Setembro 2008 - Museu da Lourinhã
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Setembro 2008 - Museu da Lourinhã
Número 8 Ano 2008 Mês Setembro Museu da Lourinhã Editorial O Museu da Lourinhã é um lugar dinâmico onde as peças coleccionadas são, além de expostas, estudadas, procurandose trazer até aos visitantes e associados os conhecimentos assim adquiridos. Os investigadores que connosco colaboram já por diversas vezes foram distinguidos e neste número relata-se mais um caso de êxito. Temos para vos contar algumas histórias interessantes, de pessoas e das ferramentas que utilizavam nas suas profissões, peças que vieram a ser doadas ao Museu para que se não perca a memória de "como era dantes". Embora algumas profissões se tenham extinto, muitas tradições ainda se mantém bem vivas e, como estamos no mês dos círios, resolvemos falar-vos deles. Convidamos-vos a visitarem a mais recente adição à Sala de Paleontologia: o crânio de Torvosaurus. Não deixem de admirar as belas ilustrações expostas. Publicamos o segundo de uma série de três artigos que nos revelam os segredos da sua criação. Mais uma vez contribuíram para este número voluntários, além de funcionários e colaboradores regulares do Museu. Renovamos o convite à participação de todos. O trabalho dos voluntários (de todas as idades!) é de grande importância e valor para o Museu. Como já vai sendo hábito, propomos aos Jovens mais um concurso. Olho atento aos detalhes e, não se esqueçam, podem ver o original no Museu. Fernando Nogal Neste número 2 3 4 6 9 10 Mensagem do Editor Notícias da Associação Serviços do Museu A propósito (notas) Concurso Jovem Loja do Museu Artigos 3 4 5 6 7 8 Profissões desaparecidas – Segeiro / Ferreiro A roda do Senhor Garcia Os círios à Senhora da Misericórdia Os plesiossauros, os senhores dos mares mesozóicos Entrevista a Ricardo Araújo Ilustração Paleontológica – Parte II Capa: O Senhor Garcia a trabalhar na sua roda de amolar, no pátio do Museu (ver artigo na página 4). Assine o Boletim do Museu da Lourinhã! Sem encargos, por distribuição electrónica Se não é sócio e quer receber regularmente o Boletim, envie um pedido para [email protected] Os Associados recebem automaticamente o Boletim por via electrónica. Mantenha actualizado o seu endereço e-mail Escreva directamente ao Editor, enviando artigos, comentários, sugestões, para [email protected] 2 Boletim N.º 8 Setembro 2008 Museu da Lourinhã Notícias • Voluntariado durante o Verão Ao terminar o Verão, a Direcção do GEAL aprovou um voto de louvor aos voluntários pelo seu contributo durante estes meses, quer nas escavações quer no Museu. Assim, por exemplo, foi possível continuar os trabalhos de preparação sem deixar de atender ao excepcional afluxo de visitantes e, inclusive, fazer visitas guiadas levando a um aumento da satisfação dos visitantes. Só em Agosto mais de 4.100 pessoas visitaram o Museu, o que constitui um máximo absoluto para um mês. • Dia Mundial do Coração – 4ª Caminhada e 2º Passeio BTT “Rota dos Dinossauros” O Museu apoiou este evento, que decorreu no passado dia 28 de Setembro e cujo percurso, que se iniciou precisamente à sua porta com uma visita livre ao Pavilhão de Paleontologia. Participaram mais de duzentas pessoas que, atravessando montes e vales, se juntaram num convívio no Forte de Paimogo. • Abertura do Museu no dia 5 de Outubro O Museu abrirá, com horário normal, no próximo dia 5 de Outubro. Aproveite para ver as novidades e leve os seus amigos! • Comemorações do Dia do Idoso (1 de Outubro) e do Mês do Reformado O Museu comemorará o Dia do Idoso no dia 1 de Outubro, oferecendo o ingresso às pessoas de idade comprovadamente igual ou superior a 65 anos. Outubro é o Mês dos Reformados e o Museu vai colaborar com a C.M. da Lourinhã nas actividades comemorativas. Nos dias 7, 8, 15 e 16 o Museu organiza