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Dois Caderno Este encarte é parte integrante da edição 418 do Jornal da Imagem • JUNHO DE 2013 [ Caso Clube Roentgen 1 ] A História clínica Paciente do sexo feminino, 29 anos apresentando queixa de palpitação há 1 mês, sem outros sintomas associados. Os exames laboratoriais eram normais, bem como as sorologias solicitadas. B A B Figura 1 TC de abdômen corte axial na fase com contraste arterial (a) e equilíbrio (b) demonstrando lesão heterogênea na transição entre a porção hepática da veia cava inferior com o segmento VII hepático, com volumosa extensão para o interior da cava inferior, promovendo acentuada redução do seu lúmen. Notase ainda extensão para o átrio direito, realce heterogêneo pelo meio de contraste Figura 2 RNM nas ponderações T2 coronal (a) e T1 axial pós contraste (b) demonstrando lesão expansiva hepática/retrohepática acometendo, sobretudo, o segmento VII do fígado, apresentando sinais de progressão cranial ao longo da veia cava inferior infiltrando o átrio direito Figura 1 Tomografia Computadorizada com contraste, em corte axial no nível da base do crânio, evidencia lesão expansiva à direita, acometendo o osso temporal, arco zigomático, clivus, esfenoide, seio cavernoso, vértice posterior da maxila, com áreas de remodelamento e destruição óssea, focos de calcificação de permeio e extensão para a fossa craniana média [ Caso Clube Roentgen 2 ] História clínica Homem, 58 anos. Perda da consciência e convulsão associada a abaulamento na face direita há oito meses. Ao exame físico: abaulamento de face na região frontotemporal direita medindo cerca de 10 x 8 cm. Figura 2 Tomografia Computadorizada com contraste, em corte axial, mostra a lesão exercendo discreto efeito compressivo sobre o ventrículo lateral ipsilateral, sulcos corticais adjacentes e desvio da linha média Figura 3 Figura 4 Ressonância Magnética, em corte axial, ponderada em T1 pós-gadolínio, com realce heterogêneo com áreas internas de hipossinal representando calcificações Ressonância Magnética, em corte coronal, mostra a lesão apresentando-se predominantemente com hipersinal na imagem ponderada em T2 2 | Jornal da Imagem São Paulo, junho de 2013 [ Caso Clube Roentgen 1 ] Autores: Drs. Aldemir Humberto Soares, Marcos Duarte Guimarães, Sergio Furlan, Fabricius A. L. Traple. Leiomiossarcoma da Veia Cava Inferior É um tumor maligno que se desenvolve a partir dos constituintes musculares lisos da camada média, representando cerca de 75 % dos tumores venosos malignos. Os leiomiossarcomas ocorrem no trato gastrointestinal (mais frequente), útero e tecidos moles. Dentro dos tecidos moles, ele acomete as regiões cutânea, subcutânea, retroperitônio e sistema vascular (a forma de acometimento mais rara). Quando ocorre em vasos, predomina no território venoso, sendo a veia cava inferior a mais comumente afetada. Habitualmente é um tumor de crescimento lento e insidioso, e em muitos casos descoberto como achado de exame ou quando a doença encontra-se em estágio avançado. Na fase inicial do acometimento vascular permanece confinado à parede da veia (crescimento mural), posteriormente a sua expansão é feita por invasão de estruturas vizinhas (extraluminal) ou intraluminalmente sob a forma de trombo tumoral. Acomete mais comumente mulheres na quinta década de vida. Pode ocorrer em qualquer porção da veia cava inferior, tendo a maior predileção pela média. Os sintomas estão relacionados à localização do tumor. Quando ocorre na porção superior da veia cava inferior (origem das veias hepáticas e a porção supra-hepática) pode apresentar-se com hepatomegalia, icterícia, ascite volumosa, náuseas, vômitos e edema dos membros inferiores. Quando ocorre na porção média (origem das veias renais) apresenta-se comumente com dor abdominal no epigástrio e hipocôndrio direito. Caso estenda as veias renais, pode apresentar-se como disfunção renal, da mesma maneira que se acometerem os vasos supra-hepáticos, pode originar a síndrome de Buddi Chiari. Quando acomete a porção inferior, costuma apresentar-se com dor no hipogástrio e fossa ilíaca direita. A ultrassonografia evidencia uma lesão lobulada hipoecogênica, que pode estar rodeada por um anel