Práticas e Reflexões com Educadores Pequenas
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Práticas e Reflexões com Educadores Pequenas
Ministério da Cultura e Banco do Brasil apresentam e patrocinam PEQUENAS MÃOS CCBB EDUCATIVO 2011 02 04 06 08 10 14 18 06 02 04 ESCOLA É O MUNDO BRINCADEIRA OU COISA SÉRIA :: COMPONDO AÇÕES PARA CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS :: DIVERSIDADE CULTURAL :: ARTE E OLHAR CONTEMPORÂNEOS :: PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL - CONTANDO HISTÓRIAS :: ARTE MODERNA – FIGURAÇÃO E ABSTRAÇÃO :: :: 08 18 14 10 Como podemos realizar um trabalho educativo quando se trata de uma exposição de arte com crianças pequenas? De que forma conversar sobre os conceitos presentes nas exposições de maneira que elas compreendam? Como criar momentos que proporcionem o contato com a obra, o olhar atento e a experimentação de forma significativa? Estas são algumas questões em pauta nas discussões do Grupo de Pesquisa Pequenas Mãos, do Programa Educativo do Centro Cultural Banco do Brasil – RJ, que desenvolve atividades para crianças de 3 a 6 anos relacionadas à programação em cartaz. Será este trabalho brincadeira ou coisa séria? Ambientes como o centro cultural são também ambientes de lazer; por isso, o divertimento torna-se fundamental. O problema está quando isso traz consigo uma confusão ou inversão de objetivos relacionados às propostas educativas. É necessário entender que esse divertimento não é apenas entretenimento: está carregado de sentido. O ensino da arte acontece em diversos espaços, e muito nos interessa a maneira como ele tem se desenvolvido, em especial com crianças pequenas, tanto dentro da escola como fora dela. Queremos compartilhar possibilidades, acreditando que outras experiências chegarão até nós. Esperamos que esta revista contribua para uma reflexão tão concreta quanto poética sobre a relação entre arte e práticas educativas. Centro Cultural Banco do Brasil BR GO IN C S A D EI R ÃO NTAÇ RIME EXPE JO J S O OG S LE X ÃO S GO R EF A DIÁLOGO EXPERIME NTAÇÃO ÃO EX CA IN BR D S IA ÇÃ S ÓR ST HI O RA EI Assim, refletindo sobre o processo de formação do indivíduo, faz sentido pensar a educação como algo não exclusivo do ambiente escolar. Estar no mundo é estar em processo potencialmente educativo. R FL Hélio Oiticica, artista brasileiro da década de 1960, muito interessado em quebrar muros não só de concreto mas também de ideias, escreveu: "O museu é o mundo". O que o inspirava era a favela, o movimento, a rua, os materiais simples que se encontram em lugares cotidianos. Seu trabalho é fundamentado nestas coisas e não é preciso entrar num museu para vivenciá-las. Ele as levava para lá por ser onde as pessoas davam mais atenção a elas. Dessa forma, encarava a arte como privilégio do mundo e não do museu. JO RE Há tempos a "educação para além dos muros escolares" tem sido pensada e estudada. Não se pode desconsiderar as diversas influências que afetam e constituem o processo de aprendizagem da criança. Elas vêm de todos os lados, entram por portas, janelas, buracos de fechadura, televisão, internet, propagandas, burburinhos. Sobre isso tudo fica a dúvida: Quem educa? A escola? A rua? A igreja? O shopping? O computador? O hospital? O parque ambiental? O museu? O centro cultural? S IM EN TA Sabemos que, por motivos diversos, não são todas as pessoas que aprendem dentro da escola. Um deles é pela simples impossibilidade de estar lá. Muita gente não frequenta escola nem nunca frequentou. Um relatório divulgado pela Unicef em 2009 divulgou o número de 680 mil crianças brasileiras fora da escola. Então, se não é na escola, onde será que elas aprendem? E mesmo as que estão matriculadas nas aulas regulares da escola também convivem em diferentes espaços sociais, interagindo e experimentando o mundo. A TÓREFLEXÃO S HIB GO S Qual é o lugar da educação? Podemos falar de espaços formais, não formais, mas instantaneamente a resposta mais comum para esta pergunta é: a escola. Quais são então as memórias que temos da escola? O que dela marcou a nossa vida? Certamente quem teve a oportunidade de cursar algumas séries do ensino formal escolar pode lembrar-se de algumas coisas com mais ou menos facilidade. Colegas