ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM - GETRES
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM - GETRES
COPPE/UFRJ ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Cláudio Fernando Mahler Rio de Janeiro Setembro de 2010 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Examinada por: ________________________________________________ Prof. Cláudio Fernando Mahler, DSc. ________________________________________________ Prof. Cezar Augusto Burkert Bastos, Dr. Eng. ________________________________________________ Prof. Marcos Barreto de Mendonça, DSc. ________________________________________________ Prof. Maurício Ehrlich, DSc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL SETEMBRO DE 2010 Schuler, Alexandre Roberto Análise do Comportamento de um Aterro Municipal de Resíduos Sólidos Urbanos Instrumentado/ Alexandre Roberto Schuler. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2010. XX, 152 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Cláudio Fernando Mahler Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Civil, 2010. Referências Bibliográficas: p. 148-152. 1. Aterro de resíduos sólidos urbanos. 2. Estabilidade. 3. Instrumentação geotécnica. 4. Método dos Elementos Finitos. I. Mahler, Cláudio Fernando. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III. Título (série). “A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o calor de auto-afirmar-se. E aquele que trata de ser independente, sem estar obrigado a isso, mostra que não apenas é forte, mas também possuidor de uma audácia imensa. Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que implica a vida; se isola e se deixa arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. Seu caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.” Friedrich Nietzsche iv AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho só foi possível graças à participação direta e indireta de muitas pessoas. Manifesto a minha gratidão a todas de forma particular: - A Deus que me ajudou a ter força e saúde o suficiente para terminar este trabalho; - Professor Dr. Cláudio Fernando Mahler pela amizade, “puxões de orelha” e orientação sobre os rumos deste trabalho; - Dr. J.A.R. Ortigão, Diretor da empresa Terratek Tecnologia Ltda, pela amizade, apoio técnico e profissional no desenvolvimento deste trabalho; - Professor Dr. Cezar Augusto Burkert Bastos, meu grande orientador de graduação, amigo e excepcional profissional, ao qual agradeço por todo apoio em realizar pesquisas e o mestrado na área de geotecnia; - Demais membros da banca, Professor Maurício Ehrlich – Coppe/UFRJ e Professor Marcos Barreto de Mendonça Poli/UFRJ; - Aos responsáveis pelo aterro de resíduos sólidos urbanos estudado, que liberaram a publicação dos dados, com a condição de não divulgar o local onde fica o aterro por questões de sigilosidade; - Em especial, a minha namorada, companheira e amiga, também engenheira geotécnica, Lydice Salome Estrada Polanco, muito obrigado pela força em continuar lutando. - A minha família que sempre me apoiou em tudo que fiz. Mesmo distantes uns dos outros, estamos sempre juntos; - Aos meus amigos, que compartilharam muitos chimarrões durante as aulas do mestrado, em especial: Diego de Freitas Fagundes, Evandro Santiago, Louis-Martin Losier, José Simão e Silvana Vasconcelos; - Ao corpo técnico da empresa Terratek, em especial aos técnicos em instrumentação Valnei Vasconcelos e Luiz Carlos Silva. Muito obrigado; - Aos meus sócios: Cleberson Dors, Etienne Desgagné, Louis-Martin Losier, Marcel Tardin Portela e Paulo Garchet. Obrigado pela força nos momentos em que estive ausente; Demais amigos, colegas de mestrado e de trabalho, muito obrigado por acreditarem em mim e sempre me incentivarem. - Ao CNPq pela bolsa concedida; v Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler Setembro/2010 Orientador: Claúdio Fernando Mahler Programa: Engenharia Civil O presente trabalho tem como objetivo estudar o comportamento geomecânico de um aterro de resíduos sólidos localizado no estado do Rio de Janeiro. Durante o período de dez meses, um aterro municipal de resíduos sólidos foi monitorado durante três fases diferentes: operação em condições normais de funcionamento, instabilização após chuvas torrenciais e interdição e encerramento do aterro por parte do Governo do Estado. O monitoramento geomecânico do aterro foi realizado através do uso de instrumentação geotécnica, incluindo 5 piezômetros do tipo sifão, 4 inclinômetros, 5 marcos superficiais e 2 pluviômetros. Ainda foram realizadas diversas análises de estabilidade durante as etapas de alteamento, sendo 3 casos de retroanálise de rupturas locais chegando a parâmetros bastante coerentes com os apresentados pela bibliografia sobre o assunto e compatíveis com as leituras de instrumentação. Inúmeras vistorias em campo constataram diversos fatores instabilizadores, dentre eles a surgência de chorume nos taludes, pressões de gases, deslocamentos, recalques, rupturas locais, problemas na drenagem, entre outros. Por fim, é realizada a simulação dos deslocamentos verticais (recalques) e horizontais utilizando Método dos Elementos Finitos (MEF) com o software Plaxis 9.0®. O estudo permitiu observar que os valores encontrados nas retroanálises são muito semelhantes aos encontrados na literatura, além de que os valores de E e ν nas análises por MEF são muito próximos aos encontrados para solos turfosos. vi Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) ANALYSIS OF THE BEHAVIOR OF A LANDFILL OF MUNICIPAL SOLID WASTE INSTRUMENTED Alexandre Roberto Schuler September/2010 Advisor: Cláudio Fernando Mahler Department: Civil Engineering The objective of this work was to study the geomechanical behavior of a solid waste landfill located in the Rio de Janeiro State. During ten months, a municipal solid waste landfill was monitored at three different phases: operation in normal conditions, instability after torrential rains and closure of the landfill by the State Government. Geomechanical monitoring of the landfill was accomplished through the use of geotechnical instrumentation, including five piezometers type siphon, four inclinometers, five benchmarks and two pluviometers. Still, several analyses of stability were accomplished during the raising stages, 3 cases of back-analysis of local ruptures arriving to quite coherent parameters like shown in the bibliography on the subject and compatible with the instrumentation readings. Numerous field inspections found several destabilizing factors, among them the presence of leacheate on the slopes, gas pressures, displacements, settlements, local drainage problems, among others. Finally, the simulation is performed for vertical displacements (settlements) and horizontal using the finite element method in software Plaxis 9.0®. This study showed that the values encountered in the back-analysis are very similar to those found in the literature, and that the values of E and ν in the analysis by FEM are very close to those found for peaty soils. vii ÍNDICE AGRADECIMENTOS ............................................................................................................v ÍNDICE ............................................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS ...........................................................................................................xii LISTA DE TABELAS........................................................................................................... xx CAPÍTULO 1 ..........................................................................................................................1 1.1. INTRODUÇÃO .........................................................................................1 1.2. OBJETIVO ................................................................................................2 1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO ..................................2 1.3.1. METODOLOGIA ...............................................................................3 1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .............................................4 CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................5 2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS...............................................................................5 2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU ....................5 2.2.1. GRAVIMETRIA DOS RSU ............................................................. 12 2.2.2. GRANULOMETRIA DOS RSU ....................................................... 14 2.2.3. PESO ESPECÍFICO ......................................................................... 16 2.2.4. UMIDADE ....................................................................................... 18 2.2.5. TEMPERATURA ............................................................................. 19 2.2.6. PERMEABILIDADE........................................................................ 21 2.2.7. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO ........................................... 23 2.2.8. COMPRESSIBILIDADE .................................................................. 33 2.3. TIPOS DE RUPTURAS EM ATERROS DE RSU E AS MAIORES CATÁSTROFES REGISTRADAS ................................................................................. 42 CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................ 47 viii 3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 47 3.1. INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA NO ATERRO DE RSU ................. 47 3.2. PIEZÔMETROS SIFÃO .......................................................................... 54 3.2.1. DESCRIÇÃO ................................................................................... 55 3.2.2. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 57 3.2.3. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS................................................ 61 3.3. INCLINÔMETROS ................................................................................. 62 3.3.1. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 64 3.3.1.1. PERFURAÇÃO ........................................................................ 64 3.3.1.2. INSTALAÇÃO DOS TUBOS ................................................... 64 3.3.2. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS................................................ 66 3.3.2.1. TORPEDO DE LEITURAS ....................................................... 66 3.3.2.2. UNIDADES DE LEITURA ....................................................... 68 3.3.2.3. CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS ..................................... 69 3.3.2.4. PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS .............................. 71 3.4. MARCOS SUPERFICIAIS ...................................................................... 73 3.5. PLUVIÔMETROS ................................................................................... 75 3.6. ESTABILIDADE EM ATERROS DE RSU ............................................. 78 3.6.1. 3.7. ESTABILIDADE - TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE ................. 79 METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) ..................................... 81 CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................ 85 4. RESULTADOS .......................................................................................... 85 4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO ................................................... 85 4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – PIEZÔMETROS SIFÃO ............ 85 4.1.1.1. COTAS PIEZOMÉTRICAS ...................................................... 85 4.1.1.2. PRESSÕES DE GÁS................................................................. 86 ix 4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – INCLINÔMETROS ................... 88 4.1.2. RESULTADO DAS LEITURAS – PLUVIÔMETROS ..................... 92 4.2. ANÁLISES DE ESTABILIDADE ........................................................... 93 4.3. RETRO-ANÁLISES DE ESTABILIDADE – MÊS DE DEZEMBRO ...... 99 4.3.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO .......................................... 100 4.3.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO - COTAS PIEZOMÉTRICAS ........... 100 4.3.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO - PRESSÕES DE GÁS ..................... 100 4.3.1.3. INCLINÔMETROS................................................................. 101 4.3.1.4. PLUVIÔMETROS .................................................................. 104 4.3.2. VISITAS DE CAMPO .................................................................... 104 4.3.2.1. 4.3.3. 4.4. OBSERVAÇÕES .................................................................... 105 RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE – DEZEMBRO 2009 ..... 111 ANÁLISES DE ESTABILIDADE - MÊS DE ABRIL DE 2010 ............. 119 4.4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO .......................................... 120 4.4.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO – COTAS PIEZOMÉTRICAS .......... 120 4.4.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO – PRESSÕES DE GÁS .................... 121 4.4.1.3. INCLINÔMETROS................................................................. 121 4.4.1.4. PLUVIÔMETRO .................................................................... 125 4.4.2. VISITAS DE CAMPO .................................................................... 126 4.4.2.1. OBSERVAÇÕES .................................................................... 126 4.4.3. RETRO-ANÁLISES E ANÁLISE DE ESTABILIDADE – ABRIL 2010…………………………………………………………………………………...130 4.5. POR MEF 4.4.3.1. RUPTURA LOCAL ................................................................ 132 4.4.3.2. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE ............................... 132 ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS E VERTICAIS134 4.5.1. RETRO-ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS ...... 134 x 4.5.2. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS - PARÂMETROS DA LITERATURA………………………………………………………………………..142 CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................... 146 5.1. CONCLUSÕES ..................................................................................... 146 5.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ............................. 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 148 xi LISTA DE FIGURAS Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009). ..... 7 Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO et al., 2009). ............................................................................................. 8 Figura 2. 3 - Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU no município do Rio de Janeiro/RJ................................................................................... 13 Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 apud DE LAMARE NETO, 2004). .......................................... 15 Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994). ............................. 16 Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ et al, 1997). ................................................................................. 18 Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO, 1995). ........................................................................................................ 19 Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia, Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999). .................................................................................................. 20 Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as concentrações de metano (HANSON et al., 2006). ...................................................... 20 Figura 2. 10 - Ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al., 2010)........................................................................................... 22 Figura 2. 11 - Relação entre coesão aparente e ângulo de atrito de resíduos sólidos urbanos (adaptado de WOJNAROWICZ et al., 1998). .................................... 24 Figura 2. 12 - Curva tensão x deformação (adaptado de KÖLSCH, 1993). ....... 25 Figura 2. 13 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de CARVALHO, 1999). ................................. 27 Figura 2. 14 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de NASCIMENTO, 2007). ............................. 28 Figura 2. 15 - Ensaio triaxial de grandes dimensões para uso em RSU.(a) antes da execução do ensaio. (b) após a execução do ensaio. SHARIATMADARI et al. (2009). ........................................................................................................................ 29 xii Figura 2. 16 - Relação entre a deformação axial e radial em condições de compressão isotrópica. SHARIATMADARI et al. (2009). .......................................... 30 Figura 2. 17 - Efeito da deformação isotrópica ou anisotrópica sobre o incremente de tensão corrigida, SHARIATMADARI et al. (2009). ............................. 30 Figura 2. 18 - Resultados típicos de trajetória de tensões para solos turfosos (a) OIKAWA & MIYAKAWA (1980) e (b) MESRI AND AJLOUNI (2007) apud SHARIATMADARI et al., (2009). ............................................................................. 32 Figura 2. 19 - Curva teórica de compressibilidade do RSU (adaptado de GRISOLIA & NAPOLEONI, 1996)............................................................................ 36 Figura 2. 20 - Recalques total e anual em RSU (adaptado de GANDOLLA et al. 1994). ......................................................................................................................... 37 Figura 2. 21 - Recalques registrados por um marco superficial instalado em aterro Vila Albertina/SP (DE JORGE et al., 2004). ..................................................... 38 Figura 2. 22 Resultados de módulos cisalhantes e de deformação obtidos para o resíduo estudado a partir de ensaios cross-hole (apud CARVALHO, 1999) ................ 41 Figura 2. 23 - Tragédia do Morro do Bumba (Foto: ESTADO DE SÃO PAULO, 2010). ......................................................................................................................... 43 Figura 2. 24 - Tipos de rupturas possíveis em aterros de RSU (DIXON & JONES, 2004). ............................................................................................................ 44 Figura 2. 25 - Rumpke (USA), 1996 (KÖLSCH, 2010).................................... 45 Figura 2. 26 - Payatas (Filipinas), 2000 (KÖLSCH, 2010). .............................. 46 Figura 2. 27 - Bandung Indonésia, 2005 (KÖLSCH, 2010). ............................. 46 Figura 2. 27 - Seção de ruptura circular dividida em fatias (ORTIGÃO & SAYÃO, 2004). .......................................................................................................... 81 Figura 3. 1 - Seções de instrumentação principal e secundária. ......................... 48 Figura 3. 2 - Vista esquemática com as seções de instrumentação principal e secundária. .................................................................................................................. 49 Figura 3. 3 - Vista do talude consolidado a jusante do aterro. ........................... 51 Figura 3. 4 - Seção principal de instrumentação contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão. ..................................................................................... 53 Figura 3. 5 - Seção secundária de instrumentação. ........................................... 53 xiii Figura 3. 6 - Vista superior do piezômetro sifão. .............................................. 55 Figura 3. 7 - Piezômetro sifão (dimensões em cm). .......................................... 56 Figura 3. 8 - Perfuração sendo executada para instalação de piezômetro sifão. . 57 Figura 3.9 - Tubo externo envolto por uma pasta impermeável de bentonita. ... 58 Figura 3. 10 – (a) Ranhuras ao longo da “câmara de pressão de gás” (tubo externo 50mm); (b)Proteção da parte ranhurada da “câmara de pressão de gás” (tubo externo de 50mm). ...................................................................................................... 58 Figura 3. 11 - Furos na base da “câmara piezométrica” (tubo interno de 25mm). ................................................................................................................................... 59 Figura 3. 12 - Conexões do piezômetro sifão. .................................................. 60 Figura 3. 13 - Manômetro para leitura de pressão de gás. ................................. 60 Figura 3. 14 - Leituras do nível piezométrico. .................................................. 61 Figura 3. 15 - Leituras de gás. .......................................................................... 62 Figura 3. 16 - Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso PVC (GEO-RIO, 2000). ................................................................................... 62 Figura 3. 17 - Esquema de leituras do inclinômetro (adaptado de GEO-RIO, 2000). ......................................................................................................................... 63 Figura 3. 18 - Rebites nas emendas do tubo. .................................................... 64 Figura 3. 19 - Vedação das emendas do tubo.................................................... 65 Figura 3. 20 - Fases de instalação do tubo de acesso (adaptado de GEO-RIO, 2000). ......................................................................................................................... 66 Figura 3. 21 – Foto e medidas do torpedo do inclinômetro (dimensões em cm).67 Figura 3. 22 - (a) Unidade leitora Geokon GK603 e (b) unidade leitora Encardio Rite EDI-53. ............................................................................................................... 68 Figura 3. 23 - Vista interna dos deslocamentos dentro do tubo com o torpedo de inclinômetro (UFBA, acesso em janeiro de 2011). ...................................................... 70 Figura 3. 24 - Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). ................................................................................................................................... 70 xiv Figura 3. 25 - Resultados típicos de leituras e deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). ...................................................................................................... 71 Figura 3. 26 - Exemplo de gráfico típico de apresentação de resultados e informações para o eixo A de deslocamento, apresentando a variação de leituras e o deslocamento acumulado (ORTIGÃO, 1999). ............................................................. 72 Figura 3. 27 - Leituras dos deslocamentos sendo realizadas pelo autor desta dissertação. ................................................................................................................. 73 Figura 3. 28 – Detalhes do marco superficial usado.......................................... 74 Figura 3. 29 - Marco superficial 1 – MS-01 ..................................................... 75 Figura 3. 30 - Foto do pluviômetro utilizado nas leituras pluviométricas. ......... 76 Figura 3. 31 - Foto do pluviômetro ville de Paris instalado próximo ao aterro.. 77 Figura 4. 1 - Variações das cotas piezométricas para o período de acompanhamento do aterro. ........................................................................................ 86 Figura 4. 2 - Leituras da pressão de gás para o período analisado. .................... 87 Figura 4. 3 - Direção das ranhuras A e B dos tubos de inclinômetro do aterro de RSU estudado. ............................................................................................................ 88 Figura 4. 4 - Gráfico de leituras do IN01 na direção A e B. .............................. 89 Figura 4. 5 - Gráfico de leituras do IN02 na direção A e B. .............................. 90 Figura 4. 6 - Gráfico de leituras do IN03 na direção A e B. .............................. 91 Figura 4. 7 - Gráfico de leituras do IN04 na direção A e B. .............................. 92 Figura 4. 8 - Precipitação registrada durante o monitorado no aterro. ............... 93 Figura 4. 9- Representação do cálculo do ru. .................................................... 94 Figura 4. 10 - Seção principal de instrumentação analisada, segundo estudos anteriores, utilizando um ru de 0,4 com Método de Bishop Simplificado no software GEOSLOPE 2004. ...................................................................................................... 95 Figura 4. 11 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. .............................................................................................................. 97 xv Figura 4. 12 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando com ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. ........................................................................................ 97 Figura 4. 13 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo indicado pelo PZ05 de 0,55. ...................................................................................................... 98 Figura 4. 14 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ05 de 0,55. ........................................................................................ 