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A Preferida do Rei – Toni Brandão
PROJETO DE LEITURA
O Autor
1
Toni Brandão, nome
já consagrado na ficção
juvenil, contista, novelista, roteirista, pertence à linhagem dos que,
atentos ao real concreto
e aos temas contemporâneos ou atraídos pelo registro
realista da aventura humana, vão além
do imediato.
Espírito inquieto e criador, Toni
Brandão tem marcado sua presença
com obras publicadas pela Editora
Melhoramentos – Televizinhos, Cuidado: Garoto Apaixonado, Foi Ela/
Ele Que Começou, Tudo ao Mesmo
Tempo e outros.
Presença das mais dinâmicas na área
artística, Toni desenvolve outras atividades correlatas: roteiros para TV; adaptações de textos para CD-ROM; espetáculos para teatro que lhe renderam
prêmios como APCA e Mambembe.
Criou também duas novelas de suspense e de mistério para a internet,
veiculadas pelo site Terra: Crimes no
Parque e Táxi. Alguns de seus livros
foram adaptados para CD-ROM e
audiobooks.
Resenha
Toni Brandão e Eduardo Engel trazem para nós um conto moçambicano que, além de exaltar a beleza feminina de maneira especial, mostra
o poder de decisão de uma mulher
que sabe o que quer e enfrenta os
desafios com soluções nada ortodoxas, despertando no leitor a vontade
de ser como Marisa.
Na narrativa encontramos uma
mistura de liberdade, conquista e
encantamento que caminham juntos na fase de transição de menina
para mulher da personagem Marisa.
Essa transição traz muita beleza e
conflitos, e o maior deles é a decisão
de aceitar um pedido de casamento
feito por um rei pelo qual ela não
sente nenhuma afeição, mas que
seduz mãe e tribo.
Marisa ouve os conselhos da mãe
e pensa muito nas consequências de
suas ações para a família e a tribo. No
dia do casamento, ela coloca tudo
numa balança e toma uma decisão
inusitada, surpreendendo todos os
convidados, inclusive o rei. Para saber
os detalhes dessa história, aceite o
convite e leia a obra.
Ficha
O TRÁFICO DE AFRICANOS
Quando os europeus começaram a viajar pelos mares do planeta, eles tinham dois objetivos principais: comprar produtos para comercializar em seus países e converter para sua
crença religiosa os povos que encontrassem
pelo caminho.
Com o aumento da necessidade de mão de
obra na Europa e nas colônias, as expedições
passaram a submeter esses povos ao trabalho
forçado e à escravidão.
Foi dessa maneira que começou uma das mais
tristes páginas da história do Brasil: o tráfico
de africanos.
Entre os séculos XVI e XIX, acredita-se que vieram para o Brasil entre 4 milhões e 5 milhões
de africanos escravizados. Eles pertenciam a
tribos diferentes, com hábitos, culturas e línguas próprios. Ao chegar, foram divididos pelas
várias – e distantes! – regiões do nosso país.
Preferida do rei - Capa CP 01ed04.indd 1
Autor: M
Toni Brandão
Título:
A Preferida do Rei
Ilustrador:
Eduardo Engel
Formato:
20,5 x 27,5 cm
No de páginas:
32
Elaboração:
Shirley Bragança
A
Preferida
arisa era uma moça linda que vivia
em uma aldeia e que só queria se casar
quando se apaixonasse por alguém. Mas
os costumes da região e a proposta de casamento
do Rei vão forçar Marisa a abandonar seu sonho.
Esta bela história da coleção Afro-Brasileira é contada tradicionalmente há muitas gerações na região
de Moçambique, de onde vieram para o Brasil, trazidos como escravos, os povos que falavam o banto.
Informações, curiosidades e detalhes da influência
desse povo na cultura brasileira são encontrados
nas páginas finais do livro.