de turma, professores, disciplinas, salas de aula, carteiras, provas, merenda... E sobre as coisas que se aprenderam na escola, de quais se lembra? EI R AS I R JO É O MUNDO D ÁL DI EX P ER ESCOLA IN CA O OG BRINCADEIRA OU COISA SÉRIA? “Os verdadeiros espaços do brincar são constituídos a partir da percepção de que devemos reconhecer a criança como sujeito e deixá-la se expressar livremente. Para recuperá-los, deveremos estimular uma nova transformação, principalmente daqueles espaços e instituições que buscam a homogeneização em nome da educação, e que a estabelecem por meio de regras, interdições e hierarquizações.” Américo Córdula – Secretário da SID/MinC 04 A concepção de brincadeira geralmente está relacionada a uma atividade pouco ou nada séria. Nossos dicionários definem a brincadeira como divertimento, passatempo, algo fácil ou, ainda, coisa de pouca importância. Em contraponto, acreditamos na brincadeira como uma atividade com conteúdos simbólicos que a criança usa para reconstruir e compreender a sociedade segundo uma lógica própria. Sendo assim, a brincadeira é coisa séria! É importante ressaltar que brincadeiras e jogos não se traduzem como fuga do imaginário e nem se configuram como ação efetiva que visa transformar o mundo. Mas por fazerem parte das atividades humanas, se constituem em um espaço específico situado entre a esfera do sonho e do mundo exterior e, assim, estabelece ações que acabam tecendo vínculos entre a subjetividade e a objetividade. A descoberta Surpresa, descoberta, segredo. Como essas palavras brincam entre si? A surpresa é a descoberta do segredo? O segredo é a surpresa da descoberta? A descoberta revela o segredo da surpresa? Quem é o marido da surpresa? É o segredo! (Pergunta e resposta formulada por João Pedro, de 4 anos) “Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas.” Saramago “Por que o fogo queima? Por que a lua é branca? Por que a terra roda? Por que deitar agora? Por que as cobras matam? Por que o vidro embaça? Por que você se pinta? Por que o tempo passa? Por que que a gente espirra? Por que as unhas crescem? Por que o sangue corre? Por que que a gente morre? Do que é feita a nuvem? Do que é feita a neve? Como é que se escreve Réveillon?” Oito anos (trecho) - composição de Paula Toller 05 COMPONDO 06 AÇÕES PARA CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS Da mesma maneira que um professor deve preparar e planejar suas aulas dentro de uma estrutura de educação formal, os educadores também desenvolvem suas ações dentro de uma estrutura de educação não formal. A matéria-prima, neste caso, é dada pela diversidade de linguagens artísticas apresentadas nas exposições em cartaz no CCBB. Cada conjunto de obras e de artistas acaba levantando questões interessantes e pertinentes ao universo das crianças de 3 a 6 anos. Neste diálogo entre a exposição e os profissionais que integram o grupo de pesquisa Pequenas Mãos, é que os conceitos e a forma das ações ganham estrutura, promovendo brincadeiras e descobertas em direção à construção do conhecimento. Fundamentos teóricos adequados estão presentes na pesquisa, e a premissa da arte como experiência significativa é a base do trabalho realizado por este grupo. 07 M. C. Escher Metamorfose II, 1939/40 Xilogravura, 19,2 x 389,5 cm Atividade - O sonho do quadrado Depois de observar a imagem dessa gravura pensando em sons para cada nova forma em transformação, cada criança escolhia três fragmentos presentes na obra para criar uma nova composição de metamorfose. Em seguida todos os resultados eram unidos em sequência e novamente observados e sonorizados. DIVERSIDADE CULTURAL A exposição Islã: arte e civilização – que aconteceu de outubro a dezembro de 2010 – possibilitou aos espectadores conhecer, através de uma grande variedade de peças, a cultura islâmica. Tradições, costumes, objetos cotidianos e religiosos, caligrafia, elementos de decoração e indumentária formavam o conjunto da mostra. Conhecer uma cultura diferente é entrar em contato com outras visões de mundo, que, embora pareçam distantes, também revelam semelhanças. Isto porque em essência as culturas têm em comum o elemento simbólico. A arte islâmica é repleta de referências da natureza e do uso de padrões geométricos, como se observa nos azulejos, mosaicos e tapetes. E a presença da escrita, que é sagrada, se encontra em diversos objetos do dia a dia, como pratos, jarros e ânforas, com mensagens de bênção e devoção. Instrumentos importantes da ciência e do conhecimento, os astrolábios, por exemplo, foram aperfeiçoados por árabes. Esta ampla gama de itens, fragmentos e vestígios de memória fazem parte da história de uma cultura que compõe o nosso mundo. 