98 Figura 4. 15 - Gráfico das variações das cotas piezométricas para o mês de dezembro de 2009. .................................................................................................... 100 Figura 4. 16 - Leituras da pressão de gás para o mês de dezembro de 2009. ... 101 Figura 4. 17 - Gráfico de leituras do IN01 ...................................................... 102 Figura 4. 18 - Gráfico de leituras do IN02. ..................................................... 102 Figura 4. 19 - Gráfico de leituras do IN03. ..................................................... 103 Figura 4. 20 - Gráfico de leituras do IN04. .................................................... 103 Figura 4. 21 - Índices de precipitação registrados no mês de dezembro de 2009. ................................................................................................................................. 104 Figura 4. 22 - Localização da ruptura interna e localização aproximada da trinca. ................................................................................................................................. 105 Figura 4. 23 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção principal do aterro.................................................................................................................... 105 Figura 4. 24 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção secundária de instrumentação do aterro....................................................................................... 106 Figura 4. 25 - Ruptura ocorrida no final do ano de 2009 (em vermelho). ........ 107 Figura 4. 26 - Ruptura ocorrida e “lixo” obstruindo a pista de acesso (em vermelho).................................................................................................................. 107 Figura 4. 27 - Foto da trinca no platô do aterro............................................... 110 Figura 4. 28 - Foto da mesma trinca. .............................................................. 110 xvi Figura 4. 29 - Retro-análise da ruptura localizada próximo a seção secundária de instrumentação, considerando ru=0,7 em todo o RSU. ............................................... 112 Figura 4. 30 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de dezembro de 2009................................................................................ 113 Figura 4. 31 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de topografia prevista para o encerramento. .............................................. 113 Figura 4. 32 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ....................................................................... 114 Figura 4. 33 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de prevista para o encerramento. ....................................................... 114 Figura 4. 34 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. ..................................... 116 Figura 4. 35 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 117 Figura 4. 36 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. ..................................... 118 Figura 4. 37 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 119 Figura 4. 38 - Variações das cotas piezométricas para o mês de abril de 2010.120 Figura 4. 39 - Leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010. ........ 121 Figura 4. 40 – Deslocamentos acumulados do IN01 na direção A e B. ........... 122 Figura 4. 41 - Deslocamentos acumulados do IN02 na direção A e B. ............ 123 Figura 4. 42 - Deslocamentos acumulados do IN03 na direção A e B. ............ 124 Figura 4. 43 - Deslocamentos acumulados do IN04 na direção A e B. ............ 125 Figura 4. 44 - Precipitação registrados no mês de abril de 2010 no aterro estudado.................................................................................................................... 126 Figura 4. 45 - Ruptura próxima ao PZ01. ....................................................... 127 Figura 4. 46 - Detalhe da quebra do tubo de piezômetro PZ01. ...................... 127 Figura 4. 47 - Execução de uma cava na tentativa de recuperação do PZ02. ... 128 xvii Figura 4. 48 - Seção principal de instrumentação, com sérios problemas de drenagem (Foto tirada no dia 10 de abril de 2010). .................................................... 129 Figura 4. 49 - Seção principal de instrumentação do aterro com sérios problemas de drenagem, com acúmulo de chorume nas bermas (Foto tirada no dia 26 de abril de 2010). ....................................................................................................................... 129 Figura 4. 50 - Seção principal de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). ...................................................................................................... 130 Figura 4. 51 - Seção secundária de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). ...................................................................................................... 130 Figura 4. 52 - Provável superfície de ruptura local do talude da seção principal de instrumentação do aterro....................................................................................... 132 Figura 4. 53 - Análise de estabilidade da seção principal, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ03 de 0,56 para o mês de abril de 2010, FS resultante de 1,37 global e 1,04 estabilidade local no talude de 15m. ............................................. 133 Figura 4. 54 - Análise de estabilidade da seção secundária, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ05 de 0,64 para o mês de fevereiro de 2010, FS resultante de 1,44 para ruptura global e 1,09 para talude inferior junto a estrada de acesso. ....... 133 Figura 4. 55 - Geração da malha de elementos finitos. ................................... 136 Figura 4. 56 - Configuração inicial do aterro (sem lixo “fresco”). .................. 137 Figura 4. 57 - Tela da configuração do problema e distribuição do tempo de construção de cada célula. ......................................................................................... 138 Figura 4. 58 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 2,75m. ................................................................................................................................. 139 Figura 4. 59 - Pontos mais críticos em vermelho, próximo ao platô do aterro e aos piezômetros PZ01 e PZ02 rompidos no mês de abril de 2010. ............................. 140 Figura 4. 60 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo até 1,40m de deslocamento horizontal. ..................... 141 Figura 4. 61 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,66m de deslocamento horizontal. ............................................................ 142 Figura 4. 62 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 0,30m ................................................................................................................................. 143 xviii Figura 4. 63 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo 0,086m de deslocamento horizontal. ......................... 144 Figura 4. 64 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,086m de deslocamento horizontal............................................................ 144 xix LISTA DE TABELAS Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005). ......................................................................................................................... 10 Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado de XAVIER de BRITO, 1999). ..................................................... 11 Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de CALLE (2007). ...................................................................................... 14 Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de CALLE, 2007). ...................................................................................... 17 Tabela 2. 5 - Permeabilidade de Aterros Sanitários (adaptado de CALLE, 2007). ................................................................................................................................... 23 Tabela 2. 6 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento de RSU – coesão aparente e ângulo de atrito (CALLE, 2007). ................................................................ 33 Tabela 2. 7 - Relação de catástrofes segundo KOERNER & SOONG (1999). .. 45 Tabela 3. 1 - Dados das instalações dos piezômetros sifão. .............................. 54 Tabela 3. 2 - Dados das instalações dos tubos de inclinômetros. ...................... 54 Tabela 3. 3 - Dados das instalações dos marcos superficiais. ............................ 54 Tabela 3. 4 - Características do torpedo Geokon Model 6000........................... 67 Tabela 3. 5 - Características do torpedo Torpedo EAN-25/2M. ........................ 68 Tabela 3. 6 - Características da unidade leitora GK603. ................................. 69 Tabela 3. 7 - Características da unidade leitora EDI-53 INS. ........................... 69 Tabela 3. 8 - Especificação técnica do pluviômetro digital instalado no aterro de RSU estudado. ............................................................................................................ 76 Tabela 3. 9 - Especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris instalado no aterro. ......................................................................................................................... 77 Tabela 4. 1 - Valores de ru de campo para o mês de dezembro de 2009 ............ 95 Tabela 4. 2 - Parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores .......... 96 xx Tabela 4. 3 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados segundo estudos anteriores .......................................................................................... 99 Tabela 4. 4 - Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade deste estudo. ............................................................................................................. 111 Tabela 4. 5 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados. ................................................................................................................................. 115 Tabela 4. 6 - Fatores de segurança mínimos admitidos (ABNT NBR 11682, 2006). ....................................................................................................................... 115 Tabela 4. 7 - Valores de ru de campo ............................................................. 131 Tabela 4. 8 - Resumo das análises de estabilidade. ......................................... 134 Tabela 4. 9 - Parâmetros adotados na analise de recalques por elementos finitos. ................................................................................................................................. 135 Tabela 4. 10 Parâmetros adotados na analise de deslocamentos por elementos finitos segundo valores típicos encontrados por CARVALHO (1999) ....................... 142 xxi CAPÍTULO 1 1.1. INTRODUÇÃO Segundo o IBGE (2010), a porcentagem de resíduos sólidos coletados nos domicílios aumentou mais de 20% nos últimos 17 anos. Porém, no ano de 2000 ainda estimava-se que em 64% dos municípios brasileiros, todo o lixo produzido era disposto em terrenos que não passam por nenhum tipo de controle, ou seja, em lixões. Em contrapartida, após 19 anos da criação do projeto-lei, a câmara dos deputados aprovou em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que obriga aos municípios planejar e executar a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos gerados. A falta de planejamento e investimentos em saneamento nos últimos 30 anos no Brasil fez com que grande maioria dos resíduos sólidos acabasse indo diretamente para lixões. Na última década, muitos municípios vieram a adequar os antigos lixões, a condição de aterros controlados, como é o caso do aterro estudado. A solução de adequar antigos lixões a condição de aterros controlados não resolve o problema da disposição final dos resíduos, porém adéqua a melhores condições o local de despejo dos rejeitos. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) dispostos a céu aberto (lixões) representam um passivo ambiental que pode custar muito caro para as futuras gerações. Os aterros urbanos dispostos segundo critérios geotécnicos, em países em desenvolvimento como o Brasil, ainda são as formas mais utilizadas para disposição de rejeitos. Tal condição é extremamente agressiva e criticada do ponto de vista ambiental, trazendo conseqüências muitas vezes irreversíveis ao meio ambiente e comunidades próximas aos locais dos aterros de resíduos. A concentração da população em torno dos centros urbanos faz com que a disposição final dos resíduos sólidos urbanos se torne um problema de difícil solução. A crescente demanda de bens de consumo tem refletido exponencialmente na geração de resíduos sólidos mundialmente. A evolução tecnológica dos materiais e insumos com o desenvolvimento de embalagens sofisticadas, tem se refletido diretamente no aumento da geração de resíduos sólidos no mundo inteiro. As grandes metrópoles são as que mais sofrem para adequar áreas para disposição dos resíduos, o que exige a otimização da capacidade dos atuais aterros sanitários ou aterros controlados, exigindo alturas cada vez maiores. Com o aumento da geração de resíduos pelo consumo humano, aumentam-se as cargas e volumes diários que chegam até os aterros. Como 1 conseqüência, muitos locais tem exigido o monitoramento constante, por sempre estarem no limite de suas capacidades de operação. A partir deste ponto, o problema dos aterros de RSU deixou de ser um problema sanitário para se tornar um problema geotécnico. As sobrecargas excessivas podem ocasionar processos de instabilização, oferecendo riscos aos operários, catadores, construções irregulares no seu entorno, causando prejuízos sócio-econômicos e ambientais, além de oferecer riscos de vida à população local. 1.2. OBJETIVO Esta dissertação tem por objetivo principal obter parâmetros de resistência (c – coesão aparente1 e φ’ – ângulo de atrito efetivo) de um aterro de RSU, através de retro-análises de rupturas ocorridas em um aterro de resíduos sólidos monitorado, ajustando os parâmetros adotados nas análises de estabilidade de acordo com as leituras da instrumentação instalada no aterro. Têm-se por objetivos específicos: 1. Descrever as observações feitas nas diversas vistorias de campo, verificando algumas condições que antecederam as rupturas ocorridas no aterro durante períodos chuvosos, como a presença de trincas, problemas de drenagem pluvial, aumento das pressões de gases, entre outros fatores que antecederam as instabilidades. 2. Descrever a instalação e as leituras da instrumentação geotécnica localizada diretamente no maciço de RSU, como: piezômetros do tipo sifão (também conhecidos como piezômetros vector), inclinômetros, marcos superficiais e pluviômetros. 3. Análise paramétrica dos RSU, utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF), estudando e comparando os deslocamentos verticais (recalques) e horizontais, tendo como base os parâmetros encontrados na literatura sobre o assunto. 1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO Este estudo compreende um monitoramento geotécnico de 10 meses de um aterro de resíduos sólidos. 1 No caso de resíduos sólidos há uma elevada resistência a tração que pode ser considerada como coesão aparente no modelo Mohr-Coulomb. 2 1.3.1.METODOLOGIA A primeira etapa metodológica deste trabalho tratou da busca de artigos e teses para contemplação da revisão bibliográfica sobre o assunto, principalmente no que diz respeito a comportamento mecânico de aterros de RSU. A segunda etapa da metodologia foi a que tratou do acesso aos dados para esta pesquisa. Tal liberação de dados só foi possível com a assinatura de um termo de compromisso de sigilosidade, onde ficou exposto que, em nenhum momento se deixaria claro o local da pesquisa nem as empresas envolvidas no monitoramento e nem os projetistas que realizaram o estudo de adequação ambiental do antigo lixão, onde apenas cita-se o termo “estudos anteriores” quando se refere ao projeto de encerramento do aterro. Devido a este fato, alguns detalhes do monitoramento não puderam ser divulgados. Em paralelo com as duas primeiras etapas da metodologia, optou-se em descrever o procedimento básico da instalação da instrumentação geotécnica em RSU, onde o autor desta dissertação acompanhou de perto os detalhes técnicos envolvidos para a instalação de 5 piezômetros sifão, 4 tubos de inclinômetro, 5 marcos superficiais e dois pluviômetros. Ficou clara a dificuldade na perfuração dos RSU, sendo a duração desta etapa de 5 meses. Após o acompanhamento da instalação da instrumentação, várias leituras foram realizadas, sendo no mínimo realizada uma vistoria mensal no aterro com finalidade de observar sinais de instabilidade, como trincas e problemas de erosão. As demais leituras eram realizadas por técnico em instrumentação geotécnica que acompanhou diariamente as leituras da instrumentação instalada do aterro. Em seguida, a partir das leituras de instrumentação, fazia-se sua interpretação. Inicialmente, houve maior dificuldade na interpretação das leituras de inclinômetro, que eram realizadas com o auxílio de planilhas Excel® e após utilizando o software Gtilt®. Para auxiliar nas interpretações de pequenos deslocamentos horizontais, utilizou-se o artifício do uso de um “cone de acurácia”, onde este representaria duas linhas cônicas acompanhando os dados das leituras sendo que o cone representa a acurácia associada ao sistema torpedo em conjunto com a unidade leitora. Tal “cone de acurácia” foi útil na identificação de pequenas tendências de movimentação horizontal no maciço. O acompanhamento de algumas rupturas nos taludes do aterro de resíduos permitiu a retro-análise de três casos de rupturas utilizando o software SLIDE 5.0®, ocorridos em diferentes épocas. Buscou-se estudar os deslocamentos no aterro após verificar que algumas leituras de instrumentação pareciam tendenciosas em certas profundidades. Por fim, utilizouse o Método dos Elementos Finitos (software Plaxis 9.0®), comparando parâmetros e 3 deslocamentos verticais (recalques) e deslocamentos horizontais com os deslocamentos horizontais medidos com o auxílio dos inclinômetros instalados no maciço. A instalação tardia dos marcos superficiais no aterro fez com que se tivesse um período muito curto de leituras para identificar um modelo de comportamento de recalques de RSU, sendo que nas recomendações finais deste trabalho sugere-se que o modelo adotado seja verificado e adequado conforme se tenha maior volume de leituras destes deslocamentos verticais. 1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação é dividida em 5 capítulos, sendo este primeiro capítulo de introdução com os principais objetivos da dissertação, além de uma breve descrição da metodologia adotada. O Capítulo 2 apresenta aspectos gerais de resíduos sólidos, apresentando características físicas, químicas e biológicas, com enfoque em resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos RSU. São descritos os principais parâmetros encontrados na literatura e dificuldades na obtenção destes, através de ensaios in situ e de laboratório, retro-análises de estabilidade. Também são descritas as teorias de análise de estabilidade utilizando a Teoria do Equilíbrio Limite e recalques utilizando Método dos Elementos Finitos. Ainda, o capítulo relata diversas catástrofes e os diferentes tipos de rupturas em aterros de RSU. O Capítulo 3 apresenta a instrumentação instalada no aterro de RSU estudado e as respectivas seções de instrumentação, nomeadas de seção principal e seção secundária de instrumentação. O Capítulo ainda detalha os tipos de instrumentos instalados no aterro e funcionamento, como o piezômetro do tipo sifão específico para aterros de RSU. Detalhes e observações durante a instalação da instrumentação são descritos. No Capítulo 4 são apresentadas as leituras observadas no período de 10 meses de monitoramento, incluindo duas fases críticas de estabilidade, dezembro de 2009 e abril de 2010 onde se registrou mais de 270 mm de chuva em menos de 12h no local. Retro-análises de estabilidade foram realizadas através da adoção de parâmetros da literatura, ajustadas ao modelo de ruptura comparando as análises com dados da instrumentação. Ainda neste mesmo capítulo, apresenta-se uma análise paramétrica utilizando o Método dos Elementos Finitos, visando estimar os deslocamentos verticais e horizontais esperados para o aterro e comparar a influência de cada parâmetro nas análises. Finalmente, o Capítulo 5 aborda as conclusões finais deste trabalho e recomendações para futuros trabalhos envolvendo este aterro ou outros aterros de RSU. 4 CAPÍTULO 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este capítulo é destinado ao estudo e revisão das propriedades mecânicas dos resíduos sólidos. Uma breve revisão sobre resíduos sólidos, suas propriedades físicas, químicas e biológicas, envolvendo temperatura, umidade, resistência ao cisalhamento, compressibilidade, monitoramento de aterros de RSU, casos de ruptura, entre outros. Ainda são apresentados o Método do Equilíbrio Limite e Método dos Elementos Finitos utilizados para as análises de estabilidade e previsão de deslocamentos, respectivamente. 2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 10.004 (2004) – define o lixo como os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional". Porém, aquilo que já não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matéria-prima para um novo produto ou processo (IBAM, 2001). Neste caso, segundo a própria norma NBR 10.004 (2004), o conceito de lixo acaba não englobando materiais que possam ser reciclados ou usados ou manufaturados por terceiros. Ou seja, o termo resíduo sólido designa com maior abrangência o significado da palavra “lixo”. Os resíduos sólidos urbanos são aqueles gerados pela comunidade, com exceção de resíduos industriais, de mineração e agrícolas. Incluem os resíduos de origem doméstica e resíduos procedentes de: comércio, escritórios, serviços, limpeza de vias públicas, mercados, feiras e festejos bem como móveis, materiais e eletrodomésticos inutilizados. Esses resíduos se constituem numa mistura heterogênea de materiais sólidos que podem ser parcialmente reciclados e reutilizados, vêm se constituindo em um dos maiores problemas da sociedade moderna. 2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU Segundo o IBAM (2001), a geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil é de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resíduos de varrição, limpeza de logradouros e entulhos. Algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, alcançam índices de produção mais elevados, podendo chegar a 5 1,3kg/hab./dia, considerando todos os resíduos manipulados pelos serviços de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos). O problema da disposição final dos RSU assume hoje uma magnitude alarmante. Considerando apenas os resíduos urbanos e públicos, o que se percebe é uma ação generalizada das administrações públicas locais ao longo dos anos em apenas afastar das zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por vezes em locais absolutamente inadequados, como encostas florestadas, manguezais, rios, baías e vales. (IBAM, 2001). Decorre daí a necessidade de um melhor entendimento do comportamento a médio e longo prazo destes maciços, assim como a resposta dos mesmos a distintas técnicas construtivas e operacionais, as quais isoladamente ou em conjunto possam gerar um aumento na vida útil e um melhor aproveitamento do espaço físico a eles destinados. Acrescente-se a estes aspectos, a importância nos dias atuais para a recuperação e reaproveitamento de antigas áreas de disposição, as quais demandam igualmente o conhecimento das condições geomecânicas do maciço, assim como a previsão do seu comportamento futuro. Os aterros podem se classificar de acordo com o tipo de disposição final utilizada, como segue: • Lixões - Forma irresponsável de jogar o lixo sobre um local qualquer sem nenhum tipo de controle contra poluição ou contaminação; • Aterros controlados – Conforme descrito anteriormente produz poluição localizada, não possui impermeabilização da base e sem sistema de tratamento de chorume e de dispersão dos gases; • Aterros sanitários - Forma de disposição de RSU que obedece a critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permitindo o confinamento teoricamente seguro em termos de controle de poluição ambiental e proteção à saúde publica. Nos lixões ou aterros controlados estão ausentes os critérios de engenharia de disposição do resíduo e, por isso, são criticados pelo ponto de vista sanitário e ambiental. Porém, as adequações a antigos lixões a condição de aterros controlados é realidade na grande maioria dos municípios brasileiros. Para projetar um aterro sanitário ou adequar um lixão a condição de aterro controlado, a informação geotécnica é essencial. Para isso são necessários dados geológicos, meteorológicas, hidrogeológicos e geotécnicos. Dados dos resíduos a serem dispostos são 6 também relevantes. Conhecimento de dados geotécnicos e dados sobre os resíduos são necessários nas análises de estabilidade, de deformação e vida útil do aterro de RSU. Se tratando de RSU, as propriedades mecânicas ainda são avaliadas empregando, para esses materiais, os métodos convencionais de ensaios de campo e laboratório desenvolvidos para solos. Cuidados devem ser tomados ao se estender para o RSU os conceitos e as teorias clássicas da Mecânica dos Solos, pois existem significantes diferenças entre estes dois materiais. O RSU de natureza altamente complexa e heterogênea apresenta elevados índices de vazios e, portanto, uma grande compressibilidade. Apresenta partículas de natureza muito diferente sendo que algumas delas são muito deformáveis e podem degradar, provocando o fenômeno o adensamento do aterro. A caracterização contínua dos resíduos sólidos é um dos passos mais importantes em qualquer administração pública que queira buscar uma solução ambiental adequada (MAHLER, 2010). A caracterização visa estudar muito além das suas características físicas, mas sim entender todo o comportamento de uma sociedade no sentido de prever nos novos projetos de aterro a evolução na produção de resíduos sólidos. Basicamente, o RSU se trata de um material extremamente heterogêneo, que pode ser distinguido por quatro fases compostas conforme apresentado na Figura 2. 