Velocidade de reação
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Velocidade de reação
Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de luta no judô.” Elessandro Váguino de Lima Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências-Biológicas. São José dos Campos, SP 2003 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de luta no judô.” Elessandro Váguino de Lima Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências-Biológicas. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo A. B. L. Martins Co-Orientador: Prof. MSc. Charli Tortoza São José dos Campos, SP 2003 “Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de luta no judô.” Elessandro Váguino de Lima Banca Examinadora Prof. Dr. Rodrigo Alexis Lazo Osorio, Presidente da Banca (UNIVAP). Prof. Dr. Rodrigo A. B. L. Martins, Orientador (UNIVAP). Prof. MSc. Charli Tortoza, Co-Orientador (UNIVAP). Prof. Dr. Emerson Franchini, Membro Convidado (MACKENZIE). Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&D São José dos Campos, 03 de dezembro de 2003. Dedico este trabalho aos atletas de judô que buscam o aperfeiçoamento físico e mental, com o objetivo de alcançar o alto desempenho competitivo, em especial, meu sobrinho Igor Sene. Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade e perseverança para finalizar esta dissertação; Ao apoio do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Univap durante a elaboração deste trabalho; À Secretaria do IP&D e Biblioteca Setorial; Ao Prof. Dr. Rodrigo Álvaro Brandão Lopes Martins, incentivador e orientador do trabalho; Ao Prof. MSc. Charli Tortoza, co-orientador, que através das cobranças mostrou o caminho, que nem sempre é agradável, mas necessário para o conhecimento; Aos amigos atletas que foram voluntários para a execução dos testes; Aos meus pais Maria e Joel, à minha irmã Eleane, meu cunhado Moisés e as pessoas especiais que cruzaram o meu caminho me ensinando a ser melhor, ou pelo menos mais paciente. “Não se desvie do caminho que o destino lhe atribuiu”. (Provérbio Chinês) RESUMO Introdução: A velocidade de reação motora humana ou tempo de reação (TR) é uma capacidade física importante para judocas, sendo observada na reação aos ataques ou pegadas do adversário, a fim de realizar um contra golpe, ou fazer uma esquiva. Durante uma luta de alta intensidade, há um aumento considerável na concentração de lactato sangüíneo (LS), que está relacionado com a fadiga muscular, podendo interferir na capacidade do atleta reagir rapidamente, pois a fadiga pode agir em diferentes locais desde a percepção do sinal externo, até a contração muscular. Objetivos: O objetivo deste trabalho foi de verificar a influência da elevação da concentração do LS, após estímulo de luta (Randori) de 1 min e 30s, 3 min e 5 min, no TR em atletas de judô de alto nível. Métodos: Foram analisados 11 indivíduos do sexo masculino, competidores, saudáveis, com idade média de 23,4 anos + 2 anos. Para o registro do TR simples foi utilizado o Sistema Cybex Reactor. Para os registros do LS foi utilizado um lactímetro portátil Accusport ®, com fitas de análise Boehringer Mannheim ®. Resultados: A análise da variância (Kruskal-Wallis) mostrou diferença significativa entre o LS antes e após as lutas (p < 0,05) no teste de TR, e na comparação do número de erros (NE) na execução da tarefa em repouso, imediatamente após as lutas e após três min do final (p < 0,05). Foi demonstrado que houve correlação significativa (Pearson) entre o NE para executar a tarefa de TR e a concentração de LS (r = 0,9341; p < 0,05). Entretanto, não houve diferença significativa entre os registros de TR pré e pós-lutas (p > 0,05). Conclusões: No presente estudo foi concluído que altas concentrações de LS não influenciam na capacidade de atletas de judô de alto nível em reagir rapidamente ao estímulo visual, mas faz com que haja uma diminuição na eficiência na tarefa de reação. Isto foi demonstrado na alta correlação entre as concentrações de LS e o NE da tarefa de TR, sendo provavelmente o resultado da diminuição da concentração dos atletas de judô sob condição fatigante de luta. Palavras-chave: Fadiga muscular, lactato, velocidade de reação motora, judô. ABSTRACT Introduction: The velocity of motor reaction in humans is a important physical quality to judo competitors, that is observed in attacks reaction or griped opponents, to do a contra attack or to do a escape. During a High intensity fight, there is a considerable increase in serum lactate, which is closely related to muscle fatigue. This fact may interfere in the capacity of the athlete in reacting to stressful situations during the combat, because the fatigue may be acting at locals several, since signal perceptive until muscle contraction. Objectives: The main purpose of this work is to study the role of serum lactate increases after a 1’30”, 3’ and 5’, combat situations (Randori) in the velocity of motor reaction in High Level Judo Competitors. Methods: For this purpose we evaluated 11 healthy male athletes, competitors, 23,4 + 2 years old. To record the simple reaction time, initially, immediately after combat and at the three minutes to rest, we employed the Cybex Reactor System. To record the serum lactate concentrations it was used a portable lactate analyser Accusport with test strips purchased from the Boehringer Mannheim Company. Results: Variance analysis (Kruskal-Wallis) and showed significant differences between serum lactate before, immediately after combat and at the three minutes to rest (p < 0,05) and in the velocity of motor reaction (Cybex Reactor), between the number of errors to execute the tests before and after combats (p < 0,05). It was observed a significant correlation (Pearson Correlation Linear) between the number of errors to execute the tests at Cybex Reactor and the serum lactate concentration (r = 0,9341; p < 0,05). However, it wasn’t found significant differences between the motor reaction time before and after combats (p > 0,05). Conclusions: The results demonstrate that the high serum lactate concentration does not affect the motor reaction time in high level judo competitors, indeed it suggests that there is a decrease in the efficiency of the reaction. This fact was demonstrated by the high correlation found between the serum lactate concentrations and the number of errors in the reaction tests, it was probably the results of concentration reduction in judo competitors to stressful situations. Key-words: Muscle fatigue, lactate, velocity of motor reaction, judo. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 2. REVISÃO DE LITERATURA 3 2.1 Percepção e Processamento do Estímulo Externo 3 2.2 Estrutura Básica de um Neurônio, Propagação e Transmissão do Estímulo Nervoso 7 2.3 Estrutura e Contração do Músculo Esquelético 10 2.3.1 Composição da Fibra Muscular 10 2.3.2 Fases da Contração Muscular 11 2.3.3 Tipos de Fibra Muscular 12 2.4 Transferência de Energia 13 2.5 Fadiga 15 2.6 Velocidade de Reação Motora 20 2.7 Características Fisiológicas do Judô 24 2.7.1 Tempo de Reação e Fadiga no Judô 25 3. OBJETIVO 27 4. HIPÓTESE 28 5. METODOLOGIA 29 6. RESULTADOS 35 7. DISCUSSÃO 48 8. CONCLUSÃO 55 9. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 56 10. ANEXO 61 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Atleta estabilizado nas plataformas Cybex Reactor na tarefa de TR 31 Figura 02 – Atleta durante a tarefa de TR no Cybex Reactor 31 Tabela 01 – TR em repouso, pós-lutas e após 3 min do final das lutas 36 Tabela 02 – Número de erros de TR em repouso, pós-lutas e após 3 min do final das lutas 37 Tabela 03 – Lactato em repouso e após 3 min do final das lutas 38 Tabela 04 – Lactato e número de erros pré e pós-lutas 40 Figura 03 – Gráfico de TR em repouso e pós-lutas 42 Figura 04 – Gráfico de TR em repouso e após 3 min do final das lutas 43 Figura 05 – Gráfico de TR em repouso, pós-lutas e após 3 min do final das lutas Figura 06 – Gráfico da concentração de lactato em repouso e pós-lutas 44 45 Figura 07 – Gráfico do n° de erros de TR pré, pós-lutas e após 3 min do final da luta 46 Tabela 05 – Dados completos de TR (Anexo) 61 Tabela 06 – Dados completos de lactato 63 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS % - Percentual ADP - Adenosina Difosfato ATP - Adenosina Trifosfato bpm - Batimentos por Minuto Ca - Cálcio CP - Creatina Fosfato Fig - Figura K - Potássio l - Litro min - Minuto mmol - Milimol Na - Sódio Pi - Fosfato Inorgânico s - Segundo SNC - Sistema Nervoso Central Dp - Desvio Padrão Tab - Tabela TR - Tempo de Reação X - Média 1 1. INTRODUÇÃO O judô é um esporte de contato que foi criado no Japão, adaptado do Jiu-jitsu em 1882 pelo professor Jigoro Kano (SILVA et al., 1983). É um esporte de luta composto de técnicas de projeção e técnicas de solo (estrangulamentos, chaves de articulação e imobilizações). Uma luta masculina em competição de judô na classe sênior (adulta) tem a duração total de 5 minutos, podendo ser finalizada a qualquer momento, caso um dos lutadores consiga um Ippon (considerado golpe perfeito), ou haja desistência de um dos lutadores antes do final do tempo regulamentar. Este tempo pode ser prorrogado por mais 5 minutos (Golden-Score), se a primeira etapa terminar empatada, sendo que nesta segunda fase qualquer vantagem na pontuação por parte de um dos lutadores, é determinado o encerramento da luta e o vencedor. Atualmente, em competições, o judô é desenvolvido em lutas de alta intensidade de esforço, em períodos intermitentes de atividade e repouso (DRIGO et al., 1994). Como esporte de alto nível, o judô requer amparo científico para que proporcione, aos técnicos e treinadores, referências fisiológicas que auxiliem na organização do treinamento. Alguns parâmetros podem ser conseguidos por meio da avaliação que permite a caracterização das capacidades físicas específicas e predominantes da modalidade, e da condição física do atleta, para que a preparação física possa suprir as deficiências do judoca. Atualmente, existem poucos trabalhos na literatura que enfatizem os aspectos fisiológicos do judô em comparação com pesquisas de outras modalidades (DRIGO et al., 1994, 1996; FRANCHINI et al., 1998, 2000, 2001; SERRANO et al., 2001). Isto leva o treinador a prescrever um tipo de treinamento com pouco embasamento, ou ainda a utilizar como referência resultados obtidos de outras modalidades esportivas que foram mais profundamente investigadas. Protocolos de avaliação de esportes como atletismo e luta grecoromana, têm sido utilizados pelos treinadores para avaliar e prescrever treinamento para atletas de judô, porém, devido às diferenças fisiológicas, técnicas e táticas entre 2 essas modalidades, as aplicações e os resultados práticos podem ser pouco significantes. Uma das capacidades físicas essenciais para o desempenho em competições de judô é a velocidade de reação motora, ou tempo de reação (TR), simples ou complexo, que corresponde ao tempo entre a percepção de um estímulo (visual, acústico ou tátil) e o início da resposta muscular apropriada (BARBANTI, 1997; SCHMIDT, 1993). Ao mesmo tempo em que o judoca define estratégias de ataque no decorrer de uma luta ele deve estar atento às ações do adversário, devendo reagir apropriadamente aos seus golpes a fim de responder com um contra golpe ou simplesmente executar uma esquiva, o que depende de um alto grau de atenção (VILKINER, 1982, citado por WEINECK, 1999) e da velocidade com que aconteça a resposta após o estímulo. Quando uma luta se desenvolve em alta intensidade, fatores relacionados à fadiga, como altas concentrações de lactato no sangue e no músculo assim como dos íons hidrogênio (STACKHOUSE et al., 2001), começam a influenciar negativamente a performance do atleta, e o TR pode ser uma das capacidades físicas afetadas, pois compreende diversas fases, desde a percepção do estímulo até a resposta muscular, e fatores fatigantes podem interferir em algumas destas fases (DUARTE, 1989, citado por FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON, 1977; SCHAUF et al., 1993). Com o intuito de observar o comportamento do TR do judoca, sob condições de luta de judô, foi desenvolvido um protocolo de teste onde se induziu o aumento da concentração de lactato no sangue, para verificar sua influência no TR simples. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA A execução dos movimentos voluntários realizados depende de 3 elementos fundamentais: da percepção dos aspectos do ambiente, do processamento e elaboração da resposta e da produção da atividade muscular organizada (SCHMIDT, 1993). Estes aspectos são requeridos durante a execução de atividades que necessitam de um movimento estruturado, tornando-se primordiais para o rendimento esportivo. Alguns fatores como a atenção, motivação, experiência com a atividade, energia disponível e aspectos relacionados à fadiga, podem interferir desde a percepção do estímulo até a resposta motora, e influenciar o desempenho atlético (SCHIMIDT, 1993). Parece ser de fundamental importância compreender as limitações que os processos fatigantes podem trazer durante as fases do movimento, e como os fatores que auxiliam na performance podem atenuar a instalação da fadiga (WEINECK, 1999). Este estudo procura verificar alguns destes aspectos. Para facilitar a compreensão dos leitores serão apresentados e discutidos os fatores relacionados à performance motora, desde a percepção do estímulo até a contração muscular, e o que pode estar limitando ou influenciando neste processo. Serão abordados, ainda, o TR, que é uma capacidade física importante para o desempenho em muitos esportes, em especial no judô, e os aspectos relacionados à fadiga e de sua influência sobre o TR, que providenciarão a discussão principal deste trabalho. 