08 Com o objetivo de aproximar o diferente do semelhante foi criada a atividade “Dominó do Gênio”, onde o conceito principal trabalhado foi a diversidade cultural. Um jogo de dominó (de 36 peças) foi desenvolvido com imagens de objetos presentes na cultura islâmica e na ocidental que têm a mesma função, embora as formas sejam diferentes. A dinâmica do jogo consistia em encontrar as imagens correspondentes, por exemplo, a lâmpada com a lamparina, o pão francês com o pão árabe e a caneta esferográfica com o cálamo. Da mesma forma, no espaço expositivo foi estimulado, através de conversas, que as crianças observassem as peças e os símbolos e estabelecessem associações e identificações Cotidiano e cultura no processo de formação da criança A criança é um sujeito que observa e percebe o seu meio ambiente, assimilando constantemente os conceitos sociais e culturais que são dados à vivência do seu cotidiano. A tarefa do educador é mediar e auxiliar no desenvolvimento das observações e percepções, propiciando aos pequenos adquirir novos repertórios e fazer relações com suas próprias experiências. A fruição e a relação com obras de arte e peças históricas são importantes neste processo de significação e de descobertas que geram o conhecimento. ARTE E OLHAR CONTEMPORÂNEOS A produção artística a partir da década de 1960 é denominada Arte Contemporânea. A multiplicidade de conceitos e procedimentos adotados pelos artistas se desdobra em incontáveis possibilidades de leitura. Diferente das obras realizadas através de linguagens mais tradicionais como a pintura e a escultura, que solicitam um olhar mais contemplativo, as contemporâneas provocam este olhar do espectador, sugerindo novas associações ao pensamento. Por meio de aproximação e apropriação de outros universos que fazem parte da vida das pessoas, das coisas e assuntos do cotidiano, os trabalhos artísticos atuam de maneira relacional. 10 Este aspecto, desenvolvido e discutido vastamente desde a década de 1990 na arte, é um dos dados presentes no instante da fruição estética em exposições de artistas contemporâneos. Isto porque os conteúdos, discursos, suportes e materiais estabelecem espaços de interação – onde muitas vezes a ação do observador é parte constituinte da obra. Na exposição ONENESS de Mariko Mori – de maio a julho de 2011 – podemos vivenciar obras que transitam entre a escultura e a interação. A nave Wave Ufo é simultaneamente um objeto artístico escultórico, tridimiensional de enorme dimensão e relacional; ela interfere nos espaços onde é exposta, criando diálogos entre tempos e espaços distantes. Ao mesmo tempo o espectador pode entrar e ter uma experiência de introspecção através de conexões entre as ondas cerebrais e computadores. São várias camadas de leitura e fruição em uma só obra de arte. A artista lançou mão do uso de tecnologias atuais para dar forma ao seu interesse em propiciar uma experiência singular para o espectador. Wave UFO, 1999-2002 Interface Brainwave, cúpula de visão, projetor, sistema de computador, fibra de vidro, Technogel, acrílico, fibra de carbono, alumínio, magnésio 1134 x 528 x 493 cm Vista da instalação, Centro Cultural Banco do Brasil,RJ, Brasil Cortesia de PinchukArtCentre, Kyiv, Ucrânia Foto A.C. Junior Atividade - Corpo no espaço As crianças – que têm o olhar que associa, se apropria e ressignifica tudo a todo momento –, diante desta obra, estendem ainda mais as interpretações. O que é esta coisa enorme no meio do saguão do CCBB? A forma que ela tem lembra algo? Será que isto passou por outros lugares antes de chegar aqui? Perguntas como essas, a partir de Wave Ufo, são o começo desta atividade que priorizou a percepção das obras a partir de suas formas e do próprio corpo. Através de pranchas com imagens de