o multiculturalismo nas aulas de educação física em educação
Transcrição
o multiculturalismo nas aulas de educação física em educação
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA O MULTICULTURALISMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO DE CASO MARIA SÍLVIA GALDINO DE MORAIS Monografia de Especialização PORTO VELHO 2008 ii O MULTICULTURALISMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO DE CASO MARIA SÍLVIA GALDINO DE MORAIS (Autora) PROF. MS. CÉLIO JOSÉ BORGES (Orientador) Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao Departamento de Educação Física do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia para obtenção do título Lato-Sensu (Especialização) em Ciência do Movimento Humano. PORTO VELHO-RO 2008 iii iv “Dedico esta Monografia a todos os professores que de fato contribuirão para minha formação acadêmica. Em especial à minha família, meu orientador Prof. Ms. Célio José Borges, que me apoiaram, tiveram paciência e acima de tudo acreditaram em mim.” v “A agradeço a Deus pela orientação Espiritual em todas as coisas que faço, pela oportunidade de crescimento profissional. Agradeço minha profª e amiga Ms. Angeliete Militão e meu orientador Célio José Borges, pela confiança que depositaram em mim, paciência e atenção”. vi “Ensinar exige saber escutar. Aceitar e respeitar a diferença são uma dessas virtudes, sem o que a escuta não se pode dar”. Paulo Freire vii SUMÁRIO LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................... ix LISTA DE QUADROS........................................................................................... x RESUMO............................................................................................................... xi RESUMEN............................................................................................................. xii INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13 1 CURRÍCULO E O MULTICULTURALISMO 16 2 EJA NO BRASIL: UM PRODUTO DA NECESSIDADE MULTICULTURAL 25 3 PROPOSTA CURRICULAR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO SEGUNDO SEGUIMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL: ESPAÇOS PARA O MULTICULTURALISMO.................................................................................. 3.1 Organização Estrutural do PCNEJA............................................................... 31 3.2 Concepções que fundamentam o PCNEJA e suas relações com o multiculturalismo................................................................................................... 31 31 3.3 Organização Curricular da EJA de Educação Física e sua concepção multicultural............................................................................................................ 35 3.3.1 Princípios Pedagógicos do PCNEJA de Educação Física........................... 35 3.3.2 Organização e Seleção dos Conteúdos na Educação Física da EJA.......... 37 4 FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS............................................................... 43 5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS DA 47 PESQUISA............................................................................................................ 5.1. Procedimentos Metodológicos........................................................................ 47 5.1.1 Caracterização da Pesquisa ........................................................................ 47 5.1.2 População e amostra.................................................................................... 47 5.1.3 Procedimentos para a seleção da amostra.................................................. 47 5.1.4 Instrumento de Medida................................................................................. 48 5.2 Apresentação dos resultados e análises dos questionários aplicados aos alunos.................................................................................................................... 5.3 Apresentação dos dados e análise da observação das aulas de Educação Física da EJA......................................................................................................... 48 57 viii 5.3.1 Metodologia de ensino utilizado nas aulas de Educação Física.................. 57 5.3.2 Relação aluno-aluno (respeito às diversidades/princípios morais).............. 57 5.3.3 Relação professor-aluno (respeito às diversidades/princípios morais)........ 60 5.3.4 Conteúdos Aplicados.................................................................................... 61 5.3.5 Motivação dos alunos nas aulas................................................................... 62 5.4 Análise do Projeto Político Pedagógico da Escola Bela Vista e espaços do multiculturalismo na EJA....................................................................................... 62 5.5 Apresentação dos relatos e análise da entrevista com o professor de Educação Física.................................................................................................... 65 5.5.1 Informação Profissional................................................................................ 65 5.5.2 O Projeto Político Pedagógico e sua influencia na prática pedagógica multicultural do professor de Educação Física...................................................... 65 5.5.3 Conteúdos aplicados na Educação Física e a diversidade cultural na concepção do professor........................................................................................ 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 70 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 72 APÊNDICES.......................................................................................................... 74 ix LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Idade dos alunos.......................................................................... 49 GRÁFICO 2 Sexo............................................................................................. 49 GRÁFICO 3 Cor................................................................................................ 50 GRÁFICO 4 Cidade de origem ........................................................................ 50 GRÁFICO 5 Importância da Educação Física para EJA.................................. 51 GRÁFICO 6 Conteúdos que gostaria na aula de Educação Física.................. 51 GRÁFICO 7 Conteúdos significativos na aula de Educação Física................. 52 GRÁFICO 8 Conteúdos que não são importantes para o cotidiano................. 52 GRÁFICO 9 Diversidade cultural na sala ........................................................ 53 GRÁFICO 10 As diversidades cultural dificultam a aula de Educação Física.. 53 GRÁFICO 11 Preconceito e desvalorização nas aulas de Educação Física... 54 GRÁFICO 12 Respeito das diferenças entre os alunos nas aulas de Educação Física............................................................................................... 54 GRÁFICO 13 Professor de Educação Física respeita as diversidades culturais dos alunos.......................................................................................... 55 GRÁFICO 14 Motivo que estuda na EJA.......................................................... 56 x LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Movimentos na EJA................................................................... 26 QUADRO 2 Conteúdos Atitudinais: Conhecimento sobre o corpo; esportes, jogos, lutas e ginásticas atividades rítmicas e expressivas........... 38 QUADRO 3 Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Conhecimentos sobre o corpo................................................................................................. 39 QUADRO 4 Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Esportes, jogos, lutas e ginásticas........................................................................................... 39 QUADRO 5 Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Atividades rítmicas e expressivas................................................................................................. 40 xi MORAIS, Maria Silvia Galdino. Monografia (Especialização em Ciência do Movimento Humano) Departamento de Educação Física do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia. 2008, 80 páginas. RESUMO Esta pesquisa foi desenvolvida com o intuito de identificar as características do multiculturalismo na prática pedagógica do profissional de Ed. Física da EJA, relacionando e comparando com a perspectiva multicultural indicada na PCNEJA. A pesquisa caracterizou-se como estudo de caso do tipo qualitativa descritiva. A amostra foi constituída por 1(um) professor de Educação Física da EJA, e 50 (cinqüenta) alunos (do 5ª ao 6ª série da EJA) da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bela Vista de Porto Velho Rondônia.Realizada no período de 03 de novembro a 05 de Dezembro de 2008. Estudos sobre o Currículo Multicultural tem sido foco de análise e discussão por diversos estudiosos de uma linha educacional crítica. Nestes estudos é discutido as formas de valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas curriculares assim como refletir sobre os mecanismos discriminatórios ou silenciadores da pluralidade cultural permeiam estas. Precursores da EJA no Brasil, Paulo Freire e Gadott, apontam a necessidade de um olhar mais atento para esta modalidade de ensino em relação ao respeito às diversidades culturais, pois esta surge no país e se fortalece decorrente dos problemas educacionais alimentados pela opressão econômica e social, dos menos favorecidos, que compõe a dinâmica social vigente. Dentro do contexto educacional vê-se a Educação Física como disciplina que está inserida na modalidade de ensino EJA e que tem muita força na política cultural, onde o esporte é subsídio importante para o desenvolvimento de pessoas mais conscientes das concepções sociais positiva, e através da cultura corporal o indivíduo pode se tornar conhecedor e crítico das suas identidades culturais assim como na perpetuação das mesmas, e o lazer deve ser entendido e praticado como direito de todo cidadão. Constatou-se, neste estudo que os a PCNEJA apontam características que norteiam práticas pedagógicas pautadas no multiculturalismo crítico já que esta está embasada na pedagogia de Paulo Freire, mas, no entanto ao relacionar esta concepção de ensino com a prática pedagógica do professor de Educação Física da escola pesquisada, detectou-se que o método de ensino por ele utilizado não está coerente com os princípios da PCNEJA, não possibilitando a formação de indivíduos capazes de compreender, refletir, respeitar e criticar as diferenças culturais defendidas pelo multiculturalismo crítico. Palavras-chave: Multiculturalismo, Educação de Jovens e Adultos, Educação Física. xii MORAIS, Maria Silvia Galdino. Monografía (Especialización en la ciencia del movimiento humano) departamento de la educación física del núcleo de la salud de la universidad federal de Rondônia. 2008, 80 páginas. RESUMEN Este intención del con del desarrollada del fue del investigación a identificar al del pedagógico característico Ed de en el del profesional del multiculturalismo del práctico del del de las lanas allí. Physics del EJA, relacionándose y que compara con allí el EL indicado multicultural PCNEJA del en de la perspectiva. Allí fue del investigación caracterizado como tipo del cualitativo del descriptivo del del de studio del case. La muestra fue constituida por 1 (un) profesor de educación física del EJA, y 50 (cincuenta) pupilas (de 5ª a las series 6ª del EJA) de la escuela municipal de la vista hermosa de la educación básica de Porto Velho Rondônia. Llevado con el período del EL del en de 03 de los del noviembre unos 05 de diciembre de 2008. Allí el educación de los jóvenes de los los que aparece y del EL el Brasil del en de Adultos (EJA) decurrente de los strenghtens de y sí mismo de los problemas educativos de los los, los de y retarda pasos los sociales de esa política de las lanas de este modalidad si es desarrollan. Para la pieza del otra, del acuerdo del dado con INEP, la pupila de los los numera el EL EJA del colocaron que aumentan cada adentro del año de los vendas diversos de las lanas de los los de los etárias, alimentando el económica social y del opresión allí, de menos haber favorecido, ese eficiente social del dinámica del compone allí. Dentro del contexto educativo del del usted es las disciplinas vistas físicas de las cuales allí del en del modalidad allí del educación EJA y del ése del tiene del mucha del fuerza del en la política cultural de lana insertan allí, de donde está subvenciona el EL deporta importante para el desarrollo del EL ensambla social positivo del mal del de la gente del concienzuda de los los de los conceptos, y de los pues del educación el puede individual del EL de la cultura corporal traviesa de lana al experto que y crítica de los culturales tan de las identidades del sus bien como mismos de los los del perpetuación del EL del en, ocio del hacer del EL de y si debe para entender y a practicar ese derecha del EL allí todo el ciudadano. El pedagogía crítico de lana del desarrollo del EL del consideran del multiculturalismo del del del en un de las teorías del análisis de las lanas comprometió respecto del al las diversidades de las lanas, aprendiendo del conocimiento significativo para la pupila, diálogo con del EL, análisis del EL allí, realidad crítico de lana del reflexión del EL y social de donde si pupila del inserta allí. Para bajo de tal manera, ensamblo el evidenció que el señala característico sí mismo del un PCNEJA que el multiculturalismo crítico de los prácticos de los pautadas del dirige del él del en del puesto pedagógico del EL que esto si el pedagogía del EL del en del basa de Pablo Freire, pero, cuando del embargo del pecado para relacionar este escuela de lana físico del educación del concepto del práctica del con allí del del del educación de lana pedagógico de lana del profesor buscó, fue detectó que el método del EL de educación para el le usado en él usted es principios con del PCNEJA de los los del coherente que el tan bien como en el formación posible de las liebres de los capaces de los individuos de los los a entender, a reflejar, a y respetar allí para criticar las lanas usted distingue los culturales defendidos por multiculturalismo crítico del EL. Palabra: Multiculturalismo joven , educación del adult de e, comprobación del educación. xiii 1- INTRODUÇÃO O presente estudo objetivou identificar as características do multiculturalismo na prática pedagógica do profissional de Ed. Física da EJA, relacionando e comparando com a perspectiva multicultural indicada na PCNEJA (Proposta Curricular Nacional para a Educação de Jovens e Adultos). Estudos sobre o Currículo Multicultural tem sido foco de análise e discussão por diversos estudiosos de uma linha educacional crítica, ganhando força na esfera nacional a partir década de 80, através de Paulo Freire, MacLaren, Gadott e Sacristán. Nestes estudos é discutido as formas de valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas curriculares assim como refletir sobre os mecanismos discriminatórios ou silenciadores da pluralidade cultural permeiam estas. Autores já citados acima como Paulo Freire e Gadott apontam a necessidade de um olhar mais atento para modalidade de ensino em relação ao respeito às diversidades culturais, pois esta surge no Brasil e se fortalece decorrente dos problemas educacionais alimentados pela opressão econômica e social, dos menos favorecidos, que compõe a dinâmica social vigente. Através de uma perspectiva multicultural lutam por uma educação popular mais democrática, crítica, dialética onde os discentes possam ser tratados como pessoas e não objetos. Dentro do contexto educacional vê-se a Educação Física como disciplina que faz parte da modalidade de ensino EJA, e que tem muita força dentro da política sócio-cultural, onde o esporte é subsídio importante para o desenvolvimento de pessoas mais conscientes das concepções sociais positiva, e através da cultura corporal o indivíduo pode se tornar conhecedor e crítico das suas identidades culturais assim como na perpetuação das mesmas, e o lazer deve ser entendido e praticado como direito de todo cidadão. Mas infelizmente ao longo do processo histórico estes subsídios da Educação Física têm sido reduzida a mero subproduto da estrutura social vigente, “uma carta na manga” como forma de manobras políticas. Portanto, ressalta-se a crescente preocupação com os rumos políticos culturais que a Educação Física tem se submetido disseminar através de suas práticas educacionais na EJA. xiv Daólio apud Neira (2005) afirma que a linguagem corporal resulta das interações sociais e da relação dos homens com o ambiente; seu significado constrói-se em função de diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais presentes nas diferentes culturas, em diferentes épocas da história. Assim, ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Depreendemos daí que, em um contexto plural, a escola tem por dever favorecer um ambiente social onde a criança se sinta estimulada e segura para manifestar seu repertório cultural bem como travar contato com outros. A linguagem é discutida por Paulo Freire como um símbolo de libertação. Trazendo o fator linguagem para o campo da Educação Física ela ganha força dentro da cultura corporal do movimento que é usada como um meio importante de expressão, do diálogo, da proximidade, do afeto, das capacidades intelectuais, partindo da concepção que o indivíduo lê o mundo a partir da sua própria referencia. Se não criarmos oportunidades de libertar este corpo oprimido, incapaz, como a sociedade o moldou, o individuo terá maior dificuldade de se desprender das amarras arraigadas no seu ser, que