nossas metas
Transcrição
nossas metas
Química Têxtil n° 82/mar.06 EDITORIAL NOSSAS METAS Ao iniciarmos este ano de 2006, sentimos um sos associados seja alcançada. grande pesar pela perda de um dos profissio- Você associado pode nos ajudar nesta tare- nais mais conceituados dentro da Química Têx- fa; é importante a sua manifestação, seja ela til. Giuseppe de Marchi lutou bravamente neste de crítica ou de elogio. último ano contra um dos piores males que pode e deve ser dada a nós que estamos à afligem nossas vidas, mas como muitos misté- frente dos trabalhos, através de correspondên- rios desta nossa passagem por aqui, nos dei- cia eletrônica ou até mesmo pessoalmente. xou. Nos deixou, fisicamente, mas um legado de Nosso objetivo, além de promover a associa- bons exemplos e atitudes tanto profissionais, ção, é satisfazer cada vez mais as expectati- como humanas nos foi dado, principalmente a vas dos associados, trazendo discussões téc- mim, que nos meus 26 anos de carreira muito nicas de nível, que realmente possam somar aprendi com ele. conhecimentos à nossa profissão. Esta manifestação Assim como muitos da nossa comunidade, Para o ano de 2006, vamos trabalhar em Giuseppe sempre lutou pela ABQCT, desde o direção ao fortalecimento dos núcleos regionais, início de sua fundação, e foi através dele que projeto já iniciado no ano anterior, com um pro- também vim somar meus esforços. grama de eventos em todo o Brasil. Também E por falar em esforços, antes mesmo do estaremos presentes na FEBRATEX e já seleci- primeiro Editorial do ano, já tivemos um evento onamos uma empresa de turismo para organizar de nível internacional, com a conferência do prof. a participação dos associados no XVIII Congres- Artur Cavaco-Paulo, da Universidade de Minho, so Latinoamericano de Química Têxtil, que ocor- falando sobre "Enzimas na Indústria Têxtil". rerá em novembro próximo em Buenos Aires. Tanto para os participantes, quando para nós Maiores informações em breve. que organizamos esses eventos internacionais é difícil de prever a satisfação que os mesmos vão gerar e por isso estamos cada vez mais aprimorando a forma de selecionar, conduzir e realizar os eventos, para que a satisfação plena de nos- Evaldo Turqueti Presidente da ABQCT 3 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUÍMICOS E COLORISTAS TÊXTEIS Membro titular FLAQT AATCC Corporate Member site: www.abqct.com.br CORRESPONDÊNCIA Gostaria de agradecer a publicação do meu artigo supervisionado pelo Professor Antônio Augusto e revisado pelo Sr. Rodrigo Chrispim, na edição 81 da revista Química Têxtil. Para mim foi uma honra e espero poder contribuir mais vezes. Aproveito a oportunidade para solicitar que se houver qualquer comentário a respeito do assunto, que seja a mim repassado para que eu possa ter uma visão crítica e responder ao leitor caso haja necessidade. Luiz Felipe Cabral Cherem - Unidade Produtiva Têxtil www.marisolsa.com.br SUMÁRIO DIRETORIA NACIONAL Presidente: Evaldo Turqueti Vice-Presidente: Lourival Santos Flor 1° Secretário: Celso de Oliveira 2° Secretário: Alexandre Thim 1° Tesoureiro: Adir Grahl 2° Tesoureiro: André Luis Dechen Diretor Técnico: Rodrigo Chrispim Núcleo Santa Catarina Coordenador Geral: Carlos Eduardo E. Ferreira Amaral Vice-Coordenador: Clovis Riffel Secretário: Wilson França de Oliveira Filho Tesoureiro: Gilmar Jadir Bressanini Suplente: Lourival Schütz Junior Núcleo Rio de Janeiro Coordenador Geral: Francisco José Fontes Vice-Coordenador: Francisco Romano Pereira Secretário: Ricardo Gomes Fernandes Tesoureiro: Emanuel de Andrade Santana Suplente: Antonio Wilson Coelho Núcleo Rio Grande do Sul Coordenador Geral: Clóvis Franco Eli Vice-Coordenador: Eugênio José Witriw Secretária: Maria Julieta E. Biermann Tesoureiro: José Ariberto Jaeger Suplente: João Alfredo Bloedow Editorial ........................................................................................................... 3 Malwee: um século regado a trabalho e dedicação .................................... 6 Giuseppe De Marchi .................................................................................... 10 Antonio Ajudarte: uma trajetória profissional paralela à história da ABQCT ..................................................................................... 12 O que você obtém é o que você vê A loucura de atribuir uma fé cega aos números O uso, aplicação e importância da determinação das cores por meio de instrumentos (Dr. B. Glover e Sr. D. T. Parkes) ..................................................................... 14 Tingimento rápido de poliacrilonitrilo pelo método ecológico (Washington Vicente dos Santos) .................................................................. 24 Influência da temperatura de texturização na poliamida 6.6 em sua estrutura fina, propriedades de tração e comportamento tintorial (Maillo, J., Cayuela, D., Gacén J. e Fernández, O) .................................... 28 Aplicação de enzimas em processos industriais têxteis (Renato Teixeira da Cunha e Carolina M.M.C. Andrade) ................................. 44 Têxteis inteligentes (Dr. Ing. José Cegarra Sánchez ) ................................................................... 58 Núcleo Nordeste Coordenador Geral: Silvio Costa Sousa Gurgel Vice-Coordenadora: Clélia Elioni Ferreira de Carvalho Secretário: Edinaldo Hermínio da Silva Tesoureiro: Rogério Damião de Souza Suplente: Ananias Silvino Suplente: Manuel Augusto da Silva Vieira CORPO REVISOR Esta edição da revista Química Têxtil contou com uma equipe técnica para revisar os artigos aqui publicados. A equipe é formada pelos seguintes profissionais: Frederico Vasconcelos José Maria da Costa Rodrigo Chrispim Os autores devem enviar seus artigos para publicação com pelo menos 3 meses de antecedência. EXPEDIENTE Química Têxtil é uma publicação da Associação Brasileira de Químicos e Coloristas Têxteis. Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores. Periodicidade: Trimestral (mar./ jun./ set./ dez.) e-mail: [email protected] ISSN 0102-8235 Distribuição: mala-direta: associados da ABQCT, indústrias têxteis, tinturarias e entidades filiadas à FLAQT e AATCC. Circulação: São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Rio G. do Sul, Ceará e Paraná. Jornalista Responsável: Solange Menezes (MTb 14.382) e-mail: [email protected]/telefax 3735.3727 Corantes e pigmentos para a estamparia têxtil digital Tipos, propriedades e aplicações das tintas à base d'água da DuPont Artistri (Dra. Kathryn Pearstine) ................................................................... 78 Produtos & Serviços ............................................................. 84 4 Produção Editorial: Evolução Comunicações Impressão: Ipsis Gráfica Administração e Depto. Comercial: ABQCT C.G.C. 48.769.327/0001-59 - Inscr. Est. isento Praça Flor de Linho, 44 - Alphaville 06453-000 Barueri SP - Tel. (11) 4195.4931 Fax (11)4191.9774 - e-mail: [email protected] ABQCT apresenta uma empresa parceira Química Têxtil n° 82/mar.06 Malwee: um século regado a trabalho e dedicação Há exatos cem anos, Wilhelm e Bertha Weege inauguravam uma pequena fábrica de laticínios e um ponto comercial em Jaraguá, dando início assim à Firma Weege - hoje Malwee Malhas. A empresa nasceu da ousadia do casal, que desafiou costumes e se postou à frente do seu tempo. Até tornar-se o que é hoje, uma das maiores e mais modernas empresas têxteis do país, foram anos de dedicação e persistência, temperados com a capacidade empresarial e a aptidão pelos negócios dos Weege. Hoje, o Grupo Malwee possui quatro unidades fabris - Jaraguá do Sul, Pomerode, Blumenau e Camacã (BA) -a fábrica Carinhoso e a Rádio Jaraguá, totalizando 5500 funcionários. Tudo começou com Karl Weege, pai de Wilhelm, no final do século 19, quando instalou uma casa comercial de secos e molhados na região de Pomerode Fundos. Oficialmente, a Firma Weege foi estabelecida em 6 de janeiro de 1906, em Jaraguá. Na década de 1930, a fábrica mudou a razão social e passou a ser Indústria e Comércio W. Weege Ltda. Em 1948, o filho Wolfgang assumiu o comando da empresa e alterou mais uma vez a razão social da firma, que passou a ser sociedade anônima. A partir de então, a produção foi diversificada e o parque fabril ampliado. Paralelo às atividades industriais, a família Weege atuou no ramo de distribuição de combustível. Na década de 1960, também instalou uma grande loja de departamentos e se um engenho de arroz, que ainda tem sua fachada integrada à atual sede da Malwee. Impulsionado pelo espírito empreendedor, em 1968, Wolfgang Weege, depois de pesquisas de mercado, de6 Parque Malwee, em Jaraguá do Sul cidiu criar uma indústria têxtil. Aproveitou o espaço do antigo engenho de arroz e instalou a Indústria e Comércio W. Weege S/A. A malharia nasceu sob o lema "Durabilidade, uma de nossas qualidades". A nova empresa começou as atividades industriais com quatro funcionários, um tear circular na malharia, quatro barcas de tingimento e uma estufa na tinturaria, além de quatro máquinas de costura. Logo a competência empresarial de Wolfgang Weege tratou de criar cenários de negócios que possibilitassem a expansão da empresa, o que ocorreu de forma rápida e consistente. Em 1975, foi inaugurada a fábrica de Pomerode, com 39 funcionários, nos setores de costura e dobração. Três anos depois, o parque fabril foi ampliado para incluir o setor de corte. Em meados da década de 1980, a empresa mudou a razão social e passou a denominar-se Malwee Malhas S/A e, em 1982, Malwee Malhas Ltda. Em setembro do mesmo ano, foi inaugurada a unidade de Blumenau, que iniciou as atividades como malharia, corte e costura. Desde 1996, o Grupo Malwee é proprietário também da Carinhoso Roupas, unidade que produz as marcas Carinho e Enfim, direcionada ao público infantil até 12 anos. A fábrica, administrada por Laurita Weege, tem 10,5 mil metros quadrados de área construída. A Malwee Malhas de Jaraguá do Sul está localizada no bairro Barra do Rio Cerro, tem tecnologia de ponta e profissionais capacitados e comprometidos com a qualidade dos produtos a serviço dos setores de tinturaria, malharia, corte, costura, estamparia, dobração, criação e desenvolvimento das novas peças do vestuário. O Grupo Malwee é presidido atualmente por Wandér Weege, filho do criador da malharia e neto do fundador da Firma Weege. Ele começou na Malwee como diretor-gerente e em 1987, assumiu a presidência. Graças à capacidade gerencial, conquistou vários prêmios, entre eles o de líder empresarial nacional do setor têxtil. Pela competência, tornou-se membro permanente do Fórum de Líderes Empresariais do Brasil. Tecnologia para cuidar do meio ambiente Nos últimos anos, a Malwee Malhas tem investido muito em tecnologia para proteção do meio ambiente, assegurando a manutenção da biodiversidade. Os novos equipamentos têm garantido redução significativa na produção de resíduos de 15 para cinco toneladas/dia. Desde 1998, mantém um aterro industrial próprio, licenciado pelos órgãos ambientais. Sua área é superior a 17 mil metros quadrados, com capacidade para armazenar 62 mil metros cúbicos de resíduos gerados pela estação de tratamento de efluentes. O terreno do aterro é revestido com uma manta de polietileno de alta densidade para evitar que a água presente no lodo infiltre no solo. O controle do aterro é feito por poços de monitoramento, de onde são retiradas amostras de água para análise. Diariamente, a Malwee retira do rio uma grande quantidade de água para ser utilizada nos processos industri- ais. Essa água passa por um processo de floculação/ decantação antes de ser usada. Depois de utilizada, a água vai para o tanque de equalização na forma de efluente. Após passar pela equalização, o efluente é encaminhado ao tanque biológico - com capacidade para 11 milhões de litros de água, para que se torne limpo para ser devolvido ao rio ou ser reutilizado. Já com boa qualidade, passa pelos misturadores estáticos, onde é adicionado o descolorante, e pelo misturador. Depois, a água segue para o decantador, onde a sujeira fica no fundo do tanque e a água já tratada segue, parte para o rio e outra para a reutilização no processo industrial. A eficiência do tratamento de efluentes é superior a 97%. A água devolvida ao rio obedece com folga a todos os padrões ambientais exigidos. Há alguns anos, a Malwee é abastecida por gás natural que, além das vantagens econômicas, melhoraram sensivelmente as condições ambientais. Por ser puro, produz queima limpa e uniforme, isenta de fuligem e outros materiais que podem prejudicar os equipamentos. A substituição do óleo combustível pelo gás reduziu consideravelmente a poluição atmosférica. Outro exemplo de respeito à natureza é o Parque Malwee, uma reserva ecológica de 1,5 milhão de metros quadrados no coração de Jaraguá do Sul. O parque oferece dois restaurantes, quiosques e churrasqueiras, um parque para as crianças, pista de bicicross, sete lagos, trilhas para caminhadas, quadras e campos para a prática de esporte, um ginásio de esportes e dois museus, além do Espaço de Cultura Popular Bertha Weege. O parque está no roteiro do turismo ecológico e abriga aproximadamente 42 mil árvores de diferentes espécies. Qualidade de vida A Malwee Malhas incorporou à gestão gerencial a política de responsabilidade social, uma forma de participar e de contribuir para a qualidade de vida da população das cidades onde tem atividades industriais. Há vários anos promove e apóia diferentes programas e projetos nas áreas social, esportiva, cultural e ambiental desenvolvidos na região. 7 Segundo ele, a Malwee sempre foi parceira e nunca mediu esforços para contribuir no que era necessário. O Hospital Santo Antônio, de Guaramirim, também está na relação dos beneficiados pela Malwee. O atual gestor da instituição, Luiz Carlos Pereira, lembra que a empresa contribui há vários anos, mas intensificou as doações e a atenção a partir de 2001, depois de definidas as novas metas para a melhoria dos atendimentos. Malwee - Unidade Jaraguá do Sul Existe uma infinidade de trabalhos patrocinados, promovidos, estimulados e apoiados pela empresa em favor de entidades assistenciais, filantrópicas, instituições sociais, ONGs ou diretamente à comunidade regional. Dentre elas destacam doações de equipamento, veículos e recursos aos hospitais, unidades de corpo de bombeiros, Apaes, entre outras. A relação da Malwee Malhas com as corporações de bombeiros voluntários da região é antiga e forte. No caso específico de Jaraguá do Sul, é ainda mais próxima. O criador da empresa, Wolfgang Weege, foi um dos fundadores do Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade, sendo seu primeiro vice-presidente. Também é reconhecido o apoio da Malwee Malhas aos hospitais da região. "O Hospital e Maternidade Jaraguá é um dos mais equipados de Santa Catarina graças ao apoio incondicional da Malwee", afirma o diretor do hospital, Hilário Dalmann, lembrando que a empresa doou ambulâncias, equipamentos, o centro cirúrgico, recursos para obras e outros materiais. A relação entre a Malwee e o Hospital e Maternidade São José também é “a mais afetiva possível", como classifica o diretor-administrativo do hospital, Vilson Santin. 8 Rádio Jaraguá, a voz do vale Fundada por Werner Stange e Homero Camargo de Oliveira, a primeira transmissão da ZYP-9 aconteceu no início de 1948, em fase experimental. Passado o tempo, a ZYP-9 modernizou-se, dando lugar à Jaraguá AM, em prédio próprio, equipamentos modernos de longo alcance e com a contratação de profissionais de outras regiões do Brasil. Em 1992, a emissora foi integrada ao Grupo Malwee. A Jaraguá AM possui equipamentos de última geração, profissionais experientes e uma programação diversificada: jornalismo, música, prestação de serviços, utilidade pública, campanhas institucionais, esporte, entre outras atrações. Opera em 10 KW de potência. Apoio ao esporte A trajetória do futsal de Jaraguá do Sul deve ser dividida em duas fases: antes e depois do apoio da Malwee ao time da cidade. Criado em 1992, a equipe se destacou somente após o patrocínio da empresa. Hoje, é tricampeão da Taça Brasil de Clubes e campeão da Liga Nacional. Tudo começou quando o técnico Fernando Ferreti e o diretor Carione Pavanello decidiram comprar uma vaga para a equipe de Jaraguá do Sul disputar a Liga Nacional, mesmo sem patrocínio nem dinheiro. Em 2001, a Malwee passou a patrocinar o time, que contratou grandes jogadores, entre eles Manoel Tobias e Falcão, ambos eleitos pela Fifa os melhores do mundo. Com o apoio da Malwee, o Juventus retornou à Primeira Divisão do Campeonato Catarinense de Futebol. A empresa também contribuiu com a equipe de juniores e nas reformas e melhorias do Estádio João Marcatto. Química Têxtil n° 82/mar.06 Falecimento Giuseppe De Marchi No ínicio de 2006, um grande amigo da ABQCT e todo o mercado têxtil nos deixou para atender a um chamado superior. Sua história começou na província de Como, na Itália, onde nasceu. Seu pai, Eugênio De Marchi, aos 57 anos, cansado de ver tantas guerras, optou por começar uma nova vida no Brasil com seus oito filhos. Segundo Giuseppe, "um grande exemplo de que a idade não é desculpa para a superação de quaisquer obstáculos". Giuseppe tinha dez anos quando chegou ao Brasil e logo se apaixonou pelo clima, pelas bananas, pelos campos de futebol, pela Moóca e suas incríveis descidas, ótimas para brincar de carrinhos de rolimã. Sobre as bananas, tem uma passagem que ele sempre sorria bastante ao contar. Quando vivia na Itália, nas vezes em que teve a oportunidade de comer bananas, elas eram verdes e de sabor desagradável. Ao estar no Brasil, no primeiro "tostão" que teve disponível, comprou e comeu 18 bananas, maduras e saborosas. Isso lhe causou um indigestão que o deixou 20 anos sem comer bananas. Logo começou a trabalhar na tinturaria Biselli, quando teve o primeiro contato com suas duas grandes paixões: a Química Têxtil e sua futura esposa Ivone. Namoraram por cinco anos e meio até a data do casamento. Em tudo que fazia, Giuseppe marcou pela extrema dedicação e paciência, com esta receita logo se destacou na Biselli e ainda jovem assumiu a direção da tinturaria, seguiu em uma longa carreira com muito sucesso e por 30 anos sem saber o que era tirar férias. Certa vez, quando técnico de uma empresa de produtos químicos, a chefia o obrigou a tirar férias. O Giuseppe comentou com um cliente que não saberia o que fazer no período e logo ouviu "passe as férias acertando os meus processos na fábrica" e acabou resultando em um novo grande cliente. Giuseppe lembrava desse passado como um aviso de que o amor pelo trabalho não era tudo, que “preci10 sávamos aprender a aproveitar os nossos momentos”. Não chegava a ser uma lamento mas um alerta aos amigos. Sobre amigos, é um tema que de tão grandioso fica difícil colocar em texto, o quanto Giuseppe prezava esse aspecto. Ele sempre comentava que a dediGiuseppe De Marchi cação às pessoas em 7/1/1943 a 9/1/2006 ensinar, ajudar nos momentos difíceis e alertar quando possível, sempre sem perder a humildade, era a grande fatia da lição profissional dele. Sua receita profissional tinha a seguinte composição: 25% conhecimento de equipamentos, 25% de conhecimentos químicos e 50% a busca pelo conhecimento do fator Humano. Fator este tido como prioridade em todas as relações profissionais. Na Golden Química, onde Giuseppe encerrou suas atividades como sócio-gerente, teve participação substancial na formação filosófica da empresa, onde atributos como ética, honestidade e seriedade jamais puderam estar ausentes. Foi intransigente com esses atributos, mesmo que isso viesse a significar a perda de uma oportunidade comercial. Para seu epitáfio a família escreveu: "Costurou a história de sua vida através da dignidade, lealdade e ética. Trabalhou com muita seriedade e dedicação, deixando seu conhecimento e experiência por onde passou. Ensinou que devemos ajudar sempre o próximo e lutar por uma vida melhor de todos os que nos rodeiam. Foi um pai amigo e carinhoso e um marido exemplar". Entrevista Química Têxtil n° 82/mar.06 Antonio Ajudarte: uma trajetória profissional paralela à história da ABQCT O depoimento desta edição é de Antonio Ajudarte Lopes Filho, grande colaborador da ABQCT desde a sua fundação. Ajudarte é natural de São Paulo, graduado e pós-graduado em Química Industrial pela Faculdade Oswaldo Cruz (SP). Fez vários cursos de aperfeiçoamento, dentre eles o de Colorimetria, na Datacolor, Suíça. Iniciou sua atividade profissional em 1969, na Velupress. “Meus grandes professores na arte de tingir, acabar e estampar foram Nicolau Perl e Janus Miklos, ambos imigrantes húngaros, a quem devo muito do conhecimento que tenho hoje”, diz Ajudarte. Outro amigo que lhe ajudou muito foi Luciano Migliaccio, que ele conheceu em 1973, quando passou a trabalhar na Karibe S/A, onde iniciou como chefe de Acabamento e depois assumiu a gerência técnica de Beneficiamento. Em 1978, Ajudarte foi para a Sandoz e assumiu o setor técnico de produtos e processos para a área de Estamparia. Em 1984, assumiu a diretoria industrial de Tinturaria do Grupo Rosset, onde trabalha até hoje. A seguir, o depoimento de Antonio Ajudarte sobre sua participação na criação e desenvolvimento da ABQCT. “Antes de falar sobre os 30 anos de ABQCT, quero parabenizar a atual Diretoria pela iniciativa de colher esses depoimentos, pois, como o Gastão, entendo que a memória é algo que deve ser preservada com muito carinho, pois é parte importante do patrimônio histórico, sócio-cultural e filosófico de qualquer instituição. Vamos viajar no tempo e relatar mais um pouco sobre nossa história, fatos que vão completando os depoimentos anteriores, embora falar da ABQCT depois dos meus ilustres e queridos amigos, Gilberto Pinho, Vidal Salem e Gastão Camargo, confesso que não é tarefa fácil, pois os considero ícones de nossa associação, além da consideração pessoal e profissional que tenho por eles, pois foram sempre referências positivas na minha carreira. Abordar acontecimentos relacionados a esse tempo de nossa associação é sempre muito agradável para mim, pois foram 30 anos de intensa dedicação, que fiz com muita satisfação e despreendimento. Minha história na ABQCT tem uma feliz coincidência, pois começou no dia do nascimento oficial da ABQCT, 11 dezembro 1974. 