sustentável correios
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abril/maio edição 28 2010 R$ 10 BRASIL SUS T E N TÁV E L Impresso Especial 9912224192 3/8 - DR/RJ CEBDS CORREIOS u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o pa R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l Em busca do biobutanol combustívEis ultraEficiEntEs, com baixa Emissão dE carbono, multiplicam nEgócios no campo o nobEl das comunidadEs: Elinor ostrom princípios do varEjo sustEntávEl 9 bilhõEs Em um planEta finito Av. das Américas, 1.155 - grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Tel.: 55 21 2483.2250, e-mail: [email protected], site: www.cebds.org v inc u l a d o a o WOR LD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTA INA BLE DE V ELOPMEN T (W BC SD) PRESIDENTE EXECUTIVA CHAIR MAN PRESIDENTE DE HONR A Marina Grossi Marcos Bicudo Erling Sven Lorentzen C ONse L HO De a Dm i N ist r aç ãO Carlos eduardo Garrocho de almeida Holcim Franklin Feder Alcoa Gilbert Landsberg Shell Brasil sidnei Basile Abril João Batista Ferreira Dornellas Nestlé marco simões Coca-Cola antonio Carlos manssour Lacerda Basf Hélio ribeiro Duarte HSBC Di r e t Or i a Vânia somavilla Vale altair assumpção Grupo Santander Brasil Jorge soto Braskem Wilson santarosa Petrobras C â m a r a s t e m át iC a s ÁGUA P RESIDENTE: Yazmin trejos Amanco VICE-PRESIDENTE: maria Cláudia Grillo Petrobras VICE-PRESIDENTE: Fábio José Pereira Leme Itaú Unibanco FINANÇAS S USTENTÁVEIS P RESIDENTE: Wagner siqueira Banco do Brasil VICE- PRESIDENTE: Josemar Picanço Coca-Cola C OMUNICAÇÃO E E DUCAÇÃO PAR A A S USTENTABILIDADE P RESIDENTE: eraldo Carneiro Petrobras E NERGIA E M UDANÇA DO C LIMA P RESIDENTE: Luís César stano Petrobras L EGISLAÇÃO A MBIENTAL P RESIDENTE: erico sommer Gerdau C ONSTRUÇÕES S USTENTÁVEIS P RESIDENTE: Carlos eduardo Garrocho de almeida Holcim VICE-PRESIDENTE: David Canassa Votorantim Participações G ESTÃO S USTENTÁVEL P RESIDENTE: ana Lúcia suzuki Basf B IODIVERSIDADE E B IOTECNOLOGIA P RESIDENTE: Gloverson moro Syngenta Seeds VICE-PRESIDENTE: Luiz Fernando Nery Petrobras eQU i Pe Ce BD s Beatriz Bulhões Fernanda resende Flávia ribeiro Leandro Batista maria Lúcia assunção Pablo Vázquez Patrícia Vianna Phelipe Coutinho silvana Nocito sueli mendes Verônica Oliveira a s sO Ci a D O s Ce BD s • 3m do Brasil Ltda. • abralatas • alcoa alumínio s.a. • amanco Brasil s.a. • amBev – Companhia de Bebidas das américas • arcelormittal Brasil • Bahia mineração • Banco do Brasil • Basf s.a. • Bayer s.a. • Bradesco s.a. • BP Brasil Ltda. • Braskem s.a. • Caixa econômica Federal • Chemtech • Cia. Brasileira de Petróleo ipiranga • Cia. energética de minas Gerais – Cemig • Coca-Cola • Copel • DNV • eBX • ecopart • eletronuclear – eletrobras termonuclear s.a. • energias do Brasil • Furnas – Centrais elétricas s.a. • Goodyear do Brasil • Gerdau açominas s.a. • Grupo abril • Grupo santander • HsBC • Holcim Brasil s.a. • itaú Unibanco • Lorentzen empreendimentos s.a. • michelin • monsanto do Brasil Ltda. • Natura Cosméticos • Nestlé Brasil Ltda. • Organização Odebrecht • Organizações Globo • Petrobras – Petróleo Brasileiro s.a. • Philips • shell Brasil Ltda. • souza Cruz s. a. • solvay do Brasil Ltda. • suzano Papel e Celulose • syngenta seeds Ltda. • tim • Usiminas – Usinas siderúrgicas de mG s.a. • Vale • Votorantim Participações s.a. • Walmart Brasil nesta edição bRasil sustentável 28 abR/mai 2010 foto dE capa: divulgação unica imagEm campanhas publicitárias ambientais de impacto notas a bola-gerador, a camisa verde canarinho e o voto climático vida nova o ciclista militante e a caminhonete suv panorama a educação como antídoto, o direito e a agrobiodiversidade rEportagEm cidades congestionadas: 9 bilhões no planeta em 2050 agEnda prepare-se para os eventos de maio e Junho rEportagEm dE capa novos biocombustíveis multiplicam negócios no campo 6 8 12 14 16 18 20 26 30 34 36 40 42 EntrEvista elinor ostrom, prêmio nobel de economia de 2009 rEportagEm estão surgindo os princípios do vareJo responsável lidEranÇa marco aurélio raimundo, o presidente hippie da mormaii ano da biodivErsidadE os proJetos redd e o valor das Florestas fErramEnta índice Farmasustentável, o primeiro do setor Farmacêutico controvérsia sacolas de plástico oXibiodegradável reduZem impactos? BRASIL S U S T E N T ÁV E L R EPORT COMUNICAÇÃO Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3.530 – 5.o andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP – CEP 01 402-001 telefone: 55 11 3051.8400 e-mail: report@reportcomunicacao. com.br direção Álvaro Almeida (MTB: 45384) Estevam Pereira (MTB: 21302) conselho editorial Ana Lúcia Suzuki (Basf) Carlos Eduardo Garrocho de Almeida (Holcim) Cristiane Oliveira (Souza Cruz) Eraldo Carneiro (Petrobras) Erico Sommer (Gerdau) Luís César Stano (Petrobras) Luiz Fernando Nery (Petrobras) Yazmin Trejos (Amanco) ExPEDIENTE Wagner Siqueira (Banco do Brasil) coordenação CEBDS Beatriz Bulhões Marina Grossi Flávia Ribeiro Fernanda Resende e Sueli Mendes (assistentes de coordenação) Edição Ricardo Arnt (redator-chefe) Alessandra Pereira , Álvaro Penachioni, Beto Gomes, Daniela Vianna, Fernando Badô, Gustavo Magaldi, Raquel Sabrina e Rita Nardy (editores) Conrado Loiola, Michele Silva, Paula Andregheto, Paulo César Pereira e Silvia Wargaftig (repórteres) fotografia Ricardo Corrêa direção de arte MENTES DESIGN Marcel Votre Marcio Penna impressão Ediouro tiragem 5 mil exemplares revisão Assertiva Produções Editoriais administrativo Cristina Almeida (gerente) Carlos Nascimento Cicero Gomes publicidade SÓLIDA CONCEITUAL Telefone: 55 21 3154.9450, e-mail: [email protected] Marcia Alvaredo (diretora) Melissa Canero e Michel Santos (executivos de atendimento) Jefferson Eduardo (marketing) Denise Barreto (gerente inanceira) A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é uma publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Os artigos não reletem necessariamente a opinião do CEBDS, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados. assinaturas e números avulsos • Telefone: 55 2 1 2483.2250 • e-mail: [email protected] • www.cebds.org diReto do conselho RadaR de sustentabilidade a economista Marina Grossi foi eleita nova presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pela sua Assembleia Geral Ordinária, em abril. Ex-negociadora brasileira no Protocolo de Quioto e ex-coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Marina atua no CEBDS desde 2005. Começou como assessora da Presidência e passou à diretoria da organização, coordenando várias câmaras temáticas. À Brasil Sustentável, a presidente falou sobre as novas perspectivas da organização. o que representa para o cEbds a alternância na presidência? Estar no CEBDS me dá a oportunidade de trabalhar com o que acredito: a importância da sustentabilidade para o futuro. Essa preocupação ainda ocupa um nicho dentro das organizações, por isso vale a pena trabalhar com a vanguarda de cada companhia. Queremos apontar caminhos para a sobrevivência das empresas, mostrando o quanto é importante para o setor privado o zelo com essa questão. Vemos a sustentabilidade como um fator competitivo. É fundamental ajudar as companhias a perceber o olhar da sociedade sobre elas. As organizações têm recursos necessários para mudança, têm disciplina e têm tecnologia. Tentaremos alavancá-las para que possam gerar efeito também na cadeia de fornecedores e nos clientes. Quais os maiores desafios do cEbds? Tornar o desenvolvimento sustentável uma prática. Precisamos ter mais participação nas políticas públicas, prover ferramentas e estimular discussões. Buscamos uma sinergia entre as boas iniciativas das empresas e as trilhas sustentáveis. Esta é uma fase positiva para o CEBDS, com participação intensa dos associados e bom funcionamento das câmaras temáticas. Queremos aumentar nossa função estratégica e continuar a ser um radar de sustentabilidade para as nossas empresas, descentralizando a discussão da sustentabilidade e alcançando todas as regiões do país. como mobilizar as empresas e avançar com a cultura sustentável? O formato do CEBDS ajuda. O nosso chairman é atualmente Marcos Bicudo, presidente da Philips do Brasil, e temos quatro diretores que são líderes do setor privado: Altair Assumpção (Grupo Santander Brasil), Jorge Soto (Braskem), Vânia Somavilla (Vale) e Wilson Santarosa (Petrobras). Além disso, temos o Conselho de Administração, composto pelas empresas: Abril, Alcoa, Basf, Coca-Cola, Holcim, HSBC, Nestlé e Shell. Juntos, avaliamos os principais temas de sustentabilidade. Queremos mais participação das companhias e envolvimento com a cadeia de fornecedores. Estamos num processo de reestruturação para conquistar mais transparência e visibilidade diante do governo e da sociedade. o que espera dos próximos dez anos? Buscamos um paradigma que incorpore a sustentabilidade nos negócios. Provavelmente, haverá uma ruptura com os velhos paradigmas. Nesse processo, haverá ganhadores e perdedores. Não sei se o CEBDS terá os mesmos associados em dez anos. As companhias terão de se aperfeiçoar e zelar pelo desenvolvimento sustentável. Esse caminho não existe sem trauma, sem competitividade e perda de mercado. O CEBDS apontará os rumos com projeções, discussões epercepção dos cenários. Queremos nos aperfeiçoar para aumentar ainda mais nossa credibilidade. A meta para os próximos dez anos é conscientizar o governo de que o setor privado precisa participar das decisões das políticas públicas, pois só com o envolvimento de um número maior de pessoas será possível alcançarmos esse novo paradigma que inclui o desenvolvimento sustentável. imagem ilumine só o necessário. campanha da eskom, áfrica do sul podEr da imagEm comentário da diesel italiana sobre as ameaças climáticas pressão sobre os eua nas negociações climáticas. greenpeace campanhas publicitárias dE impacto mobiliZam mais do QuE tonEladas dE palavras, EspEcialmEntE Em causas ambiEntais. a moda faz mais vítimas do que você pensa. WWF notas « e d i ç ão b e t o g o m e s » t e c n o l o g i a • m u d a n ç a s c l i m át i c a s • F u t e b o l • e d u c a ç ã o 8 [ bs ] abr/mai 2010 divulgação depois do jogo, essa bola é capaz de acender uma lâmpada futwatts Você sabia que a bola de futebol que rola nos campos profissionais e na pelada com os amigos pode ajudar a produzir energia? Um grupo de engenheiras da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, está desenvolvendo um protótipo de bola que absorve a potência do chute e a armazena em uma bateria recarregável, l0calizada em seu interior. O dispositivo funciona por meio de um sistema semelhante ao das bobinas indutivas usadas em lanternas que se acendem com um chacoalhar. Testado em países como África do Sul e Quênia, o projeto sOccket ball garante que a prática do esporte, por 15 minutos, com esse modelo de pelota pode produzir energia para acender uma lâmpada de LED durante três horas. grant turner divulgação canarinho verde A seleção brasileira de futebol desembarca na África do Sul com uma nova camisa canarinho. Os modelos que serão usados pelos jogadores foram confeccionados com poliéster reciclado, gerado a partir de garrafas PET. O novo uniforme é 13% mais leve que a versão anterior e economiza 30% de energia, se comparado ao fabricado com poliéster comum. Cada camisa retira oito frascos de plástico do meio ambiente, o que, no total, representará uma economia de 13 milhões de garrafas plásticas – quantidade suficiente para cobrir mais de 29 campos de futebol. Outras seleções que irão à África do Sul também usarão o uniforme feito com garrafas PET, como Holanda, Portugal, Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Sérvia e Eslovênia. centro de sydney antes e depois do evento mundo às escuras o mundo ficou mais escuro em 27 de março de 2010. mais de 1 bilhão de pessoas apagaram as luzes de suas casas e escritórios durante uma hora, em ato simbólico para lembrar a importância e as consequências das mudanças climáticas. o evento a hora do planeta, criado pelo WWF em 2007, envolveu governos, empresas e a população, proporcionando cenas curiosas nos principais cartões-postais do mundo. símbolos como a torre eiffel, o big ben, o coliseu e as pirâmides 88 do egito ficaram totalmente às escuras. no brasil, 98 cidades participaram do ato. Ficaram sem luz o cristo redentor, no rio de Janeiro, e a ponte estaiada, em são paulo. a maior participação popular foi a dos australianos de sydney. “a mensagem é simples. as mudanças