das competências
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das competências
inofor inofor inofor Instituto para a inovação na formação Instituto para a inovação na formação Ministério da Segurança Social e do Trabalho R. Soeiro Pereira Gomes, nº 7 Edifício América, 2º, sala 29 1600 - 196 LISBOA Tel: +351 217 946 200 Fax: +351 217 946 201 [email protected] www.inofor.pt Assegurar a visibilidade competências existentes a percursos de aprendizagem alternativos. Noutros casos, o objectivo foi o de promover a educação e a formação ao longo da vida e de permitir aos indivíduos que capitalizassem diversas formas e diversos percursos de aprendizagem. Noutros casos ainda, a identificação e a avaliação das competências adquiridas de maneira não formal serviram de instrumentos destinados a melhorar a qualidade da aprendizagem nas empresas e nas organizações. das Desde há alguns anos, a questão da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal tem vindo a ocupar um lugar de primeiro plano nos debates europeus sobre a educação, a formação e aprendizagem. Aos mais diversos níveis, das empresas aos ministérios nacionais, foram tomadas iniciativas para avaliar as competências adquiridas fora do ensino e da formação formais. Em certos casos, o objectivo foi “abrir” os sistemas de ensino de formação já Colecção CEDEFOP 01 Assegurar a visibilidade das competências Identificação, avaliação e reconhecimento da aprendizagem Colecção CEDEFOP não formal na Europa Jens Bjørnåvold Biblioteca Nacional Catalogação na Publicação Bjøråvold, Jens Assegurar a visibilidade das competências: identificação, avaliação e reconhecimento da aprendizagem não formal na Europa. (Cedefop : 1) CDU 377(4)(047.3) 331.3(4)(047.3) Ficha Técnica Editor Instituto para a Inovação na Formação Local de Edição Lisboa Título Assegurar a visibilidade das competências: identificação, avaliação e reconhecimento da aprendizagem não formal na Europa Data Fevereiro de 2003 Colecção Colecção CEDEFOP Autores Jens Bjørnåvold Tradução Maria Teresa Gonçalves Impressão Facsimile, Lda ISBN 972-8619-50-2 Depósito Legal 192048/03 Tiragem 1000 exemplares Design Multilogo, Imagem e Comunicação Tel.: 21 272 27 22 e-mail: [email protected] Primeira publicação em língua francesa com o título: Assurer la transparence des compétences editada pela Repartição das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias 2, rue Mercier, L-2985 Luxemburgo [1999], [2000], [2001] Comunidade Europeia, [1999], [2000], [2001] Tradução portuguesa: © INOFOR [2002] Tradução da responsabilidade exclusiva do INOFOR Assegurar a visibilidade das competências Identificação, avaliação e reconhecimento da aprendizagem não formal na Europa Agradecimentos O autor agradece aos colegas do Cedefop todas as apreciações feitas a propósito deste relatório, em especial a Johan van Rens, Stavros Stavrou, Sten Pettersson, Burkart Sellin, Barry Nyhan, Pekka Kämäräinen e Martina Ní Cheallaigh, que leram e comentaram as diversas versões preliminares. Agradece também a Danielle Colardyn pelas críticas construtivas e as importantes correcções durante as diferentes fases do trabalho. Finalmente, um agradecimento especial a Bernadette Lovatt por ter conseguido transformar o texto numa linguagem clara e compreensível. Índice 012 014 028 032 Prefácio Síntese 1>Introdução 2>Premissas teóricas 2.1>Natureza contextual e tácita dos conhecimentos adquiridos por via não formal 2.2>Testagem e avaliação no ensino e formação formais: questões-chave e principais desafios 2.3>Necessidade de legitimidade e de aceitação social 048 3>Tendências europeias: evolução a nível nacional 3.1>A aprendizagem não formal no sistema dual: Alemanha e Áustria 3.1.1>Alemanha 3.1.2>Áustria 3.1.3>Abertura à aprendizagem não formal através do sistema dual? 3.2. A aprendizagem não formal nos países Mediterrâneos: Grécia, Itália, Espanha e Portugal 3.2.1>Grécia 3.2.2>Itália 3.2.3>Espanha 3.2.4>Portugal 3.2.5>Uma abordagem mediterrânea? 3.3>A aprendizagem não formal nos países nórdicos: Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca 3.3.1>Noruega 3.3.2>Dinamarca 3.3.3>Finlândia 3.3.4>Suécia 3.3.5>Um modelo nórdico? 3.4>As NQV e a sua influência: Reino Unido, Irlanda e Países Baixos 3.4.1>Reino Unido 3.4.2>Irlanda 3.4.3>Países Baixos 3.4.4>Um modelo «NQV»? 3.5>França e Bélgica 3.5.1>França 3.5.1.1>O balanço das competências 3.5.1.2>«Abrir» os diplomas e os certificados 3.5.1.3>Uma abordagem «ascendente» da medição das competências 3.5.2>Bélgica 3.5.3>Os certificados formais em discussão? 3.6>Sistemas nacionais de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal determinantes e condições prévias 118 4>Tendências europeias: evolução a nível da UE 4.1>O Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e Aprender: rumo à sociedade cognitiva 4.2>A avaliação automatizada 4.3>A abordagem Leonardo da Vinci em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal 4.4>Um novo compromisso prático e político? 4.5>Uma abordagem comunitária da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes Adquiridos por via não formal? 142 5>combinar as peças: intervenientes, objectivos e soluções 5.1>Intervenientes, objectivos e soluções europeu 5.2>Intervenientes, objectivos e soluções nacional 5.3>Intervenientes, objectivos e soluções sectores e dos ramos de actividade 5.4>Intervenientes, objectivos e soluções Empresas 5.5>Definição de um ponto de partida a nível a nível a nível dos a nível das 152 6>Conclusão 6.1>Porquê? 6.1.1>Em busca da poção mágica identificação, avaliação e reconhecimento das qualificaçõeschave 6.1.2 A>identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal enquanto elemento de reconfiguração dos sistemas de ensino, de formação e de aprendizagem 6.1.3>Soluções em busca de problemas e fornecedores em busca de clientes 6.2>Como? 6.2.1>Requisitos metodológicos 6.2.2>Requisitos políticos e institucionais para o desenvolvimento de sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes Adquiridos por via não formal 166 7>bibliografia anexo glossário Nota de abertura 011 Colecção CEDEFOP Ao promover esta edição em língua portuguesa, o INOFOR inaugura uma nova colecção de publicações, consubstanciada na tradução para português de textos originais do CEDEFOP, na sequência de um protocolo assinado pelas duas instituições, com esse objectivo específico. O tema deste primeiro número reconhecimento, validação e certificação de competências adquiridas em contextos não formais e informais revela-se da maior pertinência no momento em que em Portugal se repensa o papel da certificação no âmbito do sistema de formação profissional. O reconhecimento, validação e certificação das competências adquiridas em contextos não formais e informais tem vindo a ganhar um lugar cada vez mais relevante no contexto das sociedades do conhecimento, na justa medida em que o capital humano se tem vindo a constituir o factor diferenciador do sucesso das organizações no contexto da competitividade global. O conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida, englobando num processo permanente de aprendizagem, toda e qualquer actividade empreendida com o objectivo de melhorar conhecimentos e competências, independentemente do contexto em que a mesma decorre, abriu a possibilidade ao reconhecimento das competências adquiridas fora do contexto formal de educação e formação. O CEDEFOP, no contexto do debate europeu sobre metodologias de identificação, avaliação e reconhecimento dos saberes adquiridos fora do contexto formal, desencadeou um estudo comparativo das experiências de 14 Estados-Membros, cujo relatório, agora traduzido em Português, identifica as principais tendências detectadas e põe em evidência os desafios cruciais que se colocam aos diversos intervenientes neste domínio inovador e ainda pouco estabilizado. Com esta edição, o INOFOR pretende contribuir para o debate nacional em torno das questões relativas à construção de um sistema de reconhecimento e validação de competências profissionais. Maria Teresa Paixão, Presidente do INOFOR inofor Prefácio 013 Colecção CEDEFOP DESDE HÁ ALGUNS ANOS, a questão da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal tem vindo a ocupar um lugar de primeiro plano nos debates europeus sobre a educação, a formação e a aprendizagem. Nos mais diversos níveis, das empresas aos ministérios nacionais, foram tomadas iniciativas para avaliar as competências adquiridas fora do ensino e da formação formais. Em certos casos, o objectivo foi o de «abrir» os sistemas de ensino e de formação já existentes a percursos de aprendizagem alternativos, procurando evitar a repetição inútil de sequências de aprendizagem. Noutros casos, o objectivo foi o de promover a educação e a formação ao longo da vida e de permitir que os indivíduos capitalizassem diversas formas e diversos percursos de aprendizagem, como, por exemplo, através da combinação da aquisição de saberes fornecidos pela escola e pelo trabalho. Noutros casos ainda, a identificação e a avaliação das competências adquiridas de maneira não formal serviram de instrumentos destinados a melhorar a qualidade da aprendizagem nas empresas e nas organizações. O presente relatório oferece uma visão de conjunto das actividades realizadas na Europa, neste domínio. A apresentação baseia-se em 14 relatórios nacionais encomendados pelo Cedefop, durante o período de 1997-1999. Estes relatórios abrangem o conjunto dos Estados-Membros da UE, à excepção do Luxemburgo. Além disso, foi recolhido um conjunto substancial de informações a partir de outras fontes, entre as quais a Comissão Europeia e diversos programas apoiados pela UE. Foi apresentada uma versão preliminar deste relatório durante uma conferência internacional sobre este tema, organizada pelo Cedefop, em cooperação com o ministério norueguês da Educação e da Investigação, em Maio de 2000. Os comentários formulados durante essa conferência, que reunia representantes de 18 países europeus, foram integrados na versão final, que agora surge publicada. Este relatório deve ser encarado como uma das interpretações possíveis da evolução verificada neste domínio, procurando chamar a atenção para as principais tendências, bem como pôr em evidência os desafios mais cruciais que os diversos intervenientes terão que enfrentar neste terreno altamente inovador e ainda pouco estabilizado. Esperamos que este relatório constitua um contributo positivo para os futuros trabalhos a realizar na Europa acerca das questões relacionadas com as metodologias e os sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Stavros Stavrou, Subdirector do Cedefop inofor Síntese 015 Colecção CEDEFOP O PRESENTE RELATÓRIO aborda a questão dos meios a implementar para melhorar a visibilidade da aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. Enquanto a aprendizagem efectuada nos sistemas de ensino e de formação formais é uma característica distintiva das sociedades modernas, a aprendizagem não formal é muito mais difícil de detectar e de apreciar1. Esta falta de visibilidade é cada vez mais encarada como um problema que prejudica o desenvolvimento das competências a todos os níveis, desde o dos indivíduos ao da sociedade no seu conjunto. Nos últimos anos, a maioria dos Estados-Membros da União Europeia realçou o papel crucial da aprendizagem efectuada fora e como complemento do ensino e da formação formais. Esta atenção particular traduziu-se num número crescente de iniciativas, tanto a nível das políticas como a nível das práticas, que permitiram a passagem progressiva da simples experimentação para o início da implementação. A identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal devem assentar em metodologias simples e pouco dispendiosas e numa noção clara da partilha das responsabilidades institucionais e políticas. Mas, antes de mais, essas metodologias devem ser capazes de fornecer o que prometeram, sendo, neste caso, determinante a qualidade da «medição». Este relatório procura clarificar, por meio de uma primeira análise teórica do tema, as condições necessárias para que se atinjam soluções práticas e eficazes nesta área. A natureza da aprendizagem Quando se abordam as questões relacionadas com a identificação e a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal, é fundamental levar em linha de conta a natureza contextual da aprendizagem. Quando esta se realiza em contextos sociais e materiais, os saberes e as competências são, em larga medida, o resultado da participação em «comunidades de práticas». A aprendizagem não pode reduzir-se à recepção passiva de «fragmentos» de saber. Esta perspectiva acentua não apenas a natureza relacional (papel do indivíduo no seio de um grupo social), mas também a natureza negociada, empenhada e responsabilizadora da aprendizagem (carácter comunicativo do processo). O formando adquire a competência necessária para agir ao implicar-se num processo cognitivo 1 O termo «aprendizagem não formal» abrange a aquisição informal de saberes, que pode ser descrita como uma aprendizagem não planificada em situações de trabalho e outras, mas também as fases de aprendizagem planificadas e explícitas introduzidas nas organizações e noutros locais, que não são reconhecidas no seio do sistema de ensino e de formação formais. inofor permanente. Deste modo, a aprendizagem não é apenas uma reprodução, mas também uma reformulação e uma renovação dos saberes e das competências. Os resultados dos processos cognitivos, aquilo a que chamamos «competências», são, em parte, de natureza tácita (Polanyi, 1967); por outras palavras, é difícil verbalizar e delimitar cada uma das fases ou das regras intrínsecas de uma dada competência. Em certos casos, os indivíduos não têm sequer consciência de que possuem determinada competência; este aspecto deve, obrigatoriamente, entrar em linha de conta na avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal e deve reflectir-se nas metodologias. A maioria dos nossos saberes-fazer foi adquirida pela prática e a pela experiência esforçada. Um marceneiro experiente sabe utilizar uma ferramenta de um modo que escapa à verbalização. Regra geral, consideramos tão natural estes saberes-fazer que não nos apercebemos até que ponto eles estão presentes nas nossas actividades. Requisitos metodológicos O importante é determinar se é possível desenvolver metodologias que permitam apreender as competências em causa (contextualmente específicas e em parte tácitas). Enquanto a testagem e a avaliação no seio do ensino e da formação formais têm já uma longa tradição de prática, de investigação e de teoria, em compensação, há ainda um longo caminho a percorrer para se desenvolverem metodologias específicas de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. O actual alargamento da avaliação à esfera do trabalho e dos tempos livres está inevitavelmente ligado a essa tradição. Temos razões para acreditar que as novas abordagens se inspiram, em larga medida, nas metodologias desenvolvidas nas áreas de aprendizagem mais estruturadas do sistema escolar formal. Pelo menos, pensamos que alguns dos desafios e dos problemas são semelhantes nas duas áreas de aprendizagem. No ensino e na formação formais, a avaliação desempenha duas funções principais. A função formativa procura apoiar o processo cognitivo. Nenhum sistema pode funcionar correctamente sem uma informação frequente acerca do próprio desenrolar do processo. Este aspecto é importante quer nas salas de aula quer nas empresas; quanto mais variável e imprevisível for o contexto, mais necessário é um feedback. Numa situação ideal, a avaliação deveria fornecer um feedback a curto prazo, para que as deficiências na aprendizagem fossem imediatamente identificadas e corrigidas. A função somativa visa comprovar o cumprimento de uma sequência de aprendizagem. Embora essa comprovação possa assumir diversas formas (certificados, diplomas, balanços, etc.), a sua finalidade é a de facilitar a passagem de um nível ou de um contexto para outro (de uma ra o 017 Colecção CEDEFOP classe para outra, de um estabelecimento para outro ou da escola para o trabalho). Este papel também pode ser formulado em termos de selecção e de meio de controlo do acesso aos níveis, às funções e às profissões. A confiança atribuída a um processo específico de avaliação está geralmente ligada aos critérios de fiabilidade e de validade. A fiabilidade da avaliação depende da possibilidade de reprodução dos mesmos resultados aquando de um novo teste avaliado por pessoas diferentes. Em muitos aspectos, a validade pode considerar-se como um conceito e uma preocupação mais complexos do que a fiabilidade. Em primeiro lugar, importa determinar se a avaliação mede efectivamente aquilo para que foi preparada. A autenticidade é um aspecto fundamental; um elevado grau de fiabilidade tem pouco valor se o resultado da avaliação apresenta uma imagem deformada do domínio e do candidato em causa. No entanto, os conceitos de fiabilidade e de validade não terão sentido se não estiverem associados a pontos de referência, a critérios de apreciação e/ou a normas de desempenho, etc. É possível identificar dois princípios essenciais utilizados para estabelecer esses pontos de referência e/ou esses critérios. No ensino e na formação formais, é habitualmente utilizada a referência à norma (em relação ao contexto do grupo considerado). A segunda maneira de estabelecer um ponto de referência consiste em associar um dado desempenho a um determinado critério. Para elaborar testes criteriais, é necessário, antes de mais, identificar uma área de saberes e de competências e, em seguida, estabelecer critérios gerais com base no desempenho observado nessa área específica. A experiência em matéria de testes adquirida no sistema formal pode ajudar-nos a formular um certo número de questões e de temas aplicáveis ao domínio da aprendizagem não formal. a) Quais as funções -formativas ou somativas a serem exercidas pelas novas metodologias (e pelos novos sistemas institucionais) de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? b) A diversidade dos processos cognitivos e dos contextos de aprendizagem levanta a questão de se saber se é possível obter o mesmo tipo de fiabilidade nesse domínio e no ensino e na formação formais. c) A natureza contextual e (em parte) tácita da aprendizagem torna mais complexa a procura da validade, e é conveniente determinar se as metodologias são correctamente concebidas e elaboradas de forma a gerirem esta dificuldade. d) A questão dos pontos de referência («normas») é um problema-chave a considerar. Convém determinar se os limites dos domínios (incluindo o «alcance» e o conteúdo das competências) são correctamente definidos. inofor Mantém-se em aberto a questão de se saber se a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal implica a introdução de novos instrumentos e ferramentas ou se falamos de velhas abordagens para dar resposta a novos desafios. Temos razões para acreditar que, em certa medida, assistimos, pelo menos, a uma transferência de metodologias tradicionais de testagem e de avaliação para este novo domínio. Requisitos institucionais e políticos O papel desempenhado pelos sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal não pode limitar-se à questão da qualidade das metodologias. Embora importante, não basta a presença de metodologias fiáveis e válidas para garantir a confiança e a aceitação da avaliação por parte dos indivíduos, das empresas e/ou dos estabelecimentos de ensino. Isto é especialmente verdade quando se atribui à avaliação um papel somativo, conferindo uma prova de competência aos indivíduos em posição de concorrência no mercado de trabalho ou para o acesso aos estabelecimentos de ensino. Para que se possa atribuir um valor real a uma dada avaliação, é necessário que se preencha um certo número de condições prévias, de ordem política e institucional, o que pode ser realizado, em parte, por meio de decisões políticas que garantam a base legal das iniciativas. Mas essas decisões políticas devem ser acompanhadas de um processo em que têm que ser clarificadas as questões de «participação activa» dos intervenientes envolvidos, de «controlo» e de «utilidade». Deste modo, a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal será apreciada em função de critérios técnicos e instrumentais (fiabilidade e validade) e de critérios normativos (legalidade e legitimidade). Além disso, a aceitação da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal é uma questão não apenas de estatuto legal mas também de legitimidade. Experiências nacionais e europeias A situação europeia é apresentada a partir de exemplos recolhidos em cinco grupos de países e das actividades realizadas a nível da UE. Embora os países que constituem cada um dos grupos apresentem algumas diferenças nas respectivas abordagens e escolhas metodológicas e institucionais, a proximidade geográfica e as semelhanças institucionais 019 Colecção CEDEFOP parecem favorecer uma aprendizagem mútua e, em certa medida, a procura de soluções comuns. Alemanha e Áustria: a abordagem dual As abordagens alemã e austríaca em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal apresentam numerosas semelhanças. É interessante notar que os dois países nos quais a aprendizagem pelo trabalho tem sido mais sistematicamente integrada no ensino e na formação (no quadro do sistema dual) são precisamente aqueles que, até agora, têm manifestado uma maior reserva em acompanhar esta nova tendência. Por um lado, este facto reflecte o sucesso do sistema dual, cuja eficácia em termos quer de pedagogia (combinação de aprendizagem formal e experiencial) quer de capacidade (elevada percentagem de acolhimento dos diversos grupos etários) é geralmente reconhecida. Por outro lado, tendo em vista a clara prioridade dada à formação inicial, o sistema, na sua forma actual, só parcialmente parece capaz de alargar as suas funções à formação profissional contínua e de responder às necessidades de formação mais diversificadas dos adultos. No entanto, observa-se uma intensa actividade de experimentação baseada nos projectos e um crescente interesse por estas questões. O debate sobre o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal na Alemanha e na Áustria está estreitamente relacionado com o da modularização do ensino e da formação. Grécia, Itália, Espanha e Portugal: a abordagem mediterrânea Na Grécia, na Itália, em Espanha e em Portugal, a atitude relativamente à introdução de metodologias e de sistemas de aprendizagem não formal é, em geral, positiva. Nas esferas quer públicas quer privadas, é claramente expressa a utilidade de tais práticas. A imensa reserva de conhecimentos adquiridos por via não formal que constitui a base de importantes segmentos da economia deve tornar-se visível. Trata-se não apenas de facilitar a utilização das competências existentes, mas também de melhorar a qualidade das mesmas. As metodologias de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal podem considerar-se instrumentos que permitem melhorar essa qualidade, inofor não apenas em relação aos trabalhadores e às empresas mas também em relação a sectores inteiros da economia. A situação nestes países também revela a distância que ainda falta percorrer para que se passe das intenções à execução. As acções legislativas e políticas exprimiram-se por meio de reformas educativas de extensão variável, mas a introdução efectiva de práticas de avaliação e de reconhecimento não tem mostrado progressos. Os próximos anos dir-nos-ão se as intenções positivas expressas quase unanimemente nestes quatro países se traduzirão em práticas com efeitos e utilidade reais relativamente aos indivíduos e às empresas. Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca: a abordagem nórdica Não é possível falar de um «modelo nórdico», pelo menos num sentido estrito. A Finlândia, a Noruega, a Dinamarca e a Suécia optaram por abordagens diferentes e avançam com ritmos sensivelmente diversos. Apesar dessas diferenças, estes quatro países encetaram acções práticas, graças a iniciativas legislativas e institucionais, com vista a reforçar os laços entre o ensino e a formação formais e a aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos escolares. Embora alguns dos elementos inerentes a esta estratégia sejam mais antigos, as iniciativas mais importantes foram tomadas nos últimos anos, essencialmente desde 1994/1995. A aprendizagem mútua entre estes países é importante e tem vindo a reforçar-se ao longo dos últimos dois ou três anos, como o revela, nomeadamente, a influência das abordagens finlandesa e norueguesa nos recentes documentos suecos. É manifesto que a Finlândia e a Noruega estão a abrir-se à integração institucional da aprendizagem não formal numa estratégia geral de educação e de formação ao longo da vida. Os projectos apresentados na Suécia e na Dinamarca revelam que estes dois países progridem na mesma direcção e que a questão da aprendizagem não formal se vai tornar progressivamente prioritária durante os próximos anos. Reino Unido, Irlanda e Países Baixos: a abordagem «NQV» No Reino Unido, na Irlanda e nos Países Baixos, a tendência é claramente a da aceitação de um modelo de ensino e de formação centrado nos resultados e baseado no desempenho. Uma das características fundamentais destes países é que a aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais é reconhecida como um percurso tão válido e importante como os percursos formais de aquisição de competências. No entanto, o que está em causa é o modo como se pode implementar tal sistema. As 021 Colecção CEDEFOP experiências britânica e holandesa revelam alguns dos problemas institucionais, metodológicos e práticos relacionados com o estabelecimento de um sistema capaz de integrar a aprendizagem não formal no seu próprio quadro. A dificuldade em desenvolver uma norma de qualificação aceitável parece constituir o primeiro e, talvez, o mais sério obstáculo. A partir do momento em que a avaliação é considerada criterial, a qualidade da norma passa a ser fundamental. As experiências britânicas revelam algumas das dificuldades relacionadas com a procura de um equilíbrio entre os referenciais de competências demasiado gerais e demasiado específicos. A segunda dificuldade evidenciada pelas experiências britânicas e holandesas, mas que não é visível nos documentos de que dispomos acerca das experiências irlandesas, relaciona-se com as clássicas questões da fiabilidade e da validade da avaliação. Nos documentos que consultámos, os problemas apresentam-se claramente expostos, mas as respostas, quando existem, não aparecem tão nitidamente definidas. Estes três países possuem sistemas de formação e de ensino profissionais modularizados, o que parece facilitar a introdução rápida e em grande escala de metodologias e de instituições nesta área. França e Bélgica: «abertura» dos diplomas e dos certificados Em vários aspectos, a França pode considerar-se como um dos mais avançados países da Europa no domínio da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A Bélgica, embora tenha desenvolvido uma menor actividade, tomou um certo número de iniciativas durante os últimos anos, em parte inspiradas em experiências francesas. Em França, as primeiras iniciativas foram tomadas a partir de 1985, quando foi implementado o dispositivo do balanço de competências. O balanço destina-se a auxiliar os empresários e os trabalhadores a identificar e a avaliar as competências profissionais, tendo como objectivo, simultaneamente, o apoio aos projectos profissionais e uma melhor utilização das competências dentro da empresa. A segunda importante iniciativa tomada em França consistiu na «abertura» do sistema nacional de ensino e de formação às competências adquiridas fora dos estabelecimentos formais. Desde 1992, podem ser emitidos certificados de aptidão profissional (em diversos graus) com base na avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Uma terceira iniciativa importante foi tomada pelas câmaras de comércio e de indústria francesas, a fim de estabelecer procedimentos e normas de avaliação independentes do sistema formal de ensino e de formação. Esta iniciativa, que tem como ponto de partida a norma europeia EN 45013 sobre os procedimentos de certificação de pessoal, permitiu a aquisição de uma experiência substancial. Na Bélgica, decorrem actualmente actividades paralelas, também fundamentadas na norma EN 45013. inofor Abordagens comunitárias As iniciativas realizadas a nível comunitário contribuíram claramente para a tomada de consciência deste problema por parte do público e dos responsáveis políticos. O Livro Branco da Comissão Europeia sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva (1995) permitiu definir claramente a questão e, assim, apoiar os processos a nível nacional e sectorial. Os programas posteriormente implementados (sobretudo Leonardo da Vinci e Adapt) impulsionaram e financiaram actividades de experimentação sem precedentes. Embora não intervenha directamente nos esforços que visam o desenvolvimento dos sistemas nacionais, a UE contribuiu de forma clara para aumentar o interesse despertado por esta questão, prestando um apoio prático à experimentação metodológica e institucional. Isto não significa que a estratégia específica do Livro Branco, centrada nas normas europeias e no modelo europeu de carteira pessoal de competências, tenha sido implementada. Uma das razões fundamentais para que tal não tenha acontecido reside na heterogeneidade dos objectivos definidos aquando da concepção inicial da própria tarefa. Por um lado, a carteira pessoal de competências foi apresentada como uma abordagem somativa, tendo em vista introduzir uma forma nova e mais flexível de fazer prova das qualificações e das competências. Por outro lado, esta iniciativa visava o desenvolvimento de novas metodologias de avaliação, necessitando, para isso, de identificar e de utilizar uma base mais alargada de competências; por outras palavras, tratava-se de um objectivo formativo essencialmente destinado a apoiar os processos cognitivos. A partir das actividades de experimentação conduzidas no âmbito do programa Leonardo da Vinci, verifica-se que o primeiro objectivo teve um desenvolvimento e um acompanhamento limitados. Regra geral, quando é possível detectar um elemento somativo, este remete claramente para os sistemas nacionais de qualificação existentes ou abrange um sector restrito ou uma profissão determinada. Por seu lado, o aspecto formativo impôs-se como problema fundamental, residindo a dificuldade não no estabelecimento de sistemas supranacionais extensivos mas na criação de instrumentos práticos adaptados aos diferentes empregadores e/ou trabalhadores. Atendendo a que as iniciativas têm origem numa grande variedade de intervenientes, as questões e as metodologias foram abordadas a um «baixo» nível institucional, onde dominam as questões e as preocupações formativas. Por outras palavras, a actividade dos projectos reflecte as prioridades das empresas e dos sectores e não as dos ministérios nacionais. 023 Colecção CEDEFOP Qual a razão deste interesse pelos conhecimentos adquiridos por via não formal? Quais os factores que motivaram esta vaga de actividades propagada, quase simultaneamente, à maioria dos países europeus? Para responder a esta pergunta, convém examinar atentamente os objectivos, a evolução e os desafios políticos e institucionais. Debruçar-nos-emos, em particular, sobre três aspectos. Reconfigurar o ensino e a formação A implementação de um sistema que permita a aprendizagem ao longo da vida exige uma melhor articulação entre diferentes formas de aprendizagem em diferentes domínios, em diferentes fases da vida. Enquanto o sistema formal se mantém muito centrado na formação inicial, um sistema de aprendizagem ao longo da vida tem que aceitar o desafio de associar diversos domínios de aprendizagem, quer formais quer não formais. Esta aproximação é fundamental para que se dê resposta às necessidades sentidas pelos indivíduos relativamente à renovação contínua e variada dos diversos saberes e às necessidades sentidas pelas empresas em termos de poderem dispor de um largo espectro de saberes e de competências, de uma espécie de reserva de conhecimentos que lhes permita gerir o imprevisto. Além disso, a questão da identificação, da avaliação e do reconhecimento das competências também é crucial. As competências devem tornarse visíveis para que possam ser plenamente integradas numa estratégia alargada de reprodução e de renovação dos saberes. Qualificações-chave Embora sejam normalmente abordadas como se de dois problemas distintos se tratasse, a maneira de definir, de identificar e de desenvolver as qualificações-chave e a dificuldade em avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal estão estreitamente ligadas. A nosso ver, estes dois debates reflectem diferentes facetas de uma mesma questão. Em ambos os casos, observa-se um interesse crescente relativamente às necessidades de aprendizagem e de saberes numa sociedade que experimenta mutações organizacionais e tecnológicas sem precedentes. As metodologias e os sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal podem considerar-se instrumentos que permitem melhorar a visibilidade das qualificações-chave r inofor e reforçá-las. No entanto, as expressões «conhecimentos adquiridos por via informal» e «conhecimentos adquiridos por via não formal» não são, nestas circunstâncias, de grande auxílio. O conceito de conhecimentos adquiridos por via não formal é «negativo», na medida em que se trata da negação de qualquer coisa. Esta expressão não dá indicações positivas relativamente ao conteúdo, ao perfil ou à qualidade. No entanto, esse conceito é importante, dado que chama a atenção para a riqueza e a variedade das áreas e das formas de saberes que podem ser adquiridos fora do ensino e da formação formais. Por isso, o estabelecimento de relações mais estreitas com a questão das qualificações-chave poderá revelar-se útil e imprimir a esta tarefa uma orientação mais clara. O estabelecimento de relações entre os domínios de saberes formais e não formais pode considerar-se como um meio de realização e de concretização dos objectivos expressos por meio das qualificações-chave. Soluções em busca de problemas Um desenvolvimento conduzido pela oferta? O desenvolvimento de metodologias de medição e de avaliação só raramente é induzido pela procura ou por uma impulsão a partir da base. Se analisarmos os anos de 1995-1999, período durante o qual esta tendência se afirmou e se reforçou, o lançamento de programas como Leonardo da Vinci ou Adapt a nível europeu ou sectorial contribuiu para estabelecer e para alterar o «plano de acção em matéria de avaliação». A possibilidade de se dispor de «dinheiro fresco», associada a um conjunto limitado de prioridades específicas, levou a que um certo número de estabelecimentos se empenhasse no desenvolvimento de instrumentos e de ferramentas. Embora os resultados dos projectos possam variar em termos de qualidade, não se deve subestimar o seu impacto a longo prazo nos planos de acção das organizações e dos estabelecimentos envolvidos. Os próximos anos dir-nos-ão se este movimento a partir da oferta irá encontrar utilizadores, a nível dos sectores e das empresas, por exemplo, capazes de apreciar o esforço desenvolvido. Como identificar, avaliar e reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal? O facto de conhecermos as razões para este crescente interesse pelos conhecimentos adquiridos por via não formal não implica que saibamos como apoiar e reforçar os 025 Colecção CEDEFOP elementos positivos dessa evolução. De acordo com as explicações teóricas fornecidas na primeira parte do relatório, podemos dizer que os próximos desafios são de ordem, simultaneamente, metodológica (como medir) e política/institucional (como garantir a aceitação e a legitimidade). Requisitos metodológicos Quais as funções a desempenhar pelas novas metodologias (e os novos sistemas institucionais) de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? Estaremos a falar de um papel formativo no qual os instrumentos e as ferramentas servem para orientar os processos cognitivos dos indivíduos e das empresas, ou de um papel somativo, mais restrito, no qual os conhecimentos adquiridos por via não formal são testados com vista a uma eventual inclusão no contexto do ensino e da formação formais? O objectivo da avaliação, num contexto tanto não formal como formal, é determinante para as escolhas metodológicas a efectuar e para o êxito final da própria avaliação. O bom desenvolvimento de metodologias e de sistemas só é possível se essas funções forem claramente compreendidas e combinadas ou separadas de forma construtiva e realista. Em virtude da diversidade dos processos e dos contextos de aprendizagem, é difícil alcançar um nível de fiabilidade idêntico ao dos testes normalizados (por exemplo, os de escolha múltipla). Como conseguir a fiabilidade (e que tipo de fiabilidade) nesta nova área? A fiabilidade deve situar-se na optimização da transparência do processo de avaliação (normas, procedimentos, etc.). A fiabilidade pode também apoiar-se na implementação de práticas sistemáticas e transparentes de garantia da qualidade a todos os níveis e para todas as funções. O carácter altamente contextual e (em parte) tácito dos conhecimentos adquiridos por via não formal torna mais complexa a procura da validade. O risco de se medir outra coisa diferente da que tinha sido inicialmente prevista é real. Antes de mais, convém evitar que a avaliação dê uma imagem deformada do candidato e da área e tender o mais possível para a autenticidade. As metodologias devem reflectir a complexidade da tarefa a realizar e ser capazes de apreender o que é específico de um indivíduo ou de um contexto. A questão dos pontos de referência (ou «normas») reveste-se de um grande interesse relativamente à avaliação dos conhecimentos adquiridos por via quer formal quer não formal. Enquanto a referência à norma (utilizando o desempenho de um grupo ou /de uma população) não for devidamente analisada no contexto da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal (em virtude da diversidade das competências consideradas) a inofor questão da referência ao critério ou à área mantém-se no cerne do problema. A definição dos limites dos domínios de competências (em termos de alcance e de conteúdo) e a maneira como essas competências podem ser descritas no interior desses domínios são da maior importância. Quanto maior é o alcance, mais difícil se torna a concepção dos dispositivos de uma avaliação autêntica. Este facto remete-nos para a questão das funções atribuídas à avaliação: queremos melhorar os processos de aprendizagem ou produzir provas (documentos com determinado valor)? Ambos os objectivos são profundamente legítimos e úteis. No entanto, o estabelecimento de pontos de referência difere consideravelmente em função do objectivo seleccionado. Requisitos políticos e institucionais Logo que for satisfeita a primeira exigência metodológica -, isto é, quando forem resolvidas as questões de objectivo e de função, a implementação institucional e política pode ser apoiada por duas estratégias: uma centrada na «concepção institucional» e a outra na «aprendizagem mútua». Concepção institucional: é necessário cumprir determinados critérios fundamentais para que possam ser aceites as provas que atestam uma aprendizagem por via não formal da mesma maneira que são aceites as que atestam um ensino e uma formação formais. Em primeiro lugar, todos os intervenientes envolvidos devem poder exprimir os respectivos pontos de vista no momento da implementação e de execução de sistemas de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Uma vez que esses sistemas têm um efeito directo na fixação dos salários e na atribuição dos empregos e das funções no mercado de trabalho, é claro que este aspecto abrange a questão do equilíbrio de interesses. Embora a questão de se saber quais os intervenientes que devem ser convidados a participar e quais os que devem ser ouvidos não tenha despertado, até à data, muito interesse, durante os próximos anos vai revestir-se de uma importância decisiva. Em segundo lugar, o processo deve ser alimentado por informações pertinentes. No que diz respeito à questão da representação, a definição e a estruturação das normas e dos pontos de referência (em particular) exigem informações adequadas e equilibradas. Em terceiro lugar, a transparência das estruturas e dos procedimentos desempenha um papel extremamente importante. É possível criar estruturas em que a repartição dos papéis (estabelecimento das normas, avaliação, recursos, controlo de qualidade) seja claramente definida e apresentada. A transparência dos procedimentos é condição indispensável para a aceitação e a legitimidade. Nos próximos anos, todas estas questões terão que ser objecto de reflexão tanto dos investigadores como dos decisores políticos. 027 Colecção CEDEFOP Aprendizagem mútua: deve implementar-se e apoiar-se a aprendizagem mútua entre os projectos, as instituições e os países. Grande parte da aprendizagem é já efectuada em diferentes níveis. Como já referimos em várias ocasiões, nomeadamente quando fizemos a análise das actividades realizadas a nível europeu, o potencial de aprendizagem mútua ultrapassa em muito as realizações e as práticas observadas actualmente. O estabelecimento de mecanismos neste domínio deve reflectir a variedade dos objectivos e das funções. Por fim, é absolutamente indispensável que haja uma melhor coordenação das actividades, bem como um maior apoio (a nível europeu e nacional), a fim de serem capitalizadas as experiências adquiridas graças aos múltiplos projectos, programas e reformas institucionais já empreendidos. inofor 1>Introdução 029 Colecção CEDEFOP O PRESENTE RELATÓRIO aborda a questão dos meios a utilizar para melhorar a visibilidade da aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. Enquanto a aprendizagem efectuada nos sistemas de ensino e de formação formais é uma característica distintiva das sociedades modernas, a aprendizagem não formal é muito mais difícil de detectar e de apreciar2. No entanto, esta falta de visibilidade é cada vez mais encarada como um problema que prejudica o desenvolvimento das competências a todos os níveis, desde o dos indivíduos ao da sociedade no seu conjunto3. Esta publicação tem como objectivo proporcionar uma visão de conjunto acerca das principais tendências europeias no domínio da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Trata-se de uma tarefa difícil, mas também de um desafio a enfrentar. A dificuldade reside na extrema rapidez das mudanças e da inovação, em termos quer de metodologias quer de instituições e de políticas. Nos últimos anos, a maioria dos Estados-Membros da União Europeia realçou o papel crucial da aprendizagem efectuada fora e como complemento do ensino e da formação formais. Esta atenção particular traduziu-se num número crescente de iniciativas, tanto a nível das políticas como a nível das práticas, que permitiram a passagem progressiva da simples experimentação para o início da implementação. Trata-se de um desafio na medida em que falamos de uma evolução que ocorre em contextos diversos, não apenas a nível europeu, nacional e regional, mas também a nível sectorial e a nível das empresas. A interacção entre esses níveis nunca foi objecto de uma atenção específica e o desafio consiste em determinar se é possível extrair desta soma heterogénea de experiências um núcleo comum. No Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva apresentado pela Comissão (Comissão Europeia, 1995) já era proposta a ideia de uma abordagem europeia comum no domínio da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A ambição desta proposta, que consistia na introdução de uma «carteira pessoal de competências» e cuja implementação ocorreria no âmbito de um «sistema europeu de acreditação de competências», era a de desenvolver um instrumento e uma estrutura que permitissem alargar o leque de competências utilizadas pelos indivíduos, as empresas e a sociedade no 2 O termo «aprendizagem não formal» abrange a aquisição informal de saberes, que pode ser descrita como uma aprendizagem não planificada em situações de trabalho e outras, mas também as fases de aprendizagem planificadas e explícitas introduzidas nas organizações e noutros locais, que não são reconhecidas no seio do sistema de ensino e de formação formais. 3Cf. Glossário em anexo para a definição desta terminologia, bem como a de outros termos específicos do tema. inofor seu conjunto. Esta ambição de criar um instrumento único não chegou a ser concretizada. Apesar dos múltiplos projectos-piloto centrados nas questões técnicas e organizacionais em jogo que foram lançados neste domínio (programas Leonardo da Vinci, Sócrates e Adapt), nem a ideia de uma «carteira pessoal de competências», nem a perspectiva de um «sistema europeu de acreditação das competências» chegaram a traduzir-se em soluções práticas e permanentes. O principal impulso dado a tal desenvolvimento situa-se a nível nacional e, cada vez mais, a nível sectorial e a nível das empresas. Este facto reflecte, provavelmente, a necessidade de descobrir soluções metodológicas e institucionais adaptadas a necessidades e a utilizadores específicos. As necessidades de uma empresa são radicalmente diferentes das necessidades das autoridades nacionais responsáveis pela educação e/ou pelo emprego, e as necessidades dos indivíduos são radicalmente diferentes das necessidades dos ramos e dos sectores de actividade. Esta circunstância coloca-nos perante um paradoxo: na medida em que, por uma razão ou por outra, as metodologias de avaliação se desenvolveram para aumentar a visibilidade das competências não formais e para facilitar a sua transferência de um contexto para outro, o desenvolvimento, a nível nacional e sectorial e a nível das empresas, de metodologias destinadas a dar resposta a necessidades específicas e circunscritas não estará em contracorrente relativamente a esse objectivo geral de possibilidade crescente de transferência? Este paradoxo não pode ser solucionado totalmente num único nível, seja ele nacional, regional, sectorial ou das empresas. A questão de se saber se é possível encontrar soluções europeias (graças a um quadro comum que permitiria ligar as iniciativas separadas) mantém-se em aberto. É importante sublinhar que os desafios relacionados com o desenvolvimento de métodos e de sistemas que permitam identificar, avaliar e reconhecer os saberes adquiridos por via não formal não podem reduzir-se ou limitar-se a questões puramente técnicas ou instrumentais. Se interpretarmos as tendências mencionadas acima numa perspectiva positiva, podemos dizer que esse desenvolvimento nos permite o acesso a uma grande reserva de saberes e de competências que, até agora, só foi explorada de modo marginal e não sistemático. Em compensação, se o interpretarmos numa perspectiva negativa, tratarse-á de uma intrusão da medição e da avaliação em domínios sociais que, até agora, mal foram afectados por essas técnicas. Estas dimensões éticas da questão raramente são abordadas. Corremos o risco de nos aventurarmos numa «zona de penumbra» da vida privada e da natureza humana que não deveria ser nem medida nem avaliada. O desenvolvimento de metodologias e de sistemas de alta qualidade neste domínio significa que estamos prontos a colocar interrogações sobre essas fronteiras. Para além desta introdução, o presente relatório comporta cinco capítulos. O capítulo 2 aborda questões teóricas fundamentais, tais como a natureza dos conhecimentos 031 Colecção CEDEFOP adquiridos por via não formal e as implicações políticas da criação de sistemas neste domínio. Aí são também apresentados alguns ensinamentos retirados das práticas de avaliação no ensino e na formação formais. O capítulo 3 apresenta as iniciativas e a evolução nos Estados-Membros. O capítulo 4 apresenta e analisa as iniciativas conduzidas a nível comunitário, com uma atenção especial para a mensagem do Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva e para as experiências do programa Leonardo da Vinci. No capítulo 5, tentaremos estabelecer ligações entre alguns dos elementos introduzidos nos capítulos anteriores, apresentando uma interpretação dos principais intervenientes, objectivos e soluções para os diferentes níveis considerados. O capítulo 6 contém comentários de conclusão. O extenso campo de análise apresentado nos cinco principais capítulos procura combinar a compreensão teórica dos próximos desafios e a descrição empírica da evolução e das tendências. Embora não tenhamos analisado pormenorizadamente cada iniciativa ou acção, esperamos que esta abordagem contribua para uma melhor compreensão dos desafios a enfrentar e das escolhas a fazer nos próximos anos. inofor 2>Premissas teóricas 4 033 Colecção CEDEFOP A QUESTÃO DA IDENTIFICAÇÃO, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal é de natureza profundamente prática. As metodologias devem ser simples e não dispendiosas e assentar numa noção clara do modo de partilha das responsabilidades técnicas, institucionais e políticas. Mas, antes de mais, devem poder proporcionar aquilo que prometeram, sendo, por isso, determinante a qualidade da «medição». Isto exige uma profunda compreensão da aprendizagem não formal enquanto tal. Ao clarificarmos determinados aspectos teóricos envolvidos, esperamos poder esclarecer alguns dos desafios práticos com que nos defrontamos. 