II – Soluções elencadas - Seção Brasil do Conselho Mundial da Água
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II – Soluções elencadas - Seção Brasil do Conselho Mundial da Água
6º Fórum Mundial da Água Contribuições do Brasil para o Processo Regional das Américas Sumário Apresentação09 Introdução14 O processo de elaboração das contribuições14 O contexto brasileiro18 Os conteúdos temáticos e as soluções elencadas 25 Garantir o acesso à água para todos e o direito à água 28 Água e adaptação a mudanças climáticas 42 I – Conteúdo temático28 As quatro últimas décadas28 Os macrodesafios que impediram a universalização29 Diagnóstico: acentuada carência de Serviços de água e esgoto30 Desafio: a universalização e as metas34 As metas35 II – Soluções elencadas36 Direções e soluções para o alcance das metas rumo à universalização36 Conclusões39 I – Conteúdo temático42 Impactos da mudança climática sobre a água no Brasil42 Iniciativas e ações adaptativas no Brasil50 II – Soluçõeselencadas66 Projetos representativos72 Recomendações e diretrizes gerais para a inserção do tema mudanças climáticas e água nos planos de recursos hídricos e de mudanças climáticas72 Boa governança para a gestão integrada de recursos hídricos78 I – Conteúdo temático78 Objetivo do documento e abordagens conceituais e metodológicas78 II – Soluções elencadas96 Referências de soluções concretas96 Conclusões e recomendações gerais105 Água e segurança alimentar 110 I – Conteúdo temático110 Cenário brasileiro110 Piscicultura110 Agricultura118 Conflitos pelo uso da água119 II – Soluções elencadas125 Usos múltiplos da água125 Desenvolvimento sustentável128 Agricultura familiar130 Manejo sustentável da terra e da água133 Agricultura urbana133 Fertirrigação agroecológica136 Harmonizar água e energia 144 Melhorar a qualidade dos recursos hídricos e dos serviços ecossistêmicos 192 I – Conteúdo temático144 O Brasil e os recursos hídricos144 O Brasil e a energia144 O Brasil e a hidreletricidade145 Planejamento da expansão de energia elétrica no Brasil147 Compartilhamento de água e energia161 Sustentabilidade de empreendimentos hidrelétricos165 Construção de diálogo entre projetos hidrelétricos e a sociedade173 II – Soluções elencadas177 Planejamento da expansão de energia elétrica no Brasil177 Compartilhamento de água e energia177 Sustentabilidade de empreendimentos hidrelétricos178 Construção de diálogo entre projetos hidrelétricos e a sociedade191 I – Conteúdo temático202 Antecedentes e lógica da meta202 II – Soluções elencadas204 Referências de soluções concretas204 Recomendações208 Conclusões210 Anexos220 Apresentação O presente documento reúne informações gerais sobre o Fórum Mundial da Água e a participação brasileira na elaboração do Documento Regional das Américas a ser encaminhado à organização do 6º Fórum Mundial da Água, que se realizará em Marselha, França, no período de 12 a 17 de março de 2012. O Fórum Mundial da Água, realizado a cada três anos, é o maior evento do planeta sobre o tema água. Tem se constituído em um dos mais importantes eventos da agenda internacional na temática e sua sexta edição será coordenada pelo governo da França, pela prefeitura de Marselha e pelo Conselho Mundial da Água. O Conselho Mundial da Água, principal promotor do Fórum, é formado por cerca de 400 membros institucionais de 70 países e objetiva construir comprometimentos técnicos e políticos para conservação, proteção, planejamento, gestão e uso da água em todo o planeta. Desde o 1º Fórum Mundial da Água, realizado em Marrakesh, Marrocos, em 1997, até o 5º Fórum, realizado em Istambul, Turquia, em 2009, é crescente a participação institucional e cada vez mais significativa a representação dos países. Toda essa ampla gama institucional empresta legitimidade ao evento e contribui para as políticas públicas do setor e para maior intercâmbio de práticas exitosas sobre os diferentes aspectos do uso da água. Para o 6º Fórum, o tema escolhido foi “Tempo de Soluções”, sugerindo que os países, as instituições e as técnicos avancem de um patamar teórico e que, a partir de suas experiências, priorizem a apresentação de soluções em temas como garantia de acesso aos serviços de água, harmonização entre água e energia, impactos das mudanças climáticas, gestão dos recursos hídricos, entre outros. Esses temas serão discutidos transversalmente com questões como governança, financia- mento de água para todos e condições propícias para a iniciativa. De acordo com a proposta de organização do Fórum Mundial, a participação se dará por meio de processos regionais nas Américas, Ásia-Pacífico, Europa e África, além de processos subregionais envolvendo a Ásia Central, o Mediterrâneo e os Países Árabes. No contexto do processo preparatório regional para o 6º Fórum, que congrega as Américas do Norte, Sul, Central e o Caribe, o Brasil destacou-se na preparação do Documento Regional das Américas, graças à organização da Seção Brasil do Conselho Mundial da Água, que congrega as instituições brasileiras filiadas àquele conselho, assim como aquelas que se encontram em processo de filiação. Atualmente, a Seção Brasil conta com 31 membros efetivos, o que coloca o país na condição de quinto em termos de representação nacional no Conselho Mundial da Água. O amplo leque institucional desta composição traduz-se em expressiva legitimidade para as discussões sobre o tema água no país. Nesse âmbito, o Brasil preparou subsídios ao Documento Regional, nos seis temas definidos como prioritários pelo Fórum de Água das Américas, com base no conjunto de metas estabelecido pela organização do 6º Fórum Mundial da Água. São eles: 1) Garantia de acesso à água e saneamento; 2) Mudanças climáticas e água; 3) Boa governança para a gestão integrada dos recursos hídricos; 4) Segurança alimentar; 5) Água e energia; e 6) Proteção das águas e serviços ecossistêmicos. Além do documento de subsídios ao processo regional, a organização geral da participação brasileira em Marselha está sendo coordenada pela Seção Brasil do Conselho Mundial da Água e envolve a instalação de um stand, cuja execução e programação encontra-se em curso. Seção Brasil do Conselho Mundial da Água Brasília, janeiro de 2012 Introdução O aspecto mais importante a ser ressaltado no presente documento diz respeito ao caráter das contribuições apresentadas. Trata-se de diagnósticos e formulações relativas às instituições e aos atores sociais consultados no âmbito dos processos descritos. Não houve, em nenhum momento, a pretensão de que os conteúdos aqui tratados representassem a visão consolidada de país ou mesmo dos setores afetos às temáticas definidas. Não obstante, cada uma das instituições brasileiras encarregadas da coordenação dos subsídios à elaboração do Documento das Américas empenhou-se em obter uma visão abrangente no âmbito das instituições e atores consultados, a mais ampla e consensual possível. Essa visão, por sua vez, foi obtida por diferentes dinâmicas, descritas no item referente ao processo de elaboração das contribuições. Adicionalmente, ocorreu uma articulação com as instituições encarregadas da temática no âmbito das Américas, bem como com a Coordenadora Temática do Processo das Américas desenvolvida ao longo de todo o processo. Houve, além disso, oportunidade de apresentação dos avanços observados ao longo do desenvolvimento das contribuições, que contou com a participação do Coordenador Regional das Américas, os seis coordenadores temáticos regionais e coordenadores das respectivas metas. Durante 12 meses, cerca de 60 instituições de toda região convidaram os atores ligados ao tema água nas Américas para engajá-los em torno das seis temáticas regionais. O Brasil, por intermédio de cada instituição brasileira que acompanhou o processo regional, organizou ampla mobilização junto aos atores brasileiros por meio de reuniões presenciais e consultas eletrônicas. As ideias aqui consignadas representam o pensamento da maioria dos participantes de cada temática específica. É importante salientar que as instituições que participaram da elaboração deste documento não necessariamente endossam o conteúdo total ou parcial das contribuições apresentadas. 14 O processo de elaboração das contribuições Aspectos gerais A partir da definição dos temas para cada nova edição do Fórum Mundial da Água, é iniciado um processo preparatório no qual são combinadas atividades temáticas, regionais e políticas. Este processo mobiliza milhares de entidades interessadas dos cinco continentes e culmina na realização do Fórum. O referido evento, entretanto, não encerra o processo iniciado, mas representa a data-marco de um processo permanente que combina diálogo, ação e monitoramento dos resultados. No que se refere ao 6º Fórum, a partir das 12 temáticas definidas como prioritárias, foram geradas cerca de 100 metas a serem alcançadas, tendo como abordagem principal a indicação consistente de soluções concretas a problemas identificados para cada uma das temáticas. Trata-se de uma evolução dos debates iniciados nos Fóruns anteriores, que concluíram pela necessidade de identificar soluções concretas aos problemas identificados. O processo temático do 6º Fórum Mundial da Água tem por premissa a observação de dois conceitos básicos na sua preparação. O primeiro procura conferir ao conjunto de soluções identificadas condições efetivas para a sua implementação. Trata-se do conceito SMART, acrônimo que, na língua inglesa, significa “Specific, Measurable, Achievable, Realistic, and Time-bound”. Em uma tradução livre, o acrônimo sugere que a solução seja “Específica, Mensurável, Alcançável, Realista, e possível de ser avaliada no tempo”. Em outras palavras, sugere que se busquem soluções que efetivamente possam ser implantadas e mensuradas no tempo. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l O segundo conceito utilizado no processo temático 4 – Água e segurança alimentar, coordenado inglesa significa “Wide Involvement in Stakeholder apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, sob é representado pelo acrônimo WISE, que na língua Exchanges”. Em uma tradução livre, o acrônimo representa o conceito de “Ampla Participação e Troca de Conhecimento entre Interessados”. Procura, com este conceito, definir soluções a partir do amplo envolvimento dos diversos setores interessados. regionalmente pela Universidade de Nebraska e a coordenação do Instituto Interamericano de Coo peração para a Agricultura no Brasil (IICA-Brasil) e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). 5 – Harmonizar água e energia, coordenado regionalmente pela Associação Americana de Re- O processo das Américas Na contribuição das Américas para o 6º Fórum Mundial da Água, cada país da região tem autonomia para organizar suas sugestões para encaminhá-las à organização do evento, desde que cumpridas as diretrizes metodológicas e abordagens definidas. A Seção Brasil do Conselho Mundial da Água vem cursos Hídricos e apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, sob a coordenação da Odebrecht e da Itaipu Binacional. 6 – Melhorar a qualidade dos recursos hídricos e dos Ecossistemas, coordenado regionalmente pela The Nature Conservancy (TNC) e apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, sob a coordenação do WWF-Brasil. se reunindo periodicamente em preparação para o 6º Fórum Mundial da Água. Nesse sentido, com o intuito de organizar, elaborar e harmonizar os tra- As contribuições balhos relativos aos seis temas prioritários defini- As contribuições brasileiras nas temáticas referi- cesso com as seguintes responsabilidades: cas e instituições: dos para as Américas, foi implementado um pro- das foram obtidas por meio das seguintes dinâmi- 1 – Garantir o acesso à água para todos e o 1 – Na temática Garantir o acesso à água para Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ra da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) direito à água, coordenado regionalmente pelo todose o direito à água, a Associação Brasilei- e apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, coordenou o desenvolvimento de um estudo, se- Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB). entidades, empresas, academia e organizações sob a coordenação da Associação Brasileira da 2 – Água e adaptação às mudanças climáticas, coordenado regionalmente pela Comissão Nacional da Água do México (Conagua/BID) e apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, sob a coordenação da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA). 3 – Boa governança para a gestão integrada dos recursos hídricos, coordenado regionalmente pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e apoiado pelo Grupo Espelho da Seção Brasil, sob a coordenação da Agência Nacional de Águas do Brasil (ANA). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a guindo o conceito WISE, com a participação de não governamentais (ONGs) do Setor da Água e Saneamento no Brasil: Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon) – e seus associados; Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) – e seus associados; Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe) – e seus associados; (Asfamas) – Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento – e seus associados; Sindicato Nacional de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambien- tal (Sindesam) – e seus associados; Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) – e seus 15 associados; Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP); Instituto Trata Brasil (ITB); e Associação das Empresas de Saneamento Básico (Aesbe). 2 – Na temática Água e Adaptação a Mudanças Climáticas, a Assessoria de Águas da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo elaborou relatório segundo os dois objetivos preestabelecidos para as Américas, quais sejam: I) efetuar, até março de 2012, um inventário de experiências e iniciativas de adaptação aos impactos das mudanças climáticas sobre a água; e II) estimular, até 2015, a inclusão do tema mudanças climáticas e água nos planos nacionais de recursos hídricos e de mudanças climáticas. No documento, são apresentados os resultados de um levantamento de iniciativas e ações adaptativas, com relação à água no Brasil, realizado a partir de um formulário enviado a cerca de 200 entidades e instituições dos setores de recursos hídricos e meio ambiente. Foram obtidos 116 projetos, classificados em quatro categorias, a saber: I) previsão e prevenção de eventos meteorológicos e climáticos extremos; II) infraestrutura hídrica; III) revitalização de bacias hidrográficas; IV) fortalecimento institucional e legal. A partir do elenco de projetos recebidos, foram escolhidos, por região geográfica, alguns projetos considerados representativos, por reunirem os seguintes atributos: redução das vulnerabilidades, replicabilidade, multidisciplinaridade e envolvimento da sociedade, os quais contribuirão para o tema do VI Fórum Mundial da Água: Tempo para Soluções. 3 - Na temática Boa governança para a gestão integrada dos recursos hídricos, a Agência Nacional de Águas do Brasil (ANA) coordenou a elaboração de um documento construído com contribuições de dezenas de entidades representativas da sociedade civil, dos setores usuários das águas e do poder público. As referidas contribuições ocorreram, fundamentalmente, por meio de duas reuniões presenciais – 1º encontro: realizado 16 em 5 de outubro de 2011, em Brasília/DF, com a participação de 36 pessoas; e 2º encontro: realizado em 25 de outubro de 2011, em São Luís/MA, no âmbito do XIII Encontro Nacional de Comitês de Bacia (Encob), com a participação de 57 pessoas. Em consequência da quantidade, diversidade e representatividade das instâncias que participaram desses encontros, há de se ressaltar que o documento não reflete, necessariamente, a visão de cada instituição em particular. Mas representa, sim, o esforço coletivo das instituições que vivenciam o dia a dia do Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (Singreh) e que compartilham o objetivo comum de atuar, proativamente, para garantir que questões estrategicamente relevantes para o país sejam abordadas em fóruns representativos e de importância internacional. 4 – Na temática Água e segurança alimentar, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura no Brasil (IICA-Brasil) e o (Dnocs) realizaram um levantamento de ações sobre uso eficiente da “água para a produção de alimento”, sob a coordenação da Universidade de Nebraska. Participaram do questionário utilizado como base do documento, em especial, as seguintes entidades que contribuíram de maneira expressiva para catalogar boas práticas em prol do uso eficiente da água para a produção de alimento: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Emprapa) Unidade Embrapa Agroindústria Tropical - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop); Centro de Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana de Santa Catarina (CAAUP/ UFSC); Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); e Banco Do Brasil (BB). 5 – Com o intuito de organizar e harmonizar o resultado dos trabalhos de cada tema prioritário, a Seção Brasil criou um Grupo Espelho do processo prepara- tório regional no Brasil, cabendo à Odebrecht Energia e à Itaipu Binacional a coordenação do Grupo de Trabalho responsável pelo tema Harmonizar água C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l e energia. Foi realizada, então, em Brasília, encontro com o objetivo de debater, definir e elencar os temas estratégicos para o Brasil no âmbito do tema água e energia, que seriam tratados no Documento das Américas para o Fórum, bem como consolidar o Grupo de Trabalho para preparação do documento. A reunião, realizada em 3 de agosto de 2011, contou com a participação de 45 pessoas, representando 21 entidades. Produzido por meio de debate, interação e colaboração de todos os membros do grupo de Trabalho, o documento apresenta uma visão brasileira sobre os temas considerados mais estratégicos para o país relativamente à interface água e energia, tendo sido elaborado com dois focos distintos e complementares: o externo, buscando colocar à disposição de atores de fora do Brasil o que o país tem construído ao longo dos anos com relação ao nexo água-energia; e o interno, com o objetivo de analisar e sugerir caminhos para a melhoria do que já se dispõe atualmente. É um documento, portanto, que tem como objetivo maior oferecer uma contribuição prática e objetiva para o avanço do tema água e energia, no Brasil e no mundo. 6 - Na temática Melhorar a qualidade dos recur- sos hídricos e dos ecossistemas o WWF-Brasil, foi realizado encontro, em São Paulo, em setembro de 2011, entre representantes de governo, usuá- rios e sociedade civil que atuam na área de prote- ção das águas e com experiência em valorização dos serviços ecossistêmicos, com o objetivo de contribuir para a construção de uma visão brasileira e propor soluções sobre aspectos estratégicos da proteção das águas e dos serviços ecossistêmicos para o fórum mundial da água. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 17 Amazônica, RH Atlântico Leste, RH Atlântico Nor- O contexto brasileiro deste Ocidental, RH Atlântico Nordeste Oriental, RH Atlântico Sudeste, RH Atlântico Sul, RH Parnaíba, RH São Francisco, RH Tocantins-Araguaia, RH Uruguai, RH Paraguai, RH Paraná. Cumpre salien- Panorama dos recursos hídricos discrepância na variação espacial e temporal das Panorama dos recursos hídricos no contexto brasileiro expõe proporções e dados de difícil comparação com outros países. Devido às suas dimensões continentais – 8.514.876,599 km², equivalente a 20,8% do território das Américas e a 47,7% da América do Sul – e por estar localizado, em sua maior parte, na zona intertropical, o Brasil conta com uma realidade de abundância desse recurso. vazões entre essas regiões. A título de exemplo, a A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de cerca de 180 mil m³/s, considerada apenas a água produzida dentro de suas fronteiras. Esse valor corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade mundial de recursos hídricos, cuja estimativa é de 1,5 milhão de m³/s. Importante observar que, se forem agregadas as vazões de rios provenientes de territórios estrangeiros que ingressam no país, a vazão é majorada para a ordem de 267 mil m³/s, equivalente a 18% da disponibilidade mundial. A magnitude desse patrimônio dá uma ideia do tamanho da responsabilidade dos brasileiros quanto à conservação e ao uso sustentável de suas águas. to, é relevante ressaltar que a potencialidade des- A vazão dos rios brasileiros é alimentada, em grande parte, por uma pluviosidade generosa, em decorrência do predomínio de climas equatoriais, tropicais e subtropicais. De modo geral, a média de temperaturas no território brasileiro é acima de 20º C. Esse cenário, aliado a um relevo de baixas altitudes, resulta numa precipitação média anual de 1.761 mm, variando de valores na faixa de 500 mm na região semiárida do Nordeste a mais de 3.000 mm na região Amazônica. taminação de corpos d’água pelo lançamen- Toda essa abundância de água está distribuída por várias bacias hidrográficas, que foram agregadas em 12 grandes regiões hidrográficas (RH), para efeito de planejamento e políticas públicas: RH 18 tar que, a exemplo da precipitação, há uma grande RH Amazônica detém cerca de 74% dos recursos hídricos superficiais, enquanto a RH do Atlântico Nordeste Oriental apresenta apenas 0,04%. Além da fartura de água disponível em superfície, o Brasil se destaca também em relação às reservas subterrâneas. A estimativa total das reservas explotáveis é da ordem de 4.094,6 m³/s. No entan- sas reservas não é uniforme no território brasileiro. Tal como os rios, há regiões em que as reservas subterrâneas são abundantes enquanto em outras regiões são escassas. Os melhores sistemas estão localizados em terrenos sedimentares e representam em torno de 48% do território nacional. Diante dessa abundante disponibilidade de recursos hídricos no Brasil, é importante anali- sar a qualidade das águas para verificar se essa disponibilidade é apropriada para consumo. De acordo com o Índice de Qualidade das Águas (IQA), adotado pelo Brasil para se avaliar a conto de poluentes, em 2009, em 71% dos pontos avaliados a qualidade da água era considerada “boa”; em 4% foi considerada “ótima”; em 16% “regular”; em 7% “ruim”; e em 2% “péssima”. Os pontos classificados em “ruim” e “péssima” estão associados a grandes centros urbanos, que despejam efluentes nos rios em decorrência de uma cobertura deficitária de rede de coleta de esgoto. Destarte, 91% dos pontos coletados apresentam qualidade razoável da água. Outro parâmetro utilizado no Brasil para se avaliar a qualidade da água é o Índice de Estado Trófico (IET). Por meio dele, é possível estimar o grau de C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l eutrofização dos corpos d’água, que afeta diretamente a qualidade da água. Em 2009, esse parâmetro apresentou, nos pontos coletados em corpos lóticos, 68% de padrões baixos de IET. Em contrapartida, 73% dos pontos coletados dos corpos lênticos apresentaram predomínio das categorias mais altas de IET. social nas decisões. Em um país democrático Assim, de modo resumido, é possível constatar que, aliada à abundância dos recursos hídricos, o Brasil ainda apresenta níveis razoáveis de qualidade desse recurso, a despeito dos avanços de atividades poluidoras e do aumento da população nos últimos anos. descentralizada dos recursos hídricos. Todavia, Outro aspecto importante do panorama dos recursos hídricos no Brasil é a consideração dos usos múltiplos da água. A partir de dados de 2010, a vazão de consumo de água apresenta a irrigação como sendo o uso preponderante, responsável por 69% do consumo total do Brasil, estimado em 986,4 m³/s. O consumo animal é o segundo uso em termos de quantidade de vazão de consumo, responsável por 12% do total brasileiro. Em seguida, tem-se o uso urbano, com 10%, o consumo industrial, com 7%, e o consumo rural, com 2%. No que se refere à cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, os dados disponíveis apresentam correlação direta com os índices de qualidade da água. No atual contexto brasileiro, o abastecimento de água urbana atinge 94,7%. Já a coleta de esgoto doméstico urbano ainda é incipiente, com 50,6% de cobertura. A situação de tratamento de esgoto doméstico urbano é ainda mais precária, com apenas 34,6% de cobertura. como o Brasil, onde ainda imperam grandes de- sigualdades socioeconômicas e educacionais, a participação popular ainda enfrenta barreiras a serem superadas. Da mesma maneira, devido às grandes propor- ções do país, é imperativo garantir uma gestão esta tarefa não é trivial, em que pese a organização político-administrativa do Estado brasileiro. Atualmente, a Federação é composta pelo Distrito Federal e por 26 estados, onde se distribuem 5.565 municípios. Nesse arranjo, há diferentes atribuições e autonomias para cada ente federa- do. Ademais, é comum os limites das bacias hi- drográficas não serem coincidentes com os limites político-administrativos dos entes, o que demanda maior integração na gestão da água. Embora abundante, existem enormes conflitos pelo uso da água e, em muitas regiões brasileiras, é um grande desafio garantir os usos múltiplos desse re- curso natural. Nas regiões de menor disponibilidade hídrica, esse conflito é patente desde tempos históricos. Além disso, têm se agravado nos últimos anos os conflitos relacionados ao uso do potencial de energia hidráulica dos grandes rios brasileiros. Outra demanda premente para a gestão das águas no Brasil são as consequências cada vez mais crô- nicas das variações climáticas. As oscilações cli- máticas cíclicas têm se tornado mais críticas, com barreiras estatísticas históricas sendo ultrapassadas a cada ano. Isso tem demandado maior aten- Embora os dados apresentem a situação brasileira com razoável conforto, com relação à disponibilidade e à qualidade dos recursos hídricos, os desafios de sua gestão são bastante complexos. Em primeiro lugar, a pressão sobre esses recursos apresenta uma perspectiva crescente em decorrência do crescimento da economia e do aumento da população urbana. ção dos órgãos de governo no sentido de dispor Outro desafio importante para a gestão dos recursos intensos, têm sido portadores de maiores impactos, hídricos tem sido garantir uma efetiva participação 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a de melhor previsibilidade dos eventos críticos e de maior articulação institucional para evitar ou mini- mizar os correspondentes danos materiais e perdas de vidas. Além de enchentes mais frequentes, vem sendo observados eventos de estiagem que, se não mais em função da intensa ocupação urbana do país. 19 Na Amazônia, onde os pequenos cursos d´água respondem pelas poucas formas de integração física entre as cidades, a estiagem tem causado impacto relevante no transporte entre as comunidades. Esse contexto, examinado à luz das mudanças climáticas, tem demandado também maior articulação regional entre os países da América do Sul, já que expressiva quantidade de água ingressa em território brasileiro pelas bacias compartilhadas. Histórico legal-institucional O histórico do estabelecimento de normas para o uso da água no Brasil não é recente. A primeira Constituição republicana, promulgada em 1891, fazia referência indireta ao uso dos recursos hídricos quando se referia à navegação, que se relacionava ao comércio, tanto o interior quanto o internacional. Posteriormente, o Código Civil de 1916 incluiu disposições quanto às relações entre particulares e à prevenção ou solução de conflitos gerados pelo uso desses recursos. No entanto, apenas em 1934, com o Decreto Federal nº 24.643, conhecido como Código de Águas, o país passou a contar com um instrumento regulador considerado inovador para a época e mundialmente respeitado como uma das mais completas normas legais sobre águas já concebidas. De acordo com esse código, a água foi dividida em águas públicas, águas comuns e águas particulares. Era assegurado o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de água para as primeiras necessidades da vida, permitindo a todos o uso de quaisquer águas públicas, conformando-se com os regulamentos administrativos. A despeito dessa característica de vanguarda, vários itens dispostos nesse código não foram aplicados, em razão de não terem sido objeto de legislação complementar e de regulamentos específicos. Até a década de 1970, a legislação brasileira sobre recursos hídricos preocupava-se, principalmente, em disciplinar a propriedade e o uso da água, sem se ater às necessidades de conservação e preservação, 20 principalmente em razão da abundância relativa de água no país e da percepção de que se tratava de um recurso renovável e, portanto, infinito. As Constituições de 1934, 1937, 1946 e de 1967 refletem tal pensamento, definindo a dominialidade das águas públicas e as atribuições administrativas das três esferas da Federação. Até os anos de 1970, as questões de recursos hídricos eram consideradas a partir das perspectivas dos setores usuários das águas, tais como hidrelé- trico, navegação e agricultura, ou segundo políticas específicas de combate aos efeitos das secas e das inundações. Nesse período, ocorreu a implementação, no Brasil, do modelo econômico-financeiro de gestão de recursos hídricos, que se desenvolveu a partir da inoperância do modelo burocrático. O modelo econômico-financeiro caracteriza-se por forte intervenção do Estado, com predomínio das negociações político-representativas e econômicas, bem como de instrumentos econômicos e financeiros para induzir à obediência às disposições legais vigentes. Objetivava a promoção do desenvolvimento econômico, nacional ou regional, fundamentado em prioridades setoriais do governo central. Sua força motora eram os programas de investimentos em saneamento, irrigação, eletrificação, entre outros, e tinha como entidades privilegiadas as autarquias e as empresas públicas. Em 1988, a nova Constituição Federal foi sensível ao tema e incluiu, em suas disposições transitórias, a competência da União para a criação e a instituição do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh) e a busca de subsídios para instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos. Além disso, o texto constitucional aboliu a figura da propriedade privada da água, que era prevista no Código de Águas, dividindo o domínio das águas entre a União e os estados. Em 1995, o governo federal criou o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, atual Ministério do Meio Ambiente (MMA), e instituiu a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Refletindo as recomendações resultantes da Conferência de Dublin, referendadas na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), bem como visando a regulamentar o inciso XIX, artigo 21, da Constituição Federal de 1988, foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, após mais de cinco anos de tramitação no Congresso Nacional, marcada por um processo de amplos debates, seminários e audiências públicas. Esta política demonstra a importância da água e reforça seu reconhecimento como elemento indispensável a todos os ecossistemas terrestres, como bem dotado de valor econômico, além de estabelecer que sua gestão deve ser estruturada de forma integrada, com necessidade da efetiva participação social. O modelo de gerenciamento adotado no Brasil representa um novo marco institucional, incorporando princípios e instrumentos de gestão inteiramente novos, embora já aceitos e praticados em vários países. Enquadra-se no modelo sistêmico de integração participativa que tem como “característica básica a incorporação, de forma sinergética, de quatro tipos de negociação: econômica, política direta, político-representativa e jurídica”. As águas brasileiras encontram-se repartidas entre as que integram o domínio da União e as que pertencem aos estados e ao Distrito Federal. Dentre aquelas da União, encontram-se, de acordo com a Constituição Federal, os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como o mar territorial. Quanto aos estados, encontram-se sob seu domínio as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, nesse caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União. A Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos operou uma verdadeira transformação no mundo 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a jurídico das águas brasileiras, efetivamente. Rompeu conceitos e paradigmas arraigados na tradição legislativa pátria em matéria de recursos hídricos, a começar, por exemplo, pelo reconhecimento expresso de sua finitude ao dizer, em seu artigo 1º, que “a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”. Outros avanços confirmam o caráter de bem essencial à vida, já que, em situações de escassez, o uso prioritário é o consumo humano e de animais, devendo a gestão dos recursos hídricos proporcionar sempre o uso múltiplo das águas. Além disso, a lei elegeu ainda outros dois fundamentos essenciais: a bacia hidrográfica como unidade territorial para implementação da Política de Recursos Hídricos e a determinação legal de que sua gestão deve ser descentralizada e contar com a participação de todos – poder público, usuários e sociedade civil. Entre os objetivos da política, encontram-se: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; promover a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; e efetivar a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos hídricos. A Lei nº 9.433/1997 definiu como instrumentos legais necessários à plena eficácia dessas ações: os planos de recursos hídricos, neles incluídos o Plano Nacional, os Planos dos Estados e os de Bacia Hidrográfica; o enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo seus usos preponderantes; a outorga de direito de uso; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; e o sistema de informação sobre recursos hídricos. Em cumprimento ao disposto na Constituição de 1988, a referida lei estabeleceu o Singreh composto de: Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH); a Agência Nacional de Águas (ANA); os 21 Conselhosde Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica e suas respectivas Agências de Água ou entidades delegatárias; e os órgãos e as entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, cujas competências se relacionem com a gestão dos recursos hídricos. Os objetivos do Singreh expressos na lei são: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Em julho de 2000, foi criada a ANA, autarquia especial vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a função de implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos, em sua esfera de atribuições, conforme dispõe a Lei Federal nº 9.984/2000. Dessa forma, o Singreh, além da Agência Nacional de Águas, caracteriza-se por possuir um núcleo estratégico do estado, representado pelo Ministério do Meio Ambiente, tendo a Secretaria de Recursos Hídricos como órgão formulador de políticas públicas de recursos hídricos e tendo como referência as normas e as deliberações do CNRH. Como ente de implementação da PNRH e regulador do uso da água no país, à Agência Nacional de Águas cabe disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da política em corpos d’água de domínio da União; apoiar a formação dos Comitês de Bacia Hidrográfica desses corpos de d’água; e planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações. Dirigida por uma diretoria colegiada, composta por cinco membros, sendo um diretor-presidente e quatro diretores, nomeados pelo Presidente da República, a ANA tem como missão implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos e regular o acesso à água, 22 promovendo seu uso sustentável em benefício da atual e das futuras gerações. Com base no histórico legal-institucional descrito, a situação do país, no que se refere à gestão de recursos hídricos, pode ser assim resumida: • Todas as unidades da Federação (UFs) já contam com legislações específicas sobre recursos hídricos, devidamente compatibilizadas com a Lei nº 9.433/2000 e instituíram ou definiram órgãos ou autarquias para gerenciar os recursos hídricos em seus territórios, cabendo ressaltar os diferentes níveis de estruturação dessas instituições. • O PNRH, estabelecido pela Lei nº 9.433/1997, foi aprovado pelo CNRH, em 30 de janeiro de 2006, como um conjunto de diretrizes, metas e programas, construído em amplo processo de mobilização e participação social. O plano tem como objetivo geral estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão social, e teve sua primeira revisão aprovada em dezembro de 2011, a qual estabeleceu as prioridades nacionais para o período 2012-2015. • Até 2010, foram estabelecidos 173 comitês de bacias no Brasil, sendo 164 estaduais e 9 interestaduais e 6 agências de bacia; em nível federal, foram aprovados 7 planos de bacia, estando 1 em elaboração e 1 em contratação; foram aprovados 13 planos estaduais de recursos hídricos, estando ainda 6 em elaboração e 1 em contratação. • Até 2010, foram emitidas 173.858 outorgas de direito de uso das águas no país, sendo 98.180 de águas superficiais e 75.678 de águas subterrâneas, correspondentes a uma vazão de referência de 5.825,11 m³/s, sendo o abastecimento público, a irrigação e o consumo industrial as principais finalidades verificadas no período. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • Os valores cobrados e arrecadados em 2010 pelo uso da água em rios de domínio da União e dos estados alcançaram um total de R$ 105,8 milhões, os quais foram destinados ao financiamento de ações de gestão (educação ambiental e sanitária, monitoramento mobilização e comunicação social, capacitação e implementação dos instrumentos de gestão), planejamento (estudos de concepção, planos diretores e projetos básicos e executivos necessários à execução de ações estruturais e de gestão) e estruturais (obras de engenharia que visem à correção de problemas relativos à qualidade e à quantidade de água). • Em 2009, do total de R$ 21,4 bilhões orçamentados e aplicados pelas três esferas de governo, R$ 13,2 bilhões (61,75%) foram destinados ao setor de saneamento e os demais R$ 8,2 bilhões (38,25%) foram aplicados em ações de meio ambiente e recursos hídricos. • No ano de 2010, houve avanço no número de pontos monitorados em qualidade das águas, chegando a um total de 2.312 pontos analisados, sendo que o diagnóstico desses pontos revela a manutenção do quadro geral do país, com várias bacias comprometidas devido ao grande lançamento de esgotos urbanos domésticos. Identificou-se, entretanto, a melhoria da qualidade das águas em alguns pontos de monitoramento, devido à implementação de estações de tratamento de esgotos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 23 Os conteúdos temáticos e as soluções elencadas Garantir o acesso à água para todos e o direito à água cenário real de dificuldades e de falta de clareza I - Conteúdo temático sobre os caminhos a serem seguidos. As crises econômicas dos anos 1980 e 1990, que afetaram vários países, contribuíram sobremaneira para uma estagnação no desenvolvimento do setor de água e esgoto nesse período, refletindo nos bai- As quatro últimas décadas A partir do ano 1969, por iniciativa do governo fe- deral, foi criado o Plano Nacional de Saneamento Esse ambiente altamente desfavorável e materializado no atraso do setor pode ser representado por: (Planasa), em que foi estabelecida a primeira polí- a) Ausência de um marco legal para o setor, cuja lei jamento por meio de estudo de viabilidade global, 19 anos da extinção do Planasa e de muitas in- tica de cobrança de tarifas pelos serviços presta- o tratamento de uma política sustentável para companhias estaduais de saneamento e aplicação áreas de baixa renda e sem capacidade de en- tica de longo prazo para o saneamento, com plane- veio somente a ser sancionada em 2007, após com fontes de recursos de longo prazo, com polí- tempéries no Congresso Nacional; é parte da lei dos, montagem do modelo de gestão regional com levar em conta subsídios que permitiriam atingir do subsídio cruzado. Vale a pena mencionar que, frentar tarifas de serviços. no final da década de 1960, a população urbana representava apenas 45% do total e os serviços de saneamento eram precários, com o atendimento em água da ordem de 40% e o esgotamento sanitário abaixo de 15%. A situação se inverteu nos dias de hoje, com uma intensa urbanização, em b) A impossibilidade do acesso aos serviços ser oferecido por empresas privadas, em que a lei para concessão só aconteceu em 1995, e a lei para parcerias público-privadas (PPPs) foi sancionada em 2004. que mais de 85% da nossa população mora nas c) O baixo volume de recursos investidos que des- viços de infraestrutura. A evolução do saneamento produto interno bruto (PIB), quando estudos de sigual, criando disparidades existentes até hoje, necessidade de 0,6% do PIB para uma universa- cidades, com as consequentes pressões por ser- de 2000 tem se mantido ao redor de 0,2% do nas diversas regiões do país ocorreu de forma de- demanda por serviços da época já indicavam a principalmente pela baixa prioridade dada ao setor, lização em 20 anos. e os recursos aplicados foram insuficientes para caminhar rumo à universalização. O Planasa durou quase 20 anos, até 1986 e, dessa época até 2007, o setor de saneamento se debateu com a falta de um arcabouço legal, com a discussão infrutífera de temas ideológicos e que não agregaram conteúdo 28 xos indicadores dos serviços nessa última década. d) Resistências ideológicas à participação do capital privado (concessão e/ou PPPs), ainda existentes hoje, bem como questionamentos sobre a competência municipal versus a estadual para as regiões metropolitanas completaram as dificuldades. para os necessários avanços, com as inúmeras Apesar de os últimos dados oficiais (disponibiliza- nos contingenciamentos de recursos e discussões Saneamento – SNIS)1 serem referentes a 2009, crises da economia nacional e mundial, com eter- dos pelo Sistema Nacional de Informações sobre sobre a titularidade dos serviços, formando um para efeito de comparação com outros países do C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l continenteforam utilizados dados de 2008 (confor- me WHO – UNICEF 2010 Update). No Anexo I, os dados de 2009 são mostrados, observando-se muita semelhança com os de 2008. A tabela da página 27 ilustra uma semiestagnação no setor, pelos indicadores de cobertura: 95,3% da população urbana possuía abastecimento de água por rede em 2003 e apenas 94,7% em 2008. A população urbana atendida com coleta de esgoto por rede pública ficou estável em 50,6%, entre 2003 e 2008. O tratamento dos esgotos gerados2 apresentou pequena melhora de 28,2% para 34,6%. aumentando a demanda por água e esgoto principalmente nas áreas periféricas das cidades, maior concentração dos movimentos. Isto vitimou as populações menos favorecidas e drasticamentepiorou as condições de saúde e higiênicas. :: Esvaziamento das áreas rurais que tornou o acesso aos serviços de água e esgoto ainda mais difícil, e, sobretudo, não sustentável em diversos casos. • Razão econômica e financeira :: Incapacidade de garantir os elevados investimentos necessários por parte dos governos locais e central. :: Inexistência de um sistema de subsídios nas Os macrodesafios que impediram a universalização Sem pretender esgotar este tema, poderiam ser listadas as principais razões para explicar em nível macro as causas do impedimento da universalizaçãono Brasil até hoje: • Razão política :: Pouca prioridade ao setor. Baixo compromisso dos governos, nos três níveis, com o estabelecimento de políticas para o setor, sinalizando até uma pequena prioridade e não a essencialidade para os serviços de saneamento. :: Talvez em decorrência da falta de prioridade, não se definiu e estabeleceu um marco legal para o setor, baseado em um diagnóstico dos problemas existentes e das condições socioeconômicas do país e como mais rapidamente poderia ser buscada a universalização dos serviços, com a participação dos diversos agentes do setor. • Razão social e demográfica :: Mobilização interna das zonas rurais para as cidades (inverteu-se nos últimos 40 anos) 1 2 tarifas, falta de definição de subsídios para as tarifas e para os investimentos. :: Incapacidade das áreas de baixa renda de pagamento por serviços (notadamente de saneamento) e ausência de subsídios dos governos federal, estadual e municipal para suprir tal deficiência, aspectos às vezes utilizados como razão para postergar a ampliação e o fornecimento dos serviços. • Razão cultural :: Falta de conscientização e conhecimento correto da água e do saneamento como direitos humanos, aspectos às vezes incorretamente interpretados e manipulados por grupos e facções partidárias, às vezes dificultando a introdução de soluções já adotadas em outros países no próprio continente. :: Resistência ideológica, às vezes por interesses de grupos, à participação do setor privado na participação da solução. :: Limitado conhecimento pelas autoridades responsáveis, para a condução das políticas públicas e as atividades decorrentes. O SNIS é publicado sempre com dois ou três anos de atraso. O volume de esgoto gerado considerado no indicador é igual ao volume de água consumido. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 29 • Razão técnica e operacional :: Desvalorização gradativa do planejamento e do desenvolvimento adequado de projetos, gerando pressões de prazo e preço, resultan- te da não adoção de modelo de gestão adequada pelos provedores de serviços. Diagnóstico: acentuada carência de serviços de água e esgoto O déficit de acesso à água e esgoto coletado por rede no Brasil ainda é grande. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2008 aproximadamente 13 milhões de brasileiros não contavam com instala- ções sanitárias mínimas,3,4 Cobertura o que representava 7% da 7% da população brasileira não tinham acesso a instalações sanitárias mínimas em 2008 (OMS/UNICEF). população. O Brasil está Apenas 1% da população do Chile não tinha acesso a instalações sanitárias mínimas em 2008 (OMS/UNICEF). por exemplo, onde no mes- muito aquém de países desenvolvidos e alguns latino- -americanos, como o Chile, mo ano de 2008 apenas 1% da população não possuía acesso a instalações sanitárias mínimas. O acesso ao esgotamentosanitário e ao abastecimento de água por rede é essencial para a qualidade de vida da população. Em 2009, 4,69% das internações no Sistema Único de Saúde (SUS) fo- ram por doenças relacionadas à falta de abastecimento de água e esgotamento sanitário por rede,5 valor bem próximo ao observado em 2000 (4,64%), refletindo a estagnação do setor. A situação é ainda mais preocupante nas regiões com menor acesso ao abastecimento de água e à coleta de esgoto por rede, como no Norte e no Nordeste, onde 9,35% e 8,28% das internações, respectivamente, foram relacionadas à falta de abastecimento de água e esgotamento sanitário por rede, em 2009. A mortalidade infantil por doen ças relacionadas à falta de abastecimento de água e esgotamento sanitário por rede6 caiu bastante nos anos 2000, passando de 3.602 óbitos em 2000 a 1.656 em 2007. Apesar da queda, a falta de abastecimento de água e esgotamento sanitário ainda representa 3,11% do total de óbitos infantis. Saúde 3,11% dos óbitos infantis em 2007 estavam relacionados à falta de saneamento (DATASUS). 9,35% das internações na região Norte em 2009 foram relacionadas à falta de saneamento (DATASUS). 1.277 pessoas morreram por infecções gastrintestinais em 2009 (Trata Brasil). Segundo estudo do Instituto Trata Brasil, 1.277 pessoas morreram por infecções gastrintestinais em 2009,7 óbitos que poderiam ser evitados com maior acesso e maior qualidade do saneamento ambiental. Dados coletados pelo SNIS8 reforçam essa situação preocupante. Em 2008, apenas 43% da população brasileira tinha acesso à coleta de esgoto por rede e 81% ao abastecimento de água por rede, conforme explicitado na tabela 1. As informações também evidenciam grande discrepância regional. Enquanto na região Sudeste, a cobertura de coleta de esgoto era OMS; UNICEF 2010. Progress in Sanitation and Drinking-Water A falta de instalações sanitárias mínimas indica situação na qual não há absolutamente nenhuma estrutura construída no domicílio com fins sanitários, seja banheiro, seja fossa séptica etc. e tampouco a possibilidade de compartilhamento de qualquer estrutura sanitária entre domicílios. 5 Dados do Datasus. Doenças consideradas, segundo estudo do PMSS, “O pensamento do setor de saneamento no Brasil: perspectivas futuras”: cólera, febres tifoide e paratifoide, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumida, outras doenças infecciosas intestinais, dengue [dengue clássico], febre hemorrágica devida ao vírus da dengue, esquistossomose, leptospirose ictero-hemorrágica, outras formas de leptospirose e leptospirose não especificada. 6 Dados do Datasus.. Doenças consideradas, segundo estudo do PMSS, “O pensamento do setor de saneamento no Brasil: perspectivas futuras”: cólera, diarreia e gastrenterite de origem infecciosa presumida, outras doenças infecciosas intestinais, dengue, esquistossomose, leptospirose, doença de Chagas. Foram considerados óbitos de crianças abaixo dos 5 anos. 7 “Benefícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro”. Julho de 2010. Trata Brasil: Saneamento é saúde e IBRE: Instituto Brasileiro de Economia – FGV. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/novo_site/cms/files/trata_ fgv.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2010. 8 A amostra é constituída de 661 empresas, sendo 26 de abrangência regional (CESBs), sete de microrregional e 628 de local. Elas prestam serviços de água a um conjunto de 4.627 municípios, que representa 98% da população brasileira, e serviços de esgoto a um conjunto de 1.468 municípios, que representa 77%. 3 4 30 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l próxima de 67%, no Norte apenas 6% da população tinham acesso a esse tipo de serviço em 2008. Entre 2007 e 2008, a cobertura do acesso à água aumentou em 0,3 pontos percentuais (p.p.), enquantoa de coleta e tratamento de esgoto cresceu1,2 e 2,1 p.p., respectivamente, uma situação realmente preocupante. O retrato da cobertura dos serviços de água e esgotoindica que a evolução de investimentos vem ocorrendo em ritmo inferior às carências do setor. O gap de investimentos criado nos últimos anos aumenta a necessidade de esforço para alcançar o patamar adequado de investimentos. POPULAÇÃO ATENDIDA PELO SISTEMA DE ÁGUA E ESGOTO (% SOBRE O TOTAL) BRASIL E REGIÕES – 2008 Regiões Água Coleta de esgoto Urbano Norte 57,6 72,0 5,6 7,0 11,2 Nordeste 68,0 89,4 18,9 25,6 34,5 Sudeste 90,3 97,6 66,6 72,1 36,1 Sul 86,7 98,2 32,4 38,3 31,1 Centro-Oeste 89,5 95,6 44,8 49,5 41,6 Brasil 81,2 94,7 43,2 50,6 34,6 0,3 0,5 1,2 1,5 2,1 Diferença 2007-2008 p.p. Total Urbano Tratamento de esgoto Total Fonte: SNIS 2007 e 2008. Elaboração: LCA Consultores Esse gap é um dos responsáveis pela baixa evolução na cobertura desses serviços. As necessárias me- didas no âmbito da responsabilidade fiscal no pós-Real praticamente cessaram os desembolsos para o setor de água e esgoto, notadamente a Resolução no 2.461/1997 do Conselho Monetário Nacional (CMN), isto que, à época, quase a totalidade dos operadores era de controle estatal. Apenas no final de 2003 é que se observaram no- vas contratações com valores mais significativos. O gráfico a seguir mostra a evolução do investimen- to total como porcentagem do PIB no setor, a queda 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a de 0,35%, em 1998, para 0,20%, em 1999, demonstra Investimento o impacto da referida resolução do CMN que reflete, efe- Mesmo com a retomada das contratações e com o estímulo tivamente, em 1999. Mesmo do PAC, a participação do com a retomada das contrainvestimento em saneamento no tações e com o estímulo do PIB ainda não alcançou o patamar Programa de Aceleração do de 1998. Crescimento (PAC), a parti- Investimento corresponde apenas cipação do investimento em a 0,2% do PIB. água e esgoto no PIB, que atingiu 0,19% em 2008, ainda não alcançou o patamar de 1998. 31 Investimentos em Água e Esgoto (% do PIB) Fonte: Relatórios do SNIS e IBGE. E- estimativa de investimentos em água e esgoto para 2009 e 2010 Desde a retomada das contratações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e pela Caixa Econômica Federal (CEF) em 2003, o volume contratado tem crescido. Em valores correntes, as contratações em 2003 somaram apenas R$ 2,9 bilhões. Já em 2010, o valor das contratações totalizou R$ 7,5 bilhões, segundo informações obtidas junto à CEF e ao BNDES.9 As contratações incluem investimentos em resíduos sólidos e drenagem urbana, sendo que 80% do valor é referente a projetos no setor de água e esgoto. 9 32 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l A grande oneração tributária, sem a devida contraTributação partida de investimentos, Setor arrecada de PIS/Cofins mais também prejudica o desen do que 2,5 vezes os recursos de volvimento do setor. A alteinvestimentos vindos do OGU (Aesbe). ração da incidência do Pis/ Cofins, que teve sua alíquota majorada e passou a ser cobrada por valor agregado, representou um relevante aumento dos custos tributários. Em 2008, o setor gerou e recolheu aos cofres públicos cerca R$ 1,8 bilhão10 com esses tributos, volume 2,5 vezes maior do que os recursos de investimentos provenientes do Orçamento Geral da União (OGU) – que foram de R$ 700 milhões.11,12 A análise de algumas informações de performance dos operadores, por exemplo, permite compreender a gravidade da situação. Segundo o SNIS de 2008, os índices médios de água não faturada foram de 37,4% e de evasão de receita de 6,0%. Um agravante adicional é a situação atual da gestão operacional de alguns dos prestadores de serviço. É uma situação que não tem merecido a devida atenção dos formuladores da política de saneamento e, agora em que os investimentos para a ampliação dos serviços têm crescido consideravelmente nos últimos anos com o PAC Saneamento, sem a melhoria da gestão, tais investimentos podem não se converter na adequada expansão da cobertura do serviço. Essa situação é comum no setor como um todo, com boas exceções. O SNIS apresenta dados de três tipos de prestadores de serviços: (i) Regional; (ii) Microrregional; e (iii) Local. As regionais são as companhias estaduais de saneamento e as microrregionais são autarquias e/ou empresas privadas que atendem a dois ou mais municípios próximos. As operadoras locais são prestadoras municipais e se dividem em três grupos: (i) Prestadores de direito púRegulação blico (autarquias, departamenApenas 4% dos municípios tos e secretarias municipais); cumprem o marco regulatório (ii) Prestadores direito privado do setor. (sociedades de economia mista, empresas públicas e organizações sociais); e (iii) Empresas privadas,13 segundo quadro da LCA Consultores. Microrregional Local – direito público Loca – direito privado Local – empresa privada Pop. atendida água/po. total 94,8% 87,5% 98,1% 91,6% Índice de evasão de receita 5,1% 1,9% 6,6% 8,2% Índice de água não faturada 34,2% 37,0% 32,6% 43,8% Índice de hidrometração 94,3% 89,3% 93,0% 88,4% A Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe) prevê que esse valor atinja R$ 2 bilhões em 2010. “PIS/Cofins emperram os setores de saneamento, energia elétrica e transportes”. Revista Fator, 7 dez. 2010. 11 Segundo Abcon, Abdib, Aesbe, Asfamas, Sinaenco, Sindesam e Instituto Trata Brasil, a partir de dados do SNIS. 12 Segundo a mesma fonte, do total de R$ 5,6 bilhões investidos em 2008, os recursos do OGU representam cerca de 13%, enquanto os recursos próprios respondem por 41%, financiamentos por 39% e outros por 7%. 13 Fonte: SNIS, 2008. 10 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 33 A regulação do saneamento está em início de implementação, com as dificuldades naturais sentidas tanto pelos reguladores quanto pelos operadores. Pela Lei de Saneamento (n0 11.445/2007), os municípios devem definir o ente responsável pela regulação e fiscalização dos serviços.14 Ademais, devem elaborar um plano municipal de saneamento básico, como condição para obtenção de recursos financeiros federais. No entanto, até 2008, apenas 4% dos municípios elaboraram tal plano,15 o que levou ao estabelecimento do prazo para até 2013 e restrição de financiamento, para os que não cumprirem esse prazo. rede de esgoto; (ii) aumento da produtividade do trabalhador de 13,3%; e (iii) aumento da massa de salários de aproximadamente 3,8%. 16 Considerando que a Lei n0 11.445/2007 (conhecida Universalização como Lei do Saneamento) R$ 296 bilhões são necessários tenha como princípio funpara a universalização até 2025. damental a universalizaR$ 339 bilhões faltam para a ção do acesso aos serviuniversalização em 2030. ços de saneamento, seria prudente estabelecermos um prazo para isso acontecer. Para avaliar as necessidades de investimentos com vistas à universalização, em especial, dos serviços de água e esgoto, foram formulados dois cenários no presente trabalho. No primeiro, apresenta-se como estimativa o valor necessário para atingir o objetivo nos dois cenários apontados, elaboradas pela LCA com base em informações das entidades participantes deste trabalho.17 O principal objetivo dos exercícios é obter uma ordem de grandeza para os esforços financeiros necessários à universalização. Desafio: a universalização e as metas Pelo exposto, a universalização dos serviços de água e esgoto (coleta por rede pública e tratamento) é uma questão prioritária para o Brasil, com vários impactos positivos, para além dos imediatos ganhos na qualidade de vida e saúde: (i) valorização média de 18% nos imóveis que passam a ter Cenário 2025 Investimentos necessários para universalização (2001 – meta) Investimentos realizados (2001-2010) Investimentos que faltam para a universalização (2011 – meta) Cenário 2030 Investimento total (R$ bilhões 201) Investimento médio anual (R$ bilhões 2010) Investimento total (R$ bilhões 2010) Investimento médio anual (R$ bilhões 2010) 350,4 14,0 393,1 13,1 53,9 5,4 53,9 5,4 296,5 19,8 por 15 anos 339,2 17,0 por 20 anos Fonte: LCA Consultores com base em informações das entidades participantes desse estudo As agências de regulação estaduais e municipais são responsáveis por 853 concessões reguladas, dos quais 31% dos municípios estão com os contratos adequados à lei. Esse levantamento feito em junho de 2009 pela Associação Brasileira de Agência de Regulação com 22 agências reguladoras, sendo 16 estaduais e 6 municipais. 15 “Apenas 4% dos municípios cumprem a Lei de Saneamento”. Notícia publicada no Brasil Econômico, do dia 10 de janeiro de 2011. 16 Trata Brasil: “Benefícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro”. Julho de 2010. 17 Abcon, Abdib, Aesbe, Asfamas, Sinaenco e Sindesam. 14 34 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l O volume de recursos necessários é bastante expressivo. Ao se comparar estes números com a estimativa do crescimento do PIB no período considerado (na média 4%), nota-se que o investimento anual necessário para a universalização representa algo em média em torno de 0,5% do PIB. Além disso, como se verá adiante, o principal destino desses investimentos deve ser a melhoria da gestão do setor e a aplicação de recursos concomitantemente à formação de um novo modelo de gestão, deverá afetar positivamente o ambiente de negócios, a ponto de criar condições para maior celeridade de expansão. Como se espera que o conjunto de medidas que acompanha este trabalho seja implementado concomitantemente, espera-se que as taxas de crescimento possam ser mais significativas nos anos futuros, tornando ainda mais crível a possibilidade de atingir a universalização. As metas O exposto acima explicita claramente que o caminho para atingir a universalização desejada passa pelo estabelecimento de metas intermediárias, por sua vez a serem alcançadas por direções e soluções, a seguir apontadas. Com base em análises e dados colhidos no universo dos países latino-americanos, tendo por base o estágio atual no acesso aos serviços de água e esgotamento sanitário, podemos estabelecer as seguintes duas metas: • Meta 1: para o ano 2012, todos os países da América são sensíveis às implicações e aos princípios da Declaração de Água e Saneamento como Direito Humano, e, para o ano 2015, 25% dos países da região possuem um road map para implementação desses direitos. • Meta 2: para o ano 2020, pelo menos metade dos países da região terão diminuído o gap existente para o acesso à agua e ao esgotamento sanitário tratado em 50%, tendo por base o ano de 2008. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 35 II – Soluções elencadas o respeito dos princípios de transparência, não discriminação e responsabilização. Complementando o exposto, vale citar conceitos simples (muitas vezes distorcidos), tais como: 1. A água é de domínio público e sempre será. Direções e soluções para o alcance das metas rumo à universalização 1. Os direitos humanos à água e ao saneamento Embora esta meta passe a ser tratada com bastante profundidade em outro position paper, bem como os caminhos para seu atingimento, por se tratar de assunto intimamente ligado à universalização dos serviços de água e saneamento, cumprem alguns esclarecimentos básicos para melhor entendimento do presente documento. Em outubro de 2010, após as Declarações anteriores da entidade, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas emitiu resolução que veio esclarecer as dúvidas ou interpretações incompletas. Esta resolução foi um progresso significativo rumo à implementação efetiva desses direitos para as pessoas. O conteúdo da resolução pode ser resumido nos seguintes pontos: a) As autoridades públicas são as guardiãs da implementação do direito. 36 2. A água é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um bem de valor econômico. 3. O direito à água e ao saneamento não significa que o acesso a tal serviço deva ser dado gratuitamente. 4. Não existe privatização da água (nem de saneamento), pois não se vende, logo este termo é incorreto. 2. As três condições de sucesso Para alcançar a meta a caminho da universalização, três elementos devem ser considerados como condicionantes para o sucesso pelos responsáveis por estabelecer políticas e planos: a) Um ambiente favorável: fortalecer a institucionalidade do setor, por meio de um arcabouço legal completo e regulação independente, implementar a cultura da sustentabilidade, assegurar proteção aos investimentos, fazer planejamento do setor de longo prazo nos diferentes níveis requeridos e desenvolver projetos. b) O Estado tem a responsabilidade de garantir o pleno exercício de todos os direitos humanos. Reconhece-se a ele, conforme suas leis, regulamentações e políticas públicas, o poder de associar agentes não estatais à prestação de serviços de abastecimento de água potável e de esgotamento sanitário e/ou delegar a terceiros esta prestação de serviços. b) Uma governança ativa: priorizar o setor de água e saneamento e dentro dele o acesso aos serviços para as populações de baixa renda, dar continuidade às políticas públicas para este setor, promover a eficiência e o uso das modernas tecnologias, promover todas as soluções e modelos possíveis (não há uma única solução para um país continental), valer-se de um Sistema de Informação Nacional do setor eficaz, dinâmico e atualizado. c) O Estado deveria, independentemente da modalidade de prestação de serviços, assegurar c) Um financiamento adequado: disponibilidade de recursos federais, a serem distribuídos com C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l base a critérios técnicos e atingimento de metas, implantação de políticas tarifárias corretas associadas a subsídios explícitos e focalizados; mecanismos de financiamento internos diversos; incentivo a investimentos externos; existência de fundos de investimentos. b) Box 2 Um conjunto de leis, como a Lei de Concessão, a Lei dos Consórcios, a Lei das Parcerias Público-Privadas, a Lei do Saneamento (água e esgotamento sanitário), está regulamentado desde 2010 e traduz as políticas públicas para o setor. Elas permitem que os serviços de água e saneamento sejam prestados por operadores e/ou privados, diante da magnitude do problema e da multiplicidade das soluções. Também a garantia aos investimentos é assegurada mediante contratos formalizados pelas partes envolvidas. 3. Direções e soluções rumo à meta 2 Embora o texto a seguir aplique-se diretamente ao Brasil, orientado para o atingimento da meta 2, muitas ideias e soluções podem ser utilizadas em outros países do continente que estão empenhados no mesmo caminho do progressivo avanço dos serviços no acesso à água e ao saneamento rumo à universalização. Em paralelo, um sistema de regulação para o setor, exigido pela Lei de Saneamento, está vigente, com 16 agências reguladoras estaduais e 6 municipais, neste momento. Algumas experiências exitosas ou em fase de implantação são apontadas (em boxes), a título de exemplo, para as principais direções e soluções. 3.1 Um ambiente favorável a) É fundamental a existência de políticas públicas, estratégias governamentais e planejamento do setor, nos níveis apropriados (exemplo: por bacia hidrográfica), refletindo principalmente índices de cobertura e qualidade. Box 1 Redução da poluição da Bacia Hidrográfica do Rio Turvo-Grande, por meio da elaboração de planos municipais de saneamento pelas respectivas municipalidades. Este programa foi recém-realizado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a ANA e apoio da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo. A experiência exitosa dos municípios de Catanduva e Olímpia pretende ser divulgada pela ANA, como modelo de solução técnica, econômica e financeira. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a c) A participação das comunidades está inserida nos contextos das leis, o que reflete um aspecto positivo. Há, porém, interpretações distorcendo o papel intrínseco dessas comunidades, interferindo em conceitos e aplicação das leis. d) Box 3 Um Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) para áreas urbanas tem sido promovido pelo governo federal, buscando a fixação de metas de cobertura e qualidade. Antes de sua adoção, após ampla discussão havida entre os membros da sociedade, será ainda objeto de consultas públicas em 2011. Para a área rural, o plano é insuficiente. Por parte dos municípios e regiões, com exceção da maioria das empresas estaduais, já em fase final de elaboração, o planejamento será exigido até o final de 2013. 37 e) O reconhecimento dos direitos humanos para água e saneamento não está explícito na conjuntura legal, a não ser indiretamente, e o arcabouço jurídico necessitará de adendo nesse sentido. A simplificação do licenciamento ambiental na área de saneamento (coleta e tratamento de esgoto) deve merecer uma atenção especial, ainda mais conforme exige a Lei de Saneamento. 3.2 Uma governança ativa a) Deve haver disposição pelos governos para que sejam elaborados, em linha com os planos e programas, com a urgência requerida, projetos técnicos e executivos para água e saneamento, de tal forma a direcionar recursos, quer a fundo perdido para subsídios (tarifa social) e atendimento a áreas menos favorecidas, quer por financiamento via critérios técnicos e passíveis de monitoração. b) Um novo modelo de gestão, com resultados e práticas saudáveis para o setor, representa uma oportunidade a ser divulgada amplamente pelos responsáveis na implementação das políticas públicas. As parcerias estratégicas de todas as modalidades, para um país como o Brasil, são uma condição de significativos avanços, já comprovados e consolidados, facilitando a universalização. b.1) b.2) Box 5 Sistema de Coleta e Tratamento de Esgoto para atender a 110.000 habitantes, pela parceria entre empresa privada (CAB) e municipalidade (Guarantiguetá), com meta de 100% de esgoto coletado em 2020 e 100% de esgoto tratado em 2024. c) No novo modelo de gestão, a busca pela eficiência (redução de perdas) e pela economia de recursos hídricos (uso de água não potável para uso industrial, por exemplo) representam caminhos corretos e cada vez mais importantes. c.1) Box 6 Sistema de Melhoria dos Serviços de Acesso à Água e Saneamento e de Redução de Perdas, para cidade de 280.000 habitantes (Limeira), por meio de modelo de concessão privada (Foz do Brasil), já prorrogada, com os índices seguintes: 1995 (%) Perdas > 40 Coleta de esgoto 78 Tratamento de esgoto 2 Despoluição de córregos 45 2010 (%) 16 100 90 98 Box 4 Sistema de Produção de Água Potável, pela parceria entre empresa privada (CAB spat) e Empresa Estadual (SABESP), para aumentar o fluxo de 10 para 15 m3/seg, utilizando 17,7 Km de adutoras e 4 reservatórios numa capacidade total de 70.000 m3, para abastecer a área metropolitana de São Paulo. 38 c2) Box 7 Sistema de Água de Reúso (Aquapolo), por meio de sociedade formada por empresa estatal – Sabesp e empresa privada – Foz do Brasil, para abastecimento do Polo Petroquímico do ABC, representando o maior projeto realizado no Hemisfério Sul. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l d) Ressaltar a importância e a relevância do setor pelo compromisso do Estado adotando políticas de longo prazo e continuidade (além dos prazos governamentais). lidades sociais e subsídios. Cabe ressaltar também Fundos Federais, como o Fundo Soberano, para alavancagem de PPPs, principalmente em operações envolvendo recursos do OGU. e) Apoiar a remodelagem e reestruturação de forma apropriada das organizações e empresas públicas para implantação efetiva da cultura da sustentabilidade econômica. A estes recursos, soma-se a disposição do setor privado e de fundos de investimentos, que, se estimulados e incentivados a participar, podem perfazer um total geral aproximado da necessidade demandada. f) Melhorar constantemente o sistema de informação do setor para facilitar a monitoração, o acompanhamento e a otimização dos resultados. Deve-se atentar à carga tributária incidente sobre os serviços de água e saneamento, pois estamos falando em aumentar investimentos e proporcionar saúde à população. g) Modernizar o atual sistema de licitação permitindo ao setor que os critérios de julgamento privilegiam a técnica em relação ao preço, além da redução da burocracia. 3.3 Um financiamento adequado O Brasil tem investido nos últimos anos ao redor de 0,2% de seu PIB (equivalente a cerca de US$ 2.600 milhões). A agenda proposta para 2011-2014 (em discussão) prevê o desafio de investir cerca de US$ 200.000 milhões para atingir a universalização em 2030 (cenário realista). Isto implicaria investir por ano, em média, quase o triplo do que tem sido feito nos últimos anos. Há fontes de financiamento, representadas pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal, que dispõem de recursos específicos para os projetos, desde que corretamente estruturados, além do Orçamento Geral da União (OGU) para destinar recursos com fina- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Conclusões Para atingir a tão desejada universalização dos serviços, o presente estudo aponta para os caminhos que podem ser sumarizados em duas proposições fundamentais: a) Adoção de um novo modelo de desenvolvimento e gestão, resolvendo um a um os desafios apontados e descritos neste documento. b) Garantia de recursos segundo a demanda, como apontado acima e em especial no item “um financiamento adequado”. As duas proposições são necessárias e complementares, não sendo suficiente atingir isoladamente apenas uma delas. Ambas devem ser implementadas, simultaneamente, para permitir a universalização no prazo sugerido neste estudo. 39 Água e adaptação a mudanças climáticas I – Conteúdo temático Impactos da mudança climática sobre a água no Brasil 1. Visão global O 6º Documento Técnico do IPCC sobre Mudança Climática e Água (2008) faz o seguinte alerta geral: Os registros de observações e as projeções climáticas fornecem abundante evidência de que os recursos de água doce são vulneráveis e podem ficar gravemente afetados a mudança climática, com as mais diversas consequências para as sociedades humanas e os ecossistemas. As principais conclusões do documento, com incidência sobre o Brasil, são: “a) O aquecimento observado durante várias décadas esteve vinculado a mudanças experimentadas pelo ciclo hidrológico em grande escala. Especificamente: aumento do conteúdo de vapor da água na atmosfera; variação das características, intensidade e valores extremos da precipitação; diminuição da cobertura da neve e fusão generalizada do gelo; e mudanças na umidade do solo e no escoamento. b) As simulações em modelos climáticos concordam em projetar para o século XXI um aumento da precipitação em latitudes altas (muito provável) e parte dos trópicos, e uma diminuição em algumas regiões subtropicais e em latitudes médias e baixas (provável). c) As projeções para o século XXI indicam que, como consequência da mudança climática, a vazão média anual dos rios e a disponibilidade de 42 água aumentariam em latitudes úmidas e diminuiriam em algumas regiões secas de latitudes médias e em regiões tropicais secas. Muitas áreas semiáridas e áridas (por exemplo, a bacia mediterrânea, oeste dos Estados Unidos, o sul da África e o Nordeste do Brasil) estão particularmente expostas aos efeitos da mudança climática(alto nível de confiança). d) De acordo com as projeções, a intensidade e variabilidade crescentes da precipitação agravariam o risco de inundações e secas em numerosas áreas. e) As projeções indicam que os aumentos de temperatura da água e a variação dos fenômenos extremos, incluídas as enchentes e secas, afetariam a qualidade da água e agudizariam a poluição da água por múltiplas causas, desde a acumulação de sedimentos, nutrientes, CO2 dissolvido, patógenos, praguicidas ou sal, até a poluição térmica, com possíveis efeitos negativos sobre os ecossistemas, a saúde humana, e a confiança e custos de operação dos sistemas hídricos (alto nível de confiança). f) A mudança climática afeta a função e utilização das infraestruturas hídricas existentes – em particular a energia hidráulica, as proteções estruturais contra inundações, a drenagem e os sistemas de irrigação –, assim como as práticas de gestão hídrica. Os efeitos adversos da mudança climática sobre os sistemas de água doce agravam os efeitos de outros fatores, como o crescimento da população, a evolução da atividade econômica, o uso do solo ou a urbanização (nível de confiança muito alto). g) As práticas atuais de gestão dos recursos hídricos podem não ser suficientemente sólidas para enfrentar os efeitos da mudança climática sobre a segurança do abastecimento, o risco de inundação, a saúde, a agricultura, a energia e os ecossistemas aquáticos. Em muitos lugares, a gestão da água não pode enfrentar satisfatoriamente nem mesmo a variabilidade climática atual, e as enchentes e secas provocam grandes danos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l h) A gestão dos recursos hídricos afeta claramente A ANA realizou em 2007 o diagnóstico da disponi- de, segurança alimentar e conservação da natu- gráficas do Brasil, resumido a seguir. muitos outros setores: por exemplo, energia, saúreza. Por conseguinte, na adoção de medidas de adaptação e mitigação, devem participar múltiplos setores que dependem da água.” 1.1 Panorama hidroclimático do Brasil bilidade de recursos hídricos das 12 regiões hidroA figura 1 mostra a distribuição geográfica da preci- pitação média anual no período 1961-1990. A precipitação varia de menos de 800 mm/ano no Nordeste semiárido e a mais de 2.500 mm/ano na Amazônia. FIGURA 1. VARIABILIDADE ESPACIAL DAS PRECIPITAÇÕES Fonte: ANA, 2007 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 43 Além da variação geográfica é importante notar a variação sazonal da precipitação. A figura 2 mostra a linha de igual valor da precipitação (isoietas) mês a mês. Na Região Hidrográfica Amazônica, o período chuvoso se estende de novembro a maio; no Sudeste do país, o período chuvoso se estende de outubro a março; já no Nordeste, as chuvas se estendem de março a julho. FIGURA 2. VARIAÇÃO ESPACIAL SAZONAL DAS PRECIPITAÇÕES Fonte: ANA, 2007 44 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l A figura 3 mostra a variabilidade das vazões específicas (vazão por unidade de área) em 332 unidades hidrográficas. No país, a vazão específica varia de menos de 2 L/s.km2 no Nordeste semiárido, a mais de 40 L/s.km2 no noroeste da Amazônia. Figura 3. Variabilidade espacial das vazões específicas Fonte: ANA, 2007 Para fins de planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos, o território brasileiro foi dividido, por resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, em 12 regiões hidrográficas compostas por uma bacia, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com características naturais, sociais e econômicas homogêneas ou similares, conforme a figura 4. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a A tabela 1 mostra as vazões médias e de estiagem nas 12 regiões hidrográficas do país. A Região Hidrográfica Amazônica detém 73,6% dos recursos hídricos superficiais, seguida das Regiões Tocantins/Araguaia com 7,6% e Paraná com 6,4%. Já as Bacias do Atlântico Nordeste Oriental são as de menor disponibilidade hídrica. 45 Figura 4. Divisão hidrográfica nacional Fonte: ANA, 2007 Obs.: Resolução n° 32 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. 46 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Tabela 1. Vazões médias e de estiagem nas regiões hidrográficas e no País Região Hidrográfica Vazão média (m 3/s) Vazão de estiagem 1 (m3/s) 3.869.953 131.947 73.748 Tocantins/Araguaia 921.921 13.624 2.550 Atlântico Nordeste Ocidental 274.301 2.683 328 Parnaíba 333.056 763 294 Amazônica 2 Área (km 2) Atlântico Nordeste Oriental 286.802 779 32 São Francisco 638.576 2.850 854 Atlântico Leste 388.160 1.492 253 Atlântico Sudeste 214.629 3.179 989 Atlântico Sul 187.522 4.174 624 Uruguai 3 174.533 4.121 391 Paraná 363.446 2.368 785 363.446 2.368 785 8.532.772 179.433 85.495 4 Paraguai 4 Brasil 1. Vazão com permanência de 95%. 