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Avaliação e Mensuração da Comunicação Organizacional: uma reflexão a partir dos Testes de Eficiência no Porto Norte da Vale Franklin Torres e Kely Padilha Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – Minas Virtual) Resumo Este artigo apresenta reflexões sobre a avaliação e mensuração de resultados em comunicação organizacional e os desafios enfrentados pelos profissionais da área nesse sentido. Analisa também modelos teóricos de avaliação da comunicação no contexto das organizações, estabelecendo uma relação com o modelo intitulado Testes de Eficiência em Comunicação, utilizado pela Gerência de Comunicação Regional da Vale, no Maranhão (GAROV). Palavras-chave: Mensuração de Resultados em Comunicação; Testes de Eficiência da Comunicação na Vale; Comunicação Organizacional. Este artigo busca refletir sobre práticas e modelos de avaliação e mensuração dos resultados em comunicação organizacional na atualidade, tomando como base referências teóricas do curso de Gestão da Comunicação Empresarial e a experiência de aplicação de um modelo adotado pela Gerência de Comunicação Regional da Vale no Maranhão - os Testes de Eficiência em Comunicação (TE’s). O objetivo de se discutir o tema é verificar, também, como essa área interfere, contribui e/ou modifica os resultados e objetivos da organização. A escolha do tema justifica-se pelo fato de que, cada vez mais, desde a década de 1990, cabe ao profissional de comunicação não só o papel de planejar as iniciativas e estratégias da área nas organizações, mas também - e talvez principalmente – acompanhar a efetividade dessas estratégias e evidenciar os efetivos resultados dessas ações. As transformações vividas pela sociedade contemporânea apontam para a necessidade de se trabalhar a comunicação nas organizações de forma mais complexa, já que hoje os atores sociais encontram-se configurados em grandes redes, onde circulam diversos interesses, exigindo das organizações novas posturas em relação a eles, incluindo a prestação de contas de sua atuação. O investimento em comunicação organizacional passou a disputar lugar nos relatórios de prestação de contas e de resultados das organizações, requerendo dos profissionais da área métodos e práticas de avaliação e mensuração de resultados fundamentados conceitual e 1 metodologicamente, de modo que o trabalho seja valorizado e obtenha reconhecimento na organização, a exemplo de outras áreas que têm procedimentos definidos nesse sentido. Embora se reconheça que se trata de um processo mais amplo, da comunicação no contexto das organizações. “Todos, naturalmente, se comunicam, mas cabe a nós, profissionais da área, orientar, capacitar e, especialmente, qualificar esse processo e não é possível fazê-lo sem medir” (SOARES, 2009, p. 104). No presente trabalho, busca-se analisar os principais desafios e modelos de avaliação da comunicação nas organizações, procurando refletir sobre a experiência na aplicação dos Testes de Eficiência em Comunicação (TE´s), no porto Norte, da Vale. Nesta análise, buscouse referências teóricas no campo da comunicação, especificamente em estudos sobre monitoramento da comunicação organizacional, que embora ainda restritos na literatura da área, vêm sendo objeto de pesquisas e estudos. Avaliação e mensuração da comunicação Para Oliveira e Paula (2007), o monitoramento constitui uma das etapas da dimensão estratégica da comunicação. As autoras avaliam que há cinco componentes que conferem dimensão estratégica à comunicação organizacional: tratamento processual da comunicação, inserção na cadeia decisória, gestão dos relacionamentos, uso sistemático do planejamento e monitoramento do processo. O monitoramento revela-se uma oportunidade para rever a estratégia inicial, verificando o que deu certo e o que pode ser melhorado. Segundo as autoras, o monitoramento de um processo inclui o acompanhamento, a avaliação e a mensuração de resultados de um processo, como no caso, a comunicação organizacional. “Os mecanismos de monitoramento possibilitam também que sejam agregados novos pontos de vista sobre decisões e processos organizacionais, a partir do permanente acompanhamento do processo e do ambiente”. (OLIVEIRA E PAULA, 2007, p.50) Considerando a dinâmica do contexto organizacional e o fato de que a construção do sentido daquilo que se comunica só acontece na interação entre os interlocutores, é na fase de monitoramento que o profissional de comunicação tem condições de avaliar em que nível o contexto e as subjetividades dos interlocutores presentes no processo influenciaram o objetivo inicial de uma estratégia ou iniciativa de comunicação. Com isso, poderá tomar novas decisões que reforcem ou modifiquem as estratégias iniciais, garantindo vitalidade e dinamismo ao processo de implantação do planejamento. 