2.1 Percepção e processamento do estímulo externo A percepção do estímulo ou sinal externo proveniente do ambiente é a fase que antecede o processamento das informações geradas a partir dos aspectos do ambiente, fazendo com que o mesmo seja organizado corretamente (SCHMIDT, 1993). Deste modo, é necessário que ocorra a percepção do estímulo, pela detecção 4 das informações que o ambiente proporciona para que a execução da tarefa seja feita de forma adequada. Os órgãos sensoriais captam os estímulos, sejam, visuais, táteis, acústicos, que normalmente estão sendo emitidos simultaneamente, cabendo ao SNC priorizar os que são relevantes para a tarefa (WEINECK, 1999). A dificuldade de se estudar os efeitos do fenômeno perceptivo nos processos relacionados à performance habilidosa, faz com que, em muitos casos, pouca importância seja dada à fase da percepção. Apesar de muitas pessoas geralmente perceberem um mesmo elemento da mesma maneira, diferenças no processo perceptivo podem existir e são os resultados de uma variedade de fatores pessoais (SINGER, 1980). Alguns desses fatores são relacionados a diferenças presentes no estilo perceptivo, na atenção seletiva e conjunta dos sinais externos (VERKHOSHANSKI, 2001), na motivação que providencia maior concentração (estado de alerta) ao sujeito, na experiência com a tarefa a ser executada, e no nível de desenvolvimento e maturidade (SINGER, 1980). O estilo perceptivo é descrito como sendo um processo pelo qual o sujeito recebe informações do ambiente de formas distintas, podendo ser dependente ou independente do campo visual. O estilo perceptivo dependente do campo visual apresenta-se com uma visão espacial ampla, ou seja, o sujeito observa diversos componentes que estão sendo apresentados no ambiente como parte de um conjunto de informações que fornecerão as ferramentas necessárias para a percepção. O estilo perceptivo independente do campo visual, ou seja, com uma visão espacial mais centrada, faz com que as informações do ambiente sejam aproveitadas de forma mais específica, onde o sujeito prioriza informações dentro de um campo visual observado. Com estas diferenças nos fatores pessoais relevantes para o processo de percepção, os sujeitos podem se apresentar mais aptos a desenvolver certos tipos de atividade, dependendo de tarefas com complexidade distinta em que o ambiente tem maior interferência. Sage (1977, citado por SINGER, 1980) entende que indivíduos dependentes de campo visual teriam maior dificuldade em modalidades com bola, pois não discriminam a bola de outros componentes apresentados no campo com eficiência. 5 A atenção seletiva providencia ao sujeito a capacidade de eliminar aspectos que não têm influência sobre a tarefa. Essa capacidade de seleção dos estímulos apresentados providencia uma percepção rápida e facilitada dos aspectos relevantes para o processo perceptivo. Um outro fator que influencia no processo perceptivo é a motivação. O sujeito motivado se mostra mais concentrado para a execução da tarefa, conseguindo perceber e selecionar mais facilmente os sinais relevantes, previamente definidos pela vontade de percebê-los no ambiente que os apresenta (SINGER, 1980). Assim como os fatores supracitados, a experiência prévia do sujeito com o ambiente ou com os objetos que este ambiente apresenta, pode promover um nível de expectativa que melhora sua percepção (SINGER, 1980). A familiaridade com estas situações é o resultado da aprendizagem motora e é descrita como aprendizagem perceptiva. Segundo Epstain (1967, citado por SINGER, 1980) a aprendizagem perceptiva está relacionada às experiências com a tarefa, com a exposição a fatores conflitantes que o ambiente apresenta, promovendo uma melhora na capacidade de percepção correta dos sinais apresentados, e estariam também relacionados ao nível de desenvolvimento e de maturidade que o indivíduo possui. Após a percepção do estímulo pelos órgãos sensoriais haverá o reconhecimento de que este sinal foi apresentado, e posteriormente a seleção e organização da resposta no SNC. Estes três estágios (reconhecimento, seleção e organização) fazem parte do processamento das informações no sistema nervoso (SHIMIDT, 1993). Durante a primeira etapa, ou fase do reconhecimento do estímulo, ocorre a interpretação se o estímulo foi apresentado e se a forma em que isto aconteceu foi correta. A análise da informação concernente à condição em que o objeto se encontra é um estágio sensorial que utiliza fontes como a visão, tato e audição. Neste momento fatores como a trajetória do objeto no ambiente, seu peso e velocidade em que se encontra e sua posição no espaço, são considerados. O resultado deste estágio é representado como uma apresentação do estímulo. 6 Em seguida, na fase de seleção da resposta, as informações sobre as condições do estímulo em relação ao ambiente apresentarão as ferramentas necessárias para programar a resposta mais adequada a ser feita. Nesta fase é definida a escolha dos movimentos disponíveis em virtude do estímulo que foi apresentado. Na última etapa do SNC que é a da programação da resposta, ocorre uma organização das informações armazenadas, para que seja desencadeada a propagação do estímulo aos níveis inferiores no tronco cerebral e espinha dorsal, e estes sinais sejam mandados aos músculos específicos para que possam realizar a ação ou movimento propriamente dito. Este movimento será melhor desenvolvido, quanto mais correta as informações tiverem sido percebidas e processadas no sistema nervoso. Por isso, nesta fase o sistema procura organizar de forma apropriada e com níveis de força e de intensidade eficientes, de acordo com o estímulo apresentado e percebido, para que o músculo se contraia e responda adequadamente (SCHMIDT, 1993). Durante o estágio de processamento da informação alguns fatores podem auxiliar ou prejudicar o sistema na organização das informações, adequadamente, assim como ocorre durante a fase de percepção do sinal. A experiência com a tarefa pode determinar se o processamento da informação será facilmente compreendido pelo SNC. A motivação também pode providenciar um maior grau de atenção ao sujeito, facilitando o processamento da informação, ou interferindo negativamente se o indivíduo não estiver concentrado (SCHMIDT, 1993). Após a verificação de como o sinal é percebido e processado, serão abordados os processos que ocorrem durante a propagação do estímulo nervoso, até sua chegada na junção neuromuscular (SCHMIDT, 1993). 7 2.2 Estrutura básica de um neurônio, propagação e transmissão do estímulo nervoso A propagação e transmissão do sinal neural são dependentes de células nervosas denominadas neurônios (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993). O neurônio é formado pelo corpo celular, pelos dendritos e pelo axônio (SCHAUF et al., 1993; WILMORE & COSTILL, 2001). O corpo celular é o centro de controle do neurônio e possui ramificações denominadas dendritos, que são curtos ramos neurais por onde recebem estímulos de outras terminações nervosas, e aumentam a superfície de contato entre os neurônios (FOX et al., 1991; MCARDLE et al., 2003). A condução do estímulo nervoso acontece somente em uma direção, não sendo possível que um sinal percorra o caminho inverso ao que foi programado (GUYTON & HALL, 1998). O sistema nervoso é constituído por ligações entre neurônios, entre os neurônios e os receptores sensoriais e entre os neurônios e as fibras musculares (GUYTON & HALL, 1998). Cada neurônio motor inerva até milhares de fibras musculares, no entanto cada fibra muscular é inervada por apenas uma “ramificação” axonal de um neurônio. O conjunto entre um neurônio motor e as fibras musculares que ele inerva é conhecido como unidade motora (TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). O espaço entre a terminação axonal e o sarcolema é conhecido como fenda sináptica, sendo necessário um mediador químico (neurotransmissor) para atravessar este espaço para que o estímulo elétrico seja transmitido da membrana pré para a pós sináptica. O neurotransmissor responsável por propagar este sinal do neurônio motor para a fibra muscular é a acetilcolina (AIRES et al., 1999; FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GOLDBERG, 1997; GUYTON & HALL, 1998; LERNER, 1982; MCARDLE et al., 2003). Para que a acetilcolina atinja o sarcolema é necessário que antes ela seja liberada na fenda sináptica. Depois que o estímulo elétrico atinge a terminação axonal, os íons Ca++ do líquido intersticial migram para dentro da terminação nervosa fazendo com que as vesículas contendo acetilcolina liberem-na na fenda sináptica. 8 (AIRES et al., 1999; LIPPOLD & WINTON, 1970, TORTORA, 2000). A acetilcolina atravessa a fenda e se liga a receptores na membrana da fibra muscular, mudando sua conformação, e abrindo canais iônicos a fim de desencadear um potencial de ação que é decorrente da mudança de carga elétrica no interior da membrana (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; SCHAUF et al., 1993). Parte da acetilcolina, porém, é degradada pela enzima acetilcolinesterase. A colina resultante desta degradação será reutilizada para ressintetisar mais acetilcolina (TORTORA, 2000). As atividades do sistema nervoso são originárias de receptores sensoriais, auditivos, visuais ou táteis. Eles detectam estímulos sensoriais como o tato, calor, luz e fazem ligação com neurônios que, por sua vez, se ligam a outros neurônios para a condução do impulso nervoso. Os mecanorreceptores, termorreceptores, nociceptores, receptores eletromagnéticos (fotorreceptores) e os quimiorreceptores são basicamente os tipos de receptores sensoriais existentes em diversos locais do corpo (GUYTON & HALL, 1998; WILMORE & COSTILL, 2001). As sensações e o estado fisiológico são detectados por receptores sensoriais distribuídos pelo corpo. Terminações nervosas como o Corpúsculo de Meissner (tato), o Corpúsculo de Pacini (pressão), Receptores Sinestésicos (angulação articular), entre outros, são responsáveis por converterem os diferentes tipos de estímulos em potencial de ação e transmitir estas informações, por vias aferentes, ao sistema nervoso. O sistema sensorial oferece ao SNC informações do ambiente, do posicionamento do corpo, e de seu estado funcional para que possa organizar diversas atividades por meio da contração muscular (WILMORE & COSTILL, 2001). O músculo esquelético pode ser controlado a partir de muitos níveis distintos do sistema nervoso, incluindo a medula espinhal, o bulbo, a ponte e o mesencéfalo, o cerebelo e o córtex motor (GUYTON & HALL, 1998). O SNC controla de forma organizada, como a fibra será estimulada. Para se manter a força de uma contração muscular por tempo prolongado, o sistema nervoso varia a quantidade de unidades motoras ativadas (KERNELL, 1992, citado por ENOKA, 2000), através da mudança do número de unidades motoras, ou do volume de atividade destas unidades que tenham sido ativadas. Existe basicamente uma 9 seqüência pré-estabelecida pela qual ocorre um controle ordenado de recrutamento das unidades motoras. A princípio, a ordem em que uma unidade motora é recrutada é definida pelo tamanho do neurônio motor indicado pela área de superfície do corpo celular e dos dendritos, sendo que os menores neurônios são recrutados primeiro por serem mais facilmente excitáveis. Porém, outros fatores podem interferir no recrutamento ordenado das unidades motoras, como a sensibilidade dos receptores ao neurotransmissor, e a quantidade deste que é liberada a cada potencial de ação pela terminação nervosa. Esta organização é encontrada entre neurônios motores que inervam um músculo em particular (ENOKA, 2000). Se a musculatura esquelética se contrai por tempo prolongado ou durante uma alta intensidade de exercício, pode haver um declínio na capacidade do músculo em gerar a força necessária para a manutenção do trabalho. Nestas condições pode se iniciar a instalação dos processos de fadiga o que prejudica o rendimento, fazendo-se necessário que algum tipo de adaptação seja providenciado. O SNC pode receber uma resposta, sobre as condições do músculo em fadiga, através dos tratos sensoriais ascendentes que conduzem os impulsos nervosos da periferia ao encéfalo (TORTORA, 2000), ou isto pode ocorrer na região supra-espinhal através de uma interpretação e resposta voluntária da condição fatigante ao músculo, ou ainda pela reposta reflexa do neurônio motor espinhal para o músculo (WESTERBLAD & ALLEN, 2002). Esta questão será melhor abordada no capítulo sobre fadiga muscular. Em condições fatigantes, o percentual do tipo de fibra muscular recrutada pode se alterar para se manter o trabalho no músculo. Então é conduzido um impulso ao sistema nervoso para que ele defina que resposta será enviada ao músculo para tentar atenuar a situação fatigante. Um exemplo disto é mostrado quando o sistema motor altera o percentual de recrutamento entre os músculos que compõe um mesmo grupo muscular. Sjogaard et al. (1986, citados por ENOKA, 1995) verificaram este comportamento através de registros eletromiográficos (eletrodos de superfície) no quadríceps da coxa, onde observaram uma variação na ordem de recrutamento dos músculos que compõe o quadríceps, durante 1 hora de tarefa. Embora o torque tenha 10 permanecido constante durante o tempo de duração do protocolo experimental, concluiu-se que o SNC foi capaz de desencadear uma alteração na atividade muscular para manutenção da tarefa, fazendo com que houvesse no decorrer do teste uma maior ação do vasto lateral, em relação ao começo da tarefa. 