2. A Bacia Amazônica ainda compreende uma área de 2.2 milhões de km2 em território estrangeiro, a qual contribui com adicionais 86.321 m3/s em termos de vazão média. 3. A Bacia do Rio Uruguai ainda compreende adicionais 37 mil km2 em território estrangeiro, a qual contribui com 878 m3/s. 4. A Bacia do Rio Paraguai compreende adicionais 118 mil km2 em território estrangeiro e 595 m3/s. Fonte: ANA, 2007 2. Previsão de impacto da mudança climática sobre a água Duas Regiões Hidrográficas do Nordeste, Parnaíba e Atlântico Nordeste Oriental, passariam de semiárido O pesquisador Eneas Salati (2009) fez uma avaliação da disponibilidade hídrica no Brasil em decorrência das possíveis mudanças climáticas. Os cenários climáticos para o século XXI são relacionados ao período 1961-1990. para árido. Porém, segundo o autor, o modelo utiliza- Classificação térmica – o aumento das temperaturas modificará a classificação térmica de três regiões hidrográficas, passando de mesotérmica a megatérmica. As regiões são: Atlântico Leste, Atlântico Sudeste e Uruguai. As demais regiões se mantêm com a mesma classificação de megatérmica. de água. O mesmo fato ocorreria com as Bacias do Classificação hídrica – apenas duas Regiões Hidrográficas, Atlântico Sul e Uruguai, manteriam a mesma classificação hídrica de úmida com pequena ou nenhuma deficiência de água. clusive nas regiões em que os modelos indicam um 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a do apresenta os maiores erros na região Nordeste. A Bacia do São Francisco passaria de seco e subúmido com pequeno ou nenhum excesso de água, para semiárido com pequeno ou nenhum excesso Atlântico Leste. Balanço hídrico – os estudos indicam que pratica- mente em todas as bacias hidrográficas do Brasil, a tendência é de uma diminuição das vazões dos rios no período 2011-2040. Esta observação é válida inaumento das precipitações. Nesses casos, a diminui- ção das vazões é decorrente das perdas por evapotranspiração causada pelo aumento da temperatura. 47 Em decorrência dessas previsões, o autor reco- menda estudos para adaptação ao aumento da temperatura e das possíveis diminuições da oferta de recursos hídricos. As atividades socioeconômicas mais críticas são a produção de energia hidrelétrica, a produção agropecuária, a saúde pública, além da estabilidade dos ecossistemas naturais. clima, associada aos fenômenos de El Niño, La Niña, ou à variabilidade na temperatura da superfície do mar Atlântico Tropical Sul podem gerar anomalias climáticas, que produzem grandes secas, como em 1877, 1983 e 1998 no Nordeste, 2004-2006 no Sul, 2001 no Centro-Oeste e Sudeste, e em 1926, 1983, 1998 e 2005 na Amazônia. O Brasil é vulnerá3. Eventos climáticos extremos José Antonio Marengo (2008), em trabalho realizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, considera que a disponibilidade de água no Brasil depende em grande parte do clima. O ciclo anual das chuvas e vazões no País varia entre bacias, e, de fato, a variabilidade interanual do 48 vel às mudanças climáticas atuais e mais ain- da às que se projetam no futuro, especialmente quanto aos extremos climáticos. As áreas mais vulneráveis correspondem a Amazônia e o Nordeste do Brasil. Recentemente (2011), o mesmo autor utilizou mo- delo climático de alta resolução para a projeção das mudanças nas precipitações e nas temperaturas da América do Sul no século XXI (figura 5). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Figura 5. Projeção das mudanças nas precipitações e nas temperaturas da América do Sul 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 49 “Com relação à Amazônia, as projeções são de grandes reduções nas precipitações e de elevação da temperatura do ar a partir de 2040.” Cabe lembrar que a Região Amazônica acaba de passar por dois anos de extrema seca (2005 e 2010) e que, no mesmo período, a população teve que enfrentar a enchente recorde de 2009. O autor adverte que tais impactos poderão ser esperados com mais frequência. Além desses, outros autores vêm desenvolvendo estudos que procuram identificar os impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos, especialmente por meio da aplicação de modelos para a construção de cenários futuros em regiões específicas do Brasil. Iniciativas e ações adaptativas no Brasil 1. Base conceitual Como mostrado no capítulo anterior, os impactos das alterações climáticas sobre a água ameaçam o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Eles afetam os diferentes setores econômicos que, por isso, devem ser envolvidos nas estratégias de adaptação. O planejamento das ações de adaptação às mudanças climáticas é essencial para reduzir a vulnerabilidade e a intensidade dos seus impactos. Segundo o Documento Técnico n° VI do IPCC, de 2008, o conceito de adaptação refere-se a “iniciativas e medidas destinadas a reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos face aos efeitos reais ou esperados das mudanças climáticas.” A conferência das partes da ONU, COP 16, em sua reunião de dezembro de 2010 no México, fez nove recomendações de estratégia regional para o planejamento de iniciativas e ações adaptativas ligadas à água, que constituem a referência conceitual deste relatório e podem ser encontradas na íntegra no documento “Diálogo regional de Política de 50 América Latina y el Caribe – versión Cancun- COP 16”. Em resumo, são elas: 1) É importante reconhecer a iminência e relevância dos impactos da mudança climática nos recursos hídricos. 2) A adaptação à mudança climática deve ser incorporada à gestão integrada de recursos hídricos como um elemento estratégico fundamental. 3) É necessário fortalecer a “dimensão ambiental” nos processos de gestão de recursos hídricos como medida de adaptação à mudança climática. 4) É essencial incluir explicitamente considerações de equidade e atenção à pobreza no marco das políticas de adaptação à mudança climática em matéria de água. 5) Os sistemas de informação climatológica e hidrológica devem ser fortalecidos para ajudar a tomar, oportuna e coletivamente, medidas preventivas de adaptação à mudança climática. 6) As capacidades institucionais devem ser fortalecidas para a adaptação à mudança climática em matéria de água. 7) A infraestrutura hídrica deve ser desenvolvida e adaptada para dar respostas às novas necessidades impostas pela mudança climática e às fontes de financiamento disponíveis. 8) O processo de adaptação à mudança climática sobre a água oferece importantes desafios de organização social, sendo relevante estabelecer mecanismos efetivos de coordenação, colaboração e participação social. 9) A geração de conhecimento e a formação profissional sobre a adaptação à mudança climática e a água devem ser aprofundados. O processo de preparação da contribuição brasileira sobre o tema – Mudanças climáticas e água no Brasil – envolveu amplo trabalho de articulação e mobilização de entidades e setores interessados, do governo, dos setores econômicos e da C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l sociedadecivil organizada. Destacam-se os principais momentos desse processo. - Identificar grupos sociais mais vulneráveis. - Quantificar em termos materiais, físicos e financeiros as medidas adaptativas necessárias. 2. Mesa redonda A mesa redonda sobre Mudanças Climáticas e Água foi realizada no dia 3 de junho de 2011, em São Paulo, e contou com a presença de 33 especialistas.18 As ações adaptativas prioritárias, sintetizadas a partir das intervenções dos participantes, foram agrupadas em três linhas, descritas a seguir: I – Previsão e prevenção de eventos climáticos extremos: - Conferir prioridade ao impacto da mudança climática sobre as águas nas grandes cidades. - Ampliar o conhecimento sobre mudanças climáticas. - Dar destaque a importância da floresta na conservação da água. - Melhorar o monitoramento e implantar sistemas de alerta aos eventos extremos, com salas de situação. - Implantar, na zona costeira, redes de marégrafos e de ondógrafos de modo a desenvolver modelos regionais e locais. - Desenvolver indicadores de risco. III – Utilização racional da água e segurança hídrica: - Investir em desenvolvimento e inovação tecnológica, incentivando a colaboração do setor público com a iniciativa privada. - Definir cenários que irão orientar a escolha e implementação de medidas adaptativas. - Aprimorar os instrumentos de gestão, incluindo a questão da mudança climática nas tomadas de decisão sobre outorga e planejamento dos recursos hídricos. - Estabelecer compromissos e metas claras de adaptação, a exemplo da União Europeia. - Adotar medidas de “proteção aos mananciais” e de respeito às APPs. - Adotar medidas de segurança hídrica. - Na perspectiva de restrição crescente do uso das águas superficiais é fundamental planejar a utilização das águas subterrâneas que são menos susceptíveis aos impactos das mudanças climáticas. - Formação de recursos humanos: é necessário formar profissionais com visão integrada dos recursos hídricos associados aos ecossistemas. II – Redução da vulnerabilidade social: - Associar o clima às políticas setoriais incorporando a incerteza da variabilidade climática nos planos, programas e projetos. Conjuntura legal/institucional - Preparar a sociedade para reduzir a vulnerabilidade social à mudança climática. Em simultaneidade com o levantamento sobre iniciativas e ações adaptativas, foi feito um apanhado da situação brasileira sobre a legislação ligada às mudanças climáticas, nos três níveis de governo.19 - Investir na comunicação para promover o engajamento da sociedade. A legislação sobre mudança climática no Brasil é recente. A partir de 2005, alguns estados começam 18 Anexo 1. 19 Anexo 2. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 51 a instituir fóruns estaduais de mudanças climáticas, voltados para o monitoramento dos impactos das mudanças climáticas. No período de 2009-2010, há forte incremento das legislações estaduais, agora com a instituição de políticas estaduais de mudanças climáticas, além da criação dos respectivos fóruns. Atualmente, 16 dos 26 estados têm legislação específica, conforme relação anexa e demonstrado na figura 6. No âmbito federal, a Lei n°12.187, de 29 de dezembro de 2009, institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima e cria os seguintes colegiados: Comissão Interministerial; Fórum Brasileiro de Mudança do Clima; Rede Brasileira de Pesquisa – Rede Clima e Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia; Climatologia e Hidrologia. No geral, tanto as leis estaduais quanto a própria lei federal estão centradas nas medidas mitigadoras de redução dos gases de efeito estufa, com pouca ou nenhuma referência explícita à água. Somente nas legislações estaduais de Espírito Santo, São Paulo e Pernambuco são encontrados tópicos específicos sobre a água. No âmbito municipal, foram identificadas apenas seis leis, com destaque para os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, com diretrizes específicas sobre recursos hídricos. Figura 6. Estados com políticas já aprovadas, projetos de lei e fóruns já estabelecidos Fonte: Mudanças do Clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e regulatórios (IPEA, 2011) 52 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Fundos de financiamento para mudança climática Abaixo segue o resultado do levantamento preliminar que busca inventariar as fontes de financiamento voltadas às mudanças climáticas: a) Do governo federal Avaliado em R$ 238 milhões, o primeiro orçamento do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC), também conhecido como Fundo Clima, teve como prioridade os setores de agricultura, energia, siderurgia e ações que contribuam para evitar o desmatamento da Amazônia, além dos desmates e das queimadas no Cerrado. O Fundo Amazônia, lançado em agosto de 2008, é administrado pelo BNDES e recebe recursos internacionais com previsão de chegar a até 1 bilhão de dólares. Esse fundo objetiva promover medida de mitigação que contenha o desmatamento da floresta face ao seu papel de eliminação do CO2 na atmosfera. Essas ações de mitigação, financiadas pelo fundo, trazem imbricadas, outras relacionadas a medidas de adaptação, como a melhoria das condições de vida da população que vive na franja da Floresta Amazônica. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil também têm linhas de crédito específicas para projetos de mudanças climáticas. b) Dos governos estaduais Nas legislações estaduais sobre mudanças climá ticas do Brasil, que hoje chegam a um total de 15, constam dispositivos que preveem a existência de fundos financeiros específicos para mudanças climáticas, mas até agora nenhum foi operaciona- lizado. Alguns estados ampliaram o rol de temas financiáveis por outros fundos já existentes, de forma a contemplar as ações voltadas para mudanças climáticas, em especial aqueles destinados a recursos hídricos. c) Dos fundos internacionais O Overseas Development Institute (ODI) e a Heinrich Böll Foundation lançaram um site chamado 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Climate Funds Update – www.climatefundsupdate. org . Este site oferece informações sobre o crescente número de fundos internacionais que estão sendo construídos para auxiliar os países em desenvolvimento a lidar com o desafio das mudanças climáticas. 4. Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas O “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas” foi elaborado no âmbito do processo de preparação do VI Fórum Mundial da Água, atendendo a meta estabelecida para o grupo Mudanças Climáticas e Água: 1 – Até março de 2012 será realizado um inventário de ações de adaptação a mudança climática sobre água nas Américas, sejam políticas públicas, leis ou projetos. a) Medidas adaptativas Este levantamento tem o objetivo de reunir informações sobre as ações e experiências voltadas para a adaptação às mudanças climáticas em matéria de água no Brasil, assim como as lições aprendidas por meio da implementação dessas ações. No âmbito da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas da ONU, o termo adaptação refere-se às medidas necessárias para adaptar atividades humanas (agricultura, abastecimento de água, geração de energia, transporte, habitação etc.) aos impactos irreversíveis de mudanças de clima. Entendemos que, uma vez que o ciclo hidrológico sofre as consequências das mudanças climáticas, o foco deste trabalho não são as medidas de mitigação, voltadas para redução da emissão dos gases de efeito estufa, e sim as medidas adaptativas com relação à água, aos efeitos das variações climáticas, com foco na redução das vulnerabilidades. Tanto a qualidade quanto a disponibilidade de água são afetadas pelas mudanças climáticas e isso representa o novo e complexo desafio para o 53 desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos. Considerando que os recursos hídricos são de importância estratégica para muitos setores econômicos, tais como a produção de alimento, geração de energia ou abastecimento de água que em muitas regiões já são objeto de disputa, foi encaminhado para ampla rede de tomadores de decisão um formulário com as seguintes questões: - Que medidas estão sendo tomadas pelos governos locais e nacionais, organizações da sociedade civil, empresas privadas, institutos de pesquisa e organizações intergovernamentais, a fim de se adaptar às mudanças no ciclo da água? - Quais inovações serão necessárias para garantir que haverá água para o desenvolvimento econômico, para garantir o bem-estar social, sem comprometer as condições ambientais para as gerações atuais e futuras? b) Procedimentos O formulário20 “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas” foi encaminhado para uma rede de contatos composta por:21 b.1) 47 entidades associadas à Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), da qual fazem parte todos os estados brasileiros. b.2) 63 entidades associadas ao Fórum Nacional de Órgãos Gestores das Águas (Fnoga). b.3) 25 contatos de profissionais que trabalham em entidades estaduais de meio ambiente. b.4) 18 institutos ambientais. 54 b.5) 14 contatos municipais. b.6) 29 contatos de ONGs. b.7) 35 contatos que trabalham em entidades federais. b.8) 10 contados de universidades. b.9) 12 usuários da água. b.10) Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep) – Rede Nacional de Mobilização Social. O levantamento não teve a intenção de ser exaustivo, com todas as iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas do território nacional, mas buscou reunir o maior número possível de experiências com o objetivo de constituir um banco de projetos que sirva de base para a construção de um plano de adaptação e incentivo à replicação e referência para o Brasil. Os formulários foram encaminhados por e-mail e após o envio foram feitos contatos telefônicos para reforçar a importância da resposta, bem como da importância na participação no processo de preparação do VI Fórum Mundial da Água. Os resultados do levantamento serão apresentados a seguir e a ficha resumo de cada projeto será disponibilizada no site do Pacto das Águas: <http:// www.ambiente.sp.gov.br/wp/pactodasaguas/>. c) Recomendações da COP 16 Foi solicitado que os responsáveis pelos projetos que responderam ao questionário assinalassem a qual das recomendações do COP 1622 que o respectivo projeto atende. O resultado é apresentado no quadro 1. 20 Anexo 3 21 Anexo 4 22 Reunião paralela realizada na 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 16), em dezembro, no México. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Quadro 1. Resultado da adesão dos projetos % Recomendações da COP 16 34,5 É importante reconhecer a iminência e relevância dos impactos da mudança climática nos recursos hídricos. 49,1 A adaptação à mudança climática deve ser incorporada à gestão integrada de recursos hídricos como um elemento estratégico fundamental. 56,9 É necessário fortalecer a “dimensão ambiental” nos processos de gestão de recursos hídricos como medida de adaptação à mudança climática. 25,9 É essencial incluir explicitamente considerações de equidade e atenção à pobreza no marco das políticas de adaptação à mudança climática em matéria de água. 26,7 Os sistemas de informação climatológica e hidrológica devem ser fortalecidos para ajudar a tomar, oportuna e coletivamente, medidas preventivas de adaptação à mudança climática. 42,2 As capacidades institucionais devem ser fortalecidas para a adaptação à mudança climática em matéria de água. 37,9 A infraestrutura hídrica deve ser desenvolvida e adaptada para dar respostas às novas necessidades impostas pela mudança climática e às fontes de financiamento disponíveis. 48,3 O processo de adaptação à mudança climática sobre a água oferece importantes desafios de organização social, sendo relevante estabelecer mecanismos efetivos de coordenação, colaboração e participação social. 31 A geração de conhecimento e a formação profissional sobre a adaptação à mudança climática e a água devem ser aprofundados. Ficou evidente que as recomendações relativas: a) ao fortalecimento da dimensão ambiental nos processos de gestão dos recursos hídricos, como medida de adaptação; b) à necessidade de incorporar a gestão integrada de recursos hídricos, as questões relativas à adaptação às mudanças climáticas; c) ao fortalecimento da participação social, são as preocupações mais valorizadas nos projetos objeto desse levantamento. É importante observar que as recomendações relativas à “inclusão explícita de considerações de equidade e atenção à pobreza no marco das políticas de adaptação” e sobre o “fortalecimento dos sistemas de informação climatológica e hidrológica” são preocupações que receberam reduzida atenção nestes projetos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a d) Sistematização Para efeito de sistematização dos resultados, os projetos foram divididos em quatro categorias: I. Previsão e prevenção de eventos meteorológicos e climáticos extremos, abrangendo os seguintes temas: - Controle de enchentes. - Convivência com a seca. - Vulnerabilidade de áreas costeiras. - Busca de fontes alternativas de energia. - Pesquisa, desenvolvimento, produção e sistematização de informações. II. Infraestrutura hídrica e serviços de abastecimento de água, drenagem, coleta e tratamento de esgotos e coleta e tratamento de lixo: 55 - Uso racional da água na irrigação. - Reúso de água na indústria. - Controle da demanda de água no abastecimento público. - Ampliação do sistema de saneamento. - Despoluição de corpos d’água. - Saúde pública. - Drenagem. III. Revitalização de bacias hidrográficas - Ampliação da cobertura florestal – mata ciliar, parques e áreas verdes. - Renaturalização de bacias urbanas. IV. Fortalecimento institucional e legal - Aspectos legais. - Aspectos institucionais. - Comunicação e Capacitação continuada. O levantamento reuniu 138 projetos.23 Deste total, 116 projetos voltados para adaptação frente às mudanças climáticas em relação à água e 22 projetos voltados a medidas mitigadoras, os quais não serão contabilizados nos resultados do levantamento. Os projetos foram classificados nas quatro categorias estabelecidas, conforme pode ser observado no quadro 2. Quadro 2. Classificação dos projetos Classificação Projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 30 Infraestrutura hídrica 29 Revitalização de bacias hidrográficas 34 Fortalecimento institucional e legal 23 Total 116 Fora do escopo 22 Total geral 138 Quadro 3. Segmentos responsáveis pelos projetos Segmento 23 56 Nº de entidades Governo municipal 16 Governo estadual 91 Governo federal 8 Instituto de pesquisa 8 ONG 9 Setor privado 1 Universidade 2 Outros 1 Anexo 5. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Quadro 4. Concentração de projetos nos campos de aplicação* Nº de projetos Campo de aplicação I – Previsão e prevenção de eventos extremos 52 Controle de enchentes 34 Prevenção à seca 18 Vulnerabilidade de áreas costeiras 38 Desenvolvimento de tecnologias específicas 04 Busca de fontes alternativas de energia 45 Pesquisa II. Infraestrutura hídrica 21 Uso racional da água na irrigação 08 Reúso da água na indústria 23 Controle da demanda de água no abastecimento público 24 Ampliação do sistema de saneamento – coleta com o devido tratamento do esgoto 33 Despoluição de corpos d’água 28 Saúde pública (prevenção a doenças de veiculação hídrica) 30 Drenagem III. Revitalização de bacias hidrográficas 23 Renaturalização de bacias urbanas (cidade adaptando-se ao rio) 48 Ampliação da cobertura florestal IV. Fortalecimento institucional e legal 64 Gestão integrada de recursos hídricos * Cada projeto pode corresponder a mais de um campo de aplicação. Destaca-se na categoria de “Previsão e prevenção de eventos extremos” o grande número de projetos voltados para a pesquisa e para o controle de enchentes. Na categoria “Infraestrutura hídrica”, os projetos voltados para a despoluição de corpos d’água e para drenagem. Na categoria “Revitalizaçãode bacias hidrográficas”, os projetos de ampliação da cobertura florestal. Porém a maior concentração de projetos se deu na categoria “For- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a talecimento institucional e legal” com projetos vol- tados para a gestão integrada de recursos hídricos. e) Distribuição geográfica dos projetos O “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas” resultou em um banco de práticas composto por 116 projetos distribuídos no território nacional, conforme pode ser observado na figura 7. 57 Figura 7. Quantidade de projetos apresentados por região NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE Região Norte: 8 projetos Região Centro-Oeste: 2 projetos Região Sul: 15 projetos Região Nordeste: 11 projetos Região Sudeste: 75 projetos SUL Nacional: 5 projetos 58 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l e.1) Distribuição por região REGIÃO NORTE Bioma Amazônia Cenário pessimista – A2: 4° C a 8° C mais quente e 15-20% redução de chuva Cenário Otimista – B2: 3° C a 5° C mais quente e 5%-15% redução de chuva • Perda no ecossistema e biodiversidade na Amazônia • Impacto sobre os serviços ambientais fornecidos pela floresta • Níveis dos rios mais baixos, afetando transporte e energia • Maior secura do ar e condições favoráveis para mais queimadas • Risco de savanização da Amazônia • Impactos na saúde humana, migração, comércio • Efeitos no transporte de umidade atmosférica para o Sudeste. Fonte: Marengo, José A. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dos oito projetos recebidos da Região Norte, três referem-se ao fortalecimento institucional e legal, dois à revitalização de bacias hidrográficas e três à previsão e prevenção de eventos extremos. Os projetos são voltados para mapeamento de risco, estudos dos impactos das mudanças climáticas, propostas de articulação internacional, monitoramento climático e hidrometeorológico e proteção dos cursos d’água. Foi selecionado para ilustrar esse relatório como projeto representativo da região: clima e negociações internacionais da entidade Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o qual é descrito no capítulo 4 – Projetos representativos deste relatório. Os resumos dos demais projetos podem ser consultados no banco de práticas dos projetos de adaptação: <http:// www.ambiente.sp.gov.br/wp/pactodasaguas>. Quadro 5. Categorias dos projetos da Região Norte Classificação Nº de Valores projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 3 Infraestrutura hídrica 0 Revitalização de bacias hidrográficas 2 Fortalecimento institucional e legal 3 R$ 15,8 milhões (4 projetos) Total8 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 59 Quadro 6. Segmentos responsáveis pelos projetos da Região Norte Segmento Nº de entidades Instituto de pesquisa 2 Governo municipal 2 Governo estadual 3 Governo federal 1 Região Nordeste Biomas: Caatinga e Mata Atlântica Cenário Pessimista – A2: 2° C a 4° C mais quente e 15%-20% redução de chuva Cenário Otimista – B2: 1° C a 3° C mais quente e 10%-15% redução de chuva • Aumento nas taxas de evaporação de açudes e reservatórios • Possibilidade de secas mais intensas e frequentes • Risco de aridização do semiárido • Possível elevação do nível do mar • Perdas nos ecossistemas de Caatinga • Risco de desertificação e de deterioração ambiental • Níveis mais baixos dos rios, afetando transporte e energia • Impactos no balanço hídrico e na agricultura de subsistência • Impactos no fornecimento e qualidade de água para população • Impactos na saúde humana, migração, turismo e geração de emprego • Possível redução na recarga nos aquíferos a partir de 2050 Fonte: Marengo, José A. Inpe. Dos 11 projetos recebidos da Região Nordeste, dois referem-se à revitalização de bacias hidrográficas, um refere-se à infraestrutura hídrica e oito à previsão e prevenção de eventos extremos. Os projetos são voltados para preservação de nascentes, sistema de alerta para eventos extremos, articulação institucional, combate a desertificação, mobilização social e alternativa de abastecimento de água. Foram selecionados como projetos representativos da região: 60 - Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) da entidade: Articulação no Semiárido brasileiro – ASA; - Programa Comunidades Semiárido da entidade: Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep). Estes são descritos no capítulo “Projetos representativos”. Os resumos dos demais projetos podem ser consultados no banco de práticas dos projetos de adaptação <http://www.ambiente.sp.gov.br/wp/ pactodasaguas>. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Quadro 7. classificação dos projetos da Região Nordeste Classificação Nº de Valores projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 8 Infraestrutura hídrica 1 Revitalização de bacias hidrográficas 2 Fortalecimento institucional e legal 0 R$ 9,4 milhões (3 projetos) Total11 Dentre os projetos da Região Nordeste, um é local e dez de abrangência regional. Quadro 8. segmentos responsáveis pelos projetos da região nordeste SegmentoN0 de entidades Governo estadual 6 Instituto de pesquisa 1 ONG4 Região Centro-Oeste Biomas: Cerrado e Pantanal Cenário pessimista – A2: 3° C a 6° C mais quente e aumento das chuvas Cenário otimista – B2: 2° C a 4° C mais quente e aumento das chuvas • Aumento nos eventos extremos de chuva e dias secos consecutivos • Altas taxas de evaporação • Impactos no balanço hídrico • Impactos na agricultura de subsistência e na agroindústria • Aumento nas ondas de calor com impactos sobre a saúde humana • Aumento no consumo de energia hidrelétrica • Risco de desabastecimento de energia • Impactos no fornecimento e qualidade de água para população • Impactos no Pantanal e no Cerrado, maior risco de fogo Fonte: Marengo, José A. Inpe. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 61 Apenas duas entidades encaminharam projetos da Região Centro-Oeste: Impactosdevido ao Aquecimento Global na ba- - WWF com o projeto Iniciativa Água e Clima – Microbacia do córrego do Urubu-DF. - Centro de Pesquisas do Pantanal com o Projeto Sinergia: Sistema Internacional de Estudos sobre Recursos Hídricos e Gerenciamento de O projeto representativo selecionado e descrito cia do Paraguai. a seguir foi o Projeto Sinergia, e ambos os projetos podem ser consultados no banco de práticas dos projetos de adaptação <http://www.ambiente. sp.gov.br/wp/pactodasaguas>. Quadro 9. Classificação dos projetos da Região Centro-Oeste Nº de Classificação projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 0 Infraestrutura hídrica 0 Revitalização de bacias hidrográficas 1 Fortalecimento institucional e legal 1 Total 2 O projeto Iniciativa Água e Clima – Microbacia do córrego do Urubu-DF tem abrangência local e o Valores R$ 14,6 milhões Projeto Sinergia é de âmbito regional, tendo como área de abrangência uma bacia transfronteiriça. Quadro 10. Segmentos responsáveis pelos projetos da Região Centro-Oeste Segmento Nº de entidades Instituto de pesquisa 1 Oscip 1 Total2 62 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Região Sul Bioma Pampa Cenário Pessimista – A2: 2° C a 4° C mais quente e 5%-10% mais chuva Cenário Otimista – B2: 1° C a 3° C mais quente e até 5% mais chuva • Aumento nos extremos de chuva • Possíveis ciclones extratropicais • Aumento na frequência de ondas de calor e de noites quentes • Possível elevação do nível do mar • Impactos na saúde e aumentos dos casos de doenças tropicais • Produção de grãos e frutas comprometida pelas altas temperaturas e chuvas intensas fora de época • Aumento nos preços de alimentos • Aumento na frequência de enchentes urbanas e deslizamentos • Aumento no nível dos rios podendo afetar os portos e o transporte • Impactos nos ecossistemas naturais e costeiros Fonte: Marengo, José A. Inpe. Os projetos da Região Sul referem-se à recuperação de mata ciliar, preservação de nascentes, fortalecimento dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos com destaque para dois grandes projetos: - Cultivando Água Boa da empresa de geração de energia Itaipu Binacional. - Plano de Defesa Civil da Bacia do Rio Itajaí – SC da Defesa Civil e Universidade de Blumenau. Estes são descritos a seguir, no capítulo Soluções. Os demais projetos podem ser consultados no banco de práticas dos projetos de adaptação <http:// www.ambiente.sp.gov.br/wp/pactodasaguas>. Classificação Nº de projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 1 Infraestrutura hídrica 0 Revitalização de bacias hidrográficas 2 Fortalecimento institucional e legal 12 Total 15 Valores R$ 215,7 milhões (13 projetos) Com relação à abrangência dos projetos, observa-se que cinco são de âmbito regional e dez são com enfoque local. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 63 Quadro 12. Segmentos responsáveis pelos projetos da Região Sul Segmento Nº de entidades Governo estadual 13 ONG 1 Região Sudeste Bioma Mata Atlântica Cenário pessimista – A2: 3° C a 6° C mais quente e aumento nas chuvas Cenário Otimista – B2: 2° C a 3° C mais quente e aumento nas chuvas • Possível elevação do nível do mar • Aumento na frequência de enchentes urbanas e deslizamentos • Altas taxas de evaporação e dias secos consecutivos • Impacto no balanço hídrico podendo afetar pecuária e agroindústria • Escassez de alimentos • Aumento de ondas de calor, afetando a saúde e o consumo de energia • Impacto no fornecimento e na qualidade de água para população • Impactos nos ecossistemas naturais – Mata Atlântica e costeiros. Fonte: Marengo, José A. – Inpe. Entre os 75 projetos recebidos da Região Sudeste, há grande diversidade de temas abordados: mapeamento de áreas de risco, água para reúso, sistema de informação, monitoramento de erosão costeira, sistema de alerta, pesquisas científicas, controle de enchentes, reflorestamento, proteção de nascentes, drenagem, saneamento, serviços ambientais, entre outros. Os projetos representativos selecionados e descritos a seguir foram: - Avaliação de Impactos e Vulnerabilidade à Mudança Climática no Estado de São Paulo e opções de estratégias de adaptação – Inpe/CCST. 64 - Concepção do Arranjo Institucional e Operacional para a Gestão Integrada de Riscos de Desastres no Estado do Rio de Janeiro – Instituto Estadual do Ambiente – Inea (RJ). - Projeto Manuelzão – Faculdade de Medicina – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). - Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e Redução de Riscos Ecológicos, São Paulo – Instituto Geológico e Coordenadoria da Defesa Civil. Todos os projetos podem ser consultados no banco de práticas dos projetos de adaptação. <http:// www.ambiente.sp.gov.br/wp/pactodasaguas>. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Quadro 13. Classificação dos projetos da Região Sudeste Classificação Nº de projetos Previsão e prevenção de eventos extremos 15 Infraestrutura hídrica 28 Revitalização de bacias hidrográficas 25 Fortalecimento institucional e legal 7 Total 75 Valores R$ 10,6 bilhões (52 projetos) Entre os projetos da Região Sudeste, 18 são de abrangência local e 58 são de abrangência regional. Quadro 14. Segmentos responsáveis pelos projetos da Região Sudeste Segmento Nº de entidades Governo municipal 13 Governo estadual 53 Governo federal 2 Instituto de pesquisa 3 ONG2 Setor privado 1 Universidade 2 Estimativa de custos Das 116 medidas adaptativas, o total de 77 projetos informou custos aproximados das respectivas atividades. Com relação aos projetos de âmbito nacional, dos cinco projetos encaminhados, três mencionaram os valores, que somam R$ 83 milhões. Na Região Norte, dos oito projetos, quatro revelaram os custos, totalizando R$ 15,8 milhões. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Na Região Nordeste, dos 11 projetos, três apresentaram valores, totalizando R$ 9,4 milhões. Na Região Centro-Oeste, os dois projetos informaram valores, totalizando R$ 14,6 milhões. Dos 15 projetos da Região Sul, 13 informaram valores, somando R$ 215,7 milhões. Finalmente, dos 75 projetos da Região Sudeste, 52 informaram os custos aproximados das respectivas atividades, totalizando R$ 10,6 bilhões. 65 II – Soluções elencadas Projetos representativos Com base nas iniciativas diretamente relacionadas aos impactos da mudança climática sobre a água, relacionadas na listagem geral do levantamento, procedeu-se à escolha de projetos representativos por região. A ideia é mostrar um painel de iniciativas e ações representativas de domínios, geomorfológico e hidroclimáticos distintos, nas cinco macrorregiões brasileiras. Nacional Projeto: Prevenção de eventos hidrológicos críticos Entidade executora: ANA. A Agência Nacional de Águas possui uma Sala de Situação, em operação desde 2009, tendo subsidiado a emissão de alertas de eventos críticos em diversas ocasiões, e pretende implantar, no período 2011-2013, Salas de Situação em todos os estados brasileiros. Seu objetivo é acompanhar as tendências hidrológicas, mediante análise integrada à previsão de tempo e clima, e fornecer a previsão de eventos críticos em tempo hábil para a segurança das populações. Os sistemas de alerta precoce tornam-se, então, fundamentais, por permitirem ampliar a capacidade de resposta a eventos extremos, tanto por parte dos governos quanto da sociedade. Prestam-se também para fortalecer e/ou melhorar a resistência da sociedade a tais eventos. De fato, progressos significativos foram obtidos nos últimos dez anos no que se refere aos modelos de previsão (de clima e tempo), de monitoramento do “El Niño” ou do “EÑOS” (El Niño-Oscilação Sul). Estudiosos vêm 66 realizando avanços importantes nesse campo, mas o grau de incerteza e a capacidade de tais modelos ainda são insuficientes para trazer o grau de segurança adequado à tomada de ação pelo governo e pela sociedade. A melhoria do conhecimento e do monitoramento é um processo já iniciado, mas requer, ainda, investimentos importantes. O pleno funcionamento das salas de situação requer integração de dados e articulação com outros setores, especialmente com as Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil, que atuam na prevenção e resposta a eventos críticos com enfoque diverso. A participação dos estados é imprescindível à formação de sistemas de previsão e alerta, pois, em grande medida, tais sistemas necessitam se apoiar em redes telemétricas com confiabilidade e manutenção garantidas e no conhecimento regional para a interpretação dos dados coletados. A operação deste tipo de rede hidrometeorológica pelos estados provê a exigida rapidez de resposta em caso de paralisação na transmissão. Região Norte Projeto: Clima e Negociações Internacionais Entidade executora: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. O objetivo é monitorar e influenciar as negociações internacionais de clima e florestas, assim como divulgar estudos sobre implicações – internacionais, nacionais locais – da implementação e evolução dos acordos internacionais climáticos. Como resultado desse acompanhamento, o eixo tem como meta levar informação atualizada, qualificada e em linguagem acessível a todas as esferas de governo e sociedade brasileira, trabalhando transversalmente com os eixos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, Políticas públicas, Representação no Programa da ONU de REDD e Programa MAP (Madre de Dios, Acre e Pando). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Por meio do acompanhamento das negociações internacionais de clima, podemos influenciar as discussões em nível internacional e nacional com informação qualificada sobre a realidade brasileira, em especial amazônica, sobre questões relacionadas a emissões oriundas de desmatamento e degradação florestal, hoje denominada REDD. Com isso, pretendemos defender a construção de um acordo com justiça climática, que inclua o conceito de redução de emissões oriundas de desmatamento e degradação florestal, reconhecendo os direitos e a importância do papel que as populações indígenas e comunidades tradicionais têm desempenhado na conservação das florestas tropicais e seus estoques de carbono. Embora a tônica do projeto seja a mitigação, o envolvimento das comunidades na promoção de melhorias das condições socioambientais abre caminho para as soluções adaptativas. -estrutura de drenagem urbana; 3) estiagens mais prolongadas, resultando na redução da disponibilidade hídrica e da capacidade de diluição dos corpos hídricos. Em síntese, entende-se como necessária a consideração das mudanças climáticas globais em planos de recursos hídricos e esta deve estar modulada pelo envolvimento com a preparação, alerta e adaptação. Programa: Os principais resultados que serão alcançados com a implementação do programa se referem a medições e acompanhamento dos possíveis efeitos das mudanças climáticas globais nos ciclos hidrológicos e de nutrientes, na relação oferta/demanda de água, no balanço hídrico e na proposição de uma concepção de plano de contingência e de ações adaptativas a possíveis impactos. Projeto: Estudos dos Impactos das Mudanças Climáticas Globais sobre as Disponibilidades de Recursos Hídricos: Bacia Amazônica, afluentes da margem direita. A consideração das mudanças climáticas globais no desenvolvimento de Planos de Recursos Hídricos passa a ser rotina nas avaliações dos balanços hídricos do cenário crítico do Plano de recursos hídricos e também a inclusão de programas para monitoramento e medidas adaptativas nesses planos. Entidade executora: Agência Nacional de Águas – ANA. Região Nordeste Projeto: Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) Contexto: Os efeitos agregados resultantes das mudanças climáticas não são ainda totalmente previsíveis quantitativamente com o grau de confiança requerido, já que existem discrepâncias nos resultados dos diferentes modelos. Não obstante, há um consenso científico sobre a natureza das mudanças que incluem os seguintes fatores: 1) aumento de temperaturas; 2) estações chuvosas concentradas em períodos mais curtos e chuvas mais intensas, ocasionando o aumento da vazão dos rios, produzindo cheias e a sobrecarga da infra- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Entidade executora: Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA. O Programa Um milhão de Cisternas (P1MC) é desenvolvido pela Associação Programa Um Milhão de Cisternas para o Semiárido, que integra a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), uma coalizão de mais de 750 entidades e organizações da sociedade civil de 11 estados – Igrejas Católica e Evangélica, ONGs de desenvolvimento e ambientalistas, associações de trabalhadores rurais e urbanos, associações comunitárias, sindicatos e federações de trabalhadores rurais, movimentos sociais, 67 organismos de cooperação nacionais e internacionais, públicos e privados. O objetivo da iniciativa, que começou em 2003, é a construção de cisternas que acumulem a água da chuva captada nos telhados, estocando-a para os períodos de estiagem. Trata-se de uma solução simples, relativamente barata e que pode pôr fim definitivamente à falta de água para o consumo humano em todo o Semiárido brasileiro. O P1MC tem como meta construir um milhão de cisternas, beneficiando diretamente mais de 5 milhões de pessoas. A construção das cisternas é precedida e acompanhada de um processo de mobilização e capacitação das comunidades sobre as formas de convivência com o Semiárido, a necessidade de gerenciamento dos recursos hídricos, a construção de cisternas, a administração dos recursos públicos e dos recebidos do P1MC. Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água. Essa água é captada das chuvas, por meio de calhas instaladas nos telhados. Com a cisterna, cada família fica independente, autônoma e com a liberdade de escolher seus próprios gestores públicos, buscar e conhecer outras técnicas de convivência com o Semiárido e com mais saúde e mais tempo para cuidar das crianças, dos estudos e da vida, em geral. A cisterna é construída por pedreiros das próprias localidades, formados e capacitados pelo P1MC, e pelas próprias famílias, que executam os serviços gerais de escavação, aquisição e fornecimento da areia e da água. Os pedreiros são remunerados, e a contribuição das famílias nos trabalhos de construção é sua contrapartida no processo. Se a água da cisterna for utilizada de forma adequada (para beber, cozinhar e escovar os dentes) dura, aproximadamente, oito meses. O programa de construção de cisternas reforça o processo de organização da sociedade civil. Para ser incluído no programa, o município 68 precisa ter Fórum Popular de Políticas Públicas ou Fórum de Orçamento Participativo, o que tem contribuído para a criação ou reativa- ção de instâncias de participação da sociedade civil. O programa encerrou o ano de 2008 atuando em mais de 1,1 mil municípios de 11 estados do Semiárido. Nessa área, já capaci- tou 5,7 mil pedreiros, mobilizou 250 mil famílias e capacitou outras 230 mil em gestão da água. Projeto: Programa Comunidades Semiárido Entidade executora: Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – Coep. O foco do programa são estratégias de convivência com a seca e a redução da vulnerabilidade so- cial. Abrange ações de geração de trabalho e ren- da, de convivência com o semiárido, mobilização e organização comunitária, promoção da saúde e conservação do meio ambiente. Os projetos locais incluem a construção de cisternas, de barragens subterrâneas, a criação de caprinos e ovinos, a instalação de viveiros de mudas e a instalação de telecentros. O programa envolve 47 comunidades em sete estados nordestinos: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Sergipe. Os projetos e ações são desenvolvidos em ampla parceria com universidades, órgãos federais de pesquisa e desenvolvimento (Financiadora de Es- tudos e Projetos – Finep, CNPQ, Embrapa), ministérios e Banco do Nordeste. Atualmente (julho de 2011), o programa compõe uma rede de 47 comunidades, num total de 4.800 famílias. (Fonte: <www.coepbrasil.org.br/projetos adaptação>). de Região Centro-Oeste Projeto: Sinergia: Sistema Internacional de Estudos sobre Recursos Hídricos e Gerenciamento de C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Impactos devido ao Aquecimento Global na Bacia do Paraguai. Entidade executora; Centro de Pesquisas do Pantanal. O projeto Sinergia vem propiciando integração acadêmica supracontinental na construção e no compartilhamento de informações científicas relacionadas às adaptações às mudanças climáticas, em articulação com outros importantes setores da gestão dos recursos hídricos: múltiplos níveis de governos, setor privado e sociedade civil, a fim de gerar uma agenda de recomendações de políticas públicas e privadas para adaptação às mudanças climáticas na Bacia do Paraguai. Construção coletiva e participativa da agenda de re- comendações; criação e manutenção da rede social de pesquisadores, entidades governamentais e ato- res sociais relacionados à gestão dos recursos na bacia; aumento da capacidade adaptativa dos atores na região; e fomento do projeto por parte do CNPq. Outros atores envolvidos na atividade (parcerias) e suas respectivas funções: a) Diversos pesquisadores de Universidades do Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina, Canadá e Reino Unido – informações científicas pertinentes à gestão da bacia. g) Ecobusiness – empresa – design e implemen- tação de um programa de capacitação dos atores sociais tendo como finalidade a participação e a elaboração de medidas de adaptação. h) Corebe – Argentina – ponte (articulação) com outras redes de atores sociais. i) WWF – Bolívia – ponte (articulação) com outras redes de atores sociais. Região Sudeste Projeto: Avaliação de Impactos e Vulnerabilidade à Mudança Climática no Estado de São Paulo e opções de estratégias de adaptação. Entidade executora: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe/CCST. O projeto busca a interação entre especialistas de clima, geografia, hidrologia, sensoriamento remoto e demografia para avaliar a exposição da po- pulação às mudanças de clima no presente e no futuroe avaliar vulnerabilidades em áreas urbanas e rurais, como Região Metropolitana de São Paulo, Campinas, Baixada Santista. Em São Paulo, falta a integração de estudos que considerem extremos de clima e fatores não climáticos, para mapear as vulnerabilidades aos extre- b) Setores governamentais (ambiental, rural, hí- mos de chuva e propor estratégias de adaptação a tro países pertencentes à bacia – envolvimento na Outros atores envolvidos: Unesp, USP-SÃO CAR- drico, saneamento) regionais e federais dos quaelaboração de medidas de adaptação. c) Setor agropecuário dos quatro países, por meio médio e longo prazo. LOS, UNICAMP, INPE-CPTEC. (Financiamento FAPESP, período 2011-2014). de suas instituições – envolvimento na elaboração de medidas de adaptação. d) WWF-Brasil – ONG – apoio com informações técnicas e apoio financeiro logístico. Projeto: Concepção do Arranjo Institucional e OpeRacional para a Gestão Integrada de Riscos de Desastres no Estado do Rio de Janeiro. e) TNC – ONG – apoio com informações técnicas e Entidade Executora: Instituto Estadual do Ambiente f) ECOA – ONG – ponte (articulação) com outras O estado do Rio de Janeiro está na lista dos seis apoio financeiro logístico. redes de atores sociais. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a – Inea (RJ). estados brasileiros com maior número de desastres 69 ocorridos no período de 2007 a 2010, ficando em terceiro lugar em 2007 e segundo lugar em 2009. Além disso, recentes desastres de expressiva magnitude atingiram o território fluminense, alcançando repercussão nacional e internacional. Entre eles, destacam-se os escorregamentos em Angra dos Reis e na Ilha Grande (10/1/2010); a grande inundação na cidade do Rio de Janeiro (5/4/2010); os escorregamentos no Morro do Bumba em Niterói (7/4/2010); e os escorregamentos na região serrana fluminense, nos municípios de Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Areal, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim (11/1/2011). A gestão de risco de desastres, objeto do presente projeto, busca o aperfeiçoamento da capacidade da sociedade em lidar com os diferentes tipos de eventos (inundações, vendavais, incêndios florestais, acidentes ambientais, escorregamentos, atividade sísmica, entre outros), de modo a garantir a devida prevenção, preparação e resposta a esses eventos, minimizando seus possíveis danos. As principais atividades em desenvolvimento são: - Diagnóstico da situação existente. - Integração dos órgãos envolvidos, procedimentos e processos. - Aprimoramento da gestão de riscos. - Plano de contigência e exercícios de simulação. Prazo: 20 meses, a partir do final de 2011. Apresenta como inovação a articulação e implantação de uma política pública integrada entre estado e municípios, ampliação da cultura de prevenção de desastres (ainda pequena), aquisição de imagens de alta resolução atualizadas (ainda a ser otimizada), desenvolvimento de sistemas gerenciadores de informações para tomada de decisões (em fase de desenvolvimento). Outros atores envolvidos no projeto são: Casa Militar, representada pela Cedec; Casa Civil; Secretaria de Meio Ambiente, representada pelo IG, CPLA e Cetesb; Secretaria da Habitação, representada pela CDHU; Secretaria de Desenvolvimento, representada pelo IPT; Secretaria de Saneamento e Energia, representada pelo DAEE. Projeto: Projeto Manuelzão Entidade executora: Faculdade de Medicina UFMG. Entidade Executora: Instituto Geológico e Coordenadoria da Defesa Civil. O Projeto Manuelzão conjuga mobilização social, ativismo ambiental, cuidados com a saúde e forta lecimento da história local. Sua principal meta é a revitalização do Rio das Velhas, que banha a capitalmineira e deságua no São Francisco, e a volta dos peixes ao curso d’água. O projeto abrange as seguintes atividades: diagnóstico atualizado dos perigos e de riscos de processos geodinâmicos, estabelecendo prioridades para mapeamento de áreas de risco existentes no estado de São Paulo; desenvolver e implementar estratégias de planejamento de uso e ocupação do solo, A iniciativa teve início em 1997, quando um grupo de professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais percebeu que de nada adiantava falar de saúde coletiva sem prestar atenção no meio em que as pessoas vivem. O projeto passou a usar a água, também como sinalizador Projeto: Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e Redução de Riscos Ecológicos, São Paulo. 70 ordenamento territorial e planejamento ambiental em consonância com ações em andamento na SMA, visando a promover uma adequada ocupação do território; monitoramento e fiscalização de áreas com risco elevado; sistematização das ações institucionais e procedimentos operacionais para redução, mitigação e erradicação do risco, em consonância com as políticas em andamento no âmbito das secretarias de estado; capacitação e treinamento de equipes municipais e de agentes envolvidos no gerenciamento de riscos em nível municipal. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l de problemas ambientais e o peixe se tornou um bioindicador. Em 2003, foi realizada uma expedição ao rio, com ampla mobilização das comunidades e da mídia. Em seguida, foi consolidada a Meta 2010, com vista a recuperar o trecho metropolitano do rio, por meio de forte parceria com o governo estadual. O projeto já atingiu 60% do seu objetivo, com as estações de tratamento de esgotos em Belo Horizonte. A mobilização continua rio abaixo, com forte articulação com as prefeituras. Região Sul Projeto: Programa Cultivando Água Boa Entidade executora: Itaipu Binacional. Área: Bacia do Paraná, parte 3. Iniciado em 2003, o Programa Cultivando Água Boa já recebeu investimentos acumulados da ordem de US$ 77 milhões, aplicados em três grandes grupos de ações: 1. Ações coletivas, que beneficiam a comunidade como um todo: reconstituição de mata ciliar e instalação de cercas de isolamento e proteção, adequação de estradas, conservação de solo e água, instalação de abastecedouros comunitários, aquisição de distribuidores de adubo orgânico, terraceadores, mecanismo de desenvolvimento limpo para créditos por sequestro de carbono (esgoto condominial rural e estação coletiva para tratamento de dejetos, recomposição de matas ciliares das propriedades, lixo urbano – aterros sanitários regionais). 2. Ações individuais, específicas para cada propriedade, para execução das adequações ambientais, identificadas na fase do diagnóstico, que resulta na identificação de necessidades de correção e melhorias, tais como: pocilgas, estábulos, aviários etc. 3. Ações transversais, oferecidas aos municípios e às comunidades para serem implantados de acordo com a realidade, o interesse e a disponibilidade de cada município, previstas nos projetos, tais como: agricultura orgânica; plantas medicinais; jovem 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a jardineio; coleta solidária; aquicultura e pesca; cul- turas alternativas etc. Metodologia Projetos executivos de adequação ambiental, realizado com base no diagnóstico, as equipes deta- lham tecnicamente o que e como deve ser feito em cada microbacia e em cada propriedade, buscando sua legalidade ambiental, um ambiente ecologicamente correto e economicamente sustentável. Comitês gestores são criados para o planejamento e a execução das ações nas microbacias, integrado por representantes da Itaipu, dos diversos organismos municipais, estaduais e federais com presença na região, cooperativas, empresas, sindicatos, entidades sociais, universidades, escolas e agricultores, na mais ampla participação possível. Resultados O programa consegue atingir toda a população da Bacia do Paraná 3 (BR e PY), constituída de mais de 1 milhão de habitantes, por meio do envolvimento de todos os atores sociais no projeto, conforme segue: - 1.247 parceiros incorporados nos 29 comitês ges- tores legalmente de microbacias e nos 10 comitês gestores de ações e programas. - Dirigentes públicos das esferas federais, estaduais e municipais da Bacia do Rio Paraná 3 – 42 municípios, 800 dirigentes. - Todas as escolas de ensino fundamental e médio da BP3 – 370 escolas, 110 mil alunos. - Todas as instituições de ensino superior (IESs) da bacia – 17 IES – 18 cursos superiores conveniados – 1.750 alunos envolvidos na gestão ambiental. - Associações e organizações representativas da sociedade – 200 organizações e instituições parceiras. - Agricultores Familiares de 5 assentamentos (exsemterras – MST) – 1.850 famílias. - Moradores das 150 microbacias selecionadas pelos municípios: cerca de 25.000 famílias. 71 - Agricultores familiares orgânicos de 14 associações de produtores orgânicos e 7 núcleos envolvendo 1.100 famílias. - 110 agentes municipais de saúde e equipes do Programa Saúde na Família (PSF) – 29 municípios. Prescrição em 19 postos de saúde. - 3 comunidades Avá Guarani – 205 famílias indígenas. - 7 colônias e 2 associações de pescadores – 734 pescadores e suas famílias; catadores de materiais recicláveis –1.500 catadores e suas famílias. - Jovem em situação social crítica – 220 jovens. - Monitores da Rede Linha Ecológica – 300 monitores envolvendo 10.140 pessoas direta e indiretamente envolvidas. - Merendeiras das escolas públicas municipais – 29 municípios – 370 escolas, envolvendo 1.200 pessoas. Projeto: Plano de Defesa Civil da Bacia do Rio Itajaí – SC Entidade executora: Defesa Civil e Universidade de Blumenau. Os moradores de Blumenau souberam com antecedência que as águas do Rio Itajaí-Açu poderiam inundar a cidade durante determinada semana. A Defesa Civil deu alertas divulgados via imprensa já na segunda-feira, três dias antes de o rio começar a invadir ruas do município. Para a prefeitura, Blumenau está mais preparada para lidar com inundações do que em 2008, quando 24 pessoas morreram na cidade, houve 135 mortes no estado por causa das chuvas e consequentes deslizamentos. Nesta semana, o nível do Rio Itajaí-Açu, que banha a cidade, atingiu 12,60 metros, mais do que há três anos, quando chegou a 11,52. Os estragos agora foram menores, de acordo com a prefeitura. A Defesa Civil atribui o fato à implantação de um plano contra enchentes, que inclui uma observação precisa do nível das águas do Itajaí-Açu e do volume da chuva. 72 Com esses dados em mãos, técnicos da Furb (Universidade Regional de Blumenau) fazem duas previsões. Se o resultado apontar enchente, a Defesa Civil divulga o alerta. Além disso, um mapeamento das ruas mais baixas e propensas a inundações mostra em que momento elas serão invadidas pelas águas. Segundo o secretário municipal da Defesa Civil, José Egídio de Borba, apesar das melhorias, nem tudo ocorreu conforme os planos. Ontem, um sistema eletrônico de monitoramento do nível do rio não funcionou, e a medição teve que ser feita com réguas. O número grande de vítimas de 2008 não é explicado apenas pela implantação de um sistema de alertas. Naquela ocasião, houve mais deslizamentos, o que aumenta as chances de haver vítimas fatias nos temporais. Fonte: Liliane Bento e Jean-Philip Struck. Folha de S. Paulo, 10/9/2011. Recomendações e diretrizes gerais para a inserção do tema mudanças climáticas e água nos planos de recursos hídricos e de mudançasclimáticas Desde 1997, o Brasil conta com uma Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n0 9.433/1997) e com o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, por ela instituído. Todos os estados têm políticas de gestão das águas, algumas inclusive anteriores à nacional. Os instrumentos diretivos dessa política são os Planos de Recursos Hídricos, sejam eles: nacional, estaduais ou por bacia hidrográfica. O Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado em janeiro de 2006, encontra-se em processo de revisão, principalmente de seus programas e metas, considerando como horizonte o ano 2025. Entre 2008 e 2009 foi elaborado o primeiro Plano Nacional de Mudanças Climáticas, estimulado pela realização da COP 15 na Dinamarca. Este primeiro plano estava fundamentalmente voltado para a definição de diretrizes e proposição de ações C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l mitigadoras, de redução da emissão de gases de efeito estufa e redução do desmatamento. Nesse momento, está sendo revisto e sendo construído com base em políticas setoriais – agricultura com baixa emissão de carbono, siderurgia, energia, prevenção de queimadas no Cerrado, redução de desmatamento da Amazônia, transporte, indústria, saúde, mineração, pesca – e temas transversais, como é o caso de recursos hídricos. e) Avaliação e mapeamento de áreas vulneráveis a Considerando a existência das duas políticas, a estratégia brasileira para associar os temas mudanças climáticas e recursos hídricos/água deve considerar a inserção da tônica em ambas. No processo de revisão do Plano Nacional de Mu- No processo de revisão do Plano Nacional de Recursos Hídricos foram organizadas oficinas para tratar da interface com mudanças climáticas. Foram destacadas as questões das mudanças climáticas queafetarem potencialmente o abastecimento público – situações de seca e cheia; os setores produtivos – a agricultura e a indústria; a produção de energia (alteração das vazões); e a necessidade de manutenção da cobertura florestal e revitalização de bacias para a proteção das águas. Além disso, os possíveis impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos vêm sendo incorporados na elaboração dos mais recentes planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas, o que irá se repetir nos novos planos e na revisão de planos antigos. Entre as prioridades do plano, constam aquelas relacionadas às mudanças climáticas, que devem permitir a integração dos temas, quais sejam: a) Estruturação, ampliação e manutenção da rede hidrometereológica e da rede hidrológica nacional, no campo da implementação da política. b) Definição de diretrizes para a introdução do tema das mudanças climáticas nos planos de recursos hídricos. c) Desenvolvimento de um plano de comunicação social e de difusão de informações para o Singreh. d) Desenvolvimento de processos formativos continuados para os atores do Singreh e para a sociedade, no campo do desenvolvimento institucional. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a eventos extremos. f) Desenvolvimento dos mecanismos de Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), com foco na conservação de água de bacias hidrográficas. g) Recuperação e conservação de bacias hidrográficas em áreas urbanas e rurais, no campo da articulação institucional. danças Climáticas, encontra-se em elaboração um capítulo, cujo conteúdo tratará de água e adaptação. Discute-se, ainda, a possibilidade de organização de um plano específico para adaptação dos recursos hídricos à mudança do clima. Entende-se que o plano deve conter: - Introdução definindo o objetivo do documento, seu histórico e antecedentes. - Metodologia e conceitos utilizados para o desenvolvimento do documento. - Caracterização dos efeitos da variabilidade ou mudanças climáticas considerando as cinco regiões geográficas e suas respectivas 12 regiões hidrográficas. - Ações adaptativas em curso e identificação de outras ações necessárias para enfrentamento das mudan- ças climáticas, com proposição de responsáveis (lo- cal/municipal; União/estados; institutos de pesquisa, ONG), estimativa de custo e grau de urgência. - Relações da água, setores produtivos e infraestrutura hídrica. - Água e economia verde – entende-se que esta seja uma abordagem necessária e atual, pautada na promoção do uso mais eficiente da água, uma vez que investimentos em saneamento e água potável por meio do fortalecimento dos sistemas locais, conservação dos ecossistemas vitais para o abastecimento de água e o desenvolvimento de políticas calcadas no planejamento hídrico po- derão auxiliar na prevenção dos altos custos sociais e econômicos, resultantes do abastecimento 73 inadequado de água e fortalecerá os princípios da economia verde. - Instrumentos adequados para trabalhar com o tema. - Fundos existentes para financiamento de ações. - Proposta de desdobramento das diretrizes nacionais para os estados e bacias hidrográficas; recomendações e conclusões. Tanto o PNRH quanto o capítulo sobre água e adaptação do PNMC e o plano de adaptação devem considerar as seguintes diretrizes gerais: a) Respeitando as características hidroclimáticas de cada região ou bacia hidrográfica, os documentos devem incentivar a integração de iniciativas e ações adaptativas que reduzam as vulnerabilidades e promovam o desenvolvimento socioambiental. b) Produção de informação. Estimular a realização de estudos e pesquisas de previsão de extremos climáticos e seus impactos sobre os recursos hídricos. Em complementação às previsões em larga escala, serão feitas pesquisas em áreas representativas de domínios ecológicos e bacias hidrográficas que apresentam situação crítica em relação à água. c) Fomentar projetos integrados de redução das vulnerabilidades e adaptação às mudanças climáticas. Convivência com a seca: infraestrutura hídrica; ajuda econômica; educação. Áreas inundáveis: zoneamento de áreas de risco; relocação de populações; defesa civil. Especial atenção deve ser dada aos grandes centros. d) Promover ações e projetos de revitalização e renaturalização de bacias hidrográficas. 74 Proteção de nascentes, recomposição de vegetação ciliar, saneamento e revitalização de córregos urbanos, implantação de parques lineares e arborização urbana. e) Apoiar os municípios em projetos de prevenção de riscos de desastres (enchentes, deslizamentos), defesa civil e segurança urbana. Mapeamento de áreas de risco, zoneamento das vulnerabilidades sociais, sistema de alerta a enchentes, treinamento e mobilização da população. Apoiar o Programa de Cidades Resilientes da ONU – Marco de Ação de Hyogo. f) Implantar programa de ação continuada para capacitação e comunicação. Vale observar ainda que, partindo do documento ora apresentado, que define cenário original, e os primeiros resultados do inventário realizado com medidas adaptativas que estão em curso em todo o Brasil, deve ser consolidado um documento da posição brasileira, tornando-se o relatório transversal da Política de Mudanças Climáticas com relação à água. Desse aprimoramento devem constar: - Organização de encontros regionais, respeitando as regiões hidrográficas, para detalhar os resultados do inventário de medidas adaptativas, envolvendo todos os que responderam o inventário e autoridades locais e acadêmicas ligadas ao tema. - Organização de um seminário nacional para consolidação dos subsídios regionais. - Levantamento detalhado das fontes de financiamento para o tema MC&A. - Consolidação do texto final que organizará as informações. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 75 Boa governança para a gestão integrada de recursos hídricos I - Conteúdo temático Sob tais desafios, o escopo do presente trabalho deve ser suficientemente abrangente, de modo a abordar os tópicos seguintes, cuja sequência e conteúdos serão estabelecidos como diretrizes conceituais e metodológicas: • a contextualização geral da temática dos recursos hídricos; Objetivo do documento e abordagens conceituais e metodológicas No que tange ao objetivo do documento, de pronto cabe reconhecer a complexidade do tema principal. Com efeito, mesmo sob um consenso geral a respeito da importância de conferir integração entre setores usuários para a gestão de recursos hídricos, há dificuldades e restrições para que soluções concretas sejam efetivamente alcançadas. Em muitos casos, a GIRH permanece apenas como retórica, sem que muitos dos setores usuários incorporem variáveis de outros segmentos relacionados às águas, com particular importância às questões ecológicas e ambientais.24 De fato, cumpre reconhecer deficiências em conferir a chamada transversalidade à política de recursos hídricos. Mais do que isso, na própria área dos recursos hídricos ainda há lacunas a serem superadas para fins de um planejamento mais consistente que permita visualizar perspectivas de médio e longo prazo e equacionar problemas e conflitos presentes. 24 78 • a gestão integrada dos recursos hídricos em conformidade com a diversidade territorial e diferentes naturezas de problemas, com demandas para relações consistentes entre causas e efeitos e as devidas integrações intersetoriais; e • as articulações interinstitucionais com setores usuá rios para conferir transversalidade, governança e sustentabilidade à política de recursos hídricos. 1. A contextualização geral da temática dos recursos hídricos 1.1 Relações com variáveis supervenientes e intervenientes Sobre a contextualização geral da temática das águas, é importante reconhecer que a problemática ambiental e de recursos hídricos é suscitada quando se pensa nas relações entre a sociedade e seu respectivo espaço geográfico, gerando um binômio – tensão da sustentabilidade – entre os padrões de apropriação e alocação dos recursos naturais versus a capacidade de suporte do território (figura 1.1). Biswas, A.K. (2008). Integrated Water Resources Management: Is it working? International Journal of Water Resources Development, 24: 1, 5 – 22. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Figura 1.1. Articulação da Gestão de Recursos Hídricos com Suas Variáveis Supervenientes e Intervenientes Espaço para a Regulação da Prestação de Serviços por Setores Usuários (abastecimento de água potável e coleta de esgotos; geração de energia e os demais) Nessas relações, a disponibilidade hídrica não constitui somente um dos elementos estruturantes do desenvolvimento regional, mas também pode exercer a função de um fator relevante para a integração intersetorial, na dimensão em que reflete, dadas suas múltiplas interfaces, os processos de apropriação dos recursos naturais, em cada bacia ou região hidrográfica. Em outras palavras, a água deve constituir fator para ordenamento do território, servindo à previsão de impactos associados a diferentes cenários de desenvolvimento e respectivos processos de uso e ocupação do solo. Sendo assim, uma atitude compulsória na gestão dos recursos hídricos deve ser a continuada preocupação em respeitar a natureza complexa e diversa dos problemas próprios a cada porção hidrográfica. Isto significa que a definição das unidades de planejamento e gestão das águas não deve implicar a redução dos problemas meramente a aspectos particulares aos recursos hídricos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Antes disso, para muitas das unidades de análise, a degradação e a escassez de mananciais devem ser abordadas, em larga escala, como aspectos de desenvolvimento regional, com todas as implicações daí decorrentes – para a definição de medidas locais específicas ou para a articulação da política de recursos hídricos com outras que lhe sejam intervenientes (saneamento, indústria, irrigação, geração de energia e outros, identificados como setores usuários das águas), ou supervenientes (desenvolvimento regional e meio ambiente). Revela-se, portanto, a atuação sobre dois campos regulatórios importantes: aquele mais amplo e transversal, que abrange a temática ambiental e dos recursos hídricos; e dos setores usuários, que apresentam aspectos operacionais mais específicos. Entre ambos, deve necessariamente ocorrer uma coordenação regulatória, de modo a manter uma coerência mútua entre metas e indicadores próprios a cada setor e as abordagens mais amplas que são tratadas pela gestão hídrica e ambiental. 79 Enfim, sob o entendimento precedente é questionável que, em regiões com elevada densidade urbana e grande dinâmica produtiva, as ações a serem propostas possam restringir-se apenas àquelas de natureza setorial, até a abordagem do meio ambiente, visto sob strictu sensu. Mais apropriadamente, a gestão de recursos hídricos deve perseguir, ainda que sob o formato de diretrizes que a conformem, a compatibilidade possível com a natureza plena dos problemas, em cada região hidrográfica, até o limite de abrigar a complexidade de ações integradas público-privadas de desenvolvimento regional, tornadas peculiares pelas emergências das questões relativas ao recurso água, exigindo, por essa razão, instrumentos e sistemáticas de gestão também peculiares a cada região-problema. perveniências do desenvolvimento regional e meio ambiente) e/ou com setores usuários intervenientes. Em termos metodológicos, isso implica organizar a percepção25 que se tem sobre os problemas de dis- ponibilidade hídrica, procurando identificar sua natureza e principais elementos de dinâmica. 1.2. Matriz para o ordenamento de escalas territoriais e variáveis a analisar Para que os conceitos dispostos sejam aplicados, o ordenamento de aspectos do desenvolvimento regional, relevantes para a temática dos recursos hídricos, deve seguir a estrutura da matriz 1.2, traçada a partir de abordagens espaciais (linhas) e Essa deve ser a abordagem aplicada aos problemas de recursos hídricos sob uma perspectiva abrangente e consistente, por consequência, com menção a diferentes tipologias de problemas e suas correspondentes diretrizes de resolução. Para tanto, devem ser identificadas as variáveis-chave, vistas como condicionantes de futuro que conferem dinâmica aos problemas que se quer enfrentar. dos principais grupos de variáveis (colunas) a se- Em muitos casos, o controle de algumas dessas variáveis pode mostrar-se fora do alcance de instrumentos para a gestão de recursos hídricos, sob tal ficas, podendo-se chegar a aspectos subregionais 25 80 forma, exigindo articulações para cima (com as su- rem considerados. A matriz 1.2 delimita análises espaciais, primeiramente em escalas mais abrangentes, como o país no contexto global e a sua inserção macrorregional no continente, além dos limites de bacias hidrográficas compartilhadas, até chegar à escala nacional e, depois, descer à dimensão de regiões hidrográespecíficos, identificados como estratégicos ou contendo áreas-problema com tipologias próprias. Percepção entendida como uma das formas de conhecimento, segundo Edgar Morin, em O Método (1986), vol. III, O conhecimento do conhecimento. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Matriz 1.2. Ordenamento de Variáveis Regionais a Serem Consideradas Perspectivas espaciais de análise Base física Natural Construída Atividades Produção Consumo Organização da sociedade Formal Informal Contexto global e macrorregional do país Contexto nacional de desenvolvimento Escalas de regiões hidrográficas que compõem o território nacional Abordagens de áreas estratégicas e núcleos de problemas Para cada análise espacial, devem ser investigadas das ações, notadamente as de cunho institucio- sistemas e características geofísicas) e à infraestru- execução, o PNRH deve ser entendido como um variáveis que dizem respeito à base natural (ecos- tura construída. Em adição, sabe-se que as atividades socioeconômicas são articuladas aos recursos nal, terão um período permanente e continuado de processo, sempre sujeito a atualizações e ajustes de rumo, de modo a incorporar novas variáveis e hídricos, tanto aquelas voltadas à produção, quanto condicionantes que afetem os recursos hídricos do considerada a organização da sociedade, formal e de gestão, os fundamentos, os conceitos e as dire- vernança entrando em pauta para a GIRH. orientaram a própria concepção de sistemas insti- ao consumo de serviços. Por fim, também deve ser território nacional. Ademais, sendo um instrumento informal, com arranjos institucionais e o tema da go- trizes devem guardar coerência com aqueles que 1.3. O princípio da subsidiariedade: a divisão de trabalho entre os planos nacionais, estaduais (provinciais) e planos de bacias ou regiões hidrográficas Sob as bases conceituais e metodológicas, cabe abordar o processo de planejamento dos recursos hídricos, visto como um dos instrumentos de gestão mais relevantes. No que tange à escala do país, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) deve contemplar uma perspectiva de longo prazo, com horizonte com- patível com o período de implementação de seus programas e projetos. Na medida em que algumas 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a tucionais de gestão, com destaques para modelos descentralizados e participativos. De pronto, surge então a pergunta: qual a divisão de trabalho entre o plano nacional, planos esta- duais ou provinciais e planos de bacias hidrográficas? Deveria o PNRH ser entendido como um somatório dos planos de bacias hidrográficas? Em termos conceituais, a resposta é não. Com efeito, caso um plano nacional seja entendido como o somatório dos planos de bacias, o resultado será uma tendência de acomodação dos agentes e potencialidades locais, que estarão sempre à espera do governo central resolver seus problemas. Sob essa perspectiva, a par de acomodações, transferências de responsabilidades e dificuldades 81 na implementação de instrumentos de gestão – a exemplo da cobrança pelo uso da água –, haverá uma incoerência conceitual, com substituição de uma efetiva descentralização por uma desconcentração de encargos. Desconcentrar significa transferir meros encargos executivos para instâncias regionais, sem que decisões sejam efetivamente tomadas por agentes locais. Por seu turno, a descentralização exige o princípio da subsidiariedade, reconhecido como fator fundamental para a eficácia na gestão dos recursos hídricos. Segundo este princípio, toda e qualquer decisão que possa ser assumida localmente, sem afetar terceiros e áreas mais abrangentes, não deverá subir a instâncias superiores. Assim, sob o princípio da subsidiariedade, há uma divisão geral de trabalho entre o plano nacional e planos estaduais e de bacias: o primeiro deve concentrar suas atenções em aspectos estratégicos e escalas mais abrangentes, enquanto os planos locais devem assumir encargos de cunho mais executivo e operacional. Portanto, sempre sob uma ótica integrada, o escopo genérico de um PNRH deve contemplar: (i) aspectos da inserção macrorregional do país, no âmbito global e continental; (ii) a correspondente integração entre a gestão dos recursos hídricos, políticas de desenvolvimento regional, gestão ambiental e projetos de setores usuários; e (iii) a interação e complementaridade com planos estaduais e de bacias, previstos para diferentes unidades de planejamento e gestão de recursos hídricos. No que tange especificamente à interação e complementaridade entre o PNRH e os planos de bacias, note-se que a divisão de trabalho não deve ser rígida e inflexível, ao contrário, demanda uma constante articulação, cabendo ao PNRH apoiar as instâncias locais e seus instrumentos de gestão, de modo a capacitá-las como respostas consistentes 82 à natureza dos problemas identificados em cada porção hidrográfica. Sendo assim, pode-se indicar genericamente que essa terceira linha de atuação de um PNRH deve incluir: (iii.a) intervenções físicas estruturais que extrapolem a abrangência regional de planos de bacias ou que contemplem interesses estratégicos e estruturantes para o conjunto do país; (iii.b) o fortalecimento das instâncias e atores locais, tanto em termos institucionais quanto operacionais; e (iii.c) a estruturação de linhas de crédito – reembolsáveis ou não – que complementem fontes locais de investimento, evitando-se acomodações e transferências de responsabilidades. Mais do que isso, na estruturação de um PNRH cabe o desenvolvimento simultâneo e paralelo do Plano em relação ao sistema institucional de gestão. Ou seja, de um lado, o plano nacional deverá apoiar o aprimoramento do sistema de gestão; de outro, instâncias coletivas – como conselhos e comitês de bacias – devem ser centros dinâmicos de decisão, por consequência, interferindo no próprio PNRH. Para tanto, são requeridas articulações simultâneas bottom-up e top-down. De baixo para cima, são recomendadas consultas regionais periódicas, para respeitar diferenças e criar competências e recursos locais, sob uma boa governança. Ademais, entidades dos governos centrais não devem fugir da responsabilidade em definir desígnios, objetivos e metas para o país, em abordagem de cima para baixo. 