tardes de visita e convívio nas suas instalações. Os interessados poderão inscrever-se na Câmara Municipal da Lourinhã. • Admissão de novos Associados Durante o mês de Setembro foram aprovados os pedidos de admissão de 12 novos sócios. Profissões desaparecidas – Segeiro / Ferreiro O segeiro toma o nome da sua função, ou seja, fazia seges, e estas foram, se assim as podemos designar, o primeiro utilitário da história dos veículos de tracção animal. Tratava-se de um veículo robusto, simples, muito prático e em termos de deslocação atingia uma velocidade mais eficiente que os seus congéneres, os coches e as berlindas. Embora existam seges com quatro rodas, são mais usuais as de duas rodas, com uma caixa em forma de vírgula gigante, dois lugares, frente com cortina de couro e uma suspensão que em tudo se assemelha à das berlindas. As seges tornaram-se, a partir do século XVIII, preferencialmente viaturas de aluguer, dentro e fora das cidades, permitindo alargar o leque dos utilizadores que deixaram de ser exclusivamente os 1 nobres. No entanto, o termo segeiro é pouco conhecido na Lourinhã, sendo o de ferreiro mais comum. Estes artífices trabalhavam, simultaneamente, o ferro e a madeira, essenciais na construção e reparação de carroças e de alguns objectos em ferro ligados à agricultura tais como as enxadas, roçanas, machados, pica2 deiras, forquilhas e forcados, cata-ventos, aldrabas, grades, etc. Alberto Remexido, ou como era carinhosamente chamado “Ti Remexido”, era morador nos Casais do Araújo- Marteleira, e aí tinha a sua oficina. Por curiosidade, é notório que em todas as povoações que tinham ferreiros a sua localização era sempre à entrada da aldeia3. Com o “Ti Remexido” acontecia o mesmo: Casais do Araújo situa-se à entrada da Marteleira e junto ao caminho Lourinhã – Torres Vedras. Os objectos por si deixados foram, após a sua morte, doados pela sua família e constituem um valioso testemunho do seu trabalho. A profissão Segeiro/Ferreiro, em exposição no Museu da Lourinhã, é composta, entre outros objectos, por uma banca de torno e um fole “gigante” que alimentava a fornalha para posterior aquecimento do ferro, a fim de o moldar na bigorna com o tilintar do martelo. Setembo 2008 Exposição Segeiro / Ferreiro © GEAL- Museu da Lourinhã Mas o mais precioso é o livro de registo dos trabalhos, com referências às peças arranjadas, o custo e o seu dono. Carla Abreu Referências: 1 Nuno Alegre, Viçosos Coches, Guia Equestre.com 2 Sérgio Pereira, “O vigor do trabalho manual” in Saberes da Vida, Memórias de Antigas Profissões, Cadernos de Etnografia (N.º 2) do Concelho do Bombarral, Câmara Municipal do Bombarral, 2000, pp.27 3 Idem, pp.27. Boletim N.º 8 3 Museu da Lourinhã A vida é um corridinho Corre, corre sem parar Desde que um homem vem ao mundo Até que vai a enterrar. A Roda do Senhor Garcia Lembro-me, miúdo, da antiga praça velha da Lourinhã: à esquerda, uma taberna e um talho, o talho do Décio e a taberna do Senhor Garcia. O Senhor Garcia, galego natural de Ourense, fugiu, como tantos outros, à guerra civil de Espanha. Montou a taberna, trouxe a roda e a arte de amolar como tantos galegos espalhados por Portugal. Pequenino, a taberna era-me interdita mas lembro-me bem do fogareiro à porta, sempre ateado pronto para assar umas febras ou umas sardinhas. Fernando Santos - Senhor Horácio, estou velho, lutei e sofri muito, e não queria perder a minha roda de amolador. Ofereço-a ao Museu. Eu, feliz e contente, imediatamente perguntei: - Quando, Senhor Garcia? Ele marcou a data, dois ou três dias depois, e, na casa do Senhor Garcia, obra modesta, peguei na roda e saí na direcção do Museu. O Senhor Garcia disse: - Não! Quem leva a roda sou eu. E lá viemos, da rua do Castelo até à porta do Museu, muito calmamente, como se fossemos em procissão. Além dos trabalhadores, era a única