sobre o possível agravamento da frequência e severidade das
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sobre o possível agravamento da frequência e severidade das
USABILIDADE DE PREVISÕES SAZONAIS DE ENSEMBLE DA TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO NA MODELAÇÃO DA REGA E DA PRODUÇÃO. APLICAÇÃO A CEVADA E MILHO Paula Paredes1, Andreia F. S. Ribeiro2, Carlos A.L. Pires2, Luis S. Pereira1 Resumo A tomada de decisão, em agricultura de regadio, tem de ser antecipadamente planeada. Esta tomada de decisão tem de considerar a grande variabilidade climática existente nas condições atmosféricas mediterrâneas assim como o impacto da gestão da rega na produção e no rendimento do agricultor. A utilização de dados de previsão meteorológica pode auxiliar neste processo decisório. No presente estudo foram utilizadas, com o modelo AquaCrop, previsões diárias de temperatura máxima e mínima e precipitação produzidas pelo Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo (ECMWF), com prazos de previsão a 3 meses e a 7 meses. As produções de milho e cevada simuladas pelo AquaCrop utilizando os dados de previsão foram comparadas com as produções observadas em campos de agricultores. Os resultados sugerem que a utilização de dados de previsão permitem efetivamente apoiar o agricultor na tomada de decisões. Abstract Decision-making in irrigated agriculture has to be plan ahead for the upcoming agricultural season. The decision-making has to take into consideration the high climatic year-to-year variability in the Mediterranean as well as the irrigation management impacts on yield and farm economic returns. In such a challenging environment, the use of weather forecasts may support improved decision-making results in higher efficiency in water use and reducing risk taking. In the present study daily 3 and 7-month weather forecasts of maximum and minimum temperature and precipitation from the European Centre for Medium-range Weather Forecasting (ECMWF) were used with the AquaCrop model. Malt barley and maize yields observed at farmers’ field and those computed with AquaCrop using forescast data were compared. Results show that weather forescast may effectively support farmers in the decision-making process. 1 LEAF, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, Lisboa, Portugal. Emails: [email protected]; [email protected] 2 Instituto Dom Luiz (Laboratório Associado), DEGGE, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Email: [email protected] Predictabilidade Sazonal de Secas 1. Introdução A produção agrícola em regadio depende, entre outros factores, das condições climáticas e da gestão da rega pelo que o uso de dados de previsão meteorológica pode contribuir para a melhoria da gestão agrícola, nomeadamente em termos do uso da água e da calendarização da rega, e.g., Lorite et al. (2015) usando previsões de curto prazo, e para a redução do risco na tomada de decisão (Troccoli et al., 2005; Choi et al., 2015). A utilização de previsões climáticas sazonais com modelos de produção no apoio à decisão tem sido objeto de vários estudos nas últimas décadas. No entanto, a maioria desses estudos focam a utilização e validação das previsões ao nível nacional ou regional pelo que os agricultores tendem a beneficiar pouco da informação produzida (Semenov e Doblas-Reyes, 2007; Baigorria et al., 2008). Um obstáculo à generalização da utilização das previsões meteorológicas é que estas são comumente disponibilizadas com escala temporal (mensal) e espacial (regional) diferente da utilizada pelos modelos de produção, os quais necessitam de dados climáticos diários e funcionam à escala da parcela. Assim, para minorar esta dificuldade surgiram ao nível Europeu projetos tais como o DEMETER (Cantelaube e Terres, 2005; Frías et al., 2010), EUROSIP (Vitart et al., 2007), ou ENSEMBLES (Doblas-Reyes et al. 2010) que disponibilizam previsões ensemble diárias (i.e. produzidas a partir de um conjunto de condições iniciais perturbadas) resultantes da corrida de modelos físicos por um período longo de vários meses ou anos. O projeto DEMETER disponibiliza dados de hindcasts (dados de retroprevisão) a partir do modelo meteorológico global operacional do ECMWF (European Centre for Medium-range Weather Forecasting). Outras fontes de dados de previsão incluem a Agência Metereológica Espanhola (AEMET, Gavilán et al., 2015), o International Research Institute for Climate and Society (IRI, Apipattanavis et al., 2010), o Florida State University/Center for OceanAtmospheric Prediction Studies (FSU/COAPS, Baigorria et al., 2008), o MARS Crop Yield Forecasting System (MCYFS, Balkovic et al., 2013; Bussay et al., 2015) do Joint Research Centre (JRC), ou o Canadian Crop Yield Forecaster (ICCYF, Chipanshi et al., 2015). Os dados climáticos de previsão geralmente incluem as variáveis temperatura máxima (Tmax) mínima (Tmin) e precipitação (Pre) e em alguns casos, são disponibilizadas adicionalmente dados de previsão de radiação solar (Baigorria et al., 2008). A utilização de previsões meteorológicas em modelos de produção localmente adaptados e testados permite explorar distintas alternativas de gestão, como datas de sementeira, calendarização da rega, fertilizações ou data de colheita, numa grande gama de condições climáticas. No entanto, às distintas alternativas de gestão estão associados riscos que se refletem no rendimento da exploração agrícola (Apipattanavis et al., 2010; Choi et al., 2015). Os modelos de produção mais utilizados no apoio à gestão e decisão com dados de hindcast são o modelo CERES incluído no DSSAT (Baigorria et al., 2008; Apipattanavis et al., 2010; d’Orgeval et al., 2010), STICS (Dumont et al., 2015), EPIC (Balkovic et al., 2013), WOFOST (Cantelaube e Terres, 2005; Marletto et al, 2007; Bussay et al., 2015) e o AquaCrop (Zinyengere et al., 2011). Porém, estes estudos usam uma validação dos dados de Previsões climáticas para apoio à decisão previsão em muitos casos feita utilizando dados de produção provenientes de anuários estatísticos (Bussay et al., 2015; Chipanshi et al., 2015; Gouache et al., 2015) ou do EUROSTAT (Cantelaube e Terres, 2005; Balkovic et al., 2013; Bussay et al., 2015). Muitos estudos compararam a utilização de dados de previsão em alternativa aos observados na predição da produção sem, porém, compararem com produções observadas (e.g. Marletto et al., 2007; Baigorria et al., 2008; d’Orgeval et al., 2010). Alguns autores descreveram alternativas simplificadas à utilização de previsões climáticas provenientes de modelos globais ou regionais, como seja utilizando médias dos valores diários de séries de dados climáticos observados usando um gerador estocástico de clima que deram origem a bons resultados de predição da produção (Dumont et al. 2015; Gouache et al. 2015). No presente estudo selecionou-se o modelo AquaCrop para teste de previsões meteorológicas dado que este foi adequadamente calibrado e validado para as culturas de cevada (Pereira et al., 2015) e de milho (Paredes et al., 2014). A informação assim obtida permite ultrapassar as limitações apontadas acima para outros estudos. Assim, os objetivos do presente estudo são: 1) validar diretamente a utilização de previsões meteorológicas de ensemble com prazos de 7 meses e de 3 meses antes do final do período de cultura para as variáveis Tmax e Tmin, usadas no cálculo da evapotranspiração de referência, e da precipitação (Pre) acumulada para os ciclos das culturas de cevada e milho comparando os ensembles previstos de ETo e precipitação com os dados observados; 2) validar indiretamente as previsões de ensemble da evapotranspiração de referência (ETo) calculada apenas com dados previstos de Tmax e Tmin, e de precipitação, comparando os resultados do modelo AquaCrop em termos de transpiração real, de evaporação do solo e de produção de biomassa e grão com as observações de campo. 