Texto 7 – Delgado – Política Industrial, Estado e
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Texto 7 – Delgado – Política Industrial, Estado e
CONTRATO No 009/2008 – Termo Aditivo ABDI-FUNDEP/UFMG Projeto: Estudo comparativo de política industrial: as trajetórias do Brasil, Argentina, México, Coréia do Sul, EUA, Espanha e Alemanha*. Coordenação: Ignacio José Godinho Delgado – UFJF Pesquisadores: Ângelo Brigato Esther – UFJF Eduardo Salomão Condé – UFJF Helena da Motta Salles - UFJF Bolsistas: Breno Vieira de Freitas, Bruna Paiva Lenzi, Carlos Eduardo Ferreira Fernandes, Diogo Gomes de Campos, Fernando Marcus Nascimento Vianini, Heitor de Andrade Carvalho Loureiro, Priscila Musquim Alcântara, Rene Eberle Rocha, William Rezende Alves Ponte. Colaboração: Diogo de Carvalho Antunes Silva, Maedison de Souza Volume 2 Política Industrial, Estado e Empresariado Apresentação O texto que se segue corresponde ao Segundo Relatório de Pesquisa apresentado à ABDI no âmbito do Projeto Estudo comparativo de política industrial: as trajetórias do Brasil, Argentina, México, Coréia do Sul, EUA, Espanha e Alemanha, vinculado ao projeto mais amplo Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológica, coordenado por Mauro Borges Lemos do CEDEPLAR-UFMG, no âmbito do contrato No 009/2008 firmado entre Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a FUNDEP/UFMG. Desenvolvido entre junho e setembro de 2009, o projeto contou com a participação de pesquisadores e bolsistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O levantamento realizado consistiu, basicamente, de documentos recolhidos junto a agências internacionais e organismos dos governos dos países selecionados, além da pesquisa na literatura pertinente. Para sua realização, os pesquisadores e bolsistas contaram com o apoio da Faculdade de Economia e Administração, do Instituto de Ciências Humanas, dos Programas de Pós Graduação em História e em Ciências Sociais, do Laboratório em História Política e Social, vinculado ao Departamento de História, e do Centro de Pesquisas Sociais da UFJF. Importante, também, foi a colaboração do CEDEPLAR e da FUNDEP, da UFMG, além da participação da ABDI. Ignacio Godinho Delgado 2 Sumário 1) Introdução................................................................................................................04 2) Estados Unidos.........................................................................................................07 3) Alemanha..................................................................................................................17 4) Espanha....................................................................................................................31 5) Coréia do Sul............................................................................................................39 6) Argentina..................................................................................................................51 7) México.......................................................................................................................61 8) Brasil.........................................................................................................................74 9) Considerações Finais...............................................................................................86 10) Referências...............................................................................................................88 3 1) Introdução Se a política industrial corresponde, em certa medida, ao conjunto de iniciativas do Estado para estimular o investimento privado em determinada direção, uma de suas dimensões cruciais diz respeito às relações entre Estado e empresariado. Nesta seção buscamos indicar algumas pistas para o entendimento desta relação nos países selecionados, considerando as características gerais de seus sistemas políticos, a estrutura dos organismos responsáveis pelas políticas industriais e tecnológicas nos governos e as formas de articulação de interesses do empresariado. Numa situação típico-ideal duas condições têm sido apontadas como significativas para que a relação entre Estado e empresariado não resulte em arranjos predatórios, que ensejem a orquestração de conluios entre grupos burocráticos e interesses privados1. Por um lado, a presença no Estado de uma sólida burocracia profissional, recrutada segundo mecanismos universais e meritocráticos, ciosa dos procedimentos que assegurem relativa imunização a influências particularistas, assegurando, pois, a autonomia do Estado diante das tentativas de capturá-lo (EVANS, 1992). Por outro lado, no que tange ao empresariado, a existência de organizações abrangentes de articulação de interesses, dificultando a deserção à colaboração e a prevalência de interesses setoriais na definição das políticas públicas, que materializam a parceria entre Estado e os atores sociais (SCHNEIDER, MAXFIELD e HAGGARD, 1997; EVANS, 2004). Alternativamente, na ausência de tais condições, a instituição de agências estatais insuladas e a presença de organizações setoriais no meio empresarial podem, também, favorecer processos de colaboração entre o Estado e o empresariado. Estes, todavia, tendem a se revelar mais vulneráveis, seja pelos compromissos que exigem, no âmbito do Estado, a convivência entre setores “modernos” e “arcaicos”, seja pela pequena capacidade de constituição de interesses convergentes no meio empresarial, em decorrência do predomínio de associações setoriais. O pior dos mundos seria aquele em que o Estado estivesse organizado predominantemente segundo uma lógica clientelista e os interesses empresariais Os autores são pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Em boa medida este trabalho valeu-se das reflexões inauguradas pelo estudo Estratégias e Trajetórias:Respostas Nacionais aos Desafios do Desenvolvimento na Nova Ordem Mundial - O Caso Brasileiro em Perspectiva Comparada, que contou com apoio da FAPEMIG. Originalmente foi denominado “Produto 3”, uma vez que o projeto que o norteia recebeu a denominação de Produto 1, afetando a numeração subseqüente dos relatórios de pesquisa. 1 Este seria um resultado inexorável para a perspectiva neo-utilitarista. Sua abordagem, contudo, se relevante para fixar cautelas importantes na definição dos processos de colaboração entre o Estado e o empresariado, não serve para uma reflexão positiva a respeito das políticas industriais, uma vez que tendem a ser vistas como necessariamente predatórias. Conferir TULLOCK, 1984 e OLSON, 1982. 4 fragmentados ou circunscritos por associações que, detendo o monopólio da representação, não dispusessem de elos efetivos com seus membros. Nesse caso, comportamentos predatórios prevaleceriam no âmbito do Estado, dificultando sua eficácia e a credibilidade das políticas, ao passo que grupos empresariais mais poderosos, ou cliques burocráticas, poderiam assenhorar-se dos benefícios proporcionados pelas políticas públicas – caso estas existissem (DELGADO, 2005). Do exposto acima, resulta que relações predatórias podem ocorrer tanto em formatos pluralistas quanto nos formatos corporativos de intermediação de interesses. Os primeiros são caracterizados pela prevalência de associações fragmentadas, independentes, competitivas, que dificilmente alcançam status público. Os segundos, por seu turno, “são caracterizados pela prevalência de entidades abrangentes, não competitivas, funcionalmente ordenadas, reconhecidas ou licenciadas e até mesmo criadas pelo Estado, além de dotadas de um monopólio representativo no âmbito de seu setor de atividade” (SCHMITER, 1979)2. Nos formatos pluralistas a autonomia do Estado pode ser favorecida pela dispersão dos interesses empresariais, mas tende a ser limitada em virtude do predomínio de funções regulatórias atribuídas ao poder público (com as respectivas arenas), que aparece, pois, como uma entidade relativamente passiva face aos interesses em disputa na sociedade. Ademais, ele não está imune à penetração de interesses particularistas, efetivada através das redes informais ou de mecanismos como o lobby. Por seu turno, a cooperação dos empresários com o Estado, não envolvendo a mediação das associações, tende a ser garantida fundamentalmente através de políticas que atendam às expectativas de ganho no curto prazo. Nos formatos corporativos, a parceria entre Estado e empresariado é estimulada pelo ordenamento institucional, mas a capacidade das associações garantirem a cooperação de seus membros com os objetivos das políticas públicas acordadas nos fóruns corporativos depende da possibilidade de preservarem a confiança de sua base - face aos dilemas da ação coletiva vinculados à dimensão e heterogeneidade das associações -, através do controle de recursos obtidos na relação com outros interlocutores, especialmente o Estado que, boa parte das vezes, confere status público a tais associações (SCHMITTER & STREECK, 2 Esta é a referência clássica sobre o corporativismo. Nela Schimiter distingue o corporativismo estatal do societal, o primeiro associado a formas políticas autoritárias e á prevalência do Estado na definição dos mecanismos de intermediação de interesses. As formas societais, por seu turno, emergem a partir da crescente convergência dos interesses organizados na sociedade para o Estado, combinando-se a formas políticas democráticas (SCHMITER,1979). A referência fundamental sobre o pluralismo é Robert Dahl (1968), que vê na poliarquia a imagem ideal de uma ordem social em que é extensa, diversificada e expansiva a articulação de interesses através de associações autônomas. 5 1999). Ademais, há diferentes possibilidades de equilíbrio na relação entre o Estado, o empresariado e outros atores sociais, conforme o predomínio de modalidades estatais ou societais de corporativismo, do regime político envolvente e de sua articulação com estruturas pluralistas, como ocorre nos padrões segmentados presentes em diversos países da América Latina. A relação entre Estado e empresariado é afetada, ainda, pelas características do sistema político dos diferentes países. Naturalmente que a sensibilidade dos governos – autoritários ou democráticos – aos interesses empresariais depende das coalizões que os sustentam. Na ordem capitalista, contudo, governo algum pode manter relações de contínua hostilidade com o conjunto dos interesses empresariais, que se vinculam a atividades de onde, no limite, provêm as receitas do Estado (OFFE & RONGE, 1984). Não obstante, algumas características dos sistemas de governo, como o predomínio do executivo ou do legislativo, ou o relativo equilíbrio entre ambos, ou, ainda, o fato de o processo decisório dispor de poucos ou múltiplos pontos de veto, tendem a influenciar as estratégias empresariais e suas organizações. Por fim, cumpre salientar que, em articulação com as características do sistema político, certos elementos da estrutura econômica podem influenciar as formas como o empresariado se organiza e as coalizões que tende a orquestrar3. A influência das grandes e/ou pequenas empresas, o predomínio de determinados setores, o peso das multinacionais, dentre outros aspectos, provocam efeitos diversos na estrutura de representação, favorecendo o predomínio de associações setoriais ou de cúpula, a centralização ou a fragmentação das entidades, a capacidade – maior ou menor – de entidades centrais orquestrarem acordos multissetoriais. Estas diferentes dimensões serão apenas parcialmente exploradas neste produto. Como se apontou acima, limitamo-nos, a rigor, em descrever as características dos 3 Michal Hall sugere a presença de determinadas correlações, envolvendo, por um lado, o predomínio de determinados ativos no meio empresarial - em associação com certas formas políticas -, e, por outro, as coalizões e padrões de intermediação de interesses prevalecentes em diferentes países. Assim, sugere que nos países em que é maior a mobilidade dos ativos e o Executivo predominante, vão prevalecer processos de barganha em canais corporativos por via de peak associations. Nos países em que prevalecem ativos fixos e o parlamento é dominante, vão ter destaque formas pluralistas e o lobby. Situações marcadas pelo predomínio de ativos fixos e executivos fortes, vão se destacar o intervencionismo e o planejamento estatais. Por fim, quando prevalecem ativos de maior mobilidade e o parlamento, as coalizões entre atores econômicos (classbased coalitions) são mediadas pela negociação entre os principais partidos políticos (HALL, 2003). Não efetuamos o teste destas proposições nos países estudados, mas é relevante registrar as possibilidades analíticas nelas contidas. No limite, contudo, tais relações tendem a ser muito mais complexas. A análise de Hall não leva em consideração, por exemplo, a presença de empresas multinacionais que, pelo menos para quatro países que focalizamos – Espanha, Argentina, Brasil e México -, tem impacto importante na estruturação das formas de representação de interesses do empresariado e em suas relações com o Estado. 6 organismos de governo responsáveis pelas políticas industriais e de inovação, bem como das principais organizações empresariais presentes nos diferentes países, ao lado da indicação das características fundamentais do sistema político neles prevalecentes. A identificação de tais elementos, contudo, permite a complementação da análise desenvolvida na seção anterior, ao apontar os elementos presentes numa das esferas interativas indicadas como fundamentais à caracterização das variedades de capitalismo, isto é a que se refere às relações entre Estado e empresariado. A eficácia dos mecanismos descritos para definir processos de colaboração que resultem em políticas industriais bem sucedidas só deverá ser avaliada nos próximos produtos. De fato, a partir da análise dos mecanismos definidos para implementação das políticas industriais e tecnológicas em seu conjunto (Produto 4) e em alguns setores selecionados (produto 5) poderemos nos aproximar de uma compreensão mais acurada sobre a pertinência de determinadas políticas para certos ambientes e sobre a possibilidade de alterações institucionais para o acolhimento e potencialização de iniciativas germinadas em ambientes diversos. 2) Estados Unidos 2.1) Governo Entre 1998 e 2008, os EUA conheceram o final da administração Clinton e dois períodos de administração republicana (ver quadro e figura abaixo). É da tradição do sistema político do país a presença de dois grandes partidos nacionais (Democratas e Republicanos) com capacidade política e financeira para as disputas nacionais, ainda que exista uma miríade de organizações políticas e candidatos independentes. O regime presidencialista consagra um candidato presidencial vencedor, mas que depende de uma maioria muito sólida no Congresso para governar com uma agenda toda própria, o que não é nada comum. O primeiro governo Clinton mostrou uma vantagem democrata significativa, fato que não se repetiu no segundo mandato. George W. Bush repetiu o feito no primeiro mandato, mantendo a vantagem mesmo após a confirmação intermediária em 2003. Mas o desgaste provocado pela rejeição em seu segundo mandato obrigou-o, na fase final de seu governo entre 2007 e 2008, a conviver com uma maioria democrata na Câmara e um equilíbrio no Senado, tornando a última fase de seu governo uma lenta agonia que culminou com a derrota republicana para Barack Obama em 2008, com uma nova expressiva maioria democrata na Câmara. Já na formação dos governos, mantêm-se um misto de caráter técnico e partidário. Republicanos tendem a uma maior homogeneidade 7 ideológica conservadora, enquanto democratas aceitam com mais facilidade a presença de secretários de origem republicana, ainda que em franca minoria. Quadro 1 – Governos dos EUA (1998-2008) Período 1997-2001 2001-2005 2005-2009 Presidente Bill Clinton George W. Bush George W. Bush Partido Democrata Republicano Republicano Fonte: elaboração própria. Figura 1 – Governos dos EUA (1998-2008) Presidentes dos EUA Bill Clinton é reeleito e assume a presidência dos EUA pelo partido Democrata. 1997 1999 1998 George W. Bush assume a presidência dos Estados Unidos, pelo partido Republicano. 2001 2000 2003 2002 2004 2007 2005 2006 2009 2008 Fim do primeiro mandato de George W. Bush e início de seu segundo governo. Ele assume a presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicano. Os Estados Unidos são uma república democrática, com sistema presidencialista de governo, das mais longevas. Desde sua gênese, após a Guerra de Independência e a formulação da Constituição Americana (1787), o país é regido pelo princípio do equilíbrio entre os estados federados (inicialmente 13, hoje 50) e o poder central, condição expressa na polarização originária entre os que defendiam a atribuição de grande poder aos Estados, posição de Jefferson, e a perspectiva federalista, que, apesar da denominação, operava em favor de um governo central forte. O resultado prático foi a própria Constituição, suas emendas (27) e a organização dos três poderes e da estrutura do governo. O poder legislativo é constituído pela Câmara de Representantes, com congressistas eleitos pelos estados com peso proporcional à população de cada um, através do voto distrital, enquanto o Senado leva a Washington dois representantes por Estado. A cada dois 8 anos pode ocorrer renovação na Câmara de Representantes, por confirmação do mandato. Em sua organização é muito importante a função dos comitês (e seus subcomitês), em número de 20. Os congressistas podem emendar a Constituição (ainda que isto seja raro), propor e alterar leis, analisar e acompanhar as agências do poder executivo e efetuar a fiscalização sobre o mesmo. Também podem promover sessões e investigação sobre determinados temas. O presidente do comitê tem poder de agenda e um papel decisivo nas votações. Estes organismos são fóruns decisivos e forte campo de ação para os lobbies, a principal forma de intermediação de interesses. O poder executivo, representado pelo Presidente, tem sua escolha também marcada pelo compromisso entre os estados (votação em delegados estaduais, proporcional às populações), podendo eleger-se por apenas dois mandatos consecutivos (emenda 22). A estrutura do governo está baseada em 15 “departamentos”, assim denominados: agricultura, comércio, defesa, educação, energia, saúde e serviços humanos, segurança interna, habitação e desenvolvimento urbano, interior, justiça, trabalho, estado, transportes, tesouro e veteranos. Há ainda o Conselho de Segurança Nacional. Cada departamento é dirigido por um “secretário”, o que, entre nós, seria denominado Ministro de Estado. A função dos departamentos, segundo o site oficial do governo, é auxiliar o Presidente a formular e executar políticas. Cada um dos secretários deve ser aprovado pelo Senado. Além desses elementos, o governo conta ainda com órgãos da administração direta (“administrations”), que cuidam de uma grande variedade de assuntos. No organograma oficial são denominados government corporations. O funcionamento dos Departamentos depende fortemente de sua área de atuação, mas todos são órgãos que respondem diretamente ao Presidente. Em geral, organizam-se em torno de um secretário, em uma estrutura hierárquica seguida por escritórios específicos. Para efeito deste trabalho, o mais importante é o Departamento de Comércio4, o que claramente pode ser verificado por seus escritórios, dirigidos, cada um, por subsecretários: Economia e Administração Telecomunicações e Estatística, Administração Oceânica e Atmosférica, Informação, e, particularmente, Indústria e Segurança, Administração do Desenvolvimento Econômico, Comércio Internacional, Marcas e Patentes, Instituto nacional de Padronização e Tecnologia e Serviço Nacional de Informações Técnicas. Cada um deles com escritórios de assessoria específicos e tentáculos burocráticos para diferentes campos. 