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ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL CIDADANIA LUCRATIVA A RSE evolui nas empresas da região para ser entendida como parte integral e fundamental de um negócio sustentável no longo prazo GONZALO HERNÁNDEZ ARLY FAUNDES BERKHOFF 30 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL / ESPECIAL P ara o Grupo Amanco, fabricante de tubos PVC com presença em toda América Latina, os 16% de crescimento em vendas em 2005 não são suficientes para qualificar suas operações como bemsucedidas. “A performance acionária não se calcula somente em relação ao lucro”, diz Roberto Salas, presidente executivo do Grupo Amanco, em São Paulo. “Medimos também o impacto de nossas operações na comunidade, no meio ambiente, com os nossos colaboradores e fornecedores.” Por isso, a Amanco tem empreendido iniciativas para melhorar em aspectos que em outros tempos teriam sido considerados totalmente distante do trabalho da empresa. Um deles é um acordo com a Transparência Internacional, ONG dedicada a combater a corrupção, para promover a transparência nos processos de licitação pública ligados à distribuição de água na Colômbia e Argentina. Com isso, não só melhoram a imagem da Amanco na comunidade, mas também ajudam a empresa a incrementar o contexto em que funciona seu negócio – vender sistemas de transporte de água – e, claro incrementa os seus resultados financeiros. A Amanco é uma das empresas que integram suas iniciativas de benefícios à sua estratégia de negócios, deixando para trás a filantropia que só se preocupa em entregar dinheiro ou apoio específicos sem medir os resultados A RSE deve ser parte da estratégia das empresas para as próprias companhias. Esse é um dos primeiros passos que uma empresa deve dar se deseja avançar de forma séria no que se conhece como um plano de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e uma das principais revelações desse primeiro estudo latino-americano sobre o tema. Realizado conjuntamente pela AméricaEconomia e pela Funda- CASOS DESTACADOS Com base no estudo da PROhumana, foram escolhidas as seguintes empresas que se sobressaem na gestão de Responsabilidade Social em diferentes áreas EMPRESA ÁREA DESTACADA SANTANDER BANEFE [CHILE] PÚBLICO INTERNO E CLIENTES CARVAJAL [COLÔMBIA] VALORES, COERÊNCIA E COMUNIDADE CEMEX [MÉXICO] COMUNIDADE CIA. MINERA ANTAMINA [PERU] MEIO AMBIENTE E COMUNIDADE CORPORACIÓN GEO [MÉXICO] VALORES, COERÊNCIA E MEIO AMBIENTE HOLCIM [EQUADOR] DIVERSIDADE E COMUNIDADE GRUPO AMANCO [AMÉRICA LATINA] MOD. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENDESA [CHILE] MEIO AMBIENTE FORD MOTOR COMPANY [MÉXICO] DIVERSIDADE E MEIO AMBIENTE NATURA [BRASIL] MEIO AMBIENTE PHILIPS [AMÉRICA LATINA] MEIO AMBIENTE RED DE ENERGÍA DEL PERÚ [PERU] VALORES, COERÊNCIA E FUNCIONÁRIOS SANTANDER BANEFE LEALDADE SUSTENTÁVEL EM 2005, mais de 80% das vagas no banco chileno Banefe, do grupo Santander, foram ocupadas pelo pessoal da própria empresa. Este é o resultado de um programa de desenvolvimento profissional cujo objetivo é justamente promover políticas de recrutamento interno, com a publicação semanal das vagas disponíveis para convidar interessados a se candidatar. O Banefe também criou um programa para seus empregados equilibrarem a vida familiar e o trabalho, com um horário flexível, quatro alternativas de jornada de trabalho, férias adicionais (como reconhecimento ao desempenho) e a redução da jornada depois do pós-natal, entre outros. “A primeira Responsabilidade Social Empresarial que temos é com nossos empregados e sua família”, diz Felipe Cañas, gerente de marketing e produtos do Banefe. “Devemos ter uma boa empresa com lucro, poder pagar os salários e conseguir que as pessoas tenham a maior capacidade para atender os clientes, para o que nos capacitamos constantemente.” O Banefe tem claro que isso funciona como um círculo virtuoso: os trabalhadores contentes e que sabem atender bem seus clientes fazem seu trabalho melhor e conseguem maiores lucros para eles (comissão e bônus por desempenho) e a para a empresa. Além disso, Cañas destaca que os clientes do Banefe são pessoas de baixa renda e microempresários, o que obriga a empresa a atuar responsavelmente também com eles. Por isso, duplicaram o tamanho da letra dos contratos, acabando com a famosa “letra pequena”. “Não vendemos nada que os clientes não possam pagar”, diz Cañas. “Nossos empregados sabem que dentro dos valores fundamentais da empresa está o de não lhes mentir e assessorálos sempre.” Resultados? Em cinco anos o lucro do Banefe quintuplicou, a satisfação dos clientes aumentou e também a dos empregados. ■ 27 DE NOVEMBRO, 2006 / AMÉRICAECONOMIA 31 ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL ción PROhumana, organização chilena especializada em assessorar empresas para que impulsionem estratégias de Responsabilidade Social, foram pesquisadas as estratégias de RSE de 50 empresas de toda a região para diagnosticar o estado em que se encontram as empresas latinoamericanas em suas políticas de RSE e selecionar os casos mais representativos (ver metodologia pág. 40). Quando as companhias integram