Abril - Junho
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Abril - Junho
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO AGRÁRIA DE MOÇAMBIQUE Ministério da Agricultura Edição Trimestral Nota de abertura Estimado leitor do Boletim do IIAM, Abril - Junho de 2010 Nampula Acolhe Mandioca Nº 15 Reunião Nacional da Apresentamos a nossa 15ª edição trimestral. Abrimos com a informação de que a cultura de mandioca foi pano de fundo na Reunião Nacional deste tubérculo em Nampula. Ainda, o IIAM capacitou veterinários e técnicos de laboratório oriundos de Angola, respondendo a um pedido deste país irmão considerando que a nossa instituição detém experiência incomensurável neste sector. Os campos de ensaios em regime confinado para culturas geneticamente modificadas foi pretexto para especialistas na área de biosegurança se reunirem num seminário no IIAM. O facto de existir um elevado potencial na produção pecuária e não estar a ser devidamente explorado preocupa especialistas em produção animal que se reuniram para discutir prováveis soluções. Na investigação oferecemos-lhe informação sobre o papel da ciência no processo de desenvolvimento. Em reportagens: equipa do plano estratégico isolou - se em Namaacha para finalisar a análise dos ambientes internos e externos e, Zâmbia partilha sua experiência em agricultura de conservação numa palestra. Em divulgação: o PIAIT faz um resumo das suas actividades no decurso do presente trimestre. A fechar, a notícia de que Quelimane acolhe debate sobre problematica do coqueiro. Agradecemos a atenção dispensada. Até a próxima! O Editor: Feliciano Mazuze / DFDTT Participantes do encontro pousando para a posteridade. Teve lugar a Reunião Nacional da Mandioca, entre os dias 25 a 26 de Maio do corrente ano, na cidade de Nampula, numa iniciativa do Programa Nacional de Raízes e Tubérculos (PNRT) do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM). Tendo sido um acontecimento bastante concorrido, a reunião contou com a participação de vários parceiros que compõem a cadeia de valores da mandioca, nomeadamente, a investigação, Direcção Provincial da Agricultura, Direcção Provincial do Comércio, CEPAGRI, universidades, sector privado, extensionistas, associações de produtores, ONG’s e outros. A Reunião Nacional da Mandioca pretendia: (i) apresentar trabalhos e resultados da cadeia de valores da mandioca principalmente na zona norte do pais; (ii) transmitir um informe sobre a estratégia da produção da mandioca, oportunidades para a cultura e seus benefícios; (iii) planificar actividades com parceiros, actuais necessidades de semente, áreas de multiplicação das variedades de mandioca recentemente libertadas; e (iv) planificar actividades de investigação entre IIAM e Universidades. O evento foi caracterizado por apresentações das experiências vividas pelos diferentes intervenientes no cultivo deste tubérculo, seguidas de debates intensos na Sala de Conferências Copacabana, um dia de campo no Posto Agronómico de Nampula e, finalmente, o fecho oficial do encontro seguido do lançamento da marca WISSA da empreendedora Judite Macuácua. A Reunião Nacional da Mandioca foi oficialmente aberta pelo Director do Centro Zonal Nordeste, Eng. Fernando Mureva Chitio, que deixou algumas considerações sobre o evento, a destacar a sua vontade em tirar – se o maior proveito possível do encontro de forma a orientar os próximos passos, uma vez que, a mandioca é Boletim do IIAM DESTAQUES um produto com uma procura muito grande, sobretudo, ao nível do norte do país. Na sequência, a Doutora Anabela Zacarias, coordenadora do PNRT e investigadora do IIAM, procedeu a apresentação dos progressos na investigação da mandioca, ilustrando, deste feita, a evolução do processo de pesquisa na cultura da mandioca e, os resultados obtidos. O Eng. Constantino Cuambe, especialista da mandioca no Centro Zonal Nordeste, trouxe a plenária o processo de multiplicação e disseminação de variedades de mandioca, com especial destaque para as cinco novas variedades, nomeadamente: Nziva, Okhumelela, Calicanana, Orera e Eyope, que na verdade são produto da investigação conduzida pelo PNRT do IIAM. O projecto UpoCA (UNLEASHING THE POWER OF CASSAVA IN RESPONSE TO THE FOOD PRICE CRISIS IN MOZAMBIQUE) do Instituto Internacional para a Agricultura Tropical (IITA) também teve espaço, apresentado pela Engᵃ. Tiana Campos. Este projecto, tem como único fundamento a libertação do potencial da mandioca em reesposta à crise de preços de alimentos em Moçambique. negócios, seguido do representante do Ministério de Indústria e Comércio que veio apresentar a estratégia de produção da mandioca e o seu plano de implementação. O Doutor Américo Uaciquete, coordenador do STABEX, apresentou o micro – zoneamento da mandioca e três relatórios com detalhes consideráveis sobre esta cultura e não só. A Direcção Provincial da Agricultura, Serviços Provinciais de Extensão Rural e Agricultura (SPER e SPA) de Nampula, apresentou o plano de produção e distribuição de material vegetativo ao nível dos distritos. A reunião da mandioca contou com uma presença muito forte do sector privado, a destacar a Cervejas de Moçambique (CDM) que veio com o intuito de realizar uma prospecção das potencialidades de produção e/ou aquisição mais flexível da mandioca, na medida em que, pretende lançar no país uma cerveja de mandioca. Refira – se que a mandioca vai substituir o malte que se afigura como a principal matéria prima no processo de produção da cerveja e, actualmente é importado do mercado estrangeiro. Deste modo, a adopção da mandioca vai reduzir significativamente os gastos causados por este importante ingrediente. As primeiras horas do dia 27 de Maio do corrente ano, foram dedicadas a um rico dia de campo no Posto