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http://www.ambitur.pt/sou-a-prova-de-que-com-muito-trabalho-se-consegue-ter-sucesso/ 08 Julho 2016 “Sou a prova de que com muito trabalho se consegue ter sucesso” Como é que o turismo se cruza na sua vida? Ao acabar o quinto ano de escolaridade fiz várias experiências. Falamos em meados dos anos 60. Fui ator de teatro e de fotonovelas, locutor e agente artístico – numa altura em que não havia televisão. Sempre me habituei a falar em público com uma certa facilidade. Nessa altura começou em Lisboa um fenómeno que era a vinda de turistas americanos, porque os aviões que vinham dos EUA para a Europa tinham de parar em Lisboa, devido à sua autonomia. Através de um amigo apercebi-me que era uma coisa boa andar com o microfone e explicar o que era a cidade de Lisboa. Foi assim que comecei no turismo: como guia dentro dos autocarros. Na altura havia uma grande agência de viagens em Portugal a Cityrama/Capristanos e foi aí que comecei, em 1965, a trabalhar como técnico ligado à vinda de estrangeiros a Portugal, que é a minha especialização. É ao que me dedico até hoje, cinquenta anos depois. Quer falar-nos do seu percurso? Trabalhei em poucas empresas. Enquanto estava nos Capristanos vivi o período do PREC, durante o 25 de Abril. Lembro-me de termos feito uma greve com ocupação de instalações, que era uma coisa que estava na moda, para impedir o lockout, com piquetes, tendo sido a primeira greve no mundo no setor das agência de viagens. Depois dos Capristanos tive uma experiência distinta nas Viagens Meliá, entre 1976 e 1979, a maior multinacional do mundo de viagens, que me deu uma experiência e visão positiva e acesso a novas formas de gestão pioneiras, como por exemplo, o sistema Meliatronic, para reservas. Em 1979 tive a brilhante ideia, juntamente com dois companheiros da Meliá, de fundar a Top Tours, que foi uma história de sucesso ímpar, que ainda subsiste hoje apesar das várias pequenas mudanças de nome e acionistas. Ainda hoje a Top Atlântico é uma referência. Quando já deveria ter arrumado as «botas», porque estava aborrecido de estar em casa sem fazer nada, decidi criar a TopMic. Qual o desafio que mais o marcou? O início da Top Tours é uma coisa que marca. Foi uma empresa que teve o seu início em 1979, numa sala alugada com dez metros quadrados e uma máquina de escrever que custou 500 escudos, em segunda mão. Entre maio e dezembro de 1979 assim foi. Tinha uma promessa de que iriam entrar, em janeiro de 1980, o Sr. Mário de Matos e o Sr. Jacinto Aleixo (que estavam na Meliá), o que veio a acontecer. Um dos grandes segredos e desafios da Top Tours foi ter três áreas de atividade distintas. Uma, o incoming, dirigida por mim, outra o outgoing, dirigida pelo Mário de Matos, e a terceira vertente, a venda por grosso, dirigida pelo Jacinto Aleixo. Trabalhávamos os três, de manhã à noite, inclusive ao sábado e domingo. Fizemos um grande esforço entre 1979 e 85/86. A fundação e o percurso da Top Tours é um marco de tal forma que conseguimos à posterior concretizar a concentração/fusão com a Macrotur. Não escondo também que a TopMic tem para mim um sabor muito especial, que resulta de revisitar o passado. Quando inicio a TopMic, numa sala alugada, em janeiro de 2012, onde pusemos umas secretárias usadas e começo a pensar: agora onde vou vender viagens? Onde vou arranjar quem me compre viagens? Foi voltar ao início. O negócio da TopTours foi um dos maiores negócios feito no setor das viagens em Portugal… De longe e dos próximos anos, se pusermos como exceção o que a Springwater pagou pela Top Atlântico, mas que está na base no negócio feito connosco. Foi um negócio muito importante, o dinheiro foi secundário, apesar de falarmos num montante avultado. Nesta altura há