climáticas são uma preocupação crescente. as soluções estão ao nosso alcance e prontas para serem implementadas por indivíduos, comunidades, empresas e governos”, declarou o secretáriogeral da onu, ban Ki-moon. o brasil é o 88º. país no índice de desenvolvimento da educação da organização das nações unidas para educação, ciência e cultura (unesco). na pesquisa realizada em 128 nações, o país conquistou grau 0,883, atrás de panamá, peru, paraguai, bolívia, equador e honduras (a nota varia de zero, a mais alta, a um). o brasil tem bons números de atendimento universal escolar, analfabetismo e igualdade de acesso à escola entre sexos. mas, no número de alunos que entram na 1º. série do ensino fundamental e concluem a 5ª. série, o grau baixa para 0,756. “melhorar a qualidade é mais caro do que colocar a criança na escola”, diz o presidente do movimento todos pela educação, mozart ramos. notas Falsa inês arigoni retranca depois do parque eólico de osório, os gaúchos vão extrair mais energia do vento vento em popa A matriz energética que mais cresce no Brasil é a eólica: só no Ceará, a produção aumentou cerca de 430% entre 2008 e 2009. O primeiro leilão exclusivo de energia eólica do país, em dezembro, contratou 1.805,7 megawatts de energia e habilitou 71 empreendimentos, a serem distribuídos em cinco estados. Ceará e Rio Grande do Sul receberão a maior parte dos projetos. Com isso, a capacidade de geração eólica brasileira será triplicada até 2012. “O Brasil é o líder na América Latina e será um centro desenvolvedor da tecnologia”, diz Santiago Miles, diretor de comunicação do Grupo Impsa. Com três parques eólicos no Ceará e dez em Santa Catarina, a empresa tem planos de investir R$ 200 milhões na ampliação da fábrica no Porto de Suape, em Pernambuco, onde produz aerogeradores e componentes. Outros fabricantes também estão se instalando no país. A Siemens pretende investir R$ 200 milhões no Brasil em 2010, parte na construção de uma fábrica de turbinas. A Alstom assinou um protocolo com o governo da Bahia para construir uma fábrica de aerogeradores no complexo industrial de Camaçari, com investimentos de R$ 50 milhões. A General Electric norte-americana começou a fabricar turbinas eólicas em Campinas, investindo R$ 145 milhões em linhas de montagem. Em 2004, o país tinha apenas 22 megawatts de energia eólica instalados; hoje, são 600 MW; até 2010, deverão ser 1.500 MW. 10 [ bs ] abr/mai 2010 a voz do povo nas urnas se depender dos eleitores brasileiros, o posicionamento dos candidatos às eleições de 2010 em relação às mudanças climáticas deve, sim, pesar na escolha do voto. segundo a pesquisa barômetro ambiental 2009, realizada pela market analysis e divulgada em fevereiro, 66% do eleitorado deve considerar o assunto na hora de definir um candidato. os eleitores mais jovens (de 18 a 24 anos) são os que mais valorizam o tema: 73% garantem que as políticas em relação às mudanças climáticas serão a principal exigência eleitoral. outra constatação diz respeito aos diversos graus de sensibilização entre as classes sociais: 41% dos que concordaram totalmente ou em parte com a importância do fator ambiental recebem até dois salários mínimos. essa parcela cai para 8% na faixa salarial entre quatro e cinco mínimos, 13% na faixa entre cinco e dez mínimos e 8,26% na faixa entre dez e 25 mínimos. a pesquisa foi realizada em julho de 2009, com 835 adultos de nove capitais brasileiras. en er g ia • el ei çõ e s F eli ci da d e • m o b i liZ ação pinguE-ponguE aron belinKY perseverança felicidade interna bruta O índice Felicidade Interna Bruta (FIB), desenvolvido no zen e longínquo Butão, começa a chegar às empresas brasileiras. A Natura já iniciou um projeto piloto com uma versão empresarial do indicador, elaborada pelo Instituto Visão Futuro. Cerca de 50 pessoas participaram do processo e responderam a um questionário sobre os nove temas centrais do FIB, como saúde e bem-estar psicológico. “O índice tem a ver com a essência da Natura, que é a ideia do ‘bem estar bem’”, diz a ouvidora da empresa, Estelita Thiele. No caso, “bem-estar” significa a relação do indivíduo consigo mesmo, e “estar bem”, a relação com o outro e a sociedade. Outra companhia que pretende incorporar o conceito do FIB é a Icatu Hartford. A empresa está elaborando um questionário próprio para avaliar a satisfação de seus funcionários. os compromissos que o brasil assumiu na cop-15 superaram as expectativas, porém, na prática, ainda deixam a desejar. é o que pensa aron belinky, coordenador executivo do projeto tictactictac, o braço brasileiro da campanha global de ações para proteção do clima, que tem como objetivo pressionar as autoridades governamentais com mais intensidade para obter avanços nas questões climáticas. belinky acredita que o brasil poderia ter sido mais assertivo nas propostas de mudanças, e não esconde sua decepção com o evento que reuniu as principais lideranças mundiais em copenhague. Qual a sua avaliação sobre a cop-15? de modo geral, uma decepção. o que ficou claro é que a questão do clima vai exigir um grau de compromisso dos governos não apenas em conferências ou em relações internacionais, mas também internamente, em cada país. o desafio é tornar mais efetivos os mecanismos de decisão da conferência do clima. E a participação do brasil? Foi melhor que as expectativas iniciais, mas as ações ainda deixam a desejar. não há nada de concreto, e é preciso transformar compromissos em medidas concretas aqui no país. o governo tem um débito a ser saudado. no ano passado, a campanha tinha um foco muito específico, que era a convenção do clima. Ela terá continuidade? sim, mas deve mudar o formato. a ideia é continuar em outras frentes, por prazo indeterminado, com mais foco nas políticas públicas, no comportamento e no cotidiano das pessoas. a aprovação da legislação brasileira sobre mudanças do clima, por exemplo, precisa ser regulamentada e exige posicionamento em diversos detalhes. como o senhor avalia a participação na campanha? muitos têm vontade de participar, mas, ao mesmo tempo, há certo ceticismo. vejo um desânimo que detém a ação de colocar a mão na massa e ir à luta. o desafio é conseguir a motivação e mostrar que, mesmo não sendo fácil, resultados acontecem. vida nova capa eneRgia « e d i ç ão g u s tavo m ag a l d i » Ricardo corrêa i n i c i at i va s p e s s o a i s t r a n s F o r m a d o r a s delijaicov enfrenta o trânsito de são paulo, de bicicleta, até de noite. ciclismo militantE não é preciso ser urbanista, como o proFessor aleXandre deliJaicov, para adQuirir uma nova percepção da cidade pedalando. andar de bicicleta signiFica mudar de cultura 12 [ bs ] abr/mai 2010 RepoRtagem silvia WaRgaFtig todo peRcuRso deve ser um deleite, e não a ânsia por chegar logo. Essa é uma das muitas premissas que levaram o paulistano Alexandre Delijaicov a mudar radicalmente seus hábitos de vida e a adotar a bicicleta como meio de transporte. Desde 1997, há 13 anos, ele pedala todos os dias para ir a dois empregos. Delijaicov é arquiteto de Projetos Públicos da prefeitura da capital paulista e professor do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde se formou e cursou mestrado e doutorado. “Sou duas vezes servidor público”, destaca. Especialista em arquitetura de cidades fluviais, em 15 anos percorreu 72 mil quilômetros margeando rios de cidades europeias, sempre de bicicleta. “Lá, o espaço público tem outro conceito, voltado para o convívio e o bem-estar social”, descreve. Delijaicov defende um urbanismo humanista e social, em contraposição ao “mercantilismo rodoviarista”, como costu- ma dizer. “Em pouco tempo na história das cidades, 80 anos, tudo se modificou para se adequar ao automóvel; a escala não é mais o pedestre, o cidadão e o corpo humano.” Isso, o professor comprova todos os dias, em seus percursos de 8,5 quilômetros até a USP, e de 5,5 quilômetros até o escritório da prefeitura, no centro histórico de São Paulo. As travessias levam cerca de 40 minutos. O lugar mais perigoso por onde passa, na caótica São Paulo, é a ponte Eusébio Matoso, sobre a Marginal do Pinheiros. “Foi desenhada para o automóvel. Não tem espaço para pedestres e ciclistas, iluminação nem limpeza. Quando passo por ali, tenho de fechar bem a boca para não mastigar a sujeira que os carros levantam”, relata. A ponte é uma das únicas vias que não permite um caminho alternativo. Em geral, o arquiteto evita as grandes avenidas, em busca de ruas mais agradáveis e seguras. No caminho, percebe as sutilezas e as violências da cidade, como pontos de menor elevação, que aliviam o pedalar, e o bafo de RadaR ar quente que sobe do chão molhado, depois das chuvas de verão. Na volta para casa, afirma sentir o cheiro de bife acebolado saindo dos lares, quando “bate aquela fome”. “Percebi que as ruas têm personalidade, e às vezes o humor delas não está muito bom.” Percepções como essa, ele jura que só tem quem pedala, por isso sente falta da bicicleta quando está de férias, e anda mais a pé. “Posso dizer que adquiri uma amizade não verbal com as pessoas que encontro no caminho, por meio do contato visual. Elas sentem minha falta quando não apareço, e eu sinto a falta delas.” Esse é um dos motivos por que não usa óculos escuros, somente o de grau, que ajuda a proteger os olhos. Outro cuidado é o de limpar as vias nasais com soro fisiológico quase todos os dias. No primeiro jato, o líquido sai escuro, conta. “É a poluição que a gente respira, sai dos escapamentos dos carros.” Mas a saúde, em geral, vai muito bem. Pedalar ajuda a manter colesterol zero. A única adaptação necessária para a “mania” foi na alimentação, que já era isenta de frituras e, agora, conta com mais carboidrato, para evitar a perda de massa magra. Responsável e metódico, Delijaicov estudou as leis de trânsito. Jamais anda na contramão ou sobe em calçadas. “Faço exatamente o que o código diz. Na faixa da direita, ao lado da calçada, o primeiro 1,5 metro é reservado para veículos leves não motorizados.” Para ser visto com mais facilidade pelos motoristas, especialmente quando levanta o braço para sinalizar uma curva, sempre usa camisas brancas de mangas compridas e camiseta por baixo, que ajuda no controle da transpiração. “Ando devagar feito uma tartaruga, a 5 quilômetros por hora.” Para os dias de chuva, leva sempre uma capa e uma calça impermeável. Carro, ele tem, mas diz que é enfeite na garagem. Utilizado para emergências e eventuais viagens, o veículo completa seis anos com apenas 15 mil quilômetros rodados. “Certa vez, o motor estragou por ficar muito tempo parado.” Na faculdade, Delijaicov é conhecido pela bicicleta azul, barra forte, de 18 marchas, estacionada na entrada do prédio. “Comprei na liquidação de um supermercado popular, em Amsterdã. Paguei 350 florins, a moeda da época, que era equivalente ao real”, recorda. “Essa tem paralamas, que são importantes. Nos primeiros meses, usava uma bicicleta que não tinha e chegava ao trabalho com um rastro de sujeira nas costas. Parecia um gambá”, ri. Com segurança, Delijaicov não se preocupa. “As pessoas pensam que o assaltante sou eu. Quando me aproximo dos carros, à noite, ouço o barulho das portas travando. Nos grandes centros, a bicicleta carrega o estigma da pobreza”, lamenta. É possível mudar a cultura urbana, voltada à velocidade e ao individualismo, diz o professor, desde que as pessoas compreendam as questões filosóficas envolvidas. Só assim se organizariam naturalmente para desfrutar do que ele chama de “virtudes da densidade urbana”. [bs] utilitário beberrão uns dizem que foi a crise econômica mundial, outros, os impactos ambientais, mas o fato é que a gm interrompeu a produção do famoso jipe-caminhão hummer. em abril, a empresa anunciou o im de sua divisão de veículos utilitários. o hummer pertence à categoria dos off-road ou suv (sports utility vehicle), que bateram em retirada das ruas da europa e dos estados unidos depois das críticas ambientalistas. pelo porte e pelo peso, os jipões congestionam o trânsito e bebem combustível com sofreguidão. no brasil, contudo, as vendas dos gigantes continuam subindo. no primeiro semestre de 2010, 45.975 unidades foram emplacadas, contra 39.339 no mesmo período de 2009, segundo a Federação nacional da distribuição de veículos automotores. os importadores não parecem preocupados com critérios ambientais. ciclistas internautas além das ruas, a internet é um importante espaço de interação para os ciclistas. nos últimos anos, têm se multiplicado os sites e blogs