OUTROS LIVROS DA COLEÇÃO AFRO-BRASILEIRA
do
Rei
recontado por
Toni Brandão
desenhado por
QUE VOCÊ PRECISA CONHECER:
Eduardo Engel
Como as Cabras Foram Domesticadas
Nzuá e a Cabeça
origem do conto
Moçambique
Toni Brandão nasceu na cidade de São P
1960. Antes de se dedicar totalmente à ficç
como jornalista em diversos jornais e revis
livros abordam o comportamento e os con
adolescente e já ultrapassaram a marca do
exemplares vendidos. Toni também criou
de suspense e de mistério para a internet, a
seus livros foram adaptados para peças de
programas de TV, e outros, para CD e audi
Eduardo Engel, paulista, nascido em 1965
teto formado pela Faculdade de Arquit
Universidade Mackenzie. Sócio-diretor da
Engel Design, é ilustrador e domina divers
cas de desenho. Ilustrou mais de 40 livros
sos autores.
Quadro sinóptico
Gênero: conto popular
Palavras-chave: transição,
africanidade, beleza
Tema transversal: pluralidade
cultural
Interdisciplinaridade: Artes,
História, Literatura
Categoria
Reconto,
2010
INDICAÇÃO:
Leitor
em processo
a partir dos
8
anos
ensino
fundamental
Olhares curiosos sobre a obra
A cultura escolar de contos e histórias
povoa o universo dos alunos, mas tende
a enfatizar aqueles da tradição europeia,
como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e outros, esquecendo-se de que,
para uma educação que respeite a diversidade, é fundamental contemplar a
riqueza cultural de outros povos (africanos,
orientais, indígenas).
Nesse sentido, é importante trabalhar
com outras possibilidades, e uma delas
é a obra A Preferida do Rei. Ela faz parte da coleção afro-brasileira, em que são
apresentados contos populares de várias
partes da África. Essas histórias são recontadas por autores que se colocam na
posição do contador de histórias africano, levando para o leitor a voz e o encantamento desses contadores.
A narrativa traz a determinação da
personagem Marisa de se casar com
a condição de estar apaixonada. Essa
decisão é levada até as últimas consequências, o que desperta no leitor várias
emoções que vão se misturando e avolumando no decorrer da história. A tensão
é estendida até o final e, curiosamente,
não se desfaz, pois termina com uma interrogação, deixando para o leitor decifrar o enigma: “Trouxeste a chave?”.
2
Este conto levanta vários questionamentos, colocando o leitor em uma posição de xeque-mate, porque, além de
dialogar com valores e sentimentos de
dependência, a história deixa para ele
responder e decidir o que fazer, pois o
conflito fica em suspense, o que torna a
narrativa muito especial.
O diálogo entre o texto verbal e o não
verbal é maravilhoso e traz a beleza de
Marisa de maneira tão especial e enigmática que desperta no leitor o desejo
de ser o personagem. A ilustração amplia também a compreensão da história
e instiga a curiosidade pela África por
meios da inserção de ícones dessa cultura (cores e o baobá) e da representação
desse espaço (animais e meios de transporte), o que permite fazer inferências
sobre o local e a época.
Explorar esses aspectos da obra em
sala de aula dará oportunidade ao aluno
de desenvolver habilidades de compreensão, levando-o a obter mais autonomia para buscar os livros como fonte de
conhecimento e prazer.
Ampliando o tema
O continente africano reúne os
mais antigos testemunhos do homem sobre a Terra, apresentando
a todos nós uma incrível variedade
cultural, étnica, social e ecológica. A
África, manifestada por centenas de
grupos, sistemas de poder, religiões
e tecnologias conquistadas, como
a fundição dos metais há mais de 5
mil anos, revela uma rica diversidade
que merece ser preservada e divulgada (LODY, 2004).
