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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA CÉLIO JONAS MONTEIRO YOUTUBE: CONSTRUÇÃO CULTURAL E CONHECIMENTO MUSICAL NO INSTITUTO FEDERAL DE CIENCIA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO CAMPUS CÁCERES. Cuiabá-MT 2011 CÉLIO JONAS MONTEIRO YOUTUBE: CONSTRUÇÃO CULTURAL E CONHECIMENTO MUSICAL NO INSTITUTO FEDERAL DE CIENCIA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO CAMPUS CÁCERES. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea na Área de Concentração Estudos Interdisciplinares de Cultura, Linha de Pesquisa Epistemes Contemporânea. Orientadora: Profª. Drª. Cássia Virginia Coelho de Souza Cuiabá-MT 2011 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte M775y Monteiro, Célio Jonas. Youtube: construção cultural e conhecimento musical no Instituto Federal de Ciência, Técnologia e Educação de Mato Grosso Campus Cáceres / Célio Jonas Monteiro. – 2011. 92 f. : il. color. ; 30 cm. Orientadora: Cássia Virginia Coelho de Souza. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Linguagens, Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Cuiabá, 2011. Inclui bibliografia. 1. Youtube – Ferramenta de aprendizagem. 2. Ciberespaço – Ensino de música – IFMTCas. 3. Aprendizagem musical – Internet. 4. Youtube – Aprendizagem musical. I. Título. CDU 781:378.6.018.43(817.2) Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099 Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte Dedico esta dissertação a minha família especialmente à meus filhos Maria Cecília Jonas Gabriel e Lucas Daniel que por muitas vezes cederam dos momentos de lazer para o papai estudar. AGRADECIMENTOS A Deus pela beleza da vida e a oportunidade de recomeçar a cada dia. A professora Doutora Cássia Virgínia, pela orientação e ensinamentos tão preciosos. Agradeço a CAPES pelo patrocínio que viabilizou esta pesquisa. Aos professores Doutores Cristina Tourinho, Lúcia Helena e José Leite que contribuíram significativamente para a elaboração desta pesquisa. Aos alunos que participaram desta pesquisa, os quais me auxiliaram muito. Ao IFMTCas pelo apoio e oportunidade de pesquisar. Aos Amigos e colegas Eliane Castilho, Francisco Lopes, Gil Cardoso e Patrícia Andrade, que direta e indiretamente contribuíram com as discussões e reflexões. RESUMO Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa qualitativa sobre construção cultural e conhecimento musical de cinco jovens estudantes do Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cáceres. Foram analisadas questões pertinentes ao ciberespaço, ao ensino on-line e ao site YouTube, muito consultado por estes alunos que buscam aprender música por este meio, o qual tem apontado caminhos contemporâneos e que possibilitam uma nova episteme. Além disso, foi levada em consideração nesta pesquisa, a elaboração de critérios para a escolha dos vídeos, feita pelos sujeitos de pesquisa. A forma de utilização destes vídeos para aprender a tocar seus instrumentos e a interação com o ciberespaço envolve questões reais e virtuais. A partir das análises foram propostas discussões que possam gerar novas metodologias para a transmissão musical em vídeos, já que nossa sociedade vive uma nova relação de tempo e espaço, onde vídeos de 15 minutos devem fornecer informações adequadas, mesmo de maneira nãolinear condizendo com o tempo presente. Palavras-chave: Ciberespaço, cultura, Youtube, aprendizagem musical on-line. ABSTRACT This paper presents results of a qualitative research about construction cultural and musical knowledge of five young students of the Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cáceres. We analyzed issues related to cyberspace, the online learning and the site YouTube. It was much consulted by students seeking to learn music with this means, which has pointed contemporary ways that enable a new episteme. In addition, It was taken into account in this research, the development of criteria for selection of videos made by research subjects. The way to use these videos to learn how to play their instruments, the interaction with the cyberspace issues involves real and virtual situations. From these analysis have been proposed that discussions could lead to new methods of dissemination of music in videos, since our society is experiencing a new relationship to time and space and the videos of 15 minutes should provide adequate information, even in a non-linear way, according to the present time. Keywords: Cyberspace, culture, YouTube, music learning online. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Os Criadores do YouTube: Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim ...........................................................................................................................36 Figura 2: exemplo de página do YouTube onde se encontram várias possibilidades de vídeo sobre o mesmo tema...................................................40 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Sujeitos de pesquisa..........................................................................51 Tabela 2. Sobre o uso da internet...................................................................55 Tabela 3. Prioridade de uso da internet .......................................................... 56 SUMÁRIO INTRODUCÃO...................................................................................................10 1 APRENDIZAGEM NA INTERNET..................................................................15 1.1 REAL E VIRTUAL..............................................................................................18 1.2 Educação à Distancia..............................................................................32 1.3 Educação à Distancia em Música......................................................................... 34 2 O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM..........................35 2.1 Classificação do YouTube ......................................................................35 2.2 Classificação de vídeos...........................................................................41 3 PESQUISA NO CAMPUS DO IFMTCas.........................................................46 3.1 Características do IFMTCas........................................................................48 3.2 Os sujeitos da pesquisa...............................................................................49 4 O YOUTUBE E AS ESCOLHAS DOS CINCO ENTREVISTADOS................54 4.1 O questionário..............................................................................................54 4.2 As entrevistas.............................................................................................56 4.2.1 Sobre os meios de aprendizagem ...........................................................57 4.2.2 Sobre a escolha dos vídeos.....................................................................59 5 OS VÍDEOS DO YT E A APRENDIZAGEM MUSICAL DOS ENTREVISTADOS.............................................................................................64 5.1 Sobre o upload de vídeos no YouTube...................................................... 66 5.2 Teoria da música no YouTube.................................................................... 70 5.3 As Categorias e classificações dos vídeos analisados................................72 5.4 Classificação dos vídeos analisados...........................................................73 5.5 Reflexões sobre os vídeos...........................................................................78 5.5.1 Vídeos feitos exclusivamente para o YouTube ou para outros fins.......79 5.5.2 Vídeos construídos para fins pedagógicos, marketing de empresas.......79 5.5.3 Dos conteúdos específicos de música.....................................................80 5.5.4 Da postura do “instrutor”...........................................................................81 5.5.5 Presença do instrumento musical.............................................................82 5.5.6 Da qualidade sonora e de imagem dos vídeos.........................................82 5.5.7 Do discurso quanto ao ensino de música defendido pelos instrutores.....82 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................86 APÊNDICE.........................................................................................................90 Apêndice A - Questionário inicial para verificação do uso da internet...............90 Apêndice B - Roteiro para a entrevista..............................................................91 10 INTRODUCÃO Nos dias atuais é cada vez mais comum encontrar pessoas que, com frequência, utilizam as mídias digitais disponíveis no mercado, sejam elas, computadores, chips, equipamentos eletrônicos computadorizados, dos mais simples aos mais avançados. Esses equipamentos permitem a interação com diferentes pessoas, em diferentes lugares e também tem favorecido o surgimento de uma nova maneira de construção social, cultural e de conhecimento. O avanço e o grande alcance das novas tecnologias têm sido constantes e facilitados, principalmente, pelo processo de mudanças e rápidas adequações na era da comunicação. Barbosa (2009) afirma que a expansão e a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem ser percebidas no crescimento do telefone fixo, na telefonia móvel, no aumento da popularização do computador, que hoje abrange mesmo as camadas da sociedade com menor poder aquisitivo e na nova configuração dos locais de acesso à internet, que não acontece mais só em domicílio. O acesso acontece também nas Lanhouses e nos telecentros instalados nos mais diversos lugares das cidades para atender ao público; no computador portátil e nas atividades realizadas na internet, com destaque para o crescimento do uso do eCommerce e e-Gov, no uso dos dispositivos móveis e na mudança da percepção no que se refere à segurança na rede. Mesmo as pessoas que ainda demonstram certa resistência ao uso desses tipos de equipamentos ou mídias, estão submetidas a elas em algum momento no seu cotidiano. Isso acontece pelo fato de que muitos serviços só estão disponibilizados nas redes de comunicação digital. Essas pessoas que se consideram “desligadas” do tempo atual, que é considerado como a era da informática ou que ainda não se adequaram a ela, acabam tendo a necessidade de usar aparelho de telefone celular, televisão ou radio digital, bem como a internet. Lévy (2003) afirma que a internet é uma rede mundial que possibilita ( permite) que qualquer computador seja conectado (conectarse) em qualquer parte do mundo; a internet é um espaço de conexões. Elas fazem parte da contemporaneidade e indedendentemente de sua aceitação ou 11 não a essa condição, estão interligadas (por meio) do ciberespaço que, conforme o ponto de vista de Lévy, que entende o universo das rederes digitais como um lugar de encontros e de aventuras, terrenos de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural. (LÉVY, 2003, p.104). Até mesmo o perfil do consumidor e a dinâmica da cultura juvenil ocidental atual perpassa pelo grande alcance da internet, que por não ser impedida por fronteiras geográficas a transforma numa cultura global interligada pela informação digital. É importante acrescentar o pensamento de Hall (2004) sobre as mudanças na velocidade com que a informação que conecta o globo o transforma em uma aldeia que ele denomina de “Aldeia Global”. (HALL, 2006, p. 74 – 75). A onipresença das características da cultura de consumo que têm interligado a cultura juvenil no globo, como ressalta Hall, é, amplamente, debatida nos momentos atuais. Faz-se necessário também frisar a relevância dos aspectos que envolvem atividades no ciberespaço que estão ligadas à produção de conhecimento, o que foi escolhido como objeto desta investigação. Com muita intensidade estão disponíveis na internet muitas ferramentas que fazem parte do cotidiano do jovem que está mais ligado nessa rede de comunicação, em especial, àqueles que visitam o YouTube1. Leva-se em consideração que os atuais meios de comunicação servem, não somente para o entretenimento, mas também como instrumento para atividades que são utilizadas com o fim de adquirir algum tipo de conhecimento. Existem pessoas que utilizam internet e televisão, por exemplo, para fazerem cursos técnicos, ensino fundamental, ensino médio ou graduação e alimentam cada vez mais as estatísticas dos usos das TIC para fins de formação. Este hábito parece ser comum na sociedade contemporânea. O ciberespaço é complexo em suas inúmeras redes interligadas, e em suas pontas, milhares de usuários o utilizam para inúmeros fins. É possível verificar que as pessoas buscam neste espaço informações pertinentes à (talvez possa substituir por aprendizado para não ficar repetitivo) , motivo que me levou a pesquisar a respeito da aprendizagem em música. 1 Devido a necessidade de repetição desta palavra nesta dissertação doravante utilizarei a abreviatura YT 12 A partir dessa prática, que para muitos já é familiar, é possível afirmar que o site YT, por ser o site mais visitado para visualização de vídeos na internet, é utilizado para a aprendizagem musical. Esta constatação encaminhou para as seguintes questões: como acontece essa aprendizagem musical com a utilização do computador e a internet? Como acontece a aprendizagem mediada pelo YT? Ao iniciar esta pesquisa pude observar que muitos vídeos disponíveis no YT estão relacionados à música, nos quais os autores se preocupam em auxiliar outras pessoas a tocarem seus instrumentos. Os vídeos assumem o papel de modelo de execução, pois as pessoas aprendem observando o que o autor do vídeo está fazendo. Como profissional da música, especificamente, do ensino de música, ocorreu-me buscar a interação com as teorias e pesquisas que têm investigado as novas possibilidades de aprendizagem, nas quais estão inclusas as aprendizagens por meio da internet, onde ocorre também a aprendizagem de instrumentos musicais. É do entendimento dos pesquisadores da cognição musical que uma aquisição da aprendizagem em um determinado instrumento musical, acontece na relação diária entre o aprendiz e o seu instrumento, independente das abordagens metodológicas apresentadas pelo professor, presencial ou no ciberespaço, ou se esse aprendiz interage e explora sozinho o instrumento musical. No limiar da era da informação e crescente ausência da crença na forma de aprendizado linear, em tempo e espaço determinados como legítimo de aquisição de conhecimentos, é pertinente investigar nas situações cotidianas novas epistemologias. Esta pesquisa e se justifica pelo estudo necessário de novas formas de construção do conhecimento musical que têm se desenvolvido com as novas tecnologias, que fazem parte da cultura contemporânea e na contribuição de mais um ponto de vista sobre a repercussão ou conseqüências desse aprendizado na formação do músico. A partir da minha inserção como professor de música no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso2 no Campus 2 Doravante o Instituto será referenciado como IFMTCas. 13 Cáceres, situada na cidade de Cáceres, a 220 km da capital mato-grossense, fortaleceu-se o interesse em investigar essa temática. Ao entrar em contato com o contexto desse Instituto foi possível perceber que existe nele uma fusão de várias culturas e que o laboratório de informática, assim como toda a estrutura do IFMTCas, forneceria materiais importantes para a pesquisa. Através de conversas informais e de observações, ainda nos primeiros contatos, percebi que muitos alunos faziam uso da internet com a finalidade de aprender algum instrumento musical utilizando como referência principal, vídeos que estão disponíveis no YT. Por esta razão direcionei o foco desta investigação para o contexto do IFMTCas com o objetivo de investigar o processo de construção do aprendizado musical de alunos daquela instituição que utilizam vídeos do YT. Foram objetivos específicos da pesquisa: identificar as características de vídeos disponíveis no YT; localizar aqueles que foram produzidos com fins educacionais e os que não foram produzidos para esse fim e que são consultados pelos alunos. Analisar cinco vídeos trazidos pelos alunos participantes da pesquisa; verificar quais são os critérios de escolha por determinado vídeo quando estão procurando aprender um instrumento. A monografia é dividida em cinco capítulos, sendo o primeiro uma abordagem sobre a aprendizagem na internet, o crescente uso dessa ferramenta como veículo facilitador da aprendizagem. Como suporte teórico, busquei (talvez seja interessante mudar o tempo do verbo porque é um relato) apoio nos pressupostos de Gohn (2005) quanto à superação de antigos limites de espaço e tempo que permite esse meio favorecendo a educação a distancia. Bolan (2009), que discute, sobretudo, os critérios éticos no uso dessa ferramenta dado à sua característica ilimitada, além de autores que explicam o ciberespaço a forma que se organiza, política a virtualização do real como Lévy (1996) e Castells, também Baudrillard (1996) que teoriza o virtual em Simulacro e Simulação, Maturana que entende este espaço como um organismo vivo e os usuário fazem parte deste sistema que o autor chama de autopoiese. No segundo capítulo, trato especificamente do YT como ferramenta de aprendizagem, buscando detalhar desde a criação do site até o modo como é usado pelos internautas no seu cotidiano. Para debater esse assunto, ressalto 14 além da contribuição dos autores citados no primeiro capítulo, Gasset (2002) e Castells (1999). No terceiro capítulo, discorro sobre os procedimentos metodológicos escolhidos para a realização desta pesquisa. Descrevo o contexto onde se deu a investigação, apresento as informações obtidas com os alunos que fizeram parte da pesquisa. No quarto capitulo, são relatados e analisados os dados coletados nos questionários e (é só uma entrevista?). No quinto capitulo, são discutidas as redes sociais, trocas de informações, além da apresentação de uma análise de cinco vídeos trazidos pelos sujeitos de pesquisa, embasada nos pressupostos teóricos dos capítulos anteriores. Encerrando o trabalho faço as minhas considerações levando em conta os objetivos propostos e as especificidades da pesquisa. Mostrei que cinco jovens aprendem música junto ao YT e fazem deste site um espaço de aprendizagem de violão e viola caipira, verificando as características deste processo educacional/cultural. 15 1. APRENDIZAGEM NA INTERNET Na atualidade, inúmeras pessoas utilizam os meios digitais para diversos fins e buscam adquirir conhecimentos, mesmo que superficiais; obtêm saberes, entre eles, teorias, assim como tocar um violão ou uma viola caipira. O Centro de Estudos sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC.br) e Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)3 realizaram uma pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil nos domicílios e nas empresas. O resultado apresentado aponta para o aumento considerável da utilização da internet com objetivos de construção de conhecimento. Essa pesquisa mostra que 76 % dos moradores da região Centro-Oeste utilizam a internet e usam para fins educacionais. Foi constatado, também, que 97% da população têm o aparelho de Televisão (TV), 34 % antena parabólica, 6% TV por assinatura, 81% rádio 37% telefone fixo, 86% celulares e que 34% dos domicílios nesta região dispõem de, pelo menos, um computador em casa, o que deixa claro que na região Centro-Oeste as TIC são consumidas, assim como no restante do nosso pais e do mundo (BARBOSA, 2009). Esse conhecimento se constrói através do fazer e do pensar e proporciona uma experiência e um tipo de aprendizagem. Mas aprendizagem obtida através dos meios de comunicação, ressaltando a comunicação digital, é relacionada quase sempre à educação a distância. Esta vem sendo utilizada em larga escala, inclusive em universidades brasileiras como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Nacional de Brasília (UNB) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que oferecem os cursos de Licenciatura em Música na modalidade EaD. Segundo Silva (2003) a atual exigência no que diz respeito ao cenário comunicacional do ciberespaço a EaD on-line é exigência da cibercultura, isto é, do conjunto imbricado de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamento e valores, que se desenvolvem juntamente com o crescimento do 3 Dados disponíveis no site http://www.cetic.br/tic/2009/index.htm consultado 13 em julho de 2010. 