Homilia do XVI Domingo do Tempo Comum
Transcrição
Homilia do XVI Domingo do Tempo Comum
1 Logo após a parábola do Bom Samaritano, o Evangelista Lucas narra o episódio da acolhida de Jesus em casa de marta e Maria. Se domingo passado o pregador comentando a parábola do Bom Samaritano disse que O IMPORTANTE É FAZER, hoje deve contradizer-se, porque comentando o episódio de Maria que escuta Jesus e que escolheu a parte boa que não lhe será tirada, o pregador hoje deveria dizer: O IMPORTANTE NÃO É FAZER, MAS ESCUTAR. O evangelista colocou junto os dois episódios exatamente para evitar que os pregadores exagerem em um ou noutro sentido. É necessário fazer, mas para fazer é preciso escutar. A escuta se transforma em ação. Se o FAZER é cheio de preocupação, afã, dispersivo, não é um FAZER CRISTÃO. Neste décimo sexto domingo do tempo comum é nos proposto o tema do acolhimento. Para poder fazer misericórdia como fez o Bom Samaritano, é preciso acolher a palavra do Senhor. Não é preciso continuar a fazer minhas coisas, mas sentar-se diante dele e dar tempo, espaço e acolhida à sua pessoa. Reflitamos um pouco sobre a frase que Jesus usou para louvar Maria de Betânia: "ESCOLHEU A PARTE BOA". Esta parte "que não lhe será tirada", o que é? O que escolheu Maria que incomodou Marta? Escolheu de dar peso à pessoa de Jesus. Marta também acolhe Jesus em sua casa e lhe quer bem; se empenha em servi-lo, dá se ao trabalho. Menos mal que Marta lhe 2 deu de comer, por que senão o naquele dia teriam que ir a um restaurante. O problema de Marta, porém, não é o fazer, mas o agitar-se e o preocupar-se com muitas coisas a ponto de, para poder tratar bem o hospede, o negligencia. Inquieta, ela pensa: Há pratos, talheres, vaso de flor, travessas de alimentos ao alcance da mão, etc. Enfim, pensa em tudo aquilo que serve para o acolhimento e deixa o hóspede sozinho. Não “faz sala”, porque está ocupada com a refeição. Porém, a parte boa é a relação pessoal, é acolher a pessoa de Jesus, é escutar a sua palavra, é se tornar seu amigo, é acolher autenticamente sua palavra. Isto não será jamais tirado, porque na eternidade a relação de amizade com Jesus durará. Ao contrário, o comer termina, bem como o educar os jovens ou servir os pobres, ou curar os doentes... são ações transitórias desta época terrena. Na eternidade não existirão meninos para educar, pobres para nutrir, doentes para curar. Mas lá estará o Senhor e a nossa relação de amizade com ele. Esta relação de misericórdia permite agir de forma justa. Como cena paralela àquela de Betânia o livro do Gênesis nos propõe como primeira leitura o acolhimento de Abraão. O Patriarca ao meio-dia, em pleno calor, está sentado diante da tenda e vê chegar três homens. Vê três, mas fala com apenas um. O adora como um só. É o Senhor que se apresentou ao seu servo. E Abraão lhe oferece uma esplêndida acolhida, 3 que é descrita como uma superatividade. Este homem centenário, na hora mais quente do dia, se dá a um grande trabalho para preparar um vitelo inteiro e confia à sua esposa Sara, mulher de noventa, amassar três medidas de farinha (sessenta quilos) - uma quantidade notável para amassar e assar - como alimento a um exército. Mas ali estão apenas três hóspedes; vê-se que o narrador quer dar ênfase a notável hospitalidade de Abraão: acolher de maneira senhoril o Senhor. E, enquanto estão juntos à mesa, o Senhor lhe promete o dom do filho, o anúncio da vida. O acolhimento do Senhor faz viver, faz nascer uma vida nova. O Salmo 14 é uma espécie de liturgia de ingresso, e elenca dez qualidades daquele que habita sobre o monte do Senhor. "Quem subirá o monte do Senhor?" Quem teme o Senhor habitará na sua Tenda". Aqui se inverte a imagem da hospitalidade: Somos nós que hospedamos o Senhor ou somos hóspedes na Tenda do Senhor? É um pouco as duas coisas. Na nossa vida terrena nós hospedamos o Senhor que nos visita, mas o importante é que nós nos tornemos hóspedes do Senhor, isto é, que possamos ser acolhidos, admitidos na sua tenda por toda a eternidade. A segunda leitura é tirada da Carta aos Colossenses da qual estamos fazendo uma leitura quase contínua nestes domingos. Após o preâmbulo e o hino cristológico como abertura de sua carta, o 4 Apóstolo expõe a sua experiência de seguimento a Cristo: Ele se diz alegre apesar dos sofrimentos que deve suportar. Apesar das dificuldades do seu ministério está contente e sabe que está completando em sua carne aquilo que dos padecimentos de Cristo falta na sua experiência. E o sofrimento do Apóstolo está a favor do corpo de Cristo que é a Igreja. A fadiga do Apóstolo é um serviço - como aquele de quem prepara a refeição do hóspede - para acolher o Senhor. Mas, é um serviço de amor, de acolhida, exatamente para poder revelar o mistério. Mistério não simplesmente uma coisa que não se entende; é o projeto de Deus que foi revelado a nós. Neste trecho o Apóstolo sintetiza este mistério ou projeto de Deus revelado a nós em uma frase simples e esplêndida. Em que consiste o mistério? "Cristo em vós, a esperança da glória". O Cristo em vós. Nós o acolhemos na nossa casa, se tornou partícipe da nossa vida, porque nós queremos ser partícipes da sua vida. Cristo está em nós e é a esperança da glória, quer dizer, é a garantia, a espera certa da glória. Nós o acolhemos em nossa casa com a perspectiva de ser acolhido na sua. Para ter a vida plena nós acolhemos aquele que dá a vida. Caros irmãos e irmãos, escolhamos, pois, a parte boa que é a relação pessoal com o Senhor Jesus. Esta é a hospitalidade que o Senhor procura: uma escuta autêntica da sua palavra tal que nos torne capaz de fazer misericórdia como ele fez conosco. AMÉM.
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