desempenho e qualidade do leite de cabras saanen
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desempenho e qualidade do leite de cabras saanen
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DESEMPENHO E QUALIDADE DO LEITE DE CABRAS SAANEN ALIMENTADAS COM DIFERENTES RELAÇÕES VOLUMOSO:CONCENTRADO, NO PRÉ-PARTO E LACTAÇÃO Autora: Maximiliane Alavarse Zambom Orientadora: Profa Dra Claudete Regina Alcalde Dissertação apresentada, como parte das exigências para obtenção do título de MESTRE EM ZOOTECNIA, no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá - Área de Concentração Produção Animal MARINGÁ Estado do Paraná Abril – 2003 ii Acima de tudo o amor Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor , eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passara. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada é também a nossa profecia.. Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado. Quando eu era criança , falava com criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança. Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor. 1 Coríntios, 13, 1-13 iii A Deus, por mais uma conquista, Aos meus pais, Valdir e Laura, pelo amor, dedicação e grande apoio em todas as fases de minha vida, Aos meus irmãos, Clederson e Vanessa, pela preservação dos laços familiares, Ao meu esposo Marcelo, pelo amor, companheirismo e paciência, À todos meus amigos (as), pela força e alegria. DEDICO iv AGRADECIMENTOS A Deus pelo dom da vida, À Universidade Estadual de Maringá, em especial, ao Programa de Pós-graduação em Zootecnia, pela oportunidade de realização deste curso, À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudo, Aos meus pais, Valdir e Laura, pelo amor e dedicação, A Prof.a Dr.a Claudete Regina Alcalde, pela dedicação, orientação, ensinamentos, amizade e confiança, que contribuíram para formação profissional. Aos Professores Dr. Geraldo Tadeu dos Santos e Dr. Francisco de Assis Fonseca de Macedo, pela co-orientação, dedicação, ensinamentos e amizade, Ao Prof. Dr. Gentil Vanini de Moraes, pela ajuda no programa reprodutivo dos animais, Ao Prof. Dr. Elias Nunes Martins, pela ajuda na condução dos dados, Aos professores do Departamento de Zootecnia pelos ensinamentos e contribuição para a formação profissional, À profa. Dra Marlene Leiko Dói Sakuno do Departamento de Análises Clínicas, pela realização das análises de colesterol, triglicerídeos e uréia, Ao prof. Newton Pohl Ribas e ao técnico Darci Rodrigues da Veiga, da APCBRH, pela realização das análises de leite, As amigas Jocilaine e Karina e aos bolsistas Everton e Eder pela grande ajuda, esforço e boa vontade, Aos estagiários Gesse, Rafael e Gean, e ao Zootecnista Alexandre Quaquarini, pela ajuda no trabalho de campo, Aos funcionários do setor de Caprinocultura da Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI), Nelson Nogueira, Nelson Palmeira e Aristótoles (Baiano), e à todos funcionários da FEI que auxiliaram na condução do trabalho de campo, Aos funcionários do LANA, Dilma, Cleusa e Sérgio pelo auxílio nas análises laboratoriais, v Ao meu esposo Marcelo e meus irmãos, Vanessa e Clederson, pelo amor, apoio e ajuda em algumas coletas de campo, Aos amigos do curso de pós-graduação, especialmente, Sandra, Paula e Luiz Juliano, pelo companheirismo, horas de estudo em grupo e alegria vivenciada, A minha amiga Elisa C. Modesto, pela grande amizade, apoio e companheirismo, A todos que direta ou indiretamente auxiliaram na realização deste trabalho. vi BIOGRAFIA Maximiliane Alavarse Zambom, filha de Valdir Aparecido Zambom e Laura Alavarse Zambom, nasceu em Altônia, Estado do Paraná, no dia 24 de março de 1978. Formada em Zootecnia, pela Universidade estadual de Maringá, em 2000. Em março de 2001 iniciou o curso de Mestrado em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá, na Área de Nutrição de Ruminantes. Em 25 de abril de 2003, submeteu-se aos exames finais de defesa de dissertação de mestrado. vii ÍNDICE Página RESUMO.................................................................................................................. viii ABSTRACT.............................................................................................................. x INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1 Literatura citada................................................................................................... 9 Resumo................................................................................................................. 12 Abstract................................................................................................................ 13 Introdução............................................................................................................ 14 Material e Métodos ............................................................................................. 17 Resultados e Discussão ....................................................................................... 22 Conclusões .......................................................................................................... 43 Literatura Citada.................................................................................................. 44 viii RESUMO Foi conduzido um experimento com o objetivo de avaliar o desempenho e as características qualitativas do leite de cabras leiteiras Saanen submetidas a diferentes relações volumoso:concentrado, com cinco níveis energéticos, durante o período préparto e ao longo da lactação; e descrever a curva de lactação das cabras, por meio do modelo de Wood não-linear, avaliando o efeito das rações sobre os parâmetros da curva de lactação. As relações volumoso:concentrado utilizadas foram: 40:60, 50:50, 60:40, 70:30 e 80:20. O período experimental compreendeu os 21 dias pré-parto até o 152º dia de lactação. Foram utilizados 20 animais, em delineamento inteiramente casualizado. O controle da alimentação foi realizado diariamente, sendo as amostras analisadas quanto aos teores de matéria seca, matéria mineral, proteína bruta, extrato etéreo, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido. Também estimou-se os carboidratos totais. Semanalmente os animais eram pesados e fazia-se a coleta de sangue, para análises de colesterol, triglicerídeos e uréia. No período de lactação controlou-se diariamente a produção e semanalmente coletou-se leite para análises de: sólidos totais, proteína bruta, gordura e lactose. Para análise dos parâmetros da curva de lactação, utilizou-se o modelo Wood não-linear. As diferentes relações volumoso:concentrado não influenciaram (P>0,05) no peso vivo (kg) das cabras, durante os períodos pré-parto, início de lactação e lactação após o pico de produção. No período pré-parto, não foram observadas diferenças (P>0,05) em relação às ingestões (kg/dia) de matéria seca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT). A média de IgMS foi de 1,83% PV. Com relação à ingestão de extrato etéreo (IgEE), observou-se um efeito linear (P<0,05). Para os parâmetros sanguíneos não foram observadas diferenças (P>0,05) nos valores de colesterol e uréia, no entanto, para triglicerídeos (mg/dL) verificou-se um efeito linear (P<0,05). Durante o início de lactação, foi observado um efeito linear decrescente (P<0,05) para as IgMS, IgMO, IgPB, IgEE, IgCHOT, IgFDN e IgNDT. A produção de leite foi influenciada (P<0,05) pela relação ix volumoso:concentrado na ração, observando-se um efeito linear negativo. Com relação aos parâmetros sanguíneos obtidos no soro, não foram observadas diferenças (P>0,05) para colesterol, triglicerídeos e uréia. Após o pico de lactação, não foram observadas diferenças (P>0,05) para IgMS e IgCHOT. Observou-se um efeito linear negativo (P<0,05) para IgMO, IgPB, IgEE e IgNDT. Para a IgFDN, foi observado efeito linear positivo (P<0,05), em função do aumento de volumoso na ração. As diferentes relações volumoso:concentrado afetaram linearmente a produção de leite (P<0,05), nesta fase. Quanto aos parâmetros sanguíneos, os tratamentos não provocaram diferenças (P>0,05) nos teores de triglicerídeos e uréia no soro sanguíneo. Entretanto, foi observado um efeito linear negativo (P<0,05) para o teor de colesterol no sangue. Com relação às características qualitativas do leite, não foram verificadas diferenças (P>0,05) entre os tratamentos, quanto aos percentuais de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e contagem de células somáticas. A produção total de leite das cabras foi influenciada (P<0,05) linearmente de acordo com o nível de volumoso na ração. Com relação aos parâmetros do modelo não houve efeito (P>0,05) para os valores de a (produção inicial), b (taxa de acréscimo de produção até o pico) e c (taxa de declínio de produção após o pico). No entanto, foram detectadas diferenças (P<0,05), com efeito linear decrescente para P (dia de produção no pico) e PP (produção no pico). Os resultados observados, indicam que a relação volumoso:concentrado, com diferentes níveis energéticos, afeta os níveis de ingestão e produção de leite e, parâmetros sanguíneos, diferentemente em cada fase do ciclo produtivo. Assim, rações com maiores níveis energéticos acarretam em maiores produções de leite na lactação. Palavras-chave: cabras leiteiras, final de gestação, parâmetros sanguíneos, níveis energéticos x ABSTRACT An experiment was carried out with the objective of evaluating the performance and the qualitative characteristics of Saanen goats milk submitted to different roughage: concentrate ratios, with five energy levels, during prepartum and lactation periods; and to describe the lactation curve of the goats, by using of the nonlinear model of Wood, evaluating the rations effects on the parameters of the lactation curve. The roughage: concentrate ratios used were: 40:60, 50:50, 60:40, 70:30 and 80:20. The experimental period included the 21 days prepartum until 152 days of lactation. Twenty animals were used, in a completely randomized design. The feeding control, done daily. Being the samples analyzed for dry matter, minerals, crude protein, ether extract, neutral detergent fiber and acid detergent fiber. Total carbohydrates was also estimated. The animals were weighed weekly and blood samples were collected, for analyses of cholesterol, triglycerides and urea. Production was controlled daily during the lactation period and the milk was collected weekly for analyses of: total solids, crude protein, fat and lactose. For analysis of the parameters of the lactation curve, the Wood nonlinear model was used. The different roughage: concentrate ratios had not influenced (P>0.05) the live weight (kg) of the goats, during the prepartum, beginning of lactation and lactation after the peak of production periods. In the prepartum period, differences were not observed (P>0.05) in relation to the intakes (kg/dia) of dry matter (InDM), organic matter (InOM), crude protein (InCP), total of carbohydrates (InTCHO), neutral detergent fiber (InNDF) and digestible nutrients (InTDN). The average of InDM was 1.83% LW. With regard to ether extract intake (InEE) a linear effect was observed (P<0.05). For the blood parameters it was not observed differences (P>0.05) in the values of cholesterol and urea, however for triglicerides (mg/dl) was verified a linear effect (P<0,05). During the early lactation, a linear decreasing effect was observed (P<0.05) for InDM, InOM, InCP, InEE, InTCHO, InNDF and InTDN. The milk production was influenced (P<0.05) by the roughage: concentrate ratio in the ration, having negative linear effect. With