lugares variados, como o deserto e o fundo do mar, as crianças experimentam novas ocupações da nave, feita com uma peça imantada. Os pequenos são instigados a construir uma pequena história para cada novo lugar, pensando na relação com cada espaço. Outras obras que fazem parte do roteiro são o vídeo Miko No Inori e a fotografia Empty Dream, em que a artista realiza ações com roupas e adereços diferentes, como se fosse uma personagem, interferindo no espaço com sua presença enigmática. A partir disto propõe-se aos pequenos que pintem seus rostos e se transformem em personagens para interagir com projeções e sons de ambientes como o parque e o campo. Assim, o diálogo e experimentação com a exposição se tornam carregados de sentido. A professora Ana Angélica Albano Moreira diz: “A inteireza, a certeza, a densidade do momento de criação estão presentes no adulto que cria e na criança que brinca. É visível a concentração, o corpo inteiro presente no ato de brincar de uma criança. É a sensação de estar inteiro no que está realizando o que une o artista à criança.” A fruição estética, as obras de arte e o olhar contemporâneos dialogam direta e profundamente com esta afirmação e com outra de Paulo Freire: “[...] que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo.” Atividade - Corpo no espaço 13 PATRIMÔNIO 14 MATERIAL E IMATERIAL - CONTANDO HISTÓRIAS A Galeria de Valores, exposição permanente do CCBB, contempla o acervo numismático do Banco do Brasil, e a proposta museográfica une informaçães e ludicidade. É fundamental levar em consideração os aspectos matemático e patrimonial em um acervo de moedas. Cada peça carrega em si um valor quantitativo e qualitativo de representatividade de um período. Da mesma maneira é importante entendermos que cada lugar no mundo tem características únicas, são territórios, povos e hábitos estabelecidos de forma singular. Tudo isto culmina em meios de trocas e valoração de elementos geradores dos conceitos de identidade e pertencimento. As cédulas e moedas trazem, além dos dados monetários, informações históricas e geográficas. Isto porque pertencem a épocas e lugares específicos. Os símbolos escolhidos para representar a identidade nacional são diversos; imperadores, reis e presidentes são figuras que aparecem muito, assim como artistas, escritores e cientistas. Riquezas da fauna e da flora também são utilizados; nas moedas e cédulas do Brasil podemos acompanhar a história e reconhecer todos os elementos importantes que marcam iconograficamente nossa identidade nacional. Desde objetos comuns como espelhos, frutos como o cacau, figuras importantes que perpassam por Pedro Álvares Cabral, D. João VI, D. Pedro I e II estão entre as unidades de valor como referência simbólica e imbuídos de representatividade. É interessante observar que algumas coisas inusitadas compõem a coleção exposta: barras de chocolate, conchas e moedas em forma de chave e barco, comprovando que o conceito de valor, antes de ser quantitativo, estava associado a valores naturais e factuais. Assim, cada componente nesta coleção é valiosa de maneira material e imaterial. São elementos que carregam memória, registros, fragmentos de algo muito maior. É possível puxar o fio de uma grande história a partir de qualquer uma delas. 15 Moedas D. Pedro II (1831 - 1889) Cédula Brasil Cecília Meireles, 100 CRUZADOS NOVOS, Banco do Brasil - Estampa A, 1989, papel-moeda Vitrine Escambo Reúne materiais curiosos que já foram, ou continuam sendo usados como dinheiro. MOITARÁ Há muitos e muitos anos não existiam supermercados, farmácias, padarias e nem loja de brinquedos. As pessoas plantavam e criavam animais para comer, faziam seus próprios remédios com plantas da natureza e também os seus próprios brinquedos. Há muitos e muitos anos não existia também o dinheiro. Não existia lugar para comprar. Então para que existir o dinheiro? Mas como será que as pessoas faziam? Não dava tempo para plantar todas as coisas (batata, cenoura, tomate, alface, abóbora, banana, laranja) e criar tantos animais (galinhas, porcos, bois, carneiros) e ainda fazer remédios, ferramentas e brinquedos. O que fazer então, se você só tinha batatas e precisava de leite? Ou se você só tinha brinquedo e