2 A avaliação e a mensuração de resultados constituem um desafio para os comunicadores em relação a outras áreas do conhecimento, que possuem objetos de estudo concretos, passíveis de serem quantificados e medidos. Isto porque a ênfase da ação desse profissional são os relacionamentos, as percepções dos públicos, os comportamentos, atitudes e conflitos presentes em todas as interações. O caráter simbólico e intangível desse processo é um dificultador para a avaliação, visto que seu objeto de estudo “nem sempre é capaz de ser capturado como algo tangível e concreto, fora do contexto onde ele ocorre”. (VEIGA, 2009, p.8) Para Lorenzetti (2005), a mensuração dos resultados da comunicação deve ir além da identificação de valor que a comunicação agrega. É importante que seja compreendida como um reflexo da evolução dos processos, o que resultará também na evolução dos responsáveis por eles. Segundo a autora, a capacidade do profissional de aprender a modificar o seu próprio modo de pensar e fazer as coisas é parte integrante desse novo perfil. Galerani (2005) reforça essa premissa quando afirma que os resultados de comunicação, para serem assertivos, precisam extrapolar objetivos limitados e pontuais. Para a autora as mudanças de comportamentos e atitudes estão entre os resultados desejáveis para programas de comunicação, indo além dos objetivos de informar e assessorar a alta administração da organização na condução das suas iniciativas de comunicação, freqüentemente considerados como fim dessa área. Segundo Paula (2009), os indicadores são parâmetros para medir o desempenho de um processo, tanto do ponto de vista qualitativo, como quantitativo, auxiliando na demonstração de sua contribuição para o alcance dos objetivos estratégicos das organizações. A adoção de métodos de mensuração de resultados de comunicação com fundamentação conceitual e metodológica pode ser um caminho e um argumento respaldados para se justificar a atuação de um departamento de comunicação e investimentos nessa área. Como parâmetro, pode-se citar o valor aportado no processo de mudança de marca da Vale, conduzido pela área de comunicação em 2007, que foi de US$ 57 milhões. Esse foi o maior investimento em mudança de marca feito por uma empresa brasileira. Porém, antes de lançar qualquer reivindicação de importância da área junto à alta administração das organizações é importante delimitar, com base no conhecimento acerca do amplo sentido do objeto de estudo - a comunicação -, o termo que melhor delimita a ação desse profissional sobre as ações que irá realizar: avaliação ou controle? 3 Desde a década de 1990, a grande maioria das organizações utiliza o planejamento estratégico como uma das principais metodologias de gestão, de forma combinada com outras, como o Balanced Scored Card (BSC), por exemplo. A metodologia do Balanced Scorecard (BSC), criada por Kaplan e Norton (2001) enfatiza a necessidade de modelos de gestão alinhados por meio da conversão das estratégias corporativas em um sistema integrado de perspectivas de negócios, avaliadas por indicadores de desempenho. Para Lorenzetti (2005), ao se aplicar a metodologia de Balanced Scoredcard na área de comunicação, o principal desafio passa a ser o estabelecimento de indicadores, desdobrados de macro objetivos bem definidos que devem estar previstos no planejamento estratégico de comunicação. Nesse contexto, a fase de controle figura como uma das mais importantes, já que é nela que se verifica a efetividade das ações e investimentos feitos. Em geral, o controle de um processo ou de uma estratégia funciona quando os resultados são previsíveis e o objeto é influenciável diretamente por quem conduz a ação. Na área da comunicação, isso não é possível. Para Galerani (2005), o termo controle não é adequado quando se refere a ações de comunicação organizacional, pela conotação negativa a ele associada. Segundo a autora, “controle” é um termo utilizado nos estudos organizacionais e constitui uma das funções da administração, ao lado do planejamento, da execução e do gerenciamento. Com isso, geralmente, é interpretado como coerção, delimitação ou manipulação. Com base no argumento de que o objeto da comunicação é algo particular, subjetivo, contextualizado e que o termo “controle” indica delimitação e domínio, Galerani sugere a utilização do termo avaliação na comunicação organizacional. Para