OUT OCT - Festival de Órgão da Madeira
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OUT OCT - Festival de Órgão da Madeira
9 18 2015 OUT OCT ORGANIZAÇÃO PRODUÇÃO e d i c a r t e APOIOS INSTITUCIONAIS APOIOS 9 18 2015 OUT OCT MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 02 • Festival de Órgão da Madeira 2015 Madeira Organ Festival 2015 Inserido no projeto “Festivais Culturais da Madeira” o Festival de Órgão da Madeira atinge, com a concretização da sua sexta edição, mais um patamar de crescimento, amadurecimento e afirmação própria e pública no seio de todos quantos anualmente o constituem e materializam (quer na qualidade de espetadores, intérpretes e/ou organizadores) bem como nos demais projetos congêneres, sejam estes nacionais ou internacionais. O património organístico da Região Autónoma da Madeira está indissociavelmente ligado à própria história do arquipélago, com quase seis séculos sendo que, desde a edificação dos primeiros órgãos ibéricos na Sé do Funchal e Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Machico, por ordem de D. Manuel, passando pela importação de diversos exemplares provenientes de Inglaterra durante o apogeu dos mercadores que comercializavam com o Vinho Madeira até ao presente, o percurso deste notável instrumento, outrora apelidado de “rei dos instrumentos” tem-se redundado em diversos ciclos, infelizmente por vezes antagónicos mas importantes para a compreensão e consciência atual. Com base na anterior análise o Governo Regional, através da Direção Regional da Cultura, tem implementado nas últimas décadas diversas medidas que visam não só a preservação de parte do património organístico da Madeira mas igualmen- Part of the “Madeira Cultural Festivals” project, the Madeira Organ Festival, with the presentation of its sixth edition, attains yet a further level of growth, maturity and affirmation both of itself and publicly amongst all those who work for it and produce it every year (whether as listeners, performers or organizers) as well as other related projects, whether national or international. The organ heritage of the Autonomous Region of Madeira is indissolubly linked to the history of the archipelago itself, almost six centuries, in that, since the building of the first Iberian organs in the Cathedral of Funchal and the Church of Our Lady of the Conception, in Machico, on the orders of King Manuel, through the importation of various examples from England at the height of the merchants who sold Madeira wine, down to the present, the trajectory of this noteworthy instrument, once called the “king of instruments”, has taken place over the course of a number of cycles, unfortunately at times antagonistic, but important for our contemporary understanding and awareness. Based on earlier studies, the Regional Government, through the Regional Office of Culture, has implemented over the last decades various measures aimed not only at the preservation of part of the organ heritage of Ma- • 03 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL te a sua valorização e divulgação, através deste festival, assumindo desta forma o seu papel de facilitador de experiências e diversas propostas temáticas, criando as melhores condições para que a comunidade local e turística autonomamente defina os seus hábitos e desenvolvimento cultural. Ocupando uma importante posição no universo dos eventos culturais da RAM nunca será demais analisar e compreender os impactos que advêm da sua realização, nomeadamente nas suas vertentes de promoção, desenvolvimento da atratividade local, crescimento do turismo cultural e identificação e comprometimento de toda a comunidade madeirense para com o seu património e cultura, tornando-os desta forma agentes ativos e potenciadores do mesmo além-fronteiras, na medida em que o evento permanece para além do Festival, gerando promoção e reconhecimento da Madeira e da sua oferta cultural neste domínio. A preocupação que a organização deste festival tem na oferta de um programa o mais eclético possível visa estimular e seduzir um público cada vez mais diversificado, de todos os estratos etários, para com a riqueza e dinamismo do órgão e da sua música, sendo que os múltiplos sentimentos e emoções gerados em cada um dos espetadores é, sem sombra de dúvidas, a principal razão da sua existência. deira, but also to make use of it and make it known, through this festival, creating the best conditions for the local and touristic communities autonomously to define its cultural habits and development. Occupying an important position in the realm of cultural events organized by the Autonomous Region, it is of importance to analyse and understand the impact that comes from this event, especially in terms of promotion, development of its local significance, increase of cultural tourism and the entire community of Madeira’s identification with, and commitment to, its heritage and culture, thus becoming active agents and enhancers of it, beyond the confines of the Island, in that the event remains beyond the Festival, generating promotion and recognition of Madeira and what is has to offer culturally in this field. The concern that the organization of this festival has in presenting as eclectic a programme as possible aims to stimulate and conquer an increasingly diverse audience, of all ages, with the richness and power of the organ and its music, since the many feelings and emotions generated in each listener are, without a shadow of doubt, the main reason for its existence. Carina Bento Subdiretora Regional da Cultura Regional Sub-director of Culture • 04 • • 05 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 06 • VI Festival de Órgão da Madeira 6th Madeira Organ Festival O Festival de Órgão da Madeira chega à sua sexta edição. Ao longo dos últimos anos, dezenas dos mais significativos organistas estrangeiros e portugueses apresentaram, a solo ou em colaboração com outros instrumentistas, cantores ou agrupamentos, mais de meia centena de concertos com programas diversificados – da Idade Média aos nossos dias, dos autores centrais do repertório organístico à improvisação, da polifonia renascentista ao jazz – perante um público global de milhares de pessoas. O nível artístico, a diversidade da programação e a adesão do público garantiram, só por si, um lugar de destaque para este evento no panorama nacional e internacional. Mas o Festival de Órgão da Madeira é também o coroar de uma ação – também ímpar em Portugal – de consistente preservação e divulgação do património organístico, da qual resultou a recuperação de uma dezena de instrumentos, a construção de um grande órgão, a realização de vários registos fonográficos e a edição de um inventário de todo o património organístico madeirense. Este ano, seguindo as linhas de orientação manifestadas desde a sua criação, o Festival de Órgão da Madeira continua, por um lado, a explorar a diversidade do património organís- The Madeira Organ Festival has reached its sixth edition. During the last years, dozens of the most important Portuguese and foreign organists have performed, as soloists or together with other instrumentalists, singers and ensembles, more than fifty concerts with varied programmes – from the Middle Ages to the present day, from the main composers of organ music to improvisation, from renaissance polyphony to jazz – to am international audience of thousands of people. The artistic level, the diversity of the programming and the enthusiasm of the audience has in itself guaranteed a place of honour for this event both nationally and internationally. But the Madeira Organ Festival is also the coronation of an initiative – also unique in Portugal – of the consistent preservation and diffusion of the legacy of the organ, from which has resulted the restoration of a dozen instruments, the building of a large organ, the recording of several discs and the publishing of an inventory of the entire organ heritage of Madeira. This year, following the lines of orientation evident since its inception, the Madeira Organ Festival continues, on the one hand, to explore the diversity of the organ legacy in • 07 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL tico madeirense e, por outro, a oferecer uma programação variada e um leque de artistas de âmbito nacional e internacional. No campo dos recitais de órgão solo destaca-se o concerto de abertura na Igreja do Colégio pelas mãos de Olivier Latry, um dos titulares do órgão da Catedral de Notre-Dame em Paris. Outros recitais incluem um programa inglês na Igreja de Santa Luzia pela organista Ann Elise Smoot e uma homenagem à escola ibérica a cargo de Sérgio Silva no órgão da Igreja de Machico, o mais precioso instrumento histórico da Região. No âmbito da música de conjunto, para além de um concerto de coro e órgão com o jovem organista André Bandeira, um concerto centrado no repertório setecentista de raiz italiana pelo Ludovice Ensemble e uma exótica mescla de cante alentejano (e outras manifestações vocais) e órgão pelo grupo Cantechão, destaca-se o programa dedicado a Johann Sebastian Bach na Igreja do Colégio, com Élio Carneiro no grande órgão Dinarte Machado e Sérgio Silva no órgão Machado e Cerveira, que soará pela primeira vez após o seu recente restauro. O concerto de encerramento é marcado pela presença de Lorenzo e Vittorio Ghielmi, oferecendo as sonoridades do órgão, do cravo e da viola da gamba no espaço inigualável da Igreja do Convento de Santa Clara. Madeira and, on the other, to present varied programming and a range of nationally and internationally-recognized artists. Noteworthy amongst the solo organ recitals is the opening concert in the Igreja do Colégio by Olivier Latry, one of the titular organists of the Cathedral of Notre-Dame in Paris. Other recitals include an English programme at the Church of Santa Luzia by Ann Elise Smoot and an homage to the Iberian school by Sérgio Silva on the organ of the Church of Machico, the most valuable historical instrument of the region. Concerts of ensemble music include, apart from a concert for choir and organ with the young organist André Bandeira, a concert centred on 16th century repetoire of Italian origin by the Ludovice Ensemble and an exotic mixture of cante alentejano (and other vocal styles) and organ by the ensemble Cantechão, a programme dedicated to Johann Sebastian Bach at the Igreja do Colégio, with Élio Carneiro on the large Dinarte Machado organ and Sérgio Silva on the Machado e Cerveira organ, which is the first time it will be played after its recent restoration. The closing concert is given bu Lorenzo and Vittorio Ghielmi, providing the sounds of organ, harpsichord and viola da gamba in the remarkable space of the Church of the Convent of Santa Clara. João Vaz Diretor Artístico Artistic Director • 08 • • 09 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL PROGRAMA PROGRAMME 09’OUTOCT 13’OUTOCT IGREJA DE CHURCH OF SÃO JOÃO EVANGELISTA [Colégio] IGREJA DE CHURCH OF SÃO PEDRO Sexta-feira Friday 21h30 9.30 p.m. Terça-feira Tuesday 11h00 11.00 a.m. 13’OUTOCT Olivier Latry, órgão / organ Terça-feira Tuesday 12h00 12.00 p.m. SÉ CATEDRAL FUNCHAL‘S CATHEDRAL 10’OUTOCT Sábado Saturday 21h30 9.30 p.m. SÉ CATEDRAL FUNCHAL‘S CATHEDRAL André Bandeira, órgão / organ Coro Juvenil da DRE / Educação Artística / DRE Youth Choir / Artistic Education Zélia Ferreira Gomes, direção / direction 11’OUTOCT Domingo Sunday 18h00 6.00 p.m. IGREJA DA CHURCH OF NOSSA SENHORA DA LUZ (Ponta do Sol) 12’OUTOCT Segunda-feira Monday 21h30 9.30 p.m. RECOLHIMENTO DO HOSPICE OF BOM JESUS Ludovice Ensemble Lilia Slavny, violino barroco / baroque violin Diana Vinagre, violoncelo barroco / / baroque cello Fernando Miguel Jalôto, órgão e direção / / organ and direction João Vaz, Dinarte Machado Visita comentada aos órgãos / guided tour to the organs 13’OUTOCT Terça-feira Tuesday 18h00 6.00 p.m. SALA DO PÁTIO, REITORIA DA UMA PATIO ROOM, RECTORY OF THE UNIVERSITY OF MADEIRA Pe. Ignácio F. Rodrigues, Dinarte Machado, João Vaz, conferência / lecture 14’OUTOCT Quarta-feira Wednesday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SANTA LUZIA Ann Elise Smoot, órgão / organ 15’OUTOCT Quinta-feira Thursday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO JOÃO EVANGELISTA [Colégio] Élio Carneiro, grande órgão / great organ Sérgio Silva, órgão de coro / choir organ • 10 • 16’OUTOCT Sexta-feira Friday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO MARTINHO CanteChão João Moreira, tenor Manuel Rebelo, barítono / baritone Sérgio Silva, baixo / bass João Vaz, órgão / organ 17’OUTOCT Sábado Saturday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (Machico) Sérgio Silva, órgão / organ 18’OUTOCT Domingo Sunday 18h00 6.00 p.m. IGREJA E CONVENTO DE CHURCH AND CONVENT OF SANTA CLARA Lorenzo Ghielmi, órgão e cravo / / organ and harpsichord Vittorio Ghielmi, viola da gamba • 11 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 09’OUTOCT Sexta-feira Friday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO JOÃO EVANGELISTA [Colégio] Olivier Latry, órgão / organ Anónimo / Anonymous (manuscrito de / manuscript of Dieterich Buxtehude (1637-1707) Passacalha em ré menor Passacaglia in D minor Suzanne Van Soldt, 1599) Quatro danças flamengas Four Flemish Dances Johann Caspar Kerll (1627-1693) I. Allemande Loreyne II. Almande Brun Smeedelyn III. Almande de La nonette IV. Almande de symmerman Cappricio cucu Jon Laukvik (n.1952) MM (para órgão e electrónica for organ and electronics) André Raison (c.1640-1719) Trio en passacaille (Messe du 2° ton) François Couperin Offertoire sur les grands jeux (Messe des Paroisses) James Mobberley (n.1954) Critical Mass (para órgão e electrónica / for organ and electronics) Jehan Alain (1911-1940) Postlude pour l’office des complies Bert Matter (n. 1937) Fantasia sobre Une jeune fillette Johann Sebastian Bach (1685-1750) Passacalha e fuga em dó menor / Passacaglia and Fugue in C minor Olivier Latry (n.1961) Improvisação sobre um tema dado pelo público / Improvisation on a theme given by the audience Dieterich Buxtehude • 12 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA “Critical Mass is defined as ‘the smallest amount of fissionable material sufficient to sustain a chain reaction’. It seemed an appropriate title for this brief but energetic piece.” (“Massa Crítica é definida como ‘a quantidade mínima de matéria físsil necessária para manter uma reação em cadeia’. Pareceu-me um título apropriado para esta peça curta mas enérgica”.) Este comentário de James Moberley, se bem que utilizado devido à ambiguidade latente da palavra Mass (em inglês “missa” ou “massa”), reflete perfeitamente a filosofia geral do programa de hoje: numa encruzilhada de estilos musicais e de épocas, são explorados, através de encadeamentos aparentemente fortuitos, caminhos tão familiares como desconhecidos. No entanto, nesta viagem surpreendente para além do tempo e das fronteiras, a coesão irá impor-se pouco a pouco pela recorrência de estilos, de melodias ou de formas musicais. De Suzanne van Soldt e a sua jeune fillette à Fantasia de Bert Matter, que usa o mesmo motivo, das passacalhas de Buxtehude ou de Raison ao monumento de Johann Sebastian Bach, por elas introduzido, do “cuco” de Johann Caspar Kerll a MM de Jon Laukvik, dos ofícios barrocos (François Couperin) aos “ofícios” século XX (Jehan Alain), de uma peça com fita magnética a outra, de uma dança barroca que surge aqui a outra que reaparece ali, as pontes são numerosas. As atmosferas conjugadas irão criar um processo de construção culminando na peroração magistral que representa a Passacalha de Johann Sebastian Bach. À semelhança dos obreiros das catedrais, os compositores não cessaram de construir a história da música, património da humanidade. Cada um trouxe a sua pedra para o edifício, cada um trabalhou para a Arte, cada um trabalhou para a “sua” verdade. Deixemo-nos conduzir por entre estes múltiplos passos, profundamente humanos, profundamente “verdadeiros”. “Critical Mass is defined as ‘the smallest amount of fissionable material sufficient to sustain a chain reaction’. It seemed an appropriate title for this brief but energetic piece.” This comment by James Moberley, though originating in the latent ambiguity of the word “Mass”, perfectly reflects the general philosophy of today’s programme: at a crossroads of musical styles and periods, paths both familiar and unknown are explored through apparently fortuitous connections. However, on this surprising journey beyond time and boundaries, cohesion will become apparent little by little through the recurrence of styles, melodies and musical forms. From Suzanne van Soldt and her jeune fillette to the Fantasy by Bert Matter, which uses the same motive, from the passacaglias by Buxtehude and Raison to the monument by Johann Sebastian Bach, which is introduced by them, from Johann Caspar Kerll’s “cuckoo” to Jon Laukvik’s MM, from baroque offices (François Couperin) to the “offices” of the 20th century (Jehan Alain) from one work with tape to another, from one baroque dance that appears here to another that reappears there, the bridges are numerous. The linked atmospheres will create a process of construction culminating in the masterly peroration that is Bach’s Passacaglia. Like the builders of cathedrals, composers never ceased to build the history of music, the heritage of humanity. Each one brought his stone to the building, each one worked for the art, each one worked for “his” truth. Let us move among these multiple steps, profoundly human, profoundly “true”. Olivier Latry • 13 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 10’OUTOCT Sábado Saturday 21h30 9.30 p.m. SÉ CATEDRAL FUNCHAL‘S CATHEDRAL André Bandeira, órgão / organ Coro Juvenil da DRE / Educação Artística / DRE Youth Choir / Artistic Education Zélia Ferreira Gomes, direção / direction Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749) Antonin Dvorák (1841-1904) Suite du premier ton (alternada com o Magnificat de 1º tom / alternating with the Magnificat in the first tone) Ave Maria, Op.19b Léon Boëllmann (1862-1897) Grand plein jeu Fugue Duo Trio Basse et dessus de trompete Dialogue sur les grands jeux Prière à Notre-Dame (Suite Gothique, Op. 25) Flor Peeters (1903-1986) Flos Carmeli, Op. 89a Toccata, fuga e hino sobre / Toccata, Fugue and Hymn on Ave maris stella Op. 28 Johann Sebastian Bach (1685-1750) Prelúdio e fuga em lá menor / Prelude and Fugue in A minor BWV 543 Prelúdio de coral / Chorale prelude Meine Seele erhebet den Herrn BWV 648 Louis-Nicolas Clérambault Tonight’s programme has two particularities: a repertoire linked by Marian themes; and the organ used to the full extent of its functions – as an accompanying instrument, as a soloist within the liturgy and, further, as a concert instrument. The concert opens with Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749) – Suite du premier ton, a set of seven pieces, contrasting in both character and registration, intended to be used alternatim with chant in religious offices. In this case, the seven verses of the Suite in the First Tone are intercalated with the chant of the Magnificat. We thus have one of the chief styles of performance of Western Catholic liturgical music up to the Motu Proprio of Pius X, “Tra le sollicitude” (1903): alternatim practice (between organ and chant). The Prelude and Fugue in A minor BWV 543 would have been written when Bach was still working in Weimar. The influence of the “stylus phantasticus” from the North of Germany is ob- • 14 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA O programa do concerto desta noite apresenta-nos duas particularidades: um repertório que tem como fio condutor temas marianos; e o órgão utilizado na plenitude das suas funções – como instrumento acompanhador, como solista integrado na liturgia e, ainda, como instrumento concertista. O concerto abre com Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749) – Suite du premier ton, um conjunto de sete peças contrastantes no