precisava de remédio? Ah, as pessoas trocavam as coisas entre elas. Batata por leite, remédio por brinquedo, ovos por laranja e assim por diante; assim todos tinham o que precisavam. Os índios também faziam assim; aliás, eles fazem até hoje numa festa conhecida como Moitará. Vocês querem conhecer o Moitará? Moitará Ritual de trocas que acontece no Alto Xingu, entre famílias da mesma tribo ou entre tribos de aldeias diferentes. Os elementos utilizados para contar a história foram feitos especialmente. É um tapete onde há a ambientação das aldeias, o rio e as árvores. Bonecos dos curumins e alguns objetos manufaturados também foram elaborados para enriquecer visualmente o conto. É noite escura na aldeia. Todos os índios dormem. Lá longe a coruja pia, a água do riacho corre não muito distante, as folhas das árvores balançam com o vento. É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Irerê, um menino, ou melhor, um curumim. Irerê está com os olhos abertos. Não consegue dormir pensando no Moitará, a grande festa de troca que vai acontecer no dia seguinte. Irerê levanta da sua rede e caminha para fora de sua maloca – a casa de seus avós, de seus pais, de seus irmãos. Caminha sem fazer barulho para não acordar ninguém. O ar frio toca seu corpo e o faz estremecer. Irerê olha para o céu azul escuro, olha para a lua branca e pensa no Moitará, em todas as coisas que ele vai trocar no dia seguinte. Em outra aldeia, não muito longe dali, todos os índios também dormem. A coruja pia bem perto, a água do riacho corre não muito longe, as folhas das árvores balançam com o vento. É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Iara, um menina, ou melhor, uma curumim. Iara também está com os olhos abertos e, assim como Irerê, também não consegue dormir. E por quê? Porque Iara também pensa no Moitará. Mal pode esperar a hora de ir para a grande festa de troca que vai acontecer no dia seguinte. Então Iara levanta da sua rede e caminha para fora de sua maloca – a casa de seus avós, de seus pais, de seus irmãos. Caminha sem fazer barulho para não acordar ninguém. O ar frio que tocou Irerê também toca o corpo de Iara e a faz estremecer. Iara olha para o mesmo céu azul escuro, para a mesma lua branca e pensa no Moitará, em todas as coisas que ela vai trocar no dia seguinte. Mas, pobres curumins, perderam a hora. Acordam apressados, lavam o rosto a água do riacho, pegam suas coisas e correm para a festa. O dia que chega é um presente e uma festa da vida. O calor do amigo Sol esquenta o corpo e o coração. No meio da festa, no meio de tanta gente, Irerê encontra Iara, Iara encontra Irerê. Irerê troca mandioca pelo guaraná. Iara troca a peteca pelo arco e flecha. Irerê troca sua canoa pela bela pena de Iara. E Iara troca seu maracujá pelo peixe bom. Os dois ficam muito felizes com suas trocas e voltam para as suas aldeias com as suas novas coisas. Mas Irerê e Iara trocaram algo mais naquele dia. Algo que eles ainda não sabem o que é ao certo. Só após muitas luas e sóis os dois saberão quando trocarem os seus corações. Na atividade elaborada após esta contação de história, que traz aspectos da identidade brasileira através dos elementos e povos, os grupos criam um percurso para o dinheiro utilizando pequenos brinquedos de formas variadas, diferentes simbologias, os quais vão trocando e demarcando com uma linha o caminho traçado. A atenção e o afeto estabelecidos durante o conto são essenciais. Na exposição as crianças são levadas às vitrines para conhecer as moedas e são estimuladas a observar e perceber as diferentes configurações, símbolos, tamanhos etc., relembrando as trocas que aconteceram na história Moitará. Atividade - O passeio das formas geométricas Placa imantada com peças avulsas para composição da imagem. ARTE MODERNA – FIGURAÇÃO E ABSTRAÇÃO A exposição Virada Russa – que aconteceu de junho a agosto de 2009 – trouxe obras de artistas importantes do início do século XX em um contexto de transformações muito significativas no cenário artístico e político da Rússia e que influenciou tantos outros artistas pelo mundo, inclusive no Brasil. Movimentos de vanguarda surgiram com novos pensamentos sobre os modos de se fazer arte: o Suprematismo, inaugurado por Kasimir Maliévitch