ela, o sentido de avaliação em comunicação pode ser resumido como: Função que tem caráter permanente, iniciando-se no planejamento e desenvolvendo-se no acompanhamento das ações e execução, como propostas para as correções necessárias e procedimentos para verificar os resultados almejados. (GALERANI, 2005, p.152) Esse conceito alinha-se à concepção relacional da comunicação, que enfatiza os relacionamentos na sociedade e, consequentemente, nas organizações. Nessa concepção, a comunicação é compreendida como um processo que ocorre em contextos específicos e que 4 se constitui nas interações entre os atores presentes, se transforma a cada nova experiência, porque os atores envolvidos e os contextos são sempre dinâmicos, passíveis de mudanças, nunca de total controle. “Os espectadores / ouvintes não constituem uma massa amorfa e passiva, incapaz de questionar as mensagens que recebem. Eles são participantes do ato comunicativo, construindo o sentido do que é comunicado”. (VEIGA, 2009, p.10) Outro aspecto que corrobora esta visão é o fato de que as organizações constituem-se em um fenômeno social e, portanto, refletem em si as relações entre pessoas e subjetividades, muitas vezes. Para Fausto Neto (2008), as organizações são espaços de complexas realidades comunicacionais, com diferentes posições, contextos, papéis e pressões e se viabilizam pelas práticas comunicacionais: Uma organização não é, hoje, um universo fechado e monotemático, na medida em que está atravessada por fragmentos e injunções de multitemas e de problemas dos diferentes campos sociais, e, a seu turno, sempre em processos de disputas de pontos de vista. (NETO, 2008, p. 55) Esse cenário exerce influência direta quando se aborda aspectos ligados à avaliação e mensuração de resultados das práticas comunicacionais numa organização. As metodologias adotadas precisam levar em conta o componente relacional entre os indivíduos no processo comunicativo. Nesse sentido, parece importante refletir sobre tendências que vigoram na sociedade e nas organizações, de controle da comunicação. Alinhada ao pensamento de Fausto Neto (2008), Galerani (2005) reconhece a complexidade do ambiente organizacional quando afirma que o contexto e o ambiente onde a comunicação se desenvolve influenciam os resultados e os objetivos dela. Com isso, os modelos de avaliação e mensuração de resultados devem servir como parâmetros, não como receituários. Galerani (2005) apresenta sete modelos de avaliação em comunicação organizacional, identificados por ela na literatura e em práticas da área e que expressam formas diferenciadas de mensurar resultados. Dois modelos são destacados pela autora devido à inovação: o modelo de Lindenmann - Yardstick / Avaliação da Efetividade em Relações Públicas (1993 e 2003) e o de Hon e Grunig (2002) - Avaliação de Relacionamentos. O modelo Yardstick ou Régua de Efetividade pode ser explicado resumidamente como uma régua que traz um conjunto de diretrizes ou padrões que o profissional de comunicação adota para mensurar a efetividade das ações de comunicação. O modelo propõe níveis de 5 mensuração em escalas, como o básico, focado em “o que” e “quanto”; intermediação, voltado para verificação do entendimento da mensagem; e o nível avançado, onde se mensura mudanças de comportamento e atitude dos públicos (Lindenmann apud Galerani, 2005). O modelo de Avaliação de Relacionamento, de Hon e Grunig (2002), enfatiza as percepções que os públicos têm das organizações, verificadas com base em indicadores de resultados de relacionamentos (Hon e Grunig apud Galerani 2005). Este modelo enfatiza a preocupação com a construção de relações de longo prazo com públicos estratégicos para uma organização, priorizados na fase de planejamento, criando ações e programas específicos direcionadas a cada um. Segundo Galerani esses modelos enfatizam mudanças de comportamento e qualidade dos relacionamentos das organizações com públicos estratégicos para sua atuação, considerados pela autora como os objetivos principais da comunicação de uma organização. É importante destacar que a comunicação da organização refere-se às estratégias comunicacionais que são de iniciativa da mesma. Para Baldissera (2008), é necessário pensar a comunicação organizacional de forma complexa. Segundo ele, ela vai além de estratégias de controle ou sistema informacional produzidos intencionalmente, alcança todos os fluxos, inclusive aqueles produzidos nas informalidades das relações. A comunicação organizacional compreende quaisquer fluxos de sentidos (em disputa/construção) que se atualizarem nos diferentes