Stavros Platon Tseimazides
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Stavros Platon Tseimazides
1 CAPITULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução O desenvolvimento da pecuária vem levando produtores de bovinos de corte cada vez mais a um maior grau de especialização, fazendo, com isso, crescer o número de propriedades que executam apenas parte da cadeia produtiva da carne, desenvolvendo atividades específicas de cria, recria ou engorda. Essa especialização gera uma necessidade maior de submeter os bovinos ao manejo de transporte. Entende-se como manejo de transporte uma fase de um sistema maior, denominado manejo pré-abate, que é o processo que envolve desde a preparação dos animais na fazenda para o embarque, o próprio embarque, o percurso entre a propriedade e o frigorífico, desembarque, acomodação dos animais dentro da planta frigorífica até o momento final, a sangria. Dada as características geográficas do país e ao menor custo, o transporte rodoviário é o mais utilizado no Brasil em detrimento dos transportes marítimos e aéreos. No entanto, estudos mostram que esse tipo de transporte pode provocar estresse, perda de peso e contusões, podendo inclusive levar animais à morte quando realizado em condições desfavoráveis seja para bovinos (KNOWLES, 1999; ARTHINGTON et al. 2003) seja para suínos (GUISE & PENNY, 1989; GUISE & WARRISS, 1989). Tendo em conta o manejo pré-abate, isto resulta em perdas quantitativas e qualitativas da carne, com prejuízos diretos ou indiretos para produtores, frigoríficos e consumidores finais (PARANHOS DA COSTA et al. 1998; GRANDIN, 2000). Por uma questão didática, dividiu-se os conceitos quantitativo e qualitativo, mas na verdade ambos ocorrem simultaneamente durante o manejo pré-abate, deteriorando o produto final e conseqüentemente depreciando seu valor comercial. Perdas quantitativas, as que ocorrem principalmente devido a contusões, causam prejuízos diretos ao produtor, resultando em queda no rendimento da carcaça após a retirada das áreas contundidas antes da pesagem, e, ao frigorífico, quando as contusões são percebidas apenas durante o processo de desossa. Há ainda, com 2 menor ocorrência, casos em que a contusão só é detectada na mesa do consumidor final, situação grave, pois o ônus cabe tanto a esse consumidor final como também ao posto de comercialização, provocando um total descrédito no produto por parte desses clientes, atualmente muito mais atentos à origem e à qualidade daquilo que consomem (FAUCITANO, 2000). GRANDIN (2000) descreveu que perdas em decorrência de hematomas podem alcançar cifras de 26 milhões de dólares por ano para a indústria norte-americana. De acordo com a AUS-MEAT (2001), a definição utilizada neste trabalho para hematoma é aquela em que todos as contusões que atinjam o tecido muscular em uma área circular de 10 cm de diâmetro ou área equivalente, ou aquela que atinja o tecido muscular em uma profundidade maior que 2 cm, ou ainda, qualquer área atingida pertencente ao músculo longissimus dorsi (contra-filé), independente do tamanho e profundidade. Perdas qualitativas, decorrentes do estresse durante o manejo pré-abate, resultam em alterações metabólicas que comprometem a qualidade na carne. Quando o animal sofre o estresse ou faz esforço físico, ocorre a queima da reserva de glicogênio presente no músculo. Após o abate, o glicogênio é transformado em ácido láctico, através do processo de glicólise anaeróbica. No momento em que o glicogênio passa a ser transformado em ácido láctico, o pH da carne vai decrescendo (LUCHIARI FILHO, 2000). Na ocorrência da depleção total do glicogênio antes do abate, não ocorrerá a queda necessária do pH para transformação de carne em músculo. De acordo com as exigências impostas pela União Européia, entre outros mercados consumidores estrangeiros, valores de pH aceitos sem restrições alguma são aqueles que variam na faixa de 5,5 a 5,8. Valores superiores a esses, entre 5,8 e 6,0, são descartados para alguns mercados mais exigentes. Animais que apresentam o pH final acima de 6,0 (carne tipo DFD – do inglês Dark, Firm, Dry – Escura, Dura, Seca) são distribuídos apenas para o mercado interno, atingindo valores econômicos menores. De acordo com Kuber et al. (2004), a curva de pH sofreria decréscimo importante até a sexta hora de resfriamento em câmara fria após o abate, sendo que após esse tempo, permanece praticamente estável. A importância que a queda no pH ocorra normalmente, sem o risco de ocorrência de carne tipo DFD é ter um maior 3 cuidado com os animais desde o manejo de embarque até os momentos que antecedem o abate (LUCHIARI FILHO, 2000; DALLA COSTA, 2005). É importante ressaltar, como exemplo, que a indústria canadense teve um prejuízo econômico de 5 milhões de dólares/ano provocado pelo tipo de carne DFD (JONES & TONG, 1989). Para que se possa garantir que os animais cheguem ao momento de abate com o menor nível de estresse, no caso específico do transporte rodoviário, deve-se ter em conta as condições do ambiente físico (distância percorrida, tipo e condições dos veículos, etc) e social (densidade e composição do grupo), além das características dos próprios animais (raça, idade, sexo, etc.) e do manejo no embarque e condução do veículo. 4 2. Objetivos O trabalho teve como objetivo avaliar, durante o transporte rodoviário, a influência da densidade de carga e de um programa de treinamento das pessoas envolvidas no processo, na incidência de contusões e nas variações de pH nas carcaças bovinas 24 horas após o abate. 5 3. Revisão de Literatura Durante o desenvolvimento deste estudo, foram detectados aspectos determinantes na melhoria do manejo dos bovinos que afetam a qualidade da carne 3.1. Densidade de animais na gaiola durante o transporte A discussão sobre densidade é fundamental para explicar a concentração de animais em um determinado espaço, levando-se em conta o peso total desses. Faz-se necessário, então, adequar a quantidade de bovinos alojados nas gaiolas durante o transporte, de acordo com o peso desses animais nos diferentes tipos de carrocerias. Atualmente, esses veículos transportam os animais desconsiderando tamanho, raça ou sexo. Tratando-se de diferentes densidades, o NEW ZEALAND MINISTRY OF AGRICULTURE AND FORESTRY (2003) recomendou a disponibilidade de diferentes tipos de áreas para os animais dentro das gaiolas, calculando medidas de áreas que variam desde o mínimo de 0,86 m2/animal de 300kg de peso vivo até 1,50 m2/animal, quando esses atingem 600kg de peso vivo, para que cheguem ao destino final em boas condições físicas. É possível, também, calcular a quantidade de animais em função do peso vivo. O FARM ANIMAL WELFARE CONCIL – FAWC (1991) – estabeleceu outra recomendação baseada na fórmula para o cálculo da área necessária para cada animal – A=0,021P0,67 : onde “A” seria a área necessária em metros quadrados e “P” o peso vivo do animal em quilos. Essa fórmula produz resultados que são adequados aos limites estipulados pelo NEW ZEALAND MINISTRY OF AGRICULTURE AND FORESTRY (2003). Da mesma forma que a FAWC (1991), RANDALL (1993) estipulou uma outra fórmula também levando em conta o peso vivo dos animais em relação à área disponível dentro da gaiola. Essa formula é representada por A=0,01P0,78. TARRANT et al. (1988) trabalharam com 3 densidades de carga diferentes – 200, 300 e 600kg/m2. Nesse trabalho foram encontradas maiores incidências de contusões nas carcaças, quando se utilizou a densidade mais elevada (600kg/m2). Em outro trabalho, TARRANT et al. (1992) reforçou essa tese mostrando que as extensões 6 das contusões foram crescentes com o aumento da densidade, principalmente quando ultrapassaram 600kg/m2. Os autores encontraram também maior incidência de carcaças com pH acima de 6,00 nos animais que foram transportados em alta densidade. Em trabalhos com suínos, LAMBOOY et al. (1985) e LAMBOOY & ENGEL (1991) descreveram que os animais deitam com mais facilidade quando viajam em baixas densidades e ficam mais propensos, a partir do momento em que estão deitados, a serem pisoteados e conseqüentemente a terem novos hematomas (BARTON GADE & CHRISTENSEN, 1998). De acordo com GRIGOR et al. (2004), o transporte dos animais influenciou seu bem-estar, demonstrado através do aumento do batimento cardíaco, da concentração do nível de cortisol no plasma sanguíneo e da atividade da creatina quinase logo após a viagem, em comparação aos animais que foram abatidos dentro da própria fazenda, sem necessidade de transporte. Porém, para as diferentes lotações utilizadas no transporte de vitelos (0,7 e 0,95m2/ animal), em média com peso vivo de 234 kg, as variáveis fisiológicas não foram alteradas significantemente, como também não foi encontrada diferença nos valores de hematomas e pH das carcaças abatidas na fazenda ou àquelas submetidas ao transporte e abatidas dentro do frigorífico. Comparativamente, GUISE et al. (1998), em seu trabalho com suínos transportados em média por 3 horas em diferentes densidades, não encontraram diferenças em características de bem-estar para os animais e nem qualidade da carne, concluindo que para pequenas distâncias esse fator não era de grande importância. Por outro lado, contrariamente a GUISE et al. (1998), GUARDIÃ et al. (2005), também trabalhando com suínos, encontraram efeito da baixa densidade, proporcionando maior freqüência de aparecimento de carne tipo DFD. As pesquisas desenvolvidas por TARRANT et al. (1988, 1992) com bovinos contrariam os resultados encontrados com suínos, demonstrando que a alta densidade causou deterioração da qualidade da carne. Essas diferenças podem estar ligadas à espécie animal, ou mesmo às características dos condutores utilizados em cada pesquisa. 