16 ciberespaço, isto é: do novo ambiente comunicacional que surge com a interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores; principal suporte de trocas e de memória da humanidade a partir do início do século 21; novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização, de informação, de conhecimento e, claro, de educação. (SILVA 2003) O autor entende que a EaD on-line é um contexto cada vez mais presente e a informação digitalizada apresenta-se como uma nova infraestrutura (tudo junto pela nova ortografia) básica e como modo de produção criando nova lógica comunicacional. O que surge no ciberespaço é discutido também no Ministério da Educação, através da portaria do MEC nº. 2.253, de 18 de outubro de 2001 que significa grande incentivo à graduação on-line. Neste documento há a garantia das instituições de ensino superior de optar por de oferecerem em até 20% de suas disciplinas regulares na modalidade a distância, que tende a transitar dos suportes tradicionais para a internet. Acelera a sofreguidão dos interesses mercadológicos por lucro imediato, mas ao mesmo tempo amplia o engajamento em educação cidadã. (Silva. 2003) Para Gohn (2005) “esse processo reflete a atual flexibilidade dos processos de ensino e aprendizagem, obtida ao se colocar professores e alunos em contato via meios tecnológicos”. Muitos jovens atualmente utilizam os meios tecnológicos para aprender, só que sem o professor. Gohn acredita que estes meios tecnológicos permitem que antigos limites de espaço e tempo sejam superados e resolvidos anunciando algumas vantagens da educação à distância: a permanência dos indivíduos envolvidos no processo em seus locais de origem, dando continuidade aos estudos sem a interrupção para viajar para centros acadêmicos, em horários convenientes e compatíveis com todos os compromissos da vida cotidiana e a quebra de barreiras geográficas entre professores e alunos. (GOHN, 2005 p. 616). Existem, atualmente, muitas discussões a respeito do tema educação pelos meios digitais e é importante frisar que não há consenso ao debater as questões que envolvem o aprendizado. Para Bolan (2009) a internet amplia as possibilidades de comunicação na globalização, era da informação e do conhecimento e ressalta que “existe uma interação virtual, otimizada em 17 intercâmbios e troca de mensagens que fortalecem o potencial comunicativo entre as pessoas”. Bolan acredita que ao contrário de um senso comum onde se pensa que este meio dispersa as relações, Bolan concorda que essa ferramenta estreita as relações que não são apenas superficiais ou reforça uma experiência empobrecida, daqueles que vivem relações extremamente frágeis e superficiais. A Internet é um bem disponível, compete à liberdade humana fazer bom uso desse extraordinário meio, que vem prestando, sim, um grande serviço, em todo o planeta. Requer, sim, limites quanto aos abusos, daí a importância dos critérios éticos e até morais do uso da Internet. (BOLAN, 2009). O uso da internet para a aprendizagem tem sido tema de pesquisas que se ocupam em debater e questionar a experiência da aprendizagem na internet. A presente pesquisa tem como foco, o uso dessa ferramenta através do YT. A aprendizagem musical neste meio, aqui será tratada como uma forma de aprendizagem peculiar do tempo presente. Ao iniciar a pesquisa bibliográfica eu pensava que se tratava de um tipo de aprendizado por metáfora, porém ao verificar Baudrillard entendi que se tratavam de discussões contemporâneas e que necessitava de teorias que concorressem para o entendimento mais amplo deste acontecimento atual. Contudo, é importante reconstruir este entendimento ressaltando que no pensamento de Lakoff (1985) a essência de uma metáfora é o fato de ela permitir que se compreenda uma coisa em termos de uma outra coisa qualquer. Lakoff entende metáfora como um procedimento da imaginação poética e do ornamento do discurso que concerne aos usos extraordinários da linguagem. Além disto, a metáfora é percebida como característica da linguagem, como concernindo às palavras mais que o pensamento ou a ação. Nossa representação do mundo tem influência das metáforas que elaboramos, quase sempre de modo inconsciente. Lakoff e Jonhson (1985) afirmam ainda que a maior parte dos seres humanos têm conceituado coisas novas em termos de coisas já conhecidas. Quando se busca nos dicionários disponíveis na internet a definição de metáfora é encontrado na maioria das vezes um sentido relacionado à figura de linguagem que consiste na transferência da significação própria de uma palavra para outra significação, ou 18 uma comparação subentendida. Esta correlação com a lingüística está sempre presente, o que confirma que este conceito não é suficiente para responder a especificidade do objeto desta investigação. Na contemporaneidade, esta compreensão perpassa pela concepção de Baudrillard sobre a realidade virtual que se dá com o advento do pixel, onde transforma a imagem em cálculo digital, criando assim, duas situações diferentes e teóricas de entender este advento que Baudrillard chama a primeira de Simulacro e a segunda de Simulação. Para Baudrillard simulacro "É sempre uma questão de provar o real através do imaginário, de provar a verdade pelo escândalo, de provar o trabalho por intermédio da greve, de provar o capital pela revolução" (BAUDRILLARD, 1996). 1.1 REAL E VIRTUAL É importante compreender que a falta de questionamentos por muitas vezes permite enganos e formas equivocadas de compreender a realidade imediata e virtualidade, pois certas atividades, como o advento da internet e seus meios facilitadores de comunicação e de pesquisa, têm sido utilizados constantemente, sem uma análise sistemática de seus usuários e até mesmo sem critério e sem uma preocupação com a origem dos conteúdos disponíveis. Uma evidência da falta de questionamento quanto aos conteúdos, é o excesso de informações desencontradas ou com teores duvidosos que vimos, diariamente, quando se pesquisa utilizando buscador da google, por exemplo. O questionamento e ponderação são importantes no que concerne ao cuidado em filtrar as informações no ciberespaço, considerando o pensamento de Baudrillard que observa que em nossa sociedade atual o virtual e o real se confundem. O autor afirma que, Como estamos no quarto estágio da representação, a "hiperrealidade" a tudo falsifica na época pós-moderna. No que tange a cultura, o simulacro coloca-a como uma esfera de completa autonomia, e nela são jogados os sujeitos descentrados, os quais devido ao acúmulo de imagens e simulações possuem apenas uma experiência a compartilhar, que é "a alucinação desestabilizada e estilizada da realidade" (BAUDRILLARD, 1996). 19 Possivelmente, o simulacro e a simulação são uma espécie de desestruturação do real, que aconteceu com o advento das massas e do atual meio de comunicação. Na era da informática, quase todos os recursos disponibilizados na internet são passiveis de constituir recursos educacionais, e, desta forma, são utilizados para fins de aprendizagem. Segundo Couchot; O simulacro visa enganar, fazer com que o falso passe por verdadeiro. A simulação, em seu princípio essencial, não busca nem o verdadeiro nem o falso: ela estabelece modelos que são capazes de reproduzir virtualmente o real e de dar conta de seu funcionamento, mas sem explicá-lo. A simulação simula, mas não explica. Embora o modelo digital da representação esteja cada vez mais onipresente, nós não vivemos mais na era dos simulacros, mas sim na era da simulação. A simulação põe fim ao simulacro. Por outro lado, isso não nos impede de fazer novos questionamentos, pois, no caso do simulacro, sabíamos que era possível tomar o falso por verdadeiro, o que nos permitia encontrar este último. Já a simulação, que não se pretende nem verdadeira nem falsa, deixa-nos num estado de incerteza desconcertante. (COUCHOT, 2003). Já na opinião de Lemos, simulação não passa de uma redução lógicoformal do real, mas nem por isso ela deixa de exercer influência sobre ele. O ciberespaço é a encarnação tecnológica do velho sonho de criação de um mundo paralelo, de uma memória coletiva, do imaginário, dos mitos e símbolos que perseguem o homem desde os tempos ancestrais...Hoje, o ciberespaço funciona um pouco desta forma. Ele coloca em relação, ele incita a abolição do espaço e do tempo, ele transforma-se em lugar de culto secular e digital. Este é um espaço imaginal onde as novas tecnologias mostram, parodoxalmente, todo o seu potencial como veículo de reliance (Bolle de Bal) isto é, como vetor de agregação social. (LEMOS, 2004, p. 130). A internet é uma rede de pequenas redes, que utilizam inúmeras linguagens, tanto as específicas da área gráfica computacional, como também as linguagens criadas ou que surgem naturalmente pelos usuários, que proporcionam assim um ambiente impar Lévy considera que, A “realidade virtual”, no sentido mais forte do termo, especifica um tipo particular de simulação interativa, na qual o explorador tem a sensação física de estar imerso na situação definida por um banco de dados. O efeito de imersão sensorial é obtido, em geral, pelo uso de dados. (LÉVY,1996, p.70). 20 Da mesma forma que, na metáfora da teia (a WEB), liga-se todas as informações disponíveis no planeta e serve como imagem para o sentido de ciberespaço (LEMOS, 2004, p. 130) é possível pensar, também no processo semelhante com os grupos que simulam uma sala de estudos (comunidades digitais) e compartilham conteúdos referentes aos seus respectivos assuntos ou temas a discutir. Isto por que as mídias digitais disponíveis na internet possibilitam ou facilitam ao usuário da rede a aprender vendo alguém fazer e posteriormente tentando fazer da mesma forma, alem de ser incansável no que se trata da possibilidade de repetir a mesma informação, da mesma maneira, infinitas vezes. Não é propósito do trabalho, neste momento, criticar a validade da modalidade de ensino on-line, nem conteúdos e programas de cursos, mas mostrar a importância da reflexão sobre o assunto, principalmente, entre os profissionais da educação e da educação musical4. Segundo Lévy a produção de conhecimento em rede promove a heterogeneidade na medida em que direciona para a multiplicidade de conhecimentos e competências, permitindo assim verdadeiros esforços para a resolução de problemas individuais ou virtualmente comunitários. Isso gera a reflexão sobre os casos em que se acredita que as TIC servem apenas para facilitar a clonagem e o plágio de trabalhos já prontos e disponíveis na internet e deixar alunos mais preguiçosos. Entendo que a internet é um meio facilitador, por que a busca supõe curiosidade e escolhas, desenvolvendo senso de direção que pode tornar o navegante um pesquisador por procurar neste meio, conteúdos apropriados e possíveis caminhos para seus questionamentos e curiosidades, o que necessita de uma averiguação dos conteúdos disponíveis para posteriormente desenvolver o seu trabalho. Para Ortega e Gasset (2002) com o advento da internet e dos meios de comunicação que a acompanham, permitiu-se existir um movimento que retira a massa dos subalternos e “eleva” este grupo a certa “promoção” ao primeiro plano da sociedade. Os autores sustentam que isso difere grupos de minorias, mas revela aí a crítica que a esta massa não ocupa os lugares que poderiam fazer mudanças sociais, mas usufrue apenas dos prazeres que antes, apenas 4 Em princípio não haveria nenhuma diferença entre um educador e um educador musical, mas para maior entendimento do leitor utilizo títulos separados especificando a área de atuação. 21 uma “minoria” gozava. Ressaltam que os grupos que antes poderiam ser entendidos como marginalizados pelo acesso aos meios de comunicação foram incluídos com os atuais meios da comunicação digital. Que este processo é entendido como um organismo vivo e que garante o anonimato dos que participam das redes sociais. Maturana afirma que as máquinas são instrumentos de projetos humanos (MATURANA, 2001, p 172). O autor lembra que existem mitos modernos nas quais se acredita que a máquina ou a tecnologia pode suplantar a inteligência humana e “tomar nosso lugar” e ressalta que este tipo de pensamento, aparentemente, assusta. De um lado pessoas com medo da tecnologia e medo de perder seus espaços profissionais ou serem substituídas, do outro, as que buscam informações, ou usufruem deste meio para a comunicação. Muitas buscam informações na rede por diversas vias, incluindo as menos “favorecidas”, que, com alguns centavos e a disponibilidade de chegar a uma Lan house podem fazer parte do ciberespaço. A facilidade para ter acesso à rede aumenta de uma forma ou de outra. Segundo Gushiken (2008), a comunicação de massa foi estudada durante algum tempo pela perspectiva do impacto da informação midiática no comportamento das pessoas, ou melhor, sobre os seus “efeitos a curto prazo”. Porém, logo esta situação foi invertida e ao invés de “o que os meios faziam com as pessoas” a questão passou a ser: “o que as pessoas faziam com esses meios”. Esta afirmação de Gushiken, embora contemple outro tipo de debate em relação ao acesso da rede, pode se aplicar exatamente no uso que as pessoas têm feito da internet na medida em que a tem como ferramenta para o aprendizado. Questões importantes a serem colocadas hoje se referem aos usos dos meios de comunicação – não necessariamente pelo aparelho de Estado ou pelas grandes corporações privadas, mas por cidadãos comuns e anônimos, atualizando a proposta de o que importa mesmo é o que as pessoas fazem com os meios de comunicação. (GUSHIKEN, 2008, p.2). A partir dos estudos teóricos da área de comunicação social, surgiram as pesquisas sobre o consumo dos meios massivos de informação que anteriormente estavam mais relacionadas, segundo Gushiken, a como “trata-se especificamente dos modos como as audiências são consumidas, de forma 22 receptiva ou não, mensagens dos meios massivos”. Entretanto, hoje ao se falar em “usos dos meios”, se refere não mais à recepção do conteúdo dos meios de massa, mas aos novos meios de comunicação a partir do maior acesso de distintas faixas da população às tecnologias, como se pode observar no nosso País. A internet não é apenas um grande local de armazenamento de informação, é um local que propicia dinâmicas sociais de produção de conhecimento. A informação inserida neste espaço perde o caráter estático e adquire uma dinâmica de mudança constante em que várias pessoas adquirem a todo o momento opiniões, alterando, crescendo numa constante dinâmica transformadora, tanto do meio como em seus usuários. Talvez esta relação que Gushiken aponta, da constante reformulação deste meio como seus movimentos sociais virtuais é o que Maturama chama de Autopoiese5 (MATURANA, 2001, p. 174), quando se forma uma estrutura a relação do uso dos meios por estes diferentes grupos. Os sistemas vivos são sistemas determinados estruturalmente, ou seja, são sistemas tais que tudo o que lhes acontece a qualquer momento depende de sua estrutura — que é como eles são feitos a cada instante. Os sistemas determinados estruturalmente são sistemas tais que qualquer agente que incida sobre eles apenas desencadeia neles mudanças estruturais determinadas neles próprios. (MATURANA, 2001, p.173). Para Maturana, Autopoiese é uma organização dinâmica e constitutiva dos seres vivos em sua autoprodução, existindo então uma dinâmica circular onde todos são participantes. Os sistemas vivos existem em dois domínios operacionais: O domínio de sua composição, que é onde a autopoiese existe e de fato opera como uma rede fechada de produções moleculares, e o domínio ou meio no qual eles surgem e existem como totalidade em interações recursivas O primeiro domínio no qual o observador os distingue como organismo vê em sua anatomia e fisiologia, e o segundo é onde o observador os distingue como organismos ou sistemas vivos. (MATURANA, 2001, p 175). 5 Maturana utiliza esta terminologia pela primeira vez em uma publicação com Francisco Varela, onde afirma que os organismos dos seres humanos se organizam em um determinismo estrutural que se auto gera o que eles chamaram de autopoiese. 23 O que Maturana chamou de domínio operacional, a autopoiese é o que dá este aspecto de continua autoprodução, o que se percebe acontecer com a utilização dos meios atuais de comunicação. Para o autor, Resultam em mudanças em sua configuração dinâmica como uma totalidade, e portanto em mudanças na maneira pela qual ele interage com o meio, e que as interações dos sistemas vivos com o meio desencadeiem nele mudanças estruturais em sua composição que resultam, por sua vez, em mudanças na configuração dos sistemas vivos como uma totalidade (MATURANA, 2001, p 175). Já para Castells a cultura da rede é formada pelos seus próprios usuários e que estes também constroem um “ambiente simbólico” virtualizando a realidade. Talvez a característica mais importante da multimídia seja que ela capta em seu domínio a maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade. Seu advento é equivalente ao fim da separação e até da distinção entre mídia audiovisual e mídia impressa, cultura popular e cultura erudita, entretenimento e informação, educação e persuasão. Todas as expressões culturais, da pior à melhor, da mais elitista a mais popular, vêm juntas nesse universo digital que liga, em um supertexto histórico gigantesco as manifestações passadas, presentes e futuras da mente comunicativa. Com isso, elas constroem um novo ambiente simbólico. Fazem da virtualidade nossa realidade. (CASTELLS, 1999, p. 58). Este constante movimento permite com que aquilo que antes era apenas uma base da pirâmide social, agora, mesmo que virtualmente, ocupe lugares altos desta pirâmide. Para Lemos a internet é um “vetor de agregação social” que gera a possibilidade de ampliação do repertório cultural através das experiências que muitos têm através dos materiais digitais postados na internet, o que Lemos chama de “rito de passagem”. A teia é a fronteira entre o individual e o coletivo, entre o orgânico e o artificial, entre o corpo e o espírito. O ciberespaço é o espaço simbólico onde se realizam todos os dias ritos de passagem do espaço físico e analógico ao espaço digital sem fronteiras. (LEMOS, 2004, p. 132). Percebemos na cultura, na socialidade e principalmente, no que diz respeito a questões financeiras que a internet reestrutura e reorganiza os laços sociais existentes, criando novas possibilidades de organização para o que conhecemos como virtual. 