Toda essa riqueza (étnica, social,
ecológica e cultural) pode ser observada no corpo das pessoas e,
em especial, no cabelo, que, além
de estar ligado à sensualidade, representa também força, poder e
sentimento de pertencimento a um
grupo social, o que justifica o cuidado com os penteados e enfeites utilizados, constituindo manifestação
cultural que valoriza a aparência e
as tradições.
Os africanos, sabedores disso,
transformam a cabeça em verdadeira tela, escultura, sendo livres na
arte de tratar os cabelos trançados,
empregando vários materiais, como
óleo e gordura, pigmentos que vão
do barro ao índigo. Como adorno, eles utilizam búzios, penas,
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fibras, tecidos, ouro, contas de coral,
marfim, âmbar, vidro, material reciclado e tudo o mais que, incluído
no penteado, manifesta expressão e
desejo de experimentar e revelar o
belo, que é antes de tudo identidade.
Cada povo da África marca sua
cultura com os mais diferentes penteados, trançados e cortes marcantes, dando um toque de originalidade e personalidade. No Congo, por
exemplo, o penteado é um elemento essencial no cotidiano das mulheres que querem realçar sua beleza.
Algumas utilizam mechas sintéticas
coloridas, trançadas com fitas e fios
brilhantes, o que pode levar dias, dependendo do tamanho e da quantidade de mechas utilizadas, obtendo
um resultado surpreendente.
>>
Nos anos 1960, o cabelo black
power (eriçado e volumoso) foi um
marco e o instrumento de luta para
o movimento de conscientização
da beleza negra, que valorizava a
liberdade, cuja postura era a de
deixar os cabelos afro livres de
penteados e alisamentos. Em seguida, vem Bob Marley, que ajudou
a disseminar os dreadlocks como
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mais um jeito marcante de dizer
que “pentear e mostrar os cabelos é comunicar, é receber reconhecimento da cultura, manifestar
beleza e padrão estético” (LODY,
2004, p. 59).
Na atualidade, há uma quebra de
paradigma quanto à cor do cabelo,
dando aos negros e asiáticos, por
exemplo, a oportunidade de usar
tons aloirados, sem causar estranhamento. Essa liberdade conquistada
pelas etnias na forma com que tratam seus cabelos democratizou o uso
de penteados, tranças, alisamento e
tinturas as mais diversas, revelando
que a criatividade e a diversidade
dão o tom da modernidade.
Discutir esse tema em sala de
aula é uma maneira interessante de
levar os alunos a perceber como
lidam, individualmente, com o próprio cabelo, nos padrões de cabelo
belo e desejável; como eles veem
os cabelos dos afro-brasileiros e dos
africanos, quais as semelhanças e
diferenças; como o cabelo revela a
identidade étnica, a inclusão social
do negro, sua luta pela liberdade
e pelos direitos de igualdade e de
cidadania.
O LIVRO NA SALA DE AULA
Preparando a leitura
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1. Eleja dois contos populares brasileiros, “Negrinho do Pastoreio”
(Sul) e outro de sua preferência,
de outra região. Leia-os para os
alunos. Compare o vocabulário
utilizado nos dois contos e a descrição do lugar ou dos personagens, levando o aluno a perceber
a região retratada.
2. Em seguida explore a estrutura
desse tipo de narrativa (veja a seção “Quer saber mais?”), as crenças e os valores presentes, que revelam a maneira de ver o mundo
de um povo, de uma época. Leve
o aluno a perceber a importância
dessas histórias na construção da
identidade de uma comunidade.
3. A partir do conto “Negrinho do
Pastoreio”, ressalte a luta do povo
negro nos tempos da escravidão
no Brasil. Ressalte, ainda, o modo
como eles superaram as dificuldades com o preconceito e o espaço
que alcançaram na sociedade moderna com a força de seu trabalho.
4. Comente com os alunos que os
contos populares são produto de
construções socioculturais em que
cada povo elabora um acervo de
narrativas, ao longo do tempo,
passadas de pais para filhos,
revelando uma visão de mundo. Moçambique, na África,
não é diferente; também possui
suas histórias, contadas, oralmente, de pais para filhos.