hiperecóico, quando de trombose intraluminal apresenta-se hipe- [ Caso Clube Roentgen 2 ] recogênica. É um exame de baixa precisão diagnóstica. O exame tomográfico permite delimitar a massa tumoral e avaliar sua vascularização com o uso de contraste endovenoso. Tem sensibilidade de 78% e especificidade de 96% para o diagnóstico de tumores da veia cava. A ressonância magnética tem papel relevante na avaliação da extensão tumoral, comprometimento de órgãos adjacente (infiltração hepática, cardíaca e renal), assim como presença de trombose venosa associada. Não existem marcadores tumorais específicos para o diagnóstico da lesão de modo que, quando há suspeita, realiza-se biópsia para o diagnóstico. O tratamento para o leiomiossarcoma da veia cava inferior é a ressecção operatória radical, com margens livres, embora isto só seja possível em 40% a 60% dos casos. inferior. Rev. Col. Bras. Cir. 2006, vol.33, n.2, pp. 123-125. 2.Hardwigsen, J ; Balandraud, P; Ananian, P ; Saïsse, J; Patrice, Y. Leiomyosarcoma of the Retrohepatic portion of the Inferior Vena Cava: clinical presentation and surgical Management in Five Patients. J Am Coll Surg 2005; 200: 57–63. 3. Mingoli A, Cavallaro A, Sapienza P, et al. International registry of inferior vena cava leiomyosarcoma: analysis of a world series on 218 patients. Anticancer Res. 1996; 16(5B):3201-5. 4. Bonamigo TP, Becker M, Faccini FP, et al. Leiomyosarcoma of the inferior vena cava - a case report. Vasc Endovascular Surg. 2003; 37(3): 225-8. Referências 1. Larangeira, L L S; Nabut, N; GuembarovskiI, A L. Leiomiossarcoma de veia cava Caso apresentado no Clube Roentgen realizado em 8 de maio de 2013. O caso foi gentilmente cedido pelo Dr. Marcos Duarte. Autores: Dr. Mateus Alves Benjamin (R3), Dr. Rafael Marques Franco (R2). Orientadores: Prof. Dr. Ricardo Pires de Souza, Dr. Sérgio Furlan, Dr. Marcos Duarte Guimarães – Complexo Hospitalar Heliópolis. Condrossarcoma de Base de Crânio Condrossarcomas são tumores malignos mesenquimais. Apenas 5 a 10% ocorrem na região da cabeça e pescoço. Podem se originar de tecido cartilaginoso, osso endocondral, de outros tecidos que em geral não contêm cartilagem ou de células mesenquimais primitivas no cérebro, meninges, osso membranoso e partes moles. A grande maioria dos condrossarcomas de base de crânio são esporádicos, no entanto algumas condições predisponentes foram relatadas e incluem: exposição à radiação, degeneração maligna de lesões benignas como osteocondromas, displasia fibrosa, doença de Paget, traumas/fraturas anteriores. Sua localização na base do crânio está relacionada com a origem endocondral desses ossos, originando-se de restos de cartilagem na sincondrose petro-occipital (principalmente) e de outras sincondroses, como a esfenooccipital e a esfenoetmoidal. Locais específicos de envolvimento incluem a região parasselar, o ângulo pontocerebelar e a região facial. Geralmente se apresentam como uma lesão, que exerce efeito expansivo sobre o cérebro, tecidos adjacentes, tronco cerebral, nervos cranianos e estruturas cervicais superiores. O diagnóstico diferencial principal é com o cordoma e o condroma benigno. A maioria dos condrossarcomas da base do crânio está localizada fora da linha média, um sinal útil, já que o cordoma geralmente se apresenta na linha média. Extensão local é comum para os seios cavernosos, seios paranasais e tecidos moles abaixo da base do crânio. A alteração óssea mais comum é uma combinação de erosão e destruição, geralmente com uma estreita zona de transição. Calcificação da matriz é uma marca dessas lesões. Nos exames de imagem, a TC tem um importante papel complementar na avaliação da calcificação e na avaliação da erosão óssea. A calcificação varia na aparência, mas pode ser pontilhada e amorfa. Outros achados na TC incluem erosão óssea e destruição, massa de partes moles com realce e nítida zona de transição com o tecido normal. A RM é inespecífica. O tumor é hipointenso em relação ao encéfalo nas imagens pesadas em T1 e hiperintenso em T2. Áreas heterogêneas internas de diminuição do sinal representam calcificações, sendo o realce heterogêneo pela mesma razão. Prognóstico e tratamento: o condrossarcoma tem crescimento lento, mas localmente agressivo. Doença metastática é incomum. Ressecção local é muitas vezes o tratamento de escolha. Referências 1. Morimoto T, Sasaki T, Takakura K et al. Chondrosarcoma of the skull base: report of six cases. Skull Base Surg. 1992;2 (4): 177-85. 