2.3 Estrutura e contração do músculo esquelético 2.3.1 Composição da fibra muscular Quando um estímulo elétrico percorre a fibra muscular, uma série de acontecimentos é necessária antes que ocorra a contração muscular (MCARDLE et al., 2003). O entendimento das estruturas do músculo é importante para a compreensão de como o músculo se contrai. O músculo esquelético é formado por milhares de fibras contráteis envolvidas por tecido conjuntivo denominado endomísio (FOX et al., 1991). Internamente, presa ao Endomísio está a membrana da fibra, conhecida como sarcolema (MCARDLE et al., 2003). Na extensão do sarcolema estão os túbulos transversos (túbulos T), os quais permitem que os impulsos nervosos que chegam ao sarcolema sejam transmitidos às miofibrilas rapidamente (FOX et al., 1991; WILMORE & COSTILL, 2001). Entre as miofibrilas há um espaço preenchido pelo sarcoplasma, que é uma substância gelatinosa. Este espaço é o próprio citoplasma da fibra muscular, onde o retículo sarcoplamático irá liberar Ca++ necessário para a contração muscular (GUYTON & HALL, 1998; WILMORE & COSTILL, 2001). Os Filamentos de actina e os de miosina formam o sarcômero, que é a unidade funcional básica de uma miofibrila (WILMORE & COSTILL, 2001). Eles se interagem e mudam a posição de seus filamentos para que o músculo se contraia (GUYTON & HALL, 1998). Os filamentos de miosina são dispostos em forma de dupla hélice, com duas cabeças em cada extremidade, denominadas pontes cruzadas (FOX et al., 1991), enquanto os filamentos de actina são compostos por actina, troponina e tropomiosina (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998). A troponina tem três subunidades, uma ligada a actina, outra ligada a tropomiosina 11 (enrolada à actina de forma helicoidal) e uma última sendo o sítio de ligação para os íons cálcio (Ca ++ ) (MCARDLE et al., 2003; SCHAUF et al., 1993). O retículo sarcoplasmático é responsável pelo armazenamento e liberação do Ca ++ (GUYTON & HALL, 1998), que irá agir ligando-se à troponina para eliminar sua capacidade de inibição em repouso (veja detalhes a seguir). 2.3.2 Fases da contração muscular Antes que aconteçam os processos contráteis, algum estímulo deve ser enviado ao cérebro e ser processado para determinar qual a musculatura será acionada e qual o tipo de contração será desencadeado. Neurônios do córtex motor são excitados e o estímulo elétrico é mandado pelas fibras nervosas eferentes para a junção neuromuscular. Quando um potencial de ação chega à junção neuromuscular, canais de cálcio voltagem-dependente são abertos, fazendo com que ocorra o influxo de Ca++ para a terminação nervosa (GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993). Esse processo faz com que vesículas contendo acetilcolina se fundam com a membrana pré-sináptica e as libere na fenda sináptica (MCARDLE et al., 2003). Parte da acetilcolina liberada é degradada pela enzima acetilcolinesterase, gerando colina que é reabsorvida pelo botão sináptico, e ácido acético que é metabolizado (FARINATTI & MONTEIRO, 1992). A acetilcolina que não foi degradada e chega à membrana da fibra muscular se liga então aos receptores colinérgicos nicotínicos, e muda a conformação da membrana, abrindo canais de sódio (Na +) e potássio (K +), desencadeando um potencial de ação na fibra muscular (SCHAUF et al., 1993). Esse potencial de ação ocorre com a entrada de Na + (despolarização) para dentro da célula, e posteriormente ocorre a saída de K + (repolarização) (BULLOCK et al., 1998). Com a despolarização da membrana da fibra muscular, o impulso elétrico percorre os túbulos t e chega até o retículo sarcoplasmático, o qual libera íons Ca++ armazenados, no sarcoplasma (TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). Os íons Ca++ liberados, ligam-se à troponina e eliminam seu poder de inibição, permitindo que as pontes cruzadas de miosina se acoplem à actina (FOX et al., 12 1991). Nesse momento a actina ativa a enzima ATPase, que fraciona adenosina trifosfato (ATP) (ligado à cabeça da miosina) em adenosina difosfato + fosfato inorgânico (ADP + Pi), liberando energia (MCARDLE et al., 2003). Essa energia é utilizada para fazer a acoplagem da cabeça de miosina com o sítio de ligação da actina (SCHAUF et al., 1993; WILMORE & COSTILL, 2001), e produzir a tração necessária para o deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina, resultando no encurtamento do sarcômero (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998), que é a contração muscular propriamente dita. Nova molécula de ATP é ligada à cabeça da miosina desfazendo a ligação actina-miosina (MCARDLE et al., 2003). Na quebra desse ATP, é liberada novamente energia para a acoplagem e posterior deslizamento dos filamentos de actina com a tração das cabeças de miosina, com o aumento do encurtamento do sarcômero e continuação ou manutenção da contração do músculo (MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001). Enquanto houver Ca++ ligado à troponina, decorrente do impulso que chega à fibra, o processo contrátil continua, mas é cessado quando o Ca++ é levado de volta para o retículo sarcoplasmático. Este processo também é dependente de gasto de energia, e é feito a partir da hidrólise de ATP (FOX et al., 1991; GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993). Dependendo da intensidade do exercício e do tempo em que este é prolongado, há uma predominância na excitação de determinados tipos de fibras musculares. Isto é importante para determinar a capacidade do indivíduo em resistir a determinados volumes e intensidades de esforço. A disponibilidade de energia, representada pelo ATP, e dos íons Ca++ são também fatores limitantes nos processos de contração muscular (MCARDLE et al., 2003). 2.3.3 Tipos de fibra muscular Os músculos são constituídos por diferentes tipos de fibras musculares: as fibras do tipo I (vermelhas de contração lenta), e as do tipo II (brancas de contração rápida) (FOSS & KETEYIAN, 2000). As fibras do tipo I são predominantemente 13 aeróbias (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), enquanto as do tipo II podem ser subdivididas de acordo com suas características: IIA são anaeróbias, podendo atuar aerobiamente, IIB tipicamente anaeróbias e IIC indiferenciadas que podem participar na reinervação ou na transformação das unidades motoras (MCARDLE et al., 2003). As fibras vermelhas possuem um grande percentual de mioglobina, de mitocôndrias, e uma maior capilarização, e são mais resistentes à fadiga, sendo recrutadas predominantemente em atividades de resistência, enquanto as fibras brancas possuem maior percentual de miofibrilas e de enzimas que participam da glicólise anaeróbia e menor percentual de mioglobina, sendo fibras utilizadas essencialmente em atividades de alta potência com menor capacidade de resistência à fadiga (CHICHARRO & VAQUERO, 1995; DOUGLAS, 2002). Logo, dependendo do percentual do tipo de fibra muscular que o indivíduo possui, e do treinamento das capacidades aeróbia ou anaeróbia, este pode ter maior ou menor capacidade de resistir à fadiga no músculo, caracterizando-o como um atleta de “endurance” ou de atividades de potência muscular. 2.4 Transferência de energia Uma das formas de armazenamento de energia na musculatura esquelética e no fígado é o glicogênio, o qual pode ser hidrolisado para produzir glicose, no processo denominado glicogenólise (TORTORA, 2000). A glicose será convertida por diversas reações químicas em outras substâncias até disponibilizar energia, ou ATP. O ATP, quando degradado em ADP, libera Pi, e esta “quebra” libera energia que é utilizada em todo trabalho celular onde for necessária (ALBERTS et al., 2002; FOX, 1984; LEFF & SCHUMACKER, 1996; MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001), incluindo várias etapas da contração muscular. Além do ATP, a creatina fosfato (CP) é um composto químico com uma ligação fosfato, rica em energia (GOLDBERG, 1997; MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001). A CP pode decompor-se e liberar Pi que deverá ser utilizado na ressíntese de ATP 14 (FOX, 1984; WILMORE & COSTILL, 2001), para repor rapidamente o que está sendo utilizado e manter o trabalho muscular por mais tempo. O ATP mais a CP celular que estão armazenados no músculo esquelético são denominados como o sistema do fosfagênio de alta energia. Em conjunto, eles predominam no fornecimento de energia para a potência muscular rápida entre 8 e 10 segundos, podendo chegar à 15 s, nas atividades que requerem especialmente capacidade de explosão muscular, e esse processo é denominado de metabolismo anaeróbio aláctico (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON & HALL, 1998; MCARDLE et al., 2003; WILMORE & COSTILL, 2001), onde não há a necessidade da utilização de oxigênio para a produção de energia (anaeróbio), e a concentração de ácido láctico não se eleva de maneira significativa, como quando observado na predominância do metabolismo anaeróbio láctico, onde é verificado aumento exponencial na concentração de lactato sangüíneo (MCARDLE et al., 2003), especialmente em atividades intensas entre 1 e 3 min de duração (FOX, 1984; LEHNINGER et al., 2000; MURRAY et al., 1998). Os primeiros estágios de exercícios que culminam em altas concentrações de lactato sangüíneo se iniciam pelos processos do metabolismo anaeróbio, onde cada molécula de glicose é convertida em duas moléculas de ácido pirúvico, que pode ser convertido em Acetil-Coa para entrar no Ciclo de Krebs e produzir ATP na mitocôndria (metabolismo oxidativo) (ALBERTS et al., 2002; BERKALOFF et al., 1975; GUYTON & HALL, 1998; LEITE, 2000). Porém, na falta de oxigênio suficiente para que ocorra o processo oxidativo do metabolismo da glicose, a maior parte do ácido pirúvico é hidrogenado e converte-se em ácido láctico, a partir da combinação de íons hidrogênio (H+) ao ácido pirúvico (SILVA et al., 1983; TORTORA, 2000; WILMORE & COSTILL, 2001). O ácido láctico se difunde, então, das células musculares para o líqüido intersticial e o sangue (BULLOCK et al., 1998; GUYTON & HALL, 1998; LEHNINGER et al., 2000). O lactato sangüíneo é dissociado a partir do ácido láctico, com liberação de íons hidrogênio (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), mas sua concentração no sangue e no músculo não representa apenas a produção de ácido láctico, mas depende do 15 balanço entre sua liberação na corrente sangüínea e sua remoção (BROOKS, 1991, citado por DENADAI, 1997). A capacidade que o atleta possui de realizar esforço com alta concentração de lactato no sangue é resultado da adaptação à capacidade física anaeróbia láctica. Além disso, ocorrem adaptações no organismo do indivíduo treinado, como o aumento de enzimas que regulam a glicólise anaeróbia (MCARDLE et al., 2003). Com o desenvolvimento desta capacidade física, a diminuição do rendimento deve ser retardada e provavelmente o judoca realizará um maior número de lutas com menor indício de fadiga, comparado com um judoca menos condicionado, acumulando menos lactato no sangue em esforço submáximo e/ou removendo-o mais rapidamente (FRANCHINI, 2001), já que o acúmulo elevado de lactato no sangue está associado com a diminuição do rendimento (AHMAIDI et al., 1996, citados por FRANCHINI, 2001). Os sistemas do ácido láctico juntamente com o ATP/CP são predominantes nas lutas em competições de judô, mas a capacidade aeróbia também tem papel essencial nas lutas que se prolongam até o final e principalmente naquelas que terminam empatadas e vão para o Golden-Score, podendo chegar a 10 min de duração. 