CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS 03
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CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS 03
Paulo David 03 CENTRO DAS ARTES | C ASA DAS MUDAS Fotografia de Fernando Guerra 4 CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS João Cunha e Silva 6 PREMIAR ALGO OU ALGUÉM AWARDING SOMETHING OR SOMEONE Paulo Sousa 8 GRANDE ESCALA LARGE SCALE Alexandre Melo 12 UM PROMONTÓRIO NO OCEANO A PROMONTORY OVERLOOKING THE OCEAN Otelo Lapa 14 ESTADIA A PRAZO A SHORT STAY Fernando Guerra 17 FOTOGRAFIAS PHOTOGRAPHY 81 FICHA TÉCNICA TECHNICAL INFORMATION 82 DESENHOS DRAWINGS 88 MEMÓRIA DESCRITIVA PROJECT DESCRIPTION 92 ROCHEDO ALTO - PARTE II HIGH CLIFF – PART II Ana Vaz Milheiro 98 CASA DAS MUDAS José Mateus 4 CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS Quando a Vice-Presidência do Governo Regional decidiu, por intermédio da Sociedade de Desenvolvimento “Ponta do Oeste, S.A.”, lançar o concurso para a concepção arquitectónica do novo espaço cultural da Casa das Mudas, estaria longe de imaginar que a obra que viria a nascer constituiria um marco assinalável na arquitectura contemporânea portuguesa e europeia, uma construção verdadeiramente extraordinária, fruto de um notável trabalho de criação artística. O Arquitecto Paulo David fundiu a beleza natural da colina, com a inspiração criativa do homem, dando origem a um espaço imponente e belo, geometricamente rigoroso e atractivo, se bem que sóbrio e fundamentalmente aprazível para aqueles que o visitam. Esta nova janela de cultura abriu, definitivamente, a Madeira ao mundo e acaba por ilustrar a perfeita simbiose que deve sempre existir entre o paisagisticamente bonito e o funcionalmente adequado. Com espaços interiores amplos e orientados para proporcionar a perspectiva deslumbrante que é a vista sobre o mar e as encostas circundantes, o edifício sugestiona um ambiente relaxante e harmonioso que é, de per si, digno de visita. Enquanto governante, foi com muita honra e sentido orgulho que acompanhei o crescimento desta obra, tendo tido a oportunidade de admirar o elevado grau de exigência e o sentido de profissionalismo de todos quantos estiveram envolvidos na concretização deste magnífico projecto. A admiração pessoal que lhe devoto é apenas a expressão do meu sincero reconhecimento pela imaginação, criatividade e arrojo que o Arquitecto Paulo David empreendeu na concepção desta Casa das Artes e cuja retratação neste magnífico livro significa um justo prémio, bem como a merecida homenagem. João Cunha e Silva Vice-Presidente do Governo Regional da Madeira 5 CASA DAS MUDAS | CENTRE FOR THE ARTS When the Vice-Presidency of the Regional Government decided - via the “Ponta do Oeste, PLC” Development Company - to launch a public tender for the architectural design of the Casa das Mudas new cultural space, it never imagined that the resulting work would become a remarkable landmark in Portuguese and European contemporary architecture, a truly extraordinary construction, the fruit of notable efforts of artistic creation. Architect Paulo David fused the hill’s natural beauty with man’s creative inspiration, giving rise to an imposing and beautiful space that is geometrically rigorous and attractive while sober and fundamentally gratifying for those who visit it. This new window of culture has definitively opened Madeira to the world and illustrates the perfect symbiosis that must always exist between what is naturally beautiful and functionally adequate. With ample interior spaces arranged to provide a dazzling view of the sea and surrounding cliffs, the building offers a relaxing and harmonious environment that in turn is worth a visit. As Vice-President, it was with great honour and heartfelt pride that I accompanied the advancement of this work, having had the opportunity to admire the high standards and sense of professionalism of all those involved in carrying out this magnificent project. The personal admiration I harbour for it is simply the expression of my sincere recognition of the imagination, creativity and boldness that Architect Paulo David has employed in the conception of this House of Arts whose portrait in this wonderful book connotes a just award as well as a deserving homage. João Cunha e Silva Vice-President of the Regional Government of Madeira 6 PREMIAR ALGO, OU ALGUÉM, SEMPRE FOI E SERÁ UM ESTÍMULO O livro de fotografia de Fernando Guerra sobre o Centro das Artes Casa das Mudas é, nesta óptica, um prémio. Um acto de pura e espontânea generosidade de quem não ficou indiferente à obra e soube registar, com entusiasmo, as imagens que permitem levar a um público mais alargado, o conhecimento dessa criação. Com efeito, neste espaço, tudo foi projectado e definido tendo em consideração o público. E a necessidade de criar novos públicos. Numa ilha onde turistas e residentes exigem uma ainda melhor oferta ao nível equipamentos e programação cultural, criar um pólo dinamizador de arte e criação contemporânea, mais do que uma aposta, correspondeu a uma estratégia de desenvolvimento regional. Com base nestes pressupostos, entendeu a Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste, entidade tutelada pela Vice-Presidência do Governo Regional da Madeira, promover um concurso com um vasto programa para a construção de um centro de artes. Um edifício com 12.000 m2 de área de construção, partindo da expansão da Casa da Cultura da Calheta, com um núcleo de construção completamente novo e autónomo, que incluiu estacionamento coberto, centro de exposições, uma sala de espectáculos, restaurante, loja, cafetaria, biblioteca e uma vasta área para serviços educativos, depósito de obras de arte e oficinas artísticas. Para diminuir o impacto da nova massa construída, a fantástica equipa liderada pelo arquitecto Paulo David recorreu ao aproveitamento do terreno em socalcos, assegurando diferentes níveis de embasamento e uma perfeita adaptação à topografia. Os mais importantes espaços do programa foram literalmente “escavados” na montanha, fazendo corresponder todo o complexo a uma cota mais baixa, com partes propositadamente fragmentadas e que permitem um funcionamento autónomo dos serviços. O sistema distributivo, de grande clareza e simplicidade, facilita a articulação dos espaços e orienta os visitantes em função das actividades e serviços pretendidos. Teatro, dança, ópera, bailado, exposições, dão vida a este novo reduto da cultura na Madeira, com vista para o mar e para as encostas no Vale dos Amores. Quando a arte se partilha num Vale de Amores, só se pode esperar que este seja O centro das artes. A nova sala de visitas da Madeira espera por si. Boa leitura. Paulo Sousa Presidente do Conselho de Administração da Ponta Oeste 7 AWARDING SOMETHING OR SOMEONE HAS ALWAYS BEEN AND WILL ALWAYS BE A STIMULUS According to this perspective, photographer Fernando Guerra’s book on the Centre for the Arts Casa das Mudas is an award. An act of pure and spontaneous generosity from someone who was not left indifferent to the work and who has understood how to enthusiastically register the images that allow this creation to be brought to a wider audience. Indeed, this entire space was designed and defined with the public in mind and the necessity of creating new audiences. On an island where tourists and residents demand still better cultural programmes and facilities, to create a dynamic attraction for contemporary art and creation corresponds to a strategy for regional develop rather than simple commitment. Based on such assumptions, the Ponta Oeste Development Company, under the trust of the Vice-Presidency of Madeira’s Regional Government, promoted a public tender with a vast programme for the construction of an arts centre. A building with a construction area of 12,000 m2, starting from the expansion of the Calheta Casa de Cultura, with a nucleus of new and autonomous construction that includes covered parking, an exhibition