contextos, desde que, de alguma forma e em algum grau, possam ser qualificados como do “âmbito das relações organizacionais. (BALDISSERA, 2008, p. 170) A grande maioria das organizações contemporâneas utiliza métricas de valor para gerenciar o desempenho de seus departamentos. Essas métricas funcionam como parâmetros para verificar a efetividade das ações planejadas. Juntas, formam o mapa estratégico, que é o começo do Balanced Scorecard e consiste de uma análise das causas e efeitos de cada ação de uma organização. O mapa é dividido em quatro níveis estratégicos ou perspectivas: financeira, cliente, processos de negócios internos e de aprendizagem e crescimento. Porém, a grande maioria dos critérios e instrumentos de avaliação e mensuração de comunicação ainda é de base quantitativa. Nas práticas das organizações existem poucos critérios voltados para mensurar objetivos qualitativos e subjetivos. Este é um desafio para a área de comunicação e requer dos comunicadores embasamento conceitual e metodológico 6 para desenvolver métodos capazes de evidenciar, na prática, a importância e a contribuição da comunicação, bem como da atuação dos profissionais da área, para o alcance dos objetivos organizacionais. Conforme Kunsch, Muitos profissionais trabalham como técnicos e não usam a pesquisa como subsídio para seus programas e projetos – como resultado, enfocam nos meios e nas estratégias, dando pouca atenção ao fim a ser alcançado. Raros são os programas com objetivos mensuráveis. (KUNSCH, 2003, p.280) Lopes (2006) enfatiza alguns entraves para a baixa incidência de avaliação e mensuração de resultados em comunicação no contexto das organizações: Por parte dos profissionais, a crença de que a comunicação lida com resultados intangíveis e que a mensuração significa controle prejudica a avaliação. Outro ponto é a falta de tempo e de metodologia para aplicar a mensuração. É preciso haver clareza da função exercida pela comunicação na empresa. (LOPES, 2006,p.1) São notórias as dificuldades que os comunicadores têm, em geral, de lidar com números, planilhas e percentuais, devido à própria formação acadêmica. Figueiredo, citado por Ludwig (2005, p. 39), refere-se a essas dificuldades e afirma que “uma grande falha da universidade é formar profissionais cada vez mais práticos, porque o mercado pede que sejam assim – e a parte da análise fica cada vez mais a desejar”. Nesse sentido, é importante que o comunicador atente para sua formação acadêmica e desenvolvimento profissional, a fim de ter uma visão do “todo” e também da “parte” dos processos, sabendo utilizar estatísticas, pesquisas, planilhas e gráficos, de maneira a favorecer a valorização da comunicação como um processo estratégico. No âmbito das organizações a demanda por uma formação mais diversificada, que habilite o profissional a atuar no conjunto do contexto e nos sistemas da organização se torna cada vez mais necessária. Um exemplo é a adoção cada vez maior de modelos de gestão pelas organizações, baseados em métricas claras e definidas, passíveis de serem traduzidas em indicadores e, portanto, avaliadas ou mensuradas. 7 Verifica-se que ainda são muito incipientes os estudos e modelos de avaliação e mensuração disponíveis na área. Durante décadas, os estudos sobre o tema e a prática da comunicação nas organizações enfatizaram aspectos quantitativos, como o número de matérias jornalísticas produzidas, de boletins publicados e de folders produzidos, entre outros. Alguns profissionais e pesquisadores apresentam modelos adequados à perspectiva de uma comunicação dinâmica, situacional, passível de avaliação, mas não de controle, como enfatiza Galerani (2005). O resultado são algumas iniciativas já aplicadas por diversas organizações, incluindo a Vale, a exemplo dos Testes de Eficiência em Comunicação (TE’s), por parte da Gerência de Comunicação Regional Maranhão (GAROV), objeto de análise a seguir neste artigo. A experiência com os Testes de Eficiência na Vale A Vale, a exemplo de outras organizações, compreende a importância da comunicação para suas estratégias, mas ainda não conta com metodologias adequadas em âmbito corporativo que contemplem todas as especificidades de seus negócios e operações regionais bem como dos diferentes territórios nos quais atua. Desta forma, encontra dificuldade em mensurar resultados de suas estratégias de comunicação, sua importância e contribuição efetiva para as áreas clientes internos e os objetivos estratégicos da empresa. O modelo de administração da Vale está baseado nas regras de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), que obrigam