a RSE em sua estratégia, esta se converte num fator a mais de rentabilidade. Uma boa estratégia de RSE pode aumentar as vendas, reduzir custos de produção, reduzir a rotatividade de pessoal, melhorar a relação com os diferentes públicos (sociedade, Estado, clientes, fornecedores e empregados) e construir uma boa imagem pública, que é sempre valorizada pelos acionistas. Definitivamente, um bom negócio. LONGO PRAZO Isso é o que comprovam os fundos éticos de bolsas de valores aos que se somam empresas que cumprem requisitos básicos Ações de empresas responsáveis têm mais valor de RSE, como não causar dano à saúde de seus consumidores ou ter adotado algum acordo global nesse tema. O melhor caso na região é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). As companhias que o integram apresentam desde o início do ano uma valorização mais alta do que as do índice geral da Bovespa, com 26,5%, contra 23% (até novembro). Os bons resultados do ISE seguem os obtidos pelos fundos éticos de Dow Jones, cujo índice é o Dow Jones Sustainability Indexes. “Isso nos permite destacar que as empresas responsáveis têm maior rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo”, diz Andrea Castro, diretora de pesquisa e assessoria da PROhumana. De fato, o ISE surgiu especialmente 32 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 CARVAJAL VALORES COM BOA HISTÓRIA JUAN E LUISA são os protagonistas da revista corporativa Hacer las cosas bien, da empresa colombiana Carvajal, dedicada à impressão e artes gráficas. Ele, de cabelo penteado e perfeito terno, e ela, magra e sorridente, são os comunicadores fictícios da empresa, que explicam através de desenho em quadrinhos sua missão, visão e valores aos trabalhadores dos 17 países onde a empresa está presente. Os empregados, por sua vez, devem aprender os valores para colocá-los em prática diariamente e, de quebra, preencher um ou outro álbum-concurso juntamente a seu grupo de trabalho para serem premiados por seu conhecimento da empresa. Coisa de criança? Não. Uma forma de incentivar que os empregados – ou “colaboradores”, como são chamados na Carvajal – entendam os valores que regem essa empresa familiar em mais de cem anos: orientação ao cliente, inovação, respeito e compromisso social, entre outros. “A ênfase na responsabilidade social está em nossos valores, que não são fruto da gerência, mas de um consenso de toda a empresa”, diz Alfredo Carvajal, presidente mundial da empresa, em Cali. Em dezembro de 2005, a empresa realizou uma convenção onde os trabalhadores podiam expor casos reais de aplicação de valores. Foram recebidos 1,3 mil funcionários de todos os países e, embora tenham se apresentado somente 18, a convocatória demonstrou que os valores são compreendidos. A Carvajal também realiza programas de desenvolvimento de seus trabalhadores através do Instituto de Desarrollo Humano e faz investimentos ambientais em suas filiais para operar de forma limpa. Fora de suas dependências, a Carvajal realiza atividades comunitárias através da Fundación Carvajal, que possui 23% da empresa. Com isso, a instituição garante receita para realizar campanhas. “Não se pode ter uma empresa saudável num entorno doente”, afirma Carvajal. “Um bom entorno também beneficia nossa companhia.” ■ RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL / ESPECIAL RED DE ENERGÍA DEL PERÚ O BOM VIZINHO RESPEITO, solidariedade, honestidade e compromisso são atitudes fundamentais para a Red de Energía del Perú (REP), que opera e fornece serviços de manutenção da infraestrutura elétrica dos Sistemas de Transmisión del Estado Peruano. Por isso, a empresa não só agregou esses valores a seu código de conduta, que tem de ser respeitado por acionistas, trabalhadores e executivos, mas também tem se preocupado em fomentar a área de Responsabilidade Social Empresarial fora da empresa, criando o cargo de especialista em RSE. “Temos um compromisso com cada um dos nossos públicos: colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade, diz Luis Perez, que ocupa o novo posto. Como parte dessas iniciativas, a REP desenvolveu um manual sobre assédio sexual para os trabalhadores e contratistas, para ajudá-los a identificar se estão sendo vítimas desse crime e possam recorrer à direção responsável com provas e testemunhas, permitindo que se tome as medidas correspondentes. “Felizmente, não foi apresentada nenhuma denúncia, mas os canais para isso existem”, diz Pérez. Além disso, a REP se orienta por dez princípios do Pacto Mundial das Nações Unidas, para proteger os direitos fundamentais e o meio ambiente, entre outros. E desenvolve um plano social com as comunidades PROCESSO DE ADOÇÃO DA RSE 3ª GERAÇÃO 2ª GERAÇÃO 1ª GERAÇÃO >> COMPETITIVA Padrões e Associações com vários stakeholders; construção de instituições orientadas a propiciar políticas públicas de RSE e vinculação com a estratégia de competitividade nacional. >> ESTRATÉGIA DE RSE Auditoria e Relatório de Sustentabilidade; diálogo com os stakeholders e programas de investimento social. >> AUSÊNCIA DE ESTRATÉGIA DE RSE Ações de filantropia; administração de risco a curto prazo e padrões