7 3.2. Distância A distância pode causar estresse psicológico quando os animais estão submetidos a um novo ambiente e a um novo manejo, e, também, estresse físico produto de cansaço, machucados, temperaturas indesejáveis e restrição alimentar (GRANDIN, 1997). A distância percorrida pelos animais entre a fazenda e o local de abate pode exercer influência sobre a perda de peso, além de elevar a possibilidade da ocorrência de contusões afetando a qualidade da carne. Diferentes distâncias percorridas pelos animais entre a propriedade e o abatedouro também podem gerar decréscimo do peso vivo desses animais, que levam aproximadamente 5 dias após a viagem para recuperar o peso perdido (WARRISS et al. 1995). A ocorrência de mais de um embarque ou desembarque de bovinos, como é o caso de animais que saem das propriedades para leilões e, posteriormente, são encaminhados para o abatedouro, apresentam uma elevação na freqüência de hematomas (JARVIS et al. 1995). A distância também afeta o nível de cortisol dos animais. Os que tiveram uma viagem mais curta apresentaram maiores níveis de cortisol. Esses resultados levaram WARRISS et al. (1995) a concluírem que a elevação do nível de cortisol está diretamente relacionado com o momento de embarque dos animais na fazenda e o início da jornada, uma vez que com o passar do tempo os níveis de cortisol dos animais dentro do veículo baixaram. Outros autores encontraram resultados diferentes, com distâncias maiores resultando em maior estresse nos animais, inclusive com ocorrência de carne tipo DFD (JONES & TONG, 1989; BATISTA DE DEUS et al. 1999; KNOWLES, 1999; HARGREAVES et al. 2004). Em outra pesquisa coordenada por TADICH et al. (2005), avaliando novilhas transportadas durante ou 3 ou 16 horas, percebeu-se uma diminuição na concentração de cortisol plasmático após a entrada dos animais nos veículos. Resultados semelhantes foram encontrados por MITCHELL et al. (1988) sendo que a explicação encontrada para essa diminuição seria os métodos de coleta de amostra de sangue para a mensuração do cortisol. MITCHELL et al. (1988) encontraram um decréscimo 8 nos valores dessa variável após o desembarque dos animais no frigorífico, contrariando o reportado por VAN DE WATER et al. (2003). O tempo de transporte dos animais influencia nas características sensoriais da carne, pois viagens muito curtas, que não permitem ao animal um tempo de reconhecimento da nova situação, ou excessivamente longas, que acarretam cansaço nos animais, ocasionam depleção total do glicogênio muscular prejudicando a queda necessária do pH para transformação de músculo em carne (SANZ et al. 1996; GREGORY, 1998; SARTORELLI et al. 1992; TARRANT et al. 1992; MARIA et al. 2003; VILLARROEL et al. 2003). 3.3. Temperatura (Estação do Ano) Um fator ambiental importante que deve ser considerado durante o transporte de animais é a temperatura do ar e sua variação em função das estações do ano. Temperaturas mais altas tendem a deixar os animais mais inquietos, motivando o deslocamento dentro das gaiolas, e, assim, aumentando a possibilidade dos animais perderem o equilíbrio, caírem e serem pisoteados, ou mesmo sofrerem escoriações nas laterais das gaiolas. RANDALL (1993) concluiu em seu trabalho que se deve evitar o transporte de animais em dias com temperatura igual ou superior a 30ºC e umidade alta, características típicas de dias de verão nas condições de Brasil Central. Nessa temperatura, KERR et al. (2005) concluíram que suínos também têm seu desempenho prejudicado. O fato do Brasil, em sua quase totalidade, estar posicionado na faixa intertropical, faz com que a diferença de temperatura entre inverno e verão não exerça grande influência no transporte de animais nas diferentes estações. 3.4. Veículos Diferenciados tipos de veículos são empregados no transporte dos animais. Os mais utilizados são os caminhões tipo “truck”, que costumam carregar 18 animais em ponto de abate por viagem, ou carretas, que transportam em torno de 27 animais da mesma categoria. A localização do animal em relação ao veículo em que está sendo transportado pode exercer influência sobre o comportamento do animal dentro da 9 gaiola, alterando batimento cardíaco, incidência de hematomas, elevação do pH ou aumento do nível de cortisol plasmático. TARRANT et al. (1988) observaram que animais que foram transportados no terço final dos caminhões tiveram a concentração de cortisol alterada em relação aos demais. Esses resultados foram verificados também por VAN DE WATER et al. (2003) que observaram que os batimentos cardíacos foram alterados durante o transporte nos animais alocados na parte traseira dos veículos. Essa taxa foi decrescendo gradativamente durante os primeiros 60 minutos após o início da jornada dos animais nas diferentes partições dos veículos e estabilizando-se durante o restante do percurso. Contrariamente ao observado por TARRANT et al. (1988) e VAN DE WATER et al. (2003), JARVIS & COCKRAM (1994), trabalhando com ovelhas, encontraram maior incidência de contusões nos animais que viajaram na parte anterior do veículo. 3.5. Condutor O controle dessa fonte de variação, apesar de todos os condutores serem profissionais, é importante pela grande diferença interpessoal na forma de condução e cuidado com os animais conduzidos da fazenda até o abatedouro. Alguns condutores atentam-se para não realizar movimentos bruscos com o veículo, preocupam-se em parar com regularidade para verificar as condições dos animais dentro da gaiola e em estacionar o veículo em locais onde os animais não fiquem expostos à radiação solar direta, quando fazem paradas para descanso. KENNY & TARRANT (1987) observaram que a movimentação do caminhão é responsável por 95% das perdas de rendimento na balança. TARRANT et al. (1992) reforçaram essa observação acrescentando como prováveis responsáveis pelas contusões, as freadas bruscas, curvas e mudanças de marcha feitas pelos condutores. 3.6. Manejo Os manejos de embarque e desembarque são muito importantes no processo de transporte. Quando estes são realizados em instalações bem planejadas e por pessoas treinadas, o estresse pode ser minimizado (KENT & EWBANK, 1983; AGNES et al. 10 1990). Em experimento conduzido por VAN DE WATER et al. (2003), os batimentos cardíacos dos animais sofreram um aumento na ordem de 90 e 75%, respectivamente, durante essas movimentações. LENSINK et al. (2001), trabalhando com vitelos, observaram menor freqüência de acidentes e menor nível de cortisol nos animais quando provinham de propriedades que aplicavam manejo adequado. Em rebanhos leiteiros, atitudes positivas de ordenhadores influenciaram diretamente nas respostas comportamentais e reprodutivas (HEMSWORTH et al. 2000). Há evidências de que atitudes negativas fazem com que as vacas leiteiras retenham mais o leite, aumentem seu batimento cardíaco e aumentem a movimentação durante a ordenha (RUSHEN et al. 1999; MUNKSGAARD et al. 2001). BOIVIN et al. (1998), quando trabalharam manejando bezerros de forma gentil, perceberam uma interação entre animais e humanos nos primeiros dias de contato, processo decorrente da habituação dos animais com a pessoa que estava manejando. Um mês após o final do experimento não foram encontradas mais diferenças, provando dessa forma que os animais são capazes de aprender e responder de acordo com a forma em que são treinados. O estudo de WAIBLINGER et al. (2004) mostrou que o manejo gentil prévio dos animais promoveu uma diminuição da taxa de batimentos cardíacos quando submetidos a manejos posteriores invasivos, tais como a palpação e inseminação Após o treinamento de práticas adequadas de manejo, GRANDIN (1998) observou a diminuição da utilização de choque elétrico para movimentação do gado da ordem de 79,5%, decrescendo de 83 para 17%. Em uma planta de abate de suíno a queda foi de 44 para 15%, portanto da ordem de 65,9%. Quatro abatedouros de bovinos, com funcionários bem treinados, foram avaliados quanto à utilização de choque e os resultados observados foram de 5, 10, 10 e 64%. Na planta onde apenas 5% dos animais recebiam choque, a velocidade de abate era maior que 200 animais por hora, demonstrando, assim, que o manejo correto pode ser feito mesmo em velocidades elevadas. No frigorífico onde utilizou-se choque em 64% dos animais, as instalações inadequadas provavelmente foram as responsáveis pela alta utilização desse recurso. Em quatro plantas frigoríficas de suínos, os valores de utilização de 11 choque foram de 0, 18, 18 e 80%. Em todas, a velocidade de abate excedia 500 animais/hora. No entanto, na planta que mais se utilizou o choque (80%) havia resistência dos animais para entrarem no boxe de atordoamento, provavelmente pela ocorrência de sombra nesse local. A prática de treinamento para funcionários que manejam os animais tem trazido benefícios importantes tais como: eliminação de comportamento aversivo imposta sobre os animais, aumento de produção de leite e alguns de seus constituintes, diminuição na distância de fuga, que caracteriza diminuição de medo (HEMSWORTH et al. 2002). Em 2003, GRANDIN afirmou que as indústrias elevam seus gastos na aquisição de novos equipamentos, mas esquecem de utilizar-se de boas práticas de manejo que podem levar a resultados tão bons quanto a aplicação de novas tecnologias. É importante ressaltar que um manejo feito de forma correta pode melhorar os resultados e proporcionar o bem-estar do animal, minimizando perdas quantitativas e qualitativas da carne; que instalações adequadas influenciam substancialmente na qualidade do serviço resultando uma maior produtividade; que equipamentos que facilitem e contribuam com o bem–estar do trabalhador e do animal são requisitos fundamentais para impulsionar o desempenho de uma organização. Treinamento, instalações e equipamentos são características que devem ser avaliadas conjuntamente. 