12 Antonio Ajudarte, um dos fundadores da ABQCT No dia da assembléia de fundação eu estava lá, como mostrou a foto histórica apresentada pelo sr. Vidal em sua entrevista, embora eu mesmo tenha tido dificuldade de me localizar, pois as mudanças físicas não são poucas. Nesse dia eu fui contagiado pelo desejo forte de participar da construção de uma associação que representasse os químicos com a especialização textil em nosso país, com uma proposta totalmente voltada para a evolução científica dos profissionais que militavam no seguimento. Por isso me considero também um fundador, afinal, fiz parte da assembléia de fundação. Convém ressaltar que a pessoa que me convenceu a aderir foi o Luciano Migliaccio, também figura importante na fundação da ABQCT . Alguns meses se passaram, ainda durante a gestão da primeira diretoria, na seqüência dos acontecimentos fui convidado a substituir o João Thomas de Almeida, que ocupava o cargo de segundo secretário e se retirava por motivos particulares, assumindo assim o cargo de segundo secretário. O Gilberto Pinho, que era o primeiro secretário, me deu grande suporte e apoio, me incentivando bastante a me incorporar definitivamente ao grupo de trabalho que iniciava a grande tarefa de conduzir os destinos da ABQCT. Eram tempos difíceis, não tínhamos as facilidades de comunicação e locomoção de hoje, portanto, nossa existência dependia muito da colaboração pessoal, ou seja, de pessoas comprometidas pelo ideal de uma associação forte, algumas muito bem lembradas nas entrevistas anteriores. Uma figura que não posso deixar de mencionar, por estar muita envolvida com a secretaria, é a sra. Verônica, hoje esposa do sr. Giovani e na época secretária do sr. Vidal. Nesse tempo da infância da ABQCT, a sra. Verônica nos ajudou a manter a mínima estrutura em funcionamento, pois não tínhamos local próprio e toda atividade administrativa dependia dos equipamentos da Sandoz, portanto, era indispensável sua colaboração, lógico com a autorização do sr. Vidal e o grande carinho que ela tinha pela associação. Me recordo muito bem das dificuldades da época, pois trabalhava no município de Santa Izabel, morava no Tatuapé e as reuniões eram na Sandoz, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Algumas vezes, essas reuniões se estendiam até quase meia noite, mas fui contagiado pelo entusiasmo daquele grupo sonhador, idealista e que amava a carreira de químicos têxteis. Jovem ainda, com minha carreira em formação, eu tinha uma admiração muito grande pelos membros mais experientes da diretoria. Lembro-me de algumas reuniões onde falávamos das metas propostas, dos sonhos de revista técnica e de outras tantas coisas que hoje se tornaram realidade, mas que naquela época eram muito distantes. Como essa experiência foi importante na minha formação, pois muitas vezes eu saía das reuniões refletindo sobre os difícieis caminhos a trilhar e chegava a pensar que éramos uns ‘pirados’ sonhadores, pois vencer tudo aquilo sem nenhum recurso, competindo com entidades já formadas e bem mais estruturadas era inviável. Mas essa experiência me mostrou que é possível alcançar os objetivos com trabalho sério e determinação. Nossa associação era muito mais sonho do que realidade, pois nossa sede era uma gaveta onde colocávamos o livro de atas, algumas cópias dos estatutos, a lista de associados e nada mais. Por muito tempo, o endereço da associação foi o da Sandoz; depois fomos despejados e passamos a viver como nômades, com os livros embaixo do braço. Utilizamos por algum tempo uma sala de reuniões da Hoechst, depois fomos despejados novamente e passamos por mais um local no bairro das Perdizes, até pararmos na pizzaria Paulino, onde nos reunimos por algum tempo, lógico com toda a baixa alta-estima que isso nos causava, pois tínhamos uma série de dificuldades para nos firmarmos como entidade de classe e evoluirmos em direção às metas propostas nos estatutos. As- sim foi durante uns 20 anos; para nós, uma eternidade. Nesse momento da nossa história, vale lembrar a importância da figura do Agostinho Pacheco que, com grande colaboração de sua esposa Sônia, segurou a existência da ABQCT nos fundos do quintal da casa de seu sogro. Em consideração à sua dedicação nessa trajetória, como presidente, eu pedi a aprovação da diretoria da época para que pudéssemos contrata-lo como gerente operacional, com dedicação em tempo integral, na recém inaugurada sede própria. Voltando à pizzaria, numa dessas noites tensas de reunião, onde foi cogitado até o encerramento das atividades da associação, o desânimo e as dificuldades eram intensos. Em meio a esse clima, meu querido amigo Gastão deu uma sacudida no grupo e foi voz catalizadora de um novo ânimo, afirmando que jamais deveríamos fechar ou desistir do nosso sonho; que deveríamos continuar lutando e pensar num plano de revigoramento. Nessa mesma noite, fui convidado a assumir o cargo de presidente. Lógico que para quem pensava em desistir, considerar a possibilidade de assumir a presidência e tentar reverter tudo e motivar o grupo praticamente para um recomeço era um grande desafio. Mesmo assim eu aceitei, sob a promessa de um apoio irrestrito do grupo. A condição imposta era de que comprássemos uma sede imediatamente para marcar a nova era. Foi isso que aconteceu e imediatamente iniciamos a concretização da proposta. Como se pode ver, naquela época não havia eleição. Quando se conseguia compor uma diretoria já era um feito. Daí para frente é uma história mais comtemporânea, conhecida de todos. Poderíamos falar muito mais, mas vamos deixar que outros completem a história. Uma vez superados tantos desafios no espaço e no tempo, culminando com um congresso de alto impacto e uma eleição inédita em nossa história - a primeira disputada por duas chapas de alto nível - me atrevo a dizer que estamos aptos a partir para uma estrutura ainda mais robusta e participativa na capacitação do segmento têxtil brasileiro, buscando intensificar a oferta de serviços às empresas que disputam o mercado internacional, através de áreas de pesquisa, treinamento de mão-de-obra nas mais modernas técnicas em processos, controle de qualidade etc., mais ou menos nos moldes da AATCC, que realiza durante o ano uma série de seminários e simpósios com temas específicos e bem focados. Encerro este depoimento com o desejo forte de que nossa Associação continue cumprindo o seu destino de grandes realizações”. 13 Tecnologia Qualidade Química Têxtil n° 82/mar.06 O que você obtém é o que você vê A loucura de atribuir uma fé cega aos números O uso, aplicação e importância da determinação das cores por meio de instrumentos Dr. B. Glover e Sr. D. T. Parkes - Dyehouse Solutions International* Artigo gentilmente cedido por GIII - Integração Imaginação Ilimitada** Revisão técnica: Rodrigo Chrispim Este artigo é parte de uma série de artigos preparados pelos autores a quatro mãos, antes do muito lamentado falecimento do Dr. Glover. A família do Dr. Glover sente-se honrada pela publicação dos artigos na Colourage e está satisfeita pelo fato de os mesmos serem dedicados à sua memória. David T. Parkes Parte 1. O verdadeiro significado e o valor dos bancos de dados com relação à diferença entre a Gestão Total da Qualidade e o monitoramento da Qualidade Absoluta. 1. Histórico A importância de voltar ao que é básico e otimizar a produtividade de tinturarias foi enfatizada numa publicação anterior da Colourage: "Back 2 Basics" (De volta ao Básico). Este artigo volta ao assunto, expande o tema e se concentra especificamente sobre a cuidadosa utilização da ciência das cores como ferramenta de controle na busca da produção otimizada "Faça certo da primeira vez". No artigo, é considerado o uso de técnicas de ciência da cor no campo de tingimento têxtil. Não se trata de um trabalho teórico baseado na física da cor, mas sim numa observação prática de como as técnicas básicas de determinação da cor são empregadas em situações de grandes volumes. Os princípios aqui discutidos 14 se aplicam a todas as formas de tingimento têxtil, mas todas as experiências práticas relacionadas nos estudos de casos apresentados se relacionam à aplicação de corantes reativos à celulose por esgotamento ou por meio de aplicações contínuas. Após uma revisão de tinturarias em todo o mundo (Ref. 1), foi observado que enquanto alguns utilizam a ciência de cor em particular, e a automação em geral, de forma construtiva que apóie totalmente a iniciativa "Faça certo da primeira vez", existe um número igual de exemplos onde o uso impróprio tem o efeito oposto sobre a teoria do "Faça certo da primeira vez". A automação é um meio de reproduzir um processo ou sistema de processos, de forma automática e com um mínimo de intervenção humana. Ela não é uma ferramenta de resolução de problemas. Exemplos práticos serão ilustrados sobre como pode ser enganosa a expectativa de "resolução de problemas". Neste contexto, se aplica a terceira lei de automação de Otto: Se você tem uma bagunça e a automatiza, então, automaticamente, você irá produzir uma bagunça automatizada. Da mesma forma, a determinação da cor pode ser empregada na indústria têxtil como uma ciência, ou como fonte em potencial de falsas impressões. Química Têxtil - n° 82/mar.06 Tecnologia Qualidade Definições do Dicionário de Inglês Oxford: Ciência: uma ramificação de conhecimento realizada de acordo com princípios objetivos, envolvendo a observação sistemática de fenômenos experimentais. Impressão: uma noção subjetiva ou crença produzida na mente ou sentimentos. 2. Introdução O objetivo da aplicação de cor a um produto têxtil é a produção de uma aparência visualmente melhor e com maior valor agregado. As técnicas de determinação de cor podem fornecer um meio de obtenção de um maior controle sobre esse processo de coloração, mas apenas quando essas técnicas são empregadas de forma sábia e ponderada. De um lado, iriam apoiar o conceito de "Gestão da Qualidade Total" (TQM). Entretanto, a TQM e a qualidade absoluta nem sempre significam a mesma coisa. Mais tarde, chamaremos a atenção para a diferença entre a qualidade total e absoluta. No tingimento "certo da primeira vez", os corantes têm um papel muito importante em dois aspectos do controle de qualidade: - administrando a qualidade e a consistência dos corantes que entram na tinturaria; - sabendo como aplicar os corantes para obter um máximo de desempenho "certo da primeira vez". Assim sendo, este artigo naturalmente se divide em quatro partes: Parte 1: O verdadeiro significado (e o valor) dos bancos de dados com relação à diferença entre a Determinação Total da Qualidade e o monitoramento da Qualidade Total. Parte 2: Uma discussão sobre o uso da ciência das cores na manufatura de corantes reagentes e como isto subseqüentemente impacta o "certo da primeira vez" na tinturaria. Parte 3: Uma discussão sobre o uso da ciência das cores na aplicação de corantes reativos na celulose e na gestão da produção do tingimento. 16 Parte 4: Observações práticas sobre as práticas freqüentemente observadas no mundo real. Os primeiros dois aspectos estão inexoravelmente ligados e constituem determinantes significativas do desempenho "faça certo da primeira vez". A última parte, esperamos que seja uma advertência sobre algumas ciladas em que alguns caíram de forma inadvertida. Antes de entrar no estudo em profundidade, será necessário explorar as diferenças entre Qualidade Total e Qualidade Absoluta. 3. Qualidade Em algumas partes, a qualidade é definida por algumas características intangíveis tais como: tamanho, brilho, toque, aparência da superfície e estabilidade dimensional. Porém, estas são características subjetivas. Qualquer avaliação subjetiva não pode ser quantificada. Se não pode ser quantificada, então não pode ser medida. Se não puder ser medida, então não poderá ser aperfeiçoada (Ref. 2). Vamos então propor essas definições no contexto de tingimento. A qualidade simplesmente significa a conformidade às exigências do cliente. a) Definição de qualidade A Qualidade definida objetivamente Qualidade: conformidade às exigências do cliente Eficiência Falta de Eficiência É a freqüência dos resultados É a freqüência dos resultados que estão em conformidade que não estão em conformidade com as exigências do cliente com as exigências do cliente; e com o desempenho "certo depois do processamento pela da primeira vez" primeira vez. Definida desta forma, a qualidade pode ser: - medida; - monitorada; - e os dados podem formar a base para um programa de melhoria. Assim, qualquer tinturaria (principalmente no setor Tecnologia Qualidade de comissionamento) com uma miríade de clientes, poderia ter diferentes níveis de tolerância para cada um de seus clientes. Uma diferença de tonalidade com relação ao alvo poderia ser perfeitamente aceitável para um cliente, porém inaceitável para outro. A conformidade a requisitos pode ser mais exigente para um cliente do que é para outro. Mas em cada caso, a qualidade pode ser medida pelo mesmo critério - cumprir com os requisitos específicos para a produção pela primeira vez. b) A Determinação da Qualidade Total (TQM) A TQM trata de procedimentos. Os procedimentos chave são: - atenção aos detalhes; - possuir a responsabilidade; - monitorar o desempenho; - resolver problemas na fonte em vez de tentar corrigilos em algum estágio posterior, ou (o que é pior ainda) passá-los adiante na linha de produção. O recebimento de um certificado de TQM (Gestão da Qualidade Total) pela entidade apropriada exige procedimentos por escrito (e acordados) para todos os estágios de: - produção; - documentação; - faturamento; - sistemas de suporte comercial; - recebimento de queixas de clientes; - lidar com queixas de clientes; - responder a queixas de clientes; - monitorar a entrada de matérias-primas; - monitorar a saída de mercadorias; - monitorar a saída de resíduos. Deverá haver procedimentos por escrito a serem seguidos para: - produção; - laboratório; - executivos; - funcionários; 18 Química Têxtil - n° 82/mar.06 - armazenamento; - saída de mercadorias; - auditorias contínuas de qualidade; - correção de erros por desempenho fora da conformidade. Cada procedimento por escrito precisa alocar responsabilidade pelas ações: - a uma pessoa (por função na empresa); - a um grupo de pessoas; - de quem, o quê, onde e como. A TQM (Gestão da Qualidade Total) foi criada para dar consistência dentro de níveis específicos e documentados. Ela declara que (dentro dos limites de uma tolerância especificada) tudo aquilo que foi produzido ontem, será produzido amanhã. 