relation to the blood parameters in the serum, xi differences were not observed (P>0.05) for cholesterol, triglycerides and urea. After the lactation peak, differences were not observed (P>0.05) for InDM and InTCHO. A negative linear effect (P<0.05) for InOM, InCP, InEE and InTDN was observed. For the InNDF a positive linear effect was observed (P<0.05) in function of the roughage increase in the ration. The different roughage: concentrate ratios affected the milk production linearly (P<0.05), in this phase. For blood parameters, the different treatment, had not caused differences (P>0.05) in triglycerides and urea on blood serum. However, a negative linear effect (P<0.05) for the cholesterol was observed in the blood. With regard to the qualitative characteristics of milk, differences (P>0.05) were verified for percentages of fat, total protein, lactose, solids and counting of somatic cells. The goats total milk production, was influenced (P<0.05) linearly according to the level of roughage in the ration. With relation to the parameters of the model, differences (P>0.05) were not verified for the values of a (initial production), b (rate of increase of production until the peak) and c (rate of decrease of production after the peak). However, differences had been detected (P<0.05), with decreasing linear effect for P (day of production in the peak) and PP (production in the peak). The observed results, indicate that the roughage: concentrate ratio, with different energy levels, affects the levels of intake and milk production and, blood parameters, differently in each productive cycle phase. Thus, rations with greater energetic levels cause increases in milk production in the lactation. Key-words: dairy goat, pregnancy, blood parameters, energy level INTRODUÇÃO A população de caprinos no Mundo é de aproximadamente 700 milhões de cabeças, sendo que cerca de 92% destes estão distribuídos em regiões em desenvolvimento, subtropicais e tropicais. O Brasil possui cerca de 12,6 milhões de caprinos. Dentre as espécies de ruminantes domésticos, a caprina foi a que mais cresceu, principalmente no que se refere à produção de leite (FAO, 2000). A produção de leite de cabra depende da aptidão leiteira do animal, do valor nutritivo do alimento, do nível de ingestão de matéria seca pelo animal, além de fatores ambientais e de manejo. No entanto, para melhorar o desempenho na produção de leite, torna-se necessário utilizar estratégias de alimentação durante os diferentes estágios fisiológicos dos animais. A raça de caprinos leiteiros mais difundido no mundo é a Saanen, sendo esta originária do Vale de Saane, na Suíça. Ela apresenta um crescimento significativo em nosso país, sendo a raça caprina com maior produção de leite. Embora seja leiteira por excelência, da raça são produzidos bons mestiços para corte, pois é de grande porte e precoce. No Brasil, em criatórios adequadamente manejados e com bons animais, conseguem-se produções médias de dois a três litros de leite por dia, podendo chegar a produções de seis a oito litros por dia, em duas ordenhas (Ribeiro, 1998). As exigências nutricionais de cabras leiteiras variam significativamente nas diferentes fases do ciclo produtivo, devido às variações na capacidade de ingestão de matéria seca, peso vivo e produção de leite. De acordo com Ribeiro (1998), o ciclo produtivo de uma cabra em lactação pode ser dividido em quatro fases. Na primeira fase, o nível de produção aumenta rapidamente, atingindo o pico de produção entre a 3ª e a 4ª semana de lactação, no 2 entanto, a máxima capacidade de ingestão de matéria seca (IgMS) é lenta, atingindo o máximo entre a 5ª e a 8ª semana. Portanto, a cabra entra em um balanço energético negativo, eliminando mais nutrientes pelo leite do que ingere através da alimentação. Para suprir as exigências nutricionais necessárias para produção de leite, o animal mobiliza tecido adiposo, perdendo peso (3 a 6 kg, durante as três primeiras semanas). A segunda fase do ciclo produtivo inicia-se após o pico de lactação, aproximadamente aos 45 dias. Nesta fase, a capacidade de IgMS está normalizada e a produção de leite começa a diminuir. A terceira fase inicia-se com a concepção e dura 90 a 105 dias, de acordo com o período seco a ser estabelecido. Neste período, a cabra ganha peso (2 a 4 kg), acumulando reservas corporais, pois o balanço energético está positivo. A quarta fase é iniciada com a secagem do leite do animal, a qual deve ocorrer cerca de 45 a 60 dias antes do parto, correspondendo ao terço final de gestação (quando ocorre cerca de 85% do crescimento do(s) feto(s)). Portanto, nesta fase há um aumento na demanda por nutrientes, enquanto a capacidade de IgMS da cabra é limitada, tanto pelo volume ocupado pelo feto, bem como pelas gorduras acumuladas como reserva. O leite de cabra é similar ao leite de vaca em sua composição básica, mas difere deste em algumas formas e concentrações de nutrientes, tais como: apresenta melhor digestibilidade, maior capacidade tamponante e valores terapêuticos na pediatria, na gastroenterologia e na nutrição humana. Assim, apresenta as seguintes vantagens: as partículas gordurosas no leite de cabra são menores, promovendo uma maior área de superfície para degradação enzimática, facilitando a digestão. Não possui a substância aglutinina, encontrada no leite de vaca, a qual faz com que as partículas gordurosas do leite se juntem; a gordura do leite de cabra contém uma proporção maior de ácidos graxos (AG) de cadeia curta e média, contribuindo para uma digestão mais rápida. Segundo Haenlein (2001), a composição da gordura do leite de cabra é um importante fator no que refere-se ao valor nutricional deste leite. A eficiente utilização dos alimentos pelos animais depende de um suprimento adequado de energia. As causas de deficiência de energia podem estar associadas à baixa ingestão e/ou qualidade dos alimentos, resultado, principalmente, do alto teor de fibra ou baixo conteúdo de matéria seca no alimento. O nível de energia da ração de cabras lactantes afeta a ingestão de matéria seca, e em conseqüência, o ganho de peso, produção e teor de gordura do leite, pico e persistência do ciclo de lactação (Silva et al., 1996). 3 Lu et al. (1987), trabalhando com duas densidades de energia na ração (58% e 72% NDT; 2,55 e 3,17 Mcal ED/kg de MS, respectivamente), observaram que a ingestão de matéria seca foi negativamente relacionada com o aumento da densidade energética da ração. Os valores obtidos foram de 2,77 e 1,96 kg de MS/ dia, para as rações de baixa e de alta energia, respectivamente. No entanto, Osuji (1987), utilizando rações isoprotéicas com 1,3; 2,1; 2,2 e 2,6 Mcal ED/kg de MS, não registrou diferenças significativas na ingestão de matéria seca das cabras, sendo que os valores obtidos foram de 2,77%; 3,11%; 3,07% e 2,95% do peso vivo, respectivamente. Da mesma forma Silva et al. (1999), trabalhando com cabras mestiças, com peso vivo médio de 45,3 kg, usando três níveis energéticos nas rações (2,85; 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de MS), não observaram mudanças na ingestão de MS (1,56; 1,76 e 1,68 kg de MS/dia) e no teor de gordura do leite. Porém, observaram menor perda de peso nos animais que receberam a ração com maior nível energético, isto ocorreu em função da redução da mobilização de reservas orgânicas para produção. Quanto à produção de leite, a resposta foi semelhante entre as rações com 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de MS, sendo estas maiores, quando comparada a 2,85 Mcal ED/kg de MS. Gonçalves et al. (2001), utilizando diferentes relações volumoso:concentrado, para cabras Alpinas, com peso vivo (PV) médio de 58 kg, não prenhes e não lactantes, verificaram diferenças na IgMS (kg/dia e %PV) e na ingestão de fibra em detergente neutro (IgFDN) em kg/dia. Conforme aumentou-se a relação volumoso:concentrado na dieta, maiores foram a IgMS e IgFDN, isso provavelmente ocorreu, devido ao controle fisiológico, quando se atingiu o requerimento energético. Segundo o NRC (2001) e Mello Junior (2001), o período de transição compreende o período de tempo entre as três semanas pré-parto e três semanas pós-parto. Recomenda-se que neste período as rações, para animais em transição, sejam formuladas com os mesmos ingredientes que serão usados para formular a ração de lactação. Isto permite uma adaptação da população microbiana, o que pode levar de 3-4 semanas, além de estimular o crescimento das papilas ruminais (5-6 semanas). O aumento da densidade energética da ração, neste período, obtida pelo aumento de carboidratos não fibrosos (CNF), deve começar 19 dias do pré-parto, resultado da maior ingestão de MS, energia e balanço energético. O aumento da produção de AGV estimula maior crescimento de papilas ruminais, e assim, aumenta a absorção dos AGV produzidos quando houver maior fornecimento de grãos (NRC, 2001). A maior 4 formação e absorção de propionato causam um aumento na liberação de insulina no pâncreas, o que diminui a mobilização de lipídeos do tecido adiposo, aumentando a lipogênese. Portanto, o acúmulo de lipídeos no fígado e desordens associadas a estes é reduzido. Nesta fase, as concentrações de glicose tendem a ser maiores e as de ácidos graxos não esterificados (AGNE) menores. Sendo assim, o fornecimento de uma ração mais energética, durante o pré-parto, pode ser um benefício no período de lactação do animal. O principal objetivo na implantação de um manejo nutricional diferenciado no período de transição é maximizar o consumo de alimentos no pós-parto, fornecendo ao animal condições para aumentar a produção de leite. Assim, o pico de produção tende a ser maior, além de haver uniformidade na produção. Segundo Head & Gulay (2001), o final do período de gestação é um período de transição metabólica, no entanto, estas mudanças não ocorrem abruptamente e sim, gradualmente, pelo período de transição. Envolvendo alterações no fígado, tecido adiposo, músculo esquelético, e ação de muitos hormônios que estão envolvidos na lactogênese e manutenção da lactação. Segundo Drackley (1999), próximo à parição, ocorrem grandes alterações necessárias à sustentação da lactação. Porém, associado a estas mudanças, ocorre redução na ingestão de matéria seca, que pode atingir níveis em torno de 25 a 35%, em vacas leiteiras. Assim, as exigências em energia e em proteína podem estar inadequadas para atender as necessidades nutricionais da mãe (manutenção, crescimento do feto e tecido mamário). A redução no consumo causa uma queda no nível de glicose sanguínea, o que provoca um aumento na lipólise e redução da lipogênese no tecido adiposo. A redução da lipogênese pode ocorrer em torno de duas semanas antes da parição, e isto leva à liberação de AGNE no sangue. Estes ácidos podem ser retirados do sangue pela glândula mamária, fígado e outros órgãos. No fígado, os AGNE podem ser completamente oxidados para produção de energia, parcialmente oxidados para produzir corpos cetônicos ou esterificados a glicerol e estocados como triacilgliceróis (TG) (Head & Gulay, 2001). Em vacas contendo no sangue altas concentrações de AGNE, baixas concentrações de insulina e de glicose, o estrogênio pode causar o aumento da esterificação de AGNE em TG no fígado. Então, maior ingestão de matéria seca durante o período do pré-parto, favorece a uma menor acumulação de TG no fígado, assim, reduz a predisposição a doenças metabólicas (Head & Gulay, 2001). 