centre, performance hall, restaurant, shop, cafeteria, library and a vast area for educational services, artwork storage and artistic workshops. In order to diminish the impact of the new construction, the fantastic team headed by architect Paulo David employed an old terracing technique for utilizing the land, thereby ensuring different foundation levels and perfect adaptation to the topography.The most important spaces of the project were literally “excavated” from the mountain, causing the whole complex to correspond to a lower elevation with deliberately fragmented parts that permit an autonomous operation of services. A distributive system of great clarity and simplicity that facilitates the articulation of the spaces and guides visitors in terms of intended services and activities.Theatre, dance, opera, ballet and exhibitions give life to this new bulwark of culture on Madeira with a view of the sea and the ridges of the Vale dos Amores. When art is shared in a love valley, it can only be expected that this will become THE centre for the arts.The new visiting hall of Madeira awaits you. Happy reading. Paulo Sousa Chairman of the Board of Ponta Oeste 8 GRANDE ESCALA Quando há meia dúzia de anos vim pela primeira vez à Calheta e comecei a colaborar com a Casa das Mudas não tive dúvidas, rendido à beleza da paisagem e à competência do trabalho em cujo desenvolvimento fui tendo oportunidade de colaborar, que se tratava de uma situação cheia de potencial e plena de futuro. Mas nem sequer o meu optimismo teria permitido então adivinhar que passado tão pouco tempo seria convidado a colaborar numa publicação dedicada a um centro das artes que, do ponto de vista paisagístico e no quadro da arquitectura contemporânea, pode ser considerado entre os mais belos do mundo. Num tempo tantas vezes dominado pelo derrotismo e o pessimismo, não será de mais sublinhar a grandeza da ambição criativa que permite que realizações como esta se tornem uma realidade. Comecemos pela deslumbrante paisagem natural da Calheta, tal como ela pode ser desfrutada a partir da localização privilegiada e da organização espacial do novo Centro das Artes. Nenhum centro cultural em Portugal e muito poucos no mundo oferecem ao visitante uma tão emocionante experiência da paisagem. Uma paisagem declinada de acordo com uma suave harmonia entre a montanha, a rocha, as terras, as árvores, o mar e o céu que parecem ter-se organizado de propósito para acolher e abraçar o novo centro. Quem teve o privilégio de passar dias inteiros neste espaço, como foi o meu caso, enquanto comissário da exposição inaugural “Grande Escala – Obras da Colecção Berardo”, sabe o que é a maravilhosa modificação da percepção das formas, texturas e perspectivas que a variação da luz, a chegada e a partida do Sol e da Lua, e a passagem das nuvens vão compondo ao longo do decurso das horas. O sentimento que se impõe é uma irresistível vontade de ficar ali. Tudo isto é veiculado com exemplar clareza nas notáveis fotografias incluídas neste livro. Embora nada possa substituir a experiência física directa. O projecto de arquitectura do Centro, assinado por Paulo David, soube olhar e entender a paisagem que o rodeava e desafiava, produzindo um jogo de volumes que sem abdicar, ele próprio, de uma grande escala e de uma impressiva força de presença, não entra em contradição com a natureza envolvente, antes pelo contrário, reforça e valoriza muitos dos elementos que a compõem. Assim sucede, por exemplo, com a opção pelo revestimento do edifício com um material (pedra basáltica) que parece prolongar a própria rocha em que assenta.Também em termos visuais a organização e a circulação nos espaços do centro foi pensada de modo a proporcionar uma sucessão de surpresas e acontecimentos paisagísticos. Na dobra de um corredor, ao fundo de uma sala ou através de uma estreita janela rectangular abrem-se diante de nós as visões de uma colina que desce sobre o mar ou um horizonte de 180º em que o mar e o céu se unem para estabelecer um diálogo com as obras de arte ao nosso lado. 9 LARGE SCALE When I came to Calheta for the first time about six years ago and started collaborating with the Casa das Mudas, I had no doubts that this was a situation full of potential and future prospects due to the beauty of the landscape and the competence of the work whose development I had the opportunity to collaborate on. However, not even my optimism would have made me guess that after such a short period of time I would be invited to collaborate on a publication dedicated to an arts centre that in terms of landscapes and contemporary architecture can be considered to be among the most beautiful in the world. In a time so often dominated by defeatism and pessimism, it is not an exaggeration to underline the greatness of the creative ambition that allows projects like this one to be realised. Let us begin with Calheta’s dazzling natural landscape, such as can be enjoyed from the privileged location and spatial organisation of the new Centre for the Arts. No cultural centre in Portugal and few in the world offer the visitor such an emotional experience of a landscape. One that slopes in accordance with a gentle harmony between the mountain, rock, land, trees, sea and sky which seem to have organised themselves purposefully to receive and embrace the new centre. Those who have had the privilege of spending days on end in this space, as in my case as commissioner for the inaugural exhibition “Large Scale – Works from the Berardo Collection”, know the wonderful alterations in the perception of forms, textures and perspectives that the variation in light, the arrival and departure of the sun and moon and the passing of clouds continually compose through the hours. The overwhelming feeling is an irresistible desire to remain put. All of this is transmitted with absolute clarity in the notable photographs included in this book, though nothing can substitute the direct physical experience. Paulo David’s architectural project for the Centre knew how to look at and apprehend the landscape that surrounded and challenged it, producing a set of volumes that, without his abdication of large scales or an impressive force of presence, does not contradict the surrounding nature, but to the contrary, strengthens and enhances many of the elements that compose it, for example, through the option of using basalt stone for the building’s facing which seems to extend the life of the rock on which it is built. Also in visual terms the organisation and circulation through the centre’s spaces was designed in a way so as to provide a succession of surprises and happenings in relation to the landscape. In the turn of a corridor, at the end of a room or through a narrow rectangular window, there opens before us visions of a hill falling towards the sea or a 180º horizon where the sea and sky unite in order to establish a dialogue with the works of art at our side. 10 Do ponto de vista do trabalho do comissário e organizador de exposições, o edifício é de uma imensa generosidade em termos de possibilidades e desafios. Encontramos salas com os mais variados ritmos, dimensões e características, permitindo a máxima flexibilidade na adaptação à infinita diversidade das formas da produção artística contemporânea.Temos salas mais fechadas e mais próximas do modelo convencional do “cubo branco”, indispensáveis para a apresentação de formas mais tradicionais de pintura ou escultura. Mas também temos salas abertas sobre a paisagem ou rasgadas na vertical prontas a acolher instalações e intervenções mais heterodoxas que saibam dialogar com as particularidades do lugar que as recebe. O mesmo tipo de diversidade e pluralidade de opções verifica-se no que diz respeito ao traçado de percursos no interior do edifício, permitindo acolher diferentes mostras, mais ou menos autónomas, e desenhar diferentes trajectos alternativos, conforme os tipos de público e os objectivos da visita. Saímos do interior para o