reconstrução tridimensional da geometria de pits de
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reconstrução tridimensional da geometria de pits de
Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos RECONSTRUÇÃO TRIDIMENSIONAL DA GEOMETRIA DE PITS DE CORROSÃO EM AMOSTRAS DE AÇO UTILIZANDO TÉCNICAS DE OTIMIZAÇÃO E ELEMENTOS FINITOS APLICADAS A CAMPOS MAGNÉTICOS DE FUGA. R. Schifini e A. C. Bruno DEPARTAMENTO DE FÍSICA, PUC-RIO. Trabalho apresentado, na 6ªCOTEQ, Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos, Agosto de 2002 - Salvador /BA. As informações contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade dos autores. 1 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos SINOPSE Foi desenvolvido um método iterativo baseado em elementos finitos que reconstrói a geometria tridimensional de vários tipos de defeitos superficiais em amostras de aço para a técnica do campo magnético de fuga. Este método foi implementado utilizando dois programas comerciais, o ambiente de programação Matlab da The MathWorks e o software de elementos finitos Opera-3d da Vector Fields. Vários modelos de elementos finitos foram idealizados para recuperar, a geometria destes defeitos a partir dos seus sinais magnéticos obtidos por medidas experimentais. As estatísticas mostraram que a porcentagem das reconstruções obtidas tiveram um erro absoluto de até 2 mm na largura, de até 2 mm no comprimento, e de até 0,6 mm na profundidade, para respectivamente 77%, 95% e 87% dos defeitos medidos. De uma forma geral, os resultados obtidos permitem atestar o excelente desempenho deste método aplicado a defeitos superficiais. 2 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 1. INTRODUÇÃO Dentre as técnicas magnéticas em Ensaios Não Destrutivos, existe uma de interesse central neste trabalho que é a técnica do campo magnético de fuga (conhecida também como magnetic flux leakage, MFL). Esta técnica consiste em submeter um material magneticamente permeável a um campo magnético externo e medir a resposta. Os princípios da magnetostática mostram que se o campo magnético externo for uniforme, o campo magnético dentro de um material homogêneo também o será. Numa geometria simples, como uma superfície plana, se o campo magnético aplicado for paralelo a esta superfície, o campo interno ao material também será paralelo mas com intensidade diferente. Caso este material apresente algum defeito não magnético na superfície ou no seu interior, o campo externo sofrerá uma perturbação, que dependerá de vários fatores. Esta perturbação do campo é tipicamente chamada de campo de fuga, devido ao que aparenta ser uma “fuga” de campo do material para o ar. Ao longo dos anos, esta técnica tem resultado na mais efetiva para determinar falhas em estruturas ferromagnéticas, e é por isto que é muito utilizada na indústria do petróleo no controle da integridade das linhas de transporte de líqüidos e gás, dos reservatórios e muitos outros equipamentos presentes em refinarias e plantas petroquímicas. Como exemplo, estima-se que existam mais de um milhão de quilômetros de linhas de transmissão de líqüidos e gás operando no mundo, mais da metade delas tem mais de 30 anos de vida e provavelmente sofrem de algum tipo de deterioração. Esta deterioração potencial é preocupante já que qualquer falha pode implicar em graves conseqüências, tanto econômicas, ambientais, como de saúde pública. Esta técnica tem um papel importante na manutenção preventiva destes dutos. Atualmente, esta inspeção é feita com um tipo de equipamento especial que percorre os dutos internamente, movimentado pela pressão do material transportado. Este equipamento é chamado de pipeline inspection gizmo, ou pig. 2. PROBLEMA DIRETO E INVERSO A técnica do campo de fuga não só possibilita a detecção de defeitos como também a caraterização deles. O maior problema na caraterização dos defeitos consiste em poder determinar sua geometria a partir da medida do campo magnético na superfície do material inspecionado. Este problema é chamado de problema inverso. O problema direto é justamente o contrário, determinar qual será o campo gerado por um defeito conhecido. Geralmente a solução do problema direto pode ser conseguida analiticamente para defeitos com geometrias simples ou numericamente com modelos de elementos finitos em casos mais complicados. Porém, o problema inverso resulta ser muito mais complexo e até mal posto, ou seja, a solução pode não ser única. A figura a seguir ilustra o conceito explicado anteriormente. 