3.3. Especificação de corantes reativos Idealmente, o tintureiro quer sempre receber um corante de qualidade idêntica a cada entrega. Neste sentido, a qualidade se refere à qualidade absoluta. Cada entrega deverá ser idêntica no que tange a: - tonalidade e conteúdo de cor; - força da cor; - desempenho no tingimento. Esse é o conceito de “variância zero” e nos leva a uma discussão do uso da ciência das cores na manufatura de corantes e de como esse conceito impacta subseqüentemente o conceito de “faça certo da primeira vez” na tinturaria (que anteriormente descrevemos como sendo a Parte 1 deste artigo). Em adiantamento à Parte 2, vamos dar uma rápida olhada no mundo real. 4. Uma verificação da realidade Principais pontos a partir das observações da tinturaria Vamos considerar um resumo das principais observações acerca do uso da determinação da cor por meio de instrumentos que os autores observaram na prática. Tecnologia Qualidade Precisamos enfatizar que todas as fontes permanecem rigorosamente anônimas. A confidencialidade é preservada sempre. A síndrome da caixa preta - Os espectrofotômetros são os instrumentos mais comuns em tinturarias. - A maioria das tinturarias dispõe deles e os mesmos são utilizados a cada dia, provavelmente a cada hora. - Portanto, a determinação de cores por meio de instrumentos é uma parte extremamente importante da maior parte das operações de tinturarias. - Mas quão bem entendemos, o que fazem essas caixas pretas? Elas são a coisa mais importante para administrar uma tinturaria, ou elas oferecem uma armadilha ao paraíso dos tolos, implicando a confiança em números que podem não ter fundamento? - Um sistema de determinação de cores não é nada mais do que um tipo específico de microprocessador ou computador. - Tem que ser programado para realizar a tarefa exigida por um ser humano. - A exatidão e a utilidade de um sistema de determinação de cores depende totalmente de seu programador, de seu ajuste, da autenticidade e da qualidade do banco de dados e das equações para diferenciar cores. Todas as equações para diferenciar cores são, na melhor das hipóteses, aproximações. Bobagem que entra = Bobagem que sai O uso de sistemas de gerenciamento de cores - Empregados para tomar decisões do tipo “aprova/não aprova” das tonalidades da produção final antes da apresentação aos varejistas etc. - Correção da tonalidade ou matiz - utilizada para prever a quantidade de corante(s) a ser(em) empregados numa adição de tonalidade para deixar uma produção mais próxima ao padrão. - Previsão de equiparação - produzir receitas de forma a 20 Química Têxtil - n° 82/mar.06 igualar as tonalidades e custos. - Amostras coloridas (ou padrões) são lidas pelo espectrofotômetro e é feita uma impressão da receita a ser empregada. - Estas são obtidas fazendo-se referência ao banco de dados de corantes em estoque e no banco de dados do sistema. - O custo de uma receita geralmente é impresso. Novamente, isso se baseia no banco de dados do sistema. - Freqüentemente (usualmente?) essa receita e os custos são considerados como absolutos e a receita mais barata é a empregada. Esse nível de fé cega é loucura levada ao extremo Entendendo a previsão de igualamento: - De forma a fazer uma previsão, é necessário ter um banco de dados completo do desempenho de cada corante em estoque. - Somente fazendo referência a esse banco de dados é que uma previsão pode ser feita. - A forma como é produzido e gerenciado esse banco de dados é fundamental para trabalhar com acurácia. - Se o banco de dados é pobre ou tem erros inerentes, então qualquer previsão de tonalidade será questionável e poderá se constituir num trabalho de ficção. - O mesmo pode ser verdadeiro quanto ao custo calculado da receita. Bobagem que entra = Bobagem que sai - Além disso, o custo da receita é irrelevante se esta não utilizar a seleção ótima de corantes para o desempenho "certo da primeira vez". A seleção de corantes para "certo da primeira vez" é mais importante do que apenas o custo da receita. - Se a receita não produzir o "certo da primeira vez", o custo de adições de tonalidade e/ou reprocessamento irá ultrapassar em muito quaisquer economias com o custo da receita. Química Têxtil - n° 82/mar.06 Bancos de Dados - O objetivo das previsões de equiparação é a produção de uma receita confiável que irá fornecer a tonalidade desejada no tecido a ser tingido, pelo método de tingimento a ser empregado e pela método mais econômico. - O objetivo não é produzir a receita mais barata. O objetivo é produzir uma produção de tingimento mais barata possível. - O único banco de dados acurado é aquele criado calibrando-se os corantes atualmente em uso, sobre os corantes atualmente em uso e utilizando-se o mesmo método de tingimento. - Qualquer outro banco de dados criado irá conter erros inerentes. Bobagem que entra = Bobagem que sai - Criar um banco de dados confiável é um processo tedioso e demorado. - O acúmulo de dados para cada corante individual em estoque precisa ser estudado em várias profundidades de tonalidade ou matiz. O comportamento acumulado tem que ser medido no espectrômetro em uso, de forma a se definir a aplicabilidade da lei de Beer para cada corante e em que variedade de concentrações de corantes se emprega essa aplicabilidade. A lei de Beer é discutida detalhadamente no corpo principal deste artigo. - Mesmo sendo um trabalho tedioso, é necessário. Esse banco de dados - utilizando corantes calibrados, o mesmo tecido empregado na produção e o mesmo método de tingimento - irá resultar em benefícios e recompensas em termos de produção "certo da primeira vez". Um banco de dados acurado e confiável é um investimento sólido Tecnologia Qualidade não poderemos mais nos basear no banco de dados para a previsão, a não ser que cada corante de cada fornecedor seja calibrado separadamente. - O mesmo é verdadeiro a cada vez que mudar o tecido, cada vez que o método de preparação de tecido for alterado e a cada vez em que o método de tingimento for trocado. - O que começou como sendo um exercício demorado e tedioso, agora assumiu proporções épicas. A maior parte das operações não dispõe de tempo (ou paciência) para investir. Freqüentemente são feitos atalhos, com um impacto negativo sobre a eficiência da produção. - Se os corantes não são (exatamente) os mesmos; se o tecido preparado não é o mesmo; se o método de tingimento não é o mesmo, então não podemos confiar no banco de dados para o "certo da primeira vez". Erros na determinação Existem duas fontes principais de erros: a) variações de como os padrões são preparados, tingidos ou condicionados antes da mensuração; b) como os padrões são apresentados ao espectrofotômetro. Essas fontes de erros são detalhadamente discutidas no corpo principal deste artigo. Atalhos aos bancos de dados e seus perigos Atalho n° 1: - Simplesmente compre a caixa preta e insista com que o fornecedor do hardware ou já tenha instalado um banco de dados ou irá carregar um em seu nome - utilizando seus corantes selecionados, a partir de seu fornecedor específico. - A não ser que isso possa ser feito em sua tinturaria, então haverá erros inerentes no banco de dados. Perigos Corrompendo um banco de dados - Se mudar a fonte de um corante, mesmo se for mantido o mesmo índice de cor, de um fornecedor para outro, - E se o fornecedor do sistema de mensuração de cor simplesmente tirar da prateleira alguma coisa que já foi feita para outro de seus clientes? 21 Tecnologia Qualidade - Isso pode ser garantia do emprego de corantes do mesmo fornecedor, no mesmo tecido ou emprego do mesmo método de tingimento? - Se os corantes, o tecido e o método de tingimento não forem exatamente os mesmos, então as previsões não serão corretas e o tingimento "certo da primeira vez" será reduzido em muito. Atalho n° 2 - Obter um banco de dados do fornecedor de corantes. Perigos - Isso pode ser muito perigoso. - O banco de dados terá sido criado pelo fabricante de corantes em seu próprio laboratório, utilizando seu próprio equipamento e tecido, corado pelo seu método de tingimento padrão. - Não é provável que um fabricante de corantes se dê todo o trabalho de criar um banco de dados exclusivo representando as condições específicas de sua fábrica. - Muito provavelmente será uma coisa já encontrada pronta que conterá erros entre dois métodos de processamento diferentes em tecidos diferentes. - Também existe o risco de que, se utilizando o banco de dados de um fornecedor de corantes, isso amarre a previsão da receita àqueles corantes que o fornecedor prefere (geralmente com base em considerações comerciais de tal fornecedor). Seguir cegamente os detalhes de um impresso de tal sistema anula todo o controle sobre o processo e os corantes do tingidor. O banco de dados não pode ser confiado para a produção "certo da primeira vez" Observações finais Esperamos que este artigo (Parte 1) constitua uma base adequada para a revisão do conteúdo total deste trabalho que continua nas partes 2, 3 e 4. Se preferir receber o trabalho completo na forma de documento único, dirija-se diretamente à Dyehouse Solutions [email protected]. 22 Química Têxtil - n° 82/mar.06 Brian Glover graduou-se do Departamento de Química da Cor da Universidade de Leeds com um doutorado em 1968 e entrou para a Divisão de Corantes da ICI e trabalhou durante vários anos desenvolvendo corantes reativos e dispersos para impressão em materiais têxteis, inclusive envolvendo-se com os primeiros estágios de impressão e transferência de cor por meio de jato de tinta. Tornou-se o chefe de Impressão em Materiais Têxteis em 1978 e, finalmente, gerente internacional de Tecnologia para a então Divisão de Corantes e Pigmentos Finos da ICI. Passou a diretor gerente de uma tinturaria em 1993, e de 1997 a 2002 foi diretor técnico da Yorkshire Chemicals. Durante sua carreira foi o autor de mais de 30 importantes publicações e 35 patentes, viajou e proferiu inúmeras palestras ao longo de sua vida. Foi membro da Sociedade de Tingidores e Coloristas Acreditados com medalhas de ouro e prata e a medalha do Centenário da Sociedade de Tingidores e Coloristas referente ao melhor "trabalho prático e educacional" de 1991. Recebeu o prêmio de Honra ao Mérito da Associação Norte- Americana de Químicos Têxteis e Coloristas de 1988. Foi membro do Conselho Internacional do ETAD.Foi co-editor da revista "Corantes e Pigmentos" e professor visitante e fellow de Ensino Sênior da Faculdade de Design da Universidade de Leeds. Foi presidente da Sociedade de Tingidores e Coloristas e diretor da empresa de consultoria Dyehouse Solutions International. O Dr. Glover faleceu na cidade de Manchester em 8 de Junho de 2005. *Dyehouse Solutions International Tel: +44(0)1706-82-4842 Fax: +44(0)1706-82-4922 E-mail: [email protected] 4 Gleneagles Way, St. Andrews Park; Ramsbottom; Bury; Lancashire BL0 9QN; Reino Unido **GIII - Integração Imaginação Ilimitada Fone/Fax: 11 4152-2185 - [email protected] www.giii.com.br Química Têxtil n° 82/mar.06 Tecnologia Tingimento Tingimento rápido de poliacrilonitrilo pelo método ecológico Washington Vicente dos Santos - Coordenador Técnico da Cassema Corantes Revisão técnica: Rodrigo Chrispim Entre os desafios que se colocam à sobrevivência do homem moderno, o mais relevante diz respeito à preservação de nosso ecosistema. Nesse item, a contaminação do suprimento mundial de água doce tem merecido atenção especial. As indústrias têxteis são geradoras de uma grande quantidade de despejos com resíduos químicos que, se não tratados, irão causar danos ambientais irreversíveis, por serem tóxicos à vida aquática, diminuírem o conteúdo de oxigênio dissolvido e modificarem as propriedades e características físicas dos cursos d’água. Os investimentos em sistemas de tratamento de efluentes com a finalidade de adequar-se à legislação ambiental têm sido constantes e volumosos, refletindo de fato uma preocupação em preservar o que temos de mais valioso: as águas. Muitos dos sistemas de tratamento de efluentes hoje desenvolvidos são biológicos, baseando-se no processo de lodo ativado (bactérias aeróbias) e 90% das indústrias têxteis que beneficiam poliacrilonitrilo utilizam em seus processos retardadores catiônicos a base de amônio quaternarizado, que residualmente prejudicam a ação das bactérias, tornando o tratamento do efluente ineficiente. Produtos químicos auxiliares de tingimento da poliacrilonitrila de última geração e processos de tingimento balanceados permitiram obter redução em até 50% no tempo de beneficiamento desse tipo 24 de fibra, além de tornar o processo compatível com qualquer tratamento de água. O acrílico é uma fibra manufaturada de origem sintética obtida a partir do processamento do petróleo, cuja molécula é composta por átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio e um radical reativo que ativado a uma certa temperatura e pH vai reagir fisicamente com a molécula do corante. Industrialmente, o ciclo de obtenção da fibra é resumidamente o seguinte: Do ciclo de fabricação resultam dois tipos de fibras que no beneficiamento irão ter comportamento tintorial distintos. Como já foi citado, o mecanismo de tingimento funciona através da ativação dos radicais reativos presentes na molécula da fibra, a uma determinada temperatura e pH. Após ativados, esses radicais adquirem afinidade com as moléculas dos corantes e retardante na relação única de 1/1. O processo descrito é físico, portan- Tecnologia Tingimento to, sempre há possibilidade de mover a fixação do corante de uma molécula de acrílico para outra, em casos de tingimentos desigualizados. As fibras acrílicas possuem um ponto de saturação que varia de fabricante para fabricante, conhecido como fator S , que vai de 1,2 a +/- 3,4, representa a capacidade máxima de receber corante que a fibra possui. Já os corantes catiônicos possuem dois fatores que indicam a velocidade de fixação e a concentração molecular do corante, que são: Fator K → Comportamento tintorial do corante, como velocidade de fixação, sensibilidade à dureza de água, pH etc, primordial para a escolha da tricomia mais adequada, escala de velocidade; fixação vai de 1,0 a 5,0. Fator F → Constante do corante utilizado para calcular a quantidade máxima de corante e de retardante que se vai adicionar ao banho de tingimento. Tradicionalmente, se aplicássemos a risca todas essas informações no beneficiamento de uma partida de acrílico, teríamos o seguinte gráfico: Nessas condições de trabalho, teremos um tempo total de tingimento de aproximadamente 4:20 horas, calculando as trocas de banho em 15 minutos cada. O efluente vai conter de 5,0 a 10% da quantidade inicial de amôneo quaternário proveniente do retardante e igualizante, prejudicando a ação das bactérias no tratamento final da água de despejo; o DBO final seria de 600 a 4000 mg/l. Teoricamente, sendo efetuado dessa forma, o beneficiamento não deveria conter nenhum tipo de im26 Química Têxtil - n° 82/mar.06 perfeição como barramento ou desigualização. Ocorre que com a crescente abertura comercial do país, a importação de acrílico em tops, rama ou fibra tornou-se uma alternativa real para as indústrias têxteis, porém muitas dessas fibras não seguem um padrão definido quanto a ponto de saturação, velocidade de absorção, encolhimento, ponto de ruptura etc., o que tornou o tingimento na forma tradicional praticamente inviável por não haver um padrão lógico para se calcular quantidades de produtos auxiliares e gráfico de adição e subida de temperatura. Como hoje é impossível retroagir no avanço da globalização, a solução é adaptar e avançar em relação ao desenvolvimento de produtos químicos e métodos de trabalho que corrijam as imperfeições específicas dessas fibras importadas e ao mesmo tempo avancem para uma melhoria da padronização histórica do beneficiamento desse tipo de fibra, visando atualizar ecologicamente o processo, diminuindo o tempo total do mesmo e reduzindo o volume de água utilizado. Com esses objetivos foi desenvolvido um dispersante, solubilizante, igualizante não-iônico de uso universal, com desempenho especialmente acentuado no tingimento com corantes metalizados e catiônicos. O produto é composto quimicamente pela mistura de álcoois solúveis, dispersante de origem orgânica e produtos de oxietilação. O produto funciona fisicamente, solubilizando e acelerando o movimento das partículas do corante catiônico nos banhos de tingimento, inibindo a fixação precipitada do mesmo e conseqüente surgimento de manchas. Como não exerce ação retardadora, o esgotamento do banho tende a ser de 100%, prevenindo problemas de má reprodutibilidade; o gráfico de tingimento é padronizado de acordo com a procedência da fibra, tipo de corante no banho e equipamento disponível. Química Têxtil - n° 82/mar.06 Obs.: algumas fibras importadas tem seu ponto crítico de tingimento (início da montagem do corante) a 60ºC. Chamaremos o dispersante de Produto Y. Graficamente teremos o seguinte: Tecnologia Tingimento Conclusão Comparativamente, vemos a possibilidade de triplicar a produção dentro da fábrica com um custo muito menor, visto que a tabela acima não contempla a economia de energia, mão-de-obra e manutenção periódica. A vantagem se torna ainda maior se a empresa possuir um tanque adicional para recolher e reutilizar o despejo das cores claras e médias; isso pode ser feito em tinturarias com problemas no abastecimento de água. O trabalho aqui apresentado tem fundamento em testes realizados no laboratório e práticos em produção com 100% de acerto. Cabe obviamente acertos de maquinário para maquinário e diferentes procedência de fibras. Ficamos a disposição para eventuais contatos no sentido de esclarecer duvidas: [email protected]. Para os tingimentos citados, o DBO será de 200 a +/ - 1000; o efluente vai estar isento de produtos que inibem a ação de microorganismos, portanto, ecologicamente atualizado. Os gráficos são ponto de partida para um trabalho mais amplo. Normalmente o gráfico final é montado no laboratório e confirmado na máquina grande, com o auxílio do espectofotômetro de líquidos, ou leitura a laser. Comparativamente teremos o seguinte: ANUNCIE NA REVISTA QUÍMICA TÊXTIL MOSTRE SEU PRODUTO PARA OS PROFISSIONAIS QUE DECIDEM Ligue: 11 - 4195.4931 e-mail: [email protected] acesse nossa página na internet www.abqct.com.br 27 Química Têxtil n° 82/mar.06 Tecnologia Processos Aplicação de enzimas em processos industriais têxteis Renato Teixeira da Cunha - Senai - Cetiqt-RJ; Nei Pereira Jr. - EQ-UFRJ e Carolina M.M.C. Andrade - White Martins Trabalho apresentado no XIX CNTT em setembro de 2000 - Fortaleza CE Revisão técnica: Frederico Vasconcelos 1. Introdução A aplicação de enzimas em processos industriais têxteis começou por volta de 1857, quando extrato de malte foi usado para remover gomas amiláceas de alguns artigos têxteis antes da estampagem. Em 1900, a empresa alemã Diaman Co., de Munique, apresentou a Diastafor, a qual mostrou-se mais eficiente na desengomagem de amido e evitava os danos causados por outros tratamentos como com ácido sulfúrico. Em 1919, as rapidases foram introduzidas no mercado. Essas enzimas causam a transformação do amido em compostos solúveis em água. Desde então, pesquisas foram realizadas para adaptar as radipases às condições de operação industrial (Cegarra, 1996). O uso de enzimas tem se tornado cada vez mais relevante e hoje em dia existe uma grande variedade de aplicações têxteis de enzimas, enquanto que até o início da década de 80 a desengomagem enzimática era o foco das atenções com relação ao emprego da biotecnologia na indústria têxtil. Uma das principais razões para isso tem sido o aumento da consciência ambiental por toda a sociedade. O uso de enzimas em substituição aos produtos químicos normalmente utilizados em alguns processos têxteis reduz consideravelmente o impacto ambiental assim como os danos às fibras. Por se tratar de um tipo de substância relativamente complexa, cujo estudo se dá principalmente em disciplinas ligadas aos ramos de bioquímica, não é muito 38 comum que os profissionais que atuam na indústria têxtil, como técnicos, químicos e engenheiros têxteis, consigam definir sem dúvidas o que são as enzimas, suas propriedades e variáveis que devem ser controladas em suas aplicações industriais têxteis. Isso não ocorre somente no Brasil. Alguns autores de diferentes países têm se preocupado com isso e publicado artigos onde procuram esclarecer esses tipos de dúvidas (Stöhr, R. [1995], Etters, J.N. e Annis, P.A. [1998] e Massao, B.M. e Castellarnau, J.N. [1998]). Neste trabalho será discutida a utilização de enzimas na indústria têxtil, considerando os seus mecanismos de ação, composição e atuação em processos clássicos e em processos recentemente implantados, como também serão apresentados alguns resultados de pesquisas que, embora ainda não tenham gerado aplicações industriais, indicam a tendência do emprego da biotecnologia na indústria têxtil. Também serão discutidas as propriedades mais importantes das enzimas sob o ponto de vista industrial têxtil. 2. Algumas considerações sobre enzimas 2.1. Constituição e estruturas Enzimas são proteínas produzidas por células vivas que atuam como catalizadores das reações bioquímicas que constituem seu metabolismo. Catalizadores são substâncias que, mesmo em pequenas quantidades, são capazes de aumentar a velocidade de uma reação química, Química Têxtil - n° 82/mar.06 Tecnologia Processos não sendo consumidos ou destruidos durante a reação que catalizam. Diferentemente de outros catalizadores, as enzimas exibem especificidade, isto é, catalizam somente um único tipo de reação química. Por serem proteínas, as enzimas são compostas por uma seqüência de várias moléculas de aminoácidos (de 100 a 1000) que formam uma longa cadeia. Todos os aminoácidos formadores de proteínas são constituídos por quatro grupos ligados ao átomo de carbono central (figura 1). Os quatro grupos são: a) um grupo amino (3/4NH2), o qual pode receber um íon hidrogênio, sendo portanto um grupo básico; b) um grupo carboxílico (3/4COOH), o qual pode liberar um íon hidrogênio, sendo conseqüentemente um grupo ácido; c) um átomo de hidrogênio; e d) um grupo "R" que varia de acordo com o tipo de aminoácido (Pelczar et al., 1993). Dois aminoácidos podem se ligar através de remoção de água de suas moléculasformando um dispeptídeo, sendo a união entre eles chamada ligação peptídica (figura 2), enquanto que a un ião de vários aminoácidos forma um polipeptídeo (figura 3). Essa seqüência de aminoácidos constitui a estrutura primária das proteínas. Algumas partes de uma cadeia polipeptídica podem se dobrar em formas específicas como uma fita ou uma mola, enquanto que outras partes podem formar arranjos lado a lado ou outras configurações. Essas formas constituem a estrutura secundária de uma proteína e resultam de ligações hidrogênio entre os grupos polares C=O e -NH ao longo da cadeia (figura 4). A estrutura terciária de uma proteína refere-se ao dobramento global da molécula que adquire uma forma específica semelhante a um emaranhado de fita (figura 5). A combinação de cadeias polipeptídicas constitui a estrutura quaternária das proteínas (figura 6). 