A formulação dos programas de transferências de renda a partir de
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A formulação dos programas de transferências de renda a partir de
A FORMULAÇÃO DO PROGRESA-OPORTUNIDADES A PARTIR DE UMA ANÁLISE INSTITUCIONALISTA HISTÓRICA Carla Tomazini1 RESUMO: Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar a formulação do programa mexicano de transferência monetária condicionada ProgresaOportunidades. Valendo-se especialmente dos avanços teóricos apresentados por Thelen e Mahoney (2010), do “modelo de coalizão” de causas de Sabatier e JenkinsSmith (1988, 1993) e de “agenda setting” de Kingdon (1995) a investigação pretende avaliar a importância que os fatores endógenos possuem para explicar os processos de mudanças institucionais que autorizaram a criação desse programa. PALAVRAS-CHAVE: programas de transferências monetárias condicionadas, análise de mudança de política pública, México. Nas últimas décadas, os programas de transferências condicionadas transformaram os sistemas de proteção social de muitos países no mundo, especialmente da América Latina. Brasil e México são apontados como os pioneiros no desenvolvimento desses programas e os campeões da cobertura. No México, o programa PROGRESA-Oportunidades nasceu em 1997, atingindo 5 milhões de famílias beneficiárias em 2012 (PNUD, 2013). Mas, quais são as condições e contextos que tornam as políticas de transferência de renda possíveis? Podemos buscar suas origens nos seus antecedentes, como nas políticas anteriores de luta contra a pobreza, nas reformas dos regimes de proteção social, nas estratégias dos poderes executivos de construção dos Estados de Bem Estar ou na maior atenção prestada às políticas sociais. As origens também podem ser vistas como um produto do neoliberalismo, uma transição para sociedades mais inclusivas ou como uma resposta aos movimentos sociais. Nenhuma resposta seria claramente errada ou verdadeira. Segundo Page (2006): Policies may reflect a variety of intentions and ideas: some vague, some specific, some conflicting, some unarticulated. They can, as we will see, even be the unintended or undeliberated consequences of professional practices or bureaucratic routines. Such intentions, practices, and ideas can in turn be shaped by a vast array of different environmental circumstances, ranging from an immediate specific cue or impetus to a more general spirit of the time or even a belief in a 1 1 Universidade de Campinas [email protected], mestre. em co-tutela com a Universidade Paris 3, 1 self-evident universal truth. How can we talk about the origins of something as diverse as policy? Na literatura sobre as origens das políticas, a noção de agenda setting (Kingdon, 1995) é usualmente utilizada como um primeiro passo para a compreensão de uma determinada política. Na sua acepção mais simples, esta noção permite examinar como um conjunto de processos conduzem determinados fatos sociais a adquirir um status de problema público. Kingdon parte da ideia de que as soluções não são problem solving, isto é, elas não nascem necessariamente para resolver problemas (Cf. Modelo “Garbage Can” de Mach e Olsen, 1972). Na realidade, as soluções podem estar “em busca” de problemas ou eventos aos quais poderiam se conectar. Assim, a esfera política é dividida em três correntes (dos problemas, das soluções e da política), cada uma com um desenvolvimento independente e lógica própria. As vantagens da noção de agenda setting estão relacionadas à possibilidade de articular diferentes temporalidades, colocando em perspectiva eventos pontuais e mudanças originárias de um tempo relativamente longo. Mas, essa vantagem também se mostra sua principal limitação: ao conciliar diferentes abordagens teóricas podemos utilizar perspectivas até mesmo contraditórias. Segundo Ravinet (2004), o modelo de Kingdon (1995) não se trata de um conceito, nem mesmo uma teoria, mas sim uma estrutura para mobilizar e combinar diferentes conceitos e noções, notadamente das origens e mudanças de políticas públicas. Nesse trabalho, primeiramente, apresentamos o quadro teórico sob o qual está assentada nossa análise, valendo-se especialmente do modelo de “agenda setting” (Kingdon 1995), do modelo de “coalizões de causa” (Sabatier e Jenkins-Smith, 1993) e da tipologia sobre mudança institucional gradual (Thelen e Mahoney 2010). Em seguida, buscamos examinar os fatores domésticos que deram origem ao programa PROGRESA-Oportunidades. I. INSTITUCIONALISMO HISTÓRICO COMO ESCOLHA ANALÍTICA Tratar os programas de transferências monetárias condicionadas dentro de uma abordagem institucionalista histórica poderá contribuir para compreender os mecanismos de mudanças que levaram às alterações institucionais. As pesquisas sobre os impactos das instituições no comportamento dos atores e de suas decisões têm constituído um subcampo crescente das ciências políticas, sobretudo nos últimos anos, quando o postulado “as instituições importam” tornaramse quase um