sobre o tema, não apenas para unir os “bikers” como também para engajar novos adeptos, com dicas e troca de experiências. um dos exemplos é o portal onde pedalar (www. ondepedalar.com), que cresceu 30% em número de cadastrados em 2009. o proprietário do site, marcelo rudini, criou, em janeiro de 2010, uma nova rede de relacionamento, a bikers brasil (http://bikers.ondepedalar.com), que, em três meses, atraiu 1.250 membros. “o objetivo é conectar grupos de bikers do país e atrair novos ciclistas. nestes dois anos, abrimos o leque para o cicloturismo, a im de incentivar as pessoas a voltarem a pedalar”, airma. panoRama retranca Falsa «edição daniela vianna» i n o va ç ã o • b i o d i v e r s i d a d e • r e c i c l a g e m • i n t e r n e t • e s t r at é g i a a educação como antídoto como educar e inovar em sustentabilidade? o livro sustentabilidade XXi – educar e inovar sob uma nova consciência traz ao leitor exemplos claros de criatividade, iniciativa e inovação, demonstrando como a ciência e a tecnologia, incorporadas ao setor privado, podem ser direcionadas para ins públicos sem causar danos sociais, ambientais ou econômicos. rodrigo da rocha loures, fundador da empresa nutrimental, acredita que a sustentabilidade é “o novo nome do desenvolvimento” e uma oportunidade de crescimento e de construção de uma nova sustentabilidade xxi – educar e inovar sob uma nova consciência autor: rodrigo c. da rocha loures editora: editora gente páginas: 256 páginas preço: r$ 59,90 [ livro ] economia verde. mas, para tanto, “não se pode ensinar a usar um bisturi sem ensinar a diagnosticar a doença”. a educação é a chave do conhecimento. na passagem do século XiX para o XX, o desaio da economia era dominar os meios para obter escala. “Fizemos isso bem demais e exageramos na dose” – diz o autor. “temos, agora, que incorporar rapidamente o novo entendimento sob pena de comprometermos a espécie humana e sua existência neste planeta.” |paula andregheto| 14 [ bs ] abr/mai 2010 o direito e a agrobiodiversidade agrobiodiversidade e direitos dos agricultores, de Juliana santilli, discute os impactos do sistema jurídico sobre a biodiversidade agrícola, analisando as consequências da lei de sementes e de proteção de cultivares, bem como de acordos internacionais como o tratado da Fao sobre recursos Fitogenéticos. o livro mostra a correlação entre o sistema jurídico brasileiro e o internacional em áreas como segurança alimentar, saúde, sustentabilidade, combustíveis alternativos e mudanças climáticas. a autora examina a implementação dos direitos dos agricultores, diante de movimentos como o software livre, os commons e a valorização dos conhecimentos tradicionais. santilli é doutora em direito socioambiental e promotora de Justiça do ministério público do distrito Federal, com atuação nas áreas de meio ambiente, patrimônio cultural, consumidor, criminal e direitos humanos. |conrado loiola| [ livro ] agrobiodiversidade e direitos dos agricultores organiZadora: Juliana santilli editora: peirópolis páginas: 520 páginas preço: r$ 59,00 novidade na web [ r e v i s ta W e b ] a business do bem seria um revista em formato tradicional, se não fosse publicada na internet. o modelo híbrido entre web e impresso apresenta um design convencional, valorizado por recursos multimídia, como hiperlinks, vídeos, animações e áudios. a versão digital simula o ato de “folhear” a revista, usando o mouse em vez das mãos. o conteúdo apresenta a relação entre negócios e sustentabilidade, incluindo temas como mudanças climáticas e cidadania. há ainda uma agenda de cursos e eventos, além de atualidades e produtos inovadores que estão chegando às lojas. trata-se de uma boa opção para aprofundar conhecimentos sobre o tema e se inteirar a respeito do cenário corporativo atual, que tenta encontrar o equilíbrio do tripé economia, sociedade e meio ambiente. acesse www.ruscheleassociados.com.br/ business-do-bem |pedro michepud| upgrade no lixo eletrônico nas últimas décadas, a indústria de eletrônicos revolucionou o mundo, dinamizando a comunicação, a medicina, a educação e outros setores. com isso, as vendas desses produtos cresceram muito, gerando grandes problemas para países em desenvolvimento. o relatório Recycling - From e-Waste to Resources, do programa das nações unidas para o meio ambiente (pnuma), aborda os passos que devem ser seguidos para lidar com o e-lixo, demonstrando como ele pode afetar o meio ambiente e a saúde da população. segundo o documento, esforços informais para reciclar os eletrônicos não serão suicientes para solucionar o problema. É preciso uma soma de esforços e de políticas nacionais e internacionais, com as novas tecnologias, para facilitar a transformação dos resíduos em novos recursos minerais. para conferir o relatório, que leva em consideração dados de china, Índia, áfrica do sul, uganda, senegal, Quênia, marrocos, brasil, colômbia, méxico e peru, acesse: http://tinyurl.com/y4sg2cg |pedro michepud| colocando em prática Estratégia para sustentabilidade autor: adam Werbach editora: campus-elsevier páginas: 224 páginas preço: r$ 36,00 [ bs ] 15 sucedidas de empresas como Xerox, nike e Walmart, dentre outras companhias que estão obtendo ganhos de longo prazo a partir da inserção da sustentabilidade na gestão de negócios. para Werbach, nome de peso no ramo da sustentabilidade empresarial, “uma comunidade incapaz de fornecer o alimento e o bem-estar básico a si mesma não se manterá por muito tempo; a turbulência do mundo mostra que esses fatores são mais do que uma responsabilidade empresarial”. |conrado loiola| [ livro ] abr/mai 2010 em meio a crises econômicas e escassez de recursos naturais, a sobrevivência das empresas depende da elaboração de uma estratégia de sustentabilidade sólida. a tarefa, no entanto, não é nada simples quando iniciada a partir do zero. em estratégia para sustentabilidade, o consultor adam Werbach ensina a planejar uma estratégia de negócios calcada em sustentabilidade – voltada, é claro, para o lucro, mas indo além dele, com cuidados com o meio ambiente e os aspectos sociais. a publicação relata estratégias bem- [ estudo ] r e p o r ta g e m adeel halim / Reuters uRbanismo mumbai, na Índia, terá mais de 20 milhões de habitantes cidades congestionadas a parceria entre governo, empresas e terceiro setor é o caminho mais curto para promover o urbanismo sustentável do Futuro, gerador de inclusão social e melhor Qualidade de vida 16 [ bs ] abr/mai 2010 rEportagEm maurette brandt d os provávEis 9 bilhõEs de habitantes do planeta em 2050, 3 bilhões estarão vivendo em cidades. As megacidades continuarão a crescer, e enormes conurbações com mais de 20 milhões de habitantes, conhecidas como metacidades, surgirão. A geografia urbana mudará, com novos sistemas regionais: megarregiões, corredores urbanos e cidades-regiões ligando áreas metropolitanas, pequenas aglomerações e áreas internas de baixa densidade nas cercanias – que se tornarão os motores da economia. Mas a maior parte da população urbana continuará a viver em pequenas cidades, com menos de 500 mil habitantes, ou em cidades intermediárias, com até 1,5 milhão de habitantes. introduZir Eficiência EnErgética E novas técnicas na construÇão civil virou um impErativo para o dEsEnvolvimEnto urbano prédios já existentes nem sobre o consumo de shopping centers – que pode não estar em conformidade com os padrões internacionais. “Isso não está sendo mensurado, e é um dado essencial para avaliar o perfil de consumo como um todo”, lamenta Kornevall. “Na verdade, ainda hoje não conseguimos dados consistentes sobre os projetos da construção civil no Brasil”, diz. paRceRias Fundamentais [ bs ] 17 Stéphane Quéré ressalta que qualquer reforma urbana para a sustentabilidade precisa reunir forças desde o início. “O planejamento e a tecnologia têm de ser agregados na fase das decisões, porque depois tudo se torna mais difícil e mais dispendioso, e os cidadãos têm de estar envolvidos, pois serão os maiores beneficiados”, afirma o executivo. Para tanto, Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS, prega a união entre o setor privado, a sociedade civil e o governo como única forma capaz de criar condições para o país avançar na promoção da sustentabilidade das cidades. Algumas ações do programa federal Minha Casa, Minha Vida, voltado para diminuir o déficit habitacional, e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), começam a mostrar que é possível vincular sustentabilidade e baixo custo. “As cidades geram muita riqueza, mas levam muitos à pobreza com a distribuição desigual de oportunidades”, constata Christian Kornevall. Todo projeto de sustentabilidade urbana tem de envolver inclusão social, busca de paz e segurança. “Não se pode marginalizar as comunidades. Por isso as parcerias são importantes, para que tudo seja decidido de forma orgânica, buscando o máximo de eficiência”, afirma o especialista. Para Marina Grossi, a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada, em 2016, serão duas grandes oportunidades para o Brasil alavancar negócios urbanos sustentáveis. O CEBDS e o WBCSD iniciaram entendimentos com prefeituras com o objetivo de mostrar a importância da sustentabilidade como quesito essencial dos projetos de infraestrutura urbana. [bs] abr/mai 2010 Esse é o panorama que emerge dos projetos Iniciativa de Infraestrutura Urbana e Eficiência Energética em Edifícios, apresentados durante o V Fórum Urbano Mundial – ONU-Habitat, em março, no Rio Janeiro, pelos especialistas Christian Kornevall, diretor do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), e Stéphane Quéré, vicepresidente de Urbanização Sustentável da empresa GDF Suez. No mesmo evento, o relatório A Situação das Cidades do Mundo 2010-2011, da ONU-Habitat, revelou que cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo: Goiânia (em 10º lugar), Belo Horizonte e Fortaleza (empatadas em 13º), Brasília (em 16º lugar) e Curitiba (em 17º). O Brasil é o país com a maior distância social da América Latina. Para mudar esse cenário, um dos desafios do urbanismo do futuro é conter a escalada de consumo dos edifícios, que, em média, respondem por 40% do gasto global de energia, água e matérias-primas. Em Nova York, os prédios chegam a absorver 79% do consumo e, em Londres, 60%, ressalta o projeto Vision 2050, desenvolvido pelo WBCSD. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) já vem dialogando com o empresariado com o objetivo de sensibilizar empresas para o desafio de tornar as cidades mais sustentáveis. A eficiência energética dos edifícios está se convertendo em um imperativo social, afirma Christian Kornevall. Além de reformas nos prédios existentes, principalmente os mais antigos, é importante incorporar a visão de sustentabilidade aos novos projetos. “Isso só acontecerá com forte regulação”, salienta o especialista. “A construção civil é um setor voltado para o lucro imediato. Incluir quesitos sustentáveis nos projetos, desde o início, implica aumento de custos.” Para tanto, os órgãos reguladores devem definir critérios claros de sustentabilidade: eficiência energética, baixo consumo de água e utilização de energia de fontes renováveis, como solar, eólica e outras. No Brasil, o setor ainda apresenta grande informalidade e não há dados sobre o consumo de energia dos agenda retranca Falsa «edição FeRnando badô | teXto paul a andRegheto» s o c i e d a d e • r e l at ó r i o s • m o b i l i d a d e • e d u c a ç ã o 6 dE maio iii congresso nacional de responsabilidade socioambiental RealiZação: associação brasileira de treinamento e desenvolvimento do paraná (abtd/pR) local: parque de exposição ney braga, londrina (pR) mais inFoRmações: [tel] (43) 3025.5223 26 a 28 de maio [site] http://abtdpr.com.br [e-mail] [email protected] conferência gri 2010 30 de maio a 2 de Junho 21 e 22 de maio RealiZação: conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável (cebds) local: Rb1, Rio de Janeiro (RJ) mais inFoRmações: [site] www.sustentavel.org.br challenge bibendum RealiZação: global Reporting initiative (gRi) local: amsterdam Rai elicium , amsterdã (holanda) mais inFoRmações: [site] www.amsterdamgriconference.org RealiZação: grupo michelin locais: Rio centro e autódromo de Jacarepaguá, Rio de Janeiro (RJ) mais inFoRmações: [tel] (21) 3621.4629 ou (21) 3621.4638 [site] www.challengebibendum.com.br sustentável 2010 o 3° ciclo de encontros sobre sustentabilidade e gestão Responsável – sustentável 2010 – reunirá especialistas nacionais e