2.2. Ação catalítica Uma dada enzima cataliza apenas uma certa reação química. A esse modo de ação dá-se o nome de especificidade. A alta especificidade da função catalítica de uma enzima se deve a sua natureza protéica de estrutura altamente complexa que propicia tanto o ambiente para um mecanismo particular de reação como a capacidade de reconhecer um grupo limitado de substratos, 40 Tecnologia Processos Química Têxtil - n° 82/mar.06 2.3. Classificação e nomenclatura das enzimas Tradicionalmente, eram atribuídos às enzimas os nomes dos pesquisadores que as descobriam. Com a expansão do conhecimento, os sistemas de classificação se tornaram mais abrangentes e complexos. Atualmente, as enzimas são agrupadas em seis classes funcionais pela International Union of Biochemists (IUB): 1) oxidorredutases, 2) transferases, 3) hidrolases, 4) liases, 5) isomerases e 6) ligases. Em grande parte dos casos práticos, continuam sendo usados os nomes vulgares os quais são formados pelo nome do substrato seguido da terminação ase. Por exemplo: - Amilase hidrolisa o amido (amilose e amilopectina) - Celulase hidrolisa a celulose - Lipase hidrolisa gorduras (lipídeos) - Protease hidrolisa proteínas isto é, os compostos sobre os quais as enzimas atuam. Essa região da proteína, que participa diretamente na conversão do substrato em produto, é chamada de sítio ativo (Conn e Stumpf, 1990). O substrato liga-se à enzima no sítio ativo formando um complexo enzima-substrato. Depois disso, ocorre a reação e a liberação dos produtos e a molécula da enzima retoma a sua forma inicial que se ligará novamente ao substrato, dando início a um novo ciclo catalítico (fig. 7). Nestes quatro exemplos de enzimas, as quais possuem aplicações na indústria têxtil, todas são hidrolases e pertencem ao grupo 3 da classificação da IUB. 2.4. Fatores que influenciam a velocidade de uma reação enzimática A atividade de uma enzima é influenciada por vários fatores. A estabilidade da proteína depende do estado de seus grupos ionizáveis e a função do sítio ativo pode também depender disso. Conseqüentemente, a velocidade de catálise freqüentemente depende do pH. Os perfis de atividade em função do pH variam de uma enzima para outra. Um perfil típico para celulases ácidas é mostrado na figura 8A, onde o máximo de atividade ocorre num valor de pH em torno de 5. A temperatura também afeta a atividade de uma enzima. A medida que a temperatura aumenta, a velocidade de reação aumenta, mas, devido à instabilidade da maioria das moléculas de proteínas, a enzima é desativada a temperaturas mais altas (Elliott e Elliott, 42 Tecnologia Processos 1997). Um perfil típico de atividade em função da temperatura para celulases ácidas seria similar ao mostrado na figura 8B. Química Têxtil - n° 82/mar.06 As amilases podem ser divididas em dois tipos principais: α-amilase e β-amilase. Ambos os tipos são similares no sentido de que hidrolizam ligações glicosídicas nas moléculas de amido mas os pontos nos quais as reações ocorrem são muito diferentes. As α-amilases atacam as cadeias aleatoriamente e são designadas como dextrinogênicas ou liqueficantes. As βamilases removem sucessivamente as unidades de maltose a partir das extremidades redutoras e são designadas como sacarogênicas (Peters, 1967). O modo de ação das amilases está esquematizado na figura 9. 3. Aplicação de enzimas sobre fibras celulósicas 3.1. Desengomagem de tecidos de algodão Em processos de desengomagem convencionais, a remoção da goma polimérica é realizada usando-se ácidos ou agentes oxidantes como persulfatos (de sódio, amônio ou potássio) ou peróxido de hidrogênio em meio fortemente alcalino a altas temperaturas, o que danifica as fibras, reduzindo a resistência dos tecidos. Para evitar os danos causados por esses agentes aos tecidos e ao meio ambiente, amilases têm sido amplamente empregadas para a remoção da goma de amido. Atualmente, uma variedade de enzimas amilolíticas encontra-se disponível. As amilases têxteis são classificadas de acordo com sua estabilidade térmica. Amilases de baixa temperatura, 50 a 70ºC, são mais apropriadas para instalações onde há limitação de água quente ou onde a preocupação com encolhimento está presente. Amilases de alta temperatura, 70 a 105ºC, são necessárias para tratamentos contínuos de impregnação-vaporização, onde a temperatura freqüentemente excede os 100ºC. As amilases têxteis são mais eficientes quando usadas entre pH 5,5 e 7,0 e são desativadas em banhos fortemente ácidos ou alcalinos (Stewart, 1996). 44 Quando a goma contém também gordura, esta dificulta a remoção do amido ao mesmo tempo que não pode ser hidrolizada pelas amilases. Então, espera-se que a goma seja removida em processos posteriores de limpeza do algodão. Entretanto, freqüentemente a remoção não é completa, causando problemas nos processos subseqüentes. Lange (1997) mostrou que, quando triglicerídeos forem difíceis de ser removidos adequadamente pelo processo de desengomagem com amilase, a adição de Química Têxtil - n° 82/mar.06 lipase pode resolver o problema muito bem. Os experimentos de desengomagem realizados por esse pesquisador foram conduzidos a 60-80ºC e pH 7, usando uma amilase termoestável em combinação com uma lipase experimental também termoestável. Os triglicerídeos foram quase que totalmente hidrolizados pela lipase, produzindo glicerol, ácidos graxos e mono diglicerídeos. O glicerol é completamente solúvel em água, os ácidos graxos são facilmente removíveis em processos seguintes e os mono e diglicerídeos são conhecidos como eficientes surfactantes ou emulsificadores. Além disso, houve uma influência positiva da lipase na remoção do amido e os tecidos de denim mostraram um toque mais suave e uma maior uniformidade, comparados com tecidos desengomados somente com amilase. Lange, que trabalha para a Novo Nordisk BioChem North America Inc., concluiu que, com as dosagens necessárias para os efeitos descritos acima, produtos de desengomagem melhorados e com custos eficientes brevemente estariam disponíveis no mercado. Em dezembro de 1997, foi lançado o DeniPrime, uma mistura de amilase, lipase e surfactante. 3.2. Limpeza do algodão com enzimas As fibras de algodão, no estado cru, são formadas em média por 94% celulose e os restantes 6% incluem proteínas, substâncias pécticas, ceras graxas e materiais minerais. O material não-celulósico confere às fibras um caráter hidrofóbico e uma coloração amarelada. Os processos de tingimento e estampagem com corantes necessitam que o tecido de algodão se apresente o mais hidrófilo possível para que as soluções coloridas sejam absorvidas uniformemente num grau máximo. Portanto, é preciso remover do algodão o material não-celulósico. A maior parte do material não-celulósico é removida no processo de cozinhamento, o qual produz um material têxtil suficientemente hidrófilo mas ainda um pouco amarelado. Para remover a cor amarelada do algodão e deixá-lo branco, utilizam-se agentes oxidantes, como peróxido de hidrogênio, principalmente, ou Tecnologia Processos hipoclorito de sódio, em meio alcalino, no processo de alvejamento. O cozinhamento e o alvejamento do algodão com enzimas constituem áreas onde muitas pesquisas têm sido realizadas nos últimos anos nas quais lipases, pectinases, proteases, celulases e suas misturas têm sido usadas para melhorar as propriedades dos materiais têxteis. Li e Hardin (1996) estudaram os efeitos da aplicação de pectinases e celulases para melhorar a absorvência de tecido de algodão e concluíram que o uso simultâneo das duas enzimas produz um efeito sinérgico que resulta numa limpeza mais eficiente tanto no tempo quanto na uniformidade do tratamento. Segundo esses pesquisadores, a ação das pectinases cria mais sítios disponíveis na parede primária do algodão para a ação das celulases as quais, por sua vez, criam mais sítios disponíveis na camada de substâncias pécticas para a ação das pectinases. Hartzell e Hsieh (1998) investigaram a capacidade de pectinases, celulases, proteases e lipases de melhorar as propriedades de umectação superficial de tecidos de algodão e relataram que, quando aplicadas isoladamente, as pectinases, lipases e proteases produziram uma melhora muito pequena nas propriedades de umectação e retenção de água. A celulase foi a única enzima que, quando aplicada isoladamente, produziu uma melhora mais apreciável nas mesmas propriedades. Também foi relatado que um pré-tratamento com água a 100ºC melhorou os efeitos das reações das pectinases e celulases sobre algodão, mas não no tratamento conjunto dessas duas enzimas. A maior melhora nas propriedades de umectação e retenção de água com o mínimo de redução de resistência do tecido foi alcançada combinandose um pré-tratamento com água seguido de um tratamento com pectinase. Em abril de 1999, a Novo Nordisk lançou uma nova pectinase alcalina para substituir o processo de cozinhamento do algodão, sendo o processo com enzimas denominado BioPreparation. Lange (2000) declarou que a utilização da nova pectinase é economicamente vantajosa em relação ao cozinhamento alcalino 45 Química Têxtil - n° 82/mar.06 Tecnologia Processos quando o alvejamento for omitido, produzindo nos tecidos de algodão praticamente os mesmos efeitos desejáveis, além de reduzir bastante o impacto ambiental. O uso de enzimas para remover hidroliticamente os componentes não-celulósicos das fibras de algodão pode oferecer grandes vantagens em relação ao processo atual de limpeza alcalina. As temperaturas para reações enzimáticas eficientes são muito menores do que as utilizadas no cozinhamento e alvejamento com peróxido de hidrogênio, conseqüentemente, significando vantagens no consumo de energia. 3.3. Acabamento com celulases As celulases são as enzimas de maior sucesso usadas no processamento têxtil (Cavado-Paulo, 1998). Elas são o principal motivo do setor têxtil ocupar atualmente a terceira posição na classificação "Enzimas Técnicas" da Novo Nordisk, o maior produtor mundial de enzimas. Suas principais aplicações têxteis são os processos de Bio Polishing e Stone Washing. 3.3.1. Modo de ação das celulases As celulases são sistemas enzimáticos multicomponentes comumente produzidos por fungos e bactérias. Esses microorganismos secretam celulases com a finalidade de quebrar a celulose até glicose, a qual pode ser usada como nutriente. O mecanismo tradicional proposto para a ação da celulase está ilustrado na figura 10. As endoglucanases (EG), ou endocelulares, hidrolizam os polímeros de celulose aleatoriamente ao longo das cadeias, preferencialmente atacando as suas regiões internas. As celobioidrolases (CBH), ou exocelulases, atacam as extremidades dos polímeros e produzem principalmente celobiose (Kumar et al., 1996), num modelo do tipo exo. Esse é um modelo interessante o qual prediz que as celulases trabalham juntas na mesma cadeia de celulose, seqüencialmente "descascando" uma cadeia de cada vez a partir da superfície. Isso explica o fato de que o grau de polimerização e a cristalinidade da celulose per46 manecem praticamente constantes durante todo o processo, alterando-se somente nos estágios finais da degradação (Lee et al., 1983). Os três tipos de componentes da celulase atuam de forma sinérgica na degradação da celulose a glicose. Entretanto, esses efeitos sinérgicos não são sempre desejáveis em aplicações têxteis, uma vez que a completa degradação das fibras celulósicas pelas celulases não é o resultado final desejado. Recentes avanços na biotecnologia têm levado ao desenvolvimento de composições de celulases, preparadas de acordo com as aplicações específicas, usando uma variedade de técnicas de separação e de melhoramento de linhagens. Essas composições podem trazer benefícios aos tratamentos com celulase com mínimos efeitos prejudiciais (Kumar et al., 1996). 3.3.2. Stone washing Nos últimos anos, novos artigos têxteis, geralmente de algodão, com uma aparência característica de bastante uso, têm se tornado populares. O efeito é obtido submetendo-se a peça confeccionada, cujo tecido ou fio tenha sido tingido com corantes ao enxofre, reativos ou índigo, à ação erosiva da pedra-pomes numa máquina Tecnologia Processos de lavar na presença de um oxidante, normalmente permanganato de potássio. O tratamento resulta numa descoloração irregular e, portanto, num aspecto "usado" (Cegarra, 1996). Ao invés de abrasão física, pode-se usar celulases para produzir efeitos similares com algumas vantagens. A ação dessas enzimas pode causar um ataque superficial controlado sobre a fibra, resultando na descoloração irregular sem perda excessiva da resistência do tecido. As celulases utilizadas atualmente pertencem principalmente a dois grupos: celulases neutras, de Humicola insolens, com máxima atividade a pH 7, e ácidas, de Trichoderma reseei, com máxima atividade a pH 5 (Cavacco-Paulo, 1998). 3.3.3. Bio-polishing O nome Bio-polishing foi adotado pela Novo Nordisk para esse tipo de acabamento de tecidos de algodão com celulases. O objetivo desse processo é eliminar as microfibrilas superficiais da fibra de algodão através da ação de celulases. Os componentes do complexo enzimático catalizam uma hidrólise controlada da celulose, consolidando as microfibrilas superficiais, deixando livre a superfície das fibras e conferindo uma aparência mais uniforme. A ação enzimática enfraquece as fibras levantadas do tecido mas não as separa do fio, sendo necessária a ação mecânica do equipamento utilizado no processo para completar o trabalho. O efeito desse tipo de acabamento depende, além da ação mecânica, de outras condições de aplicação da celulase: pH, temperatura e tempo de tratamento. As principais características dadas aos tecidos de algodão são: superfície mais limpa, maior brilho das cores, toque mais suave e maior resistência à formação de pilling (pequenas bolinhas que se formam na superfície do tecido). Esse tratamento é uma etapa obrigatória para o acabamento de fibras de Lyocell para eliminar a fibrilação que ocorre durante os tratamentos de acabamento a úmido de peças confeccionadas. As celulases ácidas têm sido as mais apropriadas para essa finalida48 Química Têxtil - n° 82/mar.06 de devido a sua capacidade de dar um alto grau de desfibrilação em tempos de processo curtos e com dosagens relativamente baixas. Tecidos feitos exclusivamente com Lyocell são muito resistentes, de modo que a perda de resistência resultante do tratamento enzimático é geralmente irrelevante. Entretanto, a perda de resistência pode tornar-se um fator crítico em tecidos compostos por misturas de Lyocell com fibras de algodão, viscose ou linho, as quais perdem resistência num grau mais alto que o Lyocell durante um processo padrão de acabamento. Kumar et al. (1996) estudaram o desempenho de três composições de celulases ácidas produzidas pela Genencor International no acabamento de tecidos 100% Lyocell e de suas misturas. A primeira composição era uma celulase total (mistura com atividades endo e exo) e as outras duas composições eram celulases endo enriquecidas com diferentes atividades endoglucanásicas. Os principais resultados desse estudo encontramse resumidos na tabela 1. Desse trabalho, seus autores concluíram que a seleção mais apropriada de celulases para uma dada aplicação é função de muitos fatores como as características de desempenho das enzimas, compatibilidade de processo e o custo total de processamento. Isso somente pode ser determinado através da avaliação do desempenho de diferentes enzimas na própria aplicação pretendida, em contraposição à extrapolação de desempenho a partir de dados bioquímicos de ensaios de atividades. 3.4. Alvejamento de denim com lacases Hoje em dia, o uso mais importante para o corante índigo é o tingimento de denim (ou jeans). A razão para a cor azul intensa do índigo é o sistema de ligações duplas conjugadas entre as duas carbonilas. Para remover a cor azul e obter um efeito de "usado" ainda mais pronunciado do que com o processo stone wash, a conjugação (cromóforo) tem que ser quebrada. Uma das formas de se fazer isso é através da clivagem oxidativa da ligação dupla entre os dois sistemas de anéis indóis, produ- Tecnologia Processos zindo duas moléculas de isatin (figura 11). Essa oxidação ocorre durante o processo de alvejamento. Tradicionalmente, o alvejamento de denim tem sido realizado com hipoclorito de sódio. Trata-se de um agente de alvejamento muito severo que é obviamente necessário para destruir a estrutura estável do índigo. O processo é barato e agressivo mas ao mesmo tempo rápido e eficiente. Entretanto, apresenta uma série de inconvenientes: é relativamente difícil de controlar, isto é, difícil de alcançar o mesmo nível de alvejamento em diferentes lotes, e quando o nível de alvejamento desejado é alcançado, a faixa de tempo disponível para parar o alvejamento é muito estreita. Além disso, o hipoclorito pode causar danos à celulose, resultando em severa perda de resistência. Finalmente, produtos químicos para alvejamento com cloro estão sendo abandonados devido ao risco e ao fato de que compostos aromáticos clorados sejam formados. A Novo Nordisk desenvolveu uma tecnologia chamada DeniBleach, baseada numa lacase e num mediador (um composto orgânico de baixo peso molecular que faz a mediação de transferência de elétrons do índigo ao oxigênio molecular). A tecnologia enzima/mediador utiliza a capacidade de certos compostos de transferir 50 Química Têxtil - n° 82/mar.06 elétrons sobre distâncias relativamente longas e dessa forma desvia-se do problema do índigo sólido não ser acessível ao sítio ativo da lacase (Kierulff, 1997). O processo é realizado a pH 6 a 65ºC, entre 15 e 20 minutos. A figura 12 ilustra o mecanismo no qual a tecnologia DeniBleach se baseia. Além da aplicação regular como uma alternativa à técnica de alvejamento com hipoclorito, a tecnologia DeniBleach pode ser usada para se conseguir uma "abrasão melhorada", a qual só se conseguia com o uso Tecnologia Processos de uma combinação de enzimas e pedra-pomes. Com o uso de lacases não há necessidade de se utilizar pedrapomes para se obter um alto nível de efeito abrasivo, o qual se consegue sem agredir o tecido. 4. Aplicação de enzimas no processamento da lã 4.1. Morfologia da lã A lã é uma fibra natural complexa composta principalmente por proteínas (cerca de 97%) e lipídios (cerca de 1%), sendo um substrato ideal para enzimas como proteases e lipases. A fibra de lã é formada por duas partes morfológicas: a cutícula, que consiste de células sobrepostas na forma de escamas, e o córtex, que constitui a zona interna mais corpulenta da fibra. Ligações cruzadas são a principal característica da cutícula, devido ao alto teor de resíduos de cisteína que formam ligações dissulfeto entre as cadeias. A barreira difunsional (para moléculas de corante, por exemplo) é conseqüência principalmente do caráter hidrófobo da cutícula causado por essas ligações dissulfeto e pelo material lipídico ligado. Conseqüentemente, os processos de pré-tratamento modificam fundamentalmente a composição e a morfologia da superfície da fibra de lã. As proteases e as lipases catalizam a degradação de diferentes componentes da fibra de lã, tornando difícil o controle da reação. Uma vez difundidas no interior da fibra, as proteases hidrolizam partes da cutícula e as pro- 52 Química Têxtil - n° 82/mar.06 teínas no córtex, danificando completamente a fibra de lã caso o processo não seja rigorosamente controlado. A figura 13 mostra fibras de lã rompidas e células do córtex liberadas pela ação não-controlada de enzimas proteolíticas. Portanto, é desejável restringir a ação enzimática à superfície da fibra (Heine e Höcker, 1995). 