3 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos y (mm) Bref (gauss) Problema direto Problema inverso z xy(mm) x Figura 1. Problemas direto e inverso para a técnica do campo de fuga. O mapa em escalas de cinza representa a intensidade do campo magnético na vizinhança do defeito. A perturbação gerada pela presença de um defeito dependerá de vários fatores: do nível de magnetização, da espessura do aço, da orientação de magnetização (trincas orientadas na mesma direção do campo não geram campo de fuga), da permeabilidade do aço, da velocidade de deslocamento da ferramenta de inspeção, e principalmente da geometria do defeito. Em geral, muitas destas variáveis podem ser determinadas a priori, como a espessura ou o tipo de aço, em quanto que outras como a geometria precisam ser determinadas a partir do sinal medido. Atualmente existem alguns métodos com o objetivo de determinar a geometria dos defeitos a partir do campo de fuga: métodos comparativos, de extração de características, analíticos, redes neurais ou iterativos. Os métodos comparativos e o de extração de caraterísticas (feature extraction) podem ser considerados os mais simples de implementar. No primeiro, o sinal medido é comparado com tabelas de calibração e no segundo é procurada alguma correlação entre as características do sinal e os parâmetros geométricos do defeito por exemplo: a amplitude do sinal estaria relacionada à profundidade, a largura e a forma do defeito. Os métodos analíticos são utilizados em situações onde o defeito pode ser modelado teoricamente, como defeitos com forma de fendas regulares ou inclusões esféricas. Na maioria destes casos, só é necessário resolver os parâmetros do modelo a partir de algum sistema de equações. Com relação aos métodos baseados em redes neurais, atualmente existem vários deles. Nos últimos anos, este tipo de método tem sido de muito interesse pelo fato de recuperar a geometria de forma rápida, uma vez passado o processo de treinamento. Embora este tipo de método seja promissor e fácil de implementar, ele tem certos inconvenientes: na calibração da rede ou processo de treinamento é preciso ter um amplo conjunto de geometrias diferentes e seus respectivos campos de fuga, e aparentemente este conjunto nunca é suficientemente amplo; dependendo da rede utilizada, o treinamento pode ser demorado. O método iterativo é um método que não é novo mas, nos últimos anos, vem sendo mais utilizado. Ele consiste em um algoritmo de otimização que altera vários parâmetros geométricos do modelo dos defeitos até que o campo resultante do problema direto (modelo) seja o mais parecido possível com campo de fuga. Este 4 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos método também é muito utilizado fora da área de END, no desenho de dispositivos eletromecânicos ou a determinação da distribuição espacial de correntes elétricas que gerem uma dada configuração de campo. O objetivo deste trabalho foi o de implementar um método iterativo que resolva o problema inverso magnético para defeitos superficiais em placas de aço. Este método foi capaz de recuperar a geometria tridimensional destes defeitos a partir do campo magnético obtido de medidas experimentais. 3. METODOLOGIA O método desenvolvido para resolver o problema inverso magnético consistiu de um algoritmo de otimização baseado em resolver o problema direto magnético em cada iteração. O problema direto em cada iteração foi resolvido utilizando o programa comercial de elementos finitos Opera-3d. O controle da rotina de otimização como a minimização da função de erro mínimos quadrados e a estimação de novas coordenadas foi programado em Matlab. A rotina de otimização não linear consiste em resolver o seguinte problema : min z 1 1 2 F ( z ) = min ∑ f i ( z ) 2 z 2 2 i condicionada a que zmin < z < zmax . As variáveis de otimização da rotina foram as coordenadas espaciais de vários nós da malha de elementos finitos utilizada. Na maioria dos casos estas variáveis foram a coordenada z de vários nós da superfície, definindo deste jeito um defeito superficial. Campo de referencia Bref Coordenadas Iniciais Gerar e resolver a Malha de Elementos Finitos Sim f=Σ(Bi-Bref)2 f<ε? f minima ? Coordenadas Finais Não Estimar novas coordenadas Figura 2. Diagrama de fluxo do algoritmo de otimização. Em outros casos, uma destas variáveis determinada a coordenada x ou y de outro conjunto de nós. O conjunto de variáveis de otimização dependeu do caso aplicado e da malha de elementos finitos definida para o mesmo. Como todo este processo teve que ser automático foi preciso desenvolver modelos