carácter e na registação, destinadas a alternar com o canto nos ofícios religiosos. Neste caso, os sete versos da Suite do 1º tom intercalam com o canto do Magnificat. Aborda-se, assim, uma das principais formas de execução da música litúrgica Católica Ocidental até ao Motu Proprio de Pio X ”Tra le sollicitude” (1903): a Prática Alternada (entre órgão e canto). O Prelúdio e Fuga em Lá menor BWV 543 terá sido escrito quando Bach ainda trabalhava em Weimar. A influência do “stylus phantasticus” do Norte da Alemanha é bem patente, especialmente no prelúdio, devido às suas passagens virtuosísticas, quase improvisatórias. A fuga apresenta um carácter ritmado e mais dançante devido ao seu compasso em 6/8. O Coral Meine Seele erhebt den Herren BWV 648 (A minha alma glorifica o Senhor) é o quarto da coletânea dos Sechs Choräle von verschiedener Art, mais conhecidos por “6 corais Schübler” por ter sido Johann Georg Schübler quem editou e publicou esta coleção de J. S. Bach. A melodia do coral, proposta pelo canto e que se destaca na versão para órgão, é a do Magnificat na religião luterana. Com o Ave Maria Op. 19b de Antonín Dvorák (1841-1904) abandonamos o período Barroco e entramos na típica linguagem musical do período Romântico do séc. XIX. Dvor ák, juntamente com Bedrich Smetana, foi um dos melhores compositores da região da Boémia, sendo reconhecido, sobretudo, pela sua Sinfonia do Novo Mundo. A Prière à Notre-Dame (Oração a Nossa Senhora) é o 3º andamento da Suite Gothique Op. 25 de Léon Boëllmann. Publicada em 1895, esta Suite é das obras mais célebres de toda a música para órgão. Escrito na forma AABA, este andamento tem como base uma melodia acompanhada que vai evoluindo através de várias mo- Johann Sebastian Bach vious, especially in the Prelude, on account of its virtuosic, almost improvisatory passages. The fugue is more rhythmic and dance-like in character, being in 6/8 time. The chorale Meine Seele erhebt den Herren BWV 648 (“My soul doth magnify the Lord”) is the fourth in the collection of Sechs Choräle von verschiedener Art, better known as the Six Schübler Chorales, it having been Johann Georg Schübler that edited and published the collection. The chorale melody, given in the chant and which stands out in this version for organ, is from the Lutheran version of the Magnificat. With the Ave Maria op. 19b by Antonín Dvorák (1841-1904), we leave the baroque and enter into the typical musical language of the romantic period of the 19th century. Dvorák, together with Bedrich Smetana, was one of the greatest composers of the region of Bohemia, being recognized above all for his New World Symphony. The Prière à Notre-Dame (Prayer to Our Lady) is the third movement of the Suite Gothique op. 25 by Léon Boëllmann. Published in 1895, this Suite is one of the most famous pieces in the entire organ literature. Written in ABBA form, this movement has as its basis an accompanied melody that evolves through various modulations. The melody evokes a prayer • 15 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL that might have been sung dulações. A melodia evoca in a church built in Gothic uma “prece” que seria canstyle; thus its introspectada numa igreja em estilo tive and intimate quality. gótico, daí o seu carácter Flor Peeters (1903-86) introspetivo e envolvenwas one of the most prote. Flor Peeters (1903-86) lific composers of the foi um dos compositores 20th century, one of the mais profícuos do séc. XX, most respected teachers um dos professores e peand pedagogues, one of dagogos mais respeitados, the best and most feted um dos mais sublimes e organists of his time prestigiados organistas do (more than 1200 concerts seu tempo (mais de 1200 throughout the world) and concertos por todo o munone of the greatest artisdo) e uma das maiores pertic personalities of Belsonalidades artísticas da gium. However, Peeters’s Bélgica. Todavia, a música Antonin Dvorák music remains relatively de Peeters é ainda bastanunknown. The sequence te desconhecida. Desde de Flos Carmeli has been 1663, que Flos Carmeli é used by the Carmelites as the sequence for the utilizada pelas Carmelitas como sequência para Feast of Our Lady of Mount Carmel since 1663. a Festa de Nossa Senhora do Monte Carmeli. Flor Flor Peeters set the text to music in 1958, for Peeters musicou esta letra em 1958 para órgão e organ and two equal voices (probably to be percanto a duas vozes iguais (provavelmente para ser formed by Carmelite nuns). Written in 1931 and executada por religiosas carmelitas). Composta dedicated to his great friend, the organist and em 1931 e dedicada ao seu grande amigo organiscomposer Charles Tournemire (1870-1939), ta e compositor Charles Tournemire (1870-1939), the Toccata, Fugue et Hymne sur ‘Ave maris stela Toccata, Fugue et Hymne sur ‘Ave maris stella’ la’ Op. 28 (“Hail, Star of the Sea”) is Peeters’s Op. 28 (Salvé, estrela do mar) é a obra para órgão most performed organ work. The entire piece mais executada e reconhecida de F. Peeters. Toda derives from the Gregorian chant melody, with a peça é conduzida pela melodia gregoriana e com figuration that evokes the waves of the sea. figuração que evoca as ondas do mar. André Bandeira • 16 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA • 17 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 11’OUTOCT Domingo Sunday 18h00 6.00 p.m. IGREJA DA CHURCH OF NOSSA SENHORA DA LUZ (Ponta do Sol) 12’OUTOCT Segunda-feira Monday 21h30 9.30 p.m. RECOLHIMENTO DO HOSPICE OF BOM JESUS Ludovice Ensemble Lilia Slavny, violino barroco / baroque violin Diana Vinagre, violoncelo barroco / baroque cello Fernando Miguel Jalôto, órgão e direção / organ and direction Pietro Paolo Capellini (séc. XVII) Carl’Ambrogio Lonati (1645-c.1710) Sonata a violino e basso (P-Cug MM 63) Sonata a violino e basso (P-Cug MM 63) Adagio Allegro Adagio Allegro Adagio Presto Adagio Presto Vivace Adagio Allegro Tomaso Albinoni (1671-1751) Sonata Op. VI no 6 (P-Cug MM 63) Grave Adagio Allegro Adagio Allegro Carlos Seixas (1704-1742) e Anónimos / Anonymous (Portugal/Itália, séc. XVIII) 4 obras para violino e baixo (P-Cug MM 57 & MM 63) Anónimo / Anonymous (Alemanha, séc. XVII) Fuga e Ária com 6 variações (P-Cug MM 63) Michele Mascitti (1664-1760) Sonata [Allegro] [Sonata: Adagio - Allegro] Menuet Alessandro Scarlatti (1660-1725) Sonata a violino e basso, Op. 1 nº 1 (P-Cug MM 62 / Sonate a violino solo col violone o cimbalo, 1704) 3 obras para tecla (P-Cug MM 60) Arcangelo Corelli (1653-17613) Adagio Allegro Allegro Adagio Allegro assai Sonata Op. V no 5 (P-Cug MM 63) Adagio Allegro Adagio Allegro Allegro • 18 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Tomaso Albinoni Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra conserva-se um notável conjunto de códices musicais manuscritos e impressos setecentistas, outrora pertencentes ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, importante instituição religiosa com reconhecido papel na História da Música Portuguesa nos séculos XVI e XVII. O século XVIII assume também especial notoriedade devido à existência de importantes fontes para as obras de Carlos de Seixas (1704-1742) – o maior compositor de música instrumental do barroco português – e do grande Alessandro Scarlatti (1660-1725), famoso sobretudo pelas suas óperas e oratórias; de ambos se conservam várias obras originais sem qualquer correspondência entre outras fontes conhecidas. Nesta coleção conserva-se ainda a única fonte de música de tecla germânica barroca em Portugal. Reunida pelo organista do Mosteiro D. Jerónimo da Encarnação (ca.1705-1780) a coleção contém sobretudo um extraordinário espólio de obras instrumentais de câmara – na sua maioria para violino e baixo contínuo – datadas da 1ª metade do século XVIII. As fontes mais relevantes são os manuscritos que preservam sonatas de Arcangelo Corelli (1653-1713) – o mais famoso e In the Library of the University of Coimbra is preserved a noteworthy archive of musical 18th-century manuscripts and prints, formerly belonging to the Monastery of the Holy Cross at Coimbra, an important religious institution with an important role in the history of Portuguese music in the 16th and 17th centuries. The 18th century was also especially significant on account of the existence of important sources of the works of Carlos de Seixas (1704-1742) – the greatest Portuguese baroque composers of instrumental music – and of the great Alessandro Scarlatti (1660-1725), famous above all for his operas and oratorios: there survive various original works by both of them with no correspondence in other known sources. In this collection there is also preserved the only original source of German baroque keyboard music in Portugal. Brought together by the organist of the Monastery, Brother Jerónimo da Encarnação (ca.1705-1780), the collection includes above all a remarkable series of instrumental chamber music – in the main for violin and continuo – dating from the first half of the 18th century. The most significant sources are manuscripts containing sonatas by Arcangelo Corelli (1653-1713) – the most famous and influential violinist of his time, active principally • 19 • Michele Mascitti MADEIRA ORGAN FESTIVAL influente violinista da sua época, ativo sobretudo em Roma, mas professor de uma “legião” de discípulos distintos e geniais; Michelle Mascitti (1664-1760) – aluno de Corelli, e ativo sobretudo em Paris, onde “introduziu” o estilo italiano; Tommaso Albinoni (1671-1750) – ativo em Veneza mas reconhecido por toda a Europa, de Viena a Amesterdão, passando por Munique e Londres, e grandemente apreciado por J. S. Bach; Carl’Ambrogio Lonati (1745-ca.1710) – ativo em várias cortes do Norte de Itália como cantor, violinista e empresário, mas também em Roma e em Viena; e Pietro Paolo Capellini (2ª metade do século XVII) – com atividade conhecida apenas em Roma. A coleção abarca ainda edições impressas originais de obras de dois outros famosos alunos de Corelli: Francesco Saverio Geminiani (1687-1762) – ativo sobretudo em Londres; e Giuseppe Valentini (1681-1753) – compositor, poeta e pintor ativo em Roma; e, finalmente, composições de Francesco Maria Veracini (1690-1768) – um grande virtuoso nascido em Florença, ativo em Veneza, Londres e Dresden. Esta coleção, única em Portugal, atesta a importante renovação do repertório de música Alessandro Scarlatti Arcangelo Corelli in Rome, but teacher of a legion of different and hugely talented disciples: Michelle Mascitti (1664-1760) – pupil of Corelli and active mainly in Paris, where he “introduced” the Italian style; Tommaso Albinoni (1671-1750) – active in Venice but known all over Europe, from Vienna to Amsterdam, and including Munich and London, and greatly appreciated by Bach; Carl’Ambrogio Lonati (1745-ca.1710) – active in various courts of Northern Italy as a singer, violinist and empresario, but also in Rome and Vienna; and Pietro Paolo Capellini (born in the second half of the 17th century) – known to have been active only in Rome. The collection also includes original printed editions of works by two other famous pupils of Corelli: Francesco Saverio Geminiani (1687-1762) – active mainly in London; and Giuseppe Valentini (1681-1753) – composer, poet and painter active in Rome; and, finally, compositions by Francesco Maria Veracini (16901768) – a great virtuoso born in Florence, active in Venice, London and Dresden. This collection, unique in Portugal, bears witness to the important renovation of the chamber music repertoire known and used in the country in the first half of the 18th century and the subsequent develop- • 20 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA de câmara conhecido e praticado no nosso país na 1ª metade do século XVIII e o consequente desenvolvimento da prática instrumental. Comprova ainda a integração de Portugal na complexa e extensa rede europeia de circulação do repertório que permitiu a rápida difusão de modelos estéticos inovadores, bem como as complexas relações musicais de Portugal com os principais centros musicais europeus como Roma, Nápoles, Londres, Amesterdão, Paris e mesmo Viena e Dresden. Os monges crúzios estavam de facto a par do que de melhor se compunha na Europa para o violino, revelando um ambiente cultural e estético cosmopolita e atualizado. Este programa proporciona assim não só uma visão precisa e cuidadosa sobre a prática musical quotidiana do Mosteiro de Coimbra, mas ao mesmo tempo convida o público a uma viagem pela Europa setecentista seguindo os passos de músicos virtuosos e talentosos, da sua maioria originários de Itália, mas que encontraram trabalho nas mais diversas cortes da Europa, inebriando os mais altos potentados civis e eclesiásticos com o cantabile das suas melodias, a inventividade da sua ornamentação, o arrojo apaixonado das suas harmonias e as acrobacias das suas proezas técnicas. Hoje, passados mais de 300 anos é o Ludovice Ensemble que tem o prazer e o orgulho de trazer ao público madeirense estas obras-primas do passado, mas que permanecem atuais e vivas pelos sentimentos e afectos que continuam a suscitar. ment of instrumental practice. It also proves the integration of Portugal in the complex and extensive network of the circulation of repertoire that allowed the rapid diffusion of innovative aesthetic models, as well as the complex musical relations between Portugal and the main European musical centres such as Rome, Naples, London, Amsterdam, Paris and even Vienna and Dresden. The monks of Holy Cross were, indeed, aware of the best music for violin being written in Europe, revealing a cosmopolitan and up-to-date cultural and aesthetic world. This programme therefore offers not only a precise and careful vision of the daily musical practice of the monks of the Monastery of Coimbra, but at the same time invites the audience to come on a journey through 18th-century Europe in the steps of virtuosic and talented musicians, in the main originally from Italy, but who found work in the most varied courts of Europe, inebriating the highest civil and ecclesiastical powers with the cantabile of their melodies, the inventiveness of their ornamentation, the passionate daring of their harmonies and the acrobatics of their technical feats. Today, more than 300 years later, the Ludovice Ensemble has the pleasure and pride to bring to the public of Madeira these masterpieces from the past, but which remain up-to-date and alive through the feelings and emotions that they continue to provoke. Fernando Miguel Jalôto • 21 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 13’OUTOCT Terça-feira Tuesday 11h00 11.00 a.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO PEDRO 13’OUTOCT Terça-feira Tuesday 12h00 12.00 p.m. SÉ CATEDRAL FUNCHAL‘S CATHEDRAL João Vaz, Dinarte Machado Visita comentada aos órgãos / guided tour to the organs A presença inglesa A presença inglesa na Madeira, sentida sobretudo ao longo do século XIX, teve diversas repercussões na vida cultural. Um dos sinais dessa influência foi a importação de um número significativo de órgãos produzidos em Inglaterra, os quais vieram a equipar várias igrejas da Ilha. Esta visita pretende dar a conhecer dois dos instrumentos ingleses que hoje subsistem no Funchal: o órgão da Igreja de São Pedro, um pequeno instrumento construído pela firma Flight & Robson e que subsiste num estado próximo do original, e o órgão da Sé do Funchal, um instrumento de maiores dimensões, originalmente montado por T. A Samuel e que sofreu muitas transformações até aos nossos dias. A visita permitirá desvendar algumas das caraterísticas do funcionamento destes dois instrumentos, assim como a audição de obras a eles especialmente adaptadas. The English presence The English presence in Madeira, evident above all during the course of the 19th century, had a number of repercussions in cultural life. One of the signs of this influence was the importation of a significant number of organs built in England, which were installed in various churches on the Island. The aim of this tour is to present two of the English instruments that survive today in Funchal: the organ of the Church of São Pedro, a small instrument build by the firm of Flight & Robinson and which survives in very nearly original condition, and the organ of the Cathedral of Funchal, an instrument of larger dimensions, originally built by T.A. Samuel and which has undergone many transformations up to the present day. The tour will reveal some of the characteristics of the way these two instruments function, as well as the possibility of hearing works specially adapted for them. • 22 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA 13’OUTOCT Terça-feira Tuesday 18h00 6.00 p.m. SALA DO PÁTIO, REITORIA DA UMA PATIO ROOM, RECTORY OF THE UNIVERSITY OF MADEIRA Pe. Ignácio F. Rodrigues, Dinarte Machado, João Vaz Conferência / lecture O órgão na Região Autónoma da Madeira The organ in the Autonomous Region of Madeira Na sequência das conferências realizadas em 2012 e 2013, nas quais se traçou uma panorâmica da presença do órgão na história portuguesa através de testemunhos deixados ao longo dos séculos e se apontou a situação atual do órgão na liturgia, numa perspectiva de compreensão do próprio instrumento e do papel que desempenhou em diferentes períodos da História, esta conferência pretende fazer um balanço das atividades levadas a cabo na Região Autónoma da Madeira durante as últimas décadas e lançar pistas para o futuro da utilização do órgão, tendo em conta as necessidades culturais e litúrgicas de hoje e a variedade de instrumentos que dotam as igrejas madeirenses. Further to the conferences organized in 2012 and 2013, in which a panorama of the presence of the organ in Portuguese history was traced, through testimony left over the course of the centuries, and in which the current situation of the organ in the liturgy was discussed, within the context of understanding the instrument itself and the role it has taken on a different times in history, this lecture aims to assess the activities carried out in the Autonomous Region of Madeira during the last decades and to open paths for the future of the use of the organ, bearing in mind the cultural and liturgical needs of today and the variety of instruments with which the churches of Madeira are endowed. • 23 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 14’OUTOCT Quarta-feira Wednesday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SANTA LUZIA Ann Elise Smoot, órgão / organ Thomas Arne (1710-1778) John Stanley (1712-1786) Concerto I (Introduction and Fugue) (Six Favourite Concertos, for the Organ, Harpsichord, or PianoForte) Voluntary I em dó maior / in C major (op. 5) Joanna Marsh (n.1970) John James (m. 1745) Four musical clocks Voluntary em mi menor / in E minor I - The White Rabbit’s Pocket Watch III - Midnight Sunshine IV - At the Twelfth Strike William Byrd (c.1540-1623) Miserere in 3 Parts William Russell (1777-1813) Peter Maxwell Davies (n. 1934) Reliqui Domum Meum Voluntary II (Twelve Voluntaries for the Organ or Piano Forte) Alan Gibbs (n. 1932) Samuel Sebastian Wesley (1810-1876) Peacehaven Preludes Canção coral e fuga Choral Song and Fugue I - Exuberance IV - Meditation on a French Tune III - Calypso Um floreio de galanterie barroca tardia abre o programa de hoje, com um concerto que, apesar da sua origem inglesa, traz muitas das características de uma abertura francesa: uma secção de abertura majestosa, cheia de ritmos ponteados e floreados, seguida por um Allegro mais transparente. O concerto de Arne vem de um a colectânea de obras semelhantes escritas para serem tocadas nos instrumentos de tecla mais populares do dia; tais colectâneas “multi-propósito” eram possíveis de vender a um maior número de músicos, e assim trazer mais lucro para os editores. Mas além dos aspectos práticos fiscais destas colectâneas, o título lembra-nos também que o órgão inglês ainda não tinha emergido como um instrumento em si, com o seu próprio repertório dedicado, atrasado neste aspecto em relação