pessoa que possuía a chave do Museu e lá foi durante uns poucos de anos fazendo um biscato ou dois, amolando uma tesoura ou uma faca, pedindo sempre, humildemente: - Desculpe se sujei o chão. O caruncho chegou, a família sediou-se em Alverca e eu nunca mais vi o nosso “Espanhol”. Voltando às recordações da minha meninice, existe um instrumento para duas profissões: a gaita. E ainda hoje, quando alguém houve a gaita do amola-tesouras, “Voz de povo é voz de Deus”, toda a gente afirma: “Amanhã chove!” Passam-se os tempos, a vida dá as mesma voltas que as voltas da roda de amolar. Destruiu-se a praça, o campo do Lourinhanense, e eu, tendo ido para Lisboa, regressei à Lourinhã já homem feito. Um dia, para espanto meu, o Espanhol, como era conhecido o senhor Garcia, disse-me: - Senhor Horácio, vamos os dois beber uma taça de vinho tinto. Não me lembro qual foi a taberna mas lembro-me do tema da conversa: Mas, para nós, meninos, como a gaita era igual à do capador de porcos emitindo o mesmo som, as nossas mães diziam: “ou comes a sopa toda ou cortam-te a pilinha”. Tenho saudades de ti, querido amigo. Horácio Mateus O Museu da Lourinhã disponibiliza os seguintes Serviços: • • 4 • • Visitas guiadas e palestras Paleontologia: o Preparação de fósseis o Elaboração de moldes o Venda de réplicas Boletim N.º 8 Conservação e restauro de peças Workshops: o Conservação e restauro o Réplicas o Preparação de fósseis Setembro 2008 Museu da Lourinhã Os círios à Senhora da Misericórdia sempre da direita para a esquerda, Entrevêem-se origem, festividades e sentido contrário ao do movimenEstamos na época dos círios, fim cultos a deusas pagãs, deusas-mães, noto dos ponteiros do relógio. das colheitas, homenagem aos deuses da terra. Os círios à Senhora da Misericórdia (Moita dos Ferreiros) são dos mais antigos dos muitos que abundam na zona da Estremadura portuguesa. traduzidos em romarias, lendas, oferendas, loas, busca da luz contra o caos e da água fonte da vida. Exceptua-se o círio de Vila Chã, que dá três voltas ao Chafariz, relembrando, assim, a promessa inicial, a busca da água como elemento primordial da vida. Buscam a luz em círios de cera que, no caso da Senhora da Misericórdia, é representada pelas velas que são acesas durante a missa do respectivo círio, no dia oito de Setembro. Dizem que, em 1253, a região de Alenquer foi assolada por forte seca. A população pediu à Senhora da Misericórdia que intercedesse e lhes desse “da água que ela tinha sempre nos seus sagrados pés”. A partir daí, todos os anos, por volta do dia 8 de Igreja da Senhora da Misericórdia (1993) Setembro, cai sempre alguma chuva nas aldeias de Alenquer devotas da Senhora da Misericórdia. Os círios mantêm formas e conteúdos Por isso, se deslocam em romagens, que se repetem, ano após ano, e reos círios, para virem agradecer à velam na sua aparente simplicidade dimensões complexas, não se sabenSenhora e buscar da sua luz. do já porquê nem quando foram Os círios são movimentos de religiosi- adquiridas. dade popular, mais frequentes entre a península de Setúbal e o Cabo Mon- Os círios à Senhora da Misericórdia, dego, incluídos principalmente no cul- sendo dos mais antigos, são os que to à Senhora que, com o cristianismo, apresentam fórmulas mais simples mas tão características desta religiosise transformou no culto Mariano. dade popular: Elegem, com um ano de antecedência, juízes, festeiros e mordomos, que são responsáveis pela guarda da bandeira e pela realização do próximo círio, seguindo as tradições. Há casos em que é uma família que, de século em século, vai mantendo a responsabilidade de organizar o círio como em Vila Verde dos Francos ou Aldeia Grande. Chegada sempre pela mesma ordem, no dia sete de Setembro durante a manhã, primeiro o círio da Labrugeira, e de Vila Verde, os quais participam na missa e na