Agronómico de Nampula, organizado pelo Programa Nacional de Raízes e Tubérculos (PNRT). Num claro apoio ao empreendedorismo, o CZ Nordeste, apadrinhou o lançamento da marca WISSA da senhora Judite Macuácuá, empresa local que dedica –se à produção de subprodutos da mandioca, tal é o caso do rale, lifete, matapa e seus derivados e outros. O contributo do IIAM nesta empresa foi basicamente o acompanhamento técnico prestado à senhora Judite e, a concessão a título de empréstimo, de algum equipamento pertinente para o desempenho em pleno de parte das actividades por si propostas, como por exemplo a raspadeira que serve para raspar a mandioca em pequenos pedaços de modo a facilitar a sua confecção em “Xiguinha” e outros pratos, tipicamente moçambicanos. Os órgãos de comunicação social locais e os que têm representação em Nampula afluiram em massa à reunião nacional da mandioca, a destacar: a Televisão de Moçambique (TVM), a Rádio Moçambique (RM), a Soico Televisão (STV), o Jornal “O País”, o Jornal Diário de Moçambique, etc. (Sostino Mocumbe/DDIC/DFDTT/IIAM). A experiência da provincia de Nampula na cadeia produtiva de mandioca foi apresentada pela WISSA. Na sequência, a OLIMA, partilhou sua experiência na produção e processamento da mandioca. A ACIANA, partilhou a sua experiência na promoção dos subprodutos da mandioca. A AFRICARE, AENA e KENMARE, também apresentaram os seus contributos na área da mandioca. Na ausência do representante do Centro de Estudos Sócio – Económicos do IIAM, o Eng. Constantino Cuambe apresentou a cadeia de valores da mandioca e oportunidades de 2 Participantes visitando os campos de mandioca no Posto Agronómico de Nampula. DESTAQUES Boletim do IIAM IIAM Forma Médicos Veterinários e Técnicos Médios Angolanos em Diagnóstico de Laboratório e de Campo práticas de campo em duas regiões geograficamente distintas (Estação Zootécnica de Chobela e de Mazimuchopes - Distrito de Magude, província de Maputo, e criadores do Sector familiar no distritos de Chokwé e Xai-Xai, Província de Gaza). No que tange às sessões de enquadramento teórico – prático, os angolanos foram confrontados com uma série de matérias destacando – se: a importância do laboratório no diagnóstico de doenças, a bioseguraça laboratorial, o fluxograma de amostras, a parasitologia, as técnicas de necrópsia, a Serologia, a Bacterologia, a Virulogia, o controlo de qualidade de alimentos e a epidemiologia. Vista parcial da sala onde decorreu o encerramento do curso. A Direcção de Ciências Animais (DCA) do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) capacitou em matéria de diagnóstico de laboratório e de campo, 11 técnicos Angolanos dentre os quais 5 Médicos Veterinários e 6 técnicos médios, de 05 de Abril a 12 de Maio de 2010, nas suas instalações em Maputo. A DCA é uma direcção técnica do IIAM, que tem por missão realizar investigação em ciências animais em coordenação com as unidades locais do IIAM (centros zonais - estações zootécnicas e laboratórios regionais de veterinária). Sul, por solicitação do Instituto dos Serviços de Veterinária de Angola (ISVA). Em 6 semanas, a formação abrangeu estudos de casos clínicos, colheitas de amostras e, diagnóstico de parasitas gastrointestinais e hemoparasitas. O curso foi realizado em duas fases. A primeira ao nível do Laboratorio Central sediada na cidade de Maputo, os cursantes tiveram sessões de enquadramento teórico - prático para a actualização sobre as normas de biosegurança laboratorial e técnicas de diagnóstico. Angola seleccionou Moçambique, ciente das vantagens comparativas do nosso país em relação aos outros, considerando: o clima, a infraestrutura e um sistema veterinário próximo da realidade a que Angola almeja. A seleccção da DCA do IIAM para realizar a referida capacitação aos técnicos Angolanos, surge na sequência de um concurso que envolveu países como Portugal, Zimbabwe, Tanzânia e África do Nas sessões práticas, encetadas nas estações zootécnicas e junto dos criadores do sector familiar, os cursantes tiveram a oportunidade de proceder a colheita e processamento de amostras e, uma posterior confirmação dos resultados de campo que antecedeu a discussão dos mesmos em plenária, uma actividade que propiciou a elaboração do relatório que se propunha a espelhar o contributo técnico do exercício. O encerramento do curso mereceu a presença da imprensa. Os cursantes foram unânimes em afirmar que foram satisfeitas as expectativas. Na segunda fase, os cursantes foram submetidos a sessões de O encerramento do curso foi conduzido pela Directora Técnica da DCA, a Doutora Ana Paula Travassos Dias, numa cerimónia em que os cursantes receberam os seus certificados de participação, no anfiteatro desta componente de investigação do IIAM, em Maputo. (Sostino Mocumbe/DDIC/DFDTT/ IIAM). 3 Boletim do IIAM DESTAQUES IIAM Acolhe o Seminário sobre Bio-Segurança organismo da Nova Parceria para o Desenvolvimento em África (NEPAD) - União Africana (UA), constituiu uma oportunidade excelente para se criar uma nova dinâmica no GIIBS e, mecanismos adequados do processo para o estabelicimento de ensaios de campo em regime confinado para culturas geneticamente modificadas. Participantes ao seminário pousando para a posteridade ao lado de S. Excia, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Prof. Dr. Engº. Venância Massingue. O Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) acolheu recentemente, o Seminário sobre Bio-Segurança com o tema Condução de Ensaio de Campo em Regime Confinado (EsCC) para culturas Geneticamente Modificadas, em Maputo, numa iniciativa do Grupo Inter-Institucional de Bio-Segurança (GIIBS), um organismo presidido pelo Ministro de Ciência e Tecnologia. A cerimónia de abertura foi proferida por Sua Excia o Ministro da Ciência e