ao resto da Europa. O títu- A flourish of late baroque galanterie opens this evening’s programme, with a concerto that, despite its English provenance, certainly bears many of the hallmarks of a French overture: a stately opening section, full of dotted rhythms and flourishes, followed by a more transparent Allegro. Arne’s concerto comes from a collection of similar works written to be played on the most popular keyboard instruments of the day; such ‘multi-purpose’ collections were able to be marketed to a wider cross-section of musicians, and therefore net their publishers more income. But beyond the fiscal practicalities of such collections, the title also reminds us that the English organ had not yet emerged as an instrument in its own right, with its own dedicated repertoire, lagging far behind the rest of Western Europe in this regard. The title ‘Voluntary’ had gained • 24 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA lo “Voluntary” tinha-se tornado muito popular após o estabelecimento da Igreja de Inglaterra. Os compositores precisavam de novas formas para novas funções nas liturgias reformadas, sem base no canto-chão e sem ligação aberta com estilos prévios de composição romano-católicos. Assim nasceu o voluntary – uma forma que poderia inicialmente indicar qualquer obra em estilo livre. Na altura em que John James estava a compor os seus voluntaries, a forma tinha evoluído de maneira a indicar normalmente uma estrutura em duas secções, geralmente com uma primeira parte majestosa e lenta, seguida por uma conclusão mais rápida, às vezes mais frívola e certamente mais ligeira, parecida com os estilos profanos populares de concerto da época. Em termos de registos para a parte lenta inicial, usavam-se frequentemente os principais, tanto de 8´ abertos como de fechados, enquanto as secções finais mais rápidas normalmente faziam uso de uma cor solista (corneto, trompete, etc), por cima de um acompanhamento mais plácido, como se fosse um baixo contínuo. Byrd compôs muitos voluntaries, mas este Miserere, baseado num canto-chão, é uma obra da sua juventude, escrita provavelmente em, ou antes, da década dos 1560. Ouve-se o canto-chão (uma Thomas Arne William Byrd widespread use in the period after the establishment of the Church of England. Composers needed new forms to perform functions in the new reformed liturgies, not plainsong-based or overtly linked with previous Roman Catholic styles of composition; hence, the voluntary – a form which, at its inception, could encompass almost any kind of free-style work, was born. By the time John James was composing his voluntaries, the form had evolved usually to mean a two-part structure, most often with a slow, stately opening, followed by a faster, sometimes almost frivolous and certainly lighter conclusion, akin to the popular secular concerto styles of the day. The registration for the slow opening would often be on the ‘diapasons’ – i.e. both the 8’ open and stopped variety, while the quicker concluding sections often involved a solo colour (cornet, trumpet etc.) set off against a quieter, continuo-like accompaniment. Byrd himself was a composer of many voluntaries, but this plainsong-based Miserere is an early work, probably written in – or even before – that early 1560s. The plainsong (a Dorian mode antiphon Clari- • 25 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL antífona no modo dórico, Clarifica me, Pater) na primeira voz, com as duas vozes em baixo lutando em contraponto cada vez mais complexo. É provável que esta obra, com as outras duas, a 2 e 4 vozes, não tenha sido escrita para um propósito litúrgico – embora, como um católico romano convicto, Byrd tenha continuado a compor para a liturgia romana durante o resto da sua carreira, dependendo do apoio e do mecenato de indivíduos abastados e influenciais para evitar dificuldades com as autoridades. Reliqui Domum Meum de Peter Maxwell Davies foi escrito à memória do seu grande amigo Richard Hughes, e estreado em Abril de 1996. Uma obra contemplativa e comovente, faz lembrar obras de uma época anterior, sugerindo as texturas da Alemanha do século XVI ou do início do século XVII, mas com as cores distintivas da linguagem harmónica de Maxwell Davies. Os Peacehaven Preludes de Alan Gibbs são descritos pelo compositor como “cinco ostinati para serem tocados como voluntaries ou como uma suite”, com pedais como opção em quatro das cinco peças. Cheios de vigor rítmico e harmonias frequentemente quase modais, os títulos dos andamentos falam por eles próprios. Voltando ao século XVIII, a próxima no programa, John Stanley Samuel Sebastian Wesley fica me, Pater) is heard in the top voice, with the lower two voices sparring in increasingly complex counterpoint. This work, along with its two companion pieces in 2 and 4 parts, was probably not written for any liturgical purpose - although, as a lifelong Roman Catholic, Byrd continued to compose for the Roman liturgy for the remainder of his career, relying on the support and patronage of wealthy and influential individuals to smooth things over with the authorities. Peter Maxwell Davies’s Reliqui Domum Meum was written in memory of his good friend Richard Hughes, and was first performed in April 1996. A reflective, poignant work, it harkens back to works of a much earlier time, recalling the textures of 16th or early 17th century Germany, but with the distinctive colours of Maxwell Davies’s own harmonic language. Alan Gibbs’s Peacehaven Preludes are described by the composer as ‘five ostinati to be played as voluntaries or as a suite’, with pedals optional in four of the five pieces. Full of rhythmic vigour and Gibbs’s often quasi-modal harmonies, the movements’ titles speak for themselves. Working our way back to the eighteenth century, the next item on the pro- • 26 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA um voluntary de Stanley, não tem a forma normal de duas partes, mas quatro andamentos curtos: a habitual abertura lenta para os principais, m diálogo vivo para trompete, um breve interlúdio em lá menor, e um andamento Allegro para “Eco” e flauta (provavelmente 4’). Os Four Musical Clocks de Joanna Marsh inspiram-se am histórias sobre relógios em literatura infantil bem conhecida. Podem ser tocados com qualquer das obras para relógio musical de Haydn, ou sozinhos, em qualquer ordem. O Coelho Branco é um personagem retratado vividamente em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. Em O Jardim de Meia-Noite do Tom, de Philippa Pearce, o rapaz, ainda desperto, na cama, ouve o relógio toca 13 vezes, e descende as escadas, onde descobre que o jardim nocturno está cheia de luz. A duodécima badalada refere-se à conhecidíssima história de Cindarela, e a obre sugere os cavalos galopantes quando ela tenta fugir do palácio antes que a sua aparência transformada pela magia desapareça. Como a obra de Arne, o voluntary melodioso de Russell vem de uma outra colectânea destinada ao órgão ou ao cravo e, como os seus antecessores, tem uma forma em duas partes, mas com S.S: Wesley, vemos o início da escola moderna inglesa de órgão. A Choral Song and Fugue foi editada em 1842, como parte de um conjunto de três peças para “órgão de câmara”, mas com os novos pedidos técnicos que faz ao instrumento e ao organista, e nas texturas mais grossas, mais orquestrais, Wesley já começa a estabelecer as bases para as obras maiores, mais grandiosas, de Stanford, Parry e, finalmente, Elgar, na parte final do século XIX. gramme, a voluntary by Stanley, does not follow the common two-part form, but rather features four short movements: the usual slow opening for diapasons, a lively dialogue for trumpet, a brief interlude in A minor, and an Allegro movement for ‘Echo’ and (likely 4’) flute. Joanna Marsh’s Four Musical Clocks are inspired by stories about clocks in well-known children’s literature. They can be paired with any of the Haydn Musical Clock pieces, or performed on their own, in any order. The White Rabbit is a vividly depicted character in Lewis Carroll’s Alice in Wonderland. In Philippa Pearce’s book Tom’s Midnight Garden, the young boy lying awake in bed hears the grandfather clock strike 13, and creeps downstairs to find that the nocturnal back garden is filled with sunlight. The twelfth strike refers to the well-known tale of Cinderella, and the piece conjures up images of the galloping hooves of the horses as she tries to flee the palace before her magical finery disappears. Like the Arne, Russell’s tuneful voluntary comes from another collection intended either for the organ or harpsichord, and, like its earlier predecessors, is in bipartite form, but with SS Wesley we begin to see the emergence of the modern English organ school. The Choral Song and Fugue was published in 1842 as part of a set of three pieces for ‘chamber organ’, but in his expansion of the demands he places on the instrument (and the player), and in the thicker, more orchestral textures, Wesley is already laying the groundwork for the larger, grander works of Stanford, Parry, and, finally, Elgar of the later part of the 19th century. Ann Elise Smoot • 27 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 15’OUTOCT Quinta-feira Thursday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO JOÃO EVANGELISTA [Colégio] Élio Carneiro, grande órgão / great organ* Sérgio Silva, órgão de coro / choir organ** Johann Sebastian Bach (1685-1750) Prelúdio de coral / chorale prelude Christ, unser Herr, zum Jordan kam BWV 685** Prelúdio de coral / chorale prelude Aus tiefer Not schrei ich zu dir BWV 686* Prelúdio de coral / chorale prelude Aus tiefer Not schrei ich zu dir BWV 687** Prelúdio de coral / chorale prelude Vater unser im Himmelreich BWV 682* Prelúdio de coral / chorale prelude Allein Gott in der Höh sei Ehr BWV 676* Prelúdio de coral / chorale prelude Vater unser im Himmelreich BWV 683** Fughetta Allein Gott in der Höh sei Ehr BWV 677** Prelúdio de coral / chorale prelude Jesus Christ, unser Heiland BWV 688* Prelúdio de coral / chorale prelude Wir gläuben all an einen Gott BWV 680* Fuga sobre Jesus Christ, unser Heiland BWV 689** Fughetta Wir gläuben all an einen Gott BWV 681** Sinfonia da Cantata / from the Cantata Wir danken dir, Gott BWV 29 (arranjo para 2 órgãos de / arrangement for 2 organs by Sérgio Silva) Prelúdio de coral / chorale prelude Christ, unser Herr, zum Jordan kam BWV 684* No ano em que se comemoram os trezentos e trinta anos do nascimento de Johann Sebastian Bach (1685), o presente programa é inteiramente baseado na sua produção. Excluindo a última peça, o programa consiste na apresentação de obras selecionadas de uma das coleções mais importantes e extensas para órgão do compositor – a terceira parte dos Clavierübung – publicada em 1739. Esta coleção apresenta-se sob a forma de uma missa: entre os andamentos inicial e conclusivo do Prelúdio e Fuga em Mi bemol maior, BWV 552, estão vinte e um corais da missa e do catecismo luterano (dez corais com duas versões cada, excepto o Allein Gott que apresenta uma terceira versão; BWV 669689). A coleção apresenta ainda quatro duetos (BWV 802-805) fora da estrutura da missa. In the year in which we commemorate the three-hundred-and-thirtieth anniversary of the birth of Johann Sebastian Bach (1685), the present programme is entirely dedicated to his output. With the exception of the last piece, the programme is made up of works selected from one of the most important and extensive of the composer’s collections for organ – the third part of the Clavierübung, published in 1739. This collection is in the form of a mass: between the opening and closing movements of the Prelude and Fugue in E flat major, BWV 552, we find twenty-one chorales for the Lutheran mass and catechism (ten chorales with two versions each, except Allein Gott, which exists in three versions; BWV 669-689). the collection also includes four duets (BWV 802-805) from outside • 28 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA A investigação tende a associar simbolicamente a coleção dos corais ao grande e pequeno catecismo de Martinho de Lutero, uma que vez que o compositor destinou parte dos corais ao grande órgão, com uma escrita e tratamento polifónico complexo e variado, e a restante para um órgão pequeno, sem recurso à pedaleira ou a mais de um teclado, e, consequentemente, menos elaborados e diversificados estilisticamente. Na coleção dos corais, o estilo de escrita de Bach varia entre a adopção de formas modais, cânones e motetes, reminiscências do stile antico, caso de Aus tiefer Not schrei ich zu dir, BWV 686, e as formas musicais modernas do Barroco, como o coral no estilo francês em Wir gläuben all’ an einen Gott, BWV 681. A cantata Wir danken dir, Gott, BWV 29 foi composta e estreada no ano de 1731 na Igreja de São Nicolau em Leipzig, por ocasião de Ratswechsel, a inauguração de um novo conselho municipal, normalmente celebrada anualmente com um serviço litúrgico particular. Processo recorrente enquanto compositor, no primeiro andamento da cantata – Sinfonia – Bach baseou o material musical numa obra sua pré-existente – Partita Nº 3 para violino solo em Mi maior, BWV 1006 – confiando a parte virtuosa e solista ao órgão, originalmente destinada ao violino, sustentada pelo acompanhamento da orquestra. Não deixa de ser curioso o facto de que, tendo Bach uma relação muito íntima com o órgão, a orquestração patente na Sinfonia, em que este instrumento é solista e não acompanhador, é muito rara na sua produção, senão mesmo caso único. O arranjo para dois órgãos do primeiro andamento da cantata, da minha autoria, consiste na atribuição do papel de solista ao órgão pequeno (Machado e Cerveira) e a orquestra ao órgão grande (Dinarte Machado), devido sobretudo à exploração da paleta de recursos de cada instrumento. the structure of the mass. Research has tended to associate the collection of chorales symbolically with the large and small catechisms of Martin Luther, since most of the chorales are intended for a large organ, complex and varied in their writing and polyphonic treatment, and the rest for small organ, without recourse to the pedalboard or more than one keyboard, and, therefore, less elaborate and diversified stylistically. In the collection of chorales, Bach’s style of writing varies between the adoption of formal models, canons and motets, reminiscences of the stile antico, as is the case with Aus tiefer Not schrei ich zu dir BWV 686, and the modern forms of the baroque, such as the chorale in French style, Wir gläuben all’ an einen Gott BWV 681. The cantata Wir danken dir, Gott BWV 29 was composed and first performed in 1731 at the Church of St Nicholas in Leipzig, on the occasion of the Ratswechsel, the inauguration of a new municipal council, normally celebrated annually with a private liturgical service. As is common with the composer, in the first movement of the cantata – Sinfonia – Bach based the musical material on that of another work, his Partita no. 3 for solo violin in E minor BWV 1006 – giving the virtuosic solo part, originally for the violin, to the organ, accompanied by the orchestra. It is interesting that given that Bach had a very intimate relationship with the organ, the orchestration in the Sinfonia, in which the instrument is a soloist rather than accompanist, is very rare in his output, if note unique. The arrangement for two organs of the first movement of the cantata, made by the present writer, gives the soloist’s role to the small organ (Machado e Cerveira) and the orchestral part to the large (Dinarte Machado), principally on account of the exploration of the way in which each instrument exploits is range of colours. Sérgio Silva • 29 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 16’OUTOCT Sexta-feira Friday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF SÃO MARTINHO CanteChão João Moreira, tenor Manuel Rebelo, barítono / baritone Sérgio Silva, baixo / bass João Vaz, órgão / organ Tradicional (Alentejano) / Traditional from the Alentejo Tradicional (Córsega) Beata viscera Quinta-feira de Assunção Anónimo / Anonymous Frei Domingos de São José (séc. XVII / 17th c.) (Buxheimer Orgelbuch, séc. XV / 15th c.) Portugaler Leonin (c.1150-1201) Obra de 5º tom Anónimo / Anonymous (Cancioneiro de Palacio, séc. XVI) Haec dies ¡Oh Reyes Magos benditos! António Carreira (a.1530-a.1594) Francisco Correa de Arauxo (1584-1654) Glosas sobre el canto llano de la Inmaculada Concepción (Facultad Organica, 1626) Fantasia em ré Tento com cantus firmus Fantasia em Lá-Ré Anónimo / Anonymous (Cancioneiro de Palacio, séc. XVI / 16th c.) Tradicional (Alentejano) / Traditional from the Alentejo Entrai, pastores, entrai Ay, Santa María Pedro de Araújo (séc. XVII) Manuel Rodrigues Coelho (c.1555-1635) Obra de passo solto de 8º tom Kirios de 1º tom (alternado com cantochão / alternated with plainchant) Filipe da Madre de Deus (c.1630-1687) Salve Regina • 30 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA A voz é um meio de expressão musical transverThe voice is a means of musical expression sal a todas as civilizações e a todos os períodos found in all civilizations and all periods of hisda história. O carácter emocional e intuitivo da tory. The emotional and intuitive character of voz, assim como a sua evidente inerência à cothe voice, as well as its obvious inherency to municação do ser humano fazem da expressão communication between human beings, make vocal um meio natural para a expressão de múlvocal expression a natural medium for the extiplas realidades. Esta naturalidade explica o pression of many realities. This naturalness facto de a voz ser um dos veículos mais comuns explains the fact that the voice is one of the para a música de raiz popular. O cante alentemost common vehicles for folk music. Cante jano, recentemente declaalentejano, recently derado património imaterial clared intangible culturuniversal pela UNESCO, al heritage by UNESCO, é um exemplo paradigis a paradigmatic exmático desta situação. ample of this situation. Perpetuado através das Perpetuated by the uninconfundíveis vozes dos mistakeable voices of trabalhadores rurais, canrural workers, sung in tado em uníssono ou com unison or simply parallel simples harmonias paraharmonies and without lelas e sem acompanhainstrumental; accommento instrumental, esta paniment, this way of forma de cantar parece singing seems to transtransparecer a dolência mit the suffering expeque se experimenta sob o rienced under the torrid tórrido sol do Alentejo. As sun of the Alentejo. The lentas melodias servem slow melodies serve for igualmente para veicular both religious and secutextos religiosos ou prolar texts. This repertoire fanos. Este repertório tem has been the object of Francisco Correa de Arauxo, Facultad Organica sido alvo de atenção duresearch during the last (1626) rante as últimas décadas, decades, and led to an o que levou a um levanextensive survey of a tamento extensivo de um vast number of chants. vasto número de cantos. De cariz semelhante, o Similar in character, the cantu in paghjella of cantu in paghjella da Córsega utiliza três regisCorsica uses three different vocal registers of tos diferentes da voz masculina que se movem the male voice which move in parallel motion paralelamente durante a maior parte do tempo. for most of the time. These chants, transmitEstes cantos, transmitidos oralmente ao longo ted orally over the centuries, have a comdos séculos, têm uma estrutura comum, com a mon structure, the second voice beginning, segunda voz a iniciar, seguida pelo baixo e finalfollowed by the bass and finally by the upper mente pela voz superior. Também no cantu in pavoice. In cantu in paghjella secular and sacred ghjella coexistem poemas profanos e religiosos. texts also coexist. The adjective “Gregoriano” O adjetivo “gregoriano” aponta para o papa S. refers to Pope St Gregory the Great who, acGregório Magno que, de acordo com a tradição, cording to tradition, was responsible for the terá sido responsável pela versão final de alguns