procissão da festa. Depois da procissão ninguém arreda pé enquanto não chegam os de Aldeia Grande, Casais Galegos e Vila Chã como se o dia não estivesse completo sem eles. Imagem da Senhora da Misericórdia (Século XIV-XV). É uma imagem em pedra (calcário branco) pintada. Traja vestido rosa, capa ou manto azul e calça botinas castanhas. É Senhora orante, coroada, em pé, de mãos juntas em oração Setembo 2008 Procissão no local de origem e junto do Santuário, sem a presença de pároco, com bandeira e guião ou estandarte, acompanhado pelo ritmo da gaita-de-foles. E se não há gaiteiro, a música é transmitida pela aparelhagem que segue num dos tractores (antigamente eram carros de bois ou carroças), mas sempre o som da gaita-de-foles, esse instrumento marca das nossas origens celtas. Três voltas às igrejas da freguesia de origem e três voltas ao santuário, tanto à chegada como à partida, Boletim N.º 8 Painel de azulejos do século XX. Encontrase na Fonte do Rastinho e representa a Senhora e o pastor no momento do encontro. Senhora intercessora, coroada, de pé, descalça, e de braços abertos, estendidos, para receber e abençoar. Os círios à Senhora da Misericórdia não lançam loas mas, no momento da despedida, vêem-se as pessoas saudarem-se com carinho e já com saudades “até para o ano com a graça da Senhora da Misericórdia”. Isabel Mateus 5 Museu da Lourinhã Os plesiossauros, os senhores dos mares mesozóicos Os plesiossauros são um grupo de répteis marinhos que viveram no era Mesozóica, entre os 220 milhões de anos e os 65 milhões de anos atrás, tendo-se extinto ao mesmo tempo que os dinossauros. Apesar do nome também terminar em “ssauros” e de serem contemporâneos dos dinossauros, são apenas primos muitíssimo afastados destes últimos. Além disso, os plesiossauros dominaram os mares, enquanto que os dinossauros dominavam a terra durante o Mesozóico. Com cauda curta, corpo largo e barbatanas poderosas, os plesiossauros manobravam as barbatanas de forma a nadarem com uma técnica algo semelhante à dos pinguins de hoje, que parecem voar dentro de água. Os plesiossauróides eram piscívoros, isto é, o seu regime alimentar era essencialmente constituído por peixe. Para caçar o peixe percorriam os oceanos e perseguiam os peixes com o seu enorme pescoço flexível, capturando-os com a boca. Esta estava munida de dentes finos e recurvados para trás, com fiadas de estrias verticais, de modo a segurar bem os fugidios peixes. No Cretácico superior (no fim da era Mesozóica) os plesiossauros começaram a ter a companhia de outros gigantes dos oceanos mesozóicos, os mosassauros. Estes répteis eram aparentados aos lagartos monitores, dos quais o actual Dragão de Komodo é um magnífico exemplo. Locomoviam-se de forma distinta pois usavam o ondular da sua enorme cauda achatada lateralmente para propulsar o corpo estreito, enquanto que as barbatanas eram pequenas e eram utilizadas essencialmente para mudar de direcção. Existiram dois grandes grupos de plesiossauros: os pliossauros, com o pescoço curto e cabeça grande, e os plesios-sauróides de pescoço comprido e uma cabeça pequena. Ilustração de Xavier MacPherson, Espanha, para o Concurso Internacional de Em Portugal há muito poucos vestígios de plesiossauros. A forma que a maioria Ilustração de Dinossauros, 2002 das pessoas mais facilmente associa a um plesiossauro é o mitológico monstro Para saber mais sobre estes animais pode consultar o resumo sobre os répteis Mesozóicos marinhos (ictiosde Loch Ness. sauros, plesiossauros e mosassauros) de Portugal: Short É curioso que muitas vezes tenhamos de recorrer a uma figura mitológica de um animal que não existe e nunca existiu, como o deste lago escocês, para explicarmos o que é um plesiossauro, um animal que existiu, de facto, há milhões de anos. review on the marine reptiles of Portugal: ichthyosaurs, plesiosaurs and mosasaurs. Journal of Vertebrate Paleontology. Journal of Vertebrate Paleontology, 27(suppl. to 3): 57A. Também disponível em http://omateus.googlepages.com/JVP07_supplement_to_3.pdf Octávio Mateus A propósito … “Evolução e Criacionismo - uma relação impossível” Autores: Octávio Mateus, Augusta Gaspar, Teresa Avelar e Frederico Almada Editor: Quasi Edições Colecção: dragões do éden ISBN: 9789895523078 Ano de Edição/ Reimpressão: 2007 N.