estão intimamente relacionados, corpo e mente. Para alcançar o objetivo principal do presente estudo, discutiu-se e analisou-se o multiculturalismo na prática de Educação Física e Currículo EJA, sobre os seguintes pontos: parâmetros utilizados pelo professor de Educação Física para fazer a seleção de conteúdos; métodos de ensino utilizados nas aulas de Educação Físicas e suas características multiculturais; diferenças culturais dos alunos e o trato das mesmas nas relações sociais; a influencia das possíveis diferenças nas aulas de Educação Física; aquisição de conhecimentos referente aos princípios morais fomentados pela perspectiva multicultural nas aulas de Educação Física; nível de significância dos conteúdos, para os alunos, aprendidos nas aulas de Educação Física e seu aproveitamento nas realidades social cotidiana. A pesquisa caracterizou-se como estudo de caso com abordagem qualitativa descritiva. A população deste estudo foi composta por aproximadamente 180 alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Bela Vista de Porto Velho/RO. Para a realização da pesquisa foi selecionada apenas uma turma de cada série das turmas de EJA do ensino fundamental totalizando xv uma amostra de 50 alunos e o professor de Educação Física da EJA da referida escola. Os instrumentos para a coleta de dados foram utilizados questionário, aplicado aos alunos, entrevista gravada, aplicada ao professor, e observação das aulas. A pesquisa foi realizada no período de 03 de novembro a 05 de Dezembro de 2008. Os principais autores estudados que subsidiou a interpretação e análise dos resultados da pesquisa foram: Moreira (1999), Paulo Freire (1996) e PCNEJA (2002). Este estudo está estruturado em cinco tópicos. O tópico primeiro trata-se dos objetivos do surgimento do currículo educacional e as diferentes perspectivas multiculturais que influencia a organização do mesmo. No segundo tópico é abordado o processo histórico da EJA e uma discussão sobre as perspectivas educacionais que apontam para a necessidade de uma pedagogia voltada para o multiculturalismo crítico para esta modalidade de ensino. O terceiro tópico é feito apresentação uma análise da organização da Proposta Curricular Nacional da Educação de Jovens e Adulto geral e específico da Educação Física, com o intuito de verificar as perspectiva educacionais que a norteia e identificando a posição multicultural em que esta inserida. No tópico capítulo traz uma discussão sobre a realidade atual da formação do profissional do educador da EJA e uma reflexão sobre os espaços do multiculturalismo crítico no meio acadêmico. O quinto tópico apresenta-se os procedimentos metodológicos da pesquisa e a apresentação, analisados e discussão dos dados dos apresentados. xvi CURRÍCULO E O MULTICULTURALISMO Segundo Moreira & Silva (2002) os primeiros estudos científicos que se preocuparam com as questões curriculares na escola surgem no final do século XIX, nos Estado Unidos. A preocupação era com processo de racionalização, sistematização e controle da escola e do currículo, objetivando evitar que o comportamento e o pensamento do aluno se desviassem de metas e padrões pré-definidos pela classe dominante. Nasce a partir de então a primeira preocupação com o multiculturalismo na área do currículo escolar, este tipo de multiculturalismo é denominado por Moreira & Silva (2002) de multiculturalismo conservador. Já que se preocupava com o grande contingente de migrantes que chegavam ao país, aumentando o número de indivíduos pobres e de cultura diferente, que ameaçavam a ordem social, cultural e econômica defendida pela classe elitista que mantinha o poder do país. É importante relembrar que no Brasil desde a educação jesuítica a organização escolar esteve submetida por esses interesses de controle. Libâneo é um dos autores que discute este processo histórico nitidamente, quando fala sobre as funções e ações dos atores da escola, no período colonial, práticas que priorizavam submissão e controle pedagógico, sistema que se perpetuou por um longo período de tempo e refletiu na organização do conhecimento escolar até o final do século XIX. Segundo os estudos de Moreira & Silva (2002) as teorias que nortearam a organização curricular brasileira, sempre estiveram ligadas as influencias pelos pensamentos dos estudiosos da educação dos Estados Unidos, assim como suas reformas curriculares. xvii Entende-se desta forma que o currículo da educação no Brasil sempre esteve à mercê das mudanças culturais, políticas e econômicas por qual se passava os Estados Unidos assim como de outros países, o qual sempre introduzia nos sistemas educacionais métodos advindos destes, tais fatores esclarece o caos que a educação brasileira passou ao longo do seu processo histórico de transformação e consolidação. Saviani em seu livro Escola e Democracia (1995) esclarece brilhantemente esse controle da classe elitista nas tendências educacionais e organizações do conhecimento escolar ao longo do tempo no Brasil. Este autor enquadra as primeiras tendências, que determinaram esta organização escolar, como teorias não críticas no qual está inserido a escola nova e a tecnicista. A tendência escolanovista preocupava-se com a elaboração de um currículo que valorizasse os interesses do aluno onde a escola passa a ser a forma de adaptação e ajuste dos indivíduos à sociedade. Na tecnicista a função da escola passa a ser de formação de indivíduos eficientes, para o aumento da produtividade social, associado diretamente ao rendimento e capacidades de produção capitalista, em que fundamentou a construção científica de um currículo que devolvesse os aspectos da personalidade adulta consideradas “desejáveis”. Características de tais tendências influenciam a educação brasileira até hoje. A partir de 1973 nos Estados Unidos surgem movimentos de diversos especialistas em currículo contrapondo as tendências curriculares dominantes criticando seu caráter instrumental, apolítico e ateórico. “No caso específico do currículo, a intenção central era identificar e ajudar a eliminar os aspectos que contribuíram para restringir a liberdade dos indivíduos e dos diversos grupos sociais” (Pinar & Gumet, apud Moreira & Silva 2002, pág. 15). A partir deste período, correntes fundamentadas no neomarxismo e na teoria crítica influenciaram as reformas curriculares nos Estados Unidos e conseqüentemente no Brasil. No final dos anos setenta ampliam-se as discussões a partir das tendências críticas, e teorias surgem ajudando a compor o campo do currículo. Emerge-se então um novo olhar para o currículo: “O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é uma relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. No currículo se forjam identidades”. (SILVA apud NEIRA, 2005). xviii Teorias advindas do neomarxismo favorecem a análise e compreensão do currículo enfatizando a questão social deste campo, chamadas de Sociologia do Currículo, voltada para o exame das relações entre currículo e estrutura social, currículo e cultura, currículo e poder, currículo e ideologia, currículo e controle social. Reitere-se a preocupação maior do novo enfoque: entender a favor de quem o currículo trabalha e como fazê-lo trabalhar a favor dos grupos e classes oprimidas. Para isso, discute-se o que contribui, tanto no currículo formal como no currículo em ação e no currículo oculto, para a reprodução de desigualdades sociais (MOREIRA & SILVA 2002, pág. 15). Considerando o questionamento sobre para quem o currículo trabalha podemos fazer uma flexão do currículo como uma seleção da cultura como discute Silva apud Carnen e Moreira (1999). O currículo é o espaço em que se concentram e se desdobram as lutas em torno dos diferentes significados sobre o social e sobre o político. Por meio do currículo que diferentes grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”. Entende-se, pois que se a organização dos conhecimentos ficarem a mercê do domínio de uma classe social privilegiada, discriminações e preconceitos permanecerão nas entrelinhas da estrutura educacional. Portanto negar-se a produção de novos sentidos, novas identidades culturais, reação à realidade social, as diferenças, ou seja, o multiculturalismo do currículo educacional visando à afirmação de identidades culturais específicas. Para Sacristán (1995, pág.106) o currículo multicultural vinculase com a pretensão de uma educação para a democracia e a tolerância em um mundo que, pela influencia dos meios de comunicação, tem, mais do que nunca, a consciência de ser plural; onde os indivíduos, por exigências da economia política, da ciência, da solidariedade e a manutenção da paz têm que se relacionar com povos de tradições culturais muito diferentes. Segundo Carnen e Moreira (1999), o profissional formado comprometido com multiculturalismo procura permanentemente avaliar em que medida suas xix aulas introduzem e desenvolvem habilidades, conceitos e atitudes que sejam úteis para os alunos viverem na sociedade multicultural contemporânea e bem responderem a suas características e a seus problemas. Segundo Freire apud Almeida e Silva (2005, p.156): A multiculturalidade não se constitui na justaposição de culturas, muito menos no poder exacerbado de uma sobre as outras, mas na liberdade conquistada de mover-se cada cultura no respeito uma da outra, correndo o risco livremente de ser diferente, sem medo de ser diferente, de ser cada uma "para si", somente como se faz possível crescerem juntas e não na experiência da tensão permanente, provocada pelo todo poderosismo de uma sobre as demais, proibidas de ser. Gadotti um seguidor da filosofia de Paulo Freire continua a afirmar a importância do respeito ás diversidades culturais através da prática pedagógica multicultural na Educação de Jovens e Adultos: (...) Trata-se de incorporar uma abordagem do ensino/aprendizagem que se baseia em valores e crenças democráticas e procura fortalecer o pluralismo cultural num mundo cada vez mais interdependente. Por isso que a educação de adultos deve ser sempre uma educação multicultural, uma educação que desenvolve o conhecimento e a integração na diversidade cultural. É uma educação para a compreensão mútua, contra a exclusão por motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação. A filosofia primeira na qual o educador de jovens e adultos precisa ser formado, é a filosofia do diálogo. (GADOTTI 2003, pág. 7) As discussões do multiculturalismo nascem a partir das perspectivas neomarxistas e críticas que procura ver, entender e resolver as problemáticas da escola de fora para dentro e não de dentro para fora, como vinha acontecendo nas perspectivas de ensino tradicionais, tecnicista e escolanovista. É preciso ver a escola que está inserida dentro de uma comunidade o qual deve se adaptar e trabalhar em prol dela e não a comunidade se adaptar aos anseios da escola imersos de concepções e objetivos alheios. Na discussão sobre multiculturalismo MacLaren apud Moreira (1999, pág. 85) identifica quatro posições em relação à presença de distintos grupos cultuais em uma mesma sociedade: multiculturalismo conservador, o xx multiculturalismo liberal, o multiculturalismo de esquerda e o multiculturalismo crítico. Abaixo segue uma síntese de cada posição: A primeira – o multiculturalismo conservador - pressupõe a inferioridade e a incapacidade de outros grupos raciais, a elite cultural, busca construir uma cultura comum, minimizando ou mesmo anulando os saberes, os dialetos, as crenças, os costumes e os comportamentos de grupos subordinados e garantindo a hegemonia do capital cultural da classe média. A segunda posição – o multiculturalismo liberal – considera que todos, independente de raça, cor ou etnias, apresentam a mesma capacidade intelectual e, portanto, são capazes de competir e ascender na sociedade capitalista. Os obstáculos injustos, que penalizam principalmente os grupos dominados, são tidos como removíveis em reformas não traumáticas. Tais aspectos colaboram para a aceitação, na sociedade, das normas e dos valores dos grupos privilegiados, pois é disseminada a idéia, entre o “povo”, de não almejar transformações sociais mais profundas. A terceira posição – o multiculturalismo liberal de esquerda – aceita as diferenças entre as raças e considera que a visão liberal de igualdade acaba por negligenciar as importantes características que diferem uma raça de outra. Minimizando o fato de que as identidades são produzidas histórica e socialmente em meio a conflitos e lutas, supervalorizando a autenticidade de culturas marginalizadas. A quarta posição – o multiculturalismo crítico – enfatiza o papel da linguagem e das representações na construção do significado e da identidade. Representações de raça, classe e gênero como resultado de lutas sociais mais amplas sobre signos e significados, o que associa à preocupação com o discurso a tarefa de transformar as relações sociais, culturais e institucionais nas quais o significado é gerado. Com o intuito de comparar estas posições de multiculturalismo com as abordagens pedagógicas da Educação Física, que norteou ao longo do processo histórico suas práticas, pode-se identificar semelhanças nas características de três principais abordagens: Abordagem Tecnicista, Abordagem Crítico-Superadora e Abordagem da concepção de Aulas abertas, conforme a classificação de Azevedo & Shigunov (2001). xxi Na primeira e terceira posição de multiculturalismo percebem-se características da abordagem tecnicista, o qual nasce a Educação Física no Brasil, objetivava-se através desta construir um projeto de homem disciplinado, obediente, submisso, reproduzindo através do esporte e cultura corporal os objetivos sociais da classe dominante. Esta abordagem tem como área base o Pragmatismo Norte Americano. Na segunda posição multicultural compara-se com a abordagem de Aulas Abertas, esta considera a possibilidade de co-decisão no planejamento, objetivos, conteúdos e formas de transmissão e comunicação no ensino. Concebida, na expectativa de que essa nova visão fosse alterar a preparação profissional criando outros sentidos de aulas para as crianças, no que se refere ao jogo, movimento, esporte e prática docente. Comparando esta abordagem com as tendências definidas por Saviani (1995) assemelha-se com a Tendência Escolanovista, a qual o autor considera que o importante não é o aprender a conhecer, como advogava a pedagogia tradicional, mas o aprender a aprender. E a aplicação desta tendência na escola pública gerou problemas negativos, pois provocaram o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de conhecimento, rebaixando assim o nível de ensino das camadas populares. E na quarta posição multicultural identifica-se fortemente características da abordagem Crítico-Superadora. Segundo Azevedo & Shigunov (2001, pág. 4) esta abordagem embaza-se no discurso da justiça social no contexto da sua prática. Busca levantar questões de poder, interesse e contestação, faz uma leitura dos dados da realidade a luz da crítica social dos conteúdos. A E.F. é entendida como sendo uma disciplina que trata do jogo, da ginástica, do esporte, da capoeira, da dança como sendo um conhecimento da cultura corporal de movimento. Busca entender com profundidade o ensinar, onde não significa apenas transferir ou repetir conhecimentos, mas criar as possibilidades de sua produção crítica, sobre a assimilação destes conhecimentos, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. Moreira (1999) enfatiza a importância do multiculturalismo crítico para orientação das perspectivas de educacionais, pois este aponta a necessidade de respeitar a pluralidade cultural e garantir a representação das identidades xxii culturais em discursos e práticas curriculares, negando práticas homogeneizadoras e etnocêntricos que silenciam a pluralidade e negam voz às identidades culturais pautando-se em visões monoculturais e discriminatórias. O multiculturalismo crítico rejeita ver a cultura como não conflitiva, harmoniosa e consensual. Ao contrário, diversidade deve ser afirmada dentro de uma crítica e de compromisso com a justiça social democrática e dialética. A diferença é vista como um produto da história, da cultura, do poder e da ideologia. MacLaren apud Barbosa aponta para a importância de espaços de encorajamento para a multiplicidade de vozes em nossas salas de aula, como também para a criação de uma pedagogia dialógica, na qual as pessoas vejam, a si e aos outros, como sujeitos e não como objetos. Para Sacristán (1995) há vários problemas pertinentes ao multiculturalismo e para cada caso há estratégias convenientes para estimulálos. Dentre os fatores que colaboram para cultura homogênea do currículo escolar e o não respeito pela diferenças estão: a estrutura organizativa do sistema educacional que sistematiza sem flexibilidade a progressão das séries, organização dos conhecimentos fragmentados e desvinculados, separação de alunos por níveis de aprendizagem ou conhecimento, comodismo dos profissionais em trabalhar com apenas grupos homogêneos, homogeneidade na seleção e sistematização dos conteúdos, escassa variedade de espaços, estímulos e de recursos didáticos com variedades culturais. Moreira (1999) em seu estudo sobre Multiculturalismo, Currículo e Formação de Professores aponta princípios e estratégias comuns às práticas que privilegie o multiculturalismo no processo de formação de professores. Considera-se que alguns destes princípios os professores de Educação de Jovens e Adultos devem levar em consideração na organização de conteúdos e em suas práticas pedagógicas com o intuito de promover o multiculturalismo nesta modalidade de ensino. Dentre estes princípios destacam-se: - Identificar e aceitar a existência dos problemas que permeiam o multiculturalismo na escola como raça, poder, identidade, significado, ética e trabalho; - Prática que valorize a aprendizagem das