industriais. CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO Pagamento de impostos, saúde e segurança, direitos dos trabalhadores, direitos dos consumidores e regulações ambientais. de suas áreas de influência com um programa de desenvolvimento comunitário, de convivência e atividades voluntárias e apoio à educação. No ano passado, por exemplo, 116 jovens de Pillco Marca, na região central do Peru, foram capacitados pela REP junto a organizações sem fins lucrativos para instalar uma granja e criar coelhos da Índia e produzir renda para a comunidade. “As pessoas nos vêem como um bom vizinho e isso é muito bom”,diz Pérez. ■ como demanda das empresas de fundos de pensão e dos bancos administradores de fundos. “Essas companhias têm instruções de investir em empresas com estratégias sustentáveis no longo prazo”, diz Ricardo Pinto Nogueira, presidente do Conselho Deliberativo da ISE, da Bovespa. “E as empresas que trabalham com RSE administram melhor essas estratégias.” QUESTÃO DE NÚMEROS Os incentivos para que as empresas gerem estratégias de RSE não vêm somente do mercado financeiro. Segundo o estudo, algumas razões levaram as empresas a assumir políticas gerais de Responsabilidade Social, dentre elas o atual contexto de globalização das empresas latino-americanas e a necessidade de cumprir com diferentes sistemas normativos paralelos, especialmente Fonte: Fundación PROhumana. 27 DE NOVEMBRO, 2006 / AMÉRICAECONOMIA 33 ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL no momento de tratar com atores do Primeiro Mundo. A isso se acrescenta o empurrão dado pelas multinacionais instaladas na região, que acabaram obrigando muitas concorrentes locais a colocar-se no mesmo nível que elas em matéria de RSE. Isso principalmente no que se relaciona com o investimento social e meio ambiental que posicionou muitas empresas internacionais como líderes nesse segmento. Uma empresa que se mostra aliada a seu ambiente, automaticamente aumenta seus pontos em percepção social. “Também depende do tipo de indústria”, diz Federico Cúneo, presidente do Forum Empresa, organismo que coordena uma rede de associações de RSE na América Latina. “As empresas que afetam diretamente o meio ambiente, por exemplo, têm obrigação muito mais notória de informar o que estão fazendo nessa matéria.” ENDESA CHILE COMPROMISSO EM TRÊS DIMENSÕES A CEM quilômetros da cidade de Talca, no centro-sul do Chile, a geradora Endesa Chile está construindo a minicentral hidroelétrica Ojos del Agua que, com uma potência de 9 MW, deverá começar a funcionar no segundo semestre de 2008. A central evitará que sejam emitidas 30.549 toneladas de CO2 ao ano em centrais termoelétricas, o que permitirá à companhia vender certificados de redução de emissões (CER) no mercado internacional de bônus de carbono. Além disso, reduzirá custos na geração térmica e diversificará sua matriz energética. Os benefícios são claros. O investimento, de pouco mais de US$ 15 milhões, tem vantagens tanto para a empresa como para o ambiente. E é somente um dos projetos liderados pela Endesa Eco, filial da companhia criada em 2005 no marco de sua política de desenvolvimento sustentável para a gestão de energias renováveis e não-convencionais (ERNC) e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) na Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Chile. “Entendemos Responsabilidade Social Empresarial como sustentabilidade, na qual se misturam as dimensões social, ambiental e econômica”, diz Renato Fernández, porta-voz da Endesa. Outra de suas iniciativas é o desenvolvimento do parque eólico Canela, com potência nominal de 9,9 MW, no norte do país. O projeto requereu US$ 17 milhões por parte da Endesa e deverá começar a funcionar em 2007, dando energia ao Sistema Interconectado Central de Chile. Além dos investimentos em meioambiente, de pouco mais de US$ 1,1 milhão na América Latina em 2005, a Endesa Chile realiza contribuições às comunidades onde opera, com iniciativas de desenvolvimento produtivo, educação e cultura. E para seus próprios trabalhadores, têm iniciativas de desenvolvimento pessoal a profissional e sistemas de gestão para a prevenção de risco e segurança das pessoas que trabalham na empresa. ■ 34 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 Apoiar o ambiente e a comunidade rendem melhor imagem pública Além disso, depois dos famosos escândalos empresariais de corrupção que têm vindo a público, as companhias são cada vez mais forçadas a cumprir com uma maior transparência em suas operações financeiras, o qual também tem sido incorporado dentro das matérias de desenvolvimento de RSE. Inclusive as escolas de negócios têm começado a incorporar matérias de RSE em seus currículos. RSE EM 3D Os modelos mais extensos de Responsabilidade Social Empresarial – e o utilizado neste estudo – baseiam-se em três dimensões: ambiental, social e econômica. A primeira se refere à gestão eficiente da empresa em seu uso e impacto no meio ambiente; a segunda a seu impacto social nas comunidades de influência das empresas como seus empregados, fornecedores ou comuni- RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL / ESPECIAL GRUPO AMANCO FERRAMENTAS