2. Material e métodos 2.1. Estudos de campo em cevada e milho Durante os anos de 2010 a 2013 foram efetuados estudos nos campos da Quinta da Lagoalva de Cima, em Alpiarça. Foram acompanhadas duas campanhas de cevada dística para malte, e três campanhas de milho. A informação apresentada abaixo foi descrita com maior detalhe em Paredes et al. (2015). O clima da região é tipicamente Mediterrânico, com invernos chuvosos e verões quentes e secos. A precipitação média anual é de 689 mm ocorrendo aproximadamente 73% de Outubro a Abril. Os dados climáticos utilizados no presente estudo foram coletados numa estação automática localizada na Quinta (39.16o N, 8.33oW e 24 m de elevação). A caracterização climática de cada ciclo cultural estudado é apresentada na Fig. 1 relativamente à precipitação e evapotranspiração de referencia (ETo), esta última calculada pela equação FAO-PM (Allen et al., 1998; Pereira, 2004). A cevada dística para malte (Hordeum vulgare L. var. Publican) foi estudada nos anos de 2012 e 2013, a primeira em ano de seca e a segunda em ano chuvoso (Fig.1d e e), extremamente contrastantes. Em ambos os anos a parcela monitorizada (parcela 1) tinha cerca de 30 ha. A cevada foi semeada com uma densidade de 200 kg ha-1 e um espaçamento entrelinhas de 0.15 m. 60 60 50 50 Precipitação e ETo (mm) 40 30 20 10 40 30 20 10 02/09 16/09 30/09 04/05 18/05 28/10 19/08 20/04 14/10 05/08 06/04 22/07 23/03 08/07 24/06 10/06 27/05 13/05 01/04 05/08 28/10 22/07 05/08 14/10 08/07 22/07 30/09 24/06 08/07 16/09 10/06 24/06 02/09 27/05 10/06 19/08 13/05 27/05 29/04 13/05 15/04 01/04 a) 29/04 0 0 15/04 Precipitação e ETo (mm) Predictabilidade Sazonal de Secas b) 60 Precipitação e ETo (mm) 50 40 30 20 10 14/10 28/10 30/09 16/09 02/09 19/08 29/04 01/04 c) 60 60 50 50 Precipitação e ETo (mm) 40 30 20 10 0 40 30 20 10 29/06 15/06 01/06 09/03 23/02 09/02 26/01 12/01 d) 29/12 01/12 18/06 04/06 21/05 07/05 23/04 09/04 26/03 12/03 27/02 13/02 30/01 16/01 0 15/12 Precipitação e ETo (mm) 15/04 0 e) Fig. 1. Precipitação (▐ ) e evapotranspiração de referência (ETo) (▐ ) diárias para as campanhas do milho (a) 2010 (b), 2011 e (c) 2012, e da cevada (d) 2012 e (e) 2013. Os solos são de textura franco-arenosa na parcela 1 e 2 e limo-argilosa na parcela 3. As características hidráulicas dos solos das distintas parcelas utilizadas na modelação deste estudo são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Propriedades dos solos das parcelas de Alpiarça usadas em cevada (parcela 1) e milho (parcelas 1, 2 e 3) (adaptado de Paredes et al., 2014). Camada (m) θFC (m3 m-3) Parcela1 2 0.00-0.10 0.32 0.25 0.10-0.20 0.25 0.17 0.20-0.40 0.22 0.17 0.40-0.60 0.22 0.26 0.60-0.80 0.22 0.16 0.80-1.00 0.17 0.32 3 0.35 0.36 0.36 0.37 0.36 0.37 θWP (m3 m-3) 1 2 0.08 0.08 0.06 0.05 0.06 0.04 0.04 0.09 0.05 0.04 0.04 0.14 3 0.22 0.24 0.20 0.12 0.10 0.12 θsat (m3 m-3) 1 2 0.48 0.56 0.35 0.39 0.33 0.36 0.34 0.32 0.34 0.36 0.24 0.39 3 0.45 0.41 0.42 0.43 0.43 0.45 Ksat (cm d-1) 1 2 442 891 129 157 93 117 87 40 93 86 92 66 3 71 46 50 59 61 77 θFC conteúdo de água do solo à capacidade de campo; θWP conteúdo de água do solo ao coeficiente de emurchecimento; θsat conteúdo de água do solo à saturação; Ksat condutividade hidráulica saturada Previsões climáticas para apoio à decisão Os estudos relativos ao milho (Zea mays L. var. PR33Y74) efetuaram-se nos anos de 2010 a 2012. A campanha de 2010 foi a mais seca e a de 2011 a mais húmida (Fig. 1a - c). Durante as campanhas de rega de 2010 e 2012 foram monitorizadas duas parcelas desde a sementeira até à colheita, respetivamente as parcelas 1 e 2 e as parcelas 2 e 3; em 2011 apenas foi monitorizada a parcela 1. Todas as parcelas monitorizadas tinham uma área aproximada de 30 ha cada. As parcelas foram semeadas por sementeira direta com uma densidade aproximada de 82000 plantas por hectare. As observações/medições de campo utilizadas neste estudo incluíram: a) as datas de início de cada fase de desenvolvimento da cultura (Tabela 2); b) o índice de área foliar (LAI, cm2 cm-2); c) a profundidade radicular; d) a monitorização do conteúdo de água no solo (θ) até à profundidade radicular tendo os valores sido convertidos em água disponível no solo (ASW = 1000 (θ – θWP) Zr, mm); e e) amostragens da produção final sendo determinadas a quantidade de biomassa e de grão produzidos. Tabela 2. Datas e acumulação térmica (AGDD) para os períodos de desenvolvimento da cevada e milho, Alpiarça (adaptado de Paredes et al., 2014 e Pereira et al., 2015). Cultura Ano/Parcela Cevada 2012 2 2013 2 Milho 2010 1 e 2 2011 1 2012 2 3 Sementeira Data AGDD Data AGDD Data AGDD Data AGDD Data AGDD Data CGDD 16/01/2012 210 06/12/2012 302 25/05/2010 310 20/04/2011 297 16/04/2012 252 30/05/2012 257 Início do período de crescimento rápido 07/02 896 04/01 984 26/06 684 18/05 716 09/05 687 16/06 680 Início do período intermédio Início do período Colheita final 03/04 1552 10/03 1671 18/07 1448 29/06 1490 25/06 1457 17/07 1416 20/05 2315 29/04 2331 03/09 1810 18/08 1955 21/08 1902 13/09 1785 26/06 06/06 13/10 20/09 20/09 12/10 Todas as parcelas foram regadas por aspersão, sendo as parcelas 1 e 2 regadas por um sistema de rampa pivotante e a parcela 3 por uma rampa de deslocação linear. Os calendários de rega aplicados foram decididos pelo agricultor. Os calendários de rega e informação mais detalhada dos estudos são apresentados em Paredes et al. (2015). Na validação do modelo AquaCrop consideraram-se adicionalmente estudos de campo realizados da Estação Experimental António Teixeira em Coruche. Os ensaios realizados visaram a avaliação dos impactos na produção de milho de diferentes níveis de défice hídrico em distintas fases do ciclo cultural. O clima deste local é semelhante ao de Alpiarça. Nos ensaios utilizou-se a variedade LG18 (FAO 300) e uma densidade de sementeira de 90000 plantas ha-1 (Alves et al., 1991). O solo no campo experimental era areno-limoso com capacidade de campo θFC = 0.22 (m3 m-3), coeficiente de emurchecimento θWP = 0.075 (m3 m-3), conteúdo volumétrico Predictabilidade Sazonal de Secas à saturação θsat = 0.37 (m3 m-3) e condutividade hidráulica saturada Ksat = 445 cm d-1 (Alves et al., 1991). As observações efetuadas no campo experimental de Coruche e utilizadas no AquaCrop incluíram: a) datas dos períodos de desenvolvimento; b) os índices de área foliar; c) calendários de rega e dotações aplicadas; d) conteúdo de água do solo medido até 1.2 m; e e) produção final de biomassa e de grão. Uma descrição mais detalhada destes estudos é feita por Paredes et al. (2015). 