2.1>Natureza contextual e tácita dos conhecimentos adquiridos por via não formal A fim de desenvolver metodologias realmente capazes de apreender, de maneira válida e fiável, a aprendizagem realizada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais, convém analisar algumas das características fundamentais da aprendizagem. Em primeiro lugar, a aprendizagem é de natureza contextual. Quando esta se efectua em contextos sociais e materiais, os saberes e as competências são, em larga medida, resultado da participação das «comunidades de práticas» (Lave e Wenger, 1991). A aprendizagem tem sido, frequentemente, encarada como um processo pelo qual o formando «interioriza» o saber, quer este seja «descoberto», «transmitido» ou «vivido» em interacção com outrem. Mas a aprendizagem não pode reduzir-se à recepção passiva de «fragmentos» de saber. Esta focagem na interiorização estabelece uma clara dicotomia entre interior e exterior, sugere que a aprendizagem é algo que se opera exclusivamente no interior do cérebro, sob a forma de um processo cerebral, e considera o indivíduo como uma unidade não problemática de análise. Desta forma, a aprendizagem reduz-se a um processo de absorção, a uma questão de transmissão e de assimilação. A abordagem alternativa proposta por Lave e Wenger fornece uma base potencialmente melhor para a compreensão e a identificação dos diversos aspectos da aquisição e da formação do saber, na medida em que acentua não apenas a natureza relacional da aprendizagem (papel do 4 O presente capítulo baseia-se em dois artigos publicados na Revista Europeia «Formação Profissional» (nº 12, 1997). Enquanto os textos de 1997 incidiam sobre desafios fundamentais, do ponto de vista metodológico e institucional, face ao desenvolvimento e implementação de metodologias destinadas a avaliar e a reconhecer as aprendizagens não formais, este capítulo procura estabelecer uma base teórica que permita compreender de modo adequado as iniciativas realizadas em diversos níveis. Para uma apresentação mais pormenorizada das questões teóricas em jogo, consulte-se também a nossa contribuição para o relatório Formation pour une société en mutation (Cedefop, 1999). inofor indivíduo no seio de um grupo social), mas também a sua natureza negociada, responsável e empenhada (carácter comunicativo da aprendizagem). O indivíduo que aprende não adquire um corpus discreto de saberes abstractos que reaplicará em contextos posteriores. Pelo contrário, adquire as competências necessárias para agir, implicando-se num processo cognitivo permanente. Deste modo, a aprendizagem não é apenas uma reprodução, mas também uma reformulação e uma renovação dos saberes e das competências. Como foi sublinhado por Engeström (1993, 1994 e 1996), quando o formando é colocado perante uma nova situação ou um problema imprevisto, não pode contar unicamente com a base estabelecida das suas competências; deve esforçar-se por encontrar novas soluções e por desenvolver práticas alternativas. Esta observação remete-nos para Herbert Simon (1973), que sublinha que, nas organizações, os problemas mal estruturados são mais conhecidos do que os problemas bem estruturados. Assim, o mais importante é saber gerir o imprevisto e poder compreender o inexplicável. O bom desempenho do formando manifesta-se na capacidade de, não apenas, reproduzir competências já existentes numa comunidade de práticas, mas também de pôr em causa essas práticas e de as melhorar. A partir do modelo de aprendizagem «expansiva» de Engeström, podemos identificar um certo número de elementos que convém ter em consideração nas metodologias de avaliação: a) a capacidade de pôr em causa os factos estabelecidos; b) a capacidade para definir e para clarificar problemas; c) a capacidade para cooperar e encontrar soluções possíveis; d) a capacidade para formular e aplicar soluções. Estas capacidades são aspectos importantes de uma atitude competente num contexto profissional. Desta forma, a capacidade para aprender é acentuada enquanto qualidade fundamental, que ultrapassa em importância até os elementos específicos de saber e de experiência sobre os quais incide a aprendizagem. Voltando ao desenvolvimento de metodologias de avaliação, esta importância mostra a necessidade de um equilíbrio entre a atenção dispensada às capacidades de aprendizagem e a que é prestada às competências factuais. Aprender a aprender, incluindo aprender a fazer face aos problemas imprevistos, constitui um elemento-chave que convém levar em conta no desenvolvimento de qualquer metodologia que vise a apreensão da essência dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Em segundo lugar, as competências são, em parte, de natureza tácita (Polanyi, 1967). Por outras palavras, é difícil verbalizar e delimitar cada uma das fases ou das regras intrínsecas de uma dada competência. Em certos casos, os indivíduos nem sequer têm consciência de 035 Colecção CEDEFOP que possuem esta ou aquela competência. Este aspecto deve, obrigatoriamente, entrar em linha de conta na avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal e deve reflectir-se nas metodologias. Quase todos nós sabemos andar de bicicleta, mas teremos grande dificuldade em formular as regras específicas intrínsecas a essa competência. O «saber-fazer» em causa foi adquirido pela prática e pela experiência esforçada. Um marceneiro experiente sabe utilizar uma ferramenta de um modo que escapa à verbalização. Regra geral, consideramos tão naturais esses saberes-fazer que não nos apercebemos até que ponto ele está presente nas nossas actividades. Este facto verifica-se talvez mais nas situações em que esses saberes-fazer nos abandonam, quando a nossa atitude intuitiva e não reflexiva face a essas actividades é interrompida por uma qualquer razão. Uma parte importante daquilo que incluímos na expressão «conhecimentos adquiridos por via não formal» pertence a esta esfera do saber implícito. Normalmente, um trabalhador experiente, colocado perante uma situação ou um problema novo, será capaz, sem pensar muito no assunto, de fazer uso da soma dos saberes abstractos e das experiências concretas que acumulou. A transformação desses saberes tácitos, implícitos e intuitivos em unidades de saber oficialmente validados é difícil e arriscada. Difícil, porque penetramos num domínio que escapa, em parte, à descrição, e arriscada, porque a construção dos saberes-fazer que tentamos apreender pode revelar-se incorrecta. Além disso, a possibilidade de apreender os saberes tácitos sob a forma de descrições formais confronta-se com problemas de ordem económica e prática: quanto tempo e quais os recursos a consagrar à avaliação de cada indivíduo? Corremos ainda o risco de nos imiscuir em domínios que não se prestam à medição e de nos comprometer numa operação problemática do ponto de vista ético, em que as actividades previamente definidas como «trabalho», «tempos livres» e «vida familiar» são redefinidas em termos de «aprendizagem». Se interpretarmos este aspecto numa perspectiva crítica, trata-se de uma intrusão da medição e da avaliação em esferas sociais que, até ao momento, eram muito pouco afectadas por essas técnicas. A qualidade da avaliação assenta, assim, num certo número de factores. As metodologias devem reflectir a natureza, quer individual e contextual quer tácita e implícita, dos conhecimentos adquiridos por via não formal e estabelecer um equilíbrio entre esses dois aspectos. Geralmente, a avaliação realizada num contexto de ensino e de formação formais responde a critérios de fiabilidade (coerência) e de validade. Esses critérios são igualmente importantes num contexto de aprendizagem não formal mas, sob vários pontos de vista, é ainda mais difícil de lhes dar resposta do que num contexto de ensino e de formação formais A questão da validade é crucial, pois as metodologias devem permitir a apreensão da variedade e da heterogeneidade dos percursos e dos resultados de aprendizagem. Considerando as dificuldades em termos de limitação de tempo e de inofor recursos, as metodologias devem, simultaneamente, dar resposta à necessidade de normalização e de simplificação e reflectir uma atitude de abertura em relação ao que escapa à norma e ao que é específico a um indivíduo ou a um grupo. Uma «medição» digna deste nome implica uma abertura à riqueza e à complexidade da aprendizagem; é o mapa que deve ser desenhado em função do terreno e não o terreno que deve ser descrito de modo a corresponder ao mapa. Conseguir o equilíbrio entre a máxima validade e os imperativos de normalização e de simplificação constitui um dos desafios fundamentais a enfrentar. Também fundamental é a questão da fiabilidade (coerência). Os utilizadores devem estar convencidos de que os resultados podem ser comparados e de que as variações injustas nas práticas de avaliação foram tanto quanto possível evitadas. Qualquer situação em que os candidatos sejam tratados de maneira diferente por falta de transparência dos procedimentos e por interpretações divergentes por parte dos avaliadores põe em risco a legitimidade do sistema. Em geral, o desafio da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal consiste em registar, quer em papel quer, cada vez mais frequentemente, em cartões electrónicos os resultados específicos de aprendizagem de indivíduos ou de contextos. Esta avaliação deve ser realizada num contexto de procedimentos com vista à normalização e à simplificação (em virtude dos recursos limitados e das legítimas exigências de coerência). É este equilíbrio entre princípios aparentemente opostos que transforma esta tarefa num desafio não apenas para os decisores políticos mas também para os investigadores e os técnicos. 2.2>Testagem e avaliação no ensino e na formação formais: questõesChave e principais desafios A avaliação constitui o tema central do presente estudo. Enquanto o ensino e a formação formais têm já uma longa tradição de prática, de investigação e de teoria neste domínio, em compensação, há ainda um longo caminho a percorrer para o desenvolvimento de metodologias específicas de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. O actual alargamento da avaliação à esfera do trabalho e dos tempos livres está, inevitavelmente, ligado a essa tradição. Tudo leva a crer que as novas abordagens se inspiram, em larga medida, nas metodologias desenvolvidas em relação aos domínios de aprendizagem (relativamente) mais estruturados do sistema escolar formal. Pelo menos, parece que alguns dos desafios e dos problemas são semelhantes nos dois domínios de aprendizagem, formal e não formal. Antes de analisarmos os esforços desenvolvidos a nível europeu destinados a avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal, 037 Colecção CEDEFOP tentaremos apresentar uma síntese de alguns ensinamentos em matéria de avaliação e de testagem retirados do ensino e da formação formais. Essa síntese pode considerar-se, em certa medida, como um esforço para estabelecer um ponto de referência para a análise das «novas» abordagens em matéria de avaliação e de testagem. Retomando uma questão que já tínhamos colocado (Cedefop, Bjørnåvold e Brown, 2000): estaremos a utilizar velhos instrumentos pintados com um novo verniz para resolver problemas novos? No ensino e na formação formais, a avaliação desempenha várias funções principais (Black, 1998). O feedback constitui uma parte essencial do ensino e da aprendizagem, e a avaliação pode desempenhar um papel formativo de apoio ao processo cognitivo. Nenhum sistema consegue funcionar correctamente sem uma informação frequente acerca do próprio desenrolar do processo. Este aspecto é importante quer nas salas de aula quer nas empresas; quanto mais variável e imprevisível for o contexto, mais necessário se torna um fedback. Numa situação ideal, a avaliação deveria fornecer um feedback a curto prazo, para que as deficiências da aprendizagem fossem imediatamente identificadas e corrigidas. A responsabilidade da avaliação formativa deve incumbir, normalmente, à pessoa directamente implicada no processo de aprendizagem, que pode partilhá-la com outras, de diversas maneiras. A avaliação desempenha também um papel somativo, pois vai comprovar o cumprimento de uma sequência de aprendizagem. Embora essa comprovação possa assumir diversas formas (certificados, diplomas, balanços, etc.), a sua finalidade é a de facilitar a passagem de um nível ou de um contexto para outro (de uma classe para outra, de um estabelecimento para outro ou da escola para o trabalho). Este papel também pode ser formulado em termos de selecção e de meio para controlar o acesso aos níveis, às funções e às profissões. Finalmente, as contas que os sistemas públicos de ensino e de formação devem apresentar fundamentam-se, muitas vezes, nos resultados (sintetizados) de avaliações. Esses sistemas devem dar cumprimento a diversas normas de desempenho e de qualidade, e os testes ou a avaliação permitem «medir» se os objectivos foram ou não atingidos. Normalmente, esses três principais papéis (ou funções) de avaliação não apresentam, em relação uns aos outros, uma distinção clara e unívoca. As funções formativa e somativa coexistem nas mesmas fases e dão, por vezes, lugar a tensões. Independentemente das funções diferentes e, em parte, contraditórias da avaliação, os factores que determinam, em larga medida, se essas funções foram ou não desempenhadas, são, entre outros, a confiança, a aceitação e o crédito. A confiança atribuída a um estádio específico de avaliação está, geralmente, ligada aos critérios de fiabilidade e de validade. A fiabilidade de uma avaliação depende da possibilidade de reprodução dos mesmos resultados aquando de um novo teste avaliado por pessoas diferentes. O carácter objectivo dos testes ou da avaliação é um elemento fundamental e inofor não deve poder ser facilmente afectado ou perturbado por factores externos. Em vários aspectos, a validade pode considerar-se um conceito e uma preocupação mais complexos do que a fiabilidade. Em primeiro lugar, importa determinar se a avaliação mede efectivamente aquilo para que foi preparada. A autenticidade é um aspecto fundamental; um elevado grau de fiabilidade tem pouco valor se o resultado da avaliação apresenta uma imagem deformada da área e do candidato em causa. A teoria revela que existem numerosas formas de validade. A procura da autenticidade diz respeito à validade do conteúdo, tendo como objectivo reflectir de forma correcta o desempenho em relação a uma determinada tarefa. Em compensação, a validade de construção procura medir, indirectamente, uma entidade construída de forma teórica, como, por exemplo, a «inteligência» (nos testes de inteligência). É possível identificar numerosas entidades deste tipo: a «criatividade», a «capacidade de cálculo», o «raciocínio verbal», etc. Nos casos deste tipo, é necessário clarificar o sentido da entidade construída (por exemplo, a «inteligência») e proceder a uma análise empírica, a fim de se determinar se esse conceito pode ser tratado como uma característica e uma entidade comuns. Os conceitos de fiabilidade e de validade não terão sentido se não estiverem ligados a pontos de referência, a critérios de apreciação e/ou a normas de desempenho, etc. É possível identificar dois princípios essenciais utilizados para estabelecer esses pontos de referência e/ou esses critérios. No ensino e na formação formais, é habitualmente utilizada a referência à norma. Graças a esse princípio, os resultados de um teste são calculados e expressos em função da distribuição dos resultados numa amostragem de indivíduos5. Os testes normativos devem levar em linha de conta dois aspectos essenciais. Em primeiro lugar, a amostragem utilizada para estabelecer a norma reveste-se de importância crucial; deve ser suficientemente vasta para ser pertinente e deve ser representativa da população de referência. Em segundo lugar, a selecção dos itens utilizados no teste é importante. Têm pouco valor informativo itens em que todos os candidatos tenham acertado, tal como aqueles em que nenhum candidato acertou. Por isso, a dificuldade reside na identificação dos itens que facultam um máximo de informação, para que se possa estabelecer uma diferenciação em função da curva de Gauss dos resultados (que decorre da abordagem estatística adoptada). Os testes normativos prestam-se a métodos de análise muito aprofundados. O problema é que, embora seja possível classificar o conjunto da 5 Os testes de inteligência são uma forma clara de ilustrar esse princípio. Os testes deste tipo são realizados a partir de uma vasta amostragem de população e atribui-se, normalmente o valor de 100 ao resultado médio. A escala dos resultados é, em seguida, ajustada de modo a determinar um desvio normalizado de 15, o que significa que o resultado de 2/3 da população varia entre 85 e 115. Isto permite determinar o significado relativo dos outros resultados. 039 Colecção CEDEFOP população em relação a um valor médio 100, o valor informativo pode revelar-se ambíguo: o que é que nos é indicado por esta ordem de classificação? A segunda forma de estabelecer um ponto de referência consiste em associar um dado desempenho a um determinado critério. Os testes criteriais implicam que se identifique um domínio de saberes e de competências, depois, que se tente definir critérios gerais a partir do desempenho observado nesse domínio específico. Embora os testes normativos e criteriais possam apresentar uma margem substancial de sobreposição, podem observarse neles algumas diferenças essenciais. Em primeiro lugar, o relevo dado ao critério significa que as questões são seleccionadas em função da sua pertinência relativamente ao programa de ensino e de aprendizagem, pelo contrário, este aspecto não teria importância ou seria mesmo, em parte, incompatível com os testes normativos. Uma segunda diferença incide sobre o sucesso do candidato. No caso de um teste criterial, uma taxa de sucesso de 80% a 90% confirmaria que os candidatos adquiriram uma compreensão ou um domínio de base acerca do tema. Um teste normativo que revelasse uma tal percentagem de sucesso não teria qualquer utilidade, pois não permitiria estabelecer distinções entre a maioria dos candidatos. Uma variante dos testes criteriais é a referência a um domínio (Popham, 1978). A experiência revela que a definição dos limites de um domínio é uma tarefa crítica, em relação à qual é conveniente levar em linha de conta tanto os limites como a extensão do domínio. «A definição de um domínio só pode ser adequadamente formulada quando essa definição especifica os seus limites, incluindo o conteúdo e a forma como este deve ser expresso, manipulado ou utilizado pelo candidato.» (Black, op.cit., p. 65) Em 1956, Bloom trouxe um contributo determinante para a resolução desta dificuldade. Com efeito, definiu seis objectivos educativos a considerar na elaboração de testes e que são o saber, a compreensão, a aplicação, a análise, a síntese e a avaliação. Bloom organiza estes seis objectivos de acordo com uma ordem hierárquica, considerando as últimas categorias mais exigentes do que as primeiras. Além disso, as últimas categorias devem incluir as primeiras, partindo do princípio que já estão adquiridas. A investigação empírica efectuada a partir desta hierarquia não permitiu confirmar a existência de uma estrutura tão clara. Em compensação, ficou manifesta a nítida distinção entre, por um lado, a categoria «saber» e, por outro, as categorias «síntese» e «avaliação». Embora tenha sido criticada e contestada a partir da sua publicação, a estrutura de Bloom foi adaptada e utilizada em numerosos trabalhos de avaliação. Para medir e avaliar o desempenho dos alunos e dos estudantes no ensino e na formação inofor formais, foi desenvolvido um vasto leque de ferramentas e de instrumentos, que reflectem, explícita e implicitamente, os diversos princípios e funções já aqui apresentados (formativos ou somativos, referência à norma ou referência ao critério). Reflectem também considerações acerca de capacidade e de custo. Num extremo desse leque, encontramos o que se pode chamar testes de respostas predefinidas, em que os candidatos devem escolher de entre um certo número de opções (exemplo típico desta forma são os testes de escolha múltipla). Em geral, os candidatos devem escolher entre verdadeiro ou falso ou responder a questões de correspondência de pares. Para dar um exemplo destas últimas, imaginemos um candidato a quem é pedido que seleccione, de entre uma lista de cinco sábios, aquele que realizou uma das quatro célebres descobertas propostas (Black, op. cit., p. 81). Graças à utilização de metodologias assistidas por computador, foi possível desenvolver uma versão aperfeiçoada do teste de respostas predefinidas (escolha múltipla). Os testes adaptativos informatizados permitem a apresentação ao candidato de perguntas que reflectem a qualidade das respostas precedentes. São numerosas as vantagens que explicam a popularidade desta abordagem. Antes de mais, estes testes permitem abranger um leque de desempenhos mais vasto do que outras formas de perguntas. Além disso, o desempenho não depende das capacidades de escrita e a fiabilidade não pode ser posta em causa por uma notação subjectiva. No entanto, também são vários os inconvenientes identificados. As respostas correctas podem resultar de conjecturas e o teste não consegue revelar as razões que motivaram a escolha daquelas. O valor formativo destes testes é, por isso, limitado. O recurso quase exclusivo a este tipo de testes pode afectar o método predominante de aprendizagem e de ensino e atribuir uma excessiva prioridade a uma abordagem «atomizada» da aprendizagem. Os testes baseados em respostas fechadas propõem ao candidato um leque relativamente mais vasto de opções. Exemplos comuns deste tipo de testes são aqueles em que é fornecido um item, a saber, uma palavra ou uma frase, para se obter a resposta requerida. Outras variantes consistem em pedir ao candidato para apresentar as razões das suas respostas de escolha múltipla ou para formular, por palavras suas, uma razão para um dado acontecimento ou para um fenómeno determinado. Em certos casos, pede-se ao candidato que responda a uma lista de perguntas curtas, concebidas para testar a sua compreensão acerca de um conjunto de dados ou de um texto. Esta variante tem algumas das vantagens dos testes de respostas predefinidas (vasta cobertura, fiabilidade), e um estímulo mais autêntico. No entanto, como no caso das respostas predefinidas, este tipo de teste exige um grande cuidado na concepção e uma pré-testagem intensiva, a fim de se evitar qualquer ambiguidade de compreensão resultante da estrutura e da formulação do teste. Os testes de perguntas abertas com respostas longas dão lugar a múltiplas respostas e a interpretações individuais. Permitem, muitas vezes, verificar a 041 Colecção CEDEFOP capacidade do candidato na selecção, na explicação e na integração de diversos elementos de conhecimento e de compreensão, bem como a sua capacidade para explicar, avaliar e demonstrar criatividade. Nas avaliações formativas, essas funções podem ser reforçadas graças à reacção do candidato face aos diversos elementos contidos no teste. Embora apresente um grau relativamente elevado de validade, este tipo de avaliação apresenta um nítido inconveniente em termos de fiabilidade. O problema fundamental consiste na dificuldade em garantir a fiabilidade da notação. No entanto, tal facto só constitui um problema na medida em que a redacção das respostas responde a um objectivo somativo. Num contexto formativo, as respostas podem ser desenvolvidas em diversas direcções, como, por exemplo, a partir de uma pesquisa documental, etc. É possível distinguir uma outra categoria de testes e de avaliação, a que se poderia chamar «avaliação do desempenho». Embora apresente numerosas variantes, o princípio unificador deste tipo de teste consiste em avaliar actividades que podem ser modelos correspondendo directamente à realidade, e não fragmentos ou substitutos isolados. Em vez de se pedir ao candidato para dizer o que sabe fazer, pede-se-lhe que mostre o que sabe fazer (Airasian, 1991, pág. 252). A decisão mais criticável neste tipo de testes é talvez a que incide sobre a escolha da tarefa a partir da qual o candidato será examinado: trata-se de determinar se essa tarefa permite ao candidato fazer realmente prova das suas competências, assim como o modo de superar as limitações em termos de tempo e de equipamento. Além disso, importa determinar a maneira como devem ser definidos os limites do trabalho, bem como o modo de comunicar os critérios de avaliação ao candidato. Neste tipo de avaliação, podem ser utilizadas diversas formas de provas; nomeadamente, tanto é possível observar o comportamento do candidato, como dar particular atenção aos critérios de resultados. A experiência revela que, por vezes, é preferível deixar o candidato fazer uma apresentação oral, a fim de permitir um diálogo acerca do processo e do desempenho. Não há dúvida de que esta forma de avaliação joga a favor da validade, desde que as tarefas e os limites sejam adequadamente definidos. Um outro elemento da validade consiste no grau de informação do candidato relativamente à filosofia do teste. A fiabilidade pode pôr um grande problema: nestas formas de avaliação, a questão da correcção e da notação é delicada. Embora seja possível desenvolver modelos formais, não há dúvida de que as competências e a experiência do avaliador desempenham um papel extremamente importante. A experiência do Reino Unido revela que, para garantir a fiabilidade, pode ser necessária a execução de um grande número de tarefas (Black, op. cit.). Aparentemente, nenhum dos sistemas implementados no Reino Unido conseguiu resolver plenamente estes problemas. A avaliação realizada a partir de um «portefólio de competências» constitui um processo integrado em diversos graus em alguns sistemas nacionais de ensino e de formação. Pode definir-se um portefólio como um conjunto de inofor trabalhos realizados, dos quais alguns foram ou serão utilizados para avaliar o desempenho. A propósito das experiências do Reino Unido, Black comenta que os esforços empreendidos para a inclusão do portefólio nas metodologias da avaliação foram marcados por uma clara tensão entre as abordagens formativa e somativa (Black, p. 97). Embora muito condensada, esta apresentação dos testes e da avaliação no contexto do ensino e da formação formais revela-se extremamente pertinente em relação à nossa análise da avaliação fora do domínio formal. Se tomarmos como ponto de partida a estrutura da nossa apresentação, poderemos definir um certo número de questões e de temas: a) Quais as funções formativas ou somativas a desempenhar pelas novas metodologias (e os novos sistemas institucionais) de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? b) A diversidade dos processos de aprendizagem e dos contextos de aprendizagem coloca a questão de se saber se é possível conseguir o mesmo tipo de fiabilidade neste domínio e no ensino e na formação formais. c) A natureza contextual e (em parte) tácita da aprendizagem torna mais complexa a procura da validade e convém determinar se as metodologias são correctamente concebidas e elaboradas para gerir essa dificuldade. d) A questão dos pontos de referência («normas») é um problema-chave a considerar. Convém determinar se os limites dos domínios (incluindo o «alcance» e o conteúdo das competências) se encontram correctamente definidos. Mantém-se em aberto a questão de se saber se a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal implica a introdução de novos instrumentos e ferramentas ou se falamos de velhas abordagens para dar resposta a novos desafios. Como já referimos na introdução deste capítulo, é legítimo acreditar que, em certa medida, assistimos, pelo menos, a uma transferência de metodologias tradicionais de testagem e de avaliação para este novo domínio. Neste caso, as experiências recolhidas no ensino e na formação formais revelarse-ão preciosas. Convém também ter em consideração as abordagens centradas nas provas práticas. No entanto, importa evitar a reinvenção de abordagens já conhecidas. Voltaremos a estas questões na última parte do relatório, a fim de determinar se a evolução a ocorrer a nível europeu, nacional e sectorial e a nível das empresas corrobora esta hipótese de transferência. 043 Colecção CEDEFOP 2.3>Necessidade de legitimidade e de aceitação social O papel que os sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal são chamados a desempenhar não pode limitar-se à questão da qualidade das metodologias. Embora importantes, as metodologias fiáveis e válidas não bastam para garantir a confiança e a aceitação da avaliação por parte dos indivíduos, das empresas e/ou dos estabelecimentos de ensino. Isto é particularmente verdade quando se confere à avaliação um papel somativo, atribuindo uma prova de competência aos indivíduos em situação de concorrência no mercado de trabalho ou para o acesso aos estabelecimentos de ensino. Para que se possa atribuir um valor real a uma dada avaliação, é necessário que se preencha um certo número de condições prévias, de ordem política e institucional, o que pode ser realizado, em parte, por meio de decisões políticas que garantam a base legal das iniciativas. Mas essas decisões políticas deveriam ser completadas por um processo no qual têm que ser clarificadas as questões de «participação activa» dos intervenientes implicados, de «controlo» e de «utilidade». Deste modo, a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal será apreciada em função de critérios técnicos e instrumentais (fiabilidade e validade) e de critérios normativos (legalidade e legitimidade). Além disso, a aceitação da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal é uma questão não apenas de estatuto legal mas também de legitimidade. Tal como acontece em relação aos certificados tradicionais emitidos pelos sistemas de ensino e de formação formais, também a função da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal pode comparar-se à moeda. Parson definiu a moeda como «[...] um código, que transmite determinadas informações do detentor para o destinatário. A moeda é válida num conjunto de situações dadas, deve assentar num valor generalizado, aceite não apenas num sentido legal, mas também pelo conjunto da população, e deve ser mensurável». Se aplicarmos este ponto de vista à avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal, surgirão numerosas situações paralelas. Tal como a moeda, também a avaliação pode considerar-se um código, que transmite uma informação do detentor para o destinatário. É possível ilustrar este tipo de situação por meio do exemplo de um indivíduo que requer um emprego, fazendo valer a avaliação das suas aquisições. A informação, enquanto tal, não é suficiente; para ser aceite, tem que ser apresentada sob a forma de um código específico. Tal como a moeda, a avaliação é válida num contexto pré-definido de determinadas situações, como, por exemplo, no mercado de trabalho, na hierarquia de inofor uma empresa ou no sistema de ensino e de formação. Tal como a moeda, a avaliação deve assentar numa forma de valor generalizado, não apenas legal, mas também legítima. As competências em causa devem ser aceites enquanto potencialmente válidas ou úteis fora do seu estreito contexto de origem. Só a utilização real consegue demonstrar se esse valor generalizado pode ser atribuído à avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Ninguém pode garantir que o valor relativo da aprendizagem formal em relação à aprendizagem não formal possa ser alterado pela introdução de metodologias e de sistemas que permitam avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal. Os laços estreitos entre o ensino e a formação formais e os processos de negociações colectivas (que influenciam a fixação dos salários e o acesso aos empregos) ilustram a complexidade deste processo. Finalmente, como no caso da moeda, a avaliação deve poder «medir». Por outras palavras, os aspectos, quer quantitativos (tempo, volume), quer qualitativos (conteúdo, perfil), da aprendizagem devem poder ser apreendidos de maneira tão válida e fiável quanto possível. A avaliação deve, por isso, poder armazenar informações, medir as aquisições de um indivíduo e indicar o valor que lhe é atribuído no contexto alargado do mercado de trabalho e do sistema de ensino e de formação, bem como da sociedade em geral. Contrariamente à moeda, a avaliação não pode funcionar com base num código unidimensional quantificado; deve, antes, utilizar textos escritos, a fim de apreender a complexidade das competências que um dado indivíduo possui. A metáfora da moeda dá relevo aos desafios que este novo «valor de troca» tem de enfrentar. Em primeiro lugar, a interpretação da avaliação enquanto código que transforma um conjunto complexo de informações (acerca das aquisições) numa linguagem normalizada e simplificada sublinha os paradoxos metodológicos analisados anteriormente. Se a normalização e a simplificação se tornam demasiado radicais, o valor informativo reduz-se, de tal forma que a legitimidade da avaliação fica ameaçada. A força da moeda reside na sua capacidade para simplificar e normalizar o que, caso contrário, seria uma operação complexa de troca e de partilha. A fragilidade da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal poderia muito bem residir na mesma necessidade de simplificação e de normalização. A legitimidade e o valor da avaliação são, além disso, definidos a partir do seu próprio valor de uso. A nível teórico, podemos considerar que estas situações normalizadas ocorrem quando os indivíduos procuram entrar no mercado de trabalho, aceder a um determinado nível no sistema de ensino e de formação ou melhorar de posição na hierarquia interna de uma empresa. As questões de legitimidade e de aceitação estão, em parte, dependentes das actuações políticas e jurídicas empreendidas pelo Estado ou por outras autoridades. A implementação e a «concepção» de instituições e de procedimentos políticos são, por 045 Colecção CEDEFOP isso, tão importantes como as considerações metodológicas que temos vindo a expor. Por outras palavras, uma metodologia, por muito perfeita que seja, fica desprovida de valor se não for acompanhada de um quadro institucional e político legítimo. Seria ingénuo pensar que a concepção institucional bastaria para encontrar uma solução completa. No entanto, seria igualmente ingénuo ignorar a importância potencial de uma abordagem deste tipo. Para a construção de uma base institucional para as novas metodologias, é necessário levar em consideração os seguintes critérios: a) devem ser ouvidos os intervenientes envolvidos; b) devem ser fornecidas informações pertinentes; c) deve encontrar-se um equilíbrio entre os diferentes interesses; d) deve ser publicitada a informação sobre as normas de competências ou de qualificações, bem como sobre os procedimentos que se prendem com o seu estabelecimento; e) devem ser introduzidos procedimentos transparentes que respeitem a integridade do candidato. A aceitação exige uma «participação activa», partilhada e equilibrada, entre os representantes do sistema de ensino e de formação formais e os representantes dos empregadores e dos sindicatos. Até ao momento, os aspectos institucionais e políticos da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal quase não foram considerados, o que se explica pelo estatuto fragmentário e a novidade das iniciativas. Esta questão é encarada como praticamente isenta de controvérsia, como um tema em relação ao qual toda a gente estará de acordo. Num contexto em que as metodologias e os sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal atingem um estádio de desenvolvimento avançado e dizem respeito a grupos de população cada vez mais vastos, é possível que esta situação se altere. Este contexto poderia aumentar o valor geral das competências adquiridas fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais e influenciar as negociações colectivas, em termos quer de fixação dos salários quer de acesso aos empregos. As alíneas d) e e) apontadas acima estão, em parte, ligadas à «zona de penumbra» de que falámos no capítulo de introdução. Os sistemas devem ser tão transparentes quanto possível e qualquer indivíduo interessado deve ser informado dos procedimentos, da base decisória e da possibilidade de contestar a avaliação. A participação activa dos intervenientes envolvidos e a aceitação encontram-se intrínseca e mutuamente ligadas, mas a aceitação de facto só é possível quando o processo é transparente. Quando esta condição de transparência está assegurada, é talvez possível evitar, em parte, os potenciais dilemas éticos. inofor A natureza da legitimidade varia em função da finalidade da avaliação e do nível em que esta se realiza. Não há dúvida de que um sistema centrado nos aspectos somativos, seja a nível europeu, nacional ou sectorial, deverá responder aos desafios mencionados acima. De resto, estas questões mantêm a sua pertinência quando à avaliação é atribuído um papel formativo. Para ter êxito, o processo adoptado a nível da empresa ou do sector deve ter em conta as questões de aceitação e de legitimidade. Isto aplica-se especialmente ao modo como é orientada a «concepção institucional»: quais os intervenientes envolvidos e qual o grau de transparência do fluxo de informações? 3>Tendências europeias: evolução a nível nacional 049 Colecção CEDEFOP DE ACORDO COM EUROSTAT (1997), EM 1994, cerca de 25% da população europeia frequentava um tipo de ensino ou de formação (todos os níveis incluídos). O desenvolvimento da formação especializada e institucionalizada é uma das características mais distintivas das sociedades europeias contemporâneas. Nesta perspectiva, o crescente interesse pela aprendizagem realizada fora dos estabelecimentos de ensino ou de formação formais pode parecer paradoxal. Numa situação em que os sistemas nacionais de ensino e de formação enfrentam (em certos casos) um fenómeno de sobrecapacidade e em que pessoas altamente qualificadas se encontram no desemprego, é legítimo interrogarmo-nos sobre a oportunidade de investir em sistemas de «avaliação e de reconhecimento das aquisições informais e não formais». E, no entanto, esses investimentos estão a ser feitos. Durante os últimos dez anos, a maioria dos EstadosMembros da UE, bem como outros países não pertencentes à UE, empreenderam acções para estabelecer metodologias e instituições destinadas a facilitar a identificação, a avaliação e o reconhecimento da aprendizagem realizada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. O interesse por essas questões, em relação às quais a França desempenhou um papel pioneiro (lei de 1985 sobre o balanço de competências e lei de 1992 sobre a validação das competências adquiridas pela experiência profissional), tem aumentado de ano para ano. O presente relatório tem como objectivo fornecer uma visão actualizada e uma interpretação dessa tendência6. É possível afirmar, desde já, que não existe actualmente na Europa nenhuma abordagem comum e unificada. O facto de terem sido empreendidas iniciativas em diversos períodos e no seio de diferentes sistemas de ensino e de formação coloca-nos perante um conjunto heterogéneo de abordagens adoptadas a nível nacional e sectorial e a nível das empresas. Este capítulo centrar-se-á, essencialmente, nas iniciativas empreendidas a nível nacional, mais ou menos na qualidade de partes integrantes das políticas públicas de educação e formação. O que é importante é que a maioria das iniciativas parece estar centrada nos mesmos desafios. Neste sentido, convém mencionar, em primeiro lugar, a reorientação do ensino e da formação formais (sobretudo profissionais), que evoluíram de sistemas estritamente centrados nos meios para sistemas centrados nos resultados ou no desempenho. Em países como o Reino Unido e a Finlândia, dá-se relevo às competências e não ao modo como estas são adquiridas. A partir do momento em que são aceites 6 A nossa apresentação baseia-se no material recolhido no quadro do projecto do Cedefop sobre «a identificação, a avaliação e o reconhecimento da aprendizagem não formal», lançado em 1997. Foram encomendados quinze estudos aos centros de investigação de catorze países e o presente relatório constitui um primeiro esforço para reunir os resultados desses trabalhos. Para as referências pormenorizadas desses estudos e dos relatórios respectivos, consultese a bibliografia. inofor percursos de aprendizagem alternativos para além dos que são propostos pelas estruturas formais, a questão da avaliação passa a ser central. Em segundo lugar, a crescente prioridade atribuída à educação e à formação ao longo da vida implica um maior interesse pelas relações entre as diferentes formas de aprendizagem em diferentes domínios, em diferentes fases da vida. Enquanto o sistema formal se mantém muito centrado sobre a formação inicial, um sistema de educação e de formação ao longo da vida tem que aceitar o desafio de associar diversos domínios de aprendizagem, quer formais quer informais. Esta ligação é fundamental para que se dê resposta às necessidades sentidas pelos indivíduos relativamente à renovação contínua e variada dos diversos saberes e às necessidades sentidas pelas empresas em termos de poderem dispor de um largo espectro de saberes e de competências, de uma espécie de reserva de conhecimentos que lhes permita gerir o imprevisto. Além disso, a questão da identificação, da avaliação e do reconhecimento das competências também é crucial. As competências devem tornar-se visíveis para que possam ser plenamente integradas numa estratégia alargada de reprodução e de renovação de saberes. Além do mais, existem determinados factores económicos que podem influenciar a decisão de se iniciar o desenvolvimento de metodologias e de sistemas. Seria extremamente motivante se os poderes públicos introduzissem sistemas de avaliação que evitassem a repetição inútil de sequências de ensino e de formação. Em certos países, as metodologias que permitem identificar, avaliar e reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal são encaradas como instrumentos indispensáveis para encetar novos percursos de aprendizagem. No entanto, esta questão não deve limitar-se às modalidades de modernização e de revitalização dos sistemas de ensino e de formação existentes. A experimentação metodológica e institucional também pode ser olhada como reflexo das mudanças fundamentais operadas na nossa compreensão da aprendizagem e das competências. O crescimento sem precedentes do ensino e da formação formais acompanha um cepticismo cada vez maior relativamente aos resultados do sistema formal. Cabe perguntar se um sistema harmonizado de educação de massas será capaz de responder às necessidades de sociedades que se tornam cada vez mais complexas, em termos quer de tecnologia quer de organização. Tradicionalmente, os sistemas de ensino e de formação formais constituíam importantes vectores não apenas de reprodução e de renovação das competências, mas também de selecção a nível dos empregos e das funções. Hoje em dia, quando numerosos países europeus vivem um duplo fenómeno de educação de massa e de desemprego de massa, o papel da educação enquanto mecanismo de selecção torna-se mais problemático. Em numerosos casos, verifica-se que o montante de educação e de formação necessária para ter sucesso no mercado de trabalho vai aumentando, enquanto o valor relativo do ensino e da formação formais vai, ao mesmo tempo, diminuindo. Este problema vai-se 051 Colecção CEDEFOP exacerbando, pois que a estratégia do «mais do mesmo» não é exactamente aquilo que interessa a um mercado de trabalho confrontado com rápidas mudanças e uma crescente incerteza. Possivelmente, enquanto o desafio consistir na selecção dos indivíduos com as competências mais bem adaptadas, os sistemas de ensino e de formação formais revelarse-ão cada vez mais inadequados, sendo cada vez mais inevitável o recurso a outras fontes. Desde o início, centrámos os nossos trabalhos numa abordagem metodológica (Cedefop, 1997), visando determinar se é possível medir, de modo fiável e válido, a aprendizagem realizada fora do ensino e da formação formais. A introdução de metodologias neste domínio só pode ser entendida num contexto social e político mais vasto, enquanto resposta à mudança de concepções relativas ao ensino e à formação. Isto define a nossa perspectiva dominante, quando procuramos obter uma visão de conjunto sobre a evolução nos países da UE/EEE. Para a apresentação da situação europeia, analisaremos cinco grupos de países. Embora os países que constituem cada um dos grupos apresentem algumas diferenças nas respectivas abordagens e escolhas metodológicas e institucionais, a proximidade geográfica e as semelhanças institucionais parecem favorecer uma aprendizagem mútua. A visão de conjunto apresentada neste capítulo é limitada, na medida em que, antes de mais, está centrada em iniciativas emanadas do sector público. Como veremos mais em pormenor nos capítulos seguintes, foram implementadas importantes iniciativas suplementares a nível das empresas e dos sectores de actividade, em parte, de modo autónomo e, em parte, graças ao apoio de programas comunitários, tais como o Leonardo da Vinci e o Adapt. Analisaremos, em primeiro lugar, o papel da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal na Alemanha e na Áustria. Duas questões fundamentais definem o âmbito desta apresentação: por que razão foram implementadas tão poucas iniciativas nestes países e de que modo o sistema dual de formação e de ensino profissionais (FEP) exerce influência nas actividades e nas iniciativas? O segundo grupo abrange os países mediterrâneos: Grécia, Espanha, Itália e Portugal. Nestes países, devido a tradições e a sistemas de ensino e de formação profissionais pouco desenvolvidos, a aprendizagem não formal desempenhou e ainda desempenha um papel fundamental. Numa situação em que o ensino e a formação formais se encontram, regra geral, reforçados, o papel da aprendizagem não formal é posto em causa e modificado. Na nossa análise ao terceiro grupo, que compreende a Finlândia, a Noruega7, a Suécia e a Dinamarca, abordaremos a questão de saber se é possível identificar um modelo nórdico. Os países nórdicos possuem uma longa tradição de aprendizagem mútua no domínio do a 7 A Noruega é o único país não membro da UE incluído neste estudo. inofor ensino e da formação. Mas aplicá-la à avaliação e ao reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal é outra questão. Na nossa análise ao quarto grupo de países, composto pelo Reino Unido, a Irlanda e os Países Baixos, debruçar-nos-emos sobre as experiências realizadas no Reino Unido, no quadro do sistema das NVQ (qualificações profissionais nacionais), e sobre a sua influência. O sistema das NVQ despertou muito interesse, sobretudo no estrangeiro. Apesar das críticas internas, este sistema, que dá relevo à modularização e aos resultados, tornou-se um importante ponto de referência no debate internacional. A Irlanda e os Países Baixos podem considerar-se países em que a influência deste sistema se fez sentir de modo muito claro, nomeadamente no domínio da evolução e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. O quinto e último grupo, que compreende a França e a Bélgica, é definido com base mais na proximidade geográfica do que numa abordagem comum da aprendizagem não formal. Como já referimos, a questão da aprendizagem não formal ocupa, desde há cerca de dez anos, uma posição de primeiro plano no debate francês sobre o ensino e a formação. As experiências francesas revestem-se de importância em termos quer de legislação quer de prática. Na Bélgica, a questão da aprendizagem não formal só recentemente foi introduzida na agenda política. Na comunidade flamenga, foi iniciada uma cooperação com os Países Baixos, mas ainda é cedo para saber o rumo que o país seguirá. Devido às diferenças entre os países, a extensão e a pormenorização das apresentações serão variáveis. Tentaremos abordar três aspectos: - qual o papel da aprendizagem não formal nos contextos político-institucionais existentes? - será possível identificar neste domínio dispositivos metodológicos e/ou institucionais estabelecidos numa base permanente? - será possível identificar experiências, por exemplo, projectos, que visem desenvolver metodologias ou instituições destinadas a avaliar e a reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal? 3.1>A aprendizagem não formal no sistema dual: Alemanha e Áustria Na Alemanha e na Áustria, a aprendizagem não formal é uma questão nova e não resolvida. Há cinco anos, praticamente não era referida. Hoje em dia, pouco a pouco, vaise desenvolvendo um debate acerca do papel da aprendizagem não formal (cf., por exemplo, Dehnbostel et al., 1999). Foi também lançado um certo número de projectospiloto (centrados, nomeadamente, nas necessidades dos desempregados, das pessoas que regressam ao mercado de trabalho, etc.), destinados a experimentar diversas 053 Colecção CEDEFOP abordagens relativas à avaliação. É difícil prever, a longo prazo, quais serão as consequências políticas e institucionais desse debate e dessa experimentação. No entanto, pensamos que estes dois países, apesar da reserva que aparentam, constituem «casos de aprendizagem» interessantes, que ilustram tanto as possibilidades e o potencial como os obstáculos e os problemas. 3.1.1>Alemanha Há um certo número de factores que explica as razões pelas quais, até à data, a questão da aprendizagem não formal só desempenhou um papel limitado na Alemanha. Em primeiro lugar, a procura directa de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal é fraca. O sistema formal de ensino e de formação é muito vasto e, desde há muito, abrange uma grande percentagem de pessoas de todos os grupos etários. Podemos, assim, falar de uma base de ensino e de formação extremamente desenvolvida, que reduz o número de pessoas susceptíveis de solicitar o reconhecimento de competências adquiridas num contexto não formal. Em segundo lugar, o sistema de ensino e de formação está extremamente centrado na formação inicial. No domínio profissional, o estatuto do sistema dual foi e continua a ser muito elevado. Não existe uma tradição de acompanhamento de outros percursos de aprendizagem, muito menos fora do sistema formal. Em terceiro lugar, o facto de o sistema dual combinar a aprendizagem pela escola e pelo trabalho implica que a vertente experimental da aquisição de saberes está, de alguma forma, incluída no modelo oficial, o que vai reduzir a necessidade de avaliação dos saberes adquiridos fora do sistema formal. Em quarto lugar, o sistema de ensino e de formação formais baseia-se nos Berufsprofile (perfis profissionais), que representam um conjunto claramente definido de qualificações ou competências. Cada Berufsprofil indica o que deve ser aprendido, de que modo e em que local. Os perfis profissionais, que podem considerar-se o «padrão» do sistema, estão, em certa medida, «orientados para os meios». Ao definirem o percurso «apropriado» para uma dada qualificação, excluem, ao mesmo tempo, outros percursos, como, por exemplo, aqueles que (em parte) se baseiam na aprendizagem não formal. Em quinto lugar, a «profissão» (Beruf), subsequente ao final, com aprovação, de um ensino e de uma formação formais, é um conceito que não apenas especifica um dado percurso de formação, mas que está também ligado a determinados níveis salariais e a um conjunto de regras que definem direitos e responsabilidades. Isto significa que o sistema formal não diz unicamente respeito aos saberes e às competências, mas constitui também um mecanismo que permite definir a repartição dos direitos e das vantagens. O sistema formal constitui, assim, um meio para definir o valor implícito de inofor diferentes formas de aprendizagem. O conjunto desses factores contribui para o elevado valor atribuído aos certificados emitidos pelo sistema formal. As empresas e os sectores profissionais também se mostraram relutantes em considerar outros percursos de aprendizagem, em virtude das altas taxas de desemprego. A questão da aprendizagem não formal tem sido encarada (e continua a sê-lo) com uma indiferença que parece também estar ligada à extrema complexidade do sistema existente; é difícil descobrir alternativas num contexto em que todas as fases estão planificadas e descritas pormenorizadamente e em que o estatuto profissional, bem como o nível salarial, dependem da ultrapassagem dessas fases. No entanto, como já referimos, esboça-se uma mudança de atitude, podendo explicar-se a crescente tomada de consciência da aprendizagem não formal graças aos factores a seguir expostos. Censura-se o sistema tradicional de ensino e de formação por estar exclusivamente centrado na formação inicial. A rigidez e a falta de flexibilidade que daí decorrem privam este sistema do dinamismo necessário ao apoio à formação contínua e/ou à reconversão. A aprendizagem não formal foi introduzida enquanto elemento necessário para contrabalançar esta excessiva focalização na formação inicial. Em compensação, o desenvolvimento do sistema de formação profissional contínua não acompanhou o modelo profundamente estruturado e formalizado da formação inicial. O «sector» da formação profissional contínua é heterogéneo e a sua coordenação pública ou tripartida é limitada. As relações que mantém com o sistema de formação inicial são fracas e relativamente arbitrárias. Esta situação veio pôr em relevo a importância de percursos alternativos de aprendizagem; como as necessidades em competências não podem ser, antecipadamente, planificadas de forma completa, os modelos flexíveis de aprendizagem constituem as condições prévias para uma aprendizagem bem sucedida. A falta de complementaridade entre os sistemas de formação inicial e contínua sublinha a necessidade de soluções «de continuidade» que permitam, por um lado, explorar de maneira mais ordenada o sistema de formação profissional contínua em expansão e, por outro, estabelecer a ligação dos seus elementos com o «gigante» da formação inicial existente. As metodologias de avaliação, bem como as instituições que permitem avaliar de maneira válida e fiável um vasto leque de competências adquiridas em diferentes contextos (quer formais quer não formais), são essenciais para o desenvolvimento e o estabelecimento dessa função de continuidade. Neste sentido, uma das iniciativas-chave consistiu no aumento da flexibilidade graças à modularização. O principal argumento a favor desta abordagem consiste no facto de a modularização permitir o estabelecimento de melhores ligações entre a formação inicial e a formação contínua. Os candidatos poderão começar ou recomeçar um determinado 055 Colecção CEDEFOP ensino ou uma formação em função das respectivas necessidades pessoais; os testes e a avaliação incidirão unicamente sobre os módulos em causa e centrar-se-ão principalmente nos resultados, o que estimulará os percursos alternativos de aprendizagem. Um representante de uma das principais organizações de parceiros sociais comentava recentemente (Görner, DGB, 1999): «Das Prüfungswesen wird sich entsprechend verändern müssen. Teilqualifiationen sind jeweils im Berufsbildungspass zu zertifizieren. Die Abschlussprüfung wird dadurch erheblich entschärft, sogar überflüssig»8. Este comentário sublinha a necessidade de uma abordagem mais flexível em matéria de ensino e de formação, que permita combinar melhor os diferentes níveis e percursos de aprendizagem. O exemplo da Alemanha é importante para compreendermos o contexto geral da aprendizagem não formal. O ponto de partida não se situa ao nível das metodologias nem das questões de fiabilidade e de validade na medição e na avaliação dos conhecimentos adquiridos: trata-se de determinar de que maneira a evolução geral das necessidades de ensino e de formação pode reflectir-se nas abordagens existentes em matéria de ensino e de formação. O sistema dual não foi concebido como instrumento de aprendizagem ao longo da vida, mas como instrumento de formação inicial. Numa situação em que se acentua a reconversão e a renovação das competências, a fragilidade deste modelo (muito eficaz noutras circunstâncias) é evidente. São três as questões que se colocam: como conseguir a abertura do modelo existente; como estabelecer a ligação com a formação profissional contínua; e como permitir uma maior variedade de percursos que confiram as mesmas qualificações e competências? Uma evolução como esta exige sistemas que permitam avaliar e reconhecer os saberes adquiridos, quer não formais quer formais. Apesar da reserva em empreender acções em matéria de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, é possível identificar no sistema alemão determinados dispositivos relacionados com esta ideia. Esses dispositivos revelam que a questão da aprendizagem não formal só foi abordada num campo e num âmbito limitados. O exame para candidatos externos (Externenprüfung) é talvez o mais importante elemento «de continuidade» entre a aprendizagem formal e a não formal e constitui um 8 O sistema de exames será modificado. As qualificações parciais serão certificadas individualmente e registadas num passaporte de formação e de ensino profissionais. Isto fará diminuir progressivamente a importância dos exames finais, que poderão mesmo tornar-se supérfluos. [traduzido do Alemão] inofor elemento permanente do sistema dual. Trata-se de um teste que dá aos trabalhadores com experiência o direito de se apresentarem a exame de final de formação (Abschlussprüfung) como os formandos que fizeram o percurso tradicional de formação no sistema dual. Apesar da sua importância, o Externenprüfung apenas dá a possibilidade de apresentação a exame, não propondo qualquer metodologia independente ou particular com vista a identificar e a avaliar aquisições específicas. O Externenprüfung é, pois, concebido em função do conteúdo, dos princípios e da estrutura do percurso formal. Por outras palavras, as competências adquiridas fora do sistema formal, independentemente das diferenças que apresentam face às que são produzidas pelo sistema formal, devem ser apresentadas e reestruturadas (pelo candidato) de acordo com os princípios do sistema formal. Esta circunstância em nada reduz a importância do Externenprüfung, visto que, no seio do sistema alemão, a proporção de candidatos que, todos os anos se apresentam a exame depois de terem passado por este teste, situa-se na ordem dos 5%. Para responder às necessidades de grupos específicos (desempregados, mulheres desejando reintegrar-se no mercado de trabalho, pessoas que abandonaram prematuramente o sistema educativo formal, etc.), foi lançado, a título experimental, um certo número de projectos. Um dos objectivos comuns à maioria destes projectos consiste em facilitar o acesso destes grupos à formação profissional contínua e, em certos casos, em permitir que reintegrem o sistema de formação inicial. O projecto BildungspassQualifizierungspass, lançado em 1974, constitui uma excepção. Este projecto, que procurava dar resposta a objectivos mais gerais, consistia num portefólio de competências que fornecia, através de um processo de descrição e de documentação, um quadro mais vasto das competências possuídas pelo trabalhador. Acrescentava, assim, ao ensino e à formação formais documentos que atestavam a experiência e a prática, apresentando uma imagem mais completa da pessoa em causa. O Bildungspass não teve grande sucesso e acabou por ser abandonado. O leitor poderá encontrar descrições de alguns projectos noutros documentos (Cedefop, 1998, 1999); convém sublinhar que os projectos de que damos conhecimento foram lançados e financiados pelos poderes públicos a nível regional, nacional e europeu. 