lugar-comum (Arretche, 2007). A despeito desta redescoberta, a 2 explicação de fenômenos de mudanças institucionais permanece uma das principais questões das análises neo-institucionalistas sejam elas ligadas ao institucionalismo sociológico, da escolha racional ou histórico (Hall e Taylor, 1996). Em geral, os neo-institucionalistas são estudiosos que colocam ênfase especial no papel que as instituições desempenham na estruturação de comportamento, podendo estas ser definidas como regras formais ou informais (Steinmo, 2008). Se para os institucionalistas da escolha racional, as instituições importam porque enquadram o comportamento estratégico dos indivíduos; para os institucionalistas sociológicos, as instituições estruturam os comportamentos porque os indivíduos buscam satisfazer e se adequar a suas lógicas de funcionamento. Quanto aos institucionalistas históricos, estes consideram que as três variáveis (indivíduos, contexto e regras) são relevantes. Assim, um determinado resultado ocorre porque os comportamentos podem ser tanto guiados pelo auto-interesse, pelo altruísmo ou mesmo pelo hábito (Steinmo, 2008). É precisamente por isso que os institucionalistas históricos tecem críticas à teoria dos jogos. Thelen (1999, p. 376) com base em Bates et al. (1998) argumenta que a teoria dos jogos deveria levar em conta de forma mais específica e precisa as características do ambiente político-social em que os indivíduos elaboram e escolhem suas estratégias. Tendo em consideração esses elementos analíticos, Sanders (2006) argumenta que o institucionalismo histórico fornece explicações mais claras para estudar as interações humanas, (a) in the context of rule structures that are themselves human creations; and (b) sequentially, as life is lived, rather than to take a snapshot of those interactions at only one point in time, and in isolation from the rule structures (institutions) in which they occur’ (Sanders, 2006:39). A ênfase no seqüenciamento e timing permite entrever padrões de interação e processos político-econômicos na formação e evolução institucional, uma vez que não consideram processos isolados, mas sim procuram entender como a ordenação temporal influencia os resultados (Thelen 1999, p. 388). Segundo Steinmo (2008), existem pelo menos três aspectos importantes que nos autorizam a pensar que a história importa: i) os acontecimentos políticos acontecem dentro de um contexto histórico, exercendo um impacto direto sobre as decisões ou eventos; ii) os atores ou agentes podem aprender com a experiência, uma vez que as escolhas políticas em um ponto no tempo afetam as escolhas em pontos subseqüentes; iii) as expectativas também são moldadas pelo passado. 3 O número crescente de estudos que se utilizam dessa abordagem tanto no Brasil quanto no exterior nos permite dizer que houve uma grande adesão ao retorno do “histórico” nas ciências sociais (Hochmann 2007). Segundo Pierson (2000, p. 72), doravante busca-se um mundo de imagens em movimento e não apenas imagens instantâneas e estáticas. Um elemento central dessa teoria da causalidade histórica que vem se construindo é o path dependence, dentre outras noções no debate sobre o fator da temporalidade nas análises de mudança institucional. A. DE QUAL TIPO DE MUDANÇA INSTITUCIONAL ESTAMOS FALANDO? Na análise da mudança institucional, predominam os modelos atentos aos mecanismos de permanência de trajetórias institucionais, por oposição aos mecanismos exógenos geradores de mudanças. Por um lado, coloca-se ênfase na forte continuidade, destacando o peso exercido pelas escolhas passadas (Lindblom, 1979; Rose, 1990; Skocpol, 1992; Pierson, 2000, entre outros). Ao longo do tempo, as instituições afetam o comportamento e moldam as preferências, dado que os entraves às mudanças estão ligados aos seguintes fatores (Steinmo, 2008): 1) qualquer instituição (seja uma instituição formal ou norma) está incorporada dentro de um conjunto maior de instituições; 2) a mudança traz implicações para muitos atores, notadamente pela resistência dos favorecidos das instituições do status quo no contexto mais amplo; 3) as instituições podem desencadear mecanismos de lock-in, porque existe um investimento para aprender as regras; mudá-las pode trazer custos iniciais que podem ser rejeitados por aqueles que não querem arcar com novos custos. Na medida em que os arcabouços institucionais se reforçam mutuamente e produzem ganhos econômicos, estabelece-se o path dependence (Pierson, 1993, 1994, 2000), isto é, a tendência dos atores a seguir na mesma trajetória. North define o conceito de dependência do caminho como “a way to narrow conceptually the choice set and link decision-making through time. It is not a story of inevitability in which the past neatly predicts the future” (North 1990, p. 99). Além dos obstáculos à mudança atrelados ao conceito de path dependence, existem também aqueles relacionados à multiplicidade de atores ligados, por exemplo, à noção de incrementalismo (Lindblom, 1959). Por