internacionais para discutir dilemas globais da sociedade e sua resposta aos desafios socioambientais. neste ano, o ciclo será composto por três encontros: “cidades e mudanças climáticas”, em 6 de maio, no Rio de Janeiro (RJ); “comunicação e educação para a sustentabilidade”, no mês de agosto, em porto alegre (Rs); e “Rede de mercados inclusivos: uma oportunidade de negócios”, em novembro, em salvador (ba). as inscrições são gratuitas e estão abertas para representantes do setor privado, universidades, ongs e governos estaduais e municipais. “sustentabilidade XXi: educar e inovar sob uma nova consciência”. esse é o tema da terceira edição do congresso nacional de responsabilidade socioambiental, que tem como missão promover a reflexão sobre a sustentabilidade. o congresso contará com a presença de importantes nomes de diferentes segmentos para discutir assuntos como educação, responsabilidade social e meio ambiente. as inscrições podem ser feitas no site até o dia 17 de maio. a conferência global de amsterdã sobre sustentabilidade e transparência, promovida pela gri, é o principal encontro mundial de líderes e especialistas do segmento de relatórios de sustentabilidade. neste ano, o debate será estruturado em três eixos: repense, refaça e relate. entre os representantes brasileiros estará a diretora de sustentabilidade da bm&Fbovespa, sonia Favaretto, que integrará a mesa de debate sobre mercado financeiro. além disso, serão divulgados os vencedores do reader’s choice awards 2010. como as economias emergentes irão lidar com as questões da mobilidade rodoviária? realizado desde 1998, o challenge bibendum é um evento internacional, promovido pelo grupo michelin, que discute soluções para essa questão. a sua décima edição irá reunir mais de 2 mil representantes dos setores industrial, científico, político e administrativo, além de associações e da mídia, para avaliar quais são os principais desafios encontrados nessa questão. também será publicado, posterior ao evento, um relatório baseado nas tecnologias apresentadas e nos debates realizados. capa 20 [ bs ] abr/mai 2010 Ricardo coorêa biocombustÍveis bEmvindo ao biobutanol a eXpansão dos biocombustÍveis atRai a atenção de multinacionais e de ambientalistas e multiplica gRandes negócios no bRasil, entRe eles um etanol 20% mais eFiciente rEportagEm RobeRto RocKmann a disparada do preço do petróleo e o debate sobre o aquecimento global colocaram as fontes limpas de energia no topo da agenda econômica, ao mesmo tempo em que multiplicaram negócios no setor sucroalcooleiro. enquanto várias iniciativas trabalham para a conversão do etanol em commodity, um novo trunfo desponta entre os biocombustíveis à base de cana-de-açúcar: vem aí o biobutanol, o etanol ultraeficiente. marcelo min / Fotogarrafa mario lindenhayn: a demanda dos eua e da europa vai turbinar os negócios usina em operação em Goiás. Atualmente, a empresa aguarda a definição de outro parceiro para construir sua segunda usina. O brasileiro Mario Lindenhayn, presidente da BP Bio Fuels, afirma que o mercado dos combustíveis limpos será implantado globalmente com as demandas de Estados Unidos e Europa, ao longo dos próximos anos. “A BP aposta em biocombustíveis de baixo custo, com baixas emissões de carbono, produzidos em larga escala e a partir de matérias-primas sustentáveis”, explica o executivo. eFeRvescência [ bs ] 21 Por qualquer ângulo que se olhe, o setor sucroalcooleiro está fervendo com negócios. Em fevereiro passado, a anglo-holandesa Shell fechou um acordo de US$ 12 bilhões com a brasileira Cosan, concretizando a maior transação da história de uma petroleira com combustíveis renováveis. Logo depois, a ETH, controlada pela Odebrecht, anunciou a aquisição da produtora e distribuidora de etanol Brenco e planos para se converter em uma das maiores produtoras de biocombustível do mundo. abr/mai 2010 Diferentemente do etanol, o novo biocombustível possui quatro moléculas de carbono, o dobro do álcool combustível, podendo armazenar mais 20% de energia. Outra característica é a não absorção de água, o que permite seu transporte pelos mesmos dutos usados na distribuição de combustíveis como a gasolina. Em três anos, o produto deverá chegar ao mercado, prometendo mais eficiência aos donos de veículos e à logística dos produtores. Para desenvolver novos biocombustíveis, as britânicas British Petroleum (BP) e DuPont criaram a joint venture Butamax, focada na produção de biobutanol a partir da cana, do milho, do trigo, da celulose e de algas. “Os Estados Unidos e a Europa têm planos ambiciosos de reduzir o uso de combustíveis fósseis, o que abre grandes oportunidades em um futuro próximo”, disse o presidente da Butamax, Tim Potter, no Seminário Sugar and Ethanol Brazil Conference, realizado em São Paulo, em março. No evento, o professor José Goldemberg, da Universidade de São Paulo, anunciou que os biocombustíveis, que representam 2% da matriz energética mundial hoje, “irão crescer e poderão substituir 10% da gasolina consumida pelo mundo já em 2020”. “Vamos produzir biobutanol no Brasil com foco no mercado dos Estados Unidos e da Europa”, afirma Potter. O biobutanol produzido da cana-de-açúcar é o mais eficiente e competitivo de todas as culturas testadas pela multinacional. Nas contas do executivo da Butamax, em 2020 os EUA deverão utilizar 36 bilhões de galões de biocombustíveis, etanol ou biobutanol. A União Europeia, que busca converter 10% da sua frota para a energia renovável, também é vista como mercado importante. Além da participação na Butamax, a British Petroleum está realizando outros investimentos no setor sucroalcooleiro. Desde abril de 2008, por meio da BP Bio Fuels, a empresa se tornou a primeira petroleira estrangeira a investir no Brasil, adquirindo 50% de participação na Tropical Energia, que mantém uma capa niels andreas biocombustÍveis plantação de cana com proteção de matas ciliares 22 [ bs ] abr/mai 2010 para conQuistar mErcados como altErnativa às EnErgias fóssEis, a indústria canaviEira tErá dE assumir um protagonismo socioambiEntal mais dEcidido Em março, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos classificou o etanol brasileiro como combustível avançado, capaz de reduzir em 61% a emissão de gás carbônico em relação à gasolina. Também em março, a União Europeia anunciou que pretende importar etanol do Brasil para diminuir as emissões da sua frota. Em abril, a BMF&Bovespa deverá concluir a criação de um contrato futuro de etanol que servirá como parâmetro e proteção de preços para a negociação mundial. A participação estrangeira no setor canavieiro pulou de 7%, em 2007, para 22%, em 2010. Para o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão Sousa, os movimentos de fusão e de internacionalização impulsionam o processo de “commoditização” do etanol e poderão destravar os obstáculos ainda existentes. “Isso permitirá maior competitividade, ganhos logísticos e maior capacidade de influenciar os governos dos países para a abertura de seus mercados para o etanol, que ainda sofre importantes barreiras tarifárias e não tarifárias”, diz Sousa. mais Eficiência índice de energia produzida a partir de uma molécula 10,0 9,3 energia cana-deFóssil -açúcar 2,0 2,0 trigo beterraba 1,4 milho Escala global recentes fusões e aquisições no setor sucroalcooleiro concentram investimentos 1 louis dreyfus + santelisa vale (2009) dreyfus comprou 60% do controle acionário da santelisa vale moagem de cana: 40 milhões de toneladas investimento: us$ 5,1 bilhões 2 bunge + usina moema (2009) bunge adquiriu usinas do grupo moema moagem de cana: 13,6 milhões de toneladas valor da operação: us$ 1,4 bilhão 3 cosan + shell (2010) Joint venture moagem de cana: 52,6 milhões de toneladas distribuição de 17,5 bilhões de litros de combustível (terceira maior do mercado) valor da operação: us$ 12 bilhões 4 Eth + brenco (2010) Fusão moagem de cana: 40 milhões de toneladas em 9 usinas. produção de 3 bilhões de litros de etanol investimento: us$ 4 bilhões 5 Equipav + shree renuka sugars limited (2010) shree renuka sugars comprou 50,8% do controle do grupo equipav, duas usinas envolvidas na transação moagem de cana: 10 milhões de toneladas valor da operação: us$ 320 milhões bertin + infinity (2010) bertin comprou 71% do controle da infinity bioenergy, cinco usinas envolvidas na transação moagem de cana: 6 milhões de toneladas investimento: não divulgado Graças ao etanol, ao biodiesel e à energia hidrelétrica, cerca de 50% da capacidade energética do Brasil se origina de fontes renováveis. Os dados contrastam com os de outros países: em média, só 13% da energia das matrizes mundiais vem de fontes limpas. O problema das emissões de carbono pode ser reduzido com facilidade controlando-se o desmatamento na Amazônia. “Hoje, cerca de 65% das nossas emissões estão relacionadas ao desmatamento”, afirma o diretor do departamento de energia do Ministério de Relações Exteriores, André Aranha Corrêa do Lago. “Isso quer dizer que não são emissões de processos produtivos. Isso nos proporciona grande conforto para tratar do tema e gera mais oportunidades, já que os países precisarão limpar sua matriz.” Detentor de tecnologia e de matéria-prima abundante e competitiva, o Brasil atrai cada vez mais a atenção das multinacionais agrícolas interessadas em ampliar a eficiência dos canaviais. “Há espaço teórico para triplicar a produtividade, para 220 toneladas por hecta- [ bs ] 23 Fonte: unica, itaú bba Riscos ambientais abr/mai 2010 6 Embora a EPA norte-americana elogie o etanol brasileiro, as vendas brasileiras esbarram na tarifa de US$ 0,54 aplicada à importação de cada galão (3,78 litros), o que eleva o preço do biocombustível e o torna menos competitivo. Na União Europeia, sobretaxa-se o etanol produzido no Brasil em € 0,19 por litro. A competitividade, entretanto, está ao lado dos canaviais brasileiros. Enquanto o etanol de cana reduz 61% das emissões de gases de efeito estufa, os combustíveis a partir de beterraba (Europa) e de milho (Estados Unidos) diminuem 20%. O combustível brasileiro também é 4,5 vezes mais energético do que o produzido a partir de beterraba ou trigo e quase sete vezes mais eficiente do que o fabricado a partir do milho. “O Brasil realmente tem uma vantagem única e deve se consolidar como um importante player mundial”, diz o presidente da estatal Empresa de Pesquisas Energéticas, Mauricio Tolmasquim. Em 2003, quando era secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Tolmasquim assistiu à apresentação de um dos primeiros veículos flex-fluel do Brasil, da montadora Ford. “Naquele momento, não prestei muita atenção, mas, agora, todos percebemos como essa tecnologia cresceu no Brasil”, diz. Atualmente, 40% da frota de veículos leves do país circula com tanques a gasolina e álcool e mais de 90% dos carros novos saem das concessionárias com essa tecnologia. capa biocombustÍveis 24 [ bs ] abr/mai 2010 o avanÇo da cana-dE-aÇúcar no cEntro-oEstE podE Empurrar a soja E a pEcuária para a amaZônia Os ambientalistas não temem o avanço do etanol na Floresta Amazônica porque sabem que a cana-de-açúcar necessita de seis meses de clima seco para concentrar a sacarose e aumentar a produtividade – uma exigiência inviável no clima equatorial, sujeito a chuvas o ano todo. O risco é a cultura de cana-de-açúcar avançar sobre áreas de pecuária do Centro-Sul, empurrando a criação de gado para a Amazônica. Pesquisa do Greenpeace de 2009 apontou que a pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento na região Amazônica. A cada 18 segundos, um hectare de Floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto. Um segundo risco é a cana deslocar a produção de soja. “No sul de Goiás, em alguns municípios próximos a Rio Verde, alguns produtores deixaram de plantar soja e começaram a cultivar cana. É necessário vigilância, porque a cana pode empurrar a soja e a pecuária para regiões preservadas”, diz o pesquisador Marcel Gomes, que elaborou um recente relatório sobre o tema para a ONG Repórter Brasil sobre o impacto de algumas culturas no Brasil. marcelo min / Fotogarrafa re”, diz o gerente da Monsanto, Eugênio César Ulian. De olho na demanda global, a multinacional adquiriu a CanaVialis, a maior empresa privada de melhoramento de cana-de-açúcar do mundo, e a Alellyx, empresa brasileira de genômica aplicada que se dedica ao desenvolvimento de pesquisas com biotecnologia. Com elas, a Monsanto espera desenvolver mudas mais resistentes e adaptadas às condições climáticas e