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8º Colóquio Internacional do Lepsi 3º Congresso da Ruepsy o declínio dos saberes e o mercado do gozo: a psicanálise na educação 2010 novembro 11 > 13 Faculdade de Educação Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 2010 Caro(a) colega, Seja bem-vindo(a)! O LEPSI honra-se que tenha respondido a esta oitava convocação. Muitos dos presentes já participaram em oportunidades anteriores. Outros se aproximam pela primeira vez. Tanto uns quanto outros renovam a esperança e a implicação no trabalho e na reflexão compartilhada em torno das temáticas que tangem à infância. Mais uma vez, responderam a esta convocatória: psicanalistas, psicólogos, médicos, educadores, lingüistas, fonaudiólogos, filósofos e historiadores da educação. O diálogo é interdisciplinar e, portanto, aberto à fertilidade do mal-entendido sobre a infância. Mas para não cairmos no ecletismo – uma espécie de monólogo – o diálogo/ colóquio tem um eixo, qual seja a psicanálise. Ou, talvez, caiba dizer que esse eixo é o reconhecimento de nossa implicação na vida junto a esses seres pequenos que chamamos crianças. Isso precisamente nos faz “coloquiar”. Por sinal, eis aí uma outra razão. Esse reconhecimento faz diferença com aqueles outros saberes que viram acadêmicos e pretensamente científicos, à medida que se apresentam como uma fala sobre a educação e sobre a clínica. Este 8º colóquio reitera a organização dos anteriores: Mesas de Debate e Sessões de Comunicações Livres. Cada participante tem até 20 minutos para desenvolver o tema da mesa ou da sessão. O tempo restante é para coloquiarmos... Lembramos que a montagem das mesas visa à desdobrar o debate e, portanto, mesmo que as perguntas da sala possam ter sido caudada por uma fala em particular, todos os membros da mesa podem se quiserem discorrer também sobre a questão levantada. Para que tudo isso funcione é necessária a observância dos horários. Ah! Como se fosse pouco, temos também três línguas presentes no evento: português, francês e espanhol. E também os diferentes sotaques... Bom colóquio para todos nós!!!!!!!!!! LEPSI IP/FE – USP 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 3 Índice Apresentação 07 Comissão Organizadora / Comissão Científica 09 Cronograma Geral do Colóquio 10 Seminários Pré-Colóquio 11 Resumo das Mesas de Debate e Reflexões 12 Programa das Sessões de Comunicações Livres 18 Resumos das Comunicações Livres 23 Mapas de Localização 77 Informações do Campus 80 Revista Estilos da Clínica 82 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 5 Apresentação O declínio dos saberes e o mercado do gozo: a psicanálise na educação Adão e Eva seriam hoje figuras altamente improváveis! Quem trocaria, nos dias atuais, o paraíso pela fruição do conhecimento? O império adâmico, caracterizado pelo conhecimento como possibilidade de emancipação, consolidou-se ao longo de séculos até que o advento do iluminismo deixou sua marca colocando o predomínio da ciência sobre a religião, da luz sobre a escuridão. Logo mais, o marxismo deu ao conhecimento o papel decisivo na gestão da história da emancipação do homem. Assim, conhecer não precisava de justificativas extras: tinha valor de uso. No entanto, hoje em dia, o conhecimento parecer ter apenas valor de troca, seja porque preferimos o paraíso do diplomas ao estudo, ao conhecimento, via direta ao bom salário que dará acesso aos objetos de gozo, seja porque preferimos o paraíso medicamentoso ao indeterminado caminho do saber proposto pelo dispositivo analítico. A mudança da impossível proporção do sujeito com o objeto, escrita por Lacan no discurso do capitalista, permite pensar, dentre outras coisas, que saber e conhecimento mudam de posição na mesma proporção em que o objeto é coisificado, esvaziado de seu fundo de ausência. Assim, se o objeto perde a sua leveza de ausência, ele cessa de causar qualquer interrogação. Feito mercadoria só resta, então, tentar consumi-lo sob o império do valor de troca. LEPSI IP/FE - USP 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 7 Comissão Organizadora Leandro de Lajonquière – Professor Titular FE (Coordenador) Márcia Regina Fogaça – Doutoranda FE Ricardo Dias Sacco – Mestre FE Douglas Emiliano Batista – Doutorando FE Beethoven Hortencio R. da Costa – Doutorando IP Fernanda Lara – Graduanda FE Andréia Tenório dos Santos – Graduanda FFLCH Julia Maria Borges Anacleto – Mestranda FE Aline Gasparini Montanheiro - Graduanda FE Comissão Científica Prof. Titular Leandro de Lajonquière - FEUSP (Coordenador) Prof. Titular Maria Cristina Machado Kupfer – IPUSP Profa. Titular Anna Carolina Lo Bianco – UFRJ Profa. Associada Nina Virginia Leite - UNICAMP Profa. Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida – UCB Profa. Dr. Rinaldo Voltolini – FEUSP Comitê de Convocação RUEPSY Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância – LEPSI IP/FE – USP – Brasil. Red Interuniversitária de Estudos Interdisciplinarios en Infancia e Instituciones – INFEIES – Argentina. Apoio 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 9 Cronograma 11/11/2010 – quinta feira Seminários Temáticos Pré-colóquio Auditório da FEUSP 9h30 – recepção e controle das inscrições 16h30 – 19h Mesa 3 O que (não) sabe um analista? Rinaldo Voltolini (coord.) Marie Claude Fourment-Aptekman Nina Virginia Leite Daniel Kuperman 10h30 – 12h Figuras do Infantil. A psicanálise na vida coti13/11/2010 – Sábado diana com as crianças Leandro de Lajonquière (USP), 8h30 – 10h Sessões de Comunicações debatedor: Marcelo Ricardo Pereira (UFMG) 10h30 – 12h Sessões de Comunicações 14h30 – 16h O Declínio do Império (psico)Pedagógico (em 12h - 13h Lunch de Confraternização espanhol) Mercedes Minnicelli (UNMP) e 13h30 – 16h Mesa 4 Saber e conhecimento na formação de Perla Zelmanovich (FLACSO), debatedor: Luis E. Behares (Universidad de La República) professores. Maria Cristina Kupfer (coord.) 16h30 – 18h A indiferenciação inicial mãe-bebê em questão Perla Zelmanovich Sandra Francesca Conte de Almeida (tradução simultânea do francês) Marie Claude Fourment-Aptekman (Université Paris Nord), Cláudia Riolfi debatedor: Maria Cristina Kupfer (USP) 16h30 – 19h Mesa 5 Ingenuidade infantil: as crianças de hoje são mais sabidas? 12/11/2010 – sexta-feira 8º Colóquio Internacional do LEPSI “O declínio dos saberes e o mercado do gozo: a psicanálise na educação” Auditório da Escola de Aplicação 8h Recepção e controle das inscrições 9h Boas vindas: Leandro de Lajonquière 9h10 Palavras de abertura: Maria Cristina Kupfer e Mercedes Minnicelli 9h30 - 12h Mesa 1 Psicanálise e Educação no Brasil Maria de Loures Soares Ornellas (coord.) Maria Cristina Kupfer Rinaldo Voltolini Leandro de Lajonquière 13h30 – 16h Mesa 2 O que a psicanálise tem a ver com A Universidade? Sandra Francesca Conte de Almeida (coord.) Anna Carolina Lo Bianco Mercedes Minnicelli Luis Behares 10 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Rinaldo Voltolini (coord.) Miriam Debieux Rosa Daniel Revah Marcelo Ricardo Pereira Resumos Seminários Pré-Colóquio Seminário 1 - Figuras do Infantil Leandro de Lajonquière Universidade de São Paulo Debatedor: Marcelo R. Pereira UFMG São numerosas as teses sobre a origem e os fatores responsáveis tanto pelo surgimento, quanto pelo desaparecimento do sentimento de infância ou diretamente da infância, ora qualificada de moderna, ora tida como simples infância. No entanto, se volto a lembrar nesta oportunidade esse debate histórico e sociológico é pelo fato de apontar para a falta de co-naturalidade entre o que se entende por infância – seja o que ela for – e, por outro lado, as crianças, uma vez que ele lembra a historicidade das formas subjetivas. Mais ainda, faço-o em virtude de considerar que, entretanto, ele mascara o fato que criança alguma possui uma infância. Pois, paradoxalmente, só um adulto pode “ter” uma infância enquanto perdida. A infância não é um mal necessário, nem condição próxima ao animal, nem simples pecado, menos ainda fonte de erros – como sustenta a tradição inaugurada por Platão, recuperada por Santo Agostinho, remoçada por René Descartes. Tampouco é um precipitado de sinceridades ou de bondades naturais. Justamente, não se trata de invertermos, mais uma vez, o platonismo na trilha já aberta por Jean-Jacques Rousseau. Trata-se, sim, de pensar a infância além do registro habitual de idade natural da vida ou de humanidade pré-formada, passível de padecer representações sociais diversas, segundo a época e a geografia, ora a ser preservada, ora ultrapassada. No entanto, a psicanálise subverte o paradigma inerente às clássicas psicologias do desenvolvimento que reduzem o devir infantil ao progresso mais ou menos inelutável de um saber natural. Seminário 2 - O saber como império, seus Será analisado o estatuto do saber na época atual, seus limites, limites e reinvenções entre psicanálise e assim como interpelações no campo das práticas que dizem respeito à psicanálise e a educação. Abordar-se-á a partir de duas perspectivas, educação (em espanhol) que integram o projeto de pesquisa “Figuras y procesos de segregación en instituciones del campo jurídico-social, de salud, y educación. Su Mercedes Minnicelli Universidad Nacional de Mar del Plata (Ar- correlato en el malestar de los profesionales”, desenvolvido em conjunto pelos Programas Psicoanálisis y Prácticas Socio-educativas de FLACSOgentina) Argentina e Infancia e Instituciones da Universidad Nacional de Mar del Perla Zelmanovich FLACSO (Argentina) Plata. Debatedor: Luiz Behares Por um lado, Perla Zelmanovich abordará as operações que estão na Universidad de La República (Uruguai) base da produção de figuras que precipitam processos de segregação nas instituições. Essas figuras são consideradas construções de mitos ou ficções socializadas a partir das quais seria possível indagar os processos pelos quais os mesmo viram crônicos, convertendo-se em saberes que dão lugar a estigmas e outras estratégias segregacionistas. Considerando que as mesmas incidem na falta de implicação dos profissionais nas suas funciones específicas, Mercedes Minnicelli trabalhará a partir da idéia de cerimônias mínimas, uma invenção na qual a psicanálise e a educação (assim como outras práticas) se reinventam 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 11 e se ligam a saberes a serem questionados, interrogados. Para tanto, recorrer-se-á em quanto metáfora ao conto “A vestimenta do novo imperador” de Hans C. Andersen. Seminário 3 - A indiferenciação inicial mãe- A indiferenciação inicial do bebê nos primeiros meses de vida está ligabebê em questão (tradução do francês) da à emergência da representação. Marie Claude Fourment-Aptekman No seminário serão examinadas as teorias clássicas, tanto em psicanáUniversité Paris Nord (França) lise de crianças quanto na psicologia do desenvolvimento assinalam a Debatedor: Maria Cristina Kupfer indiferenciação inicial. Apresentaremos as pesquisa atuais nesses dois Universidade de São Paulo domínios, questionando essa não-indiferenciação, nos apoiando em pesquisas recentes sobre recém-nascidos, bem como sobre as reflexões de teóricos sobre a emergência da representação : Bower, Baillargeon e outros no campo do desenvolvimento cognitivo do bebê : D. Stern e F. Tustin. Analisaremos o desenvolvimento das hipóteses sobre a emergência precoce de diversas formas de representação : « pictogrammas » de Piera Aulagnier, « significantes de demarcação » para Rosolato, « significantes enigmáticos » de Laplanche etc. Resumos das Mesas de Debate Mesa 1 - Psicanálise e Educação no Brasil Coordenação: Maria de Lourdes Soares Ornelas | Universidade do Estado da Bahia Maria Cristina Machado Kupfer Universidade de São Paulo 12 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy A partir de pesquisa realizada sobre “O campo das articulações entre psicanálise e educação no Brasil: estado da arte” levantei dados que demonstram uma expansão significativa desse campo, sobretudo nos últimos 20 anos. Proponho analisar e debater esses estudos, em cotejamento com a tradição de investigação e de estudos desenvolvidos pelo LEPSI nesse mesmo período. Serão analisadas as teses produzidas, bem como os artigos em revistas científicas e a produção bibliográfica, que somam pelo menos 350 trabalhos. Para a revisão crítica dos trabalhos brasileiros, foram adotados os seguintes eixos temáticos: 1. Transferência no campo educativo; 2. Formação de professores; 3. Psicanálise, discurso pedagógico e educação na contemporaneidade; 4. Relação com o saber: a posição do aluno e do professor em relação ao saber; 5. Tratar e educar. Na literatura levantada, foram ainda destacadas três maneiras de encarar a articulação da psicanálise com a educação. Há os trabalham que não fazem senão uma justaposição entre os dois campos. Colocam-nos de forma paralela, e fazem considerações em torno de noções dos dois campos, sem extrair conseqüências ou fazer cruzamentos conceituais. Há em seguida os que realizam uma leitura marcada por um viés ideológico: a psicanálise comparece, nessa leitura, como diretriz normativa sobre aquilo que deve ou não dever ser realizado no campo da educação. A psicanálise sobrevoa e interpreta o educativo, em uma relação de tipo total que tudo sabe: uma relação de mestria. São relações de exterioridade de um campo em relação ao outro. E há um terceiro tipo de trabalhos nos quais, a psicanálise não está colocada em posição de leitora que ilumina, fala ou pensa sobre a educação. Os trabalhos incluídos nessa abordagem entendem que a conexão é fruto da colocação do psicanalítico no âmago do educativo, em seu nó, em seu caroço. Rinaldo Voltolini Universidade de São Paulo As considerações de Freud sobre a educação atraíram desde o início um vívido interesse pela questão desta intersecção. Inicialmente alguns colegas mais próximos, tais como Pfister, ou mesmo sua própria filha Ana impulsionaram, ainda dentro de um diálogo direto com o fundador da psicanálise, um campo de pesquisa que iria se consolidar institucionalmente através da criação de uma publicação periódica que reunia artigos de vários psicanalistas interessados no tema. Não demoraria em que este campo encontrasse adesões mais amplas em todo o mundo, bem além do círculo europeu onde ele se originou. O Brasil foi um destes países que engrossou as fileiras dos pesquisadores do campo. Um exame das pesquisas realizadas no Brasil demonstra certas linhas de força, vetores privilegiados de pesquisa. Seria possível reconhecer nestes vetores um paradigma? É possível traçar as condições de legitimidade e de possibilidade da pesquisa psicanalítica no campo da educação? Ou poderíamos aceitar sem temor certa elasticidade nas interrogações, fruto da consideração da regra clínica de que a cada novo caso deve se reinventar a psicanálise? Pretendo tratar essas perguntas. Tal interrogação se justifica primeiramente por uma razão pragmática: a diversidade de recortes, usos da teoria psicanalítica, diferenças de abordagem teórica, que aparecem no exame deste campo de pesquisa, parecem indicar certa dispersão. Dispersão esta que poderia representar uma ausência de paradigma. Justifica-se também porque a partir da psicanálise não estamos jamais autorizados a fazer a apologia da premissa do “quanto mais saber melhor”, tipicamente característica do campo da ciência. Não interessa à organização deste campo, caso ele queira manter-se em correspondência com a ética psicanalítica, um “acúmulo” de conhecimentos, mas antes, a condução de uma interrogação. Leandro de Lajonquière Universidade de São Paulo Será discutida a idéia clássica da “aplicação” da psicanálise à educação supostamente abandonada nos estudos empreendidos recentemente em psicanálise e educação. Assinalarei, entretanto, a sua insistência e reclamarei a legitimidade de falarmos em psicanálise na educação. Mesa 2 - O que a psicanálise tem a ver com A Universidade? Coordenação: Sandra Francesca Conte de Almeida | Universidade Católica de Brasília Anna Carolina Lo Bianco Universidade Federal do Rio de Janeiro O saber que predomina até então na universidade é posto em funcionamento por um progresso inexorável em direção à completude e à realização da promessa de tudo situar sob a sua égide. Trata-se de um saber hegemônico pelo menos para a parte culta das sociedades, mas não apenas para ela. Qualquer operação produzida por este saber, em qualquer esfera do cotidiano é de imediato justificada, credenciada e legitimada. É o saber que veicula os achados científicos que informam as práticas cotidianas. Surge quase como um truísmo a afirmação de que o saber analítico, ao contrário, um saber do inconsciente que justamente não se sabe, vai na contramão desse que domina o laço social. O encontro desses dois saberes na universidade - lugar em que o saber universitário reina inconteste - nos impõe a tarefa de examinar o que se faz na universidade quando nela se faz psicanálise. No entanto, aos desafios colocados por este encontro acrescenta-se ainda um outro: o progresso do saber universitário calcado que é no discurso da ciência progride 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 13 em direção ao encontro de um Outro que não traz em si a dimensão do enigma. Trata-se agora de um Outro que responde a qualquer pergunta. Enfraquece-se assim o lugar daquele a quem se supõe um saber e que nos coloca na busca e no desejo de saber. Vemos aí renovada a questão: que lugar para a psicanálise na universidade? Mercedes Minnicelli A questão convocante da mesa localiza o analista e seu “saber” com Universidad Nacional de Mar del Plata (Ar- ralação à Universidade - significante da sede do saber acadêmico-cientígentina) fico. Há algum tempo, Carlos Ruiz introduziu uma pergunta que subverte a posição da crítica epistemológica positivista quando enuncia “não se trata de saber se a psicanálise é ou não ciência, mas o que seria da ciência positiva sem a psicanálise?”. Esta pergunta pode ser tratada a partir de diversos ângulos de análise: a) o aporte da psicanálise desde Freud ao debate científico; b) a contribuição do analista à sustentação do discurso Universitário; c) seu reverso, ou seja, se analistas podem contribuir à ruptura de certas tendências que pretendem conquistar a hegemonia Acadêmica (mais propensas hoje em dia à promoção de humanos-objeto-de-mercado que à sustentação de sujeitos no laço social) dando lugar à palavra, habilitando desde sua posição, a circulação discursiva. Se há um princípio que a clínica permite-nos constatar, é que o saber do qual se trata, é um saber não-sabido – o saber inconsciente. ¿É possível dar lugar a esse outro saber na Universidade? Não! No entanto, a posição no discurso desde o qual um analista fala, se assim pode, partindo da impossibilidade, localizar o saber na falta, apelando à incansável tarefa de fazer do dito, outros dizeres. Posição incômoda que interroga, que implica num operar e um “brincar”” no e com o discurso da burocracia, profanando de maneira incansável, o caráter sacro pretendido pela Academia, por cerimônias mínimas. Luis Behares Universidad de La República (Uruguai) 14 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Almeja-se apresentar e discutir as relações que Lacan estabelece ao longo do Seminário entre o que ele coloca como desejo do analista e o que introduz como desejo do ensinante. Essa relação exprime um apelo à questão do saber e também à questão da verdade, que permeiam todas as considerações que de ela decorrem. A virada desde o “saber pulsional” freudiano para o desejo e o suposto saber permitem, desde nosso ponto de vista, aprimorar a consideração das afetações teóricas possíveis entre a teoria psicanalítica e a teoria do ensino. A discussão será colocada nos termos do “ensino universitário”, na sua particularidade discursiva, ou seja, as atribuições de saber e verdade para a ciência, o campo das tecnologias e os “outros” objetos próprios desse tipo de ensino. Mesa 3 – O que (não) sabe um analista? Coordenação: Rinaldo Voltolini | Universidade de São Paulo Marie-Claude Fourment-Aptkeman Université Paris Nord (França) A primeira coisa que deve saber o psicanalista, é que ele tem muito a apreender do analisante. Desse ponto de vista, ele está em posição de ignorância, sem pressupostos, sem hipóteses. Para guiar-se, deve saber que aquilo que diz o analisante, no inicio da cura, não é mais do que uma das múltiplas versões da realidade psíquica e, portanto, que aos poucos será construída a demanda genuína de análise, pois leva tempo para precipitar. A esse respeito, a questão do tempo psíquico, constituída de abanicos, mas também de numerosos retrocessos, fazendo aparecer o passado como um vivido presente é fundamental. A questão do tempo psíquico, ligada à sexualidade infantil e à questão do infantil que emerge numerosas vezes de maneira supressiva adquirindo um tono dramático ligado a eventos a priori menores. E nesses momentos que o analista deve poder escutar e se deixar surpreender por aqui que o analisante diz. Na ocasião apresentarei a título de ilustração relatos clínicos Nina Virgiana de Araújo Leite Universidade Estadual de Campinas Partindo da afirmação de que o saber inconsciente não sabe de si e da estrutura do discurso do analista agenciada pelo objeto, visa-se desdobrar uma reflexão sobre o que o analista é instado a saber para sustentar uma direção de cura. Se admitimos com Lacan que a essência da teoria analítica é um discurso sem palavras, que conseqüências resultam para se pensar o estatuto de um saber que não se sabe? A incidência do não saber é diferente na clínica e na teoria? Daniel Kupermann Universidade de São Paulo Quais os impasses encontrados na transmissão do saber que tem lugar na formação dos analistas? A conferência buscará problematizar essa questão, por meio de uma leitura crítica do percurso histórico de institucionalização da psicanálise. Tradicionalmente, a formação psicanalítica é concebida como sendo tripartite: ela é o resultado, em termos de aquisição do que já foi considerado “um saber que não se sabe”, do estudo teórico, da análise pessoal a qual o futuro psicanalista se submete, e da supervisão dos casos que trata por um psicanalista mais experiente. Entretanto, algumas dificuldades se impõem nesse processo. Se a transmissão da teoria obedece a regras universais, a análise pessoal dificilmente pode ser gerida por instituições formadoras, sendo o que há de mais irredutivelmente singular na formação de um psicanalista. Discutiremos os efeitos anti-didáticos produzidos pelas tentativas de se regulamentar as análises dos analistas, em função da interferência de fatores externos ao manejo da transferência - a via de acesso ao inconsciente. Além disso, procuraremos refletir acerca das possibilidades de produção de saber promovida pelo dispositivo da supervisão clínica, que ocupa uma tópica intermediária entre o universal do conceito e o singular da experiência do inconsciente. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 15 Mesa 4 – Saber e Conhecimento na formação de professores Coordenação: Maria Cristina Kupfer | Universidade de São Paulo Um conjunto de variáveis contribui à produção da posição subjetiva dos Perla Zelmanovich Facultad Lationamericana de Ciencias So- professores, que não se confunde com o papel ou hierarquia institucional. A posição envolve fatores conscientes e inconscientes, cuja consiciales – FLACSO (Argentina) deração define abordagens orientadas à responsabilização ou implicação dos professores, tanto nas práticas de formação, em dispositivos de sustentação da função - como no dispositivo de suporte técnico - e na formulação de políticas para o sector educativo. Considerar a presencia eficaz embora silenciosa de um “saber não sabido”, supõe atender a causas não evidentes, mas operantes nos obstáculos que se apresentam no exercício da função e que costumam dar lugar às práticas segregacionistas; eis ai a relevância política de seu tratamento. Distinguimos ao menos três variáveis: o lugar no discurso - levando em conta a teoria dos quatro discursos desenvolvida por Lacan; as idéias e conceitos nos quais se sustentam as ações; o tipo de leitura crítica ou a-crítica que se realiza das ficções socializadas que nomeiam os sujeitos a partir de um traço que os distingue da norma, construídas graças a significantes circulantes transformados em figuras cristalizadas que conduzem à segregação. Especificar os fatores que compõem cada uma das três variáveis e os modos como se enodam entre si, contribui com o trabalho sobre a posição subjetiva dos candidatos a professores, bem como destes no exercício profissional que no se reduz à transmissão instrumental de conhecimentos. Sandra Francesca Conte de Almeida Universidade Católica de Brasília A formação de professores, atravessada pela psicanálise, comporta dispositivos clínicos de escuta e de fala que interrogam o sujeito em relação ao seu desejo no campo das práticas profissionais. Na direção da análise das práticas docentes, de orientação psicanalítica, a implicação subjetiva e profissional do professor, no exercício de seu ofício, demanda a necessária articulação entre conhecimento e saber, isto é, entre o conhecimento possível e contingencial, produzido pela ciência, e o (des) conhecimento do enigma que anima o sujeito, entretanto um saber nãosabido, portador de verdade. No campo do ensino e das aprendizagens, para que o conhecimento não se reduza à dimensão de objeto de troca e de gozo do Outro, pode-se propor que sua transmissão, operada por meio da relação transferencial professor-aluno e marcada pelo estilo singular do professor, dê testemunho do saber que o habita e o interroga, enquanto produção de enigma sobre o desejo, cuja verdade, (des)conhecida, torna-se o único caminho possível a guiá-lo na aventura de educar entre Cilas e Caribde. Tal é o desafio posto à formação de professores que, neste Colóquio, se pretende discutir. Cláudia Riolfi Universidade de São Paulo Poder declarar-se feliz por estar vivo, sendo professor, não é para qualquer um. Mesmo entre aqueles que escolheram o magistério por vocação, são poucos os que pensam ter feito uma boa escolha. Confrontados com os baixos salários, com a má vontade dos colegas, com o descaso das famílias e com a apatia desinteressada dos alunos, os professores não sabem mais o que fazer. Poderiam buscar outros rumos para sua vida, mas não o fazem. Descrentes, preferem trilhar por caminhos prontos, muito semelhantes àqueles trilhados pelas histéricas do tempo 16 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy de Freud. Ou adotam, digamos, uma política de macho, da revolta e da combatividade, ou, permitamo-nos dizer, bancam a mulher traída e resignada, que sofre amargamente. Em outras palavras, para eles resta ou a belicosidade ou a depressão. Em um ou no outro caso, os alunos não contam ou, o que é pior, são considerados como estorvos. Tratamse de uma escolha auto-centrada, cuja conseqüência mais nefasta para quem a faz parece ser uma vida estéril de sensações prazerosas e pobre em conseqüências edificantes. Não concordamos com o fato de que, em tempos de tão grande liberdade, as pessoas ainda precisem viver sua sexualidade na forma de sintomas. Por este motivo, interrogamos: como formar professores que, abdicando da posição histérica, possam adotar uma posição feminina, singular? Tomando como chave de leitura de dados coletados no âmbito de cursos de licenciatura a teoria do discurso como laço social de Jacques Lacan, pretendemos mostrar por que, para nós, os cursos de formação de professores deveriam se pautar em uma dupla vertente: levar o futuro professor a: 1) se organizar segundo a lógica do discurso universitário a ponto de conseguir se apropriar dos conhecimentos socialmente validados; e 2) saber-fazer, isto é, à utilização de um saber prático que, se fundando no saber inconsciente, muito se assemelha ao discurso da histérica. Sem medo de ser feliz! Mesa 5 – Ingenuidade infantil: as crianças de hoje são mais sabidas? Coordenação: Rinaldo Voltolini | Universidade de São Paulo Miriam Debieux Rosa Universidade de São Paulo A psicanálise contribuiu para que as crianças não fossem tomadas como ingênuas e docilmente amestráveis quando lhes atribui um saber, especialmente teorias sexuais, ou seja, possibilidades de formular os modos como se procedem as relações afetivas, sexuais e de poder entre as pessoas das quais a criança depende. Na atualidade, a suposição de saber às crianças toma outras conotações quanto ao lugar político-libidinal reservado às crianças, que acompanha os passos da bio-política e abre a dimensão do gozo sem limites no trato com a criança nas dimensões de abusos e explorações. Neste trabalho vamos debater sobre a preocupação que já aparecia em Lacan (1967) com “a questão de saber se, em virtude da ignorância em que é mantido este corpo, chegaremos a ter o direito de desmembrá-lo para a troca”. Na época, ele se perguntava se a conseqüência seria uma criança generalizada em um mundo, onde não existisse gente grande ou certas antimemórias - ambas as indicações apontando para assinalar “a entrada em um mundo inteiro no caminho da segregação”. Tomaremos também Agamben (2004) no questionamento da substituição da experiência pelo conhecimento na contemporaneidade. Ao propor uma articulação da infância com a distância necessária para a experiência e o registro da história, deixa claro que as questões desse debate transcendem o campo ideológico e dizem respeito ao campo da ética e da política. Daniel Revah O senso comum hoje é de que as crianças são mais espertas, mais deUniversidade Federal de São Paulo (cam- senvolvidas, mais informadas. Há um plus infantil, um valor agregado às pus Guarulhos) nossas crianças que é celebrado cotidianamente, em especial nos setores sociais em que a condição infantil é objeto de cuidados especiais. A contra-face desse valor agregado, do “mais” que aí se acrescenta, são os restos invisíveis, mas palpáveis, de uma outra infância, que se 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 17 desdobra em várias figuras: da infância-excluída à infância-mercadoria, do adulto-criança à criança-adulto. A produção histórica dessas figuras concerne a tempos, discursos e setores sociais diversos, a aspectos peculiares à sociedade brasileira mas também a traços que extrapolam as fronteiras nacionais. Essa produção, com os dispositivos que a definem e sustentam, é indissociável deste ideal moderno: a infância feliz – um ideal com o qual se articula o paradoxo que a nutre. Sob o império desse ideal, determinadas diferenças dissolvem-se e os tempos se encurtam, o amanhã realiza-se hoje e a infância feliz torna-se a nossa moeda de troca, embalada midiaticamente todos os dias. Na