reservas extrativistas no Brasil e experiências da Costa Rica
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reservas extrativistas no Brasil e experiências da Costa Rica
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA ECOTURISMO: RESERVAS EXTRATIVISTAS NO BRASIL E EXPERIÊNCIAS DA COSTA RICA Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Integração da América Latina, área de concentração em Comunicação e Cultura. A LUNA : M ARIA DO C ARMO B ARÊA C OUTINHO ORIENTADORA: PROFESSORA DRA. BEATRIZ HELENA GELAS LAGE MARÇO DE 2000 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO M ESTRADO EM I NTEGRAÇÃO DA A MÉRICA L ATINA E COTURISMO : R ESERVAS E XTRATIVISTAS NO B RASIL E E XPERIÊNCIAS DA C OSTA R ICA M ARIA DO C ARMO B ARÊA C OUTINHO MARÇO DE 2000 Ao Fernando, meu companheiro de vida, amor e trabalho, pela sua essência. Aos povos das florestas, especialmente às comunidades extrativistas do Vale do Rio Guaporé, pelos ensinamentos adquiridos nas experiências compartilhadas. AGRADECIMENTOS À orientadora Professora Doutora Beatriz Helena Gelas Lage, incentivadora dos meus propósitos ao longo desta jornada, pelos esclarecimentos que muito contribuíram para a elaboração desta dissertação. Ao meu pai, Sebastião Coutinho (em memória), pelo amor que recebi, experiências e histórias vivenciadas, que despertaram meu interesse pela conservação ambiental, e um profundo respeito pelas comunidades tradicionais. À minha mãe, Maria Barêa Coutinho, profundamente amada e respeitada, pelo amor que recebi, e pelas demonstrações de coragem e competência profissional. Pelo estímulo que me fez percorrer os diversos caminhos de escolas e livros, para os quais tenho prazer em me dedicar. Aos meus irmãos, Loly e Paulo, que mostraram alternativas e possibilitaram a integração das questões fundamentais para minha formação, como amor e respeito ao próximo, à sociedade, à política e ao meio ambiente, que continuam norteando meus caminhos, leituras e experiências. À minha família, Fernando e Bruna, pelo amor e experiências que me fazem crescer a cada dia. Obrigada pela compreensão ao longo da elaboração desta dissertação. Ao Fernando, amor e companheiro da minha vida, que compreende a importância das longas horas dedicadas ao trabalho, aos projetos profissionais conquistados e realizados, e pelas trilhas percorridas nos Biomas do Brasil. Aos Professores do Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina PROLAM: Beatriz H. G. Lage, Maria Nazareth Ferreira, Paulo C. Milone, Emir S. Sader e Inês Peralta. Agradeço em especial o Professor Sedi Hirano, e ao Professor Mário Jorge Pires, pelas importantes contribuições concedidas na qualificação, que muito me auxiliaram para concretização desta dissertação. Aos Colegas do PROLAM e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental PROCAM, que compartilharam comigo as disciplinas, e participaram em minha formação pelas longas horas desprendidas em discussões, e fundamentais demonstrações de solidariedade ao longo das disciplinas e viagens realizadas. Ao PROLAM, que fortaleceu as responsabilidades enquanto cidadã latino-americana, e ampliou meu respeito pelos povos deste continente. Às Secretárias do PROLAM, Kátia e Ida, pela dedicação e compreensão, com que realizam suas atividades ao Programa de Pós-graduação e seus alunos. A Juci, pela dedicação com que executa seu trabalho para o bem estar da minha família. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela bolsa de estudo, que muito contribuiu para o desenvolvimento e conclusão desta dissertação. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 CAPÍTULO - 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO ECOTURISMO 03 CAPÍTULO - 2 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE VISITAÇÃO PÚBLICA 2.1 - DO MODELO NORTE-AMERICANO DE ÁREAS PROTEGIDAS NA AMÉRICA LATINA À RESERVA EXTRATIVISTA NO BRASIL 2.2 – PARTICIPAÇÃO DA AMÉRICA LATINA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2.3 – NORMAS E OBJETIVOS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2.4 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DAS RESERVAS EXTRATIVISTAS 2.5 – O CASO DE RONDÔNIA NAS RESERVAS EXTRATIVISTAS ESTADUAIS DE CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS 2.6 – INDICAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO PÚBLICO 14 14 19 21 24 29 32 CAPÍTULO - 3 - RESERVAS EXTRATIVISTAS - RESEXs NA AMAZÔNIA - RONDÔNIA 3.1 – REFLEXÕES SOBRE A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA ATRAVÉS DA BORRACHA 3.2 – HISTÓRICO DO ECOTURISMO: RESEXs CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS 34 34 44 CAPÍTULO - 4 - ECOTURISMO NAS RESEXs CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS 4.1 – BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE DE ECOTURISMO 4.2 – RESERVA EXTRATIVISTA ESTADUAL CURRALINHO 4.2.1 – RECURSOS TURÍSTICOS COMPLEMENTARES A RESEX CURRALINHO 4.2.2 – MUNICÍPIO DE COSTA MARQUES 4.3 – RESERVA EXTRATIVISTA ESTADUAL PEDRAS NEGRAS 4.4 – PRODUTO DE ECOTURISMO RESEXs CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS 52 52 55 58 61 68 73 CAPÍTULO - 5 - EXPERIÊNCIAS DO ECOTURISMO NA COSTA RICA 5.1 – APRESENTAÇÃO GERAL 5.2 – ASPECTOS ECONÔMICOS DO TURISMO 5.3 – REFLEXÕES SOBRE A TROCA DA DÍVIDA PELA NATUREZA 5.4 – MEDIDAS GOVERNAMENTAIS DE INCENTIVO AO TURISMO 5.5 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA COSTA RICA 5.5.1 – LOCALIZAÇÃO GERAL DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 5.6. – ESTUDOS DE CASO NA COSTA RICA 5.6.1 – RESERVA BIOLÓGICA DE CARARA 5.6.1 – RESERVA DEL BOSQUE NUBOSO MONTEVERDE 78 79 82 85 91 93 95 96 97 103 CAPÍTULO - 6 - ANÁLISE DO ECOTURISMO NO BRASIL E COSTA RICA 113 CONCLUSÕES 122 REFERÊNCIAS 129 BIBLIOGRÁFICAS ELETRÔNICAS 129 136 ANEXO 138 RESUMO Nesta dissertação avalia-se a possibilidade do desenvolvimento da atividade de ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Curralinho e Pedras Negras, no Estado de Rondônia – Brasil, como alternativa econômica compatível, com o uso tradicional dos recursos naturais, valorização e resgate dos recursos históricos e culturais destas comunidades. Utiliza-se como parâmetro experiências em ecoturismo desenvolvidas na Costa Rica. RESUMEN En esta disertación la posibilidad del desarrollo de la actividad del ecoturismo se evalúa, en el Estado de las Reservas Extrativistas de Curralinho y Pedras Negras, en el Estado de Rondônia - Brasil, como la alternativa económica compatible, con el uso tradicional de los recursos naturales, valorización y rescate de recursos históricos y culturales estas comunidades. Usan como parámetro las experiencias en el ecoturismo desarrollados en Costa Rica. ABSTRACT In this dissertation the possibility of the development of the ecoturism activity is evaluated, in the Reservations State Extrativistas of Curralinho and Pedras Negras, in the State of Rondônia - Brazil, as compatible economical alternative, with the traditional use of the nature resources, valorization and recover of historical and cultural resources of these communities. The parameters are experiences in ecoturism developed in Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 1 INTRODUÇÃO O propósito deste trabalho é avaliar a possibilidade do desenvolvimento da atividade de ecoturismo, em Reservas Extrativistas no Brasil, como alternativa econômica compatível com o uso tradicional dos recursos naturais, a valorização e resgate dos recursos históricos e culturais de comunidades extrativistas. Para desenvolver este trabalho teve-se como parâmetro às experiências da Costa Rica, pois a atividade de ecoturismo vem sendo desenvolvida neste país latino-americano ao longo dos últimos trinta anos, e hoje é um dos principais setores da economia nacional. Estas experiências têm demonstrado a possibilidade de compatibilizar desenvolvimento econômico e conservação dos recursos naturais. As comunidades tradicionais costarriquenhas, porém, não foram suficientemente envolvidas para que pudessem ser beneficiadas com a valorização e resgate dos seus recursos históricos e culturais através da atividade de ecoturismo. Apesar da Costa Rica ser um dos menores países no continente latino-americano, tem obtido o reconhecimento mundial pelo significativo valor dos seus recursos naturais. Procurou-se avaliar aspectos positivos e negativos identificados no desenvolvimento da atividade de ecoturismo neste país, tais como: o manejo e ordenamento dos territórios em unidades de conservação; carências de infra-estrutura e serviços destinados ao ecoturismo, incentivos governamentais; desenvolvimento da pesquisa científica; consolidação de Organizações Não Governamentais – ONGs, regionais e locais; implementação de empreendimentos privados e cooperativos, e o perfil do mercado de visitantes. Na Costa Rica, dentre as áreas destinadas à conservação ambiental, foram selecionadas duas Reservas Biológicas, sendo uma de gerência pública e outra privada. Discutiu-se aspectos das comunidades costarriquenhas, que vivem no entorno destas unidades de conservação, que são afetadas direta e indiretamente pelo desenvolvimento da atividade de ecoturismo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 2 Como há limitações que condicionam o êxito do ecoturismo em áreas protegidas, serão abordados os modelos de unidades de conservação que possibilitem avaliar a satisfação das comunidades tradicionais. No Brasil, a partir de 1990, tem sido implementado um novo modelo de unidade de conservação, a categoria de Reserva Extrativista – RESEX, originada a partir de movimentos sociais das comunidades extrativistas pela reforma agrária na Amazônia. Esta categoria diferencia-se do modelo norte-americano adotado entre outros países da América Latina. A atividade de ecoturismo vem se destacando no Brasil e, nos últimos cinco anos, como mais uma alternativa econômica complementar para as RESEXs. Para este estudo foram selecionadas as RESEXs Curralinho e Pedras Negras, localizadas no Vale do Rio Guaporé, em Rondônia, em função da singularidade do modo de vida destas comunidades tradicionais da Amazônia brasileira. Atualmente, nestas RESEXs, o desenvolvimento das atividades extrativistas tradicionais não são capazes de assegurar a qualidade de vida necessária para a manutenção de suas comunidades, fazendo com que procurem novas alternativas econômicas, com destaque para o ecoturismo. Para uma melhor compreensão do tema procurou-se avaliar o ecoturismo como alternativa em contraposição aos atuais modelos de desenvolvimento econômico na Amazônia brasileira. O ecoturismo é apontado como alternativa capaz de contribuir para a conservação do patrimônio natural, histórico e cultural, utilizados pelas comunidades tradicionais que vivem atualmente na Amazônia, com o propósito de garantir que os mesmos possam ser utilizados pelas futuras gerações. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 3 CAPÍTULO - 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO ECOTURISMO Na América Latina encontram-se dois terços das florestas tropicais úmidas de toda a superfície terrestre. Esta área possui os ecossistemas1 mais ricos em biomassa e biodiversidade2 que há na biosfera3. O ritmo acelerado do desmatamento destas áreas gera preocupações de ordem mundial, pois põem em risco suas funções econômicas e sociais, que além de darem sustento e integridade às comunidades tradicionais autóctones, são hábitat de inúmeras espécies vegetais e animais. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 61) A biodiversidade das florestas amazônicas ainda é pouco conhecida. Até o momento, a flora foi mais estudada apenas nas proximidades das cidades. Apesar do grande esforço empreendido nas últimas décadas, a maioria das espécies conhecidas e arquivadas nos herbários revelam que a flora da Amazônia ainda é mal conhecida. O grande número de espécies raras são assim chamadas apenas porque nada se conhece sobre sua distribuição. A diversidade conhecida ainda não permite mapear essa riqueza. Algumas espécies de valor econômico têm sua geografia mais bem conhecida. É o caso, por exemplo, da Hevea brasilensis, (conhecida popularmente por seringueira). [...] As populações locais (indígenas, ribeirinhas e seringueiros) têm revelado um grande número de espécies desconhecidas para a ciência. (ROSS, 1995, p. 162) As Reservas Extrativistas Estaduais - RESEXs, Curralinho e Pedras Negras, em Rondônia, no Brasil, estão inseridas nestas áreas amazônicas prioritárias à conservação4 ambiental. Sofrem ameaças constantes, no entanto, principalmente pela expansão da agricultura, pela expansão das fazendas de gado, extração de madeira e da exploração de 1 Ecossistemas: “são os sistemas de plantas, animais e microorganismos, juntamente com os elementos inanimados de seu ambiente.” Estes elementos se inter-relacionam ao longo da história evolutiva da Terra, sendo que muitos destes componentes nos ambientes são interdependentes neste processo. (IUCN, 1984) 2 Biodiversidade: “é o total de gens, espécies e ecossistemas de uma região. A riqueza da vida na Terra, hoje, é o produto de milhões de anos de história evolutiva.” (WRI; IUCN; PNUMA, 1992, p. 02) 3 Biosfera: “O maior sistema biológico e o que mais se aproxima da auto-suficiência muitas vezes se denomina biosfera ou ecosfera, a qual inclui todos os organismos vivos da Terra que interagem com o ambiente físico como um todo, para manter um sistema em estado contínuo.” (ODUM, 1986, p. 03) 4 A definição de conservação foi retirada do documento Estratégia Mundial para a Conservação, por contemplar importantes aspectos ambientais. Assim: “a gestão da utilização da biosfera pelo ser humano, de tal sorte que produza o maior benefício sustentado para as gerações atuais, mas que mantenha sua potencialidade para satisfazer às necessidades e às aspirações das gerações futuras. Portanto, a conservação é positiva e compreende a preservação, a manutenção, a utilização sustentada, a restauração e a melhoria do ambiente natural.” (IUCN, 1984) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 4 minérios. Estas atividades provocam sérios danos aos ecossistemas naturais, com a crescente destruição das áreas de floresta. Embora a atividade madeireira seja diretamente responsável por apenas 20% do desmatamento nos países em desenvolvimento, seu impacto é maior pois proporciona acesso à área, incentivando o estabelecimento de agricultores e pecuaristas. As práticas madeireiras têm sido sabidamente predatórias, e um estudo recente da Organização Internacional de Madeiras Tropicais revelou que menos de 1% das florestas tropicais de onde se extrai madeira é gerido de maneira sustentável. É preciso restringir a atividade madeireira comercial às áreas onde o gerenciamento seja comprovadamente possível. Deve-se atribuir prioridade à preservação de florestas tropicais intactas e ao reflorestamento de áreas devastadas. [...] As licenças para derrubar e os direitos de extração madeireira podem ser outorgados por meio de licitações abertas ao setor privado, comunidades locais e organizações-não-governamentais. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 22-23) As atividades agropecuárias e de exploração predatória dos recursos naturais, como a madeireira, associadas ao contínuo crescimento demográfico, a industrialização e urbanização, são fatores que contribuem para a modificação da paisagem e a destruição do ambiente. Caso a utilização dos recursos não seja planejada nos próximos anos, poderá haver uma acelerada degradação ambiental na Amazônia. Segundo Ross, a região brasileira abrangida pelo domínio florestal pluvial tropical da Amazônia correspondia inicialmente em cerca de 40% do atual território nacional, quando se iniciou o processo de colonização europeu, no século XVI. “Hoje não há estimativas precisas da proporção dos desmatamentos sobre a área total, mas sabe-se que as porcentagens de destruição (desmatamentos, queimadas, cortes seletivos, agropecuária) são bastante elevadas em alguns estados amazônicos.” (ROSS, 1995, p. 159) No entanto o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, com base nas captações do satélite Noaa/12, no período do mês de julho de 1998, apontou que houve um crescimento da destruição florestal através de queimadas intencionais provocadas pelo homem, na região da Amazônia brasileira. Os focos de queimadas nos nove Estados da Amazônia Legal aumentaram 788,6% [...] o Noaa captou 2.586 focos de calor da Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 5 Amazônia, em contraposição aos 291 captados em junho de 1997. [...] No quadro geral, há mais focos no Mato Grosso, 15.900%, em relação ao ano passado. Depois vem Rondônia, com 260%, e o Pará, com 75,7%. O Maranhão teve aumento de 50,9% e o Tocantins 36,9%. No Acre, Amazonas, Amapá e Roraima não apresentaram focos de calor, conforme detectou o satélite Noaa/12. (BRASIL, 1998) Consorciado a extensas áreas de floresta queimadas para a agricultura e pecuárias, encontra-se a degradação através da extração de madeiras, muitas delas destinadas ao mercado internacional. Em apenas 45 dias, foram apreendidos, na Amazônia, 112 mil metros cúbicos de madeira serrada e em toras e derrubados 74,4 mil hectares de floresta. No primeiro balanço da campanha ‘Amazônia Fique Legal’, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) informou, também, que 15,2 mil hectares foram queimados ilegalmente. O total de madeira apreendida corresponde a 3,7 mil vezes o tamanho do estádio do Maracanã. [...] O Amazonas, por exemplo é o recordista absoluto nas apreensões de madeiras. Dos 112 mil metros cúbicos na região, 67 mil estavam nesse Estado. Rondônia é o que tem mais incêndios florestais. Esse Estado teve 65% de todos os 15,2 mil hectares de queimadas realizadas na Amazônia Legal nos últimos 45 dias. A seguir vêm Pará e Mato Grosso. Nesse período, foram autuadas 1.514 pessoas, e o IBAMA conseguiu arrecadar R$ 3,4 milhões em multas. (LUIZ, 1999) O Estado de Rondônia foi bastante atingido pela política de expansão das fronteiras agrícolas brasileiras, em conseqüência da política desenvolvimentista da década de 70 que promoveu a imigração de agricultores e pecuaristas da região sul e sudeste. Como se pode observar pelos dados anteriormente apresentados, as queimadas em extensas áreas de floresta continuam sendo a mais visível conseqüência da expansão agropecuária neste Estado. A prática mais comum do IBAMA está restrita à aplicação de multas. O desenvolvimento de programas técnicos que favoreçam as comunidades amazônidas, que possibilitem a melhor qualidade de vida, e oriente para uma utilização sustentável dos recursos naturais renováveis são ainda insuficientes. A investida desenvolvimentista na Amazônia nas últimas três década foi um grande fracasso. Havia nessa política dois grandes objetivos: integração da Amazônia ao país e solução da crise social do excedente de mão-de-obra do Sul-sudeste e do Nordeste do país. [...] Após mais de vinte anos dessa prática, conclui-se que nenhum dos objetivos iniciais foi alcançado. A Amazônia tem várias frentes de ocupação, todas em precárias condições de desenvolvimento. A Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 6 pretensa solução do problema social da população de baixa renda e de baixo grau de formação cultural não ocorreu; a população foi muito mais vítima que beneficiária. Os problemas de produtividade, nível de renda, educação e saúde continuam sendo os mais agudos do Brasil. A degradação ambiental, com volumoso desperdício de recursos naturais, é generalizada por todas as frentes de assentamentos de colonos. Não se deve pretender que a mais vasta área de floresta tropical do planeta seja preservada como um santuário ecológico, mas também não se deve incentivar a continuação de práticas agroeconômicas predatórias. É preciso encontrar um caminho de desenvolvimento regional que contemple os interesses do homem amazônico, do país como um todo e da conservação e preservação ambiental. Para a Amazônia, o desenvolvimento auto-sustentado parece ser o caminho a ser trilhado no presente e no futuro. (ROSS, 1995, p. 230-231) Esta política de ocupação não considerou a forma de ocupação do solo e uso dos recursos naturais pelas populações tradicionais, como as comunidades de seringueiros e ribeirinhos, que viviam do extrativismo de produtos primários como castanha-do-pará, látex, guaraná, essências florestais, madeiras, caça e pesca de subsistência. [...] Em Rondônia e norte de Mato Grosso, introduziram-se o café e o cacau, além dos tradicionais cultivos brasileiros (milho, arroz, feijão, mandioca). Nessas regiões, após alguns anos, os solos só dão sustento ao capim, em face de sucessivas queimadas anuais para limpeza de terreno, efetuadas no mês de agosto (mais seco). As chuvas fortes e prolongadas de verão causam intensa erosão superficial, eliminando em menos de uma década as camadas férteis do solo. (ROSS, 1995, p. 229) Na última década uma das maiores preocupações das populações tradicionais e ONGs sociais e ambientalistas, é a rápida expansão dos grupos madeireiros internacionais, como os grupos Carolina (norte-americano), Mil Madeiras (suíço), Gethal (alemão), WTK Organization (malaio) e a CIFEC (chinês), que possuem planos para exploração e conseqüente devastação de extensas áreas de floresta na Amazônia. (PEREIRA, 1996) Nos últimos meses, empresas WTK Organization, da Malásia e a CIFEC, da China, estão fazendo pesados investimentos para transformar frondosas árvores em placas de laminados no distrito industrial de Manaus. Somente a WTK prevê gastar U$ 18 milhões no mercado. [...] a WTK comprou em fevereiro 300 mil hectares da família Moraes, de Carauari. O projeto de exploração madeireira, que inclui um plano de manejo capenga, tramita no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. No final de outubro, o plano de manejo foi barrado por uma comissão Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 7 para rever centenas de propostas de retirada de madeira sob suspeita de irregularidades. [...] Grupos madeireiros norte-americanos (Carolina), suíços (Mil Madeiras) e alemães (Gethal) operam na selva há quase uma década. [...] O exemplo mais claro foi revelado em detalhes pelas lentes dos satélites captados em São José dos Campos, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). É o desmatamento que pode ser medido do espaço em metros ao longo da Rodovia BR-364, de rasgar cerca de 800 quilômetros de Rondônia, de Sul a Norte. Uma extensa área devastada, com lotes cortados de viés, forma uma figura semelhante a uma espinha de peixe. É com a expressão espinha de peixe que a região é citada sempre que alguém fala sobre a área. (PEREIRA, 1996) Os resultados da ação das madeireiras na Amazônia brasileira, convida-nos a refletir sobre os recursos naturais que são sistematicamente extraídos da região há décadas como as sementes de seringueiras no começo deste século para os jardins botânicos ingleses, franceses e holandeses. Há ainda a extração de minérios, como o manganês na Serra do Navio, no Estado do Amapá, desde a década de quarenta. As comunidades tradicionais da Amazônia encontram grande apoio das ONGs, nacionais e internacionais, que identificam nestas comunidades os detentores de conhecimento tradicional no uso dos recursos naturais, capazes de realizar um manejo sustentável. Estas comunidades reconhecem a importância do patrimônio natural de suas florestas, e de sua cultura, mantendo suas atividades extrativistas. Procuram sensibilizar as populações urbanas para que reconheçam a importância de sua cultura, com a divulgação dos problemas decorrentes do desmatamento. Mobilizam-se para a implantação de reservas e projetos que permitam a conservação da diversidade do seu patrimônio. Uma das iniciativas das comunidades tradicionais da Amazônia é a produção de borracha natural atóxica, que tem aplicação na produção de objetos como borracha escolar, mangueiras, tubos cirúrgicos e equipamentos eletrônicos. Este projeto está sendo desenvolvido pela Universidade de Brasília - UnB, com parceria do IBAMA e Conselho Nacional de Seringueiros – CNS, financiado pela Secretaria de Coordenação da Amazônia e pelo IBAMA. A produção estimada envolvia na época 60 famílias de seringueiros no Acre, Amazonas, em Rondônia e no Pará. A meta pretendida em 1998 era envolver o total de mil famílias. (PEREIRA, 1998) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 8 Agora, os ribeirinhos do Juruá (comunidade do Carauari, Vale do rio Juruá) querem evitar o desastre ecológico (provocado pelas madeireiras internacionais) promovido no vizinho (refere-se ao estado de Rondônia) pela colonização na década de setenta. Apoiados pelo Conselho Nacional dos Seringueiros, do Acre, e pelo Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Igreja Católica, preparam-se para voltar à extração da borracha e para retomar uma ação de resistência ao desmatamento, que ficou conhecida pelo engajamento de Chico Mendes, assassinado a tiros em Xapuri.[...] o único jeito de preservar a Amazônia é garantir as reservas extrativistas e parques’ pregou Luís Vasconcelos da Silva, coordenador do Conselho Nacional dos Seringueiros, em Rio Branco - Acre. (PEREIRA, 1996) A América Latina é uma região que guarda uma riqueza cultural valiosa, tanto do ponto de vista estético, como também do patrimônio histórico e social. As manifestações de origem ancestral, principalmente quando se constituem em movimento coletivo, são veículos de idéias daqueles que lutam pela hegemonia interna dos grupos nas mais diferentes sociedades, sendo também um componente estratégico da luta social e um elemento fundamental na construção da identidade local, regional e nacional. No caso da América Latina, mais que em qualquer outra região, a construção da identidade cultural é parte integrante das lutas pela igualdade social; [...]. (FERREIRA, 1995, p. 21-22) Esta representativa diversidade de ambientes naturais e sociais indica que a América Latina pode ser considerada atualmente como um dos melhores e maiores destinos para o desenvolvimento do ecoturismo, para o qual os recursos naturais e culturais são de fundamental importância. Como alternativa econômica o ecoturismo, está ligado à idéia de se alcançar o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que perdura. Existe a preocupação de que aqueles que hoje desfrutem das benesses do desenvolvimento econômico estejam talvez prejudicando as gerações futuras, porque poluem a terra e desgastam demais seus recursos. As gerações atuais devem 'atender a suas necessidades sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades’ - é este o princípio geral de desenvolvimento sustentável adotado pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no relatório Nosso Futuro Comum, em 1987. O princípio é hoje amplamente aceito e tem todo o apoio neste Relatório. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 36-37) Atualmente, há projetos para implantação da atividade de ecoturismo que contemplam a incorporação das comunidades locais, desde o início do processo de planejamento até sua implementação, com o objetivo de que esta seja uma alternativa econômica complementar, e Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 9 possa proporcionar melhorias na qualidade de vida dessas populações. Muitas destas comunidades estão excluídas do mercado de trabalho formal, pela carência de capacitação profissional, além de não contarem com infra-estrutura e serviços para seu bem estar, como saneamento básico, atendimento médico hospitalar, abastecimento de energia, alimentação, hospedagem, centros de formação profissional, entre outros bens e serviços que podem ser implantados com o desenvolvimento do ecoturismo. Los esfuerzos por involucrar a las comunidades locales (y ONGs y otros grupos de interés) deben hacerse desde el principio del proceso, durante la etapa de la conceptualización, en lugar de esperarse a la etapa de ejecución. Esto requiere tiempo e cooperación, en lugar de las acostumbradas tácticas rápidas de ‘relaciones públicas’, que tienen como objetivo mitigar el impacto negativo de cierta medida de conservación o involucrar a la población local sólo en forma marginal, para cumplir con algún requisito del proyecto. El proceso de diálogo, consulta e coordinación con las comunidades locales debe ser parte integral y continua de las actividades de planificación y manejo de áreas protegidas. Los habitantes locales deben ser tratados con respeto, como iguales, y no como objeto de proyectos conservacionistas o educativos. (IUCN, 1993, p. 06) O desenvolvimento do ecoturismo envolvendo comunidades tradicionais nos países da América Latina poderá ser uma importante ferramenta para a conservação ambiental. Poderá contribuir para a manutenção de patrimônios históricos e culturais das comunidades, além de resgatar e revitalizar aspectos culturais destas comunidades. Uno de los mayores obstáculos para el verdadero desarrollo es el desequilibrio de poder y la desigualdad que se encuentran en todas las sociedades del mundo. En este contexto, las áreas protegidas pueden ser instrumentos de desarrollo sólo en la medida en que contribuyan con el proceso de reforzar el poder de la comunidad, mejorar la autoestima y el control local, en vez de contribuir a la alienación y las privaciones. [...] este progreso, es posible y puede lograrse a través de una planificación participativa, información y educación, cooperación, un financiamiento respetable y beneficios locales. (IUCN, 1993, p. 32) A conservação do patrimônio natural, histórico e cultural pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento sustentável desses países, oferecendo capacitação profissional e oportunidade de empregos em setores não agrícolas, como em diversos serviços das atividades de ecoturismo e melhorar as perspectivas nas áreas estabelecidas para Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 10 conservação. Considerando que a América Latina possui um dos maiores índices de crescimento populacional e acentuada concentração de pobreza, é necessário identificar alternativas sociais e econômicas que permitam tanto a conservação ambiental quanto à valorização de culturas tradicionais, e contribuir diretamente para sua inserção no processo político e econômico das localidades, regiões e países em que vivem. O aumento populacional faz crescer a demanda de bens e serviços, potencializando a pressão sobre os recursos ambientais, gerando maior demanda por empregos e moradias. Nos países onde as taxas de aumento populacional foram mais altas, mais depressa a terra foi convertida para usos agrícolas, pressionados ainda mais a terra e o hábitat natural. Como demonstrou um estudo econométrico de 23 países latino-americanos, continua haver correlação positiva entre expansão da área agrícola e o aumento populacional. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 28-29) No relatório Nosso Futuro Comum, identifica-se que a viabilidade do desenvolvimento sustentável está diretamente relacionada à qualificação de recursos humanos. É necessária uma reavaliação da prática educacional convencional, difundindo-se mais cursos profissionalizantes e técnicos, com participação de organizações comunitárias e o aproveitamento de técnicas tradicionais. Isto possibilitará a inserção de um maior número de profissionais em setores, representados pelos serviços relacionados ao segmento do mercado turístico como, por exemplo, em hospedagem, alimentação, transporte, agenciamento e operacionalização de viagens e condução de visitantes. A educação deveria estar equipada para tornar as pessoas mais capazes de lidar com problemas de superpopulação e densidades populacionais muito elevadas, e estar mais capacitada a melhorar o que se poderia chamar de 'capacidades sociais de produção'. Isso é indispensável para evitar rupturas na tecedura social [...]. Por isso, a educação deveria ser mais abrangente e englobar as ciências sociais e naturais e também as humanidades, para que se pudesse perceber a interação dos recursos naturais e humanos, do desenvolvimento e meio ambiente. (CMMAD, 1991, p. 122-124) Diversos órgãos ligados ao turismo fazem estimativas promissoras a respeito do turismo para os próximos anos, como a World Travel & Tourism Council - WTTC, que estimou para o ano de 1994 em 10% a participação do turismo no Produto Interno Bruto – PIB, do mundo. Para a América Latina ficou estimado em aproximadamente 5% do PIB. Estima-se também Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 11 que os vínculos empregatícios relacionados direta e indiretamente representam cerca de 5,1% no mundo e 5,5% na América Latina. (ABAV, 1994, p. 07-09) Organizações como o Banco Mundial já apontam para a importância do ecoturismo. A conservação eficaz requer uma estratégia dupla que envolva governos nacionais e doadores. Primeiro é preciso explorar as complementaridades entre as metas de desenvolvimento e a proteção, o emprego não-agrícola e a atividade madeireira sustentável também desestimularão a invasão de hábitat naturais. O ecoturismo, a pesca sustentável e a prospecção genética beneficiarão o desenvolvimento e a diversidade biológica. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 24) O ecoturismo é considerado um dos segmentos mais significativos da indústria do turismo e viagens. Estima-se que do total dos viajantes do mundo, 10% são ecoturistas. O crescimento dessa atividade é estimado em torno de 20% ao ano, o que resultará no incremento de ofertas e demandas para os destinos ecoturísticos do mundo. (ZIFFER, 1989, p. 10) A opção de desenvolvimento sustentável aos países da América Latina através do ecoturismo requer ações conjuntas, organizadas e planejadas tanto no nível governamental, como em diversos segmentos do setor privado, baseado em análises necessárias dos impactos ambientais e socioculturais estabelecidos. Isso pode tornar-se um fator determinante no crescimento socioeconômico desses países. A implantação desta atividade econômica é complementar às já existentes, como a extração de recursos florestais em regiões localizadas em ecossistemas com populações tradicionais distantes de grandes centros urbanos. O ecoturismo, como segmento de mercado turístico é bastante competitivo, e deve oferecer produtos compatíveis com as exigências do ecoturista. Sabe-se que esse turista possui elevada consciência ambiental, busca experiências únicas que mantenham os recursos ambientais e sócio culturais, procura se integrar à comunidade, tem expectativa que a atividade realizada venha contribuir para o processo de desenvolvimento da região. (MACGREGOR E JARVIE, 1994, ii) Identifica-se no governo federal brasileiro uma intenção em contribuir para a implantação deste segmento do mercado turístico com a publicação do documento: Diretrizes Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 12 para uma Política Nacional de Ecoturismo, que foi elaborado pelo Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo - MICT, e Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal - MMA, em Goiás Velho, GO, em 1994, com participação multisetorial. Neste documento o ecoturismo é definido como: “Um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas.” (BRASIL, 1994, p. 19) Pode-se verificar através de pesquisa bibliográficas diversas outras definições para ecoturismo, que antecederam a brasileira. Dentre estas, destaca-se abaixo a de CevallosLascurain, publicada em 1987, pela ênfase dada a interação entre visitantes e o ambiente natural e cultural. El turismo que consiste en realizar viajes a áreas naturales relativamente sir disturbar o sin contaminar, con el objetivo específico de estudiar, admirar y gozar el panorama junto con sus plantas y animales silvestres, y así mismo cualquier manifestación cultural (pasada e presente) que se encuentre en estas áreas. En estos términos, el turismo orientado hacia la natureza implica un enfoque científico, estético o filosófico en lo que se refiere a la actividad de viajar, aunque el turista interesado en la natureza no necesita ser un científico profesional, un artista o un filósofo. El ponto principal consiste en que la persona que practica el turismo ecológico tiene la oportunidad de sumergirse en la natureza de una forma que no se encuentra disponible en el ambiente urbano. (CEVALLOSLASCURAIN, 1987 – apud BOO, 1990, p. 02-03) É interessante observar na seqüência a definição de Cevallos-Lascurain, citada por Boo, em 1990, não foi enfatizado que a atividade de ecoturismo pode sensibilizar os visitantes, e converter-se num processo de conscientização, com o envolvimento em temas relacionados às questões ambientais, exercendo sua cidadania. [...] El ponto clave es que la persona que practica el turismo ecológico tiene la oportunidad de sumergirse en la naturaleza de una forma que la mayoría de la gente no puede disfrutar por sus existencias urbanas y rutinarias. Esta persona eventualmente adquirirá una conciencia que la convertirá en alguien activamente involucrada en los temas conservacionistas [...]. (PAREDES, 1992, p. 241) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 13 A ênfase em contemplar-se os aspectos históricos, culturais, econômicos e sociais das comunidades envolvidas no ecoturismo, baseia-se na reflexão de Paredes, de que a principal crítica ao ecoturismo “ortodoxo” é o envolvimento apenas indireto das comunidades locais. As unidades de conservação implantadas na Costa Ricas não respeitaram os territórios das comunidades locais, conseqüentemente desestimularam a interação entre os moradores e os visitantes. Com os estrangeiros, houve ainda a barreira do idioma e a incompreensão do modo de vida destas comunidades tradicionais. (PAREDES, 1992, p. 243) El ecoturista ortodoxo evita, de ser posible el contacto con la gente [...] le interesa más identificar aves o admirar la biota en general de la zona. De manera indirecta las comunidades civiles se benefician del ecoturismo, cuando algunos de estos visitantes van al pueblo a comprar un par de botas de hule, un cedazo tipo salan o un machete pequeño, amén de alimentos y bebidas. El tipo de interacción de éstos con la gente del pueblo es mínima, sobretodo si pensamos en que siendo extranjeros, tendrán principalmente la limitante del lenguaje así como diferencias en su modus vivendi. (PAREDES, 1992, p. 243) A crítica de Paredes refere-se à implementação da atividade de ecoturismo realizada principalmente no interior das categorias de unidades de conservação de visitação pública, como Parques Nacionais. Esta crítica pode ser estendida para muitas nações, que implantaram unidades de conservação muitas vezes com a exclusão de comunidades tradicionais de seus territórios de origem. Seguiram, assim, o modelo norte-americano do Parque Nacional de Yellowstone. As nações da América Latina perseguiram este modelo, que foi amplamente aceito e incorporado desde as primeiras décadas deste século. Este modelo revelou-se incompatível com as diversas realidades dessas nações, com áreas povoadas por comunidades tradicionais que há séculos, onde a conservação ambiental implica em conservação cultural. Atualmente, nestas áreas ambientalmente conservadas com comunidades tradicionais encontram-se muitos dos destinos do ecoturismo. Ressalta-se que o surgimento de uma inovadora categoria de unidade de conservação, a Reserva Extrativista, proposta pelas comunidades de seringueiros da Amazônia brasileira, revela os avanços obtidos por estas comunidades na busca de alternativas econômicas e sociais que garantissem sua conservação econômica e cultural. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 14 CAPÍTULO - 2 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE VISITAÇÃO PÚBLICA 2.1 - DO MODELO NORTE-AMERICANO DE ÁREAS PROTEGIDAS NA AMÉRICA LATINA À RESERVA EXTRATIVISTA NO BRASIL Os parques nacionais, estaduais ou municipais são destinados principalmente à visitação pública, à pesquisa científica, à manutenção de bancos genéticos e paisagens de extraordinária beleza cênica. Este foi o primeiro modelo de unidade de conservação a ser implantado em diversos países da América Latina, principalmente nas primeiras décadas deste século. Neste período, infelizmente, os principais aspectos técnicos que justificavam a implantação de Parques estavam voltados para as questões de preservação da biota e aspectos de recreação e lazer das comunidades urbanizadas e industrializadas, sendo que não havia o reconhecimento das populações humanas autóctones, como parte integrante destas áreas naturais, ou mesmo que se admitisse a manutenção destas populações nas áreas. “[...] a criação dos parques obedeceu a uma visão antropocêntrica na medida em que beneficia as populações urbanas e valoriza, principalmente, as motivações estéticas, religiosas e culturais dos humanos, o que nos mostra o fato da natureza selvagem não foi considerada um valor em si, digno de ser protegido. [...]” (DIEGUES, 1994, p. 29) La primera área natural protegida que se estableció en América del Sur fue el Parque Nacional de Nahuel Huapi, en Argentina en 1922. Rápidamente le siguieron el Parque Nacional Vicente Pérez Rosales en Chile (1926), y el Parque Nacional Galápagos en Ecuador (1934). Poco a poco, otros países comenzaron a establecer parques nacionales y otras categorías de áreas silvestres protegidas [...]. En 1923, la isla de Barro Colorado en la zona del canal de Panamá fue declarada reserva biológica. En 1928, la Administración Colonial Británica en Belice declaró a Half-Moon Key ‘Reserva de la Corona’. En el mismo año, las montañas que abastecen de agua al Valle Central de Costa Rica fueron declaradas ‘inalienables por Ley’. En 1957, varios cráteres volcánicos de Costa Rica fueron declarados Parques Nacionales, y luego reclasificados como Áreas Protegidas durante los años setenta. (IUCN, 1993, p. 109-132) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 15 En otros tiempos, la creación de Parques Nacionales significaba sacar a los habitantes rurales de las áreas, trasladarlos o otros sitios o, en el mejor de los casos, limitar su derecho a los usos tradicionales de los recursos. La participación de la comunidad se limitaba a unas cuantas ‘consultas en cierto momento de la etapa de planificación. Durante los años setenta y ochenta, la educación ambiental estaba diseñada para convencer a las poblaciones locales de la necesidad de cooperar con las áreas protegidas ya planeadas en lugar de ofrecerles una verdadera oportunidad de participación en el proceso de planificación. (IUCN, 1993, p. 116) O pensamento marcado mais por questões preservacionista do que conservacionista5 é criticado por Diegues, por carregar uma forte visão antropocêntrica originada das culturas européias. Nesta visão, os recursos naturais eram destinados quase que exclusivamente para o uso das sociedades humanas, que exploravam os recursos até o seu esgotamento. Conseqüentemente, a atividade turística se desenvolveria melhor em áreas naturais, ou wilderness6, de forma contemplativa, sem que os recursos fossem tocados para não serem alterados. Essa linha de pensamento preservacionista influenciou tanto a criação do Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, pelo Congresso do Estados Unidos da América, como a implantação de outras unidades de conservação em muitas nações. (DIEGUES, 1994, p. 22) A ênfase preservacionista deve-se aos pensamentos de “Ralph Waldo Emerson (18031882), filósofo, poeta, conferencista e ensaísta; John Wesley Powell (1834-1902); Henry David Thoreau (1817-1862), um naturalista e escritor: e John Muir (1833-1914), denominado como naturalista, viajante e preservacionista.” Estas personalidades vivenciaram o período histórico da expansão para o oeste do território norte-americano, no século passado, no qual os recursos naturais e as populações indígenas foram praticamente 5 O conservacionismo, baseado em Gifford Pinchot, se preocupava e aumentar a eficiência na exploração dos recursos evitando desperdícios, com a máxima produção sustentável. O preservacionismo, se orientava por uma reverência à natureza, com uma apreciação estética e espritual da vida selvagem. (DIEGUES, 1994, p. 2425) 6 Diegues define wilderness como áreas virgens que são seriam habitadas pela sociedade humana, pois este pensamento norte-americano estaria baseado no pensamento cristão de paraíso terrestre, que estava desabitado. (DIEGUES, 1994, p. 22-23). Enquanto Drummond, tradutor do livro “O Espírito Ocidental Contra a Natureza, faz uma reflexão que “a palavra wilderness não existe equivalente em português, mas pode ser aplicado como sendo qualquer extensão de terra ou paisagem não civilizada ou não controlada pelos humanos; silvestre; selvagem e intocado.” (TURNER, 1990) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 16 dizimados, conforme avançou o processo de ocupação do território e as inovações tecnológicas das indústrias na exploração de recursos naturais, estavam fundadas no pensamento colonizador europeu. (TURNER, 1990, p. 256) Turner aponta que Emerson, em 1837, fazia questionamentos muitas vezes incompreensíveis e intrigantes à população norte-americana, contrária ao pensamento nacionalista vigente nesta época, percebendo que a história do Novo Mundo era bastante similar ao do Velho Mundo, refletindo que estavam sendo, “descuidados em relação a essas terras, insensíveis para a vida natural que elas continham [...] por que os norte-americanos não buscavam um relacionamento mais ‘original’ com o universo”. (TURNER, 1990, p. 252253) O modelo americano, preservacionista, ainda tem seus seguidores na América Latina. Pois, como aponta Turner, “disfarçado com nomes como ‘a Conquista do Oeste’ ou ‘Vaqueiros e índios’, esse golpe final da história ocidental tem a mesma popularidade na América Latina (onde as terras selvagens e os nativos ainda estão sendo afetados pelas antigas motivações).” (TURNER, 1990, p. 257) Diegues apresenta em O Mito Moderno da Natureza Intocada, um trabalho de Kemf, 1993, onde se desenvolve uma crítica sobre a exportação do modelo de parques nacionais americanos para regiões com áreas naturais em elevado estágio de conservação e populações culturalmente distintas, como observamos nas diversas regiões da América Latina. (DIEGUES, 1994, p. 23) Em conformidade com o modelo Yellowstone foram criados muitas áreas preservadas, destinadas à recreação pública, sem moradores e sem usos dos recursos naturais. A beleza exuberante de Yellowstone e muitas características naturais tais como o maior lago de montanha nos Estados Unidos, seus geysers, cachoeiras maravilhosas, picos cobertos de neve e fauna abundante motivaram a criação de milhares de parques em todo o mundo. Durante anos os administradores lutaram por criar parques baseados no modelo Yellowstone, e transferiram moradores, freqüentemente de maneira forçada, de áreas em que tinham vivido por séculos. (KEMF, 1993 – apud DIEGUES, 1994, p. 23) Atualmente, no Brasil, ainda em decorrência deste modelo norte-americano, a uma Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 17 referência mais aceita para o desenvolvimento do ecoturismo é a contemplação dos recursos naturais nas unidades de conservação destinadas a visitação pública. Neste caso, os visitantes, geralmente, não realizam atividades de integração com as comunidades. Muitos dos produtos no mercado de ecoturismo brasileiro não valorizam o conhecimento e a experiência que os visitantes poderiam ter através do contato com a cultura das comunidades tradicionais. Muitas pesquisas científicas que contribuíram para a consolidação das áreas naturais na América Latina estritamente a riqueza biológica dos ecossistemas, procurando justificar a necessidade de manutenção dos patrimônios naturais distante da presença humana. Mesmo que muitos estudos tenham excluído o homem como parte integrante do ambiente natural, há atualmente diversas instituições que enfatizam os componentes culturais da nossa sociedade como parte integrante dos ambientes naturais. Um conjunto de problemas diz respeito ao tipo e às características das unidades de conservação existentes, pois aquelas que são caracterizadas como prioritárias, como parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas não permitem a presença de populações humanas, mesmo às consideradas tradicionais que habitavam essas áreas por dezenas e até centenas de anos sem a depredarem. Essas áreas naturais protegidas seguem o modelo norteamericano do Parque de Yellowstone, criado em meados do século passado. (DIEGUES, 1994, p. 15) As populações tradicionais brasileiras que habitavam áreas destinadas às unidades de conservação ou foram retiradas, ou sofreram pressões políticas para se deslocarem. Diegues analisa que, no âmbito nacional, a região amazônica é atualmente a área de maior conflito entre as populações tradicionais e as unidades de conservação, devido à expropriação dos espaços e recursos naturais utilizados tradicionalmente pelas populações ribeirinhas e extrativistas. (DIEGUES, 1994, p. 130) Como ilustração, há o caso citado por Diegues das populações negras que utilizavam os recursos naturais na margem direita do Rio Trombetas, no município de Óbidos, Pará. Essa população passou por situação tanto de coerção como de agressões físicas e policiais, devido à implantação de empresas mineradoras como a Alcoa, Mineração Rio Norte e Eletronorte, bem como no período de criação da Reserva Ecológica de Trombetas (1979), e da Floresta Nacional de Sacará-Taquara (1989). (DIEGUES, 1994, p. 130) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 18 Empresas e governo e seus projetos de exploração e conservação dos recursos naturais estavam legitimados pela ‘modernidade econômica e ecológica’, que se desenvolve com maior intensidade na região da Amazônia desde a década de setenta. Foram responsáveis diretos para que fosse quase que impossível à manutenção do modo de vida daquela comunidade remanescente de quilombos na Amazônia, restringindo principalmente o desenvolvimento de suas atividades extrativistas de sobrevivência. (DIEGUES, 1994, p. 132) La diversidad biológica no se limita al mundo de las plantas y los animales – incluye también la diversidad cultural humana. La diversidad de culturas se manifiesta en las diferentes lenguas, religiones, arte, música, tipos de manejo de la tierra, estructuras sociales, dieta y selección de cultivos de la gente, entre otras cosas. No es pura coincidencia que las regiones del mundo ricas en diversidad de especies sea también ricas en diversidad lingüística[...]. La pérdida de diversidad cultural podría tener un efecto tan devastador como la extinción de las especies. Las relaciones humanas con la tierra tienen sus raíces en creencias y prácticas culturales. Ignorar o destruir dichas culturas sería trastornar prácticas de manejo de la tierra que han sobrevivido la prueba del tiempo. Muchas de las etnias de las Américas poseen un rico patrimonio tecnológico que les permite vivir de la tierra de una forma sostenible, aun en condiciones ambientales adversas como sequías, inundaciones o huracanes. Cuando se despresa a estos pueblos o sus culturas se ven destruidas por el ‘progreso’, también queda destruida su gran riqueza de conocimientos y un recurso valioso para la comunidad global se pierde para siempre. Así como la diversidad de especies podría albergar las soluciones futuras a muchos de los problemas que enfrenta la humanidad hoy en día, la diversidad cultural podría proporcionar respuestas a cómo vivir en éste planeta de una manera sostenible. La diversidad cultural es de particular importancia en el manejo de las áreas protegidas. Solamente en América del Sur, 85,9% de los 184 parques nacionales están habitados, y casi la tercera parte de los administradores de los parques citaron la ocupación humana, legal o ilegal, como uno de sus principales problemas de manejo. (IUCN, 1993, p. 05-06) Ainda hoje, o modo de vida, o patrimônio natural, histórico e cultural das comunidades tradicionais da Amazônia são quase desconhecidas. O reconhecimento da Reserva Extrativista, no Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, previsto para ser aprovado no ano 2000, poderá facilitar o uso sustentável dos recursos. A RESEX poderá se consolidar como um modelo de unidade de conservação, em que a visitação pública através do ecoturismo seja um mecanismo de difusão cultural do uso Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 19 sustentável da floresta. Poderá ainda ser exemplo para movimento social de comunidades latino-americanas, contribuindo para projetos que se estabeleçam afinados com as realidades sócio-ambientais latino-americanas. 2.2 - PARTICIPAÇÃO DA AMÉRICA LATINA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Os dados apresentados na publicação Parques y Progreso, de 1993, pela Internacionale Unión Mundial para la Naturaleza - IUCN, no IV Congresso de Parques Nacionais e Áreas Protegidas (Caracas, 1992) indicaram que a extensão das áreas naturais conservadas e protegidas da América Latina representa cerca de 6% do território, e estão distribuídas em diferentes categorias de manejo nas unidades de conservação, principalmente em Parques e Reservas. (IUCN, 1993, p. 108-133) O reconhecimento mundial da biodiversidade contida nos vinte e três países latinoamericanos foi apontado como o principal fator para alcançar este percentual de áreas naturais protegidas legalmente destinadas à conservação. Estas áreas apresentam diversas dificuldades de ordem econômica, política e social para efetivar a implantação, manutenção e gerenciamento legal do seu patrimônio. A porcentagem ideal identificada é estimada em 10% da superfície terrestre mundial em unidades de conservação, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA. No entanto, apenas 5% dessa superfície estaria legalmente protegida nas diversas categorias, como Parques e Reservas. (DIEGUES, 1994, p. 14-15) Na América Central estima-se que 10,2% do território estaria em áreas legalmente protegidas, com 162 unidades de conservação oficialmente reconhecida pelas nações. Somando-se Reservas Florestais, Reservas Indígenas, Zonas Protetoras e Áreas de Uso Múltiplo, a área protegida é ampliada para 16,3%. Entre os países da região destacam-se três Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 20 com as maiores porcentagens em áreas naturais protegidas: em primeiro lugar a Nicarágua com 32,2%, o Panamá com 17,2% e a Costa Rica com 11,3%. (IUCN, 1993, p. 110) Os dados percentuais de áreas protegidas do território da Costa Rica, apresentados em publicação elaborada pela Fundación de la Universidad de Costa Rica para la investigación FUNDEVI e o Instituto Costarricense de Turismo - ICT, em 1993, eleva o dado percentual apontado pela IUCN (1993) de 11,26% para 25% do território nacional em áreas naturais protegidas. Caso o dado governamental apresentado sobre a Costa Rica corresponde melhor a realidade deste país, a nação estaria entre uma das taxas percentuais mais elevadas do mundo, assim como a Nicarágua. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 11) Desta forma, a região da América Central supera as estimativas ideais previstas pelo PNUMA, o que faz desta região em relação às outras regiões latino-americanas, relativamente, a maior em extensão de áreas naturais legalmente protegidas. O desenvolvimento da atividade de ecoturismo, assim, fica favorecido. A América do Sul possui cerca de 5,5% do território ambientalmente protegido através de 667 áreas distribuídas entre suas nações, sendo que as que possuem as maiores porcentagens territoriais protegidas são: Chile com 18,8%, seguido da Venezuela com 15,4%, e o Equador com 10,3%. O Brasil possui apenas 2,4% de seu território ambientalmente protegido, embora, com sua dimensão continental, este montante de áreas protegidas represente aproximadamente 20 milhões de hectares, equivalente à área total da Venezuela. (IUCN, 1993, p. 108-136) As áreas naturais legalmente protegidas no território brasileiro, representam apenas cerca de 1/4 (um quarto) do sugerido pelo PNUMA. Estas não garantem uma efetiva proteção da diversidade do patrimônio ambiental, histórico e cultural, sendo necessário à expansão da superfície territorial em unidades de conservação, principalmente as que identificam as comunidades locais como parte integrante dos ecossistemas, como é o caso das RESEXs. Porém, além da implantação das reservas é necessário um efetivo apoio governamental nos três níveis. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 21 Em áreas ocupadas por seringueiros, devem ser adotadas medidas urgentes para garantir: (a) a criação de novas Reservas Extrativistas, com base em consultas às comunidades locais, grupos de apoio e em pesquisas de campo; (b) garantias legais para as áreas ocupadas pelos seringueiros a ser respeitadas pelo governo e suas agências (INCRA, IBAMA, DER, etc); (c) a implementação das necessárias expropriações e demarcações de terras nas Reservas Extrativistas; (d) a definição de estratégias para atividades de reforço às comunidades locais para permitir a sua participação nos projetos; (e) a implementação de serviços de saúde e educação planejados junto às comunidades em questão; (f) junto com essas comunidades, a definição de estratégias de pesquisa sobre manejo de recursos naturais, assistência técnica e crédito, estudos sobre vias alternativas de comercialização, etc.; e (g) apoio aos movimentos comunitários do Conselho Nacional dos Seringueiros. (MILLIKAN, 1999, p. 131) O governo federal vai criar 15 novas reservas extrativistas (RESEX) no País, este ano e no início de 2000, com o objetivo de preservar os manguezais. Há no Brasil apenas 12 RESEX, quase todas em áreas de exploração de castanha e babaçu. Levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) nas reservas existentes mostra que as populações dessas áreas ajudam a diminuir o desmatamento com mais eficácia do que a fiscalização tradicional. (MARQUES, 1999) A Costa Rica apresenta um elevado percentual de áreas protegidas em unidades de conservação, dentre as quais os Parques Nacionais que contribuem para a consolidação da atividade de ecoturismo. Percebe-se ainda que há um reconhecimento político de que o meio ambiente é a principal base de recursos para o desenvolvimento deste segmento do turismo. A conservação ambiental faz do ecoturismo uma das principais fontes de divisas do país. 2.3 - NORMAS E OBJETIVOS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Todas as áreas inseridas em unidades de conservação diferenciam-se principalmente pelo uso e ocupação do solo, pelos objetivos e finalidades a que se destinam, e o plano de manejo7 é o principal instrumento técnico para a gestão e manejo destas áreas. 7 Projeto de Lei N.º 2.892, na instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, define no Cap. I, no 2º Art., inciso XVII - Plano de Manejo: “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 22 Os países latino-americanos orientam-se por diversas normas mundiais estabelecidas para as questões referentes às áreas naturais protegidas, indicadas através de documentos originados dos congressos mundiais sobre as unidades de conservação, como se verificou pelo resultado do Congresso realizado em Caracas, em 1992. Neste documento foi observado um consenso político e normativo, sobre as categorias de manejo, para a América Latina que se refere ao desenvolvimento da atividade de turismo na categoria de Parque Nacionais, pois a IUCN, em 1993, reconheceu que o desenvolvimento dos Parques, deve estar pautado em modelo de desenvolvimento sustentável. Embora a categoria de Reserva Extrativista não tenha sido identificada neste documento, acredita-se que este modelo de desenvolvimento aplique-se também a estas reservas com a implementação da atividade de ecoturismo. Los sistemas de áreas protegidas son particularmente importantes para el desarrollo sostenible de los países suramericanos, puesto que constituyen una de las formas más eficaces de alcanzar muchos objetivos de conservación prioritarios. Quizás su objetivo más importante es mantener una representación de la diversidad natural de cada país, aunque también aseguran el funcionamiento de procesos ecológicos y regulan el clima. También brindan a la sociedad un sinnúmero de beneficios sociales, culturales, ecológicos y económicos directos e indirectos. [...] En las últimas décadas, en América del Sur, ha habido cada vez menos áreas naturales intactas que proteger e incorporar a los sistemas nacionales. Esto se debe al continuo crecimiento demográfico, la expansión de las fronteras agrícolas, y la industrialización y la urbanización. Todos estos factores contribuyen a la modificación acelerada del paisaje y a la destrucción del medio ambiente.[...] (IUCN, 1993, p. 131) A região sul-americana apresenta biomas8 que ocorrem em espaços territoriais de diferentes nações, como os biomas da Amazônia e Pantanal. A Amazônia espalha-se pelo território de oito países, dentre eles o Brasil. presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.” (BRASIL, 1999) 8 A definição mais sucinta sobre bioma foi encontrada em Ross, como: “associação relativamente homogênea de animais e vegetais em equilíbrio entre si e com o meio físico. Os biomas são vinculados às faixas de latitude, como, por exemplo, a floresta tropical (latitude baixa) ou a tundra ( latitude alta). É o conjunto de ecossistemas terrestres. É caracterizado pelos tipos fisionômicos semelhantes de vegetação.” (1996, p. 536) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 23 Nas localidades do Estado de Rondônia, em que se pretende implantar o ecoturismo, identificamos que a fronteira entre Brasil e Bolívia é predominantemente marcada pelo Vale do Rio Guaporé, em que estão inseridas as RESEXs Curralinho e Pedras Negras. Há recursos vivos cuja conservação não poderá ser obtida sem uma ação internacional. O princípio da soberania no âmbito dos recursos naturais, além da recente extensão de algumas jurisdições nacionais, implica que a primeira responsabilidade pela conservação deverá ser assumida por cada um dos Estados nacionais. Contudo, a aplicação deste princípio fica limitada pela natureza de muitos problemas da conservação; muitos recursos vivos são compartilhados; [...] Apenas uma ação internacional estará, portanto, em condições de conservar os citados recursos. [...] é igualmente necessária para: promover a conservação dos recursos genéticos ou de outra natureza, que são vitais para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade e estimular e apoiar a ação nacional. (IUCN, 1984) A região da Amazônia possui atualmente cerca de 74 unidades de conservação nos diferentes países, ou 4,5% de sua superfície. Verificou-se que os aspectos ecológicos biodiversidade e endemismo9 das espécies nativas da flora e fauna presentes neste bioma foram os mais evidenciados para a expansão destas áreas, em detrimento aos aspectos sociais e históricos da região, como o Tratado de Cooperação da Amazônia, que tem como objetivo ampliar para 91, o total de áreas protegidas. (IUCN, 1993, p. 137) Os fatores que historicamente mais contribuíram para a implantação de áreas naturais na América Central são expostos na publicação Parques y Progreso, em 1993. El desarrollo de las áreas protegidas en la región centroamericana ha seguido un curso diferente en cada país. Los cuatro factores históricos que más influenciaron la creación de áreas protegidas en América Central fueron la posibilidad de recreación para las populaciones locales, la protección de extraordinarios sitios naturales, la protección de sitios arqueológicos pre-Colombinos y, en vista de la reciente deforestación, la necesidad de proteger la biodiversidad de la región. (IUCN, 1993, p. 109-110) Os fatores apresentados para esta região, indicam a utilização destas áreas para a recreação das populações locais, encontrada também nas áreas das RESEXs, em Rondônia, no 9 Endemismo é definido como: “táxon (níveis hierárquicos de classificação dos seres vivos e podem expressarse em nível de espécies, gênero, famílias e ordens) nativo e restrito a uma determinada área geográfica. O endemismo também é variável no tempo.” (ROSS, 1996, p. 536) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 24 Brasil. A similaridade entre Brasil e Costa Rica surge também nas evidências de vestígios arqueológicos no Vale do Guaporé. De fato, de acordo com as pesquisas do arqueólogo Eurico Theófilo Miller a região do vale do Guaporé, tanto do lado boliviano quanto do brasileiro é um complexo de sítios arqueológicos definidos principalmente pelas fases Corumbiara e Pimenteira10, considerando como fase um conjunto de traços culturais em comum, presentes nos fragmentos ou vasilhames cerâmicos como espessura, tipo de borda, altura, decoração, utilização entre outros, relacionados no tempo e no espaço. (NATIVA, 1994, p. 10-11) Reconhecendo-se que a diversidade social, política e ambiental das nações latinoamericanas são extremamente positivas para o continente, analisa-se que o estabelecimento de políticas elaboradas de forma conjunta, com fatores comuns às nações envolvidas, poderia ser instrumento de consolidação da conservação sócio-ambiental da região sul-americana, e auxiliariam mais diretamente os diversos setores institucionais que contribuem para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo. Da publicação Parques y Progreso, foram selecionados alguns apontamentos para elucidar os temas anteriormente discutidos. Las áreas protegidas de América Central están manejadas por una serie de instituciones, incluyendo agencias de gobierno, instituciones autónomas, fundaciones privadas, municipalidades, organizaciones no-gubernamentales (ONGs) y disposiciones mixtas. En general, ha habido poca participación de las comunidades en la identificación, planificación y manejo de las áreas protegidas. Costa Rica, el país con el sistema de áreas protegidas mejor consolidado, ha analizado sus sub-sistemas y situación administrativa actual. Además, Costa Rica definió el concepto de unidades de conservación como herramienta para mejorar la integración regional de las áreas protegidas y para coordinar los procedimientos administrativos. (IUCN, 1993, p. 109-113) O Brasil, com sua pequena porcentagem de área territorial inserida em unidades de conservação, vêm aperfeiçoando os objetivos nacionais para a implantação destas áreas para a 10 O documento elaborado pelo Grupo Nativa indicou: “as pesquisas de Eurico T. Miller (1983) ‘mostram uma correlação entre as cerâmicas pertencentes às fases Pimenteiras e Corumbiara no Alto-Médio Guaporé é o complexo cerâmico de um dos grupos falantes do Tronco-Tupi, historicamente assentados na região, [...] muito provavelmente, os Tupi que executaram tais cerâmicas desde aproximadamente 1.050 a.P (A.D. 900)’.” (AGUAPÉ, 1994, p. 11) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 25 conservação ambiental, ao longo das últimas seis décadas, desde a criação do Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro, em 1937. E apontando inovadoras formas de administração do patrimônio natural, histórico e social como a implantação da categoria de RESEX. 2.4 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DAS RESERVAS EXTRATIVISTAS No Brasil, o Projeto de Lei N.º 2.892, de 1999, é uma referência do avanço nas questões referentes às unidades de conservação11, aprovado na Câmara dos Deputados, em 10/06/99, para regulamentar o Artigo 225, da Constituição Federal Brasileira de 1988, no que se refere ao primeiro parágrafo, e aos incisos I, II, III e VII, que possibilitem instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Após a sua aprovação pelo Senado e sancionado pelo Presidente da República, o projeto de lei passará a vigorar na Federação. (BRASIL, 1999) A ONG World Wildlife Foundation - WWF, no Brasil, notificou que a proposta para o atual SNUC, foi elaborada de forma participativa descrevendo que: [...] é o texto mais adequado, resultado de um amplo consenso entre ambientalistas, representantes de comunidades e a área ambiental do governo (Ministério do Ambiente e IBAMA). Esta proposta respeita os direitos das populações locais e garante a participação democrática da sociedade nas decisões sobre a criação e manutenção dos parques e reservas, conciliando os interesses ecológicos, culturais, sociais e econômicos de forma a repartir os benefícios e custos da preservação. (WWF, 1999, p. 2) Foram destacados alguns objetivos da proposta para o atual SNUC que podem influenciar, direta e indiretamente, o desenvolvimento da atividade de ecoturismo: - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; 11 O Projeto Lei N.º 2.892 (1999), define unidades de conservação, como: “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” (BRASIL, 1999) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 26 - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. (BRASIL, 1999) A aprovação deste documento no Brasil, espera-se constituirá um instrumento de importância para consolidação, viabilização, e expansão do território brasileiro inserido nas categorias de unidades de conservação já existentes legalmente, como é o caso das RESEXs. “O Brasil protege mal sua natureza: apenas uma fração do que é oficialmente protegido, cerca de 0,4% do território, está efetivamente preservado em parques e reservas nacionais com condições mínimas de implementação.” (WWF, 1999, p. 02) O documento Estratégia Mundial para a Conservação, de 1984, aponta aspectos que se referem à legislação que devem ser levados em consideração pelas nações para a consolidação da proteção dos recursos naturais. Deveria existir uma legislação específica destinada a permitir que se alcancem as finalidades da conservação, mediante disposição visando a um aproveitamento sustentado e a uma proteção dos recursos vivos e de seus sistemas vitais. Prever a regulamentação dos usos da terra e da água, assim como a regulamentação, tanto dos impactos diretos sobre os recursos, tais como a exploração e a eliminação de hábitats, quanto os indiretos, tais como a poluição ou a introdução de espécies exóticas. [...] Ademais, a lei deveria estipular a participação dos cidadãos no processo político, assim como o fornecimento de informações suficientes para que essa participação seja efetiva e os recursos legais disponíveis para a sua aplicação. (IUCN, 1984) A proposta para o atual SNUC insere as RESEXs no Grupo II das Unidades de Conservação de Uso Sustentável, que tem como objetivo básico: Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 27 [...] compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. E define ainda como Reserva Extrativista: uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. (BRASIL, 1999) Diegues, indica uma definição elaborada pelo extinto Instituto de Estudo Amazônico – IEA, Curitiba, Plano de Trabalho (1989), que define: Denomina-se reserva extrativista uma área já ocupada por populações que vivem dos recursos da floresta, regularizada através da concessão de uso, transferida pelo Estado para associações legalmente constituídas, exploradas economicamente segundo plano de manejo específico e orientada para o benefício social das populações através de projetos de saúde e educação. (ALEGRETTI, 1989 – apud DIEGUES, 1994, p. 133) O movimento nacional dos seringueiros, iniciado na metade da década de oitenta, estabeleceu o Conselho Nacional de Seringueiros – CNS, que tem como uma das principais estratégias a criação das RESEXs, de forma a salvaguardar o território de forma legal para as comunidades tradicionais extrativistas no território brasileiro. (DIEGUES, 1994, p. 132-135) A implantação das RESEXs como resultado dos movimentos sociais rurais que se iniciaram mais especificamente no Acre, é conseqüência da necessidade do estabelecimento do uso e ocupação do solo que beneficia os seringueiros, a partir da década de oitenta, que lutavam não apenas pela manutenção da floresta, mas também por reforma agrária. (ROSS, 1995, p. 526-528) [...] No Acre, os seringueiros organizados nos sindicatos de trabalhadores rurais têm aberto luta contra os latifundiários. O movimento tem aparecido na imprensa como luta contra os desmatamentos da floresta amazônica (ecológica, portanto), mas, na sua essência, é uma luta pela reforma agrária e na floresta. Liderados inicialmente por Wilson Pinheiro (assassinado em 1980), depois por Chico Mendes (assassinado em 1988) e atualmente por Raimundo de Barros, Osmarino Amâncio Rodrigues, Júlio Barbosa e Pedro Barbosa, entre outros, esses seringueiros se organizaram, propuseram e estão lutando pela implantação das reservas extrativistas na Amazônia como uma forma não só de preservação da floresta mas também, e sobretudo, de reforma agrária na região. Como Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 28 instrumento de luta criaram o Conselho Nacional dos Seringueiros e procuram unificá-la com a dos povos indígenas da região pela demarcação das reservas indígenas. Para isso, fundaram, junto com a UNI (União das Nações Indígenas), a Aliança dos Povos da Floresta. (ROSS, 1995, p. 526-528) É marcante a influência que a personalidade de Chico Mendes teve sobre os seringueiros, que estavam sofrendo pressões dos latifundiários provenientes da região sul do país, para a venda de suas terras, e degradando os recursos naturais que vinham sendo mantidos de forma sustentável por estas populações. Basicamente, quando o preço da borracha caiu e os seringalistas – os que tinham terra de não acabar mais – viram que não havia mais interesse em continuar com o seringal, resolveram vender suas terras para o pessoal do Sul, que demonstrou interesse em comprá-las para a criação de gado. Logo estavam derrubando tudo, plantando pasto, modificando a região e o seringueiro não tinha mais para onde ir. Pessoas que passaram a vida inteira dentro da floresta, gerações ali trabalhando e fazendo com que a natureza fosse autenticamente preservada, não sabiam mais o que fazer. Os fazendeiros compravam a propriedade e queriam contratar o pessoal para ajudar a derrubar a mata, e Chico Mendes – sem violência – convencia as pessoas a dizerem não, explicando que era um crime. Começaram a levar de fora para trabalhar, que não tinham a ver com aquela cultura, e a situação foi se modificando, muito embora a atuação de Chico Mendes continuasse. Por essa razão, foi morto. Ele estava trabalhando o processo e, assim, foram criadas as Reservas Extrativistas. (BARROS, 2000, p. 89) A RESEX Chico Mendes foi a primeira implantada, em 1990. Esta reserva é fruto da luta dos seringueiros pela terra onde vivem há 3 gerações. É uma conquista, após 20 anos de incertezas. O modelo de desenvolvimento definido para a Região, nos anos 70, foi o desmatamento para criar gado, assentar colonos e tirar madeira. Os seringueiros, diante do desastre de tal modelo, que expulsava suas famílias da floresta para a cidade, se opuseram a ele e solicitaram o respeito à tradição e à forma de vida extrativista, cuja economia exige a floresta em pé. Passaram-se anos de resistência, de lutas, de assassinatos, como o do líder Chico Mendes (1988), até a decretação da reserva em 1990. Para esta conquista muito contribuiu o Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), atuante desde 1985. (IBAMA, 1999) No Brasil, em 1985, o sindicato dos seringueiros colaborou com o governo na busca de uma nova forma de garantir um uso pouco destrutivo de certas regiões da floresta amazônica. A criação de reservas extrativistas deu proteção legal às terras florestais utilizadas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 29 tradicionalmente por seringueiros, colhedores de castanha-do-pará e outras populações locais. Embora não tenha sido lavrada nenhuma escritura, cada família manteve seus direitos de acesso às zonas tradicionais de coleta dentro da reserva. A terra não pode ser vendida nem utilizada para fins não-florestais, mas as culturas de subsistência são permitidas em pequenos lotes. Foram propostas 20 reservas; as seis primeiras foram criadas no Acre, um dos estados brasileiros mais ameaçados pelo desmatamento. A criação de reservas extrativistas para a exploração de outros produtos florestais, que não a madeira, passou a ser um meio promissor de conciliar desenvolvimento econômico e conservação. Muitos desses produtos podem ser explorados sem que se destrua a cobertura florestal. As reservas extrativistas diferem dos métodos tradicionais de proteção que, restringem o acesso a recursos tradicionalmente, perturbam as tradições culturais e as economias locais. