- Campos e Carrer
Transcrição
- Campos e Carrer
MANUAL TÉCNICO - BRUCELINA AMOSTRA RB51 Brucelose Bovina A brucelose bovina e bubalina é uma doença infecto-contagiosa crônica e granulomatosa, causada pela bactéria Brucella abortus e compromete o sistema reprodutivo, provocando abortamentos, metrites, retenção de placenta, retorno ao cio e osteoartrites (CAVALCANTE, 2000; PAULIN & FERREIRA NETO, 2003). Figura 1 – Foto microscópica da B. abortus Figura 2 – Abortamento provocado pela infecção experimental de B. abortus em fêmea bovina não vacinada 1 Transmissão A principal fonte de infecção da brucelose é a vaca prenhe infectada. A bactéria Brucella abortus se concentra em grande quantidade no útero gravídico, sendo eliminada junto com as secreções uterinas e membranas fetais durante o parto ou abortamento, contaminando pastagens, silagens e água. O trato digestivo é a principal porta de entrada da bactéria no organismo através da ingestão de alimentos contaminados. Outra forma da bactéria infectar um animal susceptível é pela penetração da bactéria via mucosas nasal e conjuntiva no ato de cheirar o feto ou o períneo de outra fêmea recémparida infectada (CAVALCANTE, 2000; BRASIL, 2006). A transmissão sexual pela monta natural não parece ser importante para as espécies bovina e bubalina. A brucelose pode ser transmitida ao humano e é considerada uma das zoonoses mais disseminadas pelo mundo. As principais formas de transmissão ao homem são: o contato direto com animais brucélicos e a ingestão de leite cru ou derivados, sem prévio tratamento térmico (BOSCHIROLI et al., 2001; ROTH et al., 2003). Perdas econômicas A enfermidade acarreta grandes prejuízos econômicos à pecuária, principalmente pela diminuição na eficiência reprodutiva, descarte de animais, queda da produção de leite e carne, além da desvalorização dos animais e seus subprodutos (TEIXEIRA et al., 1998; CAMPOS et al., 2003; CAVALCANTE, 2000). De uma maneira geral, a brucelose causa perdas de 25% da produção de leite e carne e de 15% na produção de bezerros (BRASIL, 2006). Em dados práticos, um rebanho de 100 matrizes que possui 15 vacas infectadas, pode resultar em perdas anuais de pelo menos 15 bezerros (CAVALCANTE, 2000). Em 1971 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estimou um prejuízo de US$ 32 milhões/ano em decorrência apenas do 2 abortamento e queda da produção leiteira (POESTER al., 2002). Dados recentes da Argentina revelam que os prejuízos causados pela brucelose chegam a US$ 60 milhões/ano (SAMARTINO, 2002). Por meio de simulações matemáticas, observou-se que rebanhos leiteiros com baixa prevalência de brucelose, variando de 0,06% a 3%, teriam prejuízos de 5 a 14% por ano, computando perdas de produtividade, gastos com medicamentos e assistência veterinária, abortamentos, mortalidade e descarte/reposição de animais (LUCAS, 2006). Dados Epidemiológicos A brucelose bovina e bubalina está amplamente disseminada em diversos países do mundo, como nos países da América Latina, África, Oriente Médio e parte da Europa. Os dados epidemiológicos são escassos e controversos, porém nos países da América Central estima-se que a prevalência seja de 4 a 8% (MORENO, 2002), na Venezuela, de 0,8 a 10,5% (VARGAS), no Paraguai, entre 3 e 4% (BAUMGARTEN, 2002) e na Argentina, entre 10 e 13% de animais e de 4 a 5% de propriedades positivos (SAMARTINO, 2002). Situação nacional A brucelose também está presente em todos os estados do Brasil, porém, o último levantamento epidemiológico da doença foi realizado em 1975. Na época, a prevalência foi de 4% na Região Sul, de 7,5% na Região Sudeste, de 6,8% na Região Centro-Oeste, de 2,5% na Região Nordeste e de 4,1% na Região Norte. Posteriormente, os dados de