12 4. Referências AGNES, F.; SARTORELLI, P.; ABDI, B. H.; LOCATELLI, A. Effect of transport loading or noise on blood biochemical variables in calves. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 51, n. 10, p. 1679-1681, 1990. ARTHINGTON, J. D.; EICHER, S. D.; KUNKLE, W. E.; MARTIN, F. G. Effect of transportation and commingling on the acute-phase protein response, growth, and feed intake of newly weaned beef calves. 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Veterinary Record, London, v. 136, n. 1, p. 319-323, 1995. 20 CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DE RECOMENDAÇÕES PARA ESTIMAR A DENSIDADE IDEAL PARA O TRANSPORTE DE BOVINOS AO FRIGORÍFICO Resumo Para avaliar o melhor método de estimativa da densidade de animal vivo transportado da fazenda para o abatedouro, foram feitas avaliações de hematomas e medição de pH 24 horas após abate em carcaças de bovino de corte. Três recomendações, que indicam a densidade ideal para transporte, foram confrontadas entre si e com outras três equações idealizadas com base na metragem linear das gaiolas. Verificou-se que a densidade adequada pela equação C2 = 0,01P0,63 (onde, “C”= espaço em metro linear de gaiola, “P”= peso vivo dos animais) foi a que apresentou a menor freqüência de hematomas e o menor valor de pH em animais da raça nelore. Para animais cruzados, a densidade proposta por essa equação não representou diferença nos resultados obtidos pelas recomendações existentes na literatura atual. Diante desse contexto, é possível demonstrar que existe uma necessidade de equações diferentes para determinar a densidade de carga animal para diferentes grupos genéticos. Em vista da diversidade de raças transportadas para o abate, a equação C2, que contempla a metragem linear de gaiola em contraposição à área disponível e peso dos animais vivos, foi a que melhor se ajustou a realidade brasileira. Palavras-Chaves: Bovino de Corte, densidade, hematoma, pH, qualidade de carne, transporte 21 1. Introdução Como mencionado no capítulo 1, no Brasil o transporte de animais para abate nos frigoríficos é predominantemente rodoviário, havendo evidências de que esse tipo de transporte é potencial causador de estresse, como demonstrado para suínos (GUISE & PENNY, 1989; GUISE & WARRISS, 1989) e bovinos (KNOWLES, 1999; ARTHINGTON et al. 2003). As conseqüências para os bovinos podem ser bastante severas, resultando em perda de peso, ocorrência de hematomas e, em casos extremos, na morte de animais (KNOWLES, 1999). Isso provoca perdas quantitativas e qualitativas da carne, com prejuízos diretos ou indiretos para produtores, frigoríficos e consumidores finais (PARANHOS DA COSTA et al. 1998; GRANDIN, 2000). Neste contexto, surge o desafio de minimizar o estresse durante o transporte. Já há algumas evidências de que isto pode ser alcançado. LENSINK et al. (2001) verificaram que vitelos que foram submetidos a uma parada durante o transporte, com desembarque dos animais por vinte minutos, apresentaram menor taxa de cortisol no sangue do que àqueles transportados diretamente. Esses resultados levaram os autores a concluir que após um primeiro contato com o transporte os animais ficariam menos estressados. Uma outra possibilidade é ajustar a densidade de animais no compartimento de carga. Estudos realizados por TARRANT et al. (1988, 1992) mostraram maior incidência de contusões nas carcaças na situação de alta densidade (600kg de peso vivo/m2, em relação a 200 e 300kg de peso vivo/m2). Esses autores encontraram também maior incidência de carcaças com pH alto ( 6,00) em função da maior densidade nas gaiolas. Este trabalho teve dois objetivos: a) avaliar algumas recomendações utilizadas para a definição da densidade ideal para o transporte de bovinos ao frigorífico; b) apresentar uma nova recomendação, usando como critério a disponibilidade de espaço linear em relação ao comprimento da gaiola, ajustando-o ao peso vivo dos animais (kg de peso vivo/metro linear). 22 2. Material e Métodos 2.1. Coleta de dados A coleta de dados foi realizada no Frigorífico Marfrig, em Promissão - SP, Brasil, com 50 veículos – 34 caminhões e 16 carretas, transportando um total de 1894 bovinos – na rotina normal de trabalho. As seguintes informações eram registradas antes do desembarque: a placa do veículo, a quantidade de animais transportados em cada um dos compartimentos de carga, o número de identificação de alguns animais escolhidos aleatoriamente e o compartimento em que foram transportados. Com os veículos vazios, media-se o comprimento, altura e a largura de cada um dos compartimentos. Os animais permaneciam nos currais do frigorífico durante 12 a 15 horas, com acesso irrestrito à água, e, após esse período, eram abatidos seguindo-se o protocolo de abate humanitário definido pela Instrução Normativa número 3/2000 do Ministério de Agricultura, Abastecimento e Pecuária (BRASIL, 2000). Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela AUS-MEAT (2001), que definiu hematoma grave como qualquer lesão no tecido muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de diâmetro (ou área equivalente), exceto as lesões no contra-filé (longissimus dorsi), que foram sempre consideradas graves independentemente do tamanho. Essas avaliações foram realizadas na linha de abate, logo após a retirada do couro, sendo registrada a identidade de cada animal e o local do hematoma (quando ocorria), marcando “x” em desenhos de carcaças. Todas as carcaças foram pesadas, sendo os pesos vivos dos animais estimados com base em 52% de rendimento de carcaça. Foram definidas sete categorias de pesos vivos (P), com segue: P1 = 250 a 350kg, P2 = 350 a 450kg, P3 = 450 a 550kg, P4 = 550 a 650kg, P5 = 650 a 800kg, P6 = 800 a 1000kg e P7 = >1000kg. Ao final da linha de abate, as carcaças eram levadas para a câmara fria a uma temperatura nunca inferior a 2°C, onde permaneciam por aproximadamente 24 horas, deixando a câmara fria para o procedimento de separação das partes dianteiras, traseiras e ponta de agulha, quando eram realizadas as mensurações do pH dos 23 músculos longissimus dorsi (pHfinal) de cada animal, utilizando-se peagâmetro digital Mettler-Toledo-modelo 1140. 2.2. Recomendações avaliadas Foram avaliadas três recomendações para definição da densidade ideal para o transporte rodoviário de bovinos, todas preconizavam o cálculo da área em m2 por animal, sendo elas: 1) apresentada por RANDALL (1993), que propôs que a área disponível para cada animal deve ser definida pela equação A = 0,01P0,78m2, onde “A” = área disponível para o animal e “P” = o peso vivo do animal transportado; 2) pelo FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL (FAWC, 1991), como A = 0,021P0,67m2; 3) pelo NEW ZEALAND´S MINISTRY OF AGRICULTURE AND FORESTRY (MAF) (2003), definindo os espaços mínimo e máximo (respectivamente) de acordo com o peso vivo dos animais: com 300kg devem dispor entre 0,86 e 0,96m2; com 400kg de 1,06 a 1,16m2; com 500kg de 1,27 a 1,59m2 e com mais de 600kg mais de 1,50m2. Neste trabalho foi avaliada também a possibilidade de estimar o número de animais a serem transportados por metro linear em relação ao comprimento do compartimento de transporte. Todas as recomendações consagradas na literatura atual levam em consideração o peso vivo para estabelecer a área adequada para o transporte dos animais. De acordo com KENNY & TARRANT (1987) e TARRANT et al. (1992), a posição mais comum dos animais durante o transporte é perpendicular à direção da viagem. Diante disso, idealizou-se que o método mais apropriado para se estimar o espaço ideal pudesse ser calculado através da metragem linear da gaiola para transporte dos animais. As equações para este fim foram definidas tendo como base a largura média dos compartimentos de transporte (que foi igual a 2,38±0,04m, variando de 2,33 a 2,46m) e as medidas corporais de animais, tendo em conta os valores médios de perímetro torácico (PT), estimado por ROCHA et al. (2003) em 1,84m, para o cálculo do diâmetro médio do bovino, que foi igual a 0,586m para animais com peso médio de 442kg, assumindo que os bovinos apresentem formato cilíndrico (D= PT/ ). Entretanto, é reconhecido que a forma do corpo do bovino é mais bem representada por uma elipse; 24 assim, adotamos a medida da largura nas costelas (Gilbert et al. 1993a, b) para ajustar o diâmetro calculado com base na forma cilíndrica, resultando um valor equivalente a 78,72% do calculado. Com base nestes valores e na equação A= 0,021P0,67, proposta pelo FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL (FAWC) (1991), adotou-se A= 2,38C, resultando em C= 0,0088P0,67, sendo “C” o espaço ideal em metros lineares de gaiola ocupada por um dado animal com peso “P”. Foram avaliadas, ainda, outras duas equações, arbitrariamente definidas a partir de “C”: C1= 0,01P0,65 e C2= 0,01P0,63. Entendemos ser este critério mais adequado uma vez que durante as viagens os bovinos adultos geralmente permanecem, no compartimento de carga, em posição perpendicular ao sentido da viagem. Utilizando-se as informações de número de animais transportados e respectivos pesos vivos, foram calculadas as densidades reais com base em kg de animais por metro quadrado ou por metro linear. Com a aplicação de cada uma dessas seis recomendações, foram estimadas as densidades ideais para o transporte de bovinos. Com esses resultados foram definidas três classes de densidade: AD= Alta Densidade (espaço disponível menor que o ideal definido pela recomendação em teste); DI = Densidade Ideal (espaço disponível igual ao ideal definido pela recomendação em teste); BD = Baixa Densidade (espaço disponível maior que o ideal definido pela recomendação em teste). 