2.5 Fadiga O termo fadiga é usado para descrever estado de desconforto e de menor eficiência muscular (FITTS, 1996; FOSS & KETEYIAN, 2000). A fadiga muscular localizada foi definida como a diminuição na capacidade de gerar força (DEEB, 1999; ROZZI et al., 2000; STACKHOUSE et al., 2001), diminuição da velocidade, resultando em erros, falta de coordenação, atraso no TR e diminuição do desempenho atlético (BARBANTI, 1997), dependendo da intensidade e duração da tarefa. Podem existir diferentes causas para a fadiga muscular que resultam na falha do mecanismo contrátil. Elas podem ser decorrentes de fatores periféricos, que 16 resultam da incapacidade local do músculo em gerar força, e fatores centrais por uma diminuição da ativação do SNC (FITTS, 1996; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). A falha periférica pode ser decorrente de fatores relacionados ao sistema energético (ATP-CP, glicólise e oxidação), à disponibilidade de Ca++, ao acúmulo de subprodutos metabólicos que alteram o pH fisiológico (DUARTE, 1989, citado por FARINATTI & MONTEIRO, 1992; EDMAN et al., 1992, citados por ENOKA, 1995; GUYTON, 1977; SCHAUF et al., 1993), e ao aumento da quantidade de Pi na fibra muscular (RASSIER & MACINTOSH, 2000; WESTERBLAD & ALEEN, 2002). A falha central pode ser decorrente de informações das condições estressantes do músculo para o sistema nervoso por um estímulo aferente, que providenciará uma diminuição na freqüência de estímulos mandados para a fibra muscular por um estímulo eferente (GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002, WILMORE & COSTILL, 2001). Quando acontece um distúrbio no músculo que leva ao estado de fadiga, pode ocorrer um feedback inibitório aferente (BIGLAND-RITCHIE et al., 1995; GARLAND et al., 1990; HAYWARD et al., 1991, citados por ENOKA, 1995) para a região supraespinhal que desencadeia uma resposta inibitória para um neurônio motor (BIGLAND-RITCHIE et al., 1986; GARLAND et al., 1990, citados por FORESTIER & NOUGIER, 1998), com a redução da freqüência das descargas elétricas para estes neurônios, ou por uma inibição direta que parte do próprio neurônio motor em direção à fibra muscular (GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002), resultando em declínio no rendimento do músculo (FOSS & KETEYIAN, 2000). Esta é uma forma de ajuste que o sistema nervoso utiliza para manter o trabalho muscular, através de uma espécie de economia de estímulos do comando central para o músculo em trabalho (BIGLAND-RITCHIE et al., 1983, citados por FORESTIER & NOUGIER, 1998). À medida que a atividade muscular se prolonga, também pode ocorrer uma falha no mecanismo de transmissão do impulso elétrico do neurônio motor para a fibra muscular, pela excessiva e freqüente chegada de estímulo na junção neuromuscular, resultando na limitação da liberação do neurotransmissor acetilcolina 17 pela terminação nervosa (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; LERNER, 1982). Com a menor liberação de acetilcolina na fenda sináptica, ocorrerá uma redução em sua quantidade que irá atingir os receptores da fibra muscular (membrana pós-sináptica) podendo limitar ou bloquear a excitação da fibra muscular. Outro fator que pode levar à fadiga é a interrupção do fluxo sangüíneo para um músculo em contração por cerca de 1 min, pela queda dos níveis de nutrientes e oxigênio que chegam no músculo envolvido (LERNER, 1982). Em caso de fadiga extrema, o músculo pode entrar em espasmo (câimbra). Isso deve ser decorrente da queda dos níveis de ATP na musculatura esquelética (DOUGLAS et al., 2002; LERNER, 1982), impossibilitando que o complexo actina-miosina se separe, resultando numa contração continuada (MCARDLE et al., 2003). Essa redução dos níveis de ATP é resultado do aumento da depleção do glicogênio muscular, com diminuição na ressíntese de ATP (GUYTON & HALL, 1998; SCHAUF et al., 1993). Durante o processo dependente da atuação do Ca++ na capacidade de gerar força para a contração muscular, pode ocorrer limitação na sua liberação pelo retículo sarcoplasmático ou na sua utilização no sarcoplasma, em casos de fadiga. Nesta condição haverá uma redução na concentração de Ca++ liberado pelo retículo sarcoplasmático (ALLEN et al., 1989; WESTERBLAD et al., 1993, 1996, citados por RASSIER & MACINTOSH, 2000), ou diminuição na sensibilidade ao Ca++ que foi liberado (WESTERBLAD et al., 1991, citados por RASSIER & MACINTOSH, 2000). O segundo fator pode ser decorrente da diminuição da afinidade da troponina pelo Ca++. (RASSIER & MACINTOSH, 2000; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). O metabolismo anaeróbio envolve a hidrólise da CP, para creatina e Pi. Esta é uma forma de disponibilizar energia para a ressíntese de ATP e acontece durante atividades de alta intensidade de 10 s de duração aproximadamente, onde o Pi liberado se liga ao ADP para formar ATP (WILMORE & COSTILL, 2001). Com a diminuição da CP e a redução na formação de ATP é observado um aumento na concentração de Pi no sarcoplasma (SAHLIN & KATZ, 1990). Porém, o Pi aumentado pode diminuir a função contrátil (WESTERBLAD & ALLEN, 2002), a partir da redução na produção de força das pontes cruzadas e da redução na sensibilidade ao Ca++ (ALLEN et al., 18 1995; FITTS, 1994; WESTERBLAD et al., 1991, citados por RASSIER & MACINTOSH, 2000; DAHLSTEDT et al., 2001, citados por WESTERBLAD & ALLEN, 2002). O Pi pode diminuir a liberação do Ca++ do retículo sarcoplasmático ao entrar no retículo e causar precipitação de um complexo Ca++-Pi (DUKE & STEELE, 2001; POSTERINO & FRYER, 1998), que é menos sensível para se ligar à troponina, além de levar a uma quantidade reduzida do Ca++ livre para ser liberado posteriormente (FRYER et al., 1997; DAHLSTEDT et al., 2001; GIANNESINI et al., 2001 KABBARA et al., 2001, citados por WESTERBLAD & ALLEN, 2002). O aumento de Pi, segundo os autores, é considerado um dos fatores intramusculares de grande importância na diminuição da produção de força induzida pelo processo de fadiga em atividades de alta intensidade (STACKHOUSE et al., 2001; THOMPSON & FITTS, 1992; WESTERBLAD & ALLEN, 2002; WESTERBLAD & LEE, 1991). No caso da fadiga decorrente do acúmulo de substratos metabólicos, é observada como principal causa, a presença acentuada de ácido láctico em atividades intensas (VOLTARELLI et al., 2002), que é uma forma de disponibilizar ATP pelo sistema da glicólise anaeróbia, que ocorre na ausência de oxigênio. A formação de ácido láctico ocorre pela reação do ácido pirúvico com o hidrogênio. Porém o excesso de ácido láctico pode levar à diminuição da performance. O ácido láctico em si não é responsável pela fadiga, mas quando dissociado em lactato e íons H+, pode resultar numa condição de acidose muscular (FOSS & KETEYIAN, 2000; GHORAYEB & NETO, 1999; GUYTON & HALL, 1998). Essa condição ácida resultante do acúmulo dos íons H+ pode alterar a fisiologia muscular, como a ação enzimática nos processos contráteis (CONN & STUMPF, 1994; GOLLNICK et al., 1990; SCHAUF et al., 1993). O H+ acumulado pode reduzir a força de contração do músculo por competir com o Ca++ pelos seus receptores na troponina (BALL et al., 1994, citados por STACKHOUSE et al., 2001), e o lactato que foi dissociado, quando em concentração entre 15 e 30 mmol/l, reduz a geração de força nas pontes cruzadas gerada pela ligação do Ca++ à troponina, entre 8 e 10 % (ANDREWS et al., 1996; DUTKA et al., 2000, citados por STACKHOUSE et al., 2001). 19 A acidose metabólica deve ser controlada nas células e nos líquidos corporais, que possuem tampões como o bicarbonato, os quais minimizam a ação de desequilíbrio do H+. Sem o tamponamento, em casos extremos, o pH seria reduzido pelo aumento da presença dos íons H+ podendo resultar em morte celular (GHORAYEB & NETO, 1999; WILMORE & COSTILL, 2001). Num pH de 6,4 começa a interrupção na degradação de glicogênio para produção de energia, podendo interferir também no acoplamento das pontes cruzadas entre a actina e a miosina, pela redução de energia disponível no sarcoplasma (WILMORE & COSTILL, 2001). Portanto, a atividade catalítica das enzimas é sensível às diferenças de pH, sendo que uma pequena variação do pH pode provocar uma diferença na velocidade de algumas reações catalisadas enzimaticamente (LEHNINGER et al., 2000), ou a inibição de enzimas regulatórias da via glicolítica como a fosfofrutoquinase, fosforilase quinase e adenilciclase (ROBERTS et al., 1989, citados por DRIGO et al., 1996). Além da fadiga induzida por altas concentrações de ácido láctico, algum fator central também pode acentuar este processo, seja por inibição reflexa do neurônio motor espinhal, seja por inibição voluntária da atividade motora supra-espinhal devido à percepção pelo sistema nervoso, do desconforto no músculo durante o exercício intenso que está sendo causado pela acidose (WESTERBLAD & ALLEN, 2002). As formas em que a fadiga muscular se apresenta devem estar associadas ao tipo de tarefa que será executada, em relação à intensidade e duração em que é sustentada, além de ser dependente da flexibilidade de adaptação do SNC. Além disso, o grau de motivação do sujeito pode interferir no tempo de aparecimento da incapacidade em gerar ou manter a força de contração em situações de fadiga. Sendo assim, quanto mais motivado estiver o indivíduo para executar uma tarefa, mais tempo levará para que sua performance seja diminuída durante trabalhos fatigantes (BIGLAND-RITCHIE et al., 1986, citados por ENOKA, 1995). Os diferentes tipos de fibra muscular podem ter influência no tempo de aparecimento da sensação de fadiga no músculo, sendo que o indivíduo que tiver um percentual maior de fibras tipo I (contração lenta), provavelmente terá um retardo no início do processo de fadiga, já que as fibras tipo II (contração rápida), entram em 20 fadiga mais facilmente que as do tipo I (FITTS, 1996; FOSS & KETEYIAN, 2000). Evidentemente, isto é dependente da duração e intensidade de esforço, pois se o indivíduo tiver um percentual maior de fibras de contração lenta, terá maior capacidade de executar exercícios de “endurance”, enquanto aqueles que possuem maior percentual de fibras de contração rápida terão melhor desempenho em exercícios de força e velocidade (CASEY et al., 1995, citados por FOSS & KETEYIAN, 2000). A fadiga, portanto, pode ser o resultado de diversos fatores ocorrendo em diferentes locais, e não de um processo único, e que podem estar agindo simultaneamente para essa condição (GANONG et al., 1993), e por isso muitas vezes é difícil distinguir exatamente onde a fadiga está se instalando e todos os fatores que estão agindo neste processo, e até que ponto a motivação pode interferir no desempenho durante o esforço. 2.6 Velocidade de reação motora A velocidade de reação motora, ou tempo de reação (TR), é o intervalo de tempo entre um estímulo externo, seja acústico, ótico ou tátil, e uma resposta muscular apropriada (BARBANTI, 1997; JOHNSON & NELSON, 1986; WEINECK, 1999). O TR não deve ser confundido com a atividade reflexa, que também é decorrente de um estímulo e uma resposta, mas que ainda é inconsciente durante a elaboração da resposta (WILMORE & COSTILL, 2001). Os valores do TR são diferentes entre os estímulos óticos e os estímulos acústicos. Os estímulos óticos (visuais) têm valores médios de 0,250 segundos para não treinados e de 0,150 a 0,200 segundos para treinados, e os valores acústicos são em média de 0,130 a 0,160 segundos para homens e 0,140 a 0,170 segundos para mulheres (OBERSTE et al., 1974; ZACIORSKIJ, 1977, citados por WEINECK, 1999). O TR deve estar compreendido dentro de algumas fases distintas, desde o sinal apresentado, até o início da resposta desencadeada pela musculatura 21 esquelética (ZACIORSKIJ, 1992; ZAKHAROV, 1957, citados por WEINECK, 1999; WILMORE & COSTILL, 2001): • Percepção de um estímulo (sinal) apresentado no ambiente; • Excitação de um receptor sensorial (visual, acústico), a partir do sinal externo; • Condução deste estímulo para o SNC; • Interpretação e processamento do estímulo no SNC; • Condução deste estímulo até um membro efetor; • Desenvolvimento da excitação do membro efetor; • Desencadeamento da resposta motora (contração muscular). Pode-se distinguir o TR Simples e o Complexo (VERKHOSHANSKI, 2001), e ambos podem ser influenciados pela concentração e pela motivação, que providenciam o estado de alerta ao indivíduo (JOHNSON & NELSON, 1986; VILKINER, 1982, citado por WEINECK, 1999). O TR Simples, que é adquirido geneticamente e pouco se modifica com o treinamento (JOHNSON & NELSON, 1986; VERKHOSHANSKI, 2001; WEINECK, 1999), envolve apenas um estímulo prédeterminado e uma possível resposta, e representa a capacidade do indivíduo em reagir rapidamente, pois não depende de um processamento muito complexo da informação, sendo que seu valor médio para estímulo visual está por volta de 0,180 s (TEICHNER, 1954; WOODWORTH et al., 1954, citados por SCHIEFER et al., 2001). Já o TR Complexo, que pode ser modificado pelo treinamento (WEINECK, 1999), é decorrente de estímulos randomizados, e ainda podem exigir respostas distintas a partir do estímulo apresentado (SCHMIDT, 1993; BARBANTI, 1997). Quanto maior a quantidade de possíveis sinais e de respostas para cada sinal que o indivíduo deva responder, além da complexidade da tarefa, haverá uma maior necessidade de tempo para o processamento da informação no SNC e determinação da ação específica (KLAPP, 1996), e isto pode variar de acordo com a experiência com a tarefa, por parte do indivíduo. Um estudo feito por Merkel (1885), adaptado por 22 Woodworth (1938, citados por SCHMIDT, 1993), mostrou que ao se aumentar o número de alternativas estímulo-resposta, de uma para duas, o TR terá um atraso aproximado de 58 %, já quando é aumentado de nove para dez alternativas o TR terá um atraso de apenas 02-03 %. Deste modo, de acordo com o aumento do número de sinais, o TR será maior, mas não proporcionalmente de acordo com o aumento do número de tentativas. Como toda tarefa a ser realizada é dependente da percepção do estímulo apresentado (sinal externo), interpretação, processamento e desencadeamento da resposta (FARINATTI & MONTEIRO, 1992), e fatores fatigantes resultantes do estresse físico podem interferir em algumas fases do processo de contração muscular, desde o SNC até o recrutamento das unidades motoras (DUARTE, 1989, citado por FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GUYTON, 1977; JOHNSON & NELSON, 1986; SCHAUF et al., 1993), é de se esperar que o TR possa sofrer um aumento no decorrer de atividades fatigantes, levando o indivíduo a não reagir de forma tão rápida e satisfatória. Chmura et al. (1994), verificaram o efeito da concentração de lactato sobre o TR complexo. Após a tarefa de esforço em cicloergômetro os sujeitos foram instruídos a realizar uma tarefa de TR complexo, respondendo a um estímulo áudio-visual. Foi