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Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro Evaluation of Packages for Minimally Processed Green Leafy Vegetables for the Brazilian Market AUTORES AUTHORS ) Claire Isabel G.L. SARANTÓPOULOS RESUMO Léa Mariza de OLIVEIRA Centro de Tecnologia de Embalagem-CETEA/ITAL Av. Brasil, 2880, Caixa Postal 139 CEP 13073-001 Campinas-SP Fone: (0xx19) 3743-1900 e-mail: [email protected] Thalita Barreto Freire de OLIVEIRA Faculdade de Engenharia de Alimentos-FEA/UNICAMP O objetivo deste trabalho foi avaliar sistemas de embalagem com atmosfera modificada para hortaliças em folhas minimamente processadas, comercializadas no País. Quatro tipos de hortaliças: alface americana, agrião, rúcula e escarola, em embalagens com 150 a 200g, de duas marcas comerciais (A e B), foram analisadas quanto ao teor de O2 e CO2 das embalagens e quanto às características sensoriais, durante o armazenamento a 5,5±1,0 ºC. As embalagens foram caracterizadas e verificou-se que todos os filmes eram multicamada de BOPP/PEBD (espessura total entre 60 e 70µm), taxas de permeabilidade ao O2 de 1762 2006 e ao CO2 de 4988 - 5931 cm3(CNTP)/m2/dia a 25ºC e 1 atm, área de permeação de 0,12 - 0,13m2 e termossoldagem por impulso elétrico, sem problemas de vazamento. As embalagens de alface americana das marcas A e B apresentaram atmosferas com concentrações de 6,7%O2/17,0%CO2 e 4,9%O2/8,6%CO2, respectivamente, após cinco dias (vida-útil definida pelos fabricantes). A alface da marca A apresentou qualidade aceitável durante sete dias, provavelmente decorrente da alta concentração de CO2, e a da marca B apenas quatro dias. O escurecimento das nervuras e o russet spotting foram os fatores que definiram a vida-útil da alface. Nas embalagens de rúcula e escarola da marca A, baixas concentrações de O2 (0,04-0,07%), geraram um ambiente anaeróbio, limitando a vida-útil em quatro dias, tempo inferior àquele definido pelo fabricante (cinco dias). Na marca B, baixos teores de O2 e altos teores de CO2, 1,4%O2/16,3%CO2 para a escarola e 1,4%O2/11,0%CO2 para a rúcula, foram associados à vida-útil de cinco dias, limitada na escarola pelo escurecimento das bordas e na rúcula, pela perda de turgescência. Após cinco dias, as embalagens de agrião da marca A apresentavam atmosfera de 2,4%O2/10,2%CO2, enquanto na marca B a atmosfera era de 4,0%O2/13,3%CO2. A qualidade do agrião foi considerada aceitável até cinco dias, como especificava os produtores, em função da perda de turgescência. SUMMARY PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Hortaliças; Embalagem com atmosfera modificada; Embalagem plástica; Permeabilidade de embalagem / Produce; Modified atmosphere packaging; Plastic packages; Gas permeability. Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 The goal of the present study was to evaluate modified atmosphere packaging systems for minimally processed green leafy vegetables marketed in Brazil. Four types of leafy vegetable: Iceberg lettuce, watercress, roquette and endive, packaged in 150 to 200g plastic bag packs and from of two different brands (A and B), were analyzed with respect to O2 and CO2 levels in the headspace of the packages and the results showed that all the packages were made of multilayer BOPP/PEBD (total film thickness ranging from 60 to 70µm) with a total permeation area of 0.12 - 0.13 m2. The gas transmission rates of the packaging materias were 1762 - 2006 and 4988 – 5931 cm3(CNTP)/m2/day at 25 ºC and 1 atm for O2 and CO2, respectively. The bags were heat sealed by electrical impulse and no leakage of any kind was observed. The atmosphere inside the packages of American lettuce was found to contain 6.7%O2/17.0%CO2 (brand A) and 4.9%O2/8.6%CO2 (brand B), after five days of storage (shelf-life defined by the manufactures). Brand A lettuce presented acceptable quality for up to seven days, probably due to the high CO2 concentration, whereas the quality of the brand B product remained acceptable for only