2.3. Animais avaliados Para avaliação de hematomas foram consideradas 1894 carcaças, 1272 de animais Nelore e 622 de cruzados. As mensurações do pHfinal foram realizadas em 1776 carcaças, sendo 1212 da raça nelore e 564 cruzados. As distribuições desses valores para cada uma das recomendações avaliadas e nas três classes de densidades (Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade) são apresentadas na Tabela 1. Entende-se por Nelore todos animais cujo fenótipo indicasse predominância da raça Nelore e cruzados os animais produtos de qualquer cruzamento, independente das raças envolvidas. 25 2.4. Análise estatística Para a análise dos dados foi usado o procedimento GLM do pacote estatístico STATISTICAL ANALISYS SYSTEM (SAS, 2001). Foram consideradas como variáveis dependentes a freqüência de hematomas por carcaça e o pHfinal. Dada a alta ocorrência de valores zero (0) na freqüência de hematomas por carcaça, esses dados foram transformados em raiz quadrada de (x + 1). O modelo estatístico contemplou os efeitos fixos de sexo, classes de distância (1= até 200 km, 2= 200 a 500 km, 3= 500 a 1000 km e 4= > 1000 km) e classe de densidade no transporte (Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade), além do efeito da interação entre distância e densidade. Foram analisados os efeitos de densidade definidos com a aplicação de cada uma das seis recomendações testadas. Foram considerados dois conjuntos de dados independentes, um para animais da raça nelore e outro para cruzados. Para a comparação das médias de freqüência de hematomas foi utilizado o teste de Duncan, por se tratar de uma variável de instabilidade moderada (15 % < CV < 30 %) e o teste de Tukey para a comparação de pHfinal, por apresentar baixa instabilidade (CV < 15 %). 26 Cruzado Nelore Tabela 1. Número de carcaças com avaliação de hematomas e de pH para cada uma das recomendações testadas em função das classes de densidade, onde AD= alta densidade, DI= densidade ideal e BD= baixa densidade. RECOMENDAÇÃO DE DENSIDADE MAF FAWC RANDALL C C1 C2 Hematoma AD 590 549 245 622 648 577 DI 457 460 643 438 409 622 BD 225 263 384 212 215 73 AD 213 205 93 214 218 45 DI 197 223 254 228 222 173 BD 213 195 276 181 183 405 AD 565 528 237 598 623 554 DI 433 441 616 416 388 587 BD 214 243 359 198 201 71 AD 193 186 82 193 197 40 DI 170 203 232 208 203 156 BD 202 176 251 164 165 369 Cruzado Nelore pH MAF (2003) = 0,86 a 0,96m2 para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m2 para animais com 400kg; 1,27 a 2 2 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; FAWC (1991) => 0,67 2 0,78 2 0,67 0,65 0,63 A= 0,021.P m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1= 0,01P e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal). 27 3. Resultados e Discussão Mais da metade das carcaças avaliadas (55,13% do total de 5133 animais avaliados durante todo o período de coleta de dados) apresentaram hematomas, e 2,64% delas apresentavam pHfinal 6,00. Tais resultados são indicativos de perdas quantitativas e qualitativas da carne. Houve variação na freqüência de hematomas em função da densidade de animais durante o transporte, sendo que animais da raça nelore apresentaram em média 1,41 hematoma quando transportados em Alta Densidade e Densidade Ideal e 1,55 para Baixa Densidade. Para os animais cruzados, os valores médios de hematomas foram 1,09, 0,91 e 0,89, para Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade, respectivamente. Os valores médios de pHfinal das carcaças de nelore foram 5,76 e 5,77 e 5,81 para Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade, respectivamente. Da mesma forma as médias de pHfinal das carcaças de animais cruzados aumentou com o acréscimo da área disponível, sendo: 5,69, 5,72 e 5,73 para Alta Densidade, Densidade Ideal e Baixa Densidade, respectivamente. 3.1. Hematomas O espaço disponível dentro das gaiolas durante o transporte influencia o bemestar dos animais. TARRANT et al. (1992) observaram que os atos de frenagem, aceleração, parada ou mudança de marcha nos veículos faz com que os animais se desloquem lateralmente perdendo o equilíbrio e conseqüentemente sofrendo queda, quando transportados em baixas densidades. Por outro lado, movimentações laterais provocadas por veículos fazendo curvas, são responsáveis pelo maior número de quedas quando a densidade é alta. A queda dos animais merece uma atenção especial, uma vez que dela resultam riscos de pisoteamento e a conseqüente deterioração do bem-estar e da qualidade da carne. Uma das conseqüências das quedas são os espaços vazios que serão ocupados pelos demais animais, dificultando que o animal caído se levante e aumentando, ainda mais o risco de novas quedas e dos problemas decorrentes. 28 Nas Figuras 1 e 2 estão apresentadas as freqüências médias (dados transformados) de hematomas na carcaça e respectivos erros-padrão e coeficientes de variação para cada recomendação avaliada para as raças nelore e cruzados, respectivamente. 1,60 a a a 1,50 b b a a 1,55 ab b ab ab b b b C** CV=30,01% C1* CV=30,09% a a a b 1,45 1,40 1,35 1,30 MAF# (2003)* CV=29,82% FAWC (1991)** CV=29,86% Randall (1993)*** CV=30,00% Alta Densidade Densidade Ideal C2 CV=30,14% Baixa Densidade Figura 1. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para as diversas recomendações com os respectivos erros padrão da média e coeficientes de variação (CV) para animais da raça nelore. Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan ( *P < 0,10; **P < 0,05; ***P < 0,01 ). # New Zealand Ministry of Agriculture and 2 2 Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com 2 2 400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 0,67 2 0,78 2 0,67 kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; 0,65 0,63 e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço C1= 0,01P linear ideal por animal). 29 1,50 a a 1,45 a a 1,40 a b 1,35 b 1,30 b a a b b b b b b b b 1,25 1,20 MAF# (2003)*** CV=27,22% FAWC (1991)*** CV=26,68% Randall (1993)** CV=26,72% Alta Densidade C*** CV=27,02% Densidade Ideal C1*** CV=26,97% C2*** CV=27,29% Baixa Densidade Figura 2. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para as diversas recomendações com os respectivos erros padrão da média e coeficientes de variação (CV) para animais cruzados. Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan ( **P < 0,05; ***P < 0,01 ). # New Zealand Ministry of Agriculture and Forestry. 2 2 MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com 400kg; 2 2 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; 0,67 2 0,78 2 0,67 FAWC (1991) = A= 0,021.P m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1= 0,65 0,63 e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear 0,01P ideal por animal). Com baixa confiabilidade (P<0,32), foi detectado que a recomendação C2 foi a que mais se destacou na prevenção de hematomas para animais nelore, porém foi a que obteve resultado menos eficiente quando avaliados animais cruzados. Na figura 1, as recomendações C e MAF apresentam bons resultados, uma vez que a Densidade Ideal possui valores significantemente iguais aos animais carregados em Alta Densidade. Em animais cruzados, os melhores resultados foram observados pelas recomendações do MAF (2003), FAWC (2001), C e C1, onde os valores de Densidade Ideal não diferiram dos de Baixa Densidade, minimizando o cansaço dos animais. 3.2. pH Comportamentos agressivos alteram os valores de pH da carne e aumentam a freqüência de hematomas nas carcaças. Interações agonísticas, como ameaças, cabeçadas e empurrões, são mais comuns quando os animais estão em veículos parados do que quando esse está em movimento, porém esses comportamentos 30 podem ser dependentes da densidade de carga e do sexo dos bovinos (KENNY & TARRANT, 1987). VILLARROEL et al. (2001) encontraram resultados onde motoristas e fazendeiros acreditam, através de respostas à questionários, que altas densidades durante o transporte é o mais relevante aspecto para hematomas e carne DFD. Os resultados de pHfinal, das seis recomendações avaliadas são apresentados nas figuras 3 e 4, com os respectivos coeficientes de variação e erros-padrão das médias para as raças nelore e cruzados, respectivamente: 5,84 5,80 a b b b 5,76 a a a b b a a b a a b b a b 5,72 5,68 5,64 MAF# (2003)*** CV=2,40% FAWC (1991)*** CV=2,38% Randall (1993)*** CV=2,39% Alta Densidade C*** CV=2,40% Densidade Ideal C1*** CV=2,40% C2*** CV=2,39% Baixa Densidade Figura 3. Médias de pH final e respectivos erros padrão e coeficientes de variação (CV) para a raça nelore em função das diversas recomendações Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ( **P <0,05; ***P <0,01 ). #New Zealand Ministry of 2 2 Agriculture and Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para 2 2 animais com 400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais 0,67 2 0,78 2 0,67 de 600 kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P m ; RANDALL (1993) => A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; 0,65 0,63 C1= 0,01P e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal). 