habilidades necessárias à promoção de um diálogo que favoreça uma dinâmica de crítica e autocrítica. O professor deve entender e ensinar que toda cultura precisa, no encontro com outras xxiii culturas, aceitar ser desestabilizada e contestada em alguns de seus traços básicos; - Saber lidar com os preconceitos e os esteriótipos do futuro assim como promover uma educação que não fomente estes fatores. Disponibilizando para os alunos a diversidade de conteúdos e meios para que estes conheçam a diversidade cultural do nosso país assim como identificá-las no meio em que vivem; - Valorização da aprendizagem moral desenvolvida por meio da experiência; - Estabelecer elos entre o conhecimento escolar, o conhecimento e os significados que os estudantes trazem consigo. (MOREIRA 1999 pág. 87-90.) Santomé (1997, pág. 13) em seu estudo, sobre Políticas Educativas, Multiculturalismo e Práticas Culturais Democráticas nas Salas de Aula, aponta implicações, numa visão multicultural, necessárias para as práticas pedagógicas dos professores em sala de aula, tais como: - Tudo o que se programe como tarefa escolar, como proposta de trabalho curricular, tem de tornar visível suas conexões com as experiências cotidianas e significativas para o coletivo estudantil ao qual é oferecido. É necessário que se permita que os problemas, preocupações, aspirações e interesses do alunado sejam acolhidos. - Toda proposta curricular tem de estar apoiada na cultura de procedência do alunado. E quando falamos de cultura de origem não é como conceito abstrato sem maior significado, mas sim estamos nos referindo aos diferentes e dinâmicos estilos de vida de sociedades e grupos humanos e às redes de significados que as pessoas e grupos usam para construir seus significados e comunicar-se entre si. - As situações escolares devem facilitar a análise e a compreensão de modo de funcionamento das estruturas sociais que caracterizam e condicionam a vida dos cidadãos e cidadãs. - Estimular e favorecer uma maior atenção aos produtos culturais de cada sociedade, prestando atenção a suas condições e processos de construção e à forma como são percebidos e valorados, tanto dentro da própria comunidade quanto por outras sociedades. Neste estudo, o autor acima citado, enfatiza a necessidade de uma educação que respeite as diversidades culturais principalmente no em relação aos grupos menos favorecidos, oportunizando uma educação democrática para a formação de cidadãos com consciência crítica que lhe permita analisar, xxiv valorizar e participar de tudo o que acontece e tem a ver com seu entorno sociocultural e político. Para efetivação desta perspectiva educacional Santomé (1997, 18-19) recomenda desenvolver através da prática pedagógica os seguintes princípios nos alunos: - Incorporar uma perspectiva global. Assumir a análise dos contextos socioculturais nos quais se desenvolve sua vida, assim como daqueles das questões e situações que submetam a estudo; atender às dimensões culturais, econômicas, políticas, religiosas, militares, ecológicas, de gênero, étnicas, territoriais etc. (ante uma educação mais tradicional em que a descontextualização é uma das peculiaridades da maior parte de tudo que se aprende.) - Incorporar a perspectiva histórica, as controvérsias e variações que ocorreram até o momento sobre o fenômeno objeto de estudo; a que se deveram, a quem beneficiavam etc. Incidir, portanto, na provisoriedade do conhecimento. - Compreender todas as questões que são objeto de estudo e investigação levando em consideração dimensões de justiça e eqüidade. Converter o trabalho escolar em algo que permita pôr em prática e ajudar a compreensão das implicações de diferentes posições éticas e morais. - Partir da valorização da experiência e do conhecimento do próprio alunado. Facilitar a confrontação de suas convicções e pontos de vistas pessoais com os de outras pessoas. - Promover a discussão a respeito de diferentes alternativas para resolver problemas e conflitos, assim como dos efeitos colaterais de cada uma das opções. - Empregar estratégias de ensino e aprendizagem flexíveis e participativas. Aprender num âmbito organizativo flexível, participativo e democrático, no qual se preste especial atenção à integração de estudantes de diferentes grupos étnicos e níveis culturais, de distintas capacidades e níveis de desenvolvimento, no qual as tarefas escolares sejam levadas a cabo em grupos cooperativos de trabalho. Neste contexto pode-se afirmar que resolver ou tentar solucionar a questão do multiculturalismo do currículo escolar não é algo fácil de resolver, até por que quando envolve cultura no processo de reformulação do sistema educacional se fala em mexer com interesses e ordens de quem detêm o poder das decisões presentes nas entrelinhas da estrutura educacional do país. Mas Sacristián (1995) cita com propriedade as estratégias necessárias para a reforma do currículo para viabilizar a sustentação de uma proposta baseada na perspectiva multicultural democrática. Dentre os pontos xxv fundamentais estão à formação de professores, o planejamento dos currículos, o desenvolvimento de materiais apropriados, a análise e a revisão crítica das práticas vigentes, a partir de avaliações de experiências ou da realidade mais ampla, da pesquisa-ação com professores, assim como o trabalho em conexão entre a escola e o meio social. Para o currículo educacional oferecer uma organização de conhecimentos pautados no respeito ao multiculturalismo Lawton apud Sacristián (1995) afirma ser necessário primeiro fazer uma análise cultural que deve seguir uma série de parâmetros descritivos que são: invariantes culturais (diferenciações internas da cultura ou do contraste com outras); descrever suas características; ordenar as informações levantadas e decidir experiências a ser tomadas de acordo com as necessidades dos alunos. Tais ações apontam para necessidade da formação de um professor pesquisador, intelectual transformador capaz de buscar práticas pedagógicas voltadas para uma formação multicultural crítica favorecendo o desenvolvimento de um pensamento mais investigativo e comprometido com uma educação emancipadora. EJA NO BRASIL: UM PRODUTO DA NECESSIDADE MULTICULTURAL A Educação de Jovens e adultos está presente no Brasil desde o período colonial, quando os religiosos exerciam uma ação educativa missionária com os adultos, era impostos aos nativos da terra o conhecimento de uma cultura e educação de um outro país, com objetivos de submissão e extorsão. Porém durante muito tempo nenhum registro oficial foi formalizado sobre o direito do jovem e adulto a educação. xxvi Em meados do século XVIII o Brasil começa a participar de conferências mundiais sobre a Educação e compromete-se a desenvolver responsabilidades e metas para a educação básica de Jovens e Adultos. A partir daí movimentos civis se empenham na luta contra o analfabetismo defendendo a necessidade e direitos pela educação de jovens e adultos, mas o governo resistia, pois para este era assumir a própria falha da educação básica e também não era de interesse da mão-de-obra capitalista a formação destes indivíduos. Era mais interessante para o governo manter a “ignorância” facilitando a manipulação do povo. O governo só muda de estratégias com a pressão trazida pelo início da industrialização que impõe a necessidade de formação de mão-de-obra aliada à importância da manutenção da ordem social nas cidades. Estes fatores contribuíram para o país assumir o direito de todos ao Ensino Fundamental independente da idade na Constituição de 1988. Apesar do avanço muitos projetos educacionais na modalidade EJA nem saíram do papel e outros não tiveram êxito devido o não comprometimento do governo. Segue abaixo quadro um, com os principais períodos da EJA na história e seus respectivos movimentos ou nome criados pelo governo para suprir seus objetivos políticos. Este foi construído a partir das informações contidas nas literaturas que contém o processo histórico da EJA. QUADRO 1- Movimentos na EJA PERÍODO Constituição Brasileira de 1824 formalizou a garantia de “instrução primária e gratuita para todos os cidadãos”. Governo Militar 1967 Nova República 1985 Comissão Nacional de Alfabetização MOVIMENTO “uma chaga social” Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) Plano Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC) Educação Básica de OBJETIVO Manutenção de ordens e formar mão-de-obra devido ao surto da urbanização no início da indústria nacional “Democratizar a educação no ensino fundamental” – objetivos políticos populista Elaborar diretrizes para a xxvii 1990 Jovens e Adultos formulação de políticas de alfabetização. Wanderley apud Gadotti e Romão (2005, pág. 36-37) distingue três “orientações” da educação popular no Brasil que podem ser encontradas em outros países da América Latina: 1ª a educação popular com a orientação de integração, uma educação instrumental, entendida como popularização da educação oficial sob a hegemonia das classes dominantes, com o objetivo de consolidar o capitalismo dependente, integrando principalmente o campesinato. 2ª educação popular com a orientação nacionaldesenvolvimentista visando à implantação de um capitalismo autônomo, nacional e popular. Seria uma versão brasileira da “educação funcional” (UNESCO). Pretendia-se distribuir os benefícios do progresso social do modelo capitalista dependente. 3ª a educação popular com a orientação de libertação com o objetivo de estimular as potencialidades do povo através da conscientização, da capacitação e de ampla participação social. A partir dessa orientação, certos grupos problematizaram, criticaram a ordem capitalista e começaram a exigir mudanças estruturais profundas. Diante do exposto entende-se que a EJA não só no Brasil assim como na América Latina sempre foi alvo de manobras políticas, hora com o intuito de manter a ordem social hora para atender a necessidade de mão-de-obra qualificada, acatando assim os anseios da ordem capitalista. Durante todo este processo histórico a regulamentação da EJA no Brasil sempre esteve impulsionada pelos movimentos externos, como conferencias internacionais sobre educação, que como conseqüência disso surgia os movimentos nacionais. Através destes processos a EJA foi sendo incorporada na LDBEN, mas poucas políticas públicas foram de fato efetivadas em decorrência destes avanços. De acordo com a PCNEJA (2002, pág. 16) somente com a LDBEN nº. 5.692/71 “o ensino supletivo ganha capítulo próprio, estabelecendo que ele se destinasse a suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não tinham seguido ou concluído na idade própria”. A partir deste período se afirmava a necessidade de adequar o ensino ao “tipo especial de aluno que se destina”, resultando daí uma grande flexibilidade curricular. xxviii Os primeiros estudos que impulsionaram a educação de jovens e adultos foram conduzidos por Paulo Freire. O pedagogo desenvolveu metodologias destinadas especificamente para esta clientela. O fundamento destas metodologias orientava-se pelos paradigmas da educação popular. A perspectiva de educação popular já apontava possibilidades do multiculturalismo já que a mesma era organizada a partir de trabalhos que levavam em conta a realidade dos alunos, defendia o interesse do “povo”, o excluído e marginalizado, ou seja, a democratização da educação. É certo afirmar que a Educação de Jovens e adultos já surge de uma situação marginalizada e ganha força à medida que tendências sociais na educação evoluem. A partir de então muito se tem refletido, pesquisado e escrito sobre metodologias pedagógicas para esta modalidade de ensino com o intuito de aperfeiçoar as práticas educativas e diminuir a marginalização da educação para esta clientela. Gadotti, também foi um precursor de estudos na área da Educação de Jovens e Adultos, este aponta a necessidade de um currículo adaptado à realidade e especificidade desta clientela defendendo que: A qualidade em educação de jovens e de adultos deve ser medida pelo atendimento às suas necessidades educacionais e culturais. Não se trata de “repassar” para eles um saber já cristalizado e elitista. Trata-se de construir junto com eles um novo saber, realmente libertador e significativo para o projeto de vida de cada um dos educandos-educadores, para viverem no mundo de hoje (GADOTTI 2007, p. 8). Portanto pode-se afirmar que tanto Paulo Freire como Gadotti, enfatizam a necessidade da organização de conhecimento advindos da cultura da própria clientela que se pretende trabalhar. Estas perspectivas defendem que os conhecimentos repassados precisam antes de tudo ser significativo para os alunos, desenvolvendo habilidades, conceitos e atitudes que sejam úteis para estes. Tais características levantadas identificam-se com um currículo numa perspectiva multicultural. No multiculturalismo quando se propõem a discutir, organizar ou selecionar conteúdos para serem aplicados em qualquer modalidade e/ou disciplina educacional é indispensável à reflexão dos objetivos dos mesmos. xxix Estes objetivos não devem se limitar apenas ao desenvolvimento cognitivo ou biológico, mas social e cultural. Quando se determina o que, e como os alunos devem aprender faz-se necessário ainda uma reflexão mais aprofundada levando em consideração tanto o aspecto pedagógico como político. A natureza/essência da educação é sociopolítica na medida em que pode, ou não auxiliar os indivíduos a adquirirem consciência de seu lugar na humanização e democratização da sociedade, o que expressa a intensa ligação existente, a teoria histórica, entre saber e política. (BORGES pág. 108, 2006) A autora ainda acredita que a relação educação-sociedade é uma relação de mão dupla, ou seja, a escola é influenciada pela sociedade em que se insere, porém, dialeticamente, pode também influenciar nesta sociedade. Portanto enfatiza-se mais uma vez a necessidade de que os conteúdos sejam organizados de acordo com, interesses e realidade em que o aluno está inserido propiciando melhor adequação e prática consciente da cidadania. A escola tem um espaço pedagógico no qual possibilite a organização destes saberes, respeitando multiculturalismo existente na mesma. Este espaço é o Projeto Político Pedagógico, onde através deste a equipe escolar encontrará subsídios necessários para levantar informações, analisar, refletir, congregar, e organizar os conteúdos adequados para o grupo que se propõe a trabalhar. Através deste trabalho o aluno pode ser visto com um “ser da sociedade” na qual a escola está inserida e não um ser com fins próprios o qual se insere na escola. No mínimo, estes educadores precisam respeitar as condições culturais do jovem e do adulto analfabeto. Eles precisam fazer o diagnóstico histórico-econômico do grupo ou comunidade onde irão trabalhar e estabelecer um canal de comunicação entre o saber técnico (erudito) e o saber popular. (GADOTTI & ROMÃO 2005) Na construção do Projeto Político Pedagógico a Educação de Jovens e Adultos os profissionais que trabalham com este segmento precisam ter um olhar mais cuidadoso quanto à diversidade cultural desta clientela, pois esta modalidade de ensino reuni alunos com faixa etária muito diferente o que traz xxx junto costumes, pensamentos, pretensões e modos distintos entre jovens e adultos. Assim os conteúdos e métodos devem ser organizados e aplicados de modo a atender essas diferenças. A necessidade do respeito dessas diferenças fundamentou a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, legalizada pela resolução CNE/CEB nº. 1/2000, estas diretrizes são obrigatórias para a estruturação dos componentes curriculares de Ensino Fundamental e Médio da modalidade. Segundo PCNEJA (2002) as diretrizes destacam que a EJA, como modalidade da educação básica, deve considerar o perfil dos alunos e sua faixa etária ao propor um modelo pedagógico, de modo a assegurar a diferença - identificação e reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada um e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores. Apoiado em documentos da 5ª Conferencia Internacional sobre Educação de Jovens e Adultos de 1997 em Hanburgo, no volume 1 da Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos Segundo Seguimento do Ensino Fundamental, é enfatizado que a EJA deve seguir novas princípios e orientações e para o foco desta discussão destacamos: elaborar e implementar currículos flexíveis, diversificados e participativos, que sejam também definidos a partir das necessidades e dos interesses do grupo, de modo a levar em consideração sua realidade sociocultural, científica e tecnológica e reconhecer seu saber assim como respeitar aos conhecimentos construídos pelos jovens e adultos em sua vida cotidiana. Para que as diferenças culturais sejam respeitadas e a organização dos conhecimentos seja significativa para os alunos faz-se necessário que no Projeto Político Pedagógico seja levantado o perfil geral dos alunos da EJA assim como dos professores que atuam nesta modalidade para que se possa tornar possível uma formação mais adequada e construir um currículo baseado em princípios multiculturais. Para contribuir com o enfoque sobre a necessidade de desenvolver um Projeto Político Pedagógico que respeite o espaço da EJA no meio escolar a Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos do Segundo Seguimento xxxi do Ensino Fundamental, aponta aspectos importantes a serem considerados em sua construção. Dentre estes aspectos destaca-se o primeiro o qual enfatiza a importância de se conhecer esta clientela. Afirma que deve-se repensar o papel e a função da educação escolar, seu foco, sua finalidade e seus valores: isso significa considerar características, anseios, necessidades e motivações dos alunos, da comunidade local e da sociedade em que ela se insere. A escola tem de encontrar formas variadas de mobilização e de organização dos alunos e da comunidade, integrando os diversos espaços educacionais que existem na sociedade e, sobretudo, ajudando a criar um ambiente que leve à participação do leque de opções e ao reforço das atitudes criativas do cidadão. No tópico a seguir será analisada, de forma mais detalhada, a Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos do Segundo Seguimento do Ensino Fundamental de Educação Física, com o intuito de verificar possíveis espaços de multiculturalismo. xxxii PROPOSTA CURRICULAR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO SEGUNDO SEGUIMENTO DO ENSINO FUNDAMENTAL: ESPAÇOS PARA O MULTICULTURALISMO 3.1 Organização Estrutural do PCNEJA A elaboração da Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos do Segundo Seguimento do Ensino Fundamental foi publicada em 2002. Sua construção contou com a participação de educadores que atuam na Educação de Jovens e Adultos, nas escolas jurisdicionadas às secretarias de educação estaduais e municipais e em outras instituições. Esta Proposta Curricular é orientada pelas proposições da LDBEN nº.9.394/96 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, do Conselho Nacional de Educação. Em suas considerações o Ministro da Educação Paulo Renato Souza, à época, esta proposta parte do princípio de que a construção de uma educação básica para jovens e adultos – voltada para a cidadania – deve esta comprometer-se com a qualidade, ministrado por professores capazes de incorporar ao seu trabalho os avanços das pesquisas nas diferentes áreas do conhecimento e de estar atentos às dinâmicas sociais e suas implicações no âmbito escolar. A Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos do Segundo Seguimento do Ensino Fundamental está publicada em 3 volumes. Volume 1 um livro de introdução que trata de algumas características específicas da EJA e construção de uma proposta curricular para EJA. O volume 2 trata das especificidades das matérias de Língua Estrangeira, Língua Portuguesa, Geografia e História e o volume 3 reune as disciplinas de Educação Física, Matemática, Ciências e Artes. 