5 De acordo com Head & Gulay (2001), a ingestão de matéria seca um dia antes da parição foi correlacionado (r=0,54) ao consumo 21 dias após a parição, o que significa que se a ingestão de matéria seca for muito baixa antes da parição, o tempo em que o animal permanecerá em balanço energético negativo (mobilização de reservas corporais, devido um limite de ingestão de alimento) no pós-parto será maior. Arruda et al. (1996), trabalhando com cabras mestiças (Alpina x Moxotó) aos 100 dias de gestação fornecendo três dietas distintas, verificaram que os animais que receberam suplementação energética e protéica durante o período final de gestação, apresentaram maior produção de leite na lactação subseqüente. Rodrigues et al. (2001) avaliaram os últimos 30 dias de gestação de cabras Alpinas, as quais estavam divididas em três grupos, recebendo dietas com 13% de proteína bruta e 1,0; 1,4 ou 1,7 Mcal EL/kg MS (44,86%; 61,11%; 77,04% de NDT e 66,10%; 46,55%; 28,20% de FDN, respectivamente). Neste experimento constataram diferenças quanto a IgMS (kg/dia e %PV), observando maiores ingestões para as dietas com 1,4 e 1,7 Mcal EL/kg MS e para IgFDN (kg/dia e %PV) verificaram que esta foi menor para os animais que recebiam o maior nível energético. O nível de extrato etéreo na dieta pode influenciar o colesterol e triglicerídeos no plasma sanguíneo. Beynen et al. (2000), trabalhando com cabras Dutch White (58,8 kg) gestantes e em lactação, encontraram maiores quantidades de colesterol e triglicerídeos (mmol/L) no plasma destes animais, quando os mesmos receberam dietas contendo aproximadamente 8,0% de extrato etéreo (EE), comparada a uma dieta com 2,6% de EE. Velásquez et al. (1996), utilizando cabritas mestiças leiteiras (5 meses de idade e 25 kg), avaliaram dietas hiperlipídicas (T1=0,75% da energia metabolizável recomendada, T2=dieta ad libitum, T3=dieta acrescida de 2,5% de sebo bovino e T4= dieta acrescida de 5,0% de sebo bovino) e verificaram que os animais submetidos à dieta com maior teor lipídico, tiveram o menor consumo de matéria seca. Segundo Economides & Louca (1987), existe uma alta correlação (r=0,81) entre a produção total na lactação e os dias de maior produção no início de lactação. A ingestão de alimentos por cabras no final de gestação e logo após o parto é baixa, porém tende a aumentar cerca de 40% nas primeiras semanas de lactação, atingindo o máximo consumo entre a sexta e décima semana após o parto, no entanto, o pico de produção de leite ocorre antes deste período, entre a quarta e sétima semana, (Hadjipanayiotou, 6 1987). No entanto, a ingestão de dietas com alta densidade energética, no início de lactação, pode aumentar a produção de leite na lactação total. Segundo Hadjipanayiotou (1987), alguns estudos foram realizados em cabras da raça Damascus, no período de duas a sete semanas após o parto, e o consumo de matéria seca foi de 130 g MS/kg0,75/dia, usando dietas com 11 a 11,5 MJ de EM/kg de MS. Durante este período, os animais estão em balanço energético negativo, tendo que fazer a conversão de gordura corporal em energia para síntese de leite. A máxima ingestão de alimentos após o parto é assegurada por dietas com altas densidades energéticas, porém é necessário um mínimo de 15% a 18% de fibra bruta. Adogla-Bessa & Aganga (2000), utilizando cabras da raça Tswana, com peso vivo médio de 30 kg, trabalharam com o fornecimento de três níveis de ingestão de matéria seca, logo após o parto. As dietas continham 3,27 Mcal de EM/ kg MS e 10% de PB. Os autores verificaram que a maior ingestão de energia metabolizável (IgEM, Mcal/kg MS) associada a maior IgMS (kg/dia), acarretou em maior produção de leite. Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas, PV de 59 kg, em três fases distintas: lactação avançada, período seco e início de lactação, subseqüente; trabalharam com diferentes relações volumoso:concentrado e diferentes níveis energéticos, para cada fase estudada. Não foram encontradas diferenças (P>0,05) para IgMS em nenhuma das fases. Porém, verificaram diferenças quanto ao peso vivo do animal, produção e qualidade do leite, de acordo com o nível energético de cada período. A qualidade do leite está diretamente relacionada com o tipo e a qualidade da dieta dos animais. O tipo de volumoso utilizado, a concentração energética e protéica da dieta pode afetar a composição do leite. Sung et al. (1999) estudaram a qualidade do leite entre raças caprinas leiteiras e verificaram que há diferenças para contagem de células somáticas (CCS) e Califórnia Mastitis Test (CMT), entre as raças estudadas. Sampelayo et al. (1998), trabalhando com diferentes fontes protéicas na dieta para cabras em lactação, encontraram diferenças nos teores de matéria seca, proteína e caseína do leite. Ribeiro et al. (1997), trabalhando com cabras leiteiras, verificaram que durante a produção de leite ao longo da lactação, a composição do leite variou para os teores de proteína, cinzas, gordura e lactose. Sendo que, para gordura e lactose, o nível de produção de leite também influenciou em seus teores. Um aspecto importante na caprinocultura de leite é conhecer o comportamento produtivo do animal ao longo da lactação, visto que esse conhecimento dá condições de 7 se estabelecer estratégias de manejo nutricional, a fim de maximizar a produção. Estas informações são obtidas através do estudo do comportamento da curva de lactação (Macedo et al., 1999). O conhecimento do comportamento da curva de lactação é de grande importância, pois permite a avaliação de fatores genéticos e ambientais sobre os componentes de produção de leite, tais como, persistência de lactação, tempo decorrido para atingir o pico de produção, duração do pico e produção máxima. Com estes conhecimentos pode ser estabelecido melhor o manejo do rebanho. Existem diferentes modelos matemáticos que descrevem o comportamento da curva de lactação, no entanto, os parâmetros utilizados nos modelos, nem sempre se ajustam adequadamente, pois há um grande número de fatores que podem estar influenciando na produção. O método mais comumente usado para determinar o comportamento regular da curva de lactação, utiliza os próprios dados experimentais em função do tempo, que é contínuo e capaz de ser diferenciado, através de toda lactação (Cappio-Borlino et al., 1997). Muitos modelos de curva de lactação têm sido propostos, sendo que alguns destes foram testados em cabras (Gipson & Grossman, 1989; Ribeiro et al., 1997). O modelo de Wood tem sido usado na maioria dos estudos de curva de lactação, pois permite a estimativa de características básicas da curva, como produção máxima, tempo para se atingir essa produção e persistência, com apenas três parâmetros (Wood, 1967, citado por Ribeiro & Pimenta Filho, 1999). Grossman & Koops (1988) propuseram a utilização de modelo multifásico, com seis parâmetros de funções difásicas, que é a soma de duas funções logísticas, dividindo a lactação em duas fases: a primeira, representa o pico de produção, e a segunda, representa a persistência da lactação. O uso de seis parâmetros torna o modelo mais flexível, quando comparado a outros modelos, e ainda, permite que este seja interpretado biologicamente (Gipson & Grossman, 1989). Gipson & Grossman (1989) relataram que o modelo de Grossman (multifásico) foi eficiente tanto para descrever o comportamento da curva de lactação de vacas, quanto para cabras. Ribeiro et al. (1997) compararam funções matemáticas no ajuste da curva de lactação de cabras mestiças, com produção de leite máxima de 1,8 kg, e verificaram que qualquer uma das funções estudadas (função polinomial inversa, função quadrática e 8 função quadrática logarítmica) poderia ser utilizada para representar a curva de lactação média e individual do rebanho. Willians (1993), testando vários modelos, para cabras em lactação, relata que a diferença entre a variância residual do modelo de Wood com outros modelos, contendo mais parâmetros, foi relativamente pequena. Isto sugere que o uso do modelo de Wood pode ser adequado para estudar os fatores que afetam a curva de lactação de cabras. No estudo com cabras mestiças, Saanen Macedo et al. (2001), concluíram que o modelo de Wood não-linear foi que o melhor descreveu o comportamento da curva de lactação, pois o mesmo apresentou menor variância quando comparado a outros modelos. Os mesmos autores relatam que estratégias de suplementação com concentrado podem afetar a curva de lactação de cabras, dependendo do sistema de produção. 9 Literatura Citada ADOGLA-BESSA, T.; AGANGA, A.A. Milk production of Tswana goats fed diets containing different levels of energy. South African Journal of Animal Science, v.30, n.1, p.77-81, 2000. ARRUDA, F.A.V.; BARROS, N.N.; SILVA, F.L.R. Efeito da suplementação no terço final da gestação sobre a produção de leite, em cabras mestiças. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1996, p257 –259. BEYNEN, A. C.; SCHONEWILLE, J. Th.; TERPSTRA, A.H.M. Influence of amount and type of dietary fat on plasma cholesterol concentrations in goats. 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Animal Production., v.57, p.91-97, 1993. 12 Desempenho e qualidade do leite de cabras Saanen alimentadas com diferentes relações volumoso:concentrado, no pré-parto e lactação RESUMO: Foram utilizadas 20 cabras leiteiras Saanen (± 58,5 kg), em delineamento inteiramente casualizado, submetidas a diferentes relações volumoso:concentrado nas rações (40:60, 50:50, 60:40, 70:30 e 80:20), com cinco níveis energéticos (2,95; 2,83; 2,70; 2,58 e 2,46 Mcal de EM/ kg MS, respectivamente) durante as fases do ciclo produtivo (pré-parto, início de lactação e após 60 dias de lactação). Os objetivos deste trabalho foram: avaliar o desempenho e as características qualitativas do leite e, descrever a curva de lactação das cabras. Os tratamentos não influenciaram (P>0,05) no peso vivo (kg) das cabras, durante as fases. Com relação às ingestões dos nutrientes (kg/dia) foram verificadas diferenças entre os tratamentos, de acordo com cada fase. Quanto aos parâmetros sanguíneos (mg/dL) não foram observadas diferenças (P>0,05) nos valores de uréia para nenhuma das fases analisadas, porém para os valores de triglicerídeos e colesterol verificou-se diferenças (P<0,05), dependendo da fase produtiva. A produção de leite foi influenciada (P<0,05) pelos tratamentos, sendo que a ração que continha maior teor energético foi a que proporcionou maior produção de leite (3,41 kg/dia). Não foram verificadas diferenças (P>0,05) entre os tratamentos para os teores dos nutrientes do leite. Com relação aos parâmetros do modelo, não foram verificadas diferenças (P>0,05) para os valores de a (produção inicial), b (taxa de acréscimo de produção até o pico) e c (taxa de declínio de produção após o pico). No entanto, foi observado um efeito linear decrescente (Y=104,85-1,08x) para P (dia de produção no pico) e PP (produção no pico) (Y=5,050,03828x). A relação volumoso:concentrado com maior nível energético apresentou melhor desempenho produtivo dos animais, no entanto a qualidade do leite não foi alterada. Palavras-chave: cabras leiteiras, final de gestação, parâmetros sangüíneos, níveis energéticos 13 Performance and quality of milk of Saanen goats feeding with different roughage: concentrate ratios, in the prepartum and lactation ABSTRACT: Twenty Saanen goats (± 58.5 kg), in a completely randomized design, were used, submitted to different roughage: concentrate ratios (40:60, 50:50, 60:40, 70:30 and 80:20) with five energetic levels (2.95; 2.83; 2.70; 2.58 e 2.46 Mcal de EM/ kg MS, respecting), during the phases of productive cycle (prepartum, early lactation and after 60 day of lactation). The objectives of this work were to evaluate the performance