1.4. A definição de unidades territoriais estratégicas para a gestão dos recursos hídricos: referências e abordagens a considerar Um dos conteúdos mais importantes dos PNRHs refere-se à identificação de interesses estratégicos relacionados aos recursos hídricos do país e de limites e condicionantes em bacias hidrográficas compartilhadas com outras nações. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Para tanto, a primeira questão que se coloca é a delimitação física dessa inserção macrorregional. A propósito, em decorrência de relações com variáveis supervenientes e intervenientes e da complexidade de articulações intersetoriais, o conceito metodológi- co que se recomenda é o da geometria variável,26 em função de traçados distintos a que se referem os diferentes fatores a serem considerados, a exemplo: - da área demarcada pelo país e pelas nações vizinhas; - da porção territorial abrangida por bacias hidrográficas compartilhadas, composta por trechos específicos de diversos países, inclusive no caso de grandes mananciais subterrâneos, como o Aquífero Guarani; - igualmente, da abrangência de ecossistemas, por vezes também compostos por porções territoriais de diversos países; - as fronteiras de expansão de atividades como o agronegócio, pontos de exploração mineral, redes de cidades e áreas de concentração do setor industrial; - leituras espaciais da infraestrutura instalada – como das relações intermodais de transportes, envolvendo esquemas de rodovias, ferrovias e hidrovias, dentre outras abordagens territoriais. Enfim, para cada setor de demanda e/ou variável a ser analisada sobre a perspectiva macrorregio- nal, a delimitação da área de investigação pode ter contornos distintos – uma geometria variável. As- sim, são recomendadas essas diferentes leituras das condições gerais do país que interferem nas diretrizes de um PNRH, no presente e em cenários prospectivos de desenvolvimento. 26 2. Governabilidade na gestão integrada dos recursos hídricos, com atuação mediante a diversidade territorial e as devidas articulações intersetoriais Disposta a contextualização geral da temática dos recursos hídricos, torna-se evidente que a gestão das águas não deve ser vista como um setor específico, mas sim como um campo de atuação abrangente e transversal, tanto no que concerne às variáveis que lhe são supervenientes (meio ambiente e desenvolvimento regional), quanto aos diversos setores usuários de recursos hídricos (variáveis intervenientes). Sob esse conceito, é importante reconhecer o elevado potencial e a flexibilidade a ser aplicada na GIRH, face às diversidades e peculiaridades territoriais, socioeconômicas e de culturas e instituições, resultando na possível coexistência de diferentes sistemas de gestão em cada país, de acordo com tipologias de problemas existentes. Por consequência, a GIRH demanda duas frentes de atuação paralelas e com mútua interação: a governança para a gestão e a governabilidade sobre os problemas de recursos hídricos, ambas fundamentais para se chegar à desejada transversalidade e sustentabilidade na política das águas. A propósito, entende-se como governança a indispensável interação participativa com os diversos atores sociais (stakeholders), públicos e privados, envolvidos em processos decisórios, de modo a conferir sustentabilidade e permanência à gestão, uma vez que o Estado, mesmo podendo ser o principal agente envolvido, nunca é sempre o único e, por vezes, poderá não ser o mais incisivo. Fonte: Oficina da OCDE e do Ministério do Ambiente, Ordenamento Territorial e Desenvolvimento Regional de Portugal, na cidade do Porto, em setembro de 2008. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 83 Por seu turno, entende-se como governabilidade um controle efetivo e consistente sobre as relações entre causas e efeitos, propiciando a definição de objetivos e metas associadas às variáveis presentes, seguidas pelo acompanhamento de seus respectivos indicadores, de modo a assegurar que resultados concretos sejam realmente alcançados. Cabe registrar que o tema da governança tem sido bem mais mencionado, por vezes, como se fosse a única frente de trabalho determinante para a GIRH. Contudo, sabe-se que para realmente ocorrer a governança, devem ser estabelecidos arranjos institucionais consistentes, de forma descentralizada e participativa, com rebatimentos significativos no planejamento estratégico de órgãos gestores de recursos hídricos. Nesse sentido, as modernas metodologias de planejamento institucional destacam que modelos institucionais não devem constituir fins em si mesmo, mas sim serem estruturados como respostas efetivas ao enfrentamento de determinados problemas, o que significa, no tema em questão, que a governança é uma frente fundamental, todavia, não suficiente para se chegar a respostas concretas. De fato, também é essencial a frente da governabilidade, para que a própria governança e seus arranjos institucionais possam exercer um controle consistente sobre as relações entre causas e efeitos, propiciando a definição de objetivos e metas associadas às variáveis presentes e aos atores (stakeholders) envolvidos. 2.1. Relações entre causas e efeitos para gover nabilidade na gestão das águas e identificação real dos problemas a solucionar Tendo em vista o amplo contexto da temática das águas, evidencia-se a complexidade para que sejam identificadas relações consistentes entre causas e efeitos, ou seja, para que seja estabelecida uma governabilidade sobre a gestão das águas. 84 No mais das vezes, predominam em políticas setoriais metas e indicadores de cunho operacional, que devem ser associadas a objetivos hídricos e ambientais, com vistas à promoção de um planejamento integrado. Neste sentido, deve-se abranger: primeiramente, uma ótica interna a cada setor usuário, com suas especificidades técnicas e institucionais; e, em segundo lugar, uma visão mais ampla que inclua as articulações com as variáveis supervenientes e com os demais setores usuários de recursos hídricos, com os quais devem ser empreendidos processos de negociação para alocação das águas e medidas voltadas ao meio ambiente e aos corpos hídricos. Sob tal abordagem, que extrapola a atual predominância de políticas setoriais, surge então a pergunta sobre como compatibilizar propostas locais e setoriais, com as regionais e integradas? Quais os principais indicadores a serem observados? No planejamento de sistemas de infraestrutura local predomina a preocupação com a prestação de serviços, ou seja, com a factibilidade e operacionalização dos sistemas a serem instalados ou ampliados. Por seu turno, quando entram em pauta aspectos regionais mais abrangentes – não somente em pontos locais, mas também a montante e a jusante –, as variáveis relacionadas ao meio ambiente e aos recursos hídricos tornam-se mais relevantes. Assim, sob tal contexto hídrico-ambiental, em termos regionais devem ser identificadas as diversas fontes de poluição existentes, que causam impactos ambientais, por consequência, com limites nos resultados das ações locais. Apenas como referência genérica, recomenda-se que sejam sistematizados objetivos e indicadores, partindo de aspectos executivos (projetos de engenharia e construção), passando pela instalação, operação e manutenção, avançando em abordagens regulatórias setoriais (indicadores de desempenho em serviços e produção), até chegar às abordagens hídrico-ambientais e seus devidos C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l indicadores, portanto, sob a já mencionada coordenação regulatória. 2.2. Consistência de dados e informações sobre disponibilidades hídricas Assim, a GIRH demanda um conhecimento maior sobre as disponibilidades hídricas regionais e as suas variações anuais e sazonais, promovendo complementações e ajustes na rede de monitoramento ambiental, hidrológico e de qualidade das águas, com vistas a identificar, de forma consistente, as disponibilidades hídricas que ocorrem em pontos estratégicos de unidades territoriais de gestão. Em termos ideais, seria importante contar com dados hidrometeorológicos históricos, que propiciam traçar curvas de permanência de vazões. Todavia, como muitos dos países ainda não contam com tais subsídios, pode-se empreender estudos de regionalização de vazões, a serem periodicamente ajustados, segundo dados de monitoramento e, também, em decorrência de possíveis mudanças climáticas. Outro fator muito relevante para a GIRH refere-se às correlações entre quantidade e qualidade da água e com o uso, ocupação e manejo do solo, uma vez que alterações no território modificam as condições de permeabilidade, por consequência, as próprias vazões disponíveis e a criticidade de cheias e inundações. Por fim, cabe mencionar que existem grandes avanços a serem empreendidos sobre informações relacionadas a aquíferos (estudos hidrogeológicos), inclusive em decorrência de correlações entre disponibilidades hídricas superficiais e subterrâneas, em particular em regiões e/ou períodos sazonais de baixa pluviometria. recursos ambientais, com os seus perfis e demandas sazonais. Para tanto, recomenda-se que sejam consultados dados advindos de processos de licenciamento ambiental e da emissão de outorgas para uso de recursos hídricos. Por certo que algumas complementações sobre os usuários serão necessárias, devido à ausência de regularidades em muitos usos e de lacunas em cadastramentos, bem como em decorrência do perfil de pequenos usuários, que podem ser regionalmente significativos quando somados, a exemplo de pequenos produtores rurais. Mais do que isso, a GIRH deve considerar os distintos padrões de tecnologia e de serviços aplicados, junto aos quais frentes de trabalho podem ser abertas para elevar a eficiência no uso da água e a eficácia na redução de efluentes lançados. Cenários prospectivos de desenvolvimento também devem ser desenhados. 2.4. Balanços hídricos e sistemas de apoio a decisões Contando com dados sobre disponibilidades e demandas pelo uso de água, torna-se possível avançar em balanços hídricos, de modo a identificar áreas e pontos críticos de cada bacia, seja em termos de quantidade ou de qualidade. Os resultados de tais balanços podem apresentar repercussão sobre objetivos e metas de planos traçados pelos diversos setores usuários das águas, com demandas para possíveis avanços em termos da eficiência e da eficácia em serviços prestados e na produção. 2.3. A identificação dos diferentes perfis de usos e usuários de recursos hídricos Nesse sentido, um forte avanço em favor da GIRH advém de modelos matemáticos para simulação hidrológica e de qualidade da água, para os quais todos os dados sobre disponibilidades e demandas são necessárias, acrescidas de características próprias aos corpos hídricos regionais, em especial, os cursos d’água e reservatórios. Em relação à governabilidade, também devem ser cadastrados os usos e usuários das águas e de Esses modelos de simulação operam como Sistemas de Apoio à Decisão (SADs), para que sejam 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 85 exercitadas alternativas de gestão e de ações regionais, conferindo prioridades em medidas a serem empreendidas entre os diversos setores usuários. Ou seja, os SADs permitem simular as relações entre causas e efeitos, por consequência, com a possível identificação de obras regionais complementares a intervenções locais, tais como barragens para a regularização de vazões, como também demandas sobre todos os setores usuários que apresentem repercussões hídrico-ambientais negativas. Enfim, a GIRH demanda consistência em balanços hídricos, para maior governabilidade sobre os recursos hídricos, considerando os diferentes usos, respectivas demandas sazonais e alocações de acordo com as disponibilidades hídricas, no presente e em cenários prospectivos de desenvolvimento. 2.5. Marco lógico como metodologia de planejamento Contando com os subsídios dispostos em favor de Objetivos específicos e respectivos componentes dos planos de bacias e/ou regiões hidrográficas Programas de ações e intervenções estruturais e não estruturais uma governabilidade sobre os recursos hídricos, para a elaboração de planos regionais ou de bacias, cabe o registro da metodologia definida como marco lógico, aplicada por organismos de fomento, como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O marco lógico é pautado por uma Matriz que sintetize a conexão entre objetivos gerais e específicos, associados a indicadores e produtos, intermediários e finais, que devem ser alcançados em cada período de implementação de programas e projetos. Os indicadores devem ser dispostos a partir da escala de macrorresultados, descendo ao detalhe de cada componente, programas e projetos de ações específicas, de modo a facilitar o monitoramento e a avaliação periódica da execução e de resultados previstos, tal como consta na matriz do marco lógico, que segue. Subprogramas = frentes de trabalho, com principais ações e intervenções propostas Prazos estimados, produtos parciais e finais Entidades responsáveis pela execução e pelo monitoramento continuado 2.6. Referências da Diretiva-Quadro das Águas da União Europeia compartilhadas sujeitas a mútuos rebatimentos, Para encerrar o tópico presente, é importante registrar aprendizados advindos da Diretiva-Quadro das Águas (DQA), estabelecida pela União Europeia (UE), como um bom exemplo a ser aplicado em favor da GIRH.27 para o alcance de objetivos e metas relacionadas Sabe-se que, de um lado, a UE é constituída por países independentes, tendo grandes bacias tuos rebatimentos entre seus diversos estados e 27 por consequência, com acordos celebrados (DQA) aos recursos hídricos. De outro, um país continental como o Brasil, com 8,5 milhões de km2, constituído como uma República Federativa, também apresenta imensas bacias compartilhadas e múpaíses vizinhos. Referência advinda do evento “Diretiva Quadro das Águas (DQA) e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh) do Brasil”, ocorrido em Brasília, nos dias 11 e 12 de maio de 2011. 86 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Como referência, para a operacionalização da DQA, chama a atenção o fato de a UE não interferir em aspectos específicos aos sistemas de gestão de cada país. De fato, os acordos são pautados – de forma pragmática – pela definição de objetivos e metas concretas, em termos de quantidade e qualidade de recursos hídricos compartilhados. Assim, percebe-se que os conceitos que foram apresentados, notadamente de governança associada a uma governabilidade consistente sobre relações entre causas e efeitos, mostram coerência com a linha pragmática da União Europeia. 3. Articulações interinstitucionais com setores usuários das águas, para conferir governança, transversalidade e sustentabilidade à política de recursos hídricos Não obstante a coerência de conceitos de modo realista, torna-se fundamental buscar as devidas articulações interinstitucionais, para que abordagens metodológicas venham a ser efetivamente empreendidas. Em outras palavras, torna-se fundamental perseguir uma boa governança para a gestão Integrada dos recursos hídricos. Como já mencionado, uma boa Governança exige a indispensável interação entre os diversos atores sociais (stakeholders), públicos e privados, envolvidos em processos decisórios, de modo a conferir sustentabilidade e permanência à gestão. 3.1. A definição de uma estratégia interinstitucional pragmática e realista Sob tal entendimento, para que a GIRH conte com uma governança consistente, um fator relevante 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a será a definição de uma estratégia interinstitucional pragmática, envolvendo programas e ações relacionadas aos recursos hídricos, não somente no contexto de seus ministérios e entidades, mas também e, sobretudo, das demais instituições relacionadas a setores usuários das águas. Sob tal perspectiva interinstitucional, pode-se assegurar que muitos dos programas e projetos de interesse para a GIRH sejam executivamente as- sumidos pelos demais ministérios e entidades, como se os planos de recursos hídricos fossem um programa de governo. Ou seja, os planos de recursos hídricos não devem ser conduzidos como uma ação exclusiva de ministérios próprios, submetendo os outros a decisões que não sejam coletivas de governo. Portanto, cumpre entender planos de recursos hídricos como proposições assumidas executivamente por todos os segmentos e respectivas enti- dades envolvidas com essa temática. Nesse sentido, a figura 3.1 sintetiza e revela as frentes para as negociações interinstitucionais que devem ocorrer. O primeiro eixo estratégico – o EEx – refere-se à demandas para ações relativas à gestão de recur- sos hídricos, advindas: primeiramente, de consultas regionais para a identificação de tipologias de problemas próprios às distintas porções de bacias, por meio de oficinas participativas, que devem ser promovidas no contexto da GIRH; e, mediante a inclusão de aspectos da inserção macrorregional e do desenvolvimento do país, tendo como insu- mos cenários prospectivos e abordagens estratégicas de governo. 87 Figura 3.1. Matriz Tridimensional para Estratégia Interinstitucional EEx = demandas regionais e nacionais para ações em recursos hídricos Interação EEz = estrutura dos componentes e programas de planos de recursos hídricos Interação EEy = articulações institucionais para Ações em programas existentes e/ou a serem criados Interação O segundo eixo estratégico – o EEy – diz respeito a ações e programas existentes em diversos ministérios e suas entidades, naturalmente relacionados com a temática dos recursos hídricos, dentre os quais pode-se genericamente listar o próprio Ministério do Meio Ambiente e recursos hídricos, com a inclusão de organismos de biomas, florestas e zonas costeiras, acrescidos de Ministérios das Cidades (rede urbana), infraestrutura e obras, saúde, agricultura e pecuária, energia, indústria e comércio, além de ciência e tecnologia, dentre outros. Em tais instituições, por certo serão identificadas ações e programas relacionados aos recursos hídricos, por conseguinte, com potenciais contribuições em favor da GIRH. Em termos pragmáticos, entende-se que será muito mais improvável que orçamentos específicos a Ministérios do Meio Ambiente e de recursos hídricos recebam todos os aportes necessários à implementação de planos nacionais, regionais e de bacias hidrográficas, do que admitir negociações e ajustes em programas a cargo dos outros 88 ministérios e instituições, por vezes já com orçamentos disponíveis em favor de ações e intervenções relacionadas aos recursos hídricos. Nesse sentido, tem sido evidente uma histórica e continuada dispersão institucional que caracteriza o setor público de diversos países, sem que objetivos comuns ou relativamente próximos possam ser negociados e convergidos em termos executivos. Por fim, o terceiro eixo estratégico – o EEz – refere- -se à estrutura dos componentes e programas de planos nacionais, regionais e de bacias hidrográ- ficas, que deverão partir de sua atual versão, todavia, sujeitando-se às devidas adequações, seja pelo ajuste e/ou criação de novos programas demandados pelas consultas regionais e abordagens estratégicas (EEx), seja para convergir programas e projetos com iniciativas identificadas em outros ministérios e entidades (EEy). Em suma, a estratégia proposta exige três interações entre os eixos estratégicos: C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • a Interação 01, entre as demandas regionais e nacionais (EEx) e a estrutura de planos de recursos hídricos (EEz); • a Interação 02, com possíveis respostas que ações e projetos já existentes em outros minis- O primeiro estágio de investigação busca caracterizar o processo de formulação das políticas públicas reais de desenvolvimento regional e da gestão de recursos hídricos. Em uma referência mnemônica, trata-se dos cinco “As”, com investigações sobre: térios (EEy) possam conferir às demandas de oficinas regionais e a aspectos estratégicos do :: ARENAS = espaços institucionais para as efetivas tomadas de decisão. país (EEx); e • a Interação 03, que se refere aos mútuos ajus- :: ATORES = participantes relevantes em processos decisórios. existentes em ministérios (EEy) e os compo- :: AIMS (objetivo) = a definição de intenções e metas de políticas públicas. dricos (EEz). :: AÇÕES = a tradução prática de intenções de políticas públicas. tes e aproximações entre ações e projetos já nentes e programas de planos de recursos hí- Essa estratégia deve ser vista como a busca por janelas de oportunidades, sob o entendimento de que planos de recursos hídricos devem ser empreen didos de forma transversal, em termos executivos e institucionais, para que de fato ocorra a GIRH. A propósito, entende-se que não será suficiente atuar sobre “a rede de legisladores e sensibilizar os comu- :: AVALIAÇÕES = relacionada à identificação de resultados reais e efetivos. O segundo estágio de investigação procura uma caracterização mais aprofundada dos atores em jogo. Novamente com uma referência mnemônica, trata-se dos cinco “Ps”, com investigações que abrangem: nicadores e jornalistas sobre o tema de recursos hí- dricos, de forma a promover a integração do proces- :: PÚBLICO = relativo à participação das comunidades envolvidas. so decisório com a mobilização dos atores do setor” (meta 01 do WFA). Mais do que isso, será fundamen- :: PRIVADO = sobre interesses e negócios relacionados aos problemas e conflitos. tal definir uma estratégia interinstitucional pragmática, tal como proposta, com a consideração da referência metodológica apresentada na sequência. 3.2. A referência da metodologia Apex A respeito da avaliação de políticas públicas de governo, e com vistas ao traçado da mencionada estratégia interinstitucional, uma das principais referências é conferida pela metodologia Apex, advinda de estudos conduzidos pela Comunidade Europeia, no âmbito do Water 21 Project. A sigla Apex sintetiza as três etapas de investiga- ção metodológica que dão suporte à avaliação de políticas públicas, sendo perfeitamente aplicável à interface entre o desenvolvimento regional e a gestãoambiental e das águas. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a :: PROFISSIONAIS = com a visão que especialistas e funcionários de instituições têm sobre os problemas e respectivas soluções a implementar. :: POLÍTICOS = com a abordagem de políticos sobre problemas e soluções. :: PRESS (imprensa) = com informações que interferem na opinião pública. Por fim, o terceiro estágio busca analisar a consistência das políticas públicas de desenvolvimento regional e gestão das águas, postas frente a objetivos institucionais e de sustentabilidade. Essas análises devem ser conduzidas segundo as dimensões dos eixos da sustentabilidade (figura 3.2): o Ecológico, o Ético e o Econômico, completando a referência mnemônica com os três “EXs”, da sigla Apex. 89 Figura 3.2. Conceito de Desenvolvimento Sustentável28 Ecológico (visão integrada e transversal) Ético (equidade social e arranjos institucionais) DS = E3 Econômico (distribuição de custos e benefícios) No vetor Ecológico, os questionamentos são dirigidos sobre a suficiência de uma abordagem compreensiva, que considere as principais variáveis em questão. No que concerne ao vetor Ético, a preocupação essencial é a estruturação de arranjos interinstitucionais que possibilitem a inserção equitativa dos diferentes atores relacionados com a GIRH. Por fim, no vetor Econômico cabe a valoração dos benefícios e custos envolvidos, em uma perspectiva de análise não limitada a fluxos financeiros diretos, mas que incorpore aspectos socioeconômicos mais amplos. Todavia, para além da abordagem isolada dos eixos, as avaliações Apex implicam a articulação indispensável entre os três eixos da sustentabilidade, ou seja: O conjunto dos interesses econômicos relacionados, direta ou indiretamente, aos processos sociais de apropriação de recursos ambientais, deve ser valorado e equanimemente distribuído, no contexto de um arranjo interinstitucional que compartilhe responsabilidades e possibilite 90 a ancoragem da gestão sobre tal conjunto de interesses socialmente identificados.29 Em termos práticos, no que tange às ARENAS de processos decisórios relacionados à gestão de recursos hídricos, os principais questionamentos a serem respondidos são: • Onde são estabelecidas decisões efetivas sobre a GIRH? • Como são articuladas decisões relacionadas à gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e com diretrizes do desenvolvimento urbano e regional? • Há espaços institucionais próprios e subsídios para acordos entre usuários, de modo a superar conflitos relacionados às disponibilidades hídricas? Na sequência da Apex, as principais perguntas referentes aos ATORES são: • Há a identificação e efetiva presença dos principais ATORES relacionados com as tipologias de problemas, nos espaços institucionais (APENAS) 28 Fonte: Water 21 Project – Comunidade Europeia. 29 Fonte: Lobato da Costa, F. J., Estratégias de Gerenciamento dos Recursos Hídricos no Brasil: áreas de cooperação com o Banco Mundial, BIRD. abril/2003. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l em que são definidas as alternativas de soluções para que, de fato, sejam implementadas? que ocorrem por parte dos diferentes setores usuá- • Sem a presença e devidas responsabilidades de tais atores, pode-se chegar a uma governança consistente? Com efeito, não se deve entender, apenas de um No que tange aos OBJETIVOS (AIMS), AÇÕES e AVALIAÇÕES, cabe perguntar: contrário, compete também à gestão de recursos hí- Há uma consistência entre os OBJETIVOS (AIMS) e respectivas AÇÕES selecionadas, com as relações entre causas e efeitos, para que soluções concretas sejam realmente alcançadas e comprovadas por seus respectivos indicadores de AVALIAÇÃO? Essas perguntas tornam evidente uma grande pro- ximidade entre a metodologia Apex, conceitos apresentados sobre a governabilidade (item 3.2) e a abordagem SMART. Também é importante lembrar que a Apex trata dos POLÍTICOS e da IMPRENSA (PRESS), dentre os ATORES a serem analisados, com identidade relacionada com a meta 1, traçada pelo WFA em favor da GIRH. 3.3. Sobreposição de diferentes leituras do território, com base no conceito de “geometria variável” Para que ocorram avanços e maiores interações nas negociações interinstitucionais e intersetoriais, uma das principais inovações metodológicas diz respeito à mútua compreensão frente às políticas e ao planejamento dos setores usuários das águas. Surge então a pergunta sobre como chegar a tal mútua compreensão entre as políticas públicas e o planejamento dos setores usuários de recursos hídricos? Como resposta, entende-se que a mútua compreen são intersetorial pode ser alcançada com base na sobreposição de diferentes leituras do território, segundo o já mencionado conceito de “geometria variável”, de modo a conferir a desejada transversalidade à GIRH. É a sobreposição de diferentes leituras do território que propicia uma abordagem inter- setorial, considerando as distintas visões regionais 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a rios de recursos hídricos e ambientais. lado, que todos os setores usuários considerem a bacia hidrográfica em ações de planejamento. Ao dricos analisar a dinâmica das diferentes abordagens regionais, seja frente aos diversos segmentos usuá- rios das águas, seja face às variáveis supervenientes – o desenvolvimento regional e o meio ambiente. Trata-se, portanto, de uma sobreposição de ma- pas traçados não somente com base em bacias hidrográficas, mas também de outras leituras territoriais que considerem: biomas e ecossiste- mas; infraestruturas de serviços (saneamento, transporte, energia e outros); redes de cidades; áreas de agronegócio e indústrias; áreas iden- tificadas como críticas, em termos de balanços hídricos e de qualidade das águas, além do po- tencial comprometimento ambiental – todas com geometrias distintas. Ademais, também devem ser consideradas as divisas institucionais entre estados e províncias e as áreas delimitadas para atuação de instâncias coletivas, a exemplo de comitês de bacias, com possível acréscimo de outras leituras do território. Entre as referências para a metodologia proposta, cabe registrar as seguintes: • o Mapa de Gestão elaborado pela ANA. • o traçado de Unidades Territoriais Estratégicas de Gestão (UEGs), no contexto do Plano Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (PERH/MG); e • a tese de doutorado da arq. Ana Carolina Coelho Maran, da ANA, intitulada como Sistema multicriterial de suporte à decisão. Nessas referências, há o entendimento comum sobre o traçado de UEGs, referentes a recortes territoriais homogêneos para fins de gestão. 91 3.4. Entidades executivas e contratualização de objetivos e metas Não obstante a importância de instâncias coletivas – conselhos e comitês – para uma boa governança das águas, surge a questão sobre a entidade responsável pela execução de acordos e decisões que forem tomadas, ou seja, sempre restam encargos para que as ações de objetivos e metas sejam implementadas. Nesse aspecto, uma boa referência são consórcios intermunicipais e associações de usuários de recursos hídricos, constituídos como entidades público-privadas, sem fins lucrativos, organizados para que planos de bacias tenham seus programas e projetos empreendidos por aqueles que conhecem as especificidades de ações e intervenções setoriais que foram acordadas. Por certo, não compete a tais entidades executivas decisões independentes, que devem ser mantidas como atribuições das instâncias coletivas, em que órgãos de estado, inclusive agências reguladoras, e organizações da sociedade civil devem exercitar a vigilância social, para que outros interesses sejam considerados. Sendo assim, as entidades executivas devem atuar pautadas pela “contratualização” de objetivos e metas relacionadas ao planejamento dos recursos hídricos. Este conceito é diferenciado da tradicional contratação, que se refere a uma execução ou aquisição específica e pontual, enquanto a “contratualização” deve ser entendida como um processo continuado e monitorado, sempre com sequências e progressos nos indicadores do escopo de trabalho. 3.5. A identificação e a valoração de benefícios e custoseconômicos e financeiros associados à GIRH Ademais, para que as negociações e acordos sejam consistentes e sustentáveis, cabem a identificação e a valoração de benefícios e custos, financeiros e econômicos, e de suas relações com os usos e usuários envolvidos, inclusive com vistas 92 à aplicação de instrumentos econômicos de gestão (IEGs) e de potenciais fontes de financiamento para viabilizar a implementação dos planos de recursos hídricos. Com efeito, instituições serão voláteis caso não estejam ancoradas sobre aspectos econômicos e financeiros. Sabe-se que o conceito do econômico é bem mais amplo, sem necessariamente chegar a fluxos de caixa, que caracterizam abordagens financeiras mais restritas. Em decorrência, avaliações econômicas passam a ser essenciais como critérios de elegibilidade e priorização de ações previstas em planos de recursos hídricos. Em muitos projetos, a proporção de elevados ativos ambientais torna imperativa a sua valoração, no mais das vezes, sem rebatimentos financeiros imediatos, mas com importância decisiva quanto a um desenvolvimento sustentável. Sob tal abordagem, procedimentos metodológicos singulares devem ser empregados, a exemplo de: (i) Avaliações contingentes, com pesquisas de disposição a pagar, como forma de identificar os valores que a sociedade confere aos ativos hídrico-ambientais. (ii) Preços hedônicos, com consultas a valores previstos pelo mercado imobiliário, visto como uma forma indireta de aferir a disposição a pagar. (iii) Custos evitados, com estimativas dos danos e prejuízos advindos de impactos decorrentes de setores e empreendimentos que impactam o meio ambiente. A respeito dos resultados, é importante destacar que os benefícios ambientais são mais significativos ao serem avaliados sobre uma perspectiva econômica do que quando limitados ao seu retorno financeiro. 3.6. Conceitos e referências aplicativas de instrumentos econômicos de gestão Sobre instrumentos econômicos de gestão (IEGs), cabe registrar que, durante as últimas décadas, a C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l moderna gestão ambiental e dos recursos hídricos vem ampliando seu leque de instrumentos, os quais, no presente, podem ser ordenados em quatro diferentes esferas, a saber: mais significativas em países ainda em desenvol- • os mecanismos tradicionais de comando e controle (C&C), próprios ao Estado, apresentando-se como ferramentas disciplinadoras, como a outorga pelo uso da água e o licenciamento ambiental de atividades; relevantes refere-se a resultados mais efetivos e • a gestão social compartilhada, entre o Estado e atores sociais, empregada na definição de planos de intervenção aprovados por comitês de bacia e por conselhos de recursos hídricos; geralmente respaldadas por políticas públicas, que • os instrumentos econômicos de gestão (IEGs), cuja natureza de indução descentralizada ao comportamento ambiental ocorre via mecanismos de preços e incentivos financeiros, caso notável da cobrança pelo uso da água; e • os mecanismos de adesão voluntária, em geral, baseados na circunscrição de mercados, áreas de atuação e/ou fontes de recursos, pela via de certificações da qualidade, mais próprios a agentes privados.30 A respeito dessas quatro esferas, cabe destacar o seu caráter complementar e não mutuamente excludente. Ou seja, a gestão de recursos hídricos e de meio ambiente já não deve ser entendida de forma restrita aos instrumentos tradicionais de C&C. Em termos dos IEGs, a expectativa é de que, ao se modificarem as matrizes de custos e benefícios associados a processos de produção e consumo, os agentes econômicos sigam na direção de menores impactos hídricos, ambientais e sociais. Sabe-se que os instrumentos de C&C apresentam dificuldades próprias, sendo possível observar que excessos de rigores regulatórios geram custos elevados, assimetrias de informações e lentos processos judiciais.31 Sendo assim, percebe-se o paradoxo de que IEGs podem apresentar repercussões 30 31 vimento, do que naqueles mais avançados, onde o C&C já se encontra mais consolidado e consistente. Sob tal constatação, uma das questões mais eficazes, sob a consideração de restrições institucionais existentes. Com isto posto, como conceito geral entende-se que instrumentos econômicos (IEs) são iniciativas, atuam como um estímulo financeiro, no sentido de que alteram o preço (custo) de utilização de um recurso afetando – especialmente as disponibilidades hídricas –, por consequência, o seu nível de utilização (demanda), viabilizando ações de sustentabilidade, propiciando o investimento em alternativas de produção aliada à conservação ambiental e dos recursos hídricos, redução dos custos de mitigação de passivos ambientais e desenvolvimento de tecnologias mais limpas. Sob tal abordagem, há alternativas para IEGs que são mais amplas e multifacetadas, além de outros mecanismos que podem ser propostos como braços complementares de atividades regulatórias específicas – ou seja, com vistas à mencionada coordenação regulatória, entre variáveis supervenientes e intervenientes. De fato, segundo Haddad (2005), os IEGs podem ser definidos de diferentes formas, tal como ocorre em países da OCDE, a saber: alteração direta dos níveis de preços e de custos; alteração indireta de preços e custos por meio de medidas fiscais ou financeiras; e criação ou apoio a mercados. Contando com tais opções para selecionar IEGs, há essencialmente duas abordagens distintas den- tre tais instrumentos: induzir produtores e consumidores a internalizar suas externalidades de custos socioambientais; e intervenção governamental para ajustes na oferta e na procura de mercados. Porto, Mônica; Lobato da Costa, Francisco J. Mecanismos econômicos, sociais e ambientais de gestão da água. Revista REGA, v. 1, n.º 2, jul./dez. de 2004. Haddad, P. R., ANA/UNESCO. Diretrizes e metas para o Plano Nacional de Recursos Hídricos – Produto 2, 2005. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 93 A figura 2.4 sintetiza as abordagens e focos – mais específicos ou genéricos – para seleção dos IEGs, a serem aplicados com vistas a gerar mais eficiência e racionalidade no uso de recursos ambientais. Figura 3.6. Abordagens Gerais e Focos Específicos dos IEGs Abordagens gerais Focos específicos Decisões internas de funções de custos dos produtores e do bem-estar dos consumidores Eficiência operacional dos operadores de serviços e dos produtores Intervenção governamental para ajustes coletivos na oferta e procura de mercados Ações abrangentes relacionadas aos impactos de setores sobre o meio ambiente e recursos hídricos Enfim, a escolha dos IEGs mais adequados para viabilizar políticas de recursos hídricos depende de características de cada contexto regional e/ou socioeconômico. Dispostos os conceitos sobre IEGs, torna-se importante registrar que há muitas aplicações já existentes, especialmente de países da OCDE, onde já se apresentam mais de 130 instrumentos adotados, com base em incentivos fiscais e creditícios, voltados ao controle do uso e deterioração do meio ambiente. Em países como Irlanda, Alemanha, Estados Unidos, Austrália e Dinamarca, verifica-se que há IEGs capazes de alterar indiretamente os preços e custos relativos a bens e serviços. No caso do Brasil, em acréscimo à implementação da cobrança pelo uso da água, cabe mencionar como IEGs: • o ICMS Ecológico (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), cuja receita, em alguns estados, tem um percentual (de 1% a 5%) de redistribuição, para municípios que apresentem indicadores positivos em termos de recomposição de cobertura vegetal e matas ciliares, proteção de mananciais, criação de áreas de proteção ambiental (APAs) e padrões de qualidade de recursoshídricos; e 32 94 • o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), pautado por programas como o Produtor de Águas, que compensa o valor de receitas que seriam arrecadadas no mercado por cultivos que forem substituídos por matas ciliares e cobertura vegetal, em favor da preservação e recuperação de corpos hídricos. Adicionalmente e, ainda no campo dos IEGs, cabe mencionar a Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH). Instituída de forma compulsória em todo o território brasileiro para o setor hidrelétrico,32 a CFURH foi implementa- da essencialmente para compensar estados e municípios afetados pelos reservatórios das hidrelétricas. Dos 26 estado brasileiros mais o Distrito Federal, 23 criaram fundos estaduais de recursos hídricos com o objetivo de implementar os respectivos Sistemas Estaduais de Recursos Hídricos. Desses estados, o que mais repassa efetivamente os recursos do CFURH é o estado de São Paulo cujo montante (acumulado) ultrapassa 600 milhões de reais, para o financiamento de ações deliberadas pelos 22 comitês de bacia existentes naquele estado. Este estado também é o que possui de forma mais estruturada os critérios e procedimentos para o repasse desses recursos. As pequenas centrais hidrelétricas – PCHs (menores do que 30 MW) estão isentas de pagar a CFHRH. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l O critério de cálculo do valor da energia produzida para a CFURH é obtido pelo produto da energia hidráulica efetivamente verificada, medida em megawatt-hora, multiplicado pela Tarifa Atualizada de Referência (TAR). Sendo esta sido estabelecida com base no preço médio da energia adquirida pelas concessionárias de serviço público de distribuição. Há de se ressaltar ainda que os recursos que sustentam, o Singreh, o que inclui a ANA, provêm dessa fonte e totaliza, anualmente, mais 200 milhões de reais por ano. Por fim, ainda como perspectiva a ser implementada, cabe mencionar estudos da ANA para emitir o Selo IARA – Índice de Aproveitamento Racional da Água, com vistas a induzir operadores de serviços de saneamento a melhorias na utilização de recursos hídricos, mediante incentivos fiscais em suas tarifas, redução em taxas de crédito, notadamente daquelas relacionadas ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), podendo chegar à redistribuição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), cujo porte de arrecadação já se aproxima de R$ 50 bilhões por ano. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 95 II – Soluções elencadas Referências de soluções concretas 1. A ANA no contexto do Singreh Existência da solução/soluções inovadoras Modelo brasileiro de gestão das águas e a inserção da ANA nesse modelo como referência institucional. Palavras-chave Arcabouço institucional, gestão descentralizada e participativa, gestão integrada dos recursos hídricos. Descrição da solução A Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997) instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh). O Singreh estabeleceu um arranjo institucional claro e baseado na gestão descentralizada e participativa das águas, cujos elementos de referência são os princípios da GIRH. Essencialmente, o Singreh possui três níveis de decisão política com o suporte do respectivo ente técnico para fundamentar as decisões colegiadas: • Nível 1: Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) – colegiado político, com atribuições normativas e deliberativas e que fornece as diretrizes gerais da Política Nacional de Recursos Hídricas e delibera, sobretudo, acerca das águas de domínio da União. 96 O CNRH é o órgão mais expressivo da hierarquia do Singreh. O seu braço técnico é a ANA. • Nível 2: Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CERHs) - colegiados políticos (sendo um para cada estado da Federação totalizando 27), com atribuições normativas e deliberativas e que fornece as diretrizes da respectiva política estadual de recursos hídricas e delibera acerca das águas de domínio estadual. O seu braço técnico é o órgão gestor de recursos hídricos do respectivo estado. • Nível 3: Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) – colegiados políticos (atualmente totalizando 180 unidades) que correspondem à base do sistema de gestão. Também dotados de atribuições normativas e deliberativas, são entes inteiramente novos na realidade institucional brasileira, contando com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e federal. Os CBHs atuam como “parlamento das águas”, posto que é o fórum de decisão no âmbito de cada bacia hidrográfica. Nas bacias dotadas com potencial para se sustentarem financeiramente e onde os comitês deliberaram por instituir a cobrança pelo uso da água, seu braço técnico é a Agência de Água da respectiva bacia. Em função dessa matriz institucional, o desenvolvimento das atividades dos entes do Singreh não prescinde, portanto, de um significativo e permanente trabalho de governança, sobretudo nas bacias cujas águas são compartilhadas por mais de um estado. Nesse caso, cabe ressaltar que, quanto mais expressivo o contingente populacional e o nível de industrialização, maiores e mais complexos são os desafios em torno da governança. Isso porque essa combinação de elementos significa, frequentemente, disputas e não raramente conflitos pelos usos da água, C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l que resultam de variados tipos de passivos ambientais e de ameaças aos usos. Nesse contexto, a ANA, instalada há cerca 10 anos, tem se destacado institucionalmente por um conjunto de aspectos, dentre os quais destacamos: • Estabilidade institucional: decorre do fato de a Agência possuir uma diretoria colegia- da formada por cinco diretores que possuem estabilidade para o período do mandato, independentemente de alterações políticas no governo federal. Isso reflete o entendimento de que a ANA – assim como as demais agências reguladoras – são entes do Estado brasileiro e não do governo, embora sejam vinculadas a ministérios. Ressalta-se ainda que esses mandatos têm períodos não coincidentes, evitando ou dificultando a descontinuidade das decisões. • Continuado suporte financeiro: os recursos financeiros que dão sustentação à ANA são provenientes de fonte não contingenciável do orçamento da União, o que proporciona à Agência planejar ações de longo prazo. • Quadro técnico concursado: desde 2003, a Agência vem realizando concursos para preencher seus quadros técnicos permanentes tanto das áreas-meio (administrativa e geoprocessamento) quanto da área finalística (recursos hídricos). Este quadro, dotado de elevado nível de especialização e com permanentes atividades de capacitação, possui um plano de carreira consistente, remuneração competitiva, e o total de funcionários está próximo ao montante previsto na legislação que criou a ANA. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Perfil da estratégia & valores adicionais A estratégia de atuação da ANA pode ser dividida basicamente em duas: i) atuar do ponto de vista da regulação das águas, promover estudos e apoiar tecnicamente os entes do sistema; e ii) fortalecer institucionalmente os entes do Singreh, independe do domínio das águas. Área de aplicação Todo o território brasileiro. Contatos Agência Nacional de Águas (ANA) e a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambinete Urbano (SRHU) – Secretaria Executiva do CNRH. Informações adicionais Nos últimos anos, a ANA teve suas atribuições ampliadas, conforme a seguir: - acompanhar e fiscalizar a execução dos contratos de concessão de serviços públicos e irrigação; - coordenar a elaboração dos normativos relacionados à regulação do uso dos recursos hídricos, dos serviços públicos de irrigação, se em regime de concessão, dos serviços de adução de água bruta em âmbito federal e da segurança de barragens; - regular os serviços públicos federais de adução de água bruta e os contratos de concessão de serviços públicos de irrigação; e - coordenar a implementação no âmbito da ANA do cadastro de barragens e dos instrumentos da Política Nacional de Segurança de Barragens. 97 2. O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Ceará Existência da solução/soluções inovadoras Modelo próprio para gestão das águas no semiárido brasileiro. Palavras-chave Tarifa pela entrega de água bruta; relações cota-volume; acordos para alocação de água. - promoção do associativismo local de pequenos usuários, com vistas a facilitar os processos de negociação relativos à alocação das disponibilidades hídricas; O modelo do Ceará pode ser assim caracterizado: - atuação de uma agência estatal única – a Cogerh, empresa de economia mista –, com ação sobre todo o estado, na medida em que opera para além de bacias mediante a interligação de açudes e adutoras, com demandas relativas à sua operação e manutenção; e - administração de estoques de água em açudes, dada a escassez da sazonalidade anual e plurianual das precipitações e a elevada evapotranspiração presentes no semiárido; - atualmente, a Cogerh arrecada R$ 18 milhões/ano, parte substantiva da qual cobre despesas operacionais para reservação e transporte de água bruta. Descrição da solução - alocação de água para usos múltiplos, respaldada em decisões socialmente negociadas entre usuários, tendo como suporte o traçado de curvas-chave (relações cota-volume) que oferecem estimativas confiáveis para as disponibilidades, em curto e médio prazos; - transporte de água bruta a longas distâncias, vencendo limites das bacias rumo aos maiores centros de demanda, em especial para a Região Metropolitana de Fortaleza, onde se concentram as grandes demandas de consumo industrial e doméstico; - tarifação por serviços de reservação, transporte e distribuição de água bruta aos usuários industriais e concessionária de saneamento, de forma diferenciada e não excludente da cobrança pelo uso de recursos hídricos, com larga diferenciação entre preços unitários, hoje da ordem de R$ 1,00/m3 aos primeiros e R$ 0,05/m3 ao segundo, caracterizando subsídio cruzado em favor do abastecimento doméstico; 98 - mecanismos de negociação entre usuários, de modo a permitir alterações na alocação hídrica, para fins de aumento na eficiência de uso e em valores agregados; Perfil da estratégia & valores adicionais A estratégia é voltada à conciliação de conflitos entre múltiplos usos da água no semiárido brasileiro, tanto entre usos rurais quanto da Região Metropolitana de Fortaleza. Como valor, cabe citar a consistência dos dados necessários e o espaço institucional para que ocorram negociações entre usos e usuários, para (re) alocação da água. Área de aplicação Semiárido brasileiro e outras regiões com características hidrometeorológicas semelhantes. Contatos Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (Cogerh). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Informações adicionais As referências principais são: a boa governança das águas (processos de negociações com usuários) associada com uma consistente governabilidade, disposta pelas relações entre cotas e volumes de açudes, propiciando decisões para superação de conflitos entre usos múltiplos; e a sustentação financeira do sistema, via tarifação para a entrega de água bruta. 3. A Gestão de Recursos Hídricos nas Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí-PCJ Existência da solução/soluções inovadoras Gestão de recursos hídricos em áreas de elevada densidade urbano e industrial, com problemas de baixa disponibilidade hídrica. Palavras-chave Entidade privada sem fins lucrativos com funções de Agência de Água; plano de metas; cobrança pelo uso da água. Descrição da solução No total, o complexo PCJ drena 75 municípios, a maioria do estado de São Paulo e quatro de Minas Gerais, com área de 14.040 km². O PCJ constitui uma região estratégica sob o ponto de vista econômico, concentrando 5,3 milhões de habitantes e 7,5% do produto interno bruto do país. O agrupamento do complexo PCJ ocorreu por conta da situação hídrica da região, uma vez que boa parte de sua disponibilidade hídrica é transposta para o abastecimento da Grande São Paulo, por meio do Sistema Cantareira, que reverte, em média, 27 m³/s, a cada ano. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a No contexto do Singreh, o Comitê Federal do PCJ foi sobreposto ao Comitê Estadual previamente existente, de modo a propiciar maior unidade territorial à gestão. Um dos resultados foi a aplicação da Cobrança (2005), a segunda aprovada em rios da União. Merece registro o fato de a Cobrança no PCJ obter significativos resultados iniciais, com índice de adimplência de 97%, alcançado em janeiro de 2006. No presente, a arrecadação anual apenas em rios de domínio da União se aproxima de R$ 18 milhões e totaliza aproximadamente 42 milhões quando consideradas o conjunto de arrecadações (União, estadual/SP e Fundo Estadual/SP), sob a confiança de um bom gerenciamento executivo, atualmente empreendido pela Fundação Agência das Bacias PCJ. Esta é uma entidade privada sem fins lucrativos, instalada em novembro de 2009, qualificada na legislação como “entidade delegatária”, para exercer funções de agência das bacias PCJ e que veio a substituir o Consórcio PCJ, que nasceu regionalmente como parceria entre municípios, concessionários e indústrias. Por causa da transferência de vazões para a Grande São Paulo, na Bacia do Alto Tietê, há um conflito significativo entre ambas as regiões, exigindo que a gestão das bacias do PCJ seja bastante consistente e avançada, para o enfrentamento de problemas de disponibilidades hídricas, quantitativas e qualitativas. Recentemente, as Bacias PCJ atualizaram seu Plano de Bacia, uma das principais referências do país. O Plano PCJ aplicou abordagem mediante recortes territoriais que traçaram 37 zonas de atuação, compostas por 225 unidades de análise, de modo a identificar relações entre causas e efeitos, contando com uma densa rede de monitoramento e modelos de simulação hidrológica e de qualidade das águas, como Sistemas de Apoio à Decisão. 99 O resultado disso foi a definição de um conjunto de metas regionais e o rearranjo institucional para viabilizar a implementação das ações necessárias para o alcence das metas. Perfil da estratégia & valores adicionais Situado em uma das áreas mais avançadas do país, a Fundação Agência das Bacias PCJ revela uma das formas mais consistentes para uma boa governança das águas ao se relacionar, de forma descentralizada e participativa, com atores locais assumindo encargos e responsabilidade na gestão das águas. Área de aplicação Áreas urbano-industriais de elevada densidade. Contatos Fundação Agência das Bacias PCJ. Informações adicionais A Fundação Agência das Bacias PCJ possui três instâncias funcionais: o Conselho Deliberativo (composto por entes públicos, privados e por organizações da sociedade civil), o Conselho Fiscal e a Diretoria. A Agência PCJ possui funções técnicas e deverá atuar como Secretaria Executiva dos Comitês PCJ (equipes técnica e administrativa). 100 4. O Projeto de Despoluição de Bacias Hidrográficas (Prodes) Existência da solução/soluções inovadoras Aportes financeiros a sistemas de tratamento de esgotos, vinculados a resultados efetivos na redução de efluentes, segundo indicadores monitorados. Palavras-chave Compra de esgoto tratado; indicadores de efluentes. Descrição da solução Um dos maiores desafios das cidades brasileiras é a redução de cargas poluidoras nos corpos hídricos, sobretudo em aglomerações urbanas. De fato, os efluentes domésticos representam a principal fonte poluidora, no presente, com apenas cerca de 30% do esgoto urbano com algum tipo de tratamento, sendo o restante lançado nos corpos d’água in natura. Na maioria dos casos, a viabilidade financeira das estações de tratamento de esgotos (ETEs) é reduzida, em razão dos altos aportes necessários. Por tal motivo, mesmo países desenvolvidos têm apoiado financiamentos de ETEs, a exemplo dos Estados Unidos e da União Europeia. No Brasil, o problema da viabilidade financeira de ETEs é ainda mais agudo face à parcela de população urbana sob extratos inferiores de renda. Assim, de modo a incentivar a implantação de ETEs, a ANA criou, em março de 2001, o Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas (Prodes), também conhecido como “Programa de Compra de Esgoto Tratado”, uma C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l iniciativa inovadora que não financia obras ou equipamentos, mas paga pelos resultados alcançados. O Prodes concede estímulo financeiro, como pagamento pelo esgoto tratado, a prestadores de serviços de saneamento que investirem na implantação e operação de ETEs, desde que cumpridas condições previstas em contrato firmado com a ANA. Embora, até o momento, somente concessionários públicos tenham obtido habilitação junto ao PRODES, no caso de operadores privados, há a exigência adicional de que o prestador de serviços repasse à população os incentivos recebidos da ANA, na forma de abatimento de tarifas e/ou na expansão das metas de cobertura porventura existente no contrato de concessão. A liberação dos recursos se dá apenas a partir da conclusão da obra e início da operação da ETE, em parcelas vinculadas ao cumprimento de metas de abatimento de cargas poluidoras, e demais compromissos contratuais. No contrato são estipulados os níveis de redução das cargas poluidoras pretendidas com a implantação e operação da ETE, o valor do estímulo financeiro a ser aportado pela ANA, bem como o cronograma de desembolso. O valor do aporte financeiro pode ser equivalente a até 50% do custo do investimento da ETE, estimado pela ANA, tomando como base uma Tabela de Valores de Referência. Perfil da estratégia & valores adicionais O foco da estratégia está na vinculação entre os aportes de capital para ETEs e os resultados efetivos na redução de efluentes, sem os limites tradicionais de construção de obras civis que, por vezes, não entram adequadamente na operação planejada e nos resultados previstos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Área de aplicação Sistemas de coleta e tratamento de esgotos, notadamente em núcleos urbanos. Contatos Agência Nacional de Águas (ANA). Informações adicionais Face à elevada demanda de capital para a infraestrutura sanitária, sabe-se que há limites para que as tarifas de saneamento cubram todos os investimentos necessários. Portanto, é importante que governos assumam parte dos aportes de capital, até chegar à universalização dos serviços, quando as tarifas poderão, então, cobrir os gastos operacionais e de expansão. 5. O Programa Cultivando Água Boa Existência da solução/soluções inovadoras Ações e metas coletivas entre Itaipu, prefeituras municipais, setores produtivos e membros da sociedade civil, inseridos na bacia hidrográfica Paraná 3, com área de drenagem sobre o reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Palavras-chave Conservação dos recursos naturais; monitoramento hídrico; apoio técnico, prestação de serviços, participação e qualidade de vida da população. 101 Descrição da solução Com diversas frentes de atuação, o Programa Cultivando Água Boa visa a estabelecer critérios e condições para ações socioambientais relacionadas à conservação dos recursos naturais, com foco principal na qualidade e quantidade das águas e na qualidade de vida das pessoas. A denominação Cultivando Água Boa denota continuidade no processo, como um movimento de participação permanente, em que a Itaipu, além de mitigar e corrigir passivos ambientais, também trabalha com a sociedade para mudar os seus hábitos e valores. O programa atua em 29 municípios drenantes da Bacia do Paraná 3 (BP3). Em sua abordagem, o monitoramento hídrico é a forma mais adequada para direcionar o uso, manejo e conservação do solo, uma vez que a saúde do rio é consequência direta de medidas para controlar o escoamento superficial e favorecer a infiltração de água no solo, prevenir a erosão e reduzir aportes de sedimentos e nutrientes, além da manutenção da biodiversidade. Sob tais desafios, o programa traçou os seguintes objetivos: a conservação dos solos da BP3; a proteção de matas ciliares; melhorar o sistema viário rural para reduzir aportes de sedimentos; medidas de saneamento rural para reduzir a contaminação dos recursos hídricos e beneficiar os agricultores; a correção de passivos ambientais de propriedades rurais; e, minimizar impactos da atividade agropecuária, com sedimentos, nutrientes e agrotóxicos. É importante sublinhar que a eficácia no planejamento do uso da terra e da implementação de ações de manejo integrado de bacias é potencializada quando a execução se estrutura a partir das microbacias, de menores escalas para as maiores, como estratégia adotada. Ademais, para uma gestão descentralizada e participativa, a Itaipu trabalha com ações de educação 102 ambiental, tendo como resultado a escolha das microbacias e o estabelecimento de prioridades em cada uma delas. Os serviços são mediante parcerias entre Itaipu, municípios, cooperativas e associações de agricultores, instituições de ensino superior, indústrias e ONGs. Em cada unidade é realizado um intenso trabalho de planejamento e execução das atividades, que consistem em: diagnóstico ambiental, apontando as ações coletivas; planos de controle ambiental (PCAs) sobre propriedades rurais; diagnóstico dos sistemas de produção; planos de desenvolvimento da unidade familiar; instrumentos legais para execução física e financeira das atividades e ações coletivas; e recursos para a execução de ações específicas. Para tal planejamento, execução e monitoramento, as ações são classificadas em dois grupos: as coletivas (matas ciliares, estradas, conservação de solo e água, abastecedouros comunitários, educação ambiental, biodiversidade, saneamento, monitoramento da água, agropecuária orgânica, distribuição de dejetos e destinação de agrotóxicos); e as individuais (atuação direta em propriedades rurais, correção de passivos, adequações em pocilgas, estábulos e aviários, dentre outras ações). O acompanhamento e apoio às ações do programa são realizados pelos gestores de bacia, que executam diversas atividades junto às prefeituras, aos órgãos regionais e agricultores lindeiros. Sob tais ações, o programa tem gerado benefícios diretos e indiretos para toda a população e demais usuários da água na BP3. Entre os resultados alcançados estão quase 4 mil hectares de áreas agrícolas terraceadas, mais de 300 km de estradas rurais adequadas, e algo como 500 km de cercas, para isolamento de matas ciliares. Também foram instalados 94 abastecedouros comunitários e doados 85 distribuidores de dejetos de animais. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l No que tange aos efluentes líquidos e resíduos sólidos urbanos, advindos de esgotos sanitários e dos lixões, o programa cobre uma vertente concebida para formular e implementar gerenciamento sanitário no âmbito da Itaipu Binacional, preparando modelos e estratégias possíveis às administrações municipais da BP3, dessa forma, contribuindo para melhorar a situação da região sob influência da usina. Nesse aspecto, prioritariamente foram abordados problemas na própria usina, em seguida, com avanços para a área da BP3. No presente, pelo monitoramento do Instituto Ambiental do Paraná, a água do reservatório da Itaipu está livre de coliformes fecais e bactérias que possam causar doenças em seres humanos. Segundo o IAP, a emissão de esgoto já não influencia a qualidade da água. Perfil da estratégia & valores adicionais Os diversos programas ambientais e de sanea mento, associados ao Cultivando Água Boa, ajudam a preservar a biodiversidade aquática, garantindo seus múltiplos usos, sem comprometer o funcionamento da usina. Todas essas atividades são desenvolvidas com a ampla participação da comunidade. Ao todo, são 1.247 instituições parceiras, entre universidades, órgãos governamentais, ONGs e associações, o que destaca uma boa governança das águas. Área de aplicação Bacias hidrográficas, com estratégia baseada em suas microbacias, segundo os problemas específicos e metas a enfrentar. Contatos Itaipu Binacional, Diretoria de Coordenação. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Informações adicionais Como resumo da abrangência do Programa Cultivando Água Boa, cabe citar: o diagnóstico ambiental, como etapa inicial; os Planos de Controle Ambiental (PCAs); os Planos de Desenvolvimento Sustentável da Unidade Familiar; a capacitação de gestores de microbacias; o Programa de Saneamento sob influência da Usina de Itaipu; e o monitoramento continuado e o Banco de Dados Hidrológicos, de qualidade da água e de variáveis socioambientais e de setores produtivos. 6. A Gestão de Recursos Hídricos na Bacia do Rio das Velhas Existência da solução/soluções inovadoras Gestão de recursos hídricos em áreas de elevada densidade urbano e industrial, com graves problemas de qualidade da água dos rios decorrentes principalmente do lançamento de esgotos domésticos. Palavras-chave Reestruturação institucional, gestão descentralizada e participativa, saneamento ambiental, metas. Descrição da solução O Rio das Velhas é o maior afluente em extensão da Bacia do São Francisco com 801 km. A sub-bacia do Rio das Velhas possui 29.173 km² e abriga população estimada em 4.406.190 milhões de habitantes (IBGE, 2000), onde a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) ocupa 10% da área da bacia, mas possui mais de 70% de toda a sua população. 103 O resultado dessa concentração populacional, mas também industrial, são significativos problemas decorrentes da falta de saneamento ambiental, em que destacamos deficiências na coleta e no tratamento de esgotos domésticos. Em consequência disso, em 1992-1993 foram iniciados estudos para obter financiamento do Banco Mundial para um programa de saneamento, denominado Prosan. Na ocasião, o Prosan significou um empréstimo de US$ 300 milhões e teve o objetivo de melhorar a qualidade das águas do Rio das Velhas; para tanto, previa complementar a infraestrutura de coleta e implantar o tratamento de esgotos de suas sub-bacias densamente urbanizadas e industrializadas. Face a falta de capacidade instalada, o banco incluiu no projeto o componente de fortalecimento institucional de órgãos do Sistema de Gestão Ambiental e de Recursos Hídricos, além de ações de educação e mobilização social. Entre 1994 e 1998 desenvolveram-se propostas de fortalecimento das instituições, tendo como ponto focal a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Em abril de 1998, um conjunto de leis estruturou o Sistema Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais. Entre os projetos aprovados estava o de criação da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que redesenhava a Secretaria de Meio Ambiente do Estado; a criação do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) que sucedeu ao antigo Departamento de Recursos Hídricos (DRH) e sua migração da área de minas e energia para a área ambiental; a reestruturação do Conselho de Política Ambiental (Copam) e o fortalecimento institucional da (Feam), com alteração de suas competências. Foi também no âmbito do Prosan que se realizaram os estudos para viabilizar o Comitê da Bacia do Rio das Velhas, criado em 1998 com 28 membros. Naquela ocasião, verificou-se que a 104 Bacia do Rio das Velhas era a que melhor reunia as condições para um plano de recursos hídricos, por já dispor de um acervo técnico e da criação do comitê, ambos herdados em grande parte do Prosan, e de mobilização social e atores relevantes, derivados da alta concentração demográfica da RMBH. Foi nesse período também que se realizaram pela Feam os estudos para o enquadramento do Rio das Velhas, com audiências públicas e trabalhos técnicos de campo que resultaram em deliberação de enquadramento do Copam em 1997. Neste ano, como iniciativa da sociedade civil, surgiu o Projeto Manuelzão. Vinculado a Universidade Federal de Minas Gerais, este projeto se estendeu além da universidade, articulando-se com a sociedade civil organizada e com os poderes públicos estadual, municipal e federal. Esse protagonismo e liderança construídos na Bacia do Rio das Velhas repercutiram na forma de atuar do Comitê do Rio das Velhas (CBH Velhas), com forte inserção e reconhecimento social pela população da bacia. Em 2003, o Projeto Manuelzão lançou a Meta 2010, que consistiu em propiciar nadar, navegar e pescar no rio das Velhas até o ano 2010. Em 2004, a partir das metas estabelecidas pelo enquadramento realizado em 1997, o CBH Velhas aprovou o Plano de Recursos Hídricos da Bacia (PRH), em que também foi incorporada a Meta 2010. A finalidade desse processo de gestão foi concentrar esforços na revitalização desse rio em seu trecho mais poluído, junto a RMBH. O intenso trabalho de mobilização e de governança promovido pela sociedade civil influenciou fortemente para que o PRH fosse adotado como um dos projetos estruturadores do governo de Minas Gerais, envolvendo várias secretarias do estado no cumprimento dos objetivos previstos no Plano. Em 2011, o governo de C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Minas Gerais renovou seu compromisso de recuperação do Rio das Velhas até o ano de 2014. Com a aprovação da cobrança pelo uso da água em 2009 e a consequente implantação do braço operacional do CBH Velhas – a Agência de Bacia Peixe Vivo –, o comitê passou a ter autonomia para o exercício das suas atribuições e definiu que o início da aplicação desses recursos deverá se dar em sub-bacias localizadas no trecho prioritário da Meta 2010, junto a RMBH e naquelas que possuem subcomitês de bacia em funcionamento. Trata-se de continuar focado na região onde estão concentrados os grandes problemas da bacia e de fortalecer aqueles grupos que vinham construindo a gestão compartilhada junto ao CBH Velhas desde 2004. Perfil da estratégia & valores adicionais Elaborar uma proposta de enquadramento do Rio das Velhas e, posteriormente, elaborar o Plano de Recursos Hídricos com o claro estabelecimento de metas a serem alcançadas nos trechos mais poluídos. E, concomitantemente a isto, um intenso trabalho de governança protagonizado pela sociedade civil junto ao governo do estado de Minas Gerais e em articulação com as empresas de saneamento municipais e com a Copasa (empresa de saneamento estadual). Área de aplicação Bacia do Rio das Velhas. Informações adicionais O Projeto do Rio das Velhas se baseia num tripé que inclui obras (investimentos da Prosan e outros); mobilização social, ação política de articulação e comunicação (Projeto Manuelzão) e fortalecimento da articulação político-institucional, que dá suporte às ações e as integra num rumo convergente para que as metas sejam atingidas. Conclusões e recomendações gerais Entre as principais conclusões e recomendações, cabe destacar de pronto que a Gestão Integrada de Recursos Hídricos demanda abordagens complexas, inerentes às inúmeras tipologias de problemas a enfrentar. De fato, sabe-se que para problemas complexos sempre existem soluções simples e erradas. Assim, com os inúmeros conceitos apresentados sob uma sequência lógica, fica a impressão de que as metas (targets) definidas sobre o tema de uma boa governança para a GIRH, certamente são necessárias, todavia, insuficientes e um tanto pontuais. De fato, mesmo que se tenha uma legislação teoricamente correta e que ocorram avanços em órgãos gestores e manifestações da mídia em favor da sustentabilidade hídrica e ambiental, tais iniciativas podem não chegar a resultados concretos, caso: - não ocorram visões consistentes e estratégicas das variáveis que afetam o meio ambiente e os recursos hídricos, em diferentes escalas territoriais, desde a inserção macrorregional até chegar a áreas específicas, com suas diferentes tipologias de problemas a enfrentar, tendo essas dife- rentes escalas como insumos para o traçado de unidades territoriais estratégicas de gestão; - não haja consistência técnica e institucional no Contatos Comitê do Rio das Velhas (CBH Velhas). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a planejamento, com a ausência de subsídios ad- vindos das relações entre causas e efeitos em decisões coletivas – ou seja, não basta comu- nicar-se com representantes da sociedade civil para uma tomada consistente de decisões, como 105 também, não devem seguir em pautar os atuais processos de planejamento dominados por visões setoriais isoladas; - não seja promovido o devido apoio para capaci- voláteis, sem a devida sustentabilidade; - os arranjos institucionais e órgãos gestores sejam um fim em si mesmo, antes de serem estrutura- tação e fortalecimento de instâncias e atores lo- dos como respostas aos problemas que devem participativa, segundo o princípio da subsidiarie- - a gestão ambiental e dos recursos hídricos não siga cais, com vistas a uma gestão descentralizada e dade, em favor de uma governança continuada e sustentável, com base na inserção efetiva dos stakeholders no sistema de gestão; - não ocorram processos de aproximação e negocia- enfrentar; e com avanços conceituais e mecanismos como os instrumentos econômicos de gestão (IEGs), limitando-se à regulação tradicional, via C&C. prios, sem que haja uma estratégia interinstitucio- Em suma, recomenda-se que os conceitos e frentes de atuação indispensáveis a uma “Boa Governança para a GIRH” devem ser suficientemente abrangentes, de modo a abordar: nal pragmática, para uma divisão realista e adequada de responsabilidades executivas e financeiras; • a contextualização geral da temática dos recursos hídricos; - nas instâncias decisórias coletivas, não sejam • a gestão integrada dos recursos hídricos em conformidade com a diversidade territorial e diferentes naturezas de problemas, com demandas para relações consistentes entre causas e efeitos e as devidas integrações intersetoriais; e ção com os diversos setores usuários das águas, que continuam atuando sob seus interesses pró- identificados os atores estratégicos, fundamen- tais para que os problemas sejam efetivamente solucionados; - em relação a esses atores estratégicos, não sejam identificados, valorados e postos em pau- ta os benefícios e custos ambientais, sociais e econômico-financeiros, portanto, sem a devida articulação e coerência com as estruturas insti- 106 tucionais que, por consequência, passam a ser • as articulações interinstitucionais com os stakeholders e, em especial, com os setores usuá rios para conferir transversalidade, governança e sustentabilidade à política de recursos hídricos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 107 Água e segurança alimentar I - Conteúdo temático Cenário brasileiro Piscicultura Por meio da série histórica (1950-2008) dos dados de produção pesqueira e aquícola do Brasil, observa-se um crescimento da pesca extrativa de 1950 até 1985, quando foi registrada a maior produção, atingindo-se 956.684 t. Após este ano, houve queda gradativa, chegando-se em 1990 com 619.805 t e mantendo-se neste nível por quase 10 anos. A partir do ano 2000, a produção pesqueira voltou a crescer, passando de 666.846 t para 791.056 t em 2008. De acordo ainda com os registros da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção aquícola brasileira teve início em 1968, quando foram reportadas menos de 0,5 toneladas de pescado produzido. Desde então, a aquicultura nacional tem mostrado crescimento gradual, atingindo o pico de produção em 2003, com 273.268 t. Após pequena queda nos anos de 2004 e 2005, a produção retomou o crescimento, registrando os maiores resultados em 2007 e 2008, com 289.050 t e 365.367 t, respectivamente. figura 01. série temporal de produção pesqueira e aquícola do brasil 1950-2000 Produção Total 1.240.813t 1400.000 1200.000 Produção (t) 1000.000 Aquicultura 415.649t Pesca 827.164t 800.000 600.000 400.000 200.000 0 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1985 1990 1995 2000 2005 A produção de pescado no Brasil atingiu 1.156.423 organismos de água doce (24%), pela pesca ex- 7,3%. Em relação a 2007, quando foram produzi- No ano de 2009, a pesca marinha aumentou sua t em 2008 e 1.240.813 t em 2009, um aumento de das 1.071.394 t (fonte: Boletim Estatístico do IBAMA/MMA, 2007), houve um incremento de 7,9% e de 15,8%, quando esta produção é comparada com 2008 e 2009, respectivamente. Em 2008, a maior parte da produção foi proveniente da pesca extrativa marinha (46%), seguida pelo cultivo de 110 1980 trativa continental (23%) e pela maricultura (7%). participação para 47% do total produzido, assim como a aquicultura continental, que passou a responder por 27% da produção nacional. No entanto, lado, a pesca continental diminuiu sua participação para 19%, enquanto a maricultura permaneceu com 7% da produção total de pescado do país. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l A piscicultura no Nordeste semiárido brasileiro é um caso de sucesso. A região semiárida brasileira que tem componentes nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e no norte de Minas Gerais abrange uma área de 980.322,63 km² e, geralmente, é caracterizada por chuvas irregulares, com média anual de 700 mm, e evaporação anual em torno de 2.700 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a mm, frequentes episódios de um ou mais anos sem chuva, solos rasos e de baixa permeabilidade, subsolo granítico e muitas vezes de natureza salino-sódica, água subterrânea escassa e quase sempre salgada, vegetação natural de arbustos caducifólios, cactáceas e bromeliáceas, além de raras árvores que alcançam altura superior a 5 metros, geralmente dotadas de muitos espinhos. 