de solo das novas fronteiras agrícolas do Brasil. Enquanto os Estados Unidos não dispõem de terras para aumentar a produção de milho para etanol e a União Europeia perderia 70% da área plantada com culturas alimentares se optasse por produzir etanol a partir de trigo ou milho, o Brasil é dono do maior potencial de terras agriculturáveis no mundo: 60 milhões de hectares, sem entrar na Amazônia. Os olhos de ambientalistas e cientistas estão voltados para a Floresta Amazônica, cujas árvores são responsáveis pela absorção de 100 milhões a 400 milhões de toneladas anuais de gás carbônico. Os produtores de açúcar e álcool também estão atentos a essa questão. “Apoiamos o Projeto de Lei de Zoneamento Agroecológico, que está no Congresso e proíbe a expansão de cana em 92,5% do território brasileiro, região essa que inclui não somente o bioma Amazônia, como o Pantanal e outras áreas sensíveis”, afirma Leão Sousa, diretor executivo da Unica. O setor já percebeu que sua expansão depende da garantia de que o etanol seja produzido em bases sustentáveis e não gere desmatamento. Em setembro de 2009, por exemplo, o presidente da Unica, Marcos Jank, escreveu uma carta ao presidente Lula rejeitando as “percepções errôneas sobre a correlação entre biocombustíveis e desmatamento que ainda persistem”. Nela, reiterou que o crescimento do setor não está atrelado ao desmatamento e defendeu a preservação das nascentes do Pantanal ameaçadas pela expansão das usinas de cana-de-açúcar. Jank, da unica: apoio à preservação do pantanal niels andreas marcelo min / Fotogarrafa plásticos à base de polietileno verde Yassumoto, da novozymes: 150 pesquisadores de etanol celulósico novas cadeias Grande parte do etanol é produzida pelas tecnologias de primeira geração, ou seja, derivadas da reação química a partir da glucose da cana-de-açúcar. Mas, como o exemplo do biobutanol indica, uma nova geração de biocombustíveis avançados está a caminho, com destaque para a segunda geração do combustível, baseada em etanol celulósico. Neste caso, o produto é criado a partir da celulose, que, em vez da cana ou do milho, pode usar inúmeras fontes, cascas de árvores, resíduos vegetais, capim e até pneus e lixo urbano. O biobutanol também pode ser criado a partir de milho, de trigo, de celulose ou de algas. O segmento já despertou a atenção da Petrobras, que investe em pesquisa e desenvolvimento de etanol de segunda geração. Em 2010, deve entrar em operação, no Rio de Janeiro, uma planta de demonstração da tecnologia, última fase antes do ingresso no mercado. A segunda geração do etanol permitirá aumentar em 60% o rendimento sem a ocupação de um hectare a mais. Outro fator decisivo para os biocombustíveis é a expansão demográfica. Há 1 bilhão de veículos no mundo. Em vinte anos, a renda per capita aumentará em países emergentes, como Índia e China. Espera-se a migração de 600 milhões de chineses do campo para as cidades. O número de veículos no planeta deverá subir para 1,4 bilhão, acompanhando os novos hábitos de consumo – o que vai criar grandes pressões sobre a infraestrutura urbana e tornar a redução de emissão de poluentes um problema prioritário. “Para reduzir as emissões, o percentual de combustíveis fósseis nos transportes deve cair de 81% para 68% até 2030, com os biocombustíveis crescendo e detendo 10% da fatia mundial do mercado”, diz o gerente de novos negócios da Novozymes, William Yassumoto. A empresa mantém, hoje, 150 pessoas dedicadas ao estudo do etanol celulósico fabricado a partir de qualquer biomassa. O etanol não avança apenas como combustível, mas também como matéria-prima da indústria petroquímica, que responde por cerca de 7% das emissões globais de dióxido de carbono. No polo de Triunfo, no Rio Grande do Sul, a Braskem está investindo R$ 500 milhões em um projeto pioneiro para a fabricação de polietileno verde, que entrará em operação no segundo semestre. Com capacidade de produção de 200 mil toneladas anuais, consumindo 460 milhões de litros de etanol, a fábrica transformará álcool em eteno verde, matéria-prima do polietileno verde, biodegradável, usado em frascos de xampus, sacolas, potes de iogurtes, tanques de combustíveis e brinquedos. O polietileno verde apresenta uma enorme vantagem. “Um quilo de polietileno emite 2,5 quilos de gás carbônico, enquanto um quilo de polietileno verde captura e fixa 2,5 quilos de gás carbônico”, diz a líder comercial do projeto, Leonora Novaes. “A expectativa é de que em 2011 alguns produtos fabricados com o polímero verde já estejam nas gôndolas”, diz. A Braskem formou uma parceria com a Novozymes e a Unicamp para estudar a melhor rota tecnológica para fabricação de polipropileno verde. A intenção é de que, a médio e longo prazos, 10% da produção da [bs] Braskem seja de fonte renovável. entRevista elinor ostrom John sommers ii / Reuters ostron: responsabilizar as comunidades pode dar mais certo do que confiar no governo pRêmio nobel às comunidades a n o rte-am eri cana elin o r ostro m , prim eira m u lh er a gan har o prêm i o n o b el d e eco n o m ia , d e sco b ri u Q u e a m elh o r e stratég ia para pre servar os recu rsos natu rais é envo lver as co m u n idad e s na sua man uten ção entRevista Regina schaRF modelo que fomente a cooperação e não a competitividade. Mas, para dar certo, o grupo deve ser capaz de promover e manter um bom diálogo e de estabelecer normas e penalizações claras, aceitas pelo conjunto dos participantes. É essencial valorizar o conhecimento tradicional e fomentar a confiança das comunidades na autogestão. Primeira mulher a receber o Nobel de Economia (dividido com Oliver Williamson, da University of California, em Berkeley), Ostron falou à Brasil Sustentável sobre o seu trabalho. brasil sustEntávEl a senhora verificou que, em muitas circunstâncias, a comunidade está mais capacitada para administrar os recursos naturais do que um governo centralizado. como é isso na prática? Elinor ostrom Diferentes grupos manejam pastagens de tamanho muito variável, onde crescem plantas de todo tipo. Quando você leva o seu gado para pastar ali, ele pode reagir de diferentes maneiras. Diante dessas especificidades, a comunidade tem de aprender ao longo do tempo o que funciona na prática, quantas vacas podem ser mantidas naquele espaço etc. Também tem de desenvolver regras compatíveis com essa realidade. No entanto, muitas vezes o governo intervém e determina que aquele grupo faça X, Y ou Z quando isso não faz absolutamente nenhum sentido em termos locais. [ bs ] 27 bs E, por isso mesmo, muitas vezes a comunidade reage negativamente... Eo Alguns governos funcionam bem, mas em geral consomem grandes orçamentos. Além disso, muitas vezes, no momento em que determinam que algo deve ser feito, as pessoas percebem que, se descumprirem aquela ordem, não serão pegas. O número de pessoas que burlam as regras impostas pelo governo começa a crescer, e as coisas simplesmente não funcionam. abr/mai 2010 a cientista polÍtica Elinor Ostrom, vencedora do mais recente Nobel de Economia, está envolvida até o último fio de cabelo no debate da sustentabilidade. Professora da Indiana University e da Arizona State University, a norte-americana dedicou sua carreira ao estudo multidisciplinar dos chamados “bens coletivos” e à forma com que eles são administrados. Os modelos de gestão nacionais ou globais não são, necessariamente, a melhor solução quando se trata de recursos naturais, sejam estoques pesqueiros, água, florestas ou pastagens compartilhadas, defende Ostrom. Em muitos casos, as associações de usuários e as comunidades estão mais bem posicionadas para gerir esses recursos com competência, desde que não tenham de se submeter à ingerência de governos nacionais ou de outras forças externas. A pesquisa premiada baseia-se em projetos experimentais e em um extenso levantamento de dados colhidos em vários países. Nos Estados Unidos, Ostrom acompanhou a evolução de comunidades de pesca na costa Leste e Oeste e a gestão dos recursos hídricos na Califórnia. Comparou áreas coletivizadas da China e da Rússia, altamente desertificadas, com os produtivos campos cultivados por tribos da Mongólia, que seguem o ordenamento comunitário tradicional. Na África, estudou a administração das pastagens e, no Nepal, a gestão dos sistemas de irrigação das aldeias. Também investigou por que certos parques nacionais da Guatemala floresciam com a distribuição de ingressos de turismo aos vilarejos vizinhos, enquanto aqueles que optaram por uma gestão que excluía as populações viam a sua cobertura vegetal minguar. A diferença está no engajamento das comunidades, que percebem as vantagens de manter as unidades de conservação. Segundo Ostrom, para proteger a diversidade natural é essencial manter a diversidade institucional, com espaço para a gestão comunitária, a tomada de decisões de baixo para cima e, mais importante, criando soluções específicas para cada grupo e cada realidade. Ela é fervorosa defensora de um entRevista 28 [ bs ] abr/mai 2010 bs o que torna uma comunidade bem-sucedida na gestão dos recursos coletivos? conhecimento, educação, disponibilidade de crédito? Eo Não há uma única variável. Há vários elementos a serem considerados, como a diversidade ecológica, o tamanho do sistema, o número de pessoas envolvidas e os problemas que elas têm de resolver. Num artigo que publiquei na revista Science, em julho de 2009, identifiquei dez variáveis relevantes que são frequentemente associadas a essas organizações, como a relação entre o tamanho do grupo e o volume de recursos disponíveis, o conhecimento de que aquela população dispõe, a confiança reinante no grupo, a capacidade de utilizar o conhecimento e de chegar a um acordo sobre como agir. bs Então a capacidade de construir consenso e o conhecimento tradicional são elementos essenciais? Eo Antes de mais nada, é fundamental que as comunidades tradicionais não sejam destruídas. Em boa parte da América Latina e da Ásia, expropriou-se a capacidade delas de se autogovernarem e a confiança que as pessoas tinham na sua própria capacidade. Mais tarde, se você volta e diz que agora quer descentralizar o poder, é tarde, essas populações já não têm a confiança necessária. Daí pode levar um tempo para que sejam desenvolvidos mecanismos que aprimorem essa confiança. Muitas vezes o governo não quer gastar tempo nisso nem investir num lugar remoto trabalhando pelo engajamento daquela comunidade. Eu participei de alguns encontros em que os representantes do governo apareciam por duas horas e achavam que isso bastaria. Muitas vezes o governo se retira, depois de dirigir uma comunidade por 30 anos, deixando para trás uma área que sofreu enorme degradação e desmatamento ilegal. A comunidade local tem de assumir a gestão daqueles recursos e têm de encontrar uma forma de lidar com aquilo. Não dá para partir do pressuposto de que basta fazer um acordo por escrito. Essas pessoas têm de estar motivadas, têm de confiar umas nas outras, têm de se comunicar bem. Só transferir o poder não basta. bs a senhora chegou a estudar algum caso brasileiro? Eo Tenho alunos que são do Brasil. Além disso, o economista cubano-americano Emílio Moran, daqui da Indiana University, desenvolveu um vasto e diversificado trabalho de campo no seu país. Um dos estudos é sobre a gestão de pequenos lagos da região amazônica, onde é possível pescar durante parte do ano, mas que dão lugar à agricultura em épocas de estiagem. Quem vive na área e conhece esse sistema, às vezes consegue manejá-lo muito bem. bs ou seja, a gestão em pequena escala pode ser bem-sucedida. Eo As pessoas, muitas vezes, acreditam que a organização de pequeno porte será ineficiente, e não é o que vimos nas nossas pesquisas. Durante 15 anos estudamos o funcionamento de bibliotecas públicas nos Estados Unidos e verificamos que as unidades de pequeno e médio porte são, em muitos sentidos, mais eficientes e eficazes do que as grandes bibliotecas. bs como podemos dar mais poder às comunidades locais e às associações de usuários de bens coletivos? podemos ajudá-los a serem bem-sucedidos? Eo Nem sempre, mas podemos trabalhar para que elas se organizem, promover treinamentos, educar todos. Precisamos de livros que ajudem a discutir os seus desafios e dificuldades, sobre os quais elas podem se debruçar para debater como outros conseguiram ou não superar seus desafios. bs a senhora propõe a promoção da diversidade institucional. Eo Não se trata de um modelo ou de outro, ou só governo ou só comunidade, ou apenas