º de Páginas: 448 Encadernação: Capa mole Dimensões: 16 x 23,5 x 3,5 cm O número 2 inclui um artigo sobre “Fraudes, mistificações e Frankensteins: como distingir imitações de fósseis genuínos de vertebrados” Ver em http://www.jpaleontologicaltechniques.org/index.html Não perca o próximo número. Traz uma interessante surpresa! 6 Este livro é mais um contributo para o debate entre o método científico – a mais aperfeiçoada ferramenta de que a Humanidade dispõe para conhecer a realidade – e o chamado criacionismo científico que, apesar do nome, não segue o método científico. Editor Boletim N.º 8 Setembro 2008 Museu da Lourinhã Bolsa Fulbright atribuída a jovem investigador do Museu da Lourinhã Ricardo: O projecto de investigação será enquadrado programa de mestrado. Estes demoram, em geral, O Boletim soube num dois anos e compreendem também uma componente que o jovem paleontólogo Ricardo Araújo – que além de colaborador do Museu contribui regularmente para estas páginas – tinha ganho uma das prestigiadas Bolsas Fulbright e foi conversar com ele (ver caixa com uma breve descrição do programa Fulbright). Boletim: Parabéns por esta Bolsa, que é também um reconhecimento do teu mérito. E obrigado por teres acedido a falar sobre este tema. Ricardo: Obrigado! Tenho todo o prazer. Parece-me importante aceder a esta entrevista. Uma vez que o Museu está a apoiar estudantes e, se estes são reconhecidos de alguma forma, faz sentido que "esta nossa casa" seja igualmente reconhecida. lectiva. Existem ainda várias hipóteses na mesa relativamente a onde realizar o mestrado. A Southern Methodist University é uma hipótese, têm vários cientistas versados na matéria (Michael Polcyn e Louis Jacobs) e um laboratório de visualização muito sofisticado. A Universidade do Texas em Austin é também uma hipótese interessante, eles são mundialmente famosos em técnicas de tomografia, essencial para a modelação em elementos finitos. Ou ainda a Ohio State University, onde está Larry Witmer que é um dos melhores especialistas mundiais em reconstituição de tecidos moles (e.g. músculos) em tetrápodes (chamam-se tetrápodes todos os seres com quatro membros individualizados), B: Quais são os teus objectivos para este projecto? Qual a importância para a tua carreira? Ricardo: Primeiro: complementar a minha formação académica; segundo: refinar os meus interesses na paleontologia; terceiro: o projecto científico per se; quarto: ampliar as minhas valências técnicas na paleontologia; quinto: ampliar a carteira de contactos de paleontólogos. B: Qual o projecto que apresentaste e te fez ganhar? Ricardo: Começando do princípio, desde sempre estive interessado em paleontologia... quase desde que nasci. Em conjunto permitir-me-ão fazer mais e melhor ciência e No entanto, a minha formação académica saiu um pouco aumentar a minha colaboração em trabalhos científicos. ao lado do habitual percurso para um aspirante a paleontólogo: formei-me em O Programa Fulbright Engenharia Geológica. Usualmente são biólogos ou geólogos que então se tornam O programa Fullbright promove e apoia o intercâmbio de alunos e paleontólogos. académicos em todo o mundo. Abrange 155 países e conta já com mais de 286 mil participantes, cerca de dois terços dos quais de fora dos E.U.A. No entanto, em vez disso ser uma desvantagem procurei apresentar este caso aos avaliadores da Comissão Fulbright como uma