exposição, alguns elementos relativos a esse processo serão objeto de análise. Marcelo Ricardo Pereira Universidade Federal de Minas Gerais Sim e não. Sim, porque as crianças “adulteceram-se”. Não, porque elas resistem. Ou seja, sim, porque o adulto toma a infância como período que contém a chave explicativa para o que ele é, e faz de tudo para que os infantis deixem de sê-lo; não, porque algo da criança não cessa de não se escrever. A psicanálise, a partir dos Três Ensaios..., talvez seja um dos poucos campos do conhecimento, senão o mais expressivo, capaz de admitir o caráter irredutível da criança: seu ponto real. Se ela é falada ao nível significante e fantasiada ao nível imaginário, não há dúvida que sua alteridade é irrompida ao nível real. Mas nossa civilização moderna insiste em recalcá-la. A infância que os adultos concebem e inculcam nos pequenos pode mesmo estar longe de si, de seu desejo, de sua alteridade. Até quando acreditaremos na ilusão de que a educação dos pais, a escolar e os modos de brincadeiras prescritas e formatadas deverão funcionar como antídoto à caixa de vigilância e punição dos adultos? Até quando a miniaturização das ações dos mais velhos será o espectro que faz os pequenos hesitarem em tornar-se grandes? Programa das Sessões de Comunicações Livres Sábado 13/11/2010 | Faculdade de Educação | Bloco B (primeiro andar) PRIMEIRO HORÁRIO das 8h30. às 10h. Sessão 1 - Escrita, clínica e a educação Sala: 101 Coordenação: Renata Petri As narrativas infantis e a aquisição da escrita Julia Maria Borges Anacleto O manejo do professor orientador e a escrita acadêmica Lisiane Fachinetto Grupo da escrita na educação terapêutica: um dispositivo clínico Marise Bartolozzi Bastos Rosana Márcia Aguiar; Sandra Francesca Conte de Almeida Violência escolar como manifestação do fracasso escolar na contemporaneidade Renata Nunes Vasconcelos; Ana Lydia Santiago Sessão 3 - A educação, o adolescente e as escolas Sala: 103 Coordenação: Lílian Cristine Robeiro Nascimento Adolescência e educação: uma proposta de intervenção na escola Luciana Gageiro Coutinho Sessão 2 - Violência e laço social Inibição, sintoma e ato: sobre os destinos do saber na Sala: 102 adolescência Coordenação: Márcia Fogaça Maria Celina Peixoto Lima; Karla Patrícia H. Martins O incesto como violência sexual contra criança Exclusão às avessas: ‘Tiro notas baixas na escola porque Larissa Jandira de Ramos e Paula Violência na escola: o gozo na modernidade e seus efeitos não quero ser o nerd da sala’ Francisca Paula Toledo Monteiro; Lilian Cristine Ribeiro no cotidiano escolar 18 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Sessão 4 - Inclusão e laço social I Sala: 104 Coordenação: Gisela Waj Skop Doença crônica e dificuldades escolares: é possível estabelecer uma relação? Anne Midori A. de Lima; Sueli Pinto Minatti Como formar bons professores nos dias de hoje? Refletindo sobre os efeitos do mercado de saber sobre a educação Elizabeth dos Reis Sanada; Gisela Wajskop A escola inclusiva como uma utopia do século XXI Ana Beatriz Coutinho Lerner Quando o declínio do saber é necessário Odana Palhares Gozo em saber que.... Thais Helena Barros A construção de um espaço para a metáfora na escola básica versus o mercado de gozo Andreza Roberta Rocha Sessão 9 - A psicanálise e os fundamentos da educação V Sala: 109 Coordenação: Beethoven H. R. da Costa (Sub)versão: o pai cai e o mestre goza Maria de Lourdes Ornellas Sessão 5 - A psicanálise e os fundamentos da educação I O declínio dos saberes e o mercado do gozo: a psicanálise Sala: 105 na educação Coordenação: Fernanda Nunes de Lara A psicologização da psicanálise na educação: um estudo Leny Magalhães Merch e outros Vicissitudes da educação no contemporâneo de sua origem em São Paulo Flavia Maria de Vasconcellos Flavia Ranoya Lins Só nos resta a pedagogia do amor? Uma possível desconsSessão 10 - Clínica e Tratamento I trução psicanalítica Sala: 110 Camila Pereira de Freitas El rechazo del lazo social: una lógica de la intervención Coordenação: Fernanda de Souza e Castro en el campo de la infancia. Reflexiones sobre la experiên- Quando o diagnóstico não é suficiente qual o tratamento cia en un Centro de Protección de los Derechos del Niño possível? Considerações sobre o uso e as adaptações da AP3 em crianças diagnosticadas com Transtornos Globais Veronica Rachid do Desenvolvimento Sessão 6 - A psicanálise e os fundamentos da educação II Angela Flexa de Paolo; Carolina Valério Barros O tratamento em grupo e a constituição da imagem corSala: 106 poral Coordenação: Rita Maria Manso de Barros Carolina C. Tiussi; Fernanda de Sousa e Castro Saber e gozo: a aposta do desejo na escola O lugar da psicanálise na pesquisa IRDI Rodrigo Figueiredo Nocchi; Rita Maria Manso de Barros O mal-estar do professor em face da criança considerada Maria Eugenia Pesaro; Maria Cristina Machado Kupfer problema: um estudo de psicanálise aplicada à educação Sessão 11 - Clínica e Tratamento II Margarete Parreira Miranda; Ana Lydia Santiago Sala: 111 La era de la apatia: formas del malestar en la escuela Coordenação: Maria de Lourdes Soares Ornellas Yesica Molina; Ana Gracia Toscano Inibição na escrita num adolescente e sua transferência Sessão 7 - A psicanálise e os fundamentos da educação III com o Outro Isael de Jesus Sena; Maria de Lourdes Soares Ornellas Sala: 107 As contribuições de Freud para o debate sobre educação Coordenação: Thiana Rocha Costa A interface da contradição da herança e do desejo no fra- e inibição intelectual Maira Sampaio Lima; Maria Celina Peixoto Lima casso escolar Daniela Chaves Bittencourt; Thiana Rocha Costa Período de latência e tempo para compreender nas aprenPsicanálise e educação: quando o desejo se inscreve na dizagens leitura e na escritura do sujeito Crístia Rosineiri Ei Lopes Correa; Glaucia da Silva Pinheiro Eliana de Jesus Menezes Entre a letra e o nome: impasses do aluno em seu proces- Sessão 12 - Clínica e Família Sala: 112 so de alfabetização Coordenação: Douglas E. Batista Marlene Maria da Silva; Ana Lydia Santiago E quando a própria criança pede atendimento aos pais? Sessão 8 - A psicanálise e os fundamentos da educação IV Sueli Pinto Minatti Consumo de conhecimento e inapetência de saber: efeiSala: 108 tos de um discurso contemporâneo sobre a educação das Coordenação: Aline Gasparini Montanheiro 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 19 famílias Cristina Keiko de Merletti Cuando el saber sobre la família interviene Ivana Velizan Coordenação: Bárbara Oliveira Paulino Enseñanza de la Historia y el lugar del futuro Sonia Bazan Contribuições da psicanálise: um estudo sobre a condição docente e o medo na sala de aula Maria Ligia Pompeu; Ana Archangelo A sociedade da vergonha e a (des)construção da subjetividade docente Raquel Braga Franco; Bárbara Oliveira Paulino; Marcelo Ricardo Pereira Sessão 13 - A infância, as crianças e os adultos I Sala: 113 Coordenação: Viviana Velasco Martinez Pais, escola, especialistas: quem sabe sobre a criança? Tania Maria A. C. Rezende A clínica psicanalítica com crianças e a educação Julia Carolina Bosqui; Viviana Velasco Martinez A sexualidade infantil e o desejo de saber: a origem da SEGUNDO HORÁRIO das 10h30 às 12h. atividade intelectual nas crianças Andréia Tenório dos Santos Sessão 18 - Entre o tratar e o educar Sessão 14 - A infância, as crianças e os adultos II Sala: 101 Sala: 115 Coordenação: Carolina Tiussi Coordenação: Andréia Aparecida de Souza Psicanálise e educação: quando as fronteiras se esvaem El niño y el Otro Tiago de Moraes de Lima; Carolina Tiussi; Luiz Moreno; Ana Carolina Ferreyra Paula Moreau A função do educador em Casa-lar: reflexões acerca de Um sujeito marcado pela expectativa da deficiência inteuma prática lectual: aprendizagens possibilitadas pela escuta e pelo Gabriel Bartolomeu conhecimento da própria história Mãe social: profissão de agenciamento de discurso? Carina Streda Paula Moreau B. de Oliveira A produção de conhecimento em um caso de psicose Izabel Ramos de Abreu Sessão 15 - A psicanálise e a função docente I Sala: 137 Sessão 19 - Transmissão e autoridade Coordenação: Márcia Barra Milhomens Sala: 102 Enodam-se os nós: o real, o simbólico e o imaginário no Coordenação: Julia Maria Borges Anacleto fazer do Coordenação pedagógico Uma vida iluminada: uma breve discussão sobre a experiPoliana Marina de Santana ência e as formas de narrativas de si no laço social atual Memória educativa e formação docente: o lugar ou não- Roselene Gurski; Marcelo Andrade Pereira lugar dos saberes nas investigações orientadas pela psi- Sobre declínios: uma aproximação entre Hannah Arendt e canálise a psicanálise via noção de autoridade Adriana Pereira Bomfim; Márcia Barra Milhomens Márcia Regina Fogaça Das memórias educativas: a emergência da história sin- Declínio da autoridade docente: impasses na suposição gular do professor e sua relação com o saber de saber? Inês Maria M. Z. P. de Almeida Gilmar Moura da Silva Sessão 16- A psicanálise e a função docente II Sala: 139 Coordenação: Ricardo Dias Sacco A aplicação da psicanálise à educação pensada a partir da proximidade entre tratar e educar – um retorno a Freud Camille Apolinário Gavioli Psicanálise e educação e a formação do pedagogo André Julio Costa; Maria Veranilda Mota O efeito-professor e sua transmissibilidade Raquel Antunes Scartezini Sessão 17 - A psicanálise e a função docente III Sala: 141 20 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Sessão 20 - Clínica e Psicanálise Sala: 103 Coordenação: Paula Freire Mendonça Sobre a falta no analista Helena Julio Rizzi A especificidade do saber na operação analítica Jamile Mascarenhas Lima Psicanálise: o saber na berlinda Alessandra Tavares Silva Sessão 21 - Clínica e tratamento III Sala: 104 Coordenação: Charles Elias Lang A ética da psicanálise como um saber sobre a falta: reflexões acerca de uma experiência em saúde mental do infans Carolina Andrade de Santana Lima, João Luiz Leitao Paravidini; Christiano Mendes de Lima Um acompanhamento terapêutico na escola, seus alcances e possíveis entraves Ana Lícia de Camargo Pegorelli Experiências com acompanhamento terapêutico em Maceió: reflexões a partir da política da inclusão do campo de saber e do campo do gozo Rosanny Moura Cavalcante; Charles Elias Lang Considerações psicanalíticas acerca da separação criança e família no início da vida escolar Andréia Aparecida O. de Souza Infancia y educación: una experiencia de ludotecas en el ámbito público Mariana Scrinzi; Débora Morlachetti O lugar da criança no discurso social contemporâneo: algumas conseqüências para a educação Renata Petri Sessão 26 - A psicanálise e os fundamentos da educação VI Sala: 110 Coordenação: Camille Apolinário Gavioli Sessão 22 - Clínica e tratamento IV Transferência e aprendizagem de língua estrangeira Sala: 105 Gisele Fernandes Domith Coordenação: Andréia Tenório dos Santos A transferência no processo pedagógico O declínio dos saberes e o gozo da técnica: a psicanálise Jácia Maria S. dos Santos; Ana Lydia Santiago na formação de pediatras Fragmentos de estudo de casos Ana Silvia de Morais; Edna Márcia Koizume e outros Maria Cecília Costa Oliveira O sintoma e seus desdobramentos na criança e na estrutura familiar Sessão 27 - A psicanálise e os fundamentos da educação Vanessa Keiko Rossaka VII Atenção, sintoma! Sentidos e significações atribuídos ao Sala: 111 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade Coordenação: Aline Gasparini Montanheiro Marianna Gama A juventude em busca de uma nova rogativa? Marcio Boaventura Junior; Marcelo Ricardo Pereira Sessão 23 - Inclusão e laço social II A recusa em Freud e o mal-estar na educação Sala: 107 Gustavo Alexandre Martins Coordenação: Ana Beatriz Coutinho Lerner Y...esto? Para qué me sirve? Inclusão: uma maneira especializada de compreender o Maria Teresita Pullol outro Kelly Cristina Brandão da Silva Sessão 28 - A psicanálise e os fundamentos da educação Alunos com dificuldade de aprendizagem são ‘alunos de VIII inclusão’? Sala: 112 Simone Kubric Coordenação: Lisiane Fachinetto Tornar-se sujeito: indeterminismo e determinação Possibilidades para a relação mestre e discípulo Cristiana Carneiro Vanice dos Santos; Lisiane Fachinetto Professores, alunos e seus (des)encontros Sessão 24 - A infância, as crianças e os adultos III Fernanda Nunes de Lara Sala: 108 O fracasso escolar existe, mas eu não acredito Maria Eugênia Capraro Coordenação: Beethoven H. R. da Costa El cuento de Pinocho: La conformación de la ética en la infancia através de la utilización del lenguaje pragmático Sessão 29 - Educação e ato analítico Liliana Naveira; Susana La Rocca; Alicia Cambiasso Sala: 113 A relação da criança com o saber: uma abordagem a partir Coordenação: Raquel Antunes Scartezini da vigência das teorias sexuais infantis O discurso pedagógico no contexto contemporâneo: notas Mariana Inês Garbarino sobre a Proposta curricular do estado de São Paulo Proliferação de objetos e empuxo ao gozo: impactos do Flavia Zanni Siqueira discurso capitalista na educação O vetor da teoria na clínica psicanalítica Monica Maria Farid Rahme; Leny Magalhães Mrech Antonio Cesar Frasseto O ensino enquanto ato: notas de psicanálise e educação Sessão 25 - A infância, as crianças e os adultos IV Douglas Emiliano Batista Sala: 109 Coordenação: Débora Morlachetti 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 21 Sessão 30 - A psicanálise e os fundamentos da educação IX Sala: 115 Coordenação: Greice Contini Carvalho Dos efeitos do mal-estar contemporâneo na educação das crianças Tácito Carderelli da Silveira Da escola para a clínica? Análise de encaminhamentos escolares para tratamento psicológico no Laboratório Psicológico Carolina Martuscelli do CPAR/MS Daniela Bridon S. Brandão; Greice Contini Carvalho; Juliana F. de Barros, Luisa do Nascimento Queiroz Es posible enseñar? Maria Cecília Aiello Sessão 31 - A psicanálise e a função docente IV Sala: 137 Coordenação: Marco Antonio Torres A conversação e a intervenção sobre o mal-estar docente e o abuso sexual infantil Margareth Diniz; Marco Antonio Torres; Cláudia Itaboray, Thiago Machado Uma leitura psicanalítica da demanda de modelos ideais na formação de professores Delia Maria C. de Césaris; Odana Palhares A inversão da demanda. ‘Para que serve a psicanálise à educação? Monica Fujimura Leite, Cleide Vitor Mussini Batista Sessão 32 - A psicanálise e a função docente V Sala: 139 Coordenação: Margarete Parreira Miranda A escuta analítica de professoras e a posição subjetiva: a experiência do Grupo Ponte em operacionalização na rede municipal de ensino em Santo Angelo/RS Marcele Teixeira Homrich O declínio dos saberes e os métodos de ensino: alguns apontamentos sobre as conexões entre Educação e Psicanálise Rogério Rodrigues Reciclagem do saber para não ser consumido: os serviços gerais no particular de uma escola Maria Raquel Botrel Lima; Margarete Parreira Miranda Sessão 33 - A psicanálise e a função docente VI Sala: 141 Coordenação: Inês Maria M. Z. P. de Almeida Kheíron – da relação do professor com o não saber Karen Geisel Domingues; Inês Maria M. Z. P. de Almeida De homo sapiens à homo zappiens: sofrimento psíquico dos professores diante das tecnologias digitais Maria de Fátima Reszka; Paulo Gaspar Graziola Junior Formar professores a distância – uma outra escuta sobre essa ousadia Ricardo Dias Sacco 22 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Resumo das Comunicações Livres Sessão 1 - Escrita, clínica e a educação As narrativas infantis e a aquisição da es- O presente trabalho pretende apresentar os resultados parciais de nossa crita pesquisa de mestrado. Julia Maria Borges Anacleto Trata-se de um projeto de pesquisa voltado para o tema das narrativas Faculdade de Educação / USP infantis, em sua articulação com o processo de aquisição da linguagem [email protected] escrita. A abordagem do tema em questão tem se dado dentro da perspectiva dos estudos na conexão entre psicanálise e educação. Com isso, nossa investigação se propõe a lançar certa luz a uma interpretação possível das narrativas infantis que privilegie as vozes do sujeito do desejo. Podemos encontrar uma vasta bibliografia acerca de estudos recentes sobre a narrativa infantil como um tipo de fenômeno que antecederia o processo de aquisição da linguagem escrita. Tratar-se-ia de uma forma de narrativa oral própria a um período da vida das crianças – especialmente a partir dos quatro anos de idade, mais ou menos – e que pareceria marcar um momento que antecede a entrada no processo formal de alfabetização. Nossa investigação tem como objetivo empreender um estudo teórico sobre as interpretações possíveis para as narrativas infantis tendo em foco a teoria psicanalítica da constituição do sujeito, procurando articular o fenômeno em questão dentro do processo de aquisição da linguagem e, especialmente, como fenômeno que antecede a aquisição propriamente dita da linguagem escrita. Como resultado parcial de nossa pesquisa, apresentamos no presente trabalho inicialmente uma contextualização da pesquisa no campo da teoria da constituição do sujeito. Em seguida, procuramos apresentar revisão bibliográfica sobre estudos acerca de aquisição da linguagem que privilegiam o campo interpretativo ancorado na teoria psicanalítica da constituição do sujeito. O manejo do professor/orientador e a escrita acadêmica Lisiane Fachinetto Faculdade de Educação / USP [email protected] A atividade docente ligada ao processo de orientação de trabalhos de conclusão de curso na universidade é um desafio. Diferentemente do ensino da sala de aula, no qual o professor se dirige ao grupo de alunos, na orientação há necessidade de uma estratégia particularizada. Entendemos que a referida estratégia precisa considerar o laço que se estabelece entre o orientador e orientando, pois partimos do pressuposto que esta relação tem efeitos na produção do texto acadêmico. O objeto de análise da pesquisa são as várias versões do texto da monografia de uma aluna de pós-graduação da área da educação. As versões são tratadas como manuscritos escolares, termo proposto por Calil (2008) para denominar os escritos produzidos a partir de uma demanda escolar. Este trabalho tem como objetivo refletir a respeito dos efeitos dos manejos realizados por um professor orientador no sentido de promover a escrita de seu aluno. Nossa hipótese é a de que a intervenção/manejo do professor/orientador, a partir da transferência (Lacan, 1960-61/1992), pode provocar uma mudança de posição do aluno frente à escrita, de modo que ele possa ressignificá-la. Ou seja, um deslocamento do aluno em relação ao seu escrito a partir da intervenção do outro, possibilitando um processo 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 23 de reescrita. Consideramos que o manejo do orientador possibilita que o aluno ingresse num processo de reescrita que o faz rever a sua posição frente à sua própria escrita. Esta pesquisa faz parte do projeto coletivo Movimentos do escrito (do Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise – GEPPEP) desenvolvido na Universidade de Educação de São Paulo (USP). Grupo da Escrita na Educação Terapêutica: Na psicose infantil ocorre, em estrutura, o mesmo que em relação à psium dispositivo clínico cose no adulto, com a diferença fundamental de que, com a eclosão da Marise Bartolozzi Bastos crise, cessa o desenvolvimento da criança. Instituto de Psicologia / USP Assim, se alguns psicóticos adultos tiveram a chance de produzir [email protected] mas suplências de laço que lhes permitiram estudar e aprender uma profissão, muitas crianças não têm a mesma sorte. Tratar é, portanto, permitir que a estruturação seja retomada. Se entendermos que a constituição subjetiva é efeito da educação, um trabalho clínico com crianças psicóticas e autistas não poderá deixar de lado a dimensão educativa. Partiremos da experiência de trabalho da Associação Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica, instituição que oferece atendimento terapêutico e educacional integrados para crianças autistas, psicóticas e neuróticas graves. Um dos principais problemas no tratamento das crianças psicóticas e autistas é que elas estão estruturalmente impossibilitadas de constituir laço social. O laço social se estabelece a partir do discurso e é aquilo que permite ao sujeito fazer um vínculo com a cultura, uma aliança com o universo simbólico que rege as relações humanas. O tratamento da psicose infantil precisa ter como norte o estabelecimento do laço social. Sabemos que esse resgate é impossível em sua plenitude, mas encontramos formas de fazer face ou mesmo de contornar essa impossibilidade. Se não há laço, pode haver enlace, entendido justamente como uma forma de circulação social possível (Albe & Magarián, 1991). Para uma criança, nada melhor do que outra criança. É assim que Volnovich (1993), em seu livro A psicose na criança, justifica a importância de colocarmos crianças em grupos. O presente trabalho abordará o Grupo da Escrita enquanto um dispositivo clínico que oferece às crianças atividades de leitura e escrita que possam colocar em marcha a operação significante que ao mesmo tempo constrói uma escrita e as constrói, nesse jogo de reorganização do campo simbólico. Sessão 2 - Violência e laço social Incesto como violência sexual contra crianças Larissa Jandyra de Ramos e Paula Pref. de Poços de Caldas-Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) [email protected] 24 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy O presente trabalho pretende explorar o tema do incesto no contexo da violência sexual de crianças a partir das concepções da antropologia cultural, da reflexão juridica brasileira e da psicanálise. Fez-se um levantamento bibliográfico de autores que tratam do tema dentro das areas a serem discutidas com textos mais significativos. E a partir disso,foram levatados os pontos de contato e as críticas, determinando algumas conclusões. Tais conclusões se apoiam na tentativa de estabelecer quais contribuições a relação entre essas áreas trazem acerca do estudo e das possíveis intervenções a respeito do incesto no contexto da violência sexual envolvendo crianças. Violência na escola: o gozo na modernidade e seus efeitos no cotidiano escolar. Rosana Márcia Rolando Aguiar Universidade Católica de Brasília [email protected] Sandra Francesca Conte de Almeida Universidade Católica de Brasília [email protected] O trabalho pretende discutir e analisar a violência no cotidiano escolar e seus efeitos na vida do professor e dos estudantes, principais atores do processo educativo e pedagógico. O referencial teórico adotado é o da psicanálise, em sua interface com a educação. Os atos de violência que acontecem na escola são entendidos como possíveis desdobramentos do processo pubertário e de adolescência, da crise na educação familiar, responsável pelo desenvolvimento psíquico de crianças e adolescentes, e do declínio da função paterna, associados aos modos de gozar na sociedade moderna. Discute-se o lugar da autoridade e da lei representados pelo professor, na escola, e a importância da função paterna no sistema educacional e social e seus efeitos no processo de escolarização de crianças e jovens adolescentes. Serão apontadas algumas iniciativas e estratégias de combate ao fenômeno da violência escolar, no âmbito mundial, e as possíveis articulações de seus dispositivos e resultados com a realidade brasileira. Na conclusão, serão apresentadas algumas sugestões e possibilidades de ações pedagógicas voltadas para o enfrentamento da violência, na escola, visando ao resgate de dispositivos educacionais ancorados na tradição e na transmissão cultural de valores morais e éticos e no reconhecimento de crianças e adolescentes, como sujeitos da educação. Finalmente, aposta-se na palavra como dispositivo de “cura” e instrumento capaz de barrar o gozo, associado à violência narcísica e à destrutividade mortífera, abrindo perspectivas de acesso ao desejo e à reconstrução dos laços sociais. A violência escolar como manifestação do A violência escolar é um fenômeno que tem se apresentado à sociedade contemporânea. Uma sociedade em que o Outro se configura sob outras fracasso escolar na comtemporaneidade formas, num lugar pluralizado em relação ao sujeito. Não estamos num Renata Nunes Vasconcelos tempo de inexistência do Outro, mas da existência de um outro Outro. Fae / UFMG e Fae / UEMG Essa bússula orienta o sujeito no tempo que Lacan (1962-1963) [email protected] mou de zênite do objeto a: aquele que fica além do princípio do prazer, Ana Lydia Santiago que resta da operação regulação do gozo. Na regulação pulsional sempre Fae / UFMG sobra algo, esse algo é o objeto a que convida o sujeito a ultrapassar a [email protected] inibições. Desde os anos cinqüenta nossa sociedade vem sendo bombardeada por inúmeros movimentos na ordem do social que produziram deslocamentos importantes; o feminismo, a luta pelos direitos humanos, pela igualdade racial, outra organização familiar, a própria psicanálise que contribui com a dissolução da moral sexual dos tempos de Freud. Somos regidos por outra cultura. A educação se desvalorizou? Qual o efeito sobre ela nesse tempo do sujeito atado ao gozo sem limites? A educação para a psicanálise é responsável pela regulação da pulsão de morte com oferta de objetos de saber para contornar o intratável dessa pulsão dirigindo-a, como aposta, para a vida. Vivemos, no entanto, a desinibição, a exploração do privado, o excesso de exposição do particular. Vivemos a obrigatoriedade de gozar, efeito de um capitalismo que fabricou um Outro gerador de consumo. Nessas situações a violência surge como um recurso do sujeito. Com o impulso ao gozar a regulação pulsional é de outra ordem e a violência pode advir. A educação não funciona mais como regulação pulsional para esse sujeito contemporâneo? Este trabalho propõe apresentar resultados de pesquisa sobre a violência 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 25 escolar a partir da psicanálise apostando na contribuição do campo para enigmas que a educação vem enfrentando na contemporaneidade. A violência escolar é assumida como um novo sintoma do fracasso escolar sob o qual a psicanálise tem contribuição a dar. Sessão 3 - A educação, os adolescentes e a escola Adolescência e educação: uma proposta de Este artigo origina-se de uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de intervenção na escola Educação da Universidade Federal Fluminense, cujo objetivo é pensar Luciana Gageiro Coutinho os grupos de reflexão como uma forma de intervenção clínica, pautada UFF por pressupostos da psicanálise, junto aos adolescentes. Propomos que [email protected] os grupos de reflexão ampliam as possibilidades da escuta psicanalítica dirigida aos adolescentes, que pode se fazer presente de maneira mais direta no contexto institucional ou social no qual se inserem (escolas, instituições de acolhimento, projetos sociais, etc). Para isso, destacamos alguns conceitos e premissas da psicanálise, que nos servem de referências para fundamentar nosso trabalho clínico e teórico nesses grupos, tais como: a transferência, o Outro, o laço social adolescência. Em seguida, apresentamos uma experiência desenvolvida com um grupo de adolescentes durante o primeiro semestre de 2010 numa escola pública do Estado do Rio de Janeiro, localizada no município de Niterói. Inibição, sintoma e ato: sobre os destinos do saber na adolescência Maria Celina Peixoto Lima Universidade de Fortaleza [email protected] Karla Patricia Holanda Martins Universidade de Fortaleza [email protected] 26 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy A clínica da adolescência costuma ser apontada como paradigmática daquilo que vem sendo chamado de novas patologias, a saber, as toxicomanias, os estados-limite, os transtornos alimentares. Além dessas formações sintomáticas, nos últimos tempos, uma outra configuração clínica vem se apresentando como argumento da queixa veiculada pelos pais. Trata-se de uma certa morosidade subjetiva, acompanhada, na maioria das vezes, de dificuldades escolares, que nos parece testemunhar quadros de inibição mais ou menos severos. Relacionada por Freud à diminuição das funções do eu e situada por Lacan em uma espécie de marco zero quanto à dimensão do movimento, a inibição aparece no texto psicanalítico como uma defesa contra a emergência da angústia, portanto, a serviço do ocultamento do desejo. Ora, a dimensão da ignorância, relacionada à falta estrutural no saber, salienta o fato de sermos animados pelo que não sabemos, e impele à necessidade de encontrar rapidamente um sentido àquilo que se apresenta como um enigma. No entanto, o drama dos adolescentes não decorre da ignorância, mas do saber em demasia. Sabem sobre a vacuidade do lugar do Outro, sobre a sua estrutura de ficção. Assim, o sujeito adolescente encontra-se na urgência da invenção de novos suportes ao Nome-do-Pai, ou mesmo de novos nomes do pai, já que o modelo infantil, aquele sustentado pela crença no poder soberano do pai, desmorona ao se confrontar com a falácia da promessa edipiana. Se o sintoma se constitui como suplemento à função paterna, o gozo que lhe é próprio é um gozo sem saber, efeito do recalque que, apesar de apaziguar a angústia, parasita o sujeito levando a esse estado de morosidade. Trata-se aqui de examinar um outro destino pulsional, a sublimação, como saída para a crise adolescente; em outras palavras, pensar o ato criativo como um operador fundamental no seu trabalho de deslocamento de uma via impedida pela inibição. Exclusão às avessas: “Tiro notas baixas na escola porque não quero ser o nerd da sala.” Francisca Paula Toledo Monteiro Universidade Estadual de Campinas / UNICAMP [email protected] Lilian Cristine Ribeiro [email protected] O presente trabalho discorre sobre a posição subjetiva de um adolescente que, ao se sentir excluído de seu grupo por tirar sempre notas máximas nas atividades e avaliações escolares , deixa de apresentar as lições e trabalhos exigidos pelos professores. Ao ser cobrado por sua mãe, relata que assim o faz por ser classificado como “nerd”. Diante de tal questão, passamos a refletir como o discurso da sociedade capitalista e normativa exerce influência e exclui, não só os sujeitos que não conseguem obter sucesso na escola, mas também, aqueles que se destacam por obtê-lo. Assim, com base no discurso da psicanálise, discorremos sobre a ética, no sentido lacaniano de que não há um bem a ser atingido e a (im)possibilidade da Educação, já que o sujeito se dá em ato. O que isso pode nos apontar em direção à exclusão subjetiva de um sujeito em relação ao seu desejo de pertença a um grupo, em contrapartida às normas e regras