que possam ter suas coordenadas 5 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos facilmente modificadas, que sejam robustos (que ao ser modificados não gerem erros na malha de elementos finitos), que sejam rápidos de resolver e que seus resultados sejam o mais confiáveis possíveis. O fluxograma ilustra o procedimento utilizado. Foi criado um conjunto cerca de 60 defeitos superficiais em 12 placas de aço de 6,35 mm de espessura, de 260 mm de largura e de 2 m de comprimento. As dimensões destes defeitos variam de 7,8 mm a 27,3 mm para o comprimento, e 7,8 mm a 27,2 mm para a largura. As profundidades variam de 0,6 mm a 5,2 mm. Em termos percentuais, as profundidades dos defeitos variam de 9% a 82% da espessura de 6,35 mm da placa. A distribuição de profundidades não é uniforme, esta tem altas concentrações em torno de 35%, 55% e 80%, e por tanto os defeitos podem ser separados em três categorias: rasos, médios e profundos. Os defeitos também podem ser separados em função da sua geometria em três categorias: circulares, longitudinais e transversais. Os defeitos longitudinais apresentam um comprimento maior que a largura, enquanto que os transversais é a largura que é maior que o comprimento. Nos defeitos circulares a largura e o comprimento são iguais. Cabe lembrar que o “comprimento” é a dimensão na direção do movimento do pig (x), enquanto que a largura é a dimensão na direção perpendicular ao movimento do pig e contida no plano da placa (y). Finalmente, a placa pode ser utilizada nos dois lados representando defeitos externos e internos. A figura seguinte mostra a distribuição das geometrias. Distribuição das geometrias Circular Longitudinal Transversal Longitudinal 30.0 Largura (mm) 25.0 Y 20.0 Transversal X Z 15.0 10.0 Circular 5.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 Comprimento (mm) Figura 3. Distribuição das geometrias dos defeitos, e o formato característico de cada grupo. A direção x é a direção de movimento do pig. Não é mostrada a distribuição de profundidades. Devido ao três tipos de geometrias dos defeitos, foram criados três modelos de elementos finitos como ilustra a figura. Em dois modelos, foi definida uma faixa de elementos retos que podem ser esticados ou encolhidos para gerar os defeitos transversais ou longitudinais. 6 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Imã Aço Aço Aço Imã Imã Y Y Y X X X Figura 4. Esquema das malhas de elementos finitos utilizadas para defeitos a) circulares, b) longitudinais e c) transversais. As variáveis de otimização são as coordenadas z dos arcos para os defeitos circulares e uma coordenada adicional x para os defeitos longitudinais e uma coordenada y para os defeitos transversais. Como pode ser observado na figura anterior, só foi necessário modelar um quarto dos defeitos devido a existência de planos de simetria em y=0 e x=0. As condições de contorno são nos lados esquerdo e direito o campo é normal (H x n = 0) e nos lados superior e inferior o campo é tangencial (H·n = 0). O campo magnético é avaliado a 4 mm da superfície de cada placa e nas mesmas posições que o campo experimental. A única fonte que magnetiza as placas no modelo são os imãs do modelo acoplados a elas. Como os campos de fuga dos defeitos dependem do nível de magnetização da placa, o campo remanente dos imãs do modelo foi ajustado de maneira tal que o campo de fuga na ausência de defeitos seja igual ao campo de fuga obtido experimentalmente na mesma situação. 4. MONTAGEM EXPERIMENTAL Para a medida experimental foi utilizado um pig plano que se desloca sob a amostra sendo o campo de fuga medido com sensores Hall e estes dados adquiridos por um computador. A montagem do pig, o qual é responsável da magnetização das placas de aço, consistiu em um conjunto de imãs e barras e escovas de aço. Quando este conjunto é colocado em contato com uma placa de aço cria-se um circuito magnético. O campo magnético no interior da placa contendo o defeito é tangencial e altamente homogêneo. A figura a seguir ilustra a montagem, que consistiu no pig movimentando-se a uma velocidade constante de 10 cm/s e em contato com uma placa de aço contendo defeitos superficiais. Eqüidistante dos imãs encontra-se um conjunto de 15 sensores de efeito Hall, Melexis MLX 90215. A distância entre a superfície da placa de aço e o conjunto de sensores é de 4 mm. A superfície de cada sensor Hall é de 0,2 x 0,2 mm2. Estes sensores foram programados para uma faixa de campo de -170 gauss até 170 gauss. O espaçamento na direção y entre sensores é de 8 mm, enquanto que o espaçamento entre as medições na direção x é de 1mm. As placas foram montadas com os defeitos superficiais apontando para o mesmo lado do pig, (defeitos internos) ou para o lado oposto (defeitos externos). 