2.2. Modelação da produção O modelo Aquacrop (Steduto et al., 2012; Raes et al., 2012) é um modelo de produção composto por quatro submodelos: 1) o de balanço hídrico do solo; 2) o de desenvolvimento da cultura e produção; 3) o de clima, que combina a procura climática (evapotranspiração de referência) e a precipitação considerando a concentração de CO2; e 4) o de gestão da cultura, onde se inclui a rega, a fertilização e o controlo da salinidade (Raes et al., 2012). Os dados de entrada do modelo incluem (Raes et al., 2012): 1) Dados climáticos diários relativos a Tmax (oC), Tmin (oC) e precipitação (mm), evapotranspiração de referência (ЕТo, mm) e dados referentes à concentração atmosférica anual de CO2; 2) Características da cultura, incluindo: i) data da emergência, data da máxima cobertura, data em que a profundidade máxima das raízes é atingida, data do início da senescência, em que a maturação é obtida, datas do início e fim da floração; datas relativas ao desenvolvimento do coberto; ii) coeficiente de transpiração para uma cobertura de 100% do solo pela cultura (KcTr,x); iii) profundidade mínima e máxima das raízes (Zr, m) e fator de expansão das raízes; iv) parâmetros da curva de desenvolvimento da cobertura, incluindo a cobertura do solo pelo copado inicial e máxima (respetivamente CCo, CCx), coeficiente de desenvolvimento do coberto (CGC) e coeficiente de declínio do coberto (CDC); v) “produtividade da água” normalizada; vi) índice de colheita de referência; vii) coeficientes de stresse relativos à expansão do copado, fecho estomático, senescência antecipada do copado e stresse anaeróbio devido ao encharcamento do solo; 3) Características do solo, em que para cada camada se definem a sua espessura (m), os teores de humidade do solo à capacidade de campo (FC, m3 m-3), no coeficiente de emurchecimento (WP, m3 m-3 à saturação (sat, m3 m-3), e a condutividade hidráulica saturada (Ksat, mm). A camada superficial que produz evaporação é caracterizada pela água facilmente evaporável (REW, mm). No Previsões climáticas para apoio à decisão cálculo do escoamento superficial é utilizado o método Curve Number (CN). A percolação profunda é calculada com um algoritmo descrito em Raes et al. (2006) que utiliza os valores do Ksat, sat e FC; 4) Dados do calendário de rega, que pode ser observado ou estimado. No primeiro caso é necessária informação sobre datas e dotações dos eventos de rega e no segundo são definidos pelo utilizador limiares de rega e dotações, podendo ainda ser definida a frequência de regas; 5) Práticas de gestão ao nível da parcela incluindo informação sobre salinidade do solo e/ou água, nível de fertilidade do solo, existência de mulches e práticas que reduzam o escoamento superficial. O modelo AquaCrop utiliza a curva de cobertura do solo pelo copado (CC) para a partição da ET nas suas componentes de evaporação do solo e transpiração da cultura. Os parâmetros desta curva, CCo, CCx, CGC e CDC devem ser calibrados de acordo com observações; caso contrário há que usar parâmetros tabelados por Raes et al. (2012). O cálculo da curva CC é realizada em três fases como mostrado por Paredes et al. (2014) e Pereira et al. (2015) respectivamente para milho e cevada. De modo a parametrizar a curva para uma determinada cultura podem obter-se os valores de CC usando uma função exponencial com dados observados de índice de área foliar (LAI, m2 m-2) tal como: CC = [1 − exp(−α LAI)] (1) A parametrização desta equação foca o coeficiente de extinção, α, que é um indicador do ensombramento do solo pela cultura (Jeuffroy e Ney, 1997). No presente estudo, para a cevada, utilizou-se a Eq. 1 com α = 0.50. Para o caso do milho utilizou-se a equação proposta por Hsiao et al. (2009): CC = 1.005 [1 − exp(−0.6 LAI)]1.2 (2) O modelo usa um passo de tempo diário para estimar a evapotranspiração potencial das culturas (ETc, mm), i.e., na ausência de stresse, e usa uma aproximação semi-empírica para fazer a sua partição nas componentes de transpiração da cultura (Tc, mm) e evaporação do solo (Es, mm). Ambas as componentes são dependentes da cobertura real da cultura (CC*, %). Assim, a Tc é calculada (Raes et al., 2012) pelo produto Tc = CC* KcTr,x ETo (3) onde ETo é a evapotranspiração de referência (mm), KcTr,x é o coeficiente de transpiração da cultura para uma cobertura de 100% (adimensional), e CC* é a cobertura real da cultura (%) ajustada aos efeitos de micro-advecção. A transpiração real (ou ajustada) (T c act, mm) é obtida ajustando Tc às condições de stresse hídrico usando para tal o coeficiente de stresse Ks [0-1], i.e., Tc act = Ks Tc. Ks descreve os efeitos do stresse hídrico em vários processos relativos ao crescimento das culturas (Raes et al., 2012). O KcTr,x é ajustado pelo modelo tomando em consideração os efeitos do desenvolvimento e da senescência. A evaporação do solo é estimada como Es = Kr (1 - CC*) Kex ETo (4) Predictabilidade Sazonal de Secas onde Kex é o coeficiente (máximo) de evaporação do solo (adimensional) e Kr é o coeficiente de redução da evaporação [0-1], com Kr < 1 quando não existe água disponível na camada superficial suficiente para responder à procura climática da atmosfera. Kex é ajustado pelo modelo quando há emurchecimento das plantas, na presença de mulches e no caso de rega que humedece parcialmente o solo. A biomassa seca (B, t ha-1), é estimada (Raes et al., 2012) por B = Ksb BWP* ∑ 𝑇𝑐 𝑎𝑐𝑡 𝐸𝑇𝑜 (5) onde BWP* (g m−2) é a “produtividade da água normalizada” para a concentração de CO2 na atmosfera representando a quantidade de biomassa produzida por unidade de área, e Ksb é o coeficiente de stresse relativo à temperatura. A produção (Y, t ha-1), por sua vez, é estimada a partir de B utilizando uma aproximação semiempírica: Y = fHI HIo B (6) onde HIo é o índice de colheita de referência, que representa a proporção da biomassa que é colhida na ausência de qualquer tipo de stresse, e fHI é o fator de ajustamento do índice de colheita, o qual integra vários fatores de stress hídrico. 2.3. Calibração e validação do modelo de produção O modelo AquaCrop utiliza um grande número de parâmetros incluindo alguns que se espera modificarem-se pouco com a gestão da cultura ou com o local, sendo por isso denominados conservativos, encontram-se tabelados por Raes et al. (2012). Assim, foram utilizados esses valores para inicializar as simulações de calibração em conjunto com os referidos por Abi Saab et al. (2015) para a cevada e por Hsiao et al. (2009) para o milho. A parametrização do modelo focou primeiro os parâmetros que descrevem a curva de cobertura do solo pelo copado (CC) (Eqs. 1 e 2) dada a sua importância na partição da ET em T e Es (Eqs. 3 e 4). Assim, o procedimento de tentativa e erro focou primeiro o ajuste dos parâmetros CCx, CGC e CDC que descrevem a curva de CC. De seguida o procedimento focou o ajustamento do valor de Kc Tr, x comparando os valores observados de ASW com os simulados. Os valores de REW e CN utilizados foram os anteriormente calibrados quando se usou o modelo SIMDualKc (Paredes et al., 2014, 2015 e Pereira et al., 2015). Os procedimentos de tentativa e erro estão descritos em detalhe por Pereira et al. (2015). Para avaliar a precisão do modelo AquaCrop na predição dos valores observados de CC, de ASW, da biomassa e da produção de grão foram utilizadas estratégias qualitativas e indicadores estatísticos. Assim, para cada corrida do modelo durante a calibração, efetuou-se a representação gráfica dos valores simulados e observados ao longo do ciclo das culturas de modo a ter