111 Tabela 01. Produção (t) de pescado no Brasil por modalidade no período 2008-2009, por região e unidade da federação Regiões e unidades da Federação 2008 Total (t) Pesca (t) 2009 Agricultura (t) Total (t) Marinha Continental Marinha Continental Brasil 1.156,423 89.066 151.216 83.359 Norte 270.459 89.066 151.216 265 29.912 Acre Amapá Amazonas Pará Agriculura (t) Marinha Continental Marinha Continental 282.008 1.240.813 265.775 585.671 239.493 78.296 337.353 99.056 130.691 246 35.782 4.978 0 2.022 0 2.956 5.104 0 1.568 0 3.536 15.282 5.529 9.207 0 546 18.052 7.008 10.392 0 653 79.240 0 70.685 0 8.556 81.345 0 71.110 0 10.235 151.422 83.537 64.549 265 3.071 138.050 92.048 42.082 246 3.674 Rondônia 9.247 0 2.411 0 6.836 11.782 0 3.603 0 8.178 Roraima 3.402 0 2411 0 6836 11.782 0 3.603 0 8.178 Roraima 3.402 0 474 0 2.928 3.899 0 397 0 3503 Tocantins 6.887 0 1.868 0 5.019 7.543 0 1.539 0 6.004 Nordeste 374.815 182.444 68.085 67.740 56.546 415.723 215.226 69.995 62.859 67.643 Alagoas 16.373 9.128 454 207 6.584 17.479 8.994 416 192 7.876 Bahia 103.427 66.486 18.740 6.491 11.710 121.255 83.537 17.687 6.023 14.008 Ceará 83.153 20.502 13.112 22.109 27.429 88.694 23.816 11.549 20.516 32.812 Maranhão 63.032 40.708 20.885 271 1.168 71.182 41.380 28.152 252 1.398 Paraíba 11.488 6.637 2.348 1.575 929 13.373 8.987 1.814 1.461 1.111 Pernambuco 22.086 11.947 4.770 3.791 1.578 23.774 15.020 3.349 3.518 1.888 Piauí 10.456 2.751 3.006 1.767 2.933 9.950 3.019 1.783 1.640 3.508 Rio Grande do Norte 52.165 18.933 3.790 28.534 908 56.689 24.888 4.237 26.478 1.086 Sergipe 12.636 5.353 981 2.994 3.308 13.327 5.583 1.008 2.779 3.957 Sudeste 173.458 99.249 24.222 801 49.186 178.638 97.754 21.265 780 58.839 20.069 14.046 685 632 4.707 20.175 13.102 832 611 5.630 Espírito Santo Minas Gerais 17.719 0 9.414 0 8.305 18.809 0 8.875 0 9.934 Rio de Janeiro 56.643 51.432 1.196 26 3.989 62.952 57.090 1.064 26 4.771 São Paulo 79.028 33.771 12.927 143 32.186 76.702 27.561 10.495 143 38.503 273.909 15.9015 4.138 14.552 96.203 308.647 173.636 5.516 14.411 115.084 Paraná 30.049 2.116 979 1.141 25.813 39.896 6.094 1.823 1.101 30.879 Rio Grande do Sul 54.989 12.773 2.459 23 39.735 69.345 18.636 3.155 21 47.533 188.870 14.4126 700 13.389 30.656 199.406 148.907 539 13.288 36.672 63.783 0 13.622 0 50.161 72.030 0 12.025 0 60.005 1.215 0 358 0 858 1.308 0 282 0 1.026 Sul Santa Catarina Centro-Oeste Distrito Federal 112 Pesca (t) Goiás 14.716 0 1.371 0 13.345 17.296 0 1.332 0 15.964 Mato Grosso 32.072 0 6566 0 25.505 36.071 0 5.560 0 30.511 Mato Grosso do Sul 15.779 0 5.327 0 10.453 17.355 0 4.851 0 12.504 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Este conjunto de características faz que os dois grandes rios perenes que correm de forma periférica à região (São Francisco e Parnaíba) só o sejam por terem nascentes fora dela, em área quase comum, onde nasce também o Rio Tocantins (que não corre pelo Nordeste semiárido). Figura 04. Rio intermitente, quando o nível da água diminui nos períodos de estiagem Figura 02. Vegetação típica do Nordeste semiárido Brasileiro, espécies do bioma Caatinga Os outros rios da região, regra geral, são de fluxo periódico, dependentes do regime pluviométrico, isto é: se não chove, não tem rio corrente. Os períodos de seca têm seu primeiro registro histórico em documentos portugueses em 1552, três anos após a chegada do primeiro governador-geral, Tomé de Souza. Segundo menção do Padre Antonio Pires: “Em Pernambuco, havia quatro a cinco anos que não chovia”. A tragédia humana e ecológica das secas tem numa memória do Padre José Joaquim Pereira, citada por Felipe e Teófilo Guerra a seguinte descrição sobre o Rio Grande do Norte, no ano de 1792: “Famílias inteiras a pé, em busca dos agrestes do beira-mar distante 50 léguas, morrendo de fome pela estrada, enterrando-se pelos matos com filhinhos às costas; isto por decursos de meses. Os que ficaram e não se retiraram, entraram a descobrir raízes e frutas de plantas agrestes para o seu sustento; outros usaram couros crus, torreados ao fogo, para sustento”. Do período de 1825 até 1983, o total de mortos em decorrência das secas no Nordeste brasileiro deve chegar aos 3 milhões de pessoas. Figura 03. Solo e vegetação em períodos de seca 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Além da brutalidade do fenômeno natural, os colonizadores ibéricos trouxeram consigo e implantaram na região o hábito das queimadas, coisa que ainda hoje utilizam na própria Espanha e em Portugal. Esta é certamente uma das causas que ainda hoje provoca o fenômeno da desertificação. 113 Ações mais efetivas do governo brasileiro só começaram a tomar forma no início do século XX, com a criação, em 1909, da Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS), mais tarde IFOCS e atualmente Dnocs, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Figura 05. Infrainstrutura Figura 06. Sistema para barragens acumularem água nos períodos de chuva e regulam o fluxo dos rios a jusante nas épocas secas A política da açudagem pública e em cooperação então iniciada e ainda hoje em curso, embora não tenha resolvido definitivamente o problema, incontestavelmente foi responsável pela sustentação de uma das regiões semiáridas mais povoadas do mundo. As barragens acumulam água nos períodos de chuva e regulam o fluxo dos rios a jusante nas épocas secas. Estão em pleno andamento projetos como a integração das bacias do semiárido com a do Rio São Francisco, que garantirá a sustentabilidade do que já foi construído, em termos de usos múltiplos da água na região. 114 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Figura 07. Mapa temático com a área de alcance dos projetos como a integração das bacias do semiárido com a do Rio São Francisco No ano de 1932, como uma complementação das ações de acumulação de água, foi criada a Comissão Técnica de Piscicultura. Rodolpho von Lhering foi convocado, aceitou o convite e iníciou os trabalhos de identificação da ictiofauna local. Técnicas importantes, como a hipofisação, para induzir a desova e a criação de peixes reofílicos em cativeiro, o povoamento das barragens recém-construídas, foram então desenvolvidas e postas em prática. Já nos anos 1940 do século passado foi iniciado, com sucesso, o trabalho de introdução de novas espécies, preferen- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a cialmente da Bacia Amazônica. Neste mesmo perío- do começaram a ser criadas, junto às barragens, as estações de piscicultura, que formaram um verdadei- ro banco genético, produtor de sementes para povoamento e repovoamento dos lagos artificiais, possibilitando assim a preservação de todas as espécies regionais e das espécies introduzidas. Marco importante dessas políticas foi a introdução da tilápia (Oreochromis niloticus) no início dos anos 1970, oriunda da Costa do Marfim. 115 Começaram aí as primeiras tentativas de se implantar o cultivo comercial de peixes na região. Já estando instalado o Centro de Pesquisas Ictiológicas, em Pentecoste, Ceará, alguns acordos de cooperação técnica com instituições nacionais e internacionais favoreceram o desenvolvimento de muitas pesquisas, que hoje norteiam a atividade aquícola profissionalizada. Apresentamos a seguir um quadro-resumo da pro- Os frequentes cursos de capacitação ministrados neste Centro de Pesquisas e a reintrodução de uma cepa pura de tilápia nilótica oriunda da Tailândia, no ano de 2002, deram o empurrão definitivo para uma atividade econômica que se encontra hoje em plena expansão. nacional. A segunda e terceira maiores produtoras Intervenções foram feitas no próprio mercado consumidor, antes habituado apenas ao consumo de espécies marinhas, ao se propor a comercialização de tilápias vivas. Esta experiência foi altamente positiva e acabou por tornar o consumo deste peixe um hábito nas grandes cidades da região, o que serviu de lastro para a implantação de pisciculturas comerciais economicamente viáveis e muito interessantes como agronegócio. Para se ter uma ideia dessa atividade como negócio, pode-se produzir um quilo de tilápias ao custo de R$ 3,00; enquanto o preço médio de venda, na propriedade, gira em torno dos R$ 4,50, vivas e sem qualquer beneficiamento. dução de pesca e aquicultura em todo o Brasil, que naturalmente possui muita água em algumas regiões, mostrando a presença significativa da região Nordeste, antes tão seca e carente. Em 2008, a Região Nordeste foi a mais produtiva, com 374.815 t, respondendo por 32% da produção foram as Regiões Sul e Norte, com 273.909 t (24%) e 270.459 (23%), respectivamente. A Região Su- deste produziu 173.458 t (15%), enquanto que a Região Centro-Oeste, 63.783 t (6%). Já em 2009, a produção regional de pescado praticamente repetiu o mesmo padrão do ano anterior, com a Re- gião Nordeste contribuindo com 34% (415.723 t) da produção total nacional, o que representou um in- cremento de 10,9% em relação a 2008. Na Região Sul o aumento foi da ordem de 12,7%, atingindo 308.647 t (25% do total). Na Região Sudeste houve um pequeno aumento de 3% entre 2008 e 2009, quando foram produzidas 178.638 t (14%). A Região Centro-Oeste apresentou um incremento de produção de 12,9%, atingindo 72.030 t em 2009. Por outro lado, a Região Norte mostrou um decrés- cimo de 1,7% na produção, passando a contribuir com 21% do total de pescados produzidos no país (265.775 t) (Figura 2). Figura 08. Produção (t) nacional de pescado em 2008 e 2009, discriminada por região 116 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l A produção aquícola nacional cresceu entre 2007 e 2009 43,8%, sendo muito superior quando comparada com outras atividades agropecuárias. 50% 43,8% 40% 30% 20% 12,9% 9,2% 10% -8,6% 0% -10 Bovinos Suínos Aves Aquicultura Figura 09. Crescimento relativo, entre os anos de 2007 e 2009, da produção alimentar de origem animal Fonte de dados da pecuária: IBGE/Sidra produção nacional de pescados por região em 2009 Figura 10. Participação na produção nacional de pescado distribuído por região, tendo como destaque o Nordeste, com uma participação de 34% da produção 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 117 Há ainda um grande esforço que vem sendo feito para que se coloque à disposição do mercado interno brasileiro, tão ampliado pelo Programa Bolsa-Família, outras espécies de peixes, como a sardinha, o pirarucu, entre outros. Agricultura O setor agrícola brasileiro é o principal usuário consuntivo dos recursos hídricos, e é na área física abrangida pelo setor que pode ocorrer a maioria das intervenções para a melhoria da utilização deste recurso fundamental aos processos produtivos. Assim, a integração entre as políticas hídrica, ambiental e agrícola é fundamental para que o país possa desenvolver-se sustentavelmente. Por ter sido instituída depois das Políticas Agrícola (Lei n° 8.171, de 17 de janeiro de 1991) e de Irrigação (Lei n° 6.662, de 25 de junho de 1979), a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997) não é abordada, especificamente, em nenhuma das políticas deste setor usuário. Entretanto, em ambos os casos, são feitas referências explícitas à necessidade de preservação dos recursos naturais. A Política Agrícola, conforme artigo 3° da Lei nº 8.171/1991 tem entre seus objetivos: “Proteger o meio ambiente, garantir seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos naturais”. Entre os instrumentos desta política (artigo 4°), dois têm referência direta ao que trata a Política Nacional de Recursos Hídricos: (I) proteção do meio ambiente, conservação e recuperação dos recursos naturais (art. 19 a 26); (II) irrigação e drenagem (arts. 84 e 85). Analisando esta lei, observa-se claramente a existência de dispositivos legais que permitem a integração entre as Políticas Agrícola e de Recursos Hídricos, porém o que se observa na prática é uma clara dissociação entre ambas, principalmente em seus planejamentos territoriais. A Política Nacional de Irrigação, já no primeiro artigo da Lei n° 6.662/1979, faz referência direta à 118 necessidade de uso racional da água e dos solos como um de seus objetivos. Em seu artigo 2°, essa lei define que: “O aproveitamento de águas e solos, para fins de irrigação, rege-se pelas disposições desta lei e, no que couber, pela legislação sobre água”. Nessa lei, prevê-se também o planejamento da utilização dos recursos hídricos e de solos de unidade hidrográfica mediante integração com outros planos setoriais, visando ao seu múltiplo aproveitamento e à sua adequada distribuição. Entre os temas prioritários de uma agenda mundial para este século, devem necessariamente constar o uso sustentável da água, o incremento da produção de alimentos e o desenvolvimento de alternativas energéticas. E a posição do Brasil em relação a cada um deles é altamente positiva. O país dispõe de abundantes reservas hídricas — 12% da água doce superficial do planeta. Esse quadro difere radicalmente daquele encontrado, por exemplo, no Oriente Médio e em diversas áreasdo continente africano, onde a disputa pela água prenuncia futuros conflitos. No campo da produção de alimentos, o país apresenta significativo potencial para o uso intensivo e sustentável do solo. Exemplo disso é a difusão de tecnologias de integração entre lavoura e pecuária, por meio do uso alternado do solo para as duas atividades no mesmo ano agrícola. O Brasil pode e deve continuar investindo no desenvolvimento e utilização de tecnologias intensivas, no setor agropecuário, o que inibirá a expansão deletéria dessas atividades sobre o Cerrado e a Floresta Amazônica. A esses elementos, soma-se o fato de o país viver um momento único de aperfeiçoamento de seu aparato político-institucional, o que se manifesta na consolidação e ampliação dos mecanismos de representação e participação democrática e na elaboração de políticas públicas mais efetivas. Assim, a vantagem natural representada pelas reservas hídricas e o sucesso na produção de alimentos e do etanol não se constituem aspectos positivos isolados, pois ocorrem num ambiente de normalidade democrática, retomada do C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l crescimento econômico, embora ainda incipiente, a manutenção do controle inflacionário e êxito significativo nos programas de distribuição de renda. Retirada de água, lançamento de efluentes, altera- Além disso, o assoreamento e a contaminação dos rios com insumos agrícolas, esgotos sem tratamento e dejetos industriais, o desmatamento de matas ciliares e o enorme desperdício por parte de empresas fornecedoras e usuários degradam e consomem em ritmo acelerado nossas reservas hídricas. Nesse caso, a solução é o fortalecimento da educação ambiental e o efetivo funcionamento dos comitês de gestão das bacias hidrográficas, previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos. cialmente geradores de conflitos, ressaltando que Por sua vez, a produção de alimentos requer linhas de crédito específicas, com taxas de juros e prazos mais estimulantes. Será igualmente bem-vinda a desoneração tributária da cesta básica, como parte da reforma tributária, o que propiciaria redução drástica dos preços dos produtos de primeira necessidade e a ampliação de seu consumo pelos brasileiros. Uma eventual vitória na luta contra o protecionismo dos países ricos aos seus produtos agropecuários também concorrerá para novos recordes do Brasil na produção e comercialização de grãos e carnes. 1. Região Hidrográfica Amazônica ção do regime fluviométrico são tipos de usos que podem ser considerados concorrentes e potenesses conflitos podem ocorrer entre os setores e internamente também (intrassetoriais). Apoiando-se nessas considerações, a seguir é feita uma sucinta apresentação dos conflitos pelo uso da água nas regiões hidrográficas brasileiras, destacando-se algumas dessas regiões. Cabe ressaltar que estudos mais detalhados se encontram nos respectivos Cadernos Regionais. Nesta região hidrográfica, prevalece a ideia da abundância dos recursos hídricos, o que justifica o incipiente estágio de implementação dos instrumentos da política de recursos hídricos. Os sistemas estaduais de meio ambiente e recursos hídricos e seus respectivos conselhos ainda funcionam de forma precária, em função das mais diversas razões. Grande parte dos conselhos exerce papel de assessoria de governo e não de órgão colegiado independente, faltando-lhes capacidade para intermediar e arbitrar disputas entre os setores usuários de recursos ambientais, bem como maior Conflitos pelo uso da água Por meio de estudos realizados, é possível apresentar de forma genérica os principais conflitos pelo uso da água, sejam eles atuais ou potenciais, a serem enfrentados pelo sistema de gestão competente. A resolução ou a mitigação desses conflitos faz parte dos desafios enfrentados pelos integrantes do Singreh. Cabe destacar a existência de usos concorrentes, ou seja, usos que concorrem entre si pelo uso da água em determinada bacia hidrográfica, podendo haver uma convivência harmoniosa ou não. Esses usos acontecem em todo o país, não havendo a hegemonia de um único tipo de uso. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a representação e participação da sociedade e dos municípios nas tomadas de decisões. Em razão da grande disponibilidade hídrica, não se espera para o horizonte deste plano a ocorrência de significativos conflitos intersetoriais pelo uso da água em termos quantitativos. Contudo, as defi- ciências na rede de abastecimento de água e no tratamento de esgotos domésticos, especialmente nas zonas urbanas com populações maiores que 500 mil habitantes, já se caracterizam como conflitos intrassetoriais. Como se vê, a disposição final dos esgotos, geralmente sem tratamento, causa degradação qualitativa das águas que poderiam ser usadas para o abastecimento público. 119 Ainda merece destaque, como potencialmente conflituosa na região hidrográfica, apesar de ainda sem uma avaliação de maior detalhe em relação à inserção do tema recursos hídricos, a questão fundiária, em que ocorre a exploração madeireira, a pecuária extensiva e a atividade agrícola baseada na monocultura, em grandes propriedades, visando à produção de grãos para exportação, todas como questões onde há potencial de impactar a demanda por água a longo prazo. 2. Região Hidrográfica Tocantins-Araguaia Os conflitos pelo uso da água são pequenos e pontuais, o que dificulta sua apresentação na escala de um plano nacional. Mesmo as questões referentes à alteração da qualidade das águas, que podem ter significação em determinada circunstância e local, não se mostram permanentes durante o tempo, sendo pouco conhecidas. Têm grande destaque no uso da água a irrigação, a geração de energia elétrica, o saneamento e os transportes. Os diferentes impactos provocados pelos empreen dimentos vinculados aos usos da água, em especial hidrelétricas e hidrovias, podem gerar conflitos difusos que atingem pequenas comunidades sem serem evidenciados em escala significativa. As monoculturas e a pecuária são atividades que tradicionalmente vinculam-se a êxodo rural. São atividades econômicas potencializadoras da urbanização. Este arranjo cria um cenário de aumento de demanda hídrica, como também da consolidação de núcleos urbanos produtores de maiores cargas de esgotos domésticos, principal fonte de contaminação das águas superficiais na região. 3. Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental Nos centros urbanos desta região, sobretudo em São Luís, o lançamento de esgotos domésticos, indústria e mineração (lançamento de efluentes industriais), agricultura (agrotóxicos), aquicultura 120 (efluentes da carcinicultura) afetam, principalmente, o abastecimento público, a pequena agricultura, a pequena criação de animais e a pesca. Os conflitos identificados na região litorânea envolvem pescadores artesanais e industriais, mineradoras (areia, argila e pedra), populações ribeirinhas, garimpo clandestino em unidades de conservação. Esses conflitos estão associados ainda a questões relacionadas à posse da terra, entre especuladores imobiliários, posseiros e grileiros. 4. Região Hidrográfica Parnaíba A baixa densidade demográfica aliada à disponibilidade hídrica da Região Hidrográfica do Parnaíba não favorecem a instalação de conflitos no tocante à quantidade de água para atender às demandas. Apesar disso, há problemas relacionados com a qualidade da água por causa do lançamento de esgotos nos centros urbanos, principalmente nas épocas de estiagem. Esse problema é identificado na Bacia do Rio Gurgueia, sendo também identificado nos rios próximos a Teresina e Crateús. 5. Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental Embora reconhecidamente esta região hidrográfica seja a que apresenta maiores carências de disponibilidade de água em quantidade, os conflitos detectados têm, na maioria das vezes, sua origem na agricultura irrigada, que afeta diretamente o abastecimento público do ponto de vista quantitativo e indiretamente a qualidade, visto que os cursos d’água não têm vazão suficiente para diluir os efluentes domésticos, industriais e agrícolas, comprometendo assim o abastecimento público. Da mesma forma, há o conflito no setor agropecuário, visto que os efluentes gerados pela agricultura afetam a qualidade da água, prejudicando a criação de animais. Destaca-se como uso concorrente intersetorial o lançamento de efluentes domésticos, que comprometem a qualidade da água para o turismo e o lazer. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Nesse contexto de escassez, observa-se o acirramento de conflitos entre os setores demandantes de água: urbano (residencial), industrial e agropecuário (principalmente irrigação). A concentração humana em determinadas partes da região, especialmente nas regiões metropolitanas, a expansão industrial e o desenvolvimento de atividades agrícolas em larga escala potencializam os conflitos. 6. Região Hidrográfica São Francisco Nesta região hidrográfica, os usos existentes afetam a quantidade e a qualidade da água com intensidades similares. Os usos que afetam o aspecto quantitativo têm como geradores as retiradas de água para o abastecimento público e, principalmente, para a agricultura irrigada e a indústria, que acabam por afetar esses mesmos usos, configurando disputas intra e intersetoriais. Em relação à irrigação, ficam evidenciados esses conflitos nos períodos críticos, destacando-se as Bacias dos Rios Verde Grande e Mosquito, ao norte de Minas Gerais. Ainda em relação à irrigação, há uma demanda excessiva de água para irrigação no médio e no submédio São Francisco, cujos volumes, em algunslocais, se situam muito acima das disponibilidades, causando pequenos conflitos. Outro conflito evidenciado diz respeito ao comprometimento da pesca no baixo São Francisco, causado pela construção das represas ao longo deste rio. 7. Região Hidrográfica Atlântico Leste No Atlântico Leste, dentre os usos da água destacam-se a agricultura irrigada, que afeta, quantitativamente, o abastecimento público, a indústria, o turismo e o lazer. Em especial na zona costeira, o lançamento de esgotos domésticos nos corpos d’água restringe os usos para abastecimento, comprometendo também a balneabilidade das praias, criando conflitos com as atividades turísticas e econômicas (comércio local). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 8. Região Hidrográfica Atlântico Sudeste Não diferentemente de outras regiões, o lançamento de esgotos domésticos restringe usos para abastecimento, sobretudo na zona costeira, comprometendo a balneabilidade das praias e, consequentemente, o turismo. O grande destaque nessa região fica por conta do Rio Paraíba do Sul, que tem a qualidade de sua água comprometida em determinados trechos, apresentando reduzida capacidade de diluição de efluentes. Essa situação agrava-se nos períodos de estiagem em razão da grande vazão de água captada do rio (aproximadamente 60% da disponibilidade hídrica no trecho é captada) para a transposição das águas efetuada pelo Sistema Guandu. Também há conflitos pelo uso da água relacionados à sua baixa disponibilidade na região do litoral de São Paulo, o que, em parte, justifica a opção pela transposição de água do alto Tietê para atendimento da demanda e controle da intrusão salina. 9. Região Hidrográfica Paraná Os conflitos pelo uso da água na Região Hidrográfica do Paraná envolvem, principalmente, problemas relacionados à poluição, em especial nas maiores aglomerações urbanas. Nas Bacias do Rio do Grande e Paranaíba, em determinados locais há um consumo excessivo de água para irrigação, causando algumas vezes conflitos entre os irrigantes. Como conflitos envolvendo múltiplos usos, tem-se o caso de restrições operacionais para geração de energia elétrica e transporte hidroviário na hidrovia Tietê–Paraná, conflito que ficou mais evidente no ano de 2001. Há ainda a questão da suinocultura intensiva, com geração de expressiva carga poluidora, sobretudo na Bacia do Rio Iguaçu. Cabe destacar que cerca de 50% da população da região hidrográfica vive em regiões metropolitanas, sendo uma área territorial pouco expressiva. O exemplo mais emblemático dessa situação é a Região Metropolitana de São Paulo, que com poucomais de 8.000 km2 apresentava, no ano 121 2000, mais de 17.800.000 habitantes, obtendo assim uma disponibilidade hídrica per capita baixíssima e elevadas cargas poluidoras de origens diversas (esgotos domésticos; efluentes industriais e de veículos; cargas difusas e outras). 10. Região Hidrográfica Atlântico Sul abastecimentopúblico nos períodos secos nas regiõesdos Rios Quaraí, Santa Maria e Ibicuí. Nas Bacias Hidrográficas dos Rios Peperi-Guaçu, Antas, Chapecó, Irani, Jacutinga, Peixe e Canoas há casos de conflitos de longa data que envolvem abastecimento público e usos pecuários (suinocultura/avicultura e seus efluentes), efluentes urbanos (esgotos) e industriais (celulose). De forma resumida, têm-se na Região Hidrográfica do Atlântico Sul conflitos que podem ser enquadrados em duas tipologias principais: 1) quantitativos, correntes da degradação por determinado uso que Nesta região, não foi evidenciada a existência de conflitos, porém há fortes indicativos de potenciais conflitos: São exemplos do primeiro tipo os conflitos in- a) uso da água no planalto versus uso da água na planície; decorrentes de demandas que em alguns pontos superam as disponibilidades; 2) qualitativos, deacaba por inviabilizar outro. tersetoriais observados entre irrigantes em que Ilustram este exemplo as derivações irregulares b) uso da água na irrigação comprometendo o abastecimento público e o uso industrial (já evidenciado nas sub-bacias do alto São Lourenço, Itiquira e Miranda, no Município de Miranda); e a interromper o fluxo para jusante e impedindo a c) navegação e turismo, sendo a poluição o principal problema. são praticadas todas as formas de irrigação, so- bretudo as com alto consumo e baixa eficiência. realizadas por determinados irrigantes, chegando captação de outros usuários. Na Região Hidro- gráfica do Atlântico Sul, essa situação vem sendo observada ao longo das últimas décadas, notada- mente naquelas sub-bacias com vocação agrícola mais destacada. Quanto aos conflitos de natureza qualitativa, tem-se talvez o exemplo mais emblemático na Bacia do Gravataí, onde a combinação de lança- mento de esgotos domésticos, resíduos sólidos, efluentes industriais e da irrigação comprometem a tal ponto a qualidade das águas no curso inferior que o abastecimento de água para Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viando requer a capta- ção de água bruta a cerca de 15 km de distância, no delta do Guaíba. 11. Região Hidrográfica Uruguai Nesta região, constatam-se conflitos entre os usuários de água para irrigação (arroz) e o 122 12. Região Hidrográfica Paraguai Em um olhar geral sobre as regiões hidrográficas, percebe-se que é recorrente o comprometimento da qualidade da água para abastecimento público em decorrência do lançamento de efluentes, sobretudo esgotos domésticos. Esse fato demonstra que o setor de saneamento é aquele que se destaca como principal agente e vítima das alterações na qualidade da água. Diante da importância desse setor, fica explicitada uma demanda nacional que se refere ao saneamento, envolvendo abastecimento de água, coleta e tratamento dos efluentes. O comprometimento da qualidade da água também está associado ao lançamento de efluentes oriundos da indústria, que mesmo sendo pontual apresenta maior diversidade na sua composição. No tocante aos usos concorrentes intersetoriais, destacam-se duas interferências principais. A primeira refere-se às interferências da geração de C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l energia elétrica com os setores de navegação, pesca, turismo e lazer. No tocante à navegação fluvial, os empreendimentos dos Rios Tietê e Paraná deverão se compatibilizar, visando a atingir de forma pacífica os múltiplos usos preconizados na Lei no 9.433/1997. A segunda interferência diz respeito ao elevado consumo de água do setor de irrigação, que interfere na disponibilidade para outros setores (abas- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a tecimento público, indústria, geração de energia, turismo e lazer) e para o próprio setor de irrigação. Em síntese, esses casos evidenciam, de modo genérico, a necessidade de estruturação e/ou aparelhamento institucional dos sistemas de gerenciamento de recursos hídricos e de meio ambiente, a fim de que possam ser aplicados instrumentos preventivos e corretivos capazes de equacionar e compatibilizar as demandas dos diversos usuários da água. 123 124 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Instituições parceiras: II – Soluções elencadas As soluções identificadas por meio das respostas do questionário serão apresentadas em seguida, de forma a identificar inicialmente a instituição que executou e/ou desenvolveu a ação. Logo após a situação anterior a implementação do projeto, a metodologia com seus processos de inovação, nú- mero de pessoas beneficiadas a partir da iniciativa, atividades de gestão integrada dos recursos hídri- cos. Além das atividades de controle e/ou recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos, promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de ali- mento, corresponde e consequentemente as lições aprendidas a partir de cada experiência. Buscou-se manter a integridade das respostas, bem como as redações foram mantidas, de forma a não alterar ou prejudicar a honestidade das informações apresentadas por suas entidades executoras e/ou gestoras. As soluções brasileiras foram identificadas e divi- Universidade de Auburn (Alabama/EUA), Fundo Cristão para Crianças, prefeituras municipais, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará (IFCE), Cáritas Diocesana, Grupo Assistencial Paulo e Estevão, Fundação Konrad Adenauer, Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Projeto Mata Branca (Conpam/Banco Mundial), Agência para o Desenvolvimento Local Coproduzido (Adelco), prefeituras municipais, lideranças e comunidades rurais envolvidas. Área de alcance: Bacias Hidrográficas do Estado do Ceará. Situação: Implementado Titulo do projeto: Vigilantes da Água Diretivas agroambientais: Portaria MS n0 518/2004, Resoluções Conama nº 274 e Resoluções Conama nº 357. Resultados alcançados: didas em oito eixos de desenvolvimento e aborda- • Redução de até 80% dos índices de contaminação em comunidades atendidas pelo projeto. 2) Agroecologia; 3) Desenvolvimento sustentável; • Construção de cisterna de 200 mil litros (Escola de Sta. Bárbara) e adutora em Neblina. Terra e da Água; 6) Agricultura Urbana; 7) Fertirrigação agroecológica; e 8) Agronegócio. • Eventos: Dia Nacional da Limpeza de Recursos Hídricos, Semana dos Vigilantes da Água, Cursos de Formação de Educadores Ambientais. Usos múltiplos da água • Recomposição de mata ciliar – Açude de Muquém (mar./2009) e Várzea do Boi (jun./2011). gens, nomeadamente: 1) Usos múltiplos da água; 4) Agricultura familiar; 5) Manejo sustentável da Ficha técnica: Embrapa Agroindústria Tropical Fortaleza/CE Instituição executora: Embrapa Agroindústria Tropical 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a • Publicações: 50 artigos em eventos científicos, 1 capítulo de livro (RIMISP/IDRC), Dissertação de mestrado Caracterização Geoambiental de Microbacias (UECE), Manuais de monitoramento bacteriológico, físico-químico e protocolo de qualidade (Série Embrapa). 125 • Reportagens: Dia de Campo na TV/Canal Rural, Jornal do 10, Nordeste Rural, Bom Dia Ceará, Jornal Nacional, Prosa Rural, TV Assembleia. • Contribuição para a formação acadêmica de seis estagiários de nível superior. • Reconhecimento: Balanço Social Embrapa 2007, Menção Especial no concurso “Experiências Exitosas de Políticas de Gestión Ambiental Mu- nicipal para Ciudades Pequeñas y Medianas de América Latina y el Caribe – gestión integrada, participativa y equitativa del agua.” (RIMISP/ existentes nas comunidades onde estes atuam. São empregados princípios de educação ambiental e técnicas didáticas de análise da qualidade da água, por meio de oficinas de capacitação que per- mitem a obtenção de informações sobre possíveis problemas de poluição e degradação das fontes de água que abastecem as comunidades. Para a aná- lise da água, eles recebem kits de monitoramento certificados pelo programa GWW, em que são avaliados coliformes fecais na água de consumo humano. Os Vigilantes da Água organizam encontros nas comunidades, utilizam os resultados das IDRC), Participação na Mostra de Tecnologias análises para mobilizar as famílias para os proble- entre 19 dos mais de 400 inscrições no concur- e o bem-estar das pessoas, bem como discutir so- América Latina e Caribe (Cepal/Fundação Kelo- água. Baixo nível de escolaridade do público-alvo Azul – 2010 (Jornal Estado de Minas). O monitoramento participativo comunitário da qua- Sustentáveis 2008 (Instituto Ethos), classificado mas diagnosticados, seus impactos sobre a saúde so “Experiências em Inovação Social” – ciclo na luções visando a recuperar e proteger as fontes de gg, ciclo 2008-2009), finalista do 9º Prêmio Ouro foi uma das dificuldades encontradas. O projeto surgiu devido à deficiência e/ou falta de lidade bacteriológica da água foi essencial para a sumo humano e outros usos prioritários no semiári- de articulação, conhecimento e proatividade dos monitoramento da qualidade da água para o con- do cearense, de acordo com as necessidades dos usos múltiplos da água, sendo possível beneficiar cerca de 800 pessoas com as atividades. A meto- dologia do projeto foi baseada no Projeto Global Water Watch (GWW), que surgiu na Universidade de Auburn (Alabama/EUA), e se espalhou por di- versos países, como Filipinas, Equador, México e Indonésia. No Brasil, teve início em 2000, como “Vigilantes da Água”, no Vale do Jequitinhonha, região semiárida de Minas Gerais, com o Fundo Cristão para Crianças. No Ceará, iníciou em 2006, com a Embrapa Agroindústria Tropical. O objetivo é mudança de uma cultura passiva para a postura usuários, contribuindo para a melhoria dos indicadores de saúde e ambientais nas comunidades atendidas. O projeto requer, para sua continuação, envolvimento do setor público, em uma política de adoção da metodologia e de seus conceitos. As atividades de controle e/ou recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecos- sistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento corresponde à recomposição de matas ciliares e redução dos problemas de contaminação bacteriológica na água para consumo humano. monitorar a qualidade de fontes de água utilizadas para consumo humano, baseado na capacitação e formação de agentes ambientais pertencentes à própria comunidade (Vigilantes da Água), visando à redução dos níveis de contaminação por Esche- Ficha técnica: richia coli e proteção das fontes de abastecimento. Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas consiste no monitoramento das fontes de água Brasília/DF. O trabalho dos grupos de Vigilantes da Água 126 Agroecologia Empresas. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Instituição executora: Sebrae. Instituições parceiras: FBB – Fundação Banco do Brasil, Ministérios (MI, MDS), ABC, outros. Área de alcance: Agricultores, assentados, quilombolas, em grau elevado de pobreza e subsistência, em 23 estados brasileiros desde 2005. A projeção é atingir todos os territórios brasileiros nos próximos quatro anos e incluir a extensão internacional no Senegal. Situação: Em andamento. Titulo do projeto: Pais – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável Diretivas agroambientais: O projeto é embasado na produção consciente, agroecológica, em um sistema integrado e autossustentável, visando ao mínimo impacto ambiental possível, integrando o homem ao meio ambiente. Resultados alcançados: • Geração de renda mensal em média de 2 salários mínimos por família. • Resgate da autoestima. • Inclusão social e produtiva. • Melhora na qualidade de vida e na alimentação. • Recuperação de matas ciliares. O projeto surgiu devido ao êxodo rural, pouca produtividade, rentabilidade baixa, miséria, baixa autoestima, desânimo e desagregação familiar. Foi possível beneficiar com o projeto cerca de 50 mil pessoas, por meio da implantação de aproximadamente 10 mil unidades com perspectivas de implementar mais 5 mil unidades para beneficiar um maior número de pessoas por todo o país. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a A metodologia do projeto foi baseada na integração de técnicas simples, e já conhecida por mui- tas comunidades rurais, o modelo busca promover vários eixos, entre eles: a segurança alimentar e a economia solidária a partir do combate a fome e a pobreza extrema, possibilitando a inclusão social; a inclusão paulatinamente de novos hábitos e costumes saudáveis na população de baixa renda pelo consumo de hortaliças e produtos vegetais sem agrotóxicos, melhorando a saúde das famílias beneficiadas; a redução da dependência de insumos vindos de fora da propriedade, como consequência a redução dos custos de produção e independência dos produtores; a diversificação, a produção e oferta de produtos saudáveis naquela região; utilizar com eficiência e racionalização os recursos hídricos; alcançar a sustentabilidade (econômica, financeira e ambiental) em pequenas propriedades rurais; produzir em harmonia com os recursos naturais; melhorar a qualidade de vida da família beneficiada, além do resgate da autoestima; fixar a família no campo, evitando e diminuindo as taxas de êxodo rural, colaborando para diminuição da favelização dos grandes centros urbanos; melhorar a renda bruta da família beneficiada, com a comercialização do excedente da produção; capa- citar e orientar os beneficiados em ações conjuntas, fomentando o cooperativismo e associativismo, no planejamento da produção e comercialização de seus produtos; fomentar a formalização das ativi- dades, inserindo este grupo de brasileiros por meio dos programas de empreendedorismo; estabelecer parcerias e ações conjuntas para atender a legislação de compras públicas e governamentais (PAA – Programa Aquisição Alimentar e Programa Nacional de Alimentação Escolar – Pnae, que estabelecem a compra mínima de 30% da agricultura familiar, possibilitando importante canal de comercialização a essas unidades, gerando, assim, a sustentabilidade econômica ao Sistema Pais. O Sistema Pais é uma tecnologia social de produção irrigada voltada à agropecuária de pequeno 127 porte, composta por um galinheiro central e canteiros em forma circular, piquetes para pastejo das aves, quintal com plantas, frutíferas, nativas ou ornamentais e viveiro de mudas, conduzidos de acordo com os princípios da agricultura orgânica. Para o uso eficiente dos recursos hídricos, utiliza-se a irrigação por gotejamento. Os agricultores e suas famílias têm a oportunidade de conhecer uma produção integrada (que pode ser de olerícolas – legumes e verduras, flores ornamentais ou ervas medicinais, com a produção de carne de aves, ovos e frutas). Além disso, é uma produção otimizada com mais eficiência de espaço, insumos e trabalho, o que melhora a qualidade da alimentação e oferece uma complementação de renda para a família, com a venda do excedente. Nos cursos de capacitação em agroecologia são apresentadas práticas que fomentam o uso correto e eficiente da água e do solo, que antes não eram disseminados aos pequenos agricultores. Esta conscientização e a quebra de paradigmas fazem uma verdadeira revolução na área onde o projeto é implantado, gerando uma onda de consumo, produção de alimentos saudáveis e o respeito à natureza. Para contribuir com o sucesso do projeto, é levado o conceito de agroecologia e agricultura orgânica às pequenas propriedades, com capacitações e acompanhamento, fomentando o empreendedorismo e um processo sustentável (economicamente, financeiramente e ambientalmente). Entre as lições aprendidas com o projeto, um deles foi o sucesso obtido em áreas antes consideradas problemáticas e dependentes de programas sociais assistencialistas, semeando, assim, novas opções de renda e vida para essas comunidades. As atividades de controle e/ou recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento corresponde com a construção do quintal agroecológico que completa a produção da horta e do galinheiro, prevê plantio de mudas nativas e a 128 recomposição de matas ciliares, que compõe a propriedade como um todo. O Sebrae faz parceiras com as mais diversas empresas e instituições para viabilizar o maior número de unidades Pais no Brasil, sendo uma tecnologia social, sem registros ou patentes, que é disseminada inclusive por atores independentes, com e sem a participação do Sebrae, o que reflete o sucesso da tecnologia e nos motiva a articular cada vez mais com as empresas e instituições para a ampliação desse projeto. O foco das novas unidades será a comercialização acentuada, considerando a demanda da Copa do Mundo e dos grandes centros urbanos, o empreendedorismo e o cooperativismo, atendendo o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), feiras e varejistas especializados em orgânicos. Desenvolvimento Sustentável Ficha técnica: Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Remanso/Bahia. Instituição executora: Sasop – Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Instituições parceiras: Actionaid; Território Sertão do São Francisco, Consea Estadual e Nacional; Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Área de alcance: Brasil, região do semiárido da Bahia, região do Sertão do São Francisco, incluindo os municípios de Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Casa Nova, Remanso e Sento Sé. Situação: Implementado. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Titulo do projeto: Melhorando as condições de vida dos(as) agricultores(as) familiares da região do Sertão do São Francisco por meio da promoção de um modelode desenvolvimento sustentável Resultados alcançados: • 514 agricultores mobilizados e envolvidos na experiência dos quintais agroecológicos. • Valorização e fortalecimento do papel da mulher no processo de produção de alimentos (frutas, vegetais, galinhas e cabras – leite e ovos) e na geração de renda. - Crianças consumindo produtos da agricultura fa- miliar, nas escolas, a partir do ano 3. Governo e de suas organizações para que se tornem atores de seu processo de melhorar a qualidade de vida. Isso é realizado por meio de uma variedade de atividades que vão desde capacitações em temáticas relacionadas com produção e beneficiamen- to, a um processo de aprendizagem na prática de experimentação, de intercâmbio: entre agricultor a agricultor, entre organizações, que atuam na área de segurança alimentar, agroecologia, participação em eventos, reuniões de articulações, e proporcionar espaços para a participação com a temática de segurança alimentar e agroecologia. Duas estratégias complementares foram desenvolvidas com o objetivo de melhoria das condições de vida dos agricultores: federal e estadual incorporando políticas de se- 1) Melhorar diretamente a segurança alimentar das de agricultores familiares via Sasop. 2) Influenciar a proposição de políticas públicas em gurança alimentar sugeridas pelas organizações famílias do Sertão do São Francisco. • Fortalecimento de redes da sociedade civil traba- segurança alimentar e agroecologia nos níveis re- • 514 famílias beneficiadas pelo novo modelo de Para alcançar este fim, foi necessário fortalecer as lhando na área de segurança alimentar. controle de água para produção de alimentos em quintais. • Disponibilidade de água para criação de animais domésticos e produção de quintais aumenta, beneficiando 514 famílias. O Sasop e a ActionAid Brasil privilegiaram o reco- nhecimento e valorização da história e da cultura dos agricultores beneficiários da ação, uma vez que acreditamos ser esta a base para a implementação de uma abordagem participativa voltada para o desenvolvimento rural. O papel dos técnicos que atuaram na ação foi de contribuir positivamente para que os agricultores sejam agentes protagonistas no processo de construção de conhecimentos para a intervenção na realidade, partindo de sua cultura e dos espaços de sociabilidade existentes, para alterar sua situação de vulnerabilidade e pobreza, ou seja, tornando agentes de seu próprio desenvolvimento. A estratégia de implementação tem como base o desenvolvimento das capacidades dos agricultores 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a gional, estadual e nacional. organizações locais, para aumentar suas capacida- des de influenciar políticas públicas e para acompanhar os agricultores tanto no trabalho direto de implementação de práticas no local, quanto na sua articulação em redes dos campos de agroecologia e segurança alimentar. Nas atividades desenvolvidas à nível municipal, o método de implementação utilizado consiste na concentração inicial da ação em dois municípios (Campo Alegre de Lourdes e Remanso) onde o trabalho do Sasop já se encontra mais consolidado e sua expansão progressiva para três municípios vizinhos: Pilão Arcado, Casa Nova e Sento Sé. Nestes últimos municípios, o Sasop já tinha algumas atividades pontuais com alguns grupos de agricultores. O desenvolvimento das atividades se deu por duas vias: trabalho direto com famílias de agricultores e trabalho em parceria com as organizações locais. Para cada atividade produtiva e de beneficiamento, o Sasop estabe- leceu algumas etapas metodológicas, que funcionam num ciclo constante para ampliar e consolidar 129 as práticas sustentáveis entre as famílias. Etapas importantes como: mobilização de famílias/organizações parceiras para implementação de experiências; capacitação de grupos comunitários; experimentação e/ou implementação da prática pelos grupos comunitários; visitas de acompanhamento técnico; e disseminação da experiência. Neste processo foi permanentemente estimulada a participação e valorização do papel das mulheres na implementação das diferentes atividades, desde a garantia de equilíbrio de gênero em reuniões e seminários, até as atividades produtivas e de beneficiamento, inclusive por meio da criação de grupos informais de mulheres, com o objetivo de criação da identidade de agricultura familiar e da valorização do papel produtivo da mulher em atividades que as mulheres já exercem. Este método privilegia um processo de construção de conhecimentos a partir da união entre a teoria e a prática das inovações técnicas, combinando a formação e a experimentação em uma dinâmica única e indissociável, privilegiando o aprender fazendo. A partir da gestão integrada dos recursos hídricos, o projeto viabilizou a construção de cisternas para produção de alimento; construção de canteiros econômicos, que visa ao melhor aproveitamento da água. As atividades de controle e/ou recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento corresponde a toda a proposta que foi voltada para aumentar a produção de alimentos, tendo como base os princípios da agroecologia. Agricultura familiar Ficha técnica: Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Remanso/Bahia. Instituição executora: 130 Sasop – Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Instituições parceiras: Heifer International; organização da sociedade civil: sindicatos dos trabalhadores rurais, Associação Rede de Mulheres. Área de alcance: Brasil, região do semiárido da Bahia, região do Sertão do São Francisco, incluindo os municípios de Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Casa Nova, Remanso. Território Baixo Sul: Camamu. Situação: Em andamento. Titulo do projeto: Agricultura Familiar Agroecológica promovendo a Segurança Alimentar na Região de Sobradinho e Baixo Sul da Bahia. Resultados Alcançados: • Aumento da oferta e o consumo de alimentos das famílias de agricultores. • 400 famílias adotando práticas agroecológicas nos seus sistemas produtivos – maior acúmulo de conhecimentos agroecológicos nas duas regiões. • 514 agricultores mobilizados e envolvidos na experiência dos quintais agroecológicos. O projeto surgiu devido ao público beneficiário dos agricultores familiares das regiões de Sobradinho e Baixo Sul da Bahia, que foi selecionado por se encontrar em situação de maior insegurança alimentar ou fome e por estar em localidades e espaços organizativos capazes de exercer ações de disseminação das experiências pela dinâmica de redes. Os agricultores familiares têm papel importante no impedimento da degradação ambiental, assumindo um papel de guardiões da biodiversidade local, por meio de atividades como resgate e valorização de sementes, uso sustentável e recuperação do solo e manejo de quintais agroecológicos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Os beneficiários diretos foram selecionados utilizando os seguintes critérios: i) Agricultores com um nível mínimo de organização social (sindicatos, cooperativas, associações e grupos comunitários). ii) Agricultores e agricultoras que têm potencialidade de atuar como multiplicadores das experiências bem-sucedidas de segurança alimentar e agroecologia. iii) Agricultores e agricultoras que estão em diferentes estágios da transição agroecológica. Serão priorizados os grupos majoritariamente de mulheres e jovens para o apoio aos processos de experimentação Agroecológica por meio do fundo rotativo. Nas atividades de formação será garantida a participação de no mínimo 50% de mulheres e 20% a 30% de jovens. O projeto será desenvolvido em oito comunidades nos municípios de Remanso e Camamu, envolvendo um total de 160 famílias diretamente e atingindo um total de 400 famílias por meio dos processos de intercâmbios de agricultor a agricultor, já foi possível beneficiar cerca de 300 pessoas. A metodologia do projeto foi baseada na orientação metodológica que o Sasop fundamenta-se e aposta na capacidade dos próprios agricultores e de suas organizações, para gerar e difundir inovações técnicas e sócio-organizativas orientadas para a promoção de maiores níveis de sustentabilidade dos agroecossistemas. Ao invés de focalizar propostas inovadoras como produtos acabados passíveis de difusão, a abordagem se volta para o processo social gerador de propostas, procurando estimulá-lo. Em substituição à noção de difusão de tecnologias, introduz-se a noção de difusão dos processos sociais de experimentação. Em vez da procura por soluções externas, procura-se incentivar a criatividade que se encontram em estágio de latência nas comunidades rurais. Nesse sentido, serão estimulados processos de experimentação agroecológicos nos quintais a partir das experiências e conhecimentos acumulados 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a pelos agricultores e agricultoras, por meio do intercâmbio de experiências, da formação de agricultores e do fomento às atividades de produção e manejo dos quintais. As visitas de intercâmbio e as trocas de conhecimentos e materiais genéticos (sementes, mudas e animais) entre agricultores serão um grande estímulo ao processo de experimentação local. Os agricultores ao retornarem às suas comunidades trazem na bagagem novos conhecimentos, ideias, sementes e tecnologias que precisavam ser testadas ou adaptadas às suas realidades locais. Cada um desenvolve, portanto, na sua propriedade, novas experiências que serão mais tarde trocadas com os seus vizinhos e outros agricultores. Nos processos de intercâmbio e troca de experiências entre agricultores, as experiências locais passam a ser mais valorizadas e sistematizadas, tornando-se o motor dos intercâmbios de experiências e alimentando a própria experimentação. As experiências passam a ser o ponto de partida para os processos de formação, em que os currículos e conteúdos não são predeterminados, mas sim vão sendo construídos pelas experiências e pelos processos de troca e reflexão coletiva. As oficinas de capacitação serão momentos de aprofundamento de questões que são levantadas nos intercâmbios e nos experimentos, mas não são aprofundadas. Estas oficinas são, portanto, determinadas pelos processos de experimentação e pelos momentos coletivos de troca e reflexão sobre as experiências. No sentido de ampliar a capacidade dos agricultores em difundirem as suas experiênciase conhecimentos agroecológicos, o projeto terá como uma das estratégias a sistematização de experiências. A sistematização de experiências e conhecimentos agroecológicos é um valioso instrumento para a comunicação entre os agricultores, favorecendo os processos de troca de experiências, assim como facilita o diálogo entre agricultores e técnicos e possibilita uma participação mais qualificada dos agricultores e suas organizações nos espaços de debate e formulação das políticas públicas. A sistematização será focada nas experiências individuais 131 ou coletivas no nível comunitário e nos sujeitos das experiências (homens e mulheres, adultos e jovens). Os produtos da sistematização serão boletins, banners e cartilhas que funcionem como um instrumento de comunicação para os agricultores nos processos de intercâmbio. Também serão realizados esforços de sistematização das abordagens metodológicas empregadas no projeto, assim como dos processos de monitoramento da transição agroecológica, de forma a favorecer processos de reflexão entre os agricultores e organizações parceiras e contribuir para a construção de conhecimentos agroecológicos. Tanto os produtos como os processos de sistematização serão socializados nas redes locais de agricultores, e nas redes de ONGs e movimentos sociais, ex.: Articulação do Semiárido – ASA. Os processos de experimentação, desenvolvidos pelos agricultores familiares em suas unidades produtivas, serão apoiados e acompanhados pelos técnicos do Sasop e pelas organizações parceiras (STRs, associações comunitárias, cooperativas e pastorais). A estratégia é fortalecer as redes sociais de parceiros, comunidades e agricultores, pois estes têm papel decisivo na irradiação de experiências e conhecimentos agroecológicos. As experiências agroecológicas terão um efeito demonstrativo nos processos de intercâmbio e no monitoramento da sustentabilidade (econômica, social e ambiental) das unidades familiares. O monitoramento será uma ferramenta importante na reflexão e análise do sistema de produção familiar. Os indicadores serão construídos de forma participativa, em que os agricultores colocarão a sua visão de sustentabilidade e como percebem as mudanças nos seus sistemas de produção. O principal resultado destes estudos e momentos coletivos de reflexão será a ampliação da capacidade de análise dos agricultores sobre a sustentabilidade dos agroecossistemas locais. O monitoramento também será uma oportunidade para avaliar o impacto dos quitais agroecológicos na segurança alimentar e na renda das famílias, assim como a sua influência na transição agroecológica dos sis- 132 temas produtivos locais. O Fundo Rotativo tem sido um elemento importante da metodologia no apoio aos processos de experimentação agroecológica, tanto na Mata Atlântica quanto no Semiárido. O objetivo é construir uma gestão compartilhada do Fundo Rotativo com as comunidades e organizações dos agricultores, para favorecer uma maior autonomia dos agricultores. Atualmente, os fundos rotativos têm uma gestão direta das equipes locais do Sasop. Apesar dos critérios de participação e das definições de juros e prazos de pagamento, eles devem ser definidos em conjunto com os grupos apoiados, a gestão financeira ainda está centralizada no Sasop. O fundo será voltado prioritariamente para os grupos de mulheres e jovens, uma vez que estes veem sendo excluídos das políticas de crédito para a agricultura familiar, visando ao aumento da renda, da segurança alimentar e dos conhecimentos por mulheres e jovens, contribuindo para a elevação de sua autoestima e para a sua autonomia. Serão realizados intercâmbios entre agricultores das duas regiões de atuação do Sasop (Sobradinho e Baixo Sul da Bahia) e entre os técnicos dos dois programas locais, com o intuito de fortalecer uma identidade institucional nos métodos de construção da agroecologia, assim como favorecer uma acumulação conceitual e prática entre agricultores e agricultoras das duas regiões de atuação. Com o objetivo de fortalecer o campo agroecológico no Nordeste e aprimorar as práticas metodológicas de entidades que atuam na construção da agroecologia, o Sasop realizará intercâmbios com outras entidades do Nordeste (a exemplo da AS-PTA na Paraíba e Sabiá e Diaconia em Pernambuco), envolvendo técnicos e agricultores. A partir da gestão integrada dos recursos hídricos foi realizada a construção cisterna de produção com realização de curso sobre manejo e gestão da água para a produção. Foi utilizado como processo inovador para contribuir com o sucesso do projeto a prioridade do trabalho com as mulheres. A estratégia dos “quintais” foi consagrada, pois combina três componentes: água, criação animal e C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l diversificaçãoprodutiva. Viabilizar água foi uma es- • Melhoramento de cinco tanques de pedra. dução. As atividades de controle ou recuperação do • 12 experiências de agricultores familiares sistematizadas. tratégia de sucesso para esse incremento de pro- meio ambiente para proteger e valorar os serviços responde a toda a proposta que foi implementada, • Publicação de boletins como uma forma de sistematização das experiências, valorizando a agricultura familiar. Manejo sustentável da Terra e da Água • Fortalecimento das parcerias locais, regionais e estaduais. ecossistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento cortendo como base os princípios da agroecologia. Ficha técnica: Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Remanso/Bahia. Instituição executora: Sasop – Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais. Instituições parceiras: Associação Programa Um Milhão de Cisternas para o Semiárido – AP1MC; comissões municipais, Codevasf, sindicatos, paroquias e associações. Área de alcance: Território do Sertão do São Francisco: municí- pios de Remanso Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Casa Nova e Sento Sé. Situação: Implementado. Titulo do projeto: Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido Brasileiro: Segurança e Soberania Alimentar por meio do Acesso e Manejo Sustentáveis da Terra e da Água – P1+2. Resultados alcançados: • Construção de 85 cisternas de produção. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a • 10 novas pessoas capacitados na construção de cisterna de produção; O projeto surgiu devido às causas da instabilidade climática do semiárido que atinge muitas famílias; baixa produção de alimentos nas propriedades; famílias que não conseguem garantir a sua segurança alimentar e nutricional. Foi possível beneficiar cerca 377 de pessoas. A metodologia do projeto foi baseada visando à sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica da ação de desenvolvimento, o projeto baseia-se nos seguintes princípios e estratégias metodológicas: 1. Estímulo permanente à participação das famílias e suas organizações no desenvolvimento do projeto (planejamento, execução, monitoramento, sistematização e avaliação): o exercício individual e coletivo contribuirá para aumento da autoestima, da autonomia e da capacidade criativa e inovadora no enfrentamento político dos problemas. 2. O fortalecimento das dinâmicas sociais existentes, por meio de redes, fóruns e articulações, contribuirá para que os atores sociais troquem experiências, interajam, reflitam e formulem coletivamente propostas que favoreçam o diálogo entre sociedade e estado na promoção do desenvolvimento sustentável. 3. O fortalecimento dos processos educativos, sócio-organizativos e políticos locais, contribuindo para a autonomia e o protagonismo dos agricultores e agricultoras e suas organizações na construção do desenvolvimento sustentável. 133 4. O resgate e valorização das agricultoras e dos agricultores e de suas organizações como inovadores técnicos e sociais e, portanto, detentores de conhecimentos e experiências: elemento-chave para a conversão agroecológica dos sistemas produtivos e para a promoção de um novo modelo de desenvolvimento rural humano e sustentável. experiências e produzir, melhorando sua alimentação, garantindo a segurança alimentar e nutricional. As atividades de controle e/ou recuperação do meio ambiente para proteger os serviços ecossistêmicos promovendo em conjunto com a produção hídrica e alimento corresponde com o foco das ações que tem como base a agroecologia. 5. Favorecimento de dinâmicas geradoras de processos de interações das agricultoras e dos agricultores de comunidades entre si num mesmo município, bem como destes com agricultoras e agricultores de outros municípios e regiões. Agricultura Urbana 6. A formação fundamentada em um processo pedagógico no qual prática e teoria se retroalimentam. A metodologia utilizada favorece o estabelecimento de uma dinâmica horizontal entre agricultores e suas organizações. Nesta dinâmica, agricultores-experimentadores exercem simultaneamente a função de agricultores-promotores, encarregando-se de apoiar as atividades de capacitação técnica e estímulo à experimentação na microrregião, nos municípios e comunidades. Com essa abordagem metodológica, o trabalho de formação procura favorecer dinâmicas sociais voltadas para a geração e divulgação de inovações nos planos tecnológicos e sócio-organizativos. 7. A agroecologia como base técnica-metodológica e científica da construção do novo modelo de desenvolvimento rural e do fortalecimento de ações de convivência com o semiárido. A gestão integrada dos recursos hídricos deu-se por meio da realização de curso manejo e gestão dos recursos hídricos, intercâmbios de experiências bem sucedidas no manejo e uso dos recursos hídricos. Foi utilizado como um processo inovador para contribuir com o sucesso do projeto o envolvimento dos parceiros locais, por meio das comissões locais. As lições aprendidas foram aproveitar a dinâmica existente para potencializar as discussões de acesso a terra, valorizando as comunidades tradicionais e a sua forma de uso coletivo e individual da terra; formação e intercâmbio às famílias para conhecer outras 134 Ficha técnica: Centro de Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana de Santa Catarina – CAAUP/UFSC. Florianópolis – Santa Catarina. Instituição executora: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Instituições parceiras: MDS, MST, Prefeituras e suas secretarias; Conseas, universidade, empresas que colaboram por meio de sua responsabilidade socioambiental. ONGs ligadas a: agroecologia, economia solidária, e cooperativa de catadores de lixo. Área de alcance: Estadual – região metropolitana norte/nordeste do estado. Situação: Em andamento Titulo do projeto: Fortalecendo as Ações de Agricultura Urbana e Periurbana da Região Norte/Nordeste de Santa Catarina: Continuidade do Centro de Apoio Terra Viva à Agricultura Urbana e Periurbana da Região Metropolitana de Joinville. Resultados alcançados: • 225 famílias nas áreas urbanas produzindo, consumindo e comercializando alimentos livres de agrotóxicos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • 225 famílias nas áreas de assentamento de reforma agrária que deixaram a plantação de fumo e hoje produzem alimentos com a garantia de compra pelo governo federal por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). • Manutenção do agricultor no campo com dignidade e condições de reproduzir sua própria existência. • Economia doméstica para as famílias que trabalham na horta comunitária. • Melhoria da qualidade alimentar – produção sem venenos. • Geração de trabalho e renda, fortalecimento da organização social das comunidades; • Arranjo Produtivo Local. • Ocupação sustentável dos solos urbanos. • Promoção do Direito Humano a Alimentação Adequada. • Embelezamento das cidades – cidades mais verdes – contribuição no sequestro de carbono. • Acesso regular a alimentos de qualidade (beneficiários diretos e indiretos). • Reciclagem, reutilização e reaproveitamento de resíduos orgânicos para o processo de compos- tagem – contribuição na gestão dos resíduos sólidos das cidades. • Reaproveitamento das águas pluviais para irrigação das hortas. • Participação de homens, mulheres, jovens, idosos, grupos especiais e comunidades tradicionais; • Permitir, com a prática da agricultura agroecológica, o direto de todos a uma alimentação adequada, de qualidade e em quantidade suficiente para suprir as necessidades de cada beneficiário. O projeto surgiu devido à existência de famílias em situação de vulnerabilidade social, tanto no campo como na cidade. Apresentando quadros graves de fome e miséria e beneficiários do programa Bolsa 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Família. No rural, famílias de assentados da reforma agrária produzindo fumo dentro de um sistema marginalizador e insalubre, ao invés de produzirem alimentos saudáveis para autoconsumo e venda. Foi possível beneficiar com o projeto cerca de 2 mil pessoas. A metodologia escolhida para as formações foi a participativa, que consiste em aportar os recursos científicos da universidade em combinação com os saberes populares, gerando uma síntese dialético-pedagógica que combine sabedoria camponesa com as ciências formais. Articulamos a criação de Comitês Gestores Municipais de Agricultura Urbana, com a finalidade de dialogar sobre a amplitude dos problemas sociais combinando ações voltadas a promoção da segurança alimentar e Nutricional em nível local, com participação e voz ativa dos agricultores. Foram realizadas oficinas: - Motivação para Agricultores Urbanos e Periurbanos; - Diagnóstico UrbanoParticipativo; - Cooperação e Trabalho Coletivo; - Implantação e Manejo do Espaço da Horta; - Produção de Biofertilizante; - Manejo de Ecológico de Pragas e Doenças; - Manejo e Conservação do Solo e da Água; - Produção de Mudas; - Aproveitamento Integral dos Produtos da Horta; - Colheita e Pós-Colheita; - Comercialização dos Produtos da AUP; - Agroecologia e Produção Agroecológica. Além das oficinas de formação e empoderamento, ocorrem dias de campo; visitas técnicas quinzenais às áreas de agricultura urbana; reuniões mensais com os comitês gestores municipais; visitas a outras experiências em AUP; participação em eventos nacionais e internacionais, visando a ampliar o debate sobre a AUP como ferramenta de segurança alimentar e gestão territorial. O foco é a produção de alimentos tanto no campo como na cidade, priorizamos por incentivar e apoiar práticas agroecológicas de produção e conservação do solo – que por sua vez permitem o uso eficiente da água (tanto do solo quanto pluvial), permitindo assim uma gestão integrada dos recursos hídricos. Cada espaço produtivo tem estrutura para coletar água da chuva de forma eficiente. 135 As práticas agroecológicas de produção, além de permitir menor utilização – mais eficiente – da água, não contribuem para poluição do lençol freático, rios e nascentes. Prática esta que denominamos limpa, ou seja, que se espelha nos processos ecológicos que naturalmente ocorrem nos ecossistemas, de forma a “imitá-los” ou reproduzi-los sem prejuízos ao solo, à água, aos animais e ao homem. Como processo inovador que contribui para o sucesso do projeto, foi realizada a ocupação de espaços verdes ociosos nas cidades – vazios urbanos – para produção de alimentos livres de insumos sintéticos e que sejam destinados a complementar de forma saudável a alimentação e nutrição de famílias em situação de miséria, além de possibilitar a geração de trabalho e renda com a venda dos excedentes. Mesmo que a agricultura venha sendo praticada nas cidades desde os tempos mais antigos, hoje no Brasil, e principalmente a partir de 1980, houve crescente urbanização seguindo a tendência mundial. Como alternativa para o enorme crescimento da pobreza urbana, do desemprego e da insegurança alimentar surge a prática da agricultura urbana e periurbana como ferramenta de segurança e soberania alimentar e gestão territorial sustentável. Consideramos inovador por não se tratar de programa assistencialista e patronal como é comum, mas sim uma estratégia de governo que permite ao beneficiário fazer parte do processo; da construção do saber; da articulação dos marcos legais e teóricos que regem o tema; de retomar a prática da produção de seu próprio alimento; de ver o espaço da horta como um meio de organização popular e fortalecimento da comunidade; de possibilitar a articulação de um Arranjo Produtivo Local que assegure soberania alimentar, ou seja, é inovador, pois congrega segurança e soberania alimentar com fortalecimento da cidadania e da gestão sustentável das cidades. Quando as pessoas envolvidas sentem-se parte do processo os resultados são atingidos com mais facilidade e a iniciativa não tende ao fracasso. Cultivar alimentos nas cidades requer uma visão 136 holística da cidade e da comunidade. As questões culturais, sobretudo ligadas aos processos produtivos, enraizadas em cada um de nós ao longo de gerações são o grande gargalo de um trabalho social e de extensão. É necessário compreender o processo de gênese histórico-cultural de cada local para poder construir as estratégias de enfrentamento dos problemas em colaboração com as comunidades. O convívio comunitário (espaço da horta) realmente faz a diferença, desperta a solidariedade e o companheirismo, que se perderam por causa do ritmo de vida e do modelo de sociedade a qual estamos inseridos. Quando todos (sociedade civil, gestores públicos, universidades, movimentos sociais, ONGs etc.) trabalham juntos pelo desenvolvimento, este é passível de acontecer. As atividades de controle ou recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos, promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento, corresponde às áreas urbanas destinadas à produção de alimentos que nitidamente estão degradadas. Novamente, as práticas agroecológicas adotadas permitem que o meio, aos poucos, recupere sua estrutura (física, biológica, vegetativa, ecossistêmica etc.). Além disso, aumentam a capacidade de retenção de água nos solos (arquitetura e distribuição das raízes, matéria orgânica e estrutura do solo), de forma eficiente, fazendo que as plantas tenham água disponível por mais tempo e não sofram por pequenos períodos de estiagem. Como a agricultura é uma atividade que utiliza muita água potável para irrigação, o projeto considerou reutilizar a água da chuva – captação de água pluvial para uso na horta. Essa fonte de água pode ser utilizada para este fim e possibilita a redução e o controle da pegada hídrica decorrente das atividades humanas em cada comunidade. Fertirrigação agroecológica Ficha técnica: Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá/Mato Grosso. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Instituição executora: UFMT. Instituições parceiras: Ecocentro do Akora (instituição em implantação na região de Chapada dos Guimarães – MT) em região de influência do Lago de Manso. Área de alcance: Estadual – Mato Grosso. Situação: Em andamento. Titulo do projeto: Kit de Fertirrigação Agroecológica. Resultados alcançados: • Redução de eutrofização de aquíferos (menos lixiviação – percolação de fertilizantes supersolúveis). • Economia de água. • Aproveitamento de mão de obra ociosa (para confeccionar, implantar e regar). • Aproveitamento de materiais que iriam para o lixo. • Retardamento de lotação dos lixões ou assemelhado. • Autonomia das famílias. • Redução do ritmo de assoreamento das aguadas, mananciais e lagos. Historicamente, desde o início da colonização do Brasil, os pobres só conseguem acesso aos solos marginais (baixa capacidade de reter água e nutrientes). Os fertilizantes e a água são caros e pouco acessíveis. Os cultivos são escassos e de baixa produtividade e grande perda de estande. Os índices de perdas e água de irrigação e de nutrientes dificulta a autossustentabilidade dos camponeses. Foi possível beneficiar cerca de 170 mil pessoas. A metodologia do projeto foi baseada em um protótipo no qual se usa materiais recicláveis (cascas de coco-verde descartadas, garrafas pet de refrigerante ou gomos de bambu, barbantes). O conjunto é enterrado ao lado das mudas e com a adição de 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 2 a 3 litros de água/dia, promove-se a fixação e o crescimento das plantas durante o período de secas (seis meses, no Cerrado), com mínima perda de adubos (vermicomposto e cinzas) colocados dentro do coco. Sabe-se que, a 40 cm de profundidade, a temperatura e a umidade variam pouco, o kit proporciona ambiente suficientemente favorável ao crescimento de plantas (fruteiras por exemplo). A metodologia de pesquisa: Sistema Rizomático (várias pessoas testando em vários locais, com suas limitações, criatividade, potencialidades, recursos disponíveis, demandas etc.). Não se pretende patentear mas, ao contrário, socializar seu desenvolvimento, de forma a não se precisar de fazer difusão ou transferência de tecnologia, todos estariam já testando e ajustando o protótipo em suas realidades. No Ecocentro do Akora, mais de 2000 kits foram implantados e os resultados mostram inequivocamente o potencial desse protótipo. Para a gestão integrada dos recursos hídricos foi utilizado um sistema localizado de irrigação, em que a água é ministrada às plantas a 40 cm de profundidade no solo, usando barbante hidrofílico como condutor da água (por capilaridade), que vaza num ritmo proporcional à evapotranspiração das plantas. O kit de fertirrigação é uma inovação tecnológica social em desenvolvimento de forma rizomática. Já temos cerca de 500 famílias testando-o em vários municípios dos estados de Mato Grosso e Rondônia. Tem extrema acessibilidade, factibilidade e baixíssimo custo unitário de confecção e implantação. Inovação se faz com revolução científica e não com “progresso científico”, como dizia Thomas Khum; a pesquisa feita com milhares de mãos é muito mais abrangente do que aquela feita em uma fazenda modelo ou estação experimental, com poucas repetições. Os desafios enfrentados pelo projeto foram: a simplicidade que gerou desconfiança-ironia de sua eficácia nos meios acadêmicos, os preconceitos institucionais em projetos focados em demandas de pessoas empobrecidas, o projeto não visava a agregar tecnologia comercializável; não estudava cultura “de rico” (soja, cana, algodão etc.). 137 As atividades de controle e recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento corresponde ao controle das perdas de água nos sistemas de irrigação que, de maneiras convencionais, são absurdas (mesmo o gotejamento tradicional). Em MT, onde existem altíssimas temperaturas (30º C a 40º C por todo ano), altas taxas de luminosidade por todo ano, baixas taxas de umidade relativa do ar (menos de 30% por mais de seis meses no ano), além do vento, provocam elevadas taxas de evapotranspiração. Poucas espécies de plantas de adaptam às condições edafo-climáticas. Os solos arenosos e de baixa CTC retém pouca água e nutrientes. Na época de seca, as plantas ficam estressadas por falta de água (e nutrientes) e na época de chuvas pela desnutrição (quando os elementos minerais são lavados – lixiviados ou se perdem com a erosão). O protótipo foi inicialmente concebido para os pobres, os camponeses e os indígenas em pequenas áreas; para os solos mais pobres – arenosos – depauperados (que são os solos que restaram para os pobres – sem terra – assentados). Visando à reciclagem ou ao reúso da água para a produção de alimento, incentivam-se a captação e o uso de água de chuva em cisternas para uso nos kits. O Lago do Rio Manso (área Ficha técnica: Banco do Brasil Brasília/DF Instituição executora: Banco do Brasil e WWF-Brasil. Instituições parceiras: Banco do Brasil; Fundação Banco do Brasil, Agência Nacional de Águas – ANA; WWF-Brasil; setor público: governos, prefeituras e respectivas secretarias de meio ambiente, educação e infraestrutura, principalmente; setor privado: empresas, instituições de ensino e de co- municação, cooperativas; terceiro setor: ONG, associações de catadores. Área de alcance: Propriedades rurais situadas em 14 microbacias hidrográficas localizadas nos diferentes biomas e cinco cidades brasileiras, de diferentes portes e localizações regionais. Situação: Em andamento. Titulo do projeto: de influência do projeto) é recente e core o risco de Programa Água Brasil. ser assoreado rapidamente, visto a arenosidade dos Diretivas agroambientais: solos do entorno. A irrigação convencional (aspersão) eleva os índices de risco de assoreamento do lago (gerador de energia elétrica) reduzindo seu tempo útil como fonte de energia e lazer. Pode-se usar o Kit também, para ministrar preparados ultradiluídos- Lei Federal n0 6.938/1981 e Resoluções Conama n0 001/86 e n0 237/1997. Necessidade de outorga para o uso da água em empreendimentos agropecuários. -dinamizados (nosódios e homeopatias) para estimu- Resultados alcançados: lar os sistemas homeostáticos das plantas porventura • Envolvimento efetivo dos catadores das cinco ci- estressadas ou atacadas por pragas. 138 Agronegócio dades na elaboração de diagnósticos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • Construção de cenários e desenvolvimento de planos de trabalho. • Predisposição do poder público para a elaboração de planos de gestão de resíduos sólidos integrados. • Inserção do tema consumo responsável nas discussões em várias instâncias. O Banco do Brasil é um dos maiores financiadores do agronegócio no país e ainda não tinha um programa próprio específico voltado para o estímulo à produção de alimentos de forma sustentável por meio da utilização responsável e racional dos recursos hídricos. No meio urbano, estando presente na maioria dos municípios brasileiros e considerando a questão do correto tratamento de resíduos – sólidos, um dos fatores essenciais para a manu- tenção da qualidade e disponibilidade de água nas cidades –, o Banco do Brasil está desenvolvendo projetos demonstrativos na cadeia da reciclagem e do consumo responsável de recursos naturais. Foi possível beneficiar cerca de 2 milhões de pessoas. A metodologia do projeto foi baseada nas melhores para que ações voltadas para a gestão integrada dos recursos hídricos estejam contempladas nos projetos de forma efetiva. Para contribuir com o sucesso do projeto, realizadas oficinas participativas, em grande pro- cesso de concertação, para aprimoramento do diagnóstico, construção de cenários e elaboração de planos de trabalho específicos para cada uma das localidades, em que estão sendo desenvolvidos os projetos do Programa Água Brasil. O desenvolvimento sustentável só será possível na medida em que todos os atores envolvidos na produção, no consumo e no descarte de resíduos estiverem conscientes de seu papel e atuarem de forma efetiva com mudanças de hábitos e costumes, visan- do à sustentabilidade. As atividades de controle e recuperação do meio ambiente para proteger e valorar os serviços ecossistêmicos promovendo a produtividade hídrica em conjunto com a produção de alimento corresponde à parceria com a Agência Nacional de Águas, que desenvolve o Programa Produtor de Águas, várias ações voltadas para a práticas para uma produção sustentável de alimen- recuperação de áreas degradadas e valoração pe- social, a conservação do meio ambiente e a am- ídas nos projetos. Sobre a pegada hídrica, o pro- dores quanto à urgência na adoção de hábitos res- de racionalidade no consumo de recursos hídricos os projetos demonstrativos partem de um diagnós- adotada a metodologia que define a pegada hídrica para a construção de cenários e desenvolvimento a adequar a realidade local ao ideal pesquisado. formal dos atores locais, públicos e privados, ca- to e até o momento a maior dificuldade encontrada tante, com a adoção de medidas corretivas sempre dos para a necessária mudança na relação das cursos hídricos, a Agência Nacional de Águas, por Toda mudança de comportamento exige um tempo tos, garantindo a segurança alimentar, a inclusão los serviços ambientais por produtores foram inclu- pliação da consciência de produtores e consumi- jeto considerou – para a implementação de ações ponsáveis no consumo de recursos naturais. Todos para a produção de diferentes culturas – que será tico amplo da situação atual, oficinas participativas ideal para cada tipo de alimento produzido, visando de plano de trabalho conjunto, comprometimento O programa ainda encontra-se em desenvolvimen- pacitação, comunicação e acompanhamento cons- refere-se à conscientização dos públicos envolvi- que necessário. A partir da gestão integrada dos re- pessoas com o consumo dos recursos naturais. meio da assessoria em nível estratégico, contribui de adaptação aos novos padrões. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 139 Recomendações A partir das iniciativas encontradas, podem-se pon- tuar algumas recomendações que desenvolvem modelos baseados em alguns princípios metodológicos, para auxiliar o êxito de ações que promovam o uso eficiente da água para a produção de alimento. com qualidade, sendo assim possibilita a sobrevivência e a geração de renda das famílias rurais. 5. Fomentar o empreendedorismo no campo por meio do cooperativismo e associativismo. Transformando os interesses individuais comuns em interesses coletivos que, além de aumentar a repre- 1. Estimular iniciativas que visem à economia so- sentatividade, também favorece a competitividade pobreza, favorecendo um aumento da autoestima uma organização. lidária para a geração de renda e a diminuição da dos produtores regionais quando participam de e dignidade dos agricultores. No qual fortaleça dire- 6. Harmonizar e proporcionar que os pequenos tamente as bases do associativismo e do cooperativismo, permitindo a valorização do ser humano e não apenas a geração do capital de forma isolada. produtores participem de parcerias e/ou envolvi- mento com programas governamentais (ex.: PAA – Programa de Aquisição Alimentar e o Pnae – 2. Promover a segurança alimentar e nutricional Programa Nacional de Alimentação Escolar) vincu- condições de pobreza extrema e fome. Por meios excedente. Considerando a rentabilidade e a valo- ações e estimular o conhecimentos de fundamen- 7. Disseminar os conceitos de agroecologia e agri- das famílias rurais e suburbanas que estão em lados com a aquisição da produção de alimentos de incentivos ao desenvolvimento participativo de rização da produtividade local. tos agroecológicos. A partir da implementação de tecnologias sociais, ou seja, de baixo custo e efi- cientes, tais como: a confecção de quintais agroe- cológicos e a utilização de kits de fertirrigação e o intercâmbio de experiências entre regiões vizinhas. 3. Permitir a produção dos próprios insumos fertilizantes dentro da propriedade de cada agricultor. Esta prática favorece a autonomia produtiva, a qualidade dos alimentos produzidos, a diminuição de custos já que não há necessidade de comprar fertilizantes de outras regiões muitas vezes afastadas ou adubos químicos que degradam o ambiente. Além de proporcionar uma gestão de resíduos orgânicos por meio de práticas de compostagem ou vermicompostagem. Contribuindo ainda para a redução da poluição do solo e da água por meio da decomposição da matéria orgânica em conjunto com outros resíduos recicláveis ou tóxicos. 4. Fortalecer a agricultura familiar que incentiva a fixação das famílias no campo. Com a execução de boas práticas ambientais, de uso eficiente dos 140 recursos naturais, que aumenta a produtividade cultura orgânica que segundo Caporal, em 2004, afirma que são estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente, no qual promovem a in- clusão social e proporcionam melhores condições econômicas aos agricultores. 8. Fomentar a participação dos agricultores familiar no processo de elaboração de politicas públicas, instrumento que auxilia na melhoria da qualidade de vida deles. Por meio de reflexões, troca de co- nhecimento e participação popular organizada, a fim de influenciar a proposição de diretivas agro- ambientais em prol da: segurança alimentar, uso eficiente dos recursos naturais e da agroecologia. Dessa forma, alargando suas capacidades de influenciar as discussões públicas. 9. Permitir sempre que o público-alvo do projeto tenha a sua participação permanente no desen- volvimento do projeto, nas diversas etapas, como em planejamento, execução, monitoramento, sistematização e avaliação das ações executadas na região pelo projeto. Contribuindo assim para a C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l valorização da cultura e hábitos da população sem esquecer-se da inclusão gradual de novos hábitos e costumes mais saudáveis. 10. Fomentar cada vez mais a valorização do pa- pel da mulher e do jovem no campo, de modo a 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a convidá-los e incentivá-los a participar ativamente dos processos de construção do conhecimento e execução das boas práticas, sem diferenciação de gênero. Valorizando o crescimento do papel produtivo da mulher e do jovem no campo. 141 Harmonizar água e energia I – Conteúdo temático O Brasil e os recursos hídricos O Brasil possui o maior potencial de água doce dis- ponível do mundo. Cerca de 70% desse total está na Bacia Amazônica. O País é subdividido em 12 regiões hidrográficas,34 sendo que três grandes bacias (Bacia Amazônica, Bacia do São Francisco e Bacia do Paraná), que cobrem 72% do território brasileiro, respondem por 80% da produção hídrica do país (ANA, 2009). O Brasil conta com uma legislação avançada para o tratamento da questão da água em todas as suas dimensões. A água como bem vital sempre esteve sob tutela do Estado na legislação hídrica: desde as ordenações do reino, a utilização dos rios na- vegáveis dependia de carta regia, e a Lei Maior do de 1988, que cria a obrigação governamental (arts. 23, 170, 225) e privada (art. 186) da proteção ao meio ambiente, bem como da obrigação da União em instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A Política Nacional de Recursos Hídricos organiza o setor de planejamento e gestão das águas em âmbito nacional, inclusive com a criação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que tem como seu presidente o ministro de Meio Ambiente. A política estabelece princípios importantes para a gestão dos recursos hídricos, como a indicação da bacia como unidade de gestão e a prescrição da gestão descentralizada, por meio dos comitês de bacia. Os comitês de bacias representam na prática a descentralização da gestão de recursos hídricos no Brasil. A Agência Nacional de Águas (ANA) foi criada em 2000 com a função de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, enquanto a Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério de Meio Ambiente tem a relevante função da formulação e atualização dessa mesma política. Império, de 1824, prescrevia sobre as águas subterrâneas. A partir da Proclamação da República, em 1889, o assunto tem sido regulado nas Constituições seguintes e na legislação ordinária. O Código de Águas (decreto de 10/7/1934) é marco legal do gerenciamento dos recursos hídricos no Bra- sil. Estabelece política hídrica moderna, sendo considerado mundialmente como uma das mais completas leis já produzidas, cujos princípios são tidos por diver- sos países como exemplares. Por exemplo, o princí- pio poluidor–pagador está previsto em seus artigos 111 e 112, tendo sido introduzido na Europa como novidade somente na década de 1970. Nos últimos 20 anos, a consideração dos temas da água na legislação brasileira foi significativamente ampliada no Brasil, a começar pela Constituição 144 O Brasil e a energia O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Segundo o Relatório Mundial de Energias Renováveis 2011 (emitido pela Rede de Políticas sobre Energia Renovável), o Brasil é o quinto colocado no ranking de países que mais investem em energia renováveis e possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 45,3% de sua produção proveniente de fontes como recursos hídricos, biomassa e etanol, além das energias eólica e solar. Como comparação, a matriz energética mundial é composta por 13% de fontes renováveis no caso de países industrializados, caindo para 6% entre as nações em desenvolvimento.35 34 Amazônica, Tocantins/Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste, Paraná, Paraguai, Uruguai, e Atlântico Sul. 35 Considerada a energia em todas as suas aplicações e não somente a utilizada para eletricidade. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l O setor elétrico brasileiro atende hoje a quase 60 milhões de clientes residenciais e comerciais. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo final de energia em 2017 deverá atin- gir 600 TWh e, para atendê-lo, seriam necessários cerca de 3.000 MW-médios adicionais ao ano de capacidade firme e investimentos da ordem de US$ 40 bilhões (BANCO MUNDIAL, 2008). O Brasil e a hidreletricidade A hidreletricidade desempenha papel relevante tanto na matriz energética quanto na matriz elétrica • É uma fonte renovável e limpa de energia. • Baseia-se em tecnologia relativamente simples, bastante robusta e facilmente atualizável para incorporar novos desenvolvimentos. A relativa simplicidade tecnológica permitiu ao Brasil o seu domínio: atualmente, o índice de nacionalização tecnológica em equipamentos e serviços gira em torno de 90% (EPE). • Seus empreendimentos têm um tempo médio de vida de 50 a 100 anos, a mais longa entre todas as fontes de geração. É investimento de longo prazo, que beneficia diversas gerações. brasileira. Em 2008, a geração hidrelétrica repre- • Atualmente, apresenta o custo de produção mais contabiliza todas as formas de energia do país, in- elétrica, função de sua longa vida útil e baixo custo (matriz que integraliza apenas as fontes que geram combustíveis, promove a estabilidade de preços. sentou 13,4% da matriz energética (matriz que baixo entre todas as formas de geração de energia cluindo a energia elétrica) e 86% da matriz elétrica de operação e manutenção. Por não depender de energia elétrica), segundo a EPE. • Permite variações rápidas e controladas na gera- O potencial hidrelétrico brasileiro economicamente ção, o que viabiliza uma série de vantagens: am- ram inventariados36 e apenas 30% estão em ope- por meio de serviços ancilares, como controle de é a do Rio Amazonas. A Região Norte concentra mitentes, como eólica e biomassa, ao ser capaz complexidade com relação aos aspectos socioam- geração dessas fontes. viável é estimado em 260 GW, dos quais 68% fo- pliação da confiabilidade do serviço de energia ração ou construção. A bacia com maior potencial frequência, utilização de fontes renováveis inter- 43% do potencial hidrelétrico, o que implica maior de compensar com efetividade as flutuações de bientais e ao tratamento de questões sociais. • Mesmo quando não projetada para este fim, con- A alta relevância da geração hidrelétrica é em tribui para os usos múltiplos da água, como fonte suir a maior disponibilidade hídrica do planeta, ção para agricultura, turismo e transporte. grande parte explicada pelo fato de o Brasil pos- de água potável, lazer, pesca, piscicultura, irriga- com 13,8% do deflúvio médio mundial (WRI, • Os reservatórios constituem-se em uma ferra- 1998). Mas esta não é a única razão: a hidreletricidade é parte importante da estratégia nacional de energia, estabelecida há 60 anos, quando as usinas térmicas eram a melhor opção do ponto de vista econômico-tecnológico. A definição des- sa estratégia foi baseada nos aspectos positivos da hidreletricidade: 36 menta para a adaptação às mudanças climáticas, podendo funcionar como elemento regulador de vazões excessivas, bem como elemento de suprimento em épocas de seca. Além disso, a sua capacidade de reservação de água e, por conse- guinte, energia, é importante fator para a expansão de fontes de energia limpa, como a eólica. A parcela inventariada inclui usinas em diferentes níveis de estudo - inventário, viabilidade e projeto básico - e aproveitamentos em construção e operação (ELETROBRÁS, 2010). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 145 • Pode contribuir significativamente para o desenvolvimento local, ao levar estradas, indústria e comércio para as comunidades, ampliando o acesso à saúde e à educação, melhorando a qualidade de vida. • A implantação de suas usinas inclui pesquisas arqueológicas e do meio físico-biótico (entre outras), possibilitando aprimorar o conhecimento científico. Na estratégia brasileira de energia, a hidreletricidade é um instrumento fundamental para o desenvolvimento sustentável. Os empreendimentos hidrelétricos que são desenvolvidos e operados de forma economicamente viável, ambientalmente adequada e socialmente responsável, representam desenvolvimento sustentável em sua plena acepção. Constituem clara vantagem competitiva para o Brasil em um mundo cada vez mais globalizado. Apesar de seus aspectos positivos, os projetos hidrelétricos enfrentam alguns desafios significativos: • Influência no ciclo dos rios, com seus impactos para a biodiversidade e as comunidades. 146 • Pressão sobre as sociedades locais durante a construção e no período imediatamente subsequente a ela. • Impacto nas comunidades, principalmente em relação à necessidade de realocação/reassentamento de famílias. • Realocação das espécies de fauna e flora. • Efeito sobre grupos sociais minoritários/em risco, como indígenas e ribeirinhos. • Vetor de ocupação em áreas antes inexploradas. • Alterações no transporte de sedimentos com influên ciana dinâmica fluvial a montante e a jusante. • Potenciais conflitos pelo uso dos recursos hídricos. Enquanto quase todos os aspectos positivos da hidreletricidade são, via de regra, realmente obtidos com a implantação de uma nova usina, os seus aspectos negativos podem ser apenas potenciais, pois em sua grande maioria podem ser evitados, minimizados ou compensados por adequados planejamento, projeto e gestão, conforme exemplificado na tabela a seguir: C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Tabela 1. Possibilidades de gestão dos potenciais impactos negativos de hidrelétricas Impacto Gestão/compensação Influência no ciclo dos rios, com seus impactos para a biodiversidade e as comunidades. • Escolha do local apropriado para sua implantação e otimização do layout das usinas. • Pesquisa e resgate de fauna e flora e reassentamento da população atingida, inclusive tornando não proprietários, residentes e/ ou trabalhadores em terras atingidas, em proprietários de novas terras, adquiridas pelo empreendedor em favor do reassentado. • Criação de parques e reservas que poderiam ser áreas desmatadas e a hidrelétrica ajuda a preservar. • Permitem gerenciar e controlar vazões e, assim, contribuir para o controle e a diminuição de cheias. Pressão sobre as sociedades locais durante a construção e no período imediatamente subsequente a ela. • Desenvolvimento da economia local, sendo o planejamento da expansão e a manutenção de uma economia autossustentada fatores de mitigação da desmobilização de mão de obra após a implantação. • Aprimoramento de serviços públicos, com aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), melhoria da qualidade de vida, saúde e educação. • Oferta de postos de trabalho e oportunidades de negócios, capacitação da mão de obra local. Pressão sobre grupos sociais minoritários/em risco, como indígenas e ribeirinhos. • Projetos de geração de renda, de compensação por impactos no ritmo de vida e respeito à cultura dessas populações. • Códigos de conduta, programas de valorização social. • Proteção à saúde durante a implantação dos empreendimentos. Vetor de ocupação em áreas antes inexploradas. • Pesquisa e estudos socioambientais aprofundados, que abranjam toda a bacia hidrográfica e seu entorno, comparativos com outras formas de geração de energia e inovação tecnológica. Potencial conflito sobre o uso dos recursos hídricos. • Seleção de local e layout da usina a favorecer os usos múltiplos. • Busca da harmonização de interesses, o que inclui as perspectivas de usos múltiplos dos reservatórios, como incremento da agricultura, lazer, turismo, pesca e piscicultura, entre outros. • Garantias de alternativas de transporte (navegação), quando adequadas. • Programas de fomento do turismo, recreação, piscicultura e outros usos da água. Risco de falha da infraestrutura • Métodos consagrados de projeto, construção, operação e monitoramento hídrico e geológico e programas de comunicação elucidativa e orientativa, incluindo procedimentos de evacuação emergencial. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 147 Planejamento da expansão de energia elétrica no Brasil 1. Políticas e planos que embasam o planejamento da expansão O planejamento do setor elétrico brasileiro é realizado em um arcabouço institucional amplo e complexo, que tem como referência conceitual as políticas relativas a diversas áreas e, como norte tático, os planos elaborados com fins específicos. Para o nexo água-energia, as políticas e planos nacionais mais relevantes são os relativos a recursos hídricos, energia, meio ambiente e mudanças climáticas, que fundamentam os planos nacionais respectivos. A Política Energética Nacional, estabelecida pela Lei nº 9.478/1997, define os objetivos que devem ser buscados pelo setor energético nacional. Entre eles, encontram-se alguns de escopo geral, como a defesa do interesse nacional, a valorização dos recursos energéticos, a proteção ao consumidor, a proteção ao meio ambiente, a promoção da livre concorrência, a busca da competitividade, o incentivo a novas fontes de energia e à eficiência energética, o incentivo à pesquisa em energias renováveis e a mitigação do efeito estufa. Especificamente em relação à eletricidade, essa política estabelece que o Brasil deva identificar as soluções mais adequadas para o suprimento de energia elétrica nas diversas regiões do país e promover a geração a partir de biomassa e biomassa residual. Essa lei estabelece ainda o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que tem entre suas funções propor outras políticas nacionais em relação a temas específicos (ou seja, dar especificidade a essa política, que é geral) e estabelecer diretrizes para o atendimento da demanda nacional de energia elétrica. Constitui o órgão nacional orientador máximo, em relação aos temas de energia. Apesar de se configurar como uma Política Nacional de Energia, a quase totalidade da lei que a institui trata do tema do petróleo e, em complemen- 148 tos posteriores, o de bicombustíveis. Dessa forma, é possível dizer-se que o Brasil ainda se ressente de uma política mais substantiva para o tema da energia elétrica. O Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030), emitido em 2007 e em revisão pelo governo brasileiro para a produção do PNE 2035, foi o primeiro estudo de amplo espectro do cenário energético global do Brasil, estabelecendo as necessidades de produção e consumo de todos os energéticos para um horizonte até 2030, levando em conta todas as dimensões do problema (econômicas, sociais, ambientais, políticas e tecnológicas). Serve de base para o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), documento de horizonte de 10 anos e reavaliação usual anual, que promove os ajustes necessários aos cenários atuais (como condições econômicas de momento, por exemplo) e estabelece as táticas para o atendimento das metas de energia, incluindo as de eletricidade. Ou seja, especifica as formas (incluindo os projetos específicos a implantar) de atendimento à demanda nacional de energia. O Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) 2011, alinhado com o PNE e PDE, contribui para a consecução da meta de redução de consumo de energia em 10% por meio de medidas de eficiência. Com relação ao meio ambiente, a Lei n0 6938/1981 estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente, com o objetivo, entre outros, de compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico (antes, portanto, da Constituição de 1988 ter reconhecido explicitamente aos cidadãos o direito a um meio ambiente saudável) e estabelecer critérios e padrões para o uso e manejo de recursos ambientais. Reconhece assim a necessidade do desenvolvimento econômico e social condicionado à sustentabilidade ambiental do processo. Criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), estabelecendo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) como órgão consultivo e deliberativo do sistema, com poderes para propor C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l políticas e deliberar sobre normas e padrões ambientais. Cabe ao Conama estabelecer regras e padrões que se aplicam ao processo de licenciamento de projetos, por exemplo. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re- cursos Naturais Renováveis é o órgão executor do sistema, responsável pela aplicação das normas e padrões definidos pelo Conama e pela relação direta com todas as atividades que tem interferência significativa com o meio ambiente. É o órgão responsável pela condução do processo de licenciamento socioambiental de todos os projetos e, portanto, tem relação próxima com todos os projetos de energia e dispensa especial atenção para a hidreletricidade. O processo de licenciamento ambiental é um dos alicerces para a expansão da matriz energética e constitui-se de três estágios: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e de Operação (LO). Para a área de recursos hídricos, a Lei n0 9.433/1997, estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos e também o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A política, inspirada na experiência francesa, foi definida sobre funda- mentos de grande importância: a água como bem de domínio público; recurso limitado e dotado de valor econômico; uso prioritário para consumo humano e dessedentação de animais; gestão por bacia e proporcionando os usos múltiplos; gestão descentralizada. Entre os instrumentos relevantes para a gestão, foram definidos os planos de bacia hidrográfica, a outorga e a cobrança de recursos hídricos. Órgão máximo do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, órgão colegiado que composto pelos diversos segmentos com interface com o tema água, incluindo o governo federal, os governos estaduais, os usuários e a sociedade civil organizada. Qualquer projeto hidrelétrico tem que transitar pelo Sistema de Recursos Hídricos, em especial pelo processo de outorga. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Ferramenta de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, o Plano Nacional de Recursos Hídricos foi concluído em 2006, após amplo processo participativo, produziu um documento de muita substância. Um dos pontos importantes do plano é que, apesar de ter sido elaborado buscando a unicidade de visão em relação aos seus princípios norteadores e a necessidade da gestão integrada, debruçou-se com profundidade sobre as especificidades dos temas regionais e de alguns usos de maior relevância para gerar “Cadernos Regionais”, com visões que incorporam a perspectiva particular daquela região, e “Cadernos Setoriais”, como o da hidreletricidade, por exemplo. A Lei nº 12.187/2009 estabeleceu Política Nacional de Mudanças Climáticas, com o objetivo de contribuir para o combate do aquecimento global e, na escala nacional/local, trabalhar pela mitigação/ adaptação às mudanças climáticas. Consideramos está Política como sendo uma iniciativa corajosa do Brasil de engajar-se em profundidade no tratamento de um problema de escala global, ao ponto, por exemplo, de estabelecer metas voluntárias de reduções de emissões de gases de efeito estufa, compromisso que não teria obrigação de assumir pelos acordos internacionais vigentes. A política estabelece uma série de instrumentos para a sua consecução, entre eles o Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Define, explicitamente, as hidrelétricas como alternativa energética às fontes baseadas em combustíveis fósseis. Além de todas essas políticas e planos, o Brasil ainda empreendeu iniciativas para orientar alguns temas relevantes com planos específicos, como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que propõe estratégias e linhas de ação para a busca do desenvolvimento econômico e social com respeito ao meio ambiente. O PAS é um conjunto de diretrizes e estratégias para orientar as políticas de governo federal, estaduais e municipais, que pretende apoiar a implementação de um novo modelo de desenvolvimento na Amazônia brasileira, pautado pela valorização da potencialidade de seu patrimônio 149 natural e sociocultural. Tem provisões específicas para projetos hidrelétricos. Por essa breve explanação, é possível avaliar a ampla gama de ações estruturantes desenvolvidas no Brasil nas últimas décadas, com a finalidade de ampliar o foco de preocupações das ações nacionais na direção da sustentabilidade, ao mesmo tempo em que se busca a melhoria da qualidade de vida, ainda passível de melhorias significativas. Também é possível visualizar que as políticas e planos têm pontos comuns de interesse, e esses pontos constituem focos de interferência entre as iniciativas. Ocorre que um esforço da envergadura do realizado, em um período curto para a escala de convergência de iniciativas políticas e sociais, para a implementação deste arcabouço somente foi possível com cada uma das áreas desenvolvendo a sua contribuição com foco prioritário em sua área de interesse específica. Uma das maiores consequências disso é a impossibilidade real de colocar efetivamente em prática os princípios de integração e colaboração entre os diversos enfoques que todas as políticas e planos preconizam. Assim não é raro que, no desenrolar de suas atividades e na busca de potencializar os benefícios específicos para sua área de interesse, as diversas visões busquem e produzam resultados não alinhados, conflitantes e até mesmo antagônicos. Essas incompatibilidades extrapolam as áreas acima citadas, incluindo diversas outras, como as ligadas à indústria e à agricultura, por exemplo. A sustentabilidade representa a busca contínua do equilíbrio, respeitando as gerações atuais e futuras, sua capacidade de atender às suas necessidades e de modo que o balanço de todos os fatores resulte em uma posição possível de ser atingida e mantida, com ganhos sociais e econômicos e conservação ambiental (que difere de preservação, embora não a exclua em situações específicas e previstas na legislação brasileira). Por isso, o descompasso entre as diversas políticas e planos é uma ameaça à sustentabilidade de todas as áreas envolvidas (ambiental, energética, recursos hídricos, agricultura, 150 social etc.). O próximo desafio a ser enfrentado é o de compatibilização de políticas e planos das mais diversas áreas de interesse na busca da construção, de comum acordo, de um caminho para a sustentabilidade. Cabe à sociedade brasileira, representada nas suas diversas visões por grupos como a Seção Brasileira do Fórum Mundial da Água, trabalhar para colocar essa discussão em pauta. 2. Ferramentas para implementação das políticas Todas as políticas acima mencionadas estabelecem ferramentas para a sua consecução. Uma delas é, via de regra, a elaboração de um plano com as indicações das opções táticas para a realização das políticas. Há uma gama de outras ferramentas que têm impacto direto no processo de planejamento da expansão da energia elétrica, em especial da hidreletricidade. Entre elas, é imperativo mencionar: • Inventário das bacias: nessa etapa do planejamento, os potenciais hidrelétricos de todas as bacias são identificados e estudos são realizados para a identificação do conjunto de projetos que deve ser considerado para implantação, levando em conta, de maneira geral, todas as condicionantes técnicas, econômicas e sociais a ele associadas. • Estudos de viabilidade: uma vez identificados os projetos candidatos a implementação, estudos detalhados são produzidos para verificar a real viabilidade econômica e socioambiental. Nessa etapa, o foco muda da bacia para o projeto, que é avaliado com amplo grau de detalhe, tendo como produtos o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima). • Outorga de recursos hídricos: parte importante do processo de implementação de um projeto hidrelétrico. A vazão a ser utilizada no processo de geração de energia tem que ser outorgada ao empreendimento, sem ele não é colocado em leilão. • Licenciamento ambiental: é o processo que busca garantir a sustentabilidade social e ambiental do C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l empreendimento. Consta de um processo de múltiplos passos (licenças prévia, de implantação e de operação), que faz o acompanhamento do ciclo de vida do projeto e permite a adaptação a novas condições impostas pela realidade. • Leilões: os projetos de energia são disponibiliza- dos para implantação por meio de leilões, em que o ganhador é aquele que oferta o menor preço de energia para o empreendimento. É um mecanis- mo de competitividade e de abertura de mercado, ao permitir a inclusão de novos atores no proces- so de produção de energia e, ao mesmo tempo, garantir a busca da modicidade tarifária. Combi- nado com outros mecanismos, como a realização de leilões específicos por tipo de energia e de incentivos econômicos e fiscais, se propõe também a permitir a implementação das novas formas de energias renováveis (eólica, biomassa, solar etc.). No processo brasileiro de planejamento da expan- são, os empreendimentos somente vão a leilão quando atendida uma série de requisitos, como a obtenção de outorga de recursos hídricos, licença ambiental prévia, entre outros. • Projeto Básico Ambiental (PBA): o PBA consiste na coleção de todos os requisitos, projetos e condicionantes estabelecidos para determinada atividade ao longo de seu ciclo de vida. Os con- dicionantes incluem os apresentados no processo de licenciamento, além dos surgidos ao longo do desenvolvimento e a partir de outras fontes, como governos estaduais e municipais. É, portanto, um retrato atualizado dos compromissos do empreendedor nas áreas social e ambiental e de contribuição para o desenvolvimento local e regional. As diversas ferramentas das múltiplas políticas são alinhadas e associadas de modo a produzir uma realidade bastante exigente para todos os projetos, em especial para os projetos hidrelétricos, que passam por uma atenção especial. Essa complexidade resulta na identificação de potenciais de melhoria do processo, que costumam ser apontados tanto pelos órgãos de planejamento e regulamentação 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a quanto pelos empreendedores e suas organiza- ções de classe. As políticas e planos apresentados têm como ponto em comum a declaração da necessidade de estabelecimento de um planejamento com a visão de todos os fatores intervenientes (visão holística). Em função disso, os atores do processo de plane- jamento energético têm tentado incorporar ferramentas de planejamento que considerem a maior variedade possível de aspectos e que sua aplicação se dê na escala regional, preferencialmente tendo a bacia hidrográfica como menor escala. Isso permite a consideração das interações e efeitos cumulativos das decisões, em especial das deci- sões de implementação de projetos. Exemplo dessa iniciativa é a exploração, pela EPE, responsável pelos estudos de expansão energética no Brasil, das ferramentas: • Avaliação Ambiental Integrada (AAI): ferramenta que analisa os efeitos cumulativos e sinérgicos resultantes da construção dos aproveitamentos hidrelétricos selecionados na etapa de inventário da bacia e apresenta diretrizes e recomendações de natureza socioeconômica e ambiental. A AAI visa não apenas a uma contribuição para o desenvolvimento sustentado da bacia, como também a orientar o prosseguimento dos estudos – Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica (EVTE) e Estudo e Impacto Ambiental (EIA) de cada empreendimento a ser implantado. • Avaliação Ambiental Estratégica (AAE): ferramenta de gestão ambiental que avalia as con- sequências ambientais e sociais de políticas, programas e planos (PT), nas mais diversas áreas. A AAE considera os impactos cumulativos das intervenções, suas externalidades e ligações entre os setores e propõe alternativas; ou seja, no sentido amplo, atua em níveis acima ou anterior ao dos projetos específicos. Seu ob- jetivo é o de assegurar que as questões ambientais e sociais dos planos, políticas e programas (PPPs) sejam adequadamente tratadas de forma 151 verdadeiramenteestratégica e integrada nas etapas iniciais do processo decisório. por outro lado, a região já dispõe da opção do gás natural e podem ser implementadas outras formas de aproveitamento que não impactem o Pantanal. • Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE): instrumento para planejar e ordenar o território brasileiro, harmonizando as relações econômicas, sociais e ambientais que nele acontecem. Outra condição para o desenvolvimento regional é a articulação das políticas públicas, reivindicadas por todos. O Zoneamento Ecológico-Econômico, ao tratar do território, oferece a melhor alternativa para que elas se integrem. Essas iniciativas buscam apontar para uma direção correta e precisam contar com o incentivo da sociedade, para que sejam avaliadas com profundidade e aplicadas ao processo de planejamento de todos os setores, em especial do elétrico, cabendo aos órgãos responsáveis pelo planejamento e regula- mentação ouvir os diversos setores da sociedade e propor decisões à luz do interesse maior e da Outro exemplo é a proposta de uma ferramenta desenvolvida pela WWF e a The Nature Conservancy (TNC) de qualificação e identificação de áreas da Amazônia em que a ocupação econômica tenha menor impacto ambiental, tomando como base a hidrografia da região. legislação. Essa visão de conjunto é fundamental para tratar a problemática do Pantanal, por exemplo: a exploração de um pequeno potencial hidrelétrico na Bacia do Alto Paraguai, não significativo em escala nacional, pode ser uma ameaça à maior área úmida do mundo e uma das mais ricas em biodiversidade e, O processo brasileiro de planejamento da expan- 3. Arcabouço institucional do Processo de Planejamento Energético 3.1 Principais atores são da geração conta com um número significativo de atores importantes, o que também permite uma percepção de sua complexidade. Cada um dos atores tem um papel específico no processo, como graficamente ilustrado na figura abaixo. Figura 1. Arcabouço institucional do setor energético do Brasil. Fonte: Machado, A.C.F. CNPE CNPE – Conselho Nacional de Política Energética. Homologação da política energética, em articulação com as demais políticas públicas. CMSE – Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Monitoramento das condições de atendimento e recomendação de ações preventivas para garantir a segurança do suprimento. ONS – Operador Nacional do Sistema. Coordenação e controle da operação da geração e da transmissão no sistema elétrico interligado. 152 CMSE MME EPE ANEEL ONS Agentes CCEE Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, Regulação e fiscalização, zelando pela qualidade dos serviços prestados, universalização do atendimento e pelo estabelecimento de tarifas para consumidores finais, preservando a viabilidade econômica e financeira dos agentes de comercialização. MME – Ministério de Minas e Energia. Formulação e Implementação de políticas para o setor energético, de acordo com as diretrizes do CNPE. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Execução de estudos para definição da matriz energética e planejamento da expansão do setor elétrico (geração e transmissão). CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Admistração de contratos, liquidação do mercado de curto prazo, leilões de energia. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 3.2 Estrutura do planejamento da expansão da energia elétrica O Sistema Brasileiro de Planejamento da Expansão é composto pelo encadeamento de visões sobre o problema da energia no Brasil, começando pelas diretrizes estratégicas estabelecidas pelo CNPE, passando pelos estudos estratégicos, de longo prazo (30 anos) e revisão quadrienal, que se conectam com os estudos táticos, materializados nos Planos Decenais de Energia, revisados anualmente, chegando, finalmente, no nível operacional, ao monitoramento da expansão, que foca um horizonte de cinco anos e tem revisão mensal. Embora haja um entendimento geral de que a estrutura atual possua um considerável grau de razoabilidade, percebe-se grande potencial para a melhoria das ferramentas utilizadas para a elaboração dos diversos níveis de planejamento, assim como das formas de integração entre eles. FIGURA 02. Ciclo de Planejamento e Implantação de Empreendimentos Políticas e diretrizes CNPE Planejamento de longo prazo Horizonte – 20 a 30 anos Atualizações – 4 anos Plano decenal de expansão Atualizações anuais Monitoramento da expansão Horizonte – 5 anos Atualizações mensais Estimativas iniciais de consumo e potencial de oferta Estudos de invertário Estudos de viabilidade Licitação e concessão Projeto básico Projeto executivo construção Operação Fonte: Zimmermann, M.P 4. Expansão energética no Brasil As projeções oficiais para a próxima década apontam para uma taxa anual de crescimento da demanda de energia de 4,4%, patamar ligeiramente superior ao crescimento estimado da economia (4,2% ao ano). No resto do mundo, a taxa de crescimento anual será de 1,4% em período semelhante 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a (2008-2020), segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE). Ou seja, o consumo brasileiro de energia crescerá em taxas muito superiores ao resto do mundo. O consumo final de energia em 2017 (EPE, 2009b) deverá atingir 600 TWh e, para atendê-lo, seriam necessários, em média, cerca de 3.000 MW-médios 153 adicionais ao ano de capacidade firme de geração e investimentos da ordem de US$ 40 bilhões (BANCO MUNDIAL, 2008). Observa-se que a maior taxa de crescimento do consumo no período 2008-2017 será no subsistema Norte e decorre tanto da instalação de grandes cargas industriais na região quanto, principalmente, da interligação dos sistemas isolados de Manaus/ Macapá/margem esquerda do Amazonas, prevista para 2012. Como consequência, o consumo do subsistema Norte apresentará um salto em 2012 (gráfico 1) e um crescimento médio de consumo de 8,6% (EPE, 2009b). Desconsiderando essa interligação, o crescimento médio anual no período 2008-2017 seria reduzido em 6,3%. Gráfico 1. Previsão de consumo de energia elétrica no Brasil por subsistema, em GWh Fonte: EPE Prevê-se que, para atender a demanda acima projetada, as usinas hidrelétricas continuarão tendo uma participação predominante – porém decrescente – na matriz elétrica brasileira, caindo de 86% em 2008 para 71% em 2017. Considerando o Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 (PDE 2020), há a previsão de um au- 154 mento, para os próximos 10 anos, de 8% para 16% (18GW) na participação da capacidade instalada das novas fontes de energia, com destaque para as usinas eólicas, a biomassa de bagaço de cana-de-açúcar e PCHs (PDE 2020 em Consulta Pública). Com isto, a participação das energias renováveis na matriz elétrica brasileira deve permanecer estável, no entorno de 83%. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Gráfico 2. Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (GW e %) Em função da disponibilidade de projetos hidrelétricos, com estudos em fase de conclusão para irem a leilão, e de novas fontes com custos de geração mais competitivos que os das termelétricas, como também da necessidade de contribuir não só para redução, mas igualmente para o não aumento das emissões de CO2, não são indicadas, no PDE 2020, novos projetos termelétricos a partir de 2014 e para um horizonte de 10 anos. O gráfico 2 ilustra a estratégia atual de expansão por fonte de energia elétrica. Gráfico 3. Estratégia de expansão energética por fonte de energia elétrica. Fonte: EPE Fonte Alternativas Gás de processo Óleo diesel Carvão mineral Gás natural Urânioh Óleo combustível idrelétrica Fonte: EPE Reconhece-se, por outro lado, devido à possibilidade de oferta de grandes volumes de gás natural associado à produção petrolífera do Pré-Sal, que a expansão da geração termelétrica a gás poderia vir a ocupar maior espaço na matriz energética, principalmente na eventualidade de dificuldades para o licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas e de linhas de transmissão. Essa forma de expansão, não contemplada no PDE 2020, poderá 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a vir a ser considerada nos próximos ciclos do planejamento decenal, desde que as condições que venham a ser estabelecidas para o fornecimento do gás possibilitem a competitividade econômica da energia produzida. O gráfico a seguir demonstra claramente o papel fundamental da Região Norte do Brasil – da Amazônia, principalmente – na expansão contratada e planejada do Sistema Elétrico Brasileiro. 155 Gráfico 4. Acréscimo da capacidade instalada hidrelétrica (MW) Fonte: EPE 2011 Em 2030, o consumo de energia elétrica brasileiro está projetado entre 950 e 1.250 TWh/ano, o que poderá exigir a instalação de uma potência hidrelétrica adicional expressiva. Mesmo que se dê prioridade absoluta para a expansão da oferta por meio de hidrelétricas, ainda assim a instalação de 120 mil MW, elevando para 80% o uso do potencial, poderia não ser suficiente para atender a demanda por energia nesse horizonte. Para suprir essa demanda, outras fontes comporão essa expansão, o que é possível dado à diversidade de condições geográficas e climáticas existente no Brasil. O planejamento prevê a incorporação, pelo lado da demanda, da parcela viável de eficiência energé- tica que pode ser implementada. Para tal, o país precisa continuar a expandir os programas de redução de perdas e ganhos da eficiência energética. A efetivação da expansão planejada, para todos os horizontes, dependerá do sucesso na comprovação da viabilidade dos projetos. Em caso de insu- cesso ou atraso, centrais termelétricas, mais caras e mais poluentes, serão necessárias para atender à demanda projetada, a gás natural e também a carvão mineral. 156 4.1 A expansão da hidreletricidade O potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em 260 GW de potência instalada, com apenas um terço deste potencial explorado e somente aproximadamente 40% inventariado. O potencial disponível nas Regiões Sudeste e Nordeste do Brasil basicamente já foi explorado, o que significa que 70% do potencial energético viável ainda não explorado está nas Bacias dos Rios Amazonas e Tocantins/Araguaia, no Norte do país. A Bacia do Rio Amazonas responde sozinha por 25% dos 32% de aproveitamentos potenciais na região, com seus estimados 64 GW de potência total instalada (ELETROBRAS, 2010). É também na bacia Amazônica que se encontram os maiores desafios a serem enfrentados na expansão hidrelétrica sustentável. Trata-se da região mais carente do país, com os índices mais baixos de desenvolvimento humano, pouco acesso à infraestrutura (estradas, água tratada, energia elétrica e saneamento básico) e ao bem-estar social (educação, saúde, emprego), além de ser uma região de fauna e flora de alta diversidade e onde vivem aproximadamente 60% da população indígena do C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Brasil. Em suma, o desafio é o desenvolvimento da hidreletricidade em uma região extremamente rica do ponto de vista ambiental e extremamente pobre do ponto de vista social. O PDE 2019 indica a construção de um conjunto significativo de centrais na região. Além das centrais já leiloadas, nos Rios Madeira (Santo Antônio e Jirau), Xingu (Belo Monte) e Teles Pires (Colíder e Teles Pires), são planejadas centrais de grande porte nos Rios Tapajós e Jamanxim. Essas usinas, na maioria de grande porte, constituem a nova fronteira hidrelétrica nacional e irão interferir não apenas na dimensão do sistema de geração, mas também no perfil de distribuição de energia em todo o país, abrindo novas possibilidades de desenvolvimento regional e nacional. Dadas as particularidades dessa nova fronteira hidrelétrica, desafios inéditos serão colocados para a sociedade brasileira para que se garanta a sustentabilidade dos novos projetos. Esses desafios têm que ser enfrentados em todas as fases do ciclo de vida dos projetos, começando pela de planejamento da expansão, passando pelas fases de projeto, implementação e operação, quando possibilidades em relação a novas tecnologias, sustentabilidade, em suas dimensões sociocultural, econômica e ambiental, e diálogo com a sociedade serão fundamentais. Para a etapa de planejamento, algumas sugestões foram apresentadas anteriormente; os desafios para as demais são abordados na sequência. 4.2 A questão dos reservatórios a fio d’água Embora se reconheçam as enormes vantagens decorrentes da existência de uma matriz energética com base sustentável, que prescinda da utilização de combustíveis fósseis, alguns segmentos nacionais e internacionais relutam em aceitar a hidreletricidade como opção, em especial quando implica construção de barramentos que resultem em reservatórios de grandes dimensões. De acordo com o Plano Decenal de Expansão 2020, que está em consulta pública, a expectativa é de que a capacidade de geração das hidrelétricas crescerá 39% de 2011 até 2020, enquanto a capacidade de armazenamento de água nesses projetos aumentará apenas 6%. Gráfico 5. Evolução da capacidade de armazenamento de energia máxima Fonte: EPE 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 157 Há nesse contexto uma tendência mundial de bus- carem-se alternativas de geração de energia que, ainda que de origem hídrica, evitem a construção de grandes reservatórios, em função dos impactos ambientais e sociais deles decorrentes, cada vez mais conhecidos, e das grandes repercussões junto a alguns segmentos da sociedade, que se mostram mais sensíveis a essas questões. No Brasil, e também em outros países que contam com grandes rios em regiões de baixa densidade populacional, percebe-se uma tendência crescente de utilização de turbinas bulbo em usinas hidrelétri- cas, como no caso das usinas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau). No caso brasileiro, essa tendência tem se caracterizado pela concepção de projetos que diminuem a dimensão dos barramentos, valen- do-se das expressivas vazões dos rios da região, que permitem a instalação de usinas hidrelétricas denominadas “a fio d’água”, não necessariamente utilizando turbinas bulbo, mas também de concep- ção mais tradicional, como as do tipo Francis, ou, no caso de menores quedas d’água, Kaplan. Embora essas usinas tragam a vantagem de oti- mizar o aproveitamento das vazões naturais sem os impactos decorrentes de grandes reservatórios, suas características implicam submissão à sazo- nalidade hidrológica, uma vez que não dispõem de condições de armazenamento plurianual que permitam o aproveitamento dos anos hidrologicamente mais fartos e promovam regularizações que resultem em maior homogeneidade e flexibilidade do sistema, essas maiores oscilações de nível dos reservatórios existentes ocorrem, na sua maioria, nas Regiões Sul e Sudeste do país, onde o potencial hidrelétrico está mais desenvolvido. Trata-se de regiões mais densamente povoadas e onde os lagos formados por hidrelétricas estão mais próximos a centros urbanos. Nestas áreas, os impactos negativos de uma maior amplitude de oscilação de nível são ainda mais sérios. Adicionalmente, uma adequada capacidade de reservação é necessária, inclusive, como base de reserva para uma maior e mais rápida expansão de fontes alternativas de energia, como eólica e biomassa. Na Europa e na China, por exemplo, a rápida expansão se deve também à existência de uma ampla matriz termelétrica que passa a ser utilizada como energia de reserva. No caso brasileiro, a capacidade de reservação e produção hidrelétrica faz possível tornar sua matriz mais limpa e sustentável. Um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil e pelo mundo hoje é, portanto, a compatibilização da necessidade de aumento da capacidade de armazenamento de água, seja para garantir o suprimento necessário de energia elétrica requerido pela agenda de desenvolvimento, seja para permitir a garantia da universalização do acesso à água por parte das populações de áreas urbanizadas. Felizmente, temos o conhecimento histórico, a capacidade técnica e o arcabouço legal e institucional para enfrentar com sucesso esse desafio. de geração elétrica. Tendo em vista que o sistema elétrico brasileiro é majoritariamente interligado, o aumento da capacidade de geração sem o correspondente aumento da capacidade de regularização impõe, necessaria- mente, perda de flexibilidade ao sistema, fazendo que os atuais reservatórios que se prestam à regu- larização plurianual sejam operados com maiores oscilações de níveis para compensar os empreendimentos hidrelétricos que não permitem regularização plurianual. Além da maior vulnerabilidade 158 4.3 A expansão da oferta por meio de outras fontes renováveis i. A expansão da energia eólica A energia eólica representa uma fonte renovável e limpa, substitutiva de fontes fósseis, sendo assim capaz de contribuir para a redução da emissão de gases do efeito estufa. Segundo o Atlas Eólico Brasileiro, o potencial eólico de nosso país pode chegar a 300 GW, superando, C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l em capacidade instalada, o que pode ser alcançado pelas usinas hidrelétricas planejadas e já existentes. As 56 usinas eólicas existentes no Brasil somam 1.141MW, valor ainda muito pequeno perante seu potencial. O Brasil tem um futuro promissor nessa área, apresentando boas oportunidades de investimento em energia eólica. As indústrias de equipamentos já começam a se instalar no país, fazendo que os custos dessa forma de energia venham caindo significativamente, colocando-a como alternativa competitiva em relação às fontes térmicas. No momento em que sejam competitivas com fontes hidrelétricas, passará a ser possível sua utilização como, por exemplo, mecanismo de postergação de novos projetos hidrelétricos, que assim poderão ser desenvolvidos com uma atenção social e ambiental ainda maior que a atual. Da sua parte, o governo brasileiro tem estabelecido programas de incentivo à energia eólica, tanto por meio de programas de incentivo (PROINFA) como por meio de leilões específicos para as novas fontesde energia. Embora o potencial eólico brasileiro seja expressivo, há sempre que se ter em conta a natureza inconstante de sua produção, que faz que haja a necessidade, no sistema de geração, de formas complementares de energia, que permitam uma regulação das flutuações de geração dessa fonte. Essa necessidade de uma capacidade de regulação implica, entre outras coisas, disponibilidade de energia armazenada para uso quando necessário e uma grande capacidade de variação de geração em função da demanda. A hidreletricidade é a forma renovável de energia que melhor atende a esses requisitos. A “sazonalidade inversa” das energias eólica e hídrica: no Brasil, os períodos de menor capacidade dos reservatórios das hidrelétricas coincidem exatamente com os períodos de maiores ventos e, portanto, de maior geração de energia nas usinas eólicas. Em contrapartida, os períodos de maior capacidade de armazenamento das hidrelétricas, o período de chuva, coincide com as temporadas de menores ventos, e, portanto, produção reduzida de energia eólica. Esse regime de complementaridade sazonal entre as fontes eólica e hidráulica, demonstrado no gráfico 6, potencializa maior confiabilidade e estabilidade sazonal do Sistema Elétrico Brasileiro e justifica investimentos em ambas as fontes. Gráfico 6. “Sazonalidade inversa” das energias eólica e hídrica Fonte: Site ABEEólica 2011 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 159 ii. A expansão da biomassa O Brasil é o quarto maior produtor dessa fonte energética do mundo, atrás apenas de Alemanha, Estados Unidos e França (Aneel). A biomassa da cana-de-açúcar é consumida principalmente na produção de açúcar e etanol. Em 2009, aproximadamente 56% das 135,4 milhões de toneladas de bagaço consumido para fins energéticos foram destinados à produção de açúcar. A produção de etanol absorveu os 44% restantes. A tendência é que esse quadro se inverta ao longo do horizonte até 2020, seja pelo aumento da oferta da biomassa, seja porque o mercado de açúcar não apresenta a mesma dinâmica do mercado de combustíveis líquidos. As projeções da demanda de bagaço de cana no país são de crescimento de 5,7% anuais entre 2010 e 2020, atingindo cerca de 238 milhões de toneladas em 2020. Para geração de energia elétrica, a capacidade ins- talada dessa modalidade deve crescer dos atuais 4.500 MW para valores da ordem de 9.200 MW em 2020 (PDE 2020). A expansão do uso da biomassa pode ser um mecanismo eficiente de aproveitamento dos recursos hídricos naturais, na forma de chuva, sem necessidade de irrigação, reduzindo assim a interferência nos ecossistemas aquáticos. A biomassa de cana-de-açúcar apresenta como vantagem adicional a sua complementaridade sazonal com a energia hidráulica. Os períodos de maiores chuvas, favoráveis à hidreletricidade, correspon- dem aos de entressafra da produção de cana; e os períodos de menores índices pluviométricos, aos de produção de cana e, consequentemente, de maior oferta do bagaço de cana para produção de energia elétrica. Como demonstra o gráfico 7, existe uma forte relação inversa entre os períodos de safra de cana-de-açúcar e de ventos (para a geração de energia eólica, como visto acima). Gráfico 7. Complementaridade sazonal entre energia hidráulica, eólica e biomassa Fonte: ABEEólica 160 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l No entanto, o planejamento da produção brasileira de etanol, ainda que considere expansão significativa, já reflete os acontecimentos recentes, apontando para uma frustração de expectativas em relação ao passado, devido à crise internacional que levou ao adiamento de projetos de novas usinas e ao aumento do preço do açúcar no mercado internacional. A projeção de oferta no médio e longo prazo é passiva, ajustando-se para atender ao mercado doméstico e às importações. Comparando-se com a trajetória prevista no PDE 2008-2017, há uma redução de 11% na produção projetada. Os bicombustíveis também são uma componente importante da estratégia brasileira de energia e também têm relação importante com o tema da água. Prevê-se uma expansão significativa da participação de bicombustíveis em nossa matriz energética: até 2019, a produção de etanol cresce a uma taxa anual de 7,4%. No caso do etanol hidratado, o crescimento da demanda até 2020 será de 14% e do biodiesel será de 5%. Compartilhamento de água e energia A água é recurso fundamental e finito, porém renovável, e deverá ter sua importância multiplicada, no horizonte próximo, pela ampliação das demandas sobre as fontes hídricas, resultado do crescimento populacional e econômico. Prevê-se a consolidação de situações de escassez em diversas partes do mundo e de vantagens competitivas para aqueles que, como o Brasil, dispõe do recurso em abundância. Cenários mais pessimistas incluem o risco de guerras pelo domínio de fontes de água. Nesse contexto, o tema de compartilhamento de água, em suas diversas formas, ganha maior relevância. Na América do Sul, onde há 39 bacias hidrográficas transfronteiriças e a luta pelo desenvolvimento econômico e social é há muito enfrentada por seus povos, o tema do compartilhamento de água e energia é fundamental. Para o Brasil em particular, a realidade não é menos impactante, pois há em nosso território mais de 70 rios fronteiriços ou transfronteiriços. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a A Bacia Amazônica se estende por oito países da América do Sul (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela); e a Bacia do Rio da Prata, por quatro países (Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai), o que nos apresenta uma realidade complexa no tema da gestão compartilhada de recursos hídricos. Em termos de águas subterrâneas, o Aquífero Guarani, uma grande reserva subterrânea, se estende por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Outra vertente do compartilhamento das águas, o dos usos múltiplos, é conceitualmente semelhante à anterior, por implicar existência de múltiplos atores associados aos múltiplos usos. Os usos múltiplos ganham importância significativa com a busca da sustentabilidade das atividades humanas, do bem-estar social e, com o aumento da pressão sobre os recursos hídricos, com a necessidade de ampliação da eficiência do aproveitamento dos recursos. Ambas as vertentes, de compartilhamento do recurso entre múltiplos atores e múltiplos usos, são abordados na sequência. 1. Importância do compartilhamento de água e energia na América do Sul A hidreletricidade tem sido fundamental para o nosso continente: mais de 64% da capacidade de geração elétrica instalada da América Latina é proveniente de hidreletricidade (QUEIROZ, 2010). Ademais, ela tem grandes perspectivas de continuar sendo importante, pois dispõe de um grande potencial a explorar e com grande complementaridade de geração e consumo entre seus países. Na América do Sul há um número significativo de rios transfronteiriços, o que abre diversas possibilidades de compartilhamento, em especial na forma de projetos conjuntos de energia. Esses projetos devem ganhar relevância em breve, já que o crescimento da demanda de energia elétrica se dará a taxas elevadas em função da determinação dos países da América do Sul de promover o aumento do PIB e desenvolver políticas sociais 161 mais inclusivase abrangentes, combinando crescimento econômico com melhor distribuição de renda. A exploração do grande potencial de recursos hídricos pode ajudar a garantir o aumento da oferta da capacidade hidrelétrica instalada. A integração energética na América do Sul que vem ocorrendo com avanços e recuos, já que se trata de um complexo processo que envolve questões estratégicas, políticas e econômicas. Essa integração cria oportunidades de redução de desigualdade dos países envolvidos; contribui para o desenvolvimento econômico e social da região. Há um forte potencial de complementaridade entre os países da região, tanto pelo lado da oferta de recursos energéticos, quanto pelo lado da demanda de energia elétrica. Nesse aspecto positivo da integração, deve-se destacar o papel do Brasil como agente catalisador desse processo. Esse papel deve-se às dimensões continentais, demográficas, econômicas e do próprio setor elétrico brasileiro. 2. Formas de compartilhamento de água e energia Do ponto de vista teórico, existem três formas de compartilhamento de água: • Regulação de uso: os envolvidos no problema de compartilhamento dos recursos hídricos estabelecem parâmetros e limites para as diversas formas de uso dos recursos. Esses acordos podem ter efeitos em toda a bacia, ou seja, podem ter repercussões nos trechos não compartilhados dos recursos hídricos. É possível imaginar-se que, em princípio, faz parte da discussão de regulação o uso medidas de mitigação/compensação a partes afetadas/prejudicadas. Esse tipo de compartilhamento implica a existência de certos “direitos compartilhados” entre os múltiplos atores sobre os recursos hídricos. • Compartilhamento de uso: os envolvidos compartilham projetos, usos e seus resultados, geralmente em áreas de domínio/interesse comum. No com- 162 partilhamento de uso, é possível imaginar-se a discussão de compartilhamento de custos de projeto, implantação e operação da infraestrutura necessária ao compartilhamento. Esse tipo de compartilhamento também implica a existência do compartilhamento de alguns direitos entre os múltiplos atores sobre os recursos hídricos, o que pode levar à discussão de compensações de direitos. • Intercâmbio de produtos: o intercâmbio de produtos intensivos no uso da água pode ser considerado uma forma avançada de compartilhamento de água. A venda de produtos agrícolas é exemplo desse tipo de compartilhamento. Especificamente para o tema energia, em países com produção baseada principalmente na hidreletricidade, como o Brasil, os acordos de intercâmbio de energia são formas de compartilhamento de recursos hídricos. Entretanto, diferentemente dos dois itens anteriores, nesse caso não existem, necessariamente, direitos compartilhados sobre os recursos. 2.1. Compartilhamento por regulação de uso dos recursos hídricos i. Regulação de uso para energia O Acordo Tripartite, estabelecido entre Brasil, Argentina e Paraguai para a construção das usinas hidrelétricas de Itaipu e de Corpus, é um exemplo de regulação de uso. O documento, oficialmente denominado “Acordo sobre Cooperação Técnico-Operativa entre os Aproveitamentos de Itaipu e Corpus”, estabeleceu limites operacionais (variação de níveis, variação de vazões e número de turbinas em operação) para a usina de Itaipu, ao mesmo tempo em que permitiu que a futura usina de Corpus, localizada a jusante, inundasse o território brasileiro e o paraguaio, sem o que a usina provavelmente não seria viável. ii. Regulação de uso para outras áreas Um futuro acordo para utilização, pelos diversos países, do Aquífero Guarani, será enquadrado na C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l categoria de regulação de uso, já que não existe compartilhamento de direitos nos pontos em que a exploração ocorrerá. Os Comitês de Bacia, previstos na Política Nacio- nal de Recursos Hídricos, são um fórum perfeito para incentivar a coordenação entre todos os en- volvidos com o tema dos recursos hídricos em uma bacia hidrográfica, mas aparentemente os casos de sucesso destes comitês, até o momento, se de- ram em bacias onde já havia algum uso (e alguma disputa) de recursos hídricos, o que fez que o compartilhamento do recurso se desse, principalmente, por regulação de uso e compensação de direitos (pagamento pelo uso da água), em vez de projetos de uso compartilhado. O Sistema Elétrico Brasileiro tem um processo de planejamento e execução de controle de enchen- tes em algumas bacias hidrográficas, em especial na Bacia do Rio Paraná. O processo consiste na identificação de restrições à operação dos reserva- tórios (em geral pontos que não devem ser alagados) e alocação, variável ao longo de ano, de volumes de espera nos reservatórios do sistema para garantir que, até certa severidade de enchentes, as restrições não sejam quebradas. As restrições que condicionam o planejamento e operação do controle de enchentes são diversas, incluindo, por exemplo, proteção de áreas alagadiças de cidades. Essa operação de controle de cheias pode ser vista como um exemplo de regulação de uso. 2.2. Uso compartilhado dos recursos hídricos i. Uso compartilhado para energia O principal exemplo envolvendo o Brasil desse tipo de compartilhamento é a usina hidrelétrica binacional de Itaipu, de propriedade, em condomínio e com di- reitos iguais, de Brasil e Paraguai. Localizada no Rio Paraná, possui 20 turbinas, cada uma com potência de 700 MW, totalizando uma capacidade instalada de 14.000 MW. Cada país tem o direito de contra- tar a produção de metade da capacidade instalada 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a do empreendimento, tendo, cada parceiro, o direito (e a obrigação) de contratar a parcela da capacidade instalada não contratada pela outra parte. O Tratado de Itaipu, assinado por Brasil e Paraguai para a implantação do projeto, é considerado um documento excepcional, ao permitir equacionar de forma bastante equilibrada as diversas assimetrias entre os parceiros (de dimensões, econômicas, populacionais, sociais, técnicas, culturais etc.), sem, em nenhum momento, deixar de reconhecer a igualdade de estatura, direitos e deveres entre os parceiros. Constitui, assim, exemplo de boa prática no uso compartilhado dos recursos hídricos, tendo servido de base para acorde semelhante realizado por Argentina e Paraguai para a construção da Usina de Yacyretá, no mesmo Rio Paraná, a jusante de Itaipu. Exemplo adicional seria o Tratado de Salto Grande (entre Argentina e Uruguai), que viabilizou a usina hidrelétrica em área de fronteira no Rio Uruguai. E mais recentemente, em junho de 2010, foi assinado um Acordo de Integração Energética entre os governos do Brasil e do Peru, que prevê a construção de seis grandes usinas hidrelétricas na Amazônia Peruana. ii. Uso compartilhado para outros setores A Lei n0 9.433/1997 traz, entre seus fundamentos, que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar os usos múltiplos da água. Desse modo, projetos de geração hidrelétrica devem ser parte do planejamento estratégico da bacia e estar compatíveis com os atuais usos da água e com aqueles previstos nos planos de bacias. Alguns reservatórios brasileiros de geração de energia já foram concebidos e construídos para o atendimento de múltiplas finalidades, compatibilizando usos como: captação de água potável, irrigação, transporte e lazer, além do controle de cheias. O grande potencial hidrelétrico brasileiro representa uma indiscutível vantagem comparativa em relação às matrizes elétricas adotadas por outros países, que utilizam principalmente os combustíveis fósseis e/ou centrais nucleares para geração 163 de energia elétrica. Além de tratar-se de uma fonte abundante, limpa e renovável, a utilização da alternativa hidrelétrica é uma tecnologia amplamente dominada pelo Brasil, servindo inclusive de referência para outros países. Os grandes reservatórios criados para os aproveitamentos hidrelétricos são um dos principais usuários de recursos hídricos do país. O uso da água para geração de energia hidrelétrica pode ser considerado não consuntivo, já que quase toda a água utilizada na geração de energia retorna aos rios. No entanto, a distribuição inadequada da quantidade de água a ser utilizada para geração de energia, privilegiando este uso em detrimento dos demais, pode trazer sérias restrições aos outros usuários daquele corpo d’água; daí a importância da regulação dos usos da água relacionados a aproveitamentos hidrelétricos. Em algumas bacias hidrográficas brasileiras, há registro de conflitos envolvendo, principalmente, aproveitamentos hidrelétricos e grandes retiradas para irrigação. Nestes casos, o emprego de instrumentos de negociação e regulação permite compatibilizar os interesses dos setores usuários, disciplinando as captações e revendo a geração. São fundamentais os estudos e equacionamentos associados aos usos múltiplos e, eventualmente, concorrentes dos recursos hídricos, em seus aspectos socioeconômicos, ambientais e estratégicos, relativos a energia, pesca, abastecimento urbano, saneamento básico, irrigação, transporte, usos industriais, lazer e outros. • A interligação elétrica de 200 MW que o Brasil possui com a Venezuela, por meio de uma linha de transmissão entre Boa Vista, capital de Roraima, até Santa Elena, na Venezuela. Essa linha permite ao Brasil importar a energia de origem hidrelétrica gerada na UHE Guri na Venezuela, evitando o acionamento de usinas térmicas a óleo diesel em Roraima. • Interligações elétricas do Brasil com Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. • Os gasodutos para o transporte de gás natural advindo da Bolívia e da Argentina para o Brasil. Os intercâmbios que envolvem hidreletricidade po- dem ser vistos como intercâmbios de água entre parceiros que não compartilham direitos comuns sobre esta água. É uma forma de socialização dos benefícios dos recursos hídricos, que tem uma distribuição bastante desigual em todo o globo. 3. Benefícios e desafios do compartilhamento de água e energia Assumindo-se que a gestão por bacia é o para- digma a ser seguido no tratamento da gestão de recursos hídricos, a realidade nos mostra que temos muito que caminhar até chegarmos per- to desse objetivo para bacias compartilhadas. As dificuldades para essa gestão são imensas, devido aos diferentes graus de desenvolvimen- to econômico dos países, seus diferentes graus de institucionalização dos processos nacionais de gestão (de recursos hídricos, meio ambiente, energia, economia etc.) e antecedentes, geral- 2.3 Compartilhamento de recursos hídricos por intercâmbio de energia Nas últimas décadas, transações comerciais de energia entre países têm se tornado mais comum na América do Sul. O Brasil tem deliberadamente buscado intensificar a integração energética com seus países vizinhos. São exemplos dessas iniciativas de intercâmbio: 164 mente significativo, de conflitos entre vizinhos, que gera maior espírito de competição que de cooperação. Especificamente para o tema de energia, e se- gundo o Instituto Acende Brasil, a integração energética entre países (e o consequente com- partilhamento de água) traz consigo benefícios e riscos potenciais: C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 3.1 Benefícios potenciais da integração • A gestão integrada e eficiente dos sistemas energéticos latino-americanos poderia produzir economias relevantes para os países envolvidos. A interligação dos sistemas elétricos permitiria melhor aproveitamento dos recursos hidrelétricos ao permitir a exploração das complementaridades hidrológicas. • A integração deve trazer segurança e regularidade no fornecimento de energia para as economias integradas, dado que os países tendem a sofrer crises de suprimento em momentos distintos. Havendo interligações, os países podem importar ou exportar energia uns dos outros, tornando seus sistemas mais robustos. • É possível diversificar a matriz energética regional, o que proporcionaria um fornecimento mais confiável. • Facilitaria o desenvolvimento de recursos energéticos, ao proporcionar escala: muitos países não exploram seus recursos energéticos porque a sua demanda seria insuficiente para justificar o projeto nos primeiros anos. Com a integração, seria possível a exportação do excedente de paísescom pouca demanda para países com muita demanda por energia. • Permitiria a exploração dos recursos energéticos de forma racional, desenvolvendo-se em primeiro lugar os recursos energéticos de melhor relação custo-benefício, de forma a reduzir o custo para os consumidores e os impactos socioambientais globais. 3.2 Riscos potenciais da integração • Insegurança energética: paradoxalmente, a integração energética pode introduzir uma redução na confiabilidade do suprimento de energia de outros países, por estar continuamente sujeita à interferência de múltiplos atores em todas as jurisdições envolvidas (governo, órgãos reguladores, agentes econômicos, sociedade civil). Devido ao potencial de dano associado a esse tipo de interferência, frequentemente a percepção do risco se sobrepõe a critérios técnicos e econômicosna definição das políticas energéticas; 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a • Instabilidade e imprevisibilidade. Riscos político, regulatório, jurídico, diplomático, entre outros, introduzidos nessas transações internacionais podem encarecer e ampliar o risco de suprimento de energia. Assim, contratos de suprimento que deveriam aumentar a segurança energética do país pode ser fonte de novas vulnerabilidades. O Instituto Acende Brasil examinou 11 incidentes em que intervenções de países parceiros alteraram as condições originalmente pactuadas em contratos ou tratados. Em todos os casos, o Brasil sofreu perdas devido ao descumprimento de compromissos. O impacto de tais alterações foi de perdas de cerca de R$ 6,7 bilhões para o Brasil. E, olhando para o futuro, as intervenções já realizadas ou em andamento poderiam elevar a cifra para mais de R$ 21 bilhões. Sustentabilidade de empreendimentos hidrelétricos No Brasil, as iniciativas para alcançar o equilíbrio entre os vetores econômico, ambiental e social na implementação de projetos hidrelétricos seguiu as tendências mundiais em todos os setores produtivos na busca do desenvolvimento sustentável. Na década de 1970, ainda se discutia no mundo a hipótese de que os recursos naturais fossem abundantes a ponto de que pudessem ser considerados praticamente inesgotáveis, no Brasil, as questões econômicas eram significativamente preponderantes em relação a quaisquer outras. Importante lembrar que foi justamente em 1973 que eclodiu a primeira grande crise do petróleo na história recente; assim, utilizar fontes de energia que fossem capazes de substituir os derivados de petróleo na produção de energia, incluindo a elétrica, assumia um papel de tamanha importância para o país – sempre se ressaltando a mentalidade predominantemente desenvolvimentista característica da época – que cuidados com o meio ambiente e questões sociais das populações do entorno de empreendimentos hidrelétricos eram postos em segundo plano. 165 Desde então, os empreendimentos hidrelétricos no país têm incorporado de forma crescente crité- rios e práticas em prol de sua sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável. Assim, o Brasil, possuidor de um potencial hídrico apreciável, em que as hidrelétricas permanecem sendo consideradas como sua melhor alternativa de expansão da geração de energia elétrica para o atendimento dos objetivos estratégicos nacionais, inclusive o de manter limpas as matrizes energética e elétrica do país, passou a condicionar a implantação de usinas hidrelétricas ao estabelecimento e cumprimento de critérios de sustentabilidade, levando-se em conta aspectos sociais, culturais, ambientais, territoriais, de desenvolvimento da economia local, além dos meramente econômicos e políticos. 1. Instrumento legal de sustentabilidade de hidrelétricas no Brasil: o licenciamento ambiental Em busca da compatibilização do desenvolvimento econômico-social e da preservação ambiental, o Brasil desenvolveu ao longo de décadas um processo inovador: o licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, cujo objetivo consiste em agir preventivamente para a proteção do bem comum da população – o meio ambiente – e compatibilizar sua preservação com o desenvolvimento econômico e social. Esses dois valores são reconhecidos na Constituição Federal brasileira como essenciais para nossa sociedade. Cuida-se para que a promoção de um valor não comprometa o outro, sendo assim considerados igualmente importantes. O processo do licenciamento ambiental, descrito a seguir, tinha como foco inicial somente as variáveis ambientais; no decorrer do tempo, a prática levou à inclusão dos temas sociais em seu âmbito de interesse, tornando-o, na prática, um ins- trumento de avaliação de sustentabilidade para os aspectos ambiental e social. O processo é conduzi- do pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em âmbito 166 federal, e pelas secretarias estaduais, quando o licenciamento é realizado nessa esfera. O licenciamento ambiental brasileiro é estruturado em três fases, caracterizadas pela emissão de três diferentes e respectivas licenças: Prévia, de Instalação e de Operação: • Licença Prévia (LP) é a licença concedida na fase de planejamento e que pressupõe o cumprimento dos requisitos básicos a serem atendidos durante a localização, a instalação e a operação. As leis de uso do solo municipais, estaduais ou federais devem ser observadas pelo empreendedor. Em outras palavras, a Licença Prévia atesta a viabilidade socioambiental do empreendimento; • Licença de Instalação (LI) é a concedida após a aprovação do projeto executivo com todos os requisitos anteriores atendidos por esse projeto. A LI, na prática, é a que autoriza o início da construção do empreendimento; • Licença de Operação (LO), necessária para o início das atividades de operação do empreendimento, é concedida após a verificação do pleno cumprimento dos requisitos condicionantes previstos na Licença de Instalação. A participação social no processo de licenciamento é garantida por intermédio de audiências públicas. A audiência pública é uma das etapas da avaliação do impacto socioambiental e o principal canal de participação das comunidades nas decisões em nível local e regional. Esse procedimento consiste em apresentar aos interessados o conteúdo do estudo e do relatório ambiental, esclarecendo dúvidas e recolhendo as críticas e sugestões sobre o empreendimento e as áreas a serem atingidas. As audiências públicas poderão ser realizadas por determinação do órgão ambiental, sempre que este julgar necessário, ou por solicitação de entidade civil, do Ministério Público ou de um grupo de 50 ou mais cidadãos. O edital de realização da audiência é publicado no Diário Oficial da União e em jornal regional ou local de grande circulação, C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l como também por meio de rádios e faixas, com in- Essas variações trazem incertezas significativas para escolhido para realização da audiência deve ser de para os valores de energia propostos pelos empreen dicação de data, hora e local do evento. O local fácil acesso aos interessados. Por isso, devido à localização geográfica das comunidades e grupos interessados, poderá haver mais de um evento sobre o mesmo projeto (IBAMA, 2010). os empreendimentos que podem ser transferidas dedores ou penalizar sua viabilidade econômica. Como elementos básicos para o licenciamento são desenvolvidos os Estudos de Impacto Ambiental (EIA). Os EIAs costumam ser desenvolvidos por empresas capacitadas e oferecer uma eficiente 1.1 Avaliação do processo de licenciamento de hidrelétricas no Brasil O licenciamento ambiental é um processo longo. O tempo previsto para a emissão da licença de instalação para usinas hidrelétricas, segundo instru- ção normativa do Ibama, é de dois anos. Contudo, um estudo recente que considerou uma amostra de 66 usinas hidrelétricas indica que o tempo médio para a emissão da Licença de Instalação tem sido de três a quatro anos (BANCO MUNDIAL, 2008). O Ibama também permanece envolvido durante e após a implantação do empreendimento. O licenciamento também é um processo bastante dinâmico, com requisitos sendo incluídos e altera- dos ao longo de todo o seu desenrolar, por diversas fontes (Ibama, Ministério Público, órgãos ambien- tais estaduais, comunidades etc.). Durante o seu desenvolvimento, programas sociais e ambientais são propostos visando à mitigação e compensa- ção dos impactos provocados pela construção de empreendimentos, além de compartilhamento de benefícios. Em média, 12% do custo total dos empreendimentos são direcionados a programas socioambientais (EPE; Instituto Acende Brasil). Em alguns empreendimentos, esse valor chega a 29% do custo total, um indicador concreto da parti- base de dados.37 A ênfase desses instrumentos, via de regra, é para a sustentabilidade ambiental. Os eixos de sustentabilidade social e econômica (associados às questões do impacto direto da implantação do canteiro de obras, da formação do reservatório e da socioeconomia local/regional) costumam ser pouco enfatizados e pouco claros, desde a fase inicial do licenciamento, porque a legislação ambiental existe há mais tempo, tendo atingido um grau de maturidade e detalhamento ainda não alcançado para os vetores social e socioeconômico local/regional. Como desdobramento do EIA, é elaborado o PBA (Projeto Básico Ambiental). Somente no PBA são abordados em maior detalhe os critérios dos eixos social e da economia local e regional, o que traz múltiplos problemas: incerteza e aumento nos custos; prejuízos de prazo e/ou custo e/ou qualidade na execução das medidas de mitigação e compensação, bem como de execução e demonstração de bons modelos de sustentabilidade social e econômica; e, como consequência, insegurança e insa- tisfação da população atingida. Pelos mesmos motivos mencionados relativos ao EIAs, muitos PBA, estabelecidos tendem a dedicar maior ênfase para programas de gestão de impactos ambientais. cipação de questões socioambientais na agenda do Dessa forma, evidencia-se a necessidade de maior Os custos socioambientais muitas vezes atingem e econômica no processo de licenciamento des- setor elétrico brasileiro (BANCO MUNDIAL, 2008). valores de pelo menos 50% acima dos orçamentos iniciais incluídos nos estudos de viabilidade. 