outro lado, argumenta-se que momentos de rupturas mais radicais na ordem institucional seriam frutos de “choques externos”, como crises ou grandes eventos (Kingdon, 1984). A explicação dominante durante muito tempo esteve 4 baseada na noção de "equilíbrio pontuado" (Thelen e Steinmo, 1992). Esta ideia se refere ao processo em que as instituições permanecem essencialmente em equilíbrio, até que se deparem com um choque externo. Muitos institucionalistas históricos têm criticado essa lógica, dado que minimizaria o poder da agência em favor de uma espécie de “destino” (Steinmo, 2008). Recentemente, o trabalho de Mahoney e Thelen (2010) critica a tendência dos pesquisadores a considerar mudanças grandes e abruptas mais importantes que as mudanças graduais e progressivas. Mantendo-se dentro da perspectiva institucionalista histórica, Streeck e Thelen (2005) e Mahoney e Thelen (2010) propuseram uma tipologia de mudança institucional gradual que nos permite ordenar e comparar casos empíricos em diferentes contextos. São quatro mecanismos de mudança institucional, a saber: 1. conversão ou conversion (a reconversão estratégica das instituições existentes para fins novos), 2. deriva ou drift (as mudanças no ambiente da instituição não são acompanhadas de ajustes institucionais), 3. deslocamento ou displacement (a extinção das velhas instituições e a introdução de novas) e 4. layering (organização em camadas) ocorre quando “novas regras são anexadas àquelas existentes, mudando assim as formas pelas quais regras originais estruturam o comportamento” (Mahoney e Thelen, 2010, p. 16). Nesta mesma linha, alguns autores têm buscado incorporar à análise institucional o poder de agência por parte dos atores, suas lógicas de ação e a maneira pela qual eles testariam os limites impostos pelas instituições (Streeck e Thelen, 2005; Hall e Thelen, 2009; Mahoney e Thelen 2010). Como consequência, o foco está na capacidade dos atores de reinterpretar as normas e valores, valendo-se por vezes das ambigüidades intrínsecas aos arranjos institucionais. No artigo que segue, esta perspectiva se mostra de grande valia. A nosso ver, tanto o path dependence como as outras teorias de mudança exógena, não levam em conta que as instituições estão inseridas em um contexto que está em constante mudança, sendo a estabilidade sustentada politicamente. B. QUESTÃO DO PODER A distribuição de poder nas instituições, elemento central do institucionalismo histórico, é também importante para a análise da mudança gradual. Os resultados institucionais não são exatamente uma simples reprodução dos objetivos de um 5 determinado ator, grupo ou coalizão. Em outros termos, pensar a origem e a continuidade das instituições passa por refletir sobre os caminhos da coordenação dos atores que possuem objetivos às vezes conflitantes e compromissos muitas vezes ambíguos (Mahoney e Thelen, 2010). Por um lado, aqueles que se beneficiam de regimes existentes podem preferir a continuidade, procurando mobilizar apoio político para manter o status quo e evitar os efeitos negativos resultantes das ambigüidades institucionais. Por outro lado, atores descontentes podem se utilizar de outras instituições para mudar aquilo que discordam. Para esse fim, é necessário analisar “the combined effects of institutions and processes rather than examining just one institution or process at a time” (Mahoney e Thelen 2010, apud Pierson e Skocpol, 2002, p. 696). Para além da abordagem da distribuição do poder, (Mahoney e Thelen, 2010) colocam-se questões sobre o grau de cumprimento das regras, pois consideram que as mudanças institucionais graduais mostram-se possíveis quando ocorrem problemas de interpretação e aplicação das regras, abrindo uma brecha para que os atores as reinventem. C. “BRINGING THE IDEAS BACK IN”: AS IDEIAS COMO PONTO-CHAVE DA ANÁLISE À questão da mudança institucional também pode ser agregada uma terceira dimensão: as ideias como variável importante na transformação de políticas públicas. Os atores defendem ou contestam certas instituições não somente pelo simples interesse. A dimensão do conflito pode ser permeada por crenças normativas e controvérsias técnicas contestadas e mesmo irreconciliáveis. As ideias importam para a análise dos programas de transferência de renda, na medida em que a temática da pobreza está diretamente relacionada às convicções morais e crenças religiosas. Ainda que na tradição institucionalista histórica, as instituições são tidas como constitutiva das ideias, verifica-se notadamente com Peter Hall (1993) uma maior inclinação por parte dos investigadores desta abordagem a considerar que as ideias possam também ser fundamentais para a mudança e parte constitutiva das novas instituições (Smith, 2006). Steinmo sustenta que deve-se reavivar o interesse pelas "ideias" na análise institucional. Segundo ele, o marxismo, a escola da escolha racional, as teorias pluralistas entre outros supõem que os interesses sejam as forças motrizes da política, sendo