31 5,76 ab a 5,72 a b a a a b a b a a a a ab b b b 5,68 5,64 5,60 MAF# (2003)** CV=2,04% FAWC (1991)** CV=2,04% Randall (1993)** CV=2,08% Alta Densidade C** CV=2,03% Densidade Ideal C1** CV=2,06% C2*** CV=2,05% Baixa Densidade Figura 4. Médias de pH final e respectivos erros padrão e coeficientes de variação (CV) para animais cruzados em função das diversas recomendações. Letras diferentes na mesma recomendação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (**P <0,05; ***P <0,01 ). #New Zealand Ministry of 2 2 Agriculture and Forestry. MAF (2003) = 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para 2 2 animais com 400kg; 1,27 a 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; FAWC (1991) = A= 0,021.P 0,67m2; RANDALL (1993) => A= 0,01.P0,78m2; C= 0,0088P0,67; 0,65 0,63 C1= 0,01P e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal). Animais da raça nelore tiveram na recomendação C2 os melhores valores dentro da faixa considerada ideal para o transporte. As demais recomendações, que tomavam como base a metragem linear, não foram eficientes, pois os valores de pHfinal encontrados em Densidade Ideal foram iguais àqueles encontrados em Baixa Densidade (valores mais elevados). Nas recomendações baseadas em metros quadrados, Densidade Ideal obteve resultados tão bons quando os transportados em Alta Densidade. 3.3. Recomendações A importância em se determinar o coeficiente de contingência entre os valores das equações propostas é saber o grau de semelhança que as equações possuem entre si, tomando-as duas a duas. Valores mais próximos de 1 significam maior semelhança entre as recomendações. Conforme esses valores vão se distanciando de 1, as equações vão se tornando cada vez mais diferentes. 32 Os coeficientes de contingência apresentados na tabela 2, demonstram que existe diferença, entre os grupos de animais avaliados, de aproximadamente 5% entre a equação proposta por RANDALL (1993) e a equação C2, proposta nesse trabalho, reforçando a idéia de que há necessidade de adequação da lotação para os dois diferentes grupos. Nas recomendações que levam em conta a metragem quadrada por animal, a menor diferença no coeficiente de contingência, observado entre animais nelore e cruzados, sugere que não são as mais adequadas para esse conjunto de dados, uma vez que no Brasil existe uma diversidade na genética dos animais que são transportados. A equação C2, que toma como base a metragem linear, contempla essa distinção através da diferenciação nos valores apresentados na tabela. Nessa realidade, os animais transportados de acordo com as recomendações de RANDALL (1993) apresentaram valores menos eficientes no controle de aparecimento de hematomas e pH elevados. A equação de RANDALL (1993) não pode ser utilizada de forma genérica para o cálculo de área disponível, pois o coeficiente de contingência em relação à equação C2 foi o que proporcionou maior diferença (aproximadamente 5%) entre os animais dos diferentes grupos genéticos, sendo necessário uma melhor adequação para animais da raça nelore. Tabela 2. Coeficiente de contingência das diferentes equações propostas para animais nelore (acima da diagonal principal) e cruzados (abaixo da diagonal principal). MAF FAWC RANDALL C C1 C2 MAF 1,0000 0,7266 0,6557 0,7102 0,7105 0,6485 FAWC 0,7271 1,0000 0,6793 0,7360 0,7511 0,6439 RANDALL 0,6455 0,6666 1,0000 0,6475 0,6478 0,6494 C 0,7430 0,7658 0,6462 1,0000 0,8008 0,6803 C1 0,7416 0,7697 0,6469 0,8109 1,0000 0,6938 C2 0,6768 0,6818 0,6952 0,6891 0,6932 1,0000 2 2 MAF (2003) - 0,86 a 0,96m para animais com 300kg, 1,06 a 1,16m para animais com 400kg; 1,27 a 2 2 1,59m para animais com 500kg e mais de 1,50m para animais com mais de 600 kg; FAWC (1991) - A= 0,67 2 0,78 2 0,67 0,65 0,63 0,021.P m ; RANDALL (1993) - A= 0,01.P m ; C= 0,0088P ; C1= 0,01P e C2= 0,01P (onde: “A”= área ideal por animal, “P”= peso vivo e “C”=espaço linear ideal por animal). Altas e baixas lotações podem proporcionar aumento no aparecimento de hematomas com relação a densidades médias (ELDRIDGE & WINFIELD, 1988). Com 33 isso, busca-se nas recomendações um modelo onde Densidade Ideal proporcione menores valores de hematomas e pHfinal. De acordo com os valores encontrados, observou-se que a lotação ideal foi aquela que proporcionou menor quantidade de hematomas (P<0,32) e menor valor de pHfinal da carcaça de animais nelore (P<0,01), comparados com animais de mesma raça que foram transportados em baixas e altas densidades. Portanto, a recomendação C2 foi a que melhor se enquadrou aos dados desse experimento. As três recomendações – C, C1 e C2 – foram utilizadas com base na pesquisa apresentada por ROCHA et al. (2003), resultando em 0,461m de Largura Corporal (LC) para animais entre 350 e 450kg. Variações importantes também foram observadas por WINKLER (1993), com PT=1,82m, D=0,579m e LC=0,456m, da mesma forma que os de ROCHA et al.(2003) quando os valores de LC se ajustaram dentro dos limites definidos como ideais pelas três equações, quais sejam: recomendação C: entre 0,446 e 0,527m; C1: entre 0,450 e 0,530m; C2: entre 0,401 e 0,469m. Os valores encontrados por NANJOSHI & KATPATAL (1983), PT=1,74m, D=0,554 m e LC= 0,436m, mostraram que o valor de LC se ajusta apenas aos limites definidos pela recomendação C2, entre 0,401 e 0,469m, outro fator favorável a essa recomendação. 34 4. Conclusões A equação idealizada C2= 0,01P0,63 foi a que melhor se adaptou para animais nelore e se mostrou compatível com as demais recomendações para animais cruzados, determinando a utilização de forma genérica para qualquer grupo genético que se deseje transportar. A medida linear de gaiola em função do peso vivo do animal mostrou-se muito eficiente para o transporte do nelore com redução na ocorrência de hematomas e queda adequada de pH. Quando utilizada em animais cruzados não houve tanta diferença entre essa medida e as já existentes que preconizam metro quadrado por animal em relação ao peso vivo, para a diminuição da quantidade de hematomas e queda de pH. Nas condições brasileiras de transporte, onde parte da mão-de-obra não é especializada e as condições das estradas não são boas, altas densidades de carga podem proporcionar maior estabilidade para os animais, diminuindo risco de quedas, problemas de bem-estar do animal e da qualidade da carne. A nova equação baseada em metragem linear de gaiola por animal proporciona um cálculo mais exato para o atendimento do conforto para os animais da raça nelore e não difere das recomendações já descritas na literatura para animais cruzados, diminuindo a incidência de hematomas graves na carcaça, minimizando o sofrimento dos animais e contribuindo para a queda dos valores de pH após 24 horas do abate, ampliando a oportunidade de melhores negócios diante da melhoria da qualidade da carne. 35 5. Referências ARTHINGTON, J. D.; EICHER, S. D.; KUNKLE, W. E.; MARTIN, F. G. Effect of transportation and commingling on the acute-phase protein response, growth, and feed intake of newly weaned beef calves. Journal of Animal Science, Champaign, v. 81, n. 5, p. 1120-1125, 2003. AUS-MEAT Limited. Beef & Veal Language. South Brisbane, 2001. 4p. BARTON GADE, P.; CHRISTENSEN, L. Effect of different stocking densities during transport on welfare and meat quality in Danish slaughter pigs. 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Durante o abate foram feitas mensurações da quantidade de hematomas graves presentes em cada carcaça. Depois do abate, foram feitas mensurações de pH das carcaças após 24 horas de resfriamento. Foi observado que todas as variáveis mensuradas obtiveram melhoras, indicando um entendimento dos motoristas em relação ao treinamento. Com isso, pode-se concluir que programas de treinamento ajudam na melhoria do bem-estar animal assim como na diminuição do risco de depreciação da qualidade da carne, baseada na ocorrência de altos valores de pH e número de hematomas sérios nas carcaças. Palavras-Chave: Bem-estar, bovinos, caminhão, pH, qualidade de carne, transporte 40 1. Introdução A preocupação dos países importadores de produtos brasileiros com o bem-estar dos animais determina que os produtores nacionais adotem novos procedimentos de manejo para atender às exigências do mercado internacional (FAUCITANO, 2000). A profissionalização dos setores envolvidos na cadeia produtiva da carne é um passo importante para atender a essa demanda, contribuindo também para a diminuição de perdas decorrentes da inadequação do manejo pré-abate, trazendo graves prejuízos econômicos para o sistema financeiro (JONES & TONG, 1989; GRANDIN, 2000b). Uma das principais variáveis que afeta o bem-estar dos animais durante o manejo pré-abate é o comportamento das pessoas que estão dirigindo o veículo e manejando esses animais durante o embarque e desembarque (LAMBOOIJ et al. 1999; KENT & EWBANK, 1983; AGNES et al. 1990; VAN DE WATER et al. 2003). Assim, há a necessidade de treinamento de todas as pessoas envolvidas no manejo de bovinos, dentre eles os motoristas responsáveis pelo transporte, mote desta dissertação, de forma a buscar a diminuição de perdas (PARANHOS DA COSTA et al. 1998) e melhorar o bem-estar dos animais (PAWELEK & CRONEY, 2004). Atingir os mais altos níveis de desempenho requer métodos e processos bem executados voltados para o aprendizado. O termo “aprendizado” refere-se à adaptação às mudanças, resultando em novos enfoques e/ou metas. Adquirir simplesmente novos equipamentos não garante