A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL
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A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL
COM.TEMA apresenta: A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL Da Lavra de Francis Obikwelu, Michael Schumacher e Tiago Monteiro Versão Primeira COM.TEMA A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL... Voz Off - COM.TEMA apresenta: “História Rapidinha do Funchal” Boa Noite, senhores espectadores! Sejam bem-vindos ao Teatro... Pedimos-lhe que desliguem, ou não, os vossos telemóveis, beepers, pagers, relógios de alarme, pacemakers, esquentadores, aquecedores, secadores, fumadores e aviadores, e outras palavras terminadas em …ores tais como guarda-chuvas, bexigas loucas e alguidares. Informamos que não é permitido fumar neste espectáculo. É permitido bocejar, coçar, apalpar a mama da namorada, mandar piparotes na orelha do gajo que está à frente e que parece o Príncipe Carlos, estrangular a gaja do lado que se parece com a Camila Parker-Bowles, passar pelas brasas, dar peidos às escondidas e tirar macacos do nariz... Fumar Não! Fumar Nunca!!! Afinal de contas... Fumar MOTA! Informamos que “A História Rapidinha do Funchal” não tem intervalo. Informamos também que “A História Rapidinha do Funchal” tem a duração de 1 minuto, 12 segundos, e 30 centésimos, 112 milésimos e 1456 bilionésimos. GENÉRICO – (Entra um tipo vestido à velocista dos Jogos Olímpicos juntamente com um árbitro... O árbitro dá o sinal de partida. O homem que está vestido de velocista debita um texto a uma velocidade impressionante) Era uma vez um arquipélago de Ilhas Vulcânicas no meio do Atlântico e uma dessas ilhas era grande e tinha uma zona com muito Funcho e chegaram uns descobridores cujo capitão era Zarolho... E o Zarolho deitou fogo ao Funcho e aquilo esteve a arder 69 anos e construiu-se ali uma vila que em 1508 se tornou cidade e que se chamava Funchal. Entretanto veio cá o Colombo, uns quantos escravos das Canárias, os piratas franceses que puseram as freiras todas num curral. Depois a Cidade começou a exportar vinho e vieram os ingleses... (inspira fundo) Página 2 COM.TEMA Entretanto a Madeira foi espanhola durante 60 anos e ainda quis ficar mais um bocadinho mas não deixaram... Depois veio um governador que queria pôr isto na ordem, vieram outra vez os ingleses, a princesa Sissi e 80 soldados tão tarados como ela, e imperadores e reis e gajos da alta sociedade que tinham tuberculose e que achavam que aquilo se tratava com poncha, e gajos que se punham a erguer velas de barcos nas quintas e um cavalo que não conseguia fazer aquilo. (inspira fundo) Houve a República, houve a 1ª Guerra, houve uns aviadores que apareceram aqui para ver se conseguiam chegar ao Brasil, houve a independência, a 2ª Guerra, a ditadura e a revolução... E houve um puto de Santo António que foi p‟ra Inglaterra ganhar um bilião! (Termina o texto e faz vénia como se a peça tivesse terminado. O pano fecha... As luzes da sala acendem.) Página 3 COM.TEMA E foi a História Rapidinha do Funchal... Muito obrigado por ter gasto 10 Euros para ver isto... Beijinhos! (Aguarda-se algum tempo para ver se alguém se levanta para sair... nem que seja figuração... quando alguém se levanta para sair volta a ouvir-se a voz off e a luz de sala apaga...) Bem... Se por acaso quiserem ficar mais um bocadinho... podemos apresentar-vos... “Outra Coisa Qualquer!” Voz Off: COM.TEMA apresenta “OUTRA COISA QUALQUER”… Boa Noite, senhores espectadores! Sejam bem-vindos ao Teatro... Pedimos-lhe que desliguem, ou não, os vossos telemóveis, beepers, pagers, relógios de alarme, pacemakers, esquentadores, aquecedores, secadores, fumadores e aviadores, e outras palavras terminadas em …ores tais como guarda-chuvas, bexigas loucas e alguidares. Informamos que não é permitido fumar neste espectáculo. É permitido bocejar, coçar, mandar piparotes na orelha do gajo que está à frente e que parece o Príncipe Carlos, estrangular a gaja do lado que se parece com a Camila Parker-Bowles, passar pelas brasas, dar peidos às escondidas e tirar macacos do nariz... Fumar Não! Fumar Nunca!!! Afinal de contas... Fumar MOTA! Informamos que “Outra Coisa Qualquer” não tem intervalo. Informamos também que “Outra Coisa Qualquer” tem a duração de… algum tempo. Se deixou o seu carro num qualquer parque de estacionamento das redondezas e que fecha à meia-noite é melhor sair já, pois não são permitidas saídas depois de começar o espectáculo. Quem tentar sair perto da meia-noite será brutalmente sodomizado por um pitbull terrier. Muito obrigado. Página 4 COM.TEMA FILME: AS ORIGENS ANCESTRAIS DOS MADEIRENSES Os Madeirenses, ao contrário do que se julgava, têm origens ancestrais... muito anteriores à época da Descoberta e da Colonização do Arquipélago da Madeira. É possível fazer fé na tese do Hommus Atlânticus. Que terá sido o habitante natural da Atlântida. Continente desaparecido por obra e graça das cheias causadas pela epidemia de incontinência das Baleias que assolou esta região durante 60 anos. São conhecidos registos de Hommus Atlânticus desde os primórdios da Civilização. Nas pinturas rupestres de Lascaux. Nas gravuras de Foz Côa. Nos hieróglifos Egípcios. Nos Vasos Gregos. Até mesmo em escritos japoneses e chineses. E é bem possível que haja antecedentes extraterrestres no Homos Atlanticus (Teoria do Disco Voador que é um Barrete da Camacha). ********** Página 5 COM.TEMA DA DESCOBERTA DA MADEIRA NARRADOR 1 – E é giro falar-se em descoberta porque, na verdade, não se pode dizer que a Madeira tenha sido descoberta. (entra idiota brasuca) BRAZUCA IDIOTA – “É! Ela foi achada!... achamento!!!” Foi um NARRADOR 1 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA – Açougue... é talho! NARRADOR 1 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA – Trem... é comboio! NARRADOR 1 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA- Pingolim... é matraquilho! NARRADOR 1- Tá calado! BRAZUCA IDIOTA – Camiseta... é camisola... (Tiro) NARRADOR 1 – E calado... é calado! A Madeira não terá sido descoberta por acaso. Era isso que eu queria dizer! O oceano Atlântico já era navegado desde o século VII... E há relatos históricos muito antigos que mencionam a existência de ilhas nestas paragens. O que acontece é que não era seguro navegar até aqui naquele tempo... Começou a tornar-se seguro no princípio do séc. XV... e mesmo assim, era arriscado. NARRADOR 2 – Ora João Gonçalves Zarco não nasceu Zarco... Zarco quer dizer Zarolho. E ele ganhou este estranho último nome por uma razão: quando Portugal invadiu Ceuta em 1415, ele foi um dos grandes heróis e ficou sem um olho depois de matar um dos principais guerreiros Mouros! Página 6 COM.TEMA ZARCO e MOURO – (Sequência de Palco em que Gonçalves Zarco, por engano, mata um dos principais guerreiros Mouros a tiro) NARRADOR 2 – ...Foi para o bar eufórico ao contar a história aos amigos!... ZARCO – E foi aí que eu me virei p‟ra ele e disse: Are you talking to me?! NARRADOR 2 – E bebeu... ZARCO – (já mais bêbado) E aí eu virei-me e disse!... Arle ou tókim tumi!??? NARRADOR 2 – E bebeu demais... ZARCO – (podre de bêbado) E ele... e eu... eu disse-le a el... Ariúúúú... Ariúú tókin to me... (a arma encrava…ele olha para a própria arma)... Então pá!... Não disparas... (e dispara em si próprio) Arrrrrghhhh! O meu olho! NARRADOR 2 – Ao tornar-se Zarolho, o nosso herói ganhou o nome Zarco. E como estava vesgo já satisfazia uma condição essencial para ser uma figura marcante da história: (GENÉRICO. Começa o Programa Zarolhos Ilustres... Um programa do Professor Aviz Golho) AVIZ GOLHO – Boa Noite!... De facto, a maior parte dos grandes heróis da nossa história são Zarolhos... Se, não vejamos: Camões, D. Sebastião (não era Zarolho... mas tinha uma perna mais curta que a outra o que vai dar ao mesmo) Medeiros Ferreira José Cid Diamantino Miranda José Castelo Branco (vê bem, mas sofre do olho...) Paulo Paraty (se não é Vesgo parece...) Página 7 COM.TEMA Guida Vieira, a bordadeira que introduziu o cubismo e o surrealismo nos bordados... (mostram-se alguns bordados de Guida Vieira) NARRADOR 1 – Como Zarco era zarolho, podemos imaginar que a tarefa de descobrir a Madeira seria, já de si, um pouco mais complicada para uma pessoa que havia perdido metade das suas faculdades visuais. A Madeira, em comparação com o oceano Atlântico é bastante pequena. Encontrar a Madeira no meio do oceano equivale a encontrar uma formiga no chão do salão de baile... ou encontrar um cérebro na cabeça da Lili Caneças... ou armas de destruição maciça no Iraque. Por isso certamente havia já naquela época referências sobre a localização deste arquipélago. Se calhar, ele até foi habitado mais cedo... Há por exemplo uma famosa lenda de um simpático casal que veio dar à costa em Machico, no séc. XIV. Ele chamava-se Robert Machim. Ela era Ana de Arfet. Eram ingleses, e terão chegado em 1346. Vem desse tempo esta mania que os ingleses têm de que a Madeira é deles. No entanto este célebre casal tinha muito pouco a ver com o comum dos ingleses: -Primeiro, porque Macim era um verdadeiro macho. -Segundo, porque Arfet estava sempre a arfar Apaixonaram-se e tiveram de vir para a Madeira: o fogoso macho Machim e a arfante Ana, sempre a arfar de desejo. Ao que parece, não ficaram na ilha muito tempo. E a paixão entre os dois esmoreceu rapidamente. Machim percebeu que Ana não arfava de desejo por ele mas apenas porque era asmática. Há documentos históricos que suportam esta lenda. O famoso documento Alcoforado refere este facto. Escrito por um tal senhor Francisco de Al–cú-furado... NARRADOR 2 – Pergunta-se então: quem é que vai