37 ênfase e maior cuidado com as dimensões social de o seu início, em especial nos EIAs. Os temas sociais e econômicos devem ser tratados com Eventualmente, são desenvolvidos EIA/RIMAs de baixa qualidade, fato que contribui diretamente para o alongamento do processo e extrapolação dos custos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 167 antecipação , incluindo diálogos com as comunidades envolvidas, e tais tratativas devem ser contempladas no processo de leilão de energia. Idealmente, os temas de desenvolvimento regional e os requisitos de remanejamento populacional/familiar devem ser discutidos já na fase de planejamento, bem como incorporar instrumentos de ampla visão (regional, por bacia, e assim por diante). Para o Brasil, este tema ganha grande relevância, principalmente na Bacia Amazônica, próxima fronteira da hidreletricidade, onde muitas regiões são carentes da atuação do Estado, com Índices de Desenvolvimento Humano muito baixos, em consequência de economias pouco desenvolvidas e pouco acesso a infraestrutura e serviços (estradas, água tratada, saneamento básico, educação, saúde e segurança pública). Com isso, cria-se a expectativa de que os novos projetos hidrelétricos vão suprir muitas dessas necessidades, que são muitas vezes claramente obrigações do Estado. Nos casos em que o Estado não possa cumpri-las, recaindo a responsabilidade sobre o empreendedor – o que frequentemente ocorre, há a necessidade premente de que ao menos todas as expectativas significativas em relação ao empreendimento dessa ordem já estejam definidas e detalhadas na etapa de leilão, de modo a garantir a viabilidade e sustentabilidade do projeto, tanto de retorno financeiro do investimento quanto de efetivo ganho de desenvolvimento sustentável para a comunidade. Alguns temas técnicos específicos também merecem atenção para a melhoria do processo de licenciamento (sócio) ambiental: • O processo deve ser aplicado ao conjunto de todas as atividades da obra (barragens, linhas de transmissão, estradas associadas etc.), como forma de garantir um tratamento integrado do conjunto de interferências do projeto. • O acompanhamento socioeconômico e am biental após o projeto é fundamental e deve ser incluído no edital para leilão da concessão da hidrelétrica, ficando claro o limite de 168 responsabilidades e competências de todos os atores envolvidos, principalmente entre empreendedor e Estado (governo); • Estabelecimento de métricas claras para os projetos de responsabilidade do empreendedor. Por exemplo, implementação de indicadores quanti- tativos de biodiversidade georreferenciados. Feitas essas considerações, é de se observar que as hidrelétricas deixaram de ser apenas uma fonte de energia para se tornar, também, um instrumento para contribuir para a melhoria do país, principal- mente nas regiões de sua inserção – não à toa, projetos hidrelétricos são comumente chamados de “estruturantes”. Entre outros fatores, as usinas hidrelétricas têm se tornado um vetor importante para auxiliar o país na preservação ambiental. Isso é possível a partir das atividades de mitigação, compensação e distribuição de benefícios dos projetos hidrelétricos, como a recuperação das matas ciliares, a criação de par- ques de preservação ambiental, atividades de proteção da biodiversidade, programas de educação ambiental e muitos outros, que trazem impactos positivos além do projeto em si. De fato, nas re- giões onde os empreendimentos hidrelétricos são implantados, estes se constituem na principal referência de preservação ambiental. Na esfera econômico-social, hidrelétricas contri- buem para o desenvolvimento econômico de uma região de diversas maneiras. Uma delas é o au- mento das receitas dos municípios e dos estados onde são construídas as barragens, tanto pela cir- culação de mercadorias e incrementos em atividades, como comércio, hotelaria e turismo, como pelo pagamento da Compensação Financeira pelo Uso de Bem Público. Outra forma de contribuição para o desenvolvimento socioeconômico que as hidrelétricas proporcionam para suas regiões advém do já citado papel suplementar ao Estado desempenhado pelos empreendedores em diversas áreas, como estradas, saúde, educação etc. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 2. Instrumentos internacionais de avaliação de sustentabilidade de hidrelétricas Existem esforços internacionais destinados a formar um entendimento comum sobre a sustentabilidade de hidrelétricas. Dois exemplos significativos foram produzidos pela Comissão Mundial de Barragens (World Commission on Dams – WCD) e a Associação Internacional de Hidroenergia (International Hydropower Association – IHA). A WCD foi uma iniciativa estabelecida em 1998 pelo Banco Mundial e pela organização não governamental IUCN (International Union for Conservation of Nature) para avaliar controvérsias que ocorriam em relação aos grandes empreendimentos hidrelétricos. Envolveu um número significativo de entidades de todo o mundo e avaliou um grande número de projetos hidrelétricos. O relatório final da comissão, intitulado “Dams and Development: a new framework for decision-making”, publicado em novembro de 2000, é reconhecido como um conjunto de contribuições bastante representativo para a discussão da hidreletricidade sustentável, tendo sido algumas amplamente aceitas, enquanto outras foram bastante questionadas (UNEP, 2011). São exemplos de contribuições significativas amplamente aceitas a abordagem de análises de direitos e riscos (rights and risks), os cinco princípios fundamentais (core values) e as sete prioridades estratégicas. No entanto, os princípios de política (policy principles) e as orientações de aplicação (guidelines) propostos pela entidade, que servem de base para a definição dos critérios para avaliar a sustentabilidade de um projeto, são pesadamente questionados, principalmente por não serem considerados equilibrados na ponderação dos benefícios e impactos da hidreletricidade. De forma geral, a orientação conceitual proposta pela WCD serviu de base para outras iniciativas, enquanto as iniciativas de ordem prática são seriamente questionadas. Avalia-se que o viés percebido nas propostas práticas da WCD tem duas fontes: apesar de propugnar a necessidade de ampla inclusão de todas as partes interessadas (stakeholders) nas 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a discussões da hidreletricidade, não houve, praticamente, participação de governos e do setor hidrelétrico nas atividades da comissão; a amostra de projetos hidrelétricos avaliados foi pequena, comparada com a quantidade de projetos existentes, e tendenciosa, ao priorizar projetos com problemas claramente constatáveis (ao optar em focar os casos problemáticos, alijou da análise a esmagadora maioria dos projetos, que não apresentaram estes problemas) e mais antigos (não submetidos à boa parte das condicionantes sociais e ambientais atuais). A International Hydropower Association é uma instituição internacional fundada em 1995, sob os auspícios da Unesco, para a promoção da hidreletricidade sustentável. Congrega todos aqueles que têm interesse em discutir o tema hidreletricidade sustentável, sejam empresas, universidades, pesquisadores ou interessados em geral. Conta com aproximadamente 90 entidades associadas, de mais de 80 países. Tem trabalhado há algum tempo com o tema da sustentabilidade de hidrelétricas e lançou, em 2004, seu primeiro documento oficial sobre o tema, as “Diretrizes de Sustentabilidade” (Sustainability Guidelines), que teve como uma das suas fontes de inspiração os princípios lançados pela WCD. Em 2006, foi lançada a primeira versão do Protocolo de Sustentabilidade de Hidrelétricas da entidade. Com a finalidade de desenvolver aquele protocolo, foi estabelecido, em 2008, um processo (Hydropower Sustainability Assessment Forum – HSAF) envolvendo as múltiplas partes interessadas, como governos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, o setor hidrelétrico, o setor financeiro e ONGs sociais e ambientais. Cada um destes grupos pode estabelecer grupos de apoio para as discussões, o que ampliou significativamente os envolvidos no diálogo. No processo de três anos de desenvolvimento do protocolo, duas etapas de consultas de escala global e de testes de campo das minutas do protocolo foram realizadas, tendo sido recebidas contribuições de todos os continentes (IHA, 2011). O resultado do 169 processo do HSAF foi o novo Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas (Hydropo- wer Sustainability Assessment Protocol – HSAP), lançado publicamente em junho de 2011, em Foz do Iguaçu, Brasil. O protocolo inclui ferramentas que cobrem as componentes principais do ciclo de vida das hidrelétricas: estágio inicial, projeto, implementação e ope- ração. Ele não se propõe a ser um standard, mas antes uma ferramenta de estabelecimento do perfil de sustentabilidade de empreendimentos hidrelétricos, tendo como escala de referência para avaliação as boas e melhores práticas em cada um dos mais de 20 tópicos avaliados em cada ferramenta. Embora o novo protocolo tenha o apoio de entida- des significativas da sociedade civil, como WWF e Transparência Internacional, recebeu algumas críticas em relação à possibilidade de não apresentar critérios exigentes o suficiente para a avaliação. O processo de validação de escala global do protocolo, que se encontra em desenvolvimento, é com- ponente importante para o tratamento desse tipo de questionamento. Dada a importância, já discutida, da existência de um entendimento comum do significado de hidreletricidade sustentável, esforços têm que ser realizados para a busca de uma convergência. Como o processo do Protocolo de Avaliação de Sustentabi- lidade de Hidrelétricas da IHA é a ferramenta mais recente, podendo assim se beneficiar de esforços anteriores, encontrando-se ainda em desenvolvimento, mostra-se como a iniciativa ideal para con- embora tenhamtido seu lançamento formal em 1998, foi em 2006 que apresentaram impacto de aprovação no mercado, convergindo globalmente para práticas de gestão de riscos socioambientais e exercendo atividades de rigorosas auditorias de seus padrões sobre as atividades empresariais financiadas. A aplicação desses princípios é adotada por mais de 73 instituições financeiras privadas no mundo e é fator importante na decisão dessas instituições de financiar ou não um dado projeto. No Brasil, para o financiamento de projetos hidrelétricos de médio a grande porte, é frequente, e por vezes obrigatória, a prática da utilização dos padrões de referência internacional para tratar de riscos sociais e ambientais, como os preconizados nos Princípios do Equador e pela IFC. Tanto os Princípios do Equador como os Padrões IFC são regras estabelecidas para ser aplicadas em qualquer tipo de financiamento de projetos de grande porte, não sendo especificamente aplicáveis somente a empreendimentos hidrelétricos, como se constituem as ferramentas do Protocolo do IHA e os critérios do WCD (World Commission on Dams). Porém, as diretrizes socioambientais da IFC e os Princípios do Equador constituíram-se em base de relevante importância para a evolução de ferramentas de gestão sustentável para o setor hidrelétrico, as quais, atualmente, incluem em seus padrões de desempenho uma expressiva e efetiva participação, por vezes obrigatória, dos stakeholders, principalmente as comunidades inseridas no contexto da implementação dos projetos hidrelétricos. centrar as discussões sobre o assunto. Outro mecanismo que corrobora para a sustentabilidade de projetos, especialmente nas questões socioambientais, passou a integrar avaliações por parte de agentes do setor financeiro para concessão de financiamentos: os Princípios do Equador e os estabelecidos pela Corporação Internacional de Fomento (Internacional Finance Corporation – IFC). Os padrões de desempenho de sustenta- bilidade socioambiental estabelecidos pela IFC, 170 3. Sustentabilidade pela inovação tecnológica O Brasil avançou muito nas últimas duas décadas em questão de tecnologias para construção de usinas hidrelétricas. As novas tecnologias contribuem para que empreendimentos tenham impactos ambientais e sociais reduzidos e, em alguns casos, eliminados. O desenvolvimento de novas tecnologias para aprimoramento das construções de hidrelétricas precisa cada vez mais estar alinhado C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l com critérios de sustentabilidade aplicáveis e que propiciem retorno prático, principalmente a curto e médio prazos, de forma a colaborar intrinsecamente com a resolução de impasses e dificuldades de implantação das hidrelétricas com o viés ambiental, social e econômico, especialmente com respeitoàs regiões onde são inseridas. Esta inovação tecnológica com viés sustentável é condição imperativa para ampliar as possibilidades de exploração do potencial hidrelétrico, tanto em no âmbito mundial quanto no Brasil. 3.1. Inovação em projetos conceituais de viabilidade Nos projetos de energia hidrelétrica no Brasil, consideradas todas as fases do empreendimento, especialmente as de análise de viabilidade dos projetos e sua implantação, uma abordagem com a utilização das melhores técnicas e opções disponíveis em matéria de sustentabilidade já é consenso entre governo, fabricantes, construtores, projetistas e empreendedores. Na análise de viabilidade dos projetos, na concepção e decisão da localização do eixo da barragem, são considerados, além dos fatores geotécnicos e de custos, outros fatores como o de uma menor interferência na biodiversidade, com comunidades indígenas, melhor aproveitamento topográfico minimizando volumes de escavação, aterros e de concreto (assim reduzindo a emissão de gases de efeito estufa), por exemplo. Em grande parte dos projetos aprovados nas últimas duas décadas, podemos mesmo afirmar que tais fatores têm prevalecido em relação ao fator custo. Destaca-se aqui o desenvolvimento da topografia laser: foi um grande avanço de inovação na fase pré-construtiva, que propiciou ganhos reais na sustentabilidade do projeto. Permite o levantamento do solo (mapeamento das curvas de nível mesmo com a cobertura vegetal), propiciando cálculos de maior precisão, reduzindo a área de inundação e as dimensões do reservatório. Anteriormente, a 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a topografia convencional necessitava de aberturas de clareiras na cobertura vegetal de florestas, com grande impacto sobre a biodiversidade e desmatamentos locais. Na fase construtiva, um importante fator tem sido a redução do tempo de construção. A eficiência dos métodos construtivos e de planejamento, com processos altamente informatizados, permitem construir hidrelétricas com maior rapidez. Um dos benefícios resultantes desse ganho é a redução do tempo de permanência de uma grande massa de trabalhadores no canteiro de obras, bem como a de todos os impactos nas comunidades vizinhas em decorrência de uma obra de grande porte. 3.2. Usinas Plataforma Buscando aprimorar ainda mais a sustentabilidade da energia hidrelétrica na Amazônia, como um esforço para melhorar as práticas de sustentabilidade da Eletrobras, a empresa está aplicando um conceito inovador em seus projetos mais recentes. O conceito, que tem como inspiração as plataformas off-shore para exploração de petróleo, é conhecido como “Usina Plataforma” e está sendo usado nos estudos de viabilidade atualmente em curso do complexo do Rio Tapajós (cuja potência instalada pode ser superior a 10.000 MW). A Usina Plataforma visa a minimizar o impacto ambiental por meio do desmatamento mínimo. No local da obra, o desmatamento fica restrito basicamente à área da usina, sem a instalação de canteiro de obras associado a uma grande vila de trabalhadores. O conceito lida com a ideia de só permitir alojamentos temporários para os trabalhadores, que se revezarão em turnos longos durante o período de construção. Concluída a obra, em paralelo à desmobilização do canteiro, a vegetação nativa será restabelecida completamente, mantendo-se in situ apenas as reduzidas equipes de trabalho diretamente envolvidas na operação e manutenção da hidrelétrica, que terá alto nível de automação. Em nível regional, o conceito prevê evitar a 171 implantação de vias de acesso terrestre, que são grandes indutoras de ocupação e desmate em áreas não povoadas. Esse impacto é considerado como muito significativo do ponto de vista do desmatamento e pode ser evitado com a utilização do conceito, que inclui apoiar-se fortemente no transporte aéreo de materiais e equipamentos para o sítio de obra.38 O conceito é potencialmente promissor, mas os mecanismos para sua utilização efetiva em um projeto com prazos de implantação ambiciosos (geralmente cinco anos), desafios de engenharia de transporte de grandes volumes e com custos estabelecidos por tarifas competitivas precisam ser desenvolvidos com maiores detalhes. 3.3. Turbinas bulbo No passado, aproveitamentos hidrelétricos de alta queda foram os primeiros a serem implementados em larga escala. Para altas quedas, mesmo com vazões menores é possível se obter maiores potências, tendo em vista que a potência disponível para determinada usina é diretamente proporcional ao produto da queda pela vazão. Assim, os aproveitamentos hidrelétricos nos quais é possível empregar turbinas de menores dimensões e, portanto, de menor custo, são os que apresentam maior queda. Os potenciais hidrelétricos com altas quedas foram se exaurindo, visto que são geralmente relacionados a regiões de grande preservação ambiental e rica biodiversidade, além do patrimônio paisagístico natural. Potenciais hidrelétricos de menor queda geralmente se situam na parte mais baixa dos rios, onde as vazões são grandes. Portanto, para aproveitar a energia disponível nesses locais foi necessário desenvolver máquinas de grande diâmetro (aptas para admitir altas vazões) e adequadas para operar em baixas quedas. As máquinas Kaplan, que 38 têm eixo vertical e regulação dupla (no distribuidor e nas pás do rotor) desde o início (década de 1930), foram as que se mostraram mais adequadas para operar com grandes vazões e baixas quedas. As turbinas bulbo, criadas a partir da década de 1960, constituem a evolução das Kaplan e são melhores adaptadas ao extremo inferior da faixa de quedas, ou seja, de 25 m até 5 m. As turbinas bulbo são máquinas Kaplan de eixo horizontal, com o gerador disposto em um bulbo que fica mergulhado: a água que chega à turbina passa primeiro pelas partes externas do bulbo. Ao longo dos anos, foram feitos aperfeiçoamentos nesse tipo de máquina e a experiência obtida com usinas em operação permitiu chegar a máquinas de grandes dimensões. As maiores são as que estão sendo construídas para as usinas de Santo Antônio e Jirau, ambas no Rio Madeira, Brasil, com potência de 75 MW e com rotores de turbina com diâmetro de 7,9 m. A evolução tecnológica levou também à diversificação do projeto, permitindo a produção de máquinas de eixo horizontal adaptadas a pequenas potências. Hoje existem diversos projetos de máquinas deste tipo, sendo as principais denominadas máquinas Kaplan-S, com geradores dispostos fora das passagens hidráulicas, a montante ou a jusante destas. Foram criadas também máquinas “S” de eixo vertical (que alguns denominam “saxo”, de saxofone), máquinas tubulares com eixos inclinados, máquinas dispostas em sifões e outras. Além do fator custo, a utilização desses equipamentos nas hidrelétricas modernas abriu uma diretriz de implantação de empreendimentos hidrelétricos com ganho de sustentabilidade principalmente ambiental, tornando possível o aproveitamento hidrelétrico em locais com baixa queda, influenciando no tipo e nas dimensões do reservatório a ser formado, bem como a construção de estruturas menores de barragens, influenciando no balanço de utilização de insumos e Este conceito pode ser ilustrado por um pequeno filme de explicação sobre o Complexo Tapajós Pode ser encontrado na página Web da Eletrobrás: (http://www.eletrobras.com/elb/data/ Pages/LUMIS293E16C4PTBRIE.htm). 172 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l materiais. O custo das máquinas e da casa de força é maior, por megawatt instalado, que no caso das usinas de alta queda; porém, pelo fato de utilizarem eixo horizontal ou inclinado, apresentam custos totais menores que aqueles que resultariam da utilização de máquinas Kaplan de eixo vertical. As máquinas de eixo horizontal, no entanto, de- mandam um projeto hidráulico e estrutural avançado, sem o qual problemas sérios podem ocorrer. Por apresentarem também pequena inércia, sua utilização deve se restringir a pontos onde podem ser interligadas a um sistema mais pesado, com máquinas verticais, que possam absorver as principais variações da rede. Construção de diálogo entre projetos hidrelétricos e a sociedade Tradicionalmente, o relacionamento do setor elétrico com a sociedade em fases de planejamento e implantação do desenvolvimento da hidreletricidade (e também em todos os outros projetos importantes associados à infraestrutura) vem sendo realizado tendo em consideração as exigências constantes dos processos de licenciamento e nas externalidades estabelecidas. Esse modelo considera as informações relevantes para as comu- nidades locais, captadas em estudos econômicos e sociológicos, mas geralmente não em contato direto com essas comunidades, que fica restrito à fase final, por meio de consulta públicas – que tem função importante, porém predominantemente informativa (informar a comunidade sobre o projeto e dela obter-se a informação de considerações adicionais necessárias). Não se constitui, assim, processo de diálogo, no sentido pleno da palavra. Outro problema detectado é que, dado o viés pre- dominantemente ambiental do licenciamento, fun- relacionamento. Essa prática tem causado impactos importantes, seja na incerteza dos custos do projeto (e em sua viabilidade econômico-financeira, condição básica da sustentabilidade), como para as comunidades afetadas, acometidas por incertezas e preocupações somente resolvidas com o projeto em estado adiantado de implantação. Apesar das dificuldades, esse modelo de relacionamento tem dado também resultados positivos, incorporando preocupações e considerações das comunidades nos projetos hidrelétricos. Porém, muitos dos atores envolvidos no desenvolvimento desses projetos veem espaço para a melhoria da forma de relacionamento com a comunidade, buscando transformar o processo que é basicamente de comunicação em verdadeiro diálogo. Ciente desses desafios, o setor hidrelétrico vem executando uma revisão nas políticas de comunicação e de relacionamento com a sociedade, com especial atenção em prover diálogos proativos com a comunidade regional, buscando a construção de um projeto amplo de futuro para a comunidade, que pode incluir a ampliação da comunicação com a sociedade em geral, no sentido de informá-la sobre a energia elétrica em geral e sobre os benefícios da hidreletricidade e as medidas possíveis para a promoção das interferências positivas e incentivo à mitigação e compensação das negativas. A visão em implementação parte do princípio de que os empreendimentos hidrelétricos são um ator social, que sofre e exerce influência, conforme o porte dele, no macroambiente e no contexto regional de sua implantação, devendo exercer essa influência de modo protagonista para a sustentabilidade regional, e não de forma reativa. Este documento tem a intenção de contribuir para a construção de uma realidade melhorada de diálogo com a sociedade. ção de sua origem, o diálogo com a sociedade 1. Diálogo com a sociedade na fase de planejamento para a etapa de construção dos novos empreen- Uma forma de alto nível de orientação do diálogo com a sociedade são as políticas públicas local de empreendimentos tem sido postergado dimentos, e nem sempre com critério explícito de 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 173 desenvolvidaspara as diversas atividades humanas. interesse específico, no caso, o da hidreletricidade. exercício de diálogo em que toda a sociedade nacio- pelo setor elétrico e conduzida de forma coletiva, A construção de uma política pública é, em si, um nal, com seus múltiplos interesses e preocupações, é envolvida para definir e balizar as ações futuras. É necessária e urgente a implantação de mecanis- mos de informação à sociedade sobre a energia elétrica, em todas as suas formas, sua importância para a vida de cada um e do país, seus problemas e A construção dessa metodologia deve ser liderada com participação de todos os atores principais, pú- blico e privados, interessados no tema. A metodologia de engajamento social do Programa Cultivando Água Boa, da Hidrelétrica de Itaipu, é exemplo de que este tipo de construção é possível e que pode levar a resultados positivos expressivos. potenciais benefícios. As discussões do tema ener- gia elétrica, em escala nacional, devem ser melhor divulgadas. Um movimento necessário, recém-iniciado no Brasil e que merece ser destacado e incen- tivado, é o de adoção de uma visão geográfica mais ampla, de escala regional/de bacia, para a estrutura do planejamento do setor elétrico, em substituição da escala local, em nível de empreendimento. Essa tendência, já apresentada em maior detalhe no item 6 deste relatório, inclui o uso de ferramentas de maior visão, como o de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), Análise Ambiental Integrada (AAI) e a Análise Ambiental Estratégica (AAE). A adoção da visão regional comum representa uma uma visão regional comum, embora não necessa- riamente unânime, do futuro de cada região e do papel da energia, em especial a hidreletricidade, em cada uma delas. O desafio não é pequeno, mas deve ser buscado, pois o engajamento deve dar-se com participação equilibrada de todos os atores e visões, o que somente é possível se for resultado de uma construção consciente e isenta de influências de eventos específicos. 2. Diálogo com a sociedade na fase de projeto oportunidade única de engajamento da sociedade A fase de projeto é aquela em que se estudam em incluindo a de energia, e levando em conta todas as potencial energético e com desafios econômicos, e técnicas relevantes para região. Tem-se a perfeita sustentabilidade do projeto nesta fase é domina- na discussão do seu futuro em todas as dimensões, detalhe as realidades de cada local específico com variáveis sociais, culturais, econômicas, ambientais sociais e ambientais gerenciáveis. A avaliação da dimensão da dificuldade da construção desta visão coletiva, mas o processo deve ser incentivado, porque é fundamental para alimentar o planejamento energético, buscando-se, com antecipação, as contribuições e os consensos sociais. Esse diálogo tem o potencial de identificar necessidades que orien- tarão o desenvolvimento de fases futuras. O valor destas realizações, antes disponíveis de alguma forma, mas agora socialmente validadas, é inestimável para o processo de expansão do setor elétrico. O diálogo com a sociedade deve ser construído a partir de uma metodologia específica, que parte de uma discussão mais ampla de visão de futuro da região, para, eventualmente, migrar para o tema de 174 O resultado esperado desse exercício de diálogo é da pelo procedimento do licenciamento ambiental que termina por tratar também dos temas de caráter social, mesmo que de maneira menos intensa e menos estruturada que os temas ambientais. Parte da razão dessa carência de licenciamento pode ser atribuída ao não tratamento consistente dos temas sociais, resultado de uma falta de contato e engajamento da comunidade diretamente interessada durante toda a fase de desenvolvimento do projeto e, em especial, do licenciamento. O mecanismo formal atual de participação da comunidade no projeto de licenciamento é a da consulta pública, que tem papel mais informativo e de oitiva que de estruturador de relacionamentos, ocorrendo, ainda, em fase muito adiantada. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Aqui, de novo, há a necessidade de pensar-se uma forma de desenvolvimento deste diálogo com a co- munidade local, que deve ser um desenvolvimento natural do processo de construção da participação da sociedade regional na construção da visão para sua região. Ressaltando-se uma vez mais, este en- gajamento não pode ser feito sem um arcabouço conceitual e metodológico de apoio. Uma estratégia deve ser desenvolvida para aplicação nesta fase do empreendimento e, como na fase anterior, não pode centrar-se no empreendimento em si, mas focar em uma ampla visão de futuro para a comunidade local, construída a partir da visão de futuro de sua região. O resultado esperado dessa estratégia é uma visão de futuro local, com o empreendimento hidrelétrico em desenvolvimento inserido da forma mais harmoniosa possível nesta visão. 3. Diálogo com a sociedade na fase de implantação Na fase de implantação de um empreendimento hidrelétrico, o engajamento com a comunidade lo- Mecanismos formais e acordados de resolução de conflitos devem ser implementados, para garantir o sucesso do empreendimento. Um exemplo de sucesso desse tipo de mecanismo foi implementado na Usina de São Salvador, da Tractebel Energia, em Tocantins, onde um Fórum de Negociação Social foi formado sob a coordenação do Ibama, com a participação de praticamente todos os stakeholders: empreendedor, Ministério Público, prefeituras, câmaras de vereadores, proprietários e não proprietários de terras da área de abrangência do reservatório, associações e movimentos sociais. Por meio desse fórum, conseguiu-se, com sucesso, gerenciar os conflitos na área social que se apresentaram durantea construção do empreendimento. As experiências bem-sucedidas demonstram que possuem, como base para o seu sucesso, a transparência. O papel e a responsabilidade de todos e de cada um dos envolvidos no processo deve estar claramente definido e acordado. Os mecanismos de transparência podem ser simples reuniões informativas regulares e informais ou relatórios técnicos específicos sobre algum tema de interesse comum. cal é inevitável. A experiência indica que se não for resultado de um processo iniciado anteriormente, a interação da comunidade com o empreendedor (que somente neste momento assume sua função como um dos atores principais desta relação) é pe- nosa e nem sempre produtiva para todos os envol- vidos. Assim, a situação ideal é que o diálogo com a comunidade na fase de implantação também seja estabelecido como um desenvolvimento natural do diálogo já estabelecido em outras fases. Seria do interesse de toda a sociedade se um arcabouço conceitual, construído desde o embasa- mento filosófico e teórico até o desenvolvimento de múltiplas ferramentas para cada fase do relaciona- mento com a comunidade (“caixa de ferramentas”) estivesse disponível, de modo a aumentar as possibilidades de uma interação positiva entre projeto e comunidade. Isto sempre tendo em mente que a falha, nesta interação, de qualquer projeto, repercute negativamente em projetos futuros. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 4. Diálogo com a sociedade na fase de operação A fase de operação de um empreendimento hidrelétrico apresenta características distintas em relação ao diálogo com a comunidade. Em uma primeira fase, imediatamente após a construção, ocorre uma fase de transição entre as duas realidades distintas, a de construção, extremamente curta e dinâmica, e a de operação, de grande estabilidade ao longo do tempo. Na primeira fase da operação, a manutenção dos processos e mecanismos desenvolvidos para a implantação é importante, porque alguns temas ficam pendentes e emergentes da fase de implantação. Novos problemas caracterizam essa transição, como, por exemplo, grupos remanescentes de trabalhadores da construção que permanecem na região sem inserção imediata na nova realidade do local (emprego, habitação etc.). Esses problemas devem ser identificados com antecedência e medidas tomadas para a sua gestão. 175 176 Paulatinamente, o relacionamento com a sociedade de um empreendimento em operação muda para uma situação nova, menos dinâmica e mais estável. O grau de interferência negativa do projeto na realidade reduz-se significativamente, inclusive por conta da adaptação da sociedade local à nova rea lidade, e a interferência positiva prevalece. Nesse momento, o projeto hidrelétrico tem que propor um novo papel para si mesmo nesse relacionamento e sugere-se que este papel seja, conforme descrito anteriormente, o de ser, de acordo com seu porte, um ator social protagonista na promoção da sustentabilidade regional. Assim, uma nova proposta de parceria com a comunidade local deve ser apresentada pelo empreendimento, procurando ser um vetor regional do desenvolvimento sustentável. outras culturas: contavam com aproximadamente 300 indivíduos cada e uma taxa de redução populacional da ordem de 20% ao ano. Após mais de 25 anos de projeto, é possível constatar o crescimento significativo de todas essas etnias, tendo sido Balbina o fator de prevenção de sua extinção. Também é claro o papel de destaque dos projetos hidrelétricos na proteção ambiental. Os projetos geralmente tornam-se o principal ator regional da proteção da fauna e da flora. A Usina de Itaipu é um exemplo desta situação: convidada a apoiar a discussão de novos projetos hidrelétricos na região do Rio Uruguai, pesquisa realizada entre moradores da região indicou que a usina aparece como mais associada à proteção ambiental que organizações internacionalmente conhecidas dedicadas exclusivamente a essa área. Podemos citar como exemplo dessa mudança de paradigmas a Usina de Balbina, da Eletronorte, criticada por uma série de motivos, mas que, após implantada, estabeleceu programas de longo prazo para apoio às comunidades indígenas das etnias Waimiri Atroari e Parakanã. À época da construção, todas as etnias caminhavam para a extinção, em função de contatos anteriores já significativos com Embora o papel do projeto hidrelétrico deva ser protagonista, no sentido de promover a definição e implantação deste novo papel, a comunidade é ator fundamental nesse processo e deve ser incentivada à participação. É necessário um arcabouço, semelhante ao desenvolvido para as outras fases, que inclua a construção de uma visão local de futuroe uma estratégia de como chegar lá. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l uma necessidade, assim como o reconhecimento II – Soluções elencadas da riqueza e complexidade da região. Essas duas considerações devem permear todo o processo de planejamento, desenvolvimento, implantação e operação de projetos hidrelétricos na Região Amazônica e resultar em novas formas de evitar, Planejamento da expansão de energia elétrica no Brasil Principais mensagens e recomendações 1. A existência de um arcabouço institucional consistente é condição fundamental para a construção de uma matriz energética sustentável. O Brasil dispõe de um arcabouço rico e robusto que, no entanto, deve ser aperfeiçoado, principalmente buscando-se a harmonização das diversas políticas públicas relacionadas ao tema água e energia, que não raro produzem resultados não alinhados, conflitantes e até mesmo antagônicos. 2. O Brasil apresenta uma grande vantagem comparativa e, ao mesmo tempo, uma forte vantagem competitiva em um sistema energético baseado em energias renováveis – mais notadamente, a hídrica. Também dispõe de vantagem competitiva no regime de complementaridade sazonal entre as fontes eólica e hidráulica. O país deve aproveitar essas vantagens e consolidar uma matriz energética sustentável com gestão inteligente de seus recursos hídricos: isto é, predominantemente hídrica, complementada pela energia eólica e biomassa. 3. O Planejamento da Expansão Energética deve prosseguir e aprofundar a tendência de uso de ferramentas de visão mais ampla e de maior escala: mais notadamente, a AAI, a AAE, o ZEE, como forma de garantir a real sustentabilidade da matriz energética e promover o desenvolvimento sustentável regional. 4. A Amazônia concentrará o desenvolvimento hidrelétrico do país nos próximos 20 anos, pois o potencial hidrelétrico das outras regiões já foi praticamentetodo desenvolvido. A sua exploração é 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a minimizar e compensar impactos e criar e maximizar benefícios. 5. Há uma tendência crescente de implantação de usinas hidrelétricas denominadas a fio d’água, utilizando turbinas bulbo. Embora essas usinas tragam a vantagem de otimizar o aproveitamento das vazões naturais sem os impactos decorren- tes de grandes reservatórios, suas características implicam submissão à sazonalidade hidrológica e, consequentemente, maior vulnerabilidade do sis- tema. Um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil e pelo mundo hoje é, portanto, a compatibilização da necessidade de aumento da capaci- dade de armazenamento de água, seja para ga- rantir o suprimento necessário de energia elétrica, seja para permitir a garantia da universalização do acesso à água. 6. A não utilização do potencial hidrelétrico do Brasil pelo banimento de projetos com reservatórios pode implicar desperdício de importante recurso nacional e prejuízo em relação à capacidade de adaptação às mudanças climáticas e à expansão de outras fontes de energia. Compartilhamento de Água e Energia O estabelecimento do compartilhamento pode basear-se nos princípios norteadores que têm sido propostos pelo direito internacional, elaborados sob o prisma da solidariedade e colaboração, a saber: • Utilização razoável e equitativa: é a teoria mais aceita na prática internacional e trata da igualdade de direitos e obrigações de todos os estados ribeirinhos quanto à exploração de bacias compartilhadas. 177 • Gerenciamento comum e soberania limitada: associada à noção de soberania partilhada, a limitação da soberania decorre da necessidade de convivência com outros Estados e a interde pendência exige uma gestão compartilhada. Para que ocorra o gerenciamento comum, é fundamental levar-se em conta o conceito de bacia hidrográfica internacional. O consenso quanto à disposição de parcela da soberania é, no entanto, questão delicada para as Nações. • Obrigação de não causar danos significativos: atrelado ao corolário da cooperação hídrica internacional, a obrigação de não causar danos significativos envolve a capacidade de comunicação e solidariedade entre os países limítrofes. Outra regra básica refletida pela prática dos tratados, embora talvez não tão fortemente, é que um Estado não pode, por meio de suas ações que afetem cursos de água internacionais, prejudicar significativamente outros estados. • Participação pública: reconhecido na revisão das Regras de Helsinque (Berlim, 2004), considerou que todas as pessoas são potencialmente afetadas por atividades relacionadas à água. Assim também foi previsto na Convenção de Espoo, na Finlândia (1991) – Convenção das Nações Unidas Relativa à Avaliação dos Impactos Ambientais num Contexto Transfronteiriço, válida para a Comunidade Europeia: “Para as atividades mineiras e as barragens, caso um projeto possa ter um impacto significativo, os Estados afetados deverão ser notificados e toda informação relevante sobre o projeto disponibilizada para que a população que possa ser afetada tenha a oportunidade de se pronunciar.” Obedecidas e atendidas as premissas apontadas na consulta, os estados partem para a elaboração de um acordo satisfatório para as partes. Principais mensagens e recomendações • A cooperação no campo do compartilhamento de água e energia é possível, mas para sua implementaçãouma grande quantidade de riscos 178 e ameaças de toda a ordem (políticas, econômicas, sociais, culturais e técnicas) precisam ser equacionadas. Um dos desafios é identificar os atores apropriados para promover os avanços nessa área e incentivá-los à ação. • Compartilhamento de água, principalmente na forma de energia hidrelétrica, é de grande importância para a América do Sul. Condição para sua implementação é o estabelecimento de relações estáveis, duradouras e confiáveis entre os parceiros. • O compartilhamento de usos da água por outros setores deve ser garantido e previsto nas fases de elaboração de projetos de geração hidrelétrica. Sustentabilidade de empreendimentos hidrelétricos Exemplos de boas práticas 1. Usina Hidrelétrica de Itaipu Itaipu é resultado da cooperação de brasileiros e paraguaios, que assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná, em 26 de abril de 1973. As 20 unidades geradoras de Itaipu somam uma potência instalada de 14 mil megawatts. A Usina de Itaipu é, atualmente, a maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia (produção recorde anual de 93,4 milhões de MWh, alcançado em 2008). Itaipu fornece 16,4% da energia consumida no Brasil e atende 71,3% do consumo paraguaio. Iniciativa da década de 1970, Itaipu foi uma das pioneiras no tratamento estruturado dos temas sociais e ambientais no setor elétrico brasileiro. Foi, provavelmente, a primeira entidade a contar com uma área ambiental significativa dentro de sua estrutura e tratou com extremo cuidado temas como desapropriação, cujo processo foi um grande sucesso, preservação ambiental (resgate de animais, criação de áreas de proteção da biodiversidade) e cuidados com a comunidade local. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Programa Cultivando Água Boa Programa Cultivando Água Boa é a estratégia que a Itaipu adotou para dar uma contribuição local ao enfrentamento da gestão socioambiental em sua área de influência ampliada, a Bacia do Paraná 3 (BP3), e que abrange 29 municípios, com cerca de 900 mil habitantes, espalhados por uma área de 7.851 quilômetros quadrados e onde estão localizadas 35 mil propriedades rurais. Trata-se de uma região de forte vocação agroindustrial que registra diversos impactos ambientais dessas atividades. Para combater esses passivos, o Cultivando Água Boa lança mão de um conjunto de 20 programas e 65 ações, executado pela Itaipu com mais de 2 mil parceiros, que vão desde associações de moradores e cooperativas de produtores rurais a órgãos dos governos estadual e federal e prefeituras. Em cada microbacia hidrográfica e cada município, há um comitê gestor com representantes dos diversos públicos, resultando em mais de 28 mil atores sociais envolvidos. fosse o amanhã e propõem um caminho para percorrer esta distância. Com isto, todos tornam-se atores efetivos em um processo social e são, efetivamente, parceiros da iniciativa. Entre os principais resultados do Programa Cultivando Água Boa estão as ações de conservação de solo agrícola em mais de 5 mil hectares de área, a readequação de quase 600 quilômetros de estradas rurais, a implantação de mais de 100 abastecedouros comunitários (evitando a contaminação de cursos d’água) e a conversão de aproximadamente mil agricultores para práticas agroecológicas. Iniciativas adicionais incluem o reflorestamento da faixa marginal do reservatório, em uma área de 60.000 ha, a implantação de um Corredor de Biodiversidade que tem a intenção de integrar biomas isolados no Cone Sul, a gestão do Canal da Piracema – mecanismo de transposição de peixes de grande importância para a preservação da variedade genética das espécies. Itaipu busca atuar como um agente indutor do desenvolvimento sustentável em toda a sua área de influência e em diversas frentes, como educação ambiental, conservação da biodiversidade, fomento da agricultura orgânica, cultivo de plantas medicinais, adoção de técnicas conservacionistas (como o plantio direto, a rotação de culturas e a adubação verde), a capacitação para o turismo ru- ral, a organização e a capacitação de catadores de materiais recicláveis, o estímulo à coleta seletiva e à reciclagem, a aquicultura, o apoio às comunidades indígenas. As iniciativas do programa são rea- lizadas, sempre, em parceria: para cada real aplicado por Itaipu, pelo menos outro real é aplicado pelas instituições parceiras. Figura 3. Área de proteção do reservatório de Itaipu A iniciativa já conquistou mais de 20 prêmios de reconhecimento das melhores práticas socioambientais no Brasil e no exterior e é referendada pela Unesco como um modelo de gestão de bacias hidrográficas. Um dos aspectos inovadores do Programa Cultivando Água Boa está em sua metodologia estruturada para engajamento e comprometimento das comunidades nas atividades do programa, que constroem, a partir de suas próprias reflexões, a imagem do hoje, a imagem do que gostariam que 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a O desenvolvimento pelo conhecimento O Parque Tecnológico Itaipu (PTI) nasceu como um espaço para a integração educacional, tecnológica e cultural da América Latina. É uma iniciativa 179 de desenvolvimento regional, tendo como vetores a cultura local e a tecnologia. Oferece infraestrutura física e tecnológica, suporte operacional e capacitação para o desenvolvimento de empresas com produtos e serviços inovadores. Conta com mais de 50 mil metros quadrados de área construída que abrigam salas de aula, laboratórios de pesquisa, espaço empresarial, biblioteca, auditórios, salas de videoconferência, além de espaço para congressos e convenções. Tudo voltado para o estímulo às inovações, às ideias vibrantes, estudos e pesquisa nas áreas que representam o maior potencial da região, a água, a energia e o turismo. Mantém diversas parcerias, na área ambiental, em pesquisas científicas, turismo sustentável, produ- ção de conhecimento e qualidade de vida. Também é um centro de referência em estudos para um dos maiores bens da humanidade neste início de século 21, a água. O PTI é parceiro do Programa Hidrológico Internacional da Unesco. É também um parque único no Brasil por agregar no mesmo espaço uma incubadora empresarial, laboratórios de última geração, plataforma de ensino a distância e projetos educacionais em todos os níveis, inclusive um Centro de Engenharias e Ciências Exatas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e, provisoriamente, a Universidade Federal de Integração da América Latina (Unila). Figura 4. Instalações do Parque Tecnológico Itaipu A Plataforma Itaipu de Energias Renováveis é uma iniciativa da Itaipu para proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento de fontes renováveis 180 de energia, como a hidrelétrica de pequeno porte, a eólica, a solar e, principalmente, a biomassa, dada a forte presença da agropecuária na região. A geração de energia a partir da biomassa consiste em aproveitar o gás metano liberado pela matéria orgânica em decomposição para movimentar geradores, capazes de suprir a demanda energética de uma propriedade rural por completo ou, ao menos, abastecê-la durante o horário de ponta, quando os custos da energia são mais caros. É possível, ainda, vender o excedente de energia à companhia local de serviços elétricos. O processo alia o saneamento ambiental (evitando a contaminação dos rios e solos e a emissão de gases do efeito estufa) a diversos benefícios econômicos, como a economia de energia, a produção de biofertilizante e a venda de créditos de carbono. Ao pôr em operação suas duas últimas unidades geradoras, a Itaipu encerrou suas obras principais da usina. Desse processo, complexo, resultou apreciável acúmulo de conhecimento por parte dos profissionais e da organização, cuja reutilização é indispensável ao adequado funcionamento da empresa, hoje e no futuro e pode ser útil ao meio externo à Itaipu, no Brasil e no Paraguai. Por meio do Projeto Veículo Elétrico (VE), a Itaipu tem servido como catalisador, reunindo diversos parceiros nacionais e internacionais, do setor de energia, das indústrias, institutos de pesquisa, além de órgãos do governo federal, atuando de forma sinérgica com essas entidades e buscando o domínio da tecnologia para que a indústria nacional esteja apta para atuar nos novos segmentos de negócios provenientes dos VEs. Além de contribuir para o crescimento econômico, principalmente local, o projeto busca promover a sustentabilidade do planeta, por meio de alternativa de transporte mais limpa e mais eficiente. Outra vertente do projeto trata da interação do veículo com a rede elétrica, sua infraestrutura e sistemas de armazenamento de energia. O Projeto VE vem sendo executado desde 2006 e hoje são parceiras: Fiat, Eletrobras, Cepel, Copel, C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Lactec, Ande, Cemig, CPFL, Chesf, WEG, Cor- reios, Iveco, Mascarello, Petrobras, Euroar, Grupo Moura, Agrale e Light, além das empresas associadas a KWO, empresa de energia suíça. Atualmente, são mais de 50 protótipos de veícu- los elétricos montados na Itaipu e sendo utilizados pelas empresas parceiras do projeto, dos quais 31 VEs estão na usina, o que inclui um caminhão de pequenas cargas e miniônibus puramente elétricos. Também faz parte da frota de Itaipu o primeiro ônibus elétrico híbrido a etanol do mundo, que foi apresentado na Reunião de Cúpula do Mercosul, e Canindeyú. O programa atua em 28 cidades brasileiras e 31 paraguaias, região que soma 1,5 milhão de habitantes, buscando sempre a ampliação do número de leitos e a melhoria da qualidade dos serviços, colocando serviços de alta tecnologia à disposição da comunidade. Assim, ao engajar-se profunda e ativamente em iniciativas de desenvolvimento das dimensões social, ambiental e econômica tanto na região em que atua como nas escalas nacional e internacional, Itaipu pode ser considerada um bom exemplo de sustentabilidade. em dezembro de 2010. 2. Hidrelétricas do Madeira: Santo Antônio e Jirau O cuidado social – energia sustentável na Amazônia brasileira Atenta à realidade à sua volta, Itaipu tem despendi- do um grande esforço para melhorar esta realidade para toda a comunidade de sua região de influência. Especial atenção tem sido dispensada às crianças, 2.1 Usina Hidrelétrica de Santo Antônio: um novo paradigma em sustentabilidade com a concessão de Bolsas-Escola para estudan- A construção de uma usina hidrelétrica na Ama- Programa Jovem Jardineiro, para oferecer aos jo- desafios, devido à necessidade de compatibilizar tal e outras, além de participação e apoio a diversas socioambiental do bioma. Considerada pioneira tes de famílias carentes, a criação e manutenção do zônia brasileira invariavelmente impõe grandes vens uma formação complementar na área ambien- o desenvolvimento com a proteção da riqueza iniciativas, como a de criação e manutenção da Nucria, delegacia especializada no direito de crianças e adolescentes, participação na Rede de Proteção da Criança e Adolescente e na Rede de Combate à Exploração Sexual Infantojuvenil, além de manter uma parceria com a Unicef. Itaipu participa ainda da Rede Cidadã, que tem o objetivo de ampliar a educação e reduzir a evasão escolar. Na área da saúde, Itaipu abriu o Hospital Ministro Costa Cavalcanti, por ela mantido, para a comuni- dade, ampliando significativamente o atendimento na quebra do paradigma de sustentabilidade na Amazônia, a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio está sendo construída no Rio Madeira, com potência instalada de 3.150 MW – capacidade suficiente para abastecer 11 milhões de residências ou, aproximadamente, 40 milhões de pessoas. A Santo Antônio Energia, empresa responsável pela construção e operação da usina, juntamente com o consórcio construtor, composto por Odebrecht, Consórcio Santo Antônio Civil e o Grupo Indus- na região das Três Fronteiras. Também, mantém trial do Complexo Rio Madeira, buscam reduzir os parceria com os Ministérios da Saúde do Brasil e da usina por meio de medidas mitigatórias e com- prefeituras e as regiões sanitárias de Alto Paraná clusão social. o programa Saúde na Fronteira, desenvolvido em impactos ambientais provocados pela instalação do Paraguai, a Secretaria de Saúde do Paraná, pensatórias, além de ações de conservação e in- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 181 A usina também trouxe desenvolvimento socioeconômico para a população de Porto Velho e região, que concentra um dos IDHs mais baixos e níveis de desemprego mais altos do país. Quando estiver em plena operação, a usina injetará no município e no estado R$ 68 milhões anuais pelo uso dos recursos hídricos. Os avanços, especialmente na capital PortoVelho, tendem a tornar a cidade um dos mais estruturados centros urbanos da região centro-norte. Figura 5. Usina Hidrelétrica de Santo Antônio Energia economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta de Capacitação Profissional Continuada Em consonância com a legislação ambiental brasi- tar foi a falta de mão de obra qualificada registrada A inspiração para a criação do Programa Acredi- leira e com os Princípios do Equador, mas, acima de tudo, entendendo a necessidade de ir além das exigências na busca pela sustentabilidade da área onde está inserido o empreendimento, a Santo Antônio Energia desenvolve uma série de programas para tratar adequadamente as interferências originadas a partir da implantação da usina, orientada pelo Programa Ambiental para a Construção (PAC). No total, será investido R$ 1,3 bilhão em programas de sustentabilidade, incluindo a implantação de uma Área de Proteção Permanente com 39 mil hectares no entorno do reservatório e R$ 200 milhões em ações de compensação para melhorar a saúde, o ensino e a infraestrutura de Porto Velho e Rondônia. em Porto Velho. Uma pesquisa de perfil profissio- Eficiência energética. A busca pela melhor eficiên- realidade, na qual a grande parte da demanda para cia energética com menor impacto socioambiental levou a Santo Antônio Energia a optar por tecnologias inovadoras, como o processo a fio d’água, com turbinas bulbo que usam a alta vazão natural do rio, permitindo reduzir o reservatório de maneira significativa, ocupando pouco mais do que a área naturalmente inundada nas cheias do rio. A usina pode ser considerada um marco na história de pro- dução de energia hídrica de baixo impacto no país considerando a relação entre capacidade instalada e dimensões do reservatório: uma relação de 0,11 km por megawatt. 2 182 Qualificação, emprego e renda: Programa Acreditar nal apontou que a população local atenderia com apenas 30% a demanda de mão de obra qualificada necessária para os trabalhos na usina. Porém, mais que apontar a realidade da região, a pesquisa revelou um problema, afinal, a maior parte da mão de obra para os trabalhos na usina teria que ser contratada fora da cidade, o que provocaria mais um ciclo econômico de explosivo crescimento demográfico, agravando os problemas sociais já existentes na cidade, principalmente os relacionados à falta de infraestrutura. Ao invés de repetir os mesmos erros do passado, decidiu-se por reverter as previsões estatísticas, qualificando a população local, criando uma nova os trabalhos na usina pudesse ser suprida pela população local. Assim, o Programa Acreditar foi criado visando a qualificação e preparação do ci- dadão de Porto Velho para aproveitar as oportunidades geradas pela obra da UHE Santo Antônio, bem como mitigar a migração de trabalhadores de outras partes do país e contribuir para o desenvolvimento da região. O programa gera um ciclo de crescimento continuado, pois mesmo não contratando 100% dos treinados, proporciona um contin- gente de cidadãos capacitados e preparados para o mercado de trabalho. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l O processo de licenciamento ambiental da usina é conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e o Projeto Básico Ambiental (PBA) do empreendimento detalha 33 programas socioambientais sob responsabilidade da ESBR, que estão sendo executados pela própria concessionária, juntamente com empresas, universidades, centros de excelência e consultores independentes brasileiros e de outros países. Figura 6. Aulas práticas na Oficina Acreditar O programa é o primeiro projeto de capacitação voltado para construção civil pesada no país, ofere- cendo qualificação nas 15 funções mais utilizadas na construção civil pesada, além de cursos de alfabetização, dado que a região constava com índices elevados de analfabetismo. Até setembro de 2011, o Programa Acreditar formou 37.772 pessoas no Módulo Básico e 10.050 no Módulo Técnico. Do total de alunos matriculados em Porto Velho, 50.207 foram homens e 17.625, mulheres. O Acreditar, portanto, também se constituiu na porta de entra- da das mulheres em um mercado de trabalho; no canteiro de obras de Santo Antônio, elas responderam por 10% da equipe contratada. Deste grupo preparado pelo Acreditar, foram contratadas 11.000 pessoas. Ou seja, 85% dos funcionários da obra foi treinado pelo Acreditar e é originário da região de Porto Velho. 2.2 Usina Hidrelétrica de Jirau A concessionária Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR) está implantando Usina Hidrelétrica Jirau em conformidade com as melhores práticas de sustentabilidade. São sócias da ESBR as empresas International Power GDF SUEZ (50,1%), CHESF (20,0%), Eletrosul (20,0%) e Camargo Corrêa (9,9%). Jirau terá 3.750 MW de capacidade instalada e está localizada no Rio Madeira, municí- pio de Porto Velho, estado de Rondônia, a aproximadamente 120 km da sede do município. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Para tornar a implantação do empreendimento transparente e participativo, foi criado o Comitê de Sustentabilidade, composto pela ESBR, Ibama, governos municipal e estadual Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério Público Estadual e Federal, lideranças locais (incluindo indígenas), universidades, organizações não governamentais e demais órgãos relacionados à implantação do empreendimento. Grupos de trabalho foram criados para tratar de questões específicas como remanejamento, terras indígenas, turismo e lazer e saúde pública. Remanejamento da população A região de implantação de Jirau se caracteriza por um baixo grau de desenvolvimento, atividades econômicas limitadas, populações com baixa renda, baixo nível de escolaridade e acesso a serviços públicos limitados. Pela própria localização geográ fica, a área teve baixa inserção na dinâmica de crescimento do estado de Rondônia. Para a formação do reservatório de Jirau, foi necessária a realocação do distrito de Mutum Paraná e da localidade de Palmeiral, com 390 famílias, sendo 238 delas de proprietárias e 152 não proprietárias. Na área rural foram cadastradas 98 famílias proprietárias e 41 famílias não proprietárias. A ESBR reconheceu como proprietárias aquelas famílias que ocupavam o imóvel, sem distinção daquelas detentoras de título em cartório ou Registro Geral de Imóveis. Outro grupo cadastrado foi o de propriedades de uso misto, em que a família residente também tinha um estabelecimento comercial no mesmo imóvel. 183 O remanejamento da população pela ESBR teve Após a conclusão dos estudos de viabilidade des- de vida da população e ser indutor de um desenvol- tos-piloto, de maneira a induzir o desenvolvimento como premissas e desafio a melhoria da qualidade sas atividades, iníciou-se a elaboração dos proje- vimento local sustentável. Para o reassentamento das cadeias produtivas, buscando empresas-ânco- Nova Mutum Paraná, uma localidade com 1.600 re- Outra prioridade da ESBR é o desenvolvimento hu- coletivo, rural e urbano, foi implantada pela ESBR a sidências que dispõe de toda infraestrutura, como abastecimento de água, tratamento de esgoto, co- leta seletiva de lixo, telefonia móvel, energia lim- pa, ruas pavimentadas, terminal rodoviário, bancos e correios, posto de saúde moderno e equipado, delegacia de polícia civil, polícia militar, corpo de bombeiros, escolas de ensino fundamental e médio, creche e pré-escola, hotel, praças e áreas de lazer, espaços destinados para comércios, industriais e novos negócios. ra e desenvolvendo Arranjos Produtivos Locais. mano – baseado na oferta e consolidação de perspectivas duradouras para a população e consistentes com a vocação socioambiental da região, e que inclui atividades de fomento à formação básica e complementar, capacitação profissional e implantação de centros de formação técnica. O Projeto-Piloto Integrado de Piscicultura e Agricul- tura Orgânica implementado pelo Instituto Pro-Na- tura em área próxima à Nova Mutum Paraná, tendo sido iniciado em janeiro de 2011. O público-alvo é constituído inicialmente por 50 famílias remanejadas pelo empreendimento e que optaram pelo reassen- tamento coletivo e tem como objetivo criar um modelo de geração de renda de curto prazo, buscando: • Independência econômica do público-alvo com sustentabilidade econômica e ambiental. • Qualificação profissional plena, possibilitando o afloramento do empreendedorismo. • Estímulo à criação e à consolidação de assoFigura 7. Nova Mutum Paraná e os Programas da Usina Hidrelétrica de Jirau ciativismo. • Criação de um modelo de referência de como as Desenvolvimento Local Sustentável Para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local Sustentável proposto para a região, a ESBR contratou a Fundação Getulio Vargas (FGV), que primeiramente fez um diagnóstico da região e identificou suas vocações produtivas. Quatro atividades populações locais podem ser beneficiadas de fato com a implantação de grandes empreendimentos. A área produtiva do Projeto-Piloto é de 18 ha, ha- vendo a projeção de produção anual de 130 tone- ladas de legumes, 125 mil maços de hortaliças e 42 toneladas de peixes. foram escolhidas por estarem de acordo com a vocação socioambiental da região, conforme segue: • Pesca e piscicultura. de barragens • Sistemas agroflorestais (SAF). O Inove! – Programa de Incentivo à Inovação é • Processamento de produtos alimentícios. • Manejo florestal. 184 2.3 Aproveitamento da água de percolação uma iniciativa do Comitê de Inovação da Tractebel Energia e recebe, avalia, seleciona e premia ideias inovadoras apresentadas C A D ER N O S T E M ÁT I CO S pelos empregados. | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Nesse contexto, técnicos da companhia que desempenham suas funções em usinas no Rio Uruguai passaram a buscar uma solução para substituir o sistema convencional de abastecimento de água nas usinas hidrelétricas, que contavam com estações de tratamento de água (ETA). O objetivo era substituir as estações de tratamento de água responsáveis pela produção de água potável servida nas instalações das Usinas Hidrelétricas Itá e Machadinho por um sistema que aproveitasse a água que percola das barragens. Como consequência, seria possível conservar os recursos naturais, desativar as estações de tratamento d’água (ETA) das Usinas Hidrelétricas Itá e Machadinho, eliminar a geração de resíduos sólidos resultantes do tratamento d’água nas ETA (lodo), reduzir o uso de produtos químicos no tratamento de água bruta e o consumo de energia e os custos do processo. Após o sucesso obtido nas Usinas Hidrelétricas Itá e Machadinho, decidiu-se avaliar a viabilidade de implantação do novo sistema em outras usinas operadas pela Tractebel Energia e que também poderiam desativar a ETA. As análises de dados históricos de medições de vazão da percolação e a comprovação da potabilidade da água também foram realizadas na Usina Hidrelétrica Salto Osório, localizada no Paraná, em operação desde 1975. O novo sistema passou pela fase de testes de eficiência entre setembro e dezembro de 2010. Nesse período, a ETA permaneceu apta a operar, para cobrir eventual falha do novo sistema, o que não ocorreu. A entrada efetiva em operação do novo sistema e desativação da ETA se deu em janeiro de 2011. O sistema desenvolvido para Usina Hidrelétrica Salto Osório obedeceu aos princípios básicos do aplicado nas usinas Itá e Machadinho, demonstrando a sua replicabilidade. O projeto trouxe ganhos ambientais, sociais e econômicos, tais como a eliminação do uso de produtos químicos para tratar a água e redução de resíduos sólidos, com a consequente melhoria da qualidade da água para as comunidades a jusante da barragem, disponibilidade de água potável naturalmente filtrada para empregados e visitantes, disseminação do 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a processo para visitantes, incluindo ONGs e órgãos governamentais, baixo custo de operação e manu- tenção e eliminação dos relacionados às ETAs que foram desativadas. Principais mensagens e recomendações 1. A existência de um arcabouço institucional e le- gal que promova a sustentabilidade das hidrelétricas é fundamental. O Brasil dispõe deste arcabouço, consolidado em um Processo de Licenciamento Ambiental avançado e extremamente exigente; no entanto, o processo pode ser aprimorado, dando maior ênfase aos aspectos sociais desde o início do processo. 2. Usinas hidrelétricas devem oferecer soluções integradas contribuir com o desenvolvimento sustentável da região onde estão inseridos. Devem implementar ações que gerem energia economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Isto é, um empreendimento deve definir, de forma protagonista, mas de acordo com seu por- te e em acordo com a comunidade, um papel de promoção do desenvolvimento regional. Será fun- damental considerar a influência que um empreendimento, ou conjunto de empreendimentos, exerce sobre o ambiente onde está inserido e o seu papel na promoção do desenvolvimento desse ambiente. A Avaliação Ambiental Integrada é uma ferramenta ideal para nortear a formulações dessas novas soluções integradas. 3. É fundamental dispor de um consenso internacional sobre o que se constitui a hidreletricidade sustentável. Esse consenso poderá ter impacto positivo em políticas internacionais e servir de referência para o desenvolvimento ou aprimoramento do arcabouço institucional dos países. Das iniciativas internacionais em desenvolvimento, sugere- -se concentrar as discussões do tema no Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas da IHA, por ser a ferramenta mais nova e com processoainda em andamento. 185 Construção de diálogo entre projetos hidrelétricos e sociedade Exemplos de Boas Práticas 1. Usina Hidrelétrica de Santo Antônio no Rio Madeira: A busca do certo para todos39 Etapa de planejamento e implantação Em geral, o contato de empreendedores com a sociedade se limita às audiências públicas, exigidas por lei. No entanto, muitos desses encontros eram promovidos apenas para o cumprimento de deter- minações legais, realizados após a conclusão do EIA, quando decisões importantes já haviam sido tomadas. Como consequência, o diálogo entre o empreendedor, o poder público e a sociedade era simplificando e empobrecido. A falha no diálogo re- sulta em inúmeros conflitos gerando desgastes so- ciais, ambientais e econômicos, que poderiam ser antecipados e minimizados, tal como ansiedade entre a sociedade, novas solicitações dos órgãos ambientais, atrasos no prazo de implantação e danos irreversíveis de imagem do projeto. Um inédito e fundamental passo em busca da sustentabilidade no caso da Usina Santo Antônio foi a realização de uma série de reuniões com os grupos de interesse da região antes do Estudo de Impacto Ambiental ser concluído. A prática é realizar apenas as audiências públicas, após conclusão do EIA. Fase de planejamento A compreensão, a participação e a concordância da sociedade organizada são hoje os principais fatores para a realização de qualquer iniciativa que possa acarretar mudança no padrão ou na rotina de vida de uma comunidade. Não se pode limitar, como de costume, ao simples convenci- mento das qualidades do projeto. Tomando esse princípio como base, foi elaborada pelo Consórcio 39 186 Furnas-Odebrecht, a estratégia de divulgação e comunicação participativa do projeto do Complexo Energético do Rio Madeira à sociedade. Cada etapa e componente da estratégia buscava a confiança da população, obtida pelo diálogo permanente e transparente. Os grupos de interesse-alvo da estratégia, que demandavam estratégias diferenciadas, eram constituídos de: • População ribeirinha das áreas de influência de Jirau e Santo Antônio: o Consórcio Odebrecht-Furnas sabia da importância de ouvir essa população, que vive da pesca, do extrativismo, do garimpo e da agricultura, atividades que seriam afetadas pelo empreendimento. Ela precisava ter o conhecimento e entendimento correto do que mudaria em suas vidas. Não se tratava apenas de conhecer e entender, mas de participar da construção das propostas e das decisões. Ao todo, foram realizadas 64 reuniões com 61 comunidades, orientadas por equipes de facilitadores especializados. • Povos indígenas: os Estudos de Impacto Ambiental do Projeto Madeira não identificaram nenhuma terra indígena a ser diretamente afetada em função do empreendimento. No entanto, cinco terras indígenas (Karitiana, Karipuna, Laje, Ribeirão e Uru Eu Wau Wau) foram identificadas como passíveis de impacto indireto. Portanto, mesmo não sendo uma exigência, o consórcio adotou uma postura proativa e aproximação sem intermediários com as comunidades indígenas da região para esclarecer todas as dúvidas e minimizar inquietudes. • População urbana de Porto Velho (formadores de opinião, comunidade acadêmica, estudantes, empresários da indústria e do comércio e representantes de entidades de trabalhadores): o Projeto GeraAção Rondônia foi concebido como a estratégia de abordagem para o diálogo com a população urbana de Porto Velho. A metodologia Para maiores informações, consulte o site da empresa: www.santoantonioenergia.com.br C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l adotada envolveu pesquisa de opinião, linguagem diferenciada e abordagem direta, incluindo reuniões abertas e um Ciclo de Debates, que reuniu todas as instituições de ensino superior, organizações empresariais e a sociedade de Porto Velho. • Poder público municipal, estadual e federal: desde o início dos estudos, adotou-se a postura proativa com as autoridades governamentais, facultando a esses a participação na construção das propostas e nas decisões relacionadas à mitigação dos impactos e ao aproveitamento das oportunidades do projeto no município de Porto Velho e região. Fato relevante foi a participação das autoridades rondonienses. O relacionamento com o poder público não se limitou ao estado de Rondônia. Os estados do Acre e Mato Grosso também participaram do processo, em função de sua vizinhança e interdependência, respeitando suas vocações: Acre, estado com forte preocupação ambiental; Mato Grosso, estado agropecuário que tem em Rondônia sua principal via de escoamento de sua produção. Como resultado, entenderam-se melhor as particularidades e identificaram-se as principais preocupações e necessidades, a destacar: capacitação da mão de obra, geração de emprego, capacitação de mão de obra, a possível “favelização” de Porto Velho e a falta de infraestrutura adequada do município. Com base nos resultados desse amplo processo, foi possível elaborar projetos para atender às demandas e necessidades, como o projeto Acreditar. Fase de implantação A despeito de todo investimento realizado na adoção de tecnologias e procedimentos que deem sustentabilidade ao projeto, a criação do Programa de Comunicação Social da Santo Antônio Energia, empresa responsável pela UHE Santo Antônio, foi um grande passo para garantir a longevidade e aceitação favorável da operação e, sobretudo, a minimização dos impactos junto à população diretamente atingida. Por sua complexidade e grau de importância dada pela empresa, pode ser considerado um projeto inédito dentro do setor de geração de energia. A essência do Programa de Comunicação Social é a busca da harmonização das expectativas entre a empresa e a sociedade. As diretrizes do programa são: • Desenvolvimento de uma comunicação baseada na diversidade de mídias, para atingir o público em toda a sua particularidade e localização. • Promoção de ações de prestação de serviço que atraia fortemente o interesse desse público, normalmente carente de qualquer espécie de apoio e orientação, criando oportunidades para comunicar a mensagem da empresa. • Criação de ferramentas de diálogo próximas e de fácil consulta pelo público de interesse. Entre as ações desenvolvidas, destacam-se: • Plantões sociais: espaço de interação com a comunidade, sendo ponto de referência para o esclarecimento de dúvida, tem se mostrado eficaz, sendo o principal canal de participação da comunidade nesse processo. • Casa da Informação de Jacy-Paraná: ponto de informação sobre o reassentamento que está sendo construído no local e sobre o Programa de Remanejamento da População Atingida. Figura 8. Reunião de diálogo com ribeirinhos 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a • Serviço 0800: canal gratuito e de extrema praticidade para a população mais carente e distante, são sanadas as mais diversas dúvidas sobre o empreendimento numa linguagem acessível e direta. 187 • Urnas itinerantes de comunicação: instrumento de comunicação para recolhimento de dúvidas, reclamações, sugestões, elogios e reivindicações das comunidades. • Reuniões de diálogo social: mais de 100 reuniões já foram realizadas desde abril de 2008. • Jornal impresso Santo Antônio Energia Informa: publicação mensal destacando as ações da empresa nas mais diversas áreas. • Programa de rádio Santo Antônio Energia e Você: veiculação diária destacando a cada edição um tema voltado para as comunidades locais. vida, principalmente dos segmentos socioambientalmente mais vulneráveis. Procura estabelecer uma estreita relação entre o desafio da sustentabilidade planetária com a realidade e a necessária ação local, a partir de uma visão sistêmica, integral e integrada da relação do homem com seu meio, em que a sustentabilidade é resultante de novos modos de SER/SENTIR, VIVER, PRODUZIR e CONSUMIR, decorrentes da aplicação de metodologias inovadoras de gestão, educação e ação ambiental. • Evento Santo Antônio Energia e Cinema: exibição do documentário Vozes do Madeira, um filme realizado pela Santo Antônio Energia, no qual os ribeirinhos são os principais atores. O filme mostra de maneira franca e direta como a população local entende, pensa e convive com as mudanças que a construção da usina trouxe para as suas vidas. Um grande telão é montado nas comunidades para a exibição do filme. Essa estratégia de aproximação com a sociedade nas fases iniciais do projeto, antes das audiências públicas, e indo além de uma mera apresentação do projeto, possibilitou a redução de falhas já observadas em outros processos de diálogo, minimizando os riscos de conflitos, desgastes sociais, ambientais e econômicos; e evitando a criação de mitos provenientes da falta de informação. Figura 9. Programa Cultivando Água Boa: Processo ativo de engajamento da comunidade O Programa Cultivando Água Boa baseia-se nas seguintes características fundamentais, que entendemos devem estar presentes na implementação de processos amplos de diálogo com a sociedade: • Embasamento filosófico e político: o programa está conectado em documentos planetários, como a Carta da Terra, a Agenda 21 e as Metas do Milênio, e locais, como as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Energia, 2. Programa Cultivando Água Boa – Itaipu Binacional Etapa de operação O Programa Cultivando Água Boa40 está centrado na quantidade e qualidade das águas, na proteção, recuperação e conservação dos solos e da biodiversidade, na melhoria dos fluxos ambientais, em sistemas de produção diversificados e limpos, na educação ambiental e na melhoria da qualidade de 40 188 Mudanças Climáticas, entre outros; • Embasamento metodológico: o Cultivando Água Boa emprega uma Metodologia Social inovadora, que garante a implementação equânime em todo o território e é passível de replicação em qualquer território, ambiente e diferentes atores sociais. • Conexão concreta entre a problemática global e a realidade local, desde o enfretamento das mudanças climáticas até a erradicação da pobreza. Maiores detalhes sobre o programa podem ser encontrados na página internet da empresa (www.itaipu.gov.br). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • Protagonismo de entidade líder territorial: no programa, Itaipu exerce um papel proativo, protagonista e de liderança, como ator social territorial. • Visão Regional: o programa implementa a gestão por bacia hidrográfica, pois contextualiza o indivíduo em um novo território, dando-lhe noção de espaço e da interdependência sistêmica de suas ações. • Participação ampla: todas as fases do programa ocorrem de forma participativa, com o envolvimento de todos os atores sociais do território, no planejamento, na execução e na avaliação das atividades. As competências locais são aproveitadas. • Responsabilidade compartilhada: a responsabilidade, inclusive financeira, pela implementação do programa é divida entre todos os atores. Os compromissos são pactuados e celebrados publicamente e os resultados comemorados, elementos fundamentais para a efetividade do programa e das ações. • Monitoramento e avaliação: o programa monitora e avalia seus processos e resultados coletivamente, permanentemente, por meio dos comitês gestores do programa, e com todo a sociedade envolvida, por meio de encontros locais e de um grande encontro anual. Mensagens principais e recomendações 1. A compreensão, a participação e a concordância da sociedade organizada são hoje os principais fatores para a realização de uma iniciativa que possa acarretar mudança no padrão ou na rotina de vida de uma comunidade, como é o caso de uma usina hidrelétrica. Essa estratégia de aproximação com a sociedade pode possibilitar a redução de falhas já observadas em outros processos de diálogo, minimizando os riscos de conflitos, desgastes sociais, ambientais e econômicos; e evitando a criação de mitos provenientes da falta de informação. 2. Existe no Brasil um arcabouço institucional significativo aplicável ao setor hidrelétrico que inclui como 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a requisito o diálogo com a sociedade. Esse arcabouço está expresso na própria Constituição e em políticas nacionais, leis, normas e regulamentos que orientam o assunto; no entanto, vê-se espaço para a melhoria e ampliação desse diálogo em todas as fases de desenvolvimento de projetos hidrelétricos (planejamento, projeto, implantação e operação): a) Na etapa de planejamento, a ampliação do diálogo deve estar inserida no processo de ampliação do foco de visão do planejamento para uma escala regional. Esta escala regional deve focar na construção de uma visão regional de futuro, em que se incluem também os projetos hidrelétricos da região. A construção desta visão deve ser ampla e participativa e orientada por métodos e critérios. O início do diálogo e comunicação com a comunidade deve se dar o mais cedo possível. b) Na etapa de projeto, o processo de licenciamento deve ampliar o diálogo com a comunidade, em relação à situação atual, também com apoio de métodos e critérios desenvolvidos para isto, como forma de estabelecer com clareza e antecipação os potenciais impactos e benefícios ambientais e sociais dos empreendimentos. Este diálogo deve se dar como extensão do diálogo iniciado na fase de planejamento. c) Na etapa de construção, o diálogo com a comunidade local forçosamente ocorre. Seria importante que, de novo, este diálogo fosse estabelecido como extensão de processo dialógico já estabelecido e apoiado por métodos e critérios desenvolvidos a partir da experiência dos empreendedores. d) Na etapa de operação, em seu período inicial, de transição da situação de implantação, cuidados e mecanismos estabelecidos nas fases anteriores devem ser mantidos até que todos os temas relativos àquela fase tenham sido tratados. Em seguida, o empreendimento deve definir, de forma protagonista, mas de acordo com seu porte e em acordo com a comunidade, um papel de promoção do desenvolvimento sustentável. Mecanismos sociais inovadores são fundamentais para o estabelecimento do diálogo com a comunidade nessa fase. 189 Melhorar a qualidade dos recursos hídricos e dos serviços ecossistêmicos I – Conteúdo temático Antecedentes e lógica da meta Os serviços ecossistêmicos são os benefícios que as sociedades humanas recebem dos ecos- sistemas, os quais são produzidos por interações neles mesmos. Entre eles, podem ser agrupados serviços de abastecimento, de regulação e serviços culturais. 1. Avaliação Ecossistêmica do Milênio A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), realizada por 1.360 cientistas de 95 países sob a coordenação da ONU, avaliou o estágio dos 24 mais importantes serviços ecossistêmicos do planeta de modo a oferecer uma apreciação científica quanto as suas condições e tendências, bem como dos serviços por eles oferecidos e constatou que aproximadamente 60% dos serviços dos ecossis- temas examinados estão sendo degradados ou usados de forma insustentável, incluindo 70% dos serviços de provisão e controle. Com relação à água, a AEM descobriu que 5%20% da água doce utilizada excede o fornecimento sustentável e é compensada pela transferência de A deterioração dos serviços ecossistêmicos oferecidos pelos recursos de água doce – o habitat aquático, a pesca e o abastecimento de água para residências, indústrias e agricultura – é esperada em países em desenvolvimento. Em países menos desenvolvidos, a projeção do aumento de represas destinadas ao abastecimento virá seguida de aumento no fluxo de esgotos aos sistemas de água doce, que pode ameaçar a saúde pública e o ecossistema aquático. A expansão e a intensificação da agricultura em algumas áreas podem levar à perda de ecossistemas naturais e a maiores níveis de contaminação da superfície e dos lençóis freáticos. Os cenários também projetam uma ameaça de drenagem nas zonas úmidas, com impactos adversos na capacidade dos ecossistemas de fornecer água limpa. Mostram ainda que existem fortes trocas desvantajosas entre alimentos e água: a aplicação de fertilizantes acima da necessidade das culturas carrega grandes quantidades de nutrientes para as correntes de água doce, estuários e ecossistemas costeiros. Este superenriquecimento da água causa sérias perdas nos serviços dos ecossistemas (alimentos, recreação, água doce e biodiversidade) que são fornecidos pelos ecossistemas aquáticos. A AEM avaliou 74 opções de resposta diante dos cenários identificados de modo a melhorar os serviços dos ecossistemas e lidar com catalisadores de mudanças, como as mudanças climáticas e a carga de nutrientes, cujas recomendações se encontram no item 4 deste documento. água ou pela exploração insustentável dos lençóis freáticos. Praticamente 15%-35% do consumo em irrigação é considerável insustentável. Todos os cenários projetados pela AEM apontam para o aumento na demanda por água doce em mudanças complexas e amplas com grande varia- bilidade geográfica que ocorrerão nos recursos hí- dricos do mundo, assim como ao seu fornecimento de serviços de ecossistemas, entre elas as decor- rentes das mudanças climáticas que modificarão os padrões de precipitação. 192 2. A evolução da temática no Brasil O Brasil é signatário de todas as últimas convenções e declarações internacionais que guardam estreita relação com a temática dos recursos hídricos e com a proteção dos serviços ecossistêmicos, destacando-se: Agenda 21 – estabelecida pela Conferência das Nações unidas para o Meio ambiente e o Desenvolvimento por ocasião da Rio 92, cujo capítulo 18 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l é totalmente dedicado à proteção e à importância da gestão de recursos hídricos e que incorpora os princípios elaborados na Conferência de Dublin, entre eles a que afirma ser a água um recurso finito e vulnerável, essencial para a manutenção da vida, para o desenvolvimento e para o meio ambiente. Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica – o Brasil assumiu alguns compromissos com o objetivo de promover a conservação, o uso sustentável e a repartição dos benefícios oriundos da biodiversidade. Convenção Ramsar – ratificada pelo Brasil em 1993 com o objetivo de “favorecer a conservação e assim como as funções representadas pelo papel estratégico das florestas e das unidades de conservação na melhoria do regime hídrico. Promover o desenvolvimento de pesquisas e a difusão de tecnologias orientadas para a integração e a conservação dos ecossistemas de água doce e florestal, com a previsão dos efeitos das mudanças climáticas, por meio de modelos de suporte para tomada de decisões. Estabelecer mecanismos de compensação financeira para proteção, recuperação e conservação de rios, nascentes e estuários, entreoutras. a utilização racional das zonas úmidas por meio de medidas tomadas no Plano nacional e de cooperação internacional como meio de chegar ao desenvolvimento sustentável”. Declaração do Milênio – correspondendo a oito macro-objetivos a ser atingidos até 2015, entre eles a garantia da sustentabilidade ambiental. Uma das metas deste macro-objetivo foi a elaboração do Pla- no Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), já aprovado em janeiro de 2006, e em fase final de revisão. 2.1 O enfoque ecossistêmico no Plano Nacional de Recursos Hídricos No Brasil, desde 1997 quando foi sancionada a Lei Federal que instituiu o Sistema Nacional de Ge- renciamento dos Recursos Hídricos (Singreh), as preocupações com o uso racional e econômico da água foram transformadas em instrumentos concretos para a gestão pretendida. O Brasil já possui um arcabouço legal que reconhe- ce a necessidade de manutenção de serviços ecossistêmicos. No Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instrumento criado pela Lei n0 9.433/1997 que institui o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, há diretrizes claras relacionadas a isso, como: Enfatizar as ações de conservação que promo- vam a integridade dos ecossistemas aquáticos, 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a A Resolução do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos – CNRH nº 98/2009, por sua vez, definiu Gestão Integrada de Recursos Hídricos: “Gestão em que todos os usos da água são considerados interdependentes, sob o enfoque ecossistêmico e da sustentabilidade”. O Singreh também possui instrumentos econômicos para assegurar o uso racional deste recurso, como a cobrança pelo uso da água, e busca funcionar em uma dinâmica participativa e transparente por meio do funcionamento de organismos colegiados como o Conselho Nacional e os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e os Comitês de Bacias Hidrográficas, instância de base que assegura a participação da sociedade na tomada de decisões sobre a gestão da água no território de uma bacia hidrográfica. O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos do país oferece, na sua estrutura, possibilidades para que a meta seja atingida: as decisões são tomadas dentro de instâncias participativas, os instrumentos de gestão estão definidos, entretanto a discussão ainda precisa amadurecer no âmbito de tais instâncias. De quase duas centenas de comitês de bacias existentes no país, são poucos os que já conseguiram estruturar-se administrativa e financeiramente e destinar 193 recursos para ações de conservação dos serviços aqui tratados. É necessário avançar para o estabelecimento de vazões que garantam a quantidade necessária de água para a sobrevivência, reprodução e crescimento da biota aquática, sem que ocorram perdas expressivas de diversidade biológica. A outorga (instrumento de gestão de recursos hídricos é um ato administrativo que concede o direito de uso da água aos diversos usuários interessados) pode ser um caminho concreto ao considerar a vazão ambiental como um critério para sua emissão.” O PNRH tem o papel indutor nas discussões a respeito da inserção do enfoque ecossistêmico na GIRH. A ele cabe ainda promover formas de integração e compatibilização da Política Nacional de Recursos Hídricos com as demais políticas setoriais, públicas e privadas. Com relação ao enfoque ecossistêmico da gestão de recursos hídricos, o PNRH incorpora em seu conteúdo a definição de um esboço para a divisão das ecorregiões aquáticas e a consideração da utilização de vazões ambientais nas suas diretrizes e subprogramas. Subprograma III. 4: “Metodologias e Sistemas de Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos” abrigam estudos metodológicos sobre os critérios de outorga, contemplando variáveis como “vazão ecológica” como critério que considera as necessidades ambientais por água para a outorga. Subprograma V.2: “Compatibilização e integração de projetos setoriais e incorporação de diretrizes de interesse para a GIRH” inserem o estabelecimento de ações concretas voltadas para a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, entre outras. Subprograma VI. 6: “Estudos sobre critérios e objetivos múltiplos voltados a definição de regras e restrições em reservatórios de geração hidrelétrica” apontam a inclusão do levantamento das necessidades e das restrições dos usos setoriais, inclusive dos ecossistemas. 194 A Política Nacional de Recursos Hídricos não fornece, explicitamente, um instrumento para viabilizar a diretriz que orienta a integração en- tre as gestões de recursos hídricos e de meio ambiente. Diante disso, o PNRH incorporou ao seu conteúdo dois conceitos associados ao enfo- que ecossistêmico, como ferramentas de suporte à construção das relações entre as gestões de recursos hídricos e meio ambiente: a abordagem ecorregional e a determinação das necessidades ambientais por água. O PNRH apresentou um esboço de 25 ecorregiões aquáticas do Brasil como um elemento de caracterização biológica de grandes áreas geográficas, mas que, devido ao nível de detalhamento, não dis- ponibilizou informações substanciais para a tomada de decisões no âmbito das bacias hidrográficas, onde efetivamente acontece a gestão das águas. Mesmo assim, sua inserção no plano significou um grande avanço na consideração de aspectos ambientais no planejamento dos usos dos recursos hídricos no Brasil. A abordagem ecorregional está inserida em uma metodologia de hierarquização dos ecossistemas em que são delimitados geograficamente siste- mas em escalas menores, com maior aporte de informações em nível local. Desse modo, o detalhamento e a classificação das ecorregiões aquáticas do Brasil em áreas menores e com maior grau de similaridades poderão contribuir para a definição de áreas sujeitas à restrição de uso (previstos no conteúdo mínimo dos Planos de Recursos Hídri- cos), designação de sítios Ramsar e indicação de áreas prioritárias para a conservação da biodiver- sidade aquática, com vistas à proteção dos recursos hídricos. No processo de revisão do PNRH foi realizada uma oficina com o objetivo de consolidar as discussões realizadas durante o ciclo de oficinas “Enfoque ecossistêmico aplicado à gestão de recursos hídricos”, promovido pela SRHU/MMA, em proposições para a revisão do Plano Nacional de Recursos Hídricos 2025. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Nessa oficina foi proposta a inclusão de algumas ações voltadas para melhor detalhar as ecorregiões aquáticas do país, entre elas: Esses estudos ainda não foram realizados e, por • Realizar o levantamento das metodologias existentes de determinação de ecorregiões em escalas compatíveis com a gestão de recursos hídricos, visando ao detalhamento das ecorregiões aquáticas brasileiras. o seguinte conceito: “Necessidades Hídricas Am- • Identificação de metodologias de determinação de sistemas ecológicos em escalas compatíveis com a gestão dos recursos hídricos até o final de 2011. do das discussões que a Secretaria de Recursos • Proposição de diretrizes metodológicas para o detalhamento das ecorregiões aquáticas do Brasil até o final de 2012. dos anos de 2008 a 2010 sobre a temática. • Proposição de novas metodologias até o final de 2014. de outorga dos direitos de uso de recursos hídri- isso, o Plano Nacional de Recursos Hídricos decidiu adotar, em seu conteúdo e em suas ações, bientais é a quantidade e qualidade de água, variável no tempo e no espaço, necessária para manter os componentes, as funções e os processos dos ecossistemas aquáticos”. Tal definição é o resultaHídricos e Ambientes Urbanos do Ministério do Meio Ambiente, (SRHU/MMA) promoveu ao longo A efetiva consideração das necessidades hídricas ambientais deverá orientar os procedimentos cos e licenciamento ambiental para a instalação • Detalhamento de cinco ecorregiões aquáticas, com o delineamento e classificação de subunidades até o final de 2014. e operação de empreendimentos que interferem • Articulação para a incorporação dos resultados do detalhamento de ecorregiões aquáticas em dois Planos de Recursos Hídricos até o final de 2014. ao longo do tempo para garantir a manutenção • Estruturação e implementação, até o final de 2011, de banco de dados para disponibilização das informações produzidas. • Regulamentação das diretrizes para a adoção das ecorregiões aquáticas na gestão dos recursos hídricos e meio ambiente pelo CNRH e Conama até o final de 2014. Já o termo “necessidades ambientais por água” foi mencionado no PNRH como um critério a ser considerado para a definição de outorgas, independentemente da dominialidade das águas que, no caso brasileiro, possui dois domínios, um federal e um estadual. Como não há ainda base conceitual e metodológica padronizada sobre o tema no Brasil, foi descrita a necessidade de serem elaborados estudos técnicos para a definição dessas “necessidades ambientais por água”. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a no fluxo natural dos cursos d’água. Ele pressupõe um regime de vazões ecológicas a ser mantido do ecossistema aquático, o que interferirá diretamente nos critérios de enquadramento dos corpos d’água em classes, uma vez que a garantia da qualidade de água compatível com sua classificação depende da quantidade de água disponível para diluição dos efluentes. Sua implementação na gestão de recursos hídricos também interferirá fortemente nos setores usuários de água, que devem se apoiar no planejamento de recursos hídricos como instrumento articulador de seus interesses. A discussão sobre o estabelecimento de vazões ecológicas (ou ambiental como alguns preferem), no entanto, ainda é incipiente no país, embora diversos estudos já possam ser catalogados. O próprio conceito ainda busca afirmar-se diante de diversas compreensões em disputa como ilustra o quadro 1. 195 Quadro 1. Conceitos de Vazão Necessária aos Ecossistemas Vazão ecológica: e a água fluindo em um rio (IFC, 2004). É a demanda necessária de água a manter em um rio de forma a assegurar a manutenção e conservação dos ecossistemas aquáticos naturais, aspectos da paisagem de outros de interesse científico ou cultural (BERNARDO, 1996 in GONDIM, 2006). Vazões ambientais, residuais, ou remanescentes: quantidade de água que permanecem no leito dos rios depois de retiradas para atender usos externos como abastecimento público, industrial, irrigação, dessedentação de animais, energia elétrica etc. (Bennetti, 2003, in GONDIM, 2006). Vazão de referência: vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – Singreh (Conama n0 357/2005). Vazão mínima ecológica: vazão que se deve garantir a jusante de uma estrutura de armazenagem (barragem) ou captação (tomada de água), para que se mantenham as condições ecológicas naturais de um rio, (Gondim, 2006). O próprio marco legal brasileiro ainda precisa ser aprimorado quanto a isso: as legislações ambientais e de recursos hídricos do país não apontam explicitamente o detentor da competência para a definição da vazão ecológica (Da Silva et al., 2005). Em geral, a fixação de vazões ecológicas no Brasil tem sido feita principalmente por meio da legislação nos níveis estadual e federal, principalmente para uso nos procedimentos administrativos de licenciamento ambiental e concessão de outorga de água e construção de barragens. Vazão de preservação ambiental: é a vazão necessária para manter as funções dos ecossistemas que compõem o rio, nos seus leitos menores e maiores. Em outras palavras, é um valor (ou valores) que preserva as condições de pulso hidrológico, transporte de sedimentos e nutrientes, sincronicidade com o ciclo da vida das espécies silvestres, da fauna, da flora e a taxa de perturbações necessárias à renovação e funcionamento Exemplo disso, a Resolução CNRH nº 37 estabelece diretrizes para a outorga de recursos hídricos, para a implantação de barragens em corpos de água de domínio dos estados, do Distrito Federal ou da União. Para fins desta resolução é definida uma vazão de restrição, como a vazão que expressa os limites estabelecidos para que haja o atendimento satisfatório aos múltiplos usos dos recursos hídricos e que orienta a operação do reservatório. Vazão mínima residual: é um valor de referência que deve ser mantido no trecho de um rio a jusante de um barramento ou de uma retirada de água (COLLISCHONN; GUSMÃO ANGRA, 2004, in GONDIM, 2006). dos ecossistemas associados ao curso d’água (Jussara Cruz, in Gondim, 2006). Vazões ambientais: regime de vazões a ser mantido no rio, nas áreas úmidas e nas áreas costeiras de modo a preservar os ecossistemas e seus benefícios onde existir competição pelos 196 usos da água e onde as vazões são reguladas (Nota Técnica C1- Concepts and Methods do Banco Mundial in Gondim, 2006); quantidade de água que deve ser mantida no rio, ou que é lançada dentro dele, para atender o objetivo específico da gestão de tal ecossistema (Nota Técnica C1- Concepts and Methods do Banco Mundial, in Gondim, 2006). Existem cerca de 207 metodologias distribuídas em 44 países para a avaliação da vazão ecológica classificadas em quatro tipos: hidrológicas, hidráulicas, habitat e holísticas (SARMENTO, 2007). No Brasil diversos estudos já foram realizados para o estabelecimento de vazão ecológica, a exemplo C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l do que foi promovido pelo CBH São Francisco e de outros estudos que propuseram estabelecer vazões em bacias, como a do Rio Aquidauana. tiplos usos da água.” Atribuição da área de gestão de recursos hídricos (discussão no comitê de bacia e definição no Plano de Recursos Hídricos). A solução proposta exige a realização de projetos-piloto para aperfeiçoar as metodologias e avaliar os impactos decorrentes do estabelecimento de vazões ecológicas nos rios. • Não dissociação das gestões ambiental e de recursos hídricos. As discussões sobre vazão ecológica tiveram início no CNRH pela CTAP (Câmara Técnica de Análise de Projetos) em 17/5/2006, por solicitação da ANA. Entretanto não havendo definição, sobre vazão ecológica, decidiram por prosseguir com a elaboração de proposta de resolução, considerando somente a vazão mínima remanescente. Outras discussões sobre o estabelecimento de vazão ambiental foram feitas no âmbito de oficinas realizadas pelo CNRH em 2009, com destaque para discussões sobre: “Enfoque Ecossistêmico Aplicado a Gestão de Recursos Hídricos”; “Vazões Ambientais no contexto do Singreh; e “Detalhamento de Ecorregiões Aquáticas”. Em 2010, foi realizada uma reunião conjunta CTQA/Conama e CTPOAR/CNRH e outra oficina voltada para “Proposições sobre formas práticas de implementação de ações de vazão ecológica no âmbito do PNRH. As oficinas apontaram desafios entre os quais: • Diretrizes técnicas-políticas-institucionais para adoção de vazão ambiental na gestão de recursos hídricos. • Responsabilidades para o cálculo/adoção da vazão ambiental no Brasil. • Esfera de decisão do regime de vazão ambiental: comitês de bacia ou conselhos de recursos hídricos. • Vazão ambiental nos instrumentos da política de recursos hídricos, além do licenciamento ambiental como “resultado das negociações com os diversos atores envolvidos, tendo como ponto de partida a vazão ecológica, e considerando os múl- 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a • Definição de vazão ecológica como “vazão que assegura a qualidade e quantidade de água, no tempo e no espaço, necessárias para manter os componentes, as funções e os processos dos ecossistemas aquáticos”. • Definição dos responsáveis pelo seu cálculo. • Definição da metodologia a ser utilizada para seu cálculo. • Participação na definição de vazão ambiental e das diretrizes técnicas e político-institucionais para sua adoção. As discussões apontam que a adoção de vazão ambiental na gestão de recursos hídricos é possível e que há necessidade em se adotar a vazão ambiental sob os argumentos da manutenção de serviços ambientais relacionados a sistemas aquáticos; que existem experiências sobre vazão ambiental e que há dados suficientes para o início do processo em algumas bacias hidrográficas. Por sua vez, elas apontam para as dificuldades relacionadas à falta de disseminação do conhecimento; carência de técnicos preparados; lacunas no conhecimento sobre o componente biótico dos ecossistemas aquáticos; conflito entre as expectativas de setores que se planejam em longo prazo; dificuldade de compensar a energia perdida pelo setor hidrelétrico. No processo de revisão do PNRH, foi proposta a inclusão de ações voltadas para: Regulamentação, por meio de resolução do CNRH e do Conama, do conceito de “vazão ecológica” e “vazão ambiental” até o final de 2012, à luz das discussões promovidas pela SRHU/MMA e das competências das áreas de recursos hídricos e de meio ambiente. 197 Determinação das necessidades hídricas ambientais e sua implementação na gestão de recursos hídricos em três rios com intervenções hidráulicas planejadas, segundo as etapas abaixo: 1 – Seleção dos três rios a serem estudados. 2 – Estudo das necessidades hídricas ambientais nos rios escolhidos. 3 – Análise dos custos e dos benefícios da adoção das necessidades hídricas ambientais. 4 – Determinação das vazões que atendam às ne- cessidades hídricas ambientais e aos usos múltiplos no ato de outorga, após discussão com orga- nismos de recursos hídricos e com os órgãos de meio ambiente. socioambientais, do aumento da quantidade e da melhoria da qualidade da água para os diversos usos. As unidades de planejamento e gestão utilizadas são as 12 regiões hidrográficas nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003), a partir das quais são desenvolvidos programas e projetos organizados nas escalas de bacias, sub-bacias e microbacias. Atualmente, estão sob a coordenação do DRB o Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o Programa Pantanal, o Programa Água Doce, o Programa de Revitalização da Bacia do Paraíba do Sul, o Programa de Revitalização da Bacia do Tocantins-Araguaia, entre outros. 5 – Monitoramento e ajuste contínuo da implementação das necessidades hídricas ambientais. Observação: esta é uma ação prioritária, mas sua implementação perpassa todo o horizonte do PNRH 2025. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada em 1992, aborda aspectos importantes referentes ao tema biodiversidade, tais Proposição de diretrizes sobre as necessidades hí- como: conservação e utilização sustentável, iden- Conama até o final de 2014. in situ, pesquisa e treinamento, educação e cons- dricas ambientais para deliberações no CNRH e no 2.2 Revitalização de bacias hidrográficas tificação e monitoramento, conservação ex situ e cientização pública, minimização de impactos negativos, acesso a recursos genéticos, acesso à tecnologia e transferência, intercâmbio de infor- Para o Programa de Revitalização de Bacias Hi- mações, cooperação técnica e científica, gestão gradação, desenvolvido pelo Ministério do Meio entre outros. O desafio da CDB é conciliar o de- e conservar as bacias hidrográficas em situação de sustentável da diversidade biológica. drográficas em Situação de Vulnerabilidade e De- da biotecnologia e repartição de seus benefícios, Ambiente, revitalizar significa recuperar, preservar senvolvimento com a conservação e a utilização vulnerabilidade e degradação ambiental, por meio Para cumprir com as diretrizes e as demandas da de ações integradas e permanentes que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a melho- ria das condições socioambientais, o aumento da quantidade e a melhoria da qualidade da água para usos múltiplos. A revitalização implementada pelo governo fede- CDB, o país deve elaborar sua Política Nacional de Diversidade Biológica, bem como implementar o Programa Nacional da Diversidade Biológica (Pro- nabio), viabilizando as ações propostas pela política nacional. O Projeto de Conservação e Utilização Susten- ral visa ao desenvolvimento de ações integradas e tável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), dos recursos naturais, da melhoria das condições objetivo principal apoiar iniciativas que ofereçam permanentes para a promoção do uso sustentável 198 2.3 Definição de áreas prioritárias para conservação o componente executivo do Pronabio, tem como C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l informaçõese subsídios básicos para a elaboração tanto da Política quanto do Programa Nacional. Com o apoio do Probio, pela primeira vez, foi possível identificar as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, avaliar os condicionantes socioeconômicos e as tendências atuais da ocupação hu- mana do território brasileiro, bem como formular as ações mais importantes para conservação dos nos- sos recursos naturais. Entre 1997 e 2000, o Probio realizou ampla consulta para a definição de áreas prioritárias para conservação na Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos e na Zona Costeira e Marinha. No final do processo, foram escolhidas 900 áreas que foram reconhecidas pelo Decreto n0 5.092, de 21 de maio de 2004, e instituídas pela Portaria n0 126, de 27 de maio de 2004, do Ministério do Meio Ambiente. A portaria determina que essa lista deverá ser revista periodicamente, em prazo não superior a dez anos, à luz do avanço do conheci- mento e das condições ambientais, pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio). Cabe ao MMA disponibilizar os meios e os instru- mentos necessários ao processo de atualização das áreas prioritárias de forma a garantir a participação da sociedade e o alcance do resultado, que deve refletir as decisões tomadas nos grupos de trabalho dos seminários regionais, usando como subsídio as bases de dados compiladas durante o processo de preparação. O MMA considera que a revisão das áreas deve ser um processo participativo e procurou a contribuição de todos os segmentos envolvidos com o tema. O processo de atualização das áreas e ações prio- ritárias foi realizado de forma simultânea, no âmbito de todos os biomas brasileiros e contou com o apoio das seguintes instituições: Ibama, Funbio, GTZ, WWF, TNC, CI, IPAM, ISA, Coiab, CNS, GTA, SOS Mata Atlântica, GEF Caatinga, APNE. As primeiras etapas do processo foram as reuniões técnicas que ocorreram no período de maio a se- tembro de 2006, com a definição dos objetos de 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a conservação (alvos), a definição de metas e importância relativa de cada objeto e a elaboração de um Mapa das Áreas Relevantes para a Biodiversidade. Estes três produtos subsidiaram os seminários regionais dos biomas, que ocorreram entre outubro e dezembro de 2006. Os resultados dos seminários regionais por bioma foram sistematizados no mapa com as novas áreas prioritárias o qual foi apresentado durante a 12ª Reunião Extraordinária da Conabio, de 20 a 21/12/2006, e aprovado por esta comissão pela Deliberação n° 46, de 20 de dezembro de 2006. Estas novas áreas prioritárias foram reconhecidas mediante Portaria n° 9, de 23 de janeiro de 2007. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) define biodiversidade como “a variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, incluindo, entre outros, ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; isto inclui a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (SECRETARIADO DA CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA, 2003). A principal estratégia para a conservação da biodiversidade, em todos os biomas, é o estabelecimento de unidades de conservação (UCs), visto que estas protegem não apenas a diversidade de espécies e seus genes, mas também os ecossistemas e seus serviços ambientais. Sob a denominação de UC figuram diversas categorias, modalidades e formas de proteção à natureza, como: parques nacionais/esta duais/municipais, estações ecológicas, reservas extrativistas, Áreas de Proteção Ambiental (APA), entre outras, que estão descritas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A Lei n0 9.985/2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), definindo e regulamentando as categorias de unidades de conservação nas instâncias federal, estadual e municipal, separando-as em dois grupos, as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável. 199 O Snuc trouxe uma série de diretrizes e normas visando à modernização da gestão e do manejo das áreas protegidas no Brasil. O Snuc determina que as UCs devem dispor de planos de manejo, abrangendo a zona de amortecimento e os corredores ecológicos, o que significa uma contribuição de grande porte à manutenção dos serviços ecossistêmicos nessas unidades. Outro avanço verificado foi o estabelecimento das metas nacionais de biodiversidade para 2010, pela Conabio. Esta tem várias atribuições relacionadas à implementação da Política Nacional de Biodiversidade e da CDB no país e conta entre seus membros com a participação de ministérios e outros órgãos governamentais, de entidades representativas da comunidade científica e da sociedade civil, sendo presidida pelo MMA. As metas nacionais estabelecidas pela Conabio são o resultado de negociações entre diversos setores governamentais e da sociedade civil or- ganizada. Em relação aos biomas, a meta é que pelo menos 30% da Amazônia e 10% dos demais biomas e da Zona Costeira e Marinha sejam efetivamente conservados por unidades de conservação do Snuc. Para a Amazônia e a Mata Atlântica, a meta está próxima de ser alcançada. Adicionalmente, a distribuição das UCs pelos domínios biogeográficos brasileiros é bastante desigual, fato que torna a meta de conservação de 10% mais distante de ser cumprida em alguns biomas. Há que se considerar, ainda, que parte significativa da área total de UCs corresponde a APAs, categoria com baixos níveis de restrição de uso, o que gera dúvidas quanto à efetividade do sistema de UCs que está sendo constituído, particularmente para a Caatinga, o Pampa e a Zona Costeira e Marinha. Ademais, estima-se que seriam necessários apro- ximadamente R$ 700 milhões para consolidar to- das as UCs federais, além dos recursos para sua contínua manutenção, estimados em no mínimo R$ 139 milhões ao ano, sem considerar despesas 200 com pessoal. Importantes recursos poderiam advir da execução da compensação ambiental prevista na Lei n0 9.985/2000 – Lei do Snuc –, assim como da regulamentação do artigo 33 dessa lei, que trata da “exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços biológicos, cênicos, culturais ou da imagem de uma UC”. São poucos os estudos sobre situação financeira, demanda por investimento e potencial de geração de receitas próprias pelas UCs, os quais poderiam balizar políticas públicas para superar as restrições ora apresentadas. 2.4 Pagamentos por serviços ambientais Nos últimos anos, o Brasil avançou bastante com relação à criação de novos instrumentos não previstos na sua Lei de Recursos Hídricos, entre eles um instrumento econômico voltado para o pagamento por serviços ambientais, já amadurecido por meio de algumas experiências desenvolvidas e em desenvolvimento, a exemplo das experiências listadas neste documento. O avanço neste campo possibilitou que, em 2009, o governo federal, por intermédio do MMA, encaminhasse ao Congresso Nacional um projeto de lei que visa a instituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais e criar o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais. Pagamentos por serviços ambientais (ou ecossistêmicos) são transferências financeiras de beneficiados por serviços ambientais para os que, devido a práticas que conservam os ecossistemas naturais, fornecem esses serviços. Os sistemas de pagamentos por serviços ambientais têm como princípio básico o reconhecimento de que o meio ambiente fornece bens e serviços que são de interesse direto ou indireto ao ser humano, permitindo sua sobrevivência e bem-estar. Um sistema de PSA ocorre quando aqueles que se beneficiam de algum serviço ambiental gerado por uma certa área, por meio de práticas ambientalmente C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l adequadas, realizam pagamentos para o proprietário ou gestor da área provedora do serviço ambiental . Os serviços ambientais mais comuns nessa situação são aqueles relacionados com o clima, com os recursos hídricos e com a biodiversidade. Os serviços relacionados com os recursos hídricos são aqueles voltados para a regulação do fluxo, a manutenção da qualidade; o controle de erosão e sedimentação; a redução da salinidade da água; a manutenção do habitat aquático e os serviços culturais com destaque para a recreação. O Brasil já acumula experiências exitosas neste rumo, a exemplo do Programa Produtor de Água descrito no item das soluções propostas. Entretanto ainda são poucos os avanços com relação à instituição de PSA para as unidades de conservação, potenciais provedoras dos serviços ecossistêmicos, porém com dificuldades funcionais pelo baixo nível de investimentos na sua manutenção. A Lei nº 9.985/2000, que regulamenta o Snuc, define instrumentos de PSA como o que está presente no seu artigo 33 ao definir que o agente que explorar comercialmente bens e serviços desenvolvidos a partir de recursos ambientais ou culturais de unidades de conservação estará sujeito a pagar por este uso, o que foi regulamentado no artigo 35 do Decreto nº 4.340, que regulamenta a lei citada. Por sua vez, os artigos 47 e 48 da Lei do Snuc obrigam os responsáveis pelo abastecimento de água e pela geração e distribuição de energia elétrica a contribuírem financeiramente para a proteção e implementação da unidade. A lei do SNUC define ainda que: Art. 36 – Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório [...], o empreendedor é obrigado a 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral [...]. Mesmo previsto em lei, são poucas as experiências vivenciadas no país para o financiamento das unidades de conservação com recursos oriundos da compensação ambiental. Um dos maiores benefícios indiretos associados à proteção da biodiversidade proporcionada por uma UC talvez seja o caso dos recursos hídricos. Nesse sentido, uma pesquisa realizada no Distrito Federal objetivando avaliar as preferências declaradas pelos consumidores residenciais de água proveniente do Parque Nacional de Brasília – Água Mineral e Torto – e a estimação da contribuição financeira decorrente da aplicação do artigo 47, da Lei n0 9.985, que criou o Snuc, poderá servir de ilustração de como os benefícios associados à proteção da biodiversidade contida em uma UC poderiam ser traduzidos em valores econômicos, que seriam utilizados para o fortalecimento do Snuc. O caso do Distrito Federal toma como base o volume captado pela concessionária de água distrital no interior do Parque Nacional de Brasília e estima um valor mensal de até R$ 162.000,00 como contribuição financeira à proteção proporcionada pela UC ao recurso hídrico utilizado, segundo o artigo 47 da Lei do Snuc. Porém, como este artigo ainda não foi regulamentado pelo Executivo, a proteção dos recursos hídricos não se converte em receitas para o parque. A despeito de o Decreto n0 4.340/2002, que regulamentou artigos da Lei do Snuc, listar o Art. 47 como objeto da norma, não há no conteúdo do decreto a efetiva regulamentação da contribuição financeira pelo uso de água captada no interior de uma UC. O pagamento por serviços ambientais é apontado como uma solução possível para a manutenção e restauração dos serviços ecossistêmicos diante de diversas oportunidades e alternativas a seguir explicitadas: a) A Lei Nacional de Recursos Hídricos n0 9.433/1997) estabeleceu uma fonte potencial para 201 PSA água – a cobrança pelo uso da água cujos pa- gamentos feitos pelos usuários e poluidores devem Quadro 2. Dispositivos Normativos relevantes ao PSA no Brasil ser utilizados na mesma bacia onde foram arreca- dados, ser alocados em atividades que melhorem a Dispositivos normativos relevantes ao PSA tidade de água e cuja decisão de alocação cabe ao A Política Nacional dos Serviços Ambientais – Projeto de Lei n0 792/2007 e seus apensos governos, usuários e sociedade civil). A Política Nacional dos Recursos Hídricos – Lei n0 9.433/1997 saúde das bacias em termos de qualidade e quancomitê de bacias (formado por representantes de Diante disso, os comitês de bacias precisarão ser convencidos a respeito dos benefícios dos Esquemas PSA para assegurar a qualidade de água e re- Espírito Santo – Lei n0 8.995/2008 – Programa de PSA gularização de vazões (fontes dos recursos: cobran- ça pelo uso da água – Lei n 9.433) tornando-a uma Minas Gerais – Lei n0 17.727/2008 e Decreto 45.113/2009 – Programa Bolsa Verde 0 decisão de alocação de recursos pelos comitês. Uma experiência concreta neste sentido foi realiza- da pelo CBH PCJ no Sistema Cantareira em duas microbacias-piloto (Cancan e Moinho) onde foi alo- cado R$ 550.000 pelo CBH e recursos de outros parceiros: Agência Nacional de Águas; Secretarias Estaduais de Agricultura e de Meio Ambiente SP; TNC; PM Extrema – recursos para atividades de restauração e conservação. Posteriormente a este projeto, o CBH PCJ também já aprovou um aporte Santa Catarina – Lei n0 15.133/2010 Paraná – Lei n0 16.436/2010 Rio Grande do Sul – Projeto de Lei n0 449/2007 Rio de Janeiro – Decreto n0 42.029/2011 Pernambuco – Projeto de Lei n0 1.527/2010 de recursos de R$ 1,2 M para PSA no município de Município de Extrema, MG – Lei n0 2.100/2005 Outra experiência identificada foi realizada pelo Município de Montes Claros, MG – Lei n0 3.545/2006 Extrema, também localizado no Sistema Cantareira. CBH Guandu, no Rio de Janeiro, que alocou R$ 1M para o projeto-piloto em curso nesta bacia (2008). b) Já existe no país a construção de um arcabouço legal que cria condições para o estabelecimento Município de Itabira, MG – Lei n0 4.069/2007 Município de Campo Grande, MS – Decreto n0 11.303/2010 dos Esquemas PSA discutido, definido e implemen- tado a partir de recursos de orçamento, royalties, Município de Apucarana, PR – Leis n0 58/2009 e 241/2009 e outros recursos carimbados, como se verifica no quadro 2. Experiência exemplar neste sentido Decreto n0 107/2009 e Instrução Normativa n0 1/2009 se deu no Município de Extrema (MG) onde foi aprovada a primeira lei de PSA no Brasil (2005) e Município de Londrina, PR – Lei n0 9.760/2005 que permitiu o uso de recursos públicos para os Município de Camburiú, SC – Lei n0 3.026/2009 de exemplo para municípios, estados e para a pro- Município de Joinville, SC – Lei n0 5.712/2006 e Lei Complementar n0 29/1996 de processo legislativo. Município de São Paulo – Lei n0 14.933/2009 pagamentos a partir de fevereiro de 2007 e serviu posta de lei federal que se encontra em finalização 202 São Paulo – Lei n0 13.798/2009 – Política Estadual de Mudanças Climáticas e Decreto n0 55.947/2010 Projeto Mina d’Água C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l c) Existem ainda compradores voluntários dos serviços ambientais, grandes usuários de água, convenci- dos a respeito dos benefícios dos Esquemas PSA para garantir qualidade de água e regularização de vazões no qual a fonte dos recursos seriam os pagamentos voluntários realizados pelos usuários de água. Aqui cabe destacar a experiência realizada na Bacia Camboriú (SC) onde a empresa de abastecimen- to local está liderando um Esquema PSA água, no qual já alocou 1% da sua receita anual por um pe- ríodo inicial de três anos, o que se constitui em um 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a esquema potencialmente replicável para um grande número de outras empresas de abastecimento, setor elétrico, entre outros. Iniciativas semelhantes estão em curso nas cidades de Brasília e Palmas. d) Estima-se a possibilidade de que grandes usuáriosde água possam compensar ou mitigar a sua “pegada hídrica” por meio da contribuição a Esquemas PSA no qual as fontes dos recursos seriam os pagamentos realizados por grandes usuários buscando reduzir sua “pegada hídrica”. Experiências neste sentido estão sendo construídas junto a algumas empresas. 203 II – Soluções elencadas Referências de soluções concretas 1. Programa produtor de água Pagamento por serviços ambientais são transferências financeiras de beneficiários de serviços ambientais para os que, devido a práticas que conservam a natureza, fornecem esses serviços. Embora seja uma política recente e inovadora que está atraindo muita atenção tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, no Brasil as experiências brasileiras neste campo avançaram com suficiência. Um exemplo disso é o Programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agencia Nacional de Águas, a TNC41 e outras instituições. O Programa Produtor de Água é um programa voluntário no qual são beneficiados produtores rurais que, por meio de práticas e manejos conservacionistas, e de melhoria da cobertura vegetal, venham a contribuir para o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação, e para o aumento da infiltração de água, segundo o conceito provedor-recebedor. Os pagamentos são efetuados pelos agentes participantes aos produtores rurais que, por meio de práticas e manejos conservacionistas, venham a contribuir para o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação e para o aumento da infiltração de água. Estes agentes podem ser entidades federais e estaduais, comitês e agências de bacias, prefeituras municipais, entre outros. O programa prevê apoio técnico e financeiro – arranjos de PSA e a execução de ações, em diversos projetos espalhados por vários estados brasileiros, como: construção de terraços e de bacias de infiltração, readequação de estradas vicinais, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento das áreas de proteção permanente e reserva legal, saneamento ambiental, entre outros. A estratégia adotada pelo programa visa à “compra” dos benefícios (produtos) gerados pelo participante (conceito “provedor-recebedor”), cujos pagamentos são proporcionais ao abatimento de erosão proporcionado e ampliação da área florestada. Nele há flexibilidade no que diz respeito a práticas e manejos propostos; assistência técnica e extensão rural; e o chamamento público para seleção dos projetos. Também é um Programa de Melhoria da Qualidade e da Quantidade de Água em Mananciais, pelo incentivo financeiro aos produtores. Tem como foco projetos votados à proteção dos recursos hídricos. Sua base conceitual estabelece pagamentos baseados em custos de referência preestabelecidos, sempre proporcionais aos serviços ambientais prestados (valor pago varia entre R$ 150,00 e R$ 350,00 por hectare) feitos após a implantação do projeto proposto. Utiliza um sistema de monitoramento dos resultados, acompanhando o cumprimento das metas, verificadas e certificadas, por A ANA apoia, orienta e certifica projetos que visem à redução da erosão e do assoreamento de mananciais no meio rural, propiciando a melhoria da qualidade, a ampliação e a regularização da oferta de água em bacias hidrográficas de importância estratégica para o país. Estabelece parcerias, com custos do programa compartilhado entre a União, estados, prefeituras, empresas de saneamento e de energia, organizações não governamentais. 41 equipes técnicas, sendo ele um pré-requisito para o pagamento do incentivo. No caso da TNC, a participação do desenvolvimento do Programa Produtor de Água no Brasil faz parte da implementação da estratégia mais ampla chamada de Fundos de Água na América Latina. 204 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Adota a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e provê assistência técnica aos produtores rurais, proporcionando práticas sustentáveis de produção. Aponta como possibilidades de fontes para o financiamento: • Orçamento da União, estados e municípios. • Fundos Estaduais de Recursos Hídricos e de Meio Ambiente. • Fundo Nacional de Meio Ambiente. • Bancos, organismos internacionais (ONGs, GEF, BIRD etc.). • Empresas de saneamento, de geração de energia elétrica e usuários. • Recursos da cobrança pelo uso da água. • Termos de Ajustes de Conduta – compensação financeira por parte de usuários beneficiados. • Mecanismo de desenvolvimento limpo/Kyoto. São resultados visíveis do programa a existência de diversos projetos em andamento abrangendo mais de 200.000 hectares e com cerca de R$ 100.000.000,00 em investimentos já realizados. Para 2012, seis novos projetos serão incorporados. O pagamento por serviços ambientais segue uma metodologia estruturada primordialmente em três fases sequenciais: fase de articulação/arranjo institucional; fase de desenvolvimento e fase de implementação – as quais enfrentam desafios peculiares para sua efetiva realização. de fontes pagadoras e de contrapartidas locais, parceiros com capacidade de implementação; realização de workshops de treinamento e capa- citação para o desenvolvimento de projetos (hands on), particularmente onde existem potenciais recursos a serem acessados (CBHs e programas públicos) e o apoio a prefeituras, estados e CBHs para estabelecimento de marco legal. Na fase de desenvolvimento, os principais desafios são o custo significativo das atividades de desenvolvimento (mapeamento do uso do solo, fundiário etc.); a necessidade de capacitação técnica para a realização das atividades de desenvolvimento e o alto custo das atividades de implementação (res- tauração florestal e equipe técnica), tornando difícil o comprometimento dos parceiros. Também são desafios a ausência do recurso de lon- go prazo para os PSA, limitando a possibilidade da passagem do desenvolvimento para a implementa- ção e, em muitos casos, a ausência de consolidação legal para a implementação dos PSAs (necessário quando envolvendo recursos públicos). O desenvolvimento do programa implantado deverá considerar como desafios: as incertezas quanto à existência de recursos futuros e contínuos para a manutenção dos projetos e dos PSA; o alto custo das atividades associadas, especialmente a restauração florestal e a assistência técnica adequada; a baixa capacidade técnica na condução dos processos de restauração florestal e gestão de projetos; a deficiência crônica na cadeia produtiva do reflorestamento, desde a coleta de sementes, Durante a fase de articulação, os principais desafios são a necessidade de identificação de fontes pagadoras do PSA e das ações associadas para a efetivação dos projetos; carência de informação para o desenvolvimento dos projetos e, em algumas delas, uma baixa capacidade de implementação dos parceiros envolvidos. produção de mudas de qualidade e manutenção Diante disso, recomenda-se a destinação de recursos para o desenvolvimento de projetos considerados mais viáveis, aqueles que possuem existência por serviços ambientais deverá ser aperfeiçoada pelo 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a dos plantios executados; o monitoramento ainda deficiente, tanto em relação à água, quanto em relação à restauração florestal; os altos custos de transação por conta da complexidade da gestão compartilhada dos projetos. Além desses desafios, a experiência de pagamento desenvolvimento de experiências que contemplem áreas urbanas, pelo desenvolvimento de sistemas de 205 monitoramento e avaliação de impactos e pelo ajuste legal relacionado aos entraves fiscais. 2. Projeto Produtores de Água – Espírito Santo As florestas nativas quando localizadas em áreas estratégicas para os recursos hídricos são fundamentais para a provisão de águas de qualidade, para as concessionárias de hidroenergia, para as empresas de tratamento e distribuição de água potável, entre outros usuários. As florestas nativas prestam um serviço ambiental que reduz os gastos destes usuários de água. Sabe-se que os usuários de água (empresas de geração de hidroenergia; distribuição de água potável; siderúrgicas e mineradoras etc.) têm gasto um valor significativo de recursos financeiros para tratamento de água, bem como na manutenção do maquinário devido aos altos índices de turbidez nos corpos hídricos. Desse modo, estas empresas são beneficiadas diretamente pelas intervenções positivas realizadas pelos produtores a montante. Dessa maneira, percebe-se que o setor privado e a própria sociedade consumidora, principais usuários destas águas, podem se configurar como beneficiários destes serviços ambientais prestados pelos remanescentes de mata nativa que se encontram, em sua grande maioria, nas mãos de pequenos e médios proprietários rurais. A estrutura fundiária é fator importante para entendermos a dinâmica do mecanismo de PSA Capixaba. Cerca de 80% das propriedades capixabas são consideradas pequenas, de até 50 ha, e são nessas propriedades que esta a grande maioria dos remanescentes de Floresta Atlântica no Estado do Espírito Santo. As principais atividades econômicas realizadas nestas propriedades rurais são a cafeicultura, a bananicultura, a silvicultura do eucalipto e a pecuária bovina de corte e leite. Estes proprietários rurais, que em sua maioria estão nas cabeceiras das bacias hidrográficas capixabas, 206 mantêm as florestas nativas em pé e permitem que elas prestem o serviço ambiental de melhoria de qualidade de água, sendo assim identificados como os provedores do serviço ambiental. 2.1. Principais resultados alcançados (em termos ambientais econômicos e sociais) Os resultados dos esforços empregados para implementação do projeto indicam que aproximadamente 252 proprietários rurais possuem contratos de prestação de serviços ambientais para melhoria da qualidade e disponibilidade hídrica, por meio do abatimento da erosão, com a aplicação de $ 1.135.148,58, ao longo dos três anos de contratos PSA. A área de floresta nativa protegida pelo ProdutorES de Água alcança 2.512,26 hectares, nas três bacias de atuação do projeto. Ressaltamos que o mecanismo de pagamento por serviços ambientais no ES proposto pelo ProdutorES de Água atende somente a floresta em pé e ao serviço ambiental água. Apesar de o projeto ainda se encontrar em fase de implementação, algumas informações derivadas das abordagens juntos aos proprietários integrantes do rol do projeto sugerem as seguintes constatações: - O proprietário rural está criando uma nova concepção do órgão ambiental, pois além de trazer as obrigações, ele vem criando condições para que tais obrigações sejam cumpridas. - O proprietário rural tem desenvolvido uma nova percepção quanto ao uso e valor dos recursos florestais presente na sua propriedade. - A prática da educação ambiental, a adequação das propriedades e o uso dos recursos naturais de forma mais amigável com o meio ambiente vem sendo incorporadas com mais aceitação pelos proprietários que aderem ao projeto. - Novas pesquisas como teses de mestrados e artigos científicos estão sendo subsidiados pelas informações do projeto e em breve estes C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l fornecerãoinformações necessárias para o aperfeiçoamento do projeto. - Os recursos financeiros recebidos pelos proprietários pela prestação de serviços ambientais vêm sendo aplicado em benfeitorias e insumos que potencializem a produção agropecuária e da propriedade, aumentando a eficiência de produção e aliviando a pressão em novas fronteiras agrícolas. - A conservação dos fragmentos florestais e a me- lhoria da qualidade da água tem se tornado realidade nas áreas de atuação do projeto. Entretanto, um dos ganhos mais significativos é o reconhecimento dos serviços ambientais prestados pelos recursos naturais. Ao considerarmos que o proprietário rural nunca havia recebido por proteger a mata que existia em sua propriedade e que atual- O pagamento por serviços ambientais é um reconhecimento financeiro dado por quem utiliza os benefícios dos serviços ambientais, como: água de qualidade, regulação térmica e beleza cênica, aquem facilita a produção que esses serviços ambientais sejam prestados pela natureza. Dessa forma, o proprietário rural passa a ser ator-chave não somente na produção de produtos agropecuários como também em serviços ambientais. Essa metodologia busca que o proprietário rural seja incluso no cerne da discussão da conservação ambiental e não somente tenha o dever de conservação estipulado em lei, e que principalmente seja reconhecido pela facilitação da prestação do serviço ambiental para a coletividade. mente há clara possibilidade deste custo, antes arca- 2.3 Lições aprendidas até o momento do Projeto Produtores de Água – ES ambientais e permitir a geração de renda na proprie- Ao longo do período de implementação do Projeto ProdutorES de Água, pode-se perceber que o mecanismo de PSA está se consolidando como sólido “guarda-chuva” para que demais ações e programas se materializem nas bacias hidrográficas. do por ele, ser incorporada ao mercado de serviços dade é um dos grandes benefícios dessa iniciativa. 2.2 Inovação Buscando garantir que os remanescentes florestais continuem a exercer suas funções na produção de benéficos ambientais para toda coletividade, foram criadas algumas formas de relacionamento e de dar diretrizes para o uso desses recursos naturais. Dentre essas formas foram criados os instrumentos de comando e controle como: licenciamentos e multas. De fato o que observamos é que esses instrumen- tos não conseguiram garantir a conservação dos recursos naturais e que áreas com grandes passivos ambientais vêm surgindo nos últimos anos. Como inovador para o estado do Espírito Santos a Seama por meio do Iema começou em 2008 a desenvolver o Projeto ProdutorES de Água que sugere uma nova forma da abordagem das res- ponsabilidades dos entes envolvidos com o uso e ocupação do solo e a conservação ambiental pelo pagamento por serviços ambientais. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a No que tange aos atores interessados no projeto, os prestadores do serviço ambiental (proprietários rurais) e os beneficiários (usuários/compradores), observa-se que os proprietários rurais estão satisfeitos com o projeto, apesar de pleitear valores maiores de PSA, e que a presença de técnicos do órgão ambiental nas áreas do projeto tem sido motivo de grande satisfação por parte dos proprietários rurais e atores locais, pois eles carecem de atenção por parte do estado. Observa-se também que parte da satisfação por parte dos proprietários vem da integração das agendas ambientais e das externalidades geradas pelo projeto, já que os recursos de PSA estão sendo utilizados para o desenvolvimento da propriedade rural: construção de estufas para secagem do café, compra de equipamentos e insumos agrícolas, quitação de financiamentos bancários etc. 207 Recomendações Diante do estágio atual de inserção da temática relativa à importância dos serviços ecossistêmicos relacionados à água, algumas recomendações já feitas pelos diferentes esforços empreendidos são aqui resgatadas: indivíduos e a sociedade dão hoje aos serviços dos ecossistemas, como fornecimento de água, lazer e serviços culturais, incluindo a incorporação de valores não de mercado na tomada de decisões. - Aumentar o uso de instrumentos econômicos e abordagens de mercado na gestão dos serviços dos ecossistemas, incluindo a criação de mercados (como o de carbono), o pagamento pelos 1. Recomendações gerais da Avaliação Ecossistêmica do Milênio: - Aumentar o uso de ações integradas para, simultaneamente, evitar a degradação de diversos ecossistemas, exigindo a combinação de uma gama de políticas e estratégias elaboradas por governos, sociedade civil e setor privado, incluindo maior coordenação entre acordos ambientais multilaterais. - Integrar as metas de gestão dos ecossistemas a outros setores e com estruturas de planejamento de desenvolvimento mais abrangentes (a exemplo da exigência feita por certos empréstimos bancários). mas de créditos de poluição para a redução des- ta, mecanismos para os consumidores expressarem suas preferências por meio dos mercados e taxas e impostos para usuários. - Eliminar os subsídios que promovem o uso exces- sivo dos serviços dos ecossistemas (a exemplo dos subsídios agrícolas) e, onde possível, transferir estes subsídios para pagamentos por serviços dos ecossistemas, particularmente para aqueles nos quais os mercados ainda não estão estabelecidos. - Promover as novas tecnologias e sua permanente avaliação. - Aumentar a transparência e a responsabilidade do desempenho do governo e do setor privado em decisões que afetam os ecossistemas. - Promover a intensificação sustentável da agricul- - Melhorar a capacidade humana e institucional de avaliar as consequências das mudanças nos ecossistemas, incluindo maior participação de stakeholders engajados. - Frear as mudanças climáticas. - Usar todas as formas relevantes de conhecimentos e informações em avaliações e nas tomadas de decisões, incluindo o conhecimento tradicional e de praticantes. - Melhorar a comunicação e educar as populações sobre a gestão e o uso sustentável dos ecossistemas e seus serviços. - Empoderar grupos particularmente dependentes dos serviços dos ecossistemas, como mulheres, povos indígenas e os jovens. - Estabelecer políticas de gestão de recursos que respeitem a crescente importância e valor que os 208 serviços dos ecossistemas (como a água), siste- tura ancorada em tecnologias adequadas. - Frear o crescimento da carga de nutrientes. - Investir na restauração dos serviços dos ecossistemas. Especificamente para os serviços ecossistêmi- cos relacionados com a água, a AEM propõe como soluções: • Pagamento pelos serviços de ecossistemas oferecidos pelas bacias hidrográficas. • Melhor alocação de direitos sobre os recursos hí- dricos de água de doce, a fim de alinhar incentivos e necessidades de conservação. • Maior transparência nas informações sobre ges- tão dos recursos hídricos e melhor representação dos grupos de interesse marginalizados. • Desenvolvimento de mercados de recursos hídricos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • Maior ênfase no uso do ambiente natural e medi- das, exceto diques e molhes, para controle das inundações. • Investimento em ciência e tecnologia para incrementar a eficácia do uso da água na agricultura. 1.2 Para o estabelecimento de ecorregiões aquáticas - Levantar metodologias existentes de determinação de ecorregiões em escalas compatíveis com a ges- tão de recursos hídricos e propor diretrizes, visando ao detalhamento das ecorregiões aquáticas. - Articular a incorporação dos resultados do deta1.1 Para os Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos - Estimular a inclusão da temática referente ao valor dos serviços ecossistêmicos na pauta dos co- lhamento de ecorregiões aquáticas nos planos de recursos hídricos. - Estruturar e implementar bancos de dados para disponibilização das informações produzidas. legiados dos Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos. São oportunidades para isso as discussões sobre vazão ecológica, pagamento por serviços ambientais, alocação dos recursos da cobrança pelo uso da água, enquadramento dos corpos d’água e adequação dos instrumentos de gestão, como a outorga e o sistema de Informações, além de outras. - Estimular os organismos colegiados no aprofundamento de discussões a respeito dos benefícios dos Esquemas PSA para assegurar qualidade de água e regularização de vazões e a utilização de fontes dos recursos provenientes de instrumentos, como cobrança pelo uso da água, bem como da inclusão dos serviços ecossistêmicos nas decisões sobre alocação de água. - Estimular os colegiados para a aproximação das políticas ambientais e de recursos hídricos com as demais políticas setoriais de modo a ampliar a sinergia entre elas a partir de ações integradas. - Desenvolver ações de comunicação e capacitação que se fizerem necessárias junto aos colegiados dos sistemas de gestão. - Apoiar pesquisas avançadas sobre recursos hídricos e ecossistemas aquáticos; o funcionamento ecológico de rios, lagos, represas e estuários devem merecer mais atenção com investimentos maciços em equipes interdisciplinares com capacidade para enfrentar esses desafios e produzir conhecimento novo com alto valor agregado. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 1.3 Para a utilização de vazão ambiental - As legislações ambientais e de recursos hídricos do país devem apontar explicitamente o detentor da competência para a definição do cálculo/adoção da vazão ambiental e suas respectivas metodologias. - Para internalizar a vazão ambiental na gestão de recursos hídricos será necessário melhorar a disseminação de informações; educação/capacitação; uniformizar conceitos; execução de projetos-piloto, envolvendo todos os setores e demandas; articulação institucional e entre as gestões de recursos hídricos e ambientais; relacionamento da vazão ambiental com os instrumentos de gestão e ajustes na legislação. - Há necessidade de estabelecer diretrizes técnicas-políticas-institucionais para adoção de vazão ambiental na gestão de recursos hídricos. - A esfera de decisão adequada para o regime de vazão ambiental deverá ser os comitês de bacia ou os conselhos de recursos hídricos. - A vazão ambiental deve ser tratada nos instrumentos da política de recursos hídricos, além do licenciamento ambiental, como “resultado das negociações com os diversos atores envolvidos, tendo como ponto de partida a vazão ecológica, e considerando os múltiplos usos da água”, sendo uma atribuição da área de gestão de recursos hídricos (discussão no comitê de bacia e definição no Plano de Recurso Hídrico). 209 - Não fazer dissociação das gestões ambiental e de recursos hídricos. Integrá-las por meio do enfoque ecossistêmico. - Definir prioridades para licenciamento ambiental/ outorga (PCHs, barragens); mananciais; áreas protegidas. - Garantir a disponibilidade de dados quantitativos-qualitativos: redes de monitoramento com série histórica. - Incentivar à utilização de obras hidráulicas adaptadas à natureza: recuperação-conservação do funcionamento do ecossistema hídrico. 1.4 Para o pagamento por serviços ambientais - O desenvolvimento de Programas de Pagamentos por Serviços Ambientais deverá considerar como seus principais desafios a necessidade do estabelecimento de fontes permanentes de recursos para a sua execução. Conforme apontado, do lado público, as principais fontes que podem garantir esses recursos estão localizadas na cobrança pelo uso da água e no estabelecimento de programas públicos abastecidos por fontes ligadas a royalties ou por recursos de compensação do setor elétrico. No lado privado, as principais fontes de recursos residem na compra direta dos serviços pelos seus principais beneficiários, os grandes usuários de água ou empresas buscando reduzir a sua pegada hídrica. - Um ponto central a ser incorporado aqui, particularmente no caso das empresas de água e abastecimento, é garantir que os preços cobrados pela água cubram também os custos de manutenção e restauração dos ecossistemas que a provém, considerando a manutenção saudável destes ecossistemas um ativo tão importante, em forma de capital natural, quanto os ativos da infraestrutura de captação e abastecimento de água. - Também são desafios importantes a serem superados o alto custo das atividades associadas, especialmente a restauração florestal e a assistência 210 técnica adequada; a baixa capacidade técnica na condução dos processos de restauração florestal e gestão de projetos; a deficiência crônica na ca- deia produtiva do reflorestamento, desde a coleta de sementes, produção de mudas de qualidade e manutenção dos plantios executados. - Ponto central a ser efetuado em escala é o monitoramento das iniciativas, fator fundamental para assegurar que os serviços ambientais que estão sendo pagos por meio dos esquemas de PSA estão sendo entregues aos compradores, tanto as instituições públicas quanto privadas. - Do ponto de vista legal, os principais desafios estão na necessidade do estabelecimento do marco legal de PSA no país, marco este que possa também definir os aspectos fiscais referentes aos PSAs. - Além dos desafios listados acima, a experiência de pagamento por serviços ambientais deverá ser aperfeiçoada pelo desenvolvimento de experiências que contemplem áreas urbanas. 1.5 Para unidades de conservação - Definição orçamentária clara para a manutenção das unidades criadas. - Regulamentação dos instrumentos econômicos possíveis de serem utilizados na manutenção das unidades de conservação a exemplo do pagamento pelo uso dos recursos hídricos. Conclusões Embora a Lei nº 9.433/1997, que estabelece no Brasil o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, possibilite abertura para avançar no tema em questão, a sua efetiva apropriação deverá ser estimulada colocando as questões referentes ao valor dos serviços ecossistêmicos na pauta dos colegiados do Singreh. Um dos grandes desafios do sistema criado e em funcionamento no país diz respeito à integração C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l da gestão dos recursos hídricos com a gestão ambiental.Nesse caso, a inclusão de questões referentes ao enfoque ecossistêmico – como a regionalização e a definição de vazões necessárias à manutenção dos serviços ecossistêmicos – poderá vir a ser uma estratégia que reforce a integração necessária. A ampliação de esforços para a regulamentação de instrumentos econômicos que possibilitem o pagamento pelos serviços ecossistêmicos deverá possibilitar a melhor administração das unidades de conservação, potenciais provedoras de serviços ecossistêmicos e representar um incremento significativo para a gestão delas, visto que elas quase nunca recebem contrapartidas financeiras pelo fornecimento de tais serviços. Do ponto de vista da implementação de Sistemas de Pagamentos por Serviços Ambientais, o país já conta com algumas experiências exitosas em curso, a maior parte delas abrigadas sob o conceito 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a do Produtor de Água, conceito este desenvolvido pela Agência Nacional de Águas. Daqui para a frente, o grande desafio está em dar escala a estas primeiras experiências, escala esta que pode ser construída a partir das lições aprendidas até aqui. Para que isto aconteça de maneira mais efetiva, é importante que a sociedade brasileira passe a entender cada vez mais o papel dos ecossistemas na provisão de água em qualidade e quantidade, tarefa esta que demanda forte processo de conscientização ao nível das empresas privadas, dos agentes públicos e dos cidadãos. Também é fundamental que os custos de manutenção e restauração destes ecossistemas sejam internalizados nas políticas de recursos hídricos em todo o país, tal como já acontece nos comitês de bacia no qual a cobrança pelo uso da água já está estabelecido, permitindo que sejam gerados recursos sustentáveis para os investimentos necessários nas bacias hidrográficas que abastecem o país. 211 Bibliografia O Contexto brasileiro O panorama dos recursos hídricos 1. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: 2009. Brasília: ANA, 2009. 2. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2011. Brasília: ANA, 2011 11. Caporal, F. R.; Costabeber, J. 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Acesso em: 10 set. 2011. 39. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório do Desenvolvimento Humano: A água para lá da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água. Nova York, 2006. 40. REDE DE POLÍTICAS SOBRE ENERGIA RENOVÁVEL. Relatório Mundial de Energia Renovável 2011. 41. RIVEROS, J. C. et all. Sustainable energy and rational exploration of Amazon Rivers. Brazil Energy Frontiers 2011 – 2011. 42. QUEIROZ, R. e VILELA, T., Integração energética na América do Sul: motivações, percalços e realizações, 2010. 215 43. Seminário Internacional do Setor de Energia Elétrica: “Integração Energética na América Latina“. Disponível em: <http://www.nuca.ie.ufrj.br/ gesel/apresentacoes/apres.VISISEE.htm>. Acesso em: 10 set. 2011. 52. Luz, C. Dantas, Luz, J. A. G., Amorim, F. B., 44. World Resources Institute. World Resources 1998-99: Environmental change and human health. Washington, D.C: World Resources Institute, 1998. 53. MARETTI, C. 2001. Comentários sobre a situ- 45. WHITE PAPER No. 1: Energia e Geopolítica: Compromisso versus Oportunismo, 2011. Instituto Acende Brasil: Disponível em: <http://www.acendebrasil.com.br/site/secoes/Estudos.asp>. Acesso em: 10 out. 2011. - Florestas e Unidades de Conservação. Brasília, 46. VILAS BOAS, C. L. O Uso Múltiplo de Reservatórios. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/ rehi/simposio/go/O%20uso%20multiplo%20de%20 reservatorios.pdf>. Acesso em: 20 set. 2011. 47. ZIMMERMANN, M. P. Aspectos Técnicos e Legais Associados ao Planejamento da Expansão de Energia Elétrica no Novo Contexto Regulatório Brasileiro. 2007. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica (PUC). Proença C. N°, Pires, A. S., 2004. Vazões Mínimas e Vazões Ecológicas – Qual a Necessidade de Água em um Rio. VII Simpósio de Recursos Hídricos, São Luis. ação das Unidades de Conservação no Brasil. In: Revista de Direitos Difusos, Vol. 5 - fevereiro/2001 Ed. Esplanada-ADCOAS. 54. MEDEIROS, Y. D. P. et al, 2006. “Processo Decisório de Alocação de Águas Utilizando Análise Multicritério: Caso da Bacia do rio São Francisco”. In: VIII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, 2006, Gravatá, PE. 55. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. RESOLUÇÃO Nº 32, de 15 de outubro de 2003 56. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. RESOLUÇÃO Nº 98, DE 26 DE MARÇO DE 2009 57. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria Melhorar a Qualidade dos Recursos Hídricos e dos Serviços Ecossistêmicos 48. AVALIAÇÃO Ecossistêmica do Milênio, Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2005. da Oficina de Trabalho Detalhamento das Ecorregiões Aquáticas do Brasil. Brasília/DF. Agosto de 2009. 58. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de 49. BRASIL, Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000 que cria o SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA Brasília. MMA/SBF, 2000 Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. Relatório da 49. BRASIL, Lei 9.433/97, de 8 de janeiro de 1997, regulamenta a Política Nacional de Recursos Hídricos. 59. Pagamentos por Serviços Ambientais na Mata 50. GALLO JR, H. 2006. Sobreposição dos Territórios e Gestão de Unidades de Conservação de Proteção Integral: Estudo Aplicado a UCs do Estado de São Paulo. Tese de Doutoramento USP/FFLCH/ Depto. de Geografia. a 51. J. Gondim, 2006. Apresentação na 51 Reunião da CTAP – Câmara Técnica de Análise de Projetos do CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos. 216 de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. Relatório “INTEGRAÇÃO ENTRE AS GESTÕES DE RECURSOS HÍDRICOS E MEIO AMBIENTE”. Brasília, 2010. Atlântica: lições aprendidas e desafios / Fátima Be- cker Guedes e Susan Edda Seehusen; Organizadoras. – Brasília: MMA, 2011. 60. Projeto Conservador das Águas Passo a Passo: Uma Descrição Didática sobre o Desenvolvi- mento da Primeira Experiência de Pagamento por uma Prefeitura Municipal no Brasil/ Adriana Kfouri e Fabiana Favero.- Brasília, DF: The Nature Conservancy do Brasil, 2011. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 61. Relatório do GT de Mudanças Climáticas e Água no Brasil: Iniciativas de Adaptação da Seção Brasil. Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, São Paulo, 2011. 62. Sustentabilidade Ambiental no Brasil: biodiversidade, economia e bem-estar humano / Instituto de 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Pesquisa Econômica Aplicada. – Brasília: Ipea, 2010. 63. WWF BRASIL/TNC. Relatório da Oficina Preparatória para o 6º Fórum Mundial da Água Conservando e Protegendo as Águas e Valorando os Serviços Ecossistêmicos: Soluções para o Brasil. São Paulo. 