1, são elas: ar, lixiviado (composto por água drenável), água retida (matéria orgânica, contendo umidade do RSU) e a matéria sólida contendo os resíduos inorgânicos. Va Vv AR ÁGUA DRENÁVEL VOLUMES MASSAS Va Ma Vw-d Mw-d Vw Mw Vw-r Mw-r Vs Ms ÁGUA RETIDA V T Vs MATERIA SÓLIDA (SECA) Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009). 7 Onde: VT=Volume total; VS=Volume de sólidos; VV=Volume de vazios; Va=Volume de ar; Vw=Volume de água total; Vw-d=Volume de água drenável; Vw-r=Volume de água retida; Ma=Massa de ar; Mw-d=Massa de água drenável; Mw-r=Massa de água retida; MS=Massa de sólidos. Já na Figura 2. 2, de MACHADO et al. (2009), é apresentada a relação da perda de volume em função da biodegradação da parcela orgânica dos RSU. ANTES DA BIODEGRADAÇÃO AR VOLUME APÓS BIODEGRADAÇÃO (1+ α)∆Vs AR ÁGUA Vv+α∆ Vs ÁGUA Vp(1+ α)∆ Vs ∆Vs PASTA SÓLIDA (MATRIZ) FIBRAS Vsp+ ∆Vsp PASTA SÓLIDA (MATRIZ) Vsf FIBRAS V+(1+ α)∆Vsa Vs+∆Vs Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO et al., 2009). Onde: 8 ∆Vs=parcela de volume do RSU que varia (matriz); Vsp=Volume da pasta sólida (matriz) do RSU; Vsf=Volume de fibras do RSU; VV=Volume de vazios; α=Taxa de compressão dos RSU a longo prazo Va=Volume de ar; Vw=Volume de água total; Vp=relação entre o volume da pasta e volume total dos RSU. Atualmente é de conhecimento que as características dos resíduos sólidos variam para cada cidade, para cada bairro até, em função de diversos fatores, como o porte, a atividade dominante (industrial, comercial e turística), os hábitos da população (principalmente quanto à alimentação e forma de se vestir), ao clima e ao nível educacional (XAVIER DE BRITO, 1999). KAIMOTO (2005) cita que até duas décadas atrás, o princípio de projetos de aterros considerava somente os critérios sanitários. No Brasil era comum adotar os conceitos e os parâmetros da Europa e dos EUA. No entanto, a adoção destes conduziu a situações críticas de instabilidade nos aterros. Atualmente sabe-se que diversos fatores influenciam nas características dos RSU, e devem ser estudados caso a caso, como em problemas de geotecnia em geral. As características dos resíduos, do clima e da operação em aterros são completamente diferentes de aterro para aterro, variando desde a renda da população local supracitado e a sazonalidade de quando é realizada a amostragem para caracterização do RSU. A Tabela 2. 1 apresenta um exemplo de dados comparativos de renda per capita e tipo de resíduo gerado para diferentes áreas de estudo do município do Rio de Janeiro, em pesquisa realizada pela COMLURB (2005). Nota-se que, quando maior a renda per capita da área, menor a quantidade de matéria orgânica que estes cidadãos geram. Cabe observar que a implantação da coleta seletiva tende a aumentar a porcentagem de matéria orgânica. 9 Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005). REGIÃO CENTRO¹ ZONA SUL² TIJUCA³ DEL CASTILHO PENHA/ GALEÃO PAVUNA ZONA 4 OESTE CAMPO GRANDE BANGÚ SANTA CRUZ RENDA PER CAPTA MÉDIA (R$) 465,61 1.394,60 1.095,21 353,76 399,41 349,12 809,80 313,38 269,30 212,21 PAPEL (%) 11,93 18,58 14,04 12,72 14,18 12,30 14,22 12,63 9,87 10,35 PLÁSTICO (%) 15,76 16,10 15,50 15,40 14,01 15,20 16,56 14,91 14,97 14,07 VIDRO (%) 3,88 3,98 3,87 3,83 2,69 2,26 4,36 2,84 2,09 1,93 MATÉRIA ORGÂNICA PUTRECÍVEIS (%) 62,77 52,18 59,66 61,13 61,74 63,82 57,09 62,47 66,14 67,21 METAL (%) 1,88 1,79 1,59 1,76 1,60 1,62 1,71 1,63 1,37 1,31 INERTE (%) 0,47 1,33 0,49 0,45 0,96 0,94 1,46 0,64 0,79 0,09 OUTROS (%) 3,30 6,04 4,85 4,73 4,82 3,85 4,59 4,88 4,77 5,03 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 50,11 47,73 51,93 56,47 46,49 57,05 49,20 45,74 50,28 44,63 146,55 137,44 148,17 149,63 146,63 162,92 130,52 149,18 157,47 159,02 1.476,12 2.247,87 1.421,65 1.665,95 2.035,00 3.316,72 2.031,80 1.819,65 1.175,50 950,85 TOTAL GERAL (%) TEOR DE UMIDADE (%) PESO ESPECÍFICO (kg/m³) PESO DA AMOSTRA (kg) 1 Início da implantação da Coleta seletiva em Novembro de 2003 2 Início da implantação da Coleta seletiva em Fevereiro de 2002 3 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003 4 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003 A composição gravimétrica do RSU espelha o nível de renda da população, e é de se esperar que regiões mais ricas gerem um menor percentual em massa de material orgânico, haja visto que é grande o consumo de alimentos semi-prontos e processados. Por sua vez, é maior a geração de resíduos de papel, próprios de uma população intelectualmente diferenciada. Sobre as variações sazonais da produção de RSU, sabe-se que em épocas de chuvas fortes o teor de umidade no lixo tende a crescer, que em épocas festivas há um aumento do percentual de latinhas, ou ainda que no outono cresce o número de folhas a serem recolhidas. Ou seja, há diversos fatores que influenciam no tipo e produção dos RSU. XAVIER DE BRITO (1999) resumiu os principais fatores que exercem forte influência sobre as características dos resíduos, que estão listados na Tabela 2. 2 a seguir. 10 Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado de XAVIER de BRITO, 1999). FATORES INFLUÊNCIA 1 - Climáticos • Chuvas Aumento do teor de umidade • Outono Aumento do teor de folhas • Verão Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos) 2 - Épocas Especiais • Carnaval Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos) • Natal / Ano Novo / Páscoa Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais) Aumento de matéria orgânica • Dia das Mães Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais) • Férias Escolares Migração temporária da população em regiões não turísticas Aumento populacional em locais turísticos 3 - Demográficos • População urbana Quanto maior a população urbana, maior a geração per capita 4 - Sócio-Econômicos • Nível Cultural Quanto maior o nível cultural, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica • Nível Educacional Quanto maior o nível educacional, menor a incidência de matéria orgânica • Poder Aquisitivo Quanto maior o poder aquisitivo, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica • Poder Aquisitivo (no mês) Maior consumo de supérfluos perto do recebimento do salário (fim e início do mês) • Poder Aquisitivo (na semana) Maior consumo de supérfluos no fim de semana • Lançamento de Novos Produtos Aumento de embalagens • Promoções de Lojas Comerciais Aumento de embalagens • Campanhas Ambientais Redução de materiais não biodegradáveis e aumento de materiais biodegradáveis As características dos resíduos podem ser reunidas em três grupos, a saber: características físicas, químicas e biológicas. Destes três grupos, aquele que mais interfere no dimensionamento do Sistema de Coleta e da disposição, considerando eventualmente a existência de um programa de coleta seletiva e reciclagem, é o das características físicas, por influenciar visceralmente todos os aspectos da gestão dos resíduos sólidos (XAVIER DE BRITO, 1999). CARVALHO (1999) diz que as principais propriedades mecânicas dos RSU (resistência ao cisalhamento e compressibilidade) são fortemente influenciadas pela composição e estado de alteração do resíduo bem como pelo comportamento mecânico de 11 cada material que o compõe. As informações sobre essas propriedades do RSU são escassas e, em alguns casos, os dados publicados são contraditórios. O aterro de RSU é um ecossistema complexo, no qual processos físicos, químicos e biológicos promovem a degradação da matéria orgânica com geração de efluentes líquidos e gasosos, modificando a pressão no interior da massa de resíduos. (ALCANTARA, 2007). Logo, a quantificação das propriedades mecânicas desses materiais é uma tarefa difícil dada a influência da composição heterogênea do RSU, a presença de componentes com diferentes formas e dimensões o que dificulta, sobremaneira, a obtenção de amostras de boa qualidade, a definição do tamanho das amostras e os tipos de ensaios mais adequados para serem utilizados. Nos itens a seguir serão relacionadas as principais propriedades e características dos RSU, porém, fica clara a grande disparidade entre os dados, o que só confirma que ao tratar de resíduos sólidos, tratamos de material de extrema heterogeneidade e complexidade. 2.2.1.GRAVIMETRIA DOS RSU Os resíduos domiciliares brasileiros têm se apresentado com taxas de matéria orgânica da ordem de 50 a 60%, típicas de países em desenvolvimento, e maiores que os encontrados em países desenvolvidos. A Figura 2.3 apresenta um gráfico comparativo entre renda per capita e porcentagem de matéria orgânica gerada segundo os dados da Tabela 2.1 para o município do Rio de Janeiro/RJ. 12 Figura 2. 3 - Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU no município do Rio de Janeiro/RJ. Este teor orgânico elevado propicia, entre outros fatores, um elevado teor de umidade. O conteúdo orgânico controla o processo bioquímico, especialmente a geração de gases e lixiviados. O conteúdo orgânico também afeta os parâmetros de resistência e a deformabilidade dos resíduos. A Tabela 2. 3 (CALLE, 2007), apresenta as gravimetrias dos componentes de diversos aterros sanitários do mundo (Bangkok, Pequin, Nairobi, Hong-Kong, New York, Istambul, Atenas, Cochabamba e Wollongong, Kuwait, Belo Horizonte, Doña Juana, Brasilia, Bandeirantes, Muribeca, Olinda e Salvador, Califórnia e Spruitville). 13 Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de CALLE (2007). RSU MATÉRIA ORGÂNICA PAPEL VIDRO METAL PLÁSTICO OUTROS PEDRA+SOLO MADEIRA+BORRACHA+COURO TÊXTIL 1 67 10 3 3 11 6 - 2 55 2 2 5 17 10 6 3 3 60 15 2 2 8 13 - 4 51 24 3 2 12 8 - 5 60 10.5 2 2.4 15 10.1 - 6 50 13.6 4.2 3.35 1.99 23.7 3.56 7 49 26 3 15 7 - 8 71 2 1 1 3 21 1 - 9 50 20.6 3.3 2.6 12.6 6.1 4.8 REGIÃO 10 26 43 6.1 7.6 12 3.3 1.9 11 32 37 4 6 17 6 - 12 44 25 1 1 19 7 3 13 45 5 1 1 1 46 1 - 14 74 12 4 3 5 2 - 15 15 3 10 3 22 7 10 16 20 22 6 5 46 3 - 17 58 16 2 3 20 1 - 18 59 19 2 4 7 5 4 - 1. Brasil - Aterro de Belo Horizonte/MG 7. Brasil - Aterro de Brasília/DF 13. China - Aterro de Pekin 2. Brasil - Aterro bandeirantes/SP 8. Bolívia - Aterro de Cochabamba 14. Kenia - Aterro de Nairobi 19 61 10 1 2 3 14 6 3 3. Brasil - Aterro de Muribéca/PE 9. Kuwait - Aterro da Cidade do Kuwait 15. Hong Kong - Aterro de Hong Kong 4. Brasil - Aterro de Olinda/PE 10. USA - Aterro na Califórnia 16. USA - Aterro de New York 5. Brasil - Aterro de Salvador/BA 11. África do Sul - Aterro de Spruntville 17. Austrália - Aterro de Wollogong 6. Colombia - Aterro de Doña Juana 12. Tailândia - Aterro de Bangkok 18. Grécia - Aterro de Atenas 19 . Turquia - Aterro de Istambul Como já foi descrito anteriormente, observa-se que o percentual de matéria orgânica para países em desenvolvimento é mais elevado do que para países desenvolvidos. Assim, essa característica deve ser levada em consideração no momento da escolha do método de tratamento e disposição dos RSU (BORGATTO, 2006). A partir do início da disposição dos RSU no aterro, há predomínio de componentes sólidos, e o processo de degradação biológica transforma a matéria orgânica sólida inicial numa considerável quantidade de gases e líquidos. Estas alterações são dependentes do teor de umidade, conteúdo orgânico e das condições climáticas locais, mais especialmente da temperatura. 2.2.2.GRANULOMETRIA DOS RSU A análise da distribuição do tamanho das partículas dos RSU é realizada utilizando-se as mesmas análises granulométricas utilizadas na Mecânica dos Solos. A Figura 2. 4 apresenta curvas granulométricas de RSU com idade variando entre 8 meses a 15 anos. 14 Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 apud DE LAMARE NETO, 2004). Nota-se que o percentual de materiais com granulação mais fina tende a aumentar com a idade do RSU, o que era esperado devido à biodegradação da parcela orgânica dos rejeitos. Este fato comprovado por (CARVALHO, 1999) conforme a Figura 2.5, que apresenta as curvas granulométricas estudado pelo autor do RSU do Aterro Bandeirantes com aproximadamente 15 anos, onde observa-se que o resíduo é composto por partículas mais finas que as apresentadas pela faixa sugerida por JESSBERGER (1994) apud DE LAMARE NETO (2004), para resíduos sólidos da Alemanha. 15 CARVALHO (1999) Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994). 2.2.3. PESO ESPECÍFICO Uma das características determinantes no comportamento geotécnico de qualquer aterro é o estado de tensões induzido pelo peso próprio dos materiais que o constituem. Desta forma, torna-se incoerente o estudo do comportamento mecânico de qualquer material aterrado sem que seja conhecido seu peso específico. Quanto maior a percentagem de matéria orgânica na massa de lixo, maior o seu peso específico, fato comprovado por de DE LAMARE NETO (2004), que ao analisar a composição gravimétrica do resíduo sólido proveniente de várias regiões da cidade do Rio de Janeiro, constatou que para regiões mais pobres os resíduos apresentavam maior peso específico que o gerado nas porções mais nobres da cidade. Como já visto anteriormente, o desenvolvimento econômico implica em maior consumo de alimentos processados e semiprontos, descartáveis, embalagens, etc., o que diminui o percentual de material de origem orgânica no lixo gerado. SILVEIRA (2004) determinou pelo método da cava as massas específicas de Paracambi/RJ, Santo André/SP, Gramacho/RJ e Nova Iguaçu/RJ. Descreveu os procedimentos usados nos ensaios in situ e as dificuldades encontradas na realização de tais 16 ensaios. Com o uso do percâmetro2 CARVALHO (2002) fez alguns ensaios em paralelo a SILVEIRA (2004) e observou-se uma boa concordância entre os resultados. CARVALHO (2002 & 2006) descreve o procedimento (Percâmetro) para retirada de amostras indeformadas de aterros, possibilitando a determinação de outras grandezas, como massa específica, capacidade de campo, umidade e porosidade. Na Tabela 2. 4 são apresentados alguns valores de pesos específicos de RSU. Há uma grande variação dos resultados encontrados, provinda das diferenças de procedimento na compactação, diferenças na composição dos resíduos, fruto das diferentes épocas dos estudos e regiões. Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de CALLE, 2007). Autor Merz & Stone (1962) Sowers (1968) Schomaker (1972) Bromwell (1978) Ham et al. (1986) Sargunan et al. (1986) Landva & Clark (1986) Watts & Charles (1990) Oweis & Khera (1990) Sharma et al. (1990) Galante et al. (1991) Richardson & Reynolds (1991) Peso Específico (kN/m³) 2,2 a 2,7 4,7 a 9,4 2,9 a 8,8 3,1 a 9,3 6,6 5,5 a 6,9 6,8 a 16,2 5,9 6,3 a 9,4 7,2 9,9 a 10,9 15 3,0 a 9,0 Fassett et al. (1994) 5,0 a 8,0 9,0 a 10,5 Vam Impe (apud Manassero et al 1996) 5,0 a 10,0 Jessberger (1997) 3,0 a 17,0 Hendron et al. (1999) 9,1 Zomberg et al. (1999) 10,0 a 15,0 Kavazanjian (2001) 10,0 a 20,0 Gotteland et al. (2001) 10 jasem (2002) 5,8 Carvalho (2002) 11,7 Silveira (2004) 14,8 a 12,2 Silveira (2004) 18,2 Silveira (2004) 9,15 Observações Não compactado Compactado Não compactado à bem compactado Não compactado à bem compactado Compactado Pouco compactado Compactado Londres, resíduo in situ compacto Compactado Sem relatos sobre compacidade Compactado Sem relatos sobre compacidade Não compactado Medianamente compacto Compactado Bélgica Bogotá - Aterro de Doña Juana Sem relatos sobre compacidade USA - Azusa (aumenta com a profundidade) França - Montech, Tarn Kuwait, in situ Brasil - Santo André/SP. Ensaio de campo - percâmetro Brasil - Paracambí/RJ. Ensaio de campo - cava e percâmetro Brasil - Gramacho/RJ. Ensaio de campo - cava Brasil - Nova Iguaçu/RJ. Ensaio de campo - cava Conforme citado anteriormente, o grau de compactação do aterro exerce influência relevante sobre a condição de peso específico do RSU. Tal afirmativa encontra grande aceitação uma vez que o RSU é constituído de material com elevado índice de vazios e de alta compressibilidade. Ao estudar os efeitos da compactação na compressibilidade do RSU do 2 Percâmetro: equipamento que mede peso específico, permeabilidade, a variação da vazão do percolado com o tempo e a capacidade de campo de uma amostra indeformada de resíduos sólidos. 17 aterro Bandeirantes, MARQUES (2001) verificou que o teor de umidade da massa de lixo, assim como nos solos, é um fator relevante no processo de compactação dos aterros de RSU. 2.2.4.UMIDADE O teor de umidade do RSU depende de vários fatores como sua composição granulométrica inicial, composição gravimétrica, condições climáticas, procedimentos operacionais, a taxa de decomposição biológica e a eficiência do sistema de drenagem de chorume e gases. A Figura 2. 6 apresenta resultados de JUCÁ et al. (1997) e compara dados encontrados por GABR & VALERO (1995). JUCÁ et al. (1997) apresenta resultados de umidade obtidos através de ensaios de SPT no aterro da Muribeca (PE) apresentando teores de umidades em profundidade variando entre 20 a 50%. Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ et al, 1997). Um aspecto importante a considerar sobre a influência do teor de umidade no comportamento mecânico do maciço é a diminuição da coesão aparente do RSU conforme o aumento do teor de umidade. Segundo GABR & VALERO (1995), conforme apresentado na 18 Figura 2. 7, para teores de umidade variando entre 55 e 70%, os valores da coesão aparente podem sofrer reduções consideráveis passando de cerca de 100 kPa para 40 kPa. 120 Intercepto Coesão (kPa) Ensaios Triaxiais 100 γseco=7,4 - 8,2kN/m³ 80 60 40 20 0 50 55 60 65 70 75 Teor de umidade (%) Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO, 1995). 2.2.5.TEMPERATURA A temperatura no interior de aterros de RSU constitui importante fator para a deflagração e evolução dos processos de degradação dos resíduos sólidos urbanos. COUMOULOS et al. (1995) apud CARVALHO (1999) realizaram uma série de medidas de temperatura, em diferentes períodos do ano, no aterro Ano Liossia, na Grécia, tendo obtido valores entre 40 e 60°C a pequenas profundidades e entre 5 a 15°C a grandes profundidades, conforme apresenta a Figura 2. 8. Registre-se que estes valores não apresentaram variações significativas, por conta de alterações na temperatura ambiente, nas diferentes épocas dos levantamentos. A variação da temperatura de acordo com a profundidade se dá principalmente devido a concentração de oxigênio próximo a superfície, que acelera o processo de degradação liberando maior quantidade de energia na forma de calor. 19 Temperatura (°C) Temperatura (°C) 25 30 35 40 45 50 55 60 25 65 30 35 40 45 50 55 60 65 0 0 5 Profundidade (m) Profundidade (m) 5 10 FURO 7 15 05.07.1990/30°C 05.09.1990/35°C 12.11.1990/11°C 27.03.1991/22°C 10 15 20 25 30 FURO 9 05.07.1990/30°C 05.09.1990/35°C 12.11.1990/11°C 27.03.1991/22°C 35 20 Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia, Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999). A Figura 2. 9 trata de um estudo realizado por HANSON et al. (2006) que apresenta os limites inferiores e superiores para medições de temperatura e de metano em profundidades em um aterro de RSU nos EUA. Segundo o estudo, a variabilidade de temperaturas e concentrações de metano são maiores na superfície do que em grandes profundidades. Limite Inferior de Temperatura Profundidade (m) Limite Superior de Temperatura Limite Inferior de Gás Limite Superior de Gás Temperatura (°C) Composição de metano (%) Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as concentrações de metano (HANSON et al., 2006). 20 2.2.6.PERMEABILIDADE O fluxo através de resíduo urbano saturado pode ser razoavelmente caracterizado pela Lei de Darcy, expressa pela Equação (1): q = A.k.i (1) Onde q é o fluxo volumétrico do lixiviado, A a seção transversal ao fluxo, k a condutividade hidráulica e i o gradiente hidráulico. A permeabilidade de RSU deve ser estimados para a concepção do sistemas de drenagem do aterro. De acordo com a regulamentação recente para a criação de aterros sanitários, o chorume produzido no interior da aterro deve ser recolhido e, portanto, a instalação de coleta de chorume e de sistemas de remoção é necessária (MACHADO et al., 2010). Fragmentos de plástico podem ter um efeito considerável sobre a permeabilidade de RSU. No caso do fluxo saturado, fragmentos de plástico (impermeáveis) pode obstruir o fluxo de chorume nos RSU. Quanto maior a quantidade e o tamanho dos fragmentos de plástico, a maior influência sobre a permeabilidade (XIE et al., 2006 apud MACHADO et al. 2010). A Figura 2.10 apresenta os resultados de ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al., 2010). A dispersão dos valores obtidos pode ser atribuída em grande medida, a heterogeneidade dos resíduos sólidos urbanos e à efeito de bloqueio do fluxo dos componentes plásticos. No entanto pode-se notar uma diminuição da permeabilidade dos resíduos conforme a profundidade aumenta. 21 Profundidade (m) Permeabilidade (m/s) Figura 2. 10 - Ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al., 2010) A Tabela 2. 5 apresenta dados levantados por CALLE (2007). De forma geral, a permeabilidade varia de 10 -2 cm/s a 10 -4cm/s, a qual é compatível com os valores obtidos para areias finas e limpas. 22 Tabela 2. 5 - Permeabilidade de Aterros Sanitários (adaptado de CALLE, 2007). AUTOR ANÁLISE Fungaroli et al. (1979) Lisimetro Koriates et al. (1983) Laboratório Oweis & Khera (1986) Oweis (1990) Ensaios de campo Ensaios de campo Massanero (1990) Ensaio em poço Brandl (1990) Ensaios de campo k (cm/s) OBSERVAÇÕES -3 -3 1x10 a 2x10 -3 -3 5,1x10 a 3,2x10 -3 1x10 - -4 1,5x10 Carga variável -3 -2 1,5x10 a 2,6x10 Ensaio de Bombeamento (15-20m) -3 -4 Com.com rolo. ens. de carga variável -3 -2 - 2x10 a 7x10 Landva & Clark (1990) Ensaio em poço 1x10 a 4x10 Cepollina et al. (1994) Ensaio em poço 1x10 Brandl (1994) Laboratório Ehrlich et al. (1994) Ensaios de campo -5 Aterro Bandeirantes/SP -4 -3 2x10 a 3x10 -3 1x10 Gramacho/RJ - Fluxo horizontal -4 Pressão conf. de 0 a 600kPa -5 -3 - -5 -4 Ens. Car. Var. em furos (30-40m) 1x10 a 1x10 Gabr & Valero (1995) 1x10 a 2x10 Blengino et al. (1996) Ensaios de campo 3x10 a 3x10 Santos (1998) Ensaios de campo 1x10 Mahler & Aguilar (2001) Perm. Guelph Carvalho (2002) Ensaios de campo Compacto -5 Beaven & Powrie (1995) Laboratório Laboratório Resíduos triturado -5 Muribéca/PE Furos de sondagem -2 Jacarepaguá/RJ -4 Santo André/SP 4,73x10 9,48x10 2.2.7.RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO KNOCHENMUS et al. (1998) definem que as principais propriedades mecânicas a serem consideradas para o estudo da estabilidade de taludes de resíduos são a compressibilidade e a resistência ao cisalhamento. Por sua vez, estas propriedades sofrem influências das variações ocorridas dentro de um maciço em função da decomposição, da idade do resíduo, condições de estocagem, drenagem, entre outras. Uma parcela significativa de resistência dos resíduos sólidos urbanos, mobilizada com o aumento das deformações, pode ser explicada pelo efeito de reforço que alguns de seus constituintes fibrosos (plásticos, papéis, pedaços de madeira, etc) passam a desempenhar, contribuindo assim para um incremento do intercepto de coesão. Neste sentido, KOCKEL & JESSBERGER (1995) propõe analisar os resíduos como uma matriz composta, constituída por duas componentes: uma básica, onde estão presentes as partículas finas e médias (≤120mm), e uma reforçada, que engloba as partículas fibrosas e de maiores dimensões (>120mm). Os mesmos autores, a partir de ensaios laboratoriais, mostraram que a resistência ao cisalhamento da componente básica da matriz (partículas ≤120mm) é quase que totalmente condicionada pela resistência friccional, com ângulos de atrito máximo entre 42°e 45°, mobilizados com elevadas deformações. Por outro lado, a parcela de coesão é preponderante 23 na componente reforçada da matriz, sendo função direta da resistência à tração dos “elementos de reforço” e mobilizada com deformações específicas superiores a 20%. A Figura 2. 11 apresenta os resultados obtidos em ensaios de laboratório e envoltórias propostas por SIGH & MURPHY (1990) e OWEIS & KHERA (1990) apud WOJNAROWICZ et al., 1998 para o ângulo de atrito e coesão aparente para distintas configurações das amostras. Figura 2. 