acreditar em factos escritos por um gajo que tem um cú que parece um passador?! Página 8 COM.TEMA Quando Gonçalves Zarco foi falar com o Infante D. Henrique sobre a viagem já era vesgo. Por isso há aqui duas coisas a sublinhar: Primeiro – o Infante D Henrique era portuense e falava com sotaque. Segundo – deve ter sido complicado explicar ao Zarco para onde devia ir. INFANTE – Ó Zarco! Desculpa lá ter-te feito esperar!... Taba ali a acabar uma saladinha de frutas! Ó homem!... Olha pra mim murcoum! ZARCO – Eu estou a olhar para ti!... INFANTE – Ai é? Eia fuogo! Ó Zarco! Que é que te aconteceu ao olho? Não me digas que tens andado a fazer segurança de discotecas na Ribeira?! Bem... agora que és besgo... Tens que fazer uma coisa importante para ficar na história. Por isso pega no Tristoum Baz Teixeira e bai dar às belas p‟ra ber se descobrem qualquer coisa de balioso, carago! ZARCO – E vamos de barco?! INFANTE – Noum! Noum!... Bais de abioum! ZARCO – O que é um abioum? INFANTE – Não sei! Apeteceu-me dizer isto!... Claro que bais de barco, carago! ZARCO – Mas eu enjoo! INFANTE – Ó que canudo! Toma um Bomidrine!... Bão! Tu bais para aquie. Por isso, bais por aqui abaixo, biras à direita, passas os semáforos e contornas a rotunda... Num pegues a circumbalaçoum que a esta hora tá tudo entupido... e bais parar aquie! ZARCO – Adonde? Aqui? (aponta fora do mapa) INFANTE – Noum carago! Aquie! Página 9 COM.TEMA ZARCO – Aqui! INFANTE – Noum!... Aquie! ZARCO – Ah! Aqui!... INFANTE – NOUM! Olha... Pega lá um GPS e bai à tua bida! NARRADOR 2 – E foi assim que os valentes marinheiros portugueses se fizeram ao mar, sulcando as águas do Atlântico em direcção ao desconhecido... armados apenas de coragem, intrepidez, fé... (Ouve-se uma voz de GPS) GPS – “A 300 metros, vire à direita” NARRADOR 2 – E alta tecnologia... GPS – “Chegou ao seu destino!” ********** Página 10 COM.TEMA O SÉCULO XV NARRADOR 1 – E assim se deu a chegada à Madeira, em 1419. NARRADOR 2 – Não... em 1419 foi a chegada ao Porto Santo... a Madeira só é descoberta em 1420. NARRADOR 3 – Quer dizer... há mesmo documentos históricos que apontam que a Madeira já tinha sido descoberta em 1418. NARRADOR 4 – Tretas! O Machim e a Ana a Arfar já cá tinham estado em 1346! NARRADOR 1 – CHEGA!... Assim se chegou ao Arquipélago da Madeira em 1419... NARRADOR 3 – 18! NARRADOR 2 – 20! NARRADOR 4 – 46! NARRADOR 2 – 32! NARRADOR 3 – BINGO!!! (voz off: 18, 19, 20, 32, 46 - BINGO CORRECTO) NARRADOR 1 – E o primeiro problema que os descobridores tiveram foi precisamente o de baptizar as ilhas... No caso do Porto Santo não foi complicado! Numa viagem de barco daquela época, enfrentavam-se ondas enormes, escorbuto, febre, fome, superstições... e assim que se avistava terra, era um alívio! Porto Santo parece uma escolha óbvia. Primeiro, é um Porto. Segundo: apareceu quando Zarco já tinha rezado aos santinhos todos depois de uma bruta tempestade! Já o nome da ilha maior do arquipélago podia ser mais nobre! Afinal, Madeira é sinónimo de pau, é matéria-prima para móveis, é aquilo que serve de habitat natural ao caruncho! Página 11 COM.TEMA Infelizmente Gonçalves Zarco não era nada criativo. E ironicamente, o descobridor da Madeira até tem nome de personagem de ficção científica... ou do presidente francês. MARUJO – Capitão? Que nome lhe vamos dar?! ZARCO – Já sei!... Que tal... Zarcolândia?! Err... Zarcónia? Err... Zarcarias? MARUJO – Capitão? Está a gozar comigo? ZARCO – Já sei!... Já sei! Ilhas Zarcozy!!!! ...Não?... ... ...Ah porra! Com estas árvores todas... olha, chama-lhe Madeira! NARRADOR 2 – Ao contrário do que se diz... a Madeira era na altura habitada por uma aguerrida tribo selvagem de pescadores: os Xavelhinhas... Apesar dos esforços dos navegadores, não foi possível comunicar de forma eficaz com esta tribo cujo dialecto era indecifrável! MARINHEIRO – O Arquipélago agora pertence à Coroa Portuguesa... XAVELHINHA – Quêéãn? MARINHEIRO – Vós agora sois todos súbditos de Sua Majestade El-Rei D. João I! XAVELHINHA – Áaaaalhaáh!... Quêéãn quam‟tás falêánde Chibuárre? MARINHEIRO – E trazemos oferendas para podermos contar com a vossa ajuda! Contas!... Colares!... Panos!... Panelas de Cobre!... XAVELHINHA – À‟ume moádeinháh! NARRADOR 2 – Apesar de aguerridos, os Xavelhinhas eram muito territoriais, e residiam na sua totalidade no ilhéu de Câmara de Página 12 COM.TEMA Lobos. Como nunca de lá saíam nunca se considerou esta tribo como pertencente à própria ilha da Madeira. Ainda hoje, o Ilhéu, que tem cerca de 1 milhão e seiscentos mil habitantes, é uma entidade independente! VOZ OFF- Senhoras e Senhores... Por favor levantem-se para o HINO NACIONAL DA REPÚBLICA XAVELHINHA DO ILHÉU! Ladies & Gentlemen... Please rise for the national anthem of the XAVELHINHA REPUBLIC TRÊS XAVELHINHAS (parodiando atletas nos olímpicos, cantam um hino Xavelhinha desafinado) – jogos Xaaaavelheinhá quer Pouncheinheá Nâ Ilhéue leinde ei cántuênte! Se ná dárj m‟ moádeinháh Tás lixiade cá co‟a giénte! NARRADOR 1 – Outro dos problemas com que se depararam os marinheiros e os primeiros colonizadores foi, claro, descobrir onde se iriam estabelecer as primeiras cidades do arquipélago. Era preciso encontrar locais planos, com solos aráveis, e próximos da costa... no fundo: praias! E coisa mais difícil do que descobrir a ilha no meio do Atlântico todo, era descobrir uma verdadeira praia na Madeira. Ainda hoje é!... Embora agora ande para aí a mania de importar praias de Marrocos! Assim se ergueram as primeiras casas em Machico... Mas os descobridores cedo chegaram à conclusão de que um dia isto viria a estar demasiado longe dos hotéis e do Casino e foi assim que se partiu para a fundação do Funchal. NARRADOR 2 – Naquela altura, o anfiteatro do Funchal era uma mistura dos seios da Angelina Jolie com os sovacos da Vanessa Fernandes: montanhas altas e delgadas todas cobertas de matagal. No entanto, Gonçalves Zarco achou que ali estava o berço ideal para fazer nascer um grande craque do futebol porque lhe lembrava bastante o Rio de Janeiro. Além disso avistou umas ervas que lhe pareciam convidativas para fumar... Página 13 COM.TEMA Contudo, o tabaco só viria a ser descoberto no século seguinte... e Gonçalves Zarco acabou a dar por si a fumar um cigarro de funcho. Em consequência disso, ficou 3 dias a julgar que era um coelhinho verde e vestiu as ceroulas na própria cabeça enquanto gritava: ZARCO (passa lá atrás aos pulos com ceroulas na cabeça) – EU SOU UM OVO ESTRELADO!!!!! E POSSO VOAAAR!!! NARRADOR 2 – A moca foi tal que a TMN considerou colocá-lo num anúncio... ZARCO (volta a passar lá atrás correndo para o outro lado)TENHO PELO FOFO E MUITO VERDINHO... EU TRIPLICO O SALDO, EU SOU UM COELHINHO! SIRIGAITA AI YUPI YUPI AI! SIRIGAITA AI YUPI YUPI AI! … NARRADOR 2 – Entretanto, Zarco havia atirado o cigarro aceso para cima do campo de funcho. Em consequência disso, todo o anfiteatro do Funchal esteve a arder 69 anos... Esta série de incêndios ficou a chamar-se queimada... não só por causa da vegetação atingida pelos incêndios... mas também pela moca dos marinheiros ao inalarem os fumos. Ficaram queimadinhos de todo! ZARCO E OS MARINHEIROS (voltam a passar lá atrás correndo para o outro lado) – SIRIGAIA IUPIUPIÁIÁIÁ!... SIRIGAIA IUPIUPIÁI – IÁIÁIÁ!... NARRADOR 2 – Prova de que estavam meio trocados das ideias, é que decidiram construir mesmo juntinho aos incêndios... UM MARINHEIRO – Ó ZARCO?! Não fizeste o teu quintal muito junto ao fogo? Aquele galinheiro, por exemplo, não tá muito perto das chamas? ZARCO... (com um ar alucinado)... – Nã! „Tá seguro! Agora deixa-me alimentar as galinhas... (começa a jogar milho para um Frango assado). NARRADOR1 – Por exemplo, a capela que está no parque de Santa Catarina não foi a primeira que Zarco mandou construir... Página 14 COM.TEMA mas foi, na verdade, terceira... as duas primeiras arderam porque estavam muito juntas da frente de fogo... Nesse tempo, as casas eram todas feitas de Madeira... chegaram a arder dois quarteirões inteiros, na zona onde se encontram hoje em dia as ruas da Queimada de Cima e da Queimada de Baixo... Aliás, certo dia, bastou o vento mudar, e as labaredas que consumiam o mato voltaram-se com tal fúria para as casas que Zarco, e toda a população do Funchal na altura, tiveram de vir a correr para se enfiarem na água... ZARCO (surge Zarco a correr) – O MEU CABELO ESTÁ A ARDER! O MEU CABELO ESTÁ A ARDER!... AAAAARGGGGGHHH! (Vai a correr pela coxia fora... quando sai ouve-se um chapão de quem cai na água e um Ahhhhhh! de alívio!) NARRADOR 1 – Apesar deste episódio infeliz, Gonçalves Zarco viria a revelar-se um exímio governador... viveu muito tempo (sobretudo para os padrões da época) e esteve no poder para aí 50 anos, tendo ganho várias maiorias absolutas umas a seguir às outras e estabelecendo assim uma tradição importante na ilha. Chegou ao ponto de estar já tão velho que, na hora de presidir a reuniões da Câmara, tinha de ser carregado ao colo por dois calmeirões para se poder deslocar ao local. (Zarco é transportado coxia fora por duas pessoas... o seu chapéu está chamuscado...)1 NARRADOR 1 – Vendo bem, ainda que por motivos diferentes, Gonçalves Zarco não foi o único líder que teve de ser levado ao colo. Ainda que por diferentes razões... muitos outros líderes na história da Humanidade tiveram de ser levados ao colo! (Série de comparações absurdas imagens projectadas no ecrã: Bush, Paulo de Azevedo (filho de Belmiro), Benfica no Campeonato de 2004/2005, Guimarães na corrente época) 1 tem que se verificar a praticabilidade. Saídas pela coxia demoram muito e o regresso ao palco é também demorado Página 15 COM.TEMA NARRADOR 1 – Muita gente diz que a Madeira foi colonizada com famílias algarvias e nortenhas... mas eram apenas nortenhas. Nessa altura no Algarve só vivia o Cliff Richard. Além disso, o Infante D. Henrique era portuense... como tal, foi buscar gente das suas terras. NARRADOR 2 – Não se sabe ao certo quando se terá começado a povoar a zona hoje em dia conhecida como Funchal... Crê-se que terá começado em 1424, com não mais do que umas 30 pessoas... NARRADOR 3 – Apenas 12 eram mulheres. NARRADOR 4 – Dessas 12, apenas 6 não tinham bigode... NARRADOR 1 – destas 6, apenas 3 tinham os dentes todos. NARRADOR 2 – De modo a que os madeirenses se reproduzissem rapidamente, o muito sábio Gonçalves Zarco adoptou em 1433 uma série de medidas severas para garantir que o sexo em cada casa aumentava: ARAUTO – “Saiba a população do Funchal que, por ordem do Capitão Donatário, João Gonçalves Zarco, são doravante aplicadas as seguintes proibições e deveres: (tira pergaminho que lê) 1- É proibido ver a Telenovela das 8, das 9 e as da TVI também... 