exterior e o diálogo entre o edifício e a paisagem é ainda mais eloquente.Temos vontade de estar ali a olhar para o mar e para o céu.Temos vontade de estar no mar e estar no céu a olhar para aquele casa: a casa das artes. Agora reparo que há já vários meses não vou à Calheta, à casa das artes, e estou com saudades. Até breve. Alexandre Melo Professor Universitário e Crítico de Arte 11 From the point of view of the commissioner and the exhibitions organiser, the building is immensely generous in terms of possibilities and challenges. One finds rooms of the most varied rhythms, dimensions and characteristics, allowing for maximum flexibility in adapting to the infinite diversity of forms of contemporary artistic production. There are rooms that are more enclosed and closer to the conventional model of the “white cube”, indispensable for presenting more traditional forms of painting or sculpture.Yet there are also rooms that open out towards the landscape or that open vertically, ready to welcome more heterodox installations and interventions that know how to establish a dialogue with the particularities of the place receiving them. The same type of diversity and plurality of options is verified in the design of building’s interior passages that receive different and more or less autonomous showings and that design different, alternative routes depending on the type of public and objectives of the visit. Leaving the interior for the exterior, the dialogue between building and landscape becomes even more eloquent. There is a desire to remain there staring at the sea and sky. There is a desire to be in the sea and sky looking towards that house: the house of arts. I have just realised that several months have passed since I was last in Calheta at the house of arts and I miss it. See you there shortly. Alexandre Melo University Professor and Art Critic 12 UM PROMONTÓRIO NO OCEANO O Centro das Artes é a continuação do rochedo em direcção ao céu. Os antigos edificavam as suas construções em locais previamente escolhidos tendo em conta uma forte relação com o espaço e a energia telúrica do local. Não sei se foi um acaso a escolha deste lugar? O espaço pode condicionar ou favorecer a criatividade e a criação artística. Aqui, é seguramente muito inspirador. As vigias para o mar, existentes por toda a zona pública do edifício são como escapes à densidade da sala de espectáculos. Os foyers e a varanda, são a continuação da magia que este auditório pode oferecer. Os valores humanistas, essenciais para a evolução da humanidade dos quais as artes performativas, entre outras, estão intrinsecamente ligadas passam por todo um processo evolutivo, lento e iniciático. Os espaços teatrais surgem num longo percurso através dos três últimos milénios.A sua origem remonta primeiramente à Grécia Antiga, depois à Roma Imperial, evoluindo sempre na procura de soluções que satisfizessem as necessidades das artes do espectáculo. Os teatros da Renascença Italiana e os Isabelinos de Londres são a prova dessa evolução. Mas é entre o século XVII e XVIII, com o aparecimento dos teatros à Italiana que estes espaços ganham definitivamente um lugar na vida artística e social de toda a sociedade europeia. Sempre que é construído um novo espaço teatral abrem-se expectativas quanto à sua viabilidade e utilização. O auditório que integra este equipamento cultural faz parte da dinâmica transversal em que as artes se movimentam actualmente. Por isso está preparado e dotado de meios que possibilitam a apresentação de todos os tipos de espectáculos. O Auditório do Centro das Artes Casa das Mudas é o espaço certo para a apresentação de uma programação cuidada e de autor. As suas ambivalências técnicas, a configuração da sala proporcionam um vasto leque de hipóteses de programação, passando pela ópera, teatro, dança, música clássica, jazz e cinema. A acústica e o registo intimista da sala tornam-no num espaço único, que pode facilitar ao público momentos de grande elevação e profundidade. A Ilha da Madeira pode congratular-se de possuir um auditório que faria as delícias do continente. Otelo Lapa Director de Cena 13 A PROMONTORY OVERLOOKING THE OCEAN The Centre for the Arts is a continuation of the cliff towards the sky. Our ancestors raised their buildings on sites previously chosen for the strong relationship between the space and the telluric energy of the location. I wonder if the choosing of this place was mere fate? A space can condition or foster artistic creativity and creation. Here, it is definitely inspirational. The views of the sea that exist throughout the entire public area of the building act as an escape from the density of the auditorium.The foyers and the veranda continue the magic that the auditorium offers. Humanist values essential to the evolution of humanity to which the performing arts, among others, are intrinsically linked pass through an entire evolutionary process that is slow and initiatory. Theatre spaces have a long history of development over the last three millennia.Their origin goes back to Ancient Greece, then Imperial Rome, continuously evolving in the search for solutions that satisfy the needs of the performing arts. The theatres of Renaissance Italy and Elizabethan London are proof of this evolution. However, it is between the 16th and 18th centuries with the appearance of Italian-style theatres that such spaces definitely earn a place in the artistic and social life of the whole of European society. Whenever a new theatre space is built expectations are raised in terms of its viability and use. The auditorium that completes this cultural apparatus is part of the dynamic crossroads where the arts are currently in motion. For this reason, it is provided with the means to present all kinds of performances. The auditorium of the Centre for the Arts Casa das Mudas is the right space for presenting careful and quality programmes. Its technical diversity and the configuration of the hall permit a vast array of programming possibilities including opera, theatre, dance, classical music, jazz and cinema. The acoustics and intimate register of the hall make it a unique space that can provide the public with moments of great elevation and depth. The island of Madeira can congratulate itself on possessing an auditorium that would delight the continent. Otelo Lapa General Stage Manager 14 ESTADIA A PRAZO Ter a oportunidade de reunir em livro este conjunto de imagens de um dos mais reconhecidos e distinguidos projectos da arquitectura nacional dos últimos anos é, acima de tudo, um enorme privilégio. Encontrei no Centro das Artes imagens que reflectem a forma como vou olhando a arquitectura e o modo como gosto de as guardar. A experiência do instante só é completa, para mim, com a partilha da imagem e este livro surge como o encerramento natural deste ciclo. O livro relata a história de um dia passado no Centro das Artes, do início da manhã ao anoitecer, mostrando o efeito de permanência do edifício e das mudanças ocorridas em seu torno. Com esta reflexão, feita no local, saiu reforçado o conceito que deu origem a esta colecção de livros e que argumenta que são o tempo, a obra e o seu espaço, os elementos que definem o próprio acto fotográfico e o modo de mostrar a própria arquitectura. Olhar uma obra é, antes do mais, um acto voluntário e uma selecção crítica. Só depois, nos poderemos de facto aproximar e situar em relação a ela. Mesmo que nunca dominando de forma absoluta a tomada de vistas, o olhar fotográfico é, sempre e acima de tudo, a concretização de um modo de ver particular. As fotografias deste livro são a parte visível de um registo pessoal que se procura tornar instrumento de conhecimento da realidade. Da minha experiência no Centro das Artes retenho a surpresa e a emoção constante de quem descobre uma obra nova. Fica a recordação dos ângulos inesperados, do recorte dos volumes no crepúsculo contra a paisagem, dos enquadramentos apoiados na luz do interior, da