da sociedade que nos remetem a um a priori do que ser deve ser e fazer um bom estudante? A questão posta pelo adolescente nos aponta possibilidades de rompimento com a lógica normativa e a negação da mesma como posição subjetiva. Sessão 4 - Inclusão e laço social I Doença crônica e dificuldades escolares: é possível estabelecer um relação? Anne Midori Abe de Lima Epesmel - Escola Profissional e Social do Menor de Londrina / CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) [email protected] Sueli Pinto Minatti Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (ICr - HCFMUSP) [email protected] A partir do atendimento psicanalítico num hospital pediátrico, ao longo dos últimos anos, foi possível observar uma grande proporção de crianças atendidas que apresentam dificuldades escolares importantes. Nesta instituição, a demanda de encaminhamento para a equipe do Serviço de Psicologia se refere a questões pertinentes ao tratamento por vezes prolongado da doença crônica. Essas duas situações intrincadas, a saber, doença crônica e problemas escolares graves, têm suscitado diversos questionamentos quanto à possível relação existente entre ambos. Por meio de recortes clínicos dentre cerca de 300 casos atendidos no decorrer destes anos, objetivou-se localizar algumas variáveis encontradas na clínica, buscando entrelaçar a resposta do sujeito às situações emergidas no âmbito das instituições: hospital, escola e família. Pela formulação desta problemática, e apoiados na teoria psicanalítica, em Freud e Lacan, puderam-se estabelecer algumas relações entre doença orgânica e dificuldades de aprendizagem, através da resposta do sujeito e seus efeitos, afastando-se, pelas evidências clínicas, de concepções casuais ou fortuitas. Para interlocução sobre tais considerações parte-se da concepção psicanalítica como o campo estabelecido pela singularidade, e os campos da Medicina e da Educação como o de discursos totalizantes, podendo incidir na exclusão do próprio sujeito. Como formar bons professores nos dias de hoje? Refletindo sobre os efeitos do mercado de saber sobre a educação Elizabeth dos Reis Sanada ISESP - Singularidades [email protected] Gisela Wajskop ISESP - Singularidades [email protected] O objetivo deste trabalho é refletir sobre os efeitos do mercado de saber na prática docente cotidiana e apontar para a possibilidade de um trabalho que se coloque na contramão de um processo de massificação, favorecendo que professores e alunos possam se revezar na posição de sujeitos, no processo de ensino e aprendizagem. LIPOVETSKY (1989, p. 230), ao discutir a comunicação de massa, afirma que “o objetivo maior é “agarrar” o público mais numeroso pela tecnologia do ritmo rápido, da sequência flash, da simplicidade: nenhuma necessidade de memória, de referências, de continuidade, tudo deve ser imediatamente compreendido, tudo deve mudar muito depressa. A ordem da animação e da sedução é prioritária”. Esta afirmação nos coloca diante de uma importante reflexão no campo 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 27 pedagógico, no qual este modelo vem se reproduzindo, sobretudo no ensino superior. Alguns trabalhos têm discutido os efeitos da contemporaneidade, do mercado de saber e do discurso do capitalista na constituição social e familiar, estendendo-se para o espaço educacional. No entanto, o foco na educação ainda se restringe às séries iniciais de escolarização, alcançando, no máximo, os alunos adolescentes. Muito pouco tem se apresentado no âmbito do ensino superior, sobretudo quando se trata de cursos de formação de professores. Nosso objetivo é apresentar um trabalho que vem se desenvolvendo, ao longo de dez anos, numa instituição de ensino superior de pedagogia – Instituto Singularidades – como uma possibilidade de desenvolver um ensino de qualidade, que seja capaz de formar profissionais aptos a enfrentar e a atender as demandas do mercado de trabalho, sem abrir mão do ato educativo em nome da sedução, responsabilizando-se por sua prática e concebendo seus alunos como sujeitos. Para ilustrar nossa trajetória, apresentaremos o Programa de Inclusão que é desenvolvido com os alunos do curso de pedagogia que apresentem necessidades educacionais especiais, seja por deficiências no processo de escolarização, ou mesmo, físicas, sensoriais ou intelectuais. Além de um currículo que tem como base a articulação da Psicanálise à Educação. Trata-se de um projeto que acredita que “a experiência do aluno, especialmente num curso de formação, é constitutiva do papel que exercerá futuramente como docente”, e que possibilita a convivência com as diferenças e com um saber não-todo. A escola inclusiva como uma utopia do sé- A educação na contemporaneidade é marcada por um discurso que dá culo XXI ênfase à igualdade de direitos e à inclusão de crianças diferentes nas esAna Beatriz Coutinho Lerner colas, como uma forma de promover a educação para todos. Trata-se, de Faculdade de Educação / USP fato, da proposição de um modelo de escola a construir de acordo com [email protected] a Declaração de Salamanca de 1994, mas cujos contornos situam-se no domínio do utópico, ou seja, de um desejável imaginariamente possível. Na literatura pedagógica, a efetivação da escola inclusiva, em suas mais diversas definições, parece depender de um conjunto de prescrições e de medidas administrativas a serem colocados em prática, sem que se leve em conta o que subjaz a uma posição subjetiva inclusiva e o que impede intimamente, inconscientemente, que os educadores alcancem essa tão almejada mudança de posição. Em nome da sustentação de uma posição política, muitas vezes beligerante, o que vemos são crianças negligenciadas, educadores culpabilizados e em busca de culpados pelo fracasso de um ideal: o da inclusão. O presente trabalho, fruto das primeiras considerações no percurso do meu doutorado, pretende abordar o movimento da educação inclusiva em termos discursivos, isto é, utilizando o referencial teórico da psicanálise, em especial as formulações lacanianas sobre os quatro discursos (Seminário 17: O avesso da Psicanálise). Para isso, tomaremos em análise, o discurso veiculado pelo Fórum Permanente de Educação Inclusiva, um grupo cem cerca de mil associados, criado para debater e defender a inclusão total e incondicional de todas as pessoas em todos os contextos sociais, em especial o educativo. 28 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Sessão 5 - A psicanálise e os fundamentos da educação I A psicologização da psicanálise na educação: um estudo de sua origem em São Paulo Flávia Ranoya Seixas Lins Creche / Pré Escola Central da USP [email protected] A partir da constatação da forte incidência da psicologização da educação em uma rede municipal de ensino, buscamos compreender como a psicanálise participava desse processo. Partimos da observação de que, uma vez apropriada pela educação, a psicanálise tornava-se um conhecimento psicológico com finalidades adaptativas e normativas e, portanto, mais uma teoria a serviço da psicologização da educação. Nesse contexto, procuramos identificar os caminhos e motivações pelos quais se operou – no Brasil e especificamente em São Paulo – essa psicologização, bem como os mecanismos de perpetuação desse processo na atualidade. A discussão da psicologização da psicanálise na educação torna-se, assim, o objetivo deste estudo. Iniciamos nossa investigação com um levantamento bibliográfico que nos permitiu estabelecer um panorama histórico das relações entre psicanálise e educação no Brasil. Destaca-se, nesse percurso, que a psicanálise esteve atrelada à educação desde o início de sua difusão, sendo incorporada ao discurso médico higienista da época, tornando-se um dos principais fundamentos teóricos do movimento escolanovista brasileiro e solidificando-se como prática voltada ao campo educacional com a implantação das Clínicas de Higiene Mental Escolar em São Paulo. Esse panorama permite concluir que a psicanálise serviu aos pressupostos da terapêutica médica preventivista e sofreu as influências das correntes psicológicas emergentes (as teorias do comportamento e as psicometrias). A partir da década de 80, constituiu-se em São Paulo um campo de pesquisa em Psicanálise e Educação, que deu lugar a reflexões sobre a aplicação da psicanálise na educação, bem como a críticas ao discurso pedagógico moderno, que possibilitaram o avanço das discussões nesse campo, mas não impediram a continuidade desse processo. Só nos resta a pedagogia do amor? Uma possível desconstrução psicanalítica Camila Pereira de Freitas Faculdade de Educação / USP [email protected] O mercado dos discursos pedagógicos contemporâneos têm comportado inúmeras tentativas de se explicar a crise que, todos parecem concordar, assola a escola brasileira. Ao longo dos últimos anos temos assistido a grandes sucessos de venda editorial constituídos por manuais de pedagogia, em que se intenta discorrer reflexivamente sobre todos os campos da escola, indo da crítica usual e corriqueira aos métodos e aprendizagens, à tentativas de análise da relação professor-aluno. Na esteira desses diagnósticos, pululam lições de boa moral e mesmo incursões despudoradas ao universo dos valores e dos maniqueísmos das condutas. Seria um primo pobre dos discursos “psi”, tão conhecidos nossos? Questionar a pertinência e a legitimidade desse discurso, atingir as raízes teóricas nas quais se fundamenta, e compreender seus mecanismos de escamoteamento das reais mazelas educacionais, como a fragilizada formação docente atual,constituem os objetivos deste trabalho. Para tal, intenta-se visitar a teoria psicanalítica, mormente os escritos freudianos em que se anuncia a descoberta do inconsciente, os mecanismos das pulsões e a preponderância do sexual sobre a constituição dos sujeitos e a condição humana, para traçar uma linha argumentativa mais condizente com a formação das personalidades e o raio de alcance do mundo externo sobre essa mesma personalidade. Intentamos desconstruir, à luz de alguns elementos da Psicanálise, um estudo acerca da transferência, seus limites e possibilidades na sala de aula, para além da sobrecarga nos ombros e na consciência docentes, de um pesar injustificável pela 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 29 não-salvação da alma de seus alunos, responsabilizados que são, segundo algumas linhas pedagógicas, não só pelos fracassos cognitivos, como outrora o foram muitas vezes, mas também, agora, pelos fracassos pessoais e descaminhos. Culpar a escola pelo caos social, mote que estampa muitos subtítulos de obras ditas para professores, na contemporaneidade, além de representar grande engodo, ainda se nos parece atávico e moralizante como a velha questão do conflito de gerações. Paralelamente ao estudo da transferência, propomos uma discussão acerca do conceito de amor, em Psicanálise, e sua distância estrutural e epistêmica do amor romântico e açucarado de certos discursos. El rechazo del lazo social: Una lógica de la intervención en el campo de la infancia. Reflexiones sobre la experiencia en un Centro de Protección de los Derechos del Niño. Verónica Rachid Centro de Protección de Derechos del Niño. Dirección de Niñez y juventud. Municipalidad de General Pueyrredón. Universidad Nacional de Mar Del Plata. Facultad de Psicología. [email protected] Los Centros de Protección de Derechos Municipales en Provincia de Buenos Aires, particularmente en Mar del Plata, reciben una continua solicitud de intervención de las instituciones educativas. La causa mas frecuente por la que recurren a realizar dicho pedido es deserción escolar y ausentismo crónico. Paradójicamente la política educativa actual se propone una inclusión sin fallas; permanentemente se renuevan y se reeditan espacios y dispositivos para la inclusión de lo que cae del sistema. Esta presentación intenta dar cuenta de lo que llamamos una implosión escolar, puesto que la destrucción del lazo social propio de la trasmisión se produce hacia “adentro”. En el intento de incluir “todo” se constituye una exclusión adentro, figura paradojal, que abre el juego a una serie “infinita” de rechazos, puesto que los CPDeN también denegarán el pedido de intervención de los equipos escolares. Remitiéndonos a los tres imposibles Freudianos, revisaremos lo distintivo respecto de los términos deseo y transferencia. Mientras que analizar implica la abstinencia del lado del analista, ¿la condición de posibilidad del gobernar y del educar implicaría su reverso , obligaría a la puesta en juego del deseo del maestro, y/o del gobernante? A primera vista diríamos que si el analista puede operar en abstinencia al modo que lo hace en la neurosis es porque el sujeto fue “debidamente parasitado por el Otro”. Y esa parasitación es obra de la crianza, obra de la inmersión del sujeto en el lenguaje, obra de lo que resta de la educación. Por ese camino intentaremos entender lo que es rechazado. Sessão 6 - A psicanálise e os fundamentos da educação II Saber e gozo: a aposta do desejo na escola Rodrigo Figueiredo Nocchi Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio [email protected] Rita Maria Manso de Barros Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ [email protected] 30 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Desde o advento da psicanálise e das contribuições de Freud ao pensamento sobre o mal-estar na cultura, a cena do mundo tem sofrido muitas transformações. Talvez, o que em nossos campos de atuação, a psicanálise e a educação, seja mais marcante é o que se constitui como a construção de novas subjetividades e de novos sintomas. Nesses tempos de declínio da função paterna e do imperativo superegóico que convoca a todo tempo o gozo, a relação ensino-aprendizagem e o cotidiano escolar não escapam a essa lógica. O saber, nesse contexto, é visto como mais um componente da vasta série de objetos efêmeros de nossa cultura. Adquire status de mercadoria supostamente vendida pela escola e consumida pelos estudantes, servindo como objeto de fetiche para os pais e para a sociedade. Num grau inédito, amplamente disponível e com acesso facilitado, o saber também se caracteriza como descartável e facilmente modificável. Tanto o google como a wikipedia nos dão um bom testemunho da volatilidade da informação e do conhecimento que se confundem com o saber, singular, na contemporaneidade. Nesse sentido, a clínica psicanalítica de Freud, tal como é lida por Lacan, pode nos oferecer uma alternativa possível para que a educação pense esse impasse pós-moderno: a aposta na singularização, no inconsciente como saber e no amor de transferência com vista a encaminhar o sujeito para a dialética do desejo, inscrevendo-o na dimensão da falta, angustiante, que possibilita a criação, não sem o outro, e o compromisso com sua verdade singular. Isso não significa que o percurso clínico que se espera de uma psicanálise deva ser aplicado na escola. Trata-se, porém, de uma ética que pode também se constituir como estratégia diante do fracasso escolar, que toma, em nosso contexto, proporções de devastação. A partir desse lugar de singularização e de desejo pode-se resignificar o cotidiano escolar e produzir, na escola, efeitos de formação e não de acumulação ou simples troca de objetos como mercadoria. O mal-estar do professor em face da criança considerada problema: um estudo de psicanálise aplicada à educação Margarete Parreira Miranda Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Ana Lydia B. Santiago Universidade Federal de Minas Gerais analydia.bhe([email protected] O trabalho que apresentaremos refere-se à pesquisa de doutorado da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais. Ao elegermos como objeto de estudo o mal-estar do professor em face da criança considerada problema, objetivamos extrair desse contexto conhecimentos que ampliassem o entendimento sobre o tema e interferir no que fracassa na relação professor-aluno-aprendizagem. Formulamos a hipótese de que a criança é considerada problema no momento em que o professor se vê destituído de sua função de ensinar. Os professores de crianças de sete a onze anos, de três escolas públicas municipais da cidade de Belo Horizonte, foram escolhidos como sujeitos de nossa pesquisa. Em nossos estudos teóricos, constatamos que as investigações sobre o mal-estar dos professores se avolumaram nos últimos vinte anos, em vários países do mundo ocidental. Averiguamos também que a criança é considerada problema desde a primeira metade do século XX até os nossos dias, alterando-se apenas a roupagem do sintoma. Ao adotarmos como metodologia de campo as Conversações, dispositivo da psicanálise aplicada à educação, apostamos nos efeitos de uma pesquisa-intervenção que tem como princípio promover deslocamentos nos discursos cristalizados, transformando o dizer e o fazer dos professores em direção ao inédito. Foi possível identificar, em nossas investigações, o circuito da posição docente que reforça o fracasso, assim como o outro viés, o da transmissão possível. Inserir o significante considerada entre os dois termos criança e problema produziu um afrouxamento discursivo à nomeação “criança-problema”, que há vários anos segrega crianças do processo educativo. Na contramão do discurso da ciência que segrega a subjetividade, promovendo o declínio dos saberes e o mercado do gozo, demonstramos que a psicanálise aplicada à educação pode contribuir para que o sujeito não se aliene das propostas civilizatórias e possa encontrar na escola um lugar de enlaçamento social. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 31 La era de la apatia: formas del malestar en la escuela Yesica Molina FLACSO Programa de Psicoanálisis y Prácticas Socioeducativas [email protected] Ana Gracia Toscano FLACSO Programa de Psicoanálisis y Prácticas Socioeducativas [email protected] Desde el 2008, el Programa de Psicoanálisis y Prácticas Socioeducativas, dirigido por Perla Zelmanovich en el Área de Educación de FLACSO, ha venido desarrollando una línea de investigación acerca de las “Figuras y formaciones del malestar en la cultura educativa actual.” La inquietud que orientó esta investigación giró en torno a la posibilidad de pensar, desde una mirada amplia, el malestar que se presenta hoy en los contextos educativos. La tarea fue posible a través del análisis de los trabajos presentados por los cursantes convocados a escribir sobre el malestar en sus contextos educativos. Consideramos que los enunciados presentados nombran este malestar y atendemos en ellos el rasgo de una época, la marca del desasosiego o la incertidumbre que convoca la tarea de educar. El trabajo que se presenta recupera el análisis de una muestra de 48 trabajos producidos por agentes educativos. Se parte de las conceptualizaciones que Tizio realiza desde el psicoanálisis. Para la autora “la posición no es ajena a la interpretación que el agente hace de la situación en la que interviene y en la actitud que adopta a la hora de operar en la realidad” (Tizio, 2005). De la misma manera, advierte que existen definiciones dominantes aplicadas por los agentes que trabajan en la gestión de los síntomas sociales, entendiendo por tales “resultado de las intervenciones, del funcionamiento y de los modos de operar de los dispositivos de gestión” (Renouard; 1990). Nuestra mirada se centrará en aquella enunciación frecuente de los agentes que se nombra con el significante “apatía” o “desinterés”. Nos interesa analizar la posición enunciativa que delimita no sólo el modo de ver la escena educativa sino también el modo de actuar en ella. Observaremos que los nombres del malestar agrupados bajo el enunciado “estos chicos son apáticos” o “estos chicos no se interesan por nada” responden más a la gestión de síntomas sociales, indicadores de malestar pertenecientes a un discurso dominante, que a verdaderos síntomas subjetivos. Nos preguntaremos ¿qué tipo de saber se pone en juego en la construcción de los síntomas sociales?, ¿qué figuras de segregación socializadas son creadas a partir de este saber? Por último, propondremos la noción de síntoma y de no-saber (Bataille, 2001) para el abordaje de los llamados (alumnos y docentes) “apáticos”. Sessão 7 - A psicanálise e os fundamentos da educação III A interface da contradição da herança e do A tendência contemporânea é considerar o caráter multideterminado do desejo no fracasso escolar fracasso escolar, apontando que a compreensão deste fenômeno exige uma análise de vários fatores. As diferentes áreas do saber (Sociologia Daniela Chaves Radel Bittencourt da educação, Psicologia da educação, Psicanálise, Psicopedagogia etc.) Universidade do Estado da Bahia debruçam-se sobre este fenômeno na tentativa de explicá-lo e superá[email protected] lo. Não obstante, a despeito dos esforços empreendidos, mantêm-se os Thiana Rocha Costa altos índices de crianças e adolescentes que não logram êxito no seu Universidade do Estado da Bahia [email protected] processo de educação formal. Acena-se, assim, para a necessidade de empreender estudos imbricando diferentes teorias na tentativa de aprofundar a discussão considerando a complexidade do fenômeno. Neste estudo, optamos pelo diálogo entre as vertentes sociológica e psicanalítica no intuito de responder a questão: em que medida a interface das contradições da herança e do desejo interferem no fracasso escolar da criança? O desejo, numa perspectiva psicanalítica denuncia a falta, constitutiva do sujeito. Na arquitetura do seu próprio desejo, a criança 32 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy apropria-se, inconscientemente, do desejo dos pais, ou seja, seu desejo é sempre desejo do desejo do Outro. Entretanto, a consumação deste desejo, no que pese a sua dimensão subjetiva, está intricada, também, com as condições sócio-histórico-culturais. É justamente neste ponto que trazemos as ideias de Bourdieu (1993) acerca da “ordem das sucessões” por considerarmos de significativa importância na evidenciação da dimensão complexa e paradoxal da sucessão dos modos de vida e suas implicações na subjetividade e identidade das crianças e adolescentes. Para tanto, a pesquisa delinea-se do tipo estudo de caso (abordagem qualitativa) e utiliza como instrumento de coleta de dados a escuta clínica e o desenho. Psicanálise e Educação: quando o desejo se inscreve na leitura e na escritura do sujeito. Eliana de Jesus Menezes Universidade Estadual da Bahia [email protected] O presente artigo é fruto de um estudo teórico acerca de uma indagação que norteia nossa prática educativa ao longo dos anos. Ele traz a questão da falta de interesse da criança em relação ao saber contemplado na leitura e na escrita. De início é abordada a importância do ato de ler e escrever na história do sujeito. Partindo dessa abordagem, são elencadas as concepções de desejo na Filosofia e na Psicanálise para dizer que esse constructo evanescente é da ordem do real, é inconsciente, traduzido como falta, carência, particular de cada um de nós, e que nas teias do saber pode se inscrever e fazer um par que se enlaça na educação. Porém, quando não há uma inscrição do e pelo desejo, a criança pode não querer saber para se constituir sujeito desse desejo, não atendendo as exigências do Outro representado pela cultura e pelo simbólico. Entre a letra e o nome: impasses do aluno em seu processo de alfabetização Marlene Maria Machado da Silva Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte [email protected] Ana Lydia Santiago Faculdade de Educação de Minas Gerais - UFMG [email protected] Esta pesquisa teve por objetivo localizar a origem dos impasses de alunos com defasagem entre idade e nível de aprendizagem, no processo de alfabetização, a partir do que estes têm a dizer sobre suas dificuldades. Pretendeu-se investigar a relação existente entre tal processo, iniciado com a escrita do nome próprio, e a subjetividade do aluno. A escolha do nome próprio foi por este ser na Educação, referência para as atividades do processo de alfabetização, e, na Psicanálise, presentificação da nomeação que constitui o sujeito no campo do Outro. O público alvo de nossa pesquisa foram 8 alunos entre 8 e 11 anos que, ainda não estavam alfabetizados, de uma escola da rede municipal de ensino de Belo Horizonte. Utilizando-se o diagnóstico clínico-pedagógico, de inspiração psicanalítica, para ao resgatar a trajetória intelectual dos alunos, poder identificar se seus impasses na aprendizagem seriam de ordem conceitual-pedagógica ou subjetiva. A hipótese construída como suporte para as investigações foi que o processo de aquisição da base alfabética, por meio do reconhecimento do próprio nome, pode repercutir na subjetividade de alguns alunos, impedindo-os de utilizar as letras de seu nome, como puro significante, no domínio da língua escrita. Nossa aposta foi que os dizeres dos alunos, durante o diagnóstico clínico-pedagógico, poderiam indicar quais intervenções pedagógicas, podem auxiliá-los na articulação da dupla função de significação e objetal do nome próprio, proporcionando-lhes, inclusive, uma outra via de simbolização, para possíveis manifestações sintomáticas que se apresentam como fracasso escolar. Neste processo, foi possível registrar as saídas construídas pelos alunos para superação de algumas dificuldades. Seus dizeres indicaram a necessidade de conhecermos a dimensão subjetiva que o nome próprio tem para eles, a fim de que consigam utilizar as letras de seu nome como puro significante 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 33 (Lacan, 1962) ou simplesmente como letras que são (Ferreiro, 1982). Sessão 8 - A psicanálise e os fundamentos da educação IV Quando o declínio do saber é necessário Odana Palhares Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu [email protected] Na clinica do aprender utilizamos o conceito de mestre não-todo para pensarmos a posição do especialista que recebe a criança com problemas de aprendizagem. Para que o sujeito possa se haver com seu desejo, o declínio do saber daquele que o acolhe com suas vicissitudes na aprendizagem, é necessário. O outro tomado como objeto – objeto a – é a posição em que se encontra o aluno quando é “lido” a partir dos seus problemas de aprendizagem e rotulado com a nosografia à disposição dos especialistas. Nessa perspectiva, busca-se um saber no qual os problemas possam ser incluídos num conhecimento sistematizado, racional e “dessubjetivado”. Conhecimento sistematizado a partir do saber do profissional universitário, ou seja, de um Outro que não leva em conta os saberes daquele sujeito que sofre e é reduzido, aqui, a puro objeto “a”, um dejeto. Dessa forma, os problemas de aprendizagem recebem um tratamento burocrático, e o sujeito não é implicado no seu processo de “cura”. O conceito de mestre não-todo supõe um giro na posição discursiva daquele que detém o saber sobre o sujeito para o lugar do não-saber. Dessa forma, levando em conta o sujeito do inconsciente, tempera seu gozo e pode operar uma transformação subjetiva naquele que padece as vicissitudes na aprendizagem. “Gozo em saber que...” Thais Helena Barros Escola de Comunicações e Artes / USP [email protected] É inquietante e provocador observar que em uma época em que se busca incessantemente a felicidade - a fórmula do gozo permanente - o saber seja colocado como principal “ativo”, como aquilo que o sujeito tem como contribuição e constituição do seu estar no mundo. É pelo que sabe, pelo que pode (supostamente) dar conta, que o sujeito é valorizado. A falsa idéia de completude, ainda que apenas no registro do imaginário: “Eu sei, eu entendi!” Se na era industrial contabilizava-se a mercadoria, o incremento da revolução tecnológica das últimas décadas criou novos paradigmas nos quais o sujeito é ele próprio mercadoria a partir do que sabe. O valor vem do interesse que algo (ideia, imagem, marca) gera nas pessoas, da demanda que provoca, do desejo que suscita. Tudo muito volátil; por vezes, conhecimento se confundindo com enxurrada de informações – quantidade, variedade, visibilidade, impacto, espetacularização – sem necessariamente consistência, substância. Outras formas de trabalhar, de aprender, de produzir, de participar do contexto social. Possibilidade de uma sociedade em rede, do conhecimento e, simultaneamente, do consumo. Desafio de fazer desta busca pelo saber um movimento emancipatório, ouvindo as demandas do ser desejante e considerando limites não como barreiras, mas condição para abrir mão de prazeres fugazes, através de um gozo criativo. Ao se transpor essa re-configuração dos laços sociais para a relação professor-aluno vê-se que ambos passam a ocupar outras posições. Procuraremos neste artigo discutir o desafio que se impõe ao professor neste momento de aumento da inserção das TICs no projeto pedagógico das escolas. Delineia-se uma possível ameaça de perder seu lugar, mas também, a possibilidade de valorização deste profissional como mentor frente aos incontáveis apelos que se abrem às crianças e jovens. Opor- 34 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy tunidade de reflexão, troca, construção conjuntas. Assim, que saberes estão em declínio e como as posições podem ser redimensionadas? A Construção de um espaço para a metáfora na escola básica versus o mercado de gozo Andreza Roberta Rocha EMEF Prof. Alípio Corrêa Neto [email protected] O presente trabalho é um estudo de caso realizado a partir de uma experiência de ensino-aprendizagem de língua materna realizada em uma escola da rede municipal de ensino de São Paulo com alunos em fase de aquisição da língua escrita. O objetivo do trabalho é apresentar uma reflexão a respeito do modo como as concepções de um professor com relação ao papel que ocupa na transmissão de saberes ligados à cultura pode influenciar nos aspectos técnicos do processo de alfabetização, como por exemplo, nas sequências didáticas empregadas. Para tal fim, foram analisados os registros realizados pela professora a partir das produções de três alunos durante o desenvolvimento da referida experiência, que se iniciou em fevereiro de 2010. A seguinte pergunta norteou a pesquisa: numa atualidade marcada por imperativos de gozo imediato e sem restrições, quais elementos permitem e /ou colaboram para que uma criança se engaje nas tentativas voltadas a promoção de sua entrada no mundo da escrita, acrescentando ao processo de alfabetização elementos provenientes de sua singularidade? Para respondê-la, tomaram-se como referências o conceito de dessimbolização (DUFOUR, 2005), as contribuições desenvolvidas por Magalhães (2007) a respeito da construção da metáfora em alunos da escola básica e de Riolfi et alli (2008) no que se refere ao ensino de língua portuguesa no século XXI, aparato teórico que permitiu à presente investigação verificar a criação de um ambiente no qual a criança seja convocada a ocupar um papel de produtora de conhecimento como elemento crucial no avanço da aquisição da escrita. Sessão 9 - A psicanálise e os fundamentos da educação V (Sub)versão: o pai cai, o mestre goza Maria de Lourdes Soares Ornellas Universidade do Estado da Bahia [email protected] O titulo dessa comunicação “(Sub)versão O pai cai, o mestre goza” traz a questão fundamental da Psicanálise “O que é um Pai?”Apresenta um fragmento de caso clínico e aborda o referencial teórico a partir da teoria psicanalítica: o Mito Simbólico do Pai da Horda Primitiva, inaugurado por Freud, na sua célebre obra Totem e Tabu, de 1912-13. A questão da triangulação edipiana mãe-criança-falo expressa em que medida o Pai Simbólico, estruturalmente implicado no complexo de Édipo, se insere na díade mãe- filho, promovendo a constituição da criança enquanto sujeito. Nessas circunstâncias, ver-se-á como o Pai adquire, enquanto Pai Simbólico, a função de metáfora, implicando a substituição de um significante por outro significante, A partir deste referencial, Lacan irá identificar a posição do Pai da Horda, Primeva, ao conceito de Pai Real, no sentido de que, para este Pai, não havia interdição, a lei é a lei do seu desejo, tal Pai se via imerso num gozo indefinido, sem, portanto, estar submetido à castração, pois nada a ele faltava. A passagem de Pai Real a Pai Simbólico se dá quando este Pai é morto, e, no seu lugar, instaura-se a lei do incesto. O gozo do mestre, nesse estudo, é colocar o Pai na posição de escravo, mas de um escravo que tem um saber prático do qual o mestre depende. O mestre é, nesse sentido, o capitão que naufraga com sua embarcação, pois se identifica com a lei que ele mesmo pensa que representa. Observa-se nesse mestre um gozo esperado, aguardado, prenhe de angústia, posto que está fora desse pai originário, mas, em ultima instância, encarna, um mestre da falta. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 35 O declínio dos saberes e o mercado do gozo: a psicanálise na educação Leny Magalhães Mrech Faculdade de Educação / USP [email protected] Vanessa Cardoso Cezario, Michele Ueno, Laurette Boulos, Alice Izique Bastos, Henrique Iafelice, Thais de Barros, Neide Espiridião e Elisabete Cardieri Faculdade de Educação / USP [email protected] A primeira questão que se coloca em relação ao título diz respeito à quais seriam os saberes que estão em declínio nos dias atuais. Para os participantes do NUPPE a resposta mais imediata é que são aqueles que foram historicamente estabelecidos pela longa tradição cultural: os chamados saberes humanistas. Trata-se de um encaminhamento que revela que o próprio direcionamento da cultura que vem tomando novas formas. No Seminário XVI – De um Outro a outro – Lacan revela que os efeitos do discurso capitalista tem-se tornado cada vez mais agudos. Estamos frente ao mercado de saber. A cultura tornou-se mais um produto de mercado(Mrech,2001). Os saberes aparecem como mais um produto da cultura, que se confundem com a informação e o mero conhecimento. Zygmunt Bauman destaca que vivemos na modernidade líquida. Essa faz contraponto à modernidade sólida de séculos passados. Nessa última vigorava o saber convencional, o saber das humanidades, o saber universal. Na modernidade líquida, vive-se a era do saber líquido, do saber que sempre se transmuta, do saber que se modifica para se adaptar ao que é esperado no aqui e agora. Do livro a biblioteca digital. Da música em disco para o CD e os MP5. Dos filmes aos arquivos digitais. Vive-se, de um lado, os tempos das mídias eletrônicas, podendo-se acessar praticamente a tudo. De outro, os produtos culturais adquirem um novo status através de novas formas de fruição. São mudanças que também alteram a maneira dos professores atuarem, levando-os a buscar novas práticas. A escola também tem sido afetada pelo mercado de gozo. Espera-se que elas sejam sempre alegres e que os alunos tenham o máximo de prazer em estudar. O que está por trás é a implantação da cultura da fruição, do mercado do gozo. Que todos sejam preparados para usufruir os produtos que estão à venda. A criação de uma cultura de consumo. Nela, os saberes sólidos são liquefeitos pelas práticas, transmutando-os em meras informações e conhecimentos, facilmente esquecidos. O que é sólido, como diz Marx, se desmancha no ar. A psicanálise na educação tem muito a contribuir neste momento. Ela nos alerta a respeito da importância da ética na tentativa de resgate dos sujeitos da educação, para que eles possam ir além dos saberes da fruição e do consumo. Na busca da criação de novas posições como agente criadores da cultura e da educação, em vez de simples consumidores da cultura e da educação mercadológicas da sociedade contemporânea. Redatora : Leny Magalhães Mrech – Coordenadora do Grupo Este trabalho tem sido desenvolvido no NUPPE ( Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Educação ) da Faculdade de Educação da USP e do Instituto da Psicanálise Lacaniana. Ele é coordenado pela professora Leny Magalhães Mrech e abarca também os seguintes participantes: Elisabete Cardieri, Laurette Boulos, Janete Moura, Michele Ueno, Thais de Barros, Alice Izique Bastos, Neide Esperidião, Henrique Iafelice e Vanessa Cardoso Cezario. Vicissitudes da educação no contemporâneo Flavia Maria de Vasconcellos Faculdade de Educação / USP [email protected] O que pauta, hoje, a busca de sentido da vida é a certeza veiculada pelo discurso da ciência, que pretende encontrar respostas para tudo, exaustivamente, não deixando nenhum espaço para a reinvenção do homem. Aquilo, que, do sintoma (não aprender, por exemplo), poderíamos ler como demanda de reconhecimento do Outro, fica reduzido ao 36 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy resíduo que deve ser eliminado. A educação atual está edificada sobre uma promessa de um gozo sem desejo, promessa de uma vida melhor, de um emprego, que seriam possibilidades de realização num tempo virtual, que acabam não se cumprindo. Isso porque essa vetorização que se faz em direção ao futuro, não estando balizada pelo desejo, mas sim por uma exigência social de enquadramento, não consegue focar um ponto de chegada. O que se produz é uma errância. Além disso, no discurso pedagógico atualizam-se os anseios deste corpo social que tende a transformar toda falta em falha, ao perseguir um “ideal de educação”, que pretende ter respostas para tudo, não deixando brechas para o imprevisto e, como conseqüência, para o desejo. A pedagogia contemporânea comparece identificada à função aplicativa da ciência, na qual há um saber sem sujeito, que coloca o outro no lugar de objeto e se rende ao equívoco de acreditar que seja possível equipar os homens para os imprevistos da vida. Apesar do conhecimento ser sempre caracterizado por uma ambição de completude, o que a psicanálise nos revela é justamente que o conhecimento é sempre parcial e tendente ao malentendido. Há um limite à formalização. Por isso, por mais esforço feito na direção de equipar devidamente uma criança para o mundo, sempre este intento se verá fracassado. Neste ensaio, pretendemos discutir, a partir do embricamento entre os três impossíveis propostos por Freud, a política, a educação e a psicanálise, algumas dessas questões que afetam a educação na contemporaneidade. Sessão 10 - Clínica e Tratamento I Quando o diagnóstico não é suficiente, qual o tratamento possível? Considerações sobre o uso e as adaptações da AP3 em crianças diagnosticadas com Transtornos Globais do Desenvolvimento Angela Flexa Di Paolo Universidade de São Paulo [email protected] Carolina Valério Barros Universidade de São Paulo [email protected] TGD, TDAH, autismo, psicose... São inúmeros os diagnósticos presentes nos mais recentes estudos sobre as psicopatologias que ocorrem na infância. Uma vez que o diagnóstico esteja estabelecido, como direcionar tratamentos possíveis? Parte-se de uma questão que interroga sobre como a Avaliação Psicanalítica aos 3 anos (AP3), instrumento elaborado para validar os Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil (IRDI’s), pode ser útil à educação terapêutica – uma proposta de trabalho interdisciplinar que busca aproximar a psicanálise da educação na medida em que propicia ao mesmo tempo a escolarização da criança e sua constituição subjetiva, sua possibilidade de se inscrever na linguagem e de resgatar o laço social ainda não estabelecido ou estabelecido fragilmente. A fim de apresentar a AP3 como um instrumento cuja finalidade não é a de simplesmente apresentar um diagnóstico, mas uma avaliação aproximativa da posição subjetiva da criança, analisase neste trabalho duas entrevistas, uma com a finalidade de discutir o uso da AP3 em uma criança considerada saudável do ponto de vista psicanalítico, que foi participante da Pesquisa Multicêntrica de Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil, e outra com a finalidade de discutir o uso deste instrumento em uma criança que já apresenta hipótese diagnóstica de Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), pertencente à Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida, onde está em tratamento há 7 anos. Pretende-se, assim, apontar considerações úteis à efetividade do instrumento e possíveis adaptações para o uso em instituições que se voltam para o tratamento de crianças diagnosticadas com TGD’s. Considerações estas que, espera-se, estejam mais voltadas para a estrutura de cada sujeito e sua singular maneira de significá-la do que para um diagnóstico que enclausure a criança não permitindo-lhe 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 37 vias de subjetivação. O tratamento em grupo e a constituição da imagem corporal Carolina Cardoso Tiussi Instituto de Psicologia / USP (mestranda) e Associação Lugar de Vida [email protected] Fernanda de Sousa e Castro Noya Pinto Instituto de Psicologia / USP (doutoranda) e Associação Lugar de Vida [email protected] O presente trabalho é parte de uma pesquisa realizada na Associação Lugar de Vida sobre os possíveis efeitos de um dispositivo de tratamento em grupo. O grupo pesquisado é formado por crianças de diferentes idades, em diferentes posições subjetivas (neuróticas, psicóticas e autistas) e que estão colocadas em diferentes posições no discurso social (crianças que não aprendem, crianças abandonadas e carentes, crianças que não brincam, etc.). É coordenado por psicanalistas que propoem atividades como jogos, música, escrita, encenações, rodas de conversa, entre outras, formando assim um campo de linguagem que permite a circulação da diversidade. Em nossa pesquisa, pretendemos investigar a constituição da imagem corporal em crianças com graves questões psíquicas (autismo e psicose infantil) e os efeitos que o trabalho em grupo, tal c omo proposto nessa instituição, produziu. Parte-se da hipótese de que uma criança que apresentou certa interrupção na constituição da imagem corporal no início da vida, como as crianças autistas, pode retomar seu desenvolvimento, a partir da transferência estabelecida com os adultos psicanalistas e com as outras crianças do grupo. Seria esta retomada facilitada em um campo de linguagem que possibilite e invista em mudanças na relação com o saber, um saber que não tira do objeto seu fundo de ausência? Ao propormos acompanhar os movimentos das crianças em um dispositivo de trabalho que oferece um campo de linguagem heterogêneo, construído sob transferência, temos como objetivo permitir que as crianças vivenciem, mesmo que temporariamente, incursões por lugares discursivos inéditos para elas. Teriam tais vivências força e potência para propiciar a retomada da construção da imagem corporal? De acordo com Charlot (2000), a relação com o saber é sempre uma relação social, que envolve os diversos discursos que permeiam o sujeito. O lugar da psicanálise na pesquisa iRDI Maria Eugênia Pesaro Maria Cristina Machado Kupfer Instituto de Psicologia / USP [email protected] Dentro da temática do Colóquio do Lepsi “o declínio dos saberes e o mercado do gozo” cabe bem discorrer sobre uma pergunta que permeou a Pesquisa Multicêntrica de Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil (Pesquisa IRDI): Ao propor a validação de indicadores por meio de uma pesquisa quantitativa, o Grupo Nacional de Pesquisa (GNP), constituído por psicanalistas, acabou por ceder ao discurso científico hegemônico promovendo o que se pode chamar de uma experimentação da psicanálise? A resposta a essa pergunta é negativa. Apesar da Pesquisa IRDI propor a articulação de dois métodos distintos e antagônicos, o experimental e o clínico, já que o método experimental não permite o estudo da singularidade do sujeito e da sobredeterminação dos fenômenos psíquicos, alguns princípios caros à psicanálise foram mantidos, dentre eles, a noção de sujeito do inconsciente e a irredutibilidade do discurso psicanalítico ao discurso científico. Considera-se que na Pesquisa IRDI o método clínico foi utilizado para a construção dos indicadores, para sua transmissão aos pediatras e nas avaliações psicanalíticas realizadas nas crianças aos três anos para o estabelecimento do desfecho clínico. Em contraposição, o delineamento do estudo e a validação dos indicadores seguiram a metodologia experimental. Após o entrelaçamento entre esses dois métodos, a pesquisa IRDI manteve-se orientada pelos princípios da psicanálise, entendida 38 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy como uma ciência construída no campo das ciências da linguagem, Propõe-se, portanto, considerar que a utilização de diferentes métodos não se contrapõe à semiologia psicanalítica, considerada como semiologia da linguagem. A psicanálise não é uma só modalidade de investigação e sua referência metodológica não é única. Essa diversidade e heterogeneidade constitutiva colocam a psicanálise em posição de interagir com as demais disciplinas e progredir por meio dessa diversidade e heterogeneidade de fontes,. Pode-se dizer que metodologia de uso dos indicadores na Pesquisa IRDI fez uma mediação entre o método clínico e o experimental sem descaracterizar a psicanálise. Considera-se, portanto, que essa Pesquisa tem o mérito de conseguir uma tradução do fazer psicanalítico sem se curvar à linguagem médica e a sua epistemologia. Aponta-se o esforço da pesquisa IRDI para manter um lugar para o sujeito infantil na modernidade, para defender uma forma de cuidar do sofrimento psíquico dos bebês e como uma tentativa de estabelecer e demonstrar tendências de alguns fenômenos psíquicos para que eles pudessem ser inseridos numa prática diversa da psicanalítica. Sessão 11 - Clínica e Tratamento II Inibição na escrita num adolescente e sua transferência com o Outro Isael de Jesus Sena Universidade Federal da Bahia [email protected] Maria de Lourdes Soares Ornellas Farias Universidade do Estado da Bahia [email protected] A pesquisa teórica-clínica do Curso de Especialização em Teoria da Clínica Psicanalítica pela Universidade Federal da Bahia visa analisar a inibição na escrita num caso clínico de um adolescente e o modo como este estabelecia a sua transferência com o Outro. Para tanto foi necessário identificar a inibição, observar a transferência e analisar as contribuições da psicanálise. O problema dessa pesquisa consiste em interrogar qual lugar e posição a inibição na escrita num adolescente e sua transferência com o Outro poderia avançar o seu processo de ensino e aprendizagem? O estudo permitiu desvelar que o desejo de saber no adolescente fica inibido quando existe alguma demanda que exige que o mesmo deve aprender, por isso a inibição se apresenta como uma defesa. Por outro lado revelou também que a letra representa o recalcado da infância. Quando a criança apresenta alguma inibição na escrita isso demonstra também algum impasse entre a representação figurativa e o valor psíquico. A metodologia da pesquisa baseou-se nos instrumentos da observação e a entrevista de um caso clínico de um adolescente de 11 (onze) anos encaminhando por uma escola pública localizada no litoral norte da Bahia. Optou-se por um caso por considerar que a profundidade e a problematização das questões suscitadas possibilitam um “mergulho” na teoria articulando-a com a clínica, uma vez em que esta parte do um na tentativa de aceder ao múltiplo. A reflexão está baseada em Freud e Lacan e outros autores que derivam dessa vertente psicanalítica. As contribuições de Freud para o debate so- Freud apresentou diferentes concepções sobre a educação, por vezes, criticando-a como desencadeadora da neurose, ou aproximando-a da bre educação e inibição intelectual psicanálise enquanto profissão impossível. No texto sobre os Três EnMaira Sampaio Alencar Lima Universidade de Fortaleza saios sobre a teoria da Sexualidade, Freud lançou os alicerces de temá[email protected] ticas importantes como a sublimação, o desejo de saber e a sexualidade Maria Celina Peixoto Lima infantil. Nesta obra, ele relaciona as pesquisas infantis à curiosidade Universidade de Fortaleza sexual entrelaçando desejo de saber e sexualidade. A educação passa [email protected] a ser citada em diversos textos, ora enquanto prática pedagógica, ora 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 39 estando relacionada ao campo clínico. Tal aproximação com a clínica destaca a repressão da curiosidade sexual infantil, feita pela educação, como força motriz para a inibição do pensamento. Este trabalho visa: Apresentar o pensamento freudiano sobre a inibição intelectual e destacar a relação freudiana entre inibição, educação e sexualidade. Diante desta contextualização é possível concluir que as saídas apontadas para a curiosidade sexual, quais sejam: a inibição neurótica, as pesquisas como uma atividade sexual e a sublimação da libido associada a pulsão de saber, ocorrem de acordo com os desdobramentos do Complexo de Édipo. Tais saídas demonstram uma aproximação entre sexualidade e o desenvolvimento intelectual. Em 1908, Freud afirma que a educação tem um papel fundamental na inibição do pensamento, pois a repressão da sexualidade traz como resultado a debilidade do pensamento. Posteriormente, ele fundamenta tal assertiva ao explanar que a debilidade tem o intuito de causar uma autopunição, evitando o conflito entre o ego e o superego. Assim, observa-se que uma das contribuições da psicanálise para o campo educacional é um novo olhar sobre o problema da debilidade do pensamento, e a relação desta com o desenvolvimento da criança e a sexualidade, o que tira a problemática do campo orgânico e a lança no plano do psiquismo. Período de Latência e Tempo para Compreender nas Aprendizagens Crístia Rosineiri Gonçalves Lopes Correa Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] Glaúcia da Silva Pinheiro Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] 40 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Se Lacan(1959)assinala que trata-se em Hamlet, de uma paralisação dele diante do seu ato, poderíamos pensar a inibição neurótica como uma paralisação no tempo para compreender.Pois o tempo para compreender é uma das etapas lógicas de todo processo de assimilação humana.Uma etapa lógica que antecede e apóia a urgência do momento de concluir que arranca o sujeito da inibição para que ele possa seguir adiante e fazer ato na vida.Consequentemente, importa-nos aqui extrair a seguinte questão:se de um lado, é possível pensar a inibição intelectual como uma paralisação no tempo para compreender, de outro é possível concluir que a inibição enquanto um dado de estrutura diz de uma vivência do tempo para compreender nas aprendizagens?É possível concluir por uma estrutural vivência da inibição própria do tempo para compreender antecedendo e apoiando o ato conclusivo do aprender?Torna-se fundamental perguntarmos, à luz da segunda tópica, pela latência que Freud nos “Três ensaios” reivindicou estar ligada à inibição.Ora, se por um lado não encontramos em “Inibição, Sintoma e Angústia” menção explícita a essa noção cara nos “Três ensaios”, por outro encontramos em “Moisés e o monoteísmo”uma abordagem da latência da qual podemos extrair consequências.Freud avança nessa questão, ao abordar as dúvidas, a hesitação e a resistência como próprias do período de latência que passa a não mais ficar circunscrito entre o quinto ano de vida e a puberdade.Chama-nos atenção mesmos significantes usados por Freud para falar da latência nesse texto e por Lacan no seu escrito sobre o tempo lógico.Pensamos então que a latência a partir das consequências extraídas desse texto aproxima-se do tempo para compreender do qual nos fala Lacan.Portanto, pensamos que é possível concluir pelo lugar estrutural da vivência da inibição própria do tempo para compreender nas aprendizagens.Vivência que antecede e apóia o conclusivo ato de aprender e o usufruto dessa aprendizagem. Sessão 12 - Clínica e Família E quando a própria criança pede atendimento aos pais? Sueli Pinto Minatti Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP [email protected] Na história do manejo clínico no tratamento psicanalítico com crianças, o atendimento em instituição em que os pais estavam ausentes permitiu estabelecer um marco no que diz respeito à consideração da criança, para além das figuras dos pais, o que permitiu desdobramentos para pensar e rever os aportes sobre a criança enquanto sujeito. No entanto, quando os pais estão presentes, que eles a levem para os atendimentos, tem sido considerada uma especificidade intrínseca ao tratamento com criança. Trataremos de um caso clínico, em atendimento em instituição que atende a família por tempo muitas vezes longo, em que a criança traz a mãe para atendimento. Por meio do relato e análise deste caso clínico pretendemos evidenciar, formas de mobilidade dentro da estrutura familiar, diante de situações emergenciais, pelas respostas do sujeito e seus efeitos, dentre os lugares ocupados por cada um dos seus elementos. A análise do caso pela dialética teórico-clínica junta-se à movimentação de pensamentos sobre a localização da criança como sujeito, acompanhando pelas formas de suas demandas, a função do desejo e a limitação do gozo. O resultado primeiro, neste caso, foi a aproximação da mãe ao tratamento do filho, e aos cuidados necessários a ambos diante de situação de terminalidade deste. Consumo de conhecimento e inapetência de saber: efeitos de um discurso contemporâneo sobre a educação nas famílias. Cristina Keiko Inafuku de Merletti Lugar de Vida - Centro de Educação Terapêutica [email protected] O trabalho de Ariès resgata historicamente as mudanças de ideários sociais sobre a criança, a família e a educação. Na Idade Média a criança vivia e aprendia em meio aos adultos. No final do séc. XVII ela passará a assumir lugar potencial de ascendência econômica da família, recebendo sua atenção e cuidados. A escola surge como instituição poderosa, encarregada de transmitir e preservar nas crianças uma moral, associando-se à família, encarregada de preservar sua saúde e disciplina. Família e Escola compactuam com os objetivos do poder do Estado caminhando na direção da educação moderna. A sociedade passa a se preocupar com o “sucesso” de seu sistema educacional, visando um bom “desenvolvimento” de seus indivíduos. Surgem as novas ciências que se ocuparão da criança, pequeno indivíduo, que deverá desenvolver todas as suas potencialidades e competências. Com o surgimento da Pediatria, da Pedagogia e da Psicologia, consagraram-se também os problemas, as “incompetências” e os fracassos na infância. Os saberes destas disciplinas serão transmitidos aos pais por meio de uma vasta literatura disseminada no discurso científico contemporâneo. Conhecimentos com valor de uso prático e de aplicabilidade imediata, desejados e comprados pelos pais em prol de um sucesso e da felicidade de suas crianças e de si mesmos. Assim como as crianças e o conceito de infância e educação têm sofrido efeitos dos discursos ao longo da história, os pais têm também sofrido os efeitos de um discurso contemporâneo sobre suas funções, suas responsabilidades e suas obrigações nos cuidados com seus filhos. São destituídos e ao mesmo tempo delegam seu saber sobre a criança que trouxeram ao mundo. O saber parental, construído e transmitido a partir dos laços familiares singulares a uma origem e tradição cultural, fica perdido. As famílias passam a “consumir” conhecimentos para ensinar seus filhos, sofrendo a inapetência de saber sobre eles e aprender com eles. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 41 Cuando el saber sobre la familia interviene Ivana Velizan Flacso [email protected] ¿De qué hablamos cuando hablamos de familia? Podemos tomar a la familia como un particular modo de establecer lazo, que hoy aparece bajo un nuevo estatuto, ya que asistimos cada día más, a nuevas formas de configuraciones familiares. Para tomar algún analizador, vayamos a las escuelas u otras instituciones educativas en las que trabajamos, y aquellos dichos y decires que escuchamos sobre las familias: “Ese chico es violento… y con ese padre que tiene no se puede esperar otra cosa”, “esa chica está dispersa, y… los padres se están separando”, “A tal alumno no le interesa nada… nos enteramos de que el padre es borracho” ¿Qué nos dicen estos enunciados? Diremos que poco en relación con ese chico o ese alumno. Son enunciados que no dicen nada del sujeto en cuestión. ¿Sabemos sobre lo que le sucede al alumno/a? ¿Qué situación generó en ese chico dicha agresión? ¿En qué momento esa chica se dispersa? ¿En qué materia ese adolescente se muestra desinteresado? No tenemos los enunciados para escuchar lo que ese sujeto dice que le sucede. Nada sabemos acerca de lo particular que le concierne. Tenemos los dichos de aquellos que hablan de él. ¿Será cuestión de desfamiliarizar a esos alumnos, para recuperar algo del sujeto que se esconde tras esos enunciados? Muchas veces esas identificaciones fortalecen al sujeto en esa posición en la que lo encontramos, sin permitirle algún movimiento para su vida. Quizá se tratará de debilitar el saber sobre lo familiar, para que ese conglomerado que pareciera decirlo todo pueda abrir líneas de abordajes. El sujeto se pregunta por su deseo más allá de los significantes que le vienen del Otro. Lacan en su Seminario XI vuelve a considerar en su enseñanza las relaciones del sujeto con el Otro, y es a través de los conceptos de “alienación” y “separación” e introduciendo la cuestión del objeto a. Ilustramos el concepto de alienación y separación con el juego de repetición del Fort-Da, ya que nos parece que puede ampliar sobre aquellas apariencias respecto de algunos saberes sobre las familias de los alumnos. Sessão 13 - A infância, as crianças e os adultos I Pais, escola, especialistas: quem sabe sobre a criança? Tania Maria Asturiano de Campos Rezende Jacarandá Berçário e Educação Infantil [email protected] 42 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Na relação entre profissionais da escola e da clínica, junto com os pais de uma criança com problemas, confluem diferentes saberes, de modo ora convergente, ora conflitante. Afinal, quem é que conhece de verdade a criança? O que se pode saber de uma criança? Essas são algumas das questões que permeiam o trabalho dos profissionais da infância e que serão levantadas sob a perspectiva escolar, supondo que seja possível conciliar esses diferentes saberes para compor um quadro ou uma cena. Tanto a família quanto a escola costumam paralisar diante dos impasses que se enfrentam diariamente quando a criança apresenta algum distúrbio de constituição subjetiva ou física. A criança ocupa diferentes posições e muitas vezes acaba por “desaparecer” em meio aos discursos familiares, institucionais e dos especialistas. Para que se possa retomar o movimento e garantir espaço para o surgimento da criança-sujeito, é fundamental superar a rivalidade entre os envolvidos e potencializar a confluência de saberes, sem que se anulem e tampouco que pretendam ser complementares. Cada um tem uma visão diferente e é muito comum que cada qual re- sista a aceitar um outro ponto de vista, criando um verdadeiro jogo de “passar a bola adiante”, no qual a criança termina por ficar abandonada e aprisionada entre rótulos. Os encontros, reuniões e entrevistas entre orientadora da escola e pais e orientadora e clínicos podem virar armadilhas para encontrar um culpado, mas também podem ser oportunidades de se ampliar os horizontes. Quando os saberes se encontram, não se complementam ou se encaixam como peças de quebra-cabeça, mas como cacos de um mosaico em construção, com os quais também se formam figuras e belas paisagens, mas não de um modo pré-determinado e sempre com brechas. A clínica psicanalítica com crianças e a educação Júlia Carolina Bosqui Universidade Estadual de Maringá [email protected] Viviana Velasco Martinez Universidade Estadual de Maringá Este trabalho tem como objetivo discutir as relações entra a clínica psicanalítica com crianças e a educação. Sabe-se que são muitos os encaminhamentos de crianças oriundas da escola para os consultórios psicanalíticos atualmente. Também nota-se um grande aumento da medicalização e a proliferação de diagnósticos para aquelas que apresentam condutas consideradas inadequadas no âmbito escolar. O encontro entre a clínica psicanalítica de crianças e a educação, longe de se apresentar como uma polêmica atual, é uma temática que atravessa diversos pontos da teoria psicanalítica: surge na discussão freudiana sobre a criança, no debate entre Melanie Klein e Anna Freud, e nas demandas clínicas atuais. Parece, portanto, um ponto que todo analista de crianças deve considerar, dada a concepção cultural de criança a ser educada, na qual o profissional também está inserido, e principalmente, na relação entre educação e recalque, o “furor pedagógico” que nos leva ao conceito de infantil. O que a educação atual parece trazer de novo aos analistas é a prevalência de diagnósticos neurológicos e a crescente medicalização da infância. Estaria essa tendência situada junto com o também crescente aumento do uso de antidepressivos e ansiolíticos, por parte dos adultos, como formas de silenciar a angústia e o sintoma? O debate que a psicanálise lacaniana propõe a respeito do sintoma na criança e da criança como sintoma poderia trazer outra saída para essas questões, que não fossem o silenciamento da criança. Mas como o psicanalista poderia se posicionar diante dessas demandas oriundas da escola? Veremos como a relação do psicanalista com a educação depende do entendimento de uma posição peculiar da psicanálise sobre a criança, não apenas como objeto, mas sim como uma criança sujeito. A