4 EUA DEPARTMENT OF COMMERCE. <http://www.commerce.gov/About_Us/index.htm> Acesso em 28/09/2009 Disponível em 9 Os departamentos representam o local mais próximo do topo da cadeia de poder americano, mas a complexidade do governo é imensa. Veja-se o caso das agências, ligadas à máquina federal, operando sob contrato de gestão e subordinadas aos departamentos. É o caso da CIA, da Agência Ambiental (EPA), da responsável por emergências (FEMA), a de saúde (AHRQ), Informação (USIA), de negócios minoritários (MDBA), segurança nacional (NSA), comércio e Desenvolvimento (TDA) e desenvolvimento internacional (USAID). As agências ajudam a executar as políticas e realizar serviços especiais. Entre as agências independentes – sem a intervenção direta do Presidente, se destacam: Comissão Federal de Comunicações (FCC), a Reserva Federal (FED), a Comissão Americana de Valores Mobiliários e Câmbio (USSEC), o Escritório Nacional de Relações de Trabalho (NLRB), a Comissão Federal de Comércio (FTC), a Fundação Nacional de Ciência (NSF), a Administração de Pequenos Negócios (SBA), a Comissão para o Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC). Elas exercem atividade fiscalizatória e de ação independentes do controle direto do Presidente. Em termos gerais, “agência” refere-se ao órgão que pode formular, implementar ou executar normas e procedimentos5. Nas agências norte-americanas, aquelas centradas no aspecto regulatório podem ser oriundas do executivo ou do legislativo. As primeiras são as agências executivas, com poder presidencial de nomeação e demissão de seu board; já o segundo caso ocorre nas agências independentes, cujo poder repousa no Congresso e com atividade “quase –legislativa” no que tange à sua ação. As agências podem ser classificadas em dois níveis: a regulação por setores de mercado (que envolvem interesses coletivos) ou em defesa da concorrência. Se considerarmos a regulação relacionada ao comércio e à defesa da concorrência, duas agências têm atuação destacada: a executive board denominada Divisão Antitruste (do departamento de justiça) e a independente Comissão Federal do Comércio (Federal Trade Commission - FTC). O caráter regulatório das agências federais estende seu alcance até a área ambiental, de aviação, comunicações, energia e alimentos e remédios Tomando a FTC como exemplo, ela é uma das principais agências, é legalmente independente e constituída por um board de cinco comissários indicados pelo Presidente e confirmados pelo Senado com mandato de sete anos. Está baseada em três escritórios: de 5 EUA EXECUTIVE ORDER 12866. Disponível <http://www.whitehouse.gov/omb/inforeg/eo12866/eo12866_amended_01-2007.pdf >. Acesso 28/09/2009. em em 10 Defesa do consumidor, de Competição e de Economia6. No caso da Comissão Federal de Comunicações (FCC)7, repete-se o caráter independente, a indicação presidencial e a confirmação pelo Senado do board, neste caso também de cinco comissários. A competência da FCC envolve liberação, demandas, investigações e regulação de toda a estrutura de comunicações - como rádio, TV, comunicações sem fio – e garantia de pluralidade e “neutralidade” no espaço comunicacional. São sete bureaux (Consumidor e Governo, Internacional, de Mídia, Serviços sem Fio, Segurança Pública e Interna, Concorrência e de Execução). Cada um dos deles é secundado por escritórios de apoio às suas atividades. Da mesma forma, existem os escritórios com atividade específica e não sobrepostas às agências. São eles, o FBI, o Censo, Negócios Consulares, Análise Econômica, Imigração, Terras, Negócios Nacionais, Prisões, Reclamações, Estatísticas de Transporte e Difusão (redes de radio). As comissões e comitês tratam de uma grande variedade de assuntos, desde liberdade religiosa a pessoas portadoras de deficiência, passando por investimentos estrangeiros nos EUA. Algumas estão nos Departamentos. Um bom resumo desta situação administrativa nos Estados Unidos seria o seguinte: Quadro 2 - EUA - Governo e poder executivo: Escritório Presidencial Departamentos Boards, Comissões, Comitês Agências Independentes Agências “quase-oficiais” (sob direção do governo, mas independentes) Fonte: Elaboração própria. Presidente, Vice – Casa Branca 15 departamentos Variados Variados Serviços legais, Smitshonian Institute, Justiça do Estado, Instituto Americano para a Paz A complexidade do governo norte-americano diz respeito também à relação entre agências inclusive criadas a partir do Congresso e aquelas de responsabilidade do Presidente. Para efeito deste trabalho, cabe recordar a relação imediata de algumas áreas com o tema em questão- tecnologia, comércio, indústria e suas ramificações. Neste caso, fica claro que órgãos como os Departamentos de Agricultura, Comércio, Energia, Defesa, Trabalho, Tesouro, Justiça e o Departamento de Estado – 8 em 15- tem relação direta com estes temas. Entre as agências, se destacam: Comissão para o Comércio Futuro (CFTC), Agência de Proteção Ambiental (EPA), Comissão Federal do Comércio (FTC), Corporação 6 7 EUA - FEDERAL TRADE COMMISSION - FTC. Disponível em <http:// >. Acesso em 28/09/2009. EUA FEDERAL COMUNICATIONS COMMISSION <http://www.fcc.gov/aboutus.htm>. Acesso em 28/09/2009. - FCC. Disponível em 11 Para o Investimento Privado no Exterior (OPIC), Comissão Americana de Valores Mobiliários e Câmbio (USSEC), Agência Americana para Comércio e Desenvolvimento (TDA), Agência Americana para Desenvolvimento Internacional (USAID), Comissão Americana para o Comércio Externo (USITC), Administração de Pequenos Negócios (SBA) e o Escritório Nacional de Relações de Trabalho (NLRB). Entre as comissões e comitês, destaca-se o Laboratório Federal consórcio para Transfer6encia de Tecnologia (FLC) e a Fundação Nacional de Ciência (NSF), por seu papel na Ciência e Tecnologia. 2.2 - Relações governo – empresariado nos EUA: Os Estados Unidos são a mais diversificada sociedade política, pelo menos no que se refere ao nível de volume e estruturação de várias organizações. Certamente isto não se refere ao sistema partidário, mas também se reflete nele. Como observou já há muitos anos Robert Dahl (1968), os EUA são uma sociedade poliárquica “padrão” e fortemente marcada pelo pluralismo organizacional. Na própria literatura, desde os anos 70, foi corrente diferenciar o nível estrutural das organizações e suas práticas nos EUA como “pluralismo”, enquanto o tipo ideal de modelo organizacional europeu seria o “corporativismo”, segundo a consagrada reflexão iniciada por Schmitter (1979) ou Schmitter e Lehmbruch (1982). Da mesma forma, o pluralismo se diferencia do elitismo, em particular porque há grande ênfase nele com relação ao espraiamento dos grupos pela sociedade, privilegiando relações mais horizontais que hierárquicas. 12 Figura 2 – Estrutura do Governo dos EUA (1998-2008) 13 Isto não significa que sindicatos ou associações empresariais não estabeleçam relações com o governo, mas esta não é a forma predominante nestas relações. Ainda que exista uma organização do porte da Câmara Americana do Comércio (US Chamber), uma organização sem fins lucrativos com três milhões de empresários filiados e, segundo suas próprias palavras8, com a missão de defesa do livre comércio, este não pode ser visto como um organismo para intermediação de interesses direto com o governo ou o Congresso. Uma das suposições clássicas do pluralismo é que os grupos agem predominantemente, em uma linguagem mais livre, com uma estratégia de “cerco” das organizações poliárquicas sobre o Estado. A crítica usual a esta posição é que o Estado teria um papel mais “passivo” em relação à sociedade, com sua agenda definida pelas demandas da sociedade. Evidente que o modelo é simplificado, pois o Estado tem interesses diretos e opera por seus instrumentos em direção a sociedade, mas é inegável que há um conjunto de organizações que tem absoluto destaque no cenário norte-americano: as organizações de lobby. O lobby, conceitualmente, associa-se ao(s) grupo(s) de pressão que atuam para mudar integralmente ou alterar leis, atuando majoritariamente junto aos comitês da Câmara de Representantes, em curto (quando ocorrem eventos específicos gerando organização) ou longo prazo (manutenção de direitos, p.ex.). Entretanto, lobbies estão presentes também nas várias agências governamentais. No dia a dia, muitos dos grupos “competem” entre si, seja para atuar sob a forma de pressão, seja como assessoramento e fonte de informação para o decision maker process. Organizações como a Câmara Americana de Comércio, Associação Nacional de Manufaturas, Federação Nacional de Negócios Independentes, a União Nacional dos Fazendeiros, a Associação Americana de Banqueiros, a Mesa Empresarial são as maiores organizações que atuam corporativamente por seus interesses e constituem grandes escritórios de lobby em Washington. Em outro nível, os grandes sindicatos (como AFL-CIO) e diferentes associações profissionais, grupos cívicos e de direitos, completam o quadro. (Santos, 2007). A organização nas associações norte-americanas, vistas de forma geral, ordenam-se segundo as próprias características do pluralismo. Ainda que elas atuem em lobby, é bastante perceptível que sua atuação também opera em dois níveis; a produção de documentos sobre políticas determinadas e uma ação “corporativa” voltada aos interesses imediatos do setor. Um bom exemplo é a Associação Nacional de Manufaturas (NAM) 8 UNITED STATES CHAMBER OF COMMERCE. Disponível em <http://www.uschamber.org>. Acesso em 28/09/2009. 14 defendendo uma “agenda pró-manufatura”9. A estrutura geral desta associação é tipicamente organizada de acordo com esta característica de ação para “dentro” (interesses da indústria) e para “fora” (intervenção no debate público), o que se conecta, previsivelmente, com a estrutura de lobby. A NAM organiza-se em 12 escritórios regionais ao longo do país, possui um presidente (chairman) com mandato de um ano, um board de diretores e comitês sobre políticas determinadas. A função dos comitês é apoiar e recomendar políticas aos comitês e ao board. Entre os temas que são objeto de ação ativa pelo comando da organização destacam-se aqueles conduzidos a partir das ações dos comitês de políticas, que por sua vez podem ser apoiados por subcomitês, estes últimos abertos a todos os membros. Os comitês são coordenados por um vice-presidente e dividem-se em áreas como energia e recursos, política econômica interna (incluindo impostos e tecnologia), política de recursos humanos, negócios internacionais, negócios públicos e externos, infra-estrutura e políticas de reforma legal e regulatória. Esta estrutura da NAM reflete a vontade da organização para intervir nas políticas nacionais usando para isso, mais imediatamente, a prática do lobby. O fato da prática de intermediação por lobby ser legal e fiscalizada nos EUA lhe confere um caráter único, como a exigência de fiscalização pelos Comitês Assessores Federais (Federal Advisories Committes). Esta não é uma garantia de plena accountability, mas representa um instrumento do Estado de caráter regulatório, conferindo status público a esta dimensão de ação política e econômica. Este controle se processa através de um cadastro federal de lobistas, lista de conhecimento público; o lobby legal somente pode ser exercido por membros cadastrados. Existe uma flutuação efetiva no número de membros, variando inclusive nas administrações presidenciais. Um dado importante a ser considerado é a existência dos lobbies em diferentes instâncias do aparelho estatal. As secretarias precisam ter o nome indicado pelo Presidente e referendado pelo Senado, o que torna este último uma instância também privilegiada de ação. A atuação do lobby em agências reguladoras e comitês legislativos é amplamente reconhecida, inclusive na função de assessoria. Uma das condições de atuação do lobby é um controle efetivo da matéria objeto de intermediação, inclusive assessorando o congressista com dados sobre a matéria e atuando nas agências como uma instância de pressão e de manifestação do boarding das organizações sobre os temas em questão. 9 NATIONAL ASSOCIATION OF MANUFACTURERS - MISSION STATEMENT -. Disponível em <http://www.nam.org/> Acesso em: 28/09/2009. 15 Deve-se destacar o poder político e econômico das organizações. O lobby tem importante ação na arena decisória das políticas públicas. Mas, também observando o exemplo do próprio processo decisório das políticas, elementos adicionais operam para além dele: a própria conjuntura, a mídia, a repercussão do tema na opinião pública, o ciclo eleitoral. A instância do lobby é a representação de grupos de pressão que operam, no caso dos grandes interesses empresariais, como um fator econômico agindo em direção ao Estado; ainda que o fator econômico, por si só, não possa explicar a tomada de decisão pelo executivo ou o legislativo. Um dado importante é que, se não pode ser creditado a ele a responsabilidade exclusiva pela tomada de decisão, o investimento realizado pelo lobby em sua atuação é da ordem de bilhões de dólares. O financiamento se origina também por contribuições a partir do campo de interesse e por indivíduos, naquilo que se refere ao dia a dia da atuação lobista. Os valores oficiais são amplamente divulgados pelo próprio Estado, seja aquilo que o lobby investe por comitê legislativo, seja o que paga aos integrantes de conselhos, que podem receber contribuições10. A arrecadação por lobby oscilou entre 1,44 bilhão (1998,1999) e 3,3 bilhões de dólares (2008). O gasto tem curva ascendente desde 1999, praticamente dobrando de valor entre 1999 e 2008. Da mesma forma, o número de lobistas atuantes é relativamente variável, mas oscilava entre 10.684 (1998) e 15.384 (2007) 11. Em todo este período, o segundo governo Bush apresentou os maiores números absolutos. A mudança na administração de republicamos para democratas e vice versa parece ter implicações: entre 2000 e 2001 o número permanece estável, na casa de 12.000; na passagem de 2008 a 2009 os números mostram redução de 15.223 para 10.764, refletindo, muito provavelmente, uma reorientação na máquina governamental, inclusive pelas organizações se reestruturando para o novo período. 10 A ação dos lobbies também se faz sentir na arrecadação de recursos eleitorais através dos chamados PACS – os comitês de ação política - operando a partir de uma estrutura de arrecadação especialmente voltada para este fim e sob fiscalização federal 11 OPEN SECRETS CENTER FOR RESPONSIVE POLITICS. Disponível em <http://www.opensecrets.org/lobby/index.php>. Acesso em 28/09/2009. 16 3) Alemanha 3.1) Governo Na Alemanha, tal como nos EUA, durante o período em tela, os dois grandes agrupamentos políticos do país alternaram-se no governo central, como pode se ver abaixo (Quadros 3 e 4). Desde 2005, o governo alemão é dirigido pela Chanceler Angela Merkel, tendo como presidente Horst Köhler, ambos pertencentes à União Democrata Cristã (CDU), partido de viés conservador que predomina na política alemã desde o pós-guerra, incluindo o Chanceler Helmut Kohl, que governou por dezesseis anos e conduziu o país à reunificação em 1990. Horst Köhler assumiu em 2004, tendo sido reeleito em 23 de maio de 2009 para um segundo mandato de cinco anos. Anteriormente (de 1998 a 2005), governou o Chanceler Gerard Schröder, juntamente com o Presidente Johannes Rau, ambos do Partido Social Democrata (SPD), fundado em 1869 e considerado como identificado com o proletariado alemão. Ambos os partidos são os que possuem maior quantidade de membros no Parlamento12. Quadro 3 - Presidentes da Alemanha de 1998 a 2008 Período Nome Partido político 1994 a 1999 Roman Herzog CDU 1999 a 2004 Johannes Rau SPD Desde 2004 Horst Köhler CDU Fonte: Governo alemão13 Quadro 4 - Chanceleres da Alemanha de 1998 a 2008 Período Nome Partido político 1998 a 2005 Gerard Schröder SPD Desde 2005 Ângela Merkel CDU Fonte: Governo alemão14 12 BRASIL. Consulado Geral da Alemanha. Partidos com Representação no Parlamento Federal. Disponível em http://www.recife.diplo.de/Vertretung/recife/pt/03/ppf.html. Acesso em 30/08/2009. 13 ALEMANHA. Bundespraesident. The german federal presidents. Disponível em http://www.bundespraesident.de/en/-,12100/The-German-Federal-Presidents.htm. Acesso em 30/08/2009. 14 idem. 17 Figura 3 – Linha sucessória do governo alemão de 1998 a 2008: Presidente e Chanceler A Alemanha é uma República Parlamentarista, o que implica a existência de Chefe de Estado e Chefe de Governo. Em sua configuração política, destacam-se os seguintes órgãos constitucionais (FRANCA FILHO, 1997), que regulam a atividade política no país: • O Bundestag e o Bundesrat, que constituem o Parlamento Federal e o Conselho Federal, respectivamente. Ambos compõem o Poder Legislativo. • O Bundesregierung, que constitui o Governo Federal, sendo liderado pelo Chanceler Federal (Bundeskanzler) e o Presidente da República (Bundespräsident). Corresponde ao Poder Executivo. Em 1949, o Conselho Parlamentar optou pela adoção de princípios federativos como a base para a organização do Estado alemão. Além de levar em conta a divisão horizontal entre os Três Poderes, sua adoção também implica a divisão política entre a federação e os estados da federação (divisão vertical). Dessa forma, entendeu-se que essa dupla divisão de poder poderia funcionar como um meio efetivo para prevenir qualquer forma de abuso de poder. A principal diferença entre a forma do federalismo alemão e de outros sistemas 18 federativos é que os governos estaduais participam diretamente das decisões da Federação15. No sistema federativo alemão, o Poder Legislativo é dividido, conforme indicado acima, entre o Bundestag e o Budesrat. Segundo a Lei Fundamental (Constituição Federal ou Carta Magna da Alemanha), o Bundestag é o órgão supremo da República, pois representa diretamente o povo alemão na “execução da soberania nacional”. Cabe ao Bundestag, por intermédio de deputados eleitos para mandatos de quatro anos e que gozam de imunidade e total liberdade de atuação parlamentar, a eleição do Chanceler Federal, a fiscalização das eleições, o controle do Governo (mediante instrumentos formais como a requisição de informações das autoridades governamentais, a convocação de ministros ao Parlamento, as comissões de inquérito, entre outros), a elaboração do orçamento e a legislação nacional. O Bundestag é eleito pelo povo alemão, aparecendo como o fórum onde diferentes opiniões sobre as políticas do país devem ser formuladas e discutidas. Os deputados do Bundestag alemão também decidem sobre implantação da Bundeswehr (Forças Armadas) fora da Alemanha16. Atualmente, seis partidos estão representados no Parlamento Federal (Bundestag): Partido Social Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Aliança 90/Os Verdes (ou simplesmente Partido Verde), Partido Liberal Democrata (FDP) e Partido de Esquerda (ex-PDS). O Bundesrat ou Conselho Federal, por sua vez, possui três funções centrais: • Defender os interesses dos estados (Länder) vis-à-vis os interesses da federação, e indiretamente, os da União Europeia. • Garantir que a experiência política e administrativa dos estados seja incorporada na legislação e administração da Federação e dos parceiros da União Europeia. • Tal como os outros órgãos constitucionais da Federação, também é responsável geral pela República Federal da Alemanha17. 15 ALEMANHA. Bundesrat. Roles and functions. Disponível http://www.bundesrat.de/nn_10940/EN/funktionen-en/funktionen-en-node.html?__nnn=true. Acesso 30/08/2009. 16 ALEMANHA. German Bundestag. Role and function. Disponível http://www.bundestag.de/htdocs_e/bundestag/function/index.html. Acesso em 30/08/2009. 17 ALEMANHA. Bundesrat. Roles and functions. Disponível http://www.bundesrat.de/nn_10940/EN/funktionen-en/funktionen-en-node.html?__nnn=true. Acesso 30/08/2009. em em em em em 19 O Presidente da República é o Chefe de Estado na República Federal da Alemanha. A ele cabem, sobretudo, funções representativas e simbólicas. No entanto, atua como uma espécie de elemento unificador da coletividade política, na medida em que ele não pode pertencer nem ao Governo, nem a uma corporação legislativa federal (Bundestag e Bundesrat) ou estadual, tampouco pode exercer outra função remunerada, cargo ou profissão. O Chanceler, por sua vez, tem uma posição proeminente no governo. Ele é o único a ter o direito de formar o gabinete, determinando o número de ministros e determinando as diretrizes gerais da política governamental ("Princípio das orientações do Chanceler")18. O Chanceler é eleito pela Câmara dos Deputados, sem prévio debate, após indicação do Presidente da República. O seu mandato termina toda vez que houver a constituição de um novo Bundestag (a cada quatro anos ou antes) (FRANCA FILHO, 1997). Embora o Chanceler tenha o direito de emitir ordens aos seus ministros, a Constituição sublinha o direito dos ministros de conduzir os seus negócios de forma autônoma e sob a sua responsabilidade dentro dos limites fixados pelas diretrizes do Chanceler ("Princípio da autonomia ministerial"). Muitos ministros têm sido capazes de criar uma forte posição para si próprios com base na competência profissional, hábil manipulação de relações públicas, e forte apoio parlamentar ou extra-parlamentar. A Lei Fundamental distingue três importantes princípios de governo. Estes são o "princípio das orientações políticas do Chanceler", o "princípio do co-Gabinete de tomada de decisão", e o "princípio da autonomia ministerial". Eles regulam a interação e divisão de trabalho no governo. O "princípio do Gabinete comum de tomada de decisão" significa que o Chanceler e os Ministros decidem em conjunto sobre questões de importância política geral. Quando há divergências de opinião entre os Ministros, o Chanceler é o mediador (como um "primus inter pares")19. O Bundesverfassungsgericht, ou Tribunal Federal Constitucional, é a corte constitucional da federação alemã, cabendo-lhe o monopólio das decisões acerca de matéria constitucional. Há um complexo mecanismo para a escolha dos membros do Tribunal Federal Constitucional. De modo geral, cada um dos Senados é composto por oito juízes, dos quais no mínimo seis são egressos de outros tribunais federais do país. Esses juízes têm 18 ALEMANHA. Die Bundesriegerung. The Cabinet. http://www.bundesregierung.de/Webs/Breg/EN/FederalGovernment/federal-government.html. Acesso em 30/08/2009. 19 Idem. 20 mandatos de doze anos (proibida a reeleição) e são sempre eleitos pelo Bundestag e pelo Bundesrat (metade cada um) (FRANCA FILHO, 1997). Tomando-se como referência a formulação e a implantação da política industrial alemã, os órgãos de governo mais significativos são os ministérios da Economia e Tecnologia, e o Ministério da Educação e Pesquisa. Seus titulares e respectivos partidos estão indicados no Quadro 5 a seguir. Observe-se que os ministros pertencem aos partidos que possuem maioria no Parlamento. Quadro 5 - Principais Ministérios, ministros e partidos - 2009 Ministério Ministério da Economia E Tecnologia Ocupante Partido político Karl-Theodor Freiherr zu Guttenberg CSU Profa. Dr. Annette Schavan CDU Ministério da Educação e Pesquisa Fonte: Governo alemão 20 O Ministério Federal da Economia e Tecnologia (BMWi) é responsável pela política econômica do país, sendo sua prioridade central estabelecer as bases para a prosperidade econômica e garantir que essa seja amplamente distribuída para toda a população. As diretrizes para a formulação da política econômica são feitas a partir dos seguintes objetivos específicos: • Desenvolvimento de oportunidades para garantir um crescimento econômico sustentado e de competitividade com outras economias. • Assegurar um elevado nível de emprego. • Fortalecer as pequenas e médias empresas. • Promoção das novas tecnologias e inovação para manter a competitividade econômica. • Interligar objetivos econômicos e ecológicos • Expandir a divisão global de trabalho e um sistema de livre comércio mundial. • Garantir uma segurança do abastecimento energético a preços convenientes. 20 Die Bundesregierung . Cabinet. In http://www.bundesregierung.de/Content/EN/__Anlagen/druckversionbundeskabinett-englisch,property=publicationFile.pdf. The Press and Information Office of the Federal Government, 2009. Acesso em 30/08/2009. 