2- É proibido ver jogos do Porto, da Selecção, do Marítimo, do Nacional, da Liga Inglesa, Espanhola ou Italiana. 3- É permitido ver os Jogos do Sporting e do Benfica porque deprimem e depois a malta quer é beber para levantar o moral... e outras coisas. 4- É proibida a enxaqueca feminina. 5- É permitida a enxaqueca, desde que sejam retiradas as duas primeiras sílabas a esta palavra. 6- Cada funchalense tem direito a duas caixas de Viagra por mês. 7- Cada “funchalensa” tem direito a duas lingeries de cabedal preto ou vermelho, uma em renda cor de cereja, Página 16 COM.TEMA dois boiões de lubrificante, um fato de enfermeira e um de colegial. 8- As freiras estão isentas do serviço... mas se acontecer, não contamos a ninguém. O Capitão Donatário vai baldar-se agora para Arzila, no Norte de África para ver se conquista aquilo e ganha um balúrdio. O barco dele tem parabólica e Sport TV... ele diz o resultado dos jogos quando voltar.” NARRADOR 2 – Ao que parece, estas medidas deram resultado: a população cresceu a bom ritmo. O Funchal recebe o primeiro foral entre 1452 e 1454, sendo aí elevado a vila. A Igreja e o Mosteiro de Santa Clara são construídos entre 1489 e 1496. Os primeiros “pequenos” nascidos e criados no Funchal eram filhos de Gonçalo Aires e de sua mulher. Os primeiros madeirenses de gema foram baptizados de Adão e Eva. E eram irmãos, o que é um problema do caraças... Se o Adão e Eva madeirenses eram irmãos... tiveram de se incestar para haver mais madeirenses?! NARRADOR 1 – Depois havia a imigração... Muitos homens que vinham em busca de aventura, e muitas mulheres que vinham de países onde não era proibido ver a Sport TV. Entre as várias figuras que vieram a colonizar o Funchal, houve uma que depois se viria a tornar muito famosa... Não, não é o Cristiano Ronaldo... É Cristóvão Colombo que, ao contrário do Ronaldo, se tornou famoso por ser um aselha! Colombo, além de aselha, era um grande vigarista. A história da sua vida está repleta de equívocos e falsidades. Os registos históricos por exemplo mostram que nunca viveu no Porto Santo. No entanto, a Casa Cristóvão Colombo está lá na Ilha Dourada... A nossa teoria é a de que Colombo viveu o tempo todo no Funchal, lançando a moda da “casa de férias” no Porto Santo. Abriu uma agência de time-sharing para alugar a casa, e depois meteu na cabeça que haveria de fazer o mesmo na Índia... assim que descobrisse onde a Índia ficava... o que, na verdade, nunca descobriu. Página 17 COM.TEMA É certo que muita gente acha que Colombo era, na verdade alentejano... mas não! Isso explicaria muita coisa em relação ao Porto Santo, mas a verdade é que Cristóvão Colombo era mesmo Genovês... NARRADOR 2 – Catalão... NARRADOR 3 – Ligure... NARRADOR 4 – Asturiano... MULHER NO PÚBLICO – Galego... TÉCNICO DE SOM – Ucraniano... MULHER NA CABINE TÉCNICA – XAVELHINHA! NARRADOR 3 – Chinês... NARRADOR 2 – Croata! NARRADOR 4 – BINGO!... NARRADOR 1 – NÃO PORRA! ERA GENOVÊS! TODOS OS OUTROS – Como é que sabes? NARRADOR 1 – Ele só vivia no Funchal porque era mercador de açúcar!... E como andou a fazer falcatruas e negociatas, aumentou demasiado o preço do açúcar quando o foi vender em Génova e respondeu em tribunal por isso. E a gente sabe como foi o julgamento... Que vamos aqui reproduzir com o dialecto original... o Genovezzi. É parecido com o italiano, mas só mais ou menos! (Juíz, Advogado de Acusação e Colombo no julgamento) JUIZ – Cristovini Colombini... Estate aqui para rispondere a le acuzacioni de aumentarini muitini il precini dil açucarini!... ADVOGADO – Qual é a sua cidadini Natalini? COLOMBO – Ma io sono Geovani... Página 18 COM.TEMA JUIZ – No! Tu é Cristovini Colombini!... Tu nó é Geovani !... COLOMBO – Nó ! Quero deciri que só Genovani... ADVOGADO – Como? COLOMBO – Genovanezini? ADVOGADO – Que cosa dissestini? COLOMBO – Genovanezzaninizini? JUIZ – Ma io penso que il quere disserini que nasceuzini qui en Genova? COLOMBO – Eco! Eco! Io sono Genovanezzinedini? ADVOGADO – Non! Non! Se dice: Genovezzini COLOMBO – Ah! Genovezzini... JUIZ – Bom... Genovezzini, Linguini ou Maldini... És um vigaristini... Vais baixar o preço do açucarini... e pagar uma multa que até vais andar de ladini! COLOMBO – „Tou Fudidini!... ********** Página 19 COM.TEMA O SÉCULO XVI NARRADOR 2 – Colombo, depois de levar uma ripada valente no processo em Génova vê-se obrigado a ganhar dinheiro. Vende a “casa de férias” do Porto Santo e pira-se para a Corte portuguesa porque lhe parecia que D. João II estava interessado em fazer uns investimentos: D.JOÃO II – Já te disse que não quero investir em Herbalife!... Quantas vezes eu tenho de te dizer... COLOMBO – E questo Tupperwarini? D.JOÃO II – RUA!... COLOMBO – I questi DVD!... 3 filmini, 5 eurini!... D.JOÃO II – RUA!... COLOMBO – E una expedizioni para chegar à Índia?! D.JOÃO II – Pela Costa de África? COLOMBO – NOOOO! Por el oceano atlantiquini!... D.JOÃO II – Ahhh!... Muito bem! RUUUUUAAAAAA! NARRADOR 2 – Como não conseguiu convencer D. João II, decidiu tentar a sorte na corte de Espanha já que o Rei Espanhol além de ser meio teso, era ainda bem mais burro que o português. COLOMBO – Viajando por il oceano atlantiquini vamos chegarini a... D. FERNANDO – Sim! Sim... Isso da expedição podes fazer. Mas posso ficar com os tupperwares? COLOMBO – Si!... D. FERNANDO – Pronto! Dou-te três navios!... Agora, isso da Herbalife é para perder peso, é? Página 20 COM.TEMA NARRADOR 2 – Foi assim que Colombo convenceu o Rei de Espanha, e foi descobrir umas ilhotas na América pensando que eram o Japão. Entretanto os Portugueses já tinham dobrado o Bojador, o Cabo da Boa Esperança, descoberto Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, a Guiné, Angola e Moçambique... chegaram por mar até à Índia e descobriram o Brasil... Toma lá morangos!... Consta que, sabendo da descoberta de Colombo, o rei português D. Manuel mandou esta carta oficial a D. Fernando de Espanha onde se podia ler o seguinte: (abre a Carta) “Nhã-nhã-nhã-nhã-nhã-nhã!” NARRADOR 1 – Foi este mesmo D. Manuel I que em 1508 se decidiu pela elevação do Funchal a cidade porque pensou que seria muito bonito ter o Funchal a celebrar os 500 anos em ano de Campeonato Europeu de Futebol. A cidade cresce. A fortaleza-palácio de São Lourenço é concluída ainda na primeira metade do século XVI, a Sé Catedral, foi terminada em 1514. Nesta altura, a colonização da Madeira era já uma realidade. Estabelecem-se as primeiras famílias... Como eram todas nobres, tinham todas nomes tão estranhos, tão estranhos que pareciam a selecção portuguesa de hoje em dia! RELATO – Ora muito boa noite! Sejam bem-vindos à 2ª parte deste derby funchalense... 21ª jornada desta super-liga 15161517, a opôr a equipa dos Nobres com nomes Estranhos à formação dos Nobres com Nomes Esquisitos... Os Nobres com Nomes Estranhos vão alinhar com: - Acciauioli na baliza, depois a defesa com Camelo, Caramujo, Cahaus, e Alcoforado (tem este nome mas por ele não passa nada), No meio-campo, Castelo-Branco, Concellos, Cuibem, Dami, e o nº 10 da equipa, Barriga. No ataque, a dupla-maravilha, Lemilhana e Denis. Treinador: Fernando Liberaleão Do lado dos Nobres com Nomes Esquisitos já se sabe, uma ousada tática 3-4-3: Página 21 COM.TEMA -Um tridente de ataque com Lumelino, Ossuna e Mialheiro, este último já com 22 golos na sua conta pessoal, No meio-campo, Penteado, Rêgo, Tuellière, e Ususdimare Na defesa Uzadamor, Visovi e Vogado E, na baliza, Perú! O treinador é, o já bem conhecido, Zargo... ou Zarolho, como preferirem. O Árbitro da Partida, outro Zarolho... Paulo Paraty. Nesta altura, 10 minutos da segunda parte, tudo continua a 0, mas o desafio promete aquecer... NARRADOR 1 – Para além destas famílias com nomes estranhos vieram outras com nomes normais... o Adão e a Eva já tinham tido muitos filhos nativos madeirenses entretanto (com os respectivos esposos... não um com o outro!) E para ajudar à festa, até apareceram aí escravos trazidos das Canárias: os Guanches que eram pastores e que encheram isto de cabras... Tantas cabras, tantas, tantas, que muitas ainda andam por aí... O Funchal era, neste tempo, uma cidade fervilhante de negócio e cultura. As exportações de açúcar garantiam uma enorme prosperidade e, a nível cultural, a cidade tinha alguns dos maiores poetas da época... NARRADOR 2 – Havia uma autêntica Escola de Trovadores com nomes famosíssimos: João Gomes; Tristão Teixeira; João Gonçalves da Câmara, Manuel Noronha... e o próprio Baltazar Dias. Juntavam-se muitas vezes para Jam Sessions de poesia, alguns deles punham uns discos numa scratch box e assim nasceram as Raves das Vespas. (Começa uma batida de RAP) VOZ OFF – Iá! Iá! Funchal People... Méquié! Baza lá arrancar com mais uma JAM Session from the hart to the pips, yeah! Hoje na área represent: Página 22 COM.TEMA Ele faz sonetos ao ritmo da Kizomba, ele faz versos como quem dança Funáná: Tristão Teixeira A.K.A. Tristão das Dámas... TRISTÃO – Yo! VOZ OFF – O Homem que anda sempre de Bastão na mão... João Gonçalves da Camara A.K.A. DJ Porrinha. PORRINHA – Yé VOZ OFF – Ele pode ser cego, mas isso só lhe dá problemas quando está a alinhar os discos... Baltazar Dias A.K.A. Stevie Wonder. BALTAZAR (virado de costas para a plateia) – Yá!... errr (viram-no para a frente) Yá!... OS TRÊS – DJ Porrinha, DJ Damas, DJ Baltazar! Trovadores por vocação, a representar Fazemos trovas de alto ritmo de sabor açucarado Amor, Escárnio, Maldizer, temos tudo controlado (Vão virando Baltazar para o sítio certo) Floreado, bem ritmado, não fazemos nada à toa E ao final de cada quadra papamos a gaja boa! Damos baile no Homero, no Virgílio e na Eneida E se não gostares da cena vai mas é levar na... NARRADOR 2 – NAAAA MADEIRA... encontravam-se as melhores raves, os melhores DJ‟s, um clima porreiro e um casino decente... Os velhotes ingleses e alemães ainda não vinham passear para aqui porque naquele tempo quase ninguém conseguia passar dos 80 anos de idade... que é a idade habitual dos turistas seniores que visitam a Ilha hoje em dia. E o Funchal era o Centro de tudo isto! A Madeira tornou-se apetecível... já na altura o Funchal prosperava e realizava desfiles de moda... o único problema é que as únicas moças solteiras que havia para os desfiles eram Freiras... e os desfiles eram um bocado monótonos... Decorria um destes desfiles em 1556 quando, de repente, piratas franceses que vinham a passar e que já estavam fartos de não ver terra há meses... e que Página 23 COM.TEMA tinham no fundo que fazer companhia uns aos outros... decidiram saquear o Funchal... (Parte Musical... Medley em Dialecto Frrancé) FRRANCESES (Cantando La Vie en Rose)“P‟ra roubarrr e p‟ra pilharrr Matarrr ou incendiarrr (Coro) Nós somos talentosos! E também p‟ra violarrrr... Mesmo sodomizarrr (Coro) Nós somos tão jeitosos!... Dizem que aqui na Madeirrra Até mesmo uma Frreirra É boa como o milhôôôô Que marravilhas dizem do Funchal” FREIRAS – “Vamos meninas fujam p‟ró Curral!” FRRANCESES (Agora ao som do Alouette) – “Somos frranceses, pior que nós não há! Vamos fazerrr muito ménage à trois!” FRRANCESES (ao som de Frére Jacques) – “Linda Frrreirra, linda Frreirra... Quem és tu? Quem és tu? És linda e solteirra... És linda e solteirra Vou-te ao... (outro francês surge a cortar na altura certa) ...improviso fazer um verso diferente daquele que pensavam que ele ia fazer e que seria demasiado ordinário p‟ra este momentú!” NARRADOR 2 – As freiras acabaram por se juntar às cabras dos Canários e piraram-se todas para um curral. Nasceu assim o Curral das Freiras. A Ilha foi-se desenvolvendo paulatinamente e já era conhecida pela sua beleza... Luís Vaz de Camões acaba por considerar essa beleza n‟Os Lusíadas, inspirando-se na Madeira para criar a Ilha dos Amores, no poema épico “Os Lusíadas”. Página 24 COM.TEMA RELATO – E desculpem interromper... o Derby da Nobreza está ao Rubro, depois de um Golo de Mialheiro, a equipa dos Nobres Estranhos a chegar à igualdade, uma jogada a grande velocidade de Caramujo que toca para a entrada de Denis para um frango de Perú... Está feita a igualdade mas... esperem! Camelo e Penteado acusam Perú de ter aberto as pernas à entrada de Denis... Perú responde chamando burro a Camelo. Vogado e Ususdimare pegam-se à porrada. Paulo Paraty não vê nada disto, Zarco também não e Castelo-Branco desata a dizer que está tudo muito mal vestido e pouco-chique! Uiii!... E agora Lemilhana pega no pau da bandeirola de canto e persegue Rêgo e Alcoforado... Barriga, Acciauioli e Visovi largam a correr para o balneário em pânico... Lemilhana lança a bandeirola de canto e acerta em cheio no Rêgo de Alcoforado... Perdão! Em Rêgo e Alcoforado... Este último terá de passar a pronunciar o nome com vogais mais abertas. NARRADOR 1 – Entretanto no continente as coisas estavam a ficar pretas. Quem mandava na Europa no Sec. XVI, era Carlos V... um imperador espanhol, que era holandês... Carlos V era rei de Espanha, mas também da Alemanha, e da Áustria, e de Nápoles, e da Holanda... era Rei de tudo... lá pelo meio tinha tido uma avó chamada Joana a Louca e que tinha esta alcunha porque era Espanhola... NARRADOR 1 – E diga-me você... como é que Carlos V se tornou soberano absoluto de metade da Europa na primeira metade do Séc. XVI? SALOIO – O Queijo Bibiano é feito com puro leite de gado bovino e curado com o método flamengo... NARRADOR 1 – Bom... foi a casar parentes da mesma família todos uns com os outros: casava-se o tio com a tia, o cunhado com a nora e o primo com a prima... Página 25 COM.TEMA NARRADOR 2 – É deste tempo que vem a expressão: “Quando mais prima, mais se lhe arrima”.2 E entre os muitos casamentos que arranjou, ele próprio casou com uma portuguesa: Isabel de Portugal... com a qual viria a ter um filho: Filipe II (primeiro de Portugal). Assim as famílias reais portuguesa e espanhola ficaram ligadas... A qualquer momento, o Rei espanhol poderia tentar suceder ao trono de Portugal, caso nos faltasse Rei... CORO – Oh não! NARRADOR 2 – Mas calma! Tínhamos o Rei D. João III... que era um gajo porreiro. Embora tenha permitido que se instalasse em Portugal a Inquisição... que era assim uma espécie de ASAE das religiões... Não podia ver uma alheira de Mirandela que mandava logo queimar a família que a fazia. Como era muito religioso passava a vida a rezar e só teve um filho... a sua mulher, entretanto, terá tido muitos... Só que o único filho de D. João III morreu cedo... CORO – Oh Não! NARRADOR 2 – Calma! Mas conseguiu ter um filho ainda antes de morrer. Portugal tinha um herdeiro! (Surge figura de D. Sebastião) Só que este rapaz era o resultado de 3 gerações de incestos vários e de casamentos dentro da mesma família, Era franzino... (figura de D. Sebastião começa a degenerar a cada atributo negativo que lhe é dado). Branco copo de leite... ...mimado ...estúpido 2 nem faço ideia o que isto quer dizer! Página 26 COM.TEMA ...teimoso ...parvo ...com os dentes tortos ...gases ...gota... ...e uma perna maior que a outra... NARRADOR 1 – e viu filmes do Rambo a mais, por isso achou que conseguia ir para Marrocos de armadura e conquistar aquilo tudo antes de morrer desidratado... NARRADOR 2 – Chamava-se D. Sebastião, morreu jovem, e lixou isto tudo... NARRADOR 3 – Por isso, entre 1580 e 1640, não se passa nada de especial na Madeira ou em Portugal... a não ser o facto de nos termos tornado todos espanhóis, que nos obrigaram a cantar um hino que ainda não tem letra. NARRADOR 1 – Ainda hoje há pessoas que esperam que D. Sebastião regresse para governar Portugal. Essas são as pessoas que não percebem nada de história e que acreditam no Pai Natal, no coelhinho da Páscoa e que o Sócrates é um bom primeiroministro. NARRADOR 3 – E que acham que o Luís Filipe Vieira é bom presidente e que os arguidos do apito dourado vão ser todos condenados. Página 27 COM.TEMA O SÉCULO XVII e XVIII NARRADOR 2 – Para os portugueses, o Século XVII começa na verdade quando os espanhóis se piram do nosso burgo. Foram-nos servidos 3 Filipes... Entrada, Prato Principal e Sobremesa. O primeiro, bastante comestível e equilibrado, tinha a mania de fazer muitos barquinhos, fez questão de vir viver para Lisboa, porque era mais barato do que em Espanha, entregou o governo do país a um português de sua confiança, teve o português como primeira língua até a morte da mãe e cortava a barba à moda portuguesa. Continuou a brincar com os seus barquinhos... mas deixou um travo amargo quando se pôs a tentar invadir a Inglaterra. FILIPE II- Eles afundaram os meus barquinhos todos!... BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! NARRADOR 2 – O segundo Filipe, já era um pouco mais tonto, feio... e um pouco obeso, já sabia um pouco a ranço... E o terceiro já não ia lá nem com molho de tomate... era megalómano, pintava os lábios e era uma besta. Por essa altura, a Espanha também estava a ficar falida. Por isso, não pôde reagir a sério quando uns quantos portugueses começaram a dizer que tinha acabado a brincadeira. Assim se deu a restauração da independência, a 1 de Dezembro de 1640, com D. João IV a ser aclamado Rei. NARRADOR 1 – A notícia foi dada de maneiras diferentes em diferentes locais. Em Lisboa: JORNALISTA – Boa Noite... Os portugueses revoltaram-se. Restauraram, esta manhã, a independência e jogaram o governo do alto de um prédio. A partir de hoje o Rei português é D. João IV. NARRADOR 1 – Em Madrid: JORNALISTA (com um bigode postiço) – Buenas Noches, En Portugal se revoltaran los portugueses quando souberan que Filipe III yá no quiére mas governar el país. Muchos de ellos Página 28 COM.TEMA se suicidaran jugando-se de un prédio pues no quieren que su rey sea D. João IV. NARRADOR 1 – E depois a notícia correu o país como uma... quer dizer flecha nem por isso, que naquele tempo não havia telemóveis. Bem... a notícia foi correndo: (Com a ajuda do projector vão sendo projectadas as diferentes datas e locais) (LISBOA 1 de DEZEMBRO de 1640) HOMEM 1 – Expulsámos os Espanhóis. Temos um novo Rei! Viva D.João IV! (PORTO 8 de DEZEMBRO de 1640) HOMEM 2 – Demos uma trepa ós Espanhóis. Tiemos um nuobo Reie! HOMEM 3 – Éi o Pinto da Costa? HOMEM 2 – Noum... é o D. Joum IV... (FUNCHAL 10 de JANEIRO de 1641 – um mês e tal depois) HOMEM 3 – Pessoal! Isto acabou de acontecer! Expulsámos os Espanhóis. Viva D.João IV! (PORTO SANTO 5 FEVEREIRO de 