24 É a era da Cibercultura. Lemos compreende por cibercultura as relações entre as tecnologias informacionais de comunicação e informação e a cultura, emergentes a partir da convergência informática/telecomunicações na década de 1970. Trata-se de uma nova relação entre as tecnologias e a sociabilidade, configurando a cultura contemporânea (LEMOS, 2004). Talvez com isso se pudesse entender melhor o que Hall (2006) trata como “crise de identidade” fazendo com que o sujeito anteriormente tido como unificado, agora apresente um novo “formato” deslocado por conta destas transformações e a relação com as diferentes culturas. Cibercultura é envolver-se na formação de um novo processo social, que inclui também, escalonamentos naturalmente, e uma reescalonamentos participação sociais e ativa e políticas coletiva do em mundo contemporâneo. É a era da globalização que foi intensificada na década de 70, mas que ganhou força e velocidade no final de 80 devido às novas tecnologias digitais transformando-se posteriormente em “on-line” com a internet. Isto possibilitou o surgimento de novas identidades desfragmentando o indivíduo moderno, possibilitando a simulação de relacionamentos em quase todos os âmbitos, e, possibilitando, assim, experiências comuns em ambientes virtuais tridimensionais como sites, games on-line, chats e outros. Segundo Lemos o termo Ciberespaço é um espaço não físico ou territorial composto por um conjunto de redes de computadores através das quais todas as informações circulam... Ela será povoada pelas mais diversas tribos, onde os cowboys do ciberespaços circulam em busca de informações. (LEMOS, p 127, 2004). É evidente que as pessoas sempre estiveram organizadas em redes sociais como afirma Matellart. Desde o advento da Internet (penso que a internet se configure também, com os instrumentos ou ferramentas que possibilitam a interconectividade), mais especificamente da World Wide Web, entretanto, elas estão cada vez mais organizadas em redes sociais mediadas por computadores conectados, por tecnologias móveis, pela banda larga, wi-fi, bluetooth e GPS, pelas interconexões com mídias digitais. Estes são dispositivos que permitem a todos atuar, informar, recrutar e organizar. São 25 instrumentos que permitem aos movimentos sociais, artísticos e/ou culturais transformar-se, intuir-se através desta comunicação pluralista em rede. Segundo Lemos O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões pluralistas reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização de saberes. (LEMOS, 2004, p.135). Ou seja, o desenvolvimento do nível de conhecimento pelos usuários desse sistema, seria mais uma ferramenta para o auxílio da troca através dos rizomas culturais que acontecem naturalmente nas micro redes se conectando, cada vez mais longe, na grande rede mundial de computadores. Poderíamos talvez, dizer que este sistema vai se tornando vivo, coordenando ou formando uma Autopoiese, conforme Maturana. Já Lemos entende que é, Uma estrutura rizomática é um sistema de multiplicidade, um sistema de bifurcação como um verdadeiro rizoma, uma extensão ramificada em todos os sentidos, sem centro... um rizoma pode ser conectado a qualquer outro rizoma. Como multiplicidade, um rizoma não tem nem sujeito nem objeto e cresce de acordo com a dinâmica de suas conexões. Os rizomas se ramificam e se reticulam permitindo estratificações e territórios, da mesma forma que criam linhas de fugas e de desterritorialização. (LEMOS, 2004, p. 136) O rizoma que o contato com a rede proporciona é uma forma híbrida de aprendizagem como Burke nos exemplifica. É que devemos ver as formas hibridas como o resultado de encontros múltiplos e não como o resultado de um único encontro, quer encontros sucessivos adicionem novos elementos à mistura quer reforcem os antigos elementos. (BURKE, 2003, p. 31). O fato de um aprendiz se propor a iniciar uma pesquisa virtual permite a ele caminhar num universo diferente, o que possibilita instigar-se cada vez mais na medida em que se envolve com os links e materiais digitais disponíveis na rede. O contato com a rede mundial de computadores pode não só trazer benefícios, como reforçar os bons elementos já existentes, através da troca· cultural. Este reforço também pode ser entendido como “negociação” ou 26 “acomodação” (BURKER, 2003, p 48) das práticas, ou como já disse anteriormente, uma oportunidade de repensar, aprender e fazer. Porém, neste momento, é importante também refletir a respeito dos dados que circulam no espaço da cibercultura que, segundo Castells, apresenta a rede mundial de computadores como uma ida sem volta. Isto por que ela é um meio que alterou o cenário de transmissão cultural, em todas as classes sociais ou no nosso dia a dia. A cada dia parece que torna-se mais difícil não encontrarmos em nossa “vida real” um chip, câmera filmadora, em uma praça publica, alguém conectado a rede por um celular ou um computador portátil em zonas hi-fi, o que nos assegura não podemos percorrer caminhos contrários a estes, mas sim proporcionar a todos condições intelectuais de aprenderem a respeito da utilização deste meio com responsabilidade e democracia. Percebe-se que, atualmente, a internet é procurada por pessoas que buscam conhecimentos específicos como, por exemplo, aprender como se conserta uma geladeira, um micro-ondas ou um veículo. Ou ainda buscam na rede formações específicas, como um curso superior on-line ou cursos técnicos, o que torna a internet um espaço para aprendizagem. Este evento configura-se numa forma mais simples de interação com o novo saber, talvez pela própria herança cultural de que o ambiente escolar por muitas vezes não e atrativo, e não propõe uma liberdade na interação; em contrapartida devemos analisar qual a qualidade das informações disponíveis na rede. Para Lévy (1999, p.167) uma das pulsões mais fortes da cibercultura é a interconexão, já Castells (2003, p. 98) adverte que os debates disponíveis são superficiais e algumas vezes estéreis. O real e o virtual muitas vezes são confundidos e percebo que muitos pensam que o virtual pode substituir o real, principalmente, quando se trata em relacionamentos sociais e reais. Lévy acredita que o ciberespaço não substitui o relacionamento real, lembrando que a mesma crítica existe quando a invenção do telefone, mas hoje as pessoas ainda usam o relacionamentos aparelho reais para acabam marcar seus utilizando-se encontros. dos meios Mesmo virtuais os para acontecerem; cotidianamente o ciberespaço reconfigura nossas vidas. Lévy afirma que uma leitura na tela ou num papel não se diferenciam. 27 As paginas da WEB exprimem idéias, desejos, saberes, ofertas de transação de pessoas e grupos humanos. Por trás do grande hipertexto fervilham a multiplicidade e suas relações. (LÉVY, 1999, p.162). Importa entender que a internet tem sua própria identidade e impõe suas próprias regras formuladores e de comportamentos. usuários, porém São estas reflexos redes não diretos são dos seus organizadas sistematicamente. A política de expansão do uso da rede está ligada diretamente em números de participantes inseridos nela, ou seja, quanto maior a diversidade de participantes, mais alta será a massa critica da rede e mais altos os níveis de informação, mensagem, documentos digitais e assim, mais que automaticamente, seu valor comercial também é expandido. O Ciberespaço é efetivamente um potente fator de desconcentração e de deslocalização, mas nem por isso elimina os “centros”. Espontaneamente, seu principal efeito seria antes o de tornar os intermediários obsoletos e de aumentar as capacidades de controle e de mobilização direta dos nós de poder sobre os recursos, as competências e os mercados onde quer que se encontrem. Formulo a hipótese de um encorajamento voluntarista das iniciativas e das dinâmicas regionais que sejam ao mesmo tempo endógenas e abertas para o mundo. De novo, a condição necessária é a de valorizar e criar uma sinergia entre as competências, os recursos e os projetos locais em vez de submetê-los unilateralmente aos critérios, às necessidades e às estratégias dos centros geopolíticos e geoeconômicos dominantes. (CASTELLS, 1999, p. 190). Segundo Castells a sociabilidade entre as redes no ciberespaço se dá entre laços fracos que são os virtuais, ao contrário dos laços fortes que possivelmente, Castells considera os que são presenciais. Já que as procuras por informações são amplas e multidimensionais, pessoas comuns acabam inserindo no ciberespaço verdadeiros portifólios pessoais nas comunidades virtuais, como por exemplos ORKUT6 ou FACEBOOK7. Os laços fracos são 6 Orkut é uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 com o objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. Foi desenvolvido pelo projetista turco Orkut Büyükkorten. É possível publicar fotos e vídeos pessoais, criar comunidades em formato de fórum de discussão enviar e ler scraps de sua rede de contatos. 7 Facebook é uma rede social lançada em 4 de fevereiro de 2004, por Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin. Inicialmente, a adesão ao Facebook era restrita apenas aos estudantes da Universidade Harvard. Ela foi expandida ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), à Universidade de Boston, ao Boston College e a todas as escolas Ivy League em pouco tempo. Muitas universidades individuais foram adicionadas. Posteriormente pessoas com endereços de e-mail de universidades (por exemplo, .edu, .ac.uk) ao redor do mundo eram eleitas para ingressar na rede, que passou a aceitar também estudantes secundaristas e algumas empresas. Hoje o Facebook possui mais de 500 milhões de 28 úteis no fornecimento de informações já que os usuários ingressam nestas comunidades com um interesse comum. A rede é formada por múltiplos laços fracos, que favorece aberturas de oportunidade de baixo custo. (CASTELLS, 1999, p. 445). Lévy comenta que esta sociabilidade esta marcada por novos ordenadores e fatores tratando-se do ciberespaço. O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, específica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais) de praticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p. 17). O autor aponta duas características distintas do mundo virtual. Quando as pessoas possuem uma imagem de si mesmo e de sua situação ele chama de imersão. A navegação por proximidade acontece quando cada ato do indivíduo ou do grupo modifica o mundo virtual e a sua imagem no mundo virtual. Na navegação por proximidade, o mundo virtual orienta os atos do individuo ou do grupo, além dos instrumentos de pesquisa e endereçamento clássicos (índices, links hipertextuais, pesquisa por palavras chaves etc.), as demarcações, pesquisas e comunicações são feitas por proximidade em um espaço continuo. Um mundo do virtual, mesmo não “realista”, é, portanto fundamental organizado de acordo com uma modalidade “táctil” e proprioceptiva (real ou transposta). (LÉVY, 1999, p. 72). Na circulação de pessoas no campo virtual são criadas redes de relações e comunicação, mas de acordo com autores como Castells, essas relações ou laços são considerados frágeis e passivos de questionamentos no que se refere às interações sociais, porém, podem facilitar a ligação entre pessoas de diferentes características socioculturais. Castells ressalta que, usuários ativos e segundo o ALEXA, que monitora o trafego de visitantes na internet, ele ocupa o sexto lugar no ranking. É ainda o maior site de fotografias dos Estados Unidos, com mais de 60 milhões de novas fotos publicadas por semana, ultrapassando inclusive sites voltados à fotografia. 29 A vantagem da rede é que ela permite a criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de interação, no qual as características sociais são menos influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio, da comunicação. De fato, tanto off-line como on-line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas características sociais numa sociedade que parece estar passando por uma rápida individualização e uma ruptura cívica. Parece que as comunidades virtuais são mais fortes do que os observadores em geral acreditam. Existem indícios substanciais de solidariedade recíproca na rede, mesmo entre usuários como laços fracos entre si. De fato a comunicação on-line incentiva discussões desinibidas, permitindo assim a sinceridade. O preço porem é o alto índice de mortalidade das amizades on-line, pois um palpite infeliz pode ser sancionado pelo clique na desconexão - eterna. (CASTELLS, 1999, p.445). A cultura cibernética seria então um local onde as pessoas experiênciam uma nova realidade espaço-tempo. Lévy (1996) utiliza a mesma analogia da “rede” para indicar a formação de uma “inteligência coletiva”. Mesmo que as linhas de análise dos autores abordados sigam caminhos diferentes, sendo a linha de pensamento de Castells com fundamentos marxistas da sociedade capitalista e a de Lévy fundados em pensamentos antropológicos é importante registrar que seus pensamentos e teorias concorrem para o mesmo rumo quando tratam das questões relacionadas a identidades. Castells argumenta afirmando que, No entanto, a identidade está se tornando a principal e, às vezes, únicas fontes de significado em um período histórico caracterizado pela ampla desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais efêmeras. Cada vez mais, as pessoas organizam seus significados não em torno do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são. Enquanto isso, as redes globais de intercâmbios instrumentais conectam e desconectam indivíduos, grupos, regiões e ate paises, de acordo com sua pertinência na realização dos objetivos processados na rede, em fluxo contínuo de decisões estratégicas. Segue-se uma divisão fundamental entre o instrumentalismo universal abstrato e as identidades particularistas historicamente enraizadas. Nossas sociedades estão cada vez mais estruturadas em uma oposição bipolar entre Rede e Ser. (CASTELLS, 1999, p.41). O autor entende que a rede não é imitação de outras formas de vida, a rede tem sua própria dinâmica e a cibercultura ultrapassa com facilidade os 30 limites geográficos, políticos e sociais existentes fora dela. Conseguindo combinar a rápida disseminação da comunicação de massa com penetração da comunicação pessoal. Ademais, não existe no isolamento de outras formas de sociabilidade. Reforçam a tendência de “privatização da sociabilidade” – isto é, a reconstrução das redes sociais ao redor do individuo, o desenvolvimento de comunidades pessoais, tanto fisicamente quanto on-line. Os vínculos cibernéticos oferecem a oportunidade de vinculo sociais para pessoas que, caso contrario, viveriam sociais mais limitadas, pois seus vínculos estão cada vez mais espacialmente dispersos. (CASTELLS, 1999, p.446). Para Lévy o computador e a WEB nos auxiliam a simular com mais eficiência e riqueza de detalhes devido o estímulo audiovisual, Os saberes encontram-se a partir de agora, codificados em bases de dados acessíveis on-line, em mapas alimentados em tempo real pelos fenômenos do mundo e em simulações interativas. A eficiência, a fecundidade heurística, a potência da mutação e de bifurcação, a pertinência temporal e contextual dos modelos suplantam os antigos critérios de objetividade e de universalidade abstrata. Mas reencontramos uma forma de universalidade mais concreta com as capacidades de conexão, o respeito a padrões ou formatos, a compatibilidade ou interoperabilidade. (LÉVY, 1999, p.166). Lévy também acrescenta que é importante ressaltar a existência de certo “caotecismo” característico na rede levando em consideração o saber “destotalizado” que flutua na WEB, de onde resulta um violento sentimento de desorientação (LÉVY, 1999). É neste momento que se percebe a intersecção dos pensamentos de Castells e Lévy, que demonstram preocupação com o nível de aprendizagem pela WEB. Segundo Castells a esterilidade de tal debate, foi prejudicada em três instâncias: precedeu de muito à difusão generalizada da Internet, desdobrou-se na ausência de um corpo substancial de pesquisa empírica confiável e, em terceiro, foi construído em torno de questões bastante simplistas e, em última análise, enganosas como a oposição ideológica entre a comunidade local harmoniosa de um passado idealizado e a existência alienada do “cidadão da internet” solitário. 31 Castells faz uma diferenciação entre “informação” e “informacionalismo”, sendo para ele a questão da informação um elemento inerente a todas as sociedades em qualquer modo de produção vivenciada, ou seja, a informação sempre exerceu um papel importante na composição sócio-econômica. Entretanto, na sociedade em rede8, a informação passa a ser uma força produtiva direta dentro do processo capitalista, o que para o autor caracteriza o informacionalismo. A WEB permite uma conexão mundial dos computadores possibilitanto, assim, a pluralidade e a participação efetiva dos usuários desta rede em construções de diversas tarefas e até mesmo aprendizagem, mesmo que de certa forma neste meio também exista a reprodução de padrões já existentes. A ressignificação que ocorre em tempo real, das constantes experiências das mudanças de identidades e quebras de fronteiras juntamente com as incertezas que são superadas com os resultados das experiências permite a construção de conhecimento muitas vezes profundo. Contudo o sujeito ainda é o principal articulador dos conteúdos disponíveis e também é a partir deste sujeito que se organizam os devidos locais para eles. Esta participação ativa é chamada por Castells de interatividade, O Termo “interatividade” em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informações a menos que esteja morto nunca é passivo. Mesmo sentado na frente de uma televisão sem controle remoto, o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho. Além disso, como os satélites e o cabo dão acesso a centenas de canais diferentes, conectados a um videocassete permite a criação de uma videoteca e define um dispositivo televisual evidentemente mais “interativo” que aquele da emissora única sem videocassete. A possibilidade de reapropriação e de recombinação material da mensagem por seu receptor é um parâmetro fundamental para avaliar o grau de interatividade do produto. Encontramos esse parâmetro também em outras mídias: podemos acrescentar o links a um hiperdocumento? Podemos conectar esse hiperdocumento a outro? No caso da televisão, a digitalização poderia aumentar ainda mais as possibilidades de reapropriação e personalização da mensagem ao permitir; por exemplo, uma descentralização da emissora do lado do receptor; escolha da câmera que filma um evento, possibilidade de ampliar imagem, alternância 8 Para Lévy é cibercultura e para Castells, Sociedade em rede. 32 personalizada entre imagem e comentários, seleção dos comentaristas etc. (CASTELLS, 1999, p. 79). Para Castells, na metade da década de 1990, surge um sistema de comunicação eletrônica a partir da fusão da mídia de massa personalizada globalizada mediada por computadores. O sistema era caracterizado pela integração de diferentes veículos de comunicação e seu potencial interativo. Conhecido posteriormente como multimídia, e já em 1994, o Brasil estaria organizando-se para fazer parte desta supervia global emergente, seguindo exemplo de outras grandes nações (CASTELLS, 1999, p. 450). 1.2 Educação à Distancia. Inúmeras são as possibilidades de buscar conhecimento na internet; as principais vias já atingiram a educação formal e se expressam pela modalidade de ensino a distancia (EaD). Segundo Silva (2009B) Atualmente constata-se a existência de uma enorme quantidade de cursos, oferecidos na modalidade on-line, com diferentes modelos e variados níveis de interatividade. Observa-se com muita frequência que, mesmo na comunidade acadêmica, um número expressivo de pessoas tende a associar a Educação a Distância (EAD) como sendo aquela educação que é disponibilizada por meio da rede mundial de computadores. (SILVA,. 2009B, p. 239). No entanto, esta modalidade EaD percorreu um longo caminho, tendo sido considerada por muito tempo uma modalidade inferior de educação, até conseguir conquistar hoje maior aceitação no cenário educacional. Provavelmente, por ser uma modalidade de ensino que no Brasil passou a existir há pouco tempo, tem sido vista como um instrumento de formação educacional duvidoso. Segundo Silva (2009B) estamos vivendo a terceira9 geração de EaD, que se baseia na aplicação das TIC, integrando Internet, computador, televisão, rádio, salas virtuais, sistemas de áudio e vídeo 9 A primeira geração de EaD, chamada de ensino por correspondência começou a ser oferecida a partir da penúltima década do século XIX e, utiliza material impresso enviado ao aluno via correio. A segunda iniciou por volta de 1920 e caracteriza-se pelo uso de textos e de meios audiovisuais como o rádio e, posteriormente, a televisão e o vídeo. Ainda nessa geração, verifica-se a introdução da informática, com o uso de programas desenvolvidos segundo a abordagem de instrução programada, em que o computador tinha a função de ‘máquina de ensinar. 33 conferência. Nessa geração surgem modelos de EaD interativos com possibilidade de comunicação síncrona e assíncrona. (SILVA. 2009B, p. 240). Atualmente fala-se também em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que trazem ferramentas computacionais capazes de atender às mais variadas necessidades de comunicação, informação, armazenamento e interação (SILVA, 2009B). Porém, ainda é perceptível que estas ferramentas são verdadeiros labirintos, que muitos não se atrevem conhecer. Por outro lado, a simples presença de tecnologias de ponta não garante que os AVA sejam realmente interativos (SILVA, 2009B, p. 246). Para Silva (2009) A tecnologia impera e passa a ditar os princípios dos setores e dos valores formativos das sociedades. A política, a religião, a economia encontram-se correlacionadas sobre a influência das ondas da revolução em curso. (SILVA. 2009B, p.93). É importante ressaltar que a busca por um bom conteúdo na internet é independe de se participar ou freqüentar uma instituição de ensino. Até por que para Silva (2009B), a educação não teria como fugir da influência tecnológica, mas devido a um não acompanhamento das instituições, o uso das TIC em sala de aula em cursos presenciais não é real, demanda investimentos que nem sempre as instituições fazem. De alguma forma as pessoas percebem este descompasso e passaram a fazer, em todas as rodas e setores, continuas referencias mais ou menos diretas, à necessidade de atualizála aos tempos vigentes. Atualizar, renovar e inovar são termos que ouvimos e que frequentemente, aparecem nos textos e documentos educacionais. (SILVA, 2009, p. 95). Os sistemas educativos encontram-se esgotados diante desta busca pela informação e conhecimento. Percebe-se também que nos dias atuais a sociedade impulsiona ainda mais esta busca, quando o mercado de trabalho, por exemplo, passa a exigir formação tecnológica das pessoas que pleiteiam novas vagas dos serviços. Outra situação que se observa é que os estudantes cada vez mais, exigem cursos que correspondam às suas necessidades profissionais e de vida, rejeitando os que se apresentam curricularmente inflexíveis. (SILVA. 