21 A partir desses objetivos, a tarefa essencial do Ministério Federal da Economia e Tecnologia é moldar as condições que promovam a atividade econômica bem sucedida sob a égide da liberdade empresarial, da concorrência e da estabilidade. Para desempenhar seu papel, coordena funções nas áreas de política de concorrência, política regional, política de pequenas e médias empresas, política energética e política econômica externa. O estrutura organizacional do BMWi reflete a ampla gama de suas atividades, sendo dividido em 8 Direções-Gerais, além da central. • Administração Central (DG Z) • Política Européia (DGE) • Política Econômica (DG I) • Política das PME (DG II) • Política Energética (DG III) • Política Industrial (DG IV) • Políticas Econômicas Externas (DG V) • Comunicação e Política Postal (DG VI) • Política Tecnológica (DG VII) As principais agências do BMWi estão descritas no Quadro 6, a seguir. Quadro 6 – Agências do Ministério Federal da Economia e Tecnologia da Alemanha Agência Função Escritório Federal de Cartéis O Escritório Federal de Cartéis promove restrições de concorrência às (Federal Cartel Office) concentrações que tenham um impacto sobre a Alemanha. As concentrações são examinadas exclusivamente pela autoridade federal (federal cartel authority). Escritório Federal de Controle de Exportações e Economia (Federal Office of Economics and Export Control) (BAFA) O Serviço Federal de Controle das Exportações e o Serviço Federal de Economia foram fundidas para formar o Instituto Federal de Economia e Controle das Exportações, em 1º de Janeiro de 2001. O BAFA desempenha importantes funções administrativas da Federação nas áreas de comércio exterior e pagamentos, promoção do desenvolvimento econômico e energético. 22 Agência Função A Agência Federal de Rede de eletricidade, Gás, Telecomunicações, Correios e Ferroviária é a maior autoridade federal independente sob a supervisão do Ministério Federal da Economia e Tecnologia, e tem a sua sede em Bona. Agência Federal de Redes Em 13 de Julho de 2005, a Autoridade Reguladora das Telecomunicações e Serviços Postais, que substituiu o Ministério Federal dos Correios e Federal Network Agency (BNetzA) Telecomunicações (BMPT) e o Serviço Federal dos Correios e Telecomunicações (Bapt), foi renomeado Agência Federal de Rede (Federal Network Agency). Ela atua como a raiz da autoridade de certificação no âmbito das Electronic Signatures Act. Instituto Federal para Pesquisa e Testes de Materiais (Federal Institute for Materials Research and Testing) (BAM) O BAM garante segurança e confiabilidade em tecnologias químicas e de materiais, examina os containers para o transporte e armazenamento de mercadorias perigosas - tais como os containers para combustíveis nucleares - e desenvolve materiais de referência para testes de engenharia e química analítica. O PTB é responsável por garantir um alto nível de precisão nas medições de Instituto Nacional de Metrologia parâmetros físicos (por exemplo, tempo, massa, radiação), por testar e aprovar a concepção de instrumentos de medição (por exemplo, balanças, bombas de (National Metrology Institute) (PTB) gasolina, radar de velocidade do tráfego) e por realizar investigação na área de medição de tecnologia. O BGR aconselha o Governo Federal e as indústrias sobre as questões que Instituto Federal de Geociências e envolvem geociências e matérias-primas. As funções do Instituto incluem Recursos Naturais ajudar a garantir os fornecimentos de combustíveis minerais e de energia, bem como a realização de estudos relacionados às matérias-primas, (Federal Institute for Geosciences and Natural Resources) (BGR) geo-ambientais e georisk usando state-of-the-art tecnologias (por exemplo, satélite de sensoriamento remoto). Além disso, o BGR colabora em projetos para garantir armazenamento final dos resíduos radioativos. Baseado nas informações disponibilizadas pelo Ministério Federal da Economia e Tecnologia da Alemanha21 O Ministério Federal da Economia e Tecnologia conta ainda com os Conselhos Consultivos, que são compostos por painéis de peritos que aconselham o ministro federal sobre questões especiais de política econômica. Membros desses conselhos não possuem remuneração. 21 ALEMANHA. Federal Ministry of Economics and Technology. http://www.bmwi.de/English/Navigation/ministry.html. Acesso em 05/09/2009. Disponível em 23 Quadro 7 - Conselhos Consultivos do Ministério Federal da Economia e Tecnologia Conselho Tarefa Membros Este conselho consultivo é um organismo acadêmico independente que aconselha o Conselho Consultivo ministro federal da Economia e Tecnologia Acadêmico em todas as questões relativas à política econômica. O conselho escolhe os seus (Academic Advisory temas de deliberação, e se reúne cerca de Council) seis vezes por ano. Submete os resultados do seu trabalho ao Ministro Federal da Economia e Tecnologia, sob a forma de O conselho é composto atualmente por 36 docentes, que são professores universitários nas áreas da economia e direito. Eles são nomeados e destituídos pelo ministro Federal da Economia e Tecnologia. pareceres especializados, que são publicados regularmente. O Conselho aconselha o ministro sobre os impactos que as mudanças estruturais na economia nacional e global podem acarretar Conselho Consultivo PME (SME Advisory Council ) nas PME. Além disso, analisa os efeitos que as atuais políticas econômicas nacionais sobre o setor das PME. Os membros do Conselho podem criar grupos de trabalho e apresentar os resultados das suas deliberações, sob a forma de resoluções. Os membros são nomeados no início de cada período legislativo, e o conselho se reúne normalmente duas vezes por ano Os membros do Conselho são selecionados principalmente com base na sua experiência prática e profissional relacionada as questões das PME. Além disso, eles não são representantes das associações, mas pessoas independentes, que representam apenas suas opiniões pessoais e não estão vinculados pelas instruções de outros. para apresentar propostas sobre questões gerais relativas às PME. O Conselho Consultivo das Relações Conselho Consultivo das Relações Econômicas Externas (External Economic Relations Advisory Council) Econômicas Externas aconselha o ministro federal da Economia e Tecnologia sobre as principais questões relacionadas com as relações econômicas da Alemanha com outros países e regiões (por exemplo, comércio exterior, investimento direto, transferência de tecnologia e cooperação industrial), e apresenta propostas sobre a política econômica externa. O Conselho reúne-se duas vezes por ano em reuniões com a presença do Ministro. O Conselho Consultivo das Relações Econômicas Externas é um comitê de peritos que representam quase todos os setores da economia alemã (comércio, bancos, indústria, agricultura, etc.) Os membros do Conselho possuem uma vasta experiência em relações econômicas externas e não atuam para o Conselho como representantes de associações empresariais. Os membros (atualmente 22) são nomeados pelo Ministro Federal da Economia e Tecnologia. 24 Conselho Tarefa Membros Os membros do Conselho são representantes de empresas ligadas ao turismo, associações da indústria do Conselho Consultivo de Turismo (Tourism Advisory Council) O Conselho Consultivo de Turismo foi turismo, empresas de transportes, criado como um fórum para reunir os a Associação Alemã das Câmaras de interesses do governo, empresas, Indústria e Comércio (Association universidades, autarquias e associações. of German Chambers of Industry Sua principal tarefa é a de assessorar and Commerce - DIHK), os sindicatos, o Ministro Federal da Economia e os meios de comunicação social e Tecnologia, e apoiar o seu trabalho as universidades. As escolhas dos com relatórios periciais. membros são nomeações pessoais honorárias; como resultado, os membros não podem designar representantes para servir em seu lugar. O Conselho Consultivo de Acreditação aconselha o Ministério Federal da Economia e Tecnologia em todas as questões ligadas à acreditação - ou seja, a aprovação dos organismos de avaliação da conformidade O Conselho é uma entidade pluralista para realizar procedimentos de avaliar a composta por representantes dos conformidade física, química, qualidade, governos federal e estadual, da indústria segurança e outros tipos de normas. e das associações de consumidores, O conselho coloca uma ênfase particular associações de organismos de avaliação sobre a questão de como o sistema da conformidade, acreditação e agências. O alemão de acreditação é comunicado conselho é composto de 21 membros (Accreditation Advisory aos outros países, e seu trabalho leva em regulares e 21 suplentes, que são Council) consideração vários fatores, incluindo os recomendados pelas partes envolvidas e europeus e as tendências internacionais, o nomeados pelo Ministério Federal da interesse público e da eficiência econômica. Economia e Tecnologia. O Ministério O conselho fornece as principais bases atribuiu ao Instituto Federal de Materiais para a preparação das posições alemãs no de Pesquisa e Testes (BAM) a função de seio das instâncias internacionais e administrar o conselho. Conselho Consultivo de Acreditação organizações e ajuda a determinar regras de acreditação gerais e específicas de cada setor que estão em consonância com a atual evolução tecnológica. 25 Baseado nas informações disponibilizadas pelo Ministério Federal da Economia e Tecnologia22 O Ministério da Educação E Pesquisa (BMBF) é dirigido pelo ministro, que é assessorado por quatro secretários de estado, que cuidam de determinados temas específicos, bem como por várias representações eleitas que são responsáveis pelos interesses do staff do Ministério. Além destes, o ministério possui as chamadas Diretorias Gerais, cujas finalidades podem ser observadas no quadro a seguir: Quadro 8 – Diretorias Gerais do BMBF Diretoria Geral Diretoria Geral Z – Funções Provisão e gestão de pessoal, e de recursos financeiros. Serviços Centrais Diretoria Geral 1 – Orientações Orientação política e estratégica do ministério. Suas prioridades são o suporte à inovação em interação com a pesquisa e a estratégicas e políticas indústria, a promoção de igualdade de oportunidades na educação e pesquisa, cooperação entre o governo federal e as Länder, bem como a promoção de talentos. Diretoria Geral – Cooperação Desenvolvimento e estímulo das relações internacionais em educação e pesquisa, cobrindo a União Europeia e Europa. internacional e européia em educação e pesquisa Diretoria Geral 3 – Treinamento vocacional e aprendizado contínuo Subdividida em duas diretorias: A 31 – Treinamento Vocacional – cuida de aspectos de treinamento e locais de treinamento. A 32 – cuida das áreas de aprendizado contínuo, pesquisa educacional e educação continuada. Cuida de todos as questões do desenvolvimento do sistema Diretoria Geral 4 – Sistemas de científico e seus componentes: instituições de educação Ciência superior, instituições de pesquisa, academias e infraestrutura de ciência. Subdividida em duas diretorias: 41 – instituições de educação superior 42 – organizações de pesquisa mais amplas. Diretoria Geral 5 – Envolve todos os projetos relacionados à tecnologias-chave, que abram mercados, abram oportunidades, propiciam Tecnologias-chave negócios sustentáveis. – pesquisa para inovação Todas as áreas de ciência da vida, em termos de pesquisa, Diretoria Geral 6 – Ciências da estão sob sua responsabilidade. vida – pesquisa em saúde Diretoria Geral 7 – Provisão para o Envolve aspectos centrais de provisão para o futuro, desde a futuro – pesquisa em cultural, pesquisa básica a ciências culturais e humanidades. Também é básica e em sustentabilidade responsável pelo monitoramento das instituições de pesquisa relevantes, que propiciam, dentre outras coisas, parceiras internacionais. Baseado nas informações disponibilizadas no site oficial do BMBF23. 22 Idem. ALEMANHA. Federal Ministry of Education and Research. Political staff and organization. Disponível em http://www.bmbf.de/en/5625.php. Acesso em 05/09/2009. 23 26 A função desse ministério começa com a educação básica e inclui educação continuada e treinamento, enquanto a o ensino universitário está sob responsabilidade dos estados (Länder). O ministério ainda é responsável por pesquisar fundos, dar suporte a pesquisadores e financiar parcerias internacionais nos campos de treinamento inicial e continuado, educação superior e pesquisa. Para o governo alemão, a pesquisa é considerada chave para a inovação, sendo a inovação fator de crescimento de prosperidade, dado que seu objetivo é competir globalmente por talentos, tecnologia e pela liderança de mercado. Daí a meta lançada, em 2006, chamada de High-Tech Strategy for Germany, visando encorajar o desenvolvimento de novos produtos e serviços inovadores. A finalidade da pesquisa científica é trazer benefícios a longo prazo, provendo para o futuro três situações fundamentais: proteção ambiental, suprimento de energia, desenvolvimento demográfico; garantir a base para prosperidade e coesão social, especialmente por meio da pesquisa na área de saúde; e o avanço científico em geral24. 3.2) Estrutura de representação de interesses do empresariado É possível identificar três grandes modalidades de articulação de interesses pelo empresariado. A primeira está associada à operação das câmaras de indústria e comércio. Os outros dois níveis de representação são as associações setoriais, encimadas pela entidade geral de representação. Além de tais esferas, diversos organismos servem à articulação entre empresariado e Estado. Consideremos cada uma destas modalidades. a) Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio alemãs (IHKS) e Associação das Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio (DIHK)25 Todas as empresas nacionais registradas na Alemanha, com exceção das empresas artesanais, dos profissionais liberais e fazendas, são obrigadas por lei a aderir a uma câmara. Assim, a organização central das 80 IHKs responde por mais de três milhões de empresários. Elas incluem não só as grandes empresas, mas também os varejistas e innkeepers26. Isto dá à associação considerável influência política. Não representam qualquer grupo específico, mas todas as empresas comerciais da Alemanha. 24 ALEMANHA. Federal Ministry of Education and Research. Disponível em http://www.bmbf.de/en/88.php. Acesso em setembro de 2009. 25 ALEMANHA. IHK – Die erste adresse. The Germann Chambers of Industry and Commerce. Disponível em http://www.dihk.de/english/. Acesso em 05/09/2009. 26 Termo que se refere aos profissionais ligados ao turismo, hospitalidade, hotelaria e viagens. A princípio, não há termo equivalente em língua portuguesa. 27 Em contraste com as IHKs, a DIHK não é uma corporação de direito público, mas uma associação registrada. Os seus membros, as IHKs, são corporações regidas por lei púbica. A DIHK não tem autoridade para emitir instruções para a IHKs, mas pode fazer recomendações. No entanto, as IHKs têm conferido à DIHK a representação dos seus interesses e um ponto de vista comum no que diz respeito a todas as questões de interesse geral para o comércio e a indústria a nível federal e europeu. As Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio agem em nome das empresas da seguinte forma: • Como crítica dos policy-makers, trabalhando a nível regional, nacional e europeu. • Como um defensora independente do mercado, que salvaguardam uma regulamentação clara obrigatória para todos os participantes no mercado e cumprem uma multiplicidade de funções soberanas de negócios por parte do governo para a realização da sua própria responsabilidade. As Câmaras da Indústria e do Comércio só podem cumprir estas duas tarefas por serem as empresas obrigatoriamente membros de uma IHK. • Como uma fornecedora de serviços para empresas, a IHK apóia as empresas a atingirem os seus objetivos, fornecendo-lhes produtos e serviços de primeira classe. O foco das Câmaras da Indústria e do Comércio recai sobre seis segmentos: • Política Econômica • Abertura e suporte a novos negócios • Formação e Aperfeiçoamento Profissional • Inovação/Ambiente • Assuntos Internacionais • Assuntos Jurídicos Câmaras Alemãs de Indústria e Comércio Internacionais (AHK)27 As AHKs aconselham as empresas sobre investimentos e oportunidades de mercado e as ajuda a fazer contatos para negócios internacionais. As Câmaras de Comércio e Indústria (IHKs) e as Câmaras de Indústria e Comércio Exterior (AHKs) trabalham em estreita 27 ALEMANHA. Deutsche Auslandshandelskarmmern. AHK – worldwide competent on-site. Disponível em http://ahk.de/en/about-ahk/ahk-tasks/. Acesso em 05/09/2009. 28 colaboração, coordenada pela DIHK. Estão espalhadas em 120 localidades, por 80 países em todos os continentes do mundo, em locais de grande importância para a indústria e o comércio alemão. As AHKs estão integradas na economia dos países de acolhimento. O fato de cerca de 40.000 empresas serem membros destas câmaras, das quais dois terços não são de nacionalidade alemã, é uma prova disto. O serviço que prestam no domínio do comércio exterior é importante, sobretudo para as pequenas e médias empresas que não têm os seus próprios departamentos de exportação, e que são as principais beneficiárias das informações sobre a regulamentação de importação e exportação, direitos aduaneiros, condições de investimento no exterior, regras monetárias, oportunidades de mercado e estratégias de marketing. As AHKs são instituições independentes que ganham uma parte importante dos seus rendimentos através dos serviços que prestam. Ao mesmo tempo, as AHKs também executam tarefas importantes no interesse do governo alemão - tarefas que de outra forma teriam de ser realizados por instituições estatais, como as embaixadas. As AHKs, nos países de acolhimento, cooperam estreitamente com as embaixadas alemãs, a Germany Trade & Invest e outras instituições da Alemanha. Ao mesmo tempo as AHKs têm acesso aos tomadores de decisões nos negócios, políticas e governos locais dos seus países de acolhimento. b)Associações setoriais e a Bundesverband der Deutschen Industrie As associações setoriais têm grande influência na coordenação entre os diferentes atores sociais na economia alemã. Responsáveis pelas negociações coletivas com o mundo do trabalho e por políticas de qualificação, prestam muitos serviços para a orientação de investimentos e a relação com o poder público. Destacam-se a German Association of the Automotive Industry (VDA), a Association for the German Chemical Industry (VCI), a German Construction Industry Federation (HDB), a German Machine Tool Builders Association (VDW). Papel de destaque, também, dispõe a German Engineering Federation (VDMA), que se articula com as principais federações industriais para serviços de certificação e apoio técnico. Por fim, as entidades setoriais se ligam a associações como a German Association of Chemical Trade and Distribution (VCH) e a National Association of German Commercial Agencies and Distribution (CCD), que operam em atividades para abertura de mercados, reunindo informações e prestando serviços nesta direção. 29 A entidade central da indústria alemã é a Bundesverband der Deutschen Industrie (Federação das Indústrias Alemãs – BDI), uma associação de associações. Conforme estipulado em seus estatutos, a adesão é dedicada às "associações do setor industrial e dos grupos de trabalho, representando todos os grupos industriais no interior do território da República Federal da Alemanha". Representa 36 federações do setor industrial e possui 15 escritórios regionais nos Estados federados alemães. A BDI responde por mais de 100.000 empresas privadas que empregam cerca de 8 milhões de pessoas. A adesão é voluntária. O BDI representa os interesses da indústria alemã para representantes políticos na Alemanha, na Europa e no mundo. c) Organismos diversos - Germany Trade and Invest28 A Germany Trade and Invest é uma agência de comércio externo da República Federal da Alemanha, formada após a fusão do German Office for Foreign Trade com o Invest in Germany. Foi criada oficialmente em 1º de janeiro de 2009, e tem missão de promover a Alemanha como um local para investimentos industriais e tecnológicos, e identificar os investimentos e investidores para o mercado alemão. A organização aconselha as empresas estrangeiras que procuram expandir as suas atividades comerciais no mercado alemão, provendo orientação abrangente para os clientes sobre dados econômicos e da indústria, bem como informações sobre convites à apresentação de propostas em países estrangeiros, investimentos e projetos de desenvolvimento, situação jurídica e de regulamentação aduaneira. A Agência pode contar com uma rede internacional de analistas da indústria que atuam no local, investigando mercados estrangeiros e apoiando empresas estrangeiras que procuram estabelecer uma empresa na Alemanha. A equipe internacional de especialistas trabalha em estreita colaboração com a AHK. O desenvolvimento desta parceria permite aos exportadores alemães e potenciais investidores estrangeiros beneficiarem-se de um centro de primeiro ponto de contato no exterior, com informações específicas de cada cliente e serviços de consultoria prestados todos sob o mesmo teto. Germany Trade and Invest é apoiado pelo Ministério Federal da Economia e Tecnologia e pelo Ministério Federal dos Transportes, Obras Públicas e Assuntos Urbanos baseado em uma resolução do Parlamento alemão. 28 ALEMANHA. Germany trade and invest. About us. Disponível em http://www.gtai.com/web_en/aboutus. Acesso em 05/09/2009. 30 -Trade-Center29 As empresas na Alemanha que querem divulgar os seus negócios com foco em determinado país ou países, têm o apoio do Ministério Federal Alemão da Economia e Tecnologia, por meio do E-Trade Center, em que contatos de negócios são anunciados para empresas alemãs e estrangeiras por meio de um único acesso usando a base de dados central de contatos comerciais. Permite, portanto, que as empresas alemãs e estrangeiras divulguem os seus produtos e serviços na internet. Este site oferece às empresas alemãs estrangeiras interessadas uma visão imediata de outras empresas e requisitos de contatos empresariais, o que lhes permite contactar diretamente potenciais parceiros comerciais. O controle de entradas é feito pela Germany Trade and Invest. Portal de Negócios Alemão (German Business Portal)30 O German Business Portal, que faz parte do Germany Trade and Invest, é a plataforma central de contato que orienta dúvidas sobre a Alemanha através de canais diretos. A sua meta é tornar a Alemanha e seu mercado interno mais transparente para as empresas estrangeiras interessadas na Alemanha como localização para os seus negócios. O site foi lançado pelo Ministério Federal da Economia e Tecnologia e é regularmente atualizado e ampliado. Nele podem-se encontrar informações práticas e links relevantes da indústria na Alemanha. Através do GBP pode-se acessar várias instituições governamentais, associações, Câmaras de Comércio e Indústria, embaixadas e organizações internacionais que lidam com a Alemanha. 