4.2. Tratamento antiencolhimento Uma das propriedades intrínsecas da lã é sua tendência a filtragem e encolhimento. O caráter hidrófobo e a estrutura escamosa da superfície da lã são os principais fatores que causam essas alterações na fibra quando submetida à ação mecânica em meio aquoso. Os processos de tratamento antiencolhimento modificam a superfície da fibra, aparando as escamas, tanto por métodos oxidativos como redutivos, seguidos ou não de aplicação de resinas. O processo industrial mais freqüentemente usado é a cloragem da lã seguida de aplicação de resina. A cloragem oxida os resíduos de cistina a resíduos de ácido cisteico na superfície da fibra, permitindo que a resina catiônica se espalhe e adira na superfície da lã. Entretanto, a cloragem produz compostos clorados ambientalmente indesejáveis. Conseqüentemente, tem havido uma crescente demanda para alternativas ambientalmente amigáveis, o que tem resultado num grande número de pesquisas em processos utilizando enzimas. O problema principal com processos enzimáticos é a dificuldade de se conseguir uma superfície com um toque uniforme sem uma perda de resistência significativa (Stöhr, 1995). Por isso, muitos processos publicados recentemente são combinados, usando-se agentes oxidantes seguidos de tratamento enzimático. A um processo usando permanganato de potássio como agente pré-oxidante e um subseqüente tratamento com protease foi atribuída a completa remoção das escamas e uma certa resistência à formação de pilling em tecidos de lã (Heine e Höcker, 1995). A figura 14 mostra o aspecto das escamas de fibras de lã antes e depois do tratamento controlado com proteases. Química Têxtil - n° 82/mar.06 Além das proteases, outras enzimas têm sido pesquisadas. A enzima PDI (protein disulphide isomerase), a qual rearranja as ligações dissulfeto, foi aplicada a tecido de lã, resultando na ausência de encolhimento. Também, a aplicação de transglutaminase, a qual introduz ligações cruzadas adicionais, foi descrita como tendo aumentado a resistência ao encolhimento e à formação de pilling (Heine e Höcker, 1995). Tecnologia Processos enzimaticamente e se não forem completamente degradadas e removidas dos artigos têxteis, podem levar a tingimentos e estampagens desigualizados. O material vegetal é normalmente removido por carbonização, um processo no qual o tecido é impregnado com ácido sulfúrico que carboniza as impurezas celulósicas, as quais são removidas por escovagem e sucção. A substituição da carbonização pelo uso de enzimas como celulares e ligninases está sendo investigada com o objetivo de reduzir o dano à fibra de lã, a carga do efluente e o consumo de energia. A Sandoz desenvolveu um processo baseado numa complexa combinação de enzimas sob condições particulares. O tratamento é muito eficiente e causa menos danos às propriedades das fibras (Cegarra, 1996). 5. Aplicação de enzimas no processamento da seda 4.3. Melhora da brancura e do brilho Outro fator importante no pré-tratamento da lã é a melhora da brancura e do brilho. Conseqüentemente, o alvejamento é necessário principalmente quando se deseja tingir em cores pastéis. Usando-se proteases, sozinhas ou combinadas com peróxido, o grau de brancura e a hidrofilidade são aumentados, comparados com o tratamento oxidativo sozinho. Levene (1997) mostrou que o alvejamento da lã pode ser melhorado não somente com proteases e peróxido, mas também com proteases e agentes redutores como bissulfito e ditionito de sódio, mas, qualquer que seja a combinação com proteases, o aumento da brancura é acompanhado de perda de peso e resistência. Esse pesquisador também relatou que o alvejamento redutivo da lã com bissulfito de sódio a pH 6,5-6,9 na presença de papaína é potencialmente um processo barato e rápido, comparado com o alvejamento com peróxido, mas ainda necessita de otimização. 4.4. Carbonização da lã As impurezas naturais da lã, tais como material vegetal e lascas de pele, também podem ser modificadas A seda bruta é composta principalmente de dois materiais protéicos: fibroína e sericina. Além desses dois materiais, a seda contém outras impurezas naturais tais como gorduras, graxas, sais inorgânicos e material colorido. A goma da seda, isto é, a sericina, é um material protéico áspero e amarelado, constituído de 15 a 17 aminoácidos diferentes, que envolve e protege a fibroína. O toque áspero e a aparência fosca são indesejáveis num tecido de seda. Além disso, a presença de sericina interfere na eficiência do alvejamento e também leva a tingimentos não uniformes. Por isso, a sericina precisa ser removida da seda e o processo de remoção é conhecido como desengomagem. Após esse processo, a seda torna-se lustrosa e desenvolve um toque acetinado. Vários métodos são usados para desengomar a seda. Shukla et al. (1992) compararam os métodos de desengomagem em meio ácido, meio alcalino, com água à fervura simplesmente, com detergentes sintéticos e com enzimas e concluíram que este último conduziu a melhores resultados. No método com enzimas, as amostras de seda foram fervidas em água por 10-15 minutos e depois tratadas com papaína a 60ºC durante uma hora a pH neutro. Depois disso, as amostras foram lavadas e 53 Química Têxtil - n° 82/mar.06 Tecnologia Processos tratadas com sabão e finalmente lavadas novamente e secas. Esse método dá os melhores resultados de desengomagem com a menor perda de resistência e é definitivamente o método preferido. Mais recentemente, a Sandoz informou que a aplicação da protease Bactosol S1, combinada com alvejamento com peróxido de hidrogênio na presença do detergente Sandoclean PC, produz uma desengomagem de sericina em uma hora. Todos os parâmetros do processo devem ser cuidadosamente controlados para evitar o ataque na seda propriamente dita (Cegarra, 1996). 6. Remoção de peróxido de hidrogênio com catalase O peróxido de hidrogênio residual pode ser problemático para as operações de tingimento. Alguns corantes, especialmente os reativos, são sensíveis a agentes oxidantes e conseqüentemente mesmo quantidades muito pequenas de peróxido de hidrogênio podem causar um certo risco de oxidação, resultando na perda de rendimento do corante e em alterações na cor. Atualmente três processos clássicos são utilizados para eliminar o peróxido de hidrogênio residual: enxágües, agentes redutores e catalase. A seqüência de cada processo, desde o final do alvejamento até o início de tingimento é a seguinte: No processo com agentes redutores, onde geralmente bissulfito de sódio ou hidrossulfito de sódio são utilizados, o tempo e o consumo de água são inferiores aos do processo por enxágüe. A reação para o processo com hidrossulfito de sódio é a seguinte: 3 H202 + Na2S2O4 - Na2SO4 + H2SO4 + 2 H2O Entretanto, há algumas desvantagens desses produtos comparados ao uso de catalase. A neutralização é uma reação redox que gera sais como produtos finais que terminarão no efluente da indústria. Também, essa reação é conduzida a altas temperaturas para acelerar o processo, levando a um consumo maior de energia. Finalmente, a presença residual de agentes redutores no banho de tingimento também pode afetar os corantes. No processo com catalase, o peróxido de hidrogênio é transformado em oxigênio molecular e água e a enzima não tem nenhum efeito sobre as fibras têxteis nem sobre os corantes (Schmidt, 1995). O processo com catalase pode ser realizado a temperaturas de 20 a 55ºC; numa ampla faixa de pH, de 6 a 10; em tempos curtos de 10 a 20 minutos e o tingimento pode ser conduzido no mesmo banho após o tratamento. O uso de catalase resulta em economia de tempo e energia em relação aos processos por enxágües e com agentes redutores, sem a formação de subprodutos prejudiciais ao meio ambiente. Enxágües: alvejamento - enxágüe - enxágüe - enxágüe - tingimento Agentes redutores: alvejamento - agente redutor - enxágüe - tingimento Catalase: alvejamento - enxágüe - catalase/tingimento O processo por enxágües necessita de uma grande quantidade de água e as últimas quantidade de peróxido de hidrogênio e a alcalinidade são muito difíceis de serem eliminadas. Além disso, o tempo de processo é muito longo, com tempos de drenagem e enchimento das máquinas entre 15 e 30 minutos por ciclo de enxágüe. 54 7. Conclusão O uso de enzimas no processamento têxtil tem crescido rapidamente. A desengomagem do algodão com enzimas é uma aplicação que data de meados do século XIX, mas todas as outras começaram a se desenvolver nas últimas duas décadas. A grande vantagem operacional dos processos enzimáticos é que, na maioria dos casos, eles podem ser imediatamente conduzidos nos equipamentos já existentes nas plantas industriais têxteis, agilizando a transferência dos processos em escala de laboratório para os de escala industrial. Com base nas pesquisas atualmente desenvolvidas Tecnologia Processos no campo do pré-tratamento, parece que o próximo alvo deverá ser o processo enzimático para o alvejamento do algodão, considerando que a substituição do cozinhamento já é uma realidade desde que as enzimas para o processo BioPreparation foram disponibilizadas no mercado, em 1999. Os processos enzimáticos representam uma direção importante a ser seguida pela tecnologia têxtil. A tecnologia enzimática, além de ser ambientalmente amigável, altamente específica e acessível cada vez mais a um número maior de processos de acabamento têxtil, permite a produção de produtos finais de melhor qualidade com relação ao aspecto visual, ao toque e às propriedades de resistência. "Não há nenhuma área de pesquisa têxtil mais excitante ou vigorosa do que o processamento enzimático de materiais têxteis. Essa nova e impetuosa área de pesquisa continuará a ter um profundo impacto na nossa bem madura indústria têxtil" (Etters, 1998). 8. Bibliografia 1. Cavaco-Paulo, A. (1998). Processing textile fibres with enzymes: an overview. In Enzyme Applications in Fiber Processing. ACS Symposium Series 687, 180-189. 2. Cegarra, J. (1996). The state of the art in textile biotechnology. Journal of the Society of Dyers and Colourists, 112, November, 326-329. 3. Cegarra, J. (2000). Biotecnologia aplicada aos processos de química têxtil. Química Têxtil, 58, março, 5-14. 4. Conn, E.E. e Stumpf, P.K. (1990). Introdução à bioquímica, 4ª ed., Editora Edgard Blücher Ltda. 5. Elliott, W.H. e Elliot, D.C. (1997). Biochemistry and molecular biology, Oxford University Press. 6. Etters, J.N. (1998). Textile enzyme use: a developing technology. American Deystuff Reporter, May, 180-23. 7. Hartzell, M.M. e Hsieh, Y. (1998). Enzymatic scouring to improve cotton fabric wettability. Textile Research Journal, 68(4), 233-241. 8. Heine, E. e Höcker, H. (1995). Enzyme treatments for wool and cotton. Review of Progress in Coloration, 25, 56 Química Têxtil - n° 82/mar.06 57-63. 9. Kierulff, J.V. (1997). Denim bleaching. Textile Horizons, 17(5), oct./nov., 33-36. 10. Kumar, A., Purtell, C. e Yoon, M.Y. (1996). Customised-enzyme treatment of lyocell and its blends. International Dyer, 181 (10), 19-23. 11. Lange, N.K. (1997). Lipase-assisted desizing of woven cotton fabrics. Textile Chemist and Colorist, 29(6), 23-26. 12. Lange, N.K. (2000). BioPreparation in action. International dyer, 185(2), 18-21. 13. Lee, S.B., Kim, I.H., Ryu, D.D.Y. e Taguchi, H. (1983). Structural properties of cellolose and cellulase reaction mechanism. Biotechnology and Biuoengineering, 25, 33-51. 14. Levene, R. (1997). Enzyme-enhanced bleaching of wool. Journal of the Society of Dyers and Colourists, 113, July/August, 206-210. 15. Li, Y. e Hardin, I.R. (1996). Enzymatic scouring of cotton. In Book of Papers, AATCC Conference, Nashville, 87-100. 16. Massao, M.B. e Castellarnau, J.N. (1998). La revolución bioindustrial llega al textil (parte I). Revista de La Industria Textil, 359, junio, 70-80. 17. Pelczar Jr., M.J., Chan, E.C.S. e Krieg, N.R. (1993). Microbiology: concepts and applications, McGraw-Hill, Inc. 18. Peters, R.H. (1967). Textile chemistry. Vol. II, Elsevier Publishing Company. 19. Schmidt, M.G. (1995). Bleach cleanup with catalase. In Book of Paper, AATCC Conference, Atlanta, 248255. 20. Shukla, S.R., Patel, R.S. e Saligram, A.N. (1992), Silk degumming process: a comparison of efficiencies. Americam Deystuff Reporter, September, 22, 24,81. 21. Stewart, C.W. (1996). Enzyme finishing technology. In Book of Paper, AATCC Conference, Nashville, 212217. 22. Stöhr, R. (1995). Enzymes - biocatalysts in textile finishing. Melliand International, (4), 261-264. Química Têxtil n° 82/mar.06 Nanotecnologia Têxteis inteligentes Dr. Ing. José Cegarra Sánchez - Professor Emérito da Universidade Politécnica da Catalunha e Acadêmico da Real Academia de Ciências e Artes da Espanha Artigo publicado na "Revista de la Industria Têxtil" - Espanha Tradução: Agostinho S. Pacheco - ABQCT Revisão técnica: Rodrigo Chrispim Neste artigo apresentamos diferentes realizações dos denominados tecidos ou prendas inteligentes. A introdução diz porque a indústria têxtil dos países ricos necessita do desenvolvimento desses artigos, mesmo que em fase inicial, para poder competir no futuro com os países em fase de desenvolvimento. Desse modo, se expõe a amplitude que se dá ao conjunto de tecidos ou prendas inteligentes. Os procedimentos para se obter tecidos ou prendas inteligentes podem ser classificados em três classes: microencapsulados, eletrônicos e nanotecnológicos. Neste estudo, trataremos somente dos primeiros. As diferentes modalidades expostas neste trabalho são: antimicrobianos, frescos, têxteis cosméticos, fotocrômicos, termocrômicos, para a segurança da saúde e a comunicação, contra a radiação ultravioleta, polisensuais e eletrônicos. os tecidos incluídos no que poderíamos considerar como "tecnologias emergentes", são tecidos com propriedades muito peculiares, destinados a confecção de prendas internas e principalmente externas de vestir, desportivas, lúdicas e militares, obtidas mediante o emprego dos denominados "tecidos inteligentes". Introdução Uma "fibra inteligente" é aquela que pode reagir ante a variação de um estímulo, luz, calor, suor, ferida etc., no lugar onde se produz a variação do estímulo, mas que se comporta como uma fibra normal no local onde este não se produz. Por exemplo, uma fibra inteligente, ante a variação da intensidade de luz, altera sua cor, segundo a intensidade desta; outra, sensível ao suor, emite substâncias capazes de combater os efeitos deste. Quando se fabrica um tecido com essas fibras, este adquire as propriedades das fibras que o compõe e tornase conhecido como "tecido inteligente". Uma grande Diante da impossibilidade de competir na fabricação de tecidos "comodities", ou tecidos correntes, com alguns países em processo de desenvolvimento, em conseqüência de uma mão-de-obra barata e a instalação de equipamentos ou maquinários modernos, a alternativa da indústria têxtil dos países desenvolvidos se baseia em dois tipos de fabricação: os denominados tecidos “premium” e os de “tecnologias emergentes”. Os tecidos "premium" são tecidos de alta qualidade, tanto por seu desenho como pelo tipo de materiais empregados, e 58 Se centrarmos este estudo nestes últimos, considero que existem duas formas de conseguir o efeito final desejado, que, como veremos mais adiante, em muitos casos pode ser considerado quase ficção científica. Uma delas é mediante o emprego das denominadas fibras inteligentes e a outra, mediante a aplicação posterior de determinados compostos que apresentem os mesmos ou diferentes efeitos do que os obtidos com as fibras inteligentes. Esta última modalidade permite alcançar, em algumas aplicações, efeitos que não são possíveis de alcançar, pelo menos até o presente, com as primeiras. Nanotecnologia maioria desses efeitos é obtida mediante a técnica de microencapsulação aplicada aos têxteis. A microencapsulação é conhecida nos Estados Unidos desde 1968 e aplicada ao papel autocopiante, sem carbono, para formulários comerciais de páginas múltiplas. Posteriormente, nos meados de 1980, se desenvolveu o que poderíamos considerar como a "comunicação olfativa", isto é, envoltórios perfumados para tornar conhecido um determinado perfume, sabonete, amaciante ou detergente. A maioria desses sistemas de publicidade é realizada com tintas contendo microcápsulas que, por sua vez, contém um perfume, o qual é liberado no momento oportuno. As microcápsulas também são aplicadas na cosmética e na enologia. Sua aplicação nos têxteis data do princípio dos anos 1990(1). Microencapsulação Essa técnica permite isolar os compostos ativos mediante uma membrana natural, biopolimérica, de forma esférica, tal qual mostra a Figura 1(2). As microcápsulas de aplicação aos têxteis costumam ter uma membrana de 1mm de grossura, um diâmetro de 5 a 20 mm e uma concentração de produto ativo entre 20 e 45%. O polímero utilizado pode ser natural ou sintético. Entre os primeiros temos o alginatos, a goma arábica etc., e entre os segundos se encontram os derivados da celulose tais como a etilcelulose, a propilcelulose etc. A natureza do material a empregar vem determinada pelo tipo de técnica empregada para sua introdução na fibra e pelas condições do processo. Apesar de seu pequeno tamanho, as microcápsulas proporcionam uma área de aplicação relativamente grande, o que permite uma libera- 60 Química Têxtil - n° 82/mar.06 ção uniforme e adequada dos princípios ativos. O produto ativo encapsulado se libera, seja por ruptura da membrana ou por difusão lenta e progressiva através da membrana, dissolução lenta do polímero da membrana, fricção ou biodegradação. Os métodos para a obtenção das microcápsulas são muito variados e citaremos somente alguns deles: separação de fase, lipossomas e vesículas de agentes ativos, interfacial e polimerização "in situ", coacervação em diferentes formas, extrusão centrífuga, pulverização seca, emulsão etc. Os liposomas são fosfolípidos lineares em soluções alcoólicas e que formam a microcápsula em fase aquosa, encapsulando o princípio ativo, conforme figura 2 (2). As microcápsulas empregadas nos processos têxteis e preparadas na fiação das fibras, por separação de fases, têm um tamanho suficientemente pequeno para que possam passar através dos filtros e orifícios das fiandeiras utilizadas para a extrusão das fibras. Isso permite obter microcápsulas que contenham retardantes de chamas, desodorizantes, perfumes, amaciantes, antioxidantes, absorventes de UV etc. As microcápsulas podem ser aplicadas aos têxteis por foulardagem, pulverização ou por esgotamento em uma solução, sem alterar seu comportamento nem sua cor. Em qualquer desses casos é necessária a utilização de um agente fixador que pode ser acrílico ou poliuretano, sendo sua missão a de fixar a microcápsula no têxtil para que este não seja eliminado durante a lavagem. Durante a lavagem, a ação química dos álcalis e a temperatura podem alterar as microcápsulas e já foram efetuadas melhorias na escolha do agente fixador segundo o tipo de fibras. Assim, no algodão ou poliamida, uma quantidade de 30% das microcápsulas podem permanecer no tecido depois de 10 lavagens. Química Têxtil - n° 82/mar.06 O princípio ativo contido na microcápsula é eliminado sobre a pele mediante a fricção ou pela deformação do tecido durante seu uso. A figura 3 ilustra como atuam as microcápsulas(4). Nanotecnologia rização ou esgotamento de um banho em um processo descontínuo, tal como se efetua com os processos posteriores ao tingimento. Em todos esses casos, é necessária a presença de um ligante para fixar as microcápsulas sobre o tecido, a fim de mante-las depois das lavagens. Esse ligante pode ser um composto acrílico, de poliuretano, de silicone etc. (1). Nesses casos, o tecido pode ser de algodão, seda, lã ou de uma fibra sintética, o que amplia o campo de aplicação das fibras em relação ao indicado anteriormente, podendo-se efetuar a aplicação durante o processo de acabamento do tecido. Tecidos e prendas inteligentes Fibras e tecidos inteligentes Além da definição dada anteriormente, também se pode definir uma fibra inteligente como aquela que, em determinadas circunstâncias, produz um efeito determinado e que em outro tipo de aplicação se comporta como uma fibra normal. As fibras inteligentes podem apresentar o comportamento que as caracteriza devido a incorporação em seu interior de "microcápsulas ou zeolitas"(5). As microcápsulas do tipo orgânico já foram citadas anteriormente. As zeolitas são compostos inorgânicos derivados do silício e em seu interior são introduzidos os compostos ativos sensíveis às variações da luz, temperatura etc. Esses compostos se depositam no interior da fibra. A incorporação das microcápsulas ou das zeolitas no interior da fibra pode ser feita nas diferentes etapas da produção da fibra: a) no processo de polimerização; b) mediante uma emulsão junto com a dissolução ou fusão do polímero, dependendo do tipo de fiação, ficando as microcápsulas retidas na fibra durante a coagulação; c) mediante extrusão de gotas por difusores incorporados à fiadeira(6). Outro tipo de incorporação se dá mediante a aplicação sobre o tecido por foulardagem, indução, pulve- Expostas de uma forma geral como se obtém as fibras e os tecidos inteligentes, passaremos a expor as variedades de ambos que existem atualmente no mercado ou que estão próximos de surgirem. Os tecidos inteligentes podem ser classificados em três categorias: 1. Passivos - são aqueles que mantêm suas características independentemente do ambiente exterior. Ou seja, uma prenda isolante mantém suas características sem influenciar a temperatura exterior. 