SUSTENTÁVEIS PARA OS pequenos agricultores da Guatemala, regar por gotejamento era uma técnica que estava longe de suas possibilidades. Mas há dois anos o programa “Comunidades agrícolas sustentáveis ao alcance de um mundo globalizado”, do Grupo Amanco – fabricante de tubos de PVC do grupo Nueva –, entrega a eles acesso a créditos, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, para instalar esses sistemas leves de irrigação em seus campos. As vendas desse projeto chegaram a US$ 238.529 em 2005, superando as expectativas da Amanco, e este ano se expandiram a agricultores do Brasil e do Equador. Essa iniciativa é parte da estratégia da empresa, que vê nos segmentos de baixa renda uma oportunidade de negócio que em 2008 deverá representar 10% de suas vendas. Os produtores passaram a ter quatro colheitas ao ano em vez de duas, com 33% menos de custo de mão-de-obra e uma economia das relações com o público interno, com os fornecedores, com os consumidores, e com a comunidade, bem como políticas meio ambientais, relações trisetoriais e desenvolvimento da aprendizagem. Uma das principais conclusões da pesquisa é que as empresas estudadas mostram pouco desta visão integrada. Sua aproximação CARACTERÍSTICAS PRESENTES EM GESTÃO DE RSE ao tema é geralmente unidi(EM EMPRESAS QUE PARTICIPAM DO ESTUDO LATINO-AMERICANO DE RSE) ■ SIM ■ NÃO mensional, principalmente 89 89 86 69 67 64 53 39 19 na área mais crítica para a 81 operação do negócio. De acordo com a análise da 61 dimensão social das empresas, 47 36 33 se conclui que as companhias 31 têm aumentado o investimento 14 11 11 nas áreas social e comunitária. No entanto, há um baixo Indicadores Gerência Prêmios Política Realiza Certificação Padrões Relatório Relatório de RSE de RSE de RSE de RSE de RSE internac. GRI auditado relatório desenvolvimento de diálogos sustentabilidade participativos para ter um dades vizinhas; e, a terceira, à obrigação que tem a companhia consigo mesma, de maneira a ser rentável e permanecer no tempo. “É preciso ter uma visão integral destas três dimensões”, diz Castro, da PROhumana. “Ver a RSE como um bom negócio, que não apenas é marketing ou ���� 94 ��� ��� ��� ��� 6 �� Redes de RSE em água que amplia a capacidade de terra irrigada em 50%. Para a Amanco, essas conquistas refletem uma estratégia de triplo resultado, que mede o desempenho da empresa de forma integral, no âmbito econômico, social e ambiental. “Se são gerados lucros superiores à média do setor, é preciso ver se foi melhorando ou não a qualidade do trabalho”, explica Roberto Salas, presidente executivo do Grupo Amanco, em São Paulo. Para essa medição, a companhia usa a ferramenta Sustainability Scorecard (SSC), com objetivos e indicadores estratégicos como dimensão financeira, clientes, processos e tecnologia, dimensão social e ambiental e recursos humanos. “A sustentabilidade de uma empresa lhe dá mais valor porque trabalha melhor seus riscos, traz melhor reputação, gera liderança e melhorias no mercado”, diz Salas. Os resultados corroboram sua teoria. Em 2005 a Amanco aumentou suas vendas em 16% em relação a 2004, chegando a US$ 688 milhões. ■ uma limpeza na imagem, mas que também dá sustentabilidade e permite que o negócio seja rentável.” Para analisar o comportamento nestas três dimensões, este estudo inclui variáveis específicas que devem considerar as empresas como valores e coerência nas políticas, gestão Fonte: Fundação PROhumana 27 DE NOVEMBRO, 2006 / AMÉRICAECONOMIA 35 ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL CÍA. MINERA ANTAMINA NATURA EXTRAÇÃO PROVA VIVA SUSTENTAVEL O VALE DE Conchudos, a 300 quilômetros ao norte de Lima, é conhecido tanto por sua beleza quanto pelo acesso difícil. Ali, a Compañía Minera Antamina se instalou há sete anos, com um investimento de US$ 2,2 bilhões, para extrair cobre e zinco. A cifra destoava da pobre realidade dos habitantes da região. No entanto, algo que podia ter causado uma enorme divisão ou oposição da comunidade gerou uma relação de benefício mútuo. Logo que a mineradora começou a se instalar, seus executivos abriram um escritório de relação comunitária para executar projetos de desenvolvimento social de longo prazo. Fizeram consultas e mantiveram uma comunicação constante com a comunidade e capacitaram a população na matéria ambiental para que eles próprios pudessem fiscalizar a Antamina. “A Responsabilidade Social nos tem dado uma rentabilidade maior”, diz Gonzalo Quijandria, gerente de assuntos corporativos da Antamina. E preocupar-se com a comunidade desde o começo facilitou o início das operações: não houve manifestações sociais contra a construção da mina, como costuma acontecer. “Não perdemos tempo por causa de protestos e economizamos quatro meses do orçamento”, diz Quijandría. A política foi mantida, e a empresa fomentou mais as medidas relacionadas ao meio ambiente, à saúde e à segurança dos trabalhadores, parceiros de negócios e da comunidade. Os próprios funcionários da mina criaram um programa de voluntariado, para destinar parte do seu tempo livre a trabalhos comunitários. Pouco a pouco, o vale dos Conchucos deixa seu isolamento para trás e ganha acesso a