observado que nos primeiro estágios houve uma melhora gradual no TR até valores de 6 mmol/l de lactato no sangue. Porém, o TR sofreu aumento significativo juntamente com o aumento da concentração de lactato a partir deste valor. Esta melhora inicial no TR, até valores médios de concentração de lactato no sangue até 6 mmol/l, segundo os autores, pode estar relacionada ao estado de préativação do SNC, durante cargas baixas de exercício (CHMURA et al., 1994). Num outro estudo, Levitt et al. (1971, citados por JOHNSON & NELSON, 1986) relacionaram o TR complexo com o aumento da freqüência cardíaca (FC) entre 80, 115, 145, e 175 batimentos por minuto (bpm), durante caminhada em esteira rolante. Eles verificaram o melhor TR na FC de 115 bpm, podendo estar relacionado aos efeitos do aquecimento corporal em cargas leves de exercício, o que também deve ter levado ao estado de pré-ativação do SNC, e o pior TR na FC de 175 bpm, sendo que algum fator estressante causou uma deterioração nos valores de TR. 23 Quando o indivíduo executa cargas leves de exercício, é gerado um efeito de aquecimento e conseqüentemente isto aumenta a temperatura central (WEINECK, 1999; ENOKA, 2000). Nestas condições o SNC é ativado, provocando estado de alerta e atenção, e melhora do desempenho (WEINECK, 1999). Isto também resulta num aumento na dissociação do oxigênio da hemoglobina, maior fluxo sangüíneo nos músculos, um declínio na resistência causada pela viscosidade no músculo e um aumento na velocidade de condução dos potenciais de ação (SHELLOCK et al., 1985, citados por ENOKA, 2000; MCARDLE et al., 2003; WEINECK, 1989). Com estas considerações pode ser observado, que durante a execução de exercícios moderados, o TR pode ser melhorado (tornar-se menor) em relação aos tempos observados em situação de repouso. Se por um lado a fadiga, representada pelo aumento elevado da concentração de lactato, pode causar aumento no TR, sendo um fator limitante desta capacidade física, um fator que pode melhorar ou estabilizar o TR é a experiência com o esporte ou com a tarefa que será realizada (JOHNSON & NELSON, 1986), fazendo com que a resposta ao estímulo específico da modalidade seja mais rápida e correta entre atletas mais experientes (MORI et al., 2002). A capacidade de antecipação desenvolvida com a experiência de contato com os movimentos atléticos específicos da modalidade, após anos de treinamento, é um dos fatores que promovem melhores tempos de reação para os atletas de alto nível (MORI et al., 2002), devido à redução no tempo necessário para o processamento do sinal para a determinação da resposta correta, que é o resultado da aprendizagem produzida pela experiência com o esporte. Porém, um erro na antecipação pode acontecer quando a reação é feita a um estímulo que não foi aquele que se esperava, desencadeando um atraso na resposta correta, que é o tempo levado para primeiro inibir a ação inicial e na seqüência, reagir corretamente (SCHIMIDT, 1993). 24 2.7 Características fisiológicas do judô Nas atividades físicas intermitentes, como as lutas e os esportes com bola, a característica aleatória da ocorrência dos movimentos dificulta a determinação da resposta metabólica, que é influenciada diretamente pela intensidade e duração dos períodos de exercício e de pausa (DRIGO et al., 1994). Esta consideração é verificada em competições de judô, onde ocorrem freqüentes pausas determinadas pelos árbitros (Mate), devido às regras desta modalidade. Quando o atleta sai das delimitações da área de competição, quando não está aplicando golpes, quando a faixa que prende o Judogui (uniforme do judô) se solta, quando o atleta se lesiona ou quando ocorre um sangramento, são alguns exemplos de situações que levam à paralisação de uma luta. Estudos observando a duração média das lutas e do tempo de confronto e de pausa em campeonatos internacionais (Mundiais e Olímpicos) mostraram predominantemente, seqüências de combate com duração entre 15 e 30 segundos, e paralisações aproximadas de 10 segundos (CASTARLENAS et al., 1997; MONTEIRO, 1995; SIKORSKI et al., 1987, citados por FRANCHINI, 2001). Durante uma competição de judô entre adultos, com lutas realizadas em alta intensidade que podem chegar a 5 min, podendo ser prorrogadas por mais 5 min quando a primeira etapa termina empatada, além da probabilidade do atleta realizar por volta de 5 a 6 lutas (ou mais), é requerido um alto desenvolvimento da capacidade anaeróbia láctica. Isto pode ser mostrado em alguns estudos que verificaram altas concentrações de lactato no sangue em lutas de judô (DRIGO et al., 1996; FRANCHINI et al., 1998; SERRANO et al., 2001). Um dos motivos de se manter uma intensidade elevada na luta é que o atleta não pode ficar muito tempo sem aplicar uma técnica (aproximadamente 10 s), o que pode resultar em uma advertência. Porém, esta intensidade pode ser bastante variada, sendo o resultado da estratégia do atleta, e dependente de variáveis como o condicionamento físico, nível técnico esportivo, experiência com o esporte, número de lutas e duração em que foram disputadas, além do grau de motivação do indivíduo. Então, estes fatores 25 somados podem determinar se a luta poderá desencadear algum processo de fadiga, e a partir daí podem ser observados diferentes contribuições do sistema energético para o trabalho muscular, já que a duração e a intensidade da atividade, definem o metabolismo energético que predomina (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; GHORAYEB & NETO, 1999). 2.7.1 Tempo de reação e fadiga no judô Os tempos de reação simples e complexo podem ser utilizados durante a luta de judô em diversos momentos. Quando o judoca reage ao golpe, à pegada, ou a uma seqüência de golpes do adversário, com um contra-golpe ou simplesmente executando uma esquiva, está utilizando ora de reações simples ora de reações complexas. Estas reações podem ser requeridas, dependendo da forma em que as técnicas são aplicadas. Se o oponente utiliza ações previsíveis, o TR simples pode predominar. Já para os atletas com um maior repertório de golpes o TR de reação complexo pode ser mais utilizado. No entanto, há a necessidade em estar atento para as duas condições. O TR é uma capacidade física que pode ser influenciada pela antecipação. A experiência que o atleta tem com o esporte, como no judô, faz com que a variável antecipação, que pode ser o resultado de anos de treinamento, seja um fator que determine valores de TR corretos e melhor estabilizados (SCHMIDT, 1993). Uma das formas de diminuir a chance de reação adversária a partir do segundo golpe em uma luta de judô, é a aplicação de técnicas em seqüência. Esta diminuição no acerto do adversário em reagir corretamente pode melhorar o desempenho dos ataques na luta. De modo geral, o tempo ideal de intervalo entre estímulos em seqüência deve ficar entre 0,050 e 0,060 segundos, para que o estímulo subseqüente seja otimizado enquanto o primeiro ainda está em processamento (SCHIMIDT, 1993). Este é o tempo médio (estimado) que o sinal leva para ser processado, sendo que, se for aplicado estímulos repetidos num tempo menor de intervalo, numa seqüência de golpes de judô, por exemplo, o SNC 26 processará os dois sinais como um único estímulo, facilitando a reação do adversário, e se demorar mais que este intervalo, o segundo golpe da seqüência terá um processamento individual e satisfatório após o primeiro ataque (FRANCHINI, 1999). O relato dos atletas de judô referentes ao estresse da luta, geralmente é referido a um cansaço geral extremo, e uma diminuição de resistência no decorrer da luta em segurar no Judogui, além de uma diminuição da capacidade de reagir aos golpes adversários. Estes podem ser alguns indícios de que as condições de luta podem levar o judoca à indícios de fadiga, em algumas situações e momentos da luta, principalmente se for prolongada por muito tempo em elevada intensidade. Na luta de judô, são encontradas elevadas concentrações de lactato sangüíneo (AMORIM et al., 1995, citados por FRANCHINI, 1998; DRIGO et al., 1996; SERRANO et al., 2001), e isto pode interferir no desempenho do judoca, principalmente se sua capacidade de eliminar este acúmulo de lactato for lenta, já que no próximo combate ele terá maior chance de sucesso quanto mais rápida for a remoção do lactato. Em condições de luta intensa, o rendimento do judoca pode ser comprometido, e o TR pode ser uma das capacidades físicas que serão afetadas negativamente nesta etapa. Se o adversário diminuir a capacidade em reagir rapidamente nas situações de golpes em seqüência que está recebendo do adversário, e sua capacidade anaeróbia láctica for insuficiente para manter sua performance, sobrecarregando ainda mais o bom desempenho de TR, é provável que diminua as chances de executar uma esquiva ou de contra-golpear o adversário, resultando na derrota esportiva. Já que pode haver uma inter-relação entre o TR e o acúmulo elevado de lactato no sangue (relacionado com processos de fadiga), e estes fatores estão envolvidos na performance em competições de judô, averiguou-se até que ponto estão influenciando no desempenho do judoca em competições, e como poderia ser a interferência do técnico sobre as variáveis em questão, na fase de treinamento. 27 3. OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi de comparar a capacidade de atletas de judô em reagir rapidamente através da verificação do TR simples, com altas concentrações de lactato no sangue por intermédio do aumento do esforço induzido por 3 diferentes tempos de luta (1 min e 30 s, 3 min e 5 min), em relação aos valores de repouso. 28 4. HIPÓTESE Esperou-se que houvesse aumento do TR em virtude da elevada concentração de lactato (relacionado com a fadiga) após lutas de judô, essencialmente a partir do limiar anaeróbio (concentração de lactato sangüíneo acima de 4 mmol/l), como demonstrado em outro estudo de TR (CHMURA et al., 1994). 29 5. METODOLOGIA O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba (protocolo n° A011/2003/CEP), seguindo as diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos, conforme resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Local O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Biodinâmica da Faculdade de Ciências da Saúde, na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP - São José dos Campos). Sujeitos Participaram do experimento 11 judocas do sexo masculino, competidores há pelo menos 10 anos, assíduos aos treinamentos universitários desta instituição, com idade média de 23,4 + 2,4 anos, que foram esclarecidos sobre o trabalho, e assinaram um termo de consentimento pós-informado, para sua participação. Antes do início das coletas, foi feito um eletrocardiograma de esforço com a utilização do protocolo de Bruce, para averiguar a condição física dos sujeitos e a ausência de de cardiopatia. Todos os resultados foram normais (resultados não apresentados). Nenhum sujeito fez uso de medicamento durante a fase experimental. Atletas com menos de 10 anos de experiência competitiva, ou com alguma alteração no teste ergométrico seriam excluídos do protocolo experimental. Equipamentos Para as coletas dos valores de TR foi utilizado o aparelho Cybex Reactor, que é um sistema informatizado desenvolvido para medir o TR e outras capacidades 30 físicas, além de desenvolver algumas qualidades atléticas essenciais para o desempenho competitivo (GERACI, 1998). É composto por uma área com 8 plataformas ativadas por sensores que detectam a alteração de pressão no solo, transmitindo-a à memória do computador. A apresentação das plataformas é ilustrada no monitor, o qual é responsável pela transmissão dos sinais visuais (luz verde) e da seqüência que o indivíduo seguirá sobre as plataformas. Dois estudos foram encontrados com a utilização deste equipamento. Hertel et al. (1999, citados por JOHNSON et al., 2002) verificaram a validade de um teste de agilidade, e Johnson et al. (2002) observaram o efeito da lesão cerebral na execução de um teste de agilidade no Cybex Reactor. Estes estudos mostraram que os sensores são considerados fidedignos para registrar as mudanças de pressão sobre as plataformas e enviar os dados corretamente para a memória do computador. Os sujeitos fizeram uma adaptação neste equipamento (fase de treinamento) durante 10 minutos, executando diversas tentativas do protocolo experimental elaborado. Na seqüência o indivíduo foi instruído a executar 12 repetições com saída para a direita e para a esquerda das plataformas alternadamente, sendo registradas e analisadas as últimas 6 tentativas, para confirmar a adaptação no teste realizado. Esta adaptação foi confirmada com a observação pelos autores que verificaram que os valores estavam estabilizados para cada sujeito que participou dos testes. Para a coleta e análise de lactato foi utilizado o Lactímetro Portátil Accusport ® e Fitas de Análise Boehringer Mannheim ®, que é instrumento de avaliação válido e fidedigno para analisar a concentração de lactato sangüíneo (FELL et al., 1998, citados por FRANCHINI, 2001). Procedimentos Todo experimento foi realizado em um único dia, dividido em 3 etapas, com intervalo de 4 horas entre elas. Em cada etapa os sujeitos executaram a tarefa de TR, e fizeram a coleta de sangue para verificação do lactato sangüíneo. O TR foi registrado em 3 condições experimentais (em repouso, imediatamente pós-lutas e 31 após 3 min do final da luta), e o lactato em duas (em repouso e após 3 min do final da luta). Após um aquecimento de 10 minutos foram submetidos a um estímulo de luta de judô para induzir o aumento da concentração de lactato sangüíneo. Este procedimento foi realizado três vezes, cada uma delas com um tempo de luta diferente: 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, com início às 8, 12 e 16 horas, respectivamente. Os atletas avaliados lutavam com apenas um oponente por todo o tempo de cada luta, as quais não eram finalizadas após com o Ippon, e também não havia nenhuma pausa durante a luta. Para o registro do TR o indivíduo foi instruído a permanecer em pé e estável sobre duas plataformas, de frente para o monitor aguardando que a luz verde se acendesse. Após o sinal, eles deveriam seguir para a plataforma apresentada no monitor, que foi ora para o lado esquerdo ora para o direito. Para esta tarefa foram instruídos a responder ao sinal visual o mais rapidamente possível. A tarefa pode ser observada nas Figuras 1 e 2, as quais foram registradas por uma câmera fotográfica digital (SONY DSC – P51). Eles totalizaram 6 tentativas em cada condição experimental, 3 para o lado esquerdo e 3 para o direito das plataformas, alternadamente. Figura 1: Atleta estabilizado sobre as Figura 2: Atleta reagindo ao sinal plataformas que é mostrado no monitor Cybex do Cybex aguardando sinal luminoso. Reactor, Reactor, para o lado direito das plataformas. 