Tecnologia (CT), Prof. Doutor Engº Venâncio Massingue e, contou com a presença de especialistas sobre a matéria e outros convidados. O GIIBS é coordenado pela Doutora Anabela Zacarias, investigadora do IIAM, órgão do Ministério da Agricultura (MINAG). A criação do Grupo Inter-Instituicional de Bio-Seguranaca (GIIBS) visa coordenar e promover debates e discussões sobre culturas e Organismos Geneticamente Modificados (GMO). A tarefa do GIIBS é coordenar o processo de estabelecimento dum Quadro legal Nacional sobre a Biosegurança, incluindo o desenvolvimento de políticas/legislação, regulamentos e condutas institucionais afins, de acordo com o Protocolo de Cartagena sobre a biosegurança que lida com movimentos transfronteiriços de GMO. Entre outros, o protocolo estabelece um mecanismo que garante que os países assinantes do mesmo, tenham informação necessária e adequada para a tomada de decisão na adesão de importação de GMO’s. Titular da pasta da CT precedendo a abertura oficial do seminário. 4 O GIIBS é um órgão técnico – científco multi – sectorial de análise e aconselhamento em matéria de biosegurança no país, no qual estão representadas instituições académicas, de investigação e públicas de relevância neste assunto. O Seminário que foi financiado pela Rede de Peritos sobre Biosegurança em África (ABNE), um Da esquerda para a direita, DG do IIAM, ministro da CT e Coordenadora do GIIPS. Sendo o GIIBS um órgão essencialmente regulador, o Seminário foi uma oportunidade ímpar para troca de experiências com outros países africanos que já estabeleceram ensaios em regime confinado e estão a iniciar o processo de comercialização de culturas geneticamente modificadas. Deste modo, os membros do GIIBS sairam com um conhecimento profundo sobre os mecanismos reguladores de condução de ensaios de campo em regime confinado e, estabeleceram um plano de acção que contempla actividades a serem desenvolvidas pelo grupo em Moçambique. (Sostino Mocumbe/ DDIC/DFDTT/IIAM). DESTAQUES Boletim do IIAM Seminário para Melhoramento da Produção Animal Reúne Especialistas na Metéria Especialistas em Produção Animal encontraram – se num seminário para discutir mecanismos para a conservação e melhoramento dos recursos genéticos animais em Moçambique, no dia 07 de Maio de 2010, um evento organizado pela Direcção de Ciências Animais (DCA) do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), na capital do país, em Maputo. Moçambique possui um elevado potencial para a produção pecuária, contudo, esta posição não está sendo devidamente explorada. Assim sendo, a produtividade nacional não satisfaz as necessidades dos consumidores quer quantitativa quer qualitativamente. As contribuições dos participantes em plenária foram incorporados num plano de trabalho conjunto para o sector. Como consequência, actualmente, maior parte dos produtos de origem animal consumidos no país são importados, facto que representa grande dispêndio de divisas com as despesas relacionadas com as importações, para além de a médio ou longo prazo, poder tirar mercado aos produtores. De acordo com Gloria Taela, veterinária especializada em melhoramento genético animal, pretende –se criar condições para que os animais, como bovinos, aves, caprinos e suinos produzam dentro dos patamares desejados pelos criadores, comerciantes e consumidores. Tal será feito através do cruzamento Parte dos participantes numa sessão no seminário. de raças de algumas das espécies actualmente existentes, selecção de melhores pastos, cuidados sanitários, entre outros aspectos. No gado bovino, por exemplo, há raças que não são viáveis numa determinada região mas que são noutras. Deste modo, urge que se analise, ao pormenor, onde e como se pode aumentar os efectivos. “Primeiro, pensamos que é preciso aumentar a quantidade de carne, do leite e dos ovos uma vez que há défice no país. Dependemos das importações enquanto há condições para evitar isso”, disse Glória Taela. A situação mais dramática é notória no leite, pois 99 porcento deste produto vem do estrangeiro. Dr. Pedro Tomo, do INGC, a par dos outros participantes, mostraram – se bastante preocupados com estágio actual do sector. Por outro lado, é preciso que haja produtos de elevada qualidade. “Não basta a quantidade, os consumidores devem ter a possibilidade de escolher a melhor carne para o seu consumo”, sublinhou. Para que tal aconteça é preciso que haja um crescimento adequado dos animais, resistência à doenças e boa reprodução animal. É aqui onde os veterinários acreditam que podem dar algum contributo. Porém, observou que é preciso que o governo apoie este sector abrindo linhas de investimento para os veterinários. “Há necessidade de se potenciar cada vez mais esta área”, destacou. Em Moçambique a produção pecuária ocupa um lugar de relevo, na medida em que, está a contribuir bastante para a sobrevivência e segurança alimentar de cerca de 80 porcento da população rural. No campo, por exemplo, todas as famílias possuem alguma criação para o consumo e outras necessidades como cerimónias tradicionais e casamentos. (Sostino Mocumbe/ DDIC/DFDTT/IIAM). 5 Boletim do IIAM INVESTIGAÇÃO O PAPEL DA CIÊNCIA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO1 Jone Januário Mirasse2 1 Este artigo faz parte de um trabalho apresentado num congresso sobre Estudos Rurais, em POA-Brasil, que discutia os mecanismos de produção do conhecimento para o desenvolvimento local e global. 