recursos que servem para a extração de cobre e zinco, e também para a comunidade local. ■ O SUCESSO da Natura é uma prova de que a responsabilidade social rende frutos financeiros. A companhia, cujo modelo de negócios é diferenciar-se das grandes multinacionais de cosméticos por sua política de promoção da biodiversidade, registrou um aumento de 32% no lucro líquido no ano passado, para R$ 397 milhões (US$ 184 millones). A empresa faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, que acumula alta de 21,54% este ano, superando a valorização do Índice Bovespa, que foi de 17,36%. E mais, a Natura distribuiu dividendos de R$ 3,60 (US$ 1,67) por ação no ano passado, 48% mais que em 2004. Mas, para seguir destacando-se, é necessário inovar constantemente, diz o diretor de sustentabilidade da Natura, Marcos Egydio. Fundada em 1969, a empresa coleciona diversos marcos na utilização da responsabilidade social como a alma de seu negócio. Ainda Poucas empresas incorporam a RSE em suas três dimensões feedback por parte da comunidade. “Os temas mais frágeis são os relacionados ao respeito aos direitos humanos, como o trabalho infantil, a discriminação e o assédio sexual”, diz Marcela Salas, pesquisadora da PROhumana. CONSUMIDORES Na dimensão econômica, observa-se que a maioria das empresas destacadas no estudo tem incorporado a RSE em seu plano de negócios e tem um bom desenvolvimento em termos de práticas orientadas à satisfação de consumidores. O banco Banefe no 36 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 nos anos 80, lançou no Brasil o conceito de refil, estimulando os clientes a reaproveitar as embalagens. Depois, lançou a linha Ekos, que usa matériasprimas da biodiversidade brasileira extraídas de forma sustentável. E está lançando uma nova versão da linha Cronos com o mesmo tipo de matériaprima. A meta de inovação da Natura é marcar posição no combate ao aquecimento global. “Planejamos ser ‘carbono neutros’ em 3 a 5 anos”, diz Egydio. Os planos são de compensar com o plantio de florestas todo o CO2 emitido pela companhia em sua produção. No âmbito social, a empresa planeja trazer desenvolvimento às comunidades onde suas unidades estão instaladas. Uma das metas é de, até 2008, dedicar à comunidade do entorno 5% das compras de bens e serviços da matriz em Cajamar. “Queremos aproveitar o poderio econômico da Natura para a inclusão social”, diz Egydio. ■ Chile, por exemplo, faz o mesmo, com políticas de capacitação tanto para seus empregados como para clientes de poucos recursos, que necessitam um maior conhecimento dos produtos bancários antes de adquiri-los. Esta dimensão, não obstante, ainda tem tarefas pendentes. “Há muito pouco em matéria de fornecedores”, diz Castro. É um tema importante: os fornecedores, ao ser parte da cadeia de operações das empresas, cedo ou tarde terão de cumprir com as próprias normas de RSE, que a empresa exige. “No México, as grandes empresas buscam promover suas políticas de RSE à sua rede de fornecedores”, diz Gerardo Lozano, a cargo do projeto SEKN (Social Entreprise Knowledge Network), da escola de negócios mexicana Egade do TEC de Monterrey. Em relação às políticas para os trabalhadores, as empresas estudadas têm um alto desenvolvimento de programas RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL / ESPECIAL de capacitação e benefícios. No entanto, um tema que ainda carece de políticas mais concretas é a conciliação da vida trabalhista com a pessoal e políticas orientadas a favorecer a diversidade e não discriminação dentro das companhias. Casos como o da Ford no México ou Holcim no Equador são exceções, que aos poucos começam a ser imitadas. Finalmente, na dimensão ambiental, este estudo conclui que as empresas que apresentam maiores padrões ambientais são aquelas em que o meio ambiente está ligado diretamente à atividade que desempenham, como Endesa Chile, que requer o recurso hídrico para seu desenvolvimento ou a Companhía Minera Antamina no Peru, que vive da exploração de minerais. No entanto, um dos temas para avançar é o desenvolvimento da in- CEMEX CASAS ECONÔMICAS O FORTE da mexicana Cemex é a construção. E foi precisamente nessa atividade que a empresa experimentou a Responsabilidade Social. O programa Patrimonio Hoy promove a autoconstrução, permitindo às famílias economizar até um terço do custo dos materiais de construção e tempo de execução graças à assessoria técnica oferecida pela Cemex. Nos próximos três anos, a Cemex pretende ampliar os centros de atendimento de 69 unidades para 210 e cobrir as 54 cidades mais importantes do México. O modelo também é aplicado na América Central e América do Sul, e está sendo estudado como caso obrigatório para alunos de instituições como a escola de negócios Ipade, a Universidade de Michigan e a de Harvard. Na verdade, a Cemex também envolve estudantes em seus programas sociais. “Temos um convênio com o Tecnológico de Monterrey para desenvolver a liderança social e formar profissionais sensibilizados com a gestão da Responsabilidade Social no âmbito dos negócios”, diz Marta Herrera, gerente de Respon- sabilidade Social e Relações com a Comunidade da Cemex. Entre os