four days. For both brands, the development of dark color tones on the veins and russet spotting were used as the parameters for shelf-life definition. As for the packages containing brand A roquette and curly endive, the low O2 levels (0.04 - 0.07%) detected after three days resulted the development of an anaerobic environment, which limited the acceptable keeping quality of the product to four days. This period was shorter than the shelf-life set by the manufacturer (five days). For of brand B, the gas levels after five days – 1.4%O2/16.3%CO2 for endive and 1.4%O2/11.0%CO2 for roquette - were compatible with the 5-day-shelf-life, the limiting factor being the development of dark color tones on the leaf margins (endive) and the loss of turgidity (roquette). After five days, the atmosphere in the packages of watercress contained 2.4%O2/10.2%CO2 (brand A) and 4.0%O2/13.3%CO2 (brand B). The watercress maintained acceptable keeping quality for up to five days (as specified by the manufacturers), after which time an excessive loss of turgidity set in. 53 Recebido / Received: 10/05/2001. Aprovado / Approved: 24/01/2002. C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. 1. INTRODUÇÃO A comercialização de hortaliças minimamente processadas é um mercado crescente, devido à praticidade que elas oferecem (SOUZA, 2001). Contudo, a manutenção da qualidade destes produtos durante armazenagem ainda é um dos principais obstáculos na conquista de novos mercados. O produtos minimamente processados apresentam uma vida-útil menor que das hortaliças inteiras (CANTWELL,1992, BALDWIN et al., 1995), pois os processos metabólicos são acelerados pelas etapas de processamento. O dano físico, causado pelo manuseio ou corte no preparo, aumenta a taxa de respiração e eventual produção de etileno, em poucos minutos. Também ocorrem reações bioquímicas responsáveis por mudanças na cor, no aroma, no sabor, na textura e na qualidade nutricional. O impacto pelo corte e esmagamento pode ser reduzido pelo resfriamento do produto antes do processamento. O controle da temperatura depois do processamento também é um ponto crítico na redução do metabolismo acelerado induzido pelo corte. Entretanto, essa temperatura deve limitar a taxa metabólica, de forma a manter as células vivas e preservar a sua qualidade comestível, sem causar danos fisiológicos (CHITARRA, CHITARRA, 1990). A umidade relativa também é muito importante no armazenamento de hortaliças, pois a diferença de pressão de vapor entre o tecido vegetal e o ar resulta em transpiração. A faixa de umidade relativa recomendada para retardar o murchamento de hortaliças varia de 85% a 100% (HARDENBURG et al., 1986). Portanto, para restringir o metabolismo de hortaliças minimamente processadas e aumentar sua vida-útil durante o armazenamento faz-se necessário o controle da perda de água (transpiração), da liberação de calor (respiração), da atividade enzimática e da ação de patógenos, sem causar problemas fisiológicos (ZUNIGA, 1976). O tipo de hortaliça, a temperatura de armazenamento, a composição da atmosfera modificada e a umidade criada pela embalagem influenciam a microflora do vegetal, afetando sua qualidade global e a segurança alimentar (BRACKETT, 1987, ROSA, CARVALHO, 2000). A otimização de um sistema de embalagem plástica com atmosfera modificada para hortaliças frescas minimamente processadas é complexa, pois estes produtos respiram durante a comercialização. As embalagens devem controlar os processos fisiológicos, via controle da composição gasosa ao redor do produto. Este controle se resume na redução do teor de O2 e na elevação da concentração de CO2, criando uma atmosfera modificada capaz de diminuir a velocidade das alterações bioquímicas e fisiológicas relacionadas à senescência, além de redução da sensibilidade ao etileno, menor injúria pelo frio e menor severidade no ataque de patógenos ao produto. Segundo KADER (1995), as hortaliças têm tolerância variável à baixa concentração de O 2 e à alta