3.2 Concepções que fundamentam o PCNEJA e suas relações com o multiculturalismo Esta proposta foi organizada baseada na perspectiva educacional defendida por Paulo Freire e teorias socioconstrutivistas. xxxiii As propostas de Paulo Freire se focalizam nas relações entre aluno e professor, e entre aluno e conhecimento, salientando a importância do respeito à experiência e à identidade cultural dos alunos e aos “saberes construídos pelos seus fazeres”. (PCNEJA 2002, pág. 97) Nesta perspectiva, o processo educativo não se caracteriza pelo recebimento, por parte dos alunos, de conhecimentos prontos e acabados, mas pela reflexão sobre os conhecimentos que circulam e que estão em constante transformação; professores e alunos são produtores de cultura; todos aprendem e todos ensinam, são sujeitos da educação e estão permanentemente em processo de aprendizagem. Paulo Freire ver dentro da EJA a necessidade de uma pedagogia voltada para a educação como prática da liberdade. “Liberdade e crítica que não pode se limitar às relações do grupo, mas que necessariamente se apresentam na tomada de consciência que este realiza de sua situação social.” (PAULO FREIRE 1996, pág. 16) Um aspecto de grande destaque na obra de Paulo Freire é a afirmação da educação com caráter emancipatório, libertador, problematizador da realidade, no sentido oposto ao de uma educação para a submissão, mas uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política. Na concepção Socioconstrutivista é enfatizado que o conhecimento não é algo situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio da cópia do real, tampouco algo que o indivíduo constrói independente da realidade exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de tudo, uma construção histórica e social, na qual interferem fatores de ordem antropológica, cultural e psicológica, entre outros (PCNEJA 2002, 100). Segundo Azevedo & Shigunov (2001, pág. 3) nesta abordagem: A intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, respeitar o universo cultural do aluno, explorando as diversas possibilidades educativas de atividades lúdicas espontâneas, propondo tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com vistas à construção do conhecimento. Além de valorizar as experiências, a cultura dos alunos, a proposta construtivista tem o mérito de propor alternativas aos métodos diretivos, alicerçados na prática da E.F. xxxiv Esta concepção de ensino segue as idéias fundamentadas por Wallon e Vygotsky que priorizam no processo de ensino e aprendizagem o conhecimento prévio dos alunos. Nesta o conhecimento, é visto através de um complexo processo de construção, modificação e reorganização, utilizadas pelos alunos para internalizar e interpretar os novos conteúdos. O que o aluno pode aprender em determinado momento da escolaridade depende das possibilidades delineadas pelas formas de pensamento de que dispõe, dos conhecimentos que já construiu anteriormente, das informações e do ensino que recebe. Por mais que o professor, os companheiros de classe e os materiais didáticos possam e devam contribuir para que a aprendizagem se realize, nada pode substituir a atuação do próprio aluno na tarefa de construir significados sobre os conteúdos da aprendizagem. É ele quem vai modificar, enriquecer e, portanto, construir novos e mais potentes instrumentos de ação e interpretação. Nessa perspectiva, valorizava-se a técnica de ensino, os manuais de aplicação. (PCNEJA 2003, pág. 100) Observa-se a preocupação das duas tendências em trabalhar a construção do conhecimento partindo da realidade em que o aluno está inserido, priorizam práticas voltadas diálogo, levando à reflexão a dimensão histórica do sujeito sem abrir mão da importância dos conteúdos para a ampliação dos conhecimentos do docente. No entanto as características do multiculturalismo cultural estão presentes e contextualizadas na pedagogia de Paulo Freire, o qual construiu toda uma perspectiva educativa especificamente para EJA o qual vislumbrou a possível “libertação” dos indivíduos que fazem parte desta modalidade de ensino. De acordo com PCNEJA (2002) Paulo Freire ressalta que “a educação pode contribuir para que as pessoas se acomodem ao mundo em que vivem ou se envolvam na transformação dele”; assim, a educação será conservadora ou transformadora da realidade. Para Freire (1996) quando o professor não tem clareza sobre a quem está servindo ou opta pela neutralidade, está mesmo que inconscientemente optando por um dos lados, neste caso, pela conservação. Ao optar por uma educação transformadora, ela deve ser essencialmente problematizadora, pressupondo criatividade e reflexão sobre a realidade, de modo a assumir o xxxv compromisso com sua mudança. Numa visão dialética, “a educação para a libertação se constitui como ato de saber, um ato de conhecer e um método de transformar a realidade que se procura conhecer”. Para passar da consciência ingênua à consciência crítica, é necessário o aluno parar de apenas escutar e obedecer e rejeitar a “hospedagem do opressor dentro de si”, que faz com que se considere ignorante e incapaz. As características desta pedagogia convergem com as do multiculturalismo Crítico. MCLaren apud Moreira (1999) considera o Multiculturalismo Crítico como o ideal, pois vê as diferenças como produto da história, da cultura, do poder e da ideologia. Esta fornece subsídios necessários para uma intervenção comprometida com a democracia e justiça social nas relações de poder que constrói em diferenças. As análises acima das correntes teóricas que norteiam a PCNEJA (Proposta Curricular da Ed. de Jovens e Adultos) foram discutidas de acordo com fragmentos do texto da Parte II do livro 1 que trata da Construção de uma Proposta Curricular para EJA. Nesta parte contém um subitem que trata só das concepções norteadoras de uma proposta curricular que fala das lições de Paulo Freire e o Construtivismo. Além disso, levanta também a Concepção do Saber. A PCNEJA defende a construção do saber como a união entre saber popular e científico, com o objetivo de propiciar a cada aluno a possibilidade de desenvolver capacidades, como a de estabelecer conexões entre diferentes contextos de significação, de transferir relações de um feixe de conhecimento a outro, de desenvolver novos significados, promover de fato uma aprendizagem significativa. Rejeita a idéia de que o conhecimento pode ser visto como um bem passível de ser transmitido de um indivíduo para o outro e ser acumulado. Abole também a concepção de que o conhecimento pode ser representado por uma cadeia de elos, encadeados uns após os outros, de forma hierarquizada, em que cada um constitui um pré-requisito para o seguinte, ignorando suas relações com conhecimentos anteriormente estudados ou trazidos pelos alunos de sua vivência. Aliada com esta concepção de conhecimento a PCNEJA apóia a importância da interdisciplinaridade na organização das disciplinas e seus xxxvi conhecimentos, que é notório ressaltarmos o comprometimento desta metodologia com a questão criticidade. Segundo PCNEJA a interdisciplinaridade visa a recuperação da unidade humana por meio da passagem da subjetividade para a intersubjetividade, recupera a idéia primeira de cultura (formação do homem total), o papel da escola (formação do homem inserido em sua realidade) e o papel do homem (agente das mudanças no mundo). Por intersubjetividade compreende-se a ultrapassagem de um estágio subjetivo, em que as limitações são camufladas, a um estágio compreensivo, em que se passa a aceitar e incorporar as experiências dos outros, a ver na experiência do outro a complementação de sua própria. Pode-se afirmar que a concepção de conhecimento da PCNEJA, pois não trata o mesmo como um objeto manipulável e transmissível, mas levam em consideração experiências vividas em torno do conhecimento e são construídos de forma coerente, significativa e crítica. Na PCNEJA para Seleção de Conteúdos são levados em consideração a relevância social e desenvolvimento intelectual do aluno procurando envolver explicações, formas de raciocínio, linguagens, valores, sentimentos, interesses e condutas. Nesta proposta, os conteúdos estão dimensionados não só em conceitos, mas também em procedimentos e atitudes, apresentados em blocos de conteúdo ou em eixos temáticos, de acordo com as áreas. Recomenda também que os conteúdos tratados em cada sala de aula passem por adaptações e alterações, de acordo com as capacidades e as características sociais, culturais e econômicas particulares da localidade. Assim, a seleção proposta nas distintas áreas curriculares deve servir como uma referência suficientemente aberta, para técnicos e professores analisarem, refletirem e tomarem decisões, adequando-a às necessidades de aprendizagem de seus alunos. Identifica-se nesta teoria a preocupação com as invariantes culturais e importância do desenvolvimento integral do indivíduo capacitando-o com uma série de conhecimentos, habilidades e valores que lhes permitam entender e contribuir para com a sociedade e a cultura na qual vivem. xxxvii 3.3 Organização Curricular da EJA de Educação Física e sua concepção multicultural Analisaremos como estas concepções que norteiam a organização curricular da EJA estão estruturadas na PCNEJA específica da disciplina de Ed. Física do Segundo Seguimento. 3.3.1 Princípios Pedagógicos do PCNEJA de Educação Física Baseado nas concepções de Paulo Freire e do Construtivismo, as quais norteiam a estrutura do PCNEJA, os princípios pedagógicos do PCNEJA Ed. Física parte de quatro aspectos fundamentais: o princípio da inclusão, o da diversidade, as categorias de conteúdos e os temas transversais. Quanto à prática inclusiva deve: apoiar, estimular, incentivar, valorizar, promover e acolher o estudante. Valorizar todos os alunos – independentemente de etnia, sexo, língua, classe social, religião ou nível de habilidade esta – deve ser a primeira estratégia do professor. Através de estratégias esclarecimento destes valores, práticas corporais proporcionando a vivencia das mesmas e discussão. A inclusão da Educação Física na educação de jovens e adultos representa a possibilidade de acesso, a cultura corporal de movimento. O acesso a esse universo de informações, vivências e valores é compreendido aqui como um direito do cidadão, na perspectiva da construção e usufruto de instrumentos para promover a saúde, utilizar criativamente o tempo de lazer e de expressão de afetos e sentimentos, em diversos contextos de convivência. No princípio da diversidade, a prática pedagógica deve-se dar através de aprendizagem significativa, entendida aqui como a aproximação entre os alunos e o conhecimento construído pela cultura corporal de movimento ao longo do tempo. Para a seleção dos conteúdos de Ed. Física mantém o princípio das dimensões (categorias de conteúdos) Procedimental e Conceituais onde afirma que o ensino na Ed. Física deve ultrapassar o conhecimento de esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas e expressivas e o conhecimento sobre o próprio corpo, em seus fundamentos, técnicas e organização; Atitudinais que aborda a necessidade de incluir também os valores subjacentes dos conteúdos, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e xxxviii para as atividades corporais e o Procedimental que busca garantir o direito do aluno de saber por que está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos. A respeito dos temas transversais supõe um relacionamento das atividades da Educação Física com os grandes problemas da sociedade brasileira, sem, no entanto, que se perca de vista o seu papel de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal de movimento. PCNEJA de Ed. Física chama a atenção dos docentes, para que não atentem somente para os conteúdos conceituais, mas que levem em consideração também o desenvolvimento moral do indivíduo. A respeito deste aspecto afirma-se que o desenvolvimento moral está intimamente relacionado à afetividade e à racionalidade, e nas aulas de Educação Física ocorrem situações que permitem uma intensa mobilização afetiva e interação social. Tal cenário apresenta-se como ambiente ideal para explicitação, discussão, reflexão e aplicação de atitudes e valores considerados éticos ou antiéticos para si e para os outros. Além da intervenção no momento oportuno, cabe ao professor de Educação Física a construção de formas operacionais e contextos pedagógicos para que valores relacionados ao princípio da dignidade humana e construção de autonomia moral sejam exercidos, cultivados e discutidos no decorrer das práticas escolares. Os alunos poderiam ter experiência de: respeitar e ser respeitado; realizar ações conjuntas; dialogar efetivamente com colegas e professores; prestar e receber solidariedade; ter acesso a conhecimentos que alimentem a compreensão e a cooperação; analisar criticamente situações concretas dentro e fora da escola. Portanto é quase indiscutível a presença de características do que estimulem práticas que respeitem as diversidades culturais dos alunos, nos princípios pedagógicos que norteiam a PCNEJA de Ed. Física. E isto se confirma também no tópico que trata de como ensinar, onde são sugeridas estratégias que prioriza a cooperação de construção e descoberta entre professor e aluno na organização dos conteúdos de acordo com os princípios relacionados acima. É enfatizada ainda a importância de o professor oportunizar espaços de reflexão e síntese da atualidade para o aprendizado, promovendo uma visão organizada do processo como uma possibilidade real xxxix através de experiências socioculturais construídas. Essa organização do professor pode ser complementada mediante a ação dos alunos, que se tornam co-responsáveis pelo ensino e aprendizagem dos colegas. 