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 162) 2.5 - O CASO DE RONDÔNIA NAS RESERVAS EXTRATIVISTAS ESTADUAIS CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS No âmbito federal, as ‘RESEXs’ administradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA, que define os procedimentos da sua implantação, através da Portaria IBAMA N° 50 de 11/05/94. Em Rondônia, além de uma reserva extrativista federal, foram criadas 21 reservas estaduais, com apoio do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia – PLANAFLORO. As reservas extrativistas estaduais mantêm vários princípios das federais, mas são administradas pelo Instituto de Terras de Rondônia – ITERON e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental – SEDAM. Essas reservas ‘têm a sua implantação com maior participação dos extrativistas (através da Organização dos Seringueiros de Rondônia, que atua como representação política e executora de projetos), e podem se beneficiar da experiência da RESEXs federais para desenvolver procedimentos próprios para melhorar a sua implantação’ (RONDÔNIA, 1996b). (WEIGAND E PAULO, 1998, p. 07) As RESEXs Curralinho e Pedras Negras, no Estado de Rondônia, foram criadas na década de noventa, com os mesmos propósitos das primeiras unidades de conservação desta categoria, e segundo o atual Projeto de Lei, de 1999, possuem planos de utilização aprovados, nas instâncias normativas locais e estaduais, que estabelecem as normas de uso e ocupação do solo de suas populações tradicionais, conforme descrição abaixo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 30 RESEX Curralinho foi estabelecida legalmente, no dispositivo da Lei N° 547, de 30/12/93, que regulamenta as atribuições da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental - SEDAM e do Instituto de Terras e Colonização de Rondônia - ITERON e, no Decreto Estadual n°6952 de 17/07/95. A Reserva Extrativista possui o Plano de Utilização, aprovado pela Portaria n°005, de 17/02/97, publicado no Diário Oficial do Estado, em 10/03/97. (RONDÔNIA, 1997, p. 23) Consolidando o modelo social participativo das comunidades extrativistas brasileiras, o Plano de Utilização foi anteriormente apresentado pela Comissão Técnica de Extrativismo de Rondônia, em reunião e aprovado em Assembléia dos Moradores. RESEX Pedras Negras foi estabelecida legalmente pelo mesmo dispositivo, mas no Decreto n°7106 de 04/09/95, e possui o Plano de Utilização, aprovado pela Portaria Conjunta n°004/ de 17/02/97, em mesma reunião da implantação da RESEX Curralinho. (RONDÔNIA, 1997, p. 23) A Associação dos Seringueiros do Vale do Guaporé - AGUAPÉ, ONG local, um modelo de administração comunal, é responsável pelos trabalhos de orientação comunitária na área social, coordenando e acompanhando ações executadas nos territórios das RESEXs Curralinho e Pedras Negras. Esta instituição está integrada à Organização dos Seringueiros de Rondônia OSR, às Associações das RESEXs do Estado, e trabalha em conjunto com as mesmas nas questões políticas e técnicas. A OSR, por sua vez, está associada ao Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS. Este envolvimento cooperativo contribui para a consolidação do manejo sustentável da floresta em ações locais, como ocorrem nestas RESEXs de Rondônia, com a implementação de projetos, como a fábrica de beneficiamento de castanha-do-pará, tecido vegetal e ecoturismo, que ampliam as alternativas econômicas para além da mera comercialização de produtos primários coletados nas áreas da floresta amazônica. Estes projetos contam com apoio técnico, em Rondônia, através de profissionais de organizações ambientalistas nacionais e internacionais, como a Ação Ecológica Guaporé - ECOPORÉ, que os auxilia tecnicamente em projetos como o da implementação da atividade de ecoturismo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 31 Considerando questões legais para o desenvolvimento do processo de planejamento foram analisadas as restrições legais na implementação do Projeto de Desenvolvimento de Ecoturismo nestas RESEXs, as medidas de implementação previstas foram orientadas no sentido de contemplar e respeitar as normas de uso previsto nos documentos dos Planos de Utilização das RESEXs Curralinho e Pedras Negras. Estes documentos prevêem nas Disposições Gerais, a promoção de atividades educativas com moradores vizinhos da Reserva, mas não pode ser abrangida para o desenvolvimento do ecoturismo. Assim, é de fundamental importância a inclusão da atividade de ecoturismo nos documentos destas RESEXs, para que não ocorram imprevistos e restrições de ordem legal, quanto ao processo de implementação da atividade de ecoturismo, pois o atual SNUC prevê a viabilidade de visitação pública, mas questiona-se a necessidade desta atividade ser compatível com interesses das comunidades locais, e sua disposição no Plano de Manejo da área, ou seja de Utilização, como nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras. Apesar da atividade de ecoturismo não estar identificada explicitamente no Plano de Utilização das RESEXs Curralinho e Pedras Negras, ao longo desta última década já foram desenvolvidos pelo menos dois projetos voltados para a implementação da atividade de ecoturismo nestas comunidades tradicionais do vale do Guaporé, sendo o primeiro identificado como o Diagnóstico das Potencialidades Turísticas do Vale do Guaporé - RO: alternativas econômicas para as comunidades de Pedras Negras e Santa Fé, em 1994. E o segundo uma Proposta para o Desenvolvimento de Projeto para a Implantação de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Curralinho e Pedras Negras (Rondônia), em 1997. Identificou-se que vislumbrando a possibilidade de desenvolvimento desta atividade, as comunidades têm procurado participar de cursos e oficinas de capacitação profissional que permitam uma melhor formação e orientação técnica de seus integrantes sobre o ecoturismo. As atividades e projetos de ecoturismo, dos quais as comunidades destas RESEXs têm participado, indicam uma especial atenção dada à possibilidade de implementação desta atividade, como mais uma alternativa de manejo e administração sustentáveis, e que Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 32 futuramente contribuirá para uma maior integração entre as comunidades do Vale do Guaporé. 2.6 - INDICAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO PÚBLICO Segundo o Projeto de Lei N.º 2.892, de 1999, que regulamenta o artigo número 225 da Constituição do Brasil, no primeiro parágrafo, no capítulo III, das categorias de unidades de conservação, pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação. (BRASIL, 1999) No artigo sétimo, estabelece que as unidades de conservação para visitação pública estão inseridas em dois grupos, sendo o primeiro de proteção integral, em que o objetivo básico: “é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.” E o desenvolvimento das atividades devem ser realizados à partir das normas e regulamentos dos Plano de Manejo de cada unidade de conservação. (BRASIL, 1999) As categorias deste primeiro grupo em que a visitação pública é permitida identifica-se a categoria de Parque, podendo ser esta categoria nos âmbitos nacional, estadual e municipal, e as categorias de Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. As unidades de conservação inseridas no segundo grupo designado de uso sustentável, que tem como objetivo básico de, “compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”. Estas permitem a visitação pública, de acordo com as normas e regulamentos dos Planos de Manejo ou Utilização encontram-se as seguintes categorias: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e Reserva Particular do Patrimônio Natural. (BRASIL, 1999) Como a categoria de unidade de conservação de Reserva Extrativista, permite a visitação pública, e surgiu na década de noventa no Brasil, a partir da reivindicação por reforma agrária de comunidades extrativistas amazônidas, considerou-se de fundamental importância para este trabalho avaliar os aspectos históricos e sociais destas comunidades, desde a origem da atividade extrativista de látex, e o desenvolvimento desta atividade ao Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 33 longo do último século. Avaliando-se a origem desta população, as formas de trabalho, e as causas do declínio deste produto no mercado nacional e internacional. O reconhecimento destas comunidades extrativistas amazônidas de seus valores históricos e culturais, como um recurso atrativo para a implementação da atividade de ecoturismo, mobilizou as comunidades inseridas nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, do Vale do Guaporé a realizar e participar de diversos trabalhos de capacitação profissional, diagnóstico turístico e projeto de plano para implantação de ecoturismo. Estes foram realizados nesta última década com o objetivo da implementação desta atividade como mais uma alternativa econômica para a melhoria da qualidade de vida destas populações guaporeanas. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 34 CAPÍTULO – 3 – RESERVAS EXTRATIVISTAS – RESEXS NA AMAZÔNIA RONDÔNIA 3.1 - REFLEXÕES SOBRE A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA ATRAVÉS DA BORRACHA As famílias dos seringueiros têm como principal atividade extração do látex12, no período da vazante dos rios na Amazônia, mas é importante refletirmos sobre as famílias do Vale do Guaporé. Após a coleta do látex, é realizado um processo para a obtenção da bola de borracha defumada13, para a comercialização do produto. Segundo Dean, a obtenção da borracha à partir do látex em escala industrial originou-se através de pesquisas realizadas por botânicos europeus que percorreram diversas regiões na América Latina, como a América Central e regiões da Amazônia, às espécies vegetais produtoras de látex foram testadas em laboratórios de Paris, Londres e Berlim, a partir da segunda metade do século XIX, devido às informações fornecidas pelos povos indígenas, como pode-se observar. [...] Os índios do Novo Mundo aprenderam a extrair a borracha de pelo menos oito das muitas espécies tropicais nas quais se encontra como ingrediente num fluido leitoso chamado látex, que corre por vasos especiais situados na parte interna da casca, provavelmente como defesa contra insetos predadores. Portanto, a luta pela borracha teve de começar com a observação dos povos indígenas. Nada havia de novo nisso. Os botânicos que viajavam para as regiões selvagens da América do Sul dependiam dos habitantes locais para obter instruções quanto ao uso das espécies estranhas, mais tarde testadas nos laboratórios de Paris, Londres e Berlim. (DEAN, 1989, p. 30) 12 Em Hironaka encontrou-se a seguinte definição: “O látex – líquido de cor esbranquiçada, cuja composição, nas Heveas dos altos rios, apresenta, aproximadamente, 55% de água para 35% de substância elástica”. (HIRONAKA, 1997, p. 52) 13 Apesar do método de extração e coleta do látex ter sido aperfeiçoado pelos seringueiros, é interessante observar como era realizado inicialmente pelos povos indígenas. Assim: “Richard Spruce foi o primeiro a descrever a maneira acurada as técnicas de coleta da borracha. Em 1855, no ‘Hooker’s Journal os Botany’, ele explicou que o coletor fazia numerosos cortes irregulares na casca da árvore com uma machadinha e o látex escorria das incisões, tronco abaixo, até uma calha de barro, sendo daí coletado numa cuia. A borracha era então coagulada, gotejando-se [...] o líquido num espeto que girava bem devagar sobre um fogo brando.” (DEAN, 1989, p. 33) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 35 A Hevea brasilensis, seringueira, é uma espécie vegetal de floresta tropical, que atinge uma altura de trinta a cinqüenta metros e encontra-se nas margens dos rios, distribuídas no interior das florestas. Em Dean, observa-se que as árvores não estão próximas umas das outras, e houve a necessidade de uma expansão territorial para interior do Brasil pelo aumento da demanda da borracha no mercado mundial. [...] A árvore não se encontrava em arvoredos uniformes; ao contrário, podia não haver mais de dois ou três espécimes exploráveis num hectare. Na medida em que a demanda de borracha crescia e a busca da Hevea se ampliava, descobriu-se que a Hevea brasiliensis, com exceção de algumas incursões, crescia somente na margem direita do Amazonas, num vasto semicírculo com centro a oeste de Manaus, alcançando ao sul o Mato Grosso, o Acre, o norte da Bolívia e o leste do Peru, até uma altitude de cerca de oitocentos metros, dentro daquela porção da bacia que recebia pelo menos 1.880 milímetros de bem distribuída precipitação pluvial anual. Além desta espécie encontra-se na Amazônia as espécies Hevea guianensis e Hevea benthamiana, conhecidas popularmente por seringa-itaúba e seringa-chicote, mas não são tão produtivas quanto a Hevea brasiliensis. (DEAN, 1989, p. 33; 70) Para percorrer as trilhas - estradas da floresta tropical, os seringueiros precisam ter um profundo conhecimento do espaço e território a ser percorrido, não são caminhos permanentemente demarcados com tanta nitidez, para visitantes ou observadores mais recentes que desconhecem a dinâmica ambiental da floresta tropical, pois os componentes da paisagem florestal podem alterar-se rapidamente, dependendo da estação do ano, e dos períodos entre as cheias e as vazantes dos rios. Uma definição sobre as florestas pluviais tropicais é apresentada neste trabalho para indicar o ambiente em que vivem os seringueiros da Amazônia brasileira, procurando compreender a complexidade do ambiente em que estão inseridos e convivem em harmonia com o ambiente natural. Segundo Wilson, a distribuição da biodiversidade de espécies vegetais nas florestas tropicais, também nos indica a diversidade de animais, aproximadamente 30% de quase dez mil espécies de aves já identificadas no planeta existem na região da bacia amazônica. A flora e fauna que são utilizados pelas comunidades tradicionais, o modo de uso destes recursos desmistificam conceitos humanos, principalmente de centros urbanos, sobre a floresta ser algo intransponível ao caminhar humano. Assim, Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 36 A extraordinária riqueza das florestas pluviais tropicais [...] é disposta em múltiplas camadas [...] desde a abóbada superior com trinta metros ou mais de altura (interrompida por árvores dispersas que ultrapassam quarenta metros), passando por estratos médios entrecortados por arbustos baixos que chegam à altura do peito humano. Lianas, cipós e trepadeiras enrolam-se nos troncos e pendem dos galhos superiores até o chão. Canteiros de orquídeas e outras epífitas festonam os galhos mais grossos. As palmas são comuns nos estratos: médios e inferior de muitas florestas tropicais. [...] Podemos caminhar facilmente pela floresta, empurrando para o lado os galhos e frondes que se entrecruzam, desviando-nos dos troncos das grandes árvores, curvando-nos para passar por baixo de lianas e dos galhos mais baixos. (WILSON, 1994, p. 210) Em A Luta pela Borracha no Brasil, pode-se verificar algumas informações importantes que descrevem sobre o modo de vida dos seringueiros, que para realizarem a coleta do látex no interior da floresta tropical identificam a distribuição das árvores de seringueiras no território percorrido, para posteriormente formarem as estradas, que serão percorridas ao longo dos dias, em todo período da coleta do látex. Estas estradas estão interligadas entre si, dependendo da complexidade da região o seringueiro poderá desprender até seis meses para identificar a área de coleta do látex. A quantidade de árvores utilizadas para extração pode variar, normalmente pela abertura de duas a três estradas, cada uma contem entre sessenta a cento e cinqüenta árvores, é também um número estimado de árvores que cada seringueiro consegue executar o trabalho num período útil de seis meses de extração. Para a extração do látex é necessário realizar um manejo cuidadoso nas árvores, permitindo que estas se recuperem das incisões realizadas para a extração do látex. (DEAN, 1989, p. 68) Efetua-se a sangria em dias alternados em cada estrada, a fim de permitir que as árvores se recuperassem. O seringueiro passava duas vezes por uma estrada. Na primeira vez, de manhã cedinho, quando o fluxo de látex era mais pesado, fazia as incisões. Depois, na segunda passagem, colhia o látex. À tarde, acocorava-se diante de um fogo alimentado por cocos, sobre o qual suspendia uma vara, que girava sem parar, enquanto o látex gotejava lentamente. Aos poucos formava-se uma grande bola de borracha sólida. A temporada resumia-se aos seis meses de pluviosidade relativamente baixa, porque na estação das chuvas as trilhas se alagavam e os copos se enchiam de água. Dependendo das características variáveis das árvores, do tempo, do solo e dos seringueiros, essas técnicas proporcionavam uma produção anual de duzentos a oitocentos quilos por seringueiro, com uma média abaixo de quinhentos quilos. (DEAN, 1989, p. 68) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 37 Identificou-se em Hironaka, outra descrição sobre a extração do látex pelos seringueiros que nos permite identificar alguns aspectos importantes da singularidade da extração do látex e sua transformação em bola de borracha defumada. A extração do látex inicia-se no mês de maio e estende-se até o mês de novembro. O trabalho processa-se, inicialmente, pela localização das árvores que, via de regra, se encontram dispersas na floresta, obrigando o seringueiro a caminhar quilômetros até formar as ‘estradas’ na sua área de exploração. A seguir ele raspará ou ‘sangrará’ o tronco da árvore, num processo universal da coleta do látex, fazendo-o com grande cuidado e evitando danificá-la. Utiliza, para tanto, uma faca apropriada e faz os cortes no sentido oblíquo, sangrando os vasos latíferos do qual escorrerá o látex. Este será recolhido numa tigelinha metálica; no dia seguinte o seringueiro percorrerá novamente as estradas, recolherá o sernambi de rama (coágulo dos painéis sangrados) e o próprio látex coletado num saco defumado ou balde. De volta a sua habitação, iniciará a defumação na fumaça do ‘buião’, forno situado dentro do ‘tapiri’, que é uma cabana rústica erguida ao lado de sua moradia. Primeiramente ele fará a confecção da bola ou ‘péla’, que poderá chegar até quatro quilos, e cuja primeira capa (posteriormente envolta em madeira, que tem o nome de ‘cavador’ ou ‘jatira’) será o ponto de partida do processo. Sobre a péla aquecida, ele irá despejando o látex, até formar, a grande bola defumada. (HIRONAKA, 1997, p. 52) O modo de extração do látex e produção da borracha pelos seringueiros, permite que atividades de agricultura de subsistência como a mandioca, criação de aves e animais, e a pesca, para consumo familiar, sejam realizadas de forma concomitante. Na época da cheia, com a inundação dos igarapés, e a impossibilidade de extração do látex, as comunidades vivem de atividades agrícolas e demais fontes de subsistência, atualmente orientadas pelo Plano de Utilização das RESEXs. O trabalho de extração do látex não ultrapassa quatro dias semanais, sendo que os demais o seringueiros o utilizará para cuidar de seu cultivo, destinado a alimentar a si e à sua família, bem como se dedicará à caça e à pesca – atividade extrativista animal paralela – cujos produtos também se reverterão para a subsistência de seus familiares. O seringueiro poderá também, na entressafra, dedicar-se à extração da castanha-do-pará ou coletar diferentes espécies de essências oleaginosas, ocupação essa destinada a melhorar-lhe a renda. (HIRONAKA, 1997, p. 52-53) As comunidades extrativistas especialmente das RESEXs Curralinho e Pedras não conseguem obter os recursos necessários para garantir sequer suas necessidades básicas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 38 através das atividades extrativistas. O resultado desta dificuldade econômica tem contribuído para que esta comunidade busque como alternativa a realização de outros trabalhos, diferentes daqueles que estabeleceram tradicionalmente uma relação harmônica através do uso sustentável dos recursos naturais. Anteriormente, as dificuldades enfrentadas pelos seringueiros eram maiores, pois o trabalho estava vinculado à produção de borracha para os seringalistas, que estabeleciam direito de propriedade em extensas áreas de floresta para extração do látex, fornecendo aos seringueiros, provenientes principalmente da região do nordeste, adiantamentos oferecidos pelos transportes do local de origem até a região do seringal, alimentos e demais necessidades. Desta forma, neste sistema conhecido como barracão, o seringalista obtinha lucro pela comercialização da borracha e materiais dos suprimentos existentes na edificação conhecida como barracão, e os seringueiros tinham no final da sua produção anual de borracha natural um saldo negativo para com o seringalista. Além destas condições de trabalho, muitas vezes desvinculado de salários e benefícios sobre os vínculos empregatícios, a população de seringueiros defrontava-se com problemas de malária, doença de Chagas e leishmaniose, em que muitas pessoas acabam por perder a vida, pela ausência de assistência médica, como podemos observar pela indicação do número de pessoas que foram enviadas da região do nordeste para a Amazônia no início do século. (DEAN, 1989, p. 70-73) As exigências em trabalho desse sistema de coleta eram, a longo prazo, mais onerosos do que as plantações. Em 1910 a extração e transporte empregava cerca de 150.000 trabalhadores em extração e transporte, comparados aos 240.000 seringueiros da Malásia, mas o rendimento potencial dos últimos, em plantações adultas, era pelo menos três vezes maior do que o dos brasileiros. Além disso, o sistema extrator sofria maior rotatividade no trabalho. A mortalidade elevada era a principal causa de escassez de mão-de-obra, o que obrigava ao recrutamento contínuo de nordestinos, talvez 14.000 por ano na década de 1900. [...] porém, muitos dos que sobreviveram à experiência retornaram a seu Nordeste natal. Em fins da década de 20 havia talvez 250.000 homens adultos nas áreas rurais de toda a bacia amazônica, menos de um em cada dezesseis quilômetros quadrados. (DEAN, 1989, p. 73; 125) As remessas de seringueiras crescidas em plantações chegaram a 1.000 toneladas em 1907. Nessa época tornara-se uma especulação febril, e a área plantada para a produção de borracha expandiu-se enormemente. Entre 1907 e 1910 decuplicou na Malásia, alcançando Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 39 400.000 hectares; na última data havia quase 100.000 hectares plantados em Sumatra e Java. Possivelmente havia mais Hevea brasiliensis nas plantações do Extremo Oriente do que em estado nativo na Amazônia brasileira. Em 1913 foram vendidas no mercado mundial 47.618 toneladas de borracha provenientes dessas plantações, mais do que toda a borracha obtida no Brasil naquele ano. A economia amazônica, por sua vez, foi arrasada pela concorrência do Ceilão e da Malásia. Os salários caíram com os preços a um quarto de seu nível durante o ‘boom’. Comerciantes, exportadores, banqueiros e corretores desesperados juntaram-se a seus seringueiros num êxodo da região. Manaus e Belém, as fulgurantes capitais equatoriais do comércio da coleta, iriam enfrentar um longo inverno de estagnação, inaugurado por bancarrotas em série. Os empresários do comércio de coleta que se obstinaram em permanecer na região vasculharam o vasto interior em busca de outro produto silvestre capaz de reanimar as frotas de vapores e os definhastes coletores da selva, mas não conseguiram nada tão apreciado. (DEAN, 1989, p. 6465) Verificou-se em Hironaka que o regime de trabalho no seringal é atualmente realizado através de um contrato de aviamento14, uma espécie de contrato de trabalho que existe apenas na Amazônia Legal, em que o seringueiro não tem remuneração salarial mensal, semanal ou diária, esta é realizada pelo resultado de sua produção final. O reconhecimento legal da atividade extrativista foi à partir da segunda metade da década de setenta, pelo Decreto n° 73.617, de 12 de dezembro de 1974, pela aprovação do regulamento do Programa de Assistência ao Trabalhador Rural –PRORURAL, no art. 13, em que: Considera-se empregador rural, a pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que, em estabelecimento rural ou prédio rústico, explora atividade agrícola, pastoril, hortigrangeira ou a indústria rural, bem como a extração de produtos primários vegetais ou animais, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por meio de prepostos, como o concurso de empregados. (HIRONAKA, 1997, p. 53) Após a produção nacional de borracha ter sofrido oscilações nas primeiras três décadas deste século, em função da produção nos países orientais, na década de trinta verificou-se a implantação de duas áreas de cultivo de seringueiras, pela empresa norte-americana Ford, no 14 “É o contrato de trabalho rural mediante o qual uma pessoa denominada ‘aviador’ entrega a outra, denominado ‘aviado’, dinheiro e/ou mercadorias e/ou gêneros alimentícios, por determinado valor unilateral estabelecido pelo primeiro, a fim de que o segundo se obrigue a vender-lhe toda ou parte da coleta de castanhas ou de látex de seringueira transformada em pélas de borracha, obtidos tais produtos em determinado período avançado e em áreas de terra ou não”. (SODERO, 1975 – apud HIRONAKA, 1997, p. 53) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 40 Estado do Pará, nos municípios de Fordlândia e Belterra15. Mas, foi à partir da década de quarenta que o mercado brasileiro passou a apresentar um aumento pela demanda da borracha, resultante da chegada das empresas de manufaturas de borrachas americanas, como a Pirelli, Firestone e Goodyear, no estado de São Paulo, e Seibberling, no estado do Rio de Janeiro. (DEAN, 1989, p. 129) O Brasil na década de quarenta passava então para o processo industrial da manufatura nacional da borracha, durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Durante a segunda guerra, pela elevada demanda para produtos bélicos, identificou-se que não havia estoque mundial de borracha, e em conseqüência de dificuldades de pragas agrícolas em campos cultivados de seringueiras nas regiões orientais, fez com que os países industrializados se voltassem novamente para o elevado potencial produtor de borracha da região da Amazônia. (DEAN, 1989, p. 131-139) Estimou-se que em 1941, haveria cerca de 200 milhões de pés de Hevea sp, nesta região, com possibilidade de produção de 667.000 toneladas por ano, mas a efetiva possibilidade de produção estava vinculada ao número de trabalhadores, os seringueiros. Neste momento para produzir cerca de 100.000 toneladas ano, era necessário trazer cerca de 100.000 homens, provavelmente originados da região do Nordeste brasileiro. Com a necessidade mundial de borracha no período da guerra, o Brasil fez um acordo de fornecer borracha apenas para os Estados Unidos por um período de cinco anos, em 1942, mesmo período em que foram criados diversos estímulos financeiros para expansão da produção de borracha, através do Banco de Crédito da Borracha - BCB. (DEAN, 1989, p. 131-139) Nesta década de quarenta, foram produzidos relatórios pela Rubber Development Company - RDC, uma empresa norte-americana com participação minoritária no BCB, que através da embaixada americana no Rio de Janeiro, acompanhava os trabalhos realizados na Amazônia. A análise dos relatórios indicou que o sistema de trabalho nos seringais não havia sido alterado desde o boom da borracha. Mas, houve o reconhecimento do termo seringalista, 15 A empresa norte-americana Ford, permaneceu com plantação próximo de 3,2 milhões de seringueiras até a metade da década de quarenta, e produção estimada de 115 toneladas de borracha, e significava 2% do esperado. Após a saída da empresa nestes municípios, eram os centros mais avançados em conhecimentos práticos e teóricos do cultivo da seringueira na América tropical, mas não tinham produção eqüitativa às áreas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 41 designado aos proprietários dos seringais nativos e proprietários de barracão, mesmo com a necessidade de elevar a produção de borracha em função das condições da guerra mundial, percebeu-se que o sistema de trabalho semi-escravo não havia sido alterado, como se pode observar a seguir: [...] A equipe de estudo descobriu que o seringueiro típico recebia três cruzeiros - ou quinze centavos de dólar - por quilo, enquanto que seu patrão ‘seringalista’, ou quem o representasse, recebia 1,25 cruzeiro 6,25 centavos de dólar. Mas o preço das mercadorias no barracão do seringalista eram fixados de maneira a deixar o seringueiro de bolsos vazios no fim da estação. Segundo uma cláusula do acordo pelo qual foi contrato, o seringueiro estava proibido de vender sua borracha a outros negociantes, e o patrão muitas vezes empregava capangas para forçar o acordo e desencorajar os ‘fujões’. [...] Presumindo um melhor pagamento aos seringueiros os estimularia a colher mais borracha, a RDC tentou driblar o sistema. Prometeu pagar quase o triplo do que pagavam os seringalistas. W. E. Klippert, que na época trabalhava para a época trabalhava para a na Costa Rica, adotou essa estratégia com os coletadores de Castilha e quintuplicou a produção destes. Mas na Amazônia a RDC foi obrigada a também fornecer suprimentos aos seringueiros, já que os patrões simplesmente aumentaram os preços dos produtos de seus barracões, de modo a absorver o novo poder de compra dos trabalhadores. [...] os países amazônicos produziram em 1943 um total de 24.000 toneladas de borracha, 5.000 a mais que no ano precedente, porém apenas 10.000 seguiram para os Estados Unidos, o que representa um aumento de somente 3.000 toneladas. (DEAN, 1989, p. 139-140) A RDC avaliou, neste período, os seus investimentos efetuados sobre a produção final de borracha obtida, estavam muito abaixo do esperado, e resolveu através da embaixada norteamericana enviar algumas recomendações ao secretario de Estado do Brasil, em 1943, que refletiam sobre a exploração social nas comunidades de seringueiros na Amazônia brasileira, como segue: [...] ‘não há, em nenhum outro lugar, quadro mais negro daquilo que, em sociedades mais evoluídas, optamos por chamar de corrupção e exploração’, afirmava que fora um erro ignorar ‘a sociedade estabelecida, com tentáculos seculares que se estendem sobre os milhares de seringueiros’. Os intermediários ‘sabotaram inclusive nossos esforços mais sábios’. Era necessário ‘devolver aos brasileiros’ todo o sistema e deixá-los levar a borracha aos portos. (DEAN, 1989, p. 140-141) naturais. (DEAN, 1989, p. 153) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 42 Estes apontamentos nos indicam as deficiências de sistemas implementados em uma determinada região, em que a atividade extrativista explorava o trabalho dos seringueiros e a realidade política da região não foi analisada, ou mesmo planejada, com a participação dos integrantes de setores políticos e econômicos envolvidos na região da Amazônia, pois não haveria mudanças no sistema social com o trabalho de assistência junto aos seringueiros, mesmo porque a RDC não suportou por mais de um ano realizar o trabalho de suprimento alimentar. Neste mesmo ano de 1943, frente as necessidade de aumentar a produção da borracha brasileira o governo faz um recrutamento de trabalhadores. Estes tinham um contrato de dois anos, benefícios como adiantamentos e pagamentos de salários–mínimos, além da garantia de transporte e assistência médica. Estimulando cerca de 32.000 trabalhadores a extraírem látex, ou por terem se deslocado principalmente da região do nordeste, ou pela troca de trabalho frente aos benefícios oferecidos para serem ‘os soldados da borracha’. Os resultados sobre os benefícios aos trabalhadores continuaram baseados nos sistemas sociais anteriormente estabelecidos em que estas populações não eram privilegiadas. (DEAN, 1989, p. 142) O sistema de produção da borracha brasileira não privilegiou as comunidades de seringueiros da Amazônia, as dificuldades para obter um mínimo de qualidade de vida foram inúmeras, como dificuldades de transportes, alimentos, assistência médica, a possibilidade para de beneficiar a borracha natural para valorizar seu o preço no mercado nacional. As atividades extrativistas foram tidas como prioritárias pelo governo brasileiro para a manutenção das fronteiras na década de cinqüenta, e para as manufaturas da borracha no mercado interno, pois houve a substituição da borracha sintética16, que também necessita de borracha natural na sua produção. Nas décadas que se seguiram não houve um apoio direto do governo federal para a possibilidade de incentivos e desenvolvimento da borracha natural brasileira. Fazendo com que a produção de borracha não seja mais um produto representativo mercado industrial, pela 16 A primeira fábrica de borracha sintética na América Latina foi financiada pela Goodyear e Firestone, no Estado do Rio de Janeiro, no governo de Juscelino Kubitschek, em 1965. A importação de borracha natural tinha sido reduzida para 2.000 toneladas ano. Ainda nesta década foi implantada fábrica COPERBO, no estado de Pernambuco. (DEAN, 1989, p. 183) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 43 queda do seu valor no mercado, a importação do produto de regiões orientais, e a substituição pela borracha sintética no mercado interno brasileiro. Como verifica-se estes fatos não alteraram-se até a atualidade. “[...] Assim, o produto extraído continua sendo a principal fonte de borracha natural doméstica. O Brasil continua a depender em excesso da borracha sintética para suas necessidades industriais e três quartos da borracha natural consumida ainda são importadas.” (DEAN, 1989, p. 235) E bem verdade, reconheça-se, que a prática das atividades extrativistas, nos dias atuais, se comparada ao volume imenso de produtos extrativos que conquistaram altos percentuais no setor econômico-financeiro do passado, tem decaído, cedendo vez às atividades de cultivo e criação. Os motivos relacionam-se às constantes crises, bem como tem muito a ver com a cada vez maior oferta de matéria-prima por parte de outros países (inclusive as sintéticas). Agravam a questão, ainda, outros fatores, tais como a baixa produtividade e a falta de uma infra-estrutura dirigida a tender às necessidades de comercialização e escoamento dos produtos coletados. Estes, entre outros entraves, motivam o esvaziamento das áreas de extração, mormente na Região Norte, cuja economia tem seu embasamento, ainda agora, no extrativismo vegetal. (HIRONAKA, 1997, p. 49-50) A manutenção desta atividade extrativista ao longo das últimas quatro décadas, demonstra que estas comunidades têm procurado resistir às alterações que descaracterizam seu modo de vida tradicional. Pois, foi na última década que as comunidades extrativistas passaram a possuir legalmente suas áreas, e ter reconhecimento legal sobre os direitos de uso sobre os recursos. Para a possibilidade da implantação da atividade de ecoturismo foi necessário avaliar quais são os recursos naturais e culturais existentes nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, e no município de Costa Marques, e quais são as infra-estruturas e serviços turísticos existentes para verificar-se quais seriam as principais propostas a serem implementadas para que o ecoturismo seja uma atividade econômica complementar para estas comunidades tradicionais. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 44 3.2 - HISTÓRICO DO ECOTURISMO: RESEXS - CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS As comunidades tradicionais de seringueiros e castanheiros, localizadas às margens do Vale do Rio Guaporé, na região amazônica, estão inseridas respectivamente nas Reservas Extrativistas Estaduais - RESEXs, Curralinho e Pedras Negras, Rondônia - Brasil. Estas são regionalmente representadas institucionalmente pela Organização dos Seringueiros de Rondônia, com sede em Porto Velho, a gestão local é realizada por membros da comunidade através da AGUAPÉ, com sede estabelecida no município de Costa Marques. Pode-se identificar pelas pesquisas bibliográficas e atividades de campo, que as entidades representativas das comunidades residentes nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, desde a implantação destas reservas, na metade da década de noventa, vêm trabalhando com propósito de buscar alternativas econômicas que permitam ampliar as condições de sua sustentabilidade, e que possam contribuir diretamente para a melhoria de qualidade de vida das populações estabelecidas tradicionalmente nestas áreas. Como projetos para implantação de fábrica beneficiadora de castanha-do-pará, produção de tecido vegetal - a partir do látex, e ecoturismo. Muitos dos recursos naturais do mundo em desenvolvimento são geridos comunitariamente, o que quer dizer que, são geridos com prudência. Mas, às vezes, os sistemas de gestão sucumbem à pressão populacional, a inovações técnicas ou à comercialização. Entre os problemas estão o uso excessivo das pastagens, a devastação das matas locais para obtenção de lenha, a deterioração dos pequenos sistemas de irrigação e a pesca excessiva em lagos e águas litorâneas. Quando os problemas são graves, as autoridades podem tentar fortalecer os direitos e as responsabilidades administrativas da ‘comunidade’ ou de ‘membros individuais’ do grupo. A solução mais adequada dependerá de fatores sociais e dos sistemas administrativos e jurídicos. O fortalecimento das instituições existentes deve ser a primeira linha de ação. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 21-22) Para a implantação da atividade de ecoturismo nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, vários projetos foram executados e houve a produção de diversos documentos e a elaboração de propostas de produtos de ecoturismo, ao longo dos últimos seis anos, para estas comunidades extrativistas que são avaliados a seguir. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 45 O primeiro projeto elaborado sobre turismo foi o Diagnóstico das Potencialidades Turísticas do Vale do Guaporé - RO: alternativas econômicas para as comunidades de Pedras Negras e Santa Fé, em 1994. A analise realizada sobre este documento identificou a atividade turística denominada de Turismo Ecológico ou Eco-Cultural. (NATIVA, 1994, p. 23) O documento acima referido restringe a possibilidade de desenvolvimento desta atividade de turismo, para as comunidades ribeirinhas de Pedras Negras e Santa Fé. Observou-se ainda uma ênfase para as singularidades dos atrativos históricos e culturais do município de Costa Marques, como a discussão realizada sobre o Real Forte Príncipe da Beira e os sítios arqueológicos. Para o município de Costa Marques, o diagnóstico indica a necessidade da integração dos segmentos sociais, como governos empresas privadas e sociedade civil para o desenvolvimento do turismo, destacando-se a necessidade de realizar antes da implantação desta atividade um processo de capacitação profissional, bem como a elaboração de um Plano Municipal de Turismo, como um mecanismo para o fomento de captação de recursos para a implementação do turismo praticamente inexistente nesta região. (AGUAPÉ, 1994, p. 33) Após um ano da elaboração deste diagnóstico foi realizado, no município de Costa Marques, a ‘Oficina de Capacitação em Ecoturismo – OCE: Planejamento Estratégico’, que consiste na transmissão de uma metodologia de planejamento estratégico, envolvendo a participação de diversos segmentos responsáveis pelo desenvolvimento desta atividade em uma determinada localidade ou região. Para a realização deste evento houve principalmente o patrocínio do governo federal, que englobou o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, pela Secretaria de Desenvolvimento da Amazônia, e pelo então chamado Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, através do Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR. Foram realizadas oficinas de planejamento estratégico para o desenvolvimento do ecoturismo para cada um dos Estado, que compõem a região da Amazônia Legal. No Estado de Rondônia, a região do Vale do Guaporé, no município de Costa Marques, foi identificada pelos técnicos responsáveis pelo projeto como uma região estadual com elevado potencial para a implementação da atividade de ecoturismo, pela singularidade dos recursos naturais Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 46 que apresenta, com regiões de floresta amazônica de terra firme e alagada e cerrado, e a presença de diversos recursos dos patrimônios históricos, culturais e arqueológicos. Neste evento houve a participação de profissionais responsáveis pelo desenvolvimento do turismo, meio ambiente e educação do estado e município de Costa Marques, destacandose o governo estadual, representado pelo Departamento de Turismo - DETUR e a Secretaria de Planejamento - SEPLAN, além de profissionais do governo municipal e pelo Centro Comunitário. E instituições como a Gerência Executiva do IBAMA de Rondônia, Fundação Turismo Ecológico Comunitário - FUTURES, Fundação Cultural do Estado de Rondônia FUNCER, Banco do Estado de Rondônia S/A - BERON, docentes da Universidade Federal de Rondônia, e proprietários de agências de viagens e turismo. Dentre os trinta e nove integrantes que participaram desta oficina, participaram três representantes da comunidade extrativista de Rondônia, representando a OSR, a AGUAPÉ, e a ECOPORÉ. Como a transmissão da metodologia da OCE, tem a duração de quarenta horas, desenvolvidas ao longo de cinco dias consecutivos, quatro para as questões teóricas e o último para prática de campo, um estudo de caso, o comitê organizador e os parceiros locais articulam-se para preparar um estudo de caso em que o conhecimento adquirido na oficina confrontou-se com a prática do ecoturismo na região. Como nesta região não foi identificado um produto de ecoturismo existente, apesar do elevado potencial de atratividade dos recursos naturais, históricos e culturais presentes nestas áreas, foi improvisada a formatação de um potencial produto de ecoturismo. O estudo de caso foi realizado em duas fases, em atividades distintas, distribuídas no período da manhã, e em visita ao Projeto de Preservação Quelônios da Amazônia onde foram observados os mecanismos desenvolvidos para a conservação da espécie Podocnemis expansa e tracajás do Rio Guaporé, através do Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia CENAQUA. Ainda neste centro de visitação gerenciado pelo IBAMA, houve a comercialização de artesanato regional e suvenires do projeto. Este é considerado como um recurso atrativo turístico diferencial na região, por exemplificar as necessidades de conservação de uma Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 47 espécie animal. Constitui-se em atrativo complementar em um futuro produto de ecoturismo para as Reservas Extrativistas e região no Vale do Guaporé. Na visita à RESEX Curralinho realizou-se uma atividade com propósito de ecoturismo, em meio à vegetação ciliar dos afluentes do Rio Guaporé, e foi percorrida uma trilha com demonstração de coleta de látex, executada por um seringueiro da comunidade local e integrante da Associação de Seringueiros de Rondônia. Esse importante recurso atrativo cultural diferencial foi demonstrado ainda conhecimentos exemplificados sobre plantas medicinais, as utilizadas na confecção de cestarias, e sobre o comportamento de animais e seus vestígios no interior da floresta. Mas a experiência da atividade de ecoturismo para a extração do látex de uma seringueira de forma tradicional foi identificada como a de maior atratividade entre as outras nesta área. Posteriormente, foi realizado um passeio de barco no Rio Guaporé com parada na praia de Santa Fé, onde as pessoas puderam banhar-se nas águas cristalinas desse rio, apreciar um prato típico, peixe assado e ouvir algumas cantorias regionais. Na realização desta caminhada pode-se identificar que apesar dos produtos de ecoturismo existentes no mercado atual estarem bastante focados na transmissão do conhecimento científico dos principais aspectos dos ecossistemas visitados, esta atividade contribuiu para diagnosticar o quanto a utilização dos atrativos culturais, por meio de visitação monitorada pelos próprios seringueiros, podem viabilizar uma melhor ambientação17 dos visitantes nesta convivência com a floresta. Após a finalização dessas atividades práticas, foi feita uma análise desse produto potencial de ecoturismo. Na avaliação os participantes identificaram inúmeros aspectos positivos que apontavam para a viabilidade do produto pela riqueza dos recursos naturais, culturais e comunitários de elevado potencial ecoturístico. Foram identificadas algumas dificuldades básicas, como a ausência ou deficiência de serviços e infra-estrutura de apoio. 