uma boa perceção das tendências e/ou enviesamentos da modelação. Como discutido por Pereira et al. (2015), a avaliação do ajustamento do modelo foi feita usando um conjunto de indicadores: 1) o coeficiente de regressão (b0) da regressão linear forçada à origem (Eisenhauer, 2003) entre os valores simulados (Pi) e observados (Oi), onde um valor de b0 Previsões climáticas para apoio à decisão próximo de 1.0 significa que os valores simulados pelo modelo estão estatisticamente próximos dos observados; 2) o coeficiente de determinação (R2) da regressão por mínimos quadrados ordinários entre os valores Pi e Oi; um valor de R2 = 1.0 significa que a maior parte da variância dos valores observados é explicada pelo modelo; 3) a raiz do erro médio quadrático (RMSE), 4) a raiz do erro médio quadrático normalizada com a média das observações (NRMSE) 5) a eficiência da modelação (EF, Nash e Sutcliff, 1970) que toma valores próximos de 1.0 quando o erro médio quadrático (MSE = RMSE2) é muito pequeno relativamente à variância das observações. Estes indicadores estatísticos estão descritos em detalhe por Martins et al. (2015). Quando o número de observações era pequeno utilizou-se a diferença entre os valores observados (Oi) e simulados (Pi) expressa em termos absolutos bem como a diferença normalizada relativamente à média dos Oi, neste caso expressa em termos percentuais; a diferença normalizada ideal e de 0%, considerando-se muito bons os valores < 10%. 2.4. Previsões diárias à escala sazonal de variáveis meteorológicas e sua avaliação O Sistema IV do Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo (ECMWF) é a versão corrente (desde 2011) do Modelo Atmosférico-oceânico de Circulação Geral (GCM) do ECMWF, o qual fornece previsões sazonais operacionais (Jung et al., 2010; Molteni et al., 2011). A descrição deste sistema consta de Andersson (2013) disponível em http://www.ecmwf.int/en/forecasts/documentation-andsupport/long-range/seasonal-forecast-documentation/user-guide/seasonalforecasting-system. A previsão meteorológica sazonal é, contrariamente, à previsão quase determinista de curto-prazo, até cerca de 10 dias, de natureza probabilística. A previsão de longo prazo apresenta uma grande sensibilidade aos erros dos campos das análises (obtidas por assimilação de dados), usadas como condições iniciais dos modelos e, por isso, só tem sentido executar as chamadas previsões ensemble em que são criadas condições iniciais de forma otimizada dentro da elipsoide de erro das ditas análises (Andersson, 2013). Dessas previsões de ensemble extraiem-se probabilidades de ocorrências e estatísticas. Neste sentido, a previsão sazonal apresenta-se como uma tentativa de fornecer prognósticos probabilísticos sobre o estado do sistema climático nos meses seguintes aos da inicialização das previsões. O Ensemble Forecasting System IV (EFS) do ECMWF produz corridas do modelo meteorológico por um período previsto de 7 meses, sendo lançadas todos os dia 1 de cada mês. Essas previsões estão disponíveis desde 1981 até à atualidade. As retro-previsões (hindcast) anteriores a 2011 tem uma logística idêntica à das previsões em tempo real excepto no facto de que o tamanho do ensemble é de 15 membros em vez de 51 membros, tal como usado no Sistema IV, permitindo uma Predictabilidade Sazonal de Secas melhor estimação das probabilidades. Em comparação, o anterior Sistema III do ECMWF apresentava um número inferior de membros ensemble: 11 e 41 membros de re-previsão e previsão, respectivamente. As condições iniciais atmosféricas do Sistema IV provêm do estado-da-arte das reanálises do ECMWF (ERA-Interim). Alguns detalhes sobre o Sistema IV ECMWF podem ser consultados em Molteni et al. (2011) e http://www.ecmwf.int/en/forecasts/documentation-andsupport/long-range/seasonal-forecast-documentation/user-guide/seasonalforecasting-system. Neste trabalho foram utilizadas previsões diárias de temperatura máxima (Tmax), temperatura mínima (Tmin) e precipitação (Pre), produzidas pelo Sistema IV do ECMWF. São considerados dois cenários diferentes de lançamento de previsão: (1) lançamento da previsão, com alcance de 7 meses, no dia 1 do mês de sementeira da cultura a modelar; (2) lançamento da previsão, com um alcance de 3 meses, no dia 1 de Agosto, no caso do milho, e a 1 de Abril, no caso da cevada. Neste caso as previsões são mais recentes. Como o modelo de produção requer dados completos para cada ano, utilizaram-se os valores da climatologia de Santarém para completar as séries de dados diários, mas que de qualquer modo não são usados pelo modelo de produção. No caso das previsões de 3 meses o período anterior à previsão foi preenchido com dados climáticos observados na estação localizada na Quinta da Lagoalva. Utilizaram-se as previsões de Tmax e Tmin para o cálculo da evapotranspiração de referência usando o método FAO-PMT como descrito em Pereira (2004) e em Paredes e Rodrigues (2010). Reconhece-se que o cálculo da ETo apenas com Tmax e Tmin pode levar a uma sobrestimação da ETo relativamente ao cálculo com dados completos. As previsões de Tmax e Tmin foram usadas no modelo AquaCrop para o cálculo da acumulação térmica (AGDD). Os dados de previsão da precipitação constituíram dados de entrada do modelo AquaCrop para a simulação da água do solo. A avaliação das previsões meteorológicas foi efetuada utilizando estes dados como entradas do modelo AquaCrop mantendo todos os outros dados de entrada inalterados, nomeadamente os dados de caraterísticas das culturas, e do solo, os calendários de rega observados e as condições iniciais de água no solo. Reconhecese que a validação rigorosa das previsões seria aquela em que os calendários de rega e as condições iniciais de água no solo fossem ajustados aos dados de previsão; porém, não poderiam comparar-se as produções de biomassa e grão. Entretanto, de modo a ter em consideração diferenças devidas ao hindcast de temperatura, utilizou-se a acumulação térmica para definir as fases dos ciclos das culturas. 4. Resultados 4.1. Calibração e validação do modelo AquaCrop A Tabela 3 apresenta os valores dos parâmetros calibrados do modelo AquaCrop para as culturas da cevada dística e milho. No presente estudo, o HIo foi observado para condições de ausência de stresse e foi em média de 0.46 para a cevada e 0.49 para o milho (Tabela 3). Valores semelhantes foram referidos para a cevada por AbiSaad et Previsões climáticas para apoio à decisão al. (2015) e, para o milho, por Di Paolo e Rinaldi (2008) [0.36-0.53] e por Heng et al. (2009) [0.48]. Os valores calibrados de Kc Tr, x para ambas as culturas (Tabela 3) são semelhantes aos adotados com o modelo SIMDualKc com os mesmos dados de campo (Paredes et al., 2014, 2015; Pereira et al., 2015). A adequabilidade dos valores calibrados de Kc Tr, x e de BWP* foi discutida nestes artigos. Tabela 3. Parâmetros do modelo AquaCrop após calibração utilizados nas simulações para as culturas da cevada dística e milho (Paredes et al., 2014 e Pereira et al., 2015). Parâmetros adotados Temperatura de base (oC) Temperatura limite (oC) CCo (%) Depleção da água do solo limite para a expansão do coberto superior/inferior Depleção da água do solo limite para o controlo estomacal Parâmetros calibrados KcTr,x () BWP* (g m-2) HIo () Parâmetros da curva de desenvolvimento do copado CCx (%) CGC (% GDD-1) CDC (% GDD-1) Cevada 0 30 3.2 0.20/0.50 Milho 8 30 4.1 0.14/0.72 0.55 0.69 1.12 13.0 0.46 2012 90 0.65 0.31 1.18 33.7 0.49 2010 96 1.49 0.40 2013 83 0.65 0.33 2011 96 1.49 0.35 2012 96 1.56 0.43 Para cada cultura estudada foram obtidos valores diferentes de CCx, CGC e CDC (Tabela 3) para as curvas CC nos diferentes anos o que é explicado pelos fatores climáticos que influenciam o desenvolvimento das culturas. Exemplos das curvas de CC para a cevada e o milho, incluindo alguns indicadores de ajustamento, são apresentadas na Fig. 2. Os resultados para os anos de calibração mostram tendência para sobrestimação no caso da cevada (Fig. 2a) e de subestimação no caso do milho (Fig. 2c), mas para os exemplos de validação não há tendência para sobre ou subestima; para todos os casos os R2 > 0.96, indicando que a CC modelada explica a variância dos valores de CC observados. Os erros de estima são baixos representando 4 a 8% da média dos valores observados no caso da cevada e 7 a 10% no caso do milho. Os EF são elevados (EF>0.94) indicando que o erro quadrático médio é muito pequeno relativamente à variância das observações. A Fig. 3 apresenta exemplos selecionados da variação da água disponível no solo (ASW) simulada pelo AquaCrop. Os resultados da simulação de ASW ao longo do ciclo da cevada mostram bem os efeitos das condições climáticas contrastantes que ocorreram em 2012 e 2013. No ano seco de 2012 a água disponível no solo permaneceu durante todo o ciclo da cevada abaixo da TAW devido à baixa precipitação (Fig. 3a) tendo-se observado na fase final do ciclo a ocorrência de stresse hídrico, parcialmente explicado por a rega ter sido cessada 30 dias antes da colheita. Em contraste, no ano húmido de 2013 (Fig. 3b) a ASW manteve-se acima da TAW durante a quase totalidade do ciclo devido a abundantes chuvas. Em ambos os anos, verificou-se tendência para subestimação dos valores de ASW simulados pelo AquaCrop no final do ciclo da cevada. 100 100 Cobertura do solo pelo copado (%) Cobertura do solo pelo copado (%) Predictabilidade Sazonal de Secas 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 a) R2 0.99 RMSE (%) 5 NRMSE () 8 EF () 0.97 b) b0 1.00 100 100 90 90 Cobertura do solo pelo copado (%) Cobertura do solo pelo copado (%) b0 1.06 80 70 60 50 40 30 20 10 0 R2 0.99 RMSE (%) NRMSE () 3 4 EF 0.99 R2 0.96 RMSE (%) NRMSE () 7 10 EF 0.94 80 70 60 50 40 30 20 10 0 c) R2 0.99 b0 0.97 RMSE (%) 5 NRMSE () 7 EF 0.99 d) b0 1.03 Fig. 2. Exemplos selecionados da curva de cobertura do solo pelo copado para: a) cevada 2012, b) cevada 2013, c) milho 2011, d) milho 2012 parcela 3 (adaptado de Paredes et al., 2014 e Pereira et al., 2015). Os indicadores de ajustamento (Tabela 4) das simulações de ASW mostram para o ano seco, i.e. ano de calibração, que não existe tendência para subestimar ou sobrestima com um valor de b0 próximo de 1.0, e um R2 elevado ou seja que a uma elevada parte da variância é explicada pelo modelo. Os erros de estimação representam cerca de 15% da média dos valores observados mas a eficiência de modelação é relativamente elevada. Para o ano húmido, os indicadores pioram mas são ainda aceitáveis. 270 270 240 a) 240 210 150 TAW 120 90 60 RAW 180 ASW (mm) ASW (mm) 210 180 b) 150 TAW 120 90 60 30 30 0 0 RAW Fig. 3. Variação diária da água disponível no solo (ASW) simulada pelo modelo AquaCrop ( ̶ ) e observada (●) para cevada (a) em 2012 e (b) em 2013 (adaptado de Pereira et al., 2015). Previsões climáticas para apoio à decisão Tabela 4. Indicadores de ajustamento da água disponível no solo relativos aos estudos realizados em Alpiarça (adaptado de Paredes et al., 2014 e Pereira et al., 2015). Cevada Milho Ano 2012 (calibração) 2013 2010 Parcela 1 1 1 2 2011 (calibração) 1 2012 2 3 Indicadores de ajustamento RMSE b0 R2 (mm) 1.01 0.88 12.0 0.96 0.81 20.8 1.01 0.71 9.5 1.09 0.80 9.1 0.96 0.88 8.4 0.96 0.57 11.1 1.04 0.79 9.5 NRMSE (%) 15.4 13.3 14.0 19.0 7.0 12.6 6.6 EF 0.76 0.64 0.66 0.58 0.72 0.03 0.57 Para o caso do milho a variação da ASW em 2010 (Fig. 4a e 4b) mostram períodos de ocorrência de stresse durante o período intermédio do ciclo cultural que se deveram a dotações de rega reduzidas em contraste com as necessidades da cultura. Calendários mais adequados foram observados em 2011 (Fig. 4c) e 2012 (Fig. 4d) não se tendo observado a ocorrência de stresse hídrico. Verifica-se que o AquaCrop apresenta uma tendência evidente para sobrestimar os valores mais baixos de ASW. 120 90 a) 80 TAW 70 60 ASW (mm) ASW (mm) 80 60 40 RAW 20 40 30 RAW 20 0 25/05 01/06 08/06 15/06 22/06 29/06 06/07 13/07 20/07 27/07 03/08 10/08 17/08 24/08 31/08 07/09 14/09 21/09 28/09 05/10 12/10 25/05 01/06 08/06 15/06 22/06 29/06 06/07 13/07 20/07 27/07 03/08 10/08 17/08 24/08 31/08 07/09 14/09 21/09 28/09 05/10 12/10 c) RAW ASW (mm) TAW 27/04 04/05 11/05 18/05 25/05 01/06 08/06 15/06 22/06 29/06 06/07 13/07 20/07 27/07 03/08 10/08 17/08 24/08 31/08 07/09 14/09 ASW (mm) 50 10 0 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 b) TAW 220 200 TAW 180 160 140 120 100 RAW 80 60 40 20 0 d) 30/05 06/06 13/06 20/06 27/06 04/07 11/07 18/07 25/07 01/08 08/08 15/08 22/08 29/08 05/09 12/09 19/09 26/09 03/10 10/10 100 Fig. 4. Variação diária da água disponível no solo (ASW) simulada pelo modelo AquaCrop ( ̶ ) e observada (●) para milho: (a) em 2010 parcela 1, (b) em 2010 parcela 2, (c) em 2011 parcela 1, e (d) em 2012 parcela 3 (adaptado de Paredes et al., 2014) Os indicadores de ajustamento (Tabela 4) mostram uma adequada simulação da ASW no ano de calibração (2011) com NRMSE = 7% e EF = 0.72. Nos anos de validação o modelo apresenta um viés na estima de ASW mas erros de estimação variando entre 7 e 19%. A eficiência de modelação é geralmente aceitável (EF > 0.57), com exceção da parcela 2 em 2012 em que o valor de EF é próximo de zero. Predictabilidade Sazonal de Secas Como discutido em Pereira et al. (2015) concluiu-se que, ao contrário do SIMDualKc (Paredes et al., 2015), o modelo AquaCrop é pouco preciso na simulação do balanço hídrico do solo devendo por isso ser utilizado com precaução no apoio à calendarização da rega. Os resultados relativos à predição da biomassa e grão em cevada são apresentados na Tabela 5. Verificou-se que no ano seco a diferença entre a produção média de biomassa observada e estimada (Bobs e Bpred) é quase quatro vezes superior ao desvio padrão das observações mas representando apenas 11% da média de Bobs enquanto no ano húmido tal diferença representa 19% da média de Bobs. Os resultados para a produção de grão mostram que a diferença entre a média das observações e a predição (Yobs e Ypred) é inferior ao desvio padrão das amostras coletadas no caso do ano seco e, no ano húmido, representa 17% da média de Yobs Os resultados obtidos para a cevada dística são semelhantes aos obtidos por outros autores usando o modelo AquaCrop para a predição da produção de cevada (Araya et al., 2010; Abi Saab et al., 2015). Tabela 5. Valores de produção biomassa e grão de cevada dística (kg ha-1) observados e simulados pelo AquaCrop para 2012 e 2013 (adaptado de Pereira et al., 2015) Biomassa Grão 2012 2013 2012 2013 Observados (kg ha-1) 14463 (± 417) 12503 (±1160) 6331 (±417) 5843 (±612) Estimados (kg ha-1) 12920 14875 6144 6842 Diferença (kg ha-1) -1543 2372 -187 999 % -11 19 -3.0 17.1 No caso do milho como existia