instituições grandes ou apenas pequenas. O segredo está no desenvolvimento de escalas de diversos portes e diferentes formatos, que podem trabalhar juntos. Eu insisto na importân- John sommers ii / Reuters g e s tão • co m u n i da d e s as comunidades precisam assumir a gestão dos recursos com seus próprios meios e do seu próprio Jeito. é preciso motivação e conFiança mútua . não basta o poder. o entendimento entre as pessoas é Fundamental cia da diversidade. Todos nos preocupamos com a conservação da biodiversidade, mas, se você destruir a diversidade institucional em meio ao esforço de promover a diversidade biológica, não conseguirá nada. [ bs ] 29 bs a senhora acompanhou de perto o caso da pesca na califórnia. Eo A pesca costeira evoluiu muito nos Estados Unidos ao longo dos últimos cem anos. Mas, em dado momento, em algumas partes da Costa Oeste alguns grupos de pescadores decidiram limitar o volume de pescado retirado do mar. A Suprema Corte decidiu, então, que isso era ilegal porque estava dando origem a um cartel. Essa decisão foi um desastre. Uma vez que a mensagem enviada à comunidade foi a de que o sistema não era legal, eles começaram a promover a sobrepesca de forma enlouquecida. Com isso, muito da pesca da costa norte-americana foi destruída, sobretudo na Califórnia e em alguns outros estados. abr/mai 2010 bs corremos o risco de perder a diversidade institucional em decorrência da homogenização dos modelos de gestão? Estamos perdendo estratégias interessantes? Eo Sim, podemos perder muito. Há quem não entenda o valor dessa diversidade e trabalhe para eliminá-la. Se visitarmos uma região que foi governada por um poder central durante 50 anos, talvez ainda encontremos algumas pessoas mais velhas que se lembrarão de parte do antigo modelo de gestão, mas não se lembrarão de tudo. É o mesmo que ocorre quando perdemos uma língua. Estamos perdendo os agentes de conhecimento institucional. r e p o r ta g e m 30 [ bs ] abr/mai 2010 gestão o varejo é um canal de comunicação direta entre consumidores e produtores um novo pacto paRa o vaReJo s u p e r m e r c a d o s , ba n co s e e s p eci a l i s ta s e l a b o r a m , J u n to s , u m có d i g o d e co n d u ta co m o s p r i n cí p i o s F u n da m e n ta i s d o co m é r ci o r e s p o n sáv e l [ bs ] 31 a Rota da seda, o conjunto de caminhos por onde passaram caravanas de aventureiros, comerciantes e soldados, não foi apenas o único meio de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente, por mais de mil anos. Espalhado por desertos, montanhas e rios, o percurso se tornou a principal avenida comercial do mundo antigo, pela qual circulavam mercadorias como ouro, marfim, seda, camelos e especiarias, viabilizando o surgimento de grandes civilizações. Para compreender os rumos do comércio do futuro, há três anos um grupo de empresas varejistas, fabricantes, instituições financeiras e pesquisadores discute os princípios que irão nortear o varejo no século XXI, inspirando novas práticas de gestão e de consumo consciente. Em 15 de abril, a Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, encerrou o período de consulta pública sobre os Princípios Fundamentais do Varejo Responsável e o Modelo do Varejo Futuro, aberto a todos os interessados. A consulta, segundo o site da instituição, visa discutir a “incorporação de questões ecologicamente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis no varejo”. A partir delas, dos debates com especialistas e da experiência das empresas, a Fundação Dom Cabral pretende consolidar um pacto brasileiro do varejo responsável. “Assim como o Pacto Global, das Nações Unidas, que define um conjunto de boas práticas corporativas, nossa ideia é difundir esse pacto do varejo responsável, buscando a adesão das empresas com uma prestação de contas voluntária, criando motivação para mudar o ambiente de negócios”, diz o economista Paulo Darien, um dos coordenadores do estudo. Agrupados em uma lista com 16 Princípios Fundamentais (veja tabela na próxima página), que funcionaria como um Código de Conduta, as sugestões inspirarão a criação do Observatório abr/mai 2010 paulo vitale RepoRtagem daRlene menconi retranca paulo vitale Falsa Brasileiro do Varejo Responsável, dotado de indicadores e de pesquisas de tendência, que realizará o monitoramento permanente do setor. Baseado nelas, também será criado um programa de capacitação com o objetivo de educar e erguer as bases de um comércio justo, que leve em conta aspectos ambientais e éticos e a relação com fornecedores, empregados e governo. Desses processos surgirá o Modelo de Varejo do Futuro, tendo como horizonte o ano de 2020. 32 [ bs ] abr/mai 2010 impacto social Boa parte do trabalho foi realizada pelo Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável (CDVR), criado em 2007 pela Fundação Dom Cabral, com a participação de companhias do porte de Pão de Açúcar, Grupo Martins e Souza Cruz, dos bancos Santander e Itaú Unibanco e de parceiros como Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. “Não estamos falando em ser bonzinhos e fazer uma boa gestão, mas em criar algo inovador, tendo como estratégia de competitividade a prática da gestão responsável”, argumenta Darien. É questão de tempo até que as empresas passem a adotar critérios sustentáveis por exigência legal ou por limitação dos recursos naturais do planeta, ressalta. Um dos participantes, Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu, apresentou as razões pelas quais as o comércio alavanca a indústria, gerando demanda por produtos e influenciando as escolhas dos consumidores empresas devem trabalhar pela sustentabilidade. A primeira é a ética, o compromisso de devolver à sociedade o que dela foi extraído, levando em conta os interesses das partes envolvidas. Em segundo lugar, Mattar aponta o receio da escassez de recursos naturais, que induz as empresas a não considerarem apenas a dimensão econômica e o lucro, mas também as implicações sociais e ambientais. A seguir, aparece a pressão dos consumidores, cada vez mais exigentes sobre os produtos que consomem, sua origem e os materiais usados na fabricação. Dona de 250 mil pontos de venda no país, a Souza Cruz encarava o desenvolvimento de estratégias sustentáveis para o varejo como desafio. “Descobrimos que a mudança necessária era de comportamento, isto é assumir princípios e valores claros”, conta Simone Veltri, gerente de responsabilidade social corporativa da empresa. Para a companhia, a criação do CDVR não foi só uma iniciativa de indústria, mas algo mais amplo. “Trata-se de uma criação coletiva sobre o que deve ser o varejo do futuro”, explica a executiva. “Pressupõe a definição de um código de conduta que inclua desde princípios éticos até treinamento e tratamento de funcionários, cliente, consumidor e com o meio ambiente”. Um exemplo é o uso das sacolas plásticas. Algumas redes varejistas, como a norte-americana Walmart, anteciparam-se à regulação legal, eliminando-as dos pontos de venda e assumindo o compromisso de reduzir seu uso. Para isso, o Walmart oferece desconto para quem dispensar o uso do saco plástico. Funcionando nas 300 lojas da rede nas regiões Nordeste e Sul, o programa já concedeu R$ 490 mil em abatimento e reduziu o uso de sacolas em 10%, desde 2007. O desconto, calculado no caixa, é de três centavos para cada sacola plástica poupada – ou cinco mercadorias, quantidade média de produtos embalados em uma sacola. bons negócios princípios do varEjo rEsponsávEl [ bs ] 33 1. ética nos negócios 2. transparência nas informações 3. sustentabilidade dos fornecedores 4. boas condições de trabalho 5. operações legais 6. logística sem impactos 7. Qualidade em produtos e serviços 8. bom atendimento 9. marketing sem exageros 10. consumo consciente 11. crédito responsável 12. concorrência colaborativa 13. participação nas comunidades 14. mercados inclusivos 15. autorregulação 16. preservação do meio ambiente abr/mai 2010 Darien, da Fundação Dom Cabral, avalia que o desafio é aumentar a adesão de empresas ao pacto. “Somos uma escola de negócios que ajuda o empresário a fazer bons negócios. Não temos dúvida de que, hoje, isso significa considerar aspectos sociais e ambientais, além do econômico, seja no processo, no produto ou na tomada de decisão”, afirma. O professor cita o exemplo do pacto da carne, também adotado pelo Walmart, que desde o ano passado exige dos frigoríficos da Amazônia a comprovação de rastreabilidade. Não se compra carne sem conhecimento da origem do boi, verificada por uma auditoria independente. O Walmart Brasil foi mais longe. Preocupada com a geração de resíduos sólidos, a rede iniciou em 2008 um processo de melhoria nos processos de compra, estoque, transporte e exposição dos produtos nas gôndolas. Héctor Núñez, presidente da rede no Brasil, desafiou 10 fabricantes, de seu universo de 7 mil fornecedores, a analisar a produção de alguns itens – da matéria-prima ao descarte – em busca de maior eficiência. “A ideia do projeto é, junto com os fornecedores, desenvolver produtos que reduzam seus impactos socioambientais durante o ciclo de vida e servir de modelo para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis”, diz Núñez. Foram convidadas empresas como 3M, Cargill, Colgate, Coca-Cola, J&J, Nestlé, Pepsico, Procter e Unilever, responsáveis por 40% dos produtos oferecidos nas lojas da rede. O papel do supermercado foi dar suporte técnico, do início ao fim da cadeia produtiva, sobretudo em embalagens. Como moeda de troca, ofereceu garantia de compra e exposição diferenciada dos produtos mais sustentáveis nas gôndolas das lojas. Há muito que melhorar ao longo da cadeia varejista. Nas questões analisadas para os Princípios Fundamentais do Varejo Responsável há sugestões de como as empresas devem agir em relação ao cliente, ao meio ambiente, aos funcionários, aos concorrentes, aos fornecedores e à sociedade, além de orientação sobre formas sustentáveis de produzir, comercializar e consumir. Entre os temas citados, destacam-se, também, a transparência na divulgação de produtos, a remuneração justa, a promoção de locais de trabalho seguros, a concorrência leal, a diminuição do uso de energia e a exclusão de parceiros que não cumprem as leis. O capítulo mais complexo é o que diz respeito ao varejo do futuro. “É importante ousar na construção de um modelo inovador para que as empresas possam se estruturar em direção a um novo mercado, com a adoção de posturas criativas que vão mudar a lógica de se fazer negócios”, diz Darien. De acordo com a escola mineira, dentre todos os setores empresariais, o varejo é o que mais tem poder para estabelecer vínculos com os consumidores, constituindo um canal efetivo de relacionamento com os produtores. O comércio ocupa também uma posição estratégica em relação à indústria, ao gerar demanda por produtos e influenciar o consumidor em suas escolhas. Por suas características peculiares de dimensão, capilaridade e abrangência, o setor reflete a dinâmica econômica dominante na sociedade. Comerciantes e fornecedores precisam, assim, vender não apenas produtos, mas marcas de responsabilidade socioambiental. Compreender o futuro do varejo permitirá conhecer, antecipadamente, as tendências do mercado. O estudo da Fundação Dom Cabral identifica três grandes questões no topo da agenda do varejo: mudanças climáticas, tratamento dos resíduos e cadeia de suprimentos. As respostas a elas permitirão criar um modelo de negócios que assegure a sobrevivência das empresas, da sociedade e da natureza. lideRança capa eneRgia « R e p o R tag e m m i c h e l e s i lva » e X em p los i n s pi r a d o r e s pa r a m u da r o m u n d o Ricardo corrêa maRco auRÉlio RaYmundo Quem? médico pediatra gaúcho, presidente da mormaii, empresa líder do segmento de trajes para esportes náuticos. o Quê? mobilizou a comunidade de garopaba (sc) promovendo o desenvolvimento social e a responsabilidade social empresarial. poR Quê? atraiu a atenção do mundo 34 [ bs ] abr/mai 2010 dos negócios com a estreita relação da sua empresa com a comunidade local, lexibilizando horários de trabalho e concedendo autonomia para os funcionários. suRFando na onda dos negócios, o médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, 61 anos, foi um daqueles jovens hippies dos anos 70. Ele largou o estilo de vida que tinha em Porto Alegre e foi curtir o mar em uma vila de pescadores em Santa Catarina. Quase quarenta anos depois, Morongo, como é mais conhecido, virou um empresário de sucesso, inovador