17 O termo ambientação foi adotado foi: “Pode-se dizer que sua principal característica prende-se à criação de uma atmosfera específica, proporcionando ao visitante um escape à rotina cotidiana, através de experiências não vivenciáveis no dia-a-dia. [...] sua proposta é possibilitar ao máximo o envolvimento do visitante, através da participação ativa.” (PIRES E BASSO, 1992, p. 46-47) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 48 Outro obstáculo importante a ser transposto para a viabilização do ecoturismo como as queimadas que, além da destruição da floresta, produzem uma densa barreira de fumaça, o que é agravado nos períodos de seca ao longo do ano. Durante a realização da oficina houve uma integração profissional dos palestrantes com os integrantes responsáveis pela representação dos seringueiros, onde apresentaram o documento “Diagnóstico das Potencialidades Turísticas do Vale do Guaporé - RO: alternativas econômicas para as comunidades de Pedras Negras e Santa Fé (1994)”. E solicitaram uma avaliação dos técnicos responsáveis pela OCE. A partir do contato entre o grupo técnico da OCE, a Organização dos Seringueiros de Rondônia , solicitou uma proposta de trabalho que viabilizasse a elaboração de projeto que fosse destinado a implantação do ecoturismo nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras. Desta forma, o projeto solicitado pelo consórcio entre a AGUAPÉ, ECOPORÉ e OSR, foi desenvolvido ao longo de cerca de um ano, desde a solicitação, elaboração de propostas de trabalho, formação da equipe técnica, até o desenvolvimento das atividades de campo inventário da oferta técnica e capacitação profissional das comunidades envolvidas, até a versão final do documento denominado “Proposta para o Desenvolvimento de Projeto para a Implantação de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Curralinho e Pedras Negras (Rondônia)”, em 1997. As ações de implementação do ecoturismo nestas comunidades neste último projeto foram baseadas num processo de planejamento integrado, entre equipe técnica e comunidades extrativistas, para um uso adequado dos recursos atrativos naturais, históricos e culturais quando da implantação das diversas infra-estruturas e atividades específicas para o desenvolvimento do ecoturismo. A integração com recursos comunitários existentes na localidade são de relevante interesse, como foi identificado no Projeto de Preservação de Quelônios da Amazônia. Este projeto poderá contribuir diretamente com a implantação da atividade de ecoturismo, pois existem diversos mecanismos para a geração de renda e empregos, como a cobrança de taxas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 49 para a visitação de turistas de outras localidades, comercialização de artesanato indígena, e a realização de programas de educação ambiental integrados à população local. A opção pelo desenvolvimento sustentável através do ecoturismo nas comunidades extrativistas requer ações conjuntas, organizadas e planejadas, tanto em nível governamental, como nos diversos segmentos do setor privado local, baseadas em análises dos impactos ambientais e sócio-culturais. Essa atividade, através da geração de empregos, promoção de empreendimentos, se estruturada em um planejamento local, pode contribuir para viabilizar um modelo de desenvolvimento sustentável que atenda, simultaneamente, suas urgentes demandas sociais e de conservação, considerando que os benefícios do desenvolvimento econômico devam ser também revertidos para as comunidades locais existentes no município de Costa Marques, além das famílias das RESEXs Curralinho e Pedras Negras, que são potenciais beneficiárias diretas na implantação desta atividade no mercado de trabalho. A proposta de desenvolvimento da atividade de ecoturismo, deve-se apresentar como alternativa econômica complementar para as RESEXs Curralinho e Pedras Negras e o município, pois caso isto não ocorra, poderá haver um domínio na economia da local pela inserção dos produtos de ecoturismo no mercado nacional e internacional, comprometendo a qualidade dos recursos naturais, históricos e culturais desta região, que são os bens mais representativos do desenvolvimento desta atividade. Embora os projetos elaborados para a implantação do ecoturismo tenham constatado um elevado potencial para o desenvolvimento desta atividade nas RESEXs, onde encontram-se às comunidades extrativistas. Estas comunidades possuem aspectos culturais singulares, pelo modo de vida como utilizam para a sua sobrevivência os recursos naturais da floresta, e conseqüentemente possibilitou um modelo de convivência entre homem e natureza que contribuiu historicamente na conservação ambiental. Como já havia sido apontado pela OCE, o último projeto desenvolvido para as RESEXs Curralinho e Pedras Negras, reafirmou como é precária a oferta técnica, e observou-se uma incompatibilidade entre o desenvolvimento da atividade de ecoturismo e o uso sustentável dos Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 50 recursos, sendo necessárias diversas melhorias na oferta técnica turística para efetivar a implantação de produtos de ecoturismo no mercado de turismo nacional e internacional. Estas indicações apontaram para o estabelecimento de diretrizes a serem implementadas para o desenvolvimento desta atividade, que pudessem auxiliar estas comunidades extrativistas direta e indiretamente envolvidas na atividade, sendo elas: - Reversão dos benefícios econômicos para comunidade local e conservação dos recursos naturais e culturais; - Envolvimento da comunidade em todas as etapas do processo de implementação; devem ser estabelecidas parcerias com: o setor público, a iniciativa privada e outras ONGs locais, nacionais e internacionais; - Estudo, avaliação e monitoramento constante do impacto do turismo no ambiente e cultura locais, estabelecendo-se a capacidade de suporte específica para cada sítio de visitação; - Os gestores das RESEXs devem contar com recursos financeiros e pessoal treinado para administrá-las adequadamente; - Desenvolvimento dos programas de capacitação profissional e treinamento em todos os níveis que permitam a autogestão do empreendimento de ecoturismo das RESEXs; - Criação de um código de ética e procedimentos que regulem o desenvolvimento do ecoturismo, considerando suas leis e cultura; - Deverá proporcionar ao visitante experiências únicas que possibilitem a integração com as comunidades e uma interpretação do ambiente natural e cultural visitado, com informações de qualidade; - Manejo e administração responsável para a conservação dos recursos utilizados; - Desenvolvimento de programas de educação ambiental para as comunidades e visitantes. (OSR, 1997, p. 62) Assim, a consolidação dessas diretrizes apontadas tem o propósito de maximizar os impactos sócio-econômicos e ambientais da implementação de produtos de ecoturismo no mercado de turismo nacional e internacional, e minimizar os impactos negativos. Visando proporcionar conservação dos recursos naturais, históricos e culturais; melhoria da qualidade de vida destas comunidades; valorização, resgate e fortalecimento da cultura dos seringueiros, que é o atrativo de maior singularidade entre os recursos; e uma alternativa econômica que venha contribuir diretamente para que estas comunidades sejam as autogestoras de Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 51 empreendimentos implementados, nesta inovadora categoria de unidade de conservação brasileira. Para implementar a atividade de ecoturismo é necessário avaliar-se quais são os principais mecanismos que permitem o desenvolvimento desta atividade, observando-se a importância da realização de um planejamento que antecipe a implantação e melhorias em infra-estrutura e serviços de ecoturismo, baseados em análises dos recursos naturais, históricos e culturais, e oferta técnica de infra-estrutura e serviços já existentes, para identificar as deficiências e singularidades das localidades, para que a inserção de produtos de ecoturismo que maximizem os impactos positivos e minimizem os impactos negativos desta atividade. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 52 CAPÍTULO – 4 – ECOTURISMO NAS RESEXS CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS 4.1 - BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE DE ECOTURISMO Para a implementação do ecoturismo é necessário que seja desenvolvido o planejamento da área, considerando as singularidades dos recursos naturais, históricos e culturais, que possibilitam a realização de algumas das principais atividades de ecoturismo como caminhadas, observação da fauna, canoagem e escaladas. Para isto é necessário analisar infraestrutura e serviços existentes, como meios de hospedagem, alimentação, transporte, guiagem e equipamentos específicos das atividades de ecoturismo, como: centro de visitantes, trilhas, passarelas suspensas, torres de observação e canoas. Para realizar o processo de planejamento é necessário envolver os setores que estão diretamente relacionados à atividade, para que este possa ser participativo, integrando os setores públicos, nas instâncias - federal, regional e local, destacando-se as secretarias de planejamento, de turismo, de meio ambiente, e de desenvolvimento. Além da participação do governo é necessário incorporar os setores privados que estão relacionados direta e indiretamente com o turismo, como as agências e operadores de viagens responsáveis pela elaboração e comercialização dos produtos de ecoturismo. Os hotéis, pousadas e demais meios de hospedagem, os serviços de alimentação, em restaurantes bares e similares; serviços de transporte aéreo, rodoviário e fluvial; e os condução dos visitantes pelos guias ou condutores. Além das ONGs nas instâncias em que são representadas na região ou localidade e agências financiamentos públicos e privadas, para que possam compreender a importância a relação entre infra-estrutura e conservação dos recursos naturais, históricos e culturais, baseados no modelo de desenvolvimento sustentável. Considerando que todos estes setores estão correlacionados, e a qualidade da prestação dos serviços diretos é interdependente tanto para a implementação da atividade, como nos projetos que permitam a elaboração de produtos de ecoturismo, para serem inseridos no Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 53 mercado turístico nacional ou internacional, dependendo do resultado da análise técnica sobre a demanda. O Brasil está em primeiro lugar na lista dos países de megadiversidade. Pela impressionante diversidade geográfica, cultural e ecológica, apresenta um potencial verdadeiramente único para o ecoturismo. E, na posição de maior país tropical, tem como atrativos imensas regiões que conservam os mais altos índices de biodiversidade do mundo. Nosso país também apresenta algumas características importantes para os ecoturistas, quando comparadas aos outros países megadiversos, como malha aérea ampla e com boa infra-estrutura aeroportuária e uma gama de serviços complementares (tais como aluguéis de veículos, serviços de guias, telecomunicações, alimentação, etc.). (BRASIL, 2000, ii) Quanto ao setor público cabe fomentar o desenvolvimento da atividade de ecoturismo, inseridos em estratégias governamentais, como mecanismos elucidativos e norteadores, como a elaboração de diretrizes nacionais, planos diretores de ecoturismo integradores, entre localidades e/ou regiões; incentivo aos setores envolvidos direta e indiretamente, para o reconhecimento dos papéis e responsabilidades de cada setor e suas inter-relações. As ações de promoção do ecoturismo no Brasil, em especial na região amazônica, inserem-se na macro-estratégia de conservação da biodiversidade daquele bioma, na medida em que constitui alternativa de geração de renda para a região, com baixo impacto ambiental. Sua implementação pressupõe, no entanto, uma intensa preparação, seja do ponto de vista da infra-estrutura instalada nos municípios que serão objeto de intervenção, seja do ponto de vista da sensibilização das populações que os habitam, capacitando-as para atenderem as demandas relativas ao ecoturismo e disseminando, entre elas, os princípios básicos da conservação e da preservação dos ecossistemas. (ALLEGRETTI, 2000, ii) O processo de planejamento deve proporcionar diretrizes para a elaboração de um plano diretor de ecoturismo contendo princípios, que são os componentes norteadores e filosóficos da atividade, e uma análise dos critérios, para identificar as ações que permitam atingir os princípios estabelecidos. Segue abaixo exemplos de princípios e critérios de ecoturismo. Princípios: uso sustentável dos recursos naturais e culturais conservação; envolvimento da comunidade; informação e interpretação ambiental; é um negócio e deve gerar recursos; deve haver reversão dos benefícios para: comunidade local e conservação dos recursos naturais e culturais Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 54 Critérios: planejamento integrado; experiências únicas e inesquecíveis em um destino exótico; turismo de baixo impacto; manejo e administração responsável; monitoramento e avaliação constantes; educação ambiental; parcerias com associações locais e ONGs; guias responsáveis, conscientes e interessados; código de ética para o ecoturismo. (MACGREGOR e JARVIE, 1994, p. 04) No processo de planejamento os objetivos e as metas a serem atingidos, identifiquem-se com os setores do turismo envolvidos para viabilizá-las; realizar um inventário e diagnóstico dos recursos naturais, históricos e culturais; análise da oferta técnica turística existente, para elaboração de projetos para implantação de melhorias da infra-estrutura existente. Pode-se realizar de forma conjunta uma pesquisa e análise do mercado turístico da região em que está sendo realizado o planejamento, para verificar a demanda existente e estabelecer qual o mercado potencial para esta região. O planejamento deverá conter um plano de capacitação profissional indicando os setores prioritários a serem implementados e a melhoria dos serviços já implantados, além da realização dos estudos sobre impactos positivos e negativos, sócio-econômicos e ecológicos. Após a realização dos estudos preliminares é importante elaborar-se um plano de desenvolvimento de produtos, plano de marketing para a inserção dos produtos nos mercados identificados como de maior potencial. E um estudo sobre a viabilidade econômica das propostas contidas no plano, para identificar as fontes de financiamentos, públicos ou privadas, estabelecendo-se a partir destas fontes de financiamentos quais são os projetos prioritários que permitem viabilizar o desenvolvimento da atividade de ecoturismo na região. Os setores públicos, privados e demais instituições envolvidos de forma indireta também devem participar do processo de planejamento, pois estes setores devem ser orientados, através de seminários, palestras e atividades elucidativas, que permitam uma compreensão mais clara sobre a responsabilidade de todos na conservação dos recursos turísticos. Quer vendendo seus produtos diretamente aos turistas, quer recebendo indiretamente os recursos oriundos de taxas de visitação de parques públicos, a alternativa ecoturística cria um verdadeiro capital natural: quando o ecossistema íntegro e seus habitantes constituem a Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 55 base de uma indústria, os agentes econômicos tornam-se aliados da conservação. [...] Além disso, profissionais de ecoturismo bem treinados têm a grande oportunidade de informar a população e conscientizar turistas sobre a importância da conservação do patrimônio natural, que acabam transformando-se em aliados da causa. Isso aumenta a responsabilidade e o interesse dos setores governamentais quanto às questões ambientais e favorece a implantação e o fortalecimento das políticas públicas ligadas à conservação. (BRASIL, 2000, ii) Para identificar algumas das principais etapas da implementação da atividade de ecoturismo nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, serão realizadas análises dos principais aspectos dos recursos naturais, histórico e culturais destas localidades, e recursos complementares existentes na região, sobre a infra-estrutura e serviços turísticos existentes, as melhorias e propostas de implementação destes; bem como uma análise para a capacitação profissional das comunidade envolvidas. Estes aspectos podem contribuir para uma avaliação dos produtos de ecoturismo propostos para serem implementados nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras. 4.2 - RESERVA EXTRATIVISTA ESTADUAL CURRALINHO A Reserva Extrativista Estadual Curralinho possui área de 1.757 hectares, há um número restrito de famílias de seringueiros residindo no interior da reserva, próximo à cinco, as demais residem na margem direita do Rio Guaporé, no perímetro urbano do município de Costa Marques. (OSR, 1995, p. 03-04) A moradia característica dos seringueiros é em geral construída sobre estacas de madeira, denominadas de paliçada ou palafita, construções elevadas até dois metros de altura do solo. As paredes e assoalhos são geralmente em madeira de paixiúba18, uma palmeira da Amazônia, e coberta por palha desta ou de outras palmeiras. 18 Segundo Amando Mendes este é termo da língua tupi identificado como paxiúba, que indica o nome popular de uma espécie vegetal de palmeira da família das palmáceas, que nos fornece fibras e madeira para revestimento. (TIBIRIÇA, 1984, p. 154) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 56 A forma de extração do látex nos seringais de várzea do Rio Guaporé e de terra firme. Nos seringais de várzea a limpeza das estradas do seringal ocorre no mês de junho, e o processo de entigelar (colocar as vasilhas) em todas as seringueiras nas colocações, que possuem de três a quatro estradas, com cerca de 150 a 200 árvores de seringa, para a fabricação da borracha natural é realizado entre o mês de maio e dezembro. A produção da borracha é mais intensa entre os meses de junho à agosto, caindo em cerca de 50% até o final de dezembro. (OSR, 1995, p. 04) A forma como é realizada a coleta diária de látex nas estradas de seringa, para a atividade de ecoturismo através de trilhas interpretativas, guiadas pelos seringueiros, pode ser conduzida de forma que o visitante tenha uma participação direta da extração do látex, agregando valores culturais tradicionais sobre os recursos naturais, deste ambiente de várzea e terra firme, pela diversidade de espécies da flora e fauna da região do rio Guaporé, que são utilizados para fins comestíveis e medicinais desta comunidade, bem como na beleza cênica desta paisagem identificada pelos seringueiros. E após estas atividades nas trilhas os visitantes tenham a possibilidade de observar a confecção das bolas de borracha ou a transformação deste látex em tecido de couro vegetal. Esta ambientação realizada nas trilhas das estradas de seringas intermediada pelos seringueiros condutores dos grupos de visitantes, faz com estes visitantes locais, regionais, e de outras localidades do Brasil ou estrangeiros possam desenvolver uma atividade diferenciada neste recurso natural e cultural. A pesca artesanal, apresenta-se como valioso atrativo para a realização da atividade de ecoturismo, identificado pelo de modo de vida tradicional do homem seringueiro da Amazônia, considerado regime de trabalho muito peculiar, pelos seus hábitos e costumes, e o estilo arquitetônico das edificações típicas. (OSR, 1997, p. 17) A partir da interpretação dos recursos culturais pelas comunidades de seringueiros identificam-se diversas lendas e histórias, referentes aos soldados da borracha e a figura feminina. Estas são estórias orais transmitidas entre as gerações sobre a forma de ocupação do interior do país, desde o início do ciclo da borracha pela ocupação do Estado, no decorrer da Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 57 década de setenta, suas lutas e conquistas originadas nos movimentos sociais dos seringueiros, índios e ribeirinhos. Os principais atrativos naturais são componentes da floresta de igapó, as áreas de várzea dos rios, que são sazonalmente alagadas, sendo rodeada por fazendas agropecuárias. Na época do verão amazônico, apresenta vários lagos interiorizados e belas praias no Rio Guaporé que freqüentemente são utilizados pela comunidade local e os turistas regionais, em que a atividade de pesca é intensificada. Para melhor identificar a diversidade de peixes e animais de que vivem associados a estes ambientes alagados sazonalmente, nas regiões da Amazônia brasileira, que são atrativos naturais para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo. As áreas de várzea são amplamente exploradas pela população regional através da caça, da pesca ou da agricultura. Portanto, um manejo adequado é necessário para evitar alterações na estabilidade, fertilidade e diversidade deste biótopo. [...] A pesca nesta região tem um papel econômico fundamental. [...] a pesca na várzea se baseia principalmente em espécies migradoras como o tambaqui, Colossoma macroponum, o jaraqui, Semaprochilodus spp., o curimatã, Prochilodus nigricans, o pacu, Mylossoma spp., o matrinchã, Brycon cephalus, que perfazem 80% da produção pesqueira desembarcada em Manaus. (COX-FERNANDES e PETRY, 1991, p .315) Os lagos de várzea e os igápos, por sua riqueza em nutrientes são de extrema importância para a vida aquática (Goulding, 1980; Rai e Hill, 1980), além de ricos em macrófitas19 cujos frutos, folhas e sementes são fontes de alimento para os peixes (Goulding, 1980), e pelo seu alto valor nutritivo podem ser usadas como forrageiras (Junk, 1979), servindo também de alimento para outros herbívoros silvestres. (PEREIRA-FILHO, 1991, p. 55) Em frente à RESEX, na época da vazante do rio, forma-se uma praia e a visitação atual por enquanto não é devidamente controlada. Esta atividade de pesca é apoiada pela prefeitura municipal, pois esta organiza anualmente um “Campeonato de Pesca”, que é realizado no último domingo de setembro, nesta ocasião que se promove uma competição em torno de várias modalidades de pesca. Além do “Circuito Municipal de Vôlei de Areia” que acontece concomitante a atividade de pescaria. (OSR, 1997, p. 22) 19 Segundo Eugene P. Odum, macrófitas são vegetais de grande porte, que ficam flutuando ou estão enraizadas, geralmente encontram-se em lagos, com águas rasas, como identificamos nos igapós da Amazônia. (1983, p. 34) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 58 O desenvolvimento de eventos turísticos realizados pela prefeitura municipal em áreas da reserva extrativistas sendo realizadas com a ausência do envolvimento da comunidade de seringueiros, os principais responsáveis pela área, observando-se que não havia um planejamento que avaliasse as possibilidades de impactos turísticos e ambientais sobre os recursos naturais e culturais. Na área da RESEX os principais recursos naturais singulares identificados referem-se as trilhas que percorrem as estradas das seringueiras, possibilitando a realização de uma interpretação ambiental e social, pelos condutores; a identificação empírica de uma elevada diversidade de aves, com ninhais, possibilitando a atividade de observadores de aves, e a pesca artesanal, nos lagos existentes no interior da reserva, correlacionado-os às trilhas, com a utilização de equipamentos específicos como canoa e bicicleta. (OSR, 1997, p. 15) 4.2.1 - RECURSOS TURÍSTICOS COMPLEMENTARES A RESEX CURRALINHO Os principais atrativos de categoria natural complementares identificados para o desenvolvimento de produtos de ecoturismo nas Reservas Extrativistas foram: Parque Nacional de Pacáas Novos; Parque Estadual Serra dos Reis; Parque Municipal de São Sebastião. O fenômeno do encontro das águas dos rios Guaporé e Mamoré; a diversidade de peixes nestes rios, em ambientes naturais similares aos do Pantanal, proporcionando variedade e qualidade de espécies de peixes. (OSR, 1997, p. 19) O Projeto de Preservação de Quelônios da Amazônia, executado desde 1976, é considerado um atrativo turístico singular complementar para ser incorporado ao produto de ecoturismo das Reservas Extrativistas. Este projeto possui infra-estrutura e serviços de atendimento ao público no município de Costa Marques, com tanques de criação com filhotes de tartarugas-da-amazônia – Podocnemis expansa, e tracajás – Podocnemis unifilis; o Museu Chelônia, com informações e exposição permanente de animais da região embalsamados; o Centro de Educação Ambiental e o Clube da Tartaruga. As pesquisas científicas de campo são realizadas sobre os animais ocorrem nas praias às margens do Rio Guaporé, no período de Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 59 vazante do rio, entre os meses de julho a dezembro. Todos estes recursos possibilitam uma interpretação sobre a importância da conservação de espécies animais que representativas características da Amazônia brasileira. A singularidade destas espécies está representada na tartaruga-da-amazônia, considerado o maior quelônio da América do Sul. Esta espécie na fase adulta pode medir até cerca de oitenta centímetros e pesar até sessenta quilos. E o tracajá apresenta a maior população de quelônios no rio Guaporé, os tracajás adultos podem atingir cerca de quarenta centímetros e pesar dez quilos. A peculiaridade da dependência do ambiente aquático para locomoção, alimentação e reprodução, e a desova em praias no rio à noite podem ser programadas atividades para observação destas espécies e seu modo de vida, incorporados aos produtos de ecoturismo. (CENAQUA, s/d) O Real Forte Príncipe da Beira, com início da construção em junho de 1776, sendo concluído após seis anos é considerado um atrativo histórico-arquitetônico do século XVIII, distante à cerca de vinte e seis quilômetros do município de Costa Marques, localizado na margem direita do rio Guaporé, no município de Guajará Mirim, apresenta características arquitetônicas semelhante ao Forte São José, existente na cidade de Macapá, no estado do Amapá. O Forte Príncipe da Beira faz parte dos patrimônios nacionais tombados, desde 1950, pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. (RONDÔNIA, 1983, p. 15) Estas edificações são registros da ocupação do território brasileiro. A história de construção do Forte Príncipe da Beira como a de todos os outros a oeste da linha de Tordesilhas foi iniciada para balizar a nova fronteira estabelecida pelo Tratado de Madrid de 1750. [...] Entre os Fortes construídos destacaram-se pela imponência da obra diretamente proporcional à importância estratégica da área, os de São José de Macapá, São Francisco Xavier de Tabatinga, hoje totalmente desaparecido pelas águas do rio Solimões e o Príncipe da Beira. [...] (RONDÔNIA, 1983, p. 08-06) Para a construção do Forte Príncipe da Beira, no rio Guaporé, observa-se a chegada na região de um significativo número de pessoas provenientes do Rio de Janeiro, Belém, e principalmente de comunidades negras mas, infelizmente, não foi identificada a origem desta comunidade e a sua permanência na região. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 60 A mão-de-obra especializada já era um problema sério naquela época. Pedreiros, carpinteiros e artífices diversos foram trazidos do Rio de Janeiro e de Belém. Mais de duzentos homens trabalharam nessa obra e dizem que um efetivo de mil escravos auxiliou a construção, cujo término ocorreu seis anos após, em agosto de 1783. [...] ‘quatro dos seus canhões, os de bronze, de calibre 24, somente foram enviados do Pará em 1825, através do rio Tapajós, levando esse transporte cinco longos anos até o seu destino’. (RONDÔNIA, 1983, p. 14) Este patrimônio de excelente qualidade arquitetônica, justifica sua valorização e adaptação para funções culturais e turísticas. Atualmente encontra-se com dificuldades para conservação deste patrimônio, pois a manutenção atual está sob a responsabilidade do Ministério do Exército, através do Comando Militar da Amazônia, com edificações da 17a Brigada de Infantaria de Selva Real Forte Príncipe da Beira, em áreas ao redor das ruínas. Apesar dos acordos firmados entre o Ministério da Educação e Exército para a manutenção deste patrimônio, desde o processo de Tombamento em 1950, não foi identificado projetos e ações governamentais implementados de restauração e adaptação do patrimônio arquitetônico para utilização turística. Este patrimônio apesar das condições precárias em que se encontram as edificações, poderia ser contemplado em projetos para restauração e conservação pelo seu significado histórico-cultural para a região, e resgate das estórias e lendas que existem a respeito da sua construção e os séculos de utilização da área que marcam aspectos históricos e culturais dos municípios e comunidades do Vale do rio Guaporé, sendo mais um atrativo singular complementar no desenvolvimento da atividade de ecoturismo nas Reservas Extrativistas e região do Vale do Guaporé. A Festa do Divino Espírito Santo que está sediada, desde 1998, em Costa Marques, apresenta aspectos culturais do cotidiano do modo de vida das comunidades ribeirinhas. É considerada a manifestação religiosa mais significativa do Vale do Guaporé, para estas comunidades. A Festa do Folclore, realizada anualmente no mês de agosto neste município, procura valorizar a cultura amazonense, com ênfase nas lendas e costumes regionais, como a mandioca, o boto, a cobra Norato e as lágrimas de Potyra, também há apresentação de danças Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 61 folclóricas, venda de comidas e bebidas típicas, com caldeirada de peixes regionais, tacacá, patasca, massaco e escabeche de cabeça de porco. (OSR, 1997, p. 20) 4.2.2 - MUNICÍPIO DE COSTA MARQUES A RESEX Curralinho está inserida no perímetro urbano do município de Costa Marques, a oferta técnica turística existente na cidade, está intimamente relacionados para o desenvolvimento do turismo na RESEX e região. No Município de Costa Marques, segundo o Programa de Estudos e Pesquisas nos Vales Amazônicos, a qualidade urbana do povoado é deficiente, pelo seu baixo nível de desenvolvimento e as limitações de acesso por rodovia, falta de pavimentação de 333 km da BR-429, e por avião, não conta com vôo direto de Porto Velho. Também não há um Plano governamental de valorização dos recursos naturais e culturais, a oferta técnica turística é consideravelmente precária, destinada atualmente ao segmento de viajantes comerciais de médio a baixo poder aquisitivo. (OSR, 1997, p. 22-23) No setor secundário estão implantadas duas indústrias beneficiadoras de palmito, uma fábrica de gelo, doze madeireiras, um moinho de café e um alambique. E no setor terciário existem cento e trinta e um estabelecimentos comerciais e de serviços: varejo de gêneros alimentícios e confecção, material de construção, marcenaria, restaurante, hotel, lanchonete, entre outros. No município há apenas uma agência bancária, do Banco do Estado de Rondônia - BERON, no qual podem sacar dinheiro os correntistas de outros bancos estatais, pois o mesmo não efetua cambio de moedas. (OSR, 1997, p. 27) Para a implementação do ecoturismo nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras haveria uma maior demanda para os produtos e serviços deste setor. Mas há a necessidade de orientação para que a qualidade destes serviços seja compatível com os propósitos de conservação dos recursos naturais pela atividade de ecoturismo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 62 O município de Costa Marques possui um hospital, com equipamentos básicos, onde há o atendimento apenas de ocorrências de primeiros socorros, outras são removidas, via aérea, para a capital. Há postos de saúde; consultório odontológico e laboratório de análises clínicas. Quanto ao turismo, os atendidos são geralmente de acidentes com pescadores. As doenças mais freqüentes são vários tipos de verminoses, diarréias, hipertensão, gastroenterite, hanseníase, leishmaniose e malária. (OSR, 1997, p. 27-28) A questão da qualidade do atendimento de saúde pública e doença mais freqüente nesta região, como a malária e leishmaniose, representa um dos principais aspectos que merecem maior cuidado por parte das iniciativas governamentais. A implementação da atividade de ecoturismo, poderia incentivar a implementação de infra-estrutura e serviços hospitalares, para que a comunidade possa também ser beneficiada. Atualmente, o precário sistema de saúde pública existente para o atendimento de visitantes, que afeta a comercialização dos produtos de ecoturismo, podem desestimular o mercado de ecoturismo. Caso a infra-estrutura e os serviços permaneçam por um longo período de tempo, faz-se necessário esclarecer aos visitantes, antes da realização da sua viagem, sobre as deficiências de pronto atendimento em casos de acidentes, para que este possa precaver-se anteriormente. O saneamento básico é realizado pelo governo, que faz o abastecimento de água de quase cinqüenta por cento da população, mas o restante das residências tem seu abastecimento realizado através de poços artesianos. Neste município não se identificou um sistema de tratamento de esgoto, no qual o sistema de fossas representa mais de 80% das residências. A coleta do lixo é realizada pela prefeitura, destinando-o ao lixão - a céu aberto e próximo ao rio a ao núcleo urbano. (OSR, 1997, p. 29) Assim como o sistema de saneamento básico é deficiente, os resíduos provenientes dos depósitos de lixo a céu aberto podem acarretar problemas de saúde pública, bem com sua implantação nas áreas de várzea do rio Guaporé, faz com que nos períodos de cheia, estes resíduos sejam transportados naturalmente para as águas dos rios. Conseqüentemente reduzindo a qualidade ambiental das águas deste rio, e fazendo com que muitos resíduos como plásticos fiquem presos nos galhos das árvores ou boiando nas margens dos rios, onde a correnteza é mais lenta. A ausência das ações governamentais regionais e locais contribuem Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 63 diretamente para alterar a paisagem, não só para fins de ecoturismo, mas para as próprias comunidades destas localidades, bem como para os impactos ambientes negativos na vida silvestre dos igapós. No município de Costa Marques há uma usina termelétrica, movida a óleo diesel, funcionando ininterruptamente, porém com capacidade ociosa. Segundo o diretor da agência local da Companhia Energética de Rondônia – CERON, devido ao aumento da demanda do turismo de pesca nos períodos dos meses de agosto e setembro, o consumo pode aumentar cerca de 20% sobre os outros meses. (OSR, 1997, p. 30) Considerando que a atividade de ecoturismo tem como princípio à conservação dos recursos naturais é importante incentivar a implementação de infra-estruturas como o abastecimento elétrico por placas de energia solar, proporcionando uma melhor qualidade na fonte de abastecimento elétrico, pois existem muitas deficiências no abastecimento de gasolina e diesel nas áreas onde se encontram as RESEXs. O sistema de comunicação e telefonia de Rondônia – TELERON, empresa estatal, possui um escritório em Costa Marques, com capacidade para 400 linhas. O plano de expansão estima mais 1.000 linhas. Mas, não há previsão para implantação de telefonia celular. O posto telefônico possui três linhas com telefonistas, que fazem ligações nacionais e internacionais. (OSR, 1997, p. 31) Como se pode observar o atual sistema para telecomunicação é falho, e não corresponde às necessidades da própria comunidade local, sendo mais um entre os setores públicos a precisar de melhorias. A atividade de ecoturismo necessita desta prestação de serviço, tanto para a comercialização quanto para a operacionalização dos seus produtos. A oferta técnica turística de alojamento reúne seis hotéis não classificados que totalizam cerca de 108 quartos, que permitem hospedar 5.000 pessoas por ano. A hospedagem é destinada para homens de negócio, viajantes comerciais, funcionários públicos e de empresas particulares. Este é o atual mercado majoritário em todos os estabelecimentos. Estes são de administração familiar com baixos padrões de conforto e qualidade para servir de base ao desenvolvimento do ecoturismo. (OSR, 1997, p.37) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 64 Atualmente, encontra-se neste município apenas um hotel que está apto a receber turistas, com dezesseis apartamentos e capacidade para trinta e oito hóspedes. Porém, o serviço é precário, o que inviabiliza o empreendimento. Os demais hotéis não possuem estrutura para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo. (OSR, 1997, p. 37) Estes meios de hospedagem são destinados principalmente ao atendimento de comerciantes da região. Apesar da rusticidade da infra-estrutura hoteleira, o aspecto de conforto não é privilegiado, pelo atual mercado consumidor destes hotéis de médio e pequeno porte. Para a implantação da atividade de ecoturismo seria necessário que houvessem melhorias nas infra-estruturas hoteleiras existentes, bem como cursos de capacitação profissional