2 Pesquisador do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), na área de Transferência de Tecnologias. (1961) não vislumbrava separação em diferentes campos de conhecimento científico, já não se pode dizer o mesmo nos nossos dias. Ela se abre e se desdobra em função da demanda contemporânea do mundo actual. Se no passado era o generalismo do pensamento científico, hoje a especialização tomou conta do pensamento e pesquisa científica. Figura 1: A partilha do saber académico e experiências desempenha um papel fundamental no processo de desenvolvimento. Introdução O conceito de ciência pode ser encontrado em diversas obras sendo definido de várias formas. Mas segundo Lakatos e Marconi (1982), a ciência pode ser definida como um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objectos de uma mesma natureza. Nesta ordem de pensamento facilmente podemos deparar com a ciência em tudo o que é natural e inanimado, portanto na ciência não existe limites do saber ou do conhecimento empírico. Mesmo no passado, os humanos recorreram a ela para obter conhecimentos que alguns deles são úteis até para orientação nos tempos actuais mesmo que esteja globalizado, aliás, a ciência antes da globalização do sistema mundial ela já surgiu globalizada. Desenvolvimento conceptual Kourganoff (1961) afirmou que a 6 ciência arruma, classifica, metodiza, simplifica tudo excepto a si própria. Esta afirmação mostra claramente o quanto a ciência é autónoma nos caminhos a trilhar na busca de descobertas, interpretações e até condução do pensamento humano. Isto é o que se passa mesmo até hoje em dia, enquanto o mundo vai abandonando o que considera ultrapassado e até esquece ou apaga as práticas consideradas inúteis na sua memória histórica, a ciência trata de conservar tudo aquilo segundo a qual foi motivo ou objecto de estudo, portanto nunca queima os arquivos. É com esta motivação que o Kourganoff (1961) observou que em muitos campos, a pesquisa científica conserva um carácter artesanal, que dificulta uma divisão mais desenvolvida do trabalho. Apesar de a ciência ser conservacionista, ela é bastante flexível no desdobramento em mecanismos que a torna mais confortável, por isso ela é metódica. Com a sua metodologia, faz com que os trilhos seguidos sejam racionais. Se até na época de Kouganoff A valorização do conhecimento técnico-científico faz com que as respostas dos cientistas a essas demandas sejam diversificadas no seu meio académico actual. No passado o cientista do século XIX era em geral um professor que dedicava à pesquisa os confortáveis lazeres que lhe deixava o pequeno número de estudantes e a lentidão geral do ritmo da vida, “descobertas” era pago em princípio, tão somente pelo ensino que ministrava (KOURGANOFF, 1961). Figura 2: Exercício no processo de partilha do saber académico e experiências dos diferentes actores sociais num congresso. A maximização do capital que caracteriza os nossos tempos, fez com que ao mesmo tempo que se avance na especialização, se busque afirmação económica competitiva entre as diferentes áreas do conhecimento. A globalização actual consiste em mundialização de todos aspectos socioeconómicos dos povos mundiais, isto significa eliminação de fronteiras nacionais INVESTIGAÇÃO e promover a homogeneização e uniformização global. Por isso que Santos (2002) afirma que o processo de globalização mostra que estamos perante um fenómeno multifacetado com dimensões económicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo. A produção do conhecimento desde nunca observou limites de pensamento, todos grandes pesquisadores ou cientistas desde épocas primitivas produziram conhecimento, interpretaram fenómenos naturais e inanimados, conduziram o mundo com os seus princípios. Independentemente do local onde o conhecimento foi produzido, sempre foi usado além fronteiras locais, nacionais, regionais e universais, fazendo com que a absorção e o linguajar científico fosse o mesmo. Dando como exemplos em áreas como Agricultura e Biologia, a categorização dos seus elementos de estudo em família e até em espécie levou a universalização das linguagens técnicas, que apesar de poder ter nomes locais possui um nome universal de conhecimento de todos. Embora no mundo actual o localismo vai sempre cedendo lugar ao global ou mundialismo e o individualismo ao colectivo através de eficiente troca de informação, é neste processo de troca de informação que constitui a ciência e o progresso da pesquisa cientifica. Num período de era de informação em que o mundo está inserido, o localismo e o individualismo embora não menos importante, remete aos seus “fanáticos” ao isolamento e consequentemente ao esquecimento dos próprios pesquisadores e os seus trabalhos, contrariando os objectivos da ciência. [...] toda e qualquer sociedade faz uso do universo material a sua volta para se reproduzir física e socialmente. Os mesmos objetos, bens e serviços que matam a nossa fome, nos abrigam do tempo, saciam nossa sede, entre outras “necessidades” físicas e biológicas, são consumidos no sentido de “esgotamento”, e utilizados também para mediar nossas relações, nos conferir status, construir identidades e estabelecer fronteiras entre grupos e pessoas. Para além desses aspectos, esses mesmos bens e serviços que utilizamos para nos reproduzir física e socialmente auxiliam - nos na “descoberta” ou na “constituição” da nossa subjetividade e identidade. Mediante a oportunidade que nos oferecem de expressarmos os nossos desejos e experimentarmos as suas mais diversas materialidades, nossas reacções a elas são organizadas, classificadas e memorizadas e nosso autoconhecimento é ampliada. (BARBOSA e CAMPBELL, 2007, p. 22). Os autores evidenciam a importância do ser como indivíduo e como grupo em função do ponto socio económico, cultural e geográfico em que esse indivíduo ou grupo se encontra inserido. A figura abaixo, mostra um campo resultante do processo de partilha de conhecimento atraves de abordagens participativas no processo de transferência de tecnologias ao produtor. Boletim do IIAM produção do saber cientifico. E