e informal, adepto dos óculos escuros, que transformou a Mormaii em uma das principais marcas jovens do País. Hoje, sua empresa produz uma infinidade de produtos – mais de 600 –, desde trajes de esportes aquáticos a biquínis, óculos, roupas, acessórios e cosméticos, exportando para 50 países. Morongo saiu de Porto Alegre em busca de qualidade de vida e de realização profissional, o que, para ele, significa também participação social. Em Garopaba, no litoral sul catarinense, encontrou um bucólico povoado sem água encanada e energia elétrica, onde montou o primeiro posto de saúde da região. Apesar de ser pediatra, atendia homens, mulheres e idosos, já que era o único médico na região. No fim do expediente, pegava a prancha e corria para o mar. Nos primeiros dois anos, sua casa não possuía energia elétrica. O doutor Morongo recebia galinhas e peixes como retribuição por consultas e tratamentos. Como o inverno catarinense era um problema para o surfe, resolveu costurar seu próprio macacão de borracha. A peça fez sucesso entre surfistas e gerou muitos pedidos de amigos. Assim surgiu a empresa, cujos primeiros funcionários eram pacientes com hanseníase. “o mundo é dividido EntrE Yin E Yang. o primEiro é coopErativo, pacifista E consErvador. o sEgundo, agrEssivo, compEtitivo E Expansivo. o dEsafio é pErcorrEr o caminho do mEio” A fábrica cresceu empregando os moradores da região. A princípio, os trabalhadores precisaram de treinamento. Por falta de máquinas de costura apropriadas, máquinas de costurar calçados foram adaptadas. Aos poucos, consolidou-se a Mormaii (mistura heterodoxa de Morongo, Maíra, a primeira esposa, e Havaí). Surfistas de várias regiões começaram a comprar os macacões e a encher as praias da Ferrugem e do Silveira, as mais famosas de Garopaba. Com eles vieram namoradas, famílias e amigos, impulsionando o turismo local – hoje, o motor econômico da cidade de 16,7 mil habitantes, que recebe 40 mil no verão. A essa altura, Morongo teve de fazer uma escolha: a carreira de médico ou a de empresário. “As doenças eram consequências da falta de infraestrutura e das condições socioeconômicas da região. Percebi que poderia contribuir mais como empreendedor”, explica. Com o crescimento, a Mormaii tornou-se parte da identidade local. Os vínculos com os moradores permanecem fortes até hoje. Muitos se lembram do tempo em que o surfista vestia bermuda e jaleco branco para fazer atendimentos e distribuía amostras grátis de medicamentos. Hoje, a empresa tem 220 funcionários diretos, mas considerando as 37 empresas licenciadas da marca e as 27 lojas exclusivas no país, o número de empregados chega a 10 mil. [ bs ] 35 Apesar de liderar uma empresa competitiva, que cresce 10% ao ano e se espalha pelo mundo, Morongo não trabalha 15 horas por dia, seis dias ou mais por semana. Costuma tirar folgas prolongadas e viaja para lugares paradisíacos, como Tailândia e Havaí. Nunca deixou de alternar o escritório com a praia. O segredo? “Eu consigo delegar. Às vezes fico dois meses viajando e abr/mai 2010 compRomisso social encontro a empresa melhor do que deixei. Se você der espaço para as pessoas crescerem, pode se surpreender com elas, porque dar espaço é dar liberdade, e isso induz à criatividade.” A flexibilização do horário de trabalho é uma marca da Mormaii. Os funcionários têm autonomia para planejar a rotina e, se o mar estiver bom para o surfe, chegar mais tarde ou sair mais cedo para aproveitar as ondas. “É uma pena que as leis trabalhistas não estejam preparadas para esse aumento de consciência, ignorando as rotinas alternativas”, critica. A estratégia de administração chama a atenção de empresários e de estudantes que visitam a empresa. Morongo é descrito como um chefe onipresente, que em um momento participa de uma reunião para aprovar um novo produto, e, no instante seguinte, ajuda a cortar a grama do pátio. “Um empresa é feita de pessoas. Ninguém é contra dinheiro, mas nenhum dinheiro no bolso tem mais valor do que surfar na hora certa em que rolam altas ondas. Minha preocupação passa pela qualidade de vida.” Para resumir sua prática de gestão, nada como a filosofia hippie. “O mundo é dividido entre Yin e Yang. O primeiro é cooperativo, pacifista e conservador. O segundo, agressivo, competitivo e expansivo. O desafio é percorrer o caminho do meio, o equilíbrio, que é o que perseguimos na nossa empresa”, ensina. Do mochileiro que chegou a Garopaba há 40 anos resta mais que o discurso e a “descontração criativa” adotada na gestão. Morongo esbanja convicção. “A lógica dos negócios é muito voltada para o Yang, mas se eu ficasse só no Yin viveria na praça, vendendo chinelinho de palha, e nunca geraria transformação”, argumenta. O neo-hippie de hoje mora em uma mansão cinematográfica, dá palestras sobre modelos de negócios e viaja pelo mundo em busca da onda perfeita – a próxima. [bs] série divulgação ano da biodiveRsidade a precificação do valor da floresta é fundamental para a conservação Quanto vale uma FloResta? 36 [ bs ] abr/mai 2010 e s ta b i l i da d e c l i m át i c a , c h u va s pa r a a ag r i c u lt u r a , at i vo s Fa r m ac ê u t i c o s , e n e r g i a , p o l i n i Z aç ão – o va l o r da b i o d i v e r s i da d e F l o r e s ta l é i n c a l c u l áv e l . d e t e r o d e s m ata m e n t o e r e m u n e r a r o s s e r v i ç o s F l o r e s ta i s é o o b J e t i vo d o s p r o J e t o s r e d d , Q u e s e m u lt i p l i c a m p e l o pa í s RepoRtagem eliZabeth oliveiRa o bRasil já tem, em andamento, 17 projetos com base na metodologia REDD – sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação –, que a Convenção da ONU Sobre Mudanças Climáticas deverá oficializar na 16ª Conferência das Partes (COP-16), no México, em dezembro. O que poucos se dão conta é que o REDD é um mecanismo importante também para a conservação da biodiversidade, não apenas para a mitigação dos gases do efeito estufa. Em pleno Ano Internacional da Biodiversidade da ONU, as 17 ações em processo de planejamento ou de implementação implicam proteção de 320 mil km2 de florestas, na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica. O Brasil exerce papel de liderança na discussão sobre a valorização das florestas em pé, fundamental para conter a perda de diversidade biológica, promover a sustentabilidade dos negócios com ativos florestais e assegurar a sobrevivência humana. O impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade está entre os riscos percebidos, por exemplo, pela pesquisa Pegada Florestal, que contou com a participação de 35 empresas globais com operações que afetam florestas (veja box na próxima página). A importância da conservação florestal para a estabilização do clima é clara, mas o seu valor é incalculável e difícil de precificar. Durante a fotossíntese, as árvores absorvem gás carbônico. Quando são cortadas ou queimadas, liberam a substância para a atmosfera. Além disso, mantêm o equilíbrio do ciclo de chuvas, favorecendo a formação de nuvens e protegendo as fontes de água, usadas na energia hidrelétrica e na irrigação. As florestas amazônicas influenciam o regime de chuvas do Centro-Oeste e do Sudeste, sustentando o agronegócio brasileiro. Mudanças climáticas globais que afetem o ciclo hidrológico na Amazônia podem provocar perdas na biodiversidade, savanização de florestas, prejuízos na agricultura e escassez de água para abastecimento. A iniciativa atraiu atenções e contribuiu para transformar o Brasil em uma importante vitrine internacional de negócios de conservação florestal. A COP-15, realizada em dezembro em Copenhague, reforçou essa vocação. “O mecanismo de REDD é uma oportunidade única para viabilizar alternativas de valorização da floresta em pé”, diz João Tezza Neto, superintendente técnico-científico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). A organização, criada em 2007, está à frente da implementação do projeto desenvolvido na Reserva do Juma, em parceria com o Governo do Estado do Amazonas. A FAS criou o Programa Bolsa Floresta para remunerar famílias que conservam as áreas florestais. A venda de créditos de carbono gerados pelo desmatamento evitado é uma das fontes de financiamento. A parceria inclui o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM), atuando no apoio técnico. A experiência do Juma conquistou o apoio da rede de Hotéis Marriot, que, em 2007, destinou US$ 2 milhões comunidade de boa Frente, na Reserva do Juma, no amazonas abr/mai 2010 [ bs ] 37 O Projeto de REDD da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no município de Novo Aripuanã, Amazonas, foi o primeiro no mundo a ser validado como ação de Desmatamento Evitado. Foi pioneiro, também, ao receber a certificação CCBA, da Aliança Clima, Comunidade e Biodiversidade, emitida pela certificadora alemã TÜV SÜD, em 2008. Seu objetivo é de estocar 3,6 milhões de toneladas de carbono, entre 2006 e 2016, gerando inclusão social para 340 famílias que contribuirão para proteger 7,7 mil hectares de floresta tropical. Até 2050, devem ser negociados cerca de 189,7 milhões de toneladas de créditos de carbono, cujo preço internacional, atual, gira em torno de US$ 5 por tonelada. divulgação Fas vitRine amaZônica série 38 [ bs ] abr/mai 2010 técnicos da spvs realizam inventário de florestas no paraná ao projeto, em quatro anos. Os recursos são oriundos da compensação de emissões de carbono dos hóspedes (US$ 1 por noite) espalhados por hotéis no mundo todo. O dinheiro é investido em quatro frentes prioritárias: fiscalização e monitoramento, desenvolvimento social, atividades econômicas sustentáveis para as comunidades,e pagamento direto por serviços ambientais. Nas comunidades localizadas na reserva, além da remuneração do Programa Bolsa Floresta, a construção de escolas e o incentivo às atividades econômicas sustentáveis, como criação de peixes, produção agroflorestal e manejo florestal, evitam o êxodo rural para as cidades. O secretário executivo do Idesam, Mariano Colini Cenamo, afirma que os projetos de REDD estimulam a conservação florestal como atividade econômica. “Vejo o REDD como a maior possibilidade que a gente já teve de aliar conservação e desenvolvimento no longo prazo”. Mas a viabilização de uma economia da floresta em pé, divulgação Fas sergio moraes/ Reuters ano da biodiveRsidade diz ele, demanda mais investimentos e discussão, sobretudo no âmbito da Convenção do Clima da ONU, “embora não restam dúvidas sobre a sua viabilidade”. Na COP-15, segundo Cenamo, a discussão sobre REDD foi a que mais avançou. O documento final do Acordo de Copenhague identifica o REDD como prioridade na luta pela estabilização do clima, destinando-o a um fundo independente que já tem compromissos de doação da ordem de US$ 4,5 bilhões, para ajudar a conservação das florestas tropicais. Novas formas de fortalecimento deverão ser discutidas na COP-16. “Um dos desafios do Brasil é a preparação de um arcabouço legal para regulamentação do REDD”, diz o secretário do Idesam. A definição de regras claras para funcionamento desse mercado está sendo discutida a partir de um projeto de lei proposto pelo deputado federal Lupércio Ramos (PMDB-AM). Apesar das questões pendentes, o Brasil está apoiando o governo de Moçambique a desenvolver uma ini- ciativa semelhante ao Programa Bolsa Floresta. Em outubro de 2009, o governo do Amazonas já remunerou 6,8 mil famílias pela conservação de 10 milhões de hectares de Unidades de Conservação (UCs) estaduais – uma área maior do que a de Portugal. “Saímos do referencial teórico para a aplicação prática da metodologia em relação às comunidades, entre outros aspectos”, diz João Tezza Neto. outRas eXpeRiências No Paraná, em Santa Catarina e na Bahia, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) promove um Programa de Desmatamento Evitado visando à preservação de 2,4 mil hectares de remanescentes florestais nativos da Mata Atlântica. O grande alvo é a conservação das florestas de araucária. Só no Paraná, onde resta menos de 1% de floresta araucária em bom es- tado, já foram evitadas as emissões de 250 mil toneladas de carbono. O esforço, segundo o biólogo Denilson Cardoso, coordenador do programa, é manter as condições florestais de estocagem de carbono e a reprodução dos serviços ambientais, como oferta de água, polinização de campos agrícolas e proteção da biodiversidade. O HSBC Seguros é o principal apoiador do programa da SPVS. A instituição adotou, em 2007, a conservação de dez áreas, que correspondem a 1,5 mil hectares