2. Meyers SP, Hirsch WL, Curtin HD et al. Chondrosarcomas of the skull base: MR imaging features. Radiology. 1992;184 (1): 103-8. Caso apresentado na reunião do Clube Roentgen de 8 de maio de 2013. São Paulo, junho de 2013 CadernoDois | 3 Figura 1 EED demonstrando parada abrupta da progressão do meio de contraste na terceira porção do duodeno [ Caso Clube Roentgen 3 ] História clínica Paciente masculino, 30 anos, HIV + (tratamento irregular), apresentando perda ponderal de 10 kg em 8 meses, evoluindo com vômitos pós alimentares e distensão gástrica há 7 dias. Figura 2 Figura 3 EED demonstrando parada abrupta da progressão do meio de contraste na terceira porção do duodeno Corte tomográfico axial, demonstrando o pinçamento da terceira porção do duodeno, entre a Aorta e artéria mesentérica superior Figura 1 [ Caso Extra ] História clínica Paciente masculino, com 79 anos, com dor na F.I.E. há 1 dia, febre (39º) e constipação. Ao exame físico BEG, consciente, localizado no tempo e no espaço, descorado +/+++, hidratado, eupnêico. Refere dor a palpação profunda da F.I.E. RHA presentes. Blumberg e Giordano negativos. Em virtude dos dados clínicos e laboratoriais alterados (hemograma com leucocitose e desvio a esquerda, plaquetopenia, hiperbilirrubinemia direta elevada), optou-se por internação para prosseguir a propedêutica. Corte axial de TC abdominal demonstra trombose da veia mesentérica inferior, bem como espessamento das fáscias para-renal anterior e látero-conal esquerda, com pequeno acúmulo de líquido na goteira para cólica deste lado. Cisto cortical simples renal esquerdo Figura 2 Corte axial de TC demonstra o trajeto da veia mesentérica inferior trombosada Admitido para internação em hospital de atenção terciária com suspeita diagnóstica de dengue e hepatopatia crônica agudizada. Foi solicitada, então, tomografia abdominal para avaliação da dor na F.I.E. Figura 3 Corte axial de TC demonstra o trajeto da veia mesentérica inferior trombosada adjacente a face anterior da artéria ilíaca comum esquerda, bem como densificação dos planos adiposos na raíz do mesentério. Notar o divertículo no segmento descendente do cólon Figura 4 Corte axial de TC demonstra numerosos divertículos no segmento sigmóide do cólon 4 | Jornal da Imagem São Paulo, junho de 2013 [ Caso Clube Roentgen 3 ] Autores: Drs. Sérgio Furlan, Rubens Yamashiro, Alexandre Bialowas, Éder Prado Gomes – Médicos do Complexo Hospitalar Heliópolis Síndrome da Artéria Mesentérica Superior A síndrome da artéria mesentérica superior (SAMS) é uma condição médica rara, com prevalência estimada em cerca de 0.013% - 0,3% da população geral. A SAMS descreve os sintomas clínicos resultantes de compressão vascular da terceira parte do duodeno no ângulo entre a Aorta e a Artéria Mesentérica Superior. O complexo de sinais clínicos que refletem obstrução duodenal incluem dor epigástrica pós-prandial, náuseas, vômitos, anorexia e perda de peso. O tecido adiposo retroperitoneal, é responsável pela sustentação do ângulo aortomesentérico fisiológico, o qual varia entre 38 e 56 graus. A distância fisiológica aortomesentérica em cortes radiológicos varia de 10 a 28 mm. [ Caso Extra ] O quadro obstrutivo é secundário a uma redução do ângulo levando a compressão da terceira porção do duodeno. O quadro está associado a aqueles de agudização de quadros crônicos além de variações anatômicas e condições pós-operatórias (cirurgia para correção de escoliose e confecção de bolsa ileal, dentre outras). Nos estudos com EsôfagoEstômag-Duodenografia (EED), observa-se um quadro clássico, porém inespecífico de uma dilatação duodenal proximal com um stop abrupto do meio de contraste baritado na terceira porção do duodeno. Além disso, outros critérios devem ser utilizados como: dilatação da primeira e segunda porções do duodeno, com ou sem dilatação gástrica, Compressão abrupta vertical e oblíqua das pregas da mucosa, fluxo antiperistáltico do meio de contraste proximal