11 - Relação entre coesão aparente e ângulo de atrito de resíduos sólidos urbanos (adaptado de WOJNAROWICZ et al., 1998). A resistência ao cisalhamento de solos é usualmente estimada por meio de ensaios in situ, ensaios de laboratório (triaxiais, cisalhamento direto) e retro-análise de dados de campo. Em se tratando de RSU, a realização de ensaios no Brasil não é uma realidade. Geralmente, estas propriedades são estimadas através de casos de retro-análises de rupturas em aterros, como é o caso deste trabalho. Se tratando de retro-análises de estabilidade, deve-se tomara cuidado com o emprego de parâmetros de resistência obtidos de retro-análises, pois existe um número infinito de combinações de resistência ao cisalhamento o qual satisfaz a equação de equilíbrio (uma equação e duas incógnitas) e, portanto, a solução não pode ser obtida precisamente. 24 A definição dos parâmetros de resistência a partir de retro-análise faz parte do escopo deste trabalho, onde foi possível retro-analisar duas rupturas e que comparando com dados de instrumentação instalada no aterro, incluindo quatro inclinômetros instalados diretamente nos resíduos, o que auxiliou no ajuste dos parâmetros de resistência. De acordo com modelo proposto por KÖLSCH (1993) os materiais fibrosos (plásticos, panos/trapos, etc...) presentes na composição do lixo seriam capazes de criar forças de tração que dependeriam do vínculo das fibras com a massa do lixo, isto é, seriam função da tensão normal atuante. Deste modo, a resistência ao cisalhamento seria composta por duas parcelas distintas: a 1ª referente às forças de atrito no plano de cisalhamento e a 2ª referente às forças de tração das fibras ou coesão aparente (pseudo-coesão) devido às fibras. A interação entre essas duas parcelas está representada na curva tensão x deformação da Figura 2. 12. . I Atrito τ II III IV Atrito + Tração Atrito + Tração Decrescente Atrito Tensão de Cisalhamento I II III IV τ max Z max Tração Atrito Deformação s Figura 2. 12 - Curva tensão x deformação (adaptado de KÖLSCH, 1993). Esta curva mostra que, para pequenas deformações (Fase 1), existe apenas a mobilização das forças de atrito; à medida que as deformações vão aumentando e as fibras começam a ser tracionadas (Fase 2), a parcela das forças de tração aumenta até atingir um valor máximo correspondente à resistência a tração ou vínculo das fibras com a massa do lixo. A partir deste valor máximo (Z máx.) entra-se na Fase 3 com a redução gradativa da parcela das forças de tração até atingir a Fase 4 onde a resistência ao cisalhamento se limitaria à parcela devida ao atrito. A parcela de resistência devida ao atrito aumenta linearmente com o aumento da tensão normal, ao passo que a parcela devida as forças de tração das fibras, conforme apresentado na Figura 2. 12 (KÖLSCH, 1993), só contribui efetivamente na 25 resistência ao cisalhamento a partir de um determinado valor de tensão normal (I), com esta contribuição crescendo até um valor máximo (II), a partir do qual tende a decrescer (III), até se anular (IV). Assim, a contribuição de cada uma dessas parcelas na resistência ao cisalhamento do RSU varia de acordo com a tensão normal atuante, além naturalmente da deformação, conforme já referido anteriormente. De modo a caracterizar separadamente cada uma das parcelas referidas, KÖLSCH (1993) desenvolveu equipamento destinado exclusivamente à medição das forças de tração das fibras. As forças de atrito foram determinadas através de ensaios de cisalhamento direto após a redução das partículas do lixo, eliminando deste modo o efeito das fibras. Os plásticos (fibra) podem favorecer taludes mais íngremes, mas tal não deve ser tomado como uma garantia da estabilidade em longo prazo. O efeito da fibra pode diminuir com o tempo, pela degradação promovida pela ação do chorume afetada pela temperatura. (MAHLER et al., 1998a). Os parâmetros de resistência (coesão aparente e ângulo de atrito) adotados no cálculo da estabilidade de taludes de depósitos de resíduos sólidos urbanos têm sido estudados com mais acurácia, principalmente, nos últimos dez anos. Dado, porém, a complexidade do problema, o assunto continua sendo susceptível a muitas discussões e interpretações (DE LAMARE NETO, 2004). A obtenção destes parâmetros normalmente é feita através de ensaios de laboratório (triaxiais e cisalhamento direto), com equipamentos de grande porte, utilizando-se amostras re-moldadas ou retro-análises, com base em observações das condições de ruptura verificadas no campo e, ainda, métodos in situ como ensaios de Palheta (Vane Test), sondagens à percussão (SPT), ensaios de cone ou piezocone, pressiométricos ou de penetração dinâmica. Mais recentemente, têm sido desenvolvidos equipamentos (caixas de grande porte) para ensaios de cisalhamento direto no campo com amostras indeformadas (amostras superficiais). No caso dos ensaios de laboratório, a maior dificuldade encontrada se refere à coleta e obtenção de amostras representativas em função da composição muito heterogênea e com elementos de grandes dimensões presentes no lixo. Além disso, a necessidade de equipamentos (triaxial e cisalhamento direto) de porte, com dimensões compatíveis (no mínimo 5 a 10 vezes superiores a partícula de maior diâmetro do lixo) e proteção adequada quanto à corrosão e segurança dos operadores contribuem para a elevação dos custos destes ensaios. Neste aspecto, de acordo com CARVALHO (1999), as dimensões dos corpos de prova parecem influenciar os resultados de resistência ao cisalhamento, conforme 26 comprovado em ensaios triaxiais do tipo CD com o lixo coletado no Aterro Sanitário Bandeirantes em São Paulo. Os resultados destes ensaios apresentaram valores de ângulo de atrito de cerca de 27º e coesão aparente variando de 42 a 55 kPa para corpos de prova de 15 x 30 cm e ângulo de atrito de cerca de 21º e coesão aparente entre 45 e 60 kPa para corpos de prova de 20 x 40 cm. Assim, os corpos de prova com menores dimensões tenderam a apresentar maiores valores de resistência. CARVALHO (1999) conduziu 65 ensaios triaxiais de grandes dimensões em materiais de resíduos sólidos de 15 anos do Aterro de Bandeirantes. Os ensaios CD e CU foram executados na umidade natural e em circunstâncias saturadas. A Figura 2. 13 mostra a trajetória de tensões típicas obtidos nos ensaios CD e CU, executados em amostras com de RSU, chegando a parâmetros de coesão aparente e ângulo de atrito efetivos da ordem de 4260 kPa e 21-27°, respectivamente. Este gráfico demonstra a geração de excesso de poropressão em materiais de RSU em condições não-drenadas. Conseqüentemente, o ângulo de atrito interno é elevado em comparação com os resultados obtidos dos ensaios CD. Comportamento similar foi relatado por NASCIMENTO (2007), que conduziu 24 ensaios triaxiais em resíduos de 4 anos de idade, conforme apresentado na Figura 2. 14. ° ° ° ° ° ° Figura 2. 13 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de CARVALHO, 1999). 27 ° ° ° ° ° ° Figura 2. 14 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de NASCIMENTO, 2007). Um ensaio triaxial de grandes dimensões (Figura 2. 15) foi utilizado por SHARIATMADARI et al. (2009) para avaliar o comportamento mecânico de RSU. Este equipamento triaxial inclui um sistema de carregamento com uma capacidade de 300 kN e um software que permite o sistema executar testes triaxiais de deformação controlada. O instrumento teve duas câmaras diferentes para medir as variações volumétricas. 28 Figura 2. 15 - Ensaio triaxial de grandes dimensões para uso em RSU.(a) antes da execução do ensaio. (b) após a execução do ensaio. SHARIATMADARI et al. (2009). A primeira câmara, triaxial comum, registrou as mudanças no volume de água para dentro as amostras (ou as mudanças no volume das amostras, na amostra saturada - partículas incompresíveis). Na segunda câmara, conectou-se à água para limitar a tensão/deformação, e foi usada para medir a mudança do volume de total da amostra. No caso da segunda câmara, os valores medidos do volume foram corrigidos a fim de levar em consideração a deformação triaxial da célula. A deformação triaxial da célula era pequena comparada à mudança do volume das amostras, mesmo para baixas tensões aplicadas. As mudanças de volume mais elevadas sempre foram registradas pela segunda câmara do que pela primeira câmara, e a esta diferença foi creditada à compressibilidade das partículas dos resíduos, conforme apresentam as Figura 2. 16 e 2.17. 29 Figura 2. 16 - Relação entre a deformação axial e radial em condições de compressão isotrópica. SHARIATMADARI et al. (2009). Figura 2. 17 - Efeito da deformação isotrópica ou anisotrópica sobre o incremente de tensão corrigida, SHARIATMADARI et al. (2009). Os ensaios triaxiais não-drenados (CU) são utilizados para avaliar o comportamento em materiais saturados, mas o excesso de poropressão gerado durante a fase de cisalhamento 30 é um dos aspectos mais interessantes e mais intrigantes do comportamento não drenado de RSU. Em algumas regiões do mundo, os RSU possuem elevado grau da saturação (umidade) que faz com que o comportamento frente a solicitações seja não-drenado. Frente a isto, o comportamento das poropressões foi estudado por diversos pesquisadores, inclusive no Brasil e como resultado dos dados obtidos em 5 anos de monitoramento efetuado no Aterro Sanitário Bandeirantes, KAIMOTO & CEPOLLINA (1997) chegaram às seguintes conclusões: • As pressões de chorume nos maciços antigos indicam uma distribuição errática, com clara evidência de empoleiramento e bolsões; • As pressões internas de gás, lidas diretamente através de manômetro acoplado à câmara específica dos piezômetros em sifão, têm resultados variáveis e às vezes elevados da ordem de até 100 a 170 kPa, muitas vezes superior aos níveis de pressão do chorume no mesmo ponto. A poropressão nas amostras de RSU tende a aumentar rapidamente durante o cisalhamento e a estabilizar em valores perto da linha de ruptura. Tal comportamento é identificado igualmente nos solos turfosos, que segundo SHARIATMADARI et al. (2009), são provavelmente os materiais mais similares a RSU frente ao comportamento não-drenado. Além disso, os solos turfosos são influenciados igualmente pelo processo da biodegradação (SHARIATMADARI et al., 2009). Algumas trajetórias de tensões típicas em solos turfosos são apresentadas na Figura 2. 18. 31 Figura 2. 18 - Resultados típicos de trajetória de tensões para solos turfosos (a) OIKAWA & MIYAKAWA (1980) e (b) MESRI AND AJLOUNI (2007) apud SHARIATMADARI et al., (2009). A má operação em aterros de RSU, muitas vezes sobrecarregados, na tentativa de estender sua vida útil tem conduzido a graves acidentes. No que se referem as retro-análises, as maiores dificuldades são de que sempre existem uma infinidade de combinações de parâmetros de resistência (coesão aparente, ângulo de atrito e peso específico) que satisfazem as condições de equilíbrio e, também, as próprias incertezas quanto aos reais mecanismos de ruptura ocorridos no campo o que pode conduzir a escolha de parâmetros inadequados. Porém, como é o caso deste estudo, retro-análises apoiadas em dados de instrumentação, principalmente de leituras de deslocamentos horizontais com uso de inclinômetros podem colaborar na obtenção de parâmetros mais representativos. 32 Sabe-se que das variações dos parâmetros de resistência ao longo do tempo, a que é mais marcante é a coesão aparente. Conforme citação de MAHLER et al.. (1998b), as fibras tornam-se menos resistentes com o tempo, o que parece ser bastante coerente devido à degradação de sacolas plásticas e demais fibras contidas nos RSU. A Tabela 2. 6 que trata de um levantamento de parâmetros realizado por CALLE (2007), apresenta grande variação dos parâmetros de resistência e que estes variam de acordo com a idade, país, condição econômica do país, além das condições de compactação e ensaios de onde foram retiradas as amostras de RSU. Tabela 2. 6 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento de RSU – coesão aparente e ângulo de atrito (CALLE, 2007). Autor Carvalho (1999) c' (kPa) φ (°) Tipo de Ensaio Observações 42 – 60 21 – 27 CD Cowladn et al (1993) 10 25 - Gabr & Valero (1995) 0 a 27,5 20,5 a 39 Cisalhamento Resid antigos-Pioneer Crossing Greco & Oggeri (1993) 16 21 Cisalhamento γ=5kN/m3 Chivasso Greco & Oggeri (1993) 24 22 Cisalhamento γ=7kN/m3 Jessberger & Kochel (1991) 22 46 Triaxial 41 a 51 42 a 49 43 31 Kolsch (1993, 1995) 0 26,4 Cisalhamento Resíduos novos Alemanha Kolsch (1993, 1995) 0 17,7 Cisalhamento Resíduo antigo Alemanha Landva & Clark (1990) 19 a 22 24 a 39 Cisalhamento Tensões normais sup. a 480kPa Canadá Landva & Clark (1990) 23 24 Cisalhamento Edmonton Canadá Canadá Landva & Clark (1990) 16 33 Cisalhamento Blackfoot, Canadá, Resíduo antigo Canadá Landva & Clark (1990) 19 39 Cisalhamento Blackfoot, Canadá, Resíduo antigo Canadá Landva & Clark (1990) 0 41 Cisalhamento Hansport, Canadá, Resíduo antigo Canadá 39 34,5 CU 10 18 a 43 Cisalhamento 15 – 91 8 – 24 - Jessberger (1995) Kavazanjian et al (1999) Lukas (1985) Richardson & Reynolds (1991) Shimizu (1996) Cisalhamento Resíduo antigo, Bandeirantes Local Aterro-Shuen wan Brasil Hong Kong USA Itália Itália Grande dimensão (ε=20%) Alemanha Resíduos novos Alemanha Cisalha anel dir Diâm=46cm, Monterrey, Califórnia Chicago Tensão normal entre 14 a 38 kPa Residuo antigo - CD, Tokyo port USA USA Japão 2.2.8.COMPRESSIBILIDADE A compressibilidade do RSU se constitui num importante fator a ser considerado para a previsão das deformações dos maciços compactados. A previsão de recalques das massas de resíduos permite uma melhor avaliação de desempenho dos elementos que fazem parte da estrutura de um aterro (camadas de cobertura, sistemas de coleta de gases e fluidos, reforço, drenagem superficial, caixas de passagem, poços de inspeção). Ademais, a quantificação da deformabilidade das massas de lixo auxilia num importante aspecto do gerenciamento dos 33 resíduos sólidos, que é a melhoria das estimativas de vida útil dos aterros, uma vez que permite calcular a capacidade volumétrica adicional de armazenamento que os recalques geram. O resíduo depositado se transforma devido à ação integrada de processos físicoquímicos e biológicos. As modificações biológicas desempenham um papel sensível, atuando sobre os resíduos putrescíveis, de degradação mais fácil, tais como restos de verduras, frutas, carnes, folhas, e, em certa medida, sobre os resíduos de celulose, tais como papéis, cartões, papelões e madeira (SANTOS & PRESA, 1995). Esta decomposição resulta na liberação de energia na forma de calor e gases (principalmente metano CH4). A matéria orgânica, inicialmente sólida, sofre ação microbiológica, o que provoca sua transformação em uma grande quantidade de gases metano (CH4), gás carbônico (CO2), ácido sulfídrico (H2S), amoníaco (NH3), dentre outros gases; e uma menor quantidade de líquido (chorume). GANDOLLA et al. (1994) defendem que cerca de 25% da massa total do depósito é transformada em biogás. Deve-se salientar que a degradação por ação biológica ocorre sob duas condições: a aeróbia, e a anaeróbia, ou seja, com presença ou não de oxigênio. A transformação aeróbia (com presença de oxigênio) é mais rápida, ao passo que a degradação anaeróbia (sem presença de oxigênio) é mais lenta. TAPAHUASCO (2005) apud CARDIM (2008), ao avaliar os recalques de células experimentais construídas no Aterro do Jockey Clube de Brasília com diferentes materiais para camada de cobertura (argila compactada e entulho de construção), constatou que as células cobertas com entulho de construção, que possibilitavam a aeração do resíduo confinado, apresentavam maiores deslocamentos verticais que os observados nas células cobertas com material argiloso compactado. O mesmo ocorreu na maior parte do monitoramento do Aterro deste trabalho, onde a cobertura dos RSU era realizada por materiais de construção, e foi possível notar (pela topografia mensal) de que os deslocamentos eram elevados (verticais e horizontais). A fase líquida, gerada em função da degradação biológica da matéria orgânica presente no lixo, também contribui para a redução de volume do maciço uma vez que, inicialmente há a conversão de material sólido em líquido, e este por sua vez desloca-se, aumentando a porosidade do meio. Em segundo lugar, ao percolar, este líquido pode ocasionalmente, solubilizar partículas e conduzi-las, depositando-as em vazios maiores ou levando-as para fora do maciço (semelhante à erosão do subsolo - efeito piping). 34 SOWERS (1973), GANDOLLA et al. (1994), SANTOS & PRESA (1995), MANASSERO et al. (1996) e CARVALHO (1999) apresentam seqüências de fatores que, segundo os autores, favorecem os mecanismos geradores de recalques em aterros, e estes podem ser descritos, de maneira resumida como sendo: • Re-arranjo estrutural decorrente do peso próprio e da ação de sobrecargas de camadas sobrejacentes do aterro e dos materiais de cobertura; • Perda de massa para o exterior do depósito, sobretudo pela fuga de gases; • Migração de fragmentos, solubilizados em água infiltrada ou em chorume, e depositados em vazios maiores dentro da massa de lixo; • Transformações físico-químicas causadas por processos de corrosão, oxidação e degradação dos componentes inorgânicos; • Dissipação da pressão neutra de líquidos e gases. Vale então ressaltar que são muitas as diferenças que regem os mecanismos de recalques nos solos e nos resíduos. Assim sendo, não se deve lançar mão das premissas da Mecânica dos Solos Clássica para a previsão de recalques em resíduos sem as devidas adaptações, sempre que necessárias. GRISOLIA & NAPOLEONI (1996) propuseram uma curva teórica subdividida em fases, capaz de explicar os mecanismos controladores do recalque em depósitos de RSU, como apresentado na Figura 2. 19. 35 log t h I Dados exp. de Grisolia II dh dh III IV dh/h Materiais degráveis Materiais inertes estáveis Materiais altamente deformáveis V Figura 2. 19 - Curva teórica de compressibilidade do RSU (adaptado de GRISOLIA & NAPOLEONI, 1996). As fases representadas podem assim ser descritas: • Fase I – Deformação inicial, redução da macroporosidade; • Fase II – Recalque residual dos materiais altamente deformáveis; • Fase III – Deformação lenta e decomposição da matéria orgânica; • Fase IV – Deformação concluída; • Fase V – Deformação residual. GRISOLIA & NAPOLEONI (1996) defendem ainda que os depósitos de RSU recalcam cerca de 10 a 30% somente sob a ação de seu peso próprio, e que cerca de 90% dos recalques totais esperados ocorrem nos dez primeiros anos após o fechamento do aterro. GANDOLLA et al. (1994), confirmaram tais afirmações quando realizaram ensaios em células experimentais, conforme pode ser observado na Figura 2. 20. 36 Figura 2. 20 - Recalques total e anual em RSU (adaptado de GANDOLLA et al. 1994). A Figura 2. 21 apresenta o gráfico da variação de magnitude e da velocidade dos deslocamentos verticais ao longo do tempo de um marco superficial instalado no maciço do Aterro Sanitário de Vila Albertina, na Zona Norte do Município de São Paulo (DE JORGE et al., 2004). As leituras apresentadas nos gráficos correspondem ao período de julho de 1996 a abril de 2004, quando o aterro já se encontrava encerrado. Pode-se observar no gráfico do marco superficial neste período foi registrado um recalque acumulado da ordem de 300 cm. 37 Figura 2. 21 - Recalques registrados por um marco superficial instalado em aterro Vila Albertina/SP (DE JORGE et al., 2004). A grande dificuldade para se fazer previsões de recalque com base nas leituras é a separação dos recalques imediatos dos que ocorrem ao longo do tempo (CEPOLLINA et al., 2004). No caso do aterro discutido neste trabalho, o monitoramento de recalques foi prejudicado devido à instalação dos marcos superficiais serem tardios, somente após o encerramento do local, sendo que ainda as leituras eram somente mensais. É possível encontrar diversos tipos de modelos utilizados para estimar a compressibilidade no maciço de resíduos sólidos urbano. Segundo NASCIMENTO (2007), a maioria dos modelos existentes pode ser dividida nas seguintes categorias: • Modelos de consolidação, que se utilizam da Teoria do Adensamento Unidimensional de Terzaghi para a previsão dos recalques; • Modelos que se apóiam na descrição do processo reológico; • Modelo de biodegradação, onde a degradação da matéria orgânica provoca redução de volume da massa de resíduos, podendo ser avaliada por modelos de geração de gás; • Modelos baseados em regressões logarítmicas, hiperbólicas, bi-linear, multilinear, etc.; • Modelos baseados em dados de campo. O recalque final dos resíduos apresenta-se como um valor de difícil avaliação, sendo composto por um recalque inicial, observado em um curto período de tempo após a 38 construção do aterro, e por um secundário, que ocorre ao longo de um período de tempo significativo. A taxa de recalques diminui com o tempo e com o aumento da profundidade do resíduo em relação à superfície do aterro (MARQUES, 2001). Sob seu peso próprio, os resíduos normalmente apresentam recalques que atingem de 5% a 30% de sua espessura original, sendo que a maior parte deste ocorre nos primeiros dois anos após sua disposição (MANASSERO et al., 1996). Os recalques de aterros de RSU normalmente são estimados considerando um mecanismo de consolidação unidimensional (aproximações elásticas ou relações do tipo e x logσ. A definição de um adequado modelo para previsão de recalques, assim como de seus parâmetros de cálculo, apresenta-se como principal fator limitante nas análises de deformabilidade de aterro sanitários. Tal dificuldade decorre da interação de diferentes mecanismos (fluência, degradação biológica, etc) no processo de compressão dos resíduos, os quais seguem leis próprias de comportamento e são governados por parâmetros distintos entre si. A proposição e utilização de métodos empíricos, formulados a partir da observação e interpretação de dados obtidos de aterros sanitários específicos, têm sido relatado por diversos autores. De maneira muito semelhante à Teoria do Adensamento Unidimensional de Terzaghi, utilizada para o estudo dos recalques totais em solos, os recalques em resíduos podem ser divididos em três etapas, a saber: i. Compressão inicial – efeito relacionado à sobrecarga inicial causada pelo despejo de material, bem como dos processos de compactação. Ocorre imediatamente após a aplicação da sobrecarga. ii. Compressão primária – esta etapa de compressão dos RSU está relacionada com a redução de volume que a massa de lixo apresenta quando há a drenagem dos líquidos presentes no interior do aterro. iii. Compressão secundária – o mecanismo que rege esta etapa do recalque nos RSU se baseia nos processos de degradação que se desenvolvem no interior da massa de lixo. A magnitude dos recalques em aterros, decorrentes de solicitações mecânicas (recalques inicial e primário) podem ser aferidas através da Equação (2), que é muito conhecida pela Engenharia Geotécnica para a determinação dos recalques em solos normalmente adensados (NA), sob condição oedométrica: 39 ∆ . . ∆ (2) Onde: ∆H1 – recalque da camada de espessura H0 e0 – índice de vazios inicial Cc – coeficiente de compressão σ'v0 – tensão efetiva vertical inicial ∆σv – acréscimo de tensão vertical Importante notar que o coeficiente Cc não está propriamente ligado ao trecho da reta virgem e sugere que quanto maiores os teores de matéria orgânica, maiores os valores encontrados para o índice de compressão. Após determinado período de tempo, o adensamento primário tende a diminuir, iniciando-se então a compressão secundária do material. Segundo SOWERS (1973), esta parcela dos recalques estaria relacionada à ação combinada da compressão mecânica e das alterações físico-químicas e biológicas do resíduo. Para a determinação matemática do fenômeno, propôs a seguinte Equação (3): ∆ . . ∆ (3) Onde: ∆H2 – recalque da camada de espessura H0 e0 – índice de vazios inicial Cα – Coeficiente de compressão secundária (da ordem de 0,02 para RSU) t – tempo O coeficiente Cα está relacionado ao índice de vazios inicial do processo, bem como às condições favoráveis à biodegradação. É um parâmetro de difícil determinação dado a complexidade em se determinar e0 e de estabelecer as condições de decomposição. Alguns autores utilizam o valor estimado de 0,02 para este coeficiente. CARVALHO (1999) analisou dados de ensaios cross-hole e estimou os coeficientes de Poisson (ν) dos RSU do Aterro Bandeirantes, onde algumas velocidades das ondas 40 apresentaram alguns resultados erráticos, mas a maioria dos valores obtidos encontram-se entre 0,27 a 0,38, obtendo-se valores médios de 0,33. MATASOVIC & KAVAZANJIAN (1998) também encontraram para o Aterro de OII (Califórnia) valores de ν altamente dispersos ao longo do perfil e adotaram ν = 0,33 como valor apropriado para este aterro. Já SHARMA et al. (1990) apresentam valores de ν = 0,46 para o aterro de Richmond (Califórnia), valor elevado para lixo fresco em especial considerando as condições de compactação brasileiros. CARVALHO (1999) ainda cita que os módulos cisalhante (G) e de deformação (E) obtidos para valores máximos e mínimos de peso específico estimados para o Aterro Bandeirantes apresentaram uma leve tendência de aumentar com a profundidade. Os valores de G e E calculados para o ensaio cross-hole são menores que aqueles apresentados por SHARMA et al. (1990) para resíduo disposto no Aterro de Richmond (Califórnia). SHARMA et al. (1990) encontraram valores de 28,9MPa e de 84,4MPa para o módulo cisalhante e de deformação, respectivamente, considerando um peso específico de 7,37kN/m3. Os valores correspondentes para o resíduo urbano de São Paulo foram da ordem de 8MPa e 25MPa, para peso específico do RSU de 8kN/m3. Para peso específico de 12kN/m3, os valores médios obtidos para o módulo de cisalhamento e de deformabilidade são de 14,5 e 40MPa, respectivamente. A Figura 2.22 apresenta os resultados encontrados por CARVALHO (1999) no Aterro Bandeirantes dos módulos cisalhantes e de deformação através de ensaios crosshole. Figura 2. 