modelo para resumo expandido - Boletim Técnico da FATEC-SP
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SENSORES DOSIMETRICOS CAPACITIVOS DE ALUMINA DOPADA COM TERRAS RARAS Eduardo dos Santos Ferreira1, Juan Mittani2, Sonia Hatsue Tatumi2, Alexandre Ventieri3 e Katia Alessandra Gonçalves3 1 Universidade Federal do ABC 2 Faculdade de Tecnologia de São Paulo 3 Universidade de São Paulo [email protected], [email protected], [email protected] Resumo Apresentamos o estudo das propriedades elétricas da alumina dopada com Yb, Er, Nd e Ce para avaliar a possibilidade de se construir um sensor dosimétrico capacitivo. As amostras foram sintetizadas usando o método sol-gel. Observamos a diminuição da capacitância com o incremento da dose de radiação gama em todas as amostras. Durante a exposição da alumina ocorre o processo de ionização, onde elétrons excitados são armadilhados em estados metaestáveis na rede cristalina, alterando as características dielétricas do material. Este comportamento evidencia o potencial deste material como um sensor de radiação capacitivo simples e de baixo custo. 1. Introdução Um dosímetro é um dispositivo que mede a radiação em termos de dose, que pode ser usado individualmente ou dentro de ambientes fechados. De acordo com o fenômeno de interação da radiação com a matéria definimos o método de detecção da dose de radiação, que pode ser por ionização, exposição ou por luminescência. A luminescência descreve a propriedade de certos materiais emitirem luz quando estimulados opticamente ou aquecidos, estes materiais são amplamente usados na detecção de radiação em ambientes clínicos e industriais. A resposta luminescente de materiais naturais e manufaturados é estudada desde as primeiras décadas do século XX. Os primeiros experimentos se concentraram no fósforo (P) e sua fosforescência, estes estudos levaram a pesquisa e desenvolvimento da termoluminescência (TL) como método confiável de detecção de dose radioativa absorvida em materiais dielétricos. Mais recentemente descobriu se que a técnica da luminescência opticamente estimulada (OSL) também poderia ser usada para a dosimetria com o uso do Al2O3:C. A intensidade TL ou OSL de certos materiais cresce em função da dose radioativa administrada. Quando um isolante é irradiado, alguns elétrons são excitados e podem ir para a banda de condução, deixando lacunas na banda de valência. A existência de defeitos e impurezas dentro da rede policristalina do isolante cria estados energéticos metaestáveis, que podem armadilhar estas cargas livres. Uma estimulação subsequente por calor ou luz leva a absorção de energia pelos elétrons armadilhados, causando uma transição para a banda de condução e posteriormente a recombinação com as lacunas, que resulta em uma emissão luminescente. Atualmente os principais materiais utilizados em dosimetria por TL e OSL são o fluoreto de lítio dopado com magnésio (LiF:Mg), titânio (Ti) e a alumina dopada com carbono (Al2O3:C) [1,2]. Pelos processos de ionização/excitação descritos acima, fica claro que a exposição à radiação deve alterar as propriedades elétricas do material, já que elas dependem dos níveis metaestáveis encontrados na banda proibida do material. Um sensor capacitivo é um dispositivo que apresenta uma variação da capacitância em função de uma excitação não elétrica [3,4]. Como um sensor capacitivo consiste de duas superfícies condutivas separadas por um material dielétrico, a capacitância pode mudar pela alteração geométrica (sensores mecânicos) ou pela alteração das propriedades dielétricas do material isolante entre as placas (sensores químicos) [5,6]. Um sensor capacitivo permite medir com precisão várias grandezas como velocidade, umidade, concentração, pressão, temperatura, etc., tornando-se assim o tipo mais utilizado em aplicações comerciais [7,8]. Assim, no presente trabalho apresentamos o estudo da variação das propriedades elétricas da alumina dopada com diferentes elementos terras-raras, em função da dose, como técnica alternativa de medida da dose. 2. Experimental Amostras em pó de alfa-alumina (α-Al2O3) foram sintetizadas pelo processo sol-gel. Foram confeccionamos amostras puras e dopadas com terras raras com concentrações variadas, conforme exibido na Tabela I. Tabela I: Concentração de dopantes nas amostras. Amostra