and the qualitative characteristics of the milk, to describe the lactation curve of the goats. The treatments did influence (P>0.05) the live weight (kg) of the goats, during the phases. With regard to nutrients intake (kg/day) differences between roughage: concentrate ratios in the ration were verified, according to each phase. For blood parameters (mg/dl), differences (P>0.05) were not observed in the values of urea for none of the phases analyzed, however for the triglycerides and cholesterol values it was verified differences (P<0.05), depending on the phases. The milk production was influenced (P<0.05) by the treatments in the beginning of lactation and after the peak of production. Differences (P>0.05) for milk nutrients were not observed. With regard to the model parameters differences were not observed (P>0.05) for the values of initial production, increase rate of production until the peak and decrease rate of production after the peak. However, a decreasing linear effect (Y=104.85-1.08x) for days of production in the peak and production in the peak (Y=5.05-0.03828x) were detected. The roughage: concentrate ratio, with greater energy level, indication the best performance for to milk production, however, the quality of milk were not altered. Key-words: dairy goat, pregnancy, blood parameters, energy level 14 Introdução Segundo o NRC (2001) e Mello Junior (2001), o período de transição compreende o período de tempo entre as três semanas pré-parto e três semanas pós-parto. Recomenda-se que neste período as rações, para animais em transição, sejam formuladas com os mesmos ingredientes que serão usados para formular a ração de lactação. O principal objetivo na implantação de um manejo nutricional diferenciado no período de transição é maximizar o consumo de alimentos no pós-parto, fornecendo ao animal condições para aumentar a produção de leite. Assim, o pico de produção tende a ser maior, além de haver uniformidade na produção. Para Economides & Louca (1987), existe uma alta correlação (r=0,81) entre a produção total na lactação e os dias de maior produção no início de lactação. A ingestão de alimentos por cabras no final de gestação e logo após o parto é baixa, porém tende a aumentar cerca de 40% nas primeiras semanas de lactação, atingindo o máximo consumo entre a sexta e décima semana após o parto, no entanto o pico de produção de leite ocorre antes deste período, entre a quarta e sétima semana, (Hadjipanayiotou, 1987). O nível de energia da ração de cabras lactantes afeta a ingestão de matéria seca, e em conseqüência, o ganho de peso, produção e teor de gordura do leite, pico e persistência do ciclo de lactação (Silva et al., 1996). Arruda et al. (1996), trabalhando com cabras mestiças (Alpina x Moxotó) aos 100 dias de gestação fornecendo três dietas distintas, verificaram que os animais que receberam suplementação energética e protéica durante o período final de gestação, apresentaram maior produção de leite na lactação subseqüente. Rodrigues et al. (2001), avaliaram os últimos 30 dias de gestação de cabras Alpinas, as quais estavam divididas em três grupos, recebendo dietas com 13% de proteína bruta e 1,0; 1,4 ou 1,7 Mcal EL/kg MS. Neste experimento constatou-se diferenças quanto à ingestão de matéria seca (IgMS, kg/dia e %PV), encontrando-se maiores ingestões para as dietas com 1,4 e 1,7 Mcal EL/kg MS e para ingestão de fibra em detergente neutro (IgFDN, kg/dia e %PV) verificou-se que esta foi menor para os animais que recebiam o maior nível energético. O nível de extrato etéreo na dieta pode influenciar nos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue. Beynen et al. (2000), trabalhando com cabras Dutch White (58,8 kg) gestantes e em lactação, encontraram maiores quantidades de colesterol e 15 triglicerídeos (mmol/L) no plasma destes animais, quando os mesmos receberam dietas, contendo aproximadamente 8,0% de extrato etéreo (EE), comparada a uma dieta com 2,6% de EE. Adogla-Bessa & Aganga (2000), trabalhando com cabras da raça Tswana, (30 kg), iniciou o fornecimento de três níveis energéticos, logo após o parto. As dietas continham 10% de PB. Os autores verificaram que a maior ingestão de energia metabolizável (IgEM, Mcal/kg MS) associada a maior IgMS (kg/dia), acarretou em maior produção de leite. Goetsch et al. (2001), trabalharam com cabras Alpinas (59kg), em três fases distintas: lactação avançada, período seco e início de lactação, subseqüente. Os autores trabalharam com diferentes relações volumoso:concentrado e diferentes níveis energéticos, para cada fase estudada. Não foram encontradas diferenças para IgMS em nenhuma das fases estudadas. Porém verificaram-se diferenças quanto ao peso vivo do animal, produção e qualidade do leite, de acordo com o nível energético de cada período estudado. Lu et al. (1987), trabalhando com duas densidades de energia na ração (58% e 72% NDT; 2,55 e 3,17 Mcal ED/kg de MS, respectivamente), observaram que a ingestão de matéria seca foi negativamente relacionada com o aumento da densidade energética da ração. Os valores obtidos foram de 2,77 e 1,96 kg de MS/ dia, para as rações de baixa e de alta energia, respectivamente. No entanto, Osuji (1987), utilizando rações isoprotéicas com 1,3; 2,1; 2,2 e 2,6 Mcal ED/kg de MS, não registrou diferenças na ingestão de matéria seca das cabras, sendo que os valores obtidos foram de 2,77%; 3,11%; 3,07% e 2,95% do peso vivo, respectivamente. Da mesma forma Silva et al. (1999), trabalhando com cabras mestiças (45,3 kg), usando três níveis energéticos nas rações (2,85; 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de MS) não observaram mudanças na ingestão de MS (1,56; 1,76 e 1,68 kg de MS/dia) e no teor de gordura do leite. Porém, observaram menor perda de peso nos animais que receberam a ração com maior nível energético, isto ocorreu em função da redução da mobilização de reservas orgânicas para produção. Quanto à produção de leite, a resposta foi semelhante entre as rações com 2,97 e 3,20 Mcal ED/kg de MS, sendo estas maiores, quando comparada a 2,85 Mcal ED/kg de MS. A qualidade do leite está diretamente relacionada com o tipo e a qualidade da dieta dos animais. O tipo de volumoso utilizado, a concentração energética e protéica da dieta pode afetar a composição do leite. 16 Ribeiro et al. (1997), trabalhando com cabras leiteiras, verificaram que durante a produção de leite ao longo da lactação, a composição do leite variou para os teores de proteína, cinzas, gordura e lactose. Sendo que para gordura e lactose, o nível de produção de leite também influenciou em seus teores. Um aspecto importante na exploração da caprinocultura de leite é conhecer o comportamento produtivo do animal ao longo da lactação, visto que esse conhecimento dá condições de se estabelecer estratégias de manejo nutricional, a fim de maximizar a produção. Estas informações são obtidas através do estudo do comportamento da curva de lactação (Macedo et al., 1999). Existem diferentes modelos matemáticos que descrevem o comportamento da curva de lactação, no entanto, os parâmetros utilizados nos modelos, nem sempre se ajustam adequadamente, pois há um grande número de fatores que podem estar influenciando na produção. O método mais comumente usado para determinar o comportamento regular da curva de lactação utiliza os próprios dados experimentais em função do tempo, que é contínuo e capaz de ser diferenciado, através de toda lactação (Cappio-Borlino et al., 1997). O modelo de Wood tem sido usado na maioria dos estudos de curva de lactação, pois permite a estimativa de características básicas da curva, como produção máxima, tempo para se atingir essa produção e persistência, com apenas três parâmetros (Wood 1967, citado por Ribeiro & Pimenta Filho, 1999). Ribeiro et al. (1997) compararam funções matemáticas no ajuste da curva de lactação de cabras mestiças, com produção de leite máxima de 1,8 kg, e verificaram que qualquer uma das funções estudadas (função polinomial inversa, função quadrática e função quadrática logarítmica) poderia ser utilizada para representar a curva de lactação média e individual do rebanho. Willians (1993), testando vários modelos, para cabras em lactação, relata que a diferença entre a variância residual do modelo de Wood com outros modelos, contendo mais parâmetros, foi relativamente pequena. Isto sugere que o uso do modelo de Wood pode ser adequado para estudar os fatores que afetam a curva de lactação de cabras. Macedo et al. (2001), num estudo com cabras mestiças Saanen, concluíram que o modelo de Wood não-linear foi que o melhor descreveu o comportamento da curva de lactação, pois o mesmo apresentou menor variância quando comparado a outros modelos. Os mesmos autores relatam que estratégias de suplementação com 17 concentrado, podem afetar a curva de lactação de cabras, dependendo do sistema de produção. Os objetivos do trabalho foram avaliar o desempenho e as características qualitativas do leite de cabras leiteiras Saanen submetidas a diferentes relações volumoso:concentrado, durante o pré-parto e lactação e descrever a curva de lactação das cabras, por meio do modelo de Wood não-linear, avaliando o efeito dos tratamentos sobre os parâmetros da curva de lactação. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Setor de Caprinocultura da Fazenda Experimental de Iguatemi e no Laboratório de Análise de Alimentos e Nutrição Animal, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no período de janeiro a dezembro de 2002. Em janeiro e fevereiro de 2002 foi realizada a sincronização de cio e cobertura (monta natural) de 30 cabras da raça Saanen, as quais foram cobertas com machos da raça Boer. As cabras utilizadas eram multíparas com peso vivo médio de 58,50 kg. O programa de sincronização de cio utilizado foi o método do uso das esponjas vaginais, citado por Ribeiro (1998). Sendo o tratamento utilizado: esponja empregnada com progesterona sintética (45 mg de acetato de fluorogestona), a qual permaneceu na vagina da cabra por 11 dias; 48 horas antes da remoção da esponja (9º dia) foi injetado, via intramuscular, 200 a 300 UI de PMSG e 50 a 100 µg de prostaglandina F-2α sintética. Com a retirada da esponja, os animais entraram em cio, aproximadamente 48 horas após, sendo realizada a cobertura das cabras. Cerca de 21 dias após a cobertura foi feito o repasse com o rufião para verificar se as cabras retornaram ao cio. Trinta dias após a cobertura foi feita a ultrassonografia para confirmação da prenhez, sendo que do grupo de cabras que foi coberto, cinco destas não emprenharam. Aproximadamente 30 dias antes da data prevista para o parto, iniciou-se o fornecimento dos tratamentos aos animais, sendo que do grupo de cabras prenhes selecionou-se 20 cabras para serem utilizadas no experimento. Os animais eram mantidos em baias individuais, contendo bebedouro e comedouro, onde permaneciam confinados. A alimentação era feita duas vezes ao dia, às 8:00h e 15:00h. Logo após a alimentação da manhã os animais eram soltos em um solário para banho de sol. 18 Os tratamentos utilizados foram: 40 % volumoso + 60% concentrado, 50 % volumoso + 50% concentrado, 60 % volumoso + 40% concentrado, 70 % volumoso + 30% concentrado e 80 % volumoso + 20% concentrado O balanceamento das rações foi feito com base nas exigências em energia metabolizável e proteína bruta do AFRC (1993) e exigências em minerais do NRC (1981). Como fonte de volumoso utilizou-se o feno de aveia (Avena sativa). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições por tratamento. A composição das rações experimentais encontra-se na Tabela 1 e Tabela 2. O controle das rações fornecidas e sobras foi realizado diariamente, a partir do primeiro dia de experimento. Três vezes por semana foram feitas amostragens do alimento fornecido e das sobras, os quais foram acondicionados em sacos plásticos, individualmente, foram homogeneizados e foi retirada uma amostra composta, para cada período (fase) estudado, a qual foi moída em peneira com crivo de 1 mm e acondicionada em frascos de polietileno para posteriores análises. As amostras do fornecido e sobras foram analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), segundo recomendações de Silva (1990), e as análises da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram segundo a metodologia descrita por Van Soest et al. (1991). Para estimar os carboidratos totais (CHOT), utilizou-se a fórmula descrita por Sniffen et al. (1992), onde: CHOT = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas) Pré-parto O período pré-parto compreendeu os 21 dias antecedentes ao parto. A partir do início do período e a cada sete dias era feita a pesagem dos animais, antes da alimentação da manhã, com o intuito de acompanhar a variação do peso vivo. Da mesma forma, foram realizadas coletas de sangue, sendo sempre feitas entre três a quatro horas após a alimentação da manhã. As coletas foram feitas em tubos de ensaio de 10mL, através de punção da veia jugular. A obtenção do soro foi através de centrifugação a 3.500 rpm por 15 minutos, sendo identificados e armazenados em minitubos “ependorf” e congelados em freezer à temperatura de -18ºC, até o momento da 19 realização das análises de colesterol, triglicerídeos e uréia, as quais foram realizadas no Laboratório de Bioquímica da Universidade Estadual de Maringá, através do Analisador automático Merck Vitalab Selectra 2®. TABELA 1. Composição percentual das rações TABLE 1. Percentage composition of the rations Relação volumoso:concentrado 40:60 1 Roughage:concentrate ratio 50:50 Alimentos Feeds Feno de Aveia 60:40 % MN 70:30 80:20 % NM 39,80 49,75 59,70 69,65 79,60 40,24 31,27 22,29 13,32 4,26 13,93 13,67 13,42 13,16 13,00 4,67 4,00 3,32 2,65 1,97 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,64 0,57 0,50 0,43 0,36 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 Oat hay Milho Corn grain Farelo de soja Soybean meal Óleo vegetal Soybean oil Fosfato Bicálcico Dicalcium phosphate Calcário Limestone Suplemento mineral2 Mineral supplement Alimentos % MS Feeds Feno de Aveia % DM 36,91 46,13 55,36 64,59 73,82 36,48 28,35 20,20 12,08 3,86 12,70 12,46 12,24 12,00 11,86 4,67 4,00 3,32 2,65 1,97 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,64 0,57 0,50 0,43 0,36 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 Oat hay Milho Corn grain Farelo de soja Soybean meal Óleo vegetal Soybean oil Fosfato Bicálcico Dicalcium phosphate Calcário Limestone Suplemento mineral Mineral supplement 1 Tratamentos: 40 % volumoso + 60% concentrado, 50 % volumoso + 50% concentrado, 60 % volumoso + 40% concentrado, 70 % volumoso + 30% concentrado, 80 % volumoso + 20% concentrado 1 Tratament: 40% roughage + 60% concentrate, 50% roughage + 50% concentrate, 60% roughage + 40% concentrate, 70% roughage + 30% concentrate, 80% roughage + 20% concentrate 2 Composição: Ca=130 g; P=65 g; Mg=19 g; S=13 g; Na=93 g; Cl=145 g; Se=10 mg; Cu=850 mg; Fe=700 mg; Zn=2750 mg; Mn=1000 mg; I=120 mg; Co=70 mg; F=650 mg; Veículo Q.S.P.=1000 g. 2 Composition: Ca=130 g; P=65 g; Mg=19 g; S=13 g; Na=93 g; Cl=145 g; Se=10 mg; Cu=850 mg; Fe=700 mg; Zn=2750 mg; Mn=1000 mg; I=120 mg; Co=70 mg; F=650 mg; Means Q.S.P.=1000 g. 20 TABELA 2. Composição química das rações, com base na matéria seca TABLE 2. Chemical composition of the rations, dry matter basis Relação volumoso:concentrado MS (%) Roughage:concentrate ratio 40:601 90,48 50:50 90,40 60:40 91,65 70:30 91,72 80:20 92,44 15,05 15,27 15,29 15,26 15,03 6,81 5,81 5,01 3,71 3,00 35,19 41,95 47,85 53,31 57,27 20,13 24,99 28,94 32,16 36,01 3,99 5,10 5,89 6,26 6,67 15,73 18,82 21,28 25,80 27,73 72,03 72,20 72,34 73,34 72,98 5,90 6,47 7,34 7,19 8,84 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,32 0,32 0,32 0,32 0,32 2,95 2,83 2,70 2,58 2,46 85,84 81,70 77,56 73,42 69,28 DM (%) PB (%) CP (%) EE (%) EE (%) FDN (%) NDF (%) FDA (%) ADF (%) Lignina (%) Lignin (%) Celulose (%) Cellulose (%) CHOT (%)2 CHOT (%) Cinzas (%) Ash (%) Ca (%)3 Calcium (%) P (%)3 Phosphorus (%) EM (Mcal/kg MS)3 ME (Mcal/kg DM) NDT (%)3 TDN (%) 1 Tratamentos: 40 % volumoso + 60% concentrado, 50 % volumoso + 50% concentrado, 60 % volumoso + 40% concentrado, 70 % volumoso + 30% concentrado, 80 % volumoso + 20% concentrado 1 Tratament: 40% roughage + 60% concentrate, 50% roughage + 50% concentrate, 60% roughage + 40% concentrate, 70% roughage + 30% concentrate, 80% roughage + 20% concentrate 2 Estimado através da fórmula de Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas) 2 Formula estimated through of Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 – (%CP + %EE + % Ash ) 3 Valores obtidos de dados tabulares para as estimativas da composição das rações (NRC, 1996). 3 Values tabulated to the estimate of ration composition (NRC, 1996). Período de lactação O período de lactação dos animais foi dividido em duas fases, sendo a primeira equivalente aos 60 dias inicias de lactação e a segunda fase equivaleu aos 90 dias seguintes à primeira fase, isto é, do 61º dia ao 152º dia de lactação. A lactação foi dividida em duas fases para avaliar o desempenho dos animais. A definição da duração 21 de cada fase foi de acordo com a duração do ciclo produtivo da cabra leiteira adulta, segundo Ribeiro (1998). Logo após o parto e durante aproximadamente 60 dias de lactação as coletas de sangue, leite e a pesagem dos animais eram realizadas semanalmente; após a ordenha e antes da alimentação da manhã. Após o 60º dia de lactação, as coletas e a pesagem dos animais foram realizadas quinzenalmente. Durante o período de lactação houve o controle diário de produção de leite. Para a análise da composição e qualidade do leite, foram coletadas amostras (8:00 e 15:30h), a partir de sete dias de lactação, sendo estas acondicionadas em frasco plástico contendo conservante Bronopol, (2-bromo-2-nitro-1,3-propanodiol). Avaliando-se nas amostras os teores de: sólidos totais, proteína bruta, gordura e lactose, através do analisador infravermelho (Bentley 2000). A contagem de células somáticas foi executada por um contador eletrônico (Somacount 500), onde os núcleos das células são corados e expostos a um raio laser, refletindo luz vermelho (fluorescência). Estas análises foram feitas no Laboratório do Programa de Análises do Rebanho Leiteiro do Paraná (PARLPR) da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa. Os dados foram analisados, utilizando-se o programa SAEG e o modelo estatístico escolhido foi: Yij= µ + b1 (V –Vm)i + eij Onde: Yij: observação do animal j recebendo o volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80; µ: constante geral; b1: coeficiente linear de regressão da variável Y em função do tratamento i, i = 40, 50, 60, 70 e 80; V: efeito do volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80; Vm: média do volumoso i, i = 40, 50, 60, 70 e 80; eij: erro aleatório associado a cada observação. O modelo utilizado para análise dos parâmetros da curva de lactação foi através do modelo de Wood não-linear, Macedo (1999) verificou que este modelo foi o que melhor descreveu a curva de lactação de cabras Saanen, conforme segue abaixo: Y = AnBexp(-Cn) 22 Onde: Y = produção de leite em (kg) ao tempo t (dias de lactação) A = produção de leite inicial (kg) B = taxa de acréscimo de produção até o pico C = taxa de declínio de produção após o pico n = dia de lactação exp = exponencial A partir dos parâmetros do modelo são analisados o dia de produção no pico (P) e produção de leite no pico (PP). Onde: P = B/C PP = A(B/C)Be-B Os efeitos dos tratamentos nos parâmetros do modelo foram avaliados através da análise de variância, utilizando-se o mesmo modelo estatístico descrito anteriormente. Resultados e Discussão Pré-parto As médias observadas para peso vivo e ingestões de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, extrato etéreo, carboidratos totais, fibra em detergente neutro e nutrientes digestíveis totais durante o período pré-parto, encontram-se na Tabela 3. O fornecimento dos tratamentos durante os 21 dias antecedentes ao parto não influenciaram (P>0,05) no peso vivo (kg) das cabras. Durante os 21 dias pré-parto não foram observadas diferenças (P>0,05) em relação à ingestão de matéria seca (IgMS) em kg/dia, %PV e g/PV0,75, matéria orgânica, proteína bruta, carboidratos totais, fibra em detergente neutro e nutrientes digestíveis totais. A IgMS neste período foi de 1,83% do peso vivo (PV), em média. A baixa ingestão nesta fase fisiológica se dá, devido à limitada capacidade de ingestão, pois é no terço final da gestação que ocorre o maior crescimento do feto, o que leva à uma redução no volume do rúmen, devido à compressão do útero, podendo acarretar em 23 reduções de 25% a 35% do consumo (para vacas). No entanto, no presente trabalho foram observadas reduções de 72,86% na ingestão de matéria seca, na média dos tratamentos, havendo uma variação de 29,57 à 100,62%. TABELA 3. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matéria seca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extrato etéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com as relações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanen no período pré-parto TABLE 3. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for live weight (kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IOM), crude protein (ICP), ether extract (IEE), total carbohydrates (ICHT), neutral detergent fiber (INFD) and total digestible nutrients (ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio in ration for Saanen goats in prepartum Relação volumoso:concentrado Roughage:concentrate ratio Equação de Regressão Regression equation Peso vivo (kg) 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 67,53 71,91 72,04 70,63 70,85 Y=70,65 R2 CV NS1 10,46 Live Weight (Kg) IgMS (kg/dia) 1,19 1,08 0,90 1,14 1,21 Y=1,10 NS 34,49 2,00 1,86 1,87 1,62 1,86 Y=1,83 NS 20,88 IDM (Kg /day) IgMS (%PV) IDM (%LW) IgMS (g/PV0,75) 0,75 IDM (g/LW 46,09 42,51 39,25 42,02 45,66 Y=43,03 NS 19,74 ) IgMO (kg/dia) 1,24 1,11 0,91 1,15 1,19 Y=1,12 NS 34,64 0,20 0,18 0,15 0,19 0,20 Y=0,19 NS 34,35 0,11 0,08 0,05 0,05 0,03 Y=0,17-0,0017x 0,89 37,00 0,93 0,86 0,70 0,90 0,95 Y=0,87 NS 34,64 0,59 0,50 0,48 0,72 0,76 Y=0,61 NS 36,16 1,02 0,88 0,70 0,83 0,84 Y=0,85 NS 34,87 IOM (Kg /day) IgPB (kg/dia) ICP (Kg /day) IgEE (kg/dia) IEE (Kg /day) IgCHOT (kg/dia) ICHT (kg/day) IgFDN (kg/dia) INDF (Kg /day) IgNDT (kg/day) ITDN (Kg /day) 1 NS=P>0,05 NS: Not significant 1 24 Com relação à ingestão de extrato etéreo (IgEE), observou-se um efeito linear (P=0,0002), pois ao mesmo tempo em que se aumentava o teor de energia, em função do acréscimo de óleo vegetal na ração elevava-se à ingestão de extrato etéreo (Figura 1). Rodrigues et al. (2001), trabalhando com cabras gestantes da raça Alpina, com três níveis de energia na dieta (1,0; 1,4 e 1,7 Mcal EL/kg MS ou 1,62; 2,21 e 2,78 Mcal EM/kg MS), encontraram diferenças (P<0,05) para IgMS entre a dieta com menor nível de energia e as demais. A IgMS para as dietas com maiores teores de energia foi de 1,72 %PV, dados estes semelhantes aos encontrados no presente estudo. Isto provavelmente ocorreu, devido aos níveis de energia de 2,21 e 2,78 Mcal EM/kg MS serem mais próximos dos níveis trabalhados. Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (65,9 kg de PV) nas diferentes fases fisiológicas, avaliaram diferentes relações volumoso:concentrado, para cada fase. Durante o período pré-parto, trabalharam com três relações diferentes, sendo estas, 35:65, 50:50 e 65:35, os níveis energéticos eram 2,65; 2,42 e 2,18 Mcal EM/kg MS, respectivamente. Os autores não encontraram diferenças (P>0,05) para ingestão de MS (kg/dia) entre os tratamentos avaliados, sendo que a média de IgMS foi de 2,17 kg de MS/dia, valor este superior ao encontrado no presente trabalho (1,10 kg de MS/dia), isto se deve provavelmente ao maior peso dos animais do referido experimento, além dos teores de energia metabolizável (EM) serem menores. 0,12 0,1 IEE (kg/day) IgEE (kg/dia) 0,08 0,06 Y=0,165-0,0017x R2=0,89 0,04 0,02 0 40 50 60 %Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 1. Ingestão de extrato etéreo (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 1. Ether extract intake (kg/day) in function of the % of roughage in the ration 25 Na Tabela 4 podemos observar os parâmetros sanguíneos dos animais submetidos aos devidos tratamentos. Com relação aos parâmetros sanguíneos não foram observadas diferenças (P>0,05) para os valores de colesterol e uréia, no entanto, para triglicerídeos (mg/dL) verificou-se um efeito linear (P=0,046), pois as rações com maior valor energético estavam associadas com o maior teor de extrato etéreo, em função de maiores níveis de óleo na ração. Assim, quanto maior foi a IgEE, maior foi a concentração TG no soro. Na figura 2 podemos observar o comportamento da concentração de TG no soro em função do teor de volumoso na ração. Beynen et al. (2000) estudaram a influência de gordura na dieta, nas concentrações de colesterol e triglicerídeos no plasma de cabras Dutch White vazias (PV de 58,8 kg) e verificaram que a utilização de altos níveis de óleo na dieta (8,5%) elevou os níveis de colesterol e triglicerídeos no plasma, comparado a uma ração sem adição de óleo. TABELA 4. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) dos parâmetros sanguíneos (colesterol, triglicerídeos e uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen em período préparto, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado TABLE 4. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) of blood parameters (cholesterol, triglicerides and urea, mg/dL) in the serum of Saanen goats in the prepartum period, receiving rations with different roughage: concentrate ratios Relação volumoso:concentrado Roughage:concentrate ratio Equação de Regressão 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 Regression equation R2 CV Soro(mg/dL) Serum (mg/dL) Colesterol 93,67 107,00 87,67 82,80 81,67 Y=90,19 NS 19,46 39,63 31,75 32,13 29,97 24,21 Y=50,79-0,32x 0,87 30,68 39,29 33,25 34,58 41,20 43,71 Y=38,54 Cholesterol Triglicerídeos Triglicerides Uréia Urea 1 NS=P>0,05 NS: Not significant 1 NS 19,85 26 Triglicerides (mgl/dL) Triglicerídeos (mgl/dL) 40 35 30 25 Y=50,794-0,3222x R2= 0,87 20 40 50 60 %Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 2. Concentração de triglicerídeos no sangue (mg/dL) em função da % de volumoso na ração FIGURE 2. Concentratin of triglicerides in blood (mg/dL) in function of the % of roughage in the ration Início de lactação (1 à 60 dias) O início de lactação é um período em que as cabras têm as maiores exigências em energia, pois neste período há um aumento na produção de leite, porém os animais ainda não conseguem o máximo de ingestão de nutrientes. Assim, na Tabela 5 são mostradas as médias e as referidas equações de regressão para peso vivo e ingestões de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, extrato etéreo, carboidratos totais, fibra em detergente neutro e nutrientes digestíveis totais. As diferentes relações volumoso:concentrado não influenciaram no peso vivo (kg) das cabras durante o início de lactação. No entanto, podemos observar (Tabela 5) através das equações de regressão, um efeito linear decrescente para as ingestões. Para a ingestão de matéria seca (IgMS) em kg/dia (Figura 3), foram verificadas diferenças (P=0,0176) entre os tratamentos, sendo que conforme aumentava a inclusão de volumoso na ração, havia diminuição na IgMS, o mesmo comportamento foi verificado para IgMS (%PV) (P=0,0036) e IgMS (g/PV0,75) (P=0,0040). 27 TABELA 5. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matéria seca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extrato etéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com as relações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanen no início de lactação. TABLE 5. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for live weight (Kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IMO), crude protein (ICP), ether extract (IEE), total carbohydrates(ICHOT), neutral detergent fiber (INFD), total digestible nutrients (ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio in rations to Saanen goats in early lactation. Relação volumoso:concentrado Roughage:concentrate ratio 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 Peso vivo (kg) Equação de Regressão Regression Equation 54,92 60,31 60,63 57,91 58,09 Y=58,37 R2 CV NS1 12,70 Live weight (Kg) IgMS (kg/dia) 2,16 1,95 1,82 1,86 1,42 Y=2,79-0,0157x 0,85 20,69 3,99 3,25 2,99 3,25 2,41 Y=5,07-0,0316x 0,77 18,78 108,25 90,37 83,82 89,04 66,93 Y=138,06-0,84x 0,80 18,37 IDM (Kg/day) IgMS (%PV) IDM (%LW) IgMS (g/PV0,75) IDM (g/LW ) IgMO (kg/dia) 2,25 2,00 1,83 1,84 1,39 Y=2,98-0,0186x 0,90 20,52 0,36 0,34 0,31 0,31 0,24 Y=0,48-0,0028x 0,89 20,30 0,16 0,12 0,10 0,06 0,05 Y=0,27-0,0029x 0,99 18,37 1,72 1,53 1,43 1,47 1,11 Y=2,23-0,0130x 0,84 20,94 1,63 1,41 1,33 1,35 0,88 Y=2,26-0,0156x 0,81 21,44 1,86 1,59 1,42 1,36 0,98 Y=2,63-0,0197x 0,95 20,14 IOM (Kg/day) IgPB (kg/dia) ICP (Kg/day) IgEE (kg/dia) IEE (Kg/day) IgCHOT (kg/dia) ICHOT (Kg/day) IgFDN (kg/dia) INDF (Kg/day) IgNDT (kg/dia) ITDN (Kg/day) 1 NS=P>0,05 Not significant at 5% of probability by F test 1 28 2,2 IDM (kg/day) IgMS (kg/dia) 2,1 2 1,9 1,8 1,7 Y=2,79-0,0157x R2=0,85 1,6 1,5 40 50 60 %Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 3. Ingestão de matéria seca (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 3. Intake of dry matter (kg/day) in function of the % of roughage in the ration Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (55 kg de peso vivo) em inicio de lactação, avaliaram a influência de três dietas pré-parto, com diferentes relações volumoso:concentrado (35:65, 50:50 e 65:35, os níveis energéticos eram 2,65; 2,42 e 2,18 Mcal EM/kg MS respectivamente) na lactação subseqüente. A ração de lactação tinha uma relação volumoso:concentrado de 50:50, com 2,42 Mcal de EM/ kg de MS, 47,6% de FDN e 16,7% de PB. Os autores não observaram diferenças (P>0,05) no peso vivo e na IgMS (média de 2,16 kg /dia), resultados estes diferentes do obtido no presente trabalho. Adogla-Bessa & Aganga (2000), trabalhando com cabras da raça Tswana, na África, com peso vivo médio entre 25 e 32 kg, em início de lactação, avaliaram a influência do nível de ingestão sobre o desempenho produtivo. Foi utilizada uma ração com 3,27 Mcal EM/kg MS e 10% PB. Os autores observaram resultados para IgMS diferentes entre os tratamentos (119,3; 103,3 e 74,3 g/PV0,75, equivalendo a dietas com alta, média e baixa energia, respectivamente), resultados estes semelhantes aos observados neste estudo (Y=138,06-0,84x). Ambos estudos verificaram um efeito linear negativo quando da inclusão de maiores níveis de volumoso na ração. Brown-Crowder et al. (2001) avaliaram a inclusão de diferentes níveis de gordura na dieta (0; 1,5%; 3,0%; 4,5% e 6,0%) de cabras Alpinas (47 kg PV) em início de lactação. As rações tinham 2,7%; 4,1%; 5,4%; 6,8% e 8,1% de EE, 2,44; 2,53; 2,60; 2,69 e 2,72 Mcal de EM/kg de MS, 38,9%; 37,9; 34,0%; 34,0% e 34,6% de FDN, 29 respectivamente. Não foram observadas diferenças (P>0,05) no peso vivo e na IgMS (kg/dia). A partir destes resultados, verifica-se que até o nível de 8,1% de EE na ração, para cabras em início de lactação, não há limite de ingestão de matéria seca. Neste estudo, também não foi verificado limitação da ingestão nas rações com maior teor de EE (6,81%), sendo que as menores ingestões foram para as rações com maior quantidade de volumoso. Assim, teores de EE até 8,0% na ração de início de lactação, não deprime a ingestão, pois provavelmente, o controle da ingestão esteja mais correlacionado com o nível energético e relação volumoso:concentrado. Com relação às ingestões de matéria orgânica, proteína bruta, extrato etéreo, carboidratos totais, fibra em detergente neutro (Figura 4) e nutrientes digestíveis totais, foram verificadas diferenças (P<0,05) entre os tratamentos. 1,7 1,5 INDF (kg/day) IgFDN (kg/dia) 1,6 1,4 1,3 1,2 Y=2,26-0,0156x R2=0,81 1,1 1 0,9 40 50 60 % Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 4. Ingestão de fibra em detergente neutro (kg MS/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 4. Intake of neutral detergent fiber (kg/day) in function of the % of roughage in the ration As médias observadas, equações de regressão e, coeficientes de determinação e variação, para produção de leite (kg/dia), eficiência de produção de leite (produção de leite:IgMS) e parâmetros sanguíneos de cabras Saanen em início de lactação, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado, encontram-se na Tabela 6. 30 TABELA 6. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para produção de leite (PL), produção leite:IgMS (PL:IgMS) e parâmetros sanguíneos (colesterol, triglicerídeos e uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen em início de lactação, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado. TABLE 6. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient variation (CV) for milk production (PL), milk production:IDM (MP:IDM) and blood parameters (cholesterol, triglicerides and urea; mg/dL) in the serum of Saanen goats in early lactation, receiving rations with different roughage:concentrate ratios. Relação volumoso:concentrado Roughage:concentrate ratio 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 PL (kg/dia) Equação de regressão Regression equation CV 3,27 3,22 2,18 2,65 1,89 Y=4,65-0,0335x 0,74 25,74 1,72 1,74 1,36 1,58 1,50 Y=1,58 NS1 21,60 MP (kg/dia) PL:IgMS R2 MP:IDM Soro (mg/dL) Serum (mg/dL) Colesterol 106,00 107,00 97,25 107,75 99,25 Y=103,45 NS 14,70 14,75 15,75 14,75 16,50 14,75 Y=15,30 NS 17,29 42,50 40,75 40,25 51,25 48,75 Y=40,70 NS 15,79 Cholesterol Triglicerídeos Triglicerides Uréia Urea 1 NS=P>0,05 NS: Not significant 1 A produção de leite, durante os 60 primeiros dias de lactação, foi influenciada pela relação volumoso:concentrado na ração, observando um efeito linear negativo (P=0,006) em função do aumento da quantidade de volumoso na ração (Figura 5). A eficiência de produção de leite (produção leite por IgMS) não foi influenciada (P>0,05) pela relação volumoso:concentrado, isto, devido à produção de leite ter acompanhado a IgMS, assim, os animais que obtiveram maiores produções, também foram os animais que mais ingeriram ração. Resultados estes similares aos obtidos por Adogla-Bessa & Aganga (2000), os quais trabalharam com cabras da raça Tswana, na África, com peso vivo médio entre 25 e 32 kg, em início de lactação, e avaliaram a influência do nível de ingestão sobre o desempenho produtivo. Foi utilizada uma ração com 3,27 Mcal EM/kg MS e 10% PB. Os autores verificaram que a maior ingestão de energia metabolizável (IgEM, Mcal/kg MS) associada a maior IgMS e IgPB (kg/dia), acarretou em maior produção de leite, no entanto a conversão de leite não foi diferente entre as dietas, pois a produção de leite acompanhou linearmente a IgMS. 31 3,4 Milk production (kg/day) Produção leite (kg/dia) 3,2 3 2,8 2,6 2,4 2,2 Ŷ=4,65-0,0335x R2=0,74 2 1,8 40 50 60 %Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 5. Produção de leite (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 5. Milk production (kg/day) ) in function of the % of roughage in the ration Os resultados observados para produção de leite e eficiência de produção de leite (efeito linear decrescente em função do nível de volumoso na ração), foram distintos dos resultados obtidos por Brown-Crowder et al. (2001), os quais verificaram um efeito quadrático da produção de leite em função dos teores de EE na ração. Isto é, houve um aumento da produção de leite até o nível de 5,4% de EE, a partir deste valor começou a haver queda na produção. Em relação à eficiência de produção foi verificado um efeito linear decrescente em função do acréscimo de gordura na ração. Provavelmente, estas discordâncias se deram em função dos altos teores de EE usados por Brown-Crowder et al. (2001), além dos mesmos, terem trabalhado com menores níveis de energia na ração. Com relação aos parâmetros sanguíneos obtidos no soro, não foram observadas diferenças (P>0,05) entre os tratamentos para colesterol, triglicerídeos e uréia, sendo os valores médios de 103,5; 15,3 e 40,7; respectivamente. O valor médio observado para uréia no soro foi semelhante ao observado por Brown-Crowder et al. (2001), os quais obtiveram o valor de 38,6 mg/dL. Cabiddu et al. (1999) avaliaram três rebanhos caprinos (raça Corsican) com 80 dias de lactação, no Mediterrâneo, e os valores obtidos foram de 98,4; 12,78 e 35,17 mg/dL; para colesterol, triglicerídeos e uréia, respectivamente. 32 Lactação (61 a 152 dias) A segunda fase do ciclo produtivo de cabras leiteiras adultas é mais simples do que o período inicial de lactação, pois nesta fase a capacidade de ingestão está normalizada (Ribeiro, 1998). Assim, na Tabela 7, são apresentadas as médias observadas, equações de regressão e, coeficientes de determinação e variação para peso vivo (PV) e ingestões de matéria seca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extrato etéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT), para cabras Saanen em lactação recebendo diferentes relações volumoso:concentrado na ração. As diferentes relações volumoso:concentrado nas rações não influenciaram no peso vivo (kg) das cabras após o pico de lactação. Também, não foram observadas diferenças (P>0,05) para IgMS (kg/dia; %PV e g/PV0,75) e IgCHOT (kg/dia). Ribeiro (2000), trabalhando com cabras Saanen em lactação, testando volumosos, utilizou ração com relação volumoso:concentrado de 50:50 (2,54 Mcal de EM/kg MS; 18% proteína digestível), para avaliar a influência da fonte de volumoso na ração, sobre as ingestões de matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro. O autor verificou diferenças entre os volumosos estudados e para IgMS observou que os maiores valores foram para feno de alfafa (2,60 kg/dia ou 5,54% PV), quando comparado a silagem de milho (1,84 kg/dia ou 3,74% PV), no entanto, o feno de aveia (2,05 kg/dia ou 3,91% PV), não diferiu dos outros volumosos utilizados, resultados estes similares aos obtidos no estudo (Y=2,33 kg/dia; 3,82% PV). Silva et al. (1999), trabalhando com 18 cabras SRD (45,3 kg PV), avaliaram a utilização de diferentes relações volumoso:concentrado (T1=62:38; T2=52:48 e T3=42:58), com diferentes níveis energéticos (T1=2,34; T2=2,44 e T3=2,62 Mcal de EM/ kg MS), no desempenho destes animais. Nos 105 primeiros dias de lactação avaliados não encontraram diferenças (P>0,05) para IgMS (3,88 %PV ou 98,93 g/PV0,75), resultados estes similares aos obtidos neste estudo (IgMS de 3,82 %PV ou 106,00 g/PV0,75). Lu et al. (1987), utilizando cabras Alpina e Nubianas, nas primeiras 20 semanas de lactação, avaliaram dois níveis energéticos na ração (2,09 e 2,60 Mcal de EM/kg MS, com 15% de PB) e verificaram diferenças (P<0,05) quanto a IgMS, sendo que esta foi 33 menor (1,96 kg/dia) para as rações com maior nível energético comparada à ração com menor valor calórico. TABELA 7. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para peso vivo (kg), ingestões de matéria seca (IgMS), matéria orgânica (IgMO), proteína bruta (IgPB), extrato etéreo (IgEE), carboidratos totais (IgCHOT), fibra em detergente neutro (IgFDN) e nutrientes digestíveis totais (IgNDT) de acordo com as relações volumoso:concentrado (V:C) em rações para cabras Saanen após 60 dias de lactação Table 7. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation(CV) for live weight (Kg), intake of dry matter (IDM), organic matter (IOM),crude protein (CP), ether extract (IEE), total carbohydrates(ICHOT), neutral detergent fiber(INFD) and total digestible nutrients(ITDN) according to roughage:concentrate (R:C) ratio in rations to Saanen goats after 60 days of lactation. Relação volumoso:concentrado Roughage:concentrate ratio 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 Peso vivo (kg) Equação de Regressão Regression Equation 60,74 61,69 61,35 58,44 58,00 Y=59,98 R2 CV NS 12,46 Live weight (Kg) IgMS (kg/dia) 2,67 2,21 2,37 2,44 1,98 Y=2,33 NS 16,98 4,40 3,55 3,77 4,04 3,31 Y=3,82 NS 14,86 IDM (Kg/day) IgMS (%PV) IDM (%LW) IgMS (g/PV0,75) 122,46 99,36 105,63 111,18 91,28 Y=106,00 NS 14,72 IDM (g/LW) IgMO (kg/dia) 2,78 2,31 2,41 2,48 1,95 Y=3,27-0,0148x 0,61 16,98 0,44 0,38 0,40 0,41 0,31 Y=0,53-0,0024x 0,57 17,14 0,20 0,14 0,14 0,11 0,08 Y=0,30-0,0028x 0,94 17,24 2,14 1,79 1,87 1,97 1,57 Y=1,87 0,92 0,96 1,13 1,30 1,14 Y=0,62+0,0078x 0,66 17,00 2,29 1,81 1,83 1,79 1,37 Y=2,94-0,0187x 0,81 16,89 IOM (Kg/day) IgPB (kg/dia) ICP (Kg/day) IgEE (kg/dia) IEE (Kg/day) IgCHOT (kg/dia) NS 17,08 ICHOT (Kg/day) IgFDN (kg/dia) INDF (kg/day) IgNDT (kg/dia) ITDN (Kg/day) 1 NS=P>0,05 NS: Not significant 1 Goetsch et al. (2001), utilizando cabras Alpinas (59 kg de peso vivo) em lactação (63 a 112 dias), avaliaram a influência de quatro relações volumoso:concentrado (T1=80:20; T2=65:35; T3=50:50 e T4=35:65), com diferentes níveis energéticos (T1=2,18; T2=2,34; T3=2,49 e T4=2,62 Mcal de EM/kg MS) e média de 15% PB nas 34 rações. Verificaram que os tratamentos analisados não influenciaram (P>0,05) na IgMS (média de 2,16 kg/dia), sendo os valores obtidos por estes autores, semelhantes ao observado no presente estudo (Y=2,33 kg/dia). De acordo com a Tabela 7, pode-se observar o efeito linear negativo (P<0,05) para IgMO (kg/dia) (Figura 6), IgPB (kg/dia), IgEE (kg/dia) e IgNDT (kg/dia) em relação aos tratamentos. Para a IgFDN (kg/dia), foi observado efeito linear positivo (P=0,016), como demonstrado na Figura 7. A Tabela 8, apresenta as médias, equações de regressão e, coeficientes de determinação e variação para produção de leite, eficiência de produção (produção de leite:IgMS) e parâmetros sanguíneos obtidos no soro, de cabras Saanen após 60 dias de lactação, recebendo diferentes relações volumoso:concentrado na ração. 2,8 IOM (kg/day) IgMO (kg/dia) 2,6 2,4 Y=3,27-0,0148x R2=0,61 2,2 2 40 50 60 %Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 6. Ingestão de matéria orgânica (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 6. Organic matter intake (kg/day) in function of the % of roughage in the ration 35 1,300 INDF (kg/day) IgFDN (kg/dia) 1,200 Y=0,62+0,0078x R2=0,66 1,100 1,000 0,900 40 50 60 70 80 % volumoso na ração % Roughage in the ration FIGURA 7. Ingestão de fibra em detergente neutro (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 7. Intake of neutral detergent fiber (kg/day) in function of the % of roughage in the ration As diferentes relações volumoso:concentrado na ração, influenciaram linearmente (P=0,003) a produção de leite, após 60 dias de lactação, como pode ser visualizado na Figura 8. Ribeiro (2000) avaliou a utilização de diferentes volumosos na dieta (50% de volumoso + 50% concentrado, com 2,54 Mcal de EM/kg MS e 18% de proteína digestível) de cabras Saanen em lactação, e observou uma produção de leite de 2,43 kg/dia para o feno de aveia, resultado este semelhante aos valores obtidos para a produção de leite com 30% de concentrado + 70% de volumoso (2,58 Mcal de EM/kg MS e 15% PB), demonstrando que a produção de leite, provavelmente, está relacionada ao nível energético da ração. Foram observadas diferenças lineares para eficiência de produção de leite (P=0,025); isto ocorreu em função das relações volumoso:concentrado não terem apresentado diferenças (P>0,05) na IgMS, mas terem influenciado linearmente na produção de leite (Figura 9). Assim, os animais ingeriram em média a mesma quantidade de ração, mas produziram diferentemente entre os tratamentos, ressaltando a melhor eficiência de produção de leite com rações mais energéticas. 36 TABELA 8. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para produção de leite (PL), produção leite:IgMS (PL:IgMS) e parâmetros sanguíneos (colesterol, triglicerídeos e uréia; mg/dL) no soro de cabras Saanen após 60 dias de lactação, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado TABLE 8. Means, regression equation, R-square (R2) and coefficient of variation (CV) for milk production (MP), milk production:IDM (MP:IDM) and blood parameters (cholesterol, triglicerides and urea; mg/dL) in the serum of Saanen goats after 60 days of lactation, receiving rations with different roughage: concentrate ratios Relação volumoso:concentrado Equação de Regressão Roughage:concentrate ratio 40:60 50:50 PL (kg/dia) 60:40 70:30 80:20 R2 Regression Equation CV 3,49 3,00 2,35 2,43 1,86 Y=4,95-0,0384x 0,94 26,76 1,34 1,43 1,05 1,12 1,00 Y=1,80-0,0099x 0,72 21,37 MP (Kg/dia) PL:IgMS MP:IDM Soro (mg/dL) Serum (mg/dL) Colesterol 156,00 136,75 123,00 126,25 128,75 Y=173,74-0,65x 0,63 12,63 Cholesterol Triglicerídeos 18,50 16,00 18,33 20,50 19,50 Y=18,58 NS 24,27 57,25 48,00 49,67 63,00 60,50 Y=56,00 NS 16,22 Triglicerides Uréia Urea 1 NS=P>0,05 NS: Not significant 1 3,4 Milk production (kg/day) Produção de leite (kg/dia) 3,6 3,2 3 2,8 2,6 2,4 2,2 2 Y=4,95-0,0384x R2=0,94 1,8 1,6 40 50 60 % Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 8. Produção de leite (kg/dia) em função da % de volumoso na ração FIGURE 8. Milk production (kg/day) in function of the % of roughage in the ration 37 Eficiência de produção leite Milk production efficiency 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 Y=1,80-0,0099x R2=0,72 1 0,9 40 50 60 % Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 9. Eficiência de produção de leite (produção leite:IgMS) em função da % de volumoso na ração FIGURE 9. Milk production efficiency (milk productin:IgMS) in roughage in the ration function of the % of Em relação aos parâmetros sanguíneos, os tratamentos não apresentaram diferenças (P>0,05) nos teores de triglicerídeos e uréia no soro sanguíneo. Entretanto, foi observado um efeito linear negativo (P=0,027) do colesterol no sangue (Figura 10). A partir destes resultados nota-se que os níveis energéticos das rações com maiores quantidades de concentrado estavam acima das exigências dos animais, neste período. Pois, o excesso de energia na ração estava sendo acumulado na forma de colesterol no sangue. Os valores médios encontrados para uréia no soro (56,00 mg/dL) foram superiores aos observados por Mouro (2001), que foi de 38,30 mg/dL; a qual trabalhou com cabras Saanen após 100 dias de lactação, avaliando a substituição do milho pela farinha de varredura de mandioca na alimentação destes animais, as rações tinham em torno de 73% de NDT e 16% de PB. Cabiddu et al. (1999), quando avaliaram três rebanhos caprinos (raça Corsican) com 140 dias de lactação, observaram valores médios de 130,34; 18,96 e 42,2 mg/dL; para colesterol, triglicerídeos e uréia, respectivamente. Valores estes similares aos obtidos neste estudo. 