notificações oficiais de 1988 a 1998 indicaram que a prevalência se manteve entre 4% e 5% (BRASIL, 2006). Encontra-se em fase final um estudo epidemiológico da brucelose bovina, com metodologia padronizada e amostragens de rebanhos de todo o território nacional coordenado pelo MAPA. 3 Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal – PNCEBT O PNCEBT foi instituído pelo MAPA em 2001 com os objetivos de reduzir os casos das doenças no rebanho e nos seres humanos e valorizar os produtos da pecuária nacional. A estratégia do programa é embasada na vacinação de fêmeas entre 3 e 8 meses de idade e na certificação de propriedades livres. A vacinação contra a brucelose bovina e bubalina com a cepa B19 tornou-se obrigatória em todo o território nacional, enquanto que a certificação das propriedades é uma ação voluntária (BRASIL, 2006). A vacinação em massa de todas as fêmeas, além de reduz as perdas econômicas ao pecuarista, presta enorme serviço à saúde pública, pois diminui drasticamente o número de casos de brucelose humana (ROTH et al., 2003). Diagnóstico De acordo com PNCEBT, o diagnóstico da brucelose bovina é realizado rotineiramente por meio de exames sorológicos, como o Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), utilizado na triagem, devendo ser realizado por médicos veterinários credenciados e habilitados pelo MAPA. O Teste de 2Mercaptoetanol é a prova confirmatória em caso de resultado positivo no primeiro teste e deve ser realizado por laboratórios credenciados ou oficiais (BRASIL, 2006). O Teste de Fixação de Complemento (FC) ou outro que o substitua, pode ser realizado em casos inconclusivos ao teste do 2-Mercaptoetanol. Já o Teste do Anel em Leite (TAL) pode ser utilizado para monitoramento das propriedades certificadas (BRASIL, 2006). Vale ressaltar a importância de se fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças abortivas que ocorrem nos bovinos, como por exemplo, a leptospirose, rinotraqueíte infecciosa (IBR), a diarréia viral bovina (BVD), dentre outras. 4 Amostra RB51 A Brucelina amostra RB51 é composta pela cepa viva atenuada de Brucella abortus denominada RB51. Essa cepa é um mutante natural, muito segura para uso em fêmeas bovinas e bubalinas. A grande vantagem desta cepa é a ausência da cadeia O do lipopolissacarídeo (LPS), componente da parede da bactéria (OLSEN et al., 1999, POESTER et al., 2000; SAMARTINO et al., 2003). Esse antígeno não tem importância para a eficácia da vacina, porém é responsável pela indução de anticorpos que são detectados nos testes de triagem para o diagnóstico da brucelose. A ausência da cadeia O na amostra RB51 é o grande diferencial frente às vacinas com a cepa B19, pois não induz anticorpos detectáveis nas provas de diagnóstico, evitando os chamados “falso-positivos” que podem ser ocasionados pela vacinação com a cepa B19, além de permitir a diferenciação entre animais vacinados e infectados, uma vez que as cepas de campo possuem a cadeia O em sua composição. A eficácia da vacina com a amostra RB51 é semelhante à da cepa B19 na ordem de 70% (SAMARTINO et al., 2003) sendo capaz de induzir resposta imunológica do tipo celular e humoral (anticorpos) contra a doença. Por isso, vários países já adotaram a vacinação com a amostra RB51, dentre eles estão os Estados Unidos, Chile, Venezuela, Paraguai, México, Uruguai, Colômbia entre outros. Por fim, vale ressaltar que, além da vacinação, é importante o monitoramento sorológico periódico dos animais. Além disso, a quarentena de animais adquiridos para exames confirmatórios da negatividade sorológica é essencial para a segurança sanitária do rebanho, assim como o acompanhamento do médico veterinário. 