porque o desenvolvimento é um processo, possui muitos intervenientes que precisarão de bases anteriores para continuar firmando. Considerações O individuo, o colectivo, o local e o mundo sempre foram “feitos” e interpretados pela ciência desde o principio dos tempos mundanos, e os que fizeram partilharam informação para que as pesquisas não mais começassem do nada, mas sim usando como suporte algo antes existente, que o individuo/grupo num determinado local fosse do conhecimento mundial com reconhecimento merecido dos seus fazedores. Hoje em dia se fala de “redes” de conhecimento, para que o tempo não mais constitua limitante intransponível para o desenvolvimento. Apesar de que afirmo que a ciência é a essência da nossa existência, naturalmente não significa que é o princípio e o fim de tudo, há aspectos limitativos a observar como os levantados por Flick (2004) de que a ciência não mais produz “verdades” absolutas, capazes de serem adoptadas indiscriminadamente. REFERÊNCIAS BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Collin. O estudo do consumo nas ciências sociais contemporâneas. Cultura, Consumo e Identidades, Rio de Janeiro: FGV, p.21-44, 2007. Figura 3: Campo resultante do processo de transferencia de tecnologias priorizando abordagens participativas. Embora seja necessário o devido reconhecimento dos que fazem a ciência, é recebendo e transmitindo que se evolui técnica e profissionalmente. Por isso que a universalização não é só um processo linear, mas sim também um processo consensual (SANTOS, 2002). Por isso a partilha de informação não é de certo ponto coerciva, ao mesmo tempo que se mostra tecnicamente e profissionalmente imperativa para que o pesquisador e a instituição em que representa/trabalha saia do anonimato e entra no mundo competitivo na FIICK, U. Uma introdução a pesquisa qualitativa. 2 ed. São Paulo: Bookman, 2004, 312p. KOURGANOFF, V. A Pesquisa Cientifica. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961, 135p. LAKATOs, E.M. e MARCONI, M.A. Metodologia Científica. São Paulo:Atlas, 1982, 231p. SANTOS, B. S. Os processos da globalização. In: SANTOS, B.S. (Org.). A Globalização e as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002, p.25-102. 7 Boletim do IIAM REPORTAGEM Retiro de finalização das análises dos ambientes externos e interno do IIAM equipamento para os programas de pesquisa e de divulgação dos resultados constatou-se que havia uma razoável distribuição nas zonas agroecologica do país. Contudo, os laboratórios de referência estão concentrados na capital do país e nota-se também um envelhecimento das infra-estruturas e de equipamentos da instituição devido à fraca manutenção e reposição. Foram igualmente analisadas as alianças estratégicas do IIAM. qualificações dos recursos humanos; as infra-estruturas e equipamentos existentes e o sistema de gestão e comunicação praticado na instituição. No ambiente externo deu-se a continuidade do exercício de formulação dos cenários alternativos para a produção e produtividade agrária de Moçambique iniciado em Fevereiro e facilitado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Desta análise chegou-se a conclusão de que a capacidade em termos de recursos humanos qualificados (Mestrados e Doutorados com experiência nas várias áreas de pesquisa) era por um lado limitada e a maioria concentrada nas Direcções Técnicas em detrimento dos Centros Zonais. Durante o retiro foi possível concluir a construção de estados futuros de incertezas críticas das cadeias e feita a agregação dos estados futuros em três temas que constituirão os três cenários. Falta apenas o trabalho de finalização dos cenários que consiste na análise da consistência do texto de cada tema e fazer a redação final. Participantes pousando para a posteridade No âmbito do processo de formulação do plano estratégico do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), foi organizado um retiro, no período de 17 a 20 de Maio de 2010, nos Pequenos Libombos, Distrito de Namaacha, para os membros de Grupo de Gestão Estratégica da instituição finalizarem os exercícios de análise dos ambientes interno e externo do IIAM. Fundamentalmente, o retiro pretendia que os envolvidos no exercício, terminassem os exercícios de análise das Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças (FOFA) e de formulação dos cenários alternativos para a produção e produtividade agrária de Moçambique. Participaram no retiro: Sara Achá, Manuel Amane, Esperança Chamba, Edgar Cumaio, Carvalho Ecole, Alcino Fabião, Olga Fafetine, Carlos Filimone, Clementina Machungo, Feliciano Mazuze, Roseiro Moreira, Antonieta Nhamusso e Rafael Uaiene. Para o ambiente interno fez-se a análise da capacidade do IIAM para cumprir com a sua missão tendo sido analisada a quantidade e as 8 Por outro lado, grande parte dos investigadores séniores está a caminho da reforma, isto é, com idades acima dos 45 anos. Ademais, não há um programa de desenvolvimento, enquadramento, manutenção e motivação dos recursos humanos do IIAM. Os técnicos de nível médio agropecuário que eventualmente poderiam substituir os investigadores a caminho da reforma têm estado a ingressar em cursos de licenciaturas em áreas fora da agricultura tais como gestão e psicologia. No tocante às infra-estruturas e Parte da equipa do plano estratégico. Com base na análise das variáveis críticas dos stakeholders revisitada, bem como das diferentes cadeias nomedamente as cadeias produtivas básica; as cadeias de rendimento e dos sistemas naturais identificaramse os inpulsores que se traduzem REPORTAGEM em principais oportunidades para o desenvolvimento dos programas de investigação e disseminação dos resultados. No evento, foram também identificadas as limitantes que Boletim do IIAM permitiram fazer o