22 Resultados de módulos cisalhantes e de deformação obtidos para o resíduo estudado a partir de ensaios cross-hole (apud CARVALHO, 1999) 41 Os valores encontrados por CARVALHO (1999) serão utilizados nas análises por MEF para fins comparativos com a retro-análise de deslocamentos horizontais que encontrou valores para E próximos aos encontrados para solos turfosos (100 a 600kPa). 2.3. TIPOS DE RUPTURAS EM ATERROS DE RSU E AS MAIORES CATÁSTROFES REGISTRADAS Mais recentemente uma grande ruptura em um antigo lixão localizado em uma encosta, no município de Niterói/RJ, atingiu mais de 50 casas, onde cerca de 45 pessoas morreram. Tida como uma das maiores tragédias já ocorridas no Brasil, este sinistro se tornou alvo diário da mídia e de políticos que se aproveitaram da situação para suplicar recursos ao Governo Federal para obras emergenciais no estado. O deslizamento da Favela do Morro do Bumba em Niterói (Figura 2. 23), construída sobre um antigo lixão, matou famílias inteiras, e é um alerta para as grandes metrópoles brasileiras. O volume de chuvas do mês de abril de 2010 foi extremamente elevado na região Sudeste do país, mas ninguém pode ignorar especialmente os administradores municipais, que os temporais com grandes precipitações são comuns no verão e início do outono. 42 Figura 2. 23 - Tragédia do Morro do Bumba (Foto: ESTADO DE SÃO PAULO, 2010). É importante frisar que os projetos e construções de aterros de resíduos no Brasil têm sido caracterizados pela adoção de critérios e de parâmetros de projeto baseados na experiência de países do Primeiro Mundo, sem que haja uma confirmação ou validação para as condições de nosso país. Conforme já fora demonstrado, os nossos resíduos têm composição, em termos de matéria orgânica e umidade, bastante diferente dos daqueles países e a simples adoção de parâmetros geotécnicos “importados” para nossos aterros sanitários. KOERNER & SOONG (1999) reconhece que há dois tipos fundamentais de formas de rupturas em aterros, as rotacionais e translacionais. As rupturas rotacionais são geralmente circulares, dependendo do tipo de RSU e de sua disposição. As rupturas translacionais são lineares ao longo de um único plano ou consistem em diversos segmentos lineares. Uma ruptura composta é uma possibilidade onde uma superfície rotacional segue em uma translacional, ou inversamente. DIXON & JONES. (2004) relaciona os possíveis tipos e formas de rupturas que podem ocorrer em aterros de RSU (Figura 2. 24). 43 (a) Estabilidade do subleito (c) Estabilidade do Talude de RSU (e) Integridade do “liner” (g) Integridade do “liner” muito ingreme (i) Integridade do sistema de drenagem (b) Integridade do subleito (d) Estabilidade do “liner” (f) Estabilidade do “liner” muito íngreme (h) Integridade do “liner” superficial (j) Integridade do sistema de gás Figura 2. 24 - Tipos de rupturas possíveis em aterros de RSU (DIXON & JONES, 2004). 44 KOERNER & SOONG (1999) relaciona as principais catástrofes, tipos de ruptura e os volumes envolvidos em casos de ruptura de aterros de RSU, conforme Tabela 2. 7. Tabela 2. 7 - Relação de catástrofes segundo KOERNER & SOONG (1999). Ano 1984 1988 1989 1993 1994 1996 1997 1997 1997 1997 Local América do Norte América do Norte América do Norte Europa Europa América do Norte América do Norte América do Norte África América do Sul Tipo de Ruptura Volume envolvido (m³) Rotacional Simples 110.000 Translacional 490.000 Rotacionais Múltiplas 500.000 Translacional 470.000 Translacional 60.000 Translacional 1.100.000 Rotacional Simples 100.000 Translacional 100.000 Translacional 300.000 Translacional 1.200.000 KÖLSCH (2010) relaciona diversas rupturas ocorridas, destacando as ocorridas em Rumpke (USA), 1996 (Figura 2. 25), Payatas (Filipinas), 2000 (Figura 2.26) e Bandung Indonésia, 2005 (Figura 2. 27). Figura 2. 25 - Rumpke (USA), 1996 (KÖLSCH, 2010). 45 Figura 2. 26 - Payatas (Filipinas), 2000 (KÖLSCH, 2010). Figura 2. 27 - Bandung Indonésia, 2005 (KÖLSCH, 2010). 46 CAPÍTULO 3 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA NO ATERRO DE RSU Este capítulo trata do acompanhamento da instalação da instrumentação no aterro de RSU, presenciada constantemente pelo autor desta dissertação. São relatados os procedimentos básicos adotados para a instalação e também para operação da instrumentação que foram utilizados para monitoramento geomecânico do aterro controlado de RSU. A previsão do encerramento do aterro controlado em questão era para o ano de 2006, porém, devido a dificuldades legais e ambientais de liberação de nova área para instalação de um aterro para o município, foram estudadas algumas soluções dando uma estimativa de extensão da vida útil do aterro em cinco anos, aumentando a capacidade total em aproximadamente 1.155.800 m³ de RSU. Com o aterro sobrecarregado, tornou-se necessário um estudo para adequação ambiental e ainda com monitoramento geotécnico constante. Os instrumentos instalados no maciço do aterro são: – Piezômetro sifão (PZ) – total de 5 equipamentos instalados; – Inclinômetro (IN) – total de 4 equipamentos instalados; – Pluviômetro (PL) – total de 2 equipamentos; – Marcos superficiais (MS) – total de 5 equipamentos. A locação e detalhes adicionais dos instrumentos estão apresentados no esquema da Figura 3. 1. Já a Figura 3. 2 apresenta uma vista esquemática com as seções instrumentadas. 47 Seção principal de instrumentação Seção secundária de instrumentação Figura 3. 1 - Seções de instrumentação principal e secundária. 48 Figura 3. 2 - Vista esquemática com as seções de instrumentação principal e secundária. Foram projetadas duas seções de instrumentação geotécnica, avaliadas como as mais críticas em termos de estabilidade. Inicialmente, tomou-se uma seção correspondendo aproximadamente ao eixo do aterro, próximo ao alinhamento do talvegue preexistente no relevo original do terreno, antes da disposição de lixo no local, indicativa, portanto, das maiores espessuras do depósito; esta seção foi denominada de seção principal (ver Figura 3. 1). Na ombreira direita do aterro, próximo às edificações A e B, foi lançada a seção secundária (ver Figura 3. 1), estudada em função do relevo julgado potencialmente mais suscetível a instabilização. O estudo de adequação ambiental previu além de monitoramento, o planejamento da construção do aterro. A seguir, se descreve o “as built” do aterro: 1ª Etapa: Construção do dique Estudos de casos similares à expansão mostram que geralmente as superfícies potenciais críticas de escorregamento passam nas proximidades dos pés dos taludes onde as deformações distorcionais são bem maiores que as volumétricas. Há casos que 49 apresentaram uma total mobilização da sua resistência ao cisalhamento colocando o talude numa condição próxima do colapso ou de escorregamento. Para garantir a condição de equilíbrio com uma adequada margem de segurança geralmente são introduzidos nesses locais elementos adicionais que corroborem com a estabilidade do maciço, seja por peso próprio através de aterros, muros de arrimo, etc., ou por ganho de resistência ao cisalhamento através de elementos estruturais tais como estacas, estruturas de solos reforçados com placa pré-moldada de concreto, etc. No caso do aterro em estudo foi executada a construção de um dique com resíduos da construção civil e demolições (entulhos de obras) ao longo de todo o sopé do talude, isto é, até o encontro com a encosta em terreno natural. A construção do dique foi feita a partir do atual sopé do talude em direção a montante do aterro em duas camadas, uma até a cota 85m e a outra até a cota 95m. 2ª Etapa: Re-conformação do talude consolidado a jusante do aterro Nesta segunda etapa foi executada a re-conformação do talude já consolidado a jusante do aterro, através da disposição de lixo em camadas de 5m de espessura por cima deste talude até atingir a declividade 1(V):2(H). Foram incluídas bermas de equilíbrio de 4m de largura, entre as camadas alteadas. Na Figura 3. 3 se apresenta uma vista do talude já consolidado a jusante do aterro. 50 Figura 3. 3 - Vista do talude consolidado a jusante do aterro. Previamente à disposição do lixo (re-conformação do talude), a totalidade do revestimento superficial vegetal existente, na sua maioria composto de grama, foi retirada com os devidos cuidados, e estocada em local adequado para sua posterior reutilização. Com a presente ocupação, estendeu-se a vida útil do aterro por mais 2,3 anos, aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de 600.000m3. 3ª Etapa: Disposição no platô na cota 140m a montante do aterro Uma vez finalizada a disposição que estava prevista na 2ª etapa, deu-se a ocupação no platô na cota 140m, a montante do aterro. A conformação do alteamento em camadas de 5m de espessura utilizou a continuidade da declividade obtida durante a ocupação do talude a jusante (2a Etapa), inclusive do espaçamento adotado para as bermas de equilíbrio. Com a presente ocupação estendeu-se a vida útil do aterro por mais 1,3 anos, aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de 342.000m3. 51 4ª Etapa: Disposição na porção intermediária Uma vez finalizado o alteamento na terceira etapa, foi dada continuidade à ampliação com a disposição do lixo na porção intermediária compreendida entre o talude resultante do alteamento da 3ª Etapa e a porção do platô na cota 140m ainda não ocupada localizada a jusante do aterro, cuja expansão deu-se na 2a Etapa. Cabe destacar que esta ocupação é a mais crítica em termos de estabilidade do aterro como um todo, fato este verificado nas análises de estabilidade e deslocamentos verticais e horizontais verificados principalmente no mês de abril de 2010. A conformação proposta do alteamento em camadas de 5m de espessura dando continuidade das declividades obtidas nas 2a e 3ª Etapas, inclusive do espaçamento adotado para as bermas de equilíbrio. Com a ocupação estendeu-se a vida útil do aterro por mais 0,6 anos, aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de 160.000m3. Estas etapas foram simuladas nas análises por MEF da construção do aterro no software Plaxis 9.0 ®, tentando representar ao máximo o “as built” do aterro. Estando posicionado em uma área urbana, confinado em um vale e formando um maciço com altura expressiva, a operação do aterro de resíduos sólidos em questão exige monitoramento e controle constantes para evitar acidentes principalmente no que se refere a inundações, incêndios e deslizamentos de taludes. A seção principal de instrumentação é apresentada em corte na Figura 3. 4, contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão. 52 Figura 3. 4 - Seção principal de instrumentação contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão. A seção secundária de instrumentação é apresentada em corte na Figura 3. 5 contendo dois inclinômetros e dois piezômetros do tipo sifão. Figura 3. 5 - Seção secundária de instrumentação. A Tabela 3. 1 apresenta o resumo das instalações dos piezômetros do tipo sifão. Na Tabela 3. 2 se apresenta o resumo das instalações dos tubos de inclinômetros. Já a Tabela 3. 3 apresenta características dos marcos superficiais instalados. 53 Tabela 3. 1 - Dados das instalações dos piezômetros sifão. SEÇÃO DATA DA PIEZÔMETRO INSTRUMENTAÇÃO INSTALAÇÃO PZ 01 PZ 02 PZ 03 PZ 04 PZ 05 SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO SECUNDÁRIA SEÇÃO SECUNDÁRIA 29/10/2009 03/09/2009 20/11/2009 31/07/2009 15/08/2009 COTA COMPRIMENTO BOCA DO EXECUTADO FURO m m 25,77 124,97 29,87 124,94 30 124,63 27,75 111,14 29,3 125,75 Tabela 3. 2 - Dados das instalações dos tubos de inclinômetros. INCLINÔMETRO IN 01 IN 02 IN 03 IN 04 SEÇÃO DATA DA INSTRUMENTAÇÃO INSTALAÇÃO SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO SECUNDÁRIA SEÇÃO SECUNDÁRIA 11/11/2009 26/09/2009 20/07/2009 25/08/2009 COMPRIMENTO COTA EXECUTADO TERRENO m m 30 121,99 29 110,98 29 133,37 17 123,84 Tabela 3. 3 - Dados das instalações dos marcos superficiais. MARCO SUPERFICIAL MS 01 MS 02 MS 03 MS 04 MS 05 SEÇÃO DATA DA INSTRUMENTAÇÃO INSTALAÇÃO SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO PRINCIPAL SEÇÃO SECUNDÁRIA SEÇÃO SECUNDÁRIA 01/07/2010 01/07/2010 01/07/2010 01/07/2010 01/07/2010 COTA DO INSTRUMENTO m 156,88 141,32 118,45 142,84 134,89 3.2. PIEZÔMETROS SIFÃO Os piezômetros tipo sifão permitem medir as pressões de gás e de líquidos percolados, separadamente, por um processo de sifão. A descrição e detalhes do instrumento podem ser encontrados em VAL et al. (1994) e ANTONIUTTI et al. (1995). Logo, estes equipamentos foram instalados no aterro de RSU com o objetivo de avaliar as poropressões nos líquidos e gases nos diques de contenção e no interior das 54 células de lixo, subsidiando, dessa forma, a avaliação da estabilidade do maciço de resíduos. 3.2.1. DESCRIÇÃO Os piezômetros sifão instalados nesta obra são constituídos de dois tubos concêntricos, o interno para o registro da pressão no chorume e o externo para a avaliação da pressão no gás. Este tipo de piezômetro (Figura 3. 6 e 3. 7) mostra-se adequado para o caso de aterros sanitários, pois evita a formação de bolhas de gás, que são observadas quando da utilização dos piezômetros de tubo aberto convencionais (Casagrande), o que cria falsos níveis de líquidos. TUBO PVC 50mm GÁS FURO REDUÇÃO PVC 25x20 mm VÁLVULA 20 mm PASTA DE BENTONITA TUBO PVC 25mm CHORUME Figura 3. 6 - Vista superior do piezômetro sifão. 55 REDUÇÃO PVC 50x25 mm VÁLVULA 20 mm REDUÇÃO PVC 50x25 mm 200 T PVC 50x25 mm GASES 50 PASSAGEM DO CHORUME + GASES SEIXOS 20 20 130 20 20 AREIA FINA AREIA GROSSA TUBO RANHURADO TUBO PVC 50mm DEPENDE DA PRESSÃO DE GÁS CHORUME TUBO PVC 25mm CHORUME 30 PASTA DE BENTONITA 20 50 TUBO PVC PERFURADO SOMENTE NA BASE 25mm φ=150mm 150 CAP 50mm Figura 3. 7 - Piezômetro sifão (dimensões em cm). 56 3.2.2.ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO Os instrumentos foram instalados em perfurações especialmente executadas para tal fim, nos locais indicados na Figura 3. 1. Foram empregados equipamentos adequados para a execução da perfuração do solo e dos resíduos sólidos, com diâmetro de 75mm. Os furos foram revestidos em toda a extensão. Foi utilizada bentonita para estabilização. Após a conclusão da perfuração, o furo foi lavado com água limpa (Figura 3. 8). Figura 3. 8 - Perfuração sendo executada para instalação de piezômetro sifão. A instalação dos instrumentos é realizada imediatamente após a execução das respectivas perfurações. Após o término da perfuração, antes de se levantar o revestimento, foi realizada a limpeza do furo, (Figura 3.9), até 80cm acima do tubo perfurado, (30 cm acima da parte inferior do tubo de 25mm perfurado), colocado o tubo de PVC e preenchido o espaço anelar entre a parede do furo e o tubo com pasta de bentonita, até 1,0m acima do furo, antes de se levantar o revestimento. O revestimento deve ser então levantado com cuidado. 57 Figura 3.9 - Tubo externo envolto por uma pasta impermeável de bentonita. A zona na qual as poropressões são medidas é referida como “câmara piezométrica”, ou seja o tubo de 25mm. A zona na qual as pressões de gás são medidas é referida como “câmara de pressão de gás”, ou seja o tubo de 50mm. Ao longo do comprimento da “câmara de pressão de gás” (50 cm), o tubo externo de 50mm é ranhurado e protegido por um filtro de material granular (Figura 3. 10). (a) (b) Figura 3. 10 – (a) Ranhuras ao longo da “câmara de pressão de gás” (tubo externo 50mm); (b)Proteção da parte ranhurada da “câmara de pressão de gás” (tubo externo de 50mm). Especial atenção é dada à vedação acima e abaixo da “câmara de pressão de gás” externa de 50mm. Primeiramente é colocada a pasta de bentonita no furo, com teor de 58 umidade em seu limite de liquidez (aproximadamente 440%). Após isto, o tubo de 50mm é então inserido na pasta de bentonita, permitindo um bom envolvimento. Foi tomado o cuidado de colocar quantidade suficiente no furo, de forma que a parte ranhurada do tubo externo não fique nem abaixo nem acima da superfície da pasta de bentonita. Pequenas quantidades de pasta foram adicionadas para completar o nível desejado, tendo-se o cuidado de evitar o preenchimento das ranhuras, pois tal erro comprometeria o funcionamento do instrumento. O filtro granular é constituído tipicamente por areia e seixos quartzosos. Esta parte ranhurada protegida pelo filtro permite a entrada dos gases e o chorume, sendo que, por gravidade, o chorume segue até a parte inferior do tubo de 25mm perfurado (Figura 3. 11), funcionando como um sifão, sendo que os gases ficam no espaço anelar entre o tubo de 50mm e 25mm. Ao final, o espaço anelar entre os dois tubos é fechado no topo por conexões (Figura 3. 12). Após, uma manilha de proteção foi construída em volta do tubo para evitar danos ao equipamento. Figura 3. 11 - Furos na base da “câmara piezométrica” (tubo interno de 25mm). 59 Figura 3. 12 - Conexões do piezômetro sifão. Uma válvula é colocada lateralmente ao tubo externo junto ao fechamento de topo, onde um manômetro pode ser facilmente adaptado para as leituras de pressão de gás (Figura 3. 13). Figura 3. 13 - Manômetro para leitura de pressão de gás. A extremidade superior da “câmara piezométrica” (tubo de 25mm) é dotada de um tampão de vedação, para protegê-lo da introdução de materiais estranhos. 60 3.2.3.PROCEDIMENTOS DE LEITURAS A determinação do nível d'água nos instrumentos é feita com o auxilio do indicador de nível d'água elétrico, também chamado de “piu” (Figura 3. 14). Em caso de alteração da cota do topo do tubo de leitura, a nova cota é anotada, para ser descontada no cálculo da cota piezométrica. Quaisquer anomalias ou eventos observados que possam ter influência no nível d'água indicado por um instrumento são anotadas. Figura 3. 14 - Leituras do nível piezométrico. As leituras de gás são realizadas com a instalação do manômetro na válvula adaptada à câmara (Figura 3. 15). O manômetro é instalado, para após então abertura da válvula. Em caso de dúvida de leituras, pode-se realizar uma leitura do nível piezométrico antes da abertura da válvula e uma após a leitura de gás. A diferença entre as leituras, multiplicadas pelo peso específico do chorume é igual à pressão de gás estimada. 61 Figura 3. 15 - Leituras de gás. A experiência mostra que quando não há deposição de lixo nas proximidades do piezômetro, as leituras praticamente não sofrem alteração em períodos curtos. Com o passar do tempo, a tendência que se observa é uma diminuição dos valores de pressão. 3.3. INCLINÔMETROS A Figura 3. 16 apresenta as partes em que compõem o equipamento: um torpedo (o sensor de inclinação), cabo elétrico, unidade de leitura e os tubos de acesso ranhurados. Figura 3. 16 - Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso PVC (GEO-RIO, 2000). O inclinômetro consiste num torpedo sensor o qual é introduzido num tubo-guia vertical de observação, fornecendo dados que permitem medir perfis de deslocamentos horizontais de massas de solo. O inclinômetro mede o ângulo de inclinação do tuboguia com a vertical, na posição em que o torpedo se encontra, conforme apresenta a 62 Figura 3. 17. A partir da medida deste ângulo, pode se determinar qual o tipo de movimento e onde ele ocorre com maior intensidade. INCLINÔMETRO (Dimensões em mm) TUBO DE ACESSO TORPEDO CALDA DE CIMENTO E BENTONITA B A A B SEÇÃO TUBO DE ACESSO 80 150 Figura 3. 17 - Esquema de leituras do inclinômetro (adaptado de GEO-RIO, 2000). Durante as leituras, foram utilizados dois instrumentos diferentes. Nas leituras de dezembro a fevereiro, foi utilizado o torpedo Geokon Model 6000 e a unidade leitora GK-603. Devido a problemas de sinal com a unidade leitora da Geokon causados pelo chorume, utilizou-se o torpedo digital EAN-25/2M, da empresa Encardio Rite e unidade leitora EDI-53 INS deste mesmo fabricante. A partir do momento que se utilizou um novo sistema de inclinômetro, optou-se em realizar uma nova leitura zero dos tubos inclinométricos. 63 3.3.1. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO 3.3.1.1.PERFURAÇÃO Foi empregado uma tipo de sonda para a execução da perfuração do solo e resíduos sólidos, com diâmetro de 150mm. A perfuração em lixo é de extrema dificuldade, sendo que os furos foram revestidos em toda a extensão com uso de pasta de bentonita. Após a conclusão da perfuração, o furo foi lavado com água limpa. 3.3.1.2.INSTALAÇÃO DOS TUBOS Os tubos de inclinômetro são de alumínio ranhurado com diâmetro nominal de 80 mm e em seções de 3 m de comprimento. Como acessórios de instalação, tem-se: luvas, tampas, massa plástica impermeabilizante para juntas, fita crepe e rebites. As emendas entre os tubos são realizadas com luvas de alumínio rebitadas (Figura 3. 18). Figura 3. 18 - Rebites nas emendas do tubo. Ainda, existe o procedimento de verificação e preparação dos tubos, quanto ao alinhamento das ranhuras e outros possíveis defeitos. Os tubos que apresentarem torção superior a 2 graus por metro linear (o que ocorre raramente) são rejeitados. No momento da instalação, as luvas são vedadas com massa plástica (ou silicone) e fita crepe (fita tape ou adesiva, conforme apresenta a Figura 3. 19) para evitar o ingresso de sujeira e colmatação do tubo. 64 Figura 3. 19 - Vedação das emendas do tubo. O tubo de acesso é instalado previamente no terreno através de furo com pelo menos 150 mm de diâmetro até uma profundidade tal que atravesse o campo de deslocamentos previstos para a obra. O furo foi estabilizado com revestimento no trecho em solo e com pasta de bentonita. A extremidade inferior do tubo deve ser localizada em região do terreno que não se deve deslocar. O tubo é orientado por ocasião da instalação de tal forma que as ranhuras concordem com os eixos principais da obra. As fases de instalação do tubo de acesso (Figura 3. 20) constam de: 1. Introdução do tubo de acesso no furo, mantendo o alinhamento das ranhuras conforme os eixos principais da obra; 2. Acoplamento dos segmentos de tubo, rebitando-os com no mínimo três linhas de rebites. O tubo é preenchido com água limpa para garantir a flutuação e evitar tensões nos rebites; 3. Preenchimento total do espaço anelar entre o tubo e as paredes do furo com calda de cimento-bentonita (no traço 1:10) que deve ser aplicada pelo método ascendente e através de mangueira de injeção; 4. Inserção da tampa de proteção. 65 TAMPA DE PROTEÇÃO CALDA DE CIMENTO E BENTONITA 1 2 3 4 Figura 3. 20 - Fases de instalação do tubo de acesso (adaptado de GEO-RIO, 2000). 3.3.2.PROCEDIMENTOS DE LEITURAS O monitoramento das leituras é realizado, a princípio, todos os dias, sendo em seguida adaptados os intervalos de tempo conforme a necessidade e ou existência de mudanças significativas. Quando a leitura acusar um novo movimento do aterro, o intervalo entre as leituras consecutivas vai diminuindo de acordo com a tendência do movimento (como ocorreu em alguns casos após precipitação intensa no local), e se o movimento diminuir de intensidade o intervalo de leituras aumenta novamente. 3.3.2.1.TORPEDO DE LEITURAS Os torpedos possuem corpo de aço inox do tipo deslizante, percorrendo o tubo de baixo para cima efetuando as leituras conforme indicado na Figura 3. 21. O sensor é guiado por rodas-guia auto-alinháveis que mantêm o instrumento posicionado no centro do tubo. Ambos sensores de inclinação são do tipo servo-acelerômetro biaxial. A distância entre rodinhas (L) é de 50 cm para ambos torpedos, correspondente à distância entre duas leituras consecutivas. 66 70 50 TORPEDO Figura 3. 21 – Foto e medidas do torpedo do inclinômetro (dimensões em cm). A seguir, as Tabelas 3. 4 e 3. 5 apresentam os dados dos fabricantes sobre as características de cada torpedo: Tabela 3. 4 - Características do torpedo Geokon Model 6000. Medidas limites Resolução Limite de temperatura: Distância entre rodinhas: ± 53° em relação a vertical; ± 0.025 mm/500 mm; 0 to 50° C; 500 mm; Dimensões 25 mm Ф x 700 mm longitudinal; 67 Tabela 3. 5 - Características do torpedo Torpedo EAN-25/2M. Medidas limites Resolução Limite de temperatura: Distância entre rodinhas: ± 30° em relação a vertical; ± 0.025 mm/500 mm; 0 to 80°C; 500 mm; Dimensões 32 mm Ф x 700 mm longitudinal; 3.3.2.2.UNIDADES DE LEITURA Foram empregadas duas unidades de leitura diferentes. Nos meses de dezembro a março, foi utilizada uma unidade leitora da empresa Geokon GK603 (Figura 3. 22-a). Já nos meses seguintes, foi utilizada uma unidade leitora da empresa Encardio Rite EDI53 (Figura 3. 22-b) ambas do tipo automático, sendo as leituras registradas na memória interna podendo ser transmitidas via cabo RS232 para um computador normal. (a) (b) Figura 3. 22 - (a) Unidade leitora Geokon GK603 e (b) unidade leitora Encardio Rite EDI-53. A Tabela 3. 6 e a Tabela 3. 7 descrevem as características técnicas de cada uma das unidades de leitura. 68 Tabela 3. 6 - Características da unidade leitora GK603. Faixa de entrada Resolução Acurácia Temperatura de operação ±10 V 1 parte em 40.000 ±0.15% F.S. 0°C to 50°C Tabela 3. 7 - Características da unidade leitora EDI-53 INS. Faixa de entrada Resolução Acurácia Temperatura de operação ±2V 1 parte em 64.000 ±0.15% F.S. 0 to 50° C 3.3.2.3.CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS O cálculo dos deslocamentos é simples e está apresentada na Figura 3. 23 e 3. 24 através da Equação (4): δ = L∑ sen θ h (4) Onde: δh é o a variação do deslocamento (na profundidade medida); L é o comprimento entre as rodas (geralmente de 0,50m) sen θ é o ângulo medido pelo inclinômetro (geralmente é dado em dígitos pela unidade leitora). 69 Figura 3. 23 - Vista interna dos deslocamentos dentro do tubo com o torpedo de inclinômetro (UFBA, acesso em janeiro de 2011). θ δh L m 4 3 2 1 δh Figura 3. 