1641 –dois meses e tal depois)3 HOMEM 2 – Pessoal! Acabo de saber! Já não somos espanhóis! Viva D.João IV! (ALDEIA ALENTEJANA 1642) HOMEM 1 – Compadri... Atã nã queira lá veri que Portugali já nã é Espanholi? HOMEM 4 – Compadri deixe lá estari... dê-le mais uns séculos que volta logo a seri!... 3 Esta data não está certa Página 29 COM.TEMA NARRADOR 1 – Há muito tempo que não havia no Porto Santo uma coisa para comemorar... então os Porto-Santenses decidiram festejar com estrondo. Puseram-se a disparar os canhões da fortaleza com tanto barulho, que uma esquadra turca que cercava a Ilha bateu em retirada... ...A armada era enorme, com soldados de todos os cantos do Império Turco: da Síria, da Anatólia, da Capadócia... ...O problema é que os almirantes vinham de uma região muito remota do Império Turco: a Estupídia! NARRADOR 2 – Entretanto muita coisa acontece na Ilha... O desenvolvimento da indústria da Cana do Açúcar, a invenção da Poncha, as primeiras exportações de Vinho Madeira, os primeiros lucros por exportações de Vinho Madeira, as primeiras grandes quintas criadas para produção de Vinho Madeira, e os primeiros ingleses que se apropriaram das quintas de produção do Vinho Madeira... (Entram três Ingleses, vociferando em Inglês e surripiando algumas peças do cenário). NARRADOR 2 – Mas a Restauração da Independência tinha um preço. O país tinha ficado tão falido e o nosso exército estava tão enfraquecido pelas batalhas com os espanhóis, que a única solução era casar a nossa Infanta D. Catarina com o Rei Carlos II de Inglaterra. Assim, os Espanhóis já não se metiam connosco. Acontece que Carlos II tinha outras pretendentes, e então arranjámos maneira de lhe dar a Catarina e muitos prémios!... (Começa a música do quem quer ser milionário mas com o genérico “QUEM QUER SER MAIS OTÁRIO”). JORGE RAFAEL – Carlos II de Inglaterra, você já vai para a 8ª pergunta, já garantiu a princesa Catarina, 500 mil libras, a cidade de Tânger, a Ilha de Bombaim... Tem agora em jogo o Arquipélago da Madeira e a ajuda do telefone e do público... CARLOS II – Vamos a isso... Página 30 COM.TEMA JORGE RAFAEL – Está nervoso? CARLOS II – Só um pouco impaciente... é que eu estou muito impressionado com o decote. JORGE RAFAEL – Quer dizer... com o dote... CARLOS II – Não não! Com o decote da Catarina... mal posso esperar para pôr as mãos naquilo. (Riso Alarve). JORGE RAFAEL – Olhe a nossa pergunta por acaso está relacionada com montes e vales. (riso ainda mais alarve). Pergunta para o Arquipélago da Madeira: (Ouve-se a Musiquinha) JORGE RAFAEL – Em que ano foi descoberta a Ilha da Madeira: 1418, 1419, 1346 ou BINGO. CARLOS II – Errrr... posso pedir ajuda do público? JORGE RAFAEL – Penso que sim... são todos madeirenses devem saber com certeza... (Musiquinha) JORGE RAFAEL – Bem 82% escolheram BINGO! 8% escolhem Carlos Queiróz, 6% escolhem 1418 e 4% escolhem uma família feliz um crepe chinês e 4 doses de arroz chau chau. CARLOS II – Errrr... errr... é melhor usar a ajuda do telefone! Tenho um amigo que sabe de certeza... JORGE RAFAEL – Vai ligar para quem? CARLOS II – João Carlos Abreu. JOÃO CARLOS ABREU (ao Telefone) – Boa noite! JORGE RAFAEL- Boa noite! João Carlos Abreu fala Jorge Rafael, do “Quem quer ser mais Otário”! Página 31 COM.TEMA JOÃO CARLOS ABREU – Oh sim como está, gosto muito do seu programa! JORGE RAFAEL – Obrigado, obrigado! Olhe o Rei Carlos II de Inglaterra está aqui a precisar da sua ajuda numa pergunta e disse-me que você sabe a resposta de certeza... JOÃO CARLOS ABREU – Talvez, talvez... Eu gosto dessas coisas. Pode perguntar. JORGE RAFAEL – Eu vou-lhe passar o telefone, está bem? JOÃO CARLOS ABREU – OK... JORGE RAFAEL – Carlos II, 5 segundos a partir de agora. CARLOS II – Errr... Err... Em que ano foi descoberta a Madeira: 1418, 1419, 1346 ou... JORGE RAFAEL – Ó que pena Carlos II, terminou o tempo. NARRADOR 1 – Nesta altura, o açúcar do Brasil e das Antilhas inundavam os mercados e as exportações de Vinho Madeira tornaram-se a principal fonte de lucros da Ilha e, claro, do Funchal. E apesar de os Ingleses serem, na altura, donos dos principais negócios da cidade... e da Ilha... e do arquipélago... e do País inteiro, não estavam interessados em dominar o território... Não estavam para se chatear... e por isso os portugueses também prosperavam. NARRADOR 1 – O dinheiro que se ganhou na altura permitiu que muita gente com fortuna mas com pouco nome adoptasse os nomes esquisitos das famílias nobres... Cada nome esquisito custava uma fortuna! Menos o nome Alcoforado... esse tinha pouca procura. Página 32 COM.TEMA Ah! E entretanto, as notícias continuavam a espalhar-se pelo mundo... (ILHAS DESERTAS 22 de OUTUBRO de 1782) HOMEM 2 – Pessoal! Acabo de saber! Já não somos espanhóis! Viva D.João IV! NARRADOR 1 – Assim, na segunda metade do séc. XVIII havia uma autêntica balbúrdia de famílias nobres na Ilha... Já não se sabia quem era nobre e quem não era... Além disso havia grande desordem na cidade, desentendimentos crescentes no comércio, greves dos sindicatos, epidemias de piolhos, alcoolismo generalizado... até que um dia houve um acontecimento que foi a gota de água: MIÚDA HISTÉRICA – Dá-me o Télemóbele!... DÁ-ME O TÉLEMÓBELE JÁÁÁ! NARRADOR 2 – Chegou-se à conclusão que isto não podia continuar assim... Veio então um tal governador Sá Pereira que ficou conhecido como o Pombal Madeirense. Não porque lhe nascessem pombos na cabeça, mas sim porque meteu tudo isto na ordem: legislou as aquisições, ordenou os nomes das ruas, criou escolas, fez estradas, subiu os impostos, criou uma avaliação dos professores, baixou o passivo, impôs os tectos salariais, reparou os tectos das capelas, tirou 6 pontos ao Futebol Clube do Porto, regulou as cotas de exportação do leite, o tamanho dos rolos de papel higiénico, a gradação de cores das penas dos canários, e o tamanho dos seios da Fafá de Belém... NARRADOR 1 – Tornou o Funchal tão organizado, tão organizado, e meteu isto tudo tão na ordem que quando se foi embora largaram fogo-de-artifício para festejar. Página 33 COM.TEMA Foi desta forma que começou a tradição do fogo-de-artifício no final do ano! ...Cuja demonstração mais impressionante foi em 2007... altura em que se juntaram outras celebrações importantes! (ILHAS SELVAGENS 1 de JANEIRO de 2007) HOMEM 1- ...Já não somos espanhóis! Viva D.João IV! Página 34 COM.TEMA O SÉCULO XIX NARRADOR 1 – Não se conta a história do Funchal no Séc. XIX sem falar nos ingleses... NARRADOR 2 – E p‟ra falar dos ingleses há que falar dos franceses NARRADOR 3 – ...E quem diz Franceses diz Napoleão... NARRADOR 4 – ...E quem diz Napoleão diz Revolução Francesa... NARRADOR 1 – ...Revolução Francesa... Francesinha NARRADOR 2 – ...Francesinha... Salgada NARRADOR 3 – ...Salgada... Sede... NARRADOR 4 – ...Sede... Coca-cola! NARRADOR 1 – E isto foi publicidade metida a martelo? TODOS – Nããããããããã! NARRADOR 1 – Bom... Depois da Revolução Francesa de 1782, os franceses desatam à cacetada uns com os outros, dá-se uma terrível guerra civil e surge uma geração de pessoas nascidas em França que se torna extremamente violenta! GENERAL – Queres entrar no Exército?! RAPAZ FEIO – Sim! GENERAL – Gostas de andar à pancada?! RAPAZ FEIO – Sim! GENERAL – De partir ossos?! RAPAZ FEIO – Sim! GENERAL – Como te chamas? Página 35 COM.TEMA RAPAZ FEIO – Petit! NARRADOR 1- Os Franceses ficam doidos, inventam a guilhotina de cortar queijos... mas resolvem testá-la antes com 30.000 pessoas, e ganham jeito nesta coisa de porrada, massacre, pilhagem e violação. É assim que decidem lixar o mundo no início do Século XIX. Eram liderados por um tipo baixinho chamado Napoleão, que tinha dores de estômago, e a pila pequena. NAPOLEÃO (segurando um dedal) – Josefine! Eu já te falei das doenças sexualmente trrransmissíveis! Agorrra deixa-me pôr este preservativô! NARRADOR 1 – Escusado será dizer que tinha um par de chifres inversamente proporcional ao tamanho do seu Zézinho. E como naquele tempo não havia Ferraris nem iates grandalhões... Napoleão teve de compensar essa frustração com outra coisa. E decidiu invadir meia Europa. Lixou a Espanha, lixou a Áustria, lixou a Bélgica, lixou a Itália, lixou o Egipto (não é Europa, mas que se lixe) lixou a Prússia e achou que ia lixar a Rússia... NAPOLEÃO – Aí vou eu seus cabrrrrões!... Arrgghhh!, tá muito frrrio! Tá muito Frrrrio! NARRADOR 1 – lixou-se na Rússia, lixou-se com a Inglaterra, e meteram-no num navio direitinho para um rochedo nos confins do Atlântico... NARRADOR 2 – Pensaram primeiro em mandá-lo para as Desertas mas as autoridades do Funchal temeram que ele organizasse um exército de gaivotas e cagarras para bombardear o Funchal a cagadelas. Depois de fazer escala aqui, deram-lhe guia de marcha para a Ilha de Santa Helena, onde passou o resto dos seus dias a coleccionar selos e a dedicar-se à masturbação de grilos. NARRADOR 2 – Assim, no início deste século a Madeira começa por ser inglesa. Portugal é ocupado pelos franceses, a Corte viaja para o Brasil... os brasileiros chamam a isto a “Transferência da Página 36 COM.TEMA Corte”... os Portugueses chamam a isto a “Fuga com o rabo entre as pernas da Corte”. (entra idiota brasuca) BRAZUCA IDIOTA – “É! Eles não fugiram, eles se transferiram!” NARRADOR 2 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA – Escanteio... é Canto NARRADOR 2 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA – Juíz da Partida... é Árbitro! NARRADOR 2 – Tá calado! BRAZUCA IDIOTA- Melhor jogador do Mundo... é... NARRADOR 2 – É?!... BRAZUCA IDIOTA – É... NARRADOR 2 – É?!... BRAZUCA IDIOTA – É Cristiano!... É de PORTUGAL, país IRMÃO! Adoro meus irmãos PORRTUGUESES! Meu pai era de