5. Em seguida, leve para a sala de
aula um mapa e localize Moçambique. Extraia dos alunos o conhecimento prévio
deles sobre a África. Mostre
a rota do tráfico de escravos para o Brasil. Depois ressalte alguns elementos da cultura africana incorporados
aos nossos costumes.
Trabalhando a leitura
Apresente o livro completamente
aberto. Explore a riqueza da encadernação e as ilustrações da contracapa.
Destaque o mapa e retome as informações dos itens 4 e 5 do “Preparando a leitura”.
Chame a atenção para as cores
vibrantes, para a maneira como Marisa arruma os cabelos e para o baobá, a árvore enigmática que empresta essa qualidade à personagem.
Leia para os alunos as páginas 15,
16 e 17 do livro e destaque os seguintes trechos: “...ninguém conseguia acreditar que ela tivesse
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dito aquilo; que Marisa tivesse tido
a arrogância de se negar a cumprir
uma ordem do Rei”,“...E desobedecer à ordem de um rei pode ser
fatal” e “Até os hipopótamos que
bebiam água na beira do rio acharam que Marisa tinha exagerado!”.
Em seguida, pule para a página 22:
“– O rei é jovem, bonito e poderoso. Como é que você não vai gostar dele, menina?”,“– Pois trate de
gostar, menina, senão toda a nossa
aldeia vai sofrer por causa dos seus
caprichos”. Por que toda a
tribo achou
que Marisa estava exagerando? Marisa era realmente uma moça que
pensava só nos próprios interesses,
ou seja, arrogante e caprichosa? Em
seguida, peça aos alunos que localizem no livro os argumentos de Marisa. Depois disso, coloque a personagem em julgamento.
Encerrado o debate, proponha
aos alunos que escrevam outro final
para a história, ignorando a última
frase da narrativa.
Explorando a leitura
TEMA: África na cabeça
A cultura africana está mesmo na cabeça dos brasileiros. Ela influenciou e
continua influenciando o que entendemos por beleza. Os penteados afro constituem um dos nossos fortes elos com a
África e são também um modo criativo
de ser africano no Brasil.
1. Arrume a sala, colocando as carteiras em semicírculo; coloque
em frente das carteiras duas poltronas, onde sentarão o entrevistador e o entrevistado; decore o ambiente com fotos de negros de várias épocas e com penteados diferentes, identificando
cada uma delas com legenda;
utilize cópias de capas de livros
que falem sobre o assunto; coloque também o mapa da África,
ressaltando Moçambique e seus
escritores mais conhecidos; do
outro lado, coloque o do Brasil e
proceda de igual modo.
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Outras obras
BARBOSA, Rogério Andrade. Os Gêmeos do Tambor. São Paulo: DCL,
2006.
LIMA, Renato. Chico Rei. São Paulo:
Paulus, 2006.
NEVES, André. Maria Peçonha. São
Paulo: DCL, 2004.
2. Convide para um talk-show um
cabeleireiro e enfoque as questões abordadas no “Ampliando o
tema”. Elabore com os alunos a
entrevista. Deixe um aluno à disposição para recolher as perguntas dos alunos tímidos.
3. Ao final, chame três alunos para
ser aprendizes de cabeleireiro e
três alunos para ser os modelos
que receberão os penteados afro.
SANTOS, Joel Rufino dos. Gosto de
África: Histórias de lá e daqui. São
Paulo: Global, 2005.
SISTO, Celso. Mãe África: Mitos, lendas, fábulas e contos. São Paulo: Paulus, 2007.
REFERENCIAL TEÓRICO
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No Dicionário Michaelis, a palavra
“leitura” (do latim medievo lectura)
significa ação ou efeito de ler mas
também ato de olhar e tomar conhecimento da indicação de um instrumento de medição ou de quaisquer
sinais que indiquem medidas ou aos
quais se atribui alguma significação.