mais-valia. Foi um pouco esta a ideia base do meu projecto: combinar ideias de engenharia com paleontologia. Daqui resulta um híbrido chamado morfologia funcional. Estes dois “palavrões” compreendem a ciência que se dedica a descobrir a função examinando a estrutura. Por exemplo: estrutura => osso; função => locomoção. Foi criado em 1946 por iniciativa do Senador do Arcansas J. William Fullbright, sendo hoje da responsabilidade do Gabinete de Assuntos Culturais do Departamento de Estado dos E.U.A. Todos os anos são atribuídas cerca de 7.000 bolsas, numa competição aberta, baseada no mérito e conduzida por comissões bilaterais em cada país. Os bolseiros têm um papel importante na troca de ideias e saberes, experiências e conhecimento mútuo dos povos. Informação completa pode ser obtida no site oficial do programa em: http://fulbright.state.gov/ O meu projecto, em particular, é extrair informação sobre a mastigação (função) dos ossos mandibulares (estrutura) em dinossauros ornitópodes 1 , através de um conjunto particular de ferramentas de engenharia (análise de elementos finitos). B: Quanto tempo vai durar este projecto, onde é? 1 B: Tens alguma mensagem para as e os futuros aspirantes a paleontólogos? Ricardo: Tenho sim. Por mais tortuoso que seja o caminho de um jovem paleontólogo, se se transbordar paixão pela paleontologia, então haverá um lugar reservado para ti! E depois… há sempre tanto por fazer, tanto por escavar, tanto por escrever, que o que é preciso é arregaçar as mangas e meter mãos à obra! Editor / Ricardo Araújo Ver o artigo “Investigando a alimentação dos dinossauros ornitópodes” no Boletim Nº 5, Junho de 2008. Setembro 2008 Boletim N.º 8 7 Museu da Lourinhã Ilustração Paleontológica II – Reconstituição em forma de vida Paimogo no Jurássico Autor: Alan Lam, Menção Honrosa CIID 2005 No desenho paleontológico podemos falar sobre a reconstituição em forma de vida de dinossauros, ou outros animais extintos, tais como os pterossauros, trilobites ou os mamutes. Se desenharmos um dinossauro com músculos e pele, e vamos cingir-nos a estes animais, sem enquadramento ambiental, isto é, paisagem, temos de ter uma série de cuidados. Por exemplo: As articulações tem de estar no local correcto e dobrarem-se para o lado certo, se não correremos o risco de representarmos um dinossauro de perna partida; Não cortar ossos a meio, isto é, se existe um osso pélvico “a sair” na cintura, temos de contar com ele quando “preenchemos” de pele aquela zona do animal; Respeitar as diversas proporções do animal; e, Não o colocar em posições pouco naturais (duvido que os dinossauros fizessem yoga). momento e não são claras nos artigos. A única coisa que actualmente se pode inventar com segurança é a sua cor. Quando estes se representam enquadrados numa paisagem então, além do atrás descrito, é essencial ter em consideração mais uma série de factores: O local do animal não pode ser actual, por exemplo, não se vai utilizar a foz do rio da Lourinhã para fundo da paisagem; As outras espécies representadas têm de ser contemporâneas do animal, por exemplo, não vale pôr plátanos com Allosauros. No entanto, ao fazer ilustração paleontológica, é no desenho em forma de vida que existe maior liberdade estética. Numa ilustração também existe bibliografia: são as obras consultadas que podem ser escritas ou gráficas. As escritas (trabalhos científicos) revelam-nos o que realmente foi encontrado deste animal, o esqueleto, classificação, o regime alimentar, locomoção ou outros dados relevantes. A bibliografia gráfica serve para vermos como é que já se realizaram os desenhos das espécies em questão, os erros que foram cometidos, as diversas interpretações, o que funcionou bem e os defeitos que nos “ferem a vista”. Reconstituição de Dacentrurus com estudo esquelético Autor: Simão Mateus 8 A ajuda de um paleontólogo é também uma mais valia, pois há sempre questões que surgem no Boletim N.