BRAGA... BEIJÃO PARA PORRTUGÁU, NÉ! NARRADOR 2 – Pira-te!... BRAZUCA IDIOTA – Não to‟intendendo... (Tiro) NARRADOR 1 – Ora a corte fugiu com o rabinho entre as pernas para o Brasil, e ainda apanhou um ataque de piolhos como castigo. Ora os ingleses, achando que a coisa podia dar para o torto e que Portugal poderia transformar-se numa espécie de “quintal dos Franceses”, decidiram não se preocupar com o rectângulo, mas proteger a sério o ponto estratégico do Atlântico que era a Madeira. Página 37 COM.TEMA Estiveram cá uma 1ª vez logo na primeira década do século XIX... (Entram três Ingleses, vociferando em Inglês e surripiando algumas peças do cenário). NARRADOR 1 – E uma segunda vez liderados por um tal Beresford, que acabaria por vir depois governar Portugal Continental durante um tempo. (Entram três Ingleses, vociferando em Inglês, agora atravessando o palco no sentido inverso e surripiando ainda mais peças do cenário).4 NARRADOR 1 – Os ingleses nunca mais arredaram pé da Ilha... mas no fundo, também nunca quiseram mandar nela... como só ligam uns aos outros ou raramente se ligam a sério a portugueses escurinhos, acabam por ser uma comunidade muito fechada. Daqui se conclui: ”Inglês é como a SIDA... É sexualmente transmissível... e não tem cura!” NARRADOR 2 – Por falar em coisas sexualmente transmissíveis: a famosíssima princesa Sissi da Áustria tornou-se uma grande fã da Ilha da Madeira. Estava muito doente na altura em que veio para cá... acabou por ficar na Quinta das Angústias... que hoje em dia é conhecida por Quinta Vigia. O que as pessoas não sabem é que a Quinta Vigia foi, durante o séc. XIX quase todo, uma espécie de time-sharing da realeza... pelo menos a julgar pela quantidade de príncipes e reis que lá passavam temporadas. Tinha uma atmosfera fabulosa, um staff impecável e uma recepcionista venezuelana muito competente que tinha de coordenar as reservas com a realeza toda... (Toca o telefone) RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Quinta de Angústias Boa Tarde, fala Consuelo em que posso ser útil? 4 que peças do cenário? É que não há cenário. Mas sempre podemos por lá coisas para eles roubarem. Ou então os ingleses podem ser aqueles turistas com cara de estúpidos que vão andando e dizendo: “I say…”! Página 38 COM.TEMA SISSI – Boa Tarrde!... Diga-me uma coisa: Se estamos em 1830 porrque é que estamos a falarr ao telefone? RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Porque esta peça é más idiota que os discursos do Hugo Chavez. SISSI – Ah! Muito bem... Eu querria fazerr um reserrva parra Julho! RECEPCIONISTA VENEZUELANA- No puede! Julho estamos ocupados. Temos cá el Imperador Maximiliano do México! SISSI – Mas eu querria tanto irr ao Weekend Dance! RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Si... mas está todo ocupado até Setiembre... Janeiro a Março está cá a Imperatriz viúva do Brasil e a filha... Abril a Maio temos cá a Princesa de Dinamarca... Depois vem cá o Mário Soares em Junho, e a seguir o imperador Maximiliano que fica até fim de Agosto. SISSI – E não têm nenhum quarrto disponível?! RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Mais ou menos... há um que é para o Príncipe Carlos de Inglaterra... SISSI – Hã? Mas ele ainda não nasceu! RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Pois, mas as orelhas dele já começaram a ser construídas e estão guardadas aqui... SISSI – Oh! RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Vão levar años a acabar aquilo... SISSI – Pois! RECEPCIONISTA VENEZUELANA – E ocupán un quarto inteiro! Página 39 COM.TEMA SISSI – Então prronto... marque-me de Setembrro a Janeirro. Passo aí o ano. RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Muito bem! Pode darme su nombre por favor? SISSI – Sisi... RECEPCIONISTA VENEZUELANA – ...Si... pode dizer... SISSI – Sisi... RECEPCIONISTA VENEZUELANA- ...Si... diga, diga... SISSI – Sisi... RECEPCIONISTA VENEZUELANA – ...Si Si, No No! Está gozando conmigo? SISSI – É o meu nome! Sisi... RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Como? Dê-me o seu nome completo! SISSI – Elizabeth Maria von Hohenzöllern Brandauer Hiltzsperger Kuntz-Strunz RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Ah... Errr... pronto... fica em nome de Sisi. NARRADOR 3 – Entretanto perguntaram ao Imperador Maximiliano se ele queria ser Imperador do México. Ele achou que era uma ideia do caraças, embora nunca lá tivesse posto os pés. E foi desembarcar no México todo contente... tinham-se era esquecido de perguntar se os Mexicanos queriam um imperador. E acabou fuzilado. A Sissi ficava com a Quinta durante o último semestre... mas abarbatou-se logo aos meses do Maximiliano para apanhar o Weekend Dance. Página 40 COM.TEMA E é uma sorte que a Sissi tenha vindo para a Madeira porque esta peça estava desesperadamente a precisar de um episódio com uma gaja boa!... (Olha bem para a Sissi) NARRADOR 3 – Quer dizer... Linda como o Sol... não dá para olhar de frente! NARRADOR 1 – Ora a versão oficial, segundo a realeza da altura, sugere que a Sissi veio para o Funchal por motivos de saúde. E, nesse aspecto a Madeira foi fantástica porque ela vinha, ao que dizem, muito doente e no dia seguinte já era fotografada a tocar bandolim toda contente! (Projecção de imagens no ecrã ou mímica no palco, a elucidar a mudança súbita de estado de saúde de Sissi) NARRADOR 1 – Das duas uma, ou o clima da Madeira faz milagres, ou os 80 soldados que com ela vieram fizeram-na muito, MUUUITO FELIZ! (Começa a Música e Sissi põe-se a cantar ao som do Like a Virgin) SISSI – Andava deprimida... Já me queria matar, Mas baldei-me para um palácio no meio do Mar. (Entram os marinheiros) Tem jardins e tem flores E também... tem os meus amores A cuidar de mim! A cuidaaaar de mim E agora eu estou... Na Madeira... uuuh Com os meus marinheiros Na Madeeeeira... Com uns gajos... tão porreiros! OS MARINHEIROS – Andava deprimida Página 41 COM.TEMA Já se sentia mal SISSI – nunca era bem comida nem coiso e tal... Enchem-me de miminhos… E eu devoro-os como douradinhos.. Gramo do Funchal! Gramo buéééé do Funchal! E coiso e tal! OS MARINHEIROS – Na Madeira... uuuh Com os seus marinheiros SISSI – Na Madeeeeira... Com uns gajos... tão porreiros! NARRADOR 1 – E a Sissi era uma espécie de Angelina Jolie daquela época. Só que a Angelina tem uma vantagem em relação à Sissi... MARINHEIRO – “As mamas?...” NARRADOR 1 – Não! A pasta de dentes! É que parece que a Sissi, coitadinha, era muito bonita, mas tinha os dentes todos podres... NARRADOR 2 – Por isso é que maior parte dos quadros e fotografias em que aparece nunca a mostram a sorrir... Está sempre assim (Sissi faz expressão ou mostra-se no Video)... NARRADOR 2 – É claro que na Madeira, dado a vida que levava, já estava mais assim (Sissi faz expressão de sorriso forte mas, boca fechada). NARRADOR 2 – E os seus soldados andavam todos assim: (Sorriso muito aberto e muito contente) NARRADOR 2 – …pouco se importando com o facto de também terem os dentes todos lixados. Página 42 COM.TEMA NARRADOR 1 – Da segunda vez que visitou o Funchal, fugiu do barco para ir comer bananas à mão para a Felisberta. Ao que parece ela apreciava muito as bananas madeirenses! SISSI – É porque são mais saborosas... (riso cúmplice) NARRADOR 1 – (riso cúmplice) Não! É porque são mais grossas! NARRADOR 2 – Nesta altura, o Funchal já tem cerca de 29403 habitantes, 12345 concebidos pelos 80 leais soldados da Sissi... ou seja, já vive cá gente suficiente para começar a exportar. É certo que os madeirenses começaram a emigrar para outros sítios logo no séc. XV... foram povoar fortalezas em África, foram para a Índia, foram para todo o lado... Mas é na segunda metade do séc. XIX que criam os franchises mais conhecidos. Foram muitos para a Guiana Britânica e, para muitos outros sítios em função das necessidades dos países que os acolhiam: EMIGRANTE 1 – Nós vamos para o Havai porque eles precisam desesperadamente que alguém invente o ukulele. EMIGRANTE 2 – Nós vamos para a Venezuela porque eles precisam que alguém invente lá o Milho Frito. EMIGRANTE 3 – Nós vamos para a África do Sul para inventar o Joe Berardo... NARRADOR 2 – Entretanto o Brasil torna-se independente e começa a fazer castings para as primeiras novelas da Globo... NARRADOR 1 – Ao mesmo tempo começaram a criar-se futebolistas brasileiros com nomes esquisitos acabados em “inho”, “elson” ou “edson” mas não saíram do país porque ainda não havia campeonato nacional da primeira divisão em Portugal. Como não havia futebol, cinema ou televisão, e o teatro ainda estava a ser construído, os funchalenses não tinham assim muito com que se entreter. Nasciam assim formas de diversão muito estranhas. É o caso das esquadras de Navegação Terrestre. Página 43 COM.TEMA Era moda em várias quintas da cidade o dono da casa, os familiares mais próximos e todos os empregados agirem como se a casa se tratasse de um navio. De vez em quando dava-lhes uma panca e todos se vestiam há marinheiros, içavam velas no meio do quintal, hasteavam bandeiras em código e espreitavam com monóculos para os quintais dos vizinhos. Em alguns casos isto era apenas desculpa para ver as damas da cidade na hora do banho... mas na maioria das vezes, fazia-se tudo isto ao som de estranhas músicas como esta: (Começa a tocar o refrão do “In the Navy”. Surgem os Marinheiros a marchar com um ar um pouco suspeito) MARINHEIRO 1 – Olha... não achas isto meio abichanado? MARINHEIRO 2 – Depois do esgotamento que tive com a Sissi, até espero que seja! (Entra pela coxia um Marinheiro à Capitão) CAPITÃO – Meninos! Está na hora do almoço! MARINHEIROS – BOA! DOURADINHOS! NARRADOR 1 – Isto leva-nos