3.1.2>Áustria A questão da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal nunca mereceu grande atenção por parte da Áustria e são poucas as iniciativas práticas que puderam ser identificadas. No entanto, tal como na Alemanha, observa-se actualmente 057 Colecção CEDEFOP um interesse crescente por esta matéria. Hoje em dia, o papel dos conhecimentos adquiridos por via não formal tem sido essencialmente abordado durante os debates relacionados com a modularização do ensino e da formação. Embora praticamente inexistente no ensino e na formação iniciais, a modularização faz uma tímida aparição na formação profissional contínua. Neste âmbito, os programas lançados, por exemplo, pelo Instituto de Promoção Profissional (Berufsförderungsinstitut) e pelo Instituto de Promoção Económica (Wirtschaftsförderungsinstitut), sublinharam a necessidade de práticas alternativas no domínio da avaliação e do reconhecimento das qualificações e das competências. Este debate, que acompanha a tendência observada na maioria dos países da Europa, está estreitamente ligado à questão geral de se saber se o sistema de ensino e de formação existente será capaz de dar resposta à necessidade de um sistema mais «flexível» que funcione para além dos limites e dos níveis tradicionais. A OCDE (1995, p.84) comenta, a propósito do sistema austríaco de ensino e de formação: «Na Áustria, a ideia de que há um tempo para adquirir saberes e competências, se possível através de qualificações formais, e um tempo para utilizar esses saberes num quadro profissional, não parece estar ainda ultrapassada.» Este comentário reflecte algumas das características fundamentais da abordagem austríaca em matéria de formação e de ensino profissionais. Os elementos que explicam as razões pelas quais o debate sobre a aprendizagem não formal se mantém, nos dias de hoje, ainda marginal também revelam que as metodologias e os sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal terão, no futuro, um papel a desempenhar. Essas características podem resumir-se como se segue. Em primeiro lugar, a formação e o ensino profissionais iniciais ocupam uma posição muito importante. O sistema austríaco, que assenta, em larga medida, no sistema dual (que continua a receber 40% das pessoas de cada grupo etário), é extremamente especializado e extremamente formalizado. Além disso, fundamenta-se numa complexa base legal e administrativa, que define pormenorizadamente o conteúdo de cada perfil profissional (Beruf), os procedimentos de avaliação e de exame, bem como a regulamentação respeitante à ligação com (e a transferência para) outros perfis e níveis profissionais. Em segundo lugar, o efeito de especialização muito acentuado traduz-se em perfis profissionais relativamente estreitos (actualmente, se incluirmos todas as formas de ensino e de formação, podemos identificar cerca de 700 perfis profissionais). Em terceiro lugar, o sistema possui um carácter hierarquizado. Não existe nenhum sistema de «unidades capitalizáveis», o que significa que uma formação parcialmente terminada num inofor determinado nível não é reconhecida, sendo o formando obrigado a retomá-la a partir do nível mais baixo. Em quarto lugar, devido à natureza especializada do sistema, é muito complicado fazer a transição, quer horizontal quer vertical, de um percurso profissional para outro. Em quinto lugar, ao contrário da formação e do ensino profissionais iniciais, a formação profissional contínua só mereceu uma limitada atenção política e está muito pouco regulamentada. O «sistema» de formação profissional contínua caracteriza-se pela concorrência entre intervenientes privados e por acções não coordenadas, emanadas de diversos organismos públicos. Pode, assim, dizer-se que o sistema austríaco de ensino e de formação profissionais é muito avançado em termos de formação e de ensino iniciais. O sistema dual favorece claramente a estreita ligação entre o ensino escolar formal e a aprendizagem pelo trabalho. Esta circunstância cria, potencialmente, uma base sólida que assegura a ligação entre competências formais e não formais em estádios posteriores da vida. No entanto, esse potencial não foi ainda plenamente explorado. A ausência de dispositivos de continuidade entre a formação inicial e a formação profissional contínua torna difícil qualquer transição horizontal ou vertical entre profissões e/ou níveis de ensino. Em resumo, os sistemas de reconhecimento das qualificações ou competências parciais mantêm-se pouco desenvolvidos. A única excepção é o Berufsreifeprüfung, criado em 1997. Os candidatos oriundos do sistema dual que obtiverem aprovação neste exame ou avaliação têm acesso ao ensino superior. Este exame incide essencialmente sobre matérias gerais, tais como Matemática, Inglês e Alemão. A aprendizagem não formal, no sentido que nós lhe damos, não é considerada neste exame. Com base no quadro traçado acima, os representantes dos parceiros sociais e de diversos organismos de formação contínua foram convidados a manifestar-se sobre as futuras perspectivas dos sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal (Cedefop, 1999, op. cit.). Os resultados deste inquérito sucinto corroboram os principais aspectos atrás analisados, mas fornecem alguns esclarecimentos interessantes em relação à evolução futura. O representante dos empregadores exprimiu o ponto de vista mais claro, mas também o mais pessimista: segundo ele, as competências adquiridas fora do sistema formal que não forem registadas num certificado formalmente reconhecido têm poucas hipóteses de ser aceites. Em conclusão, declarou: «Lamento ter que dizer que somos muito formalistas e que tomamos como ponto de partida que tudo o que não for certificado não foi formalmente aprendido e, por consequência, não existe.» 059 Colecção CEDEFOP Este mesmo ponto de vista foi expresso por outros representantes, e vários sentiram dificuldade em reconhecer qualquer vantagem em tal sistema. A elevada qualidade e a legitimidade do sistema de formação inicial foram apontadas como duas razões de peso para que o reconhecimento das competências parciais e não formais encontre dificuldades em penetrar no contexto austríaco. No entanto, este ponto de vista não é inteiramente partilhado pelos representantes dos sindicatos, que sublinharam o papel potencialmente positivo que esses sistemas poderiam desempenhar junto de pessoas candidatas a um emprego. Em geral, o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal é encarado como um factor susceptível de melhorar a situação dos trabalhadores. Destas entrevistas recolhidas na Áustria, fica, como impressão geral, uma certa reserva: as metodologias de avaliação das competências são, em parte, consideradas uma invenção anglo-saxónica que reflecte uma situação em que uma percentagem relativamente importante da população não possui uma base de qualificações profissionais digna desse nome. Não é o que se passa com a Áustria, fizeram notar os entrevistados, onde, desde há décadas, domina uma abordagem completamente diferente do ensino e da formação. No entanto, praticamente todos os comentadores estão conscientes de que é preciso aumentar a flexibilidade da formação profissional contínua. A necessidade de uma certa modularização e, portanto, de novas abordagens em matéria de avaliação e de reconhecimento parece, em parte, de aceitação pacífica, mas claramente limitada ao âmbito da formação profissional contínua. Em conclusão, pode dizer-se que a Áustria é um dos Estados-Membros da UE onde se observa o cepticismo mais abertamente declarado relativamente à introdução de metodologias e de sistemas. Os paradoxos identificados no seio do sistema de formação e de ensino iniciais, bem como entre este e a formação e o ensino contínuos, podiam dar origem a um debate mais amplo acerca de uma experimentação prática. De momento, é difícil prever em que direcção se orientará a Áustria. 3.1.3>Abertura à aprendizagem não formal através do sistema dual Como vimos acima, as abordagens alemã e austríaca em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal mantêm uma relação muito estreita. É interessante notar que os dois países nos quais a aprendizagem pelo trabalho foi mais sistematicamente integrada no ensino e na formação (no quadro do sistema dual) são os que, até agora, manifestaram maior reserva em acompanhar esta nova tendência. Por um lado, este facto reflecte o sucesso do sistema dual, em geral considerado eficaz em termos quer de pedagogia (combinação de aprendizagem formal e inofor experiencial) quer de capacidade (elevada percentagem de acolhimento dos diversos grupos etários), não sendo reconhecida a necessidade de novas metodologias de avaliação. No entanto, o sucesso do sistema dual pode ser encarado como estando na origem de um crescente interesse pela avaliação e pelo reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. É evidente que o sistema dual conseguiu estabelecer a ligação entre a aprendizagem através da escola e a aprendizagem através do trabalho. A questão consiste em saber como passar de um modelo de formação inicial para um modelo de ensino e formação ao longo da vida. Contudo, o sistema existente, essencialmente centrado nos jovens e na reprodução de saberes e de competências, só parcialmente é capaz de dar resposta à crescente procura de renovação dos saberes e das competências entre os adultos. O sistema dual não consegue, por si só, dar resposta à necessidade de um sistema de ensino e de formação mais aberto, que permita estabelecer uma ligação mais complexa e mais estreita entre profissões e níveis de ensino. É este o contexto do crescente debate sobre a aprendizagem não formal que está em curso nos dois países. 3.2.>A aprendizagem não formal nos países mediterrâneos: Grécia, Itália, Espanha e Portugal Em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, existem algumas características comuns à Grécia, à Itália, à Espanha e a Portugal. Em relação aos países do norte da Europa, estes países (pelo menos algumas regiões) têm muito pouca tradição no domínio do ensino e da formação profissionais. Só recentemente, durante os últimos dez anos, mais ou menos, foram empreendidas acções destinadas a colmatar esta lacuna. Primeiramente, a relativa debilidade do ensino e da formação profissionais, no passado, era compensada pela importância do ensino geral e teórico. Embora, nestes países, o ensino académico já não seja garantia de emprego, de salário elevado ou de estatuto, mantém-se grande o valor atribuído aos certificados, em geral, e aos títulos universitários, em particular. Os estudos revelam que, na Grécia, 70% dos jovens preferem o ensino geral ao ensino profissional (Cedefop, Turner, op. cit.), apesar da grave inadequação entre os resultados dos estabelecimentos de ensino superior e a procura no mercado de trabalho. Em segundo lugar, devido à relativa deficiência do sistema formal de ensino e de formação profissionais que se registava ainda há poucos anos, a aprendizagem não formal (particularmente através da experiência profissional) tornou-se o modo de reprodução e de renovação de competências (profissionais) dominante. Existe, por isso, nestes países, uma vasta reserva de competências 061 Colecção CEDEFOP experienciais não formais, nomeadamente na Grécia, no sul da Itália e nas regiões menos desenvolvidas da Espanha e de Portugal. Para aproveitar essa reserva e renová-la (quantitativa e qualitativamente), é preciso identificar e avaliar as suas forças e as suas fragilidades. A qualidade das competências obtidas através da aprendizagem não formal não pode nem deve ser considerada um dado adquirido. A criação de sistemas de identificação e de avaliação dignos desse nome seria talvez o meio de resolver o problema da qualidade e, se necessário, de indicar as acções complementares indispensáveis para melhorar a qualidade e o direito ao reconhecimento. Talvez mais do que na Europa do norte, isto revela a necessidade de identificação e de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Apesar da tradição relativamente deficiente do ensino e da formação profissionais e apesar de uma subvalorização profundamente enraizada das competências profissionais, em geral, e das competências profissionais não formais, em particular, verifica-se uma crescente vontade de mudança. Ao longo dos últimos dez anos, estes quatro países procederam a reformas dos respectivos sistemas de ensino e de formação profissionais e, nomeadamente, a Espanha, a Grécia (graças ao sistema dos KEK, ou centros de formação contínua) e a Itália estão, neste momento, empenhadas numa fase decisiva das reformas. As consequências em termos de metodologias e de sistemas de «identificação, avaliação e reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal» são grandes e pertinentes em relação aos países situados fora do espaço mediterrâneo. Apesar dos desafios comuns que têm que enfrentar, os quatro países trataram os aspectos metodológicos e institucionais de maneira diferente e com graus diversos de empenhamento e de intensidade. 3.2.1>Grécia A Grécia é o país da UE no qual o papel da aprendizagem não formal se assume como dominante (em certa medida, partilha este primeiro lugar com Portugal). A Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia calcula que apenas 30% da população activa grega possui uma qualificação profissional formal9, o que significa que, neste país, uma grande parte das competências profissionais foram e continuam a ser reproduzidas e renovadas 9Um estudo efectuado junto das PME gregas revela que 66% destas empresas não possuem, entre os seus empregados, qualquer técnico especializado; 13% dos proprietários de PME têm um certificado de uma escola técnica; 44% completaram os três anos do ensino secundário; 55% acham que não têm qualquer necessidade particular em termos de formação profissional. inofor fora das estruturas formais. No entanto, foram poucas as iniciativas implementadas para identificar e avaliar essas competências. Em 1994, o organismo encarregado da formação e do ensino profissionais (OEEK) criou um grupo de trabalho a quem foi confiada a realização de um estudo sobre «a acreditação da formação profissional (não formal) dos adultos». Este estudo, que constitui, até hoje, a iniciativa mais prática tomada na Grécia, apresentou propostas que recomendam a criação de um sistema que permita avaliar as aquisições experienciais, identificar as lacunas nos saberes e instaurar um procedimento que garanta o acesso a uma avaliação e a um reconhecimento adequados dos conhecimentos adquiridos. Apesar do relevo dado à experiência, este grupo de trabalho debruçou-se essencialmente sobre a questão da equivalência entre os diversos segmentos do sistema formal. Alguns percursos são oficialmente reconhecidos, outros não; muitas pessoas deparam com faltas de coerência, sendo-lhes impossível valorizar a formação que adquiriram em segmentos não reconhecidos pelo sistema de formação. De entre os elementos mais importantes da iniciativa do OEEK, destacam-se, nomeadamente, os estudos-piloto efectuados junto de uma amostragem de (quatro) profissões. As pessoas que exercem essas profissões foram avaliadas e testadas, revelando a estreita ligação que une as aquisições formais e não formais. Até à data, essas experiências não foram integradas, de modo permanente, no sistema grego. No entanto, ao longo dos últimos cinco anos, tem-se mantido um debate político permanente acerca destas questões e o Conselho de Ministros acompanha o diálogo entre os organismos envolvidos M inistério do Trabalho e do Emprego, OEEK, Ekepis10 e OAED11. Uma das prioridades consiste na criação de um completo sistema nacional, cuja falta se faz sentir actualmente, e que integre sistemas e normas profissionais. O futuro sistema encontra-se em fase experimental, estando a ser testado através de projectospiloto lançados em diversos sectores; esta experimentação baseia-se na utilização do sistema britânico dos NQV, entre outros. O objectivo consiste em desenvolver perfis de emprego (e correspondentes programas de formação) que permitam especificar o conteúdo, o tipo e o nível das competências de um dado candidato. Os perfis de emprego serão estabelecidos em diferentes níveis, especificando as competências requeridas para cada profissão e especialidade, quer a nível de iniciação quer a nível avançado. Os perfis 10 Centro nacional de acreditação das estruturas de formação contínua (Elliniko Kentro Pistopiisis Domon Synechizomenis Katartisis). 11 Organismo vocacionado para o emprego de mão-de-obra. No âmbito do terceiro quadro de apoio comunitário, foi definido um certo número de critérios relativamente à acreditação das estruturas, dos formadores, dos programas e das competências. O governo comprometeu-se a criar, no período compreendido entre 2000-2001, um sistema integrado para o reconhecimento coordenado das aquisições formais e não formais. 063 Colecção CEDEFOP serão traçados com a participação dos organismos sectoriais e dos parceiros sociais. Por exemplo, no sector da hotelaria, as descrições de emprego serão elaboradas com a participação dos sindicatos dos trabalhadores da hotelaria e do organismo sectorial nacional (neste caso, o Centro do Turismo Helénico). Este procedimento permitirá a criação de um quadro para um sistema nacional, no qual assentará a avaliação e o reconhecimento. Graças a ele, poderão ser tidos em conta os conhecimentos adquiridos anteriormente, tanto por via formal como por via não formal. O objectivo é o de permitir que todos tenham acesso a esse sistema, sendo dado o maior relevo ao conteúdo e ao nível das competências e não ao local e às modalidades de aquisição. Até à data (Outono de 1999), não foram ainda tornadas públicas as modalidades de «avaliação» dessas competências. É possível que venha a ser adoptada a abordagem dos IEK (Institouta Epangelmatikis Katartisis - institutos de formação profissional) em matéria de avaliação e de exames. Esta abordagem consiste numa combinação de exames teóricos e práticos organizados por comissões «tripartidas». Embora possam ser utilizados num futuro dispositivo elementos do sistema dos IEK, não será possível retomá-lo na íntegra. Efectivamente, realizada no nível pós-secundário, a avaliação está directamente ligada ao final de um curso e, por isso, não está aberta a quem seguiu outros percursos de aprendizagem. Além disso, também foi posta em causa a qualidade do processo de avaliação: embora se considere positiva a participação de representantes dos parceiros sociais nas comissões de exame, estes não receberam qualquer formação específica em matéria de avaliação, o que torna difícil a harmonização das práticas neste domínio. Os estudos realizados pelo Cedefop (Cedefop, Turner, op. cit.) revelam que há numerosas opiniões favoráveis à introdução de dispositivos institucionais e de metodologias de apoio a esta área. Os licenciados pelas universidades e os sindicatos dos diplomados pelo ensino pós-secundário não universitário que exercem profissões regulamentadas manifestam uma certa reserva, em parte ligada à questão dos salários e dos direitos adquiridos, susceptíveis de serem postos em causa por novas formas de reconhecimento. É interessante verificar que o cepticismo identificado no contexto austríaco não está tão claramente expresso entre as várias instâncias gregas implicadas neste domínio. Em relação ao sistema austríaco, o sistema grego de formação profissional, tanto inicial como contínua, está muito menos desenvolvido. Por isso, na Grécia, considera-se mais pertinente a necessidade de reconhecimento de competências parciais, formais ou não formais. inofor 3.2.2>Itália O sistema italiano de ensino e de formação, nomeadamente o de formação profissional e contínua, é, actualmente, objecto de um notável processo de reforma. Graça aos acordos assinados entre o governo e os parceiros sociais (em 1993 e 1996), é possível identificar os contornos de um sistema mais vasto e mais nacional. Isto é particularmente evidente na lei sobre a promoção do emprego (1996/1997), que define os princípios fundamentais de um sistema de aprendizagem (profissional) ao longo da vida. A lei de 1996/1997 introduz o princípio segundo o qual as competências podem ser certificadas independentemente do modo como foram adquiridas. As competências adquiridas em contexto de trabalho devem ser avaliadas e potencialmente reconhecidas tal como as que foram adquiridas nos estabelecimentos de formação formal. Trata-se de um sistema que permite avaliar e reconhecer «as competências parciais adquiridas por cada indivíduo no seu próprio percurso pessoal».Para isso, a nova lei prevê uma combinação de medidas: um sistema de formação modular, um sistema de unidades de formação capitalizáveis e processos de avaliação e de certificação personalizados. Os objectivos consistem na integração e na interligação dos diversos sistemas (de formação e de ensino profissionais iniciais e de formação profissional contínua) e na «personalização» dos itinerários de aprendizagem. Para a realização destes objectivos, foram criados instrumentos como um «registo individual de formação» (que pode ser combinado com certificados formais para constituir um portefólio de competências) e um «reconhecimento de competências». Este não obedece a um modelo único centralizado e aplicado em todo o país, mas difere de região para região. Embora este sistema se encontre ainda numa fase inicial de implementação, não deixa de provocar já algumas tensões. O sucesso da «personalização dos itinerários de aprendizagem» dependerá, em grande parte, do processamento e das metodologias de avaliação e de reconhecimento das competências. No centro das reformas em curso situa-se a questão de se saber quem medirá o quê e por meio de que metodologias, enquanto diversos grupos de interesse (estabelecimentos de ensino, empregadores, sindicatos) acompanham circunspectamente as iniciativas e os progressos verificados. Alguns observadores (Cedefop, Di Francesco, 1999) sublinham a predominância do conteúdo e dos programas não profissionais nos processos de avaliação propostos. Esta circunstância torna difícil o tratamento imparcial e válido dos elementos de aprendizagem não formal (por exemplo, das competências adquiridas no local de trabalho). A partir do momento em que a avaliação assenta exclusivamente em pontos de referência definidos no seio do sistema formal, as experiências de aprendizagem que seguem uma lógica diferente e que conduzem a um conteúdo diferente (por exemplo, as aquisições o, op. 065 Colecção CEDEFOP profissionais) podem facilmente passar despercebidas ou não serem avaliadas pelo seu justo valor. Outros observadores (Cedefop, Di Francesco, op. cit.) referem que, de momento, estas abordagens se encontram numa fase muito problemática devido à ausência de definições ou regulamentações claras relativamente aos instrumentos em causa, bem como à falta de um sistema de normas nacionais que promovam práticas coerentes e comparáveis. Embora a ausência de normas nacionais constitua o mais importante obstáculo para uma avaliação fiável e válida, não é o único a ter que ser ultrapassado. A exequibilidade da abordagem é também limitada pela falta de recursos, que está, em parte, relacionada com o fraco prestígio social atribuído a este segmento do ensino e da formação. Contudo, a base tripartida das reformas em curso em Itália poderia contribuir em muito para que as decisões políticas pudessem ser traduzidas em práticas institucionalizadas. Como acontece na Grécia, a atitude geral relativamente a estas questões é positiva, facto atestado por um estudo recente (Isfol, 1998), no âmbito do qual diversos gestores italianos foram entrevistados sobre os elementos que consideram mais importantes para a gestão das competências e para o desenvolvimento da formação contínua. Este estudo está intimamente relacionado com as questões da aprendizagem não formal e do desenvolvimento de metodologias e de instituições nesta área. O estudo centrava-se, em larga medida, no modo de medir as competências, a fim de estas serem geridas e utilizadas o mais eficazmente possível. Foram os seguintes os aspectos sublinhados: a) quem deve avaliar as competências adquiridas por cada trabalhador, e de que modo? Muitas empresas avaliam já as competências dos respectivos trabalhadores, mas a partir de normas internas dificilmente transferíveis. Alguns empregadores receiam que uma melhor visibilidade das competências conduza à perda das competências-chave da empresa. Daí, a necessidade de se estabelecer um quadro comum que permita encontrar um equilíbrio entre os interesses dos trabalhadores e os da empresa; b) torna-se necessária a existência de um firme controlo público dos sistemas de avaliação das competências. O objectivo consiste em reforçar as normas e garantir uma representação adequada dos parceiros sociais. Caso as regras e os procedimentos sejam claros, considera-se possível e útil a existência de uma estratégia em prol do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal; c) os sistemas de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal devem estar associados a normas gerais passíveis de comparação. As normas não devem ser demasiado específicas, pois é necessário levar em conta quer o contexto de uma aprendizagem específica quer a grande diversidade de percursos e de formas de aprendizagem possíveis; inofor d) muitos empregadores estão dispostos e prontos a experimentar procedimentos e instrumentos, a fim de aumentarem a visibilidade e a transparência das competências. Como já indicámos acima, para isso é necessário um quadro comum de controlo público. Este interesse está ligado à questão da flexibilidade do sistema de ensino e de formação enquanto tal, o que mostra bem que a abertura permitindo uma transferência de competências entre o sistema educativo e a vida activa e entre os diferentes níveis de ensino é um objectivo que deve ser obrigatoriamente atingido; e) a ideia de um portefólio de competências, no sentido do reconhecimento de «unidades experienciais», é encarada como uma via potencialmente prometedora. Este estudo mostra à evidência que entre os gestores italianos existe a convicção de que a aprendizagem pelo trabalho é importante, de que as competências adquiridas neste contexto devem tornar-se mais visíveis e de que convém atribuir-lhes um valor equivalente ao das qualificações e das competências adquiridas nas estruturas formais. A situação italiana é, em parte, contraditória. Por um lado, verifica-se uma nítida evolução para um sistema de ensino e de formação baseado nas competências, no qual diferentes percursos de aprendizagem, tanto internos como externos em relação às estruturas de formação formais, podem conduzir a qualificações formais. Por outro lado, há ainda obstáculos quer de natureza prática e económica quer de natureza mais geral que têm de ser ultrapassados. A ausência de pontos de referência (normas) nacionais pertence, claramente, a esta última categoria e as medidas a tomar no futuro deverão procurar resolver este problema de uma maneira ou de outra. 3.2.3>Espanha O movimento de reforma empreendido em Itália no âmbito da formação e do ensino profissionais e da formação contínua foi também levado a cabo em Espanha, de maneira semelhante, ainda que mais extensiva. Desde 1990, foram tomadas três importantes iniciativas legislativas e políticas. O Ministério da Educação introduziu, em 1990, uma lei sobre a «regulamentação geral do sistema educativo» e o Ministério do Trabalho introduziu, em 1993 e 1997, dois «programas nacionais para a formação profissional» (I e II). O objectivo de todas estas iniciativas, que mantêm entre si relações mútuas, consiste em integrar os diferentes subsistemas de formação e os diferentes modos de aquisição de competências (isto é, aproximar «a formação inicial, a formação profissional dos desempregados, a formação contínua e a experiência profissional»). Este esforço de estabelecimento de uma continuidade entre os diferentes sistemas fundamenta-se, 067 Colecção CEDEFOP claramente, numa abordagem da formação e do ensino profissionais centrada nos resultados e nas competências. Também se pode dizer que se procura instaurar um sistema de aprendizagem ao longo da vida. Até à data, o papel da aprendizagem não formal no sistema formal espanhol tem-se mantido limitado, sendo difícil a transferência das competências não formais, confinada ao nível da empresa. No entanto, a reestruturação do sistema de ensino e de formação parece indiciar uma mudança. Há duas iniciativas que oferecem um interesse particular. Em primeiro lugar, os serviços integrados para o emprego (SIPE) estabelecem processos para a avaliação das competências dos desempregados. Esses processos, que se baseiam numa combinação de «entrevistas profissionais», destinadas a identificar o perfil profissional e o perfil de competências do candidato, e de «testes de qualificações profissionais», procuram fornecer uma base mais correcta à orientação profissional e permitir que cada pessoa compreenda melhor os seus pontos fortes e as suas limitações. No entanto, esses processos não proporcionam nenhum reconhecimento formal. Em segundo lugar, os certificados de aptidão profissional representam um esforço para a certificação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Este sistema, introduzido em 1995 (Decreto Real 787/1995), abrange actualmente 185 títulos profissionais e cobre 22 sectores e áreas. Para a obtenção de um certificado de aptidão profissional, são possíveis dois percursos: o «percurso de formação», que é a fórmula dominante, e o «percurso de experiência profissional», cuja importância ainda é reduzida. O Ministério do Trabalho, enquanto responsável por esta iniciativa, definiu os objectivos seguintes: a) identificar as características da competência profissional e assim objectivar a acreditação; b) integrar a formação profissional num sistema que garanta a aquisição de competências profissionais; c) aumentar o conteúdo mínimo da formação dos trabalhadores; d) atribuir uma validade nacional à certificação; e) validar, com base nas aquisições experienciais, as qualificações dos trabalhadores desprovidos de títulos formais. O exame é conduzido por uma comissão de avaliação composta por sete observadores externos seleccionados ao nível da província ou do sector. Alguns comentadores (Cedefop, Castillo et al., 1999) consideram que as actividades de desenvolvimento neste domínio são quase exclusivamente centradas no percurso formal de formação profissional. Ainda que a base jurídica atribua o mesmo valor ao percurso formal e não formal, a impressão dominante é que os candidatos à certificação com base na experiência defrontam obstáculos cada vez mais numerosos. Hoje em dia, o estabelecimento de inofor metodologias e de dispositivos que permitem avaliar e reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal, em Espanha, depende do desenvolvimento paralelo de «sistemas nacionais de qualificações», que constituem pontos de referência talvez capazes de fornecer uma melhor base de integração e de interligação dos diversos modos de aquisição de competências. Um sistema deste tipo estava já previsto no primeiro «programa nacional para a formação profissional», de 1993, e encontra-se em desenvolvimento desde então. O Instituto Nacional das Qualificações, criado em 1999, dá apoio a este sistema, prevendo-se que, no futuro, venha a desempenhar um papel vital. Para além dos elementos acima mencionados, as negociações colectivas são cada vez mais utilizadas enquanto instrumentos de regulação do sistema de classificação das profissões. As negociações colectivas a nível sectorial possibilitaram a realização de alguns progressos no domínio da classificação das profissões. Graças aos acordos sobre as classificações gerais, que permitiram romper com os quadros de referência específicos das empresas, foi possível elaborar procedimentos para que os trabalhadores fossem avaliados e remunerados em função das grelhas estabelecidas. Foi, sobretudo, nos sectores da química e da construção civil que se verificaram progressos, tendo sido introduzida neste último sector uma carteira de competências profissionais, ainda que de uso bastante restrito. Os organismos sindicais encarregados da emissão dessa carteira queixam-se já dos problemas de ordem prática com que se defrontam. 3.2.4>Portugal Como na Grécia, em Itália e em Espanha, o papel económico da aprendizagem não formal é importante em sectores-chave da economia portuguesa. Num artigo recente, Carneiro (1998) compara dois sectores industriais portugueses: o do calçado e o dos componentes electrónicos. Este último sector é de implantação recente no contexto português e emprega trabalhadores que possuem um nível relativamente elevado de ensino e de formação formais. Em compensação, a indústria do calçado emprega trabalhadores com um nível extremamente baixo de ensino e de formação formais e é considerado como um sector que se reproduz e se renova graças à «aprendizagem no posto de trabalho», ou seja, aprendizagem não formal, de acordo com a nossa terminologia. Carneiro utiliza o exemplo do sucesso da indústria do calçado em Portugal, caracterizada por uma capacidade de renovação e de crescimento notável, para sublinhar o enorme potencial da aprendizagem não formal. A conclusão que retira é que este modo de aprendizagem e as competências daí resultantes constituem um recurso que deve ser explorado, no futuro, de maneira mais consciente e sistemática. 069 Colecção CEDEFOP Ainda se encontra em fase de desenvolvimento uma estratégia global de utilização sistemática dessas competências. Ao nível do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e do Ministério da Educação, durante os últimos anos, foram lançados dispositivos destinados a permitir que as pessoas desprovidas de qualificações formais pudessem solicitar uma avaliação das suas competências reais. Com base em acordos entre os parceiros sociais e o Governo (Acordo Económico e Social, de 1991 e Acordo sobre a Política de Formação Profissional, de 1991), o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social lançou um sistema de qualificações profissionais que está, em princípio, aberto às competências adquiridas fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. Estes acordos gerais, considerados como esforços destinados a estabelecer a ligação entre as políticas de ensino e de formação e a esfera mais ampla da política económica e social, estiveram na origem de três leis sobre a formação e o ensino profissionais (401/91, 405/91 e 95/92). Os fundamentos do sistema de formação profissional foram lançados por estas leis, que tinham como objectivo estabelecer «as condições para uma efectiva certificação profissional». Foram nomeadas duas comissões para coordenarem a implementação do sistema a nível nacional (Comissão Permanente da Certificação CPC) e a nível sectorial (CTE). Os parceiros sociais estão representados nestes dois níveis. O Instituto do Emprego e da Formação Profissional assegura assistência técnica e profissional a este processo. Estes organismos estão encarregados de estabelecer perfis profissionais que definam o alcance, o conteúdo e o nível de uma dada qualificação. Um certificado (CAP) pode ou sancionar uma formação profissional tradicional adquirida na escola, ou ser emitido após o reconhecimento de qualificações adquiridas noutros sistemas (equivalência), ou corresponder à avaliação e ao reconhecimento de uma experiência profissional. A última possibilidade, que apresenta um interesse particular, é fundamentada num decreto regulamentar (68/94) que define as condições gerais de emissão de um certificado. Este processo, que se encontra ainda num estádio experimental, compreende três fases principais, cujos elementos essenciais são apresentados seguidamente. a) «Processo de aplicação e identificação prévia das competências». Durante esta primeira fase, o dossier profissional do candidato é analisado a fim de se obter uma visão de conjunto do seu percurso profissional, incluindo elementos de formação e de aprendizagem formais e não formais. Também devem ser identificadas as necessidades imediatas em formação. O candidato deve facultar provas adequadas acerca da sua formação e da sua experiência profissional, de acordo com as exigências definidas pelo sistema de certificação. Prevê-se que esta etapa «documental» seja seguida por uma etapa de auto-avaliação acompanhada. Para explicar as actividades e as competências exigidas inofor pelo perfil profissional, os parceiros sociais designarão especialistas (não dispomos de informação relativa ao modo como este aspecto será resolvido na prática). Este processo deve permitir julgar da adequação ou da inadequação entre as competências que o candidato possui e as exigências definidas nos perfis. A orientação será um elemento determinante desta fase. b) «Avaliação». Está estipulado que a avaliação pode assumir diversas formas, em que os três principais elementos são uma análise formal do curriculum vitæ organizado durante a primeira fase, uma entrevista de carácter técnico e testes elaborados de acordo com o manual de certificação. A equipa técnica (composta por três membros), que verifica o dossier, orienta a entrevista e supervisiona os testes práticos; pode ser composta por representantes dos parceiros sociais («se necessário»). c) «Certificação». Trata-se do acto formal que consiste na emissão de um certificado de aptidão profissional comprovando que o seu detentor possui as competências necessárias para exercer a actividade profissional em causa. De acordo com as normas definidas pelos perfis de emprego, um manual de certificação profissional indica as modalidades do procedimento a aplicar a cada área profissional específica. Isto permite abrir o sistema sempre que é reconhecida a importância das competências profissionais adquiridas fora do sistema de ensino e de formação formais, seja no posto de trabalho ou noutro local. No entanto, a experiência prática é limitada. Em casos isolados (formadores com intervenção na formação profissional, cabeleireiros e esteticistas, motoristas de táxi, serviços de saúde e de segurança no local de trabalho, engenheiros), os processos de avaliação e de reconhecimento das aquisições experienciais já começaram ou vão começar proximamente (em 2000). Por exemplo, os engenheiros podem, desde 1999, pedir a avaliação das suas aquisições profissionais de acordo com o procedimento descrito acima. Na esfera de competência do Ministério da Educação, podem identificar-se duas formas principais de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Em primeiro lugar, pode proceder-se, com fins meramente profissionais, à avaliação e ao reconhecimento da «aprendizagem de tipo escolar» informal. Por outras palavras, pode conceder-se ao candidato um reconhecimento parcial para lhe permitir melhorar a sua situação profissional, quer através de uma promoção interna, quer através de uma mudança de carreira. No entanto, este reconhecimento não basta para garantir o acesso a estudos complementares. Em segundo lugar, pode conceder-se o reconhecimento para permitir a continuação ou a finalização do ensino a nível primário ou secundário. Para ambos os níveis, o candidato deve submeter-se a uma entrevista e a um teste; se os resultados comprovam que já adquiriu os saberes correspondentes a determinadas 071 Colecção CEDEFOP unidades de uma ou de várias matérias, ser-lhe-á concedida uma equivalência e será colocado no nível apropriado. No final de um processo de avaliação e de reconhecimento, os candidatos cujo desempenho foi considerado satisfatório seguem percursos individuais, de acordo com o seu próprio ritmo, e pedem a avaliação dos respectivos saberes quando se consideram preparados. Foram muitas as pessoas que já tiraram partido desta possibilidade. Em 1997/1998, mais de 10 000 pessoas pediram avaliação para o quarto ano do ensino primário, 8 500 para o sexto ano de escolaridade e 41 000para o nono ano. Deste total de cerca de 60 000 candidatos, 50% tinham mais de 20 anos. No nível secundário, 35 000 pessoas foram avaliadas em 1997/1998. Este dispositivo não leva em conta a experiência profissional dos candidatos. A avaliação está centrada nas matérias dos programas escolares; as competências que ali não figuram não são abordadas de maneira explícita. A avaliação não deve considerar o local de aquisição dos saberes, mas deve determinar se esses saberes estão ou não adquiridos. Para além dos esforços empreendidos em matéria de avaliação e de reconhecimento, no quadro dos sistemas acima descritos (da responsabilidade do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e do Ministério da Educação), fora desses sistemas estruturados, foi lançado um certo número de iniciativas. O objectivo é integrar progressivamente essas iniciativas autónomas no quadro geral do sistema nacional de certificação profissional. Num certo número de sectores, foram recentemente criadas comissões sectoriais (CTS) para prepararem essa integração. De entre os grupos abrangidos por essas iniciativas, podemos citar os trabalhadores dos transportes, da aviação civil, da electricidade de baixa tensão, da marinha mercante, da hotelaria, restauração e turismo, bem como os jornalistas. A característica comum a todos estes grupos é que as respectivas actividades são regidas por procedimentos intra-sectoriais de reconhecimento dos conhecimentos profissionais adquiridos. Nos transportes, por exemplo, a Direcção-Geral dos Transportes Rodoviários emite uma «carta profissional» aos trabalhadores que ocuparam durante mais de cinco anos um lugar neste sector e que foram aprovados num teste escrito. No jornalismo, um ou dois anos de experiência são o suficiente (duração calculada em função dos estudos prévios) para a emissão de uma «carta profissional» de jornalista. A abordagem portuguesa em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal pode ser considerada como inacabada. Foi implementado um certo número de elementos que, a prazo, deveria facilitar o aproveitamento das competências adquiridas fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. O sistema nacional de certificação profissional é, sem dúvida, o elemento mais importante desta estrutura e deixa entrever uma abertura para percursos alternativos. Os parceiros sociais deverão desempenhar um papel determinante nesta estrutura, pois a missão destes foi sublinhada e claramente definida na legislação relativa às inofor reformas. Em todas as fases do processo, da definição dos perfis de emprego à própria avaliação, os parceiros sociais são convidados a participar e, em princípio, participam. 3.2.5>Uma abordagem mediterrânea? Como demonstrámos na análise dos Estados-Membros da Europa, é positiva a atitude geral em relação à introdução de metodologias e de sistemas de aprendizagem não formal. Nas esferas tanto públicas como privadas, a utilidade de tais práticas está claramente expressa. A imensa reserva de conhecimentos adquiridos por via não formal, que constitui a base de importantes segmentos da economia desses países, deve tornar-se visível. Tratase não apenas de facilitar a utilização dessa reserva, mas também de determinar o modo como a qualidade dessas competências pode ser aperfeiçoada. Enquanto uma parte importante da base de competências de uma sociedade se mantiver invisível, é praticamente impossível determinar sobre que aspectos devem incidir as melhorias. As metodologias de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal podem, por isso, ser encaradas como instrumentos numa campanha de qualidade, não apenas em relação aos trabalhadores e às empresas, mas também relativamente a segmentos completos da economia. Esta linha de argumentação ilustra as possíveis tensões entre a utilização da avaliação numa óptica formativa e a sua utilização numa óptica somativa. As reformas dos sistemas de ensino e de formação têm tendência a sublinhar o papel somativo, em detrimento do papel formativo da avaliação. Aquele caracteriza-se essencialmente por uma focalização directa sobre a prova (da sequência ou do resultado de uma aprendizagem) em prejuízo do feedback (que permite alargar e melhorar uma determinada base de competências). Embora esta focalização seja importante, no sentido em que permite responder à necessidade de sistemas de formação mais abertos e flexíveis, as metodologias desenvolvidas neste contexto não propõem, necessariamente, as soluções requeridas noutros níveis (por exemplo, ao nível da empresa ou do sector). A análise a este grupo de países também permite medir a distância que ainda falta percorrer para que se passe das intenções à obra. As acções legislativas e políticas foram conduzidas por meio de reformas educativas de extensão variável, mas a introdução efectiva de práticas de avaliação e de reconhecimento não tem mostrado progressos. Em certos países, este processo ainda se encontra em fase de planificação Os próximos anos dir-nosão se as intenções positivas expressas quase unanimemente nestes quatro países serão traduzidas em práticas com efeitos e utilidade reais relativamente aos indivíduos e às empresas. 073 Colecção CEDEFOP Um aspecto extremamente característico comum aos quatro países mediterrâneos consiste no importante papel desempenhado pelos projectos e programas financiados ao nível comunitário. Os exemplos da Grécia, da Itália, de Espanha e de Portugal ilustram a importância das iniciativas e do apoio comunitários. Um grande número de pessoas e de estabelecimentos destes quatro países participaram em projectos e programas centrados sobre as questões da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, o que, em certa medida, contribuiu para desenvolver as atitudes identificadas nesta área. Retomando o exemplo da Itália, foi adquirida uma grande soma de experiências graças a projectos e programas desse tipo, nomeadamente a partir de 1996/1997. Esta «abordagem orientada para o projecto» pode qualificar-se como «ascendente», no sentido em que não se conseguiu identificar qualquer direcção nem qualquer objectivo centralmente definido. Os projectos em causa parecem basear-se nos interesses e nas necessidades das pessoas e dos estabelecimentos envolvidos, e não nas políticas nacionais gerais da área. Embora estes projectos permitam apoiar as práticas inovadoras e alargar o campo da experimentação, parece existir um problema de implementação e de difusão. Sem entrar em pormenor em todos os projectos em causa12, é possível dizer que a maioria se centrava em três grupos principais: as mulheres, os desempregados de longa duração e os trabalhadores ameaçados com o desemprego. Um desses projectos dizia respeito aos jovens que abandonam a escola precocemente. No quadro desses projectos, foi proposta e desenvolvida uma variedade impressionante de metodologias e de instrumentos de identificação e de avaliação, baseados, sobretudo, em três dispositivos: a) entrevistas individuais relativamente estruturadas, em que prevalece a exposição do próprio candidato; b) auto-avaliação das características pessoais por meio de instrumentos ad hoc; c) auto-avaliação através de exercícios de grupo. Dado que não existe qualquer quadro sistémico nem qualquer ponto de referência formal, os sistemas de avaliação desenvolvidos por esses grupos são entregues a si próprios e o grau de aceitação e de legitimidade da avaliação daí resultante é variável. O principal valor desses projectos parece que reside na possibilidade de poderem servir como reserva de experiências susceptível de aperfeiçoar os instrumentos de avaliação mais integrados no sistema e que foram introduzidos numa base permanente. Voltaremos a esta questão no capítulo 4. 