a empresa a prestar contas dos seus investimentos em relatórios públicos claros, divulgados com freqüência ao mercado. Os relatórios justificam os investimentos e apresentam os resultados obtidos aos acionistas e à sociedade em geral. Essa iniciativa constitui um parâmetro de transparência e auxilia a empresa na busca por novos investidores. Os modelos de governança corporativa, assim como outras exigências da sociedade contemporânea enfatizam cada vez mais um papel da área de comunicação nas organizações voltado para a gestão dos seus relacionamentos com os diversos atores sociais, incluindo os acionistas. Isto porque é por meio da troca de informações, símbolos e bens culturais que as relações acontecem (OLIVEIRA e PAULA, 2007). No processo de interação com a sociedade, a organização não é soberana, visto que se movimenta à base de construções e estratégias - produtos de múltiplas operações objetivas e subjetivas – que acontecem no interior do 8 seu ambiente e fora dele, para legitimar publicamente sua atuação. Obviamente, ela é produtora de ações, mas só a partir da interação com os atores sociais, elas adquirem sentido. Ou seja, para os atores envolvidos, a comunicação atua na construção de sentidos, contribuindo para dar significado às decisões e acontecimentos organizacionais. (OLIVEIRA E PAULA, 2007, p. 51) Dentro de uma perspectiva de contribuição ao alcance dos resultados e de manutenção da transparência nos relacionamentos, visando atender às necessidades de um dos seus clientes, o Porto Norte (Terminal Portuário de Ponta da Madeira, no Maranhão), a Gerência de Comunicação Regional (GAROV) implantou em 2008, os Testes de Eficiência em Comunicação (TE’s), com o objetivo avaliar a assertividade e eficácia da comunicação direta das lideranças internas (gerentes e supervisores) com os empregados na Gerência Geral de Operações Portuárias (GEPEG), que apresentava um histórico de problemas de clima organizacional e baixa produtividade. Baseados em diagnósticos, que identificaram a situação da comunicação direta entre as lideranças e os empregados no dia a dia no Porto, e de posse dos dados da pesquisa de clima realizada pela equipe de Recursos Humanos, nesta mesma área, a GAROV iniciou a elaboração de uma estratégia de comunicação, que incluiu uma proposta de avaliação sobre a comunicação direta - os Testes de Eficiência em Comunicação. O objetivo desses testes é identificar a percepção de comunicação direta pelos empregados, principalmente do nível operacional, e apoiar as lideranças para conduzirem o processo nas áreas. A aplicação é feita por um profissional de comunicação, por meio de entrevistas individuais com as equipes de diferentes supervisores/líderes do Porto, face a face ou por telefone. Em seguida, é feita a tabulação dos dados e a análise do percentual de aderência ao conhecimento dos conteúdos apresentados por seus supervisores mostrando, a partir do índice de acertos sobre os conteúdos abordados ao empregado, a eficiência da comunicação da sua liderança imediata. As perguntas são definidas na semana anterior à aplicação do teste, elaboradas pela equipe de Comunicação, em conjunto com o corpo gerencial (gerente geral, gerentes de área e Recursos Humanos). Os temas incluem questões como Gente, Gestão, Saúde e Segurança, Operação, Produção, Campanhas e Serviços. São exemplos de questões levantadas: 9 Qual parte do corpo foi mais afetada em acidentes no mês de abril? Você sabe o número da emergência do Porto? Como você entende a Missão, Visão e os Valores da Vale? Como você contribui para o alcance de resultados dentro de sua área? E dentro da empresa? Como você avalia a comunicação direta com o seu supervisor/líder? Que campanha de Comunicação está sendo realizada em sua área atualmente? Você está participando? Como? A partir das questões respondidas, são geradas tabelas (figura 1) e gráficos (figura 2) apresentados em reunião de desempenho operacional com gerentes e supervisores. Os dados apresentados e avaliados pela equipe de Comunicação, junto com os gestores, orientam a tomada de ações e reformulação de planos de trabalho, além de inserções de novas ações e temas trabalhados na comunicação direta com os empregados. Entre as ações de melhorias da comunicação, incluem-se campanhas internas, treinamento de comunicação direta e interpessoal para lideranças, redução do número de reuniões e modificação no formato da apresentação de dados e informações. Cada liderança é orientada individualmente e em grupo. Junto aos supervisores, para avaliar suas principais dificuldades, a GAROV usa um modelo de follow-up mensal, com