2009B, p.96) 34 1.3 EaD em Música. Neste sentido muitos iniciantes em música buscam na internet um “ambiente” propício para aprender esta arte, já que os modelos da internet estimulam a autoavaliação e a percepção. Como afirma Gohn, o caminho da auto-aprendizagem em música na rede impulsiona a maioria dos internautas que buscam este conhecimento. Percebo enormes possibilidades nos processos de autoaprendizagem da música. As novas mediações tecnológicas podem atuar como “professor” incansável para os aprendizes, dando oportunidade de progresso àqueles que não tem um tutor para corrigir seus erros. Os processos de aprendizagem musical frequentemente dependem da repetição continua de exercícios, e a tecnologia pode servir como “espelho” necessário para que correções sejam feitas. (GOHN. 2003 p.17) Gonh considera a busca pela informação específica na internet como educação não-formal onde o aprendiz, a partir da experiência prática tem uma intencionalidade na ação, o que significa querer, decidir e aprender. De acordo com as palavras de Gohn, Por muito tempo o ensino de música mostrou-se insensível ao emprego de novas tecnologias como ferramentas auxiliares na prática didática. Só muito recentemente o uso de programas de computador, vídeo-aulas, além dos recursos disponíveis na internet, começaram a ser explorados, especialmente no ensino da música popular. Vídeos, CD-ROMs e hipertexto aliam uma ação mais interativa do aluno com o material didático a uma apresentação de informação que ocorre de modo mais estimulante do que se pode observar nos tradicionais métodos de instrumentos e livros de teoria musical. (GOHN., 2003, p.10) Percebe-se, então, que os aprendizes que utilizam esse espaço em busca de aprendizagem têm sido favorecidos pelo caráter mais dinâmico do que as aulas que, geralmente, são características das escolas específicas de música. O YT tem sido uma das ferramentas que os jovens tem investigado com o intuito de adquirir aprendizado em instrumentos musicais e por conta do caráter informal do processo educativo proporcionado, encontram formas diversas de aprendizado. 35 2. O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM 2.1 Características do YouTube O surgimento da internet para a sociedade mundial em 1996, data que Castells afirma ser a data em que foi apresentada para toda a população mundial, trouxe novas possibilidades de socialização e mudanças profundas na sociedade o que reflete nas várias atividades, incluindo a educacional. É nesse ambiente que surgiu, em 2005, o site YouTube (YT), que, segundo Mota e Pedrinho, é o maior aglutinador de mídias de massa da internet no inicio do século 21 (MOTA e PEDRINHO apud BURGESS e GREEN, 2009, p.9). Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, exfuncionarios do site de comercio on-line PayPal, o site Youtube foi lançado oficialmente sem muito alarde em junho de 2005. A inovação original era de ordem tecnológica (mas não exclusiva): o Youtube era um entre os vários serviços concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para maior compartilhamento de vídeos na internet. Esse site disponibilizava uma interface bastante simples e integrada, dentro da qual o usuário podia fazer o upload, publicar e assistir vídeos em streaming sem necessidade de altos níveis de conhecimentos técnicos e dentro das restrições tecnológicas dos programas de navegação padrão e da relativamente modesta largura de banda. O Youtube não estabeleceu limites para o numero de vídeos que cada usuário poderia colocar on-line via upload, ofereceu funções básicas de comunidade, tais como a possibilidade de se conectar a outros usuários como amigos, e gerava URLS e códigos HTML que permitiam que os vídeos pudessem ser facilmente incorporados em outros sites, um diferencial que se aproveitam da recente introdução de tecnologias de blogging acessíveis ao grande público. Exceto pelo limite de duração dos vídeos que podiam ser transferidos para o servidor, o que o Youtube oferecia era similar a outras iniciativas de vídeos on-line da época. (BURGESS e GREEN, 2009, p.17 - 18). O YT, assim como quase todo o ciberespaço, informa além de proporcionar entretenimento. Com ele foi instaurada uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade, pois qualquer indivíduo pode emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos para qualquer lugar do 36 planeta e alterar, adicionar e colaborar com pedaços de informação criados por outros e assim construir conhecimentos e apreender novas habilidades. YT é um site de troca de vídeos que teve início em uma garagem de San Francisco (Califórnia, EUA), em fevereiro de 2005. Quando Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim perceberam o inconveniente de compartilhar arquivos de vídeo pela Internet iniciaram a criação de um programa de computador para dividir vídeos com os amigos, que hoje é conhecido mundialmente e que exibe cerca de 100 milhões de arquivos por dia e mais de 65 mil upload de novos vídeos. Líder no setor de vídeos on-line e o principal destino dos internautas para assistir e compartilhar vídeos com todo o mundo pela web, no Brasil, o YT é muito visitado. Atualmente os brasileiros ocupam segundo lugar entre os países que mais acessam o YT. Segundo a empresa Hitwise, que monitora o tráfego de vídeos na Internet, o YT tem 46% de participação de mercado dos vídeos on-line, contra 23% do MySpace10 e 10% do Google Vídeo11. Este site possibilita que os usuários enviem e compartilhem clipes de vídeo com facilidade e oferece condições de enviarem convites a amigos assim como deixar links que conduzam ao site, compartilhando seus vídeos em toda a internet. Figura 1: Os Criadores do YouTube: Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim 10 MySpace é um serviço de rede social que utiliza a internet para comunicação online através de uma rede interativa de fotos, blogs e perfis de usuário. Foi criada em 2003. Inclui um sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. A crescente popularidade do site e sua habilidade de hospedar vídeos e MP3 faz que muitos usuários utilizem de suas páginas de perfil como o seu site oficial. 11 O Google vídeo é uma página WEB de vídeos que permite encontrar quaisquer vídeos alojados, não somente no Google Vídeo, mas também no YouTube e outros websites de vídeos. 37 Alguns dos recursos do YT divulgados em seu site são: • A incorporação de vídeos, que permite a inserção de um vídeo do YT em contas do MySpace, Orkut, blogs ou outros sites em que qualquer pessoa pode assisti-lo. • O usuário é quem escolhe se seu vídeo será público ou privado e se deseja enviar e divulgar seus vídeos publicamente ou compartilhá-los apenas com os amigos e familiares em suas comunidades ou em contas do Orkut por exemplo. • O Site disponibiliza instantaneamente uma lista com os novos vídeos destacando os mais acessados e também vídeos com os links de seus patrocinadores. • As avaliações dos vídeos ou comentários podem ser postados imediatamente em formato de texto ou em vídeos. • Alguns clientes são selecionados para auxiliarem no desenvolvimento do site o que é chamado de TestTube: trata-se de um espaço do site em que os engenheiros e desenvolvedores do YT realizam testes chamados de “teste alfa” para novos recursos em desenvolvimento. O site incentiva a participação dos usuários no processo de desenvolvimento e na avaliação desses recursos.12 Atualmente, o site disponibiliza também contas para usuários que querem montar pequenas comunidades. Estando dentro do site podem enviar, compartilhar, comentar, avaliar e promover produtos gratuitamente aos usuários comuns.13 O YT é um espaço de saberes. Torna-se necessário neste momento discutirmos a aprendizagem de música através desta ferramenta virtual, sendo que este site é considerado o maior aglutinador de mídias de massa da internet no início do século XXI (BURGESS e GREEN, 2009, p. 9). O advento da internet permite que pessoas simples tornem-se sujeitos de maior importância no ciberespaço pois são anônimos que utilizam o YT para diversos fins, até mesmo para promoção de empresas, promoção pessoal, 12 Disponível em http://br.youtube.com/t/about consultado em 04/07/2010 Atualmente o YT pertence a Google que disponibiliza espaço no site para clientes e empresas que querem divulgar seus serviços e produtos gerando assim verdadeiras fortunas aos proprietários desta empresa. 13 38 eventos, ou simplesmente mostra de vídeos que são tidos como interessantes pelos que fazem a postagem. Normalmente são vídeos de curta duração, na média de nove minutos, tal como nos vídeos que serão analisados no capítulo seguinte. O que nos chama a atenção nestes vídeos é a forma de condensar o assunto proposto em um pequeno espaço de tempo e a quantidade de pessoas que se unem através das escolhas dos mesmos vídeos para serem observados. Lévy (1999) e Lemos (2004) acreditam que a internet é um espaço de realiance, uma ligação de pessoas de diferentes grupos sociais e diferentes graus de conhecimento, que podem interagir em qualquer lugar com qualquer pessoa ou comunidade no ciberespaço ao mesmo tempo. Já Gasset explica que De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade. Antes, se existia, passava despercebida, ocupava o fundo o cenário social; agora antecipou-se às baterias, tornou-se o personagem principal. Já não há protagonista: só há coro. (GASSET 2002, p. 37). Hoje ao se falar em “usos dos meios”, refere-se não mais à recepção do conteúdo dos meios de comunicação de massa pela massa, mas aos novos meios de comunicação mais acessados por faixas distintas da população e também ao acesso a tecnologias digitais. Para o melhor entendimento podemos ser auxiliados pela definição de massa e minoria, minuciosamente demonstrado por Gasset (2002). O conceito de multidão é quantitativo e visual. Se o traduzirmos para a terminologia sociológica, sem alterá-lo, encontraremos a idéia de massa social. A sociedade é sempre uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados. A massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. Portanto não se deve entender por massa, nem apenas, nem principalmente "as massas operárias". Massa é o "homem médio". Desse modo converte-se o que era apenas quantidade - a multidão – em uma determinação qualitativa; é a qualidade - comum, é o monstrengo social, é o homem enquanto não diferenciado dos outros homens, mas que representa um tipo genérico. Mas onde chegamos com essa conversão de quantidade em qualidade? Muito simples: por meio desta compreendemos a gêneses daquela. É evidente, até óbvio demais, que a formação normal de uma multidão implica a coincidência de desejos, de idéias de modo de ser dos indivíduos que a integram. Pode-se objetar que isso é o 39 que acontece com qualquer grupo social, por mais seleto que pretenda ser. De fato; mas há uma diferença essencial. (GASSET, 2002, p.37 e 38). Gasset chama de classe de homens, o que permite entender a massa social como um aglomeramento de grupos sem distinção social; massa e minoria diferem-se do que conhecemos como classes sociais, que são encontradas fora do ciberespaço. A internet, segundo Gasset, mostra que existe um movimento que retira a massa dos subalternos e “eleva” este grupo a certa “promoção” no ciberespaço porque neste não existem as diferenças sociais; uma minoria da massa ocupa os lugares que poderiam fazer mudanças sociais e a maioria usufrue dos prazeres que antes apenas uma outra minoria gozava. Nos vídeos disponibilizados no YT, massa e minoria se encontram sem estas diferenças, o que faz muitos autores entenderem que o ciberespaço é um vetor de agregação social ou um veiculo de “realiance”. O ciberespaço é, em conseqüência, uma casa da imaginação, o lugar onde se encontram racionalidade tecnológica, vitalismo social e pensamento mágico... e uma fronteira entre o industrialismo para o pós-industrial. Ele é também (como espelho de Alice) um espaço de passagem do individuo austero ao individuo religado (do individualismo ao tribalismo) participante do fluxo de informação do mundo contemporâneo. (LEMOS, 2004, p. 129). O ciberespaço deve ser compreendido como um rito de passagem da era industrial à pós-industrial, da modernidade dos átomos à pós-modernidade dos bits. (LEMOS, 2004 p. 132). Lemos entende o ciberespaço em duas perspectivas: Como ambiente simulado e como o conjunto de rede de computadores interligados ou não, que permitem a interação por mundos virtuais e que não se desvincula do real. É um complexificador que aumenta a realidade num ambiente fechado, chamado pelo autor de realidade aumentada, ou um espaço sem dimensões, um “não” lugar, um vetor de agregação social. A massa faz sucumbir tudo que é diferente, egrégio, individual, qualificado e especial. Quem não for como todo mundo correrá o risco de ser eliminado. E é claro que este "todo mundo" não é "todo mundo". "Todo mundo" era, normalmente, a unidade complexa de massa e minoria discrepantes, especiais. Agora todo mundo é apenas a massa. (GASSET, 2002, p 41). 40 Para Gasset, as diferenças são diminuídas com o advento da massa, o que nos leva a entender que o ciberespaço seria o local com um teor de igualdade onde qualquer indivíduo pode participar, visitar, cooperar, associar, colaborar, falar e ser ouvido, e aprender; o YT é um local ideal dentro do ciberespaço para esta ultima atividade. A participação das diversas comunidades, a facilidade de postar vídeos, o número elevado de visitantes diários em todo o mundo faz que o YT seja procurado por diferentes pessoas e com diferentes aptidões, que aproveitam para estudar, aprender e ensinar. Percebo que o movimento em que a massa ocupa lugares novos dentro e fora do ciberespaço, reorganiza os sistemas, que Gasset (2002) chama de rebelião, e as divisões anteriores existentes na sociedade e todo o processo atual gerado a partir dos atuais meios de comunicação provocam mudanças nas formas de ensino e de aprendizagem, promovendo a partir destes processos, novos saberes. No espaço virtual, o conhecimento e a informação estão em vários lugares e sob diferentes formas. O YT tornou-se um importante espaço onde se integram diferentes ferramentas que aguçam os mais diferentes "paladares", à procura da informação, havendo informações escritas, em vídeos, alguns com requintes e detalhes, por vezes bem minuciosas, e áudio, o que no meu entendimento necessita ainda de melhora de qualidade. Figura 2: exemplo de página do YouTube onde se encontram várias possibilidades de vídeo sobre o mesmo tema 41 Diariamente milhares de pessoas fazem visitas virtuais a inúmeros sites e o YT encabeça a lista de um dos sites mais visitados em todo o mundo. Uma grande maioria dos vídeos disponibilizados neste site está relacionado direta ou indiretamente com música, inúmeras pessoas buscam neste espaço democrático a possibilidade de aprender música, pesquisam, observam, ouvem e vêem. Entusiasmam-se e talvez até se decepcionem com os vídeos, mas não podemos negar que um número significativo de pessoas fazem do YT um local de aprendizagem em música. 2.2 Classificação de vídeos. Ferrés (1996) e Moran (1998) não apontaram exclusivamente situações voltadas para os vídeos do YT, mas desenvolveram alguns conceitos que servem para situar o usuário da tecnologia do vídeo. Segundo esses autores, existem várias maneiras de utilização do meio em questão e, guardadas as pequenas diferenças entre o que concebe um e outro autor, podem ser definidas por uma tipologia específica, sendo mais semelhantes do que distintas. Dividiram nas seguintes nomenclaturas : Videolição: segundo Ferrés (1996), nessa modalidade, o vídeo é utilizado como uma ferramenta de aula expositiva, na qual, a tecnologia substitui o professor; Videoapoio: o sentido reside na utilização de imagens veiculadas pelo vídeo para reforçar o discurso do professor ou dos alunos. Uma característica dessa modalidade é a utilização das imagens sem som. A esta forma de uso, Moran (1998) denomina vídeo como ilustração. Para o autor, a utilização desse recurso auxilia o professor e o aluno, ilustrando o que se fala; Programa motivador: essa modalidade, de acordo com Ferres (1996), proporciona a motivação inicial sobre um tema ou assunto com fins objetivados. Em geral, trabalha-se com vídeos acabados. Moran (1998) desenvolve um conceito semelhante, no qual o vídeo é utilizado como recurso de sensibilização, motivando, introduzindo e despertando curiosidade para novos temas ou assuntos; Videoprocesso: a também denominado vídeo como produção por Moran (1998). Ambos os conceitos propõem que o aluno se sinta responsável pelo processo de produção, 42 fazendo com que o vídeo se converta em um incentivo à criatividade, como ocorre com o pincel e o abrangeria, segundo, Moran lápis (FERRÉS, 1996). (1998), o Essa modalidade vídeo como documentação, intervenção ou ainda como expressão. Inclui-se no conceito de videoprocesso, a modalidade de vídeo como avaliação e, dentro desta, o vídeo espelho; Programa monoconceitual: a utilização do vídeo gira em torno de um tema específico, ou seja, uma forma intermediária entre o programa motivador e o videoapoio (FERRÉS, 1996). O conceito de Moran (1998) que mais se aproxima desta modalidade é o denominado vídeo como conteúdo de ensino. E por fim, Vídeo interativo: é o vídeo associado à outra mídia, como informática interativa, por exemplo. Esse conceito é semelhante ao que Moran (1998) denomina vídeo como integração e suporte, cuja interação se daria com mídias de computador, videodisco, CD-ROM etc. O site YT exige dos usuários que fazem um upload, isto é, que adicionam um vídeo para ser disponibilizado no site, uma categorização de seus vídeos no momento da publicação. O site também disponibiliza além das várias ferramentas para o usuário, explicações que facilitam, o já conhecido passo-a-passo para realizar esta tarefa. O YT recebe vídeos numa plataforma multiformato, vídeos de até 2 gigabytes de espaço e que durem até 15 minutos, e atualmente conta com a ferramenta que disponibiliza o vídeo em alta definição (HD). Com a popularidade do YT verifica-se que existe uma facilidade maior atualmente para fazer adições de vídeos na rede, um exemplo claro disso e que hoje pode ser feito um upload de vídeo direto do celular sem a necessidade de um computador, ou seja, do celular se conecta direto para o YT. Segundo o site, simplesmente, deve-se conectar ao navegador do celular direcionar para o site www.youtube.com e enviar por e-mail do próprio celular para o endereço [email protected]. O usuário que conecta à internet pelo celular também pode assistir ao vídeos do YT pelo próprio aparelho. Em vários momentos, o site alerta que não deve ser enviado nenhum programa de televisão, videoclipes, shows musicais ou comerciais sem permissão, a não ser que o conteúdo seja totalmente da autoria de quem esta 43 postando. Também fornece uma página com informações sobre direitos autorais além das diretrizes da comunidade, onde o usuário pode ler e consultar se o vídeo que pretende postar infringe ou não os direitos autorais de alguém. Mesmo assim, ao clicar no campo que é para enviar o vídeo o autor do upload deve acionar o campo que declara não estar violando os termos de uso do YT e que possui todos os direitos autorais do vídeo e que tem a autorização para enviá-lo O site YT disponibiliza um vídeo explicativo para auxiliar o usuário a enviar o vídeo. Assim que realizar o upload o autor poderá compartilhar automaticamente o feed14 das suas atividades (seus envios, favoritos, avaliações etc.) em seu perfil de outros sites como por exemplo: Facebook, Twitter, Reader, Orkut e MySpace. Os vídeos postados devem ter uma categoria escolhida, que facilita a pesquisa de outros usuários. Não há uma explicação do site para cada categoria e são disponibilizadas as seguintes: Animais, Ciência e Tecnologia, Educação, Entretenimento, Esportes, Filmes e Desenhos, Humor, Instruções e Estilos, Música, Noticia e Política, Pessoas e Blogs, Veículos, Viagens e Eventos. É necessário também escolher uma palavras-chave para orientar a busca do sistema de pesquisa que fica disponível tanto nas ferramentas do Google como em toda a internet; seria uma forma de endereçar onde estão os vídeos específicos A escolha de palavras-chaves ou tags não é definida pelos desenvolvedores do site, portanto depende exclusivamente do bom senso dos usuários. Na hora de escolher as palavras que serão referencias para a localização do vídeos alguns usuários costumam acrescentar palavras sem relação com seus conteúdos, com o objetivo de atrair mais visualizações tornando mais complicado a busca e a seleção do material. Da mesma forma a descrição dos vídeos que em alguns casos não especifica verdadeiramente o seu conteúdo. Essas praticas são comuns em redes sociais, usuários estão sempre em busca de visibilidade e buscam os mais variados recursos para consegui-la. O caos ou a astúcia dos usuários no uso dos sistemas é tratado por André Lemos como uma ruptura dos paradigmas da modernidade, ocorrendo o que ele chama de apropriação tecnológica. (SERRANO e PAIVA. p. 6 2008) 14 Um formato de dados usado em formas de comunicação com conteúdo atualizado frequentemente, como sites de notícias ou blogs, o termo Feed vem do verbo em inglês “alimentar”. Recurso do site YT que, aliado a um software específico, permite alertar os visitantes quando há conteúdo novo. Também conhecido como feed RSS. 44 Para Serrano e Paiva essa divisão foi oferecida ao público de acordo com a semelhança das propriedades dos vídeos. Elas são mutuamente exclusivas, ou seja, determinado vídeo deve pertencer a apenas uma das categorias propostas. Porém, pode-se encontrar vídeos que diferem das categorias em que foram ordenadas, um exemplo claro é que os vídeos que contem aulas de música não são colocadas na categoria de “instrução” e algumas vezes nem mesmo em “música”, para ampliar o numero de visualizações o autor pode escolher uma categoria “mais atraente” tal como humor ou pessoas e blogs. Mas a possibilidade de vincular o link dos vídeos em outros sites como Orkut facilita a busca ou a divulgação do material postado. Por considerar pouco eficiente estas alternativas de classificação Serrano e Paiva (2008) defendem que existem apenas três categorias de vídeos desenvolvidos especificamente para o YT, são elas: 1 Pessoais: Videoblogs, acidentes, auto-promoção e opiniões. 