final versions of some of the chants of the cantos no final do século VI. De uma forma mais end of the 6th century. More strictly, the term • 31 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL estrita o termo “canto gregoriano” aplica-se apenas a essas melodias, distinguindo-se quer de versões anteriores ou paralelas (canto ambrosiano, canto mozárabe, etc.), quer das múltiplas variantes que ao longo dos séculos as melodias foram sofrendo, de acordo com as transformações do gosto musical. No entanto, o termo é normalmente usado para referir a vasta coleção de melodias que perdura desde há séculos como a música oficial da Igreja Católica Romana. No presente programa, estas diferentes manifestações vocais são apresentadas ao lado de obras para órgão dos séculos XV a XVII, baseadas em melodias vocais pré-existentes. O órgão é também aqui ouvido como elemento exterior que apoia as vozes em diversas dimensões: criando uma teia contrapontística que envolve um cantus firmus, duplicando as linhas de uma peça polifónica vocal, executando um simples bordão como apoio ao cantochão ou proporcionando um acompanhamento ostinato nos arranjos do cante alentejano. Como que estabelecendo uma ponte entre a voz e o órgão, o organum, um dos primei- “Gregorian chant” is applied only to these melodies, being distinguished from both early or parallel versions (Ambrosian chant, Mozarabic chant, etc.) and the multiple variants which the melodies underwent over the centuries, in accordance with changes in musical taste. However, the term is normally used to refer to the vast collection of melodies that survives to this day as the official music of the Roman Catholic Church. In the present programme, these different vocal manifestations are given together with organ works from the 15th - 17th centuries, based on pre-existing melodies. The organ is also heard here as an outside element that supports the voices in various ways: creating a contrapuntal web around a cantus firmus, duplicating the lines of a piece of vocal polyphony, playing a simple drone supporting the chant, or providing an ostinato accompaniment in the arrangements of cante alentejano. As though to establish a bridge between the voice and the organ, organum, one of the first examples of polyphony in • 32 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA ros exemplos de polifonia na história da música ocidental, sobrepõe uma linha melódica ornamentada a uma melodia pré-existente executada em valores muito longos. A dificuldade (ou impossibilidade) de cantar essas longas notas é facilmente superada pela participação do órgão, instrumento para o qual a duração dos sons não tem limite. O organum foi o ponto de partida para uma longa tradição de polifonia vocal que se estendeu a praticamente toda a Europa durante vários séculos. Em Portugal, fundamentalmente como efeito da Contra-Reforma, a polifonia religiosa de raiz vocal manteve-se até ao final de seiscentos. Embora progressivamente permeáveis aos maneirismos composicionais da seconda pratica, os polifonistas lusitanos seiscentistas conservaram-se fiéis a uma estrutura polifónica evidentemente radicada na tradição do século anterior, mantendo sempre a voz como veículo preferencial de expressão. the history of Western music, superimposes an ornamented melodic line over a pre-existing melody sung in very slow note values. The difficulty (or impossibility) of singing these long notes is easily got round with the use of the organ, an instrument for which the duration of sounds has no limit. Organum was the starting point for a long tradition of vocal polyphony that stretched throughout Europe for a number of centuries. In Portugal, chiefly as a result of the Counter-Reformation, sacred vocal polyphony continued until the end of the 17th century. Though progressively more open to compositional mannerisms of the seconda prattica, Portuguese composers of the 17th century stayed faithful to a polyphonic structure clearly rooted in the tradition of the previous century, still maintaining the voice as the preferred means of expression. João Vaz • 33 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 17’OUTOCT Sábado Saturday 21h30 9.30 p.m. IGREJA DE CHURCH OF NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (Machico) Sérgio Silva, órgão / organ Antonio de Cabezón (1510-1566) Pablo Bruna (1611-1679) Diferencias sobre la Gallarda Milanesa Tiento de 2º tono por Ge sol re ut “Sobre la letanía de la Virgen” António Carreira (c.1530-c.1594) Pedro de Araújo (Fl.1663-1705) Canção Tento do 2º tom Manuel Rodrigues Coelho Diogo da Conceição (Século XVII) (c.1555-c.1635) Kyrios do primeiro tom por de la sol re Batalha de 5º tom Juan Cabanilles (1644-1712) Sebastian Aguilera de Heredia Corrente italiana (c.1561?-1627) Obra de 8º tono alto: Ensalada Carlos Seixas (1704-1742) Francisco Correa de Arauxo Sonata para órgão em Sol maior / Sonata for organ in G major (1584-1654) Marcos Portugal (1762-1830) Tiento de medio registro de dos tiples de septimo tono Sonata para órgão / Sonata for organ A música para órgão na Península Ibérica teve o seu período de ouro entre os séculos XVI e XVII, desde os compositores Cabezón e Carreira até Araújo e Cabanilles. Influenciada inicialmente pelos modelos estrangeiros, é caracterizada pela sua insularidade e conservação, sentida principalmente no século XVII. Em plena eclosão do Barroco e da sua linguagem harmónica tonal no resto da Europa, apresentava ainda claros vestígios do Renascimento, como o facto de ser composta na teoria do modalismo. Para compensar, o dialecto musical era bastante colorido e enriquecido com factores pungentes, como o uso frequente de tríades aumentadas, falsas relações, tratamento da dissonância não canónico, contraponto livre, associado a uma variedade rítmica com mudanças The golden age of organ music in the Iberian Peninsula was during the 16th and 17th centuries, from Cabezón and Carreira to Araújo and Cabanilles. Influenced initially by foreign models, it is characterized by its insularity and conservatism, especially in the 17th century. At the time of the full manifestation of the baroque and its tonal language throughout the rest of Europe, it still showed clear vestiges of the renaissance, such as the fact of it being still composer according to modal theory. On the other hand, the musical dialect was highly coloured and enriched with exotic elements, such as the use of augmented triads, false relations and uncanonical treatment of dissonance, free counterpoint, associated with a • 34 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA súbitas de humor de valores longos e austeros para ritmos frenéticos de dança, com síncopas e acentuações inesperadas. A textura tipificada a quatro vozes em polifonia modal é um dos princípios assentes para a literatura desta época. O tento, ou tiento, é indubitavelmente o género mais frequente, assumindo várias espécies ao longo dos dois séculos, desde a sua forma mais ancestral ao modo dos ricercari italianos, até ao tiento de falsas e de meio-registo. A maior parte da música para órgão na Península Ibérica desenvolveu-se no seio da liturgia do rito católico. A necessidade da criação de repertório estaria relacionada, por um lado, com o facto de que as antífonas cantadas não seriam suficientemente longas para acompanhar as procissões do ritual, sendo necessário o órgão completar o momento processional de música, por outro, a prática do alternatim, que consistia em alternar versos de cantochão de determinadas rubricas litúrgicas com pequenos versos instrumentais, caso dos Kyrios de Manuel Rodrigues Coelho. Não obstante, encontra-se alguma produção baseada em temas profanos, como as Diferencias sobre la Gallarda Milanesa, a Canção a 4 glosada e a Corrente italiana. É irrefutável o facto Carlos Seixas Juan Cabanilles rhythmic variety with sudden changes of mood from long and austere note values to frenetic dance-like rhythms, with syncopation and unexpected accentuations. The typical four-part polyphonic texture of four voices is one of the principal bases for the literature of the time. The tento, or tiento, is undoubtedly the most common genre, assuming various characters over the course of two centuries, from its most ancient form in the style of the Italian ricercare to the tiento de falsas and of meioregisto. Most of the organ music from the Iberian Peninsula was developed within the framework of the Catholic rite. The need for the creation of new repertoire had to do with, on the one hand, the fact that sung antiphons were not long enough to accompany the ritual processions, the organ being necessary to complete the moment musically, and, on the other, the practice of alternatim, the alternation of verses in plainchant in certain liturgical contexts with short instrumental verses, as is the case with the Kyrios by Manuel Rodrigues Coelho. However, there are some works built on secular themes, such as the Diferencias sobre la Gallarda Milanesa, the Canção a 4 glosada and the Corrente italiana. It is undeniable that the music was always composed as part of an intimate relationship with the instru- • 35 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL ment. Organ-building de que a música sempre in Europe developed foi composta em íntima into specific schools relação com o instruand trends over the mento. A organaria na course of the history Europa diversificou-se of the organ, tempoem escolas ou correnrally and geographites específicas ao longo cally. Thus, from the da história do órgão, end of the 16th century, temporal e geograficaorgan-building in the mente. Desta forma, a Peninsula also bepartir de finais do ségan to take on its own culo XVI, a organaria na style. Until then, it was Península também tensimilar to the organde a assumir um estilo building in the rest of próprio. Até então, seria Europe, being closest semelhante aos órgãos to the Flemish style. do resto da Europa, With the exception of sendo mais próximos important churches do modelo flamengo. and cathedrals, the Exceptuando igrejas imPortuguese and Spanportantes e catedrais, o ish organ between the órgão português e esMarcos Portugal 16th and 19th centuries panhol entre os séculos generally had only one XVI e XIX possui geralmanual, and no keyboard. Given the limitamente apenas um teclado manual, sem pedaleira. tions this imposed, the organ-builders in the Dadas as limitações impostas pela falta de recurPeninsula developed a means of dividing the sos, os organeiros na Península desenvolveram o keyboard into two parts, one to played by the engenho de dividir o teclado em duas partes, uma left hand and one by the right, each with its que seria tocada pela mão esquerda e a outra pela own registers, this permitting the building of mão direita, cada uma com os seus registos pródifferent colours on the same keyboard, and prios, permitindo construir cores diferentes para thus the distinction of solos within a polyphono mesmo teclado, e assim a distinção de solos na ic texture, which is what happens in the tentos textura polifónica, o que acontece nos tentos de de meio registo. Another typical characteristic meio registo. Outra característica típica da orgaof Iberian organ-building os the disposition of naria ibérica é a disposição de tubos palhetados reeds placed horizontally on the facade of the colocados horizontalmente na fachada do instruinstrument, facilitating the penetrating charmento, que potencia o carácter penetrante deste acter of this kind of register, frequently used tipo de registos, frequentemente usados nas pein “battle” pieces. ças de batalha. Sérgio Silva • 36 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Manuel Rodrigues Coelho, Flores de Música (1620) • 37 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL 18’OUTOCT Domingo Sunday 18h00 6.00 p.m. IGREJA E CONVENTO DE CHURCH AND CONVENT OF SANTA CLARA Lorenzo Ghielmi, órgão e cravo / organ and harpsichord Vittorio Ghielmi, viola da gamba Domenico Zipoli (1688-1726) Karl Friedrich Abel (1723-1787) Sonata em ré menor (com material composto originariamente por Arcangelo Corelli) / Sonata in D minor (on material originally composed by Arcangelo Corelli) Duas peças do caderno de improvisações / Two pieces from the notebook of improvisations (Drexel Collection, Nova Iorque/New York) Allegro moderato Allegro Preludio Allegro Adagio Allegro Sonata em mi menor para viola da gamba e baixo contínuo / Sonata in E minor for viola da gamba and basso continuo Siciliano Allegro Presto Bernardo Pasquini (1637-1710) Variazioni per il paggio tedesco Marin Marais (1656-1728) Toccata con lo scherzo del cucco Passacagli per lo scozzese Prélude Rondeau le bijou Domenico Scarlatti (1685-1757) Antoine Forqueray (1671-1745) Sonata em ré menor K 92 Le Carillon de Passy La Leclair Chaconne, la Buisson Bernardo Pasquini, Tastata (Corrente) • 38 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Bernardo Pasquini Em Itália, a música instrumental conhece no período barroco um enorme esplendor. Muitos virtuosos foram chamados às mais importantes cortes europeias e, de todos os países, jovens músicos desejosos de se aperfeiçoarem acorriam a Veneza, Nápoles e Roma. Bernardo Pasquini, nascido na Toscânia, passou a sua vida em Roma, onde atraiu numerosos alunos, entre os quais Georg Muffat e Francesco Gasparini. A sua música é largamente influenciada por Arcangelo Corelli, de quem se torna acompanhador ao cravo. Numa viagem a Paris teve ocasião de tocar perante o Rei Sol na corte de Versalhes e, como a maior parte dos compositores italianos, escreveu muitas obras para o teatro. Hoje a sua fama deriva das suas composições para cravo e órgão, as quais chegaram a nós graças a duas preciosas coleções autógrafas. Também Domenico Zipoli, toscano de origem, terminou a sua formação musical em Roma. Partindo para a América do Sul no seguimento da Companhia de Jesus, utilizou a música nas missões jesuítas para a evangelização das populações locais. O método de órgão, que lhe é atribuído, foi encontrado num arquivo da Bolívia e contém numero- In Italy, instrumental music was at its most splendid during the baroque. Many virtuosos were called to the most important European courts and, from every country, young musicians anxious to improve their skills hurried to Venice, Naples and Rome. Bernardo Pasquini, born in Tuscany, spent his life in Rome, where he attracted numerous pupils, including Georg Muffat and Francesco Gasparini. His music is greatly influenced by Arcangelo Corelli, whose harpsichord accompanist he became. On a journey to Paris, he had occasion to perform before the Sun King at the court of Versailles and, like most Italian composers, wrote many theatrical works. Today he is known for his works for harpsichord and organ, which have come down to us thanks to two precious autograph collections. Domenico Zipoli, of Tuscan origin, also completed his studies in Rome. Leaving for South America with the Company of Jesus, he made use of music in the Jesuit missions in order to evangelize the local populations. The organ method attributed to him was found in an archive in Bolivia and contains • 39 • Retrato de Domenico Scarlatti MADEIRA ORGAN FESTIVAL Karl Friedrich Abel many adaptations for organ of violin sonatas by Corelli. Domenico Scarlatti, the greatest harpsichordist of the Neapolitan school, came to reside in the Iberian Peninsula, his sonatas were composed at the Court in Madrid. Many of them, almost always intended for harpsichord, work equally well when played on the organ. It is known that, at the Madrid Court, in addition to a harpsichord with three keyboards, there were fortepianos and a chamber organ. The viola da gamba, an instrument widely played during the renaissance, reached its apogee during the French baroque. At the Court of Versailles, the viola da gamba was the preferred instrument, and a series of virtuosos published in Paris a number of collections of compositions expressly written for the viol. From amongst these musicians the names of Marin Marais and Antoine Forqueray standout, known by their contemporaries as “the angel and the devil”. Their contrasting characters – one gentle and refined, the other irascible and impetuous – are reflected well in their mu- sas adaptações ao órgão de sonatas para violino de Corelli. Domenico Scarlatti, o maior cravista da escola napolitana, fixou-se na Península Ibérica. As suas sonatas foram compostas na corte de Madrid. Muitas destas sonatas, quase sempre destinadas ao cravo, revelam-se de grande eficácia mesmo se executadas ao órgão. Sabe-se que na corte madrilena, para além de um cravo com três teclados, existiam alguns fortepianos e um órgão de câmara. A viola da gamba, instrumento entre os mais difundidos do Renascimento, conheceu o seu apogeu no Barroco francês. Na corte de Versalhes a viola da gamba era o instrumento predileto e uma série de virtuosos publicaram em Paris diversas colectâneas de composições expressamente derivadas à viola. De entre estes músicos sobressaem os nomes de Marin Marais e Antoine Forqueray, cognominados pelos seus contemporâneos de “o anjo e o diabo”. Os seus caracteres opostos – um gentil e refinado, outro irascível Marin Marais • 40 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Antoine Forqueray, Chaconne La Buisson e impetuoso – refletem-se bem na sua música. Nas suas composições, a viola da gamba atinge o ápice das suas possibilidades técnicas e expressivas. Karl Friederich Abel é considerado o último músico que compõe para a viola da gamba, instrumento que no período romântico foi suplantada pelo mais simples e popular violoncelo. O estilo de Abel, nascido à sombra de Johann Sebastian Bach, foi muito influenciado pela escola berlinense: entre os músicos que dominavam a cena musical destacam-se os irmãos Graun e Carl Philipp Emanuel Bach. Abel estabelece amizade com Johann Christian Bach, o filho mais jovem do Cantor de Leipzig, com o qual se fixa em Inglaterra e com quem deu muitos concertos. A música de Abel deixa transparecer os alvores da escola clássica: na sua longa vida pode escutar a música de Mozart e do jovem Haydn e nas suas peças para viola solo, espécie de improvisações escritas, misturam-se com grande liberdade os idiomas barroco, galante e clássico. sic. In their compositions, the viola da gamba reaches the highest point of its technical and expressive possibilities. Karl Friedrich Abel is considered the last musician to have composed for the viola da gamba, an instrument that during the romantic period was replaced by the simpler and more popular ‘cello. Abel’s style, born in the shadow of Bach, was much influenced by the Berlin school: amongst the musicians who dominated the musical scene there stood out the Graun brothers and Carl Philipp Emanuel Bach. Abel became a friend of Johann Christian Bach, the youngest son of the Cantor of Leipzig, with whom he moved to England and with whom he gave many concerts. Abel’s music already shows the beginnings of the classical school: during his long life he was able to hear music by Mozart and the young Haydn, and in his works for solo viol, almost written-out improvisations, the baroque, galant and classical idioms mix freely together. Lorenzo Ghielmi • 41 • Biografias | Biographies FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA André Bandeira Iniciou os seus estudos musicais no Curso de Música Sacra da Diocese do Porto, onde estudou Órgão com Rosa Amorim e Piano com Rui Pintão. Desejando aprofundar os seus conhecimentos de literatura organística, estudou Órgão com Paulo Alvim no Conservatório de Música do Porto. Em 2008, concluiu a Licenciatura em Música da Universidade de Aveiro, onde estudou Órgão sob orientação de Domingos Peixoto e, posteriormente, com Edite Rocha, terminando com a classificação máxima a disciplina de Órgão. Em 2013, concluiu o Mestrado em Performance dedicado à obra para órgão de Flor Peeters. Teve também oportunidade de fazer Masterclasse de Órgão com Michael Bernreuther, Jesús Gonzálo Lopez, Stefan Baier, Louis