Concentração Cério 10% de Ce Neodímio 5% de Nd Érbio1 1% de Er e 3% de Yb Érbio2 2% de Er e 18% de Yb O processo sol-gel utilizado consiste na dissolução de 40 mmol de tri-sec-butóxido de alumina em 30 ml de água destilada a temperatura de 70 °C. Após a dissolução, 3 mmol de ácido hidro clorídrico são dissolvidos em 10 ml de água destilada, e nesta solução ácida é adicionado a solução de tri-sec-butóxido de alumina. A seguir a solução é mantida em 70 °C por 2 horas para a formação do gel, no caso da amostra pura. As amostras dopadas recebem os dopantes na fase da mistura do ácido hidro clorídrico. O gel resultante é secado por 12 horas a uma temperatura de 70 °C. O sólido formado após o processo de secagem é moído e levado a um forno a 1600 °C por 3 horas, para o processo de calcinação. A rampa de aquecimento do forno é de 3 °C/min. O pó resultante da calcinação foi misturado com Teflon numa combinação de 50% de cada elemento. Este material foi prensado e transformado em pastilhas de 10 mm de diâmetro para a caracterização elétrica. O Teflon confere rigidez mecânica às pastilhas para permitir seu manuseio. As pastilhas foram irradiadas com doses de 1 a 5 Gy em uma fonte de radiação γ de 60 Co, com taxa de irradiação de 28,7 Gy/h. Para a caracterização elétrica das amostras foi utilizado o analisador de impedância Agilent E4991A, em conjunto com a ponta de prova para medidas dielétricas 16451B. As medidas de TL foram realizadas em amostras sem Teflon, utilizando o leitor TL/OSL modelo 1100, da Daybreak Nuclear e Medical Systems Inc. A caracterização elétrica das amostras consiste na determinação da curva de impedância (|Z|) e ângulo de fase () em função da frequência (f). A faixa de frequência utilizada foi de 100 Hz a 15 MHz. A partir destas curvas e das dimensões físicas das amostras foram calculadas a capacitância (C) e a constante dielétrica do material (r). A constante dielétrica do material foi determinada utilizando a equação 1 [4]: r t o A 2 f Z sen (1) onde o é a constante dielétrica no vácuo (8,85x10-12 F/m), A é a área do eletrodo (19,63x10-6 m2), t é a espessura da amostra e f a frequência. As espessuras das amostras são determinadas utilizando o micrômetro da ponta de prova 16451B. 3. Resultados e Discussões As Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 exibem as permissividades relativas em função da dose, das amostras citadas na Tabela 1, alumina pura e teflon. O erro experimental médio das curvas é inferior a 10%. Todas as amostras apresentaram uma queda da permissividade elétrica com a dose. Dentre todas as amostras a que apresentou o melhor comportamento, isto é, com menor oscilação dos pontos experimentais, foi a amostra dopada com Cério (Figura 1), que forneceu uma queda linear com a dose. As demais apresentaram decaimento com a dose também, contudo existe uma nítida oscilação dos pontos experimentais, que não é um comportamento desejável na construção de um sensor. As possíveis causas deste comportamento podem ter origem na composição das amostras, no processo de confecção das pastilhas, ou no processo de irradiação da pastilha. O objetivo do projeto é provar que a alumina pode ser um sensor dosimétrico capacitivo, e determinar a melhor opção para um estudo mais detalhado. Considerando-se o observado nas Figuras de 1 a 4, podemos concluir que as propriedades dielétricas das amostras de alumina dopadas se alteram com a exposição à radiação. As Figuras 5 e 6 exibem a variação da permissividade em função da dose da alumina pura e do teflon, o objetivo deste procedimento é determinar a influencia do teflon na medida da dose, e no caso da alumina pura, verificar se o dopante realmente tem efeito na medida da dose. Verificamos que o teflon sofre menor influencia da radiação, em comparação ao observado com as amostras de alumina pura, sendo sua resposta quase constante para todos os pontos experimentais, exceto o último. Deste modo o teflon não exerce efeito significante nos resultados das demais amostras. A alumina pura também apresenta sensibilidade à radiação, e comparando o resultado exibido na Figura 7 com o da Figura 1, concluímos que o efeito do Ce é evidente, melhorando a resposta dielétrica do material a radiação. Nota-se uma variação mais linear na amostra da Figura 1. A redução da capacitância com o aumento da dose pode ser explicado pelos processos de ionização e quebras de dipolos elétricos dentro do material. Durante a exposição da alumina à radiação ionizante, ocorre o processo de ionização, onde elétrons excitados são armadilhados em estados metaestáveis na rede cristalina, alterando as características dielétricas do material. 