concentração de CO 2, pois níveis muito baixos de O2 e muito altos de CO 2 podem causar danos fisiológicos nos produtos in natura, como a respiração anaeróbia. Por exemplo, a alface é muito sensível a danos causados por exposição a altos teores de CO 2 Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro (STEWART, VOTA, 1971, KADER, MORRIS, 1977 apud KE, SALTVEIT, 1989). Contudo, na literatura existe controvérsia sobre os níveis de CO 2 e O 2 causadores de danos. CAMERON et al. (1995) afirmam que concentrações de CO 2 superiores a 2% podem levar ao escurecimento de nervuras no alface. Por outro lado, BALLANTYNE et al. (1988) não constataram alterações de cor em alface durante 19 a 20 dias de estocagem, em embalagem com concentração de CO 2 superior a 10%. O objetivo deste trabalho foi avaliar a adequação da especificação de sistemas de acondicionamento de 4 tipos de hortaliças minimamente processadas: agrião, rúcula, escarola e alface americana, embaladas em atmosfera modificada com injeção de misturas gasosas. 2. METODOLOGIA Foram avaliadas as embalagens plásticas de quatro hortaliças comercializadas na forma de folhas inteiras: agrião, rúcula (ambos em embalagens de 150g), escarola e alface americana (ambas em embalagens de 200g), de duas marcas comerciais: A e B, cujos produtores estão instalados no Estado de São Paulo e são considerados representativos das melhores empresas de hortaliças processadas para o mercado de varejo do País. Os produtos foram adquiridos em supermercados da cidade de Campinas e estocados sob refrigeração a 5,5 ± 1ºC. As embalagens foram caracterizadas quanto a composição polimérica do filme, espessuras totais e parciais, taxas de permeabilidade ao O 2 e ao CO 2, área de permeação, volume e composição de gases no espaço-livre da embalagem e integridade e tipo de selagem. As hortaliças foram avaliadas quanto a características sensoriais como: qualidade global, russet spotting (lesões pardo-avermelhadas) e escurecimento de bordas e de nervuras das folhas. 2.1 Análise sensorial As avaliações sensoriais foram realizadas por meio de escalas estruturadas de 5 pontos, sendo cada um destes referentes a uma determinada intensidade em relação ao atributo avaliado (MONTEIRO, 1984, MEILGAARD et al., 1988). Os pontos extremos e intermediários das escalas de cada atributo são descritos a seguir: • Qualidade global: 1 - extremamente pobre, 3 - regular e 5 - excelente; • Escurecimento de bordas e escurecimento de nervuras das folhas: 1 - ausente, 3 - moderado e 5 - muito severo; • Russet spotting: 1 - ausente, 3 - moderado e 5 - muito severo (somente para a alface). O ponto mediano de cada escala foi considerado o limite para a venda do produto em relação ao atributo avaliado, ou seja, após atingir esta nota o produto não se encontrava atrativo, tendo perdido seu valor comercial. 54 C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. 2.2 Composição e volume de gás na atmosfera das embalagens A concentração de gases do espaço-livre do interior das embalagens, em termos de O2 e CO 2, foi determinada com um analisador de gases marca PBI Dansensor, modelo Combi Check 9800-1. Foram coletados 30mL de gás do interior das embalagens, através da inserção da agulha do amostrador automático do aparelho em um septo colado na superfície da embalagem. As concentrações de O2 e CO 2 foram expressas em porcentagem (v/v). O volume de gás do espaço-livre das embalagens foi determinado por meio da coleta dos gases da embalagem submersa em água. Utilizou-se um recipiente de 20L cheio com água a 25 ºC, no qual foi imersa, de boca para baixo, uma proveta cheia com água. Um funil de vidro foi acoplado à boca da proveta imersa em água. As embalagens foram perfuradas sob o funil e o gás presente no seu interior expulsou a água da proveta, sendo o volume deslocado de água equivalente ao volume de gás presente no espaço-livre das embalagens (OLIVEIRA et al., 1996). 