a crer que as esquadras de navegação terrestre eram apenas um nome pomposo que se dava a uma festa GAY... e que provavelmente eram uma ideia dos Ingleses. Consta que esta mania chegou ao ponto de colocar as esquadras de Navegação Terrestre a receber o rei português D. Carlos I, quando ele veio ao Funchal. CAPITÃO – Em honra de sua Majestade, vamos fazer mais uma coreografia! (Começam a dançar ao som do Y.M.C.A. O Capitão agindo como se fosse uma coreógrafo boiola) CAPITÃO – Vamos lá! Ritmo! Ritmo!... Página 44 COM.TEMA NARRADOR 1 – Impressionado perante tal demonstração de perícia e sincronia, El Rei D. Carlos, em toda a sua magnífica sabedoria, terá comentado na altura: D. CARLOS I – Que merda é esta?! NARRADOR 2 – Mas isto só acontece no início do sec. XX. Portanto vamos lá resumir o séc. XIX... Em Portugal, essencialmente, acontece a expulsão dos franceses, a guerra constitucional, o cerco do Porto, o governo regenerador, o nascimento da Lili Caneças, o 90º aniversário da Betty Grafstein e do Zé Castelo-Branco, o ultimato inglês e a campanha do Mouzinho de Albuquerque em África. NARRADOR 1 – No resto do mundo, os Franceses ganham a Batalha de Austerlitz, os polacos reconquistam a Polónia... (Surge um polaco com uma Bandeirinha da Polónia a festejar) NARRADOR 1 – Os Franceses perdem em Waterloo, os polacos perdem a Polónia... (O polaco com ar chateado.) POLACO – Porra! NARRADOR 1 – Os Franceses perdem a Guerra Franco-Prussiana. Este foi um século particularmente bom para os ingleses porque os franceses se fartaram de levar na pinha. NARRADOR 2 – O Brasil fica Independente, a Argentina fica independente, a Bolívia fica independente... a América do Sul fica independente, os polacos voltam a ganhar a Polónia (Surge um polaco com uma Bandeirinha da Polónia a festejar) NARRADOR 2 – Há a guerra civil dos Estados Unidos, a unificação da Itália, a unificação da Alemanha, a unificação da princesa Sissi com uma multidão de garanhões latinos até que foi assassinada por um suíço a quem tinha dito SISSI – “Gosto muito de ti... mas como amigo!” Página 45 COM.TEMA NARRADOR 2 – ...a cabra... NARRADOR 1 – Ao que parece o gajo também não tinha sentido estético nenhum... pois decidiu acertar com um punhal mesmo em cheio da melhor parte do corpo da Sissi. (O atacante acerta em cheio nos seios de Sissi, que são balões... e que explodem) NARRADOR 3 – Enfim... falando de garanhões latinos... Dá-se em 1891 o curioso episódio do garanhão. Ao que parece, havia no Funchal falta de cavalos potentes e viris... E numa época em que não havia automóveis, os cavalos eram um importantíssimo meio de locomoção... NARRADOR 2- Foi assim que se tomou a medida de transportar para o Funchal um portentoso garanhão cujo propósito seria o de cobrir as muitas éguas da Ilha de forma a criar uma raça mais portentosa e possante. Ao que parece, os cavalos madeirenses estavam fartos de ver as mesmas éguas todos os dias e preferiam passar os dias a jogar às cartas e a beber Poncha na Serra d‟Água. NARRADOR 1 – No entanto, houve um problema com o cavalo que entretanto chegou. Ao que parece, era demasiado avantajado para as pobres éguas da Ilha... E nunca conseguiu cumprir o seu propósito. Isto muito desgostou as éguas... mas mais ainda o cavalo que, coitado, passava o dia a ver catálogos das feiras equestres da Golegã e posters da escola espanhola de equitação com éguas nuas para ver se se entretinha. Ainda procurou a princesa Sissi que, sabia ele, adorava montar. Mas nessa altura a pobre já tinha ido desta para melhor. NARRADOR 3 – O cavalo ficou desempregado e deprimido... a única solução que teve foi afeiçoar-se ao próprio tratador... um jovem bem-parecido. Um dia foram juntos para uma caverna e assim nasceu o logótipo do Banif... ********** Página 46 COM.TEMA O SÉCULO XX NARRADOR 1 – Em 1900 o Funchal já tinha qualquer coisa como 43375 habitantes. O número de cavalos é que estava a diminuir... o número de cabras mantinha-se mais ou menos na quota regular. NARRADOR 2 – O número de lapas continuava a reduzir drasticamente uma vez que eram cada vez mais os marinheiros que passavam pelo Porto. NARRADOR 3 – O número de ingleses começava a aumentar em determinadas alturas do ano, por causa do turismo e dos percursos dos vapores transatlânticos. Nessa altura já havia Hotel Reid‟s que acolheu os seus primeiros hóspedes nos finais do séc. XIX. Alguns ainda não saíram de lá... NARRADOR 1 – No início do século XX, Portugal está indeciso entre continuar monárquico ou virar republicano. Nessa altura, 80% do país não sabia escrever o próprio nome, quanto mais saber tomar decisões políticas. Ninguém sabia porque deveríamos passar a república mas houve um grupo de fanáticos que resolveu tornar as coisas mais simples. (O Rei D. CARLOS com um cartaz que diz “MONARQUIA” está lado a lado com um senhor de fato, barba e bigode com um cartaz que diz “REPÚBLICA”. Um camponês e um outro tipo de fato estão a olhar para eles) TIPO DE FATO - Então? Qual é que queres?! CAMPONÊS- Não sei! Estou indeciso... (Tipo de Fato dá dois tiros no Rei) TIPO DE FATO- E agora? Que tal? CAMPONÊS – Ah! Agora já sei!5 5 vídeo de época…. Página 47 COM.TEMA NARRADOR 1 – E assim se implantou a república. Rapidamente o novo governo da 1ª República tratou de seguir a mais genuína tradição da classe governante em Portugal, ou seja: fartou-se de fazer merda. Houve mais governos nos primeiros 3 anos da primeira República do que treinadores do Benfica nas últimas 10 Temporadas. Ninguém estava tempo suficiente no poder para fazer o que quer que fosse. (Sucedem-se vários Presidentes num palanque) PRESIDENTE 1 – Portugueses! Eu prometo que o nosso país vai... (sinal sonoro) PRESIDENTE 2 – Portugueses!... Eu prometo que... (sinal sonoro) PRESIDENTE 3 – Portugueses!... Eu prometo... (sinal sonoro) PRESIDENTE 4 – Portugueses!... Eu... (sinal sonoro) PRESIDENTE 5 – Portugues... (sinal sonoro)6 NARRADOR 2 – A certa altura, apareceu um general chamado Sidónio que ainda conseguiu endireitar um pouco as coisas. No entanto, teve de desistir da sua política de salvação nacional quando levou com um balázio na testa. Também estava-se mesmo a ver. Um tipo chamado Sidónio não vai a lado nenhum! NARRADOR 1 – Assim, no meio de muita asneirada, Portugal acaba por se ver envolvido na 1ª Guerra Mundial. Os Ingleses tentaram dizer-nos para não nos metermos nisso... INGLÊS – Mas porque queres ir para a guerra?! RAPAZ – Para andar à porrada! INGLÊS – Mas nem tens dinheiro para comprar armas! 6 Vídeo de época… Página 48 COM.TEMA RAPAZ – ...Mas ando à porrada! INGLÊS – Mas eu vou ter de gastar dinheiro a equipar-te e a transportar-te!... RAPAZ – Sim! Sim! Mas eu vou andar à porrada! INGLÊS- Como é que te chamas, rapaz? RAPAZ – Petit! NARRADOR 1 – É claro que os Ingleses se viram no direito de nos usarem como carne para canhão. E como os madeirenses tinham a experiência de aturar os ingleses há muito tempo, o Exército Português achou que devia haver na Ilha uma quantidade de soldados habituados ao sofrimento e ao sacrifício. E assim se recrutou um contingente que simbolizou a participação madeirense na 1ª guerra Mundial. NARRADOR 2 – Em 1916, no meio da 1ª Grande Guerra, uma pequena esquadra de navios alemães decide bombardear o Funchal. No entanto, ao que parece, fizeram isto depois de uma noitada nas Vespas e estavam com um bebedeirão tal que só acertaram num descampado que havia ali nos Barreiros. Aproveitou-se a cratera que ficou para fazer um estádio. NARRADOR 3 – Entretanto as autoridades madeirenses apresaram os 4 navios alemães que estavam na baía, levaram parte dos alemães de castigo para as esquadras de navegação terrestre dos ingleses, usaram outra parte para experiências médicas com poncha, e uma terceira parte ficou para guia turístico porque já se sabia que mais tarde iam dar um jeitão para levar excursões de turistas alemães à Nossa Senhora do Monte para ver o Imperador Austríaco. NARRADOR 2 – Os navios alemães ficaram sem as suas peças de artilharia e foram transformados em cargueiros de banana. Mudaram-lhes os nomes de Fritz, Hans, Beckenbauer e Volkswagen para Ávalos, Briguel, Marcos e Marcinho. Página 49 COM.TEMA NARRADOR 1 – Entretanto a Alemanha ataca a França, a Bélgica, a Itália, a Polónia, Os polacos perdem a Polónia... (O polaco com ar muito chateado.) POLACO – Porra! Outra vez? NARRADOR 1 – A Alemanha começa a levar na pinha, a 1ª guerra Mundial acaba, a Alemanha e a Áustria/Hungria perdem os seus impérios, a Bélgica ganha o Congo, os Polacos recuperam a Polónia, a França mantém o norte de África e ganha a Alsácia e a Lorena, a Itália ganha respeito, os Checos ganham um país, os Turcos ganham juízo, a Inglaterra ganha milhares de libras, os Estados Unidos ganham o papel de 1ª potência mundial e Portugal ganha duas galinhas. Valeu a pena! Aliás... muitas penas! NARRADOR 2 – Mas nem só de tristezas é feita a primeira metade do séc. XX português! Houve heroísmo nas trincheiras... não valeu de nada, mas houve... Houve a manutenção de quase todo o Império, houve a fundação do Sporting, do Benfica, do Porto, e também do Marítimo, do Nacional e do União da Madeira, e houve a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. NARRADOR 3 – Só que a Travessia aérea do Atlântico Sul não foi assim uma coisa tão simples como parece! Naquele tempo não havia sequer uma revista para o pessoal se entreter, e nem havia comida a bordo... Rapava-se um frio do caraças e os motores avariavam por tudo e por nada. Assim, antes de Gago Coutinho e Sacadura Cabral se aventurarem até ao Rio de Janeiro, decidiram experimentar uma viagem mais curtinha e voar até ao Funchal. O que as pessoas não sabem é