3,0 2,8 2,8 2,6 2,6 2,4 2,4 2,2 r r 3,0 2,2 2,0 2,0 1,8 1,8 1,6 1,6 0 1 2 3 4 5 0 1 Dose (Gy) 2 3 4 5 Dose (Gy) Figura 1 – Permissividade versus dose da amostra Cério. Figura 4 – Permissividade versus dose da amostra Érbio2. 2,8 3,2 2,6 3,0 2,8 2,4 2,6 2,2 r r 2,4 2,0 2,2 2,0 1,8 1,8 1,6 0 1 2 3 4 1,6 5 0 1 Dose (Gy) 2 3 4 5 Dose (Gy) Figura 2 – Permissividade versus dose da amostra Neodímio. Figura 5 – Permissividade versus dose da amostra sem dopante. 3,0 1,7 2,8 1,6 1,5 2,6 1,4 r r 2,4 1,3 2,2 1,2 2,0 1,1 1,0 1,8 0 1 2 3 4 5 Dose (Gy) Figura 3 – Permissividade versus dose da amostra Érbio1. 0,9 0 1 2 3 4 5 Dose (Gy) Figura 6 – Permissividade versus dose do Teflon sem adição de alumina. A Figura 7 exibe a simulação da variação da capacitância pela dose para um sensor hipotético de radiação capacitivo, com geometria quadrada com de 2 cm de lado e usando Al2O3:Ce como dielétrico. Para o cálculo destes valores fizemos um ajuste linear com base nos dados da Figura 1, e determinamos a taxa de variação da permissividade com a dose, que é de -0,2 Gy-1. O capacitor proposto resulta em um sensibilidade de 7pF/Gy, que é um valor muito bom para aplicações de dosimetria pessoal e ambiental. 100,0p Cerio Capacitância (F) 90,0p A amostra Érbio2 apresenta uma boa resposta termoluminescente, entretanto não tem uma boa resposta elétrica à radiação como o Cério, que por sua vez tem a pior resposta termoluminescente. Deste modo propomos um novo trabalho mais detalhado sobre o comportamento TL e dielétrico destas duas amostras. 80,0p A redução da capacitância com o aumento da dose pode ser explicado pelos processos de ionização e quebras de dipolos elétricos dentro do material. 70,0p 60,0p 50,0p 40,0p 30,0p 20,0p 0 2 4 6 8 10 Dose (Gy) Figura 7 – Capacitância versus dose para amostra Cério. Os resultados da análise de TL das amostras são exibidos na Figura 8. As amostras não estão misturadas com teflon, a análise de TL foi realizada na região do visível (340-610 nm) e com dose de 5 Gy. Todas as amostras apresentam um pico isolado em aproximadamente 200 °C. Este pico é conhecido como pico dosimétrico, e é intenso para a amostra Érbio2, e menos intenso para a amostra dopada com Cério. Isto indica que provavelmente uma amostra com excelente resposta TL pode não ter uma boa resposta dielétrica em função do acréscimo de dose. Isto faz sentido, visto que a intensidade TL será maior se a liberação de portadores ocorrer mais facilmente, isto é, se eles não ficarem muito presos nos estados metaestáveis. No caso da medida por meios dielétricos, o mais interessante é que este processo de liberação seja mais difícil, isto é, que ocorra em maiores temperaturas. Figura 8 – Curva TL da amostras de alumina 4. Conclusões Observamos uma redução da capacitância em função da dose para todas as amostras, sejam dopadas ou não. A influência do teflon foi mínima nos resultados. A amostra dopada com Cério apresentou o melhor comportamento para construção de um sensor. De acordo com os resultados obtidos concluímos que é possível medir a dose absorvida de radiação gama através da capacitância. Isto permitirá a construção de equipamentos de medidas de dose de baixo custo e boa precisão a partir de simples medidores de capacitância. Finalmente, nossos resultados nos motivam a expandir nossos esforços nesta linha de pesquisa. Agradecimentos À FAPESP e ao CNPq, pelo apoio financeiro. Referências Bibliográficas [1] S. W. S. McKeever: in Thermoluminescence of solids, Ed. 1, Cambridge University Press, New York, 1988, 376. [2] E. G. Yukihara, V. H. Whitley, S. W. S. McKeever, A. E. Akselrod and M. S. Akselrod: in Radiation Measurements, 2004, 38, 317. [3] T. Wagner, S. Krotzky, A.Weiß, T. Sauerwald, C. Kohl, J. Roggenbuck and M. Tiemann: Sensors, 2011, 11, 3135. [3] C. K. Kwan: in Dielectric Phenomena in Solids: With Emphasis on Physical Concepts of Electronic Processes, Ed. 1, Elsevier, New York, 2004, 579. [4] E. Barsoukov and J. R. 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