força da textura e da riqueza da pedra, dos confrontos entre os escuros opacos e os iluminados transparentes do vidro. Fica a sensação de que em algumas destas imagens tudo parece ter-se preparado para ser fotografado, como se o Centro das Artes estivesse à espera de um olhar que reconhecesse e revelasse a sua pose. Este talvez seja, simplesmente, um olhar furtivo de quem tem a estadia a prazo na Calheta. Espero regressar em breve. Fernando Guerra Arquitecto e Fotógrafo 15 A SHORT STAY To have the opportunity to bring together in book form this collection of images of one of the most recognised and distinguished projects of national architecture in recent years is, above all, an enormous privilege. In the Centre for the Arts, I encountered images that reflect the form through which I see architecture and the manner in which I like to safeguard such images. For me, the experience of an instant is only complete by sharing the image and this book serves as a natural closure to such a cycle. The book tells the story of a day spent at the Centre for the Arts from daybreak to nightfall, demonstrating the building’s permanent effect and the changes that have occurred around it. With this on-site reflection, the concept at the origin of this collection of books is reinforced. Such a concept argues that time, the structure and its space are the elements that define the photographic act itself and the manner of showing the actual architecture. To look at a work is above all a voluntary act and one of critical selection. Only afterwards, can we actually mover closer and situate ourselves in relation to it. Even if never absolutely dominating the view shot, the photographic eye is always and above all the realisation of a particular way of seeing.The photographs of this book are a visible part of a personal register that seeks to be an instrument for understanding reality. From my experience at the Centre for the Arts, I have retained the constant surprise and emotion of one who discovers a new work. What remains are the memory of the unexpected angles, the cut of the volumes against the gloaming landscape, the frames resting on the interior light, the strength of the texture and richness of the stone, the confrontations between the opaque darkness and transparent light of the glass. The lasting sensation is that in some of these images everything seems to have prepared itself to be photographed, as if the Centre for the Arts were waiting for a glance that would recognise and reveal its pose. Perhaps this is simply a furtive glance of one person’s short stay in Calheta. I hope to return shortly. Fernando Guerra Architect and Photographer 81 CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS Vale dos Amores, Calheta, Madeira DONO DE OBRA CLIENT Sociedade de Desenvolvimento Ponta Oeste, S.A. Vice-Presidência do Governo Regional da Madeira ARQUITECTURA ARCHITECTURE Paulo David EQUIPA DE PROJECTO PROJECT TEAM Rodolfo Reis, Filipa Tomaz, Sílvia Arriegas, Luís Spranger, Luz Ramalho, Susanne Selders, Dirk Mayer, Inês Rocha, Patrícia Faria ATELIER ASSOCIADO PARA PROJECTO DO AUDITÓRIO ASSOCIATE OFFICE Telmo Cruz, Maximina Almeida, Pedro Soares Colaboração: Hugo Alves, Barbara Silva, Luis Monteiro, Alexandre Batista ARQUITECTURA DE CENA STAGE ARCHITECTURE Telmo Cruz ESTRUTURA STRUCTURES Miguel Villar - Betar INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS ELECTRICAL INSTALLATIONS Fernando Sousa Pereira INSTALAÇÕES MECÂNICAS MECHANICAL INSTALLATIONS José Galvão Teles ÀGUAS E ESGOTOS WATER AND SANITARY INSTALLATIONS Marta Azevedo, Betar ACÚSTICA ACOUSTICS Fernando Palma Ruivo, António Meirelles, Certiprojecto SEGURANÇA SECURITY António Matias PAISAGISMO LANDSCAPING João Nunes, Proap SINALÉTICA SIGNAGE Atelier Paulo David MEDIÇÕES E ORÇAMENTOS QUANTITY SURVEYING AND BUDGETS Santos Moreira, RFD MOBILIÁRIO FURNISHINGS Paulo David com Susanne Selders CONSTRUÇÃO CONSTRUCTION Concreto Plano FISCALIZAÇÃO INSPECTION Prima - ConsulGal 82 83 84 85 86 87 88 CENTRO DAS ARTES | CASA DAS MUDAS LUGAR O edifício do Centro das Artes pontua a paisagem colocando-se na linha de festo de um monte que acaba abruptamente sobre o mar. Localizado na Calheta, concelho de grande extensão na frente marítima da costa oeste da ilha, marcado por montes de altura considerável, sendo seu centro no vale mais profundo. CONCEITO O motor da construção da ideia tem como ambição redesenhar a “massa montanhosa”, onde o edifício actua como uma topografia. Este afloramento aparece como um grande conjunto de peças esculpidas onde a geometria de carácter abstracto destaca a intervenção, desenhando um corpo especificamente para o lugar, sendo simultaneamente “natureza “e artifício. A relação da pequena casa existente – Casa das Mudas – com a envolvente próxima através de socalcos, expressão marcante no território da ilha, fazendo surgir uma paisagem humanizada, que o projecto tem o propósito refazer face ao seu desaparecimento com as construções criadas ao longo do tempo. Repor esta cota com a criação de uma grande plataforma agora complexa, que se contrapõe nos diferentes desníveis no embasamento, decorrente da adaptação à topografia. CORPO O corpo desenvolve-se ao longo de um eixo longitudinal, orientado sensivelmente na direcção norte/sul, resultante das condições topográficas, indo ao limite onde é possível construir. O corpo escavado e esculpido, propõe uma experiência subterrânea. Os espaços exteriores subtraídos ao corpo conceptual original, marcados pela textura e cor dos paramentos e pavimentos, agora pontuados pelo enquadramento da paisagem e presença dramática do céu insular. FUNCIONALIDADE O acesso principal efectua-se através de uma rampa que conduz a um pátio-pivot quadrado a partir do qual todas as funções existentes no programa do centro se distribuem de forma autónoma a cota superior e com ligações possíveis a inferior. A distribuição fragmentada das funções visadas, permite uma gestão autónoma de cada módulo no complexo edificado, permitindo deste modo uma maior flexibilidade na sugestão dos percursos que se distribuem pelos espaços expositivos. 89 CENTRE FOR THE ARTS | CASA DAS MUDAS SETTING The Centre for the Arts building punctuates the landscape, placing itself in the ridgelines of a hill that ends abruptly at the sea. Located in Calheta, an extensive waterfront municipality on the island’s west side, marked by hills of considerable height, with its centre in the deepest valley. CONCEPT The impetus for the construction idea is to redesign the “mountainous mass”, where the building functions as topography. This outcrop appears as a large array of sculpted pieces in which abstract geometry highlights the intervention, outlining a structure specific to the setting that is simultaneously “natural” and artificial. The relationship of the small existing house ‘Casa das Mudas’ with the nearby surroundings through terraces is a notable manifestation on the island, creating a humanised landscape that the project intends to remodel faced with the landscape’s disappearance due to construction over the years. Creating a large, complex platform offset by the foundation’s different levels, stemming from adaptation to the topography, will restore this elevation. STRUCTURE The structure is developed along a vertical axis, generally facing north/south as a result of topographic conditions, reaching the limits where construction is possible. The excavated and sculpted structure offers a subterranean experience. The exterior spaces subtracted from the original conceptual structure, marked by the texture and colour of the facings and flooring, now punctuated by the framed landscape and the dramatic presence of the insular sky. FUNCTIONALITY The main access is reached by a ramp leading to a square patio-pivot from which all existing functions of the centre’s programme are autonomously distributed to higher elevations with possible links to lower ones. The fragmented distribution of the intended functions allow for autonomous management of each module in the building complex, thus permitting greater flexibility in suggesting routes distributed by the exhibition spaces. 