O verbete “leitura” da Enciclopédia
Einaudi assinala que o termo leitura
não remete a um conceito e sim a
um conjunto de práticas que regem
as formas de utilização que a sociedade, particularmente através da
instituição escolar, faz dele. Leitura
é, pois, conforme acentuam Barthes
e Compagnon nessa enciclopédia,
uma palavra de significado vago,
deslizante, que é preciso ocupar “por
meio de umas sondagens sucessivas
e diversas”, segundo os muitos fios
que tecem sua trama.
Apesar do questionamento ao conceito fechado de leitura, vale refletir
um pouco sobre a etimologia da palavra ler, do latim legere, que pode
nos ajudar a compreender um pouco
melhor essa prática. Numa primeira
instância, ler significava contar, enumerar letras; numa segunda, significava colher e, por último, roubar.
Observe-se que em sua raiz a palavra
já traduz pelo menos três maneiras,
não excludentes, de fazer leitura.
Na primeira, soletramos, repetimos
fonemas, agrupando-os em sílabas,
palavras e frases. É o primeiro ato
da leitura, o primeiro estágio, correspondente à alfabetização. Já no
segundo momento, o verbo colher
implica a ideia de algo pronto, correspondendo a uma tradicional interpretação de texto, em que se busca um sentido predeterminado. Ao
leitor caberia apenas descobrir que
sentido o autor quis dar a seu texto.
Ele colheria o sentido como se colhe uma laranja no pé. Nesse tipo de
leitura é que se busca sobretudo a
mensagem do texto, seu tema. Aparentemente, o leitor não teria poder
algum, a não ser o de traduzir o sentido que estaria pronto no texto. Entretanto, o texto não se apresenta ao
leitor senão como uma proposta de
produção de sentido, que pode ou
não ser aceita. Trata-se de um pacto
de leitura que constitui o que denominamos interação leitor/texto.
Há ainda uma terceira instância,
correspondente ao verbo roubar, que
traz uma ideia de subversão, de clandestinidade. Não se rouba algo com
conhecimento e autorização do proprietário; logo, essa leitura do texto
vai se construir à revelia do autor, ou
melhor, vai acrescentar ao texto outros sentidos, a partir de sinais que
nele estão presentes, mesmo que o
autor não tivesse consciência disso.
Nesse tipo de leitura, o leitor tem
mais poder e vai, como diz Umberto
Eco, construir suas próprias trilhas
no texto/bosque. Considerando a
ideia de leitura como transgressão,
De Certeau também compara o leitor a um viajante:
Bem longe de serem escritores,
fundadores de um lugar próprio,
herdeiros dos lavradores de antanho
– mas, sobre o solo da linguagem,
cavadores de poços e construtores
de casa –, os leitores são viajantes;
eles circulam sobre terras de outrem, caçam, furtivamente, como
nômades através de campos que
não escreveram, arrebatam os bens
do Egito para com eles se regalar.
Como se vê, embora não tenha
um sentido fixo, a palavra carrega
significações que nos levam a encarar
“sondagens sucessivas e diversas”.
(PAULINO, Graça et al. Tipos de Textos,
Modos de Leitura. Belo Horizonte:
Formato Editorial, 2001, p. 11-13.)
Quer saber mais?
Nações e etnias atribuídas aos africanos escravizados
“Agrupadas no que os colonizadores
portugueses chamaram de minas, cabindas, congos, cassanjes, angolas, benguelas e moçambiques, entre outras designações, estavam pessoas vindas de várias
aldeias ou reinos e falantes de línguas
diferentes, apesar de terem alguma semelhança entre si. Mas os comerciantes,
administradores coloniais e senhores que
punham os escravos para trabalhar não
percebiam as diferenças entre os africanos, identificando-os conforme o porto
em que foram embarcados, como Cabinda, a principal feira em que foram comprados, como Cassanje, ou o nome da
região onde esses pontos de comércio se
encontravam, como Angola.