2. Ativos - são os que atuam especificamente sobre um agente exterior. Por exemplo, um tecido transpirável permite a passagem do suor, mas impede a passagem das gotas de chuva. 3. Muito ativos - são os tecidos que adaptam automaticamente sua funcionalidade às alterações do ambiente. São aqueles que modificarão suas propriedades em relação ao estímulo exterior. Os têxteis inteligentes podem ser obtidos por dois sistemas: a) mediante a aplicação, seja na fibra ou sobre o tecido, segundo expusemos anteriormente, ou; b) mediante o emprego das nanotecnologias, que reservamos para outra publicação. Vários são os efeitos que se pode conseguir mediante o emprego de tecidos inteligentes, obtidos mediante microencapsulamento, os quais exporemos a seguir. 61 Química Têxtil - n° 82/mar.06 Nanotecnologia Tecidos antimicrobianos Esses tecidos têm por efeito a destruição dos microorganismos que penetram nos tecidos depois de uma curta utilização dos mesmos. Esses microorga-nismos, bactérias, fungos e vírus, mediante a presença da umidade e do calor, são os que causam a geração de odores desagradáveis, e, ao mesmo tempo, podem ocasionar a descoloração do tecido. Os agentes antimicrobianos já eram aplicados no antigo Egito para preservar as múmias. Atualmente, o domínio de aplicação dos tecidos antimicrobianos aumentou na medida que o fez a sensibilidade dos consumidores aos problemas causados pelos maus odores. Para obter esses efeitos é necessário que os produtos utilizados penetrem no interior da fibra. Além disso, não devem apresentar efeitos nocivos nem para o meio ambiente nem para o usuário, tal como sucede com a gama Tinosam AM 110 da Ciba Especialidades Químicas, para sua aplicação sobre tecidos, que devem ser resistentes as lavagens repetidas, ou o Tinosam NW 200, para aplicação sobre artigos, que não requerem solidez a lavagem, tal como os produtos de uso único, filtros e nãotecidos. A substância ativa desses produtos é o Irgasan DP 300, um triclosano, empregado há mais de trinta anos em produtos para a pele, dentifrícios, desinfetantes para as mãos e outros produtos de utilização no lar. Por outro lado, o efeito bacteriostático produz uma sensação de frescor ao usuário, se bem que para esta finalidade são usados outros compostos, como veremos mais adiante. São utilizados em prendas interiores e exteriores de esporte, tanto sobre fibras de poliéster, poliamida e suas misturas com algodão e lã, assim como sobre outras fibras(6). Outra forma de atacar o problema dos tecidos antimicrobianos é apresentada pela Trevira GmbH com as fibras bioativas, sob duas formas: a Trevira Perform, para aqueles artigos bioativos de baixo pilling; e Trevira CS, para os artigos dificilmente inflamáveis. Essas fibras são fabricadas com base no fenômeno conhecido de que a presença de íons metálicos impede as bactérias 62 de se multiplicarem. Esse efeito se mantém permanentemente sobre a fibra. No caso da Trevira, são empregados íons de prata como componente ativo para obter o efeito antimicrobiano, sendo possível comprovar que são obtidos excelentes resultados depois de cem lavagens das prendas(7). Em Barcelona, no dia 9 de novembro de 2003, na "Casa Llotja de Mar", teve lugar a apresentação de várias amostras de prendas inteligentes e entre elas a de um manto (xale) confeccionado com Trevira bioativa que impede a multiplicação dos microorganismos e incorpora extratos de algas que fomentam a descontração de quem o usa(11). Tecidos frescos(8) Esses tecidos têm por finalidade aumentar o efeito de frescor, assim como o de oferecer um toque mais agradável e uma boa permeabilidade ao ar. Esse procedimento se baseia na troca de fase dos materiais (CFM) microencapsulados, os quais atuam como minúsculos termostatos. Segundo a aplicação desejada, o ponto de fusão da parafina encerrada nas microcápsulas pode ser calibrado justamente abaixo da temperatura corporal: 35°C no caso de vestidos e 31°C no caso de luvas ou calçados. A medida que as microcápsulas passam do estado sólido para o líquido, elas armazenam ou liberam energia em forma de calor latente, que participa mantendo a temperatura corporal quando o usuário passa de um Nanotecnologia período de atividade física intensa, armazenando calor para um período de repouso e restituindo o calor. Para obter as alterações de fase por liberação da energia corporal são utilizados hidrocarbonetos de elevada longitude de cadeia e elevada cristalinidade, que são capazes de absorver grande quantidade de energia da área que os circunda durante o processo de fusão para liberá-la posteriormente, na mesma área, durante o processo de cristalização. Tanto durante o processo de fusão como durante a cristalização, a temperatura dos CFM como a temperatura da área que os circunda permanecem constantes. A alta transferência de calor durante o processo de fusão, assim como durante o de cristalização sem alteração de temperatura, faz com que esses produtos sejam muito interessantes para o armazenamento de calor. Exemplos desses produtos são o heptadecano e o octadecano com temperaturas de fusão de 22°C e 28°C e de ebulição de 303°C e 317°C respectivamente. Atualmente existem fibras acrílicas e espumas de poliuretano que contêm esses tipos de produtos em seu interior, microencapsulados em esfera de plástico, para evitar sua dissolução durante o estado líquido, mas que também podem ser aplicadas misturadas em forma de emulsão com polímeros empregados no recobrimento têxtil durante o acabamento. Seu campo de aplicação é muito variado, desde vestimentas para astronautas, para operários que trabalham em frigoríficos, para prendas desportivas, sapatos, luvas etc. Como as microcápsulas são diretamente aplicadas sobre a superfície ou no interior das fibras ou tecidos, as prendas, para uma eficiência igual a dos tecidos sem microcápsulas, podem ser mais leves e confortáveis, dado que a transpiração e os fenômenos de condensação no interior do tecido são consideravelmente reduzidos. Esse desenvolvimento foi efetuado por Technologias Outlast nas prendas e sapatos produzidos por cerca de 200 grandes marcas dedicadas a prendas de desportes, tais como Columbia, Nike, Nórdica, Adidas, Rossignol, entre outras. Atualmente estão em desenvolvimento no64 Química Têxtil - n° 82/mar.06 vas aplicações para camisas, calças e roupa interior para verão. A figura 5 mostra esquematicamente o princípio da membrana Outlast(9). A firma Frisby Technologies (10) criou os tecidos Comfortempt utilizando esferas microencapsuladas para absorver o calor e manter regulada a temperatura do corpo em condições ambientais de elevada temperatura. VF Corporation utilizou os tecidos Comfortemp, juntamente com uma fibra sintética patenteada e um acabamento químico para eliminar a umidade, em sua linha de primavera de 2003, pondo no mercado americano as camisas denominadas Cool Look através da firma Wrangler. O tecido Comfortemp é utilizado como entretela no colarinho, punhos das mangas e na parte posterior dos ombros nas camisas para manter esses locais frescos quando a temperatura for elevada. É de esperar que em um futuro próximo apareçam outras firmas na Europa para obter os mesmos resultados, e que seriam bem recebidas sobretudo nos países da área mediterrânea. Como reguladores térmicos, mesmo que não se trate de fibras que incorporem microcápsulas, também é possível empregar fibras que apresentam um recobrimento formado por uma microcapa oca que atua como isolante, propriedade que se potencializa se no seu interior for introduzido circônio ou qualquer outro produto capaz de absorver energia(5). Química Têxtil - n° 82/mar.06 Cosmeto-têxteis Estes têm o mesmo objetivo da cosmética, ou seja, a prevenção da pele contra os agentes externos, que produzem o ressecamento, rugas etc., para manter a boa saúde e a sensação de bem estar. Os elementos que existem em um cosmeto-têxtil são: um produto ativo, um transportador inorgânico, uma membrana e um ligante. As matérias ativas utilizadas podem ser líquidas ou sólidas e são de natureza muito diversa, perfumes, reativos químicos ou bioquímicos, vitaminas, cristais líquidos, extratos de alga Padina Pavonica ou da alga Cyclotella etc. Esses compostos ativos se fixam na pele mediante um ligante, essencial para a durabilidade do efeito cosmético. O simples fato de usar meias ou calças com cosmetotêxteis durante o dia provoca efeitos notáveis sobre a "pele de laranja" (celulite), alcançando valores máximos de diminuição da ordem de 8 a 9% em alguns meses. Outros cosmeto-têxteis aumentam a ação hidratante, diminuindo o efeito conhecido como "pernas pesadas", favorecendo a circulação linfática e diminuindo o inchamento das pernas. Um desses produtos é o Diatex’in-H, que contém extratos da alga Padina Pavonica. Os efeitos podem ser apreciados na figura 6(11). Entre as aplicações com êxito mais recentes podemos citar: as meias hidratantes, refrescantes ou energizantes (Dim); os lenços de seda perfumados (Hermes, Lacôme); roupa interior (Neyret, Playtex); Nanotecnologia pendas de vestir perfumadas (Oliver Lápidus)(12), assim como vestidos que permitem um bronzeado seguro e sem costuras que incorpora um protetor solar, tal como mostra a figura 7 (13-14). Têxteis fotocrômicos(15-16) Um têxtil fotocrômico é aquele que quando é exposto à luz do sol, à luz ultravioleta, luz negra ou outras fontes sua cor se altera. Quando a fonte luminosa desaparece, a cor volta a ser aquela original que é notada sob a luz do sol, efetuando-se rapidamente a alteração. Esses efeitos são obtidos depositando uma série de microcápsulas que contenham agregados de corantes sensíveis à ação da luz, o que permite aumentar a velocidade das reações fotoquímicas que se encontram em fase líquida no interior da cápsula. Os corantes empregados podem ser inorgânicos ou orgânicos, mas os primeiros contaminam o meio ambiente e os segundos não, razão pela qual se prefere estes últimos. 65 Nanotecnologia Entre os corantes orgânicos os baseados na spirosazina são muito empregados por sua resistência à decomposição, terem uma ampla gama de cores, serem miscíveis com os corantes ácidos e poderem ser empregados nos têxteis fotocrômicos de lã, seda e nylon. As microcápsulas contêm o corante de tal forma que não podem ser dissolvidas em sistemas aquosos. Esses corantes exibem cores brilhantes mesmo em dias nublados e sua cor se altera ligeiramente se o dia for muito quente. Os corantes fotocrômicos são muito instáveis em sua forma excitada e por isso um dos principais problemas na preparação de suas soluções é a sua estabilização; sem esta, sua decomposição se produz em poucos dias, mesmo antes de sua aplicação. Os têxteis fotocrômicos podem resistir até aproximadamente trinta lavagens, mas não podem ser alvejados, já que esses corantes são destruídos nessa operação. Sua aplicação costuma ser efetuada mediante estamparia. Essas substâncias são utilizadas para obter têxteis empregados em ações lúdicas, espetáculos, disfarces, vestidos de noite etc.(figura 8). Química Têxtil - n° 82/mar.06 sobre o têxtil pode ser efetuada através das pastas de estamparia, da mesma forma que a estamparia com pigmentos, ou seja, necessitam de um ligante. É possível obter compostos termocrômicos entre temperaturas que oscilam entre -5°C até 70°C. O envelhecimento dessas moléculas é ainda demasiadamente rápido, ao redor de três meses. Têxteis para segurança, saúde e comunicação(13-14) Têxteis termocrômicos(15-16) Um têxtil termocrômico é aquele que quando se altera a temperatura exterior se produz uma alteração de coloração. São obtidos depositando determinados pigmentos, que são indicadores reversíveis de temperatura nas microcápsulas. Quando o pigmento colorido se aquece, torna-se incolor e transparente, dado que a união que existe entre o elétron doador e o receptor é rompida. Dois tipos de tintas termocrômicas foram utilizadas com êxito na indústria têxtil: os cristais líquidos e os corantes em forma de leuco, sendo que os primeiros são os mais empregados. Neste caso, os mais importantes são os denominados de "classe coloestérica e pirolactônica", cujas moléculas são em formato de hélice. O termocromismo resulta da reflexão seletiva do cristal líquido, cuja longitude de onda é governada pelo índice refletivo do cristal líquido e pela pendente da hélice. Em ambos os casos, os corantes são microencapsulados em um dissolvente orgânico e sua aplicação 66 Dentro da Semana Européia da Ciência e Tecnologia, realizada em Barcelona entre os dias 3 e 9 de novembro de 2003, correspondente ao projeto I-wear, financiado pela União Européia, foram apresentados, entre outras novidades de prendas tecnológicas, dois coletes que tinham sido incorporados à tecnologia airbag, que é utilizada em automóveis. Um colete criado para os motoristas da firma Merhav AAP que permite todo tipo de movimento e, em caso de quedas, se infla como um airbag, protegendo o pescoço, a coluna vertebral e o tórax. O outro colete foi desenhado para os ginetes (cavaleiros), de tal forma que em caso de queda lhes protegeria a coluna vertebral. Ante a polêmica criada a respeito da utilização do telefone móvel ser ou não perniciosa à saúde, também foi apresentado um blusão que protege o usuário em mais de 90% das radiações eletromagnéticas, o que aumenta a segurança da utilização do telefone celular. Também foi apresentado uma camiseta que mede os parâmetros vitais de quem a usa, o que a torna muito Nanotecnologia recomendável para pacientes e desportistas, assim como uma atadura (faixa) que reduz o risco de lesão mediante um sistema de sinais auditivos que controla o treinamento dos desportistas. A firma Friendly Sponsor apresentou o "freemover", um cinturão contendo sensores que, junto a um pequeno ordenador, transmite vibrações quando o usuário estiver sentado há muito tempo em uma posição prejudicial para as costas. Outra empresa, a Móbile Assistant de Xybernaut, apresentou um ordenador muito pessoal, composto de diferentes pequenos ordenadores que são usados pelo corpo e cujas telas podem ser levadas no punho, cinturão ou diante dos olhos. O conjunto oferece ao usuário plena liberdade e flexibilidade. 68 Química Têxtil - n° 82/mar.06 Outra apresentação foi a de um colete que incorpora um reprodutor MP3 e permite desfrutar da música enquanto se pratica caminhadas, sem a necessidade de transportar um aparelho externo. Também foi exibida uma jaqueta para mensageiros, que permite uma comunicação constante com a central mediante a transmissão de mensagens curtas (SMS) e outra jaqueta para o médico de urgências, que incorpora um ordenador portátil no qual é possível enviar imagens do local do acidente e do paciente que necessita de atendimento, assim como dos dados de um eletrocardiograma em 12 canais. Mais uma novidade foi uma roupa para bebês que pode alertar aos pais ou aos responsáveis dos hospitais sobre as alterações nos batimentos do coração do bebê, que podem ser sintomas de morte súbita, que no Reino Unido é a causa de 2.500 mortes por ano. Essa roupa foi desenvolvida pela empresa belga Verhaert, de desenho e desenvolvimentos, e é perfeitamente lavável. Como não existem sensores em contato direto com a pele do bebê, não pode causar reações alérgicas. Proteção contra a radiação ultravioleta(18-19) Como conseqüência do aumento da radiação UV, em virtude da diminuição da camada de ozônio, a proteção contra a radiação UV adquiriu grande importância em vários países do hemisfério Sul, tais como Austrália e Nova Zelândia. Na Austrália, o governo tenta aumentar a proteção contra a radiação UV (RUV) mediante campanhas de alerta para a proteção das pessoas através do uso dos cremes protetores, chapéus, óculos solares e utilização de prendas protetoras para evitar danos à pele e o conseqüente câncer de pele. As estatísticas têm demonstrado que em cada ano morrem cerca de mil pessoas em conseqüência da doença. Mesmo que no hemisfério Norte o problema não seja tão importante, os especialistas alertam continuamente para o perigo de exposições prolongadas, sobretudo nas praias depois do banho ou em excursões, aconselhando a utilização de cremes de alta proteção (60). Em outras circunstâncias, é necessária a utilização de Química Têxtil - n° 82/mar.06 tecidos que preservem a pele contra a radiação solar. Os fatores que afetam a RUV dependem de várias circunstâncias e para uma determinada latitude podem ser resumidos nos seguintes: - Na neve, a RUV aumenta cerca de 80%. - A cada 300 metros de altitude a RUV aumenta cerca de 4%. - Cerca de 60% da RUV se produz entre as 10 e 14 horas solares. - A sombra reduz cerca de 50% a RUV. - No interior das residências se recebe somente 1/5 ou 1/10 de RUV exterior. - A areia da praia reflete cerca de 25% da RUV. - Cerca de 95% da RUV penetra até a superfície da água, descendo a 40% na profundidade de 50 centímetros. O fator de proteção é determinado pelo acrônimo UPF (Ultraviolet Protection Factor). Assim, um UPF entre 40/60 significa uma proteção excelente; entre 25/30 uma proteção muito boa e entre 15/24 uma proteção boa. Os fatores que determinam a proteção dos tecidos são: a) O tipo de fibra que varia caso tenha ou não absorvedores de UV. Assim, a variação pode se encontrar ente 79 e 191 