sexualidade infantil e o desejo de saber: a origem da atividade intelectual nas crianças Andréia Tenório dos Santos Universidade de São Paulo [email protected] / andreiaterra@usp. br Com freqüência, seja no ambiente escolar ou familiar, é possível deparar-se com crianças desejosas de saber e, por conseguinte, com seus infindáveis “porquês”. De acordo com Sigmund Freud, qualquer que seja a pergunta que uma criança faça, ela será sempre a das origens! “De onde vêm os bebês?” é para Freud a grande pergunta, pois é a que põe em marcha o pensamento infantil. Para ele, a chegada de um novo bebê na família produz uma grande angústia numa criança a ponto de impulsioná-la a pensar. É destas postulações freudianas que parte esta pesquisa. Ela se insere na interface Psicanálise e Educação e busca realizar um estudo sobre o movimento de uma criança rumo ao conhecimento. Trata-se de uma investigação de natureza conceitual e reflexiva, realizada a partir da leitura de textos de Sigmund Freud, de comentadores e re-leitores de sua obra, e de produções acadêmicas (artigos científicos, dissertações e teses) que colaboram na compreensão das condições de possibilidade da curiosidade infantil. Este trabalho investiga como 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 43 se configuram os processos de pensamento, estabelecendo para isso uma articulação entre sexualidade, desejo e conhecimento. Esta articulação vai ao encontro da tradição psicanalítica que pensa o fenômeno da curiosidade infantil e da busca de conhecimento como algo não-natural, como algo que não é inato, mas que se constitui no confronto do sujeito com sua sexualidade e seu desejo. O que só é possível graças à interveniência dos mais velhos (os adultos) sobre os mais novos (as crianças), ou seja, de uma necessária relação do sujeito infantil com os outros, no cerne da qual ele se confrontará com a sexualidade e o desejo. Sessão 14 - A infância, as crianças e os adultos II El niño y el Otro Ana Carolina Ferreyra FLACSO [email protected] “ De repente se acordó de cuando Tolia había cumplido tres años; por la tarde, bebiendo té y comiendo pastel, le había preguntado: -Mamá, ¿por qué está oscuro si hoy es mi cumpleaños?” Vasili Grossman: “Vida y destino” El psicoanálisis nos enseña que el niño nace, pero al sujeto hay que producirlo, y el sujeto se produce en relación a un Otro. Sabemos que el 80% de la población mundial vive en estado de pobreza y que los datos sobre la infancia actual son: Número de niños y niñas en el mundo: 2.200 millones. Número de niños y niñas en los países en desarrollo: 1.900 millones Número de niños y niñas que viven en la pobreza: 1.000 millones - uno de cada dos niños(Consultado en :http://www.unicef.org/voy/spanish/explore/sowc/explore_1653.html (agosto/2010) La Convención de las Naciones Unidas sobre los Derechos dela infancia fue aprobada en 1989, pero a los niños, ni seles permite ejercer activamente algunos de sus derechos ni pueden reclamar su cumplimiento. Siempre dependen de un adulto que se disponga a reclamar y ejercer por ellos /as. Se añora la escuela de la modernidad dado que era el Estado-Nación como metainstitución quien otorgaba el sentido de la misma. Hoy el Estado se muestra ineficaz para instituir dispositivos estructurantes de una subjetividad genérica, lo que hace pensar en el cuestionamiento del carácter universal de la humanidad (Corea, C.; 2008) Vivimos en una civilización del consumo y del descarte en la que todo saber aprendido viene con fecha de vencimiento (Vasen; 2008 ) En el presente trabajo intentaremos bordear la caída del saber y su cambio de estatuto en la relación del sujeto al Otro, a partir del análisis de algunas viñetas de la práctica “socio-educativa”. A função do educador em uma Casa-lar: reflexões acerca de uma prática Gabriel Bartolomeu Programa de Acolhimento Institucional Modalidade Casa Lar - “Casa da Alegria” [email protected] A Casa-lar é uma modalidade de acolhimento institucional para crianças e adolescentes afastados do convívio familiar. Neste trabalho, apresento uma reflexão acerca de minhas atividades como educador neste contexto de atendimento: promoção de experiências culturais e sociais que tornem possível o processo de subjetivação. Assim, o educador caracterizase como aquele que deve militar pela inserção social dos sujeitos, sendo suas intervenções de caráter educativo. Ele fala e responde de um lugar: daquele que pretende oferecer aos educandos a possibilidade de se constituírem enquanto sujeitos responsáveis socialmente. Ele exerce sua função com os educandos na cotidianidade: na hora de acordar, do café, de escovar os dentes, de tomar banho, de ir à escola, do educando sair de casa com os amigos ou namorado (a). Para tanto, seu posicionamento 44 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy e intervenções devem sempre referir-se à Lei, sendo entendidos como possibilitadores de organização dos discursos e produção cultural, aliado a significantes que remetam à necessidade de suportar o mal-estar inerente a todas as relações objetais – ponto nodal no suporte à falta e movimento desejante. O educador produz falas que apontam para uma maneira positiva de lidar com a falta, apontando para futuras ou outras gratificações, quando possível. E, também, tal profissional – e toda a equipe – precisa atentar para o risco de se colocar como um Outro absoluto, esquivando-se de tomar os adolescentes como puro objeto de gozo: dorme a hora que eu quero, come o que eu quero, faz o quê e quando eu quero. Já que é de suma importância que a Casa-lar – mesmo frente aos limites inerentes a este tipo de instituição – seja um espaço para o exercício do desejo, do querer enquanto produtor de subjetividade. Mãe Social: profissão de agenciamento de Pretende-se por meio da teoria da psicanálise pensar o cuidar, educar e discurso? a função materna na profissão de Mãe Social. Para isso serão utilizados Paula Moreau Barbosa de Oliveira textos sobre educação em relação ao ensinar do professor ao aluno, sobre USP o cuidar na creche com os bebês bem como sobre os quatros discursos [email protected] de Lacan para, após, fazer uma ponte possibilitando refletir sobre essa profissão de Mãe Social. Nas duas situações acima, tanto de professor como o cuidador da creche, supõe que as crianças e os bebês, com os quais trabalham, têm pais, os quais ocupam suas funções, ficando encarregado aos profissionais exercerem seu ofício. Objetivamente haveria uma separação quanto à descrição de papéis, auxiliando e lembrando muitos desses profissionais quanto a seu lugar. Mas, como a Mãe Social, em sua profissão, faria essa separação sendo que, muitas vezes, cuida de crianças sem pais instituídos? Isso leva a questão central desse trabalho: como conciliar função de educador e cuidador, dimensão social, com a de mãe, âmbito privado, na profissão da Mãe Social? Sessão 15 - A psicanálise e a função docente I Enodam-se os nós: o real, o simbólico e o imaginário no fazer do coordenador pedagógico Poliana Marina Mascarenhas de Santana Universidade Estadual de Feira de Santana [email protected] “Enodam-se os nós: o real, o simbólico e o imaginário no fazer do coordenador pedagógico” é um estudo que pretende escutar sobre as demandas do coordenador pedagógico na contemporaneidade, analisando como este profissional percebe esse fazer, seus furos, faltas e afetos com relação a si mesmo e ao outro, na tentativa de enredar o nó borromeano para expressar na sua práxis de que jeito o real, o simbólico e imaginário estruturam o sujeito ensinante e aprendente. O marco teórico desse estudo funda-se em alguns pressupostos da teoria psicanalítica e em autores que discutem sobre o coordenador pedagógico. A metodologia aplicada é a abordagem qualitativa, e os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a observação, entrevista e o desenho. Os sujeitos foram oito coordenadores do ensino fundamental, de ambos os sexos, com idade entre 28 e 47 anos, da rede pública dos municípios de Salvador, Feira de Santana e Riachão do Jacuípe. Após a leitura do material de coleta algumas categorias de análise foram levantadas, o que contribuiu para aprofundar as análises. As possíveis conclusões demonstram o desejo do coordenador em (re)construir cotidianamente a sua forma de ver seu fazer, na busca de enodar os nós do cotidiano educativo e trabalhar o real, Simbólico e Imaginário com os professores, com vistas a reconhecer à impossibilidade, nomear, especular seu ato mesmo que esteja na ordem do gozo. Dessa forma, é preciso constituir o fazer do co8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 45 ordenador pedagógico de maneira que na sua práxis tenha possibilidade de escutar o professor na sua castração e criação. Memória Educativa e Formação Docente - o lugar ou (não) lugar dos saberes nas investigações orientadas pela psicanálise. Adriana Pereira Bomfim Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC EAD - BA [email protected] Márcia Barra Milhomens Chauvet Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal - SEEDF. [email protected] Este trabalho é resultante de duas pesquisas de mestrado, já concluídas, que investigaram os possíveis efeitos que a leitura psicanalítica pode trazer à formação de professores, em especial aqueles que trabalham com crianças e adolescentes fora do suposto padrão de normalidade – com algum tipo de deficiência e em situação de risco social. Neste sentido, discutiu-se, a partir dos relatos escritos dos docentes como a presença do saber inconsciente pode influenciar e interferir no saber-fazer pedagógico, bem como nos saberes instituídos, fruto de uma formação cartesiana e tecnicista, que despreza a dimensão subjetiva, inerente ao ato educativo. Nas investigações, a Memória Educativa foi o principal dispositivo de pesquisa, onde elementos subjetivos emergem, revelando os lugares e (não) lugares ocupados pelo saber, sobretudo o inconsciente, nas trajetórias de vida e formação profissional dos educadores. Por conseguinte, foi possível perceber, a partir dos escritos docentes, o que conduziu a escolha pelo trabalho com estes alunos, em especial, o que os mantém neste lugar repleto de saberes desconhecidos, que os incomoda, cotidianamente, mas que também os instiga ao convívio diário com saberes, ora desconhecidos, ora familiares, na tentativa de tamponar uma falta que não cessa de se inscrever. A leitura psicanalítica, que orientou as pesquisas, (re)vela os prazeres e desprazeres que mantém estes educadores em contato permanente com saberes incontroláveis e desconhecidos, divergentes das concepções que sustentam sua formação profissional, impregnada de certezas e saberes absolutos, distantes da realidade presente em suas salas de aula. Das memórias educativas: a emergência da história singular do professor e sua relação com o saber Inês Maria Marques Zanforlin Pires de Almeida Universidade de Brasília [email protected] ...foi então que passei a buscar naqueles professores sem vida, sem graça, o que deles eu poderia absorver para essa escolha – busquei a identificação. Mas era sempre tudo muito confuso..Meus professores eram “conhecimentos” ambulantes e sem humanidade, por isto minhas lembranças sejam tão associadas às disciplinas. Quando o professor se mostrava humano e sensível desenvolvia empatia por ele e, pelo menos por algum momento, conseguia entender o que ela estava falando” ( mestranda/FE/2010) Há mais de 10 anos, estudos e pesquisas já realizadas e/ou em andamento, utilizando a elaboração da memória educativa como dispositivo de enunciação mínima dos sujeitos professores em formação inicial ou continuada, permitem-nos pensar o quanto na história singular do sujeito possa ocorrer também a emergência de sua relação com o saber. Neste sentido, o texto ora proposto para além de reconhecer a importância e validade da narrativa sobre seu percurso de formação escolar, busca a leitura (des)velada de sua relação com o saber reconhecendo-a como possibilidade de compreensão acerca do valor atribuído ao conhecimento: de uso e/ou de troca? A evolução do conceito de memória ocorre de maneira correlata à evolução da psicanálise. A noção de memória para Freud está presente em seus trabalhos desde 1891, mostrando como ela age na base da causalidade psíquica, como produz e organiza o presente e a sua dependência ao aspecto pulsional envolvido, ou seja, é atributo essencial do aparato anímico. No Projeto para uma Psicologia Científica ( 1895) apresenta-a como o poder que uma vivência possui de continuar produzindo efeito. 46 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Não é estática, é diferencial, pois os traços, de tempos em tempos, submetem-se a reordenamentos e retransmissões. Enfim, o inconsciente “lateja” constante e ativamente na psique humana. Assim, compreendemos que nas trilhas das memórias educativas talvez possamos encontrar marcas que evidenciem afinal sob que império os educadores estão se constituindo no processo de sua formação: dos saberes e/ou do mercado do gozo? Sessão 16 - A psicanálise e a função docente II A aplicação da psicanálise à educação pensada a partir da proximidade entre tratar e educar – um retorno a Freud Camille Apolinario Gavioli [email protected] Tomar o viés genealógico para fazer um percurso que aborde as relações entre tratar e educar em Freud parece ser uma via interessante para discutir a maneira como a questão da aplicação da psicanálise é entendida hoje. Neste caminho, a questão da proximidade entre tratar e educar fica evidente. Contudo, frequentemente, ela acaba rechaçada enquanto característica que marca esta relação, e o que se constata são leituras que sublinham a diferença entre os campos. Quais as conseqüências disso para a questão da aplicação? Psicanálise e educação e a formação do pedagogo André Júlio Costa Universidade Federal de Viçosa [email protected] Maria Veranilda Soares Mota Universidade Federal de Viçosa [email protected] O objetivo do presente trabalho é analisar a importância da Psicanálise para a formação docente nos cursos de Pedagogia. Partimos do pressuposto, que o pedagogo é o profissional responsável pela educação de crianças e que, esse poderia fazer uso das teorias psicanalíticas para uma reflexão da sua prática. No entanto, identificamos, a partir de uma análise dos cursos de Pedagogia, das principais universidades brasileiras, que a Psicanálise é, na maioria das instituições pesquisadas, trabalhada somente como um tópico dentro da disciplina Psicologia da Educação. Para entendermos melhor como acontece o estudo dessa temática, buscamos, por meio de entrevistas com professores do curso de Pedagogia, responsável pela disciplina em referência, confrontar os estudos que apontam a Psicanálise como elemento necessário para a prática pedagógica e a dinâmica do ensino desta na Pedagogia. Concluímos que o tempo dedicado aos estudos das idéias psicanalíticas é consideravelmente curto, não sendo possível desenvolver o conteúdo previsto; que a psicanálise ajuda na escuta do professor ao que o aluno traz, evitando julgamento moral; que a visão psicanalítica pode mostrar ao professor que não é somente ele o responsável pela detenção do conhecimento; que os estudos de Freud atraem o interesse dos estudantes de Pedagogia, apesar de não objetivar a utilização da Psicanálise para a prática docente, e sim para compreensão da vida pessoal; que os alunos da pedagogia não percebem como as idéias psicanalíticas podem possibilitar uma reflexão da sua prática, no processo de interação com o aluno, com a família, aluno- aluno, além de ajudar na compreensão da sexualidade e problemas de aprendizagem. Esta pesquisa mostra que a Psicanálise pode contribuir com a formação do pedagogo e, principalmente, no desenvolvimento da ética desse dentro da sua docência. Sendo assim, ao refletir o curso de formação de pedagogos é importante considerar questões apontadas nesse trabalho. O efeito-professor e sua transmissibilidade Raquel Antunes Scartezini Universidade de Brasília [email protected] O debate sobre a qualidade da educação tem se estendido em nível mundial e determina a posição das nações no mercado internacional. Este processo pode ser conferido através do PISA, avaliações internacionais que diagnostica o nível de desenvolvimento em educação de 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 47 cada país. Paralelo ao movimento das avaliações internacionais, os países, preocupados em monitorar seus resultados, passaram a avaliar a si mesmos. Estes sistemas de avaliação têm em comum a metodologia utilizada (Teoria de Resposta ao Item), o que permite que os seus resultados possam ser comparados entre si e entre diferentes edições. Paralelamente à avaliação das habilidades requeridas em cada segmento, também são aplicados questionários aos alunos, professores e diretores com o objetivo de identificar fatores associados aos resultados dos alunos que possam indicar onde os sistemas de ensino, escolas e professores estão errando, bem como, indicar fatores que promovem um melhor desempenho dos estudantes. É neste contexto que vem sendo indicado nos relatórios de fatores associados destas avaliações que há algo que ocorre na sala de aula que é capaz de promover resultados superiores de aprendizagem. Na literatura de avaliação educacional tem sido frequentes os debates acerca do efeito-escola e efeito-professor. Tem sido discutido por pesquisadores da área de educação (economistas, psicólogos, sociólogos e pedagogos) que o comportamento do professor em sala de aula é determinante nos resultados de suas turmas. Faz parte do debate a constatação de que os programas de formação continuada de professores não tem atingido os resultados esperados. Conjectura-se que o efeito-professor pode ser a grande descoberta a ser aplicada nos programas de formação de professores. Debate-se que há que se descobrir o que se passa em sala de aula, para então, retransmitir este conhecimento para os futuros e atuais professores e, dessa forma, elevar o nível de aprendizagem dos alunos. Inquietos com tais constatações e discussões, investigamos o referido efeito-professor. Nosso objetivo é tentar esclarecer algumas questões: O que é o efeito-professor? É possível identificá-lo, isolá-lo e transmiti-lo para que outros professores possam apreendê-lo e reproduzi-lo? Em outros termos: O efeito-professor pode ser transmitido nos cursos de formação de professores? Sessão 17 - A psicanálise e a função docente III Enseñanza de la Historia y el lugar del futuro Sonia Bazán Universidad Nacional de Mar del Plata- Argentina [email protected] 48 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Enseñar Historia Contemporánea y más específicamente, Historia Reciente sitúa a los docentes ante la posibilidad de usar múltiples fuentes e información. Junto a la cantidad de recursos podría evaluarse positivamente, no puede dejar de considerarse la inclusión de una custodia pedagógica por parte del docente. Es el educador quien diseñará y preanunciará los caminos a recorrer con los adolescentes, quien presentará situaciones movilizadoras y en las que se pondrá en juego la perspectiva de una enseñanza que involucre valores ajustadamente asociados a los contenidos a aprender. En esa selección y ante el desafío de generar una enseñanza no depositaria y que involucre a los estudiantes desde un rol participativo e incluso emocional, somos las profesoras y profesores quienes diseñaremos la propuesta y elegiremos la estrategia de enseñanza. Ante el objetivo de lograr aceptación y de involucrar a los/as estudiantes se han propiciado a veces ejercicios de empatía. Este recurso es altamente discutible y proponemos en esta ponencia algunos ejemplos de aplicaciones erróneas de ejercicios empáticos así como opciones, que sin pretender ser definitivas, nos permitirán discutir procedimientos que promuevan una enseñanza que sea respetuosa de la Historia, del derecho de conocer la verdad y promotora de una formación en valores que prioricen la determinación y autonomía de la condición humana. La enseñanza de la Historia contemporánea y más aún de la historia reciente, desafía a los docentes a promover una enseñanza que abra posibilidades de futuro y no que las obture ante los mensajes de destrucción y fracasos continuos de los que está plagado el relato histórico y asimismo el relato de los libros de texto. La cuestión es considerar que esos y esas estudiantes necesitan percibir atisbos de esperanza, de impulsos de vida y no de permanente destrucción ante los temas a indagar. ¿Qué promovemos al proponer los temas de estudio? ¿La opción de la destrucción y el enrostramiento del fracaso del proyecto de la modernidad y la decepción de la civilización promovida por el positivismo? O mostramos cuán equivocada puede estar la humanidad y las opciones que se presentaron y que no se eligieron. El futuro no puede ser obturado a los jóvenes como tampoco puede negarse el nivel de responsabilidad a desarrollar ni el peligro ante una educación superficial y desprovista de la ideología que apueste por la vida y el desarrollo pleno de los seres humanos. Contribuições da Psicanálise: um estudo sobre a condição docente e o medo na sala de aula Maria Lígia Pompeu Faculdade de Educação / Unicamp [email protected] Ana Archangelo Faculdade de Educação / Unicamp [email protected] O professor brasileiro, especialmente o que atua no ensino público, está cada vez mais sozinho, exercendo sua profissão em um cenário inseguro e, na maioria das vezes, violento. Levando em consideração este cenário, esta pesquisa, realizada em uma escola pública no interior do Estado de São Paulo, teve como objetivo compreender a presença da emoção medo no interior da escola, utilizando para isso, os referenciais da psicanálise kleiniana. Um dos aspectos centrais encontrados nessa pesquisa foi o medo que os professores sentem de perder o controle em sala de aula, revivendo em fantasia, mecanismos e ansiedades arcaicas, de natureza paranóide. Tais ansiedades, levam o professor a sentir um medo persecutório muito intenso e seu ego em pedaços, correspondendo à ideia de desintegração. Além disso notou-se que os professores não encontram mais uma rede simbólica de sustentação para cumprir o seu papel social, bem como encontram na própria instituição escolar, poucas formas de acolhimentos de suas emoções. A pesquisa procurou mostrar a necessidade desse cuidado emocional, bem como a compreensão de um inconsciente que é ativo e presente na vida de todos os professores. A sociedade da vergonha e a (des) construção da subjetividade docente Raquel Braga Franco Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Bárbara Oliveira Paulino Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Marcelo Ricardo Pereira Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Como os professores constroem suas subjetividades em um mundo que desautoriza sua função? Vivemos mesmo um declínio de uma sociedade baseada na culpa em detrimento de uma baseada na vergonha? Para responder, partimos de pressupostos teóricos da Psicanálise, de Freud, da Psicossociologia, de Enriquez, e da Sociologia, de Sennett, que nos ajudam a pensar, entre outras coisas, a sociedade personalizada pelo domínio do mundo privado. Chama a atenção o fato de os alunos de hoje demandarem constantemente a necessidade de trazerem para a sala de aula suas questões pessoais, e de docentes fazerem uso de táticas muito peculiares de ensino, visando restituir a si algum modo de gozo de poder sobre seus alunos. Abordamos questões correlatas como a identificação de professores aos adolescentes e a problemática da maternagem e do feminino em relação à profissão, que igualmente dizem da subjetividade docente. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 49 SEGUNDO HORARIO (10h30 as 14h) Sessão 18 - Entre o tratar e o educar Psicanálise e Educação: quando as frontei- O presente trabalho pretende examinar algumas articulações possíveis ras se esvaem entre o educar e o tratar no que dizem respeito à constituição subjetiva Tiago de Moraes Tavares de Lima – tal como compreendida pela psicanálise. Como veremos, se tomarmos Instituto de Psicologia / USP o termo educação de forma ampla, isto é, para além do contexto escolar, [email protected] as fronteiras entre a educação e a clínica nem sempre são tão definidas. Carolina Cardoso Tiussi Primeiramente, discorreremos sobre as relações entre o ato de educar Instituto de Psicologia / USP e a constituição do sujeito. Em seguida, ilustraremos essas relações a [email protected] partir do trabalho realizado pelas Mães Sociais com crianças abrigadas. Luiz Moreno Apresentaremos, então, duas categorias de sofrimento, “sofrer por um Instituto de Psicologia / USP sintoma” e “sofrer pelo distanciamento do tipo psicológico ideal”, para [email protected] indicarmos que enquanto a primeira se distancia do campo da educação, Paula Moreau a segunda seria fruto da reprodução dos padrões psicológicos, realizada Instituto de Psicologia / USP pela educação. Por fim, apresentaremos a Educação Terapêutica, uma [email protected] proposta de trabalho que pretende intervir na interface entre psicanálise e educação, tratando os sintomas através de práticas culturais e atos que poderíamos denominar educativos. Um sujeito marcado pela expectativa da deficiência intelectual: aprendizagens possibilitadas pela escuta e pelo conhecimento da própria história. Carina Streda Universidade de Passo Fundo [email protected] 50 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy A presente comunicação é resultado do trabalho de conclusão da especialização da autora em Psicopedagogia, pela UPF. O sujeito de pesquisa, pessoa com síndrome de Down, 22 anos, mostrou o desejo de escrever um livro contando suas experiências de vida na família, na sociedade, na escola especial e regular. Tendo nascido com uma síndrome marcada pela expectativa da não aprendizagem, encontrou dificuldades em sua escolarização, apesar das reivindicações por seus direitos e inserção social. O aprendizado de leitura e escrita, construído na rede regular de ensino, apresentava algumas peculiaridades como a inexistência de sinais de pontuação e acentuação, a não compreensão do texto como um todo a ser construído, apresentando ideias desorganizadas, o que dificultava a compreensão da mensagem. O processo de elaboração de seu relato teve duas etapas básicas: a busca, por parte do sujeito, por conhecer sua história, coletando relatos e ouvindo as narrativas da família; e a escrita, para a qual necessitou a mediação, fundamentada na escuta, da autora. Para escrever o sujeito necessitou falar sobre sua história e seus sentimentos, primeiramente. Fazendo referência ao lugar do analista enquanto aquele que tem a função de pontuar o discurso do paciente, esse processo resultou em aprendizado, principalmente, do uso dos signos de pontuação e acentuação e organização das ideias. Além disso, ao fim do processo o sujeito se mostrou apropriado de seu lugar de sujeito, resultado do conhecimento de sua história. Um projeto de inclusão realizado em Santo Ângelo viabilizou a publicação do livro, que apresenta o relato de vida do sujeito e uma reflexão da autora, em linguagem acessível a toda a comunidade, discutindo algumas falas trazidas por ele e sustentando a ideia da deficiência intelectual enquanto uma construção social. A produção de conhecimento em um caso de psicose Izabel Ramos de Abreu Faculdade de Educação / USP [email protected] O objetivo deste trabalho é discutir a relação que um psicótico estabelece com o conhecimento. Sabemos que um dos impasses da inclusão escolar de psicóticos é a dificuldade destes alunos se interessarem pelo conteúdo acadêmico oferecido pela escola e aprenderem o que é ensinado. No entanto, alguns destes mesmos alunos psicóticos elegem objetos de interesse, a partir dos quais desenvolvem uma “pesquisa” particular. Abordaremos tal questão a partir do caso de um garoto psicótico que se dedica ao trabalho de observação e sistematização das variações de temperatura na cidade de São Paulo. Entendemos que ao criar tal sistema ele produz conhecimento. Frente a isso, discutir o ensino dessas crianças implica em considerar esse trabalho singular de produção de conhecimento ao qual muitos psicóticos se dedicam. O conhecimento produzido por psicóticos, diferente dos conhecimentos que constam nos currículos escolares, não faz laço social, isto é, não atende à necessidade de um grupo, nem corresponde ao conhecimento estabelecido socialmente. Por isso, comumente suas falas e questões sobre temperaturas causam estranhamento, sem que se possa reconhecê-las como uma produção de conhecimento, nem pensar em sua função para este sujeito. Entendemos que na psicose a forclusão do significante Nome-do-pai faz com que o saber que ordena o psiquismo não possa ser suposto e deve, portanto, ser produzido. O sistema de controle de temperaturas de Gabriel, por exemplo, é uma construção imaginária que serve unicamente para que ele possa se situar frente ao Outro absoluto. Se na neurose o conhecimento está articulado à castração, a demanda e o desejo do Outro estão implicados no próprio desejo do sujeito de aprender. Na psicose o conhecimento serve como defesa frente ao Outro. Portanto, é preciso refletir sobre as particularidades desta produção de conhecimento e do ensino destes alunos e sobre a função dessa produção como uma tentativa de organização psíquica na psicose. Sessão 19 - Transmissão e autoridade Uma vida iluminada: uma breve discussão sobre a experiência e as formas de narrativas de si no laço social atual Roselene Gurski Instituto de Psicologia / UFRGS [email protected] Marcelo Andrade Pereira Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Este artigo consiste numa série de interrogações – de cunho filosófico e psicanalítico – acerca do sentido da experiência e das novas formas de narrativas de si no laço social contemporâneo. Tais interrogações referem-se à discussão do padecimento do sujeito contemporâneo em face do desmanche dos principais pilares de confiança ontológica pré-modernos: a família, a religião e a tradição – responsáveis, em seu tempo, por organizar as ações e experiências do sujeito. Com efeito, o mundo da tradição e dos rituais, impregnado de sentido e significação, ao assegurar a continuidade entre passado, presente e futuro parecia produzir boas doses de conforto existencial. Assim, sem fazer apologia do mundo da tradição, nos perguntamos sobre os efeitos destas mudanças para a subjetivação das crianças e jovens da atualidade, que, como sabemos, é hoje permeada pelas novas tecnologias. A rigor, pode-se dizer que as novas tecnologias trazem em suas configurações um novo formato de narração de si e de