Robilliard, Johannes Lendgren e Louis Rogg. Como solista tem realizado concertos por todo o Norte e Centro do país, de destacar, concertos integrados na Temporada de Jovens Organistas em Aveiro, no Festival Internacional de Órgão de Lisboa, no Ciclo “Ecos de Órgão” de Coimbra e no Ciclo de Órgão e Música Sacra do Porto. Lecionou no Conservatório Regional de Música de Viseu e no Conservatório de Música de Aveiro. Desde 2010, é professor de Órgão no Conservatório de Música do Porto. É organista na Igreja de Cedofeita (Porto). Began his musical studies on the sacred music course of the Diocese of Oporto, where he studied organ with Rosa Amorim and piano with Rui Pintão. Wishing to deepen his knowledge of the organ literature, he studied organ with Paulo Alvim at the Oporto Conservatoire. In 2008, he finished the licentiate in music at the University of Aveiro, where he studied organ under the direction of Domingos Peixoto and, later, with Edite Rocha, graduating from the organ class with the highest clasisfication. In 2013 he finished his masters in performance, dedicated to the organ works of Flor Peeters. He also had the opportunity to take organ masterclasses with Michael Bernreuther, Jesús Gonzálo Lopez, Stefan Baier, Louis Robilliard, Johannes Lendgren and Louis Rogg. As a soloist he has given concerts throughout northern and central Portugal, notable concerts as part of the Young Organists’ Season in Aveiro, the International Organ Festival of Lisbon, the “Organ Echoes” cycle in Coimbra and the Organ and Sacred Music Cycle of Oporto. He has taught at the Regional Music Conservatory of Viseu and the Music Conservatory of Aveiro. Since 2010 he has been professor of organ at the Oporto Conservatoire. He is organist at the Church of Cedofeita (Oporto). Coro Juvenil da DRE / Educação Artística DRE Youth Choir / Artistic Education Atualmente é composto por 40 jovens com idades compreendidas entre os 13 e os 29 anos. Desde a sua fundação, o coro tem vindo a participar em inúmeras atuações de carácter sociocultural, destacando-se a sua participação nos Festivais da Canção Infantil da Madeira, bem The choir is currently made up of 40 young people, from between 13 and 29 years of age. Since its foundation, the choir has taken part in numerous sociocultural activities, notably the Madeira Junior Song Festival, as well as television and radio programmes. In 1995, • 45 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL como em programas de rádio e televisão. Em 1995, “Ano Internacional da Família”, gravou e cantou na Madeira o “Hino da Família” a pedido do Centro Regional da Segurança Social. Lançou o seu primeiro CD em 1995, em conjunto com os grupos musicais do GCEA. Em Junho de 1996 representou Portugal no Festival Internacional de Coros de Cantonigrós (Espanha). No ano de 1999 integrou o CD duplo com os grupos musicais do GCEA editado pela Secretaria Regional de Educação e o 1º CD “Cânticos Religiosos do Natal Madeirense”, editado pela DRAC. Em Abril de 2000 participou no 8º Festival Internacional de Música para Jovens em Vila Nova de Gaia. No mesmo ano integrou o CD “Cânticos Religiosos do Natal Madeirense II”, editado pela Secretaria Regional de Educação. Em Maio de 2001, representou Portugal no 24º festival Internacional de Coros Infantis e Juvenis de Celje – Eslovénia. Integrado nos 500 Anos da Cidade do Funchal, coadjuvou na Ópera “Orquídea Branca”, libreto de João Aguiar e música de Jorge Salgueiro em 2008 no Teatro Baltazar Dias. A direção artística desde a sua fundação é da responsabilidade da professora Zélia Ferreira Gomes. the “International Year of the Family”, they sang and recorded in Madeira the “Hymn of the Family” at the request of the RegionalCentre for Social Security. They recorded their first CD in 1995, together with the musical ensemble of the GCEA. In June 1996 they represented Portugal in the Cantonigrós International Choir Festival (Spain). In 1999 they participated in a double CD with the musical ensembles of the GCEA published by the Regional Secretariat for Education and their first CD, “Christmas Songs from Madeira”, published by the DRAC. In April 2000 they participated in the CD “Christmas Songs from Madeira II”, published by the Regional Secretariat for Education. In May 2001 they represented Portugal in the 24 th International Festival of Children’s and Youth Choirs of Celje, Slovenia. As part of the 500th Anniversary of the City of Funchal, they took aprt in the opera Orquídea Branca, with a libretto by João Aguiar and a score by Jorge Salgueiro in 2008 in the Baltazar Dias Theatre. The choir’s artistic director since its foundation has been Zélia Ferreira Gomes. • 46 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Zélia Gomes Doutorada em Ciências do Trabalho, área da Psicologia Social, pela Universidade de Cádiz, Espanha; Diploma de Estudos Avançados em Ciências do Trabalho, área da Psicologia Social, pela Universidade de Cádiz, Espanha; Mestrado em Ensino de Educação Musical no Ensino Básico; Licenciatura em Administração e Gestão Escolar pelo Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) de Odivelas; Profissionalização em Serviço pela Universidade da Madeira – Centro Integrado de Formação de Professores; Diplomada com o Curso Superior de Canto e Concerto pelo Conservatório de Música da Madeira. Entre 2008/2011, lecionou a disciplina de Técnica Vocal na Licenciatura em Educação Musical no Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) de Odivelas; A partir de 1990/91 é Professora de Canto/Canto Coral e Diretora Artística dos Coros Infantil, Juvenil e EVRP na DSEAM; A partir de 2001 obteve o cargo Diretora Artística do Coro de Câmara da Madeira; entre 1990 a 2000 foi Diretora Artística do Grupo Coral do Estreito de Câmara de Lobos; 1998/99 a 2001/02 lecionou a disciplina de Canto no Conservatório de Música da Madeira – Ensino Artístico (CEPAM) e Diretora Artística do Coro Juvenil do CEPAM. Tem realizado numerosos concertos nomeadamente na RAM, Porto Santo, Portugal continental, Espanha, Eslovénia. Holds a doctorate in work sciences, in the area of social psychology, from the University of Cadiz, Spain, a masters in primary musical education, a licentiate in school administration and management from the Higher Institute of Educational Sciences in Odivelas, professional service qualifications from the University of Madeira (teachers’ training centre), and a higher diploma from the Madeira Conservatoire. From 2008 to 2011 she taught vocal technique on the licentiate course in musical education at the Higher Institute of Musical Education in Odivelas. Since 1990 she has been singing and choral singing teacher and Artistic Director of the Children’s, Youth and EVRP choirs at DSEAM; in 2001 she was appointed Artistic Director of the Madeira Chamber Choir; from 1990 2000 she was Artistic Director of the Choral Group of Estreito de Câmara de Lobos; from 19982002 she taught singing at the Madeira Conservatoire (CEPAM) and was Artistic Director of the CEPAM Youth Choir. She has given numerous concerts at RAM, in Porto Santo, mainland Portugal, Spain and Slovenia. Ann Elise Smoot Ann Elise Smoot apresenta-se em todos os Estados Unidos, Grã-Bretanha e na Europa, com um repertório que vai do século XIV até à atualidade. A sua carreira concertística foi lançada pelo sucesso em concursos importantes e tem recebido elogios da crítica pela sua grande capacidade de se adaptar às diferentes épocas, Ann Elise Smoot performs throughout the United States, Great Britain and Europe, with a repertoire extending from the 14th century to the present day. Her concert career was launched by her success in important competitions, and she has been praised by critics for her great capacity to adapt to different • 47 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL estilos e géneros musicais com simpatia e talento. Depois de completar dois graus em Yale, onde ganhou vários grandes prémios, viajou para a Inglaterra, onde estudou órgão e cravo na Royal Academy of Music, e em particular com Peter Hurford e Dame Gillian Weir. Apaixonada por trazer a música de órgão a um público mais amplo e injetar novas ideias no mundo dos órgãos em geral, Ann Elise esteve envolvida na fundação de várias iniciativas, incluindo o London Organ Forum, um dia de estudo (anual), que combina a pesquisa académica e apresentações ao vivo, e que visa incentivar organistas a olhar para o seu repertório num contexto musical mais amplo. Ann Elise foi professora de Órgão no Trinity Laban Conservatoire of Music and Dance e foi durante 15 anos diretora do St. Giles Junior Organ Conservatoire, um programa de grande sucesso para organistas adolescentes, preparando-os para as universidades e grandes conservatórios. A partir de Janeiro de 2014, assumiu uma nova função como Diretora do Oundle for Organists, uma série exclusiva de cursos residenciais para jovens organistas e uma parte do Festival Internacional Oundle. periods, styles and musical genres with sympathy and talent. After completing two degrees at Yale, where she won a number of important prizes, she travelled to England, where she studied organ and harpsichord at the Royal Academy of Music, and privately with Peter Hurford and Dame Gillian Weir. Passionate about bringing organ music to a wider audience and injecting new ideas into the organ world in general, she was involved in the setting-up of various initiatives, including the London Organ Forum, an annual study day that combines academic research and live performances, and which aims to encourage organists to see their repertoire in a wider musical context. She was professor of organ at the Trinity Laban Conservatoire of Music and Dance and for 15 years was the director of the St Giles Junior Organ Conservatoire, a highly successful programme for adolescent organists preparing for universities and conservatories. In January 2014 she took up a new position as Director of Oundle for Organists, an exclusive series of residential courses for young organists which is part of the Oundle International Festival. CanteChão Recentemente formado, este grupo conta com as vozes de João Moreira (tenor), Manuel Rebelo (barítono) e Sérgio Silva (baixo) e a participação do organista João Vaz. CanteChão – neologismo que aglutina as expressões «cante alentejano» e «cantochão» – reflete a ideia deste projeto que alia a tradição vocal do Alentejo ao riquíssimo legado do canto gregoriano e da polifonia ibérica dos séculos XVI e XVII. O traço comum entre estas duas diferentes realidades musicais é o poder da voz. Recently formed. This group is made up of the voices of João Moreira (tenor), Manuel Rebelo (baritone) and Sérgio Silva (bass) with the participation of the organist João Vaz. CanteChão – a neologism that joins the expressions “cante alentejano” (the traditional vocal music of the Alentejo region) and “cantochão” (plainchant) – reflects the idea of this project, which links the Alentejan vocal tradition to the extremely rich legacy of Gregorian chant and Iberian polyphony of the 16th and 17th centuries. The comment • 48 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Tanto as exuberantes ornamentações do cante, como os delicados melismas das melodias gregorianas, possuem aquela inconfundível expressividade que só a voz humana pode alcançar. Da mesma forma, adivinha-se uma mesma cumplicidade entre as vozes tanto na polifonia erudita como nos «contracantos» de origem popular. O órgão – ele próprio um instrumento que, ao longo da História, viajou entre o profano e o sagrado – acrescenta uma componente instrumental ao conjunto. thread in these two different musical realities is the power of the voice. Both the exuberant ornamentation of cante and the delicate melismas of Gregorian melodies possess that unmistakeable expressiveness that only the human voice can attain. In the same way, one senses the same cumplicity between voices both in learned polyphony and in the popular contracanto. The organ – itself an instrument that, throughout history, has travelled between the sacred and the secular – adds an instrumental component to the group. Dinarte Machado Desde muito jovem, esteve ligado á música, surgindo o primeiro contacto com os órgãos de tubos ainda com vinte anos de idade, por necessidade imperiosa de restauro no órgão da Igreja Matriz de S. Jorge, no Nordeste, ilha de S. Miguel, lugar que o vira crescer. Em 1987 monta atelier em Ponta Delgada, dedicando-se exclusivamente ao trabalho de organaria, efetuando o seu primeiro restauro: órgão da Igreja Matriz da Ribeira Grande, Music has been part of Dinarte Machado’s life from an early age, and his first experience of pipe organs was at the age of twenty, on account of the urgent necessity of restoring the organ of the Church of St George, in the Northeast, on the island of S. Miguel, where he grew up. In 1987 he set up a workshop in Ponta Delgada, concentrating exclusively on organ building, undertaking his first restoration, that of the Church of • 49 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL em S. Miguel. Depois vão-se sucedendo outros restauros em órgãos dos Açores, Madeira, Continente e Espanha e até à data realizou setenta e sete restauros em órgãos históricos, na sua maioria da escola de organaria portuguesa, da segunda metade do século XVIII, em cuja área é especialista. No campo da construção tem feito alguns órgãos de pequena dimensão para estudo e construiu nove instrumentos de maior envergadura, como o que se destinou à Igreja do Colégio do Funchal. Realizou os inventários dos órgãos dos Açores e da Madeira, cujos trabalhos já se encontram publicados. Em 1993, trabalhou em Espanha, com o Mestre Organeiro, Gerhard Grenzing, no restauro do órgão histórico do Palácio Real de Madrid. No Congresso Internacional realizado em Mafra, no ano de 1994, demonstra a existência de diferenças entre os órgãos espanhóis e portugueses a partir da segunda metade do século XVIII. Foi responsável pelo restauro dos seis órgãos da Basílica de Mafra, construídos no reinado de D. João VI, conjunto único no mundo e que representa o expoente da escola de organaria portuguesa, cujo trabalho foi inaugurado em 15 de Maio de 2010. Foi este trabalho reconhecido com o Prémio Europa Nostra em 1 de Junho de 2012. Em Julho de 2010 foi condecorado com a comenda da Ordem de Mérito, por Sua Exa. Senhor Presidente da República. Terminou em 2014 o restauro do maior órgão construído em Portugal, o Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão. Ribeira Grande, on S. Miguel. There followed other restorations in the Azores, Madeira, mainland Portugal and Spain, and to date he has carried out seventy-seven restorations of historical organs, the great majority of them Portuguese, from the second half of the 18th century, in which field he is a specialist. In the field of organ building, he has constructed some small instruments for study and has built nine larger organs, such as that made for the Church of the Colégio in Funchal. He published inventories of the organs of the Azores and Madeira. In 1993, he worked in Spain with the master organ builder Gerhard Grenzing, on the restoration of the historic organ of the Royal Palace in Madrid. At the International Congress in Mafra in 1994, he demonstrated the existence of differences between Spanish and Portuguese organs from the second half of the 18th century onwards. He was responsible for the restoration of the six organs of the Basilica of Mafra, built during the reign of King John VI, a set unique in the world, and which represents the apogee of Portuguese organ building. The work was begun on 15 May 2010, and given a Europa Nostra Prize on 1 June 2012. In July 2010 he was awarded the Order of Merit by the President of the Portuguese Republic. In 2014 he has finished the restoration of the largest organ built in Portugal, the historic organ of the Monastery of Lorvão. Élio Carneiro Élio Carneiro terminou o curso geral da Escola Diocesana de Música Sacra de Coimbra, tendo prosseguido os seus estudos no Conservatório de Música da mesma cidade na classe do Prof. José Carlos Oliveira, e no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian onde concluiu Élio Carneiro graduated from the Diocesan School of Sacred Music of Coimbra, continuing his studies at the Conervatory of Music in the same city, in the class of José Carlos Oliveira, and at the Gulbenkian Conservatory of Music in Aveiro, where he finished the comple- • 50 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA o curso complementar com o Prof. António Mário Costa (Órgão e Baixo Contínuo). Frequentou diversas masterclasses, nomeadamente com os professores Luca Antoniotti, Hans-Ola Ericsson, José Luis González Uriol, Javier Artigas, Olivier Latry, Peter van Dijk e Frank van Wijk, tendo ainda frequentado o III e o IV Curso Nacional de Música Litúrgica, nas variantes de Órgão e Direção Coral, respectivamente, organizado pelo Santuário de Fátima e pelo Secretariado Nacional de Liturgia. Licenciado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, concluiu posteriormente na mesma instituição o Mestrado na variante de performance sob orientação dos professores António Esteireiro e João Vaz. Prossegue os seus estudos desde Outubro de 2012 na Escola Superior de Música Sacra e Pedagogia de Regensburg (Alemanha) na classe do Prof. Stefan Baier. mentary course given by Prof. António Mário Costa (organ and basso continuo). He took part in a number of masterclasses, with Luca Antoniotti, Hans-Ola Ericsson, José Luis González Uriol, Javier Artigas, Olivier Latry, Peter van Dijk and Frank van Wijk, and also attended the 3rd and 4th National Courses of Liturgical Music, specializing in organ and choral conducting, respectively, organized by the Sanctuary of Fatima and by the National Secretariat for Liturgy. He graduated in organ from the Lisbon Higher School of Music, later finishing his masters in performance at the same institution under António Esteireiro and João Vaz. He has been continuing his studies since October 2012 at the Higher School of Sacred Music and Pedagogy in Regensburg (Germany) in the class of Stefan Baier. João Vaz • 51 • Telma Veríssimo Born in Lisbon, João Vaz holds a doctorate in music and musicology from the University of Évora, where his thesis was entitled The organ works of Brother José Marques e Silva (1782-1837) and the end of the organ tradition in Portugal during the Ancien Regime, written under the supervision of Rui Vieira Nery. He holds a diploma in organ from the Higher School of Music of Lisbon, where he studied under Antoine Sibertin-Blanc, and from the Higher Conservatory of Music of Aragon in Zaragoza, where he studied with José Luis González Uriol, on a grant from the FOTO: Natural de Lisboa, João Vaz é doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido a tese A obra para órgão de Fr. José Marques e Silva (1782-1837) e o fim da tradição organística em Portugal no Antigo Regime, sob a orientação de Rui Vieira Nery. É diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatório Superior de Música de Aragão em Saragoça, tendo trabalhado com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo também MADEIRA ORGAN FESTIVAL licenciado em Arquitetura pela Universidade Técnica de Lisboa. Tem mantido uma intensa atividade a nível internacional, quer como concertista, quer como docente, em cursos de aperfeiçoamento organístico. Efetuou mais de uma dezena de gravações discográficas a solo, salientando-se as efectuadas em órgãos históricos portugueses. Como executante e musicólogo tem dado especial atenção à música sacra portuguesa, fundando em 2006 o grupo Capella Patriarchal, que dirige. As suas publicações incluem artigos que incidem sobretudo na música de tecla portuguesa. Lecciona atualmente Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo também exercido funções docentes no Instituto Gregoriano de Lisboa, Universidade de Évora e Universidade Católica Portuguesa (Escola das Artes). Fundador do Festival Internacional