32 Foi desenvolvido um protocolo de avaliação de TR para ser executado de uma forma simplificada, facilitando respostas corretas e apropriadas e evitando uma maior variabilidade do TR entre os valores individuais dos sujeitos. Durante a elaboração do protocolo experimental, foi determinado para análise o TR simples, já que representa a capacidade do atleta em reagir rapidamente. O TR simples é uma capacidade física adquirida geneticamente, onde fatores do treinamento têm pouca influência, o que reduz a possibilidade dos resultados serem comprometidos por fatores como a antecipação incorreta e a aprendizagem. O treinamento tem maior influência na estabilização dos valores de TR nos menores tempos possíveis adquiridos geneticamente. Além disso, o tempo do processamento do sinal, no caso de um estímulo complexo não específico, poderia resultar numa maior variabilidade do TR entre os valores adquiridos por cada sujeito. Mesmo sendo uma tarefa simples foi observado que os sujeitos erraram sua execução em alguns momentos. Então, foram considerados para o TR os registros errados pré e pós-lutas, sendo considerados erros quando o TR ao estímulo visual foi menor do que 0,130 s, tempo considerado como improvável na literatura, (OBERSTE et al., 1974; ZACIORSKIJ, 1977, citados por WEINECK, 1999) e padrão determinado como erro pelos autores, ou quando o valor não foi registrado (atleta não estabilizado). Estes valores de TR, ou o não registro dos mesmos foram considerados como sendo o resultado da antecipação e/ou da não estabilização dos indivíduos sobre as plataformas. Os erros foram registrados sobre o total de tentativas de todos os sujeitos, sendo que cada um dos 11 indivíduos executou 6 tentativas, perfazendo um total do grupo de 66 reações ao sinal. Para a verificação da concentração de lactato em mmol/l, foi feita uma coleta em repouso (antes de cada luta), para confirmar que haviam retornado aos seus valores de lactato sangüíneo de repouso em todas as etapas do experimento, já que as coletas foram realizadas em um único dia, porém, com 4 horas de intervalo entre elas, tempo considerado suficiente para que 100 % do lactato acumulado durante o esforço fosse reabsorvido (GUYTON & HALL, 1998). Para a análise da concentração de lactato após o esforço, foi respeitado um tempo de 3 min após o término da luta, 33 onde o indivíduo aguardava a coleta em recuperação passiva (sentado). Para a coleta da gota de sangue para estas análises, foi feita a assepsia da polpa do dedo dos sujeitos, com algodão e álcool. Vale ressaltar que este tempo determinado para a análise de lactato pós-lutas, não representa a fadiga propriamente dita e nem seu pico, mas sim a concentração de lactato no sangue num momento padronizado, ou seja, o lactato muscular pode não estar elevado no momento da verificação de sua concentração sangüínea, já que o lactato no sangue representa o balanço entre a formação de ácido láctico no músculo, sua dissociação em lactato e íons H+ e sua remoção. Então, a determinação da concentração de lactato foi nada mais que uma padronização do momento de uma coleta de sangue. Posterior às coletas de TR e de lactato sangüíneo em repouso, antes do estímulo de esforço, os sujeitos fizeram um aquecimento livre de 10 min com aplicação de técnicas variadas de judô (Uchi-Komi). Em seguida, para o estímulo do estresse físico, foi realizada uma luta (Randori) de 1 min e 30 s, uma luta de 3 min e uma de 5 min, com início às 8, 12 e 16 horas, respectivamente, onde o sujeito foi instruído e incentivado a manter uma intensidade máxima do início ao término da luta. O sujeito foi informado do tempo de duração de cada luta, e a implicação deste procedimento será discutida posteriormente. Os dados registrados de TR foram extraídos do equipamento informatizado Cybex Reactor, e organizados no programa Excel. Foi escolhido para uma análise inicial, o menor valor dentre as 3 tentativas de saída para a esquerda e o menor valor dentre as 3 tentativas de saída para a direita das plataformas. Como não foi encontrada diferença significativa entre os lados de saída, foi determinada para o restante das análises com a utilização do TR de repouso, a média do menor valor conseguido entre as saídas para a esquerda e a direita das plataformas. Para análise do TR pós-lutas, foi utilizado o menor valor conseguido entre as 3 tentativas para a esquerda e as 3 tentativas para a direita das plataformas. Os registros de lactato também foram organizados em planilhas e transportados para o programa Excel, onde foram submetidos a uma análise posterior. Todas as análises foram realizadas no Programa de Análise Estatística Bioestat 2.0. 34 Análise dos dados Os dados foram submetidos à Análise da Variância Kruskal-Wallis, que é um método não paramétrico. Esta escolha foi feita porque o TR é uma capacidade herdada, sendo uma característica individual, o que poderia comprometer os resultados, caso fosse utilizado um método paramétrico que utiliza a média e desvio do grupo para analisar os dados, podendo interferir nos resultados. Em todos os testes o nível de significância aplicado foi de p < 0,05, onde se verificou a diferença do TR pré e pós-lutas, com saída para o lado esquerdo e para o direito das plataformas, e foi analisado o número de erros de tentativas na execução da tarefa de TR, em repouso, imediatamente após as lutas e após 3 min do final da luta. Verificouse também a diferença nas concentrações de lactato sangüíneo em repouso e após as lutas. Foi correlacionado o n° de erros de coletas de TR com a concentração de lactato, em repouso e após 3 min do final da luta, através do Coeficiente de Correlação de Pearson, a fim de fazer uma associação entre estas variáveis. 35 6. RESULTADOS Foram registrados os valores de TR em repouso, imediatamente após a realização das lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, e 3 min após o término das lutas. Na Tabela 1 são apresentadas as médias entre os menores valores conseguidos entre as tentativas de reação em repouso com saída para o lado esquerdo e para o lado direito das plataformas, e os menores valores de TR imediatamente após as lutas e aos 3 min do término das lutas. Os valores representam a capacidade do indivíduo em reagir rapidamente. 36 Tabela 1: Média do menor valor de TR em repouso, saindo para a esquerda e a direita das plataformas, menor valor de TR imediatamente pós-lutas e após 3 min do final, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (média + desvio padrão). N Média TR TR imediatamente pós-luta (s) D/E (s) Repouso 1’ 30” 3’ 5’ TR 3 min pós-luta (s) 1’ 30” 3’ 5’ 1 0,156 0,168 0,149 0,170 0,189 0,157 0,178 2 0,228 0,298 0,188 0,178 0,220 0,208 0,170 3 0,158 0,170 0,156 0,159 0,181 0,154 0,240 4 0,197 0,232 0,218 0,176 0,199 0,184 0,188 5 0,174 0,180 0,189 0,166 0,172 0,156 0,205 6 0,188 0,174 0,222 0,384 0,180 0,181 0,168 7 0,166 0,133 0,141 0,176 0,136 0,144 0,151 8 0,176 0,222 0,194 0,192 0,223 0,188 0,163 9 0,155 0,186 0,175 0,192 0,159 0,170 0,173 10 0,144 0,136 0,132 0,152 0,154 0,135 0,139 11 0,182 0,181 0,163 0,157 0,181 0,198 0,153 X 0,175 0,189 0,175 0,191 0,181 0,170 0,175 Dp 0,024 0,047 0,030 0,065 0,026 0,023 0,028 p > 0,05 – sem diferença significativa para qualquer condição De modo geral, observamos que os sujeitos conseguiram executar a tarefa proposta, embora tenham sido observados valores de TR entre os indivíduos, relativamente diferentes, pois os desvios médios do grupo foram na maioria próximos a + 0,050 s. Porém, durante a fase de adaptação pôde ser observado que cada sujeito havia estabilizado seus valores. Além desta diferença natural do TR, os indivíduos foram incapazes de realizar corretamente a tarefa em alguns momentos 37 das coletas. Esta incapacidade em se manter o desempenho na execução da tarefa, foi determinada como sendo o número de erros durante os registros de TR (dados completos em anexo). Estes erros de execução da tarefa podem ser observados na Tabela 2, os quais estão divididos por tempo de luta. Tabela 2: Número de erros de execução da tarefa de TR em repouso às 8 horas (A), 12 horas (B) e 16 horas (C), imediatamente após as lutas e no momento da coleta de sangue, entre os três tempos de luta. Número de erros Repouso Tempo de luta Pós-luta Pós 3 min A 6 1’ 30” 11 * 9* B 4 3’ 13 * 10 * C 3 5’ 18 * 11 * * p < 0,05 – diferença significativa do repouso para as condições depois das lutas Foi observado o percentual do número de erros para o total de tentativas do grupo. Para os valores de repouso pôde-se observar que o n° total de erros dos 11 indivíduos foi de no máximo 6, que representa entre 5 e 10 % do total de tentativas do grupo (66 tentativas). Imediatamente após as lutas, o percentual de erros triplicou, e ficou entre 20 e 27 %. Após 3 min do término de luta, o n° de erros teve uma leve diminuição, mas não próximo aos valores de repouso, ficando entre 14 e 20% do total de tentativas, aproximadamente. Estes dados demonstraram que houve uma variação da quantidade de erros em função do tempo de esforço gerado pelas lutas, experimentado pelo sujeito em relação aos valores de repouso. A análise estatística dos resultados poderá ser observada posteriormente na “Análise do número de erros de registros de TR”. 38 A Tabela 3 mostra os valores do lactato sangüíneo em repouso e na condição pós-esforço para as lutas de 1 min e 30s, 3 min e 5 min. Pode-se observar que a concentração do lactato em repouso, antes da luta de 1 min e 30 s variou entre 1 e 2,1 mmol/l, e entre 10,4 e 12,7 mmol/l posteriormente à luta. Os valores referentes ao repouso, antes da luta de 3 min variaram entre 1 e 2,2 mmol/l, e entre 9,5 e 15,7 pósluta. A concentração de lactato em repouso, antes da luta de 5 min variou entre 0,9 e 2,4 mmol/l, e entre 8,3 e 16,2 mmol/l pós-luta. Estes resultados demonstraram que a concentração de lactato sangüíneo pós-lutas, aumentou expressivamente comparado com a concentração de lactato em repouso. 39 Tabela 3: Concentração de lactato sangüíneo em mmol/l, em repouso e após os tempos de luta de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (média + desvio padrão). Lactato pré e pós-lutas (mmol/l) N Repouso Luta 1’ 30” Repouso Luta 3’ Repouso Luta 5’ 1 1,3 11,3 2,1 13,7 1,5 12,2 2 1 10,7 1,7 10,7 1,4 8,7 3 1,5 11,4 1,5 11,2 1,5 10,6 4 1,2 12 1,3 9,5 2,3 14,2 5 1 12,4 1,9 10,8 1,2 9,3 6 1 12,2 2 11,6 1,4 12,7 7 1,4 10,4 1 9,7 1 8,3 8 2,1 12,7 2,2 12,5 2,4 14,4 9 2,1 11,5 1,9 11,7 2,3 11,7 10 1,5 10,7 1,6 15,7 1,9 16,2 11 1,6 11,5 1,1 10,6 0,9 9,6 X 1,4 11,5 * 1,7 11,6 * 1,6 11,6 * Dp 0,4 0,7 0,4 1,8 0,5 2,6 * p < 0,05 – diferença significativa das condições em repouso para pós-lutas A Tabela 4 mostra a média dos valores de lactato do grupo, em repouso e após 3 min do término das lutas, e o número de erros de execução da tarefa também em repouso e após 3 min do término das lutas, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min. Estes dados serão posteriormente correlacionados através do Coeficiente de Correlação de Pearson, como se apresentam. 40 Tabela 4: Média da concentração de lactato sangüíneo e do n° de erros de execução da tarefa do grupo, em repouso e pós-lutas. Média de Lactato (mmol/l) e n° de Erros, pré e pós-lutas Repouso 1’ 30” Repouso 3’ Repouso 5’ X Lactato 1,4 11,5 1,7 11,6 1,6 11,6 N° Erros 6* 9* 4* 10 * 3* 11 * * p < 0,05 – correlação significativa entre os erros e o lactato r = 0,9341 41 Análise do TR Foi feita a comparação do TR entre as saídas para o lado esquerdo e o direito das plataformas na situação de repouso. Os resultados indicaram que não houve diferença significativa entre os valores encontrados (p = 0,6446). Foi analisado se houve diferença significativa entre a média dos menores TR em repouso entre os lados direito e esquerdo das plataformas, na condição imediatamente após a luta de 1 min e 30 s e aos 3 min do término da luta. O resultado não mostrou diferença significativa (p = 0,7785). Da mesma forma não houve diferença significativa entre o TR em repouso, imediatamente pós-luta e após 3 min do final, para a luta de 3 min (p = 0,9226), ou para a luta de 5 min (p = 0,8635) (Tab. 1). 