intercâmbio com o outro. Questão essa que nos leva a interrogar quais seriam as formas de enunciação possíveis na atualidade, assim como pensar se nesses novos formatos reside espelhado o achatamento da experiência e, por conseguinte, da subjetividade. A essas indagações somam-se outras: de que modo sustentar uma posição de sujeito num mundo que prescinde de história e esvazia a experiência? De que forma o resgate da história, por exemplo, pode configurar-se em 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 51 uma ferramenta de sustentação da subjetividade? Em vista da problemática da experiência e das formas de narração de si na atualidade, tal investigação encontra eco no pensamento de Walter Benjamin, Hannah Arendt e Maria Rita Kehl. A fim de tornar toda essa discussão mais tangível, desdobraremos a tensão conceitual proposta à luz da análise do filme Uma vida iluminada, de Liev Schreiber, que segundo nos parece, condensa de maneira muito precisa as problematizações aqui apresentadas. Sobre declínios: uma aproximação entre Hannah Arendt e a psicanálise via noção de autoridade Marcia Regina Fogaça Faculdade de Educaçao / USP [email protected] Arendt afirma no Epílogo de seu livro “A promessa da política” que ”O moderno crescimento da ausência-de-mundo, a destruição de tudo que há entre nós, pode ser também descrito como a expansão do deserto” . Sendo o mundo o artifício humano que “separa a existência humana de todo ambiente meramente animal” e “cuja potencial imortalidade está sempre sujeita à mortalidade daqueles que o constroem e à natalidade daqueles que vêm viver nele”, a ausência-de-mundo é a ausência do que há/havia/houve /deveria haver entre os seres humanos – que caracteriza o deserto.Em outro texto, “ A crise na Educação”, a autora afirma que o contemporâneo estado de coisas na educação em crise nada tem a ver, estritamente, com a educação, mas sim com as concepções de vida privada e mundo público que passaram a existir a partir da sociedade moderna – que se conduziram em direção à indiferenciação entre ambas – e que foram tomadas pelos educadores, numa modernização tardia, sem crítica e sem reflexão sobre as consequências que daí poderiam advir para a vida das crianças.Este trabalho pretende discutir tais afirmações arendtianas – tendo como eixo a noção de autoridade – a partir de conceitos psicanalíticos, por ver uma estreita relação entre estas e o que a psicanálise aponta como o mal-estar do sujeito moderno de não poder corresponder às exigências dos ideais simbólicos de sua época e de sua fuga contemporânea para o bem-estar associado a todo tipo de consumo tamponador da falta. Em termos arendtianos, tal fuga corresponderia à “derrota do Homo Faber” que consiste na redução dos objetos criados pelo homem para seu uso (contando com a durabilidade do objeto, sua permanência no mundo para além da vida biológica do artífice, a relação entre meios e fins, etc.) à categoria de objetos de consumo que remete à natureza cíclica e, portanto, repetitiva das necessidades vitais do Animal Laborans. Poderíamos dizer, freudianamente, que se trata de uma vitória da pulsão de morte, no que está vinculada à repetição, e de uma vitória do gozo, lacanianamente falando. Declínio da Autoridade Docente: impasses na suposição de saber? Gilmar Moura da Silva Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Denúncias sobre a falência das instituições sociais, o aumento das situações de conflito que emergem no cotidiano escolar, manifestas na forma do desrespeito e da indisciplina exacerbada dos alunos, a perplexidade de projetos educacionais ante a diversidade cultural, entre tantos problemas contemporâneos, em regra, veem associados a uma crise de autoridade, consequência de um declínio dos saberes, não só aqueles da tradição e da religião, como também dos saberes filosóficos e científicos na atualidade. Para a psicanálise, a suposição de saber implica a princípio uma crença no Outro, crença de que ao me endereçar a esse Outro um saber não sabido possa se produzir. Haveria na contemporaneidade impasses nesse campo da suposição de saber? A derrisão do saber e o desregramento do gozo seriam efeitos da suplantação dos ideais éticos, sócio-culturais e 52 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy políticos de uma sociedade que preconiza a precariedade e efemeridade de tais ideais, em prol da eficácia técnica e do culto do excesso hedonista, manifestos nos novos estilos de vida modernos? Tais questões ganham bastante centralidade em nossos tempos. No campo da educação, aparecem expressas nas formas da desautorização docente e fragilidades do vínculo educativo. Vínculo educativo, aqui entendido como a relação do sujeito com a civilização, que envolve sempre um agente, o sujeito e o saber. O saber em jogo define o vínculo. Quando se esmaga a dimensão do saber, o vínculo educativo se reduz a uma suposta relação eu-tu, excessivamente imaginária, e geradora de tensões. A depreciação do saber na esfera educativa parece indicar que, hoje, a aprendizagem se realizaria sem o mestre. Ele talvez tenha se tornado um mero e geral conhecedor das coisas, pouco destro e muito superficial em lidar com o conhecimento e com a experiência. O discurso pedagógico e sua institucionalização contribuíram fortemente para isso. Trata-se de um discurso de inspiração moderna de abafar as diferenças em prol de um mundo de iguais. A dimensão do particular e do desejo fica desse modo desconsiderada. A erosão do saber abrem as comportas do gozo. O descrédito na função da palavra, função essencial à constituição do sujeito suposto saber, inviabiliza um saber fazer com o gozo. Denuncia-se assim, todos os semblantes que sustentam a relação com o Outro, inclusive os de autoridade. Surge no lugar, práticas de ruptura e de impostura, que só faz repetir o gozo. Forma-se uma espécie de comunidade do gozo que os separa do mundo do Outro. Diante desses impasses na suposição de saber do mundo contemporâneo, que saber a psicanálise pode ofertar no mercado do gozo? Seria o de possibilitar ao sujeito formular ou encontrar um nome para dizer do gozo de seu ser? É o que necessitamos saber... (Resumo elaborado a partir da pesquisa de mestrado em curso: “Autoridade Docente e Vínculo Educativo Contemporâneo”, pela Faculdade de Educação da UFMG, na linha Psicologia, Psicanálise e Educação ) Sessão 20 - Clínica e Psicanálise Sobre a falta no analista Helena Julio Rizzi Instituto da Criança - HCFMUSP [email protected] Seja quando está com o médico, seja quando está com o analista, o paciente traz seu sintoma e procura respostas: quer saber o que há, por que e o que fazer. O médico oferece-lhe informações, sugestões ou medicamentos. O analista, no entanto, não atende a essa demanda por respostas; se atendesse, ele assumiria o lugar daquele que sabe e pode oferecer este saber, enquanto o analisando ficaria como aquele que não sabe e precisa receber. Este trabalho propõe-se a realizar uma discussão clínico-teórica acerca da posição do analista diante deste pedido feito por pacientes atendidos no Instituto da Criança, HC-FMUSP. A experiência na instituição médica mostra que, enquanto o discurso médico se atém àquilo que sabe, mensura, observa e examina, ou seja, àquilo que conhece ou pode classificar dentro do espectro por ele conhecido, o analista desconhece e, por desconhecer, não responde às perguntas: as faz. O paciente depara-se, então, com a falta no analista, pois ele não tem todas as respostas, não sabe de todas as coisas. Deste modo, há a abertura para a assunção de que aquilo que se tem nada mais é do que a própria falta do sujeito, independente de analista ou não: esta é a falta que o discurso médico tenta escamotear. O analista propõe-se 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 53 a escutar o paciente, considerando que este sabe algo sem saber: o saber inconsciente. Será apresentado um caso clínico, em que a falta no analista possibilitou, durante os atendimentos, o trabalho com a falta no paciente. A especificidade do saber na operação analítica Jamille Mascarenhas Lima Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [email protected] Através das relações entre saber, psicanálise e universidade pretendemos investigar o estatuto do saber na operação analítica e sua vinculação com o gozo. Ao pontuar que o saber em jogo na análise diz respeito a um trabalho de articulação significante produzido por um sujeito, Lacan diferencia saber e conhecimento. A partir dessa distinção, nos indica que a psicanálise obedece a leis próprias que não podem ser traduzidas ao discurso universitário. A relação entre a psicanálise e o saber é investigada no seminário “De um Outro ao outro” onde Lacan parte da análise do conceito de mais-valia em Marx e cunha a expressão mais-degozar para dar conta da relação entre o saber e o gozo. Ao problematizar a emergência do saber no campo da mercadoria e as conseqüências oriundas da transformação do saber em um produto − embasado em uma unidade de valor e ofertado no “mercado dos saberes” − Lacan nos indica que o saber nesse contexto deixa de ter relação com o trabalho e passa a se articular ao preço. A partir dessa referência, analisa a relação entre saber e trabalho. Um dos caminhos dessa investigação tem como eixo a articulação do saber no campo universitário. Segundo Lacan, o aparecimento de uma noção como unidade de valor é o signo daquilo que o saber vai se tornar cada vez mais nesse campo, nesse mercado, que se chama universidade. Dessa maneira, o presente trabalho se propõe a evidenciar a distinção entre a produção do saber no campo universitário e na operação analítica. Psicanálise: o saber na berlinda Alessandra Tavares Silva Universidade Federal Fluminense [email protected] Saber e psicanálise estabelecem uma relação que, de saída, favorece muitos questionamentos. Comumente, sobre esta relação, as posições se alternam entre dois extremos, quais sejam, ou de fazer um par homogêneo entre os dois, onde se poderia dizer sobre o saber da psicanálise, tomando, assim, a psicanálise como um saber positivo. Ou, a outra posição, a de afirmar a excentricidade radical entre um e outro, que termina por defender a ideia de que a psicanálise não tem nenhuma relação com o saber, declarando tratar-se de um “não-saber”. Neste trabalho, procuraremos tomar o cuidado de não sermos levados por nenhuma das duas referidas posições. Nosso objetivo é discutir os desdobramentos que uma análise provoca na relação do sujeito com o saber, ao enfatizála como uma operação que se dá não desprezando o saber, mas, passando por ele. Como veremos, ao colocar o saber na berlinda, a psicanálise cria as condições para que, partindo da intenção de adquirir um saber positivo sobre o seu padecimento, eventualmente, o sujeito se choque com a produção de um saber que decorre da pura articulação significante. E, como tal, impossível de ser totalizado por algum enunciado, mas, que aponta para a perda inerente ao trabalho de se deixar representar, e apenas representar, por um significante para outro significante. 54 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Sessão 21 - Clínica e tratamento III A Ética da Psicanálise como um saber sobre a falta: reflexões acerca de uma experiência em Saúde Mental do infans Carolina Andrade de Santana Lima Prefeitura Municipal de Uberlândia [email protected] João Luíz Leitão Paravidini Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Christiano Mendes de Lima Prefeitura Municipal de Uberlândia [email protected] O principal objetivo deste trabalho é evidenciar, à luz de uma experiência de intervenção no campo da Saúde Pública, em especial no Programa de Saúde da Família, a possibilidade da construção de práticas que priorizem a promoção da Saúde Mental do infans, atravessadas pela Ética da Psicanálise. Embasados pela teoria psicanalítica, questionamos a viabilidade da transmissão dessa ética a práticas que se situam fora dos moldes da clínica tradicional. Vimos que isso se torna possível, desde que sustentemos, como de agentes de cuidado, a ideia de que transmitir essa ética significa atuar a partir da condição de sujeitos castrados, isto é, criar condições para que a transmissão da Lei – que interdita a tomada do infans e de sua família como objeto de um saber suposto todo – se mantenha operante. Nesse sentido, a teoria lacaniana sobre a função do mais um foi importante para pensarmos na montagem de um dispositivo que funcione como regulador da ética das intervenções, na medida em que, ele pode operar, como o que atualiza a castração do Outro interventor, descompletando o saber médico-psicológico (universitário). Trata-se do relato de uma experiência de atendimento de uma criança de três anos a qual nomeamos Pedro, e de sua família. As intervenções ocorreram na forma de visitas domiciliares semanais, nas quais, além da criança, contávamos com a presença de familiares, principalmente da mãe. A partir das reflexões que emergiram nesse contexto, pensamos sobre a importância de que as práticas de cuidado, em especial às que se direcionam ao bebê e sua família, sejam pensadas a partir de uma ética do desejo, ou seja, aquela que coloca o sujeito diante da própria falta, e, consequentemente, do conflito que o constitui na condição de castrados, tornando-o assim, agente do seu próprio desejo. Um acompanhamento terapêutico na escola, seus alcances e possíveis entraves. Ana Lícia de Camargo Barros Pegorelli Grupo de apoio à escolarização Trapézio [email protected] O objetivo deste estudo é discutir e problematizar qual a função de um trabalho de acompanhamento terapêutico em uma escola. Pensar quais os alcances e limites deste trabalho e avaliar de que maneira a presença de um acompanhante terapêutico pode contribuir para o processo de inclusão de crianças com comprometimentos psíquicos graves. Além disso, pretende-se colocar em questão os efeitos que tal presença pode acarretar para a equipe que trabalha com a criança na escola e a família. Para isso apresentaremos algumas intervenções realizadas em uma experiência de acompanhamento terapêutico (A.T.) em uma escola, na educação infantil. Este trabalho foi realizado com uma criança cuja característica mais marcante era uma evitação maciça do contato com o outro, e conseqüentemente uma dificuldade muito grande em permanecer na sala de aula. Neste caso, a presença da A.T. suscitou questões como: o acompanhamento tem função para quem, para a criança ou para a escola? Quais as implicações de um trabalho clínico que acontece dentro da escola? Como pensar uma intervenção atravessada pela psicanálise diante deste contexto? O acompanhamento terapêutico trouxe mais flexibilidade à demanda que a escola dirigia a este aluno, o que possibilitou algum reposicionamento do lado da criança. Este trabalho também evidenciou que seus efeitos terapêuticos estavam relacionados à possibilidade de alternância entre presença – ausência da A.T. junto à criança. Porém os efeitos desta alternância para a escola e a família, quando o que estava em jogo era 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 55 a ausência da A.T., relacionaram-se com algum sinal de angústia para ambas as partes. A partir disso, justifica-se a problematização acerca dos possíveis entraves que envolvem a presença de um A.T. na escola. Experiências com Acompanhamento Terapêutico em Maceió: reflexões a partir da política da Inclusão, do campo do saber e do campo do gozo. Rosanny Moura Cavalcante Universidade Federal de Alagoas [email protected] Charles Elias Lang Universidade Federal de Alagoas [email protected] Este trabalho articula a experiência de Acompanhamento Terapêutico (AT) em uma escola de educação infantil na cidade de Maceió (Al) e a discussão teórica sobre o tema do AT com crianças, orientada e supervisionada pela Psicanálise. A prática do AT propõe o acompanhamento de crianças com algum tipo de comprometimento orgânico, como a Síndrome de Down, ou traços psicóticos e autísticos. No caso tomamos como núcleo do trabalho o AT de uma criança com 5 anos, portadora da síndrome de Down. O AT iniciou-se a partir de uma demanda dos pais, que por sua vez receberam tal demanda da Escola. A partir disto pensamos as relações entre esta demanda, a política da Inclusão, o campo do saber e o campo do gozo. Por um lado a escola precisa, para existir e manter-se no Simbólico, cumprir uma legislação, incluir. De outro, ela tem que dar conta tanto das demandas dos pais de crianças `especiais` quanto dos pais das demais. Pais que, de acordo com a lógica do mercado, são consumidores e usuários de um serviço: a Escola. Dentro dessa mesma lógica, o AT não deixa de ser a prestação de um serviço. Se a Escola não tem uma mercadoria ou um serviço, então ela indica um `parceiro` ou `fornecedor`. Mas o que acontece quando a lógica do mercado e da mercadoria se sobrepõe e atravessa o saber e a lógica das gerações, quando ela se sobrepõe ao que os pais devem ensinar transmitir para os seus filhos? Não se pode perder de vista ou deixar de encarar a dimensão de um gozo prometido e de outro subtraído. Quando os pais se desincumbem de algo e delegam este algo para a escola, há aí um gozo. Quando a escola se exime de algo e delega isto para o AT, há outro gozo. Isto é o que vai compondo um mercado de gozos. Gozos que são agenciados pelos psicólogos, pelo reforço escolar, pela psicopedagogia clínica e etc. Dessa forma, articulamos nossa experiência de trabalho e supervisão em AT com as demandas e as implicações do trabalho na Escola e sua relação com o mercado do gozo e a lógica da mercadoria. Sessão 22 - Clínica e tratamento IV O declínio dos saberes e o gozo da técnica: a psicanálise na formação de pediatras. Ana Silvia de Morais Instituto de Psicologia / USP [email protected] Edna Márcia Koizume Bronzatto Instituto de Psicologia / USP [email protected] Rogério Lerner Instituto de Psicologia / USP [email protected] Maria Cristina Machado Kupfer Instituto de Psicologia / USP [email protected] 56 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy De 2004 e 2008, a Pesquisa Multicêntrica de Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil (IRDI) criou e validou 31 indicadores observáveis nos primeiros 18 meses de vida, com significativa capacidade de predição de problemas de desenvolvimento e, para indicadores isolados ou em grupos fatoriais, predição de risco psíquico. O estudo formou pediatras para uso do IRDI e coleta de dados. Como desdobramento, a pesquisa Detecção precoce de riscos para transtornos do espectro de autismo com Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil e intervenção precoce: capacitação de enfermeiros, objetiva sistematizar uma formação para o uso dos IRDI e sensibilização para a constituição psíquica. O presente trabalho discute a transmissão do saber implicado nos indicadores por meio da análise discursiva de entrevista realizada com um pediatra que participou da formação IRDI. Os resultados apontam que a formação prévia do profissional, técnica e especializada, influenciou na sua apropriação. O laço com os pacientes, centrado em patologias, imprime o viés de que os IRDIs são propícios ao ambiente de ambulató- rio. O discurso revela a dualidade objetivo/subjetivo e a cisão entre seu conhecimento prévio e o adquirido na formação. Os indicadores são tidos como uma ferramenta a mais, reveladora de doenças do hábito. Por outro lado, indicadores ligados à função paterna tiveram maior impacto, devido à vivência pessoal do entrevistado. É possível afirmar que os indicadores comparecem em sua prática, evidenciando efeitos da formação, embora a ressignificação do conhecimento prévio seja limitada. Para futuras pesquisas, justifica-se um planejamento que se atenha à extensão dos efeitos da formação na prática do profissional, bem como ao desafio de um enlaçamento com seu conhecimento técnico prévio e à produção de um saber singular a partir do encontro com a Psicanálise. O sintoma e seus desdobramentos na criança e na estrutura familiar Vanessa Keiko Rossaka Instituto da Criança - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina / USP [email protected] Lacan, em seu texto “Nota sobre a criança” (1969), aponta que o sintoma da criança está em condição de responder ao que há de sintomático na estrutura familiar. É com o surgimento de um sintoma que lhes faça questão, e supondo um saber sobre este, que os pais trazem a criança ao hospital, tanto para atendimento médico quanto psicanalítico, buscando possíveis tratamentos e cura. No entanto, a medicina e a psicanálise distinguem-se naquilo que propõe à família diante dessa demanda inicial. Se por um lado, a medicina se propõe a apresentar um saber exterior aos pais e à criança e oferecer acesso a um paraíso medicamentoso, exercendo assim uma função silenciadora que sutura o sintoma enquanto manifestação própria e inconsciente, por outro, a psicanálise deixa em suspenso esse sintoma, a fim de conhecer o sintoma próprio da criança, que poderá surgir como construção de um saber próprio através do dispositivo analítico. A partir dos atendimentos a crianças num contexto hospitalar (Instituto da Criança do HC–FMUSP), emergiram questionamentos sobre o sintoma na clínica psicanalítica, principalmente relacionados ao que esse sintoma pode responder. Diante de tais questionamentos, esse trabalho almeja investigar os desdobramentos dos sintomas, no decorrer do tratamento analítico, tanto na criança quanto na estrutura familiar. Assim, pretende-se realizar uma articulação teórico-clínica, através da apresentação de fragmentos de um caso, destacando as relações entre os sintomas de Paula e a estrutura e dinâmica de sua família. Pode-se considerar que a partir de intervenções psicanalíticas é possível que se desenlace o sintoma de cada sujeito dentro da estrutura familiar, possibilitando o surgimento de sintomas próprios. Atenção, sintoma! Sentidos e significações atribuídos ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade Marianna Gama Trapézio [email protected] Atualmente, crianças com problemas de atenção e condutas hiperativas são facilmente identificadas sob o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido pela sigla TDAH. Tratase do transtorno infantil mais freqüente e difundido atualmente, tendo recebido nos últimos anos uma enorme quantidade de investigações médicas a respeito de sua causa, diagnóstico e tratamento. Entretanto não são muitos os trabalhos de psicanalistas que o tomaram como objeto de investigação buscando identificar os sentidos e significações que estão por detrás deste rótulo imperante em nossa época. Cada época busca seus recursos para dar conta do mal estar que a caracteriza e de afrontar o impossível e imprevisível do ato educativo. A medicação é hoje o recurso que a ciência e a técnica produziram e com o qual a prática médica tenta responder aos sintomas escolares das 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 57 crianças contemporâneas, enquadrando-os sob um mesmo transtorno e tamponando o questionamento sobre a angústia que acomete o sujeito. Neste contexto, é dever ético da psicanálise, que existe graças ao sintoma, apontar a resistência implícita no discurso da ciência, cujo imperativo de gozo imediato e sem limites desresponsabiliza o sujeito, tomado como objeto. A Psicanálise denuncia a insensatez desta lógica estruturalmente impossível de ser satisfeita e levanta questionamentos que devem ser incorporados a prática cotidiana. Procuraremos neste trabalho investigar o TDAH a partir de três perspectivas: a) o espaço epistêmico que o constituiu como transtorno e sua hipótese etiológica, b) a consideração do referido fenômeno como resposta ao mal estar contemporâneo e c) o contraponto entre a compreensão médica científica de transtorno e o entendimento da psicanálise de sintoma como a melhor resposta do sujeito para tratar sua angústia. Sessão 23 - Inclusão e laço social II Inclusão: uma maneira especializada de A Associação dos Amigos do Autista (AMA) veicula através de seu site compreender o outro seis filmes e um gibi em que aparece um novo personagem da Turma Kelly Cristina Brandão da Silva da Mônica, o André, um autista. É possível assistir a esses filmes nos Faculdade de Educação / USP comerciais de alguns canais da NET – TV por assinatura. A análise [email protected] se material divulgado pela mídia e dirigido a um público leigo tem por objetivo discutir as armadilhas da compreensão do outro, a partir do excesso de sentidos que lhe atribuímos. Esse “excesso” parece buscar a anulação de qualquer enigma que se interponha entre mim e o outro. Enigma esse que, de forma projetiva, tentamos apagar em relação a nós mesmos. Cabe aqui ressaltar o termo necessidade, tão presente no discurso oficial da educação inclusiva. Os alunos a serem incluídos no sistema regular de ensino são nomeados pela LDBN de educandos com necessidades educativas especiais. Ao naturalizar a experiência humana, transformando desejo (fruto da subjetividade) em necessidade natural, obturamos a ambivalência afetiva que caracteriza o humano. A tão proclamada necessidade dos incluídos seria uma tentativa de apagamento do desejo? Esse reducionismo – de desejo à necessidade – pode ser articulado ao conceito lacaniano “discurso do capitalista” (LACAN, 1972/1978). No discurso do capitalista o desejo é rebaixado à categoria de necessidade fazendo-nos crer que, como se trata de necessidade, há sempre um objeto que lhe corresponde. Diante disso, o saber se reduziria a um valor de mercado – mercadoria – e a produção constante e frenética de “objetos” passaria a ser almejada por todos. A educação inclusiva não está imune aos efeitos desse discurso. A Declaração de Salamanca (1994), referendada pela Declaração dos Direitos Humanos (1948), marca um posicionamento crítico diante do sistema escolar excludente, porém – paradoxalmente – a inclusão tem exacerbado o poder do especialista e privilegiado a eficácia, a funcionalidade e o excesso (de informações, de técnicas e de saberes). Alunos com dificuldades de aprendizagem são “alunos de inclusão”? Simone Kubric Grupo de Apoio à Escolarização Trapézio [email protected] 58 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy As teses que interpretam e justificam os motivos pelos quais um aluno enfrenta dificuldades para aprender na escola variam conforme a época e o respectivo contexto sócio-político. Houve um momento, por exemplo, em que a desnutrição era considerada a grande responsável pela “epidemia” de fracasso nas escolas públicas brasileiras. Hoje, a dislexia, o TDAH e outros distúrbios supostamente neurológicos e hereditários têm ocupado um lugar de enorme destaque entre as causas identificadas para explicar porque tantos alunos – do sistema público e do particular – não aprendem. Sem desconsiderar que quadros orgânicos podem ter efeitos no desempenho escolar de uma criança, é preciso colocar em questão todo e qualquer discurso hegemônico. Isso porque a forma de entender as pretensas causas das dificuldades reflete-se no tipo de intervenção pedagógica que cada equipe escolar adota para tentar resolver o problema. Apelar para a bandeira da inclusão tem sido prática recorrente nos casos em que crianças sem nenhuma deficiência diagnosticável passam a ser consideradas portadoras de distúrbios porque, de forma enigmática, custam a aprender a ler, a escrever e a calcular. Paradoxalmente, no cotidiano de muitas instituições, apesar de “incluídos”, tais alunos não fazem efetivamente parte do jogo escolar, já que são dispensados de realizar as mesmas tarefas e avaliações que os demais – sendo alijados, portanto, da possibilidade de vir a aprender como os outros. O presente trabalho tem como objetivo discutir o caráter condescendente de práticas inclusivas como estas, bem como refletir sobre possíveis medidas de apoio à escolarização para alunos que vivenciam angustiantes impasses por não poder aprender. Tornar-se sujeito: indeterminismo e determinação Cristiana Carneiro Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] O presente trabalho discute a concepção de destino em Freud relacionando-a com a questão da liberdade. Tal iniciativa visa enriquecer o debate quanto ao lugar do outro na ação inclusiva. As concepções de destino interrogam a determinação do humano e comportam significações para a “natureza humana” que influenciam a prática. É nesta direção que a psicanálise nos indica um caminho: o conhecimento da verdade e do desejo do próprio sujeito. Neste caso a diferença engendrada pelos processos inclusivos não diria respeito apenas ao outro, mas se refere ao próprio desconhecimento que cada um tem de si mesmo. Destacamos, desta forma, a riqueza da coexistência de indeterminismo e determinismo como dois aspectos centrais do pensamento de Freud em relação ao sujeito (Herzog, 2000, p. 79). Por um lado, ele realmente põe em xeque a liberdade humana ao postular a determinação inconsciente e o rochedo da castração (Freud, 1937/1980). Contudo, da mesma forma mantém um crédito na liberdade do sujeito a partir do momento em que postula o acesso à verdade, a partir de um conhecimento novo. Se é a partir do desconhecimento que haverá a interrogação de si, então, temos uma chave para pensar que esse não saber, causa de mal-estar muitas vezes, é também o que movimenta o sujeito, porque é só a partir dele que um questionamento se tornará necessário. Neste sentido, a psicanálise no seu entrecruzamento com a aceitação das diferenças adverte que só poderemos aceitar no outro, aquilo que estendemos também a nós mesmos. Conhecer o outro numa dimensão de aceitação de sua alteridade só é possível se também tivermos essa própria experiência em relação a nós. Toda situação de exclusão se situa de alguma forma na tentativa desesperada de garantir que o outro não esteja em mim. Por fim, questionamos algumas situações do contemporâneo que poderiam estar desfavorecendo esta produção de conhecimento que aponta para a liberdade, onde o não saber deixa de ser mola propulsora e passa a ser inimigo a combater. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 59 Sessão 24 - A infância, a criança e os adultos III El cuento de Pinocho: la conformación de la ética en la infancia a través de la utilización del lenguaje pragmático Liliana Naveira Universidad Nacional de Mar del Plata / Argentina [email protected] Susana La Rocca Universidad Nacional de Mar del Plata, Argentina [email protected] Alicia Cambiasso Universidad Nacional de Mar del Plata, Argentina [email protected] El pensamiento filosófico y la modalidad narrativa configuran tradiciones de pensamiento, que al transmitir los presupuestos ontológicos, epistemológicos y axiológicos de la época conforman redes teóricas y simbólicas desde donde es posible tener un saber sobre la infancia. En ciertas corrientes mecanicistas los cuerpos pueden ser explicados en términos de materia en movimiento, mientras que la mente, en tanto res cogitans a la que se accede por intuición, no sólo escapa a la explicación mecanicista sino que la posibilita. Mientras los cuerpos son pura extensión bajo el imperio de las leyes mecanicistas, las mentes son pensamiento consciente, libre e intencional. En este sentido, el cuento de Pinocho conjuga algunos aspectos de esta tradición mecanicista pero anuncia también el giro lingüístico-pragmático que se genera posteriormente. En el libro original, la frase del comienzo: “C`era una volta un pezzo di legno” convierte a la res extensa de la madera en Pinocho, un muñeco sin vida, en un niño, gracias al lenguaje. Y desde ese uso del lenguaje que comienza mostrando un primer proceso a través de la narración, vemos desplegarse no sólo los usos primarios de la comunicación, desde los aspectos morfológico-sintácticos y semánticos, sino toda una escala ponderada de cuestiones éticas insertas en la dimensión pragmática. Carlo Collodi piensa en toscano el nombre de su personaje Pinocchio que quiere decir piñón, es decir una “cosa de nada.” (Balastro 2000) y esa expresión destina una noción de infancia no sólo depreciada sino también escindida, en una tradición que en su intento de explicar racionalmente el mundo, deja afuera parte de ese mundo. Entendido de este modo, el proceso narrativo pasa de lo cuasimágico a cubrir primero el manejo de la atención conjunta (Bruner 1997) que demanda de lo dialógico y luego trasciende la esfera valorativa y las cuestiones éticas de la infancia, gracias a la interacción lúdica del cuento maravilloso infantil. A relação da criança com o saber: uma abordagem a partir da vigência das teorias sexuais infantis Mariana Inés Garbarino Instituto de Psicologia / USP [email protected] O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão teórica acerca da relação da criança com o saber sobre as diferenças sexuais e a própria origem a partir da vigência da proposta freudiana sobre a construção das teorias sexuais infantis. A origem dos bebês é segundo Freud, ‘ a interrogação mais antiga e ardente da Humanidade ’. As teorias sexuais infantis permitem-nos refletir sobre os limites e alcances da intervenção educativa e a singular leitura da psicanálise em relação ao desejo de saber. Neste estudo, será ressaltada a abordagem epistemológica e não somente ética ou ideológica permitida pela psicanálise no âmbito da educação. Ademais, levaremos em consideração o ensino de Lacan sobre a diferença entre saber e conhecimento, e sobre o semidizer como marca da divisão entre saber e verdade, evocado nas figuras de mito e enigma. O educador, desejando que a criança aprenda e se posicionando no discurso de mestre, enfrenta-se ao surgimento do Sujeito na fratura do discurso. A singularidade da relação de cada criança com o saber sobre a sexualidade e a origem, e as características do desenvolvimento psicosexual postulado por Freud, remete-nos a uma concepção de criança que, longe de ser uma tábula rasa, organiza o mundo a partir de pulsões e conflitos psíquicos. A pulsão sexual impele a criança a ações e fantasias inconscientes na construção de teorias sexuais que a ‘ urgência da vida ’ lhe impõe. A hipótese deste trabalho é de que a abordagem freudiana apresenta uma dialética da constituição psíquica do sujeito na sua rela- 60 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy ção com a significação do mundo e de si mesmo. O estatuto estrutural das teorias sexuais infantis abre caminho para refletir sobre os limites do fator social e a vigência de um modo de relação com o saber que persiste nas crianças apesar da influência dos discursos dos adultos e das características da sociedade contemporânea que a distanciam daquela em que Freud escreveu. Proliferação de objetos e empuxo ao gozo: impactos do discurso capitalista na educação Mônica Maria Farid Rahme Centro Universitário UNA [email protected] Leny Magalhães Mrech Faculdade de Educação / USP [email protected] O avanço exacerbado do capitalismo e de todo o imperativo por ele imposto sob a forma do “consuma!” e do “goze!” conduzem a um constante empuxo ao gozo, produzindo sujeitos eminentemente insaciáveis. Diante de produtos que se tornam rapidamente obsoletos, os sujeitos não alcançam a medida do que lhes é ofertado pela sociedade de consumo, ocasionando o desregramento desse gozo e fazendo com que, na civilização contemporânea, o objeto a seja elevado ao máximo do maisde-gozar. No matema do discurso do capitalista, Lacan (1972) preserva o lado direito do algoritmo, mantendo-o tal qual no discurso do mestre, e inverte o lado esquerdo, considerado o lado do sujeito. A seta que sai diretamente do objeto a em direção ao sujeito barrado na posição de agente indica que o objeto-mercadoria é o que causa o desejo do sujeito, fazendo com que o sujeito funcione como um semblante de amo. Nesse cenário, verificamos que o conhecimento circula como mercadoria e que o campo educacional parece ser tomado por uma maior valorização da vertente técnica em detrimento de intervenções mais inventivas, processo que traz, certamente, implicações para sua dimensão ética (Voltolini, 2009). Tendo como referência esses apontamentos, propomos dialogar neste trabalho com as seguintes perguntas: Em que medida o discurso em torno de uma escola mais aberta às diferenças, mais igualitária no que diz respeito ao acesso, menos rígida no aspecto disciplinar e mais flexível do ponto de vista do currículo encontraria espaço em um contexto no qual o controle das práticas profissionais se faz por meio de avaliações, cada vez mais verticais e bem articuladas, primando, sobretudo, pela idéia de uma eficiência técnica? Seria possível pensar na escola contemporânea a partir de uma ótica que não se alinhe ao apagamento do sujeito frente à proliferação dos objetos? Como articular, enfim, uma educação escolar que considere as exceções sem se sustentar, para tanto, em vias normatizatórias? Sessão 25 - A infância, a criança e os adultos IV Considerações psicanalíticas acerca da separação criança e família no início da vida escolar Andréia Aparecida Oliveira de Souza Colégio Visconde de Porto Seguro [email protected] Neste texto pretende-se interrogar, tendo como base teórica as reflexões de Françoise Dolto, a respeito da significação do início da vida escolar para a criança e a família. Considerando a dimensão afetiva desse momento, enfocaremos a oficialização da separação mãe-criança e o estabelecimento do vínculo afetivo com o educador. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 61 Infancia y Educación. Una experiencia de ludetecas en al ámbito público Mariana Scrinzi Universidad Autónoma de Entre Ríos - Red INFEIES [email protected] Debra Morlachetti Municipalidad de Rosario [email protected] El Proyecto Ludotecas depende de las Dirección General de Infancias y Familias de la Municipalidad de Rosario, provincia de Santa Fe, Argentina. Se origina en el año 2006 a partir del pedido de los ciudadanos de contar con un lugar para niños/as entre 6 y 12 años, a contra turno de la escuela. Están emplazadas en las zonas más vulnerables de la ciudad. La Municipalidad de Rosario cuenta con el recurso del “Presupuesto Participativo”, que es el medio por el cual llega la demanda de los ciudadanos, divididos por distritos, y a partir de la cual se dispone presupuesto municipal, luego de la votación de cada sector de la comunidad para la realización de las propuestas del año siguiente. Dicha demanda generó la propuesta de no ofrecer solamente un lugar de paso para los niños/as sino, un lugar que aloje, donde el eje esté puesto en el jugar de los niños y niñas, una institución educativa donde se los invite a transitar un espacio y un tiempo lúdico. El Derecho a Jugar muchas veces no es priorizado por el mundo adulto, y queda relegado, desterrando la vital importancia que el jugar tiene en la historia de un niño. Cabe destacar que el jugar en la infancia es inherente a la salud psíquica del niño/a, y puede darse espontáneamente en cualquier lugar, desde esta perspectiva ¿por qué, para qué y desde qué perspectiva teórica sostener una ludoteca como política pública municipal? No todos los niños/as pueden jugar, muchas veces la intervención es” abrirles la puerta para ir a jugar”, es donar un tiempo y un espacio –en el ámbito público- para que tenga lugar una experiencia cultural. O lugar da criança no discurso social contemporâneo: algumas consequências para a educação Renata Petri Unifesp / Pedagogia - campus Guarulhos [email protected] Este trabalho pretende discutir o lugar reservado à criança no discurso social contemporâneo e como isso se articula ao malestar em nossa atualidade; mais especificamente, como os educadores, enquanto adultos detentores de um suposto saber, vem contribuindo para a construção de um tal lugar e que consequências isso pode trazer à subjetivação de nossas crianças, enquanto novos seres falantes em busca de seus lugares nesse mundo apalavrado. Espera-se assim contribuir em alguma medida para a necessidade de uma ampla e profunda reflexão do compromisso ético de cada adulto com relação ao seu posicionamento ante uma criança em um determinado contexto, sobretudo quando se trata de um educador no âmbito de seu ofício. Sessão 26 - A psicanálise e os fundamentos da educação VI Transferência e aprendizagem de língua es- Nesta comunicação apresento a perspectiva teórica da pesquisa de doutrangeira torado que inicio e que tem como foco a aprendizagem de uma língua Gisele Fernandes Loures Domith estrangeira (LE), inglês, pelas vias da transferência (BREUER; FREUD, Poslin/UFMG [1893-95] 1998; LACAN, 1992). Esta pesquisa será realizada no [email protected] po da Linguística Aplicada em uma interface entre Análise do Discurso Pêcheuxtiana e a Psicanálise. A partir desse referencial, professor e aluno são vistos como sujeitos descentrados, efeito de sentidos da história, da ideologia e do inconsciente que orientam sua relação com os outros (AUTHIER, 2001). A proposta é trabalhar a aprendizagem por essa perspectiva subjetiva, a partir da qual esse aprender é um deslocamento de discursividades que levam o sujeito de um arranjo subjetivo, o da língua materna, para outro, o da LE (REVUZ, 2002; SERRANI, 1997, 2002), o 62 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy que o permite falar, escrever, comunicar-se com outros, isto é, nomear/ simbolizar as coisas do mundo (LACAN, [1964] 2008) em ambas as línguas para nele agir. Neste contexto, pretendo investigar a transferência como mecanismo psíquico, discursivo e linguístico cujo acontecimento provoca mobilizações inconscientes e suas consequências, atualizações simbólicas e imaginárias que incidem na subjetividade, provocam tais arranjos necessários para a aprendizagem de uma LE. Realizarei, ainda, uma investigação dos elementos que impedem/interrompem os processos transferenciais na aprendizagem de uma língua estrangeira e colocam o sujeito no gozo do não aprender. A transferência no processo pedagógico Jácia Maria Soares dos Santos Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Ana Lydia B. Santiago Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Este trabalho refere-se à pesquisa de mestrado, defendida na Faculdade de Educaçao da UFMG, em agosto de 2009, a qual teve como tema a transferência no campo da educação. Com esse trabalho foi possível investigar a interferência desse fenômeno descrito no campo da psicanálise, mas que se manifesta também nas relações pedagógicas, podendo gerar dificuldades ou facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Tratase de um aspecto importante a ser debatido no campo da educação de crianças, na sociedade contemporânea, em que prevalece o declínio dos saberes e o mercado do gozo. Interroga-se até que ponto o vínculo professor-aluno-saber interfere na aprendizagem escolar das crianças. Na relação professor-aluno, tal como na análise, a transferência reedita os impulsos e fantasias impressas nos primeiros anos de vida, a partir das relações parentais e fraternais que foram determinantes para o sujeito na sua constituição. É o estabelecimento da transferência, nessa relação, que torna possível a aprendizagem. Nesse trabalho, porém, interessa-nos destacar, a partir do relato de alunos, os casos em que a transferência não se estabelece devido à interferência de dois fenômenos antagônicos: o amor demasiado e a recusa. Para isso, adotamos como metodologia a Conversação, proposta pelo psicanalista JacquesAlain Miller, a qual se revelou um método para a aplicação da psicanálise aos sintomas da modernidade, entre os quais se podem localizar os sintomas escolares. Com as conversações foi possível confirmar que, na transferência escolar, há um engano sobre a pessoa: o professor é tomado pelo aluno como um substituto de alguma figura do seu passado infantil. Além disso, demonstramos que a aprendizagem das crianças é facilitada quando a criança se desloca da polarização amor em demasia ou recusa, e, não se deixando tomar pelo excesso de gozo, reendereça seus investimentos para as pesquisas em direção ao saber. Fragmentos de estudo de casos No universo escolar, educar é transmitir conhecimentos acumulados por Maria Cecilia Costa Oliveira uma sociedade e responsabilizar-se também pela formação de pessoas. Escola da Ilha-Florescer/Escola Lacaniana Nesse universo, um mundo de experiências e sentimentos está presente de Psicanálise de Vitória-ES a cada dia, em cada sala de aula, pois alunos e educadores carregam [email protected] consigo alegrias, frustrações, desejos, esperanças, crenças e outros. Cabe ao professor e aos educadores em geral responsabilizar-se diretamente pela formação dos alunos e pela condução do trabalho. A transmissão de conhecimentos, própria do campo educacional escolar, passa por uma dinâmica que está para além do “eu ensino e você aprende”. Há, necessariamente, uma relação que se estabelece entre professor e aluno que poderá viabilizar a aprendizagem do aluno, contribuir com ela ou prejudicá-la. Na atualidade acompanhamos diversos conflitos no interior do espaço 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 63 escolar , muitos deles , acreditamos poderiam ser evitados ou minimizados se os educadores pudessem considerar a hipótese do inconsciente e a existência da transferência especialmente na relação entre professor e aluno. Pretendemos apresentar os resultados de um estudo de caso com objetivo exploratório que teve como objetivo investigar as concepções do professor a respeito da transferência na relação professor-aluno e como tais concepções são por eles construídas. Constatou-se, entre outros aspectos, a presença de elementos significativos da história do professor determinando a transferência com seus alunos e que espaços não instituídos de trocas com colegas de trabalho têm contribuído para uma construção de saber a respeito de aspectos subjetivos que se fazem presentes nessa relação. Foi também possível reconhecer, como algumas identificações imaginárias dos professores podem vigorar como emperramentos, seja na aprendizagem, seja nas relações com seus alunos e que saber lidar com crianças especiais requer necessariamente que se tenha um bom saber a respeito de aspectos subjetivos presentes na relação professor-aluno. Sessão 27 - A psicanálise e os fundamentos da educação VII A juventude em busca de uma nova rogativa? Márcio Boaventura Júnior UFMG [email protected] Marcelo Ricardo Pereira UFMG [email protected] 64 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Analisamos diversos filmes que retratam a juventude contemporânea. Neles foi possível perceber o desenrolar de uma linha similar de comportamento nos jovens: o excesso. Não apenas o excesso característico da forma de viver desta idade, mas um certo anseio que os uni na falta de limites. Como se eles não estivessem buscando apenas excitação, mas algo que parece estar sendo apenas o excesso capaz de lhes conceder nos dias atuais: alguma interdição. Numa sociedade dominada pelo terror da violência crescente, do consumo desmedido, do gozo acima de tudo, poderia o pai social estar se reconfigurando e encontrando seu canal de manifestação no excesso? Nos filmes, os pais biológicos são retratados como caricaturas modernas de pais que aparecem no enredo apenas no imaginário dos jovens, ou em segundo plano como figuras embaçadas, tão importantes ao cenário quanto o abajur na mesinha de canto. E, se dão o ar da graça, só o fazem para revelar os detalhes que condenam sua distância ao ideal paterno. Se o jovem moderno percebe-se este sujeito despido de recursos diante do outro, não seria sua sujeição ao excesso uma rogativa para que alguém intervenha, para que a função paterna se manifeste? Talvez ele busque em seu comportamento nada mais que a possibilidade de uma outra referência. Se o simbólico social se mostra insuficiente, ou no mínimo raquítico, diante da juventude, podemos então pensar que o real que emerge em algumas situações de excesso possa estar servindo aos jovens como uma possibilidade de clínica de suplência que, distante da decifração do sintoma inconsciente, consegue produzir uma certa dissolução do mesmo, limitando um pouco a errância pelo laço ofertado, ou pelo seu deslumbre, na insurreição do real. Uma operação que possibilita um giro capaz de instituir algo da ordem do inconsciente. A recusa em freud e o mal-estar na educação Gustavo Alexandre Martins Faculdade de Educação / UFMG [email protected] A proposta parte da construção de uma pesquisa de mestrado que visa interrogar o posicionamento do sujeito de desejo na educação, especialmente aquele em que se pode localizar a recusa como significativo mecanismo de defesa na contemporaneidade. Pretende-se investigar profundamente a evolução do conceito de recusa (Verleugnung) em Freud e outras leituras sobre o termo. Em seguida, aproxima-se do tema central da pesquisa esboçando implicações deste mecanismo no mal-estar na educação. A recusa é definida primeiramente como a ação de não aceitar a visão da diferença entre os sexos, ou seja, recusa-se a castração; ao lado do recalque, impõe-se como mecanismo fundamental na divisão do eu. Assim, o eu se defende das ameaças externas – castração simbólica ou algo que remete a ela – por meio de mecanismos antagônicos. No recalque, as representações são forçadas para o inconsciente e os afetos ligados a elas retornam de maneira cifrada. Na recusa, a defesa incide sobre a própria representação esvaziando o sujeito da possibilidade de se inscrever em uma cadeia de significações. Este tipo de defesa implica para o sujeito uma carência simbólica que dificulta o encadeamento de laços sociais. Desta maneira, entende-se que a recusa conduz o sujeito a um peculiar modo de gozo. No lugar da palavra, o sem sentido. Em vez do sintoma a ressignificar, o objeto imaginário e ‘fetichizado’. A repetitiva e, portanto, mortífera, pulsão desorganizada, governa para além da possibilidade de representação, o mal-estar. Questiona-se o que há de função da escola que reedita a recusa no sujeito, principalmente o aluno adolescente, a quem é dirigida a maioria das queixas escolares. Por outro lado, o que aparece como recusa do aluno e que toca no professor ao ponto de acentuar também neste o mal-estar. Disto, vislumbra-se a abertura do espaço para interrogar e, por ventura, intervir na possível inscrição do desejo onde até então a recusa prevalece e desautoriza o saber do outro e o saber inconsciente. A menudo, esta frase es escuchada en las clases de adolescentes a los Y esto... ¿para qué ME sirve? que parecería que el uso/servicio/utilidad de determinadas conceptualiMaría Teresita Pullol Facultad de Psicología / Univ.Nac. de Mar zaciones sería la motivación para que puedan “aprender”. La ética del utilitarismo es lo imperante en esta época capitalista: el del Plata. Argentina. Red INFEIES. éxito se basa en el rendimiento y en la eficacia. La preponderancia de [email protected] los sujetos está dada por el tener y no por el ser. El discurso capitalista se cuela en el aula, queriendo imponer segregación en lugar de lazo social, borramiento de singularidades donde deberían instalarse diferencias. Las posibilidades de educación en esta línea se tornan dificultosas: se responde a la inmediatez de la demanda, en lugar de la creación de algo nuevo y singular; se da lugar a una repetición que se contrapone a la circulación de otros significantes. ¿Qué lectura podemos dar desde el psicoanálisis a este intento de borramiento de diferencias, a este pretendido rótulo de gadget que pareciera tener el conocimiento como medio para la adquisición de objetos de goce? Son las reflexiones que intentaré esbozar en el presente trabajo. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 65 Sessão 28 - A psicanálise e os fundamentos da educação VIII Possibilidades para a relação mestre e discípulo Vanice dos Santos Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Lisiane Fachinetto Faculdade de Educação / USP [email protected] Estamos numa época em que a pressa, o instantâneo, o imediato, as exigências do mercado de trabalho clamam a atenção do sujeito. A pausa para observar e ponderar sobre o que se deseja, e aqui incluindo a educação formal são, muitas vezes, soterradas pelas exigências do cotidiano. Pensando a questão da educação formal como uma das maneiras nas quais o sujeito se faz e se compreende dentro de uma tradição, observamos, através da experiência docente que alguns buscam ingressar nalgum curso no afã de galgar melhores posições (seja status profissional, mudança de nível na carreira, dentre outros) sem que haja necessariamente a pré-ocupação com as aprendizagens que podem advir nessa imersão. Assim, nossa pesquisa sobre a relação mestre e discípulo parte da origem do pensamento Ocidental, na tentativa de recuperar esse acontecer. Encontramos que os sofistas foram os primeiros a se autodenominarem mestres e, fazendo uma comparação com os mestres/professores na contemporaneidade, encontramos em comum, prontamente, a remuneração. O amor ao saber vinculado ao amor à remuneração causou estranheza a Sócrates e a Aristóteles, por exemplo. Encontramos em Sócrates (470/469 – 399 aC.), sobretudo no diálogo platônico Alcibíades I, um sujeito que intervêm na vida de outro (Sócrates interpela Alcibíades), propondo questões e este, aceitando a interferência. Temos aqui várias questões: o momento da vida de Alcibíades no qual Sócrates decide interpelá-lo; a relação de ambos, sobretudo a demanda de amor e como Sócrates a encaminha. Quanto à primeira questão temos a consideração de um sujeito (Sócrates – que quer compreender e contribuir para a vida na polis) para com os desejos de outro (Alcibíades - que quer governar) e, unindo ao segundo problema, temos Sócrates que identifica as falhas pedagógicas, escolar e amorosa, que Alcibíades tivera ao longo de sua vida, fazendo este reconhecer sua trajetória. Mas Sócrates não responde do lugar que Alcibíades o coloca, a saber, de um lugar totalizante. Instauradas as condições para o diálogo: um que se dirige ao outro (e vice-versa), estabelecem a relação mestre e discípulo. Se Alcibíades tivesse sido interpelado por outro que não Sócrates, talvez tivesse estabelecido a relação com o professor. O fracasso escolar existe, mas eu não acre- A distinção entre o saber e o conhecimento convoca os educadores a buscar um novo conceito para a dialética ensinar-aprender. dito nele A perspectiva da (psico)pedagogia hegemônica põe em jogo o fracasso Maria Eugênia Capraro de Toledo [email protected] escolar como discurso recorrente na atualidade fomentando um desinvestimento no sujeito “aprendente”. Este texto procura apresentar uma leitura de contextos escolares atravessados por diferentes possibilidades diante do (des)encontro entre o saber e o conhecimento. 66 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Sessão 29 - Educação e ato analítico Com esse trabalho, propomos um exame dos textos de apresentação e de princípios gerais da Proposta Curricular da Secretaria da Educação O discurso pedagógico no contexto contem- de São Paulo à luz da teoria do discurso lacaniana. Para tanto, partireporâneo: notas sobre a Proposta Curricular mos de um elemento recorrente nesse material: a convicção de que a do Estado de São Paulo melhoria da educação está estritamente ligada à melhoria dos processos Flávia Zanni Siqueira de gestão escolar, considerando que a concepção de Projeto Pedagógico Faculdade de Educação / USP ocupa um lugar estratégico nessa formulação. A supressão da [email protected] cação “político” nessa expressão, aponta para a primazia da técnica no discurso pedagógico, que faz passar por homogêneo aquilo que é hegemônico. A emergência da técnica caracteriza-se pela padronização, mensuração e eficácia dos processos, sendo observada no campo pedagógico na ascendência do interesse estritamente metodológico. Tais características indicam a imbricação entre ciência – em sua dimensão técnica – e capitalismo: a padronização da técnica vai ao encontro da redução da singularidade exigida pelo estabelecimento do público-alvo, de maneira que o Discurso do Capitalista, como postulado por Lacan, trata da fusão entre os interesses do capital e o cientificismo, sendo uma tendência do discurso pedagógico organizar-se nessa lógica. Tal inversão, que faz a dimensão ética da educação ficar em segundo plano em comparação à sua dimensão técnica, leva a posições equivocadas, uma vez que o gesto educativo é da ordem da praxis e não do experimento e, por essa razão, sua essência foge ao controle e à planificação. Entretanto, ao se sustentar no Discurso do Capitalista, o discurso pedagógico escapa à sua especificidade, fazendo deslocar a condição política da atividade educativa para uma lógica operativa, marcada pela necessidade de gestão. A foraclusão do sujeito pode ser observada na Proposta Curricular especialmente na concepção de projeto (não político) pedagógico. Através dela, são aproximados termos antagônicos, “gestão” e “projeto pedagógico”, destituindo o propósito político do último. O vetor da teoria na clínica psicanalítica Antônio César Frasseto UNESP / Campus de São José do Rio Preto [email protected] O conceito de Recuo da teoria na pesquisa educacional e na formação de professores resulta do laço social fundado pelo discurso do capitalista que transforma o sujeito e o conhecimento em mercadoria e desfaz os referenciais que legitimavam as ações educacionais na vigência do conhecimento como trabalho, quando se podia confrontar o domínio. Hoje, sem teoria, a pesquisa em educação se converte numa prática imediata e voluntarista, limitada a descrição das percepções cotidianas. A escola sem teoria valoriza a regulação gerencial e o ensino de competências operacionais. Para aprofundar uma noção de ciência que possa incluir a psicanálise Lacan recorre à epistemologia de Koyré e confronta o realismo positivista que concebe o conhecimento como procedimento de formalização e quantificação, como correspondência entre um conhecimento transcendente e final e uma realidade pré-existente. Assim desconsideram o essencial da revolução iluminista que definiu a ciência como a escrita do real através da linguagem matemática - complexo de símbolos sem atributos próprios que elimina as qualidades sensíveis do real. Início de um conhecimento fundado no cálculo sobre a natureza, com poder de escandir e tangenciar o real. O gesto de transformar o real em uma fórmula mínima submete o empírico imediato ao cálculo e à experimentação, alcançando a literalidade em leis que conferem coerência e gera efeitos no real. Quando lido através da epistemologia de Koyré, tanto o conhecimento realista da metafísica da presença quanto as metateorias universalistas entram em crise. Na direção da clínica 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 67 psicanalítica este debate está presente sob a forma de uma escuta que funciona como se o analista não estivesse presente, em que o sujeito é observado, descrito e apresentado através de recortes discursivos que funcionam como ilustrações e por si só não garantem uma intervenção a partir de um conceito abstrato, como se o analista não estivesse ali. O conhecimento científico não é reflexão sobre o real, mas sim inflexão, ciência não é transcrição do real, a transcrição é que é real. Conhecer não é descobrir, mas atribuir sentido. Numa ciência em que a psicanálise possa se incluir as palavras inscritas pelo sujeito e descritas pelo analista já são parte da própria conceituação, no enunciado do sujeito está a causa do conceito. O ensino enquanto ato: notas de psicanálise É possível operar com a noção de ato para refletir sobre questões pere educação tinentes ao contexto do ensino e também da educação? Em primeiro Douglas Emiliano Batista lugar, precisamos nos descolar da especificidade daquilo que só aconteFecap ceria no setting analítico, para que a homologia dos termos não suscite [email protected] uma equivocada e simplista transposição de idéias de uma práxis para outra. Tendo isso em mente, talvez se possa continuar, ainda se inspirando pela psicanálise, a usar o termo ato para se referir a um tipo de acontecimento singular cujo efeito é causar uma mudança de posição subjetiva, mas não necessariamente uma destituição subjetiva (tal como se espera da análise). Nesta perspectiva, entenderíamos o ato de ensino como aquele que pode levar a uma transformação subjetivante, ou seja, ao engendramento de uma singular subjetividade desejante, ou, ao deslocamento de um sujeito de uma posição discursiva para outra, a partir da transmissão inconsciente de marcas significantes veiculadas entre o dito e o não-dito de um discente para um docente. Nesta medida, o ato do ensino, assim como o ato analítico, seria também insondável, e, por isso, não passível de ser planejado didaticamente e não verificável a partir de avaliações pedagógicas. Em outros termos, o ato de ensino é o que ensejaria ao outro e no outro um novo início no que diz respeito à aquisição de conhecimentos e à consolidação do interesse geral pelo mundo (encetando, dessa forma, um “trabalho de cultura”, no dizer de Freud). Posto isso, cabe então a pergunta: é possível que o ato de ensina faça efeitos em tempos de declínio dos saberes e de mercado do gozo? Sessão 30 - A psicanálise e os fundamentos da educação IX Dos efeitos do mal-estar contemporâneo na Nosso principal objetivo, nesta comunicação, será abordar determinados problemas e dificuldades que são sistemática e persistentemente educação das crianças. apresentados pelas crianças, tanto no espaço familiar quanto escolar, e Tácito Carderelli da Silveira FAAT Faculdades - Atibaia/SP avaliar se e até que ponto esses problemas têm alguma relação com a [email protected] maneira como estamos educando as crianças hoje. Para tanto, partiremos da hipótese de que, ao denegar o mal-estar que o constitui, o sujeito é muitas vezes levado a desimplicar-se da responsabilidade inerente à educação das crianças e, dessa forma, além de criar as condições necessárias ao surgimento dos sintomas na infância, pode acabar lançando mão de expedientes nada educativos como, por exemplo, a medicalização dos sintomas na infância. 