12 Em 1997, 24 dos projectos italianos Leonardo da Vinci e 27 dos projectos italianos Adapt incidiam, pelo menos em teoria, sobre questões relacionadas com a certificação/reconhecimento (Cedefop, 1999). inofor 3.3>A aprendizagem não formal nos países nórdicos: Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca13 Em dois dos quatro países analisados nesta secção, a Finlândia e a Noruega, a questão da aprendizagem não formal encontra-se na primeira linha dos debates sobre o ensino e a formação e tornou-se objecto de experimentação e de importantes reformas institucionais. Nos outros dois países, a Suécia e a Dinamarca, o interesse mantém-se, até à data, limitado. No entanto, a situação parece estar a mudar, sobretudo na Suécia, onde, em 1999, foi implementado um certo número de iniciativas da responsabilidade quer do governo quer dos parceiros sociais. Os quatro países partilham importantes tradições comuns no domínio do ensino e da formação. A aprendizagem mútua é um dos aspectos fundamentais do desenvolvimento dos sistemas nacionais e, graças a um mercado de trabalho comum aos países nórdicos, a mobilidade transfronteiriça das competências é uma prática corrente e aceite. Dois elementos, em particular, merecem ser mencionados: a) o ensino e a formação encontram-se fortemente institucionalizados e formalizados e recebem a maior percentagem de cada grupo etário; b) o ensino, nomeadamente o ensino profissional, e a formação constituem uma responsabilidade claramente tripartida. As decisões em matéria de formação assentam na participação e na influência quer dos empregadores públicos quer dos trabalhadores. Durante as três ou quatro últimas décadas, contudo, estes países optaram por abordagens diferentes em matéria de ensino e de formação. É, nomeadamente, o caso da formação e ensino profissionais de nível secundário superior, onde, hoje em dia, é possível identificar quatro modelos distintos. As diversas escolhas institucionais e organizacionais nos quatro países relacionam-se, em certa medida, com os diferentes graus de prioridade atribuídos à aprendizagem pelo trabalho. As mais recentes reformas empreendidas na Finlândia e na Noruega sublinham nitidamente a importância da aprendizagem pelo trabalho ao introduzirem mudanças institucionais que procuram reforçar essa forma de aprendizagem. Essa importância não tem sido tão claramente evidenciada no contexto sueco. A abordagem dinamarquesa pode comparar-se, em larga medida, às abordagens alemão e austríaca. A prioridade essencial foi concedida à formação inicial no seio de um modelo dual, o que é, em geral, considerado como suficiente para abranger os aspectos da aprendizagem experiencial. 13 O quinto país nórdico, a Islândia, não foi incluído no estudo do Cedefop por razões de capacidade. 075 Colecção CEDEFOP 3.3.1>Noruega No sistema norueguês de formação e ensino profissional, o aspecto da aprendizagem foi recentemente reforçado. A experiência profissional passou a ser (desde 1994) um componente obrigatório e integrado em todas as vias profissionalizantes do secundário superior. Na Noruega, a formação profissional é composta por uma introdução inicial (geral) à disciplina, no âmbito de um ensino e de uma formação na escola com a duração de dois anos. Esta preparação inicial é seguida por um ciclo de dois anos em empresa ou numa instituição, para a especialização ou o desenvolvimento de competências por meio da experiência profissional (Cedefop, Pape, 1999). Recentemente, foi introduzida uma reforma do sistema de formação contínua, destinada, sobretudo, a integrar neste sistema as metodologias e os organismos de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal (realkompetanse). Os trabalhos preparatórios para esta reforma foram iniciados em 1996, tendo uma comissão apresentado as suas recomendações em 1997, sublinhando a importância de se estabelecerem metodologias e dispositivos de grande envergadura que permitam avaliar e reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal, em geral, e não apenas as aquisições relacionadas com o sistema de aprendizagem. Com base nestas recomendações, o Parlamento propôs e decidiu (no final da Primavera de 1999) uma reforma geral do sistema de formação profissional contínua. O Ministério da Educação e da Investigação ficou encarregado de desenvolver um sistema nacional de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal (ou realkompetanse) durante os dois anos seguintes. Ao nível nacional e regional, foram lançados numerosos projectos a fim de se definir as condições requeridas, quer em termos metodológicos quer em termos institucionais, para a elaboração de um sistema de grande envergadura que permita avaliar e reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal. Os parceiros sociais encontram-se muito envolvidos neste processo e as realkompetanse tornaram-se numa prioridade no debate norueguês sobre o ensino e a formação. A proposta apresentada ao Parlamento, que está na base das decisões formais e dos trabalhos de investigação e de experimentação em curso, estipula que devem ser desenvolvidos dois tipos de «provas documentais» (para fins de identificação, de avaliação e de reconhecimento): por um lado, as provas centradas nas necessidades profissionais em diversas actividades ou sectores e, por outro, as provas centradas na ligação com os sistemas de ensino e de formação formais que oferecem a possibilidade de se pedir a avaliação e o reconhecimento das competências adquiridas em contextos não formais. Esta focalização explícita sobre as diferentes necessidades a que interessa dar resposta é interessante e não se encontra em muitos outros países. Reflecte, provavelmente, o profundo empenhamento dos parceiros inofor sociais no debate sobre a aprendizagem não formal na Noruega. Tanto os empregadores como os sindicatos sublinharam a necessidade de desenvolvimento das metodologias que não apenas seguem a lógica do sistema de ensino e de formação mas que também dão resposta às necessidades dos trabalhadores e das empresas. Por isso, o sistema deve levar em conta as competências adquiridas em diferentes percursos de aprendizagem, incluindo os conhecimentos adquiridos por via formal, as aquisições profissionais, bem como a experiência adquirida no âmbito dos cuidados às crianças e/ou às pessoas idosas, de actividades culturais e sociais, etc. Um outro ponto interessante incluído na proposta apresentada ao Parlamento é o que respeita aos direitos legais. Qualquer pessoa poderá apresentar um recurso contra as decisões de avaliação (junto de um organismo regional). São os seguintes os objectivos formais do sistema: a) permitir aos adultos a apresentação dos comprovativos das respectivas competências correspondentes aos programas de ensino e de formação formais (com o objectivo da certificação); b) permitir o acesso ao ensino e à formação formais com base nas competências adquiridas num contexto não formal (numa óptica de formação permanente); c) permitir a dispensa de determinadas sequências de cursos de ensino e de formação formais (a fim de se evitar a duplicação de trabalho); d) proporcionar o acesso a determinadas profissões e actividades, estabelecendo que a aprendizagem não formal não é inferior à aprendizagem formal, dado que permite atingir o mesmo nível de qualidade e de competência. A proposta apresentada ao Parlamento determina que o sistema deve ser autónomo e não um simples «anexo» aos procedimentos tradicionais de avaliação em vigor no ensino e na formação formais. Mais do que na maioria dos outros países, as recentes reformas estão ligadas a uma certa tradição. O direito de certificação formal das competências adquiridas fora do sistema de ensino e de formação formais foi estabelecido enquanto direito geral pela lei norueguesa de 1976 sobre a educação dos adultos. No entanto, poucos progressos se realizaram em termos de desenvolvimento de dispositivos institucionais e de procedimentos. A lei de 1976 é o símbolo de uma intenção e não um instrumento para a realização desse objectivo. A mais importante forma de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal na Noruega é aquela que permite que um candidato se apresente ao exame final para aprendizes (exame de fim de formação) com base na sua experiência profissional prática. Este dispositivo foi introduzido em 1952, pela lei sobre a formação profissional. Na secção 20 desta lei estipula-se que «qualquer indivíduo sem contrato de aprendizagem pode apresentar-se ao exame de final 077 Colecção CEDEFOP de formação desde que comprove uma prática geral na actividade em causa por um período de mais 25%, pelo menos, em relação à duração da aprendizagem». Durante as décadas de 70 e 80, poucos candidatos se aproveitaram desta possibilidade. Nos anos 90, a situação alterou-se e, em 1997-1998, este dispositivo conheceu um sucesso fulgurante. Em cada um destes anos, apresentaram-se a exame de final de formação cerca de 14 000 candidatos, ou seja, o dobro de um ano considerado «normal». Como cada grupo etário compreende cerca de 60 000 indivíduos, este número é extremamente elevado. Os sectores dominantes são, sobretudo, a construção, os transportes, a indústria electromecânica e os serviços médico-sociais. A popularidade deste dispositivo reflecte sem dúvida, o nível relativamente baixo de formação formal nestes sectores, mas também a pressão geral em matéria de formalização das qualificações, provocada, essencialmente, por motivações salariais e de segurança de emprego. O sucesso deste dispositivo revela que a aprendizagem não formal se encontra agora na primeira linha do debate norueguês sobre o desenvolvimento das competências. De acordo com um relatório publicado pelo FAFO (Instituto de Investigação para os Sindicatos) (Skule e Reichborn, 2000), quatro trabalhadores noruegueses em cada dez mostram vontade de sujeitar a avaliação e a reconhecimento as respectivos conhecimentos adquiridos por via não formal. Logicamente, estão sobre-representados neste grupo os trabalhadores com um nível relativamente baixo de ensino e de formação formais. Os grupos que manifestam mais claramente esta necessidade de avaliação e de reconhecimento são os trabalhadores do sector privado, com idades compreendidas entre 30 e 40 anos e os trabalhadores do sector público com idades compreendidas entre os 40 e os 50 anos. É interessante verificar que os trabalhadores que mostram mais claramente a necessidade de acreditação das respectivos conhecimentos adquiridos por via não formal revelam também necessidade de formação formal, o que sublinha que, por um lado, estes sistemas devem ter uma função de continuidade entre a vida activa e o ensino e que, por outro, convém evitar a repetição inútil das mesmas sequências de aprendizagem. 3.3.2>Dinamarca O sistema dinamarquês de ensino e formação profissional pode considerar-se de natureza dual na medida em que assenta numa abordagem da formação pela aprendizagem. Este sistema de formação inicial é completado por um sistema de formação contínua e está profundamente integrado nas políticas do mercado de trabalho. Actualmente, encontra-se em discussão uma ampla reforma no âmbito da educação de adultos inofor (Undervisningsministeriet, 1997; Cedefop, Niels, 1999). Esta reforma inscreve-se nas tendências gerais já observadas na Noruega e na Finlândia, que insistem na necessidade de repensar o papel da aprendizagem não formal, a fim de estabelecer um sistema de ensino e de formação que permita a ligação entre os diversos níveis e percursos de aprendizagem. Embora, na Dinamarca, não seja muito alargado o debate sobre a aprendizagem não formal, é possível identificar no sistema existente alguns elementos que traduzem esforços no sentido de levar em conta esse tipo de aprendizagem. O primeiro exemplo encontrase no programa de aprendizagem para os adultos (Voksenerhvervsuddannelsen - VEUD), que permite que os adultos sejam dispensados de algumas sequências de formação inicial formal em função da experiência educativa ou profissional anterior. As decisões em matéria de dispensa são tomadas pela comissão profissional respectiva. O programa VEUD assenta numa abordagem individualizada, que procura identificar a experiência de cada candidato e, em seguida, elaborar um projecto de formação. A avaliação dos conhecimentos adquiridos faz parte integrante do programa VEUD. Para cada formando adulto é elaborado um projecto pedagógico, no qual são devidamente validadas as competências já adquiridas. Os parceiros sociais participam no processo, visto que as responsabilidades nessa matéria foram confiadas às comissões profissionais. Desde 1992, já iniciaram uma formação no âmbito do programa VEUD cerca de 6 000 adultos. Além disso, as aquisições profissionais podem permitir uma dispensa no quadro de um programa formal de ensino e formação profissional inicial. Se o pedido de dispensa incidir sobre matéria escolar, a decisão é da responsabilidade do estabelecimento de ensino em questão. Se a redução do tempo de formação for superior a quatro semanas ou se a dispensa incidir sobre elementos práticos do programa, será consultada a comissão profissional. As regras de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal são definidas pelos regulamentos relativos a cada disciplina profissional. Em relação aos programas médico-sociais, que dependem de legislação especial, as decisões em matéria de dispensa serão tomadas a nível do município. Por recomendação do estabelecimento de ensino, a autoridade pública envolvida pode conceder uma dispensa parcial com base na experiência profissional prática, devendo levar em consideração todas as competências possíveis. Convém mencionar que a lei de 1995 relativa à formação no mercado de trabalho dá uma maior prioridade ao papel da aprendizagem pela experiência profissional. Na sequência desta lei, foram criados cursos destinados a apoiar as pessoas na identificação das respectivas competências com vista a uma formação complementar. Estes cursos têm uma duração de uma a três semanas e caracterizam-se por combinar avaliação e orientação profissional. É também de mencionar um outro dispositivo implementado na Dinamarca, que não está 079 Colecção CEDEFOP directamente ligado às iniciativas descritas acima. Trata-se do sistema SUM (formação estratégica contínua dos trabalhadores), introduzido na indústria, nos anos 90, pelos parceiros sociais (Confederação das Indústrias Dinamarquesas e Organização Central dos Trabalhadores da Indústria). Este sistema, que procura identificar («medir») as competências nas empresas, foi criado no âmbito do acordo nacional concluído entre os parceiros sociais, em virtude do qual todos os trabalhadores devem participar anualmente numa formação profissional contínua com a duração mínima de duas semanas. Quando este acordo foi assinado, nos finais dos anos 80, os parceiros sociais não tinham conseguido chegar a um consenso acerca do conteúdo e do perfil desta formação, nomeadamente, sobre quem decidiria quais os cursos que cada trabalhador deveria frequentar. Para evitar qualquer conflito, foi criada uma «caixa de ferramentas» (o sistema SUS) destinada às empresas, para lhes permitir analisar e descrever as próprias competências e as respectivas necessidades em competências. A ideia subjacente era a de evitar potenciais conflitos, propondo que as discussões fossem travadas a nível das bases. O sistema SUS assenta em três princípios fundamentais: a) os utilizadores do sistema são as próprias empresas, sem intervenção de terceiros (peritos); b) a utilização deste sistema baseia-se, antes de mais, no diálogo entre os empregadores e os trabalhadores; c) o sistema assenta numa abordagem «modular», de modo a que cada empresa possa escolher entre diferentes elementos metodológicos, em função das suas necessidades específicas. O sistema SUM abrange a identificação e a avaliação das competências, mas não o reconhecimento, na medida em que não está ligado a nenhumas qualificações formais. O seu objectivo é claramente formativo, fornecendo às empresas um instrumento que lhes permite recensear e validar os respectivos recursos em competências. A experiência do SUM pôs em relevo certos problemas que esta abordagem pode colocar. A descrição das competências, por vezes, afasta-se da terminologia indicada, o que dificulta a transparência e a transferência. É interessante notar que, de acordo com o secretariado do SUM, nem os trabalhadores nem os empregadores exprimiram claramente o desejo de que este sistema se desenvolvesse mais, de modo a que se estabelecesse a ligação com os sistemas de certificação formal. De acordo com a mesma fonte, os trabalhadores esperam manter-se na empresa e não vêem utilidade em dispor de instrumentos de transferência; quanto aos empregadores, receiam perder os trabalhadores mais competentes e, por isso, não são particularmente favoráveis ao estabelecimento de sistemas transparentes capazes de tornar mais fácil a transferência de competências. inofor 3.3.3>Finlândia O sistema finlandês de ensino e formação profissional caracteriza-se pelo facto de se basear na competência (nos resultados) e por funcionar de acordo com uma estrutura modular. Constitui elemento essencial deste sistema o facto de «as competências profissionais, qualquer que seja o modo de aquisição, poderem ser demonstradas no quadro de testes de aptidão». Foi criado um sistema de «linhas nacionais de orientação para as qualificações», definindo as exigências a satisfazer. Em 1999, no âmbito deste sistema, tinham sido estabelecidos referenciais para 66 qualificações de formação profissional inicial, 146 qualificações de formação profissional complementar e 107 qualificações de formação profissional especializada. Este sistema foi implementado por meio de uma nova lei sobre a formação profissional votada em 1994 (L306/1994) e que abrange, como foi indicado acima, três categorias: as qualificações profissionais iniciais, as qualificações profissionais complementares e as qualificações profissionais especializadas (Cedefop, Haltia et al., 1999). Os candidatos devem fazer prova de que possuem as competências profissionais de base exigidas pela área em causa. Regra geral, são propostas ao candidato as seguintes opções de avaliação: a) avaliação baseada na apresentação de um portefólio de competências (amostras de «produtos», projectos realizados, provas parciais, incluindo descritivos de tarefas profissionais feitos pelos empregadores, e competência propriamente dita); b) avaliação «autêntica» realizada no local de trabalho do candidato, completada por entrevistas orais ou questionários escritos; c) avaliação no estabelecimento de ensino que organiza o teste. A avaliação está estreitamente relacionada com as «linhas nacionais de orientação para as qualificações» mencionadas acima. Cada qualificação é apresentada num caderno que inclui diversos elementos: 1) a estrutura da própria qualificação e as relações entre as qualificações baseadas nas competências e o resto do sistema educativo; 2) os objectivos do sistema de qualificações; 3) uma descrição da área profissional, com indicação das aptidões gerais exigidas aos trabalhadores; 4) uma descrição das competências profissionais exigidas para a qualificação e para os respectivos componentes ou módulos (em regra, quatro a oito módulos); 5) uma descrição do modo como as competências profissionais podem ser demonstradas e dos critérios a utilizar para a avaliação delas, tais como a «eficiência», a «qualidade dos resultados do trabalho», etc. estes critérios variam muito de área para área; 6) as modalidades de organização de uma eventual formação preparatória. 081 Colecção CEDEFOP Nos testes relativos às qualificações profissionais iniciais, a avaliação é classificada, contrariamente aos testes relativos às qualificações profissionais complementares ou especializadas, em que os candidatos são apenas admitidos ou reprovados. Embora as linhas nacionais de orientação sigam a estrutura apresentada acima, não foi adoptado nenhum formato rígido. Em relação ao sistema britânico, no qual as unidades, os elementos, os critérios de desempenho e o âmbito das qualificações foram estabelecidos de forma relativamente pormenorizada, a abordagem finlandesa é menos estruturada e menos controlada a nível central. Na descrição inicial do sistema, estipulou-se que cada sector profissional deve preparar as suas próprias linhas de orientação. Este facto reflecte o reconhecimento das grandes diferenças que existem entre os diversos sectores profissionais, tendo-se considerado potencialmente negativa a implementação de um modelo unificado e normalizado. Alguns observadores (Cedefop, Haltia et al., op. cit., p. 18) sublinham o facto de as comissões de exame não terem recebido instruções muito pormenorizadas: «O que as comissões de exame realizaram depende, em larga medida, das suas próprias actividades. Por exemplo, relativamente à participação na organização e na supervisão dos testes de aptidão, as comissões de exame tiveram uma grande liberdade de acção.» Além disso, «No conjunto, as linhas nacionais de orientação para as qualificações só dão instruções muito vagas para a organização dos testes de aptidão e de avaliação do desempenho. Por exemplo, na parte que descreve os critérios de avaliação, menciona-se a rapidez de execução e a qualidade do trabalho, mas sem qualquer instrução pormenorizada sobre o grau de rapidez ou as modalidades de apreciação da qualidade. A definição mais pormenorizada dos requisitos é, pois, deixada ao critério da comissão de exame e do estabelecimento de ensino que organiza os testes de aptidão.» Isto mostra que a introdução de linhas de orientação para cada qualificação não foi o suficiente para evitar certas variações nas modalidades de avaliação. A investigação revelou que os avaliadores tendem a confundir a «abordagem criterial» oficial de referência (cf. capítulo 2.2) com a apreciação dos níveis de competência no seio do grupo específico inofor sujeito a avaliação. Por outras palavras: «Os avaliadores estão, por vezes, um pouco hesitantes na tomada de decisões e preferem ver o desempenho ou o trabalho de todos os candidatos antes de se pronunciarem.» (Cedefop, Haltia, et al., op. cit., p. 42) Por isso, o nível de competência geral de um grupo de candidatos pode influenciar a apreciação das fronteiras entre aprovação e reprovação, por exemplo. Este aspecto vem sublinhar o problema fundamental da garantia de coerência e de fiabilidade. Embora, em geral, se considere que as linhas de orientação têm uma qualidade relativamente elevada, alguns membros das comissões de exame solicitaram linhas de orientação mais pormenorizadas e mais precisas. Para resolver este problema, foi lançado um projecto nacional, ALVAR14, a fim de garantir que os testes, em determinadas áreas profissionais, sejam comparáveis a nível nacional e que os níveis de exigência correspondam às necessidades profissionais. O projecto ALVAR procura reunir e formar especialistas para prepararem as provas de exame. Também se organizam acções de formação destinadas ao pessoal dos estabelecimentos de ensino que orienta os testes. Finalmente, este projecto desenvolve e mantém um «banco de testes» para apoiar a investigação de testes e de métodos de avaliação criteriosos e fiáveis. O projecto ALVAR, que beneficia de um financiamento do Fundo Social Europeu, é um exemplo interessante de controlo de qualidade na área da testagem e da avaliação. Subjacente está a perspectiva segundo a qual é impossível especificar antecipadamente e em pormenor as modalidades da avaliação. O modo mais correcto de garantir a fiabilidade e a tão esperada validade consiste em promover a formação dos avaliadores e o seu trabalho em rede. Embora demasiadamente recente para que se possa avaliar a sua concepção, este processo parece ser promissor. Retomando as diversas opções de avaliação propostas aos candidatos, os dados e as experiências existentes revelam que a avaliação é realizada, na maioria dos casos, pelos estabelecimentos de ensino. Raramente é utilizada a modalidade «portefólio de competências». A investigação (Haltia e Hämäläinen, 1999) pôs em relevo as dificuldades inerentes à organização de uma avaliação no local de trabalho. Numerosos empregadores invocam a «falta de tempo» e mostram-se pouco dispostos a autorizar a avaliação. Os 14 Ammattitutkintojen laadunen VARmistus, ou controlo de qualidade das qualificações baseadas nas competências. 083 Colecção CEDEFOP representantes dos estabelecimentos de ensino parecem encorajar esta tendência, sublinhando as dificuldades em garantir a uniformidade e a fiabilidade. A reserva dos empregadores baseia-se, provavelmente, no tempo que será necessário gastar para aplicar este modelo. Uma «verdadeira» avaliação de uma qualificação completa, no local de trabalho, demora, em geral, dois a cinco dias. As qualificações baseadas nas competências tornaram-se claramente partes integrantes e oficiais do sistema normal de ensino e formação profissional. Em 1998, mais de 10 000 candidatos recorreram a esta opção. As diferentes tarefas estão repartidas pelos diversos organismos e níveis administrativos. Para além do nível superior, que compreende o Ministério e as organizações nacionais dos parceiros sociais, a repartição das tarefas foi feita da seguinte forma: grupos de especialistas, sob a supervisão da Direcção Nacional do Ensino, estão encarregados da elaboração das «linhas nacionais de orientação», ou seja, dos referenciais de nível e de desempenho para a qualificação em causa. No seio de cada grupo de especialistas, devem estar representados, pelo menos, os parceiros sociais, os docentes e, de preferência, os profissionais independentes. As comissões de exame (250, ao todo) são responsáveis pela organização e pela supervisão dos testes, homologando as qualificações e assinando os certificados. O estatuto das comissões de exame também lhes permite supervisionar e assinar contratos para a elaboração dos testes e da avaliação com estabelecimentos de ensino (ou outros) que tenham competência para isso. Os contratos para a elaboração dos testes de aptidão incluem cláusulas relativas aos avaliadores do desempenho, à manutenção e ao desenvolvimento da respectiva competência profissional, bem como a outros elementos. Embora se encontre ainda numa fase inicial, o sistema finlandês de qualificações baseadas nas competências tornou-se parte integrante e permanente do sistema nacional de ensino e formação profissional. 3.3.4>Suécia O sistema sueco de ensino e formação profissional caracteriza-se por «se basear na escola». Embora este sistema se esteja progressivamente a abrir para a aprendizagem, a grande maioria dos formandos recebe formação profissional em estabelecimentos especializados. Oficialmente, um dos objectivos consiste em proporcionar uma determinada formação prática em empresa (cerca de 20% da duração da formação), mas este objectivo tem-se mostrado de difícil concretização (Cedefop, Forsen et al., 1999). Como já foi referido na introdução deste capítulo, as iniciativas suecas, no passado, foram raras, e destinadas mais preferencialmente a grupos específicos (imigrantes, portadores de inofor deficiência, desempregados) do que ao conjunto da população. O projecto «imigrantes como recurso» (PTVI), lançado em 1988, permitiu desenvolver um programa de testes para os imigrantes possuidores de qualificações profissionais. Este projecto incluía uma vertente prática e uma vertente teórica, com a duração total de 2 a 12 semanas. Depois do teste, o candidato recebia um certificado escrito com a descrição dos níveis do sistema de ensino e de formação da Suécia equivalentes às suas competências. Até 1992, a Direcção Nacional do Trabalho estava encarregada de organizar testes profissionais para todos os desempregados que desejassem solicitar a avaliação das respectivas competências. Depois dessa data, este organismo foi descentralizado e as suas funções entregues às agências locais para o emprego, o que se traduziu por um nítido recuo do processo. Hoje em dia, as agências locais para o emprego são obrigadas a determinar o momento em que se devem organizar esses testes e se se justifica a sua organização. As razões para este recuo são complexas, mas o custo e a complexidade do próprio processo constituem, provavelmente, as razões mais plausíveis. Reconhecendo os problemas criados por esta situação, o Ministério da Educação sueco iniciou, em 1998, uma investigação sobre os meios de avaliação e de reconhecimento das qualificações «estrangeiras». Esta investigação deu origem a um certo número de recomendações (SOU, 1998:165), que sublinham a necessidade de clarificar as responsabilidades, a nível nacional e regional. Propõe-se a utilização dos programas do secundário superior (Gymnasieskolans styrdokument för yrkesutbildning) como referência para a definição de critérios a que devem corresponder os candidatos e os níveis a atingir. Esta abordagem baseia-se nos resultados, no sentido em que não se exige qualquer escolaridade ou certificado anterior. No último capítulo desse relatório, que não se limita à questão das qualificações «estrangeiras», é referido que todos os adultos, e não apenas os imigrantes, devem ter acesso a um sistema de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. O Ministério decidiu adoptar essas recomendações e lançou projectos-piloto em diversos sectores e regiões. O debate que se seguiu à investigação promovida pelo Ministério revelou-se importante. Uma das principais confederações sindicais (Tjänstmännens Centralorganisation -TCO) respondeu com a publicação do seu próprio relatório (TCO, 1999), no qual exprime a necessidade de se estabelecer um sistema de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, na Suécia. No entanto, a abordagem adoptada pelo Ministério é considerada insuficiente e demasiado limitada. A TCO propõe o desenvolvimento de esforços tripartidos destinados a criar, na Suécia, um sistema de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal a partir da experiência e das boas práticas identificadas nos outros países nórdicos, bem como na UE em geral. Até à data, as metodologias ensaiadas em diversas regiões visam, essencialmente, 085 Colecção CEDEFOP aumentar a flexibilidade do secundário superior. Tanto a nível central como a nível regional, é frequente afirmar-se que esta actividade tem por objectivo economizar tempo e recursos, Os adultos não devem repetir as mesmas sequências de aprendizagem e os estabelecimentos de ensino não devem desperdiçar recursos para ensinar aos adultos o que eles já sabem. A estreita relação com o secundário superior é, simultaneamente, um ponto forte e uma fragilidade. Como transparece no projecto-piloto do município de Gotemburgo, a relação directa com os Gymnasieskolan permite desenvolver as abordagens já aplicadas em matéria de avaliação (só os docentes participam na própria avaliação) e, assim, avaliar um grande número de candidatos durante um período relativamente breve. A forte modularização do sistema sueco de ensino e formação profissional desempenhou um papel positivo. De acordo com os participantes do projecto, ainda não foi colocado nenhum problema de monta na aplicação de «normas» formais aos candidatos que adquiriram competências em contextos não formais. De facto, a fragilidade do sistema talvez resida na relação demasiado estreita com os estabelecimentos de ensino: se as competências adquiridas de modo não formal se consideram semelhantes às que são desenvolvidas no ensino e na formação formais, é possível que determinadas competências importantes sejam definidas como irrelevantes. O desafio consiste em desenvolver uma abordagem da avaliação que favoreça mais a equivalência do que a semelhança e que reconheça que as aprendizagens formal e não formal são diferentes e podem ter resultados diferentes, mas de valor igual. As iniciativas suecas em matéria de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal não se limitam a esses projectos e a essas experiências lançados a nível central. Vemos também um certo número de iniciativas lançadas por intervenientes tanto públicos com privados, que estão mais centradas nas competências adquiridas em contexto de trabalho e pouco ligadas ao ensino e à formação formais. O programa sueco de tecnologias da informação (SWIT) constitui um exemplo interessante de avaliação em grande escala das competências adquiridas por via não formal. Neste programa (19972000), financiado pelo Ministério do Trabalho e da Indústria, para compensar parte da penúria de mão-de-obra na área das tecnologias da informação, foi aplicado cerca de um bilião de coroas suecas, tendo beneficiado de uma formação mais de 10 000 pessoas. Ao todo, foram apresentados mais de 80 000 pedidos de formação, o que sublinha a necessidade de uma metodologia de avaliação e de selecção de alta qualidade. O duplo objectivo da metodologia consistia na identificação dos indivíduos aptos a seguir a formação em causa e também das pessoas capazes de exercer diversas funções no domínio das tecnologias da informação. Finalmente, foi utilizada uma metodologia assente numa combinação de entrevistas e de testes altamente formalizados (incidindo sobre as capacidades de cálculo e de lógica e sobre os conhecimentos linguísticos, bem como sobre inofor as competências sociais e relacionais). Os testes formais destinavam-se a servir de base a entrevistas mais personalizadas com vista à selecção final dos candidatos. Sem entrar em mais pormenores sobre os testes específicos e as metodologias utilizadas, pode dizer-se que o programa SWIT mostra que é possível desenvolver com sucesso sistemas de avaliação de elevada capacidade, pelo menos a acreditar nas avaliações internas do programa. No entanto, é conveniente notar que a metodologia de avaliação do SWIT se encontrava adaptada às necessidades específicas das empresas suecas de tecnologia da informação e que foi desenvolvida em estreita cooperação com estas. Contrariamente a várias iniciativas nacionais analisadas no presente relatório, o programa SWIT conseguiu funcionar com um número relativamente restrito de critérios e a partir de um ponto de referência estabelecido pelo mundo do trabalho. A identificação dos conhecimentos adquiridos por via não formal está indirectamente atestada por alguns dos projectos locais e regionais desenvolvidos no quadro da «iniciativa em prol da educação dos adultos» (Kunnskapslyftet). Na região de Gotemburgo, os esforços com vista à coordenação dos recursos de orientação e de aconselhamento traduziram-se no lançamento de uma acção de inventariação sistemática das experiências e das aptidões dos adultos. Embora não conduza ao reconhecimento formal, o processo de identificação de competências mais ou menos escondidas é considerado determinante na fase de aconselhamento. Equipas compostas por docentes, psicólogos e outros especialistas elaboram, em conjunto com o candidato, um plano de estudos adaptado ao caso particular deste último. Esta experiência revela que a relação entre orientação ou aconselhamento e avaliação nem sempre é fácil de estabelecer e sublinha o papel formativo da avaliação. 3.3.5>Um modelo nórdico? Não é possível falar de um «modelo nórdico», pelo menos num sentido restrito. A Finlândia, a Noruega, a Dinamarca e a Suécia adoptaram abordagens diferentes e avançam com ritmos um pouco diversos. Apesar das diferenças, os quatro países empreenderam acções práticas, por meio de iniciativas legislativas e institucionais, visando reforçar a relação entre o ensino e a formação formais e a aprendizagem realizada fora dos estabelecimentos de ensino. Embora alguns elementos desta estratégia sejam mais antigos (nomeadamente a iniciativa lançada na Noruega baseada na secção 20 da lei de 1952), as iniciativas mais importantes foram tomadas nos últimos anos, sobretudo desde 1994/1995. A aprendizagem mútua entre estes países é importante e foi ainda reforçada durante os dois ou três últimos anos, como o demonstra, por exemplo, a influência das 087 Colecção CEDEFOP abordagens finlandesa e norueguesa nos recentes documentos suecos. As rápidas mudanças verificadas no contexto nórdico contrastam com a reserva observada nos contextos austríaco e alemão, embora neste em menor grau. Tal como a Áustria e a Alemanha, os países nórdicos possuem sistemas de ensino e formação profissional extremamente desenvolvidos e altamente estruturados; além disso, o segmento da aprendizagem faz parte integrante destes sistemas e ocupa neles um lugar importante (muito mais nítido na Dinamarca e na Noruega, um pouco menos na Finlândia e menos ainda na Suécia). No entanto, essas semelhanças não produziram os mesmos resultados. A vontade de integrar os processos de aprendizagem não formal no sistema formal é muito mais forte nos países nórdicos do que na Alemanha ou na Áustria. O relatório dinamarquês sobre a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal (Cedefop, Nielsen, 1999) contém algumas reflexões interessantes a propósito da abordagem específica adoptada pelos países nórdicos em matéria de ensino e de formação, em particular, em matéria de educação dos adultos. A clara influência da filosofia de Grundtvig sobre a educação dos adultos nos países escandinavos, nomeadamente na Dinamarca, na Noruega e na Suécia, durante os últimos 150 anos, permite, certamente, compreender a evolução actual. Esta filosofia, centrada numa «instrução popular» ampla e geral, assente num sistema de «escolas superiores populares», deu origem a uma atitude positiva face à educação e à aprendizagem dos adultos. As «escolas superiores populares» puseram, deliberadamente, de parte a avaliação e a certificação formais para se concentrarem no processo cognitivo, enquanto valor em si mesmo, importante em todas as camadas da sociedade e em todos os estádios da vida. Retomando as palavras do Livro Branco sobre a Educação e a Formação da Comissão Europeia, este movimento tinha como objectivo, desde as suas origens, o alargamento da base de competências dos indivíduos e da sociedade. Esta estratégia de «instrução popular» tem sido progressivamente integrada nos sistemas educativos dos países nórdicos e, actualmente, é financiada, em larga medida, pelos fundos públicos. A ideia de que os conhecimentos adquiridos não certificados são tão importantes como os conhecimentos adquiridos certificados é, por isso, há muito, preconizada e desenvolvida. Este factor, entre muitos outros, talvez ajude a explicar as razões pelas quais os países nórdicos, neste domínio, têm avançado mais rapidamente do que a Alemanha e a Áustria. Torna-se patente que a Finlândia e a Noruega se têm empenhado na via da integração institucional da aprendizagem não formal, numa estratégia geral de educação e de formação ao longo da vida. Os projectos apresentados na Suécia e na Dinamarca revelam que estes dois países avançam na mesma direcção e que a questão da aprendizagem não formal tornar-se-á prioritária durante os próximos anos. inofor 3.4>As NQV e a sua influência: Reino Unido, Irlanda e Países Baixos As qualificações profissionais nacionais (National Vocational Qualifications - NQV), introduzidas no Reino Unido nos finais dos anos 8015, tornaram-se num eixo em torno do qual se desenvolve um interessante processo de aprendizagem internacional. Numerosos países observam atentamente o sistema britânico -que se apresenta modularizado e flexível, procurando responder às necessidades quer dos sectores público e privado quer dos indivíduos e das empresas -para ver se será possível implementar este sistema ou, pelo menos, alguns dos seus elementos, nos respectivos contextos nacionais. Além disso, um certo número de projectos-piloto (nomeadamente no quadro do programa Leonardo da Vinci) tem utilizado elementos do sistema das NQV como ponto de partida. Outros países têm tendência a utilizar este sistema como indicador do que querem evitar, sublinhando os problemas relacionados com uma modularização demasiado radical. Desde o seu início, este sistema teve de enfrentar o desafio da acreditação de uma multiplicidade de percursos de aprendizagem, o que conduziu a iniciativas como a acreditação dos conhecimentos adquiridos (accreditation of prior learning -APL) e a acreditação dos conhecimentos adquiridos pela aprendizagem experiencial (accreditation of prior experiential learning APEL). Esta evolução exerceu uma profunda influência no desenvolvimento de metodologias de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Embora o «grupo NQV» só inclua o Reino Unido, os Países Baixos e a Irlanda, convém notar que, pelas razões evocadas, a experiência das NQV despertou a atenção de numerosos outros países. 3.4.1>Reino Unido Desde a sua introdução, o sistema britânico das NQV tem-se revelado o mais surpreendente e o mais claro exemplo de um sistema de ensino e formação profissional baseado nas competências e centrado no desempenho e nos resultados. Embora tenha dado origem a controvérsias no Reino Unido, este sistema constitui um exemplo de alternativa ao modelo tradicional de ensino e de formação escolares. Está, em princípio, aberto a qualquer percurso de aprendizagem e a qualquer forma de aquisição de saberes, com uma atenção particular à aprendizagem experiencial no local de trabalho. Como aparece explicado nas apresentações do sistema (e retomado pelos países que adoptam a 15 Na Escócia: SNVQ. 089 Colecção CEDEFOP mesma linha de pensamento), o que conta é o que foi aprendido e não a forma e o local da aprendizagem. Se for fiel aos seus próprios princípios, um sistema como este deve estar, sem dúvida, aberto à aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais, ou seja, àquilo a que chamamos, neste contexto, «aprendizagem não formal». Esta aprendizagem deve ser sujeita a uma identificação e a uma apreciação, por isso, não causa estranheza que as questões de avaliação e de reconhecimento ocupem um lugar central no debate sobre o actual estatuto do sistema das NQV e sobre as suas futuras perspectivas. Embora este sistema date de 1989, as «novas» metodologias de avaliação propriamente ditas só foram introduzidas em 1991. Nesse ano, o Conselho Nacional para as Qualificações Profissionais (National Council for Vocational Qualifications -NCVQ) e o seu equivalente escocês, o Scotvec, solicitaram que a «acreditação das aquisições anteriores» se aplicasse a todas as qualificações passadas por eles, ou seja, as NVQ e as qualificações profissionais gerais nacionais, ou GNVQ). A introdução de uma avaliação especializada para completar os procedimentos normais de avaliação e de testagem utilizados nos percursos tradicionais e formais pretendia atingir os seguintes objectivos (Cedefop, Perker et al., 1994): a) reconhecer formalmente os saberes e as competências de que os indivíduos são já possuidores, com vista a um novo emprego; b) aumentar o número de indivíduos possuidores de qualificações formais; c) reduzir o tempo de formação, evitando a repetição de aprendizagens que incidissem sobre saberes já adquiridos. É possível distinguir três fases no próprio procedimento. Durante a primeira fase, são fornecidas ao candidato informações gerais sobre o processo de acreditação das aquisições anteriores, normalmente por conselheiros que não são especialistas da disciplina, na maior parte dos casos, com apoio de documentos escritos ou de vídeos. A segunda fase, que é também a mais importante, consiste na recolha de documentação e na preparação de um portefólio de competências. Não existe qualquer formato específico para o portefólio, mas todos os justificativos devem estar relacionados com a qualificação em causa. O portefólio deve incluir comprovativos de tarefas e de responsabilidades profissionais exercidas, passados por antigos ou actuais empregadores, bem como exemplos (provas) de «produtos» pertinentes. Também devem constar do portefólio os resultados de testes ou de projectos específicos. A terceira fase corresponde à avaliação propriamente dita do candidato. Como foi referido (Cedefop, Perker, op. cit., p. 17): inofor «O processo de avaliação dos conhecimentos adquiridos é quase igual ao que é utilizado pelos candidatos a uma NVQ. Contudo, para aquele, o candidato apoia-se mais na sua actividade passada do que nas competências adquiridas durante uma sessão de formação.» O resultado da avaliação pode conduzir ao pleno reconhecimento, ainda que sejam poucos os candidatos que possuem suficiente experiência anterior para o conseguir. Na maior parte dos casos, a avaliação a partir do portefólio de competências permite que o candidato seja dispensado de determinadas partes de um programa ou de um curso. Nos últimos anos, o interesse suscitado pelas metodologias especializadas de avaliação dos conhecimentos adquiridos tem vindo a diminuir um pouco no Reino Unido. Há quem pense que a avaliação dos conhecimentos adquiridos se arrisca a ficar isolada e que seria preferível integrá-la na avaliação normal, como uma prova entre outras (Cedefop, 1997, op. cit., p. 9): «O ponto de vista segundo o qual a avaliação dos conhecimentos adquiridos é diferente e distinta traduziu-se por uma menor utilização do que a prevista das provas de conhecimentos adquiridos anteriormente e de níveis atingidos. Os avaliadores receiam incluir esta forma de prova nos justificativos a apresentar pelos candidatos e chegaram a tomar determinadas medidas para evitar este tipo de provas.» Chegámos à situação em que os organismos responsáveis tentam estabelecer um equilíbrio entre as provas de conhecimentos anteriores e actuais e entre os conhecimentos adquiridos por via informal e formal. Esta tarefa não é fácil; vários resultados indicam que a avaliação dos conhecimentos adquiridos anteriormente é considerada um «desvio», aplicado de modo menos rigoroso do que os dispositivos tradicionais de avaliação. É difícil ter uma visão de conjunto da verdadeira utilização desta forma de prova, quer seja através de processos explícitos de avaliação dos conhecimentos adquiridos quer seja através de outros meios, mais integrados. Aos organismos de certificação não é exigida a apresentação, no certificado do candidato, dos itinerários alternativos de aprendizagem, incluindo a avaliação dos conhecimentos adquiridos anteriormente. Por isso, é quase impossível determinar se a aprendizagem anterior ou 091 Colecção CEDEFOP informal foi ou não utilizada como prova16. Como já referimos a propósito das experiências mediterrâneas e nórdicas, a questão das metodologias de avaliação não se pode dissociar da das normas de qualificações. Quaisquer que sejam as provas reunidas, deve estabelecer-se um ponto de referência. É aí que passa a residir o principal desafio das NVQ, em geral, e da prática da avaliação, em particular. Abordaremos esta questão por via indirecta, ao analisarmos algumas das hipóteses subjacentes ao sistema das NVQ, bem como a sua tradução em medidas práticas. Hoje em dia, o sistema assenta, em larga medida, em determinadas hipóteses fundamentais: a legitimidade deve ser garantida por meio da adequação entre as normas profissionais nacionais e as competências adquiridas em contexto de trabalho. A participação dos sectores profissionais no que diz respeito à definição e ao estabelecimento das normas foi um dos aspectos determinantes que permitiram, finalmente, ultrapassar as dificuldades relacionadas com a aceitação. A realização da formação e da avaliação no local de trabalho é, em princípio, garantia de validade. O objectivo consiste em reforçar a autenticidade dos dois processos, evitando as situações simuladas de formação e de avaliação, que prejudicam a validade. A fiabilidade é garantida pelos referenciais pormenorizados e estabelecidos para cada qualificação (e para cada módulo). Este quadro, completado por uma formação extensiva dos avaliadores, deve assegurar a coerência da avaliação e permitir, no final, um nível aceitável de fiabilidade. Numerosos observadores (Wolf, 1995; Eraut et. al., 1996) argumentam que essas hipóteses dificilmente são defensáveis. No que respeita à legitimidade, é verdade que os empregadores estão representados nos grupos profissionais e nos conselhos encarregados de estabelecer as normas, no entanto, foram várias as fragilidades de ordem quer prática quer teórica que se manifestaram. Em primeiro lugar, existem limites em relação ao contributo de um grupo relativamente restrito de representantes de recisas 16 Convém mencionar que, no Reino Unido, foram criados sistemas de acreditação dos conhecimentos adquiridos por via informal, que são utilizados no ensino superior. Os objectivos são os seguintes: permitir o acesso a um curso ou a um programa e validar determinadas aprendizagens que serão levadas em conta aquando da passagem do diploma. São utilizadas duas formas de acreditação: a acreditação dos conhecimentos adquiridos certificados (accreditation of prior certified learning APCL) e a acreditação dos conhecimentos adquiridos em contexto de vida e de trabalho (accreditation of prior experiential learning APEL); estes últimos correspondem àquilo que entendemos por «conhecimentos adquiridos por via não formal», ou saberes adquiridos pela experiência mas não certificados. Em alguns casos, a APEL também dá pelo nome de «reconhecimento dos saberes adquiridos» (recognition of prior learning RPEL). Embora certas actividades empreendidas pelos estabelecimentos de ensino superior no domínio da APL/APEL apresentem relações com o sistema NQV, a maioria dessas actividades parece estar confinada à esfera do ensino superior. Não nos foi possível ter acesso aos dados que mostram em que medida a APL/APEL é utilizada neste nível de ensino. inofor empregadores, tanto mais que os recursos e o tempo são escassos. Em segundo lugar, regra geral, as organizações mais poderosas, que dispõem de mais saberes técnicos, representam grandes empresas já activas no domínio da formação e exercem uma influência dominante, enquanto as organizações mais pequenas, menos influentes, obtêm resultados menos relevantes. Em terceiro lugar, as divergências de opinião no seio dos diversos organismos e conselhos, independentemente de quem é representado, são mais facilmente resolvidas pela inclusão do que pela exclusão, fazendo «inchar» o conteúdo das qualificações. Geralmente, verifica-se um conflito de interesses intrínseco às normas nacionais entre a vontade de descrever competências de validade universal e a vontade de estabelecer normas tão específicas e precisas quanto possível. No que respeita às questões de validade e de fiabilidade, já foi abordado no capítulo 2 o problema da definição dos limites do domínio sobre o qual deve incidir a avaliação e a testagem. Só é possível fazer uma avaliação de qualidade quando os domínios de competência forem claramente delimitados; a validade e a fiabilidade só são possíveis quando as definições, os limites e o conteúdo do domínio, bem como o modo como pode ser expresso esse conteúdo, se encontram claramente formulados. Como aconteceu na Finlândia, o Reino Unido foi imediatamente confrontado com um problema nesta área. Embora inicialmente os esforços se tenham centrado numa análise restrita das tarefas, verificou-se, pouco a pouco, uma evolução para uma análise mais alargada das funções. Essa evolução reflecte a necessidade de criação de normas nacionais para a descrição das competências transferíveis. Alguns observadores assinalaram que a introdução das funções coincidiu com uma descrição pormenorizada de cada elemento de cada função, especificando os critérios de desempenho e o conjunto das condições necessárias para a realização desse desempenho. A dimensão e a complexidade do processo de avaliação das NVQ, actualmente factores muito criticados, resultam dessa «dinâmica». Como refere Wolf (op. cit.), parece que entrámos numa «espiral sem fim de especificações». A propósito do desafio que o sistema de avaliação das NVQ tem de enfrentar, alguns investigadores da Universidade de Sussex (Eraut, op. cit.) concluem que a procura da perfeita fiabilidade conduz a uma avaliação desprovida de sentido; a procura da perfeita validade conduz a uma avaliação que leva em conta todos os elementos pertinentes, mas é muito demorada e deixa pouco tempo para a aprendizagem. Este comentário reflecte as dificuldades que têm que ultrapassar todos os países que introduzem sistemas baseados nos resultados ou no desempenho e assentes, sobretudo, na avaliação. «Medir as competências» consiste muito mais em estabelecer pontos de referência do que em desenvolver instrumentos e meios. Nesse aspecto, o sistema das NVQ é um exemplo particularmente pertinente, na medida em que as questões de normas são nitidamente 093 Colecção CEDEFOP mais importantes que os instrumentos específicos desenvolvidos ao longo dos últimos dez anos. E como referimos acima, as abordagens específicas, tais como a «acreditação dos conhecimentos adquiridos anteriormente» (APL) e a «acreditação dos conhecimentos adquiridos pela aprendizagem experiencial» (APEL), foram perdendo visibilidade à medida que o sistema se foi impondo. Esta evolução é compreensível e absolutamente lógica, pois, regra geral, qualquer processo de avaliação no sistema das NVQ tem de enfrentar o desafio da aprendizagem experiencial, ou seja, da aprendizagem realizada fora do contexto escolar formal. As experiências da APL e da APEL estão, pois, a ser integradas no sistema das NVQ, embora seja difícil calcular a amplitude desta integração. Em certa medida, este facto atesta a maturidade do sistema. O sistema britânico ilustra melhor do que a maioria dos outros sistemas a dificuldade em avaliar e em reconhecer os conhecimentos adquiridos por via não formal. Efectivamente, tendo sido o Reino Unido um dos primeiros países a tentar construir um sistema baseado no desempenho, estabelecendo relações entre diversas modalidades de aprendizagem formal e não formal, já decorreu tempo suficiente para permitir a observação e o estudo sistemático dos problemas e das potencialidades. O próximo desafio que o sistema britânico terá de enfrentar pode resumir-se assim: quem deve participar na definição das normas, como é que os domínios de competências devem ser descritos e como é que os limites devem ser definidos? Quando houver respostas para estas perguntas será, então, possível conseguir a uma avaliação de qualidade. 