uma série de dados observados de biomassa e produção (Paredes et al., 2015a) foi possível calcular os indicadores de ajustamento do modelo para a predição de biomassa e de grão (Tabela 6). Observou-se que o erro de estima, quer da produção de biomassa quer de grão, é inferior a 10% das médias de Bobs e de Yobs. Porém, o modelo apresenta uma tendência para a sobrestima da produção (b0 = 1.05). Comparando os resultados da calibração do modelo com outras aplicações do modelo AquaCrop verificou-se que valores de RMSE semelhantes aos do presente estudo (Tabela 6) foram obtidos por Hsiao et al. (2009) e Heng et al. (2009). Tabela 6. Indicadores de ajustamento relativos à predição da produção de biomassa e grão de milho, Alpiarça (adaptado de Paredes et al., 2014). Biomassa Produção de grão Média observada Indicadores de ajustamento (t ha-1) 36.1 17.7 b0 1.01 1.05 R2 0.82 0.87 RMSE (t ha-1) 3.49 1.73 NRMSE (%) EF 9.7 0.81 9.8 0.82 Em conclusão, o modelo AquaCrop é adequado para a predição da produção de biomassa e grão, tanto de cevada como de milho, pelo que foi utilizado na validação das previsões climáticas. Previsões climáticas para apoio à decisão 4.2. Validação das previsões meteorológicas sazonais relativas a precipitação e à ETo calculada com as previsões de Tmax e Tmin 4.2.1. Cevada O ensemble correspondente a um hindcast com prazo de 7 meses com previsões lançadas a 1 de Janeiro e 1 de Dezembro de 2012, respetivamente para a cevada de 2012 e 2013, foi utilizado como dados de entrada do modelo AquaCrop; todos os outros dados de entrada do modelo permaneceram inalterados em relação ao observado como dito anteriormente. No caso da previsão com prazo de 3 meses, a data de lançamento da previsão foi 1 de Abril em ambos os anos. A validação direta do hindcast foi efetuada comparando os dados de hindcast com os dados climáticos observados acumulados para todo o ciclo da cultura. A Fig. 5 apresenta os resultados relativos à comparação entre a precipitação observada e a produzida pelo hindcast. Os resultados mostram que a precipitação com a previsão a 7 meses é subestimada pelo hindcast em ambos os anos de estudo (Fig. 5a). A predição da precipitação melhora, quando se utiliza a previsão a 3 meses no caso do ano seco (2012) mas passa a sobrestimar no ano húmido (2013) (Fig. 5b). 800 800 700 700 600 600 Precipitação (mm) Precipitação (mm) Comparou-se também a ETo produzida pelas previsões (ETo-PMTpred) e pelos dados observados (PM-ETo-obs). Os resultados para a previsão a 7 meses mostram uma sobrestima da ETo nos dois anos (Fig. 5c). Quando se utiliza a previsão a 3 meses a ETo passa a ser subestimada no ano húmido, permanecendo sobrestimada no ano seco (Fig. 5d). 500 400 300 200 400 300 200 100 100 0 0 2012 2013 a) 600 600 500 500 400 400 ETo (mm) ETo (mm) 500 300 2012 2013 2012 2013 b) 300 200 200 100 100 0 0 2012 2013 c) d) Fig. 5. Comparação da precipitação e evapotranspiração de referência (ETo) sazonal para os dois anos de estudo usando dados climáticos observados (●) e dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c) e a 3 meses (b, d). Predictabilidade Sazonal de Secas Efetuou-se a validação indireta do hindcast comparando os resultados do modelo AquaCrop ao utilizar esses dados em alternativa aos dados climáticos observados. Como a produção de biomassa e de grão são fortemente dependentes da transpiração da cultura (Eqs. 5 e 6) e da cobertura do solo pelo copado (Eq. 1 e 2) analisou-se o comportamento da curva de CC nos dois anos de estudo quando o ensemble de previsão a 7 meses e a 3 meses foi usado em alternativa aos dados observados (Fig. 6). No ano seco de 2012, os dados de previsão a 7 meses (Fig. 6a) conduziram a uma clara sobrestimação dos valores de CC no período inicial mas que diminuiu após o período intermédio. Os resultados mostram uma elevada variabilidade da CC ao utilizar os dados de previsão no período final o que é explicado pelo aumento da temperatura no ensemble levando à antecipação da senescência e à maior rapidez quanto a atingir a acumulação térmica (AGDD) necessária a completar o ciclo da cultura. No ano húmido de 2013 os resultados do ensemble de previsão a 7 meses tendem a subestimar os valores de CC (Fig. 6c) o que explica o maior valor de Es (Fig. 7a) quando estes dados são usados. Como era de prever, a estimação da CC utilizando dados de previsão a 3 meses melhorou o ajustamento da curva em relação às observações no ano seco (Fig. 6b) mas no ano húmido essa melhoria não foi visível (Fig. 6d). Cobertura do solo pelo copado (%) Cobertura do solo pelo copado (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 b) 100 90 90 Cobertura do solo pelo copado (%) Cobertura do solo pelo copado (%) a) 100 80 70 60 50 40 30 20 10 0 06/12 04/01 04/02 19/02 25/02 13/03 23/04 02/05 22/05 c) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 06/12 04/01 04/02 19/02 25/02 13/03 23/04 02/05 22/05 d) Fig. 6. Comparação da curva de cobertura do solo pelo copado pela cevada em (a, b) 2012 e (c, d) 2013, simuladas usando dados climáticos observados (●) e dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c) e a 3 meses (b, d). Analisou-se de seguida a partição da ET nas suas componentes Tc act e Es para os anos de precipitação contrastante (Fig. 7). Os resultados, quando se utilizam as previsões a 7 meses, mostram que no ano seco existiu uma sobrestima de Tc act, a qual se deveu à sobrestima da ETo (Fig. 5c) e da CC (Fig. 6a). Contrariamente, no ano húmido foi a componente evaporativa a ser sobrestimada, o que se deve à subestima da CC no período de desenvolvimento da cultura (Fig. 6c) e sobrestima da ETo (Fig. 5c). Quando Previsões climáticas para apoio à decisão se analisam os resultados usando as previsões a 3 meses (Fig. 7b e d) verifica-se que a Es é subestimada em ambos os anos. No ano seco, a Es aproxima-se dos valores observados porque a CC é sobrestimada; ao contrário, no ano húmido a Es é fortemente subestimada porque a ETo é menor e a CC é sobrestimada (Fig. 5d). Quanto à Tc act esta é adequadamente predita no ano seco (Fig. 7d) porque a subestima da ETo (Fig. 5d) é compensada pela sobrestima da CC (Fig. 6b); no ano húmido a Tc act é subestimada, o que se deve à subestima da ETo (Fig. 5d). Como consequência dos resultados da Tc act (Fig. 7c e d) a predição da produção de biomassa e grão (Fig. 8) com os dados de previsão a 7 meses foi razoavelmente adequada no ano seco; contrariamente, no ano húmido ocorreu uma clara tendência para a sobrestimação, quer da biomassa quer do grão, apesar da adequada predição da Tc act (Fig. 7c). Esta tendência de sobrestimação no ano húmido já tinha sido apontada quando se efetuou a validação do modelo AquaCrop (Pereira et al., 2015 e Tabela 5). Comparando o resultado médio do hindcast com a média das observações (Tabela 7) verifica-se uma melhoria da estima da produção de biomassa e grão no ano húmido. No ano seco de 2012 a tendência para a subestimação da biomassa mantém-se mas diminuí em termos percentuais enquanto a produção com os dados climáticos de previsão passa a ser sobrestimada (Tabela 7). 100 100 80 80 Es (mm) 120 Es (mm) 120 60 40 40 20 20 0 0 2012 2013 2012 a) 400 400 350 350 300 300 250 250 Tc act (mm) Tc act (mm) 60 200 150 150 100 50 50 2012 2013 c) b) 200 100 0 2013 0 2012 2013 d) Fig. 7. Comparação da evaporação do solo acumulada (a, b) e da transpiração real acumulada (c, d) em cevada, simuladas usando dados climáticos observados (●) e dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c) e a 3 meses (b, d). 