técnicas de manejo racional, pois grande parte dos produtores não busca eliminar os problemas em sua origem ou não acreditam na mudança de comportamento dos próprios empregados. Treinamento implica prontidão para respostas, é estar preparado com equipamentos, pessoal treinado para atender a qualquer tipo de demanda – estratégica, operacional ou tecnológica – e reagir com presteza para suprir as exigências de mercado. É preciso criar métodos para comparação de resultados para a manutenção dessas práticas de manejo. Uma proposta para solucionar este problema foi apresentada por GRANDIN (1998a), que desenvolveu um método de observação do comportamento de humanos e bovinos para avaliar a qualidade do manejo de bovinos em plantas frigoríficas, 41 avaliando, por exemplo, as freqüências de utilização de bastão elétrico e de animais que escorregam. Os critérios definidos por esta autora têm sido utilizados em auditorias implementadas por grandes compradores de carne, compondo um conjunto de exigências que têm em conta a avaliação do bem-estar animal durante o manejo préabate acarretando um tratamento racional no manejo dos bovinos (GRANDIN, 2000a). Certamente é necessário definir estratégias para implementação de programas de treinamento para minimizar o estresse dos animais e as perdas econômicas provenientes do comprometimento da qualidade da carne. Uma possibilidade é combinar ações de treinamento com a adoção de punições ou gratificações pelo trabalho feito de forma errada ou correta, respectivamente (GUISE, 1991; BROOM, 2000; GRANDIN, 2000b). Sabe-se, através do resultado dos programas de qualidade, que o sucesso de qualquer organização depende cada vez mais do conhecimento, das habilidades, da motivação e da criatividade de sua força de trabalho. A importância do engajamento e alinhamento das pessoas que trabalham no processo com as estratégias da organização que fazem parte só tende a facilitar a relação entre mercados mais exigentes de forma a beneficiar economicamente todos os envolvidos no processo. O objetivo desse trabalho foi quantificar as mudanças ocorridas no comportamento dos caminhoneiros após treinamento em manejo racional e suas conseqüências no bem-estar dos animais e na qualidade da carne. 2. Material e Métodos 2.1. Processo de coleta de dados A pesquisa foi realizada na planta do Frigorífico Marfrig, em Promissão - SP, Brasil, durante a implementação de um programa de treinamento para implementação de rotinas de manejo racional, entre junho de 2004 e fevereiro de 2005. Antes do início do treinamento houve habituação dos caminhoneiros à presença das pessoas envolvidas no processo de treinamento (procedimento semelhante ao realizado com colaboradores de currais de frigoríficos, para mensurar a quantidade de 42 utilização de choque nos animais durante o processo de condução do curral até o boxe de atordoamento), pois num primeiro momento percebeu-se que os trabalhadores utilizaram pouco o bastão na tentativa de demonstrar um trabalho bem feito, conforme mostra a Figura 1 (PARANHOS DA COSTA et al. 2004). 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 15 /0 4 27 /04 /0 4 28 /04 /0 4 27 /04 /0 5 08 /04 /0 6 11 /04 /0 6 12 /04 /0 6 14 /04 /0 6 17 /04 /0 6 18 /04 /0 6 19 /04 /0 6 21 /04 /0 6 22 /04 /0 6 23 /04 /0 6 24 /04 /0 6 25 /04 /0 6 26 /04 /0 6 28 /04 /0 6 29 /04 /0 6 30 /04 /0 6 01 /04 /0 7/ 04 Valor em % Acompanhamento da evolução do uso de choque durante a condução do curral até o box e linha de tendência Figura 1. Acompanhamento da evolução do uso de choque durante a condução de bovinos, do curral até o boxe de atordoamento (adaptado de PARANHOS DA COSTA et al. 2004) Pela análise da Figura 1 percebe-se que à medida que a rotina foi sendo retomada, o comportamento dessas pessoas envolvidas retornava aos níveis reais e conseqüentemente houve a possibilidade de se medir com maior segurança o desempenho cotidiano destes trabalhadores. Esse resultado inicial foi de extrema importância haja vista os questionamentos sobre a alta incidência do uso do bastão elétrico logo após o inicio do processo de observação, que foi avaliar o comportamento rotineiro. Posteriormente iniciou-se a coleta de dados propriamente dita antes que o treinamento fosse realizado de forma a comparar resultados Após o treinamento, a queda dos níveis é atribuída exclusivamente ao aprendizado e comprometimento das pessoas envolvidas. Em trabalhos mais detalhados a respeito desse assunto, quedas de produtividade podem ocorrer a partir do momento em que as pessoas envolvidas se sentem alienadas ou excluídas do 43 processo de trabalho ou em situações em que suas necessidades básicas não sejam atendidas, ou mesmo quando estão ansiosas na expectativa de reconhecimento. Com pequenas melhorias, valorizando a mão-de-obra, alteração significativa de desempenho foi observada (Figura 2) (TSEIMAZIDES & BARBALHO, 2005). 250 216 200 150 99 % 87 93 100 61 75 44 50 0 Abril Maio Jun Jul Ago Out Dez (N= 1859) (N= 576) (N= 2921) (N= 1457) (N= 1473) (N= 448) (N= 672) Figura 2. Médias mensais das freqüências de choques durante a condução dos animais do curral ao boxe de atordoamento durante o ano de 2004. Valores percentuais acima de 100% representam que determinados animais receberam mais de um choque. O treinamento foi dividido em duas partes: uma teórica, com apresentação de seis horas de aula (seguida de avaliação com prova escrita) abordando os conceitos de bem-estar animal, características comportamentais e fisiológicas dos animais, procedimentos corretos para a realização do processo desde o embarque na fazenda até o desembarque no frigorífico, as relações entre animais e humanos e as conseqüências do mau manejo sobre a qualidade da carne e outra prática, orientando sobre a forma correta de estacionamento do veículo em sua chegada no frigorífico, forma de abertura das porteiras, modo de promover fluxo de saída de animais de forma tranqüila, evitando, assim, acidentes tanto para os motoristas como para os animais. 44 Após o treinamento foi realizado novo acompanhamento do desembarque dos animais, coletando dados sem influenciar nas atitudes dos motoristas. Na chegada dos animais no frigorífico descreveram-se as características do veículo e identificou-se o número de rastreabilidade individual de cada animal. Durante o período de descarregamento dos animais, os eventos de batida de lombo nas porteiras, velocidade de descida, quedas e utilização de choque foram contabilizadas e registradas por um observador posicionado em local que não influenciava o comportamento dos animais. Após o desembarque os animais eram conduzidos até o curral de espera para o abate no dia seguinte. O curral de espera abrigava em média 90 animais, com água disponível até o momento do abate. Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela AUS-MEAT (2001), que definiu hematoma grave como qualquer lesão no tecido muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de diâmetro (ou área equivalente), exceto as lesões no contra-filé (longissimus dorsi), que foram sempre consideradas graves independentemente do tamanho. Essas avaliações foram realizadas na linha de abate, logo após a retirada do couro, sendo registrada a identidade de cada animal e o local do hematoma (quando ocorria), marcando “x” em desenhos de carcaças. Após o final do abate, as carcaças, divididas ao meio, eram levadas para o resfriamento em câmara fria, nunca inferior a 2ºC, onde permaneciam por aproximadamente 24 horas até o momento da mensuração do pH. Essa mensuração foi realizada no músculo longissimus dorsi introduzindo-se o peagâmetro digital, modelo 1140, produzido pela Mettler Toledo, nas duas meias carcaças, tomando-se os valores médios obtidos para comparação. O conjunto de animais utilizado nos dois levantamentos (comportamentais e qualitativos) foram distintos, porém ambos foram mensurados com a mesma equipe de motoristas, avaliada antes e após o treinamento. 45 2.2. Dados de Comportamento O trabalho dos caminhoneiros foi acompanhado no desembarque antes do curso de manejo racional, com 37 caminhões e 713 animais, e após o treinamento, com 148 caminhões e 2865 animais. Quatro variáveis foram computadas em relação às ocorrências: 1- utilização do bastão elétrico – mediu-se a freqüência de utilização desse instrumento por cada motorista; 2- velocidade de descida – classificou-se três situações, definindo as categorias: "andando", quando mais da metade dos animais deixava o caminhão de forma tranqüila; "correndo", quando a maioria dos animais deixava o veículo de forma rápida; "correndo e andando", quando metade dos animais descia de cada uma das formas anteriores; 3- queda – compreende-se por queda toda vez que um animal, ao desembarcar, tocava o chão com qualquer parte do corpo, exceto os cascos; 4- pancada no dorso – computava-se pancada toda vez que um animal, ao passar por uma das porteiras do caminhão, batia o dorso contra a base da mesma, geralmente porque esta não estava totalmente aberta. 