90 Sala de Exposições Dividida em três salas separadas em dois pisos com proporções altimétricas diferentes. Loja Espaço de venda de contacto directo com o pátio principal com entrada directa podendo funcionar autonomamente. Estrategicamente localizado no fim do percurso das exposições. Serviços Educativos Fisicamente ligados às zonas de exposição, de natureza complementar às exposições e espectáculos, com possibilidades de utilização para pequenos cursos, oficinas artísticas e actividades lúdico-pedagógicas. Biblioteca Dividida em três pisos abertos, desenvolvidos em socalcos. Possui salas de leitura tradicional, compartimento para multimédia, sala de apoio e de depósito de livros e ainda uma zona de periódicos. O acesso à cobertura faz o remate final, sendo este ponto do complexo o “belvedere” para o centro da Calheta. Auditório Com capacidade para 200 lugares, concha acústica e equipamento para diferentes usos, bailado, concertos e congressos, dispõe de meios para projecção de cinema, vídeo e tradução simultânea.Tem áreas de camarins. Possui em cota inferior à sala os acessos por rampa para apoio ao auditório e preparação de intervenções com ligação directa ao átrio central. Restaurante Localizado no ponto de rotação do complexo permite um franco acesso público e autónomo. Com lotação para 48 lugares interiores, aberto sobre uma esplanada de igual capacidade, com uma vista sobre o mar e o centro da Calheta. Casa das Mudas Para a casa destinou-se o núcleo de direcção e serviços administrativos, no piso superior e criouse um acesso por escadas para o estacionamento e para o pátio interior central do complexo. MATERIALIDADE Construir o centro em basalto como aproximação a natureza nesta paisagem vulcânica. Sendo um material local e em abundância interessou também pela sua textura e cor, promovendo a ideia de continuidade da paisagem e fusão com o território. 91 Exhibition Hall Divided into three separate halls on two floors with different altimetric proportions. Shop Commercial space directly linked to the main patio with a direct entrance that can function autonomously. Strategically located at the end of the exhibition routes. Educational Services These services are physically linked to exhibition areas and serving a complementary function to exhibitions and performances. Can be used for small courses, artistic workshops and leisure/educational activities. Library Divided into three open floors, developed into terraces. Contains traditional reading rooms, multimedia and support rooms, book depository and even an area for periodicals. The roof access marks the final touch, as this part of the complex functions as the belvedere for the Calheta centre. Auditorium With a 200-seat capacity, acoustic shell and equipment for different uses, dance, concerts and conventions, the auditorium possesses facilities for cinema and video projection as well as simultaneous interpretation. Contains dressing rooms. At a lower level from the hall are ramp accesses for auditorium support and for preparing interventions with direct access to the central atrium. Restaurant Located at the complex’s point of rotation, the restaurant permits direct, autonomous public access.With a 48 inside-seating capacity that opens onto an esplanade of equal capacity, it enjoys a view of the sea and the centre of Calheta. Casa das Mudas The Casa houses the core of the executive board and administrative services on the upper floor. Stair access to parking and the complex’s central interior patio was also created. MATERIALITY The centre is built in basalt in approximation to the volcanic landscape of the environs. Being a local and abundant material, it was also interesting in terms of its texture and colour, promoting the idea of continuity of the landscape and fusion with the territory. 92 ROCHEDO ALTO - PARTE II A Madeira é muito provavelmente, hoje, um lugar "único" no mundo. É, com toda a certeza, exemplar em Portugal, funcionando como uma espécie de pré-visualização futurante do país. Em termos de ocupação do território, a Madeira está a criar um ciclo (novo) de hiper-realismo português. Não é só um território em profunda mutação paisagística; é um lugar onde se experimenta sem esforço uma sensação próxima da "amnésia": aqui o tempo sofreu um processo de indiscutível aceleração. Há que considerar a paisagem da ilha; uma paisagem que se atravessa, através da nova rede de túneis, como uma trépida viagem de submarino, onde pontualmente se emerge à superfície. Nesta, existem agora camadas de sedimentos recentes construídos sobre um tecido paisagístico ancestral e que são equivalentes a saltos temporais brutais. Substituiu-se o subdesenvolvimento pelo hiperdesenvolvimento. O fenómeno é mais complexo que as regras inerentes aos próprios ciclos eleitorais impõem - existe consenso em torno de uma imagem de progresso que toca a generalidade das actividades económicas e produtivas e que naturalmente se estende ao poder político. A arquitectura não é excepção e um preenchido regime de inaugurações de equipamentos públicos, que antecedeu o último escrutínio eleitoral, prova-o. No quadro português pós-Revolução, que possibilitou "democratizar" a arquitectura - para o bem e para o mal -, a Madeira representa um caso singular de estudo, condição a que não são estranhas as especificidades das suas geografias física e humana. Num tecido onde a arquitectura é uma espécie de refeição frugal, ainda que envolta numa pele "cosmopolita", há espaço para outras densidades. O Centro de Artes | Casa das Mudas, na Calheta, do arquitecto Paulo David, posiciona-se num outro tempo, mais "convencional" no que toca ao "fazer arquitectura". Foi concretizado no âmbito das Sociedades de Desenvolvimento, criadas pela Vice-Presidência da Madeira, e inaugurado em Outubro de 2004, dentro da lógica eleitoral. O programa abriga um complexo de exposições, uma biblioteca e um auditório (o último, realizado em associação com Telmo Cruz, Maximina Almeida e Pedro Soares) e localiza-se no alto de uma falésia. Poder-se-á dizer que, na generalidade, a arquitectura de Paulo David relança o tema do tempo longo, interpretado a diferentes níveis: o da ponderação e da execução, "tempos" mais materiais e pragmáticos; o do sentido da perenidade da obra, mais abstracto. O projecto do CAC manifesta alguns dos sintomas que se relacionam com a sobreposição destas duas ideias que atravessam a história (antiga) da arquitectura. Este facto deve-se, antes de mais, ao temperamento do próprio autor. 93 HIGH CLIFF – PART II Madeira is most probably a “unique” place in the world today. It is certainly exemplary in Portugal, functioning as a sort of preview of the country’s future. In terms of settlement of the land, Madeira is creating a (new) cycle of Portuguese hyperrealism. It is not only a territory whose landscape is in profound mutation: it is a place that is effortlessly harbouring a feeling close to “amnesia”: here time has undergone a process of indisputable acceleration. The island’s landscape must be taken into consideration: a landscape crossed by a new network of tunnels like a tremulous submarine voyage in which one surfaces at intermittent points. At the surface there are now layers of recent sediments built over an ancestral landscape that are equivalent to brutal leaps in time. Underdevelopment has been substituted by hyper-development. The phenomenon is more complex than the imposition of rules imposed by electoral cycles – there is consensus regarding the image of progress that affects most economic and productive activities and this extends to political power. Architecture is no exception and a programme filled with public inaugurations before the last election proves it. In Portugal’s post-revolution framework, which permitted the democratisation of architecture –positively and negatively Madeira represents a unique case study, a condition to which the specific nature of its physical and human geography is not alien. In an environment where architecture is a kind of frugal meal wrapped in a shell of “cosmopolitanism”, there is still space for other densities. Architect Paulo David’s Centre for the Arts | Casa das Mudas in Calheta is located in another more “conventional” era in terms of “doing architecture”. It was built within the scope of the Development Companies created by the VicePresidency of Madeira and inaugurated in October 2004 during the electoral season. The project consists of a complex of exhibition rooms, a library and an auditorium (the latter constructed in association with Telmo Cruz, Maximina Alemeida and Pedro Soares) and is located at the top of a cliff. Generally, it can be stated that Paulo David’s architecture recuperates the idea of drawn out time, interpreted on different levels, such as the period of contemplation and implementation, i.e. more material and pragmatic “time spans”; more abstractly, the sense of perpetuity of a construction. The CAC project exhibits some of the symptoms related to the overlapping of these two ideas that persist through the (ancient) history of architecture. This fact is above all due to the temperament of the author himself. 94 Paulo David, madeirense e a trabalhar no arquipélago, é um arquitecto obstinado. E esta sua obstinação surge, na Calheta, em frentes distintas.A que interpela frontalmente as marcas visíveis de uma história particular que geriu a humanização de uma paisagem, reflectindo-se directamente na implantação do novo edifício e na sua voluntária opacidade face ao que existe (resguardando-se do que existirá).A do rigor construtivo, que se gere no cálculo escrupuloso do exercício do desenho, sem com isso recusar acertos pontuais de detalhe durante a realização da obra. O resultado é um edifício "firme" na imagem que transmite; eficaz na maleabilidade funcional dos seus espaços internos. Sendo um arquitecto formado em da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, em 1989, e portanto com a permeabilidade que normalmente está associada aos profissionais que saíram do mesmo enquadramento, há a tentação de, também no percurso de Paulo David, encontrar figuras tutelares. Espacialmente, o interior do edifício da Calheta tem semelhanças com uma peça siziana. Particularidades formais muito precisas - uma entrada superior de luz lateral, um vão rasgado ao nível do piso, um balcão superior circundando a sala -, diferenciam os vários compartimento do complexo expositivo. As distribuições verticais encerram-se, em escadas de um só lance, entre paredes que se tornam assim "habitadas". Não há um percurso axial directo, mas um encadeamento de espaços que proporcionam uma "promenade" traçada sobre uma geometria "orgânica". O auditório aproxima-se, por sua vez, da imagem de um mecanismo extremamente controlado e euclidiano. Na sua antecâmara, uma escadaria "suspensa" impõese plasticamente. A biblioteca desdobra-se numa cascata a três níveis. Todo o edifício, apesar da sua clausura, tem como referência, não a falésia, onde se enterra, mas o mar e o passado que tem construído a relação entre este e a ilha. Este último dado é mais decorrente da presença de Gonçalo Byrne, com quem Paulo David trabalhou, do que de Siza. A leitura do lugar é, assim, "byrniana"; isto é, filia-se na impressão digital que Byrne deixou, pelo menos, numa geração inteira de antigos colaboradores e que parte de uma identificação visceral entre edifício e sítio. Mas em Paulo David, a presença de Byrne, manifesta-se preferencialmente nos valores absolutos e não nos materiais, o que faz a relação entre o mar e o CAC menos literal do que seria de esperar. Lidar com o mar, numa ilha, sem o imediatismo óbvio, é o desafio que assinala as suas melhores obras. Na Casa do Funchal de 2000, por exemplo, há um ambiente encerrado e uma luz zenital que antecede, em capacidade inventiva, as soluções concretizadas no CAC. Dizer que se respira uma atmosfera "byrniana" nesta Casa é obviamente perceber os primeiros movimentos deste arquitecto. E, contudo, a Casa reforça a necessidade que existe em manter uma distância com o mar, isto é, com a qualidade mais "pitoresca" do lugar. A plasticidade interna dos espaços contrasta com o anonimato do exterior e a sua quase inexistência arquitectónica.A arquitectura adquire o seu justo valor: a casa é o lugar da 95 As a Madeiran and architect working in the archipelago, Paulo David is obstinate. And in Calheta, such obstinacy manifests itself on distinct fronts. One that challenges head on the visible marks of a particular history that formed the humanisation of a landscape, directly reflected in the setting of the new building and in its voluntary opacity towards what exists (guarding itself from what will exist). One of constructive rigour, administered through scrupulous calculation during the design process, without necessarily rejecting isolated adjustments of details during construction.The result is a “solid” building in the image it conveys, efficient in the functional malleability of its internal spaces. As a graduate of the Faculty of Architecture of Lisbon Technical University in 1989 and thus with a permeability normally associated with professionals from the same cutting, there is a temptation to try and find tutelary figures in Paulo David’s development as well. Spatially, the interior of the Calheta building bears similarities to Siza. Very precise formal particularities – lateral light from above, floor level openings, an upper balcony encircling the hall – differentiate the various compartments of the expositive complex. The vertical distributions are enclosed within single flights of stairs between walls that thus become “inhabited”. There is no direct axial path, but a linking of spaces that proportion a “promenade” projected onto “organic” geometry. The auditorium, in turn, resembles a tightly controlled Euclidean mechanism. In the foyer, a staircase plastically imposes itself. The library unfolds in a three-level cascade. Despite its reclusion, the entire building has as its reference, not the cliff in which it is embedded, but the sea and the past that has constructed the relation between it and the island.This principle follows more from the presence of Gonçalo Byrne, with whom Paulo David worked, than from Siza.Thus, the interpretation of the site is “Byrnian”, i.e. it proceeds from the fingerprint left by Byrne on at least an entire generation of former collaborators and which stems from an visceral identification between building and place. However, in Paulo David, Byrne’s presence is manifested preferentially in absolute values and not in materials, making the relationship between the sea and the CAC less literal than would be expected. Dealing with the sea on an island without the obvious immediacy is the challenge marking his greatest works. For example, in the Casa de Funchal (2000), there is a confined environment and zenithal light that in an inventive capacity precede the solutions for the CAC. To say that the Centre harbours a “Byrnian” atmosphere is to obviously understand the first movements of this architect. Nevertheless, the Centre reinforces the need that exists to maintain a distance from the sea, that is, from the more “picturesque” quality of the site. The internal plasticity of the spaces contrasts with the anonymous exterior and its quasi-architectural non-existence. The architecture acquires its just value: the Centre is a place of comfort and not an expressionist exercise.The contention is an ideological discourse and functions as a way of emphasizing the 96 comodidade e não um exercício expressionista. A contenção é um discurso ideológico e funciona como uma forma de enfatizar a sua solidez construtiva. Na Calheta, Paulo David permite-se - muito provavelmente na decorrência do programa - a uma plasticidade (menos contida) no exterior.Tendencialmente, Paulo David parece perseguir o melhor dos dois mundos e é quando o faz que a sua obra ganha maior complexidade e poder de sedução. Na Madeira, ainda, há a proximidade de uma obra construída por Byrne - o projecto do Cais do Carvão (1990-98), no Funchal -, marca assinalável de um ciclo de saudáveis "contaminações" entre os arquitectos que projectam para a ilha.A geração de Paulo David trabalhou e/ou reviuse neste projecto e, talvez sem o intuir, passou para a seguinte um saudável tom "referencial". A singularidade do Cais do Carvão, depois de um vazio de factos arquitectónicos relevantes, tem tido efeitos na melhor obra "nova" da Madeira. Contrapõe-se ao único projecto "moderno" de importação brasileira no país, o Hotel Casino do Funchal (1964-75), estrutura que no seu "gigantismo" interpretou monumentalmente a morfologia específica do território. De certo modo, o exercício de uma tradição na Madeira contemporânea poderá muito bem fortalecer-se através da capacidade dos seus arquitectos em gerir estas duas heranças praticadas em torno do significado de paisagem e distanciadas cerca de 30 anos. Sensibilidades medidas entre a operação delicada e muito localizada (também dependente da "história") e o movimento expansivo capaz de influir numa macro-escala (comprometido com uma linguagem com aspirações a ser "universal"). Isso, todavia, ainda não aconteceu e a arquitectura realizada na ilha, depois dos últimos ciclos eleitorais, é mais burocrática e previsível do que o seu passado parecia indiciar e que em poucos percursos - como o de Paulo David - se desenha. Mas, na Calheta e apesar de resisitir a qualquer "gigantismo", Paulo David pode ter prematuramente levantado a hipótese de confluência. O Centro das Artes encontrou, muito provavelmente, a expressão mais eloquente para dar continuidade ao ensaio madeirense de Byrne, pela capacidade de inserção e, em menor dimensão, à proposta de Niemeyer/Viana de Lima, por procurar, apesar da sua invisibilidade, produzir igualmente um "acontecimento" paisagístico, uma inscrição no lugar. Em ambas as frentes, o seu controle formal e construtivo são um passo fundacional numa direcção mais segura. Ana Vaz Milheiro Arquitecta 97 solidity of its construction. With Calheta, Paulo David allows himself –quite probably in the course of the project – a (less contained) plasticity for the exterior. Underneath, Paulo David seems to pursue the best of both worlds and it is when he does this that his work takes on greater complexity and seductive power. On Madeira there is still proximity to a work constructed by Byrne – the Cais do Carvão project (1990-98) in Funchal – a notable mark of a cycle of healthy “contaminations” among architects who have designed projects for the island. Paulo David’s generation worked on and/or saw themselves in this project and perhaps without intuiting it passed on a healthy “referential” tone to the next generation. Following a void of relevant architectural facts, the uniqueness of the Cais do Carvão has had an effect on Madeira’s best “new” project. It countervails the country’s only “modern” project imported from Brazil, Funchal’s Hotel Casino (1964-75), a structure that through its “gigantism” monumentally interpreted the specific morphology of the territory. In a certain way, the practice of a tradition on contemporary Madeira could easily be strengthened through the ability of its architects to manage these two legacies operating around the significance of the landscape with a distance of about 30 years. Sensibilities measured between the very localised (also “historically” dependent) and delicate operation, and an expansive movement capable of influence on a macro-scale (under obligation to a language with “universal” aspirations). Nevertheless, this has still not happened, and the island’s architecture, after the latest electoral cycles is more bureaucratic and predictable than its past would seem to indicate and in the footsteps of which few others –like Paulo David – have followed. Yet in Calheta, despite a resistance to any kind of “gigantism”, Paulo David could have prematurely raised the possibility of confluence. The Centre for the Arts has probably found the most eloquent expression for providing continuity to Byrne’s Madeiran endeavour, through its capacity of insertion and, in a smaller dimension according to Niemeyer/Viana de Lima’s design, through a search, despite its invisibility, to equally produce a landscape “event”, an onsite inscription. On both fronts, his formal and constructive control is a foundational step in a firmer direction. Ana Vaz Milheiro Architect 98 CASA DAS MUDAS Na praia da Calheta encontramos uma demonstração dramática do perímetro da Ilha da Madeira. No cume de uma falésia talhada a pique, a rugosidade natural do terreno parece subitamente ordenada. Será natural ou artificial? Terreno ou Arquitectura? Estamos perante a nova extensão da Casa da Cultura da Calheta, mais conhecida por Casa das Mudas, numa alusão à deficiência de antigas moradoras no edifício original. O conceito que está na base deste projecto de Paulo David, é extraído de uma fusão entre arquitectura, paisagem, topografia e geologia.A ambição do arquitecto era redesenhar a massa montanhosa, onde o edifício assumiria o carácter de topografia, quase como se tratasse de um afloramento rochoso. Para conseguir esse efeito, o revestimento exterior da totalidade do novo edifício é em pedra natural desta Ilha, o basalto, serrado. Os novos volumes encaixam-se no desnível do terreno e funcionam como plataforma sobre a qual poisa a casa preexistente. Sulcos na cobertura por onde irrompe vegetação, confirmam a ambiguidade entre o carácter artificial da arquitectura e a expressão natural do terreno. A primeira noção de interioridade, encontramo-la quando descemos aos espaços entre os vários blocos do edifício, onde passa a dominar o azul do céu, e, pontualmente, enfiamentos visuais dramáticos em direcção ao mar. No centro destes espaços abre-se um pátio mais amplo, onde a escultura de Botero parece assinalar o ponto de origem. Cada volume em redor corresponde a uma zona semi-autónoma, com entradas independentes: o módulo dos Serviços Educativos; a loja o módulo de exposições e o auditório. Ao entrarmos no edifício, os percursos parecem propor uma descida às entranhas da montanha, ou em direcção ao mar e descobrimos um dos aspectos mais fortes desta arquitectura: a sua intensa pulsação interior. Sala após sala, uma nova configuração espacial compõe uma sequência de descoberta que surpreende a percepção do visitante. Por vezes no nosso percurso de contemplação, a obra de arte é substituída por uma impressionante vista sobre a envolvente. Não há duas salas iguais. José Mateus Arquitecto 99 CASA DAS MUDAS At Calheta Beach one discovers a dramatic manifestation on the perimeter of the island of Madeira. At the top of a jagged cliff, the natural ruggedness of the terrain suddenly seems orderly. Is it natural or artificial? Landscape or Architecture? One is standing before the new extension of the Calheta House of Culture, better known as the Casa das Mudas (‘The House of [female] Mutes’) in an allusion to the disability of the former occupants of the original building. The concept at the root of this project by Paulo David is extracted from a fusion of architecture, landscape, topography and geology.The architect’s ambition was to redesign the mountainous mass where the building would assume a topographic character, almost as if it were a rocky outcrop. To achieve this effect, the entire outer facing of the new buildings is composed of the island’s natural stone, split basalt. The new volumes are embedded into the uneven terrain and function as a platform upon which the pre-existing house perches. Furrows in the roof through which vegetation bursts forth confirm the ambiguity between the artificial character of the architecture and the natural expression of the