18 18 16 16 14 14 Biomassa (t ha-1) Biomassa (t ha-1) Predictabilidade Sazonal de Secas 12 10 8 6 10 8 6 4 4 2 2 0 0 2012 2013 a) 8 8 7 7 6 6 Produção (t ha-1) Produção (t ha-1) 12 5 4 3 2 1 2012 2013 b) 2012 2013 d) 5 4 3 2 1 0 2012 2013 0 c) Fig. 8. Comparação da biomassa final (a, b) e produção de grão de cevada (c, d) observadas (●) e simuladas com dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c) e a 3 meses (b, d) (os traços verticais ponteados simbolizam o desvio padrão das amostras observadas). Tabela 7. Diferença entre a média da produção observada e modelada usando dados climáticos observados e dados de previsão a 7 meses e a 3 meses para a cultura da cevada e milho. Modelado com AquaCrop Dados climáticos previsão a 7 meses Produção Observados observada Diferença Diferença (t ha-1) (t ha-1) % (t ha-1) % Biomassa Cevada 2012 14.46 -1.54 -11 -0.61 -4 2013 12.50 2.37 19 2.08 17 Milho Parcela 1, 2010 41.86 -5.37 -13 -12.52 -30 Parcela 2, 2010 26.27 3.69 14 -2.26 -9 Parcela 1, 2011 42.02 -1.78 -4 -7.91 -19 Parcela 2, 2012 38.70 1.64 4 -6.67 -17 Parcela 3, 2012 33.62 3.82 12 -1.24 -4 Grão Cevada 2012 6.33 -0.19 -3 0.22 3 2013 5.84 1.00 17 0.84 14 Milho Parcela 1, 2010 20.62 -1.67 -8 -5.60 -27 Parcela 2, 2010 12.78 2.21 17 -0.76 -6 Parcela 1, 2011 19.46 0.26 1 -2.76 -14 Parcela 2, 2012 19.32 0.89 5 -3.18 -16 Parcela 3, 2012 16.53 1.36 8 -1.12 -7 previsão a 3 meses Diferença (t ha-1) % -2.5 -17 1.7 14 -8.92 -21 2.02 8 -3.29 -8 -0.35 -1 1.56 5 -0.84 -13 0.69 12 -4.15 -20 1.41 11 -0.47 -2 -0.08 0 0.25 2 Quando se utilizaram os dados de previsão a 3 meses verificou-se que no ano seco a produção de biomassa e de grão foram subestimadas (Fig. 8b e d) com uma diferença entre a produção média estimada com o hindcast e a produção observada Previsões climáticas para apoio à decisão a representar 13% de Yobs (Tabela 7). No ano húmido, 2013, a tendência de sobrestima mantém-se, apesar da subestima da Tc act (Fig. 7d), mas com uma diferença entre médias a representar apenas 12% de Yobs (Tabela 7). 4.2.2. Milho O mesmo procedimento anteriormente descrito para a cevada foi utilizado para os três anos de observações em milho. O ensemble correspondente a um hindcast a 7 meses foi lançado com data de 1 de Maio de 2010, 1 de Abril de 2011 e, respetivamente para as parcelas 2 e 3 de acordo com a data de sementeira, a 1 de Maio e 1 de Abril de 2012. Os hindcast a 3 meses foram lançados com data de 1 de Agosto para todos os casos de estudo. Os resultados da validação direta do hindcast são apresentados na Fig. 9. Os resultados relativos à comparação entre a precipitação observada acumulada durante o ciclo das culturas e a produzida pelo hindcast a 7 meses (Fig. 9a) mostram que a precipitação é muito subestimada pela previsão no ano húmido de 2011 e moderadamente subestimada em 2010. Para os ciclos culturais de 2012 a previsão de precipitação sazonal é adequada. Quando se analisam os resultados da previsão a 3 meses (Fig. 9b) verifica-se que há uma menor subestima da precipitação do ano húmido mas a subestima mantem-se no ano seco de 2010, ainda que apresentando uma menor variabilidade dos valores da precipitação no ensemble. 300 250 250 Precipitação (mm) Precipitação (mm) 300 200 150 100 200 150 100 50 50 0 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 parcela 1, 2010 a) 800 700 700 600 600 500 500 ETo (mm) ETo (mm) 800 400 300 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 b) parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 d) 400 300 200 200 100 100 0 parcela 2, 2010 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 c) parcela 1, 2010 Fig. 9. Precipitação (a, b) e evapotranspiração de referência (c, d) acumuladas ao longo do ciclo da cultura de milho para os diferentes anos de estudo usando o ensemble de dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c) e a 3 meses (b, d) comparadas com os dados climáticos observados (●). Quando se analisa a ETo acumulada ao longo do ciclo do milho produzida pelo hindcast Predictabilidade Sazonal de Secas a 7 meses (Fig. 9c) verifica-se que existe uma tendência para a subestima no ano seco de 2010 e uma adequada previsão tanto no ano húmido de 2011 como no ano de 2012. Resultados semelhantes foram obtidos com os dados de previsão a 3 meses (Fig. 9d). Cobertura do solo pelo copado (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Cobertura do solo pelo copado (%) Os resultados da validação indireta do hindcast a 7 meses e a 3 meses são apresentados nas Figs. 10 a 12. Os resultados da simulação da cobertura do solo pelo copado (CC) usando o hindcast em alternativa aos dados observados são apresentados na Fig. 10. 0 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80 70 60 50 40 30 20 10 0 c) 100 Cobertura do solo pelo copado (%) 90 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 d) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Cobertura do solo pelo copado (%) Cobertura do solo pelo copado (%) 100 Cobertura do solo pelo copado (%) 90 b) a) e) 100 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 f) Fig. 10. Curva de cobertura do solo pelo copado do milho em (a, b) 2011, (c, d) parcela 2 em 2012, (e, f) e parcela 3 em 2012, simuladas usando o ensemble de dados de previsão climática (box-plot) a 7 meses (a, c, e) e a 3 meses (b, d, f) comparadas com as curvas obtidas com dados observados (●). Verifica-se que, para as previsões a 7 meses, em todos os casos existe uma grande variabilidade da CC no período de desenvolvimento rápido e após o início da senescência. A variabilidade no período inicial e de desenvolvimento da cultura, Previsões climáticas para apoio à decisão quando se utilizam os dados de previsão, é explicada por uma acumulação térmica mais lenta, ou seja demora mais dias a ser atingida a AGDD (Tabela 2). No caso do período após início da senescência a AGDD demora menos dias a que ser atingida (Tabela 2) sendo a colheita antecipada em relação ao que foi observado em campo. Adicionalmente verifica-se uma tendência para a subestima da CC no período de desenvolvimento da cultura no ano húmido de 2011, assim como no período após início da senescência. Resultados semelhantes foram obtidos para a parcela 2 em 2012. Os resultados para a parcela 3 em 2012 (Fig. 10, a qual foi semeada mais tarde, mostram uma tendência para a sobrestimação dos valores de CC no período de desenvolvimento da cultura e uma grande subestimação após o início da senescência. De salientar que nos casos analisados a CC máxima é bem simulada com a previsão a 7 meses (Fig. 10). Os resultados das previsões a 3 meses mostram uma melhor adequação na estimação da CC. Os resultados relativos às componentes Tc act e Es quando se usam dados de previsão a 7 meses (Fig. 11a e c) mostram uma tendência para a subestimação de ambas em 2010 e no ano húmido de 2011. Estes resultados são explicados pela subestimação da precipitação (Fig. 9a), da ETo (Fig. 9c) e da CC (Fig. 10a e c) nesses anos. No ano de 2012, a Es (Fig. 11a) apresentou uma adequada predição nos dois casos estudados; no entanto, verifica-se que a partição da ET na parcela 2 foi desajustada com uma