prognóstico das ameaças no ambiente externo. (Rafael Uaiene/COMPETE/IIAM). No IIAM Experiências na Zâmbia com a Agricultura de Conservação foram Partilhadas em Palestra Os ganhos agronómicos da AC zambiana no que se refere a retenção de resíduos de cultura, Dr. Haggblade avançou que aumenta matéria orgânica, melhora a estrutura de solo, melhora a retenção da água e modera a temperatura do solo. Para finalizar sua apresentação no concernente aos ganhos da AC zambiana, o investigador referenciou a rotação de culturas leguminosas e a aplicação reduzida mas precisa de fertilizantes sendo que, se tratam de actividades que melhoram a fertilidade dos solos. A inclusão dos parceiros no processo de selecção das variedades garante uma escolha consensual antes da libertação. Foi realizada uma palestra com o propósito de partilhar a experiência da Zâmbia em matéria de agricultura de conservação, recentemente, na sala Save da sede do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) em Maputo, proferida pelo Dr. Steven Haggblade do Michigan State University. O evento contou com a participação de investigadores, agentes de extensão agrária e outros interessados no desenvolvimento do sector agrário. O investigador apresentou os resultados de vários anos de estudo com Agricultura de Conservação (AC) na Zâmbia. A pesquisa foi implementada com os agricultores de pequena e média escala que praticam AC através de sistemas manuais e de sistemas baseados na tracção animal. Ele deu particular enfoque aos aspectos mais relevantes destas tecnologias comparativamente às tecnologias tradicionais, incluindo as lições da Zâmbia concernentes aos constrangimentos bem como os factores impulsionadores para a adopção das tecnologias relativas a AC por parte dos produtores. Ao abordar os pacotes de agricultura de AC, o investigador referenciou a lavoura mínima, preparação da terra na estação seca, retenção de resíduos de cultura, rotação de culturas com leguminosas e aplicação de fertilizantes reduzida mas precisa. Considerando os aspectos referentes aos pacotes de AC zambiana, Dr. Steven Haggblade destacou como ganhos agronómicos deste tipo de agricultura, que lavoura mínima poupa energia (combustíveis), quebra a camada dura, reduz a compactação do solo e garante a conservação da água. Ainda apresentando os ganhos agronómicos dos pacotes de AC zambiana, o investigador trouxe a plenária que a preparação da terra na época seca evita períodos de pico de procura de mão-de-obra e que o plantio cedo concede entre 1 a 2% de ganho de rendimento por dia. A AC na Zâmbia foi motivada pelo declínio acentuado da fertilidade de solos destacando-se a acidez, a erosão e a camada dura nos solos; falta de humidade devido a seca; aumento de preços de fertilizantes e; aumento de preços de combustíveis. De referir que, Dr. Haggblade é Professor de Desenvolvimento Internacional, no Departamento de Economia da Agricultura, de Sistemas Alimentares, e de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Michigan. Actualmente, ele tem desenvolvido pesquisa sobre Agricultura de Conservação em parceria com o Conservation Farming Unit, o Golden Valley Agricultural Research Trust (GART) e o Food Security Research Project. Este seminário representou uma colaboração entre o Centro de Estudos Socio-Económicos (CESE), Direcção de Agronomia e Recursos Naturais (DARN) ambos do IIAM, e a Universidade Estadual de Michigan que contam com o financiamento da USAID. (Sostino Mocumbe/IIAM/ DFDTT/DDIC). 9 Boletim do IIAM DIVULGAÇÃO INFORMAÇÃO GERAL SOBRE A PLATAFORMA DE INVESTIGAÇÃO AGRARIA E INOVAÇÃO TECNOLOGICA EM MOÇAMBIQUE (PIAIT) OBJECTIVO GERAL: Fortalecer o Sistema Nacional de Investigação e Inovação Agrária e Transferência de Tecnologias através do esforço conjunto entre instituições que tem um interesse comum na investigação e inovação agrária bem como, na transferência de resultados apropriados e rentáveis. MISSÃO: FAZER COM QUE AS TECNOLOGIAS, AS PRÁTICAS DE MANEIO E A INFORMAÇÃO SEJAM ÚTEIS E ACESSÌVEIS AOS AGRICULTORES MOÇAMBICANOS. A prioridade é apoiar a investigação agrária para colaborar com o governo e as organizações interessadas na luta contra a fome e a pobreza, através da entrega de resultados de pesquisa aplicáveis para a solução de problemas específicos do sector agrário de Moçambique PARCEIROS PRINCIPAIS Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM): Parceiro fundador e beneficiário principal, através do reforço do sistema nacional de pesquisa. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA): o crescimento do Brasil nos últimos anos é baseado em grande medida pela contribuição dos resultados da pesquisa realizada pelo sistema EMBRAPA o que abala positivamente a sua participação como parceiro principal desta plataforma. Centros Internacionais de Investigação Agrária: Dos quinze centros que fazem parte do Grupo Consultivo para Investigação Agrária Internacional (CGIAR), oito tem representação com sedes estabelecidas ou projectos em Moçambique. Este 10 consórcio é uma novidade que obedece à necessidade de actuar de forma articulada e organizada com as organizações nacionais de pesquisa. Esses centros são os seguintes: • Instituto Internacional de Ciências Animais (ILRI) – QUÉNIA; Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) - NIGERIA; Instituto Internacional de Investigação do Arroz (IRRI) - FILIPINAS; Centro Internacional da Batata (CIP) PERU; Instituto Internacional de Investigação das culturas das Zonas Semi-áridas Tropicais (ICRISAT)INDIA; Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT) - MEXICO; Instituto Internacional de Investigação de Politicas de Alimentos (IFPRI) - USA; Instituto Internacional de Gestão da Água ( IWMI) – Sri Lanka. Outras organizações de carácter internacional