o objetivo de identificar a percepção desse público, entendendo suas dificuldades. Depois de compilados, os dados deste follow-up são cruzados com o resultado dos testes de eficiência para a tomada de decisão. Dentro desse processo, apesar da relativa contribuição de maior parte das lideranças e dos bons resultados alcançados, destacam-se alguns desafios ao modelo dos TE’s que dificultam sua aplicação. Entre os desafios pode–se citar: a falta de abertura de alguns gestores ao processo de comunicação direta, desconfiança da lisura do processo por parte dos empregados (alguns acham que a comunicação irá informar aos gerentes quem falou e o quê, e que falar a verdade pode prejudicá-los em relação à chefia imediata), dificuldades de acesso às áreas operacionais e pouca disponibilidade do analista para aplicar os testes, dificuldade dos profissionais de comunicação da Vale na utilização de ferramentas básicas de mensuração para este modelo (planilhas, gráficos, definição de percentuais e outras). Esses desafios exerceram influência direta em vários questionários aplicados. 10 Com base no estudo da disciplina Planejamento de Estratégias de Comunicação foi possível identificar que os Testes de Eficiência em Comunicação (TE’s) se alinham aos parâmetros do Modelo de Avaliação de Relacionamentos, de Hon e Grunig (2002), apresentado por Galerani (2005). No caso dos TE’s, os públicos enfatizados são os empregados e as lideranças (gerentes e supervisores) do Porto Norte. Seus objetivos incluem identificação de problemas de fluxo de comunicação, verificação de práticas bem sucedidas entre as lideranças e resultados alcançados, além da promoção de mudanças de comportamento e sugestões de melhorias para o clima organizacional. Como exposto, o Modelo de Avaliação de Resultados de Hon e Grunig (2002), apresentado por Galerani (2005), fundamenta-se na idéia de que o valor da comunicação se situa na melhoria da qualidade dos relacionamentos com públicos estratégicos, o que se torna perceptível por meio da avaliação das estratégias que, efetivamente implementadas, contribuem para otimizar recursos financeiros e reduzir perdas resultantes de relações inadequadas dentro das organizações. Nos Testes de Eficiência em Comunicação, a participação atuante dos públicos priorizados e das áreas clientes na avaliação dos resultados tem contribuído para a construção e revisão das estratégias de comunicação em apoio à comunicação direta entre lideranças e empregados da DIOP no Maranhão. Isso confirma que: “As organizações geralmente tomam melhores decisões quando escutam os stakeholders e colaboram com eles, em lugar de tomar decisões e depois tentar persuadir o público a aceitar as suas metas”. (PORTER, apud GALERANI, 2005, p.161). Entre os principais resultados alcançados a partir da aplicação dos TE’s, pode-se citar a contribuição para um avanço no nível de confiança entre gestores e empregados e maior envolvimento dos empregados na definição dos temas de campanhas internas. Foi possível ainda identificar um maior comprometimento das equipes com a melhoria dos relacionamentos e fluxos de informação nas áreas, além da relação de troca e busca continuada de melhorias nos processos. Mais recentemente, a área do Porto, que passava por sérios problemas de produtividade, alcançou um recorde de embarque inédito, o que foi atribuído ao nível do entendimento do papel de todos os empregados para o alcance desse resultado, gerando maior envolvimento deles. Um dos aspectos destacados nessa conquista, segundo a área, é o entrosamento entre os diversos setores do Porto e a melhoria no fluxo de repasse de metas e objetivos das equipes. 11 Esses resultados confirmam que os mecanismos de monitoramento, como é o caso dos TE’s, possibilitam agregar a processos e práticas organizacionais já existentes, novos pontos de vista, a partir do permanente acompanhamento do processo e do ambiente (OLIVEIRA e PAULA, 2007). No entanto, ainda há muito a ser aprimorado nesse modelo no que diz respeito a leituras de cenários, aproximação com as áreas, estabelecimento de relação de confiança com gestores e empregados, aprimoramento das ferramentas utilizadas, além do respaldo teórico e prático aos profissionais da área de comunicação da Vale. Considerações finais Ao longo dos estudos no curso de pós-graduação da PUC Minas Virtual e durante a produção deste artigo ficou evidente a relação entre os estudos de comunicação e a evolução das práticas sociais e, conseqüentemente, das organizações. Uma está intimamente ligada à outra. Na prática, observa-se que os estudos atuais sobre comunicação