dois negócios diferentes. Quando aproximámos o Grupo Espírito Santo para fazer a fusão da Top Tours com a Macrotur, este não envolvia dinheiro, mas sim troca de participações, em que considerávamos que a Top Tours valia mais que a Macrotur. O rácio daria que ficássemos com 70% e o Espírito Santo com 30%. Só que o GES queria ter no mínimo 50%, havendo então um acerto de compensações. Este foi o primeiro negócio, no ano 2000, em novembro. Ficámos então com 50% do grupo. No início de 2001 as coisas não correram bem na gestão conjunta. Propus então ao outros sócios comprar-lhes as posições, o que aconteceu. Este acordo é feito dia 31 de agosto de 2001, em que estabelecemos os valores, mas dando-me até 15 de setembro para o concretizar. Só que deu-se o 11 de setembro. Isto significou que entre o dia 11 de setembro e o 15 de setembro nem dormi, porque não sabia se havia ou não de comprar. Mas concretizei e fiquei com 50% da empresa. Em 2004 vendi a minha participação pessoal (GES), com uma transação relativamente importante. O negócio concluiu-se a 31 de dezembro de 2014. Fiquei então como administrador não executivo de algumas empresas relacionados com o turismo, nomeadamente os Hotéis Tivoli e a companhia de aviação Portugália. Se pudesse voltar atrás no tempo, faria alguma coisa diferente? Eventualmente. Não teria feito a fusão que fiz com a Macrotur. As coisas acabaram por correr mal. Talvez tivesse sido uma opção diferente ter continuado a Top Tours, com a sua dimensão, sendo a segunda ou terceira do mercado, mas ter continuado. Se isso fosse assim, o panorama das viagens em Portugal seria completamente diferente. E na altura havia um dos sócios que não queria vender, o Sr. Mário de Matos. Ele queria que continuássemos com o negócio. O associativismo também faz parte da sua vida… Sim. Por exemplo, antes da Expo’98, ou seja, em 1997, transmiti ao dr. Vitor Costa (responsável pelo turismo em Lisboa) que antevia um problema de atratividade do destino. Estávamos a fazer um grande esforço financeiro para a realização da Expo’98. Esta é a génese da criação da Associação do Turismo de Lisboa, que fará no próximo ano os 20 anos. Fui o único presidente do Turismo de Lisboa em representação dos privados. Na parte associativa tive um grande papel na fundação da CTP, que foi feita com base nos meus grandes esforços, e de outros profissionais. Começámos por constituir o CNET, Conselho Nacional das Empresas de Turismo, depois em vésperas do Dr. Fernando Nogueira ser candidato pelo PSD a Primeiro-Ministro decidimos avançar com a Confederação do Turismo, cujo primeiro presidente foi o saudoso Fernando Martins. A APAVT a que estive ligado enquanto presidente da mesa de Assembleia-Geral durante quatro ou cinco mandatos também teve um papel importante na CTP, tendo assumido posteriormente a direção através do dr. Atílio Forte. A minha atividade associativa prende-se com a CTP, APAVT e Associação do Turismo de Lisboa. É daí que me advém as medalhas e condecorações que me foram atribuídas. Neste campo não me arrependo de nada e fazia tudo igual. http://www.ambitur.pt/o-turismo-e-o-nosso-segredo/ 04 Julho 2016 “O turismo é o nosso segredo” Rui Horta, o homem por detrás de um dos maiores negócios de viagens em Portugal que deu azo à Top Atlântico, hoje nas mãos da Springwater, não se cansa. Em 2011 volta ao ativo e lança a TopMic, que poderá faturar este ano 10 milhões de euros. Novamente eleito presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação do Turismo de Lisboa, entidade da qual é um dos fundadores, Rui Horta aborda em entrevista a relação entre Lisboa e o turismo, o papel das associações e revela parte do seu percurso profissional. Os novos órgãos sociais da Associação do Turismo de Lisboa (ATL) continua a desempenhar as funções de presidente da Mesa de Assembleia Geral, no entanto, olhando ao histórico da entidade, parece haver uma mudança de interlocutores… Está a haver duas coisas. Primeiro a ATL está a rejuvenescer-se, estão a entrar novas pessoas, com novas ideias. Por outro lado, a vinda do Dr. Ponce de Leão, representante dos Aeroportos de Portugal, para o Presidente Adjunto é sintomático de uma preocupação que o Dr. Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tem no sentido de se resolver o problema da acessibilidades a Lisboa. A questão do Aeroporto de Lisboa tem de ser resolvida. A estrutura está numa encruzilhada muito grande. Neste momento só há uma alternativa viável, que é a utilização simultânea do Aeroporto Humberto Delgado mais o Aeroporto do Montijo, que vai demorar cerca de três anos a implementar. Só assim se conseguirá resolver o problema da acessibilidade a Lisboa para os próximos dez anos. Na direção da ATL houve ainda entidades que rejuvenesceram os representantes. Entraram também pessoas ligadas com outras temáticas, como ao nível da organização de eventos/festivais. Há uma coisa engraçadíssima e que demonstra que realmente estou a ficar velho (risos), há um elemento da direção do qual o avô já era meu amigo e com quem tinha negócios, depois fui amigo e tive negócios com o pai e agora tenho negócios com o neto, que está na direção da ATL, o José Marto. Quais os principais desafios que enfrenta a região de Lisboa ao nível turístico? A cidade tem que se organizar para haver uma convivência salutar e pacífica entre turistas e habitantes locais. Nesse sentido a Câmara está a tomar as medidas certas para que os vários locais não sejam afetados pelos turistas e viceversa. Por exemplo, no negócio dos tuk tuks, que é uma coisa boa e bem-vinda, tem que se ter a certeza que se implementa veículos elétricos, pois não pode haver viaturas a fazer barulho e a poluir os bairros históricos. Não se deve inviabilizar as novas ideias, mas sim modernizar face ao que existe e que sejam amigas do ambiente e dos locais. Por outro lado, tudo aquilo que for feito para os turistas automaticamente beneficia os habitantes. Moro num sítio altamente frequentado por turistas e não me sinto rigorosamente nada afetado e, aliás, até me sinto beneficiado porque há muita coisa a abrir que também me beneficia, há atividades, segurança, iluminação, entre outros. Ainda sou do tempo que Alfama tinha 60 mil habitantes, hoje tem oito ou nove mil. As pessoas foram-se embora. Vieram os turistas para os substituir. Há poucos anos era impensável ir para a Baixa à noite porque corria-se o risco de se ser assaltado, porque estava tudo deserto e um pouco abandonado e mal frequentado e hoje é um prazer andar na baixa e ir até á Praça do Comércio. Claro que depois temos as situações extremas do Cais do Sodré e das bebidas na rua e do barulho, obviamente que são incómodas, mas não sei se são os turistas que estão a fazer esse barulho ou os filhos dos residentes. Não generalizemos, tem de haver um equilíbrio, bom-senso, não se pode cair em exageros. Por exemplo, o caso da Rua Augusta tem de ser equilibrado, pois na medida que se está ali a construir hotéis corremos o risco de esta rua daqui a 20 anos não ter uma única loja de comércio tradicional. A Associação do Turismo de Lisboa tem aqui um papel a desempenhar, ao nível de lobby, permitindo o desenvolvimento turístico para que haja um desenvolvimento coordenado em toda a cidade. Sei as celeumas que existem em Lisboa, havendo uma corrente que indica que há turistas a mais… Eu ainda sou do tempo em que o Dr. António Oliveira Salazar escrevia “cuidado porque o turismo passa e Portugal fica”, ou seja, não deixava desenvolver esta atividade no país devido ao contacto dos turistas com o povo. Sou ainda