3.3.2 Organização e Seleção dos Conteúdos na Educação Física da EJA A PCNEJA considera que a distribuição e o desenvolvimento dos conteúdos devem estar relacionados ao projeto educativo de cada escola e à especificidade de cada grupo. A característica do trabalho deve contemplar os vários níveis de competência desenvolvidos, para que todos os alunos sejam incluídos e as diferenças individuais resultem em oportunidades de troca e enriquecimento do trabalho. Dentro dessa perspectiva, o grau de aprofundamento estará submetido às dinâmicas dos grupos. Identifica-se como fator característico das perspectivas multiculturais críticos esta preocupação da construção do projeto político pedagógico sugerido pela Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos, enfatizando que a equipe escolar, na construção do mesmo, deve ter em vista uma aprendizagem significativa criando condições para que os alunos possam manifestar preocupações, problemas, interesses, conhecimentos prévios, motivações – e, assim, levá-los em conta no processo de articulação entre definição de objetivos e seleção de conteúdos. Os conteúdos na PCNEJA de Educação Física estão organizados em blocos como os da educação regular. Constituem-se em três blocos: conhecimentos sobre o corpo; esportes, jogos, lutas, ginásticas; atividades rítmicas e expressivas. É ressaltado ainda na PCNEJA que estes blocos de conhecimentos não devem representar estruturas rígidas para serem seguidas de modo específico, mas sim um recorte possível a ser abordado no contexto escolar. Descreve-se abaixo os conteúdos atitudinais dos blocos que se considerou relacionado com a perspectiva multicultural crítica. Quadro 2 - Conteúdos Atitudinais: Conhecimento sobre o corpo; esportes, jogos, lutas e ginásticas atividades rítmicas e expressivas • Valorização do estilo pessoal de cada um. xl • Predisposição à cooperação e solidariedade (ajudar o outro, dar segurança, contribuir com um ambiente favorável ao trabalho etc.). • Predisposição ao diálogo (favorecer a troca de conhecimento, não omitir informações úteis ao desenvolvimento do outro, valorizar o diálogo na resolução de conflitos, respeitar a opinião alheia). • Valorização da cultura popular, nacional e internacional. • Predisposição para a busca do conhecimento, da diversidade de padrões, da atitude crítica em relação a padrões impostos, do reconhecimento a outros padrões pertinentes a diferentes contextos. • Respeito a si e ao outro (limites corporais próprios, desempenho, interesse, biótipo, gênero, classe social, habilidade, erro etc.). • Valorização do desempenho esportivo de um modo geral, sem ufanismo ou regionalismo. • Predisposição para experimentar situações novas ou que envolvam novas aprendizagens. • Aceitação da disputa como um elemento da competição e não como uma atitude de rivalidade ante os demais. • Valorização do próprio desempenho em situações competitivas desvinculadas do resultado. • Reconhecimento do desempenho do outro como subsídio para a própria evolução e parte do processo de aprendizagem (diálogo de competências). • Disposição para adaptar regras, materiais e espaços visando a inclusão do outro (jogos, ginásticas, esportes etc.). • Valorização da cultura corporal de movimento como: parte do patrimônio cultural da comunidade, do grupo social e da nação; instrumento de expressão de afetos, sentimentos e emoções; possibilidade de obter satisfação e prazer; linguagem e forma de comunicação e interação social. • Respeito a diferenças e características relacionadas ao gênero presentes nas práticas da área. Fonte: PCNEJA 2002, pág. 214 Abaixo destaca-se os conteúdos conceituais e procedimentais de cada bloco: Quadro 3 – Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Conhecimentos sobre o corpo xli • Identificação das capacidades físicas básicas. • Compreensão dos aspectos relacionados à boa postura. • Compreensão das relações entre as capacidades físicas e as práticas da cultura corporal de movimento. • Compreensão das técnicas de desenvolvimento e manutenção das capacidades físicas básicas. • Vivência de diferentes formas de desenvolvimento das capacidades físicas básicas. • Identificação das funções orgânicas relacionadas às atividades motoras. • Vivências corporais que ampliem a percepção do corpo sensível e do corpo emotivo. • Conhecimento dos efeitos que a atividade física exerce sobre o organismo e a saúde. Fonte: PCNEJA 2002, pág. 215 Quadro 4 - Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Esportes, jogos, lutas e ginásticas. • Compreensão dos aspectos histórico-sociais relacionados aos jogos, às lutas, aos esportes e às ginásticas. • Participação em jogos, lutas e esportes, dentro do contexto escolar, de forma recreativa e competitiva. • Vivência de jogos cooperativos. • Desenvolvimento das capacidades físicas e habilidades motoras, por meio das práticas da cultura corporal de movimento. • Compreensão e vivência dos aspectos relacionados à repetição e à qualidade do movimento na aprendizagem do gesto esportivo. • Aquisição e aperfeiçoamento de habilidades específicas a jogos, esportes, lutas e ginásticas. • Compreensão e vivência dos aspectos técnicos e táticos do esporte no contexto escolar. • Desenvolvimento da capacidade de adaptar espaços e materiais na criação de jogos. • Desenvolvimento da capacidade de adaptar espaços e materiais para realizar esportes simultâneos, envolvendo diferentes objetivos de aprendizagem. xlii • Vivência de esportes individuais e coletivos dentro de contextos participativos e competitivos. • Vivência de variados papéis assumidos no contexto esportivo (goleiro, defesa, atacante, técnico, torcedor, juiz). • Participação na organização de campeonatos, gincanas, excursões e acampamentos dentro do contexto escolar. • Compreensão das diferentes técnicas de ginásticas relacionadas com diferentes contextos histórico-culturais e seus objetivos específicos. • Compreensão e vivência dos aspectos de quantidade e qualidade relacionados aos movimentos da ginástica. Fonte: PCNEJA 2002, pág. 215-216 Quadro 5 - Conteúdos Conceituais e Procedimentais: Atividades rítmicas e expressivas • Compreensão dos aspectos histórico-sociais das danças. • Percepção do ritmo pessoal e do grupo. • Desenvolvimento da noção de espaço e tempo vinculada ao estímulo musical e ao silêncio com relação a si mesmo e ao outro. • Exploração de gestos e códigos de outros movimentos corporais não abordados nos outros blocos. • Compreensão do processo expressivo, partindo do código individual para o coletivo (mímicas individuais, representações de cenas do cotidiano em grupo, danças individuais, pequenos desenhos coreográficos em grupo). • Percepção dos limites corporais na vivência dos movimentos rítmicos e expressivos. • Predisposição a superar seus próprios limites nas vivências rítmicas e expressivas. • Vivências das danças da cultura popular regional, compreendendo seus contextos de manifestação (carnaval, escola de samba e seus integrantes, frevo, capoeira, bumba-meu-boi etc.). • Reconhecimento e apropriação dos princípios básicos para construção de desenhos coreográficos simples. • Vivência da aplicação dos princípios básicos na construção de desenhos coreográficos. xliii • Vivência das manifestações das danças urbanas mais emergentes e compreensão do seu contexto originário. • Vivência das danças populares regionais nacionais e internacionais e compreensão do contexto sociocultural onde se desenvolvem. Fonte: PCNEJA 2002, pág. 216 Entende-se que a forma com que os conteúdos estão descritos e organizados, sem aprofundar ou fazer um maior detalhamento e organização por série, tem um fator positivo, pois assim os professores têm a autonomia de selecionar os conteúdos e suas expressividades de acordo com a necessidade e realidade em que está inserido. No entanto, cabe ao professor não usar as dificuldades da estrutura da escola pública e se limitar ao espaço e material disponível na escola para a organiza os conteúdos e objetivos de ensino. Assim como não deve também abrir mão dos conteúdos transformando seu plano de curso em mero discurso ideológico. Considera-se de uma forma geral que o PCNEJA, o qual está baseado na perspectiva Freiriano, aponta sim características importantes no respeito às diversidades culturais dos alunos subsidiando uma prática multicultural crítica. Esta perspectiva de ensino está relacionada com a abordagem críticosuperadora dentro da Educação Física o qual considera as questões de poder, interesse, esforço e contestação, como princípios importantes na contextualização dos conteúdos da disciplina. Os adeptos a esta abordagem propõem que se considere a relevância social dos conteúdos, sua contemporaneidade e sua adequação às características sócio-cognitivas dos alunos. Portanto, para fundamentar melhor suas aulas com características multiculturais crítico o professor deve apoiar–se na PCNEJA desde o volume 1, pois é neste que é feito uma especificação melhor quanto as perspectivas de Paulo Freire, o qual também defende a pedagogia politizadora, a superação da opressão de classes, e a contextualização das relações sócio-culturais. É importante ressaltar que o papel do PCN é apenas de norteador das práticas pedagógicas, e que a intencionalidade críticas e politizadoras aos conteúdos não podem se limitar a influencia deste documento. Um fator maior que influencia ou caracteriza a prática pedagógica de qualquer professor é sua xliv formação acadêmica e seu nível de comprometimento ético com a profissão e sociedade no qual está inserido. FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Conforme visto no processo histórico da EJA no Brasil este seguimento educacional sempre foi tratado como projetos assistencialistas em que suas conquistas sempre foram conseguidas através das lutas travadas por educadores vinculados com as filosofias críticas. xlv O governo sempre tratou esta clientela como um símbolo dos resultados negativos educacionais do país. Logo, a formação de profissionais preparados para atender esta modalidade de ensino nunca foi considerada pelo governo. As grades curriculares de cursos de licenciatura foram evoluindo de acordo com as mudanças de governo no país e seus objetivos. A história educacional nacional por longo período de tempo esteve voltada para a formação técnica e mão de obra qualificada, só a partir da década de 80 os objetivos neomarxistas ganham força e influencia as mudanças no currículo do magistério. Portanto as concepções que defendem a diversidade cultural no âmbito educacional que contribuem para a formação de professores preparados para atender a demanda multicultural provocada pelo multiculturalismo ainda é recente no Brasil. Como uma área educacional a Educação Física passa por todas estas influencias, mas com um pouco de retardo maior, pois esta disciplina é introduzida na escola visando principalmente os aspectos higienista e performance atlética. Tais objetivos contribuíram com que a atenção dos estudos e pesquisas, desta área, fomentasse a formação dos professores que priorizasse o esporte utilizando método tecnicista. Estes fatores influenciaram para a demora pelo qual a Educação Física levou para incluir na sua grade curricular o currículo mínimo dos cursos superiores de licenciatura, a resolução de nº. 298/62. Dentre as disciplinas a serem acrescentadas estavam a Psicologia da Educação: adolescência, aprendizagem; Didática; Elementos de Administração Escolar e a Prática de Ensino sob forma de estágio supervisionado. Tal abordagem demorou muito para ser introduzida no curso (em torno de 6 anos após a implantação da resolução), assim como demorou a serem assimiladas e aplicadas de forma coerente em sua prática, ou seja, por um bom tempo estas não passavam apenas dos discursos dos formadores acadêmicos. Outro fator principal, que influenciou a discussão dos aspectos políticos e sociais da educação na Educação Física, foi à saída dos militares do poder fato este que propiciou maior liberdade sobre os discursos das teorias críticas da educação. Emergem neste período críticas pedagógicas ao tecnicismo e a adoção da concepção das “ciências da educação”. xlvi Questiona-se a partir de então o papel e dimensão política da Educação Física escolar gerando grandes mudanças surgindo novos estudos, debates, protestos. A partir de então o que era um processo formativo de caráter técnico passa a apresentar novos modelos e teorias de conhecimentos que fundamentassem/direcionassem a formação dos profissionais, com a (re) definição de sua identidade sócio-profissional no universo das práticas. Apesar das inúmeras barreiras aos poucos as mudanças foram se consolidando sob a perspectiva de uma pedagogia crítica-social, mas como estudos e a própria história comprova que as bases atuais dos modelos de formação ainda apresentam currículos com necessidades de reformulação. As disciplinas da área de didática em sua grande maioria são aplicadas de forma desvinculada da fisiologia e demais disciplinas, trazendo consigo uma série de dificuldades na prática de ensino dos professores da Educação Física, que em sua maioria são conseqüência de uma formação inicial deficiente, como cita Oliveira. Krusg apud Oliveira et al. (2001, p. 26) enfatiza em uma de suas pesquisas a situação dos currículos da Educação Física nas universidades: (...) desarticulado, desvinculada da realidade social concreta, privilegiando a formação desportiva e o desenvolvimento de habilidades motoras. Os currículos são organizados procurando atender os interesses do corpo docente e operacionalizados em disciplinas isoladas com conteúdos isolados. Estes currículos mostram sua deficiência quando também deixam de contemplar as questões políticas e sociais que permeiam a escola. Se estes fossem levados em consideração os profissionais teriam um maior conhecimento e sairiam da formação inicial aptos para interferir de forma consciente e assumindo suas responsabilidades políticas e sociais da educação. Moreira aponta características necessárias para formar docentes conscientes das suas responsabilidades com a prática pedagógica voltada para o multiculturalismo crítico. xlvii (...) uma proposta de formação docente multicultural deva implicar não o desenvolvimento de uma aceitação irrestrita de diferentes manifestações culturais, mas, sim, a aprendizagem das habilidades necessárias à promoção de um diálogo que favoreça uma dinâmica de crítica e autocrítica. O reconhecimento de que qualquer cultura é incompleta e apresenta pontos fracos constitui condição sine qua non para u diálogo intercultural. (SANTOS apud Moreira 1999 pág. 87). Entende-se que este diálogo intercultural praticado no campo de formação, a partir do que já foi discutido sobre multiculturalismo, não se limita as paredes acadêmicas, mas o futuro profissional da educação deve ter um olhar mais dialético para o processo de ensino aprendizagem. De forma a perceber o aluno, jovem ou adulto, está inserido num mundo multicultural, onde a cultura, a razão, o afeto e a vida em sociedade, pode conduzi-lo na percepção do mundo consciente ou inconsciente. E o aluno, acadêmico, só conseguirá conhecer, refletir e relacionar o conhecimento científico com os saberes práticos através da vivência, experimentação e reconstrução da sua própria práxis pedagógica. Sempre se reconheceu o valor da apropriação dos saberes profissionais através da experiência. Aprende-se com as práticas do trabalho, interagindo com os outros, enfrentando situações, resolvendo problemas, refletindo as dificuldades e os êxitos, avaliando e reajustando as formas de ver e de proceder. (CAVACO apud GENTIL 2008, p.8). Portanto enfatiza-se a importância do curso de formação de professores de Educação Física manter uma grade curricular coesa em que os conhecimentos discutidos no meio acadêmico sejam vivenciados desde o princípio do curso através de estágios onde os futuros professores possam exercer práxis. Outro fator preocupante que tem contribuído de forma negativa na atuação do profissional de Educação Física no ensino noturno é o dilema da sua facultatividade da disciplina no ensino da modalidade na EJA. Na LDBEN 9394/96 parágrafo terceiro, do artigo 26 a Educação Física contemplava a EJA da seguinte forma: "A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular da Educação Básica, ajustandose às faixas etárias e as condições da população escolar, sendo facultativa nos xlviii cursos noturnos". Como disciplina facultativa, o Conselho Nacional de Educação aconselhava que caberia aos alunos participarem ou não das aulas de Educação Física e também a escola o direito de oferecerem ou não a disciplina para este turno de ensino. Em dezembro de 2003, o presidente da república e o congresso nacional sanciona e decreta a lei n. 10.793, alterando a redação do artigo 26 da lei anterior para a seguinte: "A educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I. que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II. maior de trinta anos de idade; III. que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV. amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; V. (Vetado) VI. que tenha prole". Portanto, percebe-se que a diferença desta lei para a antiga está apenas na reserva de mercado criada para o profissional de Educação Física que agora retorna ao ensino noturno, mas que não modifica muito o quadro quando o que está em questão é a participação dos alunos nas aulas de Educação Física; pois, a grande maioria dos alunos são trabalhadores com carga horária igual ou superior às seis horas, o que permite que sejam dispensados das aulas. Consideram-se todos estes fatores como um grande entrave que dificultam perceber a Educação Física como um meio de consolidação de práticas multicultural crítico por meio do desenvolvimento da cultura corporal. Visto que até os órgãos educacionais ainda tratam a disciplina como um mero subsídio de promoção à aptidão física, em que o aluno adulto é incapaz de praticá-las devido às impossibilidades físicas, visão discriminatória que se xlix disseminam não só pelas escolas, mas que indiretamente influencia as concepções de formação docente proporcionando a omissão da EJA nas grades curriculares. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS DA PESQUISA. 5.1 Procedimentos Metodológicos 5.1.1 Caracterização da Pesquisa Esta pesquisa caracteriza-se como estudo de caso do tipo descritivo com abordagem qualitativa. O estudo de caso consiste em uma investigação detalhada de uma ou mais organizações, ou grupos dentro de uma organização, com vistas a prover uma análise do contexto e dos processos envolvidos no fenômeno em estudo. O fenômeno não está isolado de seu contexto (como nas pesquisas de laboratório), já que o interesse do pesquisador é justamente essa relação entre o fenômeno e seu contexto. A abordagem de estudo de caso não é um método propriamente dito, mas uma estratégia de pesquisa. (HARTLEY apud DIAS 2000, pág. 1). Esta estratégia de pesquisa facilitará para que o autor deste estudo obtenha com mais êxito os objetivos e seu real propósito, discutir, conhecer e relacionar com a prática pedagógica da escola estuda as possibilidades do multiculturalismo na EJA, de forma a contribuir para a ampliação do seu conhecimento do foco proposto nesta pesquisa. 5.1. 2 População e amostra A população deste estudo foi composta por aproximadamente 180 alunos da EJA do sexo masculino e feminino, regularmente matriculados na escola E. E. F. Bela Vista de Porto Velho / RO. Para a realização da pesquisa foi selecionada apenas uma turma de cada série (6º, 7º, 8º e 9º ano), já que havia apenas 1 (um) professor de Educação Física A amostra foi constituída de 50 alunos do sexo feminino e masculino, faixa etária de 15 á 50 anos e do professor da EJA da escola referida. l 5.1.3 Procedimentos para a seleção da amostra Inicialmente realizou-se uma visita à direção da escola, onde foi explicado o objetivo e relevância do estudo. Em seguida, oficializou-se a pesquisa através de uma solicitação para a realização do trabalho, tendo sido acordado com a direção da escola um termo de consentimento da coleta de dados. Posteriormente foi feito contato com o professor de Educação Física que auxiliou na seleção da amostra, os quais foram escolhidos diversidade de faixa etária. A partir de então, de forma intencional foi dado inicio a coleta de dados. 