2.3 Área de permeação das embalagens A área de permeação das embalagens foi determinada com régua milimetrada, medindo-se as dimensões da embalagem entre as regiões de solda. Os resultados foram expressos em m2. Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro 2.6 Taxas de permeabilidade a gases A taxa de permeabilidade ao O 2 (TPO2) foi determinada por método coulométrico, segundo procedimento descrito na norma ASTM D-3985-95, em equipamento Oxtran, modelo 2/20, módulo ST, da Mocon, operando com O 2 puro como gás permeante, à temperatura de 25ºC e a seco. Durante os ensaios, o fluxo do gás de arraste a seco foi mantido a 20mL/ min e do O 2 a 40mL/min. A área efetiva de permeação de cada corpo-de-prova foi de 100cm2. Os resultados médios de duas replicatas foram corrigidos para 1 atm de gradiente de pressão parcial de O 2. A taxa de permeabilidade ao CO 2 foi determinada, por método de aumento da concentração, segundo metodologia descrita por OLIVEIRA et al. (1996). Neste ensaio, foram utilizadas células de difusão, nas quais foram fixados dois corpos-de-prova, formando três câmaras: superior, central e inferior. Nas câmaras superior e inferior foi mantido um fluxo de gás permeante, que ao permear os corpos-de-prova, acumulou-se na câmara central, fechada para atmosfera. A intervalos predeterminados, foram retiradas, com seringa hermética, alíquotas de 0,3mL de gás da câmara central da célula de difusão, para a quantificação do gás permeante em cromatógrafo a gás, operando com detetor de condutividade térmica e coluna Porapack Q. Os resultados de cromatografia foram analisados por um integrador, com base em curvaspadrões feitas com gases de calibração. A área efetiva de permeação de cada célula de difusão foi de 94cm2. Os ensaios foram conduzidos a 25 ºC e a seco. Os resultados obtidos foram corrigidos para 1atm de gradiente de pressão parcial de CO 2. 2.4 Integridade da selagem das embalagens A integridade do sistema de fechamento das embalagens foi avaliada por meio da aplicação de uma solução colorida, com baixa tensão superficial (0,5% de rodamina em n-propanol), na parte interna das selagens. A passagem desta solução através da selagem é uma indicação de falha na hermeticidade e ocorre até em canais de 10µm de diâmetro (HOHMANN, 1985). 2.5 Composição polimérica e espessura dos filmes A identificação dos polímeros que compõem a estrutura das embalagens foi feita por espectrofotometria no infravermelho, utilizando-se equipamento com transformada de Fourier, Perkin Elmer, modelo 1650. A técnica utilizada foi a leitura direta do filme. A separação das camadas plásticas da estrutura foi feita com tetracloreto de carbono (OLIVEIRA et al., 1996), antes da identificação de sua composição. A espessura total e de cada camada plástica do material de embalagem foi determinada com micrômetro Mitutoyo digital de ponta plana, com resolução de 1µm (OLIVEIRA et al., 1996). Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização das embalagens As características das embalagens utilizadas são apresentadas na Tabela 1. Na composição dos filmes laminados, a camada de BOPP contribui mais significativamente para a barreira a gases. Embora esta camada seja de mesma espessura nas embalagens das marcas A e B, a maior barreira a gases do filme B é, em grande parte, decorrente do maior grau de biorientação das moléculas de polipropileno no processo de fabricação, além da maior espessura de polietileno. A área de permeação destes filmes, no sistema de embalagem, está entre 0,60 e 0,87m 2/kg hortaliças. A relação entre a área de permeação da embalagem e peso de produto (Tabela 2) é menor para alface e escarola de ambas as marcas, pois o mesmo tamanho de embalagem é usado para maior peso de hortaliça (200g versus 150g). Conseqüentemente, o volume de gás em relação ao peso do produto também é menor nas embalagens de alface e escarola, em relação ao agrião e à rúcula (Tabela 3). 