2 Independentes: Paródias, videoclipes, políticos e animações. 3 Publicidade: Marketing Viral. A utilização da busca de acordo com o número de visualizações, de votos, de avaliações, de comentários e de respostas, o interesse coletivo pode simplesmente não refletir como algo que convém a todos os visitantes, já que a diversidade e a quantidade de vídeos é enorme. (SERRANO e PAIVA. p. 7 2008) Porém além destas três categorias de vídeos de desenvolvidas especificamente para o YT existem outras seis categorias que Serrano e Paiva (p.10, 2008) chamam de vídeos adaptados de outras mídias para inserção no YT. 1 Televisão: Seriados, novelas, propagandas, programas transmissões esportivas. 2 Cinema: Documentários, trailers, animações filmes de curtametragem. 3 Teatro: Apresentações performances. 4 Música: Shows, videoclipes. de dança, esquetes humorísticas, 45 5 Games: Demonstrações, tutoriais. 6 Artes plásticas: Slideshow de pinturas e esculturas. 46 3. A PESQUISA NO CAMPUS DO IFMTCas Para alcançar o objetivo desta pesquisa, fiz a escolha pela pesquisa qualitativa que, conforme Chizzotti (2003), “implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2003. p 221). Assim, a pesquisa é também descritiva e exploratória guardando características etnográficas, pois suas técnicas devem contemplar a elucidação da problemática desta pesquisa. Trata-se de um tipo de investigação que valoriza o ecletismo, que segundo Cardoso (1985) ajuda a atender algumas questões mais ligadas à contemporaneidade, em que as escolhas de vários caminhos metodológicos favorecem a análise do objeto dando-lhe suporte que não seria possível com o perfil cartesiano disciplinar. Gil (2006) considera que a pesquisa descritiva tem como objetivo principal o aprimoramento de idéias e procura proporcionar maior familiaridade com o problema envolvendo três processos para a construção da pesquisa: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos. O autor afirma que, A pesquisa descritiva usa padrões textuais como, por exemplo, questionários, para identificação do conhecimento e tem por finalidade observar, registrar e analisar os fenômenos. Na pesquisa descritiva não há interferência do investigador, que apenas procura perceber, com o necessário cuidado, a freqüência com que o fenômeno acontece como a descrição de um processo numa organização. (GIL, 2006, p.57). A pesquisa exploratória foi necessária, tendo em vista a aproximação maior com as características do objeto de pesquisa, por ser amplo e variado e pelo fato do YT pertencer ao campo virtual. Por haver a necessidade de um recorte mais específico para abordar o YT como ferramenta para o aprendizado, procurei recorrer a visão de Révillion (2003) que afirma que “a pesquisa exploratória procura conhecer as características de um fenômeno para procurar explicações das causas e conseqüências de dito fenômeno” 47 (RÉVILLION, 2003, p. 22). A autora ainda cita Mattar (1994) que considera que a pesquisa exploratória provê o pesquisador de um conhecimento mais aprofundado do objeto de pesquisa em perspectiva, é apropriada para os primeiros estágios da investigação. Conforme foi descrito, de caráter qualitativo, esta pesquisa buscou conhecer como o site YT auxilia a aprendizagem musical de jovens estudantes, e amplia a sua cultura tendo em vista a apreciação de peças diversificadas e análises de vídeos de autores diferentes ensinando algo ou fazendo performance musical em show ao vivo. A pesquisa foi realizada com um grupo de cinco alunos, selecionados a partir dos seguintes critérios: não ter participado em data anterior à pesquisa, de cursos de música; tocar violão ou viola caipira; ter utilizado a internet no processo de aprendizagem; ser aluno do IFMTcas e, por fim, aceitar participar desta pesquisa autorizando gravações em formato de áudio e vídeo. A pesquisa tem caráter etnográfico, pois na vivência cotidiana com os alunos, compartilhei as experiências que registrei para posterior análise. O convívio diário com os participantes da pesquisa forneceu informações fundamentais para considerar as subjetividades e especificidades do contexto, isto em conformidade com os pressupostos de Geertz que defende a pesquisa antropológica e explica que ela deve ser considerada como uma ciência interpretativa. Para Mattos (2001) a etnografia é um processo guiado preponderantemente pelo senso questionador do etnógrafo, favorecendo esta pesquisa pois a utilização de técnicas e procedimentos etnográficos, não segue padrões rígidos ou pré-determinados, mas sim, o senso que o etnógrafo desenvolve a partir do trabalho de campo no contexto social da pesquisa. Estas técnicas, muitas vezes, têm que ser formuladas ou criadas para atenderem à realidade do trabalho de campo. (MATTOS 2001) As ferramentas desta metodologia entende o “objeto” de pesquisa como “sujeito” tornando imprescindível analisar as contradições sociais. Mattos (2001) entende que na pesquisa etnográfica “a cultura não é vista como um mero reflexo de forças estruturais da sociedade”, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais e a ação humana 48 introduzindo os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica no processo modificador destas estruturas. Etnografia é também conhecida como: observação participante,. Compreende o estudo, pela observação direta e por um período de tempo, das formas costumeiras de viver de um grupo particular de pessoas: um grupo de pessoas associadas de alguma maneira, uma unidade social representativa para estudo, seja ela formada por poucos ou muitos elementos. (MATTOS 2001) 3.1 Características do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. No final do ano de 2009, tive a oportunidade de conhecer o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso uma nova instituição de ensino, que conta atualmente com onze campi distribuídos pelo Estado de Mato Grosso. A unidade que despertou o interesse foi o Campus Cáceres, situada na cidade de Cáceres, uma importante cidade para o turismo e pesca esportiva, a 220 km da capital de Mato Grosso. Atualmente a instituição conta com mais de 1200 alunos distribuídos entre ensino médio e integrado, cursos de tecnólogos em agroindústria, agropecuária e também graduações. O público que frequenta esta escola vem de diferentes cidades de todo o estado, tornando-a um verdadeiro laboratório de pesquisa em que encontramos diferentes culturas de diferentes regiões sendo representadas pelos alunos. O IFMTcas é oriundo da fusão, no ano de 2008, pela Lei 11982, de 29 de dezembro, que uniu três importantes instituições federais de educação, o Centro Federal de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso que era conhecido como CEFET Cuiabá, o Centro Federal de Ciência e Tecnologia de Cuiabá que era conhecido como CEFET São Vicente e a Escola Agrotécnica Federal de Cáceres. Em Cáceres, a instituição forma profissionais para todo o Estado (esse é maiúsculo) há mais de 30 anos, se tornando um importante órgão de ensino para pessoas que encontram cursos relacionados ao campo e agropecuária, 49 entre outros. Este percurso histórico permite que hoje a escola seja referência em todo o estado atraindo assim, alunos dos mais diferentes e distantes municípios. Os alunos se inscrevem no IFMTcas e podem escolher, além das diferentes formações que são disponibilizadas, o regime de estudos. No regime de residentes, os alunos permanecem integralmente na instituição, no regime de não residentes os alunos apenas estudam no Instituto, num período, e no de semi-residentes os alunos estudam os dois períodos e usufruem de parte da estrutura como centro de convivência e laboratórios. Quanto à estrutura, o instituto conta com alojamentos masculinos e femininos devidamente equipados, restaurantes, ambulatório farmacêutico e odontológico, quadras esportivas, alem dos diversos laboratórios incluindo o de informática. É oferecido também transporte escolar, pois a escola esta situada a 10 km do centro de Cáceres. 3.2 Os sujeitos da pesquisa Foi estabelecido também como critério, realizar a pesquisa apenas com alunos no regime residente, visto que se teria mais tempo para a convivência com eles. Porém, este critério foi abandonado tendo como um dos motivos, as obrigações que este grupo de alunos desempenhava, ao que tudo indica, por serem solicitados pela instituição de forma a ocupar sobremaneira o tempo livre, não havendo disponibilidade para o trabalho com música. Outro motivo foi o fato destes alunos evitarem se envolver em projetos que acontecessem nos períodos extra-classe. Desta forma, os alunos que participaram da pesquisa foram integrantes de outros regimes de estudo. Com as aulas de violão, oferecidas a partir do primeiro semestre, para a comunidade do IFMTCas, enquanto professor ministrante, deparei-me com uma sala cheia de interessados. Entre os alunos que compareceram, inicialmente, oito eram residentes, dez semi-residentes e doze eram alunos não residentes. Nas primeiras aulas quando foram propostos os conteúdos, bem como o repertório que seria trabalhado no primeiro semestre, percebi que pelo menos 20% destes alunos desinteressaram pelo curso. Portanto, procurei 50 saber o motivo da desistência destes alunos e indentifiquei como principal o fato de minhas aulas apresentarem músicas fora da expectativa dos interessados. Ainda antes do início desta pesquisa, percebi que a renúncia estava relacionada diretamente com o estilo musical proposto por mim, enquanto professor, que fiz um planejamento baseado em estudos de violão de Carulli, Aguado, Tarrega, Sor, entre outros, sendo mantido até o final deste curso, e também em músicas de compositores nacionais, privilegiando a música instrumental. Percebi, imediatamente, que o outro motivo que levou alguns estudantes à desistência, além do repertório, estava na preferência em se aprender a “tocar” seus instrumentos de uma forma “mais rápida”, que eles chamam de uma “forma mais prática”, quando utilizam a internet, especificamente o site YT. Diante desta realidade, mantendo o objetivo de conhecer como acontece a aprendizagem musical busquei pesquisar o uso do YT na aprendizagem desses dois instrumentos, violão e viola caipira. Tornou-se então necessário escolher na imensidão de internautas um grupo menor para que pudesse ser feito um levantamento de dados mais específicos para a pesquisa. Ao retomar as atividades no mês de julho, percebi que dos 30 alunos iniciais apenas quinze alunos retornaram para as aulas. Havia quatro alunos novos, dos quais permaneceu apenas um, demonstrando um nível acentuado de rotatividade. Decidi então procurar os alunos desistentes e verificar o possível retorno deles. Em conversas informais percebi que eles preferiam tocar apenas as músicas do momento que tocavam nas emissoras de rádio e televisão comerciais e que preferiam utilizar o violão como instrumento para acompanhar o canto. Normalmente, o gênero escolhido era o “sertanejo”, mais especificamente o intitulado como “universitário”, que aparentemente trata-se da tradicional música sertaneja porém com esta adjetivação para uma adaptação no cenário atual de jovens, que a meu ver não aceitariam dizer gostar de música caipira ou sertaneja. Demonstravam se contentar com esta possibilidade de uso do instrumento e consideravam complexa a forma de tocar, quando se referiam ao uso da partitura. Outros desistiram por motivos alheios e não quiseram informar esses motivos. No momento em que estava realizando este levantamento com os alunos desistentes, no segundo semestre, aproveitando a oportunidade, os 51 convidei a participarem como sujeitos da pesquisa. Obtive cinco respostas positivas e entre eles estavam dois alunos que frequentaram poucas aulas no inicio do curso, em março de 2010. Um deles participou apenas no mês de junho, e, segundo a lista de presença participou de três aulas. Um aluno que foi convidado compareceu à primeira aula, faltou às aulas seguintes e retornou, permanecendo até o fim. Convidei também um aluno que não fez parte do grupo que frequentou o curso, mas que toca viola caipira e já havia até gravado um CD. O quarto estudante já tocava violão, mas não conhecia o grupo que estava estudando o instrumento, e a partir do convite para participar da pesquisa ele demonstrou interesse também em estudar com o grupo. O quinto aluno foi convidado na medida em que observei o interesse que o mesmo apresentou pela aprendizagem do violão, e por várias vezes, ter anunciado em sala de aula o uso da internet para este fim. TABELA 1. SUJEITOS DE PESQUISA N° NOME 1 Carlos 2 Carioca 3 Eduarda 4 Joaquina 5 Sebastião PERFIL INICIAL Não havia frequentado aula de violão em escola específica de música, mas tocava violão há 6 meses. Tocava algumas músicas que aprendeu por vídeos na internet e conversas informais com amigos na escola. Sabe ler cifras e apresenta certa facilidade em cadenciar acordes,e também em fazer ritmos. Participou do início do curso de violão do IFMTCas. Assim como Carlos não participou de estudos em escola específica de música, trocava informações na escola e aprendia pela internet. Participou das primeiras aulas do curso de violão no IFMTCas, desistindo e retornando no segundo Semestre. Apresenta facilidade em fazer ritmo mas dificuldade em fazer acordes. Não frequentou aula em escola específica de música, aprende pela internet e troca de informações com colegas, entrou no curso de violão do IFMTCas após ver Carlos se apresentando. Não frequentou aula em escola específica de música, aprende pela internet, participou apenas de 3 aulas do curso de violão do IFMTCas Aprendeu pela internet, estuda viola caipira. Troca informações com colegas, não participou do curso de violão do IFMTCas. Gravou CD em 2009. Participaram da pesquisa os alunos Carlos15, Carioca, Joaquina e Eduarda, alunos da 3ª série do curso técnico em agropecuária integrado ao 15 Utilizo nomes fictícios para manter o anonimato dos alunos. 52 ensino médio, e Sebastião, aluno do Curso Superior de Engenharia Florestal. Destes pesquisados Sebastião e Joaquina não fazem parte do grupo de alunos que tentaram iniciar os estudos de violão no IFMTCas, em março de 2010. Eduarda e Carioca passaram a participar depois das observações e conversas que tivemos no mês de agosto. É importante ressaltar que estes dois alunos pediram para participar das aulas de violão, após terem assistido algumas aulas. Eles interessaram pela aula porque, conforme relataram, perceberam que a forma como Carlos tocava em relação ao início do curso havia melhorado significativamente. É importante ressaltar que os cinco alunos que participaram da pesquisa tinham idade entre 16 a 20 anos. Outra observação importante é que dos cinco alunos que fazem parte desta pesquisa apenas Sebastião estudou viola caipira, e segundo foi constatado, sem a interferência de nenhum professor, apenas participou de um curso de uma semana na modalidade de master class realizado em São Paulo, no final de 2009, que será mencionado no relato na entrevista. Houve também a preocupação que os alunos Eduarda, Carlos e Carioca poderiam ser influenciados por mim, pelo fato de participarem do estudo de violão. Esta inquietação ficou menos intensa ao perceber que o contato com este processo em que estudamos o violão formalmente, não impede a pesquisa individual na Internet, pois os jovens continuam a fazer suas buscas, além das aulas formais, tendo a internet como ferramenta, fazer parte da cultura num contexto mais amplo. Os cinco alunos demonstram, de fato, fazer uso da internet no seu cotidiano para aprender música, conforme foi observado. É importante ressaltar neste momento que as análises e as reflexões construídas nesta pesquisa tratam do resultado do estudo realizado com cinco alunos do IFMTcas. Demo (2001) adverte que o resultado de estudos com pequenos grupos não devem ser generalizados, Entre os principais desafios metodológicos da pesquisa qualitativa está o problema da generalização. Até que ponto é possível partindo de alguns casos, embora analisado em profundidade, inferir para algum universo similar? (DEMO, 2001, p. 116) 53 Entendo que posso afirmar que esta pesquisa auxilia a entender como que estes cinco alunos pesquisam e aprendem música, já que estes alunos têm a cultura de aprender violão ou viola caipira desta forma observando discursos e práticas de diferentes músicos. Demo chama isso de “exemplaridade” Não podemos falar desse tipo de representatividade na pesquisa qualitativa, por que as dimensões intensas, sobretudo aquelas mais individuais, só podem representar a historia própria de cada qual, não a história de todos. (DEMO, 2001, p. 117). Acredito que estes exemplos podem ser observados e comparados a outros usuários da internet que também fazem uso desta ferramenta, mas não proponho a generalização. Busco através das entrevistas e observações entender como acontece este processo, observando os cinco exemplos de aprendizagem de instrumentos pelo YT. Com isso tenho claro como alunos que se encontram longe de grandes centros, residem em cidades que não têm opções para aprender música ou optam em aprender por esta via, acabam utilizando esta ferramenta atual para fins que muitas vezes não eram o objetivo principal quando o YT foi criado. Segundo Burgess e Green (2009) o propósito maior do YT era apenas compartilhar vídeos, o que mostra que a utilização desta ferramenta para outro fim é uma adaptação dos próprios usuários. É possível verificar neste procedimento, o que aponta Maturana (2001), que entende o ambiente virtual disponível pela internet como um organismo vivo, ou Castells (1999) , que entende que a política da rede é formada pelos próprios usuários reconfigurando a rede e a sociedade e estabelecendo padrões contemporâneos. 54 4. O YOUTUBE E AS ESCOLHAS DOS CINCO ENTREVISTADOS A pesquisa de campo teve início no segundo semestre a partir das observações, realizadas enquanto lecionava aula de violão no IFMTCas. Após o período de observação, passei a me aproximar dos alunos e em conversas informais houve a seleção de cinco alunos conforme critério descrito no capitulo 3, dando início a encontros onde foram feitas anotações que culminaram com a elaboração de um questionário com questões objetivas sobre como usam a internet para aprender tocar violão e viola caipira. Após análise das respostas do questionário percebi que foi necessário elaborar desta vez uma entrevista com questões abordando as formas de uso da internet e o uso do YT, como fazem as seleções dos vídeos, como se articulam para ter conhecimento destes vídeos, e como utilizam os vídeos e análise do seu próprio aprendizado. 