presentes e que fazem parte do consorcio são: a Universidade Estadual de Michigan (MSU) e o Centro Internacional de Desenvolvimento dos Fertilizantes (IFDC); UNIDADE DE GESTÃO A Plataforma de Investigação Agrária e Inovação Tecnológica será coordenada por uma unidade de Gestão formada por um representante do Instituto de Investigações Agrárias de Moçambique; por um representante da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e por um representante do consórcio dos Centros Internacionais de Investigação que recebem fundos da USAID para realizar suas actividades. RESPONSABILIDADES UGP: • Facilitar a criação da PIAIT; apoiar a administração dos programas e projectos no âmbito da investigação agrária em Moçambique; optimizar recursos e materiais em conformidade com o plano estratégico do IIAM; mobilizar recursos financeiros adicionais para a Investigação agrária; definir e coordenar a implementação dos assuntos transversais.; apoiar a disseminação dos resultados obtidos pelo sistema de investigação de Moçambique. Estas organizações internacionais contemplam na sua missão O COMBATE A FOME, A AJUDA AOS MAIS POBRES E A PROTECÇÃO AMBIENTAL, aspectos que também são obrigatórios na pesquisa ao nível nacional. ASSUNTOS TRANVERSAIS: Os principais beneficiários dos resultados desta plataforma serão em geral os agricultores moçambicanos. Para eles é direccionado o esforço da investigação, inovação agrária e da transferência de tecnologias. 1. Lançamento da plataforma: Por último, mas a um nível muito similar, o aumento substancial da produção acompanhado de uma melhoria na qualidade dos produtos resultará em agricultores, consumidores e comerciantes mais satisfeitos. DA • Fertilidade do Solo; • Mudanças Climáticas ; • Sistemas de Sementes; • Género; • Nutrição. O Lançamento da Plataforma para Investigação Agrária e Inovação Tecnológica em Moçambique teve lugar no recinto do IIAM no dia 1904-2010 e foi presidida pelo Vice Ministro da Agricultura António Limbau; No dia seguinte, teve lugar outro interessante encontro com os parceiros da Plataforma A avaliação deste “primeiro acto público” por parte dos membros da UGP na companhia do Director Geral do IIAM, mostrou DIVULGAÇÃO que há um caminho promissor para a pesquisa, inovação e transferência de tecnologia no futuro próximo. A equipa da UGP formada pelos representantes da EMBRAPA, os Centros Internacionais de Investigação Agrária e do IIAM estão cientes que a plataforma não está ainda construída, mas estão satisfeitos com resultados iniciais e pelo apoio demonstrado nos contactos já feitos. Há consciência que a plataforma será construída com a contribuição de todos os membros, parceiros interessados e pesquisadores de dentro e fora de Moçambique. Este apoio deve apresentar-se em forma de novas ideias, projectos e recomendações aplicáveis para melhorar a pesquisa e a transferência de tecnologia em Moçambique. 2. Encontro com o grupo dos Assuntos Transversais (CCI) do IIAM: Sob a Direcção de Formação, Documentação e Transferência de Tecnologia (DFDTT), o IIAM tem um grupo para estudar e propôr mecanismos para incorporar os “assuntos transversais” no protocolo de pesquisa. Os assuntos prioritários definidos pelo grupo são: género; HIV-SIDA; meio ambiente/mudanças climáticas; direitos humanos - com ênfase no trabalho. Sendo alguns destes assuntos transversais (CCI) os mesmos definidos pelo PIAIT (género e mudanças climáticas), os membros da UGP consideram relevante esta relação e por isso, participam regularmente nas reuniões do grupo dos CCIs. O objectivo principal do grupo formado por cientistas do IIAM de ambos os sexos ao nível de Maputo, é criar consciência e chamar a atenção para os investigadores do IIAM sobre a importância destes assuntos e procurar encontrar mecanismos para incorporá-los nos protocolos de pesquisa e resultados. No início, o género será o assunto principal. Está em definição a possibilidade de colaboração da Plataforma com o grupo do CCI; o grupo vai a reproduzir um mecanismo de cientistas interessados nestes assuntos ao nível de centros zonais e a Plataforma está disposta a colaborar com esta acção. Seminários neste nível terão o seu início brevemente e o PIAIT contribuirá para a sua realização. 3. Visita dos representantes do JICA e JIRCAS: O Sr. Osamu Ito, Director de produção de colheita e ambiente no JIRCAS (Centro Internacional de Pesquisa de Ciências Agrárias) e o Sr. Hongo Yutaka, Conselheiro Sénior do JICA (Agência Internacional de Cooperação do Japão) visitaram o nosso escritório no IIAM. O encontro deu-nos a oportunidade única de oferecer informação básica sobre os objectivos, metas e actividades da PIAIT. Também foi uma ocasião para troca de ideias sobre o potencial e futuro do sector agrário no desenvolvimento do país. Presentemente, a JICA financia o “Projecto PROSAVANA”. Este projecto será implementado no norte do País e o objectivo é o desenvolvimento das áreas fronteiriças do Corredor de Nacala incluindo as províncias de Nampula, Zambézia e Niassa. A reabilitação e construção da linha férrea, estradas, educação e saúde, agricultura em grande escala e para pequenos agricultores, comercialização e processamento de alimentos entre outros são as áreas incluídas no Projecto PROSAVANA. A EMBRAPA apoiada pela ABC (Agência Brasileira de Cooperação Internacional) é parceira da JICA e dividirá com o IIAM a responsabilidade de investigação agrária do projecto. O mapeamento dos solos e o potencial dos recursos naturais são os pontos de entrada para a investigação agrária do projecto. 