4) Espanha 4.1) Governo Tal como os casos anteriores, na Espanha entre 1998 e 2008 o governo central esteve sob direção dos dois grandes partidos do país, como se vê no quadro abaixo. O Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE) foi fundado clandestinamente em Madrid, em 1879, em torno de um núcleo de intelectuais e trabalhadores, sendo um dos primeiros 29 ALEMANHA. E-Trade-Center. About us. Disponível em http://www.e-tradecenter.com/cln_038/nn_194664/Content/en/05__AboutUs/History/History__node.html__nnn=true. Acesso em 05/09/2009. 30 ALEMANHA. Federal Ministry of Economics and Technology. German Business Portal: Your Information Platform about Germany. Disponível em http://www.german-businessportal.info/GBP/Navigation/en/Service/about-us.html. Acesso em 05/09/2009. 31 partidos socialistas europeus. O primeiro governo socialista ocorreu no período de 1982 a 1996, com Felipe González. Em 1996 o Partido Popular (PP) chegou ao governo do país, que perdeu as eleições em 2004 para o PSOE, com a eleição de José Luis Rodriguez Zapatero31. O Partido Popular, por sua vez, está presente nos procesos eleitorais espanhóis desde 1977, embora com formas jurídicas diferentes – como federação de partidos até 1982 e em coalizões com outras forças políticas até 198632. Quadro 9 – Primeiros-Ministros da Espanha de 1998 a 2008 Período Nome Partido político 1996 a 2004 José Maria Alfredo Aznar López PP Desde 2004 José Luis Rodriguez Zapatero PSOE Figura 4 – Linha sucessória do governo espanhol de 1998 a 2008 31 ESPANHA. PSOE. Historia Del PSOE. Disponível em http://www.psoe.es/ambito/historiapsoe/docs/index.do?action=View&id=992. Acesso em 10/09/2009. 32 Espanha. Partido Popular. Coócenos. Historia. http://www.pp.es/conocenos/historia_2.html. Acesso em 10/09/2009. 32 A Espanha é uma monarquia parlamentar com ordenamento federativo, dada a presença de comunidades autônomas. A direção do governo central está a cargo do Presidente do Governo, indicado pelo monarca a partir da composição da Cortes Gerais, o poder legislativo. As Cortes são constituídas por duas câmaras, o Congresso dos deputados e o Senado. Ambas tem participação no processo legislativo. O processo de aprovação é semelhante em cada câmara, mas não idêntico. Trata-se de um Congresso bicameral imperfeito com predomínio do Congresso dos Deputados. Se o senado aprova um veto a projeto do congresso dos deputados, este poderá ratificar sua decisão original por maioria absoluta de votos, ou por maioria simples, uma vez transcorridos dois meses a contar da devolução do projeto pelo Senado. O poder Executivo é exercido pelo Conselho de Ministros, sob direção do presidente do governo. No governo espanhol temos os seguintes ministérios: Ministério da Presidência, Ministério da Economia e Fazenda, Ministério do Interior, Ministério de Política Territorial, Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação, Ministério da Justiça, Ministério da Defesa, Ministério de Fomento, Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e Imigração, Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, Ministério da Cultura, Ministério da Sanidade e Política Social, Ministério do Meio Ambiente, Meio Rural e Marinho, Ministério da Habitação, Ministério da Ciência e Inovação, Ministério da Igualdade33. Associados à formulação e implementação das políticas industrial e tecnológica, os ministérios mais relevantes são o Ministério da Indústria, do Turismo e do Comércio, o Ministério da Ciência e Inovação, e o Ministério da Economia e Fazenda. O Ministério da Indústria, do Turismo e do Comércio tem um amplo espectro de responsabilidades, cabendo-lhe cuidar da política de desenvolvimento industrial e comercial, efetivando ações para pequenas e médias empresas, energia e mineração, turismo, telecomunicações, mídia e desenvolvimento da sociedade da informação. É composto pelas Secretaria de Estado de Comércio, Secretaria de Estado de Turismo, Secretaria de Estado de Telecomunicações e Sociedade da Informação, Secretaria Geral de Indústria, e pela Secretaria de Estado de Energia A Secretaria de Estado de Comércio responde por serviços como o observatório de preços do comercio, informação econômica e comercial por país, apoio financeiro a exportação e ao investimento, estatísticas e publicações de comércio exterior e 33 ESPANHA. Gobierno de España. Ministros y Ministras. moncloa.es/MinistrosyMinistras/default.htm. Acesso em 15/09/2009. Disponível em http://www.la- 33 investimentos externos, informacão setorial de comercio exterior, registro de franqueadores e venda à distancia, oficinas econômicas e comerciais no exterior, direções territoriais e provinciais de comércio na Espanha. Para tanto, conta com os seguintes organismos: Instituto Espanhol de Comércio Exterior (ICEX), P4R Abertura Espanhola (P4R), Companhia Espanhola de Financiamento do Desenvolvimento (COFIDES), Invest in Spain34. A Secretaria de Estado de Turismo acompanha e fomenta uma das atividades definidas pelo governo espanhol como centrais para o país. Ela opera com os seguintes organismos35: • Turespaña (Instituto de Turismo de Espanha): Organismo da Administração Geral do Estado encarregado de promover no exterior a Espanha como destino turístico, que dentre outras atividades, fixa a estratégia e planificação da atuação dos Paradores de Turismo de Espanha S.A. e o investimento em novos paradores36. • Paradores de Turismo: Empresa pública que instrumentaliza a política turística, cuja idéia originária remonta a 1928. Seu diferencial deriva da dupla condição pública que a caracteriza, isto é, a propriedade da rede de estabelecimentos que gerencia e a titularidade das ações que integram seu capital, ambas pertencentes ao patrimônio do Estado37. • SEGITTUR S.A. (Sociedade Estatal para a Gestão da Inovação e Tecnologias Turísticas): Organismo autônomo que visa estabelecer um nexo de união entre as novas tecnologias e o setor turístico. Tem como objetivos apoiar a promoção turística e a comercialização dos produtos e serviços mediante o uso das novas tecnologias38. Os principias organismos da Secretaria de Estado de Telecomunicações e Sociedade da Informação são: • Red.es: responsável pelo desenvolvimento da Sociedade da Informação na Espanha e por implementar projetos de acordo com as prioridades estratégicas da Secretaria de Estado. 34 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Industria, Turismo y Comercio. Disponível em http://www.comercio.es/comercio/bienvenido/pagPresentacion.htm?in=0. Acesso em 10/09/2009. 35 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Industria, Turismo y Comercio. Disponível em http://www.mityc.es/turismo/es-ES/SecretariaDeEstado/Organismos/Paginas/Organismos.aspx. Acesso em setembro de 2009. 36 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Industria, Turismo y Comercio. Conozcamos. Disponível em http://www.tourspain.es/es/Home/ListadoMenu. Acesso em 10/09/2009. 37 ESPANHA. Paradores. About Paradores. Disponível em http://www.parador.es/en/portal.do?IDM=500&NM=2. Acesso em 10/09/2009. 38 ESPANHA . SEGITTUR. Conócenos. Disponível em http://www.segittur.es/Conocenos/Que-esSEGITTUR. Acesso em 10/09/2009. 34 • Comissão do Mercado de Telecomunicações: visa a criação e acompanhamento das obrigações específicas a serem cumpridas pelos operadores nos mercados de telecomunicações e promover a concorrência nos mercados de serviços audiovisuais. A Secretaria Geral da Indústria tem como objetivo fomentar a competitividade das grandes, pequenas e médias empresas, especialmente de setores industriais considerados estratégicos, incluindo o aporte de recursos públicos para financiamento das estratégias de inovação e competitividade desenvolvidas no ámbito dos Agrupamentos Empresariais Inovadores (Agrupaciones Empresariales Innovadoras – AEI). Vinculado a essa Secretaria, destaca-se a Direção Geral de Política da Pequena e Média Empresa, que tem como funções básicas impulsionar e coordenar esforços quanto ao entorno institucional e coordenação internacional em políticas de PMEs, fomentar o espírito emprendedor, e estimular o crescimento empresarial39. Por fim, a Secretaria de Estado de Energia tem como objetivo a busca de uma política energética sustentável de segurança para o abastecimento energético, a competitividade dos mercados de energia e proteção ambiental40. O papel do Ministério da Ciência e Inovação está fundamentalmente associado à chamada Lei da Ciência – Lei 13/1986, de 14 de abril de 1986, de Fomento e Coordenação Geral da Investigação Científica e Técnica – que foi elaborada com o objetivo de se constituir num instrumento fundamental da gestão e coordenação dos recursos para o desenvolvimento da investigação científica e desenvolvimento tecnológico da Espanha. A lei da Ciência criou o Plano Nacional de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico como instrumento de gestão do governo para tratar do tema. São planos para períodos de quatro anos, de acordo com as prioridades do governo. Atualmente, está em vigência o VI Plano Nacional, correspondente ao período 2008-2011, com expectativa de duplicação do financiamento em relação ao plano anterior. 39 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Industria, Turismo y Comercio. Secretaría General de Industria. Disponível em http://www.mityc.es/industria/esES/SecretariaGeneral/Paginas/SecretariadeEstado.aspx. Acesso em 10/09/2009. 40 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Industria, Turismo y Comercio. Secretaria de Estado de Energia. Objetivos. Disponível em http://www.mityc.es/energia/esES/SecretariaDeEstado/Paginas/Objetivos.aspx. Acesso em 10/09/2009. 35 O Ministério da Ciência e Inovação é composto basicamente por duas Secretarias: A Secretaria de Estado de Investigação e a Secretaria Geral de Inovação. As funções básicas da Secretaria Secretaria de Estado de Investigação envolvem a condução do Plano Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, a cooperação com as comunidades autônomas, o monitoramento das ações da Uniao Europeia no domínio da ciência, dentre outras41. Compete, por outro lado, à Secretaria Geral de Inovação atuar no que diz respeito à dinâmica de distribuição, direção e coordenação da política da inovação em todos os setores e atividades, a nível nacional e internacional; o planejamento e acompanhamento internacional de P&D empresarial e de transferência, incluindo a negociação do quadro da União Européia, em colaboração com o Ministério da Investigação, dentre outras funções42. No âmbito do Ministério da Economia e da Fazenda, o organismo mais importante é a Sociedade Estatal de Participações Industriais – SEPI. A SEPI é uma entidade de direito público, cujas atividades estão em conformidade com a forma jurídica privada, diretamente subordinada ao Vice-Ministro da Economia e das Finanças, reportando diretamente ao ministro. A sua constituição, como marco de um processo de reorganização e modernização do setor público empresarial, foi concretizada para gerir as participações industriais de titularidade pública dos antigos Instituto Nacional de Indútria (INI) e Instituto Nacional de Hidrocarbonetos (INH), tendo como funções: a) Impulsionar e coordenar as atividades das sociedades das quais é titular. b) Fixar a estratégia e supervisionar a planificação das sociedades de que participa diretamente de forma majoritária e levar a cabo o seguimento e controle de sua execução. A gestão ordinária dessas sociedades compete a seus próprios órgãos de administração. c) Administrar suas ações e participações e realizar todo tipo de operações financeiras, ativas e passivas. 41 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Ciencia y Innovación. Secretaría de Estado de Investigación. Disponível em http://web.micinn.es/contenido.asp?dir=01_Portada/01-Ministerio/02Estructura-Competencias/00@Ministerio/10@SEI. Acesso em 20/09/2009. 42 ESPANHA. Gobierno de España - Ministerio de Ciencia y Innovación. Secretaría General de Innovación. Disponível em http://web.micinn.es/contenido.asp?dir=01_Portada/01-Ministerio/02-EstructuraCompetencias/00@Ministerio/20@SEsInn. Acesso em 20/09/2009. 36 d) Fixar as diretrizes gerais de atuação de suas empresas, aplicando critérios de gestão empresarial e executando as diretrizes do Governo em materia de modernização e reestruturação empresarial, com salvaguarda do interesse público. Seu principal objetivo é obter a maior rentabilidade de suas ações e participações mediante: a) Definição e aprovação de estratégias e estabelecimento de ações relevantes e dos objetivos anuais de todas as suas empresas. b) Desenho de planos de futuro, que contemplem melhorias necessárias às empresas deficitárias. c) Exercício do controle da eficacia em relação às suas participações diretas e majoritárias43. 4.2 Estrutura de representação do empresariado Na Espanha têm importância as entidades setoriais e regionais do empresariado. Em sua quase totalidade, elas estão abrigadas na CEOE – Confederação Espanhola de Organizações Empresariais. Fundada em 1977, ela integra, em carater voluntário, cerca de um milhão de empresas públicas e privadas de todos os setores de atividades espanholas. A filiação é efetuada através das 2000 associações de base e de 200 organizações territoriais e setoriais44. A CEOE é o interlocutor do empresariado com o governo, as administrações públicas e os sindicatos, a opinião publica e os demais poderes políticos e sociais. Também representa os empresarios espanhóis diante dos organismos internacionais e das autoridades de outros países. Num primeiro momento, atuou mais como um intermediário em negociações sindicais do que como lobby ou uma entidade capaz de oferecer serviços aos seus membros (CABRERA, DEL REY, 2007). O orgão supremo da CEOE é a Assembleia Geral, composta por 800 delegados que representam todas as organizações territoriais e setoriais. A cada 4 anos, a Assembleia Geral elege o presidente e a junta diretiva que, por sua vez, elegem os membros do Comitê Executivo. 43 ESPANHA. Ministerio de Economia y Hacienda. SPEI. Conozca SEPI. Disponível em http://www.sepi.es/default.aspx?cmd=0001&IdContainer=5&paginacion=0&lang=&idLanguage=&idContrast e=. Acesso em 15/09/2009. 44 ESPANHA. Confederación Española de Organizaciones Empresariales (CEOE). Que és La CEOE? Disponível em http://www.ceoe.org/ceoe/contenidos.type.action?type=0864321&menuId=08643211. Acesso em 15/09/ 2009. 37 Está organizada nas seguintes linhas de trabalho: • Economia • Relações internacionais • Gabinete de asuntos legislativo • Organizações e empresas associadas • Comunicação • Gerência • Delegação em Bruxelas Os órgãos consultivos da Confederação são responsáveis pelo estudo e discussão de questões setoriais, políticas, econômicas e de emprego. Os critérios estão sujeitos a análise dos órgãos da Confederação para servir como base para a ação da CEOE. A CEOE participa de diferentes fóruns internacionais mantém relacionamento com organizações semelhantes em outros países. Também promove as empresas espanholas nos mercados estrangeiros e mantêm um intercâmbio de experiências e iniciativas de investimento com vários países. A Confederação dedica especial atenção à melhoria das técnicas de gestão empresarial através de uma programação de cursos e seminários para empresários, que são realizadas regularmente nos seus centros de formação, além de possuir programas, em colaboração com instituições acadêmicas e profissionais para jovens estudantes que começam novos negócios ou demandam determinada qualificação. A delegação da CEOE na Comunidade Europeia representa institucionalmente os empresários espanhóis perante as agências comunitárias e a Confederação das Empresas Europeias (BUSINESSEUROPE), enquanto atua como um veículo de informação para os empresários sobre os diversos aspectos desenvolvidos pela União Europeia. A CEOE é membro das principais instituições internacionais de caráter econômico e empresarial: • Organização Internacional de Empregadores (OIE). • Organização Internacional do Trabalho (OIT). • Confederação das Empresas Europeias (BUSINESSEUROPE). • Comitê Consultivo, Empresarial e Industrial ante a OCDE (BIAC). 38 • Conselho Interamericano de Comércio e Produção (CICYP). • Associação de Cooperação Empresarial Iberoamérica-CEE (ACE). Outra organização de destaque é a Confederação Espanhola da Pequena e Média Empresa (CEPYME). A CEPYME é uma organização profissional de caráter confederativo e inter-setorial, de âmbito nacional, para a defesa, representação e fomento dos interesses da pequena e média empresa e empresariado autônomo. É reconhecida como a organização empresarial mais representativa no âmbito estatal. Entre suas funções está a atenção às necessidades de informação, assessoramento, assistência técnica, investigação e aperfeiçoamento das organizações, empresas e empresários filiados, estudando e divulgando os temas que podem afetar as potencialidades das pequenas e medias empresas. Desde sua constituição, a CEPYME vem participando como interlocutor em todos os processos de diálogo social em âmbito estatal, administrativo e sindical. Está presente em todas as comissões de segmento e controle das entidades gestoras da seguridade social, assim como nos demais organismos administrativos em que está legalmente prevista, participando, também, de grupos de trabalho para administração e elaboração das normas que afetam as pequenas e medias empresas e o empresariado autônomo. A CEPYME é, também, membro do pleno direto da União Européia de Artesanato e da Pequena e Media Empresa (UEAPME), além de participar dos grupos de trabalho sobre pequenas e médias empresas na comissão de assuntos industriais da UNICE (Union of Industrial and Employers' Confederations of Europe), bem como é membro da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e da OLAMP (Organização Latino Americana das Medias e Pequenas Empresas)45. 5) Coréia do Sul 5.1 - Governo Entre os anos de 1998 a 2008, a Coréia do Sul conheceu quatro Presidentes e nove Primeiros Ministros, como se vê abaixo. 45 ESPANHA. Confederación Española de la Pequeña http://www.cepyme.es/cepyme.html. Acesso em 15/09/2009. y Mediana Empresa. Disponível em 39 Quadro 10 - Presidentes da República da Coréia do Sul (1998-2008) Período 1998-2003 2003-2004 Presidente Kin Dae-jung Roh Moo-hyun Partido Partido do Milênio (PDM) Partido URI, Partido Democrático 2004-2004 2004-2008 Goh Kun (interino) Roo Moo-hyun URI Em 2008 foi eleito um novo Presidente, Lee Myung-bak, do partido Hannara Dang (conservador). O atual Presidente é ex- Eresidente da companhia Hyundai. Quadro 11 - Primeiros Ministros da Coréia do Sul (1998-2008) Período Primeiro ministro Março 98 – janeiro 2000 Kim Jong Pil Janeiro 2000- Maio 2000 Park Tae-jun Junho 2000 – julho 2002 Lee Han-dong Outubro 2002- fevereiro 2003 Kim seok-su Fevereiro2003 - maio 2004 Goh Kun Junho 2004 – março 2006 Lee Hae-chan Abril 2006 – março 2007 Han Myung-sook Abril 2007 – fevereiro 2008 Han Duck-soo Fevereiro 2008 ... Han Seung-soo Obs: Os períodos de intervalo correspondem aos primeiros ministros interinos, que assumem na vacância do cargo até a próxima escolha. 40 Figura 5 - Presidentes da Coréia do Sul Assume o presidente Kin Dae-jung, pelo Partido do Milênio (PDM). Neste ano, Goh Kun assume a presidência da Coréia do Sul interinamente. Mas Roh Moohhyun, do Partido URI, volta à presidência. 2000 1998 1999 2004 2002 2003 2001 2006 2007 2005 Assume a presidência Roh Mooh-hyun, pelo Partido URI, Partido Democrático. 2008 Em 2008 foi eleito um novo Presidente, Lee Myung-bak, do partido Hannara Dang (conservador). O atual Presidente é expresidente da companhia Hyundai. Figura 6 - Primeiros-ministros da Coréia do Sul De outubro deste ano, até fevereiro de 2003, assume Kim Seok-su. Em março assume Kim Jong Pil. 1998 1999 2002 2000 2001 A partir de junho de 2004, Lee Hae-chan assume o posto de Primeiro-ministro. 2004 2003 2005 Han Ducksoo assume o cargo em abril deste ano. 2007 2006 2008 Goh Kun Han SeungEm abril, Em 2000, Kim Jong Pil assume em soo se torna assume Han deixa o cargo e, Park fevereiro, o PrimeiroMyungTae-jun o ocupa de ocupando o ministro em sook. janeiro ao mês de cargo até fevereiro. maio. No mese de maio de junho Lee Han-dong 2004. assume como Primeiro-ministro, até Obs: Os períodos de intervalo correspondem aos o ano de 2002. primeiros ministros interinos, que assumem na vacância do cargo até a próxima escolha. 41 O caráter forte do presidencialismo coreano, em que o Presidente governa e nomeia o Primeiro-Ministro, torna a coalizão de governo um instrumento político de ajuste do cenário partidário. Os partidos apresentam baixa estabilidade e sofreram grandes transformações organizacionais, inclusive com a extinção e criação de diferentes agremiações. O executivo tende a fortalecer seu controle de agenda e agregar forças políticas diferentes como coalizão de apoio. Com observou Kin (2008), coalizões são essenciais para a vitória, mas estão longe de ampliar a governabilidade. Da mesma forma, a participação dos partidos indica uma tendência a rearranjos partidários, onde a situação tende a buscar defecções na oposição. A própria mudança nos partidos indica que as lideranças atuam na criação dos próprios partidos, e não o contrário. A pouca coesão das agremiações é uma ameaça constante às coalizões, enfraquecendo os governos e construindo um cenário de instabilidade. Trata-se de um sistema político com um grau amplo de conflito, mas incapaz de abalar o caráter da profissionalização do aparelho de Estado. Os cidadãos têm baixa identificação com a política, com baixas taxas de participação e pouca identificação com os partidos; a política opera em uma esfera particular, alheia aos interesses mais imediatos dos cidadãos, inclusive pelo “jogo” construído pelas coalizões. A Coréia do Sul é uma república fundada em 1948, tendo como sistema de governo um modelo “misto”, ainda que sob forte influência do poder do Presidente. Este é eleito de forma direta, com mandato de cinco anos, e tem um poder adicional que é a nomeação do Primeiro Ministro. Trata-se de uma tradição de governo central forte, particularmente pelo poder presidencial, e com grande volatilidade no cargo de primeiro ministro; entre 1998 e 2008 houve 10 interinos. O Parlamento coreano é unicameral, com eleições a cada 4 anos. O sistema partidário é composto por forças políticas relativamente pouco representativas do ponto de vista ideológico, havendo apenas uma agremiação de esquerda, denominada Minjung. Os antigos partidos – como o Partido Democrata liberal (PDL), o Partido Democrático (PD) e o Partido da Unificação – foram superados por uma nova estrutura partidária (fruto da esclerose do sistema partidário e das constantes denúncias de corrupção) onde aparecem o Grande Partido Nacional (Hanara-dang, conservador, e hoje na presidência), o Partido Democrático e o “Liberdade Avante” (coalizão de governo), além do Partido Democrático do Trabalho, o Korea Creativa, Novo Partido Progressista e o (pequeno) Partido Socialista. No Parlamento existem ainda alguns independentes. 