4.1. O questionário 16 Após o aceite dos sujeitos da pesquisa foi elaborado um questionário e aplicado individualmente em momentos diferentes, entre os dias nove e treze de agosto. Este instrumento se baseava em quatro questões para verificar se realmente os cinco alunos teriam as características a serem observadas. Além do nome, curso que estavam matriculados, assim como a modalidade de vinculo com o IFMTcas, se residente, semi-residente ou não-residente foram questionados sobre a utilização da internet, no que concerne à periodicidade e prioridades de uso e o local onde costumam conectar-se. Apesar do IFMTcas disponibilizar aos alunos uma sala de informática conhecida como “Virtual”, neste questionário ficou evidente que apenas um dos sujeitos da pesquisa utiliza um ou dois dias por semana deste espaço. Os demais sujeitos afirmaram que não utilizam a sala virtual, preferem acessar 16 Questionário em anexo pagina 84. em suas 55 respectivas residências. Quanto à frequência dos acessos ao site do YT, Carlos e Eduarda navegam todos os dias por até duas horas, Carioca, Sebastião e Joaquina mantêm uma média de acesso de cinco dias por semana, entre três a quatro horas cada. NOME TABELA 2. SOBRE O USO DA INTERNET QUANTIDADE DE DIAS TEMPO DE NAVEGAÇÃO DIARIA POR SEMANA CÁRIOCA CINCO DIAS DUAS HORAS SEBASTIÃO CINCO DIAS QUATRO HORAS EDUARDA TODOS OS DIAS DUAS HORAS CARLOS TODOS OS DIAS DUAS HORAS JOAQUINA QUATRO DIAS QUATRO HORAS Nas respostas concedidas pelos sujeitos sobre as prioridades de uso da internet, pode-se perceber que existe uma hierarquia semelhante nas prioridades estabelecidas por Sebastião e por Carlos. Os dois responderam que utilizam a internet, em termos de prioridade, da seguinte maneira: em 1º lugar, para se comunicarem com amigos e familiares, em 2º lugar para ver vídeos, em 3º para estudar assuntos gerais, e para fazer pesquisas, em 4º para estudar música, em 5º para fazer novas amizades e em 6º lugar para jogar on-line. Joaquina estabeleceu como prioridade no uso da internet, a seguinte ordem: em primeiro lugar, os estudos gerais, em 2º lugar a comunicação com amigos e familiares e em 3º lugar, para estudar música e assistir a vídeos e afirma que não tem o costume de fazer amizades na WEB nem jogar conectada a internet. Carioca prioriza o estudo em geral, a pesquisa e o estudo de música, seguido pela comunicação com amigos e familiares e afirma que a procura por comunicação, novas amizades e assistir a vídeos fica em último plano. Eduarda também afirmou priorizar o uso da internet para o estudo em geral e a pesquisa. Em 2º lugar utiliza para assistir vídeos, em 3º para o estudo de música, em 4º comunicar com amigos e familiares e por ultimo para fazer novas amizades. 56 PRIO. 1 TABELA 3. PRIORIDADE DE USO DA INTERNET PRIO. 2 PRIO. 3 PRIO. 4 PRIO. 5 OUTRAS PRIORIDADES Sebastião Comunicar Ver vídeos Estudar assuntos gerais Estudar música Fazer novas amizades Jogar line Carlos Ver vídeos Estudar assuntos gerais Estudar música Fazer novas amizades -- Comunicar com amigos e familiares Estudar música E Ver vídeos Estudar assuntos gerais -- -- -- Fazer novas amizades Ver vídeos -- Estudar música Comunicar com amigos e familiares Fazer novas amizades -- Joaquina com amigos e familiares Comunicar com amigos e familiares Estudar assuntos gerais Carioca Estudar música Eduarda Estudar assuntos gerais Comunicar com amigos e familiares Ver vídeos on- No que se refere à preferência por algum site quando buscam aprender música, a resposta unânime entre os cinco estudantes foi que para esse fim acessam o site YT. Por estas respostas, ficou claro que todos os sujeitos utilizam e internet para estudar música. 4.2 As entrevistas17. Ao verificar as respostas do questionário aplicado, percebi que as respostas eram breves, demasiadamente reduzidas, o que dificultaria uma análise mais profunda sobre as questões que responderiam com mais clareza as especificidades da pesquisa. Foi necessário então, formular perguntas para que respondessem verbalmente. Percebi nesse momento que uma entrevista semiestruturada (reforma) seria o caminho para obter respostas melhores e mais completas. A situação da entrevista foi marcada, onde, a cada pergunta os sujeitos puderam discorrer de forma mais livre sobre as questões apresentadas, tocaram, citaram exemplos, gesticularam, enfim se mostraram mais desinibidos enquanto relatavam. Para garantir repostas isentas da 17 Perguntas em anexo pagina 85 57 influência do grupo e deixar fluir as subjetividades de cada sujeito, a entrevista foi realizada de forma individual e sem a presença dos demais. Foi marcada reunião que aconteceria no dia 29 de Agosto para que todos pudessem ser entrevistados um de cada vez. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas como registro para a análise. Foi também estabelecida uma ordem para que ocorressem as entrevistas de forma que à medida que fossem chegando ao auditório do IFMTcas - local marcado para a entrevista, seriam então entrevistados um a um . O primeiro a ser entrevistado foi Sebastião, seguido de Eduarda, Joaquina Carlos e Carioca. É importante destacar que no momento da entrevista foi disponibilizado um violão para que, se fosse preciso demonstrar trechos de peças ou estudos musicais dos instrumentos os sujeitos pudessem recorrer ao instrumento. É importante relatar que ao entrar na sala, os entrevistados imediatamente empunhavam o violão, antes mesmo de iniciar a entrevista. Experimentavam o instrumento, tocavam alguns acordes, interagiam primeiro com o instrumento. Um deles perguntou se poderia continuar com o violão durante a entrevista após a resposta positiva, segurou o violão até terminar a entrevista. Penso que esta situação, se deve muito provavelmente, porque esse instrumento musical foi um elo entre pesquisador e pesquisados, uma vez que as conversas giravam em torno do violão e da música. Outra possibilidade é que os sujeitos pareceram se sentir mais à vontade quando ao falar sobre o instrumento possam também manuseá-lo. 4.2.1. Sobre os meios de aprendizagem Sobre os meios de aprendizagem os sujeitos responderam que a internet realmente fez parte de suas formações. Sebastião respondeu a questão sobre o instrumento que estava aprendendo afirmando que nos últimos dois anos dedicava-se à viola caipira e que havia aprendido, praticamente, sozinho. “Aprendendo? Ainda to aprendendo a viola, faz dois anos que eu toco, e aprendi sozinho praticamente, apostila internet e... Mas ainda tem muito pra aprender”.(SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) 58 Sebastião relata que no início da aprendizagem, em 2008, ficava conectado horas seguidas, como um “fanático” e isso o levou a tocar muito rápido, porem hoje já não estuda com a mesma frequência, mas ainda consulta a internet. Juntamente com essa flexibilidade espacial e temporal, o computador conectado à internet permite ao aprendiz a interatividade, isto é, diálogo, criação e controle dos processos de aprendizagem mediante ferramentas de gestão e autoria. Diferindo-se profundamente da tv enquanto máquina rígida, restritiva, centralizadora porque baseada na transmissão de informações elaboradas por um centro de produção, o computador conectado apresenta-se como sistema aberto aos interagentes, permitindo participação e intervenção na troca de informações e na construção do conhecimento. (SILVA 2003) Eduarda, Joaquina Carlos e Carioca informaram que o instrumento que aprendem através do YT é o violão, e Carlos ressaltou que também tentou tocar a flauta doce também utilizando a internet. Verifiquei também que as declarações sobre o tempo diário e semanal que todos se conectam coincidiram com os tempos respondidos no questionário. Eduarda afirmou dedicar dois dias, terças e quintas feiras e nos finais de semanas, especificamente, aos domingos para estudar o violão utilizando a internet e após a aula de violão no IFMTcas. Já Carlos não tem um dia definido, mas como conecta a internet diariamente, visita o site YT todos os dias. Sempre que encontra algo interessante ele faz o download do vídeo para estudar ou estuda imediatamente. Joaquina não tem uma rotina para estudar, afirmando que em alguns dias, a procura por vídeos no YT é mais intenso, e menos intenso, quando quase não tem tempo para estudar violão, talvez devido as obrigações com estudos e família. Mas, quando encontra um vídeo que considere interessante ela faz o download do vídeo para eventuais consultas off-line, porém a prática e fazer o download em seu computador para eventuais pesquisas posteriores é mínima devido dar preferência em estudar on-line. Aparentemente os sujeitos obrigação do tempo imposta pelo ensino tradicional que padroniza o tempo as disciplinas e conteúdos. Sendo que na internet o uso em suas residências não segue tais padrões. 59 Quando questionados sobre o uso de vídeos foi verificado que quatro dos cinco entrevistados nunca visitaram outro site que disponibiliza vídeos na internet. Apenas Carlos afirmou buscar também vídeos no MSN Vídeos18. É importante ressaltar que os sujeitos organizam seu tempo quando estão conectados nas seguintes prioridades: Joaquina, Carlos, Carioca e Eduarda priorizam o estudo em geral e para realizar pesquisas. Já Sebastião prioriza comunica-se com amigos e família. Carlos e Carioca colocam o estudo de música em segundo lugar nesta escala de prioridades, Joaquina e Eduarda em terceiro lugar, e Sebastião em quarto depois do estudo gerais e de assistir vídeos. Para Burgess e Green O YT é um site potencial para a cidadania cultural cosmopolita um espaço no qual indivíduos podem representar suas identidades e perspectivas, envolver-se com as representações pessoais de outros e encontrar diferença culturais. Mas o acesso a todos os níveis possíveis de participação é limitado a determinado segmento da população aqueles com motivações, competências tecnológicas e capital cultural específico do site suficiente para participar em todos os níveis de envolvimento que a rede comporta.(BURGESS e GREEN. 2009 p. 112) 4.2.2. Sobre a escolha dos vídeos No que refere aos critérios de escolha dos vídeos percebi que os sujeitos usam critérios diferentes. Eduarda afirma que escolhe vídeos interessantes, por que “A gente pode vê a maneira que a pessoa esta tocando e tentar reproduzir da mesma maneira junto com os acordes e tudo mais, no seu instrumento; então facilita o seu aprendizado”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) 18 MSN Vídeo é um serviço da Microsoft pelo portal MSN. É similar ao serviço de partilha de vídeos YouTube. Inicialmente era acessível apenas para usuários com convite. Posteriormente transformou-se aberta a todos os usuários. Esta vinculada ao Hotmail e ao Myspace. 60 Sebastião afirmou que utilizava a internet para aprender música, ele disse que é o meio de comunicação mais fácil que se tem e informou que pesquisava solos de viola, demonstrando no violão os acordes que conhecia, o que chamou de algumas “notas” (acordes). “Eu tinha umas apostilas. . . os solos que eu não pego de ouvido, eu procuro na internet”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) Sebastião procura por vídeos pela facilidade de ver o instrumentista solando sendo mais fácil que estudar em uma tablatura. Recorre a livros, cifras e tablaturas apenas quando não encontra o vídeo sobre a música que pesquisa. Carioca afirmou não conseguir aprender completamente com os vídeos, mas que se esforça para terminar a peça que estuda. Muitas vezes encontra vídeos de músicos que não ajudam muito pela forma de tocar determinada música, pois facilitando e simplificando a harmonia tiram a originalidade da música parecendo outra. Ele evita ver estes vídeos já que busca arranjos originais. Dos cinco entrevistados Sebastião, Eduarda, Joaquina e Carioca disseram que utilizam vídeos e outros materiais digitais que facilitam a aprendizagem como cifras e tablaturas. Carioca, Eduarda e Carlos afirmam procurar por partituras, mas que recorrem com maior freqüência ao vídeo para auxiliar a pesquisa. Carioca disse que antes de procurar uma música no YT realiza uma pesquisa sobre o que irá aprender e somente depois busca um vídeo, “Tendo interesse por este estilo musical a gente procura vídeos sobre ele e músicas pra gente tentar fazer”. (CARIOCA. Entrevista 18/09/2010) Sebastião afirmou ter acessado vários vídeos de um determinado autor e ter aprendido com ele “Eu creio que ele me ensinou assim de fato, mas, é, por que o que eu mais busquei foi esse cara, o Cleber Viana, o cara que eu mais pesquisei assim pra aprender estes solos foi ele, por que ele tem os passo a passo lá no YT e 61 ele ficava mais fácil pra mim”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) Ao ser questionado se este autor teria um site ou vídeos aulas disponíveis, ele não soube informar. Ao que tudo indica, a pesquisa que fizera sobre este autor permaneceu apenas no âmbito do YT e nos vídeos disponíveis. Carlos afirmou que não tem um autor escolhido, mas estabelece critérios para decidir qual vídeo vai optar para estudar. Isso permite entender que nesta seleção existe uma apreciação prévia destes vídeos, aparentemente pautada em seleção por comparação entre os vídeos, por qualidade de áudio e vídeo e pelo arranjo que mais se aproxime do original. Joaquina e Eduarda relataram que não têm critérios para fazer a seleção dos vídeos que servirão como auxilio na aprendizagem de uma música. Joaquina comentou que tem vídeos que ela abandona logo no inicio, quando julga que aparentemente não é o que procura. A partir da entrevista percebi que os critérios para o abandono são: qualidade insatisfatória do áudio ou do vídeo, postura em manusear o violão, mudança no arranjo original da música. É importante observar que estes critérios foram observados também nas falas de Carlos e Eduarda. Carlos comentou que após a seleção dos vídeos são feitos os downloads e os vídeos permanecem em seu computador até o termino do processo; quando acredita ter “aprendido o suficiente” ele exclui tais vídeos. “Abri uma pasta para guardar os vídeos, quando fui ver já tinha mais de vinte gigabytes, minha mãe pediu para que eu excluísse”. (CARLOS. Entrevista 18/09/2010) Aparentemente o conceito de “aprender o suficiente” é ser capaz de reproduzir a peça estudada conforme indicação do autor do vídeo. Ou sentir-se satisfeito com o resultado sonoro de sua aprendizagem. Sebastião afirmou também fazer o processo de download, mas prefere estudar on-line repetindo o mesmo vídeo até chegar um momento em que considere que aprendeu. Afirmando também que armazena os vídeos só como 62 arquivo para uma posterior consulta por determinado tempo. Após um tempo, ou quando percebe que o computador está com excesso de dados exclui os menos usados ou os que não precisa mais. Aparentemente não há diferença entre apreciar estes vídeos on-line ou off-line, porém verifiquei que muitas ferramentas do YT são disponibilizadas apenas quando conectado. Normalmente estas ferramentas são pequenas notas de texto que auxiliam para o entendimento do vídeo. Joaquina e Eduarda preferem estudar apenas on-line já que elas têm computadores conectados à internet em seus quartos. Carioca mescla estudo on-line e off-line. Quando os respondentes foram questionados sobre o tipo de vídeos de suas preferências, foi perceptível que eles optam pelos vídeos de artistas que tocam as músicas que eles querem aprender no momento. Como exemplo, ressalto o depoimento de Eduarda que diz: “Assisto os vídeos, dependendo do assunto, às vezes são os vídeos com as músicas sendo tocadas mesmo, eu procuro músicas tocadas ao vivo, pra eu poder ver como... a mão se movimenta”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) Nos depoimentos de uma forma geral, os entrevistados afirmaram que quando têm dificuldades em aprender assistindo aos vídeos dos artistas, eles procuram por vídeos de autores que ensinam a tocar passo a passo. Eduarda confirmou sua experiência ainda respondendo que utiliza os vídeos que propõem instrução de como tocar. “Tem alguns vídeos também que ensinam passo a passo, como tocar música. Ai eu utilizo o vídeo com meu instrumento tentando acompanhar”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) Esta afirmação com respeito ao uso de YT deixa evidente a consideração dos autores no que concerne a interação e aprendizagem na internet. Para Castells isso é chamado de “interatividade” mesmo não havendo a participação ativa do beneficiário, pois “de fato, seria trivial mostrar que um 63 receptor de informações a menos que esteja morto nunca é passivo” (CASTELLS, 1999, p. 79). Já para Lévy, que acredita que o computador e o ciberespaço nos auxiliam a simular com mais eficiência e riqueza de detalhes devido o estímulo audiovisual, Os saberes encontram-se a partir de agora, codificados em bases de dados acessíveis on-line, em mapas alimentados em tempo real pelos fenômenos do mundo e em simulações interativas. A eficiência, a fecundidade heurística, a potência da mutação e de bifurcação, a pertinência temporal e contextual dos modelos suplantam os antigos critérios de objetividade e de universalidade abstrata. Mas reencontramos uma forma de universalidade mais concreta com as capacidades de conexão, o respeito a padrões ou formatos, a compatibilidade ou interoperabilidade. (LÉVY, 1999, p.166). 64 5. OS VÍDEOS DO YT E A APRENDIZAGEM MUSICAL DOS ENTREVISTADOS No processo metodológico para realização desta pesquisa foi constatado que existe um grupo no IFMTCas que faz o uso do YT, e que há uma troca de informação entre eles sobre os vídeos estudados. Os cinco sujeitos desta pesquisa, dialogam com outros estudantes e trocam informações com estes sujeitos. Eduarda afirma ter ajuda de amigos, “A gente toca junto e eles me ensinam também, me ajudam bastante, eles trocam essas informações também, e passam as pesquisas e eu pergunto pra eu poder acompanhá-los melhor, eu pergunto onde que eles pesquisam pra eu poder pesquisar também”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) Carioca afirma que existe uma troca de informações que facilita a aprendizagem, “Bom, na maioria das vezes a gente discute sim. Mas também é uma troca de conhecimento, às vezes o colega sabe um pouco mais, ai a gente tenta trocar, né? É muito mais interessante e facilita a aprender”. (CARIOCA. Entrevista 18/09/2010) Carlos confirmou este fato relatando que nos intervalos do almoço ou entre as aulas eles sentam nos bancos dos corredores do IFMTcas e fazem esta troca de informação. Já Sebastião diz ter encontrado dificuldade para encontrar um grupo por tratar de viola caipira e que somente ao final do ano de 2009 que encontrou dois meninos da escola que tocavam e começaram a trocar estas informações. “Eles me perguntavam direto algumas coisas, assim, e eu passava pra eles uns macetes, e eles me passavam, assim, uma maneira diferente da pegada, era uma troca de informações, né? Um ensina o outro. E assim você aprende mais rápido”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) 65 Para Silva com o advento da era da informação na era digital promovida pelo surgimento do computador, o termo interatividade foi crescentemente utilizado, algumas vezes até mesmo de forma equivocada, porém o que percebe-se é quem a interatividade vem alterando a antiga forma de transmissão da TV e de outras formas de mídias, fato o que ele chama de distribuição de informação. Essa transição da distribuição para a interatividade é um divisor de águas extremamente oportuno. Ela exige novas estratégias de organização e funcionamento da mídia clássica e redimensionamento do papel de todos os agentes envolvidos com os processos de informação e comunicação. O autor acredita que Um novo cenário comunicacional ganha centralidade. Ocorre a transição da lógica da distribuição (transmissão) para a lógica da comunicação (interatividade). Isso significa modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor: O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente, uma mensagem fechada, ele oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor. A mensagem não é mais "emitida", não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, ela é um mundo aberto, modificável na medida em que responde às solicitações daquele que a consulta. O receptor não está mais em posição de recepção clássica, ele é convidado à livre criação, e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção. (SILVA, 2000) Esta interação e intercâmbio de conhecimentos que se articula entre os sujeitos pesquisados contraria a noção de que o ciberespaço pressupõe o distanciamento das relações humanas, como afirma Lemos, O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões pluralistas reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização de saberes. (LEMOS, 2004, p.135). Sebastião também afirmou: “O pessoal que começa a aprender viola procura primeiro Tião Carreiro. Se inspiram. Eu também me inspirei no Tião Carreiro, alguns solos do Almir Sater”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) 66 Os meninos que Sebastião conhecera também utilizam vídeos para aprender a tocar a viola caipira, já que na escola especifica de música em Cáceres, não existe aula de viola caipira. Os vídeos fornecem materiais para que eles toquem algumas músicas para estes instrumentos, e, pelos exemplos citados, vê-se que Sebastião tem uma disposição para a busca por arranjos mais complexos e também interesse por instrumentistas que exploram mais o instrumento, demonstrando assim que tem uma acuidade auditiva apurada. Sebastião destacou que teve apenas uma semana de aula em São Paulo com um professor de viola caipira, no final do ano de 2009; o professor com quem iria estudar é professor de viola caipira na Universidade de São Paulo. Percebi que ele demonstra dificuldade em identificar nomes de acordes e também não estuda teoria musical, apesar de tocar a viola bem e considerarse profissional. Quando questionado se os vídeos do YT poderiam auxiliar a compreender questões voltadas a grafia musical, teoria e harmonia, ele afirmou que sim, mas que as pessoas que irão fazer esse tipo de pesquisa devem estar entusiasmados para esta aprendizagem, o que parece deixar subentendido que ele não se interessa por estas situações. 