a obstrução, atraso no trânsito de 4-6 h pela região gastroduodenal, e o alívio da obstrução em posições prona, joelho no peito ou decúbito lateral esquerdo. Atualmente, avaliação por métodos menos invasivos é preferida, como Ultrassonografia Doppler, Tomografia computadorizada com contraste endovenoso e Ângiorressonância, sendo considerados diagnósticos um ângulo abaixo de 22 graus e uma distância aortomesentérica inferior que 8 mm associados a ao menos um sintoma da SAMS. AC. Syndrome of duodenal compression by the superior mesenteric artery following restorative proctocolectomy: a case report and review of literature. Sao Paulo Med. J. [online]. 2005, vol.123, n.3 2. Jain, R. Superior Mesenteric Artery Syndrome; Current Treatment Options in Gastroenterology 2007, 10:24–27 3. F. Lippl et al.: SMAS: diagnosis and treatment, Superior mesenteric artery syndrome: diagnosis and treatment from the gastroenterologist’s view 4. J Gastroenterol; 37:640–643, 2002 Referências: 1. Matheus, C.O. ; Waisberg, J; Zewer, MHT e Godoy, Caso apresentado no Clube Roentgen realizado em 8 de maio de 2013 Autores: Drs. Fabio Luis da Silva, Jose Jorge Gomes Lima, André Toshio Kohatsu – IMEDIIMAGEM Santa Casa de Piracicaba – SP Tromboflebite da Mesentérica Inferior como Complicação da Diverticulite Colônica A flebite mesentérica é uma doença grave, que antes do advento dos antibióticos era fatal. Atualmente, o manejo clínico e prognóstico desta doença melhorou, sobretudo em virtude das modalidades diagnósticas atuais, e constante evolução dos antibióticos. A diverticulite é o foco séptico principal envolvido na patogênese da tromboflebite mesentérica. Pancreatite, infecções pélvicas, doença inflamatória intestinal (retocolite ulcerativa, doença de Crohn) são considerados a origem deste processo patológico. Estados de hipercoagubilidade também podem estar envolvidos na pilo trombose, porém é fator causal mais raro, e também, raramente medicamentos anticoagulantes são envolvidos no tratamento desta entidade. A patogenia ainda não está esclarecida. Mecanismos propostos são a translocação bacteriana e interação entre o agente infeccioso e o endotélio, que desencadearia a cascata de coagulação; ocorrência de trombose do sistema porta seguido de infecção, e/ou ambos. Os agentes mais comumentes encontrados são Escherichia coli, Bacterioides fragilis, Proteus mirabilis, Klebsiella pneumoniae e enterobactérias. A apresentação clínica é inespecífica, podendo comprometer qualquer faixa etária. O diagnóstico é tardio, mascarado pelo processo patológico de base. Dor abdominal, febre, icterícia são comemorandos do comprometimento mesentérico por tromboflebite. Exames sanguíneos demonstram disfunção hepática e leucocitose. Culturas de sangue podem demonstrar os gram-negativos e outras enterobactérias referidos acima. Os exames por imagem são mandatórios para realização do diagnóstico. A ultrassonografia, tomografia computadorizada e a ultrassonografia Doppler são necessários para fechar o diagnóstico de tromboflebite. Caracterizam tanto o foco séptico primário (apendicite, abscesso hepático, diverticulite) como complicações (desenvolvimento de colaterais hepatopetais e transformação cavernomatosa). O tratamento baseia-se na instituição de antibioticoterapia de largo espectro por tempo prolongado. Indicar anticoagulação nesses pacientes como citado acima, permanece controverso. Vale ressaltar que o fator mais importante no prognóstico é a precocidade no diagnóstico e instituição imediata da terapia clínica. A abordagem cirúrgica está indicada em casos selecionados, como na presença de abscessos hepáticos múltiplos. Referências: 1. Fonseca-Neto OCL e col. Tromboflebite séptica da veia porta secundária à apendicite. Relato de caso. ABCD, arq. bras. cir. dig. Vol.20 no.2 São Paulo Apr./June 2007. 2. Guimarães RA e cols. Pileflebite mesentérica secundária a diverticulite. GED gastroenterol. Endosc. Dig. 2010: 29(3):90-92. 3. Rocha MS. Dor na F.I.E. Diverticulite Aguda e seus diagnósticos diferenciais. Parte III. 4.http://www. radiologiadoabdome.com/ upload/ppt/diveriii.pdf Caso enviado para o Jornal da Imagem em 4 de maio de 2013
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