subestimação da Tc act (Fig. 11c) o que é explicado pela subestimação da CC nessa parcela durante a maior parte do ciclo do milho (Fig. 10b). Os resultados da previsão a 3 meses mostram uma adequada predição da Es na parcela 1 em 2010 e para ambos os casos de estudo de 2012 (Fig. 11b). No ano húmido de 2011 a subestimação da Es (Fig. 11b) mantém-se em relação à previsão a 7 meses o que é explicado pela subestimação da precipitação (Fig. 9b). Quanto à estimação da Tc act (Fig. 11d) os resultados mostram uma melhoria dos resultados para todos os casos estudados, o que se deve à melhoria da estimação da CC (Fig. 10b, d e f). A Fig. 12 apresenta os resultados da predição da produção de biomassa e de grão com os dados de previsão. Usando a previsão a 7 meses os resultados mostram uma tendência para a subestimação tanto da produção de biomassa como de grão em todos os casos estudados. Como analisado anteriormente, a predição da biomassa e de grão é muito dependente da estimação da Tc act (Eqs. 4 e 5) pelo que a tendência de subestimação da biomassa e grão (Fig. 12a e c) é explicada pela subestimação da Tc act (Fig. 11c). Comparando a média das observações com a média dos hindcasts com previsão a 7 meses (Tabela 7) para cada caso de estudo, verifica-se que há uma clara tendência para a subestimação tanto da biomassa como de grão, a qual representa 4 a 30% e 6 a 27% da produção observada respetivamente de biomassa e de grão. 180 180 160 160 140 140 120 120 100 100 Es (mm) Es (mm) Predictabilidade Sazonal de Secas 80 60 80 60 40 40 20 20 0 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 parcela 1, 2010 a) 700 600 600 500 500 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 b) parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 d) Tc act (mm) Tc act (mm) 700 parcela 2, 2010 400 400 300 300 200 200 100 100 0 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 parcela 1, 2010 c) parcela 2, 2010 60 60 50 50 Biomassa (t ha-1) Biomassa (t ha-1) Fig. 11. Evaporação do solo(a) transpiração real (b) acumuladas da cultura do milho simuladas usando o ensemble de dados de previsão climática a 7 meses (box-plot) comparadas com valores obtidos usando dados climáticos observados (●). 40 30 20 30 20 10 10 0 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 a) 25 25 20 20 Produção (t ha-1) Produção (t ha-1) 40 15 10 5 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 b) 15 10 5 0 0 parcela 1, 2010 parcela 2, 2010 parcela 1, 2011 parcela 2, 2012 parcela 3, 2012 c) d) Fig. 12. Comparação da biomassa final a) e produção de grão b) de milho simulada com o modelo AquaCrop usando o ensemble de dados de previsão a 7 meses (box-plot) e usando dados climáticos observados (●) (os traços verticais simbolizam o desvio padrão das amostras). Previsões climáticas para apoio à decisão Utilizando as previsões a 3 meses é visível uma melhoria da predição de biomassa e de grão (Fig. 12b e d), que se traduz numa diferença entre predição e observação, reportada em termos de percentagem das observações, a variar entre 1 e 21% da biomassa observada e entre 0 a 20% da produção de grão observada. Em termos gerais para os casos de estudo verifica-se uma subestimação da produção com dados de previsão a 7 meses mas uma adequação da predição da produção com dados de previsão a 3 meses. 5. Conclusões O modelo AquaCrop foi testado para cereais de primavera e verão, respetivamente cevada dística para malte e milho, usando para tal observações efetuadas em campos de agricultores. Os resultados obtidos mostraram um bom desempenho deste modelo para a estimação da produção de ambas as culturas em condições climáticas contrastantes. No entanto, o modelo não é apropriado para a simulação do balanço hídrico do solo e por isso não é aconselhável a sua utilização no apoio à calendarização da rega. Caso seja considerado para a calendarização da rega deverá ser usado com muita precaução. Efetuou-se a avaliação direta e indireta dos hindcasts de dados de previsão a 7 meses e a 3 meses para os anos de estudo. A avaliação direta, consistiu na comparação dos dados climáticos de previsão com os observados para o ciclo da cultura, mostrando a existência de uma tendência para a subestimação da precipitação acumulada nos anos húmidos. Nos anos secos também se verificou uma tendência de subestimação quando se usaram as previsões a 7 meses, que se dissipou quando se utilizaram os dados de previsão a 3 meses. Em termos de procura climática medida pela ETo, os resultados mostraram, no caso do cereal de inverno, uma tendência para a sobrestimação quando se utilizaram as previsões a 7 meses não havendo um padrão definido quando se utilizaram as previsões a 3 meses. No caso do cereal de verão observou-se uma adequação geral das previsões mas com alguma tendência de subestimação da ETo num dos anos secos. A avaliação indireta focou a análise de alguns dos resultados do modelo quando utilizando dados climáticos de previsão em alternativa aos dados observados. Para a cevada verificou-se uma adequada predição da produção de grão, em particular no ano húmido, quando se usaram dados de previsão. No caso da estimação da produção de milho com dados de previsão a 7 meses os resultados mostraram uma tendência para a subestimação em todos os casos de estudo. Quando se utilizaram dados de previsão a 3 meses, foi obtida uma melhor adequação da predição da produção. A utilização de previsões meteorológicas a longo prazo (7 meses) mostrou ser adequada uma vez que conseguiu captar condições de anos contrastantes em termos de precipitação (ano seco vs. ano húmido). Pode adicionalmente concluir-se que os resultados do modelo AquaCrop seriam menos adequados se em alternativa aos dados de previsão se utilizassem séries dos valores climatológicos. Em resumo, a utilização de dados de previsão a 7 meses e, principalmente, a 3 meses mostrou que apesar de existem erros de estimação da produção este tipo de dados tem grande potencial para ser utilizado no apoio à decisão, em particular nas culturas de regadio. Predictabilidade Sazonal de Secas Agradecimentos Este estudo foi apoiado pelo projeto PTDC/GEO-MET/3476/2012 "Avaliação Predictabilidade e hibridização das previsões sazonais de seca na Europa OcidentalPHDROUGHT". O primeiro autor agradece à FCT a bolsa de pós-doutoramento (SFRH/BPD/102478/2014) que lhe foi atribuída. Os autores agradecem à Doutora Rita Cardoso do Instituto Dom Luiz (IDL) por disponibilizar os dados de previsão do ECMWF. Referências Abi Saab, M.T., Todorovic, M., Albrizio, R. 2015. Comparing AquaCrop and CropSyst models in simulating barley growth and yield under different water and nitrogen regimes. Does calibration year influence the performance of crop growth models? Agric. Water Manage. 147, 21–33 Allen, R.G., Pereira, L.S., Raes, D., Smith, M., 1998. Crop Evapotranspiration. Guidelines for Computing Crop Water Requirements. FAO Irrigation and Drainage Paper 56, FAO, Rome, Italy, 300 p. Alves, I., Fontes, J.C., Pereira, L.S., 1991. Water-yield relations for corn. In: Planning, Operation, and Management of Irrigation Systems for Water and Energy Conservation (Proc. Special Tech. Session). Chinese Nat.Com. ICID, Beijing, vol. I-A, 154-161. Andersson, E., 2013. User guide to ECMWF forecast products. ECMWF, 129p. 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