em hotelaria, pois a melhoria no atendimento nesta categoria de serviços diretos prestados aos visitantes é fundamental para a qualidade e consolidação dos produtos de ecoturismo. Considerando ainda, que não há previsão de implementação de infra-estrutura hoteleira na área da RESEX Curralinho, o que intensifica as atenções neste setor pelo setor privado desta localidade. Os meios de hospedagem em ecoturismo geralmente são empreendimentos de pequeno a médio porte, mas a infra-estrutura e qualidade dos serviços devem estar diretamente relacionadas à qualidade da estada do visitante. E representam um dos principais setores da atividade de ecoturismo atualmente no Brasil. Prioridade absoluta em termos de conservação da biodiversidade, o Brasil ainda desperta para seu potencial turístico e iniciativas consistentes na promoção do ecoturismo não têm sequer dez anos. O estudo recente, realizado pela Conservation International para esta publicação, mostra que o Brasil conta hoje com cerca de 1.680 ‘ecolodges’ - hotéis de porte pequeno ou médio próximos a áreas naturais protegidas, com programas de conservação e participação de comunidades próximas. Também conta com cerca de 310 agências e operadoras que têm no ecoturismo sua principal linha de produtos, enfatizando a conservação de áreas naturais e benefício das comunidades locais em suas estratégias de marketing. A grande maioria dessas empresas ainda se concentra na região Sudeste (cerca de 48%). [...] Nesse contexto, a maturidade que o processo aponta hoje é estimulante, mesmo que um papel de liderança global não esteja ainda claramente estabelecido para o país. Ainda há muito a fazer para profissionalizar e promover essa modalidade de turismo para o mercado global. (BRASIL, 2000, p. 07-08) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 65 A oferta de restaurantes, bares e serviços de alimentação similares restringem-se a cinco restaurantes para receptivo de turistas, dois nas margens do rio Guaporé e demais próximos ao centro. Em quatro deles o prato principal é o peixe regional, como tambaqui, pintado, tucunaré e curimbatá. A churrascaria, segundo o proprietário, possui demanda de 90% de madeireiros e 10% de comerciantes, os pescadores são eventuais. Para entretenimento há um karaokê, finais de semana, os bares funcionam diariamente à noite, e os clubes esportivos e campos de várzea. (OSR, 1997, p.38) A possibilidade de aperfeiçoamento da qualidade e oportunidades de serviços neste setor de alimentos e bebidas para a atividade de ecoturismo precisa de cursos profissionalizantes. E um trabalho de resgate sobre as possibilidades de diversidade alimentar nesta região, que conta com espécies vegetais que são singulares da região amazônica, mas precisa ser estimulado o consumo destes produtos para as comunidades locais e para o ecoturismo. Para aluguel de equipamentos há apenas duas empresas que alugam barcos para pesca durante o ano, oferecem embarcações tipo voadeira, com capacidade para 25 passageiros, e serviço complementar de guia. (OSR, 1997, p. 40) Como a RESEX não possuía barcos, que são equipamentos fundamentais nesta região, faz-se necessário à aquisição destes, bem como a capacitação profissional dos membros desta comunidade para a sua habilitação para pilotar as embarcações. Além das parceiras que podem ser realizadas com as empresas já existentes, ou embarcações de outras instituições como o Projeto Quelônios da Amazônia, que possuem embarcações de pequeno e médio porte, para fiscalização e pesquisa científica. O acesso rodoviário ao município, que localiza-se a 764 quilômetros de Porto Velho, quase metade do trecho encontram-se pavimentado, entre Ji-Paraná e a capital. No restante do percurso a estrada de terra é precária, e nos períodos de chuva pode ficar intransitável. O município é servido por uma única empresa de ônibus, que faz ligação entre os municípios de Presidente Médici e Ji-Paraná. Desta forma, a necessidade de melhoria no acesso rodoviário Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 66 para o desenvolvimento de produtos de ecoturismo regional seria fundamental, pois caso contrário o acesso é possível apenas por avião. Para o acesso aéreo para Costa Marques é realizado uma parte via acesso rodoviário de Porto Velho ao município de Guajará-Mirim. A partir deste município o percurso acesso é por avião. Os aeroportos de Guajará-Mirim e Costa Marques são precários e funcionam em período diurno. Para a RESEX Curralinho o acesso, a partir de Costa Marques, pode ser feito via fluvial, através do Rio Guaporé e igarapés que adentram a reserva, ou via terrestre. Costa Marques é servida pela Empresa de Navegação de Rondônia - ENARO, em viagens quinzenais até Guajará-Mirim, através dos rios Guaporé e Mamoré. O porto conta com apenas duas escadarias e uma rampa para embarque e desembarque. (OSR, 1997, p. 4142) Pela possibilidade de navegação entre os trechos entre os municípios de Guajará-Mirim e Costa Marques, realizar este trecho da viagem à partir de Guajará-Mirim, navegando pelo rio Guaporé, em embarcações confortáveis e típicas da região, com paradas para observação atrativos naturais, e históricos culturais como o Forte Príncipe da Beira, nas margens do rio, até a chegada dos visitantes na RESEX Curralinho seria mais atividade complementar, que elevaria a qualidade dos produtos de ecoturismo. As dificuldades encontradas nesta localidade não representam a impossibilidade da implementação da atividade de ecoturismo, mas refletem a necessidade da implantação da melhoria da infra-estrutura e serviços diretos e indiretos relacionados a esta, associados a processos de capacitação profissional por setor, pois tanto a inserção de um produto de ecoturismo como sua manutenção em mercados turísticos nacionais ou internacionais necessitam de uma qualidade mínima dos serviços. No contexto brasileiro, conciliar a proteção dos recursos naturais com o desenvolvimento, proporcionando benefício às populações locais e gerando lucros para os empreendedores através do ecoturismo traz desafios específicos. As áreas mais procuradas para este tipo de atividade estão em regiões com grande concentração de pobreza, onde Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 67 a capacidade de investimentos é pequena e a pressão de exploração dos recursos naturais é muito grande. Apesar da demanda por pacotes e produtos turísticos de boa qualidade ter aumentado nos últimos anos, o ritmo de crescimento dos passeios ‘ecológicos’ é muito maior do que as estruturas locais podem atender. O resultado é o surgimento de uma grande quantidade de serviços turísticos de má qualidade, marcados pela falta de planejamento, treinamento e ausência de estratégias de marketing, turismo, administração e desenvolvimento de bons produtos. (BRASIL, 2000, p. 10-11) Considerando que apenas a presença de recursos naturais, culturais e históricos singulares da RESEX Curralinho, e do entorno do município de Costa Marques, atualmente não são suficientes para viabilizar este produto de ecoturismo. Para isto os projetos e planos de desenvolvimento desta atividade precisam ser apoiados principalmente por iniciativas governamentais, em termos federais, estaduais e municipais. Pois, esta seria uma região pioneira no Estado de Rondônia, e apoiaria o aproveitamento de infra-estruturas e serviços já existentes neste município. Estes planos e projetos podem ser contemplados no Programa de Ações Estratégicas para a Amazônia Brasileira - PRODEAM, através do Programa de Ecoturismo para a Amazônia - PROECOTUR, que por meio do Ministério do Meio Ambiente. Pois, observa-se em seus objetivos e na previsão de investimentos a possibilidade em apoiar projetos de ecoturismo na Amazônia. [...] Seus objetivos são: promover o desenvolvimento ordenado e integrado do ecoturismo; fomentar a formação e a capacitação para o desenvolvimento das atividades de ecoturismo, por meio do fortalecimento institucional; promover a articulação e o intercâmbio de informações entre os órgãos governamentais e entidades do setor privado; e implementar infra-estrutura ecoturística, viabilizando os serviços nas áreas de pólos ecoturísticos previamente selecionados. O Programa, hoje, encontra-se em início de implementação e sua execução prevê o desenvolvimento de duas fases distintas, com abrangência em toda a Amazônia Legal: uma de pré-investimento e outra de investimento, propriamente dito. Os recursos de préinvestimentos totalizam US$13.5 milhões e, para a fase de investimentos, estão sinalizados recursos da ordem de US$200 milhões. Como parte desse processo, foi recentemente concluída contratação de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que garante o aporte de recursos para a fase de pré-investimento. (ALLEGRETTI, 2000, ii) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 68 Como pode-se verificar a intenção por parte do governo federal em incentivar a atividade de ecoturismo na Amazônia, pode contribuir para estas localidades na RESEX Curralinho, município de Costa Marques e a RESEX Pedras Negras, que apesar dos atrativos naturais e culturais também enfrenta atualmente carências de infra-estruturas e serviços para implementação da atividade de ecoturismo. 4.3 - RESERVA EXTRATIVISTA ESTADUAL PEDRAS NEGRAS Comunidade guaporeana de origem centenária, localizada na Reserva Estadual Extrativista - RESEX Pedras Negras, com área de 124.408 hectares, situada no município de São Francisco, a cerca de 150 km em linha reta e cerca de 220 km rio acima de Costa Marques, que circunscreve-se em área isolada, limitando-se na maior parte com a Reserva Biológica do Guaporé e, no lado boliviano, com a Reserva Florestal de Itenez. (OSR, 1997, p. 44) Na área vivem atualmente cerca de dezessete famílias, residindo uma parte em um pequeno núcleo populacional e outra mais afastada, numa faixa de terra entre 10 a 15 mil hectares. A densidade demográfica está decrescendo já há alguns anos, devido à falta de estudos e de perspectivas das novas gerações. Segundo fontes secundárias, há cerca de quinze anos havia em torno de sessenta e seis famílias na área, e há apenas cinco anos viviam cerca de trinta e cinco famílias. Esta evasão populacional justifica-se pela desvalorização da borracha no mercado nacional e internacional, frente à concorrência do produto malaio, a atividade econômica sofreu uma inversão. Atualmente extrai-se o fruto da castanheira, a castanha, vendendo-a para comerciantes bolivianos, sendo esta a principal fonte de subsistência. A pesca, a agricultura de subsistência – principalmente mandioca e banana, e a criação de animais, bovinos, frango e eqüinos são as principais atividades econômicas complementares. Os recursos naturais atrativos para o ecoturismo são as trilhas que conduzem à mata próxima à vila, nos caminhos dos coletores de castanha; os campos sazonalmente alagáveis; Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 69 algumas áreas de Pantanais, típicos da floresta amazônica de transição e cerrado; as praias que ocorrem na época da seca nas margens do rio Guaporé, existentes nas áreas do entorno da RESEX. Um descampado extenso, o Campo dos Amigos, pode-se encontrar animais típicos do pantanal como: veado e onça; e lagos de igapós de interiores são paisagens de elevada beleza cênica, podendo chegar via terrestre por trilhas ou via fluvial. (OSR, 1997, p. 45) Estes recursos naturais permitem a realização de atividades de ecoturismo de observação da flora e fauna da região, que devido as singulares nestas regiões de transição entre a floresta amazônica e o pantanal, podem ser interpretativas e interativas, através, de caminhadas no ambiente interior da floresta ou nos rios e lagos. Os recursos histórico-culturais, estão no próprio modo de vida desta comunidade extrativista, com suas lendas e histórias locais. Esta RESEX no passado foi um forte centro produtor de borracha, castanha-do-pará, poalha, observa-se ainda fortes vínculos com as tradições desta época. Dentre os atrativos turísticos de cunho religioso têm-se: a realização da centenária festividade religiosa do Divino Espírito Santo, anual entre diversas comunidades ribeirinhas do Rio Guaporé. A festa de São Francisco de Assis, padroeiro da vila, realizada na primeira semana de outubro. A festa junina, em louvor a Santo Antônio, e festa em louvor a Nossa Senhora da Conceição. (OSR, 1997, p. 47) Observou-se que a atividade de coleta de castanhas-do-pará é realizada nesta comunidade por quase todos os membros das famílias. Estas percorrem juntas o interior da floresta, geralmente os homens caminham à frente, estabelecendo oralmente às áreas em que encontram-se os ouriços próximos as castanheiras, demarcando o espaço de coleta para outras famílias que encontram-se na floresta. Os demais integrantes da família realizam a atividade de amontoar os ouriços, posteriormente eles são quebrados e separaram as amêndoas. Após esta atividade às amêndoas são ensacadas e transportadas pelas trilhas até o porto, para comercialização em outras localidades. A coleta de castanha, como acontece com toda a atividade da extração, se faz de maneira aleatória, casual, e se inicia após a derrubada de todos os frutos. Por ser a árvore extremamente alta, a coleta é feita no chão, e costuma-se esperar pela total queda dos frutos em razão do perigo que poderia significa um daqueles ouriços atingindo o extrator.[...] A coleta se faz, vai de regra, no período da Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 70 manhã, quando as condições de tempo são mais estáveis. O castanheiro, com um ‘paneiro’ às costas, fisga os ouriços com um terçado ou os recolhe com uma forquilha e os guarda no recipiente que carrega. No interior do ‘tapiri’ [...] (barraca cujo teto é bastante inclinado, para evitar acidentes que possam decorrer de uma imprevista queda de muitos frutos) [...], após retiradas e selecionadas as amêndoas, ele as ensacará e as transportará para o local de armazenamento, chamado ‘paiol’. Daí o produto será remetido para os portos de Belém e de Manaus.[...] A quantidade diária de ouriços coletados pode atingir até 800 unidades, o que significa 200 litros de sementes. (HIRONAKA, 1997, p. 58) O modo de vida e as atividades desenvolvidas por esta comunidade precisa ser melhor interpretada e registrada, em bases científicas, que contribuiriam para fortalecer e resgatar aspectos culturais, que desestruturam-se pela ausência de apoio governamental na produção e comercialização de produtos extrativistas, e as precárias condições de infra-estrutura e serviços existentes nesta localidade. Estes aspectos têm contribuído para o êxodo populacional desta área nos últimos anos. Da mesma forma que o seringueiro, o coletor de castanha-do-pará, após percorrer todos os riscos da coleta, chegará ao fim de seu trabalho sem aproveitar os resultados, já que a intermediação, por meio do contrato de aviamento, retira-lhe todo o possível lucro e o torna dependente do produtor que lhe forneceu, antecipadamente, os gêneros alimentícios, o vestuário, os utensílios e as armas para o desenvolvimento do seu trabalho. (HIRONAKA, 1997, p. 58) Como recursos naturais complementares ao da RESEX Pedras Negras, a região conta com numerosos rios de tamanho médio que constituem sua rede de drenagem, que são hábitat para peixes como tucunaré e tambaqui além de igarapés, nascentes e lagos. E ambientes de transição entre floresta amazônica, cerrado, pantanal, apresentam extensas áreas inundáveis, com a oportunidade de observar aves aquáticas. (OSR, 1997, p. 51) Nesta localidade também é possível ter acesso às praias, nas margens do rio Guaporé, que desenvolvem-se pesquisas do projeto Quelônios da Amazônia, anteriormente citado. Assim, há possibilidade de executar atividades noturnas de observação da desova da tartaruga-da-amazônica e tracajás, ou mesmo atividades diurnas interativas com equipes de pesquisadores. Caso seja realizada uma parceria entre esta comunidade e os integrantes do projeto. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 71 Mesmo, porque observa-se a importância deste projeto de proteção destas espécies singulares da Amazônia e do vale do Guaporé, ser melhor esclarecido para as comunidades extrativistas de Curralinho, Pedras Negras, Costa Marques e demais localidades da região. Pois, a forma inicial de implantação deste projeto foi interpretada como a restrição alimentar e punitiva na coleta destes animais para estas populações tradicionais do vale do Guaporé. É necessário atualmente fazer uma reavaliação dos mecanismos de compreensão para com estas comunidades nestas questões ambientalistas, para que estas possam ser efetivamente parceiras do projeto para a continuidade destas espécies da vida aquática. Quanto à infra-estrutura de apoio turístico há muitas debilidades inventariadas na RESEX Curralinho acentuam-se na RESEX Pedras Negras, devido à significativa distância que separa a mesma dos centros urbanos regionais. Destacando-se a qualidade urbana deficiente do povoado e baixo nível de desenvolvimento, as limitações de acesso e a oferta técnica são inexistentes. (OSR, 1997, p. 53) O principal acesso é a via fluvial saindo de Costa Marques, por lancha voadeira, cerca de oito à dez horas. O sistema de abastecimento de combustível das embarcações é inviável no trajeto. Assim, os viajantes precisam transportá-lo prevendo o percurso de ida e volta, no interior da embarcação. Outro acesso fluvial é pelo município de Pimenteiras, cerca de quatro horas de viagem em voadeira rio acima. Nesta cidade existe uma coligação, por via terrestre, com acessos rodoviários pelo Estado. Pela Bolívia subindo 1h 50min. de voadeira, até o povoado de Mateguá, onde há uma estrada de chão até Santa Cruz de La Sierra. Não há no povoado nenhuma estrutura portuária para embarcações, apesar deste ser, atualmente, o único meio de ligação com centros urbanos. Em Pedra Negras o campo de pouso encontra-se desativado, servindo, quando em operação, para eventuais pousos de aeronaves de pequeno porte. (OSR, 1997, p. 60) Apesar da longa distância a ser percorrida de Costa Marques até Pedras Negras, neste caso um principal fator restritivo, a comunidade não possui autonomia de locomoção na região, por não possuir embarcação própria, e nenhum membro da comunidade possuía habilitação para navegação no rio, fazendo-se dependente de outras comunidades, dos Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 72 suprimentos básicos de alimentação, saúde e educação, e escoamento da produção de castanha-do-pará. Para infra-estrutura de saúde há o posto de saúde público, com atendente de enfermagem apta à cuidar de doenças, como diarréia, gripe e malária vivax. Casos graves necessitam de remoção para Costa Marques, feita atualmente de modo precário, pois não há na vila nenhuma embarcação particular ou comunitária, sendo então necessário requisitar a mesma na cidade via rádio. (OSR, 1997, p. 55) Para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo, às providências são similares às de Costa Marques, é necessário realizar melhorias na infra-estrutura, e também para o atendimento à comunidade e visitantes é necessário o deslocamento de profissionais especificamente treinados para pronto atendimento e agilidade para a remoção de casos mais graves, pela aquisição de embarcações e habilitação para navegação. Não há saneamento básico na vila, os resíduos são jogados diretamente no rio. Este também serve para banho e abastecimento de água das residências, pois a bomba de captação de água do rio foi desativada. Há uma usina termelétrica, movida a diesel, com capacidade geradora ociosa, pois utiliza cerca de 40% de sua capacidade. O abastecimento de energia é realizado em quatro horas por dia. Para comunicação e telefonia há um rádio para emergências, e antenas parabólicas, que estão desativados. (OSR, 1997, p. 55-58) O sistema de saneamento básico e as fontes de energia que precisam ser implementados para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo são similares aos da RESEX Curralinho e do município de Costa Marques. É necessário estar atento para que a demanda de visitantes não contribua diretamente para o comprometimento da qualidade ambiental desta região. Há uma escola pública que permite a formação até a quarta série do atual ensino fundamental, onde as crianças são educadas por professores da própria comunidade. A deficiência educacional é considerada pela comunidade de Pedras Negras como uma das principais causas do êxodo do povoado, pois caso as famílias queiram dar continuidade ao processo educacional, as crianças e adolescentes devem deslocar-se para o município de Costa Marques. (OSR, 1997, p. 58) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 73 A infra-estrutura existente permite que cursos de capacitação profissional nas diversas áreas de formação como meios de hospedagem, alimentação, transporte, e condução de grupos em área naturais, principalmente para atividade de ecoturismo sejam realizados, mas torna-se necessário à aquisição de equipamentos que permitam esta atividade educacional. O aproveitamento e o fortalecimento de oportunidades de capacitação profissional nesta localidade poderia contribuir para que estas famílias identificassem alternativas que viabilizem sua permanência na comunidade extrativista. As principais linhas de financiamento, incluindo as operadas pelo Banco da Amazônia, ainda não favorecem o ecoturismo na região. Isto em parte acontece por uma falta de avaliação mais precisa sobre os possíveis resultados que o ecoturismo poderia alcançar. Mas é provável que a maior razão para que o ecoturismo ainda não tenha ocupado o lugar de destaque que lhe parece reservado na Amazônia brasileira é o fato de não ter sido implementada uma política consistente e duradoura para essa atividade na região. As RESEXs Curralinho e Pedras Negras, para implementarem produtos de ecoturismo, necessitam de apoio financeiro do governamental federal, estadual, municipal, ONGs e das parcerias estabelecidas com os empreendedores locais e regionais, para os projetos de infraestrutura e capacitação profissional para o ecoturismo. 4.4 - PRODUTO DE ECOTURISMO RESEXS CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS Produto de Ecoturismo é definido pela combinação de recursos, que são atrativos de natureza física, como a fauna, floresta, e rios; e os atrativos de natureza cultural, como o estilo de vida da localidade, as festas populares, o conjunto arquitetônico, as crenças e artesanato confeccionado, associados à oferta de serviços turísticos e infra-estrutura de uma localidade, como o transporte, alimentação e acomodação. Portanto, temos um produto de ecoturismo quando estes componentes são colocados à disposição do mercado consumidor de ecoturismo. (LAGE E MILONE, 1991, p. 31-34) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 74 Os serviços compõem a estrutura de atendimento ao ecoturista, ou seja as pousadas, hotéis, restaurantes, operadores, guias, empresas de transporte. E as infra-estruturas são as condições mínimas que viabilizam a utilização dos recursos, como: os acessos, aeroportos, rodovias e vias fluviais, os ancoradouros, o saneamento básico de água e esgoto, e os meios de energia. É necessário identificar que cada componente do produto do turismo formado pelos recursos, serviços e infra-estrutura de uma determinada região ou localidade, pode ser considerado um complementar de outro componente. (LAGE E MILONE, 1991, p. 31-34) No produto de ecoturismo das RESEXs de Rondônia, os serviços e infra-estrutura estão interligados com o município de Costa Marques, e as duas RESEXs e o município necessitam de melhorias e implementação de serviços e infra-estruturas de apoio turísticos, como meios de transporte, hospedagem, alimentação, entretenimento e guiagem de grupos. O planejamento para o ecoturismo destas Reservas indicou que os dois produtos de ecoturismo, das RESEXs Curralinho e Pedras Negras devem ser operacionalizados turisticamente de forma conjunta, pela natureza complementar e como estratégia para de fortalecer a imagem da região. Os custos operacionais indiretos, com administração e comercialização de cada produto seriam diluídos. (OSR, 1997, p. 66) As atrações destes produtos estão principalmente focadas nos recursos naturais e culturais, entre a fauna e flora típicas, e a cultura extrativista, que é considerado o diferencial desta região amazônica. Utilizando destes recursos turísticos as principais atrações identificadas são: trilhas interpretativas na mata, desenvolvidas para permitir um contato dos visitantes com os recursos naturais e culturais do local, utilizando-se antigas estradas de seringa, com a participação em atividades típicas como extração do látex. Atividade de pesca artesanal, com arco e flecha, utilizando-se de canoas típicas dos seringueiros, muito similares às canoas indígenas. Observação de pássaros e outras espécies como boto e cervo-dopantanal, e do beneficiamento de farinha de mandioca. (OSR, 1997, p. 64-66) Há no entanto, uma diferença no produto entre a RESEX Curralinho e a RESEX Pedras Negras. No primeiro há a realização de visitas diárias, com atividades programadas de cunho interpretativo ambiental e sobre a cultura tradicional, envolvendo visitas aos recursos Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 75 complementares de elevado potencial de atratividade como o Forte Príncipe da Beira e o Projeto Quelônios da Amazônia. Na Reserva de Pedras Negras, devido ao seu caráter geográfico de isolamento de áreas urbanas, os ecoturistas no período de visitação podem vivenciar com mais ênfase o modo de vida de comunidades extrativistas, principalmente no período de coleta da castanha. (OSR, 1997, p. 66) Para a RESEX Curralinho planejou-se a implantação de equipamentos, contemplados em: conjunto de centro de visitantes, composto por construção principal, para exposições permanentes, loja de artefatos e defumadora, bancos de madeira dispostos sob as árvores, e porto com escada cavada no barranco e deck flutuante. Para as trilhas interpretativas, previuse a sinalização básica e equipamentos indispensáveis ao seu funcionamento. Todos as instalações e equipamentos foram baseadas na proposta de manutenção da paisagem e tratamento de resíduos, sem alterar a qualidade ambiental da área. (OSR, 1997, p. 68-69) A operacionalização do produto de ecoturismo na RESEX Curralinho proposta é realizada pelos próprios membros da comunidade, após o desenvolvimento de programas de capacitação profissional. Com diversos tipos de prestação de serviços para a administração comercial e financeira do empreendimento do produto de ecoturismo, a guiagem dos grupos de visitantes, a manutenção de infra-estrutura e fiscalização da Reserva. Desta forma, a geração de receita se dará mediante pagamento de ingresso realizado antes do embarque, e da venda de artefatos no Centro de Visitantes. A gestão do empreendimento e dos recursos financeiros adquiridos, será de responsabilidade da organização de seringueiros. (OSR, 1997, p. 69) A programação básica de visita na RESEX Pedras Negras, com duração de até uma semana, inclui caminhadas em trilhas na mata ao redor da vila, com atividades típicas como coleta de castanha, passeios de barco, banhos de rio, birdwatching ou observação de aves, e visualização de fauna típica como botos e o cervo-do-pantanal. (OSR, 1997, p. 70) A infra-estrutura de alojamento será construída com características originais, recuperadas e reforçadas, e contará com equipamentos que fomentem o convívio dos visitantes com a comunidade. Um centro comunitário para festas, bailes e outros eventos. Um Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 76 campo de futebol e bancos sob as árvores na praça, mirantes e torres de observação em madeiras, além de uma loja onde o artesanato local e artigos de conveniência como filmes fotográficos e baterias, poderão ser adquiridos. Será instalado ainda um píer de desembarque flutuante semelhante ao instalado em Curralinho. (OSR, 1997, p. 70-72) Há a proposta de melhorias para toda a vila, como pinturas nas moradias em madeira, no primeiro momento, estão previstos pintura e colocação de telas mosquiteiras nas janelas das construções existentes, a construção de sanitário seco em corpo isolado em cada uma das casas e água encanada, com utilização de tecnologias adequadas do ponto de vista ambiental, e desenvolvidas de maneira a acarretar um baixo investimento e custo operacional. Exemplificada pela gradual substituição de energia termelétrica por painéis solares, e a recuperação do aeroporto existente, e a implantação de um sistema de captação de água rio acima em relação à vila, condução e armazenamento em caixas d’água dimensionadas para atender toda a população. (OSR, 1997, p. 70-72) As trilhas a serem utilizadas, em Pedras Negras, estão localizadas na mata ao redor da vila, com árvores de grande porte e elevada concentração de castanheiras. A comunidade utiliza-se destas trilhas abertas para na coleta de castanha-do-pará. Em Assim, na trilha que leva até a baía interna é possível voltar por um caminho que leva diretamente ao rio, onde pode-se seguir em direção à vila, ou embarcar para passeios de observação de aves aquáticas e botos, em praias do rio Guaporé, e aos campos do Massaco, para observação de cervos-dopantanal. (OSR, 1997, p. 70-71) Os alojamentos foram dimensionados para receber, na primeira fase, de oito a doze pessoas, podendo chegar a vinte e quatro. Além do módulo das unidades habitacionais, que contará com banheiros coletivos, com sistema de sanitário seco. O conjunto terá um salão refeitório inteiramente telado e cercado por deck suspenso, cozinha, e caixa d’água independente. A localização está relativamente isolada da vila, e com vista para o rio, permite a criação de um local para banhos de rio para os turistas. (OSR, 1997, p. 72) Considerando o isolamento do local e a vantagem de reduzir custos proporcionalmente, a administração da operação deve-se se dar pela RESEX Curralinho, em Costa Marques, de Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 77 onde devem partir os grupos. A administração é responsável pelo abastecimento, comercialização e administração financeira da operação. Para Pedras Negras a administração é mais complexa, por envolver a manutenção das trilhas, condução de grupos, alimentação e limpeza dos alojamentos, e funções como, operação do sistema de comunicação e atendimento de primeiros socorros. A operação deverá contar com gerente local. Os membros da comunidade que não estiverem diretamente envolvidos na operação desempenharão também papéis importantes, como produção de alimentos, artesanato e manutenção das atividades típicas do local, e devem ser remunerados proporcionalmente. (OSR, 1997, p. 73) A administração, comercialização e operacionalização em forma de cooperativa, pela ONGs local e regional dos Seringueiros de Rondônia, responsáveis pelas RESEXs, além de ser uma administração democrática, tem a possibilidade de desenvolver e consolidar os produtos de ecoturismo no mercado nacional e internacional, bem como para maior integração das RESEXs no processo de solução emergenciais para problemas de ordem econômica, ambiental e social dos produtos de ecoturismo, que possam surgir com a implementação desta atividade. Considerando que a Costa Rica desenvolve a atividade de ecoturismo, ao longo destas últimas três décadas há diversas experiências que podem ser avaliadas quanto infra-estruturas; serviços; demanda de ecoturismo; e o nível da participação de comunidades tradicionais que vivem no entorno das unidades de conservação de visitação pública. Estas diversas experiências, como políticas governamentais para a implementação e reavaliação destas unidades de conservação, incentivos fiscais para o turismo pelo governo federal, e financiamentos internacionais para fins de conservação ambiental, contribuíram direta e indiretamente para a consolidação dos produtos de ecoturismo no mercado internacional de turismo, são parâmetros importantes neste trabalho, através de uma análise geral do país com ênfase no turismo, e em estudos de casos específicos, sobre unidades de conservação públicas e privadas. CAPÍTULO – 5 – EXPERIÊNCIAS DO ECOTURISMO NA COSTA RICA Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 78 5.1 - APRESENTAÇÃO GERAL O território costarriquense tem aproximadamente 52 mil quilômetros quadrados, ocupando em extensão o quarto lugar entre as cinco repúblicas centro-americanas, fazendo limite ao norte com a República da Nicarágua, e ao sul com a República do Panamá. Costa Rica es un país pequeño de más o menos 52.000 Km cuadrados. A pesar de su reducido tamaño, Costa Rica tiene una enorme variedad en su topografía, su clima y su flora y fauna. La temperatura cambia con la altitud. La lluvia y la humedad varían grandemente en relación con la distancia desde los océanos o las montañas. Geográficamente el país es un puente entre dos continentes con migración de especies entre Norte y Sudamérica que ha producido una espectacular diversidad en la fauna silvestre. (BOO, 1990, p. 97) Segundo a Unión de Ciudades Capitales Ibero-americanas _ UCCI, a Costa Rica é um dos territórios que possui um dos mais elevados índices de diversidade da flora na zona intertropical, o que está confirmado pela realização de inventários florísticos e faunísticos. A presença desta elevada biodiversidade na região foi estabelecida provavelmente resultante do laço de união entre a flora da América do Norte, dos Andes e da flora tropical da América do Sul, denominado de Neotrópico. Além da sua localização geográfica, o país conta com a abundância da água, diversidade climática, e elevado número de espécies endêmicas, que são específicas dos ambientes naturais deste país. (UCCI, 1990, p. 92-93) Las zonas tropicales del continente americano, el Neotrópico, contienen un número mayor de especies que las otras regiones tropicales y, desde luego, mucho mayor que las zonas templadas e frías del Planeta. Costa Rica se ha considerado como una de las regiones más diversas e se estima que aquí se encuentra el 4% del total de especies de seres vivos, a pesa de contar con 0,0015% de la extensión global. [...] De las 505.660 especies que se calculan para el país, solamente se han descrito 84.392 (16,7%). Más del 79% de estas especies descritas son artrópodos. El otro grupo mayoritario es el de plantas, de las cuales se han descrito al redor de 10.353 especies (79,5%) de las esperadas. (COSTA RICA, 1992, p. 02) Na Costa Rica a costa do mar do Caribe apresenta um clima equatorial úmido, com elevado índice pluviométrico ao longo do ano. Na região de Tortuguero registrou-se uma Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 79 precipitação anual de cerca de 4.000 mm. Nesta costa, a cidade de Límon, é um dos principais centros do país, pois o Porto de Límon é o maior porto de exportação de produtos agrícolas. (UCCI, 1990, p. 08-13) A vertente do Oceano Pacífico apresenta características geográficas muito diferentes da costa caribenha, principalmente pela formação de penínsulas, que faz multiplicar sua extensão em praias, estimada em 800 quilômetros, com múltiplas enseadas, pontas, portos naturais e diversas ilhas. Dentre as principais penínsulas destacam-se na região norte duas Penínsulas, de Santa Elena e Nicoya, próximas à Nicarágua. Esta última é maior península, com diversas ilhas, e considerada o principal polo do turismo nacional, onde encontra-se a cidade e o porto de Puntarenhas, o principal porto nesta costa. A Península de Osa ou Dulce, localiza-se na extremidade sul, possui também diversas enseadas que são utilizadas para o turismo, principalmente as Baías de Rincón e Golfito. (RECIO, 1988, p. 10-11) Entre as diversas ilhas, da costa do Pacífico, a maior em extensão territorial é a Isla del Coco, encontra-se localizada a cerca de 300 quilômetros do Golfo Dulce, nos anos cinqüenta foi considerada uma região com potencial para ocupação urbana e agrícola, pela qualidade fértil de sua terras, qualidade de água e ausência significativa de animais silvestres, que pudessem alterar o estabelecimento destas atividades, mas a população não a ocupou, como o governo esperava. (RECIO, 1988, p. 10-11) Provavelmente em função deste fatores de ocupação o ambiente natural foi conservado e atualmente existem nesta ilha duas importantes unidades de conservação, o Parque Nacional del Coco e a Reserva Biológica Isla del Coco. A Costa Rica possui um sistema de montanhas formado por duas principais cordilheiras na região central, a Cordilheira Vulcânica, região noroeste, e a Cordilheira de Talamanca, região sudoeste. Por estas duas distintas cordilheiras estabelecem-se dois vales, o Vale do rio Grande de Tárcoles, voltado para o Oceano Pacífico e o Vale do rio Reventazón, voltado para o mar do Caribe. (RECIO, 1988, p. 36-42) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 80 A Cordilheira Vulcânica é formada por crateras eruptivas e divide-se em dois grandes grupos: a Cordilheira de Guanacaste20 e a Cordilheira Central. A Cordilheira Guanacaste localiza-se mais na região norte do país contendo cinco vulcões, dois deles o Ricón de la Vieja e o Miravalles, encontram-se em estado ativo. Enquanto os vulcões Orosi, Tenorio e Arena estão apagados. A área mais elevada dessa região está a 1.590 metros de altitude. (RECIO, 1988, p. 36-42) A Cordilheira Central é formada por três grandes maciços, o Poás, o Barba e o Irazú. Este último maciço é composto por dois grandes vulcões, o Irazú e Turrialba. O vulcão mais alto na Cordilheira Central é o Irazú, eleva-se mais de 3.000 metros de altitude, na sua vertente norte, possui várias fontes de águas termais. (RECIO, 1988, p. 36-42) El país tiene cuatro cordilleras, dos de las cuales son de origen volcánico. Contiene grandes tramos de selva tropical húmeda y otros ecosistemas en peligro. Costa Rica tiene selvas secas, bosques de niebla, páramos de montaña, manglares y playas con arenas blancas y negras, arrecifes de coral, volcanes y un número de otros atractivos naturales que están jugando un papel de creciente importancia en el desarrollo del turismo en Costa Rica. (BOO, 1990, p . 