55 C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro TABELA 1. Características das embalagens plásticas. Marca comercial 2 Taxa de permeabilidade 2 cm3(CNTP)/m2/dia Espessura (µm) Total Parciais O2 CO 2 Área de permeação (m2) A BOPP/PEBD 60 22/37 2006 5931 0,13 B BOPP/PEBD 70 22/46 1762 4988 0,12 BOPP: polipropileno biorientado, PEBD: polietileno de baixa densidade 25ºC e 1atm de gradiente de pressão parcial de gás permeante TABELA 2. Relação entre área de permeação e peso de hortaliça. Marca Comercial Área de permeação / Peso de produto (m2 / kg) Agrião Alface Escarola Rúcula A 0,87 0,65 0,65 0,87 B 0,80 0,60 0,60 0,80 supermercado (1 dia após a produção) foi de 5,70%O2 e 18,15%CO 2 . Durante o período de armazenamento, verificou-se a alteração desta atmosfera, atingindo, ao final de sete dias, 3,71%O2 e 15,25%CO 2 (Figura 1). Isto indica que o consumo de oxigênio pela respiração do produto foi maior que a permeação pela embalagem, na temperatura de estocagem avaliada. Teor de gás (%v/v) 1 Composição Polimérica1 TABELA 3. Volume de gás e relação entre volume de gás/peso produto. Marca A Produto Marca B 30 25 20 15 10 5 0 %O2 1 Volume do Espaço -livre (L) Volume de gás/ Peso produto (L/kg) Volume do Espaço-livre (L) Volume de gás/ Peso produto (L/kg) Agrião 2,9 19,3 3,1 20,6 Alface 3,3 16,5 3,2 16,0 Escarola 2,8 14,0 3,0 15,0 Rúcula 2,9 19,3 3,1 20,6 A aparência estufada da embalagem, apreciada pelos consumidores, é obtida pela injeção de aproximadamente 15 a 20L gás/kg produto. Esta apresentação da embalagem constitui-se em uma proteção mecânica ao produto, pois a atmosfera modificada amortece os esforços de impactos e de compressão sobre a hortaliça. O grande volume de gás também minimiza as alterações na composição da atmosfera modificada ao redor dos produtos. 2 3 4 5 6 7 Tempo de estocagem (dias) FIGURA 1. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de alface – Marca A, durante armazenamento refrigerado. A qualidade global inicial foi avaliada como excelente (nota 5). Do segundo ao quarto dia, foi classificada como boa e no sétimo dia, a alface apresentou qualidade global regular, ou seja, encontrava-se no limite de qualidade aceitável para comercialização, mostrando início de lesões de russet spotting. Alface americana - Marca A No oitavo dia, o produto foi considerado inaceitável (nota 2 = qualidade geral pobre) para comercialização, apesar de túrgido, pois apresentava russet spotting moderado (nota 3), o que depreciou sua qualidade global. Verificou-se ligeiro escurecimento de borda e ligeira descoloração das nervuras para a alface da marca A, no período. Logo, a alface superou o prazo de validade de cinco dias fornecido pelo fabricante, pois manteve qualidade aceitável por sete dias. A composição da atmosfera modificada no interior das embalagens de alface da marca A, no dia da aquisição em Uma atmosfera inicial de alto teor de CO 2 (18%), associado a uma concentração de O 2 de 6%, foi eficiente no controle do metabolismo do produto em um sistema de A termossoldagem das embalagens foi feita por impulso elétrico e todas as áreas de fechamento estavam íntegras, não apresentando vazamentos. 3.2 Avaliação dos produtos Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 56 C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. embalagem com TPO2 de 2006cm3 (CNTP)/m2/dia e TPCO 2 de 5931cm 3 (CNTP)/m2/dia, 0,65 m2 filme/kg de alface e 15L gás/ kg de produto. Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro um sistema de embalagem e mistura gasosa mais compatíveis com o controle da respiração aeróbia da hortaliça. Agrião - Marca A Alface americana - Marca B 30 25 20 15 10 5 0 Teor de gás (%v/v) Teor de gás (%v/v) A atmosfera modificada das embalagens de alface da marca B, no dia da aquisição em supermercado (segundo dia após produção), foi de 2,30%O2 e 9,92%CO 2 . A composição da atmosfera alterou-se durante a estocagem refrigerada e no quinto dia após produção era de 4,93%O 2 e 8,60%CO 2 (Figura 2). A permeação de oxigênio pela embalagem foi maior que o consumo pela respiração do produto. A composição da atmosfera gasosa no interior das embalagens de agrião da marca A, no dia da aquisição (um dia após a produção), foi de 1,11%O2 e 11,2%CO 2 . Durante o armazenamento, a concentração de O2 aumentou e a concentração de CO2 diminuiu até atingirem 2,45%O2 e 10,15%CO 2, no quarto dia de estocagem (Figura 3), indicando que a permeação de oxigênio foi maior que seu consumo pela respiração, na temperatura de estudo. 