5.1 Sobre o upload de vídeos no YT. Dos cinco alunos apenas Sebastião19 tem vídeos pessoais postados no YT. São três vídeos de uma antiga dupla de música sertaneja, que ele fazia parte até no inicio de 2010. No vídeo que é apresentado a música “Meu Ipê Florido”, a filmagem é simples sem nenhum recurso tecnológico e com iluminação natural, e por este fato o filme ficou escuro. É observado que este vídeo é feito para ser postado no YT e a pessoa que está filmando destaca muito mais a viola caipira mostrando a mão de Sebastião tocando assim como o violão de seu companheiro. Aparentemente esta técnica segue padrões encontrados em outros vídeos produzidos para o YT. A cena demonstra que o vídeo foi gravado em casa, de forma “amadora”, com a preocupação de filmar um resultado instrumental, que é maior do que o fato de mostrar o rosto dos 19 Para manter o anonimato do Sebastião não disponibilizo os endereços eletrônicos dos seus vídeos pessoais. 67 músicos, que também são cantores, que por muitas vezes não fazem parte da cena principal que fica por conta do violão e da viola caipira. Esta situação permite também, um questionamento a respeito da originalidade e a ausência da edição do vídeo. A dupla está vestida de forma simples com camiseta e bermuda, o que novamente sugere que o foco está mais na forma natural de tocar e em mostrar um resultado, quase que apenas sonoro, ou que os sujeitos filmados não se vestem formalmente parecendo não importar se que certos pontos de suas intimidades sejam mostrados no ciberespaço. Mesmo se tratando de uma filmagem simples e amadora percebe-se que o áudio e o vídeo têm boa resolução. Burgess e Green entende que esta categoria de vídeo é considerada comumente como amadora Os vídeos populares do YT são contribuições de uma diversidade de profissionais, semiprofissionais, amadores e participantes pró-amadores, alguns dos quais produzem conteúdos que não se adéqua confortavelmente às categorias disponíveis – seja de mídia “tradicional” ou de formas vernaculares geralmente associadas ao conceito de conteúdo “amador”. (BURGESS e GREEN. 2009 p. 80) Os autores acreditam que o YT é um organismo em que participantes amadores e profissionais, dividem o mesmo espaço no ciberespaço, na troca de informações se beneficiando para suas intenções mercadológicas, ou simplesmente para “engrossar o caldo cultural”, como já dito por Lévy. Burgess e Green esclarecem que isso exige que entendamos que todos aqueles que fazem upload assistem, comentam ou criam conteúdo para o YT como participantes, sejam eles empresas, organizações ou indivíduos. Antes de mais nada, o conteúdo circula e é usado no YT sem preocupações quanto a sua origem - ele é valorizado e gera envolvimento de modos específicos, de acordo com seu gênero e seus usos dentro do site, assim como sua relevância na vida cotidiana de outros usuários, e não pelo fato do upload ter sido feito por um estúdio em Hollywood, uma empresa de web TV ou por um videoblogueiro amador. Todos os fornecedores de conteúdo no YT são participantes potenciais de um espaço em comum; um espaço que comporta uma gama diversificada de usos e motivações, mas que tem uma lógica cultural coerente - o que chamamos de Youtubidade do YT. De maneira similar, esse modelo exige nossa compreensão das atividades não somente dos criadores 68 de conteúdo, mas também das audiências e suas práticas de participação, porque as práticas de audiência – citado, adicionado aos favoritos, comentado, respondendo, compartilhando e assistindo – deixa rastros e, portanto, todas têm impacto na cultura em comum do YT à medida que o site evolui. Aqueles que insistem em tratar o YT como se fosse uma plataforma de radiodifusão têm menos probabilidade de atingir os objetivos de suas participações, sejam elas quais forem. (BURGESS e GRENN 2009 p. 83) Eduarda afirmou querer postar um vídeo mas somente quando ela “tocar bem”, “As pessoas postam assim os vídeos na internet quando elas sabem tocar muito bem, né? Quando eu souber tocar muito bem pode ser que eu poste, sim”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) O YT não foi planejado para ser uma sala virtual de aprendizagem musical, porém, percebe-se que existe grande número de vídeos que podem ser adaptados para este fim. Um fator importante que entusiasma jovens a postarem vídeos é justamente a promoção pessoal que pode surgir como consequência de visitações dos vídeos postados. Buergess e Green (2009) observa-se que dos vídeos vinculados pelo YT , mais de 61% dos vídeos são produzidos pelos próprios usuários. (BURGESS e GREEN 2009 p.68) O autor detaca que os Os usuários gastam tempo no site contribuindo com o conteúdo, criando referencias, construindo e criticando vídeos reciprocamente, assim colaborando uns com os outros conforme constroem o “núcleo social” do YT, e em termos de teoria inovadora, um grupo de “usuários líderes” que indentificam e exploram oportunidades de maneira coletiva para aprimorar o modo de funcionamento do YT por meio das suas próprias práticas. (BURGESS e GREEN 2009 p. 80) Carioca e Carlos afirmaram que têm a mesma idéia (reforma) de postar um vídeo quando estiverem mais “desenvolvidos” no violão, pois consideram que alguns autores de vídeos que eles escolhem tocam muito bem. Já Joaquina prefere selecionar os vídeos e afirmam que a maioria deles é ruim, que os autores só pensam em uma promoção pessoal quando postam estes vídeos no YT. Eduarda relatou que é necessário também fazer uma boa 69 seleção e uma busca, pois que muitos autores não estariam preparados para postar esses vídeos. Estas afirmações deixam transparecer que a culminância do aprendizado está em postar o seu próprio vídeo no YT, como resultado de um processo de aprendizagem. Como afirma Gohn, Percebo enormes possibilidades nos processos de autoaprendizagem da música. As novas mediações tecnológicas podem atuar como “professor” incansável para os aprendizes, dando oportunidade de progresso àqueles que não tem um tutor para corrigir seus erros. (GOHN. 2003 p.17) Burgess e Green (2009) entende que o YT atualmente faz parte da mídia de massa, mesmo que relutantemente. Ele representa claramente uma ruptura com o modelo de negócio da mídia existente e está surgindo como um novo ambiente do poder midiático, tornando assim uma forma clara de promoção pessoal no ciberespaço. Assim como para Castells (2003) a internet tem sua política própria formado pelos usuários, isso não seria diferente no YT. Burgess e Green (2009) acreditam que existam dois YTs, um com os vídeos “amadores” e outro contendo vídeos profissionais, de marketing de grandes empresas e canais de televisão. Porém, é evidente que este grande público que usa este espaço para ter acesso às informações, relacionamentos sociais e diversão cria padrões, promovendo regras intrínsecas; e aparentemente, postar um vídeo pessoal é uma delas. “A gente vê, encontra muitos vídeos na internet muito bom, mas às vezes tem vídeos muito ruins, de algumas pessoas que não tocam tanto assim e postam vídeos”. (CARLOS. Entrevista 18/09/2010) Carlos explicou que seleciona os vídeos observando daqueles que mais se aproximam do arranjo original de determinada música. Quando iniciou suas buscas, o vídeo era muito mais importante para Carlos, pois era possível perceber pequenos detalhes, como os movimentos das mão. atualmente, com o desenvolvimento da acuidade auditiva e a sua percepção ele consegue estudar apreciando apenas o áudio. “Antes o vídeo era muito importante, até o sentido da mão, a forma da batida, eu me atentava mais aos 70 movimentos o resultado era uma consequência. Agora se eu estou aprendendo uma música eu uso o vídeo só para conhecer o ritmo, por exemplo”. (CARLOS. Entrevista 18/09/2010) Carioca acredita que deve existir o mesmo padrão de qualidade entre áudio e imagem e que além da seleção deve ter resolução de qualidade em áudio e vídeo. O que vem ao encontro à afirmação de Eduarda, “Por que ao mesmo tempo em que eu vejo o movimento e eu ouço o que este movimento faz com o instrumento, fica muito mais fácil de aprender do que só lendo a cifra ou a partitura, é diferente né? Por que na cifra o acorde é seco, só tem o acorde, agora vendo tocar e ouvindo você sabe como este acorde é tocado e como soa”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) 5.2 Teoria da música no YT Na entrevista voltei a perguntar sobre o conteúdo teórico musical que se desenvolve na sua aprendizagem e verifiquei o que os entrevistados comentaram sobre os vídeos, se preocupam com o nível de informação do autor, ou ficam atentos aos vídeo que mostram apenas como tocar, aprendendo por imitação. Percebi que a resposta girou em torno do discurso anterior, a respeito dos vídeos que demonstram a música passo-a-passo. Sebastião ao ser questionado sobre como identifica a tonalidade da música que ele tocava, no momento da entrevista explicitou: “Não! Inclusive eu não tenho conhecimento de... é partitura, de escalas musicais, de arpejos escalas de notas eu não tenho conhecimento nenhum, eu não sei qual nota, assim, como é que fala, por exemplo, numa corda aperta uma casa eu não sei que nota que é, qualquer corda que eu aperto aqui [mostra no violão] não sei qual nota eu estou fazendo e qual casa. Eu sei a nota inteira [toca um acorde] Dó, Ré [faz o acorde de ré maior no violão como exemplo], mas se eu apertar numa casa qualquer, eu não sei a nota. E os solos eu vou pelo ouvido. Eu não sei qual nota que eu estou apertando em cada corda”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010) 71 Contudo, esta prática de aprender pelo YT desenvolveu em Sebastião uma prática de tocar música de ouvido, comum nos músicos práticos. Mas entendo que o resultado é um passo muito importante do aprendizado e que isso é um resultado comum dos cinco sujeitos desta pesquisa. Eduarda disse que acredita que é um jeito muito simples de aprender. “Tem algumas pessoas que dizem que é errado, que atrapalha, [referindo-se à aprendizagem pela internet] por que às vezes num vídeo, na cifra eles ensinam errado, mas tocando e ouvindo a música, você percebe se ta errado ou não. Mas na maioria das vezes, as informações estão corretas e é mais cômodo aprender pela internet, que você aprende em casa, que você tem esta possibilidade de voltar os vídeos e apressar o tempo pra ver as cifras como que elas são, e você têm várias fontes pra saber a mesma informação”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) O parâmetro de verificação de certo e errado para Eduarda é a gravação original da música. Já no que concerne à facilidade Sebastião tem a mesma perspectiva afirmando, ser um “Meio fácil, né! de você conseguir, uma coisa que você tem que aprender rápido, é uma coisa prática, pra aprender, eu acho que é uma facilidade assim pra quem não tem alguém pra ensinar, sentar lá e ensinar, mostrar como é que age [referindo ao modo de tocar], o vídeo ajuda bastante. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010) Conforme o pensamento de Bolan (2009) pode se entender através da resposta dos sujeitos da pesquisa que a Internet é um bem disponível a todos e que compete à liberdade humana fazer bom uso desse extraordinário meio. 5.3 As Categorias e classificações dos vídeos analisados. No processo de pesquisa foi pedido aos alunos que trouxesse cada um pelo menos um vídeo que eles utilizaram para aprender uma música. e verifiquei que as três categorias apontadas por Serrano e Paiva - pessoais, 72 independentes e de publicidade descritas no capítulo “Youtube como ferramenta de aprendizagem”, desenvolvidas especificamente para observar vídeos do YT, não contemplariam isoladamente as produções selecionadas para análise nesta investigação. Porque dos cinco vídeos, três são explicativos, ou seja, relatam como determinadas músicas são tocadas, postados por autores diferentes em dois sites específicos para aprendizagem de violão, mas que utilizam o site YT para hospedar e ofertar seus vídeos. Um mostra uma apresentação de um programa de auditório em que o violeiro é filmado em sua performance, e outro apresenta uma performance de um violonista em um auditório. O fato é que nesta situação os cinco filmes seriam pessoais e independentes, isto porque são inseridos no site por pessoas que pretendem divulgar uma empresa ou a si próprios. Três dos cinco seriam específicos de publicidade por estarem vinculados a um site que tem lucros com vendas on-line. Percebo, porém, que não haveria dificuldade em classificar os cinco vídeos nas seis categorias para vídeos adaptados de outras mídias para inserção no YT, também desenvolvidas por Serrano e Paiva devido aos dois vídeos que não teriam um sentido baseado em publicidade. Um é trecho de programa de televisão de 1980 -Viola Minha Viola - realizado pela TV Cultura, e outro é uma apresentação em um auditório. Ao mesmo tempo os usuários do YT que fizeram o upload destes vídeos ganham prestigio de outros usuários e visitas em seus “Canais” (comunidade virtual no próprio site YT). Observando estas seis ultimas classificações os vídeos analisados teriam a seguinte nova classificação: Televisão, Performance e Música. 5.4 Classificação dos vídeos analisados Vídeo 1. Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música. Duração: 04:16 Palavras Chave: Daniel ,Viola, Caipira, Música, Raiz, Bambico, Tião Carreiro, Pardinho, João Mulato, Goiano, Paranaense, Brasil Sertanejo, Ponteio, Ronaldo, Carvalho, Camões, Camargo, Vieira, Vieirinha, Carreirinho, Zé, 73 Matão, Liu, Léu, do, Carro, Violeiro, Craveiro, Cravinho, Marcos, Cleiton, Torres, Tonico Tinoco. O vídeo “Brincando com a viola”, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=69mO2gbjPIA é uma apresentação feita para o programa “Viola minha viola” apresentado por Moraes Sarmento, onde Bambico faz sua performance como Violeiro. Como foi anunciado, ele era integrante da dupla “João Mulato e Douradinho”, porém quando se apresentava como instrumentista utilizava do nome artístico de “Bambico”. Em sua apresentação ele foi acompanhado pelo violonista “Tiãozinho”. Os dois trajam roupas adequadas para esta apresentação sendo que Bambico está com terno azul. O cenário do programa, voltado ao tema rural, mostra dois “troncos” de arvores que são utilizados pelos músicos para sentarem e apoiarem os pés. Os instrumentos foram captados por microfone. Bambico demonstra habilidade na viola explorando todo o braço de seu instrumento, porém, percebe-se que o mesmo utiliza somente o polegar da mão direita para ferir as cordas com uma dedeira. “Tiãozinho” acompanhou com um violão de cordas de aço utilizando uma seqüência de três acordes simples, tradicionais deste estilo. As cenas deste vídeo mostram claramente as mãos dos instrumentistas focando por várias vezes somente os instrumentos. Este vídeo foi utilizado pelo Sebastião para aprender a tocar esta peça. O vídeo foi postado por Danielviola (nome YT) que no espaço reservado para comentários apresentou o vídeo falando sobre o Violeiro Bambico e sua admiração pelo artista, resumindo suas produções musicais artísticas e discografia Sem sombra de dúvidas, O MAIOR VIOLEIRO QUE JÁ EXISTIU! Não nasce outro desse! Domingos Miguel dos Santos, meu mestre de viola e responsável pela evolução no meu aprendizado! EXECUÇÃO PERFEITA DE SOLOS E BASES, CRIATIVIDADE E DESTREZA PRA TOCAR...São algumas de suas qualidades...Gravou e criou inúmeros arranjos para muitas duplas como: Tião Carreiro e Pardinho, Zé Mineiro e Mirandinha, Rei da Mata e Tião do Gado, Cambuci e Cambuizinho, Rolando Boldrin, Zico e Zeca, Abel e Caim, Taviano e Tavares, etc, etc...Gravou dois discos com Bambuê (Bambico e Bambuê), e foi o primeiro Douradinho, em parceria 74 com o João Mulato. Muitos contam que ele criava os arranjos na hora no estúdio, minutos antes de entrar pra gravar. Eis aqui alguns pagodes gravados por Tião Carreiro em que o Bambico tocou a viola: "FACA QUE NÃO CORTA, FALOU E DISSE, FILHO DA LIBERDADE, FURACÃO, EMPREITADA PERIGOSA, NA BARBA DO LEÃO, SETE FLEXAS, entre outros. Basta ouvir bem e reparar na diferenciada "pegada" de pagode e firmeza pra tocar! Quem nunca ouviu falar dele, procure se informar pra depois vir aqui deixar qualquer tipo de comentário, ok?! (DANIELVIOLA 2009) A inserção de palavras-chaves que aparentemente são desconexas, intencionam ampliar a visibilidade do material postado no YT. Ao pesquisar no buscador do YT pela palavra “Zé” por exemplo encontraríamos o link deste vídeo, entre os milhares que apareceriam junto também, observo que o numero demasiado de palavras chaves dificulta a busca pelo vídeo específico a partir de uma pesquisa sem o endereçamento direto. Vídeo 2. Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música Duração: 03:26 Palavra Chave: Aquarela do Brasil, Guitarra, Violão. O vídeo “Aquarela do Brasil - Violão” esta postado no endereço YT http://www.youtube.com/watch?v=h2ZlRBhIePE. Foi indicado por Eduarda que está estudando o mesmo arranjo apresentado no vídeo. Foi gravado por uma câmera amadora fixa que utiliza do recurso de aproximação de foco algumas vezes no decorrer do vídeo. O violonista Luiz Rodrigo Mazera está vestido para a apresentação com camisa e calça social, sentado da forma tradicional dos violonistas eruditos com o violão sobre a perna esquerda suspensa por apoio. O instrumento que utiliza tem cordas de nylon foi captado por microfone, é percebido que o instrumentista tem uma execução apropriada para a peça explorando bem o braço do violão. O comentário deste vídeo feito por MAZZAGUIGO é bem mais objetivo que o anterior, trata da identificação do violonista o nome da peça e a data e local da apresentação: 75 Violonista - Luiz Rodrigo Mazera música - Aquarela do Brasil, arranjo para violão. noite violonística de 2006, na fundação Cultural de Rio do Sul. (MAZZAGUIGO 2009) Vídeo 3 Categoria escolhida pelo usuário que postou: Pessoas e Blogs. Duração: 09:47 Palavras Chaves: More Than Words, Extreme, Violão, Guitarra, Como Tocar, How to play, cifras, Tvcifras. O vídeo “More Than Words - Extreme - Como Tocar no TV Cifras”, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=2S8C1VSfyhE foi indicado por Carioca que aprendeu tocar esta peça com auxilio deste vídeo. inicia com uma abertura onde é anunciado o nome da empresa que produz os vídeos, “TVCIFRAS”. O instrutor “Rafael Bazano” anuncia o vídeo como aula de violão, quando inicia sua fala no vídeo, fazendo explicações simples durante todo o tempo, com termos usuais para iniciantes do violão. Quando comenta sobre ritmo, por exemplo, o instrutor utiliza a palavra “batida”, até mesmo usando palavras no diminutivo, como mãozinha, palhetinha, entre outras. Utiliza além do violão um notebook que reproduz a música tocando simultaneamente para exemplificar a forma dos encadeamentos dos acordes. Uma ferramenta visual importante é a divisão da tela em duas partes onde são focalizadas as duas mãos simultaneamente permitindo que o usuário do YT veja os movimentos com mais clareza tem ainda um desenho do acorde que é tocado a cada troca seguindo a harmonia da música. O cenário é simples e confeccionado para fins de marketing com a logomarca da “TVCIFRAS”, que permanece em uma tarja na parte inferior esquerda da tela. O violão com cordas de aço é amplificado por cabo e usa um efeito para aproximar com o som da gravação original da banda Extreme. É importante verificar que a categoria escolhida deste vídeo não condiz com a categoria correta, transparecendo assim o interesse mercadológico desta empresa, reafirmado no comentário disponível deste vídeo: 76 Aprenda a tocar no violão o clássico More Than Words do Extreme. Contamos com sua inscrição: (TVCIFRAS 2010) Vídeo 4 Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música Duração: 08:43 Palavras Chave: como, fotos na estante, skank, tocar, violão, cifra, club, vídeo aula, cifraclub, tv, adriano ferreira, leo evmard, gustavo fofão, patrick blanco, philippe lobo. Este vídeo que está disponível no http://www.youtube.com/watch?v=WrjBw7hs91g&feature=fvst e endereço foi indicado por Joaquina postado pela empresa Cifraclub. Assim como o vídeo anterior, tem uma abertura que apresenta o nome da empresa e anuncia que é necessário inscrever para receber novas aulas, e disponibilizam acesso ao site da empresa se clicar neste link. No início do vídeo é anunciado o nome do instrutor Patrick Blanco que canta a música inteira tocando o violão com cordas de nylon tocadas com uma palheta na mão direita. Durante a execução aparece na parte esquerda superior do vídeo o desenho do braço do violão e do acorde que está sendo tocado. Na parte inferior da tela, aparece uma tarja com a cifra que muda de cor de acordo com o acorde tocado. O instrutor é tímido, não olha para a câmera permanecendo tocando e olhando em direção ao chão. Na segunda parte do vídeo, ele instrui sobre o ritmo da música através de um gráfico com setas para cima e para baixo demonstrando o movimento da sua mão. Ao final do vídeo aparece em uma tarja a pergunta “Curtiu essa vídeo-aula?” e convidando também a assistir a “aula” “Balada do amor inabalável”. Percebi que o critério da categoria escolhida para estes dois últimos vídeos é a mesma porém quando trata da palavra chave são usados padrões diferentes, o que me surpreendeu, pois a empresa deveria dar aos dois vídeos o mesmo tratamento destacando pequenas diferenças no que diz 77 respeito ao nome da peça compositor e interprete, será isso proposital? ou amadorismo?. O comentário da empresa que é o postador dos vídeos: Aula + cifra em http://cifraclub.tv/v595 - Aula de violão da música "Fotos na Estante", do Skank. Apresentada por Patrick Blancos. (CIFRACLUB, 2010) Vídeo 5 Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música Duração: 09:52 Palavras-chave: Cifraclub, cifra, club, tv, garotos, leoni, aula, vídeo, aprenda, tocar, tocando, violão, guitarra. Este vídeo está disponível no endereço http://www.youtube.com/watch?v=0u1PY8gH0ww. Foi sugerido por Carlos que declarou ter sido a primeira música que aprendeu utilizando os vídeos do YT. Por tratar da mesma empresa do vídeo anterior “CIFRASCLUB” a abertura da “vídeo-aula” é a mesma com os mesmos dizeres, CifraclubTV apresenta, Garotos II Completa Leoni, acompanhada de fundo musical e animação computadorizada de um violão e uma guitarra sendo tocada quando é utilizada a ferramenta da divisão da tela, no vídeo anterior a divisão é horizontal e neste vídeo a tela é divida na vertical demonstrando apenas as mãos do instrutor diminuindo a visão do braço e parte do violão. O instrutor está bem agitado e fala muito rápido, instrui sobre a tonalidade da música demonstrando os acordes, que são desenhados na parte superior esquerda da tela. Quando inicia o canto, aparentemente o instrutor apresenta muita dificuldade para cantar na altura exata da tonalidade que toca, Tenho percebido em minha prática que este é um problema comum aos instrumentistas, que não afinam o canto preferindo manter o tom que estão acostumados a tocar, subestimando o papel e o resultado do solo na voz. Quando se refere ao ritmo ele utiliza também do mesmo recurso das setas que demonstram o movimento das mãos em uma tarja na parte inferior da tela. Porém, quando explica que este ritmo necessita ser abafado com a mão direita, ele bate nas cordas próximo ao cavalete (que apóia as cordas do violão) com muita força, evidentemente um iniciante ao tentar fazer da mesma forma, provavelmente se machucaria. Ao 78 final do vídeo o instrutor anuncia outras vídeo-aulas. A empresa que posta este vídeo faz o comentário, Visite http://cifraclub.tv Adriano Ferreira ensina como tocar a versão completa da música "Garotos II" do Leoni. Para mais aulas acesse http://cifraclub.tv e confira os recursos exclusivos do nosso player. Vídeo Aula: http://cifraclub.terra.com.br/tv/vide... (CIFRACLUB, 2008) Verifiquei também que todos os sujeitos tocam as músicas que aprenderam por estes vídeos, sendo que apenas Eduarda que ainda está no processo de aprendizagem da peça Aquarela Brasileira. 5.5 REFLEXÕES SOBRE OS VÍDEOS. Entendo que apenas por título de “aula de violão” o usuário que está tentando aprender violão ou viola pelo YT teria que despender muito tempo para uma pesquisa, mas percebo, por outro lado que nesta busca, nestas audições, independentes de serem aulas ou não, nestas apreciações já acontece a aprendizagem em música. Silva e Oliveira (2010) acreditam que a apreciação musical é um dos pilares que sustentam e permeiam o processo da educação musical. Com a criação e popularização da internet e a consequente cultura do ciberespaço que permite acesso, troca de informações e arquivamento de dados de forma tão natural hoje em dia, o YT deu à música um universo ilimitado de difusão. Acredito que nunca o homem ouviu tanta música, nem muito menos teve tão amplo acesso às culturas musicais de todo o globo se não por meio desta importante ferramenta. Dos cinco vídeos que foram analisados dois são de interpretações ao vivo, o que favorece o campo da performance e reflete a busca dos jovens entrevistados por referências artísticas instrumentais. A ênfase na performance pode facilitar a aquisição da técnica, ampliando assim o vocabulário de técnicas e repertório, permitindo também que o aprendiz construa sua identidade musical, ao momento em que passa a trocar informação em Canais YT ou em comunidades especificas como Orkut e outros. 79 Dos vídeos analisados, quatro músicas são nacionais: “Garotos”, do compositor Leone, “Fotos na Estante”, de Alex e Caio, interpretada pela banda Skank. Sendo que, duas peças são gravações instrumentais sendo uma para viola caipira, de Bambico – “Brincando com a Viola” e outra, “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, que no vídeo é interpretado por Luiz Rodrigo Mazzeira. Somente uma música é internacional, “More Than Words”, da banda norte americana chamada Extreme. 5.5.1 Vídeos feitos exclusivamente para o YT ou para outros fins. Dos cinco vídeos apresentados, três foram feitos especialmente para o YT. São eles “Garotos” trazido por Carlos , “Fotos na Estante” indicado por Joaquina. Estes dois vídeos são feitos pelo site CifraClubTV , que pertence ao provedor TERRA. Esta empresa já disponibilizava cifras e letras de música antes do surgimento do YT e agregou mais o serviço de vídeo com o crescimento e popularização do site. A terceira “More Than Words”, disponibilizado por Carioca é do site TVCIFRAS que também explorou vídeos depois do advento do YT. Os vídeos têm padrões de abertura, introdução e encerramento apresentados de forma semelhante nos vídeos disponibilizados pelo site CifraClubTV, têm sua logomarca, patrocinadores e no encerramento disponibiliza a ficha técnica. Da mesma forma, o vídeo da TVCIFRA segue este padrão. Percebe-se que na edição destes três vídeos são utilizados os mesmos recursos que favorecem a melhor apreciação da mão do instrutor que informa os passos para tocar a música. Trata-se de uma técnica que, aparentemente, é padrão nas vídeo- aulas disponíveis no mercado, desde as gravadas em vídeos VHS, com pequenas adições da tecnologia digital que permite cortes e closes. 5.5.2 Vídeos construídos para fins pedagógicos, marketing de empresas. Aparentemente todos os vídeos foram feitos como função principal de divulgação pessoal e marketing, tendo como segundo plano fins educacionais. 80 O vídeo que Sebastião disponibilizou é uma performance de Bambico, mas no próprio vídeo a todo momento é inserido em formato de texto o nome do autor da postagem do vídeo no YT , com a seguinte escrita “by danielviola” e com pouco mais de vinte mil exibições deixa claro que o interesse não era apenas e nem o primeiro da divulgação do artista e de seu trabalho. Da mesma forma, o vídeo Aquarela do Brasil é postado pelo próprio intérprete. O vídeo é disponibilizado no YT com link para o canal do instrumentista onde estão disponibilizados outros vídeos, e endereços para possíveis contratações. Já os vídeos do CifraClubTV e da TVCIFRAS têm características de produto que é vendido pelo provedor e pelo site para o consumo deliberado de iniciantes em música. Em vários momentos nos vídeos do CifraClubTV, aparece um tarja na tela anunciando que para receber novos vídeos é necessário cadastrar-se. Neste momento, fica evidente o caráter mercadológico das aulas. 5.5.3 Dos conteúdos específicos de música. Dos vídeos analisados, percebe-se que os que estão disponíveis pelo site CifraClubTV têm o padrão de edição tecnológica de vídeos, com recortes específicos, que auxiliam a visão de vários ângulos das mãos do instrumentista, e quadro que mostra a cifra do acorde que está sendo executado. Porém, percebe-se que em vários momentos o desenho do acorde disponível neste quadro não condiz com o que esta sendo executado. Isso fica mais evidente no vídeo “Garotos” quando é anunciado um acorde de Ré maior na cifra escrita em uma tarja horizontal na parte inferior da tela, e no desenho do braço do violão, porém o instrutor esta executando o acorde na primeira inversão, o que é bastante perceptível devido a nota mais grave estar alterada. As informações são frágeis em pontos importantes. Um exemplo claro é quando o instrutor do vídeo “More Than Words”, (que Carioca trouxe para ser analisado) anuncia que o violão está com a afinação um semitom abaixo. Numa pequena tarja que é disponível apenas on-line, a corda que deveria ser 81 “MI” está em “MI bemol” e as demais, proporcionalmente, devido às ferramentas on-line que o próprio YT oferece, que são carregadas apenas quando conectado ao site. Quando feito o download deste vídeo estas ferramentas não aparecem faltando informações importantes. Dentre os três vídeos feitos especificamente para o YT, este é o que utiliza mais recursos tecnológicos. No instante que o instrutor toca a música, ele aciona o player em um Notebook com a música original gravada pela banda Extreme sendo tocada ao mesmo tempo em que ele executa e orienta. Os dois outros vídeos que são de performance e não foram produzidos especificamente para o YT têm clareza nos movimentos das mãos dos instrumentistas, já que tratam de apresentações instrumentais, tanto no auditório de TV quando as câmeras fixam por vários momentos diferentes nas mãos do instrumentista, quanto no vídeo Aquarela do Brasil onde também fica claro estes movimentos e a ênfase nas mãos do instrumentista. 5.5.4 Da postura do “instrutor”. Nesta parte darei ênfase apenas aos três vídeos específicos que são para o YT. Os instrutores aparentemente preparam-se para as gravações. Percebe-se que no vídeo “Garotos” o instrumentista está bastante agitado, inclusive quando fala sobre o ritmo da música, ele ensina que se deve “bater nas cordas” e “abafá-las” mas é perceptível que a potência com que bate nas cordas não é usual na prática de outros violonistas. Os instrutores são jovens, o que demonstra que o site opta por um grupo específico de consumidores, também, jovens. O Cenário das duas aulas do CifraClubTV é permanente sem nenhum destaque, tratando de uma parede lisa e despido de informações que caracterizam uma vídeo aula, permanecendo um cenário limpo, mas anunciado como vídeo aula pelo instrutor e pelos textos inseridos nas tarjas na parte inferior da tela. O instrutor do vídeo “Fotos na Estante”, (trazido pela Joaquina) veste uma camiseta com a logomarca da empresa CifraClubTV. Já o cenário do vídeo “More Than Words” tem a logo da empresa TVCIFRAS. 82 5.5.5 Presença do instrumento musical. Em todos os vídeos, os instrumentos são focados de maneira que se pode perceber a exploração em áudio pelo fato de serem amplificados por cabo e microfone. No vídeo “More than words” é utilizado o violão com processador de efeitos para simular o som parecido ao da gravação original. Na imagem isso aparece quando focalizam melhor as mãos dos instrutores ou dividem a tela para ampliar a visão das mãos, principalmente nos vídeos elaborados especificamente para o YT. Observei também que nos vídeos específicos para o YT o nome do fabricante do instrumento é evidenciado. 5.5.6 Da qualidade sonora e de imagem dos vídeos. E perceptível que existem em pelo menos dois dos cinco vídeos (Garotos e Fotos na estante) uma defasagem do áudio em relação ao vídeo. No vídeo “Garotos” a qualidade da imagem é boa, assim como os demais. Existe uma pequena diferença na performance de Bambico, talvez por conta da data do vídeo, que é do início da década de 1980 e pelo processo de digitalização. 5.5.7 Do discurso quanto ao ensino de música defendido pelos instrutores. A instrução é clara nos pontos que foram planejados para a demonstração de como se toca a música, mas não foi observada uma preocupação com questões relativas ao “ensino” de música. Aparentemente temos uma “revista” de cifras com movimentos no que diz respeito ao ritmo, que permanece oferecendo informações, mas não informando muito. As falas são simplificadas nivelando em uma linguagem iniciante, fazendo parecer uma situação presencial de trocas de informações. Quando se refere ao ritmo, por exemplo, é utilizado o termo “batida”, até mesmo transparecendo um caráter infantilizado, quando se fala em dedinho, mãozinha e palhetinha. Os instrutores destes vídeos aparentemente não estão acostumados com a 83 situação de gravarem vídeos deixando transparecer uma certa “aflição”, principalmente nos dois vídeos da “Cifraclub”. 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao iniciar esta pesquisa, existia a dúvida se o site do YT era um espaço onde as pessoas apenas reproduziam músicas comerciais das mídias mais comuns, rádio ou televisão, ou se pensavam num processo de conhecimento a longo prazo, com resultados eficazes no que diz respeito a aprendizagem musical. Nele poderiam explorar a maior gama possível de repertórios musicais ampliando o conhecimento cultural e a aprendizagem em música. Ao término desta investigação, longe de esgotar o assunto, considero que a aprendizagem dos jovens estudantes do IFMTCas especificamente, utilizando o no ciberespaço, YT, acontece mesmo diante das ações mercadológicas impostas pelo atual sistema social; isso deve favorecer a todos que por vários motivos não podem uma escola de música. Percebi que a utilização de vídeos para a aprendizagem foi válida no início dos estudos dos sujeitos, auxiliando, não só no discurso a respeito do repertório que foi construído, mas também na técnica musical e no repertório cultural. Porém, ao terem contato com materiais didáticos organizados para um acompanhamento de aprendizagem em música através do violão, certamente, que há mudança de posição, pois através do YT não houve a desmistificação do “mito” de que a música em sua teoria é complexa, ou que existe para apenas uns privilegiados ou com “dons” especiais. Isso reafirma a validade desta prática de ver vídeos no YT e exercitar no instrumento como uma forma de conhecer através da prática para obter resultados mais imediatos, o que parece ser uma característica do tempo presente. Também não se pode esquecer que houve um processo de interação com colegas e alguns entrevistados iniciaram estudos de música de maneira formal. Não há um processo com acompanhamento no YT e o tipo de material consultado parece não favorecer uma aprendizagem reflexiva sobre os conteúdos apreendidos. A formação oferecida pelo YT necessita ser examinada, refletida e apreciada por especialistas, pois como afirma Lévy existem materiais com conteúdos frágeis no ciberespaço, situação que se 85 confirmou no que concerne à realidade dos sujeitos que fizeram parte desta pesquisa. O objetivo proposto de verificar o uso da internet com a finalidade de aprender algum instrumento musical, foi contemplado pois percebi que os cinco sujeitos consultam o YT em busca de informações que os auxiliem neste processo. No que diz respeito às características dos vídeos analisados percebi que houve uma atualização das já existentes vídeos aulas, agora com recursos atuais das mídias digitais e a amplitude de interação, o que facilita a aprendizagem no cotidiano daqueles jovens. É importante ressaltar também que as análises discutidas nesta pesquisa estão relacionadas apenas aos cinco vídeos indicados pelos entrevistados. Estas considerações foram favorecidas pela construção dos caminhos metodológicos elaborados para esta investigação, que procuram atender às características das relações entre pesquisados e pesquisador, das relações virtuais e a grande utilização das mídias digitais. A partir deste cenário apresentado nesta investigação é importante empreender discussões que gerem novas técnicas metodológicas para a transmissão musical em vídeos, já que nossa sociedade vive uma nova relação de tempo e espaço, na qual vídeos de 15 minutos devem fornecer informações adequadas para formar, mesmo que não linearmente. Acredito também que a pesquisa com o YT num aspecto educacional possa ser um investimento por parte dos profissionais da música e da educação, pois se apropriar desta ferramenta para promover o ensino, representa novas formas de construção de aprendizagem e de relacionamentos peculiares à contemporaneidade. Tal como afirma Silva, 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BARBOSA, Alexandre F. 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Acessado em 28 de janeiro de 2010. 89 TVCIFRAS. More Than Words http://www.youtube.com/ watch?v= 2S 8 C1 VS fyhE Acessado em 04/11/2010 90 APÊNDICE APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO INICIAL PARA VERIFICAÇÃO DO USO DA INTERNET. Nome Curso Modalidade: ( ) Residente ( ) Semi-residente ( ) Não-residente Utiliza os laboratórios de informática da escola? ( ) Utilizo o computador no laboratório da escola ( ) Não utilizo computador da escola, mas trago meu computador ( ) Utilizo o computador apenas na minha residência Quais sites visita para aprender música? Utiliza o Youtube? ( ) Sim ( ) Não Se sim quais foram os dois últimos vídeos que vídeos que você utilizou para aprender a tocar? Utiliza a Internet todos os dias? Quantos dias por semana você se conecta a Internet? ( ) 7, ( ) 6, ( )5, ( ) 4, ( ) 3, ( ) 2, ( ) 1. Normalmente quando conectado a internet, qual o tempo que permanece navegando por dia? Numa escala de prioridade, em que o numero 1 representa o mais frequente, e o número 5 menos frequente organize a lista abaixo segundo sua utilização da internet. ( ) Para comunicar com amigos e família. ( ) Para estudar e fazer pesquisas ( ) Para relacionamentos e conhecer pessoas ( ) Para estudar música ( ) Para ver vídeos Se a prioridade não for nenhuma das alternativas acima, descreva qual a prioridade de seu uso da internet.____________________________________. 91 APÊNDICE B - ROTEIRO PARA A ENTREVISTA Esta aprendendo a tocar que instrumento? Utiliza a internet para aprender música? Com que frequência? Como você aprende com a internet? Pesquisa vídeos para aprender musica? Por quê? Utiliza site específicos de vídeos para aprender música? Quais? Como você utiliza os vídeos? Como escolhe os vídeos na internet? Pesquisa? Referência de amigos? Normalmente você conversa sobre estes vídeos com alguns colegas que estão aprendendo música? Como acontecem estas conversas? Algum vídeo em particular chamou mais a sua atenção? Por quê? Participa de alguma comunidade virtual que estude música? Faz algum curso de música On-line? Realiza algum tipo de estudo de música fora das atividades com os vídeos? Já postou algum vídeo de sua autoria sobre música? O que você acha da sua aprendizagem de música utilizando a internet? 92 O que você pensa sobre a utilização de vídeos da internet para aprender a tocar um instrumento?