24 - Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). A Figura 3. 25 apresenta um resultado típico de inclinômetro em que se localizou a superfície de ruptura pela variação brusca das inclinações medidas em torno de 4m de profundidade. Para o caso do torpedo da Encardio Rite, só é necessário realizar a leitura uma vez, sendo que o sensor é biaxial. São realizadas uma leitura em A0 e uma em A180 com a finalidade de zerar o erro padrão. 70 Deflexão (mm) Variação das leituras -400 0 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 -10 0 1 1 2 2 3 Superfície de ruptura Profundidade (m) 4 -5 0 5 10 3 4 5 5 6 6 7 7 8 8 Figura 3. 25 - Resultados típicos de leituras e deslocamentos com o inclinômetro (GEORIO, 2000). 3.3.2.4.PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS O processamento e apresentação de resultados é realizado automaticamente em um computador através de software ou planilha Excel®, que importa os arquivos diretamente da unidade de leitura em arquivos .txt, verificando a qualidade dos dados e apresentando os resultados na tela do PC (Figura 3. 26). Foram utilizados primeiramente planilhas Excel® para após o software Gtilt® para apresentação dos resultados das leituras. 71 0 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12 13 13 Profundidade (m) 0 14 -500 0 500 1000 1500 14 19-01-99 25-01-99 02-02-99 04-02-99 05-02-99 10-02-99 18-02-99 03-03-99 0 30 60 90 120 150 Variação nas leituras (x10-4rad) Deslocamento horizontal (mm) 180 Figura 3. 26 - Exemplo de gráfico típico de apresentação de resultados e informações para o eixo A de deslocamento, apresentando a variação de leituras e o deslocamento acumulado (ORTIGÃO, 1999). No Brasil, não há registros de instalação de tubos inclinométricos diretamente na massa de resíduos, em aterros de RSU. Tal procedimento é criticado por diversos autores no mundo inteiro devido principalmente aos elevados deslocamentos laterais que ocorrem nos aterros de RSU, causando muitas vezes a perda de torpedos inclinométricos (MAHLER, 2010). Porém, verificou-se que a perda de torpedos pode ser evitada, simplesmente descendo primeiro no tubo inclinométrico o torpedo cego, que serve justamente para verificar se o tubo oferece condições de passagem para o torpedo que mede os deslocamentos. A Figura 3. 27 apresenta o autor da dissertação realizando leituras de inclinômetro. 72 Figura 3. 27 - Leituras dos deslocamentos sendo realizadas pelo autor desta dissertação. 3.4. MARCOS SUPERFICIAIS Foram instalados cinco marcos superficiais no aterro controlado com a função de auxiliar no monitoramento dos deslocamentos verticais do maciço de RSU. Conforme ilustrado na Figura 3. 28, o medidor de deslocamentos superficiais ou marco superficial consiste basicamente em um pino metálico, formado por uma haste de aço com diâmetro de 25mm e 25 cm de comprimento com cabeça esférica de 25mm de diâmetro, instalada em um bloco cúbico de concreto com aresta de 0,5m. 73 Figura 3. 28 – Detalhes do marco superficial usado. Uma vez que o pino metálico consiste na referência sobre a qual serão posicionadas a mira e a régua para nivelamento, colimação e poligonação do medidor de deslocamentos superficiais, este é executado de modo que o pino metálico fique centralizado na área do topo do bloco de concreto. Para instalação de um medidor de deslocamentos superficiais, executa-se uma trincheira trapezoidal a partir da superfície, com base inferior quadrada de 0,6m de lado, 0,55m de profundidade. Executa-se uma camada de regularização da superfície do fundo da trincheira de espessura de 5cm feita com argamassa. Executa-se o bloco de concreto contido por forma lateral e posiciona-se o pino metálico no centro do topo do bloco de concreto de modo que o topo espera fique 3cm acima do topo do bloco. Por ocorrência de movimentos de equipamentos de terraplenagem e/ou ocorrência de trânsito próximo ao instrumento, a caixa de proteção deverá ser cercada por uma grade de proteção bem visível à distância, tanto de noite como de dia. A Figura 3. 29 apresenta um dos marcos superficiais instalados no aterro. 74 Figura 3. 29 - Marco superficial 1 – MS-01 A instalação de marcos superficiais foi providenciada para contribuir no monitoramento dos recalques e deslocamentos horizontais do aterro. Tal instrumentação viabilizaria o ajuste de parâmetros de compressibilidade dos RSU, em modelos computacionais matemáticos. É importante ressaltar a periodicidade das leituras e cuidado na perda de tais equipamentos. Porém, conforme relatado no Capítulo 2, os marcos superficiais ainda não possuem periodicidade de medições recomendada, que seria diária ou no mínimo uma vez a cada 7 dias dependendo das condições de operação e movimentação do aterro. Somente foi apresentada a sua instalação e procedimento para leituras para que futuramente estes dados possam servir para ajustes no modelo matemático que será apresentado no Capítulo 4. 3.5. PLUVIÔMETROS Foram instalados dois pluviômetros no aterro. O pluviômetro digital (Figura 3. 30), por se tratar de um equipamento movido a energia de baterias, constantemente merecia manutenções. Logo, foi instalado no local um pluviômetro convencional, ville de Paris. 75 Figura 3. 30 - Foto do pluviômetro utilizado nas leituras pluviométricas. O pluviômetro digital com transmissão sem fio via rádio freqüência foi desenvolvido para controle da precipitação da água da chuva e possui as seguintes especificações, conforme a Tabela 3. 8. Tabela 3. 8 - Especificação técnica do pluviômetro digital instalado no aterro de RSU estudado. Indicação da quantidade de chuva total ou das últimas 24h Indicação de chuva fraca ou forte Função de alarme Escala de Resolução sim sim programável 0 a 1.000 mm 24H / 0 a 10.000mm total 1mm nas duas escalas O pluviômetro ville de Paris (Figura 3. 31) é produzido em plástico cristal e suporte em plástico, tem escala de graduação de 5 a 150 mm/m². As especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris seguem na Tabela 3. 9. 76 Figura 3. 31 - Foto do pluviômetro ville de Paris instalado próximo ao aterro. Tabela 3. 9 - Especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris instalado no aterro. Escala do Pluviômetro Divisão do Pluviômetro Dimensões Material Peso 5 a 150 mm/mm² 2mm 22x3cm Plástico 100g 77 3.6. ESTABILIDADE EM ATERROS DE RSU Os problemas da estabilidade são freqüentemente conseqüências do excesso de água no aterro de resíduos após grandes precipitações. Em combinação com outras condições de limite, a água é fator de colapso. A água ou o chorume que infiltra, causam saturação da massa de lixo que, conseqüentemente, influencia o peso específico, ocasionando aumento nas pressões hidrostáticas ou gerando excesso de poropressão que afetam a estabilidade do aterro. Ainda, a saturação dos vazios do aterro pode causar uma interação com o fluxo do gás desenvolvimento de pressão de gás pode aumentar, influenciando também na estabilidade do maciço. A análise de estabilidade de um aterro de RSU envolve além dos procedimentos convencionais de análises de estabilidade de taludes e/ou encostas, fatores como o “efeito fibra”, oriundos principalmente de sacolas plásticas, e ainda a influência das pressões de gases oriundos dos processos anaeróbicos dos resíduos. BORGATTO (2006) fez retro-análises do escorregamento ocorrido no Aterro Sanitário Bandeirantes considerando o efeito reforço das fibras a fim de, com a utilização do programa computacional GGU-Stability, e comparando os resultados chegou a fatores de segurança em torno de 20% maiores dos indicados nos relatórios do IPT. Por outro lado, o comportamento distinto das deformações e dos recalques do lixo conduz a uma consolidação mais rápida, e baixa a porosidade na parte inferior do aterro, o que pode causar um fluxo preferencial do lixiviado. O fluxo preferencial pode igualmente resultar das propriedades hidráulicas anisotrópicas do material, com a diferença em condutibilidades hidráulicas horizontais e verticais (MÜNNICH et al., 2006). As deformações elevadas ocorrem tanto na forma de recalques, assim como movimentos horizontais. Os escorregamentos em taludes são causados por uma redução da resistência interna do material constituinte (solo, RSU, etc.) que se opõe ao movimento da massa deslizante e/ou por um acréscimo das solicitações externas aplicadas ao maciço, geralmente causadas por mudança nas condições geométricas ou sobrecargas. BORGATTO (2006) relaciona as principais causas de instabilidades descritas a seguir: • Causas externas – ações externas que alteram o estado de tensão atuante sobre o maciço resultando num acréscimo de tensões cisalhantes que, 78 igualando ou superando a resistência ao cisalhamento, levam à ruptura. Podem ocorrer devido ao aumento da inclinação do talude, deposições de material ao longo da crista do talude, efeitos sísmicos, cortes no pé do talude, etc; • Causas internas – ações internas que atuam reduzindo a resistência ao cisalhamento, sem alterar visualmente a geometria do maciço. Podem ocorrer devido ao intemperismo/decomposição, erosão interna, ciclagem da poropressão, decréscimo da coesão aparente, etc; • Mudanças no regime hidráulico sub-superficial – ações que podem ocorrer na fundação do maciço devido à elevação do lençol freático, elevações do artesianismo, empuxo hidrostático da água preenchendo fendas verticais, etc. 3.6.1.ESTABILIDADE - TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE O objetivo da análise de estabilidade é avaliar a possibilidade de ocorrência de escorregamento de massa de solo ou resíduos presentes em talude natural ou construído. Em geral, as análises são realizadas comparando-se as tensões cisalhantes mobilizadas com resistência ao cisalhamento. Com isso, define-se um fator de segurança (FS) dado pela Equação (5): (5) Onde: FS = Fator de segurança, onde alcançando-se valores igual a 1,0 tem-se o limite da ruptura, acima de 1,0 considera-se o talude estável, e abaixo de 1,0 não possui significado físico; τf = Resistência ao cisalhamento oferecida pela base; τf = Resistência ao cisalhamento mobilizada pela sobrecarga ou carga. Por fator de segurança entende-se o valor numérico da relação estabelecida entre a resistência ao cisalhamento disponível do material e a resistência ao cisalhamento mobilizado para garantir o equilíbrio do corpo deslizante, sob o efeito dos esforços atuantes. 79 O método de análise por equilíbrio limite consiste na determinação do equilíbrio de uma massa ativa do material, a qual pode ser delimitada por uma superfície de ruptura circular, poligonal ou de outra geometria qualquer. O método assume que a ruptura se dá ao longo de uma superfície e que todos os elementos ao longo desta superfície atingem a condição de FS, simultaneamente. Como premissas básicas comuns aos métodos de cálculo de ruptura pelo equilíbrio limite têm-se que: − A ruptura se dá por um plano (análise bidimensional); − As forças externas são o peso próprio, as sobrecargas e a subpressão; − O problema é estático; − As leis da Mecânica dos Meios Contínuos se aplicam ao material; − A lei de Mohr-Coulomb aplica-se à ruptura (Equação 6): ! " #! $%& '! (6) Onde: τ é a máxima tensão cisalhante suportada pelo material no plano considerado em kN/m²; c’ é a coesão do material em kN/m² (no caso de resíduos, coesão aparente); σ’ é tensão normal efetiva do material no plano considerado em kN/m²; φ’ é o ângulo de atrito efetivo do material em °. − O coeficiente de segurança é constante ao longo da cunha (ou plano) de ruptura. Equilíbrio Limite é um método que visa determinar o grau de estabilidade a partir das dos seguintes procedimentos: i. Postula-se um mecanismo de ruptura; isto é, arbitra-se uma determinada superfície potencial de ruptura (circular, planar, etc.). O solo acima da superfície é considerado como corpo livre; ii. O equilíbrio é calculado pelas equações da estática: (ΣFv = 0, ΣFh = 0, ΣM = 0). O equilíbrio de forcas é feito subdividindo-se a massa de solo em fatias e analisando o equilíbrio de cada fatia, conforme a Figura 2. 28. 80 Figura 2. 28 - Seção de ruptura circular dividida em fatias (ORTIGÃO & SAYÃO, 2004). Onde: R – raio da superfície potencial de ruptura; bi – largura da base da fatia; Ei – Empuxo lateral a jusante; Ei+1 – Empuxo lateral a montante; Xi – Força de cisalhamento jusante; Xi+1 – Força de cisalhamento a montante; Ti – Força de cisalhamento na base da fatia; Ni – Força normal atuante na base da fatia; αi – Ângulo da base da fatia com a horizontal; li – Distância horizontal da lateral da fatia até o centróide da fatia; Wi – Peso do material da fatia. O método proposto por Bishop em 1955 utilizando nas análises de estabilidade neste estudo, aborda a análise da estabilidade de um talude utilizando a divisão da cunha de ruptura em diversas fatias. Considera-se neste método o equilíbrio de momento e de forças verticais. Este método é uma modificação do Método das Fatias, porém levando em conta as reações (em módulo, direção e sentido) entre as fatias adjacentes. 3.7. METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) O uso de computadores cada vez com maior desempenho, fez com que o uso do Método dos Elementos Finitos (MEF) fosse difundido na solução de projetos 81 complexos. A capacidade de simular diversas condições de contorno, incorporando diferentes etapas construtivas e modelos constitutivos diversos, tornou o MEF uma ferramenta útil para problemas geotécnicos, que muitas vezes apresentam alto grau de complexidade. Apesar de ter sido originalmente desenvolvido para análise de problemas estruturais, a teoria original do MEF foi modificada de forma a permitir a análise de situações envolvendo outros campos da engenharia. Na resolução de um problema pelo MEF são utilizadas as aproximações baseadas no método dos deslocamentos, método de equilíbrio e método misto. As incógnitas principais são os deslocamentos, no método dos deslocamentos, enquanto que no método de equilíbrio as incógnitas são as tensões. Já o método misto apresenta como incógnitas tanto os deslocamentos quanto as tensões. Programas de elementos finitos específicos para a Geotecnia têm sido desenvolvidos a fim de prever o comportamento dos solos. O uso em simulações de aterros de RSU são raros no Brasil. Estes programas conseguem realizar milhares de cálculos por segundo, permitindo minimizar certas simplificações utilizadas em cálculos convencionais, além de permitir a previsão e a reprodução do comportamento do solo/estrutura das obras. A análise numérica tem como vantagem a determinação dos deslocamentos totais, verticais e horizontais, servindo de elementos de comparação de dados de instrumentação instalada no aterro, além de retroanálises de seu comportamento. Neste trabalho optou-se pela utilização do programa de elementos finitos Plaxis 9.0®. O programa Plaxis 9.0® apresenta uma interface gráfica, de ambiente Windows, amigável. Como dados de entrada para o programa, desenha-se a geometria do seu problema, são definidas as condições de contorno, posição do nível d´água, é selecionado o tipo de material para cada item, o modelo constitutivo de cada tipo de solo e define-se o tipo de análise a ser realizada – Axissimétrica ou plana de deformação. O programa Plaxis9.0® permite simular a construção da obra em etapas, ou seja, simulou-se a operação das fases projetadas do aterro de RSU, definindo o tempo utilizado para cada etapa (estágio de carregamento) conforme estudo desenvolvido para adequação ambiental e o “as built” do aterro, além da possibilidade da criação de intervalos entre as diversas etapas de construção. 82 Em todos os casos, o aterro foi considerado como sendo infinito, sendo constituído de camadas de lixo antigo e lixo fresco. Foram simulados os recalques primários da camada de lixo fresco, a partir de execução das células de 5m de altura. A malha de elementos finitos é gerada automaticamente pelo programa, com elementos triangulares, optando-se por elementos de 6 ou 15 nós. A malha pode ser refinada globalmente ou em locais específicos a serem definidos. O programa Plaxis9.0 ® possui 6 modelos constitutivos que governam o comportamento do material – Mohr-Coulomb, Jointed Rock, Hardening Soil, Soft Soil Creep, Soft Soil e Linear-Elástico. Os modelos constitutivos necessitam de diferentes parâmetros e dados de entrada. Optou-se neste trabalho, face os dados disponíveis e tipo de problema, o uso de somente um modelo para a representação dos materiais – o MohrCoulomb. O modelo constitutivo Mohr-Coulomb é um modelo elástico perfeitamente plástico, empregado para representar a ruptura por cisalhamento de solos e rochas. O modelo Mohr-Coulomb é assim classificado devido à hipótese de que o material comporta-se como linear elástico até atingir a ruptura, não havendo endurecimento devido ao fluxo plástico, ou seja, a superfície de plastificação é fixa. Portanto, o material apresenta um comportamento linear elástico até atingir uma determinada tensão de escoamento, que se mantém constante com o acréscimo de deformações plásticas. Os principais parâmetros geotécnicos necessários como dados de entrada para este modelo são: φ´ – ângulo de atrito efetivo (°); c’ – coesão (kPa) – no caso de lixo, coesão aparente; E – Módulo de estasticidade (MPa); kx – Permeabilidade horizontal (cm/s); ky – Permeabilidade vertical (cm/s); γsat – Peso Específico saturado (kN/m³); γd – Peso Específico seco (kN/m³); k0 – Coeficiente de empuxo no repouso (kN/m³); ν – Coeficiente de Poisson. As análises visarem comparar parâmetros da literatura com alguns parâmetros adotados, simulando os deslocamentos encontrados pelos inclinômetros e as etapas de construção do aterro. Nas etapas de construção é possível o uso das opções de 83 atualização das poropressões e da malha de elementos finitos. A atualização da malha é recomendada em situações em que se prevê a ocorrência de grandes deformações (como no caso de aterros de RSU). A matriz de rigidez é atualizada com base na geometria deformada da etapa. A opção de atualização das poropressões foi utilizada a fim de se introduzir o efeito da submersão dos materiais, o que resulta, normalmente, em uma redução da tensão efetiva atuante nas camadas compressíveis de RSU. Para a obtenção dos deslocamentos de um ponto específico a ser estudado na análise numérica, optou-se no programa pela seleção de um ou mais pontos específicos a fim de se determinar deslocamentos, poropressões ou tensões atuantes ao longo da construção do aterro, tendo como saída um gráfico ou uma tabela com os valores obtidos. As malhas de elementos finitos foram constituídas por elementos triangulares de 15 nós. Os contornos laterais foram considerados indeslocáveis horizontalmente e a base indeslocável vertical e horizontalmente. Ressalte-se que as dimensões da malha foram suficientes para evitar a influência dos contornos na magnitude dos deslocamentos previstos. Todas as análises foram executadas sob estado de deformação plana. O cálculo das etapas construtivas do aterro foi realizado pelo programa Plaxis 9.0®, através da opção de cálculo denominada Plastic Analysis, com atualização da malha e das poropressões em cada etapa. O processo de cálculo foi dividido em fases, permitindo a ativação de um estágio de carregamento aproximadamente como foi à execução dos resíduos mais frescos, com células de 5m distribuídas em 12 etapas distintas durante o período aproximado de 5 anos aproximadamente. 84 CAPÍTULO 4 4. RESULTADOS Neste capítulo, são apresentados os resultados das leituras da instrumentação do aterro durante o período de 10 meses. São também discutidas as análises de estabilidade do aterro de RSU. Observou-se que nas análises de estabilidade desenvolvidas segundo estudos iniciais, que os dados utilizados foram conservadores, principalmente no que diz respeito a parâmetros de poropressão (ru) utilizados. Dentre as diversas análises de estabilidade, ainda são discutidas as retro-análises de dois meses (dezembro 2009 e abril de 2010) com elevadas pluviometrias duas rupturas de porte significativo, registrando movimentos bruscos através dos inclinômetros. Foi também realizada a retro-análise de deslocamentos horizontais utilizando o Método dos Elementos Finitos na seção principal de instrumentação do aterro, visando ajustar parâmetros comparando os deslocamentos horizontais encontrados no modelo matemático com os dados de deslocamentos horizontais de inclinômetro. 4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO 4.1.1.RESULTADO DAS LEITURAS – PIEZÔMETROS SIFÃO Conforme descrito anteriormente, os piezômetros sifão instalados nesta obra são constituídos de dois tubos concêntricos, o interno para o registro das variações piezométricas no chorume (“câmara piezométrica”) e o externo para a avaliação da pressão de gás (“câmara de pressão de gás”). 4.1.1.1.COTAS PIEZOMÉTRICAS A Figura 4. 1 apresenta o gráfico das variações de leitura para todo o período acompanhado de mais de 10 meses. 85 130 Cota Piezométrica (m) 125 120 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 115 110 105 100 95 04/09/2009 19/10/2009 03/12/2009 17/01/2010 03/03/2010 17/04/2010 01/06/2010 Data Figura 4. 1 - Variações das cotas piezométricas para o período de acompanhamento do aterro. Durante o acompanhamento, foram observadas as quebras de 3 equipamentos. O primeiro piezômetro comprometido foi durante a operação do aterro, o PZ05 onde houve ruptura do tubo após intensas passagens de caminhões de lixo próximos ao instrumento. Durante tentativa de recuperar o instrumento, houve ocorrência de chuvas torrenciais e o equipamento foi perdido devido inundação do local. Nota-se que no gráfico acima há variações bruscas em algumas leituras. No piezômetro PZ02, por exemplo, nota-se que as leituras variaram muito no período de abril. Neste período observou-se a quebra do equipamento, logo após deslizamento de um talude a montante do instrumento. No mesmo período, o PZ01 foi soterrado pela ruptura do mesmo talude. No mês de junho, apenas dois piezômetros estavam funcionando no monitoramento de todo o aterro (PZ03 e PZ04). 4.1.1.2.PRESSÕES DE GÁS A Figura 4. 2 apresenta o gráfico das variações de leitura para todo o período acompanhado de mais de 10 meses. 86 60 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 Pressão de gás (kPa) 50 40 30 20 10 0 04/09/2009 19/10/2009 03/12/2009 17/01/2010 03/03/2010 Data 17/04/2010 01/06/2010 Figura 4. 2 - Leituras da pressão de gás para o período analisado. Nota-se que o piezômetro PZ03 apresentou maiores variações durante o período de monitoramento do aterro. Após período de chuvas de abril, o PZ03 apresentou queda brusca nas leituras. Suspeita-se que o tubo tenha desencaixado, já que houve indícios de movimentação registrados em torno de 6m de profundidade, fazendo inclusive com que o medidor de nível d’água não passasse mais em torno de 6m de profundidade. O sistema de drenagem de gases existente constitui-se basicamente em colunas de tubos justapostos de concreto perfurados, apoiados, em grande parte, no sistema interno existente de drenagem de chorume, que é composto de drenos de brita. Ainda, em nenhum dos drenos foi verificado o reaproveitamento ou queima do biogás. É de se destacar que, considerando que a composição do biogás encontrada em aterros no Brasil é de aproximadamente 55% de metano (CH4), 40% de gás carbônico (CO2) e 5% de nitrogênio (N2) e outros gases, sendo o gás metano quase 21 vezes mais danoso que o dióxido de carbono em termos de efeito estufa, queimar o biogás na saída dos drenos é uma alternativa que se recomenda, quando não há aproveitamento energético, esperando-se com a queima reduzir-se em, aproximadamente, 20% a emissão de gás metano para a atmosfera. 87 4.1.1.RESULTADO DAS LEITURAS – INCLINÔMETROS Os resultados foram processados em planilhas Excel® e no software G-Tilt® e plotados versus profundidade. Os gráficos seguintes apresentam os resultados para cada instrumento. As direções das ranhuras A e B são determinadas em função da tendência de movimento. A direção A+ sempre será a direção provável de deslocamentos principais, ou seja, neste caso a ranhura que aponta perpendicular à jusante do talude, conforme mostra a Figura 4. 3. Seção principal de instrumentação Seção secundária de instrumentação Figura 4. 3 - Direção das ranhuras A e B dos tubos de inclinômetro do aterro de RSU estudado. Cada leitura fornece os deslocamentos em milímetros plotados em função da profundidade nas direções A e B. As Figuras 4. 4 a 4. 7 apresentam os gráficos de deslocamentos nos eixos A e B durante o período de 10 meses. 88 -500 0 Deflection (mm) -250 0 250 500 0 LEGEND Initial 2 mar2010 3 mar2010 -2 4 mar2010 14 abr2010 -4 15 abr2010 16 abr2010 -6 19 abr2010 20 abr2010 -8 22 abr2010 26 abr2010 21 mai2010 -10 25 mai2010 26 mai2010 -12 27 mai2010 28 mai2010 Elev.-14 31 mai2010 (m) -16 10 jun2010 11 jun2010 -18 14 jun2010 15 jun2010 -20 16 jun2010 17 jun2010 -22 21 jun2010 25 jun2010 28 jun2010 -24 29 jun2010 30 jun2010 -26 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 Elev. (m) -16 -14 -18 -18 -20 -20 -22 -22 -24 -24 -26 -26 -28 -28 Ref. Elevation m -30 -16 -30 -500 -250 0 250 Cumulative Deflection Direction A 500 -500 0 Deflection (mm) -250 0 250 500 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14 -16 -18 -20 -22 -24 -26 -28 -28 -30 -30 -500 -250 0 250 Cumulative Deflection Direction B 500 Figura 4. 