de Órgão de Lisboa em 1998, é atualmente diretor artístico das séries de concertos que se realizam nos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra (de cujo restauro foi consultor permanente) e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (instrumento cuja titularidade assumiu em 1997). Gulbenkian Foundation, and also has a licentiate in architecture from the Technical University of Lisbon. He has been extremely active internationally, both as performer and teacher on organ courses. He has made over ten solo recordings, especially on historical Portuguese instruments. As performer and musicologist he has concentrated particularly on Portuguese sacred music, founding in 2006 the ensemble Capella Patriarchal, which he directs. His publications include articles that concentrate above all on Portuguese keyboard music, he currently teaches organ at the Higher School of Music in Lisbon, having also taught at the Gregorian Institute of Lisbon, the University of Évora and the School of Arts of the Portuguese Catholic University. Founder of the International Organ Festival of Lisbon in 1998, he is currently artistic director of the concert series that take place using the six organs of the Basilica of the Palace of Mafra (to whose restoration he was permanent consultant) and of the historical organ of the Church of São Vicente de Fora, in Lisbon (of which he became titular organist in 1997). Lorenzo Ghielmi • 52 • Daniel de Labra Lorenzo Ghielmi spent many years of his career studying the performance of renaissance and baroque music. He performs throughout Europe, Japan and the United States, and his concerts are frequently recorded for radio. His recordings of Bruhns, Bach and the concertos of Handel and Haydn for organ and orchestra were awarded the “Diapason d’Or”. He has published a book on Nicolaus Bruhns and studies on organs the performance of the music of Bach. He teaches organ, harpsichord and chamber music at the MuniciFOTO: Lorenzo Ghielmi dedicou muitos anos da sua carreira ao estudo e à execução da música renascentista e barroca. Dá concertos por toda a Europa, Japão e os Estados Unidos, e muitos são objecto de gravações para a rádio. As suas gravações de Bruhns, Bach, e os concertos de Haendel e de Haydn para órgão e orquestra foram agraciados com o “Diapason d’or”. Publicou um livro sobre Nicolaus Bruhns e estudos sobre órgãos e interpretação das obras de Bach. Ensina órgão, cravo e música de câmara na Escola Municipal FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA de Música de Milão. Desde 2006, foi-lhe confiada a cadeira de órgão na Schola Cantorum Basiliensis, em Basileia. É organista do órgão Ahrend da Basílica de San Simpliciano em Milão. Em 2005 fundou o conjunto instrumental La Divina Armonia, com o qual realizou diversas gravações. Faz parte do júri de vários concursos de órgãos internacionais, como Toulouse, Chartres, Tóquio, Brugges, Freiberg, Maastricht, Lausanne, Nuremberg, Graz e St. Albans. pal School os Music in Milan. Since 2006 he has been professor of organ at the Schola Cantorum Basiliensis, in Basle. He is organist of the Ahrend organ of the Basilica of San Simpliciano in Milan. In 2005 he has founded his ensemble La Divina Armonia, with which he realised several recordings. He is a member of the jury for various international organ competitions, such as Toulouse, Chartres, Tokyo, Bruges, Freiberg, Maastricht, Lausanne, Nuremberg, Graz and St Albans. Ludovice Ensemble O Ludovice Ensemble é um grupo de Música Antiga criado por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim para divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas, usando instrumentos antigos. Em Portugal apresentou-se nos mais variados festivais e salas de concerto de Lisboa, Porto, Braga, Évora, Leiria, Alcobaça, Mafra, Óbidos, Loulé, Viana do Castelo e Gaia, entre outros. Desta- The Ludovice Ensemble is an early music group founded by Fernando Miguel Jalôto and Joana Amorim in order to perform the chamber vocal and instrumental repertoire of the 17th and 18th centuries in historically informed performances, using early instruments. In Portugal it has performed in a wide range of festivals and concert halls, in Lisbon, Oporto, Braga, Évora, Leiria, Alcobaça, Mafra, Óbidos, Loulé, Viana do Castelo and Gaia and elsewhere. Particularly • 53 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL cam-se os seus concertos no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian e em vários “Dias da Música” no CCB. No estrangeiro o Ludovice Ensemble apresentou-se em alguns dos mais conceituados festivais de Música Antiga, como Utrecht (Países Baixos); Antuérpia (Bélgica); La Chaise-Dieu (França); Praga (República Checa); San Lorenzo del Escorial, Vitoria, Lugo, Daroca, Peñíscola, e Jaca (Espanha). Sendo um embaixador da Música Antiga portuguesa, responsabiliza-se pela 1ª audição moderna de obras de compositores portugueses ou ativos em Portugal tais como Almeida, Avondano, Tedeschi, Giorgi, Perez e Astorga. Em 2011 representou Portugal no showcase da REMA (Rede Europeia de Música Antiga) a convite da Casa da Música e em 2012 editou o seu primeiro CD para a editora Ramée-Outhere, que foi calorosamente recebido pelo público e pela crítica especializada estrangeira, e nomeado para os prémios ICMA Awards 2013. O Ludovice Ensemble gravou ao vivo para a RDP-Antena 2 bem como para o canal de televisão francês MEZZO. significant were concerts given in the Large Auditorium of the Gulbenkian Foundation and in a number of “Musica Days” at the CCB. Abroad, the Ludovice Ensemble has performed in some of the best-known early music festivals, such as Utrecht (Netherlands), Antwerp (Belgium), La Chaise-Dieu (France), Prague (Czech Republic), San Lorenzo del Escorial, Vitoria, Lugo, Daroca, Peñíscola and Jaca (Spain). As an ambassador for Portuguese early music, the group has given the first modern performances of works by Portuguese composers or composers active in Portugal such as Almeida, Avondano, Tedeschi, Giorgi, Perez and Astorga. In 2011 the ensemble represented Portugal in the ENEM (European Network of Early Music) showcase at the invitation of the Casa da Música and in 2012 issued its first CD on the Ramée-Outhere label, which was warmly received by the public and by the foreign press, and nominated for the ICMA Awards 2013. The Ludovice Ensemble has recorded live for RDP-Antena 2 as well as for the French television channel MEZZO. Fernando Miguel Jalôto Fernando Miguel Jalôto estudou Cravo e Música Antiga do Conservatório Real da Haia (Países Baixos) com Jacques Ogg. Frequentou Master-Classes com Gustav Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski, Laurence Cummings e Ketil Haugsand. Estudou órgão barroco, fortepiano e clavicórdio, e foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. Foi membro da Académie Baroque Européenne de Ambronay. É Mestre em Música pela Universidade de Aveiro e é Doutorando em Musicologia Histórica da FCSH-UNL. É co-fundador e diretor artístico do Ludovice Ensemble, com o qual já realizou mais de 40 concertos, gravando para a editora Ramée-Outhere. Fernando Miguel Jalôto studied harpsichord and early music at the Royal Conservatory of The Hague (Netherlands) with Jacques Ogg. He attended masterclasses with Gustav Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski, Laurence Cummings and Ketil Haugsand. He studied baroque organ, fortepiano and clavichord and was awarded a scholarship by the National Centre of Culture. He was a member of the Académie Baroque Européenne de Ambronay. He holds a masters degree in music from the University of Aveiro and is completing his doctoral studies in historical musicology at the Universidade Nova, Lisbon. He is co-founder and artistic director of the Ludovice Ensemble, with which he • 54 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Colabora com a Orquestra Barroca e o Coro da Casa da Música do Porto, a Orquestra e Coro Gulbenkian (Lisboa) e com grupos internacionais, como Capilla Flamenca e Oltremontano (Bélgica); La Galanía e La Colombina (Espanha). Foi membro da Orquestra Barroca Divino Sospiro com quem se apresentou em vários concertos em Portugal e no estrangeiro. Apresentou-se em vários festivais e concertos em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Reino Unido, República Checa, Áustria, Polónia, Bulgária e Japão. Apresentou-se já sob a direção de Ton Koopman, Roy Goodman, Christina Pluhar, Christophe Rousset, Fabio Biondi, Laurence Cummings, Antonio Florio, Harry Christophers, Andrew Parrott, Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini, Enrico Onofri, Alfredo Bernardini, Christophe Coin, Wim Becu, Erik van Nevel, Paul McCreesh, Riccardo Minasi e Marco Mencoboni, entre outros. has already given more than 40 concerts, and recordes for the Ramée-Outhere label. He collaborates with the Baroque Orchestra of the Casa da Música in Oporto, the Gulbenkian Orchestra and Choir (Lisbon) and with international groups such as Capilla Flamenca and Oltremontano (Belgium); La Galanía and La Colombina (Spain). He was a member of the Divino Sospiro Baroque Orchestra, with whom he performed in a number of concerts in Portugal and abroad. He has performed in ma ny festivals and concerts in Portugal, Spain, France, Belgium, Holland, the United Kingdom, the Czech Republic, Austria, Poland, Bulgaria and Japan. He has performed under the direction of Ton Koopman, Roy Goodman, Christina Pluhar, Christophe Rousset, Fabio Biondi, Laurence Cummings, Antonio Florio, Harry Christophers, Andrew Parrott, Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini, Enrico Onofri, Alfredo Bernardini, Christophe Coin, Wim Becu, Erik van Nevel, Paul McCreesh, Riccardo Minasi and Marco Mencoboni, amongst others. Olivier Latry • 55 • Jean-François Badias Olivier Latry is titular organist of the Cathedral of NotreDame in Paris and professor of organ at the Higher National Conservatory of Music in the same city. His nomination to the first cathedral in France in 1985, at the age of 23, propelled him the centre of the international stage. He has performed in more than fifty countries on five continents, in recital and with orchestra. Amongst his extensive discography are the complete organ works of Olivier Messiaen, recorded for Deutsche Grammophon, and the Poulenc Concerto and Symphony no. 3 by Saint-Saëns with the Philadelphia Orchestra under Christoph Eschenbach. A recipient of the Cino and Simone del Duca Prize in 2000, he was also made, in the United Kingdom, an Honorary Member of the North and Midlands FOTO: Olivier Latry é organista titular da Catedral de Notre-Dame em Paris e professor de órgão no Conservatório Nacional Superior de Música da mesma cidade. A sua nomeação para a primeira catedral de França em 1985, aos 23 anos, foi impulsionou-o no cenário internacional. Já se apresentou em mais de cinquenta países nos cinco continentes, em recital ou com orquestra. Dentre a sua extensa discografia destacam-se as obras completas de órgão de Olivier Messiaen, gravados para a Deutsche Grammophon, e o Concerto de Poulenc e Sinfonia nº 3 de Saint-Saëns, com a Orquestra de Filadélfia conduzidos por Christoph Eschenbach. Prémio da Fundação Cino e Simone Del Duca em 2000, recebeu igualmente, no Reino Unido, o título de Membro Honorário da North and Midlands MADEIRA ORGAN FESTIVAL School of Music, em 2006, e do Royal College of Organists em 2007. Foi nomeado «International performer of the year» pela American Guild of Organists em Nova York em 2009. Em Junho de 2010, a Université McGill de Montréal lui a conferiu-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Foi nomeado em Dezembro de 2012 organista emérito da Orquestra Sinfónica de Montreal (Canadá). School of Music in 2006, and of the Royal College of Organists in 2007. he was nominated “International performer of the year” by the American Guild of Organists in New York in 2009. In June 2010, the McGill University of Montreal awarded him the degree of Doctor Honoris Causa. In December 2012 he was named organist emeritus of the Montreal Symphony Orchestra. Pe. Ignácio Victor Figueira Rodrigues Pe. Ignácio Victor Figueira Rodrigues, nasceu no dia 31 de Julho de 1972 em Caracas, Venezuela. Ingressou em 1996, já com 24 anos, no Seminário Diocesano do Funchal. Frequentou os dois primeiros anos filosóficos na Escola Teológica do Seminário do Funchal. A partir do terceiro ano de teologia continua a sua caminhada no Seminário Maior de Cristo Rei - Olivais, Lisboa. No ano de 2005 estudou gregoriano e completou o ano propedêutico no Instituto Pontifício de Música Sacra em Roma, para frequentar o curso de Composição em Música Sacra. Foi ordenado Padre a 30 de Julho de 2005, na Sé do Funchal por D. Teodoro de Faria. Em 2006 foi enviado para Paris como Capelão da Comunidade Portuguesa de São Francisco Xavier. Ingressou na École Normale de Musique de Paris, onde tem aulas de Piano com o professor Michael Wladkowski e Odile Delangle, Harmonia ao piano com Narcis Bonet; Harmonia e Composição com Roselyne Masset-Lecocq, Análise com Narcis Bonet e Jean-Dominique Pasquet; História da Música com Franck Tourre e Formação musical com Catherine Maffei. Atualmente exerce as funções de Vigário Paroquial e Mestre Capela da Sé do Funchal e responsável pela Música Sacra. Professor de Música no Seminário de Nossa Senhora de Fátima e na Escola de Ministérios da Diocese do Funchal e membro da Equipa Diocesana de Liturgia. Fr Ignácio Victor Figueira Rodrigues was born in Caracas, Venezuela. He entered the Diocesan Seminary of Funchal in 1996, at the age of 24. He studied philosophy for two years at the Theological School of the Funchal Seminar. From the third year of theology onwards, he continued at the Seminary of Christ the Kin in Olivais, Lisbon. In 2005 he studied Gregorian chant and completed the introductory course at the Pontifical Institute of Sacred Music in Rome, in order to take the course in composition of sacred music. He was ordained priest on 30 July 2005, in the Cathedral of Funchal, by Bishop Teodoro de Faria. In 2006 he was sent to Paris as chaplain of the Portuguese Community of St Francis Xavier. He attended the École Normale de Musique in Paris, , where he studied piano with Michael Wladowski and Odile Delangle, keyboard harmony with Narcis Bonet, harmony and composition with Roselyne Masset-Lecocq, analysis with Narcis Bonet and Jean-Dominique Pasquet, history of music with Franck Tourre and musical training with Catherine Maffel. He is currently parochial vicar and chapel master of the Cathedral of Funchal, and in charge of sacred music. He is professor of music at the Seminary of Our Lady of Fátima and at the School of Ministry of the Diocese of Funchal and member of the Liturgical Diocesan Team. • 56 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Sérgio Silva Natural de Lisboa, Sérgio Silva começou por estudar Órgão com João Vaz e António Esteireiro no Instituto Gregoriano de Lisboa, tendo prosseguido na Universidade de Évora, onde obteve os diplomas de Licenciatura e de Mestrado em Música, ramo de interpretação (Órgão), sob a orientação dos Professores João Vaz e João Pedro d’Alvarenga. Para além dos seus estudos regulares, teve oportunidade de contactar com várias personalidades de renome internacional, tais como José Luis Gonzalez Uriol, Luigi Ferdinando Tagliavini, Jan Wilhelm Jansen, Hans-Ola Ericsson e Kristian Olesen. Apresenta-se regularmente a solo e integrado em prestigiados agrupamentos nacionais, em vários pontos do país e em França, Itália, Inglaterra e Espanha. Presentemente, é professor de Órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Diocesana de Música Sacra do Patriarcado de Lisboa e é organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau (Lisboa). Born in Lisbon, Sérgio Silva began studying organ with João Vaz and António Esteireiro at the Gregorian Institute of Lisbon, continuing his studies at the University of Évora, where he took his licentiate and masters in music, specializing in organ performance, under João Vaz and João Pedro d’Alvarenga. In addition to his regular studies, he had the opportunity of working various figures of international renown, such as José Luis Gonzalez Uriol, Luigi Ferdinando Tagliavini, Jan Wilhelm Jansen, HansOla Ericsson and Kristian Olesen. He appears regularly as a soloist and as a member of well-known Portuguese ensembles, throughout the country and in France, Italy, England and Spain. He is currently professor of organ at the Gregorian Institute of Lisbon and at the Diocesan School of Sacred Music at the Patriarchate of Lisbon, and is titular organist of the Basílica da Estrela and the Church of St Nicholas (Lisbon). Vittorio Ghielmi Músico italiano (viola da gamba), maestro e compositor, comparado por críticos a Jascha Heifetz (Diapason) pelo virtuosismo e chamado de “alquimista del sonido” (Diário de Sevilla) pela intensidade de sua interpretação musical. Nascido em Milão , estudou com R. Gini, W. Kuijken (Bruxelas), C. Coin (Paris). Ele recebeu em 1997 o Erwin Bodky Award (Cambridge, EUA). Em 1995, ganhou o Concurso Internacional R. Romanini (Brescia). Como solista ou maestro apresenta-se na maioria das salas de concerto mais prestigiadas do mundo, acompanhado por grandes orquestras An Italian performer (on the viola da gamba), conductor and composer, compared by critics to Jascha Heifetz (“Diapason”) for his virtuosity and described as an “alchemist of sound” (“Diário de Sevilla”) for the intensity of his musical performance. Born in Milan, he studied with R. Gini, W. Kuijken (Brussels) and C. Coin (Paris). He receivedm in 1997, the Erwin Bodky Award (Cambridge, USA). In 1995, he won the R. Romanini International Competition (Brescia). As a soloist and conductor he has appeared in most of the best-known concert halls throughout the world, accompanied by the great orchestras (Los An- • 57 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 58 • Luis Montesdeoca geles {Philharmonic Orchestra at the Hollywood Bowl, London Philharmonic, Il Giardino Armonico, the Freiburg Baroque Orchestra, etc.) and in solo recitals. He has given world premieres of new works (including Concerto for Viola and Orchestra by Uri Caine, Concertgebouw Amsterdam and Brussels Bozarm 2008). from 2007 to 2010 he participated with Riccardo Muti in the Salzburg Festival. In 2007, he devised and directed a theatrical show based on Buxtehude’s cycle Membra Jesu nostri, with the video and cinema director Marc Reshovsky (Hollywood) and the Rilke Ensemble (G. Eriksson, Switzerland). In 2010 he was resident artist at the Musikfest Stuttgart, and in 2011 at the Brussels Bozar festival and the Festival of Segovia. He is professor of viola da gamba at the Mozarteum in Salzburg. The ensemble he founded, Il Suonar Parlante, has concieved and developed new projects with jazz musicians such as Kenny Wheeler, Uri Caine, Markus Stockhausen, Ernst Rejiseger, the flamenco star Carmen Linares, and traditional music from oustide music (Ensemble Kaboul). His collaboration with different folk musicians has been documented in the film “The Heart of Sound” by BFMI (Salzburg- Hollywood). FOTO: (Orquestra Filarmónica de Los Angeles no Hollywood Bowl Hall, London Philharmonia, Il Giardino Armonico, Orquestra Barroca de Freiburg, etc.) ou em recitais a solo. Fez estreias absolutas de novas composições (incluindo o Concero para viola e orquestra de Uri Caine, Concertgebouw Amsterdam e Bruxelas Bozar, 2008). De 2007 a 2010 ele participou de Riccardo Muti no Festival de Salzburgo. Em 2007, Vittorio Ghielmi concebe e dirige um espetáculo em torno do ciclo Membra Jesu nostri de Buxtehude, com o diretor de vídeo e cineasta Marc Reshovsky (Hollywood) e o coro Rilke Ensemble (G.Eriksson, Suécia). Em 2010 foi artista em residência no Musikfest Stuttgart, em 2011 no festival de Bruxelas Bozar e no festival de Segovia. É professor de viola da gamba no Mozarteum de Salzburg. O conjunto que criou, O Il Suonar Parlante, colaborou e criou