terrain. The first notion of interiority is found descending into the spaces between the building’s various blocks, where the blue of the sky comes to dominate along with intermittent, dramatic views towards the sea. A more spacious patio opens out in the centre of these spaces, where a Botero sculpture appears to signal the point of origin. Each surrounding volume corresponds to a semiautonomous zone with independent entrances: the Educational Services section; the shop; the exhibition section and the auditorium. Upon entering the building, the paths seem to invite a descent into the bowels of the mountain or towards the sea, and one discovers one of the strongest aspects of this architecture: its intense inner pulse. Room after room, a new spatial configuration comprises a sequence of discoveries that surprise the visitor’s perception. At times, during a contemplative passage, the artwork is replaced by an impressive view of the surroundings. No two rooms are alike. José Mateus Architect 100 PAULO DAVID Paulo David nasceu no Funchal em 1959. Formou-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1989. Colabora no Atelier do Arquitecto Gonçalo Byrne de 1988 a 1996, e no Atelier do Arquitecto João Luís Carrilho da Graça em 1989. Em 1996 constitui Atelier próprio no Funchal, exercendo actividade em regime liberal. Entre 1995 e 2003 foi consultor do Departamento de Planeamento Estratégico da Câmara Municipal do Funchal. Exerceu a actividade de docência como Assistente Convidado na Secção Autónoma de Arte e Design da Universidade da Madeira de 2001 a 2004. Atribuições: Prémio Europeu de Arquitectura Contemporânea Mies Van der Rohe 2005, Obra Seleccionada, com o Centro das Artes | Casa das Mudas, Calheta. Prémio “A Pedra na Arquitectura” 2005 (7ª Edição), com o Centro das Artes | Casa das Mudas, Calheta. Prémio Fad - Arquitectura Ibérica 2005, Obra Finalista, com o Centro das Artes | Casa das Mudas, Calheta. Prémio Enor 2005 (1ª Edição), Prémio Enor Portugal, com o Centro das Artes | Casa das Mudas, Calheta. Prémio “Barbara Cappochin” 2005, Obra Seleccionada, com o Centro das Artes | Casa das Mudas, Calheta. Prémio de Arquitectura Cidade do Funchal 1996 (1ª Edição), com a Creche “Primaveras” da Associação dos Jovens Empresários da Madeira. 101 PAULO DAVID Paulo David was born in Funchal in 1959. David graduated from the Faculty of Architecture at Lisbon Technical University in 1989. He collaborated with Architect Gonçalo Byrne’s Studio from 1988 to 1996 and Architect João Luís Carrilho da Graça’s Studio in 1989. In 1996, he set up his own studio in Funchal, working as an independent professional. Between 1995 and 2003 he worked as a consultant for the Strategic Planning Department of the Funchal City Council. David was a guest teaching assistant at the Autonomous Art and Design Section of the University of Madeira from 2001 to 2004. Honours: European Union Prize for Contemporary Architecture Mies Van der Rohe Award 2005 – Selected Work, for the Centre for the Arts | Casa das Mudas, Calheta. “Stone in Architecture” Prize 2005 (7th Edition), for the Centre for the Arts | Casa das Mudas, Calheta. FAD Prize – Iberian Architecture 2005 - Finalist, for the Centre for the Arts | Casa das Mudas, Calheta. Enor Prize 2005 (1st Edition), Architecture in Portugal, for the Centre for the Arts | Casa das Mudas, Calheta. “Barbara Cappochin” Prize 2005 – Selected Work, for the Centre for the Arts | Casa das Mudas, Calheta. City of Funchal Architecture Prize 1996 (1st Edition), for the “Primaveras” Nursery for the Young Entrepreneurs Association of Madeira. 102 FERNANDO GUERRA Fernando Guerra nasceu em 1970 em Lisboa. Licenciou-se em Arquitectura em 1993, tendo trabalhado durante cinco anos em Macau como Arquitecto (1994-99). Tem actualmente um Atelier e Estúdio em Lisboa, em sociedade com seu irmão Sérgio Guerra que é responsável por toda a produção dos diversos trabalhos de arquitectura e reportagens fotográficas, e com quem fundou em 2004 a editora FG+SG Livros de Imagem. Os seus trabalhos são editados regularmente em vários livros e revistas. Já foi representado em diversas colecções particulares, exposições e concursos. 2006 Exposição: “A Arquitectura pela objectiva de Fernando Guerra” - Universidade Lusíada, Lisboa Edição do Livro: “Palácio da Justiça de Sintra” - FG+SG Livros de Imagem 2005 Representante Epson Portugal na European K3 Press Launch - Institut du Monde Arabe, Paris, França Exposições: Colégio de Arquitectos da Catalunha - Girona, Espanha; “A Arquitectura pela objectiva de Fernando Guerra” - Galeria Design Dimensão, Lisboa / Teatro Gil Vicente, Coimbra / Galeria Colorfoto, Porto;“Arquiprojecta” - Escritório da Simmons & Simmons Rebelo de Sousa, Lisboa Edição dos Livros: “Centro Espiritual do Turcifal” - FG+SG Livros de Imagem; “Conservatório de Música de Vila Real” - FG+SG Livros de Imagem 2004 Grande Prémio “Revista Constructiva” 2004 | Fotografia de Arquitectura - Espanha Exposição: “Retornos de Olhar” - Fnac Chiado, Lisboa 2003 1º Prémio no Concurso de Fotografia JA / Jornal dos Arquitectos no tema "Cidades Contemporâneas", com o portfolio "Novo Mercado de Ponte de Lima" Exposição: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (FAUTL) Edição do Livro: “Historias de pedra, vidro e betão” www.fernandoguerra.com 103 FERNANDO GUERRA Fernando Guerra was born in 1970 in Lisbon. He received a degree in architecture in 1993 and worked as an architect in Macau for the next five years. He currently has an atelier and studio in Lisbon in partnership with his brother Sérgio Guerra, who is responsible for all production aspects of the different architectural and photographic projects. In 2004 they founded FG+SG Livros de Imagem Publishing Co. His work is regularly published in various books and magazines and has appeared in a variety of private collections, exhibitions and competitions. 2006 Exhibition: “A Arquitectura pela objectiva de Fernando Guerra” - Lusíada University, Lisbon Book Editions: “Palácio da Justiça de Sintra” - FG+SG Livros de Imagem 2005 Represented Epson Portugal in the European K3 Press Launch - Institut du Monde Arabe, Paris, France Exhibitions: College of Architects of Catalonia - Girona, Spain; “Architecture Through the Lens of Fernando Guerra” -Dimensão Design Gallery, Lisbon / Teatro Gil Vicente, Coimbra / Colorfoto Gallery, Porto; “Arquiprojecta” - Simmons & Simmons Rebelo de Sousa Office, Lisbon Book Editions: “Centro Espiritual do Turcifal” - FG+SG Livros de Imagem; “Conservatório de Música de Vila Real” - FG+SG Livros de Imagem 2004 Grand Prize “Revista Constructiva” 2004 | Architectural Photography - Spain Exhibition “Retornos de Olhar” - Fnac Chiado, Lisbon 2003 First Prize in the JA / Jornal dos Arquitectos under the theme of "Contemporary Cities" Photography Competition with the portfolio "Novo Mercado de Ponte de Lima” Exhibition: Faculty of Architecture (FAUTL) Book Editions: “Historias de pedra, vidro e betão” www.fernandoguerra.com fotografia Fernando Guerra produção fotográfica Sérgio Guerra maqueta Maqueteam coordenação Ricardo França tradução Andrew Swearingen impressão Ciência Gráfica, Lda. tiragem 2000 exemplares Abril 2006 isbn 972-99464-3-4 depósito legal 242157/06 edição FG + SG - Livros de Imagem morada Rua João da Silva nº 10 A - 1900-271 Lisboa, Portugal url www.fernandoguerra.com | www.ultimasreportagens.com e-mail fguerra@fernando guerra.com Copyright © 2006 FG + SG - Livros de Imagem Todos os direitos são reservados a esta edição. Excepto breves citações em artigos, nenhuma parte integrante deste livro pode ser reproduzida em nenhuma forma por nenhum meio sem a autorização prévia por escrito do editor. Títulos Publicados: 01 | RRJ arquitectos | Centro de Espiritualidade do Turcifal 02 | António Belém Lima | Conservatório Regional de Música de Vila Real 03 | Paulo David | Centro das Artes | Casa das Mudas 04 | ARX Portugal | Biblioteca Municipal de Ílhavo Próximos volumes no site www.ultimasreportagens.com