2011 217 Anexos A. Garantir o Acesso à Água para Todos e o Direito à Água Anexo A.1 População atendida pelo sistema de Água e Esgoto (% sobre o total) Brasil e Regiões – 2009 Regiões Água Total Coleta de esgoto Urbano Total Urbano Tratamento de esgoto Norte 58.5 73.5 6.2 7.7 15.7 Nordeste 69.7 91.4 19.7 26.5 33.0 Sudeste 90.6 97.7 68.2 73.7 413 Sul 85.9 97.0 34.4 40.5 32.9 Centro-Oeste 89.0 96.7 46.5 51.4 44.2 Brasil 81.7 95.2 44.5 52.0 39.7 0,5 0,5 1,3 1,4 3,3 Diferença 2008-2009 pp Fonte: SNIS, 2009 220 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l B. Água e Adaptação a Mudanças Climáticas Anexo B.1 Participantes da Mesa Redonda – 3/6/2011 Representante Abílio Gonçalves Junior Entidade Cidade Secretaria do Meio Ambiente São Paulo Estado SP Alexandre Baltar Odbrecht Brasilia DF Ana Maria Panarelli Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Bruno Pagnoccheschi Agência Nacional de Água – ANA Brasilia DF Carlos Bicudo Instituto de Botânica São Paulo SP Carlos Tucci IPH Porto Alegre RS Célia R. de Gouveia Souza Instituto Geológico São Paulo SP Ebenezer Borges Costa e Silva Sup. de Recursos Hídricos – MT Cuiaba MT Eneas Salati Esalq - USP Piracicaba SP Fabio Feldmann Consultor São Paulo SP Geroncio Rocha Consultor São Paulo SP João Wagner Silva Alves CETESB São Paulo SP Joaquim Gondim ANA Brasilia DF José Paulo Ganzeli Instituto de Botânica São Paulo SP Jussara Carvalho Prefeitura de Sorocaba Sorocaba SP Lurdes Maluf Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Luiz H. M. Noquelli Superintendência de Recursos Hídricos – MT Cuiaba MT Mara A. Iritani Instituto Geológico São Paulo SP Márcia Regina S. C. Coimbra ANA Brasilia DF Marina Balestero dos Santos Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Marta Emerich Cetesb São Paulo SP Marta P. Militão da Silva Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Maurício M. Philipp Sup. de Recursos Hídricos – MT Cuiaba MT Neusa Marcondes Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Paulo Varella ANA Brasilia DF Pedro Jacobi USP São Paulo SP Rachel M. Azzari Domenichelli Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Ricardo Andrade ANA Brasilia DF Ricardo Hirata USP São Paulo SP Richard Hiroshi Ouno Cetesb São Paulo SP Rosa Mancini Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Samuel Barreto WWF São Paulo SP Silvana Augusto Secretaria do Meio Ambiente São Paulo SP Stela Goldenstein Secr. de Plan. e Desenvolvimento Regional São Paulo SP Valdir de Cicco Instituto Florestal São Paulo SP Vanessa Empinotti USP São Paulo tSP Vera Bononi Instituto de Botânica São Paulo SP Walter Tesch Secr. de Saneamento e Recursos Hidricos São Paulo SP 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 221 Anexo B.2 Legislação sobre Mudanças Climática Federal, Estadual e Municipal Legislação sobre mudança climática – municipal Município Curitiba - PR Palmas - TO Categoria Ementa Decreto nº 1.186, de 22 de setembro de 2009 Institui o Fórum Curitiba sobre Mudanças Climáticas, seus membros e o Plano de Ação para o Município. Decreto nº 1.323, de 20 de outubro de 2009 Designa membros titular e suplente, por instituição do Fórum Curitiba sobre Mudanças Climáticas. Lei nº 1.182, de 13 de maio de 2003 Lei complementar nº 560, de 3 de janeiro de 2007 Porto Alegre - RS Rio de Janeiro Birigui - SP Valinhos - SP 222 Incidência sobre clima/ água Colegiados Art. 3º I. – Conservação e fomento de áreas verdes. III – Reflorestamento de áreas degradadas VII – Prevenção e combate às queimadas. Dispõe sobre Política Municipal de Mudanças Climáticas. Institui o Programa de Incentivo ao Uso de Energia Solar nas Edificações. Cria Programa Municipal Lei nº 10.320, de de Prevenção, Redução e 10 de dezembro de compensação de Emissões 2007 de CO2 e demais gases veiculares de Efeito Estufa. Lei nº 5.248, de 27 de janeiro de 2011 Art. 30 II. – Necessidade de Plano Municipal sobre Mudança Climática; IX – Ecoeficiência na gestão e uso racional dos Institui a Política Municipal recursos naturais. sobre Mudança Climática e Desenvolvimento Art. 40 VIII. Identificar Sustentável, estabelecimento vulnerabilidades e de metas de redução de promover ações de emissões antrópicas de adaptação. gases de efeito estufa. Art. 17 –. Programa de Ecoeficiência, incluindo água, energia, papel, gás e combustíveis. Lei nº 4.507, de 30 de maio de 2005 Dispõe sobre exigência de aquecedores solares em moradias de conjuntos habitacionais populares. Lei nº 4.253, de 6 de março de 2008 Institui compensação às emissões de gases de efeito estufa e manejo adequado de resíduos. Art. 3º VII – Promoção da avaliação ambiental estratégicas dos planos, programas e projetos públicos e privados, com a finalidade de incorporar a dimensão climática. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Legislação sobre mudança climática – municipal Município Categoria Lei nº 14.933, de 5 de junho de 2009 São Paulo - SP Decreto nº 50.866, de 21 de setembro de 2009 Lei nº 14.459, de 3 de julho de 2007 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Ementa Incidência sobre clima/ água Colegiados XIII – Promoção do uso racional, conservação e combate ao desperdício de água. Art. 21. No licenciamento, reserva de área permeável. Art. 22. Programa de Institui a Política de Mudança recuperação de áreas degradadas em APRMs, do Clima no Município de São Paulo. visando a garantia de produção de recursos hídricos. Art. 40. Programa permanente de defesa civil face a eventos climáticos extremos. Regulamenta o Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia. Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia. Dispõe sobre a instalação de sistema de aquecimento de água por energia solar nas novas edificações do município de São Paulo. 223 Legislação sobre mudança climática – estadual Estado Amazonas Espírito Santo Goias 224 Categoria Lei nº 3.135, de 5 de junho de 2007 Lei nº 9.531, de 16 de setembro de 2010 Lei nº 16.611, de 25 de junho de 2009 Ementa Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas, conservação ambiental e desenvolvimento sutentável do Amazonas Incidência sobre clima/água Art. 10. I – Importância da conservação da floresta. Art. 10. V – Implementar ações de prevenção e adaptação às alterações. Art. 40. XIII – Identificação das vulnerabilidades e formulação de planos e programas de adaptação em zonas costeiras, áreas metropolitanas, recursos hídricos e agricultura. Art. 50. II – Fundo Estadual de Institui a Política Recursos Hídricos e Estadual de Mudanças Climáticas – Mudanças Climática Fundágua. Art. 17 – Planos de disciplinamento do uso do solo devem considerar a questão climática. IV – Regulação dos usos múltiplos e preservação dos recursos hídricos. V – Planos de macrodrenagem e de bacias. Colegiados Fórum amzonense de Mudanças Climáticas (a ser regulamentado). Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas. Dispõe sobre a Política Estadual Art 2º. Divulgar, orientar e de Conscientização sensibilizar a população goiana sobre os Efeitos do Aquecimento Global sobre as mudanças climáticas. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Legislação sobre mudança climática – estadual Estado Categoria Ementa Institui o Fórum Decreto nº Mineiro 44.042, de 9 de de Mudanças junho de 2005 Climáticas. Minas Gerais Rio de Janeiro Pernambuco Santa Catarina Incidência sobre clima/água Art. 20. IX: – Promover a criação de infraestrutura de monitoramento e vigilãncia de mudança climática Decreto nº 45.229, de13 de dezembro de 2009 Regulamenta medidas referentes Art. 20. Registro público ao combate às voluntário das emissões de mudanças climáticas gases de efeito estufa. e gestão de gases de efeito estufa. Lei nº 5.690, de14 de abril de 2010 Institui a Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Fóum: estado, universidades, setor produtivos, obras. Art. 10. Prevenir e mitigar os efeitos e adaptar o Estado às mudanças climáticas. Art.50. III: Prevenção de eventos climáticos extremos. Fórum Rio de Mudanças Climáticas, com reuniões trimestrais. Institui a Política Estadual de Enfrentamento às Mudanças do Clima. Art. 70. Criar instituto de pesquisa sobre clima e oceano. Art. 90. XV – Gerar e disseminar informações sobre eventos climáticos extremos. Art. 100. II – Adotar técnicas de convivência com a seca. Art. 12. Definir, na política de recursos hídricos, a questão das mudanças climáticas, definindoáreas de maior vulnerabilidade e respectivas ações de prevenção, mitigação e adaptação. Art. 17. Estratégias de gestão marinha e costeira (18 itens). • Fórum Pernambucano de Mudanças Climáticas • Fóruns municipais de enfrentamento às mudanças climáticas. Institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas e Desenvolimento Sustentável. Art. 50. V – Aproveitamento adequado dos recursos naturais, em ênfase ao potencial hídrico. Fórum Catarinense de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade. Lei nº 14.090, de 17/06/2010 Lei nº 14.829, de 11 de agosto de 2009 Colegiados 225 Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009 Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas – PEMC. Artigo 17. – A Política Estadual de Recursos Hídricos, o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Plano Estadual de Recursos Hídricos, os Planos de Bacias Hidrográficas, os Comitês de Bacia Hidrográfica, o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos devem considerar as mudanças climáticas, a definição das áreas de maior vulnerabilidade e as ações de prevenção, mitigação e adaptação estabelecidas nesta lei. Regulamenta a Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas. Artigo 68. A Política Estadual de Recursos Hídricos, o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Plano Estadual de Recursos Hídricos, os Planos de Bacias Hidrográficas, os Comitês de Bacia Hidrográfica, o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos devem considerar as mudanças climáticas, a definição das áreas de maior vulnerabilidade e as ações de prevenção, mitigação e adaptação estabelecidas na Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009. Parágrafo único – Caberá aos Comitês de Bacias Hidrográficas: 1. O acompanhamento dos indicadores sobre qualidade e quantidade dos recursos hídricos, incorporados em seus planos de bacias, visando seu adequado gerenciamento no âmbito da Política Estadual de Mudanças Climáticas. 2. O acompanhamento da elaboração das Avaliações Ambientais Estratégicas e do Zoneamento EcológicoEconômico. São Paulo Decreto nº 55.947, 24 de junho de 2010 226 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S Conselho Estadual de Mudanças Climáticas – 14 membros de cada segmento; Comitê Gestor da Política Estadual de Mudanças Climáticas. | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Legislação sobre mudança climática – estadual Estado Paraná Tocantins Ceará Maranhão Mato Grosso Categoria Ementa Lei nº 16.019, de 19 de dezembro de 2008 Institui o Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais Lei nº 1.917, de 17 de abril de 2008 Institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolviemnto Sustentável. Decreto nº 29.272, de 25 de abril de 2008 Institui o Fórum Cearense de Mudanças Climáticas e Biodiversidade. Art. 20. IV – Apoiar a realização de estudos, pesquisas e ações de educação sobre os temas relativos às mudanças climáticas. Fóum Cearense de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade. Decreto nº 22.735, de 29 de novembro de 2006 Institui o Fórum Maranhense de Mudanças Climáticas. Art. 20. IX – Promover a criação de infraestrutura de monitoramento e vigilãncia de mudança climática. Fórum Maranhense de Mudanças Climáticas. Lei nº 9.111, de 15 de abril de 2009 Institui o Fórum Mato-Grossense de Mudanças Climáticas. Art. 20. IX – Promover a criação de infraestrutura de monitoramento e vigilância de mudança climática. Fórum Matogrossense de Mudanças Climáticas. Intitui o Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas. Art. 20. VIII – Estimular a implantação de programas que garantam o monitoramento, avaliação e controle de projetos que visem a recuperação de Fórum Paraense áreas degradadas, redução do de Mudanças desmatamento, conservação da Climáticas. biodiversidade e dos recursos hídricos. Pará Decreto nº 1.900, de 22 de setembro de 2009 Piauí Institui o Fórum Decreto nº Estadual de 12.613, de 4 de Mudanças junho Climáticas e de 2007 Combate à Pobreza. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Incidência sobre clima/água Colegiados Fórum Pranaense de Mudanças Climáticas Globais. Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e Biodiversidade. Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e Combate a Pobreza. 227 Legislação sobre mudança climática – estadual Estado Categoria Ementa Incidência sobre clima/água Rio Grande do Sul Decreto nº 45.098, de 15 de junho de 2007 Bahia Institui o Fórum Baiano de Mudanças Decreto nº 9.519, de 18 de Climáticas agosto de 2005 Globais e de Biodiversidade. Cria o Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas. Colegiados Art. 20. VII – Avaliar e monitorar o impacto das mudanças globais do clima no rio Grande do Sul. Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas. Art. 20. XIV – Promover a divulgação e a disseminação de dados relativos às muanças climáticas globais e a biodiversidade. Fórum Baiano de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade. Legislação sobre mudança climática – federal Categoria Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009 Ementa Institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima Incidência sobre clima/água Colegiados Art. 50. IV – Estratégias integradas de mitigação e adaptação à mudança do climanos âmbitos local, reginal e nacional. • Comitê Interministerial. • Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. • Rede Brasileira de Pesquisa. – Rede Clima. • Comissão de Coordenação das atividades de metereologia, climatologia e hidrologia. Art. 50. Financiamento de Lei nº 12.114, de 9 Cria o Fundo Nacional sobre projetos relativs a mitigação Mudança do Clima de dezembro ou adaptação à mudança do (FNMC) de 2009 clima. Decreto nº 7.390, de 9 de dezembro de 2010 Decreto nº 7.343, de 26 de outubro de 2010 228 Regulamenta a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009 Regulamenta a Lei nº 12.114, de 9 de dezembro de 2009 Comitê Gestor do FNMC. Art. 20. Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Art. 30. Aplicação de recursos do Fundo em: I – Capacitação; II – Ciência do clima, análise de impactos; VI – Desenvolvimento tecnológico. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Anexo B.3 – Inventário Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas com relação à água A realização de um “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas com relação à água” insere-se no âmbito das atividades do segundo tema: mudanças climáticas e água como estratégia para preparar o VI Fórum Mundial da Água. Com o objetivo de reunir informações sobre as ações e experiências voltadas para a adaptação às mudanças climáticas em matéria de água, nas Américas, assim como as lições aprendidas por meio da implementação dessas ações, surgiu a proposta de realizar um levantamento de ações de adaptação: “Água e Adaptação: Ações nas Américas” (Água AAA). A realização desse levantamento corresponde ao cumprimento de uma das metas regionais, cujo resultado será apresentado inicialmente no VI Fórum Mundial das Águas. Tanto a qualidade quanto a disponibilidade de água são afetadas pelas mudanças climáticas e isso representa o novo e complexo desafio para o desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos. Considerando que os recursos hídricos são de importância estratégica para muitos setores econômicos, tais como a produção de alimento, geração de energia ou abastecimento de água que em muitas regiões já são objeto de disputa: Que medidas estão sendo tomadas pelos governos locais e nacionais, organizações da sociedade civil, empresas privadas, institutos de pesquisa e organizações intergovernamentais, a fim de se adaptar às mudanças no ciclo da água? Quais inovações serão necessárias para garantir que haverá água para o desenvolvimento econômico, para garantir o bem estar social, sem comprometer as condições ambientais para as gerações atuais e futuras? 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a O “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas com relação à água” se insere neste processo e tem por objetivo contribuir para o documento das Américas, coordenado pelo “Fórum de Águas das Américas”, que será levado ao VI Fórum Mundial das Águas e para a Rio + 20. O preenchimento do formulário anexo, portanto, é de extrema importância. A participação da sua instituição permitirá o enriquecimento da contibuição brasileira. III. Público-alvo O público-alvo deste levantamento é formado por: entidades públicas e privadas, da sociedade civil organizada, por conselhos de mudança climática, institutos de pesquisa e universidades. IV. Preenchimento do formulário O questionário é composto por quatro itens: 1. Contato 2. Informações básicas sobre a atividade de adaptação à mudança climática 3. Descrição da atividade O primeiro item, “contato”, deve ser preenchido com o nome da entidade respondente ao questionário e do não do responsável pelas respostas O segundo item, “Informações básicas sobre a atividade de adaptação à mudança climática”, deve ser preenchido, como segue: · 2.1. Âmbito da atividade (bacias transfronteiriça, estadual ou nacional) – preencher indicando uma dessas alternativas informando a área de abrangência beneficiada pela atividade descrita. · 2.2. Titulo da atividade – preencher com o nome oficial da atividade ou projeto. · 2.3. Organização executora da atividade – preencher com o nome da organização 229 responsável pela execução da atividade ( caso seja uma empresa contratada – preencher com o nome da empresa) · 2.4. Atividade (iniciada ou concluida) – critérios para escolha das atividades: a) As atividades já devem ter iniciado a fim de que seja possível mensurar os impactos. b) As atividades já podem ter terminado ou estar em andamento. · 2.5. A atividade refere-se a qual das recomendações: para o preenchimento desta questão poderá ser assinalada mais de uma recomendação. Esta questão refere-se às nove recomendações da “Estratégia Regional de Mudança Climática e Água nas Américas”, 2011-2012, formuladas na reunião do COP 16, em Cancun, em dezembro de 2010. · 2.4. Período de implementação: preencher com o período de início e término (ou término previsto) da atividade. · 2.5. Custo aproximado da atividade – preencher com os valores efetivamente despendidos para execução da atividade ou estimados. 3. O terceiro item, “Descrição da atividade”, deve ser preenchido, como segue: Importante: deve ser preenchido um formulário para cada atividade a ser descrita. · 3.1. Situação anterior à implementação da atividade: preencher com um breve relato da situação anterior, enfocando o motivo que levou a implantação da atividade. que já possam ser observados ou com resultados esperados, especificando cada caso. · 3.3. Que inovações têm contribuído para o sucesso desta atividade: relatar iniciativas inovadoras que possam vir a ser replicadas, caso existam. · 3.4. Outros atores envolvidos na atividade (parcerias) e suas respectivas funções – descrever parceiros e funções – contemplando entidades governamentais, não governamentais e da sociedade civil. · 3.5. Lições aprendidas – descrever, em um breve relato, as experiências de maior relevância promovidas pela implantação da atividade. · 3.6. Campo de aplicação – este campo pode ser preenchido com mais de uma alternativa. V. Devolução do questionário A devolução do formulário deverá ser no máximo até 10 de agosto de 2011. Encaminhar os formulário respondidos para o e-mail : <anamariap@ ambiente.sp.gov.br>. Em nome do Grupo de Trabalho Mudanças Climáticas e Água do Fórum das Américas Agradeço sua colaboração. Rosa Mancini · 3.2. Resultado alcançado pela atividade (em termos ambientais econômicos e sociais): preencher com os resultados alcançados destacando se o maior ganho foi econômico, social ambiental ou a combinação dos fatores, caso a atividade esteja concluída. Caso a atividade esteja em andamento, preencher com os resultados 230 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 231 Anexo B.4 – Formulário “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas com relação à água” 1. Contato 1.1. Organização responsável pelas respostas 1.2. Nome do contato 1.3. Endereço 1.4. Cidade/ Estado/CEP 1.5. E-mail 1.6. Telefone 1.7. Segmento Governo federal Governo estadual Governo municipal Associações de empresas ONG Universidade Instituto de pesquisa Setor privado Outros (especificar) 232 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 2. Informações básicas sobre a atividade 2.1. Âmbito da atividade (bacias transfronteiriça, estadual ou nacional) 2.2. Título da atividade (preencher um formulário para cada atividade descrita) 2.3. Organização executora da atividade 2.4. Atividade: Iniciada Concluída 2.5. A atividade refere-se a qual das recomendações da COP 16: É importante reconhecer a iminência e relevância dos impactos da mudança climática nos recursos hídricos. A adaptação à mudança climática deve ser incorporada à Gestão Integrada de Recursos Hídricos como um elemento estratégico fundamental. É necessário fortalecer a “dimensão ambiental” nos processos de Gestão de Recursos hídricos como medida de adaptação à mudança climática. É essencial incluir explicitamente considerações de equidade e atenção à pobreza no marco das políticas de adaptação à mudança climática em matéria de água. Os sistemas de informação climatológica e hidrológica devem ser fortalecidos para ajudar a tomar, oportuna e coletivamente, medidas preventivas de adaptação à mudança climática. As capacidades institucionais devem ser fortalecidas para a adaptação à mudança climática em matéria de água. A infraestrutura hídrica deve ser desenvolvida e adaptada para dar respostas às novas necessidades impostas pela mudança climática e às fontes de financiamento disponíveis. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 233 O processo de adaptação à mudança climática sobre a água oferece importantes desafios de organização social, sendo relevante estabelecer mecanismos efetivos de coordenação, colaboração e participação social. A geração de conhecimento e a formação profissional sobre a adaptação à mudança climática e a água devem ser aprofundados. 2.4. Período de implementação 2.5. Custo aproximado da atividade 3. Descrição da atividade 3.1. Situação anterior à implementação da atividade 3.2. Resultado alcançado pela atividade (em termos ambientais econômicos e sociais) 3.3. Que inovações têm contribuído para o sucesso desta atividade? 3.4. Outros atores envolvidos na atividade (parcerias) e suas respectivas funções 3.5. Lições aprendidas 234 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l 3.6. Campo de aplicação Controle de enchentes Prevenção à seca Vulnerabilidade de áreas costeiras Uso racional da água na irrigação Reúso da água na indústria Controle da demanda de água no abastecimento público Ampliação do sistema de saneamento – coleta com o devido tratamento do esgoto Despoluição de corpos d´água Saúde pública (prevenção a doenças de veiculação hídrica) Gestão Integrada de Recursos Hídricos Busca de fontes alternativa de energia, ( ) qual?..---------------.. Drenagem Renaturalização de bacias urbanas (cidade adaptando-se ao rio) Ampliação da cobertura florestal : mata ciliar( ) parques ( ) áreas, verdes ( ) Desenvolvimento de tecnologias específicas Pesquisa 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 235 Anexo B. 5 Lista de projetos Previsão e prevenção de eventos extremos Estado Título da atividade Alagoas Plano de Ação Estadual de Combate à Desertificação. Amazonas Mapa de Riscos da Cidade de Manaus. Amazonas Estudos dos Impactos das Mudanças Climáticas Globais sobre as Disponibilidades de Recursos Hídricos, integrante do Plano Estratégico de Recursos Hídricos da Bacia Amazônica: Afluentes da Margem Direita (PERH-MDA). Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – Semarh-AL. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus. Período de Custo aproximado implementação da atividade 2011 a 2014 R$ 2.000.000,00 2011 a2012 R$ 958.236,00 Agência Nacional de Águas (ANA) – Superintendência 2011 a 2030 de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR). R$14.500.000,00 Ceará Sistema Inovachuva Tecnologias Inovadoras e Metodologias Inéditas para Captação, Manejo e Gerencimaneto de Água de Chuva. Projeto Sitimi. Não informado Distrito Federal Prevenção de Eventos Hidrológicos Críticos – Implantação de Salas de Situação. Agência Nacional de Águas (ANA) – Superintendência de Até 2013 Usos Múltiplos e Eventos Críticos (SUM). Distrito Federal Pesquisa “Mudanças Climáticas, Desigualdades Sociais e Populações Vulneráveis no Rede Coep – Ipea. Brasil: Construindo Capacidades” – subprojeto Empresas. Não informado Não informado Distrito Federal Pesquisa “Mudanças Climáticas, Desigualdades Sociais e Populações Vulneráveis no Rede Coep – Ipea. Brasil: Construindo Capacidades” – subprojeto populações. Não informado Não informado Distrito Federal Modernização do Monitoramento Agência Nacional de Águas – ANA. Hidrometeorológico. Atividade permanente R$ 25.000.000,00 Programa de Ação Estadual de Prevenção e Combate à Espírito Santo Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca do Espírito Santo. 236 Organização responsável Início 2010 R$20.000.000,00 Instituto Estadual de Meio Em andamento Ambiente e Recursos desde 2006 Hídricos. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S R$ 350.000,00 | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Previsão e prevenção de eventos extremos Estado Título da atividade Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade Pará RPCH – Rede Estadual de Previsão Climática e Hidrometeorológica do Pará. Secretaria de Estado de Meio Ambiente – Pará. Paraíba Monitoramento de alerta de meteorologia contra eventos extremos. Agência Executiva de Atividade Gestão das Água – Aesa. permanente Não informado Paraíba Reuniões anuais de análise e previsão climática para o setor norte do Nordeste do Brasil e criação de comissão para implementar um fórum paraibano sobre mudanças climáticas. Agência Executiva de Em andamento Gestão das Águas do desde 2009 Estado da Paraíba – Aesa. não informado Paraíba Planejamento de Recursos Hídricos e Adaptação à Variabilidade e Mudança Climática em Bacias Hidrográficas Selecionadas do Nordeste do Brasil. Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba – Aesa. 2011 a 2012 Não informado Pernambuco Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Articulação no Semiárido Brasileiro. Início 2003 Não informado Piauí Programa Comunidades Semiárido. Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – Coep. Início 2000 Não informado 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Em andamento desde 2007 R$ 320, 000,00 237 Estado Piauí 238 Título da atividade O projeto Água e o Berço do Homem Americano (ABHA). Rio de Janeiro Ampliação do Sistema de Alerta de Cheias do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro Concepção do arranjo institucional e operacional para a gestão integrada de risco de desastres no ERJ (inundação e escorregamento). Organização responsável Fundação Museu do Homem Americano Instituto Estadual do Ambiente – Inea Instituto Estadual do Ambiente – Inea Período de Custo aproximado implementação da atividade Início 2006 Não informado R$ 1,1 milhão para ampliação do Sistema. R$ 2,0 milhões/ano para operação e manutenção do novo Sistema. US$ 12,0 milhões para aquisição de 2 radares. Início 2007 2011 a 2013 R$ 1,0 milhão. São Paulo Avaliação dos impactos ambientais e vulnerabilidades às mudanças climáticas Inpe/ CCST e opções de estratégias de adaptação. 2010 a 2014 R$ 1,9 milhão São Paulo Projeto de Pesquisa de Manejo de Bacias Instituto Florestal de São Paulo Hidrográficas dos Rios Paraíba e Uma. Atividade permanente US$ 3 milhões São Paulo Estudos Históricos de Eventos Climáticos Instituto Geológico – Extremos na Baixada Santista – SP. SMA 2009 a 2011 R$ 31.000,00 São Paulo Banco de dados de desastres Instituto Geológico – relacionados a eventos geodinâmicos no SMA estado de São Paulo. Atividade permanente R$ 2.000,00 / mês (pessoal e equipamentos) São Paulo Mapeamento de áreas de risco de municípios do estado de São Paulo. Instituto Geológico – SMA Atividade permanente R$ 300 mil anual (custeio) São Paulo Programa de Monitoramento da Erosão Costeira no estado de São Paulo. Instituto Geológico – SMA Atividade permanente desde 1992 Cerca de R$ 3.000.000,00 São Paulo Plano Preventivo de Defesa Civil. Instituto Geológico – SMA Atividade permanente desde 1989 R$ 300 mil anual São Paulo Programa Estadual de Prevenção de Instituto Geológico – Desastres Naturais e Redução de Riscos SMA Geológicos. Atividade permanente desde 2011 Acima de R$ 20 milhões/ano São Paulo Pesquisa Científica de Cianobactérias, Algas e Fungos responsáveis pela eutrofização de corpos d’água. 2010 a 2015 R$ 1.500.000,00 São Paulo Incidência de tempestades nas próximas Inpe décadas. Em andamento R$ 10 milhões Instituto de Botânica C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Estado Título da atividade Piauí O projeto Água e o Berço do Homem Americano (ABHA). São Paulo Projeto: Avaliação das Mudanças na Recarga e Disponibilidade Hídrica em Aquíferos Brasileiros frente às Mudanças Climáticas. São Paulo Mapeamento e Plano de Ação de Contenção das Áreas de Risco do Município. Santa Catarina Plano de Defesa Civil da Bacia do Rio Itajaí – SC. Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade Fundação Museu do Homem Americano. Início 2006 Não informado. Em andamento. R$ 100.000,00 Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Sorocaba – Comdec/Sorocaba. Em andamento. Não informado. Defesa Civil e Universidade de Blumenau. Em andamento. Não informado. Cepas: Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas Instituto de Geociências da USP. Infraestrutura hídrica e serviços de abastecimento de água, drenagem, coleta e tratamento de esgotos e coleta e tratamento de lixo Estado Título da atividade Organização responsável Rede de Desenvolvimento Humano. Período de Custo aproximado implementação da atividade Início 2006 Não informado Bahia Projeto Pintadas Solar. Minas Gerais Agricultura Urbana na Região do Baixo Onça. Minas Gerais Projeto Manuelzão/Faculdade de Medicina (UFMG). Rio de Janeiro Programa de recuperação ambiental da Baixada de Jacarepaguá. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Iniciada R$ 240 milhoes Rio de Janeiro Controle de Enchente na Bacia do Canal do Mangue. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Iniciada Não informado Rio de Janeiro Dragagem do Sistema Lagunar de Jacarepaguá. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Iniciada R$ 350 Milhões Rio de Janeiro Drenagem do Porto Maravilha. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Iniciada Não informado 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Rede de Intercâmbio Em andamento de Tecnologias desde 1996 Alternativas. Faculdade de Medicina da Universidade Não informado Federal de Minas Gerais. Não informado Não informado 239 Infraestrutura hídrica e serviços de abastecimento de água, drenagem, coleta e tratamento de esgotos e coleta e tratamento de lixo Estado Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade Rio de Janeiro Projeto de Recuperação da InfraEstrutura Hídrica da Baixada Campista. Rio de Janeiro Estudos e Projetos para Controle de Instituto Estadual do Inundações e Recuperação Ambiental Ambiente – INEA. do Município de Nova Friburgo – RJ. Rio de Janeiro Estudos e Projetos para Controle de Instituto Estadual do Inundações e Recuperação Ambiental Ambiente – INEA. do Município de Petrópolis – RJ. Rio de Janeiro Estudos e Projetos para Controle de Instituto Estadual do Inundações e Recuperação Ambiental Ambiente – INEA. do Município de Teresópolis – RJ. Rio de Janeiro Estudos e Projetos para Controle de Cheias e Recuperação Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé. Instituto Estadual do Ambiente – INEA. Projeto Iguaçu. Secretaria Estadual do Ambiente Subsecretaria de Economia Verde. 2007 a 2015 R$ 1 bilhão Programa de Recuperação e Revitalização do Canal do Fundão. Secretaria Estadual do Ambiente Subsecretaria de Economia Verde. 2009 a 2011 R$ 280 milhões Rio de Janeiro Rio de Janeiro 240 Título da atividade Instituto Estadual do Ambiente – INEA. 2010 a 2012 Iniciada em 2011 Iniciada em 2011 Iniciada em 2011 Iniciada em 2011 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S R$ 2 milhões. R$ 2,9 milhões. R$ 2 milhões. R$ 2,3 milhões. R$ 900 mil. | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Estado Título da atividade Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade Rio de Janeiro Secretaria Estadual do Programa de Saneamento Ambiental Ambiente Iniciada dos Municípios do Entorno da Baía Subsecretaria de de Guanabara – PSAM. Economia Verde. U$ 500 milhões São Paulo Produzir água de reuso para fins industriais nobres, a partir de FOZ DO BRASIL esgoto processado na Estação S.A – AQUAPOLO deTratamento de Esgotos (ETE) AMBIENTAL S/A. ABC, destinada ao Pólo Petroquímico do ABC Paulista. 2010 a 2010 R$ 364 milhões São Paulo Ecologia do fitoplâncton e do perifíton Instituto de Botânica de águas continentais com vistas à (Núcleo de Pesquisas recuperação da qualidade da água em Ecologia). de reservatórios de abastecimento. 1997 a 2014 R$ 2.000.000,00 Companhia de Saneamento Básico do Atividade Estado de São permandente Paulo – Sabesp. São Paulo Serviços de abastecimento público de água. São Paulo Companhia de Programas corporativos de expansão Saneamento Básico do Universalização da coleta e de tratamento de não informado Estado de São Paulo – até 2018 esgotos. Sabesp. São Paulo Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água. Companhia de Saneamento Básico do 2009 a 2019 Estado de São R$ 2,2 bilhões R$ 4,3 bilhões Paulo – Sabesp. Programa de Uso Racional da Água – PURA. Companhia de Saneamento Básico do Atividade Estado de São permanente Paulo – Sabesp. Variável São Paulo Fornecimento de Água de Reúso. Companhia de Saneamento Básico do Atividade Estado de São permanente Paulo – Sabesp. Variável São Paulo Programa Fapesp de Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PD&I). São Paulo São Paulo Projeto Bacia do Turvo Grande: Unindo forças para a despoluição dos rios. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Companhia de Saneamento Básico do 2009 a 2014 Estado de São R$ 50 milhões Paulo – Sabesp. Instituto Trata Brasil. 2010 a 2013 não informado 241 Estado Título da atividade Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade São Paulo Canalização do córrego Itanguá – Região do Jd. Marli. Serviço autônomo de água e esgoto de Sorocaba. 2009 a 2012 R$ 7.200.000,00 São Paulo Bacia de Contenção de Águas Pluviais – Jd. Abaeté. Serviço autônomo de água e esgoto de Sorocaba. 2005 a 2006 R$ 3.600.000,00 São Paulo Sistema de Bombeamento – Francisco Delosso. Serviço autônomo de água e esgoto de Sorocaba. São Paulo Sistema de Bombeamento – Praça Lions. Serviço autônomo de água e esgoto de Sorocaba. São Paulo Amigo do Meio Ambiente. Prefeitura de Sorocaba. 2011 a 2012 Iniciada em 2011 2010 a 2011 R$ 320.000,00 R$ 200.000,00 R$ 3.000,00 Revitalização de bacias hidrográficas Estado Acre Amazonas 242 Título da atividade Organização responsável Período de Custo aproximado implementação da atividade Compreendendo o presente para adaptar-se ao futuro: análise de Secretaria de Estado vulnerabilidade das comunidades da 2010 a 2011 Sub-bacia do Igarapé Judia, diante dos de Meio Ambiente – S. impactos das mudanças climáticas na Bacia do Rio Acre. Plano de Proteção e Valorização dos Cursos d'Água. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus – Semmas. 2011 a 2012 US$ 240.000,00 R$ 4.100.000,00 (2011) + R$ 34.000.000,00 (2012 a 2014) R$ 12,6 milhões Distrito Federal Programa Produtor de Águas. Agência Nacional de Águas (ANA) – Superintendência de Atividade permanente Implementação de Programas e Projetos (SIP). Distrito Federal Iniciativa Água e Clima. WWF-Brasil. 2007 a 2015 Espírito Santo Projeto ProdutorES de Água Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Iniciada em Hídricos – Iema. R$ 100.000,00 2008 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S R$ 1.300.000,00 | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Revitalização de bacias hidrográficas Estado Título da atividade Maranhão Plano Estadual de Combate a Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca e Mobilização e Minas Gerais Paraná Formação de Comitês de Bacias Hidrográficas. Projeto Agente Ambiental – Produtor Rural, prestador de serviços ambientais. Programa Mata Ciliar. Organização responsável Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Período de Custo aproximado implementação da atividade Não informado Não informado Não informado Não informado 2004 a 2011 R$ 20 milhões Naturais – Sema. Instituto Xopotó. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná. Paraná Projeto Água é Vida. Associação da Juventude Defensora da Natureza de Iniciada em Matelândia. 2007 Não informado Rio de Janeiro Reflorestamento das Nascentes. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Atividade permanente R$ 15.000.000,00 Rio de Janeiro Corredor Ecológico do COMPERJ. Instituto Estadual do Ambiente – INEA-RJ. 2009 a 2015 R$ 15,86 milhões Rio de Janeiro Projeto Parque Fluvial do Guandu – projeto e execução do 1º módulo do parque. Secretaria Estadual do Ambiente (SEA)/ Subsecretaria de Economia Verde. Rio de Janeiro Projeto Parque Fluvial do Macacu – execução do 1º módulo do parque. Rio de Janeiro Projeto Parque Fluvial do Piabanha e Santo Antonio – implantação da 1ª etapa do Trecho 5. Instituto Estadual do Ambiente – Inea. Rio de Janeiro Projeto Jogo Limpo (24 milhões de árvores plantadas até as Olimpíadas 2016). Inea – Vice Presidência. Rio de Janeiro Projeto Replanta Guandu. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Secretaria Estadual do Ambiente/ Subsecretaria de Iniciada Iniciada R$ 4.180.000,00 (projeto + execução da obra) R$ 2.780.000,00 Economia Verde Secretaria Estadual do Ambiente Subsecretaria de Economia Verde. Iniciada em 2010 R$ 1.800.000,00. 2012 a 2015 R$ 375 milhões 2007 a 2009 R$ 3 milhões 243 Estado Título da atividade Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas do Estado do Rio de Secretaria Estadual do Ambiente Rio de Janeiro Financiamento Adicional ao Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro – RIO RURAL FA. Secretaria Estadual do Ambiente Rio de Janeiro Rio Rural FECAM (Fundo Estadual de Conservação Ambiental). Rio de Janeiro Projeto de Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas em Microbacias Hidrográficas do Norte e Noroeste Fluminense – RIO RURAL GEF. Rio de Janeiro Projeto Executivo de Recomposição Instituto Estadual do Florestal da Reserva Legal – Votorantim Ambiente – Inea. Cimentos – Unidade Rio Negro. Rio de Janeiro Rio de Janeiro Janeiro – RIO RURAL BIRD. Programa de Recuperação de Formações de Restinga na Área de Influência do Empreendimento do Porto do Açu. Subsecretaria de Economia Verde. Subsecretaria de Economia Verde. Secretaria Estadual do Ambiente Período de implementação 2011 a 2015 Custo aproximado da atividade US$ 79 milhões Iniciada coclusão prevista para US$ 140 milhões 2019 Iniciada R$ 9,8 milhões 2006 a 2011 US$ 14 milhões 2011 a 2014 Não especificado Instituto Estadual do Ambiente – Inea. 2008 a 2014 Não especificado Subsecretaria de Economia Verde. Secretaria Estadual do Ambiente Subsecretaria de Economia Verde. Rio de Janeiro Reflorestamento das Faixas Marginais de Proteção dos Canais do Guandu, São Francisco e São Fernando. Instituto Estadual do Ambiente – Inea. 2009 a 2013 Não especificado Rio de Janeiro Projeto de Reflorestamento – Medida Compensatória – PCH Santa Rosa II. Instituto Estadual do Ambiente – Inea. 2008 a 2011 R$ 560.000,00 Rio de Janeiro Projeto de Reflorestamento de Encostas Instituto Estadual do na Bacia do Rio Guandu. Ambiente – Inea. 2009a 2013 Não especificado Rio de Janeiro Projetos Executivos de Reposição Florestal – GASDUC III, GASJAP e ECOMP. Instituto Estadual do Ambiente – Inea. 2010 a 2013 Não especificado Rio de Janeiro Restauração Florestal no Parque Estadual da Pedra Branca. Instituto Estadual do Ambiente – Inea. 2011 a 2015 R$ 7.500.000,00 Rio de Janeiro Restauração Florestal no Parque Estadual da Pedra Branca – Setor Piraquara. Instituto Estadual do Ambiente – Inea . 2011 a 2015 Não especificado São Paulo Corredores da Mata Atlântica. 244 Organização responsável Instituto de Pesquisas Não informado Ecológicas. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S Não especificado | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Estado Título da atividade Nascentes Verdes Rios Vivos: São Paulo Restaurando a Paisagem para Conservar a Água. Proteção de 26 mil hectares de Mata São Paulo Atlântica no Sistema Alto Cotia e no Sistema Rio Claro. Organização responsável Instituto de Pesquisas Não informado Ecológicas. Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Sergipe Programa de Recuperação de Mata Ciliar e Nascentes. Projeto Preservando Nascentes e Municípios. Não informado Paulo – Sabesp. Companhia de Projetos de Reflorestamento (“Programa Saneamento Básico São Paulo do Estado de São 1 Milhão de Árvores no Cantareira”). Paulo – Sabesp. São Paulo Período de implementação Prefeitura de Sorocaba. Semarh – Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Sergipe. Custo aproximado da atividade Não especificado Custo homem/ hora para manutenção de equipe de vigilância patrimonial. Atividade Não especificado iniciada em 2011 2009 a 2019 R$ 1.000.000,00 2008 a 2013 R$ 6.100.000,00 Fortalecimento Institucional e Legal Estado Título da atividade Organização responsável Período de implementação Custo aproximado da atividade 2009 a 2014 Não informado Acre Programa de Incentivo a Serviços Ambientais Carbono. Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais. Espírito Santo Gestão Compartilhada de Recursos Hídricos nas Micro Bacias do Espírito Santo. Atividade Instituto Estadual Meio iniciada em Ambiente e Recursos Hídricos – Iema. 2008 Mato Grosso Projeto Sinergia: Sistema Internacional de Estudos sobre Recursos hídricos Centro de Pesquisas e Gerenciamento de Impactos devido do Pantanal. ao Aquecimento global na Bacia do Paraguai. Pará Clima e Negociações Internacionais. Pará Fortalecendo a gestão ambiental na região da Amazônia sul-ocidental brasileira (Consórcio Mabe). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Variável 2007 a 2011 R$ 2.000.000,00 Não informado Não informado Não informado Não informado 245 Fortalecimento Institucional e Legal Estado Organização responsável Período de implementação Custo aproximado da atividade Paraná Programa Cultivando Água Boa. Itaipu Binacional. Atividade iniciada U$ 77.060.295,11 em 2003 (desde 2003) Rio de Janeiro Lei de Mudanças Climáticas. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. 2010 a 2011 Não informado Rio de Janeiro Secretaria de Estado Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ambiente – SEA da Baía de Sepetiba – PDS Sepetiba. / RJ. 2011 a 2012 R$ 721.000,00 Secretaria Estadual do Ambiente/ Subsecretaria de Economia Verde. Iniciada R$ 100.000 Rio de Janeiro Projeto Atitude Água e Clima. Rio de Janeiro Projeto de Gestão Integrada do Ecossistema da Baía da Ilha Grande. Instituto Estadual do Ambiente – INEA / DIGAT/GEGET/ GERCO. 2011 a 2016 US$ 27.000.000,00 Rio de Janeiro Análise de vulnerabilidade da Bacia Hidrográfica Lagos São João, RJ. Secretaria Estadual do Ambiente/ Subsecretaria de Economia Verde. Iniciada R$ 200.000,00 Rio Grande do Sul 1ª Etapa do Plano de Bacia TaquariAntas. Departamento de Recursos Hídricos/ SEMA/RS. 2011 a 2012 R$ 915.275,35 Estado Título da atividade Organização responsável. Período de implementação Custo aproximado da atividade Rio Grande do Sul Estudo de Disponibilidade Hídrica. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2011 R$ 473.883,54 Rio Grande do Sul Estudo das etapas intermediárias ao enquadramento e realização da 2ª Etapa do Plano de Bacia do Rio Gravataí. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 357.042,00 Rio Grande do Sul 246 Título da atividade 1ª Etapa do Plano de Bacia do Rio Tramandaí. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. Rio Grande do Sul 1ª Etapa do Plano de Bacia do Alto Jacuí. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 569.606,28 Rio Grande do Sul Plano Estadual de Recursos Hídricos. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 765.348,15 Iniciada em 2005 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S R$ 424.848,11 | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Estado Título da atividade Organização responsável Período de implementação Custo aproximado da atividade Rio Grande do Sul 1ª Etapa do Plano de Bacia do Rio Ibicuí. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 734.030,00 Rio Grande do Sul Departamento de 1ª Etapa do Plano de Bacia do Rio Ijuí. Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 647.110,15 Rio Grande do Sul 1ª Etapa do Plano de Bacia do Rio Passo Fundo. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 383.180,26 Rio Grande do Sul 1ª Etapa do Plano de Bacia Rios Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo. Departamento de Recursos Hídricos/ Sema/RS. 2010 a 2012 R$ 508.076,59 Santa Catarina Implantação e complementação da Política Estadual de Recursos Hídricos em Santa Catarina no âmbito do Programa Santa Catarina Rural – Microbacias 3. 2010 a 2016 R$ 52.038.174,40 Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável – SDS. C. Melhorar a Qualidade dos Recursos Hídricos e dos Serviços Ecossistêmicos 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 247 Anexo C.1 Relatório da Oficina Sobre Proteção das Águas e Enfoque Ecossistêmico Reunião Preparatória para o 6º Fórum Mundial da Água Conservando e Protegendo as Águas e Valorando os Serviços Ecossistêmicos: Soluções para o Brasil Dia 16 de setembro de 2011 Horário: 09:00 - 17:00 Local: sala de reunião do CONSEMA (sp) endereço: Secretaria do Meio Ambiente Av. Prof. Frederico Hermann Junior, 345 Alto de Pinheiros - SP Objetivo do Encontro: Contribuir para a construção de uma visão brasileira e propor soluções sobre aspectos estratégicos da Proteção das Águas e os Serviços Ecossistêmicos para o Fórum Mundial da Água. Participantes: Representantes do governo, dos usuários e da sociedade civil que atuem na área de proteção das águas e com experiência em valorização dos serviços ecossistêmicos: 248 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Angelo J.R. Lima WWF Brasil [email protected] Benedito Braga IFC [email protected] Camila P. Bonassio SVMA - PMSP [email protected] Claudete B.S. Canada CEA SMA SP [email protected] Débora F. Calheiros Embrapa Pantanal dé[email protected] Elaine Franco de Campos Agencia PCJ [email protected] Fernando Veiga TNC [email protected] Francisco Carlos Bezerra e Silva Relator [email protected] Gerôncio Rocha SMA SP [email protected] Gulherme Valarini Consórico PCJ [email protected] Helen Cristina Maximo Bióloga [email protected] Humberto Gonçalves ANA/SIP [email protected] Laís Vasconcelos WWF Brasil laí[email protected] Mário M.R. Cardoso CEA SMA SP [email protected] Patricia M. Sepe SVMA – PM SP [email protected] Paulo Varella ANA [email protected] Rodrigo Campos de Sousa Biólogo [email protected] Samuel Barreto WWF Brasil [email protected] Antecedentes: A cada três anos, desde 1997, o Fórum Mundial da Água se reúne para debater as questões da agenda hídrica mais crítica do período. O último Fórum, em Istambul, Turquia, reuniu mais de 25 mil representantes de associações, governos, academia, empresariado, organizações não governamentais e cidadãos. O próximo Fórum será realizado em março de 2012, em Marselha, França, com o objetivo de identificar e promover soluções para as áreas prioritárias definidas pelo processo regional das Américas: água para saneamento, água e mudanças climáticas, boa governança e gestão integrada de recursos hídricos, água e segurança alimentar, harmonizando água e energia e água e serviços ecossistêmicos. Como preparação para o 6º Fórum Mundial da Água, um detalhado processo preparatório foi traçado e 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a entidades designadas para coordenar a nível regio- nal e temático. O WWF-Brasil e a TNC coordenam o processo de elaboração do documento do Brasil sobre a temática da água e serviços ecossistêmicos, para ser agregado ao documento das Américas para ser levado ao 6º Fórum Mundial da Água. Meta do Tema para América Latina: “Para 2015, os países da América Latina reconhecem os serviços ecossistêmicos que beneficiam a gestão da água, e as ações que os mantêm, tais como a conservação das cabeceiras e zonas de recarga; assim como as iniciativas que a própria gestão da água deve manter para beneficiar a so- ciedade e os ecossistemas aquáticos, tais como as vazões ambientais; e estabelecem estratégias para sua implementação”. 249 Programação 09:00 – Abertura – Boas Vindas, apresentação dos participantes e dos objetivos do encontro. 09:30 – O Processo Preparatório para o 6º Fórum Mundial da Água – representante da Agência Nacional de Águas. Dr. Benedito Braga – Presidente do Fórum Mundial da Água. Dr. Paulo Lopes Varella Neto – Diretor da Agência Nacional de Águas. Dr. Ricardo Medeiros de Andrade – Superintendente de Implementação de Programas e Projetos – SIP. 10:00 – 12:00 – Apresentações sobre o Tema – Proteção das Águas e Serviços Ecossistêmicos. TNC- Brasil – Fernando Veiga – Gerente de Fundos de Água para a América Latina. ANA – Dr. Ricardo Medeiros de Andrade – Superin- tendente de Implementação de Programas e Projetos – SIP. WWF-Brasil – Samuel Roiphe Barreto – Coordenador do Programa Água para a Vida. Sema SP – Ana Panarelli – Assessora da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo. 12:30 – 13:30 – Almoço livre. 13:30 – 16:30 – Debate sobre as soluções a serem propostas no documento. 16:30 – 17:00 - Encerramento dos trabalhos e próximos passos. RESUMO DAS FALAS Dr. Benedito Braga – Presidente do Fórum Mundial da Água. Apresentou o Conselho Mundial da Água como 250 uma organização internacional criada em 1995, com sede permanente na cidade de Marselha, França, funcionando como ambiente de discussão para o desenvolvimento de uma política de recursos hídricos global. Possui em seus quadros cerca de 400 membros institucionais que representam aproximadamente70 países, sendo que o Brasil contribui com 18 membros. O Fórum Mundial da Água, por sua vez, organizado pelo Conselho Mundial da Água, é o maior evento mundial no tema da água, objetiva: - Reunir todos os stakeholders para debater temas relacionados à água, seu gerenciamento e sua distribuição; - Formular propostas concretas e estimular a adoção de ações efetivas e soluções adequadas. - Estabelecer compromissos políticos duradouros e permanentes. Será realizado em Marselha, França, de 12 a 17 de março de 2012, organizado pelo governo da França, representado pelo Ministério de Relações Exteriores, pelo Ministério do Meio Ambiente; Cidade de Marselha e o Conselho Mundial da Água. Nesta sexta versão deverá ser um fórum de soluções propondo ação efetiva frente ao debate teórico; estimulando o compromisso concreto, com mecanismos de acompanhamento de efetividade, contando com ampla participação, inspirado no modelo francês “Grenelle” e pela criação de uma verdadeira mobilização social, em ambiente amigável, festivo e popular. Será realizado orientado por três eixos contemplando 12 temas estratégicos condicionados pela garantia de governança, financiamento e ambiência propícia (ver quadro 1). C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Quadro 1. Temas Prioritários do 6º Fórum Mundial da Água Estratégia Temas prioritários Garantir o acesso à água potável e o direito à água para todos. Garantir o acesso aos serviços de saneamento para todos. Garantir o bem-estar de todos Contribuir para a melhoria de higiene e a saúde com água de qualidade. Proteger as populações e os setores econômicos contra eventos críticos. Contribuir para a cooperação e a paz. Promover equilíbrio entre os múltiplos usos. Contribuir para o desenvolvimento econômico Garantir a segurança alimentar. Estabelecer harmonia entre a energia e a água. Proteger e valorar os serviços ambientais e o “crescimento verde”. Melhorar a qualidade dos recursos hídricos e dos ecossistemas. Maner o Planeta Azul Condiçõeses para o sucesso Reduzir as pressões e as “pegadas” das atividades humanas sobre a água. Responder às mudanças climáticas e globasi num mundo em premanente urbalização. Boa governaça. Condições para o sucesso Financiar água para todos. Ambiente propício. No processo de definição de soluções, está utilizando a metodologia Smart42 na priorização das metas apoiada pelo método Wise43 Dr. Paulo Lopes Varella Neto – diretor da Agência Nacional de Águas Apresentou a Seção Brasil do Conselho Mundial da Água coordenada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Universidade de São Paulo, (USP), que organiza a participação do Brasil no 6º Fórum Mundial da Água articulando a elaboração do Relatório Regional estruturado em seis eixos sendo cada um deles, coordenado por um conjunto de instituições conforme o quadro 2. O Relatório Nacional deverá espelhar o Relatório Regional e contemplar seis temas prioritários e cujo processo deverá realizar reuniões setoriais, contribuindo para a elaboração do documento nacional, identificar “soluções”, contextualizando o problema e os resultados. Além disso, deverá avaliar se a “solução” é relevante, considerando inovação, replicabilidade, transversalidade, abrangência e resultados e definir a melhor forma de apresentação para a “solução” proposta. 42 Specific (específico), Measurable (mensurável), Acetaple (aceitável), Realistic (realista)e Time-bound (com prazo). 43 Wide (amplo), Involvement (participativo), Stakeholders (interessados), Exchange (troca). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 251 Quadro 2. Temas Prioritários e Coordenadorias Temáticas no Brasil Tema Água e saneamento: prestadores de serviços e gestão das águas urbanas A definir Água e adaptação às mudanças climáticas Conagua Gestão Integrada de Recursos Hídricos(GIRH) OEA Água para alimento University of Nebraska Água para energia AWRA Qualidade dos recursos hídricos e dos ecossistemas TNC – WWF Dr. Ricardo Medeiros de Andrade – superin- tendente de Implementação de Programas e Projetos – SIP Apresentou o Pavilhão Brasil, espaço de 350 m2 contando com auditório de 50 m² com capacidade para 40 pessoas – 70 pessoas aberto; 4 estandes de 10 m²; Media Center; Espaço Rio+20; Espaço Café; Sala Vip e Copa. O Media Center funcionará para distribuição de documentos digitais dos parceiros, por meio de estações multimídias, com tela sensível ao toque, para seleção e gravação de arquivos em pen drive. O “Documento Brasil” – Publicação Oficial do Pavilhão será impresso em papel “pet” reciclável, apresentan- do as principais características do país e conterá uma apresentação dos parceiros do pavilhão e dos membros da Seção Brasil do Conselho Mundial da Água. Dr. Fernando Veiga – TNC Apresentou experiências bem-sucedidas por meio do Pagamento por Serviços Ambientais como uma solução a ser apresentada diante da meta proposta, conceituando os mesmos como um esquema de Pagamento por Serviços Ambientais, que remune- ra produtores rurais pela proteção e pela restauração de ecossistemas naturais em áreas estratégicas para a produção de água. O Pagamento por Serviços Ambientais é uma solução possível diante de diversas oportunidades e alternativas: 252 Coordenador regional a) A Lei Nacional de Recursos Hídricos (9.433/1997) estabeleceu uma fonte potencial para PSA água – a cobrança pelo uso da água cujos pagamentos feitos pelos usuários e poluidores devem ser utilizados na mesma bacia onde foram arrecadados, ser alocados em atividades que melhorem a saúde das bacias em termos de qualidade e quantidade de água e cuja decisão de alocação cabe ao comitê de bacias (formado por representantes de governos, usuários e sociedade civil) Diante disso, os Comitês de Bacias deveriam internalizar no seu processo de alocação de recursos os benefícios dos Esquemas PSA para assegurar qualidade de água e regularização de vazões (fontes dos recursos: cobrança pelo uso da água Lei n0 9.433). Uma experiência concreta a este respeito foi realizada pelo CBH PCJ no sistema Cantareira em duas microbacias-piloto (Cancan e Moinho) onde foram alocados R$ 550.000 pelo CBH, além de recursos de outros parceiros: Agência Nacional de Águas; Secretarias Estaduais de Agricultura e de Meio Ambiente SP; TNC; PM Extrema – recursos para atividades de restauração e conservação. Uma outra experiência identificada foi realizada pelo CBH Guandu, no Rio de Janeiro, que alocou R$ 1M para o projeto-piloto (2008). b) Arcabouço legal que cria condições para o estabelecimento dos Esquemas PSA – fontes dos recursos: orçamento, royalties, outros recursos carimbados. Experiência exemplar neste sentido se deu no Município de Extrema (MG) onde foi aprovada a C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l primeira lei de PSA no Brasil (2005) e que per- mitiu o uso de recursos públicos para os pagamentos a partir de fevereiro de 2007 e serviu de exemplo para municípios, estados e para a proposta de lei federal. c) Compradores voluntários dos serviços ambien- tais (grandes usuários de água) convencidos a respeito dos benefícios dos Esquemas PSAs para garantir qualidade de água e regularização de vazões – fontes dos recursos: pagamentos voluntários realizados pelos usuários de água. Aqui cabe destacar a experiência realizada na Bacia Camboriú (SC) onde a empresa local de Diante disso, recomenda-se a destinação de recursos para o desenvolvimento de projetos considerados mais viáveis (existência de fontes pagadoras e de contrapartidas locais, parceiros com capacidade de implementação); realização de workshops de treinamento e capacitação para o desenvolvimento de projetos, particularmente onde existem potenciais recursos a serem acessados (CBHs e programas públicos) e o apoio a prefeituras, estados e CBHs para estabelecimento de marco legal. Fase de desenvolvimento • Avaliação socioeconômica e seleção das áreas prioritárias. abastecimento de água está liderando um esque- • Avaliação do uso da terra e análise econômica realizadas. que se constitui em um esquema potencialmen- • “Rota PSA” definida. empresas de abastecimento, setor elétrico, entre • Pagamentos propriamente calculados e contribuição garantida dos parceiros. ma PSA, investindo 1% da sua receita anual, o te replicável para um grande número de outras outros. d) Grandes usuários de água compensando ou mi- tigando a sua “pegada hídrica” por meio da contribuição a esquemas PSA (fontes dos recursos: pagamentos realizados por grandes usuários buscando reduzir sua “pegada hídrica”). Alternativa em processo de discussão por algumas empresas a partir de estudos preliminares de “pegada hídrica”. O Pagamento por Serviços Ambientais segue uma metodologia estruturada em fases: Fase de articulação/arranjo institucional Criação de uma rede de atores capazes de implementar projetos de PSA – Água em uma bacia hi- Nessa fase constituem como principais desafios o custo significativo das atividades de desenvolvimento (mapeamento do uso do solo, fundiário etc.); a necessidade de capacitação técnica para a realização das atividades de desenvolvimento e o alto custo das atividades de implementação (restauração florestal e equipe técnica), tornando difícil o comprometimento dos parceiros. Também são desafios a ausência do recurso de longo prazo para os PSAs, limitando a possibilidade da passagem do desenvolvimento para a implementação e, em muitos casos, a ausência da consolidação legal para a implementação dos PSAs (necessário quando envolvendo recursos públicos). drográfica. Fase de implementação Fase de articulação Nessa fase já se conta com proprietários engajados; contratos assinados designando áreas a serem restauradas e pagamentos acordados; atividades de conservação e restauração implementadas baseadas no plano de uso do solo; plano de uso do solo monitorado e pagamentos realizados. Nesta fase, os principais desafios são a identificação de fontes pagadoras do PSA e das ações associadas para a efetivação dos projetos; a carência de informação para o desenvolvimento dos proje- tos e, em algumas delas, uma baixa capacidade de implementação dos parceiros envolvidos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a São desafios nessa fase: 253 - Incertezas quanto à existência de recursos futuros e contínuos para a manutenção dos projetos e dos PSAs - Alto custo das atividades associadas, especialmente a restauração florestal e a assistência técnica adequada. - Baixa capacidade técnica na condução dos processos de restauração florestal e gestão de projetos. Estabelecimento de Mecanismos de PSA 254 - Deficiência crônica na cadeia produtiva do reflorestamento, desde a coleta de sementes, produção de mudas de qualidade e manutenção dos plantios executados - Monitoramento ainda deficiente, tanto em relação à água, quanto em relação à restauração florestal. - Altos custos de transação por conta da complexidade da gestão compartilhada dos projetos. Monitoramento C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l Replicação e alavancagem como necessário o desenvolvimento de ações nos Para que o processo ganhe escala, entende-se seguintes temas abaixo: Capacitação e treinamento Um dos maiores gargalos para a implementação de programas em larga escala. Apoio para a disseminação de resultados e lições aprendidas para todos os projetos em execução. Produção e divulgação de materiais de implementação de projetos para os diferentes públicos. Apoio a cursos de treinamento para o desenvolvimento de projetos. Utilização do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica como instrumento de divulgação e capacitação. Assistência técnica Formação de mão de obra técnica capaz de atuar diretamente no desenvolvimento de projetos e dar apoio a municípios, ONGs locais e CBHs (Curso “Produtor de água”). Formatação e implementação de unidades executoras de projetos nas principais bacias da Mata Atlântica. Políticas públicas – PSA municipais Extrema, como grande exemplo inspirador. Disseminação do modelo (lei, decreto, modus operandi). Estímulo à adaptação para a realidade local. Capacitação para a implementação. Ligação com programas estaduais. PSA estaduais em diferentes estágios de construção, aprovação e regulamentação – RJ, PR, PE, SC, RS. Alguns resultados até agora 345 produtores recebendo PSA-água (mar. 2010). Começando a criar uma nova fonte de renda no campo (um novo produto!) baseado em ações de conservação. 13,250 hectares sendo restaurados e conservados (processo crescente). Localizados em bacias que abastecem cerca de 20 milhões de pessoas. Cerca de R$ 17M/ano mobilizados e levantados apoiando Esquemas de PSA (CBHs, programas estaduais/municipais, empresas de abastecimento). 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 255 Alguns resultados até março de 2010: ciedade regional, seja mesmo a sociedade global. • 345 produtores recebendo PSA-água (mar. 2010). Serviços ambientais são todas as práticas adotadas para manutenção dos serviços ecossistêmicos (Joanópolis, 2008). Por sua vez, serviços Ecossistêmicos são os serviços prestados pelos ecossistemas naturais e as espécies que os compõem, na sustentação e no preenchimento das condições para a permanência da vida humana na Terra (Daily, 1997). • Início de uma nova fonte de renda no campo (um novo produto) baseado em ações de conservação e restauração da biodiversidade. • 13,250 hectares sendo restaurados e conservados e uma tendência crescente. • Localizados em bacias que abastecem cerca de 20 milhões de pessoas. • Cerca de R$ 17M/ano mobilizados apoiando Esquemas de PSA (CBHs, programas estaduais/ municipais, empresas de abastecimento). Dr. Ricardo Medeiros – Programa Produtor de Água Pagamento por serviços ambientais são transferências financeiras de beneficiários de serviços ambientais, para os que, devido a práticas que conservam a natureza, fornecem esses serviços. É uma política recente e inovadora que está atrain- do muita atenção tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. A inovação envolve um afastamento das políticas ambientais de comando e controle, utilizando as forças de mercado para obter maiores resultados ambientais, e recompensando os provedores de serviços ambientais, os quais não vinham, até então, recebendo qualquer compensação. O conceito de externalidade é chave para entender as motivações para os programas de PSA: a huma- nidade usa os recursos naturais e o meio ambiente gerando externalidades positivas ou negativas, que impactam a sociedade atual e as futuras gerações. A premissa básica para o pagamento por serviços ambientais é compensar os agentes econômicos que manejam o meio ambiente e os recursos na- turais, gerando bens ambientais e serviços que beneficiam não somente ele mesmo, mas principal- mente a sociedade, seja a sociedade local, a so- 256 O Programa Produtor de Água é um programa voluntário no qual são beneficiados produtores rurais que, por meio de práticas e manejos conservacionistas e de melhoria da cobertura vegetal, venham a contribuir para o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação e para o aumento da infiltração de água, segundo o conceito provedor-recebedor. Também é um Programa de Melhoria da Qualidade e da Quantidade de Água em Mananciais, por meio do incentivo financeiro aos produtores. Tem como foco projetos votados à proteção dos recursos hídricos. A ANA apoia, orienta e certifica projetos que visem à redução da erosão e do assoreamento de mananciais no meio rural, propiciando a melhoria da qualidade, a ampliação e a regularização da oferta de água em bacias hidrográficas de importância estratégica para o país. Os pagamentos são efetuados pelos agentes participantes aos produtores rurais que, por meio de práticas e manejos conservacionistas, venham a contribuir para o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação e para o aumento da infiltração de água. Estes agentes podem ser entidades federais e estaduais, comitês e agências de bacias, prefeituras municipais etc. O programa prevê apoio técnico e financeiro – arranjos de PSA e a execução de ações, em diversos projetos espalhados por vários estados brasileiros, como: construção de terraços e de bacias de infiltração, readequação de estradas vicinais, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento das áreas de proteção permanente e reserva legal, saneamento ambiental, entre outros. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l A estratégia adotada pelo programa visa à “compra” dos benefícios (produtos) gerados pelo participante (conceito “provedor-recebedor”), cujos pagamentos são proporcionais ao abatimento de erosão proporcionado e ampliação da área florestada. Nele há flexibilidade no que diz respeito a práticas e manejos propostos; assistência técnica e extensão rural; e o chamamento público para seleção dos projetos. tores rurais, proporcionando práticas sustentáveis de produção. Sua base conceitual estabelece pagamentos baseados em custos de referência preestabelecidos, sempre proporcional ao serviço ambiental prestado (valor pago varia entre R$ 150,00 e R$ 350,00 por hectare), feitos após a implantação do projeto proposto. • Fundo Nacional de Meio Ambiente. Utiliza um Sistema de Monitoramento dos resultados, acompanhando o cumprimento das metas, verificadas e certificadas, por equipes técnicas, sendo pré-requisito para o pagamento do incentivo. Estabelece parcerias, com custos do programa compartilhado entre a União, estados, prefeituras, empresas de saneamento e de energia, organizações não governamentais. Adota a Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento e provê assistência técnica aos produ- Aponta-se como possibilidades de fontes para o financiamento: • Orçamento da União, estados e municípios. • Fundos Estaduais de Recursos Hídricos e de Meio Ambiente. • Bancos, organismos internacionais (ONGs, GEF, BIRD etc). • Empresas de saneamento, de geração de energia elétrica e usuários. • Recursos da cobrança pelo uso da água. • Termos de Ajustes de Conduta – compensação financeira por parte de usuários beneficiados. • Mecanismo de desenvolvimento limpo /Kyoto. São resultados visíveis do programa a existência de 11 projetos em andamento, abrangendo mais de 200.000 hectares e com cerca de R$ 100.000.000,00 em investimentos já realizados. Para 2012, mais seis projetos foram selecionados. Bacia do PCJ - SP Extrema - MG Bacia do Pipiripau - DF Bacia do Beneventes - ES Bacia do Guandu - RJ Programa Produtor de Água Balneário Camboriú - SC Bacia de João Leite - GO Nova Friburgo - RJ Oásis - Apucarana - PR Guariroba, Campo Grande - MS Patrocínio - MG Destacou ainda o projeto Água Boa da Itaipu Binacional e sugeriu envolver ainda a Fundação Banco do Brasil na discussão 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 257 Abordagem ecossistêmica • Foco nos níveis de organização biológica, na sua estrutura, nos processos e nas interações entre organismos e ambiente. • Homem e sua diversidade cultural são parte integrante dos ecossisemas. • Visão hística das relações entre o homem e os ecossistemas aquáticos desenvolvimento sustentável. • O PNRH propõe a adoção dos conceitos de ecorregiões aquáticas e vazões ambientais na construção das relações entre as políticas de recursos hídricos e meio ambiente. • Incorporar as recomendações da Avaliação Ecossistêmica do Milênio: • Maior avaliação de ecossistemas já realizada (ONU). - Início em 2000 – lançamento em 2005. - Preparada por 1360 exprets de 95 países. - Rigorosa revisão por pares. - Consenso entre cientistas. • Concebida para atender as necessidades de tomadores de decisão do governo, empresas e sociedade civil. • Considerar as recomendações do Seminário sobreo Enfoque Ecossistêmicos das Águas. 258 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • Considerar conceito de vazão ambiental como instrumento de gestão dos recursos hídricos. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 259 necessidades do ecossistema 1 - Vazão mínima em cada mês 2 - Máxima vazão durante a estiagem 3 - Mínima cheia 4 - Pequenas cheias no início do período úmido Fonte: Apresentação do Prof. Dr. Walter Collischonn do IPH/UFRGS (CTAP/CNRH, julho 2006) • Compensação da pegada hídrica em bacias hidrográficas. como o componente ambiental pode ser convertido em potencial econômico? • Proposta de visão nacional com ênfase no triplo bottom line/na manutenção dos serviços ecossistêmicos/riscos e finança sustentável. d) O que é prioritário para conservação? Alguns pontos precisam ser destacados: a) A redução de APP proposta no projeto de lei que reformula o Código Florestal. b) A necessidade de uma mudança na abordagem tradicional cumprimento de leis (comando e controle), “dentro dos muros da fábrica”, certificações, desconexão dos outros setores sociedade e governos) para uma gestão rumo à sustentabilidade: pensamento integrado, olhar “além dos muros da fábrica”, busca conjunta por soluções, incorporação do capital natural e social na fórmula de negócio. c) Avançar na valoração associada à conservação: 260 e) Valorar e pagar – reduzir impactos por meio da compensação – necessidade de definir o arranjo financeiro para isso. Dra. Ana Panarelli – metodologia utilizada pelo Grupo de Mudanças Climáticas Encaminhado um formulário denominado “Levantamento de iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas” para uma rede de contatos composta por: • 47 entidades associadas à AssociaçãoBrasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) da qual fazem parte as entidades estaduais de meio ambiente de todos os estados brasileiros. C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l • 63 entidades associadas ao Fórum Nacional de Órgãos Gestores das Águas (Fnoga). • 25 contatos de profissionais que trabalham em entidades estaduais de meio ambiente. II. Infraestrutura hídrica e serviços de abastecimento de água, drenagem, coleta e tratamento de esgotos e coleta e tratamento de lixo: 1. Uso racional da água na irrigação. • 18 institutos ambientais. 2. Reúso de água na indústria. • 14 contatos municipais. 3. Controle da demanda de água no abastecimento público. • 29 contatos de ONGs. • 35 contatos que trabalham em entidades federais. • 10 contados de universidades. • 12 usuários. O levantamento não teve a intenção de ser exaustivo de todas as iniciativas brasileiras de adaptação às mudanças climáticas do território nacional e sim de reunir o maior número possível de experiências com o objetivo de constituir um banco de projetos que sirva como referência para a construção de um plano de adaptação e incentivo à replicação e referência para o Brasil. Os formulários foram encaminhados por e-mail e após o envio foram feitos contatos telefônicos para reforçar a importância da resposta ao formulário, bem como da importância na participação no processo de preparação do VI Fórum Mundial da Água da qual o referido levantamento faz parte. Os resultados do levantamento serão apresentados a seguir e a ficha resumo de cada projeto será disponibilizada no site do Pacto das Águas. Foram recebidos 136 projetos das cinco regiões brasileiras, os quais para efeito de sistematização dos resultados foram organizados em quatro categorias: I. Previsão e prevenção de eventos meteorológicos e climáticos extremos – que abrange os seguintes temas: 4. Ampliação do sistema de saneamento. 5. Despoluição de corpos d’água. 6. Saúde pública. 7. Drenagem. III. Revitalização de bacias hidrográficas 1. Ampliação da cobertura florestal – mata ciliar, parques e áreas verdes. 2. Renaturalização de bacias urbanas. IV. Gestão Integrada de Recursos Hídricos 1. Aspectos legais. 2. Aspectos institucionais. DEBATE Fernando Veiga – apresenta o modelo do documento produzido no México organizado em seis itens: - Soluções identificadas. - Fatores de êxito/fracasso. - Outros pontos de consenso. - Atores. - Encaminhamentos. - Comentários Gerais. 3. Vulnerabilidade de áreas costeiras. Claudete – propõe dividir as soluções em uma estrutura que diferencie as referentes a governança, legislação, institucional. Afirma não existir uma política de PSA no país. 4. Pesquisa, desenvolvimento, produção e sistematização de informações. Patrícia – questiona qual vai ser o enfoque tendo em vista a diversidade de situações (rurais e urbanas). 1. Controle de enchentes. 2. Prevenção à seca. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 261 Há necessidade de aproximar o diálogo entre as questões hídricas/ambientais com as questões referentes à moradia. Como fazer as interfaces? Gerôncio – observa que o universo de projetos apresentados está na linha dos PSAs. Há necessidade de separar os projetos por suas áreas de atuação (urbano/rural). Questiona que não há experiências brasileiras com relação ao estabelecimento de vazões ambientais, o que pode orientar um capítulo com diretrizes específicas. Também não há exemplos de experiências referentes à compensação hídrica. Reconhece que há dificuldades com relação aos serviços ambientais no ambiente urbano. Fernando – reconhece a necessidade de ampliar os serviços ambientais a partir das diferentes óticas. Samuel – observa que o documento não deve ser tratado como uma visão brasileira, mas como uma contribuição. Diante disso é necessário um enfoque ecossistêmico na gestão e de um entendimento dos serviços ambientais na gestão dos recursos hídricos priorizando áreas para a conservação. Débora – informa que a Embrapa Pantanal dispõe na sua carteira de projetos o Agrohidro, que avalia os impactos na qualidade da água. Afirma a necessidade de frisar o enfoque da bacia hidrográfica como área de planejamento. Sugere colocar estudos de casos sobre vazão ambiental e propor ações de monitoramento e indicadores de qualidade nas bacias hidrográficas. Gerôncio – sugere enquadrar os projetos em 3 categorias: governança; implementação de serviços ambientais, e instrumentos e mecanismos financeiros. Patrícia – sugere incluir também as dificuldades identificadas a partir das soluções já implantadas. Gerôncio – propõe que sejam sugeridos projetos-piloto para o estabelecimento de vazões ecológicas e que se faça interface com os projetos de adaptação às mudanças climáticas como fator de redução da vulnerabilidade, mapeando as vulnerabilidades naturais e sociais. Débora – incluir recomendação para definição de bacia-piloto. Claudete – sugerir avaliação socioambiental e monitoramento dos impactos dos PSAs. Elaine – questiona sobre legislação específica. Fernando – esclarece que o processo legislativo referente ao Projeto de Lei de PSA está em conclusão. Ângelo – propõe que seja recomendada a inclusão da discussão nas instâncias de base. Aponta ainda que nem todos os CBH possuem recursos para o seu funcionamento. Fernando – há dificuldades legais e fiscais para os programas de PSA. Helen – manifesta preocupação com a situação urbana. Helen – aponta como uma experiência interessante o Selo de Conservação de Guarapiranga. Ângelo – sugere a inclusão de governança nos aspectos legais e institucionais e a proteção das águas a partir da definição de ecorregiões, PSA, vazão e revitalização. Claudete – informa que a SMA/SP está propondo Samuel – afirma que no Brasil já se reconhece os serviços ecossistêmicos no Plano Nacional de Recursos Hídricos, sendo um desafio ampliar sua incorporação nas políticas. Débora – necessidade de incluir a gestão participativa, a educação e a comunicação. 262 Helen – incluir ainda a necessidade de disponibilização de verbas para estudos e sua divulgação. acompanhamento para o monitoramento. Débora – sugere um mecanismo que possa responsabilizar o setor elétrico pelo estudo de vazão ambiental, considerando que os empreendimentos deste setor são os que mais afetam a vazão dos corpos d’água. Samuel – sugere que o documento parta da premissa de que a questão-chave é manter os ecos- sistemas aquáticos e, para tanto, o capital natural C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l deve ser visto como um pilar de desenvolvimento. Diante disso, há necessidade de reconhecer o papel das unidades de conservação. Sugere associar ao documento um banco de boas práticas e apontar alguns gargalos. Sugere ainda apontar instrumentos que assegurem a conservação dentro dos usos múltiplos e outros voltados para a educação e capacitação. Afirma que há políticas no país, mas que é necessário o estabelecimento de articulações mais efetivas entre elas. Também acha relevante que se oriente a definição dos arranjos financeiros. Ângelo – reafirma a necessidade de citar indicadores e monitoramento e o funcionamento dos sistemas de informação. Foram citadas ainda algumas experiências que podem ser buscadas para agregar ao banco de projetos: - Fundação Boticário na cidade de São Paulo. - ICMS ecológico e Selo Verde. - Pagamento pela produção de água por empresa de saneamento em Brasília. - Programas de PSA no Espírito Santo. São Paulo, 16 de setembro de 2011. 6 º F ó r u m M u ndia l da Á g u a 263 264 C A D ER N O S T E M ÁT I CO S | C ontri b u i ç õ es do Brasi l