projetos com artistas de jazz como K. Wheeler, Uri Caine, M. Stockhausen, Ernst Rejiseger, a estrela de flamenco Carmen Linares, músicos tradicionais de fora da Europa (Ensemble Kaboul). A sua colaboração com vários músicos tradicionais está registada no documentário “The Heart of Sound” de BFMI (SalzburgHollywood). Órgãos | Organs MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DE SÃO JOÃO EVANGELISTA (COLÉGIO), FUNCHAL Grande órgão Este instrumento, com os seus 1586 tubos sonoros, integra-se num espaço sagrado de características bem particulares. Tratando-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, com uma nave de admirável amplitude e com acústica bastante amena, o órgão tinha de ser concebido, especialmente no que diz respeito às medidas dos tubos, com cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, ecoa com intensa profundidade, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos em timbres resultantes dos harmónicos. Entendeu-se que seria indispensável doar este instrumento de uma certa “latinidade” sonora capaz de favorecer a execução de música antiga das escolas italia- na, espanhola e portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Outro aspecto tomado em conta foi a necessidade de complementar o panorama organístico actual e local: o novo grande órgão presta-se, de uma forma ideal, para a realização de obras de épocas e de exigências técnico-artísticas para as quais nenhum dos 24 instrumentos históricos da Madeira oferece as condições adequadas, valorizando, para além disso, o conjunto do património organístico da Ilha da Madeira através da sua própria existência neste particular espaço sagrado, bem como por meio da sua convivência com os espécimes históricos. Na própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio foram tomados em conta não apenas o espaço acústico, estético e litúrgico, mas também o facto de nele existir um importante órgão histórico que faz parte do rol dos instrumentos actualmente em via de serem restaurados. • 60 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA • 61 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL CHURCH OF SÃO JOÃO EVANGELISTA (COLÉGIO), FUNCHAL Great organ This instrument, with 1586 sounding pipes, is situated in a religious space with certain particularities. As a church typical of those belonging to Jesuit colleges, with a broad nave and quite a gentle acoustic, the organ had to be specially conceived, especially with regard to the measurements of the pipes. Thus all the pipework of the instrument has been specifically tailored to produce a full sound, and each stop produces a timbre with an individual personality, forming part of a harmonic ensemble based more on the sound of fundamentals and less on harmonics. It was also felt to be essential to give the instrument a certain ‘latin’ sonority that would favour performance of ancient music of the Italian, Spanish and Portuguese schools of the 17th and 18th centuries. Another aspect to be taken into consideration was the need to complement the current range of organs available locally: the new organ responds in an ideal fashion to the performance of works of periods and of technical and artistic requirements that none of the 24 historic instruments of Madeira cater adequately for. It also enhances the range of organs that constitute the island’s heritage by being present in this particular religious space, as well as by existing side by side with other historical instruments. In the decision to build it for this church, not only were the issues of acoustic, aesthetic and liturgical space taken into account, but also the presence there of an important historic instrument which is currently on the list of instruments undergoing restoration. I Manual – Órgão Principal (C-g’’’) Flautado aberto de 12 palmos (8’) Flautado tapado de 12 palmos (8’) Oitava real (4’) Tapado de 6 palmos (4’) Quinzena (2’) Dezanovena e 22ª Mistura III Corneta IV Trompa de batalha* (mão esquerda / bass) Clarim* (mão direita / treble) Fagote* (mão esquerda / bass) Clarineta* (mão direita / treble) II Manual – Órgão Positivo (C-g’’’) Flautado aberto de 12 palmos (8’) Tapado de 12 palmos (8’) Flautado aberto de 6 palmos (4’) Dozena (2 2/3’) Quinzena (2’) Dezassetena (1 3/5’) Dezanovena (1 1/3) Címbala III Trompa real (8’) Pedal (C-f’) Tapado de 24 palmos (16’) Bordão de 12 palmos (8’) Flautado de 6 palmos (4’) Contrafagote de 24 palmos (16’) Trompa de 12 palmos (8’) Acoplamentos / Couplers II/I I/Pedal II/Pedal * palhetas horizontais / horizontal reeds • 62 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA Órgão de coro Trata-se de um órgão de armário, de tamanho médio, construído pelo organeiro português, António Xavier Machado e Cerveira, no último quartel do século XVIII. Foi mandado construir para a Sé do Funchal, e ali colocado numa tribuna do lado do Evangelho, debaixo do segundo arco lateral. Mais tarde foi submetido a uma intervenção, no sentido de o adaptar ao gosto da época. Embora a análise da documentação existente seja inconclusiva, parece ter sido feita durante a última metade do século XIX. Essa intervenção teve em conta, acima de tudo, a ampliação do instrumento (incluindo a caixa), assim como a sua colocação numa tribuna também do lado esquerdo, mas junto ao coro alto. Como o instrumento era pouco visível, foi construída uma caixa que ostentava duas fachadas: a do lado do teclado e uma do lado esquerdo de forma que pudesse proporcionar uma vista lateral ampliada, que nada tinha a ver com a configuração original. Foi este instrumento, assim alterado, que foi vendido para a Igreja do Colégio. Ali permaneceu, no lado esquerdo do no coro-alto, com a fachada lateral virada para o corpo principal da Igreja e a do lado do teclado para o centro do coro. Em 1993, o organeiro Dinarte Machado analisou em pormenor o instrumento, verificando que o mesmo envolvia um outro, mais pequeno, mas que conservava grande parte das sua características originais. Por análise comparativa, concluiu tratar-se de um órgão da escola portuguesa de organaria do último quartel do século XVIII, construído por António Xavier Machado e Cerveira. Desde logo foram informadas as entidades competentes da importância deste instrumento. Por se tratar de um órgão mais pequeno, pretendeu-se restaurá-lo, tornando-o no órgão de coro da Igreja do Colégio, com vista ao seu uso na liturgia, alternando com o grande órgão do coro alto. O trabalho de restauro, assente numa profunda investigação de todas as peças existentes, permitiu a eliminação de todas as adições espúrias reaproximando o instrumento da sua forma original. Da caixa do órgão original, só subsistia parte da estrutura e a fachada (que se conservou desde o início), tendo sido tudo o mais reconstruído com base nos órgãos da mesma época de Machado e Cerveira. Choir organ This is a cabinet organ, of medium size, built by the Portuguese organ builder, António Xavier Machado e Cerveira, in the last quarter of the 18th century. It was ordered to be built for Funchal Cathedral, and placed in a gallery on the Gospel side, under the second lateral arch. It later underwent some work, and was adapted to the style of the time. Though analysis of the extant documentation is inconclusive, it would seem to have been done during the second half of the 19th century. This work was intended above all to increase the size of the instrument (including the case), as well as to move it to another gallery on the left side, closer to the high choir. As the instrument was not very visible, a case was constructed that had two facades: one on the side of the keyboard and one on the left side in order to facilitate a greater side view, which had nothing to do with the original configuration. It was this instrument, altered in this way, that was sold to the Church of the Colégio. There it stayed, on the left side of the choir, with the lateral facade turned towards the main nave of the church and that of the keyboard side towards the centre of the choir. In 1993, the organ builder Dinarte Machado analyzed the instrument in detail, establishing that it included another, smaller, organ, but which largely retained its original characteristics. By means of com- • 63 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 64 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA parative analysis, he concluded that it was an organ of Portuguese construction from the last quartet of the 18th century, built by António Xavier Machado e Cerveira. The importance of the instrument was immediately communicated to the responsible authorities. Because it was a smaller organ, it was intended to restore it, making it the organ of the Church of the Colégio, for use in the liturgy, alternating with the large organ in the choir. The restoration work, based on a deep investigation into all the extant elements, allowed the elimination of all the spurious additions, bringing the instrument back to its original form. Of the original organ’s case, there only survived only a part of the structure and the facade (which had been retained from the beginning), the rest being reconstructed in accordance with organs from the same period by Machado e Cerveira. Mão esquerda / Bass (C - c’) Mão direita / Treble (c#’ - d’’’) Flautado de 12 tapado (8’) Flautado de 6 aberto (4’) Flautado de 6 tapado (4’) Quinzena (2’) Dezanovena (1 1/3’) Compostas de 19ª e 22ª III Cheio V Fagote (8’) Flautado de 12 aberto (8’) Flauta travessa (8’) Flautim (4’) Composta de 15ª, 19ª e 22ª III Cheio IV Corneta Voz humana Clarim (8’) • 65 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL SÉ CATEDRAL Na Sé do Funchal, a presença de um órgão surge documentada pela primeira vez no alvorecer do século XVI. Em 1739, D. João V ofereceu à Sé um novo órgão, construído em Lisboa pelo organeiro Francisco do Rego Matos. Em 1740, o Cabido mandou colocar este instrumento na primitiva tribuna, situada à esquerda da capela-mor. Encontrando-se num estado não funcional, em 1925 o órgão foi desarmado e, onze anos depois, oferecido à Igreja do Colégio. Em sua substituição, o Cabido da Sé optou por comprar o órgão então pertencente à Igreja Anglicana. A acta da sessão do Cabido da Sé, lavrada a 5 de Janeiro de 1937, refere “que por ordem de Sua Ex.ma Reverendíssima, o Senhor Bispo havia comprado o actual órgão que pertencia à Igreja Anglicana, cujo custo foi de trinta e quatro contos e quinhentos escudos, acrescidos das despesas de transporte, montagem, etc”, sendo colocado no coro alto à entrada da porta principal da Sé. Este instrumento, desde então várias vezes intervencionado, foi construído em Inglaterra no ano de 1884, por encomenda de um médico inglês que residia na Madeira e que também se dedicava à arte organística. A dada altura, este médico decidiu oferecê-lo à Igreja Anglicana. O órgão resultara da colaboração de vários organeiros, tendo sido o responsável pela montagem T. A Samuel no ano de 1884 (Organ Builder, Montague Road, Dalston-London). Os tubos – ou uma parte dos tubos – foram construídos pela firma Charles S. Robson (1861), os someiros pela firma Wilson Gnnerson, os teclados pela firma S. W. Browne e uma parte dos tubos metálicos pela empresa A. Speneir (1884). Originalmente munido de uma tracção mecânica, há três décadas o instrumento sofreu consideráveis modificações, tendo-se alterado partes do mecanismo e acrescido alguns registos palhetados “em chamada”. Estas intervenções acabaram por descaracterizar completamente o órgão, sem lhe conferir maior qualidade musical. Em consequência disto e com a intenção de proporcionar à Sé Catedral um instrumento adequado para fins litúrgicos e concertísticos, realizaram-se nos anos de 1995/96 importantes obras de restauro que foram levadas a bom termo por Dinarte Machado. • 66 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA FUNCHAL’S CATHEDRAL At Funchal Cathedral, the presence of an organ can be documented from the very beginning of the 16th century. In 1739 King João V gave the Cathedral a new organ made in Lisbon by the organ builder Francisco do Rego Matos. In 1740 the Chapter had this instrument placed in the original gallery, placed in a recess above the former sacristy, situated to the left of the sanctuary (Ferreira 1963: 1819). No longer in working order, this organ was dismantled in 1925 and eleven years later given to the Igreja do Colégio. In its place the Cathedral Chapter decided to buy the organ that belonged at that time to the Anglican Church. The minutes of the Chapter meeting of 5 January 1937 mentions “that by order of • 67 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 68 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA His Most Illustrious and Most Reverend Lord, the Bishop had bought the present organ belonging to the Anglican Church, the price of which was thirty-four contos and five hundred escudos (34,500 escudos), added to which the cost of transport, reassembly, etc.”, and that it was placed in the choir gallery at the main entrance of the Cathedral. This instrument, much altered since then, was built in England in 1884, having been ordered by an English doctor who resided in Madeira and also played the organ. At a certain point, this doctor had decided to give it to the Anglican Church. The organ had resulted from the collaboration of various builders, though T. A Samuel (Organ Builder, Montague Road, DalstonLondon) was responsible in 1884 for assembly in situ. The pipes – or, rather, some of them – were made by the firm Charles S. Robson (1861), the windchests by Wilson Gunnerson, the manual by the firm S. W. Browne and some of the metal pipes were the work of the company A. Speneir (1884). Originally using tracker action, some thirty years ago the instrument was considerably altered, with changes made to the mechanism and the addition of a number of reed stops en chamade. These modifications have completely altered the organ’s character, without making any kind of improvement from a musical point of view. As a result of this, and with the intention of endowing the Cathedral with an instrument appropriate for liturgical purposes and for concert work, major restoration to the instrument was undertaken and completed in 1995/96 by Dinarte Machado. I Manual (C-g’’’) Open Diapason 8’ Flöte 8’ Holz Bourdon 8’ Principal 4’ Waldflöte 4’ Nazard 2 2/3’ Super Octave 2’ Mixture 1 1/3’ de 4 filas Dulçaína Trompette 8’ II Manual (C-g’’’) Voix Celeste 8’ Gamba 8’ Gedeckt 8’ Principal 4’ Spitzflöte 4’ Octave 2’ Simbala 1’ de 4 filas Krummhorn 8’ Tremblant Pedal (C-g’’’) Subbass 16’ Open Diapason 16’ Octave 8’ Bombarde 16’ Trompette 8’ Acoplamentos / Couplers I/II I/Pedal II/Pedal • 69 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DA NOSSA SENHORA DA LUZ CHURCH OF NOSSA SENHORA DA LUZ (PONTA DO SOL) (PONTA DO SOL) Este instrumento é um órgão positivo de armário e encontra-se instalado no coro alto. O seu autor foi o organeiro João da Cunha (n. 1712 - m. 1762) que o construiu no ano de 1761, em Lisboa, conforme consta da inscrição no interior do secreto. João da Cunha, natural de Lisboa, era pai de Leandro José da Cunha (n. 1743 - m. após 1805), construtor do órgão positivo da Igreja do Recolhimento do Bom Jesus, no Funchal. Tendo sofrido algumas intervenções de menor importância, o instrumento manteve em grande parte o seu carácter original e foi restaurado em 2005-06 por Dinarte Machado que lhe restituiu o diapasão e o temperamento original, bem como o sistema primitivo da alimentação do ar. This instrument is a positive organ installed in the choir gallery. It was made by the builder Filipe da Cunha, who constructed it in 1760 in Lisbon, according to the inscription on the interior of the lower windchest. Although there have been minor repair works, the instrument has largely retained its original character and was restored in 2005-6 by the master organ-builder Dinarte Machado who restored it to its original pitch and temperament, as well as the original system for supplying wind. Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’) Flautado tapado de 6 palmos (4’) Quinzena (2’) Dezanovena (1 1/3’) Vintedozena (1’) Sesquialtera II • 70 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA • 71 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL • 72 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA RECOLHIMENTO DO BOM JESUS, HOSPICE OF BOM JESUS, FUNCHAL FUNCHAL Este pequeno órgão positivo foi construído em 1781 por Leandro José da Cunha (n. 1743 – m. após 1805), natural de Lisboa e um dos três construtores identificados desta família de organeiros. Leandro era filho do organeiro João da Cunha (n. 1712 – m. 1762), igualmente natural de Lisboa, que construiu o órgão da igreja de Nossa Senhora da Luz, de Ponta do Sol. O órgão representa um tipo de instrumento muito característico para o conceito da organaria portuguesa da primeira metade do século XVIII. O facto de o instrumento não ter possuído – originalmente e à semelhança com muitos outros positivos daquela época – um registo base de 8’ (q. d. de 12 palmos) mas apenas de 6 palmos, parece indicar uma prática musical que contava com o reforço da região grave por meio de um outro instrumento. This small positive organ was built in 1781 by Leandro José da Cunha (b. 1743, d. after 1805), who was from Lisbon and was one of the three members identified as belonging to this family of organ builders. Leandro was the son of the builder João da Cunha (b. 1712, d.1762), also from Lisbon, who built the organ of the Church of Nossa Senhora da Luz, at Ponta do Sol. It is an example of a type of instrument typical of Portuguese organs in the first half of the 18th century. The fact that the instrument did not originally possess a basic 8’ (12-palm) stop – like many other positives of the period – but only 4’ (6-palm), seems to indicate a musical practice that relied on reinforcement in the lower register through the use of another instrument. Manual (C, D, E, F, G, A-d’’’) Flautado de 6 tapado (4’) Quinzena (2’) Dezanovena (1 1/3’) 22ª e 26ª Sesquialtera II (c#’-d’’’) • 73 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DE SÃO PEDRO, FUNCHAL CHURCH OF SÃO PEDRO, FUNCHAL O órgão da Igreja de São Pedro foi adquirido em Inglaterra à firma Flight & Robson, no século XIX. Não possuímos documentação relativa ao ano da sua construção mas podemos situála antes de 1878, altura em que a mencionada firma foi comprada por Gray & Davison. Tãopouco sabemos a data exacta da instalação do instrumento na Igreja de São Pedro, mas em dois inventários (1838 e 1841) mencionase um órgão “em muito bom uso” colocado no coro, facto que permite apontar para o actual instrumento (AHDF Inventário: 3). No decorrer do século XX, o órgão sofreu várias intervenções das quais resultaram, entre outros, a modificação do diapasão e da afinação, sem que tivessem acarretado, no entanto, danos significativos na originalidade do instrumento. Em Agosto de 1904, no decurso de uma campanha de beneficiação do coro alto da igreja, a Fábrica aproveitou também a ocasião para mandar The organ of the church of São Pedro was obtained in England from the firm Flight & Robson in the 19th century. We have no documentation relating to its construction but we may place it as before 1878, when the firm was bought by Gray & Davison. We know equally little of the exact date of the installation of the instrument in the church, but in two inventories (1838, 1841) there is reference to an organ “of which much use is made” placed in the choir gallery, which point to the present instrument (AHDF Inventário: 3). In the course of the 20th century, the organ underwent various repairs, as a result of which, among other things, the pitch and tuning were altered, without, however, causing any significant damage to the original state of the instrument. In August 1904, in the course of a campaign to make improvements to the choir gallery of the church, the Benefice took advantage of • 74 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA reparar o órgão, tendo