Mas, ao lado desses nomes que identificavam nações, juntando num mesmo
grupo pessoas vindas de sociedades diferentes, também apareciam nomes referentes a grupos culturais particulares,
como ambundos (habitantes do reino do
Dongo), anjicos (como eram chamados
pelos portugueses os habitantes do reino
do Tio), ardas (do reino de Alada) ou hauçás
(das cidades-Estado do Sudão central).
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Além dos nomes de nação, que os
colonizadores atribuíam aos povos da
África, geralmente adotados pelos africanos, e dos nomes de etnias, que sobreviveram à travessia do Atlântico e
continuaram sendo usados na América,
havia ainda os nomes criados no Brasil
para designar povos com língua, religião ou costumes semelhantes. Assim,
‘malês’ era o nome dado ao africano islamizado do Sudão central e do Sudão
ocidental; nagôs eram os iorubás da
região do reino de Oió e das cidadesEstado costeiras; e jêjes, os que habitavam mais a ocidente, na região do
reino de Daomé.
Nomes de nações ou de etnias
são sempre maneiras de atribuir uma
identidade particular a um grupo, indicando que ele tem tradições, maneiras de se comportar, de pensar e
de falar que lhe são próprias e o distinguem dos outros. Aos poucos diminuíram as diferenças entre os vários africanos escravizados trazidos para o Brasil,
onde passaram a conviver entre si e com
os senhores de ascendência portuguesa,
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surgindo então uma cultura afro-brasileira, em que as diferenças étnicas ficaram em segundo plano” (SOUZA, 2008,
p. 62).
Serra da Barriga é o local onde foi
criado o Parque de Zumbi. De lá, avista-se o vale do Rio Mundaú, coberto de
cana-de-açúcar e palmeiras. Em 1985, a
Serra da Barriga foi tombada como Patrimônio Histórico Nacional.
É imensa a contribuição africana para
a cultura brasileira: na música, o batuque,
o samba, o atabaque, o berimbau, o chocalho, o ganzá, a marimba, o pandeiro, o
tambor, o triângulo etc; na dança, destacam-se o samba e a capoeira, esta usada
antes como luta agressiva pelos escravos
fugitivos, hoje como luta-dança.
Contos populares – É uma narrativa
de tradição oral, geralmente anônima,
que gira em torno das situações criadas
pelo imaginário. Tais situações possuem
um caráter universalizante, levando as
histórias a ser conhecidas pelos mais
diferentes povos das mais distantes regiões, sobrevivendo por muitas épocas.
A estrutura simples dos contos populares revela o modo por meio do qual o
imaginário popular reflete sobre os conflitos e atitudes humanas, como: am10
bição humana, exploração do homem
pelo homem; importância da honestidade e da bondade, enfim, de todas as
qualidades humanas.
A Preferida do Rei aborda a temática
de História e Cultura Afro-Brasileira
e Indígena da Lei n.o 11.645, promulgada em 10 de março de 2008.
Bibliografia
A Cor da Cultura – Sabores e saberes,
v. 3: Modos de Interagir. Coordenadora
do projeto Ana Paula Brandão. Rio de
Janeiro: Fundação Roberto Marinho,
2006.
AGUIAR, Vera Teixeira de et all. Era Uma
Vez... na escola: Formando educadores
para formar leitores. Belo Horizonte:
Formato, 2001.
LODY, Raul Giovanni da Motta. Cabelos
de Axé: Identidade e resistência. Rio de
Janeiro: Ed. Senac Nacional, 2004.
PONTE, José Camelo. Leitura: Identidade
e inserção social. São Paulo: Paulus,
2007.
SOUZA, Marina de Mello e. África e
Brasil Africano. São Paulo: Ática, 2008.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil
na Escola. São Paulo: Global, 1998.