as ideias tratadas como meras justificativas (Steinmo, 2008). Ainda que muitas 6 vezes as ideias não sejam levadas em conta por serem difíceis de medir e quantificar, os institucionalistas históricos que se preocupam com o poder das ideias não estão atrelados a uma teoria ou metodologia específica (Campbell 2002). Uma vez incoroporadas, as ideias possuem efeitos de enquadramento, tornando-se modelos para outras decisões políticas. Ideias são “creative solutions collective action problems” e apresentam tanto bases racionais quanto emotivas (Steinmo, 2008). Levando em consideração todos esses aspectos, no caso mexicano, mudanças graduais ocorreram antes e após a implementação do programa de transferência de renda federal Progresa em 1997. Em um primeiro momento representou uma mudança profunda, não envolvendo o "colapso" das instituições anteriores. Em um segundo momento, outras mudanças significativas ocorreram, sobretudo, em 2006 com a incorporação de elementos estranhos aos objetivos do Programa Oportunidades. II. AS “COALIZOES DE CAUSA” NO MEXICO De acordo com Thelen (1999) ainda que se considere as instituições como formatadoras de padrões, não se pode ignorar as outras variáveis: os atores, interesses, estratégias e, sobretudo a distribuição de poder entre eles. Colocados esses fatores em causa, é possível mostrar como eles se relacionam entre si e observar a maneira como as situações políticas são estruturadas. Assim, foi feito um estudo dos atores, grupos de pessoas e organizações que interagiram em uma base regular ao longo do período estudado a fim de influenciar a formulação dessas políticas públicas2. Além disso, entender o motivo pelo qual uma política pública é adotada, exige a análise de sua capacidade de agregar interesses divergentes e mesmos contraditórios. Nesse sentido, o papel das ideias na formulação destas políticas também foi um fator considerado na pesquisa. Ainda que esta dimensão seja muitas vezes rebatida devido às dificuldades empíricas e teóricas que ela coloca; acreditamos que as teorias cognitivas possam contribuir para a compreensão do modo como coalizões se formam e legitimam as escolhas políticas, que não podem ser explicadas apenas em termos de interesse e cálculos racionais por parte dos atores. Nesse estudo, utilizamos o modelo de “coalizões de causa” desenvolvido por Paul Sabatier e Hank Jenkins-Smith (1993). Com este modelo podemos entrever não 2 As entrevistas ocorreram em janeiro e fevereiro de 2010 e fevereiro e março de 2013. Realizamos 15 entrevistas. Foram entrevistados funcionários e ex-funcionários dos ministérios 7 somente as disputas entre os grupos de atores que definem as políticas de transferências monetárias, mas as ideias que estão em disputa. Em grande medida, partimos do pressuposto que os atores não se disputam por um programa de ação somente para defender interesses, mas especialmente para apoiar “causas”. Os valores e crenças que são compartilhados por cada coalizão se situam em três níveis: em torno de um núcleo de valores fundamentais (Deep Core); crenças próprias ao subsistema da política pública (Near Core) e aspectos secundários relativos aos detalhes programáticos das políticas públicas (Secondary Beliefs). As mudanças nesse sistema de crença ocorrem mais facilmente nos aspectos secundários à luz das novas experiências e informações, assim como das mudanças estratégicas desenvolvidas pelos atores (Sabatier, 1999). Partindo desses pressupostos, foram identificadas duas coalizões estruturadas de acordo com valores e percepções do fenômeno da pobreza, cujos instrumentos privilegiados são as transferências monetárias (Tomazini 2010): ‘renda incondicionada’ e ‘capital humano’ (tabela 1). Os atores inseridos na coalizão ‘capital humano’ compartilham a crença que a privação dos conhecimentos escolares e da assistência médica, tornaria os “pobres” economicamente menos produtivos3. Os valores centrais desta coalizão podem ser resumidos na máxima: “É melhor ensinar a pescar que fornecer o peixe”. Esta coalizões é predominantes no México, uma vez que lograram de fato condicionar os benefícios das transferências a comportamentos determinados dos beneficiários, como frequência escolar e visitas a centros de saúde. As coalizões que se referem à causa da ‘renda incondicionada’ partilham a crença que a pobreza seria o resultado da violação do direito a compartilhar a riqueza da nação. Os atores desta coalizão defendem políticas universais, em oposição à focalização e às condicionalidades encerradas nos programas de luta contra a pobreza. Nesse sentido, as políticas de transferência de renda deveriam dar prioridade ao direito à renda que satisfaça um padrão de vida modesto, mas "socialmente aceitável". Segundo as crenças dessa coalizão, o auxílio financeiro deve concedido para todos os indivíduos sem restrições de idade, sexo, condição socioeconômica, etc (e não somente para as pessoas vulneráveis, incapazes de trabalhar); sem qualquer contrapartida solicitada e usado da maneira como as pessoas julgarem necessário. em questão e de órgãos responsáveis, dois ex-coordenadores do Programa Oportunidades, pesquisadores da área, técnicos, atores de ONG, entre outros. 