Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1
Transcrição
Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1
Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1-66. Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’» Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» respondeu Jesus. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deuo aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.» Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados. Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai.» Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes, então: «Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia.» Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!» Jesus retorquiu-lhe: «Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.» Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!» E todos os discípulos afirmaram o mesmo. Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.» E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.» Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Reunindo-se finalmente aos discípulos, disse-lhes: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que me vai entregar.» Ainda Ele falava, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.» Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o. Jesus respondeulhe: «Amigo, a que vieste?» Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada. Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?» Voltando-se, depois, para a multidão, disse: «Viestes prender-me com espadas e varapaus, como se eu fosse um ladrão! Todos os dias estava sentado no templo a ensinar, e não me prendestes. Mas tudo isto aconteceu, para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.» Então, todos os discípulos o abandonaram e fugiram. Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, que declararam: «Este homem disse: 'Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’» O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?» Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimote, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do TodoPoderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?» Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.» Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.» Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante, o galo cantou. E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente. De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos. Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se. Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.» Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para servir de cemitério aos estrangeiros. Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue.» Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor havia ordenado.» Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?» Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado. Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» Ele sabia que o tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.» Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!» Pilatos disse-lhes: «Que hei de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «Seja crucificado!» Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!» Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.» E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!» Então, soltoulhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado. Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiramlhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.» Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda. Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: 'Eu sou Filho de Deus!’» Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam. Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por Elias.» Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.» E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!» Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro. No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: 'Três dias depois hei-de ressuscitar.’ Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: 'Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.» Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai o como entenderdes.» E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas. São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja Sermão 45, 23-24 “Onde queres que façamos os preparativos para a refeição pascal?” Vamos participar na festa da Páscoa. Voltaremos a fazê-lo de maneira simbólica, mas já de maneira mais clara do que sob a antiga Lei, porque essa Páscoa era, se assim ouso exprimirme, uma imagem obscura do próprio símbolo. […] Participemos nesta festa ritual de maneira evangélica, e não literária, de maneira perfeita, e não inacabada, em atitude de eternidade, e não de instante. Tomemos como capital, não a Jerusalém terrena, mas a cidade celeste, não a que é hoje esmagada aos pés pelos exércitos, mas a que é glorificada pelos anjos. Não sacrifiquemos os jovens touros e os novilhos com chifres e unhas (Sl 68, 32), mais mortos do que vivos e desprovidos de inteligência, mas ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor (Sl 49, 14), no altar celeste e em união com os coros do céu. Afastemos o primeiro véu, avancemos até ao segundo, ergamos o olhar para o Santo dos Santos. Direi antes: imolemo-nos a nós próprios a Deus; melhor, ofereçamos-Lhe diariamente todas as nossas acções. Aceitemos tudo por causa do Verbo. Subamos com pressa até à cruz, cujos cravos são doces, ainda que sejam extremamente dolorosos. Mais vale sofrer com Cristo e por Cristo, do que viver em delícias com outros. Se fores Simão de Cirene, toma a cruz e segue Cristo. Se fores crucificado com Ele como um ladrão, faz como o bom ladrão: reconhece a Deus. […] Se fores José de Arimateia, reclama o corpo a quem o mandou crucificar; faz tua a purificação do mundo. E, se fores Nicodemos, o servidor nocturno de Deus, vem depositar este corpo no túmulo e perfumá-lo com mirra. E se fores Maria, ou Salomé, ou Joana, chora desde o começo do dia. Sê a primeira a ver a pedra do túmulo afastada, talvez mesmo os anjos, ou o próprio Jesus. Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutor da Igreja, co-padroeira da Europa Diálogo 37 O desespero de Judas ["Judas ficou cheio de remorsos...: trouxe de novo as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 'Pequei ao entregar à morte um inocente.' Eles replicaram: 'Que nos interessa isso? O problema é teu.' Lançando então por terra as moedas de prata, ele retirou-se e foi enforcar-se." (Mt 27,3-5) Deus dizia a Santa Catarina:] O pecado imperdoável, neste mundo e no outro, é o do homem que, desprezando a minha misericórdia, não quis ser perdoado. É por isso que o considero o mais grave, é por isso que o desespero de Judas me entristeceu mais e foi mais penoso a meu filho do que a sua traição. Os homens serão, pois, condenados por esse falso juizo que lhes faz acreditar que o seu pecado é maior do que a minha misericórdia... São condenados pela sua injustiça quando se lamentam sobre a sua sorte mais do que sobre a ofensa que me fizeram. Porque é então que eles são injustos: não me entregam o que me pertence e não entregam a si mesmos o que lhes pertence. A mim é devido o amor, o arrependimento pelo seu pecado e a contrição; eles devem oferecer-me isso por causas das suas ofensas mas o que fazem é o contrário. Só têm amor e compaixão por si próprios pois não sabem senão lamentar-se pelos castigos que os esperam. Bem vês que cometem uma injustiça; é por isso que se descobrem duplamente punidos por terem desprezado a minha misericórdia. S. Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, Doutor da Igreja Catequese Baptismal «O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa» Queres, sem dúvida, que te demonstrem que Cristo veio voluntariamente para a Paixão? Os outros morrem de má vontade, pois morrem nas trevas, mas Ele dizia antes da Sua Paixão: «Eis que o Filho do Homem se entregou para ser crucificado» (Mt 26,2). Sabes por que é que este misericordioso não fugiu à morte? Para evitar que o mundo inteiro sucumbisse nos seus pecados. «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue e crucificado» (Mt 20,13) e ainda: «Ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém ». Queres também saber claramente que a cruz é, para Jesus, uma glória? Ouve-o a Ele dizer-to, e não a mim. Judas, invadido de ingratidão para com o seu hospedeiro, ia entregá-lo; acabava de sair da mesa e de beber do cálice da bênção, e em jeito de agradecimento por esta bebida da salvação, decidiu verter um sangue inocente. Ele que comera o pão do seu Mestre, agradecia-lhe de modo vergonhoso fazendo-o cair... Depois Jesus disse: «É chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado» (Jo 12,23). Vês como Ele sabe que a cruz é a Sua glória?... Não que antes Ele tenha existido sem glória, pois fora glorificado «com a glória que tinha antes da fundação do mundo» (Jo 17,5). Mas, como Deus, era glorificado eternamente, enquanto que agora era glorificado por ter merecido a coroa pela Sua constância na prova. Ele não foi obrigado a deixar a vida. Ele não foi forçado a imolar-se, Ele avança livremente. Escuta o que Ele diz: « Tenho o poder de entregar a minha vida e tenho o poder de a retomar» (Jo 10,18); É da minha inteira vontade que cedo aos meus inimigos, pois se Eu não quisesse, nada aconteceria». Ele veio portanto voluntariamente para a Paixão, contente da sua acção, sorrindo à coroa, feliz por salvar a humanidade.9,51). Beato Guerric de Igny (cerca de 1080-1157), abade cisterciense Sermão sobre os Ramos "Bendito seja o que vem em nome do Senhor" É sob dois aspectos bem diferentes que a festa de hoje apresenta aos filhos dos homens Aquele que a nossa alma deseja (Is 26,9), “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 44,3). Ele atrai o nosso olhar sob esses dois aspectos; amamo-lo sob um e sob o outro, porque num e noutro Ele é o Salvador dos homens... Se considerarmos ao mesmo tempo a procissão de hoje e a Paixão, vemos Jesus, por um lado sublime e glorioso, por outro humilhado e doloroso. Porque, na procissão, Ele recebe as honras reais e, na Paixão, vemo-lo castigado como um malfeitor. Aqui cercam-no a glória e a honra; além, “não tem aparência nem beleza” (is 53,2). Aqui, temos a alegria dos homens e o orgulho do povo; além, temos “a vergonha dos homens e o desprezo do povo” (Sl 21,7). Aqui, aclamam-no: “Hossana ao Filho de David. Bendito seja o rei de Israel que vem!” Além, vociferam que merece a morte e escarnecem dele porque se fez rei de Israel. Aqui, correm para Ele com palmas; além, flagelam-lhe o rosto com as mesmas palmas e batem-lhe na cabeça com uma cana.. Aqui, cumulam-no de elogios; além, afogam-no em injúrias. Aqui, disputam-se para juncar-lhe o caminho com as vestes dos outros; além, despojam-no das suas próprias vestes. Aqui, recebem-no em Jerusalém como o rei justo e o Salvador; além, é expulso de Jerusalém como um criminoso e um impostor. Aqui, montam-no sobre um burro, rodeado de homenagens; além, é pendurado da cruz, rasgado pelos chicotes, trespassado de chagas e abandonado pelos seus... Senhor Jeus, quer o Teu rosto apareça glorioso quer humilhado, sempre nele vemos brilhar a sabedoria. Do Teu rosto irradia o fulgor da luz eterna (Sb 7,26). Que brilhe sempre sobre nós, Senhor, a luz do Teu rosto (Sl 4,7) nas tristezas como nas alegrias... Tu és a alegria e a salvação de todos, quer te vejam montado sobre o burro, quer suspenso do madeiro da cruz. „Meu Deus, meu Deus, por que me abondanastes?“ – Mt 27, 46 [:Meu Deus, meu Deus, por que me abondanastes?:] 1. Riem de mim todos aqueles que me vêem / torcem os lábios e sacodem a cabeça. / „Ao Senhor se confiou. Ele o liberte / e agora o salve se é verdade que Ele o ama“. 2. Cães numerosos me rodeiam furiosos / e por um bando de malvados fui cercado. / Transpassaram minhas mãos e os meus pés / e eu posso contar todos os meus ossos. 3. Eles repartem entre si as minhas vestes / e sorteiam entre si a minha túnica. / Vós porém ó meu Deus, não fiqueis longe./ Ó minha força, vinde logo em meu socorro. 4. Anunciarei o vosso nome aos meus irmãos / e no meio da assembléia hei de louvarVos! / Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores / e respeitai– O, toda raça de Israel! Cantemos ….. n° 166 Santa Teresa Benedita da Cruz |Edith Stein| (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da Europa La prière de l’Église «Aonde queres que façamos os preparativos para a refeição pascal?» Pelas narrações evangélicas sabemos que Cristo rezou à maneira de um Judeu piedoso e fiel à Lei. Ele pronunciou as antigas orações de bênção, que ainda hoje se recitam para o pão, o vinho e os frutos da terra, como o testemunham as narrações da última Ceia, inteiramente consagrada à realização de uma das mais santas obrigações religiosas: a solene refeição da Páscoa que comemorava a libertação da escravidão no Egipto. É sem dúvida, aí, que nos é dada a visão mais profunda da oração de Cristo, e como que a chave que nos introduz na oração de toda a Igreja. A bênção e a distribuição do pão e do vinho faziam parte do rito da refeição pascal. Mas tanto uma, como outra, revestem, aqui, um sentido inteiramente novo com o nascimento da vida da Igreja. Certamente, será só no Pentecostes que ela se manifesta como comunidade visível e cheia do Espírito. Contudo, é na altura da Páscoa que se realiza a integração dos “sarmentos” à “cepa”que torna possível a descida do Espírito.
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