42 O poder executivo, como pode ser facilmente observado, dispõe de consideráveis poderes, inclusive porque indica (e derruba) o primeiro ministro e membros do gabinete. Em termos gerais, este último tem poder “acessório”, atuando imediatamente abaixo do Presidente, inclusive como conselheiro. Não obstante, ele é reconhecido como “chefe de governo”. Ao contrário do semi-parlamentarismo francês, onde pode existir coabitação entre Presidente e primeiro ministro de diferentes partidos, isto só poderia ocorrer na Coréia por vontade presidencial. Os recursos de poder do Presidente e a volatilidade política decorrente de arranjos políticos locais revelam muito sobre o forte caráter de mudança no primeiro escalão do país. A organização do governo reflete o poder presidencial, mas está ancorado em uma burocracia estatal reconhecidamente preparada, o que também representa uma garantia adicional contra a volatilidade. A tradição de recrutamento de competências e um forte caráter regulatório reforçam o poder burocrático e conferem ao Estado uma dimensão importante de força, segundo Peter Evans uma “autonomia inserida” que reforça a estrutura organizacional centrada na relação entre a burocracia e o próprio conjunto da economia (Evans, 1992). A complexidade do governo é muito significativa. São 17 ministérios: Cultura, Esportes e Turismo; Igualdade de Gêneros; Saúde, Bem Estar e Famílias; Terras e Transporte; Veteranos de Guerra; Administração Pública e Segurança; Unificação. Além desses, temos os ministérios mais próximos do objeto deste trabalho: Relações Exteriores e Comércio; Justiça; Economia do Conhecimento; Trabalho; Defesa Nacional; de Estratégia e Finanças; Educação Ciência e Tecnologia; Meio-ambiente; Alimentação e Agricultura; Legislação. Existem as agências ligadas ao Presidente, apresentadas como independentes: Comissão Independente Contra Corrupção; Auditoria e Inspeção; Serviço de Inteligência; Serviço Civil; Assessoria sobre Unificação; o Conselho Assessor sobre Democracia e Unificação Pacífica; Ombudsman. Próximas do interesse deste trabalho estão a Comissão Presidencial para Pequenas e Médias Empresas e a Conselho Assessor para a Economia Nacional46. O Ministério de Estratégia e Finanças, um dos mais significativos, estrutura-se contendo o Ministro e dois vice-ministros (um para impostos e negócios internacionais, outro para planejamento, orçamento e tesouro). Na linha do organograma, subordinado diretamente ao ministro, organizam-se vários “escritórios” - planejamento e 46 THE NATIONAL ASSEMBLY OF THE REPUBLIC <http://korea.na.go.kr/com/guide_07.jsp>. Acesso em 27/09/2009 OF KOREA. Disponível em 43 coordenação, orçamento, Tesouro, Políticas Públicas, Loterias e Políticas Fiscais, por um lado, e, por outro, política econômica, coordenação de políticas, finanças internacionais, economia internacional, impostos e regulação. Sintonizado com o escritório do ministro ainda aparecem quatro agências: serviço nacional de impostos, fronteiras, estatísticas e procuradoria47. O Ministério do Trabalho organiza-se em torno do Ministro, estando imediatamente abaixo o vice-ministro; a estrutura deste órgão, com subordinação direta ao Ministro, estrutura-se-se em torno de dois grandes “escritórios” – Planejamento e Coordenação e Políticas de Emprego. O primeiro divide-se em dois bureaux – planejamento de políticas e cooperação internacional. O segundo, Políticas de Emprego, ordena-se por quatro bureaux – políticas de emprego, políticas de capacitação, igualdade de acesso e serviços. No mesmo nível dos dois grandes escritórios, três bureaux completam a estrutura; políticas de cooperação, standards de trabalho e saúde/segurança ocupacional48. Um importante ministério, dadas as características da economia coreana, é o ministério de Educação, Ciência e Tecnologia. Possui elevada complexidade organizacional: considerando o ministro no topo de sua hierarquia, há dois cargos diretamente a ele ligados, denominadas Conselheiro de Políticas e um Inspetor geral, este ligado a quatro funções: auditoria, divisão de investigação, inspeção de pesquisas e educação privada. A diferença estrutural importante aqui é a presença de dois viceministros, ambos com forte responsabilidade institucional. O primeiro tem relação direta com educação, políticas escolares, apoio ao bem estar educacional, recursos humanos e possui um “ministro assistente” para planejamento e coordenação, com atribuições de gestão direta do ministério. O escritório de recursos humanos envolve as universidades, escolas e estudantes; o de políticas educacionais, temas de carreira, treinamento, formação de longo prazo e e-learning. O escritório de políticas educacionais opera no planejamento do sistema escolar, na divisão responsável pelas escolas secundárias e primárias bem como da saúde dos estudantes, assim como há um escritório de apoio a “autonomia escolar”, destinada às políticas relativas aos professores, currículos e textos escolares. Finalmente, há um bureau relativo ao bem 47 THE MINISTRY OF STRATEGY AND FINANCE , Disponível em <http://english.mofe.go.kr/> Acesso em 28/09/2009. 48 THE MINISTRY OF LABOR , Disponível em <http://www.molab.go.kr/english/main.jsp > Acesso em 28/09/2009. 44 estar educacional, com divisões para política de bem estar, educação local, crianças em geral e educação especial. Refletindo bem a posição coreana e sua preocupação com uma economia do conhecimento competitiva, existe um segundo vice-ministro que guarda relação direta com ciência e tecnologia. Podem ser identificados quatro “escritórios” – Ciência e Tecnologia, Política de Pesquisa Acadêmica, Energia Atômica e Cooperação Internacional. Cada um deles reflete tanto a preocupação coreana com planejamento quanto com o controle do sistema de ciência e tecnologia. O “escritório” de Ciência e Tecnologia é o grande exemplo, uma vez que nele se localiza o bureau de planejamento para estas políticas, a coordenação de planejamento, a divisão responsável pela “big science” (inclusive ciência espacial) e aquela que cuida dos negócios internacionais relacionados à ciência, com três teams: planejamento científico, de negócios e desenvolvimento espacial. O “escritório” de Pesquisa Acadêmica divide-se em três seções – políticas de pesquisa básica, políticas de pesquisa acadêmica (promoção acadêmica, apoio a relação pesquisa/indústria e pesquisa em Ciências Humanas e Sociais). Finalmente, o bureau de apoio universitário é responsável pelas atividades universitárias públicas e privadas. Os dois últimos “escritórios”, energia atômica e cooperação internacional são quase auto-explicativos. O primeiro é responsável por uma área estratégica de energia, definindo todas as respectivas políticas, enquanto o segundo opera para o exterior com relação à cooperação internacional e educação no exterior49. A conhecida relação na Coréia do Sul entre tecnologia e inovação com o sistema educacional confere a este ministério um caráter especial. Em particular porque a interação entre a estratégia econômica de exportação de maior valor agregado e desenvolvimento, combinada com uma clara percepção da importância da tecnologia e da inovação como diferencial, apontam para um projeto nacional de desenvolvimento ancorado na relação entre o Estado e a iniciativa privada, tendo o primeiro um papel indutor e “incentivador” da inovação, dentro de uma estratégia de cooperação “forçada”com o grande empresariado. Existe um grande número de agências ligadas ao Primeiro Ministro, denominadas como independentes. As mais próximas de nosso interesse imediato são a 49 Referências disponíveis em THE MINISTRY OF EDUCATION, SCIENCE AND TECHNOLOGY, Disponível em <http://english.mest.go.kr/index.jsp > Acesso em 28/09/2009. 45 Administração de pequenas e Médias Empresas; Escritório Coreano de Propriedade Intelectual e a “Comissão para um Comércio Justo” (Fair Trade Commission), esta última de grande importância por tratar das políticas de competição. Finalmente, as comissões presidenciais de maior interesse para nosso objeto são: Desenvolvimento Sustentável; Inovação em Educação; Conselho de Ciência e Tecnologia. 46 Figura 7 – Estrutura do Governo da Coréia do Sul 47 5.2- Estrutura de Representação de Interesses do Empresariado A Coréia do Sul, como fica patente quando se observa a própria estrutura de governo, tem uma organização tentacular e com presença muito significativa do poder executivo e suas agências. País oriundo da guerra fria, por longos anos dominado por governos autoritários e com reformas conduzidas up to the bottom, a abertura do regime político ocorreu após a abertura econômica, ou dito de outra forma, a estratégia de consolidação de grandes conglomerados e de orientação da economia para a exportação em larga escala ocorre antes de processos formais da democracia. As organizações do país não fugiram à regra que combinava relativamente pouca independência organizacional com um “diálogo” forçado (ou quase) com o poder Eresidente, em um ambiente onde a sociedade civil padecia de capilaridade. A notória relação entre os chaebols e o governo, particularmente devido às metas de exportação e o aporte de recursos governamentais em projetos nem sempre lucrativos, produziu uma estreita “parceria” entre os quatro grandes conglomerados (Samsung, LG, Hyundai e Daewoo) e a burocracia estatal. A “crise asiática” de 1997, com a notável presença da Coréia do Sul em seu epicentro, derivou também do endividamento e das dificuldades das empresas, que recorriam com freqüência ao apoio governamental, produzindo um círculo vicioso50 (Guimarães, 2003). A criação da Comissão de Supervisão Financeira (FSC), em 1997, procurou estabelecer parâmetros restritivos aos chaebols, inclusive com relação à extrema diversificação dos braços produtivos das empresas. Particularmente a Daewoo e a Hyundai, que enfrentaram mais dificuldades, foram as mais resistentes – o que talvez ocorra por seu maior gigantismo e sua grande diversidade – eletrônicos, navios, automóveis, engenharia – em um quadro onde o grande número de subsidiárias gerava uma complexa pirâmide societária e com grandes investimentos em cadeia. A FSC tem poderes de veto ao crédito para empresas, seja devido às dificuldades das mesmas, seja pelos projetos apresentados, assim como cuida da fiscalização do mercado financeiro e do sistema bancário em geral. Facilitou a entrada de capital estrangeiro e introduziu critérios de risco para as empresas bem como o gerenciamento de dívidas. A força da FSC reflete, mesmo com medidas ‘liberalizantes”, o peso do 50 Outros aspectos da crise foram a excessiva dependência externa e os males da desregulamentação financeira. 48 Estado coreano e de sua burocracia, bem como sua capacidade de reação. A combinação de sanções e incentivos para impor uma reestruturação aos chaebols, mesmo com uma maior entrada de capital estrangeiro, contribuiu para reordenar e reformar tanto a administração quanto a lógica da produção, incentivando fusões, divisões e melhor aproveitamento da capacidade instalada da indústria coreana. Em linhas gerais, a ação estatal está mais voltada para práticas interativas público-privada, mas o Estado permanece à testa do processo por sua capacidade de regulação – e sanção51. Cabe lembrar que a ação regulatória não existe para impedir os chaebols – mas para reestruturá-los. Em verdade, a economia coreana permanece ainda fortemente marcada pelos conglomerados e não deixará de sê-lo em futuro visível. O controle estatal sobre os bancos também teve seus laços apertados após 1997. Alguns bancos foram a bancarrota, sem socorro, enquanto outros foram reestruturados e tiveram créditos “ruins” adquiridos pelo Estado. Outros foram estimulados a converterem-se em bancos “específicos’, como atuação em seguros e securitização. No câmbio, o mercado se abriu, mas, na prática, o banco central controla todas as transações em moeda corrente. Em resumo, os conglomerados tiveram suas ações restritas e há legislação específica contra sua expansão – como limites para investimento e de segurança contra insolvência. A “Comissão para o Comércio Justo” (FTC) é a agência encarregada de fiscalizar as “condições” de concorrência, anualmente verificando a dimensão dos ativos industriais (excluídos as subsidiárias financeiras)52. Recursos de subsidiárias financeiras são fiscalizados pela FSC, buscando revelar os ativos “reais” da empresa, expurgada a dimensão financeira. Na prática, a relação entre as agências é crucial no aspecto regulatório. Ainda que a Coréia do Sul não tenha uma sociedade civil pujante, alguns atores merecem destaque. É o caso da Federação e da Confederação dos Sindicatos, o Conselho Nacional dos Sindicatos, o Conselho Nacional de Igrejas, a Associação de Veteranos, a Aliança Democrática Nacional, a Federação de Fazendeiros e a de Estudantes. Mas, em termos de influência mais ativa, a Federação das Indústrias Coreanas e a Associação do Comércio Internacional e a Associação Coreana das Pequenas Empresas merecem destaque, muito particularmente a primeira. 51 FINANCIAL SUPERVISORY COMMISSION. Disponível em <http://www.fsc.go.kr/eng/>. Acesso em 27/09/2009. 52 FAIR TRADE COMMISSION. Disponível em < http://eng.ftc.go.kr/>. Acesso em 27/09/2009. 49 Como foi observado, a Coréia do Sul tem forte presença estatal, que opera por sanções e incentivos, mas em uma linha clara de ação sem abandonar a parceria entre o setor público e o privado. Neste caso, um interlocutor realmente privilegiado é a Federação das Indústrias (FKI). Em sua composição estão os conglomerados e “demais” membros associados. Isto porque a pequena e média empresa subsistem e tem papel importante, mas operam, em boa medida, sob influência dos chaebols. Segundo a própria entidade, a KFI defende “políticas econômicas saudáveis, a internacionalização e o mercado livre ...” 53 . Como ente privado, as FKI é de base voluntária e tem representantes de todos os setores industriais do país; a filiação é calculada com base no capital da empresa e em seu faturamento, incluindo empresas de base estrangeira. A FKI é uma entidade com poder de ação significativo; constituiu um Banco de Crédito de Longo Prazo, uma Federação de Seguros Médicos, a Associação Coreana de Invenções e patentes, uma Corporação ligada à energia e uma organização associada a informação. Tem braços estendidos por vários campos e a pretensão institucional de atuar na “melhoria das condições da economia coreana”, segundo seu juízo. Em sua estrutura interna, entretanto, é inegável a presença dos chaebols e outras empresas de grande porte: na atual composição da direção, o chairman é da corporação Hyosung, mas entre os vices estão chairmen da Samsung, LG, Hyundai Motor e Korean Airlines54. Somente por sua atividade e sua composição, a FKI (fundada em 1961) é uma interlocutora privilegiada do governo. Após 1997 e a intensificação da regulação por agências, esta associação ganha também relevo, com ação diversa do passado, não apenas para garantir interesses, mas para atuar em uma conjuntura política e econômica diferente e com um ambiente institucional alterado. Trata-se de uma associação independente, no sentido de não operar compulsoriamente em relação aos seus filiados e ao governo. Este caráter privado lhe confere uma função de interlocutor importante, mas, simultaneamente, sua composição reflete claramente o desejo de influir e intervir nas políticas gerais, como um contrapeso às agências. Isto não lhe confere mais poder, mas induz ao reconhecimento público de sua força. 53 “What is FKI?” FEDERATION KOREA INDUSTRIES. Disponível http://www.fki.or.kr/en/about/fkiInfo.html#1>. Acesso em 27/09/2009. 54 “CHAIRMAN” FEDERATION KOREA INDUSTRIES Disponível em fki.or.kr/en/About/Chairman.aspx>. Acesso em 27/09/2009. em < <http:// 50 Ao contrário da KFI, a Câmara de Comércio e Indústria, a Associação do Comércio Internacional e a de Pequenas Empresas são entes regulados em lei55. As pequenas e médias empresas tem filiação obrigatória à Câmara de Comércio e Indústria, enquanto as empresas cooperadas tem filiação compulsória à Associação de Pequenas Empresas. A Associação de Comércio Internacional é formada por empresas agregadas a esta atividade e aos serviços. A Coréia do Sul é um estado democrático com forte presença estatal, burocracia profissional e capacitada e grandes conglomerados oferecendo o tom à economia. Fonte privilegiada de poder, o governo opera regulando e intervindo na vida econômica por agências e financiamento de setores chaves. Neste ambiente, a interlocução opera mais por vontade estatal que pelas empresas. Mas, é inegável que uma organização como a KFI representa um ator nada desprezível no poder nacional, ainda que limitada pelas características do poder público. A cooperação na Coréia permanece “forçada”, ainda que o ambiente econômico tenha se tornado mais aberto no pós 1997. 6) Argentina 6.1) Governo No período de abrangência deste trabalho, a Argentina viveu momentos de grande instabilidade, como o revela a figura abaixo. Quadro 12 – Governos da Argentina (1998-2008) Período 1989-1999 Presidente Carlos Meném Partido 55 PJ 1999-2001 2002-2003 2003-2007 2007-2011 Fernando de Eduardo Néstor Cristina La Rua Duhalde Kirchner Kirchner UCR PJ PJ PJ O mesmo já acontece com a Federação Sindical, de filiação obrigatória. 51 Figura 8 – Linha sucessória do governo argentino (1998-2998) O governo Carlos Menem (Partido Justicialista), iniciado em 1989, termina em dezembro. Em 10 de dezembro Eduardo Duhalde, do Partido Fernando de La Rua, do partido de justicialista, assume oposição, União Cívica Radical, assume provisoriamente a presidência em 2 a presidência. de janeiro, eleito pela Assembléia Legislativa 1999 1998 2000 2004 2002 2001 Renúncia de Fernando de la Rua, em 21 de dezembro .Neste mês, assume Ramón Puerta (Presidente do Senado – Partido Justicialista) do dia 21 a 23. Adolfo Rodríguez Saá é eleito pela Assembléia Legislativa, assume dia 23 e renuncia em 30 de dezembro. Devido a renúncia, assume a presidência Eduardo Camaño (Partido Justicialista) 2003 Eleição de Néstor Kirshner (Partido Justicialista); assume em 25 de março. 2008 2006 2005 2007 Eleição de Cristina Kirshner (Partido Justicialista); assume em 10 de dezembro. Fontes: FERRER, Aldo. A economia argentina: de suas origens ao início do século XXI. Tradução S. Duarte. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. MOLANO, Walter. Argentina: The Political Economy of Stabilization and Structural Reform. In: HOROWITZ, Shale et HEO, Uk. The political economy of international financial crisis. Rowman & Littlefield, 2001. ROMERO, Luis Alberto. História contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. O curto período em que a UCR – União Cívica Radical – ocupa o poder, com Fernando de La Rua, prenuncia o enfraquecimento desse partido, o mais antigo do país e o maior opositor do justicialismo. O papel importante que a UCR desempenhou na redemocratização do país com Raul Alfonsín se desgastou sobremaneira com a renúncia de de La Rua no meio do mandato. O país volta à direção do Partido Justicialista, remanescente do velho peronismo. O desgaste político atual do casal Kirshner, que levou à renúncia de Néstor da presidência do Partido Justicialista não permite ainda previsões a respeito do futuro de ambos, Nestor e Cristina, e do próprio partido. O país adota a forma republicana, o regime democrático e um sistema de governo presidencialista. A Constituição foi aprovada em 1853 e alterada em 1860, 1898, 1957 e 1994. Ela prevê a divisão de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário e a ordem federativa. A Argentina é formada por 23 províncias e a cidade autônoma de Buenos Aires. Os Estados dispõem de autonomia, apesar de estarem unidos sob um governo comum (governo nacional). 52 O governo argentino apresenta 56 uma grande quantidade de organismos estatais relacionados com atividades empresarias, o que indica a grande pulverização desses vínculos. Há superposições entre entidades, como no exemplo do setor alimentício: há o ALIMENTOS ARGENTINOS, que cuida da agropecuária e pesca no país, convivendo com o CONSELHO FEDERAL PESQUEIRO, que organiza a atividade pesqueira no país, além do INIDEP (Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Pesqueiro) e do INTA (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária). No campo do comércio interno e externo encontramos dez instituições governamentais: Área de Origem de Mercadorias, Argentina Rede de Comércio, Promoção do Comércio Exterior de Chancelaria, CNCE – Comissão Nacional de Comércio Exterior, DNPCE – Direção Nacional de Política Comercial Externa, Fundação Exportar, Ministério de Relações Exteriores, Comercio Internacional e Culto, Secretaria de Industria, Comércio e Pequenas e Médias Empresas, Subsecretaria de Política e Gestão Comercial e Zonas Francas. No campo industrial e de desenvolvimento tecnológico encontramos sete instituições: Agencia Nacional de Promoção Científica e Tecnológica, CONICET – Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, INTI – Instituto Nacional de Tecnologia Industrial, Secretaria de Indústria, Comercio e Pequenas e Médias Empresas, SECyT– Secretaría de Ciencia, Tecnologia e Inovação Produtiva, Subsecretaria de Indústria e Subsecretaria da Pequena e Média Empresa e Desenvolvimento Regional. Há, portanto um conjunto considerável de secretarias e institutos do governo que promovem o desenvolvimento econômico, assessoria para as empresas, formas de financiamento, fóruns, serviços, técnicas de gestão empresarial, tecnologia, certificação, capacitação e normas. As instituições/secretarias relacionadas com os setores econômicos mais proeminentes deste país são: Agencia Nacional de Desenvolvimento de Investimentos – ProsperAr, Banco BICE- Banco de Inversión y Comercio Exterior 57, Banco da Nação 56 ARGENTINA – EMPRESAS. Disponível em http://www.argentina.gob.ar/argentina/portal/paginas.dhtml?pagina=171 Acesso em 22/08/09 57 ARGENTINA – BICE. Disponível em http://www.bice.com.ar/ . Acesso em 22/08/09. Essa instituição tem situação distinta dos demais órgãos citados nesta seção; é um banco privado voltado para a exportação. Oferece financiamento para as empresas que pretendem comercializar com outros países e para investimentos em modernização produtiva. 