38 Cholesterol in serum (mg/dL) Colesterol no soro (mg/dL) 150 145 140 135 130 Y=173,74-0,65x R2=0,63 125 120 115 40 50 60 % Volumoso na ração 70 80 % Roughage in the ration FIGURA 10. Concentração de colesterol no sangue (mg/dL) em função da % de volumoso na ração FIGURE 10. Concentration of cholesterol in blood (mg/dL) in function of the % of roughage in the ration Período de lactação total (1 a 152 dias) A qualidade do leite está diretamente relacionada com o tipo e a qualidade das dietas que os animais consomem, não havendo grandes variações durante o estádio de lactação. Assim, foi avaliada a qualidade do leite durante a lactação como um todo (7 a 152 dias). Na Tabela 9, encontram-se as médias, equações de regressão e coeficientes de determinação e variação, da produção e composição (gordura, proteína, lactose, sólidos totais e contagem de células somáticas) do leite de cabras Saanen em lactação, submetidas a diferentes relações volumoso: concentrado. Com relação às características qualitativas do leite, não foram verificadas diferenças (P>0,05) quanto aos percentuais de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e contagem de células somáticas (CCS, cél/mL x 1000) no leite de cabras Saanen submetidas a diferentes relações volumoso:concentrado. No entanto, quando analisada a quantidade em g/dia dos nutrientes do leite foi verificado diferenças, havendo um efeito linear negativo em função da % de volumoso na ração. Estas observações ocorreram em função das diferenças encontradas para produção de leite, assim a quantidade de nutriente do leite acompanhou a produção de leite. 39 TABELA 9. Médias, equação de regressão, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de variação (CV) para produção de leite total (PLT) percentagem e produção (g/dia) de gordura, proteína, lactose, sólidos totais (ST) e contagem de células somáticas (CCS; cel/mL x 1000) do leite de cabras Saanen (1 a 152 dias de lactação), recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado TABLE 9. Means, regression equation, coefficient of variation (CV) for total milk production (MPT) percentage and production (g/dia) of fat, protein, lactose, total solid (TS) and somatic cell count (CCS; cel/mL x 1000) of milk of Saanen goats (1 to 152 days of lactation), receiving rations with different roughage:concentrate ratios Relação volumoso:concentrado Equação de Regressão Roughage:concentrate ratio 40:60 PLT (kg/dia) 50:50 60:40 70:30 80:20 Regression Equation R2 CV 3,41 3,09 2,42 2,54 1,87 Y=4,98-0,0364x 0,92 24,40 3,52 3,08 3,28 3,21 3,23 Y=3,26 0,12 2,91 0,09 2,81 0,08 2,78 0,09 2,69 0,06 Y=0,16-0,0013x 0,85 26,59 2,79 Y=2,80 NS 7,28 0,10 4,53 0,08 4,17 0,07 4,41 0,07 4,45 0,05 Y=0,14-0,0011x 0,90 20,43 4,41 Y=4,39 NS 4,75 0,13 0,11 0,12 10,92 11,37 11,25 0,08 Y=0,22-0,0016x 0,88 24,13 11,34 Y=11,35 NS 6,27 MPT (kg/day) Leite (Milk) Gordura (%) NS 13,02 Fat (%) (g/dia) Proteína (%) Protein(%) Lactose (g/dia) (%) Lactose(%) (g/dia) ST (%) 0,16 11,89 TS (%) (g/dia) CCS (cel/mLx1000) 0,41 0,33 0,28 0,30 0,21 Y=0,57-0,0043x 0,88 23,19 446,40 1106,35 948,13 443,20 1030,45 Y=786,84 NS 88,48 CCS (cell/mLx1000) 1 NS=P>0,05 Not significant at 5% of Probability by F test 1 Ribeiro (2000), trabalhando com cabras Saanen em lactação, recebendo uma relação volumoso:concentrado de 50:50 (2,54 Mcal de EM/kg MS; 18% proteína digestível), avaliou a influência da fonte de volumoso na ração sobre a produção de leite e alguns parâmetros qualitativos do leite e, não observou diferenças quanto à produção e porcentagens de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e CCS (cél/mL x 1000). Porém, quando avaliou a produção (em g/dia) dos nutrientes do leite, verificou diferenças entre os volumosos estudados, sendo que os maiores valores foram para feno de alfafa quando comparado a silagem de milho, no entanto, o feno de aveia não diferiu 40 dos outros volumosos utilizados. Estes resultados se deram em função dos resultados observados para ingestão de matéria seca, os quais foram de 2,60; 1,84 e 2,05 kg dia, para feno de alfafa, silagem de milho e feno de aveia, respectivamente. Mir et al. (1999), trabalhando com cabras Alpinas (74,3 kg) em final de lactação, avaliaram a inclusão de óleo de canola à ração (2,63 Mcal EM/kg MS e 15%PB), e não verificaram diferenças quanto à produção de leite e teores de proteína e lactose no leite. Porém, observaram um efeito linear positivo para o teor de gordura no leite, em função do uso de óleo na ração. Segundo Haenlein (2001), a contagem de células somáticas (CCS) para o leite de cabra deve ser inferior a 1 milhão de células/mL, valor este superior ao leite de vaca, o qual deve ser inferior a 750.000 células/mL, isto ocorre devido a diferenças fisiológicas e microbiológicas entre os leites de cabra e vaca. Os valores encontrados neste trabalho foram de 786.840 células/mL, valores estes inferiores ao limite de 1 milhão de células/mL. A partir dos parâmetros do modelo Wood não-linear, foram determinadas as variáveis: dia de produção no pico (P, em dias) e produção de leite no pico (PP, kg/dia). Os valores médios de produção de leite (kg), dos parâmetros do modelo Wood nãolinear, e das variáveis derivadas deste modelo são apresentados na Tabela 10. A produção total de leite de cabras Saanen recebendo diferentes rações foi influenciada linearmente (Y=741,50-5,525x) de acordo com o nível de volumoso na ração, sendo estes valores superiores aos observados por Macedo et al. (1999), o qual relatou uma produção média de 290,70 kg em 215 dias de lactação. Com relação aos parâmetros do modelo não foram verificadas diferenças (P>0,05) para os valores de a (produção inicial), b (taxa de acréscimo de produção até o pico) e c (taxa de declínio de produção após o pico) em função da relação volumoso:concentrado. No entanto, para as variáveis calculadas a partir dos parâmetros do modelo, foram detectadas diferenças (P<0,05), com efeito linear decrescente para P (dia de produção no pico) e PP (produção no pico). Os resultados observados indicam que a relação volumoso:concentrado, com diferentes níveis energéticos, afeta o dia de pico de produção e a produção de leite no pico de lactação. Assim, rações com maiores níveis energéticos elevam estes valores, acarretando em maiores produções na lactação e provavelmente aumentando a persistência da lactação. 41 TABELA 10. Valores médios da produção de leite (PL) e dos parâmetros do modelo Wood não-linear, e variáveis derivadas (P e PP), da curva de lactação de cabras Saanen recebendo rações com diferentes relações volumoso: concentrado TABLE 10. Avarage values of milk production (MP) and of Wood non linear model’s, and derived variables (P e PP), of lactation curve of Saanen goat, receiving rations with different roughage:concentrate ratios. Parâmetros modelo2 Volumoso:Concentrado Roughage:Concentrate Model Parameters Equação de regressão Regression Equation R2 CV 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 PL (kg) 517,79 469,53 367,22 385,41 283,56 Y=741,50-5,525x 0,92 24,40 a 1,60 2,11 1,95 1,74 1,49 Y=1,776 NS1 43,53 b 0,27 0,19 0,10 0,20 0,12 Y=0,174 NS 64,71 c 0,005 0,005 0,012 0,005 0,011 Y=0,007 NS 138,81 Variáveis3 Variables P PP 1 70,85 3,42 46,50 27,38 3,35 2,29 35,07 20,97 Y=104,85-1,080x 2,81 1,86 Y=5,05-0,03828x 0,81 60,53 0,77 26,01 NS (P>0,05) NS (P>0,05) 2 Parâmetros do modelo: a=produção inicial; b=taxa de acréscimo de produção até o pico; c=taxa declínio de produção após o pico 2 Model parameters: a=initial production; b=rate of increase to peak; c=rate of decline after peak production; 3 Variáveis: P=dia de produção no pico; PP= produção no pico 3 Variables: P=day of peak production; PP= production peak 1 A Figura 11 apresenta as curvas reais de produção de leite na lactação de cabras Saanen, recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado. Observa-se que as rações com maiores quantidades de concentrado acarretaram em maiores produções de leite durante o decorrer da lactação, mostrando assim, a maior persistência de produção de leite ao longo das semanas. A variação de peso vivo (kg) ao longo do ciclo produtivo não foi influenciada pela relação volumoso:concentrado da ração. No entanto, houve variações de peso, devido a fase produtiva em que o animal encontrava-se. A Figura 12, apresenta esta variação ao longo do ciclo produtivo. 42 Produção de leite (kg/dia) Milk production (kg/day) Milk (kg/day) Leite (kg/dia) 4,00 3,50 40:60 3,00 50:50 2,50 60:40 2,00 70:30 1,50 80:20 1,00 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 Semana Week FIGURA 11. Produção de leite (kg/dia) de cabras Saanen recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado FIGURE 11. Milk production (kg/day) of Saanen goats receiving rations with different roughage:concentrate ratios. Peso vivo (kg) Live weight (kg) Peso vivo (kg) Live weight (kg) 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 40:60 50:50 60:40 70:30 80:20 4 2 0 2 4 6 8 10 12 14 18 22 Semanas Parto (kidding) Week FIGURA 12. Peso vivo (kg) de cabras Saanen no ciclo produtivo recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado FIGURE 12. Live weight (kg) of Saanen goats in productin cicle receiving rations with different roughage:concentrate ratios. A queda no peso, logo na primeira semana de lactação, é devido as perdas decorrentes do parto. Porém, a diminuição de peso vivo ocorre até aproximadamente quatro a cinco semanas de lactação (Figura 12), pois neste período a cabra está em balanço energético negativo, isto é, o animal não consegue ingerir a quantidade de nutrientes necessários para produção de leite e sua manutenção. 43 As relações volumoso:concentrado com diferentes níveis energéticos influenciaram na ingestão de matéria seca ao longo do ciclo produtivo, como pode ser visualizado na Figura 13 . Durante o período pré-parto a ingestão de matéria seca pelo animal é deprimida, devido a compressão do rúmen pelo útero grávido. No início de lactação a IgMS aumentou gradativamente, tendo a máxima ingestão ocorrido entre a oitava e décima quarta semana de lactação, período em que houve maior ganho de peso e maior produção de leite. Neste período, as cabras estavam em balanço energético positivo, pois a ingestão de matéria seca estava maximizada. Ingestão de matéria seca (kg/dia) Dry matter intake (kg/day) 3,10 IDM (kg/day) IgMS (kg/dia) 2,60 40:60 2,10 50:50 1,60 60:40 1,10 70:30 0,60 80:20 0,10 4 2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Semanas Semanas Week Parto (Kidding) FIGURA 13. Ingestão de matéria seca (kg/dia) de cabras Saanen no ciclo produtivo recebendo rações com diferentes relações volumoso:concentrado FIGURE 13.Dry matter intake (kg/day) of Saanen goats in production cicle receiving rations with different roughage:concentrate ratios. Conclusões No período pré-parto as diferentes relações volumoso:concentrado não influenciaram no desempenho dos animais. Durante o período de lactação, o maior nível energético na ração foi o que proporcionou maior produção de leite, no entanto, não houve alterações nas características qualitativas do leite. 44 Literatura citada ADOGLA-BESSA, T.; AGANGA, A.A. Milk production of Tswana goats fed diets containing different levels of energy. 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