4 - Gráfico de leituras do IN01 na direção A e B. 89 -50 0 Deflection (mm) -25 0 25 50 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 Elev. (m) -16 -14 -18 -18 -16 -20 -20 -22 -22 -24 -24 -26 -28 -30 -50 -25 0 25 Cumulative Deflection Direction A -50 0 LEGEND Initial 30 abr2010 -2 3 mai2010 4 mai2010 -4 5 mai2010 6 mai2010 -6 7 mai2010 21 mai2010 -8 25 mai2010 26 mai2010 -10 27 mai2010 -12 28 mai2010 31 mai2010 -14 10 jun2010 Elev. (m) 11 jun2010 -16 14 jun2010 -18 15 jun2010 16 jun2010 17 jun2010 18 jun2010 21 jun2010 25 jun2010 Deflection (mm) -25 0 25 50 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14 -16 -18 -20 -20 -22 -22 -24 -24 -26 -26 -26 -28 Ref. Elevation m -30 -28 -28 -30 -30 50 -50 -25 0 25 Cumulative Deflection Direction B 50 Figura 4. 5 - Gráfico de leituras do IN02 na direção A e B. 90 -15 0 Deflection (mm) -7,5 0 7,5 15 0 -15 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 Elev. (m) -16 -14 -18 -18 -20 -20 -22 -22 -24 -24 -26 -26 -28 -28 LEGEND Initial 2 mar2010 3 mar2010 -2 4 mar2010 5 mar2010 -4 8 mar2010 9 mar2010 -6 10 mar2010 11 mar2010 -8 16 mar2010 19 mar2010 29 abr2010 -10 3 mai2010 4 mai2010 -12 5 mai2010 6 mai2010 -14 Elev. 7 mai2010 (m) 21 mai2010 -16 10 jun2010 11 jun2010 -18 14 jun2010 15 jun2010 -20 16 jun2010 17 jun2010 -22 18 jun2010 21 jun2010 -24 25 jun2010 28 jun2010 -26 29 jun2010 30 jun2010 -28 -30 -30 -30 -15 -16 -7,5 0 7,5 Cumulative Deflection Direction A 15 -15 Deflection (mm) -7,5 0 7,5 15 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14 -16 -18 -20 -22 -24 -26 -28 -30 -7,5 0 7,5 Cumulative Deflection Direction B 15 Figura 4. 6 - Gráfico de leituras do IN03 na direção A e B. 91 -300 0 Deflection (mm) -150 0 150 300 0 -300 0 Deflection (mm) -150 0 150 300 0 -12 LEGEND Initial 29 abr2010 3 mai2010 -2 -2 4 mai2010 5 mai2010 6 mai2010 -4 -4 7 mai2010 21 mai2010 10 jun2010 -6 -6 11 jun2010 14 jun2010 -8 -8 15 jun2010 16 jun2010 Elev. 21 jun2010 (m) -10 -10 25 jun2010 28 jun2010 29 jun2010 -12 -12 -14 -14 -14 -14 -16 -16 -16 -16 -18 -18 -18 -18 -2 -4 -6 -8 Elev. (m) -10 -300 -150 0 150 Cumulative Deflection Direction A 300 Ref. Elevation m -300 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -150 0 150 Cumulative Deflection Direction B 300 Figura 4. 7 - Gráfico de leituras do IN04 na direção A e B. Nos gráficos, é possível notar deslocamentos acumulados de mais de 600mm, com é o caso do inclinômetro IN01. Grande parte deste deslocamento foi registrado após grande período chuvoso do mês de abril, com registro de mais de 270mm de precipitação em menos de 12h de chuva intensa. Ainda, nos gráficos nota-se que não estão registrados todas as leituras. Porém, a leitura inicial que se tem é do início do mês de março, após troca de inclinômetro. 4.1.2.RESULTADO DAS LEITURAS – PLUVIÔMETROS Durante o período monitorado, registraram mais de 926mm de chuva, durante o período de dezembro de 2009 a junho de 2010. A maior chuva torrencial registrada foi em abril, onde no dia 09 choveu 274mm em menos de 12h. A Figura 4. 8 mostra o gráfico de precipitações para o período observado. 92 300 Precipitação (mm/dia) 250 200 150 100 50 0 03/12/2009 03/01/2010 03/02/2010 03/03/2010 03/04/2010 Data 03/05/2010 03/06/2010 Figura 4. 8 - Precipitação registrada durante o monitorado no aterro. 4.2. ANÁLISES DE ESTABILIDADE Tratando-se de estabilidade de taludes, a água é um dos fatores mais importantes. Na natureza a água pode apresentar pressão positiva ou negativa e estar em movimento ou não (hidrostática) sob condição de fluxo. A influência da água na estabilidade pode ser atribuída a: • Mudança nas poropressões, alterando a tensão efetiva, conseqüentemente, a resistência ao cisalhamento dos RSU; • Variando o peso da massa, em função de mudanças no peso especifico (influenciando o valor do parâmetro de poropressão - ru); • Desenvolvimento de fluxo, gerando erosões internas (piping) e/ou externas na massa de RSU, além das forças de percolação. Do volume de água que cai na superfície do aterro, parte se infiltra, outra evapora e parte flui superficialmente (runoff) ou fica retido em depressões superficiais. Frente a sobrecargas, o maciço saturado tende a ter comportamento não-drenado, ocasionando excessos de poropressão que diminuem a resistência ao cisalhamento do aterro. O aumento da cota piezométrica eleva também o parâmetros de poropressão (ru) a ser considerado nas análises de estabilidade. 93 A Figura 4. 9 apresenta um exemplo de leitura piezométrica, onde o h p é a altura piezométrica medida pelo indicador de nível d’água (“piu” elétrico), seguido do cálculo do ru. NT NA γ Figura 4. 9- Representação do cálculo do ru. O parâmetro de poropressão (ru), definido pela relação entre poropressão e tensão vertical, expressa pela Equação (7): )* * * +., (7) Onde: u = poropressão medida (kPa); γ = peso específico dos RSU (kN/m³); h = altura de lixo acima de onde está se medindo a poropressão (m). A Tabela 4. 1 apresenta os valores de ru calculados para cada piezômetro no mês de dezembro 2009, tendo-se adotado para os RSU o peso específico de 11kN/m³: 94 Tabela 4. 1 - Valores de ru de campo para o mês de dezembro de 2009 Piezôme tro PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 u (kPa) 40,00 52,80 87,30 74,50 106,40 h (m) 20,40 23,36 18,96 18,83 17,44 σv (kPa) 224,40 256,96 208,56 207,13 191,84 ru 0,18 0,21 0,42 0,36 0,55 Avaliando os valores encontrados, notou-se que os parâmetros utilizados em estudos anteriores no aterro foram demasiados conservadores, no que diz respeito principalmente a valores de parâmetros de poropressão, que haviam sido tomados como críticos com ru = 0,4. Na Figura 4. 10 é apresentada a superfície crítica com ru = 0,4 e o FS=1,021 em estudos anteriores. ru lixo fresco = ru lixo antigo = 0,4 Figura 4. 10 - Seção principal de instrumentação analisada, segundo estudos anteriores, utilizando um ru de 0,4 com Método de Bishop Simplificado no software GEOSLOPE 2004. Decidiu-se primeiramente avaliar a estabilidade do aterro de RSU, utilizando os parâmetros de poropressão in situ, medidos com o auxilio dos piezômetros. Vale lembrar que as medidas estimadas de ru são pontuais e neste estudo foram extrapoladas para as camadas inteiras de resíduos. Em todas as análises de estabilidade foi empregados o Método de Equilíbrio Limite (Bishop Simplificado), sendo que as simulações foram realizadas com o programa SLIDE5.0 da Rocscience. Foram analisadas duas seções geotécnicas, a 95 seção principal e secundária de instrumentação. Em todas as análises, para o terreno natural de fundação, foram considerados parâmetros efetivos com condição drenada de carregamento. Conforme dados da Figura 4. 10 Figura 4. 10 os parâmetros adotados em estudos anteriores para analisar a estabilidade são os apresentados na Tabela 4. 2. Tabela 4. 2 - Parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores γ (kN/m³) Lixo fresco 11 Lixo antigo 11 Solo natural de fundação 18 Resíduos de construção 20 Material c' (kPa) 30 30 20 0 φ' (°) 20 20 35 38 Para a seção principal, adotou-se um ru de 0,42 e para a seção secundária um ru de 0,55, conforme apresentado Tabela 4. 1, segundo dados de piezometria de campo para o mês de dezembro de 2009. Considerou-se que o nível de água NA, se encontra próximo a superfície de lixo antigo, sendo assim, o lixo fresco apresenta valores de ru igual a zero . Ainda, foram analisadas duas situações. A topografia do mês de dezembro de 2009 segundo topografia levantada pela empresa responsável e a topografia do prevista para o encerramento determinada no estudo de adequação ambiental do antigo lixão. Os resultados encontrados são apresentados nas Figuras 4.11 a 4. 14. Já a apresenta o resumo dos resultados encontrados nas análises. 96 ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,42 Figura 4. 11 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,42 Figura 4. 12 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando com ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. 97 ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,55 Figura 4. 13 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo indicado pelo PZ05 de 0,55. ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,55 Figura 4. 14 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ05 de 0,55. 98 Tabela 4. 3 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados segundo estudos anteriores Seção Topografia Topografia dezembro Topografia final Topografia dezembro Secundária Topografia final Principal r u (mês de dezembro) 0,42 0,42 0,55 0,55 FS 1,46 1,14 1,60 1,30 Conforme se observa nas análises de estabilidade, a seção principal possui dois pontos críticos de instabilidade. Um deles é junto ao dique de contenção de resíduos inertes composto de sobras de construção civil e demolição, o que não representa a realidade. Segundo análises com os parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores, o talude de resíduos inertes já haveria rompido o que não corresponde à realidade do dique, pois o mesmo é constituído de matacões de mais de 5m de diâmetro e aparentemente apresenta-se estável. Os valores encontrados para os Fatores de Segurança para a topografia estimada do estudo para adequação ambiental e de encerramento foram em torno de 14% maiores dos que os encontrados em estudos anteriores, mesmo considerando parâmetros de poropressão maiores dos que os utilizados nos estudos anteriores. O fato pode ser explicado devido à não consideração do parâmetro de poropressão na camada de RSU fresco, o que é natural, já que os RSU mais frescos encontram-se menos compactados e menos saturados que os resíduos antigos. Desta forma, os RSU mais frescos tendem a desenvolver menos excessos de poropressão frente às sobrecargas. 4.3. RETRO-ANÁLISES DE ESTABILIDADE – MÊS DE DEZEMBRO Durante o final do mês de dezembro de 2009 foram registradas chuvas intensas. Além disso, devido à época do ano, as cargas de lixo aumentaram muito, devido às festas de fim de ano. Neste período, estes e demais fatores ocasionaram numa ruptura local, próxima à seção secundária de instrumentação. Serão discutidas as leituras da instrumentação e após a retro-análise de estabilidade do local, juntamente com observações em campo e descrição das leituras da instrumentação instalada no aterro. 99 4.3.1.LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO 4.3.1.1.PIEZÔMETROS SIFÃO - COTAS PIEZOMÉTRICAS Referente aos gráficos das cotas piezométricas (Figura 4. 15) nota-se que houve variações de níveis de chorume no PZ05, local este que estava em constante sobrecarga devido à operação do aterro. A variação das leituras piezométricas será discutida adiante, juntamente com a retro-análise de estabilidade. 120 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 Cota Piezométrica (m) 115 110 105 100 95 01/12/2009 06/12/2009 11/12/2009 16/12/2009 Data 21/12/2009 26/12/2009 31/12/2009 Figura 4. 15 - Gráfico das variações das cotas piezométricas para o mês de dezembro de 2009. Nota-se que não houve leituras nos piezômetros PZ01 e PZ02 no período de 04/12 até 31/12 por motivo de que os dois instrumentos estarem com a boca do tubo muito alta em relação à cota do terreno não sendo possível realizar a medição. O fato se deve a condições de operação do aterro, onde houve preocupação em deixar a boca do tubo fora do maciço de lixo que vinha avançando em direção aos tubos. 4.3.1.2.PIEZÔMETROS SIFÃO - PRESSÕES DE GÁS As leituras de pressão de gás são realizadas com a instalação do manômetro na válvula adaptada a câmara, com a posterior abertura da válvula. 100 A Figura 4. 16 apresenta as variações das leituras de pressão de gás para o mês de dezembro de 2009. 80 70 Pressão de gás (kPa) 60 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 50 40 30 20 10 0 01/12/2009 06/12/2009 11/12/2009 16/12/2009 21/12/2009 26/12/2009 31/12/2009 Data Figura 4. 16 - Leituras da pressão de gás para o mês de dezembro de 2009. De acordo com o gráfico da Figura 4. 16, observa-se que somente alguns piezômetros (PZ01 e PZ03) apresentam leituras de gás diferente de zero. A leitura do PZ03 (entorno de 50kPa) foi inspecionada durante visita de inspeção nos dias 12 e 13 de janeiro de 2010, e constatou-se que a pressão da mesma não deve se tratar de um bolsão, sendo que a pressão medida cai em poucos segundos para 10kPa. 4.3.1.3. INCLINÔMETROS Os deslocamentos versus profundidade são apresentados acompanhados pelo denominado cone de incerteza (0,2mm/m). Este cone corresponde à incerteza do sistema, inerente à qualquer inclinômetro, e auxilia a identificar pequenas tendências de movimentações. Os gráficos dentro do cone indicam que não ocorreram deslocamentos significativos, ou que foram inferiores ao limite de acurácia do instrumento. Nas Figuras 4. 17 a 4. 20 são apresentadas as leituras registradas para o mês de dezembro de 2009, em termos dos gráficos de deslocamento para cada eixo de leitura. 101 Eixo A Eixo B 0 0 5 10 Cone de Acurácia 07/12/2009 15 09/12/2009 11/12/2009 14/12/2009 20 17/12/2009 21/11/2009 Profundidade (m) . Profundidade (m) . 5 10 15 20 23/12/2009 25 25 27/12/2009 29/12/2009 Figura 1 Gráfico de leituras do IN01 30 -20 0 Deslocamento (mm) 30 20 -20 0 Deslocamento (mm) 20 Figura 4. 17 - Gráfico de leituras do IN01 Eixo B 0 0 5 5 10 Cone de Acurácia 07/12/2009 09/12/2009 15 11/12/2009 14/12/2009 20 17/12/2009 Profundidade (m) . Profundidade (m) . Eixo A 10 15 20 21/11/2009 23/12/2009 25 27/12/2009 25 29/12/2009 -20 0 Deslocamento (mm) 20 -20 0 Deslocamento (mm) 20 Figura 4. 18 - Gráfico de leituras do IN02. 102 Eixo B 0 0 5 5 10 Cone de Acurácia 08/12/2009 15 10/12/2009 14/12/2009 16/12/2009 20 18/12/2009 Profundidade (m) . Profundidade (m) . EixoA 10 15 20 22/11/2009 28/12/2009 25 25 30/12/2009 -10 0 10 Deslocamento (mm) -20 20 0 Deslocamento (mm) Figura 4. 19 - Gráfico de leituras do IN03. Eixo B 0 0 2 2 4 4 6 Profundidade (m) . Profundidade (m) . Eixo A 6 Cone de Acurácia 08/12/2009 8 10/12/2009 10 14/12/2009 16/12/2009 12 18/12/2009 22/11/2009 14 8 10 12 14 28/12/2009 30/12/2009 16 16 Figura 1 Gráfico de leituras do IN04 -10 0 Deslocamento (mm) 10 -10 0 Deslocamento (mm) 10 Figura 4. 20 - Gráfico de leituras do IN04. 103 20 Segundo as leituras de inclinômetro do período do mês de dezembro de 2009, nota-se que somente um dos equipamentos registrou deslocamentos significativos (IN03 com 13mm na direção A+), porém são considerados deprezíveis, ao lembrar que deslocamentos horizontais em aterros de RSU chegam a centímetros ou até mesmo metros de deslocamento sem haver rupturas. 4.3.1.4. PLUVIÔMETROS Os registros indicam um total de 201mm de precipitação para o mês de dezembro de 2009 (Figura 4. 21), sendo os maiores índices registrados nos dias 05 e 31 de dezembro, com registros de 33 e 27mm, respectivamente. 35 30 Precipitação (mm/dia) 25 20 15 10 5 0 Data Figura 4. 21 - Índices de precipitação registrados no mês de dezembro de 2009. 4.3.2.VISITAS DE CAMPO Durante as visitas de campo no início do mês de janeiro de 2010, foram observados problemas de estabilidade próximo a seção secundária de instrumentação, onde ocorreu no final do ano de 2009 uma ruptura. A seção principal aparentemente apresentava-se estável e as leituras de instrumentação não apresentavam movimentações significativas. 104 4.3.2.1.OBSERVAÇÕES A Figura 4. 22 apresenta o local da ruptura e das trincas, sendo as duas localizadas próximas à seção secundária de instrumentação. Seção principal de instrumentação Seção secundária de instrumentação Localização das trincas (extensão aproximada de 50m) Local da ruptura Figura 4. 22 - Localização da ruptura interna e localização aproximada da trinca. Já a Figura 4. 23 apresenta a seção principal de instrumentação. Figura 4. 23 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção principal do aterro. 105 Na Figura 4. 24 se apresenta a seção transversal secundária de instrumentação do aterro com a topografia de dezembro de 2009. Figura 4. 24 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção secundária de instrumentação do aterro. As fotos nas Figuras 4. 25 e 4. 26 mostram a ruptura sob diferentes ângulos. 106 Figura 4. 25 - Ruptura ocorrida no final do ano de 2009 (em vermelho). ESCALA (CATADOR ) Figura 4. 26 - Ruptura ocorrida e “lixo” obstruindo a pista de acesso (em vermelho). 107 A respeito da ruptura no talude, observou-se que: 1. Trata-se de ruptura de um dos taludes, sendo este muito íngreme (inclinação maior que 50°) e com altura elevada (em torno de 12m); 2. A obstrução da drenagem próxima ao local provavelmente colaborou para a ruptura, sendo que, durante uma visita, observou-se surgência constante de chorume na crista do talude e sistema de drenagem obstruído. Estes fatores, aliados a fortes índices de precipitação registrados no final do mês de dezembro de 2009 (ver Figura 4. 21) levaram a instabilização do talude, deflagrando a ruptura no local. 3. Além disso, o aumento das cargas de resíduos no final de ano pode ter colaborado para a ruptura local. Ou seja, não há tempo suficiente para o material se “acomodar”, ficando grandes vazios entre os resíduos. Os vazios colaboram para a instabilidade do aterro em geral. A sobrecarga ocasiona o aumento do valor de ru (parâmetro de poropressão) o que foi constatado pelo PZ05 (conforme Tabela 4. 1); 4. A alta permeabilidade do material de cobertura permitiu que muita água entrasse nas células do aterro, podendo ter provocado o fenômeno conhecido por “piping” (ou erosão interna); 5. A falta de material de cobertura adequado, combinado com a morfologia do terreno natural colaborou com o acumulo de água próximo ao local do PZ04 e PZ05; 6. As leituras de pressão de gás e níveis piezométricos do PZ05 (Figuras 4. 15 e 4. 16 respectivamente) mostram variações nas leituras nos dias 15 e 28/12 que são os períodos pós chuvas intensas (ou durante as mesmas) conforme pode ser visto na Figura 4. 21. O piezômetro PZ05 se localiza à montante do local onde houve uma obstrução do sistema de drenagem o que também pode ter contribuído para a as variações de poropressão e de gás. A visita a campo flagrou o comprometimento do sistema de drenagem, onde foi possível notar o acúmulo de lixiviado na berma a montante do PZ05. Em relação às leituras de gás, a alta permeabilidade do material de cobertura colabora para entrada de oxigênio nos vazios dos resíduos e reação aeróbica nas camadas superiores do aterro. No verão, período de chuvas intensas, as reações anaeróbicas são estimadas 108 com produção de CH4 (gás metano) e H2S (gás sulfídrico) frutos da degradação da matéria orgânica; A respeito das trincas no platô no aterro, observou-se que: 1. A trinca possuia aproximadamente 50m de comprimento, localizando-se paralela a crista do talude; 2. Possuia desnível de até aproximadamente 0,50m, e parecia estável (ver Figuras 2. 27 e 4. 28); 3. A trinca favorece a saturação dos resíduos no talude. Ainda, favorece a ocorrência de um fenômeno conhecido por “piping”; 4. O PZ04, a jusante do talude, apresenta sinais de movimentações horizontais a 6m de profundidade a partir da boca do tubo. Este fato foi comprovado no dia 12 de janeiro de 2010, após um técnico de campo não conseguir utilizar o equipamento de medição da marca Encardio (de maior comprimento e espessura). Ainda, a leitura dos inclinômetros IN03 e IN04 mostra tendências de movimentações na direção positiva do eixo A, nesta mesma profundidade. 109 Figura 4. 27 - Foto da trinca no platô do aterro. Figura 4. 28 - Foto da mesma trinca. 5. A trinca observada parece mais se tratar de uma acomodação de resíduos frescos depositados no talude de lixo antigo, formando uma espécie de 110 degrau após o adensamento dos resíduos frescos. Porém, tal acomodação pode ter colaborado para que o talude a jusante fosse instabilizado. 4.3.3.RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE – DEZEMBRO 2009 Conforme discutido no Capítulo 2, observa-se que os parâmetros dos RSU possuem ligação direta com diversos fatores que são influenciados principalmente na composição gravimétrica dos resíduos. Optou-se em retro-analisar o caso de ruptura considerando valores da literatura. Adotou-se para peso específico o valor de 11 kN/m³, o mesmo utilizado em estudos anteriores. Conforme discutido também no Capítulo 2, há grande dispersão de valores de parâmetros de resistência ao cisalhamento descritos na literatura. A Tabela 2. 6 apresentou diversos resultados de ensaios realizados em RSU no mundo. Optou-se em considerar o parâmetro de poropressão na camada de RSU fresco também, devido à extrema saturação do maciço. Além disso, as chuvas começaram no no dia 27/12 com maior intensidade na noite do dia 31/12, sendo que as leituras piezométricas só foram realizadas no dia 31/12 na parte da tarde. Decidiu-se então, não utilizar os valores de ru calculados em função da instrumentação, e sim variar este parâmetro até atingir o limite crítico de estabilidade do talude (FS=1,0), para reproduzir a ruptura ocorrida na noite do dia 31/12. De acordo com a retro-análise da ruptura localizada próxima a seção secundária de instrumentação, chegou-se aos valores da Tabela 4. 4, com ru=0,7 Tabela 4. 4 - Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade deste estudo. γ (kN/m³) Lixo fresco 11 Lixo antigo 11 Solo natural de fundação 18 Resíduos de construção 20 Material c' (kPa) 15 40 20 20 φ' (°) 27 25 35 38 A Figura 4. 29 apresenta a retro-analise realizada no talude da seção secundária de instrumentação (FS=1,01). 111 ru lixo fresco = 0,7 ru lixo antigo = 0,7 Figura 4. 29 - Retro-análise da ruptura localizada próximo a seção secundária de instrumentação, considerando ru=0,7 em todo o RSU. As Figuras 4. 30 a 4. 33 apresentam os resultados para a topografia do mês de dezembro de 2009 e para a topografia prevista para o encerramento para as seções principal e secundária de instrumentação, com valores de ru medidos para o mês de dezembro de 2009 no lixo velho e ru=0 no lixo fresco. 112 ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,42 Figura 4. 30 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,42 Figura 4. 31 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de topografia prevista para o encerramento. 113 ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,55 Figura 4. 32 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ru lixo fresco = 0 ru lixo antigo = 0,55 Figura 4. 33 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de prevista para o encerramento. A Tabela 4. 5 apresenta o resumo das análises de estabilidade para o mês de dezembro de 2009. 114 Tabela 4. 5 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados. Seção Topografia Topografia dezembro Topografia encerramento Topografia dezembro Secundária Topografia encerramento Principal r u (mês de dezembro) 0,42 0,42 0,55 0,55 FS 1,74 1,35 1,77 1,55 Considerando a Norma Brasileira de Estabilidade de Taludes e Encostas (ABNT NBR 11682, 2006) a Tabela 4. 6 trata dos fatores de segurança mínimos admitidos para taludes e encostas. Seguindo a norma, para o caso do aterro de RSU, podemos considerar o grau de segurança para perdas de vidas como baixo e o grau de segurança para perdas materiais e ambientais como alto, temos um FS mínimo de 1,3 sobre o método do cálculo. Tabela 4. 6 - Fatores de segurança mínimos admitidos (ABNT NBR 11682, 2006). Grau de segurança Perdas de vidas Grau de segurança Alto Média Baixo Perdas materiais e ambientais Alto 1,5 1,4 1,3 Médio 1,4 1,3 1,2 (*) Baixo 1,4 1,3 1,10( *) (*) A adoção de fatores de segurança iguais ou inferiores a 1,2 só será permitida quando os parâmetros de resistência do solo puderem ser confirmados por retroanálise, para as condições mais desfavoráveis de poro-pressões. No caso de estabilidade de blocos rochosos os fatores de segurança podem ser parciais, incidindo sobre γ, φ , C’ , em função da incerteza sobre estes parâmetros, devendo ser justificado pelo projetista. Deve-se também adotar um fator de segurança mínimo sobre o método de cálculo empregado, igual a 1,1 Então, considerou-se o valor de FS = 1,3 como o valor mínimo para estabilidade do aterro de RSU. A seguir foram analisadas as estabilidades com a topografia final estimada para o encerramento e a topografia do mês de dezembro de 2009, considerando ru igual a zero na camada de RSU fresco. Nas Figuras 4. 34 e 4. 37 são apresentados resultados de FS versus ru. 115 2.4 2.2 2 1.8 FS 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 ru Figura 4. 34 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. A Figura 4. 35 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção principal de instrumentação do aterro com a topografia do mês de dezembro de 2009, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 , tendo se obtido um ru=0,64. 116 2 1.8 1.6 FS 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 ru Figura 4. 35 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. A Figura 4. 35apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção principal de instrumentação do aterro com a topografia estimada para o encerramento do aterro, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 , tendo se obtido um ru=0,46. Já nas Figura 4. 36 e 4. 37 se tem a análise da estabilidade crítica da seção secundária em função do ru de campo: 117 2.4 2.2 2 1.8 FS 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 ru Figura 4. 36 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. A Figura 4. 37 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção secundária de instrumentação do aterro com a topografia de dezembro de 2009, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 , tendo se obtido um ru=0,72. 118 2.4 2.2 2 1.8 FS 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 ru Figura 4. 37 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. A Figura 4. 37 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção secundária de instrumentação do aterro com a topografia estimada para o encerramento do aterro, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 , tendo se obtido um ru=0,66. 