de florestas nativas nos estados do Paraná e Santa Catarina, além de uma região de Cerrado com Mata Atlântica, na Bahia.A experiência brasileira já foi estendida para outros países onde o banco atua, tais como México, Argentina e Panamá. Segundo a SPVS, as divisões de Cartões e de Eventos do HSBC também adotaram duas áreas, uma de 83,99 hectares e outra de 45,48 hectares, que somadas às do HSBC Seguros totalizam 1,6 mil hectares. [bs] pEgada florEstal [ bs ] 39 Fernanda Flauzino, gerente de comunicação do grupo independência, considera que as ações empresariais para conciliar a pecuária com a proteção florestal exigem a conscientização dos fornecedores. “criamos procedimentos de cadastramento desses fornecedores para atender aos novos requisitos legais, principalmente no bioma amazônia. somos membros efetivos do grupo de trabalho da pecuária sustentável e buscamos realizar nosso papel com boas práticas dentro da cadeia produtiva.” com atuação em seis estados (sp, mt, ms, ro, go e mg), o grupo independência aderiu à pesquisa, segundo Fernanda, “porque tem ações efetivas para demonstrar seu comprometimento com a sustentabilidade”. entre os trunfos da gestão ambiental estão a reciclagem de 85% dos resíduos resultantes do abate de cerca de mil bovinos por dia. as ações evitam o despejo de 108,6 mil toneladas, ou 155 mil metros cúbicos anuais, de dejetos em aterros sanitários ou industriais. “isso equivale a 14 campos de futebol”, acrescenta. abr/mai 2010 o desenvolvimento econômico também pode contribuir para a manutenção da floresta em pé. trinta e cinco grandes empresas que dependem dos recursos naturais das florestas, e que mantêm operações que impactam globalmente a sua sustentabilidade, participaram da pesquisa pegada Florestal, realizada pela global canopy Foundation, de oxford, no reino unido, em 2009. a pesquisa identificou as cadeias produtivas de biocombustíveis, soja, carne, couro e madeira – todas com forte atuação no brasil – como as mais sensíveis para a conservação da floresta em pé. o documento poderia ser mais amplo se as 217 companhias consultadas tivessem aceitado participar, informando sobre suas soluções para minimizar impactos, em vez de apenas 35. no brasil, foram procuradas 19 companhias, mas só duas aceitaram responder: o grupo independência, de são paulo, que atua no setor agropecuário, e a empresa Fíbria, controlada pela votorantim e a aracruz celulose, produtora de papel e celulose. para a canopy Foundation, a baixa adesão ao levantamento deve-se à pouca percepção sobre os riscos do desmatamento e do desequilíbrio climático. FeRRamenta capa eneRgia « R e p o R tag e m c o n R a d o l o i o l a » indicadores, selos, normas, guias, certiFicados e m é t o d o s d e F o m e n t o à i n ovaç ão n a s c o r p o r aç õ e s Í n d i c e Fa R m a s u s t e n táv e l nEgócio saudável t r e Ze e m p r e sa s Já u sa m o í n d i c e Fa r m a s u s t e n táv e l , o p r i m ei r o d o s e to r Fa r m ac êu t i co 40 [ bs ] abr/mai 2010 o que é? Elaborado a partir de reuniões com empresas farmacêuticas – num trabalho de planejamento que levou dois anos até seu lançamento, em 2008 –, o Índice FarmaSustentável é um indicador de sustentabilidade setorial coordenado pelo Grupo dos Executivos da Indústria Farmacêutica (Grupemef). A entidade é responsável pelo prêmio Lupa de Ouro, um dos mais importantes da área farmacêutica, que gerou a criação do primeiro índice de sustentabilidade aplicável ao setor. “Criamos no prêmio, em 2004, a categoria de Sustentabilidade. Mas, logo no ano seguinte, entendemos que premiar ações pontuais não bastava para promover a reflexão do ponto de vista da gestão”, diz Marcelo Weber, diretor do FarmaSustentável no Grupemef. Segundo Weber, a primeira preocupação do foi tornar o novo indicador fácil de compreender para os profissionais de negócios. “Se o ponto principal é a gestão de impactos e de relações gerados e produzidos a partir da área de negócios, o primeiro objetivo é traduzir as questões de sustentabilidade para esse público”, explica. Atualmente, o indicador é utilizado por 13 empre- sas do setor farmacêutico brasileiro, composto por cerca de 450. Segundo Weber, o objetivo é aumentar a divulgação e, consequentemente, a adesão ao FarmaSustentável. Qual a vantagem? O objetivo do FarmaSustentável é oferecer às empresas um instrumento de autoconhecimento, facilitador da inserção da sustentabilidade na empresa. Segundo Weber, o Grupemef pretende divulgar, ainda em 2010, o benchmark básico do setor, com base nas informações de algumas das empresas que já aplicaram a ferramenta. “Isso vai permitir que as empresas saibam se o que estão fazendo nessa área vai além ou não do que o mercado tem feito.” como funciona? Para aplicar o indicador é necessário responder a um questionário sobre as iniciativas de sustentabilidade da companhia. As perguntas são divididas em cinco aspectos: Maximização do Acesso às Terapias (iniciativas para promover [ bs ] 41 mas já é uma boa ferramenta de gestão, tendo sido adotado no Relatório de Sustentabilidade da companhia. “O FarmaSustentável representa um grande salto de qualidade para a indústria farmacêutica, porque dinamiza a área de negócios.” Tatiane Oyakawa, analista de Responsabilidade Social na Roche, também aprovou o recurso, mas observa que os indicadores são “muito numéricos”. “A exigência de respostas quantitativas dificulta um pouco a aplicação. As empresas não costumam tomar decisões com base nesse raciocínio. Algumas áreas não fazem esse tipo de medição”, explica. Para Celia Wada, consultora de sustentabilidade no setor, as questões que mais merecem a atenção, no Brasil, são a obtenção de matéria-prima, o tratamento dispensado aos funcionários de laboratórios e a preocupação com o bem-estar do cliente diante das reações adversas dos medicamentos – a chamada farmacovigilância. “Normalmente, os medicamentos têm impactos positivos, mas, às vezes, com pesquisas, é possível alterar o radical de algum medicamento e reduzir efeitos prejudiciais ao paciente.” A adequação do pós-consumo aos princípios de sustentabilidade é outra obrigação da empresa. “O fabricante é responsável por orientar o consumidor sobre o descarte do produto que disponibiliza no mercado.” [bs] abr/mai 2010 a ampliação do acesso da população aos medicamentos); Engajamento de Públicos de Interesse (canais de contato e comunicação com pacientes, ONGs, parceiros, classe médica, mídia etc.); Inovação (melhoria de práticas em produção, logística, distribuição e negócios); Estímulo ao Consumo e Prescrição Responsáveis (medidas para evitar o consumo inadequado de seus produtos); e Meio Ambiente (respeito e cuidados com o meio ambiente em todas as etapas da cadeia produtiva). Cada um desses aspectos é subdividido em subitens que aprofundam o entendimento da questão, incluindo sugestões de práticas. Conforme a empresa registra as iniciativas, vai marcando pontos, num total de 100. Quando não possui nenhuma iniciativa no tópico especificado, não marca pontos. Com isso, a empresa adquire uma visão geral de suas atividades na área de sustentabilidade, o que facilita o planejamento estratégico. “Como é dividido por aspectos, a empresa pode avaliar se está deixando de dar atenção a alguma área ou se está concentrando esforços em uma área que não é diretamente relacionada ao impacto de suas operações”, complementa Weber. Para Rosicler Rodriguez, gerente de Responsabilidade Social da Roche, uma das empresas que usam o FarmaSustentável, o índice ainda pode ser aprimorado, christopher gmuender para a Roche, o Farmasustentável representa um salto de qualidade Falsa contRovÉRsia retranca « e d i ç ão R i c a R d o a R n t» opiniões divergentes sobre temas polêmicos sacolas de plástico oXibiodegRadável ReduZem os impactos ambientais? 42 [ bs ] abr/mai 2010 sim não “O plástico oxibiodegradável seria uma solução não somente para as sacolas, mas para todas as embalagens plásticas inadequadamente descartadas no meio ambiente, não recicladas. Desde 2004, a norma do Guia Padrão de Exposição e Testes de Plásticos confirma que os plásticos se degradam no meio ambiente combinando oxidação com biodegradação. Os testes informam se o plástico é degradável, biodegradável e não tóxico. No Brasil e no exterior, universidades, laboratórios e centros de pesquisa renomados, independentes e creditados testaram a tecnologia chamada oxibio d2w e comprovaram sua eficácia e segurança, inclusive no contato com alimentos. O d2w é um aditivo que age na decomposição das moléculas de carbono, podendo ser adicionado a polietileno, poliestireno ou polipropileno, em conformidade com as resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mais de 90 países produzem o plástico oxibiodegradável com essa tecnologia. No Brasil, já são 260 indústrias. Os produtos podem ser reciclados com outros de plástico convencional ou produzidos a partir de plásticos reciclados. São idênticos aos convencionais, com a diferença única de se decomporem mais rápido, sem deixar resíduos nocivos – no caso de uma sacola típica de supermercados, o tempo estimado é de 18 meses. Por essas razões, a tecnologia é uma alternativa baseada nos pilares da sustentabilidade para diminuir os impactos ambientais de embalagens. A escolha é um primeiro passo. O ideal é que as pessoas e as indústrias se conscientizem quanto ao consumo responsável, à utilização e ao descarte.” “Muitos acham que os plásticos ditos oxibiodegradáveis poderiam ser jogados fora sem causar danos ambientais. Não é verdade. Trata-se de plásticos meramente oxidegradáveis ou fragmentáveis, que não se decompõem como prescrevem as Normas Técnicas nacionais e internacionais. Eles se dividem em pedacinhos e, no fim do processo, transformam-se em um pó que facilmente se espalha pelo solo, pela água e pelo ar. Nossa geração poderá beber, involuntariamente, plástico oxidegradável misturado à água, assim como os animais silvestres e de criação, causando sérios danos ambientais. Os fatos são comprovados pela Universidades de Michigan e da Califórnia, e Mackenzie, no Brasil, dentre outras. De acordo com elas, os fragmentos depositados no solo não podem ser coletados, reciclados mecanicamente ou recuperado energeticamente. O que a população pode e deve fazer é praticar os 3 R’s: reduzir o desperdício de sacolas; reutilizá-las; promover a coleta seletiva e reciclar. O poder público pode ajudar, aumentando a coleta seletiva municipal dos resíduos urbanos, pois só 7% das cidades brasileiras têm esse tipo de serviço. Algumas importantes redes de supermercados já fazem sua parte ao usarem sacolinhas resistentes, fabricadas dentro das normas técnicas, que, com ciclo de vida prolongado, reduzem o consumo total em 30%. Os plásticos são duráveis, leves, impermeáveis, atóxicos, inertes, não mofam nem enferrujam. São indispensáveis à vida moderna. Se o material é tão bom e provém do petróleo, que é um recurso finito, jamais deveria receber um aditivo que acelera a fragmentação, impedindo o reúso.” e d u a r d o v a n r o o s t , diretor da res brasil (plásticos com ciclo de vida útil controlado) F r a n c i s c o d e a s s i s e s m e r a l d o , engenheiro químico, presidente da plastivida instituto sócio-ambiental dos plásticos Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável. Junte-se a nós e descubra que as ideias do varejo para ajudar o planeta podem ir muito além das ecobags e das garrafas retornáveis. O varejo tem papel decisivo na promoção da sustentabilidade no planeta. É fundamental que o setor comece a adotar práticas de desenvolvimento sustentáveis. Tendo isso em mente, a Fundação Dom Cabral criou o CDVR – Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável, uma iniciativa pioneira focada na gestão responsável e na sustentabilidade, com o objetivo de pesquisar, avaliar, descrever e incentivar o desenvolvimento dos temas ligados à responsabilidade das empresas do setor de varejo e de sua cadeia de suprimentos. A ideia é favorecer a adoção dos princípios do consumo consciente, bem como criar um compromisso ético com as grandes questões demandadas pela sociedade. Cuidar do planeta é um dever de todos e sua empresa precisa fazer parte dessa iniciativa. Ligue para 4005 9200 (capitais) ou 0800 941 9200 (demais localidades) e faça parte do CDVR. Se preferir, mande um e-mail para [email protected] Empresas associadas: Pão de Açúcar | Fecomércio | Banco Santander | Souza Cruz | Ademig | Grupo Martins | Repense Comunicação | Sebrae MG | Itaú Unibanco