5.1.4 Instrumento de Medida Para atingir os objetivos com êxito foi usado para coleta de dados questionários de perguntas abertas e fechadas, entrevistas e observação. Será viável o uso destas técnicas, pois o número de escolas pesquisadas será pequeno, 1 (uma) escolas estadual e a amostra contará com a participação de apenas 1(um) professor e 4 turmas (5ª á 8ª série) para o qual este profissional dá aula. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para a análise e interpretação das informações (seus significados ditos, interditos e contradições). As perguntas da entrevista com o professor, os questionários aplicados aos alunos assim como a observação contaram com um roteiro de análise de acordo com o que foi proposto investigar de uma forma coerente o que permitiu a análise e interpretação mais ampla dos resultados. Disponibilizando através desta a ligação de todos os resultados obtidos, comparados para destacar pontos comuns e portos de discordância consolidando de forma coesa os resultados. Acredita-se que este estudo ampliou o conhecimento do pesquisador e contribuiu para a formação de sua prática pedagógica de maneira mais reflexiva e crítica. Este estudo contribuiu para analisar as problemáticas que dificultam a prática de ensino do professor de Educação Física e respeito às diversidades culturais presentes na EJA, assim como atentar para a importância de uma prática voltada para o multiculturalismo crítico o qual dá li subsídios para as problemáticas sociais econômicas e políticas nos quais está envolvida esta clientela. Acredita-se que o pesquisar/ou envolvidos no estudo poderão trabalhar no sentido de dar sua contribuição no processo de mudança da realidade que aflige e influencia a prática dos profissionais da sua área. 5.2 Apresentação dos resultados e análises dos questionários aplicados aos alunos. Os dados coletados através de questionários foram agrupados de acordo com a semelhança das respostas, os resultados seguem apresentados através de porcentagem e descritos em gráficos. Foram respondidos ao todo 50 questionários distribuídos entre as 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. Com o intuito de facilitar uma melhor análise, leitura e discussão dos resultados optou-se por agrupar os gráficos que possuem relação na interpretação dos dados. Ressalta-se desde já que os dados das questões 9 e 10, do questionário aplicado aos alunos, não forma tabulados já que todos os alunos afirmaram que o professor não aplica qualquer tipo de trabalho. Gráfico 1 Gráfico 2 lii Idade dos Alunos 15-19 anos 8% 18% 20-30 anos 38% 31-40 anos 36% 41-50 anos Sexo 46% 54% Feminino Masculino Como podemos observar nos gráficos 1 e 2 as características de idade e sexo estão bem divididas, um campo rico para se desenvolver uma prática pedagógica que priorize o diálogo, troca de saberes e valores culturais. Visto que alunos na faixa etária de 15-19 anos estão passando por ápice de mudanças e conflito no seu desenvolvimento de uma forma geral (adolescência), se encontram mais críticos, mas agressivos, mais criativos, com muita energia e disposição. Por outro lado os alunos de 20 e 30 anos estão na fase adulta, mas seguros e maduros, com mais responsabilidades, conhecedores das experiências sociais, o que pode estar contribuindo para troca de conhecimentos e mediando relações de menos conflitos negativos, uma vez que conhecem e convivem com a mesma realidade social que os alunos mais novos estão passando. As trocas de conhecimentos tantos das habilidades esportivas e de culturas corporais como os conhecimentos cognitivos (científicos, políticos, sociais, afetivos) proporcionado pelas diferenças de idade e sexo, podem ser usados como conector da mediação dos conhecimentos oferecidos pelo professor com os conhecimentos trazidos pelos alunos. No entanto de acordo com as observações não é bem isso o que está acontecendo. O método didático utilizado pelo professor não valoriza as liii diversidades percebidas nos dados, abrindo mão das diferenças como incremento para suas aulas. Ao contrário disso os alunos por si só reproduzem relações de preconceito entre os sexos, e distanciamento entre alunos mais novos e mais velhos em que as relações imperam isolamentos, apatia e menosprezo de si e do outro, conforme estará descrito mais a frente com os outros dados da pesquisa. Gráfico 3 Gráfico 4 Cor 13% 20% 67% Pardo Amarelo Negro Cidade de origem Porto Velho 8% 4% Outras cidades da Região Norte 88% Considera-se que Cidades da Região Nordeste há uma semelhança nos resultados, certa homogeneidade, na característica cor dos alunos quanto do local de origem. A cor dos alunos é bem característica da população da cidade de Porto Velho, onde a maior parte dos alunos é de origem, portanto pode-se afirmar que tais fatores pode não ser um estímulo de conflitos negativos em decorrência das diversidades entre os alunos. A depreciação ou qualquer tipo de preconceito, em relação à cor ou origem, não foram identificados nas relações dos alunos durante as aulas de Educação Física. No entanto, estes fatores não devem contribuir para que o professor abra mão, de utilizar suas aulas e conteúdos, as diversidades da cultura corporal assim como suas características políticas e sociais, também liv proporcionar as relações de respeito e apreço as diversidades de cor ou raça existente em nosso país. Ao contrário a diversidade de conhecimento cultural é defendida com afinco na PCNEJA, mas de acordo com os dados da observação o professor não utiliza métodos didáticos que contemplem a aplicação de conteúdos referente à diversidade de cultura corporal. Conforme analisado nos pressupostos teóricos estes conteúdos são muito importantes para o conhecimento e afirmação das identidades culturais assim como a reflexão e criticidade da mesma. Gráfico 5 Gráfico 6 Importância da Educação Física para EJA Conteúdos que gostaria na aula de Educação Física 25% 24% 18% 26% 15% 2% 13% 15% 4% 8% 44% 6% Melhoria da Saúde Exerc. Físicos: alongamento, treinamento de força, caminhada Todos os conteúdos da disciplina Oportuniza prática esportiva Futsal Proporciona: lazer, motivação e interação Desenvolvimento físico Brincadeiras Desenvolvimento cognitivo Não é importante Vôlei Importante como as outras disciplinas Na leitura dos gráficos acima podemos verificar que os alunos da EJA estão cientes da importância da Educação Física para seu desenvolvimento. Esta afirmativa pode ser constatada na coerência dos resultados dos gráficos 5 e 6. No gráfico 5, 24% dos alunos definiram que a disciplina é importante para a promoção da saúde e no gráfico 6, 44% destes optam pela prática de exercícios importantes para a promoção da saúde nas aulas. E 26% dos alunos gostariam que tivesse todos os conteúdos da Educação Física. Estes resultados contrapõem a fala do professor na entrevista quando afirma que o futsal é o esporte que os alunos mais gostam, é importante refletirmos que se os alunos anseiam por outros conteúdos da Educação Física mais só querem jogar futsal, será que eles preferem jogar futsal por que não são oferecidas para os mesmos outras opções de conteúdos? Esses fatores apontam para que o professor de Educação Física reflita sua prática pedagógica com o intuito de verificar o nível de conhecimento lv passado para os alunos, já que a PCNEJA enfatiza a necessidade de ampliar o conhecimento dos alunos através da diversidade de conhecimentos. Na discussão sobre o multiculturalismo crítico, no referencial teórico, verifica a necessidade da ampliação dos conhecimentos destes alunos, pois sem os mesmos os alunos não terão capacidade de transcender à condição vigente, não se pode refletir, criticar ou mudar algo se não for oferecido subsídios pra isso. Para contextualizar esta afirmativa, nos adiantamos e relacionamos com a fala do professor na entrevista quando diz que “os alunos fazem algumas críticas sobre o esporte mais sem conhecimento aprofundado”. Portanto percebe-se a ciência do professor quanto a necessidade dos alunos em aumentar seu conhecimento dos conteúdos da disciplina, mas não proporciona meios para isso na sua prática de ensino. Podemos afirmar também através dos dados do gráfico 5 os conteúdos oferecidos para os alunos não contemplam seus anseios, já que de acordo com o relatos dos alunos e observação durante todo ano letivo o professor aplica sempre os mesmos conteúdos vôlei, futsal e jogos de mesa, de igual modo para todas as séries. Gráfico 7 Gráfico 8 Conteúdos significativos nas aulas de Educação Física Conteúdos que não são importantes para o cotidiano 42% 4% 22% 10% 49% 12% 51% Sim Não 8% 2% Futebol e Volêi Torneio Volêi Futsal Dama e Xadrez Conteúdos Teóricos Todos são importantes Obs: As justificativas dos alunos quanto à significância dos conteúdos para o dia-a-dia são: Sim - Aprendo noção de saúde, pratico esporte, tenho lazer e interação; Não não aprendo nada, o professor só da futsal e vôlei. Os dados do gráfico 7 contradizem os dados dos gráficos 5 e 6 conforme discutidos a cima, pois 51% dos alunos firmam que os conteúdos aplicados na lvi Educação Física são significativos para o cotidiano, sendo que mais de 70% destes anseiam por outros conteúdos da Educação Física, também relacionados com a saúde. E no gráfico 8 mais de 50% dos alunos (reunindo as valores do conteúdos que não são importante para o cotidiano) afirmam que todos os conteúdos aplicados pelo professor não ser importante para o dia-adia. Durante a aplicação do questionário, e alguma conversas com alunos durante a observação, percebe-se na fala dos alunos certa complacência para com a relação professor-aluno, onde o aluno gosta do professor, pois não obriga ou impõe nada durante a aula e o professor se sente acomodado com a situação na aplicação das aulas, através do método aula livres. Portanto acredita-se que estes fatores podem estar relacionados com os resultados, do gráfico 7, onde 51% dos alunos afirmam ser os conteúdos aplicados pelo professor ser significativos para o aprendizado da prática de esporte, conhecimento de noção de saúde. Também é possível afirmar este fato, por que algumas das justificativas dizem não ser significativos os conteúdos por que o professor só dar vôlei e futsal. Afirma-se esta hipótese devido à constatação nas observações que estes conteúdos não são aplicados sistematicamente, mais como um meio de lazer e recreação. Enfatiza-se mais uma vez que o método utilizado para estas classes do EJA não contemplam os princípios defendidos pela PCNEJA assim como pedagogia de Paulo Freire, que enfatiza a necessidade de trabalharmos com os conteúdos a partir significativos aos alunos. É certo afirmar que a não adoção a esta prática contribui para a desmotivação dos alunos não só pela disciplina, mas também pela educação como um todo estimulando os altos números de desistências na EJA. Gráfico 9 Gráfico 10 lvii Diversidade Cultural na sala Sexo 12% 44% 22% Religião Idade 22% Não tem diversidade significativa As Diversidades Cultural dificultam a aula de Educação Física 30% 70% Sim Não Observação: As justificativas que afirmam que as diferenças atrapalham a aula foram: só joga quem sabe, os alunos mais velhos não têm espaço na Educação Física, cansaço físico, idade avançada (aluno acima de 40 anos diz que Educação Física é bom só pra jovens). De acordo com gráfico 9 na opinião de 44% dos alunos não há diversidade cultural na sala de aula, acredita-se que esta resposta pode não estar relacionada com o que de fato estamos discutindo, já que os alunos não entendem com profundidade a relevância da diversidade cultural e também quando se trata de diversidade cultural abre-se uma amplitude de possibilidade. No entanto é importante considerar a percepção destes quanto às diferenças em relação à idade, pois podemos supor, ou entender nas entrelinhas desta resposta, que se há percepção da diversidade fatores positivos ou negativos quanto à relação pessoal podem fazer com que esta seja percebida. Até por que esta questão das dificuldades de práticas pedagógicas que atendam as diferenças de idade na EJA são focos de discussão no mundo acadêmico. Confirma-se a subjetividade com que esses gráficos sejam interpretados, quando atentamos para leitura do gráfico 10, onde 70% dos alunos afirmam que as diversidades culturais não dificultam as aulas de Educação Física, pois como foi constatado na observação há sim problemas relacionados à participação de mulheres nas aulas, assim como o pouca lviii participação de adultos nas mesmas. Portanto volta-se a questionar a existência de complacência nas interações professor-aluno quanto à aplicação da disciplina. Não é possível encontrar nenhuma característica do multiculturalismo crítico nesta prática, pois há ausência de percepção das diferenças em que qualquer grupo apresenta, assim com a falta de criticidade quanto realidade ou posição em que vivem (submissão e conformismo pelos conteúdos oferecidos pelo professor) indicam o baixo nível de anseios de mudanças, de reação, libertação da obscuridade de conhecimento, percebidos na fala, ações e respostas dos alunos. Gráfico 11 Gráfico 12 Preconceito e Desvalorização 10% Respeito das diferenças entre os alunos nas aulas de Educação Física 50% 50% 90% Sim Sim Não Não Obs. (Gráfico 11) Todos os alunos que responderam que sofreram algum tipo de desvalorização ou preconceito afirmam que foi provocado por outros alunos. Encontra-se mais uma vez uma contradição nas respostas dos alunos. No gráfico 11, 90% dos alunos afirmam não ter sofrido nenhum tipo de preconceito ou desvalorização, mas no gráfico 12, 50% afirmam que não há respeito às diferenças entre os alunos. Subtende-se mais uma vez que a falta de conhecimento sobre os diversos tipos de preconceito ou desvalorização, que podem estar interdito nas brincadeiras verbais ou não, nas falas e trato uns com os outros durante um jogo, podem ter influenciado nas respostas dos alunos. Afirma-se tal hipótese quando relacionamos estes dados com as observações das aulas de Educação Física, no qual foram identificadas várias situações de agressividade, desrespeito e preconceito entre os alunos durante a realização dos jogos. lix Portanto, enfatiza-se mais uma vez a necessidade de reflexação do professor sobre que tipo de interações e concepções está sendo proporcionado na aplicação destas aulas. Fazemos este questionamento, pois segundo o PPP da escola a comunidade em que a escola está inserida permeiam violências, furtos, drogas e outros problemas sociais os quais a escola é responsável pela ampliação das capacidades humanas com o intuito de formar indivíduos autocríticos capazes de colaborar com a democracia social e sustentação de uma sociedade mais justa. Gráfico 13 Professor de Educação Física respeita as difirenças culturais dos alunos 20% Sim Não 80% Obs: As justificativas dos alunos quanto o respeito do professor pelas diferenças culturais: Sim: trata todos iguais, não obriga os mais velhos a fazer Educação Física, todos os alunos podem participar, não destrata ninguém. Não: Não conversa com todo mundo igual, dar mais atenção para as mulheres, só joga quem sabe. Mais uma vez é conveniente afirmar que a pergunta proposta para os alunos tem sido tratada de uma forma diferente do foco de discussão, pois os alunos os dados dos gráficos divergem com os dados coletados na entrevista. 80% dos alunos afirmam que o professor respeita as diferenças, acredita-se que muitos alunos referiram suas resposta quanto ao trato relacional que o professor tem com os mesmo, já que na entre as justificativas os alunos afirma que o professor não destrata ninguém e nem obriga a participação nas aulas. De fato durante as observações foi constatado que o professor trata os alunos sem qualquer agressão ou depreciação, é calmo e paciente, assim como tem uma boa amizade com os alunos. No entanto, quanto ao método utilizado na aplicação das aulas não é conveniente afirmarmos isto, pois como as aulas são livres, sendo os jogos e lx esportes utilizados como recreação e lazer, conseqüentemente só a participação dos alunos com mais habilidades e mesmo assim se torna de fato desmotivante à participação dos alunos mais adultos que além de não ter mais tanta habilidade com alguns jogos também estão cansados de ter trabalhado durante o dia. Gráfico 14 Motivo que estuda na EJA Não teve oportunidade quando criança 32% Não aproveitou na idade certa 11% Objetiva conseguir melhor emprego 33% 8% 16% Reprovação Desistência Como esta pergunta foi aberta deu margem há mais de uma interpretação, alguns responderam suas pretensões em estudar na EJA outros descreveram os motivos que contribuíram para que eles estejam estudando na EJA. Considera-se relevante analisarmos o que contribuiu para que estes alunos estejam estudando na EJA. Conforme podemos observar 33% dos alunos afirmam ter sido por causa da reprovação e 32% por desistência, tais fatores nos fazem refletir sobre a situação atual da educação não só do estado mais também do nosso país. O que percebe-se é que os problemas sociais continuam a interferir na melhoria da educação regular e o Estado apesar do “esforço” não estão de fato conseguindo resolver tais problemas, com isso as escolas mantêm-se omissa aos seus verdadeiros objetivos, onde os profissionais capacitados preferem utilizar práticas cômodas, que apenas reproduzem os objetivos da classe elitista, fomentando o desenvolvimento de adultos mais sujeitos a opressão ideológicas da sociedade vigente. Tais fatores colaboram para que a cada ano mais jovem desistam das da educação regular ou se matriculem na EJA devido inúmeras reprovação e fracassos. O que contribui ainda mais para a decadente lxi situação desta modalidade de ensino é a simples redução dos conteúdos sem vínculos significativos para esta clientela desenvolvidos através de práticas descompromissadas com a aplicação de conhecimentos políticos culturais. 