4.4. ANÁLISES DE ESTABILIDADE - MÊS DE ABRIL DE 2010 O mês de abril de 2010 registrou um evento chuvoso extremo (Fig. 4. 36). A chuva que inundou a capital do Rio de Janeiro no dia 5 de abril de 2010 durou mais de 36 horas e provocou centenas de deslizamentos. O número de mortos foi superior a 250 e 10800 pessoas perderam suas casas no estado do Rio de Janeiro. No aterro em questão, chegou a chover 274mm no dia 05 para o dia 06 de abril. O mês de abril teve um acumulado de 417mm no aterro. Tal pluviometria foi a principal responsável por duas rupturas locais no aterro ocorridas neste mês. Assim, analogamente ao caso do mês de dezembro de 2009, serão discutidas as leituras da instrumentação e a retro-análise de estabilidade do local, juntamente com observações em campo. 119 4.4.1.LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO 4.4.1.1.PIEZÔMETROS SIFÃO – COTAS PIEZOMÉTRICAS Durante o mês de abril de 2010, dois piezômetros foram soterrados após deslizamento ocorrido próximo a seção principal. Ainda no mês de março de 2010, houve quebra e soterramento de outro piezômetro durante a operação do aterro na seção secundária. A Figura 4. 38 apresenta as variações de leitura para o mês de abril de 2010. 130 Cota Piezométrica (m) 125 120 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 115 110 105 100 95 01/04/2010 06/04/2010 11/04/2010 16/04/2010 21/04/2010 26/04/2010 Data Figura 4. 38 - Variações das cotas piezométricas para o mês de abril de 2010. Após uma ruptura local na seção principal de instrumentação, o PZ01 foi soterrado. O PZ02 apresentou leituras indicando efeito das chuvas intensas dos dias 04 e 05. Notou-se em torno do PZ02 grande quantidade de percolado. Confirmou-se no final do mês a quebra do tubo, pois se verificou a quebra do tubo de gás, fazendo com que o sifão funcionasse de forma inadequada escoando boa parte do chorume do seu entorno para dentro do tubo piezométrico, fazendo com que os indicativos das cotas piezométricas deste instrumento fossem extremamente elevadas, a partir do dia 08 de abril de 2010. Assim as leituras do piezôemtro PZ02 a partir do dia 08 de abril não foram consideradas. 120 4.4.1.2.PIEZÔMETROS SIFÃO – PRESSÕES DE GÁS A Figura 4. 39 apresenta as variações das leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010. 80 PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 70 Pressão de gás (kPa) 60 50 40 30 20 10 0 01/04/2010 06/04/2010 11/04/2010 16/04/2010 Data 21/04/2010 26/04/2010 01/05/2010 Figura 4. 39 - Leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010. As leituras do PZ03 baixaram bastante após o descolamento das conexões na boca do tubo. Conforme estudo realizado, suspeita-se que este tubo tenha sofrido uma ruptura em torno de 6m de profundidade. O assunto é tópico apresentado em análise de estabilidade do maciço. As demais leituras de pressões de gás demonstram estabilidade, apresentando baixos valores ou zero de pressão de gás para o PZ04 antes da sua ruptura. 4.4.1.3.INCLINÔMETROS Próximo ao inclinômetro IN01 foram constatados deslocamentos horizontais acumulados de mais de 20 cm na superfície após o período de chuvas. A provável superfície de ruptura foi identificada em torno de 9m de profundidade da cota do terreno do IN01. Tal movimentação pôde ser verificada em campo, ao se observar extrema saturação da berma, afundamento da do platô, elevados recalques (>1,0m) e ainda constatadas as quebras dos tubos PZ01, PZ02 (a 4m de profundidade) e da câmara de gás do PZ03 (estima-se a quebra da câmara de gás em torno de 6m da superfície do terreno). 121 Nas Figuras 4. 40 a 4. 43 são apresentadas as leituras registradas para o mês de abril de 2010. -250 0 Deflection (mm) -125 0 125 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Terratek 250 0 LEGEND Initial 2 mar2010 -2 3 mar2010 4 mar2010 -4 14 abr2010 15 abr2010 -6 16 abr2010 19 abr2010 -8 20 abr2010 -10 22 abr2010 26 abr2010 -12 -200 0 Deflection (mm) -100 0 100 200 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 -14 Elev. (m) -16 -14 -16 -14 Elev. (m) -16 -18 -18 -18 -18 -20 -20 -20 -20 -22 -22 -22 -22 -24 -24 -24 -24 -26 -26 -26 -26 -28 -28 Ref. Elevation m -30 -28 -28 -30 -30 -30 -250 -125 0 125 Cumulative Deflection Direction A 250 -200 -16 -100 0 100 Cumulative Deflection Direction B 200 Figura 4. 40 – Deslocamentos acumulados do IN01 na direção A e B. 122 Terratek -75 0 Deflection (mm) -37,5 0 37,5 75 0 -50 0 Deflection (mm) -25 0 25 50 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 Elev. (m) -16 -14 -18 -18 -20 -20 -22 -22 -24 -24 LEGEND Initial 2 mar2010 3 mar2010 -2 4 mar2010 5 mar2010 -4 8 mar2010 9 mar2010 -6 11 mar2010 16 mar2010 -8 19 mar2010 23 mar2010 30 mar2010 -10 10 abr2010 -12 12 abr2010 13 abr2010 -14 14 abr2010 Elev. 15 abr2010 (m) -16 16 abr2010 19 abr2010 -18 20 abr2010 22 abr2010 -20 26 abr2010 27 abr2010 -22 28 abr2010 29 abr2010 30 abr2010 -24 -26 -26 -26 -26 -28 -28 Ref. Elevation m -30 -28 -28 -30 -30 -16 -30 -75 -37,5 0 37,5 Cumulative Deflection Direction A 75 -50 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14 -16 -18 -20 -22 -24 -25 0 25 Cumulative Deflection Direction B 50 Figura 4. 41 - Deslocamentos acumulados do IN02 na direção A e B. 123 Terratek -10 0 Deflection (mm) -5 0 5 10 0 -10 0 -5 Deflection (mm) 0 5 10 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 -12 -12 -14 Elev. (m) -16 -14 -18 -18 -20 -20 -22 -22 -24 -24 LEGEND Initial 2 mar2010 3 mar2010 -2 4 mar2010 5 mar2010 -4 8 mar2010 9 mar2010 -6 10 mar2010 11 mar2010 -8 16 mar2010 19 mar2010 23 mar2010 -10 30 mar2010 -12 12 abr2010 13 abr2010 -14 14 abr2010 Elev. 15 abr2010 (m) -16 16 abr2010 19 abr2010 -18 20 abr2010 22 abr2010 -20 26 abr2010 27 abr2010 -22 29 abr2010 30 abr2010 -24 -26 -26 -26 -26 -28 -28 Ref. Elevation m -30 -28 -28 -30 -30 -16 -30 -10 -5 0 5 Cumulative Deflection Direction A 10 -10 -2 -4 -6 -8 -10 -12 -14 -16 -18 -20 -22 -24 -5 0 5 Cumulative Deflection Direction B 10 Figura 4. 42 - Deslocamentos acumulados do IN03 na direção A e B. 124 Terratek -75 0 Deflection (mm) -37,5 0 37,5 75 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 Elev. (m) -10 -8 LEGEND Initial 19 mar2010 23 mar2010 14 abr2010 16 abr2010 20 abr2010 22 abr2010 26 abr2010 27 abr2010 28 abr2010 29 abr2010 30 abr2010 -75 0 Deflection (mm) -37,5 0 37,5 75 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -10 -8 Elev. (m) -10 -12 -12 -12 -12 -14 -14 -14 -14 -16 -16 -16 -16 -18 -18 -18 -18 -75 -37,5 0 37,5 Cumulative Deflection Direction A 75 Ref. Elevation m -75 -10 -37,5 0 37,5 Cumulative Deflection Direction B Figura 4. 43 - Deslocamentos acumulados do IN04 na direção A e B. Houve uma ruptura registrada pelo IN01 na direção A sentido positivo, sendo que o deslocamento acumulado chegou a mais de 20cm. No IN04 notaram-se apenas deslocamentos superficiais. Os demais deslocamentos observados pelos outros inclinômetros são superficiais, não havendo indicação de ruptura profunda. 4.4.1.4.PLUVIÔMETRO A Figura 4. 44 apresenta o gráfico de precipitações para o mês de abril de 2010. 125 75 300 250 Precipitação (mm/dia) 200 150 100 50 0 Data Figura 4. 44 - Precipitação registrados no mês de abril de 2010 no aterro estudado. 4.4.2.VISITAS DE CAMPO Apresentam-se a seguir um resumo das visitas realizadas no mês de abril de 2010. 4.4.2.1.OBSERVAÇÕES Durante o período de chuvas torrenciais, houve uma ruptura local próximo à seção principal de instrumentação do aterro. Ainda, na seção secundária de instrumentação houve outra ruptura local, fechando um dos acessos ao aterro. A Figura 4. 45 ilustra a ruptura que ocasionou a quebra do piezômetro PZ01 e PZ02. Esta ruptura talvez poderia ter sido evitada se a altura o talude não fosse superior a 8m. No momento da ruptura o talude possuía mais de 15m de altura. Os problemas de drenagem atrelados a chuvas torrenciais no local também podem ter contribuído para a ruptura. A cota da boca do tubo do PZ01 estava muito elevada, impossibilitando as leituras do início do mês de abril de 2010 deste piezômetro. 126 Figura 4. 45 - Ruptura próxima ao PZ01. A Figura 4. 46 apresenta o detalhe do tubo danificado devido à ruptura na massa de lixo. Figura 4. 46 - Detalhe da quebra do tubo de piezômetro PZ01. Não foi possível a recuperação do PZ01 e nem do PZ02. Foram realizadas algumas escavações na tentativa de recuperar o tubo do PZ02. A Figura 4. 47 apresentam algumas fotografia da cava realizada na tentativa de recuperar o PZ02. 127 Figura 4. 47 - Execução de uma cava na tentativa de recuperação do PZ02. Foi impossível saber o exato local onde houve a ruptura. Segundo análises de estabilidade e de deslocamentos por MEF, estima-se que o tubo tenha rompido em torno de 6m. Com a execução da cava próximo ao PZ02, foi possível identificar grande saturação do maciço nesta área. A cava de aproximadamente 4 a 5m de profundidade foi alagada por aproximadamente 2m de altura de percolado. Após as rupturas locais, outra empresa assumiu os trabalhos de terraplanagem no aterro, sendo que algumas mudanças na geometria puderam ser notadas em uma das visitas ao local, no dia 26 de abril de 2010. Porém, os problemas de drenagem continuaram. As Figuras 4. 48 e 4. 49 mostram fotos comparativas do antes e depois da seção principal de instrumentação. Nota-se que nos dois casos há acúmulo de percolado nas bermas, o que poderia ser corrigido através de sistemas provisórios de drenagem pluvial, como por exemplo, execução de trincheiras drenantes nas bermas e taludes. 128 Figura 4. 48 - Seção principal de instrumentação, com sérios problemas de drenagem (Foto tirada no dia 10 de abril de 2010). Figura 4. 49 - Seção principal de instrumentação do aterro com sérios problemas de drenagem, com acúmulo de chorume nas bermas (Foto tirada no dia 26 de abril de 2010). 129 4.4.3.RETRO-ANÁLISES E ANÁLISE DE ESTABILIDADE – ABRIL 2010 Foram analisadas duas seções geotécnicas, a seção principal e secundária de instrumentação. As Figuras 4. 50 e 4. 51 apresentam as seções principais e secundárias respectivamente. Figura 4. 50 - Seção principal de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). Figura 4. 51 - Seção secundária de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). 130 Em todas as análises, foram considerados parâmetros efetivos, com condição drenada de carregamento. A Tabela 4. 7 apresenta os valores dos ru calculados para cada piezômetro em relação às leituras do mês de abril de 2010. É importante observar que não houve leituras nos PZ01 e PZ05 neste mês. O PZ05 foi soterrado em março de 2010, mas nos meses anteriores a abril de 2010 era o piezômetro que mais variava, indicando as sobrecargas que estavam sendo depositadas no aterro. O PZ01 foi soterrado após a ocorrência de ruptura próxima a seção principal de instrumentação. Tabela 4. 7 - Valores de ru de campo Piezôme tro PZ01 PZ02 PZ03 PZ04 PZ05 u σv h (m) (kPa) (kN/m²) 7,3 20,49 225,4 33,9 24,51 269,6 80 16,99 186,9 82 17,27 190 116,2 16,59 182,5 ru OBS 0,03 0,13 0,56 0,49 0,64 Perda total do instrumento Perda total do instrumento Perda das leituras de gás Instrumento comprometido Perda total do instrumento O valor de ru do piezômetro PZ03 aumentou consideravelmente (0,38 para 0,56). Os valores dos ru estão acima dos valores tomados como críticos nas análises de estabilidade em estudos anteriores, estudos anteriores, que tiveram como ru máximo 0,4 nas análises de estabilidade e nesta condição demonstrava fatores de segurança muito próximos de 1, conforme discutido anteriormente. Para a seção principal, foi adotado o ru de 0,56 e para a seção secundária um ru de 0,64, conforme Tabela 4. 7. Devido às condições de drenagem observadas em campo, adotou-se o parâmetro de poropressão também na camada de lixo novo, ou seja, considerou-se que o nível de água (NA), se encontrava próximo a superfície de lixo novo, condição extrema de saturação. A topografia do mês de março de 2010 foi utilizada nas análises de estabilidade. Devido às altas chuvas do mês de abril de 2010 o aterro foi temporariamente interditado pela Defesa Civil do município. Observou-se que a alteração da topografia é insignificante em relação ao mês anterior. Foram adotados os parâmetros de resistência ao cisalhamento contidos na Tabela 4. 4. Foram confirmadas com as rupturas locais com as condições de piezometria de abril de 2010 nas análises que seguem no subitem seguinte. 131 Em relação à condição de saturação do aterro, se utilizou os parâmetros de poropressão nas camadas de lixo fresco e lixo antigo. 4.4.3.1.RUPTURA LOCAL Durante as visitas e interpretações dos dados de leitura foi possível identificar uma tendência de movimentação, segundo leituras do IN01, além de identificar extrema saturação, afundamentos na berma superior (cota 140m), elevados recalques e ainda foram constatadas as quebras dos tubos PZ01, PZ02 e o tubo de gás do PZ03. A Figura 4. 52 apresenta a provável superfície desta ruptura, identificada pelo IN01. Figura 4. 52 - Provável superfície de ruptura local do talude da seção principal de instrumentação do aterro. Foram danificados os PZ01, PZ02 e PZ03 nesta ruptura. A ruptura local talvez pudesse ter sido evitada se a altura máxima dos taludes (8m) não tivessem sido superadas. 4.4.3.2.RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE Os resultados das análises desenvolvidas podem ser observados nas Figura 4. 53 e 4. 54. 132 ru lixo fresco = 0,56 ru lixo antigo = 0,56 Figura 4. 53 - Análise de estabilidade da seção principal, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ03 de 0,56 para o mês de abril de 2010, FS resultante de 1,37 global e 1,04 estabilidade local no talude de 15m. ru lixo fresco = 0,64 ru lixo antigo = 0,64 Figura 4. 54 - Análise de estabilidade da seção secundária, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ05 de 0,64 para o mês de fevereiro de 2010, FS resultante de 1,44 para ruptura global e 1,09 para talude inferior junto a estrada de acesso. A Tabela 4. 8 apresenta o resumo com os valores das análises de estabilidade desenvolvidas. 133 Tabela 4. 8 - Resumo das análises de estabilidade. Se ção Topografia Principal Secundária Topografia março Topografia março ru (mê s de abril) 0.56 0.64* FS Global FS Local 1.37 1.44 1.04 1.09 * Valor tomado como referência, após quebra do PZ05. Através das análises realizadas, observou-se que as rupturas locais analisadas foram as que se deflagraram no início do mês de abril, o que mostra que a adoção dos parâmetros foi coerente e coincidente com as retro-analises realizadas para o mês de dezembro de 2009. 4.5. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS E VERTICAISPOR MEF Cinco marcos superficiais foram instalados no aterro visando estudo do comportamento dos recalques da massa de resíduos. O Método dos Elementos Finitos (MEF) foi usado como ferramenta para estimativa dos recalques primários dos RSU. Sendo assim, o monitoramento dos recalques em campo será utilizado para ajuste do modelo matemático, em vista da falta de dados (relativo a ensaios) nos resíduos do local. Foi possível perceber algumas mudanças nas tendências de movimentação no maciço, segundo dados de leituras de inclinômetro. Ressalta-se que o monitoramento do aterro ficou comprometido, devido a alguns instrumentos terem sido danificados por movimentos excessivos do aterro durante as chuvas do mês de abril de 2010 e por conta dos equipamentos usados na reconformação. Ainda no início do mês de julho de 2010 o piezômetro PZ03 ficou totalmente comprometido devido a movimentações do maciço. Adotou-se o critério de ruptura de Mohr-Coulomb na análise de elementos finitos. Para a malha, adotou-se o elemento triangular de 15 graus de liberdade. Buscouse representar o “as built” nas análises numéricas o mais próximo da realidade, tanto a geometria quanto o intervalo temporal das etapas contrutivas. 4.5.1.RETRO-ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS Abaixo, na Tabela 4.9 seguem os parâmetros dos RSU adotados: 134 Tabela 4. 9 - Parâmetros adotados na analise de recalques por elementos finitos. Material Lixo fresco Lixo antigo Solo natural de fundação Resíduos de construção Modelo Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb γ (kN/m³) 11 11 18 20 c' (kPa) 15 40 20 20 φ' (°) 27 25 35 38 E (kPa) 500 2,50E+04 5,00E+04 1,00E+05 ν 0,25 0,30 0,35 0,30 kx ky (m/dia) (m/dia) 0,01 0,01 1,00E-03 1,00E-03 1,00 1,00 1,00 1,00 Nota-se que o valor utilizado para o módulo de deformação (E) e o coeficiente de poisson (ν) utilizados para o lixo fresco nas análises numéricas são muito baixos, próximo a valores de solos turfosos ou argilas arenosas orgânicas quaternárias. Tal valor pode ser atribuído devido ao fato da má compactação dos resíduos e elevado índice de vazios. Tomando a seção principal de instrumentação, foi gerada a malha de elementos finitos, refinando-a na camada de lixo fresco (mais susceptível a deformações), conforma pode-se observar na Figura 4. 55. 135 Figura 4. 55 - Geração da malha de elementos finitos. A configuração das células de RSU adotada com altura de 5m, conforme “as built” previsto em estudo de adequação ambiental. No total, foram distribuídas 12 células de RSU no tempo total de aproximadamente cinco anos. Abaixo seguem características geométricas do aterro: - Um aterro controlado composto por 12 camadas de 5m de espessura, resultando numa altura total, a partir da cota 95m, de 60m (cota 155m); - Um platô no topo do aterro, na cota 155m, ocupando uma área de 19.150m2 (projeção horizontal); - Um dique a jusante do aterro construído com material inerte (resíduos da construção civil e demolições), ocupando uma área de 9.900m2. Na Figura 4. 56 é apresentada a configuração inicial para as análises do aterro em estudo. 136 5 6 138 65 7 8 9 139 64 63 62 6160 10 11 1213 59 5857 1415 131 56 137 16 17 55135 136 54130 18 53 52 5150133 19 20 134 49 48 132 474645 21 22 44128 23 24 767778798081 75 43 42 25 26 74 73 82 72 126 127 27 28 71 41 83 70 40 6869 67 84 39 38 37 36 35 85 97 98 99100 96 101 102 1 03 2930 1 04 95 1 05 8687 106 94 107 34 33 108 88899091 92 93 109 129 32 31 110 111 01 112 2 118119120 121 122123124 113114115116 117 125 66 y 4 x 3 Figura 4. 56 - Configuração inicial do aterro (sem lixo “fresco”). Na Figura 4. 57 apresenta-se uma tela de configuração da análise numérica. 137 Figura 4. 57 - Tela da configuração do problema e distribuição do tempo de construção de cada célula. Os resultados da análise forneceram um deslocamento total de 2,75m local (Figuras 4. 58 e 4. 59). Ressalta-se que o deslocamento total é somente o somatório da deposição do lixo novo. 138 Figura 4. 58 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 2,75m. A Figura 4. 59 mostra a deformação total em gradação de cores. Nota-se que justamente o local onde houve as rupturas dos PZ01 e PZ02 é o que aparece em vermelho na Figura 4. 59, com os maiores deslocamentos. 139 Figura 4. 59 - Pontos mais críticos em vermelho, próximo ao platô do aterro e aos piezômetros PZ01 e PZ02 rompidos no mês de abril de 2010. Na Figura 4. 60 observa-se que os maiores deslocamentos horizontais (em torno de 1,40m) encontram-se próximos ao local dos inclinômetros IN01 e IN02. 140 A A’ Figura 4. 60 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo até 1,40m de deslocamento horizontal. Traçando-se uma seção transversal no modelo matemático, o deslocamento máximo estimado no ponto do IN01 foi entorno de 0,66m conforme se observa na Figura 4. 61, sendo que o medido pelo equipamento atualmente é também de 0,60m. Considera-se que os resultados obtidos são aceitáveis. 141 Figura 4. 61 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,66m de deslocamento horizontal. 4.5.2.ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS - PARÂMETROS DA LITERATURA Como foi descrito anteriormente, utilizou-se um valor extremamente baixo do módulo de deformação (E) nas retro-analises para deslocamentos horizontais registrados por um inclinômetro (IN01). A seguir, irá ser analisado a mesma seção, porém alterando o valor do do módulo de deformação dos resíduos frescos para 15MPa e 40MPa resíduos antigos, segundo CARVALHO (1999) descreve nas análises dos ensaios crosshole do Aterro Bandeirantes, conforme descrito no Capítulo 2. A Tabela 4. 10 apresenta os valores adotados nesta análise. Tabela 4. 10 Parâmetros adotados na analise de deslocamentos por elementos finitos segundo valores típicos encontrados por CARVALHO (1999) Material Lixo fresco Lixo antigo Solo natural de fundação Resíduos de construção Modelo Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb Mohr-Coulumb γ c' (kN/m³) (kPa) 11 15 11 40 18 20 20 20 φ' (°) 27 25 35 38 E (kPa) 1.50E+04 4.00E+04 5.00E+04 1.00E+05 ν 0.25 0.30 0.35 0.30 kx ky (m/dia) (m/dia) 0.01 0.01 1.00E-03 1.00E-03 1.00 1.00 1.00 1.00 142 Os resultados são apresentados nas Figuras 4. 62 a 4. 64, onde foram encontrados valores muito menores de deslocamentos, não condizentes os deslocamentos horizontais registrados pelo IN01. Os deslocamentos totais encontrados foram em torno de 30cm próximos ao platô do aterro de RSU, sendo os deslocamentos horizontais em torno de 8cm próximos ao IN01. Figura 4. 62 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 0,30m 143 A A’ Figura 4. 63 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo 0,086m de deslocamento horizontal. Figura 4. 64 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,086m de deslocamento horizontal. 144 Logo, temos que na simulação utilizando parâmetros muito baixos de E e ν, mostrou maior coerência nas previsões, comparando com os deslocamentos registrados pelos inclinômetros. Ressaltasse que não foram realizados ensaios de caracterização nos RSU do local, muito menos ensaios do tipo cross-hole. Porém, comparando os modelos utilizados com a instrumentação instalada, pode-se verificar que a instalação de inclinômetros diretamente no maciço de RSU auxiliou na interpretação das cunhas de rupturas e nas observações de movimento no aterro. 145 CAPÍTULO 5 5.1. CONCLUSÕES Diante da experiência acumulada e dos resultados obtidos, pode-se afirmar que as retro-análises de estabilidade e de estimativas de recalques atenderam aos objetivos propostos, apresentando compatibilidade entre análises e dados de instrumentação. A respeito da instrumentação de campo instalada no aterro, pode-se dizer que o uso de inclinômetros em aterros de RSU é fundamental para análise de deslocamentos horizontais no aterro, possibilitando identificar a provável superfície de ruptura. A utilização de piezômetros sifão em aterros de RSU mostrou-se de grande valia no que diz respeito ao uso das leituras de níveis piezométricos para cálculo dos parâmetros de poropressão (ru) para análises de estabilidade. As leituras de gás auxiliaram no aspecto da identificação da formação de bolsões e maio produção de gás em períodos chuvosos e quentes.O uso de pluviômetros possibilitou a comparação das variações principalmente nas pressões de gás e níveis piezométricos. As retro-análises de estabilidade mostraram boa compatibilidade com a instrumentação de campo, principalmente com os dados de leitura de inclinômetros. A análise de parâmetros de resistência do aterro de RSU através das retro-análises mostraram-se eficazes na estimativa de parâmetros de resistência ao cisalhamento (c e φ’). Em épocas de alta pluviometria, a consideração da saturação do maciço para fins de retro-análises de estabilidade apresentaram boa concordância com as rupturas ocorridas no aterro. Sobre as análises de deslocamentos totais, verticais e horizontais com uso do MEF, tem-se que os valores de deslocamentos encontrados são coerentes comparando com outros aterros monitorados no Brasil e no mundo, apresentando deslocamentos superiores a 2m. A retro-análise numérica de deslocamentos horizontais utilizando dados de instrumentação geotécnica (inclinômetros) chegou a parâmetros de resistência muito próximos aos encontrados para solos turfosos e argilas orgânicas. 146 Em relação as observações de campo, notou-se que a presença de trincas nem sempre está associada à instabilidade. Geralmente, as trincas verificadas se tratavam de recalques diferenciais entre as células de lixo antigo e lixo fresco. Verificou-se nas análises com os parâmetros utilizados neste estudo indicaram para o aterro um FS global > 1.3, o que e aceitável para casos de aterros controlados e aterros sanitários. 5.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS Recomendam-se ensaios de campo e de laboratório adicionais para verificação de parâmetros para as análises de estabilidade e recalques. Dentre os ensaios de campo pode-se citar: • Ensaio de cava; • Percâmetro; • Caracterização completa do RSU: • Morfologia; • Gravimetria; • Granulometria completa; • Cross-hole ou ensaios dinâmicos. Dentro os ensaios de laboratório sugerem-se os ensaios de grandes dimensões: • Cisalhamento direto; • Triaxiais (CU e CD). Ainda, sugere-se que o uso de inclinômetros em aterros de RSU seja amplamente difundido, não só com o intuito monitorar ou de difundir instrumentação geotécnica em aterros de resíduos, mas sim para auxiliar na obtenção de parâmetros em retro-análises de rupturas que possam vir acontecer. 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT NBR 10.004, 2004. NBR 10.004: Classificação de Resíduos Sólidos. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 11682, 2006. NBR 11682: Estabilidade de encostas. ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. ALCANTARA, P. R., 2007, Avaliação da Influência da Composição de Resíduos Sólidos Urbanos no Comportamento de Aterros Simulados. 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