3.4.2>Irlanda A abordagem irlandesa em matéria de acreditação dos conhecimentos adquiridos (APL) está muito próxima da avaliação baseada no desempenho, adoptada no Reino Unido. Este facto nada tem de surpreendente, pois a aprendizagem mútua entre os dois países tem sido -e continua a ser -muito importante. No entanto, a experiência irlandesa apresenta um carácter mais limitado do que a experiência britânica. A Agência Nacional de Formação e de Emprego (FÀS) sempre foi e continua actualmente a ser o principal promotor e iniciador neste domínio. A APL está integrada no quadro geral de certificação e obedece a cinco princípios. Em primeiro lugar, a FÀS aplica uma «focalização sobre as competências», com vista à certificação das competências e dos níveis de competência e não dos cursos. A abordagem baseada no desempenho e nos resultados, que encontramos nas NVQ e noutras qualificações, está, pois, no centro do modelo irlandês. Em segundo lugar, aos programas modulares de formação corresponde uma avaliação modular. Em terceiro lugar, dá-se particular importância às competências práticas e pessoais, bem como aos inofor saberes correlacionados. Em quarto lugar, os referenciais de sector foram elaborados em cooperação com os grupos de interesse em causa (empregadores, trabalhadores), a fim de garantir que as práticas em vigor nos diversos sectores de actividade se encontrem reflectidas nas normas profissionais de desempenho (Cedefop, Lambkin et al., 1998). Finalmente, a avaliação deve ser criterial, e cada avaliação deve estar ligada aos objectivoschave que identificam as competências e os saberes de que o candidato deve fazer prova. No entanto, a experiência prática da APL na Irlanda continua limitada. A partir de 1992, foram lançados projectos nos sectores do comércio a retalho, da construção, dos serviços à primeira infância e do fornecimento de electricidade; esses projectos permitiram adaptar o modelo geral de avaliação desenvolvido pela FÀS às necessidades de cada sector. Este modelo geral tem a seguinte descrição: «O modelo é genérico na medida em que foi desenvolvido um «tronco comum», que deverá ser aplicado independentemente das diferenças entre os diversos domínios profissionais. Foram definidas três fases comuns.» (Cedefop, Lambkin, op. cit., p. 12-14) A primeira fase consiste num balanço de competências. O candidato indica uma qualificação em relação à qual pretende demonstrar a sua competência, depois, submetese a uma verificação das competências (normas) requeridas para a profissão em causa e identifica as áreas nas quais essas competências são exigidas. Durante esta fase, podem ser utilizadas diversas metodologias. A FÀS propõe uma dupla abordagem: em suporte de papel e em suporte electrónico (conforme o projecto Euroform da FÀS). O resultado é o mesmo: o candidato apresenta uma lista de domínios de competências a avaliar para a sua eventual acreditação e, se for caso disso, uma lista dos domínios em relação aos quais pensa ter necessidade de uma formação complementar. A segunda fase incide sobre a validação formal das competências reivindicadas pelo candidato. A metodologia varia um pouco em função das diferenças entre as diversas áreas profissionais: é evidente que a experiência profissional nos sectores do comércio de retalho, dos cuidados à primeira infância e da construção implica provas diferentes. Apesar dessas diferenças, a FÀS é de opinião que a organização de um portefólio de competências mostrou ser eficaz nos sectores onde o método foi experimentado. No projecto da FÀS que tinha por objecto o sector de fornecimento eléctrico («Linesmen»), a metodologia utilizada combinava a organização de um portefólio de competências e os exames tradicionais. Durante a terceira fase do processo, o avaliador analisa os justificativos apresentados no portefólio de competências (ou outras formas de provas) e decide se o candidato obedece ou não às normas. O avaliador é, geralmente, um especialista na área profissional em causa, 095 Colecção CEDEFOP devendo também ter formação e estar familiarizado com as referidas normas. A própria formação é descrita do seguinte modo (Cedefop, Lambkin, op. cit., p. 14): «O avaliador examina a candidatura na óptica da sua adequação às normas. A metodologia consiste em verificar se as provas fornecidas correspondem a cada um dos objectivos de formação em termos de pertinência, de autenticidade, de actualidade e de validade.» A avaliação pode incluir uma entrevista com o candidato e uma visita ao seu local de trabalho, conforme os casos e as características próprias ao sector profissional em questão. É difícil prever o modo como evoluirá, no futuro, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal na Irlanda. Embora desempenhe um papel importante, a FÀS só representa uma parte do cenário irlandês da certificação, e ainda é cedo para dizer se a criação do Teastas (organismo nacional para a certificação), cuja função é a de nacionalizar a certificação dos programas de ensino e formação profissional, irá ou não modificar esse cenário17. Convém notar que a «abordagem centrada nos projectos» adoptada pela FÀS, que procura promover a APL no quadro de projectos limitados no tempo e com incidência em áreas ou sectores restritos, não garante a aplicação permanente dessas metodologias. No entanto, é necessário reconhecer que esses projectos da APL permitiram adquirir um somatório de experiências, completado pela participação activa em diversos programas e projectos europeus. É interessante observar os esforços que a Irlanda tem desenvolvido para «exportar» a sua experiência em matéria de APL. Em 1995, foi iniciado um projecto na África do Sul, no qual a FÀS cooperou com as autoridades envolvidas para lançar os fundamentos de um sistema de «reconhecimento dos saberes adquiridos anteriormente» (RPL). 17 Para além das iniciativas da FÀS, são dignas de menção as actividades relacionada com a APL promovidas pelo Conselho Nacional encarregado de passar certificados e diplomas (National Council for Educational Awards - NCEA), que desenvolveu um programa destinado a dar aos formandos a possibilidade de adquirirem créditos capitalizáveis fora dos estabelecimentos de ensino formais, como, por exemplo, através da experiência profissional. Com esses créditos, os candidatos podem, depois, obter um título profissional ou inscrever-se em estágios posteriores. Uma outra iniciativa permite que os candidatos apresentem justificativos sob a forma de um portefólio de competências, de forma a ficarem dispensados de determinados módulos ou de determinadas disciplinas no âmbito de estudos em tempo parcial. Os formandos devem fazer prova de que possuem 50% dos saberes exigidos para um dado módulo e a dispensa pode incidir sobre até 50% de todo o estágio ou curso. inofor 3.4.3>Países Baixos Em certos aspectos, a abordagem holandesa em matéria de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal é comparável à abordagem irlandesa. No entanto, embora seja manifesta a influência do sistema britânico das NVQ, o sistema geral modular baseado no desempenho assumiu uma forma especificamente holandesa. Nos Países Baixos, o desenvolvimento de sistemas para a avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal remonta a 1993, ano em que o Ministério da Educação nomeou uma comissão de «reconhecimento das qualificações adquiridas» (EVK)18. Os trabalhos dessa comissão deram origem a um relatório intitulado Kwaliteiten erkennen [Reconhecer as qualificações], que continha recomendações relativas ao desenvolvimento de um futuro sistema e que definia os objectivos seguintes: a) desenvolver uma infra-estrutura para as metodologias; b) promover a aceitação social dos EVK; c) desenvolver metodologias através de estudos-piloto. O desenvolvimento concreto das metodologias foi confiado, em larga medida, ao CINOP19 e seguiu a abordagem centrada nos estudos-piloto e recomendada pela comissão, ou seja, as metodologias foram desenvolvidas e testadas num número limitado de sectores (por exemplo, os cuidados à primeira infância e a indústria da construção). Esta abordagem estava intimamente ligada e dependente da nova estrutura dos critérios («normas») profissionais definidos pela lei de 1996 sobre a formação e o ensino profissionais (WEB). A metodologia propriamente dita divide-se em duas fases. Durante a primeira fase, o candidato que pretenda ver reconhecidos os seus conhecimentos adquiridos por via não formal deve reunir num portefólio de competências todos os comprovativos que possua (certificados formais, documentos passados pelos empregadores, exemplos de trabalhos realizados, etc.). Toda essa documentação é, em seguida, confrontada com os critérios definidos pela estrutura nacional das qualificações, a fim de ser tomada uma decisão relativamente à obtenção de uma qualificação parcial. A esta primeira fase segue-se, normalmente, uma avaliação prática com vista a uma certificação formal. A metodologia centra-se sobre uma tarefa prática a realizar e compreende três sequências diferentes: 18 Erkenning Verworven Kwalificaties. 19Centrum voor innovatie van opleidingen [Centro de Inovação das Formações]. 097 Colecção CEDEFOP a) a planificação b) a execução c) a avaliação Para avaliar cada uma destas sequências, são utilizadas diversas metodologias incidindo sobre vários aspectos. Através de entrevistas criteriais e da observação dos preparativos para a execução da tarefa, a primeira sequência tem, como objectivo, a avaliação das competências metodológicas do candidato e da sua aptidão para planificar a tarefa a realizar. A segunda sequência centra-se na execução propriamente dita da tarefa. A avaliação incide quer sobre a própria execução quer sobre as capacidades de reflexão do candidato e baseia-se, simultaneamente, na observação do processo e do resultado e numa entrevista criterial. O objectivo da terceira sequência, que abrange a avaliação e o ajustamento, consiste na avaliação das capacidades de reflexão do candidato. A este é pedido que examine a tarefa executada, identifique os métodos alternativos de execução e defina as possibilidades de aplicação do método escolhido a outras situações de trabalho. O quadro a seguir apresentado esquematiza o processo de modo mais pormenorizado. inofor Figura1>Aspectos da avaliação Sequência de trabalho Aspectos da avaliação Metodologias de avaliação Estratégia pedagógica Planificação Competências metodológicas e capacidades de planificação Entrevista criterial Análise de problemas Avaliação das aquisições profissionais Execução Resolução Avaliação e ajustamento Capacidades de execução e acção Observação do processo e/ou do produto Resolução de problemas Capacidades de reflexão Entrevista criterial, avaliação dos resultados Avaliação dos resultados da aprendizagem, da planificação e do acompanhamento Fonte: Cedefop, Klarus e Nieskens, 2000. O destaque dado à avaliação e à reflexão é um aspecto interessante da abordagem holandesa. Esta parte da avaliação assenta num questionário com quatro vertentes. Em primeiro lugar, relativamente à preparação, por que motivo o candidato agiu de determinada maneira e que outras opções eram possíveis? Em segundo lugar, em relação ao próprio processo, por que razão o candidato agiu daquela forma e que outras opções foram consideradas? Em terceiro lugar, quanto ao produto (ou ao serviço), como pode o candidato dizer que cumpriu os critérios? Em quarto lugar, no que respeita à execução da tarefa, por que motivo o candidato agiu daquela forma e que outras opções eram possíveis. Este interrogatório demonstra que o processo se centra inequivocamente no diálogo; o seu êxito baseia-se não apenas nos procedimentos e nas descrições formais, mas também nas aptidões e na experiência do próprio avaliador. Como já foi mencionado acima, a abordagem adoptada pelo CINOP está ligada à estrutura das qualificações, definida pela lei de 1996 sobre a formação e o ensino profissionais (WEB). As normas holandesas de qualificações baseiam-se na análise das 099 Colecção CEDEFOP funções e das tarefas e caracterizam-se pelo facto de serem orientadas pela indústria (os parceiros sociais participam, a todos os níveis, na definição das normas). Qualquer qualificação deve ser estabelecida a partir de um perfil profissional claramente definido ou de uma fonte de informação com a mesma legitimidade (Broekhoven e Herwijnen, 1999). Os perfis profissionais, que devem reflectir as necessidades em termos de qualificações dos sectores e dos ramos de actividade, encontram-se repartidos em cinco níveis: ajudante, operário qualificado, operário especializado, quadro intermédio ou especialista e diplomado pelo ensino politécnico superior. O quinto nível está em projecto, mas ainda não foi implementado. Cada um destes cinco níveis encontra-se subdividido em qualificações parciais, cujos objectivos são descritos em termos de requisitos em saberes, em competências e em atitudes. Tal como acontece no Reino Unido (Eraut, 1996), os problemas que se prendem com a elaboração de referenciais e de normas impuseram-se imediatamente como uma das maiores dificuldades na abordagem holandesa. Por um lado, as normas devem ser suficientemente amplas para abrangerem a extrema diversidade mesmo numa única área profissional das práticas existentes, mas, por outro lado, os referenciais demasiadamente amplos arriscam-se a perder pertinência. Este problema, a que a teoria geral da avaliação designa por «criterial» ou «de referência de domínio» (Popham, 1978; Black, 1998), foi colocado a todos os países que tentaram desenvolver sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Black descreve-o nos seguintes termos: «A definição de um domínio só pode atingir um grau suficiente de especificidade quando fixa os limites, tanto de conteúdo como da forma pela qual esse conteúdo deve ser expresso, ou manipulado, ou utilizado pelo candidato.» (p. 65) Black considera que a dificuldade da tarefa da avaliação é proporcional à amplitude do domínio. Isto aplica-se, evidentemente, aos novos sistemas de ensino e de formação baseados nos resultados e no desempenho, nos quais a definição dos domínios de qualificações (qualificações parciais e/ou módulos) constitui um dos aspectos cruciais do exercício. Estes sistemas constituem esforços ambiciosos para aproximar diversos domínios de aprendizagem, nomeadamente o ensino e a formação formais e a aprendizagem no local de trabalho. Esta aproximação, que torna possível o reconhecimento dos saberes e das competências independentemente da respectiva origem, requer metodologias adequadas que permitam apreender as qualidades de uma multiplicidade de percursos de aprendizagem. inofor Uma definição inadequada, que atribua a um domínio de aprendizagem um maior peso do que a outro, corre o risco de perder legitimidade. Assim se vê que a concepção de metodologias de avaliação a nível nacional não pode reduzir-se a uma (simples) questão de ferramentas e de instrumentos, mas que deve também assentar na compreensão do quadro político e institucional no qual esses instrumentos devem funcionar. 3.4.4>Um modelo «NVQ»? Para concluir a nossa análise aos três países agrupados neste capítulo, podemos dizer que a muito grande aceitação do modelo de ensino e de formação centrado nos resultados e baseado no desempenho é surpreendente. É perfeitamente visível a aceitação generalizada da aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais enquanto percurso para atingir as competências tão válido e importante como os percursos formais. Em compensação, o que levanta dúvidas é a forma como esse sistema se pode concretizar. As experiências britânicas e holandesas põem em relevo alguns problemas institucionais, metodológicos e práticos relacionados com o estabelecimento de um sistema capaz de integrar a aprendizagem não formal no seu próprio quadro. A dificuldade em desenvolver uma norma de qualificação aceitável parece constituir o primeiro e, talvez, o mais sério obstáculo. Enquanto se considerar que a avaliação deve ter referenciais, a qualidade da norma manter-se-á crucial. As experiências britânicas, que tendem a resolver o dilema entre referenciais de competências demasiado gerais e demasiado específicos, puseram em relevo algumas dessas dificuldades. O segundo problema evidenciado pelos casos britânico e holandês, mas que, de acordo com os documentos de que dispomos, não se reflecte na experiência irlandesa, relaciona-se com as dificuldades clássicas para garantir a fiabilidade e a validade da avaliação. Nos documentos que consultámos, os problemas foram claramente expostos, mas as respostas, caso as haja, não ficaram tão claramente definidas. Os finlandeses, graças ao trabalho em rede e à formação dos avaliadores e do pessoal dos estabelecimentos envolvidos, provavelmente identificaram uma estratégia possível: tendo concluído que, em matéria de normas de qualificações, nunca se pode estabelecer um equilíbrio perfeito entre os referenciais gerais e os referenciais específicos, concentram-se nas competências dos avaliadores. 101 Colecção CEDEFOP 3.5>França e Bélgica20 Tal como aconteceu com o sistema britânico dos NVQ, as experiências francesas influenciaram o debate geral europeu e o desenvolvimento deste domínio. O balanço de competências talvez possa considerar-se o primeiro esforço para introduzir um sistema de grande escala destinado a identificar e avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal e através da experiência. A partir da introdução do balanço de competências, em 1985, tem-se observado um grande interesse em relação a estas questões. Em compensação, a Bélgica ainda se encontra no primeiro estádio de desenvolvimento, faltando-lhe definir claramente a sua estratégia. 3.5.1>França Em vários aspectos, a França é o mais avançado país da Europa no domínio da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A razão para este avanço encontra-se na legislação nacional, nos dispositivos de financiamento da formação profissional contínua, nas reformas do sistema de ensino e de formação e, finalmente, nas iniciativas do sector privado. Este interesse crescente pela aprendizagem não formal pode parecer paradoxal quando pensamos na elevada cotação de que gozam, tradicionalmente, o ensino e a formação formais. A França foi caracterizada como um caso extremo de «lógica do título académico» (Merle, 1998). Como na Itália e na Grécia (cf. cap. 3.3), o diploma académico reflecte não apenas o nível formal atingido por uma determinada pessoa, mas também as suas qualidades e o lugar a que tem direito. Méhaut (1997) refere que, em França, um diploma desempenha três funções: serve de norma interna para o sistema educativo, de norma externa para o mercado de trabalho e de factor de identidade e de hierarquia. Esta «lógica do título académico» encontra talvez a sua tradução mais extrema no sistema das grandes écoles, mas também influencia os comportamentos noutros domínios, incluindo o do ensino e formação profissional. O elevado valor atribuído em França ao diploma está ligado, em grande medida, ao carácter nacional e homogéneo dos sistemas de ensino e de formação. O ensino e a formação, incluindo o ensino e a formação profissional, são 20Normalmente, o Luxemburgo deveria estar presente neste capítulo, mas, após terem sido consultadas as autoridades educativas luxemburguesas, o Cedefop concluiu que o nível de actividade, neste domínio, era insuficiente para justiçar um estudo nacional distinto. inofor ministrados dentro de percursos nacionais, pré-definidos e completos, que deixam pouco espaço à experimentação pessoal ou institucional. Embora tenham ocorrido mudanças ao longo dos últimos dez anos, o sistema manteve-se calmo, o que contribuiu para a sua legibilidade. Os indivíduos e os empregadores, na sua maioria, estão familiarizados com as diversas qualificações atribuídas a nível nacional. No entanto, durante os últimos dez a quinze anos, este sistema tem vindo a ser posto cada vez mais em causa. Como é referido, a estabilidade também pode ser interpretada em termos de rigidez. A homogeneidade do sistema pode muito bem tornar-se num obstáculo à renovação dos saberes e das competências e à aceitação de formas alternativas de aprendizagem, a pretexto de que estas não correspondem aos itinerários prescritos e definidos pelo sistema nacional. Estas críticas, formuladas em numerosos contextos, têm vindo, pouco a pouco a atingir a esfera legislativa e institucional, provocando reformas destinadas a estabelecer uma ligação mais estreita entre o ensino e a formação formais e a aquisição de saberes no local de trabalho. De facto, é possível distinguir dois conjuntos de medidas legislativas, cujos perfis e objectivos são um pouco diferentes. A primeira medida consistiu na lei de 1985 sobre o balanço de competências, que permite validar as competências profissionais adquiridas fora do sistema educativo formal. O balanço de competências pode ser da iniciativa da empresa ou do próprio trabalhador. Este direito foi reforçado pela lei de Dezembro de 1991, que estipula que qualquer trabalhador tem direito a uma licença para efectuar o balanço. A segunda medida legislativa, a lei de Julho de 1992, sobre a validação dos conhecimentos profissionais adquiridos, está directamente relacionada com o quadro nacional dos diplomas e certificados e, por isso, reconhece a igualdade legal entre as competências adquiridas no seio e fora das estruturas de ensino e de formação formais. Em certa medida, este quadro pode considerar-se paralelo aos sistemas baseados nas competências e nos resultados, apresentados acima, pelo menos no sentido em que uma qualificação pode obter-se com base em diferentes percursos de aprendizagem. O balanço balançode decompetências competências 3.5.1.1>O A lei de 1985 sobre o balanço de competências introduz um sistema de validação das competências profissionais adquiridas fora do sistema educativo formal. A iniciativa pode partir da empresa ou do próprio trabalhador. Este direito foi reforçado pela lei de Dezembro de 1991, que estipula que qualquer trabalhador tem direito a uma licença especial (de 24 horas, ou seja, três dias de trabalho) para elaborar o balanço. A lei de 1991 define o objectivo do balanço de competências nos seguintes termos: «permitir que os 103 Colecção CEDEFOP trabalhadores analisem as respectivas competências profissionais e pessoais, bem como as respectivas aptidões e motivações, a fim de definir um projecto profissional e, se for o caso, um projecto de formação». Tal como acontece com as abordagens apresentadas acima, o balanço de competências é um dispositivo nacional definido e administrado de acordo com a legislação nacional em vigor. Mas enquanto os «testes externos» e a avaliação baseada nos resultados (nos Países Baixos, por exemplo) se encontram intrinsecamente relacionados com os sistemas nacionais de ensino e formação formais, o balanço de competências está centrado no mercado de trabalho e nas empresas. O decreto de 27.10.1992 (I. Drexler, 1997, p. 229) resume assim os objectivos do balanço: «Confrontando o contexto profissional (o contexto da empresa ou do mercado de trabalho em geral) com as suas próprias aptidões, o beneficiário do balanço deve ser capaz de “organizar as suas prioridades profissionais”, de “utilizar melhor as suas capacidades nas [...] opções de carreira” e, de uma maneira geral, de “gerir o melhor possível os seus próprios recursos”.» Oficialmente, o balanço de competências possui um papel claramente formativo, pois proporciona ao empregador ou ao trabalhador informações sobre questões de competências para apoio de um projecto pedagógico ou profissional. Existem mais de 700 organismos e estabelecimentos acreditados como centros de balanço, competindo uns com os outros no mercado dos pedidos de avaliação21. O perfil profissional e o estatuto destas organizações variam muito. Dado o grande número de organizações e de linhas orientadoras mais ou menos gerais fornecidas pela legislação nacional, a abordagem metodológica também varia muito22. Os exemplos seguintes mostram a maneira diferente como dois centros abordaram o processo. 21Em 1994, esses centros efectuaram 125 000 balanços, cujo custo foi calculado em cerca de 340 milhões de FRF. Três quartos dos pedidos de balanços partiam de pessoas à procura de emprego; destes, 52% eram mulheres, 44% tinham entre 16 e 25 anos e 47% entre 26 e 44 anos. Para cerca de 50% destes indivíduos, o objectivo principal consistia na elaboração de um projecto profissional, para 20%, a procura de emprego e, para 21%, a procura de formação. Apenas uma percentagem muito baixa (1,9%) declarou que se tratava de um primeiro passo para a validação de aquisições com vista à obtenção de um certificado ou de um diploma do sistema de ensino e de formação formais. 22 Ingrid Drexel (1997) ilustra esta diversidade dando o exemplo de uma grande empresa que organizou um balanço de competências para todos os seus funcionários. Ao anúncio de ofertas publicado por essa empresa, responderam cerca de 700 organizações. O preço unitário do balanço ia dos 5 000 FRF a 50 000 FRF, a duração do balanço individual variava entre as 2 e as 16 horas; o percurso metodológico estava centrado em aspectos que iam da neurolinguística à psicologia e à pedagogia e o perfil profissional dos avaliadores compreendia tanto psicólogos (a maioria) como professores e antigos gestores de empresas. inofor O primeiro desses centros, que é um organismo público de formação, decompôs o processo em três fases. A primeira fase consiste numa entrevista preliminar, durante a qual são identificadas as motivações e as necessidades do trabalhador e apresentados os procedimentos e metodologias do balanço. Também se sublinha o carácter voluntário do processo. A segunda fase procura analisar e recensear as motivações, os interesses pessoais e profissionais, bem como as competências pessoais e profissionais do candidato. Este centro utiliza uma bateria de testes normalizados, a fim de determinar diversos aspectos, tais como o «temperamento» e as «preferências». Através de uma actividade essencial, que consiste em reconstruir o percurso individual do candidato, procura-se determinar se existe um «tronco comum de competências» que possa ser valorizado. Finalmente, durante a terceira fase, são apresentados ao candidato os resultados das análises, passando estes a ser utilizados como base de diálogo com vista ao estabelecimento de um projecto de formação e de um projecto profissional. Esta fase pode comparar-se, em certos aspectos, à orientação profissional, embora assente numa informação mais completa a propósito das competências do indivíduo em causa. Após este processo, o candidato recebe um documento de síntese que identifica claramente as suas competências pessoais e profissionais, para o ajudar a determinar as modalidades de realização dos seus projectos. Em virtude das disposições definidas no artigo R 900-1 do Código do Trabalho, este documento só deve incluir as indicações relativas a) circunstâncias do balanço (origem do pedido e condições de realização da prestação); b) competências e aptidões da pessoa avaliada à luz das perspectivas de evolução em causa; c) elementos constitutivos do projecto profissional, bem como do projecto de formação; d) principais etapas previstas para a realização desses projectos. Este documento de síntese é propriedade do candidato e não pode ser utilizado por terceiros sem o seu consentimento. O segundo centro, que é uma empresa privada, decompõe o processo em seis fases (cinco quando o cliente é um particular). A primeira fase (em empresa) consiste numa entrevista com os representantes da direcção, a fim de lhes ser apresentado o processo do balanço e de serem identificados os objectivos da empresa. Durante essa entrevista, o centro de balanço procura recolher uma visão de conjunto dos projectos profissionais e dos potenciais percursos de formação da empresa. Durante a segunda fase, começa o «recenseamento» propriamente dito das competências do candidato. Este processo leva em linha de conta um determinado número de critérios: descrição da situação profissional do candidato, rede, problemas e tensões no local de trabalho, etc. Desta forma, procura- 105 Colecção CEDEFOP se apreender as principais características do candidato e da sua situação profissional. Após a entrevista, pede-se ao candidato que trace um balanço global das suas próprias competências, adquiridas por via formal e não formal. Durante a quarta fase, este «trabalho de casa» é utilizado como ponto de partida para determinar se as competências existentes são plenamente utilizadas. O objectivo é definir de um modo mais preciso as potencialidades do candidato, bem como os aspectos que poderiam ser melhorados. Depois desta fase, o candidato deve submeter-se a um teste normalizado que incide sobre os elementos mais importantes das suas competências. Na quarta e na quinta fases, a parte analítica é utilizada como base de orientação. Entre estas fases, o candidato deve efectuar diversos «trabalhos de casa» que têm como objectivo levá-lo a tomar mais consciência das suas próprias potencialidades e possibilidades. O processo considera-se terminado na sexta fase, durante a qual é entregue ao candidato o balanço propriamente dito. Em geral, este documento contém três ou quatro propostas alternativas, mas relacionadas umas com as outras, que dizem respeito à orientação a dar aos projectos. É difícil determinar em que medida foram positivas as diversas abordagens do balanço e se umas foram mais positivas do que outras. Não existe nenhum controlo institucionalizado dos resultados desta iniciativa e, de qualquer forma, seria extremamente difícil definir os critérios para esse controlo. Foram algumas as críticas formuladas: a) o papel formativo do balanço de competências é insuficiente. O documento de síntese raramente permite identificar projectos e perspectivas profissionais e, na maior parte das vezes, só contém recomendações gerais incidindo sobre os projectos de formação; b) apesar dos esforços para analisar as competências de cada candidato através de meios quer formais quer não formais, numerosos documentos de síntese limitam-se aos elementos formais, isto é, àqueles que podem ser atestados por certificados e por diplomas; c) em certos casos, parece haver uma «confiança cega» nos instrumentos normalizados e automatizados, o que impede as análises personalizadas. Esta fragilidade não vem retirar mérito ao facto de o balanço de competências ser um dos raros sistemas de medição das competências a funcionar em grande escala. É também um dos raros sistemas que funciona numa clara base formativa, visando, essencialmente, identificar, de modo preciso, as potencialidades de uma pessoa. Esperemos que permita apoiar a aprendizagem e melhorar as perspectivas de carreira. O facto de o balanço de competências não visar um reconhecimento formal das competências relativamente a uma norma de qualificação, distingue-o radicalmente dos sistemas apresentados atrás. Os principais pontos de referência são os indivíduos e as inofor empresas, não sendo mencionada qualquer outra referência, pelo menos formalmente (como já dissemos acima, é possível que existam normas informais que reflictam o perfil profissional dos centros de balanço). Podemos, por isso, dizer que o papel somativo do balanço é fraco. Caso utilizemos o termo «somativo» no sentido de «somativo para tornar públicas as contas» (Black, 1998), que, em França, é uma das características centrais da avaliação e dos exames tradicionais que conferem um diploma, tal não se aplica a este sistema, pois não é esse o papel que deve desempenhar. 3.5.1.2>«Abrir» «Abrir» os diplomas diplomaseeos oscertificados certificados A lei de Julho de 1992 sobre a validação das aquisições profissionais está relacionada directamente com o quadro nacional dos diplomas e dos certificados e, por isso, reconhece a igualdade legal entre as competências adquiridas no seio e fora das estruturas de ensino e de formação formais. Esta lei, cuja aplicação depende do Ministério da Educação, está relacionada com o sistema de formação inicial (que dá acesso a um certificado de aptidão profissional [CAP] ou a um diploma de técnico superior [BTS]) e é completada por um dispositivo de «avaliação das competências e das aquisições profissionais» [EVAP], lançado pelo Ministério do Trabalho. Este dispositivo está associado aos certificados de formação contínua emitidos pelo Ministério. Os certificados, emitidos quer pelo Ministério da Educação quer pelo Ministério do Trabalho, baseiam-se em referenciais (normas) estabelecidos em concertação com os parceiros sociais no quadro de comissões parlamentares consultivas [CPS]. Em geral, as actividades das CPS encontram-se intimamente ligadas a um curso específico de formação, mas a aceitação da aprendizagem experiencial, enquanto percurso legítimo para a qualificação, implica que esses referenciais também levem em conta esse aspecto experiencial. Contrariamente ao balanço de competências, o potencial da lei de 1992 ainda não se concretizou. Merle (op. cit.) considera que o sistema de aquisição de qualificações formais através da validação das aquisições profissionais «tem arrancado lentamente e está longe de responder às expectativas dos trabalhadores». Há quem pense (Colardyn, 1999) que cerca de 90% dos requisitos para a obtenção de qualquer diploma académico do Ministério da Educação podem ser preenchidos graças ao reconhecimento dos saberes prévios adquiridos por via não formal, o que significa que podem obter-se por este meio todos os diplomas, mas também que nenhum diploma se pode obter unicamente através da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Em qualquer momento, qualquer pessoa que deseje que, neste quadro, lhe sejam avaliadas as suas competências, pode obter um diploma. 107 Colecção CEDEFOP Enquanto as leis de 1985, 1991 e 1992 constituem importantes indicadores de uma mudança de atitude em favor da aprendizagem não formal em França, as qualificações emitidas pela Comissão Técnica de Homologação [CTH] e os certificados de qualificação profissional [CQP] constituem alternativas ao sistema tradicional de certificação, na medida em que estão mais ligados às competências (práticas) utilizadas nas empresas do que à frequência de um curso. Até à data, os sectores industriais só muito prudentemente se iniciaram na criação de certificados de qualificação profissional, cujo número raramente ultrapassa os 4 000 por ano. Originariamente, os CQP foram concebidos para certificar as qualificações dos jovens que tinham frequentado um curso de aprendizagem em alternância. Hoje em dia, os sectores industriais que implementaram os CQP têm vindo a atribuir-lhes funções muito diferentes: certificação complementar do sistema educativo nacional, reconhecimento com vista a uma promoção e sistema de certificação profissional paralelo ao sistema educativo nacional. Como já foi mencionado anteriormente, a França é o país da Europa que detém a mais duradoura e a mais vasta experiência em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A base jurídica estabelecida pelas leis de 1985, 1991 e 1992 indica, sem margem para dúvidas, que a aprendizagem não formal é importante e que o seu lugar, relativamente à aprendizagem formal, deve ser clarificado e reforçado. Igualmente importante é a experiência prática adquirida com o balanço de competências. Em termos de experiência ligada ao equilíbrio entre o custo e a capacidade e em termos de abordagem metodológica, o balanço de competências também se revela importante fora de França. Em numerosos países da Europa, a aprendizagem não formal passou a ocupar um lugar de relevo no debate político sobre o ensino, a formação e o trabalho. Este tema é parte integrante das discussões políticas nacionais entre os parceiros sociais, encontrando-se também na base de iniciativas da responsabilidade do sector privado. A experimentação promovida, em 1998, pela Assembleia Francesa das Câmaras de Comércio e Indústria no sentido de ser elaborado um sistema «de medição e de reconhecimento das competências» merece um tratamento mais pormenorizado. 3.5.1.3>Uma Uma abordagem «ascendente» «ascendente» da damedição mediçãodas dascompetências competências Numa nota intitulada «Steps towards reliable measurement and recognition of skills and competences of workers» [Para uma medição e um reconhecimento fiáveis das qualificações e das competências dos trabalhadores], D. Colardyn (1999) analisa o carácter um pouco paradoxal dos sistemas de avaliação dos conhecimentos adquiridos por inofor via não formal, em França. Durante a década de 90, todos os diplomas, em todos os níveis, tornaram-se acessíveis graças ao reconhecimento da aprendizagem anterior efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. No entanto, um diploma nunca pode ser obtido unicamente pela avaliação de conhecimentos previamente adquiridos. Há um determinado momento, que varia de diploma para diploma, em que a pessoa em causa tem de se sujeitar a um exame formal. De facto, embora a França, a exemplo do Reino Unido, dos Países Baixos, da Finlândia e de outros, tenha aumentado a flexibilidade do sistema, o ponto de referência continua a ser o sistema de ensino e de formação formais. Por outras palavras: «[...] o reconhecimento dos saberes adquiridos está totalmente ligado ao conteúdo dos diplomas. Os conhecimentos previamente adquiridos ou experienciais não podem ser reconhecidos enquanto tal; só são reconhecidos enquanto partes de um diploma, enquanto elementos introduzidos num processo que dá acesso a diplomas emitidos pelo sistema educativo formal. Isto significa que os indivíduos, particularmente os trabalhadores adultos e com experiência, que não estiverem interessados na obtenção de um diploma suplementar, não podem obter o reconhecimento dos respectivos saberes previamente adquiridos ou experienciais.» (Colardyn, op. cit., p. 4) Em 1998, foi lançado um projecto cujo objectivo consiste no desenvolvimento de uma metodologia e de um sistema que permita avaliar e reconhecer aquilo que uma pessoa é capaz de fazer numa situação de trabalho, independentemente de qualquer contexto de ensino. Este projecto tem como objectivo apreender, num contexto de trabalho, os resultados dos diversos processos de aprendizagem seguidos por um trabalhador. Além disso: «A certificação das competências não tem qualquer relação com a avaliação do desempenho. Esta questão poderia estar na origem de um debate, pois depende essencialmente da definição das competências e do desempenho. A avaliação das competências não implica qualquer juízo sobre a qualidade de execução de um dado trabalho. Este juízo deve remeter para o funcionamento interno da empresa.» (Colardny, op. cit., p. 6) 109 Colecção CEDEFOP Desde o início, houve 15 câmaras de comércio e indústria (CCI) e 24 empresas que aderiram a esta iniciativa, tendo sido criado um organismo de certificação independente, denominado Associação para a Certificação das Competências Profissionais, no qual estão representadas as diversas CCI. A fim de englobar todas as partes interessadas, (empregadores e trabalhadores), foi também criada uma Comissão de Certificação, que desempenha um importante papel, na medida em que lhe são apresentados todos os elementos respeitantes ao processo de avaliação, incluindo as normas de avaliação e os comprovativos. Esta Comissão, de nível nacional, deveria contribuir, de modo determinante, para garantir a qualidade e a legitimidade da abordagem. Este sistema reporta-se à norma europeia EN 45013, que define «referenciais para os organismos de certificação de pessoal». Essa norma, elaborada pela EA (European cooperation for accreditation), tem o apoio de todos os organismos nacionais de acreditação reconhecidos pelo Espaço Económico Europeu. Tradicionalmente, esses organismos exerciam as respectivas actividades sobretudo nos domínios da testagem, da inspecção e da aferição dos sistemas técnicos e administrativos e, pouco a pouco, foram estendendo estas actividades à certificação de pessoal. O objectivo da norma EN 45013 consiste em estabelecer um processo que permita especificar o que será avaliado, a fim de garantir a transparência da avaliação a todas as partes envolvidas, bem como a imparcialidade, a fiabilidade e a validade dessa mesma avaliação. Quando esta norma é aplicada ao contexto francês, as câmaras de comércio e indústria põem em relevo três princípios essenciais: a) a representação de todas as partes envolvida; b) a separação da formação e da certificação; c) a avaliação e a certificação efectuadas por terceiros. A criação da Comissão de Certificação inscreve-se no esforço para a concretização do primeiro princípio. O segundo princípio é aplicado por meio da focalização sobre os resultados, «[...] e não sobre os processos que permitem atingir os resultados. O processo de avaliação e de certificação das competências é independente de qualquer tipo de formação, seja qual for a sua duração e o contexto no qual é efectuada.» (Colardyn, op. cit., P.7) O terceiro princípio, a avaliação por terceiros, é um elemento determinante da abordagem e diz respeito à qualidade, à fiabilidade e à validade do próprio processo de avaliação. A avaliação de um trabalhador não pode ser feita pelo seu superior hierárquico inofor directo; deve ser efectuada por um especialista da área em questão, que seja formado e certificado como avaliador. O trabalho do avaliador é controlado por um verificador encarregado de supervisionar um grupo de avaliadores. Este sistema de verificação e de controlo compreende também um terceiro e um quarto níveis: a nível nacional, a responsabilidade pertence à Comissão Francesa de Acreditação (Cofrac) que serve de organismo de recurso e a nível internacional, o controlo é exercido sobre as actividades nacionais por uma equipa que aplica os procedimentos ISO. O dispositivo institucional, determinante para a legitimidade do exercício, não consegue, por si só, resolver a questão fundamental das normas de avaliação ou dos pontos de referência. As normas a serem elaboradas pela Comissão de Certificação baseiam-se nos seguintes elementos: a) descrição das competências e respectivos elementos; b) lista não exaustiva de exemplos de provas extraídas de situações de trabalho em empresa; c) duração da validade; d) referência às descrições de emprego elaboradas pela Agência Nacional de Emprego; e) referência aos diplomas aos quais a avaliação dos conhecimentos adquiridos dá acesso. As normas são submetidas à aprovação da Comissão de Certificação e, posteriormente, publicadas, prevendo-se uma actualização periódica. De momento, a principal experimentação (que é também a principal preocupação) incide sobre a maneira de reunir as provas das competências de uma pessoa. Em 1998 e 1999, foram elaboradas normas para 15 diferentes domínios. Cada uma dessas normas de avaliação foi elaborada com a participação de nove empresas, que definiram as normas e as provas de competências. Consideram-se três principais tipos de provas: a) as provas que incidem sobre a situação de trabalho de cada empresa, e que constituem as provas centrais visando a certificação das competências; devem reflectir as actividades relacionadas com a situação de trabalho, não devendo ser considerado qualquer elemento exterior. A existência das provas deve ser anterior à constituição do portefólio de competências; b) informações complementares, nomeadamente testemunhos de superiores hierárquicos e de colegas e, se for necessário, utilização de testes; c) informações suplementares, como, por exemplo, observação ou entrevistas para verificação da autenticidade das provas fornecidas. 111 Colecção CEDEFOP A importância atribuída às provas deu origem ao que se pode designar por «abordagem ascendente» da elaboração de normas. As empresas empenhadas nesta iniciativa organizaram listas de provas oriundas dos seus próprios contextos. A lista definitiva (mas não exaustiva) de exemplos apresentada para cada norma atesta a variedade de provas possíveis. No entanto, apesar das diferenças contextuais que ressaltam desta recolha, as mesmas provas tendem a reaparecer em diferentes empresas. D. Colardyn refere «a natureza das provas extraídas da situação de trabalho corrobora a ideia segundo a qual as competências certificadas são transferíveis de um trabalho para outro.» (Colardyn, op. cit., p. 11) O relevo posto na segurança e no controlo da qualidade está ligado à questão da fiabilidade. No cerne desta questão encontram-se a imparcialidade e a suficiente objectividade do teste. Devido à natureza extremamente diversificada dos conhecimentos adquiridos por via não formal, será difícil atingir-se o mesmo tipo de fiabilidade que se consegue, por exemplo, nos testes de respostas pré-definidas ou de escolha múltipla. Introduzindo em todos os níveis (e entre os diferentes níveis) o controlo de qualidade, é possível reforçar consideravelmente a confiança nos procedimentos metodológicos. A fiabilidade da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal deve basear-se num elevado grau de transparência, devendo todas as etapas ser comunicadas de forma clara a todos os participantes. 3.5.2>Bélgica Embora as instituições e a legislação belgas reconheçam, em certa medida, a importância da aprendizagem não formal no contexto educativo geral, a prioridade e o interesse prestados às questões relacionadas com a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal têm-se revelado fracos. Em comparação com muitos outros países europeus, a Bélgica possui um sistema de ensino e formação profissional com poucas ligações a nível da empresa, como o atesta a fraca proporção de jovens que recebe formação profissional no quadro da aprendizagem. É possível que esta abordagem, essencialmente centrada na formação pela escola, tenha provocado menos interesse pelas questões de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal do que noutros países com situações comparáveis. No entanto, quer na Comunidade Francesa quer na Comunidade Flamenga, verifica-se uma certa evolução e um crescente interesse por este assunto, que se traduz por novas iniciativas. inofor Como aconteceu em vários outros países (Alemanha, Noruega, etc.), introduziu-se uma certa flexibilidade no sistema, a fim de permitir que as pessoas fossem dispensadas de determinadas partes de um curso formal, fazendo valer competências adquiridas no local de trabalho ou noutros contextos. Os júris da Comunidade Francesa, sob a tutela do Ministério da Comunidade Francesa, propõem exames alternativos às pessoas que seguiram «itinerários de aprendizagem» diferentes dos da escolaridade formal. Esses exames destinam-se, antes de mais, aos «autodidactas» ou «àqueles que abandonaram os estudos» (Eurydice, 1998). Para se prepararem para esses exames, os candidatos têm acesso aos necessários equipamentos nos estabelecimentos de ensino públicos ou privados, bem como aos dispositivos de ensino à distância. As regras e as regulamentações relativas à composição e às funções dos júris de avaliação encarregados de organizar os exames são definidas por diplomas do executivo. No ensino secundário, pode obter-se um certo número de qualificações por este meio: a) quarto ano do certificado de ensino secundário (certificado de ensino secundário do segundo grau), no ensino secundário geral, técnico, artístico ou profissional; b) CESS (certificado de ensino secundário superior) no ensino secundário geral, técnico, artístico ou profissional; c) DAES (diploma de aptidão para acesso ao ensino superior) para os formandos que terminaram o sétimo ano do ensino secundário profissional e para os estrangeiros com equivalência oficial ao CESS, que dá acesso ao ensino superior curto; d) diploma que permite o acesso ao exame em engenharia civil. Além disso, é ainda possível, de acordo com as disposições regulamentares anteriores, a apresentação a exames preparatórios de acesso à formação de técnico auxiliar de saúde (ensino secundário profissional complementar) e a determinadas formações superiores no domínio paramédico. Os procedimentos elaborados pela Comissão de Homologação encarregada de analisar os certificados que sancionam qualificações ou cursos parciais estrangeiros de nível secundário oferecem também uma certa pertinência em relação ao assunto que nos ocupa. Antes de qualquer decisão, o formando deve reunir todos os documentos que tenha em seu poder, com base nos quais a Comissão irá verificar: a) se os programas de estudo seguidos são estabelecidos e aprovados pelo ministro ou se correspondem às normas equivalentes; b) se o ensino e a formação dispensados estão de acordo com os níveis exigidos; c) se o formando obedece às normas em vigor em matéria de admissão e de duração dos estudos. 