Coccidiose em Ovinos - um inimigo invisível A coccidiose ovina
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Coccidiose em Ovinos - um inimigo invisível A coccidiose ovina
Coccidiose em Ovinos - um inimigo invisível A coccidiose ovina, também conhecida como eimeriose, é uma enfermidade infecciosa causada por um protozoário do gênero Eimeria e está relacionada com alterações no trato intestinal, causando grandes perdas econômicas na ovinocultura. O prejuízo é devido principalmente à diminuição do desempenho e desenvolvimento dos animais acometidos, podendo ainda levá-los à morte. Gastos com mão-de-obra, medicamentos e manejo também devem ser levados em conta. É conhecida também como curso de sangue, curso vermelho ou curso negro e apesar de pouco diagnosticada a doença está amplamente distribuída em praticamente todas as regiões do Brasil. Epidemiologia Um estudo recente realizado em fazendas tecnificadas de Minas Gerais mostrou que a coccidiose está presente em 100% das propriedades e em 66% dos animais, manifestando-se em qualquer lugar onde cordeiros são criados e que seu maior impacto ocorre em animais de até 1 ano de idade. Outro fato importante é a característica climática do país, que apresenta condições ideais para a multiplicação da coccidiose. Interferência do ambiente Nas propriedades sob condições de confinamento com alta densidade, acúmulo de matéria orgânica, elevada umidade e diferenças de idades entre os animais, favorecem uma maior contaminação dos mesmos levando a picos de ocorrência da doença. Entre outros fatores relevantes que contribuem para a manifestação da coccidiose, podemos citar as situações de estresse as quais os animais são submetidos, interferindo negativamente na resposta imunológica dos mesmos, levando assim, ao surgimento de surtos de eimeriose. Devemos levar em consideração também, que o acúmulo de água em forma de represas, tem contribuição expressiva para a contaminação, por se tratar de ambientes favoráveis à presença e resistência dos oocistos (formas contaminantes da doença). Os oocistos liberados juntos das fezes dos animais são os responsáveis pela contaminação ambiental e são muito resistentes aos produtos desinfetantes convencionais e às intempéries do tempo, podendo permanecer viáveis no meio ambiente por vários dias ou até meses. Resistem também ao congelamento de até 30 graus negativos, porém são eliminados na presença de luz solar, temperatura superior a 35º C e baixa umidade por pelo menos 4 horas. Com base nisso, devemos sempre levar em consideração a condição dos locais onde principalmente os cordeiros permanecem, evitando que sejam locais baixos, úmidos e com pastagem alta que impeça a incidência de luz solar diretamente no solo. Devemos nos atentar também à qualidade da água fornecida a essa categoria animal, uma vez que represas formadas pelo acúmulo de chuvas no período chuvoso tornam-se fonte de contaminação no período de seca. Ciclo de desenvolvimento da Eimeriose Dinâmica da infecção por Eimeria spp A contaminação se dá pela ingestão de oocistos esporulados presentes na água ou nos alimentos contaminados com fezes de animais portadores da coccídea. Quando entram nas células intestinais, dão continuidade ao ciclo de vida, causando uma destruição das mesmas e quando este parasitismo é intenso, pode ocorrer destruição de áreas muito extensas do intestino, desprendimento de fragmentos de mucosa e até hemorragia. Isto fará com que haja um acúmulo de líquido no interior do intestino, que resultará em diarreia, podendo evoluir para choque e morte, devido ao desequilíbrio eletrolítico. Acomete na maioria das vezes, animais jovens, podendo também ocorrer em animais mais velhos em propriedades onde haja um manejo incorreto, ou onde os animais estão submetidos a estresse. Eventualmente verificamos a ocorrência de surtos de coccidiose entre ovinos adultos, envolvendo ovelhas no período de transição, borregos em confinamento e criados em regiões de alta umidade e temperatura. Sinais clínicos A coccidiose pode apresentar-se de duas formas: Clínica e subclínica. Sendo a segunda, a forma mais frequente e que causa maiores danos à produção, justamente por não ser percebida claramente pelo produtor. Os animais apresentam sinais brandos como diminuição no consumo de alimentos, queda da conversão alimentar e consequentemente atraso no desenvolvimento. É de suma importância realizar o diagnóstico diferencial para quadros de verminoses, desnutrição e deficiências alimentares. Já a forma clínica é caracterizada pela ocorrência de diarréias escuras, que podem variar de intensidade, com presença ou não de sangue, apresentar-se de forma profusa ou durar alguns dias. Pode-se verificar ainda desidratação e anemia. Essas variáveis dependem de cada animal e principalmente da espécie de Eimeria envolvida no processo, Eimeria ovinoidalis e Eimeria crandallis são consideradas as espécies mais patogênicas para os ovinos. O que devemos nos preocupar é que mesmo quando o animal recupera-se após um quadro destes, os danos causados ao intestino são irreversíveis, provocando assim atraso no crescimento e diminuição da produção. Diagnóstico O diagnóstico da coccidiose é feito através de uma boa anamnese, levando-se em consideração o manejo da propriedade, sinais clínicos, lesões observadas na necropsia de animais mortos e principalmente através do exame de contagem de oocistos por grama de fezes (OOPG) e diagnóstico das espécies envolvidas. Tratamento Existem algumas particularidades no tratamento da coccidiose ovina, como o fato de que usualmente ele só é iniciado após o surgimento dos sinais clínicos, o que significa que já houve dano ao trato intestinal do animal. Outro ponto importante é a retirada dos animais dos ambientes de possível recontaminação e a dificuldade de utilização de medicamentos misturados à ração ou água, uma vez que os animais acometidos reduzem a ingestão dos mesmos e podem receber subdosagens. Um dos medicamentos mais eficientes utilizados para tratamento é a toltrazurila (Baycox Ruminantes®), que pode ser administrada de forma preventiva ou curativa. A terapia de suporte deve ser realizada através da reidratação, transfusão de sangue quando necessário, melhora das condições do ambiente e fornecimento de água e alimento. É necessário também fazer o diagnóstico e tratamento de doenças concomitantes. Cordeiro da esquerda acometido pela Coccidiose; À direita animal saudável de mesma idade. Fonte: (Foreyt, 1986). Controle Não é possível realizar a total erradicação da coccidiose, porém pode-se controlá-la através da diminuição da taxa de infecção, aumento da imunidade dos animais e utilização de medicamentos preventivos. Algumas medidas de manejo podem auxiliar na diminuição da infecção: • • • • • Ambiente limpo; Colostragem correta; Separação dos animais por idade e em densidade adequada; Evitar sombreamento e umidade excessivos; Instituir na propriedade um esquema de monitoramento da coccidiose através de exames de fezes periódicos Os surtos de coccidiose estão frequentemente associados a situações de estresse e imunodepressão (desmama). Devemos nos atentar para a melhora do manejo a fim de diminuir tais situações. As medidas de manejo preconizadas, associadas ao tratamento preventivo representam a melhor estratégia para o controle da coccidiose ovina, atuando na diminuição da frequência dos quadros clínicos e, principalmente, dos efeitos da forma subclínica, resultando em melhoria no desempenho dos animais e nos resultados financeiros. Eduardo Eiti Ichikawa Coordenador de Serviços Veterinários Saúde Animal E-mail: [email protected]