organizacional, incluindo as teorias na área, conceitos e metodologias de mensuração e avaliação, refletem essa sinergia. Ao longo do tempo, a comunicação passou a ter seu interesse principal voltado para a construção dos relacionamentos entre as organizações e públicos com os quais interage e são estratégicos para sua atuação. Na complexidade do contexto contemporâneo e sob a perspectiva relacional da comunicação, fica patente que não é mais possível enxergar a comunicação como um processo controlável e com resultados previsíveis. Ao mesmo tempo, é impossível não atender às novas demandas mercadológicas - onde se inserem a maioria das organizações - de metodologias e práticas que evidenciem e justifiquem o papel, a importância estratégica e a contribuição da comunicação para o alcance de resultados organizacionais. É possível concluir, diante do estudo realizado, que modelos de avaliação e mensuração de resultados em comunicação no contexto das organizações precisam considerar esse cenário e ser respaldados na perspectiva de comunicação voltada ao fortalecimento das relações entre as organizações e os diversos públicos. Dessa forma, pode-se responder aos desafios da alta direção de evidenciar a contribuição dessa área para os resultados do negócio. 12 Esse é o caso da Vale, que tem investido na melhoria seu processo de comunicação e de metodologias de monitoramento, embora estas ainda constituam um desafio para a área na empresa. No entanto, a exemplo de outras organizações, a Vale ainda busca um modelo de avaliação e mensuração do seu processo de comunicação no âmbito corporativo, capaz de atender à sua diversidade de negócios, culturas e atuação geográfica. Iniciativas como a aplicação dos TE’s têm contribuído para isso, já que a ênfase do modelo é transversal aos diversos negócios da Vale: os relacionamentos das lideranças com as equipes e vice-versa. Com os estudos da disciplina de Planejamento de Estratégias de Comunicação Organizacional e outras referências que subsidiaram este trabalho de conclusão de curso, foi possível observar que um modelo como os TE’s pode ser reforçado com a fundamentação teórica adquirida. Considera-se que essa base contribuirá para a melhoria da aplicação dos testes e/ou de outros modelos de mensuração de resultados em comunicação dentro da empresa. O desenvolvimento e a aplicação dos Testes de Eficiência no Porto Norte revelam a possibilidade de ampliar a atuação e a contribuição da área de comunicação para o processo de gestão e o alcance de resultados das áreas clientes. Esta metodologia, piloto na unidade portuária de São Luís - MA, hoje constitui uma base na construção de estratégias de comunicação para a equipe regional de Comunicação, com resultados efetivos e sustentados. Para além da formação profissional e da formulação de um modelo “ideal” de mensuração de resultados, buscou-se, com base no presente trabalho, ampliar e fundamentar o entendimento e a prática da comunicação, seja como tecido das relações sociais, seja como processo de mediação entre os diversos públicos com os quais uma organização interage. Acredita-se que a partir dessa compreensão será possível construir novos significados para práticas atuais neste contexto. REFERÊNCIAS BALDISSERA, Rudimar. Comunicação organizacional: uma reflexão possível a partir do paradigma da complexidade. In: OLIVEIRA, Ivone de L. SOARES, Ana Thereza N. In: Interfaces e tendências da comunicação no contexto das organizações. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2008. GALERANI, Gilceana. Enfim, o merecido valor à subjetividade. In: Revista Comunicação 360º. Rio de Janeiro: Editora Casa do Cliente, 2009, p. 6-7. 13 ___________________. O desafio da avaliação de resultados em Comunicação Organizacional In: Revista Organicom, ano 2, 1 semestre. São Paulo, 2005. Pág. 147-159. GUIMARAES, Euclides. Notas sobre a complexidade nas organizações e nas ciências sociais. In: OLIVEIRA, Ivone de L. SOARES, Ana Thereza N. Interfaces e tendências da comunicação no contexto das organizações. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2008, p.131-148. ____________________. Textos reunidos sobre a contemporaneidade. Texto utilizado como material de estudo na disciplina Fundamentos Científicos da Comunicação, da pós graduação em gestão da comunicação empresarial. PUC Minas Virtual, 2008. KUNSCH, M.M.K. Planejamento de Relações Públicas na comunicação integrada. 4.ed. São Paulo: Summus,2003. LOPES, Valéria Castro. Mensuração de resultados mostra a importância da comunicação nas empresas. 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