3 O conceito “capital humano” foi desenvolvido em 1964 por Gary Becker. Segundo ele, este se define como um conjunto de capacidades produtivas que o indivíduo adquire por meio da acumulação de conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, de savoir-faire, etc. 8 III. PROGRESA: A INSTAURAÇÃO DE UMA POLITICA ORIENTADA AO “CAPITAL HUMANO” A formulação e implementação no nível federal do programa PROGRESA em 1997, principal programa social de Ernesto Zedillo e de seus sucessores, pode ser abordada como uma mudança gradual na medida em que foi produzida por um mecanismo não completamente exógeno e abrupto. As discussões sobre o programa de transferência condicionada de renda foram iniciadas durante o governo Salinas, sendo seus antecedentes essenciais para se compreender como ocorreu a transição do programa Pronasol (Programa Nacional de Solidariedade) para um programa apoiado sobre a ideia de “capital humano”, o Progresa. O primeiro antecedente das políticas de transferências condicionadas de renda no México é o Programa de Atención de Servicios de Salud para la Población Abierta (PASSPA) (Levy 1994, Levy e Rodríguez 2005)4. Além de serviços médicos gratuitos e a distribuição de alimentos, o programa previa ações para promover serviços comunitários. Como "padrão de compromisso", solicita-se a todos os beneficiários que se envolvam em tarefas diversas para elevar o nível sanitário, cultural e econômico da comunidade (Ordóñez Barba, 2002). No entanto, a inspiração mais próxima do programa Progresa é o programa piloto Alimentación, Nutrición y Salud (PNAS) colocado em marcha entre setembro de 1991 e junho de 1992. Inserido na estrutura do Pronasol, este programa interinstitucional e comandado pelo Ministério da Saúde atingiu 33 mil famílias beneficiárias (Alba, Alagón e Villa 1997, Ordóñez Barba 2002, Levy 2005). Antes da implementação do programa PROGRESA, dois grupos rivalizaram ao longo do governo de Gortari (1988-1994) até meados do governo Zedillo (1994-2000). Por um lado estavam os “reformadores sociais” que priorizavam a distribuição da riqueza e possuíam uma vasta experiência de trabalho na luta contra a pobreza, ocupando cargos em instituições públicas no setor rural e Pronasol. Por outro lado, os "tecnocratas", economistas provenientes do Banco do México ou dos corredores das instituições financeiras (Valencia Lomelí e Aguirre Reveles, 1998). De certa forma, o Pronasol representava um equilíbrio, ainda que impelido por essas duas forças opostas (Dresser 1997, Valencia Lomelí e Aguirre Reveles, 1998). 4 Os primeiros programas do governo mexicano direcionados à população rural de baixa renda em áreas rurais surgiram nos anos 60. Podemos citar PINDER (Programa de Inversiones públicas para o Desarrollo Rural), o COPLAMAR (Coordinadora General del Plan Nacional de Zonas Deprimidas y Grupos Marginados), o SAM (Sistema Mexicano Alimentario). Este programa em especial é a extensão de um programa iniciado em 1973 dentro do Instituto 9 Face à crise econômica e política que se instaura ao final do governo Salinas, somados ao levante do movimento zapatista no estado do Chiapas, o programa Pronasol se viu completamente desacreditado. Por esses motivos, a transição foi marcada por uma tentativa do governo Zedillo em se distanciar da imagem deixada por Salinas, dissolvendo seu principal legado: o Pronasol. IV. A ABERTURA DE UMA JANELA DE OPORTUNIDADE "PRÓ-CAPITAL HUMANO" O tema da transferência condicionada de renda surge na cena política mexicana em 1991 como proposta de Santiago Levy, mas foi somente implementada em 1997. Os programas de transferência condicionadas entram na agenda política como uma clara oposição às políticas de subsídios. Esta mudança é operada a partir da confluência de três correntes, conforme definido John Kingdon (1995). O paradigma do capital humano se consolida no subsistema mexicano por meio dessa "janela de oportunidades". O fluxo de problemas (Problem Stream) refere-se aos indicadores, metas e análise das políticas passadas. Em primeiro lugar, os problemas identificados foram: a persistência da pobreza, o desperdício de recursos, a falta de racionalização e eficiência, o clientelismo e o risco de uso político da participação "popular". A partir dos principais indicadores utilizados por Santiago Levy (Levy e Rodríguez 2005) foram constatados que: i. 10 milhões de mexicanos não teriam acesso regular a serviços públicos de saúde, ii. 1,5 milhões de crianças entre 6 e 14 anos não freqüentavam escola, iii. um mexicano em quatro vivia em extrema pobreza, sendo 40% desse total crianças, iv. a taxa de mortalidade infantil na população pobre era duas vezes maior que a média da população v. desnutrição persistia em crianças menores de cinco anos. Quanto aos efeitos de feedback das políticas de