para o algodão; entre 60 e 100 para o poliéster/algodão; entre 10 e 74 para o poliéster e entre 16 e 1.115 para o poliuretano. Com essa finalidade, a BASF colocou no mercado uma fibra de poliamida 6 com partículas de titânio finamente divididas que protegem contra a radiação UV, alcançando um nível de proteção no grau de 60, duas vezes superior ao exigido pela Comunidade Européia e mais alto do que a maioria dos cremes protetores. A figura 11 mostra claramente a ação do sistema protetor lançado no mercado pela BASF. Nanotecnologia Algodão Poliéster Cor Branco Azul Negro UPF 12 18 32 Cor Branco Rosa Negro Azul Marinho 37 Vermelho Intenso UPF 16 19 34 29 d) A tensão de tecelagem - quanto maior for a tensão, mais aumenta o UPF e) Conteúdo de umidade - conforme aumenta o conteúdo de umidade, o UPF se reduz, sendo que os tecidos molhados são aqueles que apresentam o menor UPF. Tecidos polisensuais(20-21) Em novembro de 2003, o London College of Fashion mostrou um tecido, produto da investigação de uma tese de doutorado de Zane Bercina, intitulada "Skin Stories: Charting and Mapping the Skin". A investigação se baseia em um conjunto que reúne conhecimentos sobre arte, desenho, biologia e ciência dos materiais, na qual colaboraram biólogos, técnicos em ciência dos materiais entre outros cientistas. A epiderme do corpo humano foi o veículo para criar superfícies têxteis inovadoras. As amostras expostas foram: membranas, papéis sensíveis para recobrimento b) Densidade do tecido - quanto maior for a densidade ou o fator de cobertura, maior será a proteção, podendo variar o UPF entre 36 e 9. c) A cor - muitos corantes absorvem RUV. Na tabela seguinte se pode ter uma idéia de tal variação: 69 Nanotecnologia de paredes, telas sensoriais, peças de arquitetura interativas com a pele, painéis sensíveis para as paredes etc. Na figura 12 mostramos a autora com alguns dos painéis expostos e na figura 13 se encontra um "TouchMe Wallpaper" que é uma membrana têxtil para recobrir paredes e que responde ao calor humano ou ambiental, alterando sua cor, emitindo aromas e regulando a temperatura ambiente dentro de uma residência, com a finalidade de que os que lá se encontram se sintam confortáveis e bem dispostos. Outra amostra denominada "Sensory Screen" tende a representar o sistema nervoso de tal forma que fica impressa marca da epiderme mediante uma alteração de cor, iniciada por estímulos elétricos. É possível controlar a alteração de cor, que revela a forma de atuar o sistema nervoso, mediante o aumento ou diminuição do fluxo da corrente elétrica através do material. Têxteis eletrônicos(22 a 26) Os têxteis eletrônicos devem ter as propriedades de receber, analisar, armazenar, enviar e mostrar os dados de forma visível. O uso total depende da forma como se podem integrar no tecido dois dispositivos: a miniaturização dos componentes eletrônicos e sua união com o tecido, e o desenvolvimento dos têxteis com funções eletrônicas. Existem alguns requerimentos para unir 70 Química Têxtil - n° 82/mar.06 os componentes elétricos ao tecido: a flexibilidade, o conforto, além de sua condutividade. Além disso, as fibras que compõem o tecido devem manter: a funcionabilidade típica do processo têxtil, tais como sua aptidão para a tecelagem, seu uso e flexibilidade. O uso inclui o movimento constante, a tensão produzida por ele, transpirabilidade, calor corporal, elasticidade, conforto, ter pouca resistência ao amassamento etc. Segundo o ETH de Zurich, os componentes de um sistema eletrônico apto para o uso devem ser os seguintes: uma rede unitária para a transmissão de dados entre o computador e a rede externa; uma unidade de sensores para o registro biométrico e os dados do meio ambiente; uma unidade de cálculo, análise e armazenamento de dados; uma unidade para o fornecimento de energia; uma unidade de ação adaptada às situações para criar o efeito sobre o usuário, mostrando-lhe os dados. A primeira prenda incorporando tecnologia eletrônica foi colocada no mercado por Wronz Eurolab Ltd., uma inovação conjunta entre a Wronz da Nova Zelândia, empresa têxtil de lã; Softswitch de Ilkley (Reino Unido), empresa eletrônica e Peratec Ltd., de Darlington (Reino Unido), empresa de polímeros elasto-resistentes com umas propriedades eletrônicas únicas. Atualmente, a Wronz e a Softswitch se fundiram sob o nome de Canesis. O têxtil eletrônico é descrito como um composto "resistente variável", que proporciona um controle sobre dispositivos eletrônicos como um interruptor para abrir/ fechar, de tal forma que mediante a pressão de um dedo o material possa mudar de isolante para condutor. Esse tipo de interruptor apresenta uma gama variada de resistências sob pressão normal, que pode oscilar entre centenas de milhões de ohms até menos de um ohm. Os sensores podem ser incorporados a prendas de vestir, tapetes, paredes atapetadas etc., para controlar a luz, temperatura, segurança etc. Os interruptores podem ser incorporados mediante estamparia, indução e bordados, sendo que a Wronz estudou a possibilidade de incorporar o polímero na produção do fio. A figura 14 mostra o controle de uma prenda de Nanotecnologia "anorak" (blusão) para escutar música e a figura 15 o conjunto completo. Esse conjunto é completamente lavável em máquinas, depois da retirada dos auriculares e do minidisco Sony Walkman. Além dos dispositivos eletrônicos comercializados pela empresa, a Canesis também fabrica dispositivos para outras firmas, tais como Burton Snowboards, Nike, The Nord Face, Infeneon AG, entre outras. Assim, a Burton Snowboards fabrica uma mochila, figura 16, bem como um colete contendo controles eletrônicos de posição(12). 72 Química Têxtil - n° 82/mar.06 A Nike fabricou um colete para comunicações por rádio nos dois sentidos, como sistema de controle para o transporte, tal como se vê na figura 17. Outras empresas também têm se dedicado à inovação no campo dos têxteis eletrônicos. Entre elas, podemos citar a Electro Textiles, radicada no Reino Unido, fabricante de um têxtil suave que combina estruturas têxteis com tecnologia de microchip produzindo um têxtil leve, durável, flexível e competitivo em custo. Seus produtos são dirigidos à telecomunicação, ao automóvel, ao pessoal da área da saúde e ao setor desportivo. Também na Universidade de Brunel (R.U.), o "Desing for Life Center" desenvolveu a tecnologia para um novo tecido sensorial. O tecido é sensível à pressão física de contato e seu custo é o mesmo do que um tecido normal. Esse produto combina o desenho normal com a tecnologia eletrônica. Os interruptores e sensores estão entre tecidos, com o tecido de suporte e a resposta do tecido, está localizada em uma série de pontos sensíveis. O objetivo é a utilização desse tecido em vestidos, lençóis e tapeçaria, sendo ele capaz de efetuar uma ampla variedade de funções para a indústria do automóvel, de cuidados com a saúde e de móveis. O tecido é lavável e sua durabilidade é acima de 100.000 operações. A figura 18 mostra um desses tecidos destinados a teclado de um computador. Nanotecnologia A empresa Gorix Ltd., da Inglaterra, produz têxteis eletrocondutores tais como uma manta térmica para cães e uma cesta térmica para gatos, figura 19, que têm uma resistência hômica muito baixa e se aquece quando se aplica uma voltagem baixa. Outras firmas que também entraram nesse campo dos tecidos eletrônicos são: France Telecom, aplicando fibra ótica, Elektek, Olivetti, entre outras. Materiais com memória de forma(27) Esses materiais são aqueles que podem voltar da forma atual para a que tinham anteriormente, geralmente devido à ação do calor. Essa tecnologia foi desenvolvida pela UK Defence Clothing and Textiles Agency. Quando esses materiais com memória de forma são ativados, o ar contido entre capas adjacentes do tecido se expande, a fim de proporcionar maior isolamento. A incorporação desses materiais em prendas lhes confere uma maior versatilidade em sua proteção contra variações extremas de calor ou frio. As ligas metálicas de memória de forma, tais como as de níquel/titânio, foram desenvolvidas para aumentar Química Têxtil - n° 82/mar.06 a proteção contra fontes extremas de calor. Essas ligas metálicas de memória de forma possuem diferentes propriedades abaixo e acima da temperatura na qual tenham sido ativadas. Abaixo dessa temperatura a liga metálica é facilmente deformada. Na temperatura de ativação a liga metálica exerce uma força para voltar à forma que tinha anteriormente e se torna muito mais rígida. A temperatura de ativação pode ser escolhida mediante a alteração das proporções na liga metálica entre o níquel e o titânio. As ligas metálicas de cobre e zinco são capazes de duas formas de ativação e, portanto, podem produzir a variação reversível necessária para a proteção contra condições de tempo muito alternantes. Na prática, as ligas metálicas de memória de forma têm a forma de uma mola. A mola é plana na temperatura de ativação, mas se estende ao ultrapassar essa temperatura. Através da incorporação dessas ligas metálicas entre as camadas de uma prenda, a distância entre elas pode ser incrementada notavelmente ao ultrapassar a temperatura de ativação, melhorando a proteção contra as fontes externas de calor. Para a aplicação nos tecidos, a temperatura de ativação escolhida deve ser próxima a do corpo humano. Polímeros com memória de forma possuem o mesmo efeito das ligas metálicas anteriormente citadas. Assim, lâminas de poliuretano foram incorporadas entre camadas adjacentes de um tecido. Quando a temperatura da camada exterior do tecido desce suficientemente, a resposta da lamina de poliuretano é de tal forma que a distância entre as camadas do tecido aumenta, com o que o isolamento se torna superior e o usuário se sente mais aquecido. A Mitsubishi Heavy Industries desenvolveu uma nova série de tecidos, comercialmente denominados Diaplex, muito flexíveis, destinados a prendas exteriores, baseados nos polímeros com memória de forma. Esses tecidos são uma resposta para as prendas de esportes ao ar livre e se adaptam às condições extremas de temperaturas, tanto frias como quentes, sendo, além disso, impermeáveis à água e ao vento e transpiráveis(28). 74 Nanotecnologia Química Têxtil - n° 82/mar.06 Outros materiais funcionais(27) Camisas e camisetas protetoras (29-30) Entre esses novos materiais se encontram as marcas comerciais patenteadas "Stomatex" e "Hydroweave". Essas prendas foram desenhadas pensando na proteção dos soldados no campo de batalha ou em missões de paz, nas quais eles possam correr alguns riscos. Em geral, podemos dizer que algumas dessas prendas reúnem, além do efeito de proteção, o de ser protetoras contra o calor e o frio, tal como vimos anteriormente, e sua flexibilidade o que as torna confortáveis. Se nos concentrarmos no efeito de proteção, podemos dizer que essa prenda também proporciona a possibilidade de localização do soldado, no caso de que a proteção não tenha sido suficiente, dado a força do impacto de uma bala ou qualquer outro golpe recebido, e fosse necessário conhecer a posição onde se encontra o soldado para acudir em seu socorro imediato, antes de ser transportado para um hospital de campanha. Isso requer a utilização de circuitos elétricos nas prendas, que podem ser impressos utilizando uma técnica similar à da estamparia. A utilização desses circuitos requer o fornecimento de energia, a qual pode ser obtida mediante células solares integradas no equipamento do soldado. A energia fornecida serve também para alimentar um pequeno rádio situado na gola da camisa, que é usado para manter seu contato com a base para sua localização. O exército americano está trabalhando em tais inovações dentro de seu programa "Future Warrior Program", que além disso inclui a identificação de bactérias e gases tóxicos com tempo suficiente para sua neutralização. Essa nova tecnologia aplicada às camisas ou camisetas de soldados implica na utilização de sensores aplicados, por um lado ao corpo do soldado e por outro na camisa ou camiseta. Esses sensores funcionam como uma placa, com fibras óticas de plástico ou outras fibras, incorporados ao tecido da prenda. Quando o impacto se produz, é emitido um sinal a partir das fibras óticas em direção a um "Personal Status Monitor" (PSM) colocado no equipamento do soldado, o qual emite uma luz. Se o sinal não for recebido pelo PSM, significa que o impacto alcançou o soldado. O sinal volta para o PSM, partindo do ponto de penetração do impacto, indicando à equipe médica a localização "Stomatex" São tecidos que têm como propriedade fundamental solucionar o problema do desconforto que apresentam os artigos impermeáveis em contato com a pele. Isso se consegue mantendo uma atmosfera de vapor ou microclima entre a pele e o tecido. Para isso, utiliza uma nova técnica de "espuma de células fechadas" de neopreno e polietileno que podem ser utilizadas na confecção de prendas para minimizar o desconforto produzido por um calor excessivo e a transpiração. Algumas de suas aplicações são: prendas de sobrevivência, trajes para aviadores, tecidos militares para o combate, tecidos para resgate em montanhas etc. "Hydroweave" É um tecido de poliéster melhorado que se esfria por evaporação. É formado por três camadas, de forma que quando se molha ou se submerge na água a camada central absorve e retém a umidade. Quando a água se evapora desta camada, o tecido se esfria e o usuário se seca enquanto permanece com sua vestimenta. O princípio desse tecido é sustentado pela utilização de um tecido externo transpirável, um tecido situado na camada central composto por um polímero super absorvente de água que é misturado em um emaranhado fibroso e um tecido situado na camada interna que é impermeável. Essa combinação melhora a evaporação para obter um resfriamento duradouro com um mínimo de peso. As vantagens desse tecido são: distribuição uniforme do resfriamento, tecido flexível, o usuário permanece seco, é lavável em máquinas, reutilizável etc. Dado que esse tecido também dissipa o calor radiante, seus principais campos de aplicação são: polícia, trabalhadores da construção civil, pessoal de terra dos aeroportos, desportes, aplicações militares, trabalhadores de fundições, pilotos de carros de corrida etc. 76 Química Têxtil - n° 82/mar.06 exata do ferimento. Os sinais vitais do soldado, temperatura, batimentos cardíacos, respiração etc., conectados mediante sensores ao PSM, são transmitidos eletronicamente para a equipe médica mais próxima do campo de batalha, para que esta possa assisti-lo imediatamente. A figura 20 mostra a forma de uma camiseta desenhada por Geórgia Tech. Esse tipo de prenda pode ser empregado também em hospitais e para informação da situação de pessoal em outros trabalhos que implique algum tipo de risco. Bibliografia 1. http://www.packline-france.com/euracli/htm/info.htm. 2. Comera A., Copete T., Tacies A., Varela N., Cuevas M., Revista de la Industria Textil, Nº 403, pág. 20-26, Diciembre 2002. 3. Ponsá L., Salvá J, Revista de la Industria Textil, Nº 419, pág. 58-60, Junio 2004. Nanotecnologia 4. http://www.ncapsulations.com/article.php3?id_article=164 5. Bonet M., Revista de la Industria Textil, Nº 404, pág. 44-51, Enero, 2003 6.- Lindemann B., L´ Industrie Textile, Nº 1.340, pág.58-60, Avril, 2002. 7. Girrbach U., Revista de la Industria Textil, Nº 408, pág. 58-60, Mayo 2003. 8. http://www.tuf.fi/units/ms/teva/projects/intelligenttextiles/pcm.htm 9. Chevet B., L´ Industrie Textile, Nº 1.340, pág. 45- 49, Avril, 2002 10. Chapman K., AATCC REVIEW, pág. 15-19, September 2002. 11. http://www.cosmetil.com/amincir.htlm 12. Delaye E., L´ Industrie Textile, Nº 1.340, pág. 54-56, Avril, 2002. 13. Capdevila I., La Vanguardia, Novatec, 26 de Noviembre, 2003. 14. Schnelugth C., Revista de la Industria Textil, Nº 413, p. 83-85, Dic/03. 15. http://www.screenweb.com/index.php/chanel/6/id/1425/ 16. http://www.trs.hw.ac.uk/Industry/License/Soluble.htm 17. Roberts F. F., Textile Horizonts, pág. 11-16, July-August, 2003. 18. Fisher G., Textile Horizonts, pág. 18-19, September-October, 2000. 19. Gies P., Roy C., McLenannan A., Toomey S., Journal of the Home Economics Institute of Australia, Volumen 5, Nº 2, 1998. 20. http:/www.zaneberzina.com/research.html 21. http:/www.skinstories.com/skinstories/exhibitionMain.html 22. Norstebe C. A.- Intelligent Textiles and Soft Products, Department of Product Design, NTNU, Norwegian University of Science and Technology, pág. 1- 14. 23.WRONZ News, Nº 46, November, 2002. 24. CANESIS, Issue 2, June 2004. 25. Boletin OPTI Nº 18, Noviembre, 2003. 26. http://www.textileword.com/News.htm?CD=1294&ID=3416 27. http://www.tut.fi/units/ms/teva/proyectcs/intelligenttextiles/smm.htm 28. http://www.diaplex.com 29. http://www.gtwm.gatech.edu/index/need.html 30. http://www.tno.nl/en/news/t…rchive/2003/december_ 2003/em3_06_08.html Tecnologia Estamparia Química Têxtil n° 82/mar.06 Corantes e pigmentos para a estamparia têxtil digital Tipos, propriedades e aplicações das tintas à base d'água Artistri da DuPont Dra. Kathryn Pearstine - Ink Development Manager, DuPont Ink Jet Tradução e adaptação: Leila e J. C. Macedo - Sintequímica do Brasil Ltda. Revisão técnica: Rodrigo Chrispim Introdução Até recentemente, a estamparia digital para tecidos estava limitada à criação de amostras ou provas que antecediam a estamparia convencional de larga escala, rotativa ou a quadros. Avanços tecnológicos, porém, criaram o potencial para que a estamparia digital substitua a estamparia tradicional em curtas e médias metragens e até mesmo em algumas tiragens de produção de alta qualidade, tomando-se como base de comparação a qualidade, o custo e a velocidade. Três elementos são responsáveis por essa transição: - Nova impressora digital de alta velocidade para inkjet. - Corantes e pigmentos especiais. - Preciso gerenciamento de cores e software compatível com os processos de estamparia têxtil. Impressoras mais rápidas possibilitam partidas maiores e melhoram o custo; tintas duráveis, juntamente com a maior confiabilidade, melhora a produtividade e produz mercadoria adequada ao consumidor; e o software processador-de-imagem permite que uma estampa se concretize "do conceito ao produto estampado" (concept-toprint) em questão de horas. Investir totalmente nessas vantagens requer juntar esses três elementos em uma só oferta integrada, com cada parte dela destinada especificamente a complementar as outras. A integração é primordial para o sucesso da estamparia digital. 