testemunha de um famoso economista que afirmava durante o PREC que o Turismo era a prostituição do povo. Agora voltam os profetas da desgraça que dizem que o turismo está a estragar isto. É estranho, porque a única atividade promissora a funcionar, a ser rentável, que alimenta milhares e milhares de empresas e postos de trabalho, no país, é o turismo. É uma asneira falar-se contra o turismo. Mas enquanto não descobrirem petróleo no país o turismo é o nosso segredo. Ao nível associativo como encara o trajeto da CTP e da APAVT? Existem desafios extraordinariamente importantes que a APAVT tem de enfrentar. Por exemplo, os DMC’s, que só fazem incentivos e congressos estão a ser altamente prejudicados pelo regime do IVA que está a ser aplicado. Em Espanha há uma exceção para os DMC’s e o regime do IVA é completamente pró atividade, em Portugal verificamos um regime completamente contra as agências. É fundamental que o Governo encare este problema e que nos ponha em pé de igualdade com a Espanha. Estamos todos os dias a perder negócio. Qualquer operador estrangeiro que mande um grupo para Portugal não pode deduzir o IVA, se for para Espanha pode fazê-lo. Estamos a falar de 23% do valor, se bem que sobre a margem. É preciso que a APAVT se mentalize que o seu papel principal é a defesa do interesse dos agentes de viagens, apesar de não ver como poderia estar a fazer muito melhor do que faz. Em relação à Confederação hoje atua principalmente como um lobby político. É um meio para se dialogar com os políticos, não tenho noção de que problema concreto tenha resolvido. Nestes últimos anos também não se apercebe de nenhum grande objetivo que a CTP tenha conseguido em prol dos empresários. Mas os empresários hão-de estar provavelmente satisfeitos com o que está acontecer neste momento, pois apoiaram recentemente a direção. Não sou membro da CTP por isso não me posso pronunciar melhor. Em 2011 decide aventurar-se num novo projeto empresarial, a TopMic. O que o levou a este novo projeto? Como correram estes cinco anos? Comecei a TopMic, numa altura em que ninguém investia nada. Em 2011, precisamente no ano em que fiz 65 anos. O conjunto de empresas entraram em funcionamento em 2012. Desde esse ano que fomos crescendo, contando hoje com mais de 20 empregados, vendendo quase 10 milhões de euros. É uma empresa que tem dado lucro todos os anos, estou particularmente satisfeito com o investimento que fiz. Tenho dois sócios mais novos, com metade da minha idade, para dar continuidade à empresa, apesar de ainda aqui estar. Só perdemos dinheiro no primeiro ano, em 2012, pelas razões de ser o ano da fundação, quando foi preciso preparar e comprar tudo. A partir de 2013 foi sempre a ganhar dinheiro, funcionar e crescer. Em 2013 passamos a ser IATA. A TopMic tem sido um desafio constante mas está a correr muito bem. Quem são os accionistas? Qual o caminho que pretende a empresa trilhar? Somos três acionistas maioritários com cerca de 96 por cento do capital, eu, o António Bento e a Catarina Neves. A nossa ideia é ter quatro a cinco empresas a funcionar: a TopMic Turismo, TopMic DMC, TopMic Congressos, TopMic Eventos e TopMic Concierge Services e TopMic Safaris. Atualmente deste conjunto, alguns são apenas, e ainda, departamentos autónomos, outras já empresas. Mas o objetivo é que todas venham a ser empresas autónomas, o timing depende do desenvolvimento do seu negócio. Neste universo julgamos que vamos chegar aos 10 milhões de euros de vendas este ano. Sendo o objetivo a cinco anos de vista chegar aos 15 milhões. Em termos de staff, atualmente, temos 22 funcionários, podendo duplicar dentro de 10 anos. O ano passado tivemos um EBITDA de 340 mil euros, o que é excecional e não haverá muitas agências em Portugal com este tipo de resultados.«