97) Na base da Cordilheira Central, voltada para o Pacífico, está o Vale Intermontano Central, ocupa uma área de 3.250 quilômetros quadrados, que corresponde a 15% da superfície do país. Neste vale, encontram-se estabelecidos os maiores núcleos urbanos e industriais, cerca de 60% da concentração populacional, e 80% das instalações industriais, e a capital San José.21 (UCCI, 1990, p. 08) Neste Vale além da capital, encontram-se núcleos urbanos de elevada importância social, econômica e política para o país, como Cartago – antiga capital, Heredia, Alajuela, Guadalupe, San Pedro e Três Rios. (RECIO, 1988, p. 43) Como podemos observar, a seguir: 20 O nome Guanacaste é derivado da palavra indígena “natural”, que significa “árvore de orelha”, representativa espécie vegetal na vertente Pacífica, e utilizada como árvore do símbolo nacional. (RECIO, 1988, p. 62) 21 Costa Rica Situación de los Parques Nacionales Location of National Parks: protected areas of Costa Rica situational map, In: Costa Rica, SNC/ ICT. Ano (s/d) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 81 A capital é o pólo urbano e cultural da Costa Rica. O país tem como principais centros Alajuela, famosa por suas flores exóticas e por centralizar a produção de açúcar, Heredia, que vive de agricultura e pecuária, Puntarenas, polo do turismo interno, Cartago, a ex-capital, e Limón. Esta última é um porto situado no local da antiga aldeia de Cariari, descoberta por Colombo em sua última viagem ao Novo Mundo. (RENATO, 1998) Na capital San José encontra-se a maior concentração de atrativos turísticos urbanos, o Liceo de Costa Rica – declarado patrimônio municipal, o Templo da Música, o Centro Comercial del Pueblo, e o Parque Central rodeado pelo Teatro Meleco Salazar e a Catedral Metropolitana. (UCCI, 1990, p. 37-42) Os recursos históricos-culturais do país são principalmente as manifestações folclóricas e festas religiosas, com influência das culturas indígenas e hispânica. Da cultura indígena os mais representativos são índios Borucas – Dança dos Diabinhos, e índios Chorotegas – Dança do Sol e da Lua. Nas festas populares de influência hispânica, personagens mascarados representam animais para protagonizar a festa do Dia de Los Muchachos, configuras tradicionais como: Gigante, Giganta, Cabeçudos, Diabo, Toro Guaco, Morte e outros da imaginação popular. A influência da tradição católica é caracterizada pelas festas populares por todo o país na Semana Santa. (UCCI, 1990, p. 62-66) Los turistas son también atraídos para visitar a San José, la capital de Costa Rica, con su moderno aeropuerto, buenos hoteles, restaurantes y centros de información turística. Otros atractivos incluyen el Museo Nacional, con sus exhibiciones de historia, flora y fauna del país; el Instituto Nacional de Seguros, que tiene una gran exhibición de jade y cerámicas; la Catedral Metropolitana; el Museo de Arte da Costa Rica; y el Mercado Nacional de Artesanía. La ciudad no tiene un centro nacional de convenciones, sin embargo muchas convenciones se llevan a cabo en los hoteles. (BOO, 1990, p. 98) A população da Costa Rica foi estimada em 3,2 milhões de habitantes, em 1993, com crescimento anual estimado em 2,1 %, há uma distribuição média eqüitativa entre homens e mulheres (OBSERVATORIO DEMOGRÁFICO; s/d). A população residente na zona rural é superior em cerca de 10% da população urbana, indicando uma base econômica agrícola. A população da capital San José, possui aproximadamente 90 mil habitantes. (RIBEIRO, 1996, p. 15) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 82 Segundo Rouquié, o país apresenta estabilidade política em relação aos vizinhos da América Central, como a Guatemala, Honduras, El Salvador, e principalmente o Panamá e Nicarágua. “[...] entre 1958 e 1984, apenas quatro Estados conheceram uma sucessão regular e ininterrupta de governantes civis escolhidos conforme as regras constitucionais, o que não significa que se trate, em todos os casos, de democracias exemplares. Esses Estados são: Colômbia, Costa Rica, México e Venezuela.” (ROUQUIÉ, 1991, p. 95-96) Ao contrário das quarteladas tão comuns em seus vizinhos da América Central, a Costa Rica desfruta de certa estabilidade democrática. ‘A Costa Rica ficou subordinada à capitania geral espanhola até 1821, quando declarou sua independência’. O país realiza eleições presidenciais desde 1889, e o sistema só falhou em 1948, quando da disputa acirrada provocou uma curta guerra civil. A situação normalizou-se com a chegada ao poder do fazendeiro de café José Figueres que, durante os 18 meses de governo, alternou radicalmente a constituição: permitiu o direito de voto a negros e mulheres, proibiu a reeleição para mandatos sucessivos, nacionalizou os bancos e as companhias de seguro e extinguiu o exército. (O ESTADO, 1999) Podemos estabelecer uma relação entre a estabilidade política e a elevada qualidade da população da Costa Rica observando os índices demonstrados a seguir. O índice de alfabetização é de 95%, o mesmo índice é indicado para as residências que recebem água potável, para saúde o atendimento à população é de 99%, a mortalidade de infantil está em torno de 12 por mil, quanto a expectativa de vida, para mulheres é de 79 anos e homens 77 anos e baixas taxas de desemprego, estimada em 5% da população ativa. (RENATO, 1998) 5.2 - ASPECTOS ECONÔMICOS DO TURISMO A economia da Costa Rica está direcionada principalmente à produção agrícola, e os produtos mais explorados neste setor são café, banana, cana-de-açúcar, arroz, feijão e milho, destinados principalmente ao abastecimento interno; o excedente é exportado. Os produtos agrícolas de maior importância são o café e a banana, cultivados desde os séculos XVIII e XIX: o café chegou a representar 70% dos ingressos em divisas em 1930. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 04) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 83 A atividade do ecoturismo vem sendo atualmente um dos principais produtos de exportação da Costa Rica. Mas, os recursos agropecuários ainda são significativos no PIB. O país, no entanto, atualmente enfrenta dificuldades para capitar novos recursos para desenvolver em maior escala outros setores produtivos. Esta situação gera dependência financeira e tecnológica de outros países. “Sin embargo, el incremento del turismo internacional a gran escala es menos beneficioso para los países en desarrollo de que se ha dicho. El Banco Mundial estima que el 55% de los ingresos brutos del turismo en los países en desarrollo en realidad regresa a los países desarrollados.” (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, ii) Segundo dados da pesquisa realizada pela FUNDACIÓN DE LA UNIVERSIDAD DE COSTA RICA PARA LA INVESTIGACIÓN - FUNDEVI E O INSTITUTO COSTARRICENSE DE TURISMO - ICT, observou-se que na Costa Rica houve um crescimento anual por ingressos de divisas trazidos para a economia nacional através da atividade turística superior a 100% em cinco anos, passando de U$ 136,3 milhões, em 1987 para U$ 431 milhões, em 1992. Houve uma previsão, em 1993, de que o ingresso de divisas seria de U$ 520 milhões, provavelmente superando os produtos agrícolas tradicionais. Assim, identificou-se, em 1990, que o turismo superou, pela primeira vez, as divisas produzidas pelo café e inferior a banana por uma diferença de U$ 40 milhões. Estima-se que se o turismo mantiver as tendências atuais será a primeira fonte de divisas para o país. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 4) Em 1998, o faturamento anual da indústria do turismo no país foi de U$ 800 milhões, superando novamente a receita gerada pela exportação de banana e café, responsáveis por U$ 650 milhões anuais. (RENATO, 1998) Quanto a representatividade do turismo no Produto Nacional Bruto – PNB, a Costa Rica só é superada internacionalmente pelas Bahamas e República Dominicana. Com 6,6% do PIB, gerado especificamente pelo Turismo. A Costa Rica supera a Espanha e diversos outros países, sendo que estes apresentam as seguintes porcentagens: Espanha com 4,8%, México 3,1%, França 1,8%, Estados Unidos 0,7% e o Brasil com 0,4%. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 05) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 84 A Fundación Neotropica e o Centro de Estudios Ambientales y Políticas – CEAP, indicaram que nos últimos 20 anos, a Costa Rica ao estabelecer 25% do seu território em unidades de conservação, permitiu que o desenvolvimento do ecoturismo, em parques e demais áreas silvestres protegidas, fizesse desta atividade uma das principais fontes de receitas do país. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, ii) O efeito multiplicador do turismo sobre a economia do país é significativo, pela diversidade de empresas beneficiadas, direta e indiretamente, na comercialização dos serviços. Os cálculos apresentados estimam que os empregos diretos estão próximos de 62 mil e 60 mil, que somados aos empregos indiretos, alcançam um total de 122 mil empregos. Acredita-se ainda que tenha potencial para atingir meio milhão de habitantes, correspondendo à sexta parte da população total do país. Assim, os ingressos por trabalho são superiores no turismo comparados aos da agricultura, fazendo desta atividade uma importante fonte de emprego nacional. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 08) A Costa Rica possui um importante diferencial na competição pelo mercado turístico mundial, principalmente o norte-americano, em relação aos produtos oferecidos por países da costa caribenha, baseados no turismo de ‘praia e sol’, pois oferece um elevado número de áreas protegidas com recursos naturais diversificados da floresta tropical, vulcões em erupção, e uma política voltada ao ecoturismo. O governo costarriquenho em sua ‘Estrategia de Desarrollo del Turismo’, estabelecida para os anos de 1984 a 1990, o Instituto Costarricense de Turismo - ICT, identificou que além da atividade de ecoturismo, um segmento especializado, o setor de turismo poderia estar voltado também para o desenvolvimento dos segmentos de turismo de aventura, turismo de praia e sol, turismo de cruzeiros, e turismo de convenções e negócios. (BOO, 1990, p. 98-99) A prioridade dada pelo governo ao ecoturismo evidencia-se principalmente, através do material de divulgação utilizado, que destaca invariavelmente suas áreas naturais legalmente protegidas, com elevados índices de biodiversidade, associando aos aspectos sociais de qualidade de vida da população costarriquenha. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 85 As pesquisas realizadas pelo FUNDEVI e ICT, em 1992, registraram que 75% dos visitantes de áreas naturais protegidas eram estrangeiros, dentre os entrevistados 62% indicaram como o principal fator de determinação na escolha do destino foi o interesse pela natureza. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 11) Verificou-se em Boo, que foi à partir da década de oitenta que a demanda turística norte-americana e européia passou a representar uma porção mais significativa dentre o total de ingressos de visitantes na Costa Rica. Na década anterior a principal demanda turística era representada pelos países fronteiriços a Nicarágua e o Panamá. Porém, às condições políticas e econômicas instáveis destes países, refletem também uma demanda instável como podemos observar a seguir. A Nicarágua, em 1978, representou 36,7% dos ingressos turísticos na Costa Rica, com o advento do processo político revolucionário da Nicarágua, a demanda reduziu de 340.442, em 1978, para 317.724 visitantes, em 1979. A recuperação de visitantes centroamericanos voltou a crescer de forma mais significativa, em 1982, com uma demanda específica do Panamá, em função de um câmbio favorável, mas nos dois anos seguintes houve uma desvalorização da moeda panamenha, e a conseqüente redução de ingressos destes turistas. (BOO, 1990, p. 96-97) A consolidação da Costa Rica como um destino ecoturístico, nestas últimas décadas, só foi possível em função do desenvolvimento de uma política voltada à conservação ambiental e fortalecimento de infra-estrutura e qualidade de serviços turísticos. 5.3. - REFLEXÕES SOBRE A TROCA DA DÍVIDA PELA NATUREZA Associado à estabilidade político-econômica da Costa Rica, o seu representativo patrimônio natural contribuiu para que houvessem investimentos financeiros internacionais, nas últimas duas décadas, destinados principalmente à expansão e manejo das áreas naturais, resultantes da troca de parte da dívida externa do país em bancos internacionais, intermediadas especialmente por ONGs norte-americanas. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 86 Hoje organizações conservacionistas americanas como a Conservation International, a Nature Conservancy e o Word Wildlife Fund levantam fundos para adquirir com desconto uma parte da dívida comercial de um país, ou então convencem os bancos credores a doarem parte dela [...] No início de 1992, vinte desses acordos, totalizando 110 milhões de dólares, haviam sido firmados com nove países - Bolívia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, México, Madagascar, Zâmbia, Filipinas e Polônia. (WILSON, 1994, p. 361-362) A tomada de decisão política interna da Costa Rica para realizar a ‘troca da dívida pela natureza’, foi em decorrência das suas dificuldades econômicas, assim com outros países em desenvolvimento, pelo modelo de desenvolvimento mundial de países industrializados, na década de setenta, desencadeasse em problemas ambientais e econômicos, evidenciados principalmente pelas elevadas taxas do petróleo no mercado mundial, a queda de ingressos pela exportação e a inflação nas nações mais industrializadas. A Costa Rica recorreu a diversas fontes de financiamento em bancos internacionais privados para o pagamento de sua dívida externa. Em Silva, encontramos uma análise sobre o processo de industrialização e urbanização e o conseqüente endividamento da América Latina, baseado em Paul Singer, em 1998, entre as décadas de trinta e setenta, resultante dos padrões de importação e exportação de bens e serviços, mesmo que a base econômica da Costa Rica não tenha sido estabelecida na industrialização, mas sim na agricultura, este país também se endividou como outros países latino-americanos, como Brasil. Durante o período, que vai de meados de 30 até 70, os denominados ‘anos dourados’, o continente se industrializou (industrialização por substituição de importações) e se urbanizou mas, na maioria das vezes a receita fiscal não cobria os gastos públicos, o que propiciou um grande endividamento público, tanto interno como externo, sem contar que, nos últimos anos, os países passaram a receber montante muito alto de investimentos do exterior. Então podemos assegurar que a América Latina se industrializou, urbanizou-se e endividou-se neste mesmo período. (SILVA, 1999, ii) No período da década de oitenta, pela contínua dificuldade econômica do país, e a necessidade do pagamento destas dívidas adquiridas anteriormente junto aos bancos internacionais. A Costa Rica incorporou-se a um processo de cooperação internacional e Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 87 nacional, propostos a diversos países latino-americanos, pela troca da dívida externa nacional em bônus para doações em projetos de conservação ambiental, mecanismo denominado: ‘troca da dívida pela natureza’. (IUCN, 1993, p. 176) Na publicação Parques y Progreso, verificou-se a forma como se desenvolviam as trocas da dívida externa e as principais críticas. Assim, Para funcionar, el mecanismo requiere de cooperación tanto internacional como nacional. La transacción general puede describirse de la siguiente manera: a) un banco comercial ofrece vender toda o parte de la deuda de un país a un valor menor (por ejemplo, cada dólar que un país debe podría valer sólo 45 centavos); b )un donante (a menudo una organización conservacionista internacional) compra toda o parte de esta deuda y se convierte así en el nuevo acreedor; c) el donante negocia los términos del pago con el banco central (o equivalente) del país deudor y una organización receptora. En general, el gobierno paga la deuda en moneda nacional (en lugar de dólares) y este dinero es investido en bonos a corto y largo plazo para evitar los efectos de la inflación; d) la organización receptora (usualmente una ONG nacional) recibe los bonos como donación e invertí los nuevos fondos en proyectos de conservación acordados por todas las partes involucradas.” (IUCN, 1993, p. 176) E as principais críticas sobre a ‘troca da dívida pela natureza’ identificas foram: Por otro lado, ha habido duras críticas acerca de los canjes de deuda por naturaleza y algunos países (como Brasil) han decidido frenarlos, debido a las fuertes protestas del público. Los argumentos más comunes contra los canjes son: 1) la deuda es ilegítima y no debe ser pagada, y la ilegitimidad que le da el canje a la deuda reduce el poder de un país de negociar la condonación de la deuda; 2) los canjes crean tasas de inflación más altas; 3) los canjes le permiten a las organizaciones extranjeras imponer agendas ambientales que podrían no coincidir con los intereses nacionales; 4) las negociaciones de los canjes excluyen a actores importantes, como los pueblos indígenas, mujeres y grupos comunitarios; 5) los fondos utilizados para los canjes pueden no ser fondos adicionales, sino que podrían ser tomadas de fondos nacionales que de todas formas estaban destinados para la conservación, Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 88 eliminando así la ventaja de aumentar el financiamiento a la conservación; 6) la escala del canje es casi despreciable; y 7) los canjes básicamente castigan a aquejes países que pagan bien sus deudas, porque el valor de mercado no estará tan depreciado y, por lo tanto, no será tan actrativo para los inversionistas de la conservación. (IUCN, 1993, p. 27-28) A década de oitenta na Costa Rica é marcada pela maior atenção governamental para a importância dos recursos naturais, observado pela fundação de ONGs nacionais, como a Liga de la Conservación de Monteverde, em 1987, e a criação do Ministério dos Recursos Naturais, Minas e Energia, onde encontram-se as instituições governamentais para administração das áreas protegidas, pelo Servicio de Parques Nacionales y Areas de Conservación - SNC. (1990, p. 03) La misión del [...] SNC consiste en ‘lograr mediante el manejo de áreas silvestres y su participación en el desarrollo de sus regiones de influencia, conservar muestras representativas de la diversidad biológica como parte del patrimonio de la humanidad, y investigación, recreación, exención y aprovechamiento sostenible de los recursos naturales, el desarrollo socioeconómico de la comunidad costarricense y en particular de las poblaciones aledañas a las áreas. (SNC, 1990, p. 03) Na Costa Rica, as unidades de conservação mais beneficiadas diretamente pela conversão da dívida externa foram os Parques Nacionais de Corcovado, Guanacaste, La Amistad, Braulio Carrillo y Tortuego, a reserva privada de Bosque Nuboso de Monteverde y el Centro Ecológico La Pacífica. Identificou-se os seguintes retornos obtidos pela ‘troca da dívida pela natureza’ neste país. (IUCN, 1993, p. 194) “Con un total de cinco canjes en cinco años, Costa Rica está a la cabeza en el mundo en transacciones de esta índole. Los fondos se han utilizado para el financiamiento de sus parques nacionales y áreas protegidas, educación ambiental, ecoturismo, manejo sostenible de los bosques, y adquisición de tierras para la expansión de parques.” (IUCN, 1993, p. 194) Nas unidades de conservação na Costa Rica, Parques Nacionais e outras categorias, as populações locais são excluídas das terras adquiridas pelo Estado, para viabilizar as decisões Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 89 políticas, econômicas e ambientais sobre ‘troca da dívida pela natureza’, gerando conflitos entre populações locais e administradores de parques. (IUCN, 1993, p. 06) “Los canjes de deuda por naturaleza totales suman aproximadamente US$ 108 millones en reducción de deuda al valor nominal, o US$ 72 millones en bonos para la conservación. De todas las transacciones que se han llevado a cabo hasta ahora, casi el 90% de los canjes le corresponde a Costa Rica, por una suma de U$ 69 millones.” (IUCN, 1993, p. 176) Entre 1987 y 1989, Costa Rica convirtió U$ 69 millones de su deuda externa comercial en US$ 32,7 millones en bonos en moneda local para la conservación por medio del mecanismo de canjes de deuda por naturaleza. [...] A pesar de que los canjes de deuda han cubierto únicamente un 5% de la deuda externa de Costa Rica, han contribuido enormemente a conservar la biodiversidad del país y a fortalecer instituciones conservacionistas nacionales y locales. (IUCN, 1993, p. 194) Em pesquisa realizada pela Fundación Neotropica e CEAP os ingressos pelo turismo internacional na Costa Rica, em 1981, cobriram 18% dos serviços da dívida externa chegando, em 1991, representar 88%, o que demonstra o rápido avanço deste setor na economia nacional. Assim, o PIB, o turismo duplicou sua importância, passando de 3%, em 1987, para 6%, em 1991. No déficit comercial o turismo passou de 61%, em 1987, para 159%, em 1991. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 04) Além da ‘troca da dívida pela natureza’, o país busca outras fontes de recursos econômicos através dos recursos naturais da floresta tropical, como através de indústrias farmacêuticas internacionais interessadas em intensificar as pesquisas científicas sobre biodiversidade. Em 1991, a Merck & Company, a maior companhia farmacêutica do mundo, concordou em pagar 1 milhão de dólares ao Instituto Nacional de Biodiversidad da Costa Rica para ajudar nesta iniciativa de seleção. O instituto irá coletar e identificar os organismos, enviando amostras químicas das espécies mais promissoras para os laboratórios da Merck, onde serão avaliados quanto ao valor medicinal. Se substâncias naturais forem comercializadas, a companhia se compromete a pagar ao governo da Costa Rica uma parte dos royalties, que será destinada então a programas de conservação ambiental. [...] Há motivos históricos para a Merck e Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 90 outras organizações comerciais de pesquisa recorrerem cada vez mais à prospecção química. [...] O percurso de organismo silvestre à produção comercial às vezes pode ser encurtado ainda mais estudando-se o folclore e a medicina tradicional dos povos indígenas. É um fato notável que, dos 119 compostos farmacêuticos puros conhecidos sendo usados em alguma parte do mundo 88 tenham sido descobertos através de dicas da medicina tradicional. A sabedoria de todas as culturas indígenas do mundo se reunida e catalogada, constituiria uma biblioteca de proporções alexandrinas. (WILSON, 1994, p. 344-345) Apurados por ‘desarrollar’ las últimas tierras intactas y sin protección que quedan en el mundo, muchos gobiernos han ignorado los derechos de los indígenas y han diezmado sus culturas y sus tierras natales. Los pueblos nativos, a pesar de ser una minoría numérica en el mundo, representan entre el 90 y 95% de la diversidad global cultural y son los guardianes del 99% de los recursos genéticos silvestres conocidos en el mundo. Se crea así un lazo inextricable entre diversidad cultural e diversidad biológica. (IUCN, 1993, p. 10-11) Existe na Costa Rica uma influência norte-americana diretamente relacionada à conservação ambiental, tanto para a implantação e o manejo das áreas naturais legalmente protegidas, como para a pesquisa sobre a biodiversidade de suas florestas tropicais. Como podemos avaliar, os Estados Unidos da América, tem na Costa Rica em um de seus principais destinos de ecoturismo, recreação e lazer das populações que vivem nos seus centros urbanos industrializados, e um potencial forte de recursos primários para sua indústria farmacêutica para o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre biodiversidade de florestas tropicais. A dependência política e econômica da Costa Rica em relação aos EUA fica explícita, dentre outros fatores, na constatação da ausência de forças armadas organizadas neste país. A troca da dívida externa de países latino-americanos, destinados à conservação ambiental, gera dúvidas quanto à interferência sobre os critérios estabelecidos para este fim, pois muitos podem estar em desarmonia com a soberania das nações latino-americanas. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 91 5.4 - MEDIDAS GOVERNAMENTAIS DE INCENTIVO AO TURISMO O governo costarriquenho estabeleceu, na década de oitenta, outros mecanismos para incentivar a implementação do ecoturismo, relacionados à oferta técnica, à partir dos investimentos e acordos realizados para a conservação ambiental, para que estes pudessem contribuir para o desenvolvimento desta atividade no país. Durante los setenta y a principios de los ochentas, el turismo no era visto por el gobierno como un sector prioritario y por lo tanto el consejo de turismo (ICT) no recibía mucha atención ni presupuesto. Mientras que el sector de fabricación había estado recibiendo índices de interés preferencial, el desarrollo del turismo era mínimo. Durante los ochenta la inversión en la fabricación empezó a estancarse y la industria del turismo a declinar. Con esta situación el gobierno decidió que el turismo debería sé convertirse en una prioridad nacional, empezó por incrementar el presupuesto para el consejo de turismo y también declaró índices de interés preferencial para el turismo. En 1986, el gobierno instituyó una ley de ‘Incentivos para el Turismo para demostrar su compromiso para desarrollar la industria do turismo.(BOO, 1990, p. 98) Segundo avaliação do Banco Central da Costa Rica - BCCR, os principais equipamentos e serviços turísticos apresentaram significativos avanços após a implantação da ‘Lei de Incentivos para o Desenvolvimento Turístico’, em 30 de junho de 1985. Após cinco anos de implantação registrou-se vinte e oito contratos turísticos voltados para oferta técnica, como meios de hospedagem, serviços de alimentação, agências de viagens e infra-estrutura de apoio turístico. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 06) Os empreendimentos turísticos estão distribuídos em: 146 estabelecimentos de hotelaria; 13 restaurantes; 36 agências de viagens; 8 linhas aéreas; 30 agências de aluguéis de carros e 25 empresas de transporte aquático. Acredita-se que o conjunto de serviços turísticos não seja ainda suficiente para atender a demanda turística atual do país. Assim, estão propondo a implantação de hotéis, albergues e sítios para alojamento, direcionados para regiões distantes do Vale Central, ou seja, distantes de San José, por esta concentrar o maior número de infra-estruturas turísticas do país. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 06) El sistema de Parques Nacionales se estructuró en la década de los 70s, y a mediados de esa misma década algunas empresas de turismo Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 92 de aventura comenzaron a sacar ventaja de los grandes atractivos de este Sistema de Areas Protegidas. En 1992 existe en Costa Rica, un verdadero ‘boom’ de empresas e agencias cuyo principal producto es el ecoturismo. De no señalarse claramente las directrices para que esta maquinaria funcione, se podría presentar un efecto ‘boomerang’ para los propios ecosistemas. (PAREDES, 1992, p. 239) Portanto, após quase uma década da “Lei de Incentivo para o Turismo”, houve uma contínua implantação de agências de viagens específicas de ecoturismo na Costa Rica, e a possibilidade de uma crescente oferta de produtos de ecoturismo nas áreas protegidas, elevando a demanda turística, sem que sejam estabelecidas diretrizes, auxiliando as agências para corresponder às necessidades de conservação dos ecossistemas visitados, poderá comprometer a qualidade dos recursos naturais atrativos deste país. Além das agências cadastradas, que possibilitam diagnosticar formas de controle de visitação pública, a fim de amenizar os impactos negativos gerados por uma excessiva demanda turística, há ainda grupos de visitantes que realizam suas viagens independestes das agências de viagens, como podemos observar a seguir. La creciente demanda por el ecoturismo en Costa Rica se refleja en el creciente número de operadores de giras que están ofreciendo viajes a las áreas protegidas. De las aproximadamente 30 agencias de viaje en Costa Rica, un tercio de ellas son llamadas ‘agencias de ecoturismo’. Ejemplos de estas agencias son: Expediciones Costa Rica, fundada en 1979, Tikal (1983), Horizontes (1984), Geotour (1985), Interviajes (1985) y Cosmos (1986). Otros grupos de viajes que no se especializan en ‘viajes de ecoturismo’ también ofrecen giras a las áreas protegidas.[...] (BOO, 1990, p. 100) Acredita-se que a expansão do turismo nas regiões de Guanacaste, Puntarenhas e Limón, dos projetos implantados possam contribuir para ampliar a demanda turística nestas regiões que foram avaliadas de elevada vocação turística, em que os atrativos turísticos podem atrair turistas nacionais e estrangeiros. Mas as áreas protegidas ainda não apresentam equipamentos turísticos adequados ao manejo da visitação pública. A ausência de infraestrutura turística básica maximiza os impactos ambientais negativos nos ecossistemas. O país tem buscado diretrizes para regulamentar a visitação nas áreas Existe a proposta de fazer os regulamentos por áreas específicas, a partir protegidas. de suas próprias características, e diretrizes gerais amplas para assegurar a conservação dos recursos naturais e Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 93 socioculturais. Para isto, o manejo das áreas seria realizado pelos guarda-parques, pois teriam maior autonomia para executar ações pertinentes que correspondam aos objetivos de cada área natural. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 06) Os parques e reservas biológicas são destinados à visitação pública e devem contar com infra-estrutura como: centro de visitantes, equipamentos básicos e banheiros adequados, maximizando a qualidade da visita e minimizando os impactos negativos, distribuindo os visitantes em diferentes sítios. Ainda, seria necessário estabelecer tarifas de ingresso, diferenciadas nas unidades de conservação, acompanhados por guias de turismo autorizados. Os visitantes precisariam ser melhor identificados, para estabelecer o perfil do visitante, e fazer uma análise sobre as futuras tendências e projeções dos visitantes em termos quantitativos e qualitativos. Estas análises auxiliariam posteriormente no planejamento da oferta técnica de infra-estrutura e serviços dos sítios de visitação pública. (CAMPOS E LIZANO, 1993, p. 06) 5.5 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA COSTA RICA O Servicio de Parques Nacionales y Áreas de Conservación na Costa Rica, possui um sistema que caracteriza duas categorias de unidades de conservação. A primeira é composta por áreas que tem como principal objetivo à conservação da biodiversidade, onde estão inseridos Parques Nacionais e Reservas Biológicas. A segunda por áreas de produção de bens e serviços, baseadas no desenvolvimento sustentável, e são contempladas as reservas florestais, zonas protetoras e refúgios de fauna. (SNC, 1990, p. 03) Con el surgimiento del Sistema de Parques Nacionales de Costa Rica en la década de los setenta, abrió un importante espacio dentro del quehacer conservacionista de esta nación centroamericana. El concepto de parque nacional empezó a calar hondo dentro de la ciudadanía como aquella área natural protegida con rasgos de notoria belleza escénica e importantes representantes de la vida silvestre. La presión de la frontera agrícola sobre áreas no explotadas, empezó a preocupar, toda vez que muchas de estas zonas poseían las características de fragilidad e inmediatamente reclamaban protección. (PAREDES, 1992, p. 240) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 94 O SNC no programa de uso público para as unidades de conservação, estabeleceu os seguintes objetivos para as áreas de visitação pública, garantir o usufruto da área de maneira que satisfaçam às expectativas do ecoturista; respeitar os critérios de zoneamento22 e integridade dos recursos naturais, e promover o desenvolvimento socioeconômico das comunidades vizinhas. Para atingir os objetivos procuram viabilizar a produção de material impresso, manutenção dos recursos e implantação e manutenção de infra-estrutura para visitação pública, como alojamentos, centro de visitantes e serviços, que correspondam às características das unidades de conservação, e tem o propósito de promover benefícios diretos às comunidades vizinhas. (SCN, 1990, p. 03-04) Dentre todos os dezenove parques, reservas biológicas e parques privados, os parques nacionais mais visitados são o Parque Nacional Volcán de Poás, Cahuita, Manuel Antonio, Volcán Irazú, Santa Roca, Tortuguero, Corcovado e Carara. (BOO, 1990, p. 97) As principais atividades de ecoturismo e esportes radicais desenvolvidos na Costa Rica são Canopy23; Trekking; Hiking - variação do trekking; Mountain Bike; Rafting; Mergulho; Surfe; Balonismo; e Bungee jumping. [...] El Sistema de Parques de Costa Rica cubre casi 20% del total del país, con 19 parques nacionales y reservas y otros parques privados. El Sistema de Parques comprende muestras representativas de casi todos os hábitats y la mayoría de las 1.500 distintas especies de árboles, 850 especies de aves y más de 6.000 tipos de plantas con flores en Costa Rica, incluyendo 1.500 variedades de orquídeas. (BOO, 1990, p. 97) Pelos registros realizados pelo Serviço de Parques Nacionais da Costa Rica, demonstrou-se um significativo aumento do fluxo de turistas internacionais nos parques 22 O zoneamento de unidade de conservação identificados em alguns Planos de Manejo da Costa Rica, para as áreas de uso público verificou-se às seguintes zonas: intangível - portanto não pode ser alterada; científica realização de pesquisas sobre flora, fauna, arqueologia, entre outras; recuperação - áreas alteradas pela ação humana e destinadas à recuperação dos meios ambientes; e uso público destinada a receber visitantes e proporcionar o desenvolvimento de atividades turísticas, como recreação, interpretação e educação ambiental. (SNC, 1990, p. 16-21) 23 Canopy - palavra em inglês que significa dossel, copa das árvores. São postos de observação em cima das árvores, utilizadas para pesquisas científicas da flora e fauna, desde o início do século XIX, pelo pesquisador biólogo americano Henry Prosick. No posto de base da atividade há árvores de com cerca vinte metros de altura inicial, o turista deve escalá-la por corda até chegar à plataforma, equilibrado por cabos amarrados nos galhos. Depois do turista estar preso ao cabo, os ganchos o mantêm pendurado, e a mão esta protegida por uma grossa luva de couro, que vai servir de freio nos cabos, iniciam-se as travessias que Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 95 durante a década de oitenta. No ano de 1980, ingressaram aos parques 305.570 visitantes, dos quais 99,7% eram turistas nacionais. Posteriormente, em 1986, registrou-se 271.967 visitantes, sendo 27% estrangeiros. Em 1990, foram 466.014 visitantes, os estrangeiros representaram 45,6% do total. O Parque Nacional Manuel Antonio é um exemplo representativo do avanço da visitação, pois recebeu cerca de 31.000, em 1980, passando para mais de 131.000 visitantes, em 1990, a maioria foram estrangeiros. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, ii) 5.5.1 - LOCALIZAÇÃO GERAL DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Mapa 1 - Áreas Protegidas na Costa Rica24 separam uma árvore da outra. (O ESTADO, 1999) 24 Costa Rica Situación de los Parques Nacionales Location of National Parks: protected areas of Costa Rica situational map, In: Costa Rica, Servicio de Parques Nacionales y Áreas Protegidas da Costa Rica – SNC & Instituto Costarricense de Turismo – ICT. Costa Rica, Ano (s/d). Mapa color. Escala:10:40. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 96 5.6 - ESTUDOS DE CASO NA COSTA RICA Como existem na Costa Rica muitas categorias de unidades de conservação, foram selecionadas duas Reservas com o propósito de avaliar a qualidade dos recursos naturais, históricos e culturais existentes ou potenciais, para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo, pois ambas envolvem questões sócio-econômicas e culturais sobre comunidades costarriquenhas que vivem no entorno destas reservas, que servem de parâmetro de análise para a RESEXs no Brasil. Foram observados o perfil dos visitantes; a infra-estrutura e serviços de ecoturismo; e a forma de envolvimento das comunidades tradicionais que vivem no entorno destas áreas, avaliando-se os mecanismos de inserção e exclusão, baseando-se em dados sobre alguns aspectos econômicos e sociais, que direta ou indiretamente potencializam os impactos positivos e negativos advindos da implantação destas unidades de conservação e da atividade de ecoturismo. Costa Rica debe prepararse adecuadamente, para asimilar este ‘boom’ ecoturístico. De ser país líder en materia de áreas protegidas, ahora debe convertirse en modelo, paradigma del desarrollo del ecoturismo en los países tropicales en vías de despegue económico. [...] Obviamente hacen falta orientaciones, directrices, sobre cómo debe Costa Rica desarrollar este tipo especial de turismo. Se requiere además mayor coordinación entre las agencias de viaje involucradas y un claro apoyo del ente rector de las políticas turísticas del país: el Instituto Costarricense de Turismo (ICT), que hasta la fecha ha jugado un pálido papel en esta dinámica. (PAREDES, 1992, p. 244245) Desta forma entre as muitas possibilidades de estudos de caso entre as unidades de conservação da Costa Rica, inseridas no SNC, a Reserva Biológica de Carara foi selecionada para este estudo, pois permite reflexões sobre o uso dos recursos naturais, históricos e culturais, em comunidades tradicionais diretamente afetadas. A participação destas é fundamental nas decisões de implementação e manejo, pois as equipes técnicas devem reconhecer o uso tradicional sustentável dos recursos, anterior a implementação de atividades de conservação ambiental, e estas não sejam impeditivas para as populações locais, procurando minimizar impactos negativos advindos das atividades. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 97 E a Reserva del Bosque Nuboso Monteverde foi selecionada por ser uma reserva particular, em que a atividade de ecoturismo foi desenvolvida baseada no reconhecimento mundial dos recursos naturais por seus elevados índices de biodiversidade. Pode-se aqui avaliar a importância da participação das comunidades locais, pela implantação de infraestrutura, projetos e serviços para o ecoturismo. 5.6.1 - RESERVA BIOLÓGICA DE CARARA Esta unidade de conservação foi criada em 1978, pelo governo costarriquenho separando as terras da fazenda Coyolar, que incorporavam os projetos agrícolas desenvolvidos pelo ‘Instituto de Terras y Colonización’, hoje o ‘Instituto de Desarrollo Agrario’ - IDA, nesta região. A área estabelecida inicialmente foi de 7.600 hectares, devido às pressões exercidas para expansão das terras agricultáveis, esta área reduziu-se à 4.700 hectares, em setembro de 1983. (SNC, 1990, p. 05) A Reserva está localizada próxima a Puntarenhas e San José, na região central da costa pacífica, nesta área encontra-se a única amostra considerada zona de transição entre os bosques úmidos e secos da vertente do Pacífico. Apesar de ser um território de extensão reduzida existem seis ecossistemas diferentes, com lagoas, bosques de galeria primários e secundários. Os bosques primários, praticamente inalterados, da floresta tropical apresentam elevadas taxas de biodiversidade, destacando orquídeas e bromélias. A fauna é abundante, representada por espécies de crocodilos, mamíferos roedores e aves, e são os principais atrativos na Reserva. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 28) Desde el punto de vista ecológico y por su ubicación geográfica, esta Reserva presenta ventajas importantes y excepcionales. Es la única muestra que queda de la zona transicional entre los bosques secos y húmedos en la región costera del lado del pacífico, donde tienen un límite biológico muchas especies de fauna y flora. Ninguna otra región guarda muestras de ecosistemas ni protege los recursos genéticos únicos entre las regiones bioclimáticas transaccionales. Además, es la única zona en toda la región que aún tiene cobertura Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 98 boscosa densa y inalterada en su mayor parte, rodeada por terrenos de fuertes pendientes ya completamente degradados por las prácticas ganaderas extensivas sobre suelos muy pobres. Se puede decir que Carara es la última área grande de bosque intacto que queda en todo el Pacífico Central. (SNC, 1990, p. 05) O reconhecimento ecológico sobre os aspectos relevantes da flora e fauna, a crescente expansão agrícola nesta região, e as características inadequadas do solo para a expansão agrícola, não foram suficientes. O Sistema Nacional de Parques e Áreas Protegidas, até o ano de 1990, não havia demarcado os limites reais do território da Reserva, e implementado o Plano de Manejo, elaborado desde 1983, e reavaliado em 1990. O plano contemplava as áreas de uso visitação pública. Sendo a demarcação do território e o plano importantes instrumentos para efetivar a conservação dos recursos naturais diagnosticados. (SNC, 1990, p. 05) No sistema nacional de unidades de conservação costarriquenho, a categoria de Reservas Biológicas não permite a visitação pública, mas devido à magnitude dos recursos naturais efetivou um uso para visitação pública, que vem ocorrendo nos seguintes sítios: El Dique, Sendero Quebrada Bonita e Camino de Coopecarara. Este último sítio forma um complexo de três sítios, o Mirador de la laguna meándrica, o Sendero Surá e o Camino Costanera Sur-Río Carara. Na reformulação do plano de manejo há uma proposta de adequação das condições de uso de todos os sítios, assim foram propostas cinco zonas, sendo elas: zona intangível; zona científica; zona de recuperação; zona de uso especial e zona de uso público. (SNC, 1990, p. 05) Na região estabelecida como zona científica, que tem por objetivo oferecer oportunidades de investigação e educação científica, em áreas medianamente alteradas, recursos naturais em elevado estágio de conservação, há uma área de sítio histórico-cultural, localizada ao norte da reserva de Lomas Entierro, um cemitério arqueológico, com extensão de aproximadamente 200 ha. Devido às alterações que foram realizadas no sítio arqueológico, este foi incorporado à zona científica. “Su valor de sitio arqueológico está reducido debido a la gran cuantidad de ‘huequeos’ que lo han alterado fuertemente y no han permitido visualizar estructuras individuales, notándose únicamente las excavaciones de huequeo y piedras dispersas [...]. Por tanto se incluye su área dentro de la zona científica.” (SNC, 1990, p. 16) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 99 Mas esta determinação do Sistema Nacional de Parques e Áreas Protegidas costarriquenho de inserir o sítio arqueológico em uma área restritiva ao uso público, sem consultar às comunidades vizinhas, acabou gerando um impacto sociocultural nestas comunidades que o utilizavam com freqüência. Otro caso en el que las consideraciones socioculturales han surgido se dio en la Reserva Carara. Se ha venido incrementando el resentimiento entre los residentes de los cercanos Tarcoles y Bijagual desde el reciente establecimiento de la reserva. La reserva ha limitado su acceso a una zona en la cual ellos en forma tradicional cazaban o buscaban artefactos indígenas. La tensión se ha venido elevando entre la comunidad y el personal del parque y podría afectar el turismo del parque. (BOO, 1990, p. 112) A justificativa do Serviço Nacional de Parques e Áreas Protegidas é de que as principais normas de manejo para este sítio arqueológico estão baseadas na autorização prévia para o desenvolvimento de pesquisas científicas e a manipulação orientada pelo setor denominado de Lomas Entierro, procurando amenizar os impactos negativos que vinham descaracterizando os recursos arqueológicos pelas comunidades do entorno. (SNC, 1990, p. 19) Como na Costa Rica a atividade turística está voltada especificamente para a utilização dos recursos naturais, e os recursos históricos e culturais não são utilizados como mecanismos de integração e interação entre os visitantes e as comunidades locais. Este sítio após ser devidamente analisado pela comunidade científica da Costa Rica, e verificar as formas de utilização que correspondam às expectativas das comunidades de Tarcoles e Bijagual, poderia ser um sítio de visitação pública para ampliar os mecanismos de compreensão dos aspectos históricos e culturais, anteriores à ocupação do território pela comunidade espanhola, pois os vestígios destas comunidades pré-colombianas seriam uma marca do resgate destas culturas, que são esquecidas pela exclusiva valorização dos recursos naturais. Nas áreas naturais protegidas a diversidade cultural é de particular importância no manejo de áreas protegidas. Na América do Sul, dos 184 Parques Nacionais identificados, estima-se que 85,9% são habitados, as populações inseridas nestas acabam gerando conflitos pelo entendimento que existe entre administradores de parques quanto ao uso e ocupação do solo, estabelecido através do plano de manejo destas áreas. Por isso, destacamos a Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 100 necessidade de realizar estudos científicos nas áreas das Ciências Sociais para que as decisões sobre a terra, sejam compatíveis com as culturas das comunidades tradicionais que estão relacionadas com as unidades de visitação pública tanto na Costa Rica como no Brasil. (IUCN, 1993, p. 5) Esta Reserva Biológica possui equipamentos e recursos humanos destinados à manutenção e conservação dos recursos naturais, em especial equipamentos destinados ao controle de incêndios, que ocorrem com freqüência no interior e regiões de entorno da unidade de conservação, devido à proximidade e avanços das regiões agrícolas, controle de caçadores irregulares, e provavelmente pela ausência de trabalhos destinados à integração das comunidades de entorno com esta Reserva. Quanto à infra-estrutura e serviços para o desenvolvimento de atividades turísticas, observou-se à ausência de um Centro de Visitantes, serviços básicos de atendimento e um sistema de registro dos visitantes, que contemple dados mais precisos sobre o perfil do visitante. (SNC, 1990, p. 08-14) O SNC indicou que sobre a análise dos dados mínimos coletados sobre o perfil dos visitantes, que a maioria dos visitantes estão em grupos organizados por agências de viagens costarriquenhas, e conduzidos por um guia, especialmente os grupos estrangeiros, mas identificam que muitos turistas realizam a viagem de forma independente. Observa-se uma organização entre os trabalhos desenvolvidos para administração da reserva com operadoras e agências de viagens. (SNC, 1990, p. 12) Pode-se ainda identificar impactos negativos da visitação pública, decorrentes de ações dos guias e visitantes, que perturbam as aves quando as espantam de seus ninhos, com objetivo de melhor visualizá-las. Para minimizar estes impactos sobre a avefauna, é necessário realizar cursos de capacitação para os guias enviados pelas operadoras de turismo na condução dos visitantes, como: CR Expeditions; Horizontes e Explor, responsáveis pelas maiores demandas, nas quais o principal produto de ecoturismo é excursão. Observa-se também a necessidade de maior envolvimento da comunidade, com implantação de cursos comunitários locais, oferecendo serviços e comercialização de produtos, contribuiriam para amenizar os conflitos com as comunidades. (SNC, 1990, p. 12) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 101 O incremento da demanda turística está baseado não só no aumento da demanda pelas operadoras de turismo, mas no projeto de implantação do hotel, com 25 habitações, no entorno do sítio de uso público de Coopecarara, de propriedade da agência de turismo e viagens Geotur. O hotel Club Punta Leona, já instalado no entorno da Reserva, se propôs ampliar de 100 para 200 habitações, e pretende oferecer aos hóspedes excursões para a Reserva. Em outra região próxima denominada Jacó, identificou-se projetos para implantação de hotéis, nas localidades de Finca Madre e Playa Herradura. (SNC, 1990, p. 12-13) Las áreas silvestres no solo atraen visitantes, también están siendo polo de atracción para la instalación de infraestructura hotelera, más orientada a un turismo masivo, que a veces pone en duda los esfuerzos para desarrollar el ecoturismo a nivel nacional. En esta búsqueda del necesario equilibrio para desarrollar una actividad que beneficie a las áreas silvestres, las comunidades locales, al visitante nacional y extranjeros y al país en general aparece la planificación como una herramienta que requiere urgente aplicación. En esta planificación multisectorial, los objetivos de las áreas silvestres protegidas tienen que ser cuidadosamente considerada, ya que ellas constituyen la base y la reserva para los futuros ‘desarrollos’ de las generaciones venideras. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, ii) A ênfase dada à implantação da atividade hoteleira convencional não condiz com os propósitos da atividade de ecoturismo, pois não estimula os empresários locais a investirem nestas atividades de hospedagem pela diferenças observadas pela qualidade de infra-estrutura menos rústicas nestes empreendimentos convencionais. Bem como na possibilidade de geração de empregos diretos na prestação de serviços para o ecoturismo, como por hotéis como o fornecimento e preparação e de gêneros alimentícios pelas comunidades tradicionais destas localidades, que diferem dos padrões internacionais nestes hotéis de maior porte, voltados para uma demanda turística internacional. Se hace imprescindible entrenar personal de nivel o mandos medios, para que sirvan de puentes entre la actividad en sí y las comunidades rurales. En otras palabras, hacerle ver a estas poblaciones que si protegen sus selvas tropicales o áreas boscosas, eventualmente podrían comenzar a derivar beneficios por la construcción de un albergue, la preparación de comidas autóctonas, el guiar a los visitantes, al guiar caballos, o vender artesanías propias de la zona [...]. Los niveles de inversión para construir un albergue u hotel rústico de montaña, son muchísimos veces menores que los requeridos para edificar un típico resort a la orilla del mar, de ahí que esta actividad se esté convirtiendo en un real alternativa Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 102 económica para muchas comunidades rurales. (PAREDES, 1992, p. 245) Além da edificação de infra-estrutura de hospedagem e as oportunidades para a prestação de serviços, as principais vias de acesso às localidades com recursos naturais, históricos e culturais são fundamentais para a efetivar um destino ecoturístico, e as melhorias nestes acessos intensificar a demanda ecoturísticas, como ocorreu nesta Reserva de Carara , como podemos observar a seguir. Com a construção da estrada que liga San José a Orotina, localizada à 40 quilômetros da Reserva, e a manutenção de outras estradas, facilitou o acesso rodoviário contribuíram também para aumentar o fluxo turístico na Reserva de Carara. Este fato pode ser observado através dos registros anuais de visitantes, que registrou em 1988, uma demanda de aproximadamente 3.500 visitantes. Para 1989, a reserva recebeu 5.603 visitantes, e no último registro em 1990, a demanda aumentou para 8.000 visitantes, sendo que deste total 80% eram estrangeiros. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 28) Os estudos que foram realizados pela Fundación Neotropica e CEAP nesta Reserva, apontaram principalmente as seguintes conclusões para analisar os impactos negativos ocasionados pelo número excessivo de visitantes. Inicialmente ressalta-se que a Reserva Ecológica de Carara não suportava o número de visitantes que vinha recebendo (8.000), pois não havia infra-estrutura e recursos humanos, e um sistema de registro para visitantes, merecendo incentivos governamentais para a implementação das zonas de uso público. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 38) O planejamento e a implantação de infra-estrutura de acesso e hospedagem, para consolidação da Reserva como um destino das principais operadoras de turismo da Costa Rica, que vêm ampliando seus investimentos até na rede hoteleira da região, excluem as comunidades locais. Caso a exclusão das comunidades de Tarcoles e Bijagual prevaleça nos próximos anos, acredita-se que os conflitos gerados na expansão agrícola, como incêndios e invasão de caça irregular, possam continuar ocorrendo nas áreas de entorno na Reserva. En su libro Resident people and National parks los editores Patrick C. West y Steven R. Brechin, manifestan que ‘el uso público de un Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 103 parque requiere un manejoo considerabelmente particular, sino educación ambiental e interpretación, extensión comunitaria y relaciones públicas’. [...] Los mismos autores, West Y Brechin, afirman que el ‘turismo en parques puede jugar un importante papel en el desarrollo socioeconómico en la media en que se estimule la vistación de turistas nacionales y estranjeros a estas áreas. [...] el ecoturismo puede convertirse en una alternativa en las comunidades rurales de un país en vías de desarrollo, como es Costa Rica. (PAREDES, 1992, p. 240-241) O governo costarriquenho quando se propõe a avaliar o Plano de Manejo, para viabilizar visitação pública, por uma demanda maior de estrangeiros, deverá também incentivar projetos que permitam às comunidades ter alternativas econômicas baseadas no desenvolvimento turístico na Reserva. E incentivar às comunidades para que identifiquem nesta área alternativas de recreação e lazer, que contribuam para o resgate e valorização das manifestações histórico-culturais, que está tradicionalmente relacionado ao sítio arqueológico. 5.6.2 - RESERVA DEL BOSQUE NUBOSO MONTEVERDE A Reserva del Bosque Nuboso Monteverde é uma unidade de conservação privada, que pertence ao Centro de Ciencias Tropicales, uma ONG da Costa Rica, desde 1972. Esta reserva encontra-se localizada na região central da Cordilheira Guanacaste, e abrange uma área total de 10.000 hectares, com altitudes que variam entre 800 a 1.860 metros. Apresenta entre os principais objetivos, o de proteger ecossistemas montanhosos, com exuberantes bosques tropicais, e elevada diversidade de fauna silvestre, estes são os principais recursos naturais atrativos para interpretação e educação ambiental, nas atividades de ecoturismo. (BOO, 1990, p. 114-115) La Reserva del Bosque Nuboso de Monteverde se ha convertido en una de las reservas biológicas privadas más importantes de Costa Rica. Está ubicada estratégicamente sobre la divisoria continental y abarca seis diferentes zonas de vida con cuencas de Altlántico y del Pacífico, y tiene una enorme diversidad biológica que incluye especies en peligro de extinción. Las comunidades de los alrededores se han beneficiado enormemente de la gran cantidad de turistas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 104 (unas 300.000 personas en 1989) que llegan en busca de hospedagen yi servicios. (IUCN, 1993, p. 160) Segundo a Fundación Neotropica e CEAP, nesta região, entre os seis ambientes naturais identificados, destacam-se o bosque nebuloso coberto de epífitas no alto das montanhas, o bosque chuvoso da vertente da costa caribenha e o bosque seco na vertente do Oceano Pacífico. Esta área caracteriza-se pela biodiversidade registrada nas quatrocentas espécies de aves; cento e vinte espécies de répteis e anfíbios, entre estes anfíbios o ‘sapo dourado’ de Monteverde, uma espécie endêmica, que só existe nesta região; cem espécies de mamíferos, e mais de duas mil e quinhentas espécies de vegetais, com trezentas espécies de orquídeas. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 70) Esta região apresentava características ambientais praticamente intactas até a década de cinqüenta, quando iniciou-se a ocupação para agricultura, desenvolvida anteriormente até o sopé da montanha. Nesta década o governo implantou leis de incentivo agrícola, populações de outras regiões da Costa Rica e uma comunidade norte-americana, deslocaram-se para Monteverde, quando foram fundadas as comunidades de Santa Elena, San Luis, Canita e Cabeceras, expandindo a agricultura e urbanização para regiões montanhosas que não eram anteriormente ocupadas. (BOO, 1990, p. 114) Posteriormente, na década seguinte na região de Monteverde, desenvolveram-se diversas pesquisas biológicas nos ambientes naturais, descrevendo as espécies raras encontradas na região e a identificação do ‘sapo dourado’. As pesquisas nesta década foram muito intensas. El exuberante bosque de niebla, todavía casi sin alterar, era muy atractivo para estos estudiantes, la mayoría de ellos biólogos de los Estados Unidos. La Organización para Estudios Tropicales, un consorcio internacional de universidades trajo con frecuencia grupos de científicos y estudiantes al área. El Centro de Ciencia Tropicales, también formado durante los sesentas, empezó a llevar investigadores a Monteverde. (BOO, 1990, p. 114) A região de Monteverde passou a ser amplamente divulgada em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil à partir de 1994, como fez o biólogo norte-americano Edward Osborne Wilson, sobre os estudos biológicos realizados que demonstravam a exuberância da Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 105 floresta tropical costarriquenha. Pois este é um dos ecossistemas em que foram realizadas diversas pesquisas científicas, e considerado um dos mais estudados da América Latina. (IUCN, 1993, p. 160) “[...] La comunidad científica también se ha beneficiado del ‘laboratorio viviente’ de la reserva, que incluye más de 100 especies de mamíferos, 400 especies de aves, 120 especies de reptiles y anfibios, unas 2.500 especies de plantas y varios miles de especies de insectos. La Reserva de Monteverde es uno de los ecosistemas más estudiados de Latinoamérica.” (IUCN, 1993, p. 160) Na Reserva Florestal Monteverde da Costa Rica, Nalini Nadkarni e outros botânicos, encontraram o que talvez seja o fenômeno máximo de ‘espécies caroneiras’25, além do ecossistema arbóreo fisicamente mais complexo do mundo. Os jardins de epífitas em alguns nos galhos horizontais mais pesados são tão exuberantes e emaranhados que parecem uma mata em miniatura. Até mesmo árvores pequenas, de um tipo geralmente encontrado apenas no chão, brotam desses densos cachos. O castelo ecológico de cartas tornou-se aqui uma torre, emblemática da prodigalidade da vida na Terra: grandes árvores sustentando orquídeas e outras epífitas, epífitas sustentando pequenas árvores, com suas raízes, liquens e outras plantas minúsculas crescendo nas folhas das árvores menores, ácaros e pequenos insetos alimentando-se entre essas plantas sobre folhas, e protozoários e bactérias vivendo nos tecidos dos insetos [...]. Os trópicos contêm enormes áreas tanto de terra como de águas rasas que servem de palco para a evolução de uma extrema diversidade. (WILSON, 1994, p. 220221) Estas publicações ao longo dos anos contribuíram diretamente para atrair, ano após ano, um número cada vez maior de visitantes nacionais e estrangeiros para a Reserva, o número de visitantes passou 300 pessoas, em 1973, para 13.000, em 1987. E contribuíram para que a área da reserva expandisse de 2.000 para 10.000 hectares, nesta mesma década, resultado das doações originadas principalmente da ONG costarriquenha, ‘Liga de la Conservación de Monteverde’, fundada em 1987, que desenvolve projetos de conservação ambiental, registro e diagnóstico do número de visitantes, e educação ambiental nas comunidades locais do entorno da reserva. (BOO, 1990, p. 115) 25 Wilson refere-se às espécies vegetais denominadas ecologicamente por epífitas que utilizam as árvores apenas como substrato para se estabelecerem. Assim: “uma planta especializada em crescer em outros tipos de plantas de maneira neutra ou benéfica, não como parasita. Exemplos: a maioria das espécies de orquídeas Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 106 A pesquisa da Fundación Neotropica e CEAP analisou a visitação desta reserva ao longo da década de oitenta e fez estimativas para o decorrer da década de noventa. A Reserva recebeu uma visitação, em 1980, de cerca de 23.100 visitantes, após uma década recebeu no primeiro semestre de 1991, aproximadamente 26.000 mil visitantes, superando a visitação total do ano anterior. Considera-se que o aumento desta demanda turística nesta década foi em decorrência da implantação e melhoria da infra-estrutura turística, expansão da rede hoteleira, e melhorias nas vias de acesso. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 70) Na avaliação realizada sobre a taxa de 25% para o crescimento da demanda turística para os próximos anos, estimou que o número chegaria a 84.500 visitantes, em 1996. Os resultados gerais esperados sobre os impactos negativos nos recursos naturais e nas comunidades locais envolvidas, seria a degradação dos sítios de visitação pública, a redução na qualidade da experiência da visitação, e a maximização de impactos negativos nestas comunidades, caso não houvessem incentivos financeiros destinados ao manejo destas áreas, que beneficiassem diretamente às comunidades. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, , 1992, p. 70) Na pesquisa realizada sobre perfil do visitante da Reserva de Monteverde apresentada por Boo, são muito próximas as estimativas de âmbito nacional, onde 75% dos visitantes de áreas naturais eram estrangeiros. Em Monteverde, dentre as cem pessoas entrevistadas 84 eram estrangeiros, sendo 74% norte-americanos e 20% europeus, os visitantes costarriquenhos infelizmente não foram avaliados nesta pesquisa. A idade média dos entrevistados era em torno de 36 anos. O principal meio de transporte utilizado foi ônibus em 68% dos casos, e automóvel em 34%. O tempo de permanência na região é aproximadamente uma semana. Quanto a forma de viajar 38% estavam acompanhados por amigos, 27% por familiares, apenas cerca de 15% estavam em grupos de turismo. A maioria indicou, em 90%, que o roteiro da viagem foi planejada antes de chegar na Costa Rica, os demais por indicações de parentes, amigos, pessoas da localidade e outras fontes. A grande maioria indicou que uma das principais razões pela escolha do destino refere-se a flora da região em 62%, seguido pela fauna em 56%, espécies raras da floresta em 36%, aventura 26% e geologia em 25%. Entre as e bromeliáceas.” (1994, p. 417) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 107 atividades de ecoturismo mais realizadas na região foram observação de aves em 74%, observação da fauna silvestre em 67%, caminhadas em 55%, botânica 41% e excursões na floresta em 47%. (BOO, 1990, p. 116-117) Estes dados indicam que os ecoturistas estrangeiros nesta faixa etária já possuem certa autonomia financeira para realizar viagens mais longas, planejam suas viagens com antecedência, o tempo de permanência é razoável. Isto lhes permite realizar diversas atividades apenas para o reconhecimento do ambiente natural, viajam muitas vezes independentes das agências de viagens costarriquenses. Não houve a indicação de retorno à região. As principais impressões que os turistas estrangeiros obtiveram em sua permanência na região sobre as experiências realizadas indicaram e quase a metade classificou como excelente, a outra como sendo boa. Quanto à satisfação e facilidades dos meios de hospedagem foram quase que absolutamente excelentes (95%). As maiores críticas foram direcionadas à ausência de infra-estrutura de serviços de alimentação, ausência de estradas e transporte das comunidades até à reserva, destacou-se ainda ausência de informação técnica e listas de campo sobre as espécies silvestres já identificadas cientificamente. As principais recomendações estavam baseadas apenas nos recursos naturais, como podemos observar, pela baixa qualidade da publicação de guias de turismo, mapas e informações técnicas, e as melhorias nos serviços turísticos em geral. E quanto ao efeito sobre um aumento do número de visitantes, as principais preocupações foram os efeitos sobre a vida silvestre, e impactos no meio físico, como erosão nas trilhas e caminhos naturais. (BOO, 1990, p. 117) Este perfil do mercado apresentado pelos turistas estrangeiros que apresentam preocupações em adquirir serviços de melhor qualidade quanto à infra-estrutura, alimentação e informação, indicam que realizam de forma quase que autônomas suas atividades de ecoturismo, sem o intermédio de agências de viagens costarriquenhas. Buscando informações baseadas em pesquisas científicas, excluindo as informações transmitidas pelos guias ecológicos sobre os conhecimentos tradicionais destas comunidades locais. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 108 A preocupação excessiva dos visitantes sobre os possíveis impactos negativos que podem ser gerados sobre às condições da vida silvestre de Monteverde excluem as responsabilidades que estes têm para sobre a qualidade de vida das comunidades locais. Caso este ambiente natural seja descaracterizado acredita-se que, provavelmente, estes visitantes se desloquem para outras regiões, com recursos naturais mais preservados, caso não sejam desenvolvidos projetos de integração entre visitantes e comunidades anfitriãs, estes visitantes também não se integrarão de forma efetiva com as comunidades tradicionais existentes nas localidades. Nestas últimas duas décadas em função do incremento da atividade turística observouse um incremento de empregos e prestação de serviços nesta comunidade em função da implantação de infra-estrutura voltada ao atendimento dos visitantes. “Desde 1980, Monteverde se ha convertido en un destino turístico más popular para los ecoturistas [...] la visitación aumentó más de tres veces en seis años.” (BOO, 1990, p. 115) Na Reserva de Monteverde existem taxas diferenciadas para o acesso nesta área privada, às crianças independente da nacionalidade, e as pessoas da comunidade local tem acesso gratuito, os turistas nacionais pagam taxas inferiores aos turistas estrangeiros, procurando incentivar a visitação na reserva pela população costarriquenha local e regional. Apesar das taxas diferenciadas, em geral os produtos turísticos da Reserva possuem um preço superior, em relação as outras unidades de conservação da Costa Rica, que contribuem para a exclusão do mercado turístico interno, fortalecendo o estabelecimento de uma demanda turística representada principalmente por turistas estrangeiros. Este fato tem gerado alguns problemas internos na Costa Rica, pelo desinteresse dos turistas costarriquenhos em conhecer as unidades de conservação de seu país. Atualmente o governo precisa implementar uma oferta técnica intermediária para acesso, hospedagem e alimentação, procurando fomentar os serviços das comunidades locais e incrementar a visitação nacional em certas regiões, e manter a qualidade dos serviços turísticos oferecidos aos visitantes estrangeiros. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 17) As taxas cobradas para o ingresso de visitante na Reserva de Monteverde são mais elevadas, em relação às outras unidades de conservação da Costa Rica. Sobre a arrecadação Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 109 total efetivada, em 1987, os ingressos cobriram os custos de manutenção da reserva, como pode-se observar, do total arrecadado 68% destinou-se aos gastos com recursos humanos, 13% para manutenção, 15% para serviços e 4% para impostos e outros fins. (BOO, 1990, p. 108) Pode-se verificar alguns aspectos positivos dos impactos ambientais gerados sobre a demanda turística na comunidade, através da Liga de Conservación de Monteverd’, que recebe aproximadamente cerca de 50% de seus fundos através de doações de visitantes que querem contribuir diretamente para a conservação ambiental desta reserva. Estas doações são destinadas ao manejo da reserva, pelo aumento do número de visitantes e dos trabalhos de educação ambiental desenvolvidos com as comunidades vizinhas. (BOO, 1990, p. 111-115) Os esforços para envolver comunidades locais, ONGs e grupos de interesse, devem ocorrer desde o princípio do processo, durante a etapa de conceitualização, e não exclusivamente na execução. Isto requer tempo e cooperação, em lugar das acostumadas táticas rápidas de relações públicas, que têm como objetivo mitigar impactos negativos para conservação ambiental, ou envolver a comunidade local somente de forma marginal, para cumprir algum requisito do projeto. O processo de diálogo, consulta e coordenação com as comunidades locais deve ser parte integral e continua das atividades de planejamento e manejo de áreas protegidas. Os habitantes locais devem ser respeitados, como iguais, e não como objeto de projetos de conservacionistas ou de educação. (IUCN, 1993, p. 06) Na comunidade de Monteverde que vive no entorno da reserva têm-se verificado diversos impactos econômicos resultantes da demanda turística. O turismo é a segunda maior fonte de recursos na localidade, inferior à produção de artigos derivados da pecuária de leite, sendo que a produção agropecuária têm sido incrementada pela atividade de turismo, pois parte da produção é absorvida pela rede hoteleira existente, fazendo com que o turismo seja uma fonte de benefícios econômicos indiretos para a comunidade local. (BOO, 1990, p. 109) A análise da infra-estrutura de hospedagem indicou que esta é formada principalmente por dois hotéis e duas pensões, um total de 48 quartos, com capacidade para 152 hóspedes. Os empregos diretos variam conforme a sazonalidade da demanda turística, foi identificado que o Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 110 período de baixa, é no mês de maio, o número de trabalhos diretos nos meios de hospedagem foi de dezessete, aumentando para trinta e quatro no período de maior demanda, no mês de fevereiro, os salários neste setor são superiores às outras regiões da Costa Rica. (BOO, 1990, p. 116-118) Segundo Boo, a análise realizada por Fuech, em 1988, indicou que a cooperativa fundada por mulheres, em 1982, Cooperativa de Artesanos de Santa Elena e Monteverde CASEM, produzindo artesanatos e objetos destinados ao mercado turístico, em menos de uma década, a cooperativa expandiu de oito para setenta membros, pelo aumento da demanda turística. Os principais artigos produzidos são blusas e artigos bordados ou pintados, artigos em cerâmica e madeira talhada. As vendas destes artigos na empresa cooperativa duplicaram entre 1987 e 1988, alcançando uma venda anual de U$ 50.000. (BOO, 1990, p. 118-119) Na geração de empregos diretos temos ainda os guias locais, que trabalham de forma independente, sendo caracterizados pela sua especialização na condução de grupos em áreas naturais como guias ‘ecológicos’, diferenciando-se dos guias enviados pelas agências de viagens de San José, guias locais também são contratados diretamente pelas agências. No entorno da reserva foi identificado também infra-estrutura e serviços relacionados ao turismo, aluguel de cavalos, bar dançante e cantina. (BOO, 1990, p. 09) Quanto aos impactos econômicos negativos observados nas comunidades que vivem no entorno da Reserva de Monteverde, decorrem pelo fato de que a maioria dos produtos utilizados para a prestação de serviços do turismo são originados das cidades de maior porte próximas à esta região como Puntarenas e Canas. Há atualmente uma especulação imobiliária sobre as terras existentes do entorno da reserva, esta atinge diretamente a população de agricultores da região, pois o hectare ao redor de reserva é atualmente um dos mais caros da Costa Rica, valor impeditivo para a aquisição de terras pelas comunidades locais. Há também uma preocupação da comunidade local quanto ao aumento da atividade de turismo, indicando que os residentes esperam que a demanda turística permaneça em baixa escala, e que os benefícios financeiros gerados sejam melhor distribuídos, pois atualmente apenas uma pequena parcela da população está sendo diretamente beneficiada. (BOO, 1990, p. 109-110) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 111 Segundo a Fundación Neotropica e CEAP, a Organização Mundial de Turismo – OMT, apresentou uma lista de critérios para avaliar a capacidade de suporte, os principais pontos a serem enfatizados pela tensão ambiental e social estarem estreitamente inter-relacionadas com a saturação do sítio de visitação pública. Esta é definida pelo número de turistas que chegam, e podem ser acomodados de forma confortável no ambiente físico, sendo avaliado o número anual de turistas proporcionais à população local e o número anual de turistas por quilômetro quadrado de área, a disponibilidade dos recursos e rede sociocultural da comunidade anfitriã. Para isto avalia-se dois aspectos, primeiro os níveis de saturação concebidos pela população anfitriã, os níveis considerados para os turistas não são necessariamente os mesmos. Segundo, estes níveis não são constantes e podem alterar-se através dos tempos sob influência das ações governamentais, do setor privado, e as trocas de percepção dos turistas ou cidadãos do país anfitrião. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 18) As preocupações sobre os limites sociais de saturação podem ser também operativas, antes de estabelecer o número máximo de visitantes por determinadas áreas, ou seja a capacidade de suporte físico. É fundamental a realização de processos de capacitação profissional e educativos para as populações locais, abordando-se as possibilidades de sua inserção no processo de desenvolvimento da atividade de turismo e o papel dos turistas. Estes processos podem contribuir para reduzir as tensões sociais e culturais, pois a análise da capacidade de suporte física é amplamente estendida e manifesta pela ênfase que muitos governos observada pelos trabalhos e publicações já realizados. (FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, p. 18) Assim, é fundamental também que seja analisada a capacidade de suporte social na implantação da atividade de ecoturismo, quando esta é excedida pode gerar irritação social, e conseqüentemente conflitos entre a comunidade anfitriã e os visitantes, com o descontentamento dos turistas haverá uma redução da demanda turística mínima esperada para manutenção do produto no mercado nacional ou internacional. Os conflitos também podem ocorrer devido à competição pelos recursos e serviços turísticos escassos. A análise conjunta de parâmetros ambientais e sociais pode contribuir para a manutenção do modelo de desenvolvimento sustentável do ecoturismo esperado para a Costa Rica. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 112 Quando uma atividade a ser implantada nestas localidades com populações tradicionais, ignorando os aspectos culturais há uma contribuição diretamente para a descaracterização destas pelas alterações de técnicas tradicionais de manejo da terra transmitidas de geração à geração, e permitem que as comunidade utilizem os recursos naturais de forma sustentável, às vezes em condições ambientais adversas de secas ou inundações. (IUCN, 1993, p. 01) É necessário realizar trabalhos que não estejam voltados principalmente para a manutenção de recursos naturais, mas na elaboração e implantação de projetos pró-ativos para as populações locais, desenvolvendo-os de forma que permitam resgatar seus valores culturais. Como existem muitos aspectos similares e discrepantes entre os países da Costa Rica e Brasil que podem ser identificadas através de uma análise comparativa para melhor identificarmos estes diversos aspectos. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 113 CAPÍTULO – 6 – ANÁLISE DO ECOTURISMO NO BRASIL E COSTA RICA A Costa Rica realizou trocas pela dívida externa do país, com bancos internacionais intermediadas por ONGs internacionais para implementar e manejar áreas naturais legalmente protegidas, que foi denominada de ‘troca dívida pela natureza’. No Brasil a mobilização social da população, fez com que o governo tomasse outras medidas para com a dívida externa. Assim não se identificou financiamento internacional direto para a implantação e melhoria das unidades de conservação, mas há diversas fontes de investimento internacional para conservação ambiental, principalmente pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Identificou-se em Becker, que há um projeto internacional preservacionista para a Amazônia, pela troca da dívida brasileira pela natureza, pela importância que esta região representa no contexto geopolítico mundial e para o Estado brasileiro. A Amazônia é uma área crítica no contexto geopolítico mundial e também uma área crítica na estrutura transicional no Estado brasileiro. Tem um peso enorme, tanto do ponto de vista da soberania externa, por causa da pressão ecológica, quanto no sentido de como vão evoluir os movimentos sociais dentro do Brasil. É, pois, uma área extremamente importante neste duplo sentido, inclusive na trajetória do Estado-Nação brasileiro, se é que esta forma se constitui plenamente no Brasil. Porque do ponto de vista externo a Amazônia se tornou símbolo o desafio ecológico, envolvendo ao mesmo tempo a consciência, a utopia e a ideologia ecológicas. Isso a valoriza como capital-natureza, por ser o maior banco genético do planeta, o lugar de maior biodiversidade no mundo e, portanto, fonte primordial para ciência e tecnologia, ou seja, para biotecnologia. Trata-se, assim, de uma valorização do ponto de vista geopolítico externo. Ao mesmo tempo nossos atores e movimentos sociais afetam e fragmentam a região, no âmbito da geopolítica interna. [...] Há um projeto internacional preservacionista para a Amazônia, seja da consciência ecológica, seja da ideologia ecológica. Esse projeto preservacionista vem através de propostas de conversão da dívida pela natureza e de desenvolvimento sustentável que propõe um certo tipo de controle do uso do território. (BECKER, 1994, p. 107) A troca da dívida pela natureza na Costa Rica indicou que a atual preservação dos recursos naturais através da implementação de unidades de conservação, no modelo norte- Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 114 americano do Parque Nacional de Yellowstone, excluiu às comunidades tradicionais de seus territórios, e não contribuiu diretamente para a manutenção de seus recursos naturais, históricos e culturais. Observou-se que existem atualmente a implantação de projetos para que ocorra aproximação entre governo costarriquenho e comunidades locais, baseada principalmente na preocupação pela manutenção da qualidade dos recursos naturais, destinados ao desenvolvimento das atividades de ecoturismo e recursos para pesquisas científicas, a exemplo das Reservas Biológicas de Carara e Monteverde. Os mecanismos governamentais utilizados para a negociação da troca da dívida pela natureza, na Costa Rica com os bancos credores internacionais não contribuíram para uma redução significativa da dívida externa no país, pois apesar de todos os esforços desprendidos atingiu-se apenas 5% do total da sua dívida externa. O governo da Costa Rica buscou então outras alternativas como fonte de recursos, como a exploração do banco genético de suas florestas, identificadas mundialmente como um dos maiores índices de biodiversidade no mundo. Esta exploração tem sido realizada em busca de substâncias naturais que possam ser comercializáveis para a conservação da natureza. Para isto, o governo tem buscado outras fontes de financiamento, como para pesquisa científica por indústrias farmacêutica, ou seja, biotecnologia, a exemplo da Merck & Company, empresa norte-americana. Caso estas pesquisas tenham sucesso haverá uma troca de parte do pagamento de royalties. Verificou que os resultados de pesquisas científicas, sobre os recursos naturais da Costa Rica encontram-se em maior disponibilidade para o desenvolvimento do ecoturismo, sendo utilizadas com freqüência no material de divulgação, para o mercado turístico. Enquanto no Brasil os dados ainda não encontram-se tão disponíveis, mesmo por que muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas, por diversos institutos governamentais sobre os recursos naturais da Amazônia. Tanto na Costa Rica como no Brasil ainda é necessário desenvolver-se mais pesquisas científicas e diagnósticos sobre os patrimônios históricos e culturais de suas comunidades tradicionais que vivem junto aos ambientes naturais. Para que estas pesquisas possam Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 115 contribuir para a valorização e resgate do conhecimento empírico destas populações. E auxiliá-las na identificação de metodologias ou mecanismos que possam minimizar impactos negativos e positivos originados pela implementação de uma atividade econômica muitas vezes desconhecida para estas populações, como é o caso do ecoturismo na Amazônia pelas RESEXs de Rondônia. [...] todos os órgãos de governo de pesquisa, envolvidos na tarefa de diagnósticos regionais deveriam reciclar suas metodologias compartimentadas, caminhando para uma percepção mais integrada e dinâmica das realidades regionais e setoriais, a favor do entendimento de cada sub-espaço da Amazônia. Sem o que, a nosso ver, correrão o risco de uma desmoralização progressiva e irreversível. Um esforço conjunto de aprofundamento de diagnóstico pressupõe interdisciplinaridade, contemporaneidade das investigações subregionais; correta previsão de impactos físicos ecológicos e sociais em projetos em andamento, e boa dosagem de proposições novas, de baixo, médio e relativamente longos prazos. Há que aprender ouvir mais do que falar, debater para completar e democratizar e meditar para evitar erros na previsão dos impactos das eventuais propostas. (AB’SÁBER, 1994, p. 79) O apoio para o desenvolvimento de pesquisas e implantação de projetos para o ecoturismo através de instituições governamentais e não governamentais de turismo, ambientalistas e universitárias tem contribuído para maximizar os impactos positivos da atividade turística e minimizar os impactos negativos na Costa Rica, como na Reserva Biológica de Monteverde, uma reserva privada. No Brasil muitos dos projetos para o desenvolvimento do ecoturismo também recebem tal apoio, mas ainda observar-se que as empresas privadas são as que mais implementam os projetos de ecoturismo propostos. A maioria das áreas protegidas somente traz benefícios que são difíceis de quantificar desde o ponto de vista monetário, pelo que resulta igualmente difícil justificar das necessidades pressupostas em um período de restrição econômicas gerais. Em muitos casos, prestar uma atenção específica ao potencial e as necessidades de desenvolvimento das áreas circundantes dos parques está demonstrado-se uma condição ‘sine qua non’ para o êxito da ordenação das áreas protegidas. (UNASYLVA, 1994, p. 01) Nas unidades de conservação brasileiras na categoria de Reservas Biológicas, não são destinadas à visitação pública, e não se identificou o desenvolvendo da atividade de Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 116 ecoturismo em seu território, como ocorre nas Reservas Biológicas da Costa Rica, inicialmente não eram destinadas à visitação pública, mas devido a demanda existente desde a década de oitenta, os Planos de Manejos atualmente, estão estabelecendo zonas de uso público, para atividades turísticas, como a Reserva Biológica de Carara e de Blanco Absoluto. Na Costa Rica não existe nenhuma unidade de conservação proposta à partir de movimentos sociais, ou que tenham sido reconhecidas pelas instituições governamentais, a maioria segue o modelo norte-americano de Parque Nacional de Yellowstone, como ocorreu no Brasil à partir da implantação de Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado do Acre. Tanto nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras, no Brasil, como nas Reservas da Costa Rica precisam ser intensificados os projetos para valorização e resgate da cultura das comunidades tradicionais, registrando-se aspectos fundamentais de sua cultura e modo de vida, para que sejam instrumentos de reconhecimento destas culturais tradicionais no modo de uso sustentável da floresta, permitindo que a infra-estrutura, centro de visitantes, museus, trilhas interpretativas, restaurantes, hotéis, propostos para o desenvolvimento do ecoturismo sejam compatíveis com a realidade destas populações, e possam minimizar os impactos sociais, que venham a ocorrer nas localidades. As unidades de conservação da Costa Rica de visitação pública apresentam dificuldades similares às do Brasil, para implementação do Plano de Manejo, em aspectos que se referem às dificuldades para implantação de infra-estrutura e serviços turísticos, e regularização quanto aos usos dos recursos naturais e culturais pelas populações tradicionais residentes nas áreas em elevado estágio de conservação. Caso da Reserva Biológica de Carara com sítio arqueológico pré-colombianos inserido na zona científica, em que restringe o uso das populações de Tortuego e Bijagual. Na região e no interior das RESEXs, no Brasil, existem diversos sítios arqueológicos que merecem especial atenção dos meios científicos para serem melhor diagnosticados, e identificasse a necessidade de estabelecer uma capacidade de suporte para a visitação públicas nestes sítios, que podem ser futuramente disponibilizados para a utilização da atividade de ecoturismo, como mais um diferencial do produto de ecoturismo, pelas características Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 117 peculiares das populações indígenas que antecederam a ocupação desta região pelos seringueiros. As dificuldades de acesso, em rodovias são similares nos dois países, a experiência da Costa Rica, diagnosticada pela pesquisa do perfil do visitante na Reserva Biológica de Monteverde, demonstrou que a implantação e melhorias no acesso às áreas naturais, que antecederam à implantação de infra-estrutura e serviços para a recepção de visitantes, como centro de visitação, trilhas e capacitação profissional dos recursos humanos têm contribuído para maximizar os impactos negativos sobre os recursos naturais das áreas naturais visitadas. Os índices de qualidade de vida da população costarriquenha superam o Brasil em todos os parâmetros à região das Reservas Extrativistas, apontam para um maior apoio público para uma equivalência das taxas percentuais apontadas, que são fundamentais para o bem estar e qualidade de vida das populações tradicionais e potenciais ecoturistas. Como foi verificado na elevada qualidade da população da Costa Rica pelos índices de alfabetização, infra-estrutura de saneamento básico, e atendimento à saúde pública, mortalidade de infantil e elevada expectativa de vida para mulheres e homens. Baixa taxa de desemprego entre a população ativa. Na Costa Rica não foi identificado problema de saúde, em relação à animais tropicais transmissores de endemias às populações humanas, como um ponto preocupante para o desenvolvimento do ecoturismo como se verificou na região do Vale do Guaporé, onde há malária, febre amarela e leishmaniose. A infra-estrutura hoteleira de algumas regiões da Costa Rica apresenta a dimensão do segmento de turismo de massa, como na Reserva de Carara, enquanto na região das Reservas Extrativistas Estaduais de Rondônia, o equipamento de hospedagem está voltado para o turismo de negócios, mais precisamente comerciantes regionais. Na Costa Rica, na Reserva Biológica de Monteverde, assim como na região das RESEXs de Rondônia, no município de Costa Marques, existe uma deficiência na oferta de infraestrutura de serviços em alimentação, e identificou-se à necessidade em maximizar, de forma sustentável os recursos naturais disponíveis para alimentação, que possam representar os usos Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 118 tradicionais das comunidades locais, como atrativo singular complementar dos produtos de ecoturismo, estimulando o resgate, a produção e o uso de recursos silvestres. Nas RESEXs, as pesquisas desenvolvidas para o Zoneamento Sócio, Econômico e Ecológico de Rondônia, realizado pelo Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia PLANAFLORO, podem contribuir em futuros diagnósticos para uma melhor implementação de infra-estruturas, serviços e atividade de ecoturismo nas RESEXs, bem como para o município de Costa Marques, ou seja, esta região de Rondônia, com elevado potencial para o desenvolvimento desta atividade. A condição básica para o sucesso de um zoneamento reside na sua aplicabilidade no esforço de identificação rápida e objetiva dos problemas emergentes de cada sub-região de um todo espacial. Está em jogo integrar de modo mais sistêmico, aquele conjunto de observação e expectativas pontuais e genéricas, de que todo mundo fala na região, mas que nunca chega aos ouvidos de governantes, enclausurados na Corte. Estado geral de saúde pública. Capacidade de atendimento hospitalar. Dimensões e qualidades do processo educacional dirigido para crianças, adolescentes e adultos, homens e mulheres. Preocupações com saneamento básico. Tratamento dada à água de beber e à água para uso doméstico. Problemática do transporte dos produtos alimentares das áreas rurais ou silvestre-rurais para os mercados, feiras e quitandas das cidades e vilarejos. Facilidades ou dificuldades para o transporte de produtos regionais rentáveis (borracha, castanha, farinha, peixes) para mercados consumidores, situados à média ou grande distância. Garantias para a sanidade das águas a nível local e regional: águas de igarapés, dos rios e riozinhos, dos grandes rios. [...]. (AB’SÁBER, 1994, p. 79) A Costa Rica tem cerca de trinta anos de desenvolvimento da atividade de ecoturismo e uma elevada demanda taxa de visitação nas áreas próximas à San José, a capital. O Brasil vem identificando este mercado na década de noventa, e nas RESEXs, não foi identificado uma demanda turística específica de ecoturismo, pois os produtos de ecoturismo ainda estão sendo implementados. As regiões analisadas são geograficamente bastante distintas, na Costa Rica, apresenta quatro principais cordilheiras, e nestas alguns vulcões ativos, com diversos ecossistemas da região do Neotrópico. Nas RESEXs e região do entorno, há um predomínio das paisagens com Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 119 relevos planos, e identifica-se áreas de florestas tropicais secas, em Pedras Negras, e alagadas, em Curralinho, da Amazônia brasileira, além de áreas de ecossistemas de pantanal e cerrado. Costa Rica tiene algunos factores a su favor para desarrollar la industria del ecoturismo. El sistema de áreas protegidas ofrece muchos lugares distintos, entre de un perímetro reducido, haciendo posible que los turistas puedan ver la diversidad de la fauna silvestre en un período de tiempo curto. Por otra parte la promoción de los parques a nivel nacional e internacional ha llevado a Costa Rica a ser bien reconocida como destino turístico.(FUNDACIÓN NEOTROPICA E CEAP, 1992, ii) Enquanto a biodiversidade do Brasil está distribuída em todo território nacional, em diferentes biomas, a dimensão territorial continental do país, faz com que o turista necessite de um tempo maior para deslocar-se de um bioma para outro. Os governos federais, estaduais e municipais não têm disponibilizado a atenção às unidades de conservação para o desenvolvimento das atividades de turismo, dentre elas a de ecoturismo. O governo costarriquenho identificou no Brasil um potencial mercado de ecoturistas interessados em conhecer suas áreas naturais protegidas, pois em Renato, encontra-se o slogan ‘Quem quiser conhecer o Brasil deve ir para a Costa Rica’. As comparações quanto às diferenças em extensões territoriais entre o Brasil e a Costa Rica relacionadas às taxas de biodiversidade mundiais, provavelmente é um indicativo de que se pode conhecer os recursos naturais em com um menor desprendimento de tempo no deslocamento de uma região para outra, pelas dimensões territoriais entre os dois países, ou por que ecossistemas de regiões diferentes são igualmente representativos em termos de biodiversidade, e devem ser prioritários à conservação dos recursos neles existentes. (RENATO, 1998) Um território 170 vezes menor que o do Brasil [...]. Espremida entre o Panamá e Nicarágua, com 51 mil quilômetros quadrados de território, a Costa Rica ocupa menos espaço no planeta que o Estado da Paraíba. Pequenina, ela detém 5% da diversidade biológica mundial26. Sozinha, a Costa Rica tem mais espécies de pássaros que toda a América do Norte – é o paraíso dos ornitólogos, com 800 espécies de aves identificadas. No país, também estão concentradas 10% das borboletas existentes no planeta, superando neste quesito, o continente africano. São 8 mil espécies de plantas e 60 tipos de mamíferos. (RENATO, 1998) 26 “Peter Raven, un ecólogo tropical del Jardín Botánico de Missouri, así como otros expertos en el campo, calculan que el 5% de toda la diversidad biológica de la Terra está en Costa Rica.” (IUCN, 1993, p. 152) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 120 O Sistema de Parques da Costa Rica possuem mostras representativas de quase todos os seus ecossistemas, porcentagem estimada do território nacional em cerca de 25%. O Brasil com cerca de 3,4% do território nacional inserido em unidades de conservação não consegue proteger áreas dos seus mais representativos ecossistemas. “El Sistema de Parques comprende muestras representativas de casi todos os hábitats y la mayoría de las 1,500 distintas especies de árboles, 850 especies de aves y más de 6,000 tipos de plantas con flores en Costa Rica, incluyendo 1,500 variedades de orquídeas.” (BOO, 1990, p. 97) A legislação vigente nacional e estadual das RESEXs permite que as comunidades sejam beneficiárias da utilização sustentável dos recursos naturais, desde a comercialização de matéria prima até a transformação em produtos, como é o caso das comunidades extrativistas das RESEXs de Curralinho e Pedras Negras, com a coleta de castanha-do-pará e látex, e o desenvolvimento da atividade de ecoturismo. Identificou-se que a categoria de unidade de conservação denominada Reserva de Desenvolvimento Sustentável considera a presença de comunidades tradicionais, assim como as RESEXs pelo novo Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. (BRASIL, 1999) Na Costa Rica há uma lei que exige que os ganhos advindos pelo uso dos recursos florestais nas áreas naturais legalmente protegidas ‘refúgios de vida silvestre’, devem ser utilizados exclusivamente para a conservação ambiental, como pesquisa científica e proteção dos recursos. As comunidades do entorno ou inseridas nestas áreas não ser beneficiárias de trabalhos que utilizam os recursos naturais. Como é o caso do Refúgio da Vida Silvestre de Caño Negro, que as comunidades locais desenvolveram projetos e iniciaram atividades que utilizam de forma sustentável os recursos naturais, e estavam sendo beneficiárias diretas das receita geradas, mas foram impedidas de darem continuidade a estes projetos devido ao Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 121 impedimento da lei. Sendo necessário, que o governo da Costa Rica reavalie as leis ambientais que são impeditivas para alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável para comunidades tradicionais, através do uso dos recursos naturais. (IUCN, 1993, p. 62) Na Costa Rica a política de divulgação turística é mais intensa e direcionada para o mercado internacional. Enquanto, no Brasil, a política nacional procura divulgar os pólos turísticos para o mercado interno brasileiro. Os destinos de ecoturismo existente já consolidados pelo mercado nacional e estrangeiros, na Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica, são experiências marcantes que acabam influenciando a implementação desta atividade no mercado de turismo brasileiro. Os sucessos e fracassos nestas localidades também podem ser parâmetros para estas comunidades tradicionais das RESEXs Curralinho e Pedras Negras do Vale do Rio Guaporé. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 122 CONCLUSÕES Como o ecoturismo é uma atividade que permite a integração e interação entre os visitantes e comunidades tradicionais, a implementação desta atividade, com a geração de empregos, devem ser esclarecidas às comunidades para estas identifiquem mecanismos que possibilitem a manutenção do modo de vida, em decorrência dos impactos negativos que podem ser gerados, alterando estas sociedades. Para auxiliá-los é necessário desenvolver programas de capacitação profissional e fontes de financiamentos para implantação dos projetos que estas julguem fundamentais para a melhoria da sua qualidade de vida nos ambientes em que vivem. No processo de desenvolvimento de planos e projetos é necessário um planejamento pró-ativo, que permita a integração entre as comunidades com os setores que envolvem diretamente a atividade de ecoturismo, como governos federal, estadual e municipal, através dos órgãos competentes, iniciativas privadas, ONGs regionais e locais e planejadores e executores do ecoturismo. Para que os profissionais, os setores envolvidos e comunidade possam elaborar propostas junto às comunidades para que estas sejam compatíveis com as realidades e expectativas destas populações tradicionais. Enquanto uma efetiva alternativa sócio, econômica e ambiental, contribuindo para viabilizar melhorias nas condições de saneamento básico, saúde e capacitação profissional, baseado na qualidade de vida e autonomia profissional e gestão econômica nestas comunidades. A participação das comunidades precisa ser efetivada desde o início do processo de implementação, pois a forma de implementação de programas para capacitação profissional nestas comunidades deve contemplar o conhecimento tradicional, no manejo dos recursos naturais. O conhecimento tradicional contribuiu para que estes recursos naturais fossem conservados ao longo dos últimos séculos, e atualmente são fundamentais para a atividade de ecoturismo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 123 A implantação de infra-estrutura precisa ser compatível com as características das localidades, por contribuir diretamente para integração, sensibilização e reconhecimento dos valores culturais pelos visitantes. E para as comunidades contribuir para fortalecer, e em muitos casos para resgatar, os valores e recursos históricos e culturais. Pois estes ainda são relevados em segundo plano na atividade de ecoturismo, em função dos aspectos de biodiversidade das florestas tropicais em que estas comunidades estão inseridas. É necessário desenvolver projetos para fortalecer e resgatar valores culturais de comunidades tradicionais que sofrem pressões, resultante da exclusão social e econômica, como implantação de centro de visitantes e educação ambiental, trilhas interpretativas e interativas, oficinas de teatro, artesanato, tecido de couro vegetal, agricultura orgânica, laboratórios e bibliotecas. Para que os visitantes compreendam melhor e reconheçam os conhecimentos empíricos das comunidades, através de atividades de ambientação e representação do modo de vida tradicional. As atividades de ecoturismo realizadas, como caminhadas e trilhas interpretativas, devem permitir que ocorra uma ambientação entre visitantes e comunidades tradicionais, para que a atividade esteja não baseada principalmente na contemplação dos recursos naturais. Atividades pró-ativas devem ser incentivadas, com extração do látex, pesca e agricultura sustentável, oficinas interativas de artesanatos e alimentos típicos da região. É necessário realizar oficinas, workshops, pesquisas científicas e bibliográficas, para integração e compreensão sobre a cultura e modos de vidas de comunidades tradicionais, a exemplo dos seringueiros, para que o uso sustentável dos recursos naturais, históricos e culturais pela implementação da atividade de ecoturismo, maximize os impactos positivos nas comunidades envolvidas no processo. Para a implementação do ecoturismo é necessário desenvolver ainda inventários e diagnósticos dos recursos naturais, históricos e culturais, análises de mercado e demanda turística, elaborando-se um plano de desenvolvimento de ecoturismo, identificando-se às principais ações e fontes de financiamento, que antecede a disponibilização para implantação de projetos e atividades idealizadas. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 124 A implementação de ecoturismo necessita de fontes de financiamento governamental para implantação de infra-estrutura de apoio como: sistemas de tratamento de água e esgotos, fontes de energia solar, saúde pública, implantação e/ou melhoria na infra-estrutura de acesso, sistemas de recepção e informação ao visitante. As Reservas Extrativistas atualmente não são destinos consolidados de ecoturismo, no Brasil, necessitando de incentivos governamentais, instituições de pesquisas científicas e setores do turismo para sua viabilização. As instituições governamentais e educacionais devem apoiar as comunidades, com informação técnica e bancos de dados, no desenvolvimento de projetos de alternativas tecnológicas para o melhor aproveitamento dos recursos naturais, como beneficiamento de produtos florestais de castanha-do-pará, do látex em tecido de couro vegetal, confecção de artesanatos, elaboração de produtos de ecoturismo, atendimento aos visitantes, baseados em fontes científicas seguras sobre turismo e meio ambiente. E contribuir da proteção legal do conhecimento tradicional, do território, dos recursos naturais e históricos-culturais, procurando evitar impactos negativos sobre estas comunidades. A produção de artesanatos e demais produtos de consumo destinadas ao ecoturismo que sacrifiquem populações silvestres da fauna e flora devem ser evitados, pois a atividade de ecoturismo deve estimular a conservação destes recursos silvestres. O governo federal deverá contribuir para que as instituições locais dos setores de turismo e sociais sejam fortalecidas, como secretarias de turismo, de planejamento, de transporte, de agricultura, de saúde pública, do setor hoteleiro e alimentos, ONGs e cooperativas das comunidades locais. Na Costa Rica a cooperativa de mulheres, Cooperativa de Artesanos de Santa Elena e Monteverde - CASEM, para a produção de artigos de artesanatos destinados ao mercado de ecoturismo, em dez anos de atividades, possibilitou a geração de receita anual para sua sustentabilidade, e gera empregos diretos esta comunidade local. Indicando a importância da organização social em cooperativas, e o papel do gênero feminino na expressão das culturas latino-americanas. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 125 As mulheres das RESEXs Curralinho e Pedras Negras podem contribuir diretamente na implementação da atividade de ecoturismo nestas localidades, em diversos setores desta atividade, como hospedagem, alimentação e condução de grupos em área naturais, pois são guardiãs dos conhecimentos da transformação dos recursos naturais para usos familiares de representativa expressão, como nas festas religiosas, na arte culinária, nos medicamentos à base de ervas medicinais, na coleta familiar de castanha-do-pará, na elaboração de enfeites domiciliares, enfim parceiras na gestão e manutenção das necessidades primordiais das famílias dos seringueiros. Pelos dados apresentados na Costa Rica quanto à representatividade do ecoturismo no PIB, demonstram que esta atividade encontra-se em posição de destaque, entre outros países latino-americanos, desenvolvidas principalmente em unidades de conservação, sendo estas áreas naturais as que são legalmente protegidas. A Costa Rica é reconhecida internacionalmente como um destino de ecoturismo. Mas a exclusividade dos produtos de ecoturismo da Costa Rica baseados nos recursos naturais não contribui para integração dos visitantes com as comunidades tradicionais. As experiências da Costa Rica demonstraram que a demanda de ecoturismo principalmente por norte-americanos e europeus, está diretamente relacionada com os resultados das pesquisas científicas desenvolvidas sobre os recursos naturais da floresta tropical, que foram divulgadas internacionalmente ao longo dos últimos trinta anos. Na Costa Rica o rápido avanço na capitação de recursos financeiros indica que o desenvolvimento do ecoturismo precisa estar baseado não só na captação destes recursos, mas em responsabilidades, que garantam não apenas a manutenção da qualidade ambiental das áreas visitadas mas a promoção da equidade na distribuição dos benefícios econômicos gerados para comunidades locais, pelo rápido avanço da atividade de ecoturismo, nas regiões em que se encontram. A exclusão das comunidades tradicionais na Costa Rica no processo de implementação de unidades de conservação, destinadas à visitação pública, na década de oitenta, contribuiu para gerar conflitos de ordem econômica e social, pela restrição do uso tradicional dos Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 126 recursos naturais e históricos-culturais, destinados mais ao uso pelos visitantes estrangeiros ou pesquisadores, desprivilegiando as comunidades locais e visitantes nacionais. Os produtos de ecoturismo da Costa Rica têm preços e taxas superiores ao que mercado nacional de turismo poderia adquirir, excluindo parte do mercado interno das áreas de visitação pública, e contribuindo para que as populações locais tenham suas áreas de atividades de recreação e lazer integradas aos ambientes naturais reduzidas. Em algumas regiões da Costa Rica, ocorre degradação ambiental por queimadas, como a Reserva de Carara, que sofre pressões pela expansão agrícola, assim como as regiões das Reservas Extrativistas da região Amazônica, no Brasil. O modelo de desenvolvimento sustentável é reconhecido como o mais adequado para a implementação da atividade de ecoturismo, bem como todas as atividades desenvolvidas pelos setores que o envolvem, educacionais, hospedagem, alimentação, transporte, operadoras e agências de viagem, condução de grupos, agricultura, e artesanatos. O desafio que norteia a conservação dos recursos naturais para o desenvolvimento da atividade de ecoturismo, os benefícios socioeconômicos para a conservação ambiental devem ser considerados tão valiosos quanto para a manutenção, resgate e valorização dos recursos culturais, para o bem estar das populações tradicionais que vivem nestas áreas ambientalmente conservadas. O ecoturismo nas últimas décadas tem apresentado uma crescente importância no mercado mundial de turismo, e apresenta duas características que lhe dão grande destaque na região amazônica. Em primeiro lugar pode ser implementado em áreas que apresentam recursos naturais, históricos e culturais singulares, como os das RESEXs Curralinho e Pedras Negras, contribuindo para evitar a expansão da devastação florestal, como ocorre no Estado de Rondônia, no Brasil. Em segundo lugar, pode absorver um grande número de trabalhadores das comunidades tradicionais extrativistas, garantindo a conservação dos seus recursos e sua manutenção nas suas áreas de origem, a partir da implantação de infra-estrutura e de programas de capacitação profissional, para que estas populações possam ser inseridas de forma eficiente no mercado de trabalho. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 127 Outra característica positiva do ecoturismo é por ser uma atividade que promove a qualificação profissional em vários níveis, como nos meios de hospedagem, alimentação, transporte, condução de visitante, elaboração e comercialização de roteiros de ecoturismo. Podendo alcançar todas as faixas de escolaridade na criação de novos empregos. Além desta característica, pode ocorrer a implementação de empreendimentos em diferentes escalas, como: centro de visitantes, trilhas interpretativas e museus interativos das comunidades tradicionais, restaurantes regionais e típicos, hotéis e pousadas de pequeno porte. A criação de empregos diretos, também é reconhecido que o número de empregos indiretos relacionados ao ecoturismo é elevado, pois diversos outros serviços associados são incentivados à expansão. No setor de ecoturismo pode ser também ao fortalecimento de associações civis que ocupem posição em defesa da manutenção da floresta tropical amazônica brasileira, exercendo um papel político de oposição aos grandes empreendimentos que têm destruído a floresta, como as madeireiras e as fazendas de gado. O fortalecimento de um setor econômico interessado na conservação da floresta amazônica teria um impacto positivo bastante favorável à região. As comunidades tradicionais que vivem em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos como as capitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil, atuais centros emissores de ecoturistas, e da capital San José, na Costa Rica. Possuem em suas áreas recursos naturais, históricos e culturais singulares, que apresentam elevado potencial para o desenvolvimento de produtos de ecoturismo, mas apenas a identificação destes recursos e aplicação de planos governamentais ou empresariais não são suficientes para permitir o desenvolvimento desta atividade, com a inserção destas populações. As experiências da Costa Rica pela atividade de ecoturismo, demonstram ainda a urgente necessidade de viabilizar programas governamentais de conservação ambiental das suas unidades de conservação, sejam programas integrados aos demais setores do turismo, que contribuam diretamente para a inclusão social de comunidades tradicionais, principalmente das que vivem junto aos recursos naturais mais conservadas. Em que os recursos históricos e culturais destas são determinantes no contexto sócio, econômico e ecológico para a manutenção destas áreas e o desenvolvimento da atividade de ecoturismo. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 128 Na região da Amazônia as populações tradicionais têm sido resistentes aos modelos de desenvolvimento governamentais impostos à estas localidades, demonstrando que a resistência destas populações é resultado da mobilização social ao longo da últimas décadas, e a capacidade de transformação, e fortalecimento destas culturas tradicionais, transmitidas na maioria da vezes pela transmissão oral. E a transmissão da cultural oral é uma forte característica destas populações, e não pode ser desconsiderada na implantação da atividade de ecoturismo quando se pretende implantar produtos ou trabalhar com capacitação profissional. A capacitação profissional para as populações residentes é fundamental para a implementação desta atividade em todos os setores relacionados diretamente a atividade de ecoturismo, como hospedagem, alimentação, transporte, condução de grupos em meio aos recursos naturais para que possam ser beneficiárias diretas, tanto na Costa Rica como no Brasil. Para que o desenvolvimento sustentável passe a ser viável, é necessário que a população da região encontre novas alternativas de ocupação econômica e de criação de empregos, alternativas que dependam da conservação da biodiversidade. O ecoturismo pode ser uma dessas atividades, tanto para as comunidades tradicionais extrativistas no Vale do Guaporé, Rondônia – Brasil, como para as comunidades tradicionais da Costa Rica. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 129 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO Brasileira de Agentes de Viagens - ABAV. O que as autoridades de governo e os parlamentares devem saber sobre turismo. São Paulo, 1992. 18 p. AB’SÁBER, Aziz. A região amazônica. In: D’INCAO, Maria Ângela; SILVEIRA, Isolda M. da (Orgs.). Amazônia e a Crise da Modernização. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994. p. 77-84 dos Seringueiros do Vale do Guaporé – AGUAPÉ. Diagnóstico das ASSOCIAÇÃO Potencialidades Turísticas do Vale do Guaporé: alternativas econômicas de Pedras Negras e Santa Fé. Instituição Financiadora Fundação Mundial para a Natureza – WWF. Realização Grupo Nativa - Proteção, Pesquisa e Informação Ambiental. Goiânia. Setembro de 1994. 39 p. ALLEGRETTI, Mary H. Apresentação. 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Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 138 ANEXO Neste anexo há uma proposta de roteiro com projeção para oito dias, denominada nesta dissertação como “Alternativa de Roteiros nas RESEXs Curralinho e Pedras Negras”. O propósito desta apresentação de um roteiro de ecoturismo nas RESEXs é para contribuir para demonstrar quais seriam as possibilidades de atividades em ecoturismo, desenvolvidas pelas comunidades extrativistas, e proporcionar algumas imagens sobre a região do Vale do Guaporé, em Rondônia. A proposta deste roteiro foi retirada do seguinte documento: “Proposta para o Desenvolvimento de Projeto para Implantação de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Curralinho e Pedras Negras (Rondônia)”. Entregue a Organização dos Seringueiros de Rondônia - OSR, em Porto Velho, no Estado de Rondônia – Brasil, em 1997. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 139 ALTERNATIVA DE ROTEIRO NAS RESEXS CURRALINHO E PEDRAS NEGRAS A) OPÇÃO A: 1° D I A : DURAÇÃO DE 8 DIAS 27 PORTO VELHO PARA COSTA MARQUES, RONDÔNIA. MADRUGADA: Chegada no Aeroporto Nacional de Porto Velho, em Rondônia. A acomodação poderá ser no “Aquários Selva Hotel”, com café-da-manhã. MANHÃ: Viagem Rodoviária para Guajará-Mirim. Em Guajará-Mirim visita ao Porto e Museu da Ferrovia Madeira-Mamoré. ALMOÇO: Restaurante local de Guajará-Mirim. TARDE: Embarque no Aeroporto, em avião Bandeirante pela TAVAJ à Costa Marques. Em Costa Marques a recepção será realizada por membros da comunidade de seringueiros da RESEX Curralinho. Posteriormente a acomodação será no “Girassol Palace Hotel”. No final da tarde haverá uma visita à sede da AGUAPÉ, com apresentação de uma palestra sobre a vida e cultura dos seringueiros da RESEX Curralinho. NOITE: Jantar de boas vindas no “Restaurante e Peixaria do Reis”. Luiz Fernando Ferreira Foto 01 : Vista aérea do Vale do Rio Guaporé. 27 (ORGANIZAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE RONDÔNIA, 1997, p. 88-93) Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 140 2° D I A : COSTA MARQUES - CURRALINHO MANHÃ: Trilha na “Estrada de Seringa”, no seringal da RESEX Curralinho para vivenciar os principais aspectos das estradas, com reconhecimento empírico do ecossistema. O acompanhamento será realizado pelos seringueiros, contando suas estórias e lendas, há possibilidade de praticar a extração do látex da seringueira, Hevea sp, conforme às práticas conservacionista tradicionais. Esta atividade depende da coleta anual, de julho à novembro. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 02: A prática do corte em “V” em seringueira. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 141 ALMOÇO: Em forma de lanche na Trilha. TARDE: Visita à área de defumação, com a apresentação do equipamento necessário para a confecção da bola ou péla, e observação da grande bola defumada. Visita à sede do ‘Projeto Quelônios da Amazônia’: Museu Chelonia, com exposição de espécies silvestres taxidermizadas e fotos da região do Vale do Guaporé; observação do Berçário de filhotes de tartarugas e tracajás. Embarque em Voadeira para visita ao Real Forte Príncipe da Beira, está localizado à margem direita do Rio Guaporé. Construído na segunda metade do século XVIII, 970 metros de perímetro, com muralhas de 10 metros de altura, quatro baluartes armados cada um deles com catorze canhoneiras. Observação de aves RESEX Curralinho, e banho nas praias do Rio Guaporé. NOITE: Jantar de Confraternização no Restaurante do Porto. Doris van de Meene Ruschmann Foto 03 : Paisagem parcial do Forte Real Príncipe da Beira e área do entorno. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 142 3° D I A : COSTA MARQUES - CURRALINHO MANHÃ: Vivenciar a singularidade da pesca artesanal em canoas viajando pelo Rio Guaporé, conhecendo igarapés e lagos. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 04: Paisagem da floresta às margens do Rio Guaporé. ALMOÇO: Churrasco na margem do Rio Guaporé preparando os peixes da pescaria. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 05: Churrasco em praia à margem do Rio Guaporé. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 143 TARDE: Visita ao Parque Lago Azul, empreendimento localizado em Costa Marques, percorrendo uma pequena trilha de plantas nativas da região amazônica e com visita ao viveiro de mudas nativas e banho de piscina de água corrente, na época do verão. Visita ao Parque Municipal São Sebastião, localizado próximo ao núcleo urbano com mirante para observação do Vale do Rio Guaporé e entorno. NOITE: Jantar no “Parque Lago Azul”, com degustação de peixes e frutos da região. 4° D I A : COSTA MARQUES - CURRALINHO MANHÃ: Embarque em voadeira para visitar às praias: “Furado do Couro” e “Buraco da Barba” do Projeto de Preservação dos Quelônios da Amazônia. Observação e acompanhamento do trabalho de pesquisa na época do verão. ALMOÇO: Em forma de lanche em praia do Rio Guaporé. TARDE: Observação de aves e botos, e banho em praias do Rio Guaporé. NOITE: Jantar em Costa Marques no “Restaurante e Peixaria do Reis”. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 06 : Paisagem de praia no Rio Guaporé com aves. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 144 5° D I A : COSTA MARQUES - CURRALINHO - PEDRAS NEGRAS MANHÃ: Embarque para a RESEX Pedras Negras. Com Parada na Praia de Santa Fé com banho de rio. Almoço em forma de lanche. TARDE: Acomodação nas casas das famílias. NOITE: Palestra sobre o modo de vida da comunidade e jantar de confraternização. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 07: Aspectos da moradia na RESEX Pedras Negras. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 08: Paisagem do mirante na RESEX Pedras Negras. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 145 6° D I A : RESEX PEDRAS NEGRAS MANHÃ: Trilha do Castanhal da Reserva Extrativista Estadual de Pedras Negras, para vivenciar através de relatos e atividades práticas as singularidades da coleta da castanha-do-pará, uma prática conservacionista tradicional nesta comunidade ribeirinha do Vale do Guaporé. Com a observação de castanheiras na floresta, Bertholletia excelsa, a coleta familiar dos ouriços e retirada das amêndoas. ALMOÇO: Diferentes tipos de peixes assados em praia do Rio Guaporé. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 09: Castanheira na floresta da RESEX Pedras Negras. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 146 TARDE: Embarque em ‘voadeira’ para o ‘Campo dos Amigos’, para observação da vida silvestre, e atividade de pesca artesanal nos lagos existentes nas proximidades da RESEX de Pedras Negras. NOITE: Jantar de despedida com especialidades da comunidade, pratos com peixes provenientes da pesca artesanal. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 10: Representante da RESEX Pedras Negras exibe a exuberância da vegetação. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina - PROLAM Maria do Carmo Barêa Coutinho 147 7° D I A : RESEX PEDRAS NEGRAS - COSTA MARQUES/ CURRALINHO MANHÃ: Embarque às 04h30min., em voadeira para Costa Marques. Viagem estimada em 8 horas. Parada para almoço em forma de lanche e banho de rio na praia de Sta Fé. TARDE: Acomodação no “Girassol Palace Hotel”. NOITE: Jantar no Restaurante e Peixaria do Reis. Maria do Carmo Barêa Coutinho Foto 11: Alvorada no Rio Guaporé, próximo à RESEX Pedras Negras. 8° DIA: COSTA MARQUES/ PORTO VELHO MANHÃ: Livre. ALMOÇO: No Restaurante e Peixaria do Reis. TARDE: Embarque no aeroporto de Costa Marques com destino à Guajará-Mirim Viagem Rodoviária para Porto Velho. NOITE: Jantar no restaurante Aquários Selva Hotel. Embarque para retorno. Ecoturismo: Reservas Extrativistas no Brasil e Experiências da Costa Rica.
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