1 2 %O2 3 %O2 1 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 30 25 20 15 10 5 0 A qualidade global do alface, inicialmente (dois dias após a produção), foi avaliada como excelente (nota 5). No terceiro dia, foi classificada como boa e, no quarto dia, apenas regular, quando verificou-se o início de lesões de russet spotting (nota 2,4) avaliada como ligeira a moderada. No quinto dia, a qualidade global era pobre, devido à incidência moderada de russet spotting (nota 2,8). Entretanto, não houve escurecimento de bordas e alterações significativas na cor das nervuras. A vida-útil da alface da marca B foi de quatro dias, contudo a durabilidade conferida pelo produtor foi de cinco dias. Embora uma atmosfera de 2%O 2 e 10%CO 2 (N 2 balanço) seja recomendada para a conservação de alface, ela não foi mantida pelo sistema de embalagem com TPO2 de 1762 e TPCO 2 de 4988 cm3(CNTP)/m2/dia, 0,60 m2 filme/kg alface e 16 L gás/kg produto, a 5,5 ±1ºC. Este sistema de embalagem permitiu o aumento do teor de oxigênio até 5%, no quarto dia, o que pode ter favorecido a respiração e limitado a vida-útil a quatro dias. Para esta atmosfera e produto, um filme com menor taxa de permeabilidade ao oxigênio poderia ser utilizado para evitar o aumento na concentração de oxigênio. Portanto, a alface da marca A manteve por mais tempo as características de qualidade desejáveis, em parte por utilizar Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 3 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 7 FIGURA 2. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de alface – Marca B, durante armazenamento refrigerado. 2 7 FIGURA 3. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de agrião – Marca A, durante armazenamento refrigerado. A qualidade global na aquisição foi avaliada como excelente. No segundo dia, foi classificada como boa e no quarto, foi considerada regular, ou seja, no limite mínimo exigido para comercialização, enquanto a validade indicada pelo fabricante era de cinco dias. A vida útil do agrião foi limitada pela perda de turgescência, que conferiu ao produto uma aparência murcha. Não foi constatado problema de coloração neste período. Uma atmosfera de baixo O 2 (1 a 2,5%) e alto CO 2 (10 a 11%), associada a um sistema de embalagem com TPO2 de 2006 e TPCO 2 de 5931 cm3(CNTP)/m2/dia, 0,87m2/kg de alface e 19L gás/kg do produto, conserva o agrião apenas por quatro d i a s a 5±1ºC. O sistema de embalagem preveniu a anaerobiose, a despeito da baixa concentração inicial de oxigênio, mas não controlou a perda de turgescência além de quatro dias. Agrião - Marca B A atmosfera modificada das embalagens de agrião da marca B, no dia da aquisição (dois dias após produção), foi de 5,5%O2 e 12,2%CO 2 . A composição gasosa no quarto dia após produção foi de 4,02%O2 e 13,26%CO 2 (Figura 4). 57 Teor de gás (%v/v) C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. A qualidade inicial foi avaliada como excelente. No segundo e terceiro dias foi classificada como boa, no quarto dia entre boa e regular (nota 3,5) e no sétimo dia foi pobre. O limite de aceitabilidade foi atingido entre o quinto e o sexto dia, compatível com a validade de cinco dias definida pelo fabricante. 30 25 20 15 10 5 0 %O2 1 2 3 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 7 FIGURA 4. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de agrião – Marca B, durante armazenamento refrigerado. A qualidade inicial do agrião foi avaliada como excelente. No terceiro e quarto dias, era boa e no quinto dia apenas regular, atingindo o limite de aceitabilidade, em função da perda de turgescência. O produto apresentou a vida-útil indicada pelo fabricante, ou seja, cinco dias. Não foi constatado problema de alteração de cor. O baixo teor de O 2 (0,45%) da atmosfera modificada no primeiro dia após produção, associado a um alto teor de CO 2 (23,2%), pode ter induzido à respiração anaeróbia, contudo, o produto não apresentou danos significativos até o quarto dia. A TPO2 da embalagem não permitiu a reposição do O 2 consumido pela respiração na atmosfera ao redor do produto. Este sistema de embalagem associado a esta atmosfera inicial não é recomendado para comercialização e estocagem a 5,5ºC, devido ao potencial de risco de saúde pública, decorrente do crescimento de patógenos anaeróbios. Escarola - Marca B A composição gasosa das embalagens de escarola da marca B, no dia da compra em supermercado (dois dias após produção), foi de 2,83%O2 e 10,7%CO 2. Após quatro dias, a composição gasosa foi de 1,54%O2 e 11,0%CO 2 (Figura 6). Teor de gás (%v/v) Uma atmosfera com maior teor de O2 (5,5%) e CO 2 (12,2%), em relação à marca A, aumentou a durabilidade do agrião - marca B, quando associada a um sistema de embalagem com um filme menos permeável (TPO2 = 1762 e TPCO 2 = 4988 cm3(CNTP)/m2/dia), área de permeação e volume de gás similares, que permitiu pequena queda na concentração de O 2 e ligeiro acúmulo de CO 2, em relação às concentrações iniciais. Escarola - Marca A 30 25 20 15 10 5 0 1 30 25 20 15 10 5 0 %O2 1 A composição da atmosfera modificada das embalagens de escarola da marca A, no dia da aquisição do produto (um dia após produção), foi de 0,45%O2 e 23,2%CO 2. Durante o armazenamento, verificou-se uma redução no teor de O 2 até atingir 0,028% e o teor de CO 2 ficou praticamente constante, atingindo 21,2% no sétimo dia (Figura 5). Teor de gás (%v/v) Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro 2 3 3 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 7 FIGURA 6. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de escarola – Marca B, durante armazenamento refrigerado. A qualidade inicial da escarola foi avaliada como excelente e até o quarto dia apresentava boa qualidade global. No quinto dia, o produto apresentou qualidade global regular, atingindo o limite de aceitação, devido à perda de turgescência. A vida útil indicada pelo fabricante também foi de cinco dias. Não se verificaram alterações significativas da coloração de bordas e nervuras. %O2 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 2 7 FIGURA 5. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de escarola – Marca A, durante armazenamento refrigerado. Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 Uma atmosfera modificada com composição aproximada de 3%O 2 e de 11%CO 2, associada a um sistema de embalagem com TPO 2 de 1762 e TPCO 2 d e 4 9 8 8 cm 3(CNTP)/m2/dia, 0,60m2 filme/kg escarola e 15L gás/kg, também mantém a aceitação da escarola durante cinco dias, porém, sem riscos de anaerobiose. 58 C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. Teor de gás (%v/v) Rúcula - Marca A Teor de gás (%v/v) A composição da atmosfera das embalagens de rúcula da marca A, no dia da aquisição (um dia após produção), foi de 1,27% O2 e 10,7% CO 2. Durante o armazenamento, o teor de CO 2 aumentou ligeiramente e o teor de O 2 diminuiu, até atingirem níveis de 0,042%O2 e 11,45%CO 2 após sete dias (Figura 7). Estas concentrações de gases nas embalagens podem ter desencadeado um processo respiratório anaeróbio, pois este produto apresentou ao final da validade cheiro atípico. 30 25 20 15 10 5 0 Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro %O2 1 2 3 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 7 FIGURA 8. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de rúcula – Marca B, durante armazenamento refrigerado. 