subsídios, verificou-se que em 1996 o governo federal havia iniciado 19 programas de subsídios alimentares (14 focalizados e 5 generalizados). Enquanto 60% dos pobres viviam em áreas rurais, 77% dos recursos eram destinados à área metropolitana do Vale do México e, conseqüentemente, 60% das famílias rurais não eram recebiam qualquer benefício. Mexicano del Seguro Social (IMSS), em seguida, retomado pela COPLAMAR e posteriormente 10 A revolta do movimento zapatista em 1994 foi também interpretada como um símbolo de fracasso das políticas públicas de luta contra a pobreza. Também foram apontados como produtos desse fracasso a falta de clareza e de definição dos critérios de seleção das políticas anteriores. Além disso, alguns dos determinantes da pobreza foram atrelados aos próprios “indivíduos”. Nas comunidades rurais marginalizadas, por exemplo, constatou-se que a falta de uma "cultura de saúde preventiva" e "hábitos alimentares e de higiene" [sic], tenderia a agravar o problema da desnutrição e seu corolário, a mortalidade infantil (Levy e Rodríguez 2005, p. 182). Subsídios alimentares no México não teriam sido eficazes na luta contra a pobreza (Levy e Rodríguez 2005, p. 217). Com relação ao fluxo de políticas públicas, uma gama de recomendações foram feitas: i) aprofundar os mecanismos de identificação da população-alvo, a fim de torná-los mais transparentes, objetivos e sistemáticos e de estabelecer um benefício mais equilibrado entre o âmbito rural e urbano; ii) melhorar o estado nutricional dos indivíduos mais vulneráveis nas famílias beneficiárias; iii) relacionar o benefício as ações de saúde e educação, e iv) proporcionar por meio do benefício um aumento da renda familiar (qualificação profissional, etc). A viabilidade técnica da associação entre a ajuda alimentar e os serviços de saúde foi testada por um programa piloto no estado de Campeche, intitulado Programa de Canasta Básica Alimentaria para el bienestar de la Família. Demonstrou-se que é possível entregar a ajuda em dinheiro obtendo resultados positivos. A recomendação foi substituir os subsídios, concentrando os recursos em um programa menor e condicionando os benefícios ao uso dos serviços de saúde e educação. Esta solução era coerente com as recomendações das principais organizações internacionais como o Banco Mundial e o BID. Finalmente, o fluxo político é marcado pela chegada de Zedillo ao poder em 1995, após um anno horribilis para o México (León e Quezada, 2001). Entre os fatores exógenos, podemos citar os escândalos políticos que ligavam os membros do PRI aos casos de assassinatos, o movimento Zapatista e as dificuldades econômicas e a insegurança crescente. A definição da agenda foi um processo politicamente custoso. No entanto, apesar dos custos políticos com o fim dos subsídios, o clima nacional era favorável à mudança devido à forte rejeição pública do programa Pronasol. Santiago Levy é um ator chave para a compreensão da formulação do PROGRESA. Ministro da Fazenda e pelo PRONASOL. 11 Crédito Público, ele é apontado com o principal arquiteto desse programa. Em seu livro, Santiago Levy escreveu: À partir de 1996 se promovió un cambio de visión para transitar de acciones que solo transfieren ingresos a través de diferentes medios hacia programas que, al mismo tiempo que dan una transferencia de ingreso, fomenten la inversión en capital humano y en activos productivos y brinden oportunidades a la población para salir adelante con su proprio esfuerzo. (Levy e Rodríguez 2005, p. 182). Figura I. Abertura da"Janela de oportunidade" favorável à criação do programa de transferência condicionada de renda Progresa-Oportunidades Descrédito de Salinas e do PRI, (escândalos de corrupção, ondas de assassinatos, crise econômica, forte oposição dos movimentos sociais, etc.), mudanças na administração, entrada em vigor do NAFTA… Persistência da pobreza, desperdício de recursos por meio de subsídios, uso político dos programas sociais, o feedback negativo do PRONASOL, o privilégio outorgado à população urbana ... Incorpoação na agenda do programa de transferência condicionada Agenda do governo Vida política Problemas Alternativas Remoção dos subsídios de alimentos e concentração dos recursos nas familías com extrema pobreza, atrelando aos serviços de saúde e educação, de acordo com a teoria do capital humano. Favorecimento das populações rurais Soluções O futuro do Sedesol e do Pronasol eram um assunto bastante sensível no início da administração Zedillo (Valencia Lomelí e Aguirre Reveles 1998). As diferenças entre os "tecnocratas" e "reformadores sociais" cresceram entre as equipes de Santiago Levy, sub-secretário do Ministério das Finanças e Carlos Rojas, Secretário do Sedesol. Esse conflito foi resolvido com a tentativa de atrelar as políticas de combate a pobreza com as reformas econômicas que estavam sendo implementadas a perspectiva do capital humano (Valencia Lomelí, apud Levy, 2004). A posição privilegiada de Santiago Levy no Ministério da Fazenda e Crédito