53 Argentina, Alimentos Argentinos, Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos, Ministério da Economia e Ministério da Produção. Agencia Nacional de Desenvolvimento de Investimentos – ProsperAr58 Os objetivos da ProsperAr59 são: o desenvolvimento da iniciativa privada, o impulso às empresas nacionais para a sua internacionalização e a otimização dos serviços de inovação tecnológica e competitividade. Segue o esquema da estrutura organizacional da Agência (Figura 9) Fonte: ARGENTINA-PROSPERAR. “Quienes somos – Estructura Organizacional”. Disponível em http://www.inversiones.gov.ar/home.php?page=estructura. Acesso em 23/08/09 58 ARGENTINA– PROSPERAR. “Por qué Argentina ?”. http://www.inversiones.gov.ar/home.php?page=homeprincipal. Acesso em 23/08/09 Disponível em 59 Disponível em ARGENTINA– PROSPERAR. “Quienes somosMisión” http://www.inversiones.gov.ar/home.php?page=mision). Acesso em 23/08/09 54 Banco da Nação Argentina60 Desde sua criação, o banco contribui para o desenvolvimento dos setores produtivos do país, prestando assistência financeira para as micro, pequenas, médias e grandes empresas, além dos negócios agropecuários. Promove e apóia o comércio exterior61. Composição62: Um presidente, dois vices, cinco diretores, um sindico e um gerente geral. Secretaria de Agricultura, Agropecuária, Pesca e Alimentos63 É uma secretaria vinculada ao Ministério da Produção. É o organismo responsável por elaborar e executar os planos e programas de produção, comercialização, tecnologia e qualidade em matéria de agropecuária, pesca e indústria. Concilia os interesses do governo, das províncias e dos diferentes setores. Desta secretaria originam-se seis organismos: INTA: Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria SENASA: Servicio Nacional de Sanidad e Calidad Agroalimentaria INASE: Instituto Nacional de Semillas ONCCA: Control Comercial Agropecuario INIDEP: Instituto Nacional de Investigación y Desarrollo Pesquero INV: Instituto Nacional de Vitivinicultura Alimentos Argentinos64 Alimentos Argentinos é uma subsecretaria, também chamada de Subsecretaria de Agroindústria e Mercados, proveniente da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos, ligada ao Ministério de Produção. 60 ARGENTINA – BANCO DE LA NACION. http://www.bna.com.ar/default.asp. Acesso em 24/08/09 “Banco de La Nacion”. Disponível em 61 ARGENTINA -BANCO DE LA NACION. “Acerca del Banco Nacion”. Disponível em http://www.bna.com.ar/institucional/institucional.asp. Acesso em 24/08/09 62 (Argentina - Banco de La Nación, 2009,b). “Acerca del Banco Nacion – Autoridades”. Disponível em: http://www.bna.com.ar/institucional/institucional_aut.asp. Acesso em 24/08/09 63 ARGENTINA – MINISTERIO DE AGRICULTURA, GANADERÍA Y PESCA. “Sagpya- Argentina” Disponível em http://www.sagpya.mecon.gov.ar/ Acesso em 25/08/09 64 ARGENTINA – DIRECCIÓN NACIONAL DE AGROINDUSTRIA- SAGPYA. “Agroindustria”. Disponível em http://www.alimentosargentinos.gov.ar/ Acesso em 25/08/09 55 Seu objetivo é fomentar a produção e a qualidade dos produtos. Oferece para as empresas fóruns virtuais, qualificação, capacitação profissional, seminários, publicações, registros, informações sobre as normas vigentes e assessoramento. Criou a RED IPA, uma rede de informações para pequenas e médias empresas relacionadas com alimentos industrializados65. Ministério da Economia66 e Ministério da Produção67 Figura 10 - Ministério da Economia Fonte: ARGENTINA, MINISTERIO DA ECONOMIA. “Estructura MECON”. Disponível em http://www.mecon.gov.ar/basehome/organigrama.htm Acesso em 25/08/09 Figura 11 - Ministério da Produção 65 ARGENTINA - DIRECCIÓN NACIONAL DE AGROINDUSTRIA- SAGPYA. “Información Pymes Alimentarias”. Disponível em http://www.alimentosargentinos.gov.ar/programa_calidad/redipa.asp. Acesso em 25/08/09 66 ARGENTINA – MINISTERIO DE ECONOMIA Y FINANZAS PÚBLICAS. Disponível em http://www.mecon.gov.ar/. Acesso em 26/08/09 67 ARGENTINA –.MINISTERIO DE PRODUCCIÓN. Disponível em http://www.minprod.gob.ar/ Acesso em 26/08/09 56 Fonte: ARGENTINA, Ministério de Producción. Disponível em http://www.minprod.gob.ar/organigrama.htm# Acesso em 26/08/09 O Ministério da Economia e o Ministério da Produção são os dois ministérios voltados para a economia e produção agropecuária e industrial da argentina. Diversas instituições são controladas por estes ministérios. Subsecretaria da Indústria68: na Argentina não existe um ministério para a indústria e sim uma Subsecretaria da Indústria, filiada ao Ministério da Produção. Subsecretaria da Pequena e Média Empresa e Desenvolvimento69 É responsável por projetar, implantar e monitorar políticas públicas para estimular o desenvolvimento das pequenas e médias empresas, objetivando avançar para a integração da estrutura de produção em todas as regiões da Argentina. Tem a intenção de promover a recuperação da produção regional, promovendo o desenvolvimento do setor através de valores correntes, a criação de novas empresas e a geração de empregos. Oferece apoio financeiro, capacitação, assistência técnica, informações e estatísticas sobre o comércio exterior e a situação econômica de cada região do país. -Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto70 Na Argentina, o comércio exterior fica sob responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto. Dessa forma existe uma secretaria especial para o comércio e as relações econômicas internacionais (Secretaria de Comércio e Relações Econômicas Internacionais), e uma subsecretaria dedicada ao comércio internacional (Subsecretaria de Comércio Internacional)71. 68 ARGENTINA -SUBSECRETARÍA DE INDUSTRIA. Disponível em http://www.industria.gov.ar/ Acesso em 26/08/09 69 ARGENTINA – SEPYME. “Subsecretaría de la Pequeña y Mediana Empresa y Desarrollo Regional”. Disponível em http://www.sepyme.gov.ar/web/ .Acesso em 26/08/09 70 ARGENTINA- MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES, COMERCIO INTERNACIONAL Y CULTO. Disponível em http://www.cancilleria.gov.ar/. Acesso em 27/08/09 71 ARGENTINA –SECRETARÍA DE COMERCIO Y RELACIONES ECONÓMICAS INTERNACIONALES. Disponível em:http://www.cancilleria.gov.ar/portal/SECRETARÍA screi/home.php?id=4 Acesso em 27/08/09 57 Entre os objetivos da Subsecretaria de Comércio Internacional, destacam-se: promover as exportações de mercadorias e serviços de valor agregado, fomentar a incorporação de um número crescente de empresas voltadas para o comércio exterior, conseguir uma maior diversificação de destinos para as exportações e, por fim, gerar e disseminar informações de interesse para as empresas.72 Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação73 O meio ambiente é responsabilidade da Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação. Esta secretaria não é filiada a nenhum outro ministério, mas sim ao Chefe do Gabinete Ministerial. Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva74 O órgão governamental responsável pela inovação tecnológica no país é o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva. O ministério estabelece políticas e coordena ações que fortalecem a capacidade do país para responder aos setores sociais prioritários e contribuir para aumentar a competitividade do setor produtivo no desenvolvimento de um novo padrão de produção com base em bens e serviços de maior densidade tecnológica75. 6.2) Estrutura de representação dos interesses empresariais Há quatro associações de empresas/empresários mais proeminentes na Argentina: A CGE, criada e bastante favorecida no período governado por Perón, a UIA 72 ARGENTINASECRETARÍA DE COMERCIO Y RELACIONES ECONÓMICAS INTERNACIONALES. “Objetivos”. Disponível em: http://www.cancilleria.gov.ar/portal/screi/home.html. O organograma da Subsecretaria está disponível em http://www.mrecic.gov.ar/portal/screi/home.php?id=4. Acesso em 27/08/09 73 ARGENTINA -SECRETARIA DE AMBIENTE Y DESARROLLO SUSTENTABLE DE LA NACIÓN. Disponível em www.ambiente.gov.ar. O organograma da Secretaria está disponível em www.ambiente.gov.ar/?idseccion=195 . Acesso em 27/08/09 74 ARGENTINA- MINISTERIO DE CIENCIA, TECNOLOGIA Y INNOVACIÓN PRODUCTIVA. Disponível em www.mincyt.gov.ar . Acesso em 28/08/09 75 ARGENTINA- MINISTERIO DE CIENCIA, TECNOLOGIA Y INNOVACIÓN PRODUCTIVA. “Estructura del MINCYT”. Disponível em http://www.mincyt.gov.ar/index.php?contenido=estructura. O organograma está disponível em (http://www.mincyt.gov.ar/index.php?contenido=estructura). Acesso em 28/08/09 58 e a SRA, dos industriais e dos agricultores, ambas criadas no século XIX e existentes até hoje, e a CEA, também do período peronista e que em 2002 torna-se a AEA. Na história da Argentina, diversas outras surgiram e desapareceram: Associação de Trabalho, CACIP, Federação Argentina de Entidades Defensoras do Comércio e Indústria, ACIEL etc CGE - Confederação Geral Empresarial da República Argentina76 Entre os objetivos da CGE, está a defesa dos interesses das pequenas e médias empresas, representando-as perante o poder público, promovendo o progresso de seus associados no desenvolvimento econômico através de atividades conjuntas. Presta serviços de financiamento, capacitação e incentivos para o comércio exterior. Não há obrigação de filiação. Cada província possui sua própria CGE, mas a CGE central, a CGE da República Argentina, repassa as informações para as demais. Os membros da CGE de Buenos Aires: são câmaras, associações, federações, organizações, uniões, confederações e federações e S.A. de indústrias e empresas. CGI - Confederação Geral da Industria da República Argentina77 A CGI é uma Câmara Empresarial, que promove e coordena a atividade de corporações, consórcios e empresas nacionais. Atua em todo o território nacional através dos delegados das federações provinciais e câmaras empresariais. Desenvolve capacitação, assistência técnica e financeira, gestões e workshops. UIA - União Industrial Argentina78 A União Industrial Argentina, fundada em 1887, é uma união civil empresarial, sem fins lucrativos, que representa a atividade industrial no país. Sua missão é representar a 76 ARGENTINA –CGERA. “Confederación General Empresaria de la República Argentina”. Disponível em http://www.cge-ra.org/index2.php . Acesso em 28/08/09 77 ARGENTINA – CGI. “ Confederacion General de la Industria de la Republica Argentina”.Disponível em www.cgi.org.ar . Acesso em 29/08/09 78 ARGENTINA – UIA. “Union Industrial Argentina”. Disponível em http://www.uia.org.ar/index.do Acesso em 29/08/09 59 indústria argentina (tanto organizações setoriais e provinciais quanto nacionais) tendo em vista o desenvolvimento do país na sua dimensão econômica, através da geração de propostas para melhorar a competitividade do setor, do desenvolvimento tecnológico, reforçando o mercado interno e a inserção internacional da indústria. Age no interesse da indústria, a nível nacional, provincial e municipal, para exercer a sua representação para as autoridades e organizações nacionais e internacionais de qualquer natureza79. Seus membros são associações, câmaras, centros, federações, uniões e S.A. SRA - Sociedade Rural Argentina80 A Sociedade Rural representa a união dos agropecuaristas. Além da direção nacional é formada por delegados regionais. Os membros são geralmente associações de criadores de animais de uma determinada região e algumas câmaras. Durante a primeira metade do século XX a SRA teve mais membros no governo do que qualquer outra associação; cinco dos nove presidentes, 15% de todos os membros do congresso e 40% de todos os ministros. Manteve uma forte capacidade institucional mesmo durante os anos turbulentos do pós-guerra, sendo uma exceção à regra no cenário argentino.(SCHNEIDER, 2004). A Sociedade Rural possui filiais em toda a Argentina. AEA - Associação Empresarial Argentina81 A AEA foi fundada em maio de 2002 por iniciativa de um grupo de empresários com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social da Argentina a partir de empresários privados. É porta voz da visão do setor privado como um todo, integrando as perspectivas de diversos setores nela representados. Sua principal característica é o envolvimento pessoal dos detentores das maiores empresas do país nas políticas públicas de interesse geral. Os membros da associação comandam empresas cujo volume de negócios gira em torno de 200 milhões de pesos, 79 ARGENTINA- UIA. “Misión”. Disponível em http://www.uia.org.ar/institucional.do?id=2 Acesso em 29/08/09 80 ARGENTINA – SOCIEDAD RURAL ARGENTINA. Disponível em http://www.ruralarg.org.ar/ Acesso em 29/08/09. 81 ARGENTINA - ASOCIACIÓN EMPRESARIA ARGENTINA. Disponível em www.aeanet.net Acesso em 30/08/09 60 que exportam 10 milhões de dólares e empregam 300.000 pessoas. A Associação é chefiada pelo seu presidente, e por um Comitê Diretor que se reúne mensalmente. A gestão quotidiana dos assuntos da Associação é chefiada pelo diretor executivo assistido por uma pequena equipe administrativa. Suas principais atividades são: promover a importância da atividade empresarial como motor do desenvolvimento econômico; promover a participação ativa dos empregadores na formação e análise de política pública, organizar reuniões para discussão das políticas com as autoridades, funcionários, legisladores e especialistas e divulgar trabalhos analíticos e propostas políticas. Os sócios da AEA são na maioria grandes multinacionais: Arcor, Fiat, Techint, Volkswagen, Grupo Santander, Citröen. 7) México 7.1) Governo No período compreendido em nossa análise, o comando do poder executivo no México foi ocupado pelos presidentes na sequência abaixo. O fato marcante é a substituição, em 2000, do PRI, que governara o país durante décadas, por Vicente Fox, do PAN. Quadro 13 – Governos do México (1998-2008) Período Presidente 1994 -2000 Ernesto Zedillo Ponce 2000 - 2006 Vicente Fox Quesada de León Partido PRI 2006 - 2012 Felipe Calderón Hinojosa PAN PAN 61 Figura 12 – Governos do México (1998-2008) De 1994 a 2000 o presidente em exercício Ernesto Zedillo Ponce de León do PRI. 1999 1998 2000 Assume a presidência Vicente Fox Quesada do PAN. Eleito o candidato Felipe Calderón Hinojosa também do PAN. 2002 2001 2004 2003 2008 2006 2005 2007 PRI – Partido Revolucionário Institucional PAN – Partido da Ação Nacional Fonte: MÉXICO – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Disponível em: http://www.presidencia.gob.mx/. Acesso em: 14 de julho de 2009. Depois de 60 anos no poder, o PRI perde as eleições para seu rival, o PAN, agremiação católica de centro- direita, mais aberta à colaboração com os EUA e próxima aos interesses empresariais e que desde 2000 se mantém no poder. Esse processo iniciara-se em 1997, quando pela primeira vez desde 1929 o PRI perde a maioria absoluta na Câmara dos Deputados. Tal importante inflexão na política mexicana deveu-se a vários fatores, como a reorientação do próprio PRI – do corporativismo com justiça social para políticas de ajuste de corte liberal; e as mudanças na sociedade mexicana – urbanização e aprofundamento da pobreza e da desigualdade (CARVALHO, 1997). De 2000 em diante o combate à inflação sacrifica o crescimento (VILLARREAL,2005).A agenda da reforma do Estado impeliu o PRI a um dilema que o dilacerou: como realizá-la mantendo-se não obstante como um partido de Estado, posição ocupada durante décadas. O México é uma república federal regida pela Constituição de 1917. O poder executivo é exercido por um presidente eleito por sufrágio universal, para um mandato de seis anos, não renovável. O poder legislativo é constituído por duas câmaras, cujos integrantes dão eleitos pelo voto direto: o senado é constituído por 64 membros eleitos por seis anos. São dois senadores para cada estado e dois para o distrito federal.A Câmara dos deputados tem 500 integrantes, que são eleitos por 3 anos, sendo 300 pelo voto majoritário e 200 pelo voto proporcional.Deputados e senadores não são reelegíveis. 62 Dentro de cada estado o poder executivo é exercido por um governador eleito por sufrágio universal por 6 anos,e o poder legislativo por uma câmara de deputados eleitos por sufrágio universal por 3 anos.O governador do distrito federal é nomeado pelo presidente do México. Abaixo apresentamos o organograma das secretarias do governo mais diretamente relacionadas com os interesses empresariais como a de Meio ambiente e Recursos Naturais, a de Economia, e a de Inovação Tecnológica. Figura 13 - Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais82: Secretário: Juan Rafael Elvira Quesada Oficinas Centrais Delegações por Estados Criada em 2000 por iniciativa do presidente Ernesto Zedillo Ponce de León esta Secretaria se propõe como missãoincorporar em todos os âmbitos da sociedade e da função pública critérios e instrumentos que assegurem a proteção ótima, conservação e aproveitamento dos recursos naturais do México, consolidando assim una política ambiental integral, dentro do marco do desenvolvimento sustentável. Além disso assume como sua “Visão” a de “um país em que todos abriguem uma profunda e sincera preocupação em proteger e conservar o meio ambiente e utilizar 82 MÉXICO– SEMANART. “Secretaría de Medio Ambiente y Recursos Naturales”. Disponível em: http://www.semarnat.gob.mx/Pages/inicio.aspx. Acesso em: 14 de julho de 2009. As informações acerca do secretário e do diretório institucional da secretaria se encontram disponíveis em: http://www.semarnat.gob.mx/secretario/Pages/semblanzasecretario.aspx. Acesso em: 14 de julho de 2009. 63 sustentavelmente os recursos naturais conciliando desenvolvimento econômico, convivência harmônica com a natureza e diversidade cultural.”83 Figura 14 – Secretaria de Economia84: 83 MEXICOSEMANART. “Misión y Visión”. Disponível em http://www.semarnat.gob.mx/queessemarnat/Pages/misionvision.aspx. Acesso em 02/09/2009 84 MÉXICO – SECRETARÍA DE ECONOMIA. . Disponível em: http://www.economia.gob.mx/. Acesso em: 14 de julho de 2009. Outras informações a respeito da organização da Secretaria de Economia podem ser encontradas em: http://www.portaltransparencia.gob.mx/pot/estructura/showOrganigrama.do?method=showOrganigrama&_id Dependencia=00010. Acesso em: 14 de julho de 2009. 64 A Secretaria de Economia se propõe como missão “ser uma instituição que promove e subsidia políticas públicas e programas orientados a criar mais e melhores empregos, mais e melhores empresas e mais e melhores empreendedores”. Sua visão é de que a Secretaria de Economia “será a dependência do governo federal que promova a geração de empregos de qualidade e o crescimento econômico do país, mediante o impulso e implementação de políticas públicas que estimulem a competitividade e os investimentos produtivos”85. Figura 15 - Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia86: Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Diretor Geral: Juan Carlos Romero Hicks. Oficinas Regionais Centros de Investigação O CONACYT - Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia - foi criado em 29 de dezembro de 1970, como um organismo público descentralizado da Administração Pública Federal, integrante do sector da educação, com personalidade jurídica e patrimônio próprio. É responsável por elaborar as políticas de ciência e tecnologia no México. Em 5 de junho de 2002 foi promulgada a nova Lei de Ciência e Tecnologia. O CONACYT apresenta como sua meta consolidar um Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia que responda às demandas prioritárias do país, que dê solução a problemas e necessidades específicos, e contribua para elevar o nível de vida e o bem estar da população, o que requer: 85 MEXICO – SECRETARIA DE ECONOMIA. “Misión y Visión de la SE”. Disponível em http://www.economia.gob.mx/?P=197. Acesso em 02/09/2009 86 MÉXICO – CONSELHO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Disponível em http://www.conacyt.mx/. Acesso em: 14/07/09. . 65 • • • Contar com uma política de Estado nesta matéria. Incrementar a capacidade científica e tecnológica do país. Elevar a qualidade, a competitividade e a inovação das empresas. Ainda segundo o site do Conacyt o caminho a seguir é: • • • • Fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico do país apoiando a investigação científica de qualidade. Estimular a vinculação entre os processos produtivos e a academia. Promover a inovação tecnológica nas empresas. Impulsionar a formação de recursos humanos de alto nível. 87 7.2) Estrutura da Representação Empresarial Nos anos de 1930 e 1940 o Estado mexicano incorporou tanto os empresários como os trabalhadores nas organizações corporativas. Os empresários organizaram algumas poucas associações independentes, mas de 1930 a 1960 as associações corporativas dominaram a sua representação. Nestas a filiação e a contribuição eram compulsórias e o Estado interferia na sua representação interna. Os esforços do governo nesse sentido iniciam-se em 1917 em conseqüência dos transtornos ocasionados pela revolução e agravados com a primeira grande guerra. Organizar os trabalhadores e os empresários era condição para começar a reconstrução da economia e por isso em 1917 surge a CONCANACO, Confederação das Câmaras de Comércio, à qual se seguiram outras associações, como veremos abaixo. CONCANACO88 - CONFEDERAÇÃO DE CÂMARAS NACIONAIS DE COMÉRCIO, SERVIÇO E TURISMO Fundada em 1917, com delegados de organizações municipais, sendo a representação interna na Confederação de base territorial. É definida como instituição de interesse público, autônoma e com personalidade jurídica e patrimônio próprio que se propõe como metas representar e defender os interesses gerais do setor diante do governo federal e do próprio setor privado. Sua estrutura atual é a seguinte: Presidência, direção geral e direções de comunicação, de administração e finanças, de atenção às Câmaras, de serviços institucionais, tesoureiro, assistentes. 87 MÉXICO – CONACYT. “Acerca Del Conacyt”. Disponível em http://www.conacyt.gob.mx/Acerca/Acerca_conacyt.html. Acesso em 14/07/09. 88 MÉXICO – CONCANACO. “Confederação de Câmaras Nacionais de Comércio, Serviço e Turismo”. Disponível em: http://www.concanaco.com.mx/. Acesso em: 28/06/09. 