7 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Sensores Placa de aço (substituivel) pig Figura 5. Montagem do pig plano e suas características principais: imãs, barras e escovas de aço. Os sensores Hall foram colocados no centro do pig. As placas de aço podem ser montadas com os defeitos em contato com os sensores (mesmo lado) ou na posição contrária (lado oposto). 5. RESULTADOS A figura abaixo ilustra, um sinal típico obtido pelos pig ao passar por uma das placas. Placa A Pig 1 Mesmo lado 180 160 fendas 140 (O e) BxBx(Gauss) 120 100 80 60 40 20 0 500 1000 1500 2000 Posição (mm) 2500 3000 3500 Posição (mm) Figura 6. Campo magnético tangencial de uma placa inteira. As estatísticas mostram os erros no comprimento, profundidade e largura. No comprimento 95% dos resultados tem um erro menor que 2 mm, na profundidade o 87% das reconstruções erra em menos de 0,6 mm. A porcentagem de resultados com um erro menor que 2 mm na largura foi de 77%. 8 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Erro no Distribuição 50 45 40 porcentagem 35 30 Comprimento 25 20 15 10 5 0 ∆c (mm) -10 -5 0 5 10 -10 -5 0 5 10 50 45 40 porcentagem 35 30 Largura 25 20 15 10 5 0 ∆l (mm) 50 45 40 porcentagem 35 30 Profundidade 25 20 15 10 5 0 ∆p (mm) -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 Figura 7. Estatísticas dos erros no comprimento, na largura e na profundidade. A figura a seguir ilustra algumas reconstruções, consideradas qualitativamente boas e ruins, para os três tipos de defeitos: circular, transversal e longitudinal. 9 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos zz (mm) (mm) Bom J2o Ruim K3s 5 5 0 0 -5 xx(mm) (mm) zz (mm) (mm) Longitudinal -15 -5 -10 -5 0 5 10 15 5 5 0 0 yy-5 (mm) (mm) -15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -5 -10 -5 0 5 10 15 B3s zz (mm) (mm) X4o 5 5 0 0 x (mm) -5 zz (mm) (mm) Transversal -15 -5 -10 -5 0 5 10 15 5 5 0 0 y -5 (mm) -15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -5 -10 -5 0 5 10 15 Y7s zz (mm) (mm) Y3o 5 5 0 0 x -5 (mm) zz (mm) (mm) Circular -15 -5 -10 -5 0 5 10 15 5 5 0 0 y -5(mm) -15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -15 -10 -5 0 5 10 15 -5 -10 -5 0 5 10 15 Figura 8: Reconstruções consideradas qualitativamente boas e ruins, para os três tipos de defeitos: circular, transversal e longitudinal. A letra o indica que o defeito está no lado oposto aos sensores e a letra s indica que o defeito está no mesmo lado. 6. CONCLUSÕES Foi elaborado com sucesso um método iterativo que permitiu reconstruir a geometria tridimensional de vários tipos de defeitos superficiais em amostras de aço, a partir do campo magnético de fuga. Este método foi aplicado a sinais obtidos com medidas experimentais. As estatísticas e os perfis resultantes mostraram que a grande maioria das reconstruções ficaram bem próximas das geometrias esperadas. A porcentagem das reconstruções obtidas tiveram uma diferença absoluta de até 2 mm na largura e até 2 mm no comprimento, para 77% e 95% dos defeitos medidos. Enquanto que a 10 Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos porcentagem de resultados com um erro absoluto de até 0,6 mm na profundidade foram de 87%. Com relação aos possíveis passos futuros, há muitas possibilidades interessantes, (i) aplicar este algoritmo a defeitos superficiais contidos em placas com outras espessuras; (ii) idealizar outros modelos de elementos finitos simples que permitam recuperar defeitos mais complicados como: defeitos quadrados, defeitos inclinados com respeito à direção de magnetização ou um conjunto de defeitos onde os campos de fuga interagem entre si devido à proximidade; (iii) estudar a aplicabilidade deste algoritmo a sinais gerados por defeitos contidos em superfícies cilíndricas, simulando o funcionamento de um pig real. E conseqüentemente, aplicar o algoritmo a medidas obtidas com esta ferramenta durante uma inspeção de um duto; (iv) estudar a possibilidade de determinar a permeabilidade do aço a partir do campo de fuga de um conjunto de defeitos e finalmente ver a possibilidade de detectar uma redução extensa na espessura de uma placa ou duto de aço através do nível constante do campo de fundo. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer ao Eng. Claudio Camerini pelas sugestões apresentadas. Este trabalho foi parcialmente financiado pela FINEP-PADCT/CTPETRO e CNPq. 11