Público fez com que seu projeto – o PROGRESA – prevalecesse no interior do governo (Valencia Lomelí e Aguirre Reveles 1998). Além disso, os atores que passam a defender os pressupostos do ‘capital humano’ ocuparam cargos importantes, promovendo uma mudança na política social em harmonia com o novo modelo de abertura econômica. O presidente 12 era considerado, ele mesmo, um “técnico” e partidário da teoria do capital humano (Valencia Lomelí e Aguirre Reveles 1998). Progresa foi lançado em meados do governo Zedillo. Este atraso é explicado pela crise econômica e pelo debate que ocorreu no seio do governo (Valencia Lomelí e Aguirre Reveles, 1998). De alguma forma, PROGRESA foi uma decisão do Ministério das Finanças, que determinou não somente o orçamento dos programas sociais e a nova conduta em relação aos subsídios generalizados, mas também a sua orientação rural e a configuração do pacote "saúde, educação, alimentação”. O lançamento do programa marca então uma mudança profunda nas premissas dos programas sociais, reorientados para uma política do capital humano. V. 1997-2006: ACOMODAÇÃO E ARTICULAÇÃO ENTRE AS COALIZÕES O exame do período que vai de 1997 à 2002 indica um acordo parcial sobre a definição do problema da pobreza: por meio dos filtros na teoria do capital humano. Ainda que dominantes nos subsistemas de transferências condicionadas, é inegável a influência das outras coalizões. Seria demasiado simplista categorizar os atores como simples vencedores e perdedores. Como descreve Thelen e Mahoney (2010, p. 22) “The fact that actors are simultaneously embedded in multiple institutions often leaves them winners in some arenas but losers in others. (…) We should not, for example, confuse immediate ruleconforming behavior with the overall goal of institutional maintenance. Actors may, instead, pursue a strategy of short-run conformity in the service of long-run insurrectionary goals”. No México, os presidentes recém-eleitos geralmente tendem a eliminar os programas sociais simbólicos do governo anterior. Entretanto, optou-se por manter o programa Progresa principalmente devido às avaliações positivas, à sua popularidade e boa reputação que adquiria no exterior. Por um lado, os novos funcionários estavam convencidos de seus efeitos positivos. Por outro lado, alguns ex-funcionários permanecem nos postos-chave (Yaschine e Orozco, 2010). Em 2000, a eleição de Vicente Fox do Partido Acción Nacional (PAN) encerra um período de 70 anos, de hegemonia do Partido Revolucionario Institucional (PRI) na presidência da República. Progresa foi renomeado Oportunidades em março de 2002, provavelmente, para marcar não só o novo governo, mas também a transição política histórica. São três as principais alterações: a) a inserção de uma perspectiva dos direitos político-eleitorais no programa, com o reforço dos mecanismos de transparência e prestação de contas (Hevia, 2007) b) qualitativa e quantitativa dos 13 beneficiários, produzindo uma série de alterações operacionais no sistema de seleção e cadastramento (Hevia, 2007) e c) incorporação de novos componentes distoantes da teoria do capital humano. VI. CAPITAL HUMANO: COALIZAO “OPORTUNISTA”? Em 2003, o programa Pensión Universal Ciudadana ou pensão alimentícia para pessoas idosas independentemente de sua renda foi implementado no Distrito Federal. A aprovação da lei que instituiu o programa foi objeto de vivas discussões na Assembleia Legislativa5. Cabe notar que o debate sobre transferências monetárias no México adquiriu um significado partidário muito claro, sobretudo no que concerne a clivagem direita-esquerda. No entanto, tendo em vista a popularidade do programa, governadores de diferentes partidos procuraram replicar este modelo de transferências de renda para pessoas idosas (Combes 2007). Em grande medida o programa ‘pensão alimentária’ foi amplamente atrelado à Andrés Manuel López Obrador, governador do Distrito Federal na época, servindo para projetá-lo no cenário político nacional (Combes 2005). Inúmeras críticas foram feitas com relação à universalidade do programa, principalmente acusando-o de ser uma política pública de caráter populista e clientelista (Combes 2007). O próprio presidente Vicente Fox, em um discurso seu programa de rádio atacou frontalmente o programa do Distrito Federal enfatizando a “injustiça” do programa, pois ele seria financiado com o dinheiro dos que trabalham6. A despeito dessas críticas expressas à pensão alimentícia para pessoas idosas, o presidente Fox coloca em marcha uma medida similar em 2006. Trata-se de uma ajuda financeira destinada às pessoas com mais de 70 anos que vivem nas cidades com mais de 10 mil habitantes e em famílias beneficiárias do Oportunidades. De acordo com Hevia (2007), este novo elemento do programa não estava previsto ou justificado nos objetivos, estratégias e linhas de ação do Oportunidades, também não sendo resultado de recomendações ou avaliações de agências ou universidades. O novo componente do Oportunidades (70 y Más) representa uma expansão de uma categoria da focalização, combinando elementos do programa federal e do Distrito Federal. 