66 CONCAMIN89- CONFEDERAÇÃO DAS CÂMARAS INDUSTRIAIS DOS ESTADOS UNIDOS MEXICANOS Enquanto as Câmaras de Comércio ( que já existiam desde o séc. XVIII) eram organizadas em sua Confederação, uma associação de industriais de Puebla solicita ajuda do governo para a estruturação de uma confederação separada da indústria. A questão acerca da base da representação, se setorial ou territorial, causou certa polêmica quando da criação da CONCAMIN em 1918, acabando por predominar o critério setorial, embora os estatutos permitam a filiação de grupos regionais. O setor mineiro, amplo e forte e incluindo muitas empresas estrangeiras quis reservar para si uma Confederação separada, o que acabou não ocorrendo. A CONCAMIN é definida como instituição pública autônoma e com personalidade jurídica própria que agrupa, de acordo com a Lei de Câmaras e suas Confederações, todas as câmaras de indústria do país. É composta por uma cúpula empresarial que afirma representar os interesses legítimos e gerais de toda a indústria e constituir a força moral e política para a defesa dos mais altos interesses do setor, relacionando a voz dos empresários industriais com as forças governamentais do país. Apresenta-se como órgão de representação empresarial efetiva, reconhecido plenamente por sua liderança e produção de serviços. A CONCAMIN é formada por 46 Câmaras Nacionais, 19 Câmaras Regionais, 3 Câmaras Genéricas e 40 Associações que contam com 108 confederados. A força da CONCAMIN pode ser demonstrada através dos números: 40% do PIB provêm das atividades dos membros da CONCAMIN; 35% dos empregos remunerados no país advêm de seus representantes; as exportações de manufaturados produzem 90% das divisas e com 1.1 milhão de contribuintes a CONCAMIN representa 14% do total registrado na Secretaria da Fazenda e Crédito Público. A Confederação estuda os problemas da indústria e designa seus representantes diante das autoridades governamentais, estatais e federais, assim como instituições privadas, nacionais e internacionais. O desempenho dos setores representados pela CONCAMIN define o rumo da economia mexicana tanto por sua amplitude nacional como pela participação de setores estratégicos, além da interlocução e acesso direto com 89 MÉXICO-CONCAMIN. “Confederación de Cámaras Industriales de los Estados Unidos Mexicanos”. Disponível em: http://www.concamin.org.mx/. Acesso em: 2706/09. 67 os principais atores políticos, econômicos e sociais do país e da participação de mais de 1200 empresários de instituições diversas em todo o país, entre as quais se destacam: OMC- Organização Mundial do Comércio OCDE –Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico BANCOMEXT - Banco Nacional de Comércio Exterior IMSS - Instituto Mexicano de Seguro Social INFONAVIT - Instituto do Fundo Nacional da Vivencia para os Trabalhadores CONACYT - Conselho Nacional de Ciencia e Tecnologia COMCE - Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior OIT - Organização Internacional do Trabalho APEC - Cooperação Econômica Asia - Pacífico CONSAR - Comissão Nacional de Sistema de Poupança para Aposentadoria COFEMER - Comissão Nacional de Melhora Regulatória FONACOT - Fundo e Garantia para o Consumo dos Trabalhadores CONALEP - Colégio Nacional de Educação Técnica CFE - Comissão Federal de Eletricidade CNBV - Comissão Nacional Bancária e de Valores NAFINSA - Nacional Financeira (Banco de Desenvolvimento) COMISSÃO NACIONAL DE NORMALIZAÇÃO A Confederação dedica interesse especial ao Comércio Exterior. O setor de exportação é bem mais concentrado que o setor que produz para o mercado doméstico. O conflito entre ambos se intensificou com a liberalização da política econômica depois de 1982, amplamente determinada pelas demandas do setor politicamente influente dos produtores com vínculos comerciais e financeiros em mercados estrangeiros. (QUIROGA, 2001) Enquanto nos anos de 1917 e 1918 houve intenso contato entre empresários e governo, em 1920 as Confederações e Câmaras perderam força, a filiação tornou-se voluntária e as duas organizações, do comércio e da indústria, tornaram-se fracas e pobres. Em 1936 a Lei das Câmaras do Comércio e Indústria fundiu indústria e comércio na primeira ampla associação nacional. Os anos de 1930 são de grandes mudanças econômicas e políticas no México e o governo Cárdenas precisava garantir apoio político; para isso reorganizou toda a representação corporativa (SCHNEIDER, 2004). 68 CANACINTRA90 – CÂMARA NACIONAL DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO A nova legislação de 1941 sobre as Câmaras do presidente Manuel Ávila Camacho, criou essa câmara especial para as indústrias de transformação, como parte da estratégia governamental para garantir apoio à industrialização por substituição de importações. A CANACINTRA foi a maior organização a endossar integralmente a intervenção estatal inclusive sobre o capital estrangeiro e apoiava aumentos de salários, a seguridade social e a reforma agrária.Nos anos 60 outros líderes empresariais se referiam aos membros da CANACINTRA como “empresários marxistas” (SCHNEIDER, 2004, p. 64). É definida como instituição de interesse público, autônoma, não lucrativa, e com personalidade jurídica própria integrada por empresários industriais de todo o México. Julgam-se a maior e mais importante organização da indústria no México. Em 1965, o presidente Gustavo Díaz Ordaz implantou uma nova sede nacional para a instituição inaugurando uma nova etapa para o setor empresário. Desde então a CANACINTRA facilita o desenvolvimento da indústria nacional na interlocução com os governos federal, estadual e municipal, assim como com o Poder Legislativo ao estabelecer posturas a favor das empresas. Realiza ações diante de organismos públicos e privados, nacionais e internacionais, a fim de viabilizar os projetos e necessidades de seus afiliados. Conta com uma infra-estrutura de 80 delegações no país, divididas em nove regiões, cinco oficinas na Cidade do México, uma sede nacional, representada por 12 setores industriais e 94 ramos especializados. Conta também com 96 comissões integradas em 10 comitês diretivos, encarregados de representar os interesses das indústrias afiliadas frente ao governo, ao setor educativo, ao setor científico e tecnológico e em certas áreas de interesse. A CANACINTRA dispõe de significativa relação de convênios com variados organismos do governo91. 90 MEXICO-CANACINTRA. “Bienvenidos a Canacintra”. Disponível em http://www.canacintra.org.mx/. Acesso em 29 de junho de 2009. 91 MÉXICO-CANACINTRA. “Rede de Convênios vigentes celebrados por La Cámara Nacional de La Industria de Transformación y las siguientes dependencias...”. Disponível em: http://www.canacintra.org.mx/juridico/CONVENIOS.pdf. Acesso em 29 de junho de 2009. 69 COPARMEX92 – CONFEDERAÇÃO PATRONAL DA REPÚBLICA MEXICANA Fundada em 1929 à margem da estrutura corporativa, a COPARMEX é um sindicato patronal de afiliação voluntária que aglutina empresários de todos os setores. A reforma de Cárdenas acima mencionada tinha como um de seus objetivos neutralizar e enfraquecer esses empresários antagonistas, no que teve sucesso. O trabalho da COPARMEX acabou influenciando a adoção, por parte do governo, de políticas mais de acordo com o pensamento empresarial e tem possibilitado a criação de outras organizações como, por exemplo: CNA- Conselho Nacional Agropecuário, IPEInstituo de Proposições Estratégicas, CESE- Comissão de Educação do setor Empresarial, CEIDI Conselho Empresarial de Investimento e Desenvolvimento do Suleste, FUNDES- Fundação para o Desenvolvimento sustentável no México e DESEM- Desenvolvimento Empresarial Mexicano. COMCE93 – CONSELHO NACIONAL MEXICANO DE COMÉRCIO EXTERIOR Surgiu na década de 1960 com o nome de Conselho Mexicano de Assuntos Internacionais; só adquiriu o nome atual em 1999. Os objetivos principais do conselho são: representar o setor privado nos temas de Comércio Internacional, promover o comércio internacional e a inversão estrangeira direta, promover a transferência de tecnologia, gerar negócios entre seus associados e dar atenção especial às PYMES – Pequenas e Médias Empresas. O COMCE representa seus associados nos organismos de cúpula que se encarregam de proporcionar vantagens às empresas através da legislação e acordos frente às autoridades federais, Poder Legislativo, Autoridade Aduaneira através do Comitê de Operação Aduaneira e à Nacional Financeira (NAFINSA). 92 MÉXICO- COPARMEX. “Nosotros”. Disponível em: http://www.coparmex.org.mx/index.php. Acesso em: 29 de junho de 2009. 93 MÉXICO-COMCE. Disponível em: http://www.comce.org.mx/. Acesso em: 29 de junho de 2009 70 CMHN – CONSELHO MEXICANO DE HOMENS DE NEGÓCIO Em 1962 um pequeno grupo de empresários dos grandes negócios fundou o CMHN. Foi o primeiro grupo a dar suporte a outras organizações, principalmente a CCE (Conselho Coordenador Empresarial). Desde o início, os fundadores queriam mantê-lo pequeno por isso criaram restrições aos que almejavam fazer parte do grupo. O CMHN tem um presidente, grupos de trabalho, um secretário/tesoureiro, mas não possui escritórios, espaços de trabalho, publicações, nem orçamento. De acordo com um dos membros fundadores “não é secreto, mas sim discreto” (SCHNEIDER, 2004, P.77). A proximidade com o Estado se dá, desde a década de 1970, através de almoços mensais com o pessoal do governo (principalmente com membros do gabinete responsáveis pela política econômica) e em um almoço anual com o presidente do México. No final da década de 1970, o CMHN ganhou direito de voto no CCE e a partir da década de 1980 ganhou quota em outras associações de negócio. É fundamental não esquecer que o CMHN gerou vários dos presidentes do CCE e a maioria dos fundos da instituição. Desde a década de 1980 uma próxima cooperação e comunicação entre governo e CMHN mantêm o grande valor da instituição. CCE 94– CONSELHO COORDENADOR EMPRESARIAL É uma associação privada, mas desde o começo recebeu apoio governamental do presidente em exercício na época de sua fundação em 1976, Luis Echeverría (19701976)). Após três décadas, o CCE se mantém como interlocutor e representante legítimo do empresariado mexicano. Segundo o próprio site do Conselho um dos objetivos do CCE é proporcionar o diálogo direto com o governo, questionando e expressando oficialmente as inquietudes e urgências do setor diante do Executivo, do Congresso e dos meios de comunicação .Os processos de negociação são feitos a nível federal, estadual e municipal. A estrutura do órgão: direção geral, direção administrativa e de finanças, direção de comunicação e técnica, Unidade de Enlace Legislativo, Centro de Estudos do Setor Privado, Comissão de Estudos do Setor Privado para Desenvolvimento Sustentável. 94 MÉXICO – CCE. Disponível em: http://www.cce.org.mx/. Acesso em: 29 de junho de 2009. 71 Para nossa pesquisa o ponto fundamental do conselho é o Enlace Legislativo95. Os objetivos principais desse enlace são: primeiro, garantir a presença institucional do setor privado no âmbito do Congresso. Segundo, facilitar o acesso e apoiar os dirigentes e representantes dos organismos que integram o CCE nos espaços parlamentares. Em terceiro lugar, assessorar as instituições do setor privado para o desenvolvimento de estratégias e táticas que lhes permitam defender seus interesses diante do Poder Legislativo. E por último, manter informados os integrantes do CCE sobre o trabalho legislativo e os temas que invocam. As funções que se destacam: prever com antecipação os temas das agendas legislativas; monitorar permanentemente o desenvolvimento do trabalho legislativo e o ambiente político e “gerar” valor aos legisladores ao facilitarem o acesso e a proximidade com os organismos e com as representações do setor privado. Os associados são: CONCAMIN, CONCANACO, COPARMEX, Associações de Bancos do México (ABM), Conselho Mexicano de Homens de Negócio (CMHN), Associação Mexicana de Instituições de Seguro (AMIS) e Conselho Nacional Agropecuário (CNA).Os convidados permanentes são: Câmara Nacional de Comércio da Cidade do México (CANACO), CANACINTRA, Associação Mexicana de Intermediários “Bursátiles” (AMIB), Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (COMCE), Associação Nacional de Lojas de Auto-serviço e Departamentais (ANTAD). A maior força por trás do CCE é sem dúvida nenhuma o CMHN, pois além dos vários presidentes desta instituição serem também presidentes do CCE ao longo dos anos, a maior parte dos fundos do conselho é proveniente do CMHN. Quando o governo mexicano anunciou o NAFTA, o CCE criou o COECECoordenadora Empresarial de Comércio Exterior, que mantinha um contato muito próximo com as negociações governamentais. A relação entre as associações se estabelece da forma descrita pala figura abaixo. 95 MÉXICO – CCE. “Enlace Legislativo”.Disponível em: http://www.cce.org.mx/enlace/Pages/enlace.aspx. Acesso em: 29 de junho de 2009. 72 Figura 16– Articulação entre entidades empresariais no México CONCAMIN - Confederação das Câmaras Industriais dos Estados Unidos Mexicanos CONCANACO - Confederação de Câmaras Nacionais de Comércio, Serviço e Turismo CANACINTRA - Câmara Nacional da Indústria de Transformação COMCE - Conselho Nacional Mexicano de Comércio Exterior COPARMEX - Confederação Patronal da República Mexicana CMHN - Conselho Mexicano de Homens de Negócio CCE - Conselho Coordenador Empresarial Ao longo do século passado as relações corporativistas vindas desde a década de 30 foram perdendo a força. O ano de 1997 é o divisor de águas do Estado corporativista mexicano, pela mudança na “Lei das Câmaras”, que torna o pertencimento às associações voluntário, diversamente da lei de 1941 que previa sua obrigatoriedade. Além disso a nova lei torna as associações órgãos de consulta e colaboração do Estado para executarem políticas, programas e instrumentos que facilitem a expansão da atividade econômica. A centralidade do Conselho Coordenador Empresarial ilustra bem a presença dos interesses empresariais junto ao Estado; esta instituição aglutinou e modernizou o cenário de negociações dos diversos setores com o governo. 73 Com a eleição de Vicente Fox dois novos caminhos de participação se abriram aos grandes negócios: o financiamento da campanha dos candidatos presidenciais por empresários; a maior influência dos homens de negócio nas decisões governamentais. Há também o relacionamento informal através dos almoços e jantares entre representantes do governo e das associações de negócio. Esse fato é comprovado através das consultas realizadas no site da presidência96, onde estão relacionados almoços, reuniões e encontros do próprio presidente e de secretários com o setor empresarial. 8) Brasil 8.1) Governo Desde 1998, o Brasil conheceu dois presidentes diferentes. ( ver quadro e figura abaixo). Entre 1998 e 2002 ocupou a presidência da República Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, liderando uma ampla aliança que tinha no antigo Partido da Frente Liberal seu principal parceiro. Tal composição assegurava o controle do Congresso e do Executivo por forças políticas afinadas com a agenda de reformas pró-mercado desencadeadas em diversos países da periferia durante a década de 1990. Em seu segundo mandato, contudo, Cardoso afastou-se da rígida adoção das prescrições das agências multilaterais e sinalizou para a retomada de um papel mais ativo do Estado na promoção do desenvolvimento (DELGADO, 2005) Tal mudança de perspectiva não impediu que a coalizão liderada por seu partido fosse derrotada nas eleições presidenciais de 2002, que levou à presidência Luis Inácio Lula da Silva, do PT, também numa ampla coalizão. Por conta disto, o governo Lula, a par de desencadear diversas iniciativas de política industrial, de tomar medidas de recomposição da máquina burocrática do Estado brasileiro, de promover diversas ações redistributivas na política social e de reduzir o ritmo das reformas pró-mercado, manteve as linhas gerais da política macro-econômica ortodoxa de seu antecessor (DELGADO, 2005) A constituição de governos marcados pela presença de coalizões heterogêneas é, em boa medida, um efeito do sistema político brasileiro. O país é uma república federativa, composta por 26 estados. O executivo, presidencialista, é eleito pelo voto majoritário dos eleitores habilitados. O parlamento, bicameral, é composto de 513 96 MÉXICO – PRESIDÊNCIA. Disponível em: http://www.presidencia.gob.mx/. Acesso em: 01 de julho de 2009. 74 deputados e 81 senadores. Os primeiros são eleitos pelo voto proporcional em listas nominais. Os senadores, por seu turno, representam os estados, em número de três por estado. O sistema de listas nominais tem sido apontado como um dos elementos que favorecem o relativo amorfismo da representação política brasileira, ao lado de dispositivos frouxos de fidelidade partidária e das formas existentes de financiamento das campanhas, não obstante a relativa consolidação dos principais partidos (SAMUELS, 199; NICOLAU, 1996).. Nestas circunstâncias, o sucesso eleitoral é frequentemente associado à orquestração de alianças políticas heterogêneas, ao passo que o exercício do governo exige a negociação permanente com grupos de deputados e não necessariamente partidos. O sistema político brasileiro tem sido caracterizado pela combinação de um presidencialismo imperial com diversos elementos consociativos no processo legislativo (SANTOS, 199 e 2003). De um lado, é expressivo o poder de agenda do presidente da República, que dispõe de instrumentos como as medidas provisórias, com as quais acelera a tramitação de matérias de seu interesse, embora, formalmente, tenham alcance limitado, com variados pontos de veto no sistema decisório. Por outro lado, o sistema bicameral torna tortuosa a tramitação de iniciativas legislativas, ao que se associa a presença de comissões variadas no congresso e o poder que ainda dispõem os governadores de estado sobre as bancadas estaduais. A estrutura do executivo brasileiro é bastante fluída e complexa. A cada governo pode ser alterada a composição dos ministérios, dirigidos por titulares indicados pelo presidente da República, sem apreciação pelo parlamento, com poucas exceções. Em seu conjunto, o Executivo Federal dispõe de diversas secretarias especiais, conselhos, agências reguladoras, bancos, empresas públicas, institutos e fundações, instituições de ensino médio de orientação tecnológica e agrícola, instituições de ensino superior, dentre outros organismos97. No quadro abaixo destacamos alguns destes organismos que, direta ou indiretamente, afetam as políticas industriais e tecnológicas. Nas duas versões de política industrial conduzida pelo governo Lula esta é atribuída a uma articulação complexa entre diversos organismos. Todavia, sua condução mais efetiva está a cargo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior98. Papel 97 BRASIL – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Disponível em http://www.brasil.gov.br/governo_federal/estrutura/presidencia/. Acesso em 10/09/2009. 98 Os organismos que subscrevem as Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, de 2004, são a Casa Civil da Presidência da República, MDIC, MF, MCT, MP, IPEA, BNDES, FINEP e APEX Brasil. Já a Política de Desenvolvimento Produtivo, de 2008, indica a importância de diversos organismos nos 75 central na política de desenvolvimento tecnológico é, ainda, cumprido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. À frente apresentamos os organogramas dos dois ministérios. arranjos constituídos para sua implementação, sendo subscrita pela ABDI, MDICE, BNDES e Ministério da Fazenda. 76 Presidência da República Secretaria Especial de Portos Bancos Banco Central do Brasil Banco da Amazônia Banco do Brasil Banco do Estado de Santa Catarina Banco do Estado do Maranhão Banco do Estado do Piauí Banco do Nordeste do Brasil Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Caixa Econômica Federal Quadro 14 - Governo Federal no Brasil - alguns organismos relacionados às políticas industrial e de inovação Ministérios Conselhos Agências Conselho Administrativo de Defesa Econômica Cidades Agência de Desenvolvimento da Amazônia (Cade) Ciência e Tecnologia Agência de Desenvolvimento do Nordeste Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Comunicações Agência Espacial Brasileira Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Defesa Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Trabalhador (Codefat) Desenvolvimento, Indústria e Comércio Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Conselho Monetário Nacional Agência Nacional de Transportes Aquaviários Exterior Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia Agência Nacional de Transportes Terrestres Educação Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Fazenda Tecnológico (CNPq) Agência Nacional de Águas (Ana) Integração Nacional Meio Ambiente Conselho Nacional de Metrologia, Normatização e Agência Nacional do Petróleo (ANP) Minas e Energia Qualidade Industrial (Conmetro) Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Planejamento, Orçamento e Gestão Conselho Nacional de Política Energética (ABDI) Previdência Social Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial Trabalho e Emprego . Transportes Turismo Empresas Públicas Instituições de Ensino Fundações, Institutos e Comissões Especiais Ensino Médio Tecnológico Escolas Agrícolas Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras) Faculdades e Universidades Federais Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Empresa Brasileira de Infra-estrutura Pessoal de Nível Superior (Capes) Aeroportuária (Infraero) Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Empresa Bras. de Pesquisa Agropecuária Estatística (IBGE) (Embrapa) Empresa Brasileira de Planejamento de Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Transportes (Geipot) Aplicada (Ipea) Empresa de Pesquisa Energética de Saúde (Funasa) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) Tecnologia (Ibict) Indústrias Nucleares do Brasil Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Petrobras - Petróleo Brasileiro Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) Telebrás - Telecomunicações Brasileiras Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Instituto Nacional de Meteorologia São Francisco e do Parnaíba Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Companhia de Geração Térmica de Energia Instituto Nacional de Tecn. da Informação (ITI) Elétrica Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) Companhia de Navegação do São Francisco Comissão de Valores Mobiliários (Franave) Comissão Nacional de Energia Nuclear Companhia de Pesq. de Recursos Minerais Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CPRM) Quadro 15 – Governos do Brasil (1998-2008) Período Presidente 1995-1998 1999-2002 2003-2006 Primeiro mandato Segundo de Fernando mandato Fernando Henrique Cardoso Henrique Cardoso da Silva Lula da Silva PSDB PSDB PT PT Partido Primeiro mandato 2007-2010 Segundo mandato de Luis Inácio Lula de Luis Inácio Fonte: elaboração própria. Figura 17- Brasil – Governos Brasileiros (1998-2009) Eleição de Fernando Henrique Cardoso pela coalizão liderada pelo PSDB e o PFL. O mandato é iniciado no ano seguinte. 