programas da Cemex em RSE também se destaca o Construmex, que dá apoio aos mexicanos que vivem nos Estados Unidos para que construam uma casa em suas cidades de origem. Até hoje, a companhia já atendeu mais de 52,5 mil imigrantes, que já enviaram US$ 7,5 milhões para suas obras no México. O enfoque “é conseguir programas que tenham viabilidade no longo prazo e que tenham benefícios durante o maior tempo possível”, diz Herrera. Segundo a companhia, durante os últimos cinco anos, seus programas de RSE - que incluem até cursos culinários - já beneficiaram mais de 2 milhões de pessoas. Esses projetos se relacionam com a estratégia de negócios da Cemex, dividida em três pilares: desenvolvimento de infra-estrutura comunitária, educação e capacitação e preservação do meio ambiente. “Os bons resultados só são obtidos se são cumpridas simultaneamente as metas do negócio e o atendimento às necessidades do ambiente”, diz Herrera. ■ Pressões globais forçam empresas a ser mais sofisticadas vestigação ambiental. “Além do contexto, há pressões globais que impulsionam as empresas a ser cada vez mais sofisticadas no tema da Responsabilidade Social, diminuindo a distância entre valor econômico e social”, diz Patricia Márquez, professora do Centro de Liderazgo y Organizaciones, e líder do projeto SEKN no IESA da Venezuela. “Vão se movendo em direção a intercâmbios mais diretos entre a comunidade e a empresa.” NORMAS NO HORIZONTE O desenvolvimento da RSE está totalmente ligado à padronização e medição de resultados, de retorno de investimento por exemplo, que realmente meçam quanto ganha uma empresa por seus investimentos sociais, ambientais e trabalhistas, entre outras. Este deveria ser o próximo passo das empresas latino-americanas, já que é uma área bastante frágil de desenvolvimento. Mas algumas, como o Grupo Amanco, já o estão fazendo, ao calcular quanto seus novos negócios vinculados aos setores de menores receitas reportarão 27 DE NOVEMBRO, 2006 / AMÉRICAECONOMIA 37 ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL CORPORACIÓN GEO CONSTRUINDO CIDADANIA PARA A Corporación Geo, construtora de casas no México, o desenvolvimento dos lugares onde estão suas edificações é fundamental. Uma de suas principais preocupações é o desenvolvimento integral urbano, com instalações educacionais, clínicas, áreas verdes, recreativas e comerciais. Entretanto, seu foco é o cuidado ao meio ambiente em geral. Por isso, no ano passado a empresa destinou cerca de US$ 3 milhões a programas de educação, saúde, cultura e comunidades. Até hoje, construiu mais de 200 escolas, 50 clínicas de saúde e mais de 2 mil lojas. Tudo foi doado a governos municipais. “Para a Casas Geo, o tema de RSE é parte essencial de sua filosofia como empresa”, diz Pablo Moch, diretor-geral de desenvolvimento organizacional. Além disso, em 2005 a Geo aderiu ao Pacto Mundial, comprometendo-se com práticas trabalhistas, meio ambientais, medidas anticorrupção e princípios de direitos humanos. “Um dos principais valores da Geo é o desenvolvimento de sua gente, e por isso investimos recursos para oferecer, através da Universidad Geo, programas integrais de capacitação para nossos Geocolaboradores”, conta Moch. Somente em 2005, a empresa ministrou mais de 350 mil horas/homem de capacitação. Nos últimos cinco anos, a Geo destinou aproximadamente US$ 75 milhões a pesquisa e desenvolvimento. Estas iniciativas fazem parte do modelo de governança corporativa da empresa, focado numa relação de transparência, qualidade e credibilidade da informação com os investidores. Além disso, a Geo implementou o Programa de Direitos dos Acionistas para proteger os acionistas minoritários, e estabeleceu uma relação ética com os fornecedores, clientes e concorrentes, por causa da adoção de uma política de supervisão de conflitos de interesses. ■ DIMENSÃO SOCIAL DIMENSÃO ECONÔMICA DIMENSÃO AMBIENTAL MELHOR PONTUAÇÃO PIOR PONTUAÇÃO MELHOR PONTUAÇÃO PIOR PONTUAÇÃO MELHOR PONTUAÇÃO PIOR PONTUAÇÃO � 6,78 4,25 � 6,89 3,79 � � � � � � � � � � � � � � � � � � Desenvolvimento de programas sociais que envolvem mais que ganhos financeiros 4,52 � Capacitação integral a empregados Existência de código de ética publicitária 6,47 Política de conciliação de vida trabalhista e familiar Compromisso demonstrado com proteção ao meio ambiente Destinação de recursos para pesquisa ambiental Fonte: Fundación PROhumana HOLCIM INTIMIDADE COM O ENTORNO NO COMEÇO, as comunidades viam com desconfiança os empregados da fabricante de cimento Holcim. Agora, como vizinhos que se conhecem há anos, eles se sentam na mesma mesa para encontrar soluções para seus problemas primordiais. A tarefa não começou da noite para o dia. Há três anos, a Holcim Ecuador, filial da multinacional suíça, participa de atividades de RSE em todo o país. Em 2005, investiu US$ 2 milhões para melhorar a qualidade de vida das comu- nidades vizinhas. A partir da crença de que todas as atividades devem começar em casa, a Holcim apóia seus empregados por meio de um plano sistemático de poupança e investimento, e promove a valorização da diversidade do pessoal, tanto em sua declaração de missão e visão de “organização