5 “Elevan diputados a rango de ley la ayuda alimentária a ancianos”, La Jornada, 12 de novembro de 2003. 6 Ramirez, B. T. “López Obrador: con austeridad, viable en todo el país la pensión universal”, La Jornada, 14 de março de 2005. Boltvinik J. Economia Moral, La Jornada, 18 de março de 2005. 14 Como a coalizão ‘capital humano’ é parte dos “defensores institucionais” dos programas condicionados de transferência de renda, ela adota uma postura de defesa modificando estrategicamente as estruturas para preservá-las. Como demonstra Alan M. Jacobs (2010, p. 96). In the face of both exogenous dislocations and internal challenge, institutional defenders must in turn engage in ongoing efforts to mobilize and maintain political support, at times by strategically modifying the very structures they seek to preserve. Concretamente, argumentamos que este novo elemento foi produzido pela interação com a coalizão ‘renda incondicionada’. Os atores políticos da coalizão ‘capital humano’ modificaram algumas regras do programa Oportunidades, dirigindo-se aos idosos, mas mantiveram as características de sua matriz cognitiva. A coalizão ‘capital humano’ pode ser vista, nesse período, como uma vertente “oportunista”. Oportunista no sentido que explorou as ambiguidades e aplicações das regras em vigor, procurando refazer as regras existentes de forma diferente à intenção dos formuladores originais do programa. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse trabalho foi levantar pistas sobre as fontes endógenas de mudanças nas políticas de transferência de renda no México. Buscou-se pensar os resultados institucionais como produto do conflito entre coalizões. Ao longo dos anos 90, a coalizão favorável à consolidação de um sistema condicionado de transferência de renda ligado, sobretudo à frequência escolar e à agenda de compromissos em saúde, logrou impor uma série de medidas que redundaram em uma efetiva criação de programas de transferência condicionadas. Houve um deslocamento dos programas de subsídios generalizados que foram completamente redirecionados aos programas de transferência de renda. Para Levy e Rodriguez (2005, p. 189), por exemplo: “a partir de 1996 se promovió un cambio de visión para transitar de acciones que sólo transfieren ingresos a través de diferentes medios (básicamente con subsidios de precios a algunos productos alimenticios, con dotaciones en especie de diversos productos, o con subsidios al crédito o al consumo de electricidad o transporte), hacia programas que, al mismo tiempo que dan una transferencia de ingreso, fomenten la inversión en capital humano y en activos y brinden oportunidades a la población para salir adelante con su propio esfuerzo” Vistos dessa perspectiva, os programas de luta contra a pobreza anteriores eram fragmentados e a assistência social não possuía como principal estratégia a 15 política de desenvolvimento de “capital humano”. Utilizando a tipologia de Thelen podemos definir o tipo de mudança que introduz o programa PROGRESA como um deslocamento (displacement). A remoção de regras existentes (principalmente o programa Pronasol e os subsídios alimentários) não se efetua de maneira brusca. De fato, houve uma competição entre os defensores das novas instituições (os técnicos) que competiram até meados do governo Zedillo com os defensores das antigas instituições. Estes se mostraram incapazes de prevenir a derrota das novas regras, desmantelando paulatinamente a maior parte dos programas de subsídios. De acordo com a tipologia de Mahoney e Thelen (2010), os agentes da mudança institucional - a coalizão ‘capital humano’ - poderiam ser entendidos como insurgentes, uma vez que rejeitam o status quo institucional e as regras em vigência, mobilizando-se para substituí-las. Em um segundo momento, após a consolidação institucional do programa, os atores “pró-capital humano” modificaram algumas regras do programa Oportunidades, dirigindo-se aos idosos. Ao contrário de outros elementos, esta medida não foi nem prevista nem justificada em seus objetivos, estratégias e linhas de ação do programa. Tampouco foi resultado de recomendações a partir das avaliações. A emergência das políticas de transferências monetárias condicionadas no México permite duas observações: 1) a revisão das políticas assistenciais anteriores dependeu especialmente dos seguintes fatores endógenos: do grau de mobilização e de poder político de grupos e indivíduos defensores da transferência de renda condicionada como ferramenta de combate à pobreza, 2) o processo de mudança e de consolidação das políticas de transferência de renda se dá na forma de deslocamento em um primeiro momento; posteriormente para manter o status quo, os atores defensores das instituições vão modificá-lo marginalmente de modo a guardar seus interesses em vista. 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