening test in a Brazilian psychiatric inpatient hospital setting. Braz J Med Biol Res 1983;16(3):215-18. Mattos RA, Pinheiro R. Os sentidos da integralidade: algumas reflexões acerca de valores que merecem ser defendidos. In: Pinheiro R, Mattos RA (Orgs). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2001. Matus CR. Política, planejamento e governo. Brasília: IPEA; 1993. Matus CR. Los tres cinturones del gobierno. Caracas: Fundacion Altadir; 1997. Mehry EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Mehry EE, Onocko R (Orgs). Agir em saúde um desafio para o público. São Paulo: HUCITEC; 1997. p.71-112. 314 Mehry EE, Chakkour M, Stéfano E, Stéfano ME, Santos CM, Rodrigues RA, et al. Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em saúde: informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalho em saúde. In: Mehry EE, Onocko R (Orgs). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: HUCITEC; 1997. p.113-50. Mendes Gonçalves RB. Práticas de saúde: processos de trabalho e necessidades. São Paulo: Centro de Formação dos Trabalhadores Em Saúde da Secretaria Municipal da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo; 1992. Minayo MCS. Os homens de ferro: estudo sobre os trabalhadores do Vale do Rio Doce em Itabira. São Paulo: Dois Pontos; 1986. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3 ed. São Paulo: HUCITEC; 1994. Ministério da Saúde. Carta de Ottawa sobre a Promoção da Saúde. Saúde em Movimento 2002. Disponível online: <http://saudeemmovimento.com.br>. Acesso em 10 jan. 2006. Ministério da Saúde. Termo de referência para o estudo de linha de base nos municípios selecionados para o componente 1 do PROESF. Brasília: MS; 2004. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Pacto de indicadores da atenção básica: instrumento de negociação qualificador do processo de gestão do SUS. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 2003;3(2). OMS (Organização Mundial de Saúde). Saúde para todos no ano 2000. Geneva: WHO; 1977. OPAS (Organización Panamericana de la Salud), OMS (Organización Mundial de la Salud). Informe sobre el futuro de los servicios de salud y afines, 1920 (Publicación Cientifica, n. 93). Washington (DC): OPAS; 1964. Patton MQ. Utilization-focused evaluation: the new century text. London: Sage Publications; 1997. Pinheiro R. Integralidade e prática social. BoletIN 2005. Entrevista disponível em : <http://www.lappis.org.br>. Acesso em: 15 Abr. 2005 Rothman K, Greenland S. Modern epidemiology. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1998. Rutter M. Pesquisa de Mercado. São Paulo: Ática; 1988. Santos IS, Victora CG. Serviços de saúde: epidemiologia, pesquisa e avaliação. Cadernos de Saúde Pública 2004;20(Supl. 2):337-41. Shaw M, Tunstall H, Smith GD. Seeing social position: visualizing class in life and death. International Journal of Epidemiology 2003;32(3):332-5. 315 Silva Jr AG, Mascarenhas MTM. Avaliação de atenção básica em saúde sob a ótica da integralidade: aspectos conceituais e metodológicos. In: Pinheiro R, Mattos RA (Orgs). Cuidado: as fronteiras da integralidade. São Paulo: HUCITEC; 2004. p. 2136. Soinbelman M, Luz Jr E. Problemas relacionados ao consumo de Álcool. In: Duncan B, Schimidt M, Giugliani E, editors. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. Spencer J. The use of SRQ-20 in primary care situations. British Journal of Psychiatry 1986;148:479-80. Stafford M, Marmot M. Neighbourhood deprivation and health: does it affect us all equally? International Journal of Epidemiology 2003;32(3):357-66. Starfield B. Primary care: balancing health needs, services and technology. New York: Oxford University Press; 1998. Susser M. Some principles in study design for preventing HIV transmission: rigor or reality. American Journal of Public Health 1996;86(12):1713-6. Teixeira CF. Epidemiologia e planejamento de saúde. Ciência & Saúde Coletiva 1999;4(2):287-303. Tomasi E, Facchini LA, Osorio A, Fassa AG. Aplicativo para sistematizar informações no planejamento de ações de saúde pública. Revista de Saúde Pública 2003;37(6):800-06. Vaughan R. Evaluation and public health. American Journal of Public Health 2004;94(3):360. Viacava F, Almeida C, Caetano R, Fausto M, Masinko J, Martins M, et al. Uma metodologia de avaliação do desempenho do sistema de saúde brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva 2004;9(3):711-24. Viana ALD, Heimann LS, Lima LD, Oliveira RG, Rodrigues SH. Mudanças significativas no processo de descentralização do sistema de saúde no Brasil. Cadernos de Saúde Pública 2002;18(Supl):139-51. Victora CG, Habicht JP, Bryce J. Evidence-based public health: moving beyond randomized trials. American Journal of Public Health 2004;94(3):400-5. Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman; 2005. 316