2.3. Dados de Qualidade Entende-se por dados relativos à qualidade da carne aqueles que influenciam nas características da carne, ou seja, quantidade de hematomas e valores de pH. As avaliações qualitativas foram sempre mensuradas antes e depois do treinamento. Todas as carcaças avaliadas tiveram os valores de pH tomados no músculo longissimus dorsi, 24 horas após o abate, e as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o valor médio obtido das mensurações feitas nas duas meias carcaças. Na tabela 1 está representado o número de animais avaliados para cada variável em função do grupo genético dos animais 46 Tabela 1 – Número de animais, dos diferentes grupos genéticos, avaliados antes e após o treinamento em relação a pH e freqüência de hematomas pH Hematomas Antes Depois Antes Depois Nelore 1466 1587 1409 1843 Cruzado 576 1192 405 1338 2.4. Análise Estatística A análise estatística foi realizada através do modo GLM (General Linear Models) do pacote estatístico Statistical Analisys System (SAS, 2001), observando a influência das diferentes propriedades, data de coleta, categoria de distância, sexo e raça sobre os resultados. Elaborou-se uma variável que contemplava as diferentes datas, propriedades, sexo e categorias de distâncias, totalizando 42 classes para a avaliação de animais da raça nelore e 38 classes para animais cruzados, que foram incluídas no modelo como variável independente, juntamente com a variável “período” e a interação entre elas. Os valores de pH médio das carcaças e a quantidade média de hematomas transformadas pela fórmula y = (x + 1) 0,5 foram avaliadas como variáveis dependentes. Para a comparação das médias entre os diferentes períodos foi utilizado o teste de Tukey. Os valores percentuais para as características comportamentais foram avaliados através do teste Z para a comparação de proporções. 47 3. Resultados e Discussão Os resultados são apresentados para todas as variáveis analisadas, expomos os resultados de cada uma separadamente para melhor explicar seus resultados inerentes: 3.1. Utilização do bastão elétrico Houve um decréscimo de 61,5% na utilização de bastão elétrico após o treinamento dos motoristas, como pode ser observado na Figura 3. 6,0 5,0 5,2 % 4,0 Antes 3,0 2,0 2,0 Depois 1,0 0,0 Utilização de choque (P=0,257) Figura 3. Freqüência de utilização de choque, no desembarque antes e após o treinamento dos motoristas em manejo racional. Letras iguais não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções Grandin (1998) observou uma diminuição na utilização de bastão elétrico no manejo dos animais nos currais de dois frigoríficos depois de treinamento. Essa redução demonstra que houve uma assimilação por parte dos motoristas dos conceitos e das novas técnicas que podem ser empregadas para realizar a mesma tarefa, preservando o bem-estar dos animais. 48 Ressalta-se, ainda, que anteriormente ao treinamento os caminhoneiros mantinham posse do bastão antes de iniciar o desembarque, utilizando-se desse recurso algumas vezes desnecessariamente. Esses resultados assemelham-se aos encontrados por HEMSWORTH et al. (2002) demonstrando que o treinamento gera mudanças no comportamento humano e conseqüentemente uma queda na utilização de práticas aversivas modificando também o comportamento do animal que se apresentará mais tranqüilo. 3.2. Batidas de dorso nas porteiras do veículo O manejo adequado de desembarque é fundamental para diminuir a freqüência de batidas de dorso nas porteiras dos caminhões, como caracterizado na Figura 4, que registra as freqüências médias deste problema por animal e por veículo. 25,0 A 21,6 20,0 15,0 % Antes Depois 10,0 5,0 B 0,7 0,0 Por Veículo*** A 3,5 B 0,1 Por Animal*** Figura 4. Freqüências médias de batidas do dorso dos animais nas porteiras dos caminhões calculadas por animal e por veículo antes e após treinamento de motoristas. Letras diferentes na mesma situação diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções (***P < 0,001). 49 Essa medida é de grande valor para sugerir que o treinamento surtiu efeito positivo sobre o manejo de desembarque, uma vez que para diminuir esse tipo de ocorrência é necessária apenas maior atenção dos motoristas, assegurando que as porteiras estejam bem abertas, evitando assim sofrimento dos animais e perdas econômicas para o frigorífico. A redução observada nesse estudo mostra que motoristas mais cuidadosos podem entregar animais em boas condições no frigorífico. 3.3. Velocidade de descida A velocidade de descida dos animais durante o desembarque também melhorou significativamente após o treinamento (Figura 5). A 77,0 90,0 80,0 A 56,8 70,0 % 60,0 50,0 40,0 B 35,1 Antes B 22,3 30,0 20,0 10,0 0,0 Andando*** Correndo*** Depois A 5,4 B 0,7 Andando/Correndo (P=0,0416) Figura 5. Freqüências médias de ocorrência das categorias de velocidade de descida dos animais do caminhão no momento do desembarque antes e após treinamento de motoristas. Letras diferentes na mesma variável diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções (***P<0,001). O maior reflexo do treinamento dos caminhoneiros foi observado sobre o manejo de animais que desciam apenas andando ou apenas correndo. Essa condição pode ser a conseqüência do tratamento gentil com os animais, influenciando significativamente 50 na diminuição da aversão dos animais pelo homem, minimizando, assim, a distância de fuga conforme já observado em criação leiteira (HEMSWORTH et al. 2000; HEMSWORTH et al. 2002). 3.4. Quedas A freqüência de quedas de animais durante o desembarque por veículo também decresceu após o treinamento, porém sem caracterizar significância estatística, como apresentado na Figura 6. Apesar da falta de diferença estatística estes resultados também podem ser atribuídos a uma melhor condição de viagem, pela assimilação dos novos conceitos pelos motoristas, permitindo que o trabalho fosse realizado com qualidade durante o período de viagem, como durante o desembarque, fazendo com que esse tipo de acidente fosse menos freqüente. A menor utilização de choque como pode ser observado na Figura 1, também pode ter contribuído para que os animais descessem com menos rapidez, apoiando-se melhor, e, conseqüentemente, minimizando as quedas. 51 9,0 8,1 8,0 7,0 % 6,0 6,1 5,0 Antes Depois 4,0 Depois 3,0 2,0 1,0 0,4 0,0 Por Veículo (P=0,6543) 0,3 Por Animal (P=0,6595) Figura 6. Freqüências médias de quedas de animais durante o desembarque por veículo e por animal antes e após treinamento de motoristas. Letras iguais na mesma variável não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Z para proporções 3.5. pH Os valores médios de pH, analisados nas carcaças, para os dois grupos genéticos, nelore e cruzado, alteraram-se significativamente para a raça nelore depois do treinamento, fato não constatado nos animais cruzados, como caracterizado na Figura 7. O fato de não existir diferença significativa entre as médias de pH de animais cruzados pode estar ligado a menor reatividade dos animais pertencentes a esse grupo genético. 52 pH 5,84 a 5,80 a 5,76 a b 5,72 5,68 5,64 Antes Depois Antes Nelore*** Depois Cruzado pH Figura 7. Valores médios de pH dos diferentes grupos genéticos e respectivos erros padrão antes e após o treinamento dos motoristas. Letras diferentes no mesmo grupo genético diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (***P < 0,001 ) O decréscimo de 0,09 no valor de pH, observado para animais da raça nelore, é sugestivo, considerando que há exigências de mercado que levam a desclassificação de cortes com pH acima de 5,99, aceitando-se qualquer valor abaixo deste. Essa redução no pH pode ter grande importância na perspectiva comercial de atendimento de conformidades para exportação. . 3.6. Hematomas Na Figura 8 são apresentadas as freqüências médias de hematomas em cada grupo genético antes e após o treinamento. Ambos tiveram um decréscimo significativo na quantidade de hematomas após o treinamento. A diminuição nos valores dessa variável é um reflexo da somatória de todos os benefícios trazidos pelo treinamento, que potencializou os caminhoneiros a aplicar os conhecimentos adquiridos modificando a rotina, que também lhes era estressante, e reconhecendo que as orientações 53 permitiam realizar o trabalho de forma mais tranqüila, facilitando a interação com os animais, refletido no bem-estar de ambos e na melhoria da qualidade da carne. Quantidade de Hematomas 2,40 2,00 a a 1,60 b 1,20 b 0,80 0,40 0,00 Antes Depois Nelore*** Antes Depois Cruzado*** Quantidade de Hematomas Figura 8. Freqüências médias de hematomas (dados transformados) para os diferentes grupos genéticos e respectivos erros padrão antes e após o treinamento. Letras diferentes no mesmo grupo genético diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (***P < 0,001) 54 4. Conclusões Atingir os mais altos níveis de desempenho requer métodos e processos voltados para um aprendizado relacionado ao negócio da empresa, que permita ao empregado ficar motivado pela oportunidade de executar uma atividade de forma melhor, bem como contribuir para corrigir problemas dentro do setor operacional. Todo desempenho relativo às pessoas está relacionado aos indicadores que medem a integração e satisfação com o seu trabalho e isto inclui não apenas uma remuneração justa como também criação de um ambiente de trabalho que conduza à excelência do desempenho, à plena participação e ao crescimento pessoal e da organização, que faça com que ele se sinta parte integrante do processo de trabalho. O programa de treinamento em manejo racional, resultou na melhoria da qualidade do serviço e conseqüentemente no bem-estar dos animais, contribuindo para a melhoria da qualidade da carne e ampliando as oportunidades de melhores negócios para plantas frigoríficas. O trabalho foi realizado de forma eficiente e eficaz, com efeitos potenciais positivos nos resultados econômicos, independentemente do grupo genético avaliado. Todos os resultados reforçam a idéia de que programas de treinamento podem ser utilizados para promover melhorias no serviço e conseqüentemente uma diminuição nos custos de produção. 