5 O uso da vacina amostra RB51 no PNCEBT As indicações do uso das vacinas com a amostra RB51 seguem as normas estabelecidas pelo MAPA, publicadas na Instrução Normativa SDA Nº 33, de 24 de Agosto de 2007. Recomenda-se o uso da vacina com amostra RB51 nos seguintes casos: a) Bezerras com idade superior a 8 (oito) meses e que não foram vacinadas com a amostra B19 entre 3 e 8 meses de idade; b) Fêmeas adultas, não reagentes aos testes diagnósticos, em estabelecimentos de criação com focos de brucelose. O uso de vacinas com a amostra RB51 é proibido em bovinos machos, fêmeas até oito meses de idade ou gestantes. OBS: A vacinação deverá ser efetuada sob a responsabilidade técnica de médico veterinário cadastrado no serviço de defesa oficial da Unidade Federativa. 6 A Brucelina amostra RB51 é uma vacina liofilizada, produzida com a amostra RB51 que evita resultados falso-positivos e possibilita a diferenciação entre animais vacinados e infectados. Isto ocorre porque os anticorpos produzidos em decorrência da vacinação não são detectáveis nas provas sorológicas recomendadas pelo PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal). Sua eficácia foi comprovada em testes com infecção experimental com altas doses de cepa virulenta de vacas prenhes, e os resultados mostraram que a Brucelina amostra RB51 obteve eficácia similar ao da B19 e à relatada na literatura. Com essas características, a Brucelina amostra RB51 torna-se ferramenta importante no controle e erradicação da brucelose bovina e bubalina., sendo a mais nova alternativa ao pecuarista para auxiliar nos casos de não comprovação da vacinação com B19 na idade de 3 a 8 meses das fêmeas adquiridas e para reduzir o número de vacas/búfalas adultas susceptíveis, quando não reagentes à sorologia, em fazendas com focos de brucelose. E o mais importante, não interfere nas provas sorológicas. INDICAÇÃO Profilaxia da Brucelose bovina e Bubalina. DOSE A dose recomendada da Brucelina amostra RB51 é de 2 mL por via subcutânea. 7 MODO DE USAR Imediatamente antes do uso (observando-se os cuidados de antissepsia), diluir o conteúdo da vacina seca somente com o diluente que acompanha o produto. Agitar bem o frasco, para se obter uma perfeita homogeneização, estando assim o produto pronto para uso. ESQUEMA DE VACINAÇÃO Fêmeas com idade superior a 8 (oito) meses e que não foram vacinadas com a amostra B19 entre 3 e 8 meses de idade. Fêmeas adultas, não reagentes aos testes de diagnósticos, em estabelecimentos de criação com focos de brucelose. PRECAUÇÕES 1 – Fêmeas prenhes não devem ser vacinadas; 2 - Não vacinar machos; 3 - Não vacinar fêmeas 12 semanas antes do abate; 4 – Conservar entre 2 e 8°C; 5 – Uma vez diluída, utilize a vacina completamente. Eventuais sobras devem ser descartadas; 6 - Os frascos e sobras de vacina devem ser queimados ou enterrados profundamente; 7 - O vacinador ou qualquer pessoa que manusear a vacina deve lavar e desinfetar as mãos após o trabalho de vacinação. Deve-se utilizar equipamento de proteção individual durante a manipulação do produto; 8 - Em caso de exposição acidental de humanos procurar um Médico; 9 - A amostra RB51 é resistente à rifampicina. Venda sob receituário veterinário e aplicação sob supervisão do Médico Veterinário. 8 Mantenha este ou qualquer outro medicamento fora do alcance de crianças e animais domésticos. APRESENTAÇÕES A vacina Brucelina amostra RB 51 será comercializada em frascos de rolhas perfuráveis contendo 20 mL (10 doses) ou 30 mL (15 doses) acompanhados de diluentes. Para dar destaque e, ao mesmo tempo, evitar enganos e eventuais objeções no ponto de vendas, além do destaque dado na logomarca à amostra RB 51 (destacada em vermelho), optamos por acondicionar os frascos do diluente e da amostra liofilizada da Brucelina amostra RB51 em embalagens com cores diferenciadas das utilizadas na Brucelina B19. Veja o esquema de cores abaixo: 9 Referências Bibliográficas BAUMGARTEN, D. Brucellosis: a short review of the disease situation in Paraguay. Veterinary Microbiology, v.90, n.1-4, p. 63-9, 2002. BOSCHIROLI, M. L.; FOULOGNE, V.; O´CALLAGHAN, D. Brucellosis: a worldwide zoonosis. Current Opinion in Microbiology, v.4, p.58-64, 2001. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Manual Técnico: Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal – PNCEBT, Brasília: MAPA/DAS/DAS, 2006. 184p. BRASIL, Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal, PNCEBT. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=33,982143&_dad=portal&_s chema=PORTAL. Acesso em 18 Mar 2008. CAMPOS, A. C. P.; FRENEAU, G. E.; ACYPRESTE, C. S. et al. Brucelose bovina: prevalência de anticorpos anti-Brucella abortus em reprodutores bovinos na microregião de Goiânia. Ciência Animal Brasileira, v.4, n.2, p.1259, 2003. CAVALCANTE, F. A. Brucelose, diagnóstico e controle. Embrapra Acre: Instruções Técnicas, n.26, p.1-3, 2000. LUCAS, A. Simulação de impacto econômico da Brucelose bovina em rebanhos produtores de leite das regiões centro oeste, sudeste e sul do Brasil. 2006. 124 f. Tese (Doutorado em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. MORENO, E. Brucellosis in Central America. Veterinary Microbiology,v.90, n.1-4, p.31-8, 2002. OLSEN, S. C.; CHEVILLE, N. F.; BRICKER, B. et al. Informe técnico sobre la vacunación del ganado con la cepa RB51 de Brucella abortus. 1999. Disponível em: http://www.produccionbovina.com/sanidad_intoxicaciones_metabolicos/enferme dades_reproduccion/18-informe_vacunacion_brucela_cepa_rb51.htm. Acesso em 01 Abr. 08. PAULIN, M. P.; FERREIRA NETO, J. S. O combate à brucelose bovina. Situação brasileira. Ed. Funep, Jaboticabal, 2003. 154p. POESTER, F. P.; GONÇALVES, V. S. P.; LAGE, A. P. Brucellosis in Brazil. Veterinary Microbiology, v.90, n.1-4, p. 55-62, 2002. 10 POESTER, F. P.; RAMOS, E. T.; GOMES, M. J. P. et al. The serological response of adult cattle after vaccination with Brucella abortus strain 19 and RB51. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 37, n.1, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141395962000000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 Abr 2008. ROTH, F.; ZINSSTAG, J.; ORKHON, D. et al. Human health benefits from livestock vaccination for brucellosis: case study. Bulletin of the World Health Organisation, v.81, n.12, p.867-76, 2003. SAMARTINO, L. E.; SALUSTIO, E.; GREGORET, R. Evalution de la vacuna RB51 de Brucella abortus en hembras bovinas preñadas. Jornada de Actualización sobre Brucelosis Bovina, Rocha, 2003. SAMARTINO, L.E. Brucellosis in Argentina. Veterinary Microbiology, v.90, n.1-4, p. 71-80, 2002. TEIXEIRA, J. C. L.; ÁVILA, M. O.; MARTINS, J. D. et al. Brucelose: zoonose controlada? Higiene Alimentar, v. 12, n.54, p.23-5, 1988. VARGAS, F.J.O. Brucellosis in Venezuela. Veterinary Microbiology, v.90, n.14, p.39-44, 2002. 11
Documentos relacionados
BRUCELOSE E TUBERCULOSE BOVINA E BUBALINA
sanitárias, ou por não se diferenciar a tuberculose humana causada pelo M. bovis e M. tuberculosis.
Leia maisbrucelose - Setor de Virologia UFSM
A brucelose é uma doença de rebanho e dissemina-se primariamente pela ingestão de materiais contaminados. Infecções venéreas podem ocorrer, mas são mais comuns com a B.suis. Infecções congênitas (i...
Leia maisBrucelose Canina: Revisão de literatura
Dentre as doenças que podem causar problemas reprodutivos em machos e fêmeas, destaca-se a brucelose canina, zoonose que acarreta grandes prejuízos aos criadores de cães. Os sintomas mais significa...
Leia mais