113 Colecção CEDEFOP O CEES constitui a base sobre a qual assentam as decisões tomadas. A Comissão de Homologação é composta por representantes dos estabelecimentos de ensino públicos e privados, em igual número. Na Comunidade Flamenga, foi introduzido um certo grau de flexibilidade no sistema. Quando se apresentam a exames especiais, os adultos podem obter (com base nos saberes adquiridos no local de trabalho ou noutro sítio) a mesma qualificação que os indivíduos que seguiram um percurso tradicional. Este dispositivo aplica-se ao ensino primário, ao ensino secundário inferior e superior e ao ensino superior. Os adultos podem ainda optar por seguir um dos programas de formação contínua propostos pelo Ministério do Ensino e da Formação da Comunidade Flamenga. Estes programas permitem a frequência de cursos, à noite ou aos fins-de-semana, que, no final, dão qualificações equivalentes às que são atribuídas pelos estabelecimentos de ensino secundário superior (e a certas qualificações do ensino superior). Na sequência de uma reforma empreendida em 1999 (decreto de 2 de Março de 1999, JO de 21.8.1999), pode ser concedida uma redução dos períodos de estudos fundamentada numa experiência profissional comprovada. Cabe ao director do estabelecimento de ensino decidir da dispensa, após ter ouvido os pareceres dos professores das disciplinas em causa. É conveniente notar que, contrariamente ao sistema normal, os programas flamengos de formação contínua são, em grande parte, modularizados. Uma iniciativa tomada em 1998 pelo Conselho da Educação e da Formação da Comunidade Francesa revela uma vontade de reformar e de harmonizar o conjunto do sistema de validação das competências profissionais, tanto a nível da formação inicial como a nível da formação contínua. O Conselho apresentou propostas que mostram a necessidade de se alargar o conceito de qualificação relativamente ao sistema existente: uma qualificação deve ser definida como o conjunto de competências necessárias à execução de uma tarefa ou de diversas tarefas requeridas para o exercício de uma profissão. Esta abordagem das normas profissionais corresponde à que definimos atrás, e que se baseia no desempenho ou nos resultados. Uma das propostas incide nas competências adquiridas através da experiência profissional e sobre a potencial inclusão dos conhecimentos adquiridos por via não formal nas práticas belgas de avaliação do ensino e da formação. Embora esta proposta não esteja explicitamente relacionada com os modelos franceses ou com outros modelos «estrangeiros», é manifesta a mudança de perspectiva: a abordagem baseada nos meios evolui para uma abordagem baseada nos resultados. Para além disso, as autoridades flamengas preparam actualmente uma reforma do sistema de formação profissional destinada a lançar um modelo modularizado, «baseado nos resultados». No âmbito desta reforma, foi levantada a questão da avaliação e do inofor reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal e, pela primeira vez, introduzida na agenda política nacional (Comunidade Flamenga). Este projecto de reforma traduz um esforço no sentido de aproximar os diferentes prestadores de formação profissional da Comunidade Flamenga, nomeadamente os ministérios com a tutela do ensino e da formação, do emprego e das pequenas e médias empresas. Actualmente, os sistemas dependentes destes três ministérios não se reconhecem mutuamente. O projecto de modularização visa estabelecer a aproximação graças ao desenvolvimento comum de um conjunto de normas de competências. Os parceiros sociais têm-se envolvido profundamente neste trabalho. Se esta reforma tiver êxito, qualquer pessoa poderá passar de um sistema para outro sem precisar de arrancar do zero. Embora o trabalho desenvolvido a nível da Comunidade Flamenga ainda se encontre numa fase inicial, pode dizer-se que é fortemente inspirado nas experiências holandesas. Tanto o sistema das normas de qualificações como as metodologias da APL desenvolvidas nos Países Baixos durante os últimos anos têm constituído importantes pontos de referência. Um acordo recentemente concluído entre o Ministério da Educação dos Países Baixos e o Departamento do Ensino e da Formação da Comunidade Flamenga (acordo GENT 5 de 7 de Fevereiro de 2000) insiste na necessidade de troca de informações em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, a fim de se promover a cooperação, a coordenação e a aprendizagem mútua. Para além das práticas acima mencionadas, têm ocorrido numerosas iniciativas relacionadas com a norma europeia EN 45013 relativa à certificação de pessoal (cf. também o capítulo 3.5.1.3, onde são apresentadas as experiências francesas neste domínio). Esta norma é gerida pelo Belgcert, organismo criado nos anos 90 e colocado na tutela do Ministério Federal da Economia, participando na sua execução vários outros organismos e instituições (serviços ministeriais federais e regionais, etc.). O papel da norma EN 45013 pode ser ilustrado pelo exemplo do Instituto Belga das Técnicas de Sondagem: as qualificações emitidas por este instituto são acreditadas de acordo com os critérios do Belgcert e da norma EN 45013. Foram também desenvolvidas iniciativas semelhantes nos sectores da construção, do aquecimento, da refrigeração, da metalurgia, da alimentação e da restauração. 3.5.3>Certificados formais em causa? Quer em França quer na Bélgica, as qualificações e os certificados aprovados a nível nacional desempenham um papel importante. No caso da França, Merle (op. cit.) designa esta especificidade por «lógica do título académico». A introdução de múltiplos dispositivos 115 Colecção CEDEFOP de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal põe em causa o papel e o estatuto dos certificados e dos diplomas tradicionais. Embora tenha sido adquirida uma considerável experiência durante os últimos 10 ou 15 anos, os percursos de aprendizagem não formal não se impuseram verdadeiramente como uma alternativa séria aos sistemas de ensino e de formação formais. O balanço de competências desempenha um papel estritamente formativo e constitui mais uma oferta de orientação e um feedback do que um reconhecimento oficial das competências. O dispositivo lançado em 1992 pelo Ministério da Educação Nacional deve ser encarado como uma abertura do sistema de ensino e de formação formais em relação às competências adquiridas de maneira não formal. Trata-se, pois, de uma abordagem limitada, na medida em que as normas são definidas e estabelecidas pelo sistema formal. A experimentação efectuada pelos CCI franceses, bem como as iniciativas belgas, poderiam inspirar o desenvolvimento de um dispositivo independente do ensino e da formação formais, mais centrado nas necessidades e nas práticas do mundo do trabalho. Resta saber se será possível, ou até útil, tentar reunir essas diferentes abordagens no seio de um sistema nacional único. Qualquer que seja a resposta a esta questão, as experiências francesas e belgas revelam que as soluções em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal devem ser procuradas na variedade das abordagens e na aplicação de diversas metodologias como resposta a diversos objectivos. 3.6>Sistemas nacionais de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal - determinantes e condições prévias À primeira vista, as diversas abordagens nacionais em matéria de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal diferem imenso umas das outras e, aparentemente, são mais o reflexo das tradições e das especificidades próprias de cada contexto nacional do que a representação de uma tendência europeia comum. No entanto, uma análise mais atenta revela um número limitado de factores que desempenham um papel determinante no estabelecimento e no desenvolvimento das metodologias e dos sistemas nacionais. Há dois factores determinantes que merecem ser especialmente sublinhados: a) qualquer esforço desenvolvido para estabelecer sistemas nacionais de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal deve partir de inofor um ponto de referência ou de uma norma; b) qualquer esforço desenvolvido para estabelecer sistemas nacionais de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal deve considerar a questão da modularização, de uma forma ou de outra. O estabelecimento de metodologias e de sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal depende, em larga medida, do modo como esses factores determinantes são geridos a nível nacional. Tradicionalmente, as normas de qualificações, sob a forma de programas de estudos gerais e/ou de programas mais específicos, por exemplo, são construídas em função de quatro critérios: o conteúdo, o local, a duração e a metodologia. Esta abordagem, em parte ilustrada pelos Berufsprofile alemães e austríacos, embora muito elaborada, não deixa de ser, por isso, limitada. Só os estabelecimentos especificamente habilitados para «emitir» as qualificações correspondentes a essas normas conseguem dar resposta às exigências em termos de conteúdo, de local, de duração e de metodologia. As competências adquiridas fora dos percursos oficiais e aprovados, provavelmente, não estão em conformidade com um ou com vários desses quatro critérios definidos. A esta abordagem opõem-se as que são baseadas nas competências ou no desempenho, nas quais o número de «critérios de controlo» foi radicalmente reduzido. Os aspectos de local, de duração e de metodologia são considerados menos pertinentes (e até, em casos extremos, desprovidos de qualquer pertinência), enquanto o aspecto de conteúdo se torna determinante. Esses esforços visando «libertar» as normas de competências dos constrangimentos institucionais impeliram a questão da aprendizagem não formal para o nível nacional. É evidente que a redução do número de critérios de controlo de quatro para um (o conteúdo) abre caminho a novos modos de aprendizagem e a uma maior flexibilidade institucional. No entanto, a credibilidade desta nova liberdade institucional assenta na sua capacidade para definir os limites e as características das competências em causa. É evidente que o estabelecimento de referenciais é impossível se a «dimensão» (amplitude, profundidade e complexidade) das competências for demasiadamente grande. Por isso, os sistemas de ensino e de formação que se baseiam em unidades capitalizáveis (modularizados) constituem um determinante suplementar na elaboração de metodologias e de sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A maior parte das abordagens nacionais centradas nas competências associaram o estabelecimento de novas normas à criação de sistemas de unidades capitalizáveis. Os países empenhados nesta dupla via fazem, geralmente, parte do grupo pioneiro da integração da aprendizagem não formal nos sistemas nacionais. Nesse aspecto, a Suécia é um exemplo. Apesar da sua reserva inicial (comparada com a Finlândia e a Noruega), fez 117 Colecção CEDEFOP grandes progressos em 1999 e 2000, atribuídos, provavelmente, ao carácter fortemente modularizado (mais de 800 unidades capitalizáveis) e normalizado do sistema nacional de ensino e formação profissional. Os projectos-piloto lançados em 1999 puderam utilizar, como ponto de partida, as normas e as unidades existentes e não foi necessário encetar mais amplas discussões a respeito das questões de base relativas à estrutura do sistema ou aos procedimentos a executar para o estabelecimento das normas. À luz das experiências nacionais aqui apresentadas, podemos dizer que as normas de competências e um certo grau de modularização constituem as condições prévias ao estabelecimento de sistemas permanentes de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. É evidente que cada sistema nacional deve desenvolver o seu próprio modelo de normas e de unidades capitalizáveis. Do mesmo modo, parece evidente que os modelos baseados nas competências, introduzidos no Reino Unido e na Irlanda, graças a uma maior flexibilidade institucional, denotam uma vontade mais forte em adoptar novas abordagens de avaliação e de reconhecimento. Além disso, determinadas qualidades integradas nos modelos mais «holísticos» de ensino e de formação (ilustrados, nomeadamente, pelo sistema dual) poderiam perfeitamente desaparecer se a prioridade incidisse exclusivamente sobre a abertura e a flexibilidade institucionais. Convém associar a prioridade actual respeitante ao conteúdo da aprendizagem com uma prioridade relativa às formas (o local) e às metodologias de aprendizagem. Embora as metodologias de avaliação possam apoiar a utilização dos resultados da aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos formais, não podem substituir-se aos esforços permanentes para melhorar as condições e as metodologias da aprendizagem nos contextos quer formais quer informais. inofor 4>Tendências europeias: evolução a nível da UE 119 Colecção CEDEFOP COMO TEM SIDO ASSINALADO AO LONGO desta análise às diversas abordagens nacionais, o papel da União Europeia no domínio da aprendizagem não formal tem-se revelado interessante e importante. Em primeiro lugar, o Livro Branco da Comissão sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva contribuiu para chamar a atenção para esta questão e sublinhou a necessidade de tornar visíveis as competências adquiridas fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais. Os programas Leonardo da Vinci e Adapt têm sido também importantes instrumentos estimuladores da experimentação metodológica e institucional. Estes dois programas, graças à participação de um elevado número de parceiros de projecto, têm também apoiado um processo internacional de aprendizagem de grande importância potencial, cujos resultados só serão perceptíveis a longo prazo. Apesar da relativamente grande prioridade política atribuída à questão da aprendizagem não formal a nível comunitário, têm sido raros os esforços para se proceder a uma síntese das iniciativas. As ambiciosas propostas do Livro Branco mantiveram-se, em larga medida, como declarações de política geral e tiveram poucos efeitos tangíveis nas estratégias lançadas quer a nível comunitário quer a nível nacional. Os diversos programas de acção, dos quais o mais importante é, de longe, o Leonardo da Vinci, constituem excepções a este panorama geral. A partir de 1995, o programa Leonardo da Vinci, só por si, permitiu apoiar centenas de projectos directa ou indirectamente ligados à identificação, à avaliação e ao reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal ou experiencial. É difícil determinar se, e em que medida, essa actividade (de experimentação de projectos) terá algum efeito nos sistemas de aprendizagem a nível nacional, sectorial ou empresarial. A resposta a essa pergunta dependerá, em parte, das relações entre a actividade experimental realizada no quadro dos programas e os objectivos de política geral definidos a nível europeu e nacional. A finalidade geral deste capítulo será, então, a análise das relações entre os objectivos políticos e a actividade desenvolvida no quadro dos programas. A primeira parte do capítulo centrar-se-á nos objectivos apresentados no Livro Branco e nos diversos documentos a que deram origem. A segunda parte será dedicada ao acompanhamento directo dado ao Livro Branco no quadro dos projectos de «testes automáticos de avaliação dos conhecimentos e das competências». A esses projectos foi dada uma particular prioridade e, em certa medida, indicam as prioridades da Comissão Europeia. A terceira parte do capítulo dá uma visão de conjunto dos projectos Leonardo da Vinci não incluídos no grupo de projectos dos «testes automáticos de avaliação». Esses projectos representam, de longe, o maior grupo (já analisámos alguns deles na apresentação das iniciativas nacionais, por exemplo, nos casos da Alemanha e da Itália). inofor 4.1>O Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva Em Novembro de 1995, a Comissão Europeia adoptou o Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva. O primeiro dos objectivos definidos no Livro Branco consiste em encorajar «a aquisição de novos conhecimentos». Trata-se de lançar uma estratégia destinada a «abrir novas vias para a validação das competências» (p. 59), que pode ter os seguintes efeitos positivos: a) desenvolver uma procura de ensino e de formação por parte dos jovens ou dos adultos que não podem, ou não desejam, entrar num sistema formal de concessão de diplomas ou de formação profissional inicial; b) permitir que qualquer pessoa consiga ver reconhecidas as respectivas competências parciais num sistema flexível e permanente de validação de unidades de saber; c) identificar, avaliar e chegar a um acordo sobre essas unidades de saber; d) estimular as pessoas para que elas próprias constituam as suas qualificações, nomeadamente através da acreditação dos saberes elementares. O instrumento fundamental proposto para a realização deste objectivo consiste na introdução de uma «carteira pessoal de competências», no qual serão registadas as competências e os saberes do interessado e que, de acordo com o Livro Branco, será entregue a todos os que o pedirem. A carteira deve ser aplicada a determinados domínios fundamentais de saberes e mesmo a determinados domínios profissionais transdisciplinares. O Livro Branco apresenta a carteira pessoal de competência como um «instrumento» ou uma «mola» destinada a estabelecer normas nos Estados-Membros: «A finalidade desta acção não é a de conceber e de impor na Europa uma carteira única, mas de contribuir para o desenvolvimento desses instrumentos, para chegar, progressivamente, à definição de padrões comuns, inclusivamente transprofissionais,» (p. 57) Esta declaração reflecte as realidades políticas no seio da UE. As questões relacionadas com o ensino e a formação são uma responsabilidade nacional, sendo excluída qualquer harmonização da legislação e da regulamentação dos Estados-Membros na área da educação e da formação. Qualquer desenvolvimento de instrumentos europeus neste domínio deve basear-se num processo gradual e voluntário. A declaração reflecte também as claras ambições da Comissão. É sabido que numerosos países europeus se têm 121 Colecção CEDEFOP esforçado por identificar as «competências-chave» e por encontrar os melhores meios para a aquisição, a avaliação e a validação dessas mesmas competências. No entanto, as iniciativas nacionais terão sempre pouco valor num contexto de crescente mobilidade europeia. A carteira pessoal de competências deve ser entendida como um dos elementos-chave de um sistema europeu concebido para comparar e difundir os métodos e as práticas de validação. Embora o Livro Branco não se detenha a pormenorizar este aspecto, subentende-se que o êxito da carteira pessoal dependerá do reconhecimento e da aceitação que merecer: «Será implementado um sistema europeu de acreditação das competências técnicas e profissionais, a partir de um trabalho de cooperação entre estabelecimentos de ensino superior, sectores profissionais, empresas, câmaras de comércio e parceiros sociais. Finalmente, será dado apoio ao desenvolvimento de acordos de qualquer natureza, a nível de empresa, de sector, de região, etc., integrando o princípio da carteira pessoal de competências.» (P.57) O Livro Branco não pormenoriza as modalidades de introdução da carteira pessoal de competências, mas foram dadas algumas informações num documento preparado pela Comissão, pouco depois da apresentação do Livro Branco (Comissão Europeia, 1996). A propósito do primeiro objectivo do Livro Branco, aquele documento refere que se pretende «introduzir, em poucos anos, um sistema europeu de acreditação das competências que permita a validação dos conhecimentos e dos saberes-fazer de qualquer cidadão numa carteira pessoal de competências». Para isso, torna-se necessário identificar um certo número de conhecimentos fundamentais, de conhecimentos profissionais e técnicos e de competências-chave (transdisciplinares). Esses conhecimentos devem estar claramente circunscritos e decompostos em unidades elementares e coerentes, organizadas em níveis crescentes de dificuldade. De acordo com o autor deste documento, seria, assim, possível avaliar um domínio de conhecimento desde o nível mais elementar ao nível mais elevado. Admite-se não existir qualquer lista rigorosa de conhecimentos e de competências que pudesse ser testada a nível europeu. No entanto, o assunto deve estar relativamente estabilizado (ausência de controvérsias importantes) e deixar pouco espaço à subjectividade nacional e cultural. A título de exemplo, mencionam-se, seguidamente, alguns conhecimentos ou competências: inofor a) conhecimentos «fundamentais»: matemática, ciências, informática, geografia, línguas estrangeiras; b) competências profissionais e técnicas: marketing, técnicas de gestão de empresas, contabilidade, etc.; c) competências-chave: logística, técnicas de organização, comunicação, capacidade de decisão, capacidade de previsão e de gestão dos riscos, capacidade de negociação, capacidades relacionais. A realização dessa tarefa a nível europeu deve basear-se em diversos elementos. Em primeiro lugar, a avaliação e a validação das competências devem compreender um conjunto de programas informáticos de validação de fácil utilização, ligados pela Internet a um servidor central que, a pedido, fornecerá um teste interactivo, processará o resultado e validará a competência no nível a que o candidato prestou provas. Em segundo lugar, os testes estarão acessíveis aos candidatos que pretendam validar as respectivas competências, em qualquer lugar na Europa e tantas vezes quantas as necessárias. Os níveis de competências serão registados numa carteira pessoal de competências, que será organizada de acordo com o ritmo e a vontade do seu portador. Logo que o sistema passe a ser reconhecido, a carteira de competências poderá desempenhar o papel de verdadeiro passaporte para o emprego, como complemento dos diplomas e dos certificados. Como refere o documento, o objectivo é criar um sistema sobre o qual haja o acordo dos Estados-Membros, para que a carteira pessoal de competências constitua um instrumento europeu que permita aos cidadãos usarem das respectivas competências em qualquer país da Europa. Não se trata de criar um teste europeu único (as diferenças nacionais devem ser reconhecidas), mas a metodologia utilizada deve ser a mesma para o conjunto da Europa e todos os testes devem estar disponíveis em todas as línguas da UE. Deste ponto de vista, a carteira pessoal de competências é entendida como um dispositivo que, a prazo, permitirá fazer uma avaliação somativa e que certificará conhecimentos e experiências a utilizar no mercado de trabalho. Este conceito não corresponde, necessariamente, às formulações mais gerais do Livro Branco, que dá muito mais importância aos aspectos formativos da avaliação das competências. A apresentação da carteira pessoal de competências e do sistema europeu de acreditação das competências põe mais em relevo os desafios instrumentais e tecnológicos do que os futuros desafios políticos e institucionais. Isto é particularmente evidente no que respeita à elaboração do sistema europeu de acreditação das competências, em que a prioridade é, sobretudo, dada ao desenvolvimento de programas informáticos e de redes telemáticas. A base política, institucional e social das metodologias praticamente não é abordada (para este aspecto, cf. também o capítulo 2). Embora seja necessário investigar o potencial das 123 Colecção CEDEFOP novas tecnologias, a verdade é que a pouca atenção concedida às condições políticas e sociais prévias pode vir a ter efeitos negativos. Esta perspectiva limitada é repetida e confirmada num relatório recentemente publicado pela Comissão (Comissão Europeia, 2000ª), que apresenta uma síntese do que se seguiu ao Livro Branco. A abertura de «novas vias para a validação das competências» está exclusivamente relacionada com os resultados dos projectos de «testes automáticos de avaliação dos conhecimentos e das competências», apoiados pelos programas Leonardo da Vinci e Sócrates (cf. o capítulo 4.2 subsequente). Para além de reiterar a visão geral do Livro Branco (instrumento para os indivíduos e as empresas, para os trabalhadores e os desempregados, para a formação inicial e a formação ao longo da vida), a Comissão reconhece a necessidade de «[sensibilizar o] mundo socioeconómico para esta nova via de aquisição de conhecimentos e de validação». O contraste entre a visão inicial do Livro Branco de 1995 e o balanço das iniciativas efectivadas em 2000 pode parecer decepcionante. No entanto, antes de chegarmos a essa conclusão, convém que examinemos de mais perto os projectos de «testes automáticos de avaliação». 4.2>A avaliação automatizada Como já foi referido, a consequência mais directa da proposta relativa ao cartão pessoal de competências foi a organização de um quadro experimental no qual se desenvolveram (e ainda estão a desenvolver-se) 18 projectos (10 deles no âmbito do programa Leonardo da Vinci e 8 no âmbito do programa Sócrates) para a concepção dos «testes automáticos de avaliação dos conhecimentos e das competências». Esses projectos dividem-se em três grupos principais. As actividades do primeiro grupo centram-se na testagem e na avaliação dos conhecimentos de base em matemática, física, biologia, química, estatística e geografia23. As do segundo grupo centram-se nas necessidades de sectores específicos, tais como os serviços bancários, a gestão de empresas, as indústrias transformadoras, o fornecimento de água e a indústria alimentar24. As do terceiro grupo centram-se na 23 Os projectos, bem como os domínios respectivos, são os seguintes: AEVEM (LdV, matemática), MAC (LdV, física) TEBE (LdV, biologia), EACC (Sócrates, química), Estatística para Engenheiros (Sócrates, estatística) e Geografia (Sócrates, geografia) 24 Os projectos, bem como os domínios respectivos, são os seguintes: MESAS (LdV, marketing), Carteira de competências bancárias (LdV, banca), MECAM (LdV, montagem), Media-Eval (LdV, processos industriais), Isocrates (Sócrates, direito), Test-eau (Sócrates, ambiente/água) e Ciências da alimentação e ambiente (Sócrates, alimentação/ambiente). inofor avaliação de competências transectoriais, por exemplo, a informática, a expressão escrita, as línguas e as competências-chave25. A principal prioridade, que reflecte a do Livro Branco, consiste em determinar até que ponto podem ser utilizadas pela auto-avaliação as soluções informatizadas (a Comissão estabelece diferentes conceitos sobre a matéria, não apenas a «avaliação», mas também a «validação» etc.; cf. igualmente o glossário em anexo). O objectivo consiste em fornecer aos diversos utilizadores um instrumento que lhes permita identificar e estruturar mais eficazmente as respectivas competências e, assim, planificar as respectivas formações e evoluções de carreira. Esses projectos visam também fornecer às empresas um instrumento de gestão dos recursos humanos. Como foi referido acima, o objectivo fundamental da abordagem adoptada pela Comissão não é muito claro; regra geral, verifica-se uma tendência para combinar um sistema de reconhecimento das competências (através de provas transeuropeias) com um instrumento que apoie os processos de aprendizagem dos indivíduos e das empresas. As implicações metodológicas das abordagens somativas e formativas, embora não sejam inteiramente contraditórias, não podem ser subestimadas. É importante sublinhar que estas observações incidem sobre a abordagem europeia no seu conjunto e não, necessariamente, sobre os projectos enquanto tal. Dos 18 projectos de «testes automáticos de avaliação», muitos produziram resultados interessantes e promissores. Utilizaremos um dos mais bem sucedidos, o «projecto de carta europeia de condução em informática» (European computer driving licence -ECDL), para ilustrar essa «abordagem automatizada». A ideia de uma carta europeia de condução em informática teve a sua origem na Finlândia, em 1988. O projecto foi lançado em 1994 e a Fundação ECDL, que actualmente reúne 14 associações nacionais das tecnologias da informação, foi criada em 1997. Para a obtenção da carta europeia de condução em informática, os candidatos devem efectuar com êxito uma série de testes que incidem sobre sete módulos. Um dos testes modulares incide sobre a compreensão teórica desta área, enquanto os outros seis incidem sobre as capacidades práticas na utilização de diferentes tipos de programas informáticos (sistemas operativos, tratamento de texto e folhas de cálculo). Actualmente, os testes são apresentados em dois suportes, a versão em papel e a versão electrónica; a primeira é, de certo modo, mais flexível, pois podem ser utilizadas diferentes versões de programas. Uma avaliação externa (cf. abaixo) concluiu que o projecto ECDL tem sido um êxito em 25Os projectos, bem como os domínios respectivos, são os seguintes: Evaling (LdV, expressão escrita), ECDL (LdV, informática), MAPS (LdV, competências-chave), Referências (Sócrates, serviços ao cliente) e Dialang (Sócrates, línguas). 125 Colecção CEDEFOP vários aspectos. O número de candidatos tem vindo a aumentar regularmente, tendo-se apresentado 146 000 pessoas em meados de 1998. De acordo com uma avaliação externa efectuada em 1999 (Guildford Educational Services, 1999), este êxito prende-se com a estrutura operacional do projecto, que permite organizar os testes em diferentes países. Para isso, parece também ter sido determinante a participação das associações nacionais das tecnologias da informação e as relações estabelecidas com estas. O relatório põe em relevo os seguintes pontos: a) o projecto ECDL tem um objectivo e um grupo-alvo bem definidos e responde claramente a uma necessidade; b) as relações com os centros de testes existentes são importantes; c) existe um programa claramente definido, que especifica os conhecimentos e as competências a avaliar (embora sejam necessárias actividades suplementares neste domínio); d) a possibilidade de se escolher entre duas versões de testes é considerada pertinente e permite dar resposta às necessidades específicas de grupos mais restritos. Embora tenham sido proferidas críticas, incidindo, sobretudo, sobre a formulação e a elaboração de determinadas perguntas, o projecto ECDL é o único dos projectos de «testes automáticos de avaliação» que conseguiu tanta popularidade e uma utilização tão alargada. O sucesso que granjeou deve-se, em parte, às tarefas testadas que, em muitos aspectos, se prestam particularmente a este tipo de abordagem informatizada. No entanto, é possível que sejam também importantes outros factores mencionados no relatório de avaliação: um objectivo e uma tarefa claramente definidos, um domínio de avaliação bem identificado, uma especificação clara das competências a considerar e, por último, mas não menos importante, relações estreitas com um contexto institucional geralmente reconhecido como legítimo (as associações nacionais das tecnologias da informação). No que diz respeito ao êxito e à qualidade dos projectos, o relatório de avaliação fornecenos uma imagem pouco uniforme. Das conclusões mais gerais, é possível reter alguns pontos interessantes, na medida em que põem em relevo as dificuldades relacionadas com o lançamento de uma carteira pessoal de competências e de um sistema europeu de acreditação das competências: a) regra geral, é difícil desenvolver testes informatizados que sejam válidos e fiáveis nos diferentes países europeus, em simultâneo. É difícil conseguir-se um acordo sobre o conteúdo comum a todos os países, nomeadamente em determinados domínios inofor profissionais, como, por exemplo, a banca, e para certas disciplinas gerais, tais como a matemática e a física, em que os programas variam de país para país; b) mesmo quando é possível identificar um tronco comum a nível do conteúdo, as perguntas dos testes têm que ser adaptadas às especificidades locais (ou «contextualizadas», para retomar a terminologia utilizada no capítulo 2), para levar em conta as diversas condições próprias de cada país; c) é fundamental o bom funcionamento dos programas, deve ter acesso aos testes um leque tão alargado quanto possível de utilizadores e devem ser preparados dispositivos de segurança. As tecnologias modernas, nomeadamente a Internet, ainda colocam problemas aos utilizadores dos sistemas; d) é necessário criar uma infra-estrutura administrativa de apoio aos testes. Trata-se de uma exigência fundamental, caso se pretenda que a avaliação conduza a uma forma de certificação e/ou reconhecimento oficial, à qual o âmbito actual da iniciativa não permite dar resposta; e) a legitimidade da avaliação coloca um problema. Assim, o desenvolvimento de metodologias de avaliação deve levar claramente em conta a procura e as necessidades, deve ser realizado em cooperação com uma organização profissional que ofereça uma garantia oficial ao processo, e, se possível, deve basear-se numa norma aceite a nível europeu. Finalmente, o relatório sublinha que os utilizadores devem ter confiança na validade e na fiabilidade dos testes e da avaliação, exigência que nem sempre é inteiramente respeitada. As conclusões deste relatório de avaliação são confirmadas por outros resultados de investigação. O Tavistock Institute de Londres, que está estreitamente associado à criação de um quadro experimental de «avaliação automatizada», foi convidado a analisar as experiências realizadas nos Estados Unidos no domínio da «acreditação das competências por cartão electrónico» (Cullen e Jones, 1997) e, com base nessa análise, a estudar a exequibilidade de uma carteira pessoal de competências na Europa. A conclusão desses trabalhos revelou que as experiências realizadas nos Estados Unidos, em certos aspectos, muito mais avançadas do que as que se realizam na Europa, só em parte se prestam a uma transferência directa para o contexto europeu. O Tavistock Institute põe em relevo as diferenças socioculturais, institucionais, económicas e jurídicas fundamentais que dificultam a transferência directa da teoria e da prática norte-americana para a Europa. Os primeiros resultados dos projectos-piloto, tal como são referidos no relatório de avaliação, põem, assim, em evidência as diferenças culturais entre os diversos contextos geográficos, em matéria de definição e de utilização das competências. Essas diferenças situam-se, essencialmente, a nível da interpretação das competências requeridas para o 127 Colecção CEDEFOP exercício de uma actividade específica e da terminologia utilizada para descrever essas competências (p. 7). De acordo com o Tavistock Institute, os principais obstáculos não são de ordem tecnológica. O desenvolvimento de uma carteira pessoal de competências ou de um sistema europeu de acreditação das competências não coloca problemas técnicos de maior; a infra-estrutura técnica já existe e os programas necessários já foram desenvolvidos. A principal dificuldade reside na «contextualização sociotécnica» desses sistemas, e o problema mais espinhoso a resolver prende-se com a incorporação das tecnologias nos quadros institucionais e organizacionais apropriados. O Tavistock Institute chega à conclusão que o êxito ou o insucesso do sistema vai depender da criação de parcerias adequadas entre o governo, os empregadores e os representantes das organizações sindicais. Além disso, essas parcerias deveriam ser apoiadas por inovações em domínios como os referidos nas classificações das profissões e nas redes de acreditação e de avaliação. Em conclusão, os investigadores do Tavistock Institute apresentam dois «cenários» para ilustrar as diferentes orientações possíveis da carteira pessoal de competências e do sistema europeu de acreditação das competências. O primeiro cenário, intitulado «big bang», prevê um sistema paneuropeu global de acreditação das competências, assente num banco de dados evolutivo dos títulos profissionais, dos descritores e das definições das competências. Esse sistema seria estruturado de acordo com um modelo de conteúdo correspondente à organização do local de trabalho europeu. Tratar-se-ia de uma variante em relação aos esforços empreendidos nos Estados Unidos para a criação de um sistema federal de normas de qualificações26. Este cenário também prevê a criação de uma agência europeia de normalização de competências, encarregada da recolha dos dados sobre diversas competências, bem como a criação de uma agência europeia de acreditação, encarregada de gerir ao mais alto nível as actividades realizadas nos planos nacional, regional e sectorial. 26 Tradicionalmente, as actividades empreendidas nos Estados Unidos no domínio das normas de qualificações foram fragmentadas e não foram coordenadas a nível federal. Essa situação evoluiu um pouco em 1994, com a criação do Conselho Nacional das Normas de Competências (National Skills Standards Board), que é orientado pelas empresas e que deve impulsionar o desenvolvimento e a adopção de um sistema nacional de normas de competências de base voluntária. Essas normas são consideradas como linhas orientadoras aplicáveis a largos sectores de actividade e são definidas por grupos designados «parceiros voluntários». Em parte protegidas por esse «guarda-chuva», foram empreendidas iniciativas para estabelecer taxinomias de domínios profissionais. Entre essas iniciativas, pode citar-se, nomeadamente, o dispositivo O*Net, que é uma adaptação electrónica do Dictionary of occupational titles. Também foram empreendidos esforços no sentido de ligar os diversos sistemas existentes nos Estados Unidos, sob a direcção do Sistema Americano de Informação para o Mercado do Trabalho (America's labour market information system ALMIS) e da Secretaria de Estado do Trabalho, dos Estados Unidos. inofor O segundo cenário denomina-se «cenário evolutivo» e, em vez da abordagem «descendente» do «big bang», propõe implementar uma prática a partir das iniciativas já desenvolvidas a nível nacional e local, no intuito de determinar em que medida um dispositivo pan-europeu, como o sistema europeu de acreditação das competências, pode ser transferido para diferentes contextos sócio-culturais e, a prazo, graças à realização de projectos-piloto, num número limitado de sectores (para aquisição de experiência). De acordo com o relatório, as principais vantagens do «cenário evolutivo» residem na sua exequibilidade e no facto de mergulhar as raízes nos contextos sócioculturais existentes. Em muitos aspectos, este cenário segue mais a linha da evolução observada durante o período de 1995 a 2000 (é controversa a questão de se saber em que medida esta circunstância decorre de uma escolha consciente e de claros objectivos políticos; há quem considere que este é o resultado de um fraco acompanhamento e de uma falta de objectivos políticos. O relevo dado à experimentação num baixo nível institucional vai claramente no sentido de um cenário «ascendente»). Quer o relatório do Guildford Educational Services como o do Tavistock Institute criticam explicitamente a tendência para o desenvolvimento das metodologias de avaliação isoladas dos respectivos contextos sócio-culturais. A conclusão do Guildford Educational Services relativamente à dificuldade na identificação de um «tronco comum» de conteúdo aplicável a todos os países é particularmente interessante. O facto de este problema ter surgido em disciplinas gerais como a matemática e a física, descritas no balanço da Comissão de elaboração do Livro Branco como «domínios objectivos» de conhecimento, sublinha a dimensão deste desafio. No entanto, ambos os relatórios põem em relevo uma interessante e promissora evolução tecnológica, de ritmo crescente. Além disso, a experimentação a decorrer no âmbito dos programas Leonardo da Vinci e Sócrates conduzirá, sem dúvida, a experiências vantajosas. Os testes «isolados», tais como os que foram efectuados no âmbito do projecto ECDL ou de outros projectos de «testes automáticos de avaliação», são um desafio para uma reflexão sobre as futuras estratégias. O desenvolvimento de uma multiplicidade de metodologias isoladas, relacionadas com tarefas e tecnologias muito circunscritas, proporá uma solução melhor do que o desenvolvimento de metodologias gerais a nível nacional e europeu? A capacidade de definir os limites do domínio sobre o qual incide o teste foi considerada (Black, op. cit.) condição prévia à fiabilidade e à validade da avaliação. Exemplos como o projecto ECDL ou outros dispositivos específicos de uma tarefa ou de uma tecnologia, inspirados nesse princípio, poderão estimular uma abordagem «ascendente» da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? A crescente actividade a nível dos sectores e das empresas joga, certamente, a favor desse tipo de evolução, na medida em que dá um impulso à medição 129 Colecção CEDEFOP das competências. No entanto, esse impulso está, em grande parte, fora do controlo dos poderes públicos e, nomeadamente, fora do controlo do ensino e da formação formais. Não seria de admirar se esta evolução conduzisse a um debate sobre o papel dos poderes públicos nacionais (e europeus) em matéria de avaliação das competências. Ainda que as vantagens de uma abordagem «ascendente» sejam potencialmente consideráveis, convém não descurar um certo risco de «fragmentação». Será possível evitar essa fragmentação na ausência de um mínimo de enquadramento relativamente quer às próprias normas quer aos procedimentos a seguir em matéria de desenvolvimento e de definição das normas (veja-se também a experiência realizada em França pelas câmaras de comércio e indústria)? Além disso, os dispositivos como o do projecto ECDL podem ser motivo de censura por só funcionarem na «periferia» de uma enorme reserva de competências desenvolvidas através da aprendizagem não formal e de só «medirem» os fragmentos de conhecimento e de experiência facilmente acessíveis. Por isso, mantêm-se invisíveis algumas competências fundamentais, relacionadas, por exemplo, com a comunicação, a cooperação e a resolução de problemas. 4.3.>A abordagem Leonardo da Vinci em matéria de identificação, avaliação e reconhecimento dos saberes adquiridos por via não Formal O desenvolvimento de metodologias e de sistemas que permitam avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal não aparece mencionado explicitamente nos 19 objectivos da decisão do Conselho (94/818/CE) que cria o programa Leonardo da Vinci. Apesar disso, o apelo a propostas, que está claramente relacionado com as prioridades na matéria definida pelo Livro Branco (e que mantém a mesma estrutura durante o período de 1995 a 1999) reflecte bem esse campo de actividade. Como se lê no apelo a propostas lançado em 1996 (JO nº S 42 de 29.2.1996, ponto 18): «As propostas deveriam procurar melhorar as perspectivas de emprego através da adaptação dos métodos e dos conteúdos da formação profissional às mudanças na organização do trabalho, aos desenvolvimentos tecnológicos, às transformações sociais [...] favorecendo a aquisição e a transparência das qualificações profissionais a fim de incluir as competências-chave; desenvolvendo as metodologias de acreditação para validar as competências- inofor chave a formação inicial, a experiência profissional e a formação informal; e analisando os meios de aproximação das disposições formais e informais no contexto da formação ao longo da vida e do acesso a esta [...].» Esta formulação foi alvo de uma atenção considerável em toda a Europa e levou ao lançamento de uma multiplicidade de projectos centrados nos desafios relacionados com a identificação e a avaliação das competências. À excepção de dez projectos oficialmente reunidos sob o nome de «testes de avaliação dos conhecimentos e das competências», houve poucas iniciativas que dessem uma visão geral dos projectos ou que estabelecessem ligações uns com os outros. Em certa medida, esses projectos representam uma reserva não explorada de conhecimentos e de experiências sobre aquelas questões. Embora os resultados sejam conhecidos pelos parceiros de projecto, são, em geral, de difícil apreensão no seu conjunto e, por isso, de difícil utilização. Para se ter uma ideia da dimensão e do conteúdo da experimentação realizada nesse domínio, efectuou-se uma investigação electrónica em todos os projectos Leonardo da Vinci lançados durante o período de 1995 a 199727. Essa investigação, feita a partir das palavras-chave mais vulgarmente utilizadas nesse domínio28, terminou com uma lista de 598 projectos. Depois de um primeiro escrutínio categorial desses resultados, foram analisados 388 projectos29. A observação dos perfis e dos objectivos de cada um permitir obter uma visão de conjunto das iniciativas incidindo directamente e/ou essencialmente sobre a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Essa observação permitiu identificar um total de 118 projectos 36 lançados em 1995, 42 em 1996 e 41 em 1997 que se podem repartir em quatro categorias principais. Num primeiro grupo, foram incluídos 29 projectos centrados no desenvolvimento, na testagem e na implementação de metodologias destinadas a avaliar e a testar as qualificações e as competências. A maioria desses projectos está ligada a sectores e a ramos específicos e procura desenvolver metodologias no quadro de uma abordagem mais ampla de formação e de 27 Essa investigação, bem como o acompanhamento dos projectos por carta ou por telefone, foi orientada por Litza Papadimitriou, de Junho a Setembro de 1999. 28 Foram utilizadas as seguintes expressões e palavras-chave: avaliação, validação, acreditação, teste, aquisição/aprendizagem informal e não formal, conhecimentos adquiridos por via experiencial, aprendizagem pelo trabalho, avaliação profissional e experiência profissional. O largo campo da investigação reflecte a ausência de clara abordagem conceptual neste domínio, e esta situação torna-se ainda mais complexa dada a diversidade de línguas utilizadas no programa. Para uma análise mais pormenorizada do problema, cf. o glossário em anexo. 29 Foram eliminados da amostragem inicial 210 projectos incluídos na vertente «colocações e intercâmbios», o que reduz o número dos projectos para 388. 131 Colecção CEDEFOP desenvolvimento das competências. Os 24 projectos compreendidos no segundo grupo pretendem desenvolver e implementar novos sistemas de aprendizagem e de formação. Na maioria dos casos, foram incluídas metodologias de avaliação para medição das competências existentes num determinado domínio profissional e introdução de mecanismos de feedback nos processos de formação em fase de planificação e de desenvolvimento. Os 14 projectos que fazem parte do terceiro grupo estão explicitamente centrados nos módulos de formação e têm como objectivo o desenvolvimento de diversos instrumentos de avaliação visando a introdução de módulos a nível europeu. Um quarto grupo, que compreende 15 projectos, centra as suas actividades nas normas de qualificações e competências, procurando desenvolver e introduzir pontos de referência adequados à avaliação e à certificação em domínios específicos. A maioria desses projectos põe em relevo a necessidade de se estabelecerem normas europeias ou internacionais de qualificações ou de competências, o que reflecte um interesse crescente pelas qualificações e pelas competências transferíveis a nível transnacional. Para além dos projectos recenseados nestes quatro grupos principais, verificou-se ainda a existência de um certo número que combina, de diversas maneiras, dois ou mais dos aspectos referidos. Para que se ficasse com uma ideia mais exacta dos resultados dos 118 projectos inicialmente recenseados, estes foram sujeitos a uma análise com o intuito de identificar os «projectos centrais» que se prestam a um acompanhamento mais aprofundado. A atenção incidiu não apenas sobre as actividades centradas nos quatro temas principais acima mencionados, mas também sobre o aspecto utilizador e/ou cliente: a quem devem servir os instrumentos, os sistemas, as normas e os módulos em causa? Pediu-se aos responsáveis de projecto que elaborassem um relatório e que reflectissem directamente sobre os resultados das respectivas actividades, bem como sobre as questões de implementação e de difusão. Dos resultados dos projectos, depressa emergiram diferenças consideráveis, devido, em parte, ao facto de nem todas as actividades de projectos terem terminado (os projectos que tinham arrancado entre 1995 e 1997), bem como ao grau variável de qualidade e de sucesso dessas mesmas actividades30. A cooperação entre parceiros de projecto revelouse, por vezes, mais difícil do que era previsto e, em diversos casos, foi necessário substituir parceiros inactivos. Além disso, vários responsáveis de projecto fizeram notar que as 30Em quatro dos projectos seleccionados para um estudo mais aprofundado, foi impossível contactar qualquer um dos parceiros, apesar dos esforços repetidos e sistemáticos desenvolvidos nesse sentido, durante um período de quatro meses. inofor diferenças entre os diferentes sistemas nacionais de formação e de certificação constituem um problema de peso. Nos projectos que utilizam como ponto de partida uma metodologia ou um sistema nacional (o sistema britânico das NVQ é um exemplo característico de «ponto de partida» desse tipo), foi, por vezes, difícil chegar a soluções transnacionais. Apesar desses problemas, foi elaborado e apresentado, no âmbito desses projectos, um número impressionante de soluções. Na maior parte das vezes, o problema que se coloca é o da difusão dos resultados. Mesmo nos casos em que se desenvolvem soluções promissoras, a passagem de uma experimentação limitada a uma implementação permanente revela-se problemática. Pode observar-se, nomeadamente nos projectos centrados a nível do sector ou do ramo, uma tendência para se «saltar» de um programa para outro e para se «ajustarem» os objectivos em função do novo contexto de financiamento. Alguns projectos arrancaram no quadro do programa Comett, prosseguiram no quadro do programa Adapt e depois no quadro do programa Leonardo da Vinci. Em certos casos, ainda se encara a possibilidade de continuar as actividades no quadro da segunda fase do programa Leonardo da Vinci. Embora essas estratégias se revelem muito úteis para apoiar as actividades de desenvolvimento a longo prazo, não resolvem o problema fundamental da implementação. A maioria dos «projectos centrais» foram definidos em função das necessidades dos sectores ou dos ramos, como o demonstram as seguintes actividades: a) desenvolvimento de metodologias para avaliar as qualificações na indústria alimentar (GR1258); b) validação das aquisições profissionais nos sectores do comércio de retalho e da distribuição (F467); c) estudo dos processos de validação das aquisições no ramo «comércio e reparação automóvel» (F526); d) desenvolvimento de metodologias de acreditação das competências em tecnologias da informação (GR281729); e) desenvolvimento de uma carteira de competências para o sector da hotelaria, inspirado no modelo europeu de carteira pessoal de competências; f) desenvolvimento de metodologias para a identificação das competências no sector da manutenção, a fim de serem integradas nos contextos nacionais e no contexto europeu (IRL2086). Os projectos foram definidos não apenas em função das necessidades de sectores específicos, mas também, na maior parte dos casos, pelos principais intervenientes dos sectores envolvidos: empresas, representantes dos parceiros sociais, organismos de 133 Colecção CEDEFOP formação especializados, etc. Em certos casos, as actividades foram iniciadas pelos sectores e pelos ramos sem qualquer financiamento público, nem nacional nem comunitário. Regra geral, como veremos na última parte deste relatório, a introdução de dispositivos de financiamento parece motivar as actividades. As actividades desenvolvidas no quadro do segundo grupo de projectos têm um âmbito mais geral e não se centram em sectores, em ramos ou em tecnologias específicas. A maior parte dessas actividades incide sobre o desenvolvimento de metodologias, como o demonstram os exemplos seguintes: a) análise dos instrumentos de avaliação existentes nas empresas (L3905); b) desenvolvimento de instrumentos de avaliação para as empresas (projecto «Pave», UK3890); c) desenvolvimento de sistemas de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via experiencial (F3914); d) perspectiva de conjunto dos instrumentos de avaliação assistida por computador no local de trabalho (UK1188); e) desenvolvimento de um «passaporte europeu das competências profissionais», inspirado, em parte, no modelo europeu de carteira pessoal de competências (IT4883); f) desenvolvimento de um portefólio de competências (projecto «Eurofolio», F303). A quase totalidade dos projectos tem como objectivo o desenvolvimento das metodologias e dos instrumentos de avaliação interna das empresas. Também se caracteriza por privilegiar uma abordagem claramente formativa, na qual as metodologias são encaradas como um meio de informação e de feedback em matéria de recursos humanos e de desenvolvimento de competências. Esse feedback é considerado necessário para um desenvolvimento bem sucedido dos recursos humanos e/ou para o controlo da qualidade. Alguns projectos, como o «projecto de manutenção» irlandês, combinam as abordagens formativa e somativa e utilizam a avaliação como meio de integração das competências específicas nos quadros nacionais de qualificações. Utilizaremos o exemplo de dois projectos para ilustrar a riqueza e a variedade dos resultados atingidos por esta vertente do programa Leonardo da Vinci. O projecto britânico «Promover o valor acrescentado através da avaliação» (ou «Pave», UK3890) tem como objectivo dar conselhos práticos e sistemáticos às empresas interessadas em utilizar metodologias de avaliação a fim de melhorar, a nível interno, a formação e o desenvolvimento das competências. Esses conselhos (apresentados sob a forma de um «programa de recursos» e de um manual) foram elaborados a partir de uma investigação extensiva que procurava determinar o modo como os empregadores tinham inofor abordado a questão referida, até essa altura, e identificar as respectivas preferências sobre a matéria. Com base num estudo efectuado nos cinco países participantes no projecto, foram recolhidas 1 645 respostas de empregadores. Além disso, foram efectuadas 125 entrevistas telefónicas e fez-se um estudo aprofundado a 20 empresas. Os dados recolhidos permitiram elaborar listas de controlo (Universidade de Plymouth, 1998) a ser utilizadas nas empresas. Essas listas abrangem quatro fases de formação e de desenvolvimento das competências, que vão desde a preparação inicial à reflexão final sobre o resultado das actividades. As listas fornecem recomendações simples mas precisas sobre os aspectos a pôr em relevo e as perguntas a colocar. O projecto «Pave», se bem que inicialmente centrado sobre a avaliação dos esforços explícitos de formação, mantém a sua pertinência num contexto mais alargado. Graças à sua sólida base empírica e à simplicidade das suas recomendações, este projecto merece uma análise mais aprofundada. É interessante