42 Na Figura 3 é observada a média dos menores valores de TR em repouso entre as saídas para o lado esquerdo e o direito das plataformas, e o TR pós-lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (Tab. 1). Os resultados da análise indicaram que não houve diferença significativa entre os valores encontrados (p = 0,9163). Tempo de Reação (s) 0,300 0,250 0,200 0,150 Tempo de 0,100 0,050 0 Rep 1,5 3 5 Tempo de Luta (min) Figura 3: TR em repouso e o TR pós-lutas (p > 0,05) (média + desvio padrão). 43 A Figura 4 mostra a média dos menores valores de TR em repouso e aos 3 min do término da luta, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (Tab. 1). A análise estatística não demonstrou diferença significativa (p = 0,7742) nesta Tempo de Reação (s) condição. 0,300 0,250 0,200 0,150 0,100 0,050 0 Rep 1,5 3 5 Tempo de Luta (min) Figura 4: TR em repouso e após 3 min do final da luta, para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (média + desvio padrão). Não foi encontrada diferença significativa (p > 0,05). 44 Para verificar o TR em repouso, imediatamente pós-luta e após 3 min do final da luta, entre as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, foram analisados os registros de TR, os quais também não mostraram diferença significativa (p = 0,9512) (Tab. 1). A Figura 5 mostra este resultado. Repouso Pós-luta Tempo de Reação (s) Após 3 min final da luta 0,300 0,250 0,200 0,150 0,100 0,050 0 Rep 1,5 3 5 Tempo de Luta (min) Figura 5: TR em repouso, imediatamente pós-lutas e após 3 min do término da luta para as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, não demonstrando diferença significativa (p > 0,05) (média + desvio padrão). Nenhum dos resultados encontrados na análise da capacidade em reagir rapidamente sob condições de esforço mostrou diferença significativa, demonstrando que o lactato não influenciou no TR, na fase de aplicação deste protocolo. 45 Análise do lactato sangüíneo Foram analisadas as diferenças entre as concentrações de lactato em repouso com os valores pós-lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min. Esta análise demonstrou diferença significativa (p = 0,0000). Não houve diferença significativa entre as concentrações de lactato em repouso para as três coletas (p = 0,4186), ou nas condições pós-lutas entre os tempos de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min (p = 0,9731) (Tab. 3). Estes resultados podem ser observados na Figura 6. Pós-lutas Lactato (mml/l) 15 12 9 6 Antes das lutas 3 0 1,5 3 5 Tempo de Luta (min) Figura 6: Concentrações de lactato sangüíneo em repouso (antes das lutas) e nas três condições temporais de luta (p < 0,05) (média + desvio padrão). 46 Análise do número de erros de registros de TR Foi comparado o número de erros de registros do TR em repouso, imediatamente pós-lutas e após 3 min do final da luta (Tab. 2). Houve diferença significativa (p = 0,0321) demonstrando um aumento no número de erros imediatamente ao término da luta e depois de 3 min, comparado com o número de erros antes da luta (Fig. 7). Repouso Pós-luta Número de Erros 20 Após 3 min final da luta 15 10 5 0 1,5 3 5 Tempo de Luta (min) Figura 7: Número de erros de registros do TR em repouso, imediatamente após as lutas e após 3 min do final da luta (p < 0,05). 47 Análise da correlação entre a concentração de lactato sangüíneo e o número de erros de execução da tarefa de TR Foi observada uma correlação significativa entre a concentração de lactato sangüíneo em repouso e após 3 min do encerramento da luta e o número de erros de registros do TR em repouso e após 3 min do término da luta (r = 0,9341; p = 0,0064) (Tab. 4). Foi utilizado nesta análise, o Coeficiente de Correlação de Pearson. 48 7. DISCUSSÃO O TR é dependente da percepção do estímulo externo, do processamento da informação, da condução do impulso nervoso até a fibra muscular e de sua excitação, e do início da resposta do músculo. Fatores relacionados à fadiga podem aumentar o TR, e segundo a literatura, o lactato é um substrato metabólico relacionado com a fadiga, e que pode interferir em algumas fases do processo que envolve o TR. Foi encontrado um estudo que relaciona o acúmulo de lactato no sangue com o TR. Chmura et al. (1994) demonstraram que o aumento acentuado da concentração de lactato no sangue (6 mmol/l ou mais) faz com que o TR seja maior. Para induzir o aumento da concentração de lactato foi utilizado um protocolo com aumento gradual de carga no cicloergômetro. Neste trabalho foi verificado o TR em repouso e em condição de altas concentrações de lactato sangüíneo, induzidas por diferentes tempos de luta no judô. Foi analisada a concentração de lactato sangüíneo em repouso antes do início dos três tempos de luta, a fim de verificar a concentração de lactato no início de cada fase da coleta de sangue, e averiguar se os indivíduos haviam retornado aos valores de lactato de repouso, essencial para que eles fizessem a luta subseqüente com os valores iniciais desta substância, já que as coletas foram realizadas em um único dia. Não foi encontrada diferença significativa, demonstrando que o intervalo de 4 horas entre cada luta foi o suficiente para que os sujeitos tivessem a concentração de lactato similar aos valores de repouso. Nos resultados obtidos foi encontrado um aumento significativo na concentração de lactato no sangue após as lutas de 1 min e 30 s, 3 min e 5 min, em relação à concentração de lactato em repouso. Estes resultados demonstraram que o esforço provocado pelas lutas foi suficiente para elevar significativamente o lactato para altas concentrações como esperado e observado em outros estudos (DRIGO et al., 1996; FRANCHINI et al., 1998; SERRANO et al., 2001). Os diferentes tempos de luta realizados para procurar induzir o aumento de diferentes concentrações de lactato no sangue poderiam, dependendo da 49 concentração de lactato, provocar uma diminuição inicial no TR, e causar um posterior aumento do TR em decorrência da elevação gradual de lactato acima de valores aproximados de 6 mmol/l da concentração de lactato no sangue, como os resultados de Chmura et al. (1994). A diminuição inicial do TR em cargas leves de exercício é relacionada com fatores de aquecimento que promovem melhor ativação do sistema nervoso (FORESTIER & NOUGIER, 1998; LEVITT et al., 1971, citados por JOHNSON & NELSON, 1986), que promovem aumento das catecolaminas no plasma (adrenalina, noradrenalina) (CHMURA et al., 1994). No entanto, os diferentes tempos de luta não induziram um aumento gradual e significativo na concentração de lactato sangüíneo como esperado, provavelmente, devido a um possível controle da intensidade do esforço pelos sujeitos durante as lutas, já que eles foram informados previamente sobre a duração dos combates, mesmo sendo instruídos a desenvolver cada luta em intensidade máxima durante todo o tempo, e mesmo reportando terem mantido tal intensidade (limitação na metodologia utilizada). Este controle da intensidade da luta é muito comum entre atletas de judô experientes, e neste caso em especial, no qual os atletas já experimentaram na prática do treinamento todos estes diferentes tempos de luta (dependendo da fase e do objetivo do treinamento), e têm a percepção do esforço necessário para suportar o estresse causado pelas mais variadas durações no tempo de luta. Outra possibilidade de não ter sido encontrada diferença significativa na concentração de lactato entre os tempos de luta pode ser pela característica distinta deste protocolo em relação ao de Chmura et al. (1994), que controlaram a carga do esforço em um ergômetro, juntamente com o aumento da concentração de lactato, o que não pôde ser feito neste protocolo. A diferenciação da carga possibilita um aumento gradual e controlado de esforço, o que permite o controle de um aumento exponencial de lactato. Apesar das altas concentrações de lactato no sangue foi observado que o TR do judoca, após a apresentação de estímulo visual, não sofreu alteração significativa em nenhuma condição temporal de luta (1 min e 30 s, 3 min e 5 min) em relação aos valores de TR de repouso, diferentemente dos resultados encontrados por Chmura et al. (1994). Além disso, o desempenho no TR não é dependente do lado do membro 50 que irá executar a tarefa (direito ou esquerdo), ao contrário dos resultados encontrados por Mori et al. (2002) que observaram diferença significativa entre os lados de execução da tarefa de TR. Porém, na comparação entre os protocolos, outra particularidade deve ser considerada, que é a posição do sujeito no momento em que o sinal era apresentado e o membro que era requerido para reagir ao sinal. No protocolo aplicado por Mori et al. (2002), os sujeitos permaneciam sentados e reagiam ao sinal visual com os membros superiores apertando uma tecla que registrava o TR, ora com a mão esquerda ora com a direita. Com isso, os sujeitos não dependiam dos dois lados do membro simultaneamente para reagir, fazendo com que não houvesse interferência de um dos lados, quando o outro tivesse que responder ao sinal, providenciando realmente um TR distinto para cada lado (membro) de execução da tarefa. Já, neste protocolo os sujeito realizavam o teste de TR em pé e reagiam ao sinal com os membros inferiores. Eles eram posicionados sobre duas plataformas, distribuindo o peso uniformemente sobre elas, e deveriam reagir ao sinal quando este fosse apresentado, procurando se deslocar para uma plataforma à sua diagonal esquerda, com seu pé esquerdo, ou á sua diagonal direita com seu pé direito. Na apresentação do sinal os sujeitos dependiam de uma mudança de pressão no solo que era executada por uma distribuição de força desenvolvida pelos dois pés, para se moverem o mais rápido possível em direção à plataforma apresentada no monitor, independente do lado que fosse apresentado. Isto mostra que os membros utilizados para a execução da tarefa não foram requeridos isoladamente para reagir ao sinal, para os registros de TR, talvez sendo o motivo de não ter sido encontrada diferença significativa nos resultados da análise entre as saídas para o lado esquerdo e para o lado direito das plataformas, por não ter sido verificado o TR de cada membro em particular. Forestier & Nougier (1998) verificaram o TR após induzir os músculos do braço à fadiga com exercício isométrico em 70 % da contração voluntária máxima. Eles observaram que o TR aumentou após a fadiga e relacionaram este fator a um controle para se manter a tarefa de arremesso de bola num ótimo desempenho como no realizado anteriormente à condição fatigante, ou seja, eles se adaptaram durante o 51 exercício de arremesso de bola aumentando o TR, pois sabiam que a “performance” durante a tarefa de arremesso poderia diminuir após o músculo estar fatigado. Da mesma forma, os sujeitos que executaram os testes deste protocolo experimental possivelmente tiveram um maior controle da tarefa principal, realizando os testes com maior atenção para manutenção do desempenho. Porém, a capacidade de reação (TR) era a própria tarefa principal, e isto pode ter sido um dos fatores que levaram os sujeitos a terem mantido os valores de TR inalterados, por controlarem esta variável com o intuito da manutenção de seu desempenho. No entanto, quando foram observados os registros de TR, foi verificado que houve um aumento do número de erros de execução da tarefa de TR pós-lutas em relação ao número de erros de execução em repouso, provavelmente porque a atenção utilizada para manterem o TR, prejudicou o desempenho em alguns momentos ao executarem a tarefa (erro do TR), possivelmente promovendo a manutenção da capacidade de reação, mas não possibilitando que fosse mantida uma consistência no número de acertos, fazendo com que as saídas fossem antecipadas ou que os sujeitos não ficassem completamente estabilizados sobre as plataformas, com a finalidade de manterem seus valores de TR pós-lutas em relação ao repouso. Além disso, o número de erros foi ainda maior imediatamente após o término das lutas do que quando observado no momento da coleta de sangue para verificação da concentração de lactato. Isto demonstra que o momento de uma coleta, padronizado neste trabalho como 3 min após o término das lutas, não necessariamente representa a fase de maior concentração de lactato no músculo ou de maior acidose muscular, mas sim a dinâmica entre a produção de ácido láctico muscular, sua dissociação em lactato e íons H+ e sua remoção, e que imediatamente após as lutas houve provavelmente, uma maior interferência da acidose do que no momento da coleta de sangue. Esta concentração de lactato observada aos 3 min após o término da luta não pode ser confundida com o pico de lactato, que é determinada pela sua dosagem em diversas coletas após o esforço (normalmente com intervalos de 1 min), para verificar quando ocorreu seu pico, o que não foi 52 aplicado neste protocolo experimental. Contudo, um estudo de Franchini et al. (1998), mostrou que o pico de lactato ocorre de forma geral entre 1 e 3 min após esforço. Os resultados mostram que, para se manter uma tarefa em ótimo desempenho, é necessário que haja uma maior atenção do indivíduo, essencialmente após esforço de alta intensidade, e isto pode causar algum tipo de deterioração de uma outra variável, o que foi observado neste trabalho, onde os sujeitos mantiveram os valores de TR