30 25 20 15 10 5 0 A atmosfera de 2,83% O 2 e 10,7% CO 2 não foi mantida pelo sistema de embalagem com TPO2 de 1762 e TPCO 2 de 4988 cm 3 (CNTP)/m2/dia, 0,80 m2/kg rúcula e 21L gás/kg, tendendo à redução do teor de O 2 para 1,54% em quatro dias. %O2 1 2 3 4 5 6 Tempo de estocagem (dias) 7 4. CONCLUSÕES FIGURA 7. Evolução da composição de gases na atmosfera modificada de embalagens de rúcula – Marca A, durante armazenamento refrigerado. A qualidade global inicial foi avaliada como excelente. No segundo e terceiro dias, a qualidade foi classificada como boa e no quarto dia regular, atingindo o limite mínimo exigido para comercialização. A vida-útil atribuída pelo produtor foi de quatro dias, limitada pela perda de turgescência, que deu ao produto uma aparência murcha. A atmosfera modificada inicial de baixo teor de O2 (1,27%) e 10,7%CO 2 não foi mantida pelo sistema de embalagem usado e gerou riscos de anaerobiose (0,042%O2), embora tenha conservado a rúcula por quatro dias. Rúcula - Marca B Os filmes laminados de polipropileno biorientado com polietileno de baixa densidade (BOPP/PEBD), com taxas de permeabilidade ao oxigênio ao redor de 2000cm 3 (CNTP)/ m2/dia a 25ºC e 1 atm, ou ligeiramente maiores, e a permeabilidade ao gás carbônico ao redor de 5000 a 6000 cm 3 (CNTP)/m 2/dia são uma boa opção de material de embalagem, para comercialização de hortaliças folhosas a 5,5±1ºC, quando são usadas misturas gasosas com teor de oxigênio maior que 2%. Caso contrário, aumenta-se o potencial de risco de saúde pública, devido à anaerobiose. Se a temperatura de comercialização for mais alta, recomendam-se filmes mais permeáveis, pois a tendência de redução da concentração de oxigênio e conseqüente anaerobiose será mais intensa, pois, normalmente, o aumento da taxa respiratória com a temperatura é maior que o aumento da taxa de permeabilidade ao oxigênio da embalagem. A composição gasosa no interior das embalagens de rúcula da marca B, no dia da aquisição (dois dias após a produção), foi de 2,83%O 2 e 10,7%CO 2 . Durante o armazenamento refrigerado, o teor de O 2 diminuiu e o teor de CO 2 manteve-se praticamente constante, resultando em uma atmosfera de 1,54%O2 e 11,0%CO 2 no quarto dia (Figura 8). Misturas gasosas com teores intermediários de oxigênio, ao redor de 5%, e teores elevados de CO 2, próximos a 15%, podem ser uma boa opção para o controle da respiração de hortaliças folhosas minimamente processadas, sem riscos de crescimento de patógenos anaeróbios. A vidaútil ficará limitada a quatro a sete dias, sob estocagem a 5,5±1ºC. A qualidade inicial do produto foi avaliada como excelente. No terceiro dia, a qualidade foi classificada como boa e no quarto e quinto dias como regular. A vida-útil atribuída à rúcula pelo fabricante foi de cinco dias. Não foi constatado escurecimento de bordas e nervuras durante o período avaliado, apenas perda de turgescência. Estudos de respiração de hortaliças minimamente processadas, em atmosferas com diferentes combinações de concentrações de O2 e CO 2, fornecerão excelente subsídio para especificação de sistemas de embalagem que desenvolvam a atmosfera modificada otimizada para cada produto. Braz. J. Food Technol., 5:53-60, 2002 59 C. I. G. L. SARANTÓPOULOS et al. Avaliação de Embalagens de Hortaliças Folhosas Minimamente Processadas do Mercado Brasileiro AGRADECIMENTOS HARDENBURG, R. E., WATADA, A. E., WANG, C. Y. The commercial storage of fruits vegetables, and florist and nursery stocks. In: Agriculture Handbook, 66. Beltsville: USDA, 1986. 130p. Ao órgão financiador, PRODETAB - Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária para o Brasil. HOHMANN, H. J., MÜNDERLEIN, W. Eiflu β de gesataltung siefelbackenoberfläche auf die festigkeit und dichtigkeit von Heiβsiegelnöhten. Verpackung – Rundschau, 36(12):81-90, 1985. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KADER, A. A. Regulation of fruit physiology by controlled/modified atmospheres. Acta Horticulturae, 398:139-146, 1995. BALDWIN, E. A., NISPEROS-CARRIEDO, M.O., BAKER, R.A. Edible coatings for lightly processed fruits and vegetables. HortScience, 30(1):35-38, 1995. BALLANTYNE, A., STARK R., SELMAN, J. Modified atmosphere packaging of shredded lettuce. 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