55 5. Referências AGNES, F.; SARTORELLI, P.; ABDI, B. H.; LOCATELLI, A. Effect of transport loading or noise on blood biochemical variables in calves. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 51, n. 10, p. 1679-1681, 1990. AUS-MEAT Limited. Beef & veal language. South Brisbane, 2001. 4p. BROOM, D.M. Welfare assessment and problem areas during handling and transport. In: GRANDIN, T. Livestock Handling and Transport. 2nd ed. Wallingford: C.A.B.I, 2000. p. 43-61. FAUCITANO, L. Effects of preslaughter handling on the pig welfare and its influence on meat quality. In: CONFERÊNCIA VIRTUAL INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DE CARNE SUÍNA, 1., 2000. Disponível em < http://www.cnpsa.embrapa.br/pork/indice.en.html >. Acesso em: 9 jan. 2005. GRANDIN, T. Objective scoring for animal handling and stunning practices in slaughter plants. Journal of the American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 212, n. 1, p. 36–39, 1998. GRANDIN, T. Effect of animal welfare audit of slaughter plants by a major fast food company in cattle handling and stunning practices. Journal of the American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 216, n. 6, p. 848–851, 2000a. GRANDIN, T. Introduction management and economic factors of handling and transport. In: GRANDIN, T. Livestock handling and transport, 2nd. ed. Wallingford: C.A.B.I. 2000b. p. 1-14. 56 GRANDIN, T. Transferring results of behavioral research to industry to improve animal welfare on the farm, ranch and the slaughter plant. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 81, n. 3, p. 215-228, 2003. GUISE, J. Humane animal management – the benefits of improved systems for pig production, transport and slaughter. In: Carruthers, S.P. (ed). Farm Animals: It Pays to be Humane. CAS Paper 22, Centre for Agricultural Strategy, Reading, p.50-58. 1991. HEMSWORTH, P. H.; COLEMAN, G. J.; BARNETT, J. L.; BORG, S. Relationships between human-animal interactions and productivity of commercial dairy cows. Journal of Animal Science, Champaign, v. 78, n. 11, p. 2821–2831, 2000. HEMSWORTH, P. H.; COLEMAN, G. J.; BARNETT, J. L.; BORG, S.; DOWLING, S. The effects of cognitive behavioral intervention on the attitude and behavior of stockpersons and the behavior and productivity of commercial dairy cows. Journal of Animal Science, Champaign, v. 80, n. 1, p. 68–78, 2002. JARVIS, A. M.; SELKIRKB, L.; COCKRAMA, M. S. The influence of source, sex class and pre-slaughter handling on the bruising of cattle at two slaughterhouses. Livestock Production Science, Amsterdam, v. 43, n. 3, p. 215-224, 1995. JONES, S.; TONG, A. Factors in influencing the commercial incidence of dark cutting beef. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v. 69, n. 3, p. 649-654, 1989. KENT, J. E.; EWBANK, R. The effect of road transportation on the blood constituents and behaviour of calves. I. Six months old. British Veterinary Journal, London, v. 139, n. 3, p. 228-235, 1983. 57 LAMBOOIJ, E., BROOM, D.M., VON MICKWITZ, G., SCHUTTE, A. The welfare of farm animals during transport. In Veterinary Aspects of Meat Production, Processing and Inspection, ed. F.J.M. Smulders, p. 113-128, E.C.C.A.M.S.T. 1999. PAWELEK, R. & CRONEY, D. Understanding and addressing issues related to the wellbeing of livestock. Disponível em: <http://eesc.oregonstate.edu>. Acesso em: 21.01.2004. PARANHOS DA COSTA, M. J. R.; ZUIN, L. F. S.; PIOVEZAN, U. Avaliação preliminar do manejo pré-abate de bovinos do programa de qualidade de carne bovina do Fundepec. Jaboticabal: FCAV, UNESP, 1998. 21p. (Relatório técnico) PARANHOS DA COSTA, M. J. R., BARBALHO, P. C., TSEIMAZIDES, S. P., PASCOA, A. G. Primeiro relatório frigorífico Marfrig Promissão. Jaboticabal: FCAV, UNESP, 2004. 12p. (Relatório técnico) SAS INSTITUTE. System for Microsoft Windows: release 8.2. Cary, 2001. 1 CDROM. TSEIMAZIDES, S.P., BARBALHO, P. C. Manejo pré-abate em bovinos de corte: Bem-estar animal e qualidade da carne. Palestra ministrada em Andradina, 2005. VAN DE WATER, G., VERJANS, F., GEERS, R. The effect of short distance transport under commercial conditions on the physiology of slaughter calves; pH and colour profiles of veal. Livestock Production Science, Amsterdam, v. 82, p. 171-179, 2003. 58 CAPITULO 4 – IMPLICAÇÕES Um sistema de gestão para a excelência de desempenho precisa ter seu foco nos principais resultados da organização, sejam resultados relativos à satisfação dos clientes, internos e externos, financeiros, aos empregados, aos fornecedores e parceiros, ao produto e aos processos organizacionais. Neste trabalho, focalizou-se principalmente o resultado do treinamento de pessoas envolvidas no processo de manejo correto do gado e na especificação da lotação ideal de transporte, buscando o bem-estar animal e melhorias no processo produtivo das organizações. Durante o desenvolvimento deste estudo, foram detectados dois aspectos determinantes na melhoria do manejo dos bovinos: 1 – A formulação de uma nova proposta de carregamento para cálculo de densidade de carga através da utilização de metragem linear por peso vivo de animal, garantindo, assim, que as características quantitativas e qualitativas não se perdessem durante o período em que os animais estivessem sendo transportados. 2 – A necessidade de se conhecer mais profundamente as influências do transporte sobre características quantitativas e qualitativas da carne bovina. O conhecimento adequado do manejo durante o transporte desses bovinos beneficia consideravelmente o produto final. Nesta pesquisa percebeu-se que o resultado positivo dessas práticas de manejo foi possível porque o trabalhador conseguiu se perceber inserido no processo de melhoria e da criação de parcerias entre produtores e frigoríficos. Parcerias internas envolvem, também, a criação de uma rede de relacionamento entre as unidades da organização para melhorar a comunicação, flexibilidade, a prontidão de resposta e a troca de conhecimentos. O trabalho foi realizado visando ao desenvolvimento profissional, a conscientização de todas as pessoas envolvidas no processo de produção de carne, desde os trabalhadores das fazendas até os colaboradores dos currais dos frigoríficos, propiciando uma melhoria do produto final. Todas as experiências deste trabalho com lotação própria para gado bovino permitem recomendar um tipo de lotação que leva em consideração a metragem linear 59 da gaiola, porque verificou-se que este tipo de recomendação possibilita transportar o gado de forma a diminuir a possibilidade de formação de hematomas e conseqüentemente manter os valores de pH aceitáveis para não desqualificar a carne. A equação linear C2= 0,01P0,63 foi a mais recomendada porque é adequada tanto para animais cruzados como para o gado nelore. Nesse trabalho buscou-se entender um pouco das diversas variáveis responsáveis pela perda de quantidade e qualidade da carne bovina. Esse objetivo foi atingido porque se obteve um embasamento dos pontos principais onde o transporte de bovinos pode ser melhorado. O desenvolvimento do trabalho em ambiente comercial, trouxe vantagens de se conhecer diversas realidades dentro desse sistema de produção. Em contrapartida, vários fatores podem ter influenciado os resultados por se tratar de ambiente não controlado. Dessa forma, se faz necessário maior rigor em pesquisas futuras, com controle metódico de todos os fatores envolvidos no processo de transporte que influenciam o bem-estar dos animais e a qualidade da carne. Todavia, a experiência vivenciada nas visitas às fazendas e frigoríficos, mostrou que os resultados de desempenho, tanto econômico quanto funcional, foram positivos. Notou-se que a organização para o trabalho melhorou o ambiente de trabalho, proporcionando satisfação pessoal e o desenvolvimento profissional de todos os envolvidos. Nessa busca pela profissionalização dentro do setor, ganhos quantitativos e qualitativos podem determinar o sucesso de uma empresa na obtenção de lucros, fazendo com que o produto atinja os padrões de qualidade exigidos pelo mercado, aproveitando todas as possibilidades de comercialização e conquistando melhores negócios. O desenvolvimento de parcerias (seja interna ou externa) pode melhorar a cadeia produtiva da carne que está em constante desenvolvimento, principalmente para atender as exigências de seus clientes, cada vez mais preocupado com o padrão de qualidade daquilo que consomem. O treinamento das pessoas envolvidas no processo de transporte inegavelmente minimizou perdas. O protocolo utilizado nesse trabalho foi eficaz e eficiente, uma vez que após o treinamento as pessoas continuaram com o mesmo desempenho 60 independente da presença do supervisor. A adoção do protocolo proposto nesse trabalho aliado à disponibilidade de treinadores e treinados para a troca de experiência gerou um comprometimento de ambas as partes para a melhoria do processo. É sempre necessário repensar critérios modificando estratégias e planos de ação para criar metas a serem alcançadas dentro da organização, porque servem como impulsionadora de desempenho para todos os setores e unidades de trabalho. Deve-se repensar constantemente todo o processo, que nada mais é o conjunto de recursos e atividades inter-relacionadas para garantir a qualidade da carne bovina. Nova pesquisa sobre a determinação do período em que os padrões ensinados se mantém em níveis satisfatórios será necessária, uma vez que treinamento implica processo contínuo de realimentação de aprendizagem, melhorando assim os padrões já alcançados e garantindo a motivação desses trabalhadores.