durante todas as fases de coleta inalterados significativamente, mas diminuíram seu desempenho do TR indiretamente, ao não conseguirem a manutenção na capacidade de reagir rapidamente em alguns momentos de tentativas de execução da tarefa, observados pelo aumento do número de erros. É possível que a fase de percepção do sinal pelo órgão sensorial ótico, a fase do processamento das informações (reconhecimento do sinal, seleção de uma resposta e sua organização) e/ou a fase de propagação do estímulo nervoso, foram afetadas pela condição fatigante das lutas, já que a redução na concentração e/ou na motivação pode interferir na percepção e no processamento da informação no sistema nervoso (SINGER, 1980), ou seja, mesmo que os indivíduos tenham se concentrado para o aumento da atenção, esta foi atingida, mas provavelmente num grau menor. A manutenção nos valores do TR pode ter ocorrido pelo fato de que os atletas estão adaptados a desenvolverem lutas em alta intensidade, fazendo com que suportem altas concentrações de lactato sem que reduzam a capacidade de reação. Porém, após as lutas alguma limitação pode ter ocorrido, não na capacidade de reagir rapidamente como foi mostrado, mas na capacidade em se manter esta reação correta em todo o tempo durante a coleta dos valores de TR. Nesta fase, em decorrência do aumento do número de erros pós-lutas em comparação com o número de erros em repouso, pode ser que alguma interferência na capacidade de contração no músculo possa ter ocorrido, podendo ser também o resultado da acidose muscular causada pelo acúmulo de H+, que foi dissociado a partir do ácido láctico. A disponibilidade de energia é um fator que pode limitar a capacidade de contração do músculo. Sua falta poderia prejudicar o acoplamento das pontes 53 cruzadas, no momento em que o ATP se liga à miosina para que esta possa se desligar do sítio de ligação com a actina e dar continuidade ao ciclo de contração. Além desses fatores, a diminuição dos níveis de energia e também de CP para a ressíntese de ATP, relacionados com o aumento dos níveis de Pi no sarcoplasma, podem ter limitado a capacidade de contração do músculo (STACKHOUSE et al., 2001; WESTERBLAD & ALLEN, 2002). Um complexo formado pela interação de Pi e Ca++ pode provocar uma precipitação deste complexo para dentro do retículo sarcoplasmático, reduzindo a quantidade de Ca++ livre disponível no sarcoplasma, além de causar uma menor afinidade com os sítios de ligação da troponina pelo complexo que permanece no sarcoplasma (DUKE & STEELE, 2001; FRYER et al., 1997; POSTERINO & FRYER, 1998; GIANNESINI et al., 2001, citados por WESTERBLAD & ALLEN, 2002), podendo reduzir a força de ligação das pontes cruzadas entre actina e miosina no final da fase da contração muscular. Um outro fator que pode reduzir a força de ligação das pontes cruzadas e interferir no acoplamento do Ca++ com a troponina é o acúmulo de lactato e íons H+ no sarcoplasma (STACKHOUSE et al., 2001). Um outro ponto importante é que uma resposta inibitória pode ser desencadeada pela condição fatigante no músculo, mandando um sinal aferente à região supra-espinhal e posteriormente ao neurônio motor (BIGLAND-RITCHIE et al., 1986; GARLAND et al., 1990, citados por FORESTIER & NOUGIER, 1998), ou por uma inibição reflexa diretamente do neurônio motor em direção à fibra muscular (GANDEVIA, 2001, citado por WESTERBLAD & ALLEN, 2002), fazendo com que seja reduzido o número de sinais à fibra muscular, como uma espécie de economia de estímulo, para que o músculo prolongue o trabalho, mesmo que esteja diminuindo a força de contração (FORESTIER & NOUGIER, 1998). Esta condição que está fatigando o músculo pode providenciar um sinal aos comandos centrais conhecido como feedback inibitório aferente (BIGLAND-RITCHIE et al., 1995; GARLAND et al., 1990; HAYWARD et al., 1991, citados por ENOKA, 1995). Além disso, pode ocorrer uma falha no mecanismo de transmissão do impulso elétrico do neurônio motor para a fibra muscular, pela excessiva e freqüente chegada de estímulo na junção 54 neuromuscular, resultando na redução da freqüência de liberação da acetilcolina pela terminação nervosa (FARINATTI & MONTEIRO, 1992; LERNER, 1982). Todos estes fatores, associados à diminuição no grau de concentração dos sujeitos, levaram à redução na manutenção da performance de reação, pois ocorreu um maior número de respostas consideradas erradas no total de tentativas realizadas após o esforço em relação aos valores de repouso. Pode ter ocorrido também uma diminuição na capacidade de percepção do sinal externo, o que deve ter interferido negativamente na concentração, ou estado de alerta do indivíduo (resultando em erros). Porém, não foi verificada exatamente onde a limitação ocorreu, sendo possível então, apenas levantar hipóteses entre os resultados encontrados. Com o intuito de verificar o comportamento entre a concentração de lactato sangüíneo e o número de registros errados de TR, foi feita uma análise entre estas variáveis através do Coeficiente de Correlação de Pearson em repouso e após 3 min do final da luta, sendo encontrada uma correlação significativa. Isto demonstra que o aumento de lactato em lutas de judô pode interferir no desempenho durante a manutenção da resposta correta na capacidade de reação, e que o aumento do número de erros de respostas ao sinal pós-lutas comparado com os valores de repouso têm correlação com o aumento da concentração de lactato pós-lutas relacionada às concentrações iniciais. Contrariamente à hipótese apresentada de que o lactato aumentaria os valores de TR pós-lutas por ser uma substância que em elevadas concentrações representa um estado de acidose por sua dissociação do H+, este estudo não encontrou mudanças no TR, mas foi encontrada alguma influência negativa da fadiga durante a execução da tarefa (número de erros). 55 8. CONCLUSÃO Alguns autores afirmam que o TR pode ser influenciado por diversos fatores, sejam de forma positiva ou negativa (BARBANTI, 1997; CHMURA et al., 1994). Na primeira condição têm-se como fator principal o aquecimento e na segunda, altas concentrações de lactato no sangue após esforço intenso. Este lactato pode levar o indivíduo à fadiga, o que foi observado como sendo determinante para que o TR seja aumentado em outro estudo (CHMURA et al., 1994), diferentemente dos resultados encontrados neste protocolo experimental. Porém, observou-se um aumento no número de respostas erradas na execução da tarefa de TR, paralelamente ao aumento do lactato, sendo uma interferência negativa na capacidade do indivíduo em reagir rapidamente. Além disso, os resultados mostraram que o número de erros se correlaciona significativamente com o lactato, pré e pós-lutas. A partir destes resultados foi determinada a importância de se observar as variáveis que influenciam o TR no judô durante as fases de treinamento. 56 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIRES, M. M. et al. Fisiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 934 p. 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N Lado E 1 D E 2 D E 3 D E 4 D E 5 D Luta de 1' TRr TR1 0,28 0,24 0,04 * 0,23 0,18 0,18 0,24 0,17 0,17 0,21 0,20 0,20 0,34 0,56 0,42 0,55 0,54 0,30 0* 0,39 0* 0,39 0,19 0,49 0,19 0,17 0,39 0,20 0,23 0,38 0,17 0,92 0,21 0,24 0,21 0,51 0,19 0,37 0* 0,20 0,20 0,23 0,22 0,23 0,62 0,23 0,52 0,45 0,23 0,20 0,24 0,18 0,21 0,22 0,24 0,19 0,24 0,23 0,35 0,18 * Resposta errada de TR 30" TR2 0,37 0,23 0,28 0,06 * 0,19 0,21 0,28 0,22 0,25 0,30 0,71 0,27 0,44 0,21 0,61 0,24 0,44 0,48 0,20 0* 0,22 0,23 0* 0* 0,22 0,26 0,17 0,30 0,39 0,21 Luta de 3' TRr TR1 TR2 0,17 0,18 0,26 0,19 0,17 0,16 0,17 0,24 0,19 0,21 0,39 0,06 * 0,20 0,15 0,16 0,19 0,16 0,23 0 * 0,46 0,29 0,42 0,22 0,21 0,27 0,20 0,45 0,23 0,19 0,51 0,24 0,44 0,48 0,07 * 0,50 0,38 0,16 0,16 0,45 0,16 0,20 0,50 0,19 0,16 0,23 0,19 0,20 0,15 0,18 0,17 0,17 0,10 * 0,32 0* 0,19 0,22 0,19 0 * 0,35 0,27 0 * 0,22 0,31 0,21 0,25 0,23 0,22 0,25 0,18 0,27 0,23 0,21 0,23 0,21 0,23 0,24 0,23 0,19 0,21 0,19 0,30 0,24 0,22 0,23 0,24 0,19 0,16 0,35 0,21 0,16 Luta de 5' TRr TR1 TR2 0,17 0,21 0,19 0* 0,19 0,24 0 * 0,19 0,22 0,18 0,18 0,18 0,14 0,18 0,19 0,19 0,17 0,22 0,55 0,56 0,44 0,28 0,43 0,32 0,50 0,34 0,27 0,56 0,18 0,24 0,56 0,25 0,56 0 * 0,17 0,54 0,20 0,07 * 0,37 0,37 0,22 0,55 0,48 0,17 0,50 0,19 0,16 0,28 0 * 0,35 0,18 0,12 * 0,03 * 0,16 0,19 0,18 0,19 0* 0,20 0,28 0* 0,20 0,26 0,22 0,22 0,19 0,62 0,38 0,39 0* 0,52 0,21 0,35 0,03 * 0,21 0,17 0,18 0,23 0,22 0,36 0,33 0,18 0,17 0,26 0,18 0,21 0,21 0,19 0,18 0,22 62 Cont. N Lado E 6 D E 7 D E 8 D E 9 D E 10 D E 11 D Luta de 1' 30" TRr TR1 TR2 0,21 0,23 0,22 0 * 0,19 0,19 0,44 0,17 0,18 0,19 0,18 0,25 0,18 0,25 0,20 0,19 0,24 0,30 0 * 0,16 0,17 0,17 0,13 0,03 * 0* 0,18 0,22 0 * 0,14 0,17 0,06 * 0,18 0,08 * 0,03 * 0,24 0,19 0,22 0,56 0,27 0 * 0,22 0,25 0,23 0,12 * 0,23 0,47 0,22 0,24 0 * 0,25 0,48 0 * 0,29 0,48 0 * 0,11 * 0,15 0,44 0,19 0,16 0* 0,16 0,19 0,16 0,19 0,26 0,08 * 0,27 0,16 0,33 0,22 0,24 0,16 0,30 0,23 0,09 * 0,17 0,21 0,22 0,14 0,17 0,13 0,44 0,18 0,19 0,20 0,17 0,03 * 0,21 0,15 0,32 0,32 0,32 0,21 0,23 0,24 0,20 0,34 0,32 0,19 0,19 0,18 0,18 0,33 0,32 0,38 0,18 0,32 * Resposta errada de TR Luta de 3' TRr TR1 TR2 0,25 0,07 * 0,19 0,34 0,38 0,21 0,22 0,22 0,18 0 * 0,21 0,19 0,19 0,23 0,35 0,20 0,34 0,26 0* 0,16 0,18 0 * 0,18 0,19 0,18 0,14 0,17 0,18 0,18 0,11 * 0,21 0,15 0,20 0,17 0,17 0,14 0 * 0,23 0,21 0,24 0,21 0,10 * 0 * 0,19 0,21 0,21 0,22 0,25 0,24 0,22 0,32 0* 0 * 0,19 0* 0,26 0,18 0,16 0,18 0,19 0* 0* 0,16 0 * 0,17 0,21 0 * 0,18 0,28 0* 0* 0,32 0,24 0,17 0,22 0 * 0,01 * 0,26 0,18 0,17 0,20 0,16 0,47 0,19 0,30 0,13 0,14 0,21 0,14 0,32 0,23 0,21 0,37 0,21 0,19 0,21 0,36 0,18 0,20 0,35 0,16 0,32 0,31 0,21 0,22 0* 0,36 0,23 Luta de 5' TRr TR1 TR2 0 * 0,22 0,27 0,42 0,38 0,19 0* 0* 0* 0 * 0* 0,27 0,38 0,40 0,23 0 * 0,17 0,21 0,18 0,26 0,15 0,30 0,18 0,17 0,01 * 0,34 0,16 0,20 0,18 0,15 0,18 0,18 0,05 * 0,21 0,37 0,20 0,18 0,19 0,27 0,20 0,22 0,19 0 * 0,08 * 0,16 0 * 0,21 0,27 0* 0,17 0,27 0,20 0,11 * 0,25 0,20 0,20 0,21 0,21 0,22 0,19 0,23 0,20 0,29 0 * 0,24 0,24 0,12 * 0,17 0,21 0,19 0,04 * 0,18 0,28 0,27 0,16 0,16 0,56 0,19 0,39 0,12 * 0,26 0,15 0,01 * 0,14 0,15 0,15 0,14 0* 0,20 0,35 0* 0,25 0,28 0,19 0,47 0,42 0,30 0,34 0,21 0,35 0,22 0,20 0,31 0,20 0,15 0,36 0,16 0,23 63 Tabela 6: Dados da concentração de lactato em repouso e após 3 min do final das lutas de 1 min e 30 s (A), 3 min (B) e 5 min (C). Lactato Indivíduo Repouso A 1,3 1 Lactato Repouso B 2,1 Lactato Repouso C 1,5 Luta A Luta B Luta C 11,3 13,7 12,2 2 1 1,7 1,4 10,7 10,7 8,7 3 1,5 1,5 1,5 11,4 11,2 10,6 4 1,2 1,3 2,3 12 9,5 14,2 5 1 1,9 1,2 12,4 10,8 9,3 6 1 2 1,4 12,2 11,6 12,7 7 1,4 1 1 10,4 9,7 8,3 8 2,1 2,2 2,4 12,7 12,5 14,4 9 2,1 1,9 2,3 11,5 11,7 11,7 10 1,5 1,6 1,9 10,7 15,7 16,2 11 1,6 1,1 0,9 11,5 10,6 9,6 64 Termo de consentimento pós-informado I. Identificação: Nome do voluntário: Identidade n° Sexo: M ( ) F ( ) Data de nascimento-----/ -----/ ----- Endereço: Cidade: Estado: Telefone: II. Dados sobre o estudo: Título: Velocidade de reação motora e o lactato sangüíneo, em diferentes tempos de luta no judô. Pesquisadores: Aluno: Elessandro Váguino de Lima Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Álvaro Brandão Lopes Martins Co-Orientador: Prof. MSc. Charli Tortoza Aprovação pelo comitê de ética e pesquisa em: 04 de fevereiro de 2003 Início do estudo em: 10 de fevereiro de 2003 65 III. Explicação dos pesquisadores ao voluntário: 1. Justificativa e objetivos da pesquisa: desenvolvimento de um protocolo experimental para verificar o comportamento do TR em situação de fadiga. O objetivo é de analisar os locais de instalação da fadiga em decorrência da possível diminuição da “performance” do TR. 2. Procedimentos que serão utilizados: o voluntário passará por uma avaliação ergométrica para eliminar risco de cardiopatia, já que será submetido a um esforço físico. Serão registrados os valores de TR no equipamento Cybex Reactor, após ter se adaptado à tarefa do protocolo experimental. Será feita a coleta de sangue da polpa do dedo para verificar a concentração de lactato (gota de sangue), seguindo os cuidados contra os riscos de contaminação do voluntário e do pesquisador. O indivíduo será submetido ao esforço físico provocado por diferentes tempos de luta de judô, o que eleva a concentração de lactato sangüíneo acima dos valores de repouso. 3. Complicações e riscos esperados: não haverá risco em decorrência do cuidado nos procedimentos seguidos. 4. Fui esclarecido sobre a garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento, sobre os procedimentos, riscos e benefícios relacionados com a pesquisa. Sim ( ) Não ( ) 5. Fui esclarecido de que não haverá remuneração financeira, além da prevista para as despesas do estudo. Sim ( ) Não ( ) 6. Fui esclarecido de que não haverá indenização, além das previstas pela lei, em reparação a dano imediato ou tardio, causado pela pesquisa em questão. Sim ( ) Não ( ) 7. Fui esclarecido de que minha identidade será preservada, mantendo-se todas as informações em relação aos resultados em caráter confidencial. Sim ( ) Não ( ) 66 IV. Consentimento pós-informado Declaro que após ter sido esclarecido de todos os aspectos deste estudo, conforme definido nos itens 1 a 7, do inciso III, consinto em participar, na qualidade de voluntário, do projeto de Pesquisa referido no inciso II. São José dos Campos, Assinatura do Voluntário: Assinatura do Pesquisador: de de .