1994 1995 1996 Eleição de Luis Inácio Lula da Silva em coalizão liderada pelo PT. 1999 1997 2000 1998 Reeleição de Fernando Henrique Cardoso, que se mantém no poder até a posse de Lula em janeiro de 2003 2002 2001 2004 2003 2008 2005 2006 2007 Reeleição de Luis Inácio Lula da Silva. 2009 Figura 18- Brasil – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior 79 Figura 19 – Brasil – Ministério de Ciência e Tecnologia No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, merece destaque o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, talvez o mais importante instrumento de política industrial do governo brasileiro. Fundado em 1952, seu objetivo expresso é o financiamento de longo prazo do desenvolvimento de setores básicos da economia brasileira99 (BRASIL – MDICE). O Banco apresenta programas para projetos de investimentos, aquisições de equipamentos, exportações de bens e serviços, mas também se preocupa em financiar pequenas e médias empresas. No atual governo, organismo de relevo é a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, vinculada ao MDICE100 (BRASIL-ABDI). Criada em 2004, a ABDI tem como “objetivo principal promover a execução da Política Industrial brasileira, coordenando a execução das atividades previstas para esta”, além de promover análises com o fito de “oferecer diagnósticos e soluções para os problemas que o país possa enfrentar no desenvolvimento industrial”. No âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia, dois organismos merecem destaque: o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 99 BRASIL – MDICE “BNDES – O Banco Nacional do Desenvolvimento”. Disponível em <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/A_Empresa/. Acesso em 10/08/2009. 100 BRASIL – ABDI “Quem somos”. Disponível em <http://www.abdi.com.br>. Acesso em 10/08/2009. 80 Tecnológico e a FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos101. Criado por Getúlio Vargas em 1951, o CNPq tem por objetivo o “financiamento e incentivo à pesquisa científica e tecnológica, de forma a formar recursos humanos para a pesquisa científica no Brasil” (BRASIL-CNPQ). A FINEP foi criada em 1967 com “o intuito de financiar a inovação e a pesquisa científica em empresas, universidades, centros de pesquisa e quaisquer instituições públicas ou privadas deste cariz”, com o objetivo de “aumentar a capacidade competitiva do setor empresarial no mercado” (BRASIL-MCT). 8.2) Padrões de articulação de interesses do empresariado industrial. A estrutura de representação de interesses do empresariado industrial brasileiro é, ainda, fortemente marcada pela presença do formato corporativo, estabelecido pelo Estado ao logo da década de 1930 do século passado. Neste formato, a organização empresarial dispõe de uma estrutura piramidal, que tem como base os sindicatos por ramo de atividade, quase sempre de base municipal, as federações industriais estaduais e a Confederação Nacional da Indústria. Todos estes organismos são financiados por recursos obtidos junto ao Estado, que cobra das empresas uma contribuição compulsória, em parte repassada às entidades, eximidas da exigência, pois de criar em seus membros a disposição para pagar, o que, no limite, pode ensejar relações de lealdade pouco efetivas entre seus componentes (OFFE & WISENTHAL, 1984). Além disto, como no interior das entidades prevalece o voto unitário - dos sindicatos nas federações e das federações no âmbito da CNI -, com freqüência as entidades são controladas por segmentos com reduzida densidade econômica, o que afeta, eventualmente, sua capacidade de representar o conjunto do setor industrial, ensejando o fenômeno do peleguismo dourado (DELGADO, 1997). Por fim, uma vez que as entidades gerais não têm a incumbência de representar o setor em processos de barganha salarial e só conduzem atividades de qualificação indiretamente, através de agências semi-públicas também custeadas com recursos compulsoriamente obtidos pelo Estado, não dispõem de poder de sanção relevante para orquestrar ações de colaboração do empresariado para objetivos coletivos, quando envolvem custos. Importa, ainda, assinalar que a imposição do formato corporativo teve impactos diversos entre os trabalhadores e os empresários. Enquanto os primeiros tiveram sua 101 Conferir BRASIL – CNPQ. “O CNPQ”. Disponível em <http://www.cnpq.br>. Acesso em 10/09/2009 e BRASIL – MCT ‘FINEP” Disponível em <http://www.finep.gov.br/o_que_e_a_finep/formas_atuacao.asp?codSessaoOqueeFINEP=3 >. Acesso em 10/09/2009. 81 organização totalmente circunscrita, até 1988, à estrutura corporativa, os empresários mantiveram suas antigas associações, os centros industriais, que funcionam ao lado das entidades oficiais. Tais associações são frequentemente usadas como um recurso de poder contra eventuais interferências do Estado na vida associativa dos empresários e loci para a definição de posturas mais autônomas diante daquele. Desde seu nascedouro, portanto, o corporativismo brasileiro configurou-se num padrão bipartite e setorial, uma vez que as entidades de trabalhadores não dispunham da possibilidade de contornar os limites da estrutura corporativa, franqueada ao empresariado, e raramente eram chamadas a participar dos fóruns, na maior parte dos casos setoriais, que o Estado constituía para a formulação das políticas de desenvolvimento (BOSCHI & DINIZ, 1991). A importância das entidades corporativas para o empresariado aparece na enunciação de uma opinião indústria na cena política, na defesa de interesses gerais junto aos governos e no apoio a políticas de fomento à expansão industrial. Ademais, os vultosos recursos de que dispõem permitem-lhes fornecer diferenciados serviços, especialmente pesquisas e estudos, que têm utilidade para os empresários. Todavia, os limites presentes nos seus elos com os setores industriais mais relevantes vão tornar-se evidentes à medida que se aprofunda o processo de diferenciação horizontal e vertical da estrutura produtiva brasileira. Na década de 1950 começam a surgir as entidades paralelas da indústria, via de regra de caráter nacional, representando setores de atividades inteiros, configurando o que Renato Boschi e Eli Diniz definiram como o modelo dual de representação de interesses do empresariado brasileiro (BOSCHI & DINIZ, 1979). É o caso da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria de Base (ABDIB), da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), dentre outras. Entre tais entidades e os organismos corporativos vai prevalecer uma espécie de divisão de trabalho, com as primeiras representando os setores industriais na defesa de seus interesses mais específicos e no apoio a dimensões variadas dos negócios, ao passo que as entidades corporativas servem à enunciação de proposições de caráter macro e, em certa medida, no acompanhamento das entidades paralelas em suas tratativas junto aos governos. Nas duas últimas décadas do século passado o empresariado brasileiro conheceu significativa diversificação de sua estrutura de representação de interesses, assinalando a passagem de um modelo dual para um arranjo tendencialmente pluralista, embora seja 82 importante enfatizar que as entidades corporativas permaneçam dispondo de um caráter público mais pronunciado que as demais. No limite, a emergência de novos atores e o reconhecimento dos dilemas de sociais vividos pela sociedade brasileira submete o empresariado a interpelações diversas, que exigem respostas e o exercício de papéis ausentes ou mitigados durante o ciclo desenvolvimentista, no qual o exercício da função empresarial parecia legitimar-se exclusivamente por sua conexão com o processo de implantação da economia industrial. Assim, organizações como o PNABE revelam a presença de percepções diversas no meio empresarial quanto à forma de lidar com os conflitos relativos ao mundo do trabalho, numa postura crítica à rigidez da postura das entidades corporativas (GOMES, 2002). O Instituto Liberal e o IEDI, por seu turno revelam reações diferenciadas diante da agenda neoliberal, o primeiro reforçando seus aspectos básicos, o segundo operando como um órgão que resiste à anatemização da idéia de política industrial (DINIZ e BOSCHI, 1993; SCHNEIDER, 1997-1998). Nos anos 1990, entidades como o Instituto Ethos promovem a idéia de responsabilidade social da empresa, perspectiva que tem sido vista por alguns como orientada para o reforço das concepções neoliberais de retirada do Estado de determinadas políticas sociais e, por outros, como um esforço de legitimação da função empresarial, num cenário em que avultam as demandas redistributivas (GOMES e DELGADO, 2004). Articulações como a Ação Empresarial indicam o empenho para a intervenção em arenas como o Parlamento, enquanto que o aparecimento da PROTEC revela a sensibilidade, ainda que tênue, para temas como a inovação tecnológica (DELGADO, 2001 e 2005). Cumpre registrar, por fim, o empenho das entidades corporativas para adaptação às arenas de intermediação de interesses que ganham relevo desde 1980, como é o caso do Parlamento, além das iniciativas desenvolvidas para adensar sua representatividade. Assim é com a CNI, que criou a COAL para acompanhamento das deliberações de interesse da indústria no Congresso, além de instituir o Fórum Nacional da Indústria, agrupando as entidades paralelas. (MANCUSO, 2004; DINIZ e BOSCHI, 2001; DELGADO, 2005). Esta última iniciativa dispõe de grande relevância pois representa um esforço de contornar os limites do formato corporativo sem romper com ele. A incorporação das entidades paralelas a um conselho interno da CNI dota a entidade de condições para representar mais efetivamente os diferentes setores industriais, que estariam diluídos nas federações estaduais, caso prevalecessem apenas estas nas instâncias representativas da entidade. Resta saber, contudo, se esta medida eleva a 83 capacidade para obter a colaboração ativa do empresariado, na ausência de um papel mais relevante da CNI em dimensões como os processos de barganha salarial e qualificação. Formas diversas de colaboração entre o Estado e o empresariado acompanharam a formação de uma economia industrial moderna no Brasil, até os anos 1980, envolvendo o Estado e o empresariado em fóruns diversos de intermediação de interesses, notadamente setoriais, sem a presença de atores como os trabalhadores assalariados, num ambiente de modernização incompleta da poder público. Desta forma, os titulares do poder de Estado são levados à criação de agências insuladas em meio a um aparato administrativo heterogêneo e desequilibrado. (BOSCHI, 1991; NUNES, 1997). Preservado o formato corporativo setorial e bipartite, o processo de colaboração entre o empresariado e o Estado conheceu. Assim, de 1930 a meados da década de 1950, não obstante o predomínio de múltiplos organismos de intermediação setorial do Estado com o empresariado, este se faz representar fundamentalmente pela CNI, cujos dirigentes ocupam posições de assessoria no Executivo e em conselhos de perfil mais abrangente (LEOPOLDI, 2000). Nos anos 1950, a diversificação da estrutura de representação dos interesses empresariais, com o advento das entidades paralelas, favorece uma crescente fragmentação na articulação com o Estado. Sob o regime militar, assiste-se a momentos de maior (Médici, por exemplo) ou menor (Geisel) aproximação entre o empresariado e o Estado, cujas agências aprofundam sua insularidade. Reduz-se o peso das associações empresariais e prevalecem os mecanismos descritos por Fernando Henrique Cardoso como anéis burocráticos, envolvendo grandes grupos empresariais e determinadas agências públicas (CARDOSO, 1975). Nos anos 1980, o Brasil conhece uma crise de refundação (DINIZ, 1997). Há um relativo consenso quanto ao esgotamento da industrialização substitutiva, acompanhado da explosão de demandas redistributivas. Temas como a reforma do Estado e o diagnóstico do caráter concentracionista do desenvolvimento industrial brasileiro ganham o proscênio. Perde legitimidade a perspectiva que atribuía ao desenvolvimento industrial, per si, papel exclusivo na edificação de uma sociedade de massas moderna, bem como parece esgotada a capacidade de o Estado induzi-lo, dados os constrangimentos fiscais decorrentes do endividamento externo e interno. O cenário de crise induz a respostas de curto prazo, tornando pouco efetivos os canais de intermediação de interesses corporativos, que subsistem ao processo de transição em 84 curso. Não há, por seu turno, consenso quanto à agenda de reformas a efetuar. Nesse quadro, as formulações neoliberais ganham peso por apresentarem um elenco de medidas sistemático, que aponta para a abertura econômica, a desregulamentação e a redução do Estado. A agenda alternativa, representada pelas proposições emanadas dos movimentos sociais e da esquerda, ainda que inovasse na proposição de políticas sociais universalistas e na desprivatização do Estado, ecoa passadista, por não definir com clareza o papel a ser cumprido pelo Estado num novo ciclo de desenvolvimento. A situação política bonapartista gerada com o risco da eleição de Lula em 1989 resolve-se com a ascensão de Collor, que dá início à implementação da agenda neoliberal no Brasil, favorecida pelo recuo desorganizado do empresariado, dada a ausência de alternativas com densidade na cena política (DELGADO, 2001). O Estado recolhe-se crescentemente ao papel de intermediação do sistema financeiro e a idéia de política industrial é anatemizada, com impactos sobre os mecanismos corporativos de intermediação de interesses, progressivamente dissolvidos, ainda que não sem atropelos. É o que revela a efêmera presença das câmaras setoriais, percebidas por alguns como potencialmente geradoras de uma nova modalidade corporativa, agora tripartite ou mesmo quadripartite. (DINIZ, 1997). O primeiro governo Fernando Henrique Cardoso se instala com o propósito de encerrar definitivamente o ciclo aberto em 1930. O esvaziamento dos canais de intermediação corporativos realça o peso de outras arenas, como o Parlamento e as agências reguladoras, que se instituem por força do processo de privatização de diversas empresas ligadas à oferta de serviços públicos, com impactos na estrutura de representação de interesses do empresariado. No segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, entretanto, dilui-se, como já apontamos, a rigidez da perspectiva de retirada do estado para promoção do desenvolvimento. A expectativa de que a estabilidade econômica provocasse um fluxo de capitais externos orientados para o investimento não se efetivou, nem tampouco a perspectiva que imaginava ser a simples operação das empresas brasileiras num ambiente mais competitivo suficiente para induzi-las à inovação tecnológica. O esboço de constituição de novos arranjos corporativos aparece na criação dos Fóruns de Competitividade, reunindo o Estado, empresários e trabalhadores das cadeias produtivas para definição de proposições que acentuassem a competitividade das empresas. Por fim, no governo Lula anuncia-se a perspectiva de uma articulação mais abrangente entre Estado, o empresariado e outros atores sociais, rompendo com o 85 caráter bipartite das formas corporativas de intermediação de interesses para a política industrial (DELGADO, 2005). A medida mais significativa nesta direção é a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), que é definido como um “órgão consultivo para as diretrizes do desenvolvimento industrial”, reunindo treze ministros e o presidente do BNDES, além de quatorze representantes da sociedade civil. Para implementação de suas iniciativas é criada a ABDI, definido como um “órgão de execução e articulação das ações da política industrial”, reunindo oito representantes do Poder Executivo(MDIC, MCT, MF, MPOG, Casa Civil, BNDES e IPEA) e sete da sociedade civil (CNI, APEX-Brasil, CBC, SEBRAE, CUT, IEDI e ANPROTEC). 9) Considerações Finais Neste produto buscamos indicar as características gerais do sistema político dos países selecionados, bem como as formas predominantes de articulação de interesses do empresariado industrial. A partir desta análise não é possível, ainda, avaliar quais são os mecanismos mais eficazes para, por um lado, decantar dos interesses empresariais um compromisso geral com o desenvolvimento industrial e tecnológico e, por outro, assegurar que dos acertos firmados nos fóruns de intermediação de interesses sejam definidas metas e objetivos capazes de induzir os empresários a decisões de investimento capazes de dar materialidade às proposições de política industrial e de inovação. Em certa medida, os próximos produtos a serem apresentados neste projeto deverão permitir uma aproximação crescente a esta avaliação, uma vez que vão indicar o conteúdo das políticas industriais, gerais e setoriais, em cada país selecionado, bem como, em parte, seus resultados. Dos casos analisados, contudo, é possível identificar algumas características gerais. Estados Unidos e Alemanha confirmam o que deles descreve a literatura sobre as variedades de capitalismo. No primeiro, a presença de um sistema político em que pontifica razoável equilíbrio entre o executivo e o legislativo encontra-se associada à existência de uma estrutura de representação de interesses empresariais pulverizada, que conecta-se ao Estado por via do mecanismo do lobby, ensejando poucas oportunidades a estratégias de concertação. Neste sentido, os EUA estariam próximos daquela configuração marcada pela passividade do Estado face aos interesses privados que é enfatizada pelos críticos do pluralismo. Todavia, há um importante fator a contrabalançar esta característica que é, de fato, a presença de um interesse nacional 86 solidamente firmado no país, vinculado à sua condição de potência hegemônica. Assim, se nos EUA têm pouca efetividade planos abrangentes, permanece importante a capacidade de indução do Estado, especialmente através de mecanismos como as compras governamentais, como vimos no Produto 2 deste projeto, que afetam principalmente, mas não só, o setor industrial ligado ao complexo militar. Na Alemanha, as características consociais do sistema político combinam-se à presença de formas abrangentes e inclusivas de articulação de interesses do empresariado e a uma grande multiplicidade de canais de intermediação com o Estado, que têm nos conselhos presentes nos principais ministérios seu mecanismo mais relevante. Em certa medida, estes elementos favorecem a orquestração de coalizões abrangentes e processos mais consistentes de colaboração do Estado com o empresariado. Todavia, podem levar a uma redução da capacidade de produzir respostas rápidas por parte do primeiro, especialmente em situações de crise. A Espanha parece representar um caso em que a presença de padrões consociativos no sistema político e de organizações empresariais abrangentes favorece a concertação entre os diferentes atores sociais. Todavia, a presença expressiva do capital estrangeiro no país e a participação relativamente pequena da indústria entre os principais ramos empresariais podem tornar pouco efetiva a concertação para objetivos de política industrial. Não encontramos, por seu turno, uma variedade expressiva de fóruns para definição de políticas, incrustados nos aparatos do executivo, ao contrário da Alemanha, o que pode reduzir a operação cotidiana dos processos de concertação. Tal como a Alemanha, o Estado espanhol desenvolve suas ações com limitações derivadas da estrutura federativa do país e de sua inserção numa unidade mais abrangente, a União Européia. Todavia, na Alemanha a presença de um interesse nacional associado à indústria tende a dispor de mais relevância, dado o peso da indústria e das empresas alemãs na estrutura produtiva do país. A Coréia é, definitivamente, um caso especial. Dotada de um executivo forte e de organizações empresariais lideradas pelos principais grupos industriais, o país tem revelado uma grande capacidade de estabelecer metas e objetivos em suas políticas, bem como de responder com agilidade aos desafios que as situações de crise lhe impõem. Contudo, tal colaboração é fortemente impositiva, mesmo sobre os grandes conglomerados, além de deixar à margem diversos setores. Por fim, Argentina, México e Brasil apresentam modalidades diversas de transição de estruturas originalmente corporativas para formatos pluralistas. Em todos 87 os casos, prevalece um poder executivo dotado de grande poder de agenda, mas o Estado tem se revelado cada vez mais poroso a interesses empresariais imediatos, pela acentuação de mecanismos como o lobby, o que reduz sua capacidade de firmar ações de longo prazo. Evidentemente que esta capacidade é variada, menor na Argentina e no México e mais expressiva no Brasil, por força da preservação de instrumentos importantes de indução pública dos investimentos privados como o BNDES. A capacidade de o Estado orquestrar processos de colaboração consistentes com o empresariado tende a permanecer limitada por força da estrutura de representação de interesses deste último. Na Argentina esta tende a uma fragmentação crescente e à afirmação expressiva dos interesses das empresas estrangeiras. No Brasil, apesar da capacidade revelada pela estrutura corporativa para adaptar-se à emergência de um cenário marcado pela emergência de novas associações empresariais, a primeira permanece com reduzido poder de sanção para assegurar a lealdade de seus membros a esforços de cooperação para os objetivos de política industrial. Por fim, no México, apesar da criação de mecanismos de coordenação entre as entidades empresariais, o peso das empresas estrangeiras e a opção pelo NAFTA têm reduzido a capacidade de definição de um interesse nacional autônomo. 10) Referências • • • • • • • • ALEMANHA - Die Bundesregierung . Cabinet. Disponível em http://www.bundesregierung.de/Content/EN/__Anlagen/druckversion-bundeskabinettenglisch,property=publicationFile.pdf. The Press and Information Office of the Federal Government, 2009. Acesso em 30/08/2009. ALEMANHA. Bundespraesident. The german federal presidents. Disponível em http://www.bundespraesident.de/en/-,12100/The-German-Federal-Presidents.htm. 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