68 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Da escola para a clínica? Análise de encaminhamentos escolares para tratamento psicológico no Laboratório de Psicologia Carolina Martuscelli do CPAR/MS. Daniela Bridon dos Santos Reis Brandão Univers. Federal do Mato Grosso do Sul [email protected] Greice Cristina Contini Carvalho Univers. Federal do Mato Grosso do Sul [email protected] Juliana Fernanda de Barros Univers. Federal do Mato Grosso do Sul [email protected] Luisa do Nascimento Ortega Queiroz Univers. Federal do Mato Grosso do Sul [email protected] O projeto de pesquisa intitulado “Da escola para a clínica? Análise de encaminhamentos escolares para tratamento psicológico no Laboratório de Psicologia Carolina Martuscelli Bori do CPAR/UFMS” coloca como objetivo principal investigar, através do método psicanalítico, as demandas de pais e educadores para atendimento psicológico clínico de crianças de 06 a 12 anos, consequência de encaminhamentos produzidos pelas escolas do município de Paranaíba/MS. Ainda que a criança já tenha sido percebida de variadas maneiras ao longo do tempo, ocupando diferentes lugares sociais de acordo com diferentes épocas históricas, é sempre o gesto adulto que, endereçado a ela, se implica na produção de uma infância. Estando a realidade psíquica recortada pelo significante, a noção de criança é produzida simbolicamente pelo adulto, sendo a partir desta produção que ambos – adulto e criança – se relacionam. Frente ao fenômeno da medicalização da infância, consequência, muitas vezes, do diagnóstico de TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – produzido nos atendimentos de crianças por serviços de saúde mental, este projeto busca elucidar as motivações que direcionam tanto os encaminhamentos feitos pela escola quanto as solicitações de atendimento psicológico clínico produzidas pelas famílias. O que se levanta como hipótese é que tanto os encaminhamentos quanto as solicitações de atendimento estão menos relacionados a transtornos individuais das crianças – ao contrário da justificativa esboçada – e mais relacionados ao lugar simbólico da infância na atualidade, consequência dos desdobramentos culturais que transformaram os lugares simbólicos do adulto – nas funções de pai, mãe e educador – e, conseqüentemente, as instituições nas quais se enlaçam. Os resultados parciais apontam para um generalizado e indiscriminado direcionamento de crianças a serviços clínicos de saúde mental. ¿Es posible enseñar? Maria Cecilia Aiello I.S.F.D. Nº 84 . (Mar del Plata) [email protected] Presentaremos un relato de una experiencia de exploración-investigación realizada con alumnos de institutos de formación docente, como modo de transmisión y producción de conocimiento. La indagación sobre la temática de videojuegos es una vía para pensar conceptualizaciones sobre la adolescencia, juego y cultura. Los jóvenes de nuestros profesorados se apropian de un discurso adulto y sobretodo normalizador acerca de que es lo correcto o lo incorrecto en este mundo reflejando en esos juicios el efecto de la fuerza del discurso pedagógico. Este discurso es el que tiene como fin el jugar para: aprender, para socializarse, para desarrollarse, etc. Este trabajo intenta mostrar como los alumnos se fueron posicionando respecto a la propuesta, aunque es difícil modificar la impronta que tienen esta actividad en el marco curricular. La transmisión de la psicología en las carreras de profesorado ciertas veces está atravesada por formas más o menos directas de repetición de teorías y discursos. Desde la evaluación del impacto que tiene este tipo de enseñanza se considera que tiene poca capacidad de transformación en los quehaceres profesionales de nuestros egresados. ¿Cómo hacer para que además de transmitir los conocimientos del campo psi, podamos transmitir también las formas de producir el conocimiento en nuestras disciplina? De este modo la idea de hacer participar a los alumnos de un profesorado en esta experiencia es la de hacerlos reconocer los alcances de estos discursos y poder tomar hacia ellos una distancia crítica y reflexiva intentando develar los complejos procesos que sostiene la producción de subjetividad. El propósito de la primer parte del trabajo ha sido la 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 69 de favorecer el cuestionamiento de de discursos sociales y educativos enraizados en las concepciones de nuestros alumnos y determinantes a la hora la configuración definitiva de los profesores como pedagogos y trabajadores de la cultura. Sessão 31 - A psicanálise e a função docente IV A conversação e a intervenção sobre o malestar docente e o abuso sexual infantil Margareth Diniz Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Marco Antonio Torres Universidade Federal de Ouro Preto Claudia Itaboray Secretaria Municpal de Educação de Ouro Preto Thiago Machado Universidade Federal de Ouro Preto O grupo interdisciplinar da Universidade Federal de Ouro Preto que desenvolve o Programa nomeado como Caleidoscópio de pesquisa/extensão, se situa na proposição de um regime multidisciplinar de saberespráticas buscando escutar por um lado o mal-estar docente e por outro os sintomas sociais manifestos nos discursos de crianças e adolescentes que vivem situações de violação de seus direitos, especialmente situações de abuso sexual. O presente trabalho decorre de uma ação orientada pela prática da conversação com professoras que visa interrogar e deslocar os conhecimentos pulverizados que circundam tanto as práticas docentes quanto os aparatos sociais de proteção e atendimento às crianças e adolescentes na cidade de Ouro Preto/MG que se vêm impotentes diante de tais acontecimentos fazendo circular um discurso congruente com a naturalização do abuso sexual. O que se pretende com este trabalho realizado por muitos é interrogar essa naturalização discursiva que vê a criança como objeto de gozo do adulto inaugurando um campo ético que possa fazer deslocar os saberes-prática até então produzidos. Uma leitura psicanalítica da demanda de modelos ideais na formação de professores Delia María Carmen De Césaris USP / Doutoranda [email protected] Odana Palhares Cursos de Pós Graduação Latu Senso [email protected] A questão que se coloca é a insistência dos professores na busca por um modelo ideal de educação, negando a impossibilidade no interior da mesma. Nessa procura supomos a busca de receitas satisfatórias, próprias da ideologia do capitalismo, as quais, de alguma maneira, entrariam em concordância (ou encontram ressonância) com a questão da medicalização, e o consequente apagamento subjetivo. O medicamento responderia à fantasia de que existiria um objeto que se corresponde proporcionalmente ao sofrimento do sujeito, apagando-o, imagem negadora da falta de proporção entre ambos e da incompletude própria do ser humano. Assim o medicamento é mais uma mercadoria a consumir para acalmar as perguntas e questões que o sintoma suscita. Da mesma maneira existe a demanda imaginária de “uma” receita que daria fim às mazelas da educação, negando sua incompletude. A impossibilidade da educação se pauta na existência do inconsciente e na impossibilidade mesma de controle sobre o ato educativo, bem como na falta do objeto de satisfação que se ajuste a esse ideal. Este trabalho propõe analisar a problemática da formação de professores, na produção acadêmica dos últimos vinte anos, no âmbito da psicanálise e da educação, tendo em conta quatro vertentes: a) a leitura psicanalítica do processo de formação do professor; b) a formação em psicanálise de profissionais da área de educação; c) a leitura psicanalítica da formação de formadores e d) espaços de escuta psicanalítica de professores em serviço. As profundas transformações do mundo atual e as expectativas de formação das novas gerações precisam de sujeitos autônomos, participativos, em consonância com a diversidade cultural e os direitos individuais, por tanto, a elaboração teórico-conceitual no campo da formação de professores e educadores sociais, demanda da dimensão subjetiva como condição si ne qua non na consecução de qualquer projeto educacional. 70 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Para tal fim, a psicanálise se constitui no suporte teórico que permite o resgate da subjetividade nos contextos sócio educativos, levando em consideração a complexidade do sujeito-professor e do sujeito-educador social. A inversão da demanda: “para que serve a Parte-se da clínica psicanalítica com crianças com transtornos globais psicanálise à educação?” do desenvolvimento. Ao ouvir as angústias dos professores delas, acrediMônica Fujimura Leite tava-se ser possível oferecer-lhes um saber para diminuir-lhes a angúsUniversidade Estadual de Londrina tia. Na pesquisa no mestrado em educação, a partir da pergunta acerca Espaço Escuta de que serviria este saber à educação, percebeu-se que saberes não lhes [email protected] faltavam, e que os da psicanálise podem atrapalhar e descaracterizar a Cleide Vitor Mustini Batista função do professor. Escutou-se a questão trazida pelos pesquisadores Universidade Estadual de Londrina da Educação e inverteu-se a demanda, tornando-a uma questão ética, de estar advertido de que ouve-se a partir da própria subjetividade, e de questionar-se acerca de uma posição de todo saber. Parte-se então da pergunta: de que serve a transmissão da psicanálise àquele que não se propõe a ser psicanalista (especificamente aos profissionais da educação)? Foi realizado um levantamento bibliográfico de pesquisas anteriores; seguido de um retorno à Freud, Lacan e pesquisadores da educação e da psicanálise nos conceitos de ensino, transmissão, transferência, estilo, psicanálise em intenção e extensão e a constiuição do sujeito, focando na importância do Outro na construção da subjetividade, do desejo e da aprendizagem. Como resultados verificou-se que a psicanálise pode contribuir com a educação na consideração da subjetividade na relação entre os sujeitos e com os objetos de conhecimento, do desejo na aprendizagem, de que ensina-se por dívida, aprende-se por amor e da transferência. A transmissão é possível a partir de um posicionamento ético do psicanalista de não assumir o lugar no qual é colocado, de saber, mas mantendo o semblante, de suposto. Os dispositivos utilizados seriam a fala e escrita dos professores, possibilitando a construção de cada sujeito, a partir da prática deles, sendo que o ensino de conceitos da psicanálise seria um meio para isso. Concluindo, a transmissão da psicanálise para a educação é possível se possibilitar aos professores passar da queixa à implicação, responsabilizando-se pelo que sofrem, produzindo um saber, diminuindo a demanda de uma solução vinda de fora. Sessão 32 - A psicanálise e a função docente V A escuta analítica de professoras e a posição subjetiva: a experiência do Grupo Ponte em operacionalização na rede municipal de ensino em Santo Ângelo/RS. Marcele Teixeira Homrich IESA/UFRGS [email protected] A presente comunicação é fruto do processo de elaboração do projeto de doutoramento da autora no PPG Educação da UFRGS, onde, tomando como base o trabalho desenvolvido pelo Grupo Ponte, pretende-se estruturar uma forma de proporcionar um espaço de escuta analítica as professoras que se deparam com a tarefa de educar crianças com necessidades especiais e crianças com distúrbios Globais do desenvolvimento. O projeto está sendo desenvolvido na cidade de Santo Ângelo, na Secretaria de Educação, especificamente do setor de inclusão. Tomarse-á como base a experiência do Grupo Ponte, mais especificamente a pesquisa de Bastos (2003). Estão sendo realizados encontros semanais com um pequeno grupo de professoras que recebem alunos incluídos na escola regular. No que refere-se à escuta, em princípio, toma-se como base a fala das professoras como material de análise para analisar no decorrer da pesquisa o modo pela qual a escuta analítica pode operar 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 71 mudanças discursivas. Será operacionalizado o que Lacan (1958) denomina de confrontação, ou seja, uma formulação possível de levar o sujeito a se haver com seus ditos, buscando abrir espaço para novas perguntas e novos significados. O projeto fundamenta-se em uma leitura psicanalítica da escuta de professoras, sendo que os objetivos em longo prazo podem ser definidos nos seguintes: análise da posição subjetiva das professoras, descrever como a escuta analítica pode operar mudanças discursivas articulando com a clínica ampliada, tomando como base a experiência do Grupo Ponte. Ao fim, possibilitando articular sintomas contemporâneos que adentram as instituições escolares que estariam vinculados com a posição subjetiva. O referencial teórico está sendo pensado a partir da posição subjetiva como reatualização do Complexo de Édipo e, consequentemente, a possibilidade de transmissão da castração. O declínio dos saberes e os métodos de ensino: alguns apontamentos sobre as conexões entre Educação e Psicanálise. Rogério Rodrigues Universidade Federal de Itajubá - Unifei [email protected] 72 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Esta pesquisa resulta da escuta de alguns educadores que trabalham no campo escolar em duas unidades públicas de ensino distintas que segundo a avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDBE) foram selecionadas como a unidade escolar com a maior e com a menor nota. O objetivo da investigação foi apreender o discurso do educador em relação ao sucesso ou fracasso da sua prática educativa. Nesse conjunto de entrevistas com os educadores foi possível constatar que em ambas as unidades de ensino cada um deles se apresentava como detentor de algum “método de ensino” realizado no processo de educativo com os seus alunos. De modo geral, o que importa destacar é que na oposição entre o sucesso e o fracasso escolar tem-se presente insistentemente que somente na utilização correta do “método educativo” é que se pode representar como educador. Essa ampliação do uso dos “métodos de ensino” está diretamente relacionada com os “declínios de saberes” do educador, ou seja, quanto mais técnica se torna a relação educativa, paradoxalmente, menor a condição do educador se apresentar no conjunto do saber, pois ele fica subordinado à “metodologia de ensino”. O paradigma do método torna-se fundamental para o educador se realizar como aquele que melhor consegue aplicar a referida “técnica educativa”. Tem-se desta forma uma situação paradoxal, ou seja, uma ampliação do saber técnico e científico em oposição ao declínio do saber do sujeito/educador que se encontra presente na relação educativa. Considerou-se que os pontos de conexões entre a Educação e Psicanálise podem colaborar para reverter essa situação do educador de coisificar a relação educativa e compreendê-la como uma situação da experiência humana em que o sucesso ou fracasso apenas se apresentam como contingências da própria realidade e, portanto, perceber na radicalidade o impossível na educação como esperança de algo que se realize nas próprias contingências do real. Reciclagem do saber para não ser consumido: os serviços gerais no particular de uma escola Maria Rachel Botrel Lima Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Margarete Parreira Miranda Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] O presente trabalho está vinculado ao Grupo de Pesquisa Caleidoscópio do Projeto de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto, que focaliza os estudos do mal-estar docente e os problemas da criança e do adolescente. A entrada da psicanálise em cada escola produz algo da ética do particular, considerando-se que o sintoma da instituição é localizado e tratado no detalhe de cada escola. Como psicanalistas concernidos pelos problemas que o declínio do saber e o mercado do gozo trazem para os enlaçamentos do sujeito na contemporaneidade, apresentaremos o recorte de uma pesquisa-intervenção que trabalha o particular de duas escolas de Belo Horizonte. Nestas escolas, uma pública e outra particular, ressaltamos a partição dos funcionários dos serviços gerais nas Conversações, metodologia da psicanálise aplicada à educação e escolhida como estratégia para a condução desse trabalho. É possível constatar nessa pesquisa ainda em andamento, que o posicionamento das escolas, ao incluírem os funcionários dos serviços gerais numa proposta de intervenção, abriu a possibilidade para a construção de algo novo. Se num primeiro tempo das Conversações, os profissionais dos serviços gerais se mantinham fixados como aqueles que podiam ser usados e descartados pelos alunos, pelos pais e pela própria instituição escolar, num segundo tempo das Conversações, em que as identificações foram sendo desconstruídas, esses profissionais flexibilizaram suas posições. Assim, num terceiro momento, da identificação ao “lixo” e ao “resto”, passaram para a posição de educadores dos serviços gerais, recolocando-se como detentores de um saber. Concluíram que os “desperdícios de atos e palavras” poderiam ser transformados em atos educativos. No espaço fora da sala de aula se posicionam, então, como aqueles que recolhem segredos e intimidades e também os desafios das crianças e dos adolescentes, dando a eles outros destinos. Transformar o que “não servia pra nada” em respostas inéditas. Sessão 33 - A psicanálise e a função docente VI Kheíron - da relação do professor com o não saber Karen Geisel Domingues Universidade de Brasília [email protected] Inês Maria Marques Zanforlin Pires de Almeida Universidade de Brasília [email protected] Dos estudos e reflexões advindos da pesquisa de doutorado em andamento, ao articularmos psicanálise e educação, propomos-nos pensar a relação professor com o não-saber na pós-modernidade e seu impacto sobre as relações em sala de aula - um dos espaços de negação da falta ou vazios no trabalho do sujeito-professor. Será possível trabalhar o nãosaber como fonte de formação e informação em uma sociedade configurada pelo gozo do uso do conhecimento? Trazemos o mito de Kheíron, centauro considerado primeiro professor na mitologia grega, um ser representado metade humano metade cavalo, mestre e médico de vários heróis mitológicos. Profundamente ferido por uma flecha envenenada em uma das patas, apesar de não conseguir curar-se, dedicava-se à cura dos homens em suas dores e ignorância. Quanto mais sofria por seu ferimento, mais empenhava-se em cuidar e orientar o ser humano. O mitologema inspira a metáfora do que podemos dizer do professorcentauro. Por um lado a evitação do vivenciar o vazio do não-saber na busca incessante da completude pelo conhecimento: demanda crescente por cursos de formação, consumo de novas metodologias ou busca frenética por títulos e certificados como garantias à priori do reconhecimento de autoridade plena e ascensão profissional. Por outro, a necessidade deste docente em compreender e ter consciência de furos em seu saber, 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 73 lugares de não-saber que precisa aprender a conviver, incorporar como experiência do real, refletir e tirar partido em sua atuação como mestre. Na sociedade atual, a ignorância e os males humanos parecem estar associados ao não-saber. A impotência frente a onipotência desejada e nunca alcançada traz a necessidade de percebermos nossa constituição a partir da consciência e vivência de nossos limites humanos. Em verdade, propomos abrir espaço à ferida do centauro. Reverso da experiênciaferida de Narciso na atualidade pós-moderna, provocadora de ilimitadas fantasias de conquista e consumo, o mito de Kheíron vem colocar em cheque a função comercial, utilitária e institucional do ensino e da formação do educador em seu valor maior: a constituição do sujeito, lembrando Nietzsche “humano, demasiadamente humano”. De homo sapiens à homo zappiens: sofrimento psíquico dos professores diante das tecnologias digitais Maria de Fátima Reszka UNISINOS/ULBRA Gravataí/FACCAT [email protected] Paulo Gaspar Graziola Junior UNISINOS [email protected] Este artigo busca refletir sobre a transição do homo sapiens, o homem em busca do conhecimento, do saber, ao homo zappiens, cidadão virtual, que sabe zapear, utilizar várias tecnologias digitais ao mesmo tempo (VEEN E VRAKKING, 2009). A pesquisa, que faz parte do Grupo de Pesquisa em Educação Digital UNISINOS/CNPq (GPEdu), tem como objetivo analisar as mudanças ocorridas no contexto da educação, diante do uso das Tecnologias Digitais (TDs) e o sofrimento psíquico advindo desse processo, para (re)pensarmos a formação docente. Como percurso metodológico, estamos fazendo um levantamento bibliográfico dos últimos 20 anos em relação ao uso das tecnologias na escola. Para isso, procurase articular a Teoria da Metáfora da Hospitalidade buscando luz junto à Psicanálise, para entender através da escuta o sofrimento psíquico dos professores e o momento que esses estão vivendo. A Hospitalidade (CIBORRA, 2002) é então o comportamento que revela o esforço humano para lidar com a incerteza que está sempre envolvida ao hospedarmos uma nova tecnologia: pode-se descobrir a nova tecnologia como um hóspede muito agradável, ou ela pode, ao contrário, se revelar um inimigo, roubando o território do hospedeiro e fazendo dele um refém. Podendo, dessa forma, desencadear angústias, gerando sofrimentos. O sofrimento é um entrelaçamento entre as condições subjetivas e as condições objetivas histórico-culturais (AGUIAR & ALMEIDA, 2008). As mesmas autoras apontam para um mal-estar docente como um sintoma psíquico, que nasce do enodamento do corpo com o discurso social e a fantasia do sujeito. Esteve (1999) descreve a expressão mal-estar docente para entendermos os efeitos permanentes, de caráter negativo, que afetam a personalidade do educador como resultado das condições psicológicas e sociais em que exerce a docência, devido à mudança social acelerada. Como a pesquisa encontra-se em andamento, procura-se por meio deste artigo, provocar uma discussão maior sobre esses aspectos e possíveis sintomas que desse advém. Formar professores a distância – uma outra O ensino a distância se traduz no cenário brasileiro principalmente como escuta sobre essa ousadia uma promessa de atendimento à “demanda” por formação de professoRicardo Dias Sacco res. Da observação das características históricas e políticas deste fenômeno contemporâneo se desdobra o questionamento sobre prescindir da Faculdade de Educação / USP presença física do sujeito e, de carona, daquilo que a ausência de seu [email protected] corpo denuncia sobre sua sujeição. A psicanálise contribui para aprofundamento dessa questão ao localizar a discussão sob a chave do (sujeito do) desejo, sob aquilo que o discurso atual do ensino tenta varrer para baixo do tapete da distância. O presente trabalho orienta-se por tentar 74 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy justapôr o discurso do EaD à dinâmica do desejo para sugerir que formar professores a distância seja “uma tarefa de difícil acontecimento”. 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 75 76 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Mapas de Localização cidade universitária P2 J I K E F H B G C 1 D A L P1 P3 P1 M Portão 1 - Acesso Principal 1 Marginal Pinheiros / Vital Brasil / Eusébio Matoso / Vl. Madalena P2 Portão 2 Marginal Pinheiros / Av. Escola Politecnica / Jaguaré P3 Portão 3 Av. Corifeu de A. Marques / Rio Pequeno / Osasco Faculdade de Educação Lanchonete / Restaurante A Escola de Educação Física e Esportes | EEFE Lanchonete / Restaurante B CEPEUSP Centro de Práticas Esportivas da USP C Reitoria D Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas | FFLCH E Praça do Relógio F Praça dos Bancos G Instituto de Geologia H Faculdade de Arquitetura e Urbanismo | FAU I Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade | FEA Lanchonete / Restaurante J Escola Politécnica | EP K Coordenadoria do Campus L Hospital Universitário M Faculdade de Veterinária e Zootecnia | FMVZ 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 77 Faculdade de Educação 2 3 D 1 C A B Faculdade de Educação 1 Bloco B | FEUSP Salas de Aulas e Auditório da FEUSP 2 Escola de Aplicação Auditório da Escola de Aplicação 3 Lanchonete da Educação (térreo) Lanchonete / Restaurante 78 A Ponto de ônibus Educação B Bolsão de estacionamento | CEPEUSP C Bloco A | FEUSP D Biblioteca da FEUSP 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy Lorena Hotel Flat clínicas hosp. 9 de julho lorena hotel flat Av. Rebouças, 955 hosp. das clínicas consolação hosp.sírio libanês trianon-masp lorena flat hotel av. rebouças, 955 av. rebouças ponto de ônibus oscar freire sentido bairro r. dr. melo alves al. lorena ponto de ônibus oscar freire sentido centro r. oscar freire Hospedagem (sugestão) Lorena Hotel Flat Av. Rebouças 955 05401-100 Jardins São Paulo | SP Brasil +55 (11) 3069-0000 [email protected] Ônibus Urbano 702U Term Pq. Dom Pedro II (sentido centro) 702U Butantã USP (sentido bairro) 7411 Praça da Sé (sentido centro) 7411 Cidade Universitária (sentido bairro) 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 79 Informações do Campus Museus Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) | Av. Professor Almeida Prado, 1466 Horário de Funcionamento: terça a sexta, das 10h às 12h e das 13h30 às 17h, sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h Museu de Arte Contemporânea (MAC) | Rua da Reitoria, 160 Horário de Funcionamento: 3ª a 6ª, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) | Av. Prof. Melo Moraes, travessa 8 nº 140 Cafés, lanchonetes e restau- Faculdade de Educação - Av. da Universidade, 308 rantes Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) - Avenida Prof. Luciano Gualberto, 908 Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) - Avenida Professor Mello Moraes, 65 Pontos de taxi Praça da Reitoria – (11) 3091-3556; na Praça das Agências Bancárias – (11) 30914488; em frente ao Hospital Universitário – (11) 3091-3536. Bancos Banco do Brasil, Banco Real, Banco Santander Banespa, Banco Bradesco, Banco Itaú | Av. Prof. Luciano Gualberto, 600 Hospital / emergência Hospital Universitário - Av. Prof. Lineu Prestes, 2565 Ônibus urbanos 107T Metrô Tucuruvi - Cid. Universitária Santana - Metrô Tietê - Metrô Tiradentes - República - Augusta - Metrô Consolação Cid. Jardim - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 177H Metrô Santana - Butantã-USP Casa Verde - Barra Funda - Metrô Marechal Deodoro - Av. Angélica - Metrô Clinicas Cardeal Arcoverde - Lgo. Batata - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 177P Metrô Santana - Butantã-USP Casa Verde - Barra Funda - Perdizes/PUC - Metrô Clinicas - Cardeal Arcoverde - Lgo. Batata - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 701U Jaçanã - Butantã-USP Tucuruvi - Santana - Metrô Tietê - Metrô Tiradentes - República - Consolação - Metrô Clínicas - Cardeal Arcoverde - Lgo. Batata - P1 - Av. da Universidade - Hosp. Universitario - IMEUSP - Av. Prof. Luciano Gualberto - ECAUSP 702U Term. Pq. Dom Pedro II - Butantã-USP (Lorena Hotel Flat) Pça. Sé/ Pateo do Colegio - Pça Ramos - República - Consolação - Rebouças - P1 - Av. da Universidade - Hosp. Universitario - IMEUSP - Av. Prof. Luciano Gualberto - ECAUSP 724A Aclimação - Cid. Universitária Pq. Aclimação - Paulista - Metrô Clínicas - Cardeal Arcoverde - Lgo. Batata - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 7181 Term. Princ. Isabel - Cid. Universitária República - Augusta - Metrô Consolação - Cid. Jardim - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 7411 Pça. da Sé - Cid. Universitária (Lorena Hotel Flat) Pça Ramos - República - Consolação - Rebouças - P1 - Av. da Universidade - Praça dos Bancos 7702 Term. Lapa - USP Pio XI - Cerro Corá - São Gualtier - Pça. Panamericana - Pte. Cidade Universitária - P1 - Av. da Universidade - Hosp. Universitario - IMEUSP - Av. Prof. Luciano Gualberto ECAUSP 80 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 7725 Metrô V. Madalena - Rio Pequeno Elisa de Moraes Mendes - Pça. Panamericana - Pte. Cidade Universitária - P1 - Hosp. Universitario - IMEUSP - Av. Prof. Luciano Gualberto - ECAUSP - Av. Prof. Melo Moraes - P2 - Av. Escola Politécnica - Av. Rio Pequeno. Ônibus circular Linha 1: P3 - ponto inicial, Acesso de Pedestres Vila Indiana, Biociências, Filosofia, FAU, IAG, Clube dos Funcionários, Civil, Metalurgia, Mecânica, Praça do Relógio, CRUSP, Acesso de Pedestres CPTM, Educação Física, Educação, Reitoria, Biblioteca Brasiliana, Bancos, FEA, Biênio, Prefeitura, MAE, HU, Biomédicas III, Odontologia, P3 - ponto final Linha 2: P3 - ponto inicial, Biomédicas IV, IPEN, COPESP, Acesso Pedestres Rio Pequeno, Prefeitura, Física, Oceanográfico, Biociências, CEPAM, Butantã, Casa da Cultura Japonesa, Paço das Artes, Portaria 1, Acesso de Pedestres CPTM, Raia Olímpica, Psicologia, Portaria 2, Terminal de Ônibus Urbanos, IPT, Eletrotécnica, FAU, Geociências, Letras, História e Geografia, Farmácia e Química, Biblioteca e Farmácia e Química, Rua do Lago, Biomédicas e P3 - ponto final 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 81 Revista Estilos da Clínica Estilos da Clínica Revista sobre a Infância com Problemas Estilos da Clinica é uma publicação do IPUSP, sendo editada pelo LEPSI IP/FE - USP, em colaboraçao com a Associação Lugar de Vida Qualis B1 em Educação (2009) Qualis B2 em Psicologia (2009) Avaliação A pelo CAPES/ANPEPP (período de 2005 a 2007) É contemplada pelo Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP. Assinaturas para os exemplares 2010 Na pagina do LEPSI www.lepsi.fe.usp.br [email protected] responsável: Marcia Regina Fogaça 82 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy 83 Produção, Diagramação e Montagem Comunicação e Mídia Lilian Curiel Passeri Maria Clara Bueno Renato Tassinari Tânia de Lajonquière Wesley Soares Projeto Gráfico | Diagramação Wesley Soares Gráfica Anderson Ferreira de Farias Roberto de Moraes Carloto Tiragem 200 exemplares Tipologia Trade Gothic LT Std Univers LT Std Akzidenz Grotesk BQ 84 8º Congresso do LEPSI 3º Congresso do Ruepsy