º 8 Se falarmos de uma ilustração de um animal com informação adicional, um esquema, por exemplo, é ainda mais perceptível a necessidade de um conhecimento científico profundo Bibliografia de Torvosaurus Autores: Octávio Mateus, Aart Walen e Miguel Telles Antunes Autor das Ilustrações: Simão Mateus Nota: É a bibliografia que deu origem ao crânio que está exposto Conseguimos apercebermo-nos da utilidade “máxima” de um desenho de dinossauro quando, através deste, vemos esclarecidas questões, encontramos alternativas a hipóteses que estavam “estagnadas”, ou refutamos ideias que não consideramos serem mais viáveis. A outra área de acção do desenho paleontológico é a ilustração de fósseis. Esta tem um mercado específico para os trabalhos científicos e esquemas de exposições. Sobre as suas regras e particularidades falaremos no próximo artigo. Simão Mateus Setembro 2008 Museu da Lourinhã Concurso Jovem – Paisagem Jurássica A paisagem jurássica que serve de tema ao concurso jovem deste mês foi pintada pelo Ucraniano Vladimir Bondar, tendo ganho o 1º prémio do 2º Concurso Internacional de Ilustração Científica (2002), promovido pelo Museu da Lourinhã. Representa um ninho com vários ovos de Eustreptospondylus e um bebé acabado de nascer, que a mãe observa com cuidado. Do lado direito da gravura estão dez pequenos detalhes extraídos da ilustração. És capaz de descobrir de onde vieram? Se tens menos de 17 anos fotocopia ou imprime esta página. Assinala na gravura o local de cada detalhe, fazendo um círculo à sua volta, e liga-o por um traço à imagem do detalhe, na coluna da direita. Imagem: Eusteptospondylus por Vladimir Bondar, Ucrânia (2002) Preenche os dados da ficha e entrega-a na Loja do Museu ou envia-a por correio para a morada indicada. No dia 14 de Novembro de 2008 será atribuído um prémio à primeira entrada correcta extraída. O vencedor será contactado directamente, e o seu nome anunciado no próximo número do Boletim (caso seja autorizado). Boa sorte! Nome: _______________________________________________________________ Contacto: _________________ Idade: _____ Escola: ________________________ Encarregado de Educação ou Tutor: Nome: _______________________________________________________________ Contacto: ____________________ Assinatura: ______________________________ Envia para: Concurso Jovem - Paisagem Jurássica Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã Rua João Luís de Moura 2530-157 Lourinhã Portugal Sim / Não autorizo a publicação do meu nome e/ou da minha fotografia no Boletim do Museu da Lourinhã Concurso Jovem – O quê? Sem electricidade No artigo “Profissões desaparecidas - O Petrolino”, publicado no Nº 6 do Boletim, podiam encontrar-se palavras referentes a dez dos utensílios da profissão de Petrolino, ilustrados na imagem da direita. Solução: 1) Balança; 2) Cabeceira; 3) Bilha; 4) Almude; 5) Caixa pesa-sais e pesa-espíritos; 6) Medidas; 7) Faca; 8) Espátula; 9) Corneta; 10) Matrícula; 11) Chapa de licença; 12) Guizeira; 13) Marreca de petróleo; 14) Barril de aguardente; 15) Marreca de azeite; 16) Bomba de transfega São eles, enumerados pela ordem em que aprecem no texto: corneta, marreca de petróleo, chapa de matrícula, marreca de azeite, medida, faca, balança, barril de aguardente, cabeçada e guizeira. A medida e a corneta aprecem duas vezes. Desta vez ninguém conseguiu acertar nas oito palavras, mas aqui fica a solução. Setembro 2008 Boletim N.º 8 9 Museu da Lourinhã Visite a j Canetas, borrachas e lápis originais (e muito, muito mais) Marca a diferença no regresso às aulas! Porque não uma caneca com o teu dinossauro favorito? Aqui está um presente para todos os gostos: CHEQUES-BRINDE! Entrada independente pela Rua dos Aciprestes 10 Boletim N.º 8 Setembro 2008