4. Assinado o acordo sobre o Projecto de Apoio Técnico à Plataforma de Inovação Agrária em Moçambique. Boletim do IIAM O Vice-Ministro da Agricultura de Moçambique assinou a 12 de Maio passado em Brasília o acordo que operacionaliza o Projecto de Suporte Técnico à Plataforma de Investigação e Inovação Agrária em Moçambique. O projecto que é financiado pela USAID e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), envolverá a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) que tem já um representante permanente em Moçambique e visa: fortalecimento institucional do IIAM; estabelecimento de sistema de sementes; estabelecimento de gestão territorial; estabelecimento de sistemas de comunicação informação para a transferência de tecnologias e; desenvolvimento e implementação do modelo de gestão, acompanhamento, monitoria e avaliação da investigação agrária. Estes são os pilares da cooperação de EMBRAPA em Moçambique durante os próximos anos. 5. Projecto SIMLESA Foi lançado recentemente em Chimoio o projecto de intensificação sustentável dos sistemas de cultivo de milho e leguminosas para a região austral e oriental da África (SIMLESA) coordenado regionalmente pelo CIMMYT. O IIAM-SIMLESA como é conhecido o projecto em Moçambique, será implementado nos distritos de Manica e Sussundenga (Manica); Gorongosa (Sofala); Angónia (Tete) e Gurué, Alto Molócue (Zambézia) e terá acções na área sócio-económica; na identificação de variedades adaptadas e multiplicação de sementes de milho e leguminosas; na agricultura de conservação e uma área transversal de formação. Desejamos desde já êxitos e bons resultados para os implementadores do projecto SIMLESA. Por: Carlos Dominguez/ Coordenador do PIAIT 11 Boletim do IIAM ÚLTIMAS Seminário Discute Problemática do Coqueiro e Avança Propostas de Estratégias para o Controlo de suas Doenças Dados dos relatórios do FISP chama atenção do facto da Orytes levar algum tempo para matar as plantas velhas, entretanto, nas plantas novas, ela facilmente vai ao meristema e interrompe o ciclo vegetativo da mesma (portanto, mata a planta com facilidade). Orytes é uma das pragas que atormenta o coqueiro. Realizou-se o seminário sobre a problemática do coqueiro, sob o lema “Rumo à estratégia e plano de acção para o maneio e controlo do amarelecimento letal (CLYD) e escaravelho rinoceronte (Oryctes sp.)”, entre os dias 12 e 13 de Maio de 2010, em Quelimane, numa iniciativa do projecto Farmer Income Support Project/Projecto de Apoio à Renda Familiar (FISP), financiado pela Millennium Challenge AccountMoçambique (MCA-Moçambique). Importa referir que o projecto FISP decorre sob os auspícius do Programa Nacional do Coqueiro do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM, coordenado pelo Doutor Marcos Freire, investigador desta instituição de pesquisa. O seminário contou com a presença de mais de 30 participantes, desde especialistas da cultura do coqueiro, até especialistas em economia, negócios, extensão, e prevenção de calamidades entre outros. Até aos últimos 3 ou 4 anos atrás, a ideia prevalescente tomava o ama- relecimento letal como o problema do coqueiro em Moçambique, adicionando – se o facto de o palmar ser velho e ter sido maltratado durante a guerra, na medida em que, foi abandonado e condenado a muito tempo sem renovação, afirmou Doutor Marcos Freire. Ainda segundo o nosso interlocutor, no centro e norte a renovação dos coqueiros não está a ser feita, enquanto que na província de Inhambane, esta tem sido contínua. O amarelecimento letal acelerou a morte dos coqueiros e, a Orytes, que é uma praga oportunista coloca os ovos em troncos mortos, multiplica – se, as larvas crescem e alimentam – se dos mesmos (troncos). “Com o actual cenário de coqueiros adultos mortos, resultante do aparente mau maneio, a Orytes encontrou um campo certo de multiplicação, de tal maneira que se tornou numa praga. Assim sendo, até plantas não atacadas pelo amarelicimento letal, são atacadas pela Orytes”, enfatizou Marcos Freire. Doutor Marcos Freire informou que, estudos efectuados a mais de 10 anos, ainda mencionavam a existência de 10 milhões de coqueiros na Zambézia e sul de Nampula, e, em finais de 2008, com fundo do Millenium Challenge Account (MCA), foi feito um leventamento, por uma empresa de Geographic Information System (GIS) francesa denominada TTI, e foi identificado apenas 5 milhões de coqueiros. “Se nada é feito, urgentemente, daqui a 2 a 5 anos, talvez tenhamos 3 milhões, obedecendo a tendência decrescente da existência do coqueiro no território”, afirmou o especialista. O coqueiro é fundamental por ser uma fonte de receitas, de alimentos e concorre para a segurança alimentar. Numa escala de 10 coqueiros por família, considerando que, são 2 milhões e meio de coqueiros que pertencem ao sector familiar, acabam sendo 250 mil coqueiros de famílias que pelo menos parte de seu rendimento, em 8 distritos, Zambézia e sul de Nampula. O passo seguinte ao seminário, reside na compilação final das matrizes e na elaboração da versão preliminar do documento de estratégia e plano de acção para o maneio e controlo CLYD) e Oryctes sp. (Sostino Mocumbe/DDIC/DFDTT/IIAM). Director: Doutor Calisto Bias. Editor: Feliciano Mazuze (DFDTT). Coordenação de Produção: Américo Humulane. Revisão: Roseiro M. Moreira. Redacção: Sostino Mocumbe, Carlos Dominguez, Rafael Uaiene e Jone Mirasse. Colaboração nesta Edição: Feliciano Mazuze, Américo Humulane, Marta Celeste, Roseiro Moreira, Rafael Uaiene e Marcos Freire. Maquetização: Alberto Zandamela. Fotografia: Jonas Malapende, Marcos Freire e Arquivo do DDIC. Impressão: Reprografia do IIAM. Tiragem: 500 exemplares. Sede: Av. das FPLM, 2698. Internet: http//www.iiam.gov.mz. Email: [email protected]. Telefone: 21 460219. Fax: 21 460220. Propriedade: Instituto de Investigação Agrária de Moçambique. Distribuição Gratuíta: DISP.REG/GABINFO-DEC/2006. 12
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Edição Janeiro - Abril de 2012 Nº 21