verificar que uma esmagadora maioria dos empregadores europeus inquiridos (95%) sublinha a necessidade de melhores instrumentos de medição e de avaliação. Também é interessante notar, a partir dos vinte «estudos de caso», que as empresas já desenvolveram numerosos dispositivos internos de avaliação, o que reflecte a importância que atribuem a esta questão nas suas actividades correntes. O segundo projecto que interessa mencionar neste contexto («Avaliação assistida por computador no local de trabalho». UK1188), também originário do Reino Unido, procura fomentar a utilização de instrumentos informatizados de testagem e de avaliação no local de trabalho. Para atingir este objectivo geral, foi desenvolvido um certo número de produtos, nomeadamente um guia de avaliação para as empresas, diversos suportes de ensino à distância e um «banco de itens», que compreende questões de avaliação incidindo sobre um determinado número de domínios e de sectores. Neste aspecto, esta iniciativa pode comparar-se ao projecto «Pave», acima mencionado, pois ambos se propõem fornecer às empresas conselhos práticos em matéria de avaliação. Um outro aspecto interessante no presente contexto é a produção de um CD-Rom com mais de 250 testes e avaliações assistidos por computador, elaborados, na sua maioria, no Reino Unido, na Alemanha, em França, em Espanha e em Itália. Trata-se, provavelmente, da mais completa apresentação de instrumentos de avaliação «electrónica» jamais realizada na Europa. Cada teste vem acompanhado de informações sobre o autor, o preço, o material e os programas necessários, o tipo de teste e o principal ou os principais utilizadores, bem como uma descrição pormenorizada do respectivo alcance e potencial. A partir desses diferentes aspectos, podem efectuar-se diversas pesquisas. Duas secções do CD-Rom fazem um inventário dos produtos particularmente pertinentes em matéria de conhecimentos adquiridos por via não formal. Foram inventariados, no total, 26 produtos incluídos na rubrica «Acreditação dos conhecimentos adquiridos»; muitos desses produtos 135 Colecção CEDEFOP encontram-se estreitamente relacionados com o sistema britânico das NVQ e incidem sobre numerosas disciplinas (a empresa IBM e o National Extension College são responsáveis pelo desenvolvimento de 17 dos 26 testes propostos). Apenas um produto foi desenvolvido por um organismo não britânico (um produto espanhol centrado sobre as necessidades das empresas, no sentido de apoiar a criação de processos de formação e a avaliação geral das competências). Na rubrica «Testes e avaliações informatizadas de conhecimentos e de competências», foram inventariados, no total, 96 produtos. A maioria dos projectos de «testes automáticos de avaliação» já referidos está incluída nesta categoria. Para além destes, existem ainda numerosos produtos que incidem sobre matérias específicas ou estão estreitamente relacionados com domínios ou matérias (formais) específicas. Há ainda outros testes que incidem sobre as competências de base, as competências-chave, etc. Uma empresa britânica desenvolveu um «programa de medição das competências-chave», que é apresentado como um simples sistema de avaliação das competências-chave individuais. Um banco de 400 perguntas permite, em princípio, avaliar «todas as competências-chave acreditadas (organizadas em várias categorias: comunicação, matemática, informática, trabalho em equipa e aperfeiçoamento da própria aprendizagem). Em função das respostas a «perguntas directas», os candidatos são colocados no «nível adequado» do sistema britânico das NVQ. Este teste específico convida a uma reflexão sobre a avaliação de alguns aspectos das competências, tais como a capacidade de «comunicação» e de «cooperação». Como já foi referido no capítulo 2, a avaliação informatizada das capacidades de comunicação e de cooperação facilmente coloca um problema de autenticidade e, por isso, de validade dos resultados. Apesar da sua utilidade potencial, um instrumento informatizado não consegue reproduzir com fidelidade um verdadeiro contexto de comunicação e de cooperação. O número e a variedade dos produtos apresentados neste CD-Rom reflectem o seu potencial comercial. Este aspecto é uma das características da situação nos Estados Unidos, onde os testes de avaliação mereceram um considerável interesse comercial (gerando também lucros consideráveis) durante os últimos dez anos. No entanto, como já foi referido anteriormente, subsistem grandes diferenças entre a Europa e os Estados Unidos, pois nestes últimos, o papel da avaliação e dos testes comerciais está muito mais bem estabelecido e é muito mais importante. A maioria dos testes europeus apresentados no CD-Rom desempenha um papel limitado, sem relação directa com processos formais (somativos) de certificação. Na melhor das hipóteses, serve como instrumento de apoio a uma preparação individual com vista à certificação formal e, como já foi dito, a maior parte dos testes destina-se à avaliação formativa interna na empresa. Em compensação, os testes elaborados nos Estados Unidos encontram-se muito mais estreitamente relacionados com os processos de certificação em vigor a nível nacional, regional, sectorial ou inofor profissional (a título de exemplo, as metodologias utilizadas para testar os conhecimentos e as competências dos enfermeiros foram desenvolvidos e são geridos por um dos principais organismos privados de avaliação do país. Trata-se de um modelo praticamente desconhecido numa Europa onde dominam os sistemas de avaliação e de certificação controlados pelo sector público). Voltando ao programa Leonardo da Vinci, a sua característica mais evidente consiste na ausência de ligação entre os diferentes projectos. Salvo raras excepções, em todos os casos que examinámos, dedicou-se muita energia e muito esforço à experimentação, o que, frequentemente, deu origem a resultados interessantes e, em parte, inovadores, mas os participantes desconhecem a existência de projectos paralelos ou afins. Aparte o quadro dos «testes automáticos de avaliação» e uma reunião efectuada em Bruxelas, em Novembro de 1996 (onde estavam presentes alguns dos responsáveis pelos projectos lançados em 1995), nada foi feito a nível europeu para aproximar os projectos afins. Em 1999/2000, foram tomadas algumas iniciativas a nível nacional para se proceder a uma síntese dos resultados dos projectos. No entanto, as actividades realizadas no âmbito dessas iniciativas estavam, antes de mais, centradas nos projectos de cada um dos países e, devido a essa abordagem nacional, não foi possível explorar o conjunto das potencialidades apresentadas pelos 118 projectos identificados pela nossa pesquisa electrónica (aos quais é preciso acrescentar os projectos lançados a partir de 1998). O programa Leonardo da Vinci serve para ilustrar quer os pontos fortes quer os pontos fracos intrínsecos à fórmula «projectos». Estes podem revelar-se úteis na criação de novas associações de parceiros (e de ideias), na quebra das formas estabelecidas de actividades e na identificação dos problemas e dos desafios específicos. Além disso, um programa com a dimensão do Leonardo da Vinci permite uma forma única e extensiva de experimentação. No entanto, a fragilidade dos «métodos de trabalho baseados nos projectos» revela-se quando estes últimos entram na fase final, isto é, quando os resultados são apresentados e os parceiros regressam às suas actividades habituais e permanentes. Do inquérito sucinto que realizámos, vê-se claramente que muitos dos resultados dos projectos Leonardo da Vinci dedicados à avaliação não serão difundidos junto dos parceiros interessados que não participaram nos projectos propriamente ditos, e que esses mesmos resultados não serão implementados sob a forma de soluções permanentes, públicas ou privadas. Em certos casos, mas não em todos, a justificação reside na incapacidade de realização dos objectivos previstos. Foi dada uma grande prioridade às fases iniciais do programa e dos projectos e menor às fases finais, à utilização dos projectos e dos resultados do programa. Os projectos apresentados neste capítulo parecem ter como ideia-mestra a avaliação formativa a nível das empresas e das organizações. Embora seja incontestável que o programa Leonardo da Vinci pode dar, a este nível, um importante contributo para o 137 Colecção CEDEFOP desenvolvimento de instrumentos e de meios, a verdade é que, para isso, é necessário que se reforcem as relações (a sinergia) entre os diferentes projectos e que haja uma mais eficaz difusão e utilização dos resultados. 4.4>Um novo compromisso prático e político? O Conselho da União Europeia, reunido em Março de 2000 (Cimeira de Lisboa), decidiu introduzir dois novos instrumentos a nível europeu, ambos relacionados com a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Em primeiro lugar, o Conselho decidiu criar um «diploma europeu para as competências de base em tecnologias da informação», inspirado na experiência da carta europeia de condução em informática (CCIE)31. Esse diploma, que será baseado nos «procedimentos de certificação descentralizada», tem como objectivo «promover a cultura digital em toda a União» (Conclusões da Presidência, ponto 26, alínea 4). Em segundo lugar, num sentido um pouco diferente, foi decidido desenvolver um modelo comum europeu de curriculum vitae, que será utilizado voluntariamente para facilitar a mobilidade, «ajudando os estabelecimentos de ensino e de formação e os empregadores a avaliarem melhor os conhecimentos adquiridos» (ponto 26, alínea 6). Se esta decisão for efectivamente implementada, será o primeiro compromisso destinado a assegurar que certos elementos do Livro Branco tenham um seguimento permanente e pan-europeu. No entanto, o âmbito e o objectivo desta iniciativa são mais restritos que os da abordagem inicialmente adoptada para a carteira pessoal de competências. Esta iniciativa foi apresentada pela primeira vez no documento Estratégias para o emprego na sociedade da informação (Comissão Europeia, 2000), no qual se afirma que «todos os trabalhadores deverão adquirir novas qualificações em matéria de sociedade da informação para assumirem o seu papel no local de trabalho». Essas qualificações referemse não apenas às operações técnicas, mas também aos conhecimentos profissionais, às capacidades sociais e organizacionais, bem como às competências cognitivas e estratégicas. No entanto, sublinha-se que, para a promoção e o desenvolvimento dessas novas qualificações, impõe-se o desenvolvimento de modalidades de certificação normalizadas e reconhecidas. Dado que o «domínio da sociedade da informação» se adquire, em grande parte, fora do ensino e da formação formais, no local de trabalho ou durante os tempos livres, é necessário criar uma avaliação gradual e sistemática. Esta 31 Projecto ECDL, cf. capítulo 4.2 (NdT). inofor conclusão geral é acompanhada por duas recomendações: no final de 2002, será assegurado que todos os formadores possuirão competências verificáveis em matéria de sociedade da informação e, no final de 2003, a todo o trabalhador será dada a possibilidade de adquirir o domínio da sociedade da informação. Embora estas recomendações traduzam um empenhamento mais profundo da parte da UE, infelizmente não trazem soluções práticas quanto à forma como este desafio será ganho até ao fim de 2002 (para os formadores) e até ao fim de 2003 (para os trabalhadores). O papel da CCIE, como sistema simultaneamente pouco oneroso e de elevada capacidade, será fundamental. Mantém-se em aberto a questão de se saber se a CCIE será capaz de dar conta das capacidades sociais e organizacionais e das competências cognitivas e estratégicas mencionadas no documento da Comissão. A inclusão destes aspectos num novo diploma europeu exigirá numerosas alterações na abordagem CCIE, o que põe em relevo os problemas relacionados não apenas com o estabelecimento de pontos de referência adequados, mas também com a validade e a fiabilidade. Quaisquer que sejam as soluções práticas escolhidas, a implementação em larga escala do diploma de competências em tecnologias da informação proporcionar-nos-á importantes experiências em matéria de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. A tensão implícita entre os objectivos somativos (certificação) e os objectivos formativos (aprendizagem) está claramente presente nesta iniciativa. Por outras palavras, em que medida o investimento em recursos para os testes e a avaliação permitirá aumentar as competências e em que direcção deverão as competências ser desenvolvidas? O ensino e a formação serão inevitavelmente afectados pela introdução de procedimentos de avaliação a uma tão grande escala. Por isso, não se trata de um instrumento neutro, mas antes de um «programa de estudos disfarçado», que contribuirá para determinar o que deve ser considerado mais importante e menos importante no domínio das tecnologias da informação. A proposta de lançamento de um modelo comum europeu de curriculum vitae é apresentado como sendo capaz de «favorecer a mobilidade». Como tem vindo a ser repetido ao longo das últimas décadas, é indispensável facilitar e garantir a visibilidade (transparência) das qualificações e das competências de forma a permitir que as pessoas se instalem e trabalhem noutro Estado-Membro. Normalmente, um curriculum vitae (europeu ou outro) é um instrumento destinado a apresentar, de maneira tão clara quanto possível, as qualificações e a experiência de um dado indivíduo. A decisão tomada pelo Conselho parece ir mais além ao indicar que um curriculum vitae deve também contribuir para a avaliação dos conhecimentos já adquiridos, tanto no ensino e na formação como no trabalho. Mas o modo como esse objectivo será realizado e os procedimentos a implementar para apoiar essa função não estão clarificados. 139 Colecção CEDEFOP As conclusões da Cimeira de Lisboa poderiam dar um novo impulso à avaliação e ao reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. No entanto, as modalidades práticas para a sua efectivação não se tornaram óbvias nem nos documentos preparatórios nem nas próprias decisões. Quaisquer que sejam as abordagens adoptadas num futuro próximo, essas decisões irão permitir, a nível europeu, a clarificação dos objectivos, a análise das tensões implícitas intrínsecas a essas propostas e a procura do maior equilíbrio possível entre uma elevada qualidade, uma elevada capacidade e um baixo custo. 4.5>Uma abordagem comunitária da identificação, da avaliação E do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? Independentemente das «ocasiões falhadas» na utilização dos resultados dos projectos Leonardo da Vinci (à excepção, novamente, dos projectos de «testes automáticos de avaliação»), as iniciativas realizadas a nível comunitário contribuíram claramente para que o público e os responsáveis políticos tomassem consciência da importância desta questão. O Livro Branco permitiu que a questão fosse definida com nitidez e, assim, que o processo fosse apoiado a nível nacional e sectorial. Os programas comunitários, nomeadamente Leonardo da Vinci e Adapt, impulsionaram e financiaram actividades de experimentação sem precedentes. Embora a UE não intervenha directamente nos esforços para o desenvolvimento dos sistemas nacionais, a influência do nível comunitário é evidente. Isto não significa que a estratégia específica do Livro Branco, centrada nas normas europeias e no modelo europeu de carteira pessoal de competências, tenha sido implementada. Uma das razões fundamentais para esta não implementação reside na heterogeneidade dos objectivos definidos na concepção original da tarefa. Por um lado, a carteira pessoal de competências foi apresentada como uma abordagem somativa, destinada a introduzir uma prova nova e mais flexível das qualificações e das competências. Por outro, esta iniciativa propunha-se desenvolver novas metodologias de avaliação, invocando a necessidade de identificar e de utilizar uma base mais ampla de competências; por outras palavras, tratavase de um objectivo formativo essencialmente destinado a apoiar os processos cognitivos. Das actividades de experimentação realizadas no âmbito do programa Leonardo da Vinci, verifica-se que o primeiro objectivo só alcançou um desenvolvimento e um prosseguimento limitados. Regra geral, quando é detectado um elemento somativo, este faz claramente referência aos sistemas nacionais de qualificações existentes ou incide sobre um dado sector ou uma profissão restrita. Quanto ao aspecto formativo, este tornou-se num problema importante, não por causa do estabelecimento de sistemas supranacionais extensivos, mas devido à elaboração de instrumentos práticos adaptados aos diferentes inofor empregadores e/ou trabalhadores. Observamos, assim, uma certa divisão das tarefas: as iniciativas nacionais, apresentadas no capítulo 3, incidem, essencialmente, sobre os aspectos somativos, ou seja, sobre a questão das provas; em compensação, as iniciativas comunitárias, apresentadas neste capítulo, incidem essencialmente sobre os aspectos formativos, isto é, sobre as questões de feedback de apoio aos processos cognitivos. Esta partilha das tarefas deve-se mais ao carácter «ascendente» dos programas do que a decisões políticas tomadas conscientemente a nível da UE ou dos Estados-Membros. Dado que as iniciativas emanam de uma multiplicidade de intervenientes, as questões e as metodologias têm sido abordadas a um nível institucional «fraco», no qual dominam as preocupações e os aspectos formativos. Por outras palavras, a actividade dos projectos reflecte as prioridades das empresas e dos sectores e não as dos ministérios ou da Comissão. Esta partilha das tarefas poderia ser posta em causa pela decisão tomada na Cimeira de Lisboa, no sentido de se criar um diploma europeu para as competências em tecnologias da informação. Embora os principais argumentos apresentados incidam sobre o aspecto formativo, isto é, sobre o desenvolvimento de competências em tecnologias da informação, o referido diploma parece, de facto, desempenhar uma função mais somativa. Não há dúvida de que se assiste a uma evolução interessante, na medida em que é a primeira vez que um diploma de iniciativa comunitária é introduzido em grande escala. Talvez seja também o primeiro sinal de uma contestação relativamente ao forte controlo nacional em matéria de certificação. 5>Juntar o puzzle: intervenientes, objectivos e soluções 143 Colecção CEDEFOP A APRESENTAÇÃO DAS INICIATIVAS a nível nacional e europeu mostra-nos um quadro um pouco confuso do «estado da arte» no domínio da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Embora actualmente se preste muita atenção a estas questões, tanto a nível político como a nível prático, não é imediatamente perceptível a orientação tomada. Efectivamente, o número de intervenientes aumenta de dia para dia e as respectivas actividades são muito heterogéneas, quer a nível dos objectivos quer a nível das soluções. No entanto, a situação nada tem de surpreendente. Da análise efectuada nos capítulos anteriores, verifica-se que nenhuma solução pode (e, de facto, nem deve) dar resposta, simultaneamente, a todos os objectivos e a todas as necessidades. Além disso, é evidente que o êxito depende de uma compreensão exacta dos objectivos a alcançar, bem como da capacidade de adaptação das soluções metodológicas e institucionais a esses mesmos objectivos. Neste capítulo, procuraremos apresentar uma interpretação mais sistemática da diversidade dos intervenientes, dos objectivos e das soluções que observámos até aqui. Sem pretendermos simplificar em demasia, esperamos que esta interpretação contribua para destacar algumas realizações e alguns dos mais importantes desafios. A estratégia analítica é simples e directa; as perguntas colocadas são as seguintes: a) quem são os principais intervenientes nos diferentes níveis; que instituições e que organizações desempenham um papel activo? b) a que (principais) objectivos dão resposta as actividades desses intervenientes? c) que soluções propõem esses intervenientes? Esperamos que a identificação dos intervenientes envolvidos, das razões pelas quais se encontram envolvidos e das respectivas actividades contribua para estabelecer relações entre as questões metodológicas e institucionais e políticas. A nossa análise incidirá sobre quatro níveis institucionais e organizacionais: a) o nível europeu, b) o nível nacional, c) o nível dos sectores e ramos, d) o nível das empresas. inofor 5.1.>Intervenientes, objectivos e soluções a nível europeu Já foi sublinhada a importância do papel desempenhado pela Comissão Europeia na promoção da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Tanto o Livro Branco como o programa Leonardo da Vinci tiveram influência na evolução da política e da prática. No entanto, a Comissão Europeia está longe de ser um órgão homogéneo animado por um objectivo único neste domínio. Convém estabelecer uma distinção essencial entre as Direcções-Gerais de «Educação e Cultura» (ex-DG 22) e de «Emprego» (ex-DG 5). O plano de acção da DG de «Educação e Cultura» transparece claramente nas propostas do Livro Branco, nas quais a questão da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal está associada a diversos objectivos (educação e formação ao longo da vida, mobilidade, emprego, integração social e mudanças tecnológicas e organizacionais). Embora esses objectivos sejam facilmente criticáveis por serem demasiadamente extensos e vagos, reflectem, no entanto, uma apreciação legítima das múltiplas responsabilidades que devem assumir as políticas de educação, de formação e de aprendizagem. Os objectivos de cidadania e de integração social são tão importantes como os objectivo de emprego e de crescimento económico. Este vasto plano de acção encontra-se reflectido no programa Leonardo da Vinci, que depende também desta direcção-geral. Os projectos Leonardo da Vinci desenvolveram uma experimentação sem precedentes e, durante os últimos quatro ou cinco anos, as suas actividades centraram-se na maioria dos objectivos que tinham definido. No entanto, como já foi mencionado anteriormente (cf. capítulo 4.2), só uma pequena parte dessa experimentação teve seguimento: os projectos de «testes automáticos de avaliação». Embora úteis em vários aspectos, estes projectos não foram capazes de dar respostas adequadas no quadro do plano de acção da Direcção-Geral de «Educação e Cultura». As metodologias destes projectos, muito limitadas e fechadas, quase exclusivamente centradas nos testes de respostas pré-definidas e nos testes de escolha múltipla assistidos por computador, dificilmente conseguiram dar resposta aos objectivos gerais, que consistem no estabelecimento de relações entre o ensino e o trabalho e na promoção das competências adquiridas pela experiência. O empenhamento da Direcção-Geral do «Emprego» em relação à identificação, à avaliação e ao reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal tem sido menos visível que o da Direcção-Geral de «Educação e Cultura». Contudo, este departamento da Comissão, responsável pelo programa Adapt, tem apoiado a actividade experimental, embora de forma menos extensiva do que o apoio concedido ao programa Leonardo da 145 Colecção CEDEFOP Vinci. Só recentemente, graças, nomeadamente, à publicação do documento Estratégias para o emprego na sociedade da informação (Comissão Europeia, 2000), foram introduzidos, enquanto elementos integrantes e explícitos das políticas gerais do emprego, metodologias e sistemas de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. O diploma de competências em tecnologias da informação (cf. capítulo 4.4), proposto nesse documento, destina-se a servir de «prova» em relação às pessoas que quiserem melhorar as respectivas situações no mercado de trabalho. Centradas neste objectivo somativo menos ambicioso, as metodologias da nova certificação em tecnologias da informação (provavelmente inspiradas nas experiências do PCIE) parecem destinadas a ter mais sucesso. É interessante o recente empenhamento do Conselho da UE neste domínio. Como já foi referido, é a primeira vez que a UE decide unanimemente empenhar-se no sentido de um «diploma» europeu comum. Este facto talvez revele um equilíbrio um pouco diferente entre a Comissão e o Conselho em matéria de educação e de competências. Também pode ser um indicador de que as questões relacionadas com as competências passaram a ser parte integrante das políticas gerais do emprego. Até à data, as organizações de parceiros sociais a nível europeu não tomaram iniciativas de relevo. Algumas das opiniões comuns formuladas pelas principais organizações de empregadores e de sindicatos (UNICE e CES) ressaltaram a importância do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal, mas, até agora, não foi apresentada qualquer iniciativa que permita avançar nesse sentido. 5.2>Intervenientes, objectivos e soluções a nível nacional Na maior parte dos países, observamos uma partilha das tarefas entre as autoridades responsáveis pelas questões ligadas à educação e as autoridades responsáveis pelas questões do emprego. Quando estes dois domínios dependem de ministérios diferentes, observa-se uma tendência para o desenvolvimento de metodologias e de sistemas distintos de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal. Essa distinção reflecte as diferentes tarefas assumidas e, em muitos aspectos, reproduz o mesmo esquema que existe entre as Direcções-Gerais de «Educação e Cultura» e de «Emprego». O principal objectivo prosseguido pelas autoridades educativas nacionais (ministérios e organismos de certificação) consiste numa «reconfiguração» dos sistemas de ensino e de formação formais. Em resposta às críticas de falta de abertura e de auto-referenciação inofor dirigidas ao ensino e à formação formais, as políticas acabam por se centrar em objectivos secundários tais como a flexibilidade (para aceitar percursos alternativos de aprendizagem), a abertura (a grupos mais amplos de estudantes) e a sensibilidade de reacção (às necessidades do mundo do trabalho). A avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal constituem elementos intrinsecamente ligados a todos esses esforços de reconfiguração. Em contraste com a situação a nível europeu, onde se observa um desfasamento considerável entre os objectivos oficiais e as soluções propostas, as abordagens a nível nacional parecem estar, regra geral, mais bem adaptadas para executar com sucesso as tarefas com que são confrontadas. Na maioria dos casos, as metodologias elaboradas a nível nacional tendem a combinar as avaliações de desempenho baseadas no diálogo com as fórmulas baseadas no portefólio de competências. Se analisarmos as alternativas metodológicas apresentadas no capítulo 2.2, verificaremos que essas abordagens são, sem dúvida, as de mais complexa implementação e gestão, mas também as que dão maiores garantias de validade dos resultados. Convém notar, além disso, que a maior parte das metodologias e dos sistemas nacionais tem uma função somativa. Preconiza-se o reconhecimento dos conhecimentos anteriores e informais para tornar mais flexível o acesso ao ensino e à formação formais e, sem dúvida, para melhorar a situação dos indivíduos no mercado de trabalho. Até agora, as autoridades nacionais responsáveis pelo trabalho e pelo emprego, exceptuando o caso notável da França, mostraram-se pouco activas. A experiência francesa do balanço de competências e os debates a decorrer em vários países talvez façam com que, nos próximos anos, aumente a atenção dedicada ao papel formativo das metodologias de avaliação. A identificação e a avaliação dos conhecimentos adquiridos anteriormente e por via não formal talvez sejam o primeiro passo no processo de reconversão dos indivíduos, na medida em que indicam o local e as modalidades da formação susceptível de reforçar as perspectivas de emprego de cada um. Essas metodologias podem, pois, considerar-se elemento integrante das práticas de orientação profissional. Se os intervenientes envolvidos a nível nacional formulassem esse aspecto enquanto objectivo explícito, as metodologias poderiam ser concebidas de modo a pôr em relevo a identificação (e não e reconhecimento) e o feedback (mais do que a apreciação formal). O grau de integração dos parceiros sociais no processo de estabelecimento das metodologias e dos sistemas a nível nacional é variável. Os princípios organizacionais aplicados à orientação de numerosos sistemas nacionais de ensino e formação profissional traduzem-se, em geral, por uma participação dos parceiros sociais no estabelecimento de normas de qualificações. Também não são raros os casos em que os parceiros sociais 147 Colecção CEDEFOP participam directamente na própria avaliação, estão representados nos júris de exame, etc. No entanto, poucos são os países em que os parceiros sociais tenham desempenhado um papel decisivo a nível da iniciativa ou da elaboração das metodologias ou dos sistemas. O que é surpreendente é que as consequências do reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal raramente foram examinadas a nível das relações de trabalho (salários, distribuição dos postos de trabalho). Esta circunstância talvez se deva ao carácter «embrionário» dos sistemas existentes, que torna difícil uma visão de conjunto das consequências. 5.3>Intervenientes, objectivos e soluções a nível dos sectores e ramos Tanto quanto é possível confirmar, a maioria dos esforços para desenvolver metodologias e sistemas de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal a nível dos sectores e/ou ramos foi lançada e financiada no âmbito de programas com apoio comunitário32. Foram poucas as iniciativas identificadas que se limitavam a um único contexto nacional; a maior parte foi tomada a nível internacional e europeu. A experiência realizada pelas câmaras de comércio e de indústria constitui uma excepção, mas, efectivamente, tratava-se, de início, de um projecto Leonardo da Vinci lançado em colaboração com outros parceiros europeus. Esta circunstância reflecte duas realidades: em primeiro lugar, os programas europeus abriram possibilidades de cooperação que antes não existiam e, em segundo lugar, e talvez mais importante, o desenvolvimento de novas competências tende a ignorar as fronteiras nacionais (e as autoridades educativas nacionais). A emergência de «competências internacionais» (muitas vezes adquiridas através da aprendizagem não formal) sublinha a necessidade de outras formas de avaliação e de reconhecimento para além das que são definidas e fornecidas pelos tradicionais sistemas nacionais de certificação. Até à data, a esse nível, poucas soluções (permanentes) foram implementadas. Na maior parte dos casos, observa-se uma certa actividade de experimentação relacionada com a definição de normas transnacionais e com o desenvolvimento de metodologias de testagem. Os objectivos são, muitas vezes, formulados de um modo amplo, o que indica a necessidade de se promover a integração das competências técnicas e sociais. Em muitos aspectos, a escolha das metodologias de 32Durante o período Primavera-Verão de 1999, foi efectuado um estudo sucinto junto de uma centena de organizações sectoriais e de ramo, a nível europeu, a quem foi pedido que desse informações sobre qualquer iniciativa tomada para a elaboração de metodologias de avaliação e/ou de normas de qualificações/competências. Foi sublinhado que, qualquer iniciativa teria interesse, independentemente do nível de execução. inofor testagem e de avaliação pode comparar-se às escolhas descritas para o nível europeu. Os testes são, frequentemente, do tipo de respostas pré-definidas e de escolha múltipla, assistidos por computador, e privilegiam mais os aspectos somativos do que os aspectos formativos da avaliação. Por vezes, tem-se a impressão de que os qualificativos «assistido por computador» ou «automatizado» são usados como garantia de qualidade e de «modernidade». Resta saber se essas metodologias normalizadas e relativamente estritas serão capazes de dar resposta às expectativas quando confrontadas com outras situações. Por outro lado, os factores de capacidade e de custo jogam a favor da introdução desses instrumentos. 5.4>Intervenientes, objectivos e soluções a nível das empresas O nível das empresas não é analisado em pormenor no presente relatório. É um ponto negativo que poderá ser corrigido numa fase posterior33. É, no entanto, possível apresentar, desde já, algumas reflexões sobre o papel das empresas. O inventário regular dos recursos em competências faz, obviamente, parte das actividades de qualquer empresa, seja ela grande ou pequena. Na maior parte das vezes, esse inventário não é feito por meio de uma operação formal e sistemática, utilizando, por exemplo, metodologias de testagem e de avaliação, mas inscreve-se naturalmente na coordenação das actividades correntes da empresa. Existem alguns indícios que revelam que essa abordagem informal e não sistemática, gradualmente, está a dar lugar a metodologias e sistemas. Qualquer empresa que pretenda recrutar um novo empregado deve, em certa medida, avaliar as competências adquiridas por via não formal do candidato. Para citar um outro exemplo, as empresas que introduzam sistemas de controlo de qualidade devem «recensear» as competências do respectivo pessoal e determinar se estas são apropriadas para as novas funções a desempenhar. Por outras palavras, numerosas técnicas desenvolvidas com o nome de «controlo de qualidade», «gestão total da qualidade», «desenvolvimento dos recursos humanos» e «rotação de tarefas», para só citar algumas, contêm importantes elementos de identificação e de avaliação das competências. Os instrumentos deste tipo foram desenvolvidos quase exclusivamente por razões formativas, enquanto meios de identificação e de aperfeiçoamento das competências 33O Cedefop, em cooperação com a empresa BMW e a (antiga) Rover, lançou um projecto destinado a analisar determinados aspectos relacionados com as práticas internas de avaliação das empresas. Esse projecto será progressivamente alargado a fim de nele serem incluídas iniciativas efectuadas noutros sectores para além do sector da indústria automóvel. 149 Colecção CEDEFOP existentes. Para garantir a qualidade ou reorganizar um processo de produção, é essencial avaliar as forças e as fragilidades das competências existentes. É unicamente a partir dessa visão de conjunto que é possível formular recomendações razoáveis com vista às mudanças e às melhorias. As práticas observadas revelam, sem surpresa, que as grandes empresas são mais susceptíveis de recorrer a dispositivos sistemáticos de «medição das competências». As metodologias desenvolvidas pela Mercedes Benz por ocasião da abertura de uma nova unidade de produção nos Estados Unidos, em meados dos anos 90, constituem um bom exemplo do que acaba de ser referido. Para a abertura desta unidade, situada no Alabama, região desprovida de qualquer tradição na indústria automóvel, foi necessário criar uma mão-de-obra totalmente nova. Foram recebidas 60 000 candidaturas e foi especialmente elaborada uma metodologia para se proceder à selecção. Para além da apreciação das qualificações formais e da experiência anterior, foi criada uma complexa bateria de testes teóricos e práticos (divididos em dez fases) para seleccionar os 1 200 candidatos mais aptos a ocupar os diversos postos de trabalho previstos. É interessante notar que foram privilegiadas as competências «organizacionais» e as competências «flexíveis», tais como a cooperação ou a comunicação, em detrimento das tradicionais competências «duras», ligadas ao processo de fabricação propriamente dito. O caso da Mercedes Benz é interessante para demonstrar que uma medição de elevada qualidade das competências exige um determinado volume de recursos (em termos de tempo e de dinheiro) e um certo nível de complexidade e de sofisticação metodológica. Contrariamente às pretensões de certos instrumentos comerciais de testagem apresentados atrás (cf. capítulo 4.3), nada garante que o uso exclusivo a metodologias normalizadas, com base em testes de respostas pré-definidas ou de escolha múltipla, ofereça uma imagem válida das competências adquiridas graças a experiências individuais. Para as empresas que pretendem introduzir metodologias sistemáticas de medição de competências, os objectivos mais importantes são de ordem formativa. Para se atingir esses objectivos formativos, as metodologias devem ser capazes de fornecer mais alguma coisa do que uma representação daquilo que qualquer um pode verificar sem precisar de recorrer a instrumentos muito elaborados. Embora as metodologias assistidas por computador possam, certamente, revelar-se úteis, as que fazem mais apelo ao diálogo e que estão mais centradas no desempenho são, provavelmente, indispensáveis quando se pretende um feedback de alta qualidade visando os processos de aprendizagem nas empresas. inofor 5.5>Definir um ponto de partida O desenvolvimento de metodologias e de sistemas que permitam a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal deve ter, como ponto de partida, a pergunta «porquê?». O que ressalta da análise efectuada às abordagens nacionais e europeias é uma nítida impressão de que os objectivos das iniciativas metodológicas e políticas e institucionais são demasiado numerosos e demasiado vagos. Poucas são as vozes que se levantam para contestar a importância de uma melhor utilização dos conhecimentos adquiridos por via não formal, no entanto, para alargar efectivamente a base de competências, deve ser adoptada uma estratégia mais precisa. Um dos pontos de partida para uma estratégia deste tipo consiste na reformulação e na reordenação das três perguntas apresentadas no início deste capítulo: a) que objectivos queremos alcançar? b) que soluções metodológicas pode fornecer uma resposta? c) que intervenientes, a nível político e institucional, devem colaborar na procura das soluções? 6>Conclusão 153 Colecção CEDEFOP A ANÁLISE A QUE ACABÁMOS DE PROCEDER revela que os esforços desenvolvidos visando introduzir metodologias e sistemas que permitam a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal são intensivos, mas extremamente diversificados. Embora as iniciativas se encontrem ainda numa fase experimental, os intervenientes a nível europeu, nacional, sectorial e das empresas parecem claramente motivados para progredir nessa direcção. De momento, qualquer conclusão só pode ter um carácter provisório. Dito isto, tentaremos proceder a uma síntese que dê resposta a duas perguntas: em primeiro lugar, porquê esta súbita efervescência de actividade e de interesse em relação às questões que se prendem com os conhecimentos adquiridos por via não formal? Em segundo lugar; como poderão os elementos positivos dessa actividade ser apoiados em termos quer metodológicos quer políticos e institucionais? 6.1 Porquê? Por que razão a maior parte dos países europeus, seguidos pela própria UE e por numerosas empresas, começaram a interessar-se de perto pelos conhecimentos adquiridos por via não formal? Que factores motivaram essa vaga de actividades, que se propagou, quase simultaneamente, à maioria dos países europeus? Para responder a estas perguntas, convém examinar atentamente os objectivos, a evolução e os desafios políticos e institucionais. Debruçar-nos-emos mais particularmente sobre três aspectos. O primeiro diz respeito ao que nós designaremos por «procura das qualificações-chave», a busca da «poção mágica» que nos permitirá defrontar os desafios que se prendem com a rapidez das mudanças tecnológicas e organizacionais e sobreviver no mercado planetário. O segundo aspecto diz respeito à necessidade de se proceder a uma «reconfiguração institucional» e às relações entre a medição das competências e o reordenamento dos sistemas de aprendizagem. O terceiro aspecto diz respeito à questão de se saber se nos encontramos numa situação em que as soluções estão à procura dos problemas e se as metodologias e os sistemas se desenvolveram num vazio institucional, sem fornecer respostas às necessidades reais. inofor 6.1.1>A busca da poção mágica identificação, avaliação E reconhecimento das qualificações-chave Embora normalmente abordados como dois problemas distintos, o modo de definir, de identificar e de reconhecer as qualificações-chave e a dificuldade de avaliar os conhecimentos adquiridos por via não formal estão estreitamente ligados. Em nossa opinião, estes dois debates reflectem diferentes facetas de uma mesma questão. Em ambos os casos, observamos um crescente interesse pelas necessidades em termos de aprendizagem e de saberes numa sociedade que experimenta mudanças organizacionais e tecnológicas sem precedentes. Independentemente das numerosas e, por vezes, conflituosas interpretações acerca das qualificações-chave (Kämäräinen, 1999) e dos conhecimentos adquiridos por via não formal (Bjørnåvold, 1999), uma das preocupações comuns dos que se debruçam sobre estas questões é a procura de elementos de saberes e de competências que transcendem as organizações e/ou as tecnologias específicas. A capacidade de evoluir em novos contextos e de resolver problemas imprevistos revestese de um particular interesse, pois o objectivo consiste em preparar as pessoas para a incerteza, através do alargamento das respectivas bases de conhecimentos e de experiências. Dieter Mertens formula essa preocupação nos seguintes termos (1972): «A capacidade mental não deve ser utilizada unicamente para armazenar saberes factuais; deve, antes, ser considerada como ponto de transferência (Schaltzentrale) de reacções inteligentes. Por isso, a educação deve, antes de mais, visar o desenvolvimento da capacidade de abordar e de resolver problemas.» (p. 15) No seu esforço para definir e delimitar as qualificações-chave, Mertens identifica um determinado número de elementos, vindo, assim, acrescentar conteúdo a esta preocupação comum. As qualificações de base compreendem capacidades como o espírito crítico e o espírito analítico, bem como a capacidade de cooperação e de comunicação. As capacidades de classificação, de interpretação e de utilização da informação existente em diversos contextos são consideradas qualificações horizontais. Como a maioria das situações e dos problemas é altamente estruturada (Simon, 1973), tem uma importância decisiva a capacidade para estruturar a informação e para distinguir o que é importante daquilo que o não é. O domínio de competências práticas aplicáveis em diversos sectores e empresas está incluído nos conhecimentos transversais (Breitenelemente). Esta última categoria pode ser ilustrada pela utilização de instrumentos 155 Colecção CEDEFOP informáticos de base em diversos contextos profissionais e pela implementação e o lançamento de sistemas de qualidade (baseados, por exemplo nas normas ISO) nas empresas34. As qualificações-chave incidem, pois, mais sobre a capacidade de aplicação desse conhecimentos em contextos sociais, organizacionais e tecnológicos («saber como») do que sobre o conhecimento de factos, de teorias e de regras («saber o quê»)35. Nas décadas seguintes à publicação dos trabalhos de Mertens, o relevo dado aos conhecimentos de base, horizontais e transversais foi traduzido em declarações de princípio36 na maioria dos países europeus, bem como a nível da UE. Como já foi referido no capítulo 4, um dos exemplos mais impressionantes neste domínio é o Livro Branco da Comissão Europeia sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender: rumo à sociedade cognitiva, publicado em 1995. Dadas as dificuldades na previsão pormenorizada das necessidades futuras em conhecimentos, o Livro Branco alerta para os riscos de uma abordagem demasiado estreita do ensino e da formação: «No futuro, as pessoas deverão ser capazes de compreender situações complexas que evoluem de modo imprevisível [...]. Todos serão confrontados com uma cada vez maior variedade de objectos físicos, de situações sociais, de contextos geográficos ou culturais. [...] o desenvolvimento da cultura geral, isto é, da capacidade de apreender o significado das coisas, de compreender e de emitir um juízo, é o primeiro factor de adaptação à evolução da economia e à do emprego.» (p. 26-27) De acordo com o Livro Branco, para enfrentar esse desafio, convém desenvolver e estimular uma base de cultura geral mais sólida graças à combinação de aprendizagens formais e não formais. A educação formal deve ser sistematicamente completada por conhecimentos adquiridos fora do sistema educativo formal na família, na empresa e nos tempos livres. Esta abordagem diversificada, que combina as qualidades de diferentes 34Martens também introduz um quarto elemento na sua definição das qualificações-chave: os factores geracionais, que se relacionam com as diferenças de qualificações existentes entre as gerações num contexto de rápidas mudanças organizacionais e tecnológicas. Os factores geracionais podem considerar-se qualificações-chave «negativas» indicando saberes e competências que estão ausentes num grupo específico. 35Por isso, as qualificações-chave estão relacionadas com a evolução do estado de noviço para o de especialista, descrita por Dreyfus e Dreyfus (1986), e podem considerar-se como uma transição para comportamentos competentes, intuitivos e empenhados, baseados na acumulação de experiências concretas. 36O que não quer dizer, necessariamente, que as declarações de princípio sejam acompanhadas por políticas concretas conduzindo a mudanças nesse sentido. inofor domínios de aprendizagem, é necessária para evitar que esta ganhe um carácter unidimensional e demasiado estreito: «De facto, prevalece ainda uma excessiva normalização do saber. Dá a impressão de que tudo deve ser ensinado segundo uma ordem lógica, privilegiando o domínio de um sistema dedutivo baseado em conceitos abstractos, no qual a matemática desempenha um papel predominante. Em certos casos, o sistema dedutivo pode chegar a transformar o aluno num sujeito passivo e a reprimir a imaginação.» (p. 29) O interesse prestado às qualificações-chave e aos conhecimentos não formais pode ser interpretado como o reflexo dessa procura geral de uma base de saberes mais alargada, multidimensional. Se aplicarmos esta perspectiva às duas questões, ressaltam claramente as relações entre os respectivos papéis: a) as qualificações-chave podem considerar-se um conjunto de objectivos de aprendizagem, aplicáveis a diversos níveis e, por isso, pertinentes relativamente aos indivíduos, às empresas e aos estabelecimentos de ensino. As qualificações-chave são intangíveis, no sentido em que são «metáforas» ou «construções teóricas» que chamam a atenção para determinados aspectos da actividade humana, da comunicação e da aprendizagem. Em vez de se considerar as qualificações-chave como «conjuntos» de saberes a inventariar quando é necessário, seria melhor ver nelas linhas orientadoras para a aprendizagem. Esse papel orientador é fundamental para que as qualificações-chave sejam mais do que meros tópicos para debates académicos. Chamar a atenção para esses aspectos menos visíveis das competências humanas talvez permita o desenvolvimento de estratégias de apoio centradas na prática; b) as metodologias e os sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal podem ser encarados como instrumentos para a concretização dessas estratégias. No entanto, os termos «conhecimentos adquiridos por via informal» e «conhecimentos adquiridos por via não formal» não constituem grandes ajudas nesta matéria. O conceito de conhecimentos adquiridos por via não formal é «negativo», na medida em que se trata da negação de qualquer coisa, abrangendo o que não está incluído no ensino e na formação formais. Esse termo não fornece qualquer indicação positiva em relação ao conteúdo, ao perfil e à qualidade. Todavia, é um conceito importante, na medida em que chama a atenção para a riqueza e a variedade dos domínios e das formas de saberes que podem ser adquiridos fora do ensino e da formação formais. 157 Colecção CEDEFOP O estabelecimento de relações mais estreitas com a questão das qualificações-chave podia, por isso, revelar-se útil e atribuir à prática uma orientação mais clara. Assim, o estabelecimento de relações entre os domínios de saberes formais e não formais pode considerar-se um meio de realização e de concretização dos objectivos expressos através das qualificações-chave. A aprendizagem efectuada fora dos estabelecimentos de ensino e de formação formais apresenta-se, cada vez mais, como uma condição prévia para uma estratégia de aprendizagem que permita que os indivíduos adquiram uma base de conhecimentos e de competências mais alargada, transcendendo as organizações, as tecnologias, os contextos e os problemas específicos. É evidente o papel central que tem sido atribuído às técnicas de medição e de avaliação na tradução do discurso retórico para o nível do concreto. 6.1.2>A identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal enquanto elemento de reconfiguração dos sistemas de ensino, de formação e de aprendizagem Como já foi referido em vários momentos da presente análise, nomeadamente no capítulo 3, o ensino e a formação profissional estão a ser sujeitos a uma reorientação substancial, da iniciativa do nível público, e que procura transformar os sistemas de ensino e de formação formais (sobretudo profissionais) de sistemas exclusivamente centrados nos meios em sistemas centrados nos resultados. Em muitos países, tem-se reafirmado que o que conta são as competências, não as modalidades ou o local da respectiva aquisição. Como os processos cognitivos estão fora da alçada das autoridades encarregadas da certificação, os testes finais revestem-se de grande importância. Esta mudança de prioridade realiza-se, actualmente, no seio de sistemas nacionais de ensino e de formação, que diferem consideravelmente uns dos outros. Embora muitos países considerem o Reino Unido como o principal representante (e divulgador) dessa abordagem, alguns outros países europeus têm vindo a incluir, em graus variados, este princípio nos respectivos sistemas. Em certos casos, tal integração não passou do nível retórico, mas, na maior parte deles, tomaram-se iniciativas legislativas e práticas para tornar possível essa evolução. Regra geral, a modularização faz parte integrante dos esforços de reconfiguração. A decomposição de uma sequência de ensino ou de formação em unidades mais circunscritas está intrinsecamente ligada ao desafio que é a avaliação. Domínios de competências demasiado vastos tornam praticamente impossível assegurar a inofor fiabilidade e a validade dos testes. Por isso, é necessário definir domínios mais restritos e mais homogéneos que possam ser avaliados com bom-senso. Essa reconfiguração pode relacionar-se com a crescente prioridade atribuída à educação e à formação ao longo da vida. O estabelecimento de um sistema que permita aprender ao longo da vida requer uma melhor articulação entre as diferentes formas de aprendizagem em diferentes domínios de aprendizagem, em diferentes fases da vida. Enquanto o sistema formal se mantém muito fortemente centrado na formação inicial, um sistema de aprendizagem ao longo da vida deve enfrentar o desafio de aproximar diferentes domínios de aprendizagem, quer formal quer não formal. Esta aproximação é fundamental para se poder dar resposta às necessidades sentidas pelas pessoas relativamente à renovação, de modo permanente e variado, dos respectivos conhecimentos, e às necessidades sentidas pelas empresas de disporem de um amplo leque de saberes e de competências uma espécie de reserva de conhecimentos que lhes permita gerir o imprevisto. Também a questão da identificação, da avaliação e do reconhecimento das competências se revela fundamental. As competências devem tornar-se visíveis para serem plenamente integradas numa estratégia tão ampla de reprodução e de renovação dos saberes. Regra geral, o estabelecimento de sistemas flexíveis, centrados no desempenho, e os esforços visando a promoção da aprendizagem ao longo da vida estão estreitamente relacionados. No plano retórico (mas nem sempre no plano prático), estes desafios são sublinhados em todos os países estudados. E em todos eles, sem excepção, as metodologias de identificação, avaliação e reconhecimento dos saberes adquiridos não formais são consideradas instrumentos necessários para a abertura desses novos caminhos de aprendizagem. 