multicultural”, como na difusão desses valores para seus trabalhadores através de cartazes. Além disso, a empresa colabora com várias fundações como Unicef, o Município de Guayaquil, Pro Bosque, Vivamos Mejor, Rocafuerte Fútbol Club e Educar en Cristo. Para integrar a empresa com a comunidade, a Holcim criou a Fundación Holcim 38 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 Ecuador, responsável pelo investimento social e os programas de desenvolvimento sustentável nas aldeias da região e em suas 12 fábricas locais. A meta é beneficiar mais de 50 mil pessoas que vivem em condições de pobreza. Hoje apostam nos Comitês de Ação Participativa (CAPs), conformados por pessoas das comunidades, organizações locais e funcionários da empresa. Até agora foram formados seis CAPs, em Guayaquil, Manabí, Latacunga e Quito que executam projetos como uma rádio comunitária, a implementação de um seguro de saúde comunitário, reflorestamento, manejo de resíduos sólidos e ecoturismo. ■ RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL / ESPECIAL DIMENSÕES ESPECÍFICAS PHILIPS Segundo o modelo de gestão RSE PROhumana >> VALORES E COERÊNCIA: considera a adoção e implementação de políticas que assegurem um marco ético orientador das ações dos que formam parte de uma empresa e a presença de práticas transparentes nos negócios. >> PÚBLICO INTERNO: a empresa deve identificar o papel que desempenha e as responsabilidades a assumir com seus empregados, além dos padrões e regulações legais. >> RELAÇÃO COM FORNECEDORES: implica definir políticas e medidas que assegurem uma vinculação no longo prazo orientadas a resguardar as condições trabalhistas e o desenvolvimento das empresas locais. >> CONSUMIDORES: práticas, políticas e sistemas construídos para conseguir a fidelidade do cliente e seu bem-estar. >> COMUNIDADE: estratégia de relação com grupos de interesse e envolvimento com grupos desfavorecidos que integram a comunidade. >> MEIO AMBIENTE: relação com todas as práticas que gerem algum tipo de impacto ambiental. >> RELAÇÕES TRISSETORIAIS: medidas para regular e facilitar as relações entre organizações da sociedade civil, o Estado e outras empresas. >> APRENDIZAGEM: práticas desenvolvidaspara assegurar um aprendizado em termos de RSE e fazer seguimento das políticas e sistemas implementados. em vendas nos próximos anos, e integrar os resultados financeiros a seu relatório anual de RSE. Segundo os dados recopilados pelo PROhumana, embora haja índices que medem matérias relacionadas com a RSE nas empresas, estes ainda não calculam seu impacto direto nos estados financeiros, nem apresentam relatórios auditados. Assim também se mostra o desenvolvimento de gerências especializadas nesta matéria, o que demonstra o interesse em desenvolver cada vez mais políticas a respeito. Com o auge e padronização de novas normas e, especificamente, a certificação de RSE, ISO 26.000 em 2008, espera-se que ainda mais empresas entrem nesta onda socialmente responsável com parâmetros LUZES, AÇÃO! REDUZIR o consumo de energia é uma parte fundamental do planejamento financeiro de muitas empresas. Mas, para a companhia holandesa que popularizou a lâmpada, hoje essa preocupação tem um significado muito mais transcendente. “Mais importante é contribuir para o planeta, é a cidadania”, diz a gerente-geral de sustentabilidade da Philips para a América Latina, Flávia Moraes, em São Paulo. Na região, a Philips se destaca por uma série de projetos inovadores nesse sentido. No Brasil e no México, produz guias de turismo ecológico, cujas vendas são direcionadas à produção de folhetos educativos para os visitantes de parques nacionais. Por meio de parcerias, a empresa trocou por lâmpadas mais econômicas a iluminação de ilhas inteiras, como a de Páscoa, no Chile – onde também instalou a iluminação dos moais –, e a de Fernando de Noronha, no Brasil. O projeto começou com a troca da iluminação do teatro Amazonas, em Manaus, numa afirmação de responsabilidade social em um lugar histórico da maior floresta do mundo. Na Argentina, promoveu a troca da iluminação do posto avançado do país na Antártida e iluminou as passarelas com LEDs (diodos emissores de luz, na sigla em inglês). “É importante reduzir o consumo desses lugares que recebem do continente a energia, na maioria das vezes em forma de diesel, cujo próprio transporte implica em risco ambiental.” Em casa, a empresa também desenvolve fortes programas de responsabilidade ambiental. O principal deles é o programa EcoVision, que estabelece como metas a redução do volume das embalagens, do consumo de energia e da utilização de substâncias de uso restrito, além de melhorias no potencial de reciclagem e descarte final, redução do peso e aumento da vida útil. Quando um produto consegue atingir as metas em pelo menos dois desses eixos, é classificado como Green Flagship, como um modelo de televisor de tela plana FlatTV que consome 39% menos energia e 24% menos embalagem que o concorrente mais próximo, segundo a empresa. Mesmo nos escritórios, os funcionários são vigiados por uma verdadeira polícia ambiental, criada há quase dez anos. Os Ecoteams são equipes multidisciplinares