5.3 Apresentação dos dados e análise da observação das aulas de Educação Física da EJA 5.3.1 Metodologia de ensino utilizado nas aulas de Educação Física Em todas as séries o professor aplica as mesmas estratégias, distribui a bola (de vôlei ou futebol de acordo com o desejo dos alunos), arma a mesa de ping-pong, organiza os tabuleiros de dama e xadrez, nestas prevalece o lazer e recreação. O método utilizado pelo professor apresenta algumas características da abordagem de aulas livres, no entanto é possível verificar que nenhuma aula é planejada para atender qualquer dos objetivos que sejam, pois não está presente nenhum tipo de mediação de conhecimento. Apenas o professor disponibiliza os materiais e os alunos escolhem o que quer usar. Esta prática nos remete relaciona-la as ações do capitalismo vigente em nossa sociedade, o qual nos “oferece” “tudo”, os que detêm o poder quer, e o “povo” apenas aceita sem nenhum tipo de contestação devido à comodidade, ou sem outra opção, dos produtos que nos são “impostos”. As relações fomentadas por esta prática de ensino é o posto que Paulo Freire propõe, pedagogia em que se apóia a PCNEJA, uma educação libertadora, crítica, consciente que não pode se limitar às relações do grupo mas que necessariamente se apresentam na tomada de consciência, no sentido oposto ao de uma educação para a submissão, mas uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política. 5.3.2 Relação aluno-aluno (respeito às diversidades/princípios morais) Como as aulas são aplicadas através de métodos livres as interações dos alunos variavam de acordo com a turma. Nas salas em que havia alunos que saiam bem no futebol ou no vôlei só aquele grupo jogava, durante toda a aula o jogo tornava-se uma disputa lxii acirrada. A interação entre eles era sempre de depreciação uns aos outros, se tratavam por palavras de baixo galão como “pega otário”, “zé ruela”, “respeita safado”, todas estas palavras eram citadas quando os alunos ganhavam uma certa jogada, zombando uns dos outros. Essas falas sempre eram num tom de superioridade para mostrar que era o melhor, mas através de “brincadeiras”. Nestes jogos os próprios alunos combinam as regras e arbitram o jogo sem a interação do professor, e a maior parte dos alunos era sempre do sexo masculino. Só jogavam as meninas que sabiam muito bem. Na arquibancada enquanto assistia uma destas aulas, conversei com uma aluna de idade adulta, perguntei se ela também gostava de jogar vôlei, ela disse: “Gosto, mas não sei jogar direito e tenho medo de levar bolada, só joga os alunos que sabem”. “Tem vontade de aprender mais o professor não ensina”. Neste momento o professor ia passando próximo e ela perguntou para ele se ele a ensinaria, ele afirmou que ia conseguir outra bola para ensiná-la ao lado da quadra enquanto os meninos jogavam. Nas turmas em que os alunos não tinham tanta habilidade com vôlei ou tinha pouco homem para fazer a partida de futebol, as brincadeiras era de vôlei em rodinha, ou jogo de futsal sem disputa séria. Nestas a participação de mulheres eram quase iguais as dos homens, mas sempre surgia uma piadinha dos meninos para as meninas, desvalorizando-as nas habilidades. Para ter a oportunidade de jogar as mulheres (jovens e adultas) corria a frente dos meninos, se posicionavam na beira da quadra, tiravam as sandálias e já gritavam “vou jogar!”, durante todo o jogo para não ficar de fora tinham que se impor, “peitavam os homens”, sempre tinham que se sair melhor para não se colocadas para fora do jogo. Uma turma em que a maioria dos alunos era jovem, durante a brincadeira de futsal, foi o momento em que observei uma cena de maior descaso com as diferenças culturais. Nesta turma tem tinha um aluno com problema de dicção (fanho), os alunos o chamam de Gago, ao chegar na quadra este pede para participar e outros disseram: - Que, Gago, sai fora tu é muito ruim! E as meninas (mais popular da sala que também estavam jogando afirmam emperrando o “Gago”): - Sai, não vem perturbar a gente não! lxiii Tudo que o aluno “Gago” falava eles o imitavam como se tivessem também com problema de dicção (fanho) e riam dele. O aluno fica meio sem graça e vai sentar. Depois os alunos, vêem que estava faltando um integrante, chamaram ele (Gago) de volta para jogar. Durante toda a brincadeira o aluno “Gago” tenta jogar o melhor, gosta de participar, parece que precisa ser o melhor para estar entre “Os Melhores”. O aluno “Gago” tenta tirar umas brincadeiras com uma das meninas, e ela sempre o menospreza, bate nele, ignora, procura sempre mostrar com ênfase para os colegas que não quer nada com ele, não quer aproximação. Ao tratá-lo assim ri e olha para as colegas. O “Gago” procura não falar ou se comunicar muito durante o jogo, pois sempre que fala alguma coisa os alunos o imitam. Num certo momento duas meninas (populares da sala) combinam e derrubam o “Gago”, depois riem dele. No final do jogo este aluno se dirige até mim e pergunta o que eu to anotando, e vai logo explicando, sem que eu falasse nada, “as meninas não me derrubaram foi eu que caí sozinho meu sapato é liso, já sou maior de idade, sou casado e só estava brincando com as meninas”. Expliquei pra ele que estava fazendo uma pesquisa na escola sobre as aulas de Educação Física. Começamos a conversar e ele falou um pouco da sua vida. Falou sobre sua infância, foi abandonado pela mãe, sofria com o preconceito da madrasta e apanhava muito do pai. Falou que trabalhava, de seus planos pensava num futuro melhor para ele e esposa. Durante suas falas sempre enfatizava sobre sua honestidade, que não era bandido, nem usava drogas. Pedi que ele preenchesse um questionário para mim, mas ele disse que sua letra era muito feia e que não ia responder, então pedi que ele respondesse as perguntas e eu escreveria. Na pergunta sobre se já tinha sofrido algum tipo de preconceito, primeiro ele disse que não, depois ficou vermelho botou a mão na cabeça e disse que sim sem querer assumir. Durante a brincadeira de futsal que relatei acima, sobre o desrespeito com um aluno com distúrbio de dicção, o professor fez apenas um comentário, lxiv quando os alunos se recusavam em deixar o “Gago” participar, falou com a voz mansa: “Deixa ele jogar!” Diante do relato exposto percebe-se que o método utilizado pelo professor não possibilita a mediação do estímulo ao respeito às diversidades culturais. Nestas aulas vê-se presente o espaço que contribui para as relações submissão e superioridade, corroboram para a afirmação dos fracassos e medos, onde os jovens e adultos (oprimidos, cheios de não saber de nada), trazem consigo para este meio escolar. Percebe-se na fala dos alunos adultos que assim como a escola a Educação Física é um espaço alheio onde estão de favor. Afirma-se isto numa das falas dos alunos quando responde que a “Educação Física é bom para os jovens”. Apesar de no gráfico 12 ter mostrado em porcentagem que 50% dos alunos afirmam a existência de falta de respeito às diversidades entre os mesmos nas aulas de Educação Física as observações “falam mais alto”. Embora as competências sociais no indivíduo já estejam sendo formadas a partir dos seis anos de idade e os profissionais de Educação Física têm muita responsabilidade na educação das mesmas, identificamos aqui as competências sociais como princípios e valores que precisam ser discutidos e repensados de uma forma crítica. O aluno precisa perceber que muitas de suas ações são estimuladas pelas influencias sociopolíticas (capitalismo) que objetivam “amara-los” de forma a minimizar suas autonomias morais. Portanto, considera-se que as aulas de Educação Física não possibilitam a aplicação dos princípios pedagógicos (diversidade cultural, inclusão e transversalidade trabalhados pelos conteúdos atitudinais) que norteiam a PCNEJA, assim como não contribui para as necessidades sociopolíticas identificadas na comunidade pelo PPP da escola. Tal cenário, de ampla diversidades, apresenta-se como ambiente ideal para explicitação, discussão, reflexão e aplicação de atitudes e valores considerados éticos ou antiéticos para si e para os outros. Além da intervenção no momento oportuno, cabe ao professor de Educação Física a construção de formas operacionais e contextos pedagógicos para que valores relacionados ao princípio da dignidade humana e construção de autonomia moral sejam exercidos, cultivados e discutidos no decorrer das práticas escolares. lxv 5.3.3 Relação professor-aluno (respeito às diversidades/princípios morais) O professor sempre se omitia nas interações, só intervia em último caso. Sempre usava a voz em som baixo e nunca se alterava com os alunos. Os alunos o respeitavam, mas quase sempre a opinião que prevalecia era dos alunos. Sua interação era mais freqüente com as mulheres. 5.3.4 Conteúdos Aplicados Como as aulas era livre, ou recreativa, sempre os alunos jogavam vôlei, futebol, xadrez, dama e ping-pong. E de acordo com as respostas dos alunos na questão 9 do questionário o professor não passa nenhum tipo de trabalho, ou seja, as aulas se resumem apenas os jogos recreativos. De acordo com o próprio professor na entrevista os alunos são avaliados apenas pela presença. Durante a observação foi constatada a preocupação dos alunos em responder a chamada feita pelo professor, assim que alguns alunos respondiam iam embora ou voltavam para a sala de aula. Dentro desta situação podemos identificar a displicência com os dois elementos fundamentais na Educação de Jovens e Adultos na Educação Física, o conteúdo e avaliação. No referencial teórico foi fomentado por diversos autores a importância de trabalharmos os conhecimentos significativos através de diálogo e criticidade para que a prática pedagógica possa contemplar o multiculturalismo crítico. Em nenhum momento foi afirmado no referencial teórico, tanto das citações dos autores que abordam o multiculturalismo quanto à prática pedagógica de Paulo Freire e do Sócio-construtivismo os quais a PCNEJA está embasada, a não importância sobre os conhecimentos. Ao contrário sem conhecimento é impossível à reflexão, a crítica, a libertação/superação das ideologias impostas. A PCNEJA ainda enfatiza o cuidado que o professor deve ter em selecionar os conteúdos para a EJA, pois sua relação com o conhecimento é muito distinta daquela de crianças e adolescentes que cursam o Ensino Fundamental. lxvi O jovem e o adulto são cidadãos mais conscientes acerca da falta de alguns conhecimentos das diferentes disciplinas; ao mesmo tempo, são sujeitos que já põem em ação conhecimentos construídos ao longo da vida, inclusive a serviço da tarefa profissional. (PCNEJA 2002, 118) Como já foi mostrado no gráfico 5 e 6 os alunos sabem da importância da Educação Física na escola é tanto que almejam por conteúdos de acordo com suas necessidades, atividade física e saúde. Portanto, pode-se afirmar que os não estão sendo aplicados conteúdos de acordo com as necessidades dos alunos, assim como a forma com que os conteúdos são trabalhados não propiciam nenhum acréscimo de conhecimento impossibilitando-os de refletir, analisar, dialogar e criticar suas ações na sociedade. 5.3.5 Motivação dos alunos nas aulas A participação dos alunos nas atividades era de acordo com as habilidades, os que sabiam e gostavam de jogar sempre jogavam com entusiasmo. Nas turmas que tinha alunos mais jovens ou alunos de mais idade que não tinham tanta habilidade com as brincadeiras, estas não eram tão duradouras, começavam a jogar e logo depois paravam (alguns alunos já não respeitavam as regras e começavam a bagunçar). 5.4 Análise do Projeto Político Pedagógico da Escola Bela Vista e espaços do multiculturalismo na EJA Com o intuito de investigar se os objetivos e metas da escola atentam para o respeito das diversidades culturais através do Projeto (Projeto Político Pedagógico), analisou-se através de leitura o referido documento da escola relacionando-o com as concepções de multiculturalismo e diversidade cultural discutidas no presente trabalho. Destacam-se abaixo alguns tópicos do PPP que foi considerado significativo para tal análise, para que posteriormente faça-se uma relação com as práticas pedagógicas do professor de Educação Física e as possibilidades multiculturais. Ao analisar o PPP da Escola observa-se bem claro a descrição da realidade da clientela, estas informações são muito importantes tanto para o lxvii professor de Educação Física como os de outras disciplinas, pois estas possibilitarão que o professor conheça melhor os alunos com que está trabalhando assim como suas necessidades educativas e elabore um planejamento que possa respeitar as diversidades culturais possibilitando também práticas que contemple o multiculturalismo crítico. No tópico Contextualização Socioeconômica e Cultural diz: “No ensino noturno e vespertino, há incidências de grande distorção de idade-série, reprovação, evasão e desinteresse dos alunos pelos estudos e dos pais pelos filhos que apresentam problemas na escola”. No próximo parágrafo é afirmado que os profissionais da escola têm o desafio de buscar cada vez mais a melhoria da prática pedagógica assim como melhorar as relações humanas, dentro e fora da escola, com o intuito de difundir valores morais como respeito, solidariedade, igualdade, cidadania e criatividade. Esclarece-se, portanto que o Projeto Político Pedagógico é um instrumento clarificador da ação educativa da escola e fundamental na coerência e organização da prática pedagógica docente, pois é através dele que é refletida a realidade da escola e do aluno em que o professor terá subsídios para construir, refletir, avaliar, ressignificar e consolidar sua ação. A Educação Física enquanto componente curricular da Educação básica deve assumir sua responsabilidade de atuar e contribuir para a elaboração e viabilização do Projeto Político Pedagógico da escola para que possa elaborar suas práticas em consonância com a realidade e necessidade sociais, políticas e culturais da comunidade em que atua. No tópico Concepção da Escola percebe-se a preocupação com a formação de cidadãos críticos, uma das características do multiculturalismo crítico. Escola que queremos: Escola – Idealizamos uma escola aberta, um centro cultural onde não apenas repassamos os conteúdos e saberes historicamente acumulados, mas discutiremos questões políticas, conhecimentos gerais, manifestações culturais, cidadania e outros assuntos que permitam o diálogo e o desenvolvimento da crítica. Deve ser uma escola uma ofereça que ofereça qualidade de ensino e serviços prestados, adequada às necessidades do aluno, a partir de sua realidade. Currículo – muito além de um rol de conteúdos básicos para cada série e disciplina, deve ser flexível, constantemente avaliada revista e enriquecida com conhecimentos que lxviii favoreçam o desenvolvimento cognitivo e social dos nossos alunos. Aluno – Ativo, participativo, crítico, consciente de seu papel na escola e na sociedade e da importância de sua participação no processo de construção de seu saber. Professor – Como mediador do processo de conhecimento do aluno, deve ter competência técnica, dinamismo, manejo das relações interpessoais e conflito, domínio de conteúdos e metodologias de ensino, flexibilidade e boa disposição. Para alcançar tais concepções a escola traça como Missão “Garantir o acesso e permanência dos alunos na escola, oferecer uma educação de qualidade, conscientizando-os sobre o exercício da cidadania e tornando-o capaz de agir na transformação da sociedade”. Priorizando as seguintes necessidades: Melhorar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos, incrementando a avaliação e a utilização de recursos pedagógicos. Realizar reuniões pedagógicas para troca de experiências, planejamento e prática docente. Fomentar metodologias participativas das aulas, com maior envolvimento dos alunos e de sua família, promover eventos da integração com a comunidade interna e externa. É ressaltado também no documento que a proposta é constituída por ementas, que estão embasadas na Matriz Curricular do Ensino Fundamental e nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Diante do exposto pode-se afirmar que o PPP da escola aponta preocupações com as diferenças culturais, pois investigaram a realidade e necessidades da comunidade no qual está inserida, assim como idealiza uma escola que contemple o respeito às diversidades culturais apontando metas que incentiva práticas docentes com características do multiculturalismo crítico, quando diz que os docentes procuram difundir através de suas práticas valores morais, respeito, solidariedade, igualdade através de metodologias participativas capazes de formar cidadãos críticos capazes de agir na transformação da sociedade. Como foi citado no referencial teórico o currículo, que deve ser construído de acordo com o PPP da escola, deve ser um espaço que propicie lutas em torno dos diferentes significados sobre o social e político, tais processos subsidiam a construção do processo de ensino aprendizagem baseado nos princípios multicultural crítico. E conforme as informações declaradas no PPP da escola estudada evidenciam-se a urgente necessidade lxix de práticas pedagógicas embasadas no multiculturalismo crítico, um trabalho que só pode ser desenvolvido com o trabalho em equipe através de uma 1 Gestão Participativa comprometida com o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural da comunidade escolar. 