6.1.3>Soluções em busca de problemas e fornecedores em busca de clientes O domínio da identificação, da avaliação e do reconhecimento dos saberes adquiridos formais caracteriza-se pela existência de fornecedores de soluções extremamente estruturados (a nível europeu, nacional e sectorial) e de utilizadores extremamente discretos (os indivíduos e a maior parte das empresas). O desenvolvimento de metodologias de medição e de avaliação só raramente é induzido pela procura ou por um impulso vindo da base. Se analisarmos os anos entre 1995 e 1999, período durante o qual se delineou e reforçou esta tendência, o lançamento de programas a nível europeu ou sectorial, como o Leonardo da Vinci ou o Adapt, contribuiu para o estabelecimento e a evolução do «plano de acção em matéria de avaliação». A disponibilidade de «dinheiro 159 Colecção CEDEFOP fresco», aliada ao número limitado de prioridades específicas, levou a que numerosas instituições se empenhassem no desenvolvimento de instrumentos e meios. Embora os resultados desses projectos sejam de qualidade variável, o impacto que tiveram, a longo prazo, nos planos de acção das organizações e das instituições envolvidas não se deve subestimar. Os próximos anos dir-nos-ão se esse movimento a partir da oferta encontrará utilizadores, por exemplo, a nível dos sectores e das empresas, capazes de apreciar os esforços empreendidos. A nível nacional, verificamos que os diversos grupos de países aprendem uns com os outros e que o desenvolvimento de um instrumento metodológico num determinado país atrai quase imediatamente a atenção dos países vizinhos. Por exemplo, a abordagem irlandesa em matéria de acreditação dos conhecimentos adquiridos está muito próxima dos esforços empreendidos pelo Reino Unido e ela não teria, provavelmente, sido possível sem a inspiração do vizinho de leste. Durante três ou quatro anos, também o sistema finlandês de avaliação baseado nas competências foi alvo de grande atenção por parte dos outros países nórdicos. Em certa medida, é possível acompanhar o modo como as formulações políticas «viajam» dos documentos de um país para os de outro (no caso presente, da Finlândia para a Noruega e para a Dinamarca e depois para a Suécia). O facto de esses documentos de política terem, em larga medida, dado origem a experimentações e a reformas reforça ainda mais a importância do fenómeno. A aprendizagem mútua é, em geral, positiva. Embora se tenha observado um importante fenómeno de transferência ou cópia de metodologias e de abordagens, o grau de modificação e de adaptação ao contexto local é considerável. No entanto, o carácter essencialmente «descendente» das iniciativas é surpreendente; resta saber se as soluções propostas encontrarão os respectivos problemas e utilizadores (já sem falar dos clientes). 6.2>Como? Dar resposta à pergunta «porquê?» não responde à questão «como apoiar e reforçar os elementos positivos dessa evolução?». No conjunto dos esforços para compreender e definir os desafios que teremos de enfrentar (cf. capítulo 2), esta pergunta é, simultaneamente, metodológica (como medir?) e política e institucional (como garantir a aceitação e legitimidade?). No plano prático, é evidente que estes aspectos se encontram estreitamente relacionados. Neste contexto, e para maior clareza de análise, tratá-losemos separadamente. inofor 6.2.1>Exigências metodológicas Embora tenham sido avançadas algumas respostas possíveis para a pergunta «porquê?», a pergunta «como?» mantém-se em aberto. Por outras palavras, as abordagens metodológicas e institucionais adoptadas actualmente em matéria de avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal serão capazes de dar resposta às expectativas, quer em termos de instrumentos que permitam identificar as qualificaçõeschave, quer em termos de recursos que permitam reconfigurar os sistemas de ensino e de formação? Nos diferentes casos aqui apresentados, passámos em revista todas as variantes conhecidas das metodologias de testagem e de avaliação utilizadas, desde as metodologias de respostas predefinidas (de escolha mútua) assistidas por computador, utilizadas para a carteira pessoal de competências, até à avaliação autêntica, baseada na execução de tarefas e compreendendo a planificação, a observação e a avaliação, utilizada nos Países Baixos. As abordagens alemã e norueguesa combinam a avaliação do desempenho e os testes de tipo tradicional com respostas abertas e respostas longas, enquanto a carta europeia de condução em informática se fundamenta, em grande parte, em testes de respostas fechadas. O balanço de competências francês ilustra uma abordagem na qual é utilizado o conjunto de metodologias tradicionais de testagem, dependendo as soluções do centro que efectua o balanço. Comparando com o estado avançado em que se encontram os métodos de testagem e de avaliação no ensino e na formação formais (Black, 1998), o interesse pela aprendizagem não formal não deu origem (até à data) a importantes inovações metodológicas. Por outro lado, a complexidade da tarefa provocou a diversidade. Se interpretarmos essa diversidade numa perspectiva positiva, podemos dizer que garante uma riqueza das abordagens, necessária para a apreensão da natureza profundamente contextual e, em parte, tácita, dos conhecimentos adquiridos por via não formal. Mas se interpretarmos essa diversidade numa óptica negativa, podemos dizer que gera a heterogeneidade e a falta de coerência. As duas interpretações são possíveis. À luz das experiências analisadas até agora, pensamos que há muitas iniciativas que visam demasiados objectivos ao mesmo tempo. As metodologias, por vezes, são escolhidas antes da compreensão nítida da tarefa a cumprir. Em muitos casos, as metodologias desempenham funções simultaneamente somativas e formativas, sem que as potenciais tensões entre ambas tenham sido esclarecidas. Em certa medida, podemos concluir que conta mais a apreciação da tarefa a cumprir do que as metodologias. Da análise a que temos vindo a proceder, ressalta claramente que a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal devem basear-se em múltiplas 161 Colecção CEDEFOP abordagens metodológicas, combinadas de diversas maneiras em função da tarefa específica em causa. Não existe nenhuma metodologia, por mais inovadora que seja, que, sozinha, consiga enfrentar todos os desafios, nem a nível europeu, nem a nível nacional, nem a nível sectorial, nem a nível das empresas. É preferível colocarmos algumas perguntas, que já foram introduzidas no capítulo 2, na apresentação da avaliação e da testagem no ensino e na formação formais. Certamente obteremos algumas indicações acerca dos elementos que devem ser clarificados e sobre os aspectos que devem ser aperfeiçoados, e talvez também consigamos encontrar a riqueza em vez da fragmentação. a) Que funções devem desempenhar as novas metodologias (e os novos sistemas institucionais) de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal? Estaremos a falar de um papel formativo, em que os instrumentos e os recursos servem para orientar os processos cognitivos dos indivíduos e das empresas, ou de um papel somativo, mais restrito, no qual os conhecimentos não formais são testados com vista à sua eventual inclusão no contexto do ensino e da formação formais, ou ainda de um papel somativo, no qual está em jogo a responsabilidade, centrado na utilização dos recursos de competências a diversos níveis? As funções atribuídas à avaliação, quer num contexto não formal quer num contexto formal, são determinantes para as escolhas metodológicas a efectuar e para o êxito final do exercício. Como já demonstrámos durante a análise realizada, nem sempre se faz uma distinção clara entre essas funções. Frequentemente, observa-se uma tendência para combinar as funções formativa e somativa, como se vê, particularmente, no modelo europeu da carteira pessoal de competências. O desenvolvimento bem sucedido de metodologias e de sistemas só é possível quando essas funções estão claramente compreendidas e combinadas ou separadas de maneira construtiva e realista. b) A diversidade dos processos e dos contextos torna difícil atingir-se um grau de fiabilidade semelhante ao dos testes normalizados (de escolha múltipla, por exemplo). Trata-se de determinar os meios para se atingir a fiabilidade neste novo domínio (bem como o tipo específico de fiabilidade requerida). Será possível considerar uma fiabilidade baseada, simultaneamente, num elevado grau de transparência em relação ao processo de avaliação e na implementação de um controlo de qualidade sistemático, a todos os níveis e em todas as funções? A experiência desenvolvida pelas câmaras francesas de comércio e indústria revela-se, neste aspecto, interessante, na medida em que sublinha a importância dos procedimentos de segurança de qualidade e de controlo de qualidade. Este tipo de reflexão não mereceu grande atenção da parte das diversas abordagens da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal, o que constitui uma deficiência que pode inofor pôr em risco a legitimidade das abordagens enquanto tal. c) A natureza profundamente contextual e (em parte) tácita, dos conhecimentos adquiridos por via não formal torna mais complexa a procura da validade. É grande o risco de se medir uma coisa diferente da que foi inicialmente prevista. Convém, antes de mais, evitar que a avaliação conduza a uma imagem deformada do candidato e do domínio e tender, o mais possível, para a autenticidade. Será muito interessante saber se as novas metodologias se centram na validade do conteúdo ou na validade da construção. No primeiro caso, o objectivo seria o de representar, o melhor possível, uma tarefa precisamente definida. No segundo caso, o objectivo seria o de apreender uma entidade construída, por exemplo, as qualificações-chave, as competências em comunicação ou a capacidade de cooperação. Dado que se trata mais de construções teóricas do que de entidades empíricas, a avaliação deve assentar em provas indirectas. Como já foi referido no capítulo 3, a procura de qualificações-chave constitui parte importante do exercício. Da mesma forma que os testes de inteligência estão actualmente sujeitos a exames minuciosos (o que é a entidade «inteligência?»), também as entidades construídas, tais como as qualificações-chave e as competências em comunicação, deveriam ser sujeitas a críticas construtivas. Trata-se de uma tarefa indispensável para se atingir uma validade suficiente. d) A questão dos pontos de referência («normas») reveste-se de particular interesse na avaliação dos conhecimentos adquiridos quer formais quer não formais. Enquanto a referência à norma (utilização do desempenho de um grupo ou de uma população como ponto de referência) não chegou a ser seriamente analisada no contexto da avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal (devido à diversidade das competências envolvidas), já a questão da referência ao critério ou ao domínio situa-se no cerne do problema. A definição dos limites dos domínios de competências (em termos de alcance e de conteúdo) e o modo como podem ser descritas as competências nesses domínios revestem-se de uma importância crucial. Quanto mais vasto é o domínio, mais difícil se torna conceber dispositivos de avaliação autêntica. Convém também determinar se o objectivo consiste em testar um desempenho mínimo ou em atribuir uma nota precisa a determinados níveis de desempenho. A avaliação dos conhecimentos adquiridos por via não formal só é eficaz se forem estabelecidos esses pontos de referência. Em muitos aspectos, isto remete-nos para a questão das funções a cumprir pela avaliação: queremos melhorar os processos cognitivos ou produzir provas (documentos com um determinado valor)? Ambos os objectivos são profundamente legítimos e úteis. No entanto, o estabelecimento de pontos de referência difere consideravelmente em função do objectivo seleccionado. 163 Colecção CEDEFOP 6.2.2>Exigências políticas e institucionais para o desenvolvimento de sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não Formal Não é possível determinar os meios de apoio à implementação política e institucional de sistemas de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal sem dar o maior relevo ao contexto. O desenvolvimento de metodologias ou de instrumentos que permitam identificar, avaliar e reconhecer os saberes adquiridos por via não formal só tem sentido se for considerado o contexto cultural, social e político no qual essas metodologias e esses instrumentos serão utilizados. Uma vez satisfeita a primeira exigência metodológica -, isto é, quando as questões de objectivos e de funções (cf. acima) estiverem resolvidas, a implementação política e institucional pode ser apoiada por meio de duas estratégias: uma centrada na «concepção institucional» e a outra na «aprendizagem mútua». Para finalizar o presente relatório, acrescentaremos uma terceira estratégia, que indica os princípios de uma iniciativa prática, neste domínio: a) Concepção institucional: como foi indicado em 2.3, e tal como foi também referido na análise aos diversos «casos» nacionais, devem-se respeitar determinados critérios fundamentais para que as provas confirmando uma aprendizagem não formal possam ser aceites ao mesmo título que aquelas que atestam um ensino ou uma formação formais. Em primeiro lugar, todos os intervenientes envolvidos devem poder exprimir os respectivos pontos de vista durante o estabelecimento e o funcionamento de sistemas deste tipo. Este aspecto está intimamente relacionado com o equilíbrio dos interesses. Os sistemas de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal podem ter um efeito directo na fixação dos salários, bem como na distribuição dos empregos e das funções no mercado de trabalho. Embora a questão de se saber quais os intervenientes que devem ser convidados a participar e quais os que devem ser ouvidos não tenha, até agora, despertado qualquer interesse, terá, certamente, uma importância decisiva em anos futuros. Em segundo lugar, o processo deve ser alimentado com informações pertinentes. A definição e a estruturação das normas e dos pontos de referência (em particular), intimamente relacionados com a questão da representação, exigem informações adequadas e equilibradas. Em terceiro lugar, como o demonstra a experiência efectuada pelas câmaras francesas de comércio e indústria, a transparência das estruturas e dos procedimentos desempenha um papel importante. É possível criar estruturas onde a repartição dos papéis (estabelecimento das normas, avaliação, recursos, controlo da inofor qualidade) esteja claramente definida e apresentada. A transparência dos procedimentos é condição necessária para a aceitação da legitimidade. Nos próximos anos, quer os investigadores quer os responsáveis políticos deverão debruçar-se sobre todas estas questões. b) Aprendizagem mútua: a aprendizagem mútua entre os projectos, as instituições e os países deverá ser reforçada e melhorada durante os próximos anos. Como foi demonstrado em 5.1.3, já se efectua um certo volume de aprendizagem em diversos níveis. No entanto, como foi referido várias vezes, nomeadamente, na análise às actividades realizadas a nível europeu, o potencial de aprendizagem mútua ultrapassa em muito as realizações e as práticas. O estabelecimento de mecanismos de aprendizagem mútua deve reflectir os diversos objectivos e funções definidos, bem como os diversos níveis de actividade. É necessário, contudo, coordenar melhor e apoiar mais as actividades (a nível europeu e nacional), a fim de se capitalizarem as experiências que foram adquiridas graças aos múltiplos projectos, programas e reformas institucionais. Uma solução possível consistiria na criação e no desenvolvimento de um local de encontro (rede, fórum, ou outro), ao qual os Estados-Membros da UE/EEE e a Comissão dariam apoio. Caso se consiga chegar a um acordo político de cooperação deste tipo, poder-se-iam adoptar, como ponto de partida, as linhas orientadoras e os objectivos práticos apresentados acima37. c) Fórum europeu: este fórum ou rede consagrado à identificação, à avaliação e ao reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal deveria funcionar numa perspectiva de longo prazo e ter como objectivo o aperfeiçoamento progressivo da visão de conjunto e da coerência neste domínio, a nível internacional. A sua base deveria ser tão ampla quanto possível, procurando abranger os diferentes pontos de vista e reunir representantes dos governos, parceiros sociais e outros intervenientes. O fórum deveria servir de local de encontro onde as informações e as ideias sobre a identificação, a avaliação e o reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal seriam reunidas e permutadas. As actividades deveriam ser organizadas em função de quatro objectivos: 37 Esta proposta foi apresentada numa nota redigida por Jens Børnåvold (Cedefop), Ruud Duvekot (Ministério dos Assuntos Económicos, Departamento da Política Tecnológica, Países Baixos) e Jef van Raepenbusch (Ministério da Comunidade Flamenga, Departamento do Ensino, Serviço da Formação Profissional, Bélgica), durante a conferência organizada em Maio de 2000 pelo Ministério da Educação e da Investigação, da Noruega, e o Cedefop, subordinada ao tema «A identificação, a avaliação e o reconhecimento da aprendizagem não formal: experiências e soluções europeias». 165 Colecção CEDEFOP a) contribuir para uma aprendizagem mútua sobre as forças e as fragilidades das metodologias e dos sistemas de identificação, de avaliação e de reconhecimento dos saberes adquiridos por via não formal; b) oferecer uma visão de conjunto deste domínio e criar, assim, uma base para aperfeiçoamento das metodologias e dos sistemas; c) estimular a inovação neste domínio; d) fornecer conselhos práticos aos poderes públicos, nacionais e europeus. A prioridade concedida à visão de conjunto assume a maior importância, pois a recolha e a troca de experiências são determinantes para melhorar a qualidade das metodologias e a legitimidade das instituições e dos sistemas. inofor 7>Bibliografia 165 Colecção CEDEFOP Airasian, P. W., Classroom assessment, McGraw Hill, 1991, New York. Bjørnåvold, J., A question of faith? Methodologies and systems for assessing non-formal learning require a legitimate basis, in Vocational training; European Journal, no. 12, September-December 1997, volume 111, EUR-OP, Luxembourg. Bjørnåvold, J., Assessment of non-formal learning: the quality and limitations of methodologies, in Vocational training; European Journal, no. 12, SeptemberDecember 1997, volume 111, EUR-OP, Luxembourg. Bjørnåvold, J., Validation and recognition of non-formal learning: the question of validity. 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Com base nesta asserção, tentámos elaborar um glossário que reúna um determinado número de conceitos relacionados com o processo de aprendizagem e com o respectivo resultado. O glossário está dividido em cinco capítulos: 1> Conceitos relacionados com o conhecimento e a aprendizagem 2> Conceitos relacionados com o saber-fazer profissional, a qualificação e a competência 3> Conceitos relacionados com os saberes de base e as competências-chave 4> Conceitos relacionados com a identificação, a avaliação e o reconhecimento das competências 5> Conceitos relacionados com a transparência e a capacidade de transferência Bibliografia Os conceitos de base a seguir descritos levantam, frequentemente, problemas de interpretação susceptíveis de prejudicar a comunicação entre interlocutores de língua e de cultura diferentes. Por, isso, tentámos apresentar definições «consensuais», cujo campo de aplicação está isento das particularidades nacionais. Estamos conscientes de que as escolhas feitas são discutíveis: é impossível encontrar definições universais para palavraschave como competência, qualificação ou capacidade. O glossário foi redigido, inicialmente, em inglês, o que explica as frequentes referências à terminologia inglesa correspondente. Por favor, transmita os seus comentários e as suas sugestões para o serviço de tradução/terminologia do Cedefop: Tel. (30-31) 490 110; fax (30-31) 490 099; correio electrónico: [email protected] inofor 1> Conceitos relacionados com o conhecimento e a aprendizagem 177 Colecção CEDEFOP Introdução Saber / conhecimento (knowledge) (Knowledge) A noção de saber/conhecimento constitui o ponto de partida deste glossário. Importa sublinhar o carácter heterogéneo do saber, que não se limita a diferenciar o que é verdadeiro (na natureza) ou justo (na sociedade humana) ou ainda autêntico (na arte, etc.) daquilo que o não é. Qualquer apreciação sobre a natureza do conhecimento refere-se a critérios específicos e leva a definir os conceitos de maneira diferente. As definições seguidamente propostas reflectem a diversidade das formas sob as quais o saber (saber explícito, tácito, etc.) se exprime. Além disso, os conceitos de saber-fazer profissional (skill; savoir-faire), qualificação, e competência (cf. capítulo II) podem ser interpretados como tantas expressões diferentes da relação existente entre o conhecimento e o meio social (por exemplo, a educação, o trabalho, etc.). (Learning) Aprendizagem (learning) A aprendizagem é, geralmente, encarada como um processo cumulativo que permite que os indivíduos integrem entidades de saber [cf. definição seguinte, a)]. Esta percepção da aprendizagem conduz a definições centradas na capacidade de os indivíduos codificarem, memorizarem e mobilizarem o conhecimento. Esta abordagem tende a ser suplantada por uma concepção da aprendizagem (cf. definição 2 abaixo) considerada como uma acção social ou como uma adaptação a um meio em evolução (Lave, 1991). Esta concepção põe em relevo a importância do contexto da aprendizagem. A aprendizagem com carácter profissional, por exemplo, não se limita à assimilação de entidades abstractas de saber; deve também permitir que o indivíduo forje uma identidade social quando se integra num meio profissional. Ao contrário da primeira abordagem acima descrita, que tende a reduzir a aprendizagem a um processo mental, esta concepção sublinha a relação entre o objecto da aprendizagem e a sociedade, bem como entre o indivíduo e o seu meio. N.B.: Para três termos (saber/conhecimento, saber explícito e saber tácito), o capítulo seguinte propõe várias definições. Não hesite em dar a conhecer os seus comentários. Tanto mais que a palavra inglesa learning designa, simultaneamente, o processo e o resultado da aprendizagem. inofor Saber / conhecimento DE: Wissen / Kenntis EN: knowledge FR: savoir / connaissance Existem numerosas definições para o conceito de saber/conhecimento; todavia, as grandes correntes modernas procedem a algumas distinções fundamentais: a) Aristóteles estabelece uma distinção entre a lógica teórica e a lógica prática. Da mesma forma, os teóricos modernos (Alexander et al., 1991) distinguem o conhecimento declarativo (teórico) do conhecimento prático. O conhecimento declarativo compreende as declarações relativas a acontecimentos ou a factos específicos assim como generalizações empíricas ou ainda princípios mais fundamentais sobre a natureza e a realidade. O conhecimento prático abrange diferentes elementos (heurística, metodologia, planificação, procedimentos, acções de rotina, estratégias, tácticas, técnicas ou astúcias) (Ohlsson, 1994); b) É possível distinguir diferentes formas de conhecimento correspondendo a diferentes métodos de «aprendizagem do mundo»: determinados estudos permitiram identificar diferentes categorias de conhecimento, articuladas do seguinte modo: 1. conhecimento objectivo (natural/científico), julgado de acordo com o grau de certeza; 2.conhecimento subjectivo (literário/estético), julgado de acordo com o grau de autenticidade; 3. conhecimento moral (humano/normativo), julgado com base na aceitação colectiva (verdadeiro/falso); 4. conhecimento religioso ou divino, julgado com base na autoridade divina (Deus). Esta distinção esquemática permite orientar as questões que colocamos, as metodologias que utilizamos e as respostas que damos na nossa procura do conhecimento. c) o conhecimento pode ser tácito ou explícito. O conhecimento tácito (Polayi, 1996) define-se como o conhecimento (não necessariamente expresso ou consciente) adquirido pelo aprendente, e que vai influenciar o processo cognitivo. O conhecimento explícito corresponde ao conhecimento que pode ser mobilizado conscientemente pelo aprendente, incluindo o conhecimento tácito, que se torna explícito ao torna-se «objecto de pensamento» (Prawat, 1989). 179 Colecção CEDEFOP Nota: (Def. 1.) O conhecimento declarativo é descritivo; não está relacionado com objectivos ou situações específicas e pode, pois, aplicar-se a qualquer contexto: é consciente e exprimível; o conhecimento prático pode ser implícito (isto é, tácito e não descrito). No domínio da formação profissional, o saber/conhecimento designa «o conjunto das aptidões de base e tecnológicas, o conjunto das informações de que é necessário dispor para que se possa exercer adequadamente uma dada actividade profissional» (AFPA, 1992). Saber explícito DE: explizites Wissen EN: explicit knowledge FR: savoir explicite a) Saber acessível à consciência e que pode ser verbalizado ou expresso por outros meios (efectuando ou não determinadas acções). b) Saber relativo a um dado objecto ou a um determinado fenómeno estudado (saber focal). Nota: A distinção entre saber tácito e saber explícito foi, por vezes, expressa em termos de «saber como» (knowing-how) e de «saber que» (knowing that) (Ryle, 1994) ou através de uma distinção entre o saber concretizado e o saber teórico. Saber tácito DE: implizites Wissen EN: tacit knowledge FR: savoir tacite a) Saber adquirido de uma forma explícita e tornado tácito quando aplicado (por exemplo, a utilização de um instrumento); b) Qualquer saber prático ou teórico que resulta do contacto com uma determinada forma de vida; c) O tipo de saber que possuem os indivíduos que dominam de forma suficientemente aprofundada um determinado assunto para compreender aspectos tanto implícitos como explícitos; d) O saber que intervém na elaboração de comportamentos e/ou estados mentais, mas que a consciência não pode, habitualmente, mobilizar (Chris Eliasmith, 1998); inofor e) O saber utilizado como um instrumento visando abordar ou aprofundar o assunto examinado. Nota: A noção de saber tácito foi descrita por Polanyi (1966). Aprendizagem/aquisição (de conhecimentos) DE: Lernen EN: learning FR: apprentissage / acquisition (de connaissances) Processo cumulativo por meio do qual os indivíduos assimilam progressivamente entidades de um crescente nível de complexidade e de abstracção (conceitos, categorias, esquemas de comportamento ou modelos) (Lave, 1997). Nota: «A aprendizagem não é um simples processo de aquisição; constitui, antes, um processo de desenvolvimento evolutivo, lógico, ligado à experiência» (Brown, 1990, in The international encyclopaedia of education). Aprendizagem formal DE: formales Lernen / formelles Lernen EN: formal learning FR: apprentissage formel Aprendizagem que intervém num contexto organizado e estruturado (ensino formal, formação em empresa, etc.), e claramente identificado como uma actividade de aprendizagem. Nota: A aprendizagem formal pode conduzir a um reconhecimento formal (diploma, certificado). 181 Colecção CEDEFOP Aprendizagem não formal DE: nicht-formales Lernen EN: non-formal learning FR: apprentissage non formel Aprendizagem integrada nas actividades planificadas, não explicitamente identificadas com actividades de aprendizagem, mas compreendendo uma parte importante de aprendizagem. Nota: Contrariamente à aprendizagem formal, a aprendizagem não formal abrange: (a) o que, por vezes, é descrito como aprendizagem semi-estruturada, isto é, que inclui uma parte importante de aprendizagem (por exemplo, a gestão da qualidade); e (b) a aprendizagem experiencial, que decorre das actividades da vida quotidiana (incluindo a profissional) e abaixo definida como aprendizagem informal. Aprendizagem informal DE: informelles Lernen EN: informal learning FR: apprentissage informel Aprendizagem que decorre de circunstâncias fortuitas ou relacionada com as actividades da vida quotidiana (trabalho, família ou tempos livres). Nota: A aprendizagem informal é diferente da aprendizagem não formal (ver def. Acima). Designa-se, por vezes, aprendizagem pela experiência ou experiencial. Aprendizagem pela prática DE: Lernen durch Praxis / Praxislernen EN: learning-by-doing FR: apprentissage par la pratique Aprendizagem adquirida através da execução repetida de tarefas, mas sem instrução prévia. inofor Aprendizagem pela utilização DE: «learning-by-using» EN: learning-by-using FR: apprentissage par l'utilisation Aprendizagem adquirida através da utilização repetida de instrumentos ou de equipamentos, mas sem instrução prévia. 183 Colecção CEDEFOP 2> Conceitos relacionados com o saber-fazer profissional, a qualificação e a competência 185 Colecção CEDEFOP Introdução A definição e a transcrição numa outra língua de conceitos fundamentais como saberfazer profissional, qualificação e competência (em inglês, skill, qualification e competence) levanta diversos problemas. O termo inglês skill, por exemplo, descreve: (a) quer a capacidade de um indivíduo para executar uma tarefa ou um conjunto de tarefas correspondente ao seu emprego (acepção restrita); (b) quer o seu nível de competência ou de especialidade (acepção ampla). A fim de limitar as divergências de interpretação na utilização (e na tradução) desses termos, optámos por defini-los de acordo com os seguintes três níveis hierárquicos: a) o termo saber-fazer profissional (skill) foi reduzido ao contexto específico de um emprego, e descreve as capacidades/formas de conhecimento requeridas para o exercício de uma profissão ou para a execução de uma tarefa; b) o âmbito do termo qualificação é mais amplo; inclui os requisitos para a ocupação de um posto de trabalho e/ou o reconhecimento oficial de uma acção de formação formal; c) o conceito de competência é mais vasto e engloba a capacidade efectiva de um dado indivíduo para utilizar as suas capacidades ou os seus conhecimentos em situações profissionais habituais ou novas. Na literatura, a crescente utilização da palavra competência, em detrimento da palavra qualificação, traduz a tendência para a atribuição de uma cada vez maior importância do capital humano face à mudanças no mundo do trabalho. Tarefa DE: Arbeitsaufgabe EN: task FR: tâche a) Trabalho que deve ser concluído num determinado prazo (Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa); b) Conjunto de actividades com vista à realização de um determinado trabalho, de acordo com processos técnicos e organizacionais precisos (AFPA); c) Trabalho que se executa habitualmente (Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa). inofor Nota: o conceito de tarefa engloba, simultaneamente, o processo de trabalho (isto é, as diferentes etapas para se produzir um bem ou fornecer um serviço) e a função (coordenação, comunicação, organização, etc.). Saber-fazer profissional / capacidades profissionais DE: spezifische bzw. Berufliche Fähigkeiten und/oder Fach-/Sachkenntnisse EN: skill FR: savoir-faire professionnel/capacities professionnelles a) Os conhecimentos e a experiência requeridos para se executar uma tarefa ou para se ocupar um posto de trabalho; b) O resultado do ensino, da formação e da experiência que caracterizam, com o saberfazer, o conhecimento «técnico» próprio de um emprego. Nota: O termo inglês skill é, muitas vezes, mal definido. Refere-se, parcialmente, a outros conceitos fundamentais e pode traduzir-se em português, conforme os contextos, por saber-fazer profissional, capacidades profissionais, conhecimentos, e até qualificação ou competência; em francês, por qualification, savoir-faire professionnel, aptitudes, capacités; e em alemão, corresponde a berufliche Fertigkeiten ou Sachkenntnisse. Cf. com a definição de qualificação e competência. Qualificação DE: Qualifikation EN: qualification FR: qualification a) Os requisitos para se ter acesso a uma dada profissão e para se evoluir num contexto profissional; b) Um documento oficial (certificado, diploma) comprovativo de que um dado indivíduo frequentou com sucesso uma acção de formação ou que obteve resultados satisfatórios num teste ou num exame. Nota: O conceito qualificação varia de país para país. Por vezes, aparece mencionado formalmente nos contratos de trabalho ou nas convenções colectivas para atestar que um indivíduo se encontra apto para o exercício de um emprego ou que possui as exigências requeridas. O conceito de qualificação é também utilizado para designar o nível de ensino /de formação de um indivíduo ou a sua capacidade para fazer face às exigências de um emprego (veja-se a definição de competência). A qualificação confere um certo número de direitos e de prerrogativas que situam o nível hierárquico no respectivo meio profissional. 187 Colecção CEDEFOP Competência DE: Kompetenz EN: competence FR: compétence A capacidade real e demonstrada de um determinado indivíduo para utilizar o seu saberfazer, as suas capacidades profissionais, as suas qualificações ou os seus conhecimentos face a situações e a exigências profissionais habituais e novas. Nota: A noção de competência pode definir, simultaneamente, a qualificação formal do indivíduo e a sua capacidade para transferir um saber-fazer profissional ou um conhecimento para um novo contexto profissional (capacidade de inovação). O nível ou o tipo -de competência de um indivíduo mede-se através da análise da capacidade para utilizar as suas aptidões profissionais. As competências podem ser especializadas (isto é, técnicas, por exemplo, o controlo de processamentos digitais), metodológicas (a capacidade de reflexão, de decisão ou de inovação) ou sociais (capacidades de expressão e de comunicação, espírito de equipa). «Realkompetenz / realkompetanse» DE: Realkompetenz A competência que resulta da aprendizagem não formal. Nota: Este conceito é utilizado, sobretudo, na Alemanha e nos países escandinavos. inofor 3> Conceitos relacionados com os saberes de base e as competências-chave 189 Colecção CEDEFOP Introdução Como já foi sublinhado acima (capítulo II), nem sempre é fácil delimitar com exactidão o conteúdo de termos como competência, qualificação e saber-fazer profissional (em inglês competence, qualification e skill). Um estudo efectuado por Eurotecnet, em 1991, em vários Estados-Membros, revela que os termos que definem as competências (ou as qualificações)-chave ou transversais se sobrepõem parcialmente; no entanto, existe um consenso geral sobre a natureza essencial dessas competências. As competências-chave compreendem as aptidões, a motivação, as capacidades profissionais (skills), os saberesfazer e os conhecimentos (por exemplo, o tratamento de dados) que podem ser transpostos de um contexto profissional para outro e que são indispensáveis para a realização do trabalho. A lista apresentada seguidamente (Comissão Europeia, 1994) fornece alguns exemplos de termos utilizados em diferentes Estados-Membros, e que descrevem essa noção: França: Compétences transversales Reino Unido: Key/core skills Alemanha: Schlûsselqualificationen Portugal: Competências transversais Não ignoramos que os conceitos competências genéricas, competências transferíveis e competências transversais se sobrepõem parcialmente. No entanto, a definição de competências-chave dada abaixo procura cobrir todos os aspectos dessas aptidões «implícitas». A validação dessas competências é factor essencial para a mobilidade dos trabalhadores. Neste aspecto, o Sistema Europeu de Acreditação das Competências, proposto pela Comissão Europeia (cf. Livro Branco sobre a Educação e a Formação: Ensinar e aprender rumo à sociedade cognitiva) é uma tentativa para permitir que os indivíduos avaliem as respectivas competências e possam mudar de contexto ocupacional. inofor Conhecimentos-base / aptidões-chave DE: Grundfähigkeiten/Basis-, Kernqualifikationen EN: basic skills FR: savoirs de base / aptitudes clés As capacidades requeridas para evoluir na sociedade contemporânea, isto é, ouvir, falar, escrever e calcular. Competências-chave DE: Schlüsselqualifikationen/Schlüsselkompetenzen EN: key/core competences FR: competences clés O conjunto das competências complementares das aptidões-chave, e que preparam o indivíduo para: a) adquirir novos conhecimentos e adaptá-los a novas exigências; b) adaptar os seus conhecimentos às exigências da «organizações aprendentes» e participar na definição de novos modos de «aprendizagem organizacional»; c) adaptar-se às mudanças do mundo do trabalho e melhorar a respectiva mobilidade por meio da aprendizagem ao longo da vida. Nota: Na terminologia oficial utilizada no Reino Unido, a expressão core skills foi substituída recentemente por key skills; as competências transversais compreendem a comunicação, o cálculo, a utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a capacidade para tomar decisões, o espírito de equipa e a capacidade para melhorar os respectivos conhecimentos. As mudanças permanentes da nossa sociedade requerem uma cultura de aprendizagem organizacional (organisational learning) para se poder gerir situações mais complexas e aumentar a capacidade de iniciativa visando a adaptação às novas formas de organização do trabalho. A mobilidade (alínea c) da definição) pode considerar-se, simultaneamente, um trunfo (flexibilidade) ou um constrangimento (precariedade do emprego). Termos próximos: Há vários conceitos que se sobrepõem parcialmente à definição acima apresentada: a) as competências genéricas permitem a aquisição de conhecimentos ao longo da vida e compreendem, nomeadamente, a leitura, a escrita e o cálculo (isto é, as aptidões-chave), mas também a comunicação, a capacidade de decisão, o espírito de equipa e de criação, a utilização da informática e as capacidades de auto-aprendizagem; b) as competências transferíveis designam as competências que um dado indivíduo pode explorar no âmbito de um emprego ou de uma profissão que não aquela que exerce ou que exerceu recentemente (adaptado de European Training Foundation, 1998). 191 Colecção CEDEFOP 4> Conceitos relacionados com a identificação, a avaliação e o reconhecimento das competências 193 Colecção CEDEFOP Introdução O estudo da literatura da especialidade revela uma falta de coerência no emprego da terminologia relativa ao reconhecimento da competência, que engloba dois aspectos principais: a) o aspecto do reconhecimento formal (de jure), que compreende a identificação, a avaliação e a certificação. Tem como objectivo conferir uma visibilidade máxima às competências do indivíduo, quer formalmente (graças a diplomas e certificados) quer socialmente/institucionalmente (no mercado de trabalho); b) o aspecto do reconhecimento social/profissional (de facto), que facilita a orientação profissional, a procura de emprego e o desenvolvimento profissional, favorecendo a promoção profissional. Esta segunda forma de reconhecimento leva em conta, nomeadamente, as competências adquiridas através de acções de formação (por exemplo, em alternância). O reconhecimento social/profissional das qualificações facilita a transferência das competências no seio das organizações. Identificação das competências A identificação das competências visa definir os elementos de competência detidos por um Sado indivíduo (ou por um grupo), ou requeridos para que tenha acesso à formação, independentemente do modo de aquisição dessas mesmas competências. Avaliação das competências A avaliação das competências pode ser realizada de várias maneiras: a) as competências resultantes da aprendizagem não formal ou informal (veja-se o capítulo I) podem ser avaliadas por meio de diferentes métodos, critérios ou pontos de referência, em função do nível considerado (empresa/ sector/ poderes públicos) e do tipo de regulação (mercado de emprego ou sistema educativo); b) as competências resultantes da aprendizagem formal são avaliadas por meio de procedimentos (testes, exames) que conduzem à certificação. inofor Acreditação38 das competências As competências podem ser acreditadas de duas maneiras: a) a validação das competências não formais consiste em certificar que um dado indivíduo adquiriu as competências requeridas para o exercício de um emprego, qualquer que seja o meio pelo qual as competências foram adquiridas. Esta validação pode conduzir a uma forma de reconhecimento mais formal, por exemplo, concedendo equivalências ou créditos de unidades às pessoas que frequentarem uma acção formal de formação, ou ainda através da emissão de certificados ou de diplomas; b) a certificação das competências adquiridas formalmente é um processo que permite que os organismos de formação ou as autoridades da tutela emitam certificados ou diplomas ou concedam títulos destinados a validar formalmente as competências adquiridas pelos indivíduos no âmbito de uma acção formal de formação. Identificação (das competências) DE: Ermittlung (von Kompetenzen) EN: identification (of competences) FR: identification (des compétences) Processo que consiste em delimitar o alcance e o conteúdo das competências. Nota: Este processo pode aplicar-se, por um lado, às competências adquiridas de um modo formal (no quadro de uma acção de formação conducente à obtenção de um diploma) e, por outro, às competências decorrentes da aprendizagem informal ou não formal (por exemplo, para se obterem unidades de crédito). 38A palavra inglesa accreditation foi inicialmente utilizada no Reino Unido. Além disso, surge nas versãoes francesa e alemã do Livro Branco, Ensinar e aprender rumo à sociedade do conhecimento, publicado pela Comissão Europeia, em 195 Colecção CEDEFOP Avaliação (das competências) DE: Bewertung, Evaluation (von Kompetenzen) EN: assessment (of competences) FR: évaluation (des compétences) Termo genérico que engloba o conjunto dos métodos utilizados para apreciar/julgar o desempenho de um indivíduo ou de um grupo. Nota: A avaliação pode aplicar-se tanto ao aprendente como ao formador ou à acção de formação. Em inglês, a avaliação dos métodos de aprendizagem designa-se, por vezes, evaluation (e não assessment). O termo teste usa-se, habitualmente para descrever as acções de avaliação efectuadas no âmbito de processamentos formais e específicos, procurando garantir o nível de fiabilidade de um dispositivo. Termos próximos: Teste, exame. Reconhecimento (das competências) DE: Anerkennung (von Kompetenzen) EN: recognition (of competences) FR: reconnaissanse (des compétences) a) Processo global que consiste em atribuir um estatuto oficial às qualificações adquiridas por meios formais de formação (emitindo certificados ou diplomas; veja-se atrás definição de certificação) ou às competências adquiridas de um modo não formal/informal (concedendo equivalências, unidades de crédito, validação das competências adquiridas, etc.). A este processo global dá-se, então, o nome de reconhecimento formal. b) Processo efectuado pelos intervenientes socioeconómicos para reconhecimento do valor das competências, recebendo, então, o nome de reconhecimento social/profissional. Nota: O reconhecimento das competências difere do reconhecimento das qualificações, que designa o reconhecimento por um Estado dos diplomas obtidos num outro país. inofor Acreditação (de competências) DE: Akkreditierung (von Kompetenzen) EN: accreditation (of competences) FR: accréditation/validation (des compétences) Processo de atribuição de documentos destinados a validar formalmente as competências, independentemente do modo pelo qual foram adquiridas. Nota: O processo de acreditação aplica-se quer às competências não formais quer às competências formais. Como foi referido na introdução, a acreditação da aprendizagem formal conduz à certificação, enquanto a acreditação da aprendizagem não formal/informal (baseada no trabalho) pode conduzir à validação (tendo como resultado documentos como o portefólio de competências) ou a meios mais formais de acreditação (equivalência, unidades de crédito, validação de competências adquiridas, etc.). O processo de certificação (veja-se definição seguinte) pode acompanhar a acreditação da aprendizagem não formal ou formal. O conceito de acreditação de competências é usado, principalmente, no Reino Unido, embora também ocorra na Comissão Europeia. Certificação (das competências) DE: Zertifizierung (von Kompetenzen) EN: certification (of competences) FR: certification (des compétences) A certificação constitui um reconhecimento oficial e formalizado dos conhecimentos ou das qualificações adquiridas, que atesta o sucesso de um dado indivíduo no final de uma acção de formação ou de um exame. A certificação é um acto formalizado de reconhecimento social, administrativo ou legal, com valor oficial (OCDE). Nota: A certificação, sob a forma de um certificado ou de um diploma, possui um real valor social ou profissional. Oferece um meio de actuação protegido pela lei e pode ter grande valor no mercado de emprego. A certificação pode reforçar a transparência das qualificações, atribuindo um valor formal às competências adquiridas no quadro da vida profissional. Em França, a certificação remete para uma norma formalizada «oficial» que garante que o portador do «certificado» adquiriu, de facto, os conhecimentos e os saber-fazer propostos por um dado programa de formação, e que esses saberes adquiridos foram, realmente, verificados. A certificação abrange três domínios: o dos diplomas, o dos títulos homologados e o dos Certificados de Qualificação Profissional (CQP) (Cedefop). 197 Colecção CEDEFOP Certificado (de qualificação profissional) / título (homologado) / diploma DE: Abschlußzertifikat/Befähigungsnachweis/Diplom EN: certificate (of qualification)/diploma/degree FR: certificat (de qualification professionnelle)/ titre (homologué)/diplôme Documento oficial que atesta o nível de qualificação atingido por um dado indivíduo. a) Certificado: documento que tanto atesta que um curso ou um programa de ensino ou de formação foi frequentado regularmente, como prova que se realizou com sucesso um exame sobre determinada matéria. b) Diploma: documento emitido pela autoridade legal, com dimensão jurídica. Pode condicionar o acesso a certas profissões ou a certos concursos (AFPA, 1992). c) Título: emitidos por uma autoridade competente, os títulos possuem dimensão jurídica. O título profissional atesta a aptidão do seu possuidor para o exercício de uma dada profissão (Cedefop). Homologação (dos títulos e dos diplomas) DE: (staatliche) Anerkennung von Titeln und Diplomen EN: accreditation (of training/ of a training organisation) FR: homologation des titres et des diplômes a) Processo de reconhecimento, nomeadamente, pelo Estado (ou, a nível regional, por exemplo, pelas câmaras de comércio) de um título ou de um diploma. b) Procedimento regulamentar de inscrição numa lista nacional de títulos ou de diplomas do ensino tecnológico cujo nível foi previamente definido. inofor Validação da aprendizagem não formal DE: Validierung nicht-formalen Lernens EN: validation (of non-formal learning) FR: validation de l'apprentissage non formel a) Procedimento que consiste em reconhecer, na esfera da formação, do trabalho, da vida social, etc., saberes, saberes-fazer e competências em sentido amplo, adquiridas ao longo da actividade profissional, em estudos individuais ou organizados, em práticas associativas ou de lazer, etc. (Cedefop, 1997). b) Ponderação do capital de formação e de experiências que um dado indivíduo faz prova. Nota: Este reconhecimento pode assumir formas muito diversas conforme o espaço no qual é mobilizada e conforme os intervenientes que vão apreciar as competências adquiridas: acesso a formações para as quais não se dispõe do diploma habitualmente requerido, dispensas de formação, bónus, promoções, apreciações, classificações, etc. 199 Colecção CEDEFOP 5> Conceitos relacionados com a transparência e a capacidade de transferência 201 Colecção CEDEFOP Introdução O conceito de transparência, a seguir definido, constitui um elemento determinante nos procedimentos de avaliação e de validação realizados no âmbito do reconhecimento das qualificações (veja-se capítulo IV) a nível sectorial, regional ou internacional. A transparência facilita: a) A possibilidade de transferência das qualificações, tanto no mercado de trabalho como no sistema educativo (por exemplo, estabelecendo pontes entre o ensino geral e o ensino profissional); b) A mobilidade e a empregabilidade dos trabalhadores; c) A transparência/visibilidade e a possibilidade de comparação das qualificações no mercado de emprego. Transparência (das qualificações) DE: Transparenz der Qualifikationen EN: transparency of qualifications FR: transparence (des qualifications) Grau de visibilidade das qualificações que permite identificar e comparar os respectivos valores nos níveis sectorial, regional, nacional ou internacional. Nota: A transparência das qualificações permite que as empresas, os indivíduos, os autores de programas de formação e os poderes públicos identifiquem as diferenças e as semelhanças entre os diversos sistemas de formação (regionais, nacionais e sectoriais), determinando, por exemplo, os grupos de tarefas específicas de um emprego ou de uma profissão. A transparência das qualificações permite racionalizar os investimentos consagrados à formação. Termo próximo: Visibilidade (das qualificações) Comparabilidade (das qualificações) DE: Vergleichbarkeit der Qualifikationen EN: comparability of qualifications FR: comparabilité (des qualifications) inofor Grau a partir do qual é possível estabelecer uma comparação entre o nível e o conteúdo das qualificações a nível sectorial, regional nacional ou internacional. Nota: A comparabilidade das qualificações reforça a empregabilidade e a mobilidade dos indivíduos. Não confundir este termo com o conceito de equivalência das qualificações (que designa a equivalência de valor dos diplomas). Empregabilidade (individual) DE: Beschäftigungsfähigkeit (der Personen) EN: employability (of individuals) FR: employabilité (individuelle) Capacidade de adaptação de que dá provas um dado indivíduo para procurar emprego, conservá-lo e actualizar/melhorar as suas competências profissionais. Nota: A empregabilidade de um dado indivíduo depende, simultaneamente, de critérios racionais (perfil profissional, aptidões, saberes-fazer) e irracionais/implícitos (os critérios de recrutamento utilizados pelos empregadores). A empregabilidade de um determinado indivíduo depende do seu nível de qualificação e da sua capacidade para adquirir novas competências, por outras palavras, da sua «educabilidade». Este último conceito sublinha a capacidade do indivíduo de conduzir o seu desenvolvimento pessoal, enquanto o conceito de empregabilidade insiste, sobretudo, na capacidade de adaptação às necessidades do mercado em termos de rendibilidade. Termo próximo: «educabilidade» Mobilidade (individual) DE: Mobilität (der Personen) EN: mobility (of individuals) FR: mobilité (individuelle) Aptidão de um indivíduo para se adaptar a um novo ambiente de trabalho. Nota: A mobilidade pode ser geográfica ou «funcional» (mudança de função no interior da empresa). A mobilidade permite que o indivíduo adquira novas competências e, assim, aumenta a sua empregabilidade. 203 Colecção CEDEFOP Capacidade de transferência das competências DE: Ubertragbarkeit von Kompetenzen EN: transferability of competences FR: transférabilité des compétences Possibilidade de se transferirem as competências para um novo contexto, quer profissional quer educativo. Nota: A possibilidade de transferência das competências é um elemento-chave da mobilidade dos indivíduos e representa um trunfo de peso no mercado de emprego. A possibilidade de transferência pode ser estimulada de diferentes maneiras, nomeadamente, através da modularização dos programas de formação, da criação de centros de balanço e de portefólios de competências, ou ainda pela validação da aprendizagem não formal. A possibilidade de transferência pode facilitar a transição entre a formação profissional e as vias académicas e7ou superiores, ou a transferência de competências de um sector para outro. inofor Bibliografia do Glossário ADEP, Créditformation - Guide de la validation, 1991, Paris. AFPA, Vocabulaire des formateurs, 1992, Montreuil. AFPA, Vocabulaire technique de la formation, Collection Repères, 1997, Montreuil. Alaluf, Mateo, “What do you mean by skills”, European Journal Vocation Training, No 2/1991, Cedefop, 1991, Berlin. 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