sido responsável pelo restauro Alfredo Saturnino Lino. Sabe-se que o conserto do órgão, como do restante conjunto, foi breve, pois em ofício assinado a 6 de Agosto de 1904, o mestre declara que os trabalhos “deveriam ficar promptos até meados do corrente mez”. As obras terminaram de facto a 25 de Agosto; os trabalhos do coro e do órgão custaram 150.000 réis, tendo a Junta Geral do Distrito comparticipado com a importância de 50.000 réis, montante que se destinava exclusivamente ao conserto do órgão. Pelos vistos, esta intervenção deve ter sido pontual, pois passados dois anos, o periódico Heraldo da Madeira noticiava, no dia 15 de Novembro de 1906, que o órgão da Igreja de São Pedro estava a ser sujeito a uma nova reparação. Em 2006, este instrumento foi restaurado por Dinarte Machado the opportunity to have the organ repaired, the restoration being undertaken by Alfredo Saturnino Lino. We know that the work to the organ, as to all the rest, took a short time, for in a note signed 6 August 1904, the builder stated that the work “should be finished by the middle of the present month”. The works actually finished on 25 August; all told, the work to the choir gallery and organ cost 150,000 réis, to which the District General Council contributed the sum of 50,000 réis, given over entirely to the repairs to the organ. Apparently, this work was a one-off intervention, for only two years later, the newspaper Heraldo da Madeira, on 15 November 1906, reported that the organ of the church of São Pedro was once more under repair. In 2006 a full restoration was undertaken by Dinarte Machado. Manual (GG, AA, C, D-f’’’) Diapason 8’ Principal 8’ (c-f’’’) Principal 4’ Flauta 4’ Piphar 2’ Cornet • 75 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DE SANTA LUZIA CHURCH OF SANTA LUZIA De acordo com os registos de despesas relativamente aos anos 1839 e 1841, verifica-se que foram efectuadas remunerações a cantores e organistas, facto que nos permite admitir, à partida, que a Igreja de Santa Luzia já dispunha de um órgão de tubos, provavelmente bem antigo, que viria a ser substituído com a chegada do instrumento proveniente do extinto Convento de São Francisco. Este segundo órgão foi adquirido no ano de 1834; no entanto, a sua deslocação para a Igreja de Santa Luzia só veio a acontecer em 1842, tendo o Padre Joaquim António Português anotado no Livro da Fábrica, a 15 de Janeiro desse ano, uma quantia According to the register of expenses for the years 1839 to 1841, we find that remunerations were given to the singers and organists, which straight away implies that the Church of Santa Luzia already had a pipe organ, probably of some considerable age, before it was replaced by the arrival of the instrument from the dissolved Convent of São Francisco. This second organ was acquired in 1834. However, it was only moved to the Church of Santa Luzia in 1842, according to the register of Father Joaquim António Português who, on 15 January of that year, noted down in the Accounts Book, an extra sum to pay for it to be transported definitively • 76 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA extra para pagamento do seu transporte definitivo para a igreja: “50.000 réis que dei a quem diligenciou o órgão de S. Francisco para esta freguesia por não ter recebido e do diligenciador Fr. António das Dores ter falecido”. No decorrer do século XX, este instrumento foi sujeito a inúmeras intervenções de manutenção, cujas despesas foram pagas em alguns momentos através de donativos atribuídos por diversos paroquianos. Segundo o registo do Livro da Fábrica, em 20 de Dezembro de 1902, o órgão era consertado pela quantia de 300$00 (réis ?) a expensas do Sr. Augusto Camarrinha, residente no Pará; em 1936 e em 1940 eram gastos 320$00 e 150$00 (escudos), respectivamente, para outros dois consertos do instrumento (Matos 1996: 88). Entre 1950, altura em que decorriam as obras de reparação do soalho e do coro, e 1963 seguiu-se uma nova, mas inadequada, intervenção que foi levada a cabo pelo mestre António Gomes Jardim, natural da Ribeira da Janela. Não foi possível identificar o construtor do órgão. Manuel Valença descreve-o como um “órgão Positivo de fabrico inglês com características muito peculiares – um só manual, com sete registos inteiros e três partidos, considera do, no seu género, um dos melhores da Diocese” e Christopher Kent, professor do Departamento de Música da Universidade de Reading, na Inglaterra, regista a sua feitura em Inglaterra, datando-o, segundo a inscrição encontrada nos tubos, de 1815-1820. Acrescenta que é “um dos órgãos famosos, como alguns outros da mesma fábrica e época, que existem em Inglaterra”. Foi restaurado em 2013 pelo organeiro Dinarte Machado to the church: “50,000 réis which I gave to the man who arranged for the São Francisco organ to be brought to this parish, since he had received nothing, owing to the decease of Brother António das Dores, who was to have dealt with this.” In the course of the 20th century, this instrument was subject to frequent maintenance work, paid for by donations from various members of the parish. According to the Accounts Book, on 20 December 1902 the organ was repaired for the sum of 300$00 (réis?), the expense being met by Mr. Augusto Camarrinha, resident at Pará; in 1936 and 1940 320$00 and 150$00 (escudos), respectively were spent, for repairs on two further occasions (Matos 1996: 88). In 1950, at the time of work done to the floor and gallery, and again in 1963, repairs, inadequately carried out, were undertaken by António Gomes Jardim, who was from Ribeiro da Janela. It has not been possible to identify the maker of the organ. Manuel Valença describes it as a “positive organ made in England with very specific characteristics – just one manual, with seven stops throughout the range and three divided, considered, of its type, one of the best in the Diocese “ and Christopher Kent, of the Music Department of Reading University, England, records it as having been made in England, dating it, following an inscription found on the pipes, to 1815-1820. He adds that it is “one of the famous organs, like certain others of the same make, which are to be found in England.” It was restored in 2013 by Dinarte Machado. Manual (GG, AA, C-f’’’) Open Diapason 8’ Stop Diapason (GG-b) Stop Diapason ( c’-f’’’) Bourdon 8’ (GG-b) Principal 4’ Flute 4’ (c’-f’’’) Fifteenth 2’ Cornet (GG-b) Sesquialtera (c’-f’’’) Trumpet (f’-f’’’) • 77 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DE SÃO MARTINHO, FUNCHAL A referência documental mais antiga que conseguimos encontrar relativamente à existência de um órgão de tubos na Igreja Paroquial de São Martinho remonta a 1806. De acordo com um registo lançado pelo tesoureiro da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, foi contratado, em 1806, um organista para afinar o órgão, verificando-se outras informações mais tardias relacionadas com intervenções de manutenção. No registo da despesa do ano de 1862, lançada no Livro da Fábrica (1834-1877), o Vigário José Rodrigues de Almada anotava a quantia de 200.000 réis para pagamento do órgão novo, especificando que 150.000 réis foram aplicados pela Fábrica da Igreja, 40.000 réis transitaram do valor que foi pago sobre o antigo órgão e 10.000 réis foram oferecidos, perfazendo assim o preço real do instrumento. Através desta fonte não foi possível determinar em que condições o seu transporte foi efectuado, nem mesmo onde foi adquirido. O certo é que, em 1863, o órgão encontrava-se já na igreja, pois, nesse mesmo ano, o Padre João G. de Noronha era contratado para afinar o referido instrumento, recebendo pelo seu trabalho 2.000 réis. Verificada a transferência da paróquia para a nova igreja, sagrada em 1918, o órgão foi então levado para o novo templo, onde funcionou até 1934. Conforme os registos encontrados no Livro da Fábrica (1877-1954), o órgão foi objecto de sucessivas intervenções de manutenção, sendo as intervenções mais dispendiosas realizadas em 1879 (pagamento de 38.000 réis a Nuno Rodrigues) e, em particular, em 1916, pela circunstância de se encontrar muito desafinado e com várias deficiências técnicas. Enquanto instrumento de acompanhamento e dignificação das celebrações religiosas, o órgão da Igreja de São Martinho terá participado nas diversas solenidades, tendo em 1917 sido registado no Livro da Fábrica uma receita de 10$700 “proveniente da contribuição do órgão nos festejos”. • 78 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA CHURCH OF SÃO MARTINHO, FUNCHAL The oldest documental reference it has been possible to find concerning the existence of a pipe organ at the parish church of São Martinho goes back to 1806. According to a record set down by the treasurer of the Confraria de Nossa Senhora do Rosário (Fraternity of Our Lady of the Rosary), an organist was contracted in 1806 to tune the organ, and there are other later records referring to maintenance work. In the record of expenditure for the year 1862, to be found in the Accounts Book (1834-1877), the vicar José Rodrigues de Almada noted down the sum of 200,000 réis for payment of the new organ, specifying that 150,000 réis were contributed by the Benefice of the church; 40,000 réis was credited from the amount paid for the old organ and 10,000 réis was donated, thus making up the real price of the instrument. From this source it has proved impossible to determine the conditions for its transport, or where it was acquired. What is certain is that in 1863 the organ was already in this church, for that year Father João G. de Noronha was contracted to tune the said instrument, receiving 2,000 réis for his work. With the transfer of the parish to the newly consecrated church in 1918, the organ was then taken there, where it continued to function until 1934. According to the records found in the Accounts Book (1877-1954), the organ underwent successive maintenance works, the most expensive being in 1879 (a payment of 38,000 réis to Nuno Rodrigues) and, especially, in 1916, because it was very out of tune and had a number of technical problems. As an instrument to accompany and enhance divine worship, the organ of the church of São Martinho will have participated in various solemnities, and in the year 1917 there is a record in the Accounts Book of receipt of 10.700 réis “arising from the contribution of the organ to the festivities”. Manual (GG, AA, C-f’’’) Stop Diapason Bass (GG-b) Stop Diapason Treble (c’-f’’’) Principal Flute Dulciana • 79 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, MACHICO Na documentação histórica anterior ao século XX constam observações que se referem a dois instrumentos: um foi oferecido, segundo a tradição historiográfica, em 1499, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição pelo rei D. Manuel, e um outro adquirido em 1746. No que diz respeito ao órgão manuelino podemos deduzir que ele foi colocado no arco que se abre sobre o cadeiral do lado do Evangelho da capela-mor. No século XVIII, o estado de conservação deste órgão terá deixado muito a desejar, verificandose a aquisição do segundo instrumento em 1746. O órgão chegou à Madeira em 1752, tendo o Conselho da Fazenda contribuído, inicialmente, nas despesas da sua compra e, posteriormente, nos custos da sua instalação. O recente restauro, da responsabilidade de Dinarte Machado, teve como objectivo principal restituir, na medida do possível, a sua constituição original, seguindo as indicações dadas pelas próprias peças durante a desmontagem. Assim, no decorrer do restauro optou-se por uma filosofia de intervenção que tivesse sempre em conta as particularidades das peças originais, desde à configuração da caixa e policromia, à reposição da registação, tubaria, • 80 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA folaria, e até à colocação do instrumento no seu local original – a capela-mor. Ainda em relação à composição do instrumento, reintroduziuse o meio-registo da mão direita, de palheta, que o órgão indicava possuir originalmente e que, de certa forma, o caracteriza. O teclado original, encontrado a monte e que se conseguiu recuperar, mantém a extensão da época com Oitava curta. Ficou completada, com grande rigor, a nova tubaria de acordo com as características que os poucos tubos originais conservados evidenciavam, comparada com as próprias indicações e dimensões do someiro, que também foi minuciosamente estudado e documentado. Não há dúvidas que se trata de um dos mais belos órgãos da Ilha da Madeira, sendo um dos instrumentos que conserva algumas das mais relevantes características da organaria do século XVII em Portugal. É de salientar ainda que o trabalho de restauro desencadeado nesta peça exigiu o estudo de muita documentação, assim como comparações com outros órgãos da época. Uma vez que tais instrumentos não existem em Portugal, teve de se recorrer a dados em outros países. • 81 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL CHURCH OF NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, MACHICO In the historical documentation from before the 20th century there are references to two instruments: according to historical tradition, one was given to the Church of Nossa Senhora da Conceição in 1499 by King Manuel, and another acquired in 1746. As regards the Manueline organ, we may deduce that it was placed within the archway above the choirstalls on the Gospel side of the sanctuary. In the 18th century, the state of this instrument must have left much to be desired, leading to the acquisition of the second instrument in 1746. The organ arrived in Madeira in 1752, with the Council of the Treasury initially contributing the cost of purchase and later the installation costs. The recent restoration undertaken by Dinarte Machado was done with the principal objective of returning as far as possible it to its original constitution, in accordance with indications to be gleened from the pieces of the instrument during its dismantling. Thus, the restoration always proceeded from a philosophy of taking into account the specificities of the original pieces, from the configuration of the case and its polychrome decoration, to the way the registration, pipework, bellows-work and even its placement – in the sanctuary – were returned to how they were originally. As regards the composition of the stops, the split keyboard, with the reed stop in the right hand, which the organ indicated was an original feature, which indeed characterised the instrument. The original keyboard, which was found piled in a heap, and which it was possible to repair and reassemble retains the short octave, as was usual at this period. The • 82 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA new pipework was completed with great rigour in accordance with the characteristics of the few original pipes that had survived, compared with the actual indications and dimensions of the windchest, which was also studied and recorded in great detail. There can be no doubt that this is one of the loveliest organs on the island of Madeira. It is one of the instruments that conserves some of the most typical features of Portuguese organ building in the 17th century. It should be stressed that the restoration work carried out on this instrument required study of considerable documentation, as well as comparison with other instruments of the period. Since no other instruments of this kind are to be found in Portugal, recourse was had to instruments from other countries for the necessary data. Manual (C, D, E, F, G, A-c’’’) Flautado de 12 palmos (8’) Flautado de 6 palmos (4’) Flauta doce Dozena (2 2/3’) Voz humana (c#’-c’’’) Quinzena (2’) Composta de 19ª e 22ª Sesquialtera II (c#’-c’’’) Clarim* (c#’-c’’’) * palhetas horizontais / horizontal reeds • 83 • MADEIRA ORGAN FESTIVAL IGREJA E CONVENTO DE SANTA CLARA, FUNCHAL A Igreja de Santa Clara tinha adquirido um órgão de tubos em forma de armário com características italo-ibéricas do século XVIII. Com a extinção das Ordens Religiosas e consequente venda dos bens da congregação, também o órgão foi posto em hasta pública, sendo arrematado pelo Dr. Romano de Santa Clara, que o conservou numa dependência do extinto convento. Em 1921 ofereceu-o à confraria de Santa Clara, a fim de ser novamente posto ao serviço religioso daquele templo. Foram então encarregados de proceder à sua “reparação”, em Outubro de 1923, os músicos César R. Nascimento e Guilherme H. Lino que a terminaram em Novembro do ano seguinte. Achando-se durante vários anos silenciado e muito estragado, em 1996, este instrumento, de notável valor histórico, foi então sujeito a uma intervenção profunda e com critérios baseados em factos ligados à arte da organaria da época que identifica o instrumento, desta vez por parte de Dinarte Machado, tendo ficado concluída em 2001. O estado em que se encontrava, considerado completamente desconfigurado, exigiu um profundo e rigoroso estudo para se chegar às conclusões que definiram o restauro actual. Neste âmbito, foi um trabalho revestido de grande critério e exigência imposto desde o início por Dinarte Machado. Manual (C, D, E, F, G, A, Bb‑c’’’) Principale (c#’‑c’’’) Ottava (4’) Quintadecima (2’) Decimanona (1 1/3’) Vigesimaseconda e Trigesimasesta Flauto 8’ Flauto 4’ Cornetto (c#’‑c’’’) • 84 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA CHURCH AND CONVENT OF SANTA CLARA, FUNCHAL The church of Santa Clara had acquired a small positive organ with Italo-Iberian characteristics in the 18th century. With the extinction of the religious orders and the subsequent sale of the congregation’s goods, the organ was also put up for sale, being purchased by a certain Romano de Santa Clara, who kept it in a wing of the dissolved convent. In 1921 he gave it to the fraternity of Santa Clara, so that it could once more be put to service in the worship of the church. In October 1923 the task of ‘repairing’ it was put in the hands of the musicians César R. Nascimento and Guilherme H. Lino, who completed the work in November of the following year. Unused and badly damaged for many years, this instrument of considerable historical value underwent a major restoration by Dinarte Machado on the basis of proper criteria drawn from a knowledge of the organ-building practices of the instrument’s period. This was completed in 2001. The poor state of the instrument, completely disfigured, required a rigorous, in-depth study on which to base this restoration. Thus we see how from the outset Dinarte Machado went to considerable pains in the course of this restoration. • 85 • FESTIVAL DE ÓRGÃO DA MADEIRA MADEIRA ORGAN FESTIVAL ORGANIZAÇÃO / PROMOTERS Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura Direção Regional da Cultura COORDENAÇÃO / COORDINATION Carina Bento DIREÇÃO ARTÍSTICA / ARTISTIC DIRECTION João Vaz PRODUÇÃO / PRODUCTION e:d:i:c:a.r:t:e COORDENAÇÃO / COORDINATION ASSISTÊNCIA AOS INSTRUMENTOS / ASSISTANT ORGAN BUILDER PRODUÇÃO EXECUTIVA / EXECUTIVE PRODUCTION Francisco Faria Paulino ASSESSOR DE IMPRENSA / PRESS OFFICER António Mesquita DESIGN José Brandão / Susana Brito [ATELIER B2] IMPRESSÃO / PRINTING O Liberal, Funchal TEXTOS (ÓRGÃOS) / TEXTS (ORGANS) Dinarte Machado, Gerhard Doderer Órgãos das Igrejas da Madeira FOTOGRAFIA (ÓRGÃOS) / PHOTOGRAPHS (ORGANS) Roberto Pereira – DRAC Dinarte Machado TIRAGEM / PRINT RUN 200 exemplares / 200 copies Dinarte Machado Alicia Lira Analisa Branco Fábio Andrade Luísa Gouveia Sofia Paulino TRADUÇÃO / TRANSLATION David Cranmer Ivan Moody • 87 • AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGMENTS Diocese do Funchal Igreja de São João Evangelista (Colégio) Sé Catedral Igreja de Nossa Senhora da Luz (Ponta do Sol) Igreja de Santa Luzia Igreja de São Pedro Igreja e Convento de Santa Clara Recolhimento do Bom Jesus Igreja de São Martinho Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Machico) Universidade da Madeira 9 18 2015 OUT OCT ORGANIZAÇÃO PRODUÇÃO e d i c a r t e APOIOS INSTITUCIONAIS APOIOS
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