5.5. Apresentação dos relatos e análise da entrevista com o professor de Educação Física As perguntas do roteiro de entrevista foram agrupadas de acordo com o tópico de discussão, e as principais respostas do professor foram transcritas para melhor análise e discussão dos resultados. 5.5.1 Informação Profissional Ano de Formação: 1992 Tempo de Serviço na EJA: 4 anos Instituição de formação: UNIR 5.5.2 O Projeto Político Pedagógico e sua influencia na prática pedagógica multicultural do professor de Educação Física Segundo o professor o Projeto Político Pedagógico da escola não influencia nas suas aulas, pois não participou de sua elaboração, assim como não faz Plano de Curso. Para elaborar suas aulas leva em consideração apenas a disponibilidade de material na escola. Não faz planejamento de ensino, mas apenas roteiro de conteúdos. Afirma ainda que não tem condições de trabalhar de acordo com as orientações do PPP devido as dificuldades de estruturas da escola como falta de portão na quadra e material desportivo. Observa-se até o momento a falta de conhecimento das orientações do PPP e sua influencia na elaboração do seu plano de ensino. Sabe-se que o PPP é o documento de identidade da escola. Neste contém a contextualização socioeconômica e cultural da escola, está descriminado quem são estes alunos da EJA, quais os principais problemas da comunidade escolar, principais objetivos pedagógicos e metas traçadas para alcançar estes objetivos. É 1 (...) Gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a implementação das políticas educacionais e projeto político da escola. Compromissado com os princípios da democracia e com métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, no âmbito de suas competências) de participação e compartilhamento (tomada conjunta de informações) e transparência (demonstração pública de seus processos e resultados) (Lück 2006, p.35-36). lxx através destas informações que o professor poderá fazer o plano de ensino de forma a atender as necessidades reais da comunidade que está atendendo. Conforme analisado no parágrafo anterior o PPP da escola tem claramente as informações necessárias que possam subsidiar o professor na elaboração do seu plano de ensino, ainda pautado numa prática que respeite as diferenças culturais e privilegie o multiculturalismo crítico. De acordo com os resultados apontados pelos questionários aplicados aos alunos aponta-se a necessidade da viabilização de planejamentos pautado no PPP no sentido de buscar as mediações significativas entre o conhecimento a ser desenvolvido e a realidade do aluno, pois observa-se que o professor usa metodologias que propicia na participação das aulas apenas os alunos com mais habilidades (alunos mais novos) e os alunos mais adultos (menos habilidosos) encontram-se desmotivados a participar das aulas, não há espaço de aprendizagem para estes. Esta metodologia também não possibilita uma pedagogia que favoreça a reflexão, a criticidade, diálogo dinâmico e construtivo, não há mediação do saber e respeito às diferenças. O planejamento docente fundamentado no PPP é essencial para subsidiar as práticas pedagógicas que contemplem uma perspectiva dialética e multicultural crítica. Este deve levar em conta o aluno real e considerar a totalidade do seu desenvolvimento (psicomotor, sócio-afetivo e cognitivo), experiências anteriores (história pessoal). 5.5.3 Conteúdos aplicados na Educação Física e a diversidade cultural na concepção do professor Foi perguntado o que o professor leva em consideração na elaboração dos objetivos e conteúdos o professor diz que “Tem que levar em consideração a heterogeneidade da turma (faixa etária), pois independentes das séries tem alunos, adolescentes, jovens, adultos e alguns já anciães, portanto eu tenho que levar algum conhecimento teórico, algum conhecimento prático. Deixar experimentar o que nós temos”. E cita o que faz em sua aula para respeitar esta diversidade, disponibiliza diversos materiais como bola de futsal, dama, baralho, xadrez, ping-pong e vôlei. lxxi Observa-se na fala do professor a fuga da responsabilidade de levar em consideração na elaboração das aulas o respeito as diversidade, ele fala “tem que levar em consideração” e não “eu levo em consideração”, para não admitir que não elabore suas aulas com o intuito de respeitar a diversidade da idade dos alunos, mas que ele sabe da importância do determinado dever. Tenta justiçar-se em sua fala que o método utilizado, aula livre, respeita às diferenças de idade, e que atende as necessidades das turmas com os materiais citados por ele. Em outra pergunta semelhante indagou-se o seguinte: como organiza os conteúdos diante das diferenças de idade e diversidade cultural? O mesmo afirma que não leva em consideração a diversidade cultural para elaborar suas aulas, devido às dificuldades de estrutura da escola, como portão da quadra aberto e falta de materiais esportivos adequados. Elabora suas aulas de acordo com os materiais disponíveis, quando não tem dá um jeito e arruma, já chegou até trazer alguns materiais seus. Quando foi perguntado se percebia uma considerável diversidade cultural nas turmas da EJA encontram, percebe-se que o professor percebe as diferenças de uma forma mais comum sem relacionar com as questões sóciopolíticas que permeiam a educação. Não cita a idade como diversidade cultural, na sua visão as diferenças está nas pessoas que vem de estados ou regiões diferentes, que tem suas preferências de ritmo e músicas diferentes, de acordo com sua fala estas diferenças foi identificado por ele quando introduziu no ano passado a dança em seus conteúdos. Esta metodologia utilizada pelo professor não contempla com o que é sugerido no PCNEJA, o qual deixa claro a importância da aplicação diversidade de conteúdos de formar a contemplar o aprendizado conceitual, procedimental, e atitudinal, assim como a interação e construção do saber, defendido pela perspectiva construtivista. A prática utilizada não atenta para atender as necessidades dos alunos, quanto à significância dos conteúdos para a vida dos alunos e o desenvolvimento do senso crítico das situações concretas dentro e fora da escola. Fortalecemos estas justificativas através da resposta do professor quando perguntamos de que forma professor tem colaborado em suas aulas com o intuito de formar cidadãos mais críticos e conscientes quantos suas lxxii relações sociais, o professor responde que “nunca tinha pensado nisso e que a partir deste momento pode começar a pensar sobre o desenvolvimento da criticidade dos alunos através dos seus conteúdos”. Explica que os alunos fazem comentários aleatórios e sem conhecimento do algumas questões do desporto com um olhar crítico. Afirma que a partir de agora pode passar mais conhecimentos mais aprofundado sobre o desporto e isso poderá contribuir para que os alunos fiquem com uma crítica mais apurada. Percebe-se na fala do professor a admissão da não aplicação de conteúdos sobre os esportes aos alunos assim como não colabora para a formação de discentes mais conscientes e críticos quanto aos conhecimentos da Educação Física. Foi perguntado ao professor se os conteúdos por ele aplicados têm sido significativos/relevantes para dia-a-dia do aluno, o professor diz: “Sim, pra mim o significativo é que eles cumpram regras, diminuam as agressividades, diminuam os desrespeitos um pelo outro, que saibam perder, que são desenvolvidos principalmente no futsal, conteúdo que os alunos mais gostam”. Percebe-se nas respostas do professor o conhecimento da realidade e necessidades dos alunos quanto os aspectos sociais, assim como o nível de conhecimento dos conteúdos da disciplina, no entanto, o professor prefere afirmar que o método utilizado por ele, aula livre, podem contemplar todas as questões levantadas a respeito da significância dos conteúdos, criticidade e respeito às diversidades. O professor afirma respeitar as diversidades dos alunos “Quando se depara com os alunos com mais de 30 anos e que já o deixa em condições de desfrutar da dispensa a aula prática, não questiona a ausência do mesmo nas aulas, assim acontece no caso de alunos adventistas, não exige sua participação nas sextas e não o trata diferente por isso. Assim como os alunos que não querem participar das atividades oferecidas ele pede para que o aluno experiente e se não gostar não forço o aluno, desta forma acredito que respeito à diversidade dos alunos”. O professor percebe a diversidade cultural como uma simples “liberdade e direito de escolha que o aluno tem religião, maneira como vai agir, é o direito de cada um ser como é, por isso ser respeitado, por isso não ser descriminado. lxxiii Acredita que “com o avanço da globalização o respeito às diferenças tem aumentado”. Com as colocações do professor podemos concluir que sua concepção, sobre diversidade cultural assim como o trato da mesma dentro da sua prática pedagógica, aponta características que se enquadra dentro do multiculturalismo liberal. O professor reconhece a diferença entre os alunos e as aceita como natural, ignorando as relações, os confrontos e desrespeito pelas diferenças dos educandos uns com os outros. Ignora a importância de trabalhar essas competências sociais, mal desenvolvidas, dentro de seus conteúdos, e deixa os alunos reproduzirem ações de depreciação, submissão e opressão disseminada pelo pragmatismo capitalista. Percebe-se também que na concepção do professor qualquer ato de liberdade de expressão é visto como democracia e respeito às diversidades culturais, e que qualquer discussão que se faça com os alunos desenvolve-se os aspectos da criticidade, conteúdos atitudinais fomentado na PCNEJA. Esta visão social contraria a perspectiva em que a PCNEJA defende, baseado no método Freiriano, que luta por um ensino de EJA em que a prática pedagógica perceba que alunos e professores são sujeitos da educação, produtores da cultura, através de uma educação com caráter emancipatório, libertador, problematizador da realidade, no sentido oposto ao de uma educação para a submissão. É notório ver também a omissão do professor nas responsabilidades quando o ato pedagógico, os quais contribuem para o não desenvolvimento dos adultos e adolescentes nas suas competências cognitivas, sociais e morais relacionados aos conteúdos das aulas de Educação Física. De acordo com as citações de Paulo Freire no referencial teórico “quando o professor não tem clareza sobre a quem está servindo ou opta pela neutralidade, está mesmo que inconscientemente optando por um dos lados, neste caso, pela conservação”. Portanto abre mão de uma educação problematizadora, que estimula a criatividade e reflexão sobre a realidade, de modo a assumir o compromisso com transformação social, como está projetada nas propostas do PPP da escola em que atua. Verifica-se, nas aulas de Educação Física da escola estudada, a carência de práticas de “encorajamento para a multiplicidade de vozes, lxxiv pedagogia dialogal, que pessoas vejam a si e os outros como sujeitos e não como objeto” (MacLaren apud Moreira 1999, pág. 88). Acredita-se que a ausência de ética e respeito mútuo pode estar sendo influenciado pela não mediação das relações e também pela não sistematização dos conteúdos de acordo com as aspirações dos alunos, pois foi observado a desmotivação de muitos alunos nas aulas, tanto jovens como adultos, assim como espaços de tempos ociosos que contribuem para interações negativas. Sem a promoção do conhecimento não há possibilidades para a educação dialética e multicultural crítica, pois o indivíduo só pode ser libertado, da opressão, através da aquisição do conhecimento, só podemos transformar o que é vigente quando conseguimos entender, refletir e repensar a realidade, passando consciência ingênua à consciência crítica, “é necessário o aluno parar de apenas escutar e obedecer e rejeitar a hospedagem do opressor dentro de si, que faz com que se considere ignorante e incapaz” (Paulo Freire apud PCNEJA, 2002) Considerando que está descrito do PPP que o documento estava composto ementas embasadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, e conforme analisado neste estudo a Proposta Curricular da EJA, que está norteadas por perspectivas educacionais críticas, aponta-se a necessidade de averiguar quais e como estão sendo desenvolvidas as ações pedagógicas pela coordenação e administração escolar com o intuito de efetivar os objetivos e propostas descritas no PPP da escola, já que as práticas do professor de Educação Física não condizem com os mesmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudar, discutir e analisar os aspectos multiculturais nos Parâmetros no Currículo e práticas pedagógicas da Educação Física da EJA, foi antes de tudo uma realização profissional, já que durante todo o percurso de formação da graduação e especialização as questões políticas e sociais da área sempre foi para mim, pesquisadora e profissional da Educação Física, um anseio e prazer. Portanto, o presente estudo traz um sentimento de satisfação e completude em ter encontrado, no estudo sobre o multiculturalismo, um dos princípios fundamentais para construção e consolidação da minha própria prática lxxv pedagógica. Visto que sempre é angustiante, cada vez que parto para pesquisa de campo, se deparar com práticas pedagógicas que negligenciam os problemas políticas, sociais e culturais presentes nas instituições de ensino do nosso país. Nesta pesquisa não foi diferente, conforme os dados coletados e analisados foram possíveis constatar que o método utilizado nas aulas de Educação Física, na escola pesquisada, não está contribuindo de forma positiva para a formação de jovens e adultos providos de uma educação multicultural crítica. As práticas utilizadas não mediam a formação de discentes auto-críticos, que se identifique como sujeitos da história vigente, capazes de identificar, compreender, respeitar as diferenças culturais e almejar transcender qualquer imposição ideológica que favoreça a opressão. Identifica-se na prática pedagógica docente a incoerência dos objetivos e perspectivas traçadas pela Proposta Curricular Nacional da EJA, de acordo com que sugere os conteúdos (atitudinais, procedimentais e conceituais) que conforme constatados, apontam subsídios necessário para uma prática da Educação Física embasadas no multiculturalismo crítico. A não seriação destes conteúdos, propostos na PCNEJA, é vista como forma de respeitar o tempo, o ritmo e as experiências, oportunizando diferentes ofertas, dentro da modalidade EJA, na perspectiva de atender às várias realidades de vida dos educandos possibilitando desta forma a autonomia da comunidade escolar. Desta forma o projeto político-pedagógico de cada escola pode ser construído tendo como parâmetros as reais necessidades apontadas de acordo com o diagnóstico sócio-político e econômico, considerando as diversidades dos sujeitos envolvidos no processo educativo. A PCNEJA está embasada pela pedagogia de Paulo Freie, o precursor das políticas educacionais voltadas para a libertação da opressão, característica dada pelo autor os educando da EJA sempre foi enquadrado no meio educacional. Tal pedagogia aponta meios para a promoção de uma prática pedagógica mais democrática, em que os conhecimentos aplicados aos alunos atentam aos seus anseios e necessidades políticas, sociais e culturais viabilizando a problematização da realidade social. lxxvi Por meio desta perspectiva o profissional de Educação Física encontrará subsídios para fundamentar suas aulas de forma com os alunos sejam capazes de conhecer e compreender a própria cultura corporal, suas necessidades e limitações bio-psicosocial, assim como ter uma visão mais crítica da “percepção de corpo” produzido e imposto pelos anseios capitalistas da sociedade contemporânea, sendo capaz de identificar, compreender e conviver com as diferenças. Portanto, percebe-se um emaranhado de controvérsias nas falas e ações dos alunos e professor, assim como a prática do mesmo com a PCNEJA e os objetivos, metas e estratégias do Projeto Político Pedagógico, que busca a democratização e uma educação consciente no processo de ensino aprendizagem. No entanto, é incorreto apontar o docente da disciplina como único responsável para a situação vigente, nosso olhar não deve se limitar como as concepções de ensino conservadoras, que ver a solução dos problemas sociais de dentro da escola para fora. Mas devemos analisar esta situação como um todo, indagar, refletir e pesquisar o que a administração e coordenação desta escola têm feito para contribuir para a melhoria da prática pedagógica deste e dos demais profissionais que atuam na EJA, de forma a viabilizar as ações propostas no PPP e a PCNEJA, já que de acordo com o documento da escola afirma está composto por ementas embasadas na Matriz e Parâmetros Curriculares Nacionais. Assim como investigar em que perspectivas multiculturais os cursos de formação de Educação Física, o qual este e a maioria dos docentes deste município são formados, estão consolidando as práticas pedagógicas dos profissionais que de lá saem habilitados para atuar em qualquer modalidade de ensino. Pesquisar e analisar também as Políticas de Ações Educacionais promovidas pelo governo com o intuito de instruir os professores da EJA a usar e colocar em prática as Propostas Curriculares da Educação de Jovens e adultos. Ressalta-se a necessidade de que os profissionais da Educação Física atentem para a aplicação de conteúdos que contemplem todos os objetivos capazes de formar indivíduos mais críticos e conscientes, um ser provido de lxxvii corpo, cultura e cidadania que incorpore o multiculturalismo crítico em suas ações cotidianas. E não permitir a Educação Física se perpetuação da forma com que vem sendo usada no meio educacional ao longo do processo histórico, como subproduto dos objetivos e manobras políticas do poder capitalista.