que os dois aviadores fizeram a viagem com 4 tripulantes. A viagem de teste Lisboa-Funchal foi realizada com Gago Coutinho, Sacadura Cabral e os gémeos Domingos e Dionísio Lastro. (Sketch dos 4 pilotos no alçapão do Teatro) Página 50 COM.TEMA GAGO – Velocidade!... SACADURA – Indicador Avariado... GAGO – Combustível... SACADURA – Indicador Avariado GAGO – Altitude... SACADURA – Indicador Avariado GAGO – Onde é que compraram esta merda? SACADURA – Nos chineses! GAGO – Posição? SACADURA – Sentado... GAGO – A Rota? SACADURA – Burp! GAGO – Afinal para onde é que vamos? SACADURA – Para o Funchal... GAGO – Ah boa! Vamos ter o autocarro à nossa espera. SACADURA – Têm alguma coisa que se coma? (entram as hospedeiras pela coxia fora a oferecer chá e café) GAGO – (Voz de piloto)... Senhores passageiros fala-vos o comandante... (quando está a fazer as instruções em inglês batem-lhe na cabeça) SACADURA – Ouve lá! Para com essa merda só cá estamos nós os quatro? Página 51 COM.TEMA GAGO – QUATRO?! Isso é gente a mais... Não admira que isto esteja tudo avariado... Quem são estes gajos. SACADURA – Foi o Ministério que os mandou. São Lastro! GAGO – Lastro? Porque é que o Ministério nos obrigou a trazer Lastro?! SACADURA – É o nome deles! Domingos e Dionísio Lastro! São gémeos... GAGO – E o que é que eles vieram fazer? SACADURA – Ver! GAGO – ...Oh pá desculpa lá mas um deles tem de ir à vida. (puxa uma alavanca e um deles cai pelo alçapão abaixo). GAGO – Porra... os motores ainda não têm força suficiente... estamos a gastar combustível a mais... Acendeu uma luzinha!... Sacadura! Que raio quer dizer aquela luzinha? Vê no manual! SACADURA – Ah! É o avisador T.F. GAGO – T.F.? SACADURA – Sim: „Tamos Fudidos! GAGO – Ó porra... vamos ter de largar mais peso... Lá vai lastro! (Puxa uma alavanca e um deles cai pelo alçapão abaixo. Acerta em cheio no Teatro Baltazar Dias). NARRADOR 3 – Este voo ao Funchal serviu de preparação para a travessia do Atlântico-Sul e apesar de o voo só ter durado sessenta e duas horas e vinte e seis minutos, tendo percorrido um total de 8.383 quilómetros, a viagem consumiu, na verdade 79 dias, 3 aviões, quatro cargueiros e navios, várias peças, uma óptica dianteira, quatro jantes de liga leve e dois amortecedores. Perderam-se também 4 auto-rádios e alguns barris de combustível. Página 52 COM.TEMA Já para não falar nos pobres gémeos Lastro. NARRADOR 1 – Em 1926 o país estava de tal maneira desorganizado e falido que foi feito um novo Golpe de Estado. O Marechal Carmona toma o poder e chama para ministro das finanças um tipo muito sério e austero de barba rija que tinha aprendido política de finanças com uma governanta ainda mais séria e com a barba ainda mais rija. NARRADOR 2 – Salazar assume a pasta das Finanças em 1928 e equilibra logo as contas. Bastou para isso acabar com uma irritante mania que os ministros tinham em construir estádios de futebol. Curiosamente, hoje em dia, esse hábito está de novo muito na moda. NARRADOR 3 – Em 1930, Carmona e Salazar depois de assistirem a um jogo de futebol no Funchal, acham piada à ideia de fazer um partido com o nome das equipas que se tinham defrontado. Nasce assim o União-Nacional. Aliás: a União Nacional... E logo se decide que, para facilitar a escolha aos portugueses, este seria o único partido a concorrer às eleições nesse ano... e em todos os outros. No Funchal, no entanto, não se achou muita piada a essa ideia. NARRADOR 1 – Menos piada ainda se achou ao facto do partido se apropriar indevidamente dos nomes de duas marcas da Ilha sem pagar direitos de autor. Já viviam na cidade 68030 pessoas... e como isto era muita gente a não achar piada nenhuma ao regime, deu-se a 4 de Abril de 1931, a última grande revolta contra o regime salazarista. Com a paixão pela autonomia já muito divulgada e sentida, os Funchalenses encabeçam um movimento que proclama a independência da Madeira! Que dura 30 gloriosos... dias. NARRADOR 2 – O regime envia para o arquipélago uma enorme frota naval que transporta milhares de soldados cubanos comandados pelo vil e peçonhento Che Guevara... que mais tarde surge em Cuba 30 anos mais novo. E com um face lifting que lhe foi recomendado por Lili Caneças... Página 53 COM.TEMA Juntamente com este exército vem um jovem, de seu nome Fidel, que vem experimentar técnicas de guerrilha, charutos, e frequenta workshops de confecção de poncha em Câmara de Lobos. NARRADOR 3 – Desde aqui até 1974 a Madeira entra mais ou menos no mesmo congelador que o resto de Portugal. Excepção feita à Guerra Colonial que teve tanto de sangrento como de desnecessário, a vida em Portugal faz-se em tons de cinza claro. Os acontecimentos mais excitantes do país são os Festivais da Canção, o Mundial de 66 e as taças europeias do Benfica e do Sporting. Entretanto, no mesmo período no resto do mundo, passou-se muita coisa... pelo que vamos resumir a história dos últimos 80 anos com o auxílio da fantástica técnica da Rapidinha Fast Forward Viagra Super Ultra Power. (Puxa de um comando de Video e carrega no “Fast Forward”. Toda a gente começa a movimentar-se a uma velocidade mais rápida. Os vários narradores vão passando o testemunho de uns para os outros enquanto a acção decorre lá atrás. Daqui até ao Fim, toda esta sequência final é realizada a um ritmo desenfreado). NARRADOR 1 – Mussolini sobe ao poder, Hitler sobe ao poder, a Alemanha invade a Polónia, a Polónia deixa de existir outra vez, POLACO – Eh pá! Assim não brinco! PORRA! NARRADOR 2 – a França e a Inglaterra entram à pressa na Guerra, a França mete o rabinho entre as pernas, a Inglaterra fica lixada e os burros dos Japoneses atacam os Estados Unidos. NARRADOR 3 – Hitler não consegue conquistar a Inglaterra porque o Churchill era bêbado mas não era estúpido. Estúpido era o Hitler que tenta conquistar a Rússia... HITLER – Aí vou eu, seus cabrões! E agora com uma nova estratégia... ó não, porra, é a mesma estratégia! É a mesma estratégia! NARRADOR 1 – O Hitler lixa-se, a Rússia e os Estados Unidos rebentam com a fronha aos japoneses e aos nazis... A Polónia volta a existir... Página 54 COM.TEMA POLACO – Ena!!!!.... NARRADOR 2 – a Segunda Guerra Mundial acaba... Os Russos não saem dos países que tinham libertado aos nazis. A Polónia lixase outra vez... POLACO – Na! Na! Não vale!... A malta não perdeu o país quando os russos vieram para cá! NARRADOR 2 – ...Pois não, mas a vossa capital passou a ser Moscovo! POLACO (furioso)- PORRA!... NARRADOR 3 – Os ingleses e os americanos descobrem que deviam ter continuado a lutar até Moscovo... NARRADOR 1 – ...mas tarde demais. Começa a Guerra Fria. Começa a Guerra na Coreia. Começa a corrida ao armamento nuclear. Começa a corrida ao espaço… Quase que começa a 3ª guerra mundial em Cuba onde o Fidel acaba de inventar o Mujito, um sucedâneo da poncha. O Homem chega à Lua. NARRADOR 2 – Entretanto, em 1968, Salazar é vítima de uma partida estúpida... (Salazar, meio decrépido está a preparar-se para se sentar... e um tipo, por trás dele, saca a cadeira) NARRADOR 2 – e tem um bate-cu que lhe afecta o cérebro. É substituído por Marcelo Caetano... que tenta manter o país com paninhos quentes até que chega o 25 de Abril de 1974. NARRADOR 3 – Portugal livra-se da ditadura e entra imediatamente no seu outro regime político preferido: a Balbúrdia. Mas entretanto a notícia do 25 de Abril só chega à Madeira a 26... ou melhor... 27 NARRADOR 1 – 28... NARRADOR 2 – 30... Página 55 COM.TEMA NARRADOR 3 – 1... NARRADOR 1 – BINGO! NARRADOR 2 – Marcelo Caetano e Américo Thomaz chegam à Madeira a 27 de Abril porque Marcelo levou um dia inteiro a explicar a Thomaz o que era um Golpe de Estado. NARRADOR 3 – A 1 de Maio de 1974, comemora-se o 25 de Abril na Madeira com uma grande manifestação. NARRADOR 1 – Depois realizam-se eleições... o Cristiano Ronaldo nasce em 1985, é trocado por um frigorífico em 1993... e o resto é o que se sabe... ... e o que ainda está para vir! (Surge no ecrã uma projecção com a palavra FIM... A música aumenta e torna-se mais forte... O pessoal começa a convencer-se que a peça acabou mesmo quando entra o Brazuca idiota uma última vez) BRAZUCA IDIOTA- Aí... Não é FIM! É FINALZINHO!... Não é Bilhete... é Ingresso... Não é Burro... é Bobinho... Não é Dentuço... É Ronaldinho... Não é Frigorífico... é Freezer... Não é Anúncio... é Comercial... Não é Papa de Aveia... é Mingau... Não é Rio de Janeiro... É Funchal... (Tiro) ********** Página 56 COM.TEMA O último quadro: um filme maluco... Eh tu! Quando saíres daqui... salta! Salta! Salta!... Voa! Voa! (o homem a ir para a TAP) Não é assim estúpido! Voa! (Com folhas de bananeira!) A primeira das novas paragens do novo mundo!... Página 57 COM.TEMA OUTROS INGREDIENTES (IDEIAS AVULSAS): Fait-Divers (a COMICHÃO PARA A COMEMORAÇÃO DOS 500 ANOS DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DO FUNCHAL orgulha-se de apresentar): A invenção madeirense do combustível e as primeiras viaturas a álcool: as redes, a crena e o Carrinho de Cestos. Os seus condutores funcionavam a vinho e aguardente. Remédio para desmaios – Bota de um indivíduo que cuide pouco da limpeza dos pés. E o Carnaval?! Que falamos sobre o Carnaval? “Eles Virem aí!!!” (Minifilme sobre a invasão cubana da Madeira... ou capa de Jornal). Sissi adoptou o nome de uma prima da Beira-Baixa que era a Chichi. Canções: Xaramba Cantiga dos Marinheiros Canto dos Piratas em FRRANÇAIS (Medley Vie en Rose, Frere Jaques, Alouete, Tous les Garçons et les filles...) Trio dos Pescadores Rudes e Embrutecidos pelo Álcool. – Canto Gregoriano (James Brown Sex Machine e I Feel Good) Like a Virgin by Sissi! Relatos de Futebol: Benny Hill (Saltos na História) Página 58