formadas por funcionários dos mais variados escalões hierárquicos da empresa, da alta gerência ao operário de chão de fábrica. Aqui, o “ecocrime” não compensa. ■ 27 DE NOVEMBRO, 2006 / AMÉRICAECONOMIA 39 ESPECIAL / RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL FORD MÉXICO TRABALHO CONJUNTO NA FORD México a premissa é de que todos estejam comprometidos com a sociedade. Por isso, além de recrutar voluntários entre seus empregados para ações de Responsabilidade Social, a empresa faz o mesmo com seus distribuidores. Para isso criou o Comitê Cívico da Ford, graças ao qual a montadora já construiu 207 escolas primárias e desenvolve o programa Qualidade na Educação, dirigido pelo Comitê de damas, integrado pelas esposas dos distribuidores, que visitam as escolas. “A educação é fundamental para a formação de cidadãos melhores, que tenham desejo de superação”, diz Alejandra Acevedo, diretora de relações públicas da empresa. Por outro lado, a companhia promove a conservação da Selva Lacandona, que contém 30% da água doce superficial do país e que teve 60% da floresta devastada nos últimos 14 anos. A empresa mantém acampamentos na floresta para monitorar invasões e acampamentos clandestinos. Também promove a preservação do berrendo peninsular, um mamífero ruminante que habita a Reserva del Vizcaíno na Baja California, cuja extinção poderia até mesmo afetar o clima da região. E a montadora pertence ao Conselho Nacional Empresarial de Combate à Aids (Conaes, na sigla em espanhol). A Ford também tem um sistema de reciclagem de água que rendeu à empresa a certificação de Indústria Limpa outorgada pela Secretaria de Meio Ambiente do México. Além disso, é a única montadora do país que participa do Protocolo de Kyoto, tendo apresentado relatórios de redução de emissões por dois anos consecutivos. “Para a Ford do México, a RSE significa devolver à comunidade parte do muito que ela nos dá”, diz Acevedo. ■ mais precisos do que apenas se prender a um certificado que avalize sua gestão responsável, automaticamente dando mais valor à empresa e seus serviços ou produtos. “Uma vez que haja claridade na teoria de mudança e proposta de valor é possível determinar certos parâmetros para dizer quais resultados esperar para os beneficiários e para a própria empresa”, diz Márquez, do IESA. Desta forma, as políticas de RSE deixam de ser projetos A ISO 26.000 começará a normatizar a RSE em 2008 isolados para se transformar em uma estratégia de longo prazo. “O importante é conseguir um balanço entre a geração de valor social e econômico para que estes esforços sejam sustentáveis e permaneçam no longo prazo”, conclui Lozano, do Egade. ■ Com Carolina Vega, Priscilla Murphy, Carolina Solís e Pamela Velasco METODOLOGIA O ESTUDO Latino-Americano de Responsabilidade Social (RSE) busca identificar e avaliar aquelas práticas políticas de RSE implementadas por empresas da região de diferentes setores produtivos em termos econômicos, sociais e ambientais. Essa pesquisa foi realizada pela Fundación PROhumana, organização especializada em temas de Responsabilidade Social no Chile e América Latina, e a AméricaEconomia. O desenho metodológico foi desenvolvido pela Fundación PROhumana com base a sua experiência nesse tema. As maiores empresas da região foram convidadas a participar da pesquisa. Para fazer parte do estudo, cada empresa teve de completar um questionário de autodiagnóstico com perguntas destinadas a avaliar seu desempenho econômico, social e ambiental, de forma a reconhecer aquelas que apresentam âmbitos de gestão de maior inovação e desenvolvimento. A avaliação considerou dois elementos-chave: uma avaliação quantitativa das políticas e programas de RSE das empresas participantes, e uma avaliação qualitativa de elementos verificadores requeridos. Através dessas ferramentas buscou-se comprovar a coerência entre o declarado no questionário de auto-avaliação e a existência de uma política que leva a cabo cada uma das práticas. A avaliação quantitativa considera perguntas formuladas em formato de afirmações sobre a estratégia de RSE. As categorias de resposta iam de 1 a 7, sendo 1= Não representa em nada a situação da empresa e 7= Representa completamente a situação desta empresa. Sobre a avaliação qualitativa dos elementos verificadores, cada afirmação requeria que se mencionasse um elemento verificador da resposta entregue pela empresa. Em alguns casos, foi solicitado às empresas que identificassem aspectos 40 AMÉRICAECONOMIA / 27 DE NOVEMBRO, 2006 específicos da prática, e em outros o envio de documentos mencionados para justificar a resposta. O processo de participação se estendeu durante os meses de agosto e setembro, período no qual as empresas responderam à pesquisa on-line. Uma vez finalizado, procedeu-se à análise dos dados de cada empresa e à comprovação da informação solicitada. Finalmente, a partir da avaliação de cada instituição, realizou-se uma análise comparada das diferentes empresas participantes, o que permitiu gerar um quadro de honra no qual se destacam as empresas que possuem uma gestão de Responsabilidade Social integral e se destacam por práticas específicas em seu desempenho. ■