78 A realização dessa tarefa requer a integração de diversos conhecimentos-chave: a ciência da cor, o processamento químico, a ciência do polímero, a tecnologia da dispersão e o conhecimento do sistema de estamparia com jato-de-tinta. Como um exemplo, o sistema de estamparia têxtil digital da DuPont Artistri, que consiste na impressora têxtil digital ondemand DuPont Artistri 2020, a tecnologia da tinta DuPont Artistri e o software DuPont Artistri , oferece uma estamparia que alia verdadeira produção com verdadeira qualidade. Tal transição para estamparia de produção digital para artigos têxteis colocou cada vez mais exigências sobre as tintas, em termos de versatilidade, confiabilidade, cor e durabilidade, atualmente alvo da indústria de estamparia a jato-de-tinta. Tecnologia Estamparia Qualificações necessárias para a confiabilidade da tinta na estamparia digital têxtil Embora os corantes utilizados para a estamparia digital de tecidos sejam os mesmos que os utilizados em estamparia tradicional, o processo de estamparia digital requer uma formulação de tinta substancialmente diferente. A viscosidade da tinta consiste numa importante diferença. Os fluidos de base aquosa, com baixa viscosidade, que podem ser aplicados através de cabeças de impressão a jato-de-tinta, substituem as tradicionais tintas pastosas da estamparia tradicional. Isso limita estritamente a quantidade de corantes e outros aditivos, tais como ligantes, que podem ser incorporados na tinta e, conseqüentemente, coloca um alto valor à qualidade, eficiência e pureza em cada ingrediente selecionado. Além disso, a empresa formuladora da tinta deve tomar cuidado para combinar as propriedades físicas da tinta com as características da impressora e da cabeça de impressão em que a tinta será utilizada. Por exemplo, a formação da gota apropriada é altamente dependente da viscosidade da tinta e da tensão superficial e a estabilidade do jato depende da reologia e do fluxo da tinta, assim como das propriedades do cabeçote. Além disso, o controle da condutividade da tinta, o pH e os níveis de impureza proporcionam compatibilidade com a cabeça de impressão do jato-de-tinta. A qualidade da dispersão dos pigmentos e corantes dispersos é essencial para o desempenho consistente e 80 Química Têxtil - n° 82/mar.06 confiável. Como o líder mundial em tintas para jato-detinta, a DuPont tem aplicado seu conhecimento e experiência para desenvolver tintas especificamente para a sua impressora DuPont Artistri 2020, com as propriedades de tinta combinadas com as especificações do design da cabeça de impressão, com o objetivo de alcançar estampas com excelente confiabilidade de impressão. Diferentes tipos e usos de tintas Além de considerar o desempenho da tinta na impressora, a empresa formuladora deve também considerar como a tinta irá interagir com o substrato em que será estampada. A otimização das propriedades da tinta produz uma alta qualidade de imagem no tecido estampado. A viscosidade da tinta, a tensão superficial, o pH, a condutividade e outras propriedades físicas e químicas fazem com que haja o umedecimento do substrato, a dispersão da gota e a penetração da tinta no tecido. Tais fatores, em última análise, determinam a cor, a definição e a qualidade total da imagem estampada. Um componente-chave para a formulação da tinta é a seleção do corante apropriado para o tipo de substrato. A tabela 1 sugere a química de tinta compatível para cada tipo específico de fibra. Corantes ácidos são utilizados primordialmente para estamparia em nylon, lã e seda. A tinta a base de corante ácido da Dupont Artistri oferece excelentes propriedades para uso final sobre uma enorme gama de cores. Tais propriedades são específicas para se adequar a aplicações apropriadas - de solidez a água do mar e cloro para roupa de banho, a solidez a luz para bandeiras e banners. Corantes reativos consistem numa das grandes classes de corante utilizadas para estamparia em algodão e outros materiais celulósicos. Os corantes reagem quimicamente com a celulose para formar uma ligação quí- Química Têxtil - n° 82/mar.06 mica covalente. Como os corantes reagem quimicamente com as fibras, proporcionam alta solidez à fricção, à lavagem e à transpiração. As tintas a base de corante reativo da DuPont Artistri oferecem alta solidez à luz com excelente cor e são adequadas a aplicações em decoração de interiores e vestuário. Tecnologia Estamparia Os corantes dispersos são utilizados para estamparia em poliéster. Os corantes são insolúveis em água, mas penetram e se difundem nas fibras de poliéster durante o processo de vaporização/termofixação após a estampagem. Tal penetração em poliéster rende excelentes propriedades de solidez a fricção e lavagem. 81 Tecnologia Estamparia Aplicações em vestuário com corantes dispersos são beneficiadas por boa solidez, aliadas a cores brilhantes, enquanto que as propriedades superiores de solidez à luz das tintas a base de corante disperso da DuPont Artistri permite seu uso em aplicações em bandeiras e banners (Tabela 2). Pigmentos são apropriados para estamparia em uma variedade de substratos, porém, são mais comumente utilizados em algodão e misturas de algodão/poliéster. Alcançar total durabilidade com tintas que estampam tecidos digitalmente tem sido um sério desafio, já que a quantidade de ligante que pode ser incorporada nas tintas é limitada pela baixa viscosidade das tintas para impressoras a jato-de-tinta. Porém, a DuPont tem aplicado sua forte tradição na ciência de polímero para desenvolver um conjunto de tintas pigmentadas DuPont Artistri, que rendem excelente solidez à fricção e excelente solidez à lavagem após a termofixação. Uma grande vantagem dos pigmentos é que não requerem pré-tratamento do tecido ou processamento posterior a úmido. A versatilidade dos pigmentos encoraja seu uso em aplicações em quase qualquer substrato, em mercados tais como vestuário e decoração de interiores. Preparação do substrato e pós-tratamento Devido à baixa viscosidade das tintas para estamparia a jato-de-tinta, algumas químicas comumente utilizadas em pastas com corantes para estamparia tradicional não podem ser utilizadas em tintas digitais. Tais químicas incluem espessantes, ácidos ou álcalis, umectantes e fixadores. Para estamparia digital com corantes, tais aditivos são incluídos no pré-tratamento utilizado para preparar o substrato para estampar, não em uma pasta de estampar. Os espessantes utilizados no pré-tratamento são quimicamente similares àqueles utilizados na estam82 Química Têxtil - n° 82/mar.06 paria têxtil convencional. O espessante selecionado deve ser compatível com a química da tinta e deve ser facilmente eliminado na lavagem posterior. O nível do espessante adicionado deve ser bem menor que o da estamparia convencional. Pré-tratamentos também contêm ácidos ou álcalis para manter o pH correto, para que o corante penetre na fibra do tecido e permita a reação corante-fibra. A escolha do ácido ou álcali está vinculada à química da tinta. Umectantes são utilizados para permitir fácil difusão do corante no interior da fibra no processo de vaporização. Quando uma gota de tinta encontra o substrato prétratado, o espessante incha e cria um ambiente viscoso e, em conjunto com os outros componentes do pré-tratamento, determina o grau de extensão sobre a penetração através do tecido. Além disso, os componentes do tratamento do tecido são necessários para a adequada fixação do corante no tecido. O pré-tratamento é tipicamente aplicado no substrato têxtil utilizando-se um foulard e o tecido é posteriormente seco em uma câmera de secagem. Os pré-tratamentos da Dupont Artistri foram desenvolvidos para obter as mais favoráveis características de cada uma das químicas dos corantes. Após a estampagem, o pós-tratamento, seguindo a prática industrial padrão para artigos estampados convencionais, Química Têxtil - n° 82/mar.06 Tecnologia Estamparia fixa os corantes e remove, por lavagem, os corantes que não reagiram totalmente com a fibra. O pós-tratamento consiste em etapas de vaporização, lavagem e secagem. Todas as três etapas são necessárias para que se obtenham as características máximas de cor e solidez para as tintas a base de corantes. Para pigmentos, a tinta da DuPont Artistri não requer nenhum pré-tratamento do substrato. Esse tipo de tinta possui excelente solidez à fricção e à lavagem após a termofixação, contrastando com alguns pigmentos para jato-de-tinta utilizados com propósito de amostragem, que não são sólidos à fricção e à lavagem, a menos que acabados com um banho de ligante após estampados. A nova tecnologia patenteada da DuPont em ligante, contida na tinta pigmentária da DuPont Artistri, produz durabilidade física com nenhum prétratamento ou pós-tratamento químico. Sumário As tintas da DuPont Artistri, especificamente desenvolvidas para a impressora DuPont Artistri 2020, alcançam tanto as propriedades de cor, como de uso final comparáveis à estamparia convencional. As tintas, que podem ser estampadas em uma vasta gama de substratos, oferecem cores brilhantes, qualidade excelente de definição de imagem e desempenho de jato confiável - tudo isso servirá para fazer a estamparia têxtil digital realizar seu potencial e possibilitar que sua total produção satisfaça e até mesmo exceda as vantagens de custo, qualidade e velocidade da estamparia têxtil tradicional. www.artistri.dupont.com / www.sintequimica.com.br / [email protected] A ABQCT DÁ AS BOAS VINDAS AO S N OVO S S Ó C I O S Adriano Carlos Gava SP Francisco Paiva Costa CE Agnaldo Nabarro SP Ivan de Araujo Monteiro SP Airton de Oliveira Lima SP João André Neto SP Alfredo Waldirreis Gamo CE João Carlos Lebre CE Almir Tadeu Ramos de Carvalho PE Manoel Joadi de Medeiros Filho RN Antonio Herbert Quintino Rocha CE Marcelo Gonçalves dos Santos SE Carlos Roberto Schlindwein SC Márcio Renato dos Santos MG Célia Maria Santos CE Milton Glavina RN Dárcio Lopes Conde SP Odair Borges dos Santos Mello SP Eugênio Pacelli Nunes do Rego RN Vitor Alexandre dos Santos SC Estamos orgulhosos de tê-los conosco, pois o apoio e a participação dos associados são de suma importância para o fortalecimento da Associação e para o aprimoramento técnico do setor têxtil brasileiro. Nós da ABQCT procuramos sempre fornecer informações atualizadas através da revista Química Têxtil e abrir canais de comunicação entre os profissionais através de cursos, palestras e outros eventos de integração. 83 Colorzen, uma nova empresa A Colorzen, assim como a grande maioria das empresas de química têxtil, iniciou suas atividades a partir de um ideal. Há dois anos vem atuando no mercado, atendendo principalmente no ramos de revenda de corantes. No último ano, com a aquisição de novos equipamentos e incremento de pessoal, passou a atuar fortemente com produtos auxiliares para tinturaria (preparação, tingimento e acabamento). Neste ano, está investindo no ramo de estamparia. A empresa, situada na região de Guararema - SP, tem sede própria e conta com profissionais que atuam no mercado há mais de 20 anos, com ampla experiência nos processos de preparação, tingimento e acabamento. DuPont investirá US$ 1 bilhão em fábrica de dióxido de titânio na China Os líderes da DuPont e da prefeitura de Dongying, na China, assinaram contrato de projeto para a construção de uma fábrica de dióxido de titânio (TiO 2) de primeira qualidade, representando um investimento total de US$ 1 bilhão na área de Desenvolvimento Econômico da cidade. O TiO2 é um pigmento branco usado em larga escala em indústrias de revestimentos, plásticos e papéis. Assim que forem recebidas as aprovações governamentais cabíveis, espera-se que a nova fábrica de TiO2 represente um investimento total em Dongying superior a US$ 1 bilhão. Essa quantia inclui o investimento inicial da DuPont, instalações implantadas pela Prefeitura e fornecedores integrados à fábrica, além de uma eventual expansão das instalações originais. 84 A fábrica será de propriedade integral da DuPont e o maior projeto de investimento único da empresa fora dos Estados Unidos, com conclusão prevista para 2010. www.dupont.com.br CHT recebe Certificado ISO 14001 Com muito orgulho, a CHT Brasil Química Ltda. vem compartilhar um fato muito importante dentro de sua história no mercado brasileiro. No ano de 1997, quando recebeu a certificação ISO 9001, foi uma das primeiras empresas do setor químico com aplicação no segmento têxtil a receber este certificado. Em agosto de 2005, a CHT foi novamente uma das empresas pioneiras a receber o certificado ISO 14001. A preocupação com a qualidade de seus produtos e serviços e o cuidado com a ecologia são fatores muito importantes dentro da filosofia de trabalho da empresa. Assim, a CHT quer garantir aos seus clientes e fornecedores uma relação duradoura, baseada em fundamentos sérios que visam alcançar a perfeição em suas atividades. Resinac completa 55 anos A Resinac Indústrias Químicas, empresa voltada para o desenvolvimento e produção de auxiliares químicos para indústrias têxteis e intermediários, completará 55 anos em novembro de 2006, sendo que os 30 anos da atual diretoria, sr. Domingos Borrelly, foi comemorado dia 4 de fevereiro, com um jantar no Alphavile Tênis Clube para 350 convidados. Em 1988, foi criada a Resitex, que assumiu as linhas de produtos existentes, enquanto a Resinac abria novos mercados, desenvolvendo linhas completas de intermediário químicos entre eles, setor couro, higiene e limpeza, tratamento efluentes etc. Acompanhando as necessidades do mercado, houve a fusão entre as duas empresas, surgindo a atual Resinac Indústrias Químicas Ltda., passando por uma grande reestruturação e ampliando sua visão de mercado. Atualmente, a Resitex dedica-se à área comercial da Resinac, representando também a Rhodia/div. Silicones, a National Starch, RCA (ultra-fresh) e Polímeros do Brasil. As indústrias contam hoje com capacidade instalada para 2500 ton/mês em um parque indústrial flexível, fornecendo emprego para 144 pessoas. Empresas iniciam ano com estamparia digital A DuPont Artistri - Digital Printing for Textiles e a Sintequímica do Brasil anuncia que mais duas estamparias entram com a Tecnologia Digital em seus artigos têxteis. A Kalimo Têxtil Ltda, localizada em SorocabaSP, direcionada para artigos de moda em malhas, e a TDB Têxtil S/A, de São Paulo, direcionada aos artigos de moda praia e lingerie em seus artigos de poliamida/ elastoméricos. Ambas agora contam com a tecnologia de ponta da Artistri 2020 da DuPont, a mesma já adquirida pela Advance Têxtil em meados de 2005. A DuPont já instalou cerca de 135 impressoras digitais Artistri 2020 em diversas índustrias têxteis, sendo três no Brasil. A Sintequímica do Brasil também informa que a DuPont Artistri lançou a mais nova impressora industrial digital p/ tecidos, agora com largura de 3.20 m; direcionada p/ o mercado de decoração, cortinas e roupa de cama etc. Com essa nova impressora Artistri 3220, juntamente com a Artistri 2020, a DuPont Digital Printing for Textiles fica mais completa e atinge as expectativas de seus clientes. As impressoras são de uso industrial e trabalham com corantes ácidos, reativos e dispersos. A assistência técnica já está instalada no Brasil e prestando serviço imediato aos clientes. A gama de corantes e pigmentos Artistri 700 Séries é mais completa, contando com 13 cores ácidas, 9 disper- sas, 10 reativas e 9 dispersões pigmentárias, além de outras espéciais como as do tipo Solar Brite destinadas ao mercado de sinalização e comunicação visual. DuPont recebe a patente n° 7 milhões com o biomaterial O Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos e o Departamento de Comércio Norte-Americano (USPTO) conferiram a patente de número 7 milhões ao pesquisador sênior da DuPont, John P. O’Brien, pela invenção de “Fibras de Polissacarídeo”. Semelhantes ao algodão, as fibras de polissacarídeo são derivadas de recursos biologicamente renováveis, biodegradáveis e adequadas para serem utilizadas em produtos têxteis. A patente expedida para “Fibras de Polissacarídeo” é a 33.801.ª patente norte-americana concedida à DuPont. A empresa e suas afiliadas ficaram em segundo lugar no mundo com o maior número de patentes de biotecnologia aprovadas pelo USPTO em 2004, de acordo com a publicação Nature Biotechnology. As fibras de polissacarídeo, como Bio-PDOTM - o principal ingrediente do novo polímero Sonora® da DuPontTM - podem ser feitas a partir de recursos renováveis, como o milho. A fabricação de Bio-PDO™ é feita por meio de novo processo biológico, que requer cerca de 40% menos energia total do que os processos petroquímicos alternativos. O Bio-PDO™ e o Sorona® estarão disponíveis para comercialização no final do ano. Em 2003, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos entregou à DuPont o “Prêmio Presidencial de Química Sustentável” pela pesquisa da empresa sobre o desenvolvimento do Bio-PDO™. EvoTM Care Vital wellness acabamento para têxteis Cuidado com a pele e proteção contra o envelhecimento precoce podem ser combinados com a simples ação de se vestir. Evo Care Vital, o mais recente produto da DyStar Auxiliares GmbH, empresa de auxiliares 85 da DyStar Textilfarben GmbH, Frankfurt, Alemanha, contém uma especial combinação de vitamina E, aloe vera e óleo de jojoba que proporciona às roupas propriedades anti-envelhecimento. Essas substâncias naturais são adicionadas em uma matriz especial de silicone para garantir um acabamento de longa durabilidade. Evo Care Vital é aplicado como último passo nos processos convencionais pad e acabamento em esgotamento. Apenas uma secagem cuidadosa pode garantir que os artigos têxteis tratados com esse novo produto retenham suas propriedades de proteção. As substâncias ativas são adicionadas em uma matriz especial de silicone, garantindo um acabamento resistente a lavagens repetitivas a 40ºC. O produto é o ultimo desenvolvimento na linha de acabamento Evo Care - wellness, uma especialidade da DyStar Auxiliares GmbH. Essa linha de produto compreende uma extensa gama de auxiliares para acabamento, incluíndo EvoTM Care BeeWell com cera de abelha, EvoTM Care AVP e EvoTM Care AVS com aloe vera e EvoTM Care SJO com óleo de jojoba. Rhodia investe em projeto para eliminar efluentes líquidos e reduzir consumo de água A Rhodia encerrou o ano de 2005 sem descarte de efluentes líquidos produzidos na sua unidade industrial têxtil de Santo André (SP), marcando uma conquista obtida com o desenvolvimento de projeto de reuso, reciclagem e redução do consumo de água. Além de ganhos ambientais, o projeto tem permitido uma economia anual em torno de US$ 4,4 milhões com gastos relacionados à utilização de água para a operação do conjunto industrial. A empresa investiu em torno de US$ 3 milhões, ao longo de dez anos, para eliminar totalmente o descarte de efluentes líquidos da unidade têxtil. O projeto também contribuiu para a diminuição significativa do volume de água consumido, que foi reduzido em 68%. O consumo de água fresca (poços e rede pública), que era de 230 metros cúbicos por hora, foi reduzido para 61 metros cúbicos por hora (44.000 metros cúbicos por 86 mês). Essa economia de água (169 metros cúbicos por hora) é suficiente para abastecer aproximadamente 4.000 famílias. Aumento na produção de fios A Rhodia está fazendo investimentos de 1 milhão de euros (R$ 2,7 milhões) para aumentar em 30% a capacidade de produção de fios industriais de poliamida (náilon) para aplicação em linhas de costura usadas em calçados, assentos de automóveis e setor de móveis. O mercado brasileiro de fios industriais para linhas de costura consome em torno de 5 mil toneladas anuais, das quais 90% são produzidas por fabricantes instalados no País e 10% são produtos importados. “Tecnologia na Indústria Química” A ABIQUIM está recebendo trabalhos para o evento “Tecnologia na Indústria Química”, um evento que inclui o 3º Seminário ABIQUIM de Tecnologia; o II Encontro Brasileiro sobre Tecnologia na Indústria Química e o 7° Seminário de Produtores de Olefinas e Aromáticos. O evento acontecerá de 17 a 19 de outubro de 2006, na sede do Conselho Regional de Química - IV Região, em São Paulo. Os objetivos do evento são apresentar à indústria tecnologias com aplicação potencial na indústria química; apresentar à comunidade científica e empresarial problemas típicos da indústria química; discutir e propor soluções para gargalos do desenvolvimento tecnológico da IQ no Brasil e integrar comunidade empresarial e acadêmico-científica. Os trabalhos, vindos de universidades, institutos de pesquisa e indústria, devem abordar tecnologias que vêm sendo desenvolvidas com aplicação potencial na indústria; problemas que têm sido objeto de preocupação na indústria e que poderão se tornar objeto de estudo na Universidade e Institutos de Pesquisa. Os trabalhos devem ser enviados para [email protected] e/ou [email protected] indicando por ordem de preferência a Sessão Técnica, identificando o arquivo com a sigla TECNIQ e nome do autor.