entre 1913 e 1915, que pensava a pintura simbolizando uma realidade suprema e materializando os sentimentos do homem, e o Construtivismo, desenvolvido por Tatlin no mesmo período, defendendo que os objetos artísticos deveriam ser criados com a mesma lógica e materiais utilizados na arquitetura e indústria. Ambos através de suas intensas pesquisas e inventividades transformaram o campo da arte. Outro artista igualmente importante para a História da Arte Moderna é Marc Chagall, considerado um pintor de grande narratividade, característica presente do povo judaico. Os cantos, contos e danças sempre estiveram presentes na memória de Chagall e em suas pinturas. Outras influências absorvidas por ele são de movimentos como o Cubismo e as formas e volumes geométricos e o Fauvismo de cores intensas e áreas justapostas. Tanto o abstracionismo como a figuração estão intensamente explorados no conjunto desta exposição, e foi a partir deste aspecto que a atividade se estruturou. A observação do quadro “Passeio” de Chagall e o diálogo com as crianças acontecia no sentido de identificar e reconhecer personagens, elementos e situações e imaginar uma narrativa. O estímulo à criação por meio de perguntas e da percepção delas fez surgir interessantes histórias figurativas. Logo em seguida o artista a ser conhecido era Maliévitch com a Trilogia Suprematista, onde os pequenos reconheciam as formas geométricas sozinhas e de uma só cor nos quadros. Em seguida eram levados a ver outros quadros em que muitas formas geométricas de vários formatos apareciam juntas e sobrepostas. Um jogo foi construído para mostrar como uma forma pode nascer de outra – o quadrado virando círculo e depois cruz. A ação prática realizada entre o grupo consistia em criar uma composição coletiva com fragmentos das obras, estabelecendo uma relação com tudo o que foi visto e conversado. MARC CHAGALL Passeio, 1917 Óleo sobre tela, 170 x 163,5 cm. Legado em 1924 ao fundo do Museu Estatal. KAZIMIR MALIÉVITCH Quadrado Negro, c. 1923 Legado em 1936 de herdeiros do artista, Leningrado. Passado ao Ministério da Cultura da União Soviética em 1977 KAZIMIR MALIÉVITCH Suprematismo, 1915-1916. Óleo sobre tela, 80,5 x 81 cm. Legado em 1929 da Galeria Estatal de Tretiakov, Moscou. Bibliografia: CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins, 2005. DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. FERRAZ e FUSARI. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Ed. Cortez, 1993. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: A educação do educador. São Paulo: Ed. Loyola, 1997. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Ed. Cortez, 2007. OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Universidade do Texas. Ed. Rocco, 1986. http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/07/Livro-OficinaBrincando-na-Diversidade-Cultura-na-Infancia.pdf acessado em 10/06/2011 REVISTA Ministério da Cultura Cristiane Leal dos Santos Alexandre Diniz Capa Atividade - Corpo no espaço ASSESSORIA EM ARTE EDUCAÇÃO Janis Clémen Karine Luiz Sandra Valverde Ana Beatriz Dominguez Ana Luiza Faro Angélica Liaño Bianca Assis Gabriel Sant´Anna João Henrique Soares José Carlos Marins Marcelo Augustinho Mariana Barros Polyana Lourenço Vagner Cerqueira REDAÇÃO Ana Beatriz Dominguez Gisele Calamara Marcelo Augustinho Polyana Lourenço Wallace Berto Janis Clémen FOTOS DAS ATIVIDADES Daniela Chindler Grupo de Pesquisa Pequenas Mãos PROJETO GRÁFICO André Ferreira Lima Adassa Martins Alessandra Biá Anderson Barreto Camila Alves Carol Suzano David Alfredo Felipe Capello Fernando Codeço Gisele Calamara Leonardo França Luis Felipe Perinei Marília Gurgel Paloma Goulart Raísa Curty Renata Sampaio Wallace Berto Ministério da Cultura Rua Primeiro de Março, 66 Centro RJ - CEP: 20.010-000 - CCBB Educativo - 1º Andar - Informações e agendamentos: (21) 3808-2070 / 3808-2254 D e s e g u n d a a s e x t a d a s 1 0 h à s 1 8